Disciplina - BIBLIOLOGIA - Seminário Teológico Nacional
Disciplina - BIBLIOLOGIA - Seminário Teológico Nacional
Disciplina - BIBLIOLOGIA - Seminário Teológico Nacional
DISCIPLINA
BIBLIOLOGIA
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O nosso assunto é o estudo introdutório e auxiliar das Sagradas Escrituras, para sua
melhor compreensão. É também chamado Isagoge nos cursos superiores de Teologia.
Este estudo auxilia grandemente a compreensão dos fatos da Bíblia. Um ponto saliente
nele é a história de como a Bíblia chegou até nós. A necessidade desse estudo é que,
sendo a Bíblia um livro divino, veio a nós por canais humanos, tornando-se, assim,
divino-humano, como também o é a Palavra Viva: Cristo, que se tornou também divino-
humano (Jo 1.1; Ap 19.13).
Através da Bíblia, Deus se revela em linguagem humana, para que o homem possa
entendê-lo. Por essa razão, a Bíblia faz alusão a tudo que é terreno e humano. Ela
menciona países, montanhas, rios, desertos, mares, climas, solos, estradas, plantas,
produtos, minérios, comércio, dinheiro, línguas, raças, usos, costumes, culturas etc. Isto
é, Deus, para fazer-se compreender, vestiu a Bíblia da nossa linguagem, adaptando-a
ao modo humano de perceber as coisas.
a Igreja cristã. Nessa coleção de livros, a Lei se apresenta como uma ordenação divina
(Êx 20; Sl 119), os Profetas têm a consciência de serem portadores de mensagens da
parte de Deus (Is 6; Jr 1.2; Ez 2-3) os Escritos ensinam que a verdadeira sabedoria
encontra em Deus a sua origem (Pv 8.22-31).
(Gn 28.13-15) e a Moisés (Êx 3-4). Deus também falou à totalidade da nação de Israel,
no monte Sinai, ao proclamar-lhe os dez mandamentos (Êx 20.1-19). As palavras que
os israelitas ouviram eram palavras de Deus.
Além da fala direta, Deus ainda falou através dos profetas. Quando eles se dirigiam ao
povo de Deus, assim introduziam as suas declarações: “Assim diz o Senhor”, ou “Veio
a mim a palavra do Senhor”. Quando, portanto, os israelitas ouviam as palavras do
profeta, ouviam, na verdade, a palavra de Deus.
A mesma coisa pode ser dita a respeito do que os apóstolos falaram no Novo
Testamento. Embora não introduzissem suas palavras com a expressão “assim diz o
Senhor”, o que falavam e proclamavam era, verdadeiramente, a palavra de Deus. O
sermão de Paulo ao povo de Antioquia da Pisídia (At 13.14-41), por exemplo, criou
tamanha comoção que, “no sábado seguinte, ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a
palavra de Deus” (At 13.44). O próprio Paulo assegurou aos Tessalonicenses que,
“havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como
palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como palavra de Deus” (1Ts 2.13;
At 8.25).
Além disso, tudo quanto Jesus falava era palavra de Deus, pois Ele, antes de tudo, é
Deus (Jo 1.1,18; 10.30; 1Jo 5.20). Lucas, escritor do terceiro evangelho, declara
explicitamente que, quando as pessoas ouviam a Jesus, ouviam na verdade a palavra
de Deus (Lc 5.1). Note como, em contraste com os profetas do ANTIGO
TESTAMENTO, Jesus introduzia seus ditos: Eu “vos digo...” (Mt 5.18, 20, 22, 23, 32,
39; 11.22, 24; Mc 9.1; 10.15; Lc 10.12; 12.4; Jo 5.19; 6.26; 8.34). Noutras palavras, Ele
tinha dentro de si mesmo a autoridade divina para falar a palavra de Deus. É tão
importante ouvir as palavras de Jesus, pois “quem ouve a minha palavra e crê naquele
que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação” (Jo 5.24). Jesus, na
realidade, está tão estreitamente identificado com a palavra de Deus que é chamado “o
Verbo” [“a Palavra”] (Jo 1.1,14; 1Jo 1.1; Ap 19.13-16; Jo 1.1). A palavra de Deus é o
registro do que os profetas, apóstolos e Jesus falaram, isto é, a própria Bíblia. No Novo
Testamento, quer um escritor usasse a expressão “Moisés disse”, “Davi disse”, “o
Espírito Santo diz”, ou “Deus diz”, nenhuma diferença fazia (At 3.22; Rm 10.5, 19; Hb
3.7; 4.7); pois o que estava escrito na Bíblia era, sem dúvida alguma, a palavra de
Deus.
Mesmo não estando no mesmo nível das Escrituras, a proclamação feita pelos
autênticos pregadores ou profetas, na igreja de hoje, pode ser chamada a palavra de
Deus. Pedro indicou que, a palavra que seus leitores recebiam mediante a
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pregação, era palavra de Deus (1Pe 1.25), e Paulo mandou Timóteo “pregar a Palavra”
(2Tm 4.2). A pregação, porém, não pode existir independentemente da Palavra de
Deus. Na realidade, o teste para se determinar se a palavra de Deus está sendo
proclamada num sermão, ou mensagem, é se ela corresponde exatamente à Palavra
de Deus escrita.
O que se diz de uma pessoa que recebe uma profecia, ou revelação, no âmbito do culto
de adoração (1Co 14.26-32)? Ela está recebendo, ou não, a palavra de Deus? A
resposta é um “sim”. Paulo assevera que semelhantes mensagens estão sujeitas à
avaliação por outros profetas. Todavia, há a possibilidade de tais profecias não serem
palavras de Deus (1Co 14.29 “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”). É
somente em sentido secundário que os profetas, hoje, falam sob a inspiração do
Espírito Santo; sua revelação jamais deve ser elevada à categoria da inerrância (1Co
14.3).
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Tem sido difícil determinar com exatidão, onde, como e quando a escrita teve a sua
origem. A escrita se originou quando o ser humano sentiu a necessidade de guardar
seus feitos para que a posteridade os conhecesse. A escrita primitiva foi pictográfica
onde figuras representavam objetos. Logo a seguir aparece à ideográfica, assim
chamada pelo fato das figuras representarem idéias. Num terceiro estágio aparece o
fonograma – figuras representando sons. Dos povos antigos, os dois que mais se
destacaram, no desenvolvimento da escrita, foram os babilônicos e os egípcios. Cada
um destes teve a sua destacada e particular escrita: os babilônicos criaram a escrita
cuneiforme, assim denominada por consistir de pequenas cunhas, feitas especialmente
em pedras; enquanto os egípcios usavam pequenas figuras para representar objetos e
idéias, os famosos hieróglifos. A história nos relata que a decifração dessas escritas
exigiu muito esforço e concentração. A escrita cuneiforme foi decifrada pelo oficial
inglês Henrique Rawlinson, após 18 anos de labores intensos. Quanto à escrita
hieroglífica, todos sabem que foi Champollion, o notável egiptólogo francês, o primeiro a
desvendar-lhe os mistérios.
Ira M. Price no livro The Ancestry of Our English Bible, p. 13, escreveu: "A escrita é
muito antiga na Palestina [...] O trabalho dos arqueólogos nos mostra muitos exemplos
de escrita antes de Moisés". Escavações arqueológicas em Ur têm provado que Abraão
era cidadão de uma metrópole altamente civilizada. Nas escolas de Ur os meninos
aprendiam leitura, escrita, aritmética e geografia.
Três alfabetos foram descobertos: junto do Sinai, em Biblos e em Ras Shamra, que são
bem anteriores ao tempo de Moisés (1.500 a.C.). Estudiosos modernos, baseados em
evidências irrefutáveis, sustentam que Moisés escolheu a escrita fonética para escrever
o Pentateuco. O arqueólogo W. F. Albright datou esta escrita de início do século XV
a.C. (tempo de Moisés). Interessante é notar que esta escrita foi encontrada no lugar
onde Moisés recebeu a incumbência de escrever seus livros. Em Êxodo 17.14
encontramos a ordem divina para que Moisés escrevesse num livro.
Note-se ainda a frase de Merril Unger sobre a escrita do Antigo Testamento: "A coisa
importante é que Deus tinha uma língua alfabética simples, pronta para registrar a
divina revelação, em vez do difícil e incômodo cuneiforme de Babilônia e Assíria, ou o
complexo hieróglifo do Egito". Sobre o problema de Moisés ter escrito ou não seus
livros vale acrescentar o que escreveu o Dr. Renato Oberg: "Os primeiros livros da
Bíblia a serem escritos foram os que compõem o Pentateuco e o de Jó, sendo a autoria
deles atribuída a Moisés pela tradição judaica que, por sua vez, é aceita sem
contestação por grande número de cristãos. O Talmude Babilônico afirma que 'Moisés
escreveu o seu próprio livro e as passagens e respeito de Balaão e Jó' (SDABC, vol. III,
p. 493).
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Como vimos, nem todos aceitam Moisés como sendo o real autor destes livros,
especialmente o de Jó. Os que o fazem, dão Jó como tendo sido o primeiro dos livros
escritos, e Moisés o teria feito quando pastoreava os rebanhos do seu sogro nas
campinas de Midiã, após ter fugido do Egito. Os cinco livros que compõem o
Pentateuco foram escritos posteriormente. Os que não aceitam esta tese, já
escreveram muito a respeito do assunto, procurando arrazoar com argumentos os mais
variados. Inclusive a diferença de estilo entre os livros e até dentro de cada um deles.
Um dos argumentos mais fortes, porém senão o mais forte de todos, foi o que começou
a dominar desde o fim do último quartel do século passado, quando Wellhausen,
professor da Universidade de Greifswald, chegou a afirmar que se fosse tão-somente
possível saber que Moisés pudesse escrever, seria ridículo não aceitá-lo.
Evidentemente, segundo tudo o que se conhecia até então, quando as primeiras
grandes descobertas arqueológicas começaram a empolgar o mundo e quando se dizia
que tudo tem de ser decidido pela razão, tinha-se como certo que a invenção do nosso
alfabeto se devia aos fenícios que o tinham criado no empenho de facilitar suas
transações comerciais pelo mundo todo. Foi então que a decifração dos hieróglifos feita
por Champollion revelou o conteúdo de uma série enorme de documentos com sinais
tidos por muitos como decoração e misticismo religioso, e cujo conteúdo era, até então,
desconhecido completamente. Ora sendo o alfabeto inventado pelos fenícios, cuja
existência foi bem posterior à de Moisés, e se as escritas anteriores, hieróglifos e
cuneiformes, foram apenas decifradas no século passado, como poderia Moisés ter
escrito aqueles livros? Se o tivesse feito, só o poderia fazer em hieróglifos, língua na
qual a própria Bíblia diz que Moisés era perito (Atos 7.22) e, neste caso ela, a Bíblia do
Velho Testamento, teria ficado desconhecida por nós até Champollion! Daí a frase de
Wellhausen.
Acontece, porém, que no princípio do século XX ou, mais precisamente, nos anos de
1904 e 1905, Sir Flinders Petrie, fazendo escavações na Península do Sinai,
patrocinadas pela Escola Britânica de Arqueologia no Egito, descobriu algumas
inscrições muito diferentes do cuneiforme, mas embora aparentassem alguma
semelhança com o hieróglifo, não o eram, em absoluto. O caso despertou enorme
interesse entre os que cuidavam do assunto, especialmente quando começaram a
aparecer mais vasos e óstracos (cacos de vasos com inscrições) portadores de sinais
idênticos, em outros lugares na Palestina. Para encurtar a história, os estudos que
arqueólogos famosos como, inclusive, W. F. Allbright fizeram, esclareceram
completamente o caso e hoje se sabe perfeitamente que os sinais descobertos por
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Ora vivendo Moisés quarenta anos nesta região, é óbvio que tomou contato com a
escrita rude daquele povo, viu nela a escrita do futuro e passou a usá-la por duas
grandes razões que teria julgado decisivas: a primeira foi a impressão grandiosa que
teve de usar uma língua alfabética para seus escritos e que se compunha apenas de
vinte e dois sinais bastante simples comparados com os ideográficos que aprendera
nas Escolas do Egito; a outra teria sido o fato de compreender que estava escrevendo
para seu próprio povo, cuja origem era semita como a dos habitantes da terra onde
vivia, tendo estes uma religião idêntica à dos primeiros, ambas, porém, deturpadas
pelas influências pagãs e oriundas do pecado; seus leitores seriam homens e mulheres,
moços e moças do povo, especialmente israelitas que, não sendo versados em
hieróglifos por causa da sua posição de escravos no Egito, aprenderam com muito mais
facilidade os poucos e simples sinais alfabéticos que
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1.2.1 Manuscritos
De conformidade com o Prof. Antonio Gilberto (1996, p.74,75), “desde os tempos mais
remotos o homem tem usado vários materiais e técnicas sobre as quais tentava de
alguma forma passar idéias, fatos de geração a geração”, alguns dos materiais usados
foram:
um lado do papiro e as folhas mais longas eram enroladas. Estes rolos recebiam
o nome de volumes, palavra do latim – volvere que significa enrolar. Os egípcios
guardavam cuidadosamente o segredo da preparação do papiro para a escrita.
No século VI a.C. começaram a exportá-lo para a Grécia e depois para outros
povos que habitavam nas margens do Mediterrâneo, onde se criou um
importante comércio desta especialidade, mormente na cidade da Biblos. Quem
hoje chega ao Cairo, capital do Egito, pode visitar às margens do rio Nilo um
navio-escola, onde se prepara o papiro com finalidades culturais e turísticas, mas
não comerciais. The Interpreter's Dictionary of the Bible, vol. 3, p. 649, diz o
seguinte sobre o papiro: "O papel, palavra derivada de papiro, era preparado de
finas faixas da parte interior da folha do papiro arranjadas verticalmente, com
outra camada aplicada horizontalmente em cima. Um adesivo era empregado
(Plínio diz que era água do Nilo!) e pressão aplicada para ligá-las formando uma
folha. Após secar, era polida com instrumentos de concha ou pedra; depois as
folhas eram atadas, formando rolos".
No início do século IX a.D., houve uma reforma na maneira de escrever e uma escrita
com letras pequenas, chamadas minúsculas, era usada na produção de livros. Letras
minúsculas, economizando tempo e material, faziam com que os livros ficassem mais
baratos e pudessem ser adquiridos por maior número de pessoas. Nos manuscritos
bíblicos primitivos, normalmente, nenhum espaço era deixado entre as palavras e até o
século VIII a pontuação era pouca usada. De acordo com J. Angus em História,
Doutrina e Interpretação da Bíblia, Vol, I, p. 39, somente no século VIII é que foram
introduzidos nos manuscritos alguns sinais de pontuação e no século IX introduziram o
ponto de interrogação e a vírgula. Sentidos distintos têm surgido, quando uma simples
vírgula é mudada de lugar, como se evidencia da leitura da conhecida passagem: "Em
verdade te digo hoje, comigo estarás no paraíso". Muitas outras passagens bíblicas
podem ser lidas com sentido totalmente diferente ao ser mudada a sua pontuação
como nos confirmam os seguintes exemplos: "Ressuscitou, não está aqui."
"Ressuscitou? não, está aqui." "A voz daquele que clama no deserto: preparai o
caminho do Senhor"; "A voz daquele que clama: no deserto preparai o caminho do
Senhor."
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a) Papiros. O texto do Novo Testamento continuou sendo escrito sobre papiro até
ao século VII. Mas sabemos que a partir do século IV já se usava o pergaminho.
Há nada menos de 76 papiros que contêm porções do Novo Testamento.
bem depois de 500 d.C., muitas questões relacionadas ao seu desenvolvimento nos
séculos precedentes não podiam ser respondidas. Então, a primeira tarefa para os
críticos textuais do Antigo Testamento foi comparar as testemunhas antigas, a fim de
descobrir como o texto massorético surgiu e como ele e os testemunhos antigos da
Bíblia hebraica estão relacionados, o que nos leva à primeira tarefa da crítica textual: a
compilação de todos os registros possíveis dos escritos bíblicos.
Todas as fontes primárias das Escrituras hebraicas são manuscritos (grafados à mão),
geralmente escritos em peles de animais, em papiros ou, às vezes, em metais. O fato
de serem escritos à mão é fonte de muitas dificuldades para o crítico textual. O erro
humano e a interferência editorial são freqüentemente culpados pelas muitas leituras
variantes nos manuscritos do Antigo e do Novo Testamento. Pela razão de os antigos
manuscritos estarem escritos em peles ou em papiros, gera-se outra fonte de
dificuldades. Devido à deterioração natural, a maioria dos antigos manuscritos
subsistentes está fragmentária, difícil de ler [...] Há muitas testemunhas secundárias
para o texto primitivo do Antigo Testamento, incluindo traduções para outras línguas,
citações usadas tanto por amigos quanto por inimigos da religião cristã e evidências
dos primeiros textos impressos. Grande parte das testemunhas secundárias passou por
processos similares às testemunhas primárias. Elas também contêm numerosas
variantes por causa de erros, não só intencionais como também acidentais, e estão
fragmentárias como resultado da degeneração natural. Considerando que as leituras
variantes realmente existem nos antigos manuscritos que subsistiram, estes devem ser
compilados e comparados. O trabalho de comparar e alistar as leituras variantes é
conhecido por colação (COMFORT, 1998, p. 215).
O manuscrito massorético de data mais antiga é o Códice Cairense (895 d.C. atribu-ído
a Moisés ben Aser. Esse manuscrito compreende os livros tanto dos primeiros profetas
(Josué, Juízes, Samuel e Reis) quanto dos últimos (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os 12
Profetas Menores). O resto do Antigo Testamento está faltando no manuscrito [...] Outro
importante manuscrito subsistente atribuído à família Ben Aser é o Códice Alepo. De
acordo com nota conclusiva encontrada no manuscrito, Aron ben Moisés ben Aser foi
responsável por escrever as notas massoréticas e colocar os pontos vocálicos no texto.
Esse manuscrito continha todo o Antigo Testamento e data da primeira metade do
século X d.C. De acordo com notícias divulgadas, foi destruído em um tumulto
antijudaico em 1947, porém mais tarde tal informe comprovou-se ser apenas
parcialmente verdadeiro. Uma grande parte do manuscrito subsistiu e será usada como
base para uma nova edição crítica da Bíblia hebraica a ser publicada pela Universidade
Hebraica de Jerusalém [...] O manuscrito conhecido como Códice Leningradense,
atualmente guardado na Biblioteca Pública de Leningrado, é de especial importância
como testemunha ao texto de Ben Aser. Segundo nota contida no manuscrito, esse
códice foi copiado, em 1008 d.C., de textos escritos por Aron ben Moisés ben Aser.
Visto que o mais antigo texto hebraico completo do Antigo Testamento (o Códice
Alepo), não estava disponível aos eruditos no início do século XX, o Códice
Leningradense foi usado como base textual para os populares textos hebraicos de hoje:
a Bíblia Hebraica, editada por R. Kittel, e sua revisão, a Bíblia Hebraica Stuttgartensia,
editada por K. Elliger e W. Rudolf [...] Há um número muito grande de códices de
manuscritos menos importantes, que refletem a tradição massorética: o Códice de
Petersburgo dos Profetas e os Códices de Erfurt. Também há vários manuscritos que
não existem mais, embora tenham sido usados pelos eruditos no período massorético.
Um dos mais distintos é o Códice Hillel, tradicionalmente atribuído ao rabino Hillel ben
Moisés ben Hillel, de aproximadamente 600 d.C. Esse códice era dito como muito exato
e foi usado para a revisão de outros manuscritos. Leituras desse códice são
repetidamente citadas pelos antigos massoretas medievais. O Códice Muga, o Códice
Jericó e o Códice Jerusalmi, também não mais subsistentes, foram igualmente citados
pelos massoretas. [...] A despeito da perfeição dos manuscritos massoréticos da Bíblia
hebraica, um importante problema ainda permanece para os críticos do Antigo
Testamento. Os manuscritos massoréticos, antigos como são, foram escritos entre um
e dois mil anos depois dos autógrafos originais. (COMFORT, 1998, p. 215-219).
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Num dia de verão, em 1947, o pastor beduíno árabe, Muhammad ad Dib, da tribo dos
Taa'mireh, que se acampa entre Belém e o Mar Morto, saiu a procura de uma cabra
desgarrada nas ravinas rochosas da costa noroeste do referido mar, e encontrou um
inestimável tesouro bíblico. Estava o pastor junto à encosta rochosa do uádi Qümramo
Ao atirar uma pedra numa das cavernas ouviu um barulho de cacos se quebrando.
Entrou na caverna e encontrou uma preciosa coleção de MSS bíblicos: 12 rolos de
pergaminho e fragmentos de outros. Um dos rolos era um MS de Isaías do ano 100
a.C., isto é, mil anos mais antigo que os exemplares até então conhecidos. Os rolos
estão escritos em papiro e pergaminho e envolvidos em panos de linho. Outras
cavernas foram vasculhadas e novos MSS foram encontrados.
Ezequiel 29.10 e 30.6 referem-se a essa cidade; a versão ARC grafa "Sevené". Muitos
eruditos pensavam até agora que o termo "Sinin" de Isaías 49.12 fosse uma alusão à
China. É muito confortante saber que os textos desses MSS encontrados concordam
com os das nossas Bíblias. Pesquisas revelam que os MSS do mar Morto foram
escondidos pelos essênios - seita ascética judaica - durante a segunda revolução dos
judeus contra os romanos em 132-135 d.C. Os responsáveis por um
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Foi esta uma das mais importantes descobertas arqueológicas que já se fizeram.
Hamurabi, rei da cidade de Babilônia, cuja data parece ser 1792-1750 a.C., é
comumente identificado pelos assiriólogos com o "Anrafel" de Gn 14, um dos reis que
Abraão perseguiu para libertar Ló. Foi um dos maiores e mais célebres dos primitivos
reis babilônios. Fez seus escribas coligir e codificar as leis do seu reino; e fez que estas
se gravassem em pedras para serem erigidas nas principais cidades. Uma dessas
pedras originalmente colocada na Babilônia foi achada em 1902, nas ruínas de Susa
(levada para lá por um rei elamita, que saqueara a cidade de Babilônia no século 12
a.C.) por uma expedição francesa dirigida por M. J. de Morgan. Acha-se hoje no Museu
do Louvre, em Paris. Trata-se de um bloco lindamente polido de duro e negro diorito, de
2 m 60 cm de altura, 60 cm de largura, meio metro de espessura, um tanto oval na
forma, belamente talhada nas quatro faces, com gravações cuneiformes da língua
semito-babilônica (a mesma que Abraão falava). Consta de umas 4.000 linhas,
equivalendo, quanto à matéria, ao volume médio de um livro da Bíblia; é a placa
cuneiforme mais extensa que já se descobriu. Representa Hamurabi recebendo as leis
das mãos do rei-sol Chamás: leis sobre o culto dos deuses dos templos, a
administração da justiça, impostos, salários, juros, empréstimos de dinheiro, disputas
sobre propriedades, casamento,
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É a chave da língua egípcia antiga. A língua da antigo Egito era hieroglífica, escrita de
figuras, um símbolo para cada palavra. Pelo ano 700 a.C. uma forma mais simples de
escrita entrou em uso, chamada 'demótica', mais aproximada do sistema alfabético, e
que continuou como língua do povo até aos tempos dos romanos. No 5º século d.C.
ambas caíram em desuso e foram esquecidas. De sorte que tais inscrições se tornaram
ininteligíveis, até que se achou a chave de sua tradução. Essa chave foi a Pedra de
Roseta. Achou-a M. Boussard, um dos sábios franceses que acompanharam Napoleão
ao Egito (1799), numa cidade sobre a foz mais ocidental do Nilo, chamada Roseta.
Encontra-se hoje no Museu Britânico. É de granito negro, cerca de 1,30 m de altura, 80
cm de largura, 30 cm de espessura, com três inscrições, uma acima da outra, em
grego, egípcio demótico, e egípcio hieroglífico, o grego era conhecido. Tratava-se de
um decreto de Ptolomeu V, Epífanes, feito em 196 a.C. nas três línguas usadas então
em todo o país, para ser colocado em várias cidades. Um sábio francês, de nome
Champollion, depois de quatro anos (1818-22) de trabalho detalhado e paciente,
comparando os valores conhecidos das letras gregas com os caracteres egípcios
desconhecidos, conseguiu descobrir os mistérios da língua egípcia antiga.
O livro, através da sua longa existência, apresentou duas formas bem distintas: o rolo e
o códice.
(a) Rolo. Entre o povo judeu, bem como no mundo grego-latino, os livros eram
normalmente publicados em forma de um rolo feito de papiro ou pergaminho.
Formava-se o rolo colocando várias folhas de papiro ou couro uma ao lado da
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(b) Códices. A palavra códice vem do latim "codex", que designava primitivamente
um bloco de madeira cortado em várias folhas ou tabletes para escrever. O
códice era formado de várias folhas de papiro ou pergaminho sobrepostas e
costuradas. Estes códices começaram a substituir os primitivos rolos no segundo
século a.D. A afirmativa de que as comunidades cristãs começaram a usar os
códices nas igrejas, para diferençar dos rolos, usados nas sinagogas, pode ser
verdadeira, levando-se em conta o seguinte. Dos 476 manuscritos não cristãos
descobertos no Egito, copiados no segundo século a.D., 97% estão na forma de
rolo. Em contrapartida, dos 111 manuscritos bíblicos cristãos dos primeiros 4
séculos da Era Cristã, 99 estão na forma de códice.
As vantagens dos códices sobre os rolos, no caso dos manuscritos bíblicos, são
evidentes pelas seguintes razões: Permitia que os quatro Evangelhos, ou todas as
Epístolas paulinas se achassem num livro; era bem mais fácil o manuseio do livro;
adaptava-se melhor para receber a escrita de ambos os lados, baixando assim o custo
do livro; a procura de determinadas passagens era mais rápida.
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Este vocábulo não se acha no texto das Sagradas Escrituras. Consta apenas na capa.
De onde, pois, vem? Vem do grego, a língua original do Novo Testamento. É derivado
do nome que os gregos davam à folha de papiro preparada para a escrita - "biblos". Um
rolo de papiro de tamanho pequeno era chamado "biblion" e vários destes eram uma
"Bíblia". Portanto, literalmente, a palavra “Bíblia” quer dizer "coleção de livros
pequenos". Com a invenção do papel, desapareceram os rolos, e a palavra “biblos” deu
origem a "livro", como se vê em biblioteca, bibliografia, bibliófilo etc.
É consenso geral entre os doutores no assunto que o nome Bíblia foi primeiramente
aplicado às Sagradas Escrituras por João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla, no
Século IV. E porque as Escrituras formam uma unidade perfeita, a palavra Bíblia, sendo
um plural, como acabamos de ver, passou a ser singular, significando o Livro, isto é, o
Livro dos livros; o Livro por excelência. Como Livro divino, a definição canônica da
Bíblia é "A revelação de Deus à humanidade". Os nomes mais comuns que a Bíblia dá
a si mesma, isto é, os seus nomes canônicos, são: Escrituras (Mt 21.42); Sagradas
Escrituras (Rm 1.2); Livro do Senhor (Is 34.16); Palavra de Deus (Mc 7.13; Hb 4.12);
Oráculos de Deus (Rm 3.2).
d) Nomes figurativos: Uma luz. "Uma luz para o meu caminho" (Sl 119:105); Um
espelho (Tg 1.23); Ouro fino (Sl 19.10); Uma porção de alimento (Jó 23.12);
Leite (1Co 3.2); Pão para os famintos (Dt 8.3); Fogo (Jr 23.29); Um martelo (Jr
23.29); Uma espada do Espírito (IOF 6.17).
g) Torah. Palavra derivada do verbo Yarah, que no "hifil" significa lançar, jogar (Êx
15.4, 1Sm 20.36) e de modo especial lançar flechas para se conhecer a vontade
divina (Js 18.6; 2Rs 13.17). O mesmo verbo é usado no sentido de mostrar com
a mão, apontar com o dedo (Gn 46.28; Êx 15.25). A significação fundamental de
yarah é, portanto; indicar uma direção. O substantivo cognato tem o sentido
bíblico mais corrente: ensinamento, instrução, como se deduz da leitura de
Isaías 30.9; 42.4; Mq 4.2; Ml 2.6; Jó 22.22, onde esta palavra aparece. Do
estudo desta palavra conclui-se que o termo português "lei" não traduz o
vocábulo hebraico em toda a sua extensão. A torah é o ensinamento que inspira
bom procedimento em nosso viver.
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Rhema Aquilo que é dito, palavra, dito, expressão (Mt 12.36; Mc 9.32). Ameaça (At
6.13). Coisa, objeto, assunto, evento (Mt 18.16; Lc 1.37; 2.15, 19, 51). Nosso Senhor
falou sobre a palavra de Deus (na parábola do semeador, Lc 8.11; Mc 7.13; Lc 11.28),
porém, nos evangelhos sinópticos Ele sempre usava o plural para indicar a Sua própria
mensagem (“minhas palavras”, Mt 24.35 e paralelos; Mc 8.38; Lc 24.44). No quarto
evangelho, entretanto, pode-se encontrar o singular com freqüência. Para a Igreja
primitiva, a palavra era uma mensagem revelada da parte de Deus em Cristo, que
deveria ser pregada, ministrada e obedecida. Era a palavra da vida (Fp 2.16), da
verdade (Ef 1.13), da salvação (At 13.26), da reconciliação (2Co 5.19), e da cruz (1Co
1.18).
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Como termo gramatical significa uma sentença finita, em uma declaração lógica de
fatos, definição ou julgamento, e na retórica significa uma declaração de oratória
corretamente construída.
Como termo de psicologia e metafísica, foi empregado pela Stoá, seguindo Heráclitos,
para significar o poder ou função divina pela qual o universo recebe sua unidade,
coerência e significado. Logos spermatikos, palavra seminal que, à semelhança de
semente, dá forma à matéria disforme. O homem foi criado de acordo com o mesmo
princípio, e em si mesmo se diz possuir um Logos, tanto internamente (logos
endiathetos, razão), e que se expressa pela fala externamente (logos prophorikos). O
termo é igualmente usado como padrão ou norma mediante a qual o indivíduo pode
viver “de conformidade com a natureza”.
Na Septuaginta o termo “Logos” é usado para traduzir a palavra hebraica dãbhãr. A raiz
desta palavra significa “aquilo que está por trás” e assim quando é traduzida por
palavra, também significa som compreensível; e também pode significar coisa. De
acordo com uma característica comum da psicologia dos hebreus, o dãbhãr de um
homem é considerado como, em certo sentido, uma extensão de sua personalidade, e,
além disso, como algo que possui uma existência substancial toda própria. A palavra de
Deus, portanto, é Sua auto-revelação através de Moisés e dos profetas. Também pode
ser usada para designar tanto visões isoladas e oráculos como o conteúdo total da
revelação inteira, e assim, especialmente o Pentateuco. A palavra possui um poder
semelhante ao de Deus, o qual a profere (Is 55.11) e efetua Sua vontade sem qualquer
resistência. Por conseguinte o termo pode referir-se à palavra criadora de Deus.
25
A revelação que Deus fez de si mesmo centraliza-se em Jesus Cristo. Ele é o Logos de
Deus. Ele é o Verbo Vivo, o Verbo encarnado, que revela o Deus eterno em termos
humanos. O título Logos só pode ser encontrado nos escritos joaninos, embora o
emprego do termo haja sido relevante na filosofia grega daqueles dias. Alguns têm
procurado uma ligação entre a linguagem de João e a dos estóicos, dos primeiros
gnósticos, ou dos escritos de Filo de Alexandria. Estudos mais recentes sugerem que
João foi influenciado primariamente pelos seus alicerces no Antigo Testamento e na fé
cristã. É provável, porém, que tivesse consciência das conotações mais amplas do
termo, e que a tivesse empregado deliberadamente, com o propósito de transmitir um
significado adicional e especial.
O Logos é identificado com a Palavra de Deus na Criação e também com sua Palavra
autorizada (a lei para toda a humanidade). João deixa nossa imaginação atônita
quando introduz o Logos eterno, o Criador de todas as coisas, o próprio Deus, como o
Verbo que se encarnou a fim de habitar entre a sua criação (Jo 1.1-3,14). "Deus nunca
foi visto por alguém. O filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer" (Jo
1.18). O Verbo Vivo tem sido visto, ouvido, tocado, e agora proclamado mediante a
Palavra escrita (1Jo 1.1-3). Quando do encerramento do cânon sagrado, o Logos vivo
de Deus, o Fiel e Verdadeiro, está em estado de prontidão no Céu, prestes a voltar à
Terra como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.11-16).
A suprema revelação de Deus acha-se no seu Filho. Durante muitos séculos, mediante
as palavras dos escritores do Antigo Testamento, Deus havia se revelado
progressivamente. Tipos, figuras, sombras e prefigurações desdobravam
paulatinamente o plano de Deus para a redenção da humanidade (Cl 2.17). Depois, na
plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho para revelar o Pai de forma mais
perfeita e para executar aquele gracioso plano mediante a sua morte na Cruz (1Co 1.1
7-25; Gl 4.4). Toda a revelação bíblica, antes e depois da Encarnação de Cristo,
centraliza-se nEle. As muitas fontes originárias e maneiras da revelação anterior
indicavam e prenunciavam a sua vinda à terra como homem. Toda a revelação
subseqüente engrandece e explica a sua vinda. A revelação que Deus fez de si mesmo
começou pequena e misteriosa, progrediu no decurso do tempo, e chegou ao seu ponto
extremo na Encarnação do seu Filho. Jesus é a revelação mais completa de Deus.
26
Quase todos os estudantes da Bíblia sabem que o Velho Testamento foi escrito em
hebraico, e o Novo, em grego, mas muitos desconhecem o fato de que há uma terceira
língua na Bíblia – o aramaico.
2.1.1 Aramaico
O aramaico foi sem dúvida, desde muito tempo, a língua popular de Babilônia e da
Assíria, cuja linguagem literária, culta e religiosa era o sumero-acadiano. Documentos
assírios mencionam o aramaico desde 1100 a.C. Durante o reinado de Saul e Davi, os
estados aramaicos ou sírios são mencionados na Bíblia (1Sm 14.47; 2Sm 8.3-9; 10.6-
8). O aramaico foi trazido para a Palestina porque os assírios
27
seguiam costume de transplantar os povos das nações subjugadas, por isso depois de
terem vencido o reino de Israel, trocaram as pessoas e as espalharam através de todo
o seu império. 2Rs 17.24 menciona explicitamente que entre os povos trazidos para
Samaria a fim de repovoarem a terra devastada, encontravam-se aramaicos de
Hamate. Esta língua dotada de grande poder de expansão tornou-se usual nas relações
internacionais de toda a Ásia, e na própria Palestina propagou-se tão largamente, que
venceu o próprio hebraico.
O lar original do aramaico foi a Mesopotâmia. Algumas tribos arameanos viviam ao sul
de Babilônia, perto de Ur, outras tinham seus lares na alta Mesopotâmia entre o rio
Quebar (Khabúr) e a grande curva do Eufrates, tendo Harã como centro. O fato de os
patriarcas Abraão, Isaque e Jacó terem conexões com Harã é provavelmente
responsável pelo estatuto feito por Moisés de que Jacó era "arameano". Dt 26.5. Deste
seu lar ao norte da Mesopotâmia o aramaico se espalhou para o sul de toda a Assíria.
Tudo indica que o aramaico foi preferido pelos assírios e babilônicos por ser mais
simples do que a complicada escrita cuneiforme. A prova de sua simplicidade está
relatada em 2Rs 18.26, quando Senaqueribe invadiu Judá no fim do VIII século a.C. os
oficiais judeus que dominavam tão bem o hebraico quanto o aramaico, pediram ao
general assírio que lhes falasse em aramaico. Esta ainda a razão porque durante os
setenta anos do cativeiro babilônico os judeus se esqueceram muito do hebraico,
adotando em seu lugar o aramaico. Ao voltarem do cativeiro continuaram falando o
aramaico, como se depreende da leitura de Neemias 8.1-3 e 8. O aramaico era a língua
usada por Jesus (Mc 5.41; 7.34; 15.34), pela maioria das pessoas na Palestina, bem
como pelas primeiras comunidades cristãs. Segundo outros estudiosos entre os quais
se destaca Robertson, Jesus falava aramaico na conversação diária, mas no ensino
público e nas discussões com os fariseus a língua usada era o grego.
Já antes da Era Cristã superou totalmente o hebraico que se tornou a língua morta e
exclusivamente religiosa. Na Ásia Ocidental, a língua aramaica se difundiu largamente,
assumindo naquelas regiões e naquele tempo o mesmo papel que assumem em
nossos dias o francês e o inglês. O aramaico, embora ainda utilizado em certas regiões,
vai cedendo lugar ao árabe, e corre o perigo de desaparecer como língua falada, pois
hoje é falada somente em algumas povoações da Síria. O aramaico desapareceu sob o
impacto cultural do grego e do latim, já que deixou de ser conhecido pelos cristãos.
28
Quem conhece o hebraico pode com facilidade ler e entender o aramaico, dadas as
suas marcantes semelhanças. As partes do Velho Testamento escritas em aramaico
são as seguintes: A expressão "Jegar-Saaduta" de Gênesis 31.47; O verso de Jeremias
10.11; Alguns trechos de Esdras 4.8 a 6.18; 7.22-26; Partes do livro de Daniel, entre os
capítulos 2.4 a 7.28.
2.1.2 Hebraico
A língua hebraica foi a língua dos Hebreus ou israelitas desde a sua entrada em Canaã.
A sua origem é bastante misteriosa, porque além do Velho Testamento só possuímos
escassos documentos para o seu estudo. O mais provável é que o hebraico tenha vindo
do cananeu e foi falado pelos israelitas depois de sua instalação na Palestina. A atual
escrita hebraica (chamada "hebraico quadrado") é cópia do aramaico e entrou em uso
pouco antes da nossa era, em substituição ao hebraico arcaico. Os Targuns o
denominam de "língua sagrada" (Is 19.18); e no Velho Testamento é chamado "a língua
de Canaã" ou a língua dos judeus (Is 36.13, 2Rs 18.26-28). Salmo 114.1 mostra a
grande diferença entre o hebraico e o egípcio. Israel por estar cercado de povos que
falavam uma língua cognata – o aramaico – foi se esquecendo do hebraico, até que
este veio a extinguir-se como língua falada. Era ainda a língua de Jerusalém no tempo
de Neemias (13.24), cerca de 430 a.C., mas muito antes do tempo de Cristo foi
substituída pelo aramaico.
Quase sempre os pronomes pessoais são ligados às formas verbais como se fossem
sufixos ou prefixos. Com raras exceções não faz uso de palavras compostas. O
alfabeto hebraico possui letras com sons bem próprios, por isso não apresentam
nenhuma semelhança com o nosso alfabeto. Os dois exemplos mais característicos se
encontram no "alef" e no "ayin". Se língua é um organismo vivo que se transforma, o
hebraico quase pode apresentar-se como exceção, como comprovam os escritos de
Moisés e de alguns profetas mil anos depois, cujas diferenças lingüísticas são
insignificantes. Este fato tem levado a "alta crítica" a dogmatizar que os escritos do
Velho Testamento foram produzidos num espaço de tempo bem pequeno.
Seus processos sintáticos são muito simples, usando pouco as orações subordinadas,
preferindo sempre as coordenadas, quase sempre unidas pela conjunção "e" como
inegável influência do hebraico. Os tempos do verbo, a exemplo do grego, indicam mais
o "aspecto" da ação, conforme ela seja momentânea, prolongada ou repetida. Como
língua semítica não classifica os fatos em passados, presentes e futuros, mas em
realizados ou de ação acabada (perfeito), e não realizados ou de ação inacabada
(imperfeito).
Uma das peculiaridades da língua hebraica com respeito ao sistema verbal é esta: a
simples troca de um sinal vocálico determina uma mudança nas formas verbais. Não
possui o verbo "ter", enquanto o verbo "ser" é ativo e significa existir eficazmente.
Quando os judeus sentiram que o hebraico estava em declínio como língua falada, e
que sua leitura correta ia perder-se, criaram um sistema de vocalização. Este trabalho
foi feito pelos massoretas, por isso o texto hebraico usado hoje se chama massorético.
Como é do conhecimento geral, o Novo Testamento foi escrito na Koinê, língua na qual
também foi traduzido o Velho Testamento hebraico pelos Setenta. O termo Koinê
significa a língua comum do povo entre os anos 330 a.C. e 330 a.D. Com exceção da
Epístola aos Hebreus e da linguagem de Lucas (Evangelho e Atos) que se encontram
num Koinê mais literário, os outros escritos pertencem à língua mais comum ou Koinê
vulgar. O insigne erudito Gustav Adolf Deissmann foi quem primeiro mostrou a
identidade do grego do Novo Testamento, salientando que o
30
grego da Bíblia era o Koinê, e não o grego erudito, nem a chamada "linguagem do
Espírito Santo" ardorosamente defendida por alguns autores.
Se fosse possível caracterizar o Koinê, língua em que foi escrito o Novo Testamento,
sintetizando-a em uma palavra, a melhor seria "simplificação". Esta conclusão é
facilmente deduzida estudando-lhe as características: Substituição dos casos pelas
preposições; tendência para simplificar a morfologia e a sintaxe; uso escasso de
orações subordinadas, tendo preferência pelas coordenadas ligadas pela conjunção
"e"; eliminação do dual e uso equilibrado do modo optativo, aparecendo apenas 67
vezes no Novo Testamento; uso mais freqüente do artigo; simplificação das riquíssimas
formas verbais do grego clássico; mudança de sentido de muitas palavras do grego
clássico, por influência religiosa, tais como: batizar, justiça, graça, amor, glória, carne,
cruz, mundo, crer, espírito, cálice, dia, etc.; as formas diminutivas se tornam mais
comuns; emprego mais generalizado de construções perifrásticas nos verbos; os
adjetivos são mais usados no grau superlativo do que no comparativo; preferência pela
ordem mais direta, pois no grego clássico predomina a ordem inversa; emprego
freqüente dos pronomes sujeitos, em casos dispensáveis, por estarem eles
subentendidos nas desinências verbais; idêntico valor fonético para as vogais gregas;
emprego de vários latinismos, tais como: legião, centurião, denário, colônia e flagelo;
uso freqüente do presente histórico nas narrativas; aparecimento generalizado da
parataxe, com prejuízo da hipotaxe.
Quanto à linguagem dos escritores do Novo Testamento haveria muito que dizer, mas
fiquemos somente com as seguintes observações: Apenas Hebreus Lucas e alguns
trechos de Paulo são escritos num estilo mais literário.
31
O vocabulário mais rico não é o de Paulo, mas sim o de Lucas, que emprega 250
palavras novas no Evangelho e, mais ou menos 500, em Atos. Se a linguagem mais
polida e mais erudita é a de Lucas, a mais pobre e menos aprimorada, quanto ao estilo,
é a de Marcos e a de João, especialmente no Apocalipse. O doutor Benedito P.
Bittencour no livro O Novo Testamento, página 67, chama-nos a atenção para a
linguagem pouco aprimorada do Apocalipse, onde há violações flagrantes dos corretos
cânones da gramática.
Com este título queremos chamar a atenção para a reivindicação que a Bíblia
apresenta de que é a mensagem de Deus ao homem e não uma mensagem do homem
aos outros homens, muito menos uma mensagem do homem a Deus. Neste
32
O fato de que Deus é supremo implica em que não há nenhum outro que se lhe
compare; mas quase universalmente a humanidade tem praticado, com uma insistência
que está longe de ser acidental, as abominações da idolatria. O povo judeu, de quem,
considerando o lado humano, vieram as Escrituras, não ficaram imunes a esta
tendência. Desde os dias do bezerro de ouro, através dos séculos seguintes, os
israelitas estiveram sempre revertendo à idolatria e isto apesar da abundância de
revelação e castigo. A história da igreja está manchada pelo culto de imagens
esculpidas assimiladas do paganismo. Com que insistência o Novo Testamento adverte
os crentes a fugir da idolatria e da adoração dos anjos! À luz
33
destes fatos, como poderíamos supor que os homens (até mesmo Israel) pudessem, à
parte da direção divina, dar origem a um tratado que, com os olhos apenas na glória de
Deus, estigmatiza a idolatria como um dos primeiros e mais ofensivos crimes e insultos
contra Deus? A Bíblia não é o tipo de livro que o homem escreveria se pudesse.
Deus Pai. Vasto realmente é o campo das Escrituras que apresenta as atividades e as
responsabilidades distintivas que são características da Primeira Pessoa. Dizemos que
Ele é o Pai de toda a criação, o Pai do Filho eterno (a Segunda Pessoa) e o Pai de todo
aquele que crê para a salvação de sua alma. Esta revelação estende-se a todos os
detalhes do relacionamento paternal e inclui a dádiva do Filho para que a graça de
Deus pudesse ser revelada. Nenhuma mente humana poderia dar origem ao conceito
de Deus Pai como Ele é revelado na Bíblia.
Deus Filho. O registro referente à Segunda Pessoa, que, de acordo com a Palavra de
Deus, é o Filho desde a eternidade, que sempre é a manifestação do Pai e que,
embora esteja agora sujeito ao Pai, é o Criador das coisas materiais, o Redentor e Juiz
final de toda a humanidade, oferece as evidências mais extensas e mais imensuráveis
da origem divina das Escrituras. A Pessoa e a obra do Filho de Deus com Sua
humilhação e glória é o tema dominante da Bíblia; mas o Filho, em troca, dedica-se à
glória do Pai. As perfeições do Filho não podem nunca ser comparadas ao mais sábio
dos homens, nem compreendidas por ele. Se, afinal, esta revelação ilimitada do Filho
não passa de ficção, não seria um desafio razoável (mesmo para a mente não
regenerada) que este suposto autor fosse descoberto e, com base no truísmo de que a
coisa criada não pode ser maior do que o seu criador fosse adorado e reverenciado
acima de tudo o que é chamado de Deus?
34
Deus Espírito. O Espírito Santo que é apresentado na revelação como igual em cada
particular ao Pai e ao Filho, é, não obstante e para a promoção dos atuais
empreendimentos divinos, retratado como sujeito a ambos, o Pai e o Filho. Do mesmo
modo, Seu serviço é considerado como complemento e administração da obra do Pai e
do Filho.
Assim o Deus triúno revelou-se ao homem em termos que o homem, mesmo quando
ajudado pelo Espírito, só pode compreender debilmente; e que inocente é a intimação
de que estas revelações são o produto dos homens que sem exceção desde os dias de
Adão são depravados, degenerados e incapazes de receber ou conhecer as coisas de
Deus à parte da iluminação divina! Tal conceito propõe nada menos que a presunção
de que o homem deu origem à idéia de Deus, e que o Criador é um produto da criatura.
Este livro contendo muitos livros não recebeu a impressão pessoal de muitas mentes.
Sua harmonia não é a de trombetas tocadas em uníssono, mas, antes, uma
35
profecia e o seu cumprimento, e os tipos com os seus antítipos, são os três fatores
principais que não só servem para apresentar a unidade dos dois Testamentos, como
fios entretecidos que passam de um Testamento para outro, ligando-os em um único
material, mas também servem para traçar o desenho que pelo seu maravilhoso caráter
glorifica o Desenhista. Assim, a tipologia conforme se encontra na Bíblia demonstra que
a Bíblia é um livro que o homem não poderia escrever se quisesse. É divina em sua
origem como é sobrenatural em seu caráter.
2.2.7.1 Revelação
A revelação não tem por fim simplesmente informar o homem acerca de Deus, mas
também descobrir Deus ao homem. Deus quer que o homem o conheça; daí a razão de
ele se revelar. “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das
suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra
noite. Não há linguagem nem fala onde se não ouçam as suas vozes. A sua linha se
estende por toda a terra, e as suas palavras até o fim do mundo” (Salmos 19.1-4).
2.2.7.2 Inspiração
Por inspiração entendemos a operação pela qual Deus garantiu o conteúdo da Bíblia
como autêntica expressão de sua revelação. Agora perguntamos: Que referência
encontramos na própria Bíblia a essa inspiração divina? O texto mais explícito é aquele
que se encontra em 2 Timóteo 3.16: "Toda Escritura é divinamente inspirada e
proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça”. O
termo grego usado no original é theopneostos, composto de duas palavras gregas:
theós. "Deus", e pnéo, "soprar", "respirar". Este termo grego é que foi traduzido por
inspirado por Deus. A Escritura inspirada por Deus é a que Timóteo havia aprendido
desde a sua meninice e que no versículo anterior se menciona como "Sagradas
Escrituras”. Este termo grego não se usa em outra parte do Novo Testamento, mas
uma idéia similar encontra-se em 2 Pedro 1.21: "Porque a profecia nunca foi produzida
por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo
Espírito Santo". No versículo anterior, fala-se de Deus como o sujeito da inspiração; no
segundo, em 2 Pedro, fala-se mais especificamente do Espírito Santo nessa mesma
função. E, embora aqui o termo grego seja o particípio pheromenos, de um verbo que,
entre outros significados, tem o de "ocasionar", "causar", "trabalhar", os dois versículos
têm o mesmo sentido. Vale a pena mencionar o comentário que se encontra na obra de
Bonnet e Schroeder sobre 2 Timóteo 3.16.
O apóstolo Paulo se contenta em expressar claramente este grande fato que é a base e
a garantia de todas as revelações divinas. Mas não expõe nem justifica nenhum
sistema humano sobre o modo, a natureza, a extensão da inspiração, tampouco sobre
a parte de Deus e do homem na composição das Escrituras. A
38
exegese não pode ir mais longe; tudo mais pertence à dogmática (BONNET, 1968, p.
707).
Assim é, mas, por amor à verdade, devemos dizer que para o apóstolo Paulo seu
Antigo Testamento era a Palavra de Deus, sem nenhuma outra consideração, e deve-
se ter isto em mente quando se quer refletir sentenciosamente sobre a natureza,
extensão ou modo da inspiração.
O Espírito Santo trabalhou nos escritores de acordo com a sua maneira de ser,
aproveitando a peculiaridade pessoal e cultural. Iluminou suas mentes, guiou sua
memória e controlou a influência do pecado e do erro para que seu trabalho não
falhasse. Não obstante, deixou-os expressar-se à sua maneira em tudo, segundo o seu
estilo e vocabulário e de acordo com o seu tempo. Não se pode negar que haja, nos
diferentes autores, diferenças de estilo e peculiaridades que os
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A personalidade do escritor não foi anulada. Muitos dos livros da Bíblia contêm
passagens que revelam que a preparação prévia e as características pessoais do autor
foram utilizadas pelo Espírito Santo. Não podemos discordar dessas afirmações, visto
que há evidências nas Escrituras de que isto se deu desta forma. É claro, por exemplo,
que o estilo literário de Isaías difere do de Amós; o estilo do Evangelho de Lucas difere
do de Marcos; e a epístola de Tiago difere sob este aspecto da de João. Aliás, no
mesmo autor, em circunstâncias diferentes, encontramos também estilos diferentes.
Para verificar isto, basta comparar Romanos com Filipenses.
Essa combinação do divino com o humano não é algo que apareça apenas na
composição das Escrituras, afirmam os teólogos; vemo-Ia, igualmente, na pessoa de
nosso Senhor Jesus Cristo: verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. Assim,
as Escrituras são obra de Deus, sem deixar de mostrar, por ele mesmo, a
particularidade do instrumento humano.
A posição adotada pelos teólogos protestantes mais antigos e importantes é que, seja
qual for a definição que se dê à inspiração, todo o cânon atual, como o temos, participa
dela. O sentido original grego da expressão "toda escritura", encontrada em 2 Timóteo
3.16, refere-se a cada um dos escritos sagrados. [...] E esta Sagrada Escritura, em
cada uma de suas partes e livros, é inspirada. Essa inspiração para a totalidade do
conteúdo da Bíblia é o que o autor denomina "inspiração plena". Este conceito de que a
inspiração divina protege a totalidade dos livros bíblicos de erros não nos deve levar a
pensar, disse Hammond, que não haja diferença alguma nos propósitos da inspiração.
Trata-se, em verdade, de entender que, enquanto todas as Escrituras são plenamente
autorizadas por Deus, diferem no tocante à aplicação e ao propósito para o qual foram
inspiradas. Diferem sobretudo quanto à aplicação essencial, mais do que em relação ao
grau da inspiração. O estudioso deve manter-se prevenido contra uma observação
como esta: "O Evangelho de João é mais inspirado do que Eclesiastes".
40
2.2.8 A iluminação
É aquela influência ou ministério do Espírito Santo que capacita todos os que estão
num relacionamento correto com Deus para entender as Escrituras. Acerca de Cristo se
escreveu que Ele "abriu" o entendimento deles em relação às Escrituras (Lc 24.32-45).
O próprio Cristo prometeu que, quando o Espírito viesse, Ele "guiaria" em toda a
verdade.
Finalmente, tanto a revelação como a inspiração pode ser diferenciada da iluminação
em que a última é prometida a todos os crentes; que ela admite graus, uma vez que
aumenta ou diminui; que não depende de escolha soberana, antes, de ajustamento
pessoal ao Espírito de Deus; e sem ela ninguém nunca seria capaz de aceitar a
salvação pessoal (1Co 2.14), ou o conhecimento da verdade revelada de Deus.
Podemos dizer que no passado Deus se revelou aos homens; inspirou os homens para
que tenhamos hoje um testemunho digno de fé de sua revelação. No passado, Deus
dirigiu o processo pelo qual sua revelação chegou até nós sob a forma de uma bíblia. É
evidente que de tudo isto surge claramente a autoridade da Bíblia como Palavra de
Deus nos assuntos de fé e prática. Ou, como diz o pacto de Lausanne: "Afirmamos a
inspiração divina, a veracidade e a autoridade de ambos os Testamentos, o Antigo e o
Novo, em sua integridade, como a única Palavra de Deus escrita, e a única e infalível
regra de fé e prática".
A obra de Hammond trata este assunto recordando que há três fontes possíveis da
autoridade em assuntos de religião: a razão, a igreja e a Bíblia. Estas três fontes têm de
ser necessariamente incompatíveis, mas, como exceção, às vezes se combinam. Da
razão, "em alguns casos a manipulação racionalista de certos aspectos da fé tem
gravemente desviado os homens" (HAMMOND, 1978, p. 51) da igreja, afirma que "tem
um lugar de autoridade, mas só em subordinação à Palavra de Deus" (HAMMOND,
1978, p. 52) da Bíblia, conclui que "não há palavras suficientes para destacar a
importância de acatar, bem longe de toda dúvida, a autoridade insubstituível das
Escrituras Sagradas em tudo o que se refere à religião, quer se trate da doutrina, quer
da prática" (HAMMOND, 1978, p. 53). Nossa última palavra sobre este assunto é uma
citação de Donald G. Bloesch. Esse autor afirmou que a
41
autoridade final não é da Escritura em si, mas do Deus vivo que, por meio de Jesus
Cristo, é quem nos fala; e afirma:
Devemos, sem dúvida, continuar dizendo que a autoridade absoluta de fé, o próprio
Cristo vivo, identificou-se de tal maneira com o testemunho histórico concernente à sua
auto-revelação, mais precisamente as Escrituras Sagradas, que estas participam,
necessariamente, da autoridade de seu Senhor. A Bíblia deve ser distinguida de seu
fundamento e de sua meta, mas não pode separar-se deles. E por isso que Forsyth
afirmou: “A Bíblia não é meramente um registro da revelação; é parte da revelação.
Não é uma pedreira de dados para o historiador; é uma fonte de vida para a alma”.
(BLOESCH, 1978, p. 63).
Tem-se dito que a Bíblia necessita, pela dificuldade de entender o seu conteúdo, de
uma interpretação infalível que evite que o estudioso não especializado incorra em erro
em sua interpretação. A posição que, desde o tempo da Reforma, os evangélicos têm
sustentado é a de que o cristão é um juiz idôneo para julgar o conteúdo da revelação
bíblica. Disse Hammond: "Sustentamos que as Escrituras são capazes de oferecer seu
significado correto em todas as idades e circunstâncias em que se encontre o homem,
sempre que este esteja disposto a ser ensinado pelo Espírito Santo e a obedecer-Ihe"
(BLOESCH, 1978, p. 46). Não podemos colocar uma instância superior à clara
mensagem da Bíblia, seja esta um teólogo, uma igreja ou uma denominação. Isto não
significa que não façamos uso de todas as informações possíveis à nossa disposição
para não nos enganarmos ao interpretar a Palavra de Deus. Um princípio de saudável
hermenêutica, sem entrar nas complicadas considerações que a teologia atual tem a
respeito deste tema, é que um texto se esclarece por seu contexto, seja ele imediato ou
mediato. E o contexto mediato, ou distante, de um texto, é, em última análise, a própria
Bíblia, o conteúdo total da revelação. Em outras palavras, a Bíblia contém em si a
informação necessária para interpretar de forma correta qualquer passagem que
ofereça dificuldade. E conquanto usemos a ajuda humana para entender o conteúdo da
Bíblia, não nos esqueçamos de que, em última instância, é a Bíblia que julga tal ajuda.
42
c) Entre Ele mesmo e uma nação (por exemplo, com Israel na Aliança Mosaica,
Êx 19.3 e segs.).
d) Entre Ele mesmo e uma família humana específica (por exemplo, com a casa
de Davi na promessa de uma linhagem real perpetuada na Aliança Davídica,
2Sm 7.16 e segs.).
São oito as principais alianças de significado especial que explicam o resultado dos
propósitos de Deus para com o homem. São:
compelido a pecar, mas, tentado por Satanás, preferiu desobedecer a Deus. A mulher
foi enganada; o homem transgrediu deliberadamente (1Tm 2.14). A mordomia da
Inocência terminou na sentença da expulsão do Éden (Gn 3.24).
a) Propagar a raça.
O homem pecou (Gn 3.6-7), a primeira promessa de redenção estava para ser feita (Gn
3.15), e nossos primeiros pais seriam expulsos do Éden (Gn 3.22-24). O pecado do
homem foi uma rebeldia contra uma ordem específica de Deus (Gn 2.16-17) e marcou
uma transição do conhecimento teórico do bem e do mal para o conhecimento
experimental (Gn 3.5-7,22). O homem pecou entrando no reino da experiência moral
pela porta errada, quando poderia tê-lo feito fazendo o que era certo. Assim o homem
tornou-se igual a Deus, através de uma experiência pessoal da diferença entre o bem e
o mal, mas também diferente de Deus, passando por esta experiência, no escolher o
mal e não o bem. Assim ele foi colocado por Deus sob a mordomia da responsabilidade
moral, ficando responsável de praticar todo o bem conhecido, abster-se de todo o mal
conhecido e aproximar-se de Deus por meio do sacrifício sangrento aqui instituído, em
perspectiva à obra consumada de Cristo. O resultado é apresentado na Aliança
Adâmica (Gn 3.14-21). O homem falhou no teste que lhe foi apresentado nesta
dispensação (Gn 6.5), como nas outras. Embora, como teste específico, este período
de tempo tenha terminado com o dilúvio, o
45
Condiciona a vida do homem caído - condiciona o que tem de permanecer até que, na
dispensação do reino, "a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para
a liberdade da glória dos filhos de Deus" (Rm 8.21). Os elementos da aliança são:
d) O trabalho leve do Éden (Gn 2.15) mudou para trabalho cansativo (3.18-19),
por causa da maldição lançada sobre a terra (3.17).
Esta dispensação começou quando Noé e sua família saíram da arca. Quando Noé
entrou numa nova situação, Deus (na Aliança Noética) sujeitou a humanidade a um
novo teste. Antes disso, nenhum homem tinha o direito de tirar a vida de outro homem
(Gn 4.10-11,14-15,23-24). A mais alta função do governo é proteger a vida humana, da
qual deriva a responsabilidade da pena capital. O homem não deve vingar o homicídio
individualmente, mas, na qualidade de grupo corporativo, ele deve salvaguardar a
santidade da vida humana como um dom de Deus, que não pode ser exterminado,
exceto quando Deus o permite. "Os poderes constituídos foram ordenados por Deus", e
resistir-lhes é resistir a Deus. Enquanto, na dispensação precedente, as restrições
feitas ao homem eram internas (Gn 6.3), o Espírito de Deus operando através da
responsabilidade moral, agora uma nova restrição externa foi acrescentada, isto é, o
poder do governo civil.
O homem fracassou em governar com justiça. Este fracasso foi visto de um modo geral,
na confusão de Babel (Gn 11.9). Como uma prova específica da obediência, a
dispensação do Governo Humano foi seguida, pela da Promessa, quando Deus
chamou Abrão como Seu instrumento de bênção para a humanidade. Contudo, a
responsabilidade do homem pelo governo não acabou, mas continuará até que Cristo
estabeleça o Seu reino.
Conforme constituída (Gn 12.1-4) e confirmada (Gn 13.14-17; 15.1-7, 18-21; 17.1-8)
têm três aspectos:
a) A promessa de uma grande nação: "De ti farei uma grande nação", Gn 12.2.
48
Esta dispensação começa com a concessão da lei no Sinai e terminou como período de
tempo com a morte sacrifical de Cristo, que cumpriu todas as suas provisões e tipos.
Na dispensação anterior, Abraão, Isaque e Jacó, como também as multidões de outros
indivíduos, falharam nos testes da fé e obediência que eram da responsabilidade do
homem (por exemplo, Gn 16.1-4; 26.6-10; 27.1-25). O Egito também falhou em atender
a advertência de Deus (Gn 12.3) e foi julgado. Não obstante Deus providenciou um
libertador (Moisés), um sacrifício (o cordeiro pascal) e o poder milagroso para tirar os
israelitas do Egito (as pragas do Egito; livramento no Mar Vermelho). Os israelitas,
como resultado de suas transgressões (Gl 3.19), foram agora colocados sob a
disciplina precisa da lei. A lei ensina:
A lei não alterou as provisões nem revogou a promessa de Deus dada na Aliança
Abraâmica. Não foi concedida como um modo de vida (isto é, um meio de justificação,
Atos 15.10-11; Gl 2.16,21; 3.3-9, 14, 17, 21,24-25), mas uma regra devida para um
povo já dentro da aliança de Abraão e coberto pelo sangue do sacrifício, isto é, do
cordeiro pascal etc. Um dos seus propósitos foi o de esclarecer a pureza e santidade
que deveria caracterizar a vida de um povo, cuja lei seria ao mesmo tempo a lei de
Deus (Êx 19.5-6). Daí, a função da lei em relação à Israel foi de restrição disciplinar e
corretiva, como aquela exercida sobre os filhos gregos e romanos pelo escravo ou tutor
de confiança da casa (Gl 3.24, traduzido para “aio”) para manter Israel sob controle
para o seu próprio bem (Dt 6.24):
a) Até que Cristo viesse (Cristo é realmente o nosso Tutor, pois a graça que
nos salva também nos ensina, Gl 3.24; Tt 2.11-12).
b) Até que a ocasião designada pelo Pai para os herdeiros (filhos da promessa)
serem removidos da condição de menoridade legal para os privilégios de
herdeiros que atingiram a maioridade (Gl 4.1-3). Isto Deus fez enviando o
Seu Filho, e agora os crentes estão na posição de filhos na casa do Pai (Gl
3.26; 4.4-7).
Mas Israel interpretou mal o propósito da lei (1Tm 1.8-10), buscando a justiça através
de boas obras e ordenanças cerimoniais (At 15.1; Rm 9.31 – 10.3), e rejeitou o seu
próprio Messias (Jo 1.10-11). A história de Israel no deserto, na terra e dispersos entre
as nações, tem sido um registro longo de transgressão da lei.
Dada a Israel em três divisões, cada uma essencial às outras e juntas formando a
Aliança Mosaica, isto é, os mandamentos, expressando a justa vontade de Deus (Êx
20.1-26); os juízos, regulando a vida social de Israel (Êx 21.1-24.11); e as ordenanças,
governando a vida religiosa de Israel (Ex 24.12-31.18). Estes três elementos formam "a
lei", como essa expressão foi generalizadamente usada no Novo Testamento, (por
exemplo, Mt 5.17,18). Os mandamentos e as ordenanças formavam um sistema
religioso. Os mandamentos eram um "ministério da condenação" e "da morte" (2Co 3.7-
9); as ordenanças davam na pessoa do sumo sacerdote, um representante do povo
junto ao SENHOR; e, nos sacrifícios, uma
50
cobertura para os seus pecados em antecipação à cruz (Hb 5.1-3; 9.6-9; comp. Rm.
3.25-26). O cristão não está sob a condicional Aliança Mosaica das obras, a lei, mas
sob a Nova Aliança incondicional da graça (Rm 3.21-27; 6.14-15; Gl 2.16; 3.10-14,16-
18,24-26; 4.21-31; Hb 10.11-27). A lei não mudou a provisão da Aliança Abraãmica,
mas foi uma coisa acrescentada apenas por um tempo limitado até que viesse a
Semente (Gl 3.17-19).
Sobre a qual o futuro reino de Cristo, "o qual, segundo carne, veio da descendência de
Davi" (Rm 1.3), devia ser fundamentado, dava a Davi:
51
Salomão, cujo nascimento Deus predisse (2Sm 7.12), não recebeu a promessa de uma
semente perpétua, mas apenas a certeza de que:
Uma nova era foi anunciada por nosso Senhor Jesus Cristo em Mt 12.47-13.52. A Igreja
foi claramente profetizada por Ele em Mt 16.18 (comp. Mt 18.15-19), comprada pelo
derramamento do Seu sangue no Calvário (Rm 3.24-25; 1Co 6.20; 1Pe 1.18-19), e
constituída como Igreja depois de Sua ressurreição e ascensão no Pentecostes
quando, de acordo com a Sua promessa (Atos 1.5), os crentes foram pela primeira vez
batizados individualmente com o Espírito Santo. Por causa da ênfase dada ao Espírito
Santo, esta dispensação também tem sido chamada "dispensação do Espírito".
O Senhor Jesus advertiu que durante todo o período, enquanto a Igreja estiver sendo
formada pelo Espírito Santo, muitos rejeitarão o Seu Evangelho e muitos outros
pretenderão crer nEle e se tomarão uma fonte de corrupção espiritual e impedimento
para o Seu propósito nesta dispensação, na igreja professa. Estes produzirão a
apostasia, particularmente nos últimos dias (Mt 13.24-30,36-40,47-49; 2Ts 2.5-8; 1Tm
4.1-2; 2Tm 3.1; 4.3-4; 2Pe 2.1-2; 1Jo 2.18-20). A Dispensação da Igreja chegará ao fim
através de uma série de acontecimentos profetizados, o principal dos quais será:
53
c) A volta do Senhor Jesus do céu à terra em poder e glória, trazendo com Ele
a Sua Igreja, para estabelecer o Seu reino milenial de justiça e paz (Ap 19.11
e 17).
Esta é a última das dispensações ordenadas que condicionam a vida humana na terra.
É o Reino da Aliança feita a Davi (2Sm 7.8-17).
O Filho maior de Davi, o Senhor Jesus Cristo, reinará sobre a terra como Rei dos reis e
Senhor dos senhores por 1.000 anos, associando consigo mesmo naquele Reino, os
Seus santos de todas as dispensações (Ap 3.21; 5.9-10; 11.15-18; 15.3-4; 19.16;
20.4,6).
h) No final dos mil anos, Satanás é solto por um pequeno período e instiga uma
rebelião final que é sumariamente abafada pelo Senhor. Cristo lança
Satanás no lago de fogo para ser eternamente atormentado, derrota o último
inimigo - a morte - e então entrega o reino ao Pai (1Co 15.24).
f) Ela repousa sobre uma redenção consumada (Mt 26.27-28; 1Co 11.25; Hb
9.11-12,18-23). Tenha em mente que a mesma palavra grega (diathekê) foi
traduzida para "testamento" e "aliança" no N.T.
A mensagem da Bíblia é completa. Ela incorpora cada capítulo e cada versículo em sua
perfeita unidade, e todas as suas partes são interdependentes. O domínio de qualquer
parte exige o domínio do todo. Se houver tolerância de ênfase desproporcional ou
indulgência para com modismos nas doutrinas, pouco progresso se obterá na sua exata
compreensão. Os sessenta e seis livros, que por disposição divina formam este todo
incomparável, estão divididos em duas partes principais: o Antigo Testamento e o Novo
Testamento, e estes Testamentos se prestam ao esclarecimento de dois propósitos
divinos supremos: aquilo que é terreno e aquilo que é celestial. Os livros do Antigo
Testamento estão classificados em históricos: de Gênesis a Ester; poéticos: de Jó aos
Cantares de Salomão; e proféticos: de Isaías a Malaquias. Os livros do Novo
Testamento se classificam em históricos: de Mateus a Atos; epistolares: de Romanos a
Judas; e proféticos: o Apocalipse. No que se refere à Pessoa de Cristo (que é o tema
central de toda a Escritura), o Antigo Testamento é classificado como preparação; os
quatro Evangelhos como manifestação; os Atos como propagação; as Epístolas como
explanação; e o Apocalipse como consumação. A análise essencial de cada livro, cada
capítulo e cada versículo, pertence a outras disciplinas do treinamento do estudante e
não à Teologia Sistemática.
finais são idênticos em qualquer das versões acima mencionadas. Essas diferenças de
numeração em nada afetam o texto em si, e não poderia ser doutra forma, sendo a
Bíblia o Livro do Senhor!
a) As palavras em Itálico
b) O uso da margem
São preparados pelos editores, e nada têm com a inspiração e o texto original. As
exceções são algumas frases introdutórias de certos Salmos, como o 4, 5, 6, 7, 8, 9,
22, 32, 45, 46, 53, 56, 69, 75 etc. Tais sumários nem sempre correspondem aos
capítulos aos quais se referem. Há casos até negativos, como a parábola dos Dez
Talentos", quando não são dez; a "Parábola do Rico e Lázaro", quando não se trata de
parábola, e assim por diante.
59
Não vem do original. A primeira Bíblia que trouxe essa divisão foi a Vulgata, em 1555.
Em muitos casos, a divisão tanto em capítulos como em versículos, quebra o sentido,
parte o texto e altera toda a linha de pensamento. Exemplo de capítulos: Isaías 53, que
devia começar em Isaías 52.13, João 8, devia começar em João 7.53; 2 Reis 7 devia
começar em 2 Reis 6.24; o capítulo 3 de Colossenses devia terminar em Colossenses
4.1; Atos 5 devia começar em 4.36. Com a divisão em versículos, acontece a mesma
coisa, por exemplo: Efésios 1.5 devia começar com as duas últimas palavras de Efésios
1.4; 1 Coríntios 2.9 e 2.10 deviam formar um só versículo. Na Epístola aos Romanos,
bem como em Efésios, há diversos casos desses. Também a divisão em versículos não
é a mesma em todas as versões: Dn 3.24-30 da ARC, corresponde à Dn 3.91-97 na
Matos Soares; Lc 20.30 na ARC, corresponde à Lc 20.30,31 na “Brasileira".
O Salmo 2, por exemplo, contém 5 parágrafos, tendo cada um aplicação diferente (vv.
1-3, 4-6, 7-9, 10-12a; 12b). Uma versão em português que indica os parágrafos é a
ARA, com um tipo negrito cada vez que isso ocorre. Há versões em outras línguas que
dão tanta importância à essa divisão, que, para maior comodidade do leitor, imprimem
o próprio sinal gráfico para parágrafo.
60
Introdução
O Gênesis, primeiro livro da Bíblia, é o livro dos inícios, como diz o seu nome (grego)
que significa "origem". Trata da criação de uma maneira geral. Fala da origem do
homem e da mulher. Explica como as coisas começaram a ir mal e apresenta as boas
intenções de Deus em relação à sua criação. O livro está dividido em duas grandes
partes. Os caps. 1 - 11 narram a história da criação do mundo e da raça humana.
Lemos sobre Adão e Eva, Caim e Abel, Noé e o dilúvio, e a torre de Babel. A criação de
Deus foi progressivamente deteriorada pelo egoísmo, o orgulho e a maldade humana.
O livro fala das origens do pecado e do sofrimento, bem como da promessa de
esperança feita por Deus. Os caps. 12 - 50 passam da história geral da humanidade
para a de uma pessoa, Abraão, e sua família. Abraão acreditou e obedeceu a Deus,
que o escolheu para fundar a nação de Israel. Seguem-se as histórias de Isaac, seu
filho, de Jacó (também conhecido como Israel), seu neto, e dos doze filhos deste, que
são os fundadores das doze tribos de Israel. Depois da narrativa concentra-se num dos
filhos de Jacó: José, que é feito prisioneiro no Egito, para onde mais tarde emigra toda
a sua família. O livro termina com a promessa de Deus de cuidar do seu povo. Todos
os capítulos mostram um Deus ativo, que julga e pune as pessoas que fazem o mal,
que guia e conserva o seu povo, moldando a sua história. O Gênesis narra a história de
alguns grandes homens de fé.
A palavra êxodo vem do grego e significa "saída". O livro do Êxodo narra como o povo
de Israel saiu do Egito, onde era escravo, e emergiu como nação livre, com uma
esperança para o futuro. A figura central é Moisés, o grande líder de Israel, chamado
por Deus para conduzir o povo para fora do Egito. O Êxodo divide-se em três partes:
Caps. 1-18: o povo hebreu é libertado da escravidão no Egito. Moisés conduz os
israelitas através do deserto até o monte Sinai. Caps. 19 - 24: Deus faz um pacto com o
seu povo no Sinal. Dá-lhe normas segundo as quais deve viver, tan-to no deserto como
depois que tiver entrado na Terra Prometida. Estas normas estão resumidas nos dez
mandamentos, no capítulo 20. As leis de Deus abrangem a
62
O livro dos Números conta a história de Israel em sua peregrinação de quase quarenta
anos pelo deserto do Sinal. Começa no terceiro ano depois da fuga do Egito e termina
um pouco antes da entrada em Canaã, a terra que Deus tinha prometido ao seu povo.
O título Números provém das duas "enumerações" (recenseamento) dos israelitas no
monte Sinai e nas estepes de Moab, perto do rio Jordão e de Jericó. Entre os dois
recenseamentos os israelitas estabeleceram-se por algum tempo no oásis de Cades-
Barnéia e depois seguiram para uma região a leste do Jordão. O livro dos Números é a
longa e triste história das queixas e do
63
Consiste de uma série de discursos de Moisés aos israelitas nas estepes de Moab,
pouco antes da entrada na Terra Prometida. O nome do livro significa "segunda outorga
da lei". Mas na verdade trata-se de nova confirmação das leis dadas por Deus no Sinai
(registradas no Êxodo, Levítico e Números) e sua aplicação à vida sedentária na terra
de Canaã. No decorrer de seus discursos Moisés repete os grandes eventos dos
últimos quarenta anos. Reitera e destaca os dez mandamentos e nomeia Josué seu
sucessor para conduzir os israelitas. O grande tema do Deuteronômio é que Deus
salvou e abençoou seu povo, e este deve sempre lembrar-se disso, amá-lo e obedecer-
lhe. As palavras que Jesus classificou de o maior mandamento: "Amarás a Yahweh teu
Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força", são do
Deuteronômio (Dt 6.4-5; Mt 22.37).
64
Introdução
São 12 livros os livros históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2
Reis, 1 Crônicas, 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester. Esta seção, que na Bíblia
hebraica vai de Josué a Ester, abrange o tempo da conquista, o tempo dos reis, o exílio
e o retorno. Está dividida em duas partes. A primeira, isto é, Josué, Juízes, Samuel e
Reis, têm o título de "Primeiros Profetas" da Bíblia hebraica. A segunda parte, ou seja,
Crônicas, Esdras e Neemias, estavam incluídos nos chamados “Escritos". As duas
partes juntas cobrem cerca de 800 anos da história de Israel, do século XIII ao século V
a.C. Estes livros foram escritos não simplesmente como história da nação, mas para
mostrar como o plano e a mensagem de Deus foram cumpridos na vida de Israel.
65
O livro de Josué conta como Israel invadiu Canaã sob o comando de Josué, sucessor
de Moisés. Os caps. 1-12 falam da conquista de Canaã, ocorrida provavelmente após
1240 a.C. Estas narrativas poderão ter sido escritas pela primeira vez na época de
Samuel, embora o livro como um todo seja parte da grande "história deuteronômica",
que vai de Josué a 2 Reis. Não sabemos quem escreveu o livro. A narrativa
compreende a travessia do Jordão, a queda da cidade de Jericó e a batalha de Ai. Os
caps. 13-22 contam como os israelitas dividiram entre si e ocuparam as terras
conquistadas. Os últimos dois capítulos (23-24) trazem o discurso de despedida de
Josué e a renovação da aliança com Deus e da sua promessa ao povo em Siquém.
O livro dos Juízes é uma coletânea de narrativas referentes aos dois séculos
turbulentos, que vão desde o tempo da conquista de Canaã até pouco antes da
coroação do rei Saul, isto é, aproximadamente de 1200 a 1050 a.C. Os "Juízes" eram
heróis locais das tribos de Israel, geralmente chefes militares, cujos feitos são narrados
no livro. Incluem figuras como Débora, Gideão e Sansão. Neste período só a fé comum
em Deus manteve de certo modo unidas as tribos de Israel. Quando seguiam os
deuses locais, caíam em divisão, tornavam-se fracas e acabavam sendo presas dos
cananeus.
A maravilhosa história de Rute contrasta com os tempos violentos do livro dos Juízes
em que se situa. Rute, mulher moabita, desposara um israelita. Quando o marido
morreu, ela demonstrou inesperada lealdade para com a sogra israelita e confiou no
Deus de Israel. Por fim encontrou novo marido entre os parentes do falecido esposo e
através deste casamento tornou-se bisavó do rei Davi e antepassada do próprio
66
Jesus. Embora a religião passasse por crise generalizada naquela época, o livro de
Rute exalta a fé de pessoa comum, uma estrangeira que se convertera ao Deus de
Israel.
Estes dois livros narram a história de Israel desde Samuel até os últimos anos de Davi.
Tomam o nome do último grande Juiz, Samuel, não porque este os escreveu, mas
porque a sua figura domina os primeiros capítulos. Originalmente era um único livro na
Bíblia hebraica. Samuel ungiu os dois primeiros reis de Israel - Saul e Davi - como
escolhidos de Deus. Os dois cobrem aproximadamente o período de 1075-975 a.C. O
autor várias vezes se refere ao reino separado de Judá. Isso indica que a redação final
da obra deve ter ocorrido depois de 900 a.C. Mas contém muito material
contemporâneo dos eventos descritos, especialmente a história das intrigas da corte de
Davi em 2Sm 9-20, que muitos estudiosos acreditam ser obra de secretários
profissionais da corte, que foram testemunhas do que escreveram. Os livros de Samuel
tratam principalmente da história da ação de Deus em relação à nação de Israel. 1
Samuel conta como Israel passou do governo dos juízes para o regime dos reis. Caps.
1-8: os anos de Samuel como Juiz de Israel. Caps. 9–15: história de Saul, primeiro rei
de Israel. Caps. 16-30: As relações entre Davi e Saul. O livro termina (cap.31) com a
morte de Saul e de seus filhos. Ainda que agora o povo tivesse um rei, tanto este como
o povo são vistos sob a condução e o juízo de Deus. 2 Samuel narra a história de Davi
rei, primeiro de Judá ao sul (caps. 1 - 4), depois de todo o país, inclusive da parte que
posteriormente será o reino setentrional de Israel. Lemos como o rei Davi expandiu o
seu reino e se tornou soberano poderoso. Davi era homem de profunda fé em Deus e
muito popular. Mas às vezes era cruel e impiedoso para conseguir o que queria, por
exemplo, no caso da sua determinação de ter para si Bate-Seba, mulher de um dos
seus oficiais.
Os dois livros dos Reis abrangem cerca de 400 anos da história de Israel, desde a
morte de Davi até a destruição de Jerusalém em 587 a.C. Não sabemos quem foi o
67
autor deles, mas à semelhança de 2 Samuel, é certo que contêm informações tiradas
de documentos da corte, contemporâneos aos fatos descritos. Provavelmente
passaram por várias edições e revisões até receberem sua forma final durante o exílio
em Babilônia (587-539 a.C.). 1 Reis pode ser dividido em duas partes: Caps. 1-11:
Salomão sucede ao seu pai Davi como rei de Israel e Judá. O período áureo do seu
reinado viu a construção do templo de Jerusalém. Caps. 12 - 22: a nação divide-se,
dando origem ao reino de Israel (norte) e ao reino de Judá (sul). O livro narra a história
dos reis dos dois reinos, entre os quais Jeroboão (Israel), Roboão (Judá), Acabe
(Israel), Josafá (Judá) e Acazias (Israel). Os profetas de Deus anunciam com coragem
a sua palavra numa época em que as pessoas se voltam para outros deuses. O maior
dentre eles é Elias, cuja disputa com os profetas de Baal no monte Carmelo é narrada
em 1Rs 18. 2 Reis continua a história dos dois reinos no ponto em que termina 1 Reis,
e igualmente se divide em duas partes. Caps. 1-17: a história dos dois reinos desde a
metade do século IX a.C. até a derrota do reino setentrional pela Assíria e a queda de
Samaria em 722 a.C.
Neste período destaca-se o profeta Eliseu, sucessor de Elias, como mensageiro de
Deus. Caps. 18 - 25: a história do reino de Judá desde a queda do reino de Israel até a
destruição de Jerusalém pelo rei de Babilônia, Nabucodonosor, em 587 a.C. São
destacados os reinados de dois grandes reis: Ezequias e Josias. Nos dois livros dos
Reis, os soberanos de Israel são julgados com base na sua fidelidade a Deus. O país
prospera quando o rei é leal, e entra em decadência quando o rei presta culto a outros
deuses. Segundo este modelo, todos os reis do reino do norte representam um
fracasso.
À primeira vista os livros das Crônicas parecem uma repetição simplificada dos livros
de Samuel e dos Reis. Na verdade, o autor reescreve a história para leitores que já
conheciam esses livros. Mas tinha dois motivos principais para dar sua própria versão
da história dos reis de Israel. Queria mostrar que, apesar dos desastres que atingiram
Israel, Deus mantém a sua promessa de cuidar do seu povo. Para isso, concentrou a
atenção nos reinados gloriosos de Davi e Salomão e nos bons governos dos reis
Josafá, Ezequias e Josias. Queria descrever como começou o culto do templo em
Jerusalém, explicar os deveres dos sacerdotes e dos levitas, e mostrar que Davi foi o
verdadeiro fundador do templo (ainda que de fato tivesse sido
68
Neemias, um exilado judeu, teve permissão do rei persa Artaxerxes de voltar com um
grupo de judeus a Jerusalém em 445 a.C. O livro que tem seu nome, escrito como
memória pessoal, apresenta-o como líder nato, e pessoa que confiava plenamente em
Deus e para quem orar era coisa tão natural como respirar. Também este livro pode ser
dividido em três partes: Caps. 1-7: Neemias retoma a Jerusalém, encoraja o povo a
reconstruir os muros da cidade para defender-se de feroz oposição e introduz reformas
religiosas que se faziam urgentes. Caps. 8-10: Esdras proclama a lei de Deus diante do
povo que, profundamente comovido, confessa sua infidelidade e volta novamente a
Deus. Caps. 11-13: atividades de Neemias como governador de Judá, nomeado pelo
rei da Pérsia.
69
Introdução
Escritos deste tipo encontram-se também em outras partes do Antigo Testamento, sob
formas diversas, como fábulas, ditados populares e regras gerais de vida. De maneira
geral, tratam da vida cotidiana, da boa conduta, das virtudes que se devem cultivar e
dos vícios que se deve evitar. A maior parte dos conselhos é fruto do bom senso
baseado na experiência. Mas alguns tratam de temas importantes. Os livros de Jó e
Eclesiastes tratam de problemas muito sérios (como o sofrimento) e discutem-no a
fundo. Entre os livros sapienciais incluem-se também os Salmos e o Cântico dos
Cânticos.
71
6.1 O Livro de Jó
O salmo mais antigo conhecido vem de Moisés, no século XV a.C. (Sl 90); os mais
recentes provêm dos séculos VI e V a.C. (por exemplo, Sl 137). A maioria dos salmos,
no entanto, foi escrita no século X a.C., durante a era áurea da poesia em Israel. Os
títulos descritivos que precedem a maioria dos salmos, embora não pertençam ao texto
original, logo não inspirados, são muito antigos (anteriores à Septuaginta) e
importantes.
O Antigo Testamento hebraico era em regra dividido em três partes: a Lei, os Profetas e
os Escritos (confronte Lc 24.44). Na terceira parte estavam os livros poéticos e
sapienciais, a saber: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes etc. Semelhantemente, o
Israel antigo tinha três categorias de ministros: os sacerdotes, os profetas e os sábios.
Estes últimos eram especialmente dotados de sabedoria e conselho divinos a respeito
de princípios e práticas da vida.
O ensino mediante provérbios era popular naqueles antigos tempos, em virtude da sua
grande clareza e facilidade de memorização e transmissão de geração em geração.
Assim como Davi é o manancial da tradição sal módica em Israel, Salomão é o
manancial da tradição sapiencial em Israel (ver Pv 1.1; 10.1; 25.1). Conforme 1Rs 4.32,
Salomão produziu 3.000 provérbios e 1.005 cânticos.
73
Outros autores mencionados por nome em Provérbios são Agora (Pv 30.1-33) e o rei
Limou (Pv 31.1-9), ambos desconhecidos.
Introdução
São 17 livros chamados proféticos, que vão de Isaías a Malaquias. Estão subdivididos
em Profetas Maiores e Profetas Menores, sua composição é: Profetas Maiores: Isaías,
Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel e Daniel; Profetas Menores: Oséias,
Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e
Malaquias.
Isaías viveu no século VIII a.C. O livro que trás o seu nome é dos mais impressionantes
do Antigo Testamento. Pinta com cores fortes o poder de Deus e contém mensagem de
esperança para o seu povo. O chamado de Isaías para a função de profeta é descrito
no cap. 6. Ele profetizou durante mais de quarenta anos. Os caps. 1 - 39 pertencem ao
período em que o reino de Judá foi ameaçado pela Assíria, o grande império do mundo
bíblico de então. Mas Isaías proclamou que o perigo real para a nação estava nos seus
pecados e na sua desobediência a Deus. O povo não confiava em Deus e o profeta
convidou-o a voltar a ele, a restabelecer a justiça e a agir corretamente. Se não
prestasse ouvidos, Judá seria destruído. Isaías também voltou os olhos para o futuro,
época em que em todo o mundo reinaria a paz. Um descendente do rei Davi tornar-se-
ia o rei ideal que cumpriria a vontade de Deus. Os caps. 40 - 55 tratam da volta do
exílio de Babilônia. O povo tinha perdido toda esperança, mas o profeta lhe fala de um
tempo em que Deus o libertaria e reconduziria a Jerusalém. Enfatiza o fato de que Deus
controla a história e acena ao plano divino de utilizar a nação de Israel para levar a
esperança a todos os povos. Esta parte do livro inclui certo número de passagens em
que o profeta, olhando para o futuro, fala da vinda do “Servo de Iahweh”, portador de
esperança para a nação. Os caps. 56 - 66 formam seção separada, dirigida
principalmente aos judeus que voltaram a Jerusalém.
Jeremias viveu cerca de cem anos depois de Isaías, tendo sido chamado por Deus à
vocação de profeta em 627 a.C. e morrido pouco depois de 587 a.C. Na sua época, a
Assíria, a superpotência do norte, entrava em decadência. A nova ameaça do
76
reino de Judá era Babilônia. Por quarenta anos advertiu o povo sobre o futuro juízo de
Deus, que o castigaria, por causa da sua idolatria e do seu pecado. Por fim suas
palavras cumpriram-se. Em 587 a.C. o exército babilônico, conduzido por
Nabucodonosor, destruiu Jerusalém e o templo, levando muitos judeus para o exílio.
Jeremias recusou a oferta para ir viver comodamente na corte babilônica e
provavelmente morreu no Egito. Os caps. não seguem a ordem cronológica dos fatos.
O livro começa com a descrição da vocação de Jeremias. Os primeiros 25 caps.
contêm mensagens de Deus dirigidas a Judá durante os reinados dos últimos reis:
Josias, Joacaz, Jeoaquim, Joaquim (filho deste) e Zedequias. Os caps. 26 - 45 narram
acontecimentos da vida de Jeremias e incluem algumas outras profecias. Os caps. 46 -
51 trazem as mensagens enviadas por Deus a diversas nações estrangeiras. Os
capítulos finais descrevem a queda de Jerusalém e o exílio em Babilônia. Jeremias
tornou-se muito impopular e foi acusado de traição, porque exortava o povo a render-se
aos babilônios. Mas ele amava o seu povo e sofria por ser obrigado, pela sua dramática
missão, a anunciar o juízo de Deus. Era muito inseguro de si, mas jamais traiu a
mensagem que Deus lhe confiara. Embora seja lembrado pelo seu pessimismo,
também teve palavras de esperança e prometeu que, depois do obscuro período do
exílio, Deus reconduziria o seu povo de volta à pátria.
O livro das Lamentações é uma coletânea de cinco poemas, que choram a queda de
Jerusalém em 587 a.C. e o exílio. O templo tinha sido destruído e a nação via nisso um
sinal de que Deus a tinha entregado aos inimigos. O profeta chora o pecado do seu
povo. O livro é principalmente um lamento. Mas também contém promessa de
esperança. A obra ainda continua sendo lida em voz alta nas sinagogas em julho de
cada ano, quando os judeus recordam a destruição do templo em 587 a.C. e em 70
d.C.
77
O profeta Ezequiel foi levado para o exílio em Babilônia no ano de 597 a.C. e ali viveu
antes e depois da queda de Jerusalém em 587 a.C. Foi chamado para a missão de
profetizar aos trinta anos de idade e dirigiu sua mensagem tanto aos exilados em
Babilônia, quanto ao povo que ainda vivia na longínqua Jerusalém. Quando recebeu o
chamado profético também teve uma vívida visão da santidade de Deus (caps. 1-3),
que influenciou toda a sua vida. Os caps. 4-24 prevêem o juízo divino sobre Israel:
Jerusalém será destruída. Ezequiel também anunciou o juízo de Deus contra as nações
que ameaçavam o seu povo (caps. 25-32). Depois da queda de Jerusalém em 587 a.C.
mudou o tom de sua mensagem (caps. 33-39), levou conforto ao povo e fez brilhar a
promessa e a esperança para o futuro: Deus haveria de libertar Israel. Finalmente
descreveu as visões que teve sobre o futuro, em que o povo ofereceria a Deus culto
perfeito em templo novo (caps. 40-48). Ezequiel sublinhou a responsabilidade individual
diante de Deus e a renovação do povo partindo do coração.
Daniel é apresentado como exilado de Judá que viveu na corte babilônica no tempo de
Nabucodonosor e seus sucessores. Na verdade, parece mais homem de Estado que
profeta. O livro que leva seu nome foi escrito no momento em que o povo judeu estava
oprimido, talvez durante a perseguição Babilônica sob o domínio de Nabucodonosor.
Os caps. 1-6 narram episódios da vida de Daniel e alguns amigos seus, exilados na
época do império babilônico e persa. Porque confiaram em Deus e a ele obedeceram a
qualquer preço, triunfaram dos seus inimigos. O restante do livro contém uma série de
visões do profeta (caps. 7-12), que descrevem em termos figurativos o nascimento e a
queda dos impérios. Os perseguidores pagãos cairão e o povo de Deus sairá vitorioso.
A versão grega da Setenta e, conseqüentemente, a Bíblia católica, tem mais dois caps.,
13-14, que, entre outras coisas, contam a história da casta Susana injustamente
acusada, mas salva por Daniel.
78
Oséias viveu mais ou menos na época de Isaías, no século VIII a.C., no reino de Israel.
Profetizou durante os tormentosos 40 anos que antecederam a queda de Samaria em
722 a.C.. Israel teve seis reis no espaço de vinte anos e freqüentemente contemporizou
com as religiões pagãs. O profeta preocupou-se muito com a idolatria e pintou a
infidelidade de Israel com imagens tiradas do seu próprio casamento com mulher infiel
(caps. 1 - 3). O juízo de Deus virá, mas no fim o seu amor saberá reconquistar o povo.
Os caps. 4 - 13 contêm as mensagens que dirigiu a Israel. Mostram como Deus estava
irado, mas ao mesmo tempo não conseguia esquecer o seu amor ao povo. O capítulo
final implora a Israel que volte a Deus.
Não conhecemos nada sobre este profeta, nem sabemos em que tempo viveu. Talvez
tenha vivido depois do exílio. Seu livro fala de exército de gafanhotos que devoram as
colheitas e de seca desastrosa. Trata-se de imagens do iminente juízo de Deus sobre
aqueles que lhe desobedecem, imagens do “dia do Senhor”. Joel convida o povo a
voltar-se a Deus, que renovará todas as coisas e enviará o seu Espírito sobre todo o
povo.
Amós era originário de uma cidade de Judá, mas dirigiu sua mensagem ao reino do
norte de Israel. Viveu no século VIII a.C., durante o reinado de Jeroboão II de Israel. Foi
pastor e cultivador de uma espécie de figueiras. Naquela época Israel vivia em grande
prosperidade e riqueza, o reino também parecia religioso. Mas Amós condenou a sua
hipocrisia. Os pobres eram oprimidos e a religião era apenas fachada. Era necessário
um homem corajoso pala denunciar a nação em nome de
79
Deus, e Amós desejou que a justiça “corresse como rio”. Em 722 a.C. os assírios
destruíram Samaria e levaram o povo ao exílio. Os primeiros 6 caps. do livro de Amós
contêm os juízos pronunciados por Deus sobre Israel e seus vizinhos. OS caps. 7-9
apresentam a descrição de cinco visões. O profeta Amós era pastor.
O livro de Obadias é o mais curto do Antigo Testamento e foi escrito depois da queda
de Jerusalém em 587 a.C. Os edomitas, antigos inimigos de Judá que habitavam as
montanhas a sudeste do mar Morto, aproveitaram a ocasião para invadir o país.
Obadias condenou o orgulho de Edom e profetizou a sua derrota. No século V a.C. os
árabes derrotaram os edomitas; no século III a.C. foi a vez de os nabateus os
subjugarem; finalmente desapareceram da história. Por outro lado, Obadias profetiza o
retorno de Israel à sua pátria.
Diversamente dos outros livros proféticos, o de Jonas tem a forma de uma história.
Descreve as aventuras um tanto fabulosas, mas de cunho moral, de um profeta que
tentou desobedecer às ordens de Deus. Jonas recebera de Deus a incumbência de ir a
Nínive, capital da Assíria, e de converter o seu povo. Finalmente Jonas anunciou a
mensagem e ficou desgostoso quando Deus perdoou a cidade, grande inimiga de
Israel. O livro mostra o amor e a bondade de Deus, que prefere esquecer e salvar a
punir e destruir.
Deus viria sobre Samaria e Jerusalém. Mas também teve palavras de esperança,
prometendo que Deus estabeleceria a paz universal e que da família de Davi surgiria
um grande rei, portador da paz. Um dos versículos do seu livro resume grande parte da
mensagem dos profetas: “O que Yahweh exige de ti: nada mais do que praticar o
direito, gostar do amor e caminhar humildemente com o teu Deus!” (Mq 6.8).
O livro de Naum consiste num poema. O profeta prediz que Nínive cairá e regozija-se
pelo juízo de Deus contra uma nação cruel e arrogante. De fato, Nínive caiu nas mãos
dos babilônios e dos medos em 612 a.C. Provavelmente o livro foi escrito nessa época.
Este livro é do fim do século VII a.C., quando Jeremias profetizava em Jerusalém.
Era a época dos cruéis babilônios. O profeta pergunta a Deus: “Por que contemplas os
traidores, silencias quando um ímpio devora alguém mais justo do que ele?” (Hb
1.13). Deus responde que intervirá no momento oportuno e punirá os malfeitores. O
livro termina com a advertência e a oração do profeta justo, que se alegra sabendo que
Deus tem o controle de tudo.
Ageu, Zacarias e Malaquias, os três últimos livros do Antigo Testamento, são da época
em que os judeus haviam voltado do exílio, sob a liderança de Esdras e Neemias. Após
os primeiros esforços para reconstruir o templo destruído pelos babilônios em 587 a.C.,
haviam interrompido a obra. O livro de Ageu é coleção de breves mensagens “do
Senhor” comunicadas por meio do profeta em 520 a.C. O profeta convida seus
conterrâneos a estabelecerem as prioridades justas. É necessário concluir a
reconstrução do templo. Deus concederá paz e prosperidade se o povo esquecer suas
preocupações egoísticas e puser em primeiro lugar aquilo que deve ter primazia.
O Novo Testamento têm 27 livros. Foi escrito em grego, não no grego clássico dos
eruditos, mas no do povo comum, chamado Koiné. Seus 27 livros também estão
classificados em 4 grupos, conforme o assunto a que pertencem: BIOGRAFIA. São os 4
Evangelhos; HISTORIA. É o livro de Atos dos Apóstolos. EPÍSTOLAS. São 21 as
epístolas ou cartas. Vão de Romanos a Judas. 9 são dirigidas a igrejas (Romanos a 2
Tessalonicenses); 4 são dirigidas a indivíduos (1 Timóteo a Filemom); 1 é dirigida aos
hebreus cristãos; 7 são dirigidas a todos os cristãos, indistintamente (Tiago a Judas);
PROFECIA. É o livro de Apocalipse ou Revelação. Trata da volta pessoal do Senhor
Jesus a Terra e das coisas que precederão esse glorioso evento.
19.46. Algumas parábolas de Jesus incluídas nesta parte são exclusivas de Lucas,
como a do bom samaritano, a do filho pródigo e a do rico insensato. A última semana
de Jesus em Jerusalém é narrada de 19.47 a 23.56. Finalmente, o cap. 24 conta como
Jesus ressuscitou e voltou ao céu.
O livro dos Atos continua a história iniciada no evangelho de Lucas, sendo obra do
mesmo autor. Fala principalmente dos “atos” dos apóstolos Pedro e Paulo. Por causa
da ênfase dada ao poder de Deus, às vezes é com razão chamado de “Atos do Espírito
Santo”. Conta como os discípulos de Jesus difundiram a boa nova primeiramente em
Jerusalém e depois nas regiões circunjacentes da Judéia e de
Samaria, até “aos confins do mundo”. Cobre um período de cerca de trinta anos, desde
o início da Igreja, no dia de Pentecostes, até a prisão de Paulo em Roma. Os Atos
foram escritos entre 60 e 85 d.C. Os primeiros sete capítulos descrevem como o
movimento cristão teve inicio na própria Jerusalém com a vinda, em poder, do Espírito
Santo no dia de Pentecostes. O grupo cristão começou a cumprir a ordem de Jesus de
ensinar e pregar. A Igreja crescia e se difundia. Esta parte também descreve como
Estêvão, um dos primeiros cristãos, morreu pela sua fé. Os caps. 8-12 narram como o
cristianismo, inicialmente devido à perseguição, propagou-se na Judéia (região em
torno de Jerusalém) e na Samaria (onde pessoas pertencentes a uma nação inimiga e
desprezada pelos judeus foram acolhidas com alegria na Igreja). A dramática
conversão de Saulo (ou Paulo) na estrada de Damasco 'é seguida da narrativa de como
Pedro entendeu que a mensagem cristã era destinada a todas as nações e não só aos
judeus. A parte restante do livro trata das atividades missionárias de Paulo e das suas
viagens pelo mundo mediterrâneo, dos seus processos e da sua prisão em Roma
(caps. 13-28).
87
9 - EPÍSTOLAS PAULINAS
Introdução
Quem foi esse homem chamado Paulo? O próprio Paulo apresenta um esboço
rudimentar de sua origem e formação, mas em suas Epístolas, esses dados acham-se
dispersos. Os detalhes históricos básicos estão convenientemente agrupados nos
discursos que Paulo proferiu (relatados por Lucas) diante de uma multidão hostil de
judeus nos degraus do templo (At 22.1-21), do rei Agripa II e do procurador Romano
Festo (At 26.2-23).
Paulo escreveu esta carta aos cristãos de Roma em torno do ano 57 d.C., depois das
chamadas três viagens missionárias principais. Ainda não tinha viajado a Roma, mas
pretendia fazê-lo. Enviou assim a famosa epístola a fim de preparar a comunidade
cristã da capital do mundo, comunidade da qual conhecia alguns membros (cf. cap. 16),
para a sua visita. A carta expõe amplamente a concepção paulina da mensagem cristã,
e foi redigida depois das cartas aos Tessalonicenses, aos Gálatas e aos Coríntios.
Poderíamos defini-la como o manifesto de Paulo, pois nos dá a conhecer de maneira
mais completa, clara e raciocinada, o seu modo de entender as verdades cristãs
fundamentais. Começa saudando os cristãos de Roma e lhes anuncia aquilo que será a
base da sua carta: “... porque nele a justiça de
Deus se revela da fé para a fé, conforme está escrito: 'O justo viverá da fé'“ (Rm 1.17).
A seguir demonstra que todos, judeus e não-judeus, precisam de Deus por causa de
seus pecados. Podemos ser justificados perante Deus pela fé em Jesus Cristo (caps. 3-
4). O perdão gratuito e a nova vida dada por Deus mediante Cristo, a importância das
leis divinas e da ação do Espírito divino na vida de todo cristão constituem o objeto dos
caps. 5-8, enquanto os caps. 9-11 tratam da posição atual de Israel no plano de Deus.
Paulo acha que os judeus não rejeitarão Jesus para sempre. Depois continua (caps. 12-
15) com algumas francas exortações a propósito do comportamento dos cristãos:
relações com as autoridades, deveres recíprocos e modo de viver num mundo não-
cristão. Por fim esclarece algumas complicadas questões de consciência. A carta
termina de maneira característica, com saudações pessoais a amigos e palavras de
louvor a Deus (cap. 16).
89
Foi escrita por Paulo aos cristãos de Corinto, cidade grega fervilhante de gente das
mais variadas nacionalidades e notória pelo seu comércio, sua cultura, suas muitas
religiões e pela sua imoralidade. A Igreja de Corinto fora fundada pelo Apóstolo durante
a sua permanência de dezoito meses na cidade, no decurso da segunda viagem
missionária. Agora Paulo recebia más notícias e, quando alguns membros chegaram de
Corinto para pedir-lhe conselhos, entregou-lhes esta carta importante, que trata das
principais questões daquela comunidade eclesial: divisões (caps. 1-4), problemas
morais e de vida familiar (caps. 5-7), inclusive um caso de incesto e de cristãos que
intimavam a juízo outros cristãos perante tribunais pagãos. Paulo também resolveu um
problema de consciência que preocupava os cristãos a respeito do alimento (caps. 8-
10). A maior parte da carne vendida no comércio tinha sido oferecida antes aos ídolos.
Era permitido comê-la? Os caps. 11-14 propõem princípios para culto ordenado na
igreja, especialmente durante a ceia do Senhor. Tratam também dos dons especiais
concedidos por Deus ao seu povo. A carta delineia um quadro claro, nem sempre
edificante, do modo como os primeiros cristãos se reuniam e se comportavam. Explica
também o sentido da ressurreição de Jesus e de todos aqueles que morrem confiando
nele (cap. 15). No último capítulo o Apóstolo fala à igreja de Corinto sobre uma coleta
que faz para os cristãos pobres da Judéia e termina com saudações pessoais. O
capítulo 13 em louvor da caridade, o dom mais precioso concedido por Deus ao seu
povo, é um dos textos paulinos mais famosos.
Paulo ditou-a cerca de um ano depois da primeira (em torno de 56 d.C.), num momento
em que as relações entre ele e a Igreja de Corinto tinham chegado a ponto crítico.
Durante aquele ano alguns cristãos daquela comunidade tinham-no atacado duramente
e, ao que parece, Paulo lhes fizera curta visita. A carta mostra o seu grande desejo de
estar bem com esta igreja. Nos caps. 1-7 recorda a história das suas relações com a
comunidade de Corinto, explica o sentido das palavras severas usadas anteriormente,
manifesta sua gratidão pelas mudanças verificadas e se propõe fazer a terceira visita,
mais tranqüila. A seguir pede aos destinatários que
90
Esta carta representa um dos primeiros esboços do pensamento paulino, mais tarde
desenvolvido na carta aos Romanos. Talvez seja de aproximadamente 57 d.C. (outros
pensam que foi escrita cerca de dez anos antes). Foi enviada a um grupo de igrejas da
província romana da Galácia (atual Turquia central), algumas das quais foram visitadas
por Paulo. Ele havia-lhes ensinado que o dom divino da nova vida era destinado a
todos que cressem e muitos ouvintes haviam correspondido. Mas depois vieram
doutores judeus afirmando que os cristãos deviam observar as leis do Antigo
Testamento. Por isto a carta responde a uma pergunta de vital importância: Os não-
judeus devem obedecer à lei judaica de Moisés para serem verdadeiros cristãos? Paulo
começa defendendo o seu direito de apóstolo, que fala com autoridade divina, investido
de missão especial junto aos não-judeus (caps. 1-2). A seguir argumenta (caps. 3-4):
Somos justificados unicamente pela fé em Cristo. A vida nova é dom de Deus para
todos aqueles que crêem. Nada podemos fazer para ganhá-la por nós mesmos. Conclui
mostrando que a conduta dos cristãos deriva do amor, que é fruto da fé em Cristo
(caps. 5-6). A carta aos Gálatas é uma peroração sobre a liberdade cristã: “É para a
liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis
prender de novo ao jugo da escravidão” (Gl 5.1).
Paulo fundou a igreja grega de Filipos, a primeira igreja da Europa, em torno do ano 50
d.C. Escreveu esta carta da prisão, segundo alguns, de Roma, em torno de 61-63 d.C.,
segundo outros, de Éfeso, cerca de 54 d.C. Explica a sua situação aos filipenses e
agradece-lhes pelos presentes enviados. Exorta-os a perseverarem na fé, a não serem
orgulhosos e a seguirem o exemplo de Jesus, que “foi humilde e percorreu o caminho
da obediência”. Descreve a alegria e a paz daqueles que confiam em Cristo. Embora
estivesse preocupado com os falsos doutores que agiam na igreja de Filipos,
transparece claramente o seu afeto por aqueles cristãos. Não obstante o fundo escuro
da prisão, a carta está cheia de alegria, de confiança e de esperança cristã.
Paulo ditou na prisão esta carta aos cristãos de Colossos, provavelmente em Roma,
em torno do ano 61 d.C. ainda que não tivesse fundado esta igreja (região ocidental da
Turquia), preocupava-se com ela, porque quem a iniciou foi um dos seus
92
Tessalônica era a capital da província romana da Macedônia. Paulo fundara uma igreja
aí durante a sua segunda viagem missionária. Depois de ter chegado a Corinto, soube
através de Timóteo que os judeus continuavam a criar problemas por causa do grande
interesse dos não-judeus pela mensagem de Paulo. Em resposta, Paulo escreveu esta
carta. É uma das suas primeiras cartas que nos foi conservada, tendo sido escrita em
torno do ano 50 d.C., apenas vinte anos depois da morte de Jesus. Paulo procura
encorajar e tranqüilizar os cristãos de Tessalônica. Agradece a Deus pelas boas
notícias recebidas a respeito deles e lembra a sua visita (caps. 1-3). Exorta-os a viver
de modo a agradecer a Deus (1Ts 4.1-12) e trata de alguns problemas sobre a
esperada volta de Jesus (1Ts 4.13–5.11). Quando retomará? O que acontecerá aos
cristãos antes da sua volta? Termina a carta com algumas instruções práticas, oração e
saudações (1Ts 5.12-28).
Apesar da primeira carta de Paulo (1ª Carta aos Tessalonicenses, acima), os cristãos
de Tessalônica continuavam confusos quanto à volta de Jesus. Alguns pensavam que o
dia do seu retorno já tinha chegado. Nesta segunda carta, escrita poucos meses depois
da primeira, Paulo lembra que a volta de Jesus será precedida
93
por um tempo de grande maldade (cap. 2). Termina exortando os cristãos a guardar a
fé e a trabalhar (cap. 3).
Timóteo era um jovem cristão, filho de pai grego e mãe judia, originário de Listra, cidade
da província da Galácia (região central da Turquia). Viajou com Paulo e ajudou nas
suas viagens missionárias posteriores. Era tímido e não gozava de boa saúde,
necessitando de ser encorajado e apoiado. Quando Paulo lhe escreveu, Timóteo
cuidava da igreja de Éfeso. A carta dá muitos conselhos e orientações para a vida
eclesial. Adverte contra falsas doutrinas, em particular contra uma mistura de idéias
judaicas e gnósticas sobre a salvação e sobre a natureza do mundo físico. O
destinatário recebe instruções sobre a organização e o governo da igreja (caps. 1-3) e a
carta termina com recomendações mais pessoais a Timóteo sobre seu serviço na igreja
(caps. 4-6).
Grande parte desta carta contém conselhos pessoais de Paulo a Timóteo. Exorta
Timóteo a permanecer fiel à boa nova de Jesus Cristo e a perseverar na atividade de
mestre e evangelizador, apesar da oposição e da perseguição. Acautela-o contra
discussões inúteis e encoraja-o com o exemplo de sua própria fé, que continua firme
depois de uma vida cheia de sofrimentos: “Terminei minha carreira, guardei a fé. Desde
já me está reservada a coroa da justiça” (2Tm 4.7-8).
Tito era cristão grego, que ajudou Paulo no seu trabalho missionário. Paulo escreveu
esta carta a Tito em Creta, onde este ajudava na supervisão da igreja. Esta
comunidade tinha problemas semelhantes aos enfrentados por Timóteo em Éfeso:
94
doutrinas falsas e discussões inúteis. Paulo lembra ao discípulo que os chefes cristãos
devem ter bom caráter (cap. 1). Explica os deveres que tem para com os diferentes
grupos de cristãos (cap. 2) e termina com exortações e conselhos gerais sobre o
comportamento dos cristãos.
É carta particular de Paulo ao seu amigo Filemom, cristão convertido de Colossos (na
Turquia ocidental). Filemom possuía um escravo de nome Onésimo que fugira.
Onésimo encontrara Paulo na prisão e tornara-se cristão. Paulo escreve ao amigo para
exortá-lo a perdoar ao fugitivo e acolhê-lo como irmão cristão. A carta provavelmente foi
levada a Colossos pelo próprio Onésimo, juntamente com a carta dirigida à igreja local.
95
A Epístola de Tiago está em primeiro lugar no grupo de sete livros do Novo Testamento
denominado as Epístolas Gerais ou Católicas. As igrejas evangélicas estiveram
hesitantes, por razões óbvias, em usar o termo “católicas” na descrição destas sete
cartas. O termo em si é uma transliteração do adjetivo grego katolikós, que significa
“geral' ou “universal”. Dois adjetivos latinos (generalis, universalis) traduzem a palavra
grega perfeitamente, mas a Vulgata transliterou o grego como catholicas. É da Vulgata
que o título Epístolas Católicas tornou-se uso comum entre os tradutores e estudiosos.
O termo católicas foi pela primeira vez aplicado às sete cartas como um grupo por
Eusébio (265-340 d.C.), embora escritores mais antigos tenham chamado as cartas
individuais deste grupo de “gerais”. Um comentário anônimo do sétimo século sobre a
Epístola de Tiago afirma que o termo foi usado porque estas cartas são encíclicas; ou
seja, não são endereçadas a igrejas ou pessoas individuais, mas escritas coletivamente
a todas as igrejas. Esta descrição geral vale para Tiago, 1 e 2 Pedro, 1 João e Judas. 2
e 3 João, contudo, são endereçadas a um grupo, ou pessoa, particular e, assim, não
caem dentro da definição. Mas estas duas cartas foram consideradas como anexas a 1
João e foram agrupadas juntamente com ela.
A posição destas sete cartas, nas edições modernas do Novo Testamento, segue a
ordem da Vulgata. Esta é a ordem geralmente adotada pela igreja ocidental
(Evangelhos, Atos, Epístolas Paulinas, Epístolas Gerais, Apocalipse), que parece
representar a primazia que a igreja ocidental deu a Paulo. Na igreja oriental, estas sete
cartas seguiam-se a Atos. Como um grupo de oito (chamado praksapóstoloi), elas
normalmente eram colocadas entre os Evangelhos e as cartas paulinas, mas às vezes
depois de Paulo. Os dois grandes manuscritos unciais gregos do quarto século diferem
neste ponto. O Vaticanus tem os Evangelhos, Atos, Epístolas Gerais e Epístolas
Paulinas (faltam, neste manuscrito, Hebreus 9.14-13.25, as Pastorais, Filemom e
Apocalipse). O Sinaiticus tem os Evangelhos, Epístolas Paulinas, Atos, Epístolas
Gerais e Apocalipse.
97
Tiago é dirigida “às doze tribos que se encontram na Dispersão” (Tg 1.1) e é claro nos
vs. 1.19 e 2.1,7 que esta saudação se refere aos cristãos hebreus que estavam fora da
Palestina. Seu lugar de reunião é chamado de “sinagoga” no texto grego de
Tg 2.2, e toda a epístola reflete o pensamento e expressões judaicas (Tg 2.19, 21; 4.11-
12; 5.4, 12). Não há referências à escravidão ou idolatria, e isso também se adapta a
uma leitura originalmente judaica. É possível que os destinatários fossem os primeiros
convertidos em Jerusalém, que, após a morte de Estêvão, foram dispersos pela
perseguição (At 8.1) até a Fenícia, Chipre, Antioquia da Síria e além (At 11.19). Isso
explicaria a ênfase inicial da carta quanto ao sofrer com alegria as provações que
testam a fé e que demandam perseverança (Tg 1.2-12), o conhecimento pessoal que
Tiago demonstra ter pelos crentes “dispersos”, e o tom de autoridade da carta. Como
pastor da igreja de Jerusalém, Tiago escreve às suas ovelhas dispersas.
Segundo o historiador Flávio Josefo, Tiago foi martirizado em 62 d.C. (Hegesipo, citado
em Eusébio, fixou a data da morte de Tiago em 66 d.C.). Aqueles que o aceitam como
autor da epístola têm sugerido uma data para sua redação entre 45 d.C. e o final de
sua vida. Entretanto, vários fatores indicam que essa epístola pode ter sido escrita
(cerca de 46-49 d.C.).
Esta epístola foi dirigida aos cristãos da Ásia Menor, indicando que o evangelho se
espalhou por regiões não-evangelizadas quando Atos foi escrito (Ponto, Capadócia,
Bitínia; 1Pe 1.1). É possível que Pedro tenha visitado e ministrado em algumas dessas
áreas, mas não há evidência. Ele escreveu esta epístola em resposta às notícias da
crescente oposição aos crentes na Ásia Menor (1Pe 1.6; 3.13-17; 4.12-19; 5.9-10). A
hostilidade e a suspeita aumentavam contra os cristãos no Império, e eles estavam
sendo insultados e maltratados por causa de seu estilo de vida e conversa subversiva
sobre outro Reino. O Cristianismo ainda não tinha recebido a interdição oficial romana,
mas o palco estava sendo montado para a perseguição e martírio no futuro próximo.
a Babilônia, e, na sua época, ela possuía poucos habitantes. Por outro lado, a tradição,
consistentemente, indica que Pedro passou seus últimos anos de vida em
Roma. Como um centro de idolatria, o termo “Babilônia” era uma designação figurada
apropriada para Roma (o uso de Babilônia em Ap 17; 18).
Nenhum outro livro no Novo Testamento cria mais problemas de autenticidade do que 2
Pedro. Diferentemente de 1 Pedro, essa epístola possui um testemunho externo muito
fraco, e a genuinidade é maculada por dificuldades internas também. Por causa desses
obstáculos, muitos estudiosos rejeitam a autoria de Pedro para essa epístola, mas isso
não significa que não haja evidência para a posição oposta.
O testemunho externo para a autoria de 2 Pedro é mais fraco do que qualquer outro
livro do Novo Testamento, mas até o quarto século ela se tornou reconhecida como
uma obra autêntica do apóstolo Pedro. Não há qualquer citação do segundo século, de
2 Pedro que seja incontestável, mas no terceiro século ela é citada em escritos de
vários pais da Igreja, principalmente Orígenes e Clemente de Alexandria. Os escritores
do terceiro século estavam freqüentemente conscientes a respeito de 2 Pedro e
respeitavam seu conteúdo, mas ainda era catalogada como um livro contestável. O
quarto século via o reconhecimento oficial da autoridade de 2 Pedro apesar de algumas
dúvidas. Por várias razões, 2 Pedro não foi rapidamente aceita como um livro canônico.
(1) A sua lenta circulação evitou que ela fosse mais conhecida. (2) Sua brevidade e
conteúdo limitam grandemente o seu número de citações nos escritos dos líderes da
Igreja primitiva. (3) O atraso no reconhecimento significou que 2 Pedro tinha de
competir com outras obras escritas mais tarde que reivindicavam a autoria de Pedro (p.
ex., o Apocalipse de Pedro). (4) Diferenças de estilo entre 1 e 2 Pedro também
levantaram dúvidas.
Por outro lado, 2 Pedro traz testemunho abundante de sua origem apostólica. Ela
reivindica ser “Simão Pedro” (1.1), e 3.1 diz. “Amados, esta é, agora, a segunda
epístola que vos escrevo.” O autor se refere à profecia do Senhor sobre a morte do
apóstolo em 1.14 (Jo 21.18-19) e diz que ele foi uma testemunha ocular da
Transfiguração (1.16-18). Como um apóstolo (1.1), ele se coloca num nível de
igualdade com Paulo (3.15). Há também palavras distintas que são encontradas em
100
Que as três Epístolas provêm do mesmo autor é evidente, mediante uma leitura
cuidadosa. As “irmãs gêmeas”, 2 e 3 João, com certeza têm o mesmo autor, que se
denomina “o ancião” (2 João 1; 3 João 1). As comparações destas duas Epístolas
mostram, tão conclusivamente quanto possível, com material tão sucinto, o mesmo
autor (2 João 1; 2 João 1; 2 João 4; 3 João 3; 2 João 10,11; 3 João 5,6; 2 João 12; 3
João 13,14). A Terceira Epístola foi endereçada a um indivíduo, e isto pode explicar
suas diferenças com a Segunda Epístola, que foi escrita a uma Senhora Eleita. As
semelhanças entre as duas só podem ser explicadas como ambas sendo provenientes
da mesma mão, precisamente porque o assunto e o número de leitores são tão
diferentes. Quando estas duas cartas (e mais particularmente 2 João) são colocadas
num estudo comparativo com a Primeira Carta, que é mais extensa, dificilmente se
pode duvidar de que todas provieram do mesmo autor (1 João 1.4; 2 João 12; 1 João
1.6,7; 2.6,11; 2 João 4; 1 João 2.7; 2 João 5,6; 1 João 2.14, 24; 2 João 2; 1 João 2.18;
4.1-5; 2 João 7; 1 João 2.23; 2 João 9; 1 João 3.6,9; 2 João 11). Dos treze versículos
de 2 João, pelo menos oito podem ser combinados com versículos de 1 João. É
inescapável o fato de que todas as três Epístolas vieram da mesma mão.
102
Em At 8.14, João é associado com “os apóstolos, que estavam em Jerusalém”, e Paulo
o chama de “coluna” da Igreja de Jerusalém em GI 2.9. Com exceção de Ap 1, o Novo
Testamento silencia a respeito desses últimos anos, mas a tradição cristã primitiva,
uniformemente, nos diz que ele saiu de Jerusalém (provavelmente não muito antes de
sua destruição, em 70 d.C.) e que ministrou em Éfeso e, nas suas vizinhanças. As sete
igrejas da província romana da Ásia, mencionadas em Ap 2-3, eram evidentemente
uma parte desse ministério. Embora não haja um destinatário em 1 João, é provável
que o apóstolo tenha dirigido sua epístola às igrejas asiáticas que estavam no âmbito
de sua supervisão.
Os paralelos entre João 2 e 3 sugerem que essas epístolas foram escritas na mesma
época (90 d.C.). Escritores cristãos primitivos são unânimes em seu testemunho de que
o quartel general de João ao fim de seu ministério era em Éfeso, a principal cidade da
província romana da Ásia. Evidentemente, João enviava um número de mestres
viajantes para espalharem o evangelho e para solidificarem as igrejas asiáticas, e esses
mestres eram apoiados por cristãos que os recebiam em seus lares.
103
Apesar do assunto e tamanho limitados, Judas foi aceita como autêntica e citada pelos
pais da Igreja primitiva. Pode haver alusões mais antigas, mas referências evidentes a
essa epístola aparecem no final do segundo século. Ela foi incluída no Cânon
Muratoriano (cerca de 170 d.C.) e aceita como parte das Escrituras pelos antigos
líderes, tais como Tertuliano e Orígenes. Entretanto, dúvidas surgiram em relação ao
lugar de Judas no Cânon, por causa de seu uso dos Apócrifos. Ela foi um livro
contestado em algumas partes da Igreja, mas, finalmente, ganhou o reconhecimento
universal.
Por causa do silêncio do Novo Testamento e da tradição a respeito dos últimos dias de
Judas, não podemos saber onde a epístola foi escrita. Nem há qualquer forma de saber
a data exata: Partindo do princípio de que 2 Pedro veio primeiro. (64-66 d.C.), a época
provável é 66-80 d.C. (O silêncio de Judas em relação à Jerusalém não prova que ele
escreveu essa epístola antes de 70 d.C.).
Cinco fatos importantes no tocante ao contexto deste livro são revelados no capítulo 1.
104
As evidências históricas e internas do livro indicam o apóstolo João como o seu autor.
Irineu verifica que Policarpo (Irineu conheceu a Policarpo, e este conheceu o apóstolo
João) referiu-se a João, escrevendo o Apocalipse perto do fim do reinado de
Domiciano, imperador romano (81-96 d.C.).
11 - O CÂNON BÍBLICO
A palavra "cânon" é de origem cristã e derivada do vocábulo grego "kanon" que por sua
vez provavelmente veio emprestado do hebraico "kaneh", que significa “junco” ou “vara
de medir”; (Ez 40.5) daí tomou o sentido de norma ou regra. Mais tarde veio a significar
regra de fé e, finalmente, catálogo ou lista (Gl 6.16)
A palavra cânon, usada para designar a coleção dos livros que integram as Sagradas
Escrituras, não aparece até o século IV, com Atanásio. Dão-se à palavra dois usos
distintos, mas de certo modo relacionados: “Em primeiro lugar, ela é usada para indicar
uma coleção daqueles livros aos quais se tenha aplicado determinada prova e que
foram reconhecidos como autênticos e 'canônicos'. Logo, aplica-se o termo a toda a
coleção de escritos, posto que ela constitui o cânon ou 'regra de fé' mediante a qual
toda doutrina deve ser provada" (HAMMOND, 1978, p. 36).
O cânon do Antigo Testamento ainda não havia sido fixado no tempo do Novo
Testamento, mas quando os judeus da Palestina, em fins do século I, fixaram o cânon
de suas Escrituras, este incluía todos os livros que atualmente temos em nossas
versões. O uso que se fez desses livros nos tempos do Novo Testamento permaneceu
testemunhado em cada página deste último livro; e uma rápida olhada nas referências
de nossas Bíblias nos dará uma idéia de quão profundo e sistemático foi esse uso. Mas
essas Escrituras não eram suficientes "para o bem-estar da Igreja, para a pureza do
evangelho e para a direção do crente; por isso, aprouve a Deus chamar à existência
uma graphé cristã, o cânon do Novo Testamento que a Igreja acrescentou à graphé do
Antigo Testamento" (RAMM, 1967, p. 177).
O próprio Senhor Jesus Cristo deu seu apoio de legitimidade a todo o Antigo
Testamento; fez citações de cada uma de suas divisões; porém, nunca citou
106
qualquer outro livro, nem deu a entender que existam outros livros inspirados. Sabemos
que existiam muitos outros livros escritos na língua hebraica, dos quais cerca de 15 ou
mais são mencionados no Antigo Testamento mesmo (o livro dos Justos, em Js 10.13;
2Sm 1.18; o livro das Guerras do Senhor, em Nm 21.14).
Como foram escolhidos os 39 livros do meio de tantos outros? A verdadeira prova é sua
inspiração. Se Deus falou pelo Espírito por intermédio de algum escritor humano, então
o tal livro é inspirado e útil para os propósitos de Deus. Os livros que têm esse selo
divino foram reconhecidos como divinos tanto pelo povo comum como pelos líderes e
sacerdotes, e o tempo mostrou gradualmente que a seleção fora bem feita.
Tais livros foram escritos entre 2000 e 400 a.C. O livro de Jó, com muita probabilidade,
data do tempo dos próprios patriarcas, e o livro de Malaquias foi escrito entre 425 a 400
a.C. Muitos outros escreveram depois de Malaquias, mas os judeus consideravam
esses escritos tão somente como histórias humanas.
Entre os judeus, o Antigo Testamento tem três divisões, as quais Jesus citou em Lc
24.44 – Leis, Profetas, Escritos -, algumas traduções trazem Salmos por ser o primeiro
livro dos Escritos. O cânon hebraico apresenta unificação de alguns livros: 1,2 Samuel;
os dois dos Reis; os dois Crônicas; Esdras e Neemias; os doze profetas menores são
um livro cada.
A ordem dos livros no cânon hebraico é também diferente da nossa. Há uma tríplice
divisão como já mencionamos (Lei, Profetas e Escritos). Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio. Profetas: Primeiros Profetas - Josué, Juízes, Samuel e Reis;
últimos Profetas - Isaías, Jeremias, os Doze. Escritos: Divididos em Livros Poéticos -
Salmos, Provérbios e Jó; os Cinco Rolos - Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes,
Ester. Livros Históricos: Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas.
Os Cinco Rolos eram assim chamados porque eram rolos separados, lidos anualmente
em festas distintas: Cantares, na Páscoa, em alusão ao Êxodo. Rute, no Pentecoste, na
celebração da colheita, em seu início (Primícias). Ester, na festa do Purim,
comemorando o livramento de Israel da mão do mau Hamã. Eclesiastes, na Festa dos
Tabernáculos – festa de gratidão pela colheita. Lamentações, no mês de Abibe,
relembrando a destruição de Jerusalém pelos babilônicos.
107
O Cânon do Antigo Testamento foi formado num espaço de um pouco mais de mil anos
e corresponde o período de Moisés a Esdras. Moisés escreveu as primeiras palavras
do Pentateuco por volta de 1491 a.C. Esdras entrou em cena em 445 a.C. Esdras não
foi o último escritor na formação do cânon do Antigo Testamento. Os últimos escritores
foram Neemias e Malaquias, no entanto, de acordo com os escritos históricos, foi
Esdras que, na qualidade de escriba e sacerdote, reuniu os rolos canônicos, ficando
também o cânon encerrado em seu tempo (GILBERTO, 1986, p. 52).
Vemos conforme o caso do livro do concerto, cuja alusão reporta-se a Êxodo 24.7, que
foi possível um documento pequeno, como Êxodo 20-23, tornar-se canônico antes que
toda a obra estivesse concluída. Deuteronômio também já era con-siderado canônico
mesmo no tempo em que Moisés vivia (Dt 31.24-26), pois foi colocado ao lado da arca
do concerto. Contudo, a parte final de Deuteronômio foi escrita depois da morte de
Moisés. Notamos também numerosas referências ao Pentateuco (no todo ou em parte)
como canônico, em outros livros do Antigo Testamento, que continuaram a ocorrer na
literatura existente entre os dois Testamentos. Sem dúvida, a causa disto, deve-se à
sua importância fundamental. Entretanto, outra possível razão para tantas referências
ao Pentateuco, é o fato de ter sido a primeira seção do Antigo Testamento a ser escrita
e reconhecida como canônica.
Ninguém duvida que, pela época de Esdras e Neemias (século V a.C.), o Pentateuco já
estava completo, como também já era canônico, sendo há muito considerado como tal.
Foi traduzido para o grego no século III a.C., tornando-se desse modo na primeira
porção da Septuaginta. Desde meados do século II a.C., temos evidências que
comprovam que todos os cinco livros, já eram atribuídos a Moisés.
O agrupamento dos livros não é arbitrário, mas segue o padrão das características
literárias. Metade do livro de Daniel compõe-se de narrativa, e nos Hagiógrafos
(segundo a ordem tradicional) é colocado junto com as histórias. Visto que há histórias
na Lei (cobrindo o período da criação até Moisés) e nos Profetas (abrangendo o
período de Josué até o fim da monarquia), então por que também não poderia haver
histórias nos Hagiógrafos, que tratam do terceiro período, da ida e volta do exílio
babilônico? Crônicas é posto por último entre as histórias, como um sumário de toda a
narrativa bíblica, de Adão até a volta do exílio. É evidente que quando Crônicas foi
escrito, o cânon dos Profetas não estava completamente concluído, pois as fontes
citadas ali não são de Samuel e Reis, mas provêm de histórias proféticas mais
completas, as quais também parecem ter servido de fontes para Samuel e Reis. Os
elementos mais antigos nos Profetas, incluídos em livros como Josué e Samuel, são
certamente antiqüíssimos, como também são os elementos mais antigos nos
Hagiógrafos, inseridos em livros como Salmos, Provérbios e Crônicas. Tais elementos
podem ter sido reconhecidos como canônicos antes mesmo do complemento da
primeira seção do cânon. Os últimos elementos dos Hagiógrafos, como Daniel, Ester e
Esdras-Neemias, pertencem ao final da história do Antigo Testamento.
Ao preparar a lista, Judas provavelmente definiu não apenas a divisão estável entre
Profetas e Escritos, mas também a ordem tradicional dos livros e o número tradicional
de livros dentro de cada divisão. Uma lista de livros precisa ter uma ordem e um
número. A ordem tradicional dos livros traz Crônicas como o último dos Hagiógrafos.
Essa posição para Crônicas pode ser remontada ao século I d.C., visto estar refletida
nos ditos de Jesus em Mateus 23.35 e Lucas 11.51, onde a frase "desde o sangue de
Abel até ao sangue de Zacarias" provavelmente significa todos os profetas martirizados
do início ao fim do cânon, de Gênesis 4.3-15 a 2 Crônicas 24.19-22.
Em 90 d.C. Em Jâmnia, perto da moderna Jope, em Israel, os rabinos, num concílio sob
a presidência de Johanan Ben Zakai, reconheceram e fixaram o cânon do Antigo
Testamento. Houve muitos debates acerca da aprovação de certos livros,
especialmente dos "Escritos". Note-se, porém que o trabalho desse concílio foi apenas
ratificar aquilo que já era aceito por todos os judeus através de séculos.
Há consenso entre teólogos que o Novo Testamento foi escrito dentro de um período
de cinqüenta anos, vários séculos depois que o Antigo Testamento foi completado. Em
relação ao tempo, o Antigo Testamento está tão distante de nós que sua formação
como corpo escriturístico poderia ser considerado longínquo demais para a atestação
de seu conteúdo. Tal não é o caso. Em certo sentido, temos atestações muito maiores
para o cânon do Antigo Testamento do que para o cânon do Novo Testamento.
Referimo-nos ao fato do próprio imprimátur (do lat. imprimatur, 'imprima-se') de nosso
Senhor Jesus Cristo, pela maneira como fez uso das Escrituras hebraicas como a
Palavra autoritária de Deus.
112
Tertuliano, notável escritor cristão das primeiras duas décadas do século lll, foi um dos
primeiros a chamar as Escrituras cristãs de "Novo Testamento". Esse título havia
aparecido antes (c. 190) em uma composição feita contra o montanismo, de autor
desconhecido. Esse fato é significativo. Seu uso colocou as Escrituras do Novo
Testamento em um nível de inspiração e autoridade igual ao do Antigo Testamento.
porções do Novo Testamento, houve espaço para algum atraso e incerteza de uma
região para outra no reconhecimento de alguns dos livros.
Nas Bíblias de edição da Igreja Católica Romana, o total de livros é de 73, porque essa
igreja, desde o Concílio de Trento, em 1546, incluiu no cânon do Antigo Testamento 7
livros apócrifos, além de 4 acréscimos ou apêndices a livros canô-nicos, acrescentando,
assim, ao todo, 11 escritos apócrifos.
Jerônimo, Agostinho, Atanásio, Júlio Africano e outros homens de valor dos primitivos
cristãos, opuseram-se a eles na qualidade de livros inspirados. Apareceram pela
primeira vez na Septuaginta - tradução do Antigo Testamento feita do hebraico para o
grego. Quando a Bíblia foi traduzida para o latim, em 170 d.C., seu Antigo Testamento
foi traduzido do grego da Septuaginta e não do hebraico.
A razão porque 66 livros da Bíblia se harmonizam entre si é que a mesma mente divina
inspirou a cada escritor. Se, por exemplo, João tivesse escrito algo que não
concordasse com as obras de Moisés, seríamos obrigados a rejeitar seu Evangelho,
116
Tobias 6.5-8. "Então, o anjo lhe disse: toma as entranhas deste peixe e guarde para ti
seu coração, o fel e seu fígado. Pois são necessários para medicinas úteis [...] Logo,
Tobias perguntou ao anjo e lhe disse: Eu te rogo, irmão Azarias, para quais remédios
são boas essas coisas, que tu pediste separar do peixe. E o anjo, respondendo, lhe
disse: Se puseres um pedacinho do seu coração sobre as brasas, seu fumo há de
espantar toda a espécie de demônios, seja de um homem ou de uma mulher, de modo
que não possam mais voltar a eles."
Tobias 12.8,9. "A oração é boa como o jejum e esmolas; é melhor do que guardar
tesouros de ouro, pois, esmolas livram da morte, e é o mesmo que espia os pecados e
conduz à misericórdia e vida eterna". Se ofertas caridosas pudessem expiar os nossos
pecados, não teríamos necessidade do sangue de Jesus Cristo.
Eclesiástico 3.4. "Quem amar a Deus, receberá perdão de Seus pecados pela oração".
Os pecados não se perdoam pela oração. Se fosse assim, não teríamos
117
necessidade de Jesus. Todos os povos pagãos fazem orações, mas os pecados não se
perdoam somente pela oração. Pv 28.1; 1Jo 1.9. Só Cristo, nosso Advogado, pode
perdoar o pecado.
2 Macabeus 12.42-46, "E, fazendo uma arrecadação, mandou doze mil dracmas de
prata a Jerusalém para ser oferecido um sacrifício pelos pecados dos mortos, e fez bem
em pensar religiosamente na ressurreição, (pois, se não tivesse esperança que os que
haviam sido mortos ressuscitassem novamente, haveria de ser supérfluo e em vão orar
pelos mortos). E considerava que, os que haviam adormecido no temor de Deus,
alcançaram para si muita graça." A Igreja Católica afirma que estes versículos lhe
autorizam a doutrina do purgatório. Orações e missas pelos mortos são aceitas e o
devoto católico crê nelas. Excede a imaginação a quantidade de dinheiro que aflui
todos os anos aos cofres da igreja pelas missas em favor dos mortos.
Sabedoria 3.1-4. "Mas, as almas dos justos estão na mão de Deus; e o tormento da
morte não as tocará. Aos olhos dos ignorantes pareciam eles morrer e sua partida foi
considerada desgraça. E, sua separação de nós, por uma extrema perda. Mas, eles
estão em paz. E, embora aos olhos dos homens sofram tormentos, sua esperança está
plenamente na imortalidade." A Igreja Católica baseia a sua crença da doutrina do
purgatório nestes versículos citados: "Embora aos olhos dos homens sofram tormentos,
sua esperança está plenamente na imortalidade". "Os tormentos" nos quais se acham
os "justos", diz a Igreja, referem-se ao fogo do purgatório, onde os pecados estão
sendo expiados. "Sua esperança está plenamente na imortalidade", pois a igreja
interpreta isso, declarando que após suficiente tempo de sofrimento no meio do fogo,
poderão passar para o céu. 1Jo 1.7. Esse ensino aniquila completamente a expiação de
Cristo. Se o pecado pudesse ser extinto pelo fogo, não teríamos necessidade do nosso
Salvador.
118
Tobias 5.15-19. "O anjo disse-lhe (a Tobias): Guiá-lo-ei para lá (o filho de Tobias) e o
farei voltar a ti. E Tobias lhe disse (ao anjo): Eu te rogo, dize-me, de que família ou de
que tribo és tu? E Rafael, o anjo, respondeu: [...] Eu sou Azarias, o filho do grande
Ananias. Respondeu-lhe Tobias: Tu és de uma grande família". Se um anjo de Deus
mentisse acerca de sua identidade, tornar-se-ia culpado de violação do nono
mandamento. Lc 1.19. Confrontando esta declaração com o que está registrado no livro
de Tobias, compreenderemos logo porque Cristo nunca Se referiu aos livros apócrifos.
Judith 8.5,6. "E ela fez para si um aposento separado no andar superior de sua casa no
qual vivia com suas servas. Seu vestido era de cabelo de crina e ela jejuava todos os
dias de sua vida, com exceção dos sábados, das luas novas e demais festas da casa
de Israel." Esta passagem é parecida a outras lendas católicas romanas, com respeito
a seus santos canonizados. Uma mulher dificilmente jejuaria toda sua vida, com
exceção de um dia da semana e algumas outras ocasiões durante o ano. Cristo jejuou
quarenta dias, porém não toda a Sua vida.
A igreja católica apega-se a estes livros não inspirados porque eles sancionam alguns
de seus falsos ensinos, como: oração pelos mortos, salvação pelas obras, a doutrina do
purgatório, dar esmolas para libertar as pessoas do pecado e da morte.
Proto Evangelho de Tiago. Narrativa que vai do nascimento de Maria ao massacre dos
inocentes. Contos que começaram a circular no século II. Foi completado século
Evangelho dos Egípcios. Conversas imaginárias entre Jesus e Salomé. Entre 130 e 150
d.C. Usados pelos sabelianos.
Evangelho de Tomé. Século II. Vida de Jesus, dos 1 aos 12 anos. Apresenta-o
operando milagres para satisfação de seus caprichos infantis.
120
Natividade de Maria. Obra de ficção Século VI, premeditada, para fomentar o culto à
Virgem. Histórias de visitas diárias de anjos a Maria. Com o surto do papado, tornou-se
imensamente popular.
Atos de Paulo. Meados do Século II. Romance que aconselha a continência. Contém a
suposta Epístola aos Coríntios que se perdeu.
Atos de Pedro. Fim do século II. Um caso de amor com a filha de Pedro. Conflito com
Simão, o Mago. Contém a história do "Quo Vadis".
Atos de João. Fim do século II. História de uma visita à Roma. Puramente imaginária.
Contém um quadro revoltante de sensualismo.
Atos de André. História de André, que persuade Maximila a evitar relações com o
marido, o que resultou no martírio dele.
Atos de Tomé. Fim do século II. Como os Atos de André, foi criado com interesse da
abstinência de relações sexuais.
Carta de Pedro a Tiago. Fim do século II. Ataca violentamente Paulo. Pura invenção no
interesse dos ebionitas.
Cartas de Paulo á Sêneca. E outras deste àquele. Invenção século IV. Objetivo: ou
recomendar o cristianismo aos seguidores de Sêneca, ou recomendar este aos
cristãos. A principal característica destes escritos é o fato de serem obras de ficção,
que se apresentam como história, mas em sua maior parte são absurdos por tal forma
que a falsidade deles evidencia-se por si mesma.
121
Cartas de Abgar. Estas podem ter alguma base, Eusébio assim pensava. Conta que
Abgar, rei de Edessa, estando enfermo, ouviu falar do poder de Jesus. Escreveu-lhe
uma carta pedindo que fosse curá-lo, ao que Jesus respondeu por escrito: “... é
necessário completar aquilo para o que fui enviado; depois disso serei recebido em
cima, por aquele que Me enviou. Quando, pois, Eu for recebido no céu, enviarei um dos
Meus discípulos que te curará". Contam que foi Tadeu o enviado, a quem mostraram as
Cartas a que ficaram arquivadas em Edessa. Possivelmente, Jesus mandou um recado
verbal, que eles registraram.
12.2 Os Pseudopígrafos
São os livros escritos sob um nome fictício. Para outros são os escritos judaicos, extra
bíblicos, não inspirados do Antigo Testamento. São considerados de valor no estudo do
cânon, e alguns estudiosos os incluem no mesmo grupo dos apócrifos. Dentre os
pseudopígrafos destacam-se:
A Assunção de Moisés. Deve ter sido publicado no tempo de Cristo e procura narrar a
história do mundo, em forma de profecia, desde Moisés até ao tempo do autor.
Os Oráculos Sibilinos. São obras judaicas que, à imitação das profecias pagãs de
Sibila, pretendem divulgar o pensamento hebraico entre os gentios.
O Livro dos Jubileus. É um comentário sobre Gênesis, frisando que a Lei foi observada
desde os mais remotos tempos. Recebe este nome pelo fato de dividir a história em
períodos jubileus, isto é, quarenta e nove anos (sete semanas de anos).
Os Salmos de Salomão. Coletânea de dezoito salmos, escrita por um fariseu, que viveu
na segunda metade do primeiro século da era cristã. O estilo é bastante semelhante ao
dos Salmos que temos na Bíblia.
A literatura pseudopígrafa foi produzida entre 200 a.C., e 200 a.D. com o objetivo de
encorajar e consolar a nação judaica durante as invasões dos sírios e romanos.
Imagem ilustrativa.
Os beduínos, indo regularmente a Belém para vender leite e queijo, certo dia, levaram
também os pergaminhos, vendendo-os a um cristão sírio, dono de um armazém,
conhecida pelo nome de Kando, que também por ignorar totalmente o valor deste
achado, abandonou-os no chão da loja por vários dias, sendo estes pisados pelos que
nela entravam. Certo dia, atentando melhor para aqueles pergaminhos, ocorreu-lhe a
idéia de levá-los a Jerusalém para os vender no Convento Sírio de São Marcos. O
superior do convento procura pessoas entendidas que estudassem os manuscritos, a
fim de que ele pudesse ter uma idéia de seu real valor, assim sendo, um dos
pergaminhos foi enviado ao Professor E. L. Sukenik, da Universidade Hebraica.
Sukenik analisando-o, em profundidade, concluiu que o documento apresentava grande
valor pelo seu conteúdo e considerável antigüidade.
Os sete rolos retirados desta gruta eram bem diferentes, pois dois eram manuscritos do
livro de Isaías, um completo e outro incompleto, um manual de Disciplina da Seita, uma
coleção de Salmos e Ações de Graça, uma ordem de batalha para uma guerra
apocalíptica entre os Filhos da Luz e os Filhos das Trevas, um Comentário ao livro de
Habacuque. Todo este material foi publicado por Sukenik e pelos americanos. Além dos
manuscritos já citados ainda foram encontrados documentos os mais diversos conto
contratos de casamento, cartas do líder judeu Bar Cocheba,
124
A gruta em que aqueles pastores entraram, e que marcou o início de uma fase histórica
da arqueologia, recebeu o n.º 1. Não longe dela, encontrou-se, em fins de 1951, a gruta
a que se deu o n.º 2. Continha fragmentos dos Salmos, os livros de Isaías, do Êxodo,
de Rute, um documento litúrgico e o livro apócrifo dos Jubileus, que é uma paráfrase do
Gênesis, selecionados pelos fariseus. Descobriu-se, depois, a gruta n.º 3, onde se
encontraram 2 rolos de chapas de cobre, com textos gravados.
A gruta que deu colheita mais rica foi a de n.º 4. Continha 380 manuscritos, dos quais
mais ou menos uma centena são de ordem bíblica. Seguiram-se as de n.º 5 e 6, que
deram manuscritos de pouca importância bíblica e histórica. Em fins de 1955,
revistaram-se as grutas que receberam os nos 7, 8, 9 e 10, todas contendo ora
pergaminhos, ora papiros, tudo de pouca importância. Logo após, nos últimos dias de
1955, encontram-se outras duas séries de grutas, uma à margem do Uadi Murabaat, e
outra à margem do Uadi Mird, sempre nos arredores do Mar Morto.
Uma pergunta que vem à mente de todos é esta: quem foram as pessoas que moravam
nesta região e copiaram os manuscritos encontrados nas grutas? Segundo a opinião
dos eruditos seus habitantes pertenciam à seita judaica dos essênios, os quais
ocuparam esta região entre 185 a.C. e 68 a.D.
Antes da primeira revolta judaica, por causa do avanço da décima legião sob o
comando de Vespasiano, os manuscritos da biblioteca do mosteiro foram colocados a
salvo (por volta do ano 68 d.C.). O próprio mosteiro foi destruído pelos romanos.
126
Embora o valor desta descoberta ainda não possa ser avaliado em toda a sua
plenitude, há certos fatos já conhecidos que são os seguintes: Estes manuscritos são
pelo menos 1000 anos mais velhos do que o mais antigo manuscrito hebraico que
possuímos – O Códice Petropolitano escrito em 912 a.D; os manuscritos de Qumran
são mais antigos do que os mais velhos fragmentos da Septuaginta existentes, quanto
à história da evolução da escrita, fornecendo, portanto precioso material à Paleografia.
Estes manuscritos foram copiados entre os séculos III a.C. e o primeiro século a.D.;
antes desta descoberta pouco se sabia a respeito do judaísmo pré-cristão. Através do
Manual de Disciplina conhecemos hoje muito dos seus costumes e maneira de viver;
estes manuscritos vieram desfazer afirmações infundadas, concernentes ao trabalho
dos copistas pré-massoréticos e ainda de que a Bíblia Hebraica de hoje fora organizada
e emendada pelos massoretas.
letras, palavras ou frases que não modificam suficientemente o sentido para influenciar
alguma doutrina importante.
12.3.5 Conclusões
Todo o cuidado e todos os avanços feitos pela ciência têm sido utilizados, quer na
determinação das datas deste valioso material, quer na sua leitura e conservação.
Assim foi descoberto um método com base na ciência atômica, para determinar a idade
do material orgânico. Foi usando esse método, com o isótopo, "Carbono 14", que o
Instituto Nuclear da Universidade de Chicago pode confirmar com precisão a opinião
dos arqueólogos, segundo a qual o pano que envolvia os rolos, descobertos em 1947,
datava do I século da era cristã. No Museu de Jerusalém, onde se encontra boa parte
do material descoberto, documentos, à primeira vista ilegíveis, são decifrados graças à
fotografia infravermelha que traz à luz, letras que normalmente não podem ser
distinguidas pelos olhos humanos. Inegavelmente, esta foi a descoberta arqueológica
mais sensacional dos últimos tempos, porque veio provar a autenticidade da Bíblia e a
sua maravilhosa conservação através dos séculos.
128
13.1 Conceituação
Versão, tecnicamente falando é uma tradução da língua original (ou com consulta direta
a ela) para outra língua, ainda que comumente se negligencie essa distinção. O
segredo para a compreensão é que a versão envolve a língua original de determinado
manuscrito.
Revisão, ou versão revista, é termo usado para descrever certas traduções, em geral
feitas a partir das línguas originais, que foram cuidadosa e sistematicamente revistas,
cujo texto foi examinado de forma crítica, com vistas em corrigir erros ou introduzir
emendas ou substituições.
Paráfrase é uma tradução "livre" ou "solta". O objetivo é que se traduza a idéia, e não
as palavras. Daí que a paráfrase é mais uma interpretação que uma tradução literal do
texto. O comentário é simplesmente uma explicação das Escrituras. O exemplo mais
antigo desse tipo de trabalho é o “Midrash”, ou comentário judaico do
Antigo Testamento.
129
As traduções mais antigas apareceram antes do período dos Concílios da Igreja (350
d.C.), abarcando obras como Pentateuco Samaritano, os Targuns Aramaicos, o
Talmude, o Midrash e a Septuaginta (LXX).
Segundo Norman Geisler e William Nix (1997, p. 187), “o Pentateuco samaritano pode
ter-se originado no período de Neemias, em que se reedificou Jerusalém. Não sendo na
verdade uma tradução, nem versão, mostra a necessidade do estudo cuidadoso para
que se chegue ao verdadeiro texto das Escrituras”. Essa obra foi, de fato, uma porção
manuscrita do texto do próprio Pentateuco. Contém os cinco livros de Moisés, tendo
sido escrito num tipo paleo-hebraico, muito semelhante ao que se encontrou na pedra
moabita, na inscrição de Siloé, nas Cartas de Laquis e em alguns manuscritos bíblicos
mais antigos de Qumran. A tradição textual do
Pentateuco samaritano é independente do Texto massorético. Não foi descoberto pelos
estudiosos cristãos senão em 1616, embora fosse conhecido dos pais da igreja, como
Eusébio de Cesaréia e Jerônimo, tendo sido publicado pela primeira vez na obra
Poliglota de Paris (1645) e, depois, na Poliglota de Londres (1657).
13.2.2 Os Targuns
Segundo Norman Geisler e William Nix (1997, p. 188), “há evidências de que os
escribas, já nos tempos de Esdras (Ne 8.1-8), estavam escrevendo paráfrases das
Escrituras hebraicas em aramaico. Não estavam produzindo traduções, mas textos
explicativos da linguagem arcaica da Tora”. Antes do nascimento de Cristo, quase
todos os livros do Antigo Testamento tinham suas paráfrases ou interpretações
(targuns). Ao longo dos séculos seguintes o targum foi sendo redigido até surgir um
texto oficial.
Durante o século III d.C., surgiu na Babilônia um targum aramaico sobre a Tora.
Possivelmente se tratasse de uma versão corrigida de texto palestino antigo; mas
também poderia ter-se originado na Babilônia, tendo sido tradicionalmente atribuído a
Onquelos (Ongelos), ainda que tal nome provavelmente resultasse de confusão com
Áqüila.
13.2.3 O Talmude
13.2.4 O Midrash
O Midrash (lit., estudo textual) na verdade era uma exposição formal, doutrinária e
homilética das Sagradas Escrituras, redigida em hebraico ou em aramaico. De mais ou
menos 100 até 300 d.C., esses escritos foram reunidos num corpo textual a que se deu
o nome de Halaka (procedimento), que era uma expansão adicional da Tora, e Hagada
(declaração, explicação), ou comentários de todo o Antigo Testamento. O Midrash de
fato diferia do Targum neste ponto: o Midrash eram comentários, em vez de paráfrases.
O Midrash contém algumas das mais antigas hornilias do Antigo Testamento, bem
corno alguns provérbios e parábolas, textos usados nas sinagogas.
132
Bastante conhecida através da sigla LXX, é a mais importante tradução grega do Velho
Testamento. Seria interessante pensar por alguns instantes qual a razão de um livro
hebraico ser traduzido para o grego numa cidade do Egito? A História nos confirma que
Alexandre Magno, com suas extraordinárias conquistas levou o grego a quase todas as
partes do mundo conhecido. Sua morte prematura em 323 a.C. fez com que seu
império fosse dividido. Cabendo a Ptolomeu I (323-285) governar o Egito, iniciando
assim a dinastia dos reis gregos no Egito. Calcula-se que no tempo de Ptolomeu II, a
cidade de Alexandria era composta por um terço de judeus. Como era de se esperar
esses imigrantes judeus facilmente adotaram a língua dos gregos.
Dias Gomes citando Flávio Josefo, fornece-nos pormenores úteis sobre a origem desta
antiga tradução. Eis uma síntese de suas palavras:
Para alguns esta história é lendária, sendo a verdadeira razão para a origem da
Septuaginta a seguinte: Havendo em Alexandria muitos judeus que não podiam ler o
Velho Testamento no original hebraico, uma tradução em grego lhes foi preparada. Por
causa do número de tradutores essa extraordinária tradução se tornou conhecida (um
tanto inexatamente) como Septuaginta.
A tradução foi feita na ilha de Faros, situada no porto da cidade. Essa Bíblia teve a mais
ampla difusão entre as nações, especialmente naquelas onde estavam os judeus da
dispersão oriunda do cativeiro. Foi a Septuaginta a primeira tradução completa do
Antigo Testamento, do original hebraico. Foi também ela que situou e dividiu os livros
por assuntos como os temos hoje: Lei, História, Poesia, Profecia. Não há um só
exemplar original da Versão dos Setenta; somente cópias, a mais antiga das quais data
de 325 d.C. É ela a mais antiga tradução da Bíblia hebraica. A Septuaginta é usada
ainda hoje na Igreja Grega. Sua primeira aparição impressa é a constante da
Complutensiana Poliglota publicada em Alcalá, província de Madri, em 1514-1517, e
distribuída em 1522 pelo Cardeal Ximenes.
As seis colunas estão dispostas da direita para a esquerda, assim: 1ª O texto hebraico;
2ª O texto grego traduzido do hebraico; 3ª A versão de Áquila; 4ª A versão de Símaco;
5ª A Septuaginta; 6ª A versão de Teodocião.
Fizeram ainda revisões na Septuaginta Luciano – fez seu trabalho mais ou menos pelo
ano 300, pois foi martirizado em 311. Para esta revisão usou manuscritos hebraicos
superiores aos usados por Orígenes e Hesíquio – sua revisão se processou na cidade
de Alexandria e foi somente aceita no Egito.
135
É provável que a primeira versão do Novo Testamento tenha sido feita na língua
siríaca. Dentre as versões siríacas são dignas de nota as seguintes:
Siríaca Antiga. É uma versão dos quatro Evangelhos, conservada hoje com grandes
lacunas nestes dois manuscritos. Embora estes manuscritos fossem copiados no 5º e
4º séculos respectivamente, a forma de texto que eles preservam data do fim do
segundo século ou início do terceiro. O texto dos Evangelhos sofreu influências do
Diatessaron de Taciano. Seu tipo de texto pertence ao grupo Ocidental.
Versão Peshita. Em siríaco a palavra peshita significa simples, comum, vulgar. Crêem
alguns que a tradução foi feita por Rabbula, bispo de Edessa (411-432), cognominado o
São Jerônimo da Igreja Síria. Outros afirmam que o autor é desconhecido, mas que a
tradução foi feita para que o cristianismo pudesse propagar-se entre aquele povo. Por
ser um trabalho muito bem feito, foi chamada "a rainha das versões". Contém todo o
Velho Testamento sem os livros apócrifos. Do Novo Testamento não foram traduzidos II
e III João, II Pedro, Judas e Apocalipse. Mais de 350 manuscritos da Peshita são
conhecidos hoje, diversos dos quais datam do 5º e 6º séculos.
Versão Filoxênia. Esta é outra tradução bastante difícil de ser explicada pela Crítica
Textual. Crê-se que Filóxeno, bispo de Mabugue, comissionou a tradução da Bíblia
inteira baseada no grego, em 508 a.D.
O latim era um idioma dominante nas regiões ocidentais do Império Romano desde
muito antes dos dias de Jesus. Foram nas regiões ocidentais ao sul da Gália e na
África do Norte que apareceram as primeiras traduções da Bíblia em latim. Segundo
Philip W. Confort (1998, p. 235) “em cerca de 160 d.C., Tertuliano notoriamente usou
uma versão das Escrituras em latim. Não muito tempo depois, o texto em latim antigo
parece ter estado em circulação, o que nos é evidenciado pelo uso de Cipriano antes
de sua morte, em 258 d.C.”. A versão em latim antigo era uma tradução da
Septuaginta. Manuscritos completos do texto em latim antigo não subsistiram. Depois
que a versão latina, a Vulgata, foi completada por Jerônimo, o texto mais primitivo caiu
em desuso.
Segundo Philip W. Confort (1998, p. 236) “por volta do século III d.C., o latim começou
a substituir o grego como língua de ensino no vasto mundo romano. Um texto uniforme
e confiável era extremamente necessário para uso teológico e litúrgico”. Para preencher
essa necessidade, o papa Dâmaso I (336-384 d.C.) encarregou Jerônimo, eminente
erudito no latim, grego e hebraico, de fazer a tradução. Jerônimo começou o seu
trabalho com uma tradução da Septuaginta em grego, considerada inspirada por muitas
autoridades da Igreja, inclusive Agostinho. Contudo, mais tarde, e sob risco de grande
crítica, voltou-se para o texto hebraico que então estava em uso na Palestina, como
texto base para sua tradução. Durante o período de 390 a 405, Jerônimo fez sua
tradução latina do Antigo Testamento hebraico. No entanto, a despeito de ter se voltado
para o original hebraico, Jerônimo dependia grandemente das diversas versões gregas
como auxílio à tradução. Por conseguinte, a Vulgata espelha as outras traduções
gregas e latinas tanto quanto o texto hebraico fundamental.
137
Jerônimo pouca atenção deu aos apócrifos; só com grande relutância produziu uma
tradução apressada de algumas passagens de Judite, de Tobias e do resto de Ester,
mais as adições de Daniel - antes de morrer. O resultado foi que a versão dos livros
apócrifos, pertencente à Antiga latina, foi adicionada à Bíblia chamada Vulgata latina na
Idade Média, sobre o cadáver de Jerônimo.
Segundo Philip W. Confort (1998, p. 361), “no século VI, o Evangelho foi levado para a
Inglaterra pelos missionários de Roma. A Bíblia que levaram foi a Vulgata Latina. Nessa
época, os cristãos que viviam na Inglaterra dependiam dos monges para qualquer tipo
de instrução relacionada à Bíblia. Os monges liam e ensinavam a
Bíblia latina”. Depois de alguns séculos, quando mais mosteiros foram fundados, surgiu
a necessidade de traduções da Bíblia em inglês. A mais antiga tradução em inglês, até
onde sabemos, é a que foi feita por um monge do século VII, chamado Cedmon, que
fez uma versão métrica de partes do Antigo e do Novo Testamento. Acredita-se que
outro clérigo inglês, chamado Bede, traduziu os evangelhos para o inglês. Diz a
tradição que, em 735, esse clérigo estava traduzindo o Evangelho de João em seus
últimos momentos de vida. Outro tradutor foi Alfredo, o Grande (que reinou de 871 a
899), considerado por todos como um rei muito letrado. Incluiu em suas leis trechos dos
Dez Mandamentos traduzidos para o inglês e também traduziu os Salmos.
Segundo Norman Geisler (1997, p. 219), “não se sabe com certeza como a língua
inglesa se desenvolveu, mas a maioria dos estudiosos segue a orientação de Beda,
139
o Venerável (c. 673-735), que data seu início em cerca de 450 da era cristã”. O período
de 450 a 1100 é denominado anglo-saxônico, ou do antigo inglês, por ter sido
dominado pela influência dos anglos, dos saxões e dos jutos em seus vários dialetos.
Após a invasão normanda de 1066, a língua sofreu a influência de dialetos
escandinavos, e o período do médio inglês apareceu de 1100 a 1500. Esse foi o
período de Geoffrey Chaucer (1340-1400) e de John Wycliffe. Após a invenção da
prensa móvel por Johann Gutenberg (c. 1454), o inglês entrou em seu terceiro período
de desenvolvimento: o do inglês moderno (1500 até o presente). Esse período de
desenvolvimento foi precipitado pela grande mudança vocálica no século que se seguiu
à morte de Chaucer e precedeu ao nascimento de William Shakespeare.
Segundo Norman Geisler (1997, p. 220), “as primeiras traduções de partes das
Escrituras basearam-se nas traduções da Antiga latina e da Vulgata, e não nas línguas
originais, o hebraico e o grego, e nenhuma delas continha o texto da Bíblia toda. Não
obstante, elas ilustram a maneira pela qual a Bíblia entrou para a língua inglesa”.
Aldhelm (640-709). Aldhelm foi o primeiro bispo de Sherborne em Dorset. Logo depois
do ano 700, ele traduziu o Saltério para o antigo inglês. Foi a primeira tradução direta
de qualquer parte da Bíblia para a língua inglesa.
Alfredo, o Grande (849-901). Alfredo foi um estudioso de primeira, além de ter sido rei
da Inglaterra (870-901). Durante seu reinado, a Lei Danesa foi estabelecida sob o
Tratado de Wedmore (878). O tratado continha somente duas estipulações para os
novos súditos: batismo cristão e fidelidade ao rei. Juntamente com sua tradução da
História eclesiástica de Beda do latim para o anglo-saxão, ele também traduziu os Dez
mandamentos, excertos do Êxodo, 21-23, de Atos, 15.23-29, e uma forma negativa da
Regra áurea. Foi durante o seu reinado que a Inglaterra experimentou um reavivamento
do cristianismo.
Aldred (950). Outro elemento foi introduzido na história da Bíblia inglesa quando Aldred
escreveu um comentário nortumbriano entre as linhas de uma cópia dos evangelhos
escrita no latim do final do século VII. É da cópia latina de Eadfrid, bispo de Lindisfarne
(698-721), que a obra de Aldred recebe seu nome, os Evangelhos de Lindisfarne.
Aelfric (1000). Aelfric foi bispo de Eynsham, em Oxfordshire, Wessex, quando traduziu
partes dos sete primeiros livros do Antigo Testamento. Essa tradução e outras partes
do Antigo Testamento que ele traduziu e citou em suas homilias basearam-se no texto
latino. Mesmo antes da época de Aelfric, os Evangelhos de Wessex foram traduzidos
para o mesmo dialeto. Esses elementos constituem a primeira tradução existente dos
evangelhos para o antigo inglês.
Segundo Norman Geisler (1997, p. 221), “a conquista normanda (1066) deu-se graças
à disputa em torno do trono de Eduardo, o Confessor. Com ela, o período do domínio
saxônico na Inglaterra chegou ao fim, e um período de influência normando-francesa se
fez sentir sobre a língua dos povos conquistados. Durante esse período de domínio
normando foram feitas outras tentativas de traduzir a Bíblia para o inglês”.
Orm ou Ormin (1200). Orm foi um monge agostiniano que escreveu uma paráfrase
poética dos evangelhos e de Atos acompanhada de comentário. Essa obra, o Ormulum,
é preservada em um único manuscrito de 20.000 palavras. Embora o
141
Embora não houvesse nenhuma Bíblia completa em inglês antes do século XIV,
diversos indícios apontavam para o aparecimento iminente de uma. A ampla circulação
do Saltério literal de Rolle na exata época em que a corte papal passava por lutas se
associou ao chamado cativeiro babilônico (1309-1377). Esse acontecimento e suas
conseqüências formaram o pano de fundo para a obra de outros tradutores bíblicos.
A Bíblia de Wycliffe. João Wycliffe (c. 1329-1384) - O mais eminente teólogo oxfordiano
de seus dias - e seus associados foram os primeiros a traduzir a Bíblia inteira do latim
para o inglês. Segundo Philip W. Confort (1998, p. 363), “Wycliffe foi chamado de a
Estrela da Manhã da Reforma", porque audaciosamente questionou a autoridade papal,
criticou a venda de indulgências, negou a realidade da transubstanciação (doutrina que
diz que a substância do pão e do vinho é mudada em corpo e sangue de Jesus Cristo
durante a missa) e falou abertamente contra as hierarquias eclesiásticas. O papa
condenou Wycliffe por seus ensinamentos "heréticos" e pediu que a Universidade de
Oxford o demitisse. Mas Oxford e muitos líderes governistas permaneceram ao lado de
Wycliffe, de modo que conseguiu sobreviver aos ataques do papa.
142
Wycliffe acreditava que o caminho para prevalecer em sua luta contra a autoridade
abusiva da Igreja Católica era tornar a Bíblia acessível às pessoas em sua própria
língua. Desse modo, poderiam ler por si mesmas acerca da forma como cada uma
poderia ter um relacionamento pessoal com Deus através de Jesus Cristo -
independente de qualquer autoridade eclesiástica. Wycliffe, com seus associados,
completaram o Novo Testamento por volta de 1380 e o Antigo Testamento em 1382.
Enquanto Wycliffe concentrava seus esforços no Novo Testamento, um de seus
associados, Nicolau de Hereford, fazia uma parte importante do Antigo Testamento.
Wycliffe e seus companheiros, desconhecedores do hebraico e do grego originais,
traduziram o texto do latim para o inglês. Depois de Wycliffe ter terminado seu trabalho
de tradução, organizou um grupo de paroquianos pobres, conhecido como lolardos,
para irem por toda a Inglaterra pregando as verdades cristãs e lendo as Escrituras na
língua materna a todos os que ouvissem a Palavra de Deus. O resultado desse
empreendimento foi que a Palavra de Deus, através da tradução de Wycliffe, tornou-se
acessível a muitos ingleses.
Um dos associados mais chegados de Wycliffe, João Purvey (c. 1353-1428), continuou
a obra de Wycliffe, lançando, em 1388, uma revisão de sua tradução. Purvey era um
excelente erudito. Seu trabalho foi muito bem recebido por sua geração e pelas que se
seguiram. Menos de um século depois, a edição revista de Purvey havia substituído a
Bíblia inicial de Wycliffe.
A Bíblia do rei Tiago – A King James Version (1611). Em janeiro de 1604, Tiago I foi
convocado a comparecer à Conferência de Hampton Court. Na ocasião John Reynolds,
presidente puritano da Faculdade Corpus Christi, em Oxford, levantou a questão de ser
feita uma versão autorizada da Bíblia para todos os partidos dentro da igreja. Foi
nomeada uma junta. Seis grupos de tradutores foram escolhidos: dois em Cambridge
para revisar de 1Crônicas a Eclesiastes e os livros apócrifos; dois em Oxford para
revisar de Isaías a Malaquias, os evangelhos, Atos e o Apocalipse; dois
144
Três edições da nova tradução apareceram em 1611. Outras edições foram publicadas
em 1612. Durante o reinado de Carlos I (1625-1649), o Parlamento Lon-go estabeleceu
uma comissão para deliberar sobre a revisão da chamada Versão autorizada ou
produzir uma tradução totalmente nova. Somente revisões insignificantes resultaram
em 1629, 1638, 1653, 1701, 1762, 1769 e duas edições posteriores. Essas três últimas
revisões foram feitas pelo Dr. Blayney de Oxford. Elas variaram em cerca de 75 mil
pormenores do texto da edição de 1611. Pequenas mudanças continuaram a surgir no
texto até datas recentes como 1967 no texto da Versão autorizada que acompanha a
New Scofield reference edition [Nova edição de referência de Scofield]. Entrementes,
foram feitas tentativas de trazer amplas alterações e correções às traduções inglesas
da Bíblia em virtude de novas descobertas textuais e por conta da natureza mutável da
própria língua (GEISLER, 1997, p. 231).
145
A primeira tradução que se fez em castelhano foi o Novo Testamento surgido em 1543.
Foi obra do jovem reformador Francisco de Enzinas. Filho de pais nobres e ricos foi
enviado a estudar nos Países Baixos, onde recebeu decisiva influência dos
reformadores. Dirigiu-se posteriormente à Alemanha para conhecer Melanchton, em
cuja casa se hospedou. Estudando na Universidade de Wittenberg e encorajado por
Melanchton dedicou-se à sublime tarefa de traduzir o Novo Testamento do original
grego para a sua língua nativa.
A primeira tradução completa da Bíblia para a língua castelhana foi obra de Casiodoro
de Reina, que nascera ao sul da Espanha em 1520.
Após ter estudado para sacerdote, tornou-se pregador evangélico, razão porque teve
de fugir da Espanha. Trabalhou 12 anos nesta tradução, que foi publicada em Basiléia
no ano de 1569. Baseou seu trabalho em manuscritos originais, mas teve auxílio de
traduções anteriores, como a grande versão de Ferrara (1533).
D. Diniz (1279-1325) foi a primeira pessoa a traduzir para a língua portuguesa o texto
bíblico. Grande conhecedor do latim clássico, e leitor da Vulgata, D. Diniz resolveu
enriquecer o português traduzindo as Sagradas Escrituras para o nosso idioma,
tomando como base a Vulgata Latina. Embora lhe faltasse perseverança e só
conseguisse traduzir os vinte primeiros capítulos do livro de Gênesis, esse seu esforço
o colocou em uma posição historicamente anterior a alguns dos primeiros tradutores da
Bíblia para outros idiomas, como João Wycliff, por exemplo, que só em 1380 traduziu
as Escrituras para o inglês.
Fernão Lopes disse em seu curioso estilo de cronista do século XV, que D. João I
(1385-1433), um dos sucessores de D. Diniz no trono português, “fez grandes letrados
tirar em linguagem os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as epístolas de São Paulo,
para que aqueles que os ouvissem fossem mais devotos acerca da lei de
Deus”. (Crônica de D. João I, 2ª. Parte). Esses “grandes letrados” eram vários padres
que também se utilizaram da Vulgata Latina em seu trabalho de tradução.
Como nessa época a imprensa ainda não havia sido inventada, os livros eram
produzidos em forma manuscrita, fazendo-se uso de folhas de pergaminho. Isso
tornava sua circulação extremamente reduzida. Por ser um trabalho lento e caro, era
necessário que ou a Igreja Romana ou alguém muito rico assumisse os custos do
projeto. Ninguém mais indicado para isto do que os nobres e os reis.
É fundamental salientar que todas essas obras sofreram, ao longo dos séculos,
implacável perseguição da Igreja Romana, e de muitas delas só escaparam um ou dois
exemplares, hoje raríssimos. A Igreja Romana também amaldiçoou a todos os que
conservassem consigo essas traduções da Bíblia em idioma vulgar (BÍBLIA
THOMPSON, 1992, p. 1379).
geral e ampla de suas obras principais, destacando-se, dentre elas, a tradução que fez
da Bíblia, dos originais hebraico e grego para a língua portuguesa.
João Ferreira de Almeida foi quem primeiro traduziu a Bíblia para o nosso vernáculo.
Português ele, de três séculos idos, é certo que ainda falando e escrevendo
corretamente, com segura inteligência das proposições, das frases e das palavras teve
linguagem que hoje seria distante e até, não raro, diferente para as sucessivas edições
da Bíblia, segundo ele a traduziu, porque a evolução semântica da linguagem, por
vezes, impõe mudanças de palavras para que se não mude o sentido das mensagens.
Em 1656, Almeida foi ordenado pastor da Igreja Reformada, mas sempre desejoso de
promover a Reforma em Portugal. De 1656 até 1658 foi missionário no Ceilão, depois
na Índia, e foi o primeiro ordenado a pregar em português. De volta a Batávia,
pastoreou a comunidade portuguesa ali existente.
Faleceu, dissemos, em 1691, todavia João Ferreira de Almeida até hoje influi com as
traduções que deixou da Bíblia. A mais antiga versão usual no Brasil, entre os
evangélicos, mereceu da Sociedade Bíblica do Brasil certa atualização na linguagem,
pois distam três séculos a tradução do Almeida.
1943, sob a presidência do destacado Pastor César Dacorso Filho, tratavam das
"Razões por que necessitamos de uma revisão das atuais versões da Bíblia em
Português". Os brasileiros contaram com o apoio irrestrito e a sábia experiência dos
Secretários Executivos das Sociedades Bíblicas Unidas nesta primeira reunião, mas
posteriormente o Secretário de Tradução da Sociedade Bíblica Americana, Dr. Eugene
A. Nida visitou o nosso país com a principal finalidade de orientar os trabalhos de
tradução e revisão.
De acordo com a Sociedade Bíblica do Brasil, o trabalho feito não foi uma nova
tradução, mas uma revisão da tradução de João Ferreira de Almeida. Os textos
originais foram Nestle, para o Novo Testamento e Letteris para o Velho Testamento.
inculcando-se (Rm 1.22), adágio (2Pe 2.22). Não nos esqueçamos de que a linguagem
é correta e o estilo agradável de se ler.
Como bem destacou o Dr. Bittencourt, no livro O Novo Testamento, páginas 244 e 245:
"Nenhuma tradução é perfeita, nem quanto ao presente, nem futuro. E a última revisão
de Almeida não poderia escapar a este destino.
E para que determinada tradução não envelheça, ela deve ser revista, não só quanto à
língua, mas quanto à tradução propriamente dita, levando-se em conta as descobertas
no campo da crítica textual que sempre trazem novo material para o aperfeiçoamento
do texto sagrado nas línguas originais. E esta revisão, tão recente, já pede outros
trabalhos que a tornem bem melhor.
Por um decreto de 1757, no tempo do Papa Bento XIV, a Bíblia era reconhecida como
útil para fortalecer a fé. Esta nova atitude da Igreja Católica Romana deu impulso à
tradução da Bíblia com a Vulgata como base. Entre estes se encontrava o Padre
Antônio Pereira de Figueiredo, nascido perto de Lisboa em 1725. Por ser exímio
latinista, e como ele mesmo confessa: "Não sendo eu nem ainda medianamente
instruído nas línguas originais, hebraica e grega, em que foram escritos,
respectivamente, o Velho Testamento e os Evangelhos, mal poderia sair exata e
perfeita esta minha tradução."
A sua tradução se baseou na Vulgata. Por 18 anos ocupou-se deste trabalho, que foi
submetido a duas revisões cuidadosas antes de ser publicado. A primeira edição do
Novo Testamento saiu em 1778 em seis volumes e o Velho Testamento foi publicado
em 17 volumes, seguidamente, desde 1783 a 1790.
151
A principal objeção que se faz à Bíblia de Figueiredo é esta: apresenta deficiências que
se verificam numa tradução de tradução.
Tão logo se fundou a Trinitarian Bible Society, em Londres, cuidou de verter o Livro
Santo em vários idiomas, inclusive em português, que saiu a lume em 1883. Esta
primeira edição da Trinitária é muito disputada pelos adventistas da fala portuguesa,
152
ao ponto de se pagarem somas fabulosas por um exemplar, hoje raríssimo. E por quê?
Porque ela registra assim Lc 23.43: 'E Jesus lhe disse: Na verdade te digo hoje, que
estarás comigo no Paraíso'. E Ap 22.14: 'Bem-aventurados aqueles que guardam os
seus Mandamentos, para que tenham acesso à árvore da vida, e para que entrem na
cidade pelas portas'. E assim Jo 3.4: '... pecado é quebrantamento da Lei'. Estes três
textos, assim traduzidos, casam-se maravilhosamente com certos aspectos da doutrina
adventista. Também Is 42.21: '... engrandecerá Ele a Lei, e a fará ilustre'.
Cacófatos dos piores encontram-se, por exemplo, em 2Sm 1.3; Gn 25.30; Ez 45.24;
46.11; Sl 102.6; Is 62.8; 2Co 11.33; Hb 11.27. E um verbo de sentido chulo em Lc 2.6 e
7. A Versão Trinitária em 1883 jamais é referida pelos eruditos, que a consideram
destituída de valor crítico.
alteradas certas redações, inclusive de Lc 23.43, que agora está como as demais
versões: "na verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso". E ainda conserva boa
parte dos cacófatos, e incorreções tradutórias. Os próprios evangélicos brasileiros não
a apreciam.
“Harpa de Israel” foi o título que o notável hebraísta F. R. dos Santos Saraiva deu à
sua tradução do Livro dos Salmos, publicada em 1898.
Traduzido do velho idioma etíope por Esteves Pereira, O Livro de Amós surgiu
isoladamente no Brasil em 1917. Seis anos depois, J. Basílio Pereira publicou a
tradução do Novo Testamento e do Livro dos Salmos, ambos baseados na Vulgata. Por
essa época surgiu no Brasil (infelizmente, sem indicação de data) a Lei de Moisés (O
Pentateuco), edição bilíngüe hebraico-português, preparada pelo rabino Meir Masiah
Melamed.
154
O padre Huberto Rohden foi o primeiro católico a traduzir no Brasil o Novo Testamento
diretamente do grego. Publicada pela instituição católico-romana Cruzada Boa
Esperança, em 1930, essa tradução, por estar baseada em textos considerados
inferiores, sofreu severas críticas.
Coube ao padre Matos Soares realizar a tradução mais popular da Bíblia entre os
católicos na atualidade. Publicada em 1930 e baseada na Vulgata, essa tradução
possui notas entre parêntesis defendendo os dogmas da Igreja Romana. Por esse
motivo recebeu apoio papal em 1932.
Em 1990, a Editora Vida publicou a sua Edição Contemporânea da Bíblia traduzida por
Almeida. Essa edição eliminou arcaísmos e ambigüidades do texto quase tricentenário
de Almeida, e preservou, sempre que possível, as excelências do texto que lhe serviu
de base.
O escriba atingido por astigmatismo achava difícil distinguir as letras gregas que se
pareciam, especialmente se o copista anterior não escreveu com cuidado. Assim num
manuscrito uncial, onde o sigma era feito como sigma lunar, era fácil confundi-lo com o
épsilon, o teta e o ómicron C E Y O. Se dois lâmbdas fossem escritos muito juntos
poderiam ser tomados pela letra Mi, como aconteceu em Romanos 6.5, em muitos
manuscritos está A L L A (mas), noutros está AMA (juntos). Há divergência em alguns
manuscritos com a parte final de 1Co 12.13. A maioria traz: "E a todos nós foi dado
beber de um só Espírito"; contudo em alguns aparece: "E a todos nós foi dado beber de
uma bebida". Esta variante surgiu quando alguns copistas leram erradamente IMA (a
contração comum da palavra INEYMA – espírito, como IIOMA (bebida).
157
Tecnicamente, este erro chama-se homoioteleuton = final igual de duas linhas. Pelo fato
de duas linhas seguidas terminarem com a mesma palavra ou sílabas, os olhos do
copista podiam pular da primeira para a segunda, omitindo acidentalmente várias
palavras. Assim é explicada a curiosa tradução de João 17.15 no Códice Vaticano,
onde não aparecem as palavras aqui colocadas entre parênteses: "Não peço que os
tires do (mundo, mas que os livres do) mal". Algumas vezes, os olhos do escriba,
apanhavam a mesma palavra ou grupo de palavras uma segunda vez e como resultado
copiava duas vezes, o que deveria ter feito apenas uma. Em Atos 19.34 a expressão:
Grande é a Diana dos efésios, aparece duas vezes do Códice Vaticano. Chama-se
ditografia a repetição daquilo que ocorre apenas uma vez e haplografia a falta da
repetição de uma letra ou palavra.
Era comum ditarem ao copista e ele escrever uma outra palavra parecida, como as
nossas imersão e emersão, despercebido e desapercebido, comprimento e
cumprimento. Outro problema com o ditado encontrava-se nas homônimas não
homógrafas, como ilustram as palavras portuguesas: sinto e cinto, incipiente e
insipiente, cocho e coxo. A confusão entre épsilon e eta, ômega e ómicron era muito
comum em ditados. Um problema desta natureza está em Romanos 5.1, onde a
variante tenhamos se alterna com temos, em grego ecwnen e econen. Dr. Benedito de
Paula Bittencourt, em seu trabalho pioneiro de Crítica Textual em Língua Portuguesa
fez a análise crítica deste versículo e a quem pedimos vênia para citar algumas de suas
conclusões.
Estes erros surgiram porque a memória falhava enquanto o copista olhava para o
manuscrito e procurava escrever o que lá se encontrava. Este tipo de erro explica a
origem de um grande número de mudanças, especialmente nos evangelhos sinóticos,
envolvendo a substituição de sinônimos, variação na ordem das palavras, troca de
palavras por influência de outra passagem paralela, talvez conhecida do escriba. A
substituição de sinônimos aparece em exemplos como: eipen por efe, ec por apó, etc.
Um exemplo de troca de palavras temos em Mt 19.16-17, onde alguns copistas
alteraram o relato para que este concordasse com Mc 10.17 e Lc 18.18. À declaração
de Cl 1.14 copistas acrescentaram em alguns manuscritos, "através do seu sangue",
por influência da passagem paralela de Ef 1.7.
159
Encontramos alguns erros que apenas podem ser explicados por culpa de copistas
pouco inteligentes ou descuidados. Palavras ou notas explicativas, encontradas na
margem, eram muitas vezes, incorporadas ao texto do Novo Testamento. Ao copista
encontrar na margem, notas explicativas como sinônimos de palavras difíceis,
correções, comentários pessoais, ficava perplexo sem saber o que fazer com elas.
Alguns resolveram o problema da seguinte maneira – colocaram a nota no texto que
estavam copiando. Há manuscritos que trazem acrescentadas a Rm 8.1 as seguintes
palavras: "que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito". Esta era uma
nota explicativa na margem do primeiro versículo, talvez tirada do verso quatro.
Somente descuido em alto grau pode justificar alguns absurdos perpetrados por
escribas pouco perspicazes. Talvez um dos piores desatinos cometidos por um escriba
se encontra no manuscrito 109 do século XIV. Este manuscrito, dos quatro evangelhos,
agora no Museu Britânico, foi transcrito de uma cópia que deve ter tido a genealogia de
Jesus era duas colunas de 28 linhas cada uma. Em vez de transcrever o texto seguindo
as colunas em sucessão, o escriba do 109 copiou a genealogia seguindo as linhas
através das duas colunas, surgindo como era de se esperar um resultado desastroso.
Quase todos os filhos estão com os pais trocados; Deus é dado como filho de Adão e
Fares é a fonte de toda a raça e não Deus.
Por estranho que pareça, os escribas que pensavam, eram mais perigosos do que
aqueles que se limitavam a copiar o que tinham diante de si. Muitas das alterações, que
podem ser classificadas como intencionais foram, sem dúvida, introduzidas de boa fé
por copistas que criam estar corrigindo erros ou infelicidades de linguagem, que se
haviam introduzido no texto sagrado e precisavam ser retificados. A despeito da
vigilância de eclesiásticos zelosos, alguns escribas, chocados com erros reais ou
imaginários, de ortografia, gramática e fatos históricos, deliberadamente, introduziram
mudanças no que estavam copiando.
160
Para melhorar a sintaxe do nominativo depois da proposição apó (Ap 1.4), eles
inseriram tou, Qeou ou Kurivon. O escriba culto era tentado a melhorar a linguagem.
Os exemplos são muitos, mas aqui serão apresentados somente dois: Em João 19.20
encontra-se a expressão – Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus, estava escrito em
hebraico, latim e grego. Em muitos manuscritos, os copistas acrescentaram no texto de
Lucas 23.38, isto foi escrito em hebraico, latim e grego; a forma mais curta da Oração
do Senhor em Lc 11.2-4 foi alterada, em muitas cópias, para concordar com a forma
mais familiar e mais longa encontrada em Mateus 6.9-13.
Vários escribas, supondo que algo estava faltando na declaração de Mt 9:13 "Pois não
vim chamar os justos, mas os pecadores" acrescentavam "ao arrependimento". Outros
copistas achavam difícil deixar a palavra escriba, sem acrescentar fariseu, como
aconteceu em Mt 27.41. Em Cl 1.23 há um interessante exemplo ilustrando como os
copistas não resistiram à tentação de realçar a dignidade do Apóstolo
161
Paulo. Neste verso Paulo diz que ele se tornou ministro do Evangelho, em grego está
"diácono". Sendo que a palavra grega "diácono" significa, literalmente, aquele que
serve ministro, passou a designar uma ordem inferior do ministério, isto é, aqueles que
executam trabalhos mais simples na Igreja; os copistas dos manuscritos alefe a e P
mudaram diáconos para querix e apóstolos, por acharem que estes títulos eram mais
apropriados ao grande Apóstolo dos Gentios. O manuscrito A traz os três títulos para
Paulo – arauto, apóstolo e ministro.
A citação de Mc 1.2 é introduzida pela fórmula "Como está escrito no profeta Isaías".
Acontece que a citação é proveniente dos profetas Isaías e Malaquias: Isaías 40.3 e
Malaquias 3.1. Alguns escribas sentindo esta dificuldade substituíram a expressão "no
profeta Isaías" por "nos profetas". Sendo que Mateus 27.9 atribui ao profeta Jeremias o
que na realidade veio de Zacarias 11.12; não é de admirar que alguns copistas
procurassem corrigir o erro, substituindo o nome, ou omitindo-o. Alguns copistas
tentaram harmonizar o relato da cronologia da paixão com a de Marcos, pela mudança
da "hora sexta" de João 19.14 para "terceira hora", que aparece em Marcos 15.25.
Porque a declaração de Marcos 8.31 - "depois de três dias ressuscitará", parece
envolver um problema cronológico, alguns copistas a alteraram para "ao terceiro dia".
O que faria um escriba cuidadoso quando descobria que a mesma passagem fora dada
diferentemente em dois ou mais manuscritos que tinha diante de si? Em vez de fazer
uma escolha entre as duas variantes (com a probabilidade de omitir a genuína) muitos
incorporaram as duas na mesma cópia que estavam transcrevendo. Isto produziu a
chamada duplicidade de textos ou de leituras, característica predominante da família
bizantina. Os dois exemplos seguintes confirmam este fato: A declaração de Lucas de
que os discípulos estavam continuamente no templo bendizendo a Deus, aparece em
alguns manuscritos, "estavam continuamente no
162
templo orando a Deus". Não poucos copistas concluíram que era mais seguro
transcrever as duas declarações, aparecendo assim: "estavam continuamente no
templo orando e bendizendo a Deus". Atos 20.28 aparece em alguns manuscritos
como: "Igreja de Deus", e em outros: "Igreja do Senhor". Vários manuscritos posteriores
trazem "Igreja do Senhor e Deus".
homem rico de Lucas 16.19 aparece na versão saídica como Níneve ou Ninivita, nome
comum para ricos dissolutos naquele tempo. Uma adição apócrifa num antigo
manuscrito latino declara que quando Jesus foi batizado uma tremenda luz brilhou da
água atemorizando a todos os que estavam presentes. Os títulos dos livros apresentam
curiosidades dos amanuenses. O mais original neste aspecto é o título que o copista do
manuscrito 1775 deu ao Apocalipse: "Apocalipse do todo glorioso evangelista, amigo do
peito de (Jesus), virgem, amado de Cristo, João – o teólogo, filho de Salomé e
Zebedeu, mas filho adotivo de Maria, a mãe de Deus, e filho do trovão".
Conclusões
Todos os estudiosos dos problemas dos copistas estão bem cientes de que o estudo
comparativo de vários textos é de grande ajuda para a eliminação destes erros. Estes
erros têm sido denominados de periféricos, porque não abrangem a essência dos
ensinamentos divinos. Quem sabe pessoas iniciantes ou despreparadas em "Crítica
Textual" pensem da seguinte maneira: este estudo não deveria ser apresentado,
porque pode levar pessoas a descrerem da Palavra de Deus e a concluírem que os
escribas eram descuidados, caprichosos e tendenciosos. Verdades e realidades não
podem e não devem ser escondidas.
Todos devem ter em mente esta verdade fundamental: o que foi apresentado neste
capítulo aconteceu com alguns manuscritos e com poucos copistas, o que vem mostrar
a fragilidade da natureza humana. Existem muitas evidências mostrando o trabalho
dedicado, cuidadoso, honesto e fidelíssimo da maioria dos copistas, bem como
abundante conquista de manuscritos não alterados, que nos levam a crer firmemente
na fidelidade da transmissão das Santas Escrituras. A Crítica Textual não abate os
fundamentos da nossa crença, antes os solidifica.
A palavra crítica origina-se do verbo grego "krino" que significa julgar. A crítica textual
tem como primeiro objetivo conhecer a exatidão de um texto. Muitos dignos
164
Entende-se por crítica textual toda pesquisa científica em busca da verdadeira forma de
um documento escrito no original, ou, pelo menos, no texto mais próximo do original.
No que diz respeito aos autores dos últimos quatro séculos, depois da genial invenção
de Gutenberg, podemos estar certos de possuirmos suas obras exatamente como
foram escritas, salvo raras exceções, particularmente quanto a erros tipográficos de
menor importância. Já não se pode dizer o mesmo a respeito das obras que circularam
em manuscrito, antes da invenção da imprensa. Não é de admirar que os escritos
copiados múltiplas vezes, umas cuidadosamente, mas outras sem maiores cuidados, e
isto durante séculos, sofressem múltiplas e variadas alterações. Isto constitui, nos
diferentes documentos conhecidos da mesma obra, o que se chama de variantes ou
textos divergentes. E a crítica textual, particularmente a do Novo Testamento, tem por
objetivo a escolha do texto, entre todos os encontrados nos vários manuscritos, que
possua a maior soma de probabilidades de ser o original ou a forma primitiva do
autógrafo, já que não possuímos nenhum dos
165
autógrafos do Novo Testamento, mas apenas cópias e algumas delas distantes mais de
dois séculos do original. Esta busca científica dos originais ou dos textos que lhes
sejam mais próximos é de extrema dificuldade, cheia de problemas de vasta
complexidade. A regra geral nos leva a concluir que, quanto mais distante dos
autógrafos, tanto quanto ao tempo como quanto ao número de cópias, maior a
corrupção do texto, maior a soma de erros. No entanto, esta regra não é absoluta. Há
obras, e o Novo Testamento é deste tipo, onde a matéria em si leva o copista a
correções intencionais, e a corrupção, neste caso, não estaria em função da distância
que separa a cópia de seu original, nem quanto ao número de cópias, nem mesmo
quanto ao tempo, mas em função direta e inequívoca a matéria a ser copiada.
Entretanto, o maior número de cópias torna os serviços do crítico mais suaves, pois o
pequeno número de manuscritos conduz à probabilidade de perda, alguns lugares, da
verdade original, que só pode ser alcançada mediante conjetura, processo deveras
precário. Dr. Benedito P. Bittencourt, já várias vezes citado, inquestionavelmente, uma
das maiores autoridades em crítica textual no Brasil, assim escreveu no capítulo “A
Tarefa da Crítica Textual”.
O Novo Testamento leva, quanto ao tempo que separa os mais antigos manuscritos de
seus originais, grande vantagem sobre os clássicos. Possui o Novo Testamento cópias
completas dentro do quarto século. Há partes, como as do Papiro Chester Beatty, por
exemplo, que se situam na primeira metade do século terceiro e até mesmo no último
quartel do segundo, como o caso do Papiro de Bodmer. Há mesmo um fragmento bem
perto de seu autógrafo: é o fragmento de papiro P52, situado na primeira metade do
século segundo, e mesmo no seu primeiro quartel por alguns paleógrafos, distando,
assim, menos de cinqüenta anos de seu original, se colocarmos o Evangelho de João,
que P52 representa, na última década do primeiro século. A tarefa do crítico é reagir
contra os erros dos copistas. Ninguém deve recear a tarefa, nem mesmo menosprezá-
la, quando se pode afirmar, com os entendidos do assunto, que não só os grandes
manuscritos, mas também os mais antigos papiros atestam a integridade geral do texto
sagrado. E, todavia, a incontestável autoridade da Lagrange diz que entre esta pureza
substancial e um texto absolutamente igual aos originais há distância apreciável. Se
nos lembrarmos de que os manuscritos e citações diferem entre si entre 150.000 e
250.000 vezes e que um estudo só do Evangelho de Lucas revelou mais de 30.000
passagens diferentes e que, como afirma a autoridade de M. M. Parvis, "não há uma só
sentença do Novo Testamento na qual a tradição seja uniforme", sentiremos a
grandeza e a responsabilidade da tarefa. Há uma afirmação do mesmo prof. Parvis, da
Universidade de Chicago, que surge aos olhos do leigo como um choque'
166
tremendo e que só pode ser avaliada pelos estudiosos da matéria, que o presente Autor
não pode deixar de transcrever: "Até que esta tarefa esteja completa, a incerteza a
respeito do texto do Novo Testamento permanece". Note-se, todavia, que a elevada
cifra de variantes, em sua maioria esmagadora, diz respeito a questões que não afetam
o sentido profundo do texto e que o número de variantes que se revestem de
importância, especialmente no que diz respeito à doutrina, é assaz reduzido. A tarefa
da crítica textual do Novo Testamento é, diz Kenyon, "o mais importante ramo da
ciência". Ela trata com um livro cuja importância é imensurável e vital, mais importante
que qualquer outro livro do mundo, pois o Novo Testamento é único, nem mesmo
comparação pode sofrer. É tarefa básica, pois dela dependem as outras ciências
bíblicas. A crítica textual lança os fundamentos sobre o qual a estrutura da investigação
espiritual deve ser construída. Sem um bom texto grego, tão mais próximo dos
autógrafos quanto lhe permitam os labores da crítica textual, não é possível fazer
segura exegese, hermenêutica, crítica histórica ou literária, nem mesmo teologia, para
não falarmos em tradução. Embora seja chamada de baixa critica e bem modestos os
seus esforços, é fundamental e indispensável ao estudante do Novo Testamento, desde
o tradutor até o teólogo. O crítico textual tem por função, primeiro, a coleta do material
documentário, que encontra no exame de vários manuscritos, versões e noutro
elemento muito precioso, ainda não mencionado, as citações dos chamados Padres
Apostólicos. Depois se entregará ao exame crítico desse material, pela estima de sua
chacota. Para que ele possa realizar bem sua primeira função é necessário que esteja
familiarizado com o material, terreno onde realiza suas investigações. Deve conhecer
não só os vários manuscritos, versões e citações dos antigos escritores da Igreja Cristã,
como também o modo pelo qual foram produzidos, os usos da escrita literária e não
literária do tempo, o material usado, o destino e o objetivo final dessa mesma produção
[...] Para que possa realizar a segunda parte, mais profunda, mais difícil e que requer
mente bem educada e de grande relevância intelectual, deve conhecer a própria
história do texto, os métodos da crítica textual, teologia do autor cujo livro se examina, a
história das doutrinas, a língua original, particularmente sua gramática, e um
conhecimento cultural da época do autor e dos escritos cujas cópias considera. Por
estas ligeiras indicações o leitor pode ver, não só a extensão, mas as implicações desta
ciência. Isto para não falarmos em paleografia, arqueologia, conhecimento dos
clássicos, como quer a escola alemã, pois se pressupõe este trabalho já realizado pelos
respectivos especialistas e colocado ao alcance do crítico textual através da
caracterização dos vários documentos (O Novo Testamento, Cânon – Língua – Texto,
pp. 71-75).
167
Recebe o nome de "Textus Receptus" o texto grego que dominou, no campo do estudo
do Novo Testamento por mais de 300 anos. Este texto é também conhecido pelos
nomes de Texto Recebido ou Texto Grego Vulgarizado.
Outro nome intimamente ligado com o "Textus Receptus" é o de Teodoro Beza (1519-
1605), que entre 1565 e 1604 publicou nove textos bíblicos. O texto de Beza pouco
difere da quarta edição de Estéfano. A importância do seu trabalho consiste no
seguinte: suas edições visavam popularizar o "Textus Receptus". Os tradutores de King
James fizeram largo uso das edições de Beza. Em 1624, os irmãos Elzevirs,
impressores alemães, lançaram uma edição do Novo Testamento Grego, em cujo texto
predominava o de Estéfano, mas havia também um pouco do texto de Beza. No
prefácio da segunda edição se encontravam as seguintes palavras: "No texto que é
agora recebido por todos, não apresentamos nada mudado ou alterado." A expressão
"Textus Receptus" nasceu desta mesma frase em latim: "Textum ergo habes, nunc ab
omnibus receptum: in quo nihil immutatum aut corruptum damus." Os autores desta
simples frase jamais sonhariam que ela fosse o início de uma grande contenda na
história do texto bíblico.
168
Ninguém conseguiu fazer mais pelo texto bíblico do que este autor. Quando estudava
teologia, seu professor de grego, Winer (autor de uma famosa gramática) despertou
nele um desejo profundo para pesquisar manuscritos antigos, a fim de reconstruir a
mais perfeita forma do Novo Testamento Grego. Com este objetivo em mente, dedicou-
se de corpo e alma a esta sublime tarefa, pois escrevendo à sua noiva ele declarou:
"Resolvi dedicar-me a uma tarefa sagrada – a luta para conseguir a forma original do
Novo Testamento”. Sem receio de contestação pode-se afirmar que ninguém fez mais
do que Tischendorf para restaurar o texto original grego. Basta ter em mente que foi a
pessoa que publicou mais manuscritos e produziu mais edições críticas da Bíblia
Grega.
Entre 1941 e 1842 ele preparou oito edições do Novo Testamento Grego. A edição
mais importante é a oitava, publicada em dois volumes, acompanhada por um rico
Aparato Crítico, no qual Tischendorf reunia tudo sobre variantes textuais que ele ou
seus predecessores tinham achado em manuscritos, versões e Pais da Igreja. Em
virtude do grande esforço despendido, seu estado de saúde não lhe permitiu continuar
o trabalho, por isso sua obra foi completada por seu discípulo – Gaspar Renê Gregory.
O texto de sua oitava edição, de acordo com Nestle difere da sétima em 3.572 lugares.
Foi acusado de dar excessivo valor à evidência do Códice Sinaítico, que ele tinha
descoberto entre o lançamento da sétima e da oitava edição. Tischendorf deixou de
lado o "Textus Receptus", não levando também em conta a classificação dos
manuscritos em famílias.
170
Estes dois intelectuais ingleses, após um dedicado trabalho de 28 anos publicaram dois
volumes: O Novo Testamento no Original Grego com Introdução e Apêndice, onde os
princípios críticos seguidos por ele são minuciosamente expostos. Depois de
exaustivas pesquisas na procura de manuscritos antigos, os estudiosos desejaram
classificá-los em grupos, assim várias tentativas foram feitas, mas quase todas
infrutíferas quanto aos seus resultados. Coube a B. F. Westcott e F. J. A. Hort, dois
renomados professores da Universidade de Cambridge, a classificação dos
manuscritos do Novo Testamento em quatro famílias, por eles denominadas: Siríaca,
Ocidental, Alexandrina e Neutra.
Para eles a mais importante destas famílias era a neutra, por estar mais próxima dos
autógrafos e por contar com os dois mais famosos códices unciais – Sinaítico e
Vaticano. A preferência de Westcott e Hort por esta família é partilhada por insignes
vultos da Crítica Textual, mas, estudos posteriores têm indicado que eles foram
otimistas demais quanto à pureza do texto neutro. Pode-se notar ainda que o texto
Alexandrino não é distinto do texto neutro, por isso, hoje, aparece como Alexandrino.
171
Os defensores deste discutido texto tornaram-se tão fanáticos, que não admitiam que
ele fosse alterado ou melhorado. Aqueles que ousaram divergir foram tachados de
irreverentes e sacrílegos. Sendo que Westcott e Hort rejeitaram totalmente o texto
tradicional, suas idéias não foram bem aceitas pelos conservadores. Em breve,
intelectuais se levantaram como denodados paladinos do texto aceito por todos durante
300 anos. Dentre esses defensores destacam-se Scrivener, Edward Miller e John
Burgon. O argumento principal destes estudiosos em defesa do "Textus Receptus" era
este: "Se as palavras da Escritura tinham sido ditadas pela inspiração do Espírito
Santo, Deus não teria permitido que elas fossem corrompidas no decurso de sua
transmissão." Os argumentos apresentados em defesa do "texto recebido" não tiveram
a ressonância que eles esperavam e após a morte deles esta polêmica foi para sempre
encerrada.
Graças ao apoio financeiro da Sra. Elise Koenigs, Von Soden, professor em Berlim,
pôde enviar muitos estudantes que tinham sido treinados por ele para examinarem
manuscritos nas bibliotecas e museus da Europa e do Oriente Médio. Ele identificou
três grupos de manuscritos, designando-os pelas letras gregas K, H, I. Estas letras são
inicias das seguintes palavras: K de koinê – comum H de Hesíquio e I de Siríaco de W.
H.; O H incluiria o Neutro e o Alexandrino de W. H., enquanto o I equivaleria ao
Ocidental dos dois professores da Universidade da Universidade de Cambridge.
Discordando da classificação dos manuscritos em unciais e minúsculos e do
agrupamento em famílias de W. H. idealizou nova classificação que indicasse a idade,
conteúdo e tipo de cada manuscrito. Por ser um trabalho complexo, difícil de ser aceito
na prática, redundou num grande desapontamento para a Crítica Textual, por isso foi
totalmente posto de lado. Como resultado de suas pesquisas e de seus muitos
auxiliares, Von Soden publicou a História do Texto Bíblico em 2.203 páginas de seus
prolegômenos. Este trabalho, resultado de prolongada investigação e intensivo estudo,
tem sido descrito como um magnífico fracasso.
172
A edição do Novo Testamento Grego mais amplamente usada foi preparada por Nestle,
através da Sociedade Bíblica de Stutgart (1898). Seu texto é baseado em uma
comparação dos textos editados por Tischendorf, Westcott e Hort e Weiss. A obra de
Nestle representa o aperfeiçoamento do texto do fim do século XIX. Sendo notável pela
síntese maravilhosa do Aparato Crítico e pela precisão da grande soma de informações
textuais, sua edição tem sido muito apreciada. Uma nova edição do Novo Testamento
Grego de Nestle foi planejada, quando a Sociedade Bíblica Britânica comemorou seu
sesquicentenário (1954). O texto foi preparado por Kilpatrick, com a ajuda de Erwin
Nestle e Kurt Aland (Londres – 1958). Houve mudanças numas 20 passagens e
diversas alterações na ortografia, acentuação e no uso de parênteses.
Em 1966, após uma década de trabalho por uma Comissão Internacional, cinco
Sociedades Bíblicas publicaram uma edição do Novo Testamento Grego com a
finalidade de ser usada pelos tradutores da Bíblia.
173
Apêndice
O Valor religioso da Bíblia. Bíblia é, sem dúvida, um dos mais apreciados legados
literários da humanidade. Contudo o seu valor não se firma de maneira substancial no
fato literário. A riqueza da Bíblia consiste no caráter essencialmente religioso da sua
mensagem, que a transforma no livro sagrado por excelência, tanto para o povo de
Israel quanto para a Igreja cristã. Nessa coleção de livros, a Lei se apresenta como
uma ordenação divina (Êx 20; Sl 119), os Profetas têm a consciência de serem
portadores de mensagens da parte de Deus (Is 6; Jr 1.2; Ez 2-3) o os Escritos ensinam
que a verdadeira sabedoria encontra em Deus a sua origem (Pv 8.22-31).
Além da fala direta, Deus ainda falou através dos profetas. Quando eles se dirigiam ao
povo de Deus, assim introduziam as suas declarações: “Assim diz o Senhor”, ou “Veio
a mim a palavra do Senhor”. Quando, portanto, os israelitas ouviam as palavras do
profeta, ouviam, na verdade, a palavra de Deus.
A mesma coisa pode ser dita a respeito do que os apóstolos falaram no Novo
Testamento. Embora não introduzissem suas palavras com a expressão “assim diz o
Senhor”, o que falavam e proclamavam era, verdadeiramente, a palavra de Deus. O
sermão de Paulo ao povo de Antioquia da Pisídia (At 13.14-41), por exemplo, criou
tamanha comoção que, “no sábado seguinte, ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a
palavra de Deus” (At 13.44). O próprio Paulo assegurou aos Tessalonicenses que,
“havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como
palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como palavra de Deus” (1Ts 2.13;
At 8.25).
Além disso, tudo quanto Jesus falava era palavra de Deus, pois Ele, antes de tudo, é
Deus (Jo 1.1,18; 10.30; 1Jo 5.20). Lucas, escritor do terceiro evangelho, declara
explicitamente que, quando as pessoas ouviam a Jesus, ouviam na verdade a palavra
de Deus (Lc 5.1). Note como, em contraste com os profetas do AT, Jesus
175
introduzia seus ditos: Eu “vos digo...” (Mt 5.18,20, 22, 23, 32,39; 11.22,24; Mc 9.1;
10.15; Lc 10.12; 12.4; Jo 5.19; 6.26; 8.34). Noutras palavras, Ele tinha dentro de si
mesmo a autoridade divina para falar a palavra de Deus. É tão importante ouvir as
palavras de Jesus, pois “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem
a vida eterna e não entrará em condenação” (Jo 5.24). Jesus, na realidade, está tão
estreitamente identificado com a palavra de Deus que é chamado “o Verbo” [“a
Palavra”] (Jo 1.1,14; 1Jo 1.1; Ap 19.13-16; Jo 1.1). A palavra de Deus é o registro do
que os profetas, apóstolos e Jesus falaram, isto é, a própria Bíblia. No Novo
Testamento, quer um escritor usasse a expressão “Moisés disse”, “Davi disse”, “o
Espírito Santo diz”, ou “Deus diz”, nenhuma diferença fazia (At 3.22; Rm 10.5,19; Hb
3.7; 4.7); pois o que estava escrito na Bíblia era, sem dúvida alguma, a palavra de
Deus. Mesmo não estando no mesmo nível das Escrituras, a proclamação feita pelos
autênticos pregadores ou profetas, na igreja de hoje, pode ser chamada a palavra de
Deus. Pedro indicou que, a palavra que seus leitores recebiam mediante a pregação,
era palavra de Deus (1Pe 1.25), e Paulo mandou Timóteo “pregar a Palavra” (2Tm 4.2).
A pregação, porém, não pode existir independentemente da Palavra de Deus. Na
realidade, o teste para se determinar se a palavra de Deus está sendo proclamada num
sermão, ou mensagem, é se ela corresponde exatamente à Palavra de Deus escrita.
O que se diz de uma pessoa que recebe uma profecia, ou revelação, no âmbito do culto
de adoração (1Co 14.26-32)? Ela está recebendo, ou não, a palavra de Deus?
A resposta é um “sim”. Paulo assevera que semelhantes mensagens estão sujeitas à
avaliação por outros profetas. Todavia, há a possibilidade de tais profecias não serem
palavra de Deus (1Co 14.29 “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”).
O Poder da Palavra de Deus. A palavra de Deus permanece firme nos céus (Sl 119.89;
Is 40.8; 1Pe 1.24,25). Não é, porém, estática; é A mesma coisa pode ser dita a respeito
do que os apóstolos falaram no Novo Testamento. Embora não introduzissem suas
palavras com a expressão “assim diz o Senhor”, o que falavam e proclamavam era,
verdadeiramente, a palavra de Deus. O sermão de Paulo ao povo de Antioquia da
Pisídia (At 13.14-41), por exemplo, criou tamanha comoção que, “no sábado seguinte,
ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a palavra de Deus” (At
176
13.44). O próprio Paulo assegurou aos Tessalonicenses que, “havendo recebido de nós
a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas
(segundo é, na verdade) como palavra de Deus” (1Ts 2.13; At 8.25).
Além disso, tudo quanto Jesus falava era palavra de Deus, pois Ele, antes de tudo, é
Deus (Jo 1.1,18; 10.30; 1Jo 5.20). Lucas, escritor do terceiro evangelho, declara
explicitamente que, quando as pessoas ouviam a Jesus, ouviam na verdade a palavra
de Deus (Lc 5.1). Note como, em contraste com os profetas do Antigo
Testamento, Jesus introduzia seus ditos: Eu “vos digo...” (Mt 5.18,20, 22, 23, 32,39;
11.22,24; Mc 9.1; 10.15; Lc 10.12; 12.4; Jo 5.19; 6.26; 8.34). Noutras palavras, Ele tinha
dentro de si mesmo a autoridade divina para falar a palavra de Deus. É tão importante
ouvir as palavras de Jesus, pois “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me
enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação” (Jo 5.24).
Jesus, na realidade, está tão estreitamente identificado com a palavra de Deus que
é chamado “o Verbo” [“a Palavra”] (Jo 1.1,14; 1Jo 1.1; Ap 19.13-16; Jo 1.1). A palavra
de Deus é o registro do que os profetas, apóstolos e Jesus falaram, isto é, a própria
Bíblia. No Novo Testamento, quer um escritor usasse a expressão “Moisés disse”, “Davi
disse”, “o Espírito Santo diz”, ou “Deus diz”, nenhuma diferença fazia da palavra de
Deus.
A palavra de Deus é a arma que o Senhor nos proveu para lutarmos contra Satanás (Ef
6.17; Ap 19.13-15). Jesus derrotou Satanás, pois fazia uso da Palavra de Deus:
“Está escrito” (“consta como a Palavra infalível de Deus”; Lc 4.1-11; Mt 4.1-11).