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Daniel de Lima Araújo (1); Adrianne Carvalho de Araújo (2); Marcelo de Araújo Ferreira (3)
(1) Professor Doutor, Programa de Pós Graduação em Geotecnia e Construção Civil da EEC/UFG
(2) Mestranda, Programa de Pós Graduação em Geotecnia e Construção Civil da EEC/UFG
(3) Professor Doutor, Programa de Pós Graduação em Construção Civil da UFSCar
Escola de Engenharia Civil - UFG, Praça Universitária, s/n, Setor Universitário. Goiânia – GO. CEP: 74605-
220. E-mail: [email protected]
Resumo
Nos sistemas estruturais em esqueleto, a estabilidade global é grandemente influenciada pela resistência e
rigidez à flexão das ligações viga-pilar. A crescente demanda por sistemas pré-moldados para múltiplos
pavimentos requer um maior controle sobre o projeto e a execução das ligações. Todavia, a prática corrente
de projeto ainda lança mão de considerações bastante simplificadas para as ligações, as quais são
idealizadas como perfeitamente articuladas ou rígidas, mas que apresentam quase sempre comportamento
semi-rígido. Por esta razão, nas últimas décadas, uma das principais ênfases de pesquisa nas estruturas
metálicas e nas estruturas pré-moldadas de concreto tem sido a caracterização do comportamento das
ligações viga-pilar, seus mecanismos internos e seus efeitos no comportamento global da estrutura. No
Brasil, a NBR 6118 define claramente os critérios e procedimentos para a análise da estabilidade global em
estruturas de concreto moldadas no local. Trabalhos recentes têm demonstrado que esses critérios também
podem ser aplicados às estruturas em concreto pré-moldado com ligações semi-rígidas. Em todos os
estudos realizados até o momento, entretanto, a ligação dos pilares com a fundação tem sido admitida
rígida, o que nem sempre é verdade em função do tipo de fundação empregada e da composição do solo.
Este trabalho tem como objetivo apresentar simulações da estabilidade global de pórticos pré-moldados de
concreto com diferentes números de pavimentos, considerando tanto a ligação viga-pilar quanto a ligação
pilar-fundação com comportamento semi-rígido. Dos resultados preliminares, verificou-se forte influência da
rigidez pilar-fundação na estabilidade global.
Palavra-Chave: concreto pré-moldado, ligação pilar-fundação, estabilidade global
Abstract
The skeletal precast structure is strongly affected by the behavior of its beam-column connections. In this
type of structure, the lateral stiffness depends on the conjunction performance of beams and columns. The
increasing application of the multi-storey precast structures requires greater control on the design and
execution of the connections. Many connections design was made using simplified models such as pined or
fully rigid connection. However the beam-column connection commonly shows semi-rigid behavior. Then, on
last decade the main objective of the steel and precast structures research was describe the beam-column
behavior, its internal mechanisms and its influence on the global stability of the structures. The Brazilian
standard NBR 6118 shows the procedure by global stability analysis of the cast in place structures. Recent
papers show that this procedure can be applied to analyze the global stability of the precast concrete framed
structures with semi-rigid connection. However, on all analysis carried out the column-foundation connection
was considered fully rigid, which is not true because this behavior depend on the foundation type and the soil
composition. This paper presents numerical examples with structural analysis of a multi-storey precast
concrete frame, wherein the effect of the semi-rigid action of beam-column connections as much as the
column-foundation connections on the global behavior of the frame is considered. The preliminary results
show that the global stability is strongly affected by the stiffness of the column-foundation connection.
Keywords: precast structure, beam-column connection, global stability
ANAIS DO 50º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2008 – 50CBC0216 1
1 Introdução
2 Efeitos de 2º ordem
A análise dos efeitos de 2º ordem em uma estrutura depende de fatores como a não
linearidade física (NLF) e a não linearidade geométrica (NLG). A NLF está relacionada
com as propriedades do material, e, no caso do concreto, se deve à formação e a
abertura de fissuras na seção transversal. A NLG compreende a análise da estrutura na
situação deformada e processos como P-Δ ou outros que empregam a matriz de rigidez
da estrutura na posição deformada servem para esta análise (Lima, 2001).
Na análise dos efeitos de 2º ordem nas estruturas de nós móveis deve estar incluída a
influência da NLF e da NLG. Existem três maneiras de calcular os esforços de 2º ordem
em estruturas de nós móveis:
A NBR 6118 menciona que a rigidez dos elementos que compõem a estrutura, quando da
análise da estabilidade global, deve ser avaliada de forma aproximada como:
sendo:
(EI)sec – rigidez de elementos estruturais;
Eci – módulo de elasticidade ou módulo de deformação inicial do concreto;
Ic – momento de inércia da seção de concreto;
As’ – área da seção da armadura longitudinal de compressão;
As – área da seção transversal da armadura longitudinal de tração;
fck – resistência característica à compressão do concreto.
Para estruturas contraventadas por vigas e pilares, admite-se a utilização das equações:
Essa norma permite utilizar a Equação (2) para estimar o módulo de elasticidade quando
não existirem dados para o concreto aos 28 dias, sendo Eci e fck em MPa.
Devido à complexidade dessa análise, emprega-se uma rigidez reduzida para o cálculo da
NLF (EIef). Neste caso, o efeito da fissuração do concreto na rigidez da estrutura é
avaliado de forma indireta pelo uso de uma rigidez efetiva à flexão (EIef) definida como
uma fração da rigidez bruta (EcIg). Em Pinto (1997) são apresentados resultados obtidos
para uma viga T submetida a momentos devido a carregamento crescente (gravitacional,
lateral e combinação de ambos) na qual é avaliada a relação entre a rigidez efetiva à
flexão (EIef) e a rigidez bruta (EcIg). Nesta análise, à medida que o carregamento cresce a
relação EIef/EcIg tende ao valor 0,4 para vigas. Quando há força normal atuando,
simulando os pilares, essa relação tende ao valor 0,8 (Figura 1).
Pinto (1997) utilizou o programa LUSAS, baseado no método dos elementos finitos, para
análise da NLF do concreto. O estudo buscou verificar o efeito da NLF na deformação de
vigas, pilares e de um pórtico plano de concreto armado de 13 pavimentos. Os resultados
da relação entre a rigidez efetiva à flexão pela rigidez bruta (EIef/EcIg) e o momento de
cálculo pelo momento de ruptura (Md/Mdrup) para vigas biapoiadas e biengastadas são
apresentados em Pinto (1997). O autor também observou que a relação EIef/EcIg tende
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para 0,4 na viga biapoiada e para 0,6 na viga biengastada. Em uma situação intermediária
entre a viga biapoiada e a viga biengastada, situação usual de vigas de edifícios de
concreto armado, pode-se admitir um valor médio para a rigidez efetiva à flexão (EIef)
igual a aproximadamente 0,55 da rigidez bruta (EcIg).
Figura 1 – Variação de rigidez para vigas T com carregamento crescente (HAGE; MCGREGOR (1974) apud
PINTO (1997)).
Para análise da rigidez efetiva de pilares, o modelo usado por Pinto (1997) considerou
esforços de flexo-compressão como mostrado na Figura 2a. Para valores altos da relação
μd/νd, o valor da relação EIef/ EcIg diminui, o que mostra a influência do momento fletor na
fissuração quando este é maior que o esforço normal. Já para valores da relação μd/νd
baixos, a relação EIef/ EcIg aumenta, mostrando o efeito favorável do esforço normal na
redução da fissuração do concreto. As equações de dimensionamento são:
Nd
νd = (Equação 3)
Ac ⋅ f cd
Md
μd = (Equação 4)
Ac ⋅ f cd ⋅ d
sendo:
Nd – esforço normal de cálculo;
Ac – área da seção bruta de concreto;
fcd – resistência a compressão de cálculo de concreto;
μd – momento fletor adimensional de cálculo;
Md – momento fletor de cálculo;
νd – esforço normal adimensional de cálculo.
O pórtico analisado por Pinto (1997), conforme mostrado na Figura 2b, também foi
modelado no programa LUSAS com variações de inércia de vigas e pilares. As inércias
efetivas à flexão que mais se aproximaram da análise de primeira ordem realizada foram
EIef = 0,60 EcIg para vigas e EIef = 1,00 EcIg para pilares. O autor concluiu o estudo
sugerindo o uso de EIef = 0,50 EcIg para as vigas e EIef = 0,80 EcIg para os pilares.
a) Processo P-Δ
Hi =
∑V ⋅ d − ∑V
i i i +1 ⋅ d i +1
(Equação 5)
hi hi +1
sendo:
Hi – força horizontal equivalente;
Vi e Vi+1 – forças verticais acumuladas até os pavimentos i e i+1, respectivamente;
hi e hi+1 – altura de pavimentos i e i+1, respectivamente;
di e di+1 – deslocamentos horizontais relativos do pavimento i em relação ao pavimento i-1
e do pavimento i+1 em relação i, respectivamente.
b) Coeficiente γz
Franco e Vasconcelos (1991) apud Lima (2001) verificaram que os deslocamentos obtidos
pelo processo P-Δ mantinham uma proporção. Eles Observaram que os deslocamentos
calculados em uma interação e na anterior seguiam uma progressão geométrica
decrescente. Os pesquisadores estenderam, então, essa análise para os momentos
fletores. O coeficiente γz corresponde à soma da progressão geométrica e contém a razão
do acréscimo do momento após a primeira interação (ΔMd) e o momento de 1º ordem
(M1d) (LIMA, 2001).
1
γz = (Equação 6)
ΔM d
1−
M 1d
A NBR 6118 menciona que a estrutura pode ser dimensionada como nós fixos quando
γz ≤ 1,1, ou seja, os efeitos de 2º ordem forem menores ou iguais a 10% dos de 1º ordem.
Para γz entre 1,1 e 1,3, majora-se os esforços finais (1º ordem) com a multiplicação por
0,95 de γz,.
O deslocamento final do elemento é a soma da rotação das barras modificadas (θ) com a
rotação da ligação (φλ), conforme mostrado na Figura 5:
De acordo com Ferreira (1999), existem três formas para análise das deformações das
ligações entre elementos pré-moldados:
Em Ferreira et al. (2002, 2005a) encontra-se uma proposta de classificação para ligações
semi-rígidas conforme a resistência e a rigidez à flexão da ligação. Conforme mostrado na
Tabela 1, essa classificação divide as ligações em 5 zonas em função do valor do fator de
restrição αr.
−1
⎡ 3EI ⎤
α r = ⎢1 + (Equação 10)
⎣ SL ⎥⎦
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sendo:
EI – rigidez equivalente da viga
L – comprimento da viga com carregamento uniforme q;
S – rigidez da ligação viga-pilar;
γ ou αr– fator de restrição varia de 0 a 1;
Neste trabalho foram considerados dois tipos de ligação pilar-fundação, isto é, uma
ligação com chapa de base e outra ligação com cálice. Na seqüência é mostrada a
formulação para obtenção da rotação da ligação com chapa de base.
O mecanismo de funcionamento da ligação com chapa de base foi estudado por Ferreira
(1993) e modificado por Nóbrega et al. (2004). A deformação da ligação apresenta dois
mecanismos: deformação da chapa de base por flexão e deformação por tração da barra
(chumbador) inserida no bloco de fundação (MARTIN, 1980 apud FERREIRA, 1993),
além da deformação à tração da armadura do pilar (FERREIRA, 1993 e NOBREGA et al.,
2004). Na Figura 8 estão apresentados os mecanismos de deformação da chapa de base.
sendo:
kφ,base – rigidez da ligação chapa de base;
M – momento atuante
θlig – rotação total da ligação com chapa de base;
θs – rotação da ligação devida à armadura do pilar;
θch – rotação devida ao chumbador;
θpar – rotação devida à deformação da chapa de base;
Ls, As, Es, d – parâmetros da armadura do pilar: comprimento da barra, área de aço,
módulo de deformação, largura do pilar;
Lpar, Apar, d1 – parâmetros do chumbador: comprimento do parafuso (chumbador), área do
parafuso, distância da face do pilar até o eixo do chumbador de fixação da ligação;
d2, Ich – parâmetros da chapa de base: distância da face do pilar até o centro de gravidade
da armadura do pilar, momento de inércia da chapa da ligação.
Um pórtico plano apresentando ligações semi-rígidas entre viga e pilar e entre pilar e
fundação foi analisado por Ferreira (1993). Na Figura 9 é apresentado o pórtico analisado.
Os esforços e deslocamentos foram obtidos considerando a deformação da fundação, a
qual era constituída por um bloco sobre duas estacas em um solo de argila rija. Pela
formulação proposta pelo autor, apresentada nas equações 12 e 13, obteve-se uma
rigidez para a ligação pilar-fundação de 25x104 kN.m/rad.
sendo:
λφf – deformação à flexão da fundação;
ke – rigidez equivalente das estacas
A, E, l – parâmetros da estaca: área da seção transversal, módulo de deformação,
comprimento.
Em Nóbrega et al. (2004) são apresentados os resultados de pórticos com ligações semi-
rígida na base (ligação com chapa de base) submetida a esforços de flexão. Os
resultados experimentais obtidos para a rigidez da ligação foram comparados com a
formulação analítica de Ferreira (1993), apresentada na equação 11. Os autores
obtiveram para a rigidez da ligação pilar-fundação o valor de 1.409 kN.m/rad. A rigidez da
ligação foi influenciada pela fissuração dos elementos pré-moldados e pela rigidez da
chapa de base.
Analisando o valor limite da NBR 6118 para o coeficiente γz (γz ≤ 1,3), observa-se que no
pórtico de 3 pavimentos e ligação pilar-fundação monolítica, esse limite não é atingido
mesmo com ligações viga-pilar rotuladas. Por outro lado, caso seja considerada uma
ligação com cálice, para que esse limite não seja atingido é necessária uma ligação viga-
pilar com αr entre 0,26 e 0,4. Já se for considerada a ligação com chapa de base, a
ligação deverá possuir αr ≥ 0,4.
2,4
2,4
2,3
2,3 I II III IV V I II III IV V
2,2 2,2
k =250.000 kN.m/rad z
1,9
1,9 k =1.409 kN.m/rad
Coeficiente
Coeficiente
4 CONCLUSÃO
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRUN, P.; PICARD, A. Étude d´un assemblange imparfaitament rígide et des effets de
son utilisation dans un multi-étagé., Rapport gct76-03. Quebec, Universitté Laval,
Departament de Génie Civil. 1976. (apud)
FAFARD, M.; PICARD, A.; BEAULIEU, D. Analyse des structures avec join à rigidité
partielle: une approche unifée. Canadian Journal of Civil Enginering. v.17, p. 730-738.
1990. (apud)
MARTIN, L. D. Derivation of stiffness coefficients for column base plates. PCI Journal.
Jan-Fev. Apendix A. p. 39-41. 1980 (apud)