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Revista Eletrônica Acervo Saúde | ISSN 2178-2091

Análise do uso de antibióticos na profilaxia de feridas operatórias nas


cesarianas realizadas em uma maternidade, no período de 2015 a 2018

Analysis of the use of antibiotics in the prophylaxis of operating wounds in cesarians


carried out in a maternity, from 2015 to 2018

Análisis del uso de antibióticos en la profilaxis de heridas operativas en cesarios


realizadas en un hospital de maternidad, de 2015 a 2018

Iran Grijó Praia1,2, Sirlene Maria da Silva1*.

RESUMO
Objetivo: Analisar o uso de antibióticos na profilaxia de ferida operatória, através da demonstração dos
esquemas de antibióticos prescritos no pré e pós-operatório, análise do perfil epidemiológico e fatores de risco
para infecção do sítio cirúrgico (ISC) nas cesarianas realizadas em uma maternidade. Métodos: Estudo
transversal, caráter retrospectivo e abordagem quantitativa, a partir da análise de prontuários das pacientes
submetidas a cesarianas e que tiveram ISC, no período de 2015 a 2018. Resultados: A amostra foi 303
gestantes. A média de idade foi 24,1 anos (24,8%), a indicação mais prevalente para cesariana foi Pré-
eclâmpsia (17,2%). Os principais critérios clínicos de ISC foram eritema (38,9%) e edema (36,6%). A
antibioticoprofilaxia foi administrada em 87% das pacientes, sendo realizada com cefalosporina de primeira
geração. O esquema mais utilizado para tratamento da ISC foi o esquema tríplice Cefalotina associada a
Gentamicina e Metronidazol (75%). Conclusão: As taxas de ISC foram elevadas durante o período de estudo.
Antibioticoprofilaxia não define proteção absoluta contra infecção de ferida operatória. A ISC prolonga em
torno de 7 a 15 dias o tempo de internação e reinternação das pacientes que possuem infecção do sítio
cirúrgico tardio.
Palavras-chave: Cesárea, Infecção da ferida cirúrgica, Infecção puerperal.

ABSTRACT
Objective: To analyze the use of antibiotics in prophylaxis of surgical wounds, by demonstrating the antibiotic
regimens prescribed in the pre and postoperative periods, analysis of the epidemiological profile and risk
factors for surgical site infection (SSI) in cesarean sections performed in a maternity. Methods: Cross-
sectional study, retrospective and quantitative approach, based on the analysis of medical records of patients
who underwent cesarean sections and who had SSI, from 2015 to 2018. Results: The sample was 303
pregnant women. The mean age was 24.1 years (24.8%), the most prevalent indication for cesarean section
was Pre-eclampsia (17.2%). The main clinical criteria for SSI were erythema (38.9%) and edema (.6%).
Antibiotic prophylaxis was administered to 87% of the patients, with first-generation cephalosporin. The most
used regimen for treating 36SSI was a triple Cephalothin regimen associated with Gentamycin and
Metronidazole (75%). Conclusion: SSI rates were high during the study period. Antibiotic prophylaxis does
not define absolute protection against wound infection. SSI prolongs the length of hospitalization and
readmission of patients who have late surgical site infection by 7 to 15 days.
Keywords: Cesarean section, Surgical wound infection, Puerperal infection.

1 Universidade Estadual do Amazonas, Manaus - AM. *E-mail: [email protected]


2 Fundação de Medicina Tropical, Manaus - AM.

SUBMETIDO EM: 1/2021 | ACEITO EM: 2/2021 | PUBLICADO EM: 2/2021

REAS | Vol. 13(2) | DOI: https://doi.org/10.25248/REAS.e6223.2021 Página 1 de 10


Revista Eletrônica Acervo Saúde | ISSN 2178-2091

RESUMEN
Objetivo: Analizar el uso de antibióticos en la profilaxis de heridas quirúrgicas, mediante la demostración de
los regímenes antibióticos prescritos en el pre y posoperatorio, análisis del perfil epidemiológico y factores de
riesgo de infección del sitio quirúrgico (ISQ) en cesáreas realizadas en un hospital de maternidad. Métodos:
Estudio transversal, de abordaje retrospectivo y cuantitativo, basado en el análisis de historias clínicas de
pacientes que fueron sometidas a cesáreas y que tuvieron ISQ, de 2015 a 2018. Resultados: La muestra fue
de 303 mujeres embarazadas. La edad media fue de 24,1 años (24,8%), la indicación de cesárea más
prevalente fue la Preeclampsia (17,2%). Los principales criterios clínicos de ISQ fueron eritema (38,9%) y
edema (36,6%). Se administró profilaxis antibiótica al 87% de los pacientes, con cefalosporina de primera
generación. El régimen más utilizado para tratar la ISQ fue un régimen triple de cefalotina asociado con
gentamicina y metronidazol (75%). Conclusión: Las tasas de ISC fueron altas durante el período de estudio.
La profilaxis con antibióticos no define una protección absoluta contra la infección de la herida. ISC prolonga
el tiempo de hospitalización y rehospitalización de los pacientes que tienen infección tardía del sitio quirúrgico
de 7 a 15 días.
Palabras clave: Cesárea, Infección de la herida quirúrgica, Infección puerperal.

INTRODUÇÃO

Não há dúvidas na literatura sobre a elevada importância do parto cesáreo para ajudar a salvar vidas e
prevenir sequelas neonatais, como as originadas de partos vaginais distócicos. Por outro lado, o aumento da
incidência da cesariana aumenta a morbidade e o custo operacional para o sistema, podendo tornar-se um
problema potencial (FREITAS F, et al., 2001).
O Brasil vem apresentando, nos últimos anos, uma das mais elevadas taxas de cesáreas do mundo,
correspondendo a 55% do total de partos, enquanto a média recomendada é de 10 a 15%, mesmo frente a
atitude do Ministério da Saúde que vem buscando alterar o modelo de assistência ao parto considerado hoje
como intervencionista e caracterizado por vezes como evento cirúrgico. O parto cesáreo constitui uma
importante questão na assistência à saúde da mulher em função das possíveis complicações e pela maior
morbimortalidade associada quando comparado ao parto normal (ROMANELLI RMC, 2014; ZIMMERMMANN
JB, 2009).
A infecção no período puerperal é um problema grave para a saúde pública, confirmado pelas altas taxas
de morbi-mortalidade na população em geral. Ademais, o próprio parto cesáreo constitui um dos principais
riscos para a infecção do sítio cirúrgico, ao passo que este permite a entrada de bactérias devido ao
rompimento da barreira cutânea de proteção (RICCI SS, 2013).
O parto cesárea favorece as complicações puerperais, sendo fator predisponente para elevar o risco de
endometrite, bacteremia, abscesso ou tromboflebite pélvica e morte por infecção. Dentre essas complicações
possíveis no período puerperal, as infecciosas são as mais comuns sendo que a infecção de sítio cirúrgico é
de maior ocorrência (CHIANCA LM, 2015). Nesse sentido, a infecção do sítio cirúrgico enquadra-se como
uma das principais infecções relacionadas à assistência à saúde no Brasil, caracterizando-se por ocorrer nos
primeiros 30 dias após o procedimento cirúrgico (ANVISA, 2017).
A infecção do sítio cirúrgico pós-cesárea pode ser conceituada como um processo infeccioso inflamatório
da ferida ou cavidade operada com drenagem de secreção purulenta, com ou sem cultura positiva. A infecção
pode ser restringida à região de incisão operatória, e neste caso a área apresentará sinais flogísticos como
edema e hiperemia, ou pode ainda abranger tecidos que foram manuseados durante a cirurgia adjacentes à
região de incisão (MARTINS ACM e SILVA LKM, 2006).
Os fatores de risco relacionados à infecção do sítio cirúrgico dividem-se em duas categorias: origem
exógena (contaminação externa, relacionada ao procedimento propriamente dito e condições locais de
higiene) ou endógena, relacionada à própria flora genital da paciente. Os fatores endógenos, tais como a flora

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materna (do endométrio, líquido amniótico e cervicovaginal), causam a maioria das ISC pós-cesárea
(ROMANELLI RMC, et al., 2014; ANVISA, 2017).
É de extrema importância ressaltar que alguns fatores, além da técnica operatória propriamente dita, são
importantes como proteção de fontes exógenas como, por exemplo, o banho no pré-operatório, tricotomia
apenas na sala de operações, antissepsia do local da incisão, realização da antibioticoprofilaxia na indução
anestésica, degermação e paramentação de toda a equipe cirúrgica, proteção da ferida operatória com
curativo estéril por 24 h e controle de pessoas circulantes na sala de operações (LACERDA R, 2003).
Entretanto, após 24 h do procedimento, a ferida cirúrgica está selada e, portanto, protegida da
contaminação exógena. As infecções à distância podem ser fonte de microrganismos que contaminam a ferida
cirúrgica e devem ser pesquisadas e tratadas no pré-operatório. Por isso, há necessidade de avaliação pré-
operatória de todo paciente cirúrgico (SANTOS AA, et al., 2005).
As Infecções do Sítio Cirúrgico (ISC) são as complicações operatórias mais relevantes, levando-se em
consideração as frequentes subnotificações dos casos, além da falta de vigilância ativa pós-alta, alta antes
do tempo previsto e atraso da paciente para conseguir ser atendida quando considerada a contra-referência
para as Unidades Básicas de Saúde (UBS) (CUNHA MR, et al., 2018).
O objetivo deste estudo é analisar o uso de antibióticos na profilaxia das feridas operatórias nas cesarianas
realizadas em uma maternidade, no período de 2015 a 2018, de forma a demonstrar os esquemas de
antibióticos prescritos na antibioticoprofilaxia e no tratamento das feridas operatórias e identificar os fatores
epidemiológicos e socioeconômicos para esta patologia. Diante da relevância de investigar infecções
puerperais, especialmente as relacionadas com o parto cesáreo, a realização desse estudo se justifica pelas
repercussões negativas na recuperação da mulher no período pós-parto, comprometendo a involução
puerperal satisfatória, prolongando o tempo de hospitalização e retardando o vínculo mãe/recém-nascido e
família.

MÉTODOS

A presente proposta de estudo consiste em uma pesquisa transversal, de caráter retrospectivo e


abordagem quantitativa, a partir da análise de prontuários das pacientes que realizaram cesarianas e tiveram
infecção de feridas operatórias, em uma maternidade, no período de 2015 a 2018. A população do presente
estudo trata-se de mulheres que realizaram partos do tipo cesáreo e que apresentaram infecção de ferida
pós-operatória, no período de 2015 a 2018 em uma maternidade de Manaus. O tamanho amostral da pesquisa
foi de 167 pacientes.
Durante a coleta, foram catalogados os dados referentes à idade, escolaridade, renda familiar, indicação
da realização da cesariana, antibioticoprofilaxia prescrita para a cirurgia, antibioticoterapia prescrita para a
infecção da ferida cirúrgica e tempo de tratamento. Estes dados foram coletados através de uma ficha de
coleta.
Os critérios de inclusão do estudo foram mulheres que foram submetidas a parto cesáreo e mulheres que
apresentaram infecção de feridas operatórias na maternidade em estudo. O critério de exclusão adotado
foram prontuários sem dados acerca da antibioticoprofilaxia ou antibioticoterapia. O projeto foi submetido e
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) através da Plataforma Brasil, com o CAEE
11931019.8.0000.5016.

RESULTADOS

As taxas de realização de cesarianas nos anos de 2015, 2016, 2017 e 2018 na maternidade em estudo
foram respectivamente: 40,7% (n=3352); 39,4% (n=3387); 41,6% (n=3414) e 42% (n=3445), como mostra o
Gráfico 1 a seguir. Quanto à taxa global de infecção de sítio cirúrgico, nesses 4 anos, foi de 3,83%, uma vez
que do total de 13.498 partos cesáreos, 518 evoluíram com Infecção do Sítio Cirúrgico.

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Gráfico 1 - Número de cesáreas realizadas por ano na instituição (N total = 13.598).

Fonte: Praia IG e Silva SM, 2021.

Foram investigados 518 casos de infecção de sítio cirúrgico, de um total de 13.498 cesarianas. A amostra
deste estudo foi de 303 gestantes submetidas a partos cesáreos com Infecção de Sítio Cirúrgico (ISC) no
período de janeiro de 2015 a dezembro de 2018 que se adequaram aos critérios de inclusão. Os 215
prontuários restantes não contemplavam os dados requeridos pelo projeto, sendo, pois, excluídos das
análises. Os 303 prontuários disponíveis para análise indicaram que a média de idade do grupo de pacientes
foi de 24,7 anos. A maioria das pacientes (24,8%, n=75) estão no intervalo de idade entre 18 e 21 anos.
Apenas 9 pacientes (3%) tinham mais de 41 anos, e 46 pacientes possuíam abaixo de 18 anos, conforme o
Gráfico 2.

Gráfico 2 - Faixa etária das pacientes que tiveram infecção de sítio cirúrgico após cesárea
(n total = 303).

Fonte: Praia IG e Silva SM, 2021.

Como descrito na Tabela 1, em 33,3% dos casos (n=101), as pacientes foram reinternadas devido à
infecção do sítio cirúrgico. Em relação à paridade, 37% (n=112) apresentaram infecção do sítio cirúrgico na
primeira gestação, secundigesta 24,1% (n=73), seguida das multíparas com 38.9% (n=118).

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Ao analisar-se as condições socioeconômicas podemos observar que o baixo índice de escolaridade


associado à baixa renda contribuem para elevar o número de casos de infecção de ferida operatória.
Analfabetismo e ensino fundamental totalizam 60,39% (n=183) e a baixa renda abaixo de 3 salários mínimos
87,46% (n=265). As comorbidades associadas às pacientes, notou-se que o mais prevalente foi a Síndrome
Hipertensiva, presente em 17,2% (n=52) das pacientes, seguida de Infecção do Trato Urinário, presente em
15,5% (n=47) das mesmas.
Em relação ao tempo de hospitalização, em torno de 10 dias, em uso de antibioticoterapia em esquema
tríplice (Cefalosporina de terceira geração associada à Gentamicina e Metronidazol) de Acordo com a
Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) da maternidade onde foi realizado o estudo, caso a
paciente não evolua satisfatoriamente, com melhora do quadro de hiperemia, hematoma de parede e
exsudação purulenta de ferida operatória é realizado a cultura da secreção com antibiograma, com o objetivo
de instituir um tratamento individualizado, baseado na resistência bacteriana que provavelmente já está
instalada, aumentando o tempo de internação para em torno de 20 a 25 dias.
Em relação ao pré-natal, 62 (n=188) das pacientes o realizaram, independentemente do número de
consultas. No entanto, 10,6% (n=32) das pacientes não tinham essa informação no prontuário e 27,4% (n=83)
não realizaram o pré-natal.

Tabela 1 - Características das pacientes que tiveram infecção de sítio cirúrgico após
cesárea na maternidade, 2015-2018 (N total = 303).
Variáveis N %
Total de prontuários analisados 303 100
Reinternação 101 33,3
Paridade
Primípara 112 37
Secundigesta 73 24,1
Multípara 118 38,9
Escolaridade
Analfabeta 25 8,25
Ensino Fundamental 158 52,14
Ensino Médio 83 27,39
Ensino Superior 37 12,22
Renda Familiar
< de 1 salário mínimo 158 52,14
De 1 a 3 salário mínimos 107 35,32
> 3 salário mínimos 38 12,54
Comorbidades
Diabetes Mellitus 13 4,3
Infecção do Trato Urinário 47 15,5
Infecção por HIV 7 2,3
Sífilis 11 3,6
Síndrome Hipertensiva 52 17,2
Tempo de Hospitalização
1-5 dias 17 5,6
6-10 dias 88 29
11-15 dias 69 22,8
16-20 dias 88 29
21-25 dias 29 9,6
26-30 dias 6 2
>30 dias 6 2
Pré-natal
Sim 188 62
Não 83 27,4
Não Informado 32 10,6
Fonte: Praia IG e Silva SM, 2021.

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Dentre as pacientes que realizaram pré-natal, apenas 5,9% (n=11) das pacientes realizaram 1 consulta,
9,5% (n=18) 2 consultas, 11,7% (n=22) 3 consultas, 8,5% (n=16) 4 consultas, 11,7% (n=22) 5 consultas e
52,7% (n=99) tiveram seis ou mais consultas. A média de consultas no pré-natal foi de 5,72.
As indicações clínica e obstétricas que levaram à realização da cesárea mais frequentes foram a Pré-
eclâmpsia, com 17,2% dos casos (n=52); seguida da Desproporção Cefalopélvica, que predominou em 12,2%
dos casos (n=37) e Amniorrex prematura com 9,2% dos casos (n=28).
Os principais critérios clínicos associados à infecção do sítio cirúrgico estão apresentados no Gráfico 3.
O sinal mais prevalente foi o eritema, presente em 38,9% dos casos (n=118), seguido pelo edema, relatado
em 36,6% (n=111). Outros critérios clínicos frequentes foram a febre, em 20,1% (n=61) e a deiscência da
sutura, em 15,5% dos casos (n=47).

Gráfico 3 - Frequência de critérios clínicos em infecções de ferida cirúrgica (N total = 388).

Fonte: Praia IG e Silva SM, 2021.

Pode-se observar através da Tabela 2 que a antibioticoprofilaxia foi realizada em 97,35% (n=295) das
pacientes que apresentaram posteriormente ferida operatória, sendo 2,65% (n=8) não realizaram
antibioticoprofilaxia. A classe utilizada na profilaxia foi a cefalosporina de primeira geração, dentro da qual, o
esquema mais utilizado foi a Cefalotina, representando 54,12 % (n=164) dos casos, seguido da Cefazolina,
em 45,88% (n=131) dos casos, administrada na indução anestésica.

Tabela 2 - Perfil da antibioticoprofilaxia utilizada nas pacientes que evoluíram para


infecção de sítio cirúrgico após cesárea (N total = 303).
Variáveis N %
Antibioticoprofilaxia
Sim 295 97,35
Não realizado 8 2,65
Total 303 100%
Antibiótico de escolha para antibioticoprofilaxia
Cefalotina 164 55,60
Cefazolina 131 44,4
Total 295 100%
Fonte: Praia IG e Silva SM, 2021.

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Pode-se observar na Tabela 3 quais os antibióticos mais utilizados no tratamento da ferida operatória
infectada, além de quantas vezes ocorreu falha terapêutica (necessidade de substituição). O esquema mais
utilizado foi a Cefalotina associada a Gentamicina e Metronidazol, em 65% dos casos (n=197), com tempo
médio de terapia de 8,38 dias, e com falha terapêutica em 29 casos.
O segundo esquema mais utilizado foi a Ceftriaxona associada a Gentamicina e Metronidazol, em 14,8%
dos casos (n=45), com tempo médio de terapia de 8,54 dias, e com falha terapêutica em 2 casos. O terceiro
esquema mais utilizado foi a Cefalotina em monoterapia, em 4,2% dos casos (n=13), com tempo médio de
terapia de 5,8 dias, e com falha terapêutica em 4 casos.

Tabela 3 - Perfil do uso de antibióticos de 1º escolha no tratamento de infecção de sítio cirúrgico após cesárea
(N total = 303).
Quantas vezes foi
Frequência de Tempo médio de uso
Antibióticos % necessário
escolha (N) (dias)
substituir esquema
Cefalotina +
Gentamicina + 197 65,0 8,38 29
Metronidazol
Ceftriaxona +
Gentamicina + 45 14,85 8,54 2
Metronidazol
Cefalotina 13 4,30 5,8 4
Clindamicina +
9 2,98 8,5 0
Gentamicina
Cefalotina +
Clindamicina + 5 1,65 9 1
Gentamicina
Ceftriaxona 5 1,65 8 0
Ceftriaxona +
5 1,65 7,5 0
Clindamicina
Outros (n<5) 24 7,92 9,3 4
Fonte: Praia IG e Silva SM, 2021.

O antibiótico mais utilizado como segunda escolha foi a Ceftriaxona, escolhida em 50% dos casos (n=20).
Em segundo lugar, encontra-se o esquema Cefalotina associada a Gentamicina e Metronidazol, com uma
porcentagem de 27,5% (n=11). Em terceiro lugar, encontram-se a Ceftriaxona associada Clindamicina 12,5%
dos casos (n=5) e a Clindamicina 10% dos casos (n=4) em monoterapia.
A ultrassonografia abdominal foi realizada em 47,85% (n=145) das pacientes. Dessas 52,4% (n=76) destes
exames evidenciaram abscesso de parede e 46,3% (n=67) hematoma, seguidos pela combinação de
hematoma e abscesso representando 0,68%, (n=1) e 0,68 (n=1) sem alterações. Sobre a drenagem
abdominal, 49,65% (n=72) das puérperas foram submetidas a este procedimento, sendo que na maioria
(56,7%, n=38) drenou-se hematoma e o restante, 44,73% (n=34), abscesso. Por fim, o procedimento de
ressutura foi realizado em menos da metade das pacientes, isto é, 43,44% (n=63).

DISCUSSÃO
O Brasil apresenta a segunda maior taxa de cesáreas do mundo com 55%, ficando atrás da República
Dominicana, onde a taxa é de 56% (WHO, 2018). No local de estudo, a taxa média de cesárea entre os anos
de 2015 e 2018 foi de 40,9%, abaixo dos índices brasileiros, mas muito além do preconizado pela OMS.
Quanto à taxa média de ISC, nesses 4 anos, foi de 3,83%, muito acima do valor de 2,8% encontrado no
estudo do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (BENINCASA BC, 2012).
A idade materna acima de 35 anos é considerada como fator de risco para infecção de sítio cirúrgico pós-
cesariana (CAPUZZI IF, et al., 2007; PAIVA VP, et al., 2012). Neste estudo, 13,9% (n=42) das pacientes tem

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mais de 35 anos. A média de idade foi de 24,7 e a maioria das pacientes (24,8%, n=75) estão no intervalo de
idade entre 18 e 21 anos. O fator idade não foi uma agravante para infecção de ferida operatória.
Sobre a paridade, a maioria das pacientes eram primíparas totalizando 37% (n=112) de todas as pacientes
analisadas, seguidas das multíparas com 33,6% (n=102). É apontado a primiparidade como fator de risco
para infecção puerperal (MAHARAJ D, 2007). Em um estudo foram encontrados como fatores predisponentes
à ISC pós-cesárea: a anemia, a HAS, infecção puerperal em cesárea prévia e o tabagismo (MEDEIROS GO
e SOUZA LM, 2010). O que se corrobora de forma parcial, ao que foi encontrado neste estudo, no qual o mais
incidente foi a síndrome hipertensiva com 17,2%, seguida de infecção do trato urinário com 15,5%, estando
também identificados em menor número o diabetes mellitus e as infecções por sífilis e HIV.
Sobre o pré-natal, observou-se que 62% (n=188) das pacientes do estudo realizaram. O número de
consultas de pré-natal deve ser no mínimo seis para que o acompanhamento seja considerado adequado
(PETTER CE, 2013). Em nossa amostra das pacientes que realizaram pré-natal, somente 52,7% (N=99)
tiveram seis consultas ou mais e a média de consultas no pré-natal foi de 5,72. É importante mencionar que
27,4% (N=83) não realizaram o pré-natal. O restante, 10,6% (n=32), não havia informação acerca deste tópico
no prontuário. O que se mostra mais um fator predisponente para infecção de ferida operatória em nosso
estudo.
O aumento no tempo de hospitalização interfere no puerpério da mulher com seu recém-nascido e, ainda
promove a ocupação dos leitos por mais tempo, impedindo a disponibilidade de vagas para outros pacientes.
Nesta pesquisa, a maioria das puérperas permaneceu internada em um período superior a 10 dias, sugerindo
que o tratamento adotado para estas não obteve resultado rápido e eficiente (SOUSA AFL, et al., 2020).
O número de gestantes que iniciam o pré-natal é um dos parâmetros utilizados para avaliar a qualidade
da assistência materno-fetal. O pré-natal tem papel fundamental em termos de prevenção e/ou detecção
precoce de patologias, tanto maternas como fetais (FEBRASGO, 2014).
As principais indicações para cesariana foram: pré-eclâmpsia, desproporção cefalopélvica e amniorrexe
prematura. Considerando esses últimos dados, verifica-se que os resultados corroboraram com os
encontrados em outros estudos (SCHNEID-KOFMAN N, 2005; BENINCASA BC, 2012). O primeiro identificou
como fatores predisponentes diabetes mellitus, hipertensão e ruptura prematura de membranas, já o segundo
demonstrou que amniorrexe prematura é predisponente de riscos.
Existem evidências consistentes de que a antibioticoprofilaxia administrada antes da incisão cutânea nas
cesarianas diminui a incidência de infecção de sítio cirúrgico (OWENS SM, 2009; CONSTANTINE MM, 2008).
Desta forma, a maior parte das pacientes, isto é, 57% (173) realizaram a antibioticoprofilaxia no momento
correto (pré-operatório). O restante, 43%, não realizou a antibioticoprofilaxia.
A profilaxia da cesariana é indicada após ruptura da membrana amniótica há mais de 6 horas, ou quando
o trabalho de parto tem mais de 12 horas e nas situações gerais de risco. O esquema recomendado é
Cefalotina ou Cefazolina 1 a 2 g, IV, após o clampeamento do cordão em dose única (FRONZO C, 2019;
LACERDA R, 2003).
De acordo com um estudo de meta-análise, não há diferença de efetividade entre as cefalosporinas de
primeira, segunda e terceira geração na profilaxia de infecção de ferida operatória, sendo ambos altamente
eficazes (HOPKINS L e SMAIL F, 1999). Desta forma, todos os antibióticos utilizados no pré-operatório, ou
seja, Cefalotina e Cefazolina apresentam, de acordo com a literatura, capacidade de evitar a infecção de sítio
cirúrgico. No entanto, foi relatado que a gravidez é capaz de interferir na farmacocinética da ceftriaxona e da
gentamicina, tornando-as menos eficazes (POPOVIC J, 2007).
Os achados neste estudo demonstraram que a infecção de ferida operatória ocorreu mesmo adotando o
tempo de administração e o tipo de antibiótico. Por isso, outros fatores que influenciam a eficiência da
antibioticoprofilaxia que não estavam informados no prontuário, como tempo de cirurgia, preparo da paciente
com banho, degermação, técnica cirúrgica, tempo cirúrgico, experiência cirúrgica e tipo de curativo utilizado
deveriam ser analisados para ser encontrada a falha na profilaxia realizada.

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Na terapêutica das complicações cirúrgicas o esquema mais utilizado foi a Cefalotina associada a
Gentamicina e Metronidazol, em 65% dos casos. Em um estudo, foram analisadas culturas obtidas de foco
de infecção puerperal, e demonstrou-se que a flora presente é polimicrobiana, sendo mais prevalente a
anaeróbia. Em material colhido durante as cesáreas encontraram-se microorganismos anaeróbios e aeróbios
em 63,0%, anaeróbios em 30,0% 26 e aeróbios em apenas 7,0% (SANTOS VB, 2017).
A associação da Cefalotina aos antibióticos supracitados no tratamento das infecções puerperais nas
pacientes que já haviam realizado antibioticoprofilaxia com Cefalosporina de primeira geração, mesmo sendo
uma ótima opção no tratamento de uma gama de infecções, inclusive em infecções de pele e da estrutura da
pele, é desnecessária, já que após falha da antibioticoprofilaxia com cefalosporinas deve-se optar por classes
diferentes de antibióticos, além de sua utilização excessiva ser considerada um dos fatores que mais contribui
para o problema da resistência microbiana (LOUREIRO RJ, 2016).
A identificação do microrganismo causador da infecção do sítio cirúrgico é necessária, pois orientará no
sentido da prescrição de antibioticoterapia dirigida e fornecerá dados para análise da flora prevalente numa
dada instituição (SANTOS VB, 2017). No presente estudo, foi observado que nenhuma paciente fez coleta de
fragmento da ferida operatória para cultura. Ou seja, todas as pacientes internadas para o tratamento da ISC
pós-cesárea iniciaram algum tipo de antibioticoterapia sem análise do agente etiológico. Somente se a
paciente não apresentasse uma evolução satisfatória, seria realizado a cultura com antibiograma, para
conduzir individualmente, os casos que houvesse falhas a antibioticoterapia empírica, pela inviabilidade do
exame foram realizadas em torno de 10 culturas por ano, onde não tivemos acesso, que conforme o relato
do responsável pela CCIH se extraviou.

CONCLUSÃO
A taxa de infecção de sítio cirúrgico foi elevada durante o período de estudo (3,83%). Os extremos de
idade e pacientes com comorbidades são os mais propensos a desenvolver infecção de ferida pós-operatória.
Pacientes com baixo índice socioeconômico possuem maior risco de apresentarem infecção de ferida
operatória. A antibioticoprofilaxia não define proteção absoluta contra a infecção de ferida operatória. As
classes de antibióticos mais utilizadas para o tratamento da ferida operatória infectada são as cefalosporinas
de primeira geração, associadas ou não com aminoglicosídeos e metronidazol. A importância de estudos
sobre infecção puerperal reside no fato de constituir-se em uma das principais causas de morbimortalidade
no período puerperal.

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