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O CONHECIMENTO DOS ENFERMEIROS NA IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE DA

SEPSE EM UTI

NURSES' KNOWLEDGE IN IDENTIFICATION AND CONTROL OF SEPSIS IN ICU

Isis Caroline Silva de Oliveira1; Kethleen Aparecida de Oliveira Neves1; Lívia Caroline das Chagas1; Márcia Aparecida
de Medeiros1; Moisés Almeida da Silva2

RESUMO

Objetivo: Apontar o conhecimento do enfermeiro ao identificar e fazer o controle da sepse na UTI.


Método: Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa descritiva. Os participantes da
pesquisa foram enfermeiros atuantes do setor, excluindo aqueles em férias, licença médica, licença
maternidade e outros profissionais. Os dados foram coletados por meio de entrevista individual em
ambiente reservado dentro da própria unidade para garantir privacidade e anonimato. Para
obtenção dos dados, a entrevista seguiu um roteiro semiestruturado, acatando o processo de
saturação, que implica na repetição sistemática das informações extraídas, isto é, quando não
surgem novas percepções ou temáticas sobre o conteúdo. A fim de analisar as transcrições das
entrevistas, foi utilizada a metodologia de Análise de Conteúdo de Bardin. A coleta de dados
ocorreu nos períodos de abril e maio de 2024 nas Unidades de Terapia Intensiva de um hospital do
município de Barbacena pertencente à Macrorregião Centro-Sul de Minas Gerais, após a
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, sob parecer 6.771.871. Resultados: Os achados deste
estudo enfatizam a importância da atuação da equipe de enfermagem no diagnóstico e controle
precoce da sepse, em seguir protocolos institucionais, da necessidade de manter a equipe
tecnicamente treinada e capacitada. Conclusão: Os enfermeiros possuem conhecimento limitado
sobre a identificação precoce da sepse e seu manejo, ressaltando a necessidade de realizar
capacitação e treinamento com a equipe, visto que sepse é um quadro que requer conhecimentos
técnicos e científicos e para o seu controle os profissionais precisam estar plenamente capacitados.

Palavras-chave: Sepse; UTI; Enfermeiros; Enfermagem.

11
Alunas do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Presidente Antônio Carlos UNIPAC
2
Orientador e Prof. do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Presidente Antônio Carlos
UNIPAC.

1
ABSTRACT

Objective: To highlight nurses' knowledge when identifying and controlling sepsis in the ICU.
Method: This is research with a descriptive qualitative approach. The research participants were
nurses working in the sector, excluding those on vacation, medical leave, maternity leave and other
professionals. Data were collected through individual interviews in a private environment within the
unit itself to guarantee privacy and anonymity. To obtain the data, the interview followed a
semi-structured script, following the saturation process, which implies the systematic repetition of
the information extracted, that is, when no new perceptions or themes about the content emerge. To
analyze the interview transcripts, Bardin's Content Analysis methodology was used. Data collection
took place in the periods of April and May 2024 in the Intensive Care Units of a hospital in the city
of Barbacena belonging to the Central-South Macroregion of Minas Gerais, after approval by the
Research Ethics Committee, under opinion 6,771,871. Results: The findings of this study
emphasize the importance of the nursing team's role in the early diagnosis and control of sepsis, in
following institutional protocols, and the need to keep the team technically trained and qualified.
Conclusion: Nurses have limited knowledge about the early identification of sepsis and its
management, highlighting the need to carry out training and training with the team, since sepsis is a
condition that requires technical and scientific knowledge and for its control, professionals need to
be fully qualified.

Keywords: Sepsis; ICU; Nurses; Nursing.

2
1 INTRODUÇÃO

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) foi estabelecida para tratar pacientes em estado crítico, que
requerem supervisão constante por uma equipe especializada. É um ambiente em que se encontram
indivíduos com maior risco de desenvolver infecções e complicações de saúde, pois frequentemente
são pacientes com sistema imunológico comprometido, idade avançada, doenças crônicas,
desnutrição, permanência prolongada no ambiente hospitalar, além da necessidade de diversos
procedimentos invasivos, como ventilação mecânica invasiva, drenagem, cateteres e sondas, o que
aumenta o risco de infecções1.
A sepse consiste em uma disfunção orgânica decorrente de uma resposta desregulada do hospedeiro
em virtude de um processo infeccioso, que pode levar ao risco de vida. Trata-se de uma das
principais causas de mortes em hospitais, tanto públicos quanto privados em todo o mundo, e é a
principal causa de morte não-cardiológica em UTI 2,3.
Os primeiros conceitos de sepse se resumiam a Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica
(SIRS), mas em 2016 a Society of Critical Care Medicine e a European Society of Intensive Care
Medicine revisaram as definições de sepse e choque séptico. Entretanto, a SIRS é útil no
reconhecimento do processo infeccioso cujos sinais sintomas são: taquicardia, cefaleia, náuseas e
vômitos, diarreia, sudorese, calafrios, taquipneia, hipertermia ou hipotermia, leucopenia ou
leucocitose somado com a disfunção orgânica (hipoxemia, rebaixamento do nível de consciência,
hipotensão, diminuição do débito urinário, acidose metabólica, coagulopatia)1,4.
Os dados epidemiológicos evidenciam a gravidade da sepse como uma preocupação de saúde
1-4
pública no Brasil . Neste contexto, um estudo brasileiro revelou um custo médio de
aproximadamente 932 dólares por dia de internação para o paciente com esse quadro clínico5.
Estatísticas apontam que 17% dos leitos de UTIs são ocupados por pacientes com sepse, e cerca de
600 mil brasileiros podem desenvolvê-la anualmente. Além disso, a prevalência estimada é de 300
casos por 100.000 pessoas, com um aumento anual de 13%. Sabe-se da gravidade desta doença
devido à alta taxa de mortalidade dos brasileiros (20-50%) e pela incidência de 30 casos por mil
pacientes/dia1.
Deste modo, o profissional de enfermagem exerce seu pensamento crítico e julgamento clínico
diante da assistência direta ao paciente ou então na coordenação e supervisão deste cuidado. E a
equipe de enfermagem por participar de forma direta nos cuidados ao paciente com sepse,
desempenhando um papel importante na identificação precoce das manifestações clínicas. Uma das
estratégias para uma avaliação eficaz envolve a monitorização e análise dos sinais vitais, em
conjunto com os sinais clínicos apresentados6,4.

3
Contudo, mesmo com a evolução e compreensão da sepse, este conhecimento pode ser
desvalorizado, resultando em atrasos no tratamento adequado podendo em última instância levar a
desfechos fatais5,3. Diante disto, faz-se a seguinte questão de pesquisa: Qual o conhecimento dos
enfermeiros na identificação e controle da sepse em UTI? Uma vez que, esse conhecimento traz
melhorias dos resultados ao paciente.
O presente estudo tem como objetivo apontar o conhecimento do enfermeiro ao identificar e fazer o
controle da sepse na UTI. Neste sentido, o estudo se justifica dadas as elevadas incidências de
mortalidade associada à sepse, que é considerada uma das principais causas de óbitos em UTIs. É
relevante destacar a função do enfermeiro na detecção precoce dos sinais e sintomas da sepse, visto
que ela é visivelmente desafiadora de ser diagnosticada em estágios iniciais, e sua investigação se
torna um objeto de estudo científico. Uma vez que essa dificuldade de diagnóstico tem um impacto
diretamente na eficácia das intervenções terapêuticas.

2 MÉTODO

A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa descritiva, na qual consiste em um estudo


7,8
exploratório não estatístico, cujo objetivo é descobrir e descrever conceitos e dados teóricos .O
estudo foi desenvolvido em Unidades de Terapia Intensiva de um hospital do município de
Barbacena pertencente à Macrorregião Centro-Sul de Minas Gerais.
A coleta de dados ocorreu nos meses de abril e maio de 2024. Os participantes incluídos nesta
pesquisa foram enfermeiros atuantes do setor, sendo excluídos aqueles em férias, licença médica,
licença maternidade e outros profissionais (técnicos de enfermagem, fisioterapeuta e médico). As
entrevistas foram gravadas, realizadas de forma presencial e individual em ambiente reservado
escolhido pelo enfermeiro dentro da própria unidade, a fim de garantir sua privacidade e
anonimato.
Para obtenção dos dados, a entrevista seguiu um roteiro semiestruturado desenvolvido pelos
pesquisadores. Assim, foi elaborado um questionário composto de 13 perguntas abertas. Logo após
a realização das entrevistas, os áudios foram transcritos para captar os relatos dos participantes e
assim contribuir para uma compreensão rica e acurada. É importante ressaltar que o número de
entrevistas acatou o processo de saturação, que implica na repetição sistemática das informações
extraídas, isto é, quando não surgem novas percepções ou temáticas sobre o conteúdo9.
A fim de analisar as transcrições das entrevistas foi utilizada a metodologia de Análise de Conteúdo
seguindo a proposta que Bardin10, que designa e caracteriza a análise por um conjunto de
4
instrumentos sutis que se aplicam a discursos diversificados, que buscam compreender
características ou modelos que estão por trás dos fragmentos de mensagens.
Desta forma, foi seguido uma estrutura de três fases na seguinte ordem: 1) a pré-análise dos dados,
em que foi realizada uma leitura flutuante para definir o que seria útil para a pesquisa; 2) a
exploração do material, fase que teve a finalidade de categorização ou codificação no estudo; 3)
tratamento dos resultados, inferências e interpretação, que teve a proposta de analisar de forma
reflexiva e crítica de todo material coletado10.
Foram definidas para a análise, as seguintes categorias temáticas que apresentaram uma maior
relevância para o contexto a ser investigado, juntamente com as questões de pesquisa, conforme
apresentado no Quadro 1.

Quadro 1 – Questões por categoria


Fonte: elaborado pelas autoras.
Categorias Questões

1) Conhecimento e identificação 1- De acordo com o protocolo de sua instituição, você consegue detectar
sobre a sepse. a sepse de forma precoce?
2 - Qual tem sido sua maior dificuldade para identificação da sepse?
3 -Quais são os sinais e sintomas que você elencaria como os mais
recorrentes/ semelhantes em seus pacientes com sepse?
4 - Em seu entendimento, a falta de conhecimento sobre a sepse está
relacionada à necessidade de capacitação? Por quê?
5 - É de seu interesse conhecer mais sobre o assunto sepse na instituição
onde você trabalha?
6- Durante sua formação acadêmica em algum momento você recebeu
orientação específica sobre os cuidados e medidas a serem adotados com
a sepse?

2) Cuidados e estratégias no 7 - Quais são os principais cuidados de enfermagem realizados no


controle da sepse. paciente com sepse?
8 - Quais são as estratégias utilizadas para prevenir e reduzir o risco de
sepse?
9 - Junto a equipe multidisciplinar, como é feito a distribuição do papel
da enfermagem no manejo da sepse?
11 - Como a equipe de enfermagem colabora na monitoração e resposta
rápida frente a esses casos?

3) Prevalência e redução da 12 - Em seu ponto de vista, quais medidas deveriam ser tomadas em
mortalidade por sepse na UTI. favor da diminuição do índice de mortalidade de sepse na UTI?
13 - Diante disso você, enquanto enfermeiro da UTI, quais estratégias
usaria para diminuir o índice de mortalidade da sepse?
10 - Enquanto enfermeiro do setor de UTI você observa uma prevalência
maior de mortalidade por sepse em comparação a outras patologias?

A coleta de dados foi iniciada após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, sob parecer
6.771.871, em 17 de abril de 2024, tendo como Certificado de Apresentação de Apreciação Ética o
parecer 77997024.7.0000.5156 respeitando as resoluções 466/2012 e 510/2016, e após assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
5
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Dados sociodemográficos

A Tabela 1 apresenta os dados sociodemográficos dos participantes da pesquisa. Tais dados, são de
suma relevância para compreender e descrever o perfil dos participantes, que fazem parte do quadro
de funcionários das Unidades de Terapia Intensiva do hospital.

Tabela 1 - Perfil dos participantes


Número %

Sexo do participante Feminino 7 58,3%


Masculino 5 41,7%

Idade 24-29 4 33,3%


30-48 8 66,7%

Estado civil Solteiro 7 58,3%


Casado 5 41,7%

Tempo de formação 05 meses a 03 anos 4 33,3%


04-09 anos 5 41,7%
>10 anos 3 25%

Pós-graduação UTI 7 58,3%

Urgência e Emergência 2 16,7%

UTI e Urgência e 1 8,3%


Emergência

Não Possui 2 16,7%

Vínculo empregatício Um 5 41,7%


Dois 6 50%
Três 1 8,3%

Tempo de trabalho na instituição 0-1 ano 5 41,7%


2-4 anos 4 33,3%
6-15 anos 3 25%

Fonte: elaborado pelas autoras.

No total, foram realizadas 12 entrevistas, a partir da nona entrevista, observou-se a saturação das
informações. Todavia, foram realizadas mais três para confirmar este processo. A maioria dos
6
participantes do estudo eram do sexo feminino, representando 58,3% do total. A faixa etária dos
entrevistados variou entre 24 e 48 anos, com 66,7% deles tendo mais de 30 anos. Em relação ao
estado civil, 58,3% eram solteiros e 41,7% casados.
No que diz respeito ao tempo de formação profissional em enfermagem, 33,3% dos participantes
tinham de 5 meses a 3 anos de formação, 41,7% possuíam entre 4 e 9 anos de formação, e 25%
tinham mais de 10 anos de formação. Em relação ao processo formativo, constatou-se que 58,3%
dos profissionais entrevistados possuíam pós-graduação em UTI, 16,7% em Urgência e
Emergência, e 8,3% possuem pós-graduação em UTI e Urgência e Emergência, enquanto 16,7%
não possuíam pós-graduação. Quanto ao número de vínculos empregatícios, 41,7% trabalhavam em
apenas uma instituição, 50% em duas e 8,3% em três. E em relação ao tempo de trabalho, 41,7%
trabalhavam a menos de um ano na instituição, 33,3% entre 2 a 4 anos e 25% entre 6 a 15 anos.
Na sequência, foram analisadas as categorias temáticas: conhecimento e identificação sobre a sepse;
cuidados e estratégias no controle da sepse; prevalência e redução da mortalidade por sepse na UTI.

3.2 Categorias de análise

3.2.1 Conhecimento e identificação sobre a sepse

Na primeira categoria, os entrevistados foram questionados a respeito da identificação da sepse


segundo o protocolo da instituição. Neste contexto, os entrevistados, em sua maioria, relataram que
conseguem detectar sepse de forma precoce, conforme evidenciado na fala do E5.

Sim, a gente trabalha de forma a identificar os sinais né, para poder é o quanto
antes identificar a sepse, no caso (E5).

Com relação às dificuldades enfrentadas em identificar a sepse, a maioria relatou que não tem
dificuldade, todavia alguns pontuaram que os sinais e sintomas são parecidos e podem ser
confundidos com outras patologias, conforme descrito por E7.

Associar os sinais e sintomas se realmente são da sepse ou da própria patologia que


o paciente já apresenta (E7).

Quando questionados sobre os sinais e sintomas mais comuns na sepse, os entrevistados


frequentemente mencionam os seguintes aspectos:

7
Então, o paciente começa a apresentar febre, tá, ele tem uma piora do quadro
infeccioso no geral, começa a dar leucocitose, os sinais vitais começam a ficar
alterados, geralmente dá uma taquicardia, tem tendência a dar hipotensão, se for
de origem de acesso né?! De dispositivos né?! Geralmente tem algum sinal
flogístico, alguma coisa assim que pode estar gerando essa sepse (E1).

É o clássico, que é a taquicardia, taquipneia, confusão mental, que é o glasgow né?!


Dessaturação e também a temperatura dele (E11).

Quando questionados se a falta de conhecimento sobre sepse está relacionada à necessidade de


capacitação, os enfermeiros confirmaram que, de fato, a falta de conhecimento sobre sepse está
diretamente ligada à falta de capacitação. Isso foi claramente evidenciado na fala do E9.

Eu acredito que sim, porque normalmente a sepse é pouco falada ainda. Ainda tem
um universo ainda que é poucas pessoas que conseguem atualizar e, com isso,
conseguem acompanhar as modificações, as melhorias, os estudos são recentes.
Então, acho que é essa a dificuldade (E9).

Ao serem questionados sobre o interesse em conhecer mais sobre a sepse na instituição onde
trabalham, todos os enfermeiros demonstraram interesse, conforme detalhado por E2.

Com certeza, a gente tem que estar sempre lendo sobre, né, sempre tá tendo um
entendimento pra… até para poder ajudar no tratamento do paciente, né!(E2).

A respeito do conhecimento adquirido em sua formação de graduação sobre os cuidados e medidas


a serem adotados com a sepse, a maioria dos enfermeiros afirmaram que receberam essa formação.
Entretanto, alguns não se lembravam do conteúdo, e outros disseram que não receberam orientação
adequada. Tal afirmação é evidenciada nas falas de E12 e E8.

Nós recebemos, mas não tão amplo como deveria ser (E12).

Não, não que eu me recorde (E8).

Diante dos resultados encontrados, cabe citar o estudo realizado por Bleakley, Cole11, que tratam
sobre o papel do enfermeiro no reconhecimento e manejo da sepse. Os autores destacam a
desafiadora função dos profissionais de enfermagem em cuidar do paciente com suspeita de sepse,
visto que o reconhecimento precoce e manejo adequado do paciente com sepse pode salvar vidas.

8
Neste contexto, os profissionais de enfermagem desempenham um papel de suma relevância na
detecção de alterações nas observações fisiológicas que possam indicar o início da sepse.
O estudo ainda destaca que o conhecimento e a utilização de diretrizes clínicas, além da utilização
de ferramentas de triagem de sepse, se apresentam como métodos que auxiliam na redução da
mortalidade dos pacientes. Da mesma forma que a experiência dos enfermeiros com os critérios de
“sinal de alerta” para sepse e o preenchimento completo das pontuações de alerta precoce facilitam
o reconhecimento precoce e a intervenção crítica no contexto de celeridade do atendimento11.
Achados semelhantes são evidenciados no estudo de Massone, Molinari12, que citaram a
necessidade por parte dos profissionais de enfermagem em reconhecer os indicadores de sepse e
choque séptico, com o intuito de promover um tratamento e cuidado adequado ao paciente afetado.
Também, destaca-se que a experiência, compreensão e conscientização dos enfermeiros sobre a
sepse e choque séptico devem ser aprimoradas para uma melhor evolução clínica dos pacientes12.

3.2.2 Cuidados e estratégias no controle da sepse

Acerca do questionamento sobre os principais cuidados de enfermagem prestados a pacientes com


sepse, os enfermeiros mencionaram, conforme evidenciado nas fala de E3 e E7.

Os cuidados em si, que eu entendo, é identificar né, primeiramente os sinais de


sepse, éé seguir o protocolo, éé iniciar o antibiótico, né, coletar as culturas e iniciar
o antibiótico antes de três horas [...](E3).

Conhecimento e técnica no manejo de dispositivos, monitorização de sinais vitais,


administração dos antibióticos em horários corretos e prevenir complicações das
doenças (E7).

Quando questionados sobre estratégias utilizadas para prevenir e reduzir o risco de sepse, os
profissionais destacaram em suas falas a importância de várias práticas assistenciais, conforme
evidenciado nos recortes de fala do E7 e E3.

Lavagem das mãos constantes, desinfecção de todos os materiais, uso de EPIs,


administração dos antibióticos, o mais breve possível (E7).

(E3)Foi o que eu falei anteriormente, éé deixar todos os tree way tampados, é tomar
cuidado com os acessos né do paciente, verificar é os bundles né?! Diariamente
[...](E3).

9
Sobre a distribuição de papéis entre a equipe de enfermagem e a equipe multidisciplinar no manejo
da sepse, torna-se evidente que ambas devem colaborar de forma integrada. Como expresso nos
recortes de falas dos entrevistados E6 e E3.

[...] A questão da contaminação, né, do isolamento desse paciente, do tratamento do


paciente com a questão medicamentosa, da observação dos sinais vitais do paciente,
colocar o paciente mais estável possível, né?! [...](E6).

[...] É a equipe inteira estar reunida né, ali a gente observou um paciente potencial
pra sepse então é acionada a equipe, é, eu faço a minha parte né da coleta das
culturas, iniciar o antibiótico que o médico prescreve […] (E3).

Em relação à contribuição da enfermagem na monitorização e resposta aos casos de sepse, é


fundamental que o enfermeiro, enquanto um dos principais responsáveis pelo cuidado, esteja
sempre atento a esses sinais, conforme descrito na fala de E11.

Então, o rápido é, você ver os sinais vitais, as alterações, informando a equipe,


multidisciplinar que é o médico, enfermeiro, e a partir daí a gente começar a entrar
em contato com o laboratório, coletar os exames né, e vendo já alteração, a partir
daí já começar a antibioticoterapia, tá, após a feito a coleta (E11).

Neste contexto, Silva et al.13 destaca em seu estudo a importância da enfermagem como ator capaz
de identificar e intervir de forma precoce nas alterações sistêmicas advindas à sepse nas UTIs. O
estudo ainda apontou que o papel da enfermagem é o principal instrumento para a identificação
precoce de pacientes acometidos pela sepse, e enfatiza que o conhecimento técnico e científico
desse profissional, juntamente com o uso de protocolos proporciona ações rápidas para combater a
doença. Desse modo, os profissionais de enfermagem devem ser treinados para executar o protocolo
institucional.
O trabalho de Costa et al.14, também apresentou resultados semelhantes, ao procurar descrever as
percepções dos estudantes de enfermagem sobre a assistência aos pacientes com sepse em uma
clínica cirúrgica. Os resultados evidenciam a necessidade de criar estratégias de capacitação e
educação permanente da equipe multidisciplinar e protocolos voltados para o diagnóstico precoce e
tratamento de pacientes com sepse.

10
3.2.3 Prevalência e redução da mortalidade por sepse na UTI

Sobre reduzir o índice de mortalidade por sepse em UTI, diversas medidas devem ser adotadas,
conforme observado pelos entrevistados E3 e E11.

É seguir o protocolo à risca né?! É ele tem um tempo hábil para ser realizado, tempo
de coleta das culturas, o tempo de início dos antibióticos, a equipe estar alerta
quanto a esse paciente, é… tomar todos os cuidados né para evitar que o paciente
tenha a sepse né?! É observou ali um sinal flogístico se já sendo médico fazer a
retirada ou troca de dispositivo (E3).

A capacitação constante da equipe né?! Principalmente os principais e simples


cuidados, lavagem das mãos né?! É, a inserção, a gente vê tanto do cateter vesical
demora usando o campo né?! Usando o bundles, usando a parte da esterilização
também, o cuidado com monitorização dos pacientes, isso aí tem a ver, com certeza
(E11).

Sobre estratégias para diminuir o índice de mortalidade da sepse, os enfermeiros elencaram as


seguintes abordagens apontadas na fala de E4.

É monitorar de perto os pacientes com risco de desenvolvimento do sepse, seguir


rigorosamente os protocolos de medidas de controles de infecção e melhorar a
comunicação entre os colaboradores da equipe para garantir uma resposta rápida
para o tratamento da sepse (E4).

Ao questionarmos sobre a maior prevalência de mortalidade por sepse em comparação a outras


patologias, foram obtidas as seguintes respostas:

Sim, pois os pacientes internados aqui né?! No CTI frequentemente têm condições
que aumentam esse risco (E4).

Sim, geralmente quando o paciente já tá com alguma comorbidade, ele adquire a


sepse, né, ele evolui no quadro séptico, então é um aumento de mortalidade, né,
então é difícil de sair, apesar de ter antibióticos né que combatem né a imunidade
deles, só que ainda aumenta muito o número de mortalidade (E6).

Tais resultados, vão de encontro aos achados no estudo de Pires et al.15, ao destacar que a sepse
apresenta alta mortalidade em UTI, quando considerados fatores de risco e comorbidades, como
diabetes mellitus, população idosa e o longo tempo de internação, que estão associados ao mau
prognóstico. Além disso, cita-se que a falta de uniformidade de critérios diagnósticos contribui para
a falta de conhecimento do impacto da sepse e sua identificação precoce.
11
Corroborando este achado, Silva, Oliveira-Figueiredo, Cavalcanti16, ressaltam que a adesão de
práticas baseadas em evidências pela equipe de enfermagem são essenciais para a prevenção da
sepse e choque séptico em UTIs, o que enfatiza a necessidade de toda a equipe adotar práticas de
inserção e manutenção, tais como: higienização adequada das mãos; uso de gluconato de
clorexidina alcoólica 0,5% a 2% para preparo e fricção da pele; preferência pela punção na veia
subclávia; e uso de máxima proteção de barreira, avaliação diária do local de inserção, verificação e
troca de curativos.

4 CONCLUSÃO

Retomando aos objetivos do estudo, os resultados indicam que os enfermeiros possuem


conhecimento limitado sobre a identificação precoce da sepse e seu manejo. Embora a maioria
mencione os sinais e sintomas da SIRS, nem todos reconhecem os sinais de disfunção orgânica,
pois a sepse não se limita à SIRS. Além disso, observou-se uma falta de atualização quanto às
mudanças nos pacotes de tratamento, como a transição dos pacotes de 3 e 6 horas para o novo
pacote de 1 hora, que inclui a coleta de exames laboratoriais, hemoculturas e outras culturas antes
da administração do antimicrobiano.
Deste modo, os achados confirmam a expectativa inicial do estudo que tinha como hipótese um
conhecimento restrito por fatores como experiência profissional, falta de treinamento e a busca
insuficiente por informações atualizadas. Tais achados são significativos, pois ressaltam a
necessidade de realizar capacitação e treinamento com a equipe, uma vez que a sepse é um quadro
que requer conhecimentos técnicos e científicos, e para o seu controle os profissionais precisam
estar plenamente capacitados.
Embora o estudo forneça dados relevantes, algumas limitações devem ser consideradas,
principalmente o tamanho da amostra, composta por 12 enfermeiros de uma única instituição. Desse
modo, é indispensável a continuidade das pesquisas, pois futuros estudos com amostras maiores
poderiam oferecer uma exploração mais aprofundada sobre a temática. Em síntese, este trabalho
alcançou seus objetivos, oferecendo novas perspectivas e contribuindo para o campo da
Enfermagem.

12
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14
ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

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ANEXO B – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

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