Potencial Da Canábis Medicinal No Tratamento Da Doença de Huntington

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 119

Potencial da canábis medicinal no tratamento

da doença de Huntington
Experiência Profissionalizante na Vertente de
Investigação e Farmácia Comunitária

Rafael Oliveira Salvador

Relatório de Estágio para obtenção do Grau de Mestre em


Ciências Farmacêuticas
(Mestrado Integrado)

Orientador: Prof. Doutora Ana Paula Coelho Duarte

Julho de 2023
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

ii
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Declaração de Integridade

Eu, Rafael Oliveira Salvador, que abaixo assino, estudante com o número de inscrição
38367 do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Ciências da
Saúde, declaro ter desenvolvido o presente trabalho e elaborado o presente texto em
total consonância com o Código de Integridades da Universidade da Beira
Interior.

Mais concretamente afirmo não ter incorrido em qualquer das variedades de Fraude
Académica, e que aqui declaro conhecer, que em particular atendi à exigida
referenciação de frases, extratos, imagens e outras formas de trabalho intelectual, e
assumindo assim na íntegra as responsabilidades da autoria.

Universidade da Beira Interior, Covilhã ___ /___ /___

iii
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

iv
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Agradecimentos

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à minha orientadora professora Doutora Ana


Paula Duarte por toda a ajuda, disponibilidade e simpatia durante este tempo em que
trabalhámos juntos. Sob a sua orientação consegui aprender bastante e tornar-me
numa pessoa mais organizado.

Agradeço a toda a equipa da Farmácia Central, em especial ao Dr. Tiago. Foi um


processo de aprendizagem fundamental, em que me foi dada liberdade e
responsabilidade de forma a poder evoluir ao máximo enquanto farmacêutico.

Um agradecimento especial à minha família, nomeadamente, aos meus pais, porque


sem eles não teria alcançado esta etapa. Obrigado por todo o amor e apoio
incondicional demonstrado ao longo dos anos e por todos os sacrifícios. Amo-vos muito
e prometo deixar-vos orgulhosos com o meu percurso daqui para a frente. Não posso
deixar de mencionar também os meus avós, o meu padrinho e os meus primos.

Por último, obrigado todos os meus amigos, de infância e de faculdade. Foi convosco
que me testei, errei, cresci e evoluí. Por todos os momentos que partilhámos. Espero
levar-vos a todos para a vida, independentemente, do destino de cada um.

v
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

vi
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Resumo

A presente dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas,


encontra-se dividida em dois capítulos. O primeiro capítulo refere-se ao trabalho de
investigação sobre o potencial da canábis medicinal para o tratamento da doença de
Huntington e o segundo diz respeito à componente de estágio em Farmácia
Comunitária, nomeadamente, a Farmácia Central, sob supervisão do Dr. Tiago Santos.

A Cannabis sativa é uma planta de origem asiática, cujos componentes têm vindo a ser
utilizadas pelo ser humano tanto a nível terapêutico como recreativo. O seu uso para
fins medicinais foi relatado pela primeira vez há 5000 anos pelo imperador chinês
Cheng Nung, autor da primeira farmacopeia do mesmo país, para casos de fadiga,
reumatismo e malária. No século 20, a planta foi removida da farmacopeia britânica e a
sua produção, posse e venda foi também criminalizada nos Estados Unidos devido às
suas propriedades psicoativas. A descoberta do sistema endocanabinóide no final dos
anos 90, reacendeu o interesse por esta planta de ponto de vista medicinal.

O aumento do conhecimento relativamente aos diferentes tipos de canabinóides,


demonstrou que estes apresentam propriedades neuroprotetoras, antioxidantes e anti-
inflamatórias, de elevado interesse para patologias progressivas do sistema nervoso
central, de mecanismo desconhecido e tratamento dificultado como a Doença de
Huntington. A Doença de Huntington (DH) é uma doença hereditária e sem cura, em
que ocorre uma diminuição da expressão de recetores CB1, levando ao aparecimento de
movimentos anormais e involuntários e declínio cognitivo, e consequente diminuição
de qualidade de vida do doente.

Este trabalho teve como principal objetivo analisar o impacto e avaliar o potencial da
canábis nesta doença, fazendo uma revisão sobre os estudos in vivo, in vitro e estudos
realizados em humanos publicados. A partir dos resultados obtidos podemos concluir
que os canabinóides atuam como agentes neuroprotetores em diferentes culturas
celulares e modelos animais e que têm potencial no alívio de capacidades motoras,
comportamentais e cognitivas em pacientes com DH. No entanto, é necessário um
maior número de estudos em seres humanos com amostra superior, para se obterem
resultados estatisticamente mais significantes.

O segundo capítulo resulta do estágio em Farmácia Comunitária realizado de 1 de


março a 9 de julho de 2021 na Farmácia Central, em São João da Madeira. Neste
capítulo está descrita toda a minha experiência profissionalizante durante este período,

vii
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

desde o funcionamento e organização da farmácia às atividades realizadas ao balcão e


no backoffice.

Palavras-chave

Farmácia Comunitária; Canábis; Doença de Huntington.

viii
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

ix
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Abstract

This dissertation, aimed at obtaining a Master's degree in Pharmaceutical Sciences, is


divided into two chapters. The first chapter is related to the research work on the
potential of medicinal cannabis to treat Huntington's disease, and the second chapter
focuses on the internship component in Community Pharmacy, specifically at Farmácia
Central, under the supervision of Dr. Tiago Santos.

Cannabis Sativa is a plant of Asian origin, whose parts have been used by humans for
both therapeutic and recreational purposes. Its use for medicinal purposes was first
reported 5.000 years ago by the Chinese emperor Cheng Nung, author of the country's
first pharmacopoeia, for cases of fatigue, rheumatism, and malaria. In the 20th century,
the plant was removed from the British pharmacopoeia, and its production, possession,
and sale were also criminalized in the United States due to its psychoactive properties.
The discovery of the endocannabinoid system in the late 1990s rekindled interest in
this plant from a medicinal point of view.

The increase in knowledge regarding different types of cannabinoids has demonstrated


that they have neuroprotective, antioxidant, and anti-inflammatory properties, which
are highly relevant for progressive central nervous system pathologies with unknown
mechanisms and difficult treatment, such as Huntington's disease. Huntington's
disease is an incurable hereditary disease in which there is a decrease in the expression
of CB1 receptors, leading to the appearance of abnormal and involuntary movements,
cognitive decline, and a consequent decrease in the patient's quality of life.

The main objective of this study was to analyse the impact and assess the potential of
cannabis in this disease, conducting a review of in vivo, in vitro, and human studies
published. Based on the obtained results, we can conclude that cannabinoids act as
neuroprotective agents in different cell cultures and animal models, and they have the
potential to alleviate motor, behavioural and cognitive abilities in patients with
Huntington's disease. A greater number of studies in humans with larger samples are
needed to obtain statistically more significant results.

The second chapter is the result of the internship in Community Pharmacy carried out
from March 1st to July 9th, 2021, at Farmácia Central in São João da Madeira. This
chapter describes my entire professional experience during this period, from the
functioning and organization of the pharmacy to the activities carried out at the counter
and in the back office.

x
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Keywords

Community Pharmacy; Cannabis; Huntingon Disease.

xi
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

xii
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Índice

Capítulo 1 - Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de


Huntington.................................................................................................... 1
1. Introdução ............................................................................................................... 1
2. Métodos ................................................................................................................... 2
3. Canábis..................................................................................................................... 2
3.1. Breve História .................................................................................................... 2
3.2. Caracterização Botânica .................................................................................... 4
3.3. Caracterização Química ..................................................................................... 6
3.4. Tipos de Canabinóides ...................................................................................... 6
3.5. Sistema Endocanabinóide ................................................................................. 9
3.6. Uso recreativo ...................................................................................................11
3.6.1 Efeitos Adversos .............................................................................................. 13
3.7. Uso medicinal .................................................................................................. 15
4. Doenças Neurodegenerativas ................................................................................ 18
4.1. Doença de Huntington .................................................................................... 19
4.1.1. Breve história, Etiologia e Epidemiologia ..............................................19
4.1.2. Características e Mecanismo..................................................................19
4.1.3. Sintomas e Progressão da Doença ........................................................ 20
4.1.4. Diagnóstico e Tratamento ......................................................................21
4.2. Canabinóides na Doença de Huntington ........................................................ 23
4.2.1. Estudos pré-clínicos in vitro ................................................................. 23
4.2.2. Estudos pré-clínicos in vivo .................................................................. 25
4.2.3. Estudos em Humanos ........................................................................... 28
5. Discussão ............................................................................................................... 31
6. Conclusão ............................................................................................................... 32
Referências Bibliográficas ..................................................................................... 34
7. 34
Capítulo 2 - Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária ...................... 45
1. Introdução ............................................................................................................. 45
2. Organização e caracterização da Farmácia ............................................................ 45
2.1. Localização Geográfica e Perfil do Utente .......................................................46
2.2. Horário de Funcionamento ............................................................................. 47
2.3. Espaço Físico da Farmácia .............................................................................. 47
2.3.1. Espaço Exterior ..................................................................................... 47
2.3.2. Espaço Interior ...................................................................................... 49
2.4. Recursos Humanos.......................................................................................... 54
2.5. Sistema Informático ........................................................................................ 55

xiii
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

3. Informação e Documentação Científica ................................................................ 56


4. Medicamentos e Outros Produtos de Saúde ..........................................................57
4.1. Medicamentos ................................................................................................. 58
4.2. Outros Produtos de Saúde .............................................................................. 59
4.3. Classificação dos Medicamentos .................................................................... 59
5. Aprovisionamento e Armazenamento .................................................................. 60
5.1. Gestão de Encomendas ................................................................................... 60
5.2. Tipos de Encomendas ..................................................................................... 60
5.3. Critérios de seleção de Fornecedores ............................................................. 62
5.4. Receção de Encomendas ................................................................................. 62
5.5. Margens de Comercialização .......................................................................... 65
5.6. Marcação dos Preços....................................................................................... 65
5.7. Armazenamento .............................................................................................. 66
5.7.1. Condições de Armazenamento ..............................................................66
5.7.2. Armazenamento de Produtos ................................................................66
5.8. Prazos de Validade .......................................................................................... 67
5.9. Devoluções ...................................................................................................... 67
6. Interação Farmacêutico-Utente-Medicamento .................................................... 68
6.1. Aspetos Éticos e Deontológicos e Informação ao Utente ............................... 68
6.2. Farmacovigilância ........................................................................................... 69
6.3. Reencaminhamento dos Medicamentos Fora de Uso e Gestão de Resíduos . 69
6.3.1. Valormed® .............................................................................................69
7. Dispensa de Medicamentos................................................................................... 70
7.1. Medicamentos Sujeitos a Receita Médica....................................................... 70
7.1.1. Tipos de Prescrição médica ................................................................... 71
7.1.2. Validação da Prescrição ......................................................................... 72
7.1.3. Processo de Dispensa de MSRM ........................................................... 73
7.1.4. Dispensa de Psicotrópicos e Estupefacientes ........................................ 74
7.1.5. Regimes de Comparticipação ................................................................ 74
8. Automedicação e Dispensa de MNSRM.................................................................75
9. Aconselhamento e dispensa de outros produtos .................................................. 76
9.1. Produtos de Dermofarmácia, Cosmética e Higiene ........................................ 76
9.2. Produtos Dietéticos para Alimentação Especial ..............................................77
9.3. Produtos Dietéticos Infantis ........................................................................... 78
9.4. Produtos de fitoterapia e suplementos nutricionais ....................................... 78
9.5. Medicamentos de uso Veterinário .................................................................. 79
9.6. Dispositivos Médicos ...................................................................................... 79
10. Outros cuidados de Saúde prestados na Farmácia Central .................................. 80
10.1. Campanha de informação ............................................................................... 80
10.2. Medição da Tensão Arterial ............................................................................ 80

xiv
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

10.3. Medição dos parâmetros bioquímicos ............................................................ 81


10.3.1. Glicémia Capilar ................................................................................ 81
10.3.2. Colesterol e Triglicerídeos ................................................................. 82
10.4. Medição dos parâmetros antropométricos .....................................................83
10.5. Administração de injetáveis ........................................................................... 84
10.6. Consultas de nutrição ..................................................................................... 84
10.7. Distribuição de medicamentos para centros de hemodiálise..........................85
10.8. Preparação individualizada da medicação ......................................................85
11. Preparação de Medicamentos ............................................................................... 86
11.1. Boas Práticas de Preparação de medicamentos manipulados ........................ 87
11.2. Atribuição de Prazos de Validade ................................................................... 88
11.3. Rotulagem ...................................................................................................... 88
11.4. Cálculo de preço dos manipulados ................................................................. 88
11.5. Preparação dos Medicamentos Manipulados ................................................ 89
11.5.1. Pó Antissético “Polvilho da Silva Ferraz®” ........................................ 89
11.5.2. Solução de Minoxidil a 5% ................................................................ 90
11.6. Preparações Extemporâneas .......................................................................... 90
12. Programa de testagem CVP- Universidade da Beira Interior ............................... 91
12.1. Fases do Processo e Descrição......................................................................... 91
13. Conclusão ...............................................................................................................92
14. Referências Bibliográficas ..................................................................................... 93

xv
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

xvi
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Lista de Figuras

Figura 1. Cannabis Sativa L. (A) Semente com uma semana, (B) Planta com 4 semanas
e (C) plantas na fase de flor……………………………………………………………………………………4
Figura 2. Flores masculinas (esquerda) e flores femininas (direita)……………………………5
Figura 3. Principais derivados da planta de canábis e a sua respetiva fórmula
molécula..............................................................................................................................7
Figura 4: Estrutura molecular do CBG…….………………………………………………………………8
Figura 5. Estrutura molecular do VCE-003.2…………………………………………………..……...8
Figura 6. Estrutura molecular do HU-210……………………………………………………………....9
Figura 7. Estrutura molecular do Win55,212-2………………………………………………………..9
Figura 8. Sistema endocanabinóide humano, distribuição dos recetores CB1 e CB2 e
respetiva função…………………………………………………………………………………………………..11
Figura 9. Prevalência do uso de canábis entre jovens adultos (15-34 anos) entre 1995-
2022…………………………………………………………………………………………………………………..12
Figura 10. Percentagens e razões terapêuticas do uso de canábis medicinal entre os
consumidores……………………………………………………………………………………………………...15
Figura 11. Países onde o consumo de canábis é legal (apontados a vermelho) e países
onde este uso é legal para fins médicos (apontados a verde) ……………………………..…….16
Figura 12. Distribuição em percentagem das mortes causadas por doenças
neurodegenerativas em todo o mundo. Dados até ao ano 2017………………………………...18

xvii
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

xviii
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Lista de Tabelas

Tabela 1. Estudos in vitro de canabinóides no tratamento de DH……………………………25


Tabela 2. Estudos in vivo de canabinóides no tratamento de DH……………………………28
Tabela 3. Estudos de canabinóides no tratamento de pacientes com DH…………………31

xix
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

xx
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Lista de Acrónimos

Δ8 -THC delta-8-tetra-hidrocanabinol
Δ9 -THC delta-9-tetra-hidrocanabinol
2-AG 2- Araquidonilglicerol
3-NP Ácido 3-Nitropropiónico
AC Antes de Cristo
AEA Anandamida
ACEA Araquidonil-2-cloroetilamida
AIM Autorização de Introdução no Mercado
ATC Anatomical Therapeutic Chemical
BDNP Base de Dados Nacional de Prescrições
BPF Boas Práticas Farmacêuticas para a Farmácia Comunitária
CAG Citosina- Adenina -Guanina
CB1 Recetor Canabinóide 1
CB2 Recetor Canabinóide 2
CBC Canabicromeno
CBD Canabidiol
CBDA Ácido Canabidiólico
CBDV Canabidavarina
CBG Canabigerol
CBGA Ácido Canabigerólico
CBN Canabinol
CNP Código Nacional do Produto
CNPEM Código Nacional de Prescrição Eletrónica do Medicamento
CVP Cruz Vermelha Portuguesa
DAGL Diacilglicerol Lipase
DCI Denominação Comum Internacional
DH Doença de Huntington
ECS Sistema Endocanabinóide
fMRI Imagem por Ressonância Magnética Funcional
FAAH Amida Hidrolase de Ácidos Gordos
FC Farmácia Central
FGP Formulário Galénico Português
GABA Ácido Gama-Aminobutírico
GPR55 Recetor Acoplado à Proteína G55
HDL High-Density Lipoprotein
HTA Hipertensão Arterial
Htt Proteína Huntingtina
HTT Gene HTT
INFARMED Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde
IMC Índice de Massa Corporal
IVA Imposto de Valor Acrescentado
LDL Low-Density Lipoprotein
MAGL Monoacilglicerol Lipase
MICF Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
MNSRM Medicamentos Não Sujeito a Receita Médica
MNSRM-EF Medicamentos Não Sujeito a Receita Médica de Dispensa Exclusiva
em Farmácia
MRS Espectroscopia por Ressonância Magnética
MSRM Medicamento Sujeito a Receita Médica
MUV Medicamentos de Uso Veterinário
NAPE-PLD Acetilfosfatidiletanolamina Fosfolipase D

xxi
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

OMS Organização Mundial da Saúde


PAD Pressão Arterial Diastólica
PAS Pressão Arterial Sistólica
PET Tomografia Emissão Positrões
PIM Preparação Individualizada da Medicação
PPARγ Proliferador de peroxissoma-γ
PVA Preço de Venda ao Armazenista
PVF Preço de Venda à Farmácia
PVP Preço de Venda ao Público
QA Ácido Quinolínico
SPECT Tomografia Computorizada Emissão Fotão Único
SNS Serviço Nacional de Saúde
THCA Ácido tetrahidrocanabinol
TRPV1 Recetor de Potencial Transitório Vaniloide Tipo 1
UHDRS Unified Huntington’s Disease Rating Scale

xxii
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

xxiii
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Capítulo 1 - Potencial da canábis medicinal no


tratamento da doença de Huntington

1. Introdução
Historicamente, as plantas começaram por ser utilizadas pelo ser humano a
nível terapêutico de forma intuitiva e experimental, apesar dos seus conhecimentos
limitados no que diz respeito a doenças e respetivo tratamento. A primeira evidência
escrita do uso de plantas para fins medicinais foi encontrada na cidade de Nagpur e
data cerca de 5 mil anos antes de cristo (AC). Neste documento estão descritas 12
receitas e mais de 250 variedades de plantas. Os derivados de plantas são componentes
de destaque nas farmacopeias ao longo de milhares de anos por todo o mundo.(1) A
fitoterapia é a área da medicina que se dedica ao estudo e uso de plantas para
tratamento e agente promotor de saúde.(2)

Amplamente conhecida nos dias de hoje pelas suas propriedades recreativas, a


Cannabis sativa, começou por ser utilizada para fins medicinais na China e na Índia.
Tornou-se no século XIX um objeto de interesse para a medicina ocidental que
aprovaria a sua utilização para dezenas de patologias, atuando como agente sedativo ou
hipnótico e analgésico.(3) O desenvolvimento de vacinas, a descoberta de novos
medicamentos e o preocupante crescimento do seu uso para fins recreativos limitaram,
no entanto, o seu interesse de ponto de vista científico até final do século XX.

A Cannabis sativa é uma planta que pertence à família Cannabacea constituída


por centenas de compostos químicos como terpenos e canabinóides. Os canabinóides
atuam nos recetores canabinóides (CB1 e CB2) presentes no sistema endocanabinóide e
podem ser classificados como fitocanabinóides [Δ 9-tetra-hidrocannabinólico (Δ9-
THC) e Canabidiol (CBD)], endocanabinóides [2- Araquidonilglicerol (2-AG) e
anandamida (AEA)] e canabinóides sintéticos. O sistema endocanabinóide é
constituído pelos recetores canabinóides, endocanabinóides e enzimas de síntese e
degradação. Este sistema encontra-se envolvido em processos fisiológicos como
regulação da atividade motora, apetite, sono, memória e modulação da dor(4).

O isolamento do fitocanabinóide Δ9-THC na forma pura da canábis e a


descoberta do sistema endocanabinóide serviram como ponto de partida para que fosse
retomado o interesse nesta planta para várias doenças, nomeadamente as doenças
neurodegenerativas como Alzheimer, Parkinson e doença de Huntington.(5)

1
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Com o presente trabalho pretende-se enquadrar e avaliar o potencial


terapêutico da canábis na doença de Huntington em particular, doença esta sem cura,
cuja terapêutica farmacológica atual não tem revelado as repercussões desejadas.

2. Métodos
Para elaboração deste trabalho, foi efetuada uma pesquisa bibliográfica de
artigos científicos na base de dados Web of Science, Google Scholar e Pubmed, entre
abril e maio de 2023. Foram usadas as seguintes palavras-chave: “cannabis”,
“cannabinoids”, “Huntington disease”, “marijuana”, “treatment”, “medical use”,
“herbal products”, “in vivo” e “in vitro” articulados com os marcadores AND e OR. Não
foi aplicado qualquer limite temporal na pesquisa.

Os artigos que resultaram desta pesquisa, foram sujeitos a um screening que


teve em conta o abstract, artigos repetidos, a sua acessibilidade e texto integral. Foram
utilizados artigos de língua inglesa, portuguesa ou espanhola que apresentavam
informações sobre a doença de Huntington e a canábis.

As fontes bibliográficas presentes no trabalho incluem relatórios, livros, case


reports, randomized-studies, pilot trials, meta-analyses, systematic review, practice
guideline, guidelines ou reviews.

Para a elaboração dos capítulos “Resultados” e “Discussão” foram utilizados


artigos de investigação com ensaios pré-clínicos in vitro (5), in vivo (6) e ensaios em
humanos (6).

3. Canábis
3.1. Breve História
A canábis é uma planta com milhares de anos e desde muito cedo conhecida pelo
ser humano(1). Com origem na Ásia e Médio Oriente, acredita-se que tenha surgido há
pelo menos 12 mil anos e que fosse usada fundamentalmente para fabrico de fibras
para cordas e cestas e para alimentação através das suas sementes(6).

As primeiras referências encontradas sobre o uso da canábis para fins curativos


remontam a 2737 anos A.C. na China. O Imperador Shen Nung, “pai” da agricultura
chinesa e autor da primeira farmacopeia do seu país recomendou esta planta para
tratar malária, dores reumáticas e doenças femininas(4). Os primeiros efeitos
psicoativos da canábis foram relatados na farmacopeia Pen-ts’ ao Ching e eram
descritos como “visões do demónio’’ e “comunicações com espíritos”, associados à
prática do xamatismo(3).

2
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

A popularidade da planta foi crescendo na Índia, de ponto de vista terapêutico e


religioso, por volta dos 1000 anos A.C., onde era usada para tratar praticamente tudo,
desde ansiedade, infeções tópicas, diarreias e até como antitússico. Receitas com
canábis medicinal são referidas também no Egito, no papiro de Ebers e pelo império
romano através do médico grego Dioscorides. A canábis chega ao continente africano
no século XV através de comerciantes dos países árabes e é no século XVI que ela é
introduzida no Brasil pela mão de colonizadores e escravos de países africanos. Nesta
altura no continente europeu o seu uso é exclusivamente para produção de papel (6).

Em meados do século XIX, o médico irlandês William O’Shaughnessy, membro


do exército britânico, publicou um conjunto de trabalhos que demonstravam o sucesso
do uso de preparações de canábis para o tratamento de reumatismo, convulsões e
espasmos, reacendendo o interesse europeu no canábis medicinal. Até ao final do
século XIX, cerca de uma centena de artigos que relatavam os benefícios terapêuticos
da canábis foram publicados(3).

Apesar de comprovada a sua eficácia terapêutica, no início do século XX, o seu


uso a nível medicinal acabaria por ser reduzido de forma considerável. Tal acontece
devido ao desenvolvimento científico da época que levou ao surgimento da vacina
contra o tétano e à produção de novos medicamentos com as mesmas indicações
terapêuticas que a canábis. Devido aos seus efeitos psicoativos, a canábis acabaria por
ser retirada da farmacopeia britânica em 1932 e da farmacopeia americana em 1941
(3,4).

Com o isolamento dos principais canabinóides, canabidiol (CBD) e delta-9-tetra-


hidrocanabinol (Δ9 -THC), nos anos 60 e a descoberta do sistema endocanabinóide
nos anos 90, o interesse dos investigadores pela canábis para fins terapêuticos
ressurgiu. (3) Ao longo dos últimos anos foram publicados milhares de estudos a seu
respeito, expandindo o seu conhecimento, até que se começassem a desenvolver
medicamentos com canabinóides em vários países do mundo.

Em 2018, foi aprovada em Portugal a Lei n.º 33/2018, de 18 de julho que regula a
utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base da planta da canábis
para determinados fins medicinais. Tem por base tornar acessível o tratamento e
garantir que as preparações disponibilizadas cumprem todos os requisitos necessários
no que concerne à demonstração da respetiva qualidade e segurança, contribuindo
dessa forma para a salvaguarda e proteção da saúde pública. Desempenha também um
papel importante na prevenção do uso indevido de medicamentos, preparações e

3
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

substâncias à base da planta da canábis de acordo com a Convenção das Nações Unidas
contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas (7).

3.2. Caracterização Botânica


Pertencente à família Cannabaceae, a Cannabis é um género de plantas cuja
classificação taxonómica tem sido alvo de várias discussões entre autores (8).
Primeiramente, em 1974 descrevem-se 3 espécies: a Cannabis indica L., Cannabis
sativa L. e a Cannabis Ruderalis (9). Atualmente é aceite que o género cannabis é
monotípico e que se poderá considerar uma única espécie: Cannabis sativa L.(Figura
1)(10).

O conteúdo e composição de canabinóides presente em cada planta varia dentro


de cada espécie. Estas variações distintas são designadas de quimiotipos. São
reconhecidos três quimiotipos principais na canábis, tendo em conta as proporções de
CBD e Δ9 -THC: tipo droga, quando a quantidade em Δ9 -THC é superior, tipo
intermediário, quando há quantidades semelhantes de ambos os canabinóides e tipo
fibra, quando há predomínio de CBD (11). O canábis tipo fibra contém menos de 0.3 de
Δ9 -THC, o tipo intermediário apresenta mais que 0.5% de Δ9-THC e mais do que 0.5%
de CBD e o tipo droga contém entre 2-8% de Δ9-THC (12).

A Canabis sativa apresenta normalmente uma maior concentração de THC


quando comparada com a Cannabis indica, que tem uma maior concentração de CBD.
O baixo teor em THC presente na Cannabis ruderalis torna-a pouco atrativa para uso
recreativo ou medicinal, quando comparada às restantes subespécies(13).

Figura 1: Cannabis Sativa L. (A) Semente com uma semana, (B) Planta com 4 semanas e (C) plantas na
fase de flor (14).

4
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

A canábis é uma planta anual de dia curto, isto é, para florescer precisa de pouca
exposição solar e completa o seu ciclo de vida em menos de um ano, acabando por
morrer ao atingir o estado reprodutivo. É considerada maioritariamente como dioica
por apresentar flores, órgãos reprodutores, do sexo feminino e masculino em diferentes
plantas (15). O sexo da planta só é determinado depois da formação das flores.

As plantas masculinas são mais altas, mas menos robustas que as femininas. As
plantas femininas apresentam mais ramos e são mais folhosas. Os caules são eretos de
lenhoso e podem atingir até 6 metros de altura, no entanto as plantas não têm
tendência a superar os 3 metros. As raízes são fortes e ramificadas e podem chegar até
aos 2.5m em solos mais húmidos (10).

Os pecíolos,” pé da folha”, variam de 2 a 7 cm e a folha com formato de palmo


tem de 3 a 9 folíolos (folhas que nascem junto aos pecíolos). Este número tende a ser
sempre ímpar. As margens das folhas são serrilhadas e a face adaxial (superior) tem
uma tonalidade verde mais escura que a face abaxial (inferior) (16).

As flores masculinas estão dispostas de forma solta com muitos ramos e são
constituídas por cinco sépalas e cinco estames pendentes. A planta feminina é
compacta e mais curta que as folhas e quase sem pedicelo, as suas flores estão aos
pares. A flor tem uma bráctea verde que envolve um ovário com dois longos estigmas
projetados para cima (Figura 2) (16). O seu fruto é um aquénio único de casca dura,
acastanhado e ovoide com 2 a 5 mm de comprimento.

Figura 2: Flores masculinas (esquerda) e flores femininas (direita) (16).

Microscopicamente, os tricomas são os elementos morfológicos de maior


relevância na Cannabis sativa. Estes podem ser divididos em dois tipos, glandulares e
não glandulares. Os não glandulares têm essencialmente função de proteção e redução
de perda de água e encontram-se na face abaxial ou adaxial da folha. Os tricomas
glandulares são estruturas de enorme interesse uma vez que é neles que é produzida e
armazenada a resina da canábis. Eles encontram-se maioritariamente na flor feminina

5
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

e estima-se que o THC total presente na mesma varie entre os 10 e 12%, a maior
percentagem dentro do que são as diferentes partes da planta(16).

3.3. Caracterização Química


Tendo em conta a sua constituição, composta por cerca de 500 compostos
químicos (4), a canábis é considerada uma espécie quimicamente complexa e é hoje em
dia uma das plantas mais estudadas.

Dentro do que são os seus constituintes, os terpenos (>200) são os que se


encontram em maior quantidade (4). Os terpenos, responsáveis pelo odor e cheiro da
canábis são objeto de interesse por parte da comunidade científica devido às suas
características lipofílicas e potencial farmacológico. Os diferentes tipos de terpenos,
como o limoneno, linalol, cariofileno, pineno e mirceno, apresentam propriedades
ansiolíticas, analgésicas, anti-inflamatórias e a sua sinergia com os canabinóides tem
vindo a ser alvo de estudo (17). Podem ser utilizados ainda como marcadores químicos
para caracterização das diferentes espécies de canábis.

Em quantidades mais reduzidas estão presentes ainda a vitamina K, pigmentos,


álcoois simples, elementos, esteróides, proteínas, glicoproteínas, enzimas, aldeídos
simples, lactonas, ésteres simples, cetonas simples, aminoácidos, ácidos simples, ácidos
gordos, flavonóides, fenóis não canabinóides, compostos de nitrogénio, açúcares e
compostos relacionados e hidrocarbonetos (18).

Apesar da diversidade de compostos químicos presentes na planta de canábis,


os canabinóides são os seus principais constituintes por serem os mais ativos
biologicamente e até ao momento foram identificados mais de 100 (4).

3.4. Tipos de Canabinóides


Na década de 80 e 90 foram descobertos os primeiros recetores canabinóides,
CB1 e CB2 (19,20). O termo canabinóide refere-se às substâncias que ativam este tipo
de recetores presentes em todo o corpo. Podemos distinguir os canabinóides em três
tipos: endocanabinóides, fitocanabinóides e canabinóides sintéticos (21).

Os endocanabinóides, de origem natural não vegetal, do qual fazem parte a


anandamid0a(AEA) e o 2-araquidonilglicerol(2-AG), atuam pré-sinapticamente e estão
presentes no sistema nervoso central e periférico. São agonistas do recetor canabinóide
1 (CB1) e recetor canabinóide 2 (CB2) e desempenham um papel importante no sistema
endocanabinóide. Este tipo de canabinóides não aporta qualquer tipo de efeito
psicoativo (6,22).

6
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

De origem exógena e produzidos pela própria planta, os fitocanabinóides


interagem também com o sistema endocanabinóide, e cada um deles tem propriedades
distintas que possibilitam a seu uso para fins terapêuticos (21). Dos mais de 100
fitocanabinóides descobertos até ao momento, são dois os que se destacam: THC e o
CBD (Figura 3).

Figura 3: Principais derivados da planta de canábis e a sua respetiva fórmula molecular (23).

Descoberto e isolado em meados dos anos 60, como referido anteriormente, o


Δ9-THC desde cedo se popularizou devido às suas propriedades psicotrópicas,
provocando uma mistura entre efeitos estimulantes e depressivos (13). A sua formação
resulta da descarboxilação térmica (perda de CO2) do Ácido tetrahidrocanabinol
(THCA), presente na planta (23). É um agonista parcial do CB1 e CB2 e um composto
com elevado perfil lipídico, o que facilita a sua absorção no organismo.

Isolado pela primeira vez em 1940 e sem os efeitos psicoativos apresentados pelo
THC, o CBD é um fitocanabinóide de grande segurança e com elevado interesse graças
às suas propriedades anti-inflamatórias, analgésicas, ansiolíticas e anti tumorais.
Resulta da descarboxilação do ácido canabidiólico (CBDA), atua como antagonista dos
recetores CB1 e CB2 e agonista da serotonina(16). Recentemente tem sido alvo de
estudo para diversas doenças neurológicas(24).

Para além do THC e do CBD, existem vários fitocanabinóides com interesse


biológico e terapêutico como o Canabigerol (CBG), Δ8-tetra-hidrocannabinol (Δ8-
THC), Canabinol (CBN), Canabicromeno (CBC), CBDA e THCA, referidos
anteriormente e a e a Canabidivarina (CBDV).

7
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

O CBG (Figura 4) foi o primeiro composto a ser isolado da resina da canábis (18).
É biossintetizado a partir do ácido canabigerólico (CBGA), precursor do THC, CBD e
CBC e atua como agonista parcial dos recetores CB1 e CB2. Foi testado como candidato
terapêutico para a doença de Huntington no alívio de sintomas motores e neurológicos
através do recetor-γ nuclear ativado pelo proliferador de peroxissoma (PPARγ), cuja
ativação é associada a atividades neuroprotetoras (25). Um dos seus derivados de
quinona não psicotrópicos, VCE- 003.2 (Figura5), tem um melhor perfil farmacológico
e não apresenta os efeitos adversos dos potentes ativadores PPARγ. Os seus efeitos
terapêuticos na doença de Parkinson e de Huntington têm sido alvo de
desenvolvimento científico nos últimos anos (25–28).

Figura 4: Estrutura molecular do CBG(14).

Figura 5: Estrutura molecular do VCE-003.2. (28).

O Δ8-THC é um isómero do Δ9-THC, e a atua como agonista parcial dos


recetores CB1 e CB2. O CBN resulta da oxidação do THC, potenciando os efeitos deste,
e é um fraco agonista dos recetores CB1 e CB2 com efeitos psicoativos fracos, cujos
estudos revelam que tem propriedades anti-inflamatórias e sedativas. O CBC é um
constituinte não psicoativo que não apresenta afinidade para CB1 e CB2 que pode ser
usado como agente anti-inflamatório e estudado em doenças neurológicas (4,5,16).

Por último, os canabinóides sintéticos são substâncias exógenas, produzidas em


laboratório de forma a reproduzir os efeitos dos fitocanabinóides. Geralmente mais

8
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

potentes, são usados para uso recreativo ou terapêutico e à semelhança dos


fitocanabinóides, podem provocar efeitos psicoativos. A nabilona, o dronabinol, HU-
210 e o Win55,212-2 são alguns dos mais usados a nível medicinal (29).

A nabilona e o dronabinol são canabinóides clássicos, análogos sintéticos do Δ9-


THC. Comercializados como Cesamet® e Marinol® respetivamente, destinam-se ao
alívio de vómitos e náuseas induzidos por quimioterapia, sob a forma de preparação
oral (21).

Sintetizado em 1988, o HU-210 (Figura 6) é um canabinóide clássico, análogo do


Δ9-THC e agonista CB1 e CB2. É descrito como o canabinóide mais potente até ao
momento. O Win55,212-2 (Figura 7), é um alminoalquilindol que apresenta afinidade
superior para os recetores CB2. Os canabinóides citados são de elevado interesse
terapêutico em doenças neurodegenerativas e cancro (5).

Figura 6: Estrutura molecular do HU-210 (29).

Figura 7: Estrutura molecular do Win55,212-2(29).

3.5. Sistema Endocanabinóide


O sistema endocanabinóide (ECS) é um sistema de comunicação biológico
natural, envolvido na regulação fisiológica de vários processos no nosso organismo,
presente em todas as pessoas. Responsável por fazer a comunicação entre o cérebro e
os restantes neurónios e recetores, apresenta funções na regulação de apetite, sono,
memória e cognição, humor, e a modulação de respostas corporais (30). Este sistema é

9
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

constituído pelos recetores canabinóides, pelos endocanabinóides e pelas enzimas de


síntese e degradação (31).

Os principais recetores canabinóides, CB1 E CB2, estão acoplados à proteína G e


encontram-se espalhados por todo o nosso organismo, como podemos ver na Figura 8.
CB1 está presente em maior quantidade, e apresenta uma maior expressão no sistema
nervoso central, no fígado, no pâncreas e na medula espinhal. CB2 está
maioritariamente expresso no sistema nervoso periférico e ajuda a controlar a
inflamação e o sistema imunitário quando ativado (32,33).

São cinco, os agonistas endógenos que funcionam como endocanabinóides: N-


araquidonoetanolamina, conhecido como anandamida (AEA), 2-araquidonilglicerol (2-
AG), N-araquidonil dopamina (NADA) e a Etanolamida ꞷ-3 (EPEA e DHEA). Os
endocanabinóides são lipofílicos e controlam de forma retrógrada, a transferência de
informação dos terminais pós-sinápticos, para os terminais pré-sinápticos. Apresentam
níveis baixos quando o nosso organismo está em homeostase, sendo sintetizados em
maiores quantidades aquando de uma estimulação de resposta a infeções, inflamações,
dor e stress (30,31).

Após a ligação do agonista ao recetor, eles são ativados e inibem a enzima adenil-
ciclase, impedindo a conversão de adenosina monofosfato (AMP) em AMP cíclico,
provocando a abertura dos canais de potássio e fecho dos canais de cálcio, levando à
diminuição de libertação de neurotransmissores GABA e glutamato na fenda sináptica,
inibindo a neuro-transmissão. Apesar de ainda não se conhecer por completo o
mecanismo deste sistema, é sabido que o aumento de cálcio estimula a síntese dos
endocanabinóides (34).

Neste sistema, estão presentes ainda as enzimas metabólicas de síntese e de


degradação. As enzimas de síntese são a enzima diacilglicerol lípase (DAGL) que
sintetiza 2-AG e a acetilfosfatidiletanolamina fosfolipase D (NAPE-PLD) que sintetiza
AEA .As enzimas de degradação são a amida hidrólase de ácidos gordos (FAAH),
responsável pela degradação da AEA e a monoacilglicerol lípase (MAGL) que degrada a
2-AG (30,31).

Mais recentemente foi também referenciada a ação do recetor de potencial


transitório vaniloide tipo 1 (TRPV1) e do recetor acoplado à proteína G55 (GPR55) no
ECS (30).

A descoberta deste sistema envolvido na regulação de inúmeros processos no


nosso organismo com alta expressão de recetores CB1 (32), motivou um crescimento
exponencial nesta área da investigação. Atualmente, grupos de investigação dedicam-

10
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

se ao estudo do sistema endocanabinóide, com o objetivo de desenvolver novos


tratamentos para determinadas doenças como as neurodegenerativas (5,31).

Figura 8: Sistema endocanabinóide humano, distribuição dos recetores CB1 e CB2 e respetiva função
(30).

3.6. Uso recreativo


Ao contrário do que se possa pensar, o uso recreativo da canábis, remonta há
milhares de anos e está associado a diversas culturas por todo o mundo. Na cultura
hindu, a planta estava ligada à adoração do deus Shiva, “O Deus que confere
felicidade”, e era descrita como fonte de felicidade e alegria, bem como fonte de prazer
e agente libertador do medo (35).

Nos anos 60, com o movimento de libertação pessoal e desenvolvimento de uma


nova linha de pensamento que visava quebrar tabus e normas, o uso de drogas em
contexto recreativo começou a gerar preocupação no mundo ocidental. Os números
apontam que num espaço de 5 anos (1967-1971) a percentagem de jovens nos Estados

11
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Unidos que haviam consumido canábis pelo menos uma vez na vida subira de 5% para
44% (3).

Atualmente, a canábis é a terceira substância psicoativa mais utilizada a nível


mundial, ficando apenas atrás do álcool e do tabaco. Ao contrário de outras drogas é
produzida em quase todos os países. Os dados revelam que houve um aumento de
aproximadamente 30% na incidência e prevalência de desordens relacionadas com o
consumo de canábis desde o ano de 1990. Estima-se que em 2018 existissem cerca de
200 milhões de consumidores de canábis em todo o mundo – 4% da população em
idade adulta. Os Estados Unidos (47 milhões de utilizadores), a Austrália, Nova
Zelândia (2.4 milhões) e a região do Oeste e Centro africano (9.3%) são as regiões com
maior consumo de canábis (36).

Na Europa, a canábis destaca-se claramente como a droga ilícita mais consumida.


As estatísticas de 2023 (37) indicam que cerca de 8% dos adultos terão usado canábis
no último ano e que cerca de 1.3% são consumidores diários. Os países com maior
prevalência em jovens adultos de uso de canábis na Europa são a França (54.5%),
Espanha (47.2%) e a Estónia (46%). Portugal apresenta uma prevalência de
(15.1%)(Figura 9).

Figura 9: Prevalência do uso de canábis entre jovens adultos (15-34 anos) entre 1995-2022 (37).

Em 2021 cerca de 97 mil pessoas deram entrada em centros especializados de


tratamento de problemas relacionados com o uso da canábis. A idade média do início
do consumo dos participantes é de 16 anos, da entrada no centro é de 26 e a média de
uso semanal da canábis é de 4 vezes. Cerca de 83% são do sexo masculino (37).

12
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

O fácil acesso ao canábis e a sua legalização para uso recreativo em alguns países
como o Canadá, Países Baixos, alguns estados norte americanos, poderão estar na
origem do aumento desta prevalência em todo o mundo. É, no entanto, necessário
equilibrar o seu uso uma vez que as substâncias psicoativas da canábis são capazes de
provocar danos a curto e longo prazo na saúde do ser humano.

3.6.1 Efeitos Adversos


Os efeitos da canábis dependem da via de administração, da sua concentração em
THC, da dose consumida, da experiência do utilizador e da sua vulnerabilidade
biológica aos efeitos da droga. Grande parte do conhecimento existente relativamente
aos seus efeitos adversos são conhecidos por estudos na vertente do seu uso de forma
recreativa.

Para além das propriedades referidas anteriormente, os efeitos do consumo de


canabinóides variam de pessoa para pessoa, podendo provocar sensação de bem-estar,
ataraxia, alterações de humor (euforia ou tristeza), alucinações, descoordenação,
variações de apetite, entre outros. Estes efeitos variam de acordo com a quantidade
consumida, a frequência e a qualidade do produto. A genética pode também influenciar
os seus efeitos secundários (13).

A sua administração, enquanto droga, é feita comumente por inalação de fumo,


vaporização ou ingestão de produtos comestíveis. Na vaporização há uma reduzida
exposição a produtos resultantes da combustão e agentes carcinogénicos, reduzindo
potenciais efeitos adversos associados a doenças respiratórias (38). Quando inalado, os
efeitos imediatos provocados pelo consumo de canábis incluem vermelhidão e
diminuição intraocular nos olhos, secura da boca, sensação de calor ou frio, aumento
da frequência cardíaca e relaxamento muscular.

Relativamente aos efeitos a longo prazo, a inalação da canábis pode contribuir


para o desenvolvimento de doenças respiratórias. Está associada à tosse, a uma maior
produção de expetoração e ainda a falta de ar (39–41). O consumo crónico de canábis
pode ainda estar ligado à asma (42,43). A nível cardiovascular, o consumo de canábis
parece estar associado ao enfarte do miocárdio(44,45). Para além disso, outro estudo
indicou que o risco de enfarte do miocárdio sobe significativamente durante os 60
minutos seguintes ao consumo (46). Arritmias cardíacas são comuns entre
adolescentes e jovens adultos que consomem canábis(47).

Quanto ao sistema renal, está comprovado que o uso de canábis afeta o


funcionamento dos rins (48). Fumadores frequentes de canábis também apresentam
um risco superior de desenvolver encefalopatia hepática (49), olhos secos e pouca

13
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

produção de lágrima (50), periodontite e leucoplasia (51). O consumo prolongado de


canábis pode despoletar também síndrome de hiperémese, caracterizado por náuseas
recorrentes, vómitos e dores abdominais. Estes sintomas são aliviados quando o
individuo é exposto a um banho quente (52).

Vários investigadores tentaram perceber se há relação entre o consumo de


canábis e a disfunção sexual em homens e mulheres aparentemente saudáveis (53–55).
Não há evidências suficientes que liguem a canábis a este problema, mas parece haver
uma diferença significativa na prevalência de disfunção erétil entre homens fumadores
e não fumadores de canábis (56). O consumo de canábis também pode estar associado a
uma baixa contagem de espermatozoides (57).

Os canabinóides podem passar para o leite materno e por sua vez passar para os
recém-nascidos. O THC pode ser detetado durante semanas no leite, mesmo se a mãe
parar o consumo de canábis. Os efeitos da exposição de canabinóides a recém-nascidos
ainda são incertos (58,59), no entanto nas mulheres grávidas, o consumo prolongado
está associado a um baixo peso do recém-nascido, pouco tempo de gestação e um risco
acrescido de o recém-nascido precisar de cuidados neonatais (60).

A associação do consumo de canábis a diversos tipos de cancro é ainda incerta.


Apesar de estar aparentemente associado a um tipo de cancro dos testículos, ainda não
é claro se pode estar associado a cancro do pulmão ou a cancro da cabeça, pescoço e
boca (61).

Quando consumidos em doses elevadas e por períodos prolongados, os


canabinóides podem contribuir para o aparecimento de várias perturbações mentais
como depressão, perturbação bipolar e pânico, ou de personalidade, deterioração
psicossocial e toxicodependência. Os consumidores de canábis têm uma maior
probabilidade de sofrer de psicose do que os que não consomem (62). O risco de
desenvolver esquizofrenia também é superior nos seus consumidores, especialmente
naqueles que consomem desde a adolescência. O uso de canábis com maior
concentração de THC parece ser um fator determinante para o desenvolvimento de
perturbações mentais (63,64).

Os acidentes de viação, visitas à urgência e internamento hospitalar estão muitas


vezes associados ao consumo de canábis. A ingestão de altas doses de THC afetam a
atenção, concentração, tempo de resposta e coordenação visual e motora, aumentando
o risco de sofrer um acidente de viação entre 32 a 97% (65,66). Pessoas que consumam
canábis de forma não controlada têm uma maior probabilidade de ser hospitalizadas
que o não-consumidor (67), no entanto não há ainda evidências suficientes que

14
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

permitam associar este consumo crónico como causa de morte. As causas de morte
mais comuns associadas ao seu consumo resultam principalmente de acidentes e
suicídios, sendo que em muitos destes casos são encontradas também outras
substâncias psicoativas, como o álcool (68).

3.7. Uso medicinal


Apesar dos riscos inerentes à utilização recreativa da canábis, esta foi e continua a
ser um objeto de grande interesse para as indústrias farmacêuticas como agente
terapêutico. Nos últimos 50 anos, o seu uso exclusivo para fins medicinais viria a ser
determinado em diversas convenções das Nações Unidas devido ao seu potencial de
abuso (69,70).

Um estudo realizado na América do Norte revelou que 23% dos consumidores


que relatam ter usado canábis uma vez na vida, fizeram-no por razões médicas. A
Figura 10 ilustra os principais motivos e respetivas percentagens, dos pacientes que
usam canábis para fins terapêuticos (71).

Figura 10: Percentagens e razões terapêuticas do uso de canábis medicinal entre consumidores (71).

A Figura 11 ilustra os países onde o consumo de canábis para fins medicinais é


legal e os países que permitem este uso sob condições especificas (9). Outros países que
permitem o uso de canábis são o Canadá, Tailândia e vários estados da América do
Norte (23). Um estudo que decorreu entre 2016 e 2020, mostrou que o número de
portadores de licença de uso terapêutico da canábis nos Estados Unidos aumentou 4.5
vezes (72).

15
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Figura 11: Países onde o consumo de canábis é legal (apontados a vermelho) e países onde este uso é legal
para fins médicos (apontados a verde)(9).
O único medicamento à base de canábis comercializado atualmente em Portugal é
o Sativex®. Este medicamento, aprovado desde 2012, é uma solução para pulverização
bucal com Δ9-THC e CBD, indicado para o alívio da rigidez muscular na esclerose
múltipla. Os efeitos adversos mais frequentes resultantes da sua aplicação são tonturas

16
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

e fadiga. Em 2019, começou a ser comercializado na farmácia no grupo de analgésicos e


antipiréticos, por cerca de 475€, sendo que 37% deste valor é comparticipado pelo
estado (73).

Também está disponível no mercado a Tilray Flor Seca THC 18, que consiste em
flores secas da planta fêmea de canábis, contendo 18% de THC e cerca de 1% de CBD.
Tem como indicações terapêuticas o alívio de náuseas e vómitos, estimulação de
apetite, dor crónica, glaucoma resistente à terapêutica, síndrome de Gilles Tourette e
espasticidade associada à esclerose múltipla (74).

Em 2019, a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde


(INFARMED) aprovou uma lista das indicações terapêuticas consideradas apropriadas
para as preparações e substâncias à base da planta da canábis: espasticidade associada
à esclerose múltipla ou lesões da espinal medula; náuseas, vómitos (resultante da
quimioterapia, radioterapia e terapia combinada de HIV e medicação para hepatite C);
estimulação do apetite nos cuidados paliativos de doentes sujeitos a tratamentos
oncológicos ou com síndrome de imunodeficiência adquirida (SIDA); dor crónica
(associada a doenças oncológicas ou ao sistema nervoso, como por exemplo na dor
neuropática causada por lesão de um nervo, dor do membro fantasma, nevralgia do
trigémio ou após herpes zoster); síndrome de Gilles de la Tourette, epilepsia e
tratamento de transtornos convulsivos graves na infância, tais como as síndromes de
Dravet e Lennox-Gastaut e glaucoma resistente à terapêutica(75).

Apesar da extensa lista de indicações terapêuticas para qual o uso de canábis está
autorizado, os cientistas continuam a estudar e testar hipóteses em diferentes modelos,
avaliando a sua ação anti-inflamatória, antioxidante e neuro protetora de forma a
retardar doenças, controlar sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes
(32).
A alta distribuição de CB1 em diferentes partes do cérebro (substância nigra,
gânglios da base, globus pallidus, hipocampo, hipotálamo) e na medula espinhal, bem
como a sua modulação na transmissão dos neurotransmissores GABA e glutamato
fazem da canábis, um objeto de estudo no que diz respeito ao tratamento de doenças
neurodegenerativas. Neste tipo de doenças é possível observar uma diminuição no
número e na atividade dos recetores canabinóides (76). Nos últimos anos foram
realizados vários estudos que testaram e demonstram a eficácia da canábis em doentes
com Alzheimer e Parkinson (77), incentivando a pesquisa dos seus benefícios
terapêuticos noutras doenças como a DH (78). Em 2018, durante a conferência da
sociedade canadiana da DH, Lynn Raymond da British Columbia University, reportou
que alguns dos seus pacientes apresentaram uma melhoria da distonia e em alguns

17
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

casos redução de coreia e ansiedade depois da introdução de óleo de CBD


(CBD>1%THC) na terapêutica(79).

4. Doenças Neurodegenerativas
As doenças neurodegenerativas são doenças crónicas, sem cura e idade-
dependentes associadas ao funcionamento do sistema nervoso. Existem mais de 600
condições que afetam os neurónios no cérebro, ocorrendo muitas vezes destruição
progressiva e irreversível da rede neuronal em partes especificas do sistema nervoso
central (80). As doenças mais comuns são a Alzheimer, Parkinson, Huntington e
Esclerose Múltipla. Estas doenças apresentam os mais variados sintomas e o
conhecimento incompleto dos mecanismos associados às mesmas, leva à falta de
tratamento (81,82). A predisposição genética, histórico familiar, estilo de vida e
exposição a certos agentes ambientais desempenham também um papel importante na
suscetibilidade destas doenças.

A Figura 12 representa a distribuição, em percentagem, das mortes causadas por


doenças neurodegenerativas no mundo. Estas doenças parecem estar mais ligadas aos
países desenvolvidos (83) e o seu número tende a aumentar, acompanhando o
envelhecimento da população. A Organização Mundial de Saúde prevê ainda que a nível
mundial, daqui a 20 anos, as doenças neurodegenerativas sejam a segunda causa de
morte mais prevalente, logo a seguir às doenças cardiovasculares (81,82).Estima-se que
em Portugal cerca de 180 mil pessoas são afetadas por algum tipo de demência, sendo a
doença de Alzheimer a mais prevalente, responsável por 60 a 70% dos casos (84).

Figura 12: Distribuição em percentagem das mortes causadas por doenças neurodegenerativas em todo o
mundo. Dados até ao ano 2017 (83).

18
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

O presente trabalho foca-se na Doença de Huntington (DH), uma doença


neurodegenerativa menos comum, caracterizada pelo seu comportamento peculiar,
sintomas motores e distúrbios psicológicos.

4.1. Doença de Huntington


4.1.1. Breve história, Etiologia e Epidemiologia

A DH é uma doença neurodegenerativa progressiva, de transmissão autossómica


dominante. Esta doença foi descrita por George Huntington em 1872, através da
observação de pacientes em Long Island, nos Estados Unidos. Segundo as suas
descrições, estes pacientes apresentavam ações espasmódicas dos músculos,
acompanhadas por movimentos mais ou menos irregulares da face, tronco, braços e
pernas. Estes sintomas apareciam na idade adulta e os doentes apresentavam
tendências para suicídio e insanidade. Huntington chamou a esta doença “Coreia
Hereditária”, devido à origem da palavra “coreia” (que vem do latim choreus, dançar),
assemelhando-se aos movimentos involuntários dos pacientes (85,86).
Em 1993, um grupo de investigadores descobriu o gene que causa DH (HTT),
localizado no cromossoma 4, na posição 4p16.3. Este gene por ser dominante, basta ser
herdado por um dos pais para que a doença se manifestar. Em 1960, começaram a ser
criados grupos de investigação para esta doença, campanhas de informação e
sensibilização, e grupos de apoio para os doentes e respetivas famílias (86).

Apesar de ser uma doença que afeta pessoas em todo o mundo, há aspetos
importantes a considerar na sua prevalência. Apresenta uma taxa de prevalência
superior na América do Norte, Austrália e Europa, com aproximadamente 6 a 14
indivíduos em cada 100.000. Já na Ásia, esta prevalência baixa para um valor de 0.40
por cada 100 mil habitantes (85). Estima-se que a incidência da DH em Portugal seja
de 5-10 doentes por cada 100 mil habitantes(87).

4.1.2. Características e Mecanismo

A doença de Huntington é uma doença do sistema nervoso central, causada pela


perda de células nos gânglios da base. Esta perda traz consequências a nível cognitivo,
equilíbrio emocional e motor, levando muitas vezes à demência. Atualmente, não há
cura para esta doença, mas os tratamentos podem atenuar alguns sintomas (86).

A manifestação da doença de Huntington resulta da repetição do trio nucleótido


citosina-adenina-guanina (CAG), que causa uma mutação no braço curto do
cromossoma 4p16.3. São necessárias pelo menos 36 cópias de CAG para que a doença
se manifeste. Este cromossoma é responsável pela codificação da proteína huntingtina

19
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

(Htt), que por sua vez também é gerada com mutação. O número de repetições está
relacionado com a idade de início da doença, sendo que quanto mais vezes o trio se
repete, mais cedo se manifesta a DH (88).

Na transmissão genética, há tendência para as repetições do trio aumentarem nas


gerações sucessivas, devido à instabilidade desta mutação. Isto faz com que a doença se
manifeste em idades cada vez mais jovens em famílias com a mutação (88). Como é
uma doença hereditária, homens e mulheres têm a mesma probabilidade de herdar o
gene de um dos progenitores afetados.

A expressão da proteína huntingtina causa uma série de modificações


moleculares e celulares, que leva aos sintomas da doença. Na fase inicial da doença, os
níveis do recetor canabinóide CB1 começam a ser reduzidos, visto que a sua transcrição
é inibida pela huntingtina. Está demonstrado que a redução do número de recetores
CB1 e a sua consequente perda de função contribui para o declínio cognitivo,
comportamental e motor (76).

Os mecanismos pelos quais a doença atua ainda não são compreendidos na


totalidade, no entanto investigações apontam para a toxicidade da proteína mutante
huntingtina como causa do declínio cognitivo e motor (86).

4.1.3. Sintomas e Progressão da Doença

A idade média para o aparecimento dos sintomas da DH é de 45 anos. Estes


sintomas podem ser divididos em motores, cognitivos e comportamentais. Numa fase
inicial da doença, os sintomas motores traduzem-se por dificuldade na execução de
movimentos rápidos, principalmente nos membros superiores, dificuldades em manter
atos motores constantes (como apertar a mão ou segurar numa caneta), tiques faciais,
mudança de caligrafia e inquietação (86,89).

Com o evoluir da doença, os movimentos involuntários (coreia) começam a


instalar-se, evoluindo para movimentos mais grosseiros, como a rigidez e distonia. A
distonia caracteriza-se por contrações involuntárias de longa duração que podem forçar
posições anormais e causar dor. Nestes casos, os pacientes ficam totalmente
dependentes, perdendo a independência locomotora e por vezes a capacidade de falar
(86,90).

Apesar das suas capacidades motoras estarem afetadas, os pacientes continuam a


estar conscientes do seu meio ambiente e de compreender a linguagem. Foi observado
que a coreia não está presente em todos os doentes, principalmente em doentes que
manifestaram a doença mais jovens (85,90). Quando a doença se começa a manifestar

20
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

antes dos 20 anos de idade (também conhecida por variante juvenil da DH), estes
pacientes têm menos movimentos involuntários, mas exibem mais rigidez e distonia.
Outro sintoma motor muito comum são as alterações dos movimentos oculares, como a
dificuldade de fixação do olhar (90).

O declínio cognitivo ou intelectual consiste na diminuição da capacidade de


organizar assuntos relacionados com a rotina diária, planos ou tomada de decisões.
Inicialmente, ocorrem apenas ligeiros esquecimentos ou dificuldades em lidar com
situações inesperadas. A memória é fortemente afetada na DH, bem como a capacidade
de concentração. Com a progressão da doença, torna-se difícil executar várias tarefas
ou até mesmo iniciar alguma atividade de forma espontânea (88).

Quanto ao declínio comportamental ou emocional, estes podem traduzir-se em


irritabilidade, ansiedade, mudanças de humor, isolamento social, comportamentos
impulsivos e agressivos, depressão ou apatia. São menos frequentes os distúrbios
psicóticos, doença bipolar, alterações de personalidade ou alucinações. Com a
progressão da doença, podem surgir ainda distúrbios do sono e perda de peso. A atrofia
muscular e as alterações metabólicas (como intolerâncias a alimentos) também podem
aparecer em fases mais tardias da doença (86).

A diversidade e complexidade dos sintomas presentes na DH implica uma


atenção especial por parte dos profissionais de saúde, de forma a ser feito um
diagnóstico diferencial preciso e respetivo aconselhamento e planeamento.

4.1.4. Diagnóstico e Tratamento

Uma vez que a doença de Huntington é hereditária, o seu diagnóstico preditivo


pode ser efetuado através da avaliação do histórico familiar ou da realização de um
exame genético, onde é avaliada a presença da mutação no gene HTT (86,89).

Quando surgem alterações motoras evidentes, é feito um diagnóstico clínico com


base na Unified Huntington’s Disease Rating Scale (UHDRS), que engloba testes de
avaliação das funções motoras, cognitivas, comportamentais e capacidades funcionais
do paciente. Esta escala permite avaliar em que etapa da doença o doente se encontra.
A avaliação é feita por uma escala de independência, uma escala de capacidade
funcional e um questionário para avaliar o comportamento (86).

A escala de independência permite avaliar o grau de incapacidade. Tanto o


paciente como os familiares são questionados sobre o desempenho das atividades

21
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

diárias do paciente, como dificuldades em fazer a higiene ou alimentação, em vestir-se


ou tomar conta de si próprio. É normalmente avaliada de 0 a 5, sendo 5 o
correspondente ao caso mais severo da doença. A escala de capacidade funcional
consiste em perguntas de sim ou não, sobre as rotinas de dia-a-dia do paciente: se é
capaz de andar, conduzir ou fazer um telefonema sem ajuda, entre outros. A escala de
capacidade comportamental engloba maioritariamente perguntas sobre o tipo de
comportamentos que o paciente sente durante o dia: se está triste, se tem ansiedade, se
existe irritabilidade sem motivo aparente ou se há pensamentos suicidas (90).

Os resultados deste exame são vistos por um médico que posteriormente avalia o
grau de confiança para o diagnóstico de DH. A UHDRS é uma avaliação clínica
essencial, usada tanto por profissionais de saúde como grupos de investigação (89).

A neuro imagiologia também pode ajudar no diagnóstico da DH. Técnicas como


imagem por ressonância magnética funcional (fMRI), tomografia por emissão de
positrões (PET) e espectroscopia por ressonância magnética (MRS) são ótimas para
monitorização de fases iniciais da doença e possivelmente medir a resposta ao
tratamento(89). Estas técnicas podem revelar uma diminuição do volume dos
ventrículos laterais em doentes com sintomatologia marcada e uma diminuição do
volume do globus pallidus, principalmente em pacientes que ainda não demonstraram
tantos sintomas. A imagiologia pode ser extremamente útil não só para prever, mas
também monitorizar a progressão da doença (86).

Alguns marcadores bioquímicos consistentes com a patologia incluem alterações


da homeostase, distúrbios endócrinos, disfunção mitocondrial, alterações do sistema
imunitário, mecanismo do colesterol e dos sistemas glutamato e GABAérgico (89).

Apesar dos inúmeros avanços no estudo da DH, como a compreensão dos


mecanismos genéticos e a criação de novos testes de diagnóstico, não existe cura nem
nenhuma estratégia terapêutica que impeça a progressão da doença. Após o início dos
primeiros sintomas, é estimado que o doente possa viver mais 15 a 20 anos,
aproximadamente. Os doentes não morrem propriamente da doença, mas sim de
complicações associadas à mobilidade: podem sufocar com alimentos, traumas fatais
ou infeções. O suicídio é também muito comum (90).

Os objetivos do tratamento passam por retardar o aparecimento de sintomas e de


manter o doente autónomo e com qualidade de vida. Os medicamentos receitados a um
paciente com DH são maioritariamente fármacos antipsicóticos como a clorpromazina,
risperidona, haloperidol, antidepressivos e tetrabenazina para a coreia(89,90).

22
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

O acompanhamento psicológico e psiquiátrico para lidar com as alterações


comportamentais é sempre recomendado aos pacientes. Todos os pacientes são
acompanhados por um médico neurologista que coordena o seu trabalho com os
restantes profissionais de saúde (90).

4.2. Canabinóides na Doença de Huntington


Como foi descrito anteriormente, apesar dos esforços realizados na procura de
uma solução para a DH, o facto de não ter cura, limita os tratamentos atuais à melhoria
da qualidade de vida do paciente. O sucesso resultante do uso de canabinóides em
várias doenças neurodegenerativas (91) despertou o interesse científico relativamente
à sua ação a nível da DH.

Na DH, a expressão da proteína huntingtina provoca inibição da transcrição de


CB1, diminuindo a sua expressão, causando consequentemente alterações a nível do
sistema endocanabinóide (92–94). Estas deficiências em CB1 levam a lesões cerebrais
que contribuem para os sintomas motores, cognitivos e comportamentais da doença
(32).

Desta forma, é proposto que a administração de agonistas de CB1 levará à


estimulação destes recetores, impedindo a sua perda de função, atuando como
neuroprotetores (91). A estimulação dos recetores CB2 também tem potencial
terapêutico, já que promove uma ação anti-inflamatória e neuroprotetora, protegendo
os tecidos de danos neuronais (91,96,97).

De seguida serão apresentados os resultados de vários estudos, realizados em


diferentes fases experimentais e com diferentes populações, que sugerem os benefícios
neuroprotetores dos canabinóides. Serão também analisadas as descobertas mais
significativas e as suas limitações.

4.2.1. Estudos pré-clínicos in vitro

Os estudos in vitro servem de base para futuras investigações e representam


ensaios realizados em meio controlado, geralmente em laboratórios, que envolvem o
uso de células, tecidos ou organismos isolados. A sua realização é geralmente mais
barata que outros tipos de estudos. A principal limitação deste tipo de estudo é a
representação incorreta dos sistemas biológicos dos organismos vivos, levando à
ocorrência de resultados enganosos (98).

Os resultados promissores da exposição de canabinóides às diferentes culturas


celulares, estão descritos na Tabela 1, fornecendo uma visão abrangente dos efeitos
destes em modelos celulares da doença de Huntington.

23
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Para os estudos selecionados foram utilizados vários tipos de células: PC12,


estaminais de ratos; HiB5, STHdhQ111/Q111, STHdhQ7/Q7; Neuro-2a (N2a) e STHdhQ111/Q111;
e HaCaT, THP1, SHSY5Y, hepa 1c1c7, A549 e Q7/Q111. As células PC12 são células de
feocromocitoma de rato, bastante usadas nos estudos de doenças neurodegenerativas
devido às suas semelhanças com os neurónios (99).

Um dos estudos avaliou o efeito da ligação do Δ9-THC, CBD, CBG e dos seus
percursores acídicos ao recetor PPARy. Este recetor desempenha um papel
fundamental nos processos inflamatórios da DH, por diminuição da concentração da
proteína huntingtina. O percursor acídico Δ9-THCA, demonstrou ser um potente
agonista dos recetores PPARy, mais potente até que o Δ9-THC, revelando propriedades
neuroprotetoras de alto potencial (100). A ligação de CBDA em altas concentrações a
este recetor foi superior à do seu produto descarboxilado, no entanto não se verificaram
diferenças entre o CBG e CBGA.

Os efeitos neuroprotetores do composto agonista de PPRAy derivado de CBG,


VCE-003.2, foram analisados em dois estudos. A exposição a este canabinóide resultou
num aumento na taxa de sobrevivência das células neuronais (benéficas para a
regeneração e reparação de tecidos danificados) e diminuição de agregados de proteína
huntingtina, da apoptose celular e excitotoxicidade (28). Verificou-se ainda uma maior
taxa de formação de neuroblastos, células precursoras de neurónios (25).

O efeito do canabinóide sintético HU-210, foi testado em células modificadas


PC12. Os resultados mostraram que a consequente ativação do recetor CB1, inibe a
formação de agregados da proteína mutante, reduzindo a taxa de apoptose e
aumentando a sobrevivência celular, processos fundamentais na DH. O estudo refere
ainda que o potencial de ação dos recetores CB1 será limitado pelo acoplamento
promíscuo à proteína G, estimulação da formação de AMPc e aumento de formação de
agregados (101).

Um último estudo explorou os efeitos de compostos sintetizados de derivados de


CBD (isómeros de canabidiolquinonas O-metiladas) no sistema NRF2-BACH1. O
sistema NRF2-BACH1 desempenha um importante papel na regulação de genes
responsáveis pelo stress oxidativo. A ativação do fator de transcrição NRF2 estimula a
expressão de genes antioxidantes e BACH1 atua como um repressor destes mesmos
genes. Os resultados mostraram que ao contrário do CBD que apresenta apenas
atividade inibitória de BACH1, os compostos sintetizados pelos investigadores exibem
uma dupla capacidade de estimulação e inibição do sistema NRF-BACH1,
demonstrando as suas propriedades neuroprotetoras (102).

24
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Tabela 1: Estudos in vitro de canabinóides no tratamento de DH

Culturas Celulares Resultados Estudo e Ano


Células PC12 Os tratamentos com HU-210 demonstraram uma (101)- 2010
menor taxa de apoptose celular e menor expressão de
proteína mutante.
Células HiB5, As células expostas a VCE-003.2 sofreram uma menor (28) - 2016
STHdhQ111/Q111, taxa de perda neuronal e diminuição de
STHdhQ7/Q7 excitotoxicidade.
Células Neuro-2a (N2a) Foi testada a capacidade de ligação e ativação do Δ9- (100)- 2017
e STHdhQ111/Q111 THC, CBD e CBG e respetivos percursores acídicos (Δ9-
THCA, CBDA e CBGA) ao recetor PPARy. A ligação do
Δ9-THCA a este recetor foi mais potente do que a do Δ9-
THC e mostrou fortes evidências sobre a sua função
neuro protetora.
Células estaminais de As células expostas a VCE-003.2 sofreram uma menor (25) - 2019
ratos taxa de perda neuronal e maior taxa de formação de
neuroblastos.
Linhas celulares As células que foram expostas a isómeros de (102) - 2020
HaCaT, THP1, SHSY5Y, canabidiolquinonas O-metiladas (derivados sintetizados
Hepa 1c1c7, A549 e de CBD) demonstraram uma dupla atividade de
Q7/Q111 ativação do fator NF-E2 e inibição de BACH1,
mostrando potencial como antioxidante.

4.2.2. Estudos pré-clínicos in vivo

Realizados em organismos vivos, os ensaios pré-clínicos in vivo possibilitam a


avaliação de interações complexas dos sistemas biológicos, de parâmetros fisiológicos e
farmacocinéticos e observação de efeitos sistémicos. A sua realização está sujeita a
questões éticas e em comparação com os estudos in vitro, estes são geralmente mais
caros, demorados e complexos (98).

Os roedores são os animais mais usados neste tipo de estudos científicos, uma vez
que apresentam semelhanças genéticas e fisiológicas com os seres humanos, tamanho
reduzido, ciclo de vida curto e taxa elevada de reprodução (98).

Na Tabela 2 estão representados estudos com resultados positivos relativos ao


uso de canabinóides nos diferentes modelos.

Nestes ensaios foram utilizadas diferentes modelos de ratos: Sprague Dawley,


R6/2, CD1, C57BL/6 e C57BL/6N. A linhagem R6/2 foi desenvolvida especificamente

25
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

para expressar a proteína huntingtina, que provoca sintomas semelhantes aos dos seres
humanos, tornando o modelo muito útil para o estudo da DH (103).

De modo a induzir neurotoxicidade semelhante à DH em diferentes modelos, são


utilizados agentes indutores como o ácido 3-nitroprorionico (3-NP) responsável pela
indução da degeneração dos gânglios da base, o ácido quinolínico (QA), um indutor de
excitotoxicidade, e o malonato, um inibidor do complexo II mitocondrial (104,105).

O potencial terapêutico do CBD foi avaliado num estudo que envolveu ratos
previamente injetados com 3-NP. Os ratos foram injetados com 5mg/kg de CBD
durante 5 dias consecutivos. Estes ratos apresentaram uma redução significativa da
atrofia cerebral induzida pelo 3-NP, associada à diminuição de CB1(106).

Um estudo testou o efeito de uma injeção diária intraperitoneal de 2mg/kg de


THC em ratos de linhagem R6/2. Resultante desta administração, foi possível verificar
uma diminuição de atrofia cerebral e de expressão da proteína mutante huntingtina.
Verificaram-se também melhorias a nível motor e comportamental (107).

Na sequência da elevada capacidade de ligação de Δ9-THCA aos recetores PPARy,


demonstrada anteriormente(100), o mesmo estudo avaliou o efeito deste canabinóide
em ratos previamente injetados com 3-NP. Foi feita uma injeção intraperitoneal de
20mg/kg de Δ9-THCA por dia. O ensaio revelou melhorias de distonia dos membros
superiores e da atividade locomotora, prevenção de astrogliose (aumento anormal do
número de astrócitos) e diminuição da expressão de mediadores pró-inflamatórios e
perdas neuronais (100).

Os dois ensaios relativos à exposição de VCE-003.2, previamente analisados em


diferentes células, in vitro, foram combinados com ensaios realizados em modelos
animais (25,28) que demonstraram concordância de resultados relativamente à sua
capacidade neuroprotetora.

O primeiro destes estudos começou por compreender os efeitos da administração


intraperitoneal diária de 10mg/kg de VCE-003.2, em ratos previamente injetados com
QA. Foi observável uma melhoria das capacidades motoras, através da utilização do
teste Rotarod, e a nível celular, o canabinóide preveniu a ativação de células de
microglia, astrogliose e redução de perdas neuronais induzidas pelo QA. O mesmo
estudo, analisou ainda os efeitos da administração intraperitoneal de 20mg/kg de VCE-
003.2, 4 vezes por dia, noutro modelo de ratos. Esta exposição resultou numa melhoria
das capacidades motoras, redução de mediadores pró-inflamatórios e prevenção de
perdas neuronais induzidos pelo 3-NP(28).

26
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

No segundo estudo, um grupo de roedores tomou uma dose oral diária de


10mg/kg de VCE-003.2 durante 3 dias, enquanto o outro levou uma injeção
intraperitoneal de 200mg/kg, também de VCE-003.2, duas vezes por dia. A injeção foi
feita para testar a neurogénese do canabinóide. Esta exposição resultou num ligeiro
aumento de formação de neuroblastos e efetividade da neurogénese, provocada pela
expressão da proteína mutante, e redução da ativação da microglia. A performance
melhorada dos ratos no teste RotaRod reflete uma melhoria das suas capacidades
motoras(25).

A ação sinérgica dos principais fitocanabinóides presentes no medicamento


Sativex® e o papel dos recetores CB1 e CB2 foram testados em ratos de modelo
desconhecido, previamente administrados localmente com o indutor neurotóxico
malonato. Usou-se a combinação 1:1 de Δ9-THC e CBD, isto é, ambos os componentes
estão presentes na mesma quantidade, à semelhança do que acontece com o
medicamento. Observou-se a diminuição do volume do edema, da atividade da
microglia e de perdas neuronais. Adicionalmente, o estudo evidenciou o agonismo
desta combinação em ambos os recetores canabinóides (CB1 e CB2), ampliando o
espetro do potencial de uso do Sativex® através da ação neuroprotetora do Δ9-THC e
antioxidante do CBD (108).

Tabela 2: Estudos in vivo de canabinóides no tratamento de DH.

Modelos Resultados Estudo e Ano


Ratos 3NP, Sprague Os ratos foram injetados com 3mg/kg de CBD, durante 5 (106) - 2007
Dawley adultos dias. O CBD provocou uma redução da toxicidade 3-NP,
revelando propriedades neuroprotetoras.
Ratos R6/2 Os ratos foram injetados diariamente com 2mg/kg de THC. (107) - 2011
Resultados demonstraram melhorias nas capacidades
motoras, diminuição da expressão da huntingtina e
diminuição da atrofia cerebral.

Ratos Malonato, Os ratos foram tratados com uma combinação 1:1 de Δ9-THC (108) - 2012
Linhagem não e CBD. Resultados demonstraram evidências da atividade
especificada neuroprotetora desta combinação, de composição semelhante
ao medicamento Sativex®.
Ratos QA, CD1 do Um grupo de ratos, foi injetado diariamente com 10mg/kg de (28) - 2016
sexo masculino Ratos VCE-003.2, e outro grupo, foi injetado quatro vezes por dia
3-NP, C57BL/6 com 10mg/kg por dia do mesmo canabinóide. Os resultados
adultos do sexo demonstraram melhorias nas capacidades motoras, redução
masculino da expressão de mediadores pró-inflamatórios, prevenção de
astrogliose e da ativação da microglia, redução de perdas
neuronais e efetividade da neurogénese.

27
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Ratos 3-NP, C57BL/6 Os ratos foram injetados diariamente com 20mg/kg de Δ9- (100) - 2017
adultos do sexo THCA. O percursor acídico revelou melhorias nas
masculino capacidades motoras dos animais, redução da expressão de
mediadores pró-inflamatórios, prevenção de astrogliose e
ativação da microglia e redução de perdas neuronais.

Ratos C57BL/6N Um grupo de ratos tomou uma dose diária oral de VCE- (25) - 2019
adultos do sexo 003.2(10mg/kg) durante 3 dias, e outro grupo foi injetado
masculino com 100mg/kg do mesmo canabinóide duas vezes por dia. Os
resultados demonstraram melhorias nas suas capacidades
motoras, diminuição da taxa de neuroinflamação e formação
de neuroblastos.

4.2.3. Estudos em Humanos

Os ensaios clínicos são estudos de elevado interesse científico, que avaliam


intervenções médicas nos seres humanos. Geralmente faseados e fortemente
monitorizados, são acompanhados muitas das vezes por testes de placebo de forma a
ser avaliada a sua eficácia. Os seus resultados podem ser aplicados diretamente no ser
humano e fornecem bases sólidas de evidências científicas que potencializam o avanço
médico. As amostras reduzidas e efeitos indesejáveis são por norma, as limitações
associadas a estes estudos (109).

Os estudos representados na Tabela 3, descrevem o efeito de alguns


medicamentos em pacientes com DH. A população total dos estudos compreende
pacientes de ambos os sexos, com idades que variam entre os 14 e 72 anos. O nº de
pacientes por amostra varia de 1 a 44. Os canabinóides usados nos estudos foram o
CBD, a nabilona, o dronabinol e o Sativex®.

Em 1991, foi avaliado o efeito do CBD em 15 pacientes com DH. Com exceção da
retirada de antipsicóticos, os pacientes continuaram a tomar a sua medicação habitual
durante as 6 semanas do estudo. Foi dada aos pacientes uma dose diária de 10mg/kg ao
dia (média dos pacientes foi de 700mg de CBD diárias). Observaram-se ligeiras
melhorias de sintomas motores no grupo que tomou CBD em comparação com o
placebo ao longo do estudo, apesar não serem significativas. A avaliação dos efeitos do
CBD foi feita semanalmente e teve em conta um elevado número de escalas e testes,
atualmente menos utilizados como por exemplo: The Marsden and Quinn's, uma escala
de avaliação da severidade da coreia e The Shoulson and Fahn’s, uma escala de
incapacidade funcional. Um problema mencionado na avaliação dos pacientes foi a
dificuldade de interpretação das escalas (110).

28
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Um outro estudo relata o caso de uma paciente de 43 anos, com sintomas de DH


sugestivos de declínios comportamentais como agressividade e alterações de
personalidade. Após a prescrição diárias de 1 mg de nabilona, a paciente apresentou
melhorias a nível de coreia e de controlo comportamental e emocional. As alterações
referidas foram reportadas pelo marido e por cuidadores da paciente. O estudo não faz
referência ao tratamento farmacológico prévio da paciente (111).

O efeito da nabilona foi também analisado num estudo que envolveu 44 pacientes
com DH e que teve a duração de 5 semanas. Os participantes continuaram a tomar a
sua medicação habitual durante o estudo e foram divididos em 3 grupos: 22
participantes fizeram parte do grupo de controlo, 11 do grupo que tomaria 1 mg de
nabilona por dia e os restantes 11 do grupo que tomariam 2 mg de nabilona por dia. Os
efeitos da nabilona foram avaliados através da escala UHDRS e revelaram melhorias a
nível comportamental e motor. Não se encontrou qualquer evidência de que a toma de
2 mg de nabilona produzisse melhores efeitos do que de 1 mg de nabilona. O fármaco
foi bem tolerado e os efeitos adversos mais reportados foram secura e sonolência,
presentes também no grupo do placebo (112).

Mais recentemente foram testados os efeitos de diferentes doses de Sativex® (12


e 7 sprays), dronabinol (2.2mg, 2.8mg, 3.6mg e 9.1mg) e nabilona (0.5-0.1mg), em 7
pacientes com DH e distonia marcada. A cada um dos pacientes foi-lhes atribuído um
dos tratamentos mencionados, mantendo o seu tratamento farmacológico habitual. A
duração do estudo é desconhecida. A escala de avaliação UHDRS melhorou a nível
comportamental e funcional e motor. Pacientes e seus familiares reportaram melhorias
significativas que se traduzem numa melhoria da qualidade de vida como aumento de
peso, marcha melhorada, menor irritabilidade e apatia, bem como reconquista de
algumas skills motoras. O estudo decorreu sem que fossem reportados efeitos adversos
significativos (113).

Apesar dos resultados positivos mencionados acima, o uso de canabinóides em


ensaios humanos com DH não está desprovido de resultados opostos. Foi reportado um
aumento da coreia num paciente de 58 anos? com DH após toma única de 1.5 mg de
nabilona. A avaliação dos sintomas foi feita 3h depois do tratamento e não revelou
nenhuma diferença a nível cognitivo(114).

Em 2016, foi realizado em Espanha, um estudo observacional com 25 pacientes


de idade média de 48 anos para avaliação do efeito do Sativex® (1:1 THC-CBD) na DH.
Durante 12 semanas, os pacientes fizeram até 12 pulverizações diárias do medicamento.
O estudo demonstrou a ótima tolerância dos pacientes com DH para com este

29
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

medicamento, sem que fossem detetadas quaisquer tipo de melhorias motora, cognitiva
ou comportamental, ao usar a escala de avaliação UHDRS (115).

Tabela 3: Estudos de canabinóides no tratamento de pacientes com DH.


População Resultados e Descrição Estudo e
Ano
15 pacientes com DH de Os pacientes foram divididos em dois grupos, um tomou (110) - 1991
ambos os sexos. CBD (10mg/kg/dia) e outro foi usado para controlo. O
Idades compreendidas estudo teve a duração de 6 semanas e as suas avaliações
entre os 17 e 66 anos e foram feitas semanalmente. Os pacientes demonstraram
média de52 anos. ligeiras melhorias a nível da coreia e não foram reportados
efeitos adversos.
1 paciente com DH do O paciente apresentava sintomas ligeiros de coreia e (114) - 1999
sexo masculino e 58 anos deterioração da memória a curto prazo. A toma de uma
de idade. dose única de 1.5mg de nabilona aumentou os sintomas de
coreia e não provocou alterações cognitivas.
1 paciente com sintomas A paciente apresentava comportamentos agressivos, (111) - 2006
de DH do sexo feminino alterações de humor e mudanças de personalidade. A toma
e 43 anos de idade de 1mg diária de nabilona reduziu a coreia e melhorou o
seu humor de forma notória.
44 pacientes com DH, de Os pacientes foram divididos em dois grupos, um para (112)- 2009
ambos os sexos. tomar nabilona (1 ou 2 mg) e outro grupo para controlo. O
Idades compreendidas estudo teve a duração de 5 semanas e mostrou melhorias
entre os 34 e os 72 anos e significativas de coreia e a nível comportamental nos
média de 52 anos pacientes que tomaram nabilona de igual forma nas 2
doses. O fármaco foi bem tolerado.
25 pacientes com DH, de Os pacientes foram divididos em dois grupos, um fez doze (115) -2016
ambos os sexos. Média de pulverizações orais diárias de Sativex® e outro foi usado
idade de 48 anos para controlo. O estudo teve a duração de 12 semanas. Os
pacientes demostraram boa tolerância ao medicamento e
não se observaram alterações motoras, comportamentais
ou cognitivas.
7 pacientes com DH e Foram avaliados os efeitos de diferentes doses de Sativex® (113) - 2018
distonia marcada, de (12 e 7 sprays), dronabinol (2.2mg, 2.8mg, 3.6mg e 9.1mg)
ambos os sexos. Idades e nabilona (0.5-0.1mg), em 7 pacientes. A cada um dos
compreendidas entre os pacientes foi-lhes atribuído um dos tratamentos
14 e 40 anos e média de mencionados. A escala UHDRS melhorou a nível
28 anos comportamental e funcional e também houve uma clara
melhoria na distonia. Os medicamentos foram bem
tolerados.

30
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

5. Discussão
A falta de eficácia e efeitos significativos dos atuais tratamentos para a DH, fez
com que os investigadores passassem a olhar para a canábis como uma possibilidade
terapêutica para a doença, pelas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e
neuroprotetoras dos seus compostos ativos.

Apesar do mecanismo exato da DH ainda ser desconhecido, é sabido que ocorre


perda progressiva de células neuronais, desequilíbrios dos sistemas de
neurotransmissores e uma desregulação do sistema endocanabinóide, caracterizada
pela alteração dos níveis dos recetores canabinóides CB1. Desta forma, propõe-se que o
efeito modulador da canábis e que a administração de agonistas dos recetores
canabinóides podem exercer uma ação neuroprotetora na doença (91,95,96).

Da análise dos estudos e interpretação dos resultados obtidos, é possível verificar


a existência de uma vasta quantidade de ensaios pré-clínicos que demostram os efeitos
neuroprotetores dos canabinóides e melhoria de capacidades motoras de roedores.
Apesar dos resultados em modelos animais não serem traduzidos diretamente no ser
humano, resultados consistentemente positivos fornecem uma base sólida para que se
possa avançar para estudos clínicos.

Até ao momento realizou-se um número reduzido de ensaios em humanos e os


seus resultados são mistos, não replicando os resultados dos ensaios pré-clínicos.
Tendo em conta que a maioria dos ensaios em seres humanos estudam os efeitos de
uma dose bem definida de canabinóides em ensaios in vivo e in vitro, torna-se difícil a
extrapolação dos efeitos da planta completa em humanos.

Os ensaios em humanos descritos apresentam bastantes limitações. Foram


usadas ferramentas de avaliação de desatualizadas e subjetivas, as amostras são curtas,
a duração dos estudos não é esclarecida, ocorre o uso concomitante de medicamentos e
não são distinguidos os diferentes graus de avanço da DH.

Seria interessante efetuar estudos em diferentes faixas etárias, de forma a


comparar pacientes que apresentam sintomatologia há mais anos com aqueles que
apresentam a sintomatologia há menos anos, de forma a perceber a eficácia do
tratamento nas diferentes fases de progressão da doença.

Por ser seguro, o Sativex®, é um bom candidato a ser usado em mais estudos, de
preferência com amostras superiores, apesar da necessidade de realização de estudos
com amostras mais pequenas para expor resultados que justifiquem o tempo, dinheiro
e uso de recursos.

31
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Ainda assim, é importante continuar a entender o mecanismo de ação da DH,


continuar a estudar os canabinóides, de forma a serem produzidos possíveis
medicamentos com base nesta planta, e fazer estudos sobre a sua segurança, relação
dose efeito, quantificando a concentração de canabinóides presente no organismo do
individuo.

6. Conclusão
A presente revisão de literatura foi realizada com o objetivo de avaliar o potencial
terapêutico na DH, da canábis medicinal, visto que a fitoterapia tem sido amplamente
utilizada no tratamento sintomatológico e prevenção de diversas doenças
neurodegenerativas que não respondem a terapias convencionais.

Nesta doença, a expressão da proteína huntingtina leva à redução dos níveis do


recetor canabinóide CB1 e consequente aparecimento de sintomas motores,
comportamentais e cognitivos. Desta forma, o trabalho descreve detalhadamente a
capacidade de diversos canabinóides e medicamentos à base de canábis, atuarem como
agentes neuroprotetores, antioxidantes e anti-inflamatórios em diversos tipos de
ensaios: in vitro, in vivo e em humanos.

Os ensaios pré-clínicos revelaram resultados promissores, traduzidos em


menores taxas de perdas neuronais, diminuição de excitotoxicidade, maior formação de
neuroblastos em linhas celulares e melhoria de capacidades motoras em roedores. Por
outro lado, os resultados dos ensaios em humanos, apesar de provarem a boa tolerância
aos medicamentos, foram incongruentes, apesar de revelarem ligeiras melhorias de
sintomas motores e distonia.

Não obstante, é necessário continuar a investigar o efeitos dos canabinóides,


noutros modelos animais e também num maior número de indivíduos de modo a
chegar a resultados estatisticamente significativos. De forma a garantir resultados
reprodutíveis deve ser garantida ainda a uniformidade nas doses usadas. O número
reduzido de ensaios clínicos randomizados controlados realizados até ao momento e as
diferenças genéticas entre os indivíduos representam também fatores limitantes para
avaliação da eficácia do uso de canábis medicinal na DH.

Apesar dos benefícios demonstrados pela canábis, as questões éticas e legais


associadas ao seu potencial de abuso, dependência e respetivo impacto social e
comunitário tornam mais difícil a realização de ensaios clínicos. Uma possível
legalização da canábis para fins terapêuticos, iria não só permitir que mais doentes

32
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

tivessem acesso a esta terapia, mas também aumentar o número de ensaios clínicos
com pacientes reais.

Apesar de ser popularmente conhecido pelo seu uso recreativo, é inegável que a
canábis medicinal constitui um futuro promissor para o tratamento da DH. O
investimento na produção, cultivo e exportação e o apoio na investigação e
comunicação da ciência, são aspetos fundamentais para a criação de novos produtos à
base de canábis que possam chegar ao mercado.

33
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

7. Referências Bibliográficas

1. Petrovska BB. Historical review of medicinal plants’ usage. Pharmacogn Rev.


2012;6(11):1–5.

2. Falzon CC, Balabanova A. Phytotherapy: An Introduction to Herbal Medicine.


Prim Care - Clin Off Pract. 2017;44(2):217–27.

3. Zuardi AW. History of cannabis as a medicine: A review. Rev Bras Psiquiatr.


2006;28(2):153–7.

4. Bonini SA, Premoli M, Tambaro S, Kumar A, Maccarinelli G, Memo M, et al.


Cannabis sativa: A comprehensive ethnopharmacological review of a medicinal plant
with a long history. Vol. 227, Journal of Ethnopharmacology. 2018.

5. Chakravarti B, Ravi J, Ganju RK. Cannabinoids as therapeutic agents in cancer:


Current status and future implications. Oncotarget. 2014;5(15):5852–72.

6. Crocq MA. History of cannabis and the endocannabinoid system. Dialogues Clin
Neurosci. 2020;22(3).

7. Assembleia da República. Lei no33/2018, de 18 de julho. Diário da República


[Internet]. 2018; Ia Série (137):3241–2. Available from:
https://dre.pt/application/file/a/115712610

8. McPartland JM, Guy GW. Models of Cannabis Taxonomy, Cultural Bias, and
Conflicts between Scientific and Vernacular Names. Bot Rev. 2017;83(4):327–81.

9. Simiyu DC, Jang JH, Lee OR. Understanding Cannabis sativa L.: Current Status
of Propagation, Use, Legalization, and Haploid-Inducer-Mediated Genetic Engineering.
Vol. 11, Plants. 2022.

10. Farag S, Kayser O. The Cannabis Plant: Botanical Aspects. In: Handbook of
Cannabis and Related Pathologies: Biology, Pharmacology, Diagnosis, and Treatment.
2017.

11. van Bakel H, Stout JM, Cote AG, Tallon CM, Sharpe AG, Hughes TR, et al. The
draft genome and transcriptome of Cannabis sativa. Genome Biol. 2011;12(10).

34
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

12. Trofin IG, Vlad CC, Noja VV, Dabija G. Identification and characterization of
special types of herbal cannabis. UPB Sci Bull Ser B Chem Mater Sci. 2012;74(1):119–
30.

13. Greydanus DE, Kaplan G, Baxter LE, Patel DR, Feucht CL. Cannabis: The never-
ending, nefarious nepenthe of the 21st century: What should the clinician know? Vol.
61, Disease-a-Month. 2015.

14. Aliferis KA, Bernard-Perron D. Cannabinomics: Application of Metabolomics in


Cannabis (Cannabis sativa L.) Research and Development. Front Plant Sci [Internet].
2020;11. Available from:
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpls.2020.00554

15. Challa SKR, Misra NN, Martynenko A. Drying of cannabis—state of the


practices and future needs. Dry Technol [Internet]. 2021;39(14):2055–64. Available
from: https://doi.org/10.1080/07373937.2020.1752230

16. UNODC. Identification and analysis of cannabis and cannabis products. 2022;
Available from:
https://www.unodc.org/documents/scientific/Recommended_methods_for_the_Iden
tification_and_Analysis_of_Cannabis_and_Cannabis_products.pdf

17. Andre CM, Hausman JF, Guerriero G. Cannabis sativa: The plant of the
thousand and one molecules. Front Plant Sci. 2016;7(FEB2016).

18. ElSohly MA, Slade D. Chemical constituents of marijuana: The complex mixture
of natural cannabinoids. Life Sci. 2005;78(5):539–48.

19. Munro S, Thomas KL, Abu-Shaar M. Molecular characterization of a peripheral


receptor for cannabinoids. Nature. 1993;365(6441).

20. Westlake TM, Howlett AC, Bonner TI, Matsuda LA, Herkenham M.
Cannabinoid receptor binding and messenger RNA expression in human brain: An in
vitro receptor autoradiography and in situ hybridization histochemistry study of
normal aged and Alzheimer’s brains. Neuroscience. 1994;63(3).

21. Pamplona FA. Quais são e pra que servem os medicamentos à base de
Cannabis? Rev da Biol. 2014;13(1):28–35.

35
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

22. Di Marzo V, Bisogno T, De Petrocellis L. Endocannabinoids and Related


Compounds: Walking Back and Forth between Plant Natural Products and Animal
Physiology. Chem Biol. 2007;14(7):741–56.

23. Gorzo A, Havași A, Spînu Ștefan, Oprea A, Burz C, Sur D. Practical


Considerations for the Use of Cannabis in Cancer Pain Management—What a Medical
Oncologist Should Know. Vol. 11, Journal of Clinical Medicine. 2022.

24. Klimkiewicz A, Jasinska A. The health effects of cannabis and cannabinoids.


Vol. 15, Psychiatria. 2018. 88–92 p.

25. Aguareles J, Paraíso-Luna J, Palomares B, Bajo-Grañeras R, Navarrete C, Ruiz-


Calvo A, et al. Oral administration of the cannabigerol derivative VCE-003.2 promotes
subventricular zone neurogenesis and protects against mutant huntingtin-induced
neurodegeneration. Transl Neurodegener. 2019;8(1).

26. Burgaz S, García C, Gómez-Cañas M, Navarrete C, García-Martín A, Rolland A,


et al. Neuroprotection with the cannabigerol quinone derivative VCE-003.2 and its
analogs CBGA-Q and CBGA-Q-Salt in Parkinson’s disease using 6-hydroxydopamine-
lesioned mice. Mol Cell Neurosci. 2021;110(December 2020).

27. García C, Gómez-Cañas M, Burgaz S, Palomares B, Gómez-Gálvez Y, Palomo-


Garo C, et al. Benefits of VCE-003.2, a cannabigerol quinone derivative, against
inflammation-driven neuronal deterioration in experimental Parkinson’s disease:
Possible involvement of different binding sites at the PPARγ receptor. J
Neuroinflammation. 2018;15(1):1–17.

28. Díaz-Alonso J, Paraíso-Luna J, Navarrete C, Del Río C, Cantarero I, Palomares


B, et al. VCE-003.2, a novel cannabigerol derivative, enhances neuronal progenitor cell
survival and alleviates symptomatology in murine models of Huntington’s disease. Sci
Rep. 2016;6.

29. Audrei de Oliveira Alves, Bárbara Spaniol RL. Canabinoides sintéticos: drogas
de abuso emergentes. 2012;

30. Aizpurua-Olaizola O, Elezgarai I, Rico-Barrio I, Zarandona I, Etxebarria N,


Usobiaga A. Targeting the endocannabinoid system: future therapeutic strategies. Vol.
22, Drug Discovery Today. 2017.

36
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

31. Jarvis S, Rassmussen S, Winters B. Role of the Endocannabinoid System and


Medical Cannabis. J Nurse Pract [Internet]. 2017 Sep 1 [cited 2023 May 16];13(8):525–
31. Available from: http://www.npjournal.org/article/S1555415517304312/fulltext

32. Basavarajappa B, Nixon R, Arancio O. Endocannabinoid System: Emerging Role


from Neurodevelopment to Neurodegeneration. Mini-Reviews Med Chem.
2009;9(4):448–62.

33. Fernández-Ruiz J, Romero J, Velasco G, Tolón RM, Ramos JA, Guzmán M.


Cannabinoid CB2 receptor: a new target for controlling neural cell survival? Trends
Pharmacol Sci. 2007;28(1):39–45.

34. Lu HC, MacKie K. An introduction to the endogenous cannabinoid system


[Internet]. Vol. 79, Biological Psychiatry. Elsevier; 2016. 516–525 p. Available from:
http://dx.doi.org/10.1016/j.biopsych.2015.07.028

35. Godlaski TM. Shiva, lord of bhang. Subst Use Misuse. 2012;47(10):1067–72.

36. Shao H, Du H, Gan Q, Ye D, Chen Z, Zhu Y, et al. Trends of the Global Burden of
Disease Attributable to Cannabis Use Disorder in 204 Countries and Territories, 1990–
2019: Results from the Disease Burden Study 2019. Int J Ment Health Addict
[Internet]. 2023; Available from: https://doi.org/10.1007/s11469-022-00999-4

37. European Drug Report [Internet]. 2023. Available from:


https://www.emcdda.europa.eu/publications/european-drug-
report/2023/cannabis_en

38. Bridgeman, Mary Barna DTA. Medicinal Cannabis: History, Pharmacology, And
Implications for the Acute Care Setting. 2017; Available from:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5312634/pdf/ptj4203180.pdf

39. Braymiller JL, Barrington-Trimis JL, Leventhal AM, Islam T, Kechter A,


Krueger EA, et al. Assessment of Nicotine and Cannabis Vaping and Respiratory
Symptoms in Young Adults. JAMA Netw open. 2020;3(12).

40. Gracie K, Hancox RJ. Cannabis use disorder and the lungs. Addiction.
2021;116(1).

41. Tashkin DP, Roth MD. Pulmonary effects of inhaled cannabis smoke. Vol. 45,
American Journal of Drug and Alcohol Abuse. 2019.

37
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

42. Chatkin JM, Zani-Silva L, Ferreira I, Zamel N. Cannabis-Associated Asthma and


Allergies. Vol. 56, Clinical Reviews in Allergy and Immunology. 2019.

43. Winhusen T, Theobald J, Kaelber DC, Lewis D. Regular cannabis use, with and
without tobacco co-use, is associated with respiratory disease. Drug Alcohol Depend.
2019;204.

44. Desai R, Singh S, Patel K, Goyal H, Shah M, Mansuri Z, et al. Stroke in young
cannabis users (18–49 years): National trends in hospitalizations and outcomes. Int J
Stroke. 2020;15(5).

45. Shah S, Patel S, Paulraj S, Chaudhuri D. Association of Marijuana Use and


Cardiovascular Disease: A Behavioral Risk Factor Surveillance System Data Analysis of
133,706 US Adults. Am J Med. 2021;134(5).

46. Mittleman MA, Lewis RA, Maclure M, Sherwood JB, Muller JE. Triggering
myocardial infarction by marijuana. Circulation. 2001;103(23).

47. Patel RS, Gonzalez MD, Ajibawo T, Baweja R. Cannabis use disorder and
increased risk of arrhythmia-related hospitalization in young adults. Am J Addict.
2021;30(6).

48. Vupputuri S, Batuman V, Muntner P, Bazzano LA, Lefante JJ, Whelton PK, et
al. The Risk for Mild Kidney Function Decline Associated with Illicit Drug Use among
Hypertensive Men. Am J Kidney Dis. 2004;43(4).

49. Rashid W, Patel V, Ravat V, Madireddy S, Jaladi PR, Tahir M, et al. Problematic
Cannabis Use and Risk of Complications in Patients with Chronic Hepatitis C. Cureus.
2019;

50. Thayer A, Murataeva N, Delcroix V, Wager-Miller J, Makarenkova HP, Straiker


A. THC Regulates Tearing via Cannabinoid CB1 Receptors. Investig Ophthalmol Vis Sci.
2020;61(10).

51. Keboa MT, Enriquez N, Martel M, Nicolau B, Macdonald ME. Oral Health
Implications of Cannabis Smoking: A Rapid Evidence Review. J Can Dent Assoc.
2020;86.

38
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

52. Perisetti A, Gajendran M, Dasari CS, Bansal P, Aziz M, Inamdar S, et al.


Cannabis hyperemesis syndrome: An update on the pathophysiology and management.
Vol. 33, Annals of Gastroenterology. 2020.

53. Lynn B, Gee A, Zhang L, Pfaus JG. Effects of Cannabinoids on Female Sexual
Function. Vol. 8, Sexual Medicine Reviews. 2020.

54. Shiff B, Blankstein U, Hussaen J, Jarvi K, Grober E, Lo K, et al. The impact of


cannabis use on male sexual function: A 10-year, single-center experience. Can Urol
Assoc J. 2021;15(12).

55. Sun AJ, Eisenberg ML. Association Between Marijuana Use and Sexual
Frequency in the United States: A Population-Based Study. J Sex Med. 2017;14(11).

56. Pizzol D, Demurtas J, Stubbs B, Soysal P, Mason C, Isik AT, et al. Relationship
Between Cannabis Use and Erectile Dysfunction: A Systematic Review and Meta-
Analysis. Vol. 13, American Journal of Men’s Health. 2019.

57. Rajanahally S, Raheem O, Rogers M, Brisbane W, Ostrowski K, Lendvay T, et al.


The relationship between cannabis and male infertility, sexual health, and neoplasm: a
systematic review. Vol. 7, Andrology. 2019.

58. Moss MJ, Bushlin I, Kazmierczak S, Koop D, Hendrickson RG, Zuckerman KE,
et al. Cannabis use and measurement of cannabinoids in plasma and breast milk of
breastfeeding mothers. Pediatr Res. 2021;90(4).

59. Wymore EM, Palmer C, Wang GS, Metz TD, Bourne DWA, Sempio C, et al.
Persistence of Δ-9-Tetrahydrocannabinol in Human Breast Milk. Vol. 175, JAMA
Pediatrics. 2021.

60. Singh S, Filion KB, Abenhaim HA, Eisenberg MJ. Prevalence and outcomes of
prenatal recreational cannabis use in high-income countries: a scoping review. Vol. 127,
BJOG: An International Journal of Obstetrics and Gynaecology. 2020.

61. Ghasemiesfe M, Barrow B, Leonard S, Keyhani S, Korenstein D. Association


between Marijuana Use and Risk of Cancer: A Systematic Review and Meta-analysis.
Vol. 2, JAMA Network Open. 2019.

39
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

62. Mustonen A, Niemelä S, Nordström T, Murray GK, Mäki P, Jääskeläinen E, et


al. Adolescent cannabis use, baseline prodromal symptoms and the risk of psychosis. Br
J Psychiatry. 2018;212(4).

63. Di Forti M, Quattrone D, Freeman TP, Tripoli G, Gayer-Anderson C, Quigley H,


et al. The contribution of cannabis use to variation in the incidence of psychotic
disorder across Europe (EU-GEI): a multicentre case-control study. The Lancet
Psychiatry. 2019;6(5).

64. Gage SH, Hickman M, Zammit S. Association between cannabis and psychosis:
Epidemiologic evidence. Vol. 79, Biological Psychiatry. 2016.

65. Hostiuc S, Moldoveanu A, Negoi I, Drima E. The association of unfavorable


traffic events and cannabis usage: A meta-analysis. Front Pharmacol. 2018;9(FEB).

66. Rogeberg O, Elvik R. The effects of cannabis intoxication on motor vehicle


collision revisited and revised. Vol. 111, Addiction. 2016.

67. Campbell CI, Bahorik AL, Kline-Simon AH, Satre DD. The role of marijuana use
disorder in predicting emergency department and inpatient encounters: A retrospective
cohort study. Drug Alcohol Depend. 2017;178.

68. Drummer OH, Gerostamoulos D, Woodford NW. Cannabis as a cause of death:


A review. Vol. 298, Forensic Science International. 2019.

69. Garavan F, Bellissima BL, Karch SB. New Psychoactive Substances. In: Karch’s
Drug Abuse Handbook: Third Edition. 2022.

70. Mead A. Legal and regulatory issues governing cannabis and cannabis-derived
products in the United States. Vol. 10, Frontiers in Plant Science. 2019.

71. Leung J, Chan G, Stjepanović D, Chung JYC, Hall W, Hammond D. Prevalence


and self-reported reasons of cannabis use for medical purposes in USA and Canada.
Psychopharmacology (Berl). 2022;239(5).

72. Boehnke KF, Dean O, Haffajee RL, Hosanagar A. U.S. Trends in Registration for
Medical Cannabis and Reasons for Use From 2016 to 2020: An Observational Study.
Ann Intern Med. 2022;175(7).

73. Infarmed. Resumo das características do medicamento - Sativex. 2018.

40
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

74. Infarmed. Tilray Flor Seca THC 18. 2021.

75. Infarmed. DELIBERAÇÃO N.o 11/CD/2019. 2019;561(3):S2–3.

76. Laprairie RB, Bagher AM, Kelly MEM, Denovan-Wright EM. Biased type 1
cannabinoid receptor signaling influences neuronal viability in a cell culture model of
huntington diseases. Mol Pharmacol. 2016;89(3).

77. Cassano T, Villani R, Pace L, Carbone A, Bukke VN, Orkisz S, et al. From
Cannabis sativa to Cannabidiol: Promising Therapeutic Candidate for the Treatment of
Neurodegenerative Diseases. Vol. 11, Frontiers in Pharmacology. 2020.

78. Akinyemi E, Randhawa G, Longoria V, Zeine R. Medical Marijuana Effects in


Movement Disorders, Focus on Huntington Disease; A Literature Review. Vol. 23,
Journal of Pharmacy and Pharmaceutical Sciences. 2020.

79. Raymond L. Workshop - Huntington Society of Canada Conference. In 2018.


Available from: https://www.youtube.com/watch?v=8kOY7a46ckg

80. Matilla-Dueñas A, Corral-Juan M, Rodríguez-Palmero Seuma A, Vilas D,


Ispierto L, Morais S, et al. Rare neurodegenerative diseases: Clinical and genetic
update. In: Advances in Experimental Medicine and Biology. 2017.

81. Durães F, Pinto M, Sousa E. Old drugs as new treatments for neurodegenerative
diseases. Vol. 11, Pharmaceuticals. 2018.

82. Gitler AD, Dhillon P, Shorter J. Neurodegenerative disease: Models,


mechanisms, and a new hope. Vol. 10, DMM Disease Models and Mechanisms. 2017.

83. Rosales I, Salazar L, Luna D, Negrón A, Bdikin I, Rodriguez BJ, et al. Self-
Assembly of Amyloid-Beta and Its Piezoelectric Properties. Am J Mol Biol. 2021;11(01).

84. Santana I, Farinha F, Freitas S, Rodrigues V, Carvalho Á. The Epidemiology of


Dementia and Alzheimer Disease in Portugal: Estimations of Prevalence and
Treatment-Costs. Acta Med Port [Internet]. 2015 Mar 30 [cited 2023 May
16];28(2):182–8. Available from:
https://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/6025

85. Baig SS, Strong M, Quarrell OW. The global prevalence of Huntington’s disease:
a systematic review and discussion. Neurodegener Dis Manag. 2016;6(4).

41
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

86. McColgan P, Tabrizi SJ. Huntington’s disease: a clinical review. Vol. 25,
European Journal of Neurology. 2018.

87. Oliveira CR, Mendes Á, Sequeiros J, Sousa L. Management of information


within Portuguese families with Huntington disease: a transgenerational process for
putting the puzzle together. Eur J Hum Genet. 2020;28(9).

88. Tabrizi SJ, Flower MD, Ross CA, Wild EJ. Huntington disease: new insights into
molecular pathogenesis and therapeutic opportunities. Vol. 16, Nature Reviews
Neurology. 2020.

89. Gonzalez Rojas N, Cesarini ME, Peker G, Da Prat GA, Etcheverry JL, Gatto EM.
Review of Huntington’s Disease: From Basics to Advances in Diagnosis and Treatment.
J Neurol Res. 2022;12(3).

90. Ross CA, Aylward EH, Wild EJ, Langbehn DR, Long JD, Warner JH, et al.
Huntington disease: Natural history, biomarkers and prospects for therapeutics. Vol.
10, Nature Reviews Neurology. 2014.

91. Oliveira LJNC. Trabalho Final Do 6o Ano Medico Com Vista a Atribuição Do
Sistema Endocanabinóide E Neuroprotecção No. 2009;

92. Glass M, Dragunow M, Faull RLM. The pattern of neurodegeneration in


Huntington’s disease: A comparative study of cannabinoid, dopamine, adenosine and
GABA(A) receptor alterations in the human basal ganglia in Huntington’s disease.
Neuroscience. 2000;97(3):505–19.

93. Glass M, Faull RLM, Dragunow M. Loss of cannabinoid receptors in the


substantia nigra in huntington’s disease. Neuroscience. 1993;56(3):523–7.

94. Van Laere K, Casteels C, Dhollander I, Goffin K, Grachev I, Bormans G, et al.


Widespread decrease of type 1 cannabinoid receptor availability in Huntington disease
in vivo. J Nucl Med. 2010;51(9):1413–7.

95. Glass M, Van Dellen A, Blakemore C, Hannan AJ, Faull RLM. Delayed onset of
Huntington’s disease in mice in an enriched environment correlates with delayed loss
of cannabinoid CB1 receptors. Neuroscience. 2004;123(1):207–12.

96. Pertwee RG. Endocannabinoids. Endocannabinoids Neurodegener Disord Park


Dis Huntington’s Chorea, Alzheimer’s Dis Others. 2015;1–472.

42
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

97. Dowie MJ, Grimsey NL, Hoffman T, Faull RLM, Glass M. Cannabinoid receptor
CB2 is expressed on vascular cells, but not astroglial cells in the post-mortem human
Huntington’s disease brain. J Chem Neuroanat [Internet]. 2014;59–60:62–71.
Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.jchemneu.2014.06.004

98. Lavandeira FMF. Ensaios toxicológicos pré-clínicos na avaliação da segurança


de novos fármacos. 2014;70. Available from:
https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/4505/1/PPG_21439.pdf

99. Aiken CT, Tobin AJ, Schweitzer ES. A cell-based screen for drugs to treat
Huntington’s disease. Neurobiol Dis. 2004;16(3).

100. Nadal X, del Río C, Casano S, Palomares B, Ferreiro-Vera C, Navarrete C, et al.


Tetrahydrocannabinolic acid is a potent PPARγ agonist with neuroprotective activity.
Br J Pharmacol. 2017;174(23).

101. Scotter CE; Graham, ES; Dragunow, M.; Glass M. EG. Neuroprotective
potential of CB1 receptor agonists in an in vitro model of Huntington’s disease. Br J
Pharmacol. 2010;160(3).

102. Casares L, Unciti-Broceta JD, Prados ME, Caprioglio D, Mattoteia D, Higgins


M, et al. Isomeric O-methyl cannabidiolquinones with dual BACH1/NRF2 activity.
Redox Biol. 2020;37.

103. Naver B, Stub C, Møller M, Fenger K, Hansen AK, Hasholt L, et al. Molecular
and behavioral analysis of the R6/1 Huntington’s disease transgenic mouse.
Neuroscience. 2003;122(4):1049–57.

104. Januario C, Januário, Filipa & Júlio, Filipa & Januário C. Doença de Huntington
Onde estamos agora? Sinapse [Internet]. 2011;11(1):12–6. Available from:
https://estudogeral.sib.uc.pt/jspui/handle/10316/18242

105. Lastres-Becker I, Fezza F, Cebeira M, Bisogno T, Ramos JA, Milone A, et al.


Changes in endocannabinoid transmission in the basal ganglia in a rat model of
Huntington’s disease. Neuroreport. 2001;12(10):2125–9.

106. Sagredo O, Ramos JA, Decio A, Mechoulam R, Fernández-Ruiz J. Cannabidiol


reduced the striatal atrophy caused 3-nitropropionic acid in vivo by mechanisms

43
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

independent of the activation of cannabinoid, vanilloid TRPV1 and adenosine A2A


receptors. Eur J Neurosci. 2007;26(4).

107. Blázquez C, Chiarlone A, Sagredo O, Aguado T, Pazos MR, Resel E, et al. Loss of
striatal type 1 cannabinoid receptors is a key pathogenic factor in Huntington’s disease.
Brain. 2011;134(1).

108. Valdeolivas S, Satta V, Pertwee RG, Fernández-Ruiz J, Sagredo O. Sativex-like


combination of phytocannabinoids is neuroprotective in malonate-lesioned rats, an
inflammatory model of Huntington’s disease: Role of CB1 and CB2 receptors. In: ACS
Chemical Neuroscience. 2012.

109. Infarmed. Ensaios Clínicos [Internet]. 2014. Available from:


https://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/medicamentos-uso-
humano/ensaios-clinicos

110. Consroe P, Laguna J, Allender J, Snider S, Stern L, Sandyk R, et al. Controlled


clinical trial of cannabidiol in Huntington’s disease. Pharmacol Biochem Behav.
1991;40(3).

111. Curtis A, Rickards H. Nabilone could treat chorea and irritability in


Huntington’s disease. Vol. 18, Journal of Neuropsychiatry and Clinical Neurosciences.
2006.

112. Curtis A, Mitchell I, Patel S, Ives N, Rickards H. A pilot study using nabilone for
symptomatic treatment in Huntington’s disease. Mov Disord. 2009;24(15).

113. Saft C, Von Hein SM, Lucke T, Thiels C, Peball M, Djamshidian A, et al.
Cannabinoids for treatment of dystonia in huntington’s disease. J Huntingtons Dis.
2018;7(2).

114. Striatal D, Receptor D. Nabilone Increases Choreatic Movements in


Huntington’s Disease. 1999;14(6).

115. López-Sendón Moreno JL, García Caldentey J, Trigo Cubillo P, Ruiz Romero C,
García Ribas G, Alonso Arias MAA, et al. A double-blind, randomized, cross-over,
placebo-controlled, pilot trial with Sativex in Huntington’s disease. J Neurol.
2016;263(7):1390–400.

44
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Capítulo 2 - Relatório de Estágio em Farmácia


Comunitária

1. Introdução

O reconhecimento da atividade farmacêutica, as suas responsabilidades e a


importância que lhe é atribuída atualmente foi alvo de uma enorme transformação e
evolução ao longo dos anos. De boticários limitados à preparação de substâncias
medicamentosas, a pilares da sociedade no que toca à prestação de cuidados de saúde.
O farmacêutico assume hoje, um papel de agente de saúde, cumprindo-lhe executar
todas as tarefas que ao medicamento concernem e todas as ações de educação dirigidas
à comunidade no âmbito da promoção da saúde (1).

O conhecimento avançado do medicamento e sua manipulação, proveniente da


criteriosa formação a que são sujeitos, fazem do farmacêutico uma parte essencial para
o correto funcionamento dos sistemas de saúde e, juntamente com outros profissionais
de saúde, desempenham um importante papel na melhoria do acesso aos cuidados de
saúde.

Das variadas áreas profissionais exercidas pelo farmacêutico, a farmácia


comunitária é a mais entendida pela população de forma geral, uma vez que as
farmácias são muitas vezes o primeiro local a que os portugueses recorrem no que toca
a questões de saúde. O aumento do número de farmácias em Portugal nos últimos 30
anos (2) é justificado pelo aumento da população envelhecida e pela excelência
reconhecida dos cuidados de proximidade e disponibilidade exercidas pelo
farmacêutico comunitário no que toca a problemas de saúde menores, seja com a
dispensa e aconselhamento de medicamentos ou com a promoção da literacia em saúde
(3).

De forma a complementar e integrar todo o conhecimento adquirido ao longo do


Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas (MICF), os estudantes são sujeitos a
um estágio curricular na vertente da farmácia comunitária. O meu estágio decorreu
durante o período de 1 de março até ao dia 9 de julho de 2021, sob a orientação do Dr.
Tiago Araújo Santos, Diretor Técnico da Farmácia Central (FC), na localidade de São
João da Madeira.

2. Organização e caracterização da Farmácia


45
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

2.1. Localização Geográfica e Perfil do Utente

Fundada em 1950, a FC sita em São João da Madeira, uma cidade da Grande Área
Metropolitana do Porto, situada na região Norte e sub-região Entre Douro e Vouga,
com cerca de 22 162 habitantes (4). De acordo com os dados preliminares dos censos de
2021 a sua população cresceu cerca de 2.1%, contrariando o decréscimo registado a
nível nacional. Também se registou um aumento do número de famílias, alojamentos e
edifícios (5).

Com apenas 8.11 km2 de área, é a sede do mais pequeno município do país,
conferindo-lhe uma elevada densidade populacional: 2732.67 habitantes/km2. Trata-se
de uma cidade em transformação, com um dos melhores centros urbanos e industriais
do país que tenta assumir-se como o grande centro de toda a região Aveiro Norte (6).

A farmácia está localizada na praça D. Luís Ribeiro no coração da cidade de São


João da Madeira. Com uma zona pedonal bastante movimentada que cursa de vários
estabelecimentos e serviços públicos, converte-se num ponto de encontro das várias
gerações sanjoanenses.

Durante as 19 semanas de estágio, esta praça e ruas envolventes estiveram sujeitas


a uma obra de requalificação do centro da cidade. Com o ambicioso e visionário projeto
em prática, a farmácia teve de se adaptar a algumas realidades. Refiro-me não só ao
ruído proveniente das zonas de construção, mas também à sujidade e poeira a que a
praça esteve exposta durante algumas semanas.

No que diz respeito ao perfil do utente da FC, a maior percentagem dos seus
utentes faz parte da população idosa ou da população trabalhadora do setor secundário
e terciário. Aos primeiros, era feita principalmente a dispensa de medicação destinada a
combater doenças crónicas como a hipertensão arterial (HTA), hipercolesterolemia e
diabetes. Na população trabalhadora destaco a maior procura por medicamentos de uso
familiar e de problemas relacionados com o sistema nervoso como depressão e
ansiedade.

Nos dias de serviço permanente, principalmente aos feriados e domingo, sendo a


FC a única aberta no concelho, o tipo de utente variava bastante. Faziam parte deste
grupo de utentes ocasionais, pessoas acabadas de sair de serviços de emergência ou de
consultas de especialidade e pessoas com urgência de resolver problemas de saúde
menores. Estes clientes, apesar de não serem habituais, são importantíssimos para a

46
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

farmácia, uma vez que um atendimento personalizado e diferenciado pode levar à


fidelização do mesmo.

Com 71 anos de serviço, a FC assume-se como um espaço moderno e atualizado,


onde os sanjoanenses podem usufruir de um serviço de excelência, que se distingue não
só pelo rigor e competência técnica dos seus profissionais, mas também pela sua
simpatia e dedicação ao doente.
2.2. Horário de Funcionamento

A FC encontra-se aberta de segunda-feira a sábado entre as 8:30h e as 19:30h, de


forma permanente, cumprindo com as 44h mínimas de funcionamento semanal,
exigidas pela Portaria nº277/2012, de 12 de setembro (7). Apesar da farmácia encerrar
aos domingos e feriados, os tempos de serviço são exceção à regra. Nos turnos de
serviço permanente, a farmácia mantém-se aberta, de forma ininterrupta, desde a hora
de abertura até ao encerramento do dia seguinte (8). É um acordo entre as farmácias da
cidade que estabelece a rotação semanal do horário de serviço.

No decorrer do estágio, o meu horário flutuou bastante, garantindo a experiência e


compreensão da dinâmica da farmácia, em todas as horas de funcionamento diário
semanal e tempos de serviço, inclusive.
2.3. Espaço Físico da Farmácia

Para o realizar das atividades quotidianas do farmacêutico comunitário, as


farmácias devem apresentar uma estrutura adequada, que esteja de acordo com a
legislação em vigor. De modo a facilitar a compreensão e descrição das instalações da
FC, será feita uma distinção entre espaço exterior e espaço interior.
2.3.1. Espaço Exterior

A imagem exterior de uma farmácia, de acordo com as Boas Práticas


Farmacêuticas para a Farmácia Comunitária (BPF) (9) e o Decreto-Lei n.º 307/2007, de
31 de agosto, posteriormente alterado pelo Decreto-Lei n.º 171/2012, de 1 de agosto (10),
deverá estar identificada por um letreiro com a designação “FARMÁCIA” e/ou o
símbolo da cruz verde, que deverão ser iluminados durante a noite quando a farmácia
estiver de serviço.

Os mesmos documentos referem ainda que o nome do Diretor Técnico e da


farmácia, o seu horário de funcionamento e as escalas de turno das farmácias do

47
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

município devem encontrar-se visíveis, tornando este espaço característico e


profissional, facilmente identificável. A FC cumpre com todas estas exigências.

As instalações da FC são bastante modernas e apelativas. A farmácia está inserida


num edifício com três andares (um andar superior, rés do chão e andar inferior) e é
constituída por duas fachadas: uma fachada lateral e uma fachada principal.

Começando pela fachada lateral, esta é composta por uma porta de entrada, usada
exclusivamente pelo pessoal da farmácia, durante a hora de abertura e encerramento
da farmácia. É também por esta entrada que é feita a descarga das encomendas diárias
por parte dos funcionários dos diferentes distribuidores grossistas. Esta fachada
apresenta ainda uma montra composta por um painel digital com publicidade rotativa,
rodeada por publicidade de vinil removível. Estas montras são elementos essenciais,
cuja exposição, varia ao longo do ano conforme as flutuações do mercado, promoções
feitas pela própria farmácia e acordos com fornecedores. O distribuidor automático de
produtos PharmaShop24, completa, juntamente com um sistema iluminado com a
inscrição “farmácia central”, a fachada lateral da FC. Esta máquina de vendas, funciona
como um negócio real, aberto 24 horas por dia e não requer nenhum operador. O
produto é exposto de forma visível e permite a compra de produtos em qualquer
horário e garante privacidade ao cliente, sem que este se sujeite a filas de espera. Os
produtos introduzidos na máquina, apresentam boas margens comerciais para as
farmácias e incluem principalmente dispositivos médicos de contraceção/prevenção de
doenças sexuais transmissíveis, como preservativos e ainda lubrificantes e brinquedos
sexuais.

De referir que inserida nesta fachada está ainda um terminal de multibanco


desassociado da farmácia.

É na fachada principal que estão localizados todos os elementos obrigatórios


referidos anteriormente como a cruz verde, indicadora da temperatura, nome da
farmácia, horário de funcionamento e horas exatas. Esta fachada é ainda constituída
por uma montra de vinil removível de grandes dimensões. Para garantir a
acessibilidade de todo o tipo de utentes como cidadãos portadores de deficiência (10) e
idosos, a farmácia dispõe de uma rampa em frente à porta de entrada. Devido à
corrente pandemia, na entrada da farmácia estão descritas as normas em vigor, como a
obrigatoriedade do uso de máscara, limite de utentes na farmácia, desinfeção das mãos
e o distanciamento de segurança. Apresenta também um posto de atendimento
utilizado durante as noites de serviço.

48
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Fazem ainda parte dos elementos exteriores da FC, dois lugares de estacionamento
exclusivos para utentes da farmácia. A ocupação destes lugares por pessoas
desassociadas dos serviços prestados na FC, tornava o acesso dificultado para os
utentes que recorriam ao próprio veículo para se dirigirem à farmácia, sendo necessária
por vezes a intervenção da Polícia de Segurança Pública para a regularização da
situação.
2.3.2. Espaço Interior

De acordo com o BPF (9), o Decreto-Lei 307/2007 (10) e a Deliberação 1502/2014 de


3 de julho (11), o interior da farmácia deve não só permitir a segurança, conservação e a
preparação de medicamentos, mas também a acessibilidade, comodidade e privacidade
dos utentes e respetivo pessoal. A farmácia deve dispor das seguintes divisões
obrigatórias: sala de atendimento ao público (mínimo de 50m2), armazém (pelo menos
25m2), laboratório (mínimo de 8m2), instalações sanitárias (pelo menos 5m2) e
gabinete de atendimento personalizado para a prestação de serviços (mínimo de 7m2).
Para simplificar a caracterização da disposição interior da farmácia será feita uma
divisão em duas partes: o back office, que retrata a parte de acesso exclusivo ao pessoal
da farmácia e o front office, local a que o utente tem acesso.

➢ Back Office

Durante as primeiras semanas do estágio curricular, alguns elementos do espaço


usado exclusivamente pelo pessoal da farmácia transitaram do andar superior para o
andar inferior da farmácia. Este andar superior, cujo acesso era feito por elevador,
apresentava uma cozinha, uma sala de reuniões, uma casa de banho e um escritório
independente da farmácia. Durante o estágio tive a oportunidade de visitar este
escritório, que apresentava como elementos decorativos bibliografia, manipulados e
equipamentos usados pela farmácia nos seus primeiros anos de existência, quase como
se de um pequeno museu se tratasse. Pude deste modo entender melhor a história da
farmácia e o processo evolutivo a que ela esteve sujeita.

Como no final deste breve período de transição, o andar superior deixou de ser
utilizado, será abordada apenas a disposição final do back office da farmácia depois da
sua completa transformação e recolocação.

O back office está distribuído pelos dois pisos da farmácia. Este pode ser dividido
em 4 zonas no primeiro piso e em 3 zonas no piso inferior.

49
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Começando pelo primeiro piso, nas traseiras do front office, encontramos a zona
onde é feito todo o processo de receção e gestão de encomendas. Esta zona apresenta
uma bancada em “V” equipada com um computador que apresenta o 4DigitalCare®, o
sistema informático da farmácia, um telefone fixo interligado aos telefones da farmácia
e várias impressoras de papel A4, etiquetas e rótulos. Por cima da mesa temos um
armário onde é feito armazenamento da bibliografia mais importante para consulta, de
faturas de fornecedores, notas de encomendas, listas de controlo de psicotrópicos e
benzodiazepinas e outros documentos de informação científica. É também nesta zona
que podemos encontrar o acesso ao interior do robô, onde é feito o armazenamento da
maior percentagem de medicamentos e produtos de saúde, o local onde são realizadas
as preparações extemporâneas, uma câmara frigorífica e um dispensador de água.
Alguns produtos sujeitos a receita médica, cujas dimensões não permitem o seu
armazenamento no robot, produtos cosméticos de marcas menos trabalhadas pela
farmácia e alguns dispositivos médicos de classe I, IIa e IIb estão armazenados num
armário deslizante aqui localizado. Os objetivos mensais, os laboratórios preferenciais,
genéricos mais lucrativos e outras informações relativas a alguns produtos e
procedimentos estão afixadas numa parede adjacente a esta primeira zona. Os produtos
reservados, pagos ou não pagos, e os produtos com menos de 6 meses de validade estão
aqui armazenados em prateleiras respetivas e visíveis para os colaboradores da
farmácia. É a partir desta zona que podemos aceder ao restante back office do piso
superior.

A segunda zona, de dimensões mais reduzidas, é constituída pelas instalações


sanitárias da farmácia, uma destinada ao sexo masculino e outra ao sexo feminino, os
cacifos dos seus colaboradores, uma sala de arrumos utilizada pela funcionária da
limpeza e uma bancada retangular. É nesta bancada que são feitos os embrulhos
requisitados pelos clientes. Sobre a bancada podemos encontrar alguns consumíveis da
farmácia, como folhas de papel A4, rolos para as impressoras, tinteiros e material de
escrita. Também as amostras destinadas aos clientes estão aqui localizadas. Sob a
bancada estão arrumados os sacos de papel e de plástico personalizados com o símbolo
e nome da farmácia, e os sacos oferecidos por diversas marcas de produtos cosméticos.

Na transição da segunda para a terceira zona, encontramos o detetor de incêndios


e alguns documentos afixados, nomeadamente, o registo de pessoal, o mapa de horário
de trabalho, o plano de férias da equipa e legislação variada.

Já na terceira zona, podemos situar o gabinete do Diretor Técnico e do Técnico de


Design Multimédia e Marketing. Este é o espaço onde o Diretor Técnico realiza todas as

50
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

suas funções de gestão de farmácia e são feitas as reuniões com os delegados das
diferentes marcas. Todas atividades relacionadas com processo de vendas e marketing
efetuadas pelo site da farmácia são realizadas neste espaço.

É também aqui que é feito o armazenamento de alguns medicamentos e outros


produtos de saúde. De um lado temos um grande armário onde se localizam os
produtos a ser devolvidos, organizados por laboratórios, e os medicamentos de venda
livre excedentários. Paralelamente está um armário mais pequeno onde se encontram
medicamentos genéricos sujeitos a receita médica, produtos trabalhados em conjunto
com a nutricionista e alguns suplementos alimentares. Todo este armazenamento é
efetuado segundo ordem alfabética e tendo em consideração a metodologia First
Expired First Out. Este procedimento pressupõe que os produtos devem ser
armazenados em função da sua validade, ou seja, à frente devem ficar os produtos cujo
prazo de validade termina mais rápido.

A farmácia apresenta ainda um quarto espaço, destinado à reciclagem de todo o


excedente de papel e cartão, descarga de encomendas diárias e de recolha de resíduos
do programa VALORMED®. É aqui que encontramos o painel de controlo de luzes e
alarmes da farmácia e umas escadas com acesso ao piso inferior.

Todo o piso inferior é de uso exclusivo de pessoal da farmácia, salvo algumas


exceções. Podemos aceder a este piso por elevador ou pelas escadas localizadas na zona
acima mencionada.

Da primeira zona do piso inferior, fazem parte o gabinete do


gerente/administrador, o gabinete do responsável por todo processo contabilístico,
fecho de caixa, receituário e faturação, um gabinete de usos variados, uma cozinha e
uma casa de banho partilhada. O último gabinete mencionado, equipado com um
computador, sistema informático utilizado pela farmácia e com um dispensador de
medicação, pode ser utilizado para preparação individualizada da medicação (PIM),
ações de formação por parte de delegados e administração de injetáveis quando o
gabinete de atendimento de personalizado, abordado posteriormente, se encontre
ocupado. A cozinha está devidamente equipada, oferecendo desta forma aos
colaboradores um local de conforto e convívio nos seus períodos de descanso ou
intervalo.

Ainda no piso inferior, mas localizado noutra zona, damos de caras com o maior
armazém da farmácia. Apresenta três estantes de grandes dimensões, um armário com

51
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

prateleiras e um pequeno anexo. Nas estantes são armazenados produtos cosméticos


das marcas mais trabalhadas pela farmácia e produtos pertencentes às categorias de
puericultura e higiene oral. Os dispositivos médicos de maiores dimensões também
estão aqui localizados. O armário contém produtos de nutrição entérica oral e o anexo é
composto pelo material usado para o envio de encomendas feitas pelo site. Todo este
espaço é alvo de uma verificação e reorganização periódica por parte dos colaboradores.

Por último, mas não menos importante, a farmácia apresenta ainda um


laboratório, onde é feita a preparação dos medicamentos manipulados. Apresenta uma
bancada longa com um lavatório, balança, banho de água e pedra para preparação de
cremes e pomadas onde se executam os diferentes manipulados e é feita a lavagem do
material utilizado. As matérias-primas, bibliografia necessária à produção de
medicamentos e todo o equipamento exigido por lei (12) estão armazenadas em armários
localizados sob a bancada.

➢ Front Office

Desde o momento em que se entra na farmácia, todo o espaço que vai até à zona
dos balcões de atendimento é de acesso livre ao público. Fazem parte deste espaço a
área de atendimento ao público e o gabinete de atendimento personalizado para
prestação de serviços.

A área de atendimento ao público é um espaço amplo, iluminado, ventilado e


acolhedor que representa uma das mais importantes divisões da farmácia. Este é o
principal ponto de contacto entre o farmacêutico e o utente e garante as devidas
condições de privacidade de modo e uma comunicação tranquila entre ambos.

Este espaço apresenta quatro balcões adjacentes, divididos em quatro postos de


atendimento. Todos eles estão protegidos por um acrílico de forma a minimizar o risco
de contágio e aumentar a segurança dos utentes e colaboradores da farmácia. Podemos
encontrar em todos os postos de atendimento um computador, equipado com o
software 4DigitalCare®, uma impressora de etiquetas e talões, um leitor de código de
barras, leitor de cartões de cidadão, um terminal multibanco e um desinfetante. Dentro
destes balcões estão localizados alguns consumíveis da farmácia, como sacos de papel
personalizados de três diferentes tamanhos, rolos para as impressoras, rolos para os
terminais de multibanco, tinteiros e algum material de escritório. Sobre os balcões
podemos ainda encontrar expositores de pequenas dimensões ou folhetos relevantes
para o utente, sejam de produtos comercializados ou de campanhas de sensibilização. A

52
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

limpeza, desinfeção e organização dos postos de trabalho são aspetos diferenciais que
exercem influência na preferência do cliente. Deste modo, fui desde cedo alertado para
a manutenção destes hábitos.

Atrás do balcão encontram-se distribuídos e organizados em lineares


medicamentos de uso familiar, suplementos alimentares e alguns dispositivos médicos.
Os lineares estão identificados pelo seu uso terapêutico e toda a sua disposição e
arranjo é metodicamente ponderada e executada de acordo com princípios propostos
pelo Diretor Técnico.

Sob estes lineares encontramos gavetas de arrumação, encontramos alguns


excedentários destinados à reposição dos lineares, produtos fitoterapêuticos e de uso
veterinário. Numa destas gavetas são armazenados documentos importantes como
notas de crédito, fichas de novos clientes, recibos de pagamentos por multibanco,
cartões de fidelidade e comprovativos de dispensa de psicotrópicos que no final de cada
dia de trabalho são recolhidos, analisados e arquivados. Encontramos ainda um
telefone fixo e uma máquina SafePay®, um sistema de gestão de dinheiro, que permite
a automatização dos processos de pagamento e troco, evitando erros de contagem e
diminuindo o risco de roubos (13). Também permite uma redução do tempo das tarefas
administrativas, uma vez que efetua a contabilidade do dia, o fecho dos balcões de
pagamento e a gestão de caixa de pagamento, sem a ocorrência de discrepâncias.

Fora do balcão, ao alcance do doente, encontramos uma zona de espera, com um


sistema de gestão de senhas, onde os utentes podem aguardar pela sua vez. A partir do
momento em que acedem a farmácia eles devem desinfetar as mãos, retirar a senha e
aguardar pela chamada por parte do farmacêutico. As senhas retiradas dizem respeito a
atendimento geral, atendimento prioritário e reservas pagas. De forma que as pessoas
possam aguardar pela sua vez de forma mais cómoda, a farmácia dispõe de dois bancos
nesta zona de espera.

Esta sala apresenta diversos setores organizados por categorias, nomeadamente


puericultura, cosmética, higiene oral, acessórios, novidades e oportunidades.
Pertencem ainda a esta área, expositores de pé, um posto de serviço de aconselhamento
e make-up, temporariamente suspenso devido à situação pandémica, e um aparelho de
medição de índice de massa corporal e pressão arterial.

Nesta área de acesso ao público, está afixada uma placa com a identificação do
Diretor Técnico, os serviços que a farmácia presta, bem como os respetivos preços, um

53
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

sinal relativo à proibição de fumar dentro do estabelecimento e a informação da


existência do livro de reclamações (9).

Todos os setores e respetivos produtos visíveis ao público são criteriosamente


selecionados e organizados, de forma a auxiliar o atendimento e desenvolver estratégias
de marketing e merchandising delineadas pelo Diretor Técnico.

O gabinete de atendimento personalizado é o local onde são prestados os serviços


farmacêuticos, nomeadamente, medição da pressão arterial, determinação dos
parâmetros bioquímicos (glicemia e colesterol), administração de injetáveis e consultas
de nutrição fornecidas pela profissional de saúde especialista no ramo e administração
de primeiros socorros. Funciona ainda como o posto de trabalho dos vendedores das
diferentes marcas aquando do seu dia de aconselhamento. Encontramos no seu interior
uma mesa com duas cadeiras, uma pequena marquesa, um lavatório, um kit de
primeiros socorros, um local de depósito de resíduos hospitalares de risco biológico e
de materiais cortantes e perfurantes. Todo o material e equipamento necessário para a
prestação dos serviços estão localizados neste espaço assim como algumas normas,
valores de referência e campanhas de sensibilização diversas.
2.4. Recursos Humanos

Independentemente das instalações, equipamentos ou serviços prestados pelas


farmácias, são os recursos humanos os elementos diferenciadores das mesmas, até
porque o valor das empresas está nas pessoas que nela trabalham. São essencialmente
as habilidades interpessoais, a formação, a responsabilidade, competência e
organização da equipa da FC que tornam o seu serviço tão personalizado.

A equipa da FC é constituída por 10 elementos efetivos. A direção técnica está a


cargo do farmacêutico e também orientador de estágio Dr. Tiago Santos. O Dr. Bruno
Rocha, coproprietário da farmácia, é o elemento responsável pelos processos de gestão
administrativa da farmácia. Os farmacêuticos Dr. Cristiano Silva, Dra. Sónia Pinho e
Dra. Cláudia Campos, os auxiliares de farmácia Rui Antunes, Isaías Pereira e Márcia
Válega, a contabilista e ajudante de farmácia de terceiro ano Ana Resende e o Técnico
de Design Multimédia e Marketing João Rocha completam a equipa. Todos eles
apresentam um cartão identificativo com o nome e título profissional (9). A farmácia
cumpre desta forma os requisitos legais que dizem respeito ao quadro farmacêutico (10).

As funções e responsabilidades de cada um dos colaboradores da farmácia estão


claramente definidas e categorizadas. Fazem parte delas por exemplo, o

54
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

aconselhamento e dispensa de medicamentos e produtos de saúde, a receção de


encomendas e devoluções, a prestação dos serviços da farmácia, o controlo dos prazos
de validade, a gestão de stocks e consumíveis, a preparação de manipulados, o
processamento do receituário e a preparação individualizada da medicação. Na
impossibilidade da realização de alguma tarefa é encontrado um substituto qualificado
para tal.

O Diretor Técnico, apesar de poder reproduzir qualquer uma das tarefas acima
mencionadas, apresenta deveres distintos dos demais. Sendo o responsável pelos atos
farmacêuticos efetuados na farmácia, deve garantir e supervisionar o funcionamento
correto da mesma, assegurando o cumprimento dos princípios e deveres previstos na
legislação reguladora da atividade farmacêutica, bem como o cumprimento destas
regras deontológicas. As reuniões com delegados comerciais e o envio mensal do registo
dos psicotrópicos são também da sua responsabilidade. Qualquer problema ou
imprevisto que ponha em causa o correto funcionamento da farmácia é apresentado ao
Dr. Tiago Santos, de modo a possam ser tomadas as melhores decisões e soluções.

Apesar de não pertencerem aos quadros da farmácia, a Dra. Beatriz Gomes e a


recente doutorada Dra. Sara Neves, antigas estudantes da Faculdade de Farmácia da
Universidade de Coimbra, passaram também por um período de estágio, profissional e
curricular respetivamente. Tendo em conta que a FC pertence a um grupo de farmácias
que mantêm contatos diários entre si, foi possível conhecer também alguns dos
elementos destas equipas via telefónica e presencialmente.
2.5. Sistema Informático

Os sistemas de informação utilizados no setor farmacêutico são essenciais para a


gestão, otimização e simplificação dos processos realizados pelas farmácias. O sistema
informático 4DigitalCare®, desenvolvido pela 4DigitalCare Lda, é o utilizado na FC.
Sediada em Seixezelo, ao longo do estágio, a empresa revelou-se sempre disponível a
responder a falhas ou dúvidas relativas ao funcionamento do sistema, passando este
por várias atualizações que o tornaram mais funcional e completo.

Dividido em 8 secções principais, nomeadamente “POS”, stocks, clientes,


entidades, gestão e aplicação e em inúmeras subsecções, permite o realizar de todos os
processos relacionados com o atendimento, gestão de stocks, produtos, encomendas,
validades, clientes e faturação.

55
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

O acesso ao software é feito através de um código pessoal criado pelo Dr. Tiago
Santos para cada um dos seus colaboradores. Algumas das funcionalidades do
programa são de acesso restrito, tendo em conta as funções e responsabilidades de cada
um dos elementos da equipa. Desta forma fica facilitado o controlo e monitorização dos
procedimentos realizados na farmácia.

O processo de aprendizagem e adaptação ao sistema informático foi bastante


rápido, uma vez que todo ele é bastante simples, intuitivo e de fácil interpretação.
Através do feedback dos colaboradores e da minha experiência prévia com o sistema
informático Sifarma2000®, é possível apontar como ponto menos positivo do
4DigitalCare® a menor quantidade de informação relativa a interações,
contraindicações e precauções de utilização dos medicamentos.

3. Informação e Documentação Científica

A complexidade e dimensão do domínio farmacêutico, motivam o farmacêutico a


utilizar diversas fontes de informação de modo a selecionar e recolher o material
necessário para revisão, atualização ou esclarecimento de dúvidas. As farmácias devem
desta forma, dispor de uma biblioteca básica com determinados documentos
obrigatórios como a Farmacopeia Portuguesa e outros documentos designados pela
autoridade nacional do medicamento e produtos de saúde (INFARMED) como o
Prontuário Terapêutico, o Formulário Galénico Português (FGP) e a Legislação
Farmacêutica, criando uma biblioteca básica credível e atualizada. Podemos encontrar
todos estes documentos na farmácia em formato online ou em edição papel.

A ferramenta de consulta mais utilizada foi o sistema informático abordado


anteriormente, onde podemos encontrar informações relativas a cada um dos produtos
comercializados, acedendo ao resumo das características do medicamento.

Para além dos documentos mencionados anteriormente, na FC podemos consultar


diversos guias de tratamento, tabelas, fluxogramas e informações acerca de produtos,
fornecidas ou não pelas diferentes marcas. Uma destas tabelas foi desenhada por mim,
depois de proposta pelo orientador de estágio e relaciona a dose única e a dose máxima
diária de xarope a ser utilizada, tendo em conta o peso e idade nas diferentes
concentrações comercializadas, de uso pediátrico. Estas tabelas dizem respeito às
suspensões orais de Ben-U-Ron 40mg/ml®, de Ib-U-Ron 20mg/ml® e de Ib-U-Ron
40mg/ml®.ml

56
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Tendo em conta a elevada quantidade de informação disponível, é necessário fazer


uma localização, seleção e recolha de conceitos criteriosa quando recorremos à
internet. Em situações excecionais, recorri a separadores marcados no motor de busca
dos computadores para pesquisa de informação como o Infomed®, na pesquisa
avançada de medicamentos autorizados, substâncias ativas e diferentes apresentações,
o MedVet®, uma base de dados de medicamentos veterinários, o e-lactancia® , no
esclarecimento relativo à compatibilidade de medicamentos e outros produtos de saúde
durante a amamentação e a calculadora de doses da serFarma®, para apoio no cálculo e
confirmação de posologias de medicamentos para administração na forma líquida.

4. Medicamentos e Outros Produtos de Saúde

De modo a atender às necessidades dos utentes, a FC apresenta uma grande


diversidade de medicamentos e outros produtos de saúde. Nela é feita a dispensa de
várias classes medicamentosas com diferentes formas e apresentações, nomeadamente,
medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) e medicamentos não sujeitos a receita
médica (MNSRM), genéricos ou de marca, para uso humano ou veterinário,
psicotrópicos/estupefacientes, preparações oficinais e magistrais, homeopáticos e
fitoterapêuticos. Para além de medicamentos podemos encontrar vários produtos de
saúde como os cosméticos e dermofarmacêuticos, dietéticos, suplementos alimentares e
ainda dispositivos médicos.

Apesar da perceção acerca da variedade de produtos comercializados nas


farmácias, o desconhecimento prévio acerca de muitos destes produtos constituiu uma
dificuldade no início de estágio. A citação de marcas comerciais por parte dos utentes e
a inexperiência com os mesmos, gerou muitas vezes incerteza relativa ao produto
pedido, levando à necessidade da sua associação com a sua denominação comum
internacional (DCI) para um entendimento da situação.

Desta forma, a procura de informação e atualização acerca dos mesmos, através da


revisão de conhecimentos abordados na faculdade e da participação em webinares/
formações gratuitas, fora do horário de estágio, foi uma constante de forma a poder
prestar o melhor serviço de atendimento ao utente.

A FC incentiva também todos os seus colaboradores a integrar ações de formação,


em formato online ou presencial, relativas a produtos das diferentes marcas.
Usualmente os delegados representativos de laboratórios deslocam-se à farmácia para
transmissão de conhecimentos e prestação de esclarecimentos. No final de cada uma

57
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

destas ações de formação, o formador e os elementos presentes assinam um documento


comprovativo da sua realização, para posterior arquivação.

Durante o estágio assisti a diversas formações, em formato presencial ou online,


relativas a produtos de saúde de diferentes marcas/laboratórios, como por exemplo,
Filorga®, Medela®, Aquilea® e Curaprox®.
4.1. Medicamentos

De forma a compreender o regime jurídico dos medicamentos, fazer a sua


distinção dos outros produtos de saúde e saber definir conceitos importantes relativos
aos mesmos, temos na legislação portuguesa, mais concretamente no Decreto-Lei nº
176/2006 uma fonte de literatura importante, já que é nele que é estabelecido o
“regime jurídico a que obedece a autorização de introdução no mercado e suas
alterações, o fabrico, a importação, a exportação, a comercialização, a rotulagem e
informação, a publicidade, a farmacovigilância e a utilização dos medicamentos para
uso humano e respetiva inspeção” (14).

O documento considera medicamento “toda a substância ou associação de


substâncias apresentada como possuindo propriedades curativas ou preventivas de
doenças em seres humanos ou dos seus sintomas ou que possa ser utilizada ou
administrada no ser humano com vista a estabelecer um diagnóstico médico ou,
exercendo uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou
modificar funções fisiológicas” (14).

Medicamentos com a mesma composição qualitativa e quantitativa em substâncias


ativas, a mesma forma farmacêutica e cuja bioequivalência com o medicamento de
referência haja sido demonstrada por estudos de biodisponibilidade apropriados (14) são
definidos como medicamentos genéricos, enquanto um medicamento de referência
refere-se àquele cuja substância ativa foi autorizada e comercializada pela primeira vez
no mercado com base em documentação completa.

Muitas vezes referidos de forma errada, podemos distinguir um preparado oficinal


de uma fórmula magistral através do modo de obtenção. Apesar de ambos poderem ser
preparados numa farmácia de oficina, o primeiro segue as indicações de uma
farmacopeia ou formulário oficial, destinado a ser dispensado diretamente na farmácia
e o segundo segue as indicações presentes numa receita médica destinada a um doente
específico.

58
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Os psicotrópicos e estupefacientes atuam sobre o sistema nervoso central, com a


capacidade de afetar os processos mentais, podendo atuar como depressores ou
estimulantes. A habituação e dependência que podem provocar, faz com que estes
produtos se associem muitas vezes a atos ilícitos, sendo alvo de muita atenção por parte
das autoridades competentes, contudo, sempre que são utilizados com intuito
medicinal e terapêutico, estas substâncias mostram-se muito úteis para o tratamento
de diversas doenças (15).

O entendimento dos diferentes medicamentos comercializados, as suas restrições


de utilização e o conhecimento acerca da sua localização ou existência na FC fez com
que todo o serviço de atendimento ao utente fosse mais rápido e assertivo aquando do
seu aparecimento ou referência ao balcão.
4.2. Outros Produtos de Saúde

Na secção “9. Aconselhamento e dispensa de outros produtos de saúde” do


presente relatório serão definidos, discutidos e abordados os restantes produtos de
saúde disponíveis para venda ao público na FC.
4.3. Classificação dos Medicamentos

Os sistemas de classificação mais usados em farmácia comunitária incluem a


classificação ATC (Anatomical Therapeutic Chemical) e a classificação
farmacoterapêutica.

Na classificação ATC, adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), as


substâncias ativas são organizadas em diferentes grupos de acordo com o órgão ou
sistema no qual atuam e nas suas atividades químicas, farmacológicas e terapêuticas.
São classificadas em grupos de cinco níveis diferentes. O primeiro nível tem catorze
grupos principais e só o quinto nível apresenta a substância ativa (16).

A classificação farmacoterapêutica, utilizada em instrumentos de apoio à


prescrição como o Prontuário Terapêutico e Formulário Hospitalar Nacional de
Medicamento , nos processos de autorização no mercado de medicamentos, no sistema
EuroPHARM (base de dados de medicamentos na União Europeia) e nos instrumentos
normativos em matéria de comparticipação do estado no preço dos medicamentos,
classifica os medicamentos de acordo com uma sistematização agrupada em função da
identidade, entre eles, e das indicações terapêuticas para que são autorizados e
aprovados, permitindo aos profissionais de saúde uma melhor e mais rápida
identificação desses produtos. Desta forma ela aproxima-se da classificação ATC da

59
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

OMS, permitindo uma normalização e uniformização da classificação


farmacoterapêutica.

5. Aprovisionamento e Armazenamento
5.1. Gestão de Encomendas

Um aprovisionamento e armazenamento organizados, bem como todos os


processos inerentes aos mesmos são fulcrais para o bom funcionamento do back office
e gestão eficiente das farmácias.

Na FC, todas as atividades exercidas em back office desde a criação, preparação e


receção de encomendas, etiquetagem, colocação de alarmes, arrumação e ordenação de
produtos em armazém, controlo de prazos de validade e realização de devoluções, entre
outros, são feitas segundo procedimentos claros e conhecidos pela equipa, de forma a
suprimir as necessidades dos utentes e garantir um equilíbrio financeiro.

O consolidar destes princípios de gestão e é feito através da experiência e do


conhecimento do perfil do utente, rotação diária e sazonalidade de produtos, influência
de campanhas publicitárias e hábitos de prescrição médica.

Nas primeiras semanas de estágio, os meus deveres e responsabilidades, incidiram


na consolidação de todas estas metodologias, de modo a garantir uma maior lucidez
sobre os processos e sobre os diferentes medicamentos e produtos de saúde.
5.2. Tipos de Encomendas

Na FC, a aquisição de medicamentos e outros produtos de saúde é realizada através


de vários tipos de encomendas. Elas incluem encomendas diárias, encomendas
instantâneas, encomendas via telefone, encomendas “Via Verde do medicamento” e
encomendas realizadas diretamente aos laboratórios.

Encomendas diárias – mobilizando um maior volume de produtos na FC, este tipo


de encomendas, é realizado normalmente pelo Diretor Técnico ou por um dos
elementos da farmácia com a sua supervisão duas vezes por dia, uma ao fim da manhã
e outra ao fim da tarde. O sistema informático gera uma proposta de encomenda tendo
em conta os stocks mínimos e máximos pré-definidos de cada produto (ponto de
encomenda), para serem posteriormente pedidos aos distribuidores grossistas,
facilitando deste modo a gestão de stocks aquando da sua entrada ou saída da farmácia.
O histórico de vendas de cada produto no último ano é também fornecido pelo sistema

60
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

informático de modo a auxiliar todo este processo. Na eventualidade dos produtos não
serem recebidos, eles são automaticamente gerados para a próxima encomenda diária a
realizar. Esta proposta de encomenda pode ser personalizada de forma a alterar as
quantidades dos produtos a pedir e o respetivo fornecedor ou inserir/retirar produtos
já gerados pelo sistema. Depois de analisada e confirmada, a encomenda é enviada para
o fornecedor e entregue posteriormente na farmácia em horário estabelecido.

Encomendas instantâneas – realizadas através do sistema informático,


maioritariamente ao balcão, este tipo de encomenda é feita quando determinado
medicamento ou produto de saúde não se encontra disponível na farmácia no momento
do atendimento, permitindo assim suprimir falhas de stock e garantir o acesso do
medicamento ao utente. O farmacêutico enquanto processa a encomenda informa o
utente acerca da eventual hora, dia de chegada e respetivo preço do produto a
encomendar. Se o doente concordar com as condições mencionadas é efetuada a
encomenda e reserva do produto. Se este produto não se tratar de um MSRM, é
necessária a aplicação da margem de comercialização definida pela farmácia. O doente
deve, idealmente, ter ficha de cliente na farmácia para que se possa efetuar este tipo de
encomenda.

Encomenda por telefone – baseada nos mesmos princípios das encomendas


instantâneas, estas encomendas são efetuadas quando determinado produto não está
presente na farmácia e há urgência na sua aquisição. A grande diferença é que o
telefone é usado em detrimento do sistema informático para conhecimento das
condições de aquisição do produto em causa. Permite uma comunicação direta e em
tempo real com fornecedores, laboratórios ou entidades, fazendo com que haja uma
maior rapidez de processos. Na FC, este tipo de encomenda é, normalmente, realizado
com farmácias parceiras e o envio da encomenda é feito diretamente para a farmácia
por colaboradores, sem necessidade de alteração de preço ou margem de lucro.

“Via verde do medicamento” – este mecanismo excecional de aquisição de


medicamentos, resulta de uma parceria entre o INFARMED, associações de farmácias,
distribuidores por grosso de medicamentos e titulares de AIM (autorização de
introdução no mercado). Desta forma elaborou-se uma lista de produtos de diferentes
classes farmacológicas considerados fundamentais para garantir a condição de saúde
do utente, que tem o objetivo de combater a escassez dos mesmos. Os distribuidores
devem assim garantir a sua distribuição racionada quando estes medicamentos são
requisitados pelas farmácias. A encomenda é realizada ao balcão no momento da

61
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

dispensa de um destes produtos listados, mediante a apresentação de receita e rutura


de stock na farmácia, estando a quantidade de pedidos por medicamento limitada.

Encomenda realizada diretamente ao laboratório – menos frequentes, estas


encomendas são feitas pelo Diretor Técnico e representam uma oportunidade do ponto
de vista financeiro para a farmácia. Através de reuniões com os diferentes delegados de
indústrias farmacêuticas, são apresentados e negociados determinados termos e
condições de forma a efetuar encomendas de grandes quantidades de produtos e
beneficiar de diferentes descontos e bonificações na sua aquisição. Os produtos
encomendados são usualmente de grande rotatividade e efetuados de forma mensal,
salve exceção. Estas encomendas podem chegar à farmácia através dos distribuidores
grossistas normais ou pelos canais da própria indústria. Pertencendo a FC a um grupo
de farmácia, estas encomendas são realizadas tendo também em conta as necessidades
das outras farmácias parceiras, principalmente no caso de laboratórios de produtos
dermocosméticos e alguns MNSRM.

Com o elevado número de produtos disponíveis na farmácia, rotatividade de


clientes e flutuações de mercado é impossível prever com exatidão o stock ideal para
cada produto. Desta forma, é bastante comum a realização de encomendas
instantâneas e por telefone, devido à sua urgência de dispensa. Este exercício deu-me
uma perspetiva relativamente à demanda de produtos específicos, levando a alterações
de stock mínimo, depois de sugeridas ao Diretor Técnico.
5.3. Critérios de seleção de Fornecedores

A seleção de fornecedores para os diferentes tipos de encomendas abordados


anteriormente é de extrema importância e segue um conjunto de critérios e premissas
de modo a gerar um equilíbrio entre os benefícios gerados, nomeadamente,
disponibilidade do produto desejado, rapidez da entrega, qualidade do serviço, preços
praticados, descontos, bónus, campanhas promocionais e política de devoluções.

Tendo em conta estes critérios, os três distribuidores grossistas responsáveis pelas


encomendas na FC são essencialmente a Plural+Udifar®, a Cooprofar® e a Alliance
Healthcare®, sendo que a Plural+Udifar® é o armazenista privilegiado para a maior
parte dos produtos adquiridos.
5.4. Receção de Encomendas

Depois de realizada e formalizada uma encomenda, os produtos são entregues pelo


fornecedor através da fachada lateral abordada previamente ou, em casos excecionais

62
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

(caso de encomendas realizadas diretamente ao laboratório ou encomendas de


pequenas dimensões), são entregues diretamente na zona de receção de encomendas.

Dependendo do tipo de produto ou distribuidor, as encomendas são


acondicionadas em contentores selados ou em caixas de cartão, com as respetivas
faturas. Os produtos termolábeis, necessitando de condições de conservação especiais,
para além de acondicionados em contentores, são revestidos por esferovite e
acompanhados por acumuladores de gelo de forma que as temperaturas baixas se
mantenham por mais tempo, evitando que o produto seja comprometido. Assim sendo
estes produtos são sempre os primeiros a ser armazenados no local que garante a sua
estabilidade e eficácia, o frigorífico neste caso. Nestas faturas estão presentes os dados
do fornecedor e da farmácia, a designação dos produtos existentes na encomenda e o
respetivo código nacional do produto (CNP), unidades de cada produto faturadas e em
bonificação, preço de venda ao público (PVP), preço de venda à farmácia (PVF),
imposto de valor acrescentado (IVA), preço total líquido por linha, número total de
unidades da encomenda e o preço total.

Já entregues, os contentores são transportados para a zona de receção de


encomendas, onde é feito todo o processo de receção de encomendas através do
4DigitalCare®. Ele permite fazer a receção de diferentes encomendas ao mesmo tempo,
isto é, podem ser introduzidas no sistema várias encomendas em simultâneo.

Primeiramente é feito o armazenamento dos produtos termolábeis no frigorífico de


forma a garantir a sua estabilidade e eficácia, sem que seja feita a sua introdução no
sistema. As unidades de cada um destes produtos são registadas para que não ocorram
erros de stock ou de receção.

Usando o sistema informático, acede-se à opção “Gestão de Receções” e insere-se o


número da encomenda em questão. Usualmente iniciamos pela encomenda diária, uma
vez que o armazenamento de grande parte dos seus produtos é feito pelo robot da
farmácia, seguindo uma ordem de processos diferente.

Através do ecrã tátil do robot, selecionamos a opção “Entrada de Mercadorias” e


introduzimos o número de encomenda “1/nº encomenda”. Introduzidos estes dados,
colocamos os produtos que se destinam a armazenar no robot na passadeira rolante e é
feito o scan do produto através do QR Code. Ele reconhece automaticamente o produto
e o prazo de validade associado. Se o produto não tiver QR Code, é feita a leitura do

63
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

CNP e é introduzido manualmente o prazo de validade. Se o prazo de validade destes


produtos for inferior a seis meses desde o momento da entrega estes são identificados e
colocados separadamente para que seja realizada a sua devolução. Poderá haver a
necessidade de fazer a medição dos produtos se o robot não aceitar a sua entrada no
sistema. Os produtos que não estão presentes no número de encomenda inserido não
são aceites pelo robot, mesmo que sejam lá armazenados. Enquanto o robot auxilia o
processo de receção dos produtos também vai fazer o seu armazenamento. Este
processo permite avançar alguns passos abordados posteriormente relativamente aos
produtos colocados de forma manual no leitor ótico localizado no balcão de receção de
medicamentos, tornando o processo mais rápido e eficiente.

Enquanto é feito o armazenamento de produtos pelo robot, dá-se entrada na


farmácia dos produtos provenientes das encomendas instantâneas e dos produtos que
não são armazenados no robot, como é o caso dos termolábeis. É feita a importação de
encomendas pelo sistema e estes produtos são passados pelo leitor ótico. Os seus
prazos de validade são verificados e alterados se necessário (se stock de determinado
produto for nulo ou se apresentar validade inferior à registada no sistema informático).
Também é necessário atualizar o PVF e o PVP dos medicamentos e produtos de venda
livre, de acordo com as margens de comercialização estabelecidas na farmácia e
averiguar as condições de preservação dos produtos e a integridade das embalagens. Se
a farmácia receber algum produto novo, há a necessidade de criação de ficha do
produto onde são inseridos dados como o seu nome, CNP, localização, códigos de
barras e são impressas as etiquetas respetivas.

Para confirmar a receção da encomenda é necessário verificar se a quantidade total


de produtos e o valor da encomenda estão de acordo com o que vem faturado e fazer-se
a leitura da fatura. Estando tudo conforme, avançamos no processo de receção de
encomendas e é feita a impressão de talões de reserva e envio de mensagens para os
clientes associados a estas reservas. Para finalizar damos a receção como terminada e
as faturas são arquivadas para avaliação contabilística.

Se todo este processo estiver uniforme e não houver necessidade de reclamação aos
fornecedores, por erros nas encomendas relativos a produtos em falta ou excesso,
danificados ou mal faturados, é feito o armazenamento dos restantes produtos no local
respetivo e colocação de alarmes se o produto for para exposição.

64
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

5.5. Margens de Comercialização

No que diz respeito às margens legais de comercialização na marcação de preços, o


PVP praticado pelas farmácias pode ou não ser alterado tendo em conta o tipo de
produto. O preço máximo dos medicamentos para venda ao público no estádio de
retalho (PVP), é composto pelo PVA (preço de venda ao armazenista), margem de
comercialização do retalhista, taxa sobre a comercialização dos medicamentos e IVA (17).

Os produtos de saúde sujeitos a receita médica e comparticipados pelo Serviço


Nacional de Saúde (SNS) têm um PVP autorizado pelo INFARMED, cuja impressão se
encontra impressa na cartonagem. Surgiram situações em que os utentes questionaram
os valores da dispensa de alguns destes produtos. A justificação usada baseou-se no
facto de que todos estes preços serem obrigatoriamente praticados pelas farmácias e
flutuam de acordo com a fórmula do PVP, revisto anualmente.

No que toca ao preço dos MNSRM e outros produtos de saúde de venda livre, cabe
à farmácia estabelecê-lo. Este preço é definido tendo em conta o valor do IVA (23% ou
6%), o tipo de produto, preço de venda do armazenista e a margem estabelecida pela
farmácia. O PVP para cada um destes produtos é revisto e atualizado periodicamente de
forma a uniformizar e haver concordância de valores.

O Despacho n.º 4699/2020 determina a percentagem de lucro na comercialização


de alguns dispositivos médicos e equipamentos de proteção individual, dispensados
pelas farmácias como o gel desinfetante cutâneo de base alcoólica e álcool etílico (18) é
limitada a 15% (19). Esta medida extraordinária garante o acesso de bens essenciais à
saúde pública a preços mais económicos, tendo em conta a situação epidemiológica
vivida na atualidade. As máscaras cirúrgicas para uso social, de uso único e reutilizáveis
foram os produtos mais dispensados na FC, neste âmbito.
5.6. Marcação dos Preços

O processo de marcação de preços na FC é feito recorrendo ao sistema informático.

Ele permite a impressão de etiquetas na fase final da receção de encomendas e de


forma independente numa das suas secções. Neste caso é selecionado o produto a ser
marcado, através da leitura do seu QR Code ou da introdução manual do seu CNP,
introdução do número de etiquetas a imprimir e dos dados nela inseridos.

65
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

5.7. Armazenamento
5.7.1. Condições de Armazenamento

As condições de armazenamento, nomeadamente, de iluminação, temperatura,


humidade e ventilação das diferentes zonas de armazenamento devem garantir e
respeitar exigências específicas de modo a possibilitar a conservação e eficácia dos
medicamentos armazenados.

A FC apresenta três termohigrómetros, colocados no frigorífico, no robot e no back


office, de forma a fazer o controlo da temperatura e humidade, sendo que estes valores
devem ser verificados e analisados mensalmente. Os medicamentos termolábeis são
armazenados no frigorífico e devem ser conservados entre 2 a 8ºC e os restantes
produtos de saúde devem ser conservados a temperatura abaixo dos 25ºC e humidade
inferior a 60% (20).

Por se encontrar num ambiente fechado, a farmácia dispõe também de um sistema


de ar condicionado para conforto térmico e manutenção do estado de conservação dos
produtos e um desumidificador, que previne o aumento da taxa de humidade relativa e
consequente corrosão das instalações e propagação de bactérias.
5.7.2. Armazenamento de Produtos

Com a receção das encomendas concluída, surge a necessidade de armazenar os


produtos recolhidos. Na FC as zonas de armazenamento e separação de produtos são
claras, tornando o processo de arrumação e gestão de stocks facilitado.

A FC está equipada com um robot (RowaSmart®) que constitui o sistema de


armazenamento preferencial de MSRM e alguns MNSRM. Com capacidade de
armazenar até 12000 embalagens de medicamentos, ele organiza aleatoriamente os
produtos inseridos e procede à limpeza do seu espaço. Qualquer produto pode ser
inserido nele desde que na ficha do produto seja selecionada a opção “Robot” e tenha as
medidas exigidas. As caixas dos produtos de maiores dimensões e mais pesados devem
ser seladas durante o seu armazenamento para evitar que ocorram perdas ou que o
produto se danifique durante a sua dispensa. A automação da farmácia permite uma
otimização do processo de armazenamento de produtos, uma vez que o espaço físico da
farmácia pode ser utilizado para outros procedimentos, diminuindo o tempo
despendido pelo farmacêutico nestas tarefas. Se o robot apresentar algum erro, ele
deteta-o e informa o operador acerca da origem do mesmo.

66
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

O 4DigitalCare® permite a consulta, definição e identificação de cada um dos


locais de armazenamento existentes na farmácia, e é sempre consultado em caso de
dúvidas.

Os locais de armazenamento da farmácia são essencialmente o robot, os lineares,


os expositores, o armazém do piso inferior, o frigorífico, o laboratório e outros espaços
do back office, abordados anteriormente. Todos estes locais seguem o princípio First
Expired First Out e em alguns casos uma ordenação por ordem alfabética.

Em pouco tempo de estágio, consegui executar de forma autónoma as funções


relacionadas com o aprovisionamento e armazenamento dos produtos disponíveis na
farmácia.
5.8. Prazos de Validade

O controlo dos prazos de validade é uma das funções mais importantes em


farmácia comunitária. Um conhecimento antecipado do farmacêutico relativamente
aos produtos cuja validade esteja a expirar concede-lhe um espaço de tempo valioso de
forma a proceder às medidas necessárias de rentabilização, evitando desperdícios.

É através do software 4DigitalCare®, no separador “Gestão de Validades”, que é


feita a pesquisa dos prazos de validade na FC. Realizados na primeira semana de cada
mês, é impresso um documento indicativo dos produtos cuja validade está a expirar em
um mês, três meses e seis meses. Este documento apresenta o CNP, o nome, a
localização, o stock, prazo de validade prévio e novo prazo de validade de cada um dos
produtos enumerados. Cabe ao farmacêutico verificar estes dados, corrigi-los e se
necessário recolocar os produtos na secção das validades, oportunidades, devoluções ou
outro local definido pelo Diretor Técnico.

Ocasionalmente é realizado um controlo mais completo, que consiste na


verificação de produtos de saúde de marcas ou laboratórios específicos sujeitos a erros
de stock.

A verificação dos prazos de validade permitiu-me não só entender a rotatividade


dos produtos, mas também a sua localização e recolocação na farmácia.
5.9. Devoluções

A danificação de uma embalagem, a receção de produtos não encomendados ou


fora das condições negociadas, prazos de validade curtos e retirada de determinado lote

67
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

do mercado representam alguns dos motivos que podem levar à devolução dos
produtos de saúde. Assim sendo, as devoluções podem ser efetuadas no momento de
receção de encomendas ou quando determinada situação o justifique.

Nestes casos o fornecedor é contactado e é criada uma guia de devolução através do


separador “Gestão Devoluções”. Devem ser introduzidos dados como o motivo, o
fornecedor, fatura e o CNP do respetivo produto. A nota de devolução é impressa,
sendo que uma cópia é arquivada na farmácia e outras duas são entregues ao
fornecedor. As devoluções podem não ser aceites pelo distribuidor ou pelo fornecedor
e, nesse caso, o produto enviado regressa à farmácia acompanhado de uma guia de
transporte, sendo remetido para quebras. Quando as devoluções são aceites, a nota de
devolução gerada é regularizada através de um reembolso sob a forma de uma nota de
crédito ou do envio de produtos de valor semelhante aos devolvidos.

6. Interação Farmacêutico-Utente-Medicamento
6.1. Aspetos Éticos e Deontológicos e Informação ao
Utente

Durante o atendimento ao utente, o farmacêutico é responsável pelo bem-estar


do doente e deve promover sempre um tratamento de qualidade, eficaz e seguro,
com um elevado sentido de responsabilidade e princípios éticos bem assentes.

Para executar um atendimento de excelência na FC, é importante a criação de


empatia, saber escutar de forma a ir de encontro às necessidades, reconhecer e
premiar os clientes fidelizados, atender às suas reclamações, ser prestável e acima
de tudo construir uma relação de confiança, indo de encontro com os aspetos
deontológicos e éticos presentes na legislação (1).

O atendimento de chamadas e o uso excessivo de diminutivos ou de linguagem


técnica durante os meus primeiros atendimentos foram alguns dos aspetos que tive de
aperfeiçoar. Assim sendo, de forma aleatória realizei diversas simulações de
atendimento com elementos da farmácia para o aprimorar de toda a interação com o
utente.

Desta forma, o estágio permitiu-me adquirir e desenvolver princípios e


competências técnicas que levaram a uma melhor recolha e transmissão de informação,
com vista à promoção do uso racional do medicamento.

68
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

6.2. Farmacovigilância

Define-se farmacovigilância como a atividade de saúde pública que tem por


objetivo a identificação, quantificação, avaliação e prevenção dos riscos associados ao
uso dos medicamentos em comercialização, permitindo o seguimento dos possíveis
efeitos adversos dos medicamentos (9). A farmácia é normalmente o primeiro local de
deteção destas reações adversas.

Assim sendo, o farmacêutico deve sempre comunicar com o utente de forma a


entender se existe alguma suspeita de reação adversa ou interação do medicamento,
interpretar a situação e fazer a sua notificação para a unidade regional responsável, via
telefone, email ou preenchendo uma ficha de notificação ou através do portal da reação
adversa ao medicamento do INFARMED.

Nesta notificação deve estar descrita a reação adversa, a usa duração, gravidade e
evolução, o medicamento suspeito e modo de utilização, medicação não suspeita e a sua
relação com os sinais e sintomas presentes.
6.3. Reencaminhamento dos Medicamentos Fora de
Uso e Gestão de Resíduos
6.3.1. Valormed®

O aumento da preocupação ambiental e a necessidade de tratamento de


medicamentos fora de uso fez com que em 1999 fosse criada uma instituição sem fins
lucrativos, VALORMED®, cuja responsabilidade assenta na gestão dos resíduos de
embalagens vazias e medicamentos fora de uso de origem doméstica através de um
sistema integrado de gestão de resíduos de embalagens e medicamentos (21).

A FC participa ativamente no processo de recolha de tais resíduos. Com um


contentor localizado atrás do balcão de atendimento, depois de cheio, o farmacêutico
regista a sua saída para depois ser recolhido pelas empresas de distribuição e serem
enviados para centros de triagem, onde poderão ser avaliados, classificados e
separados.

Na FC eram recolhidos vários destes contentores por semana, fruto da


sensibilização feita pelos seus colaboradores para a necessidade de adesão a este
sistema de entrega de medicamentos fora de uso.

69
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

7. Dispensa de Medicamentos

Uma das principais atividades praticadas pelo farmacêutico comunitário é a


dispensa de medicamentos, seja esta realizada mediante a apresentação de receita
médica, indicação farmacêutica ou regime de automedicação. Constitui muito mais
do que um ato de cedência de medicamentos uma vez que o farmacêutico deve
garantir que o utente entende e cumpre todas as especificações transmitidas
relativamente aos produtos dispensados como a posologia, modo de administração
interações, contraindicações, efeitos adversos e condições de conservação. Esta
informação verbal deve ser acompanhada por informação escrita para que o utente
se possa relembrar dela a qualquer instância.

Tendo em conta que o incumprimento da duração do tratamento constitui um


dos maiores problemas associados à toma de medicação, este aspeto também deve
ser sempre abordado na interação farmacêutico-utente.

Numa fase inicial do estágio, comecei por assistir ao processo de atendimento e


de dispensa de medicamentos por parte dos colaboradores da FC. Com a prática,
fui ganhando cada vez mais autonomia até conseguir realizar os atendimentos por
conta própria, sempre com supervisão dos colegas. Esta evolução permitiu testar os
meus conhecimentos e capacidade de adaptação associados a este exercício.
7.1. Medicamentos Sujeitos a Receita Médica

Para determinado medicamento ser considerado MSRM este deve constituir um


risco, direta ou indiretamente, apesar da sua correta utilização sem vigilância médica
ou quando utilizado em quantidade considerável para fins diferentes daquele a que se
destina, conter substâncias, ou preparações à base dessas substâncias, cuja atividade e
ou efeitos secundários seja indispensável aprofundar ou ser prescrito pelo médico para
administração parentérica (14).

A sua dispensa é efetuada mediante apresentação de uma prescrição de receita


médica que deve incluir obrigatoriamente, a respetivo DCI, a forma farmacêutica, a
dosagem, a apresentação, a quantidade e a posologia (22).

A prescrição por DCI dá opção de escolha ao utente, mas em certos casos pode ser
prescrito por nome comercial se essa substância ativa não tiver genérico, ou se forem
apresentadas justificações técnicas que inibam esse direito, nomeadamente: a
prescrição de medicamento com índice terapêutico estreito, utente com intolerância ou

70
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

reação adversa prévia ou se o tratamento tiver uma duração estimada superior a 28


dias (22).

As farmácias devem ter disponíveis para venda, no mínimo, três medicamentos


com a mesma substância ativa, forma farmacêutica e dosagem, de entre os que
correspondam

aos cinco preços mais baixos de cada grupo homogéneo e devem dispensar o
medicamento de menor preço salvo se for outra a opção do utente (22). É feita a dispensa
máxima de 2 embalagens, por linha de prescrição, ou de 4 embalagens, no caso das
embalagens em dose unitária, por mês, com exceção de situações em que a quantidade
de embalagens necessária para cumprir a posologia é superior a 2 embalagens por mês,
extravio, perda ou roubo de medicamentos, dificuldade de deslocação à farmácia ou
ausência prolongada do país (23).
7.1.1. Tipos de Prescrição médica

As receitas médicas manuais e eletrónicas (materializadas e desmaterializadas)


representam os tipos de prescrição médicas disponíveis atualmente, sendo que as
instituições do SNS devem garantir todas as condições necessárias para a efetivação da
prescrição médica eletrónica desmaterializada.

As receitas manuais, efetuadas num documento pré-impresso e cada vez menos


utilizadas, são usadas em situações de falência do sistema informático, de
indisponibilidade da prescrição através de dispositivos móveis, ou nas situações de
prescrição em que o utente não tenha a possibilidade de receber a prescrição
desmaterializada ou de a materializar (24).

A ocorrência de erros com origem numa má interpretação da caligrafia do


médico e no processo de validação deste tipo de receitas, bem como a sua demora,
fez com que caíssem em desuso e que inevitavelmente deixem de existir, quando
todos os profissionais de saúde se adaptarem às receitas abordadas a seguir.

As prescrições eletrónicas, resultantes da utilização de equipamentos


informáticos, incluem dois tipos de receitas: materializada e desmaterializada.

Numa receita eletrónica materializada a prescrição é impressa e numa receita


eletrónica desmaterializada, também designada como receita sem papel, o seu
acesso e interpretação é feito através de equipamentos eletrónicos no momento da
prescrição. Os softwares validam e registam a receita na base de dados nacional de

71
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

prescrições (BDNP), pelo que é possível realizar a verificação dos medicamentos


dispensados no final do atendimento para estas receitas eletrónicas.

Estas receitas permitem a minimização de erros durante o atendimento, oferecem


uma maior segurança na autenticação, facilitam o processo de emissão de receituário e
estão associadas a um menor risco de fraudes.

Nas receitas eletrónicas materializadas e nas receitas manuais, podem estar


prescritos até quatro medicamentos distintos, num total de 4 embalagens por receita e
2 embalagens por medicamento, enquanto nas receitas eletrónicas desmaterializadas é
permitido prescrever até 6 embalagens de medicamentos que se destinem a
tratamentos de longa duração ou até 12 embalagens no caso de se tratar de doses
unitárias para tratamentos de longa duração (22).

As receitas médicas podem classificar-se ainda em receita médica renovável,


destinada ao tratamento prolongado de doenças crónicas cujos medicamentos podem
ser adquiridos mais do que uma vez sem a necessidade de nova prescrição, receita
médica especial, para substâncias recentes onde é necessária monitorização adicional
ou para substâncias que possuam potencial de abuso tais como os estupefacientes e
psicotrópicos e receitas médicas restritas, para medicamentos cuja utilização se
encontra reservada apenas a meios especializados, como tratamento hospitalar ou em
regime de ambulatório (14).
7.1.2. Validação da Prescrição

Na receção de uma prescrição, antes de efetuar a dispensa, é feita a sua leitura,


análise e avaliação tendo em conta o tipo de receita.

Na validação de uma receita devemos verificar elementos como o número da


receita, local de prescrição, identificação do médico prescritor, identificação do utente
(nome e número), entidade financeira responsável, identificação do medicamento,
posologia, duração de tratamento, comparticipações especiais e data de prescrição23.

As receitas materializadas devem apresentar ainda a DCI da substância ativa,


dosagem, forma farmacêutica, dimensão da embalagem e nº respetivo, código de
prescrição eletrónica do medicamento (CNPEM), data de prescrição e assinatura
autógrafa do prescritor, enquanto as desmaterializadas ainda devem ter a hora da
prescrição e o tipo de linhas bem identificados e datados.

72
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

As receitas manuais dispõem ainda de identificação da justificação, local de


prescrição, validade da prescrição e número de embalagens, vinheta e assinatura do
médico prescritor.

A falta de vinheta do médico em receitas manuais e a validade expirada foram as


situações mais comuns impeditivas de dispensa de MSRM, durante o estágio.
7.1.3. Processo de Dispensa de MSRM

Com a validação da receita médica efetuada, o farmacêutico deve comunicar


com o utente de forma a perceber o problema de saúde e medicamentos prescritos
pelo médico. Paralelamente, utilizando a secção “Atendimento” do sistema
informático, é feito o acesso à ficha do cliente, através da leitura ótica do cartão de
cliente ou introdução dos seus dados pessoais como nome ou número de telemóvel
no sistema. Se o utente não tiver ficha associada à farmácia é aconselhado a criá-la
de forma a ser mantido um registo/histórico de medicação.

Identificado o cliente, é realizada a leitura ótica ou registo manual do número


da receita e do código de acesso e dispensa. São selecionadas as linhas que se
pretendem dispensar de acordo com o pedido e necessidade do utente, surgindo a
opção de escolher qual o medicamento, dentro do grupo homogéneo, tendo em conta o
stock presente na farmácia. Se o utente optar por um medicamento que a farmácia não
tenha em stock, ou cuja ficha de produto não exista na farmácia, é realizado o processo
de reserva. Estes produtos são então pedidos ao fornecedor selecionado, através de
encomendas instantâneas.

Posteriormente é feita a leitura ótica de todos os medicamentos e a seleção dos


produtos encomendados, se assim se aplicar, de forma a confirmar a dispensa dos
mesmos e dependendo do método de pagamento, procedemos de diferentes formas. Se
o pagamento for feito por numerário ou multibanco, é selecionado o modo de opção e é
feita a impressão da fatura. Se a receita não for dispensada na totalidade, faz-se o
registo de número de medicamentos por dispensar diretamente na receita. O
pagamento pode ainda ser efetuado numa altura posterior à aquisição dos
medicamentos através da seleção da opção “Conta Corrente” no método de pagamento.
Esta opção só é válida para alguns utentes frequentes da farmácia, que tenham ficha
criada e onde esta opção tenha sido aprovada, sendo imposto um limite ao valor do
crédito. Neste caso são impressas duas cópias do comprovativas da dispensa, sendo que
uma delas é assinada pelo utente e é guardada na farmácia.

73
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

No caso das receitas manuais, o farmacêutico assina, data e carimba a receita, o


impresso da receita, e adicionalmente o utente ou seu representante deve assinar o
verso da receita de forma a comprovar a dispensa efetuada. Estas receitas são também
guardadas pela FC, para posterior conferência de receituário.

Excecionalmente podem ser realizadas vendas suspensas, que se destinam a


situações em que é feita a dispensa do medicamento urgente sem a apresentação de
receita. O utente fica responsável por trazer a receita e fazer a regularização da venda. O
procedimento só é aplicado a clientes com ficha criada na farmácia e histórico da
medicação. A venda suspensa nunca é efetuada em psicotrópicos ou estupefacientes.
7.1.4. Dispensa de Psicotrópicos e Estupefacientes

Tendo em conta os perigos inerentes ao seu uso, abordados previamente, a


dispensa de psicotrópicos e estupefacientes requere o registo informático dos
dados do utente, obtidos com a leitura do seu cartão de cidadão do doente,
identificação da prescrição através do número da prescrição, identificação da
farmácia, identificação do medicamento e data da dispensa. Esta informação é
registada automaticamente pelo sistema informático.

Tratando-se de uma receita manual, o utente ou o seu representante deve


assinar o verso da receita de forma legível para comprovar a dispensa.

No final são impressos os dados referentes à dispensa dos medicamentos e os


dados do adquirente da receita. A cópia/reprodução (em papel ou suporte informático)
das prescrições manuais ou materializadas tem de ser mantida em arquivo adequado
pela farmácia durante 3 anos. As receitas manuais digitalizadas devem ser enviadas ao
INFARMED até ao dia 8 do mês a seguir à dispensa.

A Buprenorfina Azevedos®, comprimidos sublinguais usados como tratamento de


substituição para a dependência de opiáceos, foi o psicotrópico mais dispensado ao
longo do estágio.
7.1.5. Regimes de Comparticipação

Um medicamento comparticipado é aquele que perante a presença de receita


médica, o utente apenas paga uma percentagem do PVP, sendo que o restante valor
fica ao encargo de entidades de saúde. Na maioria dos casos, a entidade financeira
responsável pela comparticipação é SNS. A atual legislação prevê a possibilidade de
comparticipação de medicamentos através de um regime geral e de um regime especial.

74
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

No regime geral de comparticipação, o estado paga uma percentagem do preço de


venda ao público dos medicamentos de acordo com os seguintes escalões: Escalão A –
90%, Escalão B – 69%, Escalão C – 37%, Escalão D – 15%, consoante a sua classificação
farmacoterapêutica.

O regime especial de comparticipação é feito consoante o beneficiário, onde a


comparticipação do estado no preço de medicamentos integrados no escalão A é
acrescida de 5% (95%) e é acrescida de 15% nos escalões B (84%), C (52%) e D (30%).

Doentes com determinadas patologias ou grupos especiais, com medicação


prescrita por um médico especialista na respetiva área, alguns medicamentos
abrangidos por protocolos específicos dos laboratórios de cada medicamento e
protocolos especiais de determinados produtos e dispositivos médicos apresentam são
outros exemplos de comparticipação.

Existem ainda utentes que apresentam comparticipações adicionais de MSRM por


subsistemas de saúde que são selecionados através do sistema informático e requerem
apresentação do cartão de beneficiário.

8. Automedicação e Dispensa de MNSRM


Os MNSRM, representam o grupo de medicamentos que podem ser
comercializados sem a apresentação de uma receita médica. Têm um perfil de
segurança bem conhecido e podem ser vendidos fora das farmácias, em locais que
cumpram os requisitos legais e regulamentares, por pessoal qualificado (farmacêutico
ou técnico de farmácia) ou sob a sua responsabilidade (25).

A utilização destes medicamentos de forma responsável para o alívio e tratamento


de sintomas menos graves, sujeita ao aconselhamento de um profissional de saúde
define o conceito de automedicação, que é prática integrante do sistema de saúde. O
despacho nº 17690/2007, de 23 de julho enumera a lista de situações passíveis de
automedicação, agrupada pelos diferentes sistemas: digestivo, respiratório, cutâneo,
nervoso, muscular/ósseo, ocular, geral, ginecológico e vascular (26).

A dispensa destes medicamentos deve limitar-se a situações clínicas bem definidas


e efetuar-se de acordo com as especificações estabelecidas para cada medicamento,
sendo que o farmacêutico deve identificar, os quadros sintomáticos que exigem
cuidados médico e reencaminhar o doente se necessário, os quadros sintomáticos que

75
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

requerem terapêutica medicamentosa e os quadros sintomáticos que podem ser


resolvidos adotando medidas não farmacológicas.

Tendo em conta os perigos e riscos inerentes ao abuso da prática da


automedicação, como um incorreto diagnóstico e consequente escolha do
medicamento, surgimento de efeitos adversos, interações medicamentosas e eventual
agravamento do problema, preocupantes especialmente em populações de risco, tais
como, grávidas, lactentes, crianças e idosos, a dispensa de MNSRM é sempre
complementada pelas indicações necessárias e suficientes para promover o seu uso
racional.

Pertencentes a uma subcategoria dos MNSRM, os medicamentos de dispensa


exclusiva em farmácia (MNSRM-EF), são medicamentos que embora possam ser
dispensados sem prescrição médica, a respetiva dispensa é condicionada pela
intervenção farmacêutica e aplicação de protocolos de dispensa.

Estes medicamentos encontram-se listados no Anexo I do Regulamento dos


MNSRM-EF, por DCI, com os respetivos protocolos de dispensa presentes no Anexo II
do mesmo regulamento e incluem a Amorolfina® e o Ácido Fusídico® (27).

Durante o estágio as situações de aconselhamento mais comuns incluíram


desconforto gástrico e intestinal, dores musculares e generalizadas, alergias e congestão
nasal.

9. Aconselhamento e dispensa de outros


produtos

Para além dos medicamentos de uso humano, são dispensados na FC outros


produtos de saúde como produtos de dermofarmácia, cosmética e higiene, produtos
dietéticos para alimentação especial e infantis, produtos de fitoterapia e suplementos
nutricionais, medicamentos de uso veterinário e dispositivos médicos.
9.1. Produtos de Dermofarmácia, Cosmética e Higiene

Os produtos cosméticos são definidos como qualquer substância ou mistura de


substâncias de uso externo (epiderme, sistema piloso e capilar, unhas, lábios, órgãos
genitais externos) ou postos em contacto com dentes e mucosas bucais, com ação
exclusiva de limpeza, perfume, modificação de aspeto, proteção, manutenção e
correção de odores (28).

76
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Marcas como a Vichy®, Filorga®, SVR ®, Caudalie ®, René Furterer ®, La Roche


Posay® e Uriage ® são as mais procuradas e trabalhadas na FC. Cada uma delas
apresenta gamas e produtos específicos para cada tipo de cuidado e pessoa. Tendo
em conta a grande variedade destes produtos e a sua elevada requisição na FC, os
farmacêuticos e colaboradores assistem regularmente a formações feitas pelas
diferentes marcas, seja para a introdução de novos produtos ou consolidação de
conhecimentos. Muitos destes produtos são vendidos paralelamente pelo site da
farmácia.

Produtos de higiene íntima das marcas Saforelle ® e Lactacyd ® e de higiene


bucal das marcas Elgydium® e Eludril® são outras opções presentes na FC para este
tipo de produtos de saúde.

Para um atendimento íntegro e correto, é feita não só a observação e


identificação da patologia, imperfeição ou situação apresentada pelo utente e
diferenciação das situações passíveis de resolução e aconselhamento do produto
indicado, mas também a transmissão de informação relativa à sua correta
aplicação, efeitos, duração de tratamento e outros condicionantes.

A dispensa e aconselhamento deste tipo de produtos foi uma das maiores


dificuldades que senti no início de estágio, devido à exigência do utente e ao seu
conhecimento prévio relativamente a muitos dos produtos.
9.2. Produtos Dietéticos para Alimentação Especial

Os produtos dietéticos para alimentação especial fazem parte de um grupo de


produtos sujeitos a processamento ou formulação especial com o objetivo de
satisfazer necessidades nutricionais de pacientes (29).

O seu uso exclusivo ou complementar, destina-se a doentes com diminuição ou


alteração da ingestão, digestão, absorção, metabolização ou excreção de alimentos
comuns, diminuição de certos nutrientes e cujo estado de saúde determina
necessidades nutricionais particulares.

A FC tem ao seu dispor marcas como a Resource®, Fortimel® e Meritene®, que


apresentam produtos hipercalóricos e hiperproteicos em diferentes formatos que
atuam nas mais diversas situações como perda de peso involuntária, desnutrição e
dificuldade em engolir ou mastigar.

77
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Durante o estágio tive a oportunidade de aconselhar e dispensar este produto


em situações de idosos com falta de apetite e doentes oncológicos. Muitos destes
clientes adquiriam estes produtos semanalmente e procuravam alternativas de
sabores e formulações aos produtos habituais.
9.3. Produtos Dietéticos Infantis

Os produtos dietéticos infantis são alguns dos produtos mais importantes das
farmácias. Seja uma mãe ou outro elemento do agregado familiar, quando se
dirigem à farmácia na procura deste tipo de produtos, um atendimento
esclarecedor e assertivo por parte do farmacêutico permite a criação de laços de
confiança e segurança, possibilitando a fidelização de clientes.

O leite materno, de elevada riqueza nutricional, é o alimento mais adequado


para as necessidades do bebé até aos 6 meses de idade, pelo menos. O decreto-Lei
nº 62/2017 de forma a promover o aleitamento materno e os seus benefícios,
proíbe a publicidade e promoções para as formulações destinadas aos lactentes.
Estas fórmulas são indicadas apenas quando a mãe deixa de conseguir amamentar
(30) .

Encontramos na farmácia formulações de leite em pó adequados para as


diferentes faixas etárias das crianças e situações especiais como regurgitação,
obstipação e intolerância à lactose e formulações como farinhas, introduzidas aos 4
meses que podem ser organizadas em lácteas e não lácteas e de diversos sabores.

A Nestlé®, a Nutribén® e a Aptamil® são as marcas mais requisitadas pelos utentes.


9.4. Produtos de fitoterapia e suplementos nutricionais

Os medicamentos fitoterapêuticos, ou medicamentos à base de plantas são


definidos pelo Decreto-Lei nº 176/2006, de 30 de agosto, alterado pelo Decreto-Lei nº
112/2019, de 16 de agosto como um medicamento que tenha exclusivamente como
substâncias ativas uma ou mais substâncias derivadas de plantas, uma ou mais
preparações à base de plantas ou uma ou mais substâncias derivadas de plantas em
associação com uma ou mais preparações à base de plantas (31).

Este tipo de produtos não era muito procurado na FC, no entanto tive
oportunidade de dispensar alguns para tratamento de perturbações de sono e
ansiedade, em chá ou comprimido.

78
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Os suplementos alimentares, regulados pelo DGAV (Direção Geral de


Alimentação e Veterinária), definem-se como géneros alimentícios que se destinam a
complementar e ou suplementar o regime alimentar normal e que constituem fontes
concentradas de determinadas substâncias nutrientes ou outras com efeito nutricional
ou fisiológico.

Estes produtos são dos mais procurados pelos utentes da FC, principalmente
para solucionar problemas de fadiga e cansaço físico e psicológico.
9.5. Medicamentos de uso Veterinário

Medicamento de uso veterinário (MUV) dizem respeito às substâncias que têm


propriedades curativas ou preventivas de doenças ou sintomas, cuja utilização possa
estabelecer um diagnóstico médico-veterinário ou exercer uma ação farmacológica,
imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas.

Tendo em conta a sua localização em meio urbano, os utentes da FC


procuravam este tipo de medicamentos para a resolução de problemas dos seus
animais domésticos. Os contracetivos orais e os desparasitantes foram os produtos
mais dispensados neste contexto, acompanhados de um aconselhamento de
medidas profiláticas e de higiene adequadas.
9.6. Dispositivos Médicos

Os dispositivos médicos, definem-se como “qualquer instrumento, aparelho,


equipamento, software, material ou artigo utilizado isoladamente ou combinado,
incluindo o software destinado pelo seu fabricante a ser utilizado especificamente para
fins de diagnóstico ou terapêutico e que seja necessário para o bom funcionamento do
dispositivo médico, cujo principal efeito pretendido no corpo humano não seja
alcançado por meios farmacológicos, imunológicos ou metabólicos, embora a sua
função possa ser apoiada põe esses meios” (32).

Podem ser usados no diagnóstico, prevenção, controlo, tratamento ou atenuação


de uma doença, no diagnóstico, controlo, tratamento, atenuação ou compensação de
uma lesão ou no estudo, substituição ou alteração da anatomia ou de um processo
fisiológico.

Dividem-se em quatro classes de risco (I, IIa, IIb e III) tendo em conta a duração
do contacto com o corpo humano, invasibilidade, parte do corpo afetada pela sua
utilização e riscos decorrentes da conceção técnica e fabrico.

79
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Durante o estágio tive a oportunidade de dispensar dispositivos médicos de todas


as classes das quais destaco: sacos para ostomia, meias de compressão, termómetros,
medidores de tensão arterial e canetas de insulina.

10. Outros cuidados de Saúde prestados na


Farmácia Central

A Portaria n.º 1429/2007, de 2 de novembro, modificada pela Portaria n.º


97/2018, de 9 de abril, define os serviços promotores de saúde que podem ser
prestados pelas farmácias (33).

Os serviços farmacêuticos de promoção de saúde e bem-estar dos doentes


disponíveis na FC incluem, a realização de campanhas de informação, a medição da
tensão, determinação de parâmetros bioquímicos e antropométricos, administração de
injetáveis, consultas de nutrição, distribuição de medicamentos para centros de
hemodiálise e mais recentemente, a preparação individualizada da medicação.
10.1. Campanha de informação

Com um papel ativo na população sanjoanense, a FC leva a cabo um conjunto


de ações e atividades promotoras de saúde e bem-estar desta população.

No mês de maio integrei a iniciativa: “Maio, Mês do Coração”, desenvolvida


para alertar a população para a problemática da Insuficiência Cardíaca.

No início do mês, a Dra. Eva Pereira, coproprietária da FC, apresentou a


iniciativa a toda a equipa e fez uma formação relativamente ao tema.

Durante o mês de maio, todos os doentes que apresentassem a sintomas ou


fatores de risco associados a esta doença eram induzidos a fazer uma medição
gratuita da tensão arterial. Depois de registados os valores, era realizado um
inquérito anónimo que versava a insuficiência cardíaca e consequente
aconselhamento/encaminhamento do utente.
10.2. Medição da Tensão Arterial

A medição da tensão arterial por métodos automáticos é sem dúvida um dos


serviços mais prestados na FC. Esta medição era realizada, normalmente, em
situações de despiste, controlo ou referenciação médica.

80
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

A pressão arterial diz respeito à força exercida pelo sangue nas paredes das
artérias e pode classificar-se como sistólica ou diastólica, tendo em conta a o
momento em que o coração contrai, expulsando sangue do seu interior e relaxa
entre cada batimento, respetivamente. Valores de pressão arterial sistólica (PAS)
igual ou superior a 140 mmHg e/ou da pressão arterial diastólica (PAD) igual ou
superior a 90 mmHg, em várias medições e diferentes ocasiões estabelecem o
diagnóstico de HTA, a doença cardiovascular mais comum a nível mundial e
principal fator de risco cardiovascular em Portugal.

Antes de fazer esta medição, o farmacêutico deve garantir que as condições de


temperatura, iluminação e privacidade estão adequadas e reunir o material
necessário para a sua realização. Na FC, este serviço é realizado no laboratório de
atendimento personalizado, onde está presente o tensiómetro da farmácia.

No momento da medição, depois de explicado o procedimento e obtido


consentimento do utente é feito um questionário de despiste de situações passíveis
de alteração de resultados como o consumo de café e tabaco. O utente depois expõe
o braço e aguarda 5 minutos para a realização do procedimento.

A braçadeira é colocada sobre a artéria braquial para que o bordo inferior fique
2,5 cm da prega do cotovelo e é ativado o equipamento para fazer a medição. Faz-se
o mesmo no braço contralateral. A medição é repetida duas vezes no membro com
maiores valores iniciais e é feita a média das medições.

Para finalizar é retirada a braçadeira e são facultadas todas as informações e


orientações concordantes com os achados e esclarecimento de dúvidas.
10.3. Medição dos parâmetros bioquímicos
10.3.1. Glicémia Capilar

O teste de glicemia capilar permite a determinação dos níveis de açúcar no sangue


num determinado momento. Esta monitorização é especialmente útil em pessoas que
possuem diabetes, tipo 1, tipo 2 ou gestacional, hipoglicemia e pré diabetes.

A diabetes mellitus é uma doença de elevada complexidade, associada a diversas


complicações macrovasculares (doença coronária, acidentes vasculares cerebrais e
doença vascular periférica) e microvasculares (retinopatia, neuropatia e nefropatia).

81
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Com uma prevalência cada vez maior em Portugal, a redução de fatores de risco
modificáveis da etiologia da doença, o diagnóstico precoce, tratamento adequado e
reabilitação dos doentes são um desafio para os profissionais de saúde que pretendem
aumentar a qualidade da prestação dos cuidados diariamente.

A diabetes mellitus de tipo 1, ou diabetes juvenil, é uma doença hereditária


autoimune, sem cura, em que a destruição de células beta pancreáticas resulta numa
produção insuficiente de insulina. A diabetes mellitus de tipo 2, ou diabetes do adulto, é
uma doença crónica em que a secreção de insulina é inadequada devido a um aumento
de resistência à mesma, associada a quadros de obesidade, HTA e dislipidemias. A
forma de diabetes diagnosticada durante a gravidez pela primeira vez diz respeito à
diabetes gestacional. De forma geral, uma concentração de glicemia em jejum igual ou
superior a 126 mg/dl em diversas análises e de glicemia ocasional igual ou superior a
200mg/dl correspondem a valores de referência, no entanto a medição de glicémia
capilar não faz diagnóstico de diabetes mellitus.

Na FC, os utentes podem aderir ao serviço de glicemia capilar para rastreio,


prevenção ou controlo da doença e avaliação da terapêutica utilizada. O preço acessível,
a facilidade e rapidez do processo tornam o serviço bastante requisitado e apelativo
para os utentes.

No que diz respeito ao método utilizado, depois de asseguradas as condições


necessárias para a sua realização e explicado o procedimento, é feito o pedido de
higienização de mãos do utente.

O farmacêutico, utilizando luvas descartáveis, arma o porta lancetas, liga o


aparelho e coloca a tira. É feita a desinfeção do local da picada (região lateral da
extremidade de um dedo, na mão não dominante) e é feita a punção. Obtida amostra
suficiente para quantificação, esta é posta no recetáculo da tira e o resultado é obtido
quase de imediato. Entretanto é fornecido material de limpeza ao utente, descarte dos
materiais nos recipientes apropriados e leitura do resultado.

Independentemente do valor obtido, é feita uma educação relativamente a um


estilo de vida saudável, terapêutica e sintomas associados à patologia.
10.3.2. Colesterol e Triglicerídeos

As dislipidemias caracterizam-se por alterações do perfil lipídico, onde está


presente um aumento do colesterol total elevado, um aumento de lipoproteínas de
baixa densidade (LDL), um aumento de triglicéridos, uma diminuição de lipoproteínas

82
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

de alta densidade (HDL) ou uma combinação das mesmas. Estas anormalidades podem
levar a um espessamento e rigidez das artérias e predispor doenças coronárias,
cerebrovasculares e artérias vascular periféricas.

A farmácia disponibiliza um serviço de medição destes valores, através do uso de


equipamento especializado. Este método segue os mesmos princípios da medição da
glicemia, no entanto apresenta algumas diferenças. O aparelho deve ser ligado com
alguma antecedência relativamente ao procedimento, o local da picada não é
desinfetado, uma vez que o álcool pode interferir com os valores e a quantidade de
sangue recolhida é superior.

Se for detetado algum valor alarmante é feito o encaminhamento do utente para o


médico e é mais uma vez feita a promoção de um estilo de vida saudável, que incluem a
adoção de uma dieta nutricionalmente equilibrada e variada, reduzindo a ingestão de
gorduras saturadas, a prática regular de exercício físico, a cessação tabágica, o controlo
do peso, restrição do consumo excessivo de álcool de sal.
10.4. Medição dos parâmetros antropométricos

A utilização de medições antropométricas é uma prática corrente nos cuidados de


saúde, quer como métodos auxiliares na avaliação clínica, quer em avaliações e
rastreios da população.

Na FC, é possível a determinação do peso e altura para cálculo do Índice de Massa


Corporal (IMC) e fazer a sua classificação. O IMC é calculado pela fórmula
Peso(quilograma)/Estatura2(metro). De acordo com as especificações da OMS, valores
compreendidos entre 18.5 e 24.99 classificam-se como normais.

Estas medições eram realizadas, principalmente, para análises simples da


necessidade da pessoa de alterar o seu peso, avaliação de risco cardiovascular e
interpretação/monitorização da evolução de doenças como diabetes e HTA.

O equipamento inteligente multifuncional, utilizado para estas medições situa-se


na entrada da farmácia. Depois de feitas as medições, o equipamento imprime um talão
com os resultados e valores de referência de IMC.

No que diz respeito ao procedimento, o farmacêutico dirige-se com o utente ao


equipamento e insere a opção da medição a efetuar, o género e a idade do utente. É
dada a instrução ao utente para retirar adereços e peças de roupa sem as quais se sinta
confortável e para subir à plataforma. O utente deve permanecer numa posição imóvel

83
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

e vertical com os calcanhares juntos, inspirando fundo e olhando em frente. Estas


instruções tornam as avaliações antropométricas mais rigorosas, reprodutíveis e
fiáveis.

Com os resultados obtidos, cabe ao farmacêutico fornecer o aconselhamento


necessário relativamente a alterações de estilo de vida e se necessário, fazer o
encaminhamento para o médico ou nutricionista.

Durante o estágio, alguns dos clientes que requisitavam este serviço, não se
mostraram disponíveis para mostrar os resultados obtidos, por motivos pessoais.
Nestes casos, era feita uma sensibilização relativamente ao papel do farmacêutico na
comunidade.
10.5. Administração de injetáveis

Este serviço, da responsabilidade do Dr. Tiago Santos, requer formação adequada


reconhecida pela Ordem dos Farmacêuticos e deve ser efetuado num gabinete de
atendimento personalizado, com todo o material e equipamento necessário para esta
prática e dos meios necessários ao tratamento urgente de uma reação anafilática,
condições estas que são garantidas pela FC.

O registo dos dados correspondentes a cada uma destas administrações é realizado


através do sistema informático. Estes dados incluem dados pessoais do utente, data e
hora da administração, nome do medicamento e respetiva validade e lote, identificação
do farmacêutico responsável pela administração e notificação de reação adversa.

A rapidez, experiência e cuidado com o utente, fazem da FC um local de preferência


relativamente a centros de saúde e outras farmácias da região na prestação deste tipo
de serviços.
10.6. Consultas de nutrição

O serviço de nutrição, disponível para todos os utentes a FC, tem a finalidade de


auxiliar na adoção de um estilo de vida saudável e o cumprimento de objetivos a nível
de peso e bem-estar físico da população.

O utente é submetido a um rastreio por parte da nutricionista, onde são definidos


objetivos e é projetado um plano individual de alimentação, de acordo com a
medicação, patologias e estilo de vida adotado pelo mesmo. Quinzenalmente é feito o

84
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

seu acompanhamento de modo a analisar os resultados e induzir alterações dietéticas


necessárias para o cumprimento de objetivos.

O papel do farmacêutico consiste essencialmente na indicação do serviço a


potenciais clientes e dispensa/aconselhamento dos produtos indicados pela
especialista.
10.7. Distribuição de medicamentos para centros de
hemodiálise

Um dos serviços diferenciados prestados pela FC é a distribuição de medicação a


Centros de Hemodiálise, localizados em São João da Madeira e Oliveira de Azeméis,
onde são prestados cuidados e serviços de Diálise a pessoas que sofrem de Insuficiência
Renal Crónica.

A diálise é uma técnica que substitui, de forma parcial, algumas das funções do
rim, em que o sangue é limpo e enriquecido com substâncias em falta, levando a uma
maior qualidade e esperança de vida. A única alternativa a esta técnica é a
transplantação renal, que pode levar anos a executar, tendo em conta o elevado número
de candidatos.

Tendo em conta as limitações físicas destes doentes e a sua consequente


dificuldade de deslocação, um dos elementos da FC faz a entrega, até duas vezes por
dia, da medicação, transmite a informação necessária para o uso do medicamento e faz
a regularização de contas. Cada um destes utentes tem uma ficha de cliente registada
no sistema informático da farmácia.

Durante o estágio, acompanhei por diversas vezes este serviço nobre, que me
permitiu compreender a realidade destes doentes e perceber a importância do
farmacêutico no dia a dia dos cidadãos.
10.8. Preparação individualizada da medicação

No início do mês de julho, a FC implementou um novo serviço ao cliente: a


preparação individualizada da medicação. É um serviço a partir do qual o farmacêutico
organiza as formas farmacêuticas sólidas, para uso oral, de acordo com a posologia
prescrita em dispositivos de múltiplos compartimentos, selados de forma estanque na
farmácia e descartados após a sua utilização.

85
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

O farmacêutico na dispensa deve ainda transmitir a informação necessária relativa


ao uso responsável do medicamento, de forma a promover a correta administração dos
medicamentos e adesão terapêutica.

Este serviço, que pode ser realizado semanalmente ou mensalmente, permite a


minimização de erros de administração de medicamentos e destina-se principalmente a
utentes que reportam dificuldades no processo do uso do medicamento e com regimes
terapêuticos complexos.

Como o serviço foi posto em prática numa fase tardia do estágio curricular, não
tive a oportunidade de fazer qualquer tipo de preparação de PIMs. No entanto,
durante os atendimentos, efetuei a dispensa destas preparações, identificação de
utentes candidatos e sensibilização para o serviço.

11. Preparação de Medicamentos

A competição económica provocada pela evolução e desenvolvimento da


indústria farmacêutica, responsáveis pela produção de medicamentos em grande
escala, levou a uma notória diminuição da preparação de manipulados nas
farmácias.

No entanto, algumas farmácias continuam a preparar e dispensar fórmulas


magistrais ou preparados oficinais, sob a responsabilidade de um farmacêutico
centrados em terapêuticas individuais com determinadas associações entre
diferentes substâncias proveitosas que não são comercializadas pelas indústrias
farmacêuticas.

Na FC são preparados dois medicamentos manipulados, o pó antissético


“Polvilho da Silva Ferraz®” e a Solução de Minoxidil a 5%.

Quando a farmácia não tem recursos para a preparação de um manipulado


pedido, recorre a outra farmácia para a sua preparação e o mesmo é
posteriormente enviado e dispensado pela FC. Se existirem dúvidas relativamente à
prescrição, formulação e interpretação de uma receita médica o médico é
contactado pelo farmacêutico.

86
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

11.1. Boas Práticas de Preparação de medicamentos


manipulados

Para manipulação e preparação de medicamentos, são definidas pela Portaria


nº 594/2004, as boas práticas a observar relativamente ao pessoal, instalações e
equipamentos, documentação, matérias-primas, materiais de embalagem,
manipulação, controlo de qualidade e rotulagem (34) .

O Diretor Técnico, responsável por todas as operações de preparação de


medicamentos, seleciona o pessoal adequado e atribui as suas funções,
promovendo a sua formação e o estabelecimento de normas básicas de higiene.

Antes da dita preparação dos manipulados é realizada uma análise às


instalações, equipamentos, material e documentação a utilizar.

Na receção das matérias-primas, substâncias empregues na produção de um


medicamento e adquiridas a fornecedores autorizados, é assegurada a sua qualidade
através da verificação do boletim de análise, correspondência com a encomendas e
verificação da própria embalagem. A ficha de registo das matérias-primas
utilizadas, inscritas na Farmacopeia Portuguesa ou na Farmacopeia Europeia, e os
boletins de análise são preenchidos e arquivados respetivamente. Também os
materiais de embalagem são sujeitos a uma verificação antes de registados na
farmácia. Os documentos referentes a registos são arquivados durante três anos e
toda a documentação está disponível para consulta a qualquer momento.

Se estiver tudo conforme, é realizada a preparação do manipulado e


preenchimento da ficha de preparação e consequentes testes de controlo de
qualidade exigidos, como a verificação dos caracteres organoléticos, verificação
final da massa ou volume a dispensar e satisfação da definição da forma
farmacêutica.

Na dispensa é transmitida toda a informação relativa à terapêutica e correta


utilização do medicamento e fornecido o folheto informativo se o medicamento
estiver inscrito no FGP.

87
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

11.2. Atribuição de Prazos de Validade

Para atribuição de prazos de utilização é feita uma pesquisa bibliográfica


referente à sua estabilidade. Na impossibilidade de atribuição destas datas, o prazo de
utilização é atribuído tendo em conta o tipo de preparação efetuada

No caso das preparações sólidas ou preparações líquidas não aquosas, se a


substância ativa tiver origem num produto industrializado, o prazo de utilização deve
corresponder a 25% do tempo que resta para expirar o prazo do produto
industrializado, nunca ultrapassando o período máximo de 6 meses, mas se a
substância ativa consistir numa matéria-prima individualizada, o prazo de utilização
corresponde ao que lhe foi atribuído, no entanto não deve ultrapassar o período
máximo de 6 meses.

Os manipulados que correspondem a preparações líquidas aquosas devem ser


preservados no frigorifico e o prazo de utilização não deve ultrapassar os 14 dias e nas
restantes preparações, o prazo de utilização deve corresponder à duração do
tratamento, nunca ultrapassando o período máximo de 30 dias.
11.3. Rotulagem

O rótulo da embalagem, deve indicar um conjunto de informações legíveis,


nomeadamente: nome do doente, formulação do medicamento, composição
qualitativa e quantitativa em substâncias ativas, composição relativa a excipientes e
adjuvantes, forma farmacêutica, conteúdo em massa ou volume, lote, recomendações
relativas ao armazenamento e conservação, prazo de utilização, instruções especiais de
utilização, precauções especiais, via de administração, posologia, identificação da
farmácia e identificação do diretor-técnico.

No decorrer do estágio, reformulei a imagem dos rótulos utilizados, de acordo com


estas especificações e orientações fornecidas pelos elementos da farmácia.
11.4. Cálculo de preço dos manipulados

A Portaria nº 769/2004, de 1 de julho, estabelece que o cálculo do preço de


venda ao público dos medicamentos manipulados por parte das farmácias é
efetuado com base no valor dos honorários de preparação, o valor das matérias-
primas e o valor dos materiais da embalagem (35).

88
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

O valor dos honorários tem por base um fator (F), atualizado automaticamente
e anualmente, a forma farmacêutica e quantidades do produto acabado. O valor das
matérias-primas é determinado pelo valor de aquisição e pela quantidade
preparada e o valor dos materiais de embalagem corresponde ao preço de aquisição
desses materiais multiplicado pelo fator 1.2.

Na determinação final do preço de venda ao público é aplicada uma fórmula, tendo


em conta o valor de IVA em vigor: Valor dos honorários + Valor das matérias-primas +
Valor dos materiais de embalagem) x 1.3 x IVA.

Para os manipulados estarem sujeitos a comparticipação, devem incluir-se


numa das condições: inexistência no mercado de especialidade farmacêutica com igual
substância ativa na forma farmacêutica pretendida, existência de lacuna terapêutica a
nível dos medicamentos preparados industrialmente e necessidade de adaptação de
dosagens ou formas farmacêuticas às carências terapêuticas de populações específicas,
como é o caso da pediatria ou da geriatria (36).

No Despacho nº18694/2010 estão presentes em anexo, todos os manipulados


sujeitos a comparticipação, sendo que o seu valor é de 30% face ao valor total.
11.5. Preparação dos Medicamentos Manipulados
11.5.1. Pó Antissético “Polvilho da Silva Ferraz®”

A Portaria nº 256/84, aprovou uma lista de especialidades farmacêuticas de


venda livre e sem comparticipação, onde consta o pó antissético “Polvilho da Silva
Ferraz®” (37) . Uma especialidade farmacêutica é uma preparação apresentada no
mercado, em embalagem própria, destinada a ser entregue ao consumidor e com
uma designação ou marca privativa.

Formulado com pó talco, amido de batata, ácido bórico e dermatol, é aplicado nos
pés, de forma a interromper ou atrasar o crescimento de microrganismos vivos.

A sua preparação segue todos os passos das boas práticas da preparação de


manipulados, sendo que a ficha de preparação é preenchida, como se de uma
fórmula magistral se tratasse.

Infelizmente não tive a oportunidade de preparar este manipulado, mas tive a


oportunidade de o dispensar e aconselhar em determinadas ocasiões.

89
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

11.5.2. Solução de Minoxidil a 5%

O preparado oficinal mais dispensado pela FC é a Solução de Minoxidil a 5%. A


sua preparação, embalagem, rotulagem e verificação são realizadas de acordo com
o descrito no FGP- A.I.48.

O manipulado, composto por minoxidil, água purificada, propilenoglicol e


etanol 96% (V/V), é normalmente preparado em lotes de 500 mL e destina-se ao
tratamento de alopecia em pessoas com idade superior a 18 anos. A sua aplicação é
feita uma vez por dia (2h antes de dormir) e apesar de ser bem tolerado, requere
vigilância para possíveis reações dermatológicas locais como irritação, descamação
e dermatite de contacto. Os utentes antes da sua utilização eram ainda avisados
para a possível queda dos cabelos em telogénese, podendo a alopecia agravar-se
nas primeiras semanas de tratamento, que se relve com o seu uso prolongado.

Durante o estágio, depois da observação da técnica de preparação efetuada na


FC e revisão bibliográfica, tive a oportunidade de sugerir uma alteração (uso do
banho de água) no passo de mistura e dissolução do minoxidil. A introdução deste
equipamento permite que se atinjam temperaturas de 50-60ºC, ótimas para a
otimização desta dissolução, tornando o processo menos demorado. A proposta foi
aprovada e a técnica alterada, indo de acordo com a monografia do FGP.

Assim sendo, pude participar de forma ativa na preparação e dispensa deste


manipulado bastante procurado pelos utentes da FC não só pela confiança na
equipa responsável pela sua preparação, mas também pelo seu preço competitivo.
11.6. Preparações Extemporâneas

Alguns medicamentos, principalmente antibióticos de uso pediátrico,


apresentam períodos de estabilidade curto que requerem a sua preparação no ato
de dispensa.

Num primeiro momento é realizada a agitação do frasco de forma a soltar as


partículas e realizada a adição de água destilada. Cada medicamento tem no folheto
informativo e na embalagem secundária a quantidade de água a adicionar.

São adicionados 2/3 de água destilada e voltamos a agitar o frasco para


homogeneização da suspensão. Perfaz-se o volume de suspensão até ao traço,
normalmente indicado no frasco e está realizada a preparação extemporânea.

90
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

Na FC, sempre que se faz uma destas preparações, é preenchido um documento


de registo interno com a data, nome do medicamento e dados do operador.

Depois de preparado, o medicamento perde alguma estabilidade. Desta forma


o utente deve ser informado relativamente à sua posologia e condições de
armazenamento, que normalmente é feito no frigorifico, ao abrigo de luz. Antes da
toma, deve ser feita novamente a homogeneização da suspensão.

12. Programa de testagem CVP- Universidade


da Beira Interior

De dia 19 de abril a 14 de maio de 2021, decorreu na Universidade da Beira


Interior uma atividade de caráter voluntário, proposta aos alunos finalistas do
MICF, em articulação com a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), com o objetivo de
testar todos os membros da universidade no reinício das atividades presenciais.
Durante a semana de 3 a 9 de maio voluntariei-me para esta atividade, depois de
realizar a inscrição no evento.

Para este programa foram determinados 5 postos de rastreio, que iam variando
diariamente, de forma a atingir toda a população universitária. Os 5 postos escolhidos
foram: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Pavilhão Desportivo, Fábrica do
Moço, Faculdade de Engenharia e Faculdade de Ciências da Saúde.

Os interessados, selecionaram um de dois turnos diários: das 10h às 13h (Turno 1)


e das 13h às 16h (Turno 2). Cada turno era coordenado por um supervisor e constituído
por alunos finalistas do Mestrado Integrado em Medicina e MICF para apoio
administrativo, técnico e logístico.
12.1. Fases do Processo e Descrição

Na área de registo e validação, os alunos recebiam as pessoas que pretendiam


realizar o rastreio e prestavam os esclarecimentos necessários. Era feita a verificação
dos dados dos voluntários e preenchimento do formulário de inscrição. De seguida
eram coladas etiquetas numéricas na folha do registo, de modo a identificar o teste de
cada pessoa, que era feito o seu encaminhamento para a etapa seguinte.

Na área de preparação, recolha e processamento, faz-se preparação do material do


teste, colocação da etiqueta no tubo de recolha da amostra e recolha através de swab

91
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

nasofaríngeo para o tubo coletor. Esta fase foi a única fase em que não estive presente
durante a semana, uma vez que era limitada a alunos de Medicina.

De seguida passávamos à fase do processamento, onde era realizada a preparação


da cassete de leitura do teste, juntamente com a etiqueta da respetiva pessoa. Depois de
estar tudo identificado eram colocadas 5 gotas da amostra contida no tubo de recolha
na cassete de leitura, com registo da hora do fim da contagem de tempo (15 minutos).

Na área de leitura de resultados, depois da passagem dos 15 minutos era possível


realizar a leitura do teste, que poderia ser positivo, negativo e inválido, dependendo da
presença ou não de linhas de controlo e teste. Em caso de teste positivo, a pessoa era
imediatamente contactada para realizar novamente o teste rápido ou encaminhada
para realizar um teste PCR de modo a confirmar o resultado. No caso dos testes
negativos, os participantes eram contactados ao final do dia, via email.

Para finalizar, era necessária a introdução dos dados dos formulários e dos
resultados obtidos num documento Excel, de forma a registar toda a informação e
facilitar o processo de interpretação de resultados.

13. Conclusão

A realização do estágio em farmácia comunitária, foi determinante e marcante


em vários sentidos. Para além de desenvolver as competências teóricas adquiridas
na faculdade, aprendi muito sobre a importância e papel do farmacêutico na vida
dos utentes, muita das vezes subvalorizado.

Na FC pude expandir e aprofundar os fundamentos das atividades


desenvolvidas nas farmácias, que vão desde a receção de produtos até à sua
dispensa. A organização implementada no processo de gestão do backoffice e os
serviços personalizados, fazem da FC um ponto de referência em São João da
Madeira.

Relativamente à equipa da FC, agradeço a transmissão de todos os


ensinamentos, a paciência, a sinceridade e a simpatia manifestada para comigo.

Tenho a certeza de que fui preparado da melhor forma para o ambiente


farmacêutico em farmácia comunitária e para todos os desafios e oportunidades
que se avizinham.

92
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

14. Referências Bibliográficas

(1) - Ordem dos Farmacêuticos. Código Deontológico da Ordem dos Farmacêuticos

(2) - https://www.pordata.pt/Portugal/Farmácias+número-153. Accessed August 30,


2021.

(3) - https://www.ordemfarmaceuticos.pt/pt/areas-profissionais/farmacia-
comunitaria/a-farmacia-comunitaria/. Accessed August 30, 2021.

(4) - https://www.fsjm.pt/pt/freguesia. Accessed August 30, 2021.

(5) - https://www.cm-sjm.pt/pt/noticias/7-municipio/1516-censos-2021-populacao-
de-s-joao-da-madeira-cresce. Accessed August 30, 2021.

(6) - //www.cm-sjm.pt/pt/informacoes-populacao-e-geografia. Accessed August 30,


2021.

(7) - Portaria nº 277/2012, de Junho de 2012

(8) - Decreto-Lei º 53/2007, de Agosto de 2007

(9) – Boas Práticas para a farmácia comunitária, 3º edição de 2019

(10) - Decreto-Lei nº 307/2007, de 31 de agosto

(11) - Deliberação nº 1502/2014, de julho de 2014

(12) - Deliberação nº 1500/2004, de dezembro de 2004

(13) - https://www.exclusivasiglesias.com/farmacia/pt/productos/sistema-de-gestao-
de-dinheiro-ref-cashguard/, Acessed October 22,2021

(14) - Regime Jurídico Dos Medicamentos de Uso Humano,


https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-/lc/34530575/view?q=Decreto-
Lei+n.o+176%2F2006+. Accessed October 22, 2021

(15) – Psicotrópicos e estupefacientes, Infarmed,

93
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

https://www.infarmed.pt/documents/15786/1228470/22_Psicotropicos_Estupefacien
tes.pdf

(16) - WHOCC - Structure and principles.


https://www.whocc.no/atc/structure_and_principles/. Accessed September 29, 2021.

(17) - Decreto-Lei nº48-A/2010, de maio de 2010

(18) - Despacho n.o 4699/2020 , de 18 de abril

(19) - Despacho n.º 4699/2020, de 18 de abril

(20) - Conservação Medicamentos Calor - INFARMED, I.P.

(21) - http://www.valormed.pt/paginas/2/quem-somos/. Accessed October 5, 2021.

(22) - Portaria n.o 224/2015, de julho de 2015

(23) - Portaria n.º 284-A/2016, de 4 de novembro

(24) - Portaria n.º 390/2019

(25) – INFARMED. Locais de venda de medicamentos não sujeitos a receita médica

https://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/licenciamentos/locais-de-venda-
de-medicamentos-nao-sujeitos-a-receita-medica-lvmnsrm

(26) - Despacho n.º 17690/2007, de 10 de agosto

(27) - Infarmed. Lista de DCI - MNSRM-EF

https://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/medicamentos-uso-
humano/autorizacao-de-introducao-no-
mercado/alteracoes_transferencia_titular_aim/lista_dci

(28) - Infarmed. Cosméticos - INFARMED, I.P.


https://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/cosmeticos. Published 2016.
Accessed October 22, 2021.

(29) - Decreto-Lei n.º 216/2008, de 11 de novembro

94
Potencial da canábis medicinal no tratamento da doença de Huntington

(30) - Decreto-Lei n.º 62/2017

(31) - Decreto-Lei n.º 112/2019, de 16 de agosto

(32) - Decreto-Lei n.º 145/2009, de 17 de junho

(33) - Portaria n.º 1429/2007, de 2 de novembro

(34) - Portaria n.º 594/2004, de 2 de junho

(35) - Portaria n.º 769/2004, de 1 de julho

(36) - Despacho n.º 18694/2010, de 16 de dezembro

(37) - Portaria n.º 256/84, de 21 de abril

95

Você também pode gostar