BIBLIOLOGIA

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Seminário Teológico–Ensino de Cursos Teológicos a Distância-ECTAD. Av.

Duque de Caxias, 4389, Bairro Buenos Aires - CEP: 64,006-220 – Teresina/PI.

DISCIPLINA
BIBLIOLOGIA

CONCEITO GERAL DE BIBLIOLOGIA

Imagem meramente ilustrativa.

O nosso assunto é o estudo introdutório e auxiliar das Sagradas Escrituras, para sua melhor
compreensão. É também chamado Isagoge nos cursos superiores de Teologia. Este estudo auxilia
grandemente a compreensão dos fatos da Bíblia. Um ponto saliente nele é a história de como a
Bíblia chegou até nós. A necessidade desse estudo é que, sendo a Bíblia um livro divino, veio a nós
por canais humanos, tornando-se, assim, divino-humano, como também o é a Palavra Viva: Cristo,
que se tornou também divino-humano (Jo 1.1; Ap 19.13).
Através da Bíblia, Deus se revela em linguagem humana, para que o homem possa entendê-
lo. Por essa razão, a Bíblia faz alusão a tudo que é terreno e humano. Ela menciona países,
montanhas, rios, desertos, mares, climas, solos, estradas, plantas, produtos, minérios, comércio,
dinheiro, línguas, raças, usos, costumes, culturas etc. Isto é, Deus, para fazer-se compreender, vestiu
a Bíblia da nossa linguagem, adaptando-a ao modo humano de perceber as coisas.
A Bíblia é, sem dúvida, um dos mais apreciados legados literários da humanidade. Contudo
o seu valor não se firma de maneira substancial no fato literário. A riqueza da Bíblia consiste no
caráter essencialmente religioso da sua mensagem, que a transforma no livro sagrado por
excelência, tanto para o povo de Israel quanto para a Igreja cristã. Nessa coleção de livros, a Lei se
apresenta como uma ordenação divina (Êx 20; Sl 119), os Profetas têm a consciência de serem
portadores de mensagens da parte de Deus (Is 6; Jr 1.2; Ez 2-3) os Escritos ensinam que a
verdadeira sabedoria encontra em Deus a sua origem (Pv 8.22-31).
Esses valores religiosos aparecem não só no título de Sagradas Escrituras, mas também na
forma que Jesus e, em geral, os autores do Novo Testamento se referem ao Antigo, isto é, aos textos
bíblicos escritos em épocas precedentes. Isso ocorre, por exemplo, quando lemos que Deus fala por
meio dos profetas ou por meio de algum dos outros livros (Mt 1.22; 2.15; Rm 1.2; 1Co 9.9) ou
quando os profetas aparecem como aquelas pessoas mediante as quais “se diz” algo ou “se anuncia”
algum acontecimento, forma hebraica de expressar que é o próprio Deus quem diz ou anuncia (Mt
2.17; 3.3; 4.14); também quando se afirma a permanente autoridade das Escrituras (Mt 5.17-18; Jo
10.35; At 23.5), ou quando as relaciona especialmente com a ação do Espírito Santo (At 1.16;
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28.25). Formas magistrais de expressar a convicção comum a todos os cristãos em relação ao valor
das Escrituras são encontradas em passagens como 2Tm 3.15-17 e 2Pe 1.19-21.
A Igreja cristã, desde as suas origens, tem descoberto na mensagem do evangelho o mesmo
valor da palavra de Deus e a mesma autoridade do Antigo Testamento (Mc 16.15-16; Lc 1.1-4; Jo
20.31; 1Ts 2.13), por isso, em 2Pe 3.16, se equiparam as epístolas de “nosso amado irmão Paulo”
(v.15) às “demais Escrituras”. Gradativamente, a partir do século II d.C., foram sendo reconhecidos
os 27 livros que formam o Novo Testamento a sua categoria de livros sagrados e, em conseqüência,
a plenitude da sua autoridade definitiva e o seu valor religioso.
Tal reconhecimento, que implica o próprio tempo da presença, direção e inspiração do
Espírito Santo na formação das Escrituras, não descarta, em absoluto, a atividade física e criativa
das pessoas que redigiram os textos. Elas mesmas se referem a essa atividade em diversas ocasiões
(Ec 1.13; Lc 1.1-4; 1Co 15.1-3,11; Gl 6.11). A presença de numerosos autores materiais é,
precisamente, a causa da extraordinária riqueza de línguas, estilos, gêneros literários, conceitos
culturais e reflexões teológicas que caracterizam a Bíblia.
A expressão “a palavra de Deus” (também “a palavra do Senhor”, ou simplesmente “a
palavra”) possui várias aplicações na Bíblia. Obviamente, refere-se, em primeiro lugar, a tudo
quanto Deus tem falado diretamente. Quando Deus falou a Adão e Eva (Gn 2.16,17; Gn 3.9-19), o
que Ele lhes disse era, de fato, a palavra de Deus. De modo semelhante, Ele se dirigiu a Abraão (Gn
12.1-3), a Isaque (Gn 26.1-5), a Jacó (Gn 28.13-15) e a Moisés (Êx 3-4). Deus também falou à
totalidade da nação de Israel, no monte Sinai, ao proclamar-lhe os dez mandamentos (Êx 20.1-19).
As palavras que os israelitas ouviram eram palavras de Deus.
Além da fala direta, Deus ainda falou através dos profetas. Quando eles se dirigiam ao povo
de Deus, assim introduziam as suas declarações: “Assim diz o Senhor”, ou “Veio a mim a palavra
do Senhor”. Quando, portanto, os israelitas ouviam as palavras do profeta, ouviam, na verdade, a
palavra de Deus.
A mesma coisa pode ser dita a respeito do que os apóstolos falaram no Novo Testamento.
Embora não introduzissem suas palavras com a expressão “assim diz o Senhor”, o que falavam e
proclamavam era, verdadeiramente, a palavra de Deus. O sermão de Paulo ao povo de Antioquia da
Pisídia (At 13.14-41), por exemplo, criou tamanha comoção que, “no sábado seguinte, ajuntou-se
quase toda a cidade a ouvir a palavra de Deus” (At 13.44). O próprio Paulo assegurou aos
Tessalonicenses que, “havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não
como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como palavra de Deus” (1Ts 2.13; At 8.25).
Além disso, tudo quanto Jesus falava era palavra de Deus, pois Ele, antes de tudo, é Deus (Jo
1.1,18; 10.30; 1Jo 5.20). Lucas, escritor do terceiro evangelho, declara explicitamente que, quando
as pessoas ouviam a Jesus, ouviam na verdade a palavra de Deus (Lc 5.1). Note como, em contraste
com os profetas do ANTIGO TESTAMENTO, Jesus introduzia seus ditos: Eu “vos digo...” (Mt
5.18, 20, 22, 23, 32, 39; 11.22, 24; Mc 9.1; 10.15; Lc 10.12; 12.4; Jo 5.19; 6.26; 8.34). Noutras
palavras, Ele tinha dentro de si mesmo a autoridade divina para falar a palavra de Deus. É tão
importante ouvir as palavras de Jesus, pois “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me
enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação” (Jo 5.24). Jesus, na realidade, está tão
estreitamente identificado com a palavra de Deus que é chamado “o Verbo” [“a Palavra”] (Jo
1.1,14; 1Jo 1.1; Ap 19.13-16; Jo 1.1). A palavra de Deus é o registro do que os profetas, apóstolos e
Jesus falaram, isto é, a própria Bíblia. No Novo Testamento, quer um escritor usasse a expressão
“Moisés disse”, “Davi disse”, “o Espírito Santo diz”, ou “Deus diz”, nenhuma diferença fazia (At
3.22; Rm 10.5, 19; Hb 3.7; 4.7); pois o que estava escrito na Bíblia era, sem dúvida alguma, a
palavra de Deus.
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Mesmo não estando no mesmo nível das Escrituras, a proclamação feita pelos autênticos
pregadores ou profetas, na igreja de hoje, pode ser chamada a palavra de Deus. Pedro indicou que, a
palavra que seus leitores recebiam mediante a pregação, era palavra de Deus (1Pe 1.25), e Paulo
mandou Timóteo “pregar a Palavra” (2Tm 4.2). A pregação, porém, não pode existir
independentemente da Palavra de Deus. Na realidade, o teste para se determinar se a palavra de
Deus está sendo proclamada num sermão, ou mensagem, é se ela corresponde exatamente à Palavra
de Deus escrita.
O que se diz de uma pessoa que recebe uma profecia, ou revelação, no âmbito do culto de
adoração (1Co 14.26-32)? Ela está recebendo, ou não, a palavra de Deus? A resposta é um “sim”.
Paulo assevera que semelhantes mensagens estão sujeitas à avaliação por outros profetas. Todavia,
há a possibilidade de tais profecias não serem palavras de Deus (1Co 14.29 “E falem dois ou três
profetas, e os outros julguem”). É somente em sentido secundário que os profetas, hoje, falam sob a
inspiração do Espírito Santo; sua revelação jamais deve ser elevada à categoria da inerrância (1Co
14.3).
1 - A BÍBLIA - ORIGEM E VOCÁBULOS
1.1 Origens da Escrita
Tem sido difícil determinar com exatidão, onde, como e quando a escrita teve a sua origem.
A escrita se originou quando o ser humano sentiu a necessidade de guardar seus feitos para que a
posteridade os conhecesse. A escrita primitiva foi pictográfica onde figuras representavam objetos.
Logo a seguir aparece à ideográfica, assim chamada pelo fato das figuras representarem idéias.
Num terceiro estágio aparece o fonograma – figuras representando sons. Dos povos antigos, os dois
que mais se destacaram, no desenvolvimento da escrita, foram os babilônicos e os egípcios. Cada
um destes teve a sua destacada e particular escrita: os babilônicos criaram a escrita cuneiforme,
assim denominada por consistir de pequenas cunhas, feitas especialmente em pedras; enquanto os
egípcios usavam pequenas figuras para representar objetos e idéias, os famosos hieróglifos. A
história nos relata que a decifração dessas escritas exigiu muito esforço e concentração. A escrita
cuneiforme foi decifrada pelo oficial inglês Henrique Rawlinson, após 18 anos de labores intensos.
Quanto à escrita hieroglífica, todos sabem que foi Champollion, o notável egiptólogo francês, o
primeiro a desvendar-lhe os mistérios.
1.1.1 A Escrita Cuneiforme
A princípio, certa espécie de marca representava uma palavra inteira, ou uma combinação de
palavras. Desenvolvendo-se a arte de escrever, passou a haver 'marcas' que representavam partes de
palavras, ou sílabas. Era este o gênero de escrita em uso na Babilônia no alvorecer do período
histórico. Havia mais de 500 marcas diferentes, com umas 30.000 combinações. Geralmente, essas
marcas se faziam em tijolos ou placas de barro macio (úmido), medindo de 2 a 50 centímetros de
comprimento, uns dois terços de largura, e escritos de ambos os lados; depois eram secados ao sol
ou cozidos no forno. Por meio dessas inscrições cuneiformes, em placas de barro, é que chegou até
nós a vasta literatura dos primitivos babilônios.
1.1.2 Origem do Alfabeto
Tem sido um assunto bastante controvertido a origem do alfabeto. Em geral se aceita que o
alfabeto de 22 letras foi inventado pelos fenícios e por eles levado aos gregos e depois aos latinos.
Até a pouco se afirmava que a descoberta do alfabeto tinha sido pelos séculos XII ou XI a.C., sendo
este argumento apresentado para provar que Moisés não podia ter escrito o Pentateuco, visto que em
seu tempo não tinham ainda inventado a arte de escrever.
Ira M. Price no livro The Ancestry of Our English Bible, p. 13, escreveu: "A escrita é muito
antiga na Palestina [... ] O trabalho dos arqueólogos nos mostra muitos exemplos de escrita antes de
Moisés". Escavações arqueológicas em Ur têm provado que Abraão era cidadão de uma metrópole
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altamente civilizada. Nas escolas de Ur os meninos aprendiam leitura, escrita, aritmética e


geografia.
Três alfabetos foram descobertos: junto do Sinai, em Biblos e em Ras Shamra, que são bem
anteriores ao tempo de Moisés (1.500 a.C.). Estudiosos modernos, baseados em evidências
irrefutáveis, sustentam que Moisés escolheu a escrita fonética para escrever o Pentateuco. O
arqueólogo W. F. Albright datou esta escrita de início do século XV a.C. (tempo de Moisés).
Interessante é notar que esta escrita foi encontrada no lugar onde Moisés recebeu a incumbência de
escrever seus livros. Em Êxodo 17.14 encontramos a ordem divina para que Moisés escrevesse num
livro.
Note-se ainda a frase de Merril Unger sobre a escrita do Antigo Testamento: "A coisa
importante é que Deus tinha uma língua alfabética simples, pronta para registrar a divina revelação,
em vez do difícil e incômodo cuneiforme de Babilônia e Assíria, ou o complexo hieróglifo do
Egito". Sobre o problema de Moisés ter escrito ou não seus livros vale acrescentar o que escreveu o
Dr. Renato Oberg: "Os primeiros livros da Bíblia a serem escritos foram os que compõem o
Pentateuco e o de Jó, sendo a autoria deles atribuída a Moisés pela tradição judaica que, por sua
vez, é aceita sem contestação por grande número de cristãos. O Talmude Babilônico afirma que
'Moisés escreveu o seu próprio livro e as passagens e respeito de Balaão e Jó' (SDABC, vol. III, p.
493). Como vimos, nem todos aceitam Moisés como sendo o real autor destes livros, especialmente
o de Jó. Os que o fazem, dão Jó como tendo sido o primeiro dos livros escritos, e Moisés o teria
feito quando pastoreava os rebanhos do seu sogro nas campinas de Midiã, após ter fugido do Egito.
Os cinco livros que compõem o Pentateuco foram escritos posteriormente. Os que não aceitam esta
tese, já escreveram muito a respeito do assunto, procurando arrazoar com argumentos os mais
variados. Inclusive a diferença de estilo entre os livros e até dentro de cada um deles.
Um dos argumentos mais fortes, porém senão o mais forte de todos, foi o que começou a
dominar desde o fim do último quartel do século passado, quando Wellhausen, professor da
Universidade de Greifswald, chegou a afirmar que se fosse tão-somente possível saber que Moisés
pudesse escrever, seria ridículo não aceitá-lo. Evidentemente, segundo tudo o que se conhecia até
então, quando as primeiras grandes descobertas arqueológicas começaram a empolgar o mundo e
quando se dizia que tudo tem de ser decidido pela razão, tinha-se como certo que a invenção do
nosso alfabeto se devia aos fenícios que o tinham criado no empenho de facilitar suas transações
comerciais pelo mundo todo. Foi então que a decifração dos hieróglifos feita por Champollion
revelou o conteúdo de uma série enorme de documentos com sinais tidos por muitos como
decoração e misticismo religioso, e cujo conteúdo era, até então, desconhecido completamente. Ora
sendo o alfabeto inventado pelos fenícios, cuja existência foi bem posterior à de Moisés, e se as
escritas anteriores, hieróglifos e cuneiformes, foram apenas decifradas no século passado, como
poderia Moisés ter escrito aqueles livros? Se o tivesse feito, só o poderia fazer em hieróglifos,
língua na qual a própria Bíblia diz que Moisés era perito (Atos 7.22) e, neste caso ela, a Bíblia do
Velho Testamento, teria ficado desconhecida por nós até Champollion! Daí a frase de Wellhausen.
Acontece, porém, que no princípio do século XX ou, mais precisamente, nos anos de 1904 e
1905, Sir Flinders Petrie, fazendo escavações na Península do Sinai, patrocinadas pela Escola
Britânica de Arqueologia no Egito, descobriu algumas inscrições muito diferentes do cuneiforme,
mas embora aparentassem alguma semelhança com o hieróglifo, não o eram, em absoluto. O caso
despertou enorme interesse entre os que cuidavam do assunto, especialmente quando começaram a
aparecer mais vasos e óstracos (cacos de vasos com inscrições) portadores de sinais idênticos, em
outros lugares na Palestina. Para encurtar a história, os estudos que arqueólogos famosos como,
inclusive, W. F. Allbright fizeram, esclareceram completamente o caso e hoje se sabe perfeitamente
que os sinais descobertos por Flinders Petrie pertencem à escrita chamada de proto-fenícia, proto-
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sinaítica ou cananita e [ ...] era alfabética! Com esta descoberta, a origem do nosso alfabeto se
transportava da época dos fenícios para a dos seus antecessores, séculos antes, os cananitas que
viveram no tempo de Moisés e antes dele. Foram estes antepassados dos Fenícios que simplificaram
a escrita, passando a usar o alfabeto em lugar dos hieróglifos, isto é, sinais que representam sons ao
invés de sinais que representam idéias. Para nós, porém, assume importância igualmente grande o
fato de estes cananitas, inventores da escrita alfabética, serem justamente os da região onde Moisés
pastoreava as ovelhas do seu sogro. Convém, portanto que os conheçamos um pouco mais.
A partir da XII dinastia, os egípcios começaram a explorar as minas de cobre e turquesa da
região do Sinai, e uma das maiores delas ficava em Serabitel-Khaden, acerca de oitenta quilômetros
do tradicional Monte Sinai, onde foram dados os Dez Mandamentos. Em termos de jornada, esta
região distava cerca de três dias de viagem do Egito. Neste local trabalhavam para os egípcios
muitos semitas que praticavam uma religião muito semelhante à dos israelitas, tal como pôde ser
observado pelos restos deixados por eles e descobertos pelos arqueólogos. Esta região era a mesma
naquele tempo conhecida também pelo nome de 'Terra de Midiã', para onde Moisés fugiu da
presença de Faraó (Êx 2.15). Com estas descobertas, perderam sua razão de ser muitos dos
argumentos contrários à Bíblia feitos pela Crítica Histórica, porque se verificou que a história
bíblica daquele período passou a ser perfeitamente compreensível dentro dos costumes da época,
inclusive a boa convivência de Moisés com o sacerdote Jetro, cujas religiões eram
fundamentalmente as mesmas.
Ora vivendo Moisés quarenta anos nesta região, é óbvio que tomou contato com a escrita
rude daquele povo, viu nela a escrita do futuro e passou a usá-la por duas grandes razões que teria
julgado decisivas: a primeira foi a impressão grandiosa que teve de usar uma língua alfabética para
seus escritos e que se compunha apenas de vinte e dois sinais bastante simples comparados com os
ideográficos que aprendera nas Escolas do Egito; a outra teria sido o fato de compreender que
estava escrevendo para seu próprio povo, cuja origem era semita como a dos habitantes da terra
onde vivia, tendo estes uma religião idêntica à dos primeiros, ambas, porém, deturpadas pelas
influências pagãs e oriundas do pecado; seus leitores seriam homens e mulheres, moços e moças do
povo, especialmente israelitas que, não sendo versados em hieróglifos por causa da sua posição de
escravos no Egito, aprenderam com muito mais facilidade os poucos e simples sinais alfabéticos
que representavam sons do que os inúmeros e complicados hieróglifos que representavam idéias.
1.2 Materiais Usados para Escrever
1.2.1 Manuscritos
Vulgarmente os dicionários registram MANUSCRITO como "escrito à mão". Em sentido
técnico, esse nome refere-se à volumosa bagagem de rolos ou fragmentos escritos à mão com textos
das Escrituras Sagradas. Em um sentido mais particular, alude aos escritos do Antigo e Novo
Testamentos, desde os tempos patriarcais até à invenção da imprensa, na metade do século XV.
De conformidade com o Prof. Antonio Gilberto (1996, p.74,75), “desde os tempos mais remotos o
homem tem usado vários materiais e técnicas sobre as quais tentava de alguma forma passar idéias,
fatos de geração a geração”, alguns dos materiais usados foram:
a) Pedra. Os caracteres eram gravados nas colunas dos templos, como os de Lúxor e
Camaque, no Egito; ou em cilindros, como o código de Hamurabi; ou nas rochas, como em
Persépolis; ou mesmo em lápides, como a pedra Roseta, decifrada por Champolion, nos dias de
Napoleão.
b) Cerâmica. Material usado desde tempos imemoriais na região da Mesopotâmia. Dois
tipos de cerâmica têm sido encontrados pelos arqueólogos: seca ao sol e seca ao forno.
c) Linho. Tem sido encontrado nas descobertas arqueológicas.
d) Tábuas recobertas de cera (Is 8.1; Lc 1.63).
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e) Papiro. O papiro se destaca como o principal material antigo usado para escrever. Planta
originária do Egito, muito comum nas margens lodosas do Nilo, e usada abundantemente na
preparação de uma espécie de papel. Ele só cresce em terrenos alagadiços, por isso em Jó 8.11 há a
seguinte pergunta: Pode o papiro crescer sem lodo? Normalmente se escrevia só de um lado do
papiro e as folhas mais longas eram enroladas. Estes rolos recebiam o nome de volumes, palavra do
latim – volvere que significa enrolar. Os egípcios guardavam cuidadosamente o segredo da
preparação do papiro para a escrita. No século VI a.C. começaram a exportá-lo para a Grécia e
depois para outros povos que habitavam nas margens do Mediterrâneo, onde se criou um importante
comércio desta especialidade, mormente na cidade da Biblos. Quem hoje chega ao Cairo, capital do
Egito, pode visitar às margens do rio Nilo um navio-escola, onde se prepara o papiro com
finalidades culturais e turísticas, mas não comerciais. The Interpreter's Dictionary of the Bible, vol.
3, p. 649, diz o seguinte sobre o papiro: "O papel, palavra derivada de papiro, era preparado de finas
faixas da parte interior da folha do papiro arranjadas verticalmente, com outra camada aplicada
horizontalmente em cima. Um adesivo era empregado (Plínio diz que era água do Nilo!) e pressão
aplicada para ligá-las formando uma folha. Após secar, era polida com instrumentos de concha ou
pedra; depois as folhas eram atadas, formando rolos".
f) Pergaminho. A preparação do pergaminho para receber a escrita tem uma interessante
história. De acordo com a História Natural de Plínio, o Velho (Livro XIII, capítulo XXI), foi o rei
Eumene de Pérgamo, uma cidade da Ásia Menor, quem promoveu a preparação e o uso do
pergaminho. Este rei planejou fundar uma biblioteca em sua cidade, que se rivalizasse com a
famosa biblioteca de Alexandria. Esta ambição não agradou a Ptolomeu do Egito, que
imediatamente proibiu a exportação de papiro para Pérgamo. Esta proibição forçou Eumene a
preparar peles de carneiro ou ovelha para receber a escrita, dando-lhe o nome do lugar de origem –
pergaminho. O pergaminho era muito superior ao papiro, por causa da maior durabilidade. Os
principais manuscritos bíblicos estão escritos em Pergaminhos. Paulo na sua segunda Epístola a
Timóteo (4.13) roga ao jovem ministro para que lhe trouxesse os pergaminhos. Em grego a palavra
não é pergaminho, mas membrana. O pergaminho continuou a ser usado até o fim da Idade Média
quando o papel inventado pelos chineses e introduzido na Europa pelos comerciantes árabes tornou-
se popular, suplantando todos os outros materiais da escrita. Os judeus eram bastante cuidadosos
com a preparação de manuscritos destinados a receber os escritos sagrados, exigindo que a pele
fosse de animal limpo e preparada por um judeu.
g) Palimpsesto. Em virtude de crises econômicas o pergaminho tornava-se muito caro, era
então raspado, lavado e usado novamente. Estes manuscritos eram chamados palimpsestos (do
grego palin = de novo e psesto = raspado). Um famoso manuscrito – o Códice Efraimita está escrito
em um palimpsesto. Por meio de reagentes químicos e raios ultravioletas eruditos têm conseguido
fazer reaparecer a escrita primitiva desses palimpsestos. Dos 250 manuscritos unciais conhecidos
hoje, do Novo Testamento, 52 são palimpsestos.
1.2.2 Caracteres dos Manuscritos
Na antiguidade havia dois tipos distintos de escrita em grego: o cursivo e o uncial.
O cursivo, escrita rápida, empregado em escritos não literários, tais como: cartas, pedidos,
recibos. Neste tipo de escrita eram comuns as contrações e abreviações. O uncial, usado mais em
obras literárias, caracterizava-se por serem as letras maiores e separadas umas das outras.
Assemelhar-se-iam às nossas letras maiúsculas. Os manuscritos bíblicos apresentam estes dois tipos
de escrita, porém, não nos devemos esquecer que os principais se encontram em letras unciais.
No início do século IX a.D., houve uma reforma na maneira de escrever e uma escrita com
letras pequenas, chamadas minúsculas, era usada na produção de livros. Letras minúsculas,
economizando tempo e material, faziam com que os livros ficassem mais baratos e pudessem ser
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adquiridos por maior número de pessoas. Nos manuscritos bíblicos primitivos, normalmente,
nenhum espaço era deixado entre as palavras e até o século VIII a pontuação era pouca usada. De
acordo com J. Angus em História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, Vol, I, p. 39, somente no
século VIII é que foram introduzidos nos manuscritos alguns sinais de pontuação e no século IX
introduziram o ponto de interrogação e a vírgula. Sentidos distintos têm surgido, quando uma
simples vírgula é mudada de lugar, como se evidencia da leitura da conhecida passagem: "Em
verdade te digo hoje, comigo estarás no paraíso". Muitas outras passagens bíblicas podem ser lidas
com sentido totalmente diferente ao ser mudada a sua pontuação como nos confirmam os seguintes
exemplos: "Ressuscitou, não está aqui." "Ressuscitou? não, está aqui." "A voz daquele que clama
no deserto: preparai o caminho do Senhor"; "A voz daquele que clama: no deserto preparai o
caminho do Senhor."
1.2.3 Manuscritos gregos
a) Papiros. O texto do Novo Testamento continuou sendo escrito sobre papiro até ao século
VII. Mas sabemos que a partir do século IV já se usava o pergaminho. Há nada menos de 76 papiros
que contêm porções do Novo Testamento.
b) Unciais e Cursivos. Existia uma variedade de escritos unciais e cursivos. Há 252 cópias
unciais, atribuídas de 4 a 9 e mais ou menos 2646 cópias em cursivos, de 9 a 11 d.C.

c) Lecionários. Igualmente escritos em pergaminho. Há 1997 cópias. Eram leituras


escolhidas do texto do Novo Testamento, para serem lidas nas reuniões públicas nas igrejas.
Portanto, há nada menos de cinco mil manuscritos gregos. De todas as obras literárias antigas,
nenhuma é tão bem documentada como o Novo Testamento.
d) Ostracas. Eram pedaços de jarros quebrados, grafados com pequenas porções do Novo
Testamento ou de outras obras literárias. Do Novo Testamento há apenas vinte e cinco, com os
seguintes textos: Mt 27.31,32; Mc 5.40,41; Lc 12.13-16; Jo 1.1-9,14-17; 18.19-25 e 19.15-17.
e) Amuletos. Também chamados "talismãs da sorte." Eram pedaços de lança, madeira,
barro, pergaminho e papiro, com inscrições, algumas com breves porções do Novo Testamento,
inclusive a oração do Pai Nosso. Pertencem aos séculos IV à XIII.
1.2.4 Manuscritos Importantes do Antigo Testamento
Muitos dos manuscritos medievais do Antigo Testamento exibem uma forma positivamente
padronizada do texto hebraico. Essa padronização reflete o trabalho de copistas medievais
conhecidos pelo nome de massoretas (500-900 d.C.). O texto resultante desse trabalho é
denominado texto massorético. A maioria dos manuscritos importantes, datados do século XI d.C.
ou posteriores reflete essa mesma tradição textual básica. Mas, visto que o texto massorético não se
firmou até bem depois de 500 d.C., muitas questões relacionadas ao seu desenvolvimento nos
séculos precedentes não podiam ser respondidas. Então, a primeira tarefa para os críticos textuais do
Antigo Testamento foi comparar as testemunhas antigas, a fim de descobrir como o texto
massorético surgiu e como ele e os testemunhos antigos da Bíblia hebraica estão relacionados, o que
nos leva à primeira tarefa da crítica textual: a compilação de todos os registros possíveis dos
escritos bíblicos.
Todas as fontes primárias das Escrituras hebraicas são manuscritos (grafados à mão),
geralmente escritos em peles de animais, em papiros ou, às vezes, em metais. O fato de serem
escritos à mão é fonte de muitas dificuldades para o crítico textual. O erro humano e a interferência
editorial são freqüentemente culpados pelas muitas leituras variantes nos manuscritos do Antigo e
do Novo Testamento. Pela razão de os antigos manuscritos estarem escritos em peles ou em
papiros, gera-se outra fonte de dificuldades. Devido à deterioração natural, a maioria dos antigos
manuscritos subsistentes está fragmentária, difícil de ler [...] Há muitas testemunhas secundárias
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para o texto primitivo do Antigo Testamento, incluindo traduções para outras línguas, citações
usadas tanto por amigos quanto por inimigos da religião cristã e evidências dos primeiros textos
impressos. Grande parte das testemunhas secundárias passou por processos similares às
testemunhas primárias. Elas também contêm numerosas variantes por causa de erros, não só
intencionais como também acidentais, e estão fragmentárias como resultado da degeneração natural.
Considerando que as leituras variantes realmente existem nos antigos manuscritos que subsistiram,
estes devem ser compilados e comparados. O trabalho de comparar e alistar as leituras variantes é
conhecido por colação (COMFORT, 1998, p. 215).
1.2.5 O Texto Massorético.
A história do texto massorético é um relato por si mesmo significativo. Esse texto da Bíblia
hebraica é o mais completo que existe. Forma a base para nossas modernas Bíblias hebraicas e é o
protótipo pelo qual todas as comparações são feitas no estudo textual do Antigo Testamento. É
chamado massorético porque, em sua presente forma, foi baseado na Massora, a tradição textual dos
eruditos judeus conhecidos como os massoretas de Tiberíades (local dessa comunidade, no mar da
Galiléia). Os massoretas, cuja escola de erudição prosperou entre 500 e 1000 d.C. padronizaram o
tradicional texto consonantal, adicionando pontos vocálicos e notas marginais (o antigo alfabeto
hebraico não tinha vogais).
O manuscrito massorético de data mais antiga é o Códice Cairense (895 d.C. atribu-ído a
Moisés ben Aser. Esse manuscrito compreende os livros tanto dos primeiros profetas (Josué, Juízes,
Samuel e Reis) quanto dos últimos (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os 12 Profetas Menores). O resto do
Antigo Testamento está faltando no manuscrito [...] Outro importante manuscrito subsistente
atribuído à família Ben Aser é o Códice Alepo. De acordo com nota conclusiva encontrada no
manuscrito, Aron ben Moisés ben Aser foi responsável por escrever as notas massoréticas e colocar
os pontos vocálicos no texto. Esse manuscrito continha todo o Antigo Testamento e data da
primeira metade do século X d.C. De acordo com notícias divulgadas, foi destruído em um tumulto
antijudaico em 1947, porém mais tarde tal informe comprovou-se ser apenas parcialmente
verdadeiro. Uma grande parte do manuscrito subsistiu e será usada como base para uma nova
edição crítica da Bíblia hebraica a ser publicada pela Universidade Hebraica de Jerusalém [...] O
manuscrito conhecido como Códice Leningradense, atualmente guardado na Biblioteca Pública de
Leningrado, é de especial importância como testemunha ao texto de Ben Aser. Segundo nota
contida no manuscrito, esse códice foi copiado, em 1008 d.C., de textos escritos por Aron ben
Moisés ben Aser. Visto que o mais antigo texto hebraico completo do Antigo Testamento (o Códice
Alepo), não estava disponível aos eruditos no início do século XX, o Códice Leningradense foi
usado como base textual para os populares textos hebraicos de hoje: a Bíblia Hebraica, editada por
R. Kittel, e sua revisão, a Bíblia Hebraica Stuttgartensia, editada por K. Elliger e W. Rudolf [...] Há
um número muito grande de códices de manuscritos menos importantes, que refletem a tradição
massorética: o Códice de Petersburgo dos Profetas e os Códices de Erfurt. Também há vários
manuscritos que não existem mais, embora tenham sido usados pelos eruditos no período
massorético. Um dos mais distintos é o Códice Hillel, tradicionalmente atribuído ao rabino Hillel
ben Moisés ben Hillel, de aproximadamente 600 d.C. Esse códice era dito como muito exato e foi
usado para a revisão de outros manuscritos. Leituras desse códice são repetidamente citadas pelos
antigos massoretas medievais. O Códice Muga, o Códice Jericó e o Códice Jerusalmi, também não
mais subsistentes, foram igualmente citados pelos massoretas. [...] A despeito da perfeição dos
manuscritos massoréticos da Bíblia hebraica, um importante problema ainda permanece para os
críticos do Antigo Testamento. Os manuscritos massoréticos, antigos como são, foram escritos entre
um e dois mil anos depois dos autógrafos originais. (COMFORT, 1998, p. 215-219).
1.2.6 Manuscritos do Mar Morto
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Num dia de verão, em 1947, o pastor beduíno árabe, Muhammad ad Dib, da tribo dos
Taa'mireh, que se acampa entre Belém e o Mar Morto, saiu a procura de uma cabra desgarrada nas
ravinas rochosas da costa noroeste do referido mar, e encontrou um inestimável tesouro bíblico.
Estava o pastor junto à encosta rochosa do uádi Qümramo Ao atirar uma pedra numa das cavernas
ouviu um barulho de cacos se quebrando. Entrou na caverna e encontrou uma preciosa coleção de
MSS bíblicos: 12 rolos de pergaminho e fragmentos de outros. Um dos rolos era um MS de Isaías
do ano 100 a.C., isto é, mil anos mais antigo que os exemplares até então conhecidos. Os rolos estão
escritos em papiro e pergaminho e envolvidos em panos de linho. Outras cavernas foram
vasculhadas e novos MSS foram encontrados.
Novas luzes estão surgindo na interpretação de passagens difíceis do Antigo Testamento.
Exemplos: em Êxodo 1.5, o total de pessoas é 75, concordando assim com Atos 7.14. (O hebraico
não tem algarismos para os números e sim letras; daí, para um erro não custa muito) Em Isaías
49.12, o novo MS de Isaías diz "Siene" e não "Sinin". Ora, Siene era uma importante cidade
fronteiriça do Egito, às margens do Nilo, junto à Etiópia. É hoje a moderna assuam, com sua
extraordinária represa.
Ezequiel 29.10 e 30.6 referem-se a essa cidade; a versão ARC grafa "Sevené". Muitos
eruditos pensavam até agora que o termo "Sinin" de Isaías 49.12 fosse uma alusão à China. É muito
confortante saber que os textos desses MSS encontrados concordam com os das nossas Bíblias.
Pesquisas revelam que os MSS do mar Morto foram escondidos pelos essênios - seita ascética
judaica - durante a segunda revolução dos judeus contra os romanos em 132-135 d.C. Os
responsáveis por um grande mosteiro agora descoberto, ao verem aproximar-se as tropas romanas,
esconderam ali sua biblioteca! Nas 267 cavernas examinadas, foram encontrados fragmentos de 332
obras, ao todo. Encontraram, inclusive, cartas do líder dessa revolta: Bar Kochba, em perfeito
estado, estando sua assinatura bem nítida. Nos MSS encontrados há trechos de todos os livros do
Antigo Testamento, exceto Ester.
1.2.7 Escritos em Blocos de Pedra
Dos escritos em blocos de pedra há documentos que se tornaram famosos pela antiguidade e
conteúdo. Dentre estes se destacam: o Código de Hamurábi e a Pedra de Roseta.
1.2.7.1 Código de Hamurabi
Foi esta uma das mais importantes descobertas arqueológicas que já se fizeram. Hamurabi,
rei da cidade de Babilônia, cuja data parece ser 1792-1750 a.C., é comumente identificado pelos
assiriólogos com o "Anrafel" de Gn 14, um dos reis que Abraão perseguiu para libertar Ló. Foi um
dos maiores e mais célebres dos primitivos reis babilônios. Fez seus escribas coligir e codificar as
leis do seu reino; e fez que estas se gravassem em pedras para serem erigidas nas principais cidades.
Uma dessas pedras originalmente colocada na Babilônia foi achada em 1902, nas ruínas de Susa
(levada para lá por um rei elamita, que saqueara a cidade de Babilônia no século 12 a.C.) por uma
expedição francesa dirigida por M. J. de Morgan. Acha-se hoje no Museu do Louvre, em Paris.
Trata-se de um bloco lindamente polido de duro e negro diorito, de 2 m 60 cm de altura, 60 cm de
largura, meio metro de espessura, um tanto oval na forma, belamente talhada nas quatro faces, com
gravações cuneiformes da língua semito-babilônica (a mesma que Abraão falava) . Consta de umas
4.000 linhas, equivalendo, quanto à matéria, ao volume médio de um livro da Bíblia; é a placa
cuneiforme mais extensa que já se descobriu. Representa Hamurabi recebendo as leis das mãos do
rei-sol Chamás: leis sobre o culto dos deuses dos templos, a administração da justiça, impostos,
salários, juros, empréstimos de dinheiro, disputas sobre propriedades, casamento, sociedade
comercial, trabalho em obras públicas, isenção de impostos, construção de canais, a manutenção
dos mesmos, regulamento de passageiros e serviço de transporte pelos canais e em caravanas,
comércio internacional e muitos outros assuntos.
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1.2.7.2 A Pedra de Roseta


É a chave da língua egípcia antiga. A língua da antigo Egito era hieroglífica, escrita de
figuras, um símbolo para cada palavra. Pelo ano 700 a.C. uma forma mais simples de escrita entrou
em uso, chamada 'demótica', mais aproximada do sistema alfabético, e que continuou como língua
do povo até aos tempos dos romanos. No 5º século d.C. ambas caíram em desuso e foram
esquecidas. De sorte que tais inscrições se tornaram ininteligíveis, até que se achou a chave de sua
tradução. Essa chave foi a Pedra de Roseta. Achou-a M. Boussard, um dos sábios franceses que
acompanharam Napoleão ao Egito (1799), numa cidade sobre a foz mais ocidental do Nilo,
chamada Roseta. Encontra-se hoje no Museu Britânico. É de granito negro, cerca de 1,30 m de
altura, 80 cm de largura, 30 cm de espessura, com três inscrições, uma acima da outra, em grego,
egípcio demótico, e egípcio hieroglífico, o grego era conhecido. Tratava-se de um decreto de
Ptolomeu V, Epífanes, feito em 196 a.C. nas três línguas usadas então em todo o país, para ser
colocado em várias cidades. Um sábio francês, de nome Champollion, depois de quatro anos (1818-
22) de trabalho detalhado e paciente, comparando os valores conhecidos das letras gregas com os
caracteres egípcios desconhecidos, conseguiu descobrir os mistérios da língua egípcia antiga.
1.2.8 Formato dos Livros
O livro, através da sua longa existência, apresentou duas formas bem distintas: o rolo e o
códice.
(a) Rolo. Entre o povo judeu, bem como no mundo grego-latino, os livros eram
normalmente publicados em forma de um rolo feito de papiro ou pergaminho. Formava-se o rolo
colocando várias folhas de papiro ou couro uma ao lado da outra. O tamanho médio de um rolo
entre os gregos era de 11 metros. Alguns rolos chegaram a ter o comprimento de 30 metros. O
maior rolo de papiro, conhecido, é uma crônica do rei egípcio Ramsés II, com a extensão de 40
metros, conhecido como o Papiro Harris. O comprimento médio de um rolo bíblico estava entre 9 e
11 metros. Livros longos como Reis, Crônicas e Isaías eram divididos em dois rolos. Os dois
maiores livros do Novo Testamento, Lucas e Atos, cada um preencheria um rolo de mais ou menos
10 metros de comprimento. O manuseio de um rolo era mais difícil do que o de um livro atual,
porque o leitor necessitava empregar as duas mãos, uma para desenrolá-lo e a outra para enrolá-lo.
Além disso, as comunidades cristãs primitivas, em breve descobriram que era difícil encontrar
específicos tópicos das escrituras num rolo. Diante dessas dificuldades, a habilidade humana
idealizou o livro nos moldes em que o temos hoje. Estes livros em seus primórdios eram chamados
códices.
(b) Códices. A palavra códice vem do latim "codex", que designava primitivamente um
bloco de madeira cortado em várias folhas ou tabletes para escrever. O códice era formado de várias
folhas de papiro ou pergaminho sobrepostas e costuradas. Estes códices começaram a substituir os
primitivos rolos no segundo século a.D. A afirmativa de que as comunidades cristãs começaram a
usar os códices nas igrejas, para diferençar dos rolos, usados nas sinagogas, pode ser verdadeira,
levando-se em conta o seguinte. Dos 476 manuscritos não cristãos descobertos no Egito, copiados
no segundo século a.D., 97% estão na forma de rolo. Em contrapartida, dos 111 manuscritos
bíblicos cristãos dos primeiros 4 séculos da Era Cristã, 99 estão na forma de códice.
As vantagens dos códices sobre os rolos, no caso dos manuscritos bíblicos, são evidentes
pelas seguintes razões: Permitia que os quatro Evangelhos, ou todas as Epístolas paulinas se
achassem num livro; era bem mais fácil o manuseio do livro; adaptava-se melhor para receber a
escrita de ambos os lados, baixando assim o custo do livro; a procura de determinadas passagens era
mais rápida.
1.3 O Vocábulo "Bíblia"
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Este vocábulo não se acha no texto das Sagradas Escrituras. Consta apenas na capa. De
onde, pois, vem? Vem do grego, a língua original do Novo Testamento. É derivado do nome que os
gregos davam à folha de papiro preparada para a escrita - "biblos". Um rolo de papiro de tamanho
pequeno era chamado "biblion" e vários destes eram uma "Bíblia". Portanto, literalmente, a palavra
“Bíblia” quer dizer "coleção de livros pequenos". Com a invenção do papel, desapareceram os
rolos, e a palavra “biblos” deu origem a "livro", como se vê em biblioteca, bibliografia, bibliófilo
etc.
É consenso geral entre os doutores no assunto que o nome Bíblia foi primeiramente aplicado
às Sagradas Escrituras por João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla, no Século IV. E porque as
Escrituras formam uma unidade perfeita, a palavra Bíblia, sendo um plural, como acabamos de ver,
passou a ser singular, significando o Livro, isto é, o Livro dos livros; o Livro por excelência. Como
Livro divino, a definição canônica da Bíblia é "A revelação de Deus à humanidade". Os nomes mais
comuns que a Bíblia dá a si mesma, isto é, os seus nomes canônicos, são: Escrituras (Mt 21.42);
Sagradas Escrituras (Rm 1.2); Livro do Senhor (Is 34.16); Palavra de Deus (Mc 7.13; Hb 4.12);
Oráculos de Deus (Rm 3.2).
1.4 Nomes atribuídos a Palavra de Deus
a) Bíblia. A palavra Bíblia, usada com referência às Escrituras Sagradas desde o IV século, é
a forma latina da palavra grega Bíblia, plural neutro de Biblion, que por sua vez é diminutivo de
Biblos – nome grego para a planta da qual se fazia o papel – papiro. Pelo uso que se fez do papiro é
que biblos veio a significar livro e biblion um livro pequeno. Os fenícios se ocupavam grandemente
do comércio de papiro, por isso no segundo século a.C. deram o nome de Biblos ao seu principal
porto, passando depois à cidade, e conservado até hoje para as suas ruínas. A palavra Biblos
encontra-se em Marcos 12.26 como referência a um livro de Velho Testamento, ou a um grupo no
plural para designar os livros dos profetas – Daniel 9.2. O plural usado no Velho Testamento passou
à Igreja Cristã e as Escrituras são designadas por livros, livros divinos, livros canônicos. O nome
Bíblia para o conjunto dos livros sagrados foi usado pela primeira vez por Crisóstomo, no IV
século. Alguns pais da Igreja denominaram as Escrituras de Biblioteca Divina.
b) Escrituras. O Novo Testamento, que ocupa menos da terceira parte do Velho, usa a
expressão – Os Escritos ou as Escrituras para os livros do Antigo Testamento, em Mateus 21.42 e
João 5.39.
c) Outras Expressões: A Palavra de Deus (Hb 4.12); A Escritura de Deus (Êx 32.16); As
Sagradas Letras (1Tm 3.15); A Escritura da Verdade (Dn 10.21); As Palavras da Vida (Atos 7.38);
As Santas Escrituras (Rm 1.2).
d) Nomes figurativos: Uma luz. "Uma luz para o meu caminho" (Sl 119:105); Um espelho
(Tg 1.23); Ouro fino (Sl 19.10); Uma porção de alimento (Jó 23.12); Leite (1Co 3.2); Pão para os
famintos (Dt 8.3); Fogo (Jr 23.29); Um martelo (Jr 23.29); Uma espada do Espírito (IOF 6.17).
e) Pentateuco. Etimologicamente, Pentateuco significa cinco estantes, onde se colocavam os
livros e depois, por metonímia, os próprios livros. Pesquisando um pouco mais se tem a impressão
de que as estantes eram aqueles pedaços de madeira que sustentavam os rolos, vindo depois a
designar os próprios rolos. O termo Pentateuco, de origem grega, significando cinco rolos tem sido
usado para os cinco livros de Moisés, enquanto o nome hebraico para estes mesmos livros é Torá.
Este vocábulo começou a ser usado para os primeiros cinco livros da Bíblia depois da tradução da
Septuaginta. Estes livros constituem a primeira divisão do Cânon Hebraico, que é formado, como é
do conhecimento geral, da Lei, dos Profetas e dos Escritos. Eruditos modernos têm usado o termo
"Hexateuco" em vez de Pentateuco, por adicionarem aos primeiros livros da Bíblia o livro de Josué,
por notarem muita afinidade entre os seis. Nenhuma razão plausível existe para a aceitação desta
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nova nomenclatura, desde que o termo tem sido usado por críticos que não admitem tenha sido
Moisés o autor do Pentateuco.
f) Testamento. Este vocábulo não se encontra na Bíblia como designação de uma de suas
partes. Sabemos que toda a Bíblia se divide em duas partes chamadas Antigo Testamento e Novo
Testamento. Contendo a primeira, os escritos elaborados antes de Cristo, a segunda registra o que
foi redigido no primeiro século da nossa era. A palavra portuguesa testamento corresponde à
palavra hebraica "berith" – aliança, pacto, contrato, e designa aquela aliança que Deus fez com o
povo de Israel no Monte Sinai, aliança sancionada com o sangue do sacrifício como vemos em
Êxodo 24.1-8; 34.10-28. Sendo esta aliança quebrada pela infidelidade do povo, Deus prometeu
uma nova aliança (Jr 31.31-34) que deveria ser validada com o sangue de Cristo. (Mt 26.28). Os
escritores neotestamentários denominam a primeira aliança de antiga (Hb 8.13), contrapondo-lhe a
nova (2Co 3.6,14). Os tradutores da Septuaginta traduziram "berith" para "diatheke", embora não
haja perfeita correspondência entre as palavras, desde que berith designa aliança (compromisso
bilateral) e diatheke tem o sentido de "última disposição dos próprios bens", "testamento"
(compromisso unilateral). Pela figura de linguagem, conhecida como metonímia, as respectivas
expressões "antiga aliança" e "nova aliança" passaram a designar a coleção dos escritos que contém
os documentos respectivamente da primeira e da segunda aliança. O termo testamento veio até nós
através do latim quando a primeira versão latina do Velho Testamento grego traduziu diatheke por
testamentum. São Jerônimo revisando esta versão latina manteve a palavra "testamentum",
equivalendo ao hebraico "berith" – aliança, concerto, quando a palavra como já foi visto não tinha
essa significação no grego. Afirmam alguns pesquisadores que a palavra grega para contrato,
aliança deveria ser suntheke, por traduzir melhor o hebraico "berith". As denominações Antigo
Testamento e Novo Testamento, para as duas coleções dos livros sagrados, começaram a ser usadas
no final do II século a.D. quando os evangelhos e outros escritos apostólicos foram considerados
como Escrituras. O cristianismo distinguiu duas etapas na manifestação do dom de Deus à
humanidade: A antiga – feita por Deus ao povo de Israel (2Co 3.14); A segunda ou nova designa a
união que o próprio Deus, tomando a forma humana, selou com o homem pela oblação de Cristo
(2Co 3.6).
g) Torah. Palavra derivada do verbo Yarah, que no "hifil" significa lançar, jogar (Êx 15.4,
1Sm 20.36) e de modo especial lançar flechas para se conhecer a vontade divina (Js 18.6; 2Rs
13.17). O mesmo verbo é usado no sentido de mostrar com a mão, apontar com o dedo (Gn 46.28;
Êx 15.25). A significação fundamental de yarah é, portanto; indicar uma direção. O substantivo
cognato tem o sentido bíblico mais corrente: ensinamento, instrução, como se deduz da leitura de
Isaías 30.9; 42.4; Mq 4.2; Ml 2.6; Jó 22.22, onde esta palavra aparece. Do estudo desta palavra
conclui-se que o termo português "lei" não traduz o vocábulo hebraico em toda a sua extensão. A
torah é o ensinamento que inspira bom procedimento em nosso viver.
h) O termo “Palavra”. No Antigo Testamento, a palavra dãbhãr de Deus é usada por 394
vezes para designar alguma comunicação divina provinda da parte de Deus aos homens, na forma
de mandamento, profecia, advertência ou encorajamento. A fórmula usual é “a palavra de Yahweh
veio (literalmente, foi) a...”, ainda que algumas vezes a palavra de Deus seja vista como uma visão
(Is 2.1; Jr 2.31; 38.21). A palavra de Yahweh é uma extensão da personalidade divina, investida de
autoridade, e deve ser ouvida tanto pelos anjos como pelos homens (Sl 103.20; Dt 12.32). A palavra
de Deus permanece para sempre (Is 40.8), e uma vez proferida não pode deixar de ser cumprida (Is
55.11). É usada como sinônimo da lei, tôrah, de Deus, em Sl 119, onde a referência é à mensagem
escrita e não à mensagem falada da parte de Deus. No Novo Testamento, “palavra” geralmente
traduz dois termos gregos, logos e rhema, a primeira é usada supremamente para designar a
mensagem do evangelho cristão (Mc 2.2; At 6.2; Gl 6.6), embora a última esteja revestida da
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mesma significação (Rm 10.8; Ef 6.17; Hb 6.5 etc.). Nos pontos seguintes veremos maiores
detalhes.
1.5 A Palavra “Rhema”
Rhema Aquilo que é dito, palavra, dito, expressão (Mt 12.36; Mc 9.32). Ameaça (At 6.13) .
Coisa, objeto, assunto, evento (Mt 18.16; Lc 1.37; 2.15, 19, 51). Nosso Senhor falou sobre a palavra
de Deus (na parábola do semeador, Lc 8.11; Mc 7.13; Lc 11.28), porém, nos evangelhos sinópticos
Ele sempre usava o plural para indicar a Sua própria mensagem (“minhas palavras”, Mt 24.35 e
paralelos; Mc 8.38; Lc 24.44). No quarto evangelho, entretanto, pode-se encontrar o singular com
freqüência. Para a Igreja primitiva, a palavra era uma mensagem revelada da parte de Deus em
Cristo, que deveria ser pregada, ministrada e obedecida. Era a palavra da vida (Fp 2.16), da verdade
(Ef 1.13), da salvação (At 13.26), da reconciliação (2Co 5.19), e da cruz (1Co 1.18).
1.6 A Expressão “Logos”
Significado etimológico. Tem um grande número de diferentes significados: sua tradução
básica é “palavra”, isto é uma declaração significativa, de onde se desenvolvem seus muitos
sentidos “afirmação, declaração, discurso, assunto, doutrina, questão” e, mediante outro tipo de
desenvolvimento, “razão, causa, motivo, respeito”. Na Bíblia: palavra (Mt 12.37), dizer a palavra
(Mt 8.8), assunto sob discussão, matéria, coisa, ponto, tema (Mt 5.32; Mc 9.10), declaração,
asserção, afirmação (Mt 12.32; 15.12). A tradução do logos irá, freqüentemente, variar de acordo
com o contexto.
Como termo gramatical significa uma sentença finita, em uma declaração lógica de fatos,
definição ou julgamento, e na retórica significa uma declaração de oratória corretamente construída.
Como termo de psicologia e metafísica, foi empregado pela Stoá, seguindo Heráclitos, para
significar o poder ou função divina pela qual o universo recebe sua unidade, coerência e
significado. Logos spermatikos, palavra seminal que, à semelhança de semente, dá forma à matéria
disforme. O homem foi criado de acordo com o mesmo princípio, e em si mesmo se diz possuir um
Logos, tanto internamente (logos endiathetos, razão), e que se expressa pela fala externamente
(logos prophorikos). O termo é igualmente usado como padrão ou norma mediante a qual o
indivíduo pode viver “de conformidade com a natureza”.
Na Septuaginta o termo “Logos” é usado para traduzir a palavra hebraica dãbhãr. A raiz
desta palavra significa “aquilo que está por trás” e assim quando é traduzida por palavra, também
significa som compreensível; e também pode significar coisa. De acordo com uma característica
comum da psicologia dos hebreus, o dãbhãr de um homem é considerado como, em certo sentido,
uma extensão de sua personalidade, e, além disso, como algo que possui uma existência substancial
toda própria. A palavra de Deus, portanto, é Sua auto-revelação através de Moisés e dos profetas.
Também pode ser usada para designar tanto visões isoladas e oráculos como o conteúdo total da
revelação inteira, e assim, especialmente o Pentateuco. A palavra possui um poder semelhante ao de
Deus, o qual a profere (Is 55.11) e efetua Sua vontade sem qualquer resistência. Por conseguinte o
termo pode referir-se à palavra criadora de Deus.
1.7 A Palavra Escrita e o Verbo Vivo
A revelação que Deus fez de si mesmo centraliza-se em Jesus Cristo. Ele é o Logos de Deus.
Ele é o Verbo Vivo, o Verbo encarnado, que revela o Deus eterno em termos humanos. O título
Logos só pode ser encontrado nos escritos joaninos, embora o emprego do termo haja sido relevante
na filosofia grega daqueles dias. Alguns têm procurado uma ligação entre a linguagem de João e a
dos estóicos, dos primeiros gnósticos, ou dos escritos de Filo de Alexandria. Estudos mais recentes
sugerem que João foi influenciado primariamente pelos seus alicerces no Antigo Testamento e na fé
cristã. É provável, porém, que tivesse consciência das conotações mais amplas do termo, e que a
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tivesse empregado deliberadamente, com o propósito de transmitir um significado adicional e


especial.
O Logos é identificado com a Palavra de Deus na Criação e também com sua Palavra
autorizada (a lei para toda a humanidade). João deixa nossa imaginação atônita quando introduz o
Logos eterno, o Criador de todas as coisas, o próprio Deus, como o Verbo que se encarnou a fim de
habitar entre a sua criação (Jo 1.1-3,14). "Deus nunca foi visto por alguém. O filho unigênito, que
está no seio do Pai, este o fez conhecer" (Jo 1.18). O Verbo Vivo tem sido visto, ouvido, tocado, e
agora proclamado mediante a Palavra escrita (1Jo 1.1-3). Quando do encerramento do cânon
sagrado, o Logos vivo de Deus, o Fiel e Verdadeiro, está em estado de prontidão no Céu, prestes a
voltar à Terra como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.11-16).
A suprema revelação de Deus acha-se no seu Filho. Durante muitos séculos, mediante as
palavras dos escritores do Antigo Testamento, Deus havia se revelado progressivamente. Tipos,
figuras, sombras e prefigurações desdobravam paulatinamente o plano de Deus para a redenção da
humanidade (Cl 2.17). Depois, na plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho para revelar o Pai
de forma mais perfeita e para executar aquele gracioso plano mediante a sua morte na Cruz (1Co
1.1 7-25; Gl 4.4). Toda a revelação bíblica, antes e depois da Encarnação de Cristo, centraliza-se
nEle. As muitas fontes originárias e maneiras da revelação anterior indicavam e prenunciavam a sua
vinda à terra como homem. Toda a revelação subseqüente engrandece e explica a sua vinda. A
revelação que Deus fez de si mesmo começou pequena e misteriosa, progrediu no decurso do
tempo, e chegou ao seu ponto extremo na Encarnação do seu Filho. Jesus é a revelação mais
completa de Deus.
Na Pessoa de Jesus Cristo, coincidem entre si a Fonte e o Conteúdo da revelação. Ele não
era mais um meio de comunicar a revelação divina, conforme o foram os profetas e apóstolos. Ele
mesmo é "o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa" (Hb 1.3). Ele é "o
caminho, e a verdade, e a vida"; conhecer a Ele é conhecer também o Pai (Jo 14.6-7). Os profetas
diziam: "Veio a mim a Palavra do Senhor", mas Jesus afirmava: "Eu vos digo"! Jesus inverteu o uso
do termo "amém", começando assim as suas declarações: "Na verdade [hb. amen], na verdade te
digo" (Jo 3.3). Tendo Ele falado, a verdade foi declarada de modo imediato e inquestionável. Cristo
é a chave que revela o significado das Escrituras (Lc 24.25-27; Jo 5.39,40; At 17.2,3; 28.23; 2Tm
3.15). Elas testificam dEle e da salvação que Ele outorga mediante a sua morte. O enfoque que as
Escrituras dedicam a Cristo não justifica, porém, o abandono irresponsável do texto bíblico nas
áreas que parecem ter poucas informações abertamente cristológicas.
2 - LÍNGUAS, CARACTERÍSTICAS E AUTORIDADE
2.1 Línguas em que a Bíblia Escrita
Quase todos os estudantes da Bíblia sabem que o Velho Testamento foi escrito em hebraico,
e o Novo, em grego, mas muitos desconhecem o fato de que há uma terceira língua na Bíblia – o
aramaico.
2.1.1 Aramaico
O aramaico foi sem dúvida, desde muito tempo, a língua popular de Babilônia e da Assíria,
cuja linguagem literária, culta e religiosa era o sumero-acadiano. Documentos assírios mencionam o
aramaico desde 1100 a.C. Durante o reinado de Saul e Davi, os estados aramaicos ou sírios são
mencionados na Bíblia (1Sm 14.47; 2Sm 8.3-9; 10.6-8). O aramaico foi trazido para a Palestina
porque os assírios seguiam costume de transplantar os povos das nações subjugadas, por isso depois
de terem vencido o reino de Israel, trocaram as pessoas e as espalharam através de todo o seu
império. 2Rs 17.24 menciona explicitamente que entre os povos trazidos para Samaria a fim de
repovoarem a terra devastada, encontravam-se aramaicos de Hamate. Esta língua dotada de grande
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poder de expansão tornou-se usual nas relações internacionais de toda a Ásia, e na própria Palestina
propagou-se tão largamente, que venceu o próprio hebraico.
O lar original do aramaico foi a Mesopotâmia. Algumas tribos arameanos viviam ao sul de
Babilônia, perto de Ur, outras tinham seus lares na alta Mesopotâmia entre o rio Quebar (Khabúr) e
a grande curva do Eufrates, tendo Harã como centro. O fato de os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó
terem conexões com Harã é provavelmente responsável pelo estatuto feito por Moisés de que Jacó
era "arameano". Dt 26.5. Deste seu lar ao norte da Mesopotâmia o aramaico se espalhou para o sul
de toda a Assíria.
Tudo indica que o aramaico foi preferido pelos assírios e babilônicos por ser mais simples
do que a complicada escrita cuneiforme. A prova de sua simplicidade está relatada em 2Rs 18.26,
quando Senaqueribe invadiu Judá no fim do VIII século a.C. os oficiais judeus que dominavam tão
bem o hebraico quanto o aramaico, pediram ao general assírio que lhes falasse em aramaico. Esta
ainda a razão porque durante os setenta anos do cativeiro babilônico os judeus se esqueceram muito
do hebraico, adotando em seu lugar o aramaico. Ao voltarem do cativeiro continuaram falando o
aramaico, como se depreende da leitura de Neemias 8.1-3 e 8. O aramaico era a língua usada por
Jesus (Mc 5.41; 7.34; 15.34), pela maioria das pessoas na Palestina, bem como pelas primeiras
comunidades cristãs. Segundo outros estudiosos entre os quais se destaca Robertson, Jesus falava
aramaico na conversação diária, mas no ensino público e nas discussões com os fariseus a língua
usada era o grego.
Já antes da Era Cristã superou totalmente o hebraico que se tornou a língua morta e
exclusivamente religiosa. Na Ásia Ocidental, a língua aramaica se difundiu largamente, assumindo
naquelas regiões e naquele tempo o mesmo papel que assumem em nossos dias o francês e o inglês.
O aramaico, embora ainda utilizado em certas regiões, vai cedendo lugar ao árabe, e corre o perigo
de desaparecer como língua falada, pois hoje é falada somente em algumas povoações da Síria. O
aramaico desapareceu sob o impacto cultural do grego e do latim, já que deixou de ser conhecido
pelos cristãos.
Quem conhece o hebraico pode com facilidade ler e entender o aramaico, dadas as suas
marcantes semelhanças. As partes do Velho Testamento escritas em aramaico são as seguintes: A
expressão "Jegar-Saaduta" de Gênesis 31.47; O verso de Jeremias 10.11; Alguns trechos de Esdras
4.8 a 6.18; 7.22-26; Partes do livro de Daniel, entre os capítulos 2.4 a 7.28.
2.1.2 Hebraico
A língua hebraica foi a língua dos Hebreus ou israelitas desde a sua entrada em Canaã. A
sua origem é bastante misteriosa, porque além do Velho Testamento só possuímos escassos
documentos para o seu estudo. O mais provável é que o hebraico tenha vindo do cananeu e foi
falado pelos israelitas depois de sua instalação na Palestina. A atual escrita hebraica (chamada
"hebraico quadrado") é cópia do aramaico e entrou em uso pouco antes da nossa era, em
substituição ao hebraico arcaico. Os Targuns o denominam de "língua sagrada" (Is 19.18); e no
Velho Testamento é chamado "a língua de Canaã" ou a língua dos judeus (Is 36.13, 2Rs 18.26-28).
Salmo 114.1 mostra a grande diferença entre o hebraico e o egípcio. Israel por estar cercado de
povos que falavam uma língua cognata – o aramaico – foi se esquecendo do hebraico, até que este
veio a extinguir-se como língua falada. Era ainda a língua de Jerusalém no tempo de Neemias
(13.24), cerca de 430 a.C., mas muito antes do tempo de Cristo foi substituída pelo aramaico.
O alfabeto hebraico consta apenas de consoantes, em número de 22. O hebraico é escrito da
direita para a esquerda como o árabe e algumas outras línguas semíticas. Sua estrutura fundamental
é, como em todas as línguas semíticas, a palavra raiz, composta de três consoantes. É uma língua
bastante simples, seus melhores conhecedores sublinham sem hesitação a sua pobreza, quando
comparado com o grego ou com línguas modernas, como o inglês e o português. De acordo com a
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Pequena Enciclopédia Bíblica o vocabulário hebraico na Bíblia conta com apenas 7.704 vocábulos
diferentes. A Academia do Idioma Hebraico tem registrado o uso de cerca de 30. 000 palavras.
Quase não possui adjetivos nem pronomes possessivos, porém, é rica em advérbios. É uma língua
quase indigente em termos abstratos.
Quase sempre os pronomes pessoais são ligados às formas verbais como se fossem sufixos
ou prefixos. Com raras exceções não faz uso de palavras compostas. O alfabeto hebraico possui
letras com sons bem próprios, por isso não apresentam nenhuma semelhança com o nosso alfabeto.
Os dois exemplos mais característicos se encontram no "alef" e no "ayin". Se língua é um
organismo vivo que se transforma, o hebraico quase pode apresentar-se como exceção, como
comprovam os escritos de Moisés e de alguns profetas mil anos depois, cujas diferenças lingüísticas
são insignificantes. Este fato tem levado a "alta crítica" a dogmatizar que os escritos do Velho
Testamento foram produzidos num espaço de tempo bem pequeno.
Seus processos sintáticos são muito simples, usando pouco as orações subordinadas,
preferindo sempre as coordenadas, quase sempre unidas pela conjunção "e" como inegável
influência do hebraico. Os tempos do verbo, a exemplo do grego, indicam mais o "aspecto" da ação,
conforme ela seja momentânea, prolongada ou repetida. Como língua semítica não classifica os
fatos em passados, presentes e futuros, mas em realizados ou de ação acabada (perfeito), e não
realizados ou de ação inacabada (imperfeito).
Uma das peculiaridades da língua hebraica com respeito ao sistema verbal é esta: a simples
troca de um sinal vocálico determina uma mudança nas formas verbais. Não possui o verbo "ter",
enquanto o verbo "ser" é ativo e significa existir eficazmente. Quando os judeus sentiram que o
hebraico estava em declínio como língua falada, e que sua leitura correta ia perder-se, criaram um
sistema de vocalização. Este trabalho foi feito pelos massoretas, por isso o texto hebraico usado
hoje se chama massorético.
2.1.3 Grego Bíblico
Como é do conhecimento geral, o Novo Testamento foi escrito na Koinê, língua na qual
também foi traduzido o Velho Testamento hebraico pelos Setenta. O termo Koinê significa a língua
comum do povo entre os anos 330 a.C. e 330 a.D. Com exceção da Epístola aos Hebreus e da
linguagem de Lucas (Evangelho e Atos) que se encontram num Koinê mais literário, os outros
escritos pertencem à língua mais comum ou Koinê vulgar. O insigne erudito Gustav Adolf
Deissmann foi quem primeiro mostrou a identidade do grego do Novo Testamento, salientando que
o grego da Bíblia era o Koinê, e não o grego erudito, nem a chamada "linguagem do Espírito Santo"
ardorosamente defendida por alguns autores.
2.1.3.1 Características da Linguagem do Novo Testamento
Se fosse possível caracterizar o Koinê, língua em que foi escrito o Novo Testamento,
sintetizando-a em uma palavra, a melhor seria "simplificação". Esta conclusão é facilmente
deduzida estudando-lhe as características: Substituição dos casos pelas preposições; tendência para
simplificar a morfologia e a sintaxe; uso escasso de orações subordinadas, tendo preferência pelas
coordenadas ligadas pela conjunção "e"; eliminação do dual e uso equilibrado do modo optativo,
aparecendo apenas 67 vezes no Novo Testamento; uso mais freqüente do artigo; simplificação das
riquíssimas formas verbais do grego clássico; mudança de sentido de muitas palavras do grego
clássico, por influência religiosa, tais como: batizar, justiça, graça, amor, glória, carne, cruz, mundo,
crer, espírito, cálice, dia, etc.; as formas diminutivas se tornam mais comuns; emprego mais
generalizado de construções perifrásticas nos verbos; os adjetivos são mais usados no grau
superlativo do que no comparativo; preferência pela ordem mais direta, pois no grego clássico
predomina a ordem inversa; emprego freqüente dos pronomes sujeitos, em casos dispensáveis, por
estarem eles subentendidos nas desinências verbais; idêntico valor fonético para as vogais gregas;
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emprego de vários latinismos, tais como: legião, centurião, denário, colônia e flagelo; uso freqüente
do presente histórico nas narrativas; aparecimento generalizado da parataxe, com prejuízo da
hipotaxe.
Parataxe é uma construção mais simples da frase, como as orações coordenadas, enquanto a
hipotaxe é mais complexa, isto é, formada de orações subordinadas; uso de palavras que são
empréstimos diretos do aramaico, a exemplo de: geena, Eli Eli, Hosana, litóstrotos (gabatá), Satã,
Talita cumi, Rabi, Maranata; freqüência de hebraísmos, sobretudo na sintaxe, fastidioso emprego da
conjunção "e", pois esta partícula aparece muito no Novo Testamento, em expressões como estas:
"e ele falou dizendo", "e disse", "e aconteceu que". As frases: "Filhos da luz'; "filhos da perdição"
são eminentemente semíticas.
Quanto à linguagem dos escritores do Novo Testamento haveria muito que dizer, mas
fiquemos somente com as seguintes observações: Apenas Hebreus Lucas e alguns trechos de Paulo
são escritos num estilo mais literário.
O vocabulário mais rico não é o de Paulo, mas sim o de Lucas, que emprega 250 palavras
novas no Evangelho e, mais ou menos 500, em Atos. Se a linguagem mais polida e mais erudita é a
de Lucas, a mais pobre e menos aprimorada, quanto ao estilo, é a de Marcos e a de João,
especialmente no Apocalipse. O doutor Benedito P. Bittencour no livro O Novo Testamento, página
67, chama-nos a atenção para a linguagem pouco aprimorada do Apocalipse, onde há violações
flagrantes dos corretos cânones da gramática.
2.2 A Sobre naturalidade da Bíblia
A Bíblia é um fenômeno que só é explicável de um modo: é a Palavra de Deus. Ela não é o
tipo de livro que o homem escreveria se pudesse, ou que poderia escrever se quisesse. Outros
sistemas religiosos também têm seus desvios excêntricos do curso comum do procedimento
humano, desvios esses que não são muitos, e são de pequena importância; e estes, realmente, são de
se esperar, considerando que o homem está sempre determinado a crer em um Deus, ou deuses,
quer sua crença seja baseada em fatos ou não. O estudante da verdade sempre será convidado a
reconhecer contra reivindicações extra-bíblicas e intrabíblicas. Aquilo que é extrabíblico encampa
todo o campo das religiões humanamente arquitetadas e especulações filosóficas. O que é
intrabíblico encampa todos os cultos e declarações parciais da verdade divina que, embora
professem edificar seus sistemas sobre as Escrituras, fazem-no, entretanto, através de falsas ênfases
ou negligência da verdade, provocando uma confusão de doutrina que é parente ou talvez até mais
desencaminhadora do que o erro sem mistura. Embora não seja possível apresentar uma lista
exaustiva, enumeramos aqui alguns dos muitos aspectos sobrenaturais da Bíblia:
2.2.1 O Livro de Deus
Com este título queremos chamar a atenção para a reivindicação que a Bíblia apresenta de
que é a mensagem de Deus ao homem e não uma mensagem do homem aos outros homens, muito
menos uma mensagem do homem a Deus. Neste Livro, Deus é apresentado como o Criador e
Senhor de tudo. É a revelação dele próprio, o registro do que Ele tem feito e vai fazer, e, ao mesmo
tempo, a revelação do fato de que cada coisa está sujeita a Ele e que só descobre suas vantagens
mais elevadas e seu destino quando se conforma à Sua vontade. Cada palavra da Bíblia é o
resultado de sublimes declarações como esta: "Não há Deus como tu, em cima nos céus nem em
baixo da terra" (1Rs 8.23), e, novamente: "Tua, Senhor, é a grandeza, o poder, a honra, a vitória e a
majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu, Senhor, é o reino, e tu te exaltaste
por chefe sobre todos" (1Cr 29.11). "Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo, e
grande em misericórdia e fidelidade" (Êx 34.6). "As suas ternas misericórdias permeiam todas as
suas obras" (SI 145.9). Quem, entre a humanidade cega, seria o escritor de ficção capaz de criar os
conceitos de um Deus triúno de toda a eternidade que se encontra nas páginas das Escrituras?
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Quem, entre os homens, planejou o peculiar e perfeito equilíbrio das partes de cada Pessoa da
Divindade na redenção, ou o caráter divino na sua consistente e inalterável exibição de santidade
infinita e amor infinito: os juízos divinos, a avaliação divina de todas as coisas, inclusive das hostes
angélicas e dos espíritos do mal? Quem, entre os homens, já foi capaz de conceber a criação de tais
noções interdependentes, além de expressá-Ias perfeitamente numa história em andamento, a qual,
sendo acidental, afinal não passa de imitação: uma imitação hipócrita e dissimulada da verdade?
Que absurda é a presunção de que o homem sozinho poderia escrever a Bíblia, se assim o quisesse!
Mas se o homem não deu origem a Bíblia, Deus o fez, e por causa disso sua autoridade tem de ser
reconhecida.
2.2.2 A Bíblia e o Monoteísmo
O fato de que Deus é supremo implica em que não há nenhum outro que se lhe compare;
mas quase universalmente a humanidade tem praticado, com uma insistência que está longe de ser
acidental, as abominações da idolatria. O povo judeu, de quem, considerando o lado humano,
vieram as Escrituras, não ficaram imunes a esta tendência. Desde os dias do bezerro de ouro,
através dos séculos seguintes, os israelitas estiveram sempre revertendo à idolatria e isto apesar da
abundância de revelação e castigo. A história da igreja está manchada pelo culto de imagens
esculpidas assimiladas do paganismo. Com que insistência o Novo Testamento adverte os crentes a
fugir da idolatria e da adoração dos anjos! À luz destes fatos, como poderíamos supor que os
homens (até mesmo Israel) pudessem, à parte da direção divina, dar origem a um tratado que, com
os olhos apenas na glória de Deus, estigmatiza a idolatria como um dos primeiros e mais ofensivos
crimes e insultos contra Deus? A Bíblia não é o tipo de livro que o homem escreveria se pudesse.
2.2.3 A Doutrina da Trindade
Embora defendendo o monoteísmo sem modificação, a Bíblia apresenta o fato de que Deus
subsiste em três Pessoas ou modos de ser. A doutrina bíblica da Trindade consiste em que Deus é
um em essência, mas três Pessoas em identificação. Sem dúvida, este é um dos grandes mistérios. A
doutrina vai além do alcance da compreensão humana, embora seja fundamental na revelação
divina. Quando consideradas separadamente, as Pessoas individuais da Divindade apresentam as
mesmas evidências indiscutíveis quanto à origem sobrenatural da Bíblia.
Deus Pai. Vasto realmente é o campo das Escrituras que apresenta as atividades e as
responsabilidades distintivas que são características da Primeira Pessoa. Dizemos que Ele é o Pai de
toda a criação, o Pai do Filho eterno (a Segunda Pessoa) e o Pai de todo aquele que crê para a
salvação de sua alma. Esta revelação estende-se a todos os detalhes do relacionamento paternal e
inclui a dádiva do Filho para que a graça de Deus pudesse ser revelada. Nenhuma mente humana
poderia dar origem ao conceito de Deus Pai como Ele é revelado na Bíblia.
Deus Filho. O registro referente à Segunda Pessoa, que, de acordo com a Palavra de Deus, é
o Filho desde a eternidade, que sempre é a manifestação do Pai e que, embora esteja agora sujeito
ao Pai, é o Criador das coisas materiais, o Redentor e Juiz final de toda a humanidade, oferece as
evidências mais extensas e mais imensuráveis da origem divina das Escrituras. A Pessoa e a obra do
Filho de Deus com Sua humilhação e glória é o tema dominante da Bíblia; mas o Filho, em troca,
dedica-se à glória do Pai. As perfeições do Filho não podem nunca ser comparadas ao mais sábio
dos homens, nem compreendidas por ele. Se, afinal, esta revelação ilimitada do Filho não passa de
ficção, não seria um desafio razoável (mesmo para a mente não regenerada) que este suposto autor
fosse descoberto e, com base no truísmo de que a coisa criada não pode ser maior do que o seu
criador fosse adorado e reverenciado acima de tudo o que é chamado de Deus?
Deus Espírito. O Espírito Santo que é apresentado na revelação como igual em cada
particular ao Pai e ao Filho, é, não obstante e para a promoção dos atuais empreendimentos divinos,
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retratado como sujeito a ambos, o Pai e o Filho. Do mesmo modo, Seu serviço é considerado como
complemento e administração da obra do Pai e do Filho.
Assim o Deus triúno revelou-se ao homem em termos que o homem, mesmo quando
ajudado pelo Espírito, só pode compreender debilmente; e que inocente é a intimação de que estas
revelações são o produto dos homens que sem exceção desde os dias de Adão são depravados,
degenerados e incapazes de receber ou conhecer as coisas de Deus à parte da iluminação divina! Tal
conceito propõe nada menos que a presunção de que o homem deu origem à idéia de Deus, e que o
Criador é um produto da criatura.
2.2.4 A Continuidade da Bíblia
A continuidade da mensagem da Bíblia é absoluta em sua inteireza. Ela se mantém coesa
por sua seqüência histórica, tipos e antítipos, profecias e seu cumprimento e por antecipação,
apresentação, realização e exaltação da Pessoa mais perfeita que jamais andou sobre a terra e cujas
glórias são o resplendor do céu. Mas a perfeição desta continuidade se mantém contra o que para o
homem seriam impedimentos insuperáveis; pois a Bíblia é uma coleção de sessenta e seis livros que
foram escritos por mais de quarenta diferentes autores: reis, camponeses, filósofos, pescadores,
médicos, políticos, mestres, poetas e lavradores, que viveram suas vidas em diversos países e não
experimentaram nenhum contato ou concordância entre si, e durante um período de não menos que
mil e seiscentos anos de história humana. Por causa destes obstáculos de continuidade, a Bíblia
seria naturalmente a coleção mais heterogênea, mais desigual, mais desarmônico e contraditória de
opiniões humanas que o mundo já viu; mas, pelo contrário, ela é exatamente o que pretende ser, isto
é, uma narrativa homogênea, ininterrupta, harmoniosa e ordeira de toda a história do
relacionamento de Deus com o homem.
Este livro contendo muitos livros não recebeu a impressão pessoal de muitas mentes. Sua
harmonia não é a de trombetas tocadas em uníssono, mas, antes, uma orquestração em que, embora
absolutamente afinada distingue-se perfeitamente os instrumentos. Em que base esta continuidade
plenária poderia ser explicada se afirmássemos que a Bíblia não é a Palavra de Deus?
2.2.5 Profecia e seu Cumprimento
Um grandíssimo número de profecias foram feitas pelos escritores do Antigo Testamento
relativamente à vinda do Messias e foram centenas, algumas vezes milhares de anos antes da vinda
de Cristo. Essas predições que no propósito divino deveriam se cumprir no primeiro advento de
Cristo cumpriram-se literalmente nessa ocasião. Muitas mais permanecem sem cumprimento até
que Ele volte e, temos motivos para crer, elas se cumprirão com a mesma precisão. Bastariam duas
previsões feitas e cumpridas, como as do nascimento virginal de Cristo que aconteceu em Belém de
Judá, e o caráter sobrenatural das Escrituras estaria comprovado pela história que registra sua
realização; mas quando estas predições chegam a milhares relativamente às Pessoas da Divindade,
aos anjos, às nações, às famílias, aos indivíduos e aos destinos, sendo cada uma delas executada
exatamente no tempo e lugar prescritos, a evidência é incontestável quanto ao caráter divino das
Escrituras.
2.2.6 Tipos com seus Antítipos
Um tipo é um esboço divino que descreve um antítipo. E a ilustração de uma verdade divina
feita pela própria mão de Deus. O tipo e o antítipo estão relacionados entre si pelo fato de que a
verdade ou o princípio conectivo encontra-se incorporado em cada um deles. Não é prerrogativa do
tipo estabelecer a verdade de uma doutrina; antes, ele realça a força da verdade apresentada no
antítipo. Por outro lado, o antítipo serve para destacar o tipo no seu lugar comum, colocando-o
naquilo que é transcendental, investindo-o com as riquezas e os tesouros até então não revelados. O
tipo do Cordeiro Pascal transborda da graça redentora de Cristo com riqueza de significado,
enquanto a própria redenção investe o tipo do Cordeiro Pascal de todo o seu maravilhoso
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significado. A continuidade das Escrituras, a profecia e o seu cumprimento, e os tipos com os seus
antítipos, são os três fatores principais que não só servem para apresentar a unidade dos dois
Testamentos, como fios entretecidos que passam de um Testamento para outro, ligando-os em um
único material, mas também servem para traçar o desenho que pelo seu maravilhoso caráter
glorifica o Desenhista. Assim, a tipologia conforme se encontra na Bíblia demonstra que a Bíblia é
um livro que o homem não poderia escrever se quisesse. É divina em sua origem como é
sobrenatural em seu caráter.
2.2.7 Revelação e Razão
A Teologia Sistemática extrai o seu material tanto da revelação quanto da razão, embora a
porção fornecida pela razão seja incerta quanto à autoridade e, quando muito, restrita a um ponto
insignificante. A razão, como aqui está sendo considerada, indica as faculdades intelectuais e
morais do homem exercitadas na busca da verdade e à parte de ajuda sobrenatural. Desde que Adão
andou e falou com Deus (revelação essa que ele sem dúvida comunicou à sua posteridade), nenhum
homem na Terra poderia ficar totalmente alheio à revelação divina. Dentro dos limites circunscritos
daquilo que é humano, a razão é predominante; mas, quando comparada com a revelação divina, ela
é falível e limitada.
2.2.7.1 Revelação
Entendemos que revelação é a manifestação que Deus faz de Si mesmo e a compreensão,
parcial embora, da mesma manifestação por parte dos homens. Este modo de definir a revelação
acentua que o que se revela é o próprio Deus, e não apenas alguma coisa a respeito de Deus. Na
revelação, Deus faz-se conhecido dos homens na sua personalidade e nas suas relações. Revelar é
informar, e isto é justamente o que Deus há feito. “Fez conhecidos os seus caminhos a Moisés, e os
seus feitos aos filhos de Israel” (Salmos 103.7). Deus informou ao homem acerca de Sua Pessoa e
das Suas relações com a criação. Não nos esqueçamos de que o centro de toda a revelação é a
pessoa de Deus. Jesus frisou bem esta verdade quando disse que veio revelar o Pai: “Quem me vê a
mim, vê o Pai”.
A revelação não tem por fim simplesmente informar o homem acerca de Deus, mas também
descobrir Deus ao homem. Deus quer que o homem o conheça; daí a razão de ele se revelar. “Os
céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz
declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde
se não ouçam as suas vozes. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até o fim do
mundo” (Salmos 19.1-4).
2.2.7.2 Inspiração
Por inspiração entendemos a operação pela qual Deus garantiu o conteúdo da Bíblia como
autêntica expressão de sua revelação. Agora perguntamos: Que referência encontramos na própria
Bíblia a essa inspiração divina? O texto mais explícito é aquele que se encontra em 2 Timóteo 3.16:
"Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir,
para instruir em justiça”. O termo grego usado no original é theopneostos, composto de duas
palavras gregas: theós. "Deus", e pnéo, "soprar", "respirar". Este termo grego é que foi traduzido
por inspirado por Deus. A Escritura inspirada por Deus é a que Timóteo havia aprendido desde a
sua meninice e que no versículo anterior se menciona como "Sagradas Escrituras”. Este termo grego
não se usa em outra parte do Novo Testamento, mas uma idéia similar encontra-se em 2 Pedro 1.21:
"Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus
falaram movidos pelo Espírito Santo". No versículo anterior, fala-se de Deus como o sujeito da
inspiração; no segundo, em 2 Pedro, fala-se mais especificamente do Espírito Santo nessa mesma
função. E, embora aqui o termo grego seja o particípio pheromenos, de um verbo que, entre outros
significados, tem o de "ocasionar", "causar", "trabalhar", os dois versículos têm o mesmo sentido.
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Vale a pena mencionar o comentário que se encontra na obra de Bonnet e Schroeder sobre 2
Timóteo 3.16.
O apóstolo Paulo se contenta em expressar claramente este grande fato que é a base e a
garantia de todas as revelações divinas. Mas não expõe nem justifica nenhum sistema humano sobre
o modo, a natureza, a extensão da inspiração, tampouco sobre a parte de Deus e do homem na
composição das Escrituras. A exegese não pode ir mais longe; tudo mais pertence à dogmática
(BONNET, 1968, p. 707).
Assim é, mas, por amor à verdade, devemos dizer que para o apóstolo Paulo seu Antigo
Testamento era a Palavra de Deus, sem nenhuma outra consideração, e deve-se ter isto em mente
quando se quer refletir sentenciosamente sobre a natureza, extensão ou modo da inspiração.
2.2.7.2.1 Teoria evangélica da inspiração
Com este título queremos dizer que nos ocuparemos do conceito de revelação tal como este
é em geral entendido nos meios evangélicos, sem que isto signifique, entretanto, um acordo total na
terminologia e na exposição do assunto. Lacy, por exemplo, afirma "que a inspiração como
Escrituras foi sobrenatural, dinâmica e plena”. Grau, por sua vez, sustenta que positivamente a
inspiração bíblica é orgânica, plena e verbal. Mas, apesar das diferenças, existe, de modo geral,
acordo sobre este tema, como destacamos a seguir.
O Espírito Santo trabalhou nos escritores de acordo com a sua maneira de ser, aproveitando
a peculiaridade pessoal e cultural. Iluminou suas mentes, guiou sua memória e controlou a
influência do pecado e do erro para que seu trabalho não falhasse. Não obstante, deixou-os
expressar-se à sua maneira em tudo, segundo o seu estilo e vocabulário e de acordo com o seu
tempo. Não se pode negar que haja, nos diferentes autores, diferenças de estilo e peculiaridades que
os caracterizam. Não há erros nem defeitos, mas as características são percebidas na expressão de
cada autor.
A personalidade do escritor não foi anulada. Muitos dos livros da Bíblia contêm passagens
que revelam que a preparação prévia e as características pessoais do autor foram utilizadas pelo
Espírito Santo. Não podemos discordar dessas afirmações, visto que há evidências nas Escrituras de
que isto se deu desta forma. É claro, por exemplo, que o estilo literário de Isaías difere do de Amós;
o estilo do Evangelho de Lucas difere do de Marcos; e a epístola de Tiago difere sob este aspecto da
de João. Aliás, no mesmo autor, em circunstâncias diferentes, encontramos também estilos
diferentes. Para verificar isto, basta comparar Romanos com Filipenses.
Essa combinação do divino com o humano não é algo que apareça apenas na composição
das Escrituras, afirmam os teólogos; vemo-Ia, igualmente, na pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo:
verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. Assim, as Escrituras são obra de Deus, sem
deixar de mostrar, por ele mesmo, a particularidade do instrumento humano.
A posição adotada pelos teólogos protestantes mais antigos e importantes é que, seja qual for
a definição que se dê à inspiração, todo o cânon atual, como o temos, participa dela. O sentido
original grego da expressão "toda escritura", encontrada em 2 Timóteo 3.16, refere-se a cada um
dos escritos sagrados. [... ] E esta Sagrada Escritura, em cada uma de suas partes e livros, é
inspirada. Essa inspiração para a totalidade do conteúdo da Bíblia é o que o autor denomina
"inspiração plena". Este conceito de que a inspiração divina protege a totalidade dos livros bíblicos
de erros não nos deve levar a pensar, disse Hammond, que não haja diferença alguma nos
propósitos da inspiração. Trata-se, em verdade, de entender que, enquanto todas as Escrituras são
plenamente autorizadas por Deus, diferem no tocante à aplicação e ao propósito para o qual foram
inspiradas. Diferem sobretudo quanto à aplicação essencial, mais do que em relação ao grau da
inspiração. O estudioso deve manter-se prevenido contra uma observação como esta: "O Evangelho
de João é mais inspirado do que Eclesiastes".
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2.2.8 A iluminação
É aquela influência ou ministério do Espírito Santo que capacita todos os que estão num
relacionamento correto com Deus para entender as Escrituras. Acerca de Cristo se escreveu que Ele
"abriu" o entendimento deles em relação às Escrituras (Lc 24.32-45). O próprio Cristo prometeu
que, quando o Espírito viesse, Ele "guiaria" em toda a verdade.
Finalmente, tanto a revelação como a inspiração pode ser diferenciada da iluminação em que
a última é prometida a todos os crentes; que ela admite graus, uma vez que aumenta ou diminui; que
não depende de escolha soberana, antes, de ajustamento pessoal ao Espírito de Deus; e sem ela
ninguém nunca seria capaz de aceitar a salvação pessoal (1Co 2.14), ou o conhecimento da verdade
revelada de Deus.
2.3 A Autoridade da Bíblia
Podemos dizer que no passado Deus se revelou aos homens; inspirou os homens para que
tenhamos hoje um testemunho digno de fé de sua revelação. No passado, Deus dirigiu o processo
pelo qual sua revelação chegou até nós sob a forma de uma bíblia. É evidente que de tudo isto surge
claramente a autoridade da Bíblia como Palavra de Deus nos assuntos de fé e prática. Ou, como diz
o pacto de Lausanne: "Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e a autoridade de ambos os
Testamentos, o Antigo e o Novo, em sua integridade, como a única Palavra de Deus escrita, e a
única e infalível regra de fé e prática".
A obra de Hammond trata este assunto recordando que há três fontes possíveis da autoridade
em assuntos de religião: a razão, a igreja e a Bíblia. Estas três fontes têm de ser necessariamente
incompatíveis, mas, como exceção, às vezes se combinam. Da razão, "em alguns casos a
manipulação racionalista de certos aspectos da fé tem gravemente desviado os homens"
(HAMMOND, 1978, p. 51) da igreja, afirma que "tem um lugar de autoridade, mas só em
subordinação à Palavra de Deus" (HAMMOND, 1978, p. 52) da Bíblia, conclui que "não há
palavras suficientes para destacar a importância de acatar, bem longe de toda dúvida, a autoridade
insubstituível das Escrituras Sagradas em tudo o que se refere à religião, quer se trate da doutrina,
quer da prática" (HAMMOND, 1978, p. 53). Nossa última palavra sobre este assunto é uma citação
de Donald G. Bloesch. Esse autor afirmou que a autoridade final não é da Escritura em si, mas do
Deus vivo que, por meio de Jesus Cristo, é quem nos fala; e afirma: Devemos, sem dúvida,
continuar dizendo que a autoridade absoluta de fé, o próprio Cristo vivo, identificou-se de tal
maneira com o testemunho histórico concernente à sua auto-revelação, mais precisamente as
Escrituras Sagradas, que estas participam, necessariamente, da autoridade de seu Senhor. A Bíblia
deve ser distinguida de seu fundamento e de sua meta, mas não pode separar-se deles. E por isso
que Forsyth afirmou: “A Bíblia não é meramente um registro da revelação; é parte da revelação.
Não é uma pedreira de dados para o historiador; é uma fonte de vida para a alma”. (BLOESCH,
1978, p. 63).
2.4 A Interpretação da Bíblia
Tem-se dito que a Bíblia necessita, pela dificuldade de entender o seu conteúdo, de uma
interpretação infalível que evite que o estudioso não especializado incorra em erro em sua
interpretação. A posição que, desde o tempo da Reforma, os evangélicos têm sustentado é a de que
o cristão é um juiz idôneo para julgar o conteúdo da revelação bíblica. Disse Hammond:
"Sustentamos que as Escrituras são capazes de oferecer seu significado correto em todas as idades e
circunstâncias em que se encontre o homem, sempre que este esteja disposto a ser ensinado pelo
Espírito Santo e a obedecer-Ihe" (BLOESCH, 1978, p. 46). Não podemos colocar uma instância
superior à clara mensagem da Bíblia, seja esta um teólogo, uma igreja ou uma denominação. Isto
não significa que não façamos uso de todas as informações possíveis à nossa disposição para não
nos enganarmos ao interpretar a Palavra de Deus. Um princípio de saudável hermenêutica, sem
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entrar nas complicadas considerações que a teologia atual tem a respeito deste tema, é que um texto
se esclarece por seu contexto, seja ele imediato ou mediato. E o contexto mediato, ou distante, de
um texto, é, em última análise, a própria Bíblia, o conteúdo total da revelação. Em outras palavras, a
Bíblia contém em si a informação necessária para interpretar de forma correta qualquer passagem
que ofereça dificuldade. E conquanto usemos a ajuda humana para entender o conteúdo da Bíblia,
não nos esqueçamos de que, em última instância, é a Bíblia que julga tal ajuda.

3 - DISPENSAÇÕES, ALIANÇAS E COMPOSIÇÃO


3.1 Dispensações e Alianças
O que é uma Dispensação? Como medida de tempo, uma dispensação é um período que se
identifica pelo seu relacionamento a algum propósito particular de Deus, um propósito a ser
realizado dentro desse período. As primeiras dispensações, tão remotas do presente, não estão muito
claramente definidas como as últimas dispensações. Por causa disto, os expositores da Bíblia nem
sempre concordam quanto aos aspectos preciosos dos períodos mais remotos. Portanto, uma
Dispensação é um período de tempo no qual o homem é testado na sua obediência a alguma
revelação específica da vontade de Deus. O propósito de cada dispensação, portanto, é colocar o
homem sob uma específica regra de conduta, mas tal mordomia não é uma condição de salvação.
Em cada uma das dispensações passadas, o homem não regenerado fracassou, e ele tem fracassado
nesta presente dispensação e fracassará no futuro. Mas a salvação tem sido e continuará sendo
dispensada pela graça de Deus mediante a fé. Algumas das divisões dispensacionais – sete - óbvias
são as seguintes:
a) Inocência (Gn 1.28).
b) Consciência ou Responsabilidade Moral (Gn 3.7).
c) Governo Humano (Gn 815).
d) Promessa (Gn 12.1).
e) Lei (Êx 19.1).
f) Igreja (Atos 2.1).
g) Reino (Ap 20.4).
Uma aliança é um pronunciamento soberano de Deus através do qual Ele estabelece um
relacionamento de responsabilidade:
a) Entre Ele mesmo e um indivíduo (por exemplo, com Adão na Aliança Edênica, Gn 2.16 e
segs.).
b) Entre Ele mesmo e a humanidade em geral (por exemplo, na promessa da Aliança Noética
de nunca mais destruir toda a carne com um dilúvio, Gn. 9.9 e segs.).
c) Entre Ele mesmo e uma nação (por exemplo, com Israel na Aliança Mosaica, Êx 19.3 e
segs.).
d) Entre Ele mesmo e uma família humana específica (por exemplo, com a casa de Davi na
promessa de uma linhagem real perpetuada na Aliança Davídica, 2Sm 7.16 e segs.).
São oito as principais alianças de significado especial que explicam o resultado dos
propósitos de Deus para com o homem. São:
a) Edênica (Gn 2.16).
b) Adâmica (Gn 3.15)
c) Noética (Gn 9.16)
d) Abraâmica (Gn 12.2)
e) Mosaica (Êx 19.5)
f) Palestiniana (Dt 30.3)
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g) Davídica (2Sm 7.16)


h) Nova Aliança (Hb 8.8)
3.1.1 A Primeira Dispensação: Inocência, Gn 1.28
O homem foi criado em inocência, colocado em um ambiente perfeito, sujeito a uma prova
simples, e advertido das conseqüências da desobediência. Ele não foi compelido a pecar, mas,
tentado por Satanás, preferiu desobedecer a Deus. A mulher foi enganada; o homem transgrediu
deliberadamente (1Tm 2.14). A mordomia da Inocência terminou na sentença da expulsão do Éden
(Gn 3.24).
3.1.2 A Primeira Aliança: Edênica
Exigia as seguintes responsabilidades da parte de Adão:

a) Propagar a raça.

b) Sujeitar a terra ao homem.

c) Dominar a criação animal.

d) Cuidar do jardim e comer os seus frutos e ervas.

e) Abster-se de comer de um único fruto, da árvore do conhecimento do bem e do mal, com a


penalidade da morte para a desobediência.
3.1.3 A Segunda Dispensação: Consciência (Responsabilidade Moral), Gn 3.7
O homem pecou (Gn 3.6-7), a primeira promessa de redenção estava para ser feita (Gn
3.15), e nossos primeiros pais seriam expulsos do Éden (Gn 3.22-24). O pecado do homem foi uma
rebeldia contra uma ordem específica de Deus (Gn 2.16-17) e marcou uma transição do
conhecimento teórico do bem e do mal para o conhecimento experimental (Gn 3.5-7,22). O homem
pecou entrando no reino da experiência moral pela porta errada, quando poderia tê-lo feito fazendo
o que era certo. Assim o homem tornou-se igual a Deus, através de uma experiência pessoal da
diferença entre o bem e o mal, mas também diferente de Deus, passando por esta experiência, no
escolher o mal e não o bem. Assim ele foi colocado por Deus sob a mordomia da responsabilidade
moral, ficando responsável de praticar todo o bem conhecido, abster-se de todo o mal conhecido e
aproximar-se de Deus por meio do sacrifício sangrento aqui instituído, em perspectiva à obra
consumada de Cristo. O resultado é apresentado na Aliança Adâmica (Gn 3.14-21). O homem
falhou no teste que lhe foi apresentado nesta dispensação (Gn 6.5), como nas outras. Embora, como
teste específico, este período de tempo tenha terminado com o dilúvio, o homem continuou em sua
responsabilidade moral conforme Deus acrescentou mais revelação referente a Si mesmo e à Sua
vontade nos períodos subseqüentes.
3.1.4 Segunda Aliança: Adâmica, Gn 3.15
Condiciona a vida do homem caído - condiciona o que tem de permanecer até que, na
dispensação do reino, "a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade
da glória dos filhos de Deus" (Rm 8.21). Os elementos da aliança são:
a) A serpente, instrumento de Satanás, é amaldiçoada (Gn 3.14; Rm 16.20; 2Co
11.3,14; Ap 12.9) e transforma-se na advertência viva de Deus na natureza dos efeitos do pecado -
da mais linda e mais sutil das criaturas, em um réptil repugnante.

b) A primeira promessa de um Redentor (v. 15). Aqui começa "o caminho da Semente":
Abel, Sete, Noé (Gn 6.8-10), Sem (Gn 9.26-27), Abraão (Gn 12.1-4), Isaque (Gn 17.19-21), Jacó
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(Gn 28.10-14), Judá (Gn 49.10), Davi (2Sm 7.5-17), Cristo - Emanuel (Is 7.10-14; Mt 1.1,20-23; Jo
12.31-33; 1Jo 3.8).

c) A condição da mulher mudou (v. 16) em três aspectos: a) concepção multiplicada; b)


sofrimento (dores) na maternidade; c) o senhorio do homem (Gn 1.26-27). A desordem do pecado
faz necessário que haja um senhorio; ele é concedido ao homem (Ef 5.22-25; 1Co 11.7-9; 1Tm
2.11-14).

d) O trabalho leve do Éden (Gn 2.15) mudou para trabalho cansativo (3.18-19), por
causa da maldição lançada sobre a terra (3.17).

e) O inevitável sofrimento da vida (v.17).

f) A brevidade da vida e a certeza trágica da morte física de Adão e de todos os seus


descendentes (v. 19; Rm 5.12-21).
3.1.5 A Terceira Dispensação: Governo Humano, Gn 8.15
Esta dispensação começou quando Noé e sua família saíram da arca. Quando Noé entrou
numa nova situação, Deus (na Aliança Noética) sujeitou a humanidade a um novo teste. Antes
disso, nenhum homem tinha o direito de tirar a vida de outro homem (Gn 4.10-11,14-15,23-24). A
mais alta função do governo é proteger a vida humana, da qual deriva a responsabilidade da pena
capital. O homem não deve vingar o homicídio individualmente, mas, na qualidade de grupo
corporativo, ele deve salvaguardar a santidade da vida humana como um dom de Deus, que não
pode ser exterminado, exceto quando Deus o permite. "Os poderes constituídos foram ordenados
por Deus", e resistir-lhes é resistir a Deus. Enquanto, na dispensação precedente, as restrições feitas
ao homem eram internas (Gn 6.3), o Espírito de Deus operando através da responsabilidade moral,
agora uma nova restrição externa foi acrescentada, isto é, o poder do governo civil.
O homem fracassou em governar com justiça. Este fracasso foi visto de um modo geral, na
confusão de Babel (Gn 11.9). Como uma prova específica da obediência, a dispensação do Governo
Humano foi seguida, pela da Promessa, quando Deus chamou Abrão como Seu instrumento de
bênção para a humanidade. Contudo, a responsabilidade do homem pelo governo não acabou, mas
continuará até que Cristo estabeleça o Seu reino.
3.1.6 A Terceira Aliança: Noética, Gn 9.16
Reafirma as condições de vida do homem caído conforme anunciadas pela Aliança
Adâmica, e institui o princípio do governo humano para reprimir a expansão do pecado, uma vez
que a ameaça do juízo divino na forma de outro dilúvio foi removida. Os elemen-tos da aliança são:

a) O homem torna-se responsável pela proteção da santidade da vida humana, através


de um governo ordeiro sobre o homem individual, até à pena capital (Gn 9.5-6; Rm 13.1-7).

b) Nenhuma maldição adicional é enunciada sobre a terra, nem o homem deve temer
outro dilúvio universal (Gn 8.21; 9.11-16).

c) A ordem da natureza é confirmada (Gn 8.22; 9.2).

d) A carne dos animais é acrescentada à dieta do homem (Gn 9.3-4). Presume-se que o
homem fosse vegetariano antes do dilúvio.
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e) Uma declaração profética é enunciada sobre os descendentes de Canaã, um dos filhos


de Cão, de que seriam servos dos seus irmãos (Gn 9.25-26).

f) Faz-se uma declaração profética de que Sem terá um relacionamento peculiar com o
SENHOR (Gn 9.26-27). Toda a revelação divina é através dos homens semitas, e Cristo, segundo a
carne, descende de Sem.

g) Uma declaração profética é enunciada de que de Jafé virão os grandes povos (Gn. 9:
27).

3.1.7 A Quarta Dispensação: A Promessa, Gn 12.1


Esta dispensação estendeu-se da chamada de Abrão até a concessão da lei no Sinai (Êx
9.3ss) Sua mordomia baseava-se sobre a aliança de Deus com Abrão, citada pela primeira vez aqui,
Gn 12.1-3, e confirmada e ampliada em Gn 13.14-17; 15.1-7; 17.1-8,15-19; 22.16-18; 26.2-5,24;
28.13-15; 31.13; 35.9-12.
3.1.8 A Quarta Aliança: Abraâmica, Gn 12.2
Conforme constituída (Gn 12.1-4) e confirmada (Gn 13.14-17; 15.1-7, 18-21; 17.1-8) têm
três aspectos:
a) A promessa de uma grande nação: "De ti farei uma grande nação", Gn 12.2.
b) Várias promessas pessoais foram dadas a Abraão: Gn 17.16; 13.14-15,17; 15.8;
24.34-35; 15.6; Jo 8.56.
c) Promessas aos gentios, Gn 12.3.
A Aliança Abraâmica revela o propósito soberano de Deus em cumprir, através de Abraão, o
Seu programa para Israel, providenciando em Cristo o Salvador para todos aqueles que crêem. O
cumprimento final repousa sobre a promessa divina e o poder de Deus mais do que sobre a
fidelidade humana.
3.1.9 A Quinta Dispensação: A Lei, Gn 19.1
Esta dispensação começa com a concessão da lei no Sinai e terminou como período de
tempo com a morte sacrifical de Cristo, que cumpriu todas as suas provisões e tipos. Na
dispensação anterior, Abraão, Isaque e Jacó, como também as multidões de outros indivíduos,
falharam nos testes da fé e obediência que eram da responsabilidade do homem (por exemplo, Gn
16.1-4; 26.6-10; 27.1-25). O Egito também falhou em atender a advertência de Deus (Gn 12.3) e foi
julgado. Não obstante Deus providenciou um libertador (Moisés), um sacrifício (o cordeiro pascal)
e o poder milagroso para tirar os israelitas do Egito (as pragas do Egito; livramento no Mar
Vermelho). Os israelitas, como resultado de suas transgressões (Gl 3.19), foram agora colocados
sob a disciplina precisa da lei. A lei ensina:

a) A santidade espantosa de Deus (Êx 19.10-25).

b) A horrível hediondez do pecado (Rm 7.13; 1Tm 1.8-10).

c) A necessidade da obediência (Jr 7.23-24).

d) A universalidade do fracasso humano (Rm 3.19-20).


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e) A maravilha da graça de Deus em providenciar um caminho até Eles através do


sacrifício típico antevendo um Salvador que viria a ser o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo (Jo 1.29), conforme "o testemunho da lei" (Rm 3. 21).
A lei não alterou as provisões nem revogou a promessa de Deus dada na Aliança Abraâmica.
Não foi concedida como um modo de vida (isto é, um meio de justificação, Atos 15.10-11; Gl
2.16,21; 3.3-9, 14, 17, 21,24- 25), mas uma regra devida para um povo já dentro da aliança de
Abraão e coberto pelo sangue do sacrifício, isto é, do cordeiro pascal etc. Um dos seus propósitos
foi o de esclarecer a pureza e santidade que deveria caracterizar a vida de um povo, cuja lei seria ao
mesmo tempo a lei de Deus (Êx 19.5-6). Daí, a função da lei em relação à Israel foi de restrição
disciplinar e corretiva, como aquela exercida sobre os filhos gregos e romanos pelo escravo ou tutor
de confiança da casa (Gl 3.24, traduzido para “aio”) para manter Israel sob controle para o seu
próprio bem (Dt 6.24):
a) Até que Cristo viesse (Cristo é realmente o nosso Tutor, pois a graça que nos salva
também nos ensina, Gl 3.24; Tt 2.11-12).

b) Até que a ocasião designada pelo Pai para os herdeiros (filhos da promessa) serem
removidos da condição de menoridade legal para os privilégios de herdeiros que atingiram a
maioridade (Gl 4.1-3). Isto Deus fez enviando o Seu Filho, e agora os crentes estão na posição de
filhos na casa do Pai (Gl 3.26; 4.4-7).
Mas Israel interpretou mal o propósito da lei (1Tm 1.8-10), buscando a justiça através de
boas obras e ordenanças cerimoniais (At 15.1; Rm 9.31 – 10.3), e rejeitou o seu próprio Messias (Jo
1.10-11). A história de Israel no deserto, na terra e dispersos entre as nações, tem sido um registro
longo de transgressão da lei.
3.1.10 A Quinta: A Aliança Mosaica (19.5)
Dada a Israel em três divisões, cada uma essencial às outras e juntas formando a Aliança
Mosaica, isto é, os mandamentos, expressando a justa vontade de Deus (Êx 20.1-26); os juízos,
regulando a vida social de Israel (Êx 21.1-24.11); e as ordenanças, governando a vida religiosa de
Israel (Ex 24.12-31.18). Estes três elementos formam "a lei", como essa expressão foi
generalizadamente usada no Novo Testamento, (por exemplo, Mt 5.17,18). Os mandamentos e as
ordenanças formavam um sistema religioso. Os mandamentos eram um "ministério da condenação"
e "da morte" (2Co 3.7-9); as ordenanças davam na pessoa do sumo sacerdote, um representante do
povo junto ao SENHOR; e, nos sacrifícios, uma cobertura para os seus pecados em antecipação à
cruz (Hb 5.1-3; 9.6-9; comp. Rm. 3.25-26). O cristão não está sob a condicional Aliança Mosaica
das obras, a lei, mas sob a Nova Aliança incondicional da graça (Rm 3.21- 27; 6.14-15; Gl 2.16;
3.10-14,16-18,24-26; 4.21-31; Hb 10.11-27). A lei não mudou a provisão da Aliança Abraãmica,
mas foi uma coisa acrescentada apenas por um tempo limitado até que viesse a Semente (Gl 3.17-
19).
3.1.11 A Sexta: A Aliança Palestiniana (Dt 30.3)
Apresenta as condições sob as quais Israel entrou na terra da promessa. É importante ver que
a nação ainda nunca tomou a terra sob a Aliança Abraâmica incondicional (Gn
12: 2), nem ainda possui toda a terra (comp. Gn 15.18 com Nm 34.1-12). A Aliança Palestiniana
tem sete partes:
a) A dispersão por causa da desobediência, v.1 (Dt 28.63-68; Gn 15.18).

b) O futuro arrependimento de Israel quando estiver na dispersão, v.2.

c) A volta do SENHOR, v.3 (Am 9.9-15; At 15.14-17).


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d) A restauração da terra, v.5 (Is 11.11-12; Jr 23.3-8; Ez 37.21-25).

e) A conversão nacional, v.6 (Os 2.14-16; Rm 11.26-27).

f) O julgamento dos opressores de Israel, v. 7 (Is 14.1-2; Joel 3.1-8; Mt 25.31-46).

g) A prosperidade nacional, v. 9 (Am 9.11-15).


3.1.12 A Sétima: A Aliança Davídica (vs. 8-17)
Sobre a qual o futuro reino de Cristo, "o qual, segundo carne, veio da descendência de
Davi" (Rm 1.3), devia ser fundamentado, dava a Davi:
a) A promessa da posteridade na casa de Davi.

b) Um trono simbólico de autoridade real.

c) Um reino, ou governo sobre a terra;

d) Certeza de cumprimento, pois as promessas a Davi "serão estabelecidos (as) para


sempre".
Salomão, cujo nascimento Deus predisse (2Sm 7.12), não recebeu a promessa de uma
semente perpétua, mas apenas a certeza de que:
a) Construiria "uma casa ao meu nome" (v. 13).

b) O seu reino seria estabelecido (v. 12).

c) O seu trono, isto é, a autoridade real, permaneceria para sempre.

d) Se Salomão pecasse, seria castigado, mas não deposto.


A continuidade do trono de Salomão, mas não da semente de Salomão, demonstra a exatidão
da predição. Israel teve nove dinastias; Judá, uma. Cristo nasceu de Maria, que não veio da
linhagem de Salomão (Jr 22. 8-30); Ele era um descendente de Natã, outro filho de Davi (comp. Lc
3.23-31; e Lc 3.23). José, o marido de Maria, era descendente de Salomão e através dele o trono
passou legalmente a Cristo (comp. Mt 1.6,16). Assim, o trono, mas não a semente, veio através de
Salomão, que foi precisamente o cumprimento da promessa do SENHOR a Davi.
Em contraste com a promessa irrevogável de cumprimento perpétuo feita a Davi, Salomão é
uma ilustração do caráter condicional da Aliança Davídica conforme aplicada aos reis que o
seguiram. A desobediência da parte dos descendentes de Davi resultaria em castigo, mas não em
anulamento da aliança (2Sm 7.15; SI 89.20-37; Is 54.3,8, 10). Assim o castigo caiu primeiro na
divisão do reino sob Reoboão e, finalmente, nos cativeiros (2Rs 25.1-21). Desde aquele tempo
apenas um rei da família davídica foi coroado em Jerusalém e esse foi coroado com espinhos. Mas a
Aliança Davídica, dada a Davi pelo juramento do SENHOR e confirmada a Maria pelo Anjo
Gabriel, é imutável (Sl 89.20-37); e o Senhor ainda dará àquele que foi coroado de espinhos o trono
de Davi, seu pai (Lc 1.31-33; At 2.29-32; 15.14-17). Ambos, Davi e Salomão, entenderam que a
promessa referia-se literalmente a um reino terreno (2Sm 7.18-29; 2Cr 6.14-16).
3.1.13 A Sexta Dispensação: a Igreja (At 2.1)
Uma nova era foi anunciada por nosso Senhor Jesus Cristo em Mt 12.47-13.52. A Igreja foi
claramente profetizada por Ele em Mt 16.18 (comp. Mt 18.15-19), comprada pelo derramamento do
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Seu sangue no Calvário (Rm 3.24-25; 1Co 6.20; 1Pe 1.18-19), e constituída como Igreja depois de
Sua ressurreição e ascensão no Pentecostes quando, de acordo com a Sua promessa (Atos 1.5), os
crentes foram pela primeira vez batizados individualmente com o Espírito Santo. Por causa da
ênfase dada ao Espírito Santo, esta dispensação também tem sido chamada "dispensação do
Espírito".
O ponto de prova desta dispensação é o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, a
mensagem das boas novas sobre a Sua morte e ressurreição (Jo 19.30; At 4.12; 1Co 15.3-5; 2Co
5.21; etc.). A contínua e cumulativa revelação das dispensações anteriores combina com esta
revelação mais completa para enfatizar a total iniqüidade e perdição do homem, e a suficiência da
obra historicamente completa de Cristo para salvação, pela graça, mediante a fé, a todos os que vêm
a Deus por Ele (Jo 14.6; At 10.43; 13.38-39; Rm 3.21-26; Ef 2.8-9; 1Tm 4.10; Hb 10.12-14).
Enquanto aqueles indivíduos salvos, que compõem a verdadeira Igreja de Cristo cumprem as
ordens do seu Senhor, de pregar o Evangelho até os confins da terra (Mc 16.15; Lc 24.46-48; At
1.8), Deus está formando, durante esta dispensação, ''um povo para o seu nome" (At 15.14) dentre
os judeus e os gentios, chamado de "a Igreja" e, portanto especialmente distinto dos judeus e gentios
como tais (1Co 10.32; Gl 3.27-28; Ef 2.11-18; 3.5-6).
O Senhor Jesus advertiu que durante todo o período, enquanto a Igreja estiver sendo
formada pelo Espírito Santo, muitos rejeitarão o Seu Evangelho e muitos outros pretenderão crer
nEle e se tomarão uma fonte de corrupção espiritual e impedimento para o Seu propósito nesta
dispensação, na igreja professa. Estes produzirão a apostasia, particularmente nos últimos dias (Mt
13.24-30,36-40,47-49; 2Ts 2.5-8; 1Tm 4.1-2; 2Tm 3.1; 4.3-4; 2Pe 2.1-2; 1Jo 2.18-20). A
Dispensação da Igreja chegará ao fim através de uma série de acontecimentos profetizados, o
principal dos quais será:
a) A trasladação da verdadeira Igreja da terra para encontrar o Senhor nos ares em um
momento conhecido por Deus, mas não revelado aos homens, e sempre mantido diante dos crentes
como uma esperança iminente e feliz, encorajando-os no serviço do amor e na santidade de vida.
Este acontecimento geralmente é chamado de "arrebatamento" (1Ts 4.17).

b) Os juízos da septuagésima semana de Daniel, chamados de "a Grande Tribulação"


(Ap 7) que cairão sobre a humanidade em geral, mas incluirão a parte não salva da igreja professa,
que terá apostatado e por isso será deixada para trás sobre a terra, quando a verdadeira Igreja for
trasladada para o céu. Esta forma final da Igreja apóstata está descrita em Ap 17 como "a meretriz"
que primeiro vai "montar" o poder político ("besta"), apenas para ser derrotada e absorvida por esse
poder (comp. Ap 18.2).

c) A volta do Senhor Jesus do céu à terra em poder e glória, trazendo com Ele a Sua
Igreja, para estabelecer o Seu reino milenial de justiça e paz (Ap 19.11 e 17).
3.1.14 A Sétima Dispensação: O Reino (Ap 20.4)
Esta é a última das dispensações ordenadas que condicionam a vida humana na terra.
É o Reino da Aliança feita a Davi (2Sm 7.8-17).
O Filho maior de Davi, o Senhor Jesus Cristo, reinará sobre a terra como Rei dos reis e
Senhor dos senhores por 1.000 anos, associando consigo mesmo naquele Reino, os Seus santos de
todas as dispensações (Ap 3.21; 5.9-10; 11.15-18; 15.3-4; 19.16; 20.4,6).
A Dispensação do Reino une dentro de si mesmo e debaixo de Cristo as várias "épocas"
mencionadas na Escritura:
a) O período de opressão e desgoverno termina quando Cristo estabelece o Seu reino (Is
11.3-
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b) O período de testemunho e paciência divina termina em julgamento (Mt 25.31-46; At


17.30-31; Ap 20.7-15).

c) O período de luta termina em repouso e recompensa (2Ts 1.6-7).

d) O período de sofrimento termina em glória (Rm 8.17-18).

e) O período da cegueira e castigo de Israel termina em restauração e conversão (Ez


39.25-29; Rm 11.25-27).

f) O tempo dos gentios termina no desmoronamento da imagem e no estabelecimento


do reino dos céus (Dn 2.34-35; Ap 19.15-21).

g) O período da escravidão da criação termina em livramento e manifestação dos filhos


de Deus (Gn 3.17; Is 11. 6-8; Rm 8.19-21).

h) No final dos mil anos, Satanás é solto por um pequeno período e instiga uma rebelião
final que é sumariamente abafada pelo Senhor. Cristo lança Satanás no lago de fogo para ser
eternamente atormentado, derrota o último inimigo - a morte - e então entrega o reino ao Pai (1Co
15.24).
3.1.15 A Oitava: A Nova Aliança (Hb 8.8)
A última das oito grandes alianças das Escrituras é:

a) "Melhor" do que a Aliança Mosaica Êx 19.5), não moralmente, mas em eficácia (Hb
7.19; comp. Rm 8.3-4).

b) Está estabelecida sobre promessas "melhores" (isto é, incondicionais). Na Aliança


Mosaica, Deus disse: "Se..." (Êx 19.5); na Nova Aliança, Ele diz:
“Eu farei...” (Hb 8.10,12).

c) Sob a Aliança Mosaica, a obediência brotava do temor (Hb 2.2; 12.25-27); sob a
Nova, ela brota de um coração e uma mente dispostos (Hb 8.10).

d) A Nova Aliança garante a revelação pessoal do Senhor a cada crente (v. 11).

e) Ela assegura esquecimento completo dos pecados (Hb 8.12; 10.17).

f) Ela repousa sobre uma redenção consumada (Mt 26.27-28; 1Co 11.25; Hb 9.11-
12,18-23). Tenha em mente que a mesma palavra grega (diathekê) foi traduzida para "testamento" e
"aliança" no N.T.

g) Ela garante a perpetuidade, conversão futura e bênção de um Israel arrependido, com


os quais a Nova Aliança ainda será ratificada (Hb 10.9; comp. Jr 31.31-40).
3.1.16 Resumo das Oito Alianças
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a) A Aliança Edênica (Gn 2.16) condiciona a vida do homem na inocência.

b) A Aliança Adâmica (Gn 3.15) condiciona a vida do homem caído e dá a promessa de


um Redentor.

c) A Aliança Noética (Gn 9.16) estabelece o princípio do governo humano.

d) A Aliança Abraâmica (Gn 12.2) inaugura a nação de Israel e confirma, com


acréscimos específicos, a promessa adâmica da redenção.

e) A Aliança Mosaica (Êx 19.5) condena todos os homens, "pois todos pecaram" (Rm
3.23; 5.12).

f) A Aliança Palestiniana (Dt 30.3) garante a restauração final e a conversão de Israel.

g) A Aliança Davídica (2Sm 7.16) estabelece a perpetuidade da família davídica


(cumprida em Cristo, Mt 1.1; Lc 1.31-33; Rm 1.3), e do reino davídico sobre Israel e sobre toda a
terra, a ser cumprida em e por Cristo (2Sm 7.8-17; Zc 12.8; Lc 1.31-33; At 15.14-17; 1Co 15.24).

h) E a Nova Aliança (Hb 8.8) repousa sobre o sacrifício de Cristo e garante bênção
eterna, sob a Aliança Abraâmica (Gl 3.13-29), de todo aquele que crê. É absolutamente
incondicional e, considerando que nenhuma responsabilidade é por ela consignada ao homem, ela é
final e irreversível.
3.2 A Composição da Bíblia
A mensagem da Bíblia é completa. Ela incorpora cada capítulo e cada versículo em sua
perfeita unidade, e todas as suas partes são interdependentes. O domínio de qualquer parte exige o
domínio do todo. Se houver tolerância de ênfase desproporcional ou indulgência para com
modismos nas doutrinas, pouco progresso se obterá na sua exata compreensão. Os sessenta e seis
livros, que por disposição divina formam este todo incomparável, estão divididos em duas partes
principais: o Antigo Testamento e o Novo Testamento, e estes Testamentos se prestam ao
esclarecimento de dois propósitos divinos supremos: aquilo que é terreno e aquilo que é celestial.
Os livros do Antigo Testamento estão classificados em históricos: de Gênesis a Ester; poéticos: de
Jó aos Cantares de Salomão; e proféticos: de Isaías a Malaquias. Os livros do Novo Testamento se
classificam em históricos: de Mateus a Atos; epistolares: de Romanos a Judas; e proféticos: o
Apocalipse. No que se refere à Pessoa de Cristo (que é o tema central de toda a Escritura), o Antigo
Testamento é classificado como preparação; os quatro Evangelhos como manifestação; os Atos
como propagação; as Epístolas como explanação; e o Apocalipse como consumação. A análise
essencial de cada livro, cada capítulo e cada versículo, pertence a outras disciplinas do treinamento
do estudante e não à Teologia Sistemática.
3.2.1 Composição do Antigo Testamento
A palavra testamento vem do termo grego "diatheke", e significa: a) Aliança ou concerto, e
b) Testamento, isto é, um documento contendo a última vontade de alguém quanto à distribuição de
seus bens, após sua morte. Esta é a palavra empregada no Novo Testamento, como por exemplo, em
Lucas 22.20. No Antigo Testamento, a palavra usada é "berith" que significa apenas concerto. O
duplo sentido do termo grego nos mostra que a morte do testador (Cristo) ratificou ou selou a Nova
Aliança, garantindo-nos toda a herança com Cristo (Rm 8.17; Hb 9.15-17).
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Tem, portanto, 39 livros, e foi escrito originalmente em hebraico, com exceção de pequenos
trechos que o foram em aramaico. O aramaico foi a língua que Israel trouxe do seu exílio
babilônico. Há também algumas palavras persas. Seus 39 livros estão classificados em 4 grupos,
conforme os assuntos a que pertencem: Lei, História, Poesia, Profecia. O grupo ou classe poesia
também é conhecido por de-vocional.

a) LEI. São 5 livros: Gênesis a Deuteronômio. São comumente chamados de


Pentateuco.

b) HISTÓRIA. São 12 livros: de Josué a Ester. Ocupam-se da história de Israel nos seus
vários períodos: a) Teocracia, sob os juízes. b) Monarquia, sob Saul, Davi e Salomão. c) Divisão do
reino e cativeiro, contendo o relato dos reinos de Judá e Israel, este levado em cativeiro para a
Assíria, e aquele para Babilônia. d) Pós-cativeiro, sob Zorobabel, Esdras e Neemias, em conjunto
com os profetas contemporâneos.

c) POESIA. São 5 livros: de Jó a Cantares de Salomão. São chamados poéticos, não


porque sejam cheios de imaginação e fantasia, mas devido ao gênero do seu conteúdo. São também
chamados devocionais.

d) PROFECIA. São 17 livros: de Isaías a Malaquias. Estão subdivididos em: Profetas


Maiores: Isaías a Daniel (5 livros) e Profetas Menores: Oséias a Malaquias (12 livros).
Os nomes maiores e menores não se referem ao mérito ou notoriedade do profeta mais ao
tamanho dos livros e à extensão do respectivo ministério profético.
A classificação dos livros do Antigo Testamento, por assunto, vem da versão Septuaginta,
através da Vulgata, e não leva em conta a ordem cronológica dos livros, o que, para o leitor menos
avisado, dá lugar a não pouca confusão, quando procura agrupar os assuntos cronologicamente. Na
Bíblia hebraica (que é o nosso Antigo Testamento), a divisão dos livros é bem diferente.
Nas Bíblias de edição católico-romana, os livros de 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis são chamados
1, 2, 3 e 4 Reis, respectivamente. 1 e 2 Crônicas são chamados 1 e 2 Paralipômenos. Esdras e
Neemias são chamados 1 e 2 Esdras. Também, nas edições católicas de Matos Soares e Figueiredo,
o Salmo 9 corresponde em Almeida aos Salmos 9 e 10. O de número 10 é o nosso 11. Isso vai assim
até os Salmos 146 a 147, que nas nossas Bíblias são o de número 147. Deste modo, os três salmos
finais são idênticos em qualquer das versões acima mencionadas. Essas diferenças de numeração
em nada afetam o texto em si, e não poderia ser doutra forma, sendo a Bíblia o Livro do Senhor!
3.3 O Texto e Estrutura da Bíblia
3.3.1 Particularidades do Texto
Apesar da grande diversidade de traduções, edições e publicações existentes hoje não só na
língua portuguesa, mas como em muitos outros idiomas, relacionamos abaixo algumas
particularidades interessantes, a saber, para melhor interpretação e estudo da Bíblia:

a) As palavras em Itálico

Não constam do original. Foram introduzidas na tradução para completar o sentido do texto ou
facilitar sua interpretação. Muitas vezes acabam permitindo duplo sentido exegético.
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b) O uso da margem Muitas Bíblias têm na margem de determinados trechos, a tradução


literal do hebraico ou do grego. Às vezes, têm uma tradução diferente quando o caso é duvidoso.
São muito úteis essas notas marginais.

c) O sumário dos capítulos São preparados pelos editores, e nada têm com a inspiração e o
texto original. As exceções são algumas frases introdutórias de certos Salmos, como o 4, 5, 6, 7, 8,
9, 22, 32, 45, 46, 53, 56, 69, 75 etc. Tais sumários nem sempre correspondem aos capítulos aos
quais se referem. Há casos até negativos, como a parábola dos Dez Talentos", quando não são dez;
a "Parábola do Rico e Lázaro", quando não se trata de parábola, e assim por diante.

d) A divisão do texto bíblico em capítulos e versículos


Não vem do original. A primeira Bíblia que trouxe essa divisão foi a Vulgata, em 1555. Em
muitos casos, a divisão tanto em capítulos como em versículos, quebra o sentido, parte o texto e
altera toda a linha de pensamento. Exemplo de capítulos: Isaías 53, que devia começar em Isaías
52.13, João 8, devia começar em João 7.53; 2 Reis 7 devia começar em 2 Reis 6.24; o capítulo 3 de
Colossenses devia terminar em Colossenses 4.1; Atos 5 devia começar em 4.36. Com a divisão em
versículos, acontece a mesma coisa, por exemplo: Efésios 1.5 devia começar com as duas últimas
palavras de Efésios 1.4; 1 Coríntios 2.9 e 2.10 deviam formar um só versículo. Na Epístola aos
Romanos, bem como em Efésios, há diversos casos desses. Também a divisão em versículos não é a
mesma em todas as versões: Dn 3.24-30 da ARC, corresponde à Dn 3.91-97 na Matos Soares; Lc
20.30 na ARC, corresponde à Lc 20.30,31 na “Brasileira".

e) A divisão do texto em parágrafos é muito útil para a sua compreensão

O Salmo 2, por exemplo, contém 5 parágrafos, tendo cada um aplicação diferente (vv. 1-3,
4-6, 7-9, 10-12a; 12b). Uma versão em português que indica os parágrafos é a ARA, com um tipo
negrito cada vez que isso ocorre. Há versões em outras línguas que dão tanta importância à essa
divisão, que, para maior comodidade do leitor, imprimem o próprio sinal gráfico para parágrafo.

4 - PENTATEUCO – ESTRUTURA E ENSAIO


Introdução
São cinco os Livros do Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Esses primeiros cinco livros da Bíblia são chamados "a Lei". Podemos considerá-los como um
único livro, embora incluam toda sorte de escritos: narrativas, leis, instruções sobre o culto e as
cerimônias religiosas, sermões e genealogias. Mas, de qualquer modo, estes livros possuem tema
comum. Depois das narrativas sobre os primórdios do mundo em Gn 1-11, contam a história do
povo de Deus desde a vocação de Abraão até a morte de Moisés, compreendendo um período de
cerca de 600 anos, ou seja, de aproximadamente 1800 até 1250 a.C. O Gênesis contém a história
dos fundadores de Israel: Abraão, Isaac, Jacó e José. Os outros livros da Lei são dominados pela
figura de Moisés, o grande líder dos israelitas. A idéia de uma comunidade que obedece à vontade
de Deus é o centro destes livros, e por isso lhes deu o nome hebraico de Torá, isto é, "ensinamento"
por excelência. Estes cinco livros também são conhecidos pelo nome grego de Pentateuco ou "cinco
rolos" (literalmente "cinco estojos" nos quais estavam os rolos).
4.1 O Livro de Gênesis
O Gênesis, primeiro livro da Bíblia, é o livro dos inícios, como diz o seu nome (grego) que
significa "origem". Trata da criação de uma maneira geral. Fala da origem do homem e da mulher.
Explica como as coisas começaram a ir mal e apresenta as boas intenções de Deus em relação à sua
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criação. O livro está dividido em duas grandes partes. Os caps. 1 - 11 narram a história da criação
do mundo e da raça humana. Lemos sobre Adão e Eva, Caim e Abel, Noé e o dilúvio, e a torre de
Babel. A criação de Deus foi progressivamente deteriorada pelo egoísmo, o orgulho e a maldade
humana. O livro fala das origens do pecado e do sofrimento, bem como da promessa de esperança
feita por Deus. Os caps. 12 - 50 passam da história geral da humanidade para a de uma pessoa,
Abraão, e sua família. Abraão acreditou e obedeceu a Deus, que o escolheu para fundar a nação de
Israel. Seguem-se as histórias de Isaac, seu filho, de Jacó (também conhecido como Israel), seu
neto, e dos doze filhos deste, que são os fundadores das doze tribos de Israel. Depois da narrativa
concentra -se num dos filhos de Jacó: José, que é feito prisioneiro no Egito, para onde mais tarde
emigra toda a sua família. O livro termina com a promessa de Deus de cuidar do seu povo. Todos os
capítulos mostram um Deus ativo, que julga e pune as pessoas que fazem o mal, que guia e
conserva o seu povo, moldando a sua história. O Gênesis narra a história de alguns grandes homens
de fé.
4.2 O Livro de Êxodo
A palavra êxodo vem do grego e significa "saída". O livro do Êxodo narra como o povo de
Israel saiu do Egito, onde era escravo, e emergiu como nação livre, com uma esperança para o
futuro. A figura central é Moisés, o grande líder de Israel, chamado por Deus para conduzir o povo
para fora do Egito. O Êxodo divide-se em três partes: Caps. 1-18: o povo hebreu é libertado da
escravidão no Egito. Moisés conduz os israelitas através do deserto até o monte Sinai. Caps. 19 -
24: Deus faz um pacto com o seu povo no Sinal. Dá-lhe normas segundo as quais deve viver, tan-to
no deserto como depois que tiver entrado na Terra Prometida. Estas normas estão resumidas nos dez
mandamentos, no capítulo 20. As leis de Deus abrangem a totalidade da vida: o comportamento
particular de uns para com os outros, o comportamento na vida pública e o comportamento para
com Deus. Caps. 25 - 40: Deus dá ao povo de Israel instruções sobre a construção de uma tenda
móvel (o tabernáculo) para adorá-lo.
4.3 O Livro de Levítico
O Levítico é substancialmente um livro de leis. São leis sobre as cerimônias religiosas, o
culto e a vida cotidiana, com o objetivo de manter o povo de Israel num relacionamento justo com
Deus. O nome deriva dos sacerdotes (membros da tribo ou clã de Levi) aos quais cabia cuidar das
leis do culto. O livro volta constantemente ao tema da santidade de Deus e da sua extraordinária
bondade, tão diferente do ho-mem. Quando Jesus resumiu a lei, citou o Levítico: "Amarás o teu
próximo como a ti mesmo" (Lv 19, 18). Contém as seguintes seções: Caps. 1-7: leis sobre
sacrifícios e ofertas e seu significado. Caps. 8-10: leis referentes aos homens que podiam ser
sacerdotes e sua destinação para o exercício de suas funções. Caps. 11-15: leis referentes à vida
cotidiana, concentradas sobre as coisas "puras" e "impuras" que impediam as pessoas de participar
do culto divino por certo tempo. Caps. 16: o dia da expiação, ocasião anual em que se faziam
ofertas para "purificar" o povo do pecado. Caps. 17-27: leis sobre a santidade de vida e o culto, com
promessas para os que obedecerem e advertências para os que desobedecerem.
4.4 O Livro de Números
O livro dos Números conta a história de Israel em sua peregrinação de quase quarenta anos
pelo deserto do Sinal. Começa no terceiro ano depois da fuga do Egito e termina um pouco antes da
entrada em Canaã, a terra que Deus tinha prometido ao seu povo. O título Números provém das
duas "enumerações" (recenseamento) dos israelitas no monte Sinai e nas estepes de Moab, perto do
rio Jordão e de Jericó. Entre os dois recenseamentos os israelitas estabeleceram-se por algum tempo
no oásis de Cades-Barnéia e depois seguiram para uma região a leste do Jordão. O livro dos
Números é a longa e triste história das queixas e do descontentamento de Israel. Freqüentemente os
israelitas deixaram-se dominar pelo medo e pelo desânimo diante das dificuldades. Rebelaram-se
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contra Deus e seu líder Moisés. Apesar disso, Deus continuou a preocupar-se com o seu povo. Mas
só dois homens dos que tinham saído do Egito, Calebe e Josué, entraram na Terra Prometida.
4.5 O Livro de Deuteronômio
Consiste de uma série de discursos de Moisés aos israelitas nas estepes de Moab, pouco
antes da entrada na Terra Prometida. O nome do livro significa "segunda outorga da lei". Mas na
verdade trata-se de nova confirmação das leis dadas por Deus no Sinai (registradas no Êxodo,
Levítico e Números) e sua aplicação à vida sedentária na terra de Canaã. No decorrer de seus
discursos Moisés repete os grandes eventos dos últimos quarenta anos. Reitera e destaca os dez
mandamentos e nomeia Josué seu sucessor para conduzir os israelitas. O grande tema do
Deuteronômio é que Deus salvou e abençoou seu povo, e este deve sempre lembrar-se disso, amá-
lo e obedecer-lhe. As palavras que Jesus classificou de o maior mandamento: "Amarás a Yahweh
teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força", são do
Deuteronômio (Dt 6.4-5; Mt 22.37).
5 - HISTÓRICOS - ESTRUTURA E ENSAIO
Introdução
São 12 livros os livros históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1
Crônicas, 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester. Esta seção, que na Bíblia hebraica vai de Josué a
Ester, abrange o tempo da conquista, o tempo dos reis, o exílio e o retorno. Está dividida em duas
partes. A primeira, isto é, Josué, Juízes, Samuel e Reis, têm o título de "Primeiros Profetas" da
Bíblia hebraica. A segunda parte, ou seja, Crônicas, Esdras e Neemias, estavam incluídos nos
chamados “Escritos". As duas partes juntas cobrem cerca de 800 anos da história de Israel, do
século XIII ao século V a.C. Estes livros foram escritos não simplesmente como história da nação,
mas para mostrar como o plano e a mensagem de Deus foram cumpridos na vida de Israel.
5.1 O Livro de Josué
O livro de Josué conta como Israel invadiu Canaã sob o comando de Josué, sucessor de
Moisés. Os caps. 1-12 falam da conquista de Canaã, ocorrida provavelmente após 1240 a.C. Estas
narrativas poderão ter sido escritas pela primeira vez na época de Samuel, embora o livro como um
todo seja parte da grande "história deuteronômica", que vai de Josué a 2 Reis. Não sabemos quem
escreveu o livro. A narrativa compreende a travessia do Jordão, a queda da cidade de Jericó e a
batalha de Ai. Os caps. 13-22 contam como os israelitas dividiram entre si e ocuparam as terras
conquistadas. Os últimos dois capítulos (23-24) trazem o discurso de despedida de Josué e a
renovação da aliança com Deus e da sua promessa ao povo em Siquém.
5.2 O Livro de Juízes
O livro dos Juízes é uma coletânea de narrativas referentes aos dois séculos turbulentos, que
vão desde o tempo da conquista de Canaã até pouco antes da coroação do rei Saul, isto é,
aproximadamente de 1200 a 1050 a.C. Os "Juízes" eram heróis locais das tribos de Israel,
geralmente chefes militares, cujos feitos são narrados no livro. Incluem figuras como Débora,
Gideão e Sansão. Neste período só a fé comum em Deus manteve de certo modo unidas as tribos de
Israel. Quando seguiam os deuses locais, caíam em divisão, tornavam-se fracas e acabavam sendo
presas dos cananeus.
5.3 O Livro de Rute
A maravilhosa história de Rute contrasta com os tempos violentos do livro dos Juízes em
que se situa. Rute, mulher moabita, desposara um israelita. Quando o marido morreu, ela
demonstrou inesperada lealdade para com a sogra israelita e confiou no Deus de Israel. Por fim
encontrou novo marido entre os parentes do falecido esposo e através deste casamento tornou-se
bisavó do rei Davi e antepassada do próprio Jesus. Embora a religião passasse por crise
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generalizada naquela época, o livro de Rute exalta a fé de pessoa comum, uma estrangeira que se
convertera ao Deus de Israel.
5.4 Primeiro e Segundo Samuel
Estes dois livros narram a história de Israel desde Samuel até os últimos anos de Davi.
Tomam o nome do último grande Juiz, Samuel, não porque este os escreveu, mas porque a sua
figura domina os primeiros capítulos. Originalmente era um único livro na Bíblia hebraica. Samuel
ungiu os dois primeiros reis de Israel - Saul e Davi - como escolhidos de Deus. Os dois cobrem
aproximadamente o período de 1075-975 a.C. O autor várias vezes se refere ao reino separado de
Judá. Isso indica que a redação final da obra deve ter ocorrido depois de 900 a.C. Mas contém
muito material contemporâneo dos eventos descritos, especialmente a história das intrigas da corte
de Davi em 2Sm 9-20, que muitos estudiosos acreditam ser obra de secretários profissionais da
corte, que foram testemunhas do que escreveram. Os livros de Samuel tratam principalmente da
história da ação de Deus em relação à nação de Israel. 1 Samuel conta como Israel passou do
governo dos juízes para o regime dos reis. Caps. 1-8: os anos de Samuel como Juiz de Israel. Caps.
9–15: história de Saul, primeiro rei de Israel. Caps. 16-30: As relações entre Davi e Saul. O livro
termina (cap.31) com a morte de Saul e de seus filhos. Ainda que agora o povo tivesse um rei, tanto
este como o povo são vistos sob a condução e o juízo de Deus. 2 Samuel narra a história de Davi
rei, primeiro de Judá ao sul (caps. 1 - 4), depois de todo o país, inclusive da parte que
posteriormente será o reino setentrional de Israel. Lemos como o rei Davi expandiu o seu reino e se
tornou soberano poderoso. Davi era homem de profunda fé em Deus e muito popular. Mas às vezes
era cruel e impiedoso para conseguir o que queria, por exemplo, no caso da sua determinação de ter
para si Bate-Seba, mulher de um dos seus oficiais.
5.5 Primeiro e Segundo Reis
Os dois livros dos Reis abrangem cerca de 400 anos da história de Israel, desde a morte de
Davi até a destruição de Jerusalém em 587 a.C. Não sabemos quem foi o autor deles, mas à
semelhança de 2 Samuel, é certo que contêm informações tiradas de documentos da corte,
contemporâneos aos fatos descritos. Provavelmente passaram por várias edições e revisões até
receberem sua forma final durante o exílio em Babilônia (587-539 a.C.). 1 Reis pode ser dividido
em duas partes: Caps. 1-11: Salomão sucede ao seu pai Davi como rei de Israel e Judá. O período
áureo do seu reinado viu a construção do templo de Jerusalém. Caps. 12 - 22: a nação divide-se,
dando origem ao reino de Israel (norte) e ao reino de Judá (sul). O livro narra a história dos reis dos
dois reinos, entre os quais Jeroboão (Israel), Roboão (Judá), Acabe (Israel), Josafá (Judá) e Acazias
(Israel). Os profetas de Deus anunciam com coragem a sua palavra numa época em que as pessoas
se voltam para outros deuses. O maior dentre eles é Elias, cuja disputa com os profetas de Baal no
monte Carmelo é narrada em 1Rs 18. 2 Reis continua a história dos dois reinos no ponto em que
termina 1 Reis, e igualmente se divide em duas partes. Caps. 1-17: a história dos dois reinos desde a
metade do século IX a.C. até a derrota do reino setentrional pela Assíria e a queda de Samaria em
722 a.C.
Neste período destaca-se o profeta Eliseu, sucessor de Elias, como mensageiro de Deus.
Caps. 18 - 25: a história do reino de Judá desde a queda do reino de Israel até a destruição de
Jerusalém pelo rei de Babilônia, Nabucodonosor, em 587 a.C. São destacados os reinados de dois
grandes reis: Ezequias e Josias. Nos dois livros dos Reis, os soberanos de Israel são julgados com
base na sua fidelidade a Deus. O país prospera quando o rei é leal, e entra em decadência quando o
rei presta culto a outros deuses. Segundo este modelo, todos os reis do reino do norte representam
um fracasso.
5.6 Primeiro e Segundo Crônicas
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À primeira vista os livros das Crônicas parecem uma repetição simplificada dos livros de
Samuel e dos Reis. Na verdade, o autor reescreve a história para leitores que já conheciam esses
livros. Mas tinha dois motivos principais para dar sua própria versão da história dos reis de Israel.
Queria mostrar que, apesar dos desastres que atingiram Israel, Deus mantém a sua promessa de
cuidar do seu povo. Para isso, concentrou a atenção nos reinados gloriosos de Davi e Salomão e nos
bons governos dos reis Josafá, Ezequias e Josias. Queria descrever como começou o culto do
templo em Jerusalém, explicar os deveres dos sacerdotes e dos levitas, e mostrar que Davi foi o
verdadeiro fundador do templo (ainda que de fato tivesse sido Salomão quem o construiu). O autor,
o “Cronista”, provavelmente escreveu para os israelitas que tinham voltado do exílio a fim de
reconstruir Jerusalém. Estes precisam entender o seu passado, e o autor lhes recordou que o sucesso
da nação dependia da sua lealdade para com Deus. 1Crônicas começa com uma genealogia, que vai
de Adão ao rei Saul (caps. 1-9) e entra propriamente no tema com o reinado de Davi e os
preparativos deste para a construção do templo (caps. 10-29). 2 Crônicas começa com o reinado de
Salomão e a construção do templo (caps. 1-9). Depois de lembrar a revolta das tribos setentrionais
sob Jeroboão, continua nos caps. 11-36 com a história dos reis de Judá até a destruição de Jerusalém
em 587 a.C.
5.7 O Livro de Esdras
O livro de Esdras continua diretamente as Crônicas e descreve a volta de parte dos judeus
exilados de Babilônia. Estes trouxeram um pouco de vida e a restauração do culto em Jerusalém. A
narração cobre aproximadamente os anos 583-433 a.C. Partes da obra reproduzem talvez trechos
escritos pelo próprio Esdras. A volta a Jerusalém é apresentada nas suas três fases: Caps. 1-2: volta
do primeiro grupo com Zorobabel, por ordem do rei persa Ciro. Caps. 3- 6: reconstrução do templo
e retomada do culto em Jerusalém, apesar das oposições locais. Caps. 7-10: Esdras volta a
Jerusalém com outro grupo e contribui para restaurar a religião e o modo de vida de Israel.
5.8 Livro de Neemias
Neemias, um exilado judeu, teve permissão do rei persa Artaxerxes de voltar com um grupo
de judeus a Jerusalém em 445 a.C. O livro que tem seu nome, escrito como memória pessoal,
apresenta-o como líder nato, e pessoa que confiava plenamente em Deus e para quem orar era coisa
tão natural como respirar. Também este livro pode ser dividido em três partes: Caps. 1-7: Neemias
retoma a Jerusalém, encoraja o povo a reconstruir os muros da cidade para defender-se de feroz
oposição e introduz reformas religiosas que se faziam urgentes. Caps. 8-10: Esdras proclama a lei
de Deus diante do povo que, profundamente comovido, confessa sua infidelidade e volta novamente
a Deus. Caps. 11-13: atividades de Neemias como governador de Judá, nomeado pelo rei da Pérsia.
5.9 Livro de Ester
A história enquadra-se na época de Esdras e Neemias, ou seja, no período persa. Fala de
conspiração urdida no reinado de Assuero (Xerxes) para destruir a raça judaica. Uma heroína judia
de nome Ester torna-se rainha dos persas e com a sua coragem consegue salvar o seu povo. O livro
mostra como a nação judaica, mais uma vez, foi salva da destruição e explica a origem e a
significação da festa judaica do Purim (que celebra esta salvação). Em alguns pontos, o texto grego
é mais longo que o hebraico.
6 - POÉTICOS - ESTRUTURA E ENSAIO
Introdução
São 5 livros: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. São chamados
poéticos, não porque sejam cheios de imaginação e fantasia, mas devido ao gênero do seu conteúdo.
Alguns também os chamam de “Livros Devocionais”. No Antigo Testamento os livros dos
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Provérbios, Jó, Eclesiastes, Eclesiástico e Sabedoria são comumente conhecidos como livros
sapienciais.
Escritos deste tipo encontram-se também em outras partes do Antigo Testamento, sob
formas diversas, como fábulas, ditados populares e regras gerais de vida. De maneira geral, tratam
da vida cotidiana, da boa conduta, das virtudes que se devem cultivar e dos vícios que se deve
evitar. A maior parte dos conselhos é fruto do bom senso baseado na experiência. Mas alguns
tratam de temas importantes. Os livros de Jó e Eclesiastes tratam de problemas muito sérios (como
o sofrimento) e discutem- no a fundo. Entre os livros sapienciais incluem-se também os Salmos e o
Cântico dos Cânticos.
6.1 O Livro de Jó
O padrão claramente desenvolvido do livro de Jó, prólogo, discursos e epílogo, além dos
ciclos dentro dos próprios discursos, mostra que se trata de uma interpretação teológica sobre certos
acontecimentos da vida de Jó. Do início ao fim, o autor tem a intenção de responder a uma pergunta
básica: Qual é o significado da fé? Jó era um chefe de clãs (famílias) de notável piedade,
integridade e sabedoria, foi abençoado por Deus com uma prosperidade terrena tal, que se tornara o
maior e mais rico de todos no Oriente. Subitamente, porém Jó experimentou uma reversão completa
da fortuna, foi vitimado por uma série de grandes calamidades, tendo sido privado de todas as suas
possessões e dos seus filhos. Seu corpo foi tomado por uma enfermidade repulsiva, três amigos que
vieram ostensivamente para consolar Jó, insistiam que o seu sofrimento tinha como causa o pecado.
Mas Jó rejeita veementemente esta afirmação, reafirmando em todo tempo que ele era um homem
justo, mas confessou que não tinha capacidade para explicar porque estava lhe sucedendo tudo
aquilo. Finalmente Deus responde as repetidas solicitações de Jó, e lhe dá uma explicação direta
sobre os seus sofrimentos, não por uma justificação de suas ações, nem por qualquer solução
intermediária, mas sim pela vontade de Deus. E isso foi o suficiente para Jó, ele percebeu que Deus,
sendo poderoso, misericordioso, justo e amoroso, não o deixaria sofrer mais. Esse livro serve de um
propósito muito alto para as nossas vidas: mostrar que a certeza da fé não descansam nas
circunstâncias exteriores, nem em explicações especulativas, mas na certeza da fé em Deus,
onisciente e onipotente.
6.2 O Livro dos Salmos
O título hebraico dos Salmos é Tehillim, que significa “louvores”; o título na Septuaginta
(tradução do Antigo Testamento para o grego, feita em c. 200 a.C.) é Psalmoi, que significa
“cânticos para serem acompanhados por instrumentos de cordas”. O título em português, “Salmos”,
deriva da Septuaginta. A música desempenhava papel de importância no culto do antigo Israel
(confronte Sl 149; 150; 1Cr 15.16- 22); os salmos eram os hinos do povo de Israel. Bem diferente
de boa parte da poesia e do cântico do mundo ocidental, compostos com rima ou metrificação, a
poesia e o cântico do Antigo Testamento tem por base o paralelismo de pensamento, em que a
segunda linha (ou linhas sucessivas) da estrofe praticamente faz uma reiteração (paralelismo
sinônimo), ou apresenta um contraste (paralelismo antitético), ou, de modo progressivo, completa
(paralelismo sintético) a primeira linha. Todas as três formas de paralelismo caracterizam o Saltério.
O salmo mais antigo conhecido vem de Moisés, no século XV a.C. (Sl 90); os mais recentes
provêm dos séculos VI e V a.C. (por exemplo, Sl 137). A maioria dos salmos, no entanto, foi escrita
no século X a.C., durante a era áurea da poesia em Israel. Os títulos descritivos que precedem a
maioria dos salmos, embora não pertençam ao texto original, logo não inspirados, são muito antigos
(anteriores à Septuaginta) e importantes.
6.3 O Livro de Provérbios
O Antigo Testamento hebraico era em regra dividido em três partes: a Lei, os Profetas e os
Escritos (confronte Lc 24.44). Na terceira parte estavam os livros poéticos e sapienciais, a saber: Jó,
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Salmos, Provérbios, Eclesiastes etc. Semelhantemente, o Israel antigo tinha três categorias de
ministros: os sacerdotes, os profetas e os sábios. Estes últimos eram especialmente dotados de
sabedoria e conselho divinos a respeito de princípios e práticas da vida.
O livro de Provérbios representa a sabedoria inspirada dos sábios. A palavra hebraica
mashal, traduzida por “provérbio”, tem os sentidos de “oráculo”, “parábola”, ou “máxima sábia”.
Por isso, há declarações longas no livro de Provérbios (por exemplo, 1.20-33; 2.1-22; 5.1-14), mas
há também as concisas, mas ricas de sentido e sabedoria, para se viver de modo prudente e justo. O
conteúdo de Provérbios representa uma forma de ensino comum no Oriente Próximo antigo, mas no
caso deste livro, sua sabedoria é diferente porque veio da parte de Deus, com seus padrões justos
para o povo do seu concerto.
O ensino mediante provérbios era popular naqueles antigos tempos, em virtude da sua
grande clareza e facilidade de memorização e transmissão de geração em geração. Assim como
Davi é o manancial da tradição sal módica em Israel, Salomão é o manancial da tradição sapiencial
em Israel (ver Pv 1.1; 10.1; 25.1). Conforme 1Rs 4.32, Salomão produziu 3.000 provérbios e 1.005
cânticos.
Outros autores mencionados por nome em Provérbios são Agora (Pv 30.1-33) e o rei Limou
(Pv 31.1-9), ambos desconhecidos.
Autores outros estão subentendidos em Pv 22.17 e em Pv 24.23. A maioria dos provérbios
teve origem no século X a.C., porém a provável data mais antiga para a conclusão deste livro seria o
período de reinado de Ezequias (isto é c. 700 a.C.). A participação dos homens de Ezequias na
compilação dos provérbios de Salomão (25.1-29. 27) talvez remonte a 715-686 a.C., durante o
avivamento espiritual liderado por esse rei temente a Deus. É possível que os provérbios de Agora,
de Limou e os outros “sábios” também tenham sido compilados nesse período.
6.4 O Livro de Eclesiastes
O livro sintetiza a “sabedoria”, ou seja, observações, pensamentos e sentenças, de um
“filósofo” que se oculta sob o pseudônimo de Coélet, “presidente da assembléia” (Eclesiastes em
Grego). Tal gênero de escrito era popular nos países antigos do Oriente Médio. O autor examina a
vida humana, julga-a breve e absurda, concluindo que ela não tem sentido. Não consegue entender
para que serve. Contudo, termina recomendando a aplicação ao trabalho e o gozo do prazer
enquanto a vida dura. Grande parte do livro parece deprimente e destrutiva, porque considera a
“vida debaixo do sol” exclusivamente do ponto de vista humano. A vida sem Deus não tem objetivo
nem sentido, mas a sabedoria e a justiça conferem pelo menos um pouco de nobreza à existência
humana.
6.5 O Livro de Cantares de Salomão
É uma coleção de poesias amorosas, que cantam o amor de um homem e de uma mulher. Às
vezes é chamado de cântico de Salomão, porque na Bíblia hebraica é atribuído a esse rei. As
poesias, cujo cenário é o campo na primavera, exaltam com paixão e entusiasmo o amor e
exprimem com franqueza o prazer da atração física.
7 - PROFÉTICOS - ESTRUTURA E ENSAIO
Introdução
São 17 livros chamados proféticos, que vão de Isaías a Malaquias. Estão subdivididos em
Profetas Maiores e Profetas Menores, sua composição é: Profetas Maiores: Isaías, Jeremias,
Lamentações de Jeremias, Ezequiel e Daniel; Profetas Menores: Oséias, Joel, Amós, Obadias,
Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
Os livros trazem o nome de 16 profetas hebreus, aos quais se acrescentam as Lamentações.
Os quatro profetas “maiores”, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel são seguidos pelos chamados doze
profetas “menores”, autores de livros breves. Os livros dos profetas vão desde a época áurea do
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povo israelita até o exílio e o retorno à pátria. Entre os primeiros contam-se Amós e Oséias, que
dirigiram suas mensagens ao reino do norte, no século VIII a.C. Mas a maioria dos profetas atuou
no reino de Judá. Aí desenvolveram suas atividades Isaías, Miquéias e talvez também Joel em torno
de 700 a.C., mais de cem anos antes da queda de Jerusalém em 587 a.C. Jeremias, Habacuque e
Sofonias proclamaram suas palavras nos anos que antecederam a queda da cidade e durante o exílio.
Ageu, Zacarias e Malaquias profetizaram durante e após o retorno, a partir de 538 a.C. Alguns
profetas tiveram outros destinatários. Jonas e Naum dirigiram mensagens especiais a Nínive, a
capital da Assíria destruída em 612 a.C. Daniel é descrito como profeta em Babilônia. Obadias
sentenciou contra Edom, antigo inimigo de Israel.
7.1 Os Livros dos Profetas Maiores
7.1.1 O Livro de Isaías
Isaías viveu no século VIII a.C. O livro que trás o seu nome é dos mais impressionantes do
Antigo Testamento. Pinta com cores fortes o poder de Deus e contém mensagem de esperança para
o seu povo. O chamado de Isaías para a função de profeta é descrito no cap. 6. Ele profetizou
durante mais de quarenta anos. Os caps. 1 - 39 pertencem ao período em que o reino de Judá foi
ameaçado pela Assíria, o grande império do mundo bíblico de então. Mas Isaías proclamou que o
perigo real para a nação estava nos seus pecados e na sua desobediência a Deus. O povo não
confiava em Deus e o profeta convidou- o a voltar a ele, a restabelecer a justiça e a agir
corretamente. Se não prestasse ouvidos, Judá seria destruído. Isaías também voltou os olhos para o
futuro, época em que em todo o mundo reinaria a paz. Um descendente do rei Davi tornar-se-ia o rei
ideal que cumpriria a vontade de Deus. Os caps. 40 - 55 tratam da volta do exílio de Babilônia. O
povo tinha perdido toda esperança, mas o profeta lhe fala de um tempo em que Deus o libertaria e
reconduziria a Jerusalém. Enfatiza o fato de que Deus controla a história e acena ao plano divino de
utilizar a nação de Israel para levar a esperança a todos os povos. Esta parte do livro inclui certo
número de passagens em que o profeta, olhando para o futuro, fala da vinda do “Servo de Iahweh”,
portador de esperança para a nação. Os caps. 56 - 66 formam seção separada, dirigida
principalmente aos judeus que voltaram a Jerusalém.
7.1.2 O Livro de Jeremias
Jeremias viveu cerca de cem anos depois de Isaías, tendo sido chamado por Deus à vocação
de profeta em 627 a.C. e morrido pouco depois de 587 a.C. Na sua época, a Assíria, a superpotência
do norte, entrava em decadência. A nova ameaça do reino de Judá era Babilônia. Por quarenta anos
advertiu o povo sobre o futuro juízo de Deus, que o castigaria, por causa da sua idolatria e do seu
pecado. Por fim suas palavras cumpriram-se. Em 587 a.C. o exército babilônico, conduzido por
Nabucodonosor, destruiu Jerusalém e o templo, levando muitos judeus para o exílio. Jeremias
recusou a oferta para ir viver comodamente na corte babilônica e provavelmente morreu no Egito.
Os caps. não seguem a ordem cronológica dos fatos. O livro começa com a descrição da vocação de
Jeremias. Os primeiros 25 caps. contêm mensagens de Deus dirigidas a Judá durante os reinados
dos últimos reis: Josias, Joacaz, Jeoaquim, Joaquim (filho deste) e Zedequias. Os caps. 26 - 45
narram acontecimentos da vida de Jeremias e incluem algumas outras profecias. Os caps. 46 - 51
trazem as mensagens enviadas por Deus a diversas nações estrangeiras. Os capítulos finais
descrevem a queda de Jerusalém e o exílio em Babilônia. Jeremias tornou-se muito impopular e foi
acusado de traição, porque exortava o povo a render-se aos babilônios. Mas ele amava o seu povo e
sofria por ser obrigado, pela sua dramática missão, a anunciar o juízo de Deus. Era muito inseguro
de si, mas jamais traiu a mensagem que Deus lhe confiara. Embora seja lembrado pelo seu
pessimismo, também teve palavras de esperança e prometeu que, depois do obscuro período do
exílio, Deus reconduziria o seu povo de volta à pátria.
7.1.3 O Livro de Lamentações
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O livro das Lamentações é uma coletânea de cinco poemas, que choram a queda de
Jerusalém em 587 a.C. e o exílio. O templo tinha sido destruído e a nação via nisso um sinal de que
Deus a tinha entregado aos inimigos. O profeta chora o pecado do seu povo. O livro é
principalmente um lamento. Mas também contém promessa de esperança. A obra ainda continua
sendo lida em voz alta nas sinagogas em julho de cada ano, quando os judeus recordam a destruição
do templo em 587 a.C. e em 70 d.C.
7.1.4 O Livro de Ezequiel
O profeta Ezequiel foi levado para o exílio em Babilônia no ano de 597 a.C. e ali viveu antes
e depois da queda de Jerusalém em 587 a.C. Foi chamado para a missão de profetizar aos trinta anos
de idade e dirigiu sua mensagem tanto aos exilados em Babilônia, quanto ao povo que ainda vivia
na longínqua Jerusalém. Quando recebeu o chamado profético também teve uma vívida visão da
santidade de Deus (caps. 1-3), que influenciou toda a sua vida. Os caps. 4-24 prevêem o juízo
divino sobre Israel: Jerusalém será destruída. Ezequiel também anunciou o juízo de Deus contra as
nações que ameaçavam o seu povo (caps. 25-32). Depois da queda de Jerusalém em 587 a.C.
mudou o tom de sua mensagem (caps. 33-39), levou conforto ao povo e fez brilhar a promessa e a
esperança para o futuro: Deus haveria de libertar Israel. Finalmente descreveu as visões que teve
sobre o futuro, em que o povo ofereceria a Deus culto perfeito em templo novo (caps. 40-48).
Ezequiel sublinhou a responsabilidade individual diante de Deus e a renovação do povo partindo do
coração.
7.1.5 O Livro de Daniel
Daniel é apresentado como exilado de Judá que viveu na corte babilônica no tempo de
Nabucodonosor e seus sucessores. Na verdade, parece mais homem de Estado que profeta. O livro
que leva seu nome foi escrito no momento em que o povo judeu estava oprimido, talvez durante a
perseguição Babilônica sob o domínio de Nabucodonosor. Os caps. 1-6 narram episódios da vida de
Daniel e alguns amigos seus, exilados na época do império babilônico e persa. Porque confiaram
em Deus e a ele obedeceram a qualquer preço, triunfaram dos seus inimigos. O restante do livro
contém uma série de visões do profeta (caps. 7-12), que descrevem em termos figurativos o
nascimento e a queda dos impérios. Os perseguidores pagãos cairão e o povo de Deus sairá
vitorioso. A versão grega da Setenta e, conseqüentemente, a Bíblia católica, tem mais dois caps.,
13-14, que, entre outras coisas, contam a história da casta Susana injustamente acusada, mas salva
por Daniel.
7.2 Os Livros dos Profetas Menores
7.2.1 O Livro de Oséias
Oséias viveu mais ou menos na época de Isaías, no século VIII a.C., no reino de Israel.
Profetizou durante os tormentosos 40 anos que antecederam a queda de Samaria em 722 a.C.. Israel
teve seis reis no espaço de vinte anos e freqüentemente contemporizou com as religiões pagãs. O
profeta preocupou-se muito com a idolatria e pintou a infidelidade de Israel com imagens tiradas do
seu próprio casamento com mulher infiel (caps. 1 - 3). O juízo de Deus virá, mas no fim o seu amor
saberá reconquistar o povo. Os caps. 4 - 13 contêm as mensagens que dirigiu a Israel. Mostram
como Deus estava irado, mas ao mesmo tempo não conseguia esquecer o seu amor ao povo. O
capítulo final implora a Israel que volte a Deus.
7.2.2 O Livro de Joel
Não conhecemos nada sobre este profeta, nem sabemos em que tempo viveu. Talvez tenha
vivido depois do exílio. Seu livro fala de exército de gafanhotos que devoram as colheitas e de seca
desastrosa. Trata-se de imagens do iminente juízo de Deus sobre aqueles que lhe desobedecem,
imagens do “dia do Senhor”. Joel convida o povo a voltar-se a Deus, que renovará todas as coisas e
enviará o seu Espírito sobre todo o povo.
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7.2.3 O Livro de Amós

Amós era originário de uma cidade de Judá, mas dirigiu sua mensagem ao reino do norte de
Israel. Viveu no século VIII a.C., durante o reinado de Jeroboão II de Israel. Foi pastor e cultivador
de uma espécie de figueiras. Naquela época Israel vivia em grande prosperidade e riqueza, o reino
também parecia religioso. Mas Amós condenou a sua hipocrisia. Os pobres eram oprimidos e a
religião era apenas fachada. Era necessário um homem corajoso pala denunciar a nação em nome de
Deus, e Amós desejou que a justiça “corresse como rio”. Em 722 a.C. os assírios destruíram
Samaria e levaram o povo ao exílio. Os primeiros 6 caps. do livro de Amós contêm os juízos
pronunciados por Deus sobre Israel e seus vizinhos. OS caps. 7-9 apresentam a descrição de cinco
visões. O profeta Amós era pastor.
7.2.4 O Livro de Obadias
O livro de Obadias é o mais curto do Antigo Testamento e foi escrito depois da queda de
Jerusalém em 587 a.C. Os edomitas, antigos inimigos de Judá que habitavam as montanhas a
sudeste do mar Morto, aproveitaram a ocasião para invadir o país. Obadias condenou o orgulho de
Edom e profetizou a sua derrota. No século V a.C. os árabes derrotaram os edomitas; no século III
a.C. foi a vez de os nabateus os subjugarem; finalmente desapareceram da história. Por outro lado,
Obadias profetiza o retorno de Israel à sua pátria.
7.2.5 O Livro de Jonas
Diversamente dos outros livros proféticos, o de Jonas tem a forma de uma história. Descreve
as aventuras um tanto fabulosas, mas de cunho moral, de um profeta que tentou desobedecer às
ordens de Deus. Jonas recebera de Deus a incumbência de ir a Nínive, capital da Assíria, e de
converter o seu povo. Finalmente Jonas anunciou a mensagem e ficou desgostoso quando Deus
perdoou a cidade, grande inimiga de Israel. O livro mostra o amor e a bondade de Deus, que prefere
esquecer e salvar a punir e destruir.
7.2.6 O Livro de Miquéias
O profeta Miquéias foi mais ou menos contemporâneo de Isaías, Amós e Oséias no século
VIII a.C., e dirigiu sua mensagem tanto a Judá como a Israel. À semelhança de Amós, Miquéias
denunciou os governantes, os sacerdotes e os profetas porque exploravam os pobres e indefesos,
defraudavam e desonravam a religião. O juízo de Deus viria sobre Samaria e Jerusalém. Mas
também teve palavras de esperança, prometendo que Deus estabeleceria a paz universal e que da
família de Davi surgiria um grande rei, portador da paz. Um dos versículos do seu livro resume
grande parte da mensagem dos profetas: “O que Yahweh exige de ti: nada mais do que praticar o
direito, gostar do amor e caminhar humildemente com o teu Deus!” (Mq 6.8).
7.2.7 O Livro de Naum
O livro de Naum consiste num poema. O profeta prediz que Nínive cairá e regozija-se pelo
juízo de Deus contra uma nação cruel e arrogante. De fato, Nínive caiu nas mãos dos babilônios e
dos medos em 612 a.C. Provavelmente o livro foi escrito nessa época.
7.2.8 O Livro de Habacuque
Este livro é do fim do século VII a.C., quando Jeremias profetizava em Jerusalém.
Era a época dos cruéis babilônios. O profeta pergunta a Deus: “Por que contemplas os
traidores, silencias quando um ímpio devora alguém mais justo do que ele?” (Hb 1.13). Deus
responde que intervirá no momento oportuno e punirá os malfeitores. O livro termina com a
advertência e a oração do profeta justo, que se alegra sabendo que Deus tem o controle de tudo.
7.2.9 O Livro de Sofonias
Sofonias proclamou a mensagem de Deus a Judá durante o reinado de Josias (640-609 a.C.),
no início da atividade de Jeremias. Manassés e Amon, os dois reis anteriores, tinham levado a
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religião e a moral da nação ao nível mais baixo já alcançado. Sofonias lembra a Judá o juízo que se
aproxima por ter abandonado o Deus vivo, e prediz aos vizinhos de Israel a destruição que os
espera. Mas ainda que Jerusalém caia, será reconstruída.
7.2.10 O Livro de Ageu
Ageu, Zacarias e Malaquias, os três últimos livros do Antigo Testamento, são da época em
que os judeus haviam voltado do exílio, sob a liderança de Esdras e Neemias. Após os primeiros
esforços para reconstruir o templo destruído pelos babilônios em 587 a.C., haviam interrompido a
obra. O livro de Ageu é coleção de breves mensagens “do Senhor” comunicadas por meio do
profeta em 520 a.C. O profeta convida seus conterrâneos a estabelecerem as prioridades justas. É
necessário concluir a reconstrução do templo. Deus concederá paz e prosperidade se o povo
esquecer suas preocupações egoísticas e puser em primeiro lugar aquilo que deve ter primazia.
7.2.11 O Livro de Zacarias
O profeta Zacarias era de família sacerdotal e, como Ageu, esteve envolvido na reconstrução
do templo, concluído em 516 a.C. Os caps. 1. - 8 do livro são profecias pronunciadas entre 520 e
518 a.C., apresentadas sob forma de visões referentes à restauração de Jerusalém, à reconstrução do
templo, à purificação do povo de Deus e à promessa do futuro Messias. Os caps. 9 - 14 são uma
coleção diferente de oráculos, talvez pronunciados por outro autor. Tratam da espera do Messias e
do juízo final.
7.2.12 O Livro de Malaquias
Na época de Malaquias o templo tinha sido reconstruído, mas o povo continuava desiludido.
O exílio havia acabado, mas os tempos continuavam duros, muita gente passava mal e se sentia
abandonada por Deus. O profeta lembra-lhes o amor de Deus e convida os sacerdotes e o povo a
respeitá-lo e a obedecer-lhe. O povo não dava a Deus o que lhe era devido no sacrifício, no culto e
no comportamento.
8 - EVANGELHOS E ATOS - ESTRUTURA E ENSAIO
8.1 Introdução ao Novo Testamento
O Novo Testamento têm 27 livros. Foi escrito em grego, não no grego clássico dos eruditos,
mas no do povo comum, chamado Koiné. Seus 27 livros também estão classificados em 4 grupos,
conforme o assunto a que pertencem: BIOGRAFIA. São os 4 Evangelhos; HISTORIA. É o livro de
Atos dos Apóstolos. EPÍSTOLAS. São 21 as epístolas ou cartas. Vão de Romanos a Judas. 9 são
dirigidas a igrejas (Romanos a 2 Tessalonicenses); 4 são dirigidas a indivíduos (1 Timóteo a
Filemom); 1 é dirigida aos hebreus cristãos; 7 são dirigidas a todos os cristãos, indistintamente
(Tiago a Judas); PROFECIA. É o livro de Apocalipse ou Revelação. Trata da volta pessoal do
Senhor Jesus a Terra e das coisas que precederão esse glorioso evento.
8.2 Os Evangelhos (Biografia)
Os quatro Evangelhos compreendem cerca de 46 por cento no Novo Testamento. A igreja
primitiva colocou os Evangelhos no início do Cânon do Novo Testamento, não por serem eles os
primeiros livros escritos, mas por serem o fundamento sobre o qual Atos e as Epístolas são
edificados. Os Evangelhos ao mesmo tempo se originam do Antigo Testamento e o cumprem, bem
como fornecem um cenário histórico e teológico para o restante do Novo Testamento.
A palavra grega euaggelion se refere às “boas novas” ou “alegres novas” acerca de Jesus
Cristo, que foi oralmente proclamado. Mais tarde veio a ser também sido escritos depois, a igreja
primitiva considerou somente os quatro Evangelhos, da forma que os conhecemos, como dotados de
autoridade e divinamente inspirados.
Foram distinguidos uns dos outros pela preposição grega kata (“segundo”), acompanhada
pelo nome do escritor. A presente ordem dos quatro Evangelhos remonta pelo menos ao final do
segundo século, e cria-se ser esta a ordem em que eles foram escritos. Embora haja quem teorize
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que os Evangelhos foram originalmente escritos em Aramaico, não há evidência real para tal
posição. Os habitantes da Palestina eram primariamente bilíngües (aramaico e grego), e muitos
eram trilíngües (hebraico ou latim). O grego, porém, era o idioma comum de todo o império, e por
isso o mais adequado veículo para as narrativas evangélicas.
Os quatro relatos complementares fornecem um retrato composto da pessoa do Salvador,
operando juntos para fornecer profundidade clareza à nossa compreensão da mais singular figura da
história humana. Neles Jesus é visto como divino e humano, o Servo soberano, O Deus-homem.
8.2.1 O Livro do Evangelho de Mateus
O Evangelho de Mateus foi redigido principalmente para os judeus e anuncia a boa nova de
que Jesus é o salvador prometido, o Messias ou Cristo tão longamente esperado pelos judeus. Com
Jesus cumpriram-se todas as promessas feitas por Deus ao seu povo no Antigo Testamento. O
evangelho não traz o nome do autor, mas desde os primeiros tempos se considerou que foi escrito
por Mateus, o cobrador de impostos que se tornou um dos doze amigos íntimos de Jesus. Se não
escreveu todo o evangelho, é pelo menos quase certamente o autor da coleção de discursos de Jesus
incluída na obra. O evangelho de Mateus foi escrito entre 50 e 100 d.C. Grande parte do seu
conteúdo é muito semelhante ao evangelho de Marcos. Mas apresenta com exclusividade dez
parábolas, e certo número de episódios, bem como cinco grandes discursos. Começa com a
genealogia e o nascimento de Jesus (caps. 1-2). A seguir descreve a obra de João Batista, o batismo
de Jesus e o tempo de tentação passado por Jesus no deserto (caps. 3-4). Grande parte do evangelho
é dedicada à pregação, aos ensinamentos e às curas operadas por Jesus na Galiléia. Mateus o
apresenta como grande mestre, que tem muitas coisas a dizer sobre o “reino” de Deus, sobre seu
reino no mundo (caps. 4; 14-18). O ensinamento de Jesus divide-se em cinco grandes seções: Caps.
5-7: o sermão da montanha, que responde a muitas perguntas sobre o reino e constitui a base do
ensinamento moral de Jesus. Cap. 10: instruções dadas por Jesus aos doze antes de enviá-los em
missão. Cap. 13: parábolas sobre o reino. Cap. 18: Jesus explica o que significa segui-lo. Caps. 24-
25: palavras de Jesus sobre a queda de Jerusalém, o fim desta era e o advento de nova era. Depois
Mateus descreve a viagem de Jesus da Galiléia a Jerusalém (caps. 19-20), e os acontecimentos da
última semana naquela cidade.
(caps. 21-27). A narrativa da morte de Jesus na cruz é seguida pela da ressurreição, ou seja,
como ele voltou à vida (cap. 28).
8.2.2 O Livro do Evangelho de Marcos
O Evangelho de Marcos, o segundo dos quatro evangelhos que contam a vida de Jesus, mas
provavelmente o primeiro em ordem cronológica, é evangelho de ação, cheio de vida, que se
concentra sobre o que Jesus fez e os lugares onde andou, e não tanto sobre o que ele disse e pensou.
É o evangelho mais breve, composto de apenas dezesseis capítulos, e talvez também o mais antigo,
provavelmente escrito entre 65-70 d.C. Os escritores dos primeiros séculos do cristianismo afirmam
que é obra de João Marcos, com base no que ele ouvira do apóstolo Pedro. O nome de João Marcos
ocorre freqüentemente nos Atos e nas cartas do Novo Testamento. Tomou parte da primeira viagem
missionária de Paulo e mais tarde esteve com Pedro. Após curta introdução dedicada a João Batista,
ao batismo e às tentações de Jesus, os primeiros nove caps. ocupam-se das curas e do ensinamento
de Jesus na Galiléia. Marcos mostra como os discípulos começaram gradativamente a compreender
melhor o Mestre, enquanto os seus inimigos se tornavam cada vez mais hostis. Os caps. 11-15
descrevem a última semana de Jesus em Jerusalém e são seguidos pela narrativa da sua ressurreição
(cap. 16).
8.2.3 O Livro do Evangelho de Lucas
O evangelho de Lucas, a terceira das quatro narrativas da vida de Jesus, é o mais minucioso
de todos. A história do crescimento e da difusão do cristianismo após o retorno de Jesus ao céu o
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mesmo autor a continua no livro dos Atos. Os dois livros foram dedicados a um funcionário romano
de nome Teófilo. O autor do evangelho procurou informar-se bem sobre a história e os fatos, e
expõe o que aconteceu na Palestina durante a vida de Jesus. A tradição afirma que toda a obra foi
escrita por Lucas, o médico que acompanhou Paulo em algumas de suas viagens. Começa com a
história do nascimento e da infância de João Batista e de Jesus (caps. 1-2), dando muitas
informações que se encontram só neste evangelho. Os caps. 3 - 9 referem-se ao batismo e às
tentações de Jesus, bem como à sua pregação e seus ensinamentos na Galiléia. A viagem de Jesus
da Galiléia a Jerusalém ocupa 9.51– 19.46. Algumas parábolas de Jesus incluídas nesta parte são
exclusivas de Lucas, como a do bom samaritano, a do filho pródigo e a do rico insensato. A última
semana de Jesus em Jerusalém é narrada de 19.47 a 23.56. Finalmente, o cap. 24 conta como Jesus
ressuscitou e voltou ao céu.
8.2.4 O Livro do Evangelho de João
O evangelho de João, a quarta história neotestamentária da vida de Jesus, difere bastante dos
três anteriores. Provavelmente foi escrito por último, talvez em torno de 90 d.C. Preocupa-se mais
com o sentido dos fatos que com os fatos em si, os quais presumivelmente já eram bem conhecidos
na época. Começa apresentando Jesus como a “Palavra” de Deus, existente antes do tempo e,
contudo nascida no tempo sob forma humana. O evangelho foi escrito “para crerdes que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20.31) . O evangelho
provavelmente contém as recordações de João, o irmão de Tiago e um dos doze amigos mais
íntimos de Jesus. No texto João não é mencionado pelo nome e aparece só como “o discípulo que
Jesus amava”. Não está excluído que tenha sido redigido por um secretário. Depois da introdução,
que apresenta Jesus como a “Palavra” de Deus (Jo 1.1-18), o evangelho prossegue descrevendo
certo número de milagres chamados “sinais” ou “obras” de Jesus, que mostram que ele é realmente
o Salvador prometido (caps. 2-12). A história da sua pregação e dos seus ensinamentos é redigida
de tal modo que cada milagre é seguido de explicação e discussão. João também descreve como
alguns creram em Jesus e outros o rejeitaram. Não menciona nenhuma de suas parábolas. Os caps.
13-19 tratam dos últimos dias de Jesus com os discípulos em Jerusalém, transmitindo-nos as suas
palavras de encorajamento e os seus ensinamentos dados às vésperas de sua morte na cruz. Os caps.
20-21 narram algumas aparições de Jesus aos discípulos depois da ressurreição. João vê nos
milagres “sinais” que mostram quem era Jesus.
Além disso, utiliza uma série de realidades comuns para indicar verdades ocultas sobre
Jesus: água, pão, luz, pastor e videira. Neste evangelho aparecem as famosas afirmações “Eu
sou...”, recordando a definição de Deus dada no livro do Êxodo (cap. 3): “Eu sou aquele que é”.
João apresenta Jesus como o caminho, a verdade e a vida.
8.2.5 O Livro dos Atos dos Apóstolos (Histórico)
O livro dos Atos continua a história iniciada no evangelho de Lucas, sendo obra do mesmo
autor. Fala principalmente dos “atos” dos apóstolos Pedro e Paulo. Por causa da ênfase dada ao
poder de Deus, às vezes é com razão chamado de “Atos do Espírito Santo”. Conta como os
discípulos de Jesus difundiram a boa nova primeiramente em Jerusalém e depois nas regiões
circunjacentes da Judéia e de Samaria, até “aos confins do mundo”. Cobre um período de cerca de
trinta anos, desde o início da Igreja, no dia de Pentecostes, até a prisão de Paulo em Roma. Os Atos
foram escritos entre 60 e 85 d.C. Os primeiros sete capítulos descrevem como o movimento cristão
teve inicio na própria Jerusalém com a vinda, em poder, do Espírito Santo no dia de Pentecostes. O
grupo cristão começou a cumprir a ordem de Jesus de ensinar e pregar. A Igreja crescia e se
difundia. Esta parte também descreve como Estêvão, um dos primeiros cristãos, morreu pela sua fé.
Os caps. 8-12 narram como o cristianismo, inicialmente devido à perseguição, propagou-se na
Judéia (região em torno de Jerusalém) e na Samaria (onde pessoas pertencentes a uma nação
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inimiga e desprezada pelos judeus foram acolhidas com alegria na Igreja). A dramática conversão
de Saulo (ou Paulo) na estrada de Damasco 'é seguida da narrativa de como Pedro entendeu que a
mensagem cristã era destinada a todas as nações e não só aos judeus. A parte restante do livro trata
das atividades missionárias de Paulo e das suas viagens pelo mundo mediterrâneo, dos seus
processos e da sua prisão em Roma (caps. 13-28).
9 - EPÍSTOLAS PAULINAS
Introdução
As Epístolas Paulinas foram os primeiros escritos do Novo Testamento. São 13 Epístolas na
sua totalidade, de Romanos a Filemom. As mesmas foram escritas entre 52 e 67 d.C. Pela ordem
cronológica, é consenso entre teólogos, que o primeiro livro do Novo Testamento é o de 1
Tessalonicenses, escrito por volta de 52 d.C.; 2 Timóteo foi escrita em torno de 67 d.C., pouco antes
do martírio do apóstolo Paulo em Roma. Essas Epístolas foram também as primeiras aceitas como
canônicas. Pedro chama os escritos de Paulo de "Escrituras" - título aplicado somente à Palavra
inspirada de Deus! (2Pe 3.15,16). Paulo é um personagem tão importante no Novo Testamento e na
história da igreja que tem sido chamado de o segundo fundador do cristianismo. É claro que isso
não é a verdade, pois desconsidera a continuidade entre Jesus e Paulo e menospreza injustamente as
contribuições de homens tais como Pedro, João e Lucas. Mas não há dúvida de que Paulo
desempenhou um papel vital no crescimento e estabelecimento da igreja e na interpretação e
aplicação da graça de Deus em Cristo.
Essas Epístolas constituem quase um quarto do Novo Testamento, colocando Paulo logo
atrás de Lucas em porcentagem do Novo Testamento escrito por um único indivíduo. E, caso se
acrescentem os 16 capítulos de Atos (13-28) que são quase inteiramente dedicados a Paulo, este
aparece em quase um terço do Novo Testamento.
Quem foi esse homem chamado Paulo? O próprio Paulo apresenta um esboço rudimentar de
sua origem e formação, mas em suas Epístolas, esses dados acham-se dispersos. Os detalhes
históricos básicos estão convenientemente agrupados nos discursos que Paulo proferiu (relatados
por Lucas) diante de uma multidão hostil de judeus nos degraus do templo (At 22.1-21), do rei
Agripa II e do procurador Romano Festo (At 26.2-23).
9.1 A Epístola aos Romanos
Paulo escreveu esta carta aos cristãos de Roma em torno do ano 57 d.C., depois das
chamadas três viagens missionárias principais. Ainda não tinha viajado a Roma, mas pretendia fazê-
lo. Enviou assim a famosa epístola a fim de preparar a comunidade cristã da capital do mundo,
comunidade da qual conhecia alguns membros (cf. cap. 16), para a sua visita. A carta expõe
amplamente a concepção paulina da mensagem cristã, e foi redigida depois das cartas aos
Tessalonicenses, aos Gálatas e aos Coríntios. Poderíamos defini-la como o manifesto de Paulo, pois
nos dá a conhecer de maneira mais completa, clara e raciocinada, o seu modo de entender as
verdades cristãs fundamentais. Começa saudando os cristãos de Roma e lhes anuncia aquilo que
será a base da sua carta: “... porque nele a justiça de Deus se revela da fé para a fé, conforme está
escrito: 'O justo viverá da fé'“ (Rm 1.17). A seguir demonstra que todos, judeus e não-judeus,
precisam de Deus por causa de seus pecados. Podemos ser justificados perante Deus pela fé em
Jesus Cristo (caps. 3-4). O perdão gratuito e a nova vida dada por Deus mediante Cristo, a
importância das leis divinas e da ação do Espírito divino na vida de todo cristão constituem o objeto
dos caps. 5-8, enquanto os caps. 9-11 tratam da posição atual de Israel no plano de Deus. Paulo acha
que os judeus não rejeitarão Jesus para sempre. Depois continua (caps. 12-15) com algumas francas
exortações a propósito do comportamento dos cristãos: relações com as autoridades, deveres
recíprocos e modo de viver num mundo não-cristão. Por fim esclarece algumas complicadas
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questões de consciência. A carta termina de maneira característica, com saudações pessoais a


amigos e palavras de louvor a Deus (cap. 16).
9.2 A Primeira Epístola aos Coríntios
Foi escrita por Paulo aos cristãos de Corinto, cidade grega fervilhante de gente das mais
variadas nacionalidades e notória pelo seu comércio, sua cultura, suas muitas religiões e pela sua
imoralidade. A Igreja de Corinto fora fundada pelo Apóstolo durante a sua permanência de dezoito
meses na cidade, no decurso da segunda viagem missionária. Agora Paulo recebia más notícias e,
quando alguns membros chegaram de Corinto para pedir-lhe conselhos, entregou-lhes esta carta
importante, que trata das principais questões daquela comunidade eclesial: divisões (caps. 1-4),
problemas morais e de vida familiar (caps. 5-7), inclusive um caso de incesto e de cristãos que
intimavam a juízo outros cristãos perante tribunais pagãos. Paulo também resolveu um problema de
consciência que preocupava os cristãos a respeito do alimento (caps. 8-10). A maior parte da carne
vendida no comércio tinha sido oferecida antes aos ídolos. Era permitido comê-la? Os caps. 11-14
propõem princípios para culto ordenado na igreja, especialmente durante a ceia do Senhor. Tratam
também dos dons especiais concedidos por Deus ao seu povo. A carta delineia um quadro claro,
nem sempre edificante, do modo como os primeiros cristãos se reuniam e se comportavam. Explica
também o sentido da ressurreição de Jesus e de todos aqueles que morrem confiando nele (cap. 15) .
No último capítulo o Apóstolo fala à igreja de Corinto sobre uma coleta que faz para os cristãos
pobres da Judéia e termina com saudações pessoais. O capítulo 13 em louvor da caridade, o dom
mais precioso concedido por Deus ao seu povo, é um dos textos paulinos mais famosos.
9.3 A Segunda Epístola aos Coríntios
Paulo ditou-a cerca de um ano depois da primeira (em torno de 56 d.C.), num momento em
que as relações entre ele e a Igreja de Corinto tinham chegado a ponto crítico. Durante aquele ano
alguns cristãos daquela comunidade tinham-no atacado duramente e, ao que parece, Paulo lhes
fizera curta visita. A carta mostra o seu grande desejo de estar bem com esta igreja. Nos caps. 1-7
recorda a história das suas relações com a comunidade de Corinto, explica o sentido das palavras
severas usadas anteriormente, manifesta sua gratidão pelas mudanças verificadas e se propõe fazer a
terceira visita, mais tranqüila. A seguir pede aos destinatários que demonstrem generosidade para
com as necessidades dos cristãos da Judéia (caps. 8-9). Nos caps. finais (10-13) Paulo defende com
ardor seu título de apóstolo. Numerosos cristãos da cidade tinham questionado o seu direito a este
título. Esta carta, com suas palavras, às vezes tempestuosas, outras vezes suaves, é das mais
pessoais de Paulo. Nela deixa transparecer todo seu amor e preocupação pela Igreja e revela seus
sofrimentos e sua fé inabalável.
9.4 A Epístola aos Gálatas
Esta carta representa um dos primeiros esboços do pensamento paulino, mais tarde
desenvolvido na carta aos Romanos. Talvez seja de aproximadamente 57 d.C. (outros pensam que
foi escrita cerca de dez anos antes). Foi enviada a um grupo de igrejas da província romana da
Galácia (atual Turquia central), algumas das quais foram visitadas por Paulo. Ele havia-lhes
ensinado que o dom divino da nova vida era destinado a todos que cressem e muitos ouvintes
haviam correspondido. Mas depois vieram doutores judeus afirmando que os cristãos deviam
observar as leis do Antigo Testamento. Por isto a carta responde a uma pergunta de vital
importância: Os não-judeus devem obedecer à lei judaica de Moisés para serem verdadeiros
cristãos? Paulo começa defendendo o seu direito de apóstolo, que fala com autoridade divina,
investido de missão especial junto aos não-judeus (caps. 1-2). A seguir argumenta (caps. 3-4):
Somos justificados unicamente pela fé em Cristo. A vida nova é dom de Deus para todos aqueles
que crêem. Nada podemos fazer para ganhá-la por nós mesmos. Conclui mostrando que a conduta
dos cristãos deriva do amor, que é fruto da fé em Cristo (caps. 5-6). A carta aos Gálatas é uma
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peroração sobre a liberdade cristã: “É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes,
portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão” (Gl 5.1).
9.5 A Epístola aos Efésios
Trata-se provavelmente de carta “circular” dirigida a um grupo de igrejas da região da atual
Turquia ocidental. A igreja de Éfeso era a mais importante do grupo. À semelhança das cartas aos
Filipenses, aos Colossenses e a Filemom, Paulo escreveu-a da prisão, provavelmente em Roma, no
início da década de 60 d.C. O grande tema é o plano de Deus de “reconciliar em Cristo todas as
coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra” (Ef 1.10). Começa com esta idéia da unidade
(caps. 1-3). Deus Pai escolheu o seu povo. Jesus, o Filho, libertou-o dos pecados e destruiu as
barreiras raciais, religiosas e culturais. O Espírito de Deus age na vida de todo cristão para levá-lo
de vitória em vitória. A segunda parte da carta convida os fiéis a viver de modo tal que sua união
em Cristo possa transparecer do seu amor recíproco. Devemos sair das trevas e caminhar na luz!
Paulo usa uma série de imagens para ilustrar esta união em Cristo: o corpo, o edifício, as relações
entre marido e mulher. Toda a vida e experiência humana são vistas na luz de Cristo, do seu amor,
da sua morte na cruz, do seu perdão e da sua pureza. Paulo termina convidando os cristãos a
vestirem a “armadura de Deus para que possam resistir no dia mau e sair firmes de todo o
combate”.
9.6 A Epístola aos Filipenses
Paulo fundou a igreja grega de Filipos, a primeira igreja da Europa, em torno do ano 50 d.C.
Escreveu esta carta da prisão, segundo alguns, de Roma, em torno de 61-63 d.C., segundo outros, de
Éfeso, cerca de 54 d.C. Explica a sua situação aos filipenses e agradece-lhes pelos presentes
enviados. Exorta-os a perseverarem na fé, a não serem orgulhosos e a seguirem o exemplo de Jesus,
que “foi humilde e percorreu o caminho da obediência”. Descreve a alegria e a paz daqueles que
confiam em Cristo. Embora estivesse preocupado com os falsos doutores que agiam na igreja de
Filipos, transparece claramente o seu afeto por aqueles cristãos. Não obstante o fundo escuro da
prisão, a carta está cheia de alegria, de confiança e de esperança cristã.
9.7 A Epístola aos Colossenses
Paulo ditou na prisão esta carta aos cristãos de Colossos, provavelmente em Roma, em torno
do ano 61 d.C. ainda que não tivesse fundado esta igreja (região ocidental da Turquia), preocupava-
se com ela, porque quem a iniciou foi um dos seus convertidos, Epafras, e ainda porque em Roma
encontrara um escravo fugitivo dessa cidade. Fora informado de que em Colossos agiam falsos
doutores, os quais afirmavam que para conhecer a Deus era necessário adorar estranhos poderes
espirituais e praticar determinados ritos. Esses homens introduziam idéias derivadas de outras
filosofias e religiões. Por isso Paulo expõe a verdadeira mensagem cristã (Cl 1–2.19). Jesus, e só
ele, pode salvar o homem e dar-lhe a verdadeira vida. Por meio de Jesus Cristo Deus criou o
mundo. Prossegue explicando o que significa esta vida nova na prática (Cl 2.20–4.6). Ela influi
sobre tudo o que fazemos e dizemos, sobre os sentimentos e sobre as relações domésticas,
profissionais e eclesiais. A carta termina com notícias pessoais (Cl 4.7-18). 9.8 A Primeira Epístola
aos Tessalonicenses
Tessalônica era a capital da província romana da Macedônia. Paulo fundara uma igreja aí
durante a sua segunda viagem missionária. Depois de ter chegado a Corinto, soube através de
Timóteo que os judeus continuavam a criar problemas por causa do grande interesse dos não-judeus
pela mensagem de Paulo. Em resposta, Paulo escreveu esta carta. É uma das suas primeiras cartas
que nos foi conservada, tendo sido escrita em torno do ano 50 d.C., apenas vinte anos depois da
morte de Jesus. Paulo procura encorajar e tranqüilizar os cristãos de Tessalônica. Agradece a Deus
pelas boas notícias recebidas a respeito deles e lembra a sua visita (caps. 1-3). Exorta-os a viver de
modo a agradecer a Deus (1Ts 4.1-12) e trata de alguns problemas sobre a esperada volta de Jesus
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(1Ts 4.13–5.11). Quando retomará? O que acontecerá aos cristãos antes da sua volta? Termina a
carta com algumas instruções práticas, oração e saudações (1Ts 5.12-28).
9.9 A Segunda Epístola aos Tessalonicenses
Apesar da primeira carta de Paulo (1ª Carta aos Tessalonicenses, acima), os cristãos de
Tessalônica continuavam confusos quanto à volta de Jesus. Alguns pensavam que o dia do seu
retorno já tinha chegado. Nesta segunda carta, escrita poucos meses depois da primeira, Paulo
lembra que a volta de Jesus será precedida por um tempo de grande maldade (cap. 2). Termina
exortando os cristãos a guardar a fé e a trabalhar (cap. 3).
9.10 A Primeira Epístola a Timóteo
Timóteo era um jovem cristão, filho de pai grego e mãe judia, originário de Listra, cidade da
província da Galácia (região central da Turquia). Viajou com Paulo e ajudou nas suas viagens
missionárias posteriores. Era tímido e não gozava de boa saúde, necessitando de ser encorajado e
apoiado. Quando Paulo lhe escreveu, Timóteo cuidava da igreja de Éfeso. A carta dá muitos
conselhos e orientações para a vida eclesial. Adverte contra falsas doutrinas, em particular contra
uma mistura de idéias judaicas e gnósticas sobre a salvação e sobre a natureza do mundo físico. O
destinatário recebe instruções sobre a organização e o governo da igreja (caps. 1-3) e a carta termina
com recomendações mais pessoais a Timóteo sobre seu serviço na igreja (caps. 4-6).
9.11 A Segunda Epístola a Timóteo
Grande parte desta carta contém conselhos pessoais de Paulo a Timóteo. Exorta Timóteo a
permanecer fiel à boa nova de Jesus Cristo e a perseverar na atividade de mestre e evangelizador,
apesar da oposição e da perseguição. Acautela-o contra discussões inúteis e encoraja-o com o
exemplo de sua própria fé, que continua firme depois de uma vida cheia de sofrimentos: “Terminei
minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça” (2Tm 4.7-8).
9.12 A Epístola a Tito
Tito era cristão grego, que ajudou Paulo no seu trabalho missionário. Paulo escreveu esta
carta a Tito em Creta, onde este ajudava na supervisão da igreja. Esta comunidade tinha problemas
semelhantes aos enfrentados por Timóteo em Éfeso: doutrinas falsas e discussões inúteis. Paulo
lembra ao discípulo que os chefes cristãos devem ter bom caráter (cap. 1). Explica os deveres que
tem para com os diferentes grupos de cristãos (cap. 2) e termina com exortações e conselhos gerais
sobre o comportamento dos cristãos.
9.13 A Epístola a Filemom
É carta particular de Paulo ao seu amigo Filemom, cristão convertido de Colossos (na
Turquia ocidental). Filemom possuía um escravo de nome Onésimo que fugira. Onésimo encontrara
Paulo na prisão e tornara-se cristão. Paulo escreve ao amigo para exortá-lo a perdoar ao fugitivo e
acolhê-lo como irmão cristão. A carta provavelmente foi levada a Colossos pelo próprio Onésimo,
juntamente com a carta dirigida à igreja local.
11 - O CÂNON BÍBLICO
11.1 O Cânon Bíblico do Antigo Testamento
A palavra "cânon" é de origem cristã e derivada do vocábulo grego "kanon" que por sua vez
provavelmente veio emprestado do hebraico "kaneh", que significa “junco” ou “vara de medir”; (Ez
40.5) daí tomou o sentido de norma ou regra. Mais tarde veio a significar regra de fé e, finalmente,
catálogo ou lista (Gl 6.16)
A palavra cânon, usada para designar a coleção dos livros que integram as Sagradas
Escrituras, não aparece até o século IV, com Atanásio. Dão-se à palavra dois usos distintos, mas de
certo modo relacionados: “Em primeiro lugar, ela é usada para indicar uma coleção daqueles livros
aos quais se tenha aplicado determinada prova e que foram reconhecidos como autênticos e
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'canônicos'. Logo, aplica-se o termo a toda a coleção de escritos, posto que ela constitui o cânon ou
'regra de fé' mediante a qual toda doutrina deve ser provada" (HAMMOND, 1978, p. 36).
O cânon do Antigo Testamento ainda não havia sido fixado no tempo do Novo Testamento,
mas quando os judeus da Palestina, em fins do século I, fixaram o cânon de suas Escrituras, este
incluía todos os livros que atualmente temos em nossas versões. O uso que se fez desses livros nos
tempos do Novo Testamento permaneceu testemunhado em cada página deste último livro; e uma
rápida olhada nas referências de nossas Bíblias nos dará uma idéia de quão profundo e sistemático
foi esse uso. Mas essas Escrituras não eram suficientes "para o bem-estar da Igreja, para a pureza do
evangelho e para a direção do crente; por isso, aprouve a Deus chamar à existência uma graphé
cristã, o cânon do Novo Testamento que a Igreja acrescentou à graphé do Antigo Testamento"
(RAMM, 1967, p. 177).
11.2 Divisões do Antigo Testamento
O próprio Senhor Jesus Cristo deu seu apoio de legitimidade a todo o Antigo Testamento;
fez citações de cada uma de suas divisões; porém, nunca citou qualquer outro livro, nem deu a
entender que existam outros livros inspirados. Sabemos que existiam muitos outros livros escritos
na língua hebraica, dos quais cerca de 15 ou mais são mencionados no Antigo Testamento mesmo
(o livro dos Justos, em Js 10.13; 2Sm 1.18; o livro das Guerras do Senhor, em Nm 21.14).
Como foram escolhidos os 39 livros do meio de tantos outros? A verdadeira prova é sua
inspiração. Se Deus falou pelo Espírito por intermédio de algum escritor humano, então o tal livro é
inspirado e útil para os propósitos de Deus. Os livros que têm esse selo divino foram reconhecidos
como divinos tanto pelo povo comum como pelos líderes e sacerdotes, e o tempo mostrou
gradualmente que a seleção fora bem feita.
Tais livros foram escritos entre 2000 e 400 a.C. O livro de Jó, com muita probabilidade, data
do tempo dos próprios patriarcas, e o livro de Malaquias foi escrito entre 425 a 400 a.C. Muitos
outros escreveram depois de Malaquias, mas os judeus consideravam esses escritos tão somente
como histórias humanas.
Entre os judeus, o Antigo Testamento tem três divisões, as quais Jesus citou em Lc 24.44 –
Leis, Profetas, Escritos -, algumas traduções trazem Salmos por ser o primeiro livro dos Escritos. O
cânon hebraico apresenta unificação de alguns livros: 1,2 Samuel; os dois dos Reis; os dois
Crônicas; Esdras e Neemias; os doze profetas menores são um livro cada.
A ordem dos livros no cânon hebraico é também diferente da nossa. Há uma tríplice divisão
como já mencionamos (Lei, Profetas e Escritos). Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio. Profetas: Primeiros Profetas - Josué, Juízes, Samuel e Reis; últimos Profetas - Isaías,
Jeremias, os Doze. Escritos: Divididos em Livros Poéticos - Salmos, Provérbios e Jó; os Cinco
Rolos - Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester. Livros Históricos: Daniel, Esdras, Neemias
e Crônicas.
Os Cinco Rolos eram assim chamados porque eram rolos separados, lidos anualmente em
festas distintas: Cantares, na Páscoa, em alusão ao Êxodo. Rute, no Pentecoste, na celebração da
colheita, em seu início (Primícias). Ester, na festa do Purim, comemorando o livramento de Israel
da mão do mau Hamã. Eclesiastes, na Festa dos Tabernáculos – festa de gratidão pela colheita.
Lamentações, no mês de Abibe, relembrando a destruição de Jerusalém pelos babilônicos.
No cânon hebraico os livros não estão em ordem cronológica. Os judeus não se
preocupavam com um sistema cronológico.
Já a nossa divisão do Antigo Testamento em 39 livros vem da Septuaginta oriunda da
Vulgata Latina. A Septuaginta foi à primeira tradução das Escrituras, feita do hebraico para o grego,
cerca de 290 a.C. Nela a ordem dos livros está por assunto: Pentateuco, Históricos, Poéticos e
Proféticos.
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11.3 A Formação e Desenvolvimento do Cânon do Antigo Testamento


O Cânon do Antigo Testamento foi formado num espaço de um pouco mais de mil anos e
corresponde o período de Moisés a Esdras. Moisés escreveu as primeiras palavras do Pentateuco
por volta de 1491 a.C. Esdras entrou em cena em 445 a.C. Esdras não foi o último escritor na
formação do cânon do Antigo Testamento. Os últimos escritores foram Neemias e Malaquias, no
entanto, de acordo com os escritos históricos, foi Esdras que, na qualidade de escriba e sacerdote,
reuniu os rolos canônicos, ficando também o cânon encerrado em seu tempo (GILBERTO, 1986, p.
52).
A doutrina da inspiração da Bíblia foi completamente desenvolvida apenas nas páginas do
Novo Testamento. Mas, muito antes disso, já encontramos na história de Israel certos escritos
reconhecidos como autoridade divina e como regra escrita de fé e conduta para o povo de Deus.
Identificamos isso na resposta do povo, quando Moisés leu para eles o livro do concerto (Êx 24.7),
ou quando o Livro da Lei, achado por Hilquias, foi lido primeiro para o rei e depois para a
congregação (2Rs 22-23; 2Cr 34), ou ainda quando Esdras leu o Livro da Lei para o povo (Ne 8.9,
14-17; 10.28-39; 13.1-3). O Pentateuco é tratado com a mesma reverência em Josué 1.7, 8, 8.31 e
23.6-8; 1 Reis 2.3, 2 Reis 14.6 e 17.37, Oséias 8.12, Daniel 9.11,13, Esdras 3.2, 4, 1 Crônicas
16.40, 2 Crônicas 17.9, 23.18, 30.5,18, 31.3 e 35.26. Apresenta-se basicamente como obra de
Moisés, um dos primeiros e certamente o maior profeta do Antigo Testamento (Nm 12.6-8; Dt
34.10-12). Deus comumente falava por Moisés de viva voz, como também fez mais tarde com os
profetas, mas a atividade de Moisés como escritor também é mencionada muitas vezes (Êx 17.14;
24.4, 7; 34.27; Nm 33.2; Dt 28.58, 61; 29.20-27; 30.10; 31.9-13, 19, 22, 24-26).
A razão de Moisés e os profetas registrarem por escrito a mensagem de Deus, não se
contentando apenas em entregá-Ia oralmente, era que às vezes a enviavam a ou-tros lugares (Jr
29.1; 36.1-8; 51.60, 61; 2Cr 21.12). Mas, na maioria das vezes, era para preservá-Ia para o futuro,
como um memorial (Êx 17.14) ou uma testemunha (Dt 31.24-26), a fim de que ficasse escrita para o
tempo vindouro (Is 30.8). Portanto a forma permanente e durável da mensagem de Deus não era sua
forma falada, mas sua forma escrita, e isso explica o surgimento do cânon do Antigo Testamento.
Vemos conforme o caso do livro do concerto, cuja alusão reporta-se a Êxodo 24.7, que foi
possível um documento pequeno, como Êxodo 20-23, tornar -se canônico antes que toda a obra
estivesse concluída. Deuteronômio também já era con-siderado canônico mesmo no tempo em que
Moisés vivia (Dt 31.24-26), pois foi colocado ao lado da arca do concerto. Contudo, a parte final de
Deuteronômio foi escrita depois da morte de Moisés. Notamos também numerosas referências ao
Pentateuco (no todo ou em parte) como canônico, em outros livros do Antigo Testamento, que
continuaram a ocorrer na literatura existente entre os dois Testamentos. Sem dúvida, a causa disto,
deve-se à sua importância fundamental. Entretanto, outra possível razão para tantas referências ao
Pentateuco, é o fato de ter sido a primeira seção do Antigo Testamento a ser escrita e reconhecida
como canônica.
Ninguém duvida que, pela época de Esdras e Neemias (século V a.C.), o Pentateuco já
estava completo, como também já era canônico, sendo há muito considerado como tal. Foi
traduzido para o grego no século III a.C., tornando-se desse modo na primeira porção da
Septuaginta. Desde meados do século II a.C., temos evidências que comprovam que todos os cinco
livros, já eram atribuídos a Moisés.
11.3.1 O Desenvolvimento da Segunda e Terceira Seções do Cânon - Profetas e Escritos
O restante da Bíblia hebraica tem uma estrutura diferente em relação à Bíblia em português.
Está dividida em duas seções: os Profetas e os Hagiógrafos (gr. escritos sagrados). Os Profetas
abrangem oito livros: os livros históricos de Josué, Juízes, Samuel e Reis (encontram-se nesta
divisão porque segundo uma antiga tradição foram escritos por alguns profetas), os livros proféticos
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de Jeremias, Ezequiel, Isaías e os Doze (os Profetas Menores). Os Hagiógrafos compreendem 11


livros: os livros líricos e sapienciais de Salmos, Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cantares de Salomão e
Lamentações de Jeremias, e os livros históricos de Daniel, Ester, Esdras-Neemias e Crônicas. Esta é
a ordem tradicional, segundo a qual o remanescente livro hagiógrafo, Rute, vem antes de Salmos,
visto que termina com a genealogia do salmista Davi. Na Idade Média, esse livro foi colocado em
uma posição mais adiante, ao lado de outros quatro livros de brevidade similar (Cantares de
Salomão, Eclesiastes, Lamentações de Jeremias e Ester). É digno de nota que na tradição judaica
Samuel, Reis, os Profetas Menores, Esdras-Neemias e Crônicas sejam computados cada um como
um único livro. Isso pode ser uma indicação da capacidade média de um rolo de pergaminho
hebraico no período em que os livros canônicos foram pela primeira vez alistados e contados.
O agrupamento dos livros não é arbitrário, mas segue o padrão das características literárias.
Metade do livro de Daniel compõe-se de narrativa, e nos Hagiógrafos (segundo a ordem tradicional)
é colocado junto com as histórias. Visto que há histórias na Lei (cobrindo o período da criação até
Moisés) e nos Profetas (abrangendo o período de Josué até o fim da monarquia), então por que
também não poderia haver histórias nos Hagiógrafos, que tratam do terceiro período, da ida e volta
do exílio babilônico? Crônicas é posto por último entre as histórias, como um sumário de toda a
narrativa bíblica, de Adão até a volta do exílio. É evidente que quando Crônicas foi escrito, o cânon
dos Profetas não estava completamente concluído, pois as fontes citadas ali não são de Samuel e
Reis, mas provêm de histórias proféticas mais completas, as quais também parecem ter servido de
fontes para Samuel e Reis. Os elementos mais antigos nos Profetas, incluídos em livros como Josué
e Samuel, são certamente antiqüíssimos, como também são os elementos mais antigos nos
Hagiógrafos, inseridos em livros como Salmos, Provérbios e Crônicas. Tais elementos podem ter
sido reconhecidos como canônicos antes mesmo do complemento da primeira seção do cânon. Os
últimos elementos dos Hagiógrafos, como Daniel, Ester e Esdras-Neemias, pertencem ao final da
história do Antigo Testamento.
11.3.2 A Conclusão da Segunda e Terceira Seções do Cânon
A data em que os Profetas e os Hagiógrafos foram organizados em seções distintas foi
provavelmente 165 a.C. A tradição de 2 Macabeus, fala sobre uma grande crise na história do
cânon: Da mesma forma, também Judas [Macabeu] recolheu todos os livros que tinham sido
dispersos por causa da guerra que nos foi feita, e eles estão em nossas mãos (2 Macabeus 2.14). A
"guerra" mencionada aqui é a dos macabeus pela libertação do perseguidor sírio Antíoco Epifânio.
A hostilidade de Antíoco contra as Escrituras está registrada em 1 Macabeus 1.56, 57, e é bem
provável que, finda a perseguição, Judas tenha precisado reunir cópias delas. Judas sabia que fazia
longo tempo que o dom profético havia cessado (1 Macabeus 9.27), assim é aceitável supor que, ao
reunir as Escrituras que haviam sido dispersas, ele organizou e relacionou a coleção completa na
ordem tradicional. Visto que os livros ainda se apresentavam em rolos separados, os quais tinham
de ser "recolhidos", o que Judas produziu não foi um volume, mas uma coleção e uma lista de livros
na coleção, dividida em três.
Ao preparar a lista, Judas provavelmente definiu não apenas a divisão estável entre Profetas
e Escritos, mas também a ordem tradicional dos livros e o número tradicional de livros dentro de
cada divisão. Uma lista de livros precisa ter uma ordem e um número. A ordem tradicional dos
livros traz Crônicas como o último dos Hagiógrafos. Essa posição para Crônicas pode ser
remontada ao século I d.C., visto estar refletida nos ditos de Jesus em Mateus 23.35 e Lucas 11.51,
onde a frase "desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias" provavelmente significa todos os
profetas martirizados do início ao fim do cânon, de Gênesis 4.3-15 a 2 Crônicas 24.19-22.
11.3.3 Do Cânon Judaico ao Cristão
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No Novo Testamento, encontramos Jesus reconhecendo as Escrituras judaicas pelos seus


diversos títulos conhecidos e aceitando as três seções do cânon judaico e a ordem tradicional de
seus livros. Descobrimos também que para a maioria dos livros é individualmente imputada
autoridade divina - mas não para qualquer um dos livros apócrifos. A única exceção evidente
encontra-se em Judas 9 (que cita a obra apócrifa a Assunção de Moisés) e 14 (que cita o Livro de
Enoque). As citações que Judas faz dessas obras não significa que cria serem elas divinamente
inspiradas, assim como a citação de Paulo de diversos poetas gregos (vide At 17.28; 1Co 15.33; Tt
1.12) não atribui inspiração divina à poesia deles. O que evidentemente aconteceu nos primeiros
séculos do Cristianismo foi isto: Jesus passou para seus seguidores, como Escrituras Sagradas, a
Bíblia que Ele havia recebido, contendo os mesmos livros da Bíblia hebraica dos dias atuais. Os
primeiros cristãos compartilharam com seus contemporâneos judeus um conhecimento completo da
identidade dos livros canônicos. Entretanto, a Bíblia ainda não estava entre duas capas: era uma
lista memorizada de rolos. A ruptura com a tradição oral judaica (em alguns casos, uma ruptura
muito necessária), a alienação entre judeus e cristãos e a ignorância geral das línguas semíticas nas
igrejas fora da Palestina e da Síria fizeram com que surgisse dúvida no que dizia respeito ao cânon
entre os cristãos, o que foi acentuado pelo preparo de novas listas de livros bíblicos, organizadas de
acordo com outros princípios, e pela introdução de novos lecionários. Essa dúvida acerca do cânon
somente pode ser resolvida como na reforma por um retorno aos ensinamentos do Novo Testamento
e ao pano de fundo judaico, sobre o qual tais ensinamentos devem ser compreendidos.
11.3.4 Data do Reconhecimento e Fixação do Cânon do Antigo Testamento
Em 90 d.C. Em Jâmnia, perto da moderna Jope, em Israel, os rabinos, num concílio sob a
presidência de Johanan Ben Zakai, reconheceram e fixaram o cânon do Antigo Testamento. Houve
muitos debates acerca da aprovação de certos livros, especialmente dos "Escritos". Note-se, porém
que o trabalho desse concílio foi apenas ratificar aquilo que já era aceito por todos os judeus através
de séculos.
11.4 O Cânon do Novo Testamento
Há consenso entre teólogos que o Novo Testamento foi escrito dentro de um período de
cinqüenta anos, vários séculos depois que o Antigo Testamento foi completado. Em relação ao
tempo, o Antigo Testamento está tão distante de nós que sua formação como corpo escriturístico
poderia ser considerado longínquo demais para a atestação de seu conteúdo. Tal não é o caso. Em
certo sentido, temos atestações muito maiores para o cânon do Antigo Testamento do que para o
cânon do Novo Testamento. Referimo-nos ao fato do próprio imprimátur (do lat. imprimatur,
'imprima-se') de nosso Senhor Jesus Cristo, pela maneira como fez uso das Escrituras hebraicas
como a Palavra autoritária de Deus.
Não obstante, há um sentido no qual Jesus Cristo realmente oficializou o conteúdo ou cânon
do Novo Testamento: pela via da antecipação. Foi Ele quem nos fez essas promessas: o
“Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos
fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito e ele vos guiará em toda a verdade” (Jo 14.26; 16.13).
A partir disto podemos inferir, ao mesmo tempo, o princípio básico da canonicidade para o
Novo Testamento. É idêntico ao do Antigo Testamento, visto que se restringe à questão da
inspiração divina. Quer pensemos nos profetas dos tempos do Antigo Testamento ou nos apóstolos
e seus companheiros dados por Deus nos dias do Novo Testamento, o reconhecimento na própria
época de seus escritos de que eram autênticos porta-vozes de Deus é o que determina a
canonicidade intrínseca de seus registros. Podemos estar certos de que os livros em questão foram
recebidos pela Igreja dos tempos apostólicos, precisamente no momento em que foram atestados
por um apóstolo como sendo dessa maneira inspirados. A variação evidente relativa à área
geográfica, no reconhecimento de algumas das epístolas do Novo Testamento, pode muito bem ser
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o reflexo do simples fato de que, em princípio, essa atestação era por sua própria natureza
localizada. De maneira inversa, o fato de cada um dos 27 livros do Novo Testamento hoje
universalmente aceitos ter recebido aprovação definitiva é prova de que a atestação apropriada era
dada somente depois de rigorosa investigação.
Tertuliano, notável escritor cristão das primeiras duas décadas do século lll, foi um dos
primeiros a chamar as Escrituras cristãs de "Novo Testamento". Esse título havia aparecido antes (c.
190) em uma composição feita contra o montanismo, de autor desconhecido. Esse fato é
significativo. Seu uso colocou as Escrituras do Novo Testamento em um nível de inspiração e
autoridade igual ao do Antigo Testamento.
O processo gradual que conduziu ao completo e formal reconhecimento público de um
cânon estabelecido em 27 livros, formando o Novo Testamento, leva-nos ao século IV de nossa era.
Isso não significa necessariamente que antes desse período estivesse faltando reconhecimento para a
integridade destas Escrituras, mas que a necessidade de uma definição oficial do cânon não foi
premente até então.
Em relação ao Antigo Testamento um período de tempo muito mais curto esteja envolvido
nos escritos do Novo Testamento, o alcance geográfico de sua origem é muito mais amplo. Essa
circunstância já é suficiente para justificar a falta de reconhecimento espontâneo ou simultâneo da
extensão precisa do cânon do Novo Testamento. Por causa do isolamento geográfico dos vários
destinatários das porções do Novo Testamento, houve espaço para algum atraso e incerteza de uma
região para outra no reconhecimento de alguns dos livros.
O princípio que determina o reconhecimento da autoridade dos escritos canônicos do Novo
Testamento foi estabelecido dentro do próprio conteúdo desses escritos. Há repetidas exortações
para a leitura pública das mensagens apostólicas. No fim da Primeira Epístola aos Tessalonicenses,
possivelmente o primeiro livro do Novo Testamento a ser escrito, Paulo diz: "Pelo Senhor vos
conjuro que esta epístola seja lida a todos os santos irmãos" (1Ts 5.27). Três capítulos antes, na
mesma epístola, Paulo os recomenda a aceitarem suas palavras faladas como "palavra de Deus"
(1Ts 2.13) e, em 1 Coríntios 14.37, o apóstolo fala de modo semelhante acerca de seus "escritos"
(COMFORT, 1998, p. 97).
12 - APÓCRIFOS, PSEUDOPÍGRAFOS E PERGAMINHOS
12.1 Escritos Apócrifos
Nas Bíblias de edição da Igreja Católica Romana, o total de livros é de 73, porque essa
igreja, desde o Concílio de Trento, em 1546, incluiu no cânon do Antigo Testamento 7 livros
apócrifos, além de 4 acréscimos ou apêndices a livros canô-nicos, acrescentando, assim, ao todo, 11
escritos apócrifos.
A palavra apócrifo significa literalmente, escondido, oculto, isto em referência a livros que
tratavam de coisas secretas, misteriosas, ocultas. No sentido religioso, o termo significa "não
genuíno", "espúrio", desde sua aplicação por Jerônimo. Os apócrifos foram escritos entre Malaquias
e Mateus, ou seja, entre o Antigo e o Novo Testa-mento, numa época em que cessara por completo
a revelação divina; isto basta para tirar-Ihes qualquer pretensão de canonicidade. O Historiador
Flávio Josefo rejeitou-os totalmente. Nunca foram reconhecidos pelos judeus como parte do cânon
hebraico. Jamais foram citados por Jesus nem foram reconhecidos pela igreja primitiva.
Jerônimo, Agostinho, Atanásio, Júlio Africano e outros homens de valor dos primitivos
cristãos, opuseram-se a eles na qualidade de livros inspirados. Apareceram pela primeira vez na
Septuaginta - tradução do Antigo Testamento feita do hebraico para o grego. Quando a Bíblia foi
traduzida para o latim, em 170 d.C., seu Antigo Testamento foi traduzido do grego da Septuaginta e
não do hebraico.
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Quando Jerônimo traduziu a Vulgata, no início do Século V (405 d.C.), incluiu os apócrifos
oriundos da Septuaginta, através da Antiga Versão Latina, de 170 d.C., porque isso lhe foi
ordenado, mas recomendou que esses livros não poderiam servir como base doutrinária.
12.1.1 Livros Apócrifos do Antigo Testamento
Os 7 livros apócrifos constantes das Bíblias de edição católico-romana são: TOBIAS (Após
o livro canônico de Esdras), JUDITE (após o livro de Tobias) SABEDORIA DE SALOMÃO (após
o livro canônico de Cantares), ECLESIÁSTICO (após o livro de Sabedoria), BARUQUE (após o
livro canônico de Jeremias), 1 MACABEUS, 2 MACABEUS (ambos, após o livro canônico de
Malaquias). Os 4 acréscimos ou apêndices são: ESTER (a Ester, 10.4 -16.24), CÂNTICO DOS
TRÊS SANTOS FILHOS (a Daniel, 3.24-90), HISTÓRIA DE SUZANA (Daniel, cap.13), BEL E
O DRAGÃO (a Daniel, capo 14). Os livros rejeitados são: 3 ESDRAS, 4 ESDRAS, A ORAÇÃO
DE MANASSÉS. A Igreja Católica Romana aprovou os apócrifos em 18 de abril de 1546, para
combater o movimento da Reforma Protestante, então recente. Nessa época, os protestantes
combatiam violentamente as novas doutrinas romanistas: a doutrina do Purgatório, a doutrina da
oração pelos mortos, a doutrina da salvação mediante obras etc. A Igreja Católica Romana via nos
apócrifos base para essas doutrinas, e, apelou para eles, aprovando-os como canônicos.
12.1.2 Razões da Rejeição dos Livros Apócrifos
A razão porque 66 livros da Bíblia se harmonizam entre si é que a mesma mente divina
inspirou a cada escritor. Se, por exemplo, João tivesse escrito algo que não concordasse com as
obras de Moisés, seríamos obrigados a rejeitar seu Evangelho, as Epístolas e o livro do Apocalipse.
Os primeiros livros constituem o critério para todos os outros chamados inspirados. Se as doutrinas
dos livros apócrifos não concordam em cada ocasião com aquilo que Moisés escreveu, não devem
achar-se no Cânon da Palavra Inspirada. Os livros apócrifos ensinam doutrinas que são contrárias
ao que Moisés e outros profetas escreveram. Por essa razão não foram colocados entre os outros
livros do Velho Testamento, nos dias de Esdras. Nem Cristo nem os apóstolos citaram os livros
apócrifos. S. Jerônimo os rejeitou da Bíblia Latina, por não estarem escritos em hebraico.
12.1.2.1 Ensino da Arte Mágica
Tobias 6.5-8. "Então, o anjo lhe disse: toma as entranhas deste peixe e guarde para ti seu
coração, o fel e seu fígado. Pois são necessários para medicinas úteis [...] Logo, Tobias perguntou
ao anjo e lhe disse: Eu te rogo, irmão Azarias, para quais remédios são boas essas coisas, que tu
pediste separar do peixe. E o anjo, respondendo, lhe disse: Se puseres um pedacinho do seu coração
sobre as brasas, seu fumo há de espantar toda a espécie de demônios, seja de um homem ou de uma
mulher, de modo que não possam mais voltar a eles."
12.1.2.2 Dar Esmolas Purifica do Pecado
Tobias 12.8,9. "A oração é boa como o jejum e esmolas; é melhor do que guardar tesouros
de ouro, pois, esmolas livram da morte, e é o mesmo que espia os pecados e conduz à misericórdia e
vida eterna". Se ofertas caridosas pudessem expiar os nossos pecados, não teríamos necessidade do
sangue de Jesus Cristo.
12.11.2.3 Pecados Perdoados pela Oração
Eclesiástico 3.4. "Quem amar a Deus, receberá perdão de Seus pecados pela oração". Os
pecados não se perdoam pela oração. Se fosse assim, não teríamos necessidade de Jesus. Todos os
povos pagãos fazem orações, mas os pecados não se perdoam somente pela oração. Pv 28.1; 1Jo
1.9. Só Cristo, nosso Advogado, pode perdoar o pecado.
12.1.2.4 Orações pelos Mortos
2 Macabeus 12.42-46, "E, fazendo uma arrecadação, mandou doze mil dracmas de prata a
Jerusalém para ser oferecido um sacrifício pelos pecados dos mortos, e fez bem em pensar
religiosamente na ressurreição, (pois, se não tivesse esperança que os que haviam sido mortos
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ressuscitassem novamente, haveria de ser supérfluo e em vão orar pelos mortos). E considerava que,
os que haviam adormecido no temor de Deus, alcançaram para si muita graça." A Igreja Católica
afirma que estes versículos lhe autorizam a doutrina do purgatório. Orações e missas pelos mortos
são aceitas e o devoto católico crê nelas. Excede a imaginação a quantidade de dinheiro que aflui
todos os anos aos cofres da igreja pelas missas em favor dos mortos.
12.1.2.5 O Ensino do Purgatório
Sabedoria 3.1-4. "Mas, as almas dos justos estão na mão de Deus; e o tormento da morte não
as tocará. Aos olhos dos ignorantes pareciam eles morrer e sua partida foi considerada desgraça. E,
sua separação de nós, por uma extrema perda. Mas, eles estão em paz. E, embora aos olhos dos
homens sofram tormentos, sua esperança está plenamente na imortalidade." A Igreja Católica baseia
a sua crença da doutrina do purgatório nestes versículos citados: "Embora aos olhos dos homens
sofram tormentos, sua esperança está plenamente na imortalidade". "Os tormentos" nos quais se
acham os "justos", diz a Igreja, referem-se ao fogo do purgatório, onde os pecados estão sendo
expiados. "Sua esperança está plenamente na imortalidade", pois a igreja interpreta isso, declarando
que após suficiente tempo de sofrimento no meio do fogo, poderão passar para o céu. 1Jo 1.7. Esse
ensino aniquila completamente a expiação de Cristo. Se o pecado pudesse ser extinto pelo fogo, não
teríamos necessidade do nosso Salvador.
12.1.2.6 O Anjo Relata uma Falsidade
Tobias 5.15-19. "O anjo disse-lhe (a Tobias): Guiá-lo-ei para lá (o filho de Tobias) e o farei
voltar a ti. E Tobias lhe disse (ao anjo): Eu te rogo, dize-me, de que família ou de que tribo és tu? E
Rafael, o anjo, respondeu: [...] Eu sou Azarias, o filho do grande Ananias. Respondeu-lhe Tobias:
Tu és de uma grande família". Se um anjo de Deus mentisse acerca de sua identidade, tornar-se-ia
culpado de violação do nono mandamento. Lc 1.19. Confrontando esta declaração com o que está
registrado no livro de Tobias, compreenderemos logo porque Cristo nunca Se referiu aos livros
apócrifos.
12.1.2.7 Uma Mulher Jejuando Toda Sua Vida
Judith 8.5,6. "E ela fez para si um aposento separado no andar superior de sua casa no qual
vivia com suas servas. Seu vestido era de cabelo de crina e ela jejuava todos os dias de sua vida,
com exceção dos sábados, das luas novas e demais festas da casa de Israel." Esta passagem é
parecida a outras lendas católicas romanas, com respeito a seus santos canonizados. Uma mulher
dificilmente jejuaria toda sua vida, com exceção de um dia da semana e algumas outras ocasiões
durante o ano. Cristo jejuou quarenta dias, porém não toda a Sua vida.
A igreja católica apega-se a estes livros não inspirados porque eles sancionam alguns de
seus falsos ensinos, como: oração pelos mortos, salvação pelas obras, a doutrina do purgatório, dar
esmolas para libertar as pessoas do pecado e da morte.
12.1.3 Apócrifos do Novo Testamento
Trata-se de Evangelhos, Atos de Apóstolos e Epístolas, todos lendários e espúrios, que
começaram a aparecer no século II. Foram forjados, na maior parte, e assim reconhecidos desde o
princípio. São tão cheios de histórias ridículas e indignas a respeito de Cristo e dos apóstolos, que
nunca foram reconhecidos como divinos, nem incorporados à Bíblia. São tentativas deliberadas de
preencher lacunas na história de Jesus, como é apresentada no Novo Testamento, com o fim de
estimular idéias heróicas através de falsas afirmações. Sabe-se que houve uns 50 "Evangelhos"
espúrios, além de muitos "Atos" e "Epístolas". A grande quantidade desses escritos forjados fez a
Igreja Primitiva ver quanto era importante distinguir entre os falsos e os verdadeiros. Dizem que
Maomé tirou largamente desses livros as idéias que tinha acerca do cristianismo. Neles está a
origem de alguns dogmas da Igreja Romana. Não devem ser confundidos com os escritos dos “Pais
Apostólicos". Vai, aqui, uma lista de alguns dos livros apócrifos mais conhecidos:
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Evangelho de Nicodemos. Inclui os "Atos de Pilatos", pretenso relatório oficial do


julgamento de Jesus ao imperador Tibério. Foi produzido entre os séculos II e V. Puramente
imaginário.
Proto Evangelho de Tiago. Narrativa que vai do nascimento de Maria ao massacre dos
inocentes. Contos que começaram a circular no século II. Foi completado século
O Passamento de Maria. Repleto de milagres ridículos culmina com a remoção do "seu
corpo imaculado e precioso" ao Paraíso. Escrito no século IV, com o aparecimento do culto à
Virgem.
Evangelho Segundo os Hebreus. Adições aos Evangelhos canônicos, com algumas frases
atribuídas a Jesus. Meados de 100 d.C.
Evangelho dos Ebionitas. Compilado dos Ev. Sinópticos, no interesse da doutrina ebionita.
Evangelho dos Egípcios. Conversas imaginárias entre Jesus e Salomé. Entre 130 e 150 d.C.
Usados pelos sabelianos. Evangelho de Pedro. Meados do Século II. Buscado em Evangelhos
canônicos. Escrito no interesse de doutrinas docetistas e anti-judaicas.
Evangelho de um Pseudo-Mateus. Século V. Falsa tradução de Mateus, repleta de milagres
da infância de Jesus.
Evangelho de Tomé. Século II. Vida de Jesus, dos 1 aos 12 anos. Apresenta-o operando
milagres para satisfação de seus caprichos infantis.
Natividade de Maria. Obra de ficção Século VI, premeditada, para fomentar o culto à
Virgem. Histórias de visitas diárias de anjos a Maria. Com o surto do papado, tornou-se
imensamente popular.
Evangelho Arábico da Infância. Século VII. História de Milagres operados durante a estada
no Egito.
Evangelho do Carpinteiro José. Século IV. Originou-se no Egito. Dedicado à glorificação de
José.
Apocalipse de Pedro. Pretensas visões do céu e do inferno concedidas a Pedro.
Eusébio chamou-o "espúrio".
Atos de Paulo. Meados do Século II. Romance que aconselha a continência. Contém a
suposta Epístola aos Coríntios que se perdeu.
Atos de Pedro. Fim do século II. Um caso de amor com a filha de Pedro. Conflito com
Simão, o Mago. Contém a história do "Quo Vadis".
Atos de João. Fim do século II. História de uma visita à Roma. Puramente imaginária.
Contém um quadro revoltante de sensualismo.
Atos de André. História de André, que persuade Maximila a evitar relações com o marido, o
que resultou no martírio dele.
Atos de Tomé. Fim do século II. Como os Atos de André, foi criado com interesse da
abstinência de relações sexuais.
Carta de Pedro a Tiago. Fim do século II. Ataca violentamente Paulo. Pura invenção no
interesse dos ebionitas.
Epístola de Laodicéia. Diz ser a que é referida em Colossenses 4.16. Um aglomerado de
frases de Paulo.
Cartas de Paulo á Sêneca. E outras deste àquele. Invenção século IV. Objetivo: ou
recomendar o cristianismo aos seguidores de Sêneca, ou recomendar este aos cristãos. A principal
característica destes escritos é o fato de serem obras de ficção, que se apresentam como história,
mas em sua maior parte são absurdos por tal forma que a falsidade deles evidencia-se por si mesma.
Cartas de Abgar. Estas podem ter alguma base, Eusébio assim pensava. Conta que Abgar,
rei de Edessa, estando enfermo, ouviu falar do poder de Jesus. Escreveu-lhe uma carta pedindo que
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fosse curá-lo, ao que Jesus respondeu por escrito: “... é necessário completar aquilo para o que fui
enviado; depois disso serei recebido em cima, por aquele que Me enviou. Quando, pois, Eu for
recebido no céu, enviarei um dos Meus discípulos que te curará". Contam que foi Tadeu o enviado,
a quem mostraram as Cartas a que ficaram arquivadas em Edessa. Possivelmente, Jesus mandou um
recado verbal, que eles registraram.
12.2 Os Pseudoepígrafos
São os livros escritos sob um nome fictício. Para outros são os escritos judaicos, extra
bíblicos, não inspirados do Antigo Testamento. São considerados de valor no estudo do cânon, e
alguns estudiosos os incluem no mesmo grupo dos apócrifos. Dentre os pseudopígrafos destacam-
se: O Livro de Enoque. A crítica textual não tem condições de localizá-lo exatamente em
determinada época, mas deve pertencer ao período de 200 a.C. e as primeiras décadas do primeiro
século da nossa era.
A Assunção de Moisés. Deve ter sido publicado no tempo de Cristo e procura narrar a
história do mundo, em forma de profecia, desde Moisés até ao tempo do autor.
Os Oráculos Sibilinos. São obras judaicas que, à imitação das profecias pagãs de Sibila,
pretendem divulgar o pensamento hebraico entre os gentios.
O Livro dos Jubileus. É um comentário sobre Gênesis, frisando que a Lei foi observada
desde os mais remotos tempos. Recebe este nome pelo fato de dividir a história em períodos
jubileus, isto é, quarenta e nove anos (sete semanas de anos).
O livro dos Segredos de Enoque (2 Enoque). Descreve pormenorizadamente os sete céus e
antecipa em mil anos o reinado de Deus na terra.
O Apocalipse de Baruque. Alguns o atribuem ao escriba de Jeremias. Foi escrito, segundo os
críticos, nas últimas décadas do primeiro século da nossa era.
O Apocalipse de Abraão. É uma obra judaica com passos de literatura do cristianismo.
Pertence ao século I da nossa era.
Os Salmos de Salomão. Coletânea de dezoito salmos, escrita por um fariseu, que viveu na
segunda metade do primeiro século da era cristã. O estilo é bastante semelhante ao dos Salmos que
temos na Bíblia.
A Carta de Aristéias. É interessante por informar-nos das supostas circunstâncias em que foi
feita a tradução do Velho Testamento hebraico para o grego.
Macabeus, 3 e 4. No III encontramos uma tentativa de massacre dos judeus no reinado de
Ptolomeu Filopator. O 4 é um tratado filosófico ilustrando a tese do autor no caso dos mártires
macabeus. Embora haja referências a estes livros na Bíblia (2Tm 3.8; Jd 9 e 14) não necessitamos
aceitá-los como canônicos.
A literatura pseudopígrafa foi produzida entre 200 a.C., e 200 a.D. com o objetivo de
encorajar e consolar a nação judaica durante as invasões dos sírios e romanos.
12.3 Os Rolos do Mar Morto
No verão de 1947, tiveram início na Palestina, por obra de casual descoberta de um jovem
beduíno, chamado Moâmede ad-Dib, encontros arqueológicos de excepcional importância: os
chamados manuscritos do Deserto da Judéia, do Mar Morto ou ainda Manuscritos de Qunran. Ele
tinha perdido uma cabra, por isso subiu penosamente a encosta, chamando pelo animal que
continuava a elevar-se, a procura de alimento. Nesta sua busca ele deparou com uma cavidade,
atirou para dentro dela uma pedra, apurando o ouvido para escutar a queda, a fim de determinar a
sua profundidade. Qual não foi a sua surpresa, quando em vez do esperado ruído, seu ouvido
percebeu um típico som de louça. Com esforço conseguiu olhar para dentro, notando com surpresa
a existência de vários objetos cilíndricos, de grande tamanho. Amedrontado pela superstição, o
moço fugiu rapidamente daquele sítio, e, à noite, comentou com um amigo a inusitada descoberta
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da caverna. No dia seguinte os dois se dirigem à gruta, e ao entrarem nela, encontram sete rolos.
Levaram alguns para a tenda e ao desenrolarem ficaram surpresos com a sua extensão e por não
entenderem nada do que neles estava escrito.
Os beduínos, indo regularmente a Belém para vender leite e queijo, certo dia, levaram
também os pergaminhos, vendendo-os a um cristão sírio, dono de um armazém, conhecida pelo
nome de Kando, que também por ignorar totalmente o valor deste achado, abandonou-os no chão da
loja por vários dias, sendo estes pisados pelos que nela entravam. Certo dia, atentando melhor para
aqueles pergaminhos, ocorreu-lhe a idéia de levá-los a Jerusalém para os vender no Convento Sírio
de São Marcos. O superior do convento procura pessoas entendidas que estudassem os manuscritos,
a fim de que ele pudesse ter uma idéia de seu real valor, assim sendo, um dos pergaminhos foi
enviado ao Professor E. L. Sukenik, da Universidade Hebraica. Sukenik analisando-o, em
profundidade, concluiu que o documento apresentava grande valor pelo seu conteúdo e considerável
antigüidade.
A caverna na qual foram encontrados os manuscritos fica na região desolada e quente do
Deserto de Judá dos dias bíblicos, cerca de doze quilômetros ao sul de Jericó, na altura do Uadi
Qunran.
Os sete rolos retirados desta gruta eram bem diferentes, pois dois eram manuscritos do livro
de Isaías, um completo e outro incompleto, um manual de Disciplina da Seita, uma coleção de
Salmos e Ações de Graça, uma ordem de batalha para uma guerra apocalíptica entre os Filhos da
Luz e os Filhos das Trevas, um Comentário ao livro de Habacuque. Todo este material foi
publicado por Sukenik e pelos americanos. Além dos manuscritos já citados ainda foram
encontrados documentos os mais diversos conto contratos de casamento, cartas do líder judeu Bar
Cocheba, um hinário de mais ou menos quarenta salmos, cópias dos apócrifos de Eclesiástico e
Tobias, além de trechos de pseudepígrafos como o de Enoque.
A gruta em que aqueles pastores entraram, e que marcou o início de uma fase histórica da
arqueologia, recebeu o n.º 1. Não longe dela, encontrou-se, em fins de 1951, a gruta a que se deu o
n.º 2. Continha fragmentos dos Salmos, os livros de Isaías, do Êxodo, de Rute, um documento
litúrgico e o livro apócrifo dos Jubileus, que é uma paráfrase do Gênesis, selecionados pelos
fariseus. Descobriu-se, depois, a gruta n.º 3, onde se encontraram 2 rolos de chapas de cobre, com
textos gravados.
A gruta que deu colheita mais rica foi a de n.º 4. Continha 380 manuscritos, dos quais mais
ou menos uma centena são de ordem bíblica. Seguiram-se as de n.º 5 e 6, que deram manuscritos de
pouca importância bíblica e histórica. Em fins de 1955, revistaram-se as grutas que receberam os
nos 7, 8, 9 e 10, todas contendo ora pergaminhos, ora papiros, tudo de pouca importância. Logo
após, nos últimos dias de 1955, encontram-se outras duas séries de grutas, uma à margem do Uadi
Murabaat, e outra à margem do Uadi Mird, sempre nos arredores do Mar Morto.
Os dois rolos de chapa de cobre mediam mais ou menos 2 metros de comprimento e uns 30
centímetros de largura. Durante 3 anos estudos foram feitos para que os rolos fossem abertos sem se
estragar a escrita. Foi preparada uma máquina especial pelo Departamento de Tecnologia de
Manchester, Inglaterra, para cortar o rolo, trabalho este levado a efeito no dia 16 de janeiro de 1956.
Estes rolos podem ser vistos no Museu de Amã. Na escrita de um deles estava a relação de uns 60
esconderijos, nos quais, se encontrariam depósitos de ouro, prata ou caixas de incenso.
Três sociedades científicas: Departamento Arqueológico da Jordânia, Escola Bíblica e
Arqueológica Francesa de Jerusalém (Santo Estêvão) e o Museu Arqueológico Palestinense têm
inventariado as riquezas destas grutas. Os fragmentos de manuscritos descobertos nas onze cavernas
de Qunran são cerca de 600 e um quarto destes fragmentos contém textos bíblicos; com exceção do
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livro de Ester, todos os livros do Velho Testamento se acham ali representados. Os mais numerosos
são dos livros de Isaías, de Deuteronômio e dos Salmos.
12.3.1 Quem Guardou Estes Manuscritos
Uma pergunta que vem à mente de todos é esta: quem foram as pessoas que moravam nesta
região e copiaram os manuscritos encontrados nas grutas? Segundo a opinião dos eruditos seus
habitantes pertenciam à seita judaica dos essênios, os quais ocuparam esta região entre 185 a.C. e
68 a.D.
Havia entre os judeus no tempo de Cristo as seguintes seitas: Os fariseus – legalistas e
separados, observadores de tradições antigas, eram muito religiosos; os saduceus – conhecidos por
sua oposição aos fariseus e por negarem a ressurreição. Eram incrédulos e livres pensadores; os
essênios – muitas etimologias têm sido apresentadas para explicar a origem deste nome. The
Interpreter's Dictionary of the Bible, cita pelo menos dez entre palavras gregas e hebraicas,
salientando que os eruditos não têm nenhuma uniformidade em seus pontos de vista. Os essênios
eram pessoas que estavam decepcionadas com a corrupção reinante em seus dias, por isso
abandonaram a sociedade e se refugiaram em mosteiros para se dedicarem a uma vida de oração e
ao estudo da palavra de Deus.
12.3.2 Origem da Comunidade Essênica de Khirbet Qumran
Para o mosteiro de Khirbet Qumran podemos indicar diversos períodos de construção, como
atestam as escavações realizadas entre 1951 e 1956. A primeira construção monástica, edificada em
pedra, data do tempo do sumo sacerdote João Hircano (134-104 a.C.), da dinastia macabeu -
asmonéia. Antes dessa época, os hassideus (essênios) tiveram que contentar-se com abrigos
encontrados ao acaso. Uma figura característica que se encontra sempre de novo nos textos de
Qumran é o anônimo 'mestre de nossa justiça', a quem a comunidade de Qumran deve a sua clara
diferenciação dos outros grupos religiosos, antes de mais nada do culto e da hierarquia de
Jerusalém, e que de várias maneiras, deu também impulso às normas de vida de Qumran.
Antes da primeira revolta judaica, por causa do avanço da décima legião sob o comando de
Vespasiano, os manuscritos da biblioteca do mosteiro foram colocados a salvo (por volta do ano 68
d.C.). O próprio mosteiro foi destruído pelos romanos.
Durante a segunda revolta judaica (132-135), o lugar das ruínas e arredores constituíram um
ponto de apoio para os combatentes da resistência judaica que se encontraram em torno de Bar
Kokba, Com efeito, numa gruta ao sul de Qumran, foram encontrados, além de apetrechos
sacrificais, vestes e moedas, também manuscritos da época entre 88 e 135 d.C., entre os quais uma
carta de Bar Kokba."
12.3.3 Valor dos Rolos do Mar Morto
Embora o valor desta descoberta ainda não possa ser avaliado em toda a sua plenitude, há
certos fatos já conhecidos que são os seguintes: Estes manuscritos são pelo menos 1000 anos mais
velhos do que o mais antigo manuscrito hebraico que possuímos – O Códice Petropolitano escrito
em 912 a.D; os manuscritos de Qumran são mais antigos do que os mais velhos fragmentos da
Septuaginta existentes, quanto à história da evolução da escrita, fornecendo, portanto precioso
material à Paleografia. Estes manuscritos foram copiados entre os séculos III a.C. e o primeiro
século a.D.; antes desta descoberta pouco se sabia a respeito do judaísmo pré-cristão. Através do
Manual de Disciplina conhecemos hoje muito dos seus costumes e maneira de viver; estes
manuscritos vieram desfazer afirmações infundadas, concernentes ao trabalho dos copistas pré-
massorético e ainda de que a Bíblia Hebraica de hoje fora organizada e emendada pelos massoretas.
Os estudantes da Bíblia não puseram tanto em dúvida as mudanças no texto quando foram
acrescentadas as vogais e a pontuação para formar o texto Massorético, séculos depois de Cristo,
pois sabiam que os copistas depois daquele tempo, preservaram com cuidado extremo cada jota e til
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do texto. Alguns críticos opinavam que os mais antigos copistas por não serem tão escrupulosos
trataram o texto com mais liberdade, portanto havia diferenças consideráveis em nossa Bíblia.
Quando o texto hebraico de hoje foi comparado com os manuscritos de Qumran verificou-se
surpreendente identidade de conteúdo. Os rolos do Mar Morto comprovam a validade do texto
hebraico, tão cuidadosamente transmitido através dos séculos. O descobrimento destes rolos e de
outros manuscritos mostrou a fragilidade dos argumentos da Alta Crítica, comprovando que o
trabalho dos copistas e tradutores por dois mil anos não mudou a Palavra de Deus. Eles
comprovaram que a maioria das variações de um manuscrito para outro são simplesmente questões
de letras, palavras ou frases que não modificam suficientemente o sentido para influenciar alguma
doutrina importante.
12.3.4 Fragmentos de Papiros em Qumran
Numa das cavernas de Qumran foram encontrados muitos fragmentos de papiros e entre
estes, o papirólogo espanhol, José O'Callaghn descobriu um trecho do Evangelho de São Marcos –
correspondente aos versículos 52 e 53, do capítulo 6. Após este encontro, em março de 1972, o
erudito espanhol, recorrendo a métodos técnicos, conclui que se trata de um manuscrito do ano 50
a.D. A história nos confirma que o General Vespasiano, no ano 68 a.D, tomou posse do mosteiro
essênio de Qumran, ocasião em que seus habitantes esconderam os rolos nas cavernas, pensando em
regressar mais tarde para recuperá-los.
12.3.5 Conclusões
Todo o cuidado e todos os avanços feitos pela ciência têm sido utilizados, quer na
determinação das datas deste valioso material, quer na sua leitura e conservação. Assim foi
descoberto um método com base na ciência atômica, para determinar a idade do material orgânico.
Foi usando esse método, com o isótopo, "Carbono 14", que o Instituto Nuclear da Universidade de
Chicago pode confirmar com precisão a opinião dos arqueólogos, segundo a qual o pano que
envolvia os rolos, descobertos em 1947, datava do I século da era cristã. No Museu de Jerusalém,
onde se encontra boa parte do material descoberto, documentos, à primeira vista ilegíveis, são
decifrados graças à fotografia infravermelha que traz à luz, letras que normalmente não podem ser
distinguidas pelos olhos humanos. Inegavelmente, esta foi a descoberta arqueológica mais
sensacional dos últimos tempos, porque veio provar a autenticidade da Bíblia e a sua maravilhosa
conservação através dos séculos.
13 - VERSÕES, TRADUÇÕES E REVISÕES
13.1 Conceituação
Tradução é simplesmente a transposição de uma composição literária de uma língua para
outra. Por exemplo, se a Bíblia fosse transcrita dos originais hebraico e grego para o latim, ou do
latim para o português, chamaríamos esse trabalho tradução. Se esses textos traduzidos fossem
vertidos de volta para as línguas originais, também chamaríamos isso tradução.
A tradução literal é uma tentativa de expressar, com toda a fidelidade possível e o máximo
de exatidão, o sentido das palavras originais do texto que está sendo traduzido. Trata-se de uma
transcrição textual, palavra por palavra. O resultado é um texto um tanto rígido.
A transliteração é a versão das letras de um texto em certa língua para as letras
correspondentes de outra língua. É claro que uma tradução literal da Bíblia fica sem sentido para
uma pessoa de pouca cultura.
Versão, tecnicamente falando é uma tradução da língua original (ou com consulta direta a
ela) para outra língua, ainda que comumente se negligencie essa distinção. O segredo para a
compreensão é que a versão envolve a língua original de determinado manuscrito.
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Revisão, ou versão revista, é termo usado para descrever certas traduções, em geral feitas a
partir das línguas originais, que foram cuidadosa e sistematicamente revistas, cujo texto foi
examinado de forma crítica, com vistas em corrigir erros ou introduzir emendas ou substituições.
Paráfrase é uma tradução "livre" ou "solta". O objetivo é que se traduza a idéia, e não as
palavras. Daí que a paráfrase é mais uma interpretação que uma tradução literal do texto. O
comentário é simplesmente uma explicação das Escrituras. O exemplo mais antigo desse tipo de
trabalho é o “Midrash”, ou comentário judaico do Antigo Testamento.
13.2 Versões e Traduções mais Antigas
As traduções mais antigas apareceram antes do período dos Concílios da Igreja (350 d.C.),
abarcando obras como Pentateuco Samaritano, os Targuns Aramaicos, o Talmude, o Midrash e a
Septuaginta (LXX).
13.2.1 O Pentateuco Samaritano
Segundo Norman Geisler e William Nix (1997, p. 187), “o Pentateuco samaritano pode ter-
se originado no período de Neemias, em que se reedificou Jerusalém. Não sendo na verdade uma
tradução, nem versão, mostra a necessidade do estudo cuidadoso para que se chegue ao verdadeiro
texto das Escrituras”. Essa obra foi, de fato, uma porção manuscrita do texto do próprio Pentateuco.
Contém os cinco livros de Moisés, tendo sido escrito num tipo paleo-hebraico, muito semelhante ao
que se encontrou na pedra moabita, na inscrição de Siloé, nas Cartas de Laquis e em alguns
manuscritos bíblicos mais antigos de Qumran. A tradição textual do Pentateuco samaritano é
independente do Texto massorético. Não foi descoberto pelos estudiosos cristãos senão em 1616,
embora fosse conhecido dos pais da igreja, como Eusébio de Cesaréia e Jerônimo, tendo sido
publicado pela primeira vez na obra Poliglota de Paris (1645) e, depois, na Poliglota de Londres
(1657).
O manuscrito mais antigo do Pentateuco samaritano data de meados do século XIV e trata-
se de um fragmento de um pergaminho o rolo chamado Abisa. O códice do Pentateuco samaritano
mais antigo traz uma nota sobre ter sido vendido em 1149-1150 d.C, embora fosse muito mais
velho. A Biblioteca Pública de Nova Iorque abriga outro exemplar que data de cerca de 1232.
Imediatamente após a descoberta desse exemplar, em 1616, o Pentateuco samaritano foi aclamado
como superior ao Texto massorético. No entanto, depois de cuidadoso estudo, foi relegado a
posição inferior. Só recentemente esse documento reobteve um pouco de sua antiga importância,
ainda que seja considerado até hoje de menor importância do que o texto massorético da lei. Os
méritos do texto do Pentateuco samaritano podem ser avaliados pelo fato de apresentar apenas 6
000 variantes em relação ao Texto massorético, e em sua maior parte constituem diferenças
ortográficas que se considerariam insignificantes. Há ali a afirmativa de que o monte Gerizim é o
centro de adoração, e não a cidade de Jerusalém, com acréscimos aos relatos de Êxodo 20.2-17 e
Deuteronômio 5.6-21. (GEISLER; NIX, 1997, p. 188).
13.2.2 Os Targuns
Segundo Norman Geisler e William Nix (1997, p. 188), “há evidências de que os escribas, já
nos tempos de Esdras (Ne 8.1-8), estavam escrevendo paráfrases das Escrituras hebraicas em
aramaico. Não estavam produzindo traduções, mas textos explicativos da linguagem arcaica da
Tora”. Antes do nascimento de Cristo, quase todos os livros do Antigo Testamento tinham suas
paráfrases ou interpretações (targuns). Ao longo dos séculos seguintes o targum foi sendo redigido
até surgir um texto oficial.
Os mais antigos targuns aramaicos provavelmente foram escritos na Palestina, durante o
século II d.C, embora haja evidências de alguns textos amaraicos de um período pré-cristão. Esses
textos primitivos, oficiais, do targum, continham a lei e os profetas, embora targuns de épocas
posteriores também incluíssem outros escritos do Antigo Testamento.
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Durante o século III d.C., surgiu na Babilônia um targum aramaico sobre a Tora.
Possivelmente se tratasse de uma versão corrigida de texto palestino antigo; mas também poderia
ter-se originado na Babilônia, tendo sido tradicionalmente atribuído a Onquelos (Ongelos), ainda
que tal nome provavelmente resultasse de confusão com Áqüila.
O Targum de Jônatas ben Uzziel é outro targum babilônico em aramaico, que acompanhava
os profetas (os primeiros e os últimos). Data do século IV, sendo uma tradução mais livre do texto
que a tradução de Onquelos. Esses targuns eram lidos nas sinagogas: o texto de Onquelos ao lado da
Tora, que se liam em sua inteireza; Jônatas era lido ao lado de seleções dos profetas (haphtaroth,
pl.). Visto que as demais partes do Antigo Testamento (escritos) não eram lidas nas sinagogas, não
se produziu nenhum targum oficial, mas havia cópias não-oficiais usadas pelas pes-soas de modo
particular.
Pelos meados do século VII surgiu o Targum do pseudo-Jônatas, sobre o Pentateuco. Trata-
se de uma mistura do Targum de Onquelos e alguns textos do Midrash. Outro targum apareceu ao
redor do ano 700, o Targum de Jerusalém, do qual sobreviveu apenas um fragmento.
13.2.3 O Talmude
O Talmude basicamente representa as opiniões e as decisões de professores judeus de cerca
de 300 a 500 d.C., consistindo em duas principais divisões: o Midrash e a Gemara. A Mishna
(repetição, explicação) completou-se perto de 200 d.C., como se fora um digesto – publicação
composta de artigos, livros condensados - hebraico de todas as leis orais, desde o tempo de Moisés.
Era altamente considerada como a segunda lei, sendo a Tora a primeira. A Gemara (término,
finalização) era um comentário ampliado, em aramaico, da Mishna. Foi transmitida em duas
tradições: a Gemara palestina (c. 200) e a Gemara babilônica, maior, dotada de mais autoridade (c.
500).
13.2.4 O Midrash
O Midrash (lit., estudo textual) na verdade era uma exposição formal, doutrinária e
homilética das Sagradas Escrituras, redigida em hebraico ou em aramaico. De mais ou menos 100
até 300 d.C., esses escritos foram reunidos num corpo textual a que se deu o nome de Halaka
(procedimento), que era uma expansão adicional da Tora, e Hagada (declaração, explicação), ou
comentários de todo o Antigo Testamento. O Midrash de fato diferia do Targum neste ponto: o
Midrash eram comentários, em vez de paráfrases. O Midrash contém algumas das mais antigas
hornilias do Antigo Testamento, bem corno alguns provérbios e parábolas, textos usados nas
sinagogas.
13.2.5 Septuaginta (LXX)
Bastante conhecida através da sigla LXX, é a mais importante tradução grega do Velho
Testamento. Seria interessante pensar por alguns instantes qual a razão de um livro hebraico ser
traduzido para o grego numa cidade do Egito? A História nos confirma que Alexandre Magno, com
suas extraordinárias conquistas levou o grego a quase todas as partes do mundo conhecido. Sua
morte prematura em 323 a.C. fez com que seu império fosse dividido. Cabendo a Ptolomeu I (323-
285) governar o Egito, iniciando assim a dinastia dos reis gregos no Egito. Calcula-se que no tempo
de Ptolomeu II, a cidade de Alexandria era composta por um terço de judeus. Como era de se
esperar esses imigrantes judeus facilmente adotaram a língua dos gregos.
Dias Gomes citando Flávio Josefo, fornece-nos pormenores úteis sobre a origem desta
antiga tradução. Eis uma síntese de suas palavras:
Demétrio Palério, bibliotecário de Ptolomeu Filadelfo, trabalhava com extremo cuidado e
grande curiosidade para reunir de todas as partes do mundo os livros de mérito e que julgava serem
agradáveis ao príncipe. Certo dia o príncipe perguntou-lhe quantos livros já havia na Biblioteca e
soube que mais ou menos 200.000. Notificou também ao rei a existência entre os judeus de livros
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dignos de figurarem na soberba biblioteca, mas dariam muito trabalho traduzi-los para o grego.
Acrescentou que este trabalho poderia ser feito porque sua majestade não olhava a gastos. O rei,
persuadido pelo ilustre bibliotecário, fez um apelo ao sumo-sacerdote de Jerusalém para que lhe
enviasse os livros e pessoas capacitadas para traduzi-los. O pedido foi imediatamente atendido,
talvez, porque acompanhando-o havia grande soma de dinheiro e pedras preciosas. Ptolomeu
recebeu através de uma carta a seguinte notificação: "Escolhemos, Senhor, seis homens de cada
tribo para vos levar as santas leis e esperamos da vossa bondade, quando não tenhais mais
necessidade deles, que vos dignareis remetê-los com os que vão em sua companhia." Eleazar.
Quando a obra foi acabada (segundo alguns em 72 dias), Demétrio reuniu todos os judeus para que
ouvissem a leitura da tradução, na presença dos 72 tradutores. A tradução foi aprovada e Demétrio
elogiado por ter concebido um desígnio que lhes era tão vantajoso. (JOSEFO, Flávio. Apud.
GOMES, Dias. Bíblia Poliglota Portuguesa, p. 26-28).
Para alguns esta história é lendária, sendo a verdadeira razão para a origem da Septuaginta a
seguinte: Havendo em Alexandria muitos judeus que não podiam ler o Velho Testamento no
original hebraico, uma tradução em grego lhes foi preparada. Por causa do número de tradutores
essa extraordinária tradução se tornou conhecida (um tanto inexatamente) como Septuaginta.
A Septuaginta é comumente designada por LXX. O nome vem do latim Septuaginta, que
quer dizer 70. Aristeas, escritor da corte de Ptolomeu Filadelfo, que reinou de 285-246 a.C.,
escrevendo a seu irmão Filócrates, conta que o referido monarca, por proposta de seu bibliotecário,
Demétrio de Falero, solicitou ao sumo sacerdote judaico, Eleazar, que lhe enviasse doutores
versados nas Sagradas Escrituras para preparar-lhe uma versão delas, em grego. Ele muito ouvia
falar das Escrituras e queria uma versão delas, para enriquecer sua vasta biblioteca, em Alexandria.
O sumo sacerdote escolheu 72 eruditos (6 de cada tribo) e enviou-os a Alexandria, os quais
completaram a versão em 72 dias. De 72 derivou-se o nome Septuaginta. (Gilberto, Antonio, 1986,
p. 84)
A tradução foi feita na ilha de Faros, situada no porto da cidade. Essa Bíblia teve a mais
ampla difusão entre as nações, especialmente naquelas onde estavam os judeus da dispersão oriunda
do cativeiro. Foi a Septuaginta a primeira tradução completa do Antigo Testamento, do original
hebraico. Foi também ela que situou e dividiu os livros por assuntos como os temos hoje: Lei,
História, Poesia, Profecia. Não há um só exemplar original da Versão dos Setenta; somente cópias,
a mais antiga das quais data de 325 d.C. É ela a mais antiga tradução da Bíblia hebraica. A
Septuaginta é usada ainda hoje na Igreja Grega. Sua primeira aparição impressa é a constante da
Complutensiana Poliglota publicada em Alcalá, província de Madri, em 1514-1517, e distribuída
em 1522 pelo Cardeal Ximenes.
13.2.6 A versão de Áqüila
A versão de Áqüila, natural de Sínope, cidade do Ponto. É uma tradução puramente literal.
Contém só o Antigo Testamento. Foi feita em 138 d.C., no reinado de Adriano. Existe em
fragmentos.
13.2.7 A versão de Teodocião
A versão de Teodocião, natural de Éfeso, coevo de Justino Mártir, que o menciona em seus
escritos. Foi feita em 160 d.C., no tempo do Imperador Cômodo. Não é mais que uma revisão dos
LXX. Contém só o Antigo Testamento. Teodocião era ebionita.
13.2.8 A versão de Símaco
A versão de Símaco, feita em 218. Só do Antigo Testamento. Símaco era também ebionita.
Existe em fragmentos.
13.2.9 A Héxapla, de Orígenes
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A Héxapla, de Orígenes. Não é propriamente uma versão; é obra compendiada. Devido a


falhas na tradução da Septuaginta, Orígenes, grande erudito da igreja primitiva, compôs, em
Cesaréia, a Héxapla, ou versão de 6 colunas, em 228 d.C.
As seis colunas estão dispostas da direita para a esquerda, assim: 1ª O texto hebraico; 2ª O
texto grego traduzido do hebraico; 3ª A versão de Áquila; 4ª A versão de Símaco; 5ª A Septuaginta;
6ª A versão de Teodocião.
13.2.10 Revisões Depois da Hexapla
Fizeram ainda revisões na Septuaginta Luciano – fez seu trabalho mais ou menos pelo ano
300, pois foi martirizado em 311. Para esta revisão usou manuscritos hebraicos superiores aos
usados por Orígenes e Hesíquio – sua revisão se processou na cidade de Alexandria e foi somente
aceita no Egito.
13.2.11 Versões Siríacas
É provável que a primeira versão do Novo Testamento tenha sido feita na língua siríaca.
Dentre as versões siríacas são dignas de nota as seguintes:
Siríaca Antiga. É uma versão dos quatro Evangelhos, conservada hoje com grandes lacunas
nestes dois manuscritos. Embora estes manuscritos fossem copiados no 5º e 4º séculos
respectivamente, a forma de texto que eles preservam data do fim do segundo século ou início do
terceiro. O texto dos Evangelhos sofreu influências do Diatessaron de Taciano. Seu tipo de texto
pertence ao grupo Ocidental.
Versão Peshita. Em siríaco a palavra peshita significa simples, comum, vulgar. Crêem
alguns que a tradução foi feita por Rabbula, bispo de Edessa (411-432), cognominado o São
Jerônimo da Igreja Síria. Outros afirmam que o autor é desconhecido, mas que a tradução foi feita
para que o cristianismo pudesse propagar-se entre aquele povo. Por ser um trabalho muito bem
feito, foi chamada "a rainha das versões". Contém todo o Velho Testamento sem os livros apócrifos.
Do Novo Testamento não foram traduzidos II e III João, II Pedro, Judas e Apocalipse. Mais de 350
manuscritos da Peshita são conhecidos hoje, diversos dos quais datam do 5º e 6º séculos.
Versão Filoxênia. Esta é outra tradução bastante difícil de ser explicada pela Crítica Textual.
Crê-se que Filóxeno, bispo de Mabugue, comissionou a tradução da Bíblia inteira baseada no grego,
em 508 a.D.
Versão Siríaca da Palestina. É conhecida principalmente por um dicionário dos Evangelhos.
Crêem os entendidos que seja uma tradução do quinto século.
14 - VERSÕES LATINAS E INGLESAS
14.1 Versões Latinas
O latim era um idioma dominante nas regiões ocidentais do Império Romano desde muito
antes dos dias de Jesus. Foram nas regiões ocidentais ao sul da Gália e na África do Norte que
apareceram as primeiras traduções da Bíblia em latim. Segundo Philip W. Confort (1998, p. 235)
“em cerca de 160 d.C., Tertuliano notoriamente usou uma versão das Escrituras em latim. Não
muito tempo depois, o texto em latim antigo parece ter estado em circulação, o que nos é
evidenciado pelo uso de Cipriano antes de sua morte, em 258 d.C.”. A versão em latim antigo era
uma tradução da Septuaginta. Manuscritos completos do texto em latim antigo não subsistiram.
Depois que a versão latina, a Vulgata, foi completada por Jerônimo, o texto mais primitivo caiu em
desuso.
14.1.1 A Vulgata latina
Segundo Philip W. Confort (1998, p. 236) “por volta do século III d.C., o latim começou a
substituir o grego como língua de ensino no vasto mundo romano. Um texto uniforme e confiável
era extremamente necessário para uso teológico e litúrgico”. Para preencher essa necessidade, o
papa Dâmaso I (336-384 d.C.) encarregou Jerônimo, eminente erudito no latim, grego e hebraico,
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de fazer a tradução. Jerônimo começou o seu trabalho com uma tradução da Septuaginta em grego,
considerada inspirada por muitas autoridades da Igreja, inclusive Agostinho. Contudo, mais tarde, e
sob risco de grande crítica, voltou-se para o texto hebraico que então estava em uso na Palestina,
como texto base para sua tradução. Durante o período de 390 a 405, Jerônimo fez sua tradução
latina do Antigo Testamento hebraico. No entanto, a despeito de ter se voltado para o original
hebraico, Jerônimo dependia grandemente das diversas versões gregas como auxílio à tradução. Por
conseguinte, a Vulgata espelha as outras traduções gregas e latinas tanto quanto o texto hebraico
fundamental.
14.1.1.1 Autor da Vulgata
Sofrônio Eusébio Jerônimo (c. 340-420) nascera de pais cristãos, em Estridão, na Dalmácia.
Havia sido educado na escola local até sua ida a Roma, com a idade de doze anos. Durante os oito
anos seguintes, Jerônimo estudou latim, grego e autores pagãos, antes de tornar-se cristão, com a
idade de dezenove anos. Logo após sua conversão e batismo, Jerônimo devotou-se a uma vida de
rígida abstinência e de serviço ao Senhor. Passou muitos anos perseguindo uma vida semi-ascética
de eremita. De 374 a 379, empregara um rabino judeu para que lhe ensinasse o hebraico, enquanto
estivesse residindo no Oriente, perto de Antioquia. Foi ordenado presbítero em Antioquia antes de
partir para Constantinopla, onde passou a estudar sob a orientação de Gregório de Nazianzo. Em
382, foi convocado por Roma para ser secretário de Dâmaso, bispo de Roma, e nomeado membro
de uma comissão para revisar a Bíblia latina.
14.1.1.2 A Data e o Lugar da Tradução da Vulgata Latina
Jerônimo recebeu a incumbência em 382 e iniciou seu trabalho quase imediatamente. A
pedido de Dâmaso introduziu uma ligeira revisão nos evangelhos, completada em 383. Logo após
ter terminado a revisão dos evangelhos, morre-lhe o mecenas (384), tendo sido eleito novo bispo de
Roma. Jerônimo, que aspirava a esse cargo, já havia terminado uma revisão rápida do chamado
Saltério romano quando regressou ao Oriente e se estabeleceu em Belém. De volta a Belém,
Jerônimo voltou sua atenção a uma revisão mais cuidadosa do Saltérío romano, que completou em
387. Essa revisão é conhecida como Saltério galileu, empregado atualmente no Antigo Testamento
da Vulgata. Baseou-se de fato nos Héxapla de Orígenes, a quinta coluna, sendo mera tradução dos
Salmos. Tão logo havia terminado sua revisão dos Salmos, Jerônimo iniciou a revisão da LXX,
embora esse trabalho não fizesse parte de seus objetivos iniciais. Estando em Belém, Jerônimo
havia iniciado seu trabalho de aperfeiçoar seus conhecimentos do hebraico, de modo que pudesse
executar uma nova tradução do Antigo Testamento diretamente das línguas originais. Os amigos ao
redor aplaudiram seus esforços, mas outros, muito longe, começaram a suspeitar que Jerônimo
estaria judaizando; alguns se enfureceram quando Jerônimo lançou dúvidas sobre a “inspiração da
Septuaginta”. Traduziu o Saltério hebraico com base no texto hebraico usado na época, na
Palestina. Finalmente, em 405, completou sua tradução latina do Antigo Testamento hebraico. Nos
últimos quinze anos de vida, Jerônimo continuou escrevendo, traduzindo e revisando sua tradução
do Antigo Testamento.
Jerônimo pouca atenção deu aos apócrifos; só com grande relutância produziu uma tradução
apressada de algumas passagens de Judite, de Tobias e do resto de Ester, mais as adições de Daniel
- antes de morrer. O resultado foi que a versão dos livros apócrifos, pertencente à Antiga latina, foi
adicionada à Bíblia chamada Vulgata latina na Idade Média, sobre o cadáver de Jerônimo.
14.1.2 Versões, Traduções e Paráfrase em Inglês
Segundo Philip W. Confort (1998, p. 361), “no século VI, o Evangelho foi levado para a
Inglaterra pelos missionários de Roma. A Bíblia que levaram foi a Vulgata Latina. Nessa época, os
cristãos que viviam na Inglaterra dependiam dos monges para qualquer tipo de instrução
relacionada à Bíblia. Os monges liam e ensinavam a Bíblia latina”. Depois de alguns séculos,
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quando mais mosteiros foram fundados, surgiu a necessidade de traduções da Bíblia em inglês. A
mais antiga tradução em inglês, até onde sabemos, é a que foi feita por um monge do século VII,
chamado Cedmon, que fez uma versão métrica de partes do Antigo e do Novo Testamento.
Acredita-se que outro clérigo inglês, chamado Bede, traduziu os evangelhos para o inglês. Diz a
tradição que, em 735, esse clérigo estava traduzindo o Evangelho de João em seus últimos
momentos de vida. Outro tradutor foi Alfredo, o Grande (que reinou de 871 a 899) , considerado
por todos como um rei muito letrado. Incluiu em suas leis trechos dos Dez Mandamentos traduzidos
para o inglês e também traduziu os Salmos.
14.1.2.1 Desenvolvimento da Língua Inglesa
Segundo Norman Geisler (1997, p. 219), “não se sabe com certeza como a língua inglesa se
desenvolveu, mas a maioria dos estudiosos segue a orientação de Beda, o Venerável (c. 673-735),
que data seu início em cerca de 450 da era cristã”. O período de 450 a 1100 é denominado anglo-
saxônico, ou do antigo inglês, por ter sido dominado pela influência dos anglos, dos saxões e dos
jutos em seus vários dialetos. Após a invasão normanda de 1066, a língua sofreu a influência de
dialetos escandinavos, e o período do médio inglês apareceu de 1100 a 1500. Esse foi o período de
Geoffrey Chaucer (1340-1400) e de John Wycliffe. Após a invenção da prensa móvel por Johann
Gutenberg (c. 1454), o inglês entrou em seu terceiro período de desenvolvimento: o do inglês
moderno (1500 até o presente). Esse período de desenvolvimento foi precipitado pela grande
mudança vocálica no século que se seguiu à morte de Chaucer e precedeu ao nascimento de
William Shakespeare. 14.1.2.2 As Traduções Parciais para o Antigo Inglês (450-1100) Segundo
Norman Geisler (1997, p. 220), “as primeiras traduções de partes das Escrituras basearam-se nas
traduções da Antiga latina e da Vulgata, e não nas línguas originais, o hebraico e o grego, e
nenhuma delas continha o texto da Bíblia toda. Não obstante, elas ilustram a maneira pela qual a
Bíblia entrou para a língua inglesa”. Aldhelm (640-709). Aldhelm foi o primeiro bispo de
Sherborne em Dorset. Logo depois do ano 700, ele traduziu o Saltério para o antigo inglês. Foi a
primeira tradução direta de qualquer parte da Bíblia para a língua inglesa.
Egberto (700). Egberto da Nortúmbria tomou-se arcebispo de Iorque pouco depois da morte
de Beda. Ele foi também o mestre de Alcuíno de Iorque, que foi mais tarde chamado por Carlos
Magno para estabelecer uma escola na corte de Aix-Ia-Chapelle (Aachen). Por volta de 705,
Egberto traduziu os evangelhos para o antigo inglês pela primeira vez.
Beda, o Venerável (674-735). Maior estudioso da Inglaterra e um dos maiores de toda a
Europa dos seus dias, Beda residiu em Jarrow-on-the-Tyne, na Nortúmbria. De lá, ele escreveu sua
famosa História eclesiástica e outras obras. Entre essas obras encontrava-se uma tradução do
evangelho de João, cujo propósito foi provavelmente o de suplementar os três outros traduzidos por
Egberto. Segundo relatos tradicionais, Beda terminou a tradução na hora da morte.
Alfredo, o Grande (849-901). Alfredo foi um estudioso de primeira, além de ter sido rei da
Inglaterra (870-901). Durante seu reinado, a Lei Danesa foi estabelecida sob o Tratado de Wedmore
(878). O tratado continha somente duas estipulações para os novos súditos: batismo cristão e
fidelidade ao rei. Juntamente com sua tradução da História eclesiástica de Beda do latim para o
anglo-saxão, ele também traduziu os Dez mandamentos, excertos do Êxodo, 21-23, de Atos, 15.23-
29, e uma forma negativa da Regra áurea. Foi durante o seu reinado que a Inglaterra experimentou
um reavivamento do cristianismo.
Aldred (950). Outro elemento foi introduzido na história da Bíblia inglesa quando Aldred
escreveu um comentário nortumbriano entre as linhas de uma cópia dos evangelhos escrita no latim
do final do século VII. É da cópia latina de Eadfrid, bispo de Lindisfarne (698-721), que a obra de
Aldred recebe seu nome, os Evangelhos de Lindisfarne. Aelfric (1000). Aelfric foi bispo de
Eynsham, em Oxfordshire, Wessex, quando traduziu partes dos sete primeiros livros do Antigo
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Testamento. Essa tradução e outras partes do Antigo Testamento que ele traduziu e citou em suas
homilias basearam-se no texto latino. Mesmo antes da época de Aelfric, os Evangelhos de Wessex
foram traduzidos para o mesmo dialeto. Esses elementos constituem a primeira tradução existente
dos evangelhos para o antigo inglês.
14.1.2.3. As reduções parciais para o médio inglês (1100-1400)
Segundo Norman Geisler (1997, p. 221), “a conquista normanda (1066) deu-se graças à
disputa em torno do trono de Eduardo, o Confessor. Com ela, o período do domínio saxônico na
Inglaterra chegou ao fim, e um período de influência normando-francesa se fez sentir sobre a língua
dos povos conquistados. Durante esse período de domínio normando foram feitas outras tentativas
de traduzir a Bíblia para o inglês”.
Orm ou Ormin (1200). Orm foi um monge agostiniano que escreveu uma paráfrase poética
dos evangelhos e de Atos acompanhada de comentário. Essa obra, o Ormulum, é preservada em um
único manuscrito de 20.000 palavras. Embora o vocabulário seja puramente teutônico, a cadência e
a sintaxe mostram a influência normanda.
Guilherme de Shoreham (1320). Shoreham freqüentemente recebe o crédito de ter produzido
a primeira tradução em prosa de uma parte da Bíblia para um dialeto sulista do inglês, embora
exista alguma dúvida quanto a ele ter sido realmente o tradutor dessa obra de 1320.
Ricardo Rolle (1320-1340). Rolle é conhecido como o "Eremita de Hampole". Foi
responsável pela segunda tradução literal das Escrituras para o inglês. Vivendo perto de Doncaster,
em Yorkshire, fez sua tradução da Vulgata latina para o dialeto inglês do norte. Sua tradução do
Saltério foi amplamente divulgada e reflete o desenvolvimento da tradução da Bíblia inglesa até a
época de John Wycliffe.
14.1.2.4 As Traduções Completas para o Médio Inglês e para o Inglês Moderno em Fase
Inicial
Embora não houvesse nenhuma Bíblia completa em inglês antes do século XIV, diversos
indícios apontavam para o aparecimento iminente de uma. A ampla circulação do Saltério literal de
Rolle na exata época em que a corte papal passava por lutas se associou ao chamado cativeiro
babilônico (1309-1377). Esse acontecimento e suas conseqüências formaram o pano de fundo para a
obra de outros tradutores bíblicos.
A Bíblia de Wycliffe. João Wycliffe (c. 1329-1384) - O mais eminente teólogo oxfordiano
de seus dias - e seus associados foram os primeiros a traduzir a Bíblia inteira do latim para o inglês.
Segundo Philip W. Confort (1998, p. 363), “Wycliffe foi chamado de a Estrela da Manhã da
Reforma", porque audaciosamente questionou a autoridade papal, criticou a venda de indulgências,
negou a realidade da transubstanciação (doutrina que diz que a substância do pão e do vinho é
mudada em corpo e sangue de Jesus Cristo durante a missa) e falou abertamente contra as
hierarquias eclesiásticas. O papa condenou Wycliffe por seus ensinamentos "heréticos" e pediu que
a Universidade de Oxford o demitisse. Mas Oxford e muitos líderes governistas permaneceram ao
lado de Wycliffe, de modo que conseguiu sobreviver aos ataques do papa.
Wycliffe acreditava que o caminho para prevalecer em sua luta contra a autoridade abusiva
da Igreja Católica era tornar a Bíblia acessível às pessoas em sua própria língua. Desse modo,
poderiam ler por si mesmas acerca da forma como cada uma poderia ter um relacionamento pessoal
com Deus através de Jesus Cristo - independente de qualquer autoridade eclesiástica. Wycliffe, com
seus associados, completaram o Novo Testamento por volta de 1380 e o Antigo Testamento em
1382. Enquanto Wycliffe concentrava seus esforços no Novo Testamento, um de seus associados,
Nicolau de Hereford, fazia uma parte importante do Antigo Testamento. Wycliffe e seus
companheiros, desconhecedores do hebraico e do grego originais, traduziram o texto do latim para o
inglês. Depois de Wycliffe ter terminado seu trabalho de tradução, organizou um grupo de
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paroquianos pobres, conhecido como lolardos, para irem por toda a Inglaterra pregando as verdades
cristãs e lendo as Escrituras na língua materna a todos os que ouvissem a Palavra de Deus. O
resultado desse empreendimento foi que a Palavra de Deus, através da tradução de Wycliffe,
tornou-se acessível a muitos ingleses.
Um dos associados mais chegados de Wycliffe, João Purvey (c. 1353-1428), continuou a
obra de Wycliffe, lançando, em 1388, uma revisão de sua tradução. Purvey era um excelente
erudito. Seu trabalho foi muito bem recebido por sua geração e pelas que se seguiram. Menos de um
século depois, a edição revista de Purvey havia substituído a Bíblia inicial de Wycliffe.
William Tyndale (1492-1536). Após tentativas deploráveis de fazer sua tradução na
Inglaterra, William Tyndale embarcou para o Continente em 1524. Após outras dificuldades,
finalmente imprimiu o Novo Testamento em Colônia, no fim de fevereiro de 1526. Seguiu-se uma
tradução do Pentateuco, em Marburgo (1530), e de Jonas, na Antuérpia (1531). Conforme Norman
Geisler (1997, p. 224) “as influências de Wycliffe e de Lutero eram evidentes no trabalho de
Tyndale e o mantiveram sob constantes ameaças. Além disso, essas ameaças eram tantas, que as
traduções de Tyndale tiveram de ser contrabandeadas para a Inglaterra. Tendo chegado lá,
exemplares foram comprados por Cuthbert Tunstall, bispo de Londres, que as fez queimar
publicamente em St. Paul's Cross”. Conforme Norman Geisler (1997, p. 224) “em 1534, Tyndale
publicou sua revisão do Gênesis e começou a trabalhar numa revisão do Novo Testamento. Pouco
depois de completar essa revisão, foi seqüestrado na Antuérpia e levado à fortaleza de Vilvorde, em
Flandres. Ali continuou a traduzir o Antigo Testamento”.
A Bíblia de Coverdale. Miles Coverdale era graduado de Cambridge e, como Tyndale, havia
sido forçado a fugir da Inglaterra, porque fora grandemente influenciado por Lutero, à medida que
audaciosamente pregava contra a doutrina católica. Enquanto estava no exterior, Coverdale
encontrou-se com Tyndale e então passou a servi-lo de assistente - sobretudo ajudando-o na
tradução do Pentateuco. Pela época em que Coverdale publicava uma tradução completa (1537), o
rei da Inglaterra, Henrique VIII, rompia todas as relações com o papa e estava pronto para aceitar a
publicação de uma Bíblia em Inglês.
A Bíblia de Rogers e a Bíblia Grande (1537). No mesmo ano em que a Bíblia de Coverdale
foi endossada pelo rei (1537), outra Bíblia foi publicada na Inglaterra. Tra-tava-se do trabalho de
alguém chamado Thomas Matthew, pseudônimo de João Rogers (c. 1500-1555), amigo de Tyndale.
Obviamente, Rogers usou a tradução inédita dos livros históricos do Antigo Testamento feita por
Tyndale, outras porções traduzidas por Tyndale e ainda outras porções da tradução de Coverdale
para formar uma Bíblia inteira. Esta Bíblia também recebeu a aprovação do rei. A Bíblia de Rogers
foi revisada em 1538 e impressa para distribuição nas igrejas de toda a Inglaterra. Conhecida como
a Bíblia Grande por causa do seu tamanho e preço elevado, tomou-se a primeira Bíblia em inglês
autorizada para uso público.
A Bíblia de Genebra (1524-1579). Os ingleses exilados em Genebra, Suíça, escolheram
William Whittingham (1524-1579) para lhes fazer uma tradução em inglês do Novo Testamento.
Whittingham usou a tradução latina de Teodoro Beza e consultou o texto grego. Essa Bíblia tornou-
se muito popular, porque era pequena e de preço moderado. O prefácio e suas muitas anotações
estavam impregnadas por forte influência evangélica, bem como pelos ensinamentos de João
Calvino. Calvino foi um dos maiores pensadores da Reforma, renomado comentarista bíblico e o
principal líder em Genebra durante essa época.
A Bíblia do rei Tiago – A King James Version (1611). Em janeiro de 1604, Tiago I foi
convocado a comparecer à Conferência de Hampton Court. Na ocasião John Reynolds, presidente
puritano da Faculdade Corpus Christi, em Oxford, levantou a questão de ser feita uma versão
autorizada da Bíblia para todos os partidos dentro da igreja. Foi nomeada uma junta. Seis grupos de
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tradutores foram escolhidos: dois em Cambridge para revisar de 1Crônicas a Eclesiastes e os livros
apócrifos; dois em Oxford para revisar de Isaías a Malaquias, os evangelhos, Atos e o Apocalipse;
dois em Westminster para revisar de Gênesis a 2Reis e de Romanos a Judas. Apenas 47 dos 54
homens escolhidos trabalharam de fato nessa revisão da Bíblia dos bispos.
As notas marginais acompanharam a nova revisão, e a chamada Versão autorizada nunca
chegou a ser de fato autorizada, nem ser de fato uma versão. Ela substituiu a Bíblia dos bispos nas
igrejas porque nenhuma edição dessa Bíblia foi publicada depois de 1606. Três edições da nova
tradução apareceram em 1611. Outras edições foram publicadas em 1612. Durante o reinado de
Carlos I (1625-1649), o Parlamento Lon-go estabeleceu uma comissão para deliberar sobre a
revisão da chamada Versão autorizada ou produzir uma tradução totalmente nova. Somente revisões
insignificantes resultaram em 1629, 1638, 1653, 1701, 1762, 1769 e duas edições posteriores. Essas
três últimas revisões foram feitas pelo Dr. Blayney de Oxford. Elas variaram em cerca de 75 mil
pormenores do texto da edição de 1611. Pequenas mudanças continuaram a surgir no texto até datas
recentes como 1967 no texto da Versão autorizada que acompanha a New Scofield reference edition
[Nova edição de referência de Scofield]. Entrementes, foram feitas tentativas de trazer amplas
alterações e correções às traduções inglesas da Bíblia em virtude de novas descobertas textuais e
por conta da natureza mutável da própria língua (GEISLER, 1997, p. 231).
15 - TRADUÇÕES E VERSÕES CASTELHANAS E PORTUGUESAS
15.1 Traduções Castelhanas
A primeira tradução que se fez em castelhano foi o Novo Testamento surgido em 1543. Foi
obra do jovem reformador Francisco de Enzinas. Filho de pais nobres e ricos foi enviado a estudar
nos Países Baixos, onde recebeu decisiva influência dos reformadores. Dirigiu-se posteriormente à
Alemanha para conhecer Melanchton, em cuja casa se hospedou. Estudando na Universidade de
Wittenberg e encorajado por Melanchton dedicou-se à sublime tarefa de traduzir o Novo
Testamento do original grego para a sua língua nativa.
A segunda tradução para o espanhol é a conhecida "Bíblia de Ferrara" que em realidade não
contém senão o Antigo Testamento. Esta versão foi obra de certos eruditos judeus, que por questões
religiosas foram banidas da Península Ibérica. Radicaram-se na Itália, onde havia maior liberdade
em questões religiosas. Reunidos em Ferrara quatro bons conhecedores do hebraico e do espanhol,
com manuscritos originais a sua disposição não lhes foi muito difícil concluir a tarefa a que se
propuseram.
A primeira tradução completa da Bíblia para a língua castelhana foi obra de Casiodoro de
Reina, que nascera ao sul da Espanha em 1520.
Após ter estudado para sacerdote, tornou-se pregador evangélico, razão porque teve de fugir
da Espanha. Trabalhou 12 anos nesta tradução, que foi publicada em Basiléia no ano de 1569.
Baseou seu trabalho em manuscritos originais, mas teve auxílio de traduções anteriores, como a
grande versão de Ferrara (1533).
15.2 Traduções Portuguesas
Neste capítulo apresentaremos um breve histórico da tradução da Bíblia em português, tanto
em Portugal quanto no Brasil.
15.2.1 Período das Traduções Parciais
D. Diniz (1279-1325) foi a primeira pessoa a traduzir para a língua portuguesa o texto
bíblico. Grande conhecedor do latim clássico, e leitor da Vulgata, D. Diniz resolveu enriquecer o
português traduzindo as Sagradas Escrituras para o nosso idioma, tomando como base a Vulgata
Latina. Embora lhe faltasse perseverança e só conseguisse traduzir os vinte primeiros capítulos do
livro de Gênesis, esse seu esforço o colocou em uma posição historicamente anterior a alguns dos
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primeiros tradutores da Bíblia para outros idiomas, como João Wycliff, por exemplo, que só em
1380 traduziu as Escrituras para o inglês.
Fernão Lopes disse em seu curioso estilo de cronista do século XV, que D. João I (1385-
1433), um dos sucessores de D. Diniz no trono português, “fez grandes letrados tirar em linguagem
os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as epístolas de São Paulo, para que aqueles que os
ouvissem fossem mais devotos acerca da lei de
Deus”. (Crônica de D. João I, 2ª. Parte). Esses “grandes letrados” eram vários padres que
também se utilizaram da Vulgata Latina em seu trabalho de tradução.
Enquanto esses padres trabalhavam, D. João I, também conhecedor do latim, traduziu o livro
de Salmos, que foi reunido aos livros do Novo Testamento traduzidos pelos padres. Seu sucessor,
D. João lI, outro grande apoiador das traduções do texto bíblico, mandou gravar no seu cetro a parte
final do versículo 31 de Romanos 8: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”.
Como nessa época a imprensa ainda não havia sido inventada, os livros eram produzidos em
forma manuscrita, fazendo-se uso de folhas de pergaminho. Isso tornava sua circulação
extremamente reduzida. Por ser um trabalho lento e caro, era necessário que ou a Igreja Romana ou
alguém muito rico assumisse os custos do projeto. Ninguém mais indicado para isto do que os
nobres e os reis.
Outras figuras da monarquia de Portugal também realizaram traduções parciais da Bíblia. A
neta do rei D. João I e filha do Infante D. Pedro, a Infanta D. Filipa, traduziu do francês os
Evangelhos. No século XV surgiram publicados em Lisboa o Evangelho de Mateus e porções dos
demais Evangelhos, um trabalho realizado pelo frei Bernardo de Alcobaça, que pertenceu à grande
escola de tradutores portugueses da Real Abadia de Alcobaça. Ele baseou suas traduções na Vulgata
Latina.
A primeira harmonia dos Evangelhos em língua portuguesa, preparada em 1495 pelo
cronista Valentim Fernandes, e intitulada De Vita Christi, teve os seus custos de publicação pagos
pela rainha Dona Leonora, esposa de D. João II. Cinco anos após o descobrimento do Brasil, D.
Lenora mandou também imprimir o livro de Atos dos Apóstolos e as epístolas universais de Tiago,
Pedro, João e Judas, que haviam sido traduzidos do latim vários anos antes por frei Bernardo de
Brinega.
Em 1566 foi publicada em Lisboa uma gramática hebraica para estudantes portugueses. Ela
trazia em português, como texto básico, o livro de Obadias.
15.2.1.1 Outras Traduções
Outras traduções em língua portuguesa, realizadas em Portugal, são dignas de menção: Os
quatro Evangelhos, traduzidos em elegante português pelo padre jesuíta Luiz Brandão. No início do
século XIX, o padre Antônio Ribeiro dos Santos traduziu os Evangelhos de Mateus e Marcos, ainda
hoje inéditos.
É fundamental salientar que todas essas obras sofreram, ao longo dos séculos, implacável
perseguição da Igreja Romana, e de muitas delas só escaparam um ou dois exemplares, hoje
raríssimos. A Igreja Romana também amaldiçoou a todos os que conservassem consigo essas
traduções da Bíblia em idioma vulgar (BÍBLIA THOMPSON, 1992, p. 1379).
15.2.2 Tradução de João Ferreira de Almeida
A Edição Comemorativa do Terceiro Centenário da Tradução da Bíblia em língua
portuguesa apresentou para João Ferreira de Almeida as seguintes informações: "Nascido em Torres
de Tavares, Conselho de Mangualde, Portugal, em 1628, faleceu, João Ferreira de Almeida, em
1691”. Temos aqui 63 anos que se dignificaram na vida do consagrado servo de Deus. É consagrado
no campo da cultura secular, versado na lingüística, incansável na comparação das línguas que
aprendeu e usou, valeu-se de sua língua nativa, a portuguesa, para a expressão geral e ampla de suas
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obras principais, destacando-se, dentre elas, a tradução que fez da Bíblia, dos originais hebraico e
grego para a língua portuguesa.
João Ferreira de Almeida foi quem primeiro traduziu a Bíblia para o nosso vernáculo.
Português ele, de três séculos idos, é certo que ainda falando e escrevendo corretamente, com
segura inteligência das proposições, das frases e das palavras teve linguagem que hoje seria distante
e até, não raro, diferente para as sucessivas edições da Bíblia, segundo ele a traduziu, porque a
evolução semântica da linguagem, por vezes, impõe mudanças de palavras para que se não mude o
sentido das mensagens.
Há 300 anos (1681) João Ferreira de Almeida traduziu o Novo Testamento, em Amsterdã; e
daí avante, sua publicação (Batávia, 1693), novamente em Amsterdã (1712); em Trangambar, 1760;
e outra vez em Batávia, 1773.
Incansável no trabalho traduziu também o Antigo Testamento, mas até o versículo 12 do
capítulo 48 de Ezequiel.
Em 1656, Almeida foi ordenado pastor da Igreja Reformada, mas sempre desejoso de
promover a Reforma em Portugal. De 1656 até 1658 foi missionário no Ceilão, depois na Índia, e
foi o primeiro ordenado a pregar em português. De volta a Batávia, pastoreou a comunidade
portuguesa ali existente.
Faleceu, dissemos, em 1691, todavia João Ferreira de Almeida até hoje influi com as
traduções que deixou da Bíblia. A mais antiga versão usual no Brasil, entre os evangélicos, mereceu
da Sociedade Bíblica do Brasil certa atualização na linguagem, pois distam três séculos a tradução
do Almeida.
Na seção de Livros Raros da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, há um exemplar do
Novo Testamento impresso em Amsterdã (1712).
15.2.2.1 A Tradução de Almeida Revisada
Duas entidades – Comissão Revisora e Comissão Consultiva – foram organizadas entre nós,
sob os auspícios das Sociedades Bíblicas Unidas para se desincumbirem da sagrada
responsabilidade de rever a Tradução de Almeida e atualizar a sua linguagem. Estas duas comissões
em sua reunião inaugural, no dia 14 de abril de 1943, sob a presidência do destacado Pastor César
Dacorso Filho, tratavam das "Razões por que necessitamos de uma revisão das atuais versões da
Bíblia em Português". Os brasileiros contaram com o apoio irrestrito e a sábia experiência dos
Secretários Executivos das Sociedades Bíblicas Unidas nesta primeira reunião, mas posteriormente
o Secretário de Tradução da Sociedade Bíblica Americana, Dr. Eugene A. Nida visitou o nosso país
com a principal finalidade de orientar os trabalhos de tradução e revisão.
Depois de ponderados e minuciosos estudos das três traduções mais divulgadas no Brasil, ou
sejam: Almeida, Figueiredo e da Tradução Brasileira de 1917, a comissão decidiu pela revisão da
tradução Almeida, observando os seguintes tópicos: fidelidade ao texto original; tradução e não
interpretação; clareza, correção e elegância de linguagem; cunho espiritual da linguagem;
aproveitamento de outras versões e acesso às línguas originais.
De acordo com a Sociedade Bíblica do Brasil, o trabalho feito não foi uma nova tradução,
mas uma revisão da tradução de João Ferreira de Almeida. Os textos originais foram Nestle, para o
Novo Testamento e Letteris para o Velho Testamento.
As modificações feitas em Almeida se basearam, especialmente, nestes aspectos:
infidelidade ao original, ou em desacordo com o melhor texto; palavra ou frase antiquada demais;
palavra ou frase que apresentasse alguma impropriedade; construção gramatical inferior.
Nesta revisão, talvez tenha permanecido, no máximo, 30% da linguagem de Almeida, não
sendo de admirar este corte se levarmos em consideração que a linguagem de Almeida, que estava
sendo atualizada, tinha quase 200 anos.
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O renomado vernaculista, Antônio de Campos Gonçalves, secretário e relator da Comissão


nos científica de que a Sociedade Bíblica do Brasil desejou conservar o mais possível a linguagem
de Almeida, mas este objetivo era difícil de ser alcançado, por ser muito antiga a sua linguagem e
por serem diferentes os originais seguidos por Almeida (Textus Receptus) e pela Comissão
Revisora (Letteris e Nestle). Outros aspectos contestados por entendidos na arte de traduzir sobre a
Almeida Atualizada são os termos eruditos e rebuscados, desconhecidos até por pessoas cultas.
Preciosismos literários idênticos aos seguintes deveriam ser evitados: coudelaria (Et 8.10),
excogitar (Sl 64.6), acrisolar (Sl 66.10), espelta (Is 28.25), sachar (Is 5.2), prevaricações (Ez 33.0),
gazofiláceo (Mc 12.41), recalcitrar (At 2614), inculcando-se (Rm 1.22), adágio (2Pe 2.22). Não nos
esqueçamos de que a linguagem é correta e o estilo agradável de se ler.
Como bem destacou o Dr. Bittencourt, no livro O Novo Testamento, páginas 244 e 245:
"Nenhuma tradução é perfeita, nem quanto ao presente, nem futuro. E a última revisão de Almeida
não poderia escapar a este destino.
A crítica aponta-lhe sérios erros de tradução, que seria cansativo enumerar. E, ao comentar o
fato sobre o Antigo Testamento o ilustre professor de línguas da Universidade de São Paulo, disse
que os Salmos, especialmente, poderiam ser bem melhorados, quer quanto à tradução propriamente
dita, quer quanto à métrica.
Embora a espaços largos no correr do tempo, a semântica de alguns vocábulos varia.
Novos vocábulos vão sendo criados e outros abandonados, tornando-se arcaicos.
E para que determinada tradução não envelheça, ela deve ser revista, não só quanto à língua,
mas quanto à tradução propriamente dita, levando-se em conta as descobertas no campo da crítica
textual que sempre trazem novo material para o aperfeiçoamento do texto sagrado nas línguas
originais. E esta revisão, tão recente, já pede outros trabalhos que a tornem bem melhor.
15.2.3 Tradução de Figueiredo
Por um decreto de 1757, no tempo do Papa Bento XIV, a Bíblia era reconhecida como útil
para fortalecer a fé. Esta nova atitude da Igreja Católica Romana deu impulso à tradução da Bíblia
com a Vulgata como base. Entre estes se encontrava o Padre Antônio Pereira de Figueiredo, nascido
perto de Lisboa em 1725. Por ser exímio latinista, e como ele mesmo confessa: "Não sendo eu nem
ainda medianamente instruído nas línguas originais, hebraica e grega, em que foram escritos,
respectivamente, o Velho Testamento e os Evangelhos, mal poderia sair exata e perfeita esta minha
tradução."
A sua tradução se baseou na Vulgata. Por 18 anos ocupou-se deste trabalho, que foi
submetido a duas revisões cuidadosas antes de ser publicado. A primeira edição do Novo
Testamento saiu em 1778 em seis volumes e o Velho Testamento foi publicado em 17 volumes,
seguidamente, desde 1783 a 1790.
A edição de sete volumes completada em 1819 é considerada o padrão das versões de
Figueiredo. A tradução de Figueiredo em um só volume foi publicada pela primeira vez em 1821.
A principal objeção que se faz à Bíblia de Figueiredo é esta: apresenta deficiências que se
verificam numa tradução de tradução.
Dr. Benedito P. Bittencourt apresentou ainda as seguintes falhas nesta tradução:
O uso de algumas palavras em Português demonstra como foi tendenciosa a tradução de
Figueiredo. Em 1 Pedro 5.5 ele traduz: 'apoiando a honra dos padres'. Nas revisões feitas pelas
sociedades Bíblicas esta tradução foi mudada para 'obedecei aos mais velhos' em harmonia com o
original. Em João 11.57 ele traduz 'pontífice' em lugar de 'sumo-sacerdote', bem como na maioria
dos lugares em que o termo aparece na carta aos Hebreus. A palavra padre, no sentido usado pela
Igreja Romana, é usada, como no exemplo dado, para traduzir a palavra grega presbíteros em
muitos lugares, o que não representa o sentido original. Figueiredo foi acusado de tradução
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perifrástica e livre. Em 2Co 4.8b ele traduz: 'Somos cercados de dificuldades insuperáveis e a
nenhuma sucumbimos', que Almeida revista traduz: 'perplexos, porém não desanimados'. Não é
somente tradução perifrástica, mas a segunda parte não guarda o significado original. Ele faz duas
pequenas sentenças coordenadas em vez de adversativas. Não foi influência da Vulgata que ele
tinha diante de si, pois esta traz: aporiamur, sed non destituimur, mas seu próprio modo de traduzir
[...] Dezenas de exemplos se poderiam citar, mas estes poucos dão idéia de como Figueiredo fez sua
tradução: melhor linguagem que a de Almeida, mas pior tradução." (O Novo Testamento. Cânon –
Língua – Texto, p. 220).
A tradução de Figueiredo foi a primeira a verter a expressão "kuriakê hemera" de Ap 1.10
para domingo.
15.2.4 Edição Trinitária de 1883
Tão logo se fundou a Trinitarian Bible Society, em Londres, cuidou de verter o Livro Santo
em vários idiomas, inclusive em português, que saiu a lume em 1883. Esta primeira edição da
Trinitária é muito disputada pelos adventistas da fala portuguesa, ao ponto de se pagarem somas
fabulosas por um exemplar, hoje raríssimo. E por quê? Porque ela registra assim Lc 23.43: 'E Jesus
lhe disse: Na verdade te digo hoje, que estarás comigo no Paraíso'. E Ap 22.14: 'Bem-aventurados
aqueles que guardam os seus Mandamentos, para que tenham acesso à árvore da vida, e para que
entrem na cidade pelas portas'. E assim Jo 3.4: '... pecado é quebrantamento da Lei'. Estes três
textos, assim traduzidos, casam-se maravilhosamente com certos aspectos da doutrina adventista.
Também Is 42.21: '... engrandecerá Ele a Lei, e a fará ilustre'.
Entretanto, tirando esta aparente vantagem para os adventistas, a tradução, nos demais, do
ponto de vista técnico e diante de novas descobertas da Crítica Textual, deixa muito a desejar, não é
recomendável como um todo. A crítica especialmente aponta-lhe sérios deslizes tradutórios no
Velho Testamento, principalmente em alguns Salmos. A parte do Novo Testamento baseou-se no
texto Receptus de 1624, que não é bom, e foi superado pelo trabalho de Tischendorf e
posteriormente por Westcott and Hort, pelos papiros de Beatty, e mais recentemente pelo famoso e
atualíssimo texto de Ebberard Nestle. Ora, os textos gregos modernos estão livres de interrupções e
imperfeições dos textos antigos, pois o trabalho da Crítica Textual consiste em restaurar, tanto
quanto possível o texto original.
O português desta primeira edição da Trinitária é simplesmente horroroso, arcaicíssimo e
deselegante. É freqüente o emprego de termos obsoletos e desusados, como, 'capros' (Lv 16.8),
'hum', 'humo' (em vários passos), 'olíbano' (Is 66.3), 'graça' (Sl 1.4)... e, sobretudo a inadmissível
grafia dos verbos no futuro ('virão', por exemplo).
Cacófatos dos piores encontram-se, por exemplo, em 2Sm 1.3; Gn 25.30; Ez 45.24; 46.11;
Sl 102.6; Is 62.8; 2Co 11.33; Hb 11.27. E um verbo de sentido chulo em Lc 2.6 e 7. A Versão
Trinitária em 1883 jamais é referida pelos eruditos, que a consideram destituída de valor crítico.
15.2.5 Trinitária Revisada
Circula em Portugal, há algum tempo, uma edição revista da Trinitária, com a linguagem
melhorada e atualizada, de acordo com a reforma ortográfica oficializada pela Academia de
Ciências de Lisboa. Mas não melhorou o conteúdo, e foram alteradas certas redações, inclusive de
Lc 23.43, que agora está como as demais versões: "na verdade te digo: hoje estarás comigo no
Paraíso". E ainda conserva boa parte dos cacófatos, e incorreções tradutórias. Os próprios
evangélicos brasileiros não a apreciam.
15.2.6 Traduções parciais da Bíblia no Brasil
Nazaré. Em 1847 publicou-se, em São Luís do Maranhão, O Novo Testamento traduzido por
frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, que se baseou na Vulgata. Este foi, portanto, o primeiro
texto bíblico traduzido no Brasil. Essa tradução tornou-se famosa por trazer em seu prefácio
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pesadas acusações contra as “Bíblias protestantes”, que, segundo os acusadores, estariam


“falsificadas” e falavam “contra Jesus Cristo e contra tudo quanto há de bom”. Em 1879, a
Sociedade de Literatura Religiosa e Moral do Rio de Janeiro publicou a que ficou conhecida como
“A Primeira Edição Brasileira” do Novo Testamento de Almeida. Essa versão foi revista por José
Manoel Garcia, lente (professor de escola superior ou secundária) do Colégio D. Pedro II; pelo
pastor M. P. B. de Carvalhosa, de Campos, RJ, e pelo primeiro agente da Sociedade Bíblica
Americana no Brasil, pastor Alexandre Blackford, ministro do Evangelho no Rio de Janeiro.
“Harpa de Israel” foi o título que o notável hebraísta F. R. dos Santos Saraiva deu à sua
tradução do Livro dos Salmos, publicada em 1898.
Em 1909, o padre Santana publicou sua tradução do Evangelho de Mateus, vertida
diretamente do grego. Três anos depois Basílio Teles publicou a tradução do Livro de Jó, com
sangrias poéticas. Em 1917 foi a vez de J. L. Assunção publicar O Novo Testamento, tradução
baseada na Vulgata Latina.
Traduzido do velho idioma etíope por Esteves Pereira, O Livro de Amós surgiu
isoladamente no Brasil em 1917. Seis anos depois, J. Basílio Pereira publicou a tradução do Novo
Testamento e do Livro dos Salmos, ambos baseados na Vulgata. Por essa época surgiu no Brasil
(infelizmente, sem indicação de data) a Lei de Moisés (O Pentateuco), edição bilíngüe hebraico-
português, preparada pelo rabino Meir Masiah Melamed.
O padre Huberto Rohden foi o primeiro católico a traduzir no Brasil o Novo Testamento
diretamente do grego. Publicada pela instituição católico-romana Cruzada Boa Esperança, em 1930,
essa tradução, por estar baseada em textos considerados inferiores, sofreu severas críticas.
15.2.6.1 Traduções completas
Em 1902, as sociedades bíblicas empenhadas na disseminação da Bíblia no Brasil
patrocinaram nova tradução da Bíblia para o português, baseada em manuscritos melhores que os
utilizados por Almeida. A comissão constituída para tal fim, composta de eruditos nas línguas
originais e no vernáculo, entre eles o gramático Eduardo Carlos Pereira, fez uso de ortografia
correta e vocabulário erudito. Publicado em 1917, esse trabalho ficou conhecido como Tradução
Brasileira. Apesar de ainda hoje apreciadíssima por grande número de leitores, essa Bíblia não
conseguiu se firmar-se no gosto do grande público.
Coube ao padre Matos Soares realizar a tradução mais popular da Bíblia entre os católicos
na atualidade. Publicada em 1930 e baseada na Vulgata, essa tradução possui notas entre parêntesis
defendendo os dogmas da Igreja Romana. Por esse motivo recebeu apoio papal em 1932.
Em 1943, as Sociedades Bíblicas Unidas encomendaram a um grupo de hebraístas,
helenistas e vernaculistas competentes uma revisão da tradução de Almeida. A comissão melhorou
a linguagem, a grafia de nomes próprios e o estilo da Bíblia de Almeida.
Em 1948 organizou-se a Sociedade Bíblica do Brasil, destinada a “Dar a Bíblia à Pátria”.
Esta entidade fez duas revisões no texto de Almeida, uma mais aprofundada, que deu origem à
Edição Revista e Atualizada no Brasil, e uma menos profunda, que conservou o antigo nome
“Corrigida”.
Em 1967, a Imprensa Bíblica Brasileira, criada em 1940, publicou a sua Edição Revisada de
Almeida, separada com os textos em hebraico e grego. Essa edição foi posteriormente reeditada
com ligeiras modificações.
Mais recentemente, a Sociedade Bíblica do Brasil traduziu e publicou a Bíblia na
Linguagem de Hoje (1988). O propósito básico desta tradução tem sido o de apresentar o texto
bíblico numa linguagem comum e corrente.
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Em 1990, a Editora Vida publicou a sua Edição Contemporânea da Bíblia traduzida por
Almeida. Essa edição eliminou arcaísmos e ambigüidades do texto quase tricentenário de Almeida,
e preservou, sempre que possível, as excelências do texto que lhe serviu de base.
Enquanto a edição da Bíblia Thompson estava sendo preparada, uma comissão constituída
de eruditos em grego, hebraico, aramaico e português, coordenada pelo São. Luiz Sayão trabalhava
em uma nova tradução das Escrituras para a língua portuguesa, sob o patrocínio da Sociedade
Bíblica Internacional.
São, também, dignas de referência: A Bíblia traduzida pelos monges de Meredsous (1959);
A Bíblia de Jerusalém, traduzida pela Escola Bíblica de Jerusalém (padres dominicanos), e editada
no Brasil por Edições Paulinas em 1981, com notas, e a Edição Integral da Bíblia, trabalho de
diversos tradutores sob a coordenação de Ludovico Garmus, editado por Editora Vozes e pelo
Círculo do Livro, também com notas.
16 - ERROS NO TEXTO, CRÍTICA TEXTUAL E TEXTO RECEPTUS
16.1 Causas dos Erros na Transmissão do Texto Bíblico
Antes da invenção da imprensa, no século XV, a transmissão de qualquer escrito, apenas
poderia ser feita copiando, pacientemente, à mão, palavra por palavra. Podemos imaginar quantas
probabilidades de erro tal método comporta. Experimente-se pedir a 20 pessoas que copiem
determinado trecho, copiando sucessivamente, cada uma da outra cópia, no final ficaremos
admirados diante do resultado obtido. Nos manuscritos tiravam-se cópias e apesar do estrito
cuidado, as variantes logo apareciam.
16.1.1 Erros Involuntários
16.1.1.1 Erros provenientes de uma visão deficiente
O escriba atingido por astigmatismo achava difícil distinguir as letras gregas que se
pareciam, especialmente se o copista anterior não escreveu com cuidado. Assim num manuscrito
uncial, onde o sigma era feito como sigma lunar, era fácil confundi-lo com o épsilon, o teta e o
ómicron C E Y O. Se dois lâmbdas fossem escritos muito juntos poderiam ser tomados pela letra
Mi, como aconteceu em Romanos 6.5, em muitos manuscritos está A L L A (mas), noutros está
AMA (juntos). Há divergência em alguns manuscritos com a parte final de 1Co 12.13. A maioria
traz: "E a todos nós foi dado beber de um só Espírito"; contudo em alguns aparece: "E a todos nós
foi dado beber de uma bebida". Esta variante surgiu quando alguns copistas leram erradamente IMA
(a contração comum da palavra INEYMA – espírito, como IIOMA (bebida).
16.1.1.2 Erros provenientes de igual terminação
Tecnicamente, este erro chama-se homoioteleuton = final igual de duas linhas. Pelo fato de
duas linhas seguidas terminarem com a mesma palavra ou sílabas, os olhos do copista podiam pular
da primeira para a segunda, omitindo acidentalmente várias palavras. Assim é explicada a curiosa
tradução de João 17.15 no Códice Vaticano, onde não aparecem as palavras aqui colocadas entre
parênteses: "Não peço que os tires do (mundo, mas que os livres do) mal". Algumas vezes, os olhos
do escriba, apanhavam a mesma palavra ou grupo de palavras uma segunda vez e como resultado
copiava duas vezes, o que deveria ter feito apenas uma. Em Atos 19.34 a expressão: Grande é a
Diana dos efésios, aparece duas vezes do Códice Vaticano. Chama-se ditografia a repetição daquilo
que ocorre apenas uma vez e haplografia a falta da repetição de uma letra ou palavra.
16.1.1.3 Erros provenientes de audição deficiente
Era comum ditarem ao copista e ele escrever uma outra palavra parecida, como as nossas
imersão e emersão, despercebido e desapercebido, comprimento e cumprimento. Outro problema
com o ditado encontrava-se nas homônimas não homógrafas, como ilustram as palavras
portuguesas: sinto e cinto, incipiente e insipiente, cocho e coxo. A confusão entre épsilon e eta,
ômega e ómicron era muito comum em ditados. Um problema desta natureza está em Romanos 5.1,
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onde a variante tenhamos se alterna com temos, em grego ecwnen e econen. Dr. Benedito de Paula
Bittencourt, em seu trabalho pioneiro de Crítica Textual em Língua Portuguesa fez a análise crítica
deste versículo e a quem pedimos vênia para citar algumas de suas conclusões.
Crítica externa – Quantitativamente e qualitativamente as evidências externas parecem
favorecer o subjuntivo. No entanto, descoberta recente, a do fragmento do MS 0220, vem suprir o
que falta a P. 46, que começa em 5.17. Este manuscrito, cuja leitura é dificultada pelo estado em
que se encontra, parece indicar que o verbo está escrito com ómicron e não com ômega, sendo, no
caso, um indicativo e não subjuntivo, como indicam os escribas primários do Sinaítico e Vaticano.
Crítica interna – Se a Teologia de Romanos e dos escritos paulinos como um todo for examinada,
poderá o crítico chegar a uma conclusão final, na qual os elementos já compulsados das evidências
externas darão sua colaboração conclusiva. O indicativo dá idéia de algo ativo no presente,
enquanto o subjuntivo é modo exortativo e que traz em si a idéia de ação almejada no tempo futuro.
Há no subjuntivo também a idéia de ordem, imperativa. O subjuntivo coloca o Apóstolo exortando
o homem justificado pela fé em Cristo a alcançar por seus esforços sua paz com Deus. Mas, isto é
contra o pensamento paulino. Para Paulo não há necessidade de esforços humanos para alcançar paz
com Deus, pois o homem é incapaz de realizar sua própria salvação e mesmo manter sua paz.
Cristo, e somente Cristo, é seu Salvador e só Ele é capaz de reconciliar o homem com seu Deus e
lhe dar paz. Esta é a idéia do indicativo (O Novo Testamento, p. 199-200).
No grego Coinê os ditongos oi, ui, e as simples vogais h, i, u não apresentavam diferença de
pronúncia soando todos como o nosso "i" resultando daí trocas entre hmeiv = nós e umeiv = vós;
eieroiv = outros e eiairoiv = companheiros (Mt 11.16). Em Hebreus 4.11 o escriba do Códice
Claromontano escreveu aletheias = verdade, por apeitheias (desobediência) com resultados
desastrosos para o sentido. A declaração de Paulo de 1Co 15.54: "tragada foi a morte na vitória
(nicós em Grego)" está no papiro 46 e Códice B: "tragada foi a morte no conflito (neicós)".
16.1.1.4 Erros de Memória
Estes erros surgiram porque a memória falhava enquanto o copista olhava para o manuscrito
e procurava escrever o que lá se encontrava. Este tipo de erro explica a origem de um grande
número de mudanças, especialmente nos evangelhos sinóticos, envolvendo a substituição de
sinônimos, variação na ordem das palavras, troca de palavras por influência de outra passagem
paralela, talvez conhecida do escriba. A substituição de sinônimos aparece em exemplos como:
eipen por efe, ec por apó, etc. Um exemplo de troca de palavras temos em Mt 19.16-17, onde alguns
copistas alteraram o relato para que este concordasse com Mc 10.17 e Lc 18.18. À declaração de Cl
1.14 copistas acrescentaram em alguns manuscritos, "através do seu sangue", por influência da
passagem paralela de Ef 1.7.
16.1.1.5 Erros de Julgamento
Encontramos alguns erros que apenas podem ser explicados por culpa de copistas pouco
inteligentes ou descuidados. Palavras ou notas explicativas, encontradas na margem, eram muitas
vezes, incorporadas ao texto do Novo Testamento. Ao copista encontrar na margem, notas
explicativas como sinônimos de palavras difíceis, correções, comentários pessoais, ficava perplexo
sem saber o que fazer com elas. Alguns resolveram o problema da seguinte maneira – colocaram a
nota no texto que estavam copiando. Há manuscritos que trazem acrescentadas a Rm 8.1 as
seguintes palavras: "que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito". Esta era uma nota
explicativa na margem do primeiro versículo, talvez tirada do verso quatro.
Somente descuido em alto grau pode justificar alguns absurdos perpetrados por escribas
pouco perspicazes. Talvez um dos piores desatinos cometidos por um escriba se encontra no
manuscrito 109 do século XIV. Este manuscrito, dos quatro evangelhos, agora no Museu Britânico,
foi transcrito de uma cópia que deve ter tido a genealogia de Jesus era duas colunas de 28 linhas
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cada uma. Em vez de transcrever o texto seguindo as colunas em sucessão, o escriba do 109 copiou
a genealogia seguindo as linhas através das duas colunas, surgindo como era de se esperar um
resultado desastroso. Quase todos os filhos estão com os pais trocados; Deus é dado como filho de
Adão e Fares é a fonte de toda a raça e não Deus.
16.1.2 Erros Intencionais
Por estranho que pareça, os escribas que pensavam, eram mais perigosos do que aqueles que
se limitavam a copiar o que tinham diante de si. Muitas das alterações, que podem ser classificadas
como intencionais foram, sem dúvida, introduzidas de boa fé por copistas que criam estar
corrigindo erros ou infelicidades de linguagem, que se haviam introduzido no texto sagrado e
precisavam ser retificados. A despeito da vigilância de eclesiásticos zelosos, alguns escribas,
chocados com erros reais ou imaginários, de ortografia, gramática e fatos históricos,
deliberadamente, introduziram mudanças no que estavam copiando.
16.1.2.1 Correções na Ortografia, Gramática e Estilo
O livro de Apocalipse, com seus freqüentes semitismos e solecismos, apresentava muitas
tentações aos escribas zelosos da correção gramatical.
Para melhorar a sintaxe do nominativo depois da proposição apó (Ap 1.4), eles inseriram
tou, Qeou ou Kurivon. O escriba culto era tentado a melhorar a linguagem.
16.1.2.2 Correções Harmonizadoras
Intencionalmente ou não, procurando harmonizar passagens paralelas ou relatos idênticos,
os copistas alteravam algumas passagens bíblicas.
Os exemplos são muitos, mas aqui serão apresentados somente dois: Em João 19.20
encontra-se a expressão – Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus, estava escrito em hebraico, latim e
grego. Em muitos manuscritos, os copistas acrescentaram no texto de Lucas 23.38, isto foi escrito
em hebraico, latim e grego; a forma mais curta da Oração do Senhor em Lc 11.2-4 foi alterada, em
muitas cópias, para concordar com a forma mais familiar e mais longa encontrada em Mateus 6.9-
13.
16.1.2.3 Acréscimo de Complementos Naturais e Semelhantes
A obra dos copistas na amplificação e arremate das frases é evidente em muitas passagens.
Vários escribas, supondo que algo estava faltando na declaração de Mt 9:13 "Pois não vim
chamar os justos, mas os pecadores" acrescentavam "ao arrependimento". Outros copistas achavam
difícil deixar a palavra escriba, sem acrescentar fariseu, como aconteceu em Mt 27.41. Em Cl 1.23
há um interessante exemplo ilustrando como os copistas não resistiram à tentação de realçar a
dignidade do Apóstolo Paulo. Neste verso Paulo diz que ele se tornou ministro do Evangelho, em
grego está "diácono". Sendo que a palavra grega "diácono" significa, literalmente, aquele que serve
ministro, passou a designar uma ordem inferior do ministério, isto é, aqueles que executam
trabalhos mais simples na Igreja; os copistas dos manuscritos alefe a e P mudaram diáconos para
querix e apóstolos, por acharem que estes títulos eram mais apropriados ao grande Apóstolo dos
Gentios. O manuscrito A traz os três títulos para Paulo – arauto, apóstolo e ministro.
16.1.2.4 Esclarecimento de Dificuldades Históricas e Geográficas
A citação de Mc 1.2 é introduzida pela fórmula "Como está escrito no profeta Isaías".
Acontece que a citação é proveniente dos profetas Isaías e Malaquias: Isaías 40.3 e Malaquias 3.1.
Alguns escribas sentindo esta dificuldade substituíram a expressão "no profeta Isaías" por "nos
profetas". Sendo que Mateus 27.9 atribui ao profeta Jeremias o que na realidade veio de Zacarias
11.12; não é de admirar que alguns copistas procurassem corrigir o erro, substituindo o nome, ou
omitindo-o. Alguns copistas tentaram harmonizar o relato da cronologia da paixão com a de
Marcos, pela mudança da "hora sexta" de João 19.14 para "terceira hora", que aparece em Marcos
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15.25. Porque a declaração de Marcos 8.31 - "depois de três dias ressuscitará", parece envolver um
problema cronológico, alguns copistas a alteraram para "ao terceiro dia".
16.1.2.5 Duplicidade de Textos
O que faria um escriba cuidadoso quando descobria que a mesma passagem fora dada
diferentemente em dois ou mais manuscritos que tinha diante de si? Em vez de fazer uma escolha
entre as duas variantes (com a probabilidade de omitir a genuína) muitos incorporaram as duas na
mesma cópia que estavam transcrevendo. Isto produziu a chamada duplicidade de textos ou de
leituras, característica predominante da família bizantina. Os dois exemplos seguintes confirmam
este fato: A declaração de Lucas de que os discípulos estavam continuamente no templo bendizendo
a Deus, aparece em alguns manuscritos, "estavam continuamente no templo orando a Deus". Não
poucos copistas concluíram que era mais seguro transcrever as duas declarações, aparecendo assim:
"estavam continuamente no templo orando e bendizendo a Deus". Atos 20.28 aparece em alguns
manuscritos como: "Igreja de Deus", e em outros: "Igreja do Senhor". Vários manuscritos
posteriores trazem "Igreja do Senhor e Deus".
16.1.2.6 Alterações Feitas por Questões Doutrinárias
Estas alterações são difíceis de serem avaliadas.
Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Eusébio e muitos outros Pais da Igreja acusaram
os heréticos de corromperem as Escrituras para apoiarem suas opiniões pessoais. Por exemplo,
Márcion tirou do Evangelho de Lucas todas as referências judaicas relacionadas com Jesus. A
Harmonia dos Evangelhos de Taciano traz várias alterações textuais para apoiar suas opiniões
ascéticas. Os manuscritos do Novo Testamento preservam traços de duas espécies de alterações
dogmáticas: as que envolvem eliminação ou alteração do que era considerado doutrinariamente
inaceitável ou inconveniente e as que introduziram dentro das Escrituras "provas" para uma prática
ou um dogma teológico. Os exemplos são muitos, como podem ser vistos em The Text of the New
Testament, página 202 e 203, mas destes apenas um será transcrito: Escribas que não podiam
harmonizar a declaração de Jesus de Mt 24.36 e Mc 13.32 "que Ele não sabia o dia da sua vinda",
com a sua divindade, omitiam a expressão: "nem o Filho".
16.1.2.7 Acréscimo de Pormenores:
Acréscimos feitos na margem ou em notas no rodapé, uma vez ou outra eram introduzidos
para o texto. Sempre houve e ainda há grande curiosidade em saber o nome de alguns personagens
que aparecem anonimamente no texto bíblico. Como a tradição dava nomes a estas pessoas,
copistas eram tentados a colocá-los no texto que estavam copiando. Velhos Manuscritos latinos
apresentam os seguintes nomes para os dois ladrões crucificados com Cristo: Zoatan, Camma,
Magatras. Entre nós é comum ouvirmos que o nome do bom ladrão era Dimas. O nome do homem
rico de Lucas 16.19 aparece na versão saídica como Níneve ou Ninivita, nome comum para ricos
dissolutos naquele tempo. Uma adição apócrifa num antigo manuscrito latino declara que quando
Jesus foi batizado uma tremenda luz brilhou da água atemorizando a todos os que estavam
presentes. Os títulos dos livros apresentam curiosidades dos amanuenses. O mais original neste
aspecto é o título que o copista do manuscrito 1775 deu ao Apocalipse: "Apocalipse do todo
glorioso evangelista, amigo do peito de (Jesus), virgem, amado de Cristo, João – o teólogo, filho de
Salomé e Zebedeu, mas filho adotivo de Maria, a mãe de Deus, e filho do trovão".
Conclusões
Todos os estudiosos dos problemas dos copistas estão bem cientes de que o estudo
comparativo de vários textos é de grande ajuda para a eliminação destes erros. Estes erros têm sido
denominados de periféricos, porque não abrangem a essência dos ensinamentos divinos. Quem sabe
pessoas iniciantes ou despreparadas em "Crítica Textual" pensem da seguinte maneira: este estudo
não deveria ser apresentado, porque pode levar pessoas a descrerem da Palavra de Deus e a
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concluírem que os escribas eram descuidados, caprichosos e tendenciosos. Verdades e realidades


não podem e não devem ser escondidas.
Todos devem ter em mente esta verdade fundamental: o que foi apresentado neste capítulo
aconteceu com alguns manuscritos e com poucos copistas, o que vem mostrar a fragilidade da
natureza humana. Existem muitas evidências mostrando o trabalho dedicado, cuidadoso, honesto e
fidelíssimo da maioria dos copistas, bem como abundante conquista de manuscritos não alterados,
que nos levam a crer firmemente na fidelidade da transmissão das Santas Escrituras. A Crítica
Textual não abate os fundamentos da nossa crença, antes os solidifica.
16.2 A Crítica Textual e a Bíblia
A palavra crítica origina-se do verbo grego "krino" que significa julgar. A crítica textual tem
como primeiro objetivo conhecer a exatidão de um texto. Muitos dignos cristãos, bem
intencionados, mas mal esclarecidos têm protestado energicamente contra qualquer aplicação da
crítica textual à Bíblia. Para eles é simplesmente absurda a idéia de aplicar a crítica em relação à
Bíblia. Perguntam eles: Como submeter a Palavra de Deus, obra do Espírito Santo, aos critérios
humanos? Esta simples frase resolveria todos os problemas: O texto original (ou melhor, o
autógrafo) da Bíblia é totalmente isento de erros, mas não as cópias feitas por copistas passíveis às
falhas humanas. Até à invenção da imprensa, no século XV, os manuscritos eram produzidos por
copistas, que freqüentemente cometiam erros de transcrição. Quando sabemos que os manuscritos
eram recopiados uns dos outros, sem ser possível a conferência com o texto original é fácil concluir,
que os erros tendiam a multiplicar-se nas cópias posteriores.
A finalidade essencial da crítica textual é restabelecer em toda a sua pureza o texto como
saiu das mãos do autor, isentando de erros dos copistas, tais como adições indevidas, notas
marginais que foram inseridas no texto ou correções tendenciosas visando atenuar, ou torcer o
sentido de uma frase, modificar o estilo, transformar o pensamento de um escritor. Os que atacam a
crítica textual demonstram o seu despreparo nesta ciência. Para que o trabalho da crítica textual seja
efetivo é necessário em primeiro lugar possuir razoável conhecimento das línguas bíblicas;
seguindo-se um inventário tão completo quanto possível dos manuscritos, como a sua classificação
em famílias; a coerente aplicação dos métodos da crítica textual, até chegar às causas primordiais
dos erros na transmissão do texto bíblico.
Entende-se por crítica textual toda pesquisa científica em busca da verdadeira forma de um
documento escrito no original, ou, pelo menos, no texto mais próximo do original. No que diz
respeito aos autores dos últimos quatro séculos, depois da genial invenção de Gutenberg, podemos
estar certos de possuirmos suas obras exatamente como foram escritas, salvo raras exceções,
particularmente quanto a erros tipográficos de menor importância. Já não se pode dizer o mesmo a
respeito das obras que circularam em manuscrito, antes da invenção da imprensa. Não é de admirar
que os escritos copiados múltiplas vezes, umas cuidadosamente, mas outras sem maiores cuidados,
e isto durante séculos, sofressem múltiplas e variadas alterações. Isto constitui, nos diferentes
documentos conhecidos da mesma obra, o que se chama de variantes ou textos divergentes. E a
crítica textual, particularmente a do Novo Testamento, tem por objetivo a escolha do texto, entre
todos os encontrados nos vários manuscritos, que possua a maior soma de probabilidades de ser o
original ou a forma primitiva do autógrafo, já que não possuímos nenhum dos autógrafos do Novo
Testamento, mas apenas cópias e algumas delas distantes mais de dois séculos do original. Esta
busca científica dos originais ou dos textos que lhes sejam mais próximos é de extrema dificuldade,
cheia de problemas de vasta complexidade. A regra geral nos leva a concluir que, quanto mais
distante dos autógrafos, tanto quanto ao tempo como quanto ao número de cópias, maior a
corrupção do texto, maior a soma de erros. No entanto, esta regra não é absoluta. Há obras, e o
Novo Testamento é deste tipo, onde a matéria em si leva o copista a correções intencionais, e a
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corrupção, neste caso, não estaria em função da distância que separa a cópia de seu original, nem
quanto ao número de cópias, nem mesmo quanto ao tempo, mas em função direta e inequívoca a
matéria a ser copiada. Entretanto, o maior número de cópias torna os serviços do crítico mais
suaves, pois o pequeno número de manuscritos conduz à probabilidade de perda, alguns lugares, da
verdade original, que só pode ser alcançada mediante conjetura, processo deveras precário. Dr.
Benedito P. Bittencourt, já várias vezes citado, inquestionavelmente, uma das maiores autoridades
em crítica textual no Brasil, assim escreveu no capítulo “A Tarefa da Crítica Textual”.
O Novo Testamento leva, quanto ao tempo que separa os mais antigos manuscritos de seus
originais, grande vantagem sobre os clássicos. Possui o Novo Testamento cópias completas dentro
do quarto século. Há partes, como as do Papiro Chester Beatty, por exemplo, que se situam na
primeira metade do século terceiro e até mesmo no último quartel do segundo, como o caso do
Papiro de Bodmer. Há mesmo um fragmento bem perto de seu autógrafo: é o fragmento de papiro
P52, situado na primeira metade do século segundo, e mesmo no seu primeiro quartel por alguns
paleógrafos, distando, assim, menos de cinqüenta anos de seu original, se colocarmos o Evangelho
de João, que P52 representa, na última década do primeiro século. A tarefa do crítico é reagir contra
os erros dos copistas. Ninguém deve recear a tarefa, nem mesmo menosprezá-la, quando se pode
afirmar, com os entendidos do assunto, que não só os grandes manuscritos, mas também os mais
antigos papiros atestam a integridade geral do texto sagrado. E, todavia, a incontestável autoridade
da Lagrange diz que entre esta pureza substancial e um texto absolutamente igual aos originais há
distância apreciável. Se nos lembrarmos de que os manuscritos e citações diferem entre si entre
150.000 e 250.000 vezes e que um estudo só do Evangelho de Lucas revelou mais de 30.000
passagens diferentes e que, como afirma a autoridade de M. M. Parvis, "não há uma só sentença do
Novo Testamento na qual a tradição seja uniforme", sentiremos a grandeza e a responsabilidade da
tarefa. Há uma afirmação do mesmo prof. Parvis, da Universidade de Chicago, que surge aos olhos
do leigo como um choque' tremendo e que só pode ser avaliada pelos estudiosos da matéria, que o
presente Autor não pode deixar de transcrever: "Até que esta tarefa esteja completa, a incerteza a
respeito do texto do Novo Testamento permanece". Note-se, todavia, que a elevada cifra de
variantes, em sua maioria esmagadora, diz respeito a questões que não afetam o sentido profundo
do texto e que o número de variantes que se revestem de importância, especialmente no que diz
respeito à doutrina, é assaz reduzido. A tarefa da crítica textual do Novo Testamento é, diz Kenyon,
"o mais importante ramo da ciência". Ela trata com um livro cuja importância é imensurável e vital,
mais importante que qualquer outro livro do mundo, pois o Novo Testamento é único, nem mesmo
comparação pode sofrer. É tarefa básica, pois dela dependem as outras ciências bíblicas. A crítica
textual lança os fundamentos sobre o qual a estrutura da investigação espiritual deve ser construída.
Sem um bom texto grego, tão mais próximo dos autógrafos quanto lhe permitam os labores da
crítica textual, não é possível fazer segura exegese, hermenêutica, crítica histórica ou literária, nem
mesmo teologia, para não falarmos em tradução. Embora seja chamada de baixa critica e bem
modestos os seus esforços, é fundamental e indispensável ao estudante do Novo Testamento, desde
o tradutor até o teólogo. O crítico textual tem por função, primeiro, a coleta do material
documentário, que encontra no exame de vários manuscritos, versões e noutro elemento muito
precioso, ainda não mencionado, as citações dos chamados Padres Apostólicos. Depois se entregará
ao exame crítico desse material, pela estima de sua chacota. Para que ele possa realizar bem sua
primeira função é necessário que esteja familiarizado com o material, terreno onde realiza suas
investigações. Deve conhecer não só os vários manuscritos, versões e citações dos antigos escritores
da Igreja Cristã, como também o modo pelo qual foram produzidos, os usos da escrita literária e não
literária do tempo, o material usado, o destino e o objetivo final dessa mesma produção [...] Para
que possa realizar a segunda parte, mais profunda, mais difícil e que requer mente bem educada e
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de grande relevância intelectual, deve conhecer a própria história do texto, os métodos da crítica
textual, teologia do autor cujo livro se examina, a história das doutrinas, a língua original,
particularmente sua gramática, e um conhecimento cultural da época do autor e dos escritos cujas
cópias considera. Por estas ligeiras indicações o leitor pode ver, não só a extensão, mas as
implicações desta ciência. Isto para não falarmos em paleografia, arqueologia, conhecimento dos
clássicos, como quer a escola alemã, pois se pressupõe este trabalho já realizado pelos respectivos
especialistas e colocado ao alcance do crítico textual através da caracterização dos vários
documentos (O Novo Testamento, Cânon – Língua – Texto, pp. 71-75).
16.3 O Textus Receptus - Seus Defensores e Opositores
Recebe o nome de "Textus Receptus" o texto grego que dominou, no campo do estudo do
Novo Testamento por mais de 300 anos. Este texto é também conhecido pelos nomes de Texto
Recebido ou Texto Grego Vulgarizado.
No início do século XVI dois grandes eruditos – o Cardeal Ximenes e Erasmo – lançaram-se
à enorme tarefa de publicar o Novo Testamento em grego, procurando unificar os vários textos
gregos existentes.
Para a boa compreensão da história do "Textus Receptus" é preciso partir do famoso editor
francês Roberto Estéfano (1503-1559), que publicou quatro edições do texto grego. Sua terceira
edição (1549) é o primeiro texto onde aparece um aparato crítico. Foi esta edição que se tornou o
modelo para a King James Version de 1611 e até o século XIX foi o paradigma de todos os textos
gregos publicados. A sua quarta edição (1551) não pode ser esquecida na história do texto bíblico,
porque pela primeira vez aparece a divisão em versos numerados. Embora a expressão "Textus
Receptus" se refira à terceira edição de Estéfano, esta não foi usada por ele. Outro nome
intimamente ligado com o "Textus Receptus" é o de Teodoro Beza (1519-1605) , que entre 1565 e
1604 publicou nove textos bíblicos. O texto de Beza pouco difere da quarta edição de Estéfano. A
importância do seu trabalho consiste no seguinte: suas edições visavam popularizar o "Textus
Receptus". Os tradutores de King James fizeram largo uso das edições de Beza. Em 1624, os irmãos
Elzevirs, impressores alemães, lançaram uma edição do Novo Testamento Grego, em cujo texto
predominava o de Estéfano, mas havia também um pouco do texto de Beza. No prefácio da segunda
edição se encontravam as seguintes palavras: "No texto que é agora recebido por todos, não
apresentamos nada mudado ou alterado." A expressão "Textus Receptus" nasceu desta mesma frase
em latim: "Textum ergo habes, nunc ab omnibus receptum: in quo nihil immutatum aut corruptum
damus." Os autores desta simples frase jamais sonhariam que ela fosse o início de uma grande
contenda na história do texto bíblico.
16.3.1 Edições Posteriores ao "Textus Receptus" – Edições Críticas
O próximo estágio na história da Crítica Textual do Novo Testamento é caracterizado por
constantes esforços para reunir manuscritos gregos, versões e citações patrísticas, que diferissem do
"Textus Receptus". Por quase dois séculos, eruditos atacaram as bibliotecas e museus da Europa e
Oriente Médio, procurando provas para o texto do Novo Testamento. Durante este período,
estudiosos publicaram Novos Testamentos baseados em melhores manuscritos, Brian Walton, que
publicou a grande Bíblia Poliglota (1657) baseada no exame de 16 manuscritos. John Mill, também
de Oxford, trabalhou 30 anos no preparo de sua edição de 1707, baseando-se em manuscritos,
versões e Pais da Igreja. Bentley, empregando em vários lugares pessoas capazes para confrontarem
manuscritos e versões, reuniu material para uma definitiva edição que suplantasse o "Textus
Receptus", mas, infelizmente, por questões alheias à sua vontade, não chegou a completar sua
edição do Novo Testamento.
Entre os colaboradores de Bentley estava J. J. Wettstein de Basiléia, que após quarenta anos
de pesquisas publicou em Amsterdam (1751) uma edição do Novo Testamento. Sua obra tem
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grande valor até hoje, não apenas pelas notas marginais e os seus prolegômenos (prefácio longo a
uma obra científica), mas também pelo aparato crítico, onde pela primeira vez os manuscritos
unciais são indicados pelas letras maiúsculas e os manuscritos minúsculos pelos números arábicos.
Pertencem ainda a esta fase Semler (1725-1791) e Bengel (1687-1752), que individualmente
publicaram uma edição do Novo Testamento Grego. Estes Novos Testamentos estavam baseados
em manuscritos diferentes daqueles que foram usados para o "Textus Receptus". Contudo eles
divergiram daquele texto e os apresentados por eles poucas variantes apresentavam relacionadas
com o texto consagrado.
16.3.2 Declínio do "Textus Receptus"
O primeiro erudito a se opor frontalmente ao "Textus Receptus" foi o alemão Karl
Lachmann (1793-1851). Seu objetivo ao editar o Novo Testamento não era reproduzir o texto
original, pois ele cria ser isso uma tarefa impossível, mas procurar reconstruir o texto corrente no
fim do IV século. Para isso usou manuscritos unciais primitivos, versões latinas, a Vulgata de São
Jerônimo e o testemunho de alguns Pais da Igreja. Após cinco anos de trabalho, publicou em Berlim
(1831) uma edição do texto grego, com uma lista de passagens nas quais diferia do texto dos irmãos
Elzevirs. Por esta divergência foi duramente atacado. No prefácio de sua segunda edição Lachmann
atacou seus críticos por preferirem, cegamente, um texto familiar, mas inferior, a um primitivo
muito mais exato. Seu valor está em chamar a atenção dos estudiosos para a conveniência de
aceitarem um texto superior e não se contentarem com aquele, tradicionalmente conhecido e aceito
por todos.
16.3.3 Constantino Tischendorf
Ninguém conseguiu fazer mais pelo texto bíblico do que este autor. Quando estudava
teologia, seu professor de grego, Winer (autor de uma famosa gramática) despertou nele um desejo
profundo para pesquisar manuscritos antigos, a fim de reconstruir a mais perfeita forma do Novo
Testamento Grego. Com este objetivo em mente, dedicou-se de corpo e alma a esta sublime tarefa,
pois escrevendo à sua noiva ele declarou: "Resolvi dedicar-me a uma tarefa sagrada – a luta para
conseguir a forma original do Novo Testamento”. Sem receio de contestação pode-se afirmar que
ninguém fez mais do que Tischendorf para restaurar o texto original grego. Basta ter em mente que
foi a pessoa que publicou mais manuscritos e produziu mais edições críticas da Bíblia Grega.
Entre 1941 e 1842 ele preparou oito edições do Novo Testamento Grego. A edição mais
importante é a oitava, publicada em dois volumes, acompanhada por um rico Aparato Crítico, no
qual Tischendorf reunia tudo sobre variantes textuais que ele ou seus predecessores tinham achado
em manuscritos, versões e Pais da Igreja. Em virtude do grande esforço despendido, seu estado de
saúde não lhe permitiu continuar o trabalho, por isso sua obra foi completada por seu discípulo –
Gaspar Renê Gregory. O texto de sua oitava edição, de acordo com Nestle difere da sétima em
3.572 lugares. Foi acusado de dar excessivo valor à evidência do Códice Sinaítico, que ele tinha
descoberto entre o lançamento da sétima e da oitava edição. Tischendorf deixou de lado o "Textus
Receptus", não levando também em conta a classificação dos manuscritos em famílias.
16.3.4 Samuel Tregelles
Na Inglaterra, o intelectual mais bem sucedido em afastar-se do "Textus Receptus" foi
Samuel Tregelles. Desde menino, demonstrando grande talento e curiosidade intelectual, já fazia
planos para uma nova edição crítica do Novo Testamento. No intervalo de 1857 e 1872 publicou
um texto grego equipado com o mais completo aparato de variantes das versões que já aparecera.
Dotado de extraordinária força de vontade, Tregelles conseguiu vencer a pobreza, a oposição e a
saúde precária, apresentando notável trabalho no terreno da Crítica Textual. Sua dedicação ao
trabalho era um ato de adoração, pois no prefácio de sua obra declarou "na crença total de que esta
deve ser para o serviço de Deus e para ser útil à Sua Igreja”.
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16.3.5 Westcott e Hort


Estes dois intelectuais ingleses, após um dedicado trabalho de 28 anos publicaram dois
volumes: O Novo Testamento no Original Grego com Introdução e Apêndice, onde os princípios
críticos seguidos por ele são minuciosamente expostos. Depois de exaustivas pesquisas na procura
de manuscritos antigos, os estudiosos desejaram classificá-los em grupos, assim várias tentativas
foram feitas, mas quase todas infrutíferas quanto aos seus resultados. Coube a B. F. Westcott e F. J.
A. Hort, dois renomados professores da Universidade de Cambridge, a classificação dos
manuscritos do Novo Testamento em quatro famílias, por eles denominadas: Siríaca, Ocidental,
Alexandrina e Neutra.
Para eles a mais importante destas famílias era a neutra, por estar mais próxima dos
autógrafos e por contar com os dois mais famosos códices unciais – Sinaítico e Vaticano. A
preferência de Westcott e Hort por esta família é partilhada por insignes vultos da Crítica Textual,
mas, estudos posteriores têm indicado que eles foram otimistas demais quanto à pureza do texto
neutro. Pode-se notar ainda que o texto Alexandrino não é distinto do texto neutro, por isso, hoje,
aparece como Alexandrino.
16.3.6 A Defesa do "Textus Receptus"
Os defensores deste discutido texto tornaram-se tão fanáticos, que não admitiam que ele
fosse alterado ou melhorado. Aqueles que ousaram divergir foram tachados de irreverentes e
sacrílegos. Sendo que Westcott e Hort rejeitaram totalmente o texto tradicional, suas idéias não
foram bem aceitas pelos conservadores. Em breve, intelectuais se levantaram como denodados
paladinos do texto aceito por todos durante 300 anos. Dentre esses defensores destacam-se
Scrivener, Edward Miller e John Burgon. O argumento principal destes estudiosos em defesa do
"Textus Receptus" era este: "Se as palavras da Escritura tinham sido ditadas pela inspiração do
Espírito Santo, Deus não teria permitido que elas fossem corrompidas no decurso de sua
transmissão." Os argumentos apresentados em defesa do "texto recebido" não tiveram a ressonância
que eles esperavam e após a morte deles esta polêmica foi para sempre encerrada.
16.4 Edições Gregas após Westcott e Hort
16.4.1 Herman Von Soden: (1852-1913)
Graças ao apoio financeiro da Sra. Elise Koenigs, Von Soden, professor em Berlim, pôde
enviar muitos estudantes que tinham sido treinados por ele para examinarem manuscritos nas
bibliotecas e museus da Europa e do Oriente Médio. Ele identificou três grupos de manuscritos,
designando-os pelas letras gregas K, H, I. Estas letras são inicias das seguintes palavras: K de koinê
– comum H de Hesíquio e I de Siríaco de W. H.; O H incluiria o Neutro e o Alexandrino de W. H.,
enquanto o I equivaleria ao Ocidental dos dois professores da Universidade da Universidade de
Cambridge. Discordando da classificação dos manuscritos em unciais e minúsculos e do
agrupamento em famílias de W. H. idealizou nova classificação que indicasse a idade, conteúdo e
tipo de cada manuscrito. Por ser um trabalho complexo, difícil de ser aceito na prática, redundou
num grande desapontamento para a Crítica Textual, por isso foi totalmente posto de lado. Como
resultado de suas pesquisas e de seus muitos auxiliares, Von Soden publicou a História do Texto
Bíblico em 2.203 páginas de seus prolegômenos. Este trabalho, resultado de prolongada
investigação e intensivo estudo, tem sido descrito como um magnífico fracasso.
16.4.2 Bernard Weiss (1827-1918)
Enquanto professor de Exegese Grega, em Berlim, editou o Novo Testamento em três
volumes. Sendo um profundo exegeta tratou com eficiência de problemas teológicos e literários do
texto do Novo Testamento. Seu trabalho se caracteriza pela valorização das evidências internas,
discordando assim de Westcott e Hort, que se apoiavam em evidências externas, concordando,
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porém, com eles em classificar o manuscrito Vaticano como o melhor. Weiss discorda também dos
defensores da teoria genealógica na classificação dos manuscritos bíblicos.
16.4.3 Eberhard Nestle (1851-1913)
A edição do Novo Testamento Grego mais amplamente usada foi preparada por Nestle,
através da Sociedade Bíblica de Stutgart (1898). Seu texto é baseado em uma comparação dos
textos editados por Tischendorf, Westcott e Hort e Weiss. A obra de Nestle representa o
aperfeiçoamento do texto do fim do século XIX. Sendo notável pela síntese maravilhosa do Aparato
Crítico e pela precisão da grande soma de informações textuais, sua edição tem sido muito
apreciada. Uma nova edição do Novo Testamento Grego de Nestle foi planejada, quando a
Sociedade Bíblica Britânica comemorou seu sesquicentenário (1954). O texto foi preparado por
Kilpatrick, com a ajuda de Erwin Nestle e Kurt Aland (Londres – 1958). Houve mudanças numas
20 passagens e diversas alterações na ortografia, acentuação e no uso de parênteses.
16.5 Nova Edição para os Tradutores da Bíblia
Em 1966, após uma década de trabalho por uma Comissão Internacional, cinco Sociedades
Bíblicas publicaram uma edição do Novo Testamento Grego com a finalidade de ser usada pelos
tradutores da Bíblia.
As edições do Novo Testamento Grego, aqui apresentadas, são as mais importantes, mas o
seu número exato desde 1514 até nossos dias é difícil de ser avaliado. Bruce, cuja autoridade em
problemas de crítica textual ninguém discute, calcula que mais de mil edições já apareceram.
Apêndice. O Valor religioso da Bíblia. Bíblia é, sem dúvida, um dos mais apreciados
legados literários da humanidade. Contudo o seu valor não se firma de maneira substancial no fato
literário. A riqueza da Bíblia consiste no caráter essencialmente religioso da sua mensagem, que a
transforma no livro sagrado por excelência, tanto para o povo de Israel quanto para a Igreja cristã.
Nessa coleção de livros, a Lei se apresenta como uma ordenação divina (Êx 20; Sl 119), os Profetas
têm a consciência de serem portadores de mensagens da parte de Deus (Is 6; Jr 1.2; Ez 2-3) o os
Escritos ensinam que a verdadeira sabedoria encontra em Deus a sua origem (Pv 8.22-31).
Esses valores religiosos aparecem não só no título de Sagradas Escrituras, mas também na
forma que Jesus e, em geral, os autores do Novo Testamento se referem ao Antigo, isto é, aos textos
bíblicos escritos em épocas precedentes. Isso ocorre, por exemplo, quando lemos que Deus fala por
meio dos profetas ou por meio de algum dos outros livros (Mt 1.22; 2.15; Rm 1.2; 1Co 9.9) ou
quando os profetas aparecem como aquelas pessoas mediante as quais “se diz” algo ou “se anuncia”
algum acontecimento, forma hebraica de expressar que é o próprio Deus quem diz ou anuncia (Mt
2.17; 3.3; 4.14); também quando se afirma a permanente autoridade das Escrituras (Mt 5.17-18; Jo
10.35; At 23.5), ou quando as relaciona especialmente com a ação do Espírito Santo (At 1.16;
28.25). Formas magistrais de expressar a convicção comum a todos os cristãos em relação ao valor
das Escrituras são encontradas em passagens como 2Tm 3.15-17 e 2Pe 1.19-21.
A Igreja cristã, desde as suas origens, tem descoberto na mensagem do evangelho o mesmo
valor da palavra de Deus e a mesma autoridade do Antigo Testamento (Mc 16.15-16; Lc 1.1-4; Jo
20.31; 1Ts 2.13), Por isso, em 2 Pe 3.16, se equiparam as epístolas de “nosso amado irmão Paulo”
(v.15) às “demais Escrituras”.
Gradativamente, a partir do século II d.C., foram sendo reconhecidos os 27 livros que
formam o Novo Testamento a sua categoria de livros sagrados e, em conseqüência, a plenitude da
sua autoridade definitiva e o seu valor religioso.
Tal reconhecimento, que implica o próprio tempo da presença, direção e inspiração do
Espírito Santo na formação das Escrituras, não descarta, em absoluto, a atividade física e criativa
das pessoas que redigiram os textos. Elas mesmas se referem a essa atividade em diversas ocasiões
(Ec 1.13; Lc 1.1-4; 1Co 15.1-3,11; Gl 6.11). A presença de numerosos autores materiais é,
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precisamente, a causa da extraordinária riqueza de línguas, estilos, gêneros literários, conceitos


culturais o reflexões teológicas que caracterizam a Bíblia.
A natureza da Palavra de Deus. A expressão “a palavra de Deus” (também “a palavra do
Senhor”, ou simplesmente “a palavra”) possui várias aplicações na Bíblia. Obviamente, refere-se,
em primeiro lugar, a tudo quanto Deus tem falado diretamente. Quando Deus falou a Adão e Eva
(Gn 2.16,17; Gn 3.9-19), o que Ele lhes disse era, de fato, a palavra de Deus. De modo semelhante,
Ele se dirigiu a Abraão (Gn 12.1-3), a Isaque (Gn 26.1-5), a Jacó (Gn 28.13-15) e a Moisés (Êx 3–
4). Deus também falou à totalidade da nação de Israel, no monte Sinai, ao proclamar-lhe os dez
mandamentos (Êx 20.1-19). As palavras que os israelitas ouviram eram palavras de Deus.
Além da fala direta, Deus ainda falou através dos profetas. Quando eles se dirigiam ao povo
de Deus, assim introduziam as suas declarações: “Assim diz o Senhor”, ou “Veio a mim a palavra
do Senhor”. Quando, portanto, os israelitas ouviam as palavras do profeta, ouviam, na verdade, a
palavra de Deus.
A mesma coisa pode ser dita a respeito do que os apóstolos falaram no Novo Testamento.
Embora não introduzissem suas palavras com a expressão “assim diz o Senhor”, o que falavam e
proclamavam era, verdadeiramente, a palavra de Deus. O sermão de Paulo ao povo de Antioquia da
Pisídia (At 13.14-41), por exemplo, criou tamanha comoção que, “no sábado seguinte, ajuntou-se
quase toda a cidade a ouvir a palavra de Deus” (At 13.44). O próprio Paulo assegurou aos
Tessalonicenses que, “havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não
como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como palavra de Deus” (1Ts 2.13; At 8.25).
Além disso, tudo quanto Jesus falava era palavra de Deus, pois Ele, antes de tudo, é Deus
(Jo 1.1,18; 10.30; 1Jo 5.20). Lucas, escritor do terceiro evangelho, declara explicitamente que,
quando as pessoas ouviam a Jesus, ouviam na verdade a palavra de Deus (Lc 5.1). Note como, em
contraste com os profetas do AT, Jesus introduzia seus ditos: Eu “vos digo... ” (Mt 5.18,20, 22, 23,
32,39; 11.22,24; Mc 9.1; 10.15; Lc 10.12; 12.4; Jo 5.19; 6.26; 8.34). Noutras palavras, Ele tinha
dentro de si mesmo a autoridade divina para falar a palavra de Deus. É tão importante ouvir as
palavras de Jesus, pois “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna
e não entrará em condenação” (Jo 5.24). Jesus, na realidade, está tão estreitamente identificado com
a palavra de Deus que é chamado “o Verbo” [“a Palavra”] (Jo 1.1,14; 1Jo 1.1; Ap 19.13-16; Jo 1.1).
A palavra de Deus é o registro do que os profetas, apóstolos e Jesus falaram, isto é, a própria Bíblia.
No Novo Testamento, quer um escritor usasse a expressão “Moisés disse”, “Davi disse”, “o Espírito
Santo diz”, ou “Deus diz”, nenhuma diferença fazia (At 3.22; Rm 10.5,19; Hb 3.7; 4.7); pois o que
estava escrito na Bíblia era, sem dúvida alguma, a palavra de Deus. Mesmo não estando no mesmo
nível das Escrituras, a proclamação feita pelos autênticos pregadores ou profetas, na igreja de hoje,
pode ser chamada a palavra de Deus. Pedro indicou que, a palavra que seus leitores recebiam
mediante a pregação, era palavra de Deus (1Pe 1.25), e Paulo mandou Timóteo “pregar a Palavra”
(2Tm 4.2). A pregação, porém, não pode existir independentemente da Palavra de Deus. Na
realidade, o teste para se determinar se a palavra de Deus está sendo proclamada num sermão, ou
mensagem, é se ela corresponde exatamente à Palavra de Deus escrita.
O que se diz de uma pessoa que recebe uma profecia, ou revelação, no âmbito do culto de
adoração (1Co 14.26-32)? Ela está recebendo, ou não, a palavra de Deus?
A resposta é um “sim”. Paulo assevera que semelhantes mensagens estão sujeitas à
avaliação por outros profetas. Todavia, há a possibilidade de tais profecias não serem palavra de
Deus (1Co 14.29 “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”).
É somente em sentido secundário que os profetas, hoje, falam sob a inspiração do Espírito
Santo; sua revelação jamais deve ser elevada à categoria da inerrância (1Co 14.3).
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O Poder da Palavra de Deus. A palavra de Deus permanece firme nos céus (Sl 119.89; Is
40.8; 1Pe 1.24,25). Não é, porém, estática; é A mesma coisa pode ser dita a respeito do que os
apóstolos falaram no Novo Testamento. Embora não introduzissem suas palavras com a expressão
“assim diz o Senhor”, o que falavam e proclamavam era, verdadeiramente, a palavra de Deus. O
sermão de Paulo ao povo de Antioquia da Pisídia (At 13.14-41), por exemplo, criou tamanha
comoção que, “no sábado seguinte, ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a palavra de Deus” (At
13.44). O próprio Paulo assegurou aos Tessalonicenses que, “havendo recebido de nós a palavra da
pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como
palavra de Deus” (1Ts 2.13; At 8.25).
Além disso, tudo quanto Jesus falava era palavra de Deus, pois Ele, antes de tudo, é Deus
(Jo 1.1,18; 10.30; 1Jo 5.20). Lucas, escritor do terceiro evangelho, declara explicitamente que,
quando as pessoas ouviam a Jesus, ouviam na verdade a palavra de Deus (Lc 5.1). Note como, em
contraste com os profetas do Antigo Testamento, Jesus introduzia seus ditos: Eu “vos digo...” (Mt
5.18,20, 22, 23, 32,39; 11.22,24; Mc 9.1; 10.15; Lc 10.12; 12.4; Jo 5.19; 6.26; 8.34). Noutras
palavras, Ele tinha dentro de si mesmo a autoridade divina para falar a palavra de Deus. É tão
importante ouvir as palavras de Jesus, pois “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me
enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação” (Jo 5.24). Jesus, na realidade, está tão
estreitamente identificado com a palavra de Deus que é chamado “o Verbo” [“a Palavra”] (Jo
1.1,14; 1Jo 1.1; Ap 19.13-16; Jo 1.1). A palavra de Deus é o registro do que os profetas, apóstolos e
Jesus falaram, isto é, a própria Bíblia. No Novo Testamento, quer um escritor usasse a expressão
“Moisés disse”, “Davi disse”, “o Espírito Santo diz”, ou “Deus diz”, nenhuma diferença fazia da
palavra de Deus. A palavra de Deus é a arma que o Senhor nos proveu para lutarmos contra Satanás
(Ef 6.17; Ap 19.13-15). Jesus derrotou Satanás, pois fazia uso da Palavra de Deus: “Está escrito”
(“consta como a Palavra infalível de Deus”; Lc 4.1-11; Mt 4.1-11). Finalmente, a palavra de Deus
tem o poder de nos julgar. Os profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo Testamento
freqüentemente pronunciavam palavras de juízo recebidas do Senhor. O próprio Jesus assegurou
que a sua palavra condenará os que o rejeitarem (Jo 12.48). E o autor aos Hebreus escreve que a
poderosa palavra de Deus julga “os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4.12). Noutras
palavras: os que optam por desconsiderar a palavra de Deus acabarão por experimentá-la como
palavra de condenação.

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