Eblando, Gerente Da Revista, Artigo Do TCC Rebeca

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 12

A IMPORTÂNCIA DA MUSICALIZAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO

INFANTIL DE CRIANÇAS DE ZERO A TRÊS ANOS

Rebeca Starosky Bianchi1

RESUMO

O presente trabalho destaca a importância da música no desenvolvimento


desenvolvimento integral das
crianças. Trata-se de um estudo de caso com o objetivo de compreender se e como a
música está sendo trabalhada na Educação Infantil bem como as concepções dos
professores que trabalham esta área de conhecimento. Busca-se,
Busca , portanto, entender de
que maneira os professores compreendem
compreendem a música como forma de expressão e
linguagem, se criam ambientes possibilitando que as crianças desenvolvam a
musicalidade e se possuem um novo olhar em relação à música.
PALAVRAS-CHAVE: musicalização; educação infantil; expressão musical e
linguagem musical.

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como


co preocupação, entender a importância da música
no desenvolvimento das crianças
crianças de zero a três anos de idade. Para tanto, traremos
conceitos sobre a música segundo o Referencial Curricular
Curricular Nacional da Educação
Infantil. Trata-se, assim, de uma pesquisa qualitativa de cunho interpretativo, pois busca
a compreensão das concepções, atitudes e sentimentos dos sujeitos envolvidos.
Portanto, o trabalho classifica-se
classifica como um estudo de caso, que ue tem como contexto
escolas de Educação Infantil dos municípios de Cachoeirinha e Gravataí –RS.

O estudo tem como objetivo geral compreender se e como a música está sendo
trabalhada na Educação Infantil com crianças de zero a três anos de idade. Já os
objetivos
bjetivos específicos procuram reconhecer a importância da música no desenvolvimento
infantil;; conhecer as atividades realizadas através da música que desenvolvem
habilidades musicais;; compreender se os professores (as) consideram importante
importan a
música na faixa etária;; e verificar se a música contribui para um melhor
desenvolvimento infantil.

Para que tal estudo ocorresse foram realizadas entrevistas com doze professoras
que foram transcritas,, além dee observações que se realizaram em duas escolas de

1
Acadêmica do Curso de Pedagogia do Cesuca Faculdade Inedi, Artigo elaborado a partir do Trabalho
de Conclusão de Curso, Profª Orientadora Marialva Moog Pinto - 2013/1. [email protected]
educação infantil, uma da rede municipal e outra do ensino privado, ambas dos
municípios de Cachoeirinha e Gravataí –RS, respectivamente.

Através do estudo realizado podemos verificar se os professores mostram-se


preparados e interessados em trabalhar a expressão musical não só com memorizações e
repetições, mas também como conteúdo a ser integrado na escola com diversas funções
extremamente significativas.

METODOLOGIA

O presente estudo insere-se no campo da pesquisa qualitativa de cunho


interpretativo o qual envolve a coleta de dados utilizando técnicas que segundo
Sampieri:
... dá profundidade aos dados, a dispersão, a riqueza interpretativa, a
contextualização do ambiente, os detalhes e as experiências únicas. Também
oferece um ponto de vista recente, natural e holístico dos fenômenos, assim
como flexibilidade. (SAMPIERI, 2006, p.15)

Trata-se de um estudo de caso que, de acordo com Gil (1996, p.34) é um


“conjunto de dados que descrevem uma fase ou a totalidade do processo social de uma
unidade em suas várias relações internas e nas suas fixações culturais”.

A realização desta pesquisa apoiou-se na utilização de recursos bibliográficos


pertinentes ao tema da música na educação infantil, ao desenvolvimento infantil, ao
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, dentre outros do campo
pedagógico.

1 A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei nº_11.679 de 18 de agosto de 2008 determina que a Música é disciplina


obrigatória na Educação Básica (composta por Educação Infantil, Anos Iniciais e
Ensino Médio), tendo data limite o ano de 2012 para todas as escolas públicas e
privadas incluírem o ensino da Música em seu currículo. Levando em consideração a
importância desta disciplina a ser incluída nas escolas e com o objetivo de desenvolver a
criatividade, expressão, sensibilidade, integração e socialização da criança a música
deve ser explorada e trabalhada pelo educador a fim de estimular e motivar a criança
para que a mesma leve adiante essas experiências com alegria e entusiasmo. De acordo
com Gardner (1997, p.240-241) “A criança precisa não apenas de um educador musical
sensível e competente, como também de um ambiente sociocultural pleno de
possibilidades, para dar continuidade ao seu desenvolvimento”. Kishimoto questiona:

Como justificar que, na maioria dos cursos de formação profissional, a arte


está ausente ou fica restrita às artes visuais? Onde estão a música, a dança, o
teatro, ou melhor, qual o espaço destinado às linguagens expressivas? (DINIZ
e DEL BEN apud KISHIMOTO, 2006, p.28)

O professor deve trabalhar a música com as crianças através das brincadeiras e


do cotidiano do educando a fim de enriquecer o conhecimento sobre Música, criando
uma parceria com o professor especialista da área. Como destaca Bellochio:
(O professor unidocente) “deve” trabalhar com música no cotidiano de suas
atividades, com possibilidades a limites, sob pena de perder-se o espaço
garantido na forma da lei e a sua representação mediadora no processo de
desenvolvimento de seus alunos. (BELLOCHIO, 2000, p.365)

A música na educação infantil é utilizada com vários propósitos sejam eles para
a formação de hábitos, atitudes e comportamentos ou para a memorização de conteúdos
relacionados a letras, números, cores, entre outros através de canções. Estas, por sua
vez, são acompanhadas por gestos imitados pelas crianças mecanicamente. Contudo,
muitas escolas encontram dificuldades em integrar a música em seu contexto
pedagógico educacional, apenas utilizando-a como instrumento pronto e reproduzindo-
a. Teca Brito destaca em seu livro que:
... o modo como as crianças percebem, apreendem e se relacionam com os
sons, no tempo-espaço, revela o modo como percebem, apreendem e se
relacionam com o mundo que vêm explorando e descobrindo a cada dia.
(BRITO, 2003, p.41)

Compreendida como linguagem e forma de conhecimento presente em nosso


cotidiano a música tem um papel cultural que atua em diversos momentos: na dança, no
choro, no sono, no canto, etc. Remete a sons conhecidos antes de nosso nascimento e já
faz parte de nosso ser, com poderes reconfortantes propiciando a sensação de identidade
e integridade como coloca Deheinzelin quando diz que:
... a música lembra para nós sons primordiais que têm como referência as
batidas do coração de nossa mãe, quando estivemos em seu útero. Os líquidos
uterinos ampliam os sons do corpo humano e o bebê aconchegado neste
envelope sonoro jamais se esquecerá dele, de tal forma que os sons ouvidos
posteriormente remetem de alguma forma a este primeiro. (DEHEINZELIN,
1994, p.128)

O contato com a expressão musical nos primeiros anos de vida se torna


extremamente importante para o processo de musicalização da criança. Segundo o
Referencial Curricular Nacional (BRASIL,1998, p.42): “... aprender música significa
integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-
as para níveis cada vez mais elaborados”. Assim, os bebês iniciam seu processo de
musicalização de maneira intuitiva através do ambiente sonoro. A escuta de diferentes
sons é fonte de descobertas e observações. Encantados com o que ouvem, os bebês
tentam imitar e corresponder, desenvolvendo o lado afetivo e cognitivo criando vínculos
com a música.

O trabalho com a música deve estabelecer objetivos a serem desenvolvidos, tais


como: discriminar, ouvir/perceber eventos , produções sonoras, brincar, inventar, criar e
reproduzir músicas, contudo, respeitando a fase de cada criança e suas diferenças
socioculturais. Assim, segundo Joly:

...a criança, por meio da brincadeira, relaciona-se com o mundo que descobre
a cada dia e é dessa forma que faz música: brincando. Sempre receptiva e
curiosa, ela pesquisa materiais sonoros, inventa melodias e ouve com prazer a
música de diferentes povos e lugares. (JOLY, 2003, p. 116)
A linguagem musical favorece o desenvolvimento da expressão, da auto-estima,
do equilíbrio e do meio de integração cultural e social. Dessa maneira o professor deve
contribuir para este campo do saber desenvolvendo atividades lúdicas para que a criança
trabalhe a percepção e a atenção. Nesse processo, os estilos musicais a serem utilizados
têm grande relevância, por isso, é importante mostrar às crianças músicas infantis,
músicas populares brasileiras, músicas regionais, música erudita e outras que possam
estimular o canto, pois este possui um papel fundamental no desenvolvimento da
criança. Visto que, a criança tem possibilidade de trabalhar sua audição ao aprender
ritmo, melodia e harmonia.
O professor deve integrar, assim, a música à educação infantil, o que algumas
vezes se torna difícil, pois este profissional não tem uma formação específica em
música. Mesmo diante dessa realidade, deve assumir uma postura de trabalho e
aprimoramento contínuos reconhecendo, compreendendo e respeitando a música como
linguagem e forma de expressão. Como destaca Souza (2002, p.71) “... buscar o
desenvolvimento da capacidade musical dos alunos não exclui, necessariamente, tratar a
música sob a perspectiva da inter/multi/transdisciplinaridade ou como meio de
desenvolver outras capacidades”.
Deste modo, existem diversas maneiras de trabalhar e utilizar a música, dentre
elas, sempre levando em consideração o desenvolvimento e a faixa etária de cada
criança podemos citar, CDs infantis, músicas instrumentais, folclóricas, parlendas,
cantigas de roda, brincadeiras cantadas, construção de instrumentos musicais,
instrumentos para manuseio e descoberta de novos sons e possibilidades.

2 CONHECENDO AS ESCOLAS

O trabalho foi realizado em duas escolas de educação infantil, uma da rede


municipal da cidade de Cachoeirinha e a outra da rede privada da cidade de Gravataí,
ambas da região metropolitana de Porto Alegre - RS.

2.1 Escola 1

A Escola Municipal de Educação Infantil localiza-se no município de


Cachoeirinha trabalha com o público de Educação Infantil de dois a cinco anos; a
comunidade escolar é de classe média baixa. O número de alunos atendidos são cento e
doze crianças, trinta e cinco funcionários, sendo vinte e cinco professores e um
professor de Música. O horário de funcionamento é das 07:00 horas às 19 horas
atendendo as crianças em turno integral, possui um amplo espaço físico com um pátio
coberto e uma praça com gramado.

A metodologia de ensino está baseada na proposta sociointeracionista. Esta tem


como objetivo principal levar a criança a explorar e descobrir todas as possibilidades do
seu corpo, dos objetos, das relações com o outro, do espaço que ocupa e, através disso,
desenvolver a sua capacidade de observar, de descobrir, de pesquisar e de pensar.

2.2 Escola 2
O Centro de Educação Infantil localiza-se no município de Gravataí, é uma
escola de rede privada, o horário de atendimento é das 06h45min às 20h. Conta com o
atendimento a 58 crianças nos turnos integral, manhã e tarde. A comunidade escolar é
de classe média alta, a escola possui 15 funcionários, sendo 5 professores e atividades
diferenciadas de ballet e informática.

A escola oferece uma proposta educacional que parte das necessidades e


interesses da criança. Pois estimula sua criatividade e desenvolvimento psicomotor
através da ludicidade e atividades que incitam a busca pela conquista de sua autonomia.
Além disso estabelece uma mescla de aplicações metodológicas, destacando que a
aprendizagem na Educação Infantil se dá de forma lúdica, já que associa o
conhecimento informal da criança, que é trazido de casa, com o conhecimento formal
que será introduzido na Escola.

2.3 INSTRUMENTOS

Os instrumentos utilizados para a realização da pesquisa foram às entrevistas


semiestruturadas com os professores. A fim de verificar suas metodologias de trabalho
em relação à musicalização na educação infantil, bem como sua importância no
desenvolvimento da criança.

Para que o processo, citado anteriormente, fosse concretizado, foram utilizadas


as transcrições das entrevistas para realização da análise. Além delas, foram observadas
as turmas das escolas, para perceber o efeito de tal prática nas crianças.

2.4 SUJEITOS

Os sujeitos da pesquisa foram professores e alunos. Em relação aos professores


foram realizadas doze entrevistas que focaram, não só a ação em relação à música, mas
também, em relação à formação profissional, o tempo de prática na educação infantil, e,
por último, a atual faixa etária dos alunos com que esses trabalhavam no momento da
pesquisa.

Quanto aos alunos, foram observadas aproximadamente sessenta crianças, em


idade de zero a três anos, nas turmas de Berçário I, Berçário II e Maternal. A
observação levou em conta a reação das crianças em relação a música, seja ela nos
momentos de rodinha, brincadeiras de roda, manuseio de instrumentos musicais ou
mesmo em outras atividades.

Para realizar tal estudo de caso foram feitas entrevistas com doze professoras da
Educação Infantil dos níveis supracitados. Destas professoras seis trabalhavam na rede
privada e seis na rede pública. Ao entrevistá-las encontrei diversidade no indicador de
formação dos profissionais, sendo que na rede privada alguns não tinham nem cursos, e
nem graduação na área em que atuavam. Apenas três professoras tinham formação no
curso Normal (Magistério), uma cursando magistério, uma cursando faculdade não
relacionada à educação e a última apenas com ensino médio completo. Já ao que se
refere à prática pedagógica, apenas duas atuavam a mais de cinco anos. De forma
inversa, a escola de rede pública possui um número maior de profissionais com
formação acadêmica sendo cinco das entrevistadas pedagogas e apenas uma com curso
Normal, destas quatro trabalham a mais de quinze anos na área e uma a oito anos.

3 ANÁLISE DOS DADOS

Após a análise dos dados coletados foi possível destacar algumas dimensões em
relação aos achados da pesquisa. Estão apresentadas detalhadamente no próximo
capítulo e são elas: a música e sua importância em todas as áreas do conhecimento,
cognitivo, afetivo e psicomotor e como utilizar a música.

3.1 A MÚSICA E SUA IMPORTÂNCIA EM TODAS AS ÁREAS DO


CONHECIMENTO

Durante a realização das entrevistas todos os professores consideraram a música


importante no desenvolvimento integral dos alunos destacando que ela envolve todas as
áreas do conhecimento: cognitivo, afetivo e psicomotor.

3.1.1 COGNITIVO

A música envolve ritmo, ajuda no desenvolvimento da fala, é entretenimento,


promove a imitação e a imaginação, além de poder mostrar um mundo diferente e
alegre, segundo Teca Brito:

...os bebês e as crianças interagem permanentemente com o ambiente sonoro


que os envolve e - logo - com a música, já que ouvir, cantar e dançar são
atividades presentes na vida de quase todos os seres humanos, ainda que de
diferentes maneiras. (BRITO, 2003, p.35)

Além de facilitar a aquisição da linguagem e a expressão corporal a música está


presente em nosso dia a dia, especialmente das crianças. Ademais, quando bem
explorada, pode nos proporcionar ferramentas de trabalho que são de grande interesse
dos educandos.

Brito (2003), por exemplo, destacou em seu livro: “Música na Educação


Infantil” que a criança é um ser “brincante” e que brincando faz música descobrindo a
cada dia e relacionando-a com seu cotidiano. Música é qualquer som, barulho, vibração
ou até mesmo o silêncio.

Assim, a música faz parte da vida das crianças e com a mesma, criam e recriam
cenários, brincam e relacionam-se. O professor deve observar este brincar musical, é
nele que podem se construir diversos conhecimentos. O que preocupa-nos é a maneira
como ela está esta sendo trabalhada nas escolas infantis. Por isso, questionamos: os
profissionais proporcionam as crianças este brincar musical? Criam oportunidades para
que as crianças possam fazer a música? Para que as crianças possam construir
instrumentos ou manusearem os mesmos?

Cabe aos professores, então, pensar sobre sua prática pedagógica e refletir sobre
a musicalização que está sendo inclusa (ou não) no currículo das escolas. Pensar, por
exemplo, se a mesma não está sendo trabalhada mecanicamente com ensaios cansativos
para apresentações como páscoa, dia das mães, festa junina, dia dos pais, natal entre
outras datas festivas ou apenas para memorização de conteúdos como os números,
alfabeto, boas maneiras etc.

Teca Brito (2003) destaca que deve ser trabalhada a linguagem musical de forma
a contemplar atividades como: o trabalho vocal onde a criança irá conhecer a voz,
entonação, alta e baixa. Interpretação e a criação de canções onde a criança deve ter
possibilidades de, por meio de estímulos, criar e improvisar músicas, além de interpretá-
las produzir brincadeiras cantadas e rítmicas onde será trabalhado também o som, o
silêncio e a motricidade. A sonorização de histórias; construção de instrumentos e
objetos sonoros nos quais as crianças vão construir e confeccionar de acordo com suas
capacidades, e, por fim, a escuta sonora e musical onde irão apreciar a música com
atenção.

Os professores da área, portanto, necessitam saber a maneira que será


apresentada a música para não tornar-se algo repetitivo, cansativo, mecânico ou ainda
que se detenha só a um tipo de fazer musical. Assim, deve-se permitir e estimular que o
aluno crie, a fim de que ele próprio estabeleça relações com os sons, conheça e
reconheça os tipos existentes.

3.1.2 AFETIVO

Uma professora entrevistada da rede pública destacou que através da música


expressamos sentimentos e emoções. De fato, a música tem esse poder sobre nós, ela
encanta, alegra, acalma, emociona, nos faz expressar sentimentos e ajuda-nos na
socialização.

Em relação à afetividade Porto afirma que:


...a criança deseja e necessita ser amada, aceita, acolhida e ouvida para que
possa despertar para a vida da curiosidade e do aprendizado. A presença do
adulto dá a criança segurança física e emocional que a leva a explorar mais o
ambiente e aprende consequentemente. A interação envolve, também, a
afetividade, a emoção como elemento básico e essencial. (PORTO, 2011,
p.26)

Através da música a criança integra-se socialmente, desenvolve a expressão, a


autoestima, a imaginação, o autoconhecimento, sendo essa ferramenta excelente para o
seu desenvolvimento integral.

Somos seres afetivos, feitos de afeto, precisamos de carinho, necessitamos do


outro para partilharmos e convivermos, não somos feitos para ficar só, a música faz
parte desse afeto, com ela podemos alegrar, acalmar e até entristecer, contemplando de
certa maneira os sentimentos e as emoções. Teca Alencar de Brito destaca que é difícil
encontrar alguém que não goste ou não se relacione com a música de uma maneira ou
de outra, pois:
...temos um repertório musical especial, que reúne músicas significativas que
dizem respeito à nossa história de vida: as músicas da infância, as que nos
lembram alguém, as que ouvíamos na escola, as que nos remetem a fatos
alegres ou tristes, as que ouvimos no rádio, em concertos, shows etc.
(BRITO, 2003, p.31)

Lembrando que a música está presente desde antes do nosso nascimento, sendo
sons do corpo de nossa mãe, a voz da mesma que além de sonora é afetiva, as canções
de ninar, cantigas de roda e brincadeiras cantadas. Estabelecemos ligações que nos
envolvem com a música, sendo ela essencial a nós, tanto para manifestação de
sentimentos e emoções, quanto para a criação e apreciação do fazer musical.

Os professores devem utilizar a música como ferramenta para trabalhar o afetivo


e o social das crianças, trazendo canções que além de alegrar e estimulá-las tragam
possibilidades de participar individualmente a fim de que criem situações onde possam
expressar-se. Ao trabalhar a desinibição e a imaginação, os alunos aprendem a se
valorizar, além de conhecer e respeitar o próximo.

Aprender música, fazer, criar, improvisar e apreciar significa integrar


experiências partindo das vivências, para que as crianças possam refletir sobre as
questões musicais, tanto criadas por elas mesmas como as que já estão presentes em seu
cotidiano.

3.1.3 PSICOMOTOR

Uma professora entrevistada da rede pública destacou que “...a música é


importante, pois envolve ritmo, observação e movimento corporal como um todo.”
Outra professora da mesma rede destacou ainda que “...música é movimento,
movimenta-se o corpo, explora o espaço, brinca-se.”

Sobre esse aspecto, Brasil destaca que a expressão musical é caracterizada pelo
aspecto intuitivo, afetivo e sensório motor:
...as crianças integram a música as demais brincadeiras e jogos: cantam
enquanto brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos,
dançam e dramatizam situações sonoras diversas, conferindo “personalidade”
e significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e à
sua produção musical. ( BRASIL, 1998, p.52)

Desta maneira, a música está presente na rotina da criança, durante suas


brincadeiras, com os sons que ela mesma faz com seus brinquedos, com jogos,
brincadeiras cantadas e cantigas de roda, que trabalham sua motricidade, movimento
corporal e ritmo.

Nas entrevistas realizadas nas escolas de educação infantil tanto da rede


particular como da pública notamos a consciência do professor frente a esta nova
disciplina que fora inclusa no currículo, possuindo nomenclatura de “Musicalização”.
Nas duas escolas percebemos que os profissionais reconhecem que a referida matéria
precisa fazer parte da formação integral da criança, além de auxiliar no trabalho do dia-
a-dia, facilitar o aprendizado, desenvolver o afeto, socializar, ajudar na motricidade,
expressar sentimentos e emoções. A música é prazerosa e significativa principalmente
nesta idade musical dos zero aos três anos. O que os professores não podem é deixar de
buscar novas ideias e possibilidades para que a música não seja apenas mecânica, mas
sim construída, que seja essencial e encante nossas crianças.

3.1.4 COMO UTILIZAR A MÚSICA

Quando questionado aos entrevistados qual a maneira que utilizam a música com
as crianças o resultado foi de fato preocupante. Cinco professoras da rede privada
disseram utilizar na rotina canções que anunciam diferentes atividades: como lanche, no
momento de guardar brinquedos, para fazer silêncio, etc. Além disso, destacaram o uso
de CDs e DVDs, que normalmente são da Galinha Pintadinha2 e do Patatí e Patatá3,
justificando que era o gosto musical das crianças . Nesse contexto, apenas uma
professora colocou que procura trazer músicas novas, deixa o som ambiente enquanto
realizam atividades, faz relaxamento com músicas instrumentais, nas cantigas de roda e
em algumas brincadeiras. Brito destaca que:

...para a grande maioria das pessoas, incluindo os educadores e educadoras


(especializados ou não), a música era (e é) entendida como “algo pronto”,
cabendo a nós a tarefa máxima de interpreta-lá. Ensinar música, a partir dessa
óptica, significa ensinar a reproduzir e interpretar músicas, desconsiderando a
possibilidade de experimentar, improvisar, inventar como ferramenta
pedagógica de fundamental importância no processo de construção do
conhecimento musical. (BRITO, 2003, p.52)

Após observações acerca da prática dos professores e das entrevistas realizadas,


constatou-se que a música é utilizada de maneira tradicional na escola de rede privada.
Em geral, tem como função formar hábitos, regras e diversão de maneira mecânica onde
as crianças são colocadas a frente de uma televisão ou de um rádio que toca e elas
dançam em maior parte seguindo os passos e imitando os gestos apresentados nos
vídeos. Desta forma a música não está sendo utilizada como forma de expressão,
deixando as crianças livres para criar ou fazer sua própria música.

Como afirmar que as crianças gostam de determinadas músicas, se em nenhum


outro momento foi apresentada outro tipo a elas? Brasil destaca nas Orientações Gerais
para o professor que:

...integrar a música à educação infantil implica que o professor deva assumir


uma postura de disponibilidade em relação a essa linguagem. Considerando-
se que a maioria dos professores de educação infantil não tem uma formação
específica, sugere-se que cada profissional faça um contínuo trabalho pessoal
consigo mesmo [...] (BRASIL, 1998, p.67)

Embora, muitos profissionais não tenham a formação específica em música, que


de fato é nossa realidade nas escolas, quando não há um profissional da música para
trabalhar esta musicalização na escola os professores podem e devem buscar trabalhar
suas possibilidades. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998)

2
Galinha Pintadinha surgiu de um vídeo no Youtube (canal de vídeos aberto, onde todos podem adicionar
vídeos e assisti-los gratuitamente) que fez sucesso e após tornou-se um projeto infantil com o objetivo de
resgatar as cantigas de roda infantis, virou CDs e DVDs onde foram criados personagens animados de
cada música.
3
Patatí e Patatá é uma dupla de palhaços que surgiu do grupo circense Patatí Patatá, que faz shows em
escolas em todo o Brasil divulgando seu trabalho, comercializando CDs e DVDs.
destaca que o professor deve sensibilizar-se quanto à musicalização e reconhecê-la
como linguagem Pois, pode-se construir com a mesma e observar a forma de expressão
das crianças com a música de acordo com as faixas etárias.

Na rede pública duas professoras destacaram as brincadeiras de roda e cantigas.


Três destacaram que estabelecem a rotina toda com canções, no momento das boas
vindas e também na roda diária que fazem onde os alunos escolhem as músicas que
querem e cantam. Já outra professora destacou que a música é utilizada em vários
momentos e com objetivos diferentes, nas rodinhas em sala, nas atividades dirigidas,
hora do conto, na hora de dançar escutando músicas de CDs e nos momentos de
relaxamento normalmente na hora do sono.

A escola de rede pública possui também um profissional que trabalha a


musicalização em todas as faixas etárias desde os berçários à Pré-escola. As crianças
demonstram muito interesse nas aulas de Música e o professor procura trazer diversos
instrumentos para manuseio e exploração do mesmo, as crianças participam ativamente
com alegria e entusiasmo.

As professoras da escola pública acreditam ter grande significado esta


musicalização que as crianças estão tendo, e a maioria desenvolve um trabalho na sala
também, algumas, inclusive, utilizam as mesmas músicas infantis que o professor de
Música. Disseram, até que as aulas fazem bem as crianças que ficam tranquilas e
felizes. (BRITO, 2003, p.92) destaca em seu livro que “...é importante brincar e cantar
com as crianças, pois, como dissemos, o vínculo afetivo e prazeroso que se estabelece
nos grupos em que se canta é forte e significativo”.

Podemos notar que a escola Pública de fato tem um espaço para a musicalização
tanto pelos professores que demonstram um olhar diferenciado em relação à música e a
maneira de utilizá-la em aula, quanto do profissional formado que desenvolve e aplica
aulas de música para as crianças.

A escola de rede Privada, além de não ter um professor especializado que


proporcione essa musicalização, não possui um olhar diferenciado sobre a mesma,
embora na entrevista as professoras digam que a música é importante. Portanto após as
observações constatamos que não há uma postura ou trabalho dos professores frente a
esta forma de expressão, a música é apenas mecânica, ligada a atividades rotineiras.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A música possui papel fundamental para o desenvolvimento integral da criança,


é com ela que estabelecemos relações com o mundo e tudo que nos cerca. Além de
proporcionar entretenimento, desenvolvimento da fala, ajuda-nos na socialização, eleva
a autoestima, acalma, alegra e com a sua utilização adquirimos aprendizagens
significativas.

Mesmo que a música ainda seja utilizada esporadicamente e, muitas vezes, de


maneira equivocada, observamos que ela vai, aos poucos, ganhando um novo espaço
(especialmente devido ao novo currículo). Nas escolas de Educação Infantil, por
exemplo, o que era apenas mecânico e reproduzido, vai tornando-se, paulatinamente,
algo diferenciado e que necessita de um trabalho específico. Esperamos, assim, que aos
poucos os profissionais docentes possam tomar consciência da relevância da música no
desenvolvimento cognitivo das crianças.

O estudo de caso procurou investigar como estas escolas da rede pública e


privada consideram a música e suas possibilidades. Averiguamos, assim, que ambas as
escolas possuem um trabalho com a música e ela, de fato, está integrada em sua rotina,
mas em alguns momentos é trabalhada de forma isolada, como algo “pronto” e a
principal ferramenta são os CDs e DVDs, procedimento que consideramos insuficiente
ou errôneo, pois de acordo com os RCN’s e Teca Brito a música vai além de simples
músicas infantis trabalhadas mecanicamente.

A escola pública mostra-se mais preparada para a musicalização na escola pelo


fato de ter um profissional que traz diversidade de atividades e recursos, onde as
crianças podem se expressar, criar e manifestar novas aprendizagens agindo sobre os
objetos e instrumentos, desenvolvendo-se integralmente. Porém, em sala, entendemos
que as professoras poderiam realizar atividades mais complexas, interligando a música
com suas várias expressões.

Embora os profissionais não possuam uma formação específica isso não os


impede de buscar novas possibilidades e atividades diferenciadas que de acordo com o
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil é essencial para um
aprendizado rico e significativo para a criança.

A música que era considerada “velha” na escola agora assume uma postura nova
em relação a sua utilização e proposta, sendo reconhecida não apenas como
entretenimento e brincadeira, mas com grande significado para o desenvolvimento
afetivo, cognitivo e psicomotor da criança.

Sabemos que o “novo” possui dificuldades em ser inserido ao que já esta


“enraizado” e por isso, muitos profissionais ainda encontram barreiras em trabalhar a
música em sala. Como não conseguem explorá-la, acaba por usar o mesmo que lhes foi
passado. Cabe, portanto, a estes profissionais fazer um resgate das brincadeiras, cantigas
de roda, jogos, parlendas e histórias que (re)conhecem de sua infância, a fim de trazer
novas alternativas aos seus alunos deixando-os apreciarem e criarem possibilidades que
possam auxiliar no desenvolvimento humano e integral tanto das crianças quanto dos
professores.

REFERÊNCIAS

BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro. A educação musical nas séries iniciais do ensino


fundamental: olhando e construindo junto às práticas cotidianas do professor. Tese
(Doutorado em Educação) – Programa de Pós Graduação em Educação, Faculdade de
Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000.
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, Vol.
3. 1998.

BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil: propostas para formação
integral da criança. 2ª ed. São Paulo: Petrópolis, 2003.

DEHEINZELIN, Monique. A fome com a vontade de comer: uma proposta


curricular de educação infantil. 6ª Ed. RJ: Vozes, 1994.

DINIZ, Léia Negrini; DEL BEN, Luciana. Música na educação infantil: um


mapeamento das práticas e necessidades de professores da rede municipal de
ensino de Porto Alegre. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 15, 27-37, set. 2006.

GARDNER, Howard. As artes e o desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artes


Médicas, 1997.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas. 1996.

JOLY, Ilza Zenker Leme. Educação e educação musical: conhecimentos para


compreender a criança e suas relações com a música. In:____. HENTSCHKE, L;
DELBEN, L. (Orgs.). Ensino de música: propostas para pensar e agir em sala de aula.
São Paulo: Ed. Moderna. Cap. 7. 2003

PORTO, Olívia. Bases da Psicopedagogia: diagnóstico e intervenção nos problemas


de aprendizagem/ Olívia Porto, 5ª Ed. RJ: Wak Ed, 2011

SAMPIERI, Roberto Hernández. Metodologia de pesquisa / Roberto Hernández


Sampieri, Carlos Fernández Collado, Pilar Baptista Lucio; tradução Fátima Conceição
Murad, Melissa Kassner, Sheila Clara Dystyler Ladeira: revisão técnica e adaptação
Ana Gracinda Queluz Garcia, Paulo Heraldo Costa do Valle. 3ª Ed. São Paulo:
McGraw-Hill, 2006.

SNYDERS, George. A escola pode ensinar as alegrias da música?. 5ª ed. São Paulo:
Cortez, 2008.

SOUZA, Jusamara et al. O que faz a música na escola? Concepções e vivências de


professores do Ensino Fundamental. Porto Alegre. Programa de Pós Graduação em
música do Instituto de Artes da UFRGS, 2002 (série Estudos, 6)

Você também pode gostar