Duarte Et Al, 2014
Duarte Et Al, 2014
Duarte Et Al, 2014
ISSN: 2316-4093
Indiana Bersi Duarte1, Anderson de Souza Gallo2, Michele da Silva Gomes1, Nathalia de
França Guimarães2, Daniel Passareli Rocha3, Rogério Ferreira da Silva1
1
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, UEMS, Curso de Tecnologia em Agroecologia. Rua Rogério
Luiz Rodrigues, s/n, CEP: 79730-000, Centro, Glória de Dourados, MS.
2
Universidade Federal de São Carlos/Programa de Pós Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural.
Rodovia Anhanguera, Km 174, Cx. Postal 153, CEP: 13.600-970, Araras, SP.
3
Escola Família Agrícola Rosalvo da Rocha Rodrigues. Avenida Jofre de Araújo Km 3 – Prolongamento, CEP:
79140-000, Zona Rural, Nova Alvorada do Sul, MS.
Abstract: The work had like aimed to verify the performance of cover crops in the
production of dry matter and assess the changes promoted by these plants in soil microbial
biomass and its activity. The studies were conducted in two different municipalities:
Experiment 1 - conducted in Glória de Dourados, Mato Grosso do Sul State, Brazil, with the
following treatments: Mucuna aterrima, Crotolaria juncea, Canavalia ensiformis, Gajanus
cajan, Pennisetum glaucum and a fallow area; Experiment 2 - It was realized in Nova
Alvorada do Sul, Mato Grosso do Sul State, Brazil. The treatments consisted of different
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Introdução
O manejo inadequado do solo por meio das atividades agropecuárias pode com o
tempo trazer graves consequências, exaurindo suas reservas orgânicas e minerais,
transformando solos com grande potencial de produção em solos de baixa fertilidade. Desta
forma a prevenção da degradação de novas áreas, aliada à baixa fertilidade natural dos solos
têm conduzido à necessidade do uso de práticas de adição de matéria orgânica, sendo que,
dentro dessas novas práticas, destaca-se a adubação verde, reconhecida como uma alternativa
viável na busca da sustentabilidade dos solos agrícolas (Nascimento e Matos, 2007).
A utilização de plantas de cobertura de solo é uma alternativa ecológica e econômica
de manejar adequadamente o solo, possibilitando o equilíbrio das propriedades físicas,
químicas e biológicas, que giram em torno do sistema solo-planta (Souza et al., 2008).
Do ponto de vista de atributos biológicos do solo, o uso de consórcio entre plantas de
cobertura utilizadas como adubos verdes, principalmente entre gramíneas e leguminosas, afeta
as diferentes populações de organismos constituintes da biota do solo, uma vez que cria micro
habitats favoráveis e sítios de refúgios, além do fato dos resíduos vegetais servirem como
fonte de energia e nutrientes para os organismos do solo (Badejo et al., 2002; Merlin et al.,
2005).
Dentre as características biológicas do solo, a biomassa microbiana do solo é
definida como componente microbiano vivo do solo, composto por bactérias, fungos,
protozoários, actinomicetos e algas, que atuam no processo de decomposição de resíduos
orgânicos, pela ciclagem de nutrientes e pelo fluxo de energia dentro do solo (Cardoso, 2004).
Portanto, constitui um indicador sensível às alterações ambientais e serve como ferramenta
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para orientar o planejamento e avaliar as práticas de manejo do solo (Spadotto et al. 2004).
Neste contexto, alterações na comunidade microbiana e na sua atividade interferem
diretamente nos processos biológicos e bioquímicos do solo, na produtividade agrícola e,
consequentemente, na sustentabilidade dos agroecossistemas, atuando como indicador de
degradação dos solos (Matsuoka et al., 2003).
O efeito de plantas de cobertura no acúmulo de matéria orgânica no solo e na
melhoria de seus atributos biológicos deve ser quantificado regionalmente e para cada sistema
produtivo, uma vez que depende da textura e mineralogia do solo, do relevo e das condições
de temperatura e umidade (Cunha et al., 2011).
Assim, o objetivo do trabalho foi verificar o desempenho de plantas de cobertura na
produção de massa seca e avaliar as alterações promovidas por essas plantas na biomassa
microbiana do solo, sua atividade e seus índices e derivados.
Material e Métodos
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(Silva, 2012). Além disso, para cada experimento, os indicadores microbiológicos foram
submetidos à análise de agrupamento (cluster analysis), adotando-se o método do vizinho
mais distante (complete linkage), a partir da Distância Euclidiana, para descrever a
similaridade entre a atividade microbiana entre as espécies de cobertura.
Resultados e Discussão
No experimento 1, houve diferença significativa entre as espécies de cobertura no
que diz respeito ao rendimento de massa seca da parte aérea (Figura 3). As maiores produções
de massa seca foram verificadas nas espécies de crotalária (CJ), guandu anão (GA) e milheto
(MI) em comparação com a espécie de mucuna-preta (MP), porém similares em relação ao
feijão-de-porco (FP).
Esses resultados remetem à importância dessas espécies como adubos verdes, pois
elas fornecem grandes quantidades de fitomassa, enriquecendo o solo com matéria orgânica e
nutriente, além de promover um controle eficaz contra erosão (Azevedo et al., 2007). Amabile
et al. (2000), avaliando a produção de massa seca de diversos adubos verdes, relataram que a
Crotalaria juncea apresentou maior acúmulo de massa seca em relação as demais espécies e a
mucuna-preta foi a que acumulou menor massa seca na parte aérea, corroborando com o
presente estudo.
Segundo Kluthcouski et al. (2003), para a cobertura plena da superfície do solo, são
necessárias cerca de 7 t ha-1 de massa seca, uniformemente distribuída. Assim, as
produtividades obtidas pela CJ, GA, MI e FP foram satisfatórias, pois situaram-se acima deste
valor; assegurando assim os efeitos benéficos da palhada quanto à manutenção ou melhoria
das características físicas, químicas e biológicas do solo (Darolt et al., 1998).
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Figura 3. Massa seca da parte aérea (MSPA) das espécies de plantas de cobertura utilizadas
como adubos verdes: crotalária (CJ), feijão-de-porco (FP), mucuna-preta (MP), milheto (MI)
e guandu (G). Médias com letras iguais não diferem entre si pelo teste de Duncan, a 5% de
significância.
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produtividade do sistema (Islam & Weil, 2000). Enquanto que, valores elevados de qCO2 são
indicativos de ecossistemas submetidos a alguma condição de estresse ou distúrbio (Bardgett
& Saggar, 1994). Carneiro et al. (2008), avaliando diferentes espécies de adubos verdes e seus
efeitos na BMS, verificou valores elevados de qCO2 no sistema sem plantas de cobertura, este
resultado remete que nessa área estaria ocorrendo perda de carbono na forma de CO 2 para a
atmosfera, havendo um estresse na população microbiana, já em áreas sob resíduos de CJ e G
constatou-se os menores valores de qCO2, demonstrando o efeito positivo dos resíduos dessas
coberturas na população microbiana do solo.
Quanto ao quociente microbiano (qMIC), que expressa o quanto do carbono orgânico
do solo está imobilizado na biomassa microbiana, observou-se que o P apresentou valores
inferiores em relação aos demais sistemas avaliados (Tabela 1). Os índices expressos pelo
qMIC, quando elevados, podem mostrar que valores do carbono orgânico no solo são
elevados, enquanto valores reduzidos indicam perda de carbono no solo, ao longo do tempo
(Mercante et al., 2004). Esse quociente é influenciado por diversos fatores, como o grau de
estabilização do C orgânico e o histórico de manejo do solo (Silva et al., 2010).
O teor de MOS foi maior nas amostras de solo com vegetação nativa, em relação aos
sistemas de cultivo, não havendo diferença significativa entre as espécies de cobertura
(Tabela1). Nas condições de ecossistemas naturais, há fornecimento constante de material
orgânico mais susceptível à decomposição, permanecendo o solo coberto, com menor
variação e níveis mais adequados de temperatura e umidade (Santos et al., 2004). Entre os
sistemas cultivados com plantas de cobertura, não houve diferença significativa. Apesar da
MOS ser considerada um indicador sensível, as alterações promovidas no solo não foram
suficientes para promover alterações na sua concentração (Assis et al., 2003).
Com base na análise de agrupamento de similaridade aplicada aos indicadores
microbiológicos (Figura 4), observa-se que o pousio foi o sistema que se diferenciou dos
demais, com 100% de dissimilaridade. No grupo 2, percebe-se a formação de dois níveis
independentes e distantes. Considerando os níveis, verificou-se uma similaridade de 45% da
VN com os sistemas com plantas de cobertura, por outro lado, as espécies de cobertura
mostraram-se próximos entre si, com 75% de similaridade.
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Figura 5. Massa seca da parte aérea (MSPA) das espécies de adubos verdes. milheto (MI),
mucuna-preta (MP), 25% de milheto + 75% de mucuna-preta (25MI+75MP), 50% de milheto
+ 50% de mucuna-preta (50MI+50MP) e 75% de milheto + 25% de mucuna-preta
(75MI+25MP). Médias de tratamentos com letras iguais não diferem entre si pelo teste de
Duncan a 5% de significância.
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comparação P e MI, não diferindo estatisticamente dos demais avaliados Essas razões
indicam se o conteúdo de carbono está se mantendo estável ou variando de acordo com as
condições impostas (Sparling, 1992). Em condições estressantes para os microrganismos, a
sua capacidade de utilizar o C é diminuída, causando redução no qMIC. Já em condições
adequadas, a utilização de C é favorecida, consequentemente aumentando este índice
(Wardle, 1994).
Em relação a MOS, assim como no experimento realizado em solo classificado como
Argissolo Vermelho, textura arenosa, verificou-se maiores teores na VN em relação aos
cultivados, que não diferiram estatisticamente entre si (Tabela 2). Este resultado também foi
observado por Sousa Neto et al. (2008), que avaliaram durante quatro anos a influencia de
diferentes plantas de cobertura utilizadas como adubos verdes no teor de MOS.
O agrupamento das espécies de cobertura avaliadas com base nos atributos
microbiológicos observados está apresentado na Figura 6. Os tratamentos P e MI
apresentaram 90% de similaridade, no entanto não apresentaram nenhuma similaridade com
as demais espécies avaliadas. Já os consórcios mostraram-se próximos entre si, com 80% de
similaridade. Por outro lado, a MP apresentou maior similaridade com a vegetação nativa,
isso ratifica que o uso de plantas de coberturas, alicerçado em práticas conservacionistas,
contribui para a melhoria da qualidade do ambiente edáfico.
P
G1
MI
MP
Nív el 1
VN
G2
25MI+75MP
75MI+25MP Nív el 2
50MI+50MP
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
Distância Euclediana (%)
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Conclusões
Referências
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Recebido para publicação em: 16/02/2014
Aceito para publicação em: 28/08/2014
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