Avaliação Do Risco Geotécnico de Taludes
Avaliação Do Risco Geotécnico de Taludes
Avaliação Do Risco Geotécnico de Taludes
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Porto Alegre
dezembro 2016
JULIANA KOLTERMANN DA SILVA
Porto Alegre
dezembro 2016
JULIANA KOLTERMANN DA SILVA
Este Trabalho de Diplomação foi julgado adequado como pré-requisito para a obtenção do
título de ENGENHEIRA CIVIL e aprovado em sua forma final pelo/a Professor/a
Orientador/a e pela Comissão de Graduação (COMGRAD) da Engenharia Civil da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
BANCA EXAMINADORA
Agradeço, primeiramente, a Deus por ter me possibilitado a conclusão de mais uma etapa da
vida com saúde, muitos conhecimentos e experiências adquiridos, junto a pessoas das quais
me lembrarei para sempre.
Agradeço aos meus pais Tânia e Régio, e à minha irmã Débora, pelo companheirismo, amor e
atenção que sempre me dedicaram, em todos os momentos e, principalmente, naqueles que
mais precisei. Vocês me apoiaram em todos os meus projetos, me deram forças pra continuar
em frente nas situações difíceis e estavam sempre ao meu lado para comemorarmos as
conquistas. Somente consegui realizar esse sonho com vocês.
Agradeço também a todos os demais familiares, pela compreensão durante todos esses anos,
pelo carinho e pelas palavras reconfortantes e encorajadoras. Em especial, às minhas avós
Nelcy e Marina, e às minhas tias Nilce e Zuleide, que me acompanharam de perto em todos os
momentos da minha vida, me transmitindo ensinamentos e princípios, os quais contribuíram
para minha formação.
Agradeço a todos professores que tive durante minha vida acadêmica, desde o ensino
fundamental até o superior, que me instigaram a buscar mais conhecimento, a dar o melhor de
mim em todos os meus projetos e também, de alguma forma, a seguir a carreira da Engenharia
Civil.
Agradeço ao Prof. Luiz Antônio Bressani, orientador deste trabalho, pelas discussões sempre
muito pertinentes e produtivas sobre o assunto do trabalho, pelos conselhos e apoio recebidos
durante este último ano de graduação, e pelas aulas de Mecânica dos Solos II, que me
inspiraram a seguir a área geotécnica da Engenharia Civil.
Agradeço, por fim, às minhas amigas do Colégio Mãe de Deus, aos meus amigos presentes
desde os primeiros semestres de faculdade, aos amigos/flatmates conhecidos durante o meu
intercâmbio em Bristol e aos amigos adquiridos no decorrer do curso de graduação, em
especial àqueles que me acompanharam durante esses últimos semestres exaustivos e que me
apoiaram para chegar ao sonhado momento da colação de grau.
To see the world, things dangerous to come to, to see
behind walls, draw closer, to find each other and to feel.
That is the purpose of life.
The Secret Life of Walter Mitty
RESUMO
CF – fator de consequência
E – elemento em risco
M – número de mortes
PF – fator de probabilidade
R – risco geotécnico
β – índice de confiabilidade
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 16
2 DIRETRIZES DE PESQUISA ................................................................................... 20
2.1 QUESTÃO DE PESQUISA ....................................................................................... 20
2.2 OBJETIVOS DA PESQUISA .................................................................................... 20
2.2.1 Objetivo Principal ................................................................................................. 20
2.2.2 Objetivos Secundários ........................................................................................... 21
2.3 PRESSUPOSTOS ...................................................................................................... 21
2.4 DELIMITAÇÕES ...................................................................................................... 21
2.5 LIMITAÇÕES ............................................................................................................ 22
2.6 DELINEAMENTO .................................................................................................... 22
3 MOVIMENTOS DE MASSA ..................................................................................... 25
3.1 DEFINIÇÃO DE CONCEITOS BÁSICOS ............................................................... 25
3.2 CLASSIFICAÇÃO DE MOVIMENTOS DE MASSA ............................................. 27
3.2.1 Quedas e rolamentos ............................................................................................. 30
3.2.2 Tombamentos ........................................................................................................ 31
3.2.3 Escorregamentos ou deslizamentos ..................................................................... 32
3.2.3.1 Escorregamentos Circulares ou Rotacionais ........................................................ 33
3.2.3.2 Escorregamentos Planares ou Translacionais ...................................................... 34
3.2.3.3 Escorregamentos em Cunha ................................................................................. 35
3.2.4 Espalhamentos ....................................................................................................... 36
3.2.5 Corridas .................................................................................................................. 37
3.2.6 Rastejos .................................................................................................................. 38
3.3 FATORES PREPARATÓRIOS E ELEMENTOS DESENCADEADORES ............ 40
3.4 INDICADORES VISUAIS DE MOVIMENTAÇÃO ............................................... 42
4 PRINCIPAIS DEFINIÇÕES E FRAMEWORK PARA AVALIAÇÃO DE
RISCO GEOTÉCNICO ............................................................................................ 43
4.1 PRINCIPAIS DEFINIÇÕES PARA AVALIAÇÕES DE RISCO GEOTÉCNICO .. 44
4.2 FRAMEWORK PARA AVALIAÇÕES DE RISCO GEOTÉCNICO ........................ 49
5 METODOLOGIA NACIONAL PARA AVALIAÇÃO DE RISCO
GEOTÉCNICO .......................................................................................................... 50
5.1 ABORDAGEM QUALITATIVA .............................................................................. 51
5.1.1 Modelo de Abordagem da ONU ........................................................................... 52
5.1.1.1 Identificação dos Riscos ....................................................................................... 52
5.1.1.2 Análise dos Riscos ............................................................................................... 53
5.1.2 Conceitos básicos para Análise de Risco ............................................................. 53
5.1.3 Descrição dos movimentos de massa, tipos e proposta de mapeamento .......... 53
5.1.3.1 Descrição dos movimentos de massa ................................................................... 53
5.1.3.2 Tipos de mapeamento ........................................................................................... 55
5.1.3.3 Proposta de método de mapeamento .................................................................... 56
5.1.4 Roteiro metodológico para Análise de Risco e Mapeamento de
Deslizamentos de Solo ............................................................................................... 57
5.2 ABORDAGEM QUANTITATIVA ........................................................................... 61
5.2.1 Considerações Fundamentais ............................................................................... 61
5.2.1.1Análise Determinística e Probabilística ................................................................ 62
5.2.1.2 Origem e Tipos de Incertezas ............................................................................... 63
5.2.1.3 Definições Estatísticas Básicas ............................................................................ 64
5.2.1.4 Fator de Segurança e Confiabilidade ................................................................... 65
5.2.1.5 Risco Geotécnico .................................................................................................. 66
5.2.1.5.1 Método de Monte Carlo .................................................................................... 67
5.2.1.5.2 Índice de Confiabilidade ................................................................................... 67
5.2.1.5.3 Consequências dos eventos adversos ................................................................ 69
5.2.1.5.4 Aceitabilidade do Risco Geotécnico ................................................................. 71
5.2.2 Proposta de Metodologia para Análise Probabilística de Taludes de Terra ... 72
5.2.2.1 Considerações iniciais .......................................................................................... 72
5.2.2.2 Análise Determinística Prévia .............................................................................. 73
5.2.2.3 Análise Probabilística ........................................................................................... 73
6 METODOLOGIA INTERNACIONAL PARA AVALIAÇÃO DE RISCO
GEOTÉCNICO .......................................................................................................... 77
6.1 AVALIAÇÃO DE RISCO DE DESLIZAMENTOS ................................................. 77
6.1.1 Definição do Escopo .............................................................................................. 77
6.1.2 Análise de Perigo ................................................................................................... 78
6.1.2.1 Caracterização do movimento de massa (ameaça) ............................................... 78
6.1.2.2 Análise de frequência ........................................................................................... 79
6.1.2.2.1 Abordagem qualitativa ...................................................................................... 80
6.1.2.2.2 Abordagem quantitativa .................................................................................... 81
6.1.3 Análise de Consequências ..................................................................................... 82
6.1.3.1 Abordagem qualitativa ......................................................................................... 83
6.1.3.2 Abordagem quantitativa ....................................................................................... 84
6.1.4 Estimativa de Risco ............................................................................................... 86
6.1.4.1 Abordagem qualitativa ......................................................................................... 86
6.1.4.2 Abordagem quantitativa ....................................................................................... 87
6.1.5 Critérios de aceitabilidade do risco ..................................................................... 90
6.2 EXEMPLO DE SITUAÇÃO HIPOTÉTICA: DESLIZAMENTO EM ATERRO
RODOVIÁRIO ............................................................................................................ 92
6.2.1 Definição do escopo do exemplo ........................................................................... 93
6.2.2 Caracterização do deslizamento .......................................................................... 93
6.2.3 Estimativa da frequência ...................................................................................... 94
6.2.4 Análise das Consequências ................................................................................... 95
6.2.5 Estimativa do risco geotécnico ............................................................................. 95
6.2.6 Avaliação do risco geotécnico estimado .............................................................. 96
6.3 APLICAÇÕES DA METODOLOGIA A CASOS REAIS ........................................ 97
6.3.1 Aplicação na malha rodoviária de Saskatchewan no Canadá .......................... 98
6.3.1.1 Classificação de perigos ....................................................................................... 99
6.3.1.2 Sistema de Gerenciamento de Deslizamentos ...................................................... 99
6.3.1.3 Análise de Risco ................................................................................................... 99
6.3.1.4 Circuito de Inspeção ............................................................................................. 103
6.3.2 Avaliação preliminar de risco de deslizamentos na rede rodoviária do Nepal 104
6.3.3 Aplicação de avaliação quantitativa de risco ao projeto de Lawrence
Hargrave Drive na Austrália ..................................................................................... 106
7 ANÁLISE DA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ....................................................... 112
7.1 COMPARAÇÃO DAS METODOLOGIAS E ADAPTAÇÕES ............................... 112
7.2 SUGESTÕES DE ADAPTAÇÕES DE PRÁTICAS INTERNACIONAIS .............. 116
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 118
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 120
ANEXO A – Terminologia Qualitativa para uso em Análises de Risco à Propriedade .. 122
ANEXO B – Formulário de Inspeção de Campo ............................................................. 125
16
1 INTRODUÇÃO
Manifestações das forças da natureza sempre ocorreram no planeta, desde muito antes da
espécie humana se estabelecer em cidades, sendo fenômenos aleatórios e incontroláveis por
parte dos humanos. No âmbito de gestão de risco de desastres, esses fenômenos da natureza,
juntamente com fenômenos ocorridos por consequência de ações humanas, são nomeados
conforme o grau de impacto causado pela ocorrência do fenômeno sobre a população.
Segundo Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Centro de Estudos e Pesquisas sobre
Desastres/RS (2014, p. 5, grifo do autor), esses fenômenos são classificados em:
Eventos são fenômenos da natureza ou causados pela ação antrópica que ocorrem
sem causar danos ou prejuízos significativos [...]. Por exemplo: deslizamentos e
inundações que ocorrem em áreas não ocupadas, com consequências mínimas ao
homem e suas atividades [...].
Ainda conforme Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Centro de Estudos e Pesquisas
sobre Desastres/RS (2014, p. 5), são os eventos adversos que podem causar desastres se eles
acontecerem em regiões habitadas vulneráveis. Os eventos de origem natural capazes de
causar “[...] danos humanos, ambientais e/ou materiais e prejuízos ao patrimônio público e
privado [...]” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL; CENTRO DE
ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE DESASTRES/RS, 2014, p. 5) são também chamados de
ameaças (em inglês, danger) (ABGE; ABMS, 2013, p. 81). Um desastre é definido, portanto,
quando os danos mencionados acima são de grande porte, devido a eventos adversos de
elevada magnitude sobre um quadro vulnerável (BRASIL1, 2012 apud UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL e CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE
DESASTRES/RS, 2014, p. 5).
1
BRASIL. Instrução Normativa Nº 1, de 24 de agosto de 2012. Estabelece procedimentos e critérios para a
decretação de situação de emergência ou estado de calamidade pública pelos Municípios, Estados e pelo
Distrito Federal, e para o reconhecimento federal das situações de anormalidade decretadas pelos entes
federativos e dá outras providências. Brasília, DF, 2012.
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Munich Reinsurance Company2 (2002 apud KREIMER et al., 2003, p. 34, tradução nossa)
mostra que houve um aumento de quase oito vezes em perdas econômicas devido a desastres
naturais no mundo desde a década de 1960 (figura 1), sendo que as perdas econômicas per
capita em países em desenvolvimento foram 20 vezes maiores que as de países desenvolvidos,
devido à diferença de tamanho das economias desses países (BENDIMERAD3, 2000 apud
KREIMER et al., 2003, p. 34, tradução nossa). O aumento no número de desastres naturais no
mundo pode ser visto na figura 2, salientando-se que “[...] enquanto o número de ocorrências
de terremotos permaneceu relativamente estável com o tempo, a incidência de eventos
relacionados ao clima acelerou” (KREIMER et al., 2003, p. 34, tradução nossa).
(fonte: MUNICH REINSURANCE COMPANY, 2002 apud KREIMER, 2003, p. 34, tradução
nossa)
2
MUNICH REINSURANCE COMPANY. Topics: Annual Review: Natural Catastrophes 2001. Munich: 2002.
3
BENDIMERAD, F. “Megacities, Megarisk”. The Disaster Management Facility, World Bank. Washington,
D.C, 2000. Available from <http://www.worldbank.org/dmf/knowledge/megacities. htm> accessed June 2002.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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(fonte: MUNICH REINSURANCE COMPANY4, 2002 apud KREIMER, 2003, p. 35, tradução
nossa)
E diante das tendências do cenário mundial com relação a desastres naturais, as Nações
Unidas realizaram, em março de 2015 na cidade de Sendai no Japão, uma conferência
mundial, onde foi adotado o Marco de Sendai para Redução de Risco de Desastre (THE
UNITED NATIONS OFFICE FOR DISASTER RISK REDUCTION, 2015, p. 5, tradução
nossa). O Marco de Sendai tem o objetivo de “Prevenir novos e reduzir riscos existentes de
desastres através da implementação de [...] medidas para prevenir e reduzir a exposição às
ameaças e a vulnerabilidade aos desastres, [...] fortalecendo a resiliência” (THE UNITED
NATIONS OFFICE FOR DISASTER RISK REDUCTION, 2015, p. 36, tradução nossa).
4
MUNICH REINSURANCE COMPANY. Topics: Annual Review: Natural Catastrophes 2001. Munich: 2002.
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2015, p. 36, tradução nossa). Pois, tem como tema principal a apresentação e a comparação de
várias metodologias utilizadas atualmente no Brasil e no mundo para a realização de
avaliações de risco geotécnico, com ênfase em taludes rodoviários, proporcionando maior
compreensão sobre como são praticadas as etapas dessa análise em países desenvolvidos e no
Brasil.
Este trabalho também contribui em parte para uma das metas incluídas no Marco de Sendai, a
qual objetiva “Aumentar substancialmente o número de países com estratégias nacionais e
locais de redução de risco de desastres até 2020” (THE UNITED NATIONS OFFICE FOR
DISASTER RISK REDUCTION, 2015, p. 36, tradução nossa). Tendo o amparo dessas
medidas internacionais, e também, do reconhecimento nacional da necessidade de se abordar
a questão do risco devido a eventos adversos de origem natural, este trabalho espera colaborar
para a conscientização de que investimentos aplicados em infraestruturas, para torná-las mais
resilientes a desastres e diminuir o risco, não somente reduzem gastos de reconstrução e
perdas econômicas, mas também diminuem o número de mortes e de pessoas afetadas por
esses fenômenos da natureza, caso o desastre venha a ocorrer.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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2 DIRETRIZES DA PESQUISA
As diretrizes utilizadas para o desenvolvimento deste trabalho são apresentadas neste capítulo,
sendo subdividas nos seguintes tópicos: questão de pesquisa; objetivos da pesquisa;
pressupostos da pesquisa; delimitações; limitações; e delineamento. Inicialmente, o trabalho
tinha como objetivo realizar uma análise de risco geotécnico em um trecho de rodovia,
entretanto, devido a problemas com a obtenção e manipulação de dados, a parte de aplicação
prática dos conhecimentos adquiridos não foi abordada no presente trabalho.
Para este trabalho, formulou-se a seguinte questão de pesquisa: através de uma análise de
metodologias nacionais e internacionais para avaliação de risco geotécnico de taludes, como
adaptar práticas internacionais ao contexto brasileiro, de forma que possibilitem uma
abordagem mais numérica para análises de risco de taludes?
Este trabalho tem como objetivo principal analisar e comparar as diferentes metodologias
nacionais e internacionais pesquisadas, a fim de determinar quais práticas aplicadas em países
desenvolvidos poderiam ser adaptadas para complementar as técnicas brasileiras de análise de
risco geotécnico, proporcionando uma abordagem com um cunho numérico e contribuindo
para diminuir a subjetividade dos resultados usualmente encontrados na maioria das análises
atuais no Brasil.
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2.3 PRESSUPOSTOS
Este trabalho tem por pressuposto que uma análise quantitativa da probabilidade de ruptura de
um talude realizada a partir do uso da Teoria das Probabilidades é considerada adequada para
fenômenos geotécnicos, sendo utilizada por profissionais da área (BRESSANI; COSTA,
2007, p. 15); sendo assim não tem o propósito de sugerir metodologias inovadoras para a
análise de risco geotécnico com abordagem quantitativa. Além disso, o trabalho terá como
base um framework amplamente empregado internacionalmente por engenheiros responsáveis
por análises de risco (ABGE; ABMS, 2013, p. 29), considerando tal metodologia capaz de
gerar resultados confiáveis. Não é uma finalidade do trabalho validar a competência desse
método na avaliação de situações de risco.
2.4 DELIMITAÇÕES
Uma vez que avaliações de riscos podem englobar muitas situações de eventos adversos, tanto
de origem natural como tecnológica, este trabalho se delimita a pesquisar metodologias de
avaliação de risco geotécnico devido a movimentos de massa em taludes rodoviários, sendo
que, devido à falta de um procedimento padrão para taludes rodoviários publicado por algum
órgão nacional, uma metodologia brasileira para análise de risco de taludes urbanos também
será apresentada. Há de se considerar que existem diferenças entre taludes rodoviários e
urbanos, principalmente relativas ao uso do talude, à ocupação humana e à possibilidade de se
obter informações geotécnicas a partir de ensaios.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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2.5 LIMITAÇÕES
2.6 DELINEAMENTO
As etapas que serão seguidas para a execução deste trabalho são descritas abaixo e também
são apresentadas na figura 3, a fim de explicitar as relações entre as diversas etapas ao longo
do desenvolvimento do trabalho.
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Para a parte de metodologia nacional, foram detalhadas uma metodologia de análise de risco
geotécnico em taludes urbanos, de abordagem qualitativa, e uma metodologia de análise de
risco geotécnico de taludes naturais, utilizando uma abordagem quantitativa para a
determinação da probabilidade de ruptura do talude. Já para a metodologia internacional,
além da apresentação de metodologias de avaliação de risco geotécnico para taludes, com
abordagens qualitativa e quantitativa, um exemplo de uma situação hipotética e algumas
adaptações das metodologias para situações de taludes rodoviários reais em diversos países
foram explicitados neste trabalho, com fins de demonstrar a aplicabilidade dessas
metodologias a situações encontradas no cotidiano de engenheiros geotécnicos.
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3 MOVIMENTOS DE MASSA
Os movimentos de massa consistem nas ameaças mais frequentes a que rodovias e estruturas
em geral localizadas ao longo de encostas estão submetidas. Primeiramente, é preciso definir
os conceitos básicos referentes a esse tipo de fenômeno, que serão aplicados no resto do
trabalho, para que não gere confusão aos leitores. Logo após a definição dos conceitos, será
apresentada a classificação de movimentos de massa utilizada na pesquisa, seguida da
caracterização e do detalhamento dos movimentos de massa presentes na mesma. Para
finalizar o capítulo, serão descritos os elementos desencadeadores e fatores preparatórios de
movimentos de massa, e os indicadores visuais de movimentação.
Entende-se que taludes sejam “[...] extensões de solo com declividades mensuráveis e que
podem sofrer deslocamentos em função da sua inclinação” (BRESSANI, 2016). A partir dessa
definição, há uma divisão, diferenciando os taludes conforme a atuação do homem ou não
sobre o talude em:
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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(fonte: CARVALHO et al., 2007, p. 29) (fonte: CARVALHO et al., 2007, p. 30)
Os taludes são caracterizados geometricamente por dois parâmetros básicos: sua inclinação e
sua declividade. Tendo a figura 6 como modelo para a determinação desses parâmetros, são
definidas:
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Onde:
α = Inclinação (em medida de ângulo, geralmente graus);
D = Declividade (em porcentagem);
H = Amplitude;
L = Comprimento na Horizontal.
Finalmente, um movimento de massa pode ser definido conforme Selby5 (1993, p. 249 apud
HOLCOMBE, 2015, tradução nossa) como:
[...] água e gelo, entretanto, são frequentemente envolvidos por reduzir a resistência
do material da encosta e contribuir para o comportamento plástico e fluido dos solos.
5
SELBY, M. J. Hillslope Materials and Processes. 2nd ed. Oxford: Oxford University Press, 1993.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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em 1978 e atestado que essa classificação é mais amplamente utilizada (THE GEOLOGICAL
SOCIETY, s. d., tradução nossa). Já que este trabalho abordará metodologias nacionais e
internacionais de análise de risco, a classificação de movimentos de massa a ser adotada no
trabalho será a de Varnes, por ser a mais aplicada mundialmente.
A classificação de movimentos de massa proposta por Varnes em 1978 possui dois termos
que, quando unidos, formam a denominação do movimento. O primeiro termo refere-se ao
tipo de movimento e “[...] descreve como o movimento do deslizamento é distribuído através
da massa deslocada”, sendo “Os cinco tipos cinematicamente distintos [...] descritos na
sequência quedas, tombamentos, escorregamentos/deslizamentos, escoamentos e corridas”
(THE GEOLOGICAL SOCIETY, s. d., tradução nossa). O segundo termo descreve o tipo de
solo deslocado pelo movimento de massa, divididos em (VARNES6, 1978 apud THE
GEOLOGICAL SOCIETY, s. d., tradução nossa):
a) Rocha: é uma massa rija ou firme que estava intacta e no seu lugar natural antes
do início do movimento;
c) Terra: descreve material no qual 80% ou mais das partículas são menores que
2mm, o limite superior de partículas do tamanho de areia;
d) Lama: descreve material no qual 80% ou mais das partículas são menores que
0,06mm, o limite superior de partículas do tamanho de silte;
6
VARNES, D. J. Slope movement types and processes. In: LANDSLIDES: ANALYSIS AND CONTROL,
1978, Washington D. C., USA. Special Report 176... Transportation and Road Research Board, National
Academy of Science, 1978, p. 11-33.
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(fonte: adaptado de VARNES7, 1978 apud THE GEOLOGICAL SOCIETY, s. d., tradução nossa)
7
VARNES, D. J. Slope movement types and processes. In: LANDSLIDES: ANALYSIS AND CONTROL,
Washington D. C., USA. Special Report 176... Transportation and Road Research Board, National Academy
of Science, 1978, p. 11-33.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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As quedas de rocha são movimentos verticais para baixo, em que não há significativo
deslocamento de massa causado por cisalhamento (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p.
8). As massas de rocha (na forma de blocos e/ou lascas de rochas) se desprendem de taludes
íngremes ou penhascos com velocidades muito rápidas em queda livre (em uma ordem de
grandeza de m/s) (CARVALHO et al., 2007, p. 37). Durante o deslocamento da massa de
rocha, o material pode se chocar contra partes inferiores do talude, causando saltos ou, até
mesmo, a quebra do material com consequente rolamento das partes menores até uma cota
mais baixa do terreno, como pode ser visto na figura 7. O volume de material deslocado em
uma queda pode variar expressivamente, de blocos individuais (também conhecidos como
matacões) a centenas de metros cúbicos de rocha (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 8).
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3.2.2 Tombamentos
Conforme Carvalho et al. (2007, p. 38), os tombamentos, assim como os outros movimentos
em rocha, ocorrem predominantemente em taludes íngremes com fraturas e diaclases
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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As principais ocorrências são notadas em taludes de corte, onde ocorre o desconfinamento das
descontinuidades devido à mudança de geometria do talude, promovendo o movimento de
blocos de rocha. Quando do seu acontecimento em taludes rodoviários, pode ocasionar danos
muito destrutivos, especialmente se a ruptura for repentina e/ou sua velocidade for alta, o que
pode ser possível se a distância de deslocamento do bloco de rocha for elevada (HIGHLAND;
BOBROWSKY, 2008, p. 11).
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movimento pode acontecer com vários tipos de material, como solo, saprolito, rocha e
depósitos (CARVALHO et al., 2007, p. 34).
Segundo os mesmos autores, esse tipo de escorregamento usualmente não oferece risco a
vidas, caso sua velocidade seja lenta, mas podem causar muitos danos a estruturas, redes de
abastecimento e rodovias. Esses danos podem alcançar altos valores especialmente quando
essas estruturas estiverem sobre ou dentro da massa, se ela for deslocada pelo movimento
(HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 14).
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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Dentre os tipos de escorregamento, um dos mais comuns pelo mundo são os escorregamentos
translacionais, já que eles ocorrem em todos os tipos de ambientes e condições. Sua extensão
pode variar de algumas centenas de metros quadrados até quilômetros quadrados, mas
geralmente são mais rasos que os escorregamentos rotacionais. A velocidade desse tipo de
movimento é bastante variável também, ele pode iniciar-se lento e chegar a velocidades
moderadas, muitas vezes, ou até a altas velocidades. Entretanto, quando atingidas velocidades
elevadas, esse tipo de movimento pode se transformar em corrida (HIGHLAND;
BOBROWSKY, 2008, p. 16).
A massa [...] move-se para fora, ou para baixo e para fora, ao longo de uma
superfície relativamente plana, com pequeno movimento rotacional ou inclinação
para trás. Este tipo de deslizamento pode progredir por distâncias consideráveis, se a
superfície da ruptura estiver suficientemente inclinada, ao contrário dos
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Quanto aos danos provocados pelos deslizamentos deste tipo, os autores acima indicam que
esses movimentos somente arriscam a vida de pessoas quando se dão em altas velocidades. Se
o movimento for lento, ele poderá causar danos a propriedades e/ou redes de abastecimento
(HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 17).
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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3.2.4 Espalhamentos
A área afetada pelo movimento pode variar, começando em uma parte pequena do terreno e
evoluindo para centenas de metros de amplitude. Da mesma forma, as velocidades variam de
lentas a moderadas chegando a ser rápidas, conforme a saturação aquosa das camadas de solo
(HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 19-20).
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37
A ocorrência de espalhamentos laterais está ligada a características do solo e do local, por isso
eventos de movimento de massa desse tipo acontecem somente onde há solos os quais possam
sofrer liquefação ou em áreas com atividades sísmicas. Eles são desencadeados por
mecanismos que desestabilizem a camada inferior menos rígida, como: terremotos (causam
liquefação), sobrecarga do terreno, saturação das camadas do subsolo, erosão na base de um
talude (causa liquefação), deformação plástica de uma camada de solo profunda e instável. Os
danos causados por escoamentos geralmente são restritos a danos a estruturas e propriedades,
como rodovias e edifícios, podendo ser elevados (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 19-
20).
3.2.5 Corridas
Corridas ou fluxos são um dos tipos de movimentos de massa mais rápidos e com maior raio
de alcance e, por isso, são um dos mais destrutivos. Carvalho et al. (2007, p. 39) apontam que
“As corridas de massa são movimentos gravitacionais de massa complexos, ligados a eventos
pluviométricos excepcionais [...], sendo o seu escoamento ao longo de um ou mais canais de
drenagem [...]”, como pode ser visto na figura 14. Highland e Bobrowsky caracterizam com
mais detalhe o fluxo de detritos, que é um movimento que carrega grandes quantidades de
solo solto, rochas e, às vezes, material orgânico, misturados à água, formando um fluxo cujo
comportamento se assemelha a um líquido viscoso (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p.
22).
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
38
3.2.6 Rastejos
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39
(inferior a um metro por década – mm ou cm por ano), se torna complicado definir os limites
da movimentação (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 33).
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
40
[...] o conjunto das características intrínsecas do meio físico natural, podendo ser
diferenciados em complexo geológico-geomorfológico (comportamento das rochas,
perfil e espessura do solo em função da maior ou menor resistência da rocha ao
intemperismo) e complexo hidrológico-climático (relacionado ao intemperismo
físico-químico e químico). A gravidade e a vegetação natural também podem estar
inclusos nesta categoria.
a) Inclinação do talude;
d) Vegetação;
g) Fatores antropogênicos.
Para cada tipo de movimento, uma combinação de certas características das condicionantes
acima é necessária para haver a possibilidade do movimento. Por exemplo, como descrito na
seção acima no subitem sobre escorregamentos rotacionais, eles são característicos de
maciços com materiais homogêneos e de taludes com inclinação de 20 a 40 graus. Para os
outros tipos de movimento de massa, alguns dos fatores preparatórios estão incluídos na
descrição dos movimentos, na seção anterior.
Já com relação aos elementos desencadeadores de movimentação, em termos gerais, eles são
muito similares para todos os movimentos de massa. Para Carvalho et al. (2007, p. 41), os
elementos desencadeadores são:
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41
Este último grupo de elementos desencadeadores são considerados como sendo de caráter
imediato, ou seja, logo após o acontecimento de um ou mais desses elementos, o movimento
de massa ocorre (CARVALHO et al., 2007, p. 41). Highland e Bobrowsky são mais
detalhistas e especificam os elementos desencadeadores conforme a classificação do
movimento de massa. A seguir são apresentados os elementos desencadeadores citados pelos
autores que se enquadram ao quadro climático brasileiro (CARVALHO et al., 2007, p. 37, 39;
HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 8-9, 11, 13, 16, 23, 33):
Além dos condicionantes naturais, os condicionantes antrópicos podem ser bastante decisivos
para o início de movimentação de um talude. Alguns dos condicionantes que podem ser
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
42
Para as quedas de rocha, que consistem na separação de um solo e/ou de uma rocha de um
talude íngreme, alguns indicadores visuais de movimentação são as presenças de rochas
pendentes, partidas ou reincorporadas aos taludes (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 8-
9). No caso de tombamento de rochas, um indicador visual importante é a mudança de
inclinação de taludes próximos a fissuras e de áreas com maior movimentação vertical
(HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 12).
Já com relação a rastejos, os indicadores visuais são “[...] trincas observadas em toda a
extensão do terreno natural, que evoluem vagarosamente, e árvores ou qualquer outro marco
fixo, que apresentam inclinações variadas” (CARVALHO et al., 2007, p. 33-34).
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43
Onde:
R = Risco geotécnico devido a “n” eventos aleatórios (“i” varia de 1 a “n”);
Pi = Probabilidade de ocorrência do evento aleatório Ei;
Ci = Consequência ou dano do evento aleatório Ei.
Alguns autores utilizam também uma versão estendida (fórmula 4) para a definição de risco,
na qual a parcela de consequência é desdobrada em exposição e vulnerabilidade
(HOLCOMBE, 2015, tradução nossa). Por isso, além da apresentação desses conceitos
introdutórios, é necessário abordar outras definições e a terminologia pertencentes à
metodologia de análise de risco geotécnico geralmente utilizadas para estudos nessa área.
8
CARVALHO, C. S. Risco geotécnico em favelas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS
SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA, 11., COBRAMSEG, Brasília, 1998. Anais... Brasília, 1998, v.4,
p.123-141.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
44
Este capítulo aborda os conceitos definidos por Fell et al. em 2008 no trabalho de nome
Diretrizes para o Zoneamento da Suscetibilidade, Perigo e Risco de Deslizamentos para
Planejamento do Uso do Solo (Guidelines for Landslide Susceptibility, Hazards and Risk
Zoning Land use Planning) pelo Comitê Técnico em Deslizamentos e Taludes Artificiais
(Joint Technical Committee on Landslides and Engineered Slopes – JTC-1). Nesta
publicação, é expressa a importância de que todos os documentos relacionados a esse assunto
se utilizem do mesmo conjunto de conceitos, para evitar “mau entendimento de seus termos”
(ABGE; ABMS, 2013, p. 25). Além das principais definições, será exibido o framework para
análise de risco geotécnico apresentado por Fell et al. em 2005, no qual este trabalho será
baseado.
É importante saber que análises de risco de encostas e taludes sempre existiram, mesmo que
não formalizadas, porém sem que houvesse uma estrutura para padronizar essas avaliações.
As primeiras aplicações formais de uma estrutura para análise de risco de movimentos de
massa foram utilizadas para zoneamento de deslizamentos para planejamento urbano e
gerenciamento de taludes rodoviários na década de 1970, de forma qualitativa. Nas décadas
seguintes, abordagens quantitativas começaram a ser utilizadas e o uso dessas análises foi
estendido para encostas individuais, dutovias e gerenciamento global de risco de encostas
(FELL et al., 2005, p. 3, tradução nossa).
9
Referindo-se a todos os tipos de movimento de massa.
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45
(ABGE; ABMS, 2013, p. 39). Há a necessidade, então, de se definir o que é cada um desses
termos citados acima, segundo ABGE; ABMS (2013, p. 25-27, 84):
ABGE; ABMS (2013, p. 39) indicam que zoneamentos de risco geralmente serão mais
utilizados em situações nas quais o número de elementos em risco já está definido, ou pelo
menos, previsto. Além disso, no que tange a ameaça de movimentos de massa, uma análise de
risco é normalmente mais necessária quando a velocidade e intensidade (medida através da
combinação da própria velocidade e do volume deslocado) do deslizamento tenham maior
probabilidade de serem elevadas (ABGE; ABMS, 2013, p. 39).
10
CARVALHO, C. S. Risco geotécnico em favelas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS
SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA, 11., COBRAMSEG, Brasília, 1998. Anais... Brasília, 1998, v.4,
p.123-141.
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47
Uma medida do grau de certeza. Esta medida tem um valor entre zero
(impossibilidade) e 1,0 (certeza). É uma estimativa da possibilidade da magnitude de
uma quantidade incerta ou da possibilidade da ocorrência de um evento no futuro.
Existem duas interpretações principais:
As consequências, que devem ser estimadas para caracterização de uma análise de risco, são
proporcionais ao número de elementos em risco (em exposição à ameaça) e às suas
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
50
Este material apresenta uma metodologia básica de análise de risco, que permite o
mapeamento dos riscos, a implementação de medidas de segurança nas áreas mapeadas, se
forem necessárias, e a comparação das situações de risco através de todo o território nacional
(CARVALHO et al., 2007, p. 11). Entretanto, por ter como público-alvo técnicos municipais,
que usualmente são profissionais sem conhecimento técnico avançado em geologia/geotecnia,
e por ser de baixo custo de execução, a metodologia apresentada no material é de abordagem
qualitativa.
Esse tipo de abordagem se adapta bem à realidade das áreas urbanas das cidades brasileiras,
onde a realização de ensaios de campo é relativamente difícil e o custo de ensaios de campo e
laboratoriais por vezes excedem o orçamento dos municípios para esse problema. Porém, para
casos mais específicos, como análises de encostas e taludes de áreas rurais dos municípios, é
possível a aplicação de uma metodologia mais quantitativa para análise de risco, utilizando-se
métodos probabilísticos.
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51
O material desenvolvido por Carvalho et al. (2007) e disponibilizado pelo IPT foi realizado
com a finalidade de abordar quatro questões importantes no âmbito do gerenciamento de áreas
urbanas com risco de deslizamentos, enchentes e inundações. A seguir, são apresentadas as
questões com seus respectivos planos de ações para respondê-las (CARVALHO et al., 2007,
p. 17):
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
52
Nesse modelo de abordagem, há a definição de ações essenciais que devem estar presentes em
programas de Mitigação de Desastres, as quais incluem (CARVALHO et al., 2007, p. 19):
c) Medidas de prevenção;
Como o presente trabalho se limita à análise de risco, não envolvendo as demais atividades do
gerenciamento de risco, serão detalhados aqui somente as duas primeiras ações do programa
de Mitigação de Desastres apresentadas acima.
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53
c) Cadastramento de risco;
d) Carta de risco;
e) Hierarquização de risco;
Neste item, será oferecido um comentário sobre a descrição de movimentos de massa contida
no manual do IPT e serão indicados os tipos e uma proposta de método de mapeamento
exibidos no mesmo material de treinamento para técnicos municipais.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
54
11
AUGUSTO FILHO, O. Caracterização geológica-geotécnica voltada à estabilização de encostas: uma proposta
metodológica. In: CONFERÊNCIA BRASILEIRA SOBRE ESTABILIDADE DE ENCOSTAS, 1, 1992, Rio
de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABMS/ABGE. p. 721-733.
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55
Carvalho et al. (2007, p. 42-43) consideram que dentre vários tipos de mapeamento, três deles
podem ser destacados, já que, a partir de suas realizações, é obtido um mapeamento de risco
de determinada área. Os três tipos de mapeamento são: mapa de inventário, mapa de
suscetibilidade e mapa de risco (postos na sequência de suas execuções).
O mapa de inventário é o primeiro a ser feito e demonstra a distribuição espacial dos eventos,
o tipo, tamanho, forma e estado da atividade, e informações coletadas em campo, como fotos
e imagens (CARVALHO et al., 2007, p. 42). O segundo é o mapa de suscetibilidade, que
depende da realização do primeiro mapa para possibilitar sua execução. O mapa de
suscetibilidade expressa a suscetibilidade de áreas de risco às ameaças, de acordo com a
probabilidade de ocorrência dos processos naturais ou induzidos. Esse mapa é essencial para
elaborar medidas de prevenção e planejamento de uso do solo e ocupação, tendo as seguintes
características: é fundamentado no mapa de inventário; inclui os fatores influentes na
possibilidade de ocorrência dos eventos, explicitando sua correlação; e classifica as áreas de
risco segundo graus de suscetibilidade (CARVALHO et al., 2007, p. 42-43).
Mesmo que o mapa expresse a suscetibilidade das áreas conforme graus de probabilidade de
ocorrência, por se tratar de uma abordagem qualitativa, deve-se entender suscetibilidade como
um potencial de que os eventos adversos ocorram na região, sem a exigência de cálculo
rigoroso de probabilidade de ocorrência. Se um cálculo mais formal de probabilidade de
ocorrência for feito e se houver uma avaliação do potencial do deslizamento causar danos,
seria mais adequado nomear-se o mapeamento como um mapa de perigo, para ir de acordo
com a terminologia internacionalmente adotada.
Por fim, com a posse dos mapas de inventário e suscetibilidade, pode ser realizado o mapa de
risco. Este mapa classificará as áreas segundo graus de risco, a partir da avaliação dos danos
potenciais à população, que são resultados da conjunção da probabilidade de ocorrência das
ameaças com as consequências sociais e econômicas decorrentes das mesmas ameaças, se
estas de fato acontecerem. Este tipo de mapa tem como características principais: contém a
probabilidade espacial e temporal, tipologia e comportamento das ameaças; apresenta as
vulnerabilidades dos elementos em risco e os custos dos danos; e possui aplicabilidade
temporal limitada (CARVALHO et al., 2007, p. 43).
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
56
O método de mapeamento proposto por Carvalho et al. (2007) tem como objetivo “[...] a
identificação e caracterização de áreas de risco sujeitas a deslizamentos e solapamentos de
margens [...]” (CARVALHO et al., 2007, p. 43), e para realização de tal propósito, usam-se
duas metodologias: o zoneamento e o cadastramento de risco.
Para Carvalho et al. (2007, p. 44), “O zoneamento compreende a identificação dos processos
destrutivos atuantes, a avaliação do risco de ocorrência de acidentes e a delimitação e
distribuição espacial de setores homogêneos em relação ao grau de probabilidade de
ocorrência do processo ou [...] de risco [...]”. Segundo o mesmo autor, o cadastramento de
riscos oferece informações mais detalhadas sobre esses setores de risco, como quantidade de
moradias nessas áreas, identificando quais necessitam ser removidas, e é considerado
essencial para ações de intervenção dos órgãos responsáveis. O cadastramento também
possibilita a análise de situações individualmente ou por grupos de mesmo grau de
probabilidade de ocorrência do processo ou risco (CARVALHO et al., 2007, p. 44).
a) R4 – Muito Alto;
b) R3 – Alto;
c) R2 – Médio;
d) R1 – Baixo ou sem risco.
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59
Além dos campos para preenchimento desses oito passos na ficha de vistoria, há espaços
destinados para o técnico responsável anotar outras informações sobre a moradia ou o talude
em si e também para fazer desenhos. São requisitados dois desenhos, essenciais para permitir
discussões sobre o cadastro entre pessoas que não o executaram, os quais são: a planta de
situação da(s) moradia(s), incluindo indicadores visuais de movimentação se possível, e o
perfil da encosta, com as medidas/cotas relevantes para a análise (CARVALHO et al., 2007,
p. 67).
É importante ressaltar que os técnicos municipais são encorajados, por meio de um lembrete
na ficha de campo, a buscar auxílio de profissionais especializados em geologia-geotecnia,
caso estejam em dúvida sobre alguma situação encontrada durante o cadastramento. Os
cadastros também possuem a assinatura do técnico responsável por suas realizações, e “ [...] a
possibilidade de responsabilização por um diagnóstico equivocado, que possa ter causado
prejuízos materiais ou sociais” existe (CARVALHO et al., 2007, p. 68).
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61
A abordagem quantitativa à Análise de Risco proposta por Costa (2005) envolve o uso de
probabilidade e estatística para estimar as incertezas referentes aos parâmetros de entrada, que
sempre estarão presentes nas análises, mesmo que o modelo de análise determinística a ser
utilizado (geralmente o de equilíbrio limite) seja o mais completo possível. As incertezas têm
diversas origens como “[...] a heterogeneidade e anisotropia inerentes ao solo, as dificuldades
experimentais de investigação e a dificuldade de se estabelecer a superfície de ruptura
crítica”, além disso há incertezas devidas às simplificações adotadas para possibilitar a análise
por modelos determinísticos (COSTA, 2005, p. 17-18).
Nesse sentido, o presente capítulo apresentará algumas considerações principais, tidas como
básicas para a contextualização e o entendimento da metodologia proposta por Costa (2005), e
a metodologia de análise probabilística de taludes de terra propriamente dita.
Nesta seção, serão abordadas algumas observações sobre itens pertinentes à análise de Costa
(2005) que são consideradas importantes como base teórica para a compreensão da
metodologia proposta pelo autor. Este item é subdividido em: Análise Determinística e
__________________________________________________________________________________________
Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
62
12
EL-RAMLY, H. Probabilistic analysis of landslide hazards and risks: bridging theory and practice. 2001.
Thesis (Doctor of Philosophy in Geotechnical Engineering), Faculty of Graduate Studies and Research,
Department of Civil and Environmental Engineering, Edmonton, Alberta, Canada; Jan., 2001, 391p.
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63
Conforme Costa (2005, p. 36), todas as etapas de uma obra envolvem incertezas, a partir da
caracterização do local, posteriormente o projeto e a tomada de decisões, até a construção. As
incertezas podem ser muito influentes na confiabilidade da segurança estimada de um talude,
o que pode ser percebido quando rupturas ocorrem em obras projetadas para serem seguras.
13
EL-RAMLY, H. Probabilistic analysis of landslide hazards and risks: bridging theory and practice. 2001.
Thesis (Doctor of Philosophy in Geotechnical Engineering), Faculty of Graduate Studies and Research,
Department of Civil and Environmental Engineering, Edmonton, Alberta, Canada; Jan., 2001, 391p.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
64
Como foi dito no item 5.2.1.1, o método probabilístico para análise de estabilidade de taludes
considera que os parâmetros de entrada são variáveis aleatórias. Portanto, esses parâmetros
possuem uma média (µ) e um desvio padrão (σ), sendo que “A média é uma medida de
localização central ou a melhor estimativa da propriedade do solo; enquanto que o desvio
padrão é uma medida da dispersão dos dados ou da incerteza” (COSTA, 2005, p. 49).
Segundo Costa (2005, p. 50) e diversos outros trabalhos lá citados, “A distribuição normal (ou
Gaussiana) e as distribuições log-normais são os modelos de variáveis aleatórias mais usuais”,
ver figura 19 que mostra uma distribuição normal. Porém, quando opiniões e julgamentos de
especialistas em geotecnia forem utilizados para se estabelecer probabilidades de ocorrência
de determinados valores para parâmetros de entrada, como probabilidades subjetivas, pode ser
adotada uma distribuição triangular, onde “b” refere-se a melhor estimativa e “a” e “c” aos
limites inferior e superior do intervalo, respectivamente, como pode ser visto na figura 20
(WHITMAN, 1984 apud COSTA, 2005, p. 50).
14
WHITMAN, R. V. Evaluating calculated risk in geotechnical engineering. Journal of Geotechnical
Engineering. New York: ASCE, v.110, n.2, p.144-188. Feb. 1984, 17., Terzaghi Lecture.
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65
(fonte: adaptado de COSTA, 2005, p. 51) (fonte: adaptado de COSTA, 2005, p. 51)
Assim, para “[...] assegurar o desempenho satisfatório do sistema dentro das restrições
econômicas, que implicam no desenvolvimento de projetos sem informações completas e sob
condições de incertezas”, é utilizada a Teoria da Confiabilidade, um ramo da Teoria da
Probabilidade (WHITMAN, 1984 apud COSTA, 2005, p. 54-55). Nessa Teoria da
15
WHITMAN, R. V. Evaluating calculated risk in geotechnical engineering. Journal of Geotechnical
Engineering. New York: ASCE, v.110, n.2, p.144-188. Feb. 1984, 17., Terzaghi Lecture.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
66
Com relação aos conceitos pertinentes à Análise de Risco Geotécnico, Costa (2005) segue os
conceitos apresentados por Fell em 1994. Como no presente trabalho já foram abordados os
conceitos de risco e demais definições segundo um trabalho do mesmo autor, porém mais
recente (ver ABGE; ABMS, 2013, capítulo 1 e item 4.1 deste trabalho), considera-se que é
desnecessário apresentar todos conceitos definidos em Costa (2005) neste item.
Entretanto, a reapresentação da fórmula 5 a seguir é relevante, para ilustrar como o risco foi
definido na dissertação de Costa (2005). Esta expressão é adotada por Carvalho16 (1998 apud
COSTA, 2005, p. 72) e tem o mesmo significado do conceito definido por ABGE; ABMS
(2013), já apresentado neste trabalho no capítulo Introdução e no capítulo 4, página 43.
Onde:
R = Risco geotécnico devido a “n” eventos aleatórios (“i” varia de 1 a “n”);
Pi = Probabilidade de ocorrência do evento aleatório Ei;
Ci = Consequência ou dano do evento aleatório Ei.
16
CARVALHO, C. S. Risco geotécnico em favelas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS
SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA, 11., COBRAMSEG, Brasília, 1998. Anais... Brasília, 1998, v.4,
p.123-141.
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67
Neste item serão apresentados os seguintes tópicos: Método de Monte Carlo, Índice de
Confiabilidade, Consequências dos eventos adversos e Aceitabilidade do Risco.
17
GUEDES, M. C. S. Considerações sobre análise probabilística da estabilidade de taludes. 1997.
Dissertação (Mestrado), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, RJ, 1997, 202p.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
68
β = (µ – 1,0) / σ (fórmula 6)
Onde:
β = Índice de confiabilidade;
µ = Média dos fatores de segurança;
σ = Desvio Padrão dos fatores de segurança.
Para se utilizar o Índice de Confiabilidade em uma análise, é preciso que a hipótese de que a
função distribuição Normal do Fator de Segurança é consistente com as funções distribuição
das variáveis de entrada, seja verdadeira. Através de estudos de laboratório, vários autores
puderam confirmar essa hipótese, já que a curva de distribuição de probabilidades de Gauss
foi considerada adequada para representar o comportamento de variáveis geotécnicas
envolvidas em análises de estabilidade de taludes, como a coesão (c’) e a tangente do ângulo
de atrito interno (tan(ϕ’)) (COSTA, 2005, p. 85-86, 112).
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69
Para Costa (2005, p. 93), análises de risco quantitativas envolvem a determinação de dois
modelos, que juntos consistem no modelo de risco: modelo do processo de instabilização e
modelo de consequências. Como um exemplo simplificado desse tipo de análise, Costa (2005)
apresentou uma análise quantitativa feita por Carvalho (1998).
Neste exemplo, Carvalho19 (1998 apud COSTA, 2005, p. 94) utilizou como uma
representação gráfica do modelo do processo de instabilização uma árvore de eventos, onde
os eventos aleatórios (Eis) relacionados às possíveis formas de evolução do processo de
instabilização estão colocados em ordem cronológica (figura 24). As consequências foram
divididas entre custos associados à destruição das propriedades localizadas na área de risco e
mortes das pessoas residentes nessas moradias. Ambos os elementos em risco (moradias e
18
MACHADO, S. L.; RIBEIRO, M. P. Estudo estatístico de parâmetros de resistência de um solo residual de
Granulito. In: CONFERÊNCIA BRASILEIRA SOBRE ESTABILIDADE DE ENCOSTAS, 3., COBRAE,
Rio de Janeiro, 2001. Anais... Rio de Janeiro: ABMS, 2001, p.345-353.
19
CARVALHO, C. S. Risco geotécnico em favelas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS
SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA, 11., COBRAMSEG, Brasília, 1998. Anais... Brasília, 1998, v.4,
p.123-141.
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70
M = Dmd * T (fórmula 8)
Onde:
Dmd = Número de moradias destruídas;
Cst = Prejuízo monetário;
V = Valor de uma moradia (admitido constante);
M = Número de mortes;
T = Número de habitantes em uma moradia (admitido constante).
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71
O risco foi determinado a partir do uso das probabilidades apresentadas na árvore de eventos,
das fórmulas 7 e 8 (para o cálculo das consequências) e da fórmula 5 (CARVALHO20, 1998
apud COSTA, 2005, p. 95). Vale ressaltar que no trabalho de Carvalho (1998), as
probabilidades utilizadas para a análise de risco foram probabilidade subjetivas. Portanto,
Carvalho (1998 apud COSTA, 2005, p. 96) faz algumas ponderações sobre o uso de
probabilidades subjetivas em análises, que merecem ser expostas neste trabalho também:
Este trabalho se limitará a apresentar apenas uma das formas que Costa (2005) explicitou em
seu trabalho, a fim de evitar delongas e reproduzir explicações sobre técnicas que não são
possíveis de serem utilizadas no Brasil atualmente, uma vez que necessitam de um banco de
dados e posterior tratamento estatístico.
20
CARVALHO, C. S. Risco geotécnico em favelas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS
SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA, 11., COBRAMSEG, Brasília, 1998. Anais... Brasília, 1998, v.4,
p.123-141.
21
FELL, R. Landslide risk assessment and acceptable risk. Canadian Geotechnical Journal. Canada, v.31,
p.261-272, 1994.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
72
A proposta metodológica para análise probabilística de taludes de terra que consta nessa
seção, e que foi apresentada por Costa (2005) na sua dissertação de mestrado, é adaptada de
uma metodologia desenvolvida por El-Ramly22 (2001). Essa metodologia representa a
tentativa de se introduzir métodos probabilísticos na prática de análises e projetos geotécnicos
atuais no Brasil (COSTA, 2005, p. 105).
Inicialmente, deve-se indicar as condições para as quais a metodologia proposta pode ser
utilizada. De acordo com Costa (2005, p. 105):
Além disso, a análise probabilística necessita ser levada em consideração desde a primeira
etapa do projeto, no nível de planejamento da investigação geotécnica, até a análise de
22
EL-RAMLY, H. Probabilistic analysis of landslide hazards and risks: bridging theory and practice. 2001.
Thesis (Doctor of Philosophy in Geotechnical Engineering), Faculty of Graduate Studies and Research,
Department of Civil and Environmental Engineering, Edmonton, Alberta, Canada; Jan., 2001, 391p.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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Idealmente, para cada conjunto de parâmetros de entrada gerados aleatoriamente pelo Método
de Monte Carlo, uma nova superfície de ruptura crítica para o talude deveria ser gerada para
então analisar-se o fator de segurança, a probabilidade de ruptura e o índice de confiabilidade.
Entretanto, isso demandaria um elevado esforço computacional e tempo de cálculo. Então, a
23
BRESSANI, L. A. Comunicação Pessoal. 2004. Notas de aula.
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75
metodologia propõe que o problema seja simplificado, utilizando-se uma superfície de ruptura
fixa para todos os cálculos, e essa superfície é a superfície de ruptura crítica encontrada a
partir da análise determinística prévia (COSTA, 2005, p. 112-113).
O Método de Monte Carlo é utilizado nessa metodologia exatamente como foi descrito no
item 5.2.1.5.2 do presente trabalho, a partir do uso do programa Slope/W. O programa é
responsável pela modelagem da variabilidade espacial dos parâmetros aleatórios de entrada, e
para tal, gera números aleatórios para a estimativa dos parâmetros de entrada e dos
coeficientes de correlação, que expressam a ligação entre os parâmetros de resistência ao
cisalhamento do solo (COSTA, 2005, p.115-116). Estes parâmetros (c’ e ϕ’) são geralmente
correlacionados negativamente, ou seja, maiores valores de coesão diminuem o ângulo de
atrito interno do solo. Esses coeficientes de correlação podem variar entre -0,72 e 0,35,
dependendo do tipo de solo (SLOPE/W USER’S GUIDE24, 2002 apud COSTA, 2005, p.116).
[...] a mesma análise algumas vezes com o mesmo número de iterações. Se as duas
soluções forem bastante diferentes, deve-se elevar o número de iterações até que as
diferenças entre as soluções atinjam um valor tolerável, ou seja, a resposta da
simulação estabilize com a elevação do número de iterações.
Vale ressaltar que os resultados dessa análise probabilística, assim como todos os resultados
de análises de risco, não consideram os efeitos do tempo. Segundo Costa (2005, p. 121), “[...]
24
SLOPE/W USER’S GUIDE. Slope/W for slope stability analysis. [Manual do Slope/W]. Geo-slope Office,
version 5.13. Calgary, Alberta, Canada: Geo-slope International Ltd., 2002, 504 p. 1 CD-ROM.
25
EL-RAMLY, H. Probabilistic analysis of landslide hazards and risks: bridging theory and practice. 2001.
Thesis (Doctor of Philosophy in Geotechnical Engineering), Faculty of Graduate Studies and Research,
Department of Civil and Environmental Engineering, Edmonton, Alberta, Canada; Jan., 2001, 391p.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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o impacto do tempo sobre a estabilidade somente poderá ser avaliado por outra análise com as
distribuições de probabilidade dos parâmetros de resistência revisadas”.
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Este capítulo apresentará a metodologia proposta por Fell et al. no artigo denominado “A
framework for landslide risk assessment and management”, que é um dos oito artigos
considerados como “estado-da-arte” no assunto e publicados no livro “Landslide Risk
Management” em 2005. O artigo aborda os processos necessários para a execução de uma
avaliação de risco conforme o framework apresentado na seção 4.2 deste trabalho, tanto para
uma abordagem qualitativa quanto quantitativa, e oferece alguns exemplos simplificados de
avaliação de risco. Quando houve necessidade, os conceitos e práticas apresentados por Fell et
al. foram complementados por diretrizes fornecidas pela Australian Geomechanics Society
para Gerenciamento de Risco de Deslizamento, divulgadas nos anos de 2000 e 2007.
Segundo Fell et al. (2005, p. 7, tradução nossa), a definição do Escopo é útil para “Garantir
que a análise de risco atenda os problemas relevantes, satisfaça as necessidades daqueles
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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Fell et al. (2005, p. 8, tradução nossa) indicam que a caracterização do deslizamento exige,
por parte dos profissionais geotécnicos responsáveis pela execução dessa etapa, conhecimento
dos mecanismos de ruptura e de deslizamentos de taludes e entendimento da relação desses
mecanismos com a geomorfologia, geologia, hidrologia, clima e vegetação presentes em cada
caso de estudo. É importante, portanto, que eles tenham experiência e treinamento em
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deslizamentos de taludes, uma vez que o resultado da análise de risco tende a ser controlado
pelos efeitos dos movimentos de massa determinados nessa etapa. A omissão, subestimação
ou superestimação desses efeitos pode prejudicar o resultado do estudo. Durante a etapa de
caracterização da ameaça, deve ser possível realizar (FELL et al., 2005, p. 8, tradução nossa):
Os autores observam que além dos movimentos presentes dentro do sítio em análise,
movimentações de solo/rocha acima ou abaixo do talude em estudo também devem ser
considerados, já que eles podem afetar os elementos em risco. Além disso, a caracterização
das diversas ameaças, e consequentemente a estimativa do risco, deve ser feita levantando-se
todos os eventos possíveis (dos mais frequentes e de menor magnitude, até os mais raros e,
por isso, de magnitudes maiores), mesmo que o risco frequentemente seja dominado pelos
eventos de maior frequência. Se há propostas de desenvolvimento e de mudanças estruturais
ou geotécnicas na área em análise, essas devem também ser consideradas na análise de risco,
porque podem alterar a natureza e a frequência dos movimentos de massa (FELL et al., 2005,
p. 8, tradução nossa).
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81
Em 2007, a AGS publicou uma nova diretriz para ajudar na uniformização e interpretação de
medidas qualitativas de possibilidade de deslizamentos para perdas em propriedades. O
quadro A.1 no Anexo A mostra a complementação da tabela 1 com as considerações e
experiências adquiridas nos anos seguintes à publicação feita em 2000 (AUSTRALIAN
GEOMECHANICS SOCIETY, 2007, p. 76, tradução nossa).
26
INTERNATIONAL UNION OF GEOLOGICAL SCIENCES. Quantitative risk assessment for slopes and
landslides – the State of the Art. In: CRUDEN, D.; FELL, R. (Ed.) Landslide Risk Assessment. Balkema,
Rotterdam, 1997, p. 3-12.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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Fell et al. (2005, p. 8, tradução nossa) recomendam que é apropriado usar mais que um dos
métodos acima na análise de risco e que é importante que a probabilidade de deslizamento
(PL) seja expressa como um frequência “por ano”, já que os critérios quantitativos de
aceitabilidade do risco para perda de vidas costumam ser expressos dessa forma. Esses
autores ainda comentam que, devido às várias incertezas envolvidas no processo e às
restrições de dados, para a maioria dos casos, calcular a estimativa da frequência de
deslizamento através de dados históricos, evidências geomorfológicas e relações com o
evento desencadeador é geralmente mais confiável que utilizar métodos probabilísticos mais
detalhados e rigorosos (FELL et al., 2005, p. 9, tradução nossa).
O significado de elemento em risco adotado por Fell et al. (2005) já foi apresentado neste
trabalho e, por isso, sua exposição nesta seção está dispensada. Entretanto, esses autores
adicionaram algumas observações relevantes, principalmente quando o objeto de estudo da
análise de risco se trata de uma rodovia com diversos tipos de movimentos de massa. A
primeira observação é a que, dentro de uma série de elementos em risco (como prédios,
população, infraestrutura, etc.), os veículos usualmente seriam categorizados em: carros,
caminhões e ônibus, uma vez que o número provável de pessoas que estariam nesses veículos
difere. Já a segunda observação refere-se a uma ressalva: os elementos em risco são
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Também foram feitas complementações à tabela 2 pela AGS em 2007. O quadro A.2 no
Anexo A apresenta as medidas qualitativas de consequências à propriedade atualizadas. Essa
atualização foi feita direcionada ao desenvolvimento residencial, mas também pode ser
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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85
Os autores completam que “Para pessoas em veículos, a probabilidade espacial temporal será
como para b) e c). Entretanto ela pode variar para uma pessoa em um carro, e quatro pessoas
em um carro”, e, em alguns casos, será necessário levar em consideração no cálculo da
probabilidade espacial temporal se haverá possibilidade de um aviso para evacuação da área
afetada pelo deslizamento. Em todas as situações, o tipo de deslizamento, seu volume e sua
velocidade, a presença ou não de sinais de movimentação, de sistemas de aviso e evacuação, e
os próprios elementos em risco (como a mobilidade das pessoas) devem ser avaliados para a
determinação da probabilidade espacial temporal (FELL et al., 2005, p. 10, tradução nossa).
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
86
A última etapa de uma análise de risco é a estimativa do risco e, como as duas etapas
anteriores, essa também depende da abordagem adotada para a análise. Por isso, esse item
será subdividido em: abordagem qualitativa e abordagem quantitativa.
Para que a análise de risco qualitativa agregue valor e forneça resultados coerentes, Fell et al.
(2005, p. 12, tradução nossa) advertem que ela deve ser realizada de maneira crítica e
preferencialmente supervisionada através de revisões de especialistas na área. Ainda, quando
for utilizada para estimar riscos de perda de vida e como suporte para decisões em sítios
específicos, extremo cuidado deve ser tomado, devido às deficiências associadas a este tipo de
abordagem (FELL et al., 2005, p. 13, tradução nossa). A tabela 3 mostra uma matriz de uma
análise de risco geotécnico qualitativa, seguindo o exemplo da AGS.
Em 2007, a tabela 3 foi complementada pela AGS, seguindo as atualizações feitas nas tabelas
1 e 2, de possibilidade de deslizamentos e consequências respectivamente. O quadro A.3,
presente no Anexo A, mostra a versão atualizada para a matriz qualitativa de análise de risco à
propriedade. Já o Quadro A.4 mostra as implicações dos níveis de risco que podem ser
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Conforme Fell et al. (2005, p. 10, tradução nossa), há várias formas de se calcular o risco e
apresentá-lo, e é útil determiná-lo de diferentes maneiras, sendo que as mais praticadas são as
seguintes:
(fonte: adaptado de GEOTECHNICAL ENGINEERING OFFICE27, 1998 apud FELL et al., 2005,
p. 11, tradução nossa)
27
GEOTECHNICAL ENGINEERING OFFICE. GEO Report No. 75: Landslides and Boulder Falls from
Natural Terrain: Interim Risk Guidelines. The Government of the Hong Kong Special Administrative Region,
1998.
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Onde:
R(prop) = É a perda anual de valor de propriedade;
P(L) = É a frequência de deslizamento;
P(T:L) = É a probabilidade do deslizamento alcançar o elemento em risco;
P(S:T) = É a probabilidade espacial temporal do elemento em risco;
V(prop:S) = É a vulnerabilidade do elemento em risco (propriedade) ao evento do deslizamento;
E = É o elemento em risco, por exemplo, o valor ou o valor presente líquido da propriedade;
P(LOL) = É a probabilidade anual de uma pessoa ser morta;
V(D:T) = É a vulnerabilidade da pessoa ao evento do deslizamento.
A fórmula 10 pode ser estendida para a fórmula 9 acrescentando-se o fator “E” que, nesse
caso, seria o número de pessoas em risco. O resultado dessa multiplicação representa o risco
anual de perda de vida (FELL et al., 2005, p. 11, tradução nossa).
Em algumas situações, é necessário obter o risco total, que é a soma dos riscos referentes a
cada um dos perigos identificados e caracterizados na área em estudo. Para esses casos, há
duas alternativas que podem ser seguidas (FELL et al., 2005, p. 11, tradução nossa):
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
90
Onde:
PLS = Estimativa do limite superior para a probabilidade condicional;
P1 a PN= Estimativas das probabilidades condicionais individuais de vários perigos.
Inicialmente, Fell et al. (2005, p. 13, tradução nossa) consideram que para o correto
entendimento dos conceitos envolvidos em uma avaliação de risco, é necessário saber a
diferença entre risco aceitável e risco tolerável:
Risco Aceitável: Um risco que todos impactados estão preparados para aceitar. Ação
futura para reduzir tal risco é geralmente não exigida a menos que medidas
razoavelmente praticáveis estejam disponíveis a baixo custo em termos de dinheiro,
tempo e esforço.
Risco Tolerável: Um risco dentro de uma extensão com o qual a sociedade pode
viver a fim de assegurar certos benefícios líquidos. É uma extensão de risco
considerado como não-negligenciável, e necessita ser mantido sob revisão e
reduzido futuramente se possível.
a) O risco incremental a que uma pessoa está exposta devido a um perigo, não
pode ser significante se comparado a um risco o qual ela normalmente está
sujeita cotidianamente;
b) Este risco incremental deve ser reduzido, seguindo-se o princípio do ALARP
(As Low As Reasonably Practicable), que significa em português “Tão baixo
quanto razoavelmente praticável”. Este princípio é aplicado também nos
gráficos (curvas) F-N, como pôde ser visto na figura 25;
c) Se a consequência de um determinado perigo for alta, em termos de perda de
vida, então sua probabilidade de ocorrência deve ser baixa, consentindo com a
intolerância da sociedade para eventos que acarretem em muitas fatalidades
simultaneamente;
28
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landslides – the State of the Art. In: CRUDEN, D.; FELL, R. (Ed.) Landslide Risk Assessment. Balkema,
Rotterdam, 1997, p. 3-12.
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d) Pessoas que não têm condições financeiras ou possuem outras limitações, que
as impedem de reduzir ou controlar riscos, geralmente toleram riscos maiores
do que eles consideram como aceitável. Além disso, trabalhadores de indústrias
com encostas perigosas (por exemplo, mineiros) toleram riscos maiores que a
sociedade em geral.
a) A sociedade tolera riscos mais altos para taludes naturais se comparados com
aqueles projetados;
b) Se algum monitoramento e/ou medida de mitigação de risco for implantado em
um talude natural, o risco tolerável relativo a esse talude se tornará próximo ao
risco tolerável para taludes projetados;
c) Os riscos toleráveis podem variar de acordo com o histórico de deslizamentos e
com o sistema de controle e propriedade dos taludes com presença de ameaças,
podendo ser diferentes de um país para outro ou, até mesmo, dentro do mesmo
país.
Situação Riscos toleráveis sugeridos para perda de vida Riscos aceitáveis sugeridos para perda de vida
Taludes 10-4/ano para pessoa em maior risco 10-5/ano para pessoa em maior risco
projetados
existentes 10-5/ano para média de pessoas em risco 10-6/ano para média de pessoas em risco
10-5/ano para pessoa em o maior risco 10-6/ano para pessoa em o maior risco
Taludes
projetados novos
10-6/ano para média de pessoas em risco 10-7/ano para média de pessoas em risco
29
INTERNATIONAL UNION OF GEOLOGICAL SCIENCES. Quantitative risk assessment for slopes and
landslides – the State of the Art. In: CRUDEN, D.; FELL, R. (Ed.) Landslide Risk Assessment. Balkema,
Rotterdam, 1997, p. 3-12.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
92
No caso de riscos sociais, o uso de curvas F-N (figura 24) é uma alternativa que pode refletir a
realidade de que a sociedade, geralmente, é mais tolerante a eventos frequentes que causam
menos mortes individualmente, a eventos mais raros que causam um número grande de
fatalidades por evento. As linhas presentes na curva F-N são variáveis, de acordo com os
sistemas legais e dos próprios países onde os deslizamentos estão sendo analisados (FELL et
al., 2005, p. 14, tradução nossa). Segundo Christian30 (2004 apud FELL et al., 2005, p. 14,
tradução nossa), a curva F-N pode representar uma ferramenta importante para descrever o
significado de probabilidades e riscos, já que mesmo entre engenheiros, há problemas na
compreensão de pequenas probabilidades, o que pode prejudicar o resultado e a avaliação de
análises probabilísticas.
Entretanto, os limites de tolerabilidade ao risco não devem ser pensados como fronteiras
absolutas. As sociedades possuem uma ampla extensão de tolerância ao risco e esses números
são tentativas de se expressar matematicamente o senso comum de uma população. Além
disso, essa questão deverá ser abordada no nível de governo nacional, estatal ou local, já que o
estabelecimento de padrões e diretrizes universais não é prático (INTERNATIONAL UNION
OF GEOLOGICAL SOCIETY 31, 1997 apud FELL et al., 2005, p. 14, 16, tradução nossa).
Por fim, os autores concluem que, apesar das incertezas e limitações, decisões deverão ser
tomadas e, nesse contexto, ter uma estimativa de riscos da situação em análise é melhor do
que não ter ciência do possível risco presente no talude em estudo. “O nível de sofisticação a
ser adotado na estimativa do risco para um problema particular somente necessita ser
suficiente para facilitar uma decisão informada” (FELL et al., 2005, p. 24, tradução nossa).
O artigo escrito por Fell et al. fornece três exemplos simplificados que ilustram como
funcionam os conceitos básicos de sua metodologia para uma avaliação de risco geotécnico.
30
CHRISTIAN, J.T. Geotechnical Engineering reliability: how well do we know what we are doing? Journal
Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, Reston, v. 130, n. 10, p. 985-1003, 2004.
31
INTERNATIONAL UNION OF GEOLOGICAL SCIENCES. Quantitative risk assessment for slopes and
landslides – the State of the Art. In: CRUDEN, D.; FELL, R. (Ed.) Landslide Risk Assessment. Balkema,
Rotterdam, 1997, p. 3-12.
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93
Nesta seção, será exposto o primeiro exemplo, que trata de um deslizamento presente em um
aterro rodoviário (FELL et al., 2005, p. 17-18, tradução nossa). Caso seja do interesse do
leitor, os outros dois exemplos encontram-se nas páginas 19 a 23 do artigo (FELL et al.,
2005).
Este exemplo tem como escopo calcular o risco de perda de vida a que pessoas morando
numa residência próxima a um aterro rodoviário estão expostas (figura 26).
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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rodovia, que possui topografia, geologia e condições climáticas similares às encontradas neste
aterro, houve quatro deslizamentos em um total de 60 aterros rodoviários.
(fórmula 12)
Onde:
P(L) = Frequência de deslizamento do aterro.
Esse valor de frequência pode ser considerado apropriado para o estudo se as seguintes
suposições forem atendidas: o aterro em questão é similar aos outros 59 aterros existentes na
rodovia e a performance da rodovia durante seus 50 anos de funcionamento é representativa
do futuro.
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95
(fórmula 13)
(fórmula 14)
Onde:
P(S:T) = Probabilidade espacial temporal, assumindo que não existe aviso prévio ao evento.
O risco de perda de vida de uma ou mais pessoas pode ser estimado através da aplicação da
fórmula 10. A probabilidade anual da pessoa em maior risco perder sua vida, devido ao
deslizamento, é como a fórmula 15. O risco calculado com a ajuda dessa fórmula é um risco
individual.
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
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(fórmula 15)
Onde:
P(LOL) = Probabilidade anual da pessoa em maior risco ser morta, devido ao deslizamento.
Já para determinar a probabilidade anual das quatro pessoas estarem na residência quando esta
é atingida pelo deslizamento, deve-se utilizar a probabilidade espacial temporal que assume
que todas as pessoas estão simultaneamente no interior da casa, conforme a fórmula 16. Como
a vulnerabilidade das pessoas é 0,4, então para um total de quatro pessoas dentro da
residência, isso resultaria em 1,6 pessoas (1 para 2) que seriam mortas pelo deslizamento se o
mesmo atingisse a propriedade.
(fórmula 16)
Onde:
P(LOL) = Probabilidade anual das quatro pessoas estarem na casa, a qual será atingida pelo
deslizamento.
O risco estimado para a pessoa em maior risco de perda de vida deve ser confrontado com os
limites de tolerabilidade para riscos individuais fornecidos pela tabela 4. Segundo dados dessa
tabela, para taludes projetados existentes, o risco individual tolerável para a pessoa em maior
risco é de 1,0 x 10-4 /ano. Nesse caso, o risco obtido através da fórmula 15 (P(LOL) = 1,7x10-4
/ano) está na classe intolerável, devendo ser mitigado. Ressalta-se que a tolerância e a
aceitabilidade ao risco de taludes depende de cada população.
Número de Fatalidades pode ser plotado em um gráfico como o da figura 25, sendo possível a
verificação da tolerabilidade ou aceitabilidade do risco obtido, conforme os padrões da
sociedade envolvida no estudo. A figura 27 mostra que o risco para o grupo de pessoas,
calculado neste exemplo e plotado na Curva F-N (0,74x10-4 por 1,6), está abaixo da linha
limite de tolerabilidade, mas se encontra na região de ALARP. A partir dessa avaliação deve-
se: minimizar o risco, se medidas razoavelmente praticáveis estiverem disponíveis, ou
considerar a realização de investigações geotécnicas mais profundas para melhorar a precisão
do resultado da análise.
Esta seção tem como objetivo apresentar algumas experiências reais encontradas em países do
exterior na tentativa de aplicar a metodologia apresentada na seção 6.1 para a realização de
avaliações de risco de deslizamentos em taludes rodoviários. Essas experiências são descritas
em artigos presentes no livro “Landslide Risk Management”, publicado em 2005.
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A experiência canadense será descrita de maneira mais detalhada no subitem 6.3.1, pois
utiliza uma abordagem qualitativa e numérica da metodologia internacional, relacionada ao
Fator de Segurança dos taludes, que representa um nível de precisão mais elevado, se
comparado com abordagens qualitativas com o uso de descritores para a estimativa do risco,
como a utilizada no Nepal. Além disso, a aplicação australiana é mais complexa e exige
conhecimentos e dados que não estão disponíveis para a maioria dos taludes brasileiros
atualmente, sendo de pouca utilidade, então, sua apresentação aprofundada no presente
trabalho.
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99
Para a análise de risco na malha rodoviária, foram considerados perigos que afetassem
motoristas e/ou bens físicos do sistema rodoviário. Os perigos foram divididos em: perigos
geotécnicos e perigos de deslizamentos. Exemplos desses perigos são (KELLY et al., 2005, p.
571, tradução nossa):
Nesse item serão especificadas as práticas utilizadas pela SHT a fim de se aplicar um sistema
moderno de gerenciamento de deslizamentos. Conforme Kelly et al. (2005, p. 571-572,
tradução nossa), os seguintes passos são necessários para a prática de um sistema de
gerenciamento eficiente e atual:
a) Avaliar o grau de perigo que pode estar associado com locais instáveis;
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Avaliação do risco geotécnico de taludes: revisão de práticas nacionais e internacionais
100
R= PF x CF (fórmula 17)
Onde:
R = Risco de deslizamentos;
PF = Fator de Probabilidade;
CF = Fator de Consequência.
Segundo Kelly et al. (2005, p. 572, tradução nossa), a distinção entre taludes naturais e
taludes projetados se dá no plano de cisalhamento: enquanto que em taludes naturais o plano
de cisalhamento encontra-se no interior do talude (antes de qualquer interferência de obras de
engenharia), nos taludes artificiais a estabilidade do terreno natural já foi previamente
atestada, e o deslizamento pode ocorrer devido a uma instabilidade no talude construído. A
tabela 5 mostra a escala utilizada na aplicação na SHT.
1 Geologicamente estável. Probabilidade muito F > 1,5 baseado em análise de tensão efetiva
baixa de ocorrência de deslizamento com dados calibrados e modelo*.
Historicamente estável. Probabilidade de
deslizamento muito baixa
3 Inativo, talude aparentemente estável. 1,5 > F > 1,3 baseado em análise de tensão
Probabilidade baixa de ocorrência de efetiva com dados calibrados e modelo.
deslizamentos ou remobilização Historicamente estável. Probabilidade de
deslizamento baixa
* Se as condições descritas para análise do talude forem desconhecidas ou não encontradas, aumente o PF em
uma categoria, por exemplo: se a qualidade dos dados usados na análise for desconhecida, aumente o PF de 1
para 3. F = Fator de Segurança.
continua
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101
continuação
PF Talude Natural Talude Projetado
5 Deslizamento inativo com probabilidade 1,3 > F > 1,2 baseado em análise de tensão
moderada de remobilização. Nível de incerteza efetiva com dados calibrados e modelo. Sinais
moderado; ou, talude ativo com taxa constante pequenos de movimentação visível.
de movimentação muito baixa; ou, padrão de Probabilidade moderada de deslizamento
movimentação indeterminado
7 Deslizamento inativo com probabilidade alta de 1,2 > F > 1,1 baseado em análise de tensão
remobilização, ou perigos adicionais presentes. efetiva com dados calibrados e modelo. Sinais
Nível de incerteza alto. Taxa de movimentação de movimentação perceptíveis, ou perigos
perceptível com zonas de movimentação adicionais presentes. Probabilidade alta de
definidas deslizamento
9 Deslizamento ativo com taxa de movimentação F < 1,1 baseado em análise de tensão efetiva
moderada, estável ou decrescente em zona com dados calibrados e modelo. Sinais óbvios
definida de cisalhamento de movimentação contínua lenta a moderada
11 Deslizamento ativo com taxa de movimentação Deslizamento ativo com taxa de movimentação
moderada, crescente moderada, crescente
13 Deslizamento ativo com alta taxa de Deslizamento ativo com alta taxa de
movimentação a uma taxa estável ou crescente movimentação a uma taxa estável ou crescente
15 Deslizamento ativo com alta taxa de Deslizamento ativo com alta taxa de
movimentação com perigos adicionais** movimentação com perigos adicionais
Para determinar os fatores PF e CF de cada um dos 69 locais monitorados pela SHT na malha
rodoviária de Saskatchewan, foi necessário reunir um painel especializado em análise de risco
de taludes que era familiarizado com as características dos locais estudados. Cada um dos
membros do painel avaliou os fatores independentemente e, para determinar o nível de risco,
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102
foi feita a média das avaliações de cada membro posteriormente (KELLY et al., 2005, p. 573,
tradução nossa).
CF Consequências Típicas
1 Taludes de corte rasos nos quais o deslizamento pode se espalhar para dentro de
trincheiras ou aterros nos quais o deslizamento não impacta o pavimento para a
segurança do condutor, problema de manutenção
Segundo Kelly et al. (2005, p. 573, tradução nossa), quando novos locais são incluídos no
sistema de gerenciamento de risco, eles recebem uma classificação de “urgente”,
independentemente do seu nível de risco calculado. O nível de resposta permanece nesse grau
até três anos de monitoramento durante a primavera e o outono, quando os locais poderão ser
caracterizados.
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Nível de
Nível de Risco Abordagem de Gerenciamento
Resposta
> 125 Urgente Inspecionar pelo menos uma vez ao ano. Monitorar instrumentação
pelo menos duas vezes ao ano na primavera e no outono. Investigar e
avaliar medidas de mitigação
75 a 125 Prioridade Inspecionar uma vez ao ano. Monitorar instrumentação pelo menos
uma vez ao ano
No artigo, também são apresentados dois estudos de casos. Nessas aplicações, além dos
preenchimentos dos formulários de inspeção de campo, um programa de instrumentação foi
adotado para determinar opções de remediação. Inclinômetros e piezômetros foram instalados
em posições estratégicas para caracterizar a movimentação do talude em estudo. Ensaios de
laboratório também foram realizados, juntamente com a utilização de modelos de estabilidade
de taludes em 2D e 3D, para caracterizar a movimentação do talude e avaliar a estabilidade do
estudo de caso (KELLY et al., 2005, p. 574-580).
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O Himalaia do Nepal é conhecido por possuir montanhas frágeis, com várias falhas inversas
(falhas compressivas) proeminentes no sopé da cordilheira. As regiões entre essas falhas
inversas formam as grandes unidades geológicas do país e quase todas as grandes rodovias
atravessam uma ou mais dessas descontinuidades geológicas. As chuvas que ocorrem
anualmente de junho a setembro (estação da monção) podem facilmente desencadear
deslizamentos nos trechos de rodovias que cruzam essas falhas inversas. Várias unidades
geológicas do Nepal também possuem características estratigráficas não favoráveis à
estabilidade dos taludes, como, por exemplo, a presença de materiais altamente heterogêneos
na superfície das encostas, consequência dos tipos de rochas prevalecentes nas unidades
geológicas encontradas no país (SUNUWAR et al., 2005, tradução nossa).
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Tráfego Diário Médio Anual ≥ 1.000 1.000 > T ≥ 500 < 500
Lawrence Hargrave Drive (LHD) é uma rodovia costeira localizada em New South Wales na
Austrália, que foi construída em aproximadamente 20 a 45 m acima do nível do mar junto a
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penhascos que alcançam 300 m de altura acima da rodovia. A rodovia tem um histórico de
sérios problemas de instabilidade dos aterros, de quedas de rochas e de fluxos e
escorregamentos de detritos, muitos deles causados por erosão marinha agressiva. Em 2003, o
Ministério de Rodovias fechou um trecho de 1350 m de rodovia (entre Coalcliff e Clifton) por
medidas de segurança. Uma aliança entre a autoridade responsável pela rodovia, construtores
civis e engenheiros consultores foi formada para desenvolver uma solução de engenharia que
reduzisse a probabilidade anual de perda de vida de aproximadamente 10-2 para
aproximadamente 10-5 (WILSON et al., 2005, tradução nossa).
O trecho de rodovia em estudo foi dividido em cinco Domínios Geotécnicos diferentes, sendo
três promontórios e duas baías. Esta divisão foi feita com intuito de realizar a análise de risco
por domínio geotécnico, além do risco total do trecho da rodovia, e possibilitar o estudo do
impacto das soluções de engenharia sobre a probabilidade anual de perda de vidas em cada
um dos domínios. A geologia é bastante semelhante ao longo de todo o trecho estudado da
rodovia, compreendendo uma sequência de unidades de arenito e argilito intercaladas. As
unidades de arenito formam os penhascos sub-verticais, já as unidades de argilito formam os
taludes intervenientes entre os arenitos (WILSON et al., 2005, tradução nossa).
Os perigos geotécnicos estão presentes por toda a escarpa desde o seu topo até a costa. A
maioria dos deslizamentos dos penhascos consiste de quedas de rochas e rolamentos de
matacões, enquanto que os deslizamentos provenientes dos taludes de argilito são fluxos e
deslizamentos de detritos (misturas de solo e rocha). Além disto, o aterro da rodovia é
suscetível à ruptura devido a erosão marinha. A maioria dos deslizamentos são desencadeados
por chuvas intensas (precipitação pluvial anual de cerca de 1500 mm). Entretanto, os
processos de instabilidade dos taludes estão sendo acelerados pela erosão marinha, que
aumenta a declividade dos taludes e remove material da base dos penhascos, causando
tombamento da camada de arenito e deslizamentos nas camadas de argilito, sucessivamente
até o topo da escarpa, ao longo da rodovia (WILSON et al., 2005, tradução nossa).
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deslizamentos para cada uma das unidades de encosta, que indicam o número de eventos
esperados de acordo com a ordem de magnitude dos deslizamentos. As curvas foram
normalizadas para apresentar o número de deslizamentos/100 m de rodovia em uma vida de
projeto de 100 anos (WILSON et al., 2005, p. 592-593, tradução nossa).
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Por fim, para determinar o risco devido a cada perigo encontrado em cada unidade de encosta
e em cada Domínio Geotécnico foi utilizada uma planilha de Excel para conduzir os cálculos
(o modelo desta planilha pode ser visto na figura 29). A probabilidade anual de uma ou mais
mortes no trecho da LHD entre Coalcliff e Clifton foi obtido ao somar o resultado das 59
planilhas produzidas no estudo. O risco para os usuários da rodovia foi calculado usando as
fórmulas 18 a 20 (WILSON et al., 2005, p. 595-596, tradução nossa):
RD = PS * VD (fórmula 18)
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Sendo:
RD = probabilidade anual de perda de vida;
PS = probabilidade do carro ser atingido ou atingir um deslizamento;
VD = vulnerabilidade do indivíduo (probabilidade de morte) dado o impacto do deslizamento
no carro;
PS:H = probabilidade do impacto espacial do deslizamento na rodovia dado o evento;
NR = número anual de deslizamentos atingindo a rodovia;
NV = número de carros por dia por faixa;
NL = número de faixas afetadas pelo deslizamento;
LC:R = comprimento do carro (assumido em 5 m) ou a distância de reação (como apropriado,
nesse caso assumida em 40 m);
VV = velocidade do carro em km/h (assumida como sendo o limite de velocidade de 60 km/h).
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Várias simplificações foram feitas ao realizar a análise de risco de forma quantitativa, devido
ao comportamento complexo dos deslizamentos e suas interações com os elementos em risco.
As simplificações consideradas diretamente na condução da análise quantitativa de risco
foram (WILSON et al., 2005, p. 593, tradução nossa):
e) Ônibus;
f) Veículos pesados;
g) Distâncias de visibilidade.
Wilson et al. apontam que, a partir de resultados anteriores de outras análises de risco
quantitativas, esses fatores iriam produzir apenas efeitos de segunda ordem no resultado para
o risco total do trecho em análise (diferença de valores menor que metade de uma ordem de
magnitude), se fossem incluídos. E como alguns dos fatores são a favor da segurança e outros
contra, os autores julgaram essas simplificações como não significativas para o resultado da
análise (2005, p. 597, tradução nossa).
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Algumas sugestões de adaptações das metodologias que poderiam ser utilizadas no Brasil,
com o objetivo de aprofundar os estudos e conhecimentos sobre a situação de risco geotécnico
em talude rodoviários brasileiros, são apresentadas ao fim do capítulo.
No que diz respeito à complexidade das metodologias pesquisadas, fica claro que os países
desenvolvidos possuem técnicas mais precisas e avançadas para a determinação do risco
envolvendo deslizamentos. Isso se dá principalmente pela maior quantidade de dados
disponíveis, recolhidos por várias décadas através de registros de precipitações pluviais e dos
próprios movimentos de massa. A existência de um banco de dados históricos de fenômenos
naturais, por si só, já possibilita a criação de modelos numéricos que relacionem os fatores
desencadeadores de deslizamentos com os tipos e intensidades de movimentos de massa
decorrentes. Ou, como é mais comum, modelos que explicitem a relação entre as magnitudes
dos deslizamentos com sua frequência/probabilidade de ocorrência. Além disso, o fato de
alguns países possuírem sérios e recorrentes problemas com deslizamentos há muito tempo,
acaba por fomentar o desenvolvimento de pesquisas e estudos para mitigar o risco em
encostas e taludes, como no caso de Hong Kong, que iniciou uma política de controle de risco
de deslizamentos no final da década de 1970, após a ocorrência de dois grandes incidentes
causados por chuvas intensas em um mesmo dia.
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Isso pode ser comprovado analisando a escala de 20 pontos para o Fator de Probabilidade
(PF) na adaptação canadense da metodologia internacional, descrita por Kelly et al. (2005).
Nessa adaptação, o PF do talude (que significa a possibilidade de um deslizamento ocorrer
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[...] o valor do fator de segurança (FS) tem relação direta com a resistência ao
cisalhamento do material do talude [...]. Entretanto, no caso de encostas, a
variabilidade dos materiais naturais pode reduzir significativamente a segurança,
aumentando a probabilidade de ocorrência de uma ruptura da encosta.
Na metodologia adotada na norma, o FS mínimo de uma encosta ou talude deve ser adotado
segundo o risco a que pessoas, propriedades e meio ambiente estejam sujeitos, considerando
situações atuais e futuras. Dessa forma, o FS apresentados pela NBR 11.682 devem “[...]
cobrir as incertezas naturais das diversas etapas de projeto e construção” (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2009, p. 17).
Os projetos são, então, enquadrados pelo engenheiro civil geotécnico responsável pela obra
em um dos seguintes níveis de segurança desejados contra a perda de vidas humanas e contra
danos materiais e ambientais, mostrados nas tabelas 12 e 13, respectivamente. O FS mínimo
para o projeto, de acordo com os níveis de segurança esperados, é dado pela tabela 14
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2009, p. 17-18).
Conforme a NBR 11.682, “Os fatores de segurança indicados [...] referem-se às análises de
estabilidade interna e externa do maciço, sendo independentes de outros fatores de segurança
recomendados por normas de dimensionamento dos elementos estruturais de obras de
contenção [...]”(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2009, p. 18).
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Em casos especiais, como explicitado na nota 1 da tabela 14 e em situações nas quais o risco
potencial de perdas de vidas humanas e de danos for elevado, a NBR 11.682 recomenda que,
a critério do engenheiro civil geotécnico responsável, a probabilidade de ruptura do talude
pode ser quantificada e estimada por um profissional especialista (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2009, p. 19). Nesses casos, a metodologia para
análises probabilísticas de risco em taludes de terra proposta por Costa (2005) é uma opção
que fornece os resultados necessários satisfatoriamente, uma vez que consiste em uma
abordagem quantitativa de análise de risco.
Como foi demonstrado na seção anterior, a norma técnica brasileira relacionada à estabilidade
de encostas (NBR 11.682:2009), baseia-se no Fator de Segurança do talude para cobrir as
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Para casos em que uma abordagem quantitativa do risco é necessária, como situações
complexas que envolvem riscos elevados a pessoas e propriedades, a metodologia proposta
por Costa (2005) de uma análise probabilística de risco de deslizamentos em taludes de terra é
adequada e produz resultados satisfatórios. Ressalta-se que, ao se optar por essa metodologia,
é necessário obter um número elevado de dados, que consumirão custo e tempo proporcionais
à quantidade de informação a ser levantada.
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este Trabalho de Diplomação teve como objetivo pesquisar, analisar e comparar diferentes
metodologias nacionais e internacionais para avaliação de risco geotécnico em taludes, com
abordagens qualitativas e quantitativas, possibilitando a identificação de práticas
internacionais que poderiam ser utilizadas em projetos brasileiros. A fim de se completar o
objetivo proposto, vários assuntos pertinentes a este campo de estudo na área geotécnica da
Engenharia Civil foram abordados.
Além disso, foi proporcionada uma descrição das metodologias qualitativas e quantitativas
presentes no Brasil para a condução de análises de risco geotécnico. A abordagem qualitativa
é a adotada pelo IPT, que propõe seu uso em todos os municípios para combater os problemas
causados por movimentos de massa. Já a abordagem quantitativa se refere ao estudo de Costa
(2005) na sua dissertação de mestrado, no qual métodos probabilísticos são incorporados a
uma análise de estabilidade de taludes, com o objetivo de proporcionar uma metodologia que
introduza os conceitos probabilísticos e estatísticos nesse tipo de análise, considerando
algumas das incertezas envolvidas nos problemas geotécnicos.
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Taylor & Francis Group, 2005, p. 571-580.
KREIMER, A.; ARNOLD, M.; CARLIN, A. (Ed.) Building Safer Cities: The Future of
Disaster Risk. Washington, D.C.: The World Bank, 2003. 324p. Disponível em: <
http://documents.worldbank.org/curated/pt/2003/08/2811960/building-safer-cities-future-
disaster-risk>. Acesso em: 25 mai. 2016.
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