Diversidade e Inclusao Social
Diversidade e Inclusao Social
Diversidade e Inclusao Social
INCLUSÃO SOCIAL
DIVERSIDADE E
INCLUSÃO SOCIAL
R enata S cherer
2ª E dição | 2022
APRESENTANDO O AUTOR
RENATA SCHERER
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SINOPSE
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Diversidade e inclusão social | Renata Scherer
Para começar essa reflexão, podemos interrogar sobre o que significaria afirmar que
a inclusão tem se constituído como um imperativo da Modernidade. De acordo com
os pesquisadores Alfredo Veiga-Neto e Maura Corcini Lopes (2011, p. 126), “a inclusão
é vista como um imperativo que a todos impõe, graças ao caráter natural que, não
problematicamente, é atribuído a ela”. Nas análises dos pesquisadores, a naturalização
dos processos sociais “funciona como uma espessa camada de concreto que sepulta,
sob si, o caráter inventado de tais processos” (VEIGA-NETO; LOPES, 2011, p. 126). Assim,
compreender a inclusão como um imperativo não significa posicionar-se contra ou a
favor de tais políticas, mas significa compreender que tais políticas constituem-se como
uma construção histórica, portanto, são invenções/criações da nossa sociedade.
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Como nos explica Lopes, em seu capítulo para a coletânea “Inclusão e subjetivação”
(2019), não há inclusão sem que os indivíduos sejam conduzidos para tal fim, mas há
possibilidade de vida digna com o outro sem que essa tenha sido forjada pelas políticas
de inclusão. Porém, não há nenhuma das possibilidades se os indivíduos de uma
população não forem educados para cuidar uns dos outros. Em decorrência disso, na
Modernidade, a educação configura-se como uma variável inegociável quando se trata
de vida civilizada. Retomando Veiga-Neto e Lopes (2011), precisamos compreender que
o uso alargado da palavra inclusão, além de banalizar o conceito e o sentido ético que
pode ser dado a ele, também pode reduzir o próprio princípio universal das condições
de igualdade para todos, reduzindo essa compreensão a simples introdução de ‘todos’
no mesmo espaço físico.
Todavia, Kassar (2012) mostra em seu estudo outro lado desse movimento. Para a
pesquisadora, um dos resultados desse processo foi o fechamento de espaços públicos
como classes especiais e oficinas pedagógicas, por esses passarem a ser denunciados
como espaços de exclusão educacional e social. Ao invés de ocorrer uma reconfiguração
desses espaços, aliados com os espaços de educação regular, como nos mostra Kassar,
esses espaços foram fechados.
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Para a pesquisadora, também é importante atentarmos para o que não é dito, para
o que é silenciado: “os sujeitos que não são, seja porque não podem ser associados
aos atributos desejados, seja porque não podem existir porque não poderem ser
nomeados” (LOURO, 2014, p. 71). Assim, a proibição das discussões relativas a gênero
e sexualidade que recorrentemente torna-se uma das pautas de grupos conservadores
relacionadas à educação é mais uma forma da norma operar no campo educacional,
pois “o silenciamento – a ausência da fala – aparece como uma espécie de garantia da
‘norma’” (LOURO, 2014, p. 72).
Tendo isso em vista, podemos também pensar no exemplo dos livros didáticos e
paradidáticos. Vários estudos apontam como esses materiais apresentam a sociedade
com base em dois mundos distintos: o espaço público para o homem e o espaço
doméstico reservado para as mulheres, ou ainda atividades características de homens e
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Em terceiro lugar, ver inclusão e exclusão como duas faces de um mesmo objeto. Ao
não separar os conceitos de inclusão e exclusão, e ao não os entender como conceitos
opostos e, sim, como processos que fazem parte de um mesmo objeto, é possível operar
com o conceito de in/exclusão (LOPES, 2007, DAL’IGNA, 2007, FABRIS; ROSA, 2010).
Nesse contexto, importa olharmos com atenção para como os discursos que circulam
em defesa de uma escola para todos e em torno da inclusão podem operar de forma
ambivalente, de um lado certamente objetivando a inclusão de todos no espaço escolar.
Porém, por outro, marcando esses sujeitos como diferentes e criando estratégias para
sua normalização por meio do apagamento dessa diferença. Sobre essa reflexão vale a
pena lermos com atenção um excerto de uma entrevista realizada com Popkewitz por
duas pesquisadoras brasileiras:
Como nos provoca a pensar Popkewitz, o desafio da inclusão das diferenças na escola
precisa começar pelo questionamento dos princípios que têm operado na construção
do discurso da educação para todos na escola, e como ele tem operado para marcar e
definir o diferente, aquele que precisaria de investimentos (aula de reforço, atendimento
psicopedagógico) para ser corrigido.
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Como nos explica Andrew Solomon na obra: “Longe da árvore: pais, filhos e a busca da
identidade”, o termo defeituoso, que durante muitos anos foi utilizado pela comunidade
médica para referir-se aos sujeitos com deficiência, hoje tem sido substituído por
termos como: doença, síndrome e condição, que podem ser quase tão pejorativos à sua
maneira discreta. Para Solomom, muitas vezes usamos o termo doença para depreciar
um modo de ser e a expressão identidade utilizamos para validar essa mesma maneira
de ser. Estaríamos, então, frente a uma falsa dicotomia: deficiência ou diferença?
O trabalho desenvolvido por Paul Dirac, vencedor do Nobel de Física, mostra que a
luz pode ser uma partícula se fizermos uma pergunta do tipo partícula e uma onda
se fizermos uma pergunta tipo onda. Muitas condições relacionadas às pessoas com
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Nesse contexto, inaugurou-se uma luta pela defesa da autonomia dos sujeitos com
deficiência, mostrando que a conquista da autonomia tem uma profunda relação com o
mundo em que vivemos. Voltamos então nosso olhar novamente para o espaço escolar.
Como estamos construindo nossas práticas dentro de uma perspectiva inclusiva? Como
o currículo escolar contempla ou não a questão das diferenças?
Transformar as culturas das escolas, principalmente aquelas com forte tradição seletiva,
por comunidades de inclusão exige redesenhar os lugares de trabalho, alterando os
papéis e estruturas, construindo, assim, possibilidades para uma cultura profissional
mais colaborativa e modos de organização pedagógica nos quais todos possam se
sentir protagonistas e incluídos (BOLÍVAR, 2019).
No que diz respeito a este texto, importa situarmos que a defesa por um currículo
inclusivo não equivaleria à defesa de atividades e organizações didáticas que ocorreriam
para alguns alunos de forma separada do restante da sua turma regular – pelo contrário.
Como explica Bolívar (2019, p. 831), um currículo inclusivo pressupõe que todo aluno
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOLÍVAR, A. Un currículum inclusivo en una escuela que asegure el éxito para todos.
E-curriculum, São Paulo, v. 17, n. 3, p. 827-851, 2019.
FABRIS, Elí T. H.; ROSA, A. P. da. Jornal VS: currículo escolar a serviço da corrigibilidade.
In: LOPES, M. C.; FABRIS, Elí T. H.(Orgs.). Aprendizagem & Inclusão: implicações
curriculares. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2010. p. 248-263.
MANTOAN, M.T. E. O desafio das diferenças nas escolas. Petrópolis: Vozes, 2011.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PLETSCH, M. D; PAIVA, C. da. Por que as escolas continuam ‘laudando’ alunos com
deficiência intelectual? Revista de Educação Especial. Santa Maria, v. 31, n. 63,
out./dez., 2018.
VARELA, J.; ALVAREZ-URIA, F. A Maquinaria escolar. Teoria & Educação. São Paulo,
n. 6, p. 68-96, 1992.
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