Caderno Do Monitor - 2a Parte

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 53

Monitor: Nathan Amaral

MATÉRIA DA SEGUNDA PROVA

I. PESSOAS INTERNACIONAIS

Em analogia ao direito interno, a noção de personalidade é utilizada em direito


internacional para distinguir entre os atores sociais que o sistema legal internacional leva em
consideração daqueles que dele são excluídas. Para tanto, vamos diferenciar os sujeitos de direito
internacional, ou seja, quais entidades tem direitos e deveres e agem de forma legalmente pertinente
na sociedade internacional.

Sujeito de direito internacional é a entidade apta a possuir direitos e deveres internacionais


e que tenha capacidade para mantê-los, conforme definição dada no Parecer Consultivo da Corte
Internacional de Justiça sobre a Reparação dos Danos Sofridos a Serviço das Nações Unidas.

Accioly, por sua vez, entende o sujeito de direito internacional a entidade jurídica que goza
de direitos e deveres no plano internacional com capacidade para exercê-los através de reclamações
internacionais (pode agir internacionalmente mediante o direito) ou pode ser responsável
(violador) de direito internacional.

Personalidade Internacional

A personalidade internacional se estende não apenas dentro da visão de direitos e deveres


e de ação dentro do direito, mas também inclui noção de competência para se criar o direito.

Parecer Consultivo sobre a Reparação de Danos Sofridos a serviço das Nações Unidas
(Caso Bernadotti, CIJ, 1949)

O Conde Bernadotti era um diplomata sueco que, durante a IIGM, atuou na proteção
de judeus e no refúgio de judeus na Suécia, além de ter participado de uma série de negociações
ao final da IIGM, sendo um representante importante na criação da ONU. Dada a sua reputação
e importância, em 1948, foi enviado para resolver o problema da Palestina. Ao chegar em Israel,
Conde Bernadotti, nomeado pela Assembleia Geral, representando a ONU, é assassinado por
um dos grupos associados ao Estado de Israel.
Tem a ONU poderes de realizar uma reclamação diplomática em relação ao Estado de
Israel? A Corte analisou diversos elementos na Carta da ONU, contudo esses elementos não
diziam claramente que possuía responsabilidade, contudo individuavam pontos importantes
como:

i. O Estado tem dever de assistir. (Art. 2, 5)


ii. Os Estados tinham o dever de obedecer às resoluções do Conselho
de Segurança. (Art. 25)
iii. Existiam uma série de capacidades, Privilégios e Imunidades.

Todos esses elementos levavam a conclusão de que ao ser confiados certos poderes para
que realizassem certas funções, havia poderes implícitos outorgados pelos próprios membros à
ONU, sendo um desses poderes implícitos, aquele de realizar reclamações internacionais, o que
dava o direito à ONU de exigir do Estado de Israel indenização pela morte de seu funcionário.
Esse caso foi essencial para definir a subjetividade das Organizações Internacionais, encerrando
o debate sobre a personalidade jurídica.

“A Corte conclui que a Organização é uma pessoa internacional. Isso não significa
que ela é um Estado ou que possui os mesmos direitos e obrigações de um Estado.
Nem é ela um super Estado. Significa que ela é um sujeito do Direito Internacional
e capaz de possuir direitos e obrigações, dentre eles o de fazer reclamações”. (ICJ,
Reparations for Injuries, 1949).

Aqui, quando a Corte desenvolve essa noção, permite ao ordenamento internacional


uma subjetividade diversa e variável: sujeitos não são os mesmos que Estados e possuem outros
poderes, poderes que, dentro da lógica das Organizações, devem existir para que ela realize suas
funções. É por isso, para desenvolver funções, que os Estados atribuem às Organizações
Internacionais privilégios e imunidades.

Classificação

Kapoor apresenta basicamente três teorias que indicariam os sujeitos de direito


internacional:
(i) apenas os Estados, como resultado do triunfo do positivismo a partir do séc. XVIII,
quando os indivíduos passaram a ser considerados objeto de direito internacional.
Crítica: a CIJ considerou que a ONU possui a capacidade para fazer uma
reinvindicação internacional contra um Estado a fim de obter reparação tanto às
Nações Unidas quanto ao próprio indivíduo, desde que este atue como seu agente.
(ii) apenas os indivíduos, pois as obrigações dos Estados são obrigações do indivíduo
em última análise. Crítica: não consegue explicar a grande deficiência dos indivíduos
em fazer valer sua capacidade processual internacional.
(iii) Estados, indivíduos e algumas OIs e entidades não-estatais.

Pessoas Internacionais

Pessoas Internacionais são assim os destinatários das normas internacionais. Nesse sentido,
inserem-se os Estados, as Organizações Internacionais, alguns entes não estatais, a pessoa humana
e, modernamente, ONGs e Empresas Transnacionais.

Estado:
Estado é o contingente humano a viver sob alguma forma de regramento dentro de certa
área territorial. Entre os sujeitos, é o único que possui plena capacidade jurídica, ou seja, habilidade
de munir-se de direitos, poderes e obrigações.

Segundo Kelsen, o território de um Estado é, no sentido de compreender os limites da


jurisdição, o espaço no qual seus órgãos estão autorizados pelo direito internacional a executar a
ordem jurídica nacional. Compreende o espaço onde o Estado exerce seu poder soberano ao
colocar em prática atos coercitivos.

O Estado é uma realidade física: povo e território. Dessa forma, possui personalidade
jurídica originária, isto é, dele emanam as normas que regulam as relações jurídicas e da
manifestação da vontade surgem os demais sujeitos com capacidade para atuar na sociedade
internacional.
O direito internacional emana da vontade dos Estados, que compõem o sistema
internacional. Sua personalidade inclui tanto a capacidade de criar o direito quanto de sujeitar a
esse mesmo direito.

Organizações Internacionais

A personalidade jurídica das OIs é derivada da vontade dos Estados soberanos ou até
mesmo destes com a vontade de outras OIs já existentes, como no caso da OMC.

A OI carece da realidade física (dimensão material) presente nos Estados e, por isso, sua
existência se apoia no tratado que a institui. Nesse sentido, sua personalidade só se concretizará a
a partir da entrada em vigor deste e só existirá enquanto esse for válido dentro da sociedade
internacional, caracterizando, portanto, o princípio da efetividade.
Pessoa Humana

Passou a ter questionada sua personalidade internacional como algo inerente à sociedade
internacional na medida em que foi ganhando força a visão positivista que consagrava os Estados
como únicos sujeitos de direito internacional até que se reduziu a mero objeto da realização da
vontade destes, quando diversas normas nesse sentido foram aprovadas em conferências
internacionais (Convenção n. 29, Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho).

A ONU, em sua carta originária, expressou a necessidade de retomar a consideração


jurídica internacional da personalidade da pessoa humana.

Uma parcela considerável da doutrina (que não acompanhamos) ainda nega, entretanto, a
personalidade jurídica do indivíduo na esfera internacional sob a justificativa dessa não poder se
envolver na produção do acervo normativo internacional, somente se envolvendo enquanto
representante dos Estados e das OIs. Além disso, o indivíduo não dispõe de prerrogativa ampla
para reclamar nos foros internacionais, só podendo fazê-lo quando houver vínculo de sujeição
entre ela e o Estado Soberano ao qual está vinculada pela sua nacionalidade.

Há um grande debate acerca da subjetividade do indivíduo no âmbito do direito


internacional. Argumentos a favor: (i) alguns tratados concedem direitos a indivíduos diretamente;
(ii) algumas cortes (como a de direitos humanos) permitem que indivíduos processem diretamente
Estados, permitindo que a pessoa humana exerça sua personalidade internacional; (iii) são
responsáveis pelas violações (o TPI, por exemplo, julga aqueles indivíduos que cometerem crimes
internacionais). Contudo, a tese mais conservadora diz que para se expressar, os indivíduos sempre
devem passar pelos Estados: Estados que cria as obrigações através de tratados e são eles que
responsabilizam os indivíduos.

Hoje está assentado que indivíduos atuam no direito internacional e que grande parte da
atuação da ordem internacional é também voltada para indivíduos, como a possibilidade de exigir
a proteção internacional se os Estados falharem na proteção de seus direitos humanos.
Independentemente da teoria, na prática internacional, indivíduos agem em diversas situações: o
ex-Presidente Lula valeu-se de órgãos da ONU para tentar avançar sua candidatura política, assim
como a família de Herzog foi à Corte Interamericana para discutir a falta de investigação do caso
Herzog.
Empresas
As empresas são regidas pelo ordenamento jurídico do local onde foram registradas. A
transnacionalidade de uma empresa é determinada pelos critérios estabelecidos no Relatório
Preliminar do Secretariado das Nações Unidas à Comissão das Sociedades Transnacionais que
remete sua classificação ao (i) número de filiais no estrangeiro; (ii) composição do capital; (iii) parte
que assume o volume das exportações no acervo global dos negócios; (iv) nacionalidade dos
dirigentes e (v) espírito de sua ação.

As empresas não possuem capacidade para reivindicar seus direitos em tribunais


internacionais, pelo que devem ser representadas pelo Estado de sua nacionalidade através do
instituto da proteção diplomática, conforme estabeleceu a CIJ, em 1970, no caso Barcelona
Traction.

ONGs
Característica da Nova Ordem Internacional, constituída por particulares de diversas
nacionalidades e não por Estados, que não possuindo fins lucrativos, destinam-se suas atividades
à solidariedade internacional. O conceito engloba tanto as organizações que atuam em nível
nacional quanto aquelas que atuam em nível internacional. Não possuem personalidade jurídica de
direito internacional, sendo apenas sujeitos de direito interno, apesar das suas atuações
extrapolarem os limites territoriais e jurisdicionais do Estado soberano e de estarem previstas na
Carta da ONU:

A prática internacional tem conferido a possibilidade de as ONGs participarem enquanto


observadoras de congressos e conferências internacionais, como a que aconteceu no Rio em 92.

II. ESTADOS

II.1. JURISDIÇÃO
A competência pessoal do Estado se manifesta nas questões relacionadas ao poder que
este exerce sobre as pessoas que se encontram em seu território manifestado inicialmente pelo
vínculo político-jurídico estabelecido com seus nacionais: a nacionalidade.

II.2. NACIONALIDADE

É um vínculo jurídico-político que liga o indivíduo a um determinado Estado Nacional.


Ou seja, que coloca o indivíduo na dimensão pessoal desse Estado (povo), como sujeito de direitos
e deveres nesse país. Não é um vínculo sociológico ou cultural, é frio e calculista.
Verdross ensina que o Direito Internacional confia em princípio aos próprios Estados a
livre promulgação de normas acerca da aquisição e perda de nacionalidade sendo-lhes vedado,
todavia, determinar condições de aquisição e perda de nacionalidade de outro Estado. Assim,
nacionais são pessoas submetidas à autoridade direta do Estado que em contrapartida lhes confere
direitos civis e políticos, estabelecendo um vínculo de fidelidade particular.

Em alguns ordenamentos jurídicos, o termo nacionalidade se confunde com o termo


cidadania quando se quer identificar a origem de determinada pessoa. A rigor, porém, cidadania
envolve inclusão e define a relação interna do indivíduo com o Estado (possui certos direitos
dentro da política do país) enquanto nacionalidade envolve exclusão e define a relação externa
entre os Estados no que diz respeito aos seus cidadãos.

O art. 14 da CF veda expressamente o exercício da cidadania aos estrangeiros e aos


nacionais brasileiros durante a prestação do serviço militar. Os analfabetos e os que não tenham
atingido a idade mínima de elegibilidade também não exercerão a cidadania plena.

A cidadania não corresponde apenas a critérios para elegibilidade e exercício de funções


políticas, mas também outras funções de natureza social, profissional ou administrativa, como o
exercício de determinados cargos.

Cada Estado nacional escolhe o critério a ser adotado de acordo com seu contexto
histórico e político, sendo que no Brasil do direito de nacionalidade emanam diversos outros
direitos concernentes à cidadania como o da participação política, o da elegibilidade, ser membro
de partido político e ocupar cargo público.

II.1. Espécies:
a) Nacionalidade primária ou originária (natos):
Resulta de um fato natural, de um nascimento.
Critérios de aquisição:
Cada Estado nacional escolhe o critério a ser adotado de acordo com seu contexto histórico e
político

(i) Ius sanguinis: critério sanguíneo. Estabelece que será nacional aquele que é
descendente de nacionais do Estado. Estratégico em países de forte
emigração, por exemplo, a Itália e França (Europa, Ásia e África,
caracterizados pelo fluxo emigratório)
(ii) Ius soli: critério territorial. Será nacional aquele que nasceu no território do
país. Não importa de onde a família veio, mas será nacional aquele que nascer
no país. Critério adota em países de forte imigração, como o Brasil.

(iii) Mista: será nacional tanto aquele que nascer no território do Estado quanto
o que tem laços familiares com nacionais do Estado (prevalece em países
surgidos pós-Império Britânico e pós-II Guerra Mundial)

Esses critérios podem dar origem seja aos natos, seja, em situações particulares ao:

(i) Polipátrida: o indivíduo que tem duas nacionalidades originárias. Os pais são nacionais
de país que adota o critério ius sanguinis e o indivíduo nasceu em país de critério ius soli.
(ii) Apátrida (heimatlos): aquele que não tem nenhuma nacionalidade originária. Os pais
são de país com critério ius soli e nasceu em país que adota o ius sanguinis. É condição
proibida pela Declaração Universal do Homem e do Cidadão. Por isso, países que
adotam o critério territorial, pela maior possibilidade de apátridas, NÃO PODEM ter
apenas ele como critério de aquisição, mas sim devem existir outros critérios
conjugados, como é o caso do Brasil.

b) Nacionalidade secundária ou adquirida derivada (naturalizados - naturalização)

Resulta de um fato volitivo, da vontade do indivíduo. Além disso, seus critérios de


aquisição também são frutos da discricionariedade política do país motivada por contingências
econômicas, históricas, culturais, que dependendo de seu momento histórico será mais ou menos
permissivo. Ex.: “Venha para o Canadá” - não tem gente e é um país enorme. Ao contrário do
Japão, não cabe mais gente.

III.2. Critérios de aquisição de nacionalidade no Brasil

(i) NACIONALIDADE PRIMÁRIA (ART. 12, I, CF – TAXATIVAMENTE)

a) Critério territorial (regra)


"São brasileiros natos: os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde
que estes não estejam a serviço (público) de seu país”

→ Território nacional por extensão: embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza


pública ou a serviço do governo brasileiro, bem como aeronaves e embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
correspondente ou em mar territorial.

Exceção: Ambos pais estrangeiros e um deles exercendo serviço público. Nascerá no


Brasil, mas não será brasileiro.

b) Critério sangüíneo + critério profissional (funcional)


“São brasileiros natos: os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que qualquer deles
esteja a serviço da República Federativa do Brasil”.

→ A serviço: exercício de função pública da administração direta ou indireta de qualquer


uma das esferas (União, estados federados, municípios ou do Distrito Federal).

→ Filhos adotados no estrangeiro: art. 227, p 6


“Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”

c) Critério sanguíneo + critério residencial + opção confirmativa

“São brasileiros natos: os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, que venham a
residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira”.

Caso: uma brasileira vai aos EUA, casa com americano e tem filho. Filho comete
feminicídio. Vem para o Brasil. Torna-se brasileiro nato em condição suspensiva. Solicitação de
extradição. Exerce a opção confirmativa: efeito ex tunc. Nato não pode ser extraditado.

Fato gerador: a residência. A opção confirmativa apenas confirma alo que passou a existir
com a residência, é uma ação meramente declaratória. É de efeito ex tunc (retroativo) à residência
considerando que o fato gerador é a residência.

Residência antes da maioridade: poderá fazer a opção após completar 18 anos de idade e
antes de a fazer será brasileiro nato em condição suspensiva. Quando a opção for feita ele será
considerado brasileiro nato desde a residência.

Residência depois da maioridade: é brasileiro nato desde que haja a residência e está em
condição suspensiva até que ele faça a opção confirmativa.

d) Critério sangüíneo + registro (criado para os casos no qual o suj. não pode retornar ao
Brasil)
"São brasileiros natos: os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente” "

→ Repartição brasileira competente: embaixada ou consulado para registro, se você nasceu


lá. Ministério da Justiça (assina)/ PF (abre o processo) se você já está aqui (é quase processo de
naturalização, mas se você tem pai brasileiro, já é considerado nato).

→ Essa hipótese valeu de 1988 a 1994, quando foi retirada pela EC 3/94 por ser
considerada inadequada pelo fato de que não havia vínculo do indivíduo com o Brasil. Surgiram
muitos apátridas, o que logo foi percebido. Apenas em 2007, com a EC 54/07, essa hipótese voltou
a ser prevista com previsão de registro dessas crianças nascidas entre 1994 e 2007 no art. 2 da
emenda. Uma espécie de regra de transição.

e) Ato das Disposições Constitucionais Transitórias


Art. 95. Os nascidos no estrangeiro entre 7 de junho de 1994 e a data da promulgação desta
Emenda Constitucional, filhos de pai brasileiro ou mãe brasileira, poderão ser registrados em
repartição diplomática ou consular brasileira competente ou em ofício de registro, se vierem a
residir na República Federativa do Brasil.

Assim, a autoridade consular procederá ao registro de nascimento dos menores.


Aos filhos de brasileiro ou brasileira nascidos no exterior após 7 de junho de 1994, cujos
pais não estejam a serviço do governo brasileiro, será expedido até maioridade documento de
viagem brasileiro com a seguinte anotação: Passaporte concedido à luz do art. 12, I, c da CF/88.
Sobre isso, decidiu no STF:
(ii) NACIONALIDADE SECUNDÁRIA NO BRASIL (não taxativa, Lei
13.445/17)

Como já dito, resulta de um fato volitivo, da vontade do indivíduo, após o nascimento.


Obtém-se, geralmente, por processo de naturalização mediante o qual o estrangeiro manifesta
interesse de adquiri certa nacionalidade com a ruptura do vínculo anterior.

Além disso, seus critérios de aquisição também são frutos da discricionariedade política do
país motivada por contingências econômicas, históricas, culturais, que dependendo de seu
momento histórico será mais ou menos permissivo.

Contudo, existem hipóteses constitucionais em que o Estado é compelido a conceder a


naturalização: naturalização extraordinária.

As hipóteses de naturalização são:

A) Naturalização tácita:

→ Art. 69, §4º, Constituição de 1891: estrangeiros que estivessem no Brasil a partir do dia
15/11/1889 (proclamação da república) teriam 6 meses (contados da promulgação da
Constituição) até agosto de 1891) para se dirigir aos órgãos competentes para manifestar a vontade
de continuar estrangeiros, do contrário seriam automaticamente naturalizados brasileiros. Dessa
forma, muitos estrangeiros foram naturalizados, sem vontade expressa. Hoje não existe mais.

B) NATURALIZAÇÃO EXPRESSA:

• ORDINÁRIA: Art. 12, II, alinha A. Naturalização discricionária. Ministério da


Justiça. A Lei 13.445/17, art. 65 e 66, estabelece como requisitos:

(I) Estrangeiro (de qualquer língua) na forma da lei: art. 12, II

• Capacidade civil;
• Residência de 4 anos;
• Comunicar-se em língua portuguesa, considerada as condições
• Inexistência de condenação penal ou reabilitado.

Entendeu-se que o Estatuto do Estrangeiro violava a presunção de inocência ao estabelecer


a ausência de denúncia, pronúncia ou condenação por crime doloso com pena abstratamente
considerada superior a um ano. Além disso, feria a isonomia ao estabelecer em seu art. 113 que se
a pessoa tivesse muitos bens e apresentar boa condição financeira, demonstrar que prestou
serviços relevantes ou então tiver filhos ou cônjuges no Brasil ou demonstrar capacidade técnica
ou artística, o tempo de residência mínimo pode ser diminuído (para 3 anos, 1 ano e 2 anos,
respectivamente). Além disso, o Presidente da República que decretava a naturalização.

(II) Estrangeiro de língua portuguesa (lusófono) – art. 12, II, a, CF

Requisitos:
• Capacidade civil;
• Residência por um ano ininterrupta;
• Idoneidade moral

Mesmo preenchidos os requisitos o presidente não é obrigado a decretar a naturalização.


Deve ir no Ministério da Justiça (não necessariamente em Brasília! É só ir na Polícia Federal). Ou
seja, é uma naturalização discricionária.

• EXTRAORDINÁRIA: Art. 12, II, b, CF. Naturalização potestativa.

Requisitos:
• Capacidade civil;
• Residência ininterrupta por mais de 15 anos;
• Ausência de condenação penal no Brasil. (OU comprovar reabilitação, com base
na Lei 13.445/2017)

Nessa hipótese, preenchidos os requisitos, o presidente é obrigado a conceder a


naturalização, não há mais discricionaridade do Presidente da República. Por isso, também é
chamada de potestativa.
• ESPECIAL (Lei 13.445/2017, art. 68 e 69)

Art. 68. A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em
uma das seguintes situações:

I - seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço


Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior; ou

II - seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do


Brasil por mais de 10 (dez) anos ininterruptos (ius laboris de aquisição de nacionalidade)

• PROVISÓRIA (Lei 13.445/2017, art. 70.)

NATURALIZAÇÃO EXPRESSA PROVISÓRIA - Prazo de conversão de 2 anos.


Decorridos, passa-se ao processo normal de naturalização, conforme for o caso mais benéfico.
Por exemplo, caso tenha vindo com 4 anos, será interessante requerer a naturalização
extraordinária.

Conclusão de curso superior: o indivíduo deve vir para o Brasil antes de completar a
maioridade, deve fazer curso superior em instituição brasileira e terá um ano após a conclusão do
curso para solicitar a naturalização.

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

O pedido de naturalização será processado e apresentado junto ao Ministério da Justiça.


Assim, o estrangeiro deverá formular petição ao MJ a ser apresentada no órgão local do
Departamento de Polícia Federal.
Mesmo possuindo o estrangeiro todos os requisitos, o pedido de naturalização poderá ser
negado, sendo cabível recurso nesse sentido. Se deferido, o será por Portaria de Naturalização a
ser publicada no Diário Oficial da União. Após publicada, a tramitação na esfera administrativa se
completa mediante petição do naturalizando ao Juiz Federal competente que providenciará a
entrega do Certificado de Naturalização lavrando respectivo termo e, no prazo de até 1 ano, deverá
o naturalizado comparecer à Justiça Eleitoral para o devido cadastramento.

Art. 71. O pedido de naturalização será apresentado e processado na forma prevista


pelo órgão competente do Poder Executivo, sendo cabível recurso em caso de denegação.

§ 1º No curso do processo de naturalização, o naturalizando poderá requerer a


tradução ou a adaptação de seu nome à língua portuguesa.

§ 2º Será mantido cadastro com o nome traduzido ou adaptado associado ao nome


anterior.

Art. 72. No prazo de até 1 (um) ano após a concessão da naturalização, deverá o
naturalizado comparecer perante a Justiça Eleitoral para o devido cadastramento.

Nos documentos públicos, a indicação da nacionalidade brasileira alcançada mediante


naturalização se fará com referência a essa circunstância. Nos termos do §2º do art. 12 da CF não
poderá haver distinção entre brasileiros natos e naturalizados, exceto aquelas exceções previstas
taxativamente na CF:
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo
nos casos previstos nesta Constituição.

§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:


I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa.

Outra exceção é a possibilidade jurídica de extradição de brasileiro naturalizado por crime


comum praticado antes da naturalização ou por comprovado envolvimento com tráfico ilícito de
entorpecentes, prevista no art. 5º, LI da CF.
Efetivada a naturalização, ela só poderá ser revogada por sentença judicial.

Outros Estados estabelecem outros critérios. De fato, a nacionalidade derivada


também pode ser concedida por:

a) Naturalização Coletiva
A naturalização pode ser concedida por naturalização coletiva que ocorre quando há
anexação territorial. Por certo tempo, pode a pessoa optar por manter a nacionalidade originária
ou adotar a nova, no primeiro caso será tratada como estrangeira e no segundo caso como nacional
(v.g. bolivianos, Acre, Tratado de Petrópolis).
b) Aquisição em caso de casamento (Portugal, Lei da Nacionalidade, art. 3º)
c) Legitimação
d) Adoção (Portugal, Lei da Nacional, art. 5º)
e) Residência definitiva
f) ius laboris (naturalização especial)
g) serviço militar (EUA, v.g., extensivo a pais, esposa e filhos)

PORTUGUÊS EQUIPARADO POR RECIPROCIDADE (art. 12, §1º, CF)

Ao português equiparado (residente 3 anos) são conferidos, em regra, os mesmos direitos


do brasileiro naturalizado. Claro, não pode ser trabalhado de forma absoluta – existem situações
em que ao naturalizado são reconhecidos alguns direitos que aos portugueses equiparados não o
são.
O Ministério da Justiça concederá um certificado de equiparação e o português terá os
mesmos direitos e deveres do brasileiro naturalizado, como o voto, mesmo que estrangeiro e
inalistável, desde que obter da Justiça Eleitoral o certificado eleitoral de equiparação.

Atualmente, há reciprocidade entre Brasil e Portugal no que tange à igualdade de direitos


e obrigações civis, ao gozo dos direitos políticos e outros que encontram respaldo no Decreto
3.927 de 19 de setembro de 2001 que promulgou o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta
celebrado em Porto Seguro em 2000. Essa igualdade não é automática, cabendo ao interessado
requerê-la à autoridade competente.
Artigo 12
Os brasileiros em Portugal e os portugueses no Brasil, beneficiários do estatuto de
igualdade, gozarão dos mesmos direitos e estarão sujeitos aos mesmos deveres dos
nacionais desses Estados, nos termos e condições dos Artigos seguintes.

Artigo 13

1. A titularidade do estatuto de igualdade por brasileiros em Portugal e por portugueses


no Brasil não implicará em perda das respectivas nacionalidades.

Artigo 39

1. Os graus e títulos acadêmicos de ensino superior concedidos por estabelecimentos


para tal habilitados por uma das Partes Contratantes em favor de nacionais de
qualquer delas serão reconhecidos pela outra Parte Contratante, desde que certificados
por documentos devidamente legalizados.

4) PERDA DE NACIONALIDADE:

Há duas hipóteses taxativas previstas na Constituição Federal em seu art. 12, § 4º.

(i) Ação de cancelamento de naturalização procedente de transitado em


julgado (perda-punição)

Aspecto subjetivo: somente o brasileiro naturalizado.

Motivo: atividade nociva ao interesse nacional que atenta contra a ordem ou a segurança
pública (práticas criminosas).

Procedimento: judicial com o devido processo legal (a tramitação não é administrativa)


→ O Ministério Público entra com a denúncia na Justiça Federal;
Após a tramitação em julgado, há a perda da nacionalidade.

Efeitos: ex tunc (retroativo)

A Lei 13.445/17, em seu art. 75, estabelece ao juiz que o risco da geração de apátrida
deve ser levado em consideração antes da decisão de efetivar a perda de nacionalidade.
Após a perda, o estrangeiro não pode tentar adquirir a nacionalidade novamente por
vias administrativas, já que seria uma burla à coisa julgada. Ele pode requerer via ação rescisória,
ou seja, pelas vias judiciais.

(ii) Aquisição voluntária de outra nacionalidade (perda-mudança)

Aspecto subjetivo: tanto brasileiros naturalizados quanto brasileiros natos podem perder
sua nacionalidade por meio dessa hipótese.

Motivo: aquisição de outra nacionalidade por meio de ato voluntário (voluntas pura)

Procedimento: administrativo (tramita no Ministério da Justiça). Direciona ao MJ que o


risco da geração de apátrida deve ser levado em consideração antes da decisão de efetivar a perda
de nacionalidade. Decreta-se pelo Ministro da Justiça.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil é avisado quando há requerimento de


brasileiro de aquisição de outra nacionalidade;
O MRE avisa ao Ministério da Justiça e, assim que a nova nacionalidade é adquirida,
inicia-se um processo administrativo para a perda de nacionalidade.

Efeitos: ex tunc.

Após a perda por procedimento administrativo, o estrangeiro pode tentar adquirir a


nacionalidade novamente por vias administrativas. Não há burla à coisa julgada. O brasileiro nato
que pleitear a reaquisição de nacionalidade por via administrativa a readquirirá pela forma originária
anterior à perda, isto é, como brasileiro nato, segundo define a Lei 13.445/17.

(iii) Exceções (art. 12, §4º, II, a e b)

a) Reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira: aquisição originária de


outra nacionalidade via reconhecimento por outro país. Ex.: Giovanni.
b) Imposição de naturalização por norma estrangeira ao brasileiro residente em país
estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para exercícios de
direitos civis. Ex.: Promotora em NY x Criminosa
Há descaracterização da vontade pura do indivíduo nessas hipóteses, por isso não se
configura perda de nacionalidade.

REAQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE

Art. 76. O brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do § 4º do art. 12 da


Constituição Federal, houver perdido a nacionalidade, uma vez cessada a causa, poderá readquiri-
la ou ter o ato que declarou a perda revogado, na forma definida pelo órgão competente do Poder
Executivo

II.2. RELAÇÃO DO ESTADO COM NACIONAIS NO EXTERIOR

II.2.1. Ius avocandi

Direito que o Estado tem de repatriar seus nacionais que se encontrem fora de seu
território em três situações: (i) prestar serviço militar; (ii) atuar na defesa da pátria em caso de
conflito e (iii) prática de ato delituoso contra o Estado no exterior.

Com relação a prática de ato delituoso contra o Estado no exterior aplica-se o princípio da
competência territorial diluída nos conceitos de personalidade ativa, onde a jurisdição do Estado
se confunde com a nacionalidade do autor do delito, e universalidade de jurisdição, pelo qual
qualquer Estado é competente para julgar e punir o autor do crime, independente de sua
nacionalidade e de onde se encontra (Oppenheim). Tal possibilidade, segundo o Instituto de
Direito Internacional, poderia gerar a própria perda da nacionalidade pelo não cumprimento dos
deveres nacionais

Contudo, tal instituto atualmente possui uma importância mais histórica do que prática,
especialmente dentro de um cenário de uma nova ordem internacional em que a autoridade estatal
absoluta está cada vez mais contestada e limitada. Também porque apenas o brasileiro naturalizado
poderá perder sua nacionalidade (art. 5º, LI) e mesmo assim por sentença judicial.
II.2.2. Proteção Diplomática

A proteção diplomática se configura no direito-dever do Estado de proteger seus nacionais


no exterior. Foi objeto de um projeto de Convenção elaborado pela Comissão de Direito
Internacional das Nações Unidas, conceitualizando o instituto como:

Dessa forma, a proteção só poderá ser apresentada pelo Estado de nacionalidade do


indivíduo ou da sociedade conforme já decidido pela CIJ no Caso Nottebohm e no Caso Barcelona
Traction.

A Lei de Migração reservou o Capítulo VII para a estipulação de regras de proteção dos
nacionais brasileiros no exterior, estabelecendo uma série de princípios, dentre eles:

Art. 3º A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes:


XIX - proteção ao brasileiro no exterior;

Art. 77. As políticas públicas para os emigrantes observarão os seguintes princípios e


diretrizes:
I - proteção e prestação de assistência consular por meio das representações do Brasil no
exterior;
IV - atuação diplomática, nos âmbitos bilateral, regional e multilateral, em defesa dos
direitos do emigrante brasileiro, conforme o direito internacional

Consiste no suporte jurídico que o Estado pode oferecer ao seu nacional perante tribunais
estrangeiros. Está expressamente previsto na Convenção de Viena sobre Relações Consulares,
como uma função consular.
ARTIGO 5º

Funções Consulares

As funções consulares consistem em:

a) proteger, no Estado receptor, os interêsses do Estado que envia e de seus nacionais,


pessoas físicas ou jurídicas, dentro dos limites permitidos pelo direito internacional;

e) prestar ajuda e assistência aos nacionais, pessoas físicas ou jurídicas, do Estado que
envia;
ARTIGO 36º

Comunicação com os nacionais do Estado que envia

1. A fim de facilitar o exercício das funções consulares relativas aos nacionais do Estado
que envia:

b) se o interessado lhes solicitar, as autoridades competentes do Estado receptor deverão,


sem tardar, informar à repartição consular competente quando, em sua jurisdição, um
nacional do Estado que envia for preso, encarcerado, posto em prisão preventiva ou
detido de qualquer outra maneira.

c) os funcionários consulares terão direito de visitar o nacional do Estado que envia, o


qual estiver detido, encarcerado ou preso preventivamente, conversar e corresponder-se
com êle, e providenciar sua defesa perante os tribunais. Terão igualmente o direito de
visitar qualquer nacional do Estado que envia encarcerado, preso ou detido em sua
jurisdição em virtude de execução de uma sentença, todavia, os funcionário consulares
deverão abster-se de intervir em favor de um nacional encarcerado, preso ou detido
preventivamente, sempre que o interessado a isso se opuser expressamente.

O desrespeito à obrigação contida nesse instrumento internacional foi a base de reclamação


tanto da Alemanha, caso La Grand, quanto do México, Caso Avena, em face dos Estados Unidos
perante a CIJ, cujo texto encontra-se no Teams e cujos trechos seguem abaixo:

II.3. RELAÇÃO DO ESTADO COM ESTRANGEIROS EM SEU TERRITÓRIO

No Brasil, este instituto está regulado pela Lei de Migração que dispõe sobre os direitos e
deveres do imigrante e do visitante, regula sua entrada e estado no país, e estabelece princípios e
diretrizes para as políticas públicas brasileira migratória no art. 3º, que é o grande avanço da lei.
Princípios

Art. 3º A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes:


I - universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos;
II - repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de
discriminação;
III - não criminalização da migração;
IV - não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa foi admitida
em território nacional;
V - promoção de entrada regular e de regularização documental;
VI - acolhida humanitária;
VII - desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural, esportivo, científico e tecnológico do Brasil;
VIII - garantia do direito à reunião familiar;
IX - igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares;
X - inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas
públicas;
XI - acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios
sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho,
moradia, serviço bancário e seguridade social;
XII - promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e obrigações do migrante;
XIII - diálogo social na formulação, na execução e na avaliação de políticas
migratórias e promoção da participação cidadã do migrante;
XIV - fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, mediante constituição de espaços de cidadania e de
livre circulação de pessoas;
XV - cooperação internacional com Estados de origem, de trânsito e de destino de movimentos
migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos direitos humanos do migrante;
XVI - integração e desenvolvimento das regiões de fronteira e articulação de políticas públicas regionais
capazes de garantir efetividade aos direitos do residente fronteiriço;
XVII - proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do adolescente migrante;
XVIII - observância ao disposto em tratado;
XIX - proteção ao brasileiro no exterior;
XX - migração e desenvolvimento humano no local de origem, como direitos inalienáveis de todas as
pessoas;
XXI - promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício profissional no Brasil, nos termos da lei; e
XXII - repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas.
Sistema de vistos e necessidade de portar documentos de viagem admitidos em lei

Segundo o art. 5º da Lei de Migração são considerados documentos de viagem:

Art. 5º São documentos de viagem:


I - passaporte;
II - laissez-passer ;
III - autorização de retorno;
IV - salvo-conduto;
V - carteira de identidade de marítimo;
VI - carteira de matrícula consular;
VII - documento de identidade civil ou documento estrangeiro equivalente, quando
admitidos em tratado;
VIII - certificado de membro de tripulação de transporte aéreo; e
IX - outros que vierem a ser reconhecidos pelo Estado brasileiro em regulamento.

Sobre esses documentos, tudo está escrito no Decreto n. 637 de 24 de agosto de 1992
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0637impressao.htm).

O sistema de visto está regulado pela Seção II, da Lei de Migração (art. 6º, 7º, 12, 13, 14 –
visto temporário; art. 15 – visto diplomático), bem como do Decreto 9.199/2017 que estabelece
o prazo de validade do visto em 1 ano com múltiplas entradas, em seu art. 15, podendo ser
reduzido ou estendido em até 10 anos em caso de reciprocidade de tratamento. O visto dá ao seu
titular mera expectativa de ingresso em territorial nacional.

Os vistos diplomáticos, oficial e de cortesia serão concedidos, prorrogados ou dispensado


por ato do Ministro de Relações Exteriores. O estrangeiro poderá possuir mais de um visto válido,
desde que diferente, competindo à polícia federal a definição migratória aplicável quando de sua
entrada em território nacional. O visto deverá ser requerido no local onde a pessoa reside, devendo
ela comprovar possuir meios de subsistência no local que pretenda visitar e, em alguns casos,
apresentar bilhete de transporte aéreo ou marítimo de ida e de volta. Ao estrangeiro que deseja
entrar no Brasil é desejável que tenha em mãos a documentação comprovatória de seu status em
português, caso não seja possível será aceitável em inglês, francês ou em espanhol. A polícia federal
tem competência para exercer a polícia marítima, de fronteira e aérea.
II.4. IMPEDIMENTOS PARA O INGRESSO
Seção II, Capítulo IV da Lei de Migração
Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no País, após entrevista individual e
mediante ato fundamentado, a pessoa:

I - anteriormente expulsa do País, enquanto os efeitos da expulsão vigorarem;

II - condenada ou respondendo a processo por ato de terrorismo ou por crime de


genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos
definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998,
promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002 ;

III - condenada ou respondendo a processo em outro país por crime doloso passível de
extradição segundo a lei brasileira;

IV - que tenha o nome incluído em lista de restrições por ordem judicial ou por
compromisso assumido pelo Brasil perante organismo internacional;

V - que apresente documento de viagem que:

a) não seja válido para o Brasil;

b) esteja com o prazo de validade vencido; ou

c) esteja com rasura ou indício de falsificação;

VI - que não apresente documento de viagem ou documento de identidade, quando


admitido;

VII - cuja razão da viagem não seja condizente com o visto ou com o motivo alegado
para a isenção de visto;

VIII - que tenha, comprovadamente, fraudado documentação ou prestado informação


falsa por ocasião da solicitação de visto; ou

IX - que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na


Constituição Federal.

Parágrafo único. Ninguém será impedido de ingressar no País por motivo de raça,
religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política.

Ademais, o Decreto 9.199/2017 acrescentou em seu art. 171, as seguintes hipóteses:

Art. 171. Após entrevista individual e mediante ato fundamentado, o ingresso no País
poderá ser impedido à pessoa:

X - a quem tenha sido denegado visto, enquanto permanecerem as condições que


ensejaram a denegação;
XI - que não tenha prazo de estada disponível no ano migratório vigente, na qualidade
de visitante;

XII - que tenha sido beneficiada com medida de transferência de pessoa condenada
aplicada conjuntamente com impedimento de reingresso no território nacional, observado
o disposto no § 2º do art. 103 da Lei nº. 13.445, de 2017 , desde que ainda esteja no
cumprimento de sua pena;

XIII - que não atenda às recomendações temporárias ou permanentes de emergências


em saúde pública internacional definidas pelo Regulamento Sanitário Internacional; ou

XIV - que não atenda às recomendações temporárias ou permanentes de emergências


em saúde pública de importância nacional definidas pelo Ministério da Saúde.

A admissão excepcional no país com prazo de 8 a 30 dias poderá ser autorizada na pessoa
que se enquadra em uma das seguintes hipóteses, desde que esteja em posse de documentos de
viagem válidos:

Art. 174. A admissão excepcional no País poderá ser autorizada à pessoa que se
enquadre em uma das seguintes hipóteses, desde que esteja de posse de documento de
viagem válido:

I - não possua visto ou seja titular de visto cujo prazo de validade tenha expirado;

II - seja titular de visto emitido com erro ou omissão;

III - tenha perdido a condição de residente por ter permanecido ausente do País por
período superior a dois anos e detenha condições objetivas para a concessão de nova
autorização de residência;

IV - seja criança ou adolescente desacompanhado do responsável legal e sem autorização


expressa para viajar desacompanhado, independentemente do documento de viagem que
portar, hipótese em que haverá encaminhamento ao Conselho Tutelar ou, se necessário,
a instituição indicada pela autoridade competente;

V - outras situações emergenciais, caso fortuito ou força maior.

§ 1º Nas hipótese previstas no incisos I, II e V do caput , o prazo da admissão


excepcional será de até oito dias.

§ 2º Nas hipóteses previstas nos incisos III e IV do caput , o prazo da admissão


excepcional será de até trinta dias.

§ 3º A admissão excepcional poderá ser solicitada pelo Ministério das Relações


Exteriores, por representação diplomática do país de nacionalidade da pessoa ou por
órgão da administração pública, por meio de requerimento dirigido ao chefe da unidade
da fiscalização migratória, conforme disposto em ato do dirigente máximo da Polícia
Federal.
Deve ser destacado que ninguém será impedido de entrar no país por motivo de raça,
religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política.

Para Verdross, os direitos dos estrangeiros partem da ideia de que os Estados estão
obrigados entre si a respeitar a dignidade humana dos estrangeiros de acordo com os seguintes
princípios: (i) reconhecimento como sujeito de direito; (ii) respeito aos seus direitos privados; (iii)
concessão de direitos essenciais relativos à liberdade; (iv) acesso aos procedimentos judiciais; (v)
proteção contra delitos que ameaçam sua vida, liberdade, propriedade e honra. No Brasil, estes são
enunciados no art. 4º da Lei de Migração. Nesse sentido, ao migrante é garantida no território
nacional:

Art. 4º Ao migrante é garantida no território nacional, em condição de igualdade com


os nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, bem como são assegurados:

I - direitos e liberdades civis, sociais, culturais e econômicos;

II - direito à liberdade de circulação em território nacional;

III - direito à reunião familiar do migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus
filhos, familiares e dependentes;

IV - medidas de proteção a vítimas e testemunhas de crimes e de violações de direitos;

V - direito de transferir recursos decorrentes de sua renda e economias pessoais a outro


país, observada a legislação aplicável;

VI - direito de reunião para fins pacíficos;

VII - direito de associação, inclusive sindical, para fins lícitos;

VIII - acesso a serviços públicos de saúde e de assistência social e à previdência social,


nos termos da lei, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição
migratória;

IX - amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos;

X - direito à educação pública, vedada a discriminação em razão da nacionalidade e


da condição migratória;

XI - garantia de cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e de


aplicação das normas de proteção ao trabalhador, sem discriminação em razão da
nacionalidade e da condição migratória;
XII - isenção das taxas de que trata esta Lei, mediante declaração de hipossuficiência
econômica, na forma de regulamento;

XIII - direito de acesso à informação e garantia de confidencialidade quanto aos dados


pessoais do migrante, nos termos da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 ;

XIV - direito a abertura de conta bancária;

XV - direito de sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo


enquanto pendente pedido de autorização de residência, de prorrogação de estada ou de
transformação de visto em autorização de residência; e

XVI - direito do imigrante de ser informado sobre as garantias que lhe são asseguradas
para fins de regularização migratória.

§ 1º Os direitos e as garantias previstos nesta Lei serão exercidos em observância ao


disposto na Constituição Federal, independentemente da situação migratória, observado
o disposto no § 4º deste artigo, e não excluem outros decorrentes de tratado de que o
Brasil seja parte.

Ademais, o Decreto 9.199 de 2017 veda em seu art. 2º a exigência ao imigrante de prova
documental impossível ou descabida que dificulte ou impeça o exercício de seus direitos.

Apesar de constar como disposição geral da Lei de Migração, os Deveres do estrangeiro


não são tantos quantos seus direitos e, mesmo assim, estão dispersos em poucos dispositivos dessa
norma jurídica, sobretudo em seu Capítulo IX, que trata das infrações e penalidades
administrativas. Nesse sentido, destacam-se os deveres de registro e identificação civil; permanecer
na área de fiscalização até que seu documento seja verificado; não permanecer no território
nacional depois de findo prazo legal do documento; não transportar para o Brasil pessoa que esteja
sem documentação migratória regular; não furtar-se do controle migratório da entrada ou saída do
território nacional.

II.5 AUTORIZAÇÃO DE RESIDÊNCIA

Tudo na Seção IV, Capítulo III, Lei da Migração. O pedido de autorização de residência é
individual e apresentado preferencialmente por meio eletrônico, sendo endereçado ao MJ exceto
quando se tratar de atividade que possa gerar alguma renda, quando deverá ser endereçado ao
Ministério do Trabalho. Para instruir o pedido de autorização de residência, o imigrante deverá
apresentar (sem prejuízo de outros documentos requeridos) -
https://www.novo.justica.gov.br/central-de-atendimento/estrangeiros/copy_of_entrada :
• requerimento próprio, por meio de formulário devidamente preenchido e assinado;
• duas fotos 3x4, recente, colorida e fundo branco;
• declaração de endereço eletrônico e demais meios de contato;
• requerimento de que conste a identificação, a filiação, a data e o local de nascimento e a
indicação de endereço e demais meios de contato;
• documento de viagem válido ou outro documento que comprove a sua identidade e a sua
nacionalidade, nos termos dos tratados de que o País seja parte;
• documento que comprove a sua filiação, devidamente legalizado e traduzido por tradutor
público juramentado;
• comprovante de recolhimento das taxas migratórias, quando aplicável;
• certidões de antecedentes criminais ou documento equivalente emitido pela autoridade
judicial competente de onde tenha residido nos últimos cinco anos; e
• declaração, sob as penas da lei, de ausência de antecedentes criminais em qualquer país,
nos cinco anos anteriores à data da solicitação de autorização de residência.

Ademais, independente da situação migratória, a autorização de residência poderá ser


concedida desde que cumprido os requisitos da modalidade pretendida. Todavia, a posse ou a
propriedade de bem no país não conferirá o direito de obter autorização de residência no território
nacional, sem prejuízo do disposto de autorização de residência para realização de investimento.
Não será concedida a autorização de residência à pessoa condenada criminalmente no Brasil ou
no exterior por sentença transitada em julgado, desde que a conduta esteja tipificada na legislação
penal brasileira. Caberá recurso no prazo de 10 dias contados da ciência do indeferimento,
assegurados os princípios do contraditório e ampla defesa.

II.6. RESIDENTE FRONTEIRIÇO

Residente fronteiriço é pessoa nacional de países limítrofe ou apátrida que conserve sua
residência habitual em município fronteiriço de país vizinho. Nesse sentido, a ele é permitido
entrada em município fronteiriço brasileiro por meio da apresentação de documento viagem válido
ou da carteira de identidade espedido por autoridade competente do seu país de nacionalidade.

O residente fronteiriço que pretende realizar atos da vida civil em município fronteiriço,
inclusive atividade laboral e estudo, será registrado pela PF e receberá a Carteira de Registro
Nacional Migratório que o identificará e caracterizará sua condição.
A autorização poderá ser concedida por 5 anos prorrogável por igual período ao final do
qual autorização por tempo indeterminado poderá ser concedida. Contudo, nem a Autorização
nem a Carteira de Registro Nacional Migratório confere ao residente fronteiriço o direito de
residência no país nem autoriza o afastamento do limite territorial do município objeto da
autorização.

II.7. APÁTRIDA
Capítulo III, Seção II, da Lei de Migração
Toda pessoa que não seja considerado seu nacional pela legislação de nenhum Estado (filho
de país de ius soli nascido em país de ius sanguini, v.g.). A principal norma internacional que
regulamenta sua condição é a Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954, promulgada em
nosso país em 2002 pelo Decreto 4.246. Por ela, os Estados contratantes expedirão documento de
identidade a toda apátrida que se encontra em seu território e que não tenha documento de viagem
válido. No caso brasileiro, poderão receber visto temporário, registro e identificação civil, bem
como autorização provisória de residência. Deverá ser facilitada a concessão de sua nacionalidade
conforme preceitua o Decreto 8.501/2015 e que preceitua em seu art. 1º que todo Estado
Contratante concederá sua nacionalidade a uma pessoa nascida em seu território e que de outro
modo seria apátrida.

O processo de reconhecimento da condição de apatridia tem como objetivo verificar se o


solicitante é considerado nacional pela legislação de algum Estado, verificando documentos. A
solicitação segue o seguinte (art. 26) decidida pela CONARE:
§ 4º O reconhecimento da condição de apátrida assegura os direitos e garantias previstos
na Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto nº
4.246, de 22 de maio de 2002 , bem como outros direitos e garantias reconhecidos pelo
Brasil.

§ 5º O processo de reconhecimento da condição de apátrida tem como objetivo verificar


se o solicitante é considerado nacional pela legislação de algum Estado e poderá
considerar informações, documentos e declarações prestadas pelo próprio solicitante e por
órgãos e organismos nacionais e internacionais.

§ 6º Reconhecida a condição de apátrida, nos termos do inciso VI do § 1º do art. 1º,


o solicitante será consultado sobre o desejo de adquirir a nacionalidade brasileira.

§ 7º Caso o apátrida opte pela naturalização, a decisão sobre o reconhecimento será


encaminhada ao órgão competente do Poder Executivo para publicação dos atos
necessários à efetivação da naturalização no prazo de 30 (trinta) dias, observado o art.
65.
§ 8º O apátrida reconhecido que não opte pela naturalização imediata terá a
autorização de residência outorgada em caráter definitivo.

§ 9º Caberá recurso contra decisão negativa de reconhecimento da condição de apátrida.

§ 10. Subsistindo a denegação do reconhecimento da condição de apátrida, é vedada a


devolução do indivíduo para país onde sua vida, integridade pessoal ou liberdade estejam
em risco.

§ 11. Será reconhecido o direito de reunião familiar a partir do reconhecimento da


condição de apátrida.

§ 12. Implica perda da proteção conferida por esta Lei:

I - a renúncia;

II - a prova da falsidade dos fundamentos invocados para o reconhecimento da condição


de apátrida; ou

III - a existência de fatos que, se fossem conhecidos por ocasião do reconhecimento,


teriam ensejado decisão negativa.

III. DIREITO DE ASILO


III.1. Instrumentos Jurídicos
Consolidado pós-Revolução Francesa, asilo é a proteção concedida por um Estado no seu
território à revelia da jurisdição do país de origem, baseado no princípio do non-refoulement e que se
caracteriza pelo gozo dos direitos dos refugiados, reconhecidos pelo direito internacional de asilo,
e que, normalmente, é concedido sem limite de tempo (ilimitado).

O princípio do non-refoulement é aquele segundo o qual nenhum refugiado será expulso ou


reenviado para um país onde sua vida ou liberdade estejam ameaçados, independente de ter sido
ou não formalmente reconhecido seu estatuto de refugiado.

A concessão do asilo reflete uma manifestação soberana do Estado no sentido de proteger


o estrangeiro que esteja sendo perseguido por crimes políticos, delitos de opinião e crimes que não
sejam de natureza penal comum.

Dentre os instrumentos internacionais que preveem o direito de asilo, destacam-se:


1. Declaração Universal dos Direitos dos Homens (1948), Convenção Relativa aos
Direitos dos Refugiados (1951) e Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados (1967),
aprovados pela ONU.
2. Convenção sobre Asilo Diplomático (1954) e Convenção sobre Asilo Territorial
(1954), aprovados pela OEA.
3. Convenção de Dublin (1990), que estabelece hierarquia de critérios do Estado-membro
responsável pela análise de um pedido de asilo na Europa; Resolução sobre Pedidos de
Asilo Manifestadamente Infundados (1992), aprovados pela UE.
4. No âmbito interno, a CF anuncia que o Brasil se rege em suas relações internacionais
pelo princípio da concessão de asilo político (art. 4, X). A matéria também é regulada
pela Lei n. 9.474/97 que define mecanismos para implementação do Estatuto dos
Refugiados (1951) e pela Seção III, Capítulo III da Lei de Migração.

III.2. Asilo Político

A Lei de Migração classifica o asilo diplomático e territorial como sub-espécies do asilo


político (art. 27), considerado como instrumento de proteção à pessoa.

III.2.1. Asilo Territorial

Asilo Territorial é o acolhimento pelo Estado de estrangeiro perseguido por motivo de


dissidência política, delitos de opinião e crimes que não sejam de natureza comum. Consigna-se
no direito de permite que o Estado exerça plenos poderes em seu território tendo jurisdição
exclusiva, posto que todo Estado, no exercício de sua soberania, pode admitir dentro de seu
território as pessoas que julgar convenientes, sem que outro Estado possa fazer qualquer
reclamação, conforme prescreve o Decreto n. 9.199/97:

Art. 109. O asilo político poderá ser:


II - territorial, quando solicitado em qualquer ponto do território nacional, perante
unidade da Polícia Federal ou representação regional do Ministério das Relações
Exteriores.
§ 2º O pedido de asilo territorial recebido pelas unidades da Polícia Federal será
encaminhado ao Ministério das Relações Exteriores.
§ 3º O ingresso irregular no território nacional não constituirá impedimento para a
solicitação de asilo e para a aplicação dos mecanismos de proteção, hipótese em que não
incidirá o disposto no art. 307, desde que, ao final do procedimento, a condição de
asilado seja reconhecida.

III.2.2. Diplomático
É forma provisória de asilo político só podendo ser concedido em caso de urgência pelo
tempo estritamente necessário para que o asilado deixe o país com garantias concedidas pelo
governo do Estado territorial a fim de não correr perigo de vida, de sua liberdade ou integridade
pessoal ou para que o asilado seja posto em segurança.

Não há reciprocidade de tratamento dos Estados: é concedido aos estrangeiros perseguidos


no seu próprio território, em geral, pela própria representação diplomática onde se circunscreve
sua presença que também como legítima representante jurisdicional de seu estado é competente
para classificar a natureza do delito e os motivos da perseguição.

O asilo é exceção da forma de exceção da plenitude que o Estado exerce sobre seu
território. Ocorre uma ficção jurídica de extraterritorialidade, pela qual há objetos móveis e imóveis
que representam um Estado estrangeiro e a jurisdição do Estado, pelo que uma violação a essas
áreas poderia ser equiparada a uma violação do Estado. Assim, é possível conceder o asilo
diplomático nas missões diplomáticas, acampamentos militares e navio de guerra.

Uma vez adentrado o limite jurídico do Estado, o chefe da missão diplomática requererá
o salvo-conduto, pedido para o Estado persecutor para que o exilado possa se retirar em
condições de segurança do seu território. Assim, o asilo diplomático é forma provisória, urgente e
preliminar do asilo territorial.
Art. 109. O asilo político poderá ser:

I - diplomático, quando solicitado no exterior em legações, navios de guerra e


acampamentos ou aeronaves militares brasileiros;

§ 1º Considera-se legação a sede de toda missão diplomática ordinária e, quando o


número de solicitantes de asilo exceder a capacidade normal dos edifícios, a residência
dos chefes de missão e os locais por eles destinados para esse fim.
Finalmente, pelo direito brasileiro não se concederá asilo a quem tiver cometido: (i) crime
de genocídio; (ii) crime contra a humanidade; (iii) crime de guerra ou (iv) crime de agressão, nos
termos do Estatuto de Roma.

III.3. Caso de Direito de Asilo Haya de la Torre (Caso disponível no Teams)

O político Haya de la Torre, fundador e líder da Alianza Popular Revolucionária


Americana, tentou, na década de 1940, dar um golpe político no Peru, não obtendo sucesso. Pediu
asilo diplomático na embaixada da Colômbia em Lima, o qual foi concedido em 03/01/1949, mas
o governo peruano se recusou a dar o salvo-conduto, sob alegação de que seria autor de crime
comum. A questão, tendo por base a violação da Convenção de Havana sobre Asilo (1928), foi
encaminhada pela Colômbia à CIJ que em 1950 afirmou que não competiria à Colômbia a
caracterização unilateral de um crime político não obrigando, todavia, de entregar o político pois
não poderia ser privada de sua jurisdição sobre a embaixada.

O político ficou 5 anos na embaixada da Colômbia em Lima até ter permissão para sair do
país dirigindo-se até o México. Depois dessa questão, foi aprovado no seio da OEA, duas
convenções celebradas em Caracas:

Convenção sobre Asilo Diplomático (1954) – promulgada pelo Decreto 42.628/57


Convenção sobre Asilo Territorial (1954) – promulgada pelo Decreto 55.929/65

III.4. Situação Jurídica do Refugiado

Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que devido a fundados temores de
perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas,
encontra-se fora de seu país de nacionalidade e que não possa ou não queira acolher-se à proteção
de tal país.
Será reconhecido como refugiado também o apátrida fora de seu país de residência habitual
que não possa ou não queira regressar a ele em função das mesmas circunstâncias.

Será reconhecido como refugiado aquele que devido a grave e generalizada violação de
direitos humanos é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.

Os efeitos desse reconhecimento serão estendidos aos cônjuges, aos ascendentes e


descendentes, bem como dos demais membros do grupo familiar que do refugiado dependerem
economicamente e que se encontrem em território nacional. Se eles estiverem fora do território
brasileiro, o refugiado poderá solicitar ao Conselho Nacional de Refugiados (CONARE), o visto
para ingresso no território brasileiro com base em reunião familiar.

O estrangeiro deverá ter adentrado no território do Estado ao qual pede asilo requerendo
à autoridade competente, no nosso caso, o Ministério da Justiça, que, após informar o ACNUR, e
analisar os fatos que fundamentam o pedido poderá conceder o refúgio mediante termo de
compromisso assinado perante o diretor do departamento de estrangeiro após a sindicâncias que
investigam as causas determinantes do refúgio. A simples solicitação de refúgio suspenderá, até
decisão definitiva, qualquer processo de extradição pendente em fase administrativa ou judicial
baseado nos fatos que fundamentarem sua concessão.

O solicitante de reconhecimento da condição de refugiado receberá o documento


provisório de Registro Nacional Migratório. Concedido o asilo por ato declaratório e devidamente
fundamentado do MJ, procede-se ao registro da Polícia Federal, a qual emite a Cédula de
Identidade do Estrangeiro. Além disso, poderá obter uma Carteira de Trabalho definitiva e, de
acordo com a Resolução Normativa n. 23.2016 do CONARE, o refugiado poderá solicitar junto
ao Departamento de Polícia Federal a emissão de passaporte. Todavia a saída do país sem prévia
comunicação ao Ministérios das Relações Exteriores implicará renúncia ao asilo político.

Os refugiados gozam dos mesmos direitos e deveres dados a quaisquer estrangeiros no


Estado. São assemelhados aos nacionais no que concerne o pagamento de taxa e de impostos, bem
como não poderão ser objeto de expulsão ou extradição, tendo acesso aos programas sociais
governamentais nas mesmas condições dos brasileiros, sendo que sua naturalização deverá ser
facilitada se assim o quiserem.
Conforme art. 112 do Decreto 9.199, compete ao Presidente da República decidir sobre o
pedido de Asilo Político e sobre sua revogação, consultado o Ministro de Estado e das Relações
Exteriores.

IV. MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA DE ESTRANGEIRO


Capítulo V, da Lei de Migração.

Qualquer das medidas de retirada compulsória de estrangeiro será feita para o país de
nacionalidade ou de procedência do migrante ou visitante ou para outro que o aceite. Nos casos
de deportação ou expulsão, o Chefe da Unidade da Polícia Federal poderá representar perante o
juízo da Justiça Federal, respeitados os procedimentos judiciais respeitados os direitos à ampla
defesa e ao devido processo legal.

IV.1. REPATRIAÇÃO

Instituto de devolução voluntária de uma pessoa ao seu local de origem ou de


nacionalidade. É uma medida de retirada compulsória prevista em diversas legislações, inclusive
no art. 49 de nossa Lei de Migração:

Art. 49. A repatriação consiste em medida administrativa de devolução de pessoa em


situação de impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade.

§ 1º Será feita imediata comunicação do ato fundamentado de repatriação à empresa


transportadora e à autoridade consular do país de procedência ou de nacionalidade do
migrante ou do visitante, ou a quem o representa.

§ 2º A Defensoria Pública da União será notificada, preferencialmente por via


eletrônica, no caso do § 4º deste artigo ou quando a repatriação imediata não seja
possível.

§ 3º Condições específicas de repatriação podem ser definidas por regulamento ou


tratado, observados os princípios e as garantias previstos nesta Lei.

§ 4º Não será aplicada medida de repatriação à pessoa em situação de refúgio ou de


apatridia, de fato ou de direito, ao menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou
separado de sua família, exceto nos casos em que se demonstrar favorável para a
garantia de seus direitos ou para a reintegração a sua família de origem, ou a quem
necessite de acolhimento humanitário, nem, em qualquer caso, medida de devolução
para país ou região que possa apresentar risco à vida, à integridade pessoal ou à
liberdade da pessoa.
Nesse sentido, inclui o processo de devolver militares ao seu local de origem, mas também
de emissários diplomáticos, funcionários internacionais, bem como expatriados e imigrantes em
tempo de crise internacional, para além, no caso brasileiro, do estrangeiro que não possua visto
para ingressar no país ou aquele que apresente visto divergente da finalidade pelo qual veio ao
Brasil.

Com a regulamentação da Lei de Migração pelo Decreto n. 9.199 de 2017, algumas


considerações foram adicionadas, como:

IV.2. DEPORTAÇÃO

A deportação é a exclusão do estrangeiro do âmbito territorial do Estado que se encontra


em situação imigratória irregular, pelo fato de ali ter adentrado de forma irregular ou, mesmo tendo
entrado de forma regular, a sua estadia tenha se tornado irregular.

A deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, na qual conste,


expressamente, as irregularidades verificadas e prazo para regularização não inferior a 60 dias,
podendo ser prorrogada por igual período por despacho.

Nesse sentido, a Lei de Migração alterou o prazo do Estatuto do Estrangeiro, ampliando-


o de 8 para no mínimo 60 dias, que só poderá ser reduzido em caso de prática de ato contrário aos
princípios e objetivos dispostos na CF.
Vencido o prazo sem a regularização, a deportação deverá ser executada. Da mesma forma,
a saída voluntaria de pessoa notificada a deixar o país, equivale ao cumprimento da notificação de
deportação.

O procedimento que poderá levar a deportação será instaurado pela Polícia Federal. O ato
conterá o relato do fato motivador da medida e sua fundamentação legal, bem como determinará
a juntada do comprovante da notificação pessoal do deportando, o comprovante da notificação
preferencialmente por meio eletrônico da repartição consular do país de origem do migrante e da
notificação do defensor constituído por deportando para apresentação de defesa no prazo de 10
dias ou da Defensoria Pública da União, na ausência de defensor constituído no prazo de 20 dias;
para além de, caso julgue necessário, tradutor ou intérprete. Além de juntar exames e estudos.

A ausência de manifestação da DPU, desde que prévia e devidamente notificada, não


impedirá a efetivação de deportação.

Caberá recurso com efeito suspensivo da decisão no prazo de 10 dias contados da data de
notificação do deportando. Não se procederá à deportação se essa medida configurar extradição
não admitida pela legislação brasileira. Não poderá ser deportado o indivíduo que seja
juridicamente considerado refugiado ou que esteja tendo seu pedido de asilo analisado pelas
autoridades competentes; nem o estrangeiro que se beneficiar de norma jurídica específica que lhe
conceda ou estenda de direito (como a Lei 11.961 de 2009 que dispôs sobre a residência provisória
de estrangeiro em situação irregular no Brasil).

Hipóteses impeditivas da expulsão poderão ser consideradas de forma extensiva também


para a deportação. Ao contrário do que acontece em diversos países, no Brasil não se admite a
deportação de estrangeiro que esteja casado e tenha filho dependente economicamente.
O deportado poderá retornar ao Brasil, caso sejam cumpridos requisitos básicos como:
obtenção de visto, pagamento de multa e ressarcimento ao tesouro nacional de todas as despesas
realizadas por conta da deportação.
IV.3. EXPULSÃO

Expulsão é medida administrativa de retirada compulsória do estrangeiro por iniciativa do


Estado que se encontra conjugada com o impedimento de reingresso com prazo determinado.
Poderão dar causa à expulsão: a sentença penal condenatória transitada em julgado relativa à prática
de genocídio, crime de guerra, agressão ou contra humanidade nos termos definidos pelo Estatuto
de Roma, bem como crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, considerados
a gravidade e a possibilidade de ressocialização em território nacional

O procedimento terá início com Inquérito Policial de Expulsão será instaurado pela Polícia
Federal de ofício ou por determinação do Ministro de Estado, da Justiça e da Segurança Pública
motivado pelo recebimento por via diplomática a qualquer tempo de sentença definitiva expedida
pelo TPI ou pela existência de sentença penal interna.

O Inquérito terá como resultado a produção de relatório final da pertinência ou não para
a medida de expulsão com levantamento de subsídios para a decisão realizada pelo Ministro da
Justiça e da Segurança Pública acerca da existência de condição de inexpulsabilidade (art. 55),
existência de medidas de ressocialização se houver execução de pena e da gravidade do ilícito penal
cometido.

Assim, o Relatório Final com a recomendação técnica pela efetivação da expulsão conterá
relato do fato motivador da expulsão e a sua fundamentação legal e determinará que seja realizado
de imediato a notificação preferencialmente por meio eletrônico do expulsando, da repartição
consular, do defensor (ou da DPU).

Art. 58. No processo de expulsão serão garantidos o contraditório e a ampla defesa.

§ 1º A Defensoria Pública da União será notificada da instauração de processo de


expulsão, se não houver defensor constituído. (e responderá no prazo de 20 dias)

§ 2º Caberá pedido de reconsideração da decisão sobre a expulsão no prazo de 10 (dez)


dias, a contar da notificação pessoal do expulsando
Iniciado o processo de expulsão, o expulsando será notificado da sua instauração, além da
data e do horário fixados para seu interrogatório. Se não for encontrado, a PF dará publicidade da
instauração do IP de Expulsão no seu sítio eletrônico que será considerada como notificação para
todos os atos do referido procedimento. O expulsando que não se apresentar será considerado
revel e sua defesa caberá à DPU ou a defensor dativo.

O IP será instruído com os seguintes documentos: (i) ato e documentação que


fundamentou sua edição; (ii) cópia da sentença penal condenatória; (iii) certidão de trânsito em
julgado; (iv) documento do juízo de execução penal que ateste se o expulsando é beneficiário de
medidas de ressocialização em cumprimento de penas cominadas ou executadas no território
nacional; (iv) cópia da notificação do defensor, do expulsando e da repartição consular; (v) auto
de qualificação e interrogatório; (vi) defesa técnica apresentada; (vii) termo das diligencias
realizadas; (viii) relatório final; (ix) outros documentos.

A existência de processo de expulsão não impede a saída voluntária do expulsando do país.

Publicado o ato do Ministro da Justiça e da Segurança Pública que dispõe sobre a expulsão
e o prazo determinado de impedimento de reingresso do expulsando ao território nacional, poderá
ser interposto Pedido de Reconsideração no prazo de 10 dias a contar da notificação pessoal.
Indeferido, a PF poderá efetivar o ato expulsório.

Não se procederá a expulsão quando:

Art. 55. Não se procederá à expulsão quando:

I - a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira;

II - o expulsando:

a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou
socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela;

b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma,


reconhecido judicial ou legalmente;

c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde então no
País;

d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de 10 (dez)
anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão;
O Requerimento de Suspensão dos Efeitos e da Revogação da Medida de Expulsão deverá
ter por fundamento a ocorrência de causa de inexpulsabilidade quando não observada ou não
existente no decorrer do processo administrativo, podendo ser apresentada em repartição
diplomática brasileira e será enviado ao Ministro da Justiça. A suspensão da medida impeditiva de
reingresso ficará sujeita à decisão do MJ, bem como a revogação da medida de expulsão.

V. EXTRADIÇÃO
Lei de Migração, arts. 81 a 99.

Conceito
A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro
Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação
criminal definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso.

No direito brasileiro, a extradição não será possível em caso de detentor de nacionalidade


originária ou de naturalizado, esse último desde que o delito objeto do pedido tenha sido cometido
após a obtenção da nacionalidade.

A extradição se justifica por dois motivos: (i) interesse da justiça e (ii) solidariedade dos
Estados com o intuito de manter a ordem social na sociedade internacional.

Versus Transferência de apenado:


Extradição Transferência de Apenado
Ato de entrega de pessoa acusada ou Medida que visa beneficiar os presos
condenada por um ou mais crimes estrangeiros que estão sob a custódia brasileira,
supostamente cometidos no território do país possibilitando o cumprimento da pena no seu
que a reclama país de origem, facilitando sua reintegração
Art. 285. A transferência da pessoa condenada, mecanismo de
cooperação jurídica internacional de natureza humanitária que
visa a contribuir para a reintegração social do beneficiado, poderá
ser concedida quando o pedido for fundamentado em tratado de
que o País faça parte ou houver promessa de reciprocidade de
tratamento (Decreto 9.199/2017)
Dessa forma, a transferência de apenados será aplicada exclusivamente com os países que
o Brasil possua tratado ou que estabeleça uma promessa de reciprocidade e será efetivada
concomitantemente com a sua expulsão.

O Ministério Público Federal já se manifestou a favor da constitucionalidade dos tratados


de transferência de presos que podem ser formalizados porque não sujeitam a priori ao controle
singular de uma homologação de sentença estrangeira.

Dentre os tratados, importante mencionar a Convenção Interamericana sobre o


Cumprimento de Sentenças Penais no Exterior, CPLP, Acordo de Transferências das Pessoas
Condenadas entre os países do Mercosul (Decreto 9.566 de 2018). Como os acordos exigem
reciprocidade de tratamento, os brasileiros também possuem o mesmo tratamento conferido pelo
Brasil aos apenados de Estados estrangeiros.

O DRCI é o órgão responsável pelo trânsito de todos os processos administrativos para


fim de transferência de pessoas condenadas e é ele quem realiza a análise da admissibilidade do
pedido. Não poderá haver a impunidade do condenado em nenhum caso.

Transferência Passiva
A transferência passiva ocorre quando a pessoa condenada pela Justiça brasileira solicitar
ou concordar com a transferência para o seu país de nacionalidade ou para o país em que tiver
residência habitual ou vínculo pessoal para cumprir o restante da pena. É instruída com:
consentimento por escrito do apenado; documentos comprobatórios da nacionalidade ou da
residência; cópia da decisão condenatória; certidão de trânsito em julgado; certidão que conste a
duração da pena restante a cumprir; textos legais brasileiros aplicáveis ao delito; atestado de
conduta carcerária e outros elementos de interesse para o cumprimento da pena.

O Estado da condenação deverá enviar ao DRCI os documentos traduzidos em português


(se previsto no tratado). O Estado remetente (aquele que condenou o preso) mantém a
competência exclusiva para sentenças proferidas em seus tribunais, as condenações por eles
impostas e quaisquer processos destinados a rever, modificar ou revogar essa sentença.
Por outro lado, os benefícios decorrentes da execução da pena, como a progressão de
regime e o livramento condicional, deverão ser apreciados pelo Estado recebedor. Cabe ao Estado
remetente a concessão do indulto, da graça e da anistia.

Os acordos poderão sujeitar a transferência da pessoa condenada à condição de que tais


benefícios possam ser concedidos no Estado recebedor apenas com o consentimento do Estado
remetente.

Transferência Ativa

A transferência ativa ocorre quando a pessoa condenada pela Justiça do Estado estrangeiro
solicitar ou concordar com a transferência para o País, por possuir nacionalidade brasileira ou
residência habitual ou vínculo pessoal no território nacional, para cumprir o restante da pena.

É instruída com: consentimento por escrito do apenado; informação sobre o local mais
próximo ao seu meio social e familiar; cópia da decisão condenatória; certidão de trânsito em
julgado; certidão que conste a duração da pena restante a cumprir; textos legais do Estado
remetente aplicáveis ao delito; atestado de conduta carcerária e outros elementos de interesse para
o cumprimento da pena previstos em tratado.

Constatada a possibilidade de transferência, o DRCI solicitará ao juízo competente da


Justiça Federal sobre o pedido de transferência recebido, para que a vaga em estabelecimento
prisional onde a pessoa condenada cumprirá o restante da pena no território nacional seja
providenciada, devendo essa ser autorizada pelo Secretário Nacional de Justiça. Assim, a execução
penal passa a ser de competência da Justiça Federal (não mais da Justiça Estadual). As despesas
correm em prejuízo do Estado recebedor, não se permitindo a transferência de apenados quando
inadmitida a extradição.

Natureza Jurídica

A extradição é instrumento processual de cooperação internacional, o qual é considerado


misto por haver interferência dos poderes executivo e judiciário. Está presente tanto no âmbito
do DIP quanto no âmbito do Direito Penal Internacional.
Fundamentos Jurídicos

1. Tratado de Extradição

A Convenção de Direito Internacional Privado promulgada pelo Decreto n. 18.861 de 1929


dedicou todo seu Capítulo III a extradição servindo seus artigos como elementos norteadores
sobre a matéria em ordenamento pátria.

2. Promessa de Reciprocidade

Ato pelo qual um Estado que requer a extradição se compromete a dar tratamento análogo
a uma situação posterior semelhante àquela a qual se efetuou o pedido de extradição. A promessa
de extradição é feita de caso a caso e opera em sentido estrito, podendo ser acatada ou rejeito pelo
poder competente. Caso rejeitada, não se admitirá possibilidade de interposição de Ação de
Responsabilidade Internacional.

A competência para análise da promessa é exclusiva do Poder Executivo. Não há


necessidade de sua aprovação pelo legislativo, tornando-se inclusive mais simples que os tratados,
pelo que preferem os Estados recorrer a esse instituto, que é favorável também pela análise
autônoma e a impossibilidade de interposição de Ação de Responsabilidade Internacional.

A Lei de Migração instituiu, todavia, dispositivo pelo qual em havendo previsão no tratado
de extradição de regras referentes à preferência no pedido de extradição, essas prevalecerão sobre
às estabelecidas pela própria lei:
Art. 85. Quando mais de um Estado requerer a extradição da mesma pessoa, pelo
mesmo fato, terá preferência o pedido daquele em cujo território a infração foi cometida.
§ 3º Havendo tratado com algum dos Estados requerentes, prevalecerão suas normas
no que diz respeito à preferência de que trata este artigo (v.g. Tratado de Extradição
Brasil-Espanha)

Princípios fundamentais

a) Aut dedere, aut judicare/punire (ou se dá ou se julga):


Desde que haja um tratado ou tenha sido aceita a promessa de reciprocidade, o Estado que
analisa o processo de extradição se compromete, caso negue o pedido, a julgar a pessoa
extraditanda como se ela tivesse cometido o delito dentro de seu próprio território, i.e., de acordo
com o direito interno. Tal princípio abrange inclusive nacionais brasileiros, como adverte o art. 7º
do CP, pelo qual deliberou o STF:

O não cumprimento desse princípio resultou ainda no Caso Habre (CIJ, Bélgica v. Senegal,
2009). Em sua decisão, a Corte afirmou que competia ao Senegal a obrigação de processar ou
extraditar. Caso contrário, recairá em violação às disposições para a punição e prevenção da tortura,
devendo imediatamente submeter Habre ao juízo das autoridades competentes ou extraditá-lo.

b) Dupla incriminação:

Nesse sentido, o crime objeto do pedido de extradição deverá estar previsto na legislação
dos dois Estados, isto é, somente há extradição para o julgamento dos delitos que assim forem
considerados como correspondentes no país extraditando. A correspondência não está relacionada
à denominação do delito ou à sua pena, mas às suas características, estando previsto da seguinte
forma:
c) Ne bis in idem:
Não ocorrerá a extradição de pessoa por crime que já tiver sido julgada por tribunal
nacional e considerada culpada ou inocente, bem como já tenha cumprido pena no estado passivo
por decisão transitada em julgada, como podemos identificar no seguinte tratado:

d) Especialidade (Efeito Limitativo da Extradição):


O extraditando só será processado e julgado pelos crimes previstos no pedido. Se
posteriormente, verificar-se que ele cometeu outros delitos (até mesmo mais graves) não poderá
ser julgado por este, pois não fizeram parte do pedido de extradição.

Todavia, tal pedido não é absoluto, possuindo duas exceções:

- Extradição supletiva (extensão da extradição): acontece quando durante o curso do


processo de extradição, verificando-se que o extraditando cometeu outros crimes que
não foram descritos no pedido de extradição, se requer ao Estado passivo a permissão
para julgá-lo também por esses outros delitos.

- Purga da Extradição: acontece quando o extraditando comete outros crimes


descobertos após o pedido de extração, situação que, depois de ser julgada e condenada
e cumprir sua pena, essa deverá retirar-se do Estado dentro de um período
determinado (geralmente de 1 a 6 meses). Caso contrário, poderá ser julgada por esses
novos crimes sem que haja violação ao Acordo de Extradição. O mesmo ocorre
quando a pessoa cumpre a pena se muda para outro Estado e depois retorna
espontaneamente ao seu país como previsto no art. 14, “b” e “c” do Tratado de
Extradição Brasil-China:
-

Classificações

Ativa (sob o ponto de vista do autor): a extradição ativa ocorre quando o Estado
brasileiro requer a Estado Estrangeiro a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal
definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso.

Passiva: a extradição passiva ocorre quando o Estado estrangeiro solicita ao Estado


brasileiro a entrega de pessoa que se encontre no território nacional sobre quem recaia condenação
criminal definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso.

Processual: tem como objetivo processar o indivíduo no Estado que requer a extradição;
enquanto a Executiva visa o cumprimento da pena pelo extraditando. Nesse sentido, Rezek
afirma que, em sua maioria, as extradições deferidas pelo BR enquadram-se no modelo instrutório,
caso em que a lei exige a prisão do extraditando autorizada por juiz, tribunal ou autoridade
competente do Estado requerente.

Convencional deriva de tratado ou convenção internacional. Extraconvencional baseia-


se na promessa de reciprocidade.

De fato: ocorre a entrega informal da pessoa foragida (comum na polícia entre fronteiras).
De direito: realizada conforme à norma jurídica previamente estabelecidas por um tratado ou
promessa de reciprocidade.

Em trânsito: passagem inocente do extraditando para o território de um terceiro estado


sob sua custódia, conforme art. 99 da Lei da Migração. Condicional: concedida sob o
compromisso do extraditando retornar ao Estado passivo, caso ocorra sua efetiva condenação.
Espontânea: próprio Estado passivo se oferece para entregar o estrangeiro.
Consensual: concordância do extraditando com o pedido de extradição (art. 87 da Lei da
Migração acelera sua efetivação). Indireta: consiste em expediente fraudulento do Estado
interessado no intuito de obter mais facilmente a extradição (art. 53 da Lei de Migração).

VI. PROCESSO DE EXTRADIÇÃO

Regras Processuais

Com relação às regras processuais, prevalecem as regras do Estado ativo, observadas


algumas condições estabelecidas no art. 83 da Lei de Migração, quais sejam: (i) territorialidade: ter
sido o crime cometido no território do Estado requerente (no todo ou em parte) ou ser aplicável
à jurisdição ao extraditando, recaindo a preferência sobre o Estado onde o delito tenha sido
praticado; (ii) processo investigatório; (iii) condenação à pena privativa de liberdade pelo Estado
requerente.

Admite-se a extensão do princípio da jurisdição territorial desde que ele esteja previsto
quando da celebração do tratado de extradição e atenda a requisitos específicos.

- Preferência
Quando mais de um Estado requer a extradição de uma mesma pessoa pelo mesmo fato
terá preferência o pedido daquele em cujo território o delito foi cometido.
Nos casos de crimes diversos praticados em diversos Estados e, tendo sido respeitada a
regra da territorialidade, todos são aptos para pedir a extradição. Assim, resolve a Lei de Migração,
estabelecendo que, nesses casos, tem preferência, em ordem sequencial:

O pedido do Estado em que houver sido cometido o delito mais grave. Caso tenham o
mesmo nível de gravidade, tem preferência o Estado que tiver feito primeiro o pedido de
extradição. Caso sejam simultâneas, verifica-se a nacionalidade do extraditando, tendo preferência
o Estado de sua nacionalidade. Caso não possua nacionalidade ou possua múltiplas, o critério é
seu domicílio. Veja-se:
Art. 85. Quando mais de um Estado requerer a extradição da mesma pessoa, pelo
mesmo fato, terá preferência o pedido daquele em cujo território a infração foi cometida.

§ 1º Em caso de crimes diversos, terá preferência, sucessivamente:

I - o Estado requerente em cujo território tenha sido cometido o crime mais grave,
segundo a lei brasileira;

II - o Estado que em primeiro lugar tenha pedido a entrega do extraditando, se a


gravidade dos crimes for idêntica;

III - o Estado de origem, ou, em sua falta, o domiciliar do extraditando, se os pedidos


forem simultâneos.

§ 2º Nos casos não previstos nesta Lei, o órgão competente do Poder Executivo decidirá
sobre a preferência do pedido, priorizando o Estado requerente que mantiver tratado
de extradição com o Brasil.

Contudo, essa regra geral padece pela regra especial prevista no §3º do mesmo dispositivo,
prevalecendo as regras estabelecidas pelo tratado do Brasil com o estado requerente se assim o
tratado dispuser (como é o caso Brasil-Espanha):

§ 3º Havendo tratado com algum dos Estados requerentes, prevalecerão suas normas
no que diz respeito à preferência de que trata este artigo.

- Admissibilidade
Deve-se verificar, inicialmente, em qual sistema jurídico foi praticado o delito. Para o civil
law, em geral, são passíveis de extradição os crimes com penas superiores a um ano, com a exceção
brasileira consubstancia na Lei de Migração, no art. 85, IV, que exige pena de prisão superior a
dois anos.
Para o common law, todos os crimes passíveis de extradição estão numerados no corpo do
texto ou em um anexo do tratado de extradição ou promessa de reciprocidade.

Art. 83. São condições para concessão da extradição:

I - ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao


extraditando as leis penais desse Estado; e

II - estar o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal ou


ter sido condenado pelas autoridades judiciárias do Estado requerente a pena
privativa de liberdade.

- Inadimissibilidade
Comentado [NGA1]: Ou naturalizado, caso a prática de
delito tenha se dado antes da sua naturalização ou tratar-se de
Dispostas no art. 82 da Lei de Migração, que, conjugada com diversas normas, inclusive envolvimento em prática de tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins.
constitucionais, não admite a extradição, caso:
Nesse sentido, tal regra que é a prática geral de boa parte dos
Estados da Sociedade Internacional tem sido alterada no
Art. 82. Não se concederá a extradição quando: sentido de sua admissão quando houver reciprocidade.

Estatuto de Roma (TPI) cria a possibilidade tanto da


I - o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato; extradição de nacional quanto da aplicação de prisão
perpétua. Dessa forma, a tese de inconstitucionalidade dessas
II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado cláusulas ainda é objeto de discussão.
requerente; Dupla-Incriminação Súmula 421 do STF: o fato de ser casado com cidadão
brasileiro ou ter filho menor dependente economicamente não
III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao é fator impeditivo da extradição.
extraditando Ubiquidade; Comentado [NGA2]: A não ser quando o fato constituir
principalmente infração à lei penal comum ou quando o crime
IV - a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 (dois) anos; comum conexo ao delito de opinião constituir o fato
principal.

V - o extraditando estiver respondendo a processo Litispendência ou já houver sido Tratado de Extradição Brasil-Israel numerou em seu art. 5º,
condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido Non II, uma série de delitos que não são considerados crimes
políticos e pelo qual ambos os Estados tem a obrigação de
bis in idem – coisa julgada; extraditar por força de tratado multilateral:

VI - a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do - homicídio doloso/culposo
-lesão corporal grave
Estado requerente – Extinção de Punibilidade; - cárcere privado, rapto ou sequestro
- estupro ou outros crimes violentos e coercitivos de natureza
VII - o fato constituir crime político ou de opinião; sexual
- posse de arma, substâncias explosivas ou destrutivas e a
utilização delas com a intenção de ameaçar a vida humana e
VIII - o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou causar sérios danos à propriedade
juízo de exceção; ou - danos à propriedade com a intenção de pôr vidas em perigo.

O STF também poderá deixar de considerar crime político o


IX - o extraditando for beneficiário de refúgio, nos termos da Lei nº 9.474, de 22 de atentado contra Chefe de Estado ou quaisquer autoridades,
julho de 199, ou de asilo territorial. bem como crime contra a humanidade, guerra, genocídio e
terrorismo.
Procedimento
Lei de Migração, art. 85, § 2º ao art. 99 descreve todo o procedimento,
esquematizado abaixo.

Instaurado por escrito e por via diplomática (ou por agente consular, por exceção)

Procedimento Extradição Ativa (Brasil como requerente)


Decreto 9.199/2017 art. 278 a 280

A extradição ativa ocorre quando o Estado brasileiro requer a Estado Estrangeiro a entrega
de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de processo
penal em curso.

Dessa forma, assim ocorre:

Procedimento Extradição Passiva (Brasil como requerido)


Decreto 9.199/2017, art. 266 a 277.
Regimento Interno STF (análise formal do pedido): art. 207 a 214
Único contraditório admitido é em relação à identidade do extraditando
A extradição passiva ocorre quando o Estado estrangeiro solicita ao Estado brasileiro a
entrega de pessoa que se encontre no território nacional sobre quem recaia condenação criminal
definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso.
Segundo Rezek, a natureza do pronunciamento judiciário entre nós está próxima do padrão
britânico, pois, se o Estado requerente se apoia em um tratado que o vincule ao Brasil, o papel do
Governo é secundário e estritamente executivo: prender o extraditando, encaminhar os papéis ao
STF e, se cabível, consumar materialmente a extradição entregando o acusado à autoridade
estrangeira. Por outro lado, se o Governo requerente se apoia em uma promessa de reciprocidade,
o Governo deve usar seu poder de aceitação ou recusa da promessa antes de qualquer
envolvimento do judiciário.

O pronunciamento da Corte tem caráter decisório incontornável: o STF concede ou nega


a extradição. Concedida, nada mais poderia frustar a extradição se não a omissão do Estado
requerente na hora de dar as garantias condicionantes da entrega ou sua negligência quanto à
necessária retirada do extraditando do território brasileiro no prazo legal de 60 dias.

Contrariando tal entendimento, em decisão recente na Extradição n. 1.085, Cesare Battisti,


firmou-se jurisprudência no sentido de não haver obrigatoriedade de o Presidente, em casos de
extradição, cumprir a decisão do STF e entregar o extraditando ao Estado ativo

Pedido de Extradição
- Indeferimento

Caso haja o indeferimento do pedido de extradição em fase judicial, o Governo requerente


será notificado por nota diplomática pelo Governo do Estado que indeferiu.
Se o indeferimento foi pelo fato de o Estado ativo não ter conseguido demonstrar
efetivamente a existência de crime, sua autoria ou houver a presença de uma das causas impeditivas
da extradição, o extraditando será colocado em liberdade e não poderá ser feito novo pedido de
extradição com base no mesmo fato, mesmo que se obtenham novas provas.

Se a parte requerida indeferir a extradição somente com base na nacionalidade deverá, a


pedido da parte requerente, submeter o caso às autoridades competentes para que considerem a
possibilidade de persecução penal (ou dá ou julga).

No caso de se tratar de pessoa condenada, a parte requerida poderá, se permitido por suas
leis, executar, de acordo com elas, a condenação e a pena impostas à pessoa na parte requerente.

- Deferimento

Procedente o pedido e transitado em julgado a decisão que concede a extradição, o


Ministério da Justiça avaliará se o estrangeiro cumpre os requisitos para ser extraditado. Se assim
entender, comunica-se por nota diplomática o Estado requerente que no prazo de 60 dias deverá
retirar o extraditando do território do Estado passivo, acordada a entrega, data e local. A parte
requerida arcará com os custos do processo em seu território, enquanto as despesas de transporte
e custos de trânsito correrão à conta da parte requerente.

Caso não se proceda dessa forma, será o extraditando posto em liberdade e o Brasil, na
condição de país requerido, não será obrigado a detê-lo novamente em razão de sua extradição.

Elabora-se um múltiplo compromisso que poderá ser assumido pelo Chefe da Nação
diplomática do Estado requerente junto ao Chefe do Estado requerido. Tal instrumento conterá
cláusulas que reafirmam os princípios relativos à extradição, expressos no art. 96 da Lei de
Migração: irretroatividade + especialidade, detração, converter pena de morte ou prisão perpétua
em PPL com prazo máximo de 30 anos, vedar a reextradição, não considerar motivo político para
agravar a pena e não submeter o extraditando à tortura.

Decreto 9.199 de 2017 inovou e passou a exigir um compromisso prévio do Estado


requerente para que se possa inclusive admiti-lo, todavia, não encontramos decisões do STF no
sentido de haver necessidade expressa de sua apresentação já no ato de formalização do pedido.
A entrega do extraditando de acordo com as leis brasileiras e respeitada o direito de terceiro
será feita com os instrumentos e objeto do crime encontrados em seu poder.

Quando o extraditando tiver sendo processado ou tiver sido condenado no Brasil por
crime punível com pena privativa de liberdade, a extradição será executada somente depois da
conclusão do processo ou do cumprimento da pena, ressalvadas as hipóteses de liberação
antecipada pelo PJ e de determinação de transferência do apenado.

O extraditando que, após a entrega ao requerente, escapar da Justiça e refugiar-se no Brasil


ou por ele transitar será detido mediante pedido feito diretamente por via diplomática ou pela
Interpol e novamente entregue sem outras formalidades.

Não poderá ser feito novo pedido de extradição da pessoa, caso se altere norma interna
que tenha impossibilitado a assinatura do múltiplo compromisso, quando da concessão da
extradição.

Você também pode gostar