Casos Práticos
Casos Práticos
Casos Práticos
1
Casos Práticos Contencioso UE | Márcia Durães
No presente caso encontra-se uma situaçã o que envolve a UE, sendo certo que, apesar
de nã o ser um estado, esta cria as suas pró prias regras jurídicas obrigató rias para os seus EM e
para os seus cidadã os, como se fosse atuando, assim, como uma ordem jurídica. Deste modo,
Malta, ao ser um dos estados-membros da UE, desde 2003, nos termos do art 52º TUE, é lhe
aplicá vel o direito da UE, estando a ele vinculado (cfr. Acó rdã o Costal Enel), e, entre ele e a
Uniã o, deve vigorar o princípio da cooperaçã o leal, respeitando-se e assistindo-se mutuamente
no cumprimento das missõ es decorrentes dos tratados (art. 4º, nº3 TUE).
O contencioso da UE surge como uma disciplina que se dedica ao estudo das normas
processuais e das vias recursó rias disponíveis na UE, a fim de assegurar uma tutela jurisdicional
efetiva (art 19º, nº1, § 2, art 6º, nº1 e art. 47º CDFUE), sendo que, o mecanismo que se
encontra em aná lise é um reenvio prejudicial (art. 267º TFUE). Tal trata-se de um
contencioso de interpretaçã o e ocorre quando um tribunal nacional tem dú vidas sobre se
uma determinada questã o viola ou nã o o direito da UE, pedindo ao TJUE um
esclarecimento. Este mecanismo surge como resultado da colaboraçã o entre os ó rgã os
jurisdicionais dos EM e o TJ, e apenas pode ser desencadeado por um ó rgã o jurisdicional
nacional.
É assim caracterizado por um diá logo formal entre o TJUE e os tribunais nacionais,
onde o juiz nacional tem um importante papel, já que deve garantir a aplicaçã o do direito da
uniã o e proteger os direitos dos cidadã os, utilizando assim, por este motivo, o reenvio
prejudicial. A sua ausência poderá colocar em causa a tutela jurisdicional efetiva do direito dos
particulares (art 19º TFUE e art. 47º CDFUE) e prejudicar seriamente a uniã o (Ac. Kobler).
Deste modo, os tribunais nacionais gozam de uma competência exclusiva para reenviar,
vigorando uma presunçã o de indispensabilidade do reenvio para a boa decisã o (Ac. Cartesio de
2008). Podemos concluir que o reenvio prejudicial é assim admissível, já que incide sobre
direito da UE, nã o se trata de uma questã o hipotética e relaciona-se com o objeto do litígio
nacional.
O reenvio apresenta duas dimensõ es: uma objetiva assente no diá logo formal entre
juízes (art. 267º) e uma subjetiva, já que se trata de um mecanismo ao serviço da tutela
jurisdicional efetiva.
2
Casos Práticos Contencioso UE | Márcia Durães
3
Casos Práticos Contencioso UE | Márcia Durães
4
Casos Práticos Contencioso UE | Márcia Durães
Neste contexto, a Comissão entabulou contactos informais e formais com a Hungria, tendo
permanecido com a convicção do seu incumprimento. Nesta circunstância, leva o caso ao
conhecimento do Tribunal de Justiça.
No presente caso encontra-se uma situaçã o que envolve a UE, sendo certo que, apesar
de nã o ser um estado, esta cria as suas pró prias regras jurídicas obrigató rias para os seus EM e
para os seus cidadã os, como se fosse atuando, assim, como uma ordem jurídica. Deste modo,
Hungria, ao ser um dos estados-membros da UE, desde 2003, nos termos do art 52º TUE, é lhe
aplicá vel o direito da UE, estando a ele vinculado (cfr. Acó rdã o Costal Enel), e, entre ele e a
Uniã o, deve vigorar o princípio da cooperaçã o leal, respeitando-se e assistindo-se mutuamente
no cumprimento das missõ es decorrentes dos tratados (art. 4º, nº3 TUE).
O contencioso da UE surge como uma disciplina que se dedica ao estudo das normas
processuais e das vias recursó rias disponíveis na UE, a fim de assegurar uma tutela jurisdicional
efetiva (art 19º, nº1, § 2, art 6º, nº1 e art. 47º CDFUE), sendo que, o mecanismo que se
encontra em aná lise é uma açã o por incumprimento (art 258º TFUE).
A açã o por incumprimento diz respeito à violaçã o, por açã o ou omissã o, de
obrigaçõ es que incumbem aos EM decorrentes dos tratados e, aplica-se ao caso em apreço
pelo facto de a Hungria ter violado disposiçõ es quanto à proibiçã o de restriçõ es de
movimento de capitais do TFUE e da CDFUE. Este é um mecanismo do contencioso de
plena jurisdiçã o.
A arquitetura jurisdicional europeia baseia-se na existência de tribunais organicamente
europeus, isto é, o TJ e o TG, que juntos compõ em o TJUE (art. 19º, nº1, 1º parte) e tribunais
funcionalmente europeus, sendo estes os tribunais nacionais, quando aplicam o direito da uniã o.
O TJUE, tendo como principal funçã o a garantia do direito na interpretaçã o e aplicaçã o dos
tratados (art. 19º, nº1), 2º parte TUE), acaba por ser, da competência do TJ, a decisã o em sede
de açã o por incumprimento.
5
Casos Práticos Contencioso UE | Márcia Durães
No que respeita à legitimidade passiva, esta diz respeito ao EM que incumpriu, isto
é, a Hungria (art. 52º). Nã o obstante, a legitimidade ativa pode ser da Comissã o, nos
termos do art. 258º, ou de qualquer EM (que nã o o infrator), nos termos do art. 259º. No
caso em apreço, a legitimidade ativa pertence à comissã o, o que determina a tramitaçã o da
açã o por incumprimento à luz dos arts. 258º e 260º TFUE.
Tal ó rgã o teve conhecimento da alegada violaçã o, mediante queixa por um cidadã o,
dando assim origem a uma série de contactos informais por parte da comissã o, com o
objetivo de sensibilizar o EM para o incumprimento. Caso o incumprimento se mantenha,
surge uma fase pré-contenciosa que tem início com uma carta de notificaçã o, no prazo de 2
meses apó s o conhecimento, onde é fixado o objeto do litígio e é permitido ao EM se
justificar e proceder com o cumprimento. Mantendo-se a posiçã o da Hungria, a comissã o
elabora um parecer fundamentado, onde expõ e todas as razõ es de facto e de direito que
constituem violaçã o do direito da UE, comunicando medidas para cessar a violaçã o, num
determinado prazo. Findo este período, sedimenta-se o incumprimento do EM e a
comissã o pode entrar com a petiçã o no TJUE, que irá emitir um acó rdã o de
incumprimento, com cará ter declarativo (art. 260º TFUE). O acó rdã o proferido nã o
poderia ser considerado com cará ter sancionató rio (art. 260º, nº3 TFUE), uma vez que nã o
está em causa uma situaçã o de nã o transposiçã o de diretivas, isto é, de um processo
legislativo. A este respeito, vale ressalvar a novidade introduzida pelo Tratado de Lisboa,
em que, em caso de nã o comunicaçã o das medidas de transposiçã o de uma diretiva à
comissã o, o TJ pode aplicar uma sançã o pecuniá ria ao EM, logo na fase do primeiro
acó rdã o de incumprimento (art. 260º, nº3 – tendo o primeiro caso surgido em 2019,
contra a bélgica).
O processo poderá ter seguido trâ mites na língua hú ngara, ainda que a língua
oficial de trabalho do TJUE seja o francês (art. 55º TUE).
Se o TJ declarar o incumprimento, a Hungria deverá pô r termo sem demora,
cabendo-lhe adotar as medidas necessá rias à execuçã o do acó rdã o (art. 260º, nº1), sob
pena de originar uma situaçã o de duplo incumprimento e ser condenada no pagamento de
um montante fixo ou de uma sançã o pecuniá ria compulsó ria. O acó rdã o terá efeitos
retroativos que se irã o retroagir desde a data em que a infraçã o teve início.
6
Casos Práticos Contencioso UE | Márcia Durães
REENVIO PREJUDICIAL
1. Está ao Tribunal de primeira instância da cidade de bordéus obrigada a
recorrer ao mecanismo de diálogo judicial previsto no artigo 267 TFUE?
No presente caso encontra-se uma situaçã o que envolve a UE, sendo certo que, apesar
de nã o ser um estado, esta cria as suas pró prias regras jurídicas obrigató rias para os seus EM e
para os seus cidadã os, como se fosse atuando, assim, como uma ordem jurídica. Deste modo,
França, o Estado onde ocorreu a situaçã o em aná lise, é um dos estados-membros da UE, nos
termos do art 52º TUE, sendo-lhe aplicá vel o direito da UE, estando a ele vinculado (cfr.
Acó rdã o Costal Enel), pelo que, entre ele e a Uniã o, deve vigorar o princípio da cooperaçã o
leal, devendo este respeitar e cumprir as missõ es decorrentes dos tratados (art. 4º, nº3 TUE).
O contencioso da UE surge como uma disciplina que se dedica ao estudo das normas
processuais e das vias recursó rias disponíveis na UE, a fim de assegurar uma tutela jurisdicional
7
Casos Práticos Contencioso UE | Márcia Durães
efetiva (art 19º, nº1, § 2, art 6º, nº1 e art. 47º CDFUE), sendo que, o mecanismo que se
encontra em aná lise é um reenvio prejudicial (art. 267º TFUE e 93º e ss RPTJUE).
O reenvio prejudicial, trata-se de um contencioso de interpretaçã o, sendo aplicá vel
quando o tribunal nacional tem dú vidas se uma determinada questã o viola ou nã o o direito da
U.E., podendo, através do reenvio prejudicial, questionar ao TJ se existe efetivamente uma
violaçã o. Assim, este mecanismo garante a tutela jurisdicional efetiva, bem como os direitos dos
particulares (19º/1 , 2§ TUE e 47º CDFUE), possibilitando uma aplicaçã o homogénea do
direito da Uniã o (Ac. Kobler). Desta forma, cabe realçar que, no caso em apreço encontramo-
nos perante uma restriçã o aos direitos liberdades e garantias, que sã o protegidos pela CDFUE.
Este mecanismo surge como resultado da colaboraçã o entre os ó rgã os jurisdicionais dos
Estados Membros e o TJ, e apenas pode ser desencadeado por um ó rgã o jurisdicional nacional,
independentemente de as partes no processo principal terem ou nã o exprimido a intençã o de
submeterem uma questã o prejudicial ao TJ. É assim caracterizado por um diá logo formal entre
o TJUE e os tribunais nacionais, onde o juiz nacional tem um importante papel, já que deve
garantir a aplicaçã o do direito da uniã o e proteger os direitos dos cidadã os, utilizando assim o
reenvio prejudicial. A sua ausência poderá colocar em causa a tutela jurisdicional efetiva dos
direitos dos particulares (art 19º TFUE e art. 47º CDFUE) e prejudicar seriamente o direito da
uniã o (Ac. Kobler). Deste modo, os juízes dos tribunais nacionais gozam de uma competência
exclusiva para reenviar, vigorando uma presunçã o de indispensabilidade do reenvio para a boa
decisã o (Ac. Cartesio de 2008). Podemos concluir que o reenvio prejudicial é assim admissível,
quando a questã o em apreço incide sobre direito da UE, nã o se trata de uma questã o hipotética
e relaciona-se com o objeto do litígio nacional.
O reenvio apresenta assim duas dimensõ es: uma objetiva assente no diá logo formal
entre juízes (art. 267º) e uma subjetiva, já que se trata de um mecanismo ao serviço da tutela
jurisdicional efetiva.
A arquitetura jurisdicional europeia baseia-se na existência de tribunais organicamente
europeus, isto é, o TJ e o TG, que juntos compõ em o TJUE (art. 19º, nº1, 1º parte) e tribunais
funcionalmente europeus, sendo estes os tribunais nacionais, quando aplicam o direito da uniã o.
O TJUE, tendo como principal funçã o a garantia do direito na interpretaçã o e aplicaçã o dos
tratados (art. 19º, nº1), 2º parte TUE), acaba por ser, também da sua competência, o reenvio
prejudicial (art. 19º, nº3 al. b) TUE).
O reenvio prejudicial pode versar sobre a interpretaçã o dos tratados (direito originá rio)
ou sobre a validade e a interpretaçã o dos atos adotados pelas instituiçõ es, ó rgã os ou organismos
da uniã o (direito derivado), nos termos do art. 267º , nº1 TFUE. No caso em apreço, trata-se de
um reenvio de validade da diretiva (isto é, se o ato emitido pelo Conselho respeita as respetivas
competências, ou seja, se poderia ou nã o ser efetuado), em que se pretende perceber se a
8
Casos Práticos Contencioso UE | Márcia Durães
diretiva aprovada pelo Conselho é, ou nã o, vá lida. Assim, caso existam duvidas nestas matérias,
deve o juiz nacional, na logica de clarificaçã o de um ato jurídico da uniã o, fazer um reenvio
(possibilidade de submissã o do reenvio a partir da plataforma e-Curia) para que o TJ se
pronuncie da situaçã o (ac. Luchini). O reenvio suspende a instancia (art. 23º Estatuto TJUE).
Quando o TJUE emanar a resposta ao reenvio, o tribunal nacional que a apresenta est á
vinculado à interpretaçã o de direito do TJUE, devendo cumprir a decisã o tomada. Aliá s, o
tribunal nacional deve ter em conta o efeito de obrigatoriedade em agir de acordo com decisõ es
tomadas anteriormente em situaçõ es similares (ac. Barber), o que nã o se aplica ao caso
concreto, pois trata-se de uma situaçã o nova. O acó rdã o terá efeitos retroativos, mas, contudo,
por força da aplicaçã o aná loga do art. 264, § 2 TFUE, o TJ poderá detalhar os efeitos do ato
invá lido que poderã o continuar a produzir-se, por questõ es de segurança jurídica ou para
assegurar o bom funcionamento do mercado interno. De realçar que, uma vez que estamos
perante uma questã o de validade, deve ser aplicada em todos os EM, tendo efeitos retroativos,
sob pena de nã o garantirmos a homogeneidade do DUE.
A ausência do reenvio prejudicial em causa poderia acarretar, uma vez que é
obrigató rio, a possibilidade de justificaçã o de açã o de responsabilidade do estado por violaçã o
do direito da uniã o (cfr Acó rdã o Ferreira da Silva). Também o particular poderia, na ausência
deste mecanismo, recorrer a uma açã o por incumprimento, nos termos do art. 258º a 260º
TFUE, através de queixa dirigida à Comissã o Europeia que poderia dar início ao processo.
9
Casos Práticos Contencioso UE | Márcia Durães
todos os atores do processo, como por exemplo aos Estados membros chamados a
apresentar observaçõ es, escritas ou orais, em prazos bastante mais curtos do que os
prazos ordiná rios. desta forma, a sua aplicaçã o só deve ser pedida em circunstâ ncias
particulares, que justifiquem que o Tribunal de justiça se pronuncie rapidamente sobre as
questõ es submetidas (Ac. Jippes).
Nos termos do artigo 107º do regulamento de processo, o reenvio para judicial
pode ser sujeito a tramitaçã o urgente, quando o processo suscito uma ou vá rias questõ es
relativas aos domínios objeto do título V da parte III do Tratado sobre o funcionamento da
Uniã o Europeia, relativa ao espaço de liberdade segurança e justiça, impondo, com efeito,
contingências ainda mais significativas à s pessoas envolvidas, uma vez que limita o
nú mero de partes autorizadas a apresentar observaçõ es escritas e que permite, em casos
de extrema urgência, omitir completamente a fase escrita no processo do Tribunal de
justiça. Assim a aplicaçã o desta tramitaçã o só deve ser pedida em circunstâ ncias em que
seja absolutamente necessá rio que o Tribunal de justiça se pronuncie muito rapidamente
sobre as questõ es submetidas pelo ó rgã o jurisdicional de reenvio. Como exemplo de um
processo que pode seguir a tramitaçã o urgente, temos o ultimo paragrafo do artigo 267º
TFUE.
No caso concreto, e pela ló gica, deveria ser aplicado o reenvio prejudicial sob
tramitaçã o urgente, contudo será o Tribunal de justiça a entidade competente para
decidir.
AÇÃO DE ANULAÇÃO
10
Casos Práticos Contencioso UE | Márcia Durães
Tratados, nomeadamente, no que respeita ao processo de adoçã o de uma diretiva (art. 288º e
297º TFUE). No entanto, é importante realçar que o TJ nã o pode substituir o ato em apreço,
mas apenas pode anula-lo.
Nos termos do art 263º, nº4, qualquer pessoa singular ou coletiva poderia interpor um
recurso de anulaçã o, desde que este lhe diga diretamente e individualmente respeito, e, uma vez
que se trata de um particular, estamos perante um recorrente nã o privilegiado/ordiná rio. Mas
como se determina se algo afeta diretamente e individualmente um particular? A afetaçã o
indireta e individual para efeitos de contestaçã o pressupõ e que tenham por destinatá rio um
terceiro, mas, no entanto, suscite o interesse em agir, isto é, que o ato afete o autor da açã o,
provocando-lhe um interesse em agir. Deste modo, a afetaçã o direta trata-se de um ato que
produz efeitos diretos na situaçã o jurídica do recorrente, e a afetaçã o individual trata-se de um
ato que atinja o recorrente particular de modo distinto face a todos os demais afetados.
11
Casos Práticos Contencioso UE | Márcia Durães
12