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Estabilidade Global de Estruturas Reticuladas em Concreto Pré-

Moldado: Influência da ligação pilar-fundação


Global Stability of Precast Concrete Framed Structures with semi-rigid column-foundation
connection

Daniel de Lima Araújo (1); Adrianne Carvalho de Araújo (2); Marcelo de Araújo Ferreira (3)

(1) Professor Doutor, Programa de Pós Graduação em Geotecnia e Construção Civil da EEC/UFG
(2) Mestranda, Programa de Pós Graduação em Geotecnia e Construção Civil da EEC/UFG
(3) Professor Doutor, Programa de Pós Graduação em Construção Civil da UFSCar
Escola de Engenharia Civil - UFG, Praça Universitária, s/n, Setor Universitário. Goiânia – GO. CEP: 74605-
220. E-mail: [email protected]

Resumo
Nos sistemas estruturais em esqueleto, a estabilidade global é grandemente influenciada pela resistência e
rigidez à flexão das ligações viga-pilar. A crescente demanda por sistemas pré-moldados para múltiplos
pavimentos requer um maior controle sobre o projeto e a execução das ligações. Todavia, a prática corrente
de projeto ainda lança mão de considerações bastante simplificadas para as ligações, as quais são
idealizadas como perfeitamente articuladas ou rígidas, mas que apresentam quase sempre comportamento
semi-rígido. Por esta razão, nas últimas décadas, uma das principais ênfases de pesquisa nas estruturas
metálicas e nas estruturas pré-moldadas de concreto tem sido a caracterização do comportamento das
ligações viga-pilar, seus mecanismos internos e seus efeitos no comportamento global da estrutura. No
Brasil, a NBR 6118 define claramente os critérios e procedimentos para a análise da estabilidade global em
estruturas de concreto moldadas no local. Trabalhos recentes têm demonstrado que esses critérios também
podem ser aplicados às estruturas em concreto pré-moldado com ligações semi-rígidas. Em todos os
estudos realizados até o momento, entretanto, a ligação dos pilares com a fundação tem sido admitida
rígida, o que nem sempre é verdade em função do tipo de fundação empregada e da composição do solo.
Este trabalho tem como objetivo apresentar simulações da estabilidade global de pórticos pré-moldados de
concreto com diferentes números de pavimentos, considerando tanto a ligação viga-pilar quanto a ligação
pilar-fundação com comportamento semi-rígido. Dos resultados preliminares, verificou-se forte influência da
rigidez pilar-fundação na estabilidade global.
Palavra-Chave: concreto pré-moldado, ligação pilar-fundação, estabilidade global

Abstract
The skeletal precast structure is strongly affected by the behavior of its beam-column connections. In this
type of structure, the lateral stiffness depends on the conjunction performance of beams and columns. The
increasing application of the multi-storey precast structures requires greater control on the design and
execution of the connections. Many connections design was made using simplified models such as pined or
fully rigid connection. However the beam-column connection commonly shows semi-rigid behavior. Then, on
last decade the main objective of the steel and precast structures research was describe the beam-column
behavior, its internal mechanisms and its influence on the global stability of the structures. The Brazilian
standard NBR 6118 shows the procedure by global stability analysis of the cast in place structures. Recent
papers show that this procedure can be applied to analyze the global stability of the precast concrete framed
structures with semi-rigid connection. However, on all analysis carried out the column-foundation connection
was considered fully rigid, which is not true because this behavior depend on the foundation type and the soil
composition. This paper presents numerical examples with structural analysis of a multi-storey precast
concrete frame, wherein the effect of the semi-rigid action of beam-column connections as much as the
column-foundation connections on the global behavior of the frame is considered. The preliminary results
show that the global stability is strongly affected by the stiffness of the column-foundation connection.
Keywords: precast structure, beam-column connection, global stability
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1 Introdução

A estabilidade global das estruturas, seja em concreto moldado no local ou pré-moldado,


deve ser avaliada conforme a norma NBR 6118 (ABNT, 2003). Os métodos mais comuns
são: o parâmetro α, o coeficiente γz e o processo P-Δ.

As estruturas em concreto pré-moldado diferem das estruturas de concreto moldado no


local por apresentarem na fase de projeto uma etapa de detalhamento das ligações.
Semelhante às estruturas metálicas, as estruturas pré-moldadas requerem um cuidado
especial na parte de ligações. Estas, normalmente, são semi-rígidas, o que afeta
diretamente a estabilidade global da estrutura, isto é, quanto menor for a rigidez da
ligação viga-pilar maiores serão os deslocamentos horizontais e, consequentemente,
maiores serão os esforços de 2º ordem na estrutura.

2 Efeitos de 2º ordem

A análise dos efeitos de 2º ordem em uma estrutura depende de fatores como a não
linearidade física (NLF) e a não linearidade geométrica (NLG). A NLF está relacionada
com as propriedades do material, e, no caso do concreto, se deve à formação e a
abertura de fissuras na seção transversal. A NLG compreende a análise da estrutura na
situação deformada e processos como P-Δ ou outros que empregam a matriz de rigidez
da estrutura na posição deformada servem para esta análise (Lima, 2001).

Segundo a norma brasileira de concreto NBR 6118 (ABNT,2003), uma estrutura é


considerada como tendo nós fixos no dimensionamento quando os efeitos de 2º ordem
não ultrapassam 10% dos esforços de 1º ordem. Caso contrário, a estrutura apresenta
nós móveis. Existem dois procedimentos simplificados para avaliar a deslocabilidade dos
nós das estruturas e são eles: parâmetro de instabilidade α e o coeficiente γz.

Na análise dos efeitos de 2º ordem nas estruturas de nós móveis deve estar incluída a
influência da NLF e da NLG. Existem três maneiras de calcular os esforços de 2º ordem
em estruturas de nós móveis:

• Utilizar o parâmetro γz , quando γz ≤ 1,3, majorando os esforços de 1º ordem por


0,95⋅γz;
• Processo P-Δ e consideração das NLF e NLG;
• Analisar a NLG com modificação na matriz de rigidez da estrutura e NLF com
diagrama de momento-curvatura de cada seção.

A NBR 6118 menciona que a rigidez dos elementos que compõem a estrutura, quando da
análise da estabilidade global, deve ser avaliada de forma aproximada como:

- lajes (EI )sec = 0,3 ⋅ Eci ⋅ I c

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⎧(EI )sec = 0,4 ⋅ Eci ⋅ I c para As ' ≠ As
- vigas ⎨
⎩(EI )sec = 0,5 ⋅ Eci ⋅ I c para As ' = As
- pilares (EI )sec = 0,8 ⋅ Eci ⋅ I c

sendo:
(EI)sec – rigidez de elementos estruturais;
Eci – módulo de elasticidade ou módulo de deformação inicial do concreto;
Ic – momento de inércia da seção de concreto;
As’ – área da seção da armadura longitudinal de compressão;
As – área da seção transversal da armadura longitudinal de tração;
fck – resistência característica à compressão do concreto.

Para estruturas contraventadas por vigas e pilares, admite-se a utilização das equações:

(EI )sec = 0,7 ⋅ Eci I c (Equação 1)


Eci = 5600 ⋅ f ck
(Equação 2)

Essa norma permite utilizar a Equação (2) para estimar o módulo de elasticidade quando
não existirem dados para o concreto aos 28 dias, sendo Eci e fck em MPa.

2.1 Não linearidade física

Segundo Pinto (1997), os deslocamentos horizontais da estrutura de uma edificação


devem ser avaliados na configuração final e são afetados pela rigidez dos elementos. Por
meio de métodos incrementais e interativos, avalia-se a estrutura e altera-se a rigidez
conforme a relação constitutiva do material e a disposição da armadura (Pinto, 1997).

Devido à complexidade dessa análise, emprega-se uma rigidez reduzida para o cálculo da
NLF (EIef). Neste caso, o efeito da fissuração do concreto na rigidez da estrutura é
avaliado de forma indireta pelo uso de uma rigidez efetiva à flexão (EIef) definida como
uma fração da rigidez bruta (EcIg). Em Pinto (1997) são apresentados resultados obtidos
para uma viga T submetida a momentos devido a carregamento crescente (gravitacional,
lateral e combinação de ambos) na qual é avaliada a relação entre a rigidez efetiva à
flexão (EIef) e a rigidez bruta (EcIg). Nesta análise, à medida que o carregamento cresce a
relação EIef/EcIg tende ao valor 0,4 para vigas. Quando há força normal atuando,
simulando os pilares, essa relação tende ao valor 0,8 (Figura 1).

Pinto (1997) utilizou o programa LUSAS, baseado no método dos elementos finitos, para
análise da NLF do concreto. O estudo buscou verificar o efeito da NLF na deformação de
vigas, pilares e de um pórtico plano de concreto armado de 13 pavimentos. Os resultados
da relação entre a rigidez efetiva à flexão pela rigidez bruta (EIef/EcIg) e o momento de
cálculo pelo momento de ruptura (Md/Mdrup) para vigas biapoiadas e biengastadas são
apresentados em Pinto (1997). O autor também observou que a relação EIef/EcIg tende
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para 0,4 na viga biapoiada e para 0,6 na viga biengastada. Em uma situação intermediária
entre a viga biapoiada e a viga biengastada, situação usual de vigas de edifícios de
concreto armado, pode-se admitir um valor médio para a rigidez efetiva à flexão (EIef)
igual a aproximadamente 0,55 da rigidez bruta (EcIg).

a) gravitacionais b) laterais c) combinação de ambos os


carregamentos
p ⋅l2 1
η= ⋅
12 M n
sendo:
η - quociente entre o momento de engaste perfeito e o momento nominal resistido pela viga (Mn);
p – carga atuante na viga;
l – comprimento nominal da viga;
μ - quociente entre o momento na extremidade devido ao carregamento lateral e o momento nominal resistido
pela viga.

Figura 1 – Variação de rigidez para vigas T com carregamento crescente (HAGE; MCGREGOR (1974) apud
PINTO (1997)).

Para análise da rigidez efetiva de pilares, o modelo usado por Pinto (1997) considerou
esforços de flexo-compressão como mostrado na Figura 2a. Para valores altos da relação
μd/νd, o valor da relação EIef/ EcIg diminui, o que mostra a influência do momento fletor na
fissuração quando este é maior que o esforço normal. Já para valores da relação μd/νd
baixos, a relação EIef/ EcIg aumenta, mostrando o efeito favorável do esforço normal na
redução da fissuração do concreto. As equações de dimensionamento são:
Nd
νd = (Equação 3)
Ac ⋅ f cd
Md
μd = (Equação 4)
Ac ⋅ f cd ⋅ d

sendo:
Nd – esforço normal de cálculo;
Ac – área da seção bruta de concreto;
fcd – resistência a compressão de cálculo de concreto;
μd – momento fletor adimensional de cálculo;
Md – momento fletor de cálculo;
νd – esforço normal adimensional de cálculo.

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Os valores obtidos por Pinto (1997) para a rigidez efetiva à flexão de pilares variaram de
0,72 a 1,26, admitindo-se um valor médio de EcIef = 0,80 EcIg (Pinto, 1997).

O pórtico analisado por Pinto (1997), conforme mostrado na Figura 2b, também foi
modelado no programa LUSAS com variações de inércia de vigas e pilares. As inércias
efetivas à flexão que mais se aproximaram da análise de primeira ordem realizada foram
EIef = 0,60 EcIg para vigas e EIef = 1,00 EcIg para pilares. O autor concluiu o estudo
sugerindo o uso de EIef = 0,50 EcIg para as vigas e EIef = 0,80 EcIg para os pilares.

a) pilar modelo b) pórtico modelo

Figura 2 – Modelos de análise para pilar e pórtico (PINTO, 1997).

2.2 Não linearidade geométrica


A não linearidade geométrica (NLG) está relacionada à mudança de configuração da
estrutura da posição indeformada para a deformada. Segundo a NBR 6118, a
classificação do grau de mobilidade da estrutura pode ser em nós fixos ou nós móveis.
Uma estrutura é considerada com nós fixos quando tem deslocamentos horizontais
pequenos e os efeitos globais de 2º ordem são menores ou iguais a 10% dos efeitos de 1º
ordem, sendo o contrário para nós móveis. Os efeitos de 2º ordem podem ser avaliados
pelos parâmetros α, coeficiente γz e processo P-Δ.

a) Processo P-Δ

O processo P-Δ consiste em realizar interações sucessivas entre deslocamentos e


esforços até a estrutura encontrar a condição de equilíbrio (LIMA, 2001). Na Figura 3a
tem-se a representação da estrutura na condição indeformada com as cargas horizontais
(FH) aplicadas nos nós da estrutura. Ao deformar, as forças verticais com os
deslocamentos da estrutura geram momentos e estes podem se transformar em forças
horizontais fictícias conforme as Figuras 3b e 3c. Somam-se as forças horizontais fictícias
com as forças horizontais iniciais e obtém novos deslocamentos.
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a) Estrutura indeformada b) Estrutura deformada c) Forças horizontais fictícias
Figura 3 – Processo P-Δ (LIMA, 2001)

As forças fictícias podem ser definidas pela equação (Lima, 2001):

Hi =
∑V ⋅ d − ∑V
i i i +1 ⋅ d i +1
(Equação 5)
hi hi +1
sendo:
Hi – força horizontal equivalente;
Vi e Vi+1 – forças verticais acumuladas até os pavimentos i e i+1, respectivamente;
hi e hi+1 – altura de pavimentos i e i+1, respectivamente;
di e di+1 – deslocamentos horizontais relativos do pavimento i em relação ao pavimento i-1
e do pavimento i+1 em relação i, respectivamente.

b) Coeficiente γz

Franco e Vasconcelos (1991) apud Lima (2001) verificaram que os deslocamentos obtidos
pelo processo P-Δ mantinham uma proporção. Eles Observaram que os deslocamentos
calculados em uma interação e na anterior seguiam uma progressão geométrica
decrescente. Os pesquisadores estenderam, então, essa análise para os momentos
fletores. O coeficiente γz corresponde à soma da progressão geométrica e contém a razão
do acréscimo do momento após a primeira interação (ΔMd) e o momento de 1º ordem
(M1d) (LIMA, 2001).
1
γz = (Equação 6)
ΔM d
1−
M 1d
A NBR 6118 menciona que a estrutura pode ser dimensionada como nós fixos quando
γz ≤ 1,1, ou seja, os efeitos de 2º ordem forem menores ou iguais a 10% dos de 1º ordem.
Para γz entre 1,1 e 1,3, majora-se os esforços finais (1º ordem) com a multiplicação por
0,95 de γz,.

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3. LIGAÇÕES EM CONCRETO PRÉ-MOLDADO

O ciclo de produção de estruturas em concreto pré-moldado compreende as etapas de


execução de elementos, transporte da fabricação, montagem e realização das ligações,
sendo a etapa de ligações a que envolve maior atenção (EL DEBS, 2000).

Segundo Ferreira (1993), as ligações em pré-moldados podem ser articuladas, semi-


rígidas e rígidas. Esta classificação refere-se à resistência aos esforços de flexão, sendo
que a ligação articulada não apresenta resistência à flexão enquanto as ligações rígidas
apresentam resistência completa. As ligações semi-rígidas apresentam comportamento
intermediário entre as ligações articuladas e rígidas, permitindo certa deformação e, com
isso, transmitindo algum esforço de flexão (Ferreira, 1993 e 1999).

Alguns pesquisadores, como Monforton e Wu (1963), Brun e Picard (1976) e Fafard e


Picard (1990) apud Ferreira (1993), utilizaram o método dos deslocamentos para análise
de pórticos com nós semi-rígidos, porém inseriram modificações na matriz de rigidez dos
elementos e nos esforços de bloqueio a fim de incorporar as deformações nas ligações
entre elementos.

Monforton e Wu (1963) apud Ferreira (1993) adicionaram à matriz de rigidez dos


elementos de pórticos o parâmetro γ, que está relacionado à deformação à flexão da
ligação, e Ferreira (1993) adicionou outro parâmetro, β, que representa a deformação
axial do elemento, conforme visto na Figura 4.

Figura 4 – Parâmetros γ e β em um elemento de barra (Ferreira, 1993)

O deslocamento final do elemento é a soma da rotação das barras modificadas (θ) com a
rotação da ligação (φλ), conforme mostrado na Figura 5:

φbarra = θ nodal + φligação (Equação 7)

Figura 5 – Rotações nas extremidades das barras do pórtico (Ferreira, 1993)

O comportamento da ligação entre elementos pré-moldados pode ser caracterizado pela


curva momento-rotação (M-φ) (FERREIRA, 1993). A rigidez da ligação (kφ) é obtida pela
equação 8. A deformação, ou flexibilidade da ligação, é definida como o inverso da
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rigidez. Nas Figuras 6a e 6b tem-se a curva momento-rotação típica de uma ligação viga-
pilar.
M
kφ = (Equação 8)
φ
φ
λ= (Equação 9)
M
sendo:
(kφ) – rigidez da ligação;
M – momento atuante na ligação;
φ – rotação da ligação;
λ – deformabilidade da ligação.

a) Parâmetro de deformabilidade b) Parâmetro de rigidez

Figura 6 – Curva momento-rotação de uma ligação típica (Ferreira, 1993, 1999)

De acordo com Ferreira (1999), existem três formas para análise das deformações das
ligações entre elementos pré-moldados:

• Metodologia experimental: apresenta resultados realistas, porém com custo


elevado;
• Modelagem analítica: necessita de suporte de modelos experimentais para
comprovar os modelos analíticos;
• Utilização de procedimentos numéricos: discretizam a ligação através de métodos
de elementos de contorno (MEC) e métodos de elementos finitos (MEF), mas antes
de simular as ligações deve-se compreender seu funcionamento.

Em Ferreira et al. (2002, 2005a) encontra-se uma proposta de classificação para ligações
semi-rígidas conforme a resistência e a rigidez à flexão da ligação. Conforme mostrado na
Tabela 1, essa classificação divide as ligações em 5 zonas em função do valor do fator de
restrição αr.

−1
⎡ 3EI ⎤
α r = ⎢1 + (Equação 10)
⎣ SL ⎥⎦
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sendo:
EI – rigidez equivalente da viga
L – comprimento da viga com carregamento uniforme q;
S – rigidez da ligação viga-pilar;
γ ou αr– fator de restrição varia de 0 a 1;

Tabela 1 – Classificação das ligações semi-rígidas para elementos pré-moldados


Classificação das
Zonas Fator de Restrição αR Engastamento Parcial ME / MR
Ligações
Zona I 0 ≤ αR < 0,14 0 ≤ ME / MR < 0,2 Articuladas
Zona II 0,14 ≤ αR < 0,4 0,2 ≤ ME / MR < 0,5 Semi-Rígidas com
Restrição Baixa
Zona III 0,4 ≤ αR < 0,67 0,5 ≤ ME / MR < 0,75 Semi-Rígidas com
Restrição Média
Zona IV 0,67 ≤ αR < 0,86 0,75 ≤ ME / MR < 0,9 Semi-Rígidas com
Restrição Alta
Zona V 0,86 ≤ αR < 1 0,9 ≤ ME / MR < 1 Perfeitamente Rígidas

3.1 Estabilidade global de estruturas de concreto pré-moldado

Ferreira et al. (2005b) avaliaram a estabilidade global de estruturas de concreto pré-


moldado utilizando o coeficiente γz. Foram realizadas simulações no programa
computacional ANSYS® de pórticos planos com 3, 5 e 7 pavimentos, variando o fator de
restrição da ligação viga-pilar e considerando a NLF de vigas e pilares de forma
simplificada pelo uso da rigidez efetiva à flexão (0,4EcIg e 0,8EcIg para vigas e pilares,
respectivamente). As vigas apresentavam seção transversal de 50 x 50 cm e os pilares
seção transversal de 30 x 60 cm (Figura 7). Os autores confirmaram a aplicabilidade do
parâmetro γz para análise de 2º ordem de pórticos pré-moldados, mesmo com menos de 4
pavimentos, quando o parâmetro γz variava entre 1,1 e 1,3.

3.2 Ligação pilar-fundação

A deformação da ligação entre o pilar e a fundação depende do tipo de solo, do elemento


de fundação (sapatas, blocos sobre estacas etc.) e da estrutura (pilar). Vários modelos
foram elaborados para obter os deslocamentos das fundações como Teoria de Reação do
Solo, modelos baseados na Teoria da Elasticidade e modelos que utilizam elementos
finitos (FERREIRA, 1993). Em Ferreira (1993) são apresentadas fórmulas de cálculo para
deformação de sapatas rígidas com compressão centrada, blocos sobre duas estacas e
estaca submetida a momento fletor e carga horizontal.

Neste trabalho foram considerados dois tipos de ligação pilar-fundação, isto é, uma
ligação com chapa de base e outra ligação com cálice. Na seqüência é mostrada a
formulação para obtenção da rotação da ligação com chapa de base.

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Figura 7 – Pórticos pré-moldados (Ferreira et al., 2005b)

3.2.1 Formulação para ligação com chapa de base

O mecanismo de funcionamento da ligação com chapa de base foi estudado por Ferreira
(1993) e modificado por Nóbrega et al. (2004). A deformação da ligação apresenta dois
mecanismos: deformação da chapa de base por flexão e deformação por tração da barra
(chumbador) inserida no bloco de fundação (MARTIN, 1980 apud FERREIRA, 1993),
além da deformação à tração da armadura do pilar (FERREIRA, 1993 e NOBREGA et al.,
2004). Na Figura 8 estão apresentados os mecanismos de deformação da chapa de base.

a) Ligação pilar-fundação (FERREIRA (1993)) b) Deformação da ligação (NOBREGA et al., 2004)


Figura 8 – Representação da ligação pilar-fundação com chapa de base.
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A rigidez desse tipo de ligação pode ser obtida pela Equação 11:
−1
M M ⎡⎛ Ls ⎞ ⎛ L par ⎞ ⎛ (d1 + d 2 )3 ⎞⎤
kφ ,base = = = ⎢⎜⎜ ⎟+⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎥
⎟ ⎜ A E (h + d ) ⎟ + ⎜ 3E I (h + d )2
(Equação 11)
θ lig (θ s + θ ch + θ par ) ⎢⎣⎝ 0,87 As E s d 2 ⎠ ⎝ par s 1 ⎠ ⎝ s ch 2

⎠⎥⎦

sendo:
kφ,base – rigidez da ligação chapa de base;
M – momento atuante
θlig – rotação total da ligação com chapa de base;
θs – rotação da ligação devida à armadura do pilar;
θch – rotação devida ao chumbador;
θpar – rotação devida à deformação da chapa de base;
Ls, As, Es, d – parâmetros da armadura do pilar: comprimento da barra, área de aço,
módulo de deformação, largura do pilar;
Lpar, Apar, d1 – parâmetros do chumbador: comprimento do parafuso (chumbador), área do
parafuso, distância da face do pilar até o eixo do chumbador de fixação da ligação;
d2, Ich – parâmetros da chapa de base: distância da face do pilar até o centro de gravidade
da armadura do pilar, momento de inércia da chapa da ligação.

Ferreira (1993) apresenta resultados da comparação da formulação analítica para ligação


com chapa de base com resultados de ensaios. Em relação ao valor experimental, o
resultado do equacionamento de Ferreira (1993) subestimou a rigidez da ligação em
25,68%.

3.2.2 Exemplos da literatura

Um pórtico plano apresentando ligações semi-rígidas entre viga e pilar e entre pilar e
fundação foi analisado por Ferreira (1993). Na Figura 9 é apresentado o pórtico analisado.
Os esforços e deslocamentos foram obtidos considerando a deformação da fundação, a
qual era constituída por um bloco sobre duas estacas em um solo de argila rija. Pela
formulação proposta pelo autor, apresentada nas equações 12 e 13, obteve-se uma
rigidez para a ligação pilar-fundação de 25x104 kN.m/rad.

a) Desenho do pórtico b) Discretização do pórtico

Figura 9 – Pórtico analisado por Ferreira (1993).

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2 EA
k = ke = (Equação 12)
l
2
λφ f = 2 (Equação 13)
ke

sendo:
λφf – deformação à flexão da fundação;
ke – rigidez equivalente das estacas
A, E, l – parâmetros da estaca: área da seção transversal, módulo de deformação,
comprimento.

Em Nóbrega et al. (2004) são apresentados os resultados de pórticos com ligações semi-
rígida na base (ligação com chapa de base) submetida a esforços de flexão. Os
resultados experimentais obtidos para a rigidez da ligação foram comparados com a
formulação analítica de Ferreira (1993), apresentada na equação 11. Os autores
obtiveram para a rigidez da ligação pilar-fundação o valor de 1.409 kN.m/rad. A rigidez da
ligação foi influenciada pela fissuração dos elementos pré-moldados e pela rigidez da
chapa de base.

4 Modelagem de pórticos pré-moldados com ligações semi-rígidas

Os pórticos de 3 e 7 pavimentos analisados por Ferreira et al. (2005), e mostrados na


Figura 7, foram remodelados no programa ANSYS®, porém considerando a
deformabilidade da ligação pilar-fundação. A não-linearidade física de vigas e pilares foi
considerada de forma simplificada pela rigidez efetiva à flexão, utilizando as reduções
propostas pela NBR 6118. As rigidezes empregadas para a ligação pilar-fundação foram
de 25x104 kN.m/rad (FERREIRA, 1993) e 1.409 kN.m/rad (NOBREGA et al., 2004). O que
se propõem nessa análise é representar uma estrutura pré-moldada ligada à fundação por
meio de cálice e outra com chapa de base, e verificar a influência da flexibilidade da
fundação na estabilidade global da estrutura.

Os resultados obtidos da modelagem dos pórticos estão apresentados nas Tabelas 2 e 3


e nas Figuras 10a e 10b.

Observa-se da modelagem uma forte influência da flexibilidade da ligação na estabilidade


global da estrutura, principalmente em estruturas com ligação viga-pilar com baixa
restrição.

Analisando o pórtico pré-moldado ligado à fundação por meio de cálice, percebe-se


pequena influência da rotação da base quando as ligações viga-pilar apresentam fator de
restrição (αr) superior a 0,4 (aumento de 1,9% e 3,0% do coeficiente γz nos pórticos de 3 e
7 pavimentos, respectivamente), o que caracteriza uma ligação viga-pilar com restrição
média. Já no pórtico ligado à fundação por meio de chapa de base, mesmo com o uso de

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uma ligação viga-pilar de alta restrição (αr = 0,86) o coeficiente γz apresentou aumento de
6,7% e 10,5% para os pórticos de 3 e 7 pavimentos, respectivamente.

Os resultados demonstram a forte influência da flexibilidade da ligação pilar-fundação


quando esta possui baixa rigidez. Neste caso, é difícil atender aos limites de estabilidade
global da NBR 6118 (γz ≤ 1,1) mesmo com o emprego de ligações viga-pilar com alta
restrição. Por outro lado, caso a ligação pilar-fundação apresente uma rigidez elevada, a
influência desta na estabilidade global da estrutura é pequena até mesmo para ligações
viga-pilar de média restrição.

Tabela 2 – Valores do coeficiente γz para pórtico de 3 pavimentos


Valor de γz
Fator αr Engaste parcial % k=∞ k =25x104 kN.m/rad k =1.409 kN.m/rad
0 0 1,27 1,35 -
0,03 5 1,22 1,28 -
0,07 10 1,18 1,22 20,02
0,14 20 1,14 1,16 2,09
0,26 35 1,10 1,11 1,44
0,4 50 1,07 1,09 1,26
0,67 75 1,05 1,06 1,15
0,86 90 1,04 1,05 1,11
1 100 1,03 1,04 1,09
k: rigidez da ligação pilar-fundação

Tabela 3 – Valores obtidos para pórtico de 7 pavimentos


Valor de γz
Fator αr Engaste parcial % k=∞ k =25x104 kN.m/rad k =1.409 kN.m/rad
0 0 - - -
0,03 5 - - -
0,07 10 7,42 - -
0,14 20 2,33 2,57 -
0,26 35 1,58 1,65 3,95
0,4 50 1,35 1,39 1,94
0,67 75 1,19 1,21 1,39
0,86 90 1,14 1,15 1,26
1 100 1,11 1,12 1,21
k: rigidez da ligação pilar-fundação

Analisando o valor limite da NBR 6118 para o coeficiente γz (γz ≤ 1,3), observa-se que no
pórtico de 3 pavimentos e ligação pilar-fundação monolítica, esse limite não é atingido
mesmo com ligações viga-pilar rotuladas. Por outro lado, caso seja considerada uma
ligação com cálice, para que esse limite não seja atingido é necessária uma ligação viga-
pilar com αr entre 0,26 e 0,4. Já se for considerada a ligação com chapa de base, a
ligação deverá possuir αr ≥ 0,4.

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Analisando o limite do coeficiente γz para o pórtico de 7 pavimentos e ligação pilar-
fundação monolítica, para que esse limite não seja atingido é necessário o uso de
ligações viga-pilar com αr ≥ 0,4. Por outro lado, caso seja considerada uma ligação com
cálice, para que esse limite não seja atingido é necessária uma ligação viga-pilar com αr
entre 0,4 e 0,67. Já se for considerada a ligação com chapa de base, a ligação deverá
possuir αr ≥ 0,86.

2,4
2,4
2,3
2,3 I II III IV V I II III IV V
2,2 2,2

2,1 2,1 k =250.000 kN.m/rad


k = infinito 2,0
2,0 k = infinito
z

k =250.000 kN.m/rad z
1,9
1,9 k =1.409 kN.m/rad
Coeficiente
Coeficiente

k =1.409 kN.m/rad 1,8


1,8
1,7 1,7
1,6 1,6
1,5 1,5
1,4 1,4
1,3 1,3
1,2 1,2
1,1 1,1
1,0 1,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Fator de Restrição αr
Fator de Restrição αr
a) 3 pavimentos b) 7 pavimentos
Figura 10 – Variação do parâmetro γz com o parâmetro αr paras pórticos com 3 e 7 pavimentos

4 CONCLUSÃO

O emprego de componentes pré-moldados está relacionado ao custo da obra, o tempo de


execução, bom planejamento e tipos de ligações entre os elementos da estrutura pré-
moldada. Esses são alguns dos fatores que viabilizam ou não o uso de estruturas pré-
moldadas. No dimensionamento de qualquer estrutura, seja de concreto moldado no local
ou pré-moldado, a questão da estabilidade é importante e deve ser avaliada conforme
descrito nas normas vigentes. As ligações entre elementos são um dos parâmetros que
devem ser avaliados e conforme a ligação tem-se um custo e uma flexibilidade na
estrutura.

No presente trabalho, buscou-se avaliar a estabilidade global de pórticos planos com


ligações viga-pilar semi-rígidas, porém variando a rigidez da ligação pilar-fundação, isto é,
admitindo uma ligação monolítica, uma ligação por meio de cálice e uma ligação com
chapa de base. Para isso, foi empregado o coeficiente γz proposto pela NBR 6118 para
avaliar a estabilidade global de estruturas em concreto moldado no local. Verificou-se que
a rigidez da ligação pilar-fundação influencia este coeficiente. Na análise dos pórticos de 3
e 7 pavimentos, observou-se que a flexibilização da ligação pilar-fundação implica no

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emprego de ligações viga-pilar mais rígidas (maior valor para o fator αr) caso se deseje
garantir um coeficiente γz ≤ 1,3. No pórtico de 3 pavimentos, a diminuição da rigidez da
ligação pilar-fundação não influenciou muito o coeficiente γz desde que sejam garantidas
ligações viga-pilar com fator αr ≥ 0,67. Com o aumento do número de pavimentos do
pórtico, percebeu-se que para garantir um coeficiente γz ≤ 1,3 devem-se garantir ligações
viga-pilar mais rígidas. Neste caso, se a ligação pilar-fundação for realizada por meio de
cálice, basta garantir ligações viga-pilar com αr próximo de 0,5. Por outro lado, se for
empregada uma ligação pilar-fundação com chapa de base, a ligação viga-pilar deve
possuir αr ≥ 0,86.

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