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O USO DE RECURSOS LÚDICOS NO

ATENDIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES


VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL
Glórya Maria Oliveira Vieira1
Juliana Moura Soares2
Luana Cristine Cruz Pereira3
Sarah Aimee Vieira Pedrosa Gomes4
Lidiane dos Anjos Santos Andrade5

Psicologia

ciências humanas e sociais

ISSN IMPRESSO 1980-1785


ISSN ELETRÔNICO 2316-3143

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo abordar a utilização de ferramentas lúdicas no


atendimento psicológico a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, rea-
lizando recorte sócio-histórico da infância e adolescência, descrevendo sobre seus
conceitos, como também realizando um esboço sobre a violência sexual e seus tipos,
além da peculiaridade dessa violência quando praticada contra o público infanto-
juvenil. Ainda, é destacada a atuação do psicólogo(a) no atendimento à vítimas de
violência sexual, salientando a importância do uso da ludoterapia como método de
intervenção. Para produção deste artigo foi realizada revisão de literatura de aborda-
gem epidemiológica narrativa através das bases de dados: Periódicos Eletrônicos de
Psicologia (PePSIC) e Scientific Electronic Library Online (SciELO).

PALAVRAS-CHAVE

Infância. Adolescência. Violência Sexual. Recursos Lúdicos.

Ciências Humanas e Sociais | Alagoas | v. 7 | n.2 | p. 78-88 | Maio 2022 | periodicos.set.edu.br


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ABSTRACT

This article aims to address the use of playful tools in psychological care for children
and adolescents victims of sexual violence, making a socio-historical cut of childhood
and adolescence, describing their concepts, as well as making an outline about sexual
violence and its types, in addition to the peculiarity of this violence when practiced
against children and youth. Still, the role of the psychologist with victims of sexual
violence is highlighted, emphasizing the importance of using play therapy as an inter-
vention method in the care provided to this public. For the production of this article,
a literature review was carried out with a narrative epidemiological approach through
the following databases: Psychology Electronic Journals (PePSIC), and Scientific Elec-
tronic Library Online (SciELO).

KEYWORDS

Childhood. Adolescence. Sexual Violence. Playful Resources.

1 INTRODUÇÃO

Papalia e Feldman (2013), dois dos principais pesquisadores do desenvolvimento


humano, descrevem a infância e a adolescência. Para esses autores, a infância é subdi-
vidida em primeira, segunda e terceira, entendendo que o bebê somente se torna uma
criança entre o primeiro e segundo ano de vida. Ainda, é nesse momento que o senso
de identidade começa a ser construído, então, as situações vivenciadas nessa fase do
desenvolvimento são de extrema importância para a formação do ser humano.
Um fator preditor de alterações negativas no desenvolvimento saudável de
crianças e adolescentes são os maus tratos, que vão desde negligências a abusos físi-
cos e sexuais. Segundo estudos, as maiores vítimas de violência são bebês e crianças
de até 3 anos de idade. Esses maus tratos podem interferir no desenvolvimento físico,
emocional, cognitivo e social dessas crianças, trazendo efeitos que podem se esten-
der à adolescência e vida adulta (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 237).
Cardin, Mochi e Bannach (2011, p. 408 apud PINHO, 2012) salientam sobre o
processo de desenvolvimento psíquico, físico e social que crianças e adolescentes
experienciam, o qual necessita do devido cuidado e atenção. Essa situação impõe ao
referido público uma condição de vulnerabilidade, pois se faz necessário que sejam
atendidas suas necessidades de afeto, cuidado, amor, compreensão, entre outras.
De acordo com o Ministério dos Direitos Humanos (2018), a violência praticada
contra crianças e jovens refere-se às situações de risco e vulnerabilidade em que es-
tas são expostas a discriminação, omissão e negligência nos mais diversos ambientes,
seja em casa, nas ruas ou pela inexistência de políticas públicas. Para Lorenzi, Pontalti
e Flech (2001), a definição de violência contra este público é compreendida como

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qualquer atitude realizada por alguém em condição de superioridade e que resulte


em danos à criança/vítima.
É possível citar alguns indicadores que auxiliam no reconhecimento de
contextos de risco, sendo eles: a qualidade no acesso à saúde e recursos alimentícios
e a escolaridade da população. Em outras palavras, são fatores que infringem os
direitos propostos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em razão da
omissão da sociedade ou Estado, por ausência ou abuso dos pais ou representantes
legais ou até mesmo devido a própria conduta da criança e do adolescente (ANDI,
2015 apud MINISTÉRIO..., 2018).
Conforme Faleiros (2001), os casos de violência, regularmente, só são expostos
a partir da perspectiva de denúncia, prejuízo ou dano traumático à vítima, sem que
se pense em resolutividade, prevenção ou reparação. Para que seja feito essa mobili-
zação a instituição familiar, o Estado e a sociedade assumem um papel essencial. No
Brasil, as tipificações das violências propostas na Lei 13.431 de 4 de abril de 2017 são:
física, psicológica, sexual e institucional (FALEIROS, 2002; BRASIL, 2017).
Ao falar sobre um desenvolvimento notório e reconhecido de forma mundial,
é citado o ECA) o qual assegura os direitos de crianças e adolescentes. Porém, é pos-
sível perceber que a prática diverge da teoria, visto que, dados estatísticos apontam
para crescentes indicadores, de acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos, 86,8 mil dos 159 mil registros feitos pelo Disque 100 no decorrer
do ano de 2019, são de descumprimentos dos direitos das crianças ou adolescentes
(BRASIL, 2020). Desta forma, constata-se, por meio da problemática, a importância de
uma rede de proteção que atue em compromisso ao desenvolvimento saudável de
crianças e jovens que estão em vulnerabilidade ou situação de risco.
Diante das particularidades relacionadas à fase da infância e adolescência, este
trabalho teve como objetivo primordial discutir a importância da utilização de recur-
sos lúdicos no atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência sexual.
Ainda, buscou-se trazer uma perspectiva sócio-histórica das concepções de infância
e adolescência, além de explanar sobre a violência sexual na infância e adolescência
e descrever a atuação do psicólogo com o referido público.
Tendo em vista a gravidade da temática, evidenciada por meio dos dados esta-
tísticos apresentados, compreende-se a relevância do presente artigo de forma a le-
vantar discussões acerca da importância do acolhimento às demandas da vítima e da
necessidade de adequar o atendimento às peculiaridades do público infanto-juvenil,
utilizando-se de estratégias lúdicas.

2 METODOLOGIA

O presente artigo trata-se de uma revisão de literatura de abordagem qualitativa


e epidemiológica narrativa. A pesquisa de cunho narrativo consiste em fazer a descri-
ção e discussão de um determinado tema que se tem apropriação, visando promover
a educação continuada e possibilitar que o leitor se atualize sobre o assunto específi-
co em um curto período de tempo (ROTHER, 2007, p. 1).
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O levantamento das informações ocorreu entre o mês de Maio e Junho de


2021, visando discutir sobre a violência sexual praticada contra crianças e adoles-
centes e a importância da utilização de recursos lúdicos no atendimento às víti-
mas. As bases de dados científicas disponíveis nas bibliotecas eletrônicas utilizadas
foram: Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC), e Scientific Electronic Library
Online (SciELO), utilizando os seguintes descritores: ”violência sexual”, “recursos lú-
dicos” e “crianças e adolescentes”.
Os critérios de inclusão foram: artigos cuja temática se encaixa nos descritores aqui
designados, artigos em periódicos, disponíveis gratuitamente, no idioma português, in-
glês ou espanhol. Foram excluídos da seleção: trabalhos de conclusão de cursos, artigos
que não foquem no público infanto-juvenil e que sejam repetidos em outros periódicos.

3 UM OLHAR SÓCIO HISTÓRICO DA INFÂNCIA


E ADOLESCÊNCIA: HISTÓRIA E DEFINIÇÕES

Para Ariés (1981), a infância é um produto da modernidade, antes disso não se


pensava no conceito de “infância” da forma como entendemos hoje. As crianças eram
tratadas como pequenos adultos, até mesmo consideradas sem importância pela famí-
lia, recebendo a devida atenção somente nos primeiros anos de idade e logo após as-
sumindo as mesmas responsabilidades dos adultos da época. Esse conceito sofre trans-
formações no século XVII devido ao efeito chamado de “particularização das crianças”:
a criança assume um papel central na família, saindo do cuidado exclusivo das chama-
das “amas” e recebendo atenção e maior controle de seus pais (FROTA, p. 152, 2007).
Ariés (1981) também descreve a adolescência como um construto da Moderni-
dade. Quando o conceito de infância surge se torna possível enxergar a adolescência
como uma fase específica e única, estando atrelada a ideia de um momento de con-
flitos e transformações. Segundo Frota (2007), ao pensarmos na infância e adolescên-
cia devemos deixar de lado qualquer conceito ou pensamento pré-estabelecido no
senso comum, tendo em vista que as duas fases são consideradas construtos históri-
cos e podem apresentar variações de acordo com a sociedade ou época.
Sob o ponto de vista histórico, a presença do artigo n° 227 na Constituição
Federal de 1988 impulsionou as modificações das concepções de infância e adoles-
cência, no qual estabelece como papel do Estado, da família e da sociedade oferecer
vida digna às crianças e adolescentes, suprimindo qualquer tipo de discriminação ou
violência. Com base nessas informações, outro símbolo histórico para os Direitos das
Crianças e dos Adolescentes foi a promulgação do ECA em 1990, em que seus direitos
foram assegurados (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990).

4 VIOLÊNCIA SEXUAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Na atualidade, a violação dos direitos e as situações de violência que crianças


e adolescentes vivenciam tornam-se uma problemática no âmbito da saúde pública.

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Conforme Nunes e Sales (2015 apud SILVA; MELO, 2018, p. 6), a violência é definida
como qualquer conduta que envolva força física ou condição de poder e que cause
lesão, prejuízos psicológicos ou físicos, morte ou perda de direitos para um sujeito,
grupo ou comunidade. Dentre as formas de vitimizar uma criança ou adolescente,
Costa e outros autores (2007) cita a violência sexual, a violência física, a violência
psicológica e a negligência.
No que se refere a violência sexual, esta define-se como qualquer maneira de
violação dos direitos sexuais, em que os agressores se encontram em estágio de desen-
volvimento mais avançado em relação à vítima. Tal conduta pode ser compreendida
conforme a sua finalidade, como: para fins de satisfação sexual (abuso sexual), em tro-
ca de remuneração ou qualquer outra forma de recomensa (exploração sexual) ou o
tráfico de crianças e adolescentes (BRASIL, 2017; HOHENDORFF; PATIAS, 2017, p. 241).
A violência infanto-juvenil pode estar inserida em diversos contextos, dividin-
do-se nas modalidades extrafamiliar e intrafamiliar. Para Balbinotti (2009), a violência
extrafamiliar diz respeito a violência na qual o agressor não está presente na conjun-
tura familiar, mesmo que tenha alguma relação de proximidade. Outrora, a intrafami-
liar, correspondente a maioria dos casos de violência sexual infantojuvenil, ocorre de
forma inversa: o abusador faz parte da família, podendo ser pai, padrasto, tio, avô ou
outro familiar, independente de laços de consanguinidade.
A partir disso, vale ressaltar a problemática da dificuldade na revelação da viti-
mização, principalmente quando ocorre no meio familiar. A respeito disso, Balbinot-
ti (2009) expõe que as vítimas de violência intrafamiliar são acometidas comumente
pela Síndrome do Segredo, na qual a realidade dos fatos é camuflada pela criança
ou familiares, buscando não causar comprometimento nos vínculos e rotina fa-
miliar, dificultando assim a revelação, a consequente denúncia e a assistência que
deveria ser propiciada à vítima.
Com base nisto, Baiá e outros colaboradores (2013) define a revelação como
o relato das vítimas sobre a violência por meio de entrevista, avaliação clínica ou le-
gal e a revelação no processo psicoterápico. Além do mais, pode acontecer também
de formas: intencional, acidental e estimulada. A revelação intencional consiste na
intenção consciente da vítima em revelar o fato, acontecendo geralmente em ca-
sos que envolvem crianças ou adolescentes numa faixa etária maior. Já na acidental
acontece o contrário, comumente decorrem de alguma outra situação. Na revelação
estimulada, a vítima é questionada ou entrevistada com intuito de incentivar o relato
Silva e Melo (2018) expõem dados do Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN), o qual tem papel de notificar nacionalmente os atendimentos
prestados a vítimas de violência infantil, sendo um dos principais meios de controle
dos índices. Nele, foram contabilizados 39.281 atendimentos a vítimas com idade de
1 a 19 anos, o que corresponde a 40% do total de 98.115 atendimentos pelo órgão
computado no ano de 2011.
Os prejuízos desenvolvidos em crianças e adolescentes vitimizados pela violên-
cia sexual podem estabelecer-se a curto ou longo prazo. Esses danos podem afetar
o desenvolvimento do sujeito nos mais diversos aspectos, especialmente no âmbito

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emocional, o que demonstra a relevância do profissional da psicologia na atuação


com esse público (SILVA; MELO, 2018).
Além do âmbito emocional, essas consequências podem afetar o desenvolvi-
mento físico, cognitivo e comportamental, além de promover possíveis psicopatologias
(HOHENDORFF; HABIGZANG; KOLLER, 2014). Em relação a violência sexual, compor-
tamento sexual inadequado, culpa, baixa autoestima e depressão são alguns dos sinais
de uma possível vitimização nessa modalidade (HOHENDORFF; PATIAS, 2017, p. 243).
Ainda, Hohendorff, Habigzang e Koller (2014) citam determinados aspectos que
podem atuar como agravantes das consequências da vitimização sexual para uma
criança ou adolescente, são esses: fatores relacionados à vítima, como a presença
de transtornos ou predisposição para tal; fatores relacionados aos agressores, como
grau de parentesco ou proximidade com a vítima; fatores relacionados à forma como
aconteceu a violência, como duração e frequência e fatores relacionados à rede de
apoio, como a reação da família ou responsáveis em relação a revelação e as medidas
tomadas para proteção da vítima.

5 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO ÂMBITO


INFANTOJUVENIL COM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

Ao falar sobre as circunstâncias de proteção da criança contra a violência e a suavi-


zação dos infortúnios por ela provocados, a atuação dos profissionais da psicologia tende
a ter um importante destaque, levando em consideração o papel de proteção e a compe-
tência para de algum modo influenciar na redução dos danos psicológicos causados às
crianças e adolescentes que são vítimas de algum tipo de violência (SILVA; MELO, 2018).
Referindo-se às intervenções desempenhadas pelos psicólogos ao trabalhar
com crianças vitimadas pela violência infantil, Balbinotti (2009) reforça a importância
do momento de escuta às demandas da criança, devendo haver prudência e profis-
sionalismo, sendo assim, um meio de prevenir novos danos psicológicos e amenizar
o sofrimento psíquico. É indispensável a atenção total para o que está sendo viven-
ciado: todas as informações podem ser úteis e decisivas no caso.
Ao discutir sobre a forma de atuação do profissional em relação às deman-
das que ocorrem durante todo o processo, Advertem Froner e Ramires (2008)
expõem que a postura não deve ser de julgamento ou punição, sendo impres-
cindível o estabelecimento de uma relação de confiabilidade e respeito integral.
Deve-se, ainda, respeitar o comportamento da criança, a fala ou a ausência dela,
proporcionando um momento acolhedor, o qual irá estabelecer vínculos seguros,
influenciando de forma positiva no acompanhamento posterior. Além do psicólo-
go, outros profissionais devem centrar seus atendimentos de modo a priorizar um
caráter de acolhimento às vítimas.
Em relação às políticas sociais e a psicologia, Alberto e outros autores (2008)
citam Bock (2003) que entende ser algo essencial e de um vasto compromisso so-
cial, o qual refere-se à formação de novas teorias e práticas atribuídas que irão refle-

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tir na atuação do profissional e influenciará na transformação social, principalmente


na proteção. É defendida uma atuação a partir da circunstância, tendo como um
dos principais objetivos defender os direitos dos cidadãos. O profissional da psicolo-
gia precisa trabalhar compreendendo o ponto de vista de que a criança e o adoles-
cente são indivíduos que necessitam das políticas sociais básicas com a finalidade
de ter garantida a proteção integral, indispensável para a sua evolução (BOCK, 2003
apud ALBERTO et al., 2008).
É relevante salientar também que os profissionais de psicologia que atuam
com crianças e adolescentes que tiveram seus direitos violados tenham ética e
cuidado para não gerar mais uma experiência traumática ou promover reviti-
mização no sujeito. Uma das ferramentas essenciais na atuação do psicólogo
nesse âmbito é a brincadeira como forma de facilitar a expressão da criança e
que deve ser compreendida para que haja uma elaboração da situação que lhe
gerou trauma (SILVA; MELO, 2018).

6 A IMPORTÂNCIA DO USO DE RECURSOS LÚDICOS NO ATENDIMENTO

Sabe-se que, ao atender uma criança, a linguagem e os meios utilizados não são
os mesmos empregados aos adultos. Devido a isso, a ludoterapia é uma ferramenta
central na maioria das psicoterapias infantojuvenis, pois o ato do brincar estabelece-
-se como um mecanismo de interpretação da expressão da criança. Melanie Klein, a
primeira autora a visualizar a utilização de recursos lúdicos como a principal técnica
na psicoterapia infantil, entendeu que a criança expressava seus conteúdos, conflitos
e angústias por meio da brincadeira, bem como demonstra as diferentes maneiras
que esta se relaciona com seu mundo, além de amplia seu conhecimento sobre si
mesma (FERREIRA; CAMPOS, 2014 apud HOFIG; ZANETTI, 2016)
Para um recurso lúdico ser utilizado no processo terapêutico é necessário que
seja seguro e se encaixe dentro do propósito da intervenção, objetivando atender as
necessidades e demandas. Alguns exemplos de recursos lúdicos que podem ser uti-
lizados no atendimento são: família de bonecos, bichos, casa com mobília, blocos de
construção, fantoches, instrumentos musicais, quebra-cabeças tinta guache, giz de
cera, massa de modelar, papel, cola e outros (AGUIAR, 2014).
No atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência é essencial pro-
porcionar um espaço seguro de escuta e acolhimento. O profissional da psicologia
deve interagir com linguagem adequada para o público, bem como com recursos
apropriados. A respeito disso, Junqueira (2002) discute sobre a importância do brin-
car e dos recursos lúdicos como forma de facilitar a expressão da criança, fazendo,
inclusive, com que as experiências surjam naturalmente a partir das brincadeiras, sem
necessidade de indução por parte do psicólogo. Conforme a vivência vai existindo as
crianças geralmente revelam aspectos da violência sofrida por se sentirem confortá-
veis no ambiente, observando o psicólogo como uma pessoa de confiança devido a
conduta desse profissional no atendimento.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência sexual contra crianças e adolescentes apresenta-se como um fe-


nômeno complexo, cuja necessidade de combate perpassa por toda a sociedade. É
dever de todo cidadão garantir proteção integral a este público, visando a promoção
de saúde e bem-estar. A gravidade da problemática é evidenciada através dos dados
estatísticos, que demonstram o alto índice de crianças e adolescentes vitimizadas
sexualmente. Vale ressaltar, ainda, que existe a problemática da subnotificação, em
que muitos casos não são denunciados, em especial, no contexto pandêmico no qual
viabilizou a convivência das vítimas com agressor. Um dos motivos para tal revela-se
no afastamento das crianças e adolescentes do ambiente escolar, sendo a escola uma
das principais instituições atuantes na promoção de proteção ao referido público.
A atuação do profissional da psicologia neste contexto baseia-se na ameniza-
ção do sofrimento psíquico das vítimas e promoção de qualidade de vida, visto que, a
vitimização pode gerar prejuízos nos âmbitos emocional, comportamental e fisiológi-
co. Sendo assim, constata-se que o uso de recursos lúdicos no atendimento assume
um papel imprescindível como forma de auxiliar na elaboração e expressão da crian-
ça, consequentemente, proporcionando redução dos danos decorrentes da situação
de violência e melhoria na qualidade de vida.

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Data do recebimento: 8 de novembro de 2021


Data da avaliação: 12 de dezembro de 2021
Data de aceite: 12 de dezembro de 2021

1 Acadêmica do curso de psicologia no Centro Universitário Tiradentes – UNIT.


E-mail: [email protected]

2 Acadêmica do curso de psicologia no Centro Universitário Tiradentes – UNIT.


E -mail: [email protected]

3 Acadêmica do curso de psicologia no Centro Universitário Tiradentes – UNIT.


E -mail: [email protected]

4 Acadêmica do curso de psicologia no Centro Universitário Tiradentes – UNIT.


E -mail: [email protected]

5 Professora do Curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes – UNIT.


E-mail: [email protected]

Ciências Humanas e Sociais | Alagoas | v. 7 | n.2 | p. 78-88 | Maio 2022 | periodicos.set.edu.br

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