Mudismo

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 30

Revista Educação Especial

ISSN: 1808-270X
ISSN: 1984-686X
revistaeducaçã[email protected]
Universidade Federal de Santa Maria
Brasil

Souza, Danielle Castelões Tavares de; Nunes, Leila Regina d'Oliveira de Paula
Intervenções para casos de crianças e adolescentes com mutismo seletivo
Revista Educação Especial, vol. 34, 2021, -, pp. 1-29
Universidade Federal de Santa Maria
Santa Maria, Brasil

DOI: https://doi.org/10.5902/1984686X48498

Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=313165836002

Cómo citar el artículo


Número completo Sistema de Información Científica Redalyc
Más información del artículo Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal
Página de la revista en redalyc.org Proyecto académico sin fines de lucro, desarrollado bajo la iniciativa de acceso
abierto
http://dx.doi.org/10.5902/1984686X48498

Intervenções para casos de crianças e adolescentes com


mutismo seletivo
Interventions for cases of children and adolescents with selective mutism
Intervenciones para casos de niños y adolescentes con mutismo selectivo

Danielle Castelões Tavares de Souza


Doutora pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
E-mail: [email protected] ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7105-4960

Leila Regina d'Oliveira de Paula Nunes


Professora doutora na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
E-mail: [email protected] ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2012-6973

Recebido em 29 de julho de 2020


Aprovado em 12 de novembro de 2020
Publicado em 20 de janeiro de 2021

RESUMO
O objetivo do presente artigo é apresentar uma revisão integrativa de literatura com vistas
à identificação dos tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizaram a
comunicação alternativa como intervenção para os casos de crianças com mutismo
seletivo. Para este fim, considerou-se o levantamento bibliográfico em base de dados
virtuais como método de análise. Foram selecionados os descritores nas versões português
e inglês (“mutismo seletivo”, “crianças”, “adolescente”, “tratamento”, “intervenção”, “escola”,
“comunicação alternativa e ampliada”, “selective mutism”, “children”, “adolescent”,
“treatment”, “intervention”, “augumentative and alternative communication”) e utilizados,
isoladamente ou combinados entre si, por meio do operador boleano “and” de acordo com
a particularidade de cada base de dados. Como resultado, foram identificados 27 estudos,
entre eles: artigos na íntegra, teses, dissertações publicadas em português e inglês nas
bases de dados Google Acadêmico, ERIC, PubMed, Scielo, Web of Science, bibliotecas
virtuais de universidades públicas nacionais e uma biblioteca virtual de uma universidade
americana. Para a seleção final dos estudos foram definidos parâmetros de inclusão,
conforme os três itens a seguir: a) estudos empíricos que mostrassem efeitos de
intervenções, publicados entre os anos de 2006 a 2017; b) participantes com até 18 anos
de idade e com o diagnóstico de mutismo seletivo, de acordo com os critérios do DSM 4 e
5; c) intervenções psicoterapêuticas, farmacológicas ou que utilizassem a comunicação
alternativa. Foram excluídas as publicações que não atendessem aos critérios acima.
Concluiu-se que intervenção terapêutica predominantemente utilizada é a cognitiva
comportamental, sem indicar um tempo de intervenção específico.
Palavras-chave: Mutismo Seletivo; Intervenção; Comunicação Alternativa e Ampliada.
2

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X48498

ABSTRACT
The aim of this article is to present an integrative literature review with a view to identifying
psychotherapeutic, pharmacological treatments or that used alternative communication as an
intervention for the cases of children with selective mutism. For this purpose, the bibliographic
survey in virtual databases was considered as a method of analysis. Descriptors were selected
in the Portuguese and English versions ("selective mutism", "children", "teenager", "treatment",
"intervention", "school", "alternative and expanded communication", "selective mutism",
"children", “Adolescent”, “treatment”, “intervention”, “augumentative and alternative
communication”) and used, alone or combined with each other, through the Boolean operator
“and” according to the particularity of each database. As a result, 27 studies were identified,
including: full articles, theses, dissertations published in Portuguese and English in the Google
Scholar databases, ERIC, PubMed, Scielo, Web of Science, virtual libraries from national public
universities and a virtual library of an American university. For the final selection of studies,
inclusion parameters were defined, according to the following three items: a) empirical studies
showing the effects of interventions, published between the years 2006 to 2017; b) participants
up to 18 years of age and diagnosed with selective mutism, according to DSM criteria 4 and 5; c)
psychotherapeutic, pharmacological or alternative communication interventions. Publications that
did not meet the above criteria were excluded. It was concluded that therapeutic intervention
predominantly used is cognitive behavioral, without indicating a specific intervention time.
Keywords: Selective mutism; Intervention; Alternative and Extended Communication.

RESUMEN
El propósito de este artículo es presentar una revisión integral de la literatura con el fin de
identificar tratamientos psicoterapéuticos, farmacológicos o que usen comunicación alternativa
como una intervención para los casos de niños con mutismo selectivo. Para ello, se consideró la
encuesta bibliográfica en bases de datos virtuales como método de análisis. Los descriptores
fueron seleccionados en las versiones portuguesa e inglesa ("mutismo selectivo", "niños",
"adolescente", "tratamiento", "intervención", "escuela", "comunicación alternativa y expandida",
"mutismo selectivo", "niños" , “Adolescente”, “tratamiento”, “intervención”, “comunicación
aumentativa y alternativa”) y se usan, solos o combinados entre sí, a través del operador
booleano “y” según la particularidad de cada base de datos. Como resultado, se identificaron 27
estudios, incluidos: artículos completos, tesis, disertaciones publicadas en portugués e inglés en
las bases de datos de Google Scholar, ERIC, PubMed, Scielo, Web of Science, bibliotecas
virtuales de universidades públicas nacionales y una biblioteca virtual de una universidad
estadounidense. Para la selección final de los estudios, se definieron los parámetros de inclusión,
de acuerdo con los siguientes tres ítems: a) estudios empíricos que muestran los efectos de las
intervenciones, publicados entre los años 2006 a 2017; b) participantes de hasta 18 años de
edad y diagnosticados con mutismo selectivo, de acuerdo con los criterios DSM 4 y 5; c)
intervenciones de comunicación psicoterapéuticas, farmacológicas o alternativas. Se excluyeron
las publicaciones que no cumplían con los criterios anteriores. Se concluyó que la intervención
terapéutica predominantemente utilizada es la cognitiva conductual, sin indicar un tiempo de
intervención específico.
Palabras clave: Mutismo selectivo; Intervención; Comunicación alternativa y extendida.
Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria
Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
3

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X48498

Introdução

O mutismo seletivo , tema central deste artigo, de acordo com o DSM – 5 (APA, 2014)
envolve o fracasso persistente para falar em situações sociais específicas nas quais existe
a expectativa para tal, como por exemplo: na escola, apesar de o fazê-lo em outras
situações (APA, 2014). Tal fracasso não se deve a um desconhecimento ou desconforto
com o idioma exigido pela situação social. O transtorno interfere significativamente na
realização educacional ou na comunicação social. Sua duração mínima é de um mês (não
limitada ao primeiro mês de escola). Não se trata de um transtorno da comunicação, como
o transtorno da fluência com início na infância, nem ocorre exclusivamente durante o curso
de transtorno do espectro autista, esquizofrenia ou outro transtorno psicótico.
Os dados do DSM – 5 (APA, 2014) mostram que a prevalência do transtorno de
mutismo seletivo varia entre 0,03 e 1% da população, o que o caracteriza como raro. A
prevalência parece não diferenciar sexo ou raça/etnia, e manifesta-se com maior frequência
em crianças menores. O mutismo seletivo já é considerado, por alguns estudos (HUA,
MAJOR, 2016; RIBEIRO, 2013), um tipo de fobia social e é considerado uma condição
debilitante, causando interferências nas atividades educacionais ou de comunicação social.
São crianças notadamente sensíveis, tímidas, ansiosas, bem como negativistas,
opositoras, manipuladoras e controladoras. Trata-se de um transtorno raro, pesquisado há
mais de um século e que não possui expressivo número de investigações sistemáticas. O
transtorno tem sido relacionado a um excesso de timidez, ansiedade e comportamento
opositor. Muitos casos (79%) começam na pré-escola e tem curso transitório (LEVITAN et
al., 2011; ISOLAN, PHEULA, MANFRO, 2006; TURKIEWICZ et al., 2008; PEIXOTO, 2006;
PRADO, REVERS, MARROCOS, 2008; RIBEIRO, 2013; POKORSKI, POKORSKI, 2012;
DUMMIT et al., 1996; FACON, SAHIRI, RIVIÈRI, 2008; SHRIVER, SEGOOL,
GORTMAKER, 2011; CLEAVE, 2009; KHELE et al., 2012; LANG et al., 2011; COHAN,
CHAVIRA, STEIN, 2006; MANASSIS, TANNOCK, 2008; REUTHER et al., 2011; SHARKEY
et al., 2008; KUMPULAINEN, 2002; BERGMAN et al., 2013; OON, 2010; OERBECK et al.,
2014; PONZURICK, 2012; VECCHIO & KEARNEY, 2009; BUNNELL, BEIDEL, 2013).
Todos os autores pesquisados (TURKIEWICZ et al., 2008; PEIXOTO, 2006; PRADO,
REVERS, MARROCOS, 2008; RIBEIRO, 2013; HAGERMAN et al., 1999; DUMMIT et al.,
1997; LEVITAN et al., 2011; CASEY, 2010; REUTHER et al., 2011; STEINHAUSEN et al.,
2006) além de citarem a descrição exposta no parágrafo acima, ainda contribuem com

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
4

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X48498

outras especificações tais como o comprometimento do funcionamento saudável e


adequado do contexto social no período escolar, bem como ressaltam que estas crianças
possuem todas as habilidades e competências linguísticas necessárias para o
estabelecimento de comunicação em qualquer contexto, primordialmente o familiar. Pode
existir uma recusa, determinada por um comportamento opositivo, em falar em
determinadas situações sociais (DUMMIT et al., 1997; RIBEIRO, 2013).
As intervenções e tratamentos encontrados e disponíveis para os profissionais da área
da saúde e educação apontaram, em sua grande maioria, para o uso de técnicas
terapêuticas cognitiva comportamentais e comportamentais, o uso de medicamentos ou a
combinação entre essas estratégias com sucesso (LEVITAN et al., 2011; ISOLAN,
PHEULA, MANFRO, 2006; TURKIEWICZ et al., 2008; PEIXOTO, 2006; PRADO, REVERS,
MARROCOS, 2008; RIBEIRO, 2013; POKORSKI, POKORSKI, 2012; DUMMIT et al., 1997;
FACON, SAHIRI, RIVIÈRI, 2008; SHRIVER, SEGOOL, GORTMAKER, 2011; CLEAVE,
2009; KHELE et al., 2012; LANG et al., 2011; COHAN, CHAVIRA, STEIN, 2006;
MANASSIS, TANNOCK, 2008; REUTHER et al., 2011; SHARKEY et al., 2008;
KUMPULAINEN, 2002; BERGMAN et al., 2013; OON, 2010; OERBECK et al., 2014;
PONZURICK, 2012; VECCHIO, KEARNEY, 2009). Em pesquisas internacionais foram
descritos tratamentos que se utilizaram de recursos de alta tecnologia, tais como aplicativos
usados em tablets e dispositivos de voz, porém, em dois deles, sem mencionar que se
tratava do emprego de Comunicação Alternativa (HOLLEY, JOHNSON e HERZBERG,
2014; SKACEL, 2014; PONZURICK, 2012; BUNNELL, BEIDEL, 2013). A Comunicação
Alternativa envolve o emprego de gestos manuais, posturas corporais, expressões faciais,
uso de miniaturas, de símbolos gráficos (como fotografias, gravuras, desenhos e linguagem
alfabética), de voz digitalizada ou sintetizada por meio dos quais pessoas sem fala
articulada, devido a fatores psicológicos, neurológicos, emocionais, físicos e/ou cognitivos,
podem efetuar a comunicação face a face (GLENNEN, 1997; NUNES, 2003).

Procedimentos metodológicos

Para estudo considerou-se o levantamento bibliográfico em base de dados virtuais como


método de análise. Foram selecionados os descritores nas versões português e inglês
(“mutismo seletivo”, “crianças”, “adolescente”, “tratamento”, “intervenção”, “escola”,
“comunicação alternativa e ampliada”, “selective mutism”, “children”, “adolescent”, “treatment”,

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
5

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X48498

“intervention”,“augumentative and alternative communication”) e utilizados, isoladamente ou


combinados entre si, por meio do operador boleano “AND” de acordo com a particularidade de
cada base de dados. Como resultado, foram identificados 27 estudos, entre eles: artigos na
íntegra, teses, dissertações publicadas em português e inglês nas bases de dados Google
Acadêmico, ERIC, PubMed, Scielo, Web of Science, bibliotecas virtuais de universidades
públicas nacionais e uma biblioteca virtual de uma universidade americana. Para a seleção
final dos estudos foram definidos parâmetros de inclusão, conforme os três itens a seguir: a)
estudos empíricos que mostrassem efeitos de intervenções, publicados entre os anos de 2006
a 2017; b) participantes com até 18 anos de idade e com o diagnóstico de mutismo seletivo,
de acordo com os critérios do DSM 4 e 5; c) intervenções psicoterapêuticas, farmacológicas
ou que utilizassem a comunicação alternativa. Foram excluídas as publicações que não
atendessem aos critérios acima. As análises iniciais realizadas nos 27 estudos encontrados
nesta revisão, de acordo com os critérios de inclusão já descritos, tiveram como objetivo
rastrear e explorar dados de produção, tais como: a) a origem do material encontrado como
nacional ou internacional, b) o período com o maior número de publicações, c)os tipos de
tratamento mais usados, d)os fármacos utilizados, e) a duração dos tratamentos e f) o uso da
comunicação alternativa como intervenção. Posteriormente foram confeccionados dois
quadros com dados como a) o objetivo do estudo, b) o número de sujeitos envolvidos, c) os
métodos empregados e d) os resultados encontrados. A partir do quadro foi possível identificar
que o objetivo dos estudos se direcionava para a utilização de estratégias e intervenções para
o mutismo seletivo. Os sujeitos envolviam não somente as crianças, mas também professores
e familiares. O método mais encontrado foi o estudo de caso e a maioria dos resultados foram
satisfatórios.
Quanto à origem do material publicado no primeiro quadro, foram encontrados 20 estudos
internacionais - em sua maioria publicados nos Estados Unidos, enquanto no Brasil foram
identificadas três publicações apenas. A revisão foi composta por 21 artigos, uma tese e um
capítulo de livro. Foi verificado que o maior número de publicações, no período de revisão
compreendido para esse estudo, ocorreu no ano de 2008.

Resultados e discussão

Os estudos apontaram para a utilização dos seguintes tipos de tratamento: terapia cognitiva
comportamental, terapia cognitiva comportamental multimodal, role playing, psicodrama,

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
6

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X48498

modelação, esvanecimento de estímulo, modelação, terapia de grupo, gerenciamento de


contingências e psicanálise (PEIXOTO, 2006; FACON, SAHIRI, RIVIÈRI, 2008; SHARKEY et al.,
2008; VECCHIO, KEARNEY, 2009; OON, 2010; SHRIVER, SEGOOL, GORTMAKER, 2011;
REUTER et al., 2011; OERBECK et al., 2012, 2014; HUNG, SPENCER, DRONAMRAJU, 2012;
OOI et al., 2012; BERGMAN et al., 2013; CAMPOS E ARRUDA, 2014; MITHELL,
KRATOCHWILL, 2013; MAYWORM et al., 2014; LANG et al., 2015; KLEIN et al., 2017).
É consenso entre os autores que a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), combinada
ou não ao uso de fármacos, apresenta o maior número de publicações. Foi constatado que a
escola é um dos locais de preferência para a realização de pesquisas. O acervo envolveu estudos
de caso e estudos experimentais ou quase experimentais.
A seguir serão descritos os tratamentos que foram mais utilizados pelos estudos
selecionados na revisão realizada. São eles: terapia cognitivo comportamental utilizando
gerenciamento de contingência, esvanecimento de estímulo e modelagem.
Citada nos estudos de Cohan, Chavira e Stein (2006), Oerbeck et al. (2014), Reuther (2011),
a terapia cognitivo-comportamental (TCC) consiste em um tipo de tratamento desenvolvido por
Aaron Beck na década de 60 dirigido à modificação de pensamentos e comportamentos
disfuncionais. Trata-se de uma modalidade terapêutica eficiente para o atendimento de diversas
demandas no que diz respeito aos transtornos mentais. Outra forte característica da TCC diz
respeito à amplitude de seu alcance quanto aos níveis de educação e renda, bem como ao
atendimento de culturas e idades variadas (BECK, 2013; HOFMANN, 2014).
O gerenciamento de contingência é um tipo de intervenção que envolve o estabelecimento
de um acordo que se refira ao recebimento de uma recompensa, reforço positivo do
comportamento desejado para intensificar e manter a motivação, aplicado a respostas
comportamentais específicas (objetivos) - nesse caso, as respostas orais (FRIEDBERG,
MCLURE, GARCIA, 2011). A escolha da recompensa é feita em colaboração com a criança e é
fornecida no momento em que o comportamento alvo é emitido (COHAN, CHAVIRA, STEIN, 2006;
OERBECK et al., 2014; REUTHER et al., 2011). Por outro lado, deve-se esclarecer a criança quais
as consequências da não emissão do comportamento alvo. É importante considerar a frequência
dos comportamentos alvo e quem é o responsável pela oferta da recompensa ao atingir o objetivo
proposto. Quando utilizada em família, esse tipo de estratégia proporciona a diminuição de conflitos
entre pais e filhos, - por exemplo, ao deixar clara quais são as expectativas de ambos e
aumentando a qualidade do relacionamento entre eles. Adicionalmente, faz com que os

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
7

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X48498

responsáveis assumam um papel mais ativo no desenvolvimento da criança, além de encorajar a


interação e a cooperação (FRIEDBERG, MCLURE, GARCIA, 2011).
Como intervenção muito citada nos estudos, destaca-se o esvanecimento de estímulo. Este,
segundo Skacel (2014), pode ser usado de duas formas: com pessoas e com situações. No
primeiro caso, quando utilizado para ampliar a quantidade de pessoas com quem a criança pode
falar, deve-se inicialmente estabelecer contato com a criança em um ambiente confortável para
ela falar e gradativamente incluir outras pessoas, uma a uma. Quando é usado a partir da situação,
para que a criança fale em outras situações e outros ambientes, a criança pode ser levada
gradualmente do ambiente onde ela está confortável para aquele que a deixa mais estressada
(SKACEL, 2014). Peixoto (2006) também descreve a intervenção salientando que o início deve
ocorrer em uma situação especial onde a criança consiga estabelecer comunicação oral. Os
ambientes nos quais o indivíduo mostra dificuldade em oralizar são diversos, podendo incluir os
locais próximos à escola, os corredores e locais do seu interior, a sala de aula e parques. As
dificuldades podem surgir quando a criança é questionada em emitir respostas em volume e
frequência de fala de forma adaptativa. É dado como exemplo o caso de uma criança que pode
ser recompensada por falar com um colega de classe com quem ele já estabelece comunicação
oral em ambientes diferentes da escola (OERBECK et al., 2014; REUTHER et al., 2011).
Além da estratégia acima descrita, de forma combinada pode-se adotar a modelagem que,
segundo os autores (COHAN, CHAVIRA, STEIN, 2006; REUTER et al., 2011), produz efeitos bem-
sucedidos. De acordo com Friedberg, McLure e Garcia (2011), a modelagem influencia o
desenvolvimento de novos comportamentos. Isso se dá por meio de aprendizagem por
observação de modelos apropriados que podem ser os pais ou os cuidadores de um indivíduo.
Também pode ocorrer por meio de personagens de histórias, de filmes ou de televisão que
também servem como modelos. A intenção é que essa observação amplie o repertório de
estratégias de uma criança, bem como servir como motivação para a mudança. Além dessa
técnica, também pode-se utilizar a auto-modelação. Esta pode ser baseada na gravação de vídeos
da criança onde ela terá oportunidade de conhecer sobre seu próprio comportamento. Em casos
de mutismo seletivo, deve-se gravar seu comportamento falante, bem como quando permanece
muda, de modo a fornecer uma amostra mais completa do seu repertorio comportamental.
Reuther (2011) e Oerbeck et al. (2014) ainda citam a psicoeducação e a restruturação
cognitiva como técnicas importantes a serem utilizadas em casos de mutismo seletivo.
Além dos tratamentos acima expostos, foram identificados também os fármacos mais
usados em intervenções para o transtorno. Foi possível verificar o uso da fluoxetina com frequência

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
8

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X48498

maior que os demais conforme apontado abaixo. Não é a intenção do presente estudo descrever
os efeitos dos fármacos sobre os sintomas do mutismo seletivo, uma vez que informações sobre
os efeitos de seu uso são limitados vem sendo cada vez menos utilizado (HUA & MAJOR, 2016).

Quadro 1 - Fármacos mais usados nos tratamentos pesquisados

FÁRMACOS USADOS AUTORES

Prado, Revers e Marrocos, 2008;


Fluoxetina
Manassis e Avery, 2013; Ooi et al., 2012

Sertralina Turkiewicz et al., 2008


Citalopram e Escitalopram Çöpür,Görker e Demir, 2012

Serotonina Manassis e Tannock, 2008

Fonte: SOUZA (2018, p.49).

Quanto ao tempo de aplicação de cada intervenção, observou-se uma diversidade


conforme o quadro abaixo apresentado:

Quadro 2 - Tempo de tratamento

AUTORES TEMPO DE TRATAMENTO

Turkiewicz et al. 2008 10 meses

Facon et al. 2008 20 semanas

Manssis & Tannock 2008 6 a 8 meses


Reuther et al. 2011;
21 sessões
Kratochwill et al., 2012
Sharkey et al. 2008 8 semanas

Oon 2010 5 meses

Vecchio & Kearney, 2009 8 a 32 sessões

Hung, Spencer e Dronamraju, 2012 2 meses

Çöpür, Görker e Demir, 2012 4 a 7 meses

Mitchell & Kratochwill, 2012 7 sessões

Manassis & Avery, 2013 3 semanas

Lang et al., 2015 12,58 (+ou- 9,96 meses)

Oerbeck 2012 14 semanas


Mayworm et al., 2014;
26 semanas
Klein et al., 2017

Fonte: SOUZA (2018, p.50)

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
9

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X48498

É possível verificar como a duração dos tratamentos encontrados variou de um estudo


para o outro mesmo quando alguns deles utilizam intervenções semelhantes. Infere-se,
nesse caso, que não há como precisar o tempo com que cada um reagirá aos tratamentos
escolhidos utilizados para cada caso.
A partir dos dados expostos depreende-se que o transtorno de mutismo seletivo
desperta maior interesse em pesquisadores internacionais e que preferem a publicação de
estudos de caso. De fato, ainda são poucas as pesquisas experimentais e quase
experimentais.
Um fator importante para ser destacado é a participação de poucos indivíduos na
maior parte dos estudos. Dois mil e oito foi o ano em que um maior número de pesquisas
foi divulgado e a partir de então as publicações voltaram a diminuir, embora não tenham
apresentado uma regularidade.
Não há um consenso acerca da duração de cada tipo de tratamento. Assim, a partir
da análise aqui realizada verificou-se que a terapia cognitivo comportamental se mostra
como a mais usada e, de acordo com o consenso dos autores, é a intervenção mais
promissora com os efeitos mais positivos, superando inclusive o uso dos fármacos
(PEIXOTO, 2006; FACON, SAHIRI, RIVIÈRI, 2008; SHRIVER, SEGOOL, GORTMAKER,
2011; LANG et al., 2011; REUTHER et al., 2011; BERGMAN et al., 2013; OERBECK et al.,
2014; BUNNELL, BEIDEL, 2013; OERBECK et al., 2012; HUNG, SPENCER,
DRONAMRAJU, 2012; KRATOCHWILL et al., 2012; MITCHELL, KRATOCHWILL, 2013;
LANG et al., 2015; MAYWORM et al., 2014). Foram considerados os autores que utilizaram
a terapia cognitiva comportamental, a terapia comportamental e suas estratégias de
intervenção, mesmo que isoladamente.
Verificou-se que quatro dos estudos foram conduzidos em ambiente escolar e nenhum
afirmou que o uso de recursos da comunicação alternativa fora intencionalmente
empregado.
A escola, geralmente, é o espaço onde se identifica os primeiros sintomas do mutismo
seletivo. É nesse espaço que a criança inicia sua maior exposição à interação e
comunicação com o maior número de indivíduos estranhos a ela. Muitos casos (79%)
começam na pré-escola e têm curso transitório (TURKIEWICZ et al., 2008). Nesse sentido
é vital que os profissionais que atuam nesse contexto tenham conhecimento dos avanços
recentes na literatura acerca dos tratamentos mais usados para o transtorno de mutismo
seletivo que abordem, sobretudo, o cenário escolar (ZAKSZESKI, DUPAUL, 2016).

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
10

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X48498

Conforme verificado, as pesquisas são destinadas, em sua maioria, ao campo da saúde


envolvendo a psicoterapia e a farmacologia.
As intervenções que tenham utilizado a Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA)
no contexto escolar para o atendimento de necessidades de crianças com mutismo seletivo
foram incluídas na revisão, pois foi identificado que o uso dos recursos da CAA diminui a
pressão sobre o indivíduo na produção de sua fala, reduzindo sua ansiedade e
potencialmente auxiliando a comunicação oral (BEUKELMAN, MIRENDA,1998; MILLAR,
LIGHT, SCHLOSSER, 2006; KING, 2010; LOYD, KANGAS (1994).

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
11 11

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

REFERÊNCIA OBJETIVO Nº DE SUJEITOS MÉTODO RESULTADOS

PEIXOTO, A.C. Mutismo


Seletivo: prevalência, Pesquisa quantitativa e qualitativa.
características associadas Participaram 16 crianças sendo
Avaliar os resultados do uso de
e tratamento cognitivo divididas entre grupo experimental e
um protocolo de tratamento A comunicação dos participantes na
comportamental. 2006. grupo controle contando com oito em
cognitivo-comportamental 16 crianças linha de base era equivalente a 0% e
216f. Tese (Doutorado em cada. As crianças do grupo
infantil para o tratamento do aumentou para 27% no follow-up.
Psicologia) – Instituto de experimental foram avaliadas na
mutismo seletivo.
Psicologia, Universidade linha de base e pós-tratamento, e no
Federal do Rio de Janeiro. follow-up de 35 a 45 dias.
Rio de Janeiro, 2006.

A participante passou a gritar


durante as partidas de handball, a
TURKIEWICZ, G. et al., falar mais alto com sua mãe em
Selective Mutism and the locais públicos e com seus amigos,
Dez meses de sessões de terapia
anxiety spectrum – a long Reportar o caso de uma Um adolescente passou a movimentar os lábios. Os
cognitivo-comportamental. A
term case report. Revista adolescente diagnosticada do sexo feminino autores relatam que a quantidade de
participante usou medicamento
Brasileira de Psiquiatria, v. com mutismo seletivo de 17 nos. pessoas com quem ela passou a se
sertralina.
30, p. 168-176, 2008. comunicar não apresentou
expressivo aumento, mas a
participante demonstrou menos
ansiedade.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
12 12

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

O diagnóstico persistiu em 16
crianças. mas elas apresentaram
MANASSIS, K; TANNOCK, melhoria dos sintomas. As 10
Os 20 participantes foram avaliados,
R. Comparing Interventions Examinar os resultados de crianças que receberam tratamento
por meio de entrevista
for Selective Mutism: A pilot intervenções médicas e não medicamentoso (serotonina)
20 crianças e semiestruturada e convidados a
study. La Revue médicas com duração de seis apresentaram melhoria global e
seus pais retornar de seis a oito meses após a
Cannadienne de a oito meses de crianças com melhoria na comunicação com
avaliação inicial e uso de serotonina.
Psychiatrie, v. 53, n. 10, p. mutismo seletivo. outras pessoas. Sete crianças, que
Retornaram 17.
700-703, 2008. não receberam tratamento
medicamentoso não apresentaram
diferença em seu quadro.

Relato de um caso clínico.: a


PRADO, E. S. T. do identificação do participante, a
REVERS, M. C., história da doença, a história
O participante passou a comunicar-
MARROCOS, R. P., Relatar um estudo de caso de mórbida pregressa, os antecedentes
Um participante se com os médicos através de
Mutismo Seletivo. Ou um menino de 12 anos de familiares, o exame físico, o exame
de 12 anos gestos, atender ao telefone,
eletivo? In: Artigo Original – idade, que procurou o serviço do estado mental, as hipóteses
estudante da 5ª conversar com vizinhos e adultos
Sessões de Casos Clínicos de psiquiatria a pedido da diagnósticas e a conduta utilizada no
série do ensino próximos a ele. Também passou a
Congresso Brasileiro de professora, pois não falava em tratamento e uma breve revisão
fundamental . manter contato visual por mais
Psiquiatria ABP. Sessões sala de aula. teórica. No que diz respeito ao
tempo durante a consulta.
de Casos Clínicos, 13 p., tratamento, os autores descreveram
2008. o uso de fluoxetina sem a
combinação com a psicoterapia.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
13 13

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

As crianças aumentaram seu nível


O grupo de crianças participou por
SHARKEY et al., Group de conversação confiante na escola,
Quatro meninas e oito semanas de encontros onde
Therapy for Selective Mutism na clínica e em outros ambientes
Avaliar a viabilidade e a um menino, todos eram realizadas terapias em grupo.
- A parents' and children's sociais. Os pais, por meio de escala
eficácia da terapia de grupo com Simultaneamente os pais também
treatment group. Journal of de auto classificação, revelaram
para casos de crianças com aproximadamente participaram de encontros para
Behavior Therapy and diminuir seu nível de ansiedade. Os
mutismo seletivo seis anos de esclarecimentos sobre como lidar
Experimental Psychiatry, resultados comprovam a viabilidade
idade. com o mutismo seletivo na rotina e
n. 39, p. 538-545, 2008. e a eficácia da terapia em grupo para
na escola.
este grupo de crianças.

Delineamento quase experimental


Aumento gradual do tom de voz da
com três fases- linha de base,
criança. Indicação de relação entre o
FACON, B.; SAHIRI, S.; Uma criança do intervenção e follow up. As
aumento do tom de voz da criança e
RIVIÈRI, V. A Controlled sexo masculino intervenções foram
O objetivo foi demonstrar a o feedback dado pela terapeuta,
single-case treatment of de 12 anos de comportamentais e realizadas ao
eficácia da combinação de além de boa generalização na fase
severe long-term selective idade com retardo longo de 20 semanas, com quatro
modelagem e esvanecimento de esvanecimento do estímulo. Seis
mutismo in a child with mental e severo sessões de 15 minutos por semana.
de estímulo como tratamento meses após, na fase de follow up, foi
mental retardation. mutismo seletivo Durante as sessões o participante foi
para o mutismo seletivo. observado que o tom de voz
Behavior Therapy, v. 39, p. nascido no orientado a dar respostas verbais.
adquirido durante a intervenção
313-321, 2008. Marrocos. Foi utilizado um medidor de voz
permanecia em sala de aula, mesmo
modelo 2230 para avaliar e gravar a
com a mudança de escola.
voz do participante.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
14 14

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

OON, P. Playing with Gladys:


A case study integrating
drama therapy with Examinar a combinação de
Uma menina de Relato de um estudo de caso A participante desenvolveu fala
behavioural interventions for psicodrama e modelação como
cinco anos de conduzido em 18 sessões por cinco espontânea, auto estima positiva e
the treatment of selective tratamento para o mutismo
idade. meses. teve seu comportamento generalizado
mutism. Clinical Child seletivo.
Psychology and Psychiatry,
15 (2), 215-130. 2010.

VECCHIO, J; KEARNEY, C.
Os resultados mostram que o
A. Treating Youths with Relatar um estudo desenvolvido Foi usado um delineamento
tratamento foi eficaz quanto ao
Selective Mutism with na com nove participantes Nove participantes intrassujeitos de tratamentos
aumento do tom de voz desta
Exposure-Based Practice and utilizando prática baseada em de quatro a nove alternados para analisar o impacto da
população de crianças. As sessões
Contingency Management. exposição de gerenciamento de anos de idade. prática baseada em gerenciamento de
produziram efeitos em 8 dos 9
Behavior Therapy, v. 40, p. contingência. contingência.
participantes.
380-392, 2009.

Delineamento experimental
LANG et al. Behavioral
Descrever duas intervenções intrassujeitos de linha de base múltipla
intervention to treat selective A partir das intervenções, houve
comportamentais: role playing e Uma participante por situação social. A frequência da
mutism across multiple social aumento tanto na iniciativa para falar
auto modelagem, utilizadas em de nove anos de iniciativa para falar, respostas a
situations. Journal of quanto nas repostas às perguntas
uma menina com mutismo idade perguntas e falhas de comunicação
Applied Behavior Analysis, formuladas pos seus parceiros.
seletivo. foram medidas em três situações e
v. 44(3), p. 623-628, 2011.
ambientes diferentes.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
15 15

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

Os resultados mostraram que no


primeiro caso, baseado nas
observações, foi decidido que o
tratamento teria que promover mais
Nos dois casos foram realizadas oportunidades para falar e aumentar
duas observações de linhas de base suas respostas não verbais em mais
na escola em momentos diferentes ambientes e com mais pessoas. Foi
do período da aula. indicado que, em sala de aula, o
No primeiro sujeito foi indicado que, participante recebesse de sua
SHRIVER, M., SEGOOL, N.
Apresentar dois casos de em sala de aula, o participante professora mais oportunidades para
Behavior Observations for
crianças com mutismo seletivo Dois participantes recebesse de sua professora mais falar de forma não verbal
Linking Assessment to
onde foi utilizada a observação do sexo oportunidades para falar de forma inicialmente. A partir de então,
Treatment for Selective
comportamental como recurso masculino, com não verbal inicialmente. A partir de deveria ser usado a modelação e um
Mutism. Education &
primário para decisão sobre sete e 10 anos. então, deveria ser usado a sistema de recompensas para que
Treatment of Children, 34
qual tratamento utilizar. modelação e um sistema de passasse a emitir respostas vocais.
(3), 389-410, 2011.
recompensas para que passasse a Já os resultados para o segundo
emitir respostas vocais. participante mostraram que ele
Com o segundo sujeito, foi realizado falava com alguns colegas de classe,
esvanecimento de estímulo pela sua mas não falava com a professora. De
professora acordo com essa informação, o
tratamento mais indicado foi o
esvanecimento de estímulo a ser
utilizado pela sua professora
gradativamente.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
16 16

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

Estudo de caso de um tratamento


REUTHER, E. T. et al.,
utilizando terapia cognitiva- Diminuição dos sintomas. As
Treating selective mutism
comportamental. O tratamento reavaliações realizadas após um
using modular CBT for child Relatar um estudo de caso
Um menino de consistiu em 21 sessões. Foram mês e após seis meses mostraram
anxiety: a case study. utilizando a terapia cognitiva
oito anos de idade utilizadas técnicas de que a melhora permanecia. Os
Journal of Clinical Child, comportamental modular.
psicoeducação, exposição, critérios para mutismo seletivo foram
v. 40, p. 156-163, 2011.
reestruturação cognitiva, extintos.
treinamento em habilidades sociais.

OERBECK, B. et al., Estudo utilizando Linha de base,


Selective Mutism: a home tratamento e avaliação após seis
and kindergarten based meses.
Sete crianças de Todas as crianças passaram a falar
intervention for children 3-5 Examinar os resultados de um Como intervenção foi utilizada a
três a cinco anos no ambiente escolar após 14
years old: a pilot study. tratamento multimodal. Terapia Cognitivo Comportamental
de idade semanas de tratamento.
Clinical Child Psychology dividida em módulos e em dois
and Psychiatry, v. 17, p. ambientes: em casa e no ambiente
370-383, 2011. escolar.

HUNG, S.; SPENCER, M. Nos relatórios de acompanhamento,


S.; DRONAMRAJU, R., Apresentar a revisão de os professores da criança relataram
Uma criança pré Revisão de literatura sobre
Selective Mutism: Practice literatura sobre tratamentos que no semestre seguinte ela
escolar de quatro tratamentos para mutismo seletivo e
and Intervention Strategies para mutismo seletivo e um começou a falar algumas frases e
anos de idade descrever um estudo de caso.
for Children. Children & estudo de caso. dois meses depois já falava como
Schools, v. 34, n. 4, 2012. todas as outras crianças.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
17 17

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

ÇÖPÜR, M., GÖRKER, I.,


DEMIR, T., Selective Quatro crianças: Os tratamentos duraram de quatro a
Descrever quatro casos de
Serotonin Reuptake dois meninos de sete meses. Em todos os casos, os
crianças com mutismo seletivo Os autores relataram os casos das
Inhibitors for Treatment of nove anos, um autores relataram aumento da
que fizeram uso de quatro crianças individualmente.
Selective Mutism. Balkan menino de onze e comunicação oral nos ambientes e
medicamentos: citalopram e Uso de citalopram e escitalopram
Medical Journal, v. 29, p. uma menina de com as pessoas com quem as
escitalopram
99-102, 2012. oito anos crianças não falavam anteriormente..

OOI, Y. P. et al., Application


of a web-based cognitive-
Avaliar o uso da terapia Quatro das cinco crianças exibiram
bahavioural therapy Cinco crianças:
cognitivo comporamental via Relato de caso aumento na frequência de palavras
programme for the treatment um menino e
web denominada Meeky Terapia cognitivo comportamental em casa, na escola e em outras
of selective mutism in quatro meninas
Mouse combinado com o uso via web denominada Meeky Mouse situações sociais. Recomenda-se o
Singapore: a case series com idades entre
de fluoxetina em crianças com combinado com o uso de fluoxetina uso do instrumento em amostras
study. Singapore Medical seis e 11 anos.
mutismo seletivo de Singapura maiores.
Journal, v. 53, n. 7, p. 446-
450, 2012.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
18 18

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

Os resultados indicaram que as 12


crianças pertencentes ao grupo que
12 sujeitos foram submetidos a 20 recebeu a Terapia Comportamental
sessões de Terapia Comportamental Integrada para mutismo seletivo
Integrada para mutismo seletivo ao apresentaram melhorias em relação
Avaliar a viabilidade, a
longo de 24 semanas. Outras nove ao outro grupo. Apresentaram
BERGMAN et al. Integrated aceitabilidade e a eficácia
crianças foram incluídas em uma aumento de palavras na escola e
behavior therapy for preliminar de uma intervenção
lista de espera. Estas receberam mantiveram os ganhos na fase de
selective mutismo: a comportamental preliminar 21 crianças com
Terapia Comportamental para follow up. O estudo conclui que a
randomized controlled pilot para a redução dos sintomas idades entre 4 e 8
Mutismo Seletivo (chamado pelo Terapia Comportamental Integrada
study. Behavior Research de mutismo seletivo anos.
estudo de tratamento aberto). As para mutismo seletivo constitui uma
and Therapy, v. 51, p. 680- denominada Terapia
crianças que participaram da Terapia modalidade de terapia que inclui
689, 2013. Comportamental Integrada
Comportamental Integrada para exercícios de exposição gradual,
para mutismo seletivo.
Mutismo Seletivo foram reavaliadas práticas comportamentais a serem
três semanas após o término das usadas no ambiente escolar, auxílio
sessões (follow up) dos pais e professores. Demonstrou
ser uma modalidade promissora no
tratamento do transtorno.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
19 19

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

MITCHELL, A. D.,
Delineamento experimental
KRATOCHWILL, T. R.,
intrassujeitos de linha de base
Treatment of Selective Abordagem psicossocial.. Verificou-
múltipla por participante. O estudo foi
Mutism: Applications in the se o aumento da emissáo de
Apresentar os efeitos de uma dividido em triagem, avaliação,
Clinic and School through Quatro crianças palavras das crianças na interacao
abordagem psicossocial que tratamento, pós tratamento e follow
Conjoint Consultation. com idade entre com seus pais e professores. Não
envolveu a adoção de técnicas up
Journal of Educational cinco e dez anos. ocorreu generalização da fala das
comportamentais. Um pacote de tratamento
and Psychological crianças. Os autores consideram
Consultation, v. 23, n. 1, p. comportamental: esvanecimento de
que pode ser difícil replicar o estudo
36-62, 2013. estímulo, modelação, procedimentos
em outras crianças.
de gerenciamento de contingências

Em três semanas passou a falar com


MANASSIS, K.; AVERY, D. as amigas da irmã. Após oito meses
Apresentar um caso de uma
SSRIs in a case of selective Uma menina de Relato de caso passou a responder às professoras.
criança com mutismo seletivo
mutism. Canadian Medical oito anos de idade Uso de 10mg de fluoxetina Os pais não quiseram continuar com
fazendo uso de medicação.
Association, 2013. a medicação depois que a menina
passou a falar com as professoras.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
20 20

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

No follow up não foi encontrado


nenhum declínio significativo. Oito
crianças ainda apresentavam
Estudo experimental. Foi aplicado
Apresentar um estudo piloto critérios para o MS, quatro
OERBECK et al. Selective aos professores um questionário no
randomizado e controlado de apresentavam quadro de remissão,
Mutism: follow up study one 24 crianças entre momento da linha de base e um ano
follow up conduzido um ano 12 tiveram os sintomas extintos. As
year after end of treatment. três e nove anos após o tratamento. Foram aplicados
com o uso de Terapia crianças entre três e cinco anos
European Child & sendo 16 aos pais outros dois tipos de
Cognitivo Comportamental em apresentaram melhora de 78% e as
Adolescent Psychiatry, v. meninas questionários também no momento
casa e na escola de crianças crianças com idade entre seis e nove
24 p. 757-766, 2014. da linha de base e um ano após o
com mutismo seletivo. anos apresentaram melhora de 33%.
tratamento.
Esses dados apontam para a
necessidade da intervenção
precoce.

CAMPOS, L. K. S.;
ARRUDA, S. L. S., Brincar
Apresentar dois casos de
como meio de comunicação Uma menina de Relato de caso com uso do método Após dois anos, as crianças
crianças com mutismo seletivo
na psicoterapia de crianças nove anos e um psicanalítico por meio do brincar passaram a falar com a terapeuta,
atendidas em um hospital
com mutismo seletivo, menino de sete (uso de ludoterapia) como forma de seus professores e pessoas
público utilizando o método
Estudos Interdisciplinares anos expressão e comunicação denominadas como "externas".
psicanalítico.
em Psicologia. Londrina, v.
5, n. 2, p. 15-33, 2014.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
21 21

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

MAYWORM, A.,
Apresentar diretrizes para a
Assessment and Treatment
avaliação e o tratamento de Uma menina de Relato de caso . A participante passou a se
of Selective Mutism with
crianças com mutismo seletivo seis anos de Emprego de técnicas comunicar oralmente. O estudo
english language learners.
que são aprendentes de língua idade. comportamentais por 26 semanas indica a intervenção precoce.
Contem School
inglesa.
Psychology, 2014.

LANG, C. et al., The 36 crianças com


outcome of children with idades entre cinco
selective mutism following Examinar a longo prazo os e 15 anos. 12 O estudo experimental realizado em
Melhoria robusta desde o início do
cognitive behavioral resultados da Terapia crianças não dois momentos: linha de base e
tratamento até o follow up. A taxa de
intervention: a follow-up Cognitiva Comportamental participaram da follow up usando a Terapia
recuperação foi de 84,2%.
study. European Journal Modular fase de follow up. Cognitiva Comportamental Modular.
Pediatrics, 2015. 19 terminaram o
tratamento.

KLEIN, E. R. et al., Social


Tratamento de Ansiedade de Ganhos significativos na frequência
Communication Anxiety
Comunicação Social, uma breve da fala nos 17 itens do questionário
Treatment (S-CAT) for Avaliar a viabilidade de um
40 crianças com abordagem multimodal. de mutismo seletivo. Mostraram
children and families with tratamento denominado
idade entre 5 e 12 Desenvolvido por Elisa Shipon-Blum. diminuição dos níveis de ansiedade
selective mutism: A pilot Tratamento de Ansiedade de
anos. durante nove semanas. demonstrados através da lista de
study. Clinical Child Comunicação Social.
Fases_ pré teste, intervenção e verificação de comportamento
Psychology and
follow up infantil.
Psychiatry, p. 1-19, 2016.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
22 22

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

O artigo descreve diversas técnicas


comportamentais, como: terapia
cognitiva comportamental utilizando
dessensibilização sistemática,
modelação, reforço positivo, além de
esvanecimento de estimulos e
modelagem. O autor também cita o
Equipe de uso de farmacoterapia (fluoxetina,
PONZURICK, J. M. profissionais da paroxetina, sertralina e citalopram). O artigo não descreve claramente
Descrever uma abordagem
Selective Mutism: A Team escola formado Relata como deve proceder uma quais os efeitos deste tipo de
realizada em uma escola com
Approach to Assessment pelo professor da intervenção integrada entre intervenção em um participante.
a participação de uma
and Treatment in the School criança e o profissionais da escola, por meio de Menciona que através da
enfermeira, e ressaltar a
Setting, The School professor de uma equipe de apoio instrucional e modalidade descrita, há mais uma
importância de profissionais
Nursing, v. 28, n. 1, p. 31- apoio, uma pais para que a criança com MS possibilidade, além das citadas de
dessa área no ambiente
37, 2012. enfermeira, o passe a vocalizar. A equipe coleta intervenção para esse tipo de
escolar em casos de MS.
orientador e um dados, exclui distúrbios de transtorno.
fonoaudiólogo. linguagem através de avaliação de
visão, audição e fala, determina três
metas mensuráveis. As
intervenções, dentre várias, incluem
o uso de formas alternativas de
comunicação, tais como escrita,
gestos e apontamentos. Informa que
após 30 dias o aluno é reavaliado.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
23 23

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(continua)

A primeira técnica utilizada


BUNNELL, B. E.; BEIDEL,
Foi usada exposição intensiva, (exposição intensiva) não
D. C. Incorporating
porém foi substituída por exposição apresentou nenhum resultado. A
technology into the Descrever o caso de uma
gradual (dessensibilização) técnica foi revista e passou a focar
treatment of a 17-year-old menina de 17 anos com
Uma adolescente utilizando como ferramenta na exposição gradual em conjunto
female with selective mutismo seletivo e como
de 17 anos. aplicativos instaladas em um iPad ao uso do iPad. Também foi
mutism. Clinical Cases comorbidade, transtorno de
que permitiram seu engajamento por utilizado o treino em habilidades
Studies, v. 12 (4), p. 291- ansiedade social
meio de tarefas divertidas e que sociais como complemento. As
306, 2013.
vocalizava emoções positivas. intervenções apresentaram
vantagens e desvantagens.

HOLLEY, M.; JOHNSON,


A.; HERZBERG, T.,
Blindness and Selective
Apresentar um caso de uma As habilidades de comunicação
Mutism: One Student’s Relato de caso
menina com deficiência visual Uma menina de melhoraram o rendimento
Response to Voice Output Emprego de dispositivos de saída de
que utilizou um dispositivo de 12 anos de idade acadêmico da participante utilizando
Devices. The Journal of voz por dois anos.
voz para se comunicar. o dispositivo de voz.
Special Education
Apprenticeship, v. 3, n. 1,
p. 1-9, 2014

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
24 24

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34664

Quadro 3: Matriz de síntese bibliográfica sobre tratamentos psicoterapêuticos, farmacológicos ou que utilizam comunicação alternativa para o mutismo seletivo
(conclusão)

O objetivo do estudo foi avaliar


SKACEL, K. Using os efeitos do uso de tecnologia
technology for assistiva por meio da utilização O participante aumentou a
Um menino de 12
communication with de um iPad para o aumento da O estudo descreve as fases por sete comunicação não verbal através do
anos de idade,
selective mutism. Theses comunicação não verbal com semanas. Foi empregado um iPad aplicativo usado no iPad, mas o uso
cursando a quinta
and Dissertations. Paper colegas, professores e com recurso de voz. deste não conseguiu produzir efeitos
série.
269, 2014. funcionários da escola. A na comunicação oral.
intenção foi usar o iPad como
vocalizador.

Fonte: SOUZA, 2018 p. 37.

Revista Educação Especial | v. 33 | 2020 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
http://dx.doi.org/10.5902/1984686Xnúmero do doi

Como mostra o quadro acima, foram identificados quatro estudos que mencionam o
uso de CA no contexto escolar em casos de crianças com mutismo seletivo. Dos quatro,
apenas um (SKACEL, 2014) denomina, de forma propriamente dita, o uso de CA. Assim,
torna-se o único estudo que verdadeiramente reconhece os efeitos dessa modalidade
comunicativa.
Inicialmente Ponzurick (2012) descreveu o uso, na escola, de estratégias tais como o
uso de escrita, gestos e apontamentos como forma de estabelecer comunicação. Trata-se
do uso de recursos de CA de baixa tecnologia, mas que não são devidamente classificados
como tal pelos autores. Nos estudos de Bunnel e Beidel (2013) e Skacel (2014) foram
utilizados recursos de CA de alta tecnologia como o iPad e, conforme dito anteriormente,
somente Skacel (2014) denominou e também descreveu em seu estudo a correta
classificação do tratamento que utilizou para obter os resultados acima descritos no quadro.
Nesse mesmo sentido, Holley, Johnson, Herzberg (2014) utilizaram um dispositivo de voz,
mas também não o classificaram como um recurso de alta de tecnologia da CA.

Considerações finais

A partir da análise e da revisão realizada, foi possível identificar que os diversos


tratamentos utilizados pelos pesquisadores não dialogam entre si, ou seja, transversalizam
suas explorações e resultados. Há um grupo de pessoas focadas em abordagens
farmacológicas, outro focado em terapias, que embora citem em maior número o uso da
terapia cognitivo comportamental, apresentam certa diversidade nas modalidades
terapêuticas que incluem, por vezes, a combinação entre os fármacos e as terapias,
primordialmente a terapia cognitiva comportamental, além do uso da comunicação
alternativa. Além disso, também realizam seus estudos em ambientes que variam entre a
clínica e a escola. Levando em consideração que o reconhecimento do mutismo seletivo
ocorre inicialmente na escola, os mais interessados parecem ser os profissionais da área
da saúde e não da educação.
Todavia, a presente análise identificou dedicou-se a identificar a necessidade de
aproximação entre os profissionais da saúde, da psicologia e da educação com o intuito de
gerar conhecimento de estratégias que sejam combinadas, uma vez que a integração entre
a família, professores e profissionais de saúde pode promover efeitos profícuos. Com isso,
essa análise traz à tona outra questão: qual seria a razão de profissionais que se utilizam
de CA não as classificarem como tal? A resposta para tal indagação serve como motivação
26

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X61983

para investigações futuras, bem como para a reflexão sobre o alcance que a CA atinge. Por
outro lado, essa modalidade de comunicação pode estar focada em um determinado
público fazendo com que não seja usada e nem divulgada em outros âmbitos. Ou seja,
pode estar focado somente na população alvo que envolve indivíduos os quais, devido a
fatores psicológicos, neurológicos, emocionais, físicos e/ou cognitivos - como aqueles com
paralisia cerebral, esclerose lateral amiotrófica (ELA), deficiência intelectual, autismo,
dentre outros - não conseguem efetuar comunicação face a face por meio da fala articulada
e por isso podem se utilizar da Comunicação Alternativa.
A partir do exposto, o presente estudo propôs uma nova possibilidade que não
apenas terapêutica ou medicamentosa para lidar com as características do mutismo
seletivo, conforme apresentado. Foi possível identificar que as principais características e
funções da CAA auxiliam no manejo da ansiedade, mais especificamente nos casos de
mutismo seletivo.

Referências

BERGMAN, Lindsey; GONZALEZ, Araceli; PIACENTINI, John; KELLER, Melody.


Integrated behavior therapy for selective mutism: a randomized controlled pilot study.
Behavior Research and Therapy, v. 51, p. 680-689, 2013.

BUNNELL, Brian E.; BEIDEL, Deborah C. Incorporating technology into the treatment of a
17-year-old female with selective mutism. Clinical Cases Studies, v. 12 (4), p. 291-306,
2013.

BEUKELMAN, David. R., MIRENDA, Pat. Augmentative and alternative


communication: management of severe communication disorders in children and adults.
P. H. Brookes Pub: Baltimore, 1998.

CASEY, Laura Baylot. Promoting Speech in Selective Mutism: Experimental Analysis,


Differential Reinforcement, and Stimulus Fading. Journal of Speech-Language Patholgy
and Applied Behavior Analysis, 5, 65–72, 2011.

CLEAVE, Hayley. Too anxious to speak? The implications of current research into
selective mutismo for educational psychology practice. Educational Psychology in
Practice, v. 25, n. 3, p. 233-246, 2009.

COHAN, Sharon L., CHAVIRA, Denise A., STEIN, Murray B. Practitioner Review:
Psychosocial interventions for children with selective mutism: a critical evaluation of the
literature from 1990–2005. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 47, n. 11, p.
1085–1097, 2006.

Revista Educação Especial | v. 34 | 2021 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
27

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X61983

DUMMIT, E. Steven.; KLEIN, Rachel G.; TANCER, Nancy K.; ASCHE, Barbara; MARTIN,
Jacqueline; FAIRBANKS, Janet A. Systematic assessment of 50 children with selective
mutism. Journal American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, v.36, n.5, p.
653-660, mai. 1997.

FACON, Bruno; SAHIRI, Sofia; RIVIÈRI, Vinca. A Controlled single-case treatment of


severe long-term selective mutism in a child with mental retardation. Behavior Therapy, v.
39, p. 313-321, 2008.

GLENNEN, Sharon L. Introduction to augmentative and alternative communication. In: S.L


Glennen & D.C. DeCoste, (Orgs.), Handbook of Augmentative and Alternative
Communication, San Diego, 1997, pp. 3-19.

FRIEDBERG, Robert D.; MCCLURE, Jessica M.; GARCIA, Jolene H. Técnicas de


Terapia Cognitiva para crianças e adolescentes: ferramentas para aprimorar a prática.
Porto Alegre: ARTMED, 2011.

HAGERMAN, Randi; et al. Fragile X Syndrome and Selective Mutism. American Journal
of Medical Genetics, v. 83, p. 313-317, 1999.

HUA, Alexandra; MAJOR, Nili. Selective Mutism. Current opinion in pediatrics, v. 28, p.
114-120, 2016.

ISOLAN, Luciano; PHEULA, Gabriel; MANFRO, Gisele Gus. Tratamento do transtorno de


ansiedade social em crianças e adolescentes. Revista de Psiquiatria Clínica, v.34, n.3,
p. 125-132, set/out. 2006.

KHELE, Thomas J.; BRAY, Melissa A.; BYER-ALCORACE, Gabriel F.; THEODORE, Lea
A.; KOVAC, Lisa M. Augmented self-modeling as an intervention for selective mutism.
Psychology in the schools, v. 49 (1), 2012.

KING, Amie Marie. An Integrated Multimodal Intervention Approach to Support Speech


and Language Development in Children with Severe Speech Impairments. Tese de
doutorado em Filosofia e Linguagem, College of the University of Illinois at Urbana-
Champaign, 2010.

KUMPULAINEM, Kirsti. Phenomenology and treatment of selective mutism. CNS Drugs,


v. 16 (3), p. 175-180, 2002.
LANG, Russel; REGESTER, April; MULLOY, Austin; RISPOLI, Mandi; BOTOUT, Amanda.
Behavioral intervention to treat selective mutism across multiple social situations. Journal
of Applied Behavior Analysis, v. 44(3), p. 623-628, 2011.
LEVITAN, Michelle N.; CHAGAS, Marcos H. N.; CRIPA, José A. S.; MANFRO, Gisele, G.;
HETEM, Luiza A. B.; ANDRADA, Nathalia A. C.; SALUM, Giovanni A. C.; ISOLAN,
Luciano; FERRARI, Maria C. F.; NARDI, Antônio E. Diretrizes da associação médica
brasileira para o tratamento do transtorno de ansiedade social. Revista Brasileira de
Psiquiatria, v.33, n.3, p. 292-302, 2011.

Revista Educação Especial | v. 34 | 2021 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
28

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X61983

MANASSIS, Katharina; TANNOCK, Rosemary. Comparing interventions for selective


mutism: a pilot study. La Revue Canadienne de Psychiatrie, v. 53, n. 10, p. 700-703,
2008.
MILLER, Diane. C.; LIGHT, Janice. C.; SCHLOSSER, Ralf. W. The impact of
augmentative and alternative communication intervention on the speech production of
individuals with developmental disabilities: a research review. Journal of Speech,
Language, and Hearing Research, v. 49, p. 248-264, 2016.
NUNES, Leila Regina Oliveira Paula. Linguagem e Comunicação Alternativa: Uma
introdução. In: NUNES, Leila Regina Oliveira Paula. Favorecendo o desenvolvimento
da comunicação em crianças e jovens com necessidades educacionais especiais.
Rio de Janeiro: Dunya, 2003, pp. 1-13.
OERBECK, Beate; STEIN, Murray B.; PRIPP, Are H.; KRISTENSEN, Hanne. Selective
Mutism: follow up study one year after end of treatment. European Child & Adolescent
Psychiatry, v. 24 p. 757-766, 2014.
OON, Phei Phei. Playing with Gladys: A case study integrating drama therapy with
behavioural interventions for the treatment of selective mutism. Clinical Child
Psychology and Psychiatry, 15 (2), 215-130. 2010.

PEIXOTO, Ana Claudia de A. Mutismo seletivo: prevalência, características associadas e


tratamento cognitivo-comportamental. 2006. 216f. Tese (Doutorado em Psicologia) –
Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006.

POKORSKI, Maria Melania Wagner. F., POKORSKI, Luis Antonio Franckowiak. A


linguagem constituinte do ser humano. Estudos de Psicanálise, Belo Horizonte, n.38, p.
97-104, dez. 2012.

PONZURICK, Joan M. Selective Mutism: A Team Approach to Assessment and Treatment


in the School Setting, The School Nursing, v. 28, n. 1, p. 31-37, 2012.

PRADO, Eduardo Salviano Teixeira. do, REVERS, Mirian de Cesaro, MARROCOS,


Rogério Paysano. Mutismo seletivo. Ou eletivo? In: Congresso Brasileiro de Psiquiatria
ABP (Anais). Sessões de Casos Clínicos, 2008. 13p.

REUTHER, Erin. T.; DAVIS, Thompson E.; MOREE, Brittany N.; MATSON, Johnny L.
Treating selective mutism using modular CBT for child anxiety: a case study. Journal of
Clinical Child, v. 40, p. 156-163, 2011
RIBEIRO, Celia M. da S. O mutismo seletivo e a ludoterapia/atividade lúdica. 2013. 99f.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação na Especialidade em Domínio
Cognitivo-Motor) – Escola Superior de Educação João de Deus, Lisboa, 2013.

SHARKEY, Louise; NICOLAS, Fiona Mc; BARRY, Edwina; BEGLEY, Maire; AHERN,
Sinead. Group Therapy for selective mutismo – A parents’ and children’s treatment group.
Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry, n. 39 p. 538- 545, 2008.

Revista Educação Especial | v. 34 | 2021 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial
29

http://dx.doi.org/10.5902/1984686X61983

SHRIVER, Mark D., SEGOOL, Natasha. Behavior Observations for Linking Assessment to
Treatment for Selective Mutism. Education & Treatment of Children, 34 (3), 389-410.
2011.

SOUZA, Danielle Castelões Tavares de. A Comunicação Alternativa e Ampliada como


intervenção na escola em casos de crianças com mutismo seletivo. 2018. 145f. Tese
(Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro, 2018.

STEINHAUSEN, Hans-Christoph; WACHTER, Miriam; LAIMBOK, Karin; METZKE, Christa


Winkler. A long-term outcome study of selective mutism in childhood. Journal of Child
Psychology and Psychiatry, 47:7, 751–75. 2006.

TURKIEWICZ, Gizela; CASTRO, Lilian Lerner; MORIKOWA, Marcia; COSTA, Carolina


Zadrozny Gouvêa da. Selective Mutism and the anxiety spectrum – a long term case
report. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 30, p. 168-176, 2008.

VECCHIO, Jennifer; KEARNEY, Christopher A. Treating youths with selective mutism with
an exposure-based practice and contingency management. Behavior Therapy, v. 40, p.
380-392, 2009.

ZAKSZESKI, Brittany N.; DUPAUL, George J., Reinforce, shape, expose, and fade: a
review of treatments for selective mutism (2005-2015). School Mental Health, v. 9, p. 1-
15, 2017.

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0


International (CC BY-NC 4.0)

Revista Educação Especial | v. 34 | 2021 – Santa Maria


Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial

Você também pode gostar