Educação escolar de jovens e adultos
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Sobre este e-book
Ao confrontar as dimensões cognitivas da população de jovens e adultos excluídos da escola com a cultura escolar vigente, ela faz um alerta sobre as competências a serem desenvolvidas pelos professores, considerando as necessidades e as expectativas dos alunos, além dos imperativos das mudanças tecnológicas atuais. Recuperando diferentes abordagens de ensino e de aprendizagem, propõe uma sistemática de planejamento, com apoio pedagógico aos professores e interação multidisciplinar dos conhecimentos. - Papirus Editora
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Educação escolar de jovens e adultos - Stela C. Bertholo Piconez
Educação escolar de jovens e adultos
DAS COMPETÊNCIAS SOCIAIS DOS CONTEÚDOS AOS DESAFIOS DA CIDADANIA
Stela C. Bertholo Piconez
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Para Oscar, Oscarzinho e Matheus, pelo carinho, pelo incentivo e pela paciência.
Para os professores, coordenadores e alunos do Programa de Educação de Adultos (funcionários do campus USP), do Programa Alfabetização Solidária e do Programa de Educação Fundamental Nestlé, pelo crédito, pelo compromisso e pela ousadia diante do desafio de educar todo cidadão.
A todos os meus alunos de Pedagogia, das licenciaturas e da pós-graduação, que, na condição de estagiários, contribuíram para a difícil tarefa de alfabetizar e educar jovens e adultos.
A todos os meus colegas da Faculdade de Educação, pelo incentivo e pelo apoio aos meus ideais.
A todos os alunos do Programa de Educação de Adultos (ensino fundamental e ensino médio), pela oportunidade de exercitar plenamente minha cidadania.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
1. EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: OS IMPERATIVOS DO MUNDO ATUAL
Cidadania, direitos humanos e qualidade
O potencial humano para aprender
A gestão de recursos humanos na era do conhecimento: A necessidade da educação na visão das empresas
Desenvolvendo a criatividade no trabalho: A prática da qualidade
2. A RECONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS EFETUADOS PELOS JOVENS E ADULTOS POUCO ESCOLARIZADOS NO PROCESSO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR
Os enfoques sociais e políticos da educação de jovens e adultos
Alguns enfoques psicológicos sobre educação de jovens e adultos
Os estilos cognitivos dos alunos
A autoinstrução (aprendizagem autodirecionada) e a questão da educação a distância
O contexto brasileiro de jovens e adultos sem escolaridade e a heterogeneidade de situações
3. DESEMPENHOS COGNITIVOS DIFERENCIADOS: RELAÇÃO ENTRE CONHECIMENTOS PRÉVIOS E CONHECIMENTOS ESCOLARES
Os alunos algébricos e os não algébricos
A interação entre as questões da vida profissional e as da sala de aula
À guisa de considerações pedagógicas
4. EDUCAÇÃO ESCOLAR DE JOVENS E ADULTOS: COMBINANDO ENSINO, PESQUISA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Programa de educação de jovens e adultos da Faculdade de Educação da USP: Combinando ensino, pesquisa e extensão
Perfil dos alunos, funcionários do campus
O projeto político-pedagógico e a estrutura organizacional do PEA: A questão dos conteúdos na organização do trabalho escolar com adultos
5. PEDAGOGIA DE PROJETOS COMO GERADORA DE REFLEXÕES SOBRE AS COMPETÊNCIAS BÁSICAS DOS CONTEÚDOS E O DESENVOLVIMENTO DA CIDADANIA
Construindo uma visão mais integradora no contexto escolar
Conhecendo os conhecimentos prévios à escolaridade dos alunos
Enriquecendo e desequilibrando os alunos: Dos conhecimentos do senso comum aos conhecimentos científicos
Sondando habilidades cognitivas e procedimentos de leitura, escrita e raciocínio lógico dos alunos
Lendo, escrevendo e refletindo sobre a língua em todos os conteúdos
A intervenção da escola na reconstrução de conhecimentos
Apreciando a obra humana
Ressignificando o mundo por meio da reflexão sobre os valores
Avaliação do processo e em processo: Sistemática de acompanhamento e de uso de recursos didáticos
Avaliando os alunos, o processo e os materiais
As competências básicas da avaliação
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
SOBRE A AUTORA
OUTROS LIVROS DA AUTORA
REDES SOCIAIS
CRÉDITOS
APRESENTAÇÃO
A educação de jovens e adultos no Brasil sempre foi marcada por movimentos ou iniciativas individuais de grupos, órgãos públicos e privados ou pesquisadores decididos a enfrentar o problema da existência de uma enorme população que não teve a oportunidade de frequentar a escola regular. A história desses movimentos revela descontinuidades, contradições e desafios permanentes em face das diferentes experiências e orientações de suas práticas. Constituem, tais iniciativas, matrizes pelas quais novas experiências vão se constituindo. A essência das novas e das antigas experiências apresenta em comum o compromisso político diante da injustiça social que representa o analfabetismo.
Este livro apresenta parte do trabalho que realizamos, inspirado matricialmente em Paulo Freire e assentado no reconhecimento do universo cultural das experiências, expectativas e necessidades dos alunos jovens e adultos, bem como no significado social e político da educação no mundo atual. Toma nas mãos a responsabilidade e o desafio de unir um corpo teórico de investigações sociointeracionistas, ampliando, para os professores em formação, o universo existente de orientações destinadas à educação escolar de jovens e adultos, esperando contribuir com novos conhecimentos nessa área.
A oportunidade de realizar este trabalho teve seu início na atuação docente no curso de Pedagogia e na coordenação de estágios supervisionados da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Baseadas na criação de um campo de estágio mais próximo possível da realidade educacional brasileira, e na coordenação de um programa de alfabetização de funcionários do campus USP, desde 1987, as experiências aqui relatadas foram permanentemente teorizadas com evidentes resultados e com a apresentação de instrumentos didático-pedagógicos destinados a contribuir com os professores que atuam na área.
O Programa de Educação de Adultos (PEA) da Faculdade de Educação da USP, reconhecido pela comunidade tanto interna como externa, iniciou sua tarefa com o processo de alfabetização e atualmente presta atendimento desde o ensino fundamental até os níveis do ensino médio. Essa ampliação tem o apoio da reitoria da universidade e a aprovação e o credenciamento do Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo (Parecer CEE 1.947/91 e Parecer CEE 643/99). Reúne atividades prático-teóricas inseridas nas três dimensões da universidade: docência, pesquisa e extensão.
A sobrecarga de trabalho que o desafio da escolarização de pessoas analfabetas trouxe para nossa vida acadêmica, também voltada às questões de formação de professor, impediu de certa forma a intensidade de divulgação que a área merece. Fomos acumulando nossas teses e socializando-as com professores e alunos dos programas cuja coordenação pedagógico-científica foi realizada por nós, por meio da publicação de uma série de cadernos conhecidos como Reflexões.
O encaminhamento das reflexões nasceu do cotidiano da sala de aula, nos processos de educação escolar de jovens e adultos e de formação de professores. A problemática esteve sempre centrada no que seria necessário o adulto aprender dadas as exigências de um novo perfil de cidadão feitas pela sociedade atual. A reflexão continuada sobre essa questão recaiu naturalmente nas competências e habilidades necessárias para a formação de um professor de jovens e adultos. Contemplou também a função social dos conteúdos e as possibilidades de ampliação da cidadania, pela educação escolar.
Outras questões vieram na sequência, tais como a da necessidade ou não da formação específica para educação de jovens e adultos. Seria necessário um curso específico sobre educação de jovens e adultos ou a formação básica de professores daria conta de enfrentar os desafios e as dificuldades na área? Qual o papel do professor? Qual o papel dos conteúdos? Que cidadão poderíamos ajudar a constituir com a educação escolar?
Subsídios teóricos foram fundamentando a reflexão a respeito da prática pedagógica em sala de aula – que cada vez exige mais atenção à dinâmica dialética de relacionar essa prática à teoria e vice-versa – e permitindo retornos e reconstruções. Uma coisa, no entanto, pareceu-nos exata: não é verdadeira a pesquisa sem o mergulho na ação e não se consegue diagnosticar intervenções de aperfeiçoamento sem a presença da pesquisa. Destacamos a importância da tarefa dos professores de teorizar o próprio processo de ação com reflexão continuada sobre suas práticas escolares.
Entendemos que publicar parte de nossos estudos e experiências poderia contribuir para a fertilidade dos debates e das pesquisas na área de educação de jovens e adultos. A educação escolar de jovens e adultos é campo complexo, pois envolve outras dimensões (social, econômica, política, cultural) relacionadas às situações de desigualdade em que se encontra grande parte da população do país. Uma educação escolar de qualidade para jovens e adultos não dá conta de reverter o quadro negro da educação atual. O descompasso das ações governamentais e a acomodação da sociedade civil são também responsáveis pelo quadro de injustiça social com o qual convivemos. Oriundo de uma universidade pública, produtora de conhecimentos e de soluções e/ou alternativas para os desafios nacionais, este trabalho tem encontrado respostas educacionais para os desafios representados pelos índices de analfabetismo de nosso país. Ainda que admitamos que a educação depende de decisões políticas, a verdade é que qualquer mudança concreta no sistema educacional tem no professor seu principal agente como mediador entre a educação escolar e a sociedade em que ela está inserida. Esperamos que algumas das questões abordadas neste livro possam suscitar pesquisas que venham dar respostas e esclarecer o lugar da educação escolar no desenvolvimento e na constituição dos cidadãos brasileiros pouco escolarizados.
No primeiro capítulo, abordamos o quadro atual das exigências do mundo em relação ao perfil de cidadão e de trabalho que se necessita e a consequente necessidade de mudança curricular no ensino. Reunimos a experiência de assessoria a empresas sobre a gestão de recursos humanos na era do conhecimento e da sociedade de informação e revelamos quais são seus interesses principais. No segundo capítulo, relatamos os resultados de pesquisas realizadas sobre educação de jovens e adultos, identificando seu caráter de entendimento multidimensional, desde os aspectos sociológicos, psicológicos e pedagógicos até as inferências sobre os diferentes estilos cognitivos. A análise do contexto de formação de professores e da atuação nos estágios curriculares supervisionados permitiu a identificação de algumas implicações importantes para os professores que pretendem atuar na área de educação de jovens e adultos.
Na sequência do capítulo terceiro, ilustramos o quadro teórico citado, relatando nossa pesquisa, financiada pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), sobre os códigos de sobrevivência utilizados pelos alunos com pouca escolaridade. Como seus registros são diferentes dos registros ensinados pela escola, a pesquisa objetivou contribuir com dados sobre o perfil da demanda desses jovens e adultos pouco escolarizados e suas implicações na organização do trabalho pedagógico. No capítulo seguinte, apresentamos as características e especificidades do Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEA), como campo de estágios, contexto em que foram realizados os estudos de aprofundamento, as análises em sala de aula e a busca dos elementos que precisam ser considerados pelo professor. O capítulo mostra a extensão como compromisso social do ensino e pesquisa na universidade.
Em continuidade, anexamos uma proposta de organização de trabalho pedagógico, fundamentada por abordagem sociocultural interacionista, cunhada pelos professores-estagiários como Sistema Transversal de Ensino-Aprendizagem, cuja concepção teórica tem servido de apoio aos professores, na realização da tarefa de planejar, considerando as demandas contidas nos documentos legais e os referenciais teóricos atuais no processo de alfabetizar e de educar jovens e adultos.
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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: OS IMPERATIVOS DO MUNDO ATUAL
DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HUMANOS, EDUCAÇÃO NO TRABALHO E A PRÁTICA DA QUALIDADE
Tornou-se prioridade no mundo de hoje, e requisito da moderna vida econômica, a necessidade de pessoal preparado para assumir novas organizações e diferentes práticas de trabalho ou funções, nas quais o bom desempenho depende da capacidade de lidar com heterogeneidade de situações complexas. Com as novas tecnologias de comunicação e de informação, a sociedade atual vem se adaptando a novas maneiras de viver, de trabalhar, de se organizar, de organizar tempo e espaço de trabalho e de fazer educação.
A qualidade total tornou-se moda. Com a economia globalizada, com a transnacionalização das informações e o acelerado avanço tecnológico, tornou-se prioridade a preocupação com a elevação da capacidade dos recursos humanos para fins de competitividade e produtividade das empresas de qualquer setor. A preocupação geral tem-se centrado no significado da téchné (saber fazer), em inglês, know-how. Os procedimentos que mais favorecem o surgimento das competências são as habilidades na resolução de problemas, na atualização permanente com vistas aos desafios dos novos conhecimentos e na aptidão para criticar e reconstruir suas práticas. As competências não são desafios que se iniciam na universidade; a atuação de um sujeito determina a inovação de todo o conhecimento construído desde seu nascimento, e esse conhecimento é reconstruído continuamente.
Tradicionalmente, a aprendizagem e o tratamento de