Estudo-Vida de Colossenses Vol. 1 PDF

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© 1984 Living Stream Ministry

Edição para a Língua Portuguesa


© 2004 Editora Árvore da Vida

Título do original Inglês:


Life-Study of Colossians

ISBN 85-7304-210-9

1ª Edição — Setembro/2004 — 5.000 exemplares

Traduzido e publicado com a devida autorização do Living Stream Ministry e todos os


direitos reservados para a língua portuguesa pela Editora Árvore da Vida.

Editora Árvore da Vida


Av. Corifeu de Azevedo Marques, 137
Butantã — CEP 05581-000
Tel.: (11) 3723-6000 — São Paulo — SP — Brasil
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E-mail: [email protected]

Impresso no Brasil

As citações bíblicas são da Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida, 2ª


Edição, e Versão Restauração (Evangelhos), salvo quando indicado pelas abreviações:
BJ— Bíblia de Jerusalém
lit. — tradução literal do original grego ou hebraico
IBB-Rev. — Imprensa Bíblica Brasileira, versão Revisada
KJV — King James Version
NVI — Nova Versão Internacional TB — Tradução Brasileira
VRA — Versão Revista e Atualizada
VRC — Versão Revista e Corrigida de Almeida
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM UM

O CONTEXTO E A POSIÇÃO DO LIVRO


No livro de Colossenses, Cristo é desvendado
plenamente, mais do que em qualquer outro livro da
Bíblia. Essa curta Epístola usa muitos termos e
expressões para descrevê-Lo. Antes de considerar a
revelação de Cristo em Colossenses, precisamos
prestar atenção ao contexto e à posição desse livro;
ambos são cruciais.

I. O CONTEXTO

Três versículos, todos eles advertências,


permitem-nos ver a situação que fez com que essa
Epístola fosse escrita:2:8, 16, 18. Colossenses 2:8 diz:
“Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua
filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos
homens, conforme os rudimentos do mundo e não
segundo Cristo”. Esse versículo menciona quatro
coisas negativas que nos podem enredar ou
escravizar: filosofia, vãs sutilezas, tradições e os
rudimentos do mundo. Aos olhos da humanidade
caída, a filosofia é muito boa; é o produto mais
elevado e desenvolvido da cultura. Os rudimentos do
mundo, os princípios elementares ou rudimentares
de determinados ensinamentos, também podem ser
altamente considerados pela sociedade. Entretanto, a
filosofia, as sutilezas, as tradições e os rudimentos do
mundo podem fazer de nós suas presas.
Em 2:16, Paulo diz: “Ninguém, pois, vos julgue
por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua
nova, ou sábados”. Aqui ele enumera muitas coisas
positivas: comida, bebida, festas, luas novas e
sábados. Ele advertiu aos colossenses que não
permitissem que ninguém os julgasse por causa
dessas coisas.
No versículo 18, Paulo prossegue: “Ninguém vos
prive do prêmio, com engodo de humildade, de culto
dos anjos, indagando de coisas que viu, inchado de
vão orgulho em sua mente carnal” (BJ). O prêmio
mencionado nesse versículo é Cristo como nosso
desfrute. É possível ser privado dessa recompensa
por causa da humildade, uma virtude humana muito
positiva.
A. O Ascetismo Saturou a Igreja em Colossos

O motivo de Paulo ter dado essas advertências foi


o fato de a igreja em Colossos ter sido saturada de
ascetismo1. Esse ascetismo estava relacionado com a
legalidade das ordenanças (2:20-21) e as
observâncias judaicas (2:16).

B. O Misticismo Invadiu a Igreja em Colossos

Além disso, o misticismo havia invadido a igreja.


Esse misticismo estava relacionado com o
gnosticismo 2 , uma mistura das filosofias egípcia,
babilônica, judaica e grega (2:8), e com a adoração de
anjos (2:18).
O ponto vital do contexto do livro de Colossenses
é que a cultura fora introduzida na vida da igreja. A
população de Colossos era uma mistura de gentios e
judeus, que possuíam diferentes culturas. A maior

1
Ascetismo, ou asceticismo: “Na filosofia grega, conjunto de práticas e disciplinas caracterizadas pela
austeridade e autocontrole do corpo e do espírito, que acompanham e fortalecem a especulação teórica
em busca da verdade. No cristianismo e em todas as grandes religiões, conjunto de práticas austeras,
comportamentos disciplinados e evitações morais prescritos aos fiéis tendo em vista a realização de
desígnios divinos e leis sagradas”. (Dic. Houaiss) — N. T.
2
Gnosticismo: “Movimento religioso, de caráter sincrético [produto da fusão de diferentes religiões,
seitas, filosofias ou visões do mundo] e esotérico, desenvolvido nos primeiros séculos de nossa era à
margem do cristianismo institucionalizado combinando misticismo e especulação filosófica” (Dic.
Houaiss) — N. T.
parte dos gentios estava sob a influência da cultura
grega com sua filosofia. Na época, entretanto, a
filosofia grega já não era mais pura, e, sim, uma
mistura de diversas filosofias. Além disso, a cultura
gentia estava, pelo menos parcialmente, misturada
com os conceitos religiosos judaicos.
Essa mistura de culturas inundou a igreja em
Colossos. A igreja deveria ser uma casa cheia de
Cristo e constituída de Cristo. Em vez disso, a igreja lá
havia sido invadida pela cultura. Até certo ponto,
Cristo, como o único elemento da vida da igreja,
estava sendo substituído por diferentes aspectos
dessa cultura mista. O elemento constituinte da igreja
deveria ser Cristo e somente Ele, pois a igreja é o Seu
Corpo. Portanto, o conteúdo da igreja não deve ser
nada além do próprio Cristo. Mas os elementos bons
da cultura, principalmente a filosofia e a religião,
haviam invadido e saturado a igreja.
Um tipo de ascetismo religioso, em especial,
havia invadido a vida da igreja. Os versículos 20 e 21,
que falam de ordenanças sobre manusear, provar e
tocar, referem-se a isso. Sabemos que esse ascetismo
era religioso em natureza, porque estava relacionado
com a adoração de anjos (2:18). Portanto, o ascetismo
que inundou a igreja em Colossos não era grosseiro,
mas refinado e culto.
Para alguns, a adoração de anjos pode parecer
muito boa, bastante superior à adoração de répteis,
aves e outros animais. Contudo, a adoração de anjos é
idolatria, embora seja uma idolatria um pouco mais
refinada. Pessoas cultas não adoram animais, mas
podem adorar anjos. Alguns justificam tal prática
dizendo que não adoram ídolos, mas, com humildade,
adoram os servos celestiais de Deus. Considerando-se
inferiores demais para adorar a Deus diretamente,
podem sentir que precisam adorá-Lo por meio de
intermediários. Esse conceito foi assimilado pelo
catolicismo, que ensina que podemos precisar do
auxílio de intermediários para contatar Deus. Pelo
menos em princípio, o catolicismo adotou a prática de
usar intermediários na adoração a Deus.
É sutileza do inimigo inundar a igreja com
rudimentos de cultura. Isso é o que ele fazia quando o
livro de Colossenses foi escrito. Sua estratégia era
infiltrar uma mistura de religião judaica e filosofia
gentia na igreja e saturá-la com essa mistura cultural.
Do ponto de vista humano, essa cultura,
particularmente seu ascetismo, era muito boa. O
ascetismo tem um bom propósito: ele tenta capacitar
as pessoas a lidar com as concupiscências. Todavia,
precisamos ver que a estratégia de Satanás ao
inundar a igreja com cultura é usar os aspectos mais
desenvolvidos da cultura para substituir Cristo.
Não pense que esse fenômeno limitou-se ao
primeiro século; antes, ainda está conosco hoje. No
cristianismo de hoje Cristo foi quase totalmente
substituído por outras coisas, principalmente coisas
boas. O nome de Cristo pode ser encontrado no
cristianismo, mas a realidade de Cristo talvez esteja
ausente. Muitas coisas tornaram-se substitutas Dele.
Por exemplo, até mesmo o ensinamento da Bíblia é
usado pelo inimigo de Deus como substituto do
próprio Cristo. Muitos cristãos estudam a Bíblia sem
contatar Cristo. Devido à sutileza de Satanás,
qualquer obra cristã pode também substituir o
próprio Cristo. A obra cristã deve ministrar Cristo;
entretanto, algumas obras cristãs fazem de seu
objetivo particular um substituto de Cristo.
Na religião de hoje, alguns pastores e ministros
podem permitir que sua personalidade substitua
Cristo. Determinados obreiros cristãos têm
personalidade atraente, poderosa; eles a usam para
atrair pessoas não para Cristo, mas para si mesmos.
Esse é o motivo de muitos cristãos elogiarem e até
mesmo exaltarem a personalidade de certos pastores.
Os que não têm tal personalidade forte podem atrair
pessoas pela sua bondade ou humildade. Os cristãos
podem preferir freqüentar uma assim chamada igreja
porque seu ministro é gentil e simpático.
Pode ser que nós, na restauração do Senhor,
substituamos Cristo pelos bons aspectos do nosso
caráter ou comportamento. Se um servo do Senhor
for pecador ou orgulhoso, isso impedirá que os outros
se aproximem do Senhor. Mas a mansidão ou a
humildade naturais de tal obreiro são até mais
prejudiciais e frustrantes que sua pecaminosidade ou
orgulho. Todos percebem que algo pecaminoso
jamais pode estar relacionado com Cristo; mas
poucos conseguem discernir a diferença entre bom
caráter ou comportamento e o próprio Cristo. Pelo
contrário, quando vêem um comportamento
excelente, muitos o associam a Cristo. Portanto, se
nos faltar revelação, nosso bom caráter pode
tornar-se substituto de Cristo.
Visto que a igreja é composta de seres humanos,
é difícil ela ser separada da sociedade, que é composta
de cultura. Sim, como igreja, somos separados do
mundo; estamos no mundo, mas não pertencemos a
ele. Entretanto, a igreja deve permanecer na
sociedade. Os cristãos não devem viver como monges
ou freiras. Para termos a vida da igreja precisamos ter
um viver humano normal. A questão aqui é: como um
grupo de pessoas pode estar na sociedade sem ser
influenciado pela cultura? Como podemos ser salvos
da influência do ambiente cultural? Sendo cristãos,
de fato amamos uns aos outros. Contudo, podemos
ter um amor especial pelas pessoas parecidas
conosco. Por meio de tal influência agindo na vida da
igreja, Cristo é substituído pela cultura.
Quando Paulo escreveu a Epístola aos
Colossenses, vários ismos exerciam sua influência:
judaísmo, ascetismo, misticismo, gnosticismo. Esses
ismos estavam entre os mais elevados produtos das
culturas judaica e gentia. Sendo coisas boas,
espontaneamente tornavam-se substitutos de Cristo.
Por isso, o propósito de Paulo em Colossenses é
mostrar que na igreja não se deve permitir que coisa
alguma substitua Cristo. A vida da igreja deve ser
constituída unicamente de Cristo; Ele deve ser nosso
único elemento constituinte e nossa constituição.
Esse é o motivo de, nessa curta Epístola, muitas
expressões elevadas serem usadas para descrever
Cristo. Por exemplo, Ele é chamado de a imagem do
Deus invisível, o Primogênito de toda a criação, o
Primogênito dentre os mortos e o corpo de todas as
sombras. Em 3:10-11 Paulo diz que no novo homem
não há possibilidade de haver grego ou judeu,
circuncisão ou incircuncisão, bárbaro ou cita, escravo
ou livre; no novo homem Cristo é tudo em todos. Isso
quer dizer que Cristo deve ser todos e em todos (lit.).
No novo homem não há lugar para chineses,
japoneses, americanos, ingleses, franceses ou
alemães. Cristo deve ser cada um de nós. No novo
homem Cristo deve ser você e eu. Não só a cultura
precisa desaparecer; até mesmo nós precisamos
desaparecer. E crucial que tenhamos essa revelação.
Precisamos atentar para a advertência de Paulo
sobre ter cuidado com qualquer coisa que nos afaste
de Cristo. Irmãs, cuidado com sua bondade, gentileza
e simpatia. Cuidado com qualquer virtude humana
que substitua Cristo. Irmãos, cuidado com sua mente
lúcida, vontade forte, audácia, ou qualquer outra
virtude que seja um substituto de Cristo. Que sutileza
do inimigo tentar-nos a ser bondosos, gentis, mansos
ou atraentes! Contudo, muitos pregadores e ministros
ensinam e praticam exatamente isso. Aparentemente
tais pessoas gentis, humildes e refinadas atraem os
outros para o Senhor. Mas na verdade conseguem
somente atrair os outros para si mesmos; ninguém
atraído por eles é verdadeiramente ganho pelo
Senhor. Temo que até mesmo nas igrejas na
restauração do Senhor alguns sejam atraídos para a
vida da igreja não por Cristo, mas pelo caráter ou
comportamento de certos irmãos ou irmãs.
O ponto principal na Epístola de Colossenses é o
fato de que, aos olhos de Deus, nada tem valor algum,
exceto Cristo. Esse fato exclui tanto as coisas boas
como as más, tanto as pecaminosas como as elevadas.
Em particular, ele elimina todos os aspectos bons da
cultura. Já ressaltamos diversas vezes que o inimigo
de Deus utiliza a cultura para substituir Cristo. Isso
ofende a Deus. Se Satanás não consegue
corromper-nos com coisas malignas, Deus sabe que
ele tentará usar os aspectos bons da cultura para
substituir Cristo. Onde você pode encontrar, entre os
cristãos de hoje, um grupo de irmãos nos quais sinta
somente Cristo? Nos diversos grupos cristãos vemos
muitos pontos bons. Todavia, essas coisas boas não
são a Pessoa de Cristo, e, sim, algo que O substituiu
sutilmente. Por esse motivo, em muitos grupos
cristãos é difícil encontrar Cristo. Alguns podem
pregar Cristo ou ensinar as doutrinas a Seu respeito,
mas até mesmo essa pregação e ensinamento
tornam-se um substituto do próprio Cristo. Se
tivermos uma visão clara da situação entre os cristãos
hoje, perceberemos que o contexto no qual o livro de
Colossenses foi escrito corresponde exatamente à
situação de hoje. Esse livro foi escrito para nós, e não
somente para os santos em Colossos.
Se tivermos uma compreensão clara do contexto
dessa Epístola, perceberemos que o único caminho
que devemos tomar é o da cruz. A cruz é tanto um
caminho estreito como uma rodovia. Para os que não
estão dispostos a tomar a cruz, ela é um caminho
estreito. Mas para os dispostos a tornar esse caminho,
a cruz se torna uma rodovia. Na igreja todos devemos
ser nada e ninguém. Essa era a atitude de Paulo
quando disse que morremos e fomos sepultados. Para
compreender isso, precisamos de revelação. Tudo o
que somos, tudo o que temos, e tudo o que podemos
fazer pode tornar-se um substituto de Cristo. Quanto
melhor formos ou quanto mais capacidade tivermos
para fazer coisas, mais Cristo pode ser substituído em
nossa experiência. Pela cruz precisamos tornar-nos
nada, ter nada e ser capazes de fazer nada. Senão, o
que somos, temos, e podemos fazer tornam-se
substitutos de Cristo, e em nossa vida cristã Cristo
não será tudo em todos. O livro de Colossenses nos
ensina que na vida da igreja Cristo deve ser tudo e em
todos. Tudo que não é Cristo deve desaparecer.

II. A POSIÇÃO

A. O Conjunto de Gálatas, Efésios, Filipenses


e Colossenses Constitui o Coração da Bíblia.

Assim como temos um coração, também há um


coração na Bíblia. O coração da Bíblia não é o Gênesis
nem Apocalipse, nem mesmo os Evangelhos. É um
conjunto de quatro livros: Gálatas, Efésios, Filipenses
e Colossenses, escritos naturalmente pela inspiração
do Espírito Santo. Além disso, sua seqüência na
disposição dos livros do Novo Testamento é muito
significativa. Se ler cuidadosamente o Novo
Testamento, perceberá que esses quatro livros se
destacam. Antes de Gálatas vem 2 Coríntios, sem
aparente conexão com Gálatas. Quando lemos o Novo
Testamento, sentimos que Gálatas é o início de algo
novo, e esse livro está ligado a Efésios, Filipenses e
Colossenses. Em particular, Efésios e Colossenses são
livros irmãos. Quando vamos de Colossenses para 1
Tessalonicenses, também sentimos que não há
ligação entre os dois. Assim, Gálatas, Efésios,
Filipenses e Colossenses compõem um conjunto que
constitui o próprio coração da Bíblia.
O tema essencial desses quatro livros é Cristo e a
igreja. Vimos que a igreja é composta de seres
humanos que vivem em sociedade. Sendo tal
entidade, é difícil para a igreja permanecer longe da
influência da cultura. Por essa razão, nesses livros a
respeito de Cristo e a igreja, dois deles, Gálatas e
Colossenses, mostram o dano causado pela lei, pela
religião judaica e por outros substitutos de Cristo,
como o ascetismo, o misticismo e o gnosticismo.

B. Gálatas Revela Cristo Versus a Religião


com Sua Lei

De acordo com Gálatas a religião judaica, a


religião típica, foi formada segundo o oráculo de
Deus. Mas essa religião fundamentalista, juntamente
com sua lei, tomou-se substituta de Cristo. Portanto,
Gálatas dá muita ênfase ao perigo de a lei substituir
Cristo. Em Gálatas 1, Paulo testifica que fora líder
religioso extremamente zeloso entre os judeus; era
zeloso de Deus e irrepreensível segundo a lei. Um dia,
porém, aprouve a Deus revelar Seu Filho, Cristo, em
Paulo. Como resultado disso, Paulo veio a perceber
que o judaísmo é contrário a Cristo e Cristo
contrapõe-se à religião com sua lei. Paulo pôde então
declarar que estava morto para a lei e nada tinha a ver
com ela; ele fora crucificado com Cristo, e Cristo
agora vivia nele (2:20). Além disso, no capítulo seis,
ele disse que era perseguido simplesmente por não
ensinar a circuncisão. Disse ainda que o mundo,
significando especificamente o mundo religioso,
estava morto para ele, e ele, para o mundo. Entre
Paulo e a religião judaica havia a linha divisória da
cruz. No tocante a Paulo, todo o mundo religioso
estava na cruz. Além disso, para os judeus, Paulo
também estava na cruz. Sendo alguém em Cristo, ele
trazia a marca da morte de Cristo. Não estava mais na
religião judaica; estava absolutamente em Cristo e era
absoluto para Cristo. Portanto, Gálatas revela que
Cristo se contrapõe à religião, à lei e à circuncisão.

C. Colossenses Desvenda Cristo Versus as


Filosofias Humanas com Suas Tradições e
Ascetismo

Já ressaltamos que em Colossenses Cristo é


revelado ao máximo, muito mais que em Gálatas. Em
Gálatas, Paulo fala de Cristo ser revelado em nós,
Cristo viver em nós e Cristo ser formado em nós. Em
Colossenses, porém, ele usa vários termos especiais
para Cristo: a porção dos santos, a imagem do Deus
invisível, o Primogênito de toda a criação. Nesse livro
curto, vários aspectos de Cristo são revelados.
Portanto, Colossenses revela que Cristo é profundo e
todo-inclusivo, e transcende nossa compreensão.
Nossa necessidade é que Ele seja infundido em nós, e
nós sejamos saturados Dele e permeados com Ele até
que, em nossa experiência, Ele seja tudo para nós:
nossa comida, nossa bebida, nossas festas, nossos
dias santos, nosso sábado, nossa lua nova, nosso
tudo. Não devemos permitir que coisa alguma O
substitua. Esse é o ponto central de Colossenses.
Enquanto Gálatas revela que Cristo se contrapõe à
religião e à lei, Colossenses revela que Cristo se
contrapõe a tudo, pois Ele próprio é a realidade de
todas as coisas positivas.

D. Filipenses Enfatiza a Expressão de Cristo

O livro de Filipenses enfatiza a questão de viver


Cristo. Em Filipenses 1:21 Paulo declara: “Para mim,
o viver é Cristo”. Para Paulo, viver não consistia em
virtudes humanas corno mansidão ou humildade;
viver era Cristo.

E. Efésios Revela a Igreja

Efésios trata especificamente da igreja. A


conseqüência, o resultado de vivermos Cristo é que a
igreja é gerada e edificada de forma prática.
Todos precisamos despender mais tempo nos
quatro livros que compõem o coração da Bíblia.
Olhando para esses livros como um conjunto, vemos
que devemos importar-nos somente com Cristo, e não
com religião ou cultura. Para nós, vi ver não é
religião, filosofia ou qualquer ismo. Em nosso viver
Cristo deve ser tudo e em todos. O resultado de tal
viver é a igreja. Portanto o coração da Bíblia, visto
nesse conjunto de livros, é Cristo e a igreja.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM DOIS

INTRODUÇÃO
Colossenses 1:1-8 é a introdução a essa Epístola.
Como tal, esses versículos desvendam o propósito e o
tema do livro. O propósito e o tema de Paulo não são
declarados explicitamente, e sim indiretamente, por
meio de diversas indicações encontradas nesses
versículos.

TRÊS INDICAÇÕES

A primeira dessas indicações é a frase “esperança


que vos está preservada nos céus” (v. 5). Outra
indicação é encontrada nas palavras “palavra da
verdade do evangelho” (v. 5). Repare que aqui Paulo
menciona a palavra da verdade do evangelho, não
simplesmente a palavra do evangelho. Uma terceira
indicação é vista nas palavras “entendestes a graça de
Deus na verdade” (v. 6). [O verbo entender, nesse
versículo, pode também ser traduzido por conhecer
plenamente.]
A que se referem as palavras “na verdade”? De
acordo com muitas traduções, essa frase se aplica ao
termo graça. Outras traduções consideram-na uma
locução adverbial que modifica o verbo conhecer. Se
compreendermos verdade aqui como realidade, e
não apenas como sinceridade, então é correto
considerar a expressão “na verdade” ligada ao verbo
entender. Segundo essa interpretação, Paulo diz que
precisamos conhecer a graça de Deus em sua
realidade.

A ESPERANÇA PRESERVADA PARA NÓS

Vamos agora considerar a esperança mencionada


no versículo 5. Esperança, fé e amor nos versículos 4 e
5 são as três coisas que o apóstolo enfatizou em 1
Coríntios 13:13. A ênfase lá estava no amor por causa
da situação dos coríntios. Aqui a ênfase está na
esperança, que, rigorosamente falando, é o próprio
Cristo (v. 27), para a revelação de Cristo como tudo
para nós.
Alguns acham que a esperança preservada para
nós nos céus refere-se a alguma bênção específica ou
desfrute glorioso. Quando era jovem, disseram-me
que, de acordo com João 14, o Senhor Jesus está
preparando uma mansão maravilhosa para nós no
céu, e essa é a esperança preservada para nós. Que
erro! Nossa esperança é o próprio Cristo. Segundo o
versículo 27, Cristo em nós é a esperança da glória.
Por um lado, Ele está nos céus; por outro, está em nós
como nossa esperança.

FÉ E AMOR

Se quisermos entender isso plenamente,


precisamos considerar a fé e o amor mencionados no
versículo 4. Paulo diz: “Desde que ouvimos da vossa
fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com
todos os santos”. Fé é perceber e receber o que está
em Cristo, amor é experimentar e desfrutar o que
recebemos de Cristo, e esperança é esperar e
aguardar pela glorificação em Cristo. Todo cristão
autêntico tem fé no Senhor Jesus e amor para com
todos os santos; essas duas coisas provam que somos
verdadeiros cristãos. Suponha que eu contate alguém
e lhe diga que creio no Senhor Jesus. Se ele não me
responder em amor, pode não ser um cristão
autêntico. O amor pelos santos sempre deve
acompanhar a fé no Senhor Jesus; não podem ser
separados.
Desde o momento em que cremos em Cristo,
espontaneamente temos amor pelos outros cristãos,
independentemente da nacionalidade. Segundo
minha natureza e passado, nunca conseguiria amar os
japoneses. Quando jovem, eu na verdade os odiava,
por causa do dano que o Japão causou à China.
Contudo, após ter sido salvo e começado a servir no
ministério do Senhor, fui convidado para visitar
alguns irmãos japoneses na Manchúria. Fui a uma
pequena reunião na casa de um irmão japonês. Assim
que entrei na sala, espontaneamente brotou no meu
interior um amor por eles. Meu ódio pelos japoneses
desapareceu. Aqueles irmãos criam no Senhor Jesus,
e eu também; por isso podíamos amar uns aos outros
como irmãos em Cristo. Esse amor não é natural, mas
provém da nossa fé no Senhor Jesus. Temos de amar
todos os santos como os colossenses faziam, não
importando a nacionalidade nem se eram judeus ou
gentios.
Na restauração do Senhor há muitas
nacionalidades.
Humanamente falando, é impossível que
sejamos um. Entretanto, louvamos o Senhor, pois, a
despeito da nacionalidade, amamos uns aos outros,
porque todos temos fé no Senhor Jesus. Quando
converso com irmãos do Japão, não tenho nenhuma
consciência de que são japoneses e eu sou chinês.
Antes, simplesmente tenho a sensação de que todos
somos irmãos santos em Cristo.

VIVER CRISTO E PRESERVAR A


ESPERANÇA

O motivo pelo qual conseguimos amar pessoas


que nunca poderíamos amar naturalmente é que há
uma esperança preservada para nós nos céus. Se eu
fosse o escritor de Colossenses, teria dito: “Por causa
da esperança nos céus”. Paulo, contudo, inseriu as
palavras “que vos está preservada”. Essa questão é, na
verdade, bastante subjetiva; tem muito a ver com o
viver diário. De acordo com o contexto, a esperança
preservada nos céus tem muito a ver com a maneira
como vivemos hoje. Quanto mais amamos os santos,
mais esperança é guardada para nós nos céus.
Entretanto, se não amarmos os santos, haverá muito
pouca esperança preservada para nós.
Suponha que certo irmão ame todos os santos,
independentemente da nacionalidade ou cultura.
Outro irmão, pelo contrário, ama os santos
seletivamente, segundo o próprio gosto e preferência.
Um ama todos os que têm fé em Cristo; o outro ama
somente um grupo seleto de santos. Quando o Senhor
voltar, qual deles terá esperança maior? Por certo
será o que ama todos os santos. Isso indica que o
quanto Cristo será esperança para nós depende de
quanto O vivemos hoje.
Quanto mais vivermos Cristo agora, mais
esperança será preservada para nós nos céus para
nossa glorificação. Todavia, se no dia-a-dia não
vivermos Cristo, Ele estará lá nos céus, mas não será
preservado como glória para nós. Por exemplo, se
depositar no banco parte do dinheiro que ganhou,
essas economias estarão preservadas para você na
conta. Mas se não ganhar dinheiro nenhum e não
tiver nada para depositar no banco, não haverá nada
guardado para você. Segundo o mesmo princípio, a
quantidade de esperança que está sendo preservada
para nós nos céus depende de quanto vivemos Cristo.
Precisamos amar os santos sem parcialidade por
causa Daquele que é nossa esperança. Viver desse
modo é preservar esperança nos céus para nós
mesmos.
Nessa Epístola Paulo parecia dizer: “Amados
colossenses, se seguirem as observâncias judaicas ou
as ordenanças gentias, não preservarão coisa alguma
para vocês nos céus como esperança. Vocês precisam
viver por meio de Cristo. Um dia Cristo, que é nossa
vida, aparecerá em glória. Hoje, tanto vocês como
Cristo estão ocultos em Deus; Ele é sua vida interior.
Mas Ele aparecerá em glória, e vocês aparecerão com
Ele. Contudo, preciso adverti-los da importância de
viver por meio de Cristo hoje”.
Sim, em 3:4 Paulo diz que Cristo é nossa vida, e
quando Ele for manifestado nós seremos
manifestados com Ele em glória. Mas suponha que
não vivamos por Ele, e, sim, pelo ego e preferências,
amando somente os santos que correspondem ao
nosso gosto. Amar os santos seletivamente é viver
pelo ego, e não por Cristo. Se tivermos esse tipo de
viver, não ficaremos alegres quando o Senhor Jesus
Cristo aparecer em glória. Repito, o quanto
desfrutaremos Cristo como nossa esperança da glória
depende de quanto O vivemos hoje. Portanto, a
preservação da esperança nos céus depende do nosso
viver.
Se vivemos Cristo e somos um com Ele, devemos
ser capazes de dizer: “Senhor Jesus, eu Te amo e Te
tomo como minha vida e pessoa. Senhor, quero estar
Contigo em glória e ver-Te face a face. Quero
desfrutar Tua presença, até mesmo Tua presença
física, de maneira prática. Senhor, aguardo isso e
espero por isso”. Se contatar o Senhor dessa forma
diariamente, você ficará muito alegre quando Ele
vier.
Suponha, entretanto, que você não se importe
com o Senhor e nem O contate. Pode não pecar nem
se voltar para o mundo, mas vive sempre pelo ego.
Você respeita o Senhor Jesus como Salvador e
Senhor; mas embora O honre, Ele não é amado ou
precioso para você, e você não tem comunhão íntima
com Ele. Você não O vi ve nem O toma como sua
pessoa. Se esse for o seu viver diário em relação ao
Senhor Jesus, você acha que ficará alegre e
proclamará louvores quando Ele vier? É claro que
não! Pelo contrário, você se afastará Dele,
envergonhado. Se a volta de Cristo será ou não glória
para você depende de quanta esperança preservada
nos céus você tem, vivendo Cristo hoje.

CRISTO NOSSA VIDA

Preservar ou guardar esperança nos céus é viver


Cristo e tomá-Lo como nossa pessoa. Colossenses 3:4
é o único versículo na Bíblia que diz que Cristo é
nossa vida. Em João 14:6 o Senhor Jesus diz: “Eu sou
a vida”. Mas em 3:4 Paulo diz que Cristo é nossa vida,
uma expressão muito subjetiva. Já que Cristo é nossa
vida, precisamos viver por Ele e, desse modo,
preservar esperança para nós nos céus. Isso é o que
significa amar todos os santos por causa da esperança
que nos está preservada nos céus.

A VERDADE DO EVANGELHO

Em 1:5, Paulo prossegue: “Da qual antes ouvistes


pela palavra da verdade do evangelho”. A verdade do
evangelho é a realidade, os fatos reais, e não a
doutrina do evangelho. A palavra, e não a verdade,
pode ser considerada a doutrina do evangelho. Em
nossa pregação do evangelho deve haver não só a
palavra do evangelho, mas também a verdade do
evangelho, que é o próprio Cristo. Cristo, a realidade
do evangelho, deve ser a realidade em nossa
pregação.
Contudo, em muitas pregações do evangelho há
somente a palavra, talvez eloqüente ou persuasiva,
mas nenhuma realidade. Isso quer dizer que Cristo
não é ministrado como realidade aos que ouvem.
Nossa pregação do evangelho deve ser diferente.
Embora possamos não ser eloqüentes, os ouvintes
devem ser capazes de sentir que a realidade de Cristo
está sendo infundida neles. As pessoas que ouvirem
tal pregação do evangelho absorverão Cristo como
realidade.
Precisamos dizer ao Senhor em oração que não
desejamos conhecimento em letras, e, sim, Sua
presença, tendo Ele próprio infundido em nós, e nós,
saturados Dele. Queremos estar sob Seu brilho
celestial. Quanto mais permanecermos sob Seu
brilho, mais realidade nos saturará e impregnará.
Essa é a verdade que é o próprio Cristo.
Uma vez que os colossenses tinham ouvido a
palavra da verdade, da realidade, do evangelho,
podiam preservar para si mesmos esperança nos céus
vivendo Cristo ao amar os santos. Tomando Cristo
como sua vida, eles eram capazes de amar pessoas
que, humanamente, jamais conseguiriam amar;
podiam desfrutar Cristo como vida absorvendo-O
como a verdade do evangelho. Dessa forma, podiam
experimentá-Lo como sua esperança. Portanto,
nesses versículos, tanto a esperança como a verdade
são o Cristo que experimentamos subjetivamente.

O FRUTO DO EVANGELHO

O versículo 6 continua: “Que chegou até vós;


como também, em todo o mundo, está produzindo
fruto e crescendo, tal acontece entre vós, desde o dia
em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na
verdade”. O amor pelos santos é o fruto gerado pelo
evangelho. Quando o evangelho é pregado na
realidade, ele gera frutos; nos que o recebem, ele gera
amor por todos os irmãos.
A igreja em Colossos era composta de judeus e
gentios. Humanamente falando, esses dois povos
desprezavam-se e odiavam-se mutuamente. Mas após
crerem no Senhor Jesus passaram a amar uns aos
outros. Embora tal amor seja humanamente
impossível, ele é o fruto do evangelho. Esse evangelho
que cresce e gera fruto é também o próprio Cristo.
Era Ele que crescia nos colossenses desde o dia que
ouviram pela primeira vez a palavra da verdade do
evangelho.

CONHECER PLENAMENTE A GRAÇA DE


DEUS NA VERDADE

Neste versículo, Paulo diz aos colossenses:


“Entendestes a graça de Deus na verdade”. [Como já
dissemos o verbo entender pode ser traduzido por
conhecer plenamente.] Conhecer a graça de Deus
plenamente é conhecê-la em sua totalidade, e não
parcialmente. A graça de Deus é o que Ele é para nós
e o que Ele nos dá em Cristo (10 1: l7; 1Co 15:10). Na
verdade, a graça é o próprio Cristo. O primeiro
capítulo do evangelho de João nos diz que a Palavra
(o Verbo) que estava com Deus e que era Deus
tornou-se carne e armou tabernáculo entre nós, cheia
de graça e verdade (vs. 1, 14). Além disso, todos
recebemos da Sua plenitude, e graça sobre graça (v.
16). Verdade, aqui, significa realidade. Conhecer a
graça de Deus na verdade é conhecê-la em sua
realidade na experiência, não apenas mentalmente
em palavras ou doutrinas.
A verdade é Cristo como realidade, e graça é
Cristo como nosso desfrute. Quando experimentamos
Cristo e O desfrutamos, Ele, como a verdade, torna-se
nossa graça. O evangelho cresce em nós e dá fruto
quando desfrutamos e experimentamos Cristo como
nossa graça. Nesses poucos versículos vemos que
Cristo é muitas coisas para nós: nossa esperança,
verdade, realidade e graça. Somente quando Ele se
torna graça para nós é que podemos desfrutá-Lo e
experimentá-Lo; quanto mais O desfrutamos e
experimentamos, mais crescemos, geramos frutos,
vivemos por Ele, e preservamos esperança para nós
nos céus.
As palavras “na verdade” podem ser
consideradas de duas maneiras: como advérbio
referindo-se ao verbo conhecer, ou como adjetivo
referindo-se ao substantivo graça. A graça de Deus é
na verdade, em realidade, e não em mera doutrina ou
conhecimento. Quando ouvimos mensagens na
restauração do Senhor, freqüentemente desfrutamos
graça em realidade. Por meio desse ministério da
Palavra, a graça em realidade é infundida em nós.
Visto que essa graça é sólida e substancial, podemos
prová-la, desfrutá-la e viver por ela.
Se considerarmos as palavras “na verdade” um
advérbio referindo-se ao verbo entender, veremos
que nosso conhecimento da graça não deve ser
doutrinário, mas em realidade. Isso quer dizer que
nosso conhecimento de Cristo como graça deve ser
em realidade. No evangelho, Cristo é transmitido a
nós e infundido em nós como verdade e graça. Temos
Cristo como realidade, e essa realidade é nosso
desfrute. Ao viver pelo Cristo que experimentamos
como verdade e graça, preservamos para nós
esperança nos céus.

MINISTRO DE CRISTO

No versículo 7, Paulo diz: “Segundo fostes


instruídos por Epafras, nosso amado conservo e,
quanto a vós outros, fiel ministro de Cristo”. Paulo
aqui ressalta que Epafras era ministro de Cristo. Um
ministro de Cristo é não apenas um servo de Cristo
que O serve, mas também alguém que serve Cristo
aos outros, ministrando-lhes o próprio Cristo.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM TRÊS

A ORAÇÃO DO APÓSTOLO
O tema do livro de Colossenses é o Cristo
todo-inclusivo. Nos versículos iniciais (1:1-8) Paulo
indica que Cristo é nossa esperança, realidade e
graça. Em sua oração e ação de graças (1:9-14) ele
fornece indicações adicionais de que Cristo é
todo-inclusivo. Consideremos primeiro a oração de
Paulo (vs. 9-11) e depois sua ação de graças (vs.
12-14).

I. A ORAÇÃO DO APÓSTOLO PARA QUE OS


SANTOS SEJAM CHEIOS DO PLENO
CONHECIMENTO DA VONTADE DE DEUS

O versículo 9 diz: “Por esta razão, também nós,


desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar
por vós e de pedir que transbordeis de pleno
conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e
entendimento espiritual”. A vontade de Deus aqui
refere-se à vontade do Seu propósito eterno, da Sua
economia a respeito de Cristo (Ef 1:5, 9, 11), e não à
Sua vontade em relação a coisas menores.

A. A Respeito do Cristo Todo-Inclusivo como


Nossa Porção

Anos atrás, quando os jovens me perguntavam


sobre coisas como casamento ou emprego, eu lhes
mencionava esse versículo em Colossenses. Dizia-lhes
que' deviam buscar conhecimento espiritual a fim de
conhecer a vontade de Deus. Contudo, a vontade de
Deus aqui não tem como centro coisas como
casamento, emprego ou moradia; ela diz respeito ao
Cristo todo-inclusivo como nossa porção. A vontade
de Deus para nós é que conheçamos o Cristo
todo-inclusivo, que O experimentemos e O vivamos
corno nossa vida. Conhecer Cristo dessa forma é ter o
pleno conhecimento da vontade de Deus.

B. Em Toda a Sabedoria Espiritual

Conhecer e experimentar o Cristo todo-inclusivo


requer toda a sabedoria e entendimento espiritual. As
palavras “toda” e “espiritual” referem-se tanto à
sabedoria corno ao entendimento. A sabedoria e o
entendimento espirituais são do Espírito de Deus em
nosso espírito, em contraste com a filosofia gnóstica,
que se limita à mente humana obscurecida. A
sabedoria está em nosso espírito para perceber a
vontade eterna de Deus; o entendimento espiritual
está em nossa mente, renovada pelo Espírito, para
compreender e interpretar o que percebemos no
espírito.
A sabedoria é a intuição em nosso espírito, ao
passo que o entendimento é a percepção em nossa
mente. Sentimos algo acerca de Cristo por meio da
intuição em nosso espírito. Juntamente com isso,
precisamos da mente para interpretar o que sentimos
no espírito a fim de ter entendimento. Então teremos
palavras para expressar o que sentimos e
entendemos. Isso requer o exercício de toda a
sabedoria e entendimento espiritual.
A vontade de Deus é profunda em relação a
conhecer, experimentar e viver o Cristo
todo-inclusivo. No versículo 9, Paulo não orava para
que os colossenses soubessem com quem deveriam
casar, onde deveriam viver, ou que tipo de emprego
deveriam ter; seu coração não estava ocupado com
tais coisas triviais. Nesse versículo, a vontade de Deus
refere-se a Cristo. Não era a vontade de Deus que os
colossenses seguissem as observâncias judaicas, as
ordenanças gentias ou as filosofias humanas. Além
disso, não era Sua vontade que praticassem o
ascetismo, tratando o corpo com severidade a fim de
refrear a concupiscência da carne. A vontade de Deus
era que conhecessem, experimentassem,
desfrutassem e vivessem Cristo, e Cristo se tornasse
sua vida e pessoa. A vontade de Deus para nós hoje é
exatamente a mesma. É corno se Paulo dissesse:
“Colossenses, vocês foram distraídos, desviados e
enganados pelo gnosticismo, misticismo, ascetismo,
observâncias e ordenanças. Vocês precisam ser cheios
do pleno conhecimento da vontade de Deus. Sua
vontade é que o Cristo todo-inclusivo seja a porção de
vocês”,
Se soubermos que a vontade de Deus é que
sejamos saturados de Cristo, teremos o conhecimento
adequado da Sua vontade. Tudo o que fazemos deve
ser feito na vontade de Deus; devemos casar,
trabalhar e agir em Cristo. Cristo deve ser nossa vida
e pessoa. Essa é a vontade de Deus.
C. Andar de Modo Digno do Senhor

No versículo 10, Paulo diz: “A fim de viverdes de


modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado,
frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno
conhecimento de Deus”. Viver ou andar de modo
digno do Senhor resulta do pleno conhecimento da
vontade de Deus. Se soubermos que a vontade de
Deus é que sejamos saturados de Cristo, tomemos
Cristo como nossa vida e pessoa, e O vi vamos,
espontaneamente nosso andar será digno do Senhor.
Alguns acham que andar de modo digno do Senhor é
ser humilde, bondoso ou generoso. Entretanto, um
andar digno é aquele em que vivemos Cristo.
Podemos ser humildes, bondosos e generosos sem
viver por Cristo. Somente expressando Cristo
podemos andar de modo digno do Senhor. Cristo é a
vontade de Deus; Ele deve ser também o nosso andar.

1. O Seu Inteiro Agrado

Um andar digno do Senhor é “para o seu inteiro


agrado”, ou “agradando-lhe em tudo” (VRC), e agrada
ao Senhor de todas as maneiras. Deus Pai se compraz
no Filho (Mt 3:17; 17:5). Em Gálatas 1:15-16 Paulo diz
que aprouve a Deus, ou seja, Deus agradou-se, teve
prazer, em revelar Cristo, o Filho, nele. Nada agrada
mais a Deus Pai do que vivermos Cristo. Além de
Cristo, nada pode agradar ao Pai.
Somos plenamente felizes apenas quando
vivemos Cristo. Se formos humildes ou bondosos de
maneira natural não seremos felizes. Mas se
tomarmos Cristo como nossa vida e pessoa e O
expressarmos, seremos os mais felizes na face da
terra. Viver Cristo agrada não somente ao Pai, mas
também a nós; a coisa mais agradável é viver Cristo,
desfrutar Cristo e experimentar Cristo.

2. Frutificar em Toda Boa Obra

Se andarmos de modo digno do Senhor,


frutificaremos em toda boa obra. Não entenda isso
segundo o conceito natural; frutificar aqui refere-se a
viver, cultivar, expressar e gerar Cristo em todos os
aspectos. Essa é a boa obra que Paulo tinha em
mente.

3. Crescer pelo Pleno Conhecimento de Deus

Esse tipo de obra está relacionado com


“crescendo no pleno conhecimento de Deus”. Esse
conhecimento não é o conhecimento em letras na
mente, mas o conhecimento vivo de Deus no espírito,
por meio do qual crescemos em vida. Precisamos de
tal conhecimento a fim de viver, cultivar e gerar
Cristo.
Cristo é não só a vontade de Deus e nosso andar;
Ele é também toda boa obra e até mesmo o pleno
conhecimento de Deus. Mais uma vez vemos que
Cristo é todo-inclusivo. Quanto mais nos
aprofundamos no livro de Colossenses, mais vemos
que Cristo é esperança, verdade, graça, a vontade de
Deus, e tudo para nós.

4. Fortalecidos com Todo o Poder

No versículo 11, Paulo prossegue: “Sendo


fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua
glória, em toda a perseverança e longanimidade; com
alegria”. Esse poder é não somente o poder da
ressurreição de Cristo (Fp 3:10), mas o próprio Cristo.
Dentro de nós temos Cristo como um dínamo, que
continuamente nos fortalece “segundo a força da sua
glória”. Essa é a força que expressa a glória de Deus;
ela glorifica a Deus em Sua força. Somos fortalecidos
com essa força.
Por meio de Cristo somos fortalecidos “em toda a
perseverança e longanimidade; com alegria”. [Alguns
editores colocam vírgula, e não ponto-e-vírgula entre
longanimidade e com alegria.] Por causa desse poder
maravilhoso, podemos estar alegres até mesmo em
sofrimentos. Por meio desse poder podemos receber
com alegria tudo que acontece conosco. A razão de
estarmos alegres é o fato de termos o Cristo
ressurreto como o poder em nosso interior. Se
permanecermos alegres nos períodos de aflição, não
envelheceremos tão rapidamente; pelo contrário,
aparentaremos ser mais novos do que somos.
O apóstolo Paulo não orou para que os
colossenses tivessem o melhor marido ou esposa, a
melhor casa e o melhor emprego. Além disso, não
orou para que não passassem por sofrimentos. Antes,
orou para que fossem fortalecidos em toda
perseverança e longanimidade com alegria, isto é,
orou para que tivessem a capacidade de sofrer
pacientemente com alegria. Sofrer pacientemente
com alegria é suportar sofrimentos em Cristo. Os
sofrimentos podem na verdade ajudar-nos a ter
desfrute ainda maior de Cristo. Cristo é a alegria, a
perseverança e a longanimidade. Portanto, a oração
de Paulo é uma oração absoluta pela experiência de
Cristo.

II. A AÇÃO DE GRAÇAS DO APÓSTOLO A. Ao


Pai

Em 1:12-14, chegamos à ação de graças de Paulo.


Em sua oração, ele deu graças ao Pai, que é a origem e
fonte de toda bênção. Dando graças ao Pai, ele nos
traz ao seu tema: o Cristo todo-inclusivo.

B. Por Nos Qualificar para Participar da


Herança dos Santos na Luz

Em contraste com muitos cristãos hoje, Paulo


não deu graças por coisas como cura, saúde, moradia,
vida familiar ou emprego; ele deu graças ao Pai por
nos qualificar para a “parte que vos cabe da herança
dos santos na luz”. O livro de Colossenses diz respeito
a Cristo, a Cabeça do Corpo. Portanto, a herança dos
santos aqui é o Cristo todo-inclusivo para o desfrute
deles. O Pai nos qualificou não para herdar uma
mansão celestial, e, sim, para ter parte em Cristo
como a herança todo-inclusiva dos santos. Podemos
declarar com ousadia que Cristo é nossa porção,
nossa herança todo-inclusiva.
A palavra grega traduzida por herança nesse
versículo corresponde à palavra hebraica usada para
a partilha da boa terra. Depois que os filhos de Israel
entraram na terra de Canaã, cada tribo recebeu um
quinhão, uma parte da terra. É claro, nossa parte, ou
quinhão, hoje não é um lote de terra na Palestina; é o
Cristo todo-inclusivo. Como precisamos agradecer ao
Pai por ter-nos dado Cristo como quinhão divino!
Cada tribo tinha um quinhão da boa terra, e os
membros da tribo tinham parte desse quinhão.
Segundo o mesmo princípio, nós temos parte da
porção, da herança, dos santos. Isso quer dizer que
todos temos parte em Cristo.
No versículo 12, Paulo ressalta que nossa parte
da herança dos santos está na luz. A luz aqui
contrasta com as trevas no versículo seguinte.
Quando estávamos debaixo da autoridade de Satanás,
estávamos em trevas. Agora, porém, estamos no reino
de Cristo, desfrutando-O na luz.
C. Por Nos Ter Livrado da Autoridade das
Trevas e Transferido para o Reino do Filho do
Seu Amor

O versículo 13 é a explicação e a definição de


como o Pai nos fez idôneos à parte que nos cabe da
herança dos santos. Esse versículo diz que o Pai “nos
libertou do império das trevas e nos transportou para
o reino do Filho do seu amor”. Para que Cristo fosse a
Cabeça do Corpo e para que nós, os que cremos Nele,
fôssemos membros de Seu Corpo, Ele precisava
libertar-nos da autoridade das trevas, o reino de
Satanás (Mt 12:26), e transferir-nos para o reino de
Cristo, o reino do Amado de Deus. Isso foi para
fazer-nos idôneos a ter parte em Cristo como nossa
porção, nossa herança.
Se ainda estivéssemos debaixo da autoridade das
trevas não estaríamos qualificados para ter parte em
Cristo. Mas o Pai nos libertou da autoridade das
trevas. Louvado seja Ele, pois já não estamos no reino
satânico! Ser libertados da autoridade das trevas foi o
primeiro passo para tornar-nos idôneos a ter parte
em Cristo.
O segundo passo foi ser transferidos para o reino
do Filho do amor de Deus. Passamos por libertação e
transferência, Visto que Satanás é trevas, e Cristo, o
Filho de Deus, é luz, o reino de Satanás é a autoridade
das trevas, ao passo que o reino do Filho de Deus é o
reino da luz. Uma vez libertados do reino de Satanás e
transferidos para o reino de Cristo, fomos feitos
idôneos a ter parte na herança dos santos.

D. Pela Redenção, o Perdão dos Pecados

No versículo 14, Paulo continua: “No qual temos


a redenção, a remissão dos pecados”. A libertação no
versículo 13 trata com a autoridade de Satanás sobre
nós, destruindo seu poder maligno, enquanto a
redenção nesse versículo trata com os nossos pecados
ao cumprir ajusta exigência de Deus. A remissão, o
perdão dos pecados, é a redenção que temos em
Cristo. A morte de Cristo cumpriu a redenção para o
perdão dos nossos pecados.
Em Cristo, o Filho do amor de Deus, temos
redenção e perdão. Quando cremos em Cristo como
nosso Redentor, Deus imediatamente libertou-nos da
autoridade das trevas e transferiu-nos para o reino da
luz. Aqui, na luz, somos idôneos a ter parte na
herança dos santos. Isso quer dizer que estamos
qualificados para desfrutar Cristo. Visto que essa
qualificação é um fato consumado, não há
necessidade de orarmos a respeito dela. Antes,
juntamente com Paulo devemos simplesmente
agradecer ao Pai por isso. Entretanto, precisamos
orar para conhecer a vontade de Deus e andar de
modo digno do Senhor para agradar-Lhe em todas as
coisas. Agora que estamos no reino do Filho do amor
de Deus, desfrutando-O na luz, precisamos
conhecê-Lo plenamente e andar de modo digno Dele.
O tema de Colossenses é o Cristo todo-inclusivo,
o Cristo que é tudo para nós. Todo dia podemos
desfrutá-Lo como nossa porção, nossa herança.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM QUATRO

LIBERTADOS DA AUTORIDADE DAS TREVAS E


TRANSFERIDOS PARA O REINO DO FILHO DO SEU
AMOR
Em 1:13 Paulo diz: “Ele nos libertou do império
das trevas e nos transportou para o reino do Filho do
Seu amor”. O que Paulo diz aqui corresponde ao que
lhe foi dito pelo Senhor no caminho de Damasco. De
acordo com Atos 26:17b-18, o Senhor disse a Paulo:
“Para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e
os converteres das trevas para a luz e da potestade de
Satanás para Deus, a fim de que recebam eles
remissão de pecados e herança entre os que são
santificados pela fé em mim”. Tanto nesse versículo
como em Colossenses 1:12-13 Paulo fala de trevas, luz,
autoridade, dos que são santificados e da porção ou
herança. Sem dúvida, as palavras de Paulo aos
colossenses refletem as palavras do Senhor a ele na
época de sua conversão.
Anos atrás eu achava que a autoridade das trevas
referia-se somente a coisas malignas como jogos de
azar, roubo e fornicação. Mais tarde percebi que aqui
esse termo inclui muito mais que isso. Em
Colossenses, a autoridade das trevas não se refere a
coisas malignas, e, sim, a observâncias religiosas,
ordenanças gentias e à filosofia gnóstica. No capítulo
dois Paulo associou a idolatria, a adoração de anjos, à
filo. sofia, ao misticismo, ao gnosticismo e ao
ascetismo. O ascetismo denota a prática de tratar
severamente o corpo a fim de refrear a indulgência da
carne. Esse tipo de prática é encontrado no
hinduísmo, no budismo e no catolicismo. Como
veremos mais tarde, o ascetismo não tem valor algum
contra a indulgência da came (2:23). As observâncias
religiosas, o ascetismo e as filosofias não são
malignos. Algumas observâncias são até mesmo
baseadas nos mandamentos de Deus no Antigo
Testamento, como, por exemplo, os regulamentos
alimentares. Contudo, quando Paulo diz que o Pai nos
libertou da autoridade das trevas, ele quer dizer as
trevas dessas próprias observâncias, ordenanças,
filosofias e práticas ascéticas. Todos consideramos os
cassinos algo sob a autoridade das trevas; mas poucos
consideram as filosofias ou ensinamentos éticos
também como parte dessa autoridade. Portanto, é
crucial que entendamos o uso que Paulo faz desse
termo no livro de Colossenses.

I. LIBERTADOS DA AUTORIDADE DAS


TREVAS

A. A Autoridade das Trevas é a Autoridade de


Satanás, a Autoridade do Mal nos Lugares
Celestiais

A autoridade das trevas denota a autoridade de


Satanás. Deus é luz, e Satanás é trevas. A autoridade
tenebrosa de Satanás é a autoridade do mal nos
lugares celestiais, no ar (Ef 6:12). Esse mal refere-se a
algo em rebelião contra Deus. A autoridade do mal,
da rebelião, nos lugares celestiais é o reino de
Satanás, a autoridade das trevas (Mt 12:26).

B. Relacionadas com a Morte

Trevas estão relacionadas com a morte. Onde há


trevas, também há morte. Essas trevas se opõem à
luz, relacionada com a vida. Satanás, trevas e morte
opõem-se a Deus, luz e vida. De acordo com 1 Pedro
2:9, fomos chamados das trevas para a maravilhosa
luz de Deus. Trevas é Satanás como morte, mas luz é
o próprio Deus como vida.

C. Libertados do Diabo, que Tem o Poder da


Morte

Ser libertado da autoridade das trevas é ser


libertado do diabo, que tem o poder da morte (Hb
2:14; Jo 17:15). Fomos libertados do diabo, Satanás,
pela morte de Cristo (Cl 2:15) e pela vida de Cristo em
ressurreição (10 5:24).
Vimos que a autoridade das trevas é o reino de
Satanás, e o próprio Satanás é trevas. Seu reino é um
sistema. Nem tudo nesse sistema é maligno; pelo
contrário, muitas coisas são boas, ou pelo menos
consideradas boas pela sociedade. Satanás usa
diversas coisas, boas e más, para sistematizar as
pessoas e mantê-las no seu sistema. Para as que
gostam de jogar, ele usa os jogos de azar para
sistematizá-las; portanto, em seu reino há um
ministério, um departamento de jogos de azar.
Todavia, Satanás percebe que outros podem apreciar
o conhecimento. A fim de sistematizá-los, ele tem um
departamento de conhecimento em seu reino. A
maioria das pessoas condena o jogo, mas dificilmente
alguém condena o conhecimento. Se encorajarmos as
pessoas a ficar longe dos aspectos malignos do
sistema de Satanás, seremos apreciados. Ele
sistematiza algumas pessoas seduzindo-as a praticar
o mal, mas sistematiza outras para, por meio de
esforços próprios, suprimir o mal.
Outro departamento do reino de Satanás é o
ministério da filosofia. Depois de falar da autoridade
das trevas, Paulo menciona ordenanças,
observâncias, filosofias e os rudimentos do mundo,
que são, todos eles, aspectos dessa autoridade
satânica. Hoje, muitas pessoas são mantidas sob o
controle de Satanás por meio da filosofia. Por esse
motivo, freqüentemente é mais fácil trazer a Cristo
alguém envolvido com cassinos do que uma pessoa
que se dedica à filosofia. Na China era difícil
converter os seguidores de Confúcio; Satanás usava
os ensinamentos. éticos de Confúcio para
sistematizar e controlar muitos chineses. Ele os
controlava e os mantinha debaixo da sua autoridade
por meio da filosofia ética.
Os judeus e os muçulmanos opõem-se
vigorosamente ao evangelho de Cristo. Os
muçulmanos são controlados não por coisas
malignas, mas pelos princípios do Islã. Em certo
sentido, esses princípios são bons; mas, por outro
lado, são terríveis.
Os mórmons, que são conhecidos como
honestos, éticos e morais no viver diário, também são
controlados por coisas aparentemente boas. Eles não
se abstêm apenas de bebidas alcoólicas; não bebem
nem mesmo café ou chá. Como parecem ser rigorosos
e corretos! Contudo, o mormonismo é parte da
autoridade das trevas, e os mórmons são mantidos e
controlados em trevas por Satanás.
Na época de Paulo, o judaísmo tornara-se parte
significativa da autoridade das trevas. Quando Paulo,
um fanático religioso proeminente no judaísmo,
seguia em direção a Damasco, estava totalmente
debaixo dessa autoridade. O Senhor então lhe
apareceu e o incumbiu de abrir os olhos das pessoas,
para que se convertessem das trevas para a luz. Como
conseqüência do seu encontro com Cristo, Paulo ficou
temporariamente cego; essa cegueira indicava que,
antes, ele estava entre os cegos. Agora, tendo sido
trazido a Cristo, ele deveria procurar converter os
outros das trevas para a luz, da autoridade de Satanás
para Deus. Antes de ser salvo, ele estava debaixo da
autoridade de Satanás. A religião judaica era a
autoridade das trevas pela qual ele era controlado.
Se quisermos entender adequadamente
Colossenses 1:13, precisamos considerar esse
versículo no contexto de toda a Epístola.
Considerando o livro como um todo, vemos que a
autoridade das trevas inclui a religião judaica com
suas observâncias, principalmente a circuncisão; essa
autoridade também inclui as ordenanças, a filosofia, o
misticismo e o ascetismo gentios. Em todo o mundo
hoje, as pessoas estão debaixo de trevas, assim como
quando Colossenses foi escrito. Estar em trevas é
simplesmente estar sem luz. Toda universidade e
todo grupo social está sob a autoridade das trevas.
Todos os aspectos da sociedade, inclusive o
cristianismo, estão em trevas. Não pense que as
trevas são encontradas somente onde há coisas
malignas. Paulo estava dizendo aos colossenses que
Deus os livrara da autoridade das trevas, isto é, das
formalidades, ordenanças, práticas, ascetismo,
misticismo e filosofia. Embora essas coisas incluam
os mais elevados produtos da cultura, mesmo assim
constituem a autoridade das trevas, pela qual Satanás
controla as pessoas .
. Precisamos perguntar-nos quanto ainda
estamos debaixo da autoridade das trevas. Podemos
falar muito sobre viver Cristo, mas quanto de fato
vivemos por Ele? Na vida diária, muitos ainda
estamos sob algum aspecto da autoridade satânica
das trevas. Inconsciente, subconsciente e
espontaneamente vivemos de acordo com o ego, e não
de acordo com Cristo. Quanto de cada dia você vive
no espírito e anda segundo o espírito? Quanto tempo
você ainda vive e anda no ego? Sempre que vivemos
no ego estamos debaixo do controle da autoridade
das trevas e somos sistematizados por Satanás.
Estamos sob o controle de Satanás sempre que
estamos no homem natural ou vivemos segundo o
ego. Por causa desse controle satânico, muitos têm a
sensação de que estão em trevas, que não têm luz. O
motivo de estar sob trevas é que ainda são
controlados de alguma forma pela autoridade das
trevas. Toda a humanidade, tanto os religiosos como
os não religiosos, está em trevas. Nessas trevas, a
autoridade de Satanás é exerci da de diversas formas
para sistematizar as pessoas e controlá-las.
Satanás tem muitas maneiras de controlar os
cristãos. Os visitantes em nossas reuniões podem
estar sob a autoridade das trevas, principalmente as
trevas da doutrina e do entendimento doutrinário. A
maioria dos cristãos está sob alguma forma de
controle doutrinário; eles não têm consciência de que
esse controle é a autoridade das trevas.
Outros estão sob a autoridade das trevas porque
vivem conforme alguma virtude natural; podem ser
naturalmente bondosos ou humildes. Entretanto,
mesmo mediante virtudes como essas, Satanás pode
controlar-nos e manter-nos sob a autoridade das
trevas. Alguns não recebem luz porque estão sob as
trevas das virtudes naturais. Toda virtude natural é
um aspecto da autoridade das trevas.
Muitos santos são controlados pela sua
disposição, seja ela rápida ou lenta. Seja qual for a
nossa disposição ou temperamento, Satanás pode
usá-los para nos controlar.
Ao ler essas palavras sobre a extensão da
autoridade das trevas e sobre todas as maneiras que
Satanás usa para nos manter em trevas e nos
controlar, você pode se perguntar como devemos
viver. Pode parecer que não há maneira de
prosseguir. Tudo o que somos, fazemos, pensamos e
dizemos está debaixo da autoridade das trevas. Essa é
a situação real. A única coisa que podemos fazer é ir à
cruz e permitir que ela elimine todos os aspectos da
autoridade satânica das trevas. A cruz é o único
caminho. Também precisamos crer no que Paulo diz
em 1:13: Já fomos libertados da autoridade das
trevas.

II. TRANSFERIDOS PARA O REINO DO


FILHO DO SEU AMOR

A. O Reino do Filho É a Autoridade de Cristo

Fomos não só libertados da autoridade das


trevas, mas também transferidos para o reino do
Filho do amor de Deus. O reino do Filho é a
autoridade de Cristo (Ap 11:15; 12:10).

B. O Filho do Pai É a Expressão do Pai como a


Fonte da Vida

O Filho do Pai é a expressão do Pai como a fonte


da vida (Jo 1:18, 4; 1Jo 1:2). O Pai como a fonte da
vida é expresso no Filho.
O Filho do amor do Pai é o objeto do amor do Pai
para ser a corporificação da vida para nós no amor
divino com a autoridade em ressurreição. O Filho,
como a corporificação da vida divina, é o objeto do
amor do Pai. A vida divina corporificada no Filho
é-nos dada no amor divino. Portanto, o objeto do
amor divino toma-se para nós a corporificação da
vida no amor divino com a autoridade em
ressurreição. Esse é o reino do Filho do Seu amor.
É mais fácil usar uma ilustração do reino do
Filho do Seu amor do que dar uma definição
adequada. Considere a nossa experiência. Ao
perceber que o Senhor Jesus é tão amoroso e amável,
começamos a amá-Lo. Ao amá-Lo, temos a
consciência de um doce sentimento de amor. Esse
sentimento de amor inclui não só o Senhor Jesus;
também nos inclui. Percebemos que também somos
objeto do amor divino. Como objeto desse amor,
espontaneamente permanecemos sob determinado
controle ou governo. Antes de começar a amar o
Senhor Jesus, éramos livres para fazer tudo o que
quiséssemos. Contudo, quanto mais dizemos:
“Senhor Jesus, eu Te amo”, menos liberdade temos.
Antes de começar a amar o Senhor Jesus, não
sentíamos esse governo ou restrição; podíamos
maltratar as pessoas ou nos envolver em
divertimentos mundanos sem qualquer sentimento
de restrição interior. Mas tendo passado a amar o
Senhor Jesus, permanecemos sob Seu governo. Esse
governo não é cruel ou impiedoso; pelo contrário, é
doce e agradável. Oh! somos restringidos e
governados de tal maneira doce! Pelo fato de o
governo do Senhor em nós sei-agradável, não
desejamos nem mesmo falar palavras vãs ou ter
algum pensamento que Lhe desagrade. Somos
completamente governados e restringidos na doçura
do amor. Esse é o reino do Filho do Seu amor.
Quanto mais estivermos dispostos a ser
restringidos e governados pelo Senhor Jesus sendo
motivados pelo nosso amor por Ele, mais
cresceremos em vida, até mesmo em abundância de
vida. Isso indica que o reino do Filho do Seu amor é
para nosso desfrute de Cristo como vida. Aqui somos
libertados de tudo que não é Cristo, não só de coisas
malignas, mas também de coisas como filosofia,
ordenanças, observâncias e ascetismo. Quando nos
apegamos à nossa filosofia, ética, ascetismo e
ordenanças, estamos debaixo da autoridade das
trevas. Mas Deus nos libertou dessa autoridade e nos
transportou para um reino de amor que é cheio de
vida e luz. Aqui não temos observâncias, rituais,
ordenanças, práticas, filosofias, misticismo,
gnosticismo ou ascetismo; temos somente Cristo, o
Filho do Seu amor. Aqui temos amor, luz e vida. Isso
é viver por Cristo.
Viver por Cristo significa que não vivemos por
coisa alguma que não seja o próprio Cristo. Se
enxergarmos o que é viver por Cristo, perceberemos
que muitos de nós ainda estão sob alguma forma de
controle estabelecido pelo ego, um controle instituído
e exercido pelo ego; esse tipo de controle é a
autoridade das trevas. Se estivermos debaixo dessa
autoridade, não receberemos luz ao ler a Bíblia nem
teremos palavras para orar. Embora o Pai nos tenha
libertado da autoridade das trevas, do nosso
pensamento, emoção, preferência e comportamento
naturais, pode ser que ainda estejamos em algum
aspecto do nosso ser natural. Isso faz com que
sejamos mantidos sob a autoridade das trevas. Por
estarmos, na realidade, sob a autoridade e controle
das trevas, e por não estarmos no reino do Filho do
Seu amor de forma prática, temos pouco desfrute de
Cristo como a porção dos santos.
Posso testificar que, pela misericórdia do Senhor,
não sou controlado pelas trevas. Os outros podem às
vezes perguntar-se por que, em determinados
aspectos, pareço não ser coerente. O motivo é que não
estou debaixo do controle de nenhum aspecto das
trevas. Sou flexível em relação a coisas que não são
pecaminosas; posso dar uma resposta agora, e outra
resposta em outra ocasião. Lembrem-se, o livro de
Colossenses não trata do pecado, mas de ordenanças,
práticas e filosofias. Suponha que um irmão me
pergunte sobre comer determinado alimento. Posso
dizer-lhe que ele tem a liberdade de comer tudo que
deseja. Mas para outro irmão que faça a mesma
pergunta posso dar outra resposta, uma resposta
apropriada para sua situação. Pode parecer que não
sou coerente, mas na verdade não se trata de
coerência, e, sim, de recusar estar debaixo do controle
da autoridade das trevas mediante ordenanças e
observâncias.
Insistir em determinada ordenança ou prática é
estar debaixo da autoridade das trevas. Nosso Pai nos
libertou da autoridade das trevas e nos transportou
para o reino do Filho do Seu amor. Aqui somos
restringidos pelo amor divino na vida divina. Em vez
de ordenanças, observâncias, religião ou ismos,
temos Cristo, e somente Cristo. Se enxergarmos isso
não haverá discussões ou divisões na vida da igreja.
Se alguma coisa nos divide, isso é uma indicação
de que algum elemento da autoridade das trevas
ainda está conosco. A divisão e a confusão entre os
cristãos hoje são resultado da influência da
autoridade das trevas. Se virmos o que é viver por
Cristo não teremos observâncias ou ordenanças. Isso
não quer dizer que não honramos a Palavra sagrada.
Cremos na Bíblia e a honramos, mas não a tomamos
como livro de observâncias e ordenanças. Pelo
contrário, tomamos a Bíblia como a revelação do
Cristo vivo.
Ser transferido para o reino do Filho do amor do
Pai é ser transferido para o Filho e unido a Ele, que é
vida para nós (1Jo 5:12). O Filho em ressurreição (1Pe
1:3; Rm 6:4-5) é agora o Espírito que dá vida (1Co
15:45b). Ele nos governa em Sua vida de ressurreição
com amor; isso é o reino do Filho do amor do Pai.
Quando vivemos pelo Filho como nossa vida em
ressurreição, vivemos em Seu reino, desfrutando-O
no amor do Pai.
Fomos transferidos para um reino onde somos
governados em amor com vida. Aqui, sob o governo e
a restrição celestiais, temos a verdadeira liberdade, a
liberdade adequada em amor, com vida e sob a luz.
Isso é o que quer dizer ser libertado da autoridade das
trevas e transferido para o reino do Filho do Seu
amor. Aqui, nesse reino, desfrutamos Cristo e temos a
vida da igreja; aqui não há opiniões nem divisões.
Temos somente uma coisa: a vida da igreja com
Cristo como tudo para nós. Essa é a revelação do livro
de Colossenses.
Em Colossenses, a autoridade das trevas
refere-se aos bons aspectos da cultura e do caráter,
disposição e ser natural. A autoridade das trevas
inclui nossas virtudes, religião, filosofia,
observâncias, ordenanças, princípios e padrões
éticos. Deus nos libertou de tudo isso e nos transferiu
para o reino do Filho do Seu amor, onde vivemos sob
governo e restrição celestiais. Nesse reino não
estamos debaixo de um governo cruel e impiedoso, e,
sim, sob o governo amoroso do Filho; aqui não
sentimos que estamos debaixo de justiça, poder ou
autoridade, e, sim, sob o amoroso e amável Senhor
Jesus. Quanto mais dizemos ao Senhor Jesus que O
amamos, duas coisas ocorrem: por um lado, nos
tomamos mais livres; por outro lado, somos mais
restringidos e governados. Uma vez que O amamos,
desejamos tomá-Lo como nossa pessoa e vida. Essa é
a vida cristã adequada para a vida da igreja.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM CINCO

O CRISTO PREEMINENTE E TODO-INCLUSIVO, A


CENTRALIDADE E UNIVERSALIDADE DE DEUS

Leitura Bíblica: Cl 1:15, 18; 3:11

O PANO DE FUNDO: O IMPÉRIO DAS


TREVAS

Ao lidar com os fanáticos judeus, o Senhor Jesus


declarou que eles eram cegos (Mt 15:14; 23:16, 17, 19,
24, 26). Em João 12:46 o Senhor Jesus disse: “Eu vim
como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que
crê em Mim não permaneça nas trevas”. O Senhor
disse às pessoas que, sem Ele, elas estavam em trevas.
Além disso, em João 8:12 Ele declarou: “Eu sou a luz
do mundo; quem Me segue de modo algum andará
nas trevas, mas terá a luz da vida”. As palavras do
Senhor aqui indicam que todo o que não O receber
como vida não terá luz alguma, mas andará em
trevas.
Os evangelhos indicam claramente que a religião
judaica, formada e constituída segundo a Palavra de
Deus, havia se tomado trevas. Junto com essas trevas
havia uma autoridade, aquela identificada por Paulo
em Colossenses 1:13 como o império das trevas. [O
termo império, segundo o original grego é
autoridade.] Os fariseus e os sacerdotes estavam sob
essa autoridade das trevas. De fato, essa autoridade
satânica das trevas controlava todo ó judaísmo;
controlava o templo, o sacerdócio, e até mesmo a
compreensão das Escrituras. O judaísmo estava
totalmente sob o controle dessa autoridade. Nos
Evangelhos essas trevas estão relacionadas não com o
mundo gentio, mas com a religião judaica, que fora
formada segundo as Escrituras.
O livro de Atos revela, ainda mais claramente do
que os quatro Evangelhos, que a religião judaica
tornara-se completamente a autoridade das trevas,
sob a qual as pessoas eram controladas. Os fanáticos
judeus foram responsáveis por lançar os apóstolos na
prisão e matar Estêvão. Saulo de Tarso era um deles,
e também estava sob o controle da autoridade das
trevas. Ao executar a vontade da autoridade das
trevas, perseguindo arrojadamente os que invocavam
o nome do Senhor Jesus, ele foi confrontado com o
Senhor no caminho de Damasco. Como ele próprio
testificou mais tarde, viu “uma luz no céu, mais
resplandecente que o sol”, que brilhou ao redor dele
(At 26:13). Além disso, o Senhor lhe disse: “Saulo,
Saulo, por que me persegues?” (At 26:14). Por meio
do brilho dessa luz e do falar do Senhor, Saulo de
Tarso foi libertado da autoridade das trevas e
transportado para outra esfera, uma esfera de luz,
que é o reino do Filho do amor de Deus.
De acordo com o Novo Testamento, o Filho de
Deus é a expressão da vida divina e sua
corporificação; isso quer dizer que o reino do Filho é
uma esfera de vida. O fato de o reino para o qual
fomos transferidos ser o reino do Filho do amor de
Deus indica que essa esfera de vida é em amor, e não
em medo. O reino no qual nos encontramos hoje é
uma esfera cheia de vida, luz e amor.
Assim como a religião judaica tornou-se parte da
autoridade das trevas, a igreja também caiu debaixo
dessa autoridade tenebrosa dominante. A degradação
começou pouco depois de a igreja vir a existir. Em 1
Coríntios vemos coisas malignas como divisão,
fornicação e processos legais. Colossenses, pelo
contrário, não trata de coisas pecaminosas, mas de
religião, observâncias, ordenanças e filosofia. Embora
os santos em Colossos não tenham caído em coisas
malignas, foram subjugados pela autoridade das
trevas ao permitir que os mais elevados produtos da
cultura invadissem a igreja.
Ao escrever a Epístola ao Colossenses, Paulo
parecia dizer: “Queridos santos em Colossos, antes de
crer em Cristo eu passei muitos anos sob a autoridade
das trevas no judaísmo. Mas um dia fui libertado
dessa autoridade e transferido para o reino do Filho
do amor de Deus. Pela pregação do evangelho, vocês
também foram libertados da autoridade das trevas e
transferidos para a mesma esfera maravilhosa na
qual estou. Por que, então, voltaram para as coisas
das quais foram libertados? Vocês voltaram para a
religião judaica e a filosofia grega. Foram novamente
subjugados pelos conceitos que controlavam seus
pensamentos e vida no passado. Isso quer dizer que
agora vocês estão debaixo da própria autoridade das
trevas das quais foram libertados; foram carregados
como despojo de guerra, como presa. Por que ainda
observam as luas novas, os sábados e regulamentos
sobre comer e beber? Não sabem que tudo isso é a
autoridade das trevas?” Paulo sabia que os
colossenses tinham caído novamente debaixo da
autoridade satânica das trevas.
Segundo o mesmo princípio, a Igreja Católica, as
denominações protestantes e os diversos grupos
cristãos independentes estão, até certo ponto,
debaixo da autoridade das trevas hoje; estão em
trevas porque a maioria deles tem Cristo no nome,
mas não na realidade. Cristo é a única luz; fora Dele
não há luz. O motivo de tantos cristãos estarem em
trevas é que não têm Cristo em sua experiência. Os
seminaristas podem estudar teologia e cristologia;
contudo, podem não ter a experiência genuína de
Deus e de Cristo. Estão, portanto, sem luz.
Muitos cristãos insistem que a Bíblia é cheia de
luz. Isso, naturalmente, é verdade; mas se não a
lermos na presença do Senhor, até mesmo a Palavra
estará em trevas. Seremos como os fariseus, a quem o
Senhor Jesus falou em João 5:39-40: “Examinais as
Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e
são elas que testificam de Mim. Contudo, não quereis
vir a Mim para terdes vida”. É possível termos a
Bíblia nas mãos e ainda assim sermos cegos e
estarmos em trevas. Os religiosos ficaram ofendidos
quando Cristo lhes disse que eram cegos (109:34-41).
Eles achavam que estavam na luz porque tinham as
Escrituras exteriormente, em letras. Na verdade,
porém, eram cegos, pois não tinham Cristo, que é a
única luz do mundo. Qualquer lugar onde o Senhor
Jesus não estiver presente estará debaixo da
autoridade das trevas.
Precisamos aplicar esse princípio a nós mesmos.
Qualquer parte do nosso ser ou da vida diária que
esteja sem Cristo estará em trevas. Se nós, na
restauração do Senhor, não tivermos Cristo na
experiência e de forma prática no andar diário,
estaremos em trevas. Não pense que, apenas porque
ouve tantas mensagens e ensinamentos, você está na
luz; é bem possível que ainda esteja em trevas.
Por exemplo, podemos ainda estar sob a
autoridade das trevas na vida conjugal. Quando um
irmão discute com a esposa, tanto ele como ela estão
em trevas. Por estarem em trevas, acusam e culpam
um ao outro. O mesmo ocorre quando há discussões
entre irmãos ou entre irmãs. Nossa experiência
testifica que sempre que vivemos, andamos e nos
comportamos em nosso ego estamos em trevas. Não
há necessidade de cometer pecado grosseiro para
estar em trevas. Simplesmente viver de acordo com o
ego nos coloca em trevas, pois isso faz com que nos
separemos de Cristo.
Nunca devemos achar que as trevas prevalecem
somente no judaísmo, no catolicismo, nas
denominações e divisões, mas não em nós. É possível
que nós mesmos ainda estejamos debaixo da
autoridade das trevas. Sempre que estamos no
homem natural, não tomando Cristo como nossa
pessoa e vivendo por Ele, estamos em trevas.
Precisamos lembrar-nos que somente Ele é luz. Ele
deve saturar e prevalecer em todos os aspectos de
nosso viver diário. Senão, pelo menos certas partes do
nosso andar diário não serão preenchidas com Cristo,
e estarão em trevas.
Nossa casa tem muitos cômodos. Alguns
cômodos podem estar iluminados e outros, em
escuridão. O mesmo pode ocorrer com nosso ser
interior e o viver diário. Em determinados aspectos,
nossa vida e andar podem ser brilhantes, cheios de
luz, porque lá Cristo ocupa a posição predominante.
Entretanto, em outras partes do nosso ser ou em
outros aspectos do nosso viver podemos estar
fechados para o Senhor, não Lhe permitindo
tocar-nos. Essas partes da nossa vida e viver que
estão fechadas para Cristo estão espontaneamente
em trevas, pois Cristo, que é a própria luz, não tem
espaço nelas. Somente quando Ele ocupar cada parte
do nosso ser e cada aspecto do nosso andar diário é
que poderemos estar totalmente na luz e ser
totalmente libertados do controle da autoridade das
trevas.
O erro dos colossenses era receber e seguir
outras coisas além de Cristo. Aceitar alguma coisa no
lugar de Cristo é não só estar em trevas, mas também
debaixo da autoridade controladora das trevas.
Qualquer coisa que seja um substituto de Cristo
(filosofia, religião, caráter, virtudes, conceitos,
opiniões) torna-se a autoridade das trevas para nos
controlar. Em Colossos, a autoridade das trevas eram
as observâncias religiosas . judaicas, as ordenanças
pagãs, a filosofia, o misticismo e o ascetismo. Embora
essas coisas aparentassem ser boas, eram na verdade
a autoridade das trevas, porque substituíam Cristo.
Faziam com que Cristo, a luz, fosse colocado de lado.
Portanto, as trevas prevaleceram novamente, e
controlavam os santos na igreja. Essa era a situação
em Colossos, e pode ser também a situação hoje.

A PREEMINÊNCIA E TODO-INCLUSIVIDADE
DE CRISTO

Tendo isso como pano de fundo, precisamos ver


que Cristo é preeminente e todo-inclusivo, a
centralidade e universalidade de Deus. O livro de
Colossenses revela que Cristo é preeminente: Ele
ocupa o primeiro lugar em tudo. Tanto na primeira
criação como na nova criação, Cristo ocupa o
primeiro lugar. Em 1:15 é-nos dito que Cristo é o
“primogênito de toda a criação”, e, em 1:18, que Ele é
o “primogênito de entre os mortos”. A nova criação de
Deus é pela ressurreição. O fato de Cristo ser
preeminente na nova criação significa que Ele é o
primeiro em ressurreição. Ele é o primeiro, tanto na
criação como na ressurreição; isso significa que Ele é
o primeiro na velha criação (o universo) e na nova
criação (a igreja). O universo é o ambiente no qual a
igreja existe como o Corpo de Cristo para expressá-Lo
em plenitude. Cristo é o primeiro não só na igreja, o
Corpo, mas também no ambiente, no universo. Isso
quer dizer que Ele é o primeiro em tudo.
Colossenses 1:19 diz: “Porque aprouve a Deus
que, nele, residisse toda a plenitude”. [Segundo o
original grego, esse versículo também pode ser
traduzido por: “Porque nele toda a plenitude aprouve
habitar”.] Que é a plenitude mencionada nesse
versículo? Muitos responderiam que é a plenitude da
Deidade. Embora isso esteja correto, Paulo aqui não
especifica a palavra plenitude com os termos “da
Deidade” ou “de Deus”; ele simplesmente diz que
toda a plenitude aprouve habitar em Cristo. Há algo
no universo conhecido como plenitude, e essa
plenitude agradou-se em habitar no Cristo
preeminente, todo-inclusivo.
Muitos cristãos não fazem distinção entre
plenitude e riquezas. Quando falam da plenitude do
Espírito, querem dizer as riquezas do Espírito. Em
1:19 plenitude não denota as riquezas do que Deus é,
e, sim, a expressão dessas riquezas. Toda a expressão
do rico ser de Deus, tanto na criação como na igreja,
habita em Cristo. Toda a criação e toda a igreja estão
cheias de Cristo como tal expressão das riquezas de
Deus. Tal plenitude se agrada disso; isso é agradável a
Cristo.
Plenitude aqui significa expressão. Se algo não
tem plenitude, não pode ser expresso; se tiver
plenitude, poderá ser expresso. Por exemplo, se eu
tiver muito pouco amor, meu amor não poderá ser
expresso. Mas se meu amor for pleno, a plenitude do
meu amor será sua expressão. No mesmo princípio, a
plenitude é a expressão de tudo o que Deus é.
Segundo o original, em 1:19 Paulo fala apenas da
plenitude, não usando nenhuma palavra para
especificá-la. [A expressão de Deus foi inserida pelos
tradutores.] Isso indica que ele se refere à única
plenitude. Especificar a plenitude de alguma forma
deixaria implícito o fato de que ela não é única. A fim
de deixar claro que a plenitude é única, Paulo não
disse que é a plenitude de algo. Assim, plenitude aqui
é simplesmente a plenitude.
A plenitude, a expressão de Deus, é uma pessoa.
Muitos pronomes pessoais nos versículos seguintes
ai:19 referem-se à plenitude como uma pessoa. Isso
indica que ela é a expressão de Deus, e até mesmo o
próprio Deus. O Filho é preeminente nessa plenitude
porque toda a plenitude tem prazer em habitar Nele.
Portanto, Ele deve ter o primeiro lugar no ambiente e
na igreja. Ele é preeminente.
Ele também é todo-inclusivo. Cristo é a realidade
de todas as coisas positivas no universo. Se
conhecermos a Bíblia e a economia de Deus,
perceberemos que Cristo é os céus, a terra, o sol, vida,
luz, a estrela, árvores, flores, água, ar e alimento. As
coisas materiais são símbolos do que Ele é para nós.
Além disso, Ele é todos os atributos Divinos, tais
como poder, santidade, justiça, bondade e amor. É
também as virtudes humanas, como humildade e
paciência. Além disso, é a igreja e cada membro da
igreja, o edifício de Deus e cada pedra no edifício. Isso
quer dizer que Cristo é você e eu.
Alguns distorcem nossas palavras e nos acusam
falsamente de ensinar panteísmo. Panteísmo é a
crença satânica que identifica Deus com o universo.
Isso é diabólico, e nós o repudiamos totalmente. Mas
de acordo com a revelação da Bíblia, precisamos
testificar que Cristo, que é todo-inclusivo, é a
realidade de todas as coisas positivas. Quando
dizemos que Cristo é você e eu, não queremos dizer
que somos Deus nem que algum dia nos tornaremos
Deus. Do mesmo modo, quando dizemos que Cristo é
o verdadeiro alimento (ver Jo 6:55), não queremos
dizer que a comida física é Deus. Tal conceito é não só
absurdo, mas também satânico. Quem nos acusa de
ensinar panteísmo nunca viu a todo-inclusividade de
Cristo.
Sendo todo-inclusivo, Cristo é a central idade e
universalidade de Deus. Essa expressão foi usada pela
primeira vez pelo irmão Nee em 1934, na terceira
conferência de vencedores em Xangai. Usando o livro
de Colossenses, ele mostrou que o Cristo
todo-inclusivo é o centro e a circunferência do
propósito de Deus. Cristo é tanto a centralidade como
a universalidade do propósito de Deus; Ele é o centro
e também a borda. Em outras palavras, Cristo é tudo.
Repito, isso não é panteísmo; é simplesmente uma
afirmação de que Cristo é tanto o centro como a
circunferência da economia de Deus.
Quando ouvi pela primeira vez o irmão Nee falar
da centralidade e universalidade de Cristo, fiquei
muito surpreso; nunca ouvira falar disso. Tendo
como base a minha experiência desde 1934, posso
testificar que Cristo é de fato o centro e a
circunferência, a centralidade e a universalidade da
economia de Deus. Na economia de Deus, Cristo é
tudo.
Os colossenses estavam errados ao se voltar para
a religião e filosofia; tais coisas são contrárias à
economia de Deus, onde há lugar somente para
Cristo, que é tudo e em todos.

I. CRISTO NOS EVANGELHOS

A. Encarnado para Revestir-se da Velha


Criação

Vamos agora, de um ponto de vista global, olhar


para Cristo nos Evangelhos, em Atos, nas Epístolas,
em Apocalipse, e então em Colossenses. Nos
Evangelhos vemos que Cristo encamou-se para
revestir-se da velha criação. João 1:14 diz que a
Palavra (o Verbo) tornou-se carne. Carne aqui denota
o homem da velha criação. Rigorosamente falando,
Deus não criou a carne; criou um corpo para o
homem. Contudo, pela queda, o pecado entrou no
corpo do homem e o fez tornar-se carne. Desse modo,
carne em João 1:14 refere-se ao homem como parte
da velha criação. O homem, a cabeça da criação,
tomara-se carne. Pela encarnação, Cristo tomou-se
um homem e, desse modo, revestiu-se da velha
criação.

B. Passou por um Viver Humano para


Expressar Deus

Em todo o Seu viver humano, Cristo expressou


Deus. João 1:18 diz que ninguém jamais viu a Deus,
mas o Filho O revelou. Nos trinta e três anos e meio
de Sua vida na terra, Cristo revelou Deus e O
expressou.

C. Crucificado para Pôr Fim à Velha Criação

Quando foi crucificado, Cristo pôs fim à velha


criação. Se perguntassem a um judeu o que aconteceu
quando Jesus foi crucificado, ele provavelmente
responderia que um homem chamado Jesus de
Nazaré morreu na cruz. Um cristão recém-convertido
diria que Seu Salvador foi crucificado. Um cristão
mais maduro poderia dizer que não só Cristo foi
crucificado como seu Salvador, mas também ele
próprio foi crucificado com Cristo. Um cristão ainda
mais maduro responderia que Cristo, o ego, Satanás e
o mundo foram todos eliminados na cruz. Entretanto,
nem mesmo essa resposta é suficiente. Na cruz, Cristo
crucificou o pecado, Satanás, o mundo, o velho
homem e toda a criação. Além disso, a lei dos
mandamentos na forma de ordenanças também foi
crucificada lá. Portanto, a morte de Cristo pôs fim a
toda a velha criação.

D. Ressurreto para Gerar a Igreja, a Nova


Criação

De acordo com os evangelhos, Cristo foi


ressuscitado para gerar a igreja, a nova criação. Ele
foi o grão de trigo que caiu na terra e produziu muitos
grãos em ressurreição para formar a igreja (Jo 12:24).

II. CRISTO EM A TOS

Em Atos vemos que Cristo foi exaltado a fim de


ser a Cabeça sobre todas as coisas para a igreja; esse
livro também revela que, após Sua exaltação, Cristo
desceu como o Espírito para executar a intenção de
Deus. Além disso, revela que Cristo tem-se propagado
para trazer à existência a igreja.

III. CRISTO NAS EPÍSTOLAS

Nas Epístolas vemos que Cristo é nossa justiça


(1Co 1:30), vida (1Jo 5:12), provisão de vida (Fp 1:19),
santidade (1Co 1:30), redenção (1Co 1:30) e glória
(Cll:27; 1Tm 1:1). Todos esses aspectos de Cristo
indicam que experimentaremos uma transformação
plena que resultará em glorificação.

IV. CRISTO EM APOCALIPSE

No livro de Apocalipse vemos que Cristo é o


testemunho das igrejas. Nas igrejas, damos
testemunho somente de Cristo. Além disso, em
Apocalipse vemos que Cristo é o Rei no reino
vindouro e, por fim, o centro da Nova Jerusalém por
toda a eternidade.

V. CRISTO NO LIVRO DE COLOSSENSES

Vimos que em Colossenses Cristo tem a primazia


(1:15, 18) e é todo-inclusivo (3:11). Ele é a
centralidade e universalidade da economia de Deus.
Nessa Epístola, Paulo usa diversas expressões
singulares para descrever Cristo, expressões não
encontradas em nenhum outro lugar nas Escrituras.
Isso indica que em Colossenses temos a mais elevada
revelação de Cristo encontrada na Bíblia; esse livro é
como o Monte Sião, o pico dentre as montanhas.
Apreciamos esse livro porque, de forma única, ele
apresenta Cristo como o Preeminente e
Todo-inclusivo, a centralidade e universalidade de
Deus.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM SEIS

CRISTO: A HERANÇA DOS SANTOS

Leitura Bíblica: Cl 1:12-14; Gn 12:2b, 3b, 7; Gl 3:14

Nesta mensagem consideraremos Cristo como a


herança dos santos. Em 1:12 Paulo diz: “Dando graças
ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da
herança dos santos na luz”. Como veremos, a herança
dos santos é o Cristo todo-inclusivo para nosso
desfrute.

A PROMESSA DA TERRA

Segundo o livro de Gênesis, nenhuma promessa


envolvendo bênção ou desfrute foi dada antes do
chamamento de Abraão. É claro, em Gênesis 3:15, há
a promessa de que a descendência da mulher
esmagaria a cabeça da serpente. Essa promessa,
entretanto, não envolve uma promessa com bênção
ou desfrute; e nos capítulos quatro a onze de Gênesis
não há registro de tal tipo de promessa. Uma
promessa com bênção é mencionada pela primeira
vez em Gênesis 12, na época em que Deus chamou
Abraão de sua terra e da casa de seu pai. Aqui o
Senhor menciona especificamente a terra (Gn 12:1).
Podemos estar familiarizados com a história de
Abraão e presumir que entendemos tudo relacionado
com ela. Quando lemos sobre o chamamento que
Deus fez a Abraão e as promessas que lhe foram
feitas, podemos achar que já entendemos tudo. Dessa
forma, quando lemos sobre a terra, podemos não
ficar impressionados com o seu significado. Contudo,
se lermos cuidadosamente a Palavra, por certo
perceberemos que a promessa de Deus a Abraão
acerca da terra é marcante e muito importante. Essa
promessa feita em Gênesis é uma semente que cresce
e se desenvolve através do Antigo Testamento. Em
certo sentido, com exceção dos onze primeiros
capítulos de Gênesis, todo o Antigo Testamento é a
história da terra de Canaã. O tema do Antigo
Testamento é essa boa terra, a terra que mana leite e
mel. Entretanto, poucos cristãos prestam a devida
atenção a isso.
Quando estava entre os Irmãos Unidos, fui
encorajado a estudar tipologia e profecia. Contudo,
não me despertaram a atenção para três pontos
importantes, nem recebi ajuda alguma sobre eles.
Esse três pontos eram: 1) o fato de Deus ter criado o
homem à Sua imagem, conforme a Sua semelhança e
com Seu domínio; 2) a árvore da vida, o rio com os
materiais preciosos e a noiva edificada a partir da
costela de Adão; e 3) a promessa da boa terra.
Somente após ter sido cristão por muitos anos é que
comecei a voltar a atenção a essas coisas. Quem está
familiarizado com minhas mensagens pode perceber
que, de uma forma ou de outra, elas tratam dessas
três coisas.
A promessa de Deus a Abraão em relação à boa
terra tem um significado enorme. Paulo, ao escrever
aos colossenses e falar sobre a herança dos santos,
tinha em mente, sem dúvida, a distribuição da boa
terra para os filhos de Israel no Antigo Testamento. A
palavra grega traduzida por herança em 1:12 também
pode ser traduzi da por quinhão. Paulo usou esse
termo tendo em mente o relato da terra no Antigo
Testamento. Deus deu ao Seu povo escolhido, os
filhos de Israel, a boa terra para a herança e desfrute
deles; a terra significava tudo para eles. De fato, ainda
hoje a questão da terra é um caso sério no Oriente
Médio; o problema lá em relação a Israel e às nações
ao redor diz respeito à terra.

O DESCENDENTE E A TERRA

A promessa feita a Adão e Eva em Gênesis 3 foi


acerca do descendente da mulher. Contudo, a
promessa de Deus a Abraão não foi somente sobre o
descendente, mas também sobre a terra. O
descendente prometido em Gênesis 3:15 torna-se a
terra em Gênesis 12. Quando os filhos de Israel
entraram em Canaã, herdaram não só a
descendência, mas também a terra. Podemos
interpretar o descendente como uma pessoa e
também como uma semente3 plantada no solo. Isso
quer dizer que Cristo é não somente um descendente,
mas também uma semente plantada na terra. Cristo é
tanto a semente como a terra.
Em Colossenses, temos Cristo como a semente
ou como a terra? Nesse livro, Ele é tanto a semente
como a terra. Colossenses 2:7 diz que fomos

3
Em algumas línguas, como o grego e o inglês, o termo descendente (ou descendência) e o termo
semente é um só. N.T.
radicados ou arraigados, isto é, enraizados, em
Cristo; isso indica que Ele é a terra. Mas 3:4 diz-nos
que Cristo é nossa vida; isso indica que Ele é também
a semente. Contudo, em Colossenses Cristo é
revelado mais como a terra do que como a semente.
Cristo é nossa porção, nossa herança, nosso quinhão,
nosso tudo, assim como a terra era todas as coisas
para os filhos de Israel; ela fornecia tudo o que os
filhos de Israel precisavam: leite, mel, água, gado,
cereais, minerais. Ao escrever essa Epístola, Paulo
empregou o conceito de terra todo-inclusiva, a fim de
exortar os colossenses distraídos a não receber nada
além do próprio Cristo. Qualquer coisa que não é
Cristo está relacionada com a autoridade das trevas, e
não devemos aceitá-la; devemos simplesmente
permanecer na boa terra e não permitir que nenhum
elemento estranho seja introduzido. Apenas Cristo é
nossa porção, e devemos aceitar somente o que
provém Dele.

O ESPÍRITO É A BOA TERRA

Antes de escrever Colossenses Paulo escreveu a


Epístola aos Gálatas. Em Gálatas 3:14 ele diz: “Para
que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em
Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o
Espírito prometido”. Alguns mestres cristãos crêem
que a bênção de Abraão refere-se à justificação pela
fé. De acordo com o contexto, entretanto, essa bênção
deve referir-se à boa terra. Em Gênesis 12 a bênção
que Deus prometeu a Abraão era a terra. Em Gálatas
3:14 Paulo associa a bênção de Abraão à promessa do
Espírito. Isso indica que a promessa feita a Abraão, a
promessa da boa terra, é o Espírito. Portanto, o
Espírito é a boa terra.
Em Gálatas 3:14 Paulo fala do Espírito. Isso deve
lembrar-nos de João 7:39. Esse versículo diz: “Pois
ainda não havia o Espírito, porque Jesus não havia
sido ainda glorificado”. O Espírito em Gálatas 3:14 e
João 7:39 é a expressão suprema do Deus Triúno. O
Espírito é um termo único, que denota o Deus que
passou por um processo. O Pai é a fonte. O Filho de
Deus como o curso da água se encarnou, viveu na
terra, foi crucificado e, no terceiro, dia ressuscitou.
Encarnação, crucificação e ressurreição são aspectos
de um só processo. Em ressurreição, Cristo, o último
Adão, tornou-se o Espírito que dá vida (1Co 15:45).
De acordo com João 1:14, a Palavra, que era Deus,
tornou-se carne. Conforme 1 Coríntios 15:45, o último
Adão, que é Cristo, tornou-se o Espírito que dá vida.
Muitos mestres cristãos argumentam que o Espírito
que dá vida nesse versículo não é o Espírito Santo.
Crer nisso é crer que há dois Espíritos que podem dar
vida, o Espírito Santo e o Espírito que dá vida. O
Espírito que dá vida é sem dúvida o próprio Espírito
Santo que dá vida. Esse Espírito é a consumação
suprema do Deus processado. Esse Espírito é nada
menos que o Cristo todo-inclusivo. Assim como a boa
terra é um tipo todo-inclusivo de Cristo, e Cristo
tornou-se o Espírito, também o Espírito, o Espírito
todo-inclusivo sendo o Deus processado, é, por fim, a
boa terra para nós, os crentes do Novo Testamento,
como cumprimento da promessa de Deus a Abraão de
que todas as nações da terra seriam abençoadas nele
(Gn 12:3).
De acordo com Gálatas 3:14, a promessa é a
promessa do Espírito. Mas Gálatas 3:16 diz que as
promessas foram feitas ao descendente de Abraão,
que é Cristo. É difícil conciliar esses versículos. Por
um lado, o Espírito é o Cristo todo-inclusivo. Por
outro, essa promessa, o Espírito, foi dada a Cristo
como o descendente. Embora isso seja difícil de
explicar doutrinariamente, é fácil de entender
segundo a experiência. [Como já vimos, o termo
descendente e semente em grego é o mesmo.] Quando
cremos no Senhor Jesus, nós O recebemos como a
semente, como vida. Entretanto, essa semente é o
Espírito todo-inclusivo que dá vida, a realidade da
boa terra. Isso quer dizer que o próprio Cristo que
recebemos como semente é o Espírito tipificado pela
boa terra. Cristo entrou em nós como semente. Mas
quando vivemos por Ele, Ele se torna a terra, que é
nossa porção.

LIBERT ADOS DA AUTORIDADE DAS


TREVAS E TRANSPORTADOS PARA O
CRISTO TODO-INCLUSIVO

Assim como a boa terra era a porção dos filhos de


Israel, hoje Cristo é a herança dos santos. Já dissemos
que, ao redigir 1:12, Paulo tinha em mente a
prefiguração da terra de Canaã. Em 1:13 ele
prossegue: “Ele nos libertou do império das trevas e
nos transportou para o reino do Filho do seu amor”.
[O termo império, segundo o original grego é
autoridade.] Esse versículo nos faz lembrar a
maneira como os filhos de Israel foram libertados do
Egito e transportados para a boa terra. Assim, o
conceito de Paulo em 1:13 é o mesmo revelado no
êxodo do Egito e na entrada na boa terra. Naquela
época, Deus libertou o povo do Egito e o levou à boa
terra. Deus Pai fez a mesma coisa conosco; Ele nos
libertou da autoridade das trevas, tipificada por Faraó
e pelo Egito, e nos transportou para o Cristo
todo-inclusivo, tipificado pela boa terra. Assim como
os filhos de Israel foram retirados do Egito e
transportados para uma terra que manava leite e mel,
uma terra onde não havia tirania, nós também fomos
transportados para um reino maravilhoso, chamado
de o reino do Filho do amor do Pai. Por isso, ser
qualificado para uma parte da herança dos santos é
na verdade entrar na boa terra. A redação de Paulo
em 1:12-13 é, portanto, segundo a figura do Antigo
Testamento.

A PÁSCOA, O MANÁ E A TERRA

Ao escrever 1 Coríntios, Paulo usou também


figuras do Antigo Testamento. Em 1 Coríntios 5:7
vemos que Cristo é a Páscoa, e em 10:3-4 vemos que
Ele é o maná. Segundo as figuras do Antigo
Testamento, foi pelo cordeiro pascal que os filhos de
Israel foram libertados do Egito, e foi pelo maná que
eles foram sustentados no deserto. O tabernáculo
erigido no deserto tipifica a vida da igreja móvel; esse
tipo de vida da igreja não é sólido ou bem firmado.
Depois que os filhos de Israel entraram na boa terra e
desfrutaram a bênção prometida a Abraão, eles
construíram o templo com pedras, com o suprimento
infinitamente rico da boa terra. O templo significa a
vida da igreja sólida. Em 1 Coríntios temos a igreja
tipificada pelo tabernáculo, mas em Colossenses e
Efésios temos a igreja tipificada pelo templo. O Cristo
que desfrutamos em Colossenses não é simplesmente
o cordeiro e o maná, mas a boa terra, a herança dos
santos.
Muitos mestres cristãos falam sobre a páscoa, o
maná e o tabernáculo; mas duvido que algum deles
tenha visto a boa terra como uma figura do Cristo
todo-inclusivo. Essa prefiguração de Cristo pode ser
cumprida somente pelo Espírito. Os cristãos podem
conhecer o Espírito de Deus, mas podem não
conhecer o Espírito, o Espírito todo-inclusivo, que dá
vida, como a expressão suprema do Deus Triúno
processado sendo o cumprimento da promessa da
boa terra. Para nós, a boa terra prometida por Deus a
Abraão é o Espírito. Em outras palavras, o Espírito é a
bênção que Deus prometeu a Abraão.

ANDAR NO ESPÍRITO

Em Gálatas 5:16 Paulo nos exorta a andar no


Espírito. O Espírito deve ser o âmbito, a esfera na
qual andamos. Além disso, em Gálatas 5:25 Paulo diz:
“Se vivemos no Espírito, andemos também no
Espírito”. Isso indica que o Espírito é nossa boa terra.
O Cristo revelado no Novo Testamento,
principalmente em Colossenses, é a terra
todo-inclusiva. Essa terra é Cristo como o Espírito
todo-inclusivo. Aleluia, recebemos parte de tal
herança!

A NECESSIDADE DE UM ÊXODO

Se enxergarmos isso, não permitiremos que


outras coisas além de Cristo invadam a igreja. Os
colossenses estavam sendo perturbados por
ordenanças, práticas, filosofia e ascetismo, porque
não haviam enxergado que Cristo como o Espírito
todo-inclusivo era sua herança, sua boa terra. Em vez
dessa herança eles aceitavam observâncias,
ordenanças e filosofia. Em princípio, ocorre o mesmo
no cristianismo de hoje; ele foi invadido pela cultura.
Nenhuma parte do cristianismo ficou livre disso; ele
foi completamente inundado pela cultura. O
propósito da restauração do Senhor é retirar-nos de
tudo isso e levar-nos ao próprio Cristo. Antes, o
mundo era o Egito; agora a religião do cristianismo
tornou-se um Egito, onde o povo de Deus é mantido
em cativeiro. O povo do Senhor hoje precisa de um
êxodo. Muitos de nós podem testificar que, quando
entramos na vida da igreja, passamos por um êxodo e
fomos libertados da autoridade das trevas.

SOMENTE CRISTO

Quando os filhos de Israel vagueavam no


deserto, ainda se lembravam do sabor dos pepinos,
cebolas e alhos que haviam desfrutado no Egito, e
ainda desejavam comer aquelas coisas. Quando,
porém, entraram na boa terra, coisa alguma com
sabor egípcio foi introduzida em Canaã; isso teria
sido uma blasfêmia contra Deus. Introduzir na igreja
algo além de Cristo também é uma blasfêmia. Na boa
terra não há pepinos, cebolas nem alho do Egito; na
boa terra desfrutamos somente o produto da terra.
No mesmo princípio, não há nenhum “alho”
mundano na vida da igreja, somente Cristo como a
porção dos santos. Se virmos isso, não traremos
nenhum elemento estranho para o Corpo. de Cristo.
Vimos que a porção dos santos é Cristo como a
boa terra, o Cristo todo-inclusivo como o Espírito que
dá vida. Primeiro, Cristo é a semente que nos dá vida.
Depois Ele se torna o reino, o âmbito, a esfera na qual
vivemos e andamos. Portanto, Cristo é nossa semente
e nossa terra, nossa vida e nosso reino. Isso é Cristo
como a porção, a herança dos santos.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM SETE

PARTICIPAR DE CRISTO NA LUZ

Leitura Bíblica: Cl 1:12-13; Gn 1:3; Sl 36:9; 119:105; Is


2:5; Mt 4:16; Jo 1:4; At 26:18; 1Jo 1:5; Ap 21:23

Em 1:12 Paulo diz que o Pai nos qualificou para a


“parte que vos cabe da herança dos santos na luz”.
Muitos podem ler esse versículo sem prestar atenção
à frase “na luz”. Cristo, nossa herança, deve ser
desfrutado por nós na luz. Nesta mensagem
precisamos considerar o que é participar de Cristo, a
herança dos santos, na luz.
A Bíblia revela que, quando Deus restaurou o
universo que julgara por causa da rebelião de
Satanás, a primeira coisa que Ele fez foi que houvesse
luz. Havia trevas sobre a face do abismo. Deus, então,
disse: “Haja luz”, e a luz surgiu (Gn 1:3). Isso ocorreu
no primeiro dia. No quarto dia vemos uma forma
mais sólida da luz: o sol, a lua e as estrelas. A luz no
primeiro dia era abstrata e imaterial, mas no quarto
dia temos os luzeiros sólidos, materiais. Com isso
vemos que a recriação do universo, ou sua
restauração, foi efetuada pela luz.
O Antigo Testamento está repleto de referências
à luz. O Salmo 36:9 diz: “Na tua luz, vemos a luz”. No
Salmo 119:105 o salmista declara: “Lâmpada para os
meus pés é a tua palavra, e luz para os meus
caminhos”. Além disso, Isaías 2:5 diz: “Vinde, ó casa
de Jacó, e andemos na luz do Senhor”.
Embora a Bíblia tenha muito a dizer sobre luz, é
difícil defini-la adequadamente. A luz é real e
substancial, e ainda. assim é misteriosa. Contudo, a
Bíblia mostra que a luz foi um fator básico na
restauração do universo, e é necessária para o povo
de Deus andar na Sua presença.
Mateus 4:16 diz que, quando Jesus andava pela
Galiléia, o “povo que estava sentado em trevas viu
grande luz, e aos que estavam sentados na região e
sombra da morte, raiou-lhes a luz”. Em João 8:12 o
Senhor Jesus disse que Ele é a luz do mundo, e todo o
que O segue não andará em trevas, mas terá a luz da
vida. Entretanto, se não O seguimos como a luz,
estamos em trevas. Além disso, quando Paulo se
converteu, o Senhor Jesus lhe disse que deveria abrir
os olhos das pessoas, para que se convertessem das
trevas para a luz (At 26:18). Isso indica que os
incrédulos, sejam judeus ou gentios, estão em trevas;
qualquer um que não creia no Senhor Jesus está em
trevas e precisa voltar-se das trevas para a luz. Além
do mais, 1 João 1:5 diz que Deus é luz e não há Nele
treva nenhuma. Se dissermos que temos comunhão
com Ele e ainda assim andamos em trevas, mentimos.
Já que Deus é luz, se temos comunhão com Ele
estamos também na luz.

I. A LUZ

A Bíblia revela que a luz está relacionada com


Deus, a Palavra de Deus, Cristo, a vida de Cristo, os
que crêem em Cristo, e a igreja.

A. Deus

Já mencionamos que 1 João 1:5 diz que Deus é


luz. Somente Ele é a fonte da luz. A Palavra de Deus,
Cristo, a vida de Cristo, os cristãos e a igreja podem
todos ser luz, porque têm Deus como sua fonte.

B. A Palavra de Deus
O Salmo 119:105'diz que a Palavra de Deus é
lâmpada para os pés e luz para o caminho, e o Salmo
119:130 diz que a revelação das palavras de Deus dá
luz. A Palavra de Deus é luz porque contém Deus. Se a
Bíblia não contivesse Deus, as palavras da Bíblia não
nos poderiam iluminar. A fonte da Bíblia é Deus, e
Deus é luz. Por isso, as palavras da Bíblia são o
resplendor da luz.

C. Cristo

Em João 9:5 o Senhor Jesus disse: “Enquanto


estou no mundo, sou a luz do mundo”. Deus e Cristo
são um. Uma vez que Deus é luz, Cristo também é luz.
Cristo é a luz do mundo de maneira bem definida. O
mundo em João 9:5 denota a sociedade, a
humanidade. Dessa forma, Cristo é a luz não só de
forma geral, mas de forma definida, sendo a luz da
sociedade, da humanidade.

D. A Vida de Cristo

A vida de Cristo também é luz. João 1:4 diz: “Nele


estava a vida, e a vida era a luz dos homens”. Quando
recebemos Cristo como vida, essa vida torna-se vida
em nós, brilhando sobre nós e iluminando-nos
interiormente.

E. Os Cristãos

Os que crêem em Cristo também são luz. Falando


dos que Nele crêem, o Senhor Jesus disse: “Vós sois a
luz do mundo” (Mt 5:14). Em Filipenses 2:15 Paulo
diz que os cristãos resplandecem “como luzeiros no
mundo”. Um luzeiro, ou corpo celeste, não tem luz
própria; reflete a luz que vem de outra fonte. Nós,
cristãos, como. luzeiros, não temos luz própria. A luz
provém do óleo, o Espírito, que queima em nós. A
fonte da nossa luz não somos nós mesmos, mas Cristo
como o Espírito.

F. A Igreja

Em Apocalipse 1:20 vemos que a igreja é um


candeeiro, um pedestal que sustenta e suporta urna
lâmpada que arde em chamas. A lâmpada é Cristo
com Deus Nele corno luz (Ap 21:23). No universo há
somente urna luz, o próprio Deus. O Deus Triúno é a
única luz.

II. PARTICIPAR DE CRISTO NA LUZ


Colossenses 1:12 indica que participamos de
Cristo corno a porção dos santos na luz. Urna vez que
somente Deus é luz, precisamos voltar-nos a Ele e
estar em Sua presença a fim de participar de Cristo.
Fomos chamados para a luz maravilhosa de Deus
(1Pe 2:9). Antes de ser salvos, estávamos totalmente
em trevas; tudo relacionado conosco e com nossa
situação humana estava em trevas. Quando o
evangelho veio a nós, veio com luz; isso nos fez
arrepender-nos diante de Deus. Quando nos
arrependemos, espontaneamente abrimo-nos a Ele.
No momento em que nos arrependemos e fomos
salvos, experimentamos algo brilhando em nosso
interior. Cremos no Senhor Jesus e Lhe agradecemos
por morrer em nosso favor, e O recebemos corno
nosso Salvador e Senhor. Dessa forma, o brilho
interior se intensificou. Portanto, no momento da
nossa conversão, a luz entrou em nós. Muitos
podemos testificar que nos dias seguintes à conversão
experimentamos tal luz. Naquela luz Cristo tornou-se
nossa herança. Embora na época não tivéssemos esse
conhecimento, tivemos essa experiência.
Entretanto, depois de salvos, fomos desviados
desse brilho interior. Muitos de nós foram
encorajados por obreiros cristãos diligentes a prestar
atenção à doutrina e ao ensinamento bíblico.
Portanto, em vez de permanecer na presença do
Senhor e dar valor ao brilho interior, voltamo-nos
para boas coisas que não são o próprio Cristo.
Trocamos a presença de Cristo por doutrinas,
observâncias ou práticas e, dessa forma, perdemos o
brilho interior. O resultado foi que novamente
ficamos em trevas. Antes de ser salvos, estávamos nas
trevas terríveis do mundo. Mas após ser salvos
estávamos nas trevas dos ensinamentos,
observâncias, obras, formalidades e rituais religiosos.
Algumas dessas coisas podem ser boas, mas não são o
próprio Cristo. Tendo sido desviados de Deus corno a
luz, perdemos o desfrute de Cristo corno nossa
herança.
Em mais de cinqüenta anos em contato com
cristãos, raramente encontrei algum que falasse do
desfrute de Cristo. Você conhece cristãos que
testificam que Cristo é sua herança e encorajam os
outros a participar de Cristo e desfrutá-Lo? Quando
jovem, ensinaram-me a seguir a Cristo e andar em
Seus passos. Também me exortaram a adorá-Lo
corno o Senhor e Mestre nos céus. Mas nunca me
disseram que eu podia desfrutá-Lo; não me
ensinaram que Cristo é meu suprimento de vida e a
herança para meu desfrute.
Quando fornos salvos tivemos a sensação da
doçura de Cristo. Em nosso íntimo percebemos corno
Cristo era desfrutável. Então, por meio da ajuda de
pastores, ministros e obreiros cristãos, muitos de nós
foram desviados e afastados do desfrute de Cristo;
deixamos o sentimento interior da doçura de Cristo e
nos voltamos para o dever religioso. Isso nos colocou
em trevas novamente, e o brilho interior cessou.
Muitos de nós passaram anos nessa condição. Um
dia, porém, movidos pelo desespero, pusemos de lado
nosso dever religioso, voltamo-nos para o Senhor e
clamamos a Ele. Perguntamos a. Ele o que acontecera
conosco. Ao voltar-nos a Ele, voltamo-nos novamente
das trevas para a luz. Então, na luz, começamos de
novo a desfrutá-Lo como a herança dos santos.
A única maneira de participar de Cristo e
desfrutá-Lo é na luz. Deus e Cristo são luz. Quando
nos voltamos ao Senhor e entramos na Sua presença,
estamos na luz e espontaneamente começamos a
desfrutá-Lo como nossa herança.
Todos os cristãos devem ler a Bíblia. Entretanto,
é possível estar em trevas mesmo enquanto a lemos.
Podemos ler as Escrituras sem estar na presença do
Senhor. Se fizermos isso, quanto mais a estudarmos
mais estaremos em trevas, afastados da presença do
Senhor. A maneira apropriada de ler as Escrituras
não é só com a mente, mas também com um espírito
de busca, contemplando a face do Senhor enquanto
lemos. Lendo-orando a Palavra, somos trazidos à
presença do Senhor dessa maneira. Ao ler a Bíblia
com espírito de ler-orar, abrindo-nos ao Senhor,
somos levados à Sua presença. Espontaneamente
estamos na luz, e Cristo se torna nossa porção.
Não importa qual tipo de temperamento
tenhamos, todos temos uma fraqueza em comum:
gostamos de discutir. Mas sempre que discutimos
ficamos em trevas. Por não estar na luz não podemos
desfrutar Cristo como nossa porção. Após uma
discussão, precisamos arrepender-nos e fazer
confissão completa ao Senhor. Mediante
arrependimento e confissão, somos conduzidos de
volta à luz e a Cristo como nossa herança.
Se estivermos em trevas porque discutimos com
alguém, não poderemos desfrutar Cristo. Podemos ir
às reuniões, mas não teremos desfrute de Cristo,
porque não estamos na luz; Cristo não pode ser nossa
herança nas trevas. Ele pode ser somente nossa
páscoa. Contudo, até mesmo para que Cristo seja
nossa páscoa é necessário que nos arrependamos e
confessemos. Se quisermos desfrutar Cristo como
nossa herança, não podemos permanecer no Egito em
trevas; precisamos voltar-nos totalmente para Deus.
Uma vez que descobri que discutir coloca-me em
trevas, não suporto discutir. Diversas vezes sou
forçado a parar de falar por causa da ameaça das
trevas. Oro ao Senhor e Lhe peço que me perdoe por
ter expressado meu ego. Por meio de tal
arrependimento e confissão, a luz volta e sou capaz de
continuar a desfrutar Cristo.
Luz é a presença de Deus. Se quisermos estar na
luz, precisamos voltar-nos a Ele a partir do nosso
interior; então Sua presença se tomará a luz
brilhante. Dessa forma Cristo se toma a herança dos
santos de forma prática.
Se quisermos ter comunhão com Deus,
precisamos andar na luz (1Jo 1:7). Em muitas coisas
podemos ser capazes de fingir, mas na questão de
desfrutar Cristo na luz não há lugar para falsa
aparência. Você pode enganar os outros, mas não o
Senhor. Ele é muito real, autêntico, honesto e prático.
Em Isaías 2:5 o profeta fez soar um chamado:
“Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz do Senhor”.
Na época de Isaías, os filhos de Israel estavam
ocupados com sua religião, mas haviam perdido a luz
do Senhor porque o coração deles havia-se afastado
Dele. Tinham o templo, o sacerdócio e os sacrifícios;
mas por terem desviado de Deus o coração, estavam
em trevas. Não andavam na luz. Portanto Isaías os
chamou para andar na luz do Senhor. Foi um
chamado para arrepender-se e confessar, a fim de ser
levado à presença do Senhor.
Salmo 36:8-9 descreve alguém que retomou ao
Senhor e está na Sua presença: ele está satisfeito com
a gordura, a abundância da casa de Deus, e bebe da
torrente das delícias do Senhor. Ele conhece o Senhor
como fonte de vida, e na Sua luz vê a luz. Nessa luz, a
porção dos santos torna-se o desfrute dele.
Precisamos permanecer em Cristo e andar na luz da
vida (108:12) para participar de Cristo na luz (Ef
5:14).
Precisamos ter mais e mais contato com o
Senhor.
Precisamos ler a Palavra com o rosto desvendado
e o coração aberto. À medida que temos comunhão
com o Senhor e seguimos a unção interior, nós O
experimentamos como vida interior de maneira
prática. Essa vida é a luz. Se seguirmos a unção
interior, estaremos na luz. Também somos levados à
luz tendo comunhão genuína com outros; na
comunhão há o brilhar da luz. Além disso, precisamos
estar na vida da igreja e freqüentar as reuniões, pois
na igreja e nas reuniões estamos na luz. Nas reuniões
da igreja temos freqüentemente a profunda sensação
interior de que estamos na luz desfrutando Cristo
como nossa porção. Todos esses são meios pelos
quais podemos estar na luz para desfrutar Cristo
como a herança dos santos.
Agora podemos compreender por que, após falar
de luz em Colossenses 1:12, Paulo fala no versículo
seguinte da autoridade das trevas. É como se dissesse
ao colossenses: “Vocês foram libertados da
autoridade das trevas, mas agora voltaram para as
trevas; perderam a própria luz para a qual foram
transportados”. Já dissemos que em Colossenses a
autoridade das trevas inclui observâncias,
ordenanças, filosofia e os vários ismos. Pela
influência dessas coisas, os Colossenses foram
levados cativos, assim como os filhos de Israel foram
levados da boa terra para Babilônia. Em certo
sentido, muitos cristãos hoje foram retirados do reino
do Filho do amor de Deus, do âmbito da luz, da esfera
da luz. Como conseqüência, perderam o desfrute de
Cristo como a porção dos santos.

III. A LUZ DA VIDA É A ESFERA DA VIDA

A luz é um âmbito, uma esfera. O reino da luz é


uma esfera de vida. Isso quer dizer que a luz da vida é
a esfera, o âmbito da vida. Essa esfera de vida e luz é o
reino do Filho do amor do Pai. A luz governa pelo seu
iluminar. Portanto, quando a luz da vida brilha e
governa, ela é um reino. Quando estamos na luz,
estamos na esfera da vida, no reino do Filho do amor
do Pai. Esse reino contrasta com a autoridade das
trevas, que é o reino de Satanás. A Nova Jerusalém
será a consumação suprema da esfera da vida; toda a
cidade será uma esfera de vida, cheia de luz. Essa
esfera será a luz da vida.
As trevas são dissipadas pela luz (Gn 1:2-3; Ap
21:24; 22:5). Quando a luz chega, as trevas são
dissipadas.
Se ler-orar os versículos que abordamos nesta
mensagem, você aprenderá a estar na luz,
desfrutando Cristo como a herança dos santos na
prática. Que todos pratiquemos entrar na luz, onde
desfrutamos Cristo como a herança dos santos!
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM OITO

CRISTO: O PRIMOGÊNITO DE TODA A CRIAÇÃO

Leitura Bíblica: Cl 1:15-17; Ap 3:14

Nesta mensagem vamos considerar o que


significa Cristo ser o Primogênito de toda a criação
(1:15-17). O propósito principal do livro de
Colossenses é mostrar que Cristo é todas as coisas,
que Ele é tudo. Tudo o que existe no universo
pertence a uma destas duas categorias: o Criador e a
criação. A fim de mostrar-nos que Cristo é tudo, a
Bíblia nos diz que Cristo é tanto o Criador como o
Primogênito de toda a criação. Se fosse somente o
Criador, mas não o Primogênito da criação, Ele não
seria tudo.

A HERESIA DA ADORAÇÃO DE ANJOS

Em Colossenses Paulo trata de coisas como


observâncias judaicas, ordenanças gentias,
misticismo, gnosticismo e ascetismo. De todas as
coisas negativas abordadas, uma se destaca como
especialmente grave: a adoração de anjos, que é uma
forma de idolatria. Adorar qualquer coisa além de
Deus, incluindo criaturas como anjos, é idolatria.
Todavia, por se considerarem indignos de contatar
Deus diretamente, certos mestres heréticos em
Colossos defendiam a adoração de anjos. Ensinavam
que Deus é muito elevado, e nós, muito inferiores;
que Deus é glorioso e o homem é corrupto. Portanto,
de acordo com esse ensinamento herético, não
seríamos dignos de contatar Deus diretamente. De
acordo com eles, precisamos ter algum tipo de
intermediário. Esses mestres diziam que os anjos são
os intermediários entre nós e Deus. Esse era o
conceito por trás da adoração de anjos que invadira a
igreja em Colossos.
A adoração a anjos da qual Paulo trata nessa
Epístola estava relacionada com um sentimento de
humildade. Alguns achavam que era sinal de
humildade crer que não eram dignos de adorar a
Deus diretamente. Aparentemente, tinham alguma
base bíblica para sua posição. A Bíblia registra que a
lei não foi dada diretamente por Deus a Moisés, e,
sim, por intermédio de anjos (GI3:19). Assim, quando
a lei foi dada, os anjos agiram como intermediários.
Os mestres heréticos foram ainda mais longe, dizendo
que os anjos deveriam ser os intermediários entre
Deus e o homem caído. Eles encorajavam os santos a
mostrar humildade seguindo essa maneira de
adoração. Era como se esses mestres dissessem aos
colossenses: “Vocês não devem ser tão orgulhosos a
ponto de achar que podem ir diretamente a Deus.
Precisam humilhar-se e reconhecer sua necessidade
de anjos para servir de intermediários entre vocês e
Deus”. Paulo lutava com tal conceito quando disse:
“Ninguém se faça árbitro contra vós outros,
pretextando humildade e culto dos anjos” (2:18). Não
devemos ser desviados pela humildade de alguém ou
por ensinamentos sobre adoração de anjos.

A CABEÇA DE TODO PRINCIPADO E


POTESTADE

Em 2:9-10, Paulo diz: “Porquanto, nele, habita,


corporalmente, toda a plenitude da Divindade.
Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de
todo principado e potestade”. [O termo
aperfeiçoados, no versículo 10, pode ser traduzido
por plenos.] As palavras principado e autoridade
referem-se aos anjos. Cristo é a Cabeça de todos os
anjos, e não somente dos subordinados, mas também
dos anjos que têm domínio, poder e autoridade.
Precisamos ver por que Paulo insere em 2:10 a
frase “Ele é o cabeça de todo principado e potestade”.
É fácil compreender que toda a plenitude da
Divindade habita em Cristo corporalmente (2:9).
Quando Cristo estava na terra Ele tinha um corpo, no
qual habitava toda a plenitude da Divindade. Como a
plenitude habita Nele, e nós estamos Nele, o
resultado é que Nele somos aperfeiçoados, ou feitos
plenos (2:10). Então, de repente, Paulo fala que Cristo
é a Cabeça de todo principado e potestade. Aquele no
qual toda a plenitude da Divindade habita e em quem
somos feitos plenos é a própria Cabeça de todo
principado e potestade. É crucial que vejamos o
significado disso.
Para compreender a inserção dessa frase
precisamos considerá-la no contexto do livro todo.
Colossenses revela que Cristo é tudo. Paulo enfatizou
isso nessa carta porque eles tinham aceitado a heresia
da adoração a anjos. Aparentemente os cristãos em
Colossos não achavam que Cristo poderia ser o
intermediário entre eles e Deus. Segundo o conceito
deles, Cristo era elevado demais para ajudá-los nessa
questão. Portanto, sentiam que precisavam de anjos
como intermediários. Esse foi o motivo de Paulo
dizer-lhes que Cristo é a Cabeça de todos os anjos.
Uma vez que temos Cristo, que é tudo, não há
necessidade de contar com anjos. Se precisamos de
intermediário, Cristo é nosso intermediário. Essa não
é a função dos anjos. Sim, Deus é elevado, e nós
somos muito inferiores. Mas isso não quer dizer que
precisamos de anjos como intermediários. Em Cristo
fomos feitos plenos; nada nos falta. Devido ao fato de
os colossenses considerarem os anjos como
intermediários, eles precisavam ver que Cristo é a
Cabeça de todos os anjos. Cristo é tudo. Uma vez que
tinham Cristo, tinham sido levados à plenitude. Tanto
em doutrina como em experiência devemos ser
capazes de testificar que, em Cristo, fomos feitos
plenos, e nada nos falta. Nele temos Deus, justiça,
vida e todas as coisas positivas em todo o universo.
Tendo Cristo, temos a Cabeça de todos os anjos.
Como os colossenses estavam errados ao aceitar a
heresia de adoração de anjos! Já que Cristo é tudo,
devemos ir até Ele para tudo o que precisarmos.
Agora vemos que Paulo acrescentou uma sentença em
2:10 a fim de impressionar os colossenses com o fato
de que não precisamos de anjos como intermediários,
pois o nosso Cristo é a Cabeça de todo principado e
potestade. Ele é a Cabeça de todos os anjos.
Colossenses revela que Cristo é tudo, tanto o
Criador como o Primogênito de toda a criação. Se
Cristo fosse somente o Criador, mas não algo da
criação, Ele não seria tudo. Assim, a plenitude, a
expressão do Deus Triúno, não seria completa. O
conceito de Paulo em Colossenses é profundo. A
plenitude, a plena expressão do Deus Triúno, habita
em Cristo. Sendo tudo, Ele é tanto o Criador como o
Primogênito de toda a criação. Esse é um princípio
básico.

A IMAGEM DO DEUS INVISÍVEL

Colossenses 1:15 diz que Cristo é a “imagem do


Deus invisível”. Então, no mesmo versículo, Paulo diz
que Cristo é o “primogênito de toda a criação”. Por
que ele põe essas duas coisas juntas? Deus é invisível.
Mas o Filho do Seu amor, “o resplendor da glória e a
expressão exata do seu Ser” (Hb 1:3), é Sua imagem,
expressando o que Ele é. A imagem aqui não significa
uma forma física, mas uma expressão do ser de Deus
em todos os Seus atributos e virtudes. Essa
interpretação é confirmada por Colossenses 3:10 e 2
Coríntios 3:18.
Dizer que Cristo, que é todo-inclusivo, é a
imagem de Deus, implica que Ele é o próprio Deus, o
Criador. Quando vemos Cristo, vemos a expressão do
Deus invisível, porque Ele mesmo é Deus. Se eu
tivesse escrito a Epístola aos Colossenses, teria dito
simplesmente que Cristo é o Deus Criador. Paulo,
contudo, não escreveu de tal forma simples; ele disse
que Cristo é a imagem do Deus invisível, o próprio
Deus expresso.

O PRIMEIRO ENTRE TODAS AS CRIATURAS

Em 1:15 Paulo diz que Cristo é o Primogênito de


toda a criação. Isso quer dizer que, na criação, Cristo
é o primeiro. Cristo como Deus é o Criador.
Entretanto, como homem, participando do sangue e
da carne criados (Hb 2:14), Ele é parte da criação.
“Primogênito de toda a criação” refere-se à
preeminência de Cristo em toda a criação, já que
desse versículo até o versículo dezoito o apóstolo
enfatiza o primeiro lugar de Cristo em todas as coisas.
Esse versículo revela que Cristo é não somente o
Criador, mas também o primeiro entre todas as coisas
criadas, o primeiro entre todas as criaturas.
Alguns insistem que Cristo é somente o Criador,
e não uma criatura. Mas a Bíblia revela que Cristo é
tanto o Criador como criatura, pois é tanto Deus
como homem. Como Deus, Cristo é o Criador, mas
como homem, Ele é uma criatura. Como poderia Ele
ter carne, sangue e ossos se não fosse uma criatura?
Cristo não se tornou um homem? Ele não assumiu
um corpo com carne, sangue e ossos? Certamente
sim. Quem se opõe a esse ensinamento carece de
conhecimento. Na verdade é herege, pois não crê que
Cristo tomou-se de fato um homem. Crê somente que
Ele é Deus, e o mais é heresia. Nosso Cristo é Deus,
sempre foi e sempre será . . Mas pela encarnação Ele
tomou-se um homem. De outra maneira, não poderia
ter sido preso, julgado e crucificado; nem poderia ter
derramado Seu sangue na cruz pelos nossos pecados.
Louvado seja o Senhor pela verdade de que nosso
Cristo é tanto Deus como homem!
Sendo Deus, Cristo é eterno, e não precisava
nascer. Mas em 1:15 Ele é chamado de o Primogênito
de toda a criação. Qualquer coisa que exija
nascimento tem de ser uma criatura, parte da criação.
Se Cristo fosse somente Deus, e não homem, não
poderia ter nascido, pois Deus é infinito e eterno, sem
início nem fim. Mas, como homem, Cristo tinha de
nascer. Aleluia, Cristo nasceu como homem! Isaías
9:6 diz: “Porque um menino nos nasceu, um filho se
nos deu (...) e o seu nome será: Maravilhoso
Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade”. Como
menino que nos nasceu, Cristo é chamado de o Deus
forte. Como Filho que se nos deu, Seu nome é Pai da
eternidade, ou Pai eterno. Como o Deus forte e o Pai
eterno, Cristo é eterno; mas como o menino e filho,
Ele teve de nascer. Alguns argumentam que Cristo
nasceu, mas não foi criado. Segundo a Bíblia, o
nascimento é a execução da criação. Portanto, nascer
é ser criado.

O TEMPO NÃO EXISTE PARA DEUS


Alguns podem indagar como Cristo pode ser o
Primogênito de toda a criação uma vez que Ele nasceu
há cerca de dois mil anos, e não no início da criação.
Se quisermos compreender isso adequadamente,
precisamos perceber que para Deus não há o
elemento tempo. Por exemplo, de acordo com nossa
maneira de contar o tempo, Cristo foi crucificado há
dois mil anos. Mas Apocalipse 13:8 diz que Cristo foi
morto desde a fundação do mundo. Ambos estão
certos. Entretanto, a contagem de Deus é muito mais
importante que a nossa. Aos olhos de Deus, Cristo foi
crucificado desde a fundação do mundo. Na
eternidade, Deus anteviu a queda do homem. Por
isso, também na eternidade, Ele fez preparativos para
o cumprimento da redenção.
A diferença entre a contagem de tempo de Deus e
a nossa também nos ajuda a compreender por que
Cristo é chamado o segundo homem (1Co 15:47). Do
nosso ponto de vista, o segundo homem foi Caim, o
filho do primeiro Adão. Mas, do ponto de vista de
Deus, o segundo homem é Cristo.
Podemos tomar essa questão de diferentes
maneiras de contar o tempo e aplicá-la a Cristo como
o Primogênito de toda a criação. De acordo com nossa
percepção do tempo, Cristo nasceu em Belém há
cerca de dois mil anos. Contudo, aos olhos de Deus, o
Senhor Jesus nasceu antes da fundação do mundo. Se
Ele foi morto desde a fundação do mundo, por certo
deve ter nascido antes. Portanto, segundo a
perspectiva eterna de Deus, Cristo nasceu na
eternidade passada. Esse é
motivo pelo qual Cristo, segundo a ótica divina,
sempre foi
primeiro de todas as criaturas. Deus anteviu o dia
em que Cristo nasceria numa manjedoura em Belém.
Como Cristo é o primeiro entre as criaturas, podemos
dizer que, sendo todo-inclusivo, Ele é tanto o Criador
como parte da criação.

FIEL À VERDADE

Numa mensagem anterior eu disse que, em 1934,


o irmão Nee deu uma série de mensagens em Xangai
sobre a centralidade e a universalidade de Cristo. A
pedido dele organizei minhas anotações dessas
mensagens e as preparei para ser impressas no seu
jornal chamado O Testemunho Atual. Quando esse
material foi traduzido para o inglês, o tradutor tomou
a liberdade de interpretar o conceito do irmão Nee,
acerca de Cristo como o primeiro das criaturas, de
uma forma com a qual ele nunca teria concordado.
Em vez de dizer, como disse o irmão Nee, que “o Filho
é o número um entre as criaturas”, o tradutor disse
que “o Filho é a cabeça de toda a criação”. Com
certeza essa não é uma tradução fiel, e, sim, uma
interpretação segundo o conceito do tradutor.
Watchman Nee tinha a ousadia de dizer
exatamente o que a Bíblia diz. Naquela conferência,
em 1934, lemos a tradução chinesa de Colossenses 1
feita por ele, na qual ele deixou bem claro que Cristo é
o primeiro de todas as criaturas. Isso é um exemplo
da sua ousadia pela verdade; ele não se importava
com o que os homens diriam, mas somente com o que
a Bíblia diz. Contudo, o tradutor dessas mensagens
mudou suas palavras, a fim de evitar problemas com
determinados conceitos teológicos. Essa tradução não
foi fiel ao ministério do irmão Nee.
Se nos importarmos com a verdade,
testificaremos que Cristo, a imagem do Deus
invisível, o próprio Criador, como o Primogênito de
toda a criação, é o primeiro entre todas as criaturas.
Nesse sentido Cristo é não só o Criador, mas também
parte da criação.

NELE, POR MEIO DELE E PARA ELE

Colossenses 1:16 diz: “Pois, nele, foram criadas


todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e
as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer
principados, quer potestades. Tudo foi criado por
meio dele e para ele”. “Nele” significa no poder da
Pessoa de Cristo. Todas as coisas foram criadas no
poder do que Cristo é. Toda a criação tem as
características do poder intrínseco de Cristo. (Ver
nota sobre esse versículo na Nova Tradução de
Darby.) “Por meio dele” indica que Cristo é o
instrumento ativo por meio do qual processou-se a
criação de todas as coisas. Finalmente, “para ele”
indica que Cristo é o fim de toda a criação. Todas as
coisas foram criadas para Sua possessão.

ANTES DE TODAS AS COISAS

No versículo 17 Paulo prossegue: “Ele é antes de


todas as coisas”. Isso indica Sua pré-existência
eterna.

NELE TUDO SUBSISTE

Além disso, o versículo 17 diz: “Nele, tudo


subsiste”. O fato de todas as coisas subsistirem em
Cristo significa que elas existem por meio de Cristo
como o centro sustentador, assim como os raios de
uma roda são sustentados pelo eixo da roda no seu
centro.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM NOVE

CRISTO: O PRIMOGÊNITO DENTRE OS MORTOS

Leitura Bíblica: Cl 1:18-23

Vimos que o livro de Colossenses revela que


Cristo é tudo. No universo há o Deus Criador e a
criação. De acordo com 1:15, Cristo é a imagem do
Deus invisível. Isso quer dizer que Ele é nada menos
que o próprio Deus em plena expressão. Além disso, é
o Primogênito da criação, o primeiro entre todas as
criaturas de Deus.
Deus fez duas criações: a velha e a nova. A velha
criação inclui o céu, a terra, a humanidade, e milhões
de itens. A nova criação é a igreja, o Corpo de Cristo.
Os versículos 15 a 17 desvendam Cristo como o
primeiro na criação original, como o que tem a
preeminência entre todas as criaturas. O versículo 18
mostra que Cristo é o primeiro em ressurreição como
a Cabeça do Corpo. Ele tem primazia na igreja.
A primeira criação veio a existir pelo falar de
Deus. Nas palavras de Romanos 4:17, Deus chamou à
existência as coisas que não existiam. A nova criação,
pelo contrário, veio a existir por meio da ressurreição,
por meio da morte e ressurreição da velha criação.
Nessa nova criação, a igreja, Cristo é o Primogênito
de entre os mortos.

OS DOIS NASCIMENTOS DE CRISTO

Sendo o Filho de Deus, Cristo passou por dois


nascimentos: o primeiro, na encarnação e o segundo,
na ressurreição. Todos os cristãos sabem que Cristo
nasceu mediante a encarnação, mas poucos
consideram Sua ressurreição também um
nascimento. Atos 13:33 indica que Cristo foi gerado,
ou nasceu, em ressurreição. Pela ressurreição Ele foi
gerado o Filho de Deus. Entretanto, antes da
encarnação, na eternidade, Ele já era o Filho de Deus.
Por que, então, precisava nascer o Filho de Deus em
ressurreição? Antes da encarnação, Cristo não era um
homem; era simplesmente o Deus infinito e eterno.
Mas na plenitude do tempo Ele foi concebido do
Espírito Santo no ventre de Maria e, nove meses
depois, nasceu numa manjedoura em Belém. De
acordo com João 1:14, o Verbo, que é Cristo,
tornou-se carne. Isso quer dizer que Ele deu o passo
de tornar-se homem. Como é maravilhoso o fato de o
Deus infinito, eterno, ter-se tornado homem
mediante a encarnação! Contudo, ao tornar-se
homem, Ele não deixou de ser Deus.
Após viver na terra por trinta e três anos e meio,
Cristo foi crucificado. Então, ao ressuscitar, Ele deu o
segundo passo, para nascer pela segunda vez e
tornar-se o Primogênito de Deus. Antes de Sua
ressurreição Cristo era o Unigênito de Deus (Jo 3:16).
Mas pela ressurreição o Unigênito tornou-se o
Primogênito entre muitos irmãos (Rm 8:29). De
acordo com Hebreus 2:10, Deus hoje conduz muitos
filhos à glória. Esses filhos são os muitos irmãos de
Cristo, o Primogênito.
Mediante os dois nascimentos de Cristo, a
divindade foi introduzida na humanidade e a
humanidade, na divindade. Pela encarnação de
Cristo, Deus foi introduzido no homem. Antes da
encarnação, Deus estava fora do homem. Todavia,
por meio da encarnação de Cristo, Deus foi
introduzido na humanidade. Podemos dizer que, com
o nascimento de Cristo, Deus nasceu no homem.
Portanto, por meio do primeiro nascimento de Cristo,
a encarnação, Deus foi introduzido no homem e
tornou-se um com ele. Então, por meio da
ressurreição de Cristo, o homem foi introduzido em
Deus. Quando o Senhor Jesus estava na terra, Deus
vivia num homem, pois Deus estava Nele. Agora,
mediante a ressurreição de Cristo, o homem foi
introduzido em Deus. Aleluia, Cristo está nos céus
como homem! Deus foi introduzido no homem e o
homem, em Deus. Que operação! Que maravilhoso
tráfego de duas mãos! Nesse tráfego Deus entrou no
homem pela encarnação, e o homem foi introduzido
em Deus pela ressurreição.
Você alguma vez já ouviu que Cristo, o Filho de
Deus, passou por dois nascimentos? Você pode ter
ouvido que você precisava de um segundo
nascimento, o nascimento no espírito mediante o
Espírito Santo, mas não que Cristo nasceu duas vezes,
primeiro na encarnação e depois na ressurreição. Na
eternidade Cristo era Deus. Pela Sua encarnação Ele
tornou-se homem, e pela ressurreição tornou-se o
Primogênito de Deus.
NOSSA EXPERIÊNCIA DOS DOIS
NASCIMENTOS DE CRISTO

Por intermédio de Cristo, Deus foi introduzido


em nós, e nós, em Deus. Aleluia por tal mesclar! No
instante em que nascemos de novo, Cristo nasceu em
nós, e nós fomos introduzidos em Deus. Portanto, na
vida cristã temos uma experiência interior e pessoal
dos dois nascimentos de Cristo. Com Cristo, o
nascimento em ressurreição veio trinta e três anos e
meio depois do nascimento pela encarnação.
Entretanto, em nossa experiência de Cristo, Deus foi
introduzido em nós e nós em Deus ao mesmo tempo.
Louvado seja o Senhor pelo maravilhoso tráfego entre
Deus e nós!
Colossenses 1:19 diz que toda a plenitude
agradou-se em habitar em Cristo, e 2:9 declara que
toda a plenitude da Divindade habita corporalmente
em Cristo. Em 2:10 Paulo ainda diz que em Cristo
somos feitos plenos. Visto que toda a plenitude habita
em Cristo e nós fomos colocados Nele, fomos feitos
plenos das riquezas divinas. Aleluia, em Cristo somos
feitos plenos! Num sentido muito real, nós, que
cremos em Cristo, somos complexos, pois estamos
Naquele que é muito complexo. Se Ele não fosse
complexo, não teria havido tantas discussões a
respeito de Sua Pessoa.

O TODO-INCLUSIVO

Cristologia é o estudo teológico da Pessoa de


Cristo. Alguns ensinam a verdade de que Cristo é
tanto Deus como homem. Outros, contudo, ensinam
que Cristo é Deus, mas não homem, ou é homem, mas
não Deus. Não há necessidade de discussões a
respeito da Pessoa de Cristo. Ele é todo-inclusivo. Ele
é Deus, homem e a realidade de todas as coisas
positivas no universo. Se enxergarmos que Ele é tudo,
não discutiremos sobre Ele. Vários versículos indicam
claramente que Cristo é Deus. Por exemplo, Romanos
9:5 fala de “Cristo, segundo a carne, o qual é sobre
todos, Deus bendito para todo o sempre”. Em dado
momento, Cristo tornou-se homem. Depois,
mediante a morte e ressurreição, Ele tornou-se o
Primogênito de Deus.
Em Sua vida na terra, o Senhor Jesus estava
entre os discípulos, mas não dentro deles. Portanto,
foi necessário passar pela morte e ressurreição a fim
de entrar nos discípulos como Espírito que dá vida
(1Co 15:45), o Espírito da realidade (1014:17). Em
João 14 a 16, os discípulos estavam perturbados
porque o Senhor iria deixá-los. Parecia que Ele lhes
dizia: “Se Eu não for, não haverá como Eu entrar em
vocês. Preciso passar pela morte e ressurreição para
me tornar o Espírito que dá vida. Então estarei em
vocês para sempre”. No dia da ressurreição o Senhor
apareceu a eles, soprou neles e disse: “Recebei o
Espírito Santo” (1020:22). Esse é o Espírito
prometido em 14:16-17, 26; 15:26 e 16:7, 13. O fato de
o Senhor soprar o Espírito Santo nos discípulos foi o
cumprimento de Sua promessa do Espírito Santo
como o Consolador. Ao soprar o Espírito, o fôlego
santo, o Espírito que dá vida, nos discípulos, o Senhor
Se dispensou a eles como vida e todas as coisas
positivas.
Sendo o Filho de Deus, Cristo deu dois passos
extraordinários. Primeiro deu o passo da encarnação,
a fim de tornar-se homem para o cumprimento da
redenção e o término da velha criação. Então, em
ressurreição, Ele tornou-se o Espírito que dá vida, a
fim de regenerar-nos para gerar a igreja, a nova
criação de Deus.

O PREEMINENTE

Tanto na velha como na nova criação, Cristo é o


primeiro e ocupa a primazia, o lugar de
preeminência. Tanto no universo como na igreja,
Cristo é preeminente. Se entendermos isso como uma
visão, e não como mera doutrina, nosso viver e vida
da igreja serão revolucionados. Perceberemos que em
todas as coisas Cristo deve ser o primeiro.
Em 1:18 Paulo diz: “Para em todas as coisas ter a
primazia”. Na Bíblia, ter a primazia, ou ser o
primeiro, é ser tudo. Uma vez que Cristo é o primeiro
tanto no universo como na igreja, Ele deve ser todas
as coisas no universo e na igreja. Sendo o primeiro,
Ele é tudo.
A maneira de Deus considerar essa questão é
diferente da nossa. Segundo nossa consideração, se
Cristo é o primeiro, então outra coisa deve ser a
segunda, outra a terceira, e assim por diante.
Todavia, do ponto de vista de Deus, Cristo ser o
primeiro significa que Ele é tudo.
O primeiro Adão incluía não só Adão como
indivíduo, mas toda a humanidade. No mesmo
princípio, aos olhos de Deus, o primogênito dos
egípcios incluía todos os egípcios. O primogênito
inclui todos. Portanto, Cristo ser o Primogênito no
universo significa que Ele é tudo no universo. De
modo semelhante, Cristo ser o Primogênito em
ressurreição significa que Ele é tudo em ressurreição.
Cristo ser o Primogênito tanto da velha como da nova
criação significa que Ele é tudo, tanto na velha como
na nova criação. Isso corresponde ao que Paulo diz
em 3:11, que no novo homem, na nova criação, “não
pode haver grego nem judeu, circuncisão nem
incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém
Cristo é tudo em todos”. No novo homem Cristo é
todos e em todos. Na nova criação só há lugar para
Cristo.

TER AQUELE QUE É TUDO

Nessa Epístola Paulo parecia dizer ao


colossenses: “Por que são tão tolos? Vocês receberam
Cristo, Aquele que é tudo. Ele é o primeiro na velha e
na nova criação. Qual a necessidade de adotar outra
coisa? Por que adoram anjos e se voltam para a
filosofia gnóstica? Por que seguem os rudimentos do
mundo? Não sabem que o próprio Cristo que
receberam e agora possuem é tudo? Ele é a Cabeça de
todos os anjos, e vocês estão Nele. Nele vocês foram
feitos plenos”.
Os capítulos dois e três revelam que os
colossenses tinham se voltado para diversos ismos:
gnosticismo, misticismo, legalismo e ascetismo. Esses
ismos são os rudimentos do mundo. Visto que temos
o Cristo todo-inclusivo, não precisamos de ismos; não
precisamos de filosofias, teorias e práticas, pois temos
Aquele que é tudo em todos. Cristo é profundo. Que
filosofia pode igualar-se a Ele? Todos os tesouros da
sabedoria e do conhecimento estão ocultos Nele (2:3).
Esse Cristo é a imagem de Deus, a plena
expressão de Deus. Ele não é o Deus oculto,
escondido, misterioso; é o Deus expresso, a imagem
do Deus invisível. Além disso, é o primeiro na criação
de Deus. Como já dissemos, isso indica que Ele é
tudo. Cristo é o alfa, o ômega, e todas as letras
intermediárias (Ap 22:13). Ele é tudo no universo e
também o primeiro na nova criação, a igreja.
INFUSÃO E SATURAÇÃO

Talvez você se pergunte como essa compreensão


de Cristo pode ajudá-lo na prática. Se por trinta dias
você se ocupar com a revelação de Cristo em
Colossenses, será revolucionado, reconstituído e
transformado. Ore e tenha comunhão sobre essas
mensagens de Colossenses; você verá que diferença
isso fará no seu ser. Posso testificar que faz diferença
enorme quando a visão da todo-inclusividade de
Cristo permeia nosso ser. Quando tiver essa visão,
você odiará tudo o que provém do ego; desprezará
não só seu ódio, mas até mesmo seu amor, bondade e
paciência. À medida que essa visão o faz odiar o ego,
ela o constrange a amar o Senhor. Você dirá: “Senhor
Jesus, eu Te amo porque Tu és tudo. Senhor, não há
necessidade de eu lutar ou me esforçar para fazer
coisa alguma. Ó Senhor, Tu és tanto para mim! Tu és
Deus, o Primogênito de toda a criação e o
Primogênito dentre os mortos”. Sugiro que você
leia-ore Colossenses por trinta dias. Ore até que todos
os aspectos de Cristo revelados nesse livro saturem o
seu ser. Não precisamos de regulamentos ou
ensinamentos; precisamos ter o Cristo como o
Todo-inclusivo infundido em nós e ser saturados
Dele.
Se Cristo for infundido no seu ser, você
abandonará tudo o que não é Cristo, e seu ser será
constituído Dele. A religião dá doutrinas às pessoas e
as ensina a se comportar. O livro de Colossenses, em
vez disso, fala do Cristo todo-inclusivo. Esse Cristo já
está em nós, mas precisamos vê-Lo, conhece-Lo, ser
enchidos e saturados Dele e nos tornar totalmente um
com Ele.

O PLENO DESFRUTE DE CRISTO

Nele somos feitos plenos, levados à plenitude.


Podemos estar familiarizados com essas palavras em
2:10, mas, sinto dizer, podemos achar que já as
entendemos e vivemos. Vocês já enxergaram que, em
Cristo, vocês são feitos plenos? Não creio que muitos
enxerguem a realidade desse versículo. Podemos
conhecer isso como doutrina, mas não como
experiência. Pode ser que em nosso viver real ainda
não sejamos plenos. Até agora, nossa participação das
riquezas insondáveis de Cristo tem sido muito
limitada. Cristo é nossa boa terra, mas nós ainda não
O desfrutamos plenamente como tal. O propósito de
Paulo em Colossenses é introduzir-nos no pleno
desfrute de Cristo como a terra todo-inclusiva.

TODAS AS COISAS RECONCILIADAS COM


DEUS

Em 1:20 Paulo prossegue: “E que, havendo feito


a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele,
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer
sobre a terra, quer nos céus”. “Por meio dele”
significa por meio de Cristo como o instrumento
ativo, mediante o qual a reconciliação foi processada.
Reconciliar todas as coisas com Deus é fazer paz com
Deus em favor de todas as coisas. Isso foi cumprido
por meio do sangue da cruz de Cristo.
Não só as coisas na terra mas também nos céus
precisavam ser reconciliadas com Deus. Isso indica
que as coisas nos céus também não estão corretas em
relação a Deus devido à rebelião de Satanás, o
arcanjo, e dos anjos que o seguiram. Sua rebelião
contaminou os céus.
O versículo 21 diz: “E a vós outros também que,
outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento
pelas vossas obras malignas”. Por sermos pecadores,
precisávamos de redenção. Por sermos também
inimigos de Deus, precisávamos de reconciliação com
Ele. Nossa inimizade para com Deus estava
principalmente na mente corrompida.
No corpo da Sua carne, Cristo nos reconciliou
com Deus a fim de apresentar-nos santos, inculpáveis
e irrepreensíveis diante de Deus (v. 22). Entretanto,
ainda precisamos permanecer “na fé, alicerçados e
firmes, não vos deixando afastar da esperança do
evangelho” (v. 23). Fé aqui não denota o ato de crer,
mas o objeto da nossa crença.
Paulo aqui fala da esperança do evangelho. Cristo
em nós é a esperança da glória (v. 27), do qual não
nos devemos afastar.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM DEZ

A RELAÇÃO DE CRISTO COM A CRIAÇÃO

Leitura Bíblica: Cl 1:15-19

O MEIO DA CRIAÇÃO

No ensinamento tradicional prevalecente no


cristianismo, Cristo é considerado o Criador. Embora,
como Deus, Cristo seja o Criador, nenhum versículo
na Bíblia diz explicitamente que Cristo criou os céus,
a terra e todas as coisas no universo. Ao ouvir isso,
alguns podem lembrar-se de João 1:3, que diz: “Todas
as coisas foram feitas por intermédio Dele, e sem Ele
nada do que foi feito se fez”. Esse versículo não diz
que Cristo criou todas as coisas; diz que todas as
coisas vieram a existir por intermédio de Cristo. A
Versão Revista e Corrigida traduz: “Todas as coisas
foram feitas por ele”. Essa, contudo, não é uma
tradução precisa. A preposição grega deve ser
traduzida “por intermédio de” e não “por”. Assim,
esse versículo não diz que todas as coisas foram
criadas por Cristo, e, sim, que vieram a existir por
meio de Cristo. Isso indica que Cristo é o meio pelo
qual a criação foi realizada.
Alguns podem achar que Hebreus 1:10-12 diz que
Cristo é o Criador. Entretanto, esses versículos são
uma citação do Salmo 102, que indica que Deus é o
Criador. Eles são citados aqui para provar que Cristo
é Deus.
Cristo é de fato o Criador de todas as coisas.
Contudo, o ponto que enfatizamos aqui é que a Bíblia
não diz especificamente que Cristo é o Criador; ela
fala de Cristo como o meio da criação, pelo qual todas
as coisas vieram a existir. Se falarmos da criação de
maneira geral, é correto dizer que Cristo é o Criador.
Mas se quisermos ser mais específicos, é melhor dizer
que Cristo é o meio da criação.
Colossenses 1:16 diz: “Pois, nele, foram criadas
todas as coisas”. A Versão King James diz: “Por Ele
foram criadas todas as coisas”. Essa tradução não é
precisa. A preposição grega usada aqui é traduzida
precisamente pelo termo em (nele). Dizer que todas
as coisas foram criadas em Cristo indica que Ele é o
meio da criação de todas as coisas. Contudo, se esse
versículo for traduzido “pois, por ele, foram criadas
todas as coisas”, dirá que Cristo é o Criador, e não o
meio da criação.

CRISTO EXPRESSA DEUS NA CRIAÇÃO

Em 1:15 Paulo diz que Cristo é a imagem do Deus


invisível. Isso significa que Ele é a expressão do Deus
que não pode ser visto. Neste ponto precisamos
perguntar de que modo Cristo expressa Deus. A
resposta é: Ele expressa Deus na criação. Contudo,
Cristo não expressa Deus na criação simplesmente
criando todas as coisas de maneira objetiva. Se Ele
fosse apenas o Criador objetivo, e não o meio
subjetivo da criação, não poderia expressar Deus na
criação. Tenha em mente que todas as coisas não
foram criadas por Cristo, mas por intermédio Dele.
Isso indica um processo que ocorreu Nele.
Na nota sobre Colossenses 1:16, em sua Nova
Tradução, J. N. Darby diz que a palavra “nele”
significa no poder da Pessoa de Cristo. Como Darby
diz, “Ele era Aquele cujo poder intrínseco
caracterizou a criação”. Ao comentar o significado da
preposição grega usada na frase “pois, nele, foram
criadas todas as coisas”, Darby diz que ela é “usada
geralmente para o caráter no qual alguma coisa é
feita” (Collected Writings (Escritos Selecionados),
vol. 33, pág 87). Ele também afirma que “a criação de
todas as coisas foi caracterizada e produzida pelo
poder inerente que está no Senhor Jesus Cristo, e
todas as coisas subsistem como um só todo ordenado
e governado pelo mesmo poder constante e inerente”
(Idem, vol., 31, pág 188).
Cristo é o instrumento ativo pelo qual a criação
foi processada. Nesse processo, o poder de Deus é
expresso, manifestado. Isso é revelado claramente em
Romanos 1:20, que diz que “os atributos invisíveis de
Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua
própria divindade, claramente se reconhecem, desde
o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das
coisas que foram criadas”. Em todas as coisas criadas,
o poder de Deus é manifestado. Portanto, nas
palavras de Darby, a criação exibe as características
do poder intrínseco de Cristo.

SUBJETIVAMENTE RELACIONADO COM A


CRIAÇÃO
Cristo está subjetivamente relacionado com a
criação. Ele não criou o universo de forma
meramente objetiva como Criador objetivo; não ficou
de lado e chamou tudo à existência. Pelo contrário, o
processo de criação ocorreu Nele, isto é, no poder da
Sua Pessoa. Cristo é o único poder no universo. Sua
própria Pessoa é esse poder. Portanto, a criação foi
processada Nele. Isso quer dizer que Ele não foi
apenas o Criador objetivo, mas também o
instrumento subjetivo pelo qual a criação foi
processada. Por esse motivo, a criação ostenta as
características do poder intrínseco de Cristo. Em vez
de dizer que Cristo criou o universo, a Bíblia diz que
todas as coisas vieram a existir por intermédio Dele
ou Nele. As palavras “por Ele” são objetivas, ao passo
que “por intermédio Dele” e “Nele” são subjetivas.
O uso da gasolina como fonte de energia num
automóvel pode ser uma ilustração útil. Um
automóvel é operado pelo motorista, mas recebe
energia da gasolina. Visto que a gasolina fornece a
energia, o poder, um automóvel tem as características
do poder da gasolina. Contudo, a gasolina não supre o
automóvel como poder objetivo; ela o energiza
subjetivamente, agindo em certas partes mecânicas.
Se o poder da gasolina fosse objetivo, o automóvel
não exibiria as características do poder intrínseco da
gasolina. Todavia, como a gasolina está
subjetivamente relacionada com o automóvel, o
veículo propulsionado por ela exibe as características
de seu poder intrínseco.
Em Colossenses 1:16 a expressão para Ele indica
subjetividade. Todas as coisas foram criadas em
Cristo, por meio de Cristo e, por fim, para Cristo.
Essas expressões indicam que Cristo tem uma relação
subjetiva com a criação. O fato de a criação ser para
Ele quer dizer que ela é consumada Nele. As três
expressões (Nele, por meio Dele e para Ele) foram
usadas por Paulo para enfatizar a relação subjetiva de
Cristo com a criação. A criação ocorreu no poder da
Pessoa de Cristo, por meio Dele, como o instrumento
ativo, e para Ele, . como sua consumação. Tal relação
é totalmente subjetiva. Por causa de Sua relação
subjetiva com a criação, Cristo expressa Deus na
criação. A criação expressa as características de
Cristo, que é a imagem do Deus invisível.
TODAS AS COISAS SUBSISTEM EM CRISTO

No versículo 17 Paulo prossegue: “Nele, tudo


subsiste”. Isso quer dizer que todas as coisas se
conservam unidas por meio de Cristo como o centro
sustentador. O fato de a criação subsistir em Cristo é
outra indicação de que Ele está subjetivamente
relacionado com a criação.
É importante fazer distinção entre as palavras
existir, consistir e subsistir. Colossenses 1:17 não diz
que todas as coisas existem em Cristo nem que
consistem em Cristo; diz que subsistem Nele. Existir é
ser, consistir é ser, compor-se ou constituir-se, e
subsistir é manter-se. Imagine uma roda com aro,
raios e eixo. Todos os raios subsistem unidos no eixo.
A única maneira de os raios subsistirem é serem
mantidos unidos no eixo no centro da roda. Isso
ilustra a relação de Cristo com a criação a respeito de
todas as coisas subsistirem Nele.
Já ressaltamos que todas as coisas vieram a
existir em Cristo, por meio de Cristo, e para Cristo.
Nada deve ser considerado separado Dele. Todas as
coisas foram feitas no poder intrínseco da Pessoa de
Cristo, por meio Dele como o instrumento ativo e
para Ele como o objetivo consumado. Além disso,
todas as coisas subsistem, isto é, mantêm-se,
sustentam-se, Nele como o centro. Visto que todas as
coisas foram criadas em Cristo, por meio de Cristo e
para Cristo, e pelo fato de todas as coisas subsistirem
em Cristo, Deus pode ser expresso na criação por
intermédio de Cristo, a imagem do Deus invisível.

TODA A PLENITUDE

Em 1:19 Paulo diz: “Porque aprouve a Deus que,


nele, residisse toda a plenitude”. [Como já dissemos
em mensagem anterior, segundo o original grego,
este trecho poderia ser traduzido por: “Porque
aprouve a toda a plenitude residir Nele”.] A plenitude
aqui é virtualmente equivalente à imagem no
versículo 15. A imagem do Deus invisível é a plena
expressão do Deus que não pode ser visto. O fato de a
plenitude habitar em Cristo significa que toda a
expressão de Deus, toda a Sua imagem, agradou-se
em habitar Nele.
Os versículos 15 a 19 compõem uma só seção na
Epístola aos Colossenses. Nessa seção, Cristo é
revelado como o primeiro, tanto na velha como na
nova criação. Sendo o primeiro em ambas as criações
de Deus, Cristo é a expressão de Deus. Deus é
expresso Nele porque todas as coisas vieram à
existência Nele, por meio Dele e para Ele, e tudo
subsiste Nele. Isso é verdade não só quanto à velha
criação, porém ainda mais quanto à nova criação. A
nova criação, a igreja, é o Corpo de Cristo, do qual Ele
é a Cabeça. Mediante Sua relação subjetiva com a
criação, Cristo é a plenitude do Deus que não pode ser
visto, a imagem do Deus invisível. A plenitude no
versículo 19 não é uma coisa; é uma pessoa que é a
expressão, a imagem do Deus Triúno.
Nos versículos 20 a 22 é difícil determinar a
quem os diversos pronomes se referem. No original
grego, os versículos 19 e 20 dizem que aprouve à
plenitude residir em Cristo, e “por meio dele,
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas”. Se a
plenitude não fosse uma pessoa, como poderia ela
aprazer-se em habitar em Cristo? O fato de a
plenitude aprazer-se indica que é uma pessoa.
Aprouve à plenitude não só habitar em Cristo, mas
também por meio Dele reconciliar todas as coisas
com Ele. Nos versículos 19 e 20 há dois subjuntivos
unidos por uma conjunção: residisse e reconciliasse.
Portanto, a plenitude agradou-se em residir e
reconciliar.
No versículo 20, a expressão “por meio dele” é
usada duas vezes em alguns manuscritos gregos e em
ambos os casos refere-se a Cristo como o instrumento
ativo por meio do qual a reconciliação foi feita.
Contudo qual é o objeto do verbo reconciliar, isto é, a
quem todas as coisas foram reconciliadas? O objeto é
a plenitude mencionada no versículo 19. Por isso, em
sua New Translation (Nova Tradução), J. N. Darby
usa um pronome que concorda com a plenitude no
versículo 19. Ele diz: “Por meio Dele, reconciliasse
com ela mesma (itself) todas as coisas” (v. 20) e:
“Para apresentar-vos perante ela (it) santos,
inculpáveis e irrepreensíveis” (v. 22). O vocábulo
plenitude em grego é neutro; porém os pronomes
gregos que são objeto do verbo reconciliar não devem
ser interpretados como neutros, e, sim, como
masculinos. Isso significa que deveríamos dizer “com
ele” e “perante ele” e não “com ela” ou “perante ela”.
Portanto, todas as coisas foram reconciliadas
com a plenitude. Nos versículos 21 e 22 nós, que
éramos inimigos, fomos reconciliados pela plenitude
no corpo da carne por intermédio da morte, para ser
apresentados santos, inculpáveis e irrepreensíveis
perante a plenitude. Como é significativa essa
compreensão dessa passagem! É a plenitude que
habita em Cristo, é a plenitude que nos reconcilia, e é
perante a plenitude que seremos apresentados. Essa
plenitude é o próprio Deus expresso. Essa plenitude
agradou-se em habitar em Cristo, em nos reconciliar
e em nos apresentar perante Ele próprio.

A EXPRESSÃO DE DEUS EM TODO O SEU


RICO SER

O Cristo revelado em Colossenses é


todo-inclusivo. Ele é não só Deus, mas também o
primogênito da criação. Todas as coisas vieram a
existir Nele e por meio Dele. Além disso, todas as
coisas são para Ele e subsistem Nele. Por isso, por
intermédio Dele é expresso tudo o que Deus é. Vimos
que toda a plenitude no versículo 19 não denota as
riquezas do que Deus é, mas a expressão dessas
riquezas. A expressão plena de Deus em todo o Seu
rico ser, tanto na criação como na igreja, habita em
Cristo. O rico ser de Deus é expresso tanto na velha
criação como na nova, por meio de Cristo como
Aquele em quem, por meio de quem e para quem
todas as coisas vieram a existir, e como Aquele em
quem todas as coisas subsistem. É de tal maneira que
o Deus invisível é expresso.
Quando consideramos o universo e a igreja, a
velha criação e a nova criação, vemos toda a plenitude
do Deus Triúno. Contemplamos a expressão do Deus
Triúno. Essa plenitude agradou-se em habitar no
Filho e reconciliar todas as coisas com Ele para Sua
expressão. Além disso, essa plenitude nos
apresentará santos, inculpáveis e irrepreensíveis a Ele
próprio para que Ele tenha Sua expressão na nova
criação.

O FILHO DO AMOR DO PAI É A IMAGEM DO


DEUS INVISÍVEL

Colossenses 1:15 diz: “Ele é a imagem do Deus


invisível, o primogênito de toda a criação”. O
pronome “Ele” refere-se ao Filho do amor de Deus (v.
13). Isso quer dizer que o Filho do amor do Pai é a
imagem do Deus invisível. No versículo 15, Paulo
coloca a frase “primogênito de toda a criação” em
aposição à frase “a imagem do Deus invisível”.
Gramaticalmente, isso indica que essas expressões
são sinônimas. A imagem do Deus invisível é o
Primogênito de toda a criação. O fato de o versículo
16 começar com a palavra “pois” indica que ele
explica o motivo de Paulo ter dito que a imagem de
Deus é o primogênito de toda a criação. O motivo é
que “Nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e
sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos,
sejam soberanias, quer principados, quer potestades.
Tudo foi criado por meio Dele e para Ele”. Por que a
imagem do Deus invisível é o Primogênito de toda a
criação? Ele é o Primogênito porque todas as coisas
foram criadas Nele, por intermédio Dele e para Ele.
Vimos que, como a imagem de Deus, Cristo é a
expressão de Deus. Se uma pessoa não tivesse forma
ou imagem física, não poderia ser expressa. Uma
pessoa é expressa por sua imagem física. Embora
Deus seja invisível, Ele é expresso por meio de Sua
imagem, que é Seu Filho. o Filho do amor do Pai é a
expressão do Deus invisível. Essa expressão é
primeiramente o Primogênito de toda a criação, pois
todas as coisas foram criadas Nele, por meio Dele e
para Ele. A criação que veio a existir por meio Dele
expressa o poder eterno e a natureza divina de Deus.
Tanto a natureza divina como o poder eterno são a
expressão do Deus invisível. Se você analisar
profundamente o universo, admitirá que ele testifica
o poder eterno e a natureza divina. Até mesmo muitos
cientistas percebem que existe, na criação, algum
poder extraordinário. Esse poder é Cristo como a
imagem do Deus invisível.
Os três termos usados no versículo 16: Nele, por
meio Dele e para Ele, indicam que a criação está
subjetivamente relacionada com Cristo. Há uma
relação subjetiva entre a criação e Cristo por causa do
processo da criação e por causa do alvo, da
consumação da criação. A criação veio a existir em
Cristo e por meio Dele. Isso indica que a criação está
subjetivamente relacionada com Ele por causa do
processo pelo qual ela veio a existir. Além do mais,
toda a criação é para Cristo. Isso indica que ela está
subjetivamente relacionada com Cristo como a
consumação, o objetivo de sua existência. Cristo é
expresso tanto no processo como no objetivo da
criação. Portanto, a criação não pode ser separada de
Cristo como a imagem do Deus invisível.

CRISTO COMO CRIADOR E COMO O MEIO


DA CRIAÇÃO

Cristo é tanto Deus como Cristo. Como Deus, Ele


é o Criador, mas, como Cristo, Ele foi ungido e
designado por Deus, e assim leva a cabo a comissão
de Deus. Como Deus, Cristo é o Criador, mas, corno
Cristo, Ele é o instrumento, o meio, da criação.
Portanto, a ênfase em João 1:3 não é que Cristo é o
Criador, e, sim, o meio pelo qual a criação foi
processada e veio a existir. O mesmo se aplica a
Colossenses 1:16. O processo da criação foi realizado
Nele, por meio Dele e para Ele. Ele é o meio, o
instrumento, pelo qual e no qual a criação veio a
existir.

A MANEIRA DE CRISTO, QUE É A IMAGEM


DE DEUS, EXPRESSAR DEUS

Os versículos 16 a 18 são uma definição do


versículo 15. Os itens ali encontrados estão
relacionados com Cristo como a imagem do Deus
invisível. Isso quer dizer que, como tal, Cristo está
relacionado com O processo e o objetivo da criação,
com o Primogênito da criação, com a subsistência da
criação e com o Primogênito dentre os mortos. O
resultado desses itens é toda a plenitude, a plenitude
na velha criação e a plenitude na nova criação,
mencionada no versículo 19. Desse modo, a plenitude
no versículo 19 é a imagem no versículo 15.
Como Cristo, a imagem do Deus invisível,
expressa Deus? Sendo o Filho do amor do Pai, Ele
expressa o Deus Triúno porque, por meio Dele, tanto
a velha criação como a nova vieram a existir. Além
disso, Ele expressa o Deus Triúno porque é o
Primogênito das duas criações. Isso faz Dele a plena
expressão de Deus. Toda a plenitude no versículo 19
denota a própria Pessoa de Cristo. Esse é o motivo de
no versículo seguinte, no original grego, Paulo usar
um pronome masculino para referir-se à plenitude.
Louvado seja o Senhor por Cristo ser
todo-inclusivo! Nas palavras de Paulo em
Colossenses, Cristo é a imagem do Deus invisível, o
Primogênito de toda a criação e o Primogênito dentre
os mortos. Como o Filho do amor do Pai, Ele é a plena
expressão de Deus, vista tanto na velha criação como
na nova. Como Deus, Cristo não tem princípio. Mas
como o Primogênito da criação, Ele teve um início.
Deixemos de lado o conceito natural, creiamos na
pura Palavra de Deus e louvemos o Senhor porque
Ele, que é todo-inclusivo, é a plena expressão do Deus
Triúno.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM ONZE

O MORDOMADO DE DEUS

Leitura Bíblica: Cl 1:24-26

Em 1:25 Paulo diz: “Da qual me tornei ministro


de acordo com a dispensação da parte de Deus”. [O
termo grego para dispensação também pode ser
traduzido por mordomado.] Para a plena expressão
de Deus há a necessidade do mordomado de Deus.
É importante compreender exatamente o
significado de mordomado. A palavra grega traduzida
aqui por mordomado, oikonomía, é a mesma
traduzida por dispensação em Efésios 1:10 e 3:9. Essa
palavra também aparece em Efésios 3:2, onde Paulo
fala da dispensação da graça que lhe foi dada.
Segundo o uso antigo, oikonomía denotava
mordomado, dispensação ou administração. Na
época de Paulo, muitas famílias ricas tinham
despenseiros ou mordomos, cuja responsabilidade
era distribuir alimento e outras provisões aos
membros da família. Nosso Pai tem uma grande
família divina. Uma vez que Ele tem vastas riquezas,
Sua família tem a necessidade de muitos mordomos
para dispensá-las aos Seus filhos. Essa dispensação é
o mordomado. Portanto, um mordomado é uma
dispensação.
A palavra dispensação aqui não denota uma era
ou um meio pelo qual Deus se relaciona com as
pessoas; refere-se a Deus dispensar Suas riquezas aos
Seus escolhidos. Essa dispensação é o mordomado
com o ministério dispensador dos ministros de Deus.
Esse ministério de dispensar é também a
administração de Deus. Hoje Deus administra
dispensando-Se ao nosso interior. Esse mordomado,
ou dispensação, administração, é a economia divina.
A economia neotestamentária de Deus tem
necessidade desesperada do mordomado de Deus.
Já dissemos que o mordomado refere-se à
dispensação de riquezas numa família da realeza ou
da classe alta. A família real de Deus é rica em Cristo.
Segundo a Epístola aos Colossenses, a farru1ia de
Deus é especialmente rica em Cristo, que é
preeminente e todo-inclusivo, como a imagem do
Deus invisível, o Primogênito de toda a criação e o
Primogênito dentre os mortos. As riquezas de tal
Cristo, que é a plena expressão do Deus Triúno,
precisam ser dispensadas aos membros da família de
Deus. Esse serviço, que em 1:25 é chamado de
dispensação ou mordomado de Deus, era a obra do
apóstolo Paulo. Essa também deve ser a nossa obra
hoje.
Poucos ministros ou obreiros no cristianismo
hoje realizam o mordomado de Deus. Isso quer dizer
que poucos de fato dispensam as riquezas de Cristo
aos membros da família real de Deus. Esse
mordomado é necessário para que o Cristo rico,
todo-inclusivo, preeminente, seja dispensado aos
membros do Seu Corpo.
Esse mordomado é o ministério no Novo
Testamento: o dispensar das insondáveis riquezas do
Cristo todo-inclusivo aos membros da família de
Deus. O apóstolo Paulo dispensava as riquezas de
Cristo aos santos. É isso que fazemos no ministério
hoje.
O mordomado de Deus é de acordo com a
economia divina. Do lado de Deus é questão de
economia; do nosso lado é questão de mordomado.
Todos os irmãos, não importa quão insignificantes
pareçam ser, têm um ministério segundo a economia
de Deus. Isso significa que todo cristão pode
dispensar as riquezas de Cristo aos outros.
O desejo do coração de Deus é dispensar-Se ao
homem. Esse é o ponto central de toda a Bíblia. A
economia de Deus é realizar a dispensação de Si
mesmo ao homem. Temos parte nessa economia por
meio do mordomado, do ministério de dispensar as
riquezas de Cristo. Depois de as riquezas de Cristo
serem dispensadas a nós, precisamos tomar o
encargo de dispensá-las aos outros: Para Deus, essas
riquezas são a Sua economia; para nós, são o
mordomado; e quando são dispensadas por nós aos
outros, tornam-se a dispensação de Deus. Quando a
economia de Deus nos alcança, torna-se o nosso
mordomado. Quando executamos nosso mordomado
dispensando Cristo aos outros, torna-se a
dispensação de Deus a eles. Temos, portanto, a
economia, o mordomado e a dispensação.
Os que têm responsabilidades na igreja precisam
participar do mordomado de Deus. Isso quer dizer
que os presbíteros devem ser os primeiros a
dispensar as riquezas de Cristo aos outros. Embora
Cristo seja todo-inclusivo e preeminente, ainda
precisa ser dispensado aos membros da família de
Deus, e isso ocorre por meio do mordomado.
Portanto, há a necessidade do mordomado entre o
Cristo insondavelmente rico e os membros do Seu
Corpo. Todos os que estão à frente na restauração do
Senhor e têm responsabilidades com o cuidado das
igrejas precisam perceber que têm parte em tal
mordomado divino. Não estamos aqui para realizar
uma obra cristã comum. Por exemplo, não nos
preocupamos meramente em ensinar a Bíblia de
forma exterior; desejamos servir as riquezas de Cristo
a todos os membros da família de Deus. Ao conversar
entre nós, precisamos ministrar as riquezas de Cristo.
Até mesmo quando somos convidados para jantar nas
casas de irmãos, precisamos dispensar as riquezas de
Cristo. Esse é o mordomado, a dispensação de Deus.
Todo membro do Corpo de Cristo tem parte
nesse mordomado. Em Efésios 3:8 Paulo refere-se a
si mesmo dizendo que era “menor do que o mínimo
de todos os santos” (TB). Isso indica que ele era
menor que nós. Se Paulo pôde ser mordomo, ou
despenseiro, então também podemos, e assim
dispensar as riquezas de Cristo aos outros. Ao pregar
o evangelho, por exemplo, não devemos ficar
preocupados apenas em ganhar almas, mas em
executar o mordomado de dispensar as riquezas de
Cristo aos outros. Dia a dia precisamos cumprir nosso
mordomado dispensando o Deus Triúno ao homem.
Louvado seja o Senhor por todos termos parte nesse
mordomado! Todos temos o privilégio de dispensar
as insondáveis riquezas de Cristo aos outros.
Portanto, não só devemos pregar o evangelho ou
ensinar a Bíblia, mas também dispensar as riquezas
de Cristo aos outros.
Temos muitas oportunidades de ministrar as
riquezas de Cristo aos irmãos. Suponha que
estejamos ajudando uma família a se mudar. Não
devemos simplesmente transportar a mobília;
devemos suprir as riquezas de Cristo aos membros da
família, principalmente à irmã. Se ajudamos na
mudança sem dispensar as riquezas de Cristo,
podemos na verdade tornar as coisas difíceis para os
outros. Nossa intenção ao ajudar uma família a se
mudar deve ser dispensar as riquezas de Cristo.
Todas as nossas atividades em relação a tal serviço
devem ser com Cristo.
Outra oportunidade de ministrar as riquezas de
Cristo é hospedar ou ser hospedados. Tanto anfitriões
como hóspedes devem ministrar as riquezas de
Cristo.
Que o Senhor nos abra os olhos para vermos que
todos temos parte no mordomado de Deus. Em todos
os aspectos da vida prática da igreja, até mesmo em
coisas como recepção e limpeza do salão de reuniões,
precisamos dispensar Cristo aos outros. Primeiro
precisamos ser enchidos de Cristo; depois devemos
ministrar as riquezas de Cristo aos outros. Esse é
nosso mordomado.

I. OS SOFRIMENTOS DO MORDOMO

Em 1:24 Paulo diz: “Agora, me regozijo nos meus


sofrimentos por vós; e preencho o que resta das
aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu
corpo, que é a igreja”. As aflições de Cristo são de dois
tipos: as aflições para cumprir a redenção, que foram
completadas pelo próprio Cristo; e as aflições para
gerar e edificar a igreja, que precisam ser preenchidas
pelos apóstolos e todos os cristãos.
O fato de Paulo mencionar as aflições de Cristo
juntamente com a dispensação de Deus indica que o
mordomado pode ser executado somente por meio de
sofrimentos. Se quisermos ter parte no mordomado
de Deus, precisamos estar preparados para sofrer.
Todos os que participam no serviço da igreja ou no
ministério precisam estar prontos para participar das
aflições de despenseiro. Isso quer dizer que
precisamos estar dispostos a pagar o preço
necessário, seja ele qual for, para cumprir o nosso
mordomado.
Já dissemos que quando damos ou recebemos
hospitalidade precisamos ser despenseiros,
dispensando as riquezas de Cristo aos outros.
Contudo, hospedar pode envolver sofrimento. De
igual modo, ser hóspede na casa de alguém também
pode ser causa de sofrimento. Muitos irmãos me
hospedam em casa e sempre cuidam de mim de
maneira maravilhosa, fazendo todo o necessário para
suprir minhas necessidades. Mesmo assim eu sofro,
simplesmente porque estou fora de casa. Não importa
quão adequada seja a hospitalidade, sempre fico
contente quando volto para casa. Contudo, testifico
com alegria que muitos têm falado da nutrição,
edificação e fortalecimento que receberam na
hospitalidade, seja como anfitrião ou hóspede. Isso
indica que exercer o mordomado, dispensando as
riquezas de Cristo aos membros da real família de
Deus, é digno de todo e qualquer sofrimento, grande
ou pequeno. Como veremos na mensagem seguinte,
os sofrimentos dos quais participamos visam à
edificação do Corpo de Cristo; não estão de modo
algum relacionados com o cumprimento da redenção.

II. O MORDOMO É UM MINISTRO

A. Da Igreja

Falando do Corpo de Cristo, a igreja, Paulo diz


em 1:25: “Da qual me tornei ministro de acordo com a
dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a
vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de
Deus”. Paulo aqui diz que, como despenseiro, ou
mordomo, ele se tornou ministro da igreja.

B. Para Completar a Palavra de Deus

Em 1:25 Paulo também fala de dar cumprimento


à palavra de Deus. A palavra de Deus é a revelação
divina, que não foi completada antes de o Novo
Testamento ser escrito. No Novo Testamento os
apóstolos, principalmente Paulo, completaram a
palavra de Deus no mistério de Deus, que é Cristo, e
no mistério de Cristo, que é a igreja, a fim de nos dar
revelação plena da economia de Deus. De acordo com
1:26, a palavra de Deus é o “mistério que estivera
oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se
manifestou aos seus santos”. Esse mistério oculto está
relacionado com Cristo e a igreja, a Cabeça e o Corpo.
O desvendar desse mistério por meio do apóstolo
Paulo é parte significativa da conclusão da Palavra de
Deus como a revelação divina.
“Dos séculos” significa da eternidade, e “das
gerações” significa das épocas. O mistério a respeito
de Cristo e a igreja esteve oculto desde a eternidade e
através de todas as épocas até a era do Novo
Testamento, na qual está sendo manifestado aos
santos, incluindo todos nós que cremos em Cristo.
Antes de Paulo, a revelação divina não fora
completada. Antes de Paulo ter sido enviado para
ministrar, a revelação de Deus já fora dada no Antigo
Testamento. Além disso, Deus tinha revelado a Si
mesmo por meio dos acontecimentos relatados nos
Evangelhos e parte do livro de Atos. Todavia, era
necessário que Paulo escrevesse diversas epístolas
sobre Cristo como o mistério de Deus e sobre a igreja
como o mistério de Cristo a fim de que a revelação
divina fosse completada. Essa conclusão da revelação
divina é vista principalmente em quatro epístolas:
Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses.
Embora a revelação Divina tenha sido
completada por meio dos apóstolos, principalmente
por Paulo, num sentido prático ela também precisa
ser completada por meio de nós hoje. Isso significa
que, ao falar às pessoas, precisamos, de modo
progressivo, contínuo e gradual, pregar a palavra em
plenitude. Pregar a palavra em plenitude, ou pregar
plenamente a palavra, é completar a palavra. Entre
tantos cristãos hoje por certo há grande necessidade
de tal completação da palavra. Recentemente uma
revista afirmou que nos Estados Unidos há cinqüenta
milhões de cristãos regenerados. Quantos deles
conhecem o propósito de Deus ao salvá-los? Muito
poucos. A palavra de Deus tem sido pregada no
cristianismo, mas não em plenitude. A pregação do
cristianismo de hoje não tem completado a palavra de
Deus. Portanto, há necessidade urgente dessa
completação . .
Já dissemos que a palavra de Deus que precisa de
completação é o mistério mencionado em 1:26.
Muitos cristãos pregam a palavra de Deus, mas
pouquíssimos dizem às pessoas o que é o mistério de
Deus. A palavra de Deus pregada no evangelho pleno
não está relacionada com escapar do inferno e ir para
o céu; tampouco está relacionada com paz, alegria e
felicidade. A palavra que precisa ser completada é “o
mistério que estivera oculto dos séculos e das
gerações”. Esse mistério está escondido, oculto. Se
não estivesse oculto, não seria mais mistério. O
mistério oculto dos séculos e das gerações é a palavra
de Deus que deve agora ser completada mediante a
pregação dos santos. Esse mistério oculto, que foi
manifestado aos santos de Deus, é “Cristo em vós, a
esperança da glória” (v. 27). Embora tenha ouvido a
pregação do evangelho por anos a fio, raramente ouvi
uma mensagem dizendo que, quando alguém crê em
Jesus Cristo, Ele não só o salvará, mas também
entrará em seu espírito e permanecerá lá como sua
vida. A maioria das pregações no cristianismo de hoje
não é assim. Desse modo, há a necessidade da
completação da palavra de Deus.
Se não ministrarmos as riquezas de Cristo aos
outros, seu conhecimento da revelação divina será
incompleto. No que diz respeito à revelação em si,
não há nenhuma deficiência; tudo foi completado há
vários séculos. Contudo, na prática, ainda pode haver
carência, principalmente se não cumprirmos nossa
parte do mordomado de Deus. Todos precisamos
cumprir nossa responsabilidade de completar a
palavra de Deus.
Os irmãos novos na restauração do Senhor
precisam da completação da palavra de Deus. Por
exemplo, um novo irmão pode crer firmemente que
Cristo é Deus e o Criador. Entretanto, pode não
perceber a todo-inclusividade de Cristo nem
experimentá-Lo como o Todo-inclusivo. Pode não
perceber que, como um homem, Cristo é também
uma criatura. Ao ouvir sobre esse aspecto de Cristo,
pode ficar incomodado. Isso indica que alguém
precisa completar a palavra de Deus para ele nesse
ponto e mostrar que, embora Cristo seja Deus, Ele
ainda é um homem. Ele é todo-inclusivo. Em 1
Timóteo 2:5 Paulo fala do homem Cristo Jesus. Além
disso, depois da ascensão de Cristo, Estêvão viu o
Filho do Homem nos céus (At. 7:56). Por certo, um
homem é criatura de carne e osso. Após Sua
ressurreição o Senhor mostrou aos discípulos que Ele
tinha um corpo de carne e ossos (Lc 24:39). Já que o
Cristo ressurreto ainda é um homem com tal corpo, é
correto dizer que Ele é uma criatura. Contudo, devido
à influência da tradição religiosa, muitos cristãos
podem relutar em fazer tal afirmação sobre Cristo.
Para eles, tal ensinamento pode ser herético.
Precisamos ajudá-los a tomar a pura Palavra de Deus
e a crer em tudo o que ela diz. Isso quer dizer que
precisamos ajudá-los a ter a completação da palavra
de Deus.
Na restauração do Senhor precisamos de mais
despenseiros capazes de completar a palavra de Deus.
Todos precisamos ter esse encargo. Devemos
despender mais tempo na presença do Senhor para
que Ele se torne nossa porção para nosso desfrute e,
assim, tenhamos as riquezas de Cristo para ministrar
aos outros. Dessa forma, seremos pessoas que
completam a palavra de Deus. Então, por meio de
nosso ministério, os irmãos serão nutridos,
fortalecidos, confirmados e edificados.
O Corpo é edificado à medida que todos os
membros exercem o mordomado de ministrar as
riquezas de Cristo. Que haja tal mordomado mútuo
entre nós. Você ministra as riquezas de Cristo aos
outros, e eles ministram Cristo a você. Se essa for
nossa situação, todos seremos nutridos e
desfrutaremos Cristo mais do que nunca. Então,
mediante o mordomado de dispensar as riquezas de
Cristo, a igreja será edificada de maneira prática.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM DOZE

PREENCHER O QUE RESTA DAS AFLIÇÕES DE


CRISTO

Leitura Bíblica: Cl 1:24; 1Pe 3:18; Hb 9:26; Is 53:3-5,


7-8; 10 12:24; Lc 12:50; Fp 3:10; Ap 1:9; 2Tm 2:10;
2Co 1:5-6

Em 1:24 Paulo diz: “Agora, me regozijo nos meus


sofrimentos por vós; e preencho o que resta das
aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu
corpo, que é a igreja”. Quando li pela primeira vez
esse versículo, fiquei surpreso e incomodado.
Perguntei-me como poderia haver algo incompleto
nos sofrimentos de Cristo. Na época eu estava
totalmente sob o conceito religioso de que era
impossível Cristo ter carência. Contudo, nesse
versículo Paulo diz claramente: “Preencho o que resta
das aflições de Cristo”.

DOIS TIPOS DE SOFRIMENTO

Os sofrimentos de Cristo já não estão completos?


Como pode ser necessário que as aflições de Cristo a
favor do Corpo sejam completadas? O Senhor Jesus
passou por dois tipos de sofrimento: o sofrimento
para redenção e o sofrimento para gerar e edificar o
Corpo, a igreja. Nenhum de nós pode ter parte
alguma em Seu sofrimento para a redenção; dizer que
podemos participar desse sofrimento é blasfêmia.
Apenas Ele é o Redentor, e o sofrimento para
redenção foi plenamente cumprido por Ele; não
temos a qualificação nem a posição para ter parte no
sofrimento do Senhor para a redenção. Em tipologia,
no dia da expiação, somente o sumo sacerdote, que
fazia expiação pelo povo, podia entrar no Santo dos
Santos. O sumo sacerdote era símbolo de Cristo como
o único capaz de realizar a redenção e qualificado
para fazê-lo.
Diversos versículos falam dos sofrimentos de
Cristo para o cumprimento da redenção. Por
exemplo, 1 Pedro 3:18 diz: “Porque também Cristo
padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos
injustos, para levar-nos a Deus” (VRC). Cristo, o
Justo, morreu pelos injustos. Ele era o único
qualificado para arcar com essa aflição. Hebreus 9:26
e Isaías 53:3-5, 7-8 também indicam que Cristo
sofreu para cumprir a redenção a nosso favor. Não
temos parte nesse sofrimento. Cristo sofreu isso
sozinho.
Embora não possamos participar do sofrimento
de Cristo pela redenção, se formos fiéis a Ele,
precisamos participar do Seu sofrimento para gerar e
edificar Seu Corpo. Paulo foi modelo para nós nessa
questão. Imediatamente após a conversão, ele passou
a participar desse sofrimento de Cristo, das aflições
de Cristo, a favor do Seu Corpo.
Isso é contrário ao conceito de que nada
relacionado com Cristo tenha carência. Conforme
esse conceito, tudo o que Cristo é e faz é completo.
Mas . aqui está um versículo a nos dizer que pelo
menos uma coisa relacionada com Cristo tem
carência: as Suas aflições para gerar e edificar Seu
Corpo. Para gerar o Corpo, Cristo sofreu muito. Mas
devido a esse sofrimento não ter sido completado por
Cristo, há a necessidade de Seus servos fiéis
preencherem, completarem o que resta desses
sofrimentos. Paulo não sofreu pela redenção;
contudo, ele sofreu muito para gerar e edificar o
Corpo de Cristo.
O apóstolo Paulo foi um modelo para os cristãos
(1Tm 1:16). Devemos considerá-lo um modelo, e não
uma pessoa tão elevada a ponto de ninguém mais
poder ser como ele. Uma vez que, pela misericórdia
do Senhor, Paulo foi estabelecido como modelo para
nós, nós também podemos ser tudo o que ele foi.
Precisamos crer na misericórdia do Senhor. Se Sua
misericórdia fez de Paulo um modelo, então ela pode
cumprir o mesmo em nós. Isso quer dizer que, assim
como Paulo sofreu para gerar e edificar o Corpo de
Cristo, nós também devemos sofrer pela igreja.
Cristo, é claro, foi o primeiro a sofrer para gerar e
edificar Seu Corpo. Mas os apóstolos e todos os
irmãos devem seguir os passos de Cristo ao sofrer
esse tipo de aflição. Em João 12:24 o Senhor Jesus
disse: “Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão
de trigo não cair na terra e morrer, fica ele só; mas se
morrer, produz muito fruto”. Esse versículo não fala
da morte redentora de Cristo, mas de Sua morte
produtora, geradora. Cristo caiu na terra e morreu
como grão de trigo a fim de produzir muitos grãos
para a igreja. De acordo com João 12:26, os que
desejam servi-Lo devem segui-Lo nessa questão.
Em Lucas 12:50 o Senhor Jesus disse: “Tenho,
porém, um batismo com que ser batizado; e como me
angustio até que se realize!” A palavra batismo nesse
versículo refere-se à morte todo-inclusiva de Cristo
na cruz, uma morte não só para redenção, mas
também para gerar o Corpo por meio da liberação da
vida divina. Como a palavra do Senhor aos discípulos
em Marcos 10:38-39 deixa claro, eles também
participariam do batismo com o qual Ele próprio
seria batizado.
Em Filipenses 3:10 Paulo fala de conhecer a
comunhão dos sofrimentos de Cristo. Esses
sofrimentos não são para redenção, mas para a
edificação do Corpo. Não podemos participar dos
sofrimentos de Cristo pela redenção, mas precisamos
participar, e muito, dos sofrimentos de Cristo pela
igreja.

UM COMPANHEIRO NA TRIBULAÇÃO EM
JESUS

Em Apocalipse 1:9 João se diz um “companheiro


na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus”.
Dizer que somos companheiros, que participamos
juntos na tribulação, no reino e na perseverança em
Jesus indica que estamos sofrendo. Quando Jesus
vivia na terra como homem, Ele sofria
continuamente. De acordo com a história de Sua vida,
o nome Jesus denota uma pessoa sofredora, um
homem de dores (Is 53:3). Portanto, ser um
companheiro na tribulação em Jesus é sofrer e ser
perseguido ao seguir Jesus, o Nazareno. O livro de
Apocalipse é para os que sofrem tribulação em Jesus.
Enquanto esperamos pela vinda do Senhor,
precisamos estar dispostos a sofrer. Esse sofrimento é
para o Corpo, a igreja. Devemos participar dos
sofrimentos de Jesus a favor da igreja.
Quando estava na terra Jesus foi perseguido pela
religião judaica, formada segundo os oráculos de
Deus. João 5:16 diz que os judeus O perseguiam
porque Ele quebrava o sábado deles. Os religiosos não
toleram a quebra de seus regulamentos. Qualquer
violação de seus regulamentos religiosos provoca
perseguição. Quando Jesus quebrou o sábado, os
religiosos judeus extremistas perseguiram-No e até
mesmo procuraram matá-Lo. Algum tempo depois a
religião, de fato, sentenciou-O à morte.
Assim como a religião perseguiu Jesus, ela
também persegue os seguidores de Jesus. Sabemos
pelo livro de Atos que os judeus nas sinagogas se
opuseram aos apóstolos. Paulo sofreu muita
perseguição assim. João, o escritor de Apocalipse,
também experimentou isso; foi exilado na ilha de
Patmos “por causa da palavra de Deus e do
testemunho de Jesus”. Ele se tornou companheiro,
participante, no sofrimento e na aflição em Jesus.
A perseguição contra o Senhor não teve origem
no mundo secular, e, sim, no mundo religioso. Em
Atos vemos que a situação da perseguição dos
apóstolos era a mesma. A oposição não veio
principalmente dos gentios, mas da religião judaica.
De modo semelhante, muitíssimos mártires sofreram
perseguição nas mãos da religião; ela sempre
persegue os seguidores autênticos de Jesus. Agora é
nossa vez de passar por essa perseguição e sofrimento
para a edificação do Corpo de Cristo. Nos anos que
estive com o irmão Nee na China vi o quanto a
religião o perseguia. Boatos, oposição e condenação
provinham de religiosos. Em sua sutileza, Satanás, o
diabo, usa a religião para se opor e perseguir quem
segue o Senhor Jesus. Portanto, assim como João na
ilha de Patmos, também precisamos ser participantes
da tribulação em Jesus. Dessa forma preenchemos o
que resta das aflições de Cristo pela igreja.

SOFRER PELOS SANTOS

Em 2 Timóteo 2:10 Paulo diz: “Por esta razão,


tudo suporto por causa dos eleitos”. Esse versículo é
outra indicação de que Paulo sofria a favor dos
eleitos, o povo escolhido de Deus.
Além disso, 2 Coríntios 1:5-6 dizem: “Porque,
assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam
em grande medida a nosso favor, assim também a
nossa consolação transborda por meio de Cristo. Mas,
se somos atribulados, é para o vosso conforto e
salvação; se somos confortados, é também para o
vosso conforto, o qual se torna eficaz, suportando vós
com paciência os mesmos sofrimentos que nós
também padecemos”. Isso é outro indício do quanto
Paulo sofreu pelos santos.

O OBJETIVO DE NOSSA OBRA


Precisamos seguir os primeiros apóstolos ao
preencher o que resta das aflições de Cristo pela
igreja. Também precisamos ter parte na comunhão
'dos sofrimentos de Cristo para a edificação da igreja.
O objetivo da nossa obra cristã deve ser a edificação
da igreja. Entretanto, se nos importarmos somente
com atividades como pregar o evangelho ou ensinar a
Bíblia, podemos ser bem recebidos e apreciados. Mas
se o objetivo de nossa pregação e ensinamento for a
edificação da igreja, receberemos oposição dos
religiosos.
Qual é nosso objetivo ao pregar o evangelho?
Não é simplesmente salvar pecadores do inferno; é
obter material para a edificação do Corpo de Cristo.
Quando estava na religião, ouvi muitas mensagens
encorajando-nos a pregar o evangelho. Sempre nos
pediam que considerássemos o amor e a compaixão
de Deus pelos pobres pecadores, e diziam-nos que
tivéssemos o mesmo sentimento por eles. Às vezes os
pregadores diziam: “Milhares vão para o inferno
todos os dias. Será que seu coração permanece
indiferente a isso?” Alguns ficavam inspirados com
essa pregação e, com lágrimas, respondiam ao
chamado no altar para se tornar ministros do
evangelho. O termo “ganhar almas” é muito comum
no cristianismo de hoje. Mas qual é o propósito de
ganhar almas? Você alguma vez já ouviu que ganhar
almas é para a edificação do Corpo? Entretanto, o
objetivo de Paulo ao pregar o evangelho era edificar o
Corpo; é por isso que ele foi perseguido e sofreu.
Certamente os judeus eram o povo de Deus na
época em que o Senhor Jesus esteve na terra. Eles não
ofereciam sacrifícios diários a Deus? Não tinham o
templo edificado segundo a revelação e instrução de
Deus? A resposta a essas perguntas é sim. Um dia,
porém, Jesus veio. Ele não se importou com o templo
da mesma maneira que os fanáticos judeus. Quando
Seus discípulos admiravam as construções do templo,
Ele disse: “De modo nenhum ficará aqui pedra sobre
pedra que não seja derrubada” (Mt 24:2). Quem
ousaria ter dito isso? Se você estivesse lá e falasse
essas palavras, os judeus o teriam matado. Esse foi o
motivo de perseguirem o Senhor Jesus.
No livro de Atos vemos que os judeus das
sinagogas acusaram o apóstolo Paulo de ser uma
“peste” (At 24:5). Aonde quer que fosse, Paulo
causava problemas; portanto, recebia oposição dos
religiosos, do assim chamado povo de Deus.
Ocorre o mesmo hoje. Se pregarmos o evangelho
somente para ganhar almas e resgatar pessoas do
inferno, provavelmente não sofreremos muito. De
fato, podemos ser bem-vindos em muitos lugares.
Todavia, se tomarmos a edificação do Corpo como o
objetivo da nossa pregação do evangelho,
precisaremos estar preparados para sofrer, até
mesmo receber oposição e perseguição. A religião não
concorda com a edificação do Corpo. Alguns cristãos
até mentem a nosso respeito, classificando-nos junto
com as seitas e movimentos malignos e heréticos. Em
2 Coríntios 6:8 Paulo disse que tinha experimentado
infâmia e boa fama. Se, ao servir ao Senhor, os outros
só lhe dão boa fama eu questionaria sua fidelidade
para com o Senhor. Se você for fiel a Ele, a religião de
hoje o criticará e espalhará infâmias a seu respeito.
Aparentemente a religião é por Deus; na verdade
é contrária à economia divina. Nada é mais sutil e
prejudicial à economia de Deus do que a religião.
Ganhar almas não afeta a religião; antes, ajuda-a
muito. Mas sempre que você fala sobre a edificação
do Corpo, a religião é ameaçada.
Considere o que Paulo fez quando era Saulo de
Tarso; era um líder em sua religião, e fazia todo o
possível para tirar benefício dela. Contudo, no
caminho para Damasco, foi apanhado pelo Senhor.
Depois da conversão, tudo o que ele fazia ajudava a
demolir a religião. Ele era ousado. O Senhor Jesus
anulou o dia do sábado, mas Paulo anulou algo ainda
mais importante para o judaísmo: a circuncisão. Os
judeus condenaram Paulo por ensinar as pessoas a
não mais praticar a circuncisão. Se estivesse
preocupado somente em ganhar almas, Paulo não
teria ofendido as pessoas. Ele não disse: “Preciso
manter todas as portas abertas. Logo, não devo dizer
uma palavra sequer sobre a circuncisão. Não devo
falar nada contrário à religião judaica. A fim de
ganhar almas preciso manter bom relacionamento
com os religiosos”. Se sua preocupação fosse apenas
salvar almas, essa poderia ter sido sua prática.
Contudo, como Paulo era pela edificação do Corpo,
não havia como ele fazer isso. A fim de gerar e edificar
o Corpo de Cristo ele participou dos sofrimentos de
Cristo.
Diversas vezes as pessoas me disseram que
apreciavam meu ministério, com exceção do que eu
falava a respeito da igreja. Alguns até me imploraram
para não falar da igreja. Um exemplo disso aconteceu
no Texas em 1964. Fui convidado para falar a certo
grupo de cristãos em Dallas. Uma noite, após a
reunião, meu anfitrião me disse: “Irmão Lee,
apreciamos seu ministério. Mas queremos deixar
bem claro que essa congregação não aceita nenhuma
palavra sobre a igreja. Por favor, em suas mensagens
não diga nada sobre a igreja”. Eu lhe disse: “É
importante que você perceba que quanto mais eu
ministrar sobre Cristo como vida, mais os santos
terão fome pela igreja'. '. Na última reunião tive a
orientação do Senhor para falar do Corpo baseado em
Romanos 12. Eu sabia que se não falasse sobre a
igreja, não seria fiel para com o Senhor nem honesto
para com os ouvintes. Embora soubesse que meu
anfitrião e outros ficariam ofendidos, prossegui,
falando categoricamente sobre a vida da igreja.
Descontente com o que falei, meu anfitrião nem
mesmo se levantou para despedir-se quando
partimos cedo na manhã seguinte. Contudo, um
irmão foi grandemente ajudado por aquela
mensagem sobre a igreja e, como conseqüência, foi
encorajado a voltar-se para o caminho da restauração
do Senhor.
Por causa do Corpo de Cristo, a igreja,
precisamos preencher o que resta das aflições de
Cristo. Posso testificar que fui atacado e recebi
oposição simplesmente por causa de minha posição
pela restauração da vida da igreja. Se você tomar
posição pela igreja, esteja preparado para ataques,
mal-entendidos e boatos. Muitas coisas malignas
serão ditas sobre você. O motivo disso é que a questão
da igreja perturba a autoridade das trevas. Por isso,
os que se posicionam pela igreja devem estar
preparados para o ataque do inimigo. O Senhor Jesus
disse: “Sobre essa rocha edificarei a Minha igreja, e as
portas do Hades não prevalecerão contra ela” (Mt
16:18). Essas palavras indicam que as portas do
Hades, o poder das trevas, farão todo o possível para
impedir a edificação da igreja. Louvado seja o Senhor,
pois Ele prometeu que as portas do Hades não
prevalecerão!
Se formos fiéis e honestos em relação ao
ministério do Senhor e ao mordomado de Deus para a
edificação da igreja, sofreremos ataques, oposição e
infâmias. Em vista disso, precisamos olhar para o
Senhor a fim de ser cobertos pelo Seu sangue
prevalecente. Também precisamos orar para que Ele,
como nossa alta torre, oculte-nos em Si mesmo.
Quando nos ocultamos no Senhor em tempos de
sofrimentos e aflições, participamos da comunhão
dos Seus sofrimentos. Dessa maneira, preenchemos o
que resta das aflições de Cristo a favor da igreja.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM TREZE

COMPLETAR A PALAVRA DE DEUS

Leitura Bíblica: Cl 1:25; 1Co 15:45b; 2Co 3:17; 13:13;


Ef 3:14-19

Em 1:25 Paulo diz: “Da qual me tomei ministro


de acordo com a dispensação da parte de Deus, que
me foi confiada a vosso favor, para dar pleno
cumprimento à palavra de Deus”. [Dar pleno
cumprimento aqui também pode ser traduzido por
completar.] Nesta mensagem consideraremos a
questão de completar a palavra de Deus.

I. A PALAVRA DE DEUS INCLUI

O ANTIGO TESTAMENTO E A PALAVRA


PREGADA PELOS PRIMEIROS DISCÍPULOS

Na época de Paulo, a palavra de Deus incluía o


Antigo Testamento e a palavra pregada pelos
primeiros discípulos. Em Atos 4:29 os discípulos
oraram para pregar a palavra de Deus com intrepidez.
De acordo com Atos 4:31, “todos ficaram cheios do
Espírito Santo, e, com intrepidez, anunciavam a
palavra de Deus”. Em Atos 6:4 vemos que os
apóstolos se dedicaram à oração e ao ministério da
palavra. Atos 6:7 nos diz que “crescia a palavra de
Deus”. Os que foram dispersas por causa da
perseguição contra a igreja logo depois da morte de
Estêvão “iam por toda parte pregando a palavra” (At
8:4). Além disso, Atos 12:24 diz que “a palavra do
Senhor crescia e se multiplicava”.
Embora a palavra de Deus pregada pelos
primeiros discípulos crescesse e se multiplicasse, ela
ainda não havia sido completada conforme a
economia de Deus. Para ser completada foi
necessária a revelação de Deus a Paulo. Visto que os
judeus têm somente o Antigo Testamento, eles não
possuem o oráculo completo de Deus. Além disso,
embora tenham tanto o Antigo como o Novo
Testamento, muitos cristãos na verdade não têm a
revelação completa de Deus. Pode ser que, em sua
experiência e entendimento, tenham somente os
Evangelhos, Atos e parte de Romanos. Muitos têm
estudado a Bíblia, mas ainda não possuem
compreensão adequada da revelação divina.
Paulo se tomou um ministro da igreja de acordo
com o mordomado de Deus para completar a palavra
divina. Imagine que falta faria se não tivéssemos as
Epístolas de Paulo; sem elas, a palavra de Deus não
estaria completa. O mordomado de Paulo era
completar a palavra de Deus a fim de dispensar Cristo
com todas as Suas riquezas às igrejas. A revelação
dada a Paulo foi para completar a palavra de Deus.
Portanto, é crucial que todos conheçamos a revelação
dada a Paulo.

II. A REVELAÇÃO DE DEUS A PAULO

A. Cristo É o Mistério de Deus

Paulo recebeu a revelação de Cristo como o


mistério de Deus. Em 2:2 ele diz: “Para
compreenderem plenamente o mistério de Deus,
Cristo”. O termo “o mistério de Deus” não é
encontrado no Antigo Testamento. Os evangelhos
não registram nenhuma ocasião em que esse termo
foi usado pelo Senhor Jesus. Ele foi usado pela
primeira vez por Paulo em suas Epístolas. O mistério
de Deus é Cristo como a corporificação de Deus.
Colossenses 2:9 diz: “Porquanto, nele, habita,
corporalmente, toda a plenitude da Divindade”.
Como mistério de Deus, Cristo deve ser tanto a
corporificação de Deus como o Espírito que dá vida
(1Co 15:45b; 2Co 3:17). Todos os mestres cristãos
fundamentalistas crêem que Cristo é a corporificação
de Deus, mas pouquíssimos enxergam que Ele
também é o Espírito que dá vida. Para conhecer
Cristo em realidade como a corporificação de Deus
precisamos experimentá-Lo como o Espírito que dá
vida. Visto que o inimigo sabe que isso tem
significado crucial, ele ataca intensamente esse
ponto. Se não percebermos que Cristo é o Espírito
que dá vida, o fato de Cristo ser a corporificação de
Deus será mera doutrina ou teoria; será apenas um
ensinamento objetivo, sem nenhuma relação com
nossa experiência cristã. Se for assim, não haverá
maneira de a teoria se tomar realidade. A realidade de
Cristo como a corporificação de Deus está em Cristo
como Espírito que dá vida.
Em João 14:16-18 o Senhor Jesus disse: “E Eu
rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim
de que esteja para sempre convosco, o Espírito da
realidade, que o mundo não pode receber, porque não
O vê, nem O conhece; vós O conheceis, porque Ele
habita convosco e estará em vós. Não vos deixarei
órfãos, virei a vós”. O Espírito da realidade no
versículo 17 toma-se o próprio Senhor no versículo
18; “Ele” toma-se “Eu”. Isso indica que após Sua
ressurreição o Senhor tomou-se o Espírito da
realidade. Primeira Coríntios 15:45, que trata da
questão da ressurreição, confirma isso, dizendo que o
último Adão tornou-se Espírito que dá vida. Paulo foi
ousado e não deixou dúvidas ao declarar que Cristo é
o Espírito. Para a mente natural, não é lógico que o
último Adão, um homem na carne, pudesse tornar-se
o Espírito que dá vida. Entretanto, Paulo expôs esse
fato com toda determinação. Além disso, em 2
Coríntios 3:17 ele disse: “Ora, o Senhor é o Espírito”.
Segundo o contexto de todo o capítulo, o Espírito no
versículo 17 é o Espírito quê dá vida no versículo 6. E
em 2 Timóteo 4:22, Paulo disse claramente: “O
Senhor seja com o teu espírito”. Como Paulo é claro
no que diz!
Em 1964 um amigo íntimo me advertiu a não
ensinar que Cristo é o Espírito. Ele admitia que a
Bíblia ensina que Cristo é o Espírito; contudo, por
causa de a tradição religiosa impedir os outros de
aceitar esse fato, ele não tinha a ousadia de declarar
isso. Eu lhe disse: “Se eu não ensinar que Cristo é o
Espírito que dá vida, não tenho ministério algum.
Vim a este país principalmente com o encargo de
seguir essa linha em meu ministério”. Mais tarde,
naquele mesmo ano, dei uma série de mensagens
sobre Cristo como o Espírito. Essas mensagens estão
impressas em A Economia de Deus.
Muitos de nós podem testificar a ajuda vital que
receberam com a percepção de que o Senhor hoje é o
Espírito que dá vida em nosso espírito. Se Cristo não
fosse o Espírito em nosso espírito, como poderíamos
experimentá-Lo como nossa vida? Não teríamos
nenhuma experiência de Cristo como vida; teríamos
simplesmente outra forma de prática religiosa.
Contudo, devido ao fato de termos Cristo como o
Espírito que dá vida, não temos uma religião; temos o
Cristo vivo em nossa experiência. Por um lado, Ele é a
corporificação da plenitude de Deus e, por outro, é o
Espírito que dá vida habitando no nosso espírito.
Essa revelação de Cristo é parte da revelação dada a
Paulo para a completação da palavra de Deus.

B. A Dispensação de Deus

Paulo também recebeu a revelação acerca da


dispensação de Deus (2Co 13:13; Ef 3:14-19). A
palavra dispensação foi danificada por ter sido mal
usada; para muitos cristãos ela refere-se
simplesmente às maneiras pelas quais Deus lida com
as pessoas, maneiras que são chamadas dispensações.
Quando usamos a palavra dispensação, entretanto,
usamo-la com o sentido de dispensar, conceder,
distribuir. Em Sua economia Deus Se dispensa a nós.
Paulo foi o primeiro a falar da dispensação de Deus, e
seus escritos revelam que Deus hoje Se dispensa ao
nosso ser. Por exemplo, 2 Coríntios 13:13 diz: “A
graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a
comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós”.
Esse é o dispensar do Deus Triúno ao íntimo do nosso
ser. Onde mais na Bíblia você consegue encontrar
uma palavra tão clara sobre a dispensação do Deus
Triúno aos cristãos? Nesse versículo temos o Pai
como manancial, o Filho como a fonte e o Espírito
como o fluir. Que dispensação!
Em Efésios 3:14-19 Paulo também fala da
dispensação de Deus. Ele ora ao Pai para que sejamos
fortalecidos com poder pelo Seu Espírito em nosso
homem interior para que Cristo habite em nosso
coração. O resultado é que somos enraizados e
alicerçados em amor e somos fortes para
compreender, com todos os santos, qual é a largura, o
comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o
amor de Cristo que excede todo entendimento, para
que sejamos cheios até toda a plenitude de Deus.
Nesses versículos Paulo fala do Deus Triúno: o Pai, o
Espírito e Cristo (o Filho). Mediante a dispensação do
Deus Triúno ao nosso ser, tornamo-nos a plenitude
de Deus, Sua expressão.

C. A Igreja É o Mistério de Cristo

Em Efésios 3:4 Paulo fala do mistério de Cristo.


O mistério de Deus em Colossenses 2:2 é Cristo, ao
passo que o mistério de Cristo em Efésios 3:4 é a
igreja. Em Efésios 1:22-23 Paulo diz que a igreja é o
Corpo de Cristo, a Sua plenitude. Paulo foi o primeiro
a usar tal termo para descrever a igreja. Nenhuma
passagem dos escritos de Pedro ou João nos diz que a
igreja é o Corpo. Embora Paulo tenha entrado em
cena muito depois dos apóstolos originais, ele foi
intrépido em manifestar a revelação divina, e ousou
usar uma terminologia jamais usada antes.
Reconhecendo isso, Pedro recomendou Paulo,
dizendo em sua segunda Epístola: “Como igualmente
o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a
sabedoria que lhe foi dada, ao falar acercas destes
assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as
suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de
entender” (2Pe 3:15-16). Pedro foi capaz de escrever
essas palavras, embora tivesse sido certa vez
repreendido por Paulo (Gl 2:11). Pelo fato de Paulo
não ter medo de manifestar a revelação que Deus lhe
havia dado acerca da igreja, ele era o tipo de pessoa
que o Senhor podia usar para completar Sua palavra.
Outro termo revolucionário usado por Paulo
acerca da igreja é o novo homem (Cl 3:10). Ele
recebeu a revelação de que a igreja é o novo homem
com Cristo como o elemento constituinte. Somente
Paulo teve a ousadia de usar tal termo.
Há uma urgente necessidade hoje da
completação da palavra de Deus. Embora Paulo tenha
sido usado na completação da revelação divina
séculos atrás, ainda há a necessidade dessa
completação de modo prático entre os cristãos hoje.
Na maioria dos grupos cristãos há muito pouco
ministério de Cristo como vida. Além disso, poucos
ousam tocar na questão da igreja. Pela sua sutileza,
Satanás, o inimigo de Deus, procura anular a
completação da palavra de Deus. a inimigo pode
permitir que . os cristãos preguem o que é revelado no
Antigo Testamento, nos Evangelhos e em Atos; mas
não tolera o ensinamento sobre Cristo como o
Espírito todo-inclusivo que dá vida, ou sobre a igreja
como o mistério de Cristo. Qualquer pessoa que siga
essa linha em seu ministério será atacada pelo
inimigo.
Por causa de minha posição em favor da igreja,
tenho sido alvo de muitos rumores malignos. Fui
acusado de distorcer o ensinamento do irmão Nee
sobre a vida da igreja. Alguns afirmam que, depois da
Segunda Guerra Mundial, o irmão Nee mudou seu
conceito a respeito da base da igreja. Segundo esse
rumor, pelo fato de eu não ter mudado minha atitude
sobre a base da igreja, tornei-me diferente do irmão
Nee quanto a essa questão. Para comprovar que isso é
falso, publicamos Palestras Adicionais sobre a Vida
da Igreja, que inclui muitas mensagens sobre a igreja
dadas pelo irmão Nee após a Segunda Guerra
Mundial. Cada uma dessas mensagens está
documentada com a data e o lugar. Após esse livro ter
sido publicado, os opositores mudaram de estratégia
e começaram a dizer que a tradução não é precisa,
mas interpretação minha. Entretanto, quem conhece
tanto inglês como chinês pode testificar que a
tradução é bastante precisa e fiel ao original. Esses
rumores mostram que Satanás ataca os que se
posicionam hoje pela revelação dada por Deus a
Paulo, especialmente pela revelação acerca de Cristo
como o mistério de Deus e da igreja como o mistério
de Cristo.
Muitos se opõem a nós porque foram
entorpecidos pela tradição religiosa. Sob a influência
dessa tradição condenam e consideram herético o
ensinamento que corresponde à palavra completada
pelo apóstolo Paulo. Muitos podemos testificar que
não recebemos no cristianismo a revelação completa,
a palavra completa de Deus. A sutileza do inimigo é
encobrir a palavra completada por meio de Paulo. Por
esse motivo, temos encargo pela completação da
palavra de Deus.
Em 1:29 Paulo disse: “Para isso é que eu também
me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo
a sua eficácia que opera eficientemente em mim”. [O
verbo esforçar-se, segundo o original grego pode ser
traduzido por lutar, combater.] Paulo afadigou-se e
combateu para completar a palavra de Deus. A
palavra grega indica que ele lutava, engajando-se em
combate, por essa completação. Podemos testificar
com sinceridade que também lutamos pela
completação da 'revelação dada a Paulo.
Aparentemente, trabalhamos no ministério do
Senhor; contudo, na verdade lutamos contra a
religião com sua tradição. Entretanto, precisamos ter
clareza de que nossa luta não é contra sangue e carne,
e, sim, contra os poderes malignos nas regiões
celestiais, contra as portas do Hades que procuram
destruir a igreja. Quando lutamos e combatemos,
nosso encargo, nosso mordomado, é completar a
palavra de Deus. O que ministramos hoje é a
completação da revelação divina dada a Paulo.
Precisamos enfatizar muitas vezes que essa
revelação diz respeito a Cristo como a corporificação
de Deus e à igreja como a expressão de Cristo.
Embora haja muitas atividades cristãs neste país,
dificilmente há alguma completação da palavra de
Deus. Quem tem o encargo de declarar que Cristo, o
Salvador, é o Espírito que dá vida dispensando vida
ao nosso ser? Quem tem o encargo de dizer ao povo
do Senhor que eles devem ser o Corpo vivo para
expressar Cristo na base apropriada em cada cidade?
Nós, na restauração do Senhor, precisamos assumir a
responsabilidade por isso. O objetivo da restauração
do Senhor é a completação da palavra de Deus.
Espero que muitos irmãos se levantem para cumprir
esse ministério.
Hoje há muita pregação do evangelho,
ensinamento bíblico e obras cristãs, mas onde está a
completação da palavra de Deus? Há milhares de
assim chamadas igrejas, mas não há completação da
palavra de Deus. Sem essa completação, o Seu
propósito não pode ser cumprido, e Cristo não pode
obter a Noiva nem voltar com o reino. Precisamos
experimentar Cristo como o Espírito todo-inclusivo,
que dá vida, e posicionar-nos com a igreja na base
adequada. Não importa quanta oposição e ataques
soframos, precisamos posicionar-nos com a igreja e
experimentar Cristo na vida diária.

III. A COMPLETAÇÃO DA PALAVRA DE


DEUS

A completação da palavra de Deus inclui o


grande mistério de Cristo e a igreja (Ef 5:32); a
revelação plena acerca de Cristo, a Cabeça (Cl
1:26-27; 2:19; 3:11); e a revelação plena acerca da
igreja, o Corpo (Ef 3:3-6). Esses pontos não devem só
impressionar-nos; precisam também ser infundidos
em nosso ser. Que o Senhor deixe bem claro para
todos nós o que é a Sua restauração e a luta para a
completação da palavra de Deus. Se quisermos
completar a palavra de Deus, precisamos ministrar
Cristo como o Espírito que dá vida e posicionar-nos
com a igreja como a expressão viva de Cristo sobre a
base correta da cidade. Esse é nosso encargo, nosso
ministério e nosso combate.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM CATORZE

CRISTO: O MISTÉRIO DA ECONOMIA DE DEUS

Leitura Bíblica: Cl 1:25-29

Nesta mensagem chegamos ao mistério da


economia de Deus, o mistério que é na verdade o
próprio Cristo.
Em 1:25 Paulo fala da dispensação de Deus. A
palavra grega traduzida por dispensação, oikonomia,
também pode ser traduzida por mordomado,
economia ou administração. A dispensação é a
economia, e a economia de Deus é Sua dispensação. A
intenção de Deus em Sua economia é dispensar a Si
mesmo, isto é, o Pai, o Filho e o Espírito, aos Seus
escolhidos.
Cristo é o mistério, o segredo e o ponto central da
economia divina. Isso significa que o segredo da
dispensação do Deus Triúno aos Seus escolhidos é o
próprio Cristo; Ele é o ponto central da dispensação
divina. Essa dispensação está totalmente relacionada
com Cristo e centrada Nele.
Por séculos os cristãos têm lido as Epístolas de
Paulo, mas pouquíssimos viram a questão da
economia de Deus e Cristo como o mistério dessa
economia. Posso testificar que li Efésios e
Colossenses vários anos antes de começar a ver que
Cristo é o mistério da economia de Deus. No-início da
minha vida cristã eu não via que Cristo é o segredo da
dispensação de Deus. Essa questão está oculta e não
concorda com nosso conceito natural. Para
enxergá-la, precisamos orar e exercitar o espírito
enquanto estudamos detalhadamente a Epístola aos
Colossenses. Vamos agora considerar 1:25-29 em
detalhes.

UM MINISTRO DA IGREJA

O versículo 25 diz: “Da qual me tornei ministro


de acordo com a dispensação da parte de Deus, que
me foi confiada a vosso favor, para dar pleno
cumprimento à palavra de Deus”. [Dar pleno
cumprimento aqui também pode ser traduzido por
completar.] As palavras “da qual” referem-se a igreja
no versículo 24. Isso indica que Paulo tornou-se
ministro, não de uma obra missionária ou da obra de
ensinamento e pregação, mas da igreja. A palavra
ministro descreve alguém que serve. Paulo tornou-se
tal ministro da igreja segundo o mordomado, a
economia, a dispensação de Deus. Esse mordomado
foi dado a Paulo para a igreja. O objetivo da
dispensação de Deus para a igreja era completar a
palavra de Deus.

O MISTÉRIO MANIFESTADO AOS SANTOS

Repare que o versículo 25 não termina com


ponto final, e, sim, com dois pontos. Então, no
versículo 26, Paulo continua: “O mistério que estivera
oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se
manifestou aos seus santos”. Gramaticalmente,
mistério no versículo 26 é aposto de a palavra de
Deus no versículo 25. Isso quer dizer que a palavra de
Deus é o próprio mistério oculto dos séculos e das
gerações, que agora foi manifestado aos santos. Os
séculos denotam a eternidade, ao passo que as
gerações denotam o espaço de tempo que vai de uma
geração à outra. O mistério acerca de Cristo e a igreja
esteve oculto da eternidade e de todas as épocas até a
era do Novo Testamento, quando foi manifestado aos
santos, os que crêem em Cristo.
É importante o fato de Paulo no versículo 26 não
dizer que o mistério foi manifestado aos apóstolos, e,
sim, aos santos. Devido à influência da tradição
religiosa, muitos crêem que coisas tais como a
economia de Deus não podem ser compreendidas
pelos assim chamados leigos. Como somos gratos ao
Senhor pelo mistério ter sido manifestado aos santos,
a todos os que crêem em Cristo! Mesmo os mais
jovens entre nós têm tanto a posição como o
privilégio de ver esse mistério. Temos o privilégio de
ver algo não revelado a Adão Noé Abraão, Moisés e
nem aos profetas como Isaías, Jeremias e Zacarias.
Louvado seja o Senhor por podermos conhecer a
completação da palavra de Deus! Podemos conhecer
Cristo como o mistério da economia de Deus e o
Corpo como a plenitude de Cristo. Além disso,
podemos saber que a igreja é o novo homem com
Cristo como conteúdo e elemento constituinte. Nada
disso foi revelado ao povo de Deus no Antigo
Testamento.
Hoje concentramos a atenção em Cristo como o
mistério de Deus e na igreja como o mistério de
Cristo. Sendo o mistério de Deus, o Cristo
todo-inclusivo é a corporificação de Deus e também o
Espírito que dá vida. Sendo o mistério de Cristo, a
igreja é o Corpo de Cristo, Sua plenitude, e também o
novo homem para ser Sua plena expressão. Esse é o
mistério manifestado aos santos.
O estilo de Paulo nesta Epístola é bem complexo.
Ele usa muitas sentenças longas com várias orações e
pronomes relativos. Na verdade, os versículos 24 a 29
devem ser considerados como uma só sentença. No
versículo 27, continuação do versículo 26, ele diz:
“Aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a
riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto
é, Cristo em vós, a esperança da glória”. As palavras
aos quais no início do versículo referem-se aos santos
mencionados no versículo anterior. Deus quis dar a
conhecer as riquezas da glória desse mistério a nós.
Esse mistério, que é Cristo em nós como a esperança
da glória, é dado a conhecer entre os gentios.
Esse mistério cheio de glória entre os gentios é
Cristo em nós. Cristo em nós é misterioso e glorioso.
Por lidar com questões extremamente profundas, a
redação de Paulo é complexa e as sentenças são
longas.

AS RIQUEZAS DA GLÓRIA DO MISTÉRIO

Vamos agora prestar mais atenção às riquezas da


glória do mistério mencionadas no versículo 27. Essas
são as riquezas de tudo o que Cristo é para os cristãos
gentios (Ef 3:8). Na época em que Paulo escreveu aos
colossenses, os judeus consideravam os gentios, as
nações, tão imundos quanto os porcos. Contudo,
Paulo diz que Deus quis dar a conhecer as riquezas da
glória desse mistério entre os gentios, ou seja, entre
os gentios “imundos”. Vários termos podiam ser
usados para descrever os gentios: pecadores,
rebeldes, inimigos de Deus, filhos da desobediência,
filhos da ira. Antes de ser salvos, estávamos nessa
categoria. Porém, até mesmo entre tais pessoas, Deus
quis dar a conhecer as riquezas da glória desse
mistério.
Depois de salvo, você não teve a sensação de que
entrou na glória? Muitos tivemos esse tipo de
experiência. Embora fôssemos pecadores, inimigos e
rebeldes, tomamo-nos filhos de Deus. Também
somos herdeiros de Deus, co-participantes de Cristo e
até mesmo membros de Cristo. Além disso, o Novo
Testamento revela que somos sacerdotes e reis. Como
herdeiros de Deus herdaremos não só o próprio Deus,
mas todas as coisas. Somos filhos de Deus, herdeiros
de Deus, participantes de Cristo e sacerdotes e reis.
Que glória!
Se enxergarmos essa glória, também
conheceremos as riquezas da glória, embora nos
faltem palavras para exprimir essas riquezas
adequadamente. Essas riquezas incluem a vida
divina, a natureza divina, a unção e o Espírito
todo-inclusivo. Outros aspectos das riquezas são
justiça, justificação, santidade, santificação,
transformação, glorificação, consolo e a presença
divina. É impossível enumerar todas as riquezas; elas
excedem todas as contas. São as riquezas da glória
única, a glória que é nossa porque somos filhos e
herdeiros de Deus, participantes de Cristo e
sacerdotes e reis.
A chave das riquezas da glória é o próprio Cristo.
Embora os judeus nos tempos antigos fossem o povo
de Deus e não gentios “imundos”, eles não
reconheceram o Senhor Jesus como Messias. Para
muitos judeus hoje, o termo Messias não tem
realidade. Quando o Messias vier e eles O
reconhecerem, Ele estará somente entre eles. Mas
1:27 indica que Cristo não está meramente entre nós;
Ele está em nós. Para nós Cristo não é só objetivo,
mas também subjetivo, que habita em nós.
Precisamos dizer aos judeus que, em vez de aguardar
que o Messias venha somente de forma exterior, eles
também podem ter Cristo, o verdadeiro Messias,
habitando neles agora mesmo, tomando-se assim
filhos de Deus. Os judeus que receberem Cristo serão
não só o povo de Deus, escolhido por Ele, mas
também os filhos de Deus, regenerados por Ele. Que
glória é ser habitado por Cristo!
Nós, que cremos em Cristo, conhecemos as
riquezas da glória desse mistério. Não podemos
esgotar os itens das riquezas de tal glória. Todas as
bênçãos da Bíblia estão incluídas nas riquezas dessa
glória, que é nossa porção. Essa é a glória do mistério
entre os gentios, e esse mistério é Cristo em nós. O
Cristo que habita em nosso interior é o mistério cheio
de glória, com incontáveis riquezas. Esse é o ponto
chave do livro de Colossenses
DE VOLTA AO MISTÉRIO

OS colossenses, contudo, tinham perdido a visão


desse mistério e se distraíram com filosofia,
observâncias, ordenanças e práticas. Foram
enganados e afastados do galardão, o desfrute do
Cristo todo-inclusivo. Assim como eles, os cristãos de
hoje também perderam a visão da glória de Cristo
como o mistério da economia divina. A vasta maioria
dos cristãos genuínos foi desviada e levada para
outras coisas além do próprio Cristo. Visto que os
colossenses tinham sido desviados, Paulo
escreveu-lhes para dizer que o mistério oculto dos
séculos e das gerações foi manifestado aos santos.
Esse mistério é o Cristo todo-inclusivo que habita em
nós. Já que temos o que é tudo em todos, não
precisamos voltar-nos para filosofias, ordenanças,
observâncias e práticas. Como peço ao Senhor que
sejamos levados de volta a esse mistério!
Esqueçamo-nos de tudo que não é Cristo e
importemo-nos somente com Ele. Cristo, o mistério
entre os gentios, possui uma glória cheia de riquezas.

A ESPERANÇA DA GLÓRIA
No versículo 27 Paulo diz que Cristo em nós é a
esperança da glória. Cristo é o mistério que, agora, é
cheio de glória. Essa glória será manifestada
plenamente quando Cristo voltar para glorificar os
santos (Rm 8:30). Portanto, trata-se de uma
esperança, a esperança da glória. O próprio Cristo é
também essa esperança da glória.
Hoje podemos viver em Cristo, por Cristo e com
Cristo. Podemos vivê-Lo, cultivá-Lo e gerá-Lo. Ao
mesmo tempo, Ele é nossa esperança da glória. Se
tivermos a visão de que o Cristo todo-inclusivo que
habita em nós é a esperança da glória, nosso viver
será revolucionado. Diremos: “Senhor, de agora em
diante não me importo com coisa alguma além de Ti.
Não me importo com doutrinas, ordenanças,
regulamentos ou tradições. Não me importo com
religião, filosofia ou rudimentos do mundo. Senhor,
só me importo Contigo como a corporificação de
Deus e como o Espírito que dá vida no meu espírito.
Por seres tão real, vivo e prático em meu espírito,
posso viver por Ti e Contigo. Senhor, meu único
desejo é experimentar-Te dessa forma”.
O Novo Testamento também nos exorta a andar
de acordo com o espírito mesclado (Gl 5:16, 25; Rm
8:4). Precisamos andar segundo o Cristo que é a
própria glória cheia de riquezas. Oh! que todos
tenhamos essa visão! Uma vez que a tenhamos
enxergado, ela controlará todos os aspectos do nosso
andar diário.
Se tivermos essa visão, também perceberemos o
quanto os cristãos hoje têm sido desviados para
coisas que não são Cristo. Eles podem prestar atenção
a coisas boas, bíblicas, fundamentais e até mesmo
espirituais; entretanto, elas não são o próprio Cristo.
É crucial que vejamos o Cristo que é o mistério oculto
da eternidade, mas agora manifestado aos santos na
era do Novo Testamento. Deus quis dar a conhecer
entre os gentios as riquezas da glória desse mistério,
que é Cristo em nós, a esperança da glória. Esse
mistério é a chave para nossa vida cristã e também
para a vida da igreja.

APRESENTAR TODO HOMEM MADURO EM


CRISTO

No versículo 28 Paulo diz que anunciava Cristo.


Ele não diz que ensinava ou pregava Cristo, mas
anunciava Cristo. Ao anunciá-Lo, estava “advertindo
a todo homem e ensinando a todo homem em toda a
sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem
perfeito em Cristo”. [O vocábulo perfeito também
pode ser traduzido por maduro, plenamente
crescido.] O ministério de . Paulo, seja anunciando
Cristo ou advertindo e ensinando a todo homem em
toda a sabedoria, era ministrar Cristo aos outros, para
que se tornassem perfeitos e completos,
amadurecendo em Cristo até o pleno crescimento.
Tornar-se maduro, plenamente crescido, em
Cristo é questão de vida. Ele deve ser acrescentado a
nós. Então precisamos crescer Nele e gradualmente
ganhar mais da Sua estatura. Por fim, quando Ele for
trabalhado no nosso interior, seremos plenamente
crescidos Nele.
O objetivo do ministério de Paulo era apresentar
todo homem plenamente crescido em Cristo. Sempre
que considero a frase “apresentemos todo homem
perfeito em Cristo”, usada nesse versículo, vejo como
sou carente. Sou advertido pelo Espírito em mim
acerca do meu ministério. Preocupo-me com quantos
serei capaz de apresentar perfeitos, plenamente
crescidos, em Cristo. Essa responsabilidade pesa
muito sobre mim. No meu íntimo sou exortado a
anunciar Cristo e a advertir os outros e ensiná-las
acerca de Cristo, para apresentá-las perfeitos,
plenamente crescidos, em Cristo.
O conceito de Paulo em 1:28 é totalmente
diferente do que é mantido pelos ministros e pastores
cristãos hoje. O conceito de Paulo acerca do seu
ministério era dispensar Cristo aos outros, para que
crescessem em Cristo até chegar à maturidade. Ele
sabia que Cristo tinha de ser adicionado aos cristãos
até que se tornassem plenamente crescidos em Cristo.
Precisamos ter o mesmo conceito de Paulo. Ao cuidar
dos santos nas igrejas, os presbíteros devem procurar
apresentar todos os amados irmãos plenamente
crescidos em Cristo.

ESFORÇAR-SE SEGUNDO SUA EFICÁCIA

No versículo 29 Paulo prossegue: “Para isso é


que eu também me afadigo, esforçando-me o mais
possível, segundo a sua eficácia que opera
eficientemente em mim”. Creio que as palavras “para
isso” referem-se à questão de apresentar todo homem
plenamente crescido em Cristo. Para esse fim Paulo
se afadigava, se esforçava, lutava e combatia. Seu
esforço, todavia, era de acordo com a eficácia de
Cristo nele. Aleluia! o Cristo que habita interiormente
opera eficazmente em nós! Esse operar é Seu
energizar. Enquanto Ele nos energiza a partir do
nosso interior, nós precisamos esforçar-nos
cooperando com Seu operar eficaz.
A eficácia de Cristo opera em poder. A palavra
grega para poder tem o radical da palavra dínamo.
Esse é, sem dúvida, o poder da vida de ressurreição
(Fp 3:10), que opera no mais íntimo do apóstolo e de
todos os cristãos (Ef 1:19; 3:7, 20). Por esse eficaz
poder interior de vida, Cristo opera em nós. É
diferente do poder criador de Deus. Seu poder criador
é a fonte das coisas materiais no ambiente ao nosso
redor, ao passo que o poder de ressurreição de Deus
realiza as coisas espirituais para a igreja em nosso ser.
Paulo se afadigava, se esforçava, lutava e combatia
segundo esse poder de ressurreição. Pela eficácia
desse poder ele executou seu ministério de apresentar
todo santo plenamente crescido em Cristo.
Que nossos olhos sejam abertos para enxergar
que o objetivo de nossa obra e ministério deve ser
ministrar Cristo aos outros, para que cresçam com a
medida de Cristo, o mistério da economia de Deus.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM QUINZE

CRISTO EM VÓS, A ESPERANÇA DA GLÓRIA

Leitura Bíblica: Cl 1:26-27, 12, IS, 18-19; 2:2, 9, 16-17;


3:11; Jo 14:17, 20; 1Co IS:4Sb; Fp I:19; 2Tm 4:22; 1Co
6:17; Cl 3:4; Ef 3:17a; Rm 8:23; Fp 3:21; 2Ts l:lOa

Na mensagem anterior vimos que Cristo é o


mistério da economia de Deus. Nesta mensagem
passaremos a ver que Cristo em nós é a esperança da
glória. Para que sejamos impressionados com esse
aspecto de Cristo, precisamos prestar atenção a
diversos pontos cruciais abordados em Colossenses
acerca de Cristo.

I. CRISTO, A HERANÇA DOS SANTOS

Cristo é a herança dos santos. Colossenses 1:12


diz: “Dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte
que vos cabe da herança dos santos na luz”. Esse é o
primeiro aspecto de Cristo apresentado nessa
Epístola. A palavra herança denota Cristo como o
quinhão dos santos na boa terra que mana leite e mel.
O próprio Cristo que habita em nós é tal boa terra. Ele
é o Cristo todo-inclusivo para nosso desfrute.

II. CRISTO, A IMAGEM DO DEUS INVISÍVEL

De acordo com 1:15, Cristo é também a imagem


do Deus invisível; isso quer dizer que Cristo é a
expressão de Deus. Embora Deus seja invisível, Ele é
expresso em Cristo. O próprio Cristo que é nossa boa
terra é também a imagem do Deus Triúno, Sua
expressão. Sendo expressão de Deus, Cristo é a
imagem de Deus.

III. CRISTO, O PRIMOGÊNITO DE TODA A


CRIAÇÃO

Colossenses 1:15 também diz que Cristo é o


“Primogénito de toda a criação”. O Deus invisível é
expresso em Sua criação. Romanos 1:20 diz: “Porque
os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno
poder, como também a sua própria divindade,
claramente se reconhecem, desde o princípio do
mundo, sendo percebidos por meio das coisas que
foram criadas”. Deus é expresso por meio de Sua
criação, da qual Cristo é o Primogénito. Assim, Ele é o
meio pelo qual Deus Se expressa. O fato de a imagem
de Deus e o Primogénito da criação serem
mencionados no mesmo versículo indica que a
imagem de Deus está relacionada com a criação. Isso
indica claramente que, sendo o Primogénito da
criação de Deus, Cristo é a imagem de Deus, Sua
expressão.

IV. CRISTO, O PRIMOGÊNITO DENTRE OS


MORTOS

Deus tem duas criações: a velha e a nova. Os


incrédulos conhecem apenas a primeira, a criação do
universo. Contudo, de acordo com a Bíblia, Deus
também tem uma nova criação, que é a igreja. Cristo é
o Primogénito não só da velha criação, mas também
da nova. Como o Primogénito de ambas as criações,
Cristo é a expressão de Deus.
Os versículos 15 a 20 estão intimamente
conectados e exprimem uma idéia completa. Nos
versículos 15 e 16 vemos que Cristo é a imagem do
Deus invisível, o Primogénito de toda a criação,
porque todas as coisas foram criadas Nele. No
original grego, os versículos 17 e 18 começam com a
conjunção “e”. Finalmente, no versículo 19, Paulo
apresenta a conclusão desse raciocínio: “Porque
aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude”.
[Como já vimos em mensagens anteriores, segundo o
original grego, este versículo pode ser traduzido por:
“Porque nele toda a plenitude aprouve habitar”.]
O fato de Paulo usar a expressão “toda a
plenitude” indica que a plenitude, tanto da velha
como da nova criação, habita em Cristo. Já dissemos
que a plenitude equivale à imagem e também à
expressão. Segundo o uso do Novo Testamento, a
plenitude também denota o Corpo. Em Efésios 1:23
Paulo diz que a igreja é o Corpo de Cristo, “a
plenitude daquele que a tudo enche em todas as
coisas”. O Corpo é a plenitude, a plenitude é a
expressão e a expressão é a imagem. Se quisermos
compreender Colossenses 1:15-20, precisamos
enxergar que a imagem no versículo 15 denota a
própria plenitude como a expressão no versículo 19.
Portanto, a imagem de Deus é a expressão de Deus, e
essa expressão é a plenitude de Deus. A plenitude de
Deus é vista na velha criação, porque Cristo é o
Primogénito da criação, e é vista também na nova
criação, porque Ele é o Primogénito dentre os mortos.
Por esse motivo, o versículo 19 fala de toda a
plenitude. Toda a plenitude agradou-se em habitar no
Cristo todo-inclusivo.
Se tivermos a perspectiva espiritual adequada
veremos Cristo quando olhamos para o universo. De
modo semelhante, quando consideramos a igreja,
também veremos Cristo. Tanto no universo como na
igreja há a plenitude de Deus, Sua expressão. Essa
expressão é o próprio Cristo, que é a imagem do Deus
invisível.
Toda pessoa que pára para pensar percebe que
há uma expressão no universo. Quanto mais
consideramos o universo, mais temos consciência de
que ele expressa algo. De acordo com Colossenses, o
universo é a expressão da plenitude do Deus invisível.
No mesmo princípio, quando olhamos para a vida da
igreja adequada, também temos consciência de certa
expressão. Essa expressão é também da imagem do
Deus invisível. Essa imagem é Cristo. Pelo fato de
Cristo ser o Primogênito tanto da velha como da nova
criação, Ele é a expressão do Deus invisível.
V. CRISTO, NO QUAL TODA A PLENITUDE
AGRADOU-SE EM HABITAR

Colossenses 1:19 diz que toda a plenitude


agradou-se em habitar em Cristo. Esse conceito
aparece outra vez em 2:9, onde Paulo diz:
“Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a
plenitude da Divindade”. A plenitude tanto na velha
como na nova criação habita em Cristo. Essa
plenitude refere-se não às riquezas de Deus, mas à
expressão dessas riquezas. A expressão das riquezas
de Deus habita em Cristo.
Muitos cristãos falam do Cristo que habita
interiormente sem perceber que o Cristo que habita
neles é todo-inclusivo. Se você perguntar a alguns
irmãos que tipo de Cristo vive neles, eles falarão de
Cristo somente como o Salvador e o Redentor. Isso, é
claro, não está errado, mas não é suficientemente
adequado. Quando Paulo diz: “Cristo em vós, a
esperança da glória” (1:27), ele se refere a um Cristo
riquíssimo, que é nossa boa terra, a expressão do
Deus invisível, o Primogênito tanto da velha como da
nova criação, e Aquele no qual toda a plenitude
agradou-se em habitar. Mesmo esses itens não
esgotam tudo o que Ele é. É o Cristo com todos esses
aspectos que habita em nós como nossa esperança da
glória.

VI. CRISTO, O MISTÉRIO DA ECONOMIA DE


DEUS

Muitos cristãos, mesmo pastores e ministros, não


sabem qual é o mistério da economia de Deus. Alguns
nem mesmo estão familiarizados com esse termo. O
mistério da economia de Deus é Cristo. O Cristo que
habita em nós é o mistério dessa economia, uma
economia que envolve a administração de Deus de
todo o universo. Como isso é profundo! Deus tem
uma economia universal, cujo centro é Cristo. Além
disso, essa economia é abstrata, profunda e
misteriosa. O mistério dessa economia universal, seu
elemento indescritível, é Cristo. Os colossenses foram
extremamente insensatos ao se voltar desse Cristo
para o gnosticismo, misticismo e ascetismo. Que
necessidade havia de filosofia se tinham o próprio
Cristo, que é o mistério da economia universal de
Deus? Como é vital perceber que o próprio Cristo, que
é o mistério da economia de Deus, habita em nós!

VII. CRISTO, O MISTÉRIO DE DEUS

Em 2:2 Paulo diz: “Para compreenderem


plenamente o mistério de Deus, Cristo”. Sendo o
mistério de Deus, Cristo é a corporificação de Deus e
também o Espírito que dá vida. Embora seja fácil
falar de muitas coisas, é difícil falar de Cristo como o
mistério de Deus. Em relação a isso nossa mente é
como um bloco de mármore incapaz de absorver
líquidos. Embora possamos ouvir diversas
mensagens sobre Cristo como o mistério de Deus,
talvez não assimilemos coisa alguma do que ouvimos.
Há muitos anos conheci um irmão que gostava de
repetir a frase: “Cristo em mim, a esperança da
glória”. Todavia, ele tinha muito pouco conhecimento
de Cristo. Embora gostasse de falar sobre o Cristo que
habitava nele, ele na verdade não O conhecia nesse
aspecto; não percebia que o Cristo que vivia Nele é o
próprio mistério de Deus.

VIII. CRISTO, A REALIDADE DE TODAS AS


COISAS POSITIVAS
Colossenses 2:16-17 dizem: “Ninguém, pois, vos
julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa,
ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido
sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é
de Cristo”. Esses versículos indicam que Cristo é a
realidade de todas as coisas positivas. Ele é o
verdadeiro sol, ar, água, alimento, flores e árvores.
Comparadas a Cristo, todas as árvores são sombras;
Ele é a verdadeira macieira, figueira, oliveira, romeira
e videira. De fato, Ele é a árvore da vida. Ele também
é a realidade de todas as pessoas positivas do Antigo
Testamento. Por exemplo, Ele é o grande Salomão e o
grande Jonas (Mt 12:41-42).
Nessa Epístola Paulo dizia ao colossenses que
eles foram desviados ao se voltar de tal Cristo
todo-inclusivo para filosofias, observâncias e
adoração de anjos. Por que deveriam sujeitar-se a
regulamentos sobre comer, beber, festas, luas novas e
sábados, quando todas essas coisas são sombras de
coisas espirituais em Cristo? Não havia necessidade
de voltar para essas coisas, porque eles tinham Cristo,
e Cristo é tudo.
IX. CRISTO, O ELEMENTO CONSTITUINTE
DO NOVO HOMEM

Em 3:10-11 Paulo fala do novo homem, “no qual


não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem
incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém
Cristo é tudo em todos”. Isso indica que Cristo é o
elemento constituinte do novo homem. O novo
homem é constituído de Cristo, como essência e
elemento. Não havia necessidade de os colossenses se
ocuparem com diferenças naturais ou culturais entre
os povos. No novo homem há lugar somente para
Cristo. Visto que Cristo é tudo e em todos no novo
homem, não há, de forma alguma, lugar para o
homem natural. Cristo é cada membro e está em
todos os membros. O Cristo que habita em nós é tal
elemento constituinte do novo homem.

X. CRISTO EM VÓS

Que Cristo temos em nós! O Cristo que habita em


nós tem todos os aspectos abordados nesta
mensagem. Ele é a herança dos santos, a imagem do
Deus invisível, o Primogênito de toda a criação, o
Primogênito de entre os mortos, Aquele em quem
habita a plenitude de Deus, o mistério da economia
de Deus, o mistério de Deus, a realidade de todas as
coisas positivas e o elemento constituinte do novo
homem. Embora todos esses aspectos de Cristo sejam
revelados no livro de Colossenses, não vimos a
maioria deles, pois não estão de acordo com nosso
conceito natural. O que corresponde ao nosso
conceito é o ensinamento de Paulo sobre a mulher
submeter-se ao marido e o marido amar a mulher.
Mesmo sem ler as Escrituras temos conceitos sobre
essas questões. Em vez de achar que já
compreendemos o que Paulo diz em Colossenses,
devemos aprofundar-nos nesse livro a fim de
descobrir, na experiência, todos esses aspectos de
Cristo. Precisamos, então, louvar o Senhor e adorá-Lo
segundo esses aspectos. Devemos dizer: “Senhor, eu
Te adoro por seres a herança dos santos. Louvo-Te
por seres a imagem do Deus invisível”. Como é bom
adorar o Senhor dessa maneira!
Se conhecermos Cristo em todos esses aspectos,
o louvor que ofereceremos a Ele na reunião da mesa
do Senhor será elevado. Tenho ido à reunião do partir
do pão por mais de quarenta e sete anos, e em todas
essas reuniões tenho ouvido os santos louvar o
Senhor. A maioria desses louvores está num nível
muito elementar. Por exemplo, reunião após reunião,
os santos podem louvar o Senhor pelo sangue. É claro
que isso não está errado. Mas se permanecermos
nesse nível nosso louvor será superficial. Precisamos
lembrar-nos do Senhor e louvá-Lo segundo a
revelação contida nó livro de Colossenses. Precisamos
usar expressões como as dessa estrofe do hino 98 do
hinário4: “Tu és o Filho amado / Imagem és de Deus,
/ E a porção dos santos, / Que o sangue lhes proveu. /
És Tu o Primogênito / Da criação aqui / Pois tudo foi
criado / Por Ti e para Ti”. À mesa do Senhor
precisamos lembrar-nos Dele como a herança dos
santos, como a imagem de Deus, como o mistério da
economia de Deus e como a realidade de todas as
coisas positivas. Que o Senhor enriqueça nosso
louvor!

A. O Deus que Passou por um Processo

O Cristo todo-inclusivo que habita em nós é o


Deus processado (10 14:8-11, 16-20; Mt 28:19). Ele foi
4
Publicado por esta Editora. (N.T.)
processado mediante a encarnação, viver humano,
crucificação e ressurreição, e agora está em ascensão.

B. O Espírito que Dá Vida

Como já dissemos diversas vezes, o Cristo que


habita no nosso interior é também o Espírito que dá
vida (1Co 15:45). Esse Espírito, o Espírito
todo-inclusivo com o suprimento abundante (Fp
1:19), é também o Espírito composto. Em Êxodo
30:23-30 temos um símbolo desse Espírito
composto. De acordo com esse trecho da Palavra, o
óleo santo da unção era feito misturando-se quatro
especiarias com azeite de oliva. Juntos, as especiarias
e o azeite formavam um composto, um ungüento
usado para ungir os sacerdotes, o tabernáculo e todas
as coisas com ele relacionadas. O azeite tipifica o
Espírito de Deus, e as quatro especiarias tipificam
Cristo em Sua divindade e Sua humanidade com a
eficácia da Sua morte e o poder da Sua ressurreição.
O Espírito composto tipificado pelo ungüento é o
próprio Espírito mencionado em João 7:39. Na época
de João 7:39 “ainda não havia” o Espírito composto,
pois Jesus não havia sido ainda glorificado. Agora,
após a glorificação de Cristo, o Espírito não é mais
simplesmente o Espírito de Deus; Ele é o Espírito
composto, o Espírito de Deus composto da
humanidade de Cristo, a eficácia da Sua morte e o
poder da Sua ressurreição. Sendo o Deus processado,
Cristo é tal Espírito composto, todo-inclusivo, que dá
vida.

C. Que Habita em Nosso Espírito

Cristo agora habita em nosso espírito (2Tm 4:22)


a fim de ser um espírito conosco (1Co 6:17). Como
Espírito que dá vida mesclado com nosso espírito, Ele
é nossa vida e pessoa (Cl 3:4; Ef 3:17).

XI. A ESPERANÇA DA GLÓRIA

Em 1:27 Paulo diz não só que Cristo habita em


nós, mas também habita em nós como nossa
esperança da glória. Cristo pode ser nossa esperança
da glória porque habita em nosso espírito para ser
nossa vida e pessoa. De acordo com 3:4, quando
Cristo, nossa vida, for manifestado, também seremos
manifestados com Ele em glória. Ele aparecerá para
ser glorificado em nosso corpo redimido e
transfigurado (Rm 8:23; Fp 3:21; 2Ts 1:10). Quando
Cristo vier, nós seremos glorificados Nele, e Ele em
nós. Isso indica que o Cristo que habita em nós
saturará todo o nosso ser, inclusive o corpo. Isso fará
com que o corpo seja transfigurado e se torne como
Seu corpo glorioso. Então Cristo será glorificado em
nós. Isso é Cristo em nós, a esperança da glória.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM DEZESSEIS

APRESENTAR TODO HOMEM PLENAMENTE


CRESCIDO EM CRISTO

Leitura Bíblica: Cl 1:25-28; 2:4, 9; 3:4a; Ef 3:8-11, 4;


1:23; Jo 6:57b; 14:19b; Gl 2:19b; Ef 4:15, 13b

Falando sobre o Cristo que habita em nós como a


esperança da glória, Paulo diz em 1:28: “O qual nós
anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a
todo homem em toda a sabedoria, a fim de que
apresentemos todo homem perfeito em Cristo”. A
palavra grega traduzi da por perfeito também pode
ser traduzida como maduro, completo ou plenamente
crescido. O ministério de Paulo era dispensar Cristo
aos outros para que fossem perfeitos e completos pelo
amadurecimento Nele até o crescimento pleno.
Entretanto, muitos obreiros cristãos hoje não têm
nenhuma idéia de apresentar todo homem
plenamente crescido em Cristo; o objetivo das obras
que fazem não é esse. Nós, contudo, precisamos ter o
mesmo objetivo de Paulo.
Mesmo na pregação do evangelho, nosso alvo
deve ser dispensar vida a fim de apresentar as pessoas
maduras, plenamente crescidas em Cristo. Quando
pregamos o evangelho aos incrédulos, ministramos
Cristo a eles e os ajudamos a receber o Senhor, nosso
objetivo não é apenas que sejam salvos do lago de
fogo e da condenação de Deus. Nosso alvo não é
apenas que recebam o perdão de Deus; é ministrar
Cristo a eles para que, um dia, sejam apresentados
plenamente crescidos em Cristo. Se deixarmos de
dispensar Cristo às pessoas ao pregar o evangelho,
nossa pregação ficará abaixo do padrão de Deus.
Cristo deve ser transmitido a todos a quem falamos.
Transmitir Cristo deve ser o alvo da nossa pregação
do evangelho.
Devemos ter o mesmo objetivo na comunhão
com os santos. Quando contatamos os irmãos, o alvo
deve ser ministrar-lhes Cristo para que amadureçam
Nele.
Vamos agora considerar vários pontos
relacionados com apresentar as pessoas maduras em
Cristo.
I. MINISTRAR CRISTO COMO A HERANÇA
DOS SANTOS

Se quisermos apresentar os outros plenamente


crescidos em Cristo precisamos ministrar-lhes Cristo
como a herança dos santos (1:12). O que ministramos
deve ser o Cristo todo-inclusivo, a central idade e
universalidade da economia de Deus (1:15, 18-19, 27;
2:4, 9, 16-17; 3:4, 11). Se não experimentarmos Cristo
de forma plena, acharemos difícil ministrá-Lo aos
outros. Por exemplo, se não experimentarmos viver
por Cristo, não conseguiremos ajudar ninguém a
viver por Ele. Mas se no viver diário vivermos,
cultivarmos e gerarmos Cristo, espontaneamente
iremos infundi-Lo nos que contatamos. Quanto mais
O tomarmos como nossa vida e pessoa, mais seremos
capazes de ministrar Cristo aos outros. Se nos
tornarmos pessoas que experimentam Cristo e vivem
por Ele, influenciaremos outros a fazer o mesmo.
Precisamos desfrutá-Lo como nossa boa terra,
trabalhar Nele, viver Nele, andar Nele e nos
comportar Nele. Se formos tais pessoas,
transmitiremos aos outros o próprio Cristo que
experimentamos e pelo qual vivemos. O que
precisamos na restauração do Senhor não é
simplesmente mais esforço para trazer pessoas para a
vida da igreja; precisamos ministrar as riquezas de
Cristo a elas para que cresçam e amadureçam. Para
que isso aconteça, nós próprios precisamos
experimentar mais de Cristo como a herança dos
santos.

II. MINISTRAR AS INSONDÁVEIS RIQUEZAS


DE CRISTO PARA A EDIFICAÇÃO DA IGREJA

Em segundo lugar, para apresentar todo homem


plenamente crescido em Cristo, precisamos ministrar
as insondáveis riquezas de Cristo para a edificação da
igreja a fim de cumprir o propósito eterno de Deus
(Ef 3:8-11). É possível ser o que todos considerariam
um bom irmão, mas ainda assim ser carente das
riquezas de Cristo. Em meu contato com os santos
nas viagens, encontro muitos que carecem das
riquezas de Cristo na vida diária, embora todos os
considerem muito bons. Que o Senhor desperte em
nós a aspiração de ser ricos em Cristo. Precisamos
orar: “Senhor, não quero apenas parecer bom e ser
pobre nas riquezas de Cristo. Senhor, para a
edificação da igreja, enche-me das riquezas de
Cristo”.
Agradeço ao Senhor pelos santos cujo viver é
caracterizado pelas riquezas de Cristo. Tais irmãos
são transparentes. Os que carecem das riquezas de
Cristo são opacos, totalmente sem transparência, mas
os que as têm são cristalinos. Sempre que você tem
comunhão com eles sobre algo, a questão se torna
clara, porque eles próprios são transparentes. Quem
desfruta as riquezas de Cristo torna-se cristalino.
Quanto mais as experimentarmos, mais
transparentes nos tornaremos. Que todos desejemos
ser ricos em Cristo e plenamente transparentes! Que
todos. oremos: “Senhor, faze-me um membro do
Corpo que é rico em Tua vida e transparente.
Salva-me de ser um membro que é apenas bom, mas
carente de Cristo”.
Somente os que são ricos em Cristo podem
edificar o Corpo para o cumprimento do propósito
eterno de Deus. Precisamos admitir que ainda não
temos muita edificação entre nós. Podemos estar
mais preocupados com a espiritualidade e
crescimento individuais do que com a edificação da
igreja. Se formos carentes de Cristo e faltar-nos
transparência, não nos importaremos muito com a
edificação da igreja. Mas se estivermos cheios das
riquezas de Cristo e, assim, nos tomarmos
transparentes, teremos profundo interesse pela
edificação da igreja, para que o propósito de Deus
seja cumprido.

III. COMPLETAR A PALAVRA DE DEUS

Apresentamos os outros plenamente crescidos


em Cristo completando a Palavra de Deus com a
plena revelação de Cristo e a igreja (1:25-27). Para
apresentar as pessoas maduras em Cristo precisamos
ajudá-las a ter a completação da Palavra de Deus
acerca de Cristo como o mistério de Deus e da igreja
como o mistério de Cristo. Entretanto, se
considerarmos nossa situação, perceberemos que
poucos somos capazes de completar a Palavra dessa
forma. Por esse motivo tenho forte encargo por que
sejamos estimulados a buscar o Senhor. Precisamos
ter fome e sede Dele, persegui-Lo até que sejamos
enchidos de Suas riquezas. Precisamos orar: “Senhor
Jesus, não queremos ser indiferentes ou mornos.
Desejamos ser absolutos por Ti e buscar-Te ao
máximo”. Se buscarmos o Senhor dessa forma,
veremos mais a respeito de Cristo e a igreja. Mas se
continuarmos a ser carentes das riquezas de Cristo,
não teremos na experiência a completação da Palavra
de Deus. Temos, portanto, a necessidade desesperada
de orar e labutar em Cristo para a completação da
Palavra de Deus acerca de Cristo e a igreja.

IV. MINISTRAR CRISTO COMO O MISTÉRIO


DE DEUS

Em quarto lugar, precisamos ministrar Cristo


como o mistério de Deus, isto é, como a
corporificação de Deus (2:2, 9). Tendo como base a
experiência, precisamos partilhar com os outros
como Cristo é a corporificação do Deus Triúno.
Precisamos ser capazes de testificar como
experimentamos diariamente Cristo como o Pai,
Filho e Espírito. Visto que temos Cristo, temos
também o Pai. Uma vez em Cristo, estamos também
no Espírito. O Espírito que se move em nosso interior
é na verdade o próprio Cristo. Dia após dia devemos
ser um espírito com o Senhor e experimentar o fato
de Ele ser um conosco (1Co 6:17). Cada vez mais
nossa experiência deve consistir em ser um espírito
com o Senhor em todos os aspectos de viver diário,
onde quer que estejamos. Isso não deve ser doutrina
ou teoria; precisa ser o viver cristão prático.
Freqüentemente oro desta maneira em relação
ao meu ministério: “Senhor, dá-me a graça para ser
um espírito Contigo quando falo. Senhor, fala no meu
falar. Creio que Tu és um Espírito comigo. Mas
peço-Te que, ao ministrar a Palavra, eu seja um
espírito Contigo”. Qualquer impacto que esse
ministério tenha provém de tal unidade com o
Senhor.
O Senhor é a corporificação do Deus Triúno. Isso
quer dizer que todas as riquezas do Pai estão
corporificadas no Filho. Além disso, o Filho torna-se
plenamente real como o Espírito, que é agora um
espírito conosco. Como Paulo diz em 1 Coríntios 6:17:
“Aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele”.
A questão de ser um espírito com o Senhor não deve
ser mera doutrina para nós. Pelo contrário, deve ser a
experiência diária e prática. Na experiência
precisamos saber o que é ser um espírito com o
Senhor, que é a corporificação do Deus Triúno. Se
experimentarmos Cristo como a corporificação de
Deus, seremos capazes de ministrar Cristo aos outros
para sua nutrição e enriquecimento, e, desse modo,
elas crescerão Nele. O crescimento vem pelo comer.
Se os outros se alimentarem do Cristo que lhes
ministramos como o mistério de Deus, serão
aperfeiçoados e maduros em Cristo.

V. MINISTRAR A IGREJA COMO O


MISTÉRIO DE CRISTO

Se quisermos apresentar os outros maduros em


Cristo, precisamos ministrar a igreja como o mistério
de Cristo, como a expressão de Cristo (Ef 3:4; 1:23).
Cheio de sutileza, Satanás tem feito com que muitos
cristãos sequiosos evitem a questão da igreja.
Minha experiência com o irmão T. Austin-Sparks
ilustra como alguns evitam a questão da igreja
persistentemente. A nosso convite, ele foi a Taiwan
em 1955. Tivemos momentos maravilhosos juntos
quando ele ministrou sobre Cristo. Ele podia,
claramente, dizer o mesmo que tínhamos visto sobre
Cristo. Em 1957 ele foi a Taiwan pela segunda vez.
Nessa visita ele tocou a base da igreja, a posição da
igreja, de forma negativa. Em 1958 aceitei seu convite
para visitá-lo na Inglaterra. Nos dias que ficamos
juntos, tivemos longas conversas sobre a igreja.
Entretanto, ele não conseguiu mudar minha forma de
pensar, e eu não pude mudar seu conceito. Ele tentou
ao máximo evitar o tema da igreja, mas meu conceito
era que precisamos laborar para a edificação das
igrejas. Sua intenção era convencer-nos de que
devíamos desistir da base da igreja. Mas eu lhe
mostrei que era impossível ter a igreja na prática sem
a base da igreja. Ele tentou assegurar-me que não se
opunha à igreja; disse-me ainda que, nos primeiros
anos de seu ministério, fora convidado para falar em
Edinburgo. Quando falou sobre Cristo, o salão de
reuniões estava repleto e os ouvintes foram
receptivos. Mas quando falou sobre a igreja, o
número de pessoas diminuiu. Isso o fez sentir que
não era proveitoso falar sobre a igreja.
Prossegui perguntando ao irmão Sparks como
poderíamos praticar os princípios que ambos
havíamos visto a respeito do Corpo do Senhor. Ele
admitiu que esses princípios não poderiam ser
colocados em prática nas denominações; mas não
quis admitir que poderiam ser postos em prática
somente na base adequada da igreja. Em vez disso,
salientou que a igreja pode ser gerada por meio de
muita oração e mediante o Espírito. Eu então lhe
disse: “Você acha que tantas igrejas na ilha de Taiwan
não vieram a existir por meio de orações e mediante o
Espírito?” Perguntei-lhe o que um grupo de santos
deveria fazer após orar a respeito da igreja. Ainda
assim, ele não quis admitir que deveriam assumir a
posição da igreja na base na unidade; simplesmente
disse que esses santos precisariam estar certos de que
qualquer movimento que fizessem provinha do
Espírito. Essa foi a conclusão da nossa conversa sobre
a igreja.
Tentei ao máximo convencê-lo sobre a igreja, e
ele tentou ao máximo evitá-lo. Por fim, nenhum de
nós mudou de posição.
Hoje há uma batalha sobre a igreja como a
expressão de Cristo. Devido à sutileza do inimigo, a
maioria das livrarias cristãs vende os livros do irmão
Nee sobre espiritualidade, mas não seus livros sobre a
igreja. Os cristãos, contudo, não conseguem tornar-se
plenamente crescidos sem a vida da igreja. Os livros
do irmão Nee relacionados com questões espirituais
têm sido populares entre os cristãos no mundo inteiro
por anos. Mas a popularidade desses livros não fez
com que a condição do cristianismo melhorasse
muito. Sem a vida. da igreja, a ajuda que as pessoas
receberam da literatura do irmão Nee por fim se
diluiu, pois a vida da igreja é o único vaso adequado
para preservar essa ajuda. Para alguns, os livros do
irmão Nee, na sua maior parte, proporcionam
conceitos doutrinários; pouco é ganho para o
cumprimento do propósito de Deus. Será que o
Senhor quer pessoas que somente buscam
espiritualidade mas não participam da vida adequada
da igreja? Certamente não! Sem a igreja, o propósito
do Senhor não pode ser cumprido. Pelo fato de
enxergarmos isso, o encargo do Senhor acerca da
igreja tem um grande peso sobre nós. Precisamos
praticar a vida da igreja para o cumprimento do
propósito eterno de Deus. Também precisamos ser
fiéis em ministrar a igreja como o mistério de Cristo,
como a própria expressão de Cristo.
O desejo do Senhor é ter o Corpo, a igreja. Ele
não quer a igreja apenas em palavras, mas na prática.
Para que a vida da igreja seja prática é preciso que
haja igrejas locais. Isso é mostrado claramente em A
Expressão Prática da Igreja. Hoje a expressão
prática da igreja só pode ser vista nas igrejas locais.
Oh! que todos aprendamos a ministrar a igreja como
o mistério de Cristo, como Sua expressão, a fim de
que os outros sejam apresentados plenamente
crescidos em Cristo!
Alguns dizem que o ministério a respeito da
igreja não tem futuro porque a oposição é muito
intensa e vasta. Certamente, se esse ministério for
simplesmente obra de homens, não tem futuro
algum. Mas se é o ministério na restauração do
Senhor, o futuro será brilhante. Quanto mais os
outros nos advertirem a não ministrar sobre a igreja,
mais precisamos ser fiéis em ministrá-lo. Precisamos
ser ousados e fiéis para falar não só de Cristo, a
Cabeça, mas também da igreja, o Seu Corpo. Não
devemos seguir o cristianismo de hoje. Antes,
devemos seguir a pura Palavra para ministrar a igreja
como o mistério de Cristo.
VI. MINISTRAR CRISTO COMO VIDA AOS
SEUS MEMBROS

Finalmente, precisamos ministrar Cristo como


vida aos Seus membros para que vivam por Ele e
cresçam com Ele até a maturidade. Colossenses 3:4
diz que Cristo é nossa vida e em João 6:57, 14:19 e
Gálatas 2:20 vemos que precisamos viver por Ele.
Então cresceremos com Ele até a maturidade (Ef 4:15,
13).
Se desejamos apresentar os outros plenamente
crescidos em Cristo, precisamos ministrar-lhes todas
as questões que abordamos nesta mensagem. Como
os cristãos precisam que todas as coisas relacionadas
com a economia de Deus sejam infundidas neles! Se
formos fiéis em ministrar esses pontos cruciais,
seremos capazes de apresentar os outros plenamente
crescidos em Cristo.

ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM DEZESSETE

ESFORÇAR-SE SEGUNDO O OPERAR DE CRISTO

Leitura Bíblica: Cl 1:28-29; 2:1-2; Ef 3:20; 1:19-22


Nesta mensagem consideraremos a questão de
esforçar-se segundo o operar de Cristo (l:29). Já
dissemos que Paulo labutava para apresentar todo
homem plenamente crescido em Cristo. Essa é uma
tarefa muito difícil, que somente pode ser cumprida
esforçando-se segundo o operar de Cristo.

O PRINCÍPIO ORDENADO POR DEUS

Alguns podem achar que a maneira de


apresentar pessoas plenamente crescidas em Cristo é
orar. Entretanto, é possível ter uma compreensão
supersticiosa de oração. Por exemplo, suponha que
alguém ache que as refeições podem ser preparadas
somente por meio de orações e não há necessidade de
fazer compras ou cozinhar; tal conceito é
supersticioso. Ao apresentar os outros perfeitos em
Cristo precisamos seguir o princípio estabelecido em
Gênesis 2: o homem lavra o solo, e Deus faz chover (v.
5). Por um lado, precisamos lavrar o solo; por outro,
somente Deus pode fazer chover. Assim como
confiamos em Deus e Lhe pedimos que faça chover,
devemos ser fiéis na responsabilidade de lavrar o
solo. Isso significa que devemos cumprir o princípio
ordenado por Deus. Se dependermos somente do
trabalho de lavrar o solo e não confiarmos no Senhor
para fazer chover, estaremos errados. Mas também
estaremos errados se somente orarmos ao Senhor
pedindo chuva e não cumprirmos a responsabilidade
de lavrar o solo. Aplicando esse princípio à questão de
apresentar todo homem plenamente crescido em
Cristo, vemos que não devemos meramente orar, mas
também labutar segundo o operar de Cristo.

LUTAR PARA QUE O CORAÇÃO SEJA


CONFORTADO

Em 2:1 Paulo diz: “Gostaria, pois, que soubésseis


quão grande luta venho mantendo por vós, pelos
laodicenses e por quantos não me viram face a face”.
Esse versículo indica que Paulo lutava, esforçando-se
ao extremo, batalhando para ver determinada coisa
cumprida entre os colossenses e laodicenses. O
versículo 2 mostra o objeto da luta de Paulo: “Para
que o coração deles seja confortado e vinculado
juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da
forte convicção do entendimento, para
compreenderem plenamente o mistério de Deus,
Cristo”. Por anos não consegui entender por que
Paulo falou sobre o coração ser confortado logo após
dar tal elevada visão de Cristo. Não sabendo como
ligar a visão no capítulo um com as palavras no
capítulo dois, despendi muito tempo para descobrir
por que Paulo as inseriu. Ele não disse que lutava
para que os colossenses e laodicenses tivessem a visão
de Cristo dada no capítulo um. Segundo o meu
conceito, é isso que deveria ter dito. Se o versículo 2
tivesse sido escrito assim, seria muito mais fácil de
entender. Entretanto, Paulo não disse que lutava para
que os santos exercitassem o espírito para ver o que
ele lhes falara acerca de Cristo. Ele lutava para que o
coração deles fosse confortado.
Por que era necessário que o coração dos
colossenses fosse confortado, vinculado juntamente
em amor e para toda a riqueza da plena convicção do
entendimento? Passaram-se anos antes que eu
pudesse responder a essa pergunta. Convicção
implica em duas coisas: fé e conhecimento. Quando
temos fé e conhecimento, temos certeza daquilo em
que cremos. Essa certeza torna-se então nossa
convicção. Paulo lutava para que o coração dos
colossenses tivesse plena convicção.
[Segundo o original grego, o versículo 2 pode ser
traduzido assim: “Para que o coração deles seja
confortado e vinculado juntamente em amor, e para
toda a riqueza da plena convicção do entendimento,
para o pleno conhecimento do mistério de Deus,
Cristo”.] A expressão “para o pleno conhecimento do
mistério de Deus, Cristo” é aposto da frase “para toda
a riqueza da forte convicção do entendimento”. O
segundo para equivale ao primeiro. Embora eu
pudesse entender alguns desses detalhes, não
conseguia entender o versículo como um todo.
Simplesmente não entendia o motivo dessa palavra.
Somos gratos ao Senhor por nos ter mostrado,
com o passar dos anos, o motivo. Ao considerar o
motivo precisamos lembrar-nos de que, como livros
irmãos, Efésios diz respeito à igreja, o Corpo, ao
passo que Colossenses fala de Cristo, a Cabeça.
Efésios dá forte ênfase ao espírito humano; a frase
“no espírito” é usada diversas vezes ali. Colossenses,
entretanto, refere-se ao espírito humano somente
uma vez (2:5). O coração é que tem significado crucial
em Colossenses. Paulo aqui enfatiza a importância do
coração para receber a revelação a respeito de Cristo.
Por anos temos falado sobre voltar ao espírito,
exercitar o espírito e permanecer no espírito.
Contudo, não temos dado a mesma atenção a cuidar
do coração. Paulo sabia que, se quisermos apresentar
pessoas plenamente crescidas em Cristo, precisamos
preocupar-nos com a condição do coração delas. O
fato de ele concluir o capítulo um falando sobre
apresentar todo homem maduro em Cristo e iniciar o
capítulo dois falando sobre confortar o coração indica
que apresentar pessoas plenamente crescidas no
Senhor tem muito a ver com o coração.
Por causa das diferentes observâncias,
ordenanças e filosofias que haviam penetrado na vida
da igreja, o coração dos santos em Colossos fora
ferido; tornara-se frio e insatisfeito. Sempre que tais
coisas acontecem, o resultado é dissensão e divisão.
Precisamos vigiar a porta da igreja para que tais
coisas não entrem e causem dano. A igreja em
Colossos fora invadida por ordenanças e observâncias
judaicas e pela filosofia, misticismo e ascetismo
pagãos. Essas coisas fizeram com que os irmãos
tivessem muitas opiniões, dissensões e insatisfações;
também fizeram com que o coração fosse ferido e se
tornasse frio, dividido e separado um do outro.
Portanto Paulo lutava a favor deles, para que o
coração deles fosse confortado e vinculado
juntamente em amor.
Nesse versículo, ser confortado significa ser
consolado, receber cuidado carinhoso, ou seja, ser
amorosamente aquecido. Efésios 5:29 diz que Cristo
alimenta e cuida com carinho da Sua igreja.
Alimentar é nutrir, e cuidar com carinho é acalentar.
Como os santos em Colossos precisavam do acalento
do Senhor! O coração deles precisava ser confortado,
ser aquecido.
Paulo fala de o coração deles ser vinculado um ao
outro em amor. As palavras “vinculado juntamente
em amor” indica que ocorrera alguma separação e
que houvera perda de amor. As diferentes
observâncias, ordenanças e filosofias que penetraram
ali causaram perda de amor.

O CORAÇÃO E A MENTE

Nesse versículo Paulo trata de dois órgãos


cruciais do nosso íntimo: o coração e a mente (a
palavra entendimento implica a mente). Uma vez que
o coração tenha sido ferido e se tornado frio e
dividido, é fácil a mente se distrair ou até mesmo ser
atacada pelo inimigo. Quando a mente está em tal
condição, ela não consegue compreender as palavras
ministradas sobre Cristo e a economia de Deus.
Os problemas no coração são, com freqüência, a
causa de problemas mentais. Se a mente de uma
pessoa está sob o ataque do inimigo, isso indica que
seu coração tem problema. Sempre que o coração tem
problema, é fácil a mente ficar em trevas ou sujeita a
ataques. Esse é um princípio importante. A maioria
dos casos de doenças mentais têm origem em
problemas que existem no coração. Há mais de
quarenta anos, o superintendente de um grande
hospital de doenças mentais disse-me que, segundo
sua experiência e observação, problemas mentais são
causados por problemas relacionados com cobiça de
dinheiro e sexo. Esses são problemas do coração. A
cobiça de dinheiro causa problemas no coração de
alguns, enquanto a concupiscência causa problemas
no coração de outros; tais problemas fazem a mente
sofrer ataques. Em anos de experiência, aprendemos
que doenças mentais podem ter origem em
problemas do coração. A mente é atacada porque o
coração está errado. Talvez alguém tenha
determinada ambição ou desejo no coração. Se essa
ambição ou desejo não se realizarem, e não forem
tratados, a mente pode ser atacada.
Paulo sem dúvida percebia isso; ele sabia ser
crucial que o coração dos colossenses fosse
confortado e vinculado um ao outro em amor. Se o
coração deles recebesse o devido cuidado, eles teriam
a riqueza da plena convicção do entendimento. Sua
mente voltaria a funcionar normalmente para
compreender as coisas espirituais. Quando nosso
coração é confortado, nossa mente funciona
adequadamente. Mas se houver problema no coração,
haverá problema também na mente; o coração regula
a mente. Ter mente normal ou anormal depende da
condição do coração.
O relacionamento com os santos na vida da igreja
testa o que está em nosso coração. Se nosso coração
estiver possuído por certas ambições, desejos e
objetivos, nossa mente não será normal e nos causará
problemas com os outros. Por exemplo, se minha
mente estiver sob ataque por causa de um problema
no coração, posso ficar ofendido se um irmão não me
saudar com um sorriso. Posso ficar ainda mais
atribulado se ele convidar outro irmão para almoçar e
não me convidar; posso ficar irado com essa situação.
Essa ira não é causada pelo temperamento, e, sim,
pelo problema no meu coração. Pode ser que, em meu
coração, eu deseje respeito, honra e posição. Isso
pode fazer-me sentir que os outros devem mostrar
respeito por mim, cumprimentando-me de forma
cortês. Todavia, se eu não tiver problema algum no
coração, não ficarei atribulado se um irmão não sorrir
para mim ou não me incluir em certa atividade. Se
nosso coração for correto seremos felizes na vida da
igreja, não importa o que nos aconteça. Mas se
houver problema em nosso coração, ficaremos
insatisfeitos com a igreja. Essa questão é muito séria.

PLENA CONVICÇÃO DO ENTENDIMENTO

O coração ser vinculado juntamente com outros


em amor envolve a emoção, enquanto ter a riqueza da
plena convicção do entendimento envolve a mente. Se
não tivermos coração adequado, não seremos capazes
de receber a revelação acerca de Cristo. Para que
tenhamos a visão de Cristo precisamos de um coração
confortado, acarinhado e vinculado juntamente com
o dos outros em amor para toda a riqueza da plena
convicção do entendimento. Como sou feliz porque o
coração dos santos na restauração do Senhor tem
sido confortado e vinculado! Devido a nossos
corações terem sido vinculados juntamente em amor
e para toda a riqueza da plena convicção do
entendimento, podemos receber a revelação no livro
de Colossenses.
A riqueza da plena convicção do entendimento
equivale ao pleno conhecimento do mistério de Deus,
Cristo. Quando nosso coração for confortado e nossa
mente funcionar normalmente, teremos o pleno
conhecimento de Cristo como o mistério de Deus.
Agora podemos ver por que Paulo lutava para
que o coração dos colossenses fosse confortado. Ele
sabia que essa era a única maneira de terem a plena
convicção do entendimento. Devido ao fato de nosso
coração ter recebido um cuidado amoroso e sido
vinculado um com o outro nós, na restauração do
Senhor, temos tal convicção. Essa convicção nos dá o
pleno conhecimento de Cristo como o mistério de
Deus. Que o Senhor cuide diariamente com carinho
do nosso coração para termos uma vida da igreja
saudável! Quando nosso coração está feliz, parece que
todos os irmãos são maravilhosos; mas quando não
está feliz, parece ser o contrário. Como é importante
que nosso coração receba um cuidado amoroso do
Senhor!

O PRIMEIRO PASSO PARA APRESENTAR OS


OUTROS PLENAMENTE CRESCIDOS EM
CRISTO

Somente depois que o coração deles fosse


confortado é que os colossenses poderiam receber a
revelação acerca de Cristo. Por essa questão ser tão
importante, esse livro ressalta o coração em vez do
espírito. Não podemos apresentar os outros perfeitos
em Cristo se o coração deles não tiver sido
confortado; se ele não tiver recebido um cuidado
carinhoso, eles não serão capazes de receber nada do
que lhes ministramos sobre Cristo. Portanto, o
primeiro passo ao apresentar os outros plenamente
crescidos em Cristo é confortar o coração deles para
toda a riqueza da plena convicção do entendimento.
Os líderes, principalmente, devem buscar graça
diante do Senhor para ser capazes de confortar todos
os corações distraídos, insatisfeitos e desapontados.
Quando o coração dos irmãos for confortado, será
fácil ministrar-lhes as riquezas de Cristo. Mas se
tiverem problemas no coração, terão problemas com
a mente. A única maneira de resolver os problemas da
mente é o coração ser ajustado mediante o cuidado
amoroso, o cuidado do Senhor. Essa é uma lição
crucial que todos devemos aprender.

O ESFORÇO DE PAULO

Em 1:29 Paulo disse que se esforçava segundo a


eficácia de Cristo nele. Esse esforço era seu labor para
apresentar todo homem plenamente crescido em
Cristo. Ele se empenhava para isso anunciando
Cristo, advertindo a todo homem, e ensinando a todo
homem em toda a sabedoria

A EFICÁCIA DE CRISTO

Conforme 1:29 a operação de Cristo opera em


nós em poder. [Segundo o original grego, esse trecho
pode ser traduzido por: “Segundo a Sua operação que
opera eficientemente em mim em poder”.] Há uma
diferença entre Cristo operar em nós e a operação de
Cristo operar em nós. Visto que Cristo como
esperança da glória opera em nós, há uma operação
que também opera em nós. O próprio Cristo opera em
nós. Mas Cristo operando em nós causa uma
operação que também opera em nós. Essa operação
opera em nós em poder.
Toda pessoa salva tem pelo menos alguma
experiência da operação de Cristo. Ser salvos não é só
ter os pecados perdoados e ser justificados por Deus;
também é ter Cristo dispensado ao nosso interior. O
Cristo que habita em nós também opera em nós.
Como já dissemos, o Seu operar torna-se a operação
que opera em nós. O esforço de Paulo pelos santos era
de acordo com essa operação.
Alguns santos podem sentir que percebem muito
pouco da operação de Cristo neles. O motivo dessa
carência é a falta de oração. Precisamos ir ao Senhor
com coração arrependido e dizer-Lhe: “Senhor, ainda
sou tão natural; estou tanto no meu ego e no velho
homem. Senhor, perdoa-me e purifica-me com Teu
precioso sangue. Desejo ser iluminado, purificado e
tornar-me transparente. Peço-Te que me mostres o
que queres de mim. Expõe-me, para que seja enchido
de Ti”. Se orarmos dessa forma, a operação de Cristo
terá caminho para operar em nosso interior.
Posso testificar que sou energizado pela operação
de Cristo. Quanto mais oro, mais Sua operação me
energiza. Todavia, se eu deixasse de orar,
tornar-me-ia frio e calado. O motivo de você talvez
sentir pouca operação de Cristo no interior é que luta
demais e ora muito pouco para contatar o Senhor.
Abrindo-se ao Senhor em oração, você dá espaço para
a operação de Cristo em você; então será capaz de
esforçar-se segundo essa operação, a fim de
apresentar os outros maduros em Cristo.
A operação de Cristo opera em poder. Paulo
refere-se a esse poder em Efésios 3:7 e 20. Em Efésios
3:7 ele fala da “operação do seu poder” (VRC), e, em
3:20, do “seu poder que opera em nós”. Esse poder é
o poder da vida de ressurreição (Fp 3:10) no interior
dos cristãos (Ef 1:19). É o próprio poder que operou
em Cristo para ressuscitá-Lo dentre os mortos,
fazê-Lo assentar à destra de Deus nos lugares
celestiais, e sujeitar todas as coisas debaixo de Seus
pés (Ef 1:20-22). Portanto, esse é o poder de
ressurreição, o poder transcendente e subjugador. De
acordo com a operação de Cristo em tal poder,
podemos esforçar-nos para apresentar os outros
plenamente crescidos em Cristo.
O que Paulo fez ao esforçar-se para apresentar os
outros plenamente crescidos em Cristo é um exemplo
que serve para o aperfeiçoamento dos santos para a
edificação do Corpo de Cristo. É esforçar-se segundo
a operação de Cristo que opera em nós, isto é, labutar
por meio do poder subjugador, transcendente e de
ressurreição em nosso interior.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM DEZOITO

CRISTO: O MISTÉRIO DE DEUS

Leitura Bíblica: Cl 2:2-3, 9; 1:19

No final de 2:2 Paulo fala de “compreenderem


plenamente o mistério de Deus, Cristo”. O livro de
Efésios trata do mistério de Cristo, que é a igreja, o
Corpo (Ef 3:4). Colossenses trata do mistério de
Deus, que é Cristo, a Cabeça. É crucial conhecer
Cristo não só como Salvador e Senhor, mas também
como o mistério de Deus.
Todos os cristãos amam o Senhor Jesus. A única
diferença entre eles nessa questão é o grau do amor
por Ele. Até mesmo um cristão apóstata ama o
Senhor até certo ponto. Quanto amamos o Senhor
depende de quanto O conhecemos e vemos a Seu
respeito. Por exemplo, se uma criança pegar uma
caixinha que contém um anel de diamantes, ela pode
apreciar mais a caixa que o anel. Isso mostra que o
grau de amor é determinado pelo grau de apreço.
Quanto mais conhecemos o Senhor Jesus e O
apreciamos, mais O amamos. Portanto, precisamos
conhecer o Senhor Jesus não só como nosso Salvador
e Senhor, mas também como o mistério de Deus.
Se quisermos conhecer Cristo como o mistério de
Deus precisamos ter a experiência plena de tudo o
que é mencionado em 2:2. Nesse versículo Paulo diz:
“Para que o coração deles seja confortado e vinculado
juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da
forte convicção do entendimento, para
compreenderem plenamente o mistério de Deus,
Cristo”. Se os corações dos colossenses fossem
confortados e vinculados juntamente em amor, o
resultado seria todas as riquezas da forte convicção
do entendimento, um entendimento sem dúvida
relacionado com o mistério de Deus, Cristo.

A NECESSIDADE DE EXERCITAR TODO O


NOSSO SER

Não podemos contatar o Senhor nem conhecê-Lo


como o mistério de Deus sem exercitar nosso espírito.
Como veremos, todo o nosso ser precisa ser
exercitado. Os aspectos do ser do homem (espírito,
alma e corpo) são complicados. Se você passar algum
tempo examinando sua face no espelho, ficará
impressionado com a complexidade de seu corpo. Os
seres humanos não são simples organismos. Na alma
temos a mente, a emoção e a vontade. Além disso, no
espírito temos a consciência, a intuição e a
comunhão. Todas as partes do nosso ser complexo
devem ser exercitadas para receber a revelação de
Cristo como o mistério de Deus.
O próprio Deus é um mistério, e Cristo é o
mistério desse mistério. Com certeza, não
conseguimos sondar tal mistério simplesmente lendo
as letras das Escrituras. Já que Cristo habita em
nosso espírito, precisamos exercitar o espírito para
conhecê-Lo como o mistério de Deus. Nunca
considere Cristo como mero objeto a ser conhecido
exteriormente. Uma vez crucificado e ressurreto, Ele
vive tanto no trono nos céus como em nosso espírito.
Assim, é extremamente importante que exercitemos o
espírito para contatá-Lo. Isso quer dizer que devemos
abrir-nos nas profundezas do nosso ser e invocá-Lo.
Nosso espírito é a parte mais profunda em nós, mais
profunda que o coração e todas as partes da alma. Por
isso, exercitar o espírito é abrir a parte mais profunda
do nosso ser para invocar o nome do Senhor Jesus e
contatá-Lo como Aquele que vive no nosso interior.
Somos complexos, mas Cristo é muito mais
complexo. Para conhecê-Lo, precisamos não só
exercitar o espírito, mas também ter o coração
confortado. Isso significa que o coração deve ser
cuidado com carinho e acalentado. Além disso, a
mente deve ser sóbria, a emoção precisa ser regulada
e a vontade tem de ser subjugada. Cada parte do
nosso ser interior tem de ser adequada e funcionar
normalmente; esse é o motivo de Paulo falar de os
corações serem confortados para o pleno
conhecimento de Cristo como o mistério de Deus.
Em 2:2 ele também fala de todas as riquezas da
forte convicção do entendimento. [Como já vimos,
essa expressão pode ser traduzi da por plena
convicção do entendimento.] O conforto do coração
deve ter um resultado. Nesse caso, o resultado é ter
todas as riquezas da plena convicção do
entendimento. Precisamos ter tal convicção, por
exemplo, a respeito da base da igreja. Alguns santos
afirmam que conhecem a base da igreja e estão
comprometidos com ela. Entretanto, na verdade eles
não são categóricos em seu propósito e não têm
certeza quanto à base da igreja. Têm fé, mas não têm
a certeza que nos dá plena convicção.
Permitam-me testificar usando minha
experiência sobre ter convicção em relação à base da
igreja. Em 1932 começamos a praticar a vida da igreja
em Chefoo, minha cidade natal. Depois de alguns
meses levantou-se oposição contra nós. Antes de
começarmos a prática da vida da igreja eu era amado
e respeitado pelos líderes cristãos na cidade· eles me
consideravam absoluto pelo Senhor Jesus. Mas a
atitude deles para comigo começou a mudar quando
mais e mais pessoas promissoras começaram a vir
para a igreja. Isso perturbou os líderes cristãos, e
boatos negativos começaram a circular a nosso
respeito. Além disso, os que antes me respeitavam já
não me cumprimentavam quando me viam na rua.
Profundamente preocupado com isso, fui ao Senhor e
perguntei-Lhe sobre essa situação; pedi-Lhe que me
mostrasse o que estava errado. Passei mais de um
mês considerando meticulosamente essa questão
perante o Senhor. Por fim concluí que, como ser
humano, eu devia crer no Senhor Jesus; como alguém
que cria no Senhor, eu tinha de amá-Lo; e como
alguém que O amava, eu tinha de tomar o caminho da
igreja. Como resultado, recebi a plena convicção em
relação à base da igreja. Eu tinha não somente a fé,
mas também o conhecimento que me fazia ter
convicção. Por mais de quarenta e seis anos não
mudei de posição a respeito da base da igreja, não
importa quanto tenha sofrido por causa da posição
que tomei. Alguns colaboradores que eram próximos
a mim me traíram, porque temiam enfrentar oposição
a respeito da base da igreja. Alguns deles tinham até
mesmo dado mensagens sobre a base da igreja, mas
na verdade estavam indecisos; não tinham a plena
convicção do entendimento que Paulo menciona em
2:2. Paulo percebia que, em relação ao mistério de
Deus, os cristãos precisavam da certeza, da convicção
que provém da fé e do conhecimento. Aqueles que
têm tal convicção são inabaláveis nessa questão.
Depois de tomar a decisão sobre a base da igreja,
permaneci por algum tempo com o irmão Nee em
Xangai, num período de tumulto. Tentando
confortá-lo, disse-lhe: “Irmão Nee, sou um com você
porque você está tomando o caminho do Senhor.
Asseguro-lhe que, mesmo que você se afaste desse
caminho, eu não mudarei de idéia. Tenho plena
convicção a respeito do caminho do Senhor na
igreja”. Essa é a plena convicção do entendimento
que Paulo menciona em 2:2. Em relação a Cristo
como o mistério de Deus precisamos de fé,
conhecimento, certeza, e entendimento completo.
Os colossenses não tinham a plena convicção a
respeito de Cristo. Se tivessem, não se teriam voltado
para a adoração de anjos nem aceitado coisas como
observâncias, ordenanças e filosofias. Por um lado,
haviam recebido Cristo e O conheciam até certo
ponto; por outro, o conhecimento que tinham de
Cristo não era com a plena convicção do
entendimento. Sem dúvida, criam no Senhor Jesus e
mantinham a fé; mas não tinham todas as riquezas da
plena convicção do entendimento. Sabiam que Cristo
era o Filho de Deus e O tinham recebido. Contudo,
por estarem indecisos, também aceitaram diversas
observâncias, ordenanças e filosofias.
Se quisermos ter todas as riquezas da plena
convicção do entendimento sobre Cristo como o
mistério de Deus, todas as partes do nosso ser têm de
ser exercitadas. De forma alguma devemos ser
pessoas abaláveis, com vontade fraca. Preocupo-me
com os que estão na restauração do Senhor mas
nunca se exercitaram de forma plena. Devido a essa
falta de exercício, pode ser que não tenham a plena
convicção do entendimento a respeito da restauração.
Certos irmãos estiveram conosco por anos.
Enquanto estavam aqui louvavam o Senhor pela Sua
restauração e declaravam que eram absolutos pela
vida da igreja. Contudo, mais tarde se voltaram
contra a restauração e até mesmo a condenaram. A
razão de tal mudança é que nunca se exercitaram
plenamente em relação à restauração do Senhor nem
receberam a forte convicção do entendimento a
respeito dela.
Como precisamos exercitar-nos para conhecer
Cristo como o mistério de Deus! Devemos ser capazes
de dizer: “Senhor Jesus, além de Ti não tenho meu
coração em nada mais. Senhor, minha mente,
vontade e emoção são absolutas por Ti. Sei no que
creio e sei o que estou fazendo em Tua restauração.
Estou disposto a entregar a vida por Ti. Se tivesse dez
vidas, daria todas pela restauração. Cada fibra do
meu ser, Senhor, é para Ti”. Se você exercitar todo o
seu ser dessa maneira, terá a plena convicção do
entendimento. Não terá dúvida alguma sobre o que
faz nem sobre o caminho que toma; terá o tipo de
convicção que os mártires têm quando dão a vida pelo
Senhor.

TODAS AS RIQUEZAS DA PLENA


CONVICÇÃO DO ENTENDIMENTO

Em 2:2 Paulo fala não só da plena convicção, mas


de todas as riquezas dessa convicção. Ao considerar
isso, usemos novamente a base da igreja como
exemplo. Alguns santos podem ter a plena convicção
sobre a base da igreja, mas podem não ter as riquezas
em seu entendimento. Quando falam sobre a base da
igreja, têm pouco a dizer. O motivo disso é a falta de
riquezas no entendimento deles. Se tivermos as
riquezas da plena convicção do entendimento em
relação à verdade da base da unidade, teremos muito
a dizer sobre ela. No que diz respeito à base da igreja,
precisamos exercitar-nos até que tenhamos todas as
riquezas da plena convicção do entendimento.
O princípio é o mesmo em relação a conhecer
Cristo como o mistério de Deus. Precisamos ser
exercitados a ponto de sempre ter algo para dizer
sobre Cristo como o mistério de Deus. Como Cristo é
inesgotável! Se tivermos todas as riquezas da plena
convicção do entendimento a Seu respeito, nunca nos
faltarão palavras para falar sobre Ele; as riquezas do
entendimento nos darão muitas coisas para falar.
Quero enfatizar, mais uma vez, que tais riquezas
vêm somente por meio do exercício do nosso ser
interior. Em particular, precisamos exercitar o
entendimento ao estudar a Bíblia. Não estude a
Palavra superficialmente nem ache que já sabe as
coisas; exercite-se em cada frase, às vezes até mesmo
em cada palavra. Por exemplo, em 1:12 Paulo fala da
herança dos santos na luz. Precisamos indagar por
que ele usa a expressão “na luz”. Devemos perguntar
ao Senhor e nos aprofundar na Palavra, até que
tenhamos as riquezas da plena convicção do
entendimento. Conhecer Cristo como a corporificação
de Deus exige tal exercício do nosso ser.
À medida que nos exercitarmos na Palavra,
receberemos luz. Por exemplo, podemos
exercitar-nos na questão de ter o coração confortado
em 2:2; por fim, seremos iluminados. Repito, todo o
nosso ser (espírito, coração, alma, mente, emoção e
vontade) têm de ser exercitados na Palavra. Então
amaremos o Senhor com todo o nosso ser e teremos
todas as riquezas da plena convicção do
entendimento a respeito de Cristo como o mistério de
Deus.

OS TESOUROS DA SABEDORIA E DO
CONHECIMENTO OCULTOS EM CRISTO

A respeito de Cristo como o mistério de Deus,


Paulo diz: “Em quem todos os tesouros da sabedoria e
do conhecimento estão ocultos” (2:3). Segundo a
história, a influência do ensinamento gnóstico,
implicando a filosofia grega, invadiu as igrejas gentias
na época de Paulo. Ele, portanto, disse aos
colossenses que todos os tesouros da verdadeira
sabedoria e conhecimento estão ocultos em Cristo.
Isso é a sabedoria e o conhecimento espirituais da
economia divina a respeito de Cristo e a igreja. A
sabedoria está relacionada com nosso espírito, e o
conhecimento, com nossa mente (Ef 1:8, 17).
Deus é a única fonte de sabedoria e
conhecimento. Todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento estão ocultos no próprio Cristo que é o
mistério de Deus. Visto que a igreja em Colossos fora
invadida pela filosofia pagã, Paulo estava ajudando os
colossenses a descobrir que Deus, é a verdadeira
fonte da sabedoria e do conhecimento. Cristo é o
mistério de Deus, que é a única fonte de toda
sabedoria e conhecimento. É como se Paulo dissesse:
“Colossenses, já que receberam Cristo, no qual todos
os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão
ocultos, por que ainda precisam de filosofia? Por que
aceitam o ensinamento do gnosticismo? Vocês fazem
isso porque não têm plena convicção sobre o que
crêem. Têm fé, mas não têm certeza”. Paulo sabia que
o coração dos colossenses precisava ser confortado e
vinculado um ao outro em amor, para que eles
tivessem todas as riquezas da plena convicção do
entendimento. Se tivessem tal convicção,
conheceriam todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento ocultos em Cristo.
O fato de a sabedoria e o conhecimento estarem
corporificados em Cristo é provado pelas Suas
palavras, especialmente as registradas nos
Evangelhos de Mateus e João. Nesses livros o Senhor
falou sobre o remo e a vida; Suas palavras registradas
nesses livros contêm a mais elevada filosofia.
Nenhum ensinamento dos filósofos, incluindo os
ensinamentos éticos de Confúcio, compara-se a elas.
O conceito nas palavras do Senhor é extremamente
profundo; qualquer pessoa que faça um estudo
minucioso da filosofia terá de admitir que a filosofia
mais elevada é a encontrada nos ensinamentos de
Jesus Cristo. De fato, todos os tesouros da sabedoria e
do conhecimento estão Nele.
Se exercitarmos nosso ser para contatar o
Senhor, Cristo como o Espírito que dá vida saturará
nosso espírito e mente. Então também teremos em
nossa experiência a sabedoria e o conhecimento
ocultos em Cristo; experimentaremos Cristo como o
mistério de Deus. Não devemos ser como os
colossenses, que permitiram que a filosofia pagã os
privasse da sabedoria e do conhecimento ocultos em
Cristo.

A CORPORIFICAÇÃO DA PLENITUDE DA
DEIDADE
Sendo o mistério de Deus, Cristo é também a
corporificação da plenitude da Deidade. Em 1:19
Paulo diz: “Porque aprouve a Deus que, Nele,
residisse toda a plenitude”. Então em 2:9 ele
prossegue: “Porquanto Nele habita corporalmente
toda a plenitude da Divindade”. [Divindade aqui
também pode ser traduzida por Deidade.] A
plenitude nesses versículos refere-se não às riquezas
de Deus, e, sim, à expressão das riquezas de Deus. O
que habita em Cristo não é somente as riquezas da
Deidade, mas a expressão das riquezas do que Deus é.
É crucial que vejamos que a plenitude da Deidade é a
Sua expressão, isto é, a expressão do que Deus é. A
Deidade é expressa tanto na velha criação, o universo,
como na nova criação, a igreja. Repare que tanto em
1:19 como em 2:9 Paulo usa a palavra “toda” para
descrever a plenitude. Toda a plenitude, toda a
expressão, está na velha criação e na nova criação.
A palavra Deidade em 2:9 é diferente da
divindade em Romanos 1:20. Essa referência salienta
enfaticamente a deidade de Cristo. Tal plenitude da
Deidade contrapõe-se à tradição dos homens e aos
rudimentos do mundo.
Em 1:19 e em 2:9 vemos dois aspectos de toda a
plenitude. De acordo com 1:19, toda a plenitude
habita em Cristo. Isso implica o corpo físico do qual
Cristo se revestiu em Sua humanidade; indica que
toda a plenitude da Deidade habita em Cristo com
corpo humano. Antes da encarnação, a plenitude da
Deidade habitava Nele como a Palavra, o Verbo
eterno, mas não corporalmente. Depois que Ele se
encarnou, revestiu-se com um corpo humano, a
plenitude da Deidade passou a habitar Nele
corporalmente, e essa plenitude habita em Seu corpo
glorificado (Fp 3:21) agora e para sempre.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM DEZENOVE

A EXPERIÊNCIA DE CRISTO COMO O MISTÉRIO DE


DEUS

Leitura Bíblica: Cl 2:2-9

Nesta mensagem chegamos à questão da


experiência de Cristo como o mistério de Deus.
Consideraremos diversos pontos que nos ajudam a
experimentar Cristo dessa forma.

I. TER O PLENO CONHECIMENTO DELE


COMO O MISTÉRIO DE DEUS

Se quisermos experimentar Cristo como o


mistério de Deus, precisamos ter o pleno
conhecimento Dele como tal. Já dissemos que Paulo
lutava pelos colossenses para que o coração deles
fosse confortado “para compreenderem plenamente o
mistério de Deus, Cristo” (2:2). Para que tenhamos o
pleno conhecimento de tal mistério, todo o nosso ser
precisa ser exercitado. Se simplesmente crermos em
Cristo sem amá-Lo, não conseguiremos ter esse
conhecimento. De modo semelhante, se O amarmos
parcialmente, não teremos o pleno conhecimento
Dele; precisamos amar o Senhor Jesus de todo o
nosso ser. Por esse motivo, Marcos 12:30, citando
Deuteronômio 6:5, diz: “Amarás o Senhor teu Deus
de todo o teu coração, de toda a tua alma, de toda a
tua mente e de toda a tua força”. Quando
exercitarmos todo o nosso ser para amar o Senhor
Jesus, ganharemos o pleno conhecimento Dele.
Alguns cristãos apreciam o hino: “Oh! eu amo a
Cristo!”. Entretanto, esse hino pode ser cantado de
forma superficial, e não segundo o pleno
conhecimento de Cristo como o mistério de Deus.
Somente exercitando todo o nosso ser é que podemos
conhecer Cristo dessa maneira.
Recomendo que todos os irmãos na restauração
do Senhor estudem três livros cruciais no Novo
Testamento: Mateus, João e Hebreus. Diversas
mensagens esclarecedoras foram dadas sobre esses
livros na forma de Estudo-Vida; os estudos de João e
Hebreus são bem minuciosos. Se despender tempo
adequado nesses três livros, ganhará conhecimento
considerável acerca de Cristo.
II. RECEBÊ-LO

Em 2:6 Paulo diz aos colossenses: “Recebestes


Cristo Jesus, o Senhor”. Cristo é a herança dos santos
(1:12) para nosso desfrute. Crer Nele é recebê-Lo.
Como Espírito todo-inclusivo (2Co 3:17), Ele entra
em nós e habita em nosso espírito (2Tm 4:22) a fim
de ser tudo para nós.
Uma vez que tenhamos recebido Cristo Jesus,
não precisamos recebê-Lo novamente; mas
precisamos aplicar o que recebemos. Contudo,
somente uma pequena porcentagem dos que
receberam Cristo O aplicam. Todos precisamos
exercitar-nos em aplicar o Cristo vivo de forma
prática todos os dias. Usando um termo comum,
precisamos usar Cristo. Há mais de cinqüenta anos
estou aprendendo a usar Cristo. Posso testificar que
isso é difícil, pois por nascimento não nos é natural
usar Cristo, e o treinamento que recebemos não nos
condiciona a usá-Lo. Recentemente, a maioria das
minhas confissões ao Senhor tem sido relacionada
com minha falha em aplicá-Lo. A lição mais difícil
para aprender como cristãos é aplicar Cristo e usá-Lo.
Temos ouvido diversas mensagens sobre viver,
cultivar e gerar Cristo. Todavia, no viver diário
espontaneamente usamos o ego em vez de Cristo. Não
há necessidade de tentar usar o ego; nós o usamos
automática e espontaneamente.
Nos evangelhos o Senhor nos exorta: “Vigiai e
orai”. Tenho considerado essas palavras por muitos
anos. A princípio eu achava que esse mandamento
não era necessário; mas por fim aprendi que, com
certeza, preciso vigiar e orar, principalmente na
questão de aplicar Cristo. Quando nos levantamos de
manhã, precisamos estar vigilantes para não fazer
nada sem aplicar Cristo. Freqüentemente, ao nos
levantar de manhã, parece que os demônios se
aglomeram ao redor da cabeceira da cama. Embora
sejamos protegidos pelo Senhor e cobertos pelo Seu
sangue prevalecente, ainda precisamos ser vigilantes
e rejeitar os pensamentos malignos injetados pelo
inimigo. Não pense em coisa alguma sem aplicar
Cristo; por certo precisamos estar alertas, isto é,
precisamos ser vigilantes e orar. Pouquíssimos
cristãos, porém, vigiam e oram a fim de aplicar Cristo.
Embora todos tenhamos recebido o Senhor
Jesus, somos muito falhos em usá-Lo, aplicá-Lo. Se
falharmos em aplica-Lo, então, de forma prática em
nosso viver diário, o fato de que já O recebemos terá
pouco significado. Nossa experiência de Cristo não
deve ser tão superficial, e não devemos achar que já
sabemos muito. Somos gratos pela salvação de Deus
em Cristo, e somos gratos porque O recebemos; mas
agora precisamos prosseguir, aplicando o Cristo que
já recebemos.

III. ESTAR RADICADO NELE

Em 2:7 Paulo fala sobre estar radicado, isto é,


arraigado, enraizado em Cristo. Estar radicado Nele
visa ao crescimento de vida. Nesse versículo Paulo
considera os cristãos como plantas radicadas em
Cristo como o solo. Entretanto, muitos cristãos ainda
não foram adequadamente radicados em Cristo.
Se tivermos sido adequadamente radicados em
Cristo, não haverá necessidade de falar muito a
respeito da base da igreja. A base da igreja é a
unidade; mas a base dessa unidade é um só Espírito,
um só Senhor e um só Deus e Pai, como menciona
Paulo em Efésios 4. Se tivermos sido
verdadeiramente radicados em Cristo, em nossa
experiência Ele será a base da unidade. Alguns
adventistas do sétimo dia consideram guardar o
sábado como outro testemunho na terra além das
igrejas locais. Tal afirmação indica falta de ser
radicado em Cristo. Se tivermos sido profunda e
adequadamente radicados Nele, nunca diremos que
Deus estabeleceu outro testemunho. O único
testemunho de Deus é Jesus Cristo. Se tivermos sido
radicados Nele, nada será capaz de nos desviar Dele.
Todos devemos ser capazes de dizer: “Senhor Jesus,
eu Te agradeço por ter sido radicado em Ti. Não
tenho outra posição além de Ti”. Na restauração do
Senhor podemos testificar que nossa base é Cristo, e
apenas Cristo.
Se considerarmos a situação do cristianismo de
hoje, veremos que as diversas denominações e grupos
independentes têm algo além de Cristo como base. Os
adventistas do sétimo dia têm como base o guardar
do sétimo dia, ao passo que a base da denominação
Batista é o batismo por imersão. Algumas
denominações, como a Igreja de Cristo, chegam a
ponto de insistir que um cristão só pode ser batizado
corretamente na água deles. Embora alguns grupos
insistam no batismo por imersão, outros se opõem a
ele, afirmando que o batismo é estritamente
espiritual e no Espírito.
Em 1964 conheci um homem totalmente contra o
batismo na água; ele insistia que o batismo
mencionado em Romanos 6 refere-se ao batismo no
Espírito. Sua interpretação era que, depois de João
Batista, toda referência ao batismo no Novo
Testamento dizia respeito ao batismo no Espírito.
Chegou até mesmo a ficar bravo quando sua posição
foi confrontada com alguns versículos. Alguns dias
mais tarde, quando ministrava em certo lugar, fui
desafiado por uma mulher da Igreja de Cristo sobre o
batismo com água. Dias antes, um homem discutira
comigo sobre o batismo no Espírito. Agora, uma
mulher perguntava com ousadia sobre o batismo com
água. Nenhum dos dois tinha sido adequadamente
radicado em Cristo. Isso ilustra o fato vergonhoso de
os cristãos se dividirem por tomar como base algo
além de Cristo.
Paulo percebia a importância de estar radicado
em Cristo. Ele sabia quão sério era ser transplantado
de Cristo e radicado em outra coisa, como a filosofia
pagã ou as ordenanças judaicas. Ele queria que os
colossenses enxergassem que a filosofia não era o solo
no qual haviam sido radicados; eles foram radicados
em Cristo. Ele é o único solo.

IV. SER EDIFICADO NELE

Colossenses 2:7 diz: “Nele radicados e


edificados”. Uma vez radicados em Cristo, somos
agora edificados Nele. Ser edificado visa à edificação
do Corpo. Embora tenhamos sido radicados, ainda
estamos no processo de ser edificados. Essa questão é
tanto corporativa como pessoal. Um edifício não é
composto de um único item, e, sim, de muitos itens
encaixados, colocados juntos. Precisamos estar
radicados em Cristo e também edificados na igreja.
A preocupação de Paulo era que os colossenses
não se desviassem de Cristo e da igreja. Eles tinham
sido radicados em Cristo, mas ainda precisavam
prosseguir e ser edificados na igreja. Para que fossem
corporativamente edificados, tinham de abandonar
as observâncias judaicas e as ordenanças e filosofias
pagãs. De outra maneira, seriam transplantados de
Cristo e radicados em outra coisa. Além disso, seriam
desviados da vida da igreja. Sempre que adotamos
algum tipo de filosofia, ordenança, observância ou
prática no lugar de Cristo, a vida da igreja é anulada.
Somos divididos dos irmãos que têm opinião
diferente acerca dessas questões. Os que se ocupam
com tais coisas por fim cessarão de se importar com a
vida da igreja.
Em princípio, isso é o que aconteceu com alguns
irmãos entre nós que foram influenciados por certos
conceitos. Como resultado dessa influência,
perderam o amor pela vida da igreja; já não era mais
possível serem edificados corporativamente. Como é
crucial ser radicado em Cristo e edificado em Cristo e
na igreja! Dessa forma, nós O experimentamos como
o mistério de Deus.

V. SER FIRMADO NA FÉ, TRANSBORDANDO


EM AÇÃO DE GRAÇAS

O versículo 7 conclui com as palavras: “E


confirmados na fé, tal como fostes instruídos,
crescendo em ações de graças”. [O verbo crescer,
segundo o original grego, pode ser traduzido por
transbordar.] As palavras “na fé” aqui significam em
nossa fé, a fé subjetiva pela qual cremos. Se formos
distraídos de Cristo e voltarmos a atenção para coisas
que O substituem, nossa fé será enfraquecida, talvez
até mesmo abalada. Mas se permanecermos em
Cristo e formos edificados na igreja, nossa fé será
fortalecida.
Os que se tornam dissidentes e abandonam a
vida da igreja experimentam enfraquecimento da fé.
Exteriormente, podem afirmar que têm doce
comunhão com o Senhor, mas interiormente a fé
minguou. Quando estão sozinhos, pode ser que se
perguntem o que está acontecendo dentro deles. São
atribulados por dúvidas e sabem, no íntimo do seu
ser, que perderam a comunhão com o Senhor. Por
terem tantas dúvidas e perguntas, não conseguem ser
firmados na fé. Em contraste, os que permanecem em
Cristo e na igreja têm fé forte e convicção firme.
Já ressaltamos que “na fé” no versículo 7
refere-se à nossa fé, a fé subjetiva. Por que Paulo diz
“na fé” se na verdade fala da nossa fé? A resposta é
que ele considera a fé como nossa fé, e nossa fé como
a fé. Não podemos ser firmados na fé de outra pessoa;
devemos ser firmados em nossa fé. Isso quer dizer
que nossa fé deve tornar-se a fé e a fé deve ser nossa.
Somos firmados em nossa fé, que é a fé.
A maneira de ser firmado na fé é transbordar em
ação de graças. Quando estamos corretos para com o
Senhor e em comunhão com Ele, ficamos cheios de
ação de graças. Mas quando não estamos corretos
para com Ele, não somos capazes de dar graças. Se
perguntar aos dissidentes se estão transbordando em
ação de graças, eles se calarão. Se afirmamos que
temos boa comunhão com o Senhor, mas não
conseguimos dar-Lhe graças, então nossa afirmação é
falsa.
De acordo com esse versículo, as palavras
“transbordando em ação de graças” estão
relacionadas com “confirmados na fé”. Isso indica
que se fomos ou não confirmados na fé depende se
transbordamos ou não em ação de graças. Se fizermos
algo em comunhão com o Senhor, seremos enchidos
de ação de graças. Contudo, se fizermos qualquer
coisa sem Ele, não seremos capazes de dar graças. Por
exemplo, você é capaz de dar graças ao Senhor
quando participa de determinada forma de
divertimento mundano? Pode dizer que está feliz,
mas não pode, com sinceridade, agradecer ao Senhor.
Às vezes parece que podemos agradecer ao Senhor
por certa coisa, mas pouco tempo depois nos
arrependemos da própria coisa pela qual demos
graças. Não podemos enganar-nos; precisamos,
antes, verificar se transbordamos em ação de graças.
Se transbordarmos, então seremos firmados na fé.

VI. ANDAR NELE

Outra maneira de experimentar Cristo como o


mistério de Deus é mencionada em 2:6: “Andai nele”.
Assim como já recebemos Cristo, devemos andar
Nele. Andar é viver, agir, comportar-se e existir.
Devemos andar, viver e agir em Cristo para desfrutar
Suas riquezas, assim como os filhos de Israel viveram
na boa terra e desfrutaram todos os seus ricos frutos.
Em nossa experiência, Cristo deve ser a boa terra
na qual vivemos e andamos. Isso não deve ser mera
doutrina para nós. Precisamos orar: “Senhor, quero
viver e andar em Ti. Senhor, oro para que Tu sejas a
boa terra para mim em minha experiência, e cada
aspecto do meu viver esteja em Ti”.
VII. NÃO SER ENGANADO E ENREDADO,
AFASTANDO-SE DELE

Em 2:4 Paulo diz: “E digo isto para que ninguém


vos engane com palavras persuasivas” (VRC). No
versículo 8 ele prossegue: “Cuidado que ninguém vos
venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas,
conforme a tradição dos homens, conforme os
rudimentos do mundo e não segundo Cristo”. Se
quisermos experimentar Cristo como o mistério de
Deus, precisamos tomar cuidado para não ser
enganados nem enredados, e assim afastados Dele.
Não devemos ser desviados em direção a coisa
alguma que substitua Cristo. Precisamos permanecer
Nele. Se permanecermos em Cristo, também
permaneceremos na igreja. Cristo deve ser nossa
única base, nosso único fundamento e posição.
Nos últimos anos alguns foram desviados por
coisas que adotaram como base em vez de Cristo. A
questão não é se essas coisas estavam erradas ou
certas, mas foram usadas como posição em vez de
Cristo. Ele deve ser nosso único centro. Não devemos
permitir que coisa alguma, nem mesmo as coisas
mais corretas e bíblicas, O substituam. Se nos
importarmos com qualquer coisa em vez de Cristo,
seremos enganados e enredados, sendo afastados
Dele; desse modo nos tornaremos os colossenses de
hoje. Qualquer irmão que tenha sido enganado e
afastado de Cristo precisa receber a palavra de Paulo
nesse livro e retornar ao Cristo todo-inclusivo. Que
todos O experimentemos como o mistério de Deus!
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM VINTE

ANDAR EM CRISTO, O MISTÉRIO DE DEUS

Leitura Bíblica: Cl 2:6; Dt 8:7-10; Rm 8:11; 2Tm 4:22;


Fp 1:19; 1Co 6:17; Rm 8:6, 4; Gl 5:16, 25

Na mensagem anterior falamos sobre


experimentar Cristo como o mistério de Deus. Agora
vamos prosseguir, considerando como andar em tal
Cristo. Em 2:6 Paulo diz: “Ora, como recebestes
Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele”. Andar em
Cristo como o mistério de Deus é viver, agir, nos
comportar e existir Nele.
No capítulo um de Colossenses, Paulo apresenta
uma profunda revelação de Cristo, cujo primeiro
aspecto é a herança dos santos (v. 12). A boa terra no
Antigo Testamento tipifica Cristo como a herança ou
o quinhão dos santos. Nesse capítulo Paulo também
mostra que Cristo é a imagem do Deus invisível, o
Primogênito de toda a criação, a Cabeça do Corpo, o
Primogênito dentre os mortos, e Aquele em quem
toda a plenitude se agrada em habitar.
Paulo começa o capítulo dois falando sobre sua
grande luta pelos colossenses, para que o coração
deles fosse confortado e vinculado um ao outro em
amor, para toda a riqueza da plena convicção do
entendimento, para compreender plenamente “o
mistério de Deus, Cristo” (v. 2). Somente quando o
coração dos santos em Colossos fosse confortado,
recebesse um cuidado carinhoso e fosse acalentado, é
que eles poderiam ter um entendimento adequado de
Cristo. Isso os capacitaria a ter a experiência
autêntica Dele. Os colossenses precisavam de coração
confortado e de mente sóbria a fim de ter o pleno
conhecimento do Cristo que haviam recebido e do
qual tinham sido desviados. Nesse Cristo, o mistério
de Deus, todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento estão ocultos (v. 3). Além disso, Nele
habita corporalmente toda a plenitude da Deidade
(2:9). Uma vez que os colossenses tivessem a plena
convicção do entendimento acerca do Cristo
todo-inclusivo, poderiam andar Nele.
Já dissemos que a palavra andar em 2:6 significa
viver, agir, comportar-se e existir. Aquele em quem
devemos andar é todo-inclusivo, revelado de maneira
profunda no capítulo um. Como tal, Cristo é a
herança dos santos e o mistério da economia de Deus.
Assim como os colossenses, precisamos ser exortados
a andar no Cristo que é tudo para nós.

NOSSA BOA TERRA

Ao escrever esse capítulo de Colossenses, Paulo


considerou a figura da boa terra no Antigo
Testamento como símbolo do Cristo todo-inclusivo.
Há uma sugestão disso em 1:12, onde ele diz que
Cristo é a herança dos santos. Então, em 2:6, ele nos
diz que andemos em Cristo. Isso deixa implícito que
Cristo é a terra, o território, o reino onde podemos
andar. Além disso, sua referência a ser radicado em
Cristo em 2:7 também indica que ele pensava na boa
terra. Para que sejamos radicados em Cristo Ele
precisa ser nossa terra, nosso solo. Tudo isso são
indícios de que o Cristo revelado em Colossenses é
nossa boa terra.
Paulo tinha profundo conhecimento do Antigo
Testamento. Ao escrever epístolas como Romanos, 1
Coríntios, Gálatas, Colossenses e Hebreus, ele deve
ter pensado muito nas Escrituras do Antigo
Testamento, e escreveu muitas coisas de acordo com
elas. Em particular, ao escrever o livro de
Colossenses, ele tinha diante de si a figura da terra de
Canaã: tinha consciência de que o povo escolhido de
Deus no Antigo Testamento desfrutou a boa terra
como sua porção. Além disso, percebia que a boa
terra era tudo para eles. Era por intermédio da boa
terra que podiam adorar a Deus e edificar o templo
para o Seu testemunho e única habitação. Foi por
meio? a boa . terra que o propósito de Deus pôde ser
cumprido por intermédio dos filhos de Israel.
Percebendo plenamente o que Canaã significava para
o povo escolhido ~e Deus, Paulo redigiu a Epístola
aos Colossenses com a figura da boa terra em mente.
Portanto, se quisermos experimentar o Cristo
todo-inclusivo revelado nesse livro precisamos
perceber que tal Cristo é tipificado pela terra de
Canaã. O Cristo que é tipificado pela boa terra é o
Deus Triúno processado como o Espírito que dá vida.
Admito que enfatizo esse ponto repetidamente; essa é
minha comissão e encargo da parte do Senhor.
Se quisermos andar em Cristo como o mistério
de Deus precisamos enxergar que, segundo o conceito
de Paulo, o Cristo no qual devemos andar é a boa
terra. A esse respeito precisamos da plena convicção
do entendimento. É possível dar muitas mensagens
sobre Cristo como a boa terra esse ponto é
inesgotável.
A primeira grande conferência que tivemos nos
Estados Unidos em dezembro de 1962 teve como
tema o Cristo todo-inclusivo tipificado pela terra de
Canaã. Essas mensagens foram publicadas no livro O
Cristo Todo-inclusivo. Um hino muito bom sobre a
experiência de Cristo como vida foi inspirado por
essas mensagens, cuja última estrofe (hino 238) é a
seguinte: “Que galardão! Que prêmio bom / Meu alvo
é Cristo, a Ele vou; / Todo-inclusivo Cristo é / Que
mais teria algum valor? / Coroa e glória espero eu; /
O inestimável Cristo meu”. Aquela conferência teve
muitas mensagens sobre Deuteronômio 8:7-10.
Tendo esses versículos como base, consideramos as
riquezas insondáveis da terra: a água, os alimentos e
os minerais. O que compartilhamos naquelas
mensagens foi somente uma introdução; ainda há
muito que dizer sobre as riquezas de Cristo tipificadas
pela terra de Canaã.
Os estudiosos da Palavra percebem que a Bíblia
não é fácil de compreender. Quando era
recém-convertido, eu dizia ao Senhor que não
concordava com a maneira que Ele escreveu a Bíblia.
De acordo com minha opinião, Ele deveria tê-la
escrito de forma sistemática, abordando
sistematicamente cada ponto principal e colocando
todo o texto sob diversos títulos e subtítulos
principais. Entretanto, precisamos reconhecer que a
maneira do Senhor é a melhor. Na Bíblia Ele fala
sobre um tema específico em diversos lugares.
Considere a justificação por exemplo; esse assunto é
abordado em mais de um livro. Por nossa capacidade
ser tão limitada, o Senhor sabia que só podia revelar
um pouco de cada vez sobre questões espirituais
como a justificação. Isso se aplica ainda mais à
revelação de Cristo como nossa boa terra.

UM SÍMBOLO TODO-INCLUSIVO DE CRISTO

Por um lado, a boa terra é revelada no Antigo


Testamento; por outro, está oculta lá. Embora essa
afirmação pareça contraditória, na verdade não é.
Visto que Deuteronômio descreve a boa terra,
podemos dizer que ela é revelada no Antigo
Testamento. Mas, visto que o sentido e o significado
da boa terra estão ocultos, podemos também dizer
que a terra está oculta nas Escrituras. Quando filhos
do Senhor, supridos pela Sua misericórdia e graça,
aprofundaram-se na Palavra, começaram a perceber
que a boa terra prometida por Deus ao Seu povo
escolhido é símbolo de Cristo. Se a Páscoa desfrutada
no Egito e o maná experimentado no deserto eram
símbolos de Cristo, então a boa terra também deve
ser símbolo de Cristo.
Em Josué 5:11-12 vemos um indício de que a boa
terra tipifica Cristo como a continuação do maná. O
versículo 11 diz que os filhos de Israel comeram do
fruto da terra. O versículo 12 é especialmente claro:
“No dia imediato, depois que comeram do produto da
terra, cessou o maná, e não o tiveram mais os filhos
de Israel; mas, naquele ano, comeram das novidades
da terra de Canaã”. O maná era símbolo de Cristo
como provisão de vida para o povo de Deus. Como
esses versículos em Josué mostram, o produto da boa
terra é a continuação do maná. Portanto, se o maná
tipificava Cristo, o produto da boa terra também deve
tipificá-Lo. Por meio da provisão do maná no deserto,
o povo de Deus foi capaz de edificar o tabernáculo
como habitação de Deus. No mesmo princípio, por
meio da provisão do rico produto da terra, eles foram
capazes de edificar o templo como habitação mais
sólida para Deus. Sem dúvida, a boa terra desfrutada
pelos filhos de Israel é símbolo significativo de Cristo,
pois o templo foi construído mediante o desfrute dela.
Podemos até mesmo dizer que ela é o símbolo
supremo de Cristo encontrado nas Escrituras: um
símbolo completo e todo-inclusivo de Cristo.
Ter o coração confortado e vinculado um ao
outro em amor para o pleno conhecimento de Cristo
como o mistério de Deus inclui ter o pleno
conhecimento de Cristo tipificado pela boa terra.
Precisamos conhecer em detalhes como Cristo é
tipificado por todos os itens mencionados em
Deuteronômio 8:7-11. Ele é a água que brota dos vales
e das montanhas. O trigo representa o Cristo
encarnado e crucificado, e a cevada representa o
Cristo ressurreto. Precisamos ainda ver como Cristo é
tipificado pelo vinho, azeite, figos, romãs e minerais.
Sem esses versículos em Deuteronômio 8 seríamos
limitados na compreensão da todo-inclusividade de
Cristo.
A terra é o ponto central do Antigo Testamento.
Esse é o motivo de o Senhor falar dela muitas vezes
ali. Ele chamou Abraão e disse-lhe que o levaria a
determinada terra, a terra de Canaã. Considere
quantas vezes, de Gênesis 12 até o fim do Antigo
Testamento, o Senhor se referiu à terra. Na verdade, o
centro do Antigo Testamento é o templo na cidade
edificada na boa terra. Se conhecermos as Escrituras
e tivermos a luz de Deus, perceberemos que o centro
do Seu plano eterno, falando segundo a tipologia, é a
terra com o templo e cidade. Começando com o livro
de Gênesis, o Antigo Testamento considera a terra o
centro e menciona muitas vezes alguma coisa
relacionada com ela. Como já ressaltamos
repetidamente, a terra é a figura do Cristo
todo-inclusivo, um símbolo de Cristo como tudo para
nós.

A BATALHA PELA TERRA

Satanás tem feito o máximo, continuamente,


para impedir o povo de Deus de desfrutar a boa terra;
ele fará tudo o que puder para arruinar o desfrute de
Cristo como a terra. Pouco depois de Deus ter criado
os céus e a terra, com a intenção de dar a terra à
humanidade para seu desfrute, Satanás fez alguma
coisa para impedi-Lo, Por causa dessa rebelião Deus
teve de julgar o universo, e devido a esse julgamento a
terra foi sepultada sob as águas do abismo. Depois de
certo tempo Deus agiu e resgatou a terra das águas do
abismo. Nessa terra restaurada veio a existir
abundância de vida, e surgiu então a vida com a
imagem de Deus, a quem Sua autoridade foi
entregue. Entretanto, pouco depois o inimigo de Deus
entrou novamente em cena para enganar o homem e
colocar Deus numa posição onde o julgamento sobre
a terra era mais uma vez imperativo. Na época de
Noé, a terra restaurada foi novamente colocada sob as
águas do abismo. Falando segundo a tipologia, o
homem foi separado do desfrute do Cristo tipificado
pela terra. Contudo, pela redenção da arca, Noé e sua
família obtiveram o direito de possuir a terra e
desfrutar todas as suas riquezas. O dilúvio separou as
pessoas da terra, mas a arca trouxe Noé e sua família
de volta ao desfrute da terra. Mais uma vez o homem
tomou posse da terra e desfrutou suas riquezas.
Contudo, não demorou muito para o inimigo
fazer algo mais para prejudicar o desfrute da terra,
dessa vez por meio da rebelião em Babel. Por isso, da
raça caída que tornou-se rebelde por causa de
Satanás, Deus chamou um homem, Abraão, e
disse-lhe que o levaria para determinada terra. Mas
até mesmo essa pessoa escolhida afastou-se
gradualmente da terra, indo ao Egito, e o Senhor teve
de trazê-lo de volta à terra. Posteriormente, seus
descendentes deixaram essa terra e desceram ao
Egito. Depois de muito tempo o Senhor os tirou do
Egito e os trouxe de volta à boa terra. Séculos mais
tarde o inimigo agiu novamente e enviou o exército da
Babilônia para despojar a terra e capturar o povo.
Mas após setenta anos o Senhor mais uma vez os
levou de volta à boa terra. Em tudo isso vemos que a
história do Antigo Testamento está relacionada com a
terra; a obra de Deus sempre é restaurar a terra, ao
passo que a obra do inimigo sempre é atrapalhar,
danificar e impedir o desfrute da terra e fazer algo
para levar a terra ao caos. A intenção do inimigo é
atacar a terra e tomar conta dela. Mas depois que o
inimigo faz sua tentativa, Deus age para lutar pelo
Seu povo e para restaurar a terra outra vez.

ANDAR NO ESPÍRITO TODO-INCLUSIVO

Precisamos ficar profundamente impressionados


com o fato de essa boa terra tipificar o Cristo
todo-inclusivo. Já mostramos que em Colossenses 2:7
Paulo diz que fomos radicados em Cristo. Se fomos
radicados em Cristo, então Ele tem de ser nosso solo,
nossa terra. Você já percebeu que Cristo é a própria
terra na qual você está radicado, que é uma planta
radicada em Cristo como o solo? Sinto que a maioria
dos filhos de Deus ainda está no Egito. Eles
experimentaram o Senhor somente como o cordeiro
pascal. Outros saíram do Egito e desfrutam Cristo
como seu maná diário enquanto vagueiam no
deserto. Mas pouquíssimos cristãos O experimentam
como o reino, a esfera na qual andam. Que o Senhor
nos abra os olhos para enxergarmos que Cristo é
nossa boa terra, e precisamos andar Nele
diariamente!
Em Gálatas 3:14 Paulo diz: “Para que a bênção de
Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim
de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”.
Paulo aqui refere-se à bênção de Abraão e à promessa
do Espírito. Essa bênção refere-se à boa terra, e o
cumprimento dessa bênção para nós hoje é Cristo
como o Espírito todo-inclusivo. Portanto, segundo o
conceito de Paulo, andar em Cristo como a boa terra é
andar no Espírito todo-inclusivo.
Em Colossenses 2:6 Paulo nos diz que devemos
andar em Cristo, mas em Gálatas 5:16 ele nos exorta a
andar pelo Espírito. Além disso, em Romanos 8:4 ele
fala de andar segundo o espírito. Esses versículos
indicam que a boa terra para nós hoje é o Espírito
todo-inclusivo que habita em nosso espírito; esse
Espírito todo-inclusivo é o Cristo todo-inclusivo como
o Deus Triúno processado. Depois de ter passado por
um processo, o Deus Triúno é o Cristo todo-inclusivo
como o Espírito todo-inclusivo para
experimentarmos. Hoje esse Espírito todo-inclusivo
habita em nosso espírito para ser nossa boa terra.
Vários livros escritos por Paulo, incluindo
Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas e Filipenses,
indicam que Cristo hoje é o Espírito todo-inclusivo.
Cristo é a corporificação e a expressão de Deus.
Mediante a encarnação, Ele tomou-se o último Adão,
que foi crucificado para nossa redenção. Em
ressurreição, esse último Adão tomou-se o Espírito
que dá vida (1Co 15:45). Por isso, em 2 Coríntios 3:17
Paulo diz: “Ora, o Senhor é o Espírito”. Visto que
Cristo como o Espírito que dá vida habita em nosso
espírito, somos um espírito com Ele. Em 2 Timóteo
4:22 Paulo diz “O Senhor seja com o teu espírito”, e
em 1 Coríntios 6:17, “Mas aquele que se une ao
Senhor é um espírito com ele”. Portanto, Cristo como
a boa terra todo-inclusiva está agora em nosso
espírito. Em relação a isso todos precisamos das
riquezas da plena convicção do entendimento.
Tendo a plena convicção de que o Espírito
todo-inclusivo está mesclado com o nosso espírito,
devemos colocar a mente nesse espírito mesclado
(Rm 8:6). Ao fazer isso, espontaneamente colocamos
a mente em Cristo. Então precisamos andar nesse
espírito mesclado. Isso quer dizer que devemos viver,
mover-nos, comportar-nos e existir segundo o
espírito; dessa maneira experimentaremos Cristo e O
desfrutaremos como a boa terra. Nada no Novo
Testamento é mais central, crucial e vital do que
andar de acordo com o espírito mesclado. Cristo
como o Espírito todo-inclusivo habita em nosso
espírito para ser nossa vida, nossa pessoa e tudo para
nós. Nossa necessidade hoje é voltar-nos a Ele,
colocar a mente no espírito e andar de acordo com o
espírito. Isso é andar em Cristo como o mistério de
Deus.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM VINTE E UM

NÃO SER ENGANADO E AFASTADO DE CRISTO

Leitura Bíblica: Cl 2:4, 8

De acordo com a tipologia, os filhos de Israel


desfrutaram Cristo em três estágios: no Egito, no
deserto e na boa terra. A páscoa desfrutada no Egito
não foi somente para sua redenção; também os
fortaleceu para que saíssem do Egito. No deserto o
povo de Deus foi sustentado pelo maná, que os
capacitou a edificar o tabernáculo de Deus e
carregá-lo como testemunho. Depois que entraram
na boa terra, os filhos de Israel começaram a
desfrutar o rico produto da terra; esse produto tomou
possível que edificassem o templo como testemunho
mais sólido. Tipologicamente falando, o templo na
boa terra é o centro do propósito de Deus na terra;
Ele deseja ter uma habitação entre os Seus escolhidos
como Sua expressão. O propósito de Deus não é
cumprido pelo desfrute de Cristo como o cordeiro
pascal nem pelo desfrute de Cristo como o maná no
deserto, mas somente quando Seu povo desfruta
Cristo como a boa terra.
Em 1 Coríntios vemos que Paulo tratou os
coríntios de acordo com os primeiros dois estágios do
desfrute de Cristo, mas não de acordo com o terceiro.
Em 1 Coríntios 5:7 ele diz: “Porque Cristo, nossa
páscoa, foi sacrificado por nós” (VRC). No versículo
seguinte ele nos exorta: “Celebremos a festa”. Esses
versículos indicam o desfrute de Cristo como a páscoa
no Egito. Em 1 Coríntios 10:3-4 Paulo refere-se ao
alimento e à bebida espirituais; isso diz respeito ao
desfrute de Cristo no deserto. Em 1 Coríntios não há
nenhuma menção do terceiro estágio do desfrute de
Cristo. Contudo, escrevendo aos colossenses, Paulo os
considerou nesse estágio do desfrute de Cristo.
Visto que os coríntios não estavam no terceiro
estágio do desfrute de Cristo, aquela cidade tinha
uma vida da igreja de tabernáculo, móvel e sem
fundamento sólido. Em contraste, a vida da igreja em
Efésios, Colossenses e Filipenses está no estágio do
templo; é uma vida da igreja estabeleci da, com
fundamento sólido. Na construção do tabernáculo
não foram usadas pedras, mas a construção do
templo consumiu enorme quantidade de pedras. Por
esse motivo o templo, a expansão do tabernáculo, era
sólido e firme.
A vida da igreja em Colossenses e Efésios é mais
sólida que em 1 Coríntios, porque nessas Epístolas o
desfrute de Cristo não é elementar; não é o mero
desfrute de Cristo como a páscoa ou o maná, e, sim,
como a boa terra, como a herança dos santos. Hoje
algumas igrejas podem estar no primeiro ou no
segundo estágio do desfrute de Cristo, ao passo que
outras podem estar no terceiro estágio.
Se quisermos entrar na boa terra, precisamos
vencer e subjugar todos os inimigos tipificados pelas
sete tribos. Esses inimigos são os principados,
autoridades, potestades e poderes no ar. Depois que
esses inimigos forem derrotados teremos paz, e nessa
paz o templo pode ser edificado.

I. NÃO SER ENGANADO

A. Pelos Judaizantes ou pelos Gnósticos

Embora os colossenses estivessem em Cristo


como a boa terra, eles haviam sido enganados,
iludidos. Essa foi a razão de Paulo ter dito em 2:4: “E
digo isto para que ninguém vos engane com palavras
persuasivas” (VRC).
Para que os cristãos sejam iludidos, alguma coisa
parecida com a verdade precisa ser usada para
enganá-los. Por exemplo, dinheiro falso ou cheques
forjados são enganadores por serem muito parecidos
com os autênticos; as pessoas nunca seriam
enganadas com dinheiro ou cheques claramente
falsos. De modo semelhante, os colossenses foram
enganados por observâncias e práticas parecidas com
a experiência de Cristo. Além disso, certos aspectos
do gnosticismo são semelhantes aos ensinamentos da
Bíblia. É por isso que eles puderam ser enganados.
É muito fácil ser enganado por alguma coisa
parecida com a verdadeira, por uma falsificação
quase idêntica à autêntica. Sem o discernimento
apropriado, é difícil ver a diferença entre os
ensinamentos do Novo Testamento e ensinamentos
éticos como os de Confúcio. Quando jovem, ouvi um
missionário dizer que os ensinamentos éticos de
Confúcio eram iguais a alguns ensinamentos da
Bíblia. A Bíblia ensina que a mulher deve submeter-se
ao marido. Confúcio, entretanto, ensina uma tríplice
submissão da mulher: primeiro ao pai; depois, ao
marido; e por fim, se o marido morrer, ao filho. Os
ensinamentos de Confúcio e os da Bíblia acerca da
submissão parecem ser iguais em princípio. Se não
tivermos discernimento, podemos ser desviados de
Cristo por ensinamentos éticos que parecem iguais
aos da Bíblia.
Muitos aspectos da religião judaica são ótimos.
Considere, por exemplo, os regulamentos alimentares
em Levítico 11 e o mandamento de guardar o sábado.
Parece correto dizer que, assim como Deus descansou
no sétimo dia depois de trabalhar por seis dias, o
homem deve ter um dia de descanso após seis dias de
trabalho. Contudo, há um problema aqui. Segundo a
Bíblia, devemos primeiro trabalhar e depois
descansar, ou devemos primeiro descansar e depois
trabalhar? Podemos achar que, por Deus ter
descansado após trabalhar seis dias, devemos fazer o
mesmo. Contudo, se recebermos luz do Senhor
veremos que, nas Escrituras, Deus primeiro trabalha
e depois descansa, mas o homem primeiro descansa e
depois trabalha. O homem foi criado no sexto dia,
quase no fim dos seis dias de trabalho de Deus. Após
a criação do homem, Deus descansou, e o homem
descansou com Deus. Isso indica que, assim que veio
a existir, o homem teve um período de descanso.
Portanto, segundo o princípio bíblico, devemos
descansar antes de trabalhar. No Novo Testamento
vemos que primeiro recebemos graça, e depois
trabalhamos. Trabalhar antes de receber graça é viver
de acordo com a lei. Mas receber graça antes de
trabalhar está de acordo com a salvação de Deus pela
graça. Se não tivermos clareza a esse respeito
poderemos ser enganados pelo ensinamento dos
adventistas do sétimo dia sobre guardar o sábado.
Precisamos dizer-lhes que para Deus o trabalho veio
antes do descanso, mas para nós o descanso vem
antes do trabalho. Segundo o Novo Testamento,
receber graça precede o trabalho. Se não recebermos
graça como capital, não teremos nada com o que
trabalhar; não conseguiremos trabalhar a menos que
primeiro recebamos graça. Esse é um princípio
básico.
Esses exemplos mostram que certas observâncias
e ensinamentos são semelhantes a alguns aspectos da
salvação de Deus. Esse foi o motivo de os colossenses
serem enganados pelas observâncias judaicas e
ensinamentos pagãos e permitirem que essas coisas
invadissem a vida da igreja. Preocupo-me com a
possibilidade de os jovens serem iludidos por pessoas
que defendem certos ensinamentos ou práticas.
Precisamos ter compreensão detalhada dos princípios
básicos do Novo Testamento; então teremos a
sabedoria e o conhecimento para convencer e
subjugar quem nos tenta iludir.
Paulo começa 2:4 com as palavras “Assim digo”,
que se referem ao que ele falara nos versículos 2 e 3
sobre as riquezas da plena convicção do
entendimento, o pleno conhecimento de Cristo como
o mistério de Deus e o fato de todos os tesouros da
sabedoria e do conhecimento estarem ocultos em
Cristo. Paulo enfatizou essas coisas para que os
colossenses não fossem iludidos. Se enxergarmos a
revelação de Cristo em Colossenses 1, não seremos
enganados por ensinamentos sobre coisas tais como a
forma de batizar na água ou a observância do sábado.
Saberemos que o Cristo todo-inclusivo é o centro da
economia de Deus e é tudo para nós. Se tivermos
visão clara de Cristo, ninguém será capaz de nos
iludir ou enganar.

B. Com Palavras Persuasivas

No versículo 4 Paulo se refere especificamente a


“palavras persuasivas” (VRC). Geralmente, quem
engana os outros é eloqüente e persuasivo ao falar.
Cuidado com a eloqüência. Um orador pode ser muito
eloqüente, mas pode não haver realidade em seu
discurso. Em vez de ficar impressionados com a
eloqüência do orador, devemos perguntar se há
realidade em seu falar.
A irmã M. E. Barber ajudou o irmão Nee a
aprender essa importante lição. Quando jovem, ele se
sentia atraído pela eloqüência e conhecimento de
alguns pregadores visitantes; sempre que ele
expressava admiração pela eloqüência de um orador,
a irmã Barber ressaltava que, embora o pregador
fosse eloqüente e tivesse muito conhecimento, seu
falar não ministrava vida. Certa vez o irmão Nee
achou a mensagem de um pregador maravilhosa, e
estava confiante que a irmã Barber concordaria.
Entretanto, ela ainda assim mostrou que a mensagem
era destituída de vida e realidade. Daí em diante o
irmão Nee perdeu o apreço pelo discurso vazio de
pregadores eloqüentes. Que aprendamos também a
não ser enganados por palavras persuasivas.
Se tivermos a visão do Cristo todo-inclusivo
apresentado no livro de Colossenses, não seremos
iludidos por coisa alguma. Não importa quão
excelente ou bíblico algo seja, isso não será capaz de
nos afastar de Cristo. É crucial que tenhamos tal visão
de Cristo na economia de Deus.
A situação da igreja em Colossos era bem
diferente da condição da igreja em Corinto. Em
Corinto o padrão era baixo, havia divisões e santos
envolvidos em processos judiciais, alguns até mesmo
em fornicação. Mas em Colossos o padrão de
comportamento era muito mais elevado. Como já
dissemos, o problema em Colossos era que a igreja
fora invadida pela cultura, principalmente pelo
gnosticismo e as observâncias judaicas. Essas coisas
eram bastante refinadas, e, por isso mesmo,
enganosas. Portanto nós, na restauração do Senhor,
devemos ter cautela com os que parecem ser muito
cultos e instruídos e falam de maneira gentil e
humilde. Geralmente os maiores enganadores
parecem ser muito amáveis. Sem dúvida, quando a
serpente aproximou-se de Eva no jardim, falou de
maneira muito refinada. Esteja alerta para não ser
iludido por palavras persuasivas de pessoas cultas.
Somente quando tivermos visão clara do lugar do
Cristo todo-inclusivo na economia de Deus é que
seremos capazes de enxergar o que está por trás da
ilusão e do engano.

II. NÃO SER LEVADO COMO CATIVO

No versículo 8 Paulo prossegue: “Tende cuidado


para que ninguém vos faça presa sua, por meio de
filosofias e vãs sutilezas” (VRC). O primeiro passo,
visto no versículo 4, é ser iludido; o segundo passo,
visto no versículo 8, é ser tomado como presa. A
palavra presa significa ser cativo; os que são tomados
como presa são levados para o cativeiro.

A. Por meio de Filosofias e Vãs Sutilezas

Precisamos tomar cuidado para que ninguém nos


faça presa por meio de filosofia. Esse versículo
também pode ser traduzido por “tende cuidado para
que ninguém vos faça presa, por meio de suas
filosofias e vãs sutilezas”. Em grego, a palavra
traduzida por “suas” é o artigo enfático; denota,
portanto, uma filosofia específica. A filosofia pela
qual os cristãos em Colossos foram tomados como
presa era o gnosticismo, uma mistura das filosofias
judaica, oriental e grega. Como Paulo indica, o
gnosticismo é um engano, uma sutileza vã. Na
verdade, toda forma de engano é vã. Nada que seja
real, que tenha um conteúdo real, pode ser um
engano, uma sutileza.

B. Segundo a Tradição dos Homens

A filosofia e as vãs sutilezas nesse versículo são


“conforme a tradição dos homens, conforme os
rudimentos do mundo e não segundo Cristo”. A fonte
do ensinamento gnóstico em Colossos era a tradição
dos homens; não dependia dos escritos revelados por
Deus, mas das práticas tradicionais dos homens.
Muitas tradições culturais são boas, senão ninguém
se importaria com elas. Precisamos ter discernimento
aguçado para não ser enganados pelas tradições do
catolicismo e das denominações. Um princípio que
devemos seguir é o de conferir tudo com a Bíblia.
Devemos importar-nos somente com a revelação
direta de Deus na Palavra sagrada, e não com coisas
conforme a tradição dos homens. Não precisamos
aceitar coisa alguma herdada dos homens como
tradição se ela não corresponder à revelação divina na
Bíblia.
Os católicos romanos estão amarrados pelas
tradições. Em vez de ouvir o que a Bíblia diz ou o que
Deus diz, sempre praticam o que a igreja diz ou o que
é ensinado por padres e freiras. Em algumas ocasiões
apontei a alguns católicos o erro de adorar Maria e
lhes mostrei que isso não está de acordo com a Bíblia.
Contudo, disseram que a adoração de Maria está de
acordo com o ensinamento da igreja católica. Outras
tradições católicas estão relacionadas com acender
velas para imagens e rezar para os santos a fim de
encurtar o tempo que um parente deve passar no
purgatório. Embora práticas desse tipo não estejam
de acordo com a Bíblia, os católicos as seguem por
causa da tradição. As tradições dos homens também
são encontradas nas denominações e grupos cristãos
independentes, onde muitos se importam mais com a
tradição dos homens do que com a Palavra de Deus.

C. Conforme os Rudimentos do Mundo

A filosofia e as vãs sutilezas não são de acordo


com a tradição dos homens, mas também com os
rudimentos do mundo. Aqui, em 2:20 e em Gálatas
4:3, essa expressão não se refere a substâncias, mas
aos ensinamentos rudimentares tanto de judeus
como de gentios, ensinamentos que consistem de
observâncias rituais a respeito de carnes, bebidas,
lavagens e ascetismo. Aos olhos de Paulo, as tradições
dos homens eram meros princípios elementares.
Essas tradições estão incluídas nos princípios
elementares do mundo.

D. Não segundo Cristo

Paulo conclui o versículo 8 dizendo que a


filosofia e as vãs sutilezas não são segundo Cristo.
Cristo é o princípio governante de toda sabedoria e
conhecimento autênticos, a realidade de todo
ensinamento real e a única medida de todos os
conceitos aceitáveis a Deus. O livro de Colossenses se
concentra em Cristo como nosso tudo.
Não ser de acordo com Cristo significa, em
primeiro lugar, não tomá-Lo como vida (3:4). Em
segundo lugar, quer dizer não tomá-Lo como a
Cabeça do Corpo. Além disso, significa não
conhecê-Lo como o mistério de Deus (2:2), e não
experimentá-Lo como a esperança da glória em nós
(1:27). Por fim, não ser de acordo com Cristo significa
não andar Nele (2:6).
Se tomamos Cristo como vida, se O retemos
como a Cabeça do Corpo, se O conhecemos como o
mistério de Deus, se O experimentamos como a
esperança da glória e andamos Nele como o Espírito
todo-inclusivo, então não somos enganados por nada
e ninguém. Quem não O experimenta nesses aspectos
pode ser facilmente enganado. Se analisar a situação
dos que foram iludidos e tomados como presa,
perceberá que não experimentaram Cristo dessas
cinco maneiras. Não perceberam que Cristo, e apenas
Cristo, é tudo na economia de Deus, e não O tomaram
como sua vida e Cabeça. Além disso, não
experimentaram o Cristo que habita neles como sua
esperança da glória, nem viveram, moveram-se ou
existiram em Cristo. Como conseqüência ficaram sem
defesa e, por fim, foram iludidos e levados para o
cativeiro. Nossa defesa contra o engano é o Cristo que
é vida, a Cabeça, o mistério de Deus, a esperança da
glória e a boa terra na qual andamos.
Creio que todas essas mensagens sobre o Cristo
todo-inclusivo ajudarão a nos guardar de enganos e
de ser levados como presa; elas levantarão forte
defesa para nós na restauração do Senhor. Sem tal
defesa podemos facilmente ser iludidos e levados
cativos. Se, porém, experimentarmos Cristo como o
centro da economia de Deus em todos esses aspectos,
seremos protegidos e não seremos iludidos ou
levados como presa.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM VINTE E DOIS

LEVADOS À PLENITUDE E CIRCUNCIDADOS EM


CRISTO

Leitura Bíblica: Cl 2:9-12, 18, 20-22; 1Co 1:30; Ef 3:8

Depois de nos advertir de termos cuidado a fim


de que ninguém nos tome como presa por meio de
filosofias e vãs sutilezas, Paulo nos diz que em Cristo
habita corporalmente toda a plenitude da Deidade
(2:9). Então no versículo 10 ele prossegue: “E nele
fostes levados à plenitude. Ele é a Cabeça de todo
Principado e de toda Autoridade” (BJ). Em Cristo
nada nos falta, pois Nele fomos aperfeiçoados e
completados; não há necessidade de nos voltarmos
para coisa alguma além de Cristo. Como veremos, ao
proferir essas palavras Paulo tratava da questão de
adoração de anjos.
Então, no versículo 11, Paulo diz que fomos
circuncidados em Cristo. Ser levado à plenitude Nele
é positivo, ao passo que ser circuncidado é tratar com
algo negativo, especificamente com a carne, o ego e o
homem natural. Todas essas coisas foram removidas
pela circuncisão em Cristo. Nesta mensagem
precisamos considerar como em Cristo, do lado
positivo, fomos levados à plenitude, e, do lado
negativo, fomos circuncidados.

I. LEVADOS À PLENITUDE EM CRISTO

A. Cristo como a Corporificação de Toda a


Plenitude da Deidade

Em 2:9 Paulo diz: “Porquanto, nele, habita,


corporalmente, toda a plenitude da Divindade”. [O
termo Divindade é sinônimo de Deidade.] Isso quer
dizer que Cristo é a corporificação da plenitude da
Deidade: a plenitude do Deus Triúno habita em
Cristo de forma corpórea, e isso significa que ela
habita Nele de maneira real e prática.

B. Aperfeiçoados em Cristo

Visto que toda a plenitude da Deidade está em


Cristo e, uma vez que fomos colocados Nele (1Co
1:30), Nele fomos levados à plenitude. O Novo
Testamento revela claramente que todos os que
crêem em Cristo foram colocados Nele; portanto,
somos identificados com Ele e um com Ele. O
resultado é que tudo o que Ele é e possui nos
pertence, e tudo o que Ele experimentou é a nossa
história. Herdamos tudo o que Cristo experimentou e
pelo qual passou. Além disso, visto que somos um
com Ele, participamos de tudo o que Ele consumou,
obteve e atingiu.
O casamento é uma ilustração disso. Suponha
que uma mulher pobre se case com um homem muito
rico. Uma vez que ela está unida ao marido e se
identifica com ele, participa de tudo o que ele é e tem.
Do mesmo modo, somos membros do Cristo
todo-inclusivo; fomos colocados Nele, identificados
com Ele, verdadeiramente “casados” com Ele. Assim,
somos um com Ele. Tudo pelo qual Ele passou é agora
nossa história, e tudo o que Ele obteve e atingiu é
nossa herança. Estamos em tal Cristo, e Ele está em
nós. Fomos colocados Nele, somos um com Ele e
recebemos tudo o que Ele é e tem.
Embora alguns cristãos tenham conhecimento
doutrinário disso, a mera compreensão mental da
união com Cristo não é adequada. Precisamos
exercitar a fé a fim de participar de tudo o que é nosso
em Cristo. Não devemos considerar-nos pobres,
assim como a mulher pobre que se casou com um
hom. em rico já não deve considerar-se pobre.
Embora possa sentir-se pobre, precisa ter a prática de
aplicar o fato de que as riquezas do seu marido lhe
pertencem. De modo semelhante, sendo um com
Cristo, não nos devemos considerar pobres; pelo
contrário, precisamos ter a plena percepção do que
temos em Cristo.
Ao orar, alguns cristãos gostam de declarar como
são pobres, miseráveis e vis. Esse tipo de oração é
destituído de fé e convicção. Precisamos crer, com
plena certeza, que somos um com o Cristo rico,
todo-inclusivo, com Aquele que e a corporificação de
toda a plenitude do Deus Triúno. Se percebermos isso
com plena certeza, nunca nos consideraremos pobres.
Não creia em seus sentimentos sobre si mesmo,
mas olhe firmemente para Cristo; exercite a fé para
perceber o que Ele é, pelo que Ele passou, o que Ele
obteve e atingiu, e onde Ele está hoje. Uma vez que
Ele está no terceiro céu e nós somos um com Ele,
também estamos no terceiro céu. Em Cristo somos
não só milionários; somos bilionários. Fomos
colocados no Cristo que é insondavelmente rico.
Nesse Cristo, tomamo-nos perfeitos, completos.
Nele nada nos falta. Não fale sobre quanto você não
tem. Por estar em Cristo, nada lhe falta. Nele está a
plenitude, a perfeição e a consumação. Na verdade,
Ele próprio é a plenitude, a perfeição e a consumação.
Visto que estamos Nele, somos completos e perfeitos;
nada nos falta. Possuímos as riquezas de Cristo.
Em Efésios 3:8 Paulo fala das riquezas
insondáveis de Cristo. Somos mais que bilionários,
pois as riquezas que temos são tantas que não podem
ser contadas; simplesmente não temos noção da
imensidão das riquezas que possuímos Nele.
Freqüentemente oramos: “Senhor, sou pobre e
miserável”. Mas poucos oram assim: “Senhor,
agradeço-Te, porque sou rico, completo e pleno.
Senhor Jesus, por estar em Ti, sou mais rico que o
maior dos bilionários. Não tenho falta de nada”.
Espero que após ler esta mensagem você comece a
orar dessa forma. Diga ao Senhor, aos anjos, e até aos
demônios que você é mais rico do que qualquer
bilionário terreno, pois está no Cristo cujas riquezas
são insondáveis.
C. Cristo como a Cabeça de Todo Principado e
Autoridade

Em 2:10 Paulo diz que Cristo é a Cabeça de todo


principado e autoridade. O principado e a autoridade
mencionados aqui são os poderes angélicos, em
particular os anjos caídos que ainda ocupam posições
de poder. Segundo a revelação plena da Bíblia, Deus,
após ter criado o universo, colocou-o sob o controle
de um arcanjo e outros anjos líderes. Quando esse
arcanjo se rebelou contra Deus e se tornou Satanás,
muitos dos anjos líderes que cooperavam com ele no
governo do universo tomaram-se os governantes e
autoridades malignos nos lugares celestiais. Eles são
descritos em Efésios 6:12 como os governantes, as
autoridades, os dominadores deste mundo tenebroso,
as forças espirituais do mal nas regiões celestiais.
Esses poderes angélicos governam as nações. É por
isso que o livro de Daniel menciona tanto o príncipe
da Grécia como o príncipe da Pérsia (príncipe aqui
denota potestade ou governante angélico). Isso quer
dizer que todas as nações da terra hoje estão sob o
domínio das autoridades nas regiões celestiais;
contudo, nem todas essas autoridades são malignas.
Cristo, porém, é a Cabeça de todo principado e
autoridade.
Já que Cristo é nossa perfeição e consumação,
não precisamos de outros principados e autoridades
como objeto de adoração, pois Ele é a Cabeça de todos
eles. Lembre-se que os colossenses tinham sido
desviados para a adoração de anjos. É por isso que
Paulo lhes disse que, já que Cristo é a Cabeça de todos
os anjos, e já que nós estamos Nele, não há
necessidade de adorarmos anjos.
Os colossenses adoravam anjos porque haviam
caído sob a influência do ensinamento herético de
que Deus é elevado demais para ser adorado
diretamente por seres humanos tão inferiores. De
acordo com essa falsa doutrina, precisamos
humilhar-nos e adorar os anjos como mediadores
entre nós e Deus. Os que adoram anjos dessa forma
argumentam que ainda estão adorando Deus, e não a
ídolos. Afirmam que simplesmente adoram a Deus
pela mediação dos anjos, que são superiores a nós.
Essa heresia tomou-se prevalecente na Ásia Menor;
portanto, Paulo teve o encargo de denunciar esse
erro. Como os colossenses estavam errados ao adotar
os anjos como mediadores! Há um único mediador
entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus (1Tm
2:5). Já que os colossenses estavam Naquele que é a
Cabeça de todos os anjos, e uma vez que tinham sido
levados à plenitude Nele, nada lhes faltava. Não
tinham necessidade de anjos como mediadores.
Os anjos nos servem e nos protegem, mas não
são mediadores entre nós e Deus. Todos os cristãos
têm pelo menos um anjo, um guarda-costas angélico,
designado para servi-los e protegê-los; isso é provado
pelo que o Senhor diz em Mateus 18:10, onde Ele nos
exorta a não desprezar “a nenhum destes pequeninos;
porque (...) os seus anjos nos céus vêem
continuamente a face de Meu Pai que está nos céus”.
Além disso, quando Pedra foi libertado da prisão e
batia à porta, os que estavam na casa disseram à
moça, que continuava a afirmar que Pedra estava
batendo: “É o seu anjo” (At 12:15). Embora os anjos
nos sirvam e possam proteger-nos, não devemos
considerá-las mediadores. Visto que são servos, não
devemos adorá-las. Estamos identificados com a
Cabeça de todos os anjos, e Nele fomos levados à
plenitude. Se tivermos clareza disso, nunca seremos
enganados e levados a adorar anjos; teremos o
conhecimento adequado de que, num sentido muito
real, pelo fato de ser um com a Cabeça dos anjos,
somos mais elevados que eles. Na verdade somos
parceiros de Cristo, que é a Cabeça sobre eles, e Nele
somos completos.
O fato de termos sido levados à plenitude em
Cristo se contrapõe à adoração de anjos; visto que
somos um com Cristo, nunca devemos adorar anjos.

II. CIRCUNCIDADOS EM CRISTO

A. Com a Circuncisão não Realizada por Mãos

No versículo 11 Paulo diz: “Nele, também fostes


circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no
despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão
de Cristo”. Aqui ele fala de uma circuncisão não feita
por mãos. Isso com certeza é diferente da praticada
pelos judeus, que era feita com faca. Além da
circuncisão física há outro tipo de circuncisão, a
circuncisão em Cristo; é a circuncisão espiritual e se
refere ao batismo adequado, que despoja o corpo da
carne por meio da virtude eficaz da morte de Cristo.
Como veremos, isso se contrapõe ao ascetismo.
A circuncisão em Cristo envolve a morte de
Cristo e o poder do Espírito. A crucificação de Cristo
foi a circuncisão autêntica, prática e universal. Sua
crucificação cortou e eliminou todas as coisas
negativas, que incluem a carne, o homem natural e o
ego. Contudo, junto com a morte de Cristo
precisamos do Espírito como o poder. Se tivermos a
crucificação de Cristo sem o Espírito como o poder,
não teremos meios de aplicar essa crucificação a nós e
fazer com que tenha efeito em nós. A crucificação de
Cristo torna-se prática e eficaz por meio do Espírito.
Por intermédio do Espírito como o poder, a
crucificação de Cristo é aplicada a nós. Então, sob o
poder do Espírito, somos circuncidados de maneira
real e prática. Essa é a circuncisão em Cristo, não feita
por mãos. Não é feita por mãos porque foi realizada
pela morte de Cristo, e é aplicada, executada e levada
a cabo pelo Espírito poderoso. É a circuncisão que
todos já recebemos.
Em Cristo, por um lado, fomos levados à
plenitude, e, por outro, fomos circuncidados. Visto
que fomos feitos plenos Nele, nada nos falta; e visto
que fomos circuncidados Nele, todas as coisas
negativas foram removidas. Em relação às coisas
positivas, somos completos; em relação às coisas
negativas, tudo foi limpo e não temos problemas.
Portanto, nas coisas positivas nada nos falta e nas
coisas negativas já não somos mais atribulados por
coisa alguma.
Todavia, precisamos exercitar a fé e não olhar
para nós mesmos; precisamos afastar os olhos dos
sentimentos e da situação aparente. De acordo com a
aparente situação, falta-nos tudo que é positivo e
somos atribulados por tudo que é negativo. Mas de
acordo com os fatos, não estamos em nós mesmos;
estamos em Cristo. Por estarmos Nele, fomos levados
à plenitude positivamente e circuncidados para
remover as coisas negativas.

B. No Despojamento do Corpo da Carne

No versículo 11 Paulo fala do “despojamento do


corpo da carne”. Isso significa despir algo, como por
exemplo despir as vestes. A circuncisão que ocorreu
pela morte de Cristo e é aplicada pelo Espírito
poderoso executa o despojamento do corpo da carne.
Nosso corpo de carne foi crucificado com Cristo e foi
despojado. A esse respeito precisamos novamente
exercitar a fé e não considerar o ego e a situação
aparente. Exercitemos a fé e digamos: “Amém! O
corpo da carne foi despojado na cruz e pelo Espírito
poderoso”.

C. Na Circuncisão de Cristo

Essa é na circuncisão de Cristo, não feita por


mãos. A circuncisão de Cristo é pela Sua crucificação.
Nossa carne foi anulada pela Sua morte na cruz.

D. Mediante o Batismo

Além disso, a circuncisão em Cristo ocorre por


meio do batismo. No versículo 12 Paulo diz: “Tendo
sido sepultados, juntamente com Ele, no batismo, no
qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no
poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos”.
Fomos sepultados juntamente com Cristo no
batismo, e isso é despojar o corpo da carne,
desvesti-lo ou despi-lo. Além disso, em Cristo fomos
ressuscitados, juntamente com Ele, mediante a fé da
operação de Deus. No batismo há o aspecto do
sepultamento, que é o término da carne, e o aspecto
da ressurreição, que é a germinação do espírito. No
aspecto da ressurreição tornamo-nos vivos em Cristo
com a vida divina.
Uma tradução literal do versículo 12 seria:
“Mediante a fé da operação de Deus”. A fé não
provém de nós mesmos; é o dom de Deus (Ef 2:8).
Quanto mais nos voltamos a Deus e O contatamos,
mais fé temos. O Senhor é o Autor e Consumador da
fé (Hb 12:2). Quanto mais permanecemos Nele, mais
Ele é infundido em nós como nossa fé. É por meio
dessa fé viva na operação do Deus vivo que
experimentamos a vida de ressurreição, representada
pelo aspecto ressurgente do batismo. Muitos cristãos
hoje negligenciam a real operação do batismo. Em vez
disso, prestam atenção ao tipo de água usada ou ao
método de imergir as pessoas. O verdadeiro batismo
envolve uma operação na qual somos sepultados e
aniquilados. Essa operação envolve o exercício da fé.
Quem executa a operação é o Espírito. Sempre que
batizamos alguém, há a necessidade do exercício da
fé, a fim de perceber que ali ocorre uma operação
para aniquilar o velho ser do que vai ser batizado.
Precisamos ter fé na operação de Deus, o Deus
Triúno, que ressuscitou Cristo dentre os mortos.
Sempre que batizamos um novo cristão,
precisamos perceber que ali ele é colocado numa
operação divina que irá aniquilá-lo e sepultá-lo.
Precisamos exercitar a fé na operação do Deus
Triúno. Pela fé temos a realidade do término e
sepultamento do velho homem, do ego, da carne e da
vida natural. O Deus Triúno operante honrará essa fé
tornando esses itens reais. Esse sepultamento e
término do velho homem por meio do batismo são a
verdadeira circuncisão.

E. Circuncisão versus Ascetismo

Já que os colossenses tinham recebido tal


circuncisão, não havia necessidade de praticarem
ascetismo. Experimentar a circuncisão de Cristo
contrapõe-se ao ascetismo (2:20-22). Os que foram
sepultados e aniquilados, e agora descansam no
túmulo, não têm necessidade de ascetismo; não há
motivo para tratar o corpo com severidade. Isso é
contrário ao princípio espiritual. De acordo com o
princípio espiritual, fomos aniquilados e nos
despimos do corpo da carne, que é o objeto do
ascetismo. Toda forma de ascetismo tenta lidar com
as concupiscências da carne. De acordo com o
ensinamento e a prática do ascetismo, tratar com
severidade o corpo elimina as concupiscências e
restringe os prazeres da carne; esse é o princípio
básico do ascetismo. Na Índia, alguns praticam o
ascetismo sentando-se numa cama de pregos. Sempre
que se sentem conscientes de concupiscências
carnais, eles se comprimem contra os pregos,
achando que a dor que infligem a si próprios
restringirá as concupiscências. Esse mesmo princípio
explica as regras ascéticas a respeito de comer
alimentos apetitosos. Segundo o ascetismo, desfrutar
alimentos é dar prazer à carne. Por essa razão, os
ascetas são ensinados a escolher alimentos que não
são saborosos.
Como ressaltaremos na próxima mensagem,
essas formas de tratamento severo do corpo “não têm
valor algum contra a sensualidade” (2:23). As várias
práticas do ascetismo não são eficazes para restringir
os prazeres da carne. O conceito de Paulo em
Colossenses 2 era que, já que os cristãos tinham
experimentado a circuncisão de Cristo, realizada pela
Sua morte na cruz e aplicada pelo Espírito, e uma vez
que essa é a circuncisão na qual foram sepultados e
aniquilados, não há necessidade alguma da prática do
ascetismo. Tratar maio corpo na tentativa de
restringir o prazer da carne é tolice e não tem valor
nenhum. De fato, a circuncisão em Cristo se
contrapõe ao ascetismo.
Nesta mensagem vimos que, positivamente,
fomos feitos plenos em Cristo, e, negativamente,
fomos circuncidados Nele. Portanto, não há
necessidade de adorar anjos ou praticar ascetismo.
Embora essas práticas fossem prevalecentes entre os
colossenses, nós devemos repudiá-las totalmente:
não adoramos anjos nem praticamos ascetismo.
Estamos em Cristo. Nele fomos feitos plenos e nada
nos falta. Nele fomos circuncidados quanto à todas as
coisas negativas. Por isso, não precisamos do
ascetismo para restringir a concupiscência da carne.
Esse era o conceito do apóstolo Paulo. Creio que o
que ele escreveu a esse respeito em Colossenses 2 será
útil para nós hoje.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM VINTE E TRÊS

A ECONOMIA DA SALVAÇÃO DE DEUS

Leitura Bíblica: Cl 2:13-15, 18, 20-22; Ef 2:5, 15

Nesta mensagem consideraremos a economia da


salvação de Deus revelada em 2:13-15. Como
veremos, essa economia envolve três coisas:
vivificar-nos com Cristo, abolir a lei ritual e despojar
os poderes angélicos malignos.

OS TRÊS ASPECTOS

Colossenses 2:13 diz: “E a vós outros, que


estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela
incircuncisão da vossa carne, vos deu vida
juntamente com ele, perdoando todos os nossos
delitos”. A palavra mortos aqui se refere à condição
morta do espírito por causa do pecado. Nós, que antes
estávamos mortos nas transgressões e na
incircuncisão da carne, fomos vivificados juntamente
com Cristo. Isso quer dizer que Deus nos vivificou na
ressurreição de Cristo com a vida divina. O que foi
realizado na ressurreição de Cristo (1Pe 1:3) é
experimentado mediante a fé. O primeiro aspecto na
economia da salvação de Deus é que Ele nos vivificou
juntamente com o Cristo ressurreto.
No versículo 14 Paulo prossegue: “Tendo
cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e
que constava de ordenanças, o qual nos era
prejudicial, removeu-o totalmente, encravando-o na
cruz”. O verbo grego traduzido como cancelar
também significa apagar, eliminar, riscar ou anular
(um decreto de lei). A palavra grega traduzida por
escrito denota um documento legal, um contrato;
aqui se refere à lei escrita. As ordenanças, ou
decretos, referem-se à lei cerimonial com seus rituais,
formas ou maneiras de viver e adorar. Deus removeu
essas ordenanças encravando-as na cruz. Isso
significa abolir a lei dos mandamentos na forma de
ordenanças (Ef 2:15); isso elimina a heresia de
guardar os rituais judaicos.
No versículo 15 Paulo continua: “Despojando os
principados e as potestades, publicamente os expôs
ao desprezo, triunfando deles na cruz”. A palavra
grega para despojar pode também ser traduzida por
despir, como em 3:9. Os principados e autoridades
mencionados nesse versículo são angélicos. Por causa
do ensinamento herético da adoração de anjos em
Colossos, a passagem aqui se refere aos anjos
malignos. A lei foi dada por intermédio de anjos (At
7:53; Gl 3:19). Baseados nisso, os mestres heréticos
em Colossos defendiam a adoração de anjos (Cl 2:18)
como mediadores entre Deus e o homem. Portanto, o
apóstolo tratou dessa heresia desvendando que a lei,
que consistia de ordenanças, foi encravada na cruz (v.
14) e os anjos malignos principais foram despojados
por Deus. Isso deixou Cristo como o único Mediador,
que é a Cabeça de todo principado e autoridade (v.
10). Isso elimina a heresia da adoração de anjos.
O sujeito dos verbos nos versículos 13 a 15 é
Deus, segundo o versículo 12. O verbo grego para
expor significa mostrar ou exibir no sentido de
envergonhar abertamente. Deus abertamente
envergonhou os principados e autoridades angélicos
malignos na cruz e, nela, triunfou deles. As palavras
gregas traduzi das por na cruz também podem ser
traduzidas por nele, referindo-se a Cristo.
Deus não deseja que guardemos a lei e com
certeza não quer que adoremos anjos. O desejo de
Deus é vivificar seres humanos que estão mortos em
transgressões. Para isso Ele precisa colocar a própria
vida em nosso interior. Quando Sua vida entra em
nós, somos vivificados e vivemos.

NÃO HÁ LUGAR PARA A LEI NEM PARA OS


ANJOS

Ao mencionar a vivificação dos que estão mortos


em transgressões ao mesmo tempo em que fala das
ordenanças da lei e dos anjos, a intenção de Paulo é
mostrar que o conceito dos colossenses estava
totalmente errado; eles ainda tinham a lei e os anjos
em alta consideração. Valorizavam muito as
ordenanças da lei e até mesmo adoravam alguns
anjos. Embora Deus tenha usado tanto a lei como os
anjos, na economia da Sua salvação já não há lugar
para eles. Os anjos não são admitidos na esfera da
salvação de Deus. Todo cristão tem um anjo, mas
esses anjos não têm parte na salvação de Deus. A
redenção de Cristo não tem nada a ver com os anjos.
Na esfera da economia de Deus em Sua salvação,
tanto a lei como os anjos estão excluídos. Aos olhos
de Deus, as ordenanças, rituais e cerimônias da lei
foram crucificados. Contudo, poucos cristãos
percebem isso. Não só o pecado, o homem natural, o
mundo e Satanás foram crucificados;·a lei também o
foi. Por esse motivo, em 2:14 Paulo diz que Deus
cancelou o escrito na forma de ordenanças,
encravando-o na cruz. Pelo fato de a visão de Paulo
ser tão clara, suas palavras foram bem definidas.
Enquanto homens malignos punham Cristo na cruz,
Deus ali encravava a lei. Embora a lei tivesse sido
dada por Deus por intermédio de anjos, o próprio
Deus encravou-a na cruz de Cristo.
O versículo 14 é uma arma poderosa para
neutralizar o ensinamento dos adventistas do sétimo
dia sobre a observância do sábado. Observar o sábado
é urna ordenança ou ritual da lei encravada na cruz.
De acordo com 2:14, as ordenanças foram removidas
e pregadas na cruz. Assim, os adventistas do sétimo
dia precisam enxergar que a ordenança de guardar o
sábado foi cancelada. Deus removeu exatamente o
que eles tanto valorizam. Na verdade, a ordenança de
guardar o sábado era contrária a nós, e se opunha a
nós. Visto que Deus nos ama, Ele removeu essa
ordenança para o nosso bem. Apesar disso, os
adventistas procuram restaurar exatamente o que
Deus removeu.
Não discuta com os adventistas do sétimo dia
sobre qual dia deve ser observado, se o sétimo ou o
oitavo. Em vez disso, mostre que guardar o sábado é
parte do escrito em forma de ordenanças que foi
removido. Podemos usar 2:14 com intrepidez como
arma para aniquilar a ordenança de observar o
sábado. Na economia da salvação de Deus não há
lugar para a lei. Assim como o pecado foi crucificado,
a lei também o foi; ambos foram encravados na cruz
de Cristo. Deus não quer que o pecado e a lei
permaneçam; Seu desejo é que existamos juntamente
com o Cristo ressurreto.

DESPOJOU OS PRINCIPADOS E
POTESTADES

Já ressaltamos que quando Cristo foi crucificado,


Deus despojou, despiu, os principados e autoridades.
Quando Cristo foi crucificado, os anjos malignos
principais tentaram cercar Deus. Contudo, Deus usou
a cruz para despojar esses anjos, isto é, para despir-se
deles; esse é o conceito de Paulo nesses versículos.
Num sentido muito real, a cruz de Cristo é o
centro do universo. Depois que Deus criou os céus, a
terra e os bilhões de itens no universo, um arcanjo se
rebelou e muitos anjos o seguiram. Esse arcanjo
tornou-se Satanás, e seus seguidores tornaram-se os
principados, poderes e autoridades malignos nas
regiões celestiais. Mais tarde o homem criado por
Deus caiu e tornou-se pecaminoso. A rebelião dos
anjos e a queda do homem puseram Deus numa
situação difícil. A maneira de Ele lidar com essa
dificuldade é a cruz. Em primeiro lugar Deus
tornou-se um homem, revestindo-Se da humanidade.
Então Cristo, Deus encarnado, foi à cruz e foi
crucificado. Nos trinta e três anos e meio de Sua vida
na terra, Cristo caminhou da manjedoura à cruz.
Quando foi crucificado, muitas coisas aconteceram.
Na cruz Deus julgou o pecado e o velho homem
pecaminoso. Por meio dela a nossa natureza
pecaminosa foi aniquilada. No exato momento em
que julgava o pecado e o homem pecaminoso, Deus
também encravou a lei na cruz. Quando Ele
encravava a lei na cruz, os anjos malignos também
estavam presentes e muito ativos; contudo, segundo o
versículo 15, Deus os despojou por meio da cruz.
Já dissemos que, conforme 2:15, Deus despojou
os principados e autoridades. Mas Ele os despojou de
que, ou de onde? Para responder a essa pergunta,
precisamos ver que, enquanto Cristo estava na cruz,
Deus estava operando. Nesse momento, a cruz era o
centro do universo. O Salvador, o pecado, Satanás,
nós e Deus estávamos todos lá. Deus estava lá
julgando o pecado e encravando a lei na cruz.
Enquanto fazia isso, os principados e autoridades se
ajuntaram ao redor Dele e de Cristo. Já ressaltamos
que, segundo a gramática, o sujeito dos verbos nos
versículos 13 a 15 é Deus. Assim, o autor das ações no
versículo 15 é Deus. Deus nos deu vida juntamente
com Cristo, encravou as ordenanças na cruz,
despojou os principados e autoridades, publicamente
os expôs ao desprezo e triunfou deles. Sem dúvida, os
principados e autoridades se aglomeraram ao redor
de Cristo enquanto Ele era crucificado. Tanto Deus
como Cristo operavam. A obra de Cristo foi a
crucificação, ao passo que a de Deus foi julgar o
pecado e todas as coisas negativas e encravar a lei
com as ordenanças na cruz. Os principados e
autoridades que se tinham ajuntado ao redor de Deus
e Cristo também operavam. Se eles não tivessem
assediado tão de perto, como Deus poderia tê-los
despojado? O verbo despojar, ou despir, indica que
estavam muito perto, tão perto quanto a roupa do
corpo. Despojando todos os principados e
autoridades, ou despindo-se deles, Deus os expôs
publicamente; Ele os expôs abertamente ao desprezo
e triunfou deles. Como é importante essa questão!

A GUERRA TRAVADA NA CRUZ

Colossenses 2:15 retrata a luta que aconteceu na


crucificação de Cristo. Homens malignos O haviam
colocado na cruz. Pela Sua crucificação, Cristo
labutou para cumprir a redenção. Deus Pai também
operava para julgar o pecado e encravar a lei na cruz.
Ao mesmo tempo, os principados e autoridades
estavam ocupados na tentativa de impedir a obra de
Deus e de Cristo. A referência ao triunfo no versículo
15 implica luta; isso indica que uma guerra era
travada. Enquanto Cristo cumpria a redenção e Deus
lidava com a lei e com as coisas negativas, os
principados e autoridades entraram em cena para
interferir, assediando Deus e Cristo de perto. Mas
exatamente nessa conjuntura Deus os despojou,
triunfou deles e os expôs em público,
envergonhando-os abertamente.
Colossenses 2:15 é uma pequena janela através
da qual contemplamos uma vista maravilhosa. Na
hora da crucificação de Cristo ocorreu uma batalha
entre Deus e os principados e autoridades; mas Deus
os despojou e triunfou sobre eles.

O CONCEITO DE PAULO

O conceito de Paulo nesses versículos é que a lei e


os anjos foram colocados de lado mediante a cruz. A
lei foi encravada na cruz e os anjos malignos foram
despojados por meio da cruz. Portanto, na economia
de Deus em Sua salvação não há lugar para a lei nem
para as autoridades angélicas. Como os colossenses
estavam errados em guardar ordenanças e adorar
anjos! A lei com suas ordenanças, incluindo a
observância do sábado, havia sido pregada na cruz.
Os colossenses estavam totalmente errados em
permitir que essas coisas invadissem a igreja. Além
disso, na cruz, Deus venceu as autoridades angélicas e
as envergonhou. Que erro grave é ser desviado para
adorar anjos!

UM AMBIENTE PACÍFICO PARA DAR VIDA


AOS SEUS ESCOLHIDOS

Se tivermos a visão transmitida nesses


versículos, muitos problemas serão resolvidos. Por
exemplo, ninguém será capaz de convencer-nos a
voltar à observância do sétimo dia. Ninguém poderá
persuadir-nos a nos sujeitar às ordenanças que Deus
encravou na cruz. Seguir tais ordenanças é ser cego e
estar em trevas; é ser ignorante sobre o conteúdo da
Bíblia ou conhecê-la só superficialmente. Quem
defende a observância do sábado pode apelar para
determinados versículos no Antigo Testamento; pode
tentar argumentar que tanto o Senhor Jesus como
Paulo foram à sinagoga no sábado. Entretanto, 2:14 e
16 deixam claro que as ordenanças, inclusive a
observância do sábado, foram abolidas. Quem
defende a observância do sábado nunca tocou as
profundezas das Escrituras. Não percebe que, por
intermédio da cruz, as ordenanças foram abolidas.
Além disso, os principados e autoridades que se
ajuntaram ao redor de Deus e Cristo descontentes
com o que ocorria na cruz, foram derrotados: Quando
os anjos malignos rodearam Deus e Cristo, Deus os
venceu e os despojou. Portanto, a lei foi pregada na
cruz e os principados e autoridades foram despojados
por Deus. O que permanece agora é o povo redimido
de Deus na posição de ser vivificado por Ele. Agora
que a lei e os anjos foram colocados de lado, Deus tem
espaço desimpedido e ambiente pacífico para vivificar
os Seus escolhidos. Ele agora tem atmosfera
apropriada para realizar a agradável tarefa de
vivificar os que escolheu na eternidade passada. Deus
tem prazer em colocar Sua vida neles e vivificá-los.
Os colossenses precisavam enxergar tal visão, e
nós também. Por não a terem, eles tentavam guardar
a lei e adoravam anjos. Que tolice!
Os aspectos da economia da salvação de Deus em
2:13-15 são apresentados numa boa seqüência. Nessa
economia, Deus nos vivifica, encrava a lei na cruz e
despoja os principados e autoridades malignos. A lei é
uma frustração e os principados e autoridades
causam problemas. Uma vez que Deus removeu a lei e
os anjos, nós, Seus escolhidos, estamos sozinhos com
Ele. Não somos mais perturbados com termos,
condições ou exigências. Deus está aqui para nos
vivificar, e nós, para ser vivificados por Ele. Devemos
esquecer a lei e os anjos e permitir que Deus Se
coloque em nosso interior como vida.
A lei que fora usada para expor a nossa
pecaminosidade foi encravada na cruz. Além disso, os
anjos foram despojados por Deus e Cristo. Você já
tinha percebido que, na hora da crucificação, Deus e
Cristo estavam tão ocupados? Já havia enxergado que
os principados e autoridades malignos
aglomeravam-se ao redor de Deus e Cristo, e era
travada uma guerra na cruz? Creio que poucos
cristãos viram isso. Louvado seja o Senhor porque, ao
triunfar dos poderes angélicos e despojá-los, Deus
abriu o caminho para vivificar os Seus escolhidos.
Por causa da sutileza do inimigo os colossenses
estavam voltando às ordenanças da lei e até mesmo
adorando anjos. Que grande heresia! O princípio é o
mesmo entre os cristãos hoje; eles podem seguir
diversas ordenanças, e os que estão no catolicismo
podem até mesmo adorar anjos. Quem não os adora
pode ainda assim ter muita admiração por eles e,
inconscientemente, desejar ser como anjos. Muitas
irmãs, especialmente, almejam uma espiritualidade
angélica. Contudo, em princípio, admirar anjos é
venerá-los, adorá-los. Posso testificar que em mim
não há lugar para anjos. Deus tem a base para
contatar-me em Cristo. A lei e os anjos não estão
entre mim e Ele.
O ambiente e a atmosfera são muito propícios
para Deus nos contatar. Além do mais, Deus não está
aqui para julgar-nos, pois já nos julgou na cruz. Ele
não está aqui nem mesmo para lidar conosco, pois já
o fez. Deus está aqui para realizar uma só coisa:
vivificar-nos dispensando vida ao nosso interior.
Como Espírito vivificante, o Deus Triúno nos dá vida.
Nas reuniões da vida da igreja somos vivificados. Em
relação a isso, a lei e os anjos não têm lugar algum.
Devemos lembrar os principados e autoridades que,
no Calvário, Deus os despojou e triunfou deles.
Baseados na vitória de Deus podemos ordenar que
sumam. O que precisamos hoje não é da lei ou dos
anjos, e, sim, do Vivificador, Daquele que dá vida.
Essa é a economia da salvação de Deus.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM VINTE E QUATRO

CRISTO: O CORPO DE TODAS AS SOMBRAS

Leitura Bíblica: Cl 2:16-18, 20-22

Na mensagem anterior mostramos que, na


economia de Sua salvação, Deus nos deu vida,
encravou a lei na cruz e despojou os principados e
autoridades. De acordo com o que Paulo diz em 2:14,
o escrito em forma de ordenanças, que se opunha a
nós, foi removido. Por algum tempo a lei foi um
obstáculo. Embora Deus tenha usado a lei, era-Lhe
difícil prosseguir na execução de Sua economia com a
lei no caminho. Portanto, quando Cristo foi
crucificado, Deus interveio para remover a lei,
encravando-a na cruz.

UM MEMORIAL DA NOVA CRIAÇÃO

Espero que muitos adventistas do sétimo dia,


que insistem em guardar o sábado, enxerguem a
diferença entre a economia de Deus e a observância
do sábado. De acordo com o Antigo Testamento, o
sábado foi um sinal da criação de Deus. Depois de
trabalhar por seis dias, Deus descansou no sétimo
dia, que se tornou o sábado. Portanto, o sétimo dia
tornou-se um testemunho da velha criação; ele
testificava que a criação proveio da mão de Deus.
Como parte da velha criação, o homem foi obrigado a
guardar o sétimo dia. Entretanto, a nova criação veio
a existir no primeiro dia da semana, o dia em que o
Senhor Jesus foi ressuscitado dentre os mortos. Por
meio da ressurreição de Cristo, foi gerada a nova
criação, que inclui a igreja constituída dos que crêem
em Cristo e foram regenerados. Por isso, assim como
o sétimo dia foi um sinal da velha criação, o oitavo
dia, o primeiro dia da semana, é um sinal da nova
criação. Por esse motivo, nenhuma passagem do
Novo Testamento diz que os cristãos se reuniam para
adorar no sétimo dia. Mas pelo menos dois versículos
indicam que os santos se reuniam no primeiro dia da
semana. Atos 20:7 diz: “No primeiro dia da semana,
estando nós reunidos com o fim de partir o pão”. Isso
indica que na época do apóstolo Paulo os cristãos se
reuniam em memória do Senhor no primeiro dia da
semana e mostra que esse dia é um memorial da nova
criação de Deus. Visto que estamos na nova criação,
já não somos obrigados a observar o sétimo dia; em
vez disso, reunimo-nos no primeiro dia da semana
em memória do Senhor Jesus.
Em 1 Coríntios 16:2 Paulo diz: “No primeiro dia
da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa,
conforme a sua prosperidade”. Esse versículo
também confirma enfaticamente que os primeiros
cristãos se reuniam no primeiro dia da semana, e não
no sétimo dia. Uma vez que se reuniam nesse dia,
essa era a melhor oportunidade para ajuntar as
ofertas ao Senhor.
Alguns adventistas do sétimo dia ressaltam que
era uma prática de Paulo ir à sinagoga no sábado.
Sim, essa era a sua prática, mas seu propósito não era
guardar o sábado ou adorar a Deus; era aproveitar a
oportunidade para pregar o evangelho aos judeus.
Outro indício da importância do primeiro dia da
semana no Novo Testamento é encontrado em
Apocalipse 1:10. Aqui o apóstolo João nos diz que
estava “em espírito, no dia do Senhor”. O dia do
Senhor5 é o primeiro dia da semana, o dia em que o
Senhor ressuscitou. Como já dissemos, a igreja
primitiva se reunia nesse dia. No dia do Senhor, um
testemunho da nova criação de Deus, João estava em
espírito para ter visões relacionadas com a economia
de Deus.
Até mesmo as prefigurações em Levítico 23
mostram a importância do primeiro dia da semana.
Os filhos de Israel deviam trazer um molho, um feixe,
das primícias da colheita ao sacerdote, para ser
movida perante o Senhor (vs. 10-11). É-nos dito
especificamente que “no dia imediato ao sábado, o
sacerdote o moverá”. O “dia imediato ao sábado” é,
naturalmente, o oitavo dia, ou o primeiro dia da
semana. Além disso, Levítico 23:16 fala do “dia
imediato ao sétimo sábado”. Esse dia era o dia de
Pentecostes, que também era no primeiro dia da
semana. Esses versículos são outra indicação do lugar
do oitavo dia na economia de Deus.
Vimos que na economia de Deus o sétimo dia é
um memorial da velha criação, ao passo que o oitavo

5
O vocábulo domingo vem do latim dies dominicu, que quer dizer dia do Senhor. (N.T.)
dia é um memorial da nova criação. Devido ao fato de
os judeus ainda estarem na velha criação, eles
continuam a guardar o sétimo dia. Mas visto que nós,
a igreja, estamos na nova criação, e não mais na
velha, não precisamos guardar o sétimo dia. Em vez
disso, nos reunimos no primeiro dia da semana, o dia
que marca um novo início em ressurreição. Portanto,
os cristãos que defendem a observância do sétimo
dia, o sábado, não têm conhecimento adequado da
Bíblia. Para os que crêem em Cristo, o dia
comemorativo, de lembrança, não deve ser mais o
sábado; deve ser o primeiro dia da semana, o dia em
que o Senhor Jesus ressuscitou dentre os mortos.
Fomos regenerados por meio da Sua ressurreição
(1Pe 1:3) no primeiro dia da semana. Agora já não
estamos mais na velha criação, e, sim, na nova
criação.

SOMBRAS DE COISAS ESPIRITUAIS

Nesta mensagem precisamos considerar como


Cristo é o corpo de todas as sombras. Em 2:16-17
Paulo diz: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de
comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou
sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas
que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo”.
Comida e bebida representam satisfação e
fortalecimento. As festas denotam as festas anuais
judaicas, que representam alegria e desfrute, e as luas
novas representam um novo começo com luz nas
trevas. Além disso, os sábados significam
completação e descanso. Festas são anuais, luas
novas são mensais, sábados são semanais, e comer e
beber são diários.
Todos esses itens da lei cerimonial são sombra
das coisas espirituais em Cristo, que são as coisas por
vir. O corpo no versículo 17, assim como o corpo
humano, é a substância. Os rituais na lei são sombra
das coisas verdadeiras no evangelho, assim como a
sombra do corpo humano. Cristo é a realidade do
evangelho; todas as coisas boas do evangelho Lhe
pertencem. O livro de Colossenses desvenda tal Cristo
todo-inclusivo como o centro da economia de Deus.
Fui cristão por anos antes de ganhar a
compreensão adequada de 2:16-17. O conceito de
Paulo é que os vários aspectos da lei cerimonial são
sombra das coisas por vir, das coisas espirituais em
Cristo, assim como a sombra é uma figura do corpo
de uma pessoa. As festas, as luas novas, os sábados e
os regulamentos sobre comida e bebida são todos
sombras. O corpo, a substância sólida das sombras, é
Cristo.

A REALIDADE DE TODAS AS COISAS


POSITIVAS

Muitas coisas no ambiente diário são também


sombras de Cristo. Por exemplo, a comida que
comemos é sombra, e não a verdadeira comida. A
verdadeira comida é Cristo. Ele é também a
verdadeira bebida. A roupa que vestimos para nos
cobrir, embelezar e manter aquecidos também é
sombra de Cristo. É Ele que verdadeiramente cobre a
nudez, mantém-nos aquecidos e nos dá a beleza.
Cristo é também a verdadeira habitação e verdadeiro
descanso. A casa na qual vivemos é sombra de Cristo
como nossa habitação. O descanso que gozamos à
noite é também figura de Cristo como nosso
descanso. Até mesmo a satisfação que desfrutamos
depois de uma boa refeição não é a verdadeira
satisfação, mas sombra de Cristo como a realidade da
satisfação.
No versículo 16 Paulo aborda questões
relacionadas com a vida diária, semanal, mensal e
anual. Como já dissemos, comer e beber são diários,
os sábados são semanais, as luas novas são mensais e
as festas são anuais. Todos os aspectos do viver são
sombras de Cristo. Comer e beber simbolizam
satisfação e fortalecimento diários, e o sábado
representa completação e descanso semanais. Sem
completar algo não podemos descansar; o descanso
sempre provém da completação e satisfação. Quando
você termina algo e está satisfeito com isso, consegue
descansar. Depois que completou a obra da criação
no sexto dia, Deus desfrutou o descanso no sétimo
dia. Posso testificar que só consigo descansar quando
meu trabalho foi completado e estou satisfeito com
ele. Portanto, o sábado representa completação e
descanso semanais.
A lua nova representa um novo inicio mensal
com luz nas trevas. Assim como a lua nova marcava
um novo início no Antigo Testamento, hoje Cristo nos
proporciona um novo início com luz nas trevas.
Recentemente ouvi o testemunho de um judeu salvo
há alguns meses. Antes de vir para o Senhor ele
estava em trevas, como todos os judeus incrédulos
hoje. Mas agora Cristo é sua lua nova com luz nas
trevas.
As festas representam desfrute e alegria anuais.
Três vezes ao ano o povo escolhido de Deus se reunia
para as festas, que eram tempos de desfrute e júbilo
coletivos perante o Senhor. Embora as festas
proporcionassem desfrute, eram simplesmente
sombras de Cristo. Ele é a verdadeira comida, bebida,
completação, descanso, lua nova e festa. Dia a dia nós
O comemos e bebemos, semanalmente temos
completação e descanso Nele, todos os meses
experimentamos novo início Nele e o ano todo Ele é
nossa alegria e desfrute. Diária, semanal, mensal e
anualmente Cristo é para nós a realidade de todas as
coisas positivas.
No capítulo um Paulo nos mostra que Cristo é a
porção dos santos, a imagem do Deus invisível, o
Primogênito de toda a criação, a Cabeça do Corpo, o
Primogênito dentre os mortos, Aquele no qual toda a
plenitude se agrada em habitar e nossa esperança
interior da glória. No capítulo dois ele também diz
que Cristo é o mistério de Deus e Aquele em quem
todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento
estão ocultos. Depois de tudo isso, Paulo chega ao
viver prático, que envolve questões diárias, semanais,
mensais e anuais.
Os itens abordados por Paulo em 2:16 estão
relacionados com a rotação da terra ao redor do eixo
ou com a translação da terra na órbita solar. Sem essa
rotação e translação não conseguiríamos manter a
vida física. Por causa da rotação e da translação da
terra temos dias, semanas, meses e anos. Como já
dissemos diversas vezes, a realidade de todas essas
coisas diárias, semanais, mensais e anuais é Cristo.
No versículo 17 Paulo diz que Cristo é o corpo de
todas as sombras. Isso quer dizer que Ele é a
realidade da comida e bebida, da completação e
descanso, do novo início com luz nas trevas e do
desfrute e alegria. Todos os dias, semanas, meses e
anos precisamos de Cristo. Todas as coisas positivas
na vida diária, semanal, mensal e anual devem ser
Cristo; Ele deve tornar-se tudo para nós, não só em
doutrina, mas em experiência. Posso testificar que
Cristo é minha completação, descanso, novo início,
desfrute, alegria, comida, bebida e satisfação. Embora
seja universalmente vasto, Ele também é todos os
minúsculos aspectos do viver diário prático. Dia após
dia Ele é o fôlego e tudo para nós.

NENHUMA NECESSIDADE DE EXPRESSAR


OPINIÃO

Em 2:16 Paulo diz: “Ninguém, pois, vos julgue”.


No versículo 18 ele prossegue: “Ninguém se faça
árbitro contra vós outros”. De acordo com os
versículos 20 a 22 não há necessidade de nos sujeitar
a ordenanças. Já que Cristo é o corpo de todas as
sombras, estamos livres do juízo e opiniões dos que
defendem o gnosticismo e o ascetismo.
Desde que cheguei aos Estados Unidos e comecei
o ministério aqui tenho dito às pessoas que esqueçam
as doutrinas e opiniões. Segundo a matemática de
Deus, somente Cristo tem valor; doutrinas e opiniões
não contam. O que importa é o Cristo que temos para
a vida diária, semanal, mensal e anual.
Com o passar dos anos aprendi a não me apegar
às opiniões nem expressá-las. Outros, entretanto,
podem expressar as opiniões com veemência, até
mesmo sobre coisas como que tipo de aspirador de pó
deve ser comprado para usar no salão de reuniões.
Discutir tais coisas triviais não tem valor. Posso ter
opiniões sobre essas coisas, mas aprendi a não
expressá-las. Discutir a favor de opiniões é
desperdício total de tempo.
Na vida da igreja devemos ter apenas um fator,
um motivo, um elemento, uma fonte: Cristo. Visto
que Ele é nosso fator, motivo, elemento e fonte, não
há necessidade de expressarmos opiniões ou
discutirmos. Embora possamos ter muitas opiniões,
precisamos aprender, pela misericórdia do Senhor, a
não expressá-las. Alguns preferem comer com
pauzinhos, outros preferem garfo e faca, e outros
usam a mão. Que diferença faz? Desde que a comida
seja ingerida, não há necessidade de expressar
opinião acerca dos utensílios usados para comer.
A opinião é a fortaleza do ego. Embora nossas
opiniões sejam extremamente fortes, podemos
aprender na vida da igreja a não expressá-las. Isso
não quer dizer, contudo, que concordemos com coisas
como idolatria. Precisamos ser fortes em nos opor a
esse tipo de coisa. Mas em relação a muitos outros
pontos, não precisamos expressar opinião. Se Cristo
for de fato tudo para nós na vida diária, semanal,
mensal e anual, não haverá necessidade de expressar
opiniões. Temos Cristo como nosso único fator,
motivo, elemento e fonte.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM VINTE E CINCO

CRISTO VERSUS MISTICISMO

Leitura Bíblica: Cl 2:18-19; Ef 4:15-16

Embora Colossenses seja um livro curto, vários


trechos dele foram escritos de perspectivas
diferentes, a partir de pontos de vista diversos. No
capítulo um e na primeira parte do capítulo dois,
Paulo escreve do ponto de vista universal. Mas no
meio do capítulo dois ele começa a escrever do ponto
de vista da vida prática diária. Ao voltar-se da
perspectiva universal para a perspectiva prática, ele
nos faz enxergar a economia da salvação de Deus.
Em Sua salvação Deus não tem intenção alguma
de preservar a lei, nem tenciona que os anjos ocupem
posição proeminente. Na economia da salvação de
Deus, tanto a lei como os anjos devem ser removidos.
Na salvação de Seu povo, Deus não quer usar nenhum
meio indireto; em vez disso, Ele deseja ter contato
direto com os escolhidos. O fato de Deus ter removido
a lei e despojado os principados e autoridades
significa que o caminho agora está limpo para Ele
contatar o Seu povo diretamente, sem a interferência
de nenhuma mediação.
Todas as coisas positivas que permanecem
depois que a lei e os anjos foram removidos são
sombras de Cristo. Os céus, o sol, a lua, as estrelas, a
comida e a bebida são sombras, símbolos de Cristo,
que é o corpo, a substância das sombras. Tudo o que
precisamos para o viver diário, semanal, mensal e
anual é sombra. Somente Cristo é a realidade, o
corpo. É erro grave os cristãos voltarem às
observâncias da lei. Além disso, a adoração de anjos é
grande insulto a Deus. Do mesmo modo, nós O
insultamos se respeitamos coisas físicas ou materiais
mais do que Cristo, pois tais coisas são sombras de
Cristo. Repetindo, a lei foi removida, os anjos foram
despojados e as coisas materiais são sombras.
Portanto, temos a base para dizer que Cristo é tudo
em todos. Ele é nossa lei, ordenança, observância,
anjo, universo, sol, lua, estrela, céu, terra, comida e
bebida. Ele é a realidade de todos os pontos positivos
no viver diário, semanal, mensal e anual.
Escrevendo do ponto de vista universal, Paulo
mostra que Cristo é a herança dos santos, a imagem
do Deus invisível, o Primogênito de toda a criação, a
Cabeça do Corpo, o Primogênito dentre os mortos,
Aquele em quem habita a plenitude de Deus, o
mistério da economia de Deus, a esperança interior
da glória, o mistério de Deus e Aquele em quem todos
os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão
ocultos. Assim, Cristo é profundo, preeminente,
todo-inclusivo e universal. Entretanto, Ele habita em
nós para ser nossa esperança da glória, (1:27).
Voltando-se da perspectiva universal para a
perspectiva da vida diária, Paulo nos mostra que
Cristo é a realidade de todas as coisas positivas para a
vida diária, semanal, mensal e anual. Portanto, Cristo
é não só todo-inclusivo universalmente; é também
detalhado na prática.
A mudança da perspectiva universal para a
prática é feita em 2:14-15. Nesses versículos Paulo
deixa claro, com ênfase, que Deus, em Sua salvação,
não tem intenção de ter coisa alguma entre Ele e Seus
escolhidos. Para desimpedir o caminho a fim de
vivificar os escolhidos, Ele encravou a lei na cruz e
despojou os anjos. Embora tenha usado a lei
temporariamente e tenha ordenado anjos para Seu
governo, Ele não permitirá que a lei e os anjos
atrapalhem Sua salvação. Agora que esses dois itens
foram removidos, Deus tem atmosfera clara e
ambiente desimpedido para contatar os que Ele
escolheu e vivificá-los; Ele não só redime os
escolhidos, mas também procura vivificá-los. Hoje o
Deus redentor que dá vida pode ter contato direto
com os escolhidos.
Após mudar de direção nesses versículos, indo da
perspectiva universal para a prática, Paulo passa a
falar das coisas físicas, da comida e bebida diárias, e
de questões que dizem respeito à vida diária,
semanal, mensal e anual. Em apenas dois versículos
ele aborda comida e bebida, sábados, luas novas e
festas. Ele mostra que essas coisas são sombras, ao
passo que Cristo é o corpo, a realidade, a substância.
Isso significa que se não temos Cristo não temos
realidade; temos somente sombras. Cristo é a
realidade, o corpo de todas as coisas positivas.
Portanto, na economia de Deus não há coisas físicas
ou materiais; há somente Cristo. Além disso, Cristo é
não só a imagem de Deus, o Primogênito de toda a
criação, o Primogênito dentre os mortos, a
corporificação da plenitude de Deus, o mistério tanto
da economia de Deus como do próprio Deus; Ele é até
mesmo a lei, os anjos, a comida, a bebida, a lua nova,
o sábado e as festas. Baseados em tal revelação, temos
a ousadia e a segurança de declarar que Cristo é tudo
e em todos. Isso não é nosso ensinamento; é simples
reconhecimento do que Paulo diz em Colossenses.
Que misericórdia nós, na restauração do Senhor,
podermos ver Cristo em todos esses aspectos! Com
Colossenses 1 e 2 como base, temos confiança de dizer
que, como tudo e em todos, Cristo é a realidade de
todas as coisas positivas no universo,
Era crucial que os colossenses percebessem isso.
Não havia necessidade de aceitar ordenanças
religiosas ou os produtos mais elevados da cultura,
incluindo misticismo, filosofia e ascetismo. Em
Corinto havia o problema da fornicação, mas em
Colossos os santos praticavam ascetismo a fim de
restringir a concupiscência da carne; não tinham
enxergado que Cristo é tudo. Se tivessem, não teriam
permitido que a cultura invadisse a igreja e os
privasse de Cristo.
I. NÃO DEIXAR NINGUÉM NOS PRIVAR

Em 2:18 Paulo dá uma advertência aos cristãos


em Colossos: “Ninguém vos prive do prêmio, com
engodo de humildade, de culto dos anjos, indagando
de coisas que viu, inchado de vão orgulho em sua
mente carnal” (BJ). A frase ninguém vos prive no
grego é de difícil tradução. Pode ser traduzida
também por ninguém vos julgue indignos. Significa
julgar ou criticar de forma a enganar. Os mestres
heréticos julgavam os cristãos indignos de adorar a
Deus diretamente, e lhes diziam que tinham de
adorá-Lo pela mediação dos anjos. Isso era privá-los
de seu prêmio, que é Cristo. Em Cristo, nosso único
Mediador, podemos adorar a Deus diretamente.
A expressão grega para privar aqui indica
alguém que contata outra pessoa com a intenção fixa
e determinada de capturá-la; indica alguém que se
aproxima de outrem com o objetivo de apanhá-lo e
fazer dele uma presa. Até mesmo cristãos podem ser
usados pelo inimigo para privar dessa forma. Eles
podem contatar outros intencionalmente com o
propósito de capturá-los.
Alguns em Colossos se aproximaram dos irmãos,
julgando-os e criticando-os a respeito de certas
práticas. Como o versículo 16 indica, eles julgavam os
cristãos acerca de comer e beber, festas, luas novas e
sábados. O versículo 18 continua o conceito expresso
no versículo 16. Paulo aqui nos diz que não devemos
permitir que ninguém nos julgue com a intenção de
nos privar. Todos os que procuram privá-lo vêm
primeiramente com espírito crítico para apontar
coisas que acham erradas ou mal entendidas. Podem
criticar a igreja ou o ministério. Podem criticar as
reuniões ou a sua participação na vida da igreja. A
intenção de tais críticas é enganá-lo e então privá-lo,
afastando-o de Cristo e da igreja. O sentido de privar
aqui é privar julgando e criticando. A intenção é
privar do prêmio, que é o desfrute de Cristo e da vida
da igreja.
Se perguntar aos que deixaram a vida da igreja,
descobrirá que foram privados do desfrute do Cristo
todo-inclusivo e também do desfrute da vida da
igreja. Cristo e a igreja, a Cabeça e o Corpo, são nosso
desfrute e prêmio. Ser privado de Cristo e da igreja é
ser privado do prêmio.
A intenção maligna dos judaizantes e gnósticos
era privar os colossenses do desfrute de Cristo e da
igreja. O método usado para privá-los era criticá-los
em relação a coisas como luas novas e sábados, talvez
criticando-os por não observar o sábado. Eles podem
tê-los acusado de negligência nessa questão, e então
podem ter argumentado que tinham base bíblica para
exortá-los a guardar o sábado ordenado por Deus.
Além disso, podem tê-los acusado de não observar as
luas novas e as festas anuais. Sem dúvida, suas
palavras eram muito persuasivas e exerciam muita
influência. A menos que tenhamos o discernimento
adequado, tais palavras podem soar muito
convincentes. Portanto, é crucial que vejamos que
todos os itens mencionados em 2:16 são sombras, das
quais Cristo é a realidade e a substância. Por termos
Cristo, não precisamos observar o sábado, as luas
novas ou as festas, nem nos submeter a regras sobre
comer e beber. Já que temos Cristo, que necessidade
há de guardar o sábado? Se tivermos o ponto de vista
de Paulo, será muito difícil alguém nos privar do
prêmio. Embora os jovens sejam facilmente privados,
posso testificar que, por eu ter a perspectiva universal
e prática de Paulo, tudo está muito claro para mim e
não sou facilmente privado do prêmio.
Além do ponto de vista de Paulo, precisamos
também ter o conhecimento adequado, que nos
capacitará a ter o discernimento necessário. Por
exemplo, precisamos de discernimento para
distinguir entre a letra maiúscula I, a letra minúscula
I e o algarismo 1. Quando era jovem e estava
aprendendo inglês, eu tinha dificuldade de distinguir
esses três caracteres; isso indica que até mesmo em
pequenas coisas precisamos de discernimento. O
princípio é o mesmo nas questões espirituais. Os que
deixaram a vida da igreja nos últimos anos não
tiveram discernimento; não tinham visão clara da
economia de Deus e faltava-lhes conhecimento. Por
terem seguido outros cegamente, foram defraudados
e privados do desfrute de Cristo e da igreja.

II. A HERESIA DO MISTICISMO

A. Ensinar Humildade Auto-Imposta

No versículo 18 Paulo fala de humildade em


relação a ser privado do prêmio. Os mestres heréticos
da adoração de anjos ensinavam os santos a mostrar
humildade considerando-se indignos de adorar a
Deus diretamente. Eles privaram os cristãos do
prêmio em Cristo no elemento e na esfera de tal
humildade e adoração de anjos.
Certos mestres gnósticos diziam que o homem
era inferior demais para adorar a Deus diretamente.
Eles defendiam uma humildade auto-imposta, uma
forma de auto-desprezo que deveria mostrar que uma
pessoa era humilde; ensinavam que os que têm tal
humildade não ousam adorar a Deus diretamente.
Esses gnósticos ensinavam que ser ousado a ponto de
adorar a Deus sem mediação era sinal de orgulho.
Eles lembravam os cristãos que estes eram
pecaminosos, seres caídos com concupiscências
carnais e pensamentos malignos. Iam ainda mais
longe, dizendo que os humildes não tentam adorar
diretamente o Deus puro e santo. Com tal
demonstração de humildade, eles seduziram os
colossenses e os desviaram para a adoração de anjos.
Fazendo isso, eles os privaram do desfrute de Cristo.
Em vez de desfrutarem Cristo diretamente como
Mediador, os cristãos voltaram-se para os anjos.
Como conseqüência, foram privados do prêmio.

B. Basear-se em Coisas que Viram

Os que privaram os santos em Colossos


basearam-se em coisas que viram. Insistiam em
certas visões que supostamente tiveram. Os mestres
heréticos estavam na esfera da visão física,
contrastando com a fé no versículo 12. Gostavam de
ter visões extraordinárias. Tal insistência em
experiências visuais resultou em orgulho carnal, e
tornaram-se inchados e envaidecidos pela mente da
carne.
O princípio é o mesmo hoje. Muitos cristãos
gostam de visões extraordinárias. Alguns até afirmam
ter tido contato com anjos. Em muitas reuniões no
pentecostalismo de hoje alguns contam as visões que
tiveram. Essas assim chamadas visões são, com
freqüência, de acordo com as suas concupiscências. É
insensatez insistir em coisas supostamente vistas em
visões. Os hereges em Colossos eram tais visionários,
insistindo no que tinham visto. Como conseqüência,
tornaram-se envaidecidos pela mente da carne.
Embora praticassem a humildade auto-imposta,
eram na verdade muito orgulhosos.

C. Não Reter a Cabeça

Falando das pessoas descritas em 2:18, Paulo


prossegue no versículo 19: “E não retendo a cabeça,
da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por
suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que
procede de Deus”. A heresia da adoração de anjos
desviou os santos de reter Cristo como a Cabeça. A
economia de Deus é encabeçar todas as coisas em
Cristo por intermédio do Seu Corpo, a igreja, fazendo
assim de Cristo o centro de todas as coisas. O artifício
do inimigo sutil é desviar os santos e fazer com que o
Corpo se desagregue. A heresia em Colossos fez com
que os santos fossem separados da Cabeça. Isso
danificou o Corpo. A revelação de Paulo tinha por
finalidade exaltar Cristo e guardar e edificar o Corpo.
Precisamos ser preservados em Cristo para a vida da
igreja; então seremos protegidos de visões
extraordinárias e coisas anormais.
Se não formos preservados em Cristo, o elemento
religioso em nosso ser pode originar muitas coisas
estranhas. Nossa natureza caída com a mente
reprovada por Deus é uma com o maligno. Os
espíritos malignos ainda podem ter contato com
nossa mente reprovada. A mente caída
continuamente comete fornicação com os espíritos
malignos. Isso faz com que diversas coisas malignas
sejam transmitidas a nós, coisas que nos podem fazer
agir de maneira anormal, até mesmo orar, cantar ou
louvar de maneira estranha. Por esse motivo, como
diz a Bíblia, precisamos de mente sóbria, renovada de
acordo com a imagem Daquele que nos criou (3:10).
Se tivermos tal mente renovada, seremos preservados
em Cristo e O desfrutaremos na vida da igreja. O
principal motivo de Paulo ter escrito o livro de
Colossenses foi resgatar os irmãos do engano e
preservá-los em Cristo para a vida adequada da
igreja.
Ser preservado em Cristo para a vida da igreja é
retê-Lo como a Cabeça, da qual o Corpo cresce com o
crescimento de Deus. Crescer é questão de vida, a
qual é o próprio Deus. Sendo o Corpo de Cristo, a
igreja não deve ser privada de Cristo, que é a
corporificação de Deus como a fonte da vida. Retendo
Cristo, a igreja cresce com o crescimento de Deus,
com o aumento de Deus como vida.
O Corpo cresce “suprido e bem vinculado por
suas juntas e ligamentos”. Juntas suprem o Corpo e
ligamentos mantêm unidos os membros do Corpo. Na
igreja, alguns membros são juntas, outros são
ligamentos. Por meio das juntas e ligamentos, o
Corpo cresce. Isso indica que não podemos crescer
com o crescimento de Deus de forma individualista;
precisamos estar na igreja. Assim, o objetivo de Paulo
nesse livro é preservar-nos em Cristo para a vida da
igreja.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM VINTE E SEIS

A EXPERIÊNCIA DA MORTE DE CRISTO VERSUS O


ASCETISMO

Leitura Bíblica: Cl 2:20-23

UMA SÓ PESSOA E UM SÓ CAMINHO

Em Sua economia, Deus nos dá uma só Pessoa e


um só caminho. Tal Pessoa única é o Cristo
todo-inclusivo, preeminente, e o caminho único é a
cruz. Sendo todo-inclusivo, Cristo é tudo para nós.
Ele é Deus, homem e a realidade de todas as coisas
positivas do universo. Deus nos deu essa Pessoa
maravilhosa para ser nossa salvação. Tal Pessoa
única, Cristo, é o centro do universo; e o único
caminho, a cruz, é o centro do governo de Deus. Ele
governa tudo pela cruz e por meio dela lida com tudo.
Portanto, assim como Cristo é o ponto central do
universo, a cruz é o centro do governo de Deus.
Nesse livro Paulo mostra aos colossenses que
nada deve ser substituto de Cristo; Ele não deve ser
substituído por ordenanças, observâncias, misticismo
ou filosofia. Cristo é tudo, e não deve ser substituído
por nada. Na mensagem anterior abordamos a
questão de Cristo versus o misticismo; em
Colossenses, misticismo inclui gnosticismo e
ascetismo. Cristo contrapõe-se a todo 'tipo de ismo.
Ele se contrapõe a toda e qualquer substituição.
Já enfatizamos que todas as coisas positivas no
universo são sombras de Cristo. Por exemplo, nossa
casa é sombra de Cristo como a real habitação. Já que
Cristo é a substância de todas as sombras, não
devemos permitir que as sombras sejam substitutos
Daquele que é o corpo, a realidade. Que tolice é
adotar as sombras no lugar da realidade! O livro de
Colossenses deixa claro que o Cristo todo-inclusivo é
tudo para nós. A intenção de Deus não é dar-nos
milhares de itens; é simplesmente dar-nos uma
Pessoa, o Cristo todo-inclusivo.
No meio do capítulo dois Paulo começa a
mostrar-nos que a cruz é o único caminho de Deus. O
caminho de Deus não é o ascetismo; não consiste em
humilhar-nos, rebaixar-nos ou tratar-nos com
severidade. O único caminho é o caminho da cruz.
Pela cruz Deus lidou com todas as coisas negativas no
universo. Além disso, Deus governa tudo por meio da
cruz. Portanto, temos uma só Pessoa e um só
caminho, isto é, Cristo e a cruz.

NÃO HÁ LUGAR PARA O ASCETISMO

Nesta mensagem passaremos a ver que a


experiência da morte de Cristo contrapõe-se ao
ascetismo. Na vida cristã não há lugar para o
ascetismo, isto é, para tratar o corpo severamente na
tentativa de restringir a indulgência da carne. O
ascetismo não é o caminho de Deus; pelo contrário, é
invenção humana, produto da mente caída do
homem. Os hindus e os budistas podem praticar o
ascetismo, mas os cristãos não devem fazê-lo.
O ascetismo é parte dos “rudimentos do mundo”
mencionados em 2:20. Esses rudimentos são os
princípios rudimentares das coisas exteriores,
materiais, os ensinamentos infantis da exterioridade.
Denotam os ensinamentos elementares tanto dos
judeus como dos gentios, ensinamentos que
consistem em ascetismo e observâncias rituais em
relação a carnes, bebidas e lavagens. É um princípio
rudimentar do ascetismo tratar maio corpo ou
auto-infligir severidade num esforço de suprimir a
carne. O caminho de Deus, o caminho da cruz, é
totalmente diferente.
Segundo a economia da salvação divina, a cruz é
o caminho central de Deus no universo. Entretanto, a
maioria dos cristãos vê pouco da cruz em relação ao
mundo espiritual; a maior parte deles aprecia o
aspecto físico da cruz, o aspecto que pode ser
observado com olhos humanos. Mas nos versículos 14
e 15 há uma janela, pela qual podemos enxergar o
lado espiritual da cruz de Cristo. Quando estava na
cruz, Ele não somente sofria; Ele trabalhava para
realizar a redenção, carregando nossos pecados e
fazendo a vontade do Pai. Deus também trabalhava,
removendo o escrito na forma de ordenanças,
encravando-o na cruz. Como já mostramos, os
principados e autoridades angélicos malignos
também estavam ocupados, tentando interferir no
que Deus e Cristo faziam. Deus, porém, despojou-os,
triunfou deles na cruz e os expôs abertamente à
vergonha. É claro, do lado físico, os soldados
romanos e os religiosos judeus também estavam
muito ativos. Visto que toda essa atividade foi
centralizada na cruz, ela tornou-se o caminho eterno,
central e único de Deus.
Quero salientar o fato de que o caminho de Deus
não é o ascetismo. Nenhum cristão deve praticar
ascetismo. Como pessoas que crêem em Cristo, não
somos um povo sem alegria, triste. Pelo contrário,
somos pessoas alegres, que constantemente se
regozijam no Senhor. Por que então deveríamos
infligir dor ao nosso corpo ou maltratar a nós
mesmos? Que tolice! Nosso caminho, o único
caminho, é a cruz. Portanto, a experiência da cruz é
contrária ao ascetismo.

JÁ MORREMOS COM CRISTO PARA OS


RUDIMENTOS DO MUNDO

Em 2:20 Paulo ressalta que já morremos com


Cristo para os rudimentos do mundo. Esses
rudimentos incluem as observâncias judaicas, as
ordenanças pagãs e a filosofia, bem como o
misticismo e o ascetismo. Os rudimentos do mundo
são os princípios rudimentares da sociedade
mundana, inventados pela humanidade e praticados
na sociedade. Com Cristo, já morremos para esses
rudimentos. Quando Ele foi crucificado, nós também
fomos. Em Sua crucificação fomos libertados dos
princípios rudimentares do mundo.
Já que morremos com Cristo para os rudimentos
do mundo, Paulo nos pergunta por que, como se
vivêssemos no mundo, nos sujeitamos a ordenanças.
Num tom de repreensão ele perguntou aos
colossenses por que continuavam a sujeitar-se a
ordenanças, referindo-se aos próprios princípios
rudimentares para os quais haviam morrido em
Cristo. O mundo nesse versículo não se refere à terra
física, e, sim, à sociedade humana, à humanidade.
Portanto, Paulo perguntava-lhes por que ainda se
sujeitavam a ordenanças como se ainda vivessem na
sociedade humana.
No versículo 21 ele menciona algumas dessas
ordenanças: “Não manuseies isto, não proves aquilo,
não toques aquiloutro”. Essas são regras e
regulamentos sobre coisas materiais; referem-se
respectivamente a coisas que se movem, a coisas
comestíveis e a coisas que podem ser tocadas.
Manusear, provar e tocar incluem virtualmente todo
tipo de ação. Uma vez que esses regulamentos estão
relacionados com a prática do ascetismo, submeter-se
a ordenanças a respeito de manusear, provar e tocar é
praticar ascetismo.
Anos atrás conheci um irmão que fora judeu
ortodoxo antes de se tornar cristão. Em nossa
comunhão ele contou muitas histórias sobre diversas
práticas judaicas. Disse-me que alguns judeus
ortodoxos colocam os sapatos em determinada
direção quando se preparam para dormir à noite,
prática essa supostamente baseada em versículo do
Antigo Testamento. Crêem que, se não colocarem os
sapatos na direção correta, perderão a bênção de
Deus. Que superstição! Fico espantado com o fato de
os judeus, um povo inteligente que valoriza a
educação, serem tão supersticiosos. Quem não tem
Cristo e a cruz freqüentemente é supersticioso e
também aprecia a prática do ascetismo.

PASSAR PELA CRUZ

Tendo a única Pessoa e o único caminho, não


precisamos de regulamentos sobre onde colocar os
sapatos. Quando nos deitamos à noite, entretanto,
devemos passar pela cruz. Isso quer dizer que, não
importa o que tenhamos feito de dia ou o que nos
tenha acontecido, a cruz cuida de tudo. Suponha que
à tarde você esteja de alguma forma descontente com
o seu cônjuge. Na hora de dormir, precisa aplicar a
cruz ao seu sentimento de descontentamento. Se fizer
isso, o sentimento de descontentamento
desaparecerá. Isso indica que o caminho é a cruz, e
não o ascetismo ou qualquer outro tratamento severo
do ego. Tendo a percepção de que já morremos em
Cristo, devemos ir dormir à noite tendo consciência
da cruz. Se praticarmos ir para a cama por meio da
cruz, deitando-nos com a percepção de que já
morremos em Cristo, na manhã seguinte nos
levantaremos em ressurreição como uma nova
pessoa. Não somente temos Cristo, a única Pessoa,
que se contrapõe a todas as coisas; também temos a
cruz, o único caminho, que se contrapõe a todos os
outros caminhos.
Visto que temos Cristo e a cruz, não há lugar para
humildade auto-imposta. Não há necessidade de
treinar a nós mesmos para ser humildes. Tenho
observado, tanto no Oriente como no Ocidente, que a
pessoas mais orgulhosas são as que aprenderam a
praticar a humildade. Não precisamos aprender tais
práticas; devemos simplesmente tomar o único
caminho da cruz.
Dirigir pode ser uma ilustração do caminho da
cruz. À medida que dirigimos, chegamos a muitos
cruzamentos. Você já percebeu que todo cruzamento
é uma cruz? Algumas dessas cruzes podem ser largas
e outras estreitas, mas todas são cruzes. Somente
passando por muitas cruzes podemos chegar ao nosso
destino. Falando da experiência espiritual, também
precisamos passar por muitas cruzes antes de atingir
a Nova Jerusalém. Assim como não podemos ir muito
longe, geograficamente, sem passar por um
cruzamento, também não podemos progredir
espiritualmente sem passar pela cruz. Somente
quando chegarmos na Nova Jerusalém é que
cessaremos de passar pela cruz, porque então todas
as coisas negativas terão sido eliminadas. Até que
cheguemos à Nova Jerusalém precisamos passar pela
cruz todos os dias no andar com o Senhor.
Posso testificar que é uma prática espiritual
saudável passar pela cruz todas as noites quando
vamos dormir. Aplicando a cruz no fim de cada dia,
tenho descanso muito bom à noite. Ao ir dormir
precisamos aplicar a cruz a todo problema e coisa
negativa, natural ou pecaminosa. Podemos orar:
“Senhor, quero que todas essas coisas passem pela
cruz. Não quero ir dormir com nenhum elemento
natural, pecaminoso, negativo ou mundano que não
tenha sido tratado. Quando eu for dormir, Senhor,
quero ser uma pessoa crucificada”. Precisamos ser
pessoas que passam por uma cruz após outra. Eu os
encorajo a passar diariamente pelo cruzamento da
cruz.
Visto que temos Cristo como a única Pessoa e a
cruz como o único caminho, não precisamos do
ascetismo. Além disso, nem precisamos forçar a
mente a respeito de determinadas coisas; tal prática
não funciona. O que precisamos fazer é simplesmente
deitar à noite por meio da cruz, ter um sono
repousante, e então levantar de manhã em
ressurreição. Louvado seja o Senhor, pois a
experiência da morte de Cristo é contrária ao
ascetismo!
NÃO IMPOR ORDENANÇAS A NÓS MESMOS

Vamos agora olhar 2:20-23 mais


detalhadamente. Os versículos 20 a 22 são na
verdade uma só sentença: a pergunta de Paulo.
Segundo o versículo 20, Paulo pergunta aos
colossenses por que eles se sujeitavam a ordenanças.
Em grego, a palavra traduzi da por sujeitar-se a
ordenanças é na verdade um só verbo. Isso indica
que Paulo estava perguntando por que os colossenses
impunham ordenanças a si mesmos. Então, no
versículo 21, ele menciona três ordenanças sobre
manusear, provar e tocar. No versículo 22 ele diz
ainda que essas são coisas que “com o uso, se
destroem”. As palavras gregas para “uso” e “se
destroem” podem também ser traduzidas,
respectivamente, como “consumo” e “se corrompem”.
Paulo aqui diz que todas as coisas materiais estão
destinadas a se decompor e ser destruídas pela
corrupção ao ser usadas (1Co 6:13; Mt 15:17).
Tudo o que usamos será, um dia, destruído ou
corrompido pelo uso. Por exemplo, tudo o que
comemos é destruído na digestão, seja limpo ou
imundo conforme as regras alimentares levíticas.
Uma vez que tudo o que comemos é destruído pelo
uso, não há necessidade de nos sujeitarmos a
regulamentos sobre comer. Em Atos 10 Pedro ainda
estava preocupado com o que era limpo e imundo,
mas a voz do céu disse-lhe que o que Deus purificara
ele não deveria considerar comum. Em Colossenses 2
Paulo encoraja os santos a não se importar com
regras ascéticas sobre coisas que estão, todas elas,
destinadas a se corromper com o uso. Tudo o que
usamos será destruído um dia, e se tornará nada. Isso
se aplica especialmente à comida, que quando é
consumida é destruída. Assim, não há necessidade de
os cristãos regularem o alimento com ordenanças.

UMA VISÃO CLARA

Paulo podia escrever tais palavras porque tivera


visão clara do Cristo todo-inclusivo como a única
Pessoa e da cruz como o único caminho na
administração de Deus. Portanto, ele não se
importava com regulamentos sobre manusear, provar
ou tocar, nem se ocuparia com ordenanças. Paulo
sabia que todas as coisas materiais perecem com o
uso e um dia deixam de existir. Ele percebeu que os
colossenses precisavam de uma grande visão do
Cristo todo-inclusivo e da cruz como o caminho de
Deus em Sua administração. Também precisamos ter
visão clara de Cristo e da cruz.

UNIDADE E HARMONIA POR MEIO DA


CRUZ

Além do único caminho de Deus, não devemos


ter ordenanças nem caminhos ou práticas
particulares. O caminho que Deus ordenou, enalteceu
e honrou é a cruz de Cristo; a cruz é nosso único
caminho. Você sabe o que pode resolver o problema
de brigas entre marido e mulher? Somente a cruz. No
mesmo princípio, somente a cruz pode capacitar os
que estão à frente em uma igreja a ser um e estar em
perfeita harmonia. Todos precisamos passar pela
cruz. Se não experimentarmos a cruz, não teremos a
vida adequada da igreja. Todos os santos precisam
aprender a passar diariamente pela cruz. Passando
por todos os tipos de cruz, grandes e pequenas,
teremos unidade e harmonia na vida da igreja.
Na vida da igreja é possível haver unidade sem
harmonia. Para que tenhamos unidade doce e
harmoniosa, precisamos todos passar diariamente
pela cruz. Não argumente que você está certo e os
outros, errados; quanto mais discute dessa forma,
menos passa pela cruz. Repito: o caminho que leva ao
destino passa pelo cruzamento da cruz. Não evite
nenhuma cruz. Pelo contrário, passe por todas as
cruzes que encontrar na vida cristã, familiar e da
igreja. Principalmente na vida conjugal e na vida da
igreja você precisa passar pela cruz cada dia, até
mesmo cada hora. Em Efésios 4 Paulo nos exorta a
não permitir que o sol se ponha sobre nossa ira. Isso
significa que devemos deixar de lado a ira passando
pela cruz. Se tivermos uma vida diária de passar pela
cruz, haverá harmonia tanto na vida familiar como na
vida da igreja. Louvado seja o Senhor por Cristo e
pela cruz! Deus nos deu uma só Pessoa: o Cristo
todo-inclusivo, e um só caminho: a cruz.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM VINTE E SETE

CRISTO: A NOSSA VIDA

Leitura Bíblica: Cl 3:1-4; Rm 8:30, 19, 21; Fp 3:21

No início desta mensagem gostaria de falar um


pouco mais sobre o caminho da cruz; para isso,
peço-lhe que consulte o diagrama na última página
desta mensagem.

O DEUS PROCESSADO

Na eternidade passada Deus existia sozinho.


Então, no tempo, Ele criou todas as coisas. Em certo
ponto da história, esse Deus criador de todas as coisas
tornou-se um homem. Esse passo crucial chama-se
encarnação. Encarnando-se, Deus revestiu-se do
homem com toda a criação, pois o homem é a cabeça
da criação. O Senhor Jesus, Deus encarnado, viveu na
terra por trinta e três anos e meio. Quando foi
crucificado, toda a criação foi crucificada com Ele.
Isso quer dizer que não só Cristo foi à cruz; o próprio
homem, do qual Deus se revestira juntamente com
toda a criação, foi à cruz com Ele. Portanto, a morte
de Cristo na cruz foi uma crucificação todo-inclusiva.
Depois da crucificação, Cristo foi sepultado num
túmulo. O homem e toda a criação que foram
crucificados com Cristo também foram sepultados ali.
Após três dias, Cristo levantou-se dentre os mortos
em ressurreição, mediante a qual e na qual Ele
tornou-se o Espírito que dá vida. Além disso, em
ascensão ao terceiro céu Ele foi coroado e tornou-se a
Cabeça e o Senhor de todas as coisas; então desceu
sobre o Seu Corpo, a igreja, como o Espírito
todo-inclusivo.
Já que Deus, depois de completar a obra da
criação, passou pela encarnação, viver humano,
crucificação, ressurreição, ascensão e descensão,
podemos falar Dele como o Deus processado. O
diagrama retrata o processo pelo qual Ele passou.
Mediante a encarnação, crucificação e ressurreição,
Ele se tomou o Espírito que dá vida. Depois de
ascender ao terceiro céu, onde foi entronizado e
coroado, e onde foi feito o Senhor e a Cabeça de todas
as coisas, Ele desceu sobre a igreja, o Seu Corpo. Em
Sua descida Ele é o Espírito todo-inclusivo, que
desceu sobre os eleitos de Deus, os quais constituem a
igreja.
Quando Cristo se encamou e nasceu na
manjedoura em Belém, Ele Se revestiu da
humanidade. Essa humanidade incluiu a nós e
também toda a criação. Portanto, mesmo antes de
termos nascido, Cristo revestiu-Se de nós. Quando
Ele passou pelo viver humano, nós também passamos
juntamente com Ele. Além disso, quando foi à cruz e
foi crucificado, nós o fomos com Ele. Fomos então
sepultados com Ele no túmulo. De fato, toda a criação
foi sepultada lá. Assim, o túmulo de Cristo foi
todo-inclusivo. Também ressuscitamos e ascendemos
com Ele. Agora, mesmo enquanto participamos da
vida da igreja, estamos assentados com Ele nos
lugares celestiais. Por um lado estamos na igreja na
terra; por outro, estamos em Cristo nos lugares
celestiais. Há muita movimentação entre os céus e a
igreja, movimentação essa mais rápida que a luz. Na
verdade, mencionar tal movimentação é falar do
ponto de vista humano. Do ponto de vista de Deus, os
céus e a igreja são um só. Por isso, estar na igreja é
estar nos céus.
A REALIDADE DO UNGÜENTO COMPOSTO

Também precisamos ressaltar que o Espírito


todo-inclusivo é a realidade do ungüento composto
descrito em Êxodo 30. Como tal, o Espírito não inclui
somente o Espírito de Deus tipificado pelo azeite de
oliva; inclui também os aspectos da morte e
ressurreição de Cristo tipificados pelas especiarias.
Depois que o azeite de oliva era misturado com as
especiarias, tomava-se um composto, um ungüento.
Antes, o azeite de oliva possuía uma única essência,
um só elemento; mas depois de misturado com as
especiarias, outros elementos foram acrescentados a
ele. O ungüento produzido misturando-se azeite de
oliva com as quatro especiarias representa o Espírito
todo-inclusivo.
Na eternidade passada, o Espírito de Deus existia
com apenas um elemento: a divindade. Contudo, na
encarnação de Cristo, Deus revestiu-Se da
humanidade. Nos trinta e três anos e meio do viver
humano de Cristo na terra, mais itens foram
acrescentados ao elemento divino. Além disso,
mediante a crucificação, a essência da Sua morte
todo-inclusiva e eficaz foi-Lhe acrescentada. O
mesmo aconteceu com a ressurreição. Quando Cristo
deu esses passos cruciais, Deus foi processado e
composto com a humanidade. Assim como o azeite de
oliva foi mesclado com as especiarias para tornar-se
um símbolo, o Espírito de Deus foi mesclado com a
eficácia e doçura da morte de Cristo e com a eficácia e
poder de Sua ressurreição. Portanto, Deus agora é o
Deus processado, que desce como o Espírito
todo-inclusivo sobre os Seus escolhidos e entra neles
para fazer deles a igreja.

OS DOIS NASCIMENTOS DE CRISTO

De acordo com o Novo Testamento, Cristo teve


dois nascimentos: o primeiro ocorreu na encarnação
e o segundo na ressurreição. A igreja veio a existir por
meio da ressurreição de Cristo. No segundo
nascimento, o Primogênito de Deus nasceu com todos
os Seus irmãos, os membros do Seu Corpo, a igreja.
Portanto, a igreja nasceu em ressurreição, isto é, no
segundo nascimento de Cristo. A igreja agora
continua a sua existência no Espírito todo-inclusivo.
UMA SÓ PESSOA E UM SÓ CAMINHO

Na mensagem anterior ressaltamos que na


economia de Deus há somente uma Pessoa, Cristo, e
somente um caminho, a cruz. O diagrama é na
verdade um gráfico dessa única Pessoa e desse único
caminho. Coisas como gnosticismo e ascetismo não
têm lugar ali. Os ensinamentos de Platão, Sócrates e
Confúcio e as práticas do ascetismo estão fora de
Cristo e do caminho da cruz. Todas as religiões,
incluindo o judaísmo e o cristianismo, estão fora da
linha mostrada no diagrama. Contudo, na
restauração do Senhor somos conduzidos de volta à
única Pessoa e ao único caminho. Todos precisamos
ser restaurados de tantos ismos, filosofias e práticas
para essa única linha, para Cristo e a cruz. Hoje,
Cristo e a cruz estão no Espírito todo-inclusivo.
Portanto, ser restaurado para Cristo e a cruz é ser
restaurado para o Espírito todo-inclusivo que dá vida.
Na experiência cristã diária precisamos conhecer
a diferença entre praticar ascetismo e tomar o
caminho da cruz. Tomar a cruz, com certeza, não é
auto-infligir sofrimentos. Alguns cristãos podem
dizer que experimentar a cruz é exercitar a fé a fim de
aplicar o que Cristo consumou no Calvário a nosso
favor. Mas até mesmo isso pode ser uma forma sutil
de ascetismo. Nos primeiros anos da vida cristã, eu
apreciava o livro Imitação de Cristo. Mais tarde
percebi que muito do que esse livro ensina é na
verdade ascetismo.

O ESPÍRITO

Se quisermos aplicar a cruz à nossa situação,


precisamos contatar o Espírito todo-inclusivo. A
eficácia da morte de Cristo está nesse Espírito, assim
como a eficácia do medicamento está na dosagem
prescrita. Quando uma pessoa toma a dosagem
recomendada, ela experimenta a eficácia do remédio.
Hoje o Espírito todo-inclusivo é uma dose
todo-inclusiva, que inclui a eficácia da morte de
Cristo e o poder da Sua ressurreição. Além disso, a
humanidade ressurreta e elevada de Cristo também
está no Espírito todo-inclusivo.
De acordo com o Novo Testamento, o Espírito
todo-inclusivo é o Espírito. João 7:39 nos diz que
ainda não havia o Espírito porque Jesus ainda não
fora glorificado. Isso significa que o Espírito de Deus
ainda não havia sido composto para tornar-se o
Espírito, o Espírito todo-inclusivo. Quando, porém,
Jesus foi glorificado, o processo de composição foi
realizado, e o Espírito veio a existir. Hoje é o Espírito
que desce sobre nós e entra em nós para habitar em
nosso espírito. Nesse Espírito temos a eficácia da
morte de Cristo.

A APLICAÇÃO DA MORTE DE CRISTO

Se quisermos aplicar a cruz de Cristo precisamos


abrir o nosso ser ao Espírito, contatá-Lo e permitir
que Ele tenha caminho livre em nosso interior. Ele
então aplicará espontaneamente em nós a eficácia da
morte de Cristo. Esse é o significado de aplicar a
morte de Cristo. Além disso, quando nos abrimos ao
Espírito e Lhe permitimos aplicar a morte de Cristo à
nossa situação, essa experiência trará Cristo a nós em
ressurreição. Assim, mediante a experiência da morte
de Cristo também experimentamos Sua ressurreição.
Quanto mais experimentamos isso, mais podemos
dizer, juntamente com Paulo: “Para mim o viver é
Cristo” (Fp 1:21).
Devido à influência da tradição sempre usamos
termos certos de maneira errada. Os termos são
corretos, mas a compreensão é errada. Um desses
termos é a cruz. Quando falamos sobre aplicar a cruz
à nossa situação, precisamos ter a compreensão
correta. Precisamos perceber que a eficácia da morte
de Cristo está no Espírito todo-inclusivo. A realidade
da cruz de Cristo está no Espírito. Assim, se nos
abrimos ao Espírito e permitimos que Ele se mova
livremente no nosso interior, Ele flui em nós. Esse
fluir interior traz a nós a eficácia da morte de Cristo.
Além disso, essa aplicação da morte de Cristo traz o
próprio Cristo em ressurreição. Então, como pessoas
que morreram com Cristo, vivemos com Ele em
ressurreição. É aqui que Cristo se torna nossa vida de
forma prática. Morremos com Cristo na cruz e fomos
ressuscitados juntamente com Ele. Agora, em
ressurreição, nós O temos como nossa vida. Se
despendermos mais tempo considerando o diagrama,
seremos ajudados a perceber de que forma temos
Cristo como nossa vida.

RESSUSCIT ADOS COM CRISTO


Em 3:1 Paulo diz: “Portanto, se fostes
ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas
lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de
Deus”. A palavra “ressuscitados” aqui se refere ao
aspecto de ressurreição do batismo, que é totalmente
contrário ao ascetismo. Fomos ressuscitados,
levantados juntamente com Cristo. Estamos agora
onde Cristo está, assentado nos céus. Portanto, não
devemos praticar as coisas da terra que os ascetas
praticam. Em vez disso, devemos buscar as coisas que
estão nos céus.

VIVER NOS CÉUS

Precisamos viver pelo Cristo nos céus, e não


pelos rudimentos do mundo. Como pessoas que
morreram com Cristo para as coisas da terra,
principalmente para as coisas relacionadas com o
ascetismo, como pessoas batizadas em Sua morte
(Rm 6:3) e ressuscitadas juntamente com Ele,
devemos viver nos céus. Mas como fazer isso? O
diagrama nos ajuda a responder essa pergunta
também: ali vemos que os céus estão unidos à igreja;
portanto, viver nos céus é simplesmente viver na
igreja, pois a igreja e os céus são um. Esse é o motivo
pelo qual não deve haver nenhum rudimento do
mundo na igreja. Hoje, estar na igreja é estar nos
céus, e estar nos céus é estar na igreja. Na vida cristã,
a igreja e os céus são um. Quando participo da vida da
igreja tenho a sensação de que estou nos céus. Muitos
cristãos falam sobre ir para o céu no futuro; contudo,
estamos nos céus diariamente. Oh! a igreja está nos
céus hoje! Aqui, nessa esfera celestial, não há lugar
para os rudimentos do mundo.

OCULTOS COM CRISTO EM DEUS

Em 3:3 Paulo prossegue: “Porque morrestes, e a


vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em
Deus”. Já que nossa vida (não a vida natural, mas
espiritual, que é Cristo) está oculta com Cristo em
Deus, que está nos céus, não devemos mais
importar-nos com coisas da terra. O Deus nos céus
deve ser a esfera do nosso viver. Juntamente com
Cristo, devemos viver em Deus.
No versículo 4 Paulo continua: “Quando Cristo,
que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também
sereis manifestados com ele, em glória”. Em Deus,
Cristo (e não o ego, a alma) é nossa vida. Essa vida
agora está oculta, mas será manifestada; então
seremos manifestados com essa vida em glória.
Muitos cristãos acham que já entenderam
Colossenses 3:3; mas que significa a nossa vida estar
oculta com Cristo em Deus? Embora seja difícil de
explicar, o diagrama nos ajuda a entender. Como
resultado do processo mostrado nesse diagrama,
Deus, o homem, os céus e a igreja foram unidos. Sei
que alguns mestres da Bíblia não crêem que esses
quatro itens tornaram-se um. Em relação a isso,
precisamos ter todas as riquezas da plena convicção
do entendimento. Ao considerar o diagrama,
podemos dizer em primeiro lugar que estamos em
Deus. Visto que Deus passou por um processo, nós,
que cremos em Cristo, estamos agora em Deus.
Também estamos nos céus e na igreja. Estar em Deus
é estar nos céus, e estar nos céus é estar na igreja.
Também podemos dizer que estar na igreja é estar
nos céus, e que estar nos céus é estar em Deus.
Louvado seja o Senhor por estarmos em Deus, nos
céus e na igreja. Se percebemos isso,
espontaneamente compreendemos que nossa vida
está oculta com Cristo em Deus. Estamos com Cristo
e não podemos ser separados Dele. Com Cristo
estamos em Deus, nos céus e na igreja. Com Ele já
morremos, fomos ressuscitados e estamos ocultos em
Deus. Tudo isso é possível porque nós e Cristo somos
um. Agora, para nós, viver é Cristo.
Além disso, 1 Coríntios 12:12 nos diz que Cristo é
o Corpo. Como nós, cristãos, somos o Corpo de
Cristo, isso revela nossa unidade com Cristo. Estamos
de fato com Cristo. Onde Ele está, nós também
estamos. Com Cristo, nossa vida está oculta em Deus.

EM DEUS E À DIREITA DE DEUS

Nos versículos 1 e 3 temos um ponto que merece


atenção. O versículo 1 nos diz que Cristo está à direita
de Deus. Contudo, de acordo com o versículo 3, Cristo
está em Deus. Onde então está Cristo: à direita de
Deus ou em Deus? Gostaria de saber como os que se
especializam em teologia analítica responderiam a
essa pergunta. Não importa o quanto tentemos
analisar isso; nossa mente é limitada demais para
compreender esse ponto. O Deus Triúno é ilimitado,
muito além do nosso entendimento. Não tente
compreendê-Lo com a mentalidade limitada. Cristo
está, ao mesmo tempo, tanto à direita de Deus como
em Deus. Entretanto, usando a mentalidade limitada
não conseguimos conciliar esses fatos.
Em relação a questões como essa, não seguimos
os ensinamentos tradicionais da assim chamada
igreja histórica; seguimos a pura Palavra de Deus.
Muitos afirmam conhecer a Bíblia, enquanto na
verdade sua compreensão das Escrituras foi cegada
por ensinamentos tradicionais contidos em credos
como o de Nicéia. Contudo, como já ressaltamos,
seguimos a pura e completa Palavra de Deus, segundo
a qual Cristo está à direita de Deus e também oculto
em Deus. Podemos não ser capazes de conciliar essas
afirmações, mas cremos nelas por causa do que a
Bíblia nos diz.

OCULTOS COM CRISTO E MANIFESTADOS


COM ELE

Aprecio a palavra oculta em 3:3. Hoje nossa vida


está oculta com Cristo em Deus; mas um dia Cristo
aparecerá, e seremos manifestados com Ele em
glória. Seremos manifestados com Cristo no futuro,
contudo agora é a hora de estar ocultos; por esse
motivo, não devemos fazer propaganda de nós
mesmos.
A importância da vida oculta causou novamente
forte impressão em mim enquanto preparava a
biografia do irmão Nee. Embora esse livro já tenha
sido completado, ainda busco conhecer a mente do
Senhor a seu respeito, se deve ou não ser publicado. O
motivo da hesitação é que é difícil imprimir a
biografia de alguém sem expô-lo. Isso se opõe um
pouco ao princípio da vida oculta. A vida de um
cristão hoje deve ser oculta.
Hoje, até Cristo está oculto; considere quanto Ele
é criticado, sofre oposição e é atacado. As pessoas se
rebelam contra Ele a tal ponto que é quase como se
Ele não existisse. Embora Cristo sofra com esses
ataques e rebeliões, Ele continua silencioso e oculto.
Em contraste com a prática do cristianismo,
nossa vida não deve ser exposta. Devemos fazer
muitas coisas que não são conhecidas pelos outros.
Nossa vida cristã deve ser uma vida oculta com Cristo
em Deus. Nossa vida da igreja também deve ser
oculta em Deus e nos céus. A prática do cristianismo
de hoje é promover pessoas e obras fazendo
propaganda. Tal prática é babilônica, para dizer o
mínimo. A vida da igreja é oculta com Cristo em Deus
e nos céus. Se estamos ocultos, estamos com Cristo
em Deus, nos céus e na igreja. Mas quando fazemos
propaganda e nos promovemos, estamos fora de
Cristo e não estamos com Ele. Quando Cristo
aparecer, apareceremos com Ele; essa será a hora da
nossa manifestação com Ele. Mas agora é hora de nos
ocultar e sofrer.
De acordo com Romanos 8, um dia seremos
glorificados com Cristo. Romanos 8:19 nos diz que “A
ardente expectativa da criação aguarda a revelação
dos filhos de Deus”, hora em que “a própria criação
será redimida do cativeiro da corrupção, para a
liberdade da glória dos filhos de Deus” (v. 21). Que
dia maravilhoso será quando aparecermos com nosso
Cristo em glória! Nessa hora, até mesmo nosso corpo
vil será transfigurado num corpo glorioso. Contudo,
enquanto aguardamos esse dia maravilhoso, devemos
permanecer ocultos com Cristo em Deus, nos céus e
na igreja.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM VINTE E OITO

CRISTO: O ELEMENTO CONSTITUINTE DO NOVO


HOMEM

Leitura Bíblica: Cl 3:5-11; Gl 2:20a; Rm 6:3; 8:13; Ef


4:22; 25a, 24; Rm 12:2; Fp 1:21; Cl 1:27; 1Co 12:13

De acordo com Colossenses 3, Cristo é nossa


vida, e tudo e em todos (vs. 4, 11). Nesta mensagem
consideraremos como tal Cristo é o elemento
constituinte do novo homem.
Antes de Paulo chegar a essa questão, ele fala do
despojar-se de diversas coisas (vs. 5, 9). No novo
homem, tudo que não é Cristo deve ser removido. Na
igreja como o novo homem não há lugar para nada
que não seja Cristo. Ao classificar as coisas das quais
devemos despojar-nos Paulo fala de coisas carnais, de
coisas psicológicas e, por fim, da totalidade do velho
homem.

I. FAZER MORRER NOSSOS MEMBROS


CONCUPISCENTES
Em 3:5, Paulo diz: “Fazei, pois, morrer a vossa
natureza terrena: prostituição, impureza, paixão
lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria”.
[A expressão natureza terrena, segundo o original é
membros que estão sobre a terra.] Em nossos
membros pecaminosos está a lei do pecado, que nos
torna cativos do pecado e faz com que nosso corpo
corrompido se torne o corpo da morte (Rm 7:23-24).
Portanto, nossos membros, que são pecaminosos, são
identificados com coisas pecaminosas, tais como
fornicação, impureza, paixão lasciva, desejo maligno
e avareza. Em 3:6 Paulo enfatiza que por causa dessas
coisas “vem a ira de Deus sobre os filhos da
desobediência”. No versículo 7 ele ainda diz que os
cristãos anteriormente andavam nessas coisas
quando viviam nelas.
No versículo 5, Paulo nos exorta a fazer morrer
nossos membros terrenos. Essa exortação tem como
base o fato de que fomos crucificados com Cristo (01
2:19b) e batizados em Sua morte (Rm 6:3).
Executamos a morte de Cristo sobre os membros
pecaminosos crucificando-os, pela fé, mediante o
poder do Espírito (Rm 8:13). Isso corresponde a
Gálatas 5:24. Cristo realizou a crucificação
todo-inclusiva; agora nós a aplicamos à carne
concupiscente. Isso é absolutamente diferente do
ascetismo.
A morte todo-inclusiva de Cristo na cruz é
aplicada a nós no momento do batismo. Todos os que
crêem no Senhor Jesus devem ser batizados. No
batismo não só reconhecemos a morte de Cristo, mas
também a aplicamos a nós mesmos. Portanto, no
batismo somos colocados na morte de Cristo e
sepultados.
De acordo com Romanos 8:11, 13, fazer morrer as
práticas do corpo é uma ação executada no poder do
Espírito; não é realizada por esforço próprio. Nossas
tentativas de fazer morrer as práticas do corpo nada
mais são que ascetismo. Não devemos praticar
ascetismo; antes devemos levar à morte as coisas
negativas em nós pelo poder do Espírito Santo. Para
isso, precisamos abrir-nos ao Espírito e permitir que
Ele flua em nosso interior. Por meio desse fluir,
experimentamos a eficácia da morte de Cristo. Isso
não é ascetismo: é a operação do Espírito em nosso
interior.
Muitos leram a autobiografia de Madame Guyon.
Esse livro contém traços claros de ascetismo e
misticismo, exatamente o que causou dano à igreja
em Colossos. Os que lêem livros escritos pelos
místicos devem fazê-lo com discernimento. Embora
algumas coisas nesses livros sejam proveitosas,
outras são venenosas. Muitos anos atrás recebemos
ajuda de alguns desses livros. Entretanto, mais tarde
aprendemos que ler tais livros sem discernimento
pode levar cristãos sequiosos ao erro do ascetismo.
Portanto, não recomendo que leiam esses livros sem o
auxílio de alguns irmãos mais experientes. Até
mesmo há pouco tempo, alguns, principalmente
irmãs, foram prejudicados por eles.
Precisamos ser advertidos sobre o ascetismo.
Não devemos impor coisa alguma a nós mesmos na
tentativa de tratar com a concupiscência da carne.
Pelo contrário, nossa prática deve ser abrir-nos em
comunhão com o Senhor e permitir que o Espírito
tenha caminho livre para fluir em nosso interior e
aplicar a eficácia da morte todo-inclusiva de Cristo às
coisas negativas do nosso ser. O ascetismo é suicídio
espiritual; em contraste com isso, estamos falando da
aplicação da morte de Cristo pelo fluir do Espírito.

II. DESPOJAR-SE DE TODAS AS COISAS


PSICOLÓGICAS MALIGNAS

No versículo 8, Paulo fala do despojar-se de


todas as coisas psicológicas malignas: “Agora, porém,
despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira,
indignação, maldade, maledicência, linguagem
obscena do vosso falar”. Se comparar esse versículo
com os anteriores, verá que Paulo classificou as coisas
da carne em uma categoria e as da alma caída em
outra. Todas as coisas negativas, sejam da carne ou da
alma caída, devem ser postas de lado. Não fazemos
isso pela nossa força, e, sim, pelo poder do Espírito
todo-inclusivo.

III. DESPIR-NOS DO VELHO HOMEM COM


SUAS PRÁTICAS

No versículo 9, Paulo prossegue: “Não mintais


uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho
homem com os seus feitos”. Esse versículo indica que
a totalidade do velho homem, todo o ser do velho
homem, deve ser despido como se nos despíssemos
de uma roupa velha. A pessoa completa do velho
homem deve ser despida. Nesse versículo Paulo fala
“vos despistes do velho homem” porque isso ocorreu
no batismo. O nosso velho homem foi crucificado
com Cristo (Rm 6:6) e sepultado no batismo (Rm
6:4).

IV. REVESTIR-NOS DO NOVO HOMEM

No versículo 10 Paulo declara: “E vos revestistes


do novo homem que se refaz para o pleno
conhecimento, segundo a imagem daquele que o
criou”. Revestir-se do novo homem é como vestir uma
roupa nova. A palavra grega para novo nesse
versículo significa jovem, cronologicamente novo.
Isso é diferente da palavra usada em Efésios 4:24, que
significa novo em natureza, qualidade ou forma.
O novo homem é de Cristo. É Seu Corpo, criado
Nele na cruz (Ef 2:15-16). Não é individual, e, sim,
corporativo. Conforme a visão clara em Efésios 2:16,
o novo homem é uma entidade corporativa. Isso . é
provado pelo fato de que ele é criado a partir de dois
povos, judeus e gentios. Além disso, Efésios 2:16
indica que o novo homem criado com esses dois
povos é o Corpo de Cristo. Portanto, o novo homem e
o Corpo são sinônimos, e podem ser usados um no
lugar do outro.
O fato de o novo homem ser o Corpo e o Corpo
ser o novo homem é forte indício de que não se trata
de uma entidade individual, e, sim, corporativa.
Portanto, algumas traduções da Bíblia cometem um
erro grave ao falar de revestir-se do novo eu. A New
American Standard Version comete esse erro em
Colossenses 3:10, adotando a tradução: “vos
revestistes do novo eu”. Isso é um erro grave;
ultrapassa a interpretação da Bíblia, alterando-a. A
palavra grega significa homem, e não eu; assim, é
completamente errado falar de revestir-se do novo
eu. De acordo com Colossenses 3:10, fomos
revestidos do novo homem, e não do novo eu.

A. Renovados para o Pleno Conhecimento


Segundo a Imagem Daquele que O Criou

Efésios 2 nos diz que o novo homem foi criado,


mas Colossenses 3:10 diz-nos que ele se refaz, ou se
renova (segundo o original), para o pleno
conhecimento segundo a imagem Daquele que o
criou. Embora Efésios e Colossenses sejam livros
irmãos, o que dizem a respeito do novo homem não é
exatamente o mesmo. Como podemos dizer que, por
um lado, o novo homem é criado, e, por outro, é
renovado? Visto que nós, que pertencemos à velha
criação, estamos envolvidos na criação do novo
homem, ele precisa ser renovado. Essa renovação
ocorre principalmente na nossa mente, como indica a
frase “para o pleno conhecimento”. Em nosso espírito
o novo homem já foi criado em ressurreição. Antes
disso, não tínhamos o Espírito de Deus nem a vida de
Deus em nosso interior. Embora tivéssemos um
espírito humano, ele não continha a vida divina. Mas,
no momento em que a nova criação ocorreu em nosso
espírito em ressurreição, o Espírito Santo com a vida
divina foi acrescentado ao nosso ser. Essa adição do
Espírito e da vida divina ao nosso espírito produziu
um novo ser, o novo homem. Por esse motivo
podemos dizer que, em nosso espírito, o novo homem
foi criado.
Contudo, ainda há a necessidade de renovação na
alma e até mesmo no corpo. A mente, que representa
a alma, precisa ser renovada. Um dia, quando o corpo
for transfigurado, ele também será renovado.
Portanto, o espírito foi regenerado, mas a alma é
renovada. Por um lado, no espírito, o novo homem foi
criado com novos elementos, os elementos da vida
divina e do Espírito Santo. Por outro, na alma, o novo
homem é renovado.
O problema com os colossenses não estava no
espírito nem na nova criação. Por terem aceitado
diversas filosofias, o problema deles estava na mente;
estavam errados não em relação à nova criação, mas à
mente. Portanto, precisavam da renovação para o
pleno conhecimento.
Em 3:10 Paulo diz que o novo homem é renovado
para o pleno conhecimento “segundo a imagem
daquele que o criou”. A imagem aqui refere-se a
Cristo, o Amado de Deus, como a expressão de Deus
(1:15; Hb 1:3). Foi o Deus Criador que criou o novo
homem em Cristo (Ef 2:15).
Em Efésios 4:24 Paulo diz que o novo homem foi
“criado segundo Deus, em justiça e retidão
procedentes da verdade”. Esse versículo não
menciona a imagem; somente diz que o novo homem
foi criado segundo o próprio Deus, enquanto em
Colossenses 3:10 vemos que o novo homem é
renovado segundo a imagem Daquele que o criou. Em
Efésios 4:24 o novo homem é criado segundo Deus,
mas em Colossenses 3:10 ele é renovado segundo a
imagem de Deus. A renovação do novo homem
resulta no pleno conhecimento, que é segundo a
imagem de Deus. Em algumas mensagens anteriores
dissemos que a imagem em 1:15 refere-se à expressão
e à plenitude de Deus. A imagem de Deus é Sua
plenitude e expressão. Isso, é claro, é o próprio Cristo.
Não tenho certeza de que muitos entre nós
tenham sido renovados para o pleno conhecimento
segundo a imagem de Deus. A esse respeito,
precisamos de muito mais crescimento. Somos como
os colossenses, pois o novo homem foi criado no
espírito, mas a mente ainda não foi renovada para o
pleno conhecimento. Precisamos ser renovados na
mente para o pleno conhecimento de acordo com a
expressão de Deus, isto é, de acordo com Cristo como
a imagem de Deus. Isso quer dizer que precisamos de
renovação na mente conforme o que Cristo é. Isso
pode acontecer somente quando somos renovados
para o pleno conhecimento.
Em Colossenses Paulo usa a frase “pleno
conhecimento” três vezes (1:10; 2:2, gr; 3:10). O
problema dos Colossenses era que tinham o tipo
errado de conhecimento; haviam adotado filosofias
que não eram segundo Cristo. Em 2:8 Paulo fala de
filosofias conforme a tradição dos homens e os
rudimentos do mundo, mas não segundo Cristo.
Agora, em 3:10, ele fala do pleno conhecimento
segundo a imagem, a expressão, a plenitude de Deus.
Em relação ao novo homem, nossa mente precisa ser
renovada para o pleno conhecimento, segundo o
Cristo que é a expressão do Deus invisível. Nossa
mente precisa ser renovada a tal ponto que teremos
visão clara de Cristo como a imagem de Deus. Poucos
cristãos têm a compreensão adequada do Cristo
desvendado no livro de Colossenses. A mente deles
não foi renovada para o pleno conhecimento Dele.
Como resultado, muitos hoje são desviados, iludidos
e enganados, da mesma maneira que os colossenses;
estes puderam ser iludidos porque não tinham o
conhecimento pleno segundo a expressão de Deus. O
mesmo ocorre com os cristãos hoje. Alguns foram
enganados porque não foram renovados na mente
para o pleno conhecimento segundo o Cristo
todo-inclusivo como a imagem de Deus.
Em Efésios vemos que o novo homem foi criado
em nosso espírito com os elementos da vida divina e
do Espírito Santo. Esses elementos foram
acrescentados ao nosso ser para gerar uma nova
criação. Em Colossenses, todavia, o novo homem é
renovado em nossa mente para o pleno conhecimento
segundo Cristo como a imagérn de Deus. Quando
nossa mente for preenchida do conhecimento do
Cristo todoinclusivo, nossa emoção será influenciada;
isso fará com que tenhamos maior apreço pelo
Senhor Jesus. Por exemplo, uma criança pode ter
mais apreço por uma caixa de veludo do que pelo anel
de diamante que ela contém; em sua mente não há
conhecimento do valor do anel de diamante.
Contudo, à medida que ela cresce, seu apreço pelo
anel aumenta. Um dia ela desejará ficar com o anel e
jogar fora a caixa.
O amor está ligado à emoção, que está
relacionada com o entendimento que temos na
mente. Se tivermos pouca compreensão de certa
coisa, não teremos muito apreço por ela; assim, será
impossível amá-la. Mas quando a mente
(entendimento) acerca dessa coisa é renovada, a
emoção com seu amor será renovada também.
Quando a mente é renovada, a emoção também é
espontaneamente renovada; a experiência confirma
isso. Tanto na experiência espiritual como na
humana, a mente afeta a emoção, e a emoção afeta a
vontade.
Precisamos ser renovados na mente para ter um
amor apropriado pelo Senhor na emoção. Muitos
santos são frios para com o Senhor porque não têm
muito conhecimento Dele. Quanto mais tivermos o
conhecimento do Cristo todoinclusivo, mais O
apreciaremos e O amaremos. Embora ainda
precisemos de muito mais renovação, temos certo
conhecimento do Senhor Jesus. Esse conhecimento
Dele nos faz amá-Lo. Motivados por nosso amor e
apreço pelo Senhor exercitamos a vontade para
decidir viver para Ele, segui-Lo e vivê-Lo, cultivá-Lo e
gerá-Lo; decidimos viver para Ele e para Seu
testemunho. Essa decisão provém da emoção, e a
emoção, por sua vez, é influenciada pelo
conhecimento adequado de Cristo.
O ponto central das palavras de Paulo aos
colossenses diz respeito à renovação da mente para o
pleno conhecimento de Cristo. Eles precisavam de
pleno conhecimento, não de acordo com a filosofia, o
gnosticismo, as observâncias judaicas ou as
ordenanças gentias, mas segundo a imagem de Deus.
Como já ressaltamos, essa imagem é o Cristo
maravilhoso, glorioso, todo-inclusivo. Precisamos da
renovação que resulta no pleno conhecimento desse
Cristo.
Quando jovem fui capturado pelo amado Senhor
Jesus. Quanto mais minha mente é renovada para o
conhecimento adequado Dele, mais O amo. Posso
testificar que, embora eu seja idoso, meu amor por
Ele é cheio de frescor. De fato, hoje eu O amo mais do
que nunca; quando falo Dele, um fogo arde no meu
interior. A renovação que ocorreu na minha mente
para o pleno conhecimento segundo a imagem de
Deus, criou em mim um apreço pelo Senhor; isso faz
com que eu O ame. Quando temos tal amor pelo
Senhor, dizemos: “Senhor Jesus, quero seguir-Te a
qualquer custo. Estou disposto a pagar qualquer
preço, até mesmo dar a vida, para ser um Contigo e
ser para Ti. Senhor, quero tomar-Te como minha vida
e pessoa. Quero viver-Te, cultivar-Te e gerar-Te.
Senhor Jesus, estou aqui por Ti e somente por Ti”.

B. No qual não Pode Haver Nenhuma Pessoa


Natural

No versículo 11, Paulo prossegue: “No qual não


pode haver grego nem judeu, circuncisão nem
incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém
Cristo é tudo em todos”. Não há nenhuma pessoa
natural no novo homem; além disso, não há
possibilidade nem lugar para nenhuma pessoa
natural. Não pode haver gregos, que gostam da
sabedoria filosófica, nem judeus, que gostam de
sinais miraculosos (1Co 1:22). Não pode haver
circuncisão nem incircuncisão. Circuncisão refere-se
aos que observam os rituais religiosos judaicos;
incircuncisão refere-se aos que não se importam com
a religião judaica. Além disso, no novo homem não
pode haver bárbaro, cita, escravo nem livre. Um
bárbaro é uma pessoa inculta; os citas eram
considerados o povo mais bárbaro de todos; os
escravos eram pessoas vendidas à escravidão; e os
livres eram os que haviam sido libertados da
escravidão. Não importa que tipo de pessoa sejamos,
no que diz respeito ao novo homem devemos
considerar-nos ninguém; nele só há lugar para Cristo;
não há espaço para nenhum tipo de pessoa natural.
Portanto, na igreja todos somos ninguém.

C. Cristo É Tudo e em Todos

No novo homem “Cristo é tudo em todos”. Nele


só há lugar para Cristo. Ele é todos os membros do
novo homem e está em todos os membros. Ele é tudo
no novo homem. Na verdade, Ele é o novo homem, o
Seu Corpo (1Co 12:13). No novo homem Cristo é a
centralidade e a universalidade.
A palavra todos no versículo 11 refere-se a todos
os membros que constituem o novo homem. Cristo é
todos esses membros e está em todos os membros.
Por esse motivo, na igreja não há lugar para nós; não
há espaço para nenhuma nacionalidade. Sendo
membros do novo homem, não devemos
considerar-nos chineses, americanos, alemães ou de
qualquer outra nacionalidade. Não diga nem mesmo
que você é fulano de tal. Já que Cristo é tudo e em
todos no novo homem e você é parte do novo homem,
você é parte de Cristo. Cada membro, cada parte do
novo homem é Cristo.
Ao dizer que não pode haver nenhuma pessoa
natural no novo homem, o versículo 11 é bem
enfático. Que erro enorme é traduzir o grego aqui
como o novo eu! É tolice dizer que no novo eu não há
grego ou judeu, circuncisão ou incircuncisão. De
acordo com o contexto, o novo homem em 3:10, com
certeza, não denota o novo eu, pois é constituído de
cristãos com vários antecedentes culturais. Isso não é
verdade quanto ao assim chamado novo eu. Sem
dúvida, o novo homem aqui é corporativo, a igreja, o
Corpo de Cristo. Embora muitas pessoas diferentes
componham a igreja, todas são parte de Cristo. Já não
são mais a pessoa natural. Cristo é todos, e está em
todos no novo homem. Que tremenda visão é
enxergar que Cristo é tudo e em todos!
É crucial ver duas coisas: que precisamos ser
renovados para o pleno conhecimento segundo o
Cristo todo-inclusivo, que é a imagem de Deus; e que
na igreja, como o novo homem, . Cristo é tudo e em
todos. Na igreja, o novo homem, não há nada além de
Cristo.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM VINTE E NOVE

O VIVER DOS SANTOS EM UNIÃO COM CRISTO:


GOVERNADOS PELA PAZ DE CRISTO E HABITADOS
PELA PALAVRA DE CRISTO

Leitura Bíblica: Cl 3:12-17; Ef 5:19-20

Depois de apresentar uma introdução em 1:1-8, o


livro de Colossenses desvenda Cristo como o
Preeminente e Todo-inclusivo, a centralidade e
universalidade de Deus (1:9-3:11). Nessa seção de
Colossenses Cristo é revelado de forma plena. Paulo
aqui não diz que Ele é o Cordeiro de Deus, o maná, ou
a água viva; ele diz que Cristo é a porção dos santos, a
imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda a
criação, o Primogênito dentre os mortos, o mistério
da economia de Deus, a esperança interior da glória,
o mistério de Deus, e Aquele em quem todos os
tesouros da sabedoria e do conhecimento estão
ocultos. Quando consideramos todos esses aspectos
de Cristo, percebemos que a revelação de Cristo
apresentada em Colossenses é extraordinária,
totalmente diferente do que é revelado em outras
passagens das Escrituras.
Em 3:12-4:6 Paulo volta-se para a questão do
viver dos santos em união com Cristo. Em 3:12-15 ele
fala da necessidade de ser governado pela paz de
Cristo, e nos versículos 16 e 17 fala de a palavra de
Cristo habitar ricamente em nós. Viver em união com
Cristo significa que em nosso viver não estamos
separados de Cristo. Em João 15 o Senhor nos diz que
devemos permanecer Nele, pois sem Ele nada
podemos fazer. Aos olhos de Deus, tudo o que
fazemos fora de Cristo não tem valor. Portanto, se nos
separarmos do Cristo todo-inclusivo revelado em
Colossenses, nada poderemos fazer. O viver dos
santos deve ser em união com Cristo; isso quer dizer
que em nosso viver precisamos ser um com Ele.
Em 3:10-11 vemos que no novo homem Cristo é
tudo e em todos. Cristo é todos os membros e está em
todos os membros. No novo homem não há lugar
para nenhuma pessoa natural; antes, Cristo é todos e
está em todos. Dizer que Cristo é tudo e está em todos
no novo homem indica que somos um com Ele e que
Ele é um conosco. Podemos até mesmo dizer que
Cristo somos nós, e nós somos Ele. Isso indica nossa
união com Cristo. Portanto, o viver dos santos deve
ser em união com Cristo, um viver identificado com
Ele. Se vivemos de tal forma, nós e Cristo, Cristo e
nós, somos um. Nós vivemos, e Cristo vive em nosso
viver.
Precisamos ser um com o Senhor Jesus assim
como Ele é um com o Pai. Em João 14:10 o Senhor
disse: “As palavras que Eu vos digo, não as falo de
Mim mesmo; mas o Pai, que permanece em Mim, faz
as Suas obras”. Isso indica que o Pai trabalha no falar
do Filho. Embora o Pai e o Filho sejam duas Pessoas,
Eles têm somente uma vida e um só viver. A vida do
Pai é a vida do Filho, e o viver do Filho é o viver do
Pai. Por um lado, a vida do Pai é a vida do Filho; por
outro, o viver do Filho é o viver do Pai. Dessa forma, o
Pai e o Filho têm uma só vida e um só viver. O
princípio é o mesmo com Cristo e nós. Hoje nós e
Cristo temos uma só vida e um só viver. A vida do
Filho torna-se a nossa, e nosso viver torna-se o Seu.
Isso é o que significa viver em união com Cristo.
Em tal união nós e Cristo, Cristo e nós, somos
um. Em um sentido muito prático, Cristo somos nós,
e nós somos Cristo, pois vivemos como um só. Sua
vida é nossa vida, e nosso viver é Seu viver. Portanto,
Cristo vive em nosso viver. Esse é o viver cristão
normal, o viver que está à altura do padrão de Deus e
cumpre as exigências de Sua economia.
Em relação ao nosso viver em união com Cristo,
Paulo diz que a paz de Cristo seja o árbitro em nosso
coração e a palavra de Cristo habite ricamente em
nós. Ele não fala dessas coisas em nenhum outro
lugar em suas Epístolas. Repare nas palavras “seja”
no versículo 15 e “habite” no versículo 16; elas
indicam que tanto a paz de Cristo como a palavra de
Cristo já estão presentes. Entretanto, precisamos
permitir que elas operem em nosso interior.
Precisamos permitir que a paz de Cristo arbitre em
nós e a palavra de Cristo habite em nós. Não há
problema com a paz de Cristo nem com a Sua palavra.
O problema está conosco, em particular, em permitir
que essas coisas operem em nós.

I. REVESTIR-SE DAS VIRTUDES


ESPIRITUAIS

Antes de considerar detalhadamente os


versículos 15 a 17, vejamos certos aspectos dos
versículos 12 a 14. No versículo 12 Paulo diz:
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e
amados, de ternos afetos de misericórdia, de
bondade, de humildade, de mansidão, de
longanimidade”. Tendo-nos revestido do novo
homem, também precisamos revestir-nos das
virtudes espirituais relacionadas nesses versículos.
No versículo 12, Paulo se dirige aos cristãos como
eleitos de Deus, santos e amados. O novo homem é
composto dos eleitos de Deus, escolhidos por Ele.
Além disso, o novo homem é santo. Isso quer dizer
que não é comum nem mundano; é separado para
Deus. Além do mais, é amado. Segundo esse
versículo, o novo homem é escolhido, santo e amado.
Como tal novo homem, precisamos revestir-nos
de todas as virtudes espirituais necessárias: coração
de compaixão, bondade, humildade, mansidão e
longanimidade. Os mestres heréticos em Colossos
ensinavam a humildade auto-imposta. Paulo, porém,
ensinava a humildade espiritual, juntamente com
mansidão e longanimidade.
No versículo 13, Paulo fala de suportar e perdoar
uns aos outros. O Senhor que perdoa é nossa vida, e
vive em nós. Perdoar é uma virtude da Sua vida.
Quando O tomamos como nossa pessoa e vivemos
por Ele, perdoar os outros é uma virtude espontânea
da vida cristã.

II. REVESTIR-SE DO AMOR, O VÍNCULO DA


PERFEIÇÃO

No versículo 14, Paulo prossegue: “Acima de tudo


isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da
perfeição”. A palavra grega traduzida por perfeição
também pode ser traduzida por completação, Deus é
amor (1Jo 4:16). Amor é a própria essência do ser
divino, a própria substância da vida divina. Assim,
revestir-se do amor é vestir-se do elemento da vida de
Deus. Tal amor é o vínculo na combinação de
perfeição, completação e virtudes maduras.

III. SEJA A PAZ DE CRISTO O ÁRBITRO EM


NOSSO CORAÇÃO

No versículo 15, Paulo diz: “Seja a paz de Cristo o


árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes
chamados em um só corpo: e sede agradecidos”. O
termo grego para ser árbitro pode também ser
traduzido como arbitrar, presidir ou ser entronizado
como governante que decide todas as coisas. A paz
de Cristo que arbitra em nosso coração dissolve a
queixa mencionada no versículo 13.
Fomos chamados à paz no único Corpo de Cristo.
Para a vida apropriada do Corpo precisamos da paz
de Cristo para arbitrar, ajustar, decidir todas as coisas
em nosso coração nas relações entre os membros do
Seu Corpo. O fato de termos sido chamados à paz de
Cristo deve também motivar-nos a permitir que ela
arbitre em nossos corações.
Nesse versículo, Paulo também nos encoraja a
ser agradecidos. Não só devemos deixar que a paz de
Cristo arbitre em nosso coração; devemos também
ser agradecidos ao Senhor. Na vida do Corpo, nosso
coração deve estar sempre numa condição de paz
para com os membros e agradecido para com o
Senhor.
O que Paulo disse sobre a paz de Cristo atuar
como um árbitro foi escrito, sem dúvida, de acordo
com sua experiência. Se considerarmos a experiência
perceberemos que, como cristãos, temos em nós dois
ou três partidos. Por esse motivo, precisamos de
árbitro. Um árbitro é sempre necessário para resolver
discordâncias ou disputas entre partes. Em relação a
certa questão, uma das partes em nós pode estar
inclinada para um lado, e outra, para o lado oposto.
Além disso, uma terceira parte pode ser neutra.
Quase sempre temos consciência desses três partidos
em nós: um positivo, um negativo e um neutro. Como
cristãos, somos mais complicados que os incrédulos.
Antes de ser salvos, estávamos debaixo do controle do
partido satânico. Podíamos entregar-nos a
divertimentos e entretenimentos mundanos sem
nenhum sentimento de controvérsia. Contudo, agora
que somos Salvos, uma parte pode encorajar-nos a
fazer uma coisa, mas outra pode encorajar-nos a fazer
outra. Portanto, há a necessidade de um arbítrio
interior para resolver a disputa interior. Precisamos
de alguém ou de algo que presida as conferências que
ocorrem em nosso ser. De acordo com o versículo 15,
a paz de Cristo é esse árbitro, esse juiz.
Lembre-se do contexto do livro de Colossenses.
Várias filosofias e ismos haviam invadido a igreja em
Colossos. Não creio que todos os santos em Colossos
tivessem adotado a mesma filosofia. Pelo contrário,
creio que alguns apreciavam o pensamento filosófico
grego puro, enquanto outros preferiam a filosofia
egípcia ou a babilônica. Duvido que até mesmo na
questão do ascetismo todos tivessem o mesmo ponto
de vista. Nada causa mais divisão ou dissensão do que
opiniões acerca do ascetismo. Não havia uma divisão
real na igreja em Colossos, mas sem dúvida havia
dissensão. Os irmãos não eram de fato um. Como
resultado, não estavam em paz.
Depois que escreveu sobre o Cristo
todo-inclusivo e sobre o novo homem em quem Cristo
é tudo em todos e no qual não há lugar para grego,
judeu ou outras distinções culturais, Paulo exortou os
santos a prestar atenção à paz de Cristo. Em nosso
interior todos temos algo chamado a paz de Cristo.
Essa é a paz sobre a qual Paulo fala em Efésios 2:15,
onde diz que de dois povos Cristo criou, em Si
mesmo, um novo homem. Ao fazer isso, Cristo fez a
paz. Essa é a mesma paz de Colossenses 3:15.
Um só novo homem foi criado a partir de cristãos
de diferentes antecedentes culturais e nacionalidades.
A unidade do novo homem produz uma paz real. Fora
de Cristo e da igreja, pessoas de diferentes Taças e
nacionalidades não conseguem ser realmente um.
Nós, na restauração do Senhor, somos um porque
estamos em Cristo e na igreja. Estamos no novo
homem, onde não há grego, judeu, circuncisão nem
incircuncisão. No novo homem não há raças, classes
ou nacionalidades; há unidade, pois Cristo é tudo e
em todos. Essa unidade é nossa paz. A paz de Cristo
em Colossenses 3:15 é simplesmente a unidade
pacífica no novo homem.
Precisamos compreender essa questão da paz de
Cristo em relação ao contexto no qual a Epístola aos
Colossenses foi escrita. Diversos aspectos da cultura
haviam sido introduzidos na vida da igreja. Alguns
cristãos judeus eram a favor de observar o sábado;
também defendiam regulamentos a respeito de
alimentos. Sem dúvida, os cristãos com passado
grego não apreciavam essas coisas. Mas, por sua vez,
trouxeram o tipo de filosofia que apreciavam. Por
certo, os cristãos judeus não aceitaram isso. Por
conseguinte, houve perda da paz de Cristo na
experiência deles. Em vez de prevalecer a paz de
Cristo, prevaleciam entre eles os conceitos filosóficos
gregos e as práticas judaicas. Assim, havia em
Colossos pelo menos dois partidos: o filosófico e o
judaico. Portanto, era necessário um árbitro. Esse
árbitro não era um irmão da igreja, mas a própria paz
de Cristo, que é a unidade do novo homem, o Corpo.
Já enfatizamos diversas vezes que no novo
homem não pode haver grego nem judeu. A filosofia
grega e as observâncias judaicas não devem ser
introduzidas. No novo homem Cristo é tudo e em
todos. Além disso, a unidade do novo homem, a paz
de Cristo, deve ser preservada.
Devemos permitir que a paz de Cristo seja o
árbitro em nosso coração. Todas as partes devem
atentar para a palavra do árbitro. Você percebe que
tem um árbitro dentro de si? Em Colossenses vemos
claramente que a paz de Cristo é nosso árbitro
interior, que deve resolver todas as nossas disputas
interiores. Por exemplo, pode ser que alguns irmãos
chineses gostem de visitar Chinatown, um bairro
onde tudo é chinês. Todavia, ao fazê-lo, podem não
ter paz; pode ser que experimentem uma
desaprovação interior. Portanto, é necessário que
prestem atenção ao árbitro, à paz de Cristo que
preside neles. Sempre que sentimos diferentes
partidos em nosso interior discutindo ou brigando,
precisamos dar lugar à paz governante de Cristo e
permitir que ela, que é a unidade do novo homem,
nos governe. Deixe essa paz, essa unidade, ter a
palavra final.

IV. HABITE EM NÓS A PALAVRA DE CRISTO

No versículo 16, Paulo prossegue: “Habite,


ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e
aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria,
louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos
espirituais, com gratidão, em vosso coração”. A
palavra de Cristo é a palavra falada por Cristo. Em
Sua economia neotestamentária, Deus fala no Filho, e
o Filho fala não só diretamente nos Evangelhos, mas
também por meio de Seus membros, os apóstolos e
profetas, em Atos, nas Epístolas e em Apocalipse.
Tudo isso deve ser considerado Sua palavra.
Nesta passagem, o encher da vida espiritual que
transborda em louvor e cânticos está relacionado com
a Palavra, ao passo que em sua passagem paralela,
Efésios 5:18-20, o encher da vida espiritual está
relacionado com o Espírito. Isso indica que a Palavra
e o Espírito são idênticos (10 6:63b). Uma vida cristã
normal deve ser cheia da Palavra para que o Espírito
borbulhe do nosso interior em melodias de louvor.
Colossenses se concentra em Cristo como a
Cabeça e nossa vida. A maneira de Ele exercer Seu
encabeçamento e ministrar Suas riquezas a nós é a
palavra. Portanto, a ênfase está na palavra de Cristo.
Efésios diz respeito à igreja como o Corpo de Cristo. A
maneira de termos uma vida normal da igreja é ser
enchi dos no espírito até toda a plenitude de Deus.
Assim, a ênfase é o Espírito. Em Efésios, tanto o
Espírito Santo como o nosso espírito são enfatizados
diversas vezes. Até mesmo a Palavra é considerada
como o Espírito (Ef 6:17). Em Colossenses, o Espírito
Santo é mencionado somente uma vez (1:8), bem
como o espírito humano (2:5). Em Efésios a Palavra é
para purificar lavando a nossa vida natural (5:26) e
para lutar contra o inimigo (6:17), ao passo que em
Colossenses a Palavra é para revelar Cristo (1:25-27)
em Sua preeminência, central idade e universalidade.
Já dissemos que em Efésios a ênfase está no
Espírito, enquanto em Colossenses a ênfase está na
Palavra. Efésios se preocupa com nosso viver, mas
Colossenses cuida da revelação de Cristo. A
preocupação de Paulo em Colossenses é a revelação
de Cristo para o pleno conhecimento. Para isso
precisamos da palavra de Cristo.
A palavra de Cristo inclui todo o Novo
Testamento. Precisamos ser preenchidos dessa
palavra. Isso quer dizer que devemos permitir que ela
habite, permaneça e faça morada em nós. A palavra
grega traduzida por habitar significa estar em casa,
morar. A palavra do Senhor deve ter espaço
adequado em nós para operar e ministrar as riquezas
de Cristo ao nosso ser interior. Além disso, a palavra
de Cristo deve habitar ricamente em nós. As riquezas
de Cristo (Ef 3:8) estão em Sua palavra. Quando tal
palavra rica habita em nós, precisa habitar ricamente.
A palavra de Cristo deve ter livre trânsito em nós. Não
devemos simplesmente recebê-la e então confiná-la a
uma pequena área do nosso ser. Pelo contrário, ela
deve ter plena liberdade para operar em nosso
interior. Dessa forma ela habitará e fará morada em
nós.
Aprecio a habilidade de Paulo como escritor. Ele
enfatiza, por um lado, a paz de Cristo, e, por outro, a
palavra de Cristo. Alguns podem achar que se o nosso
espírito está vivo, tudo está bem. Talvez você não
tenha percebido a necessidade de a paz de Cristo
arbitrar no seu interior e de a palavra de Cristo
habitar no seu coração. Se permitirmos que essas
duas coisas ocorram, seremos cristãos adequados.
Em vez de nossa preferência teremos a arbitragem de
Cristo. Em vez de nossa opinião, conceito,
pensamento e apreço, teremos a palavra de Cristo.
Alguns irmãos amam a Bíblia e a lêem
diariamente; mas em seu viver são seus conceitos,
opiniões e filosofias que se movem neles, e não a
palavra de Cristo. Podem estudar a Bíblia, mas não
permitem que a palavra de Cristo habite neles.
Tampouco permitem que ela se mova, aja e exista
neles. Como resultado, o que prevalece são suas
filosofias, e não a palavra de Cristo. Embora leiam a
Bíblia, a palavra de Deus permanece fora deles. É
crucial que deixemos a palavra de Cristo entrar e
habitar em nós, e substituir nossos conceitos,
opiniões e filosofias. Precisamos orar: “Senhor Jesus,
estou disposto a abandonar os conceitos. Quero que
Tua palavra tenha lugar em mim. Estou disposto a
esquecer as opiniões e filosofias. Quero que Tua
palavra prevaleça em mim. Não quero mais que meus
conceitos prevaleçam”.
Não podemos separar a palavra de Cristo do Seu
arbítrio. O árbitro resolve uma disputa proferindo
palavras. Precisamos levar o nosso caso ao árbitro e
ouvir sua palavra. Isso quer dizer que precisamos
permitir que a paz de Cristo arbitre em nosso coração
e a palavra de Cristo habite em nós. Então seremos
cheios de cânticos e de ações de graças.
De acordo com o versículo 16, quando a palavra
de Cristo habita ricamente em nós, instruímos e
admoestamos uns aos outros com salmos, hinos e
cânticos espirituais, cantando a Deus com graça em
nosso coração. Instruir, admoestar e cantar estão
relacionados com o verbo habitar. Isso indica que a
maneira de deixar a palavra do Senhor habitar
ricamente em nós é ensinar, admoestar e cantar.
Devemos instruir e admoestar não só em palavras,
mas também em salmos, hinos, e cânticos espirituais.

V. FAZER TUDO NO NOME DO SENHOR


JESUS

No versículo 17, Paulo diz: “E tudo o que fizerdes,


seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do
Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai”. O
nome denota a pessoa. A Pessoa do Senhor é o
Espírito (2Co 3:17a). Fazer coisas no nome do Senhor
é agir no Espírito. Isso é viver Cristo.
Vimos que, sendo o novo homem, somos um com
Cristo, e nosso viver deve ser em união com Ele. Para
viver dessa maneira, precisamos permitir que a paz
de Cristo seja o árbitro em nosso interior. Essa paz
deve ter a última palavra e tomar a decisão final.
Quando permitimos que ela seja o árbitro em nós,
devemos simultaneamente permitir que a palavra de
Cristo habite e tenha total liberdade para operar em
nós. Se a paz de Cristo arbitrar em nós e a Sua palavra
habitar em nós, teremos um viver adequado, como
descreve 3:18-4:1. Seremos maridos, esposas, pais,
filhos, servos e mestres adequados. O que precisamos
hoje é viver em união com Cristo, ser governados pela
Sua paz e habitados pela Sua palavra.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM TRINTA

O VIVER DOS SANTOS EM UNIÃO COM CRISTO:


EXPRESSAR CRISTO NA VIDA HUMANA, ORAR COM
PERSEVERANÇA, E ANDAR EM SABEDORIA

Leitura Bíblica: Cl 3:18-4:6

Nesta mensagem vamos considerar 3:18-4:6.


Esse trecho de Colossenses contém questões cruciais
para nossa vida cristã. Não devemos isolá-lo dos
capítulos e versículos anteriores. Pelo contrário,
precisamos ver que é continuação de tudo o que Paulo
abordou. Já salientamos repetidas vezes que
Colossenses revela quem é e o que Cristo é. Por fim,
em 3:10-11 vemos que Cristo é o novo homem. Desse
modo, nós e Cristo somos um. Esse é o ponto básico e
mais crucial nesse livro.
Nos capítulos um e dois, Paulo aborda muitos
aspectos de Cristo. Ele é a porção dos santos, a
imagem do Deus invisível, o Primogénito da criação,
o Primogénito dentre os mortos, Aquele em quem
habita a plenitude do Deus Triúno, o mistério da
economia de Deus, o mistério de Deus, a esperança
da glória que habita em nós e Aquele em quem estão
ocultos todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento. No capítulo dois, Paulo declara que
Cristo é a realidade de todas as sombras. Visto que tal
Cristo é tudo e em todos no novo homem, do qual
somos parte, Cristo por fim toma-se nós. Nós e Cristo
somos um. O objetivo supremo de Deus em Sua
economia é ganhar esse novo homem constituído do
Cristo preeminente, todo-inclusivo, trabalhado em
um povo corporativo. Todos precisamos ter tal visão
elevada da economia de Deus. De acordo com essa
visão, nós e Cristo somos um, pois temos uma só vida
com um só viver.
A intenção de Paulo ao escrever aos colossenses
era impressioná-los com o fato de que Cristo é tudo.
Os cristãos judeus devem esquecer as ordenanças e
observâncias, e os cristãos gentios devem pôr de lado
os conceitos filosóficos. Não fomos regenerados para
tais observâncias e conceitos; fomos regenerados
para Cristo. Agora precisamos ser preenchidos,
saturados e permeados de Cristo, até que Ele se torne
nós.
Já enfatizamos que na economia de Deus há
somente uma Pessoa: Cristo; e um só caminho: a
cruz. Por meio dessa única Pessoa e desse único
caminho, Deus ganhará o novo homem. O novo
homem é Cristo constituído em nosso interior. Por
um lado, o novo homem é Cristo; por outro, nós, os
cristãos, somos o novo homem. Por esse motivo, no
novo homem, Cristo e nós somos um.
Sendo parte do novo homem, precisamos que a
paz de Cristo seja o árbitro em nosso interior e a
palavra de Cristo habite ricamente em nós. Se isso
ocorrer, espontaneamente expressaremos Cristo no
viver diário. Isso quer dizer que O manifestaremos,
pois somos um com Ele, temos Sua paz e Sua palavra.
Portanto, tomamo-nos a Sua expressão de forma
prática.

I. EXPRESSAR CRISTO NA VIDA HUMANA

Deus deseja que Cristo seja expresso por meio da


vida humana. Vemos isso em 3:18-4:1, uma passagem
paralela a Efésios 5:22-6:9, que diz respeito ao
relacionamento ético dos cristãos. Em Efésios a
ênfase está na necessidade de um relacionamento
ético cheio do Espírito para a expressão do Corpo na
vida normal da igreja. Em Colossenses a ênfase é que
devemos reter Cristo como a Cabeça e tomá-Lo como
vida tendo Sua rica palavra a habitar em nós, para
que o relacionamento ético mais elevado, não
resultante da vida natural, mas de Cristo como nossa
vida, seja manifestado para Sua expressão.
Se vivermos em união com Cristo, Ele será
expresso por meio da nossa humanidade. Cristo deve
ser expresso na vida humana, e não na vida angélica.
Os anjos não podem expressar Cristo. O Pai ordenou
que nós, Seus escolhidos, sejamos a expressão do Seu
Filho. “Vive, Senhor Jesus, por meio de mim”6, deve
ser nossa oração.
Se quisermos ser pessoas pelas quais Cristo pode
viver, precisamos passar pelos primeiros dois
capítulos e meio de Colossenses. Então, chegando a
3:15-16, precisamos ser pessoas nas quais a paz de
Cristo é o árbitro e Sua palavra habita ricamente.
Cristo então será expresso em nosso viver humano.
Muitos praticantes do hinduísmo, budismo e

6
Extraído do hino 403, do Hymns, publicado pelo Living Stream Ministry. (N.T.)
catolicismo dão pouca importância à vida humana.
Não se importam com o casamento nem com a vida
familiar adequada. Preferem não casar e aspiram
viver um tipo de vida angélica. Contudo, a vida
angélica não pode expressar Cristo. Pelo contrário,
Cristo precisa ser expresso em maridos, esposas, pais,
filhos, mestres e servos. Para expressar Cristo
precisamos ter uma vida humana normal e adequada.
Sendo uma pessoa idosa com oito filhos e mais
de vinte netos, posso testificar que o Senhor sabe
escolher o melhor marido ou mulher para nós e o tipo
de filhos que devemos ter. Ele também sabe como
quebrantar-nos e fazer-nos transparentes para que
expressemos Cristo. Na vida familiar aprendemos
muitas lições valiosas do Senhor. Creio que os anjos
observam para ver se expressamos ou não Cristo na
vida familiar. Expressar Cristo na igreja não é tão
difícil quanto expressá-Lo em casa. Que maravilha é
alguém expressar Cristo na vida conjugal! Ninguém
na restauração do Senhor deve aspirar viver como
monge ou freira. Na hora certa, os irmãos devem
casar e então aprender, por meio das experiências da
vida conjugal, a expressar Cristo no viver humano.
O viver dos santos em união com Cristo deve
resultar na expressão de Cristo na vida humana. Se
enxergarmos isso, louvaremos o Senhor pelo viver
humano. Além disso, nosso apreço pela vida conjugal
será renovado. Posso testificar que sou grato pela
minha esposa, filhos e netos. Sou grato por todas as
lições que o Senhor me ensinou por meio deles.
Quanto mais envelheço, mais aprecio as lições que
tenho aprendido no curso da vida humana. Na
relação marido-mulher e pai-filho, precisamos
aprender a manifestar Cristo e expressá-Lo.
O princípio é o mesmo na relação senhor-servo.
Nos versículos 22 a 25 Paulo exorta os servos. No
versículo 24 ele fala de receber “a recompensa da
herança”. Esse ponto não é tão claro em Efésios 6:8
como é aqui. Há uma herança para os cristãos (Rm
8:17; At 26:18; 1Pe 1:4). A recompensa da herança
indica que o Senhor usa a herança que dará aos Seus
crentes como incentivo para que sejam fiéis no
serviço a Ele. Os infiéis com certeza perderão essa
recompensa (Mt 24:45-51; 25:20-29).

II. ORAR COM PERSEVERANÇA E ANDAR


EM SABEDORIA

A. Perseverar em Oração

Em Colossenses 4:2-4, Paulo se volta para a


questão da oração. No versículo 2, ele diz: “Perseverai
na oração, vigiando com ações de graça”. Perseverar é
continuar persistente, firme e fervorosamente. Na
oração precisamos ser vigilantes e alertas, e não
negligentes. Essa vigilância deve ser acompanhada
por ações de graça.
Se quisermos expressar Cristo no viver humano e
preservar a graça que recebemos do Senhor,
precisamos perseverar em oração. Se despendermos
tempo considerando a revelação do Cristo
todo-inclusivo em Colossenses, com certeza
receberemos graça do Senhor. Por fim, veremos que
nós e Cristo somos um, que Sua paz é o árbitro em
nós e que Sua palavra nos preenche. Então seremos
capazes de manifestá-Lo e expressá-Lo. Entretanto,
não importa quanta graça tenhamos recebido do
Senhor, ela se escoará se não perseverarmos em
oração. Somente a oração pode manter a graça que
recebemos; somente pela oração essa graça pode
tornar-se prevalecente e viva na experiência. Com
certeza, a vida cristã é uma vida de receber graça;
contudo, precisa ser sustentada pela oração.
O ponto mais importante na preservação da vida
física é respirar. Respirar é mais importante até
mesmo do que comer e beber. Podemos passar dias
sem comer ou beber, mas somente alguns minutos
sem respirar. Oração é a respiração espiritual. Orar é
respirar.
Quando alguns santos ouvem algo sobre oração,
imediatamente perguntam como orar. Devemos
esquecer como orar e simplesmente orar. Por
exemplo, uma criança aprende a andar andando.
Poucos pais ensinam os filhos a andar. No mesmo
princípio, aprendemos a orar orando.
Em 4:2 Paulo nos exorta a perseverar em oração.
Isso quer dizer que não devemos meramente
continuar orando, mas lutar para continuar. Quase
tudo ao redor é contrário à oração. Para orar
precisamos ir contra a maré, a corrente do ambiente.
Se deixarmos dê orar seremos levados corrente
abaixo. Somente a oração pode capacitar-nos a
avançar contra a corrente. Portanto, precisamos
perseverar em oração, orar persistentemente.
Dia a dia precisamos exercitar-nos na oração.
Devemos até mesmo reservar certos períodos todo
dia para isso. Não se desculpe dizendo que não tem
encargo de orar. Ore até mesmo quando parece não
ter encargo, ou quando aparentemente nada tem a
dizer ao Senhor. Você tem muito para dizer aos
outros. Por que não ir ao Senhor e dizer-Lhe as
mesmas coisas que diz às pessoas? Se não souber o
que dizer ao Senhor, ore assim: “Senhor, venho a Ti,
mas não sei o que dizer e não sei como orar.
Ensina-me a orar e diga-me o que dizer. Senhor,
nessa questão, tenha misericórdia de mim”. Se fizer
isso descobrirá que, freqüentemente, quando ora
assim, surgirão orações autênticas. Quando você
sente que tem encargo para orar, sua oração pode não
ser genuína. Contudo, quando vai ao Senhor em
oração mesmo sem encargo, dizendo-Lhe que nada
tem a dizer, será refrescado no Senhor e capaz de orar
genuinamente. Quando nos abrimos ao Senhor e
admitimos que não sabemos o que dizer, respiramos
ar espiritual fresco e somos preservados na graça do
Senhor.
Paulo também nos encoraja a vigiar em oração.
Precisamos ser vigilantes contra o inimigo. Não
sabemos o que vai acontecer nos próximos minutos.
Precisamos ser vigilantes porque a vida cristã é uma
vida de luta, de guerra.

B. Andar em Sabedoria

Em 4:5-6 Paulo diz: “Andai em sabedoria para


com os que estão de fora, remindo o tempo. A vossa
conversa seja sempre com graça, temperada com sal,
para saberdes como deveis responder a cada um”
(TB). Remir o tempo é aproveitar toda oportunidade
favorável para ministrar vida.
Isso é ser sábio no andar. Nesta era maligna
todos os dias são malignos, cheios de coisas
perniciosas que destroem, estragam e desperdiçam o
tempo. Por isso precisamos andar sabiamente para
remir o tempo, aproveitando todas as oportunidades.
Andar em sabedoria é agarrar todas as
oportunidades para remir nosso tempo; remir o
tempo relaciona-se com a maneira de falar com os
outros. Freqüentemente preciso confessar ao Senhor
minha insensatez ao conversar com as pessoas;
desperdicei tempo falando com elas de certa maneira.
Não usei sabedoria suficiente para ministrar vida e,
assim, evitar atritos; em vez disso, desperdicei tempo
envolvendo-me em conversas sem dispensação de
vida. Precisamos orar para que o Senhor nos conceda
sabedoria ao contatar os outros. Se andarmos em
sabedoria ao falar com as pessoas, remiremos o
tempo. Todos temos perdido oportunidades de
ministrar vida porque desperdiçamos tempo em
conversas tolas.
A melhor maneira de remir o tempo é orar com
perseverança, ser vigilante e andar em sabedoria. Se
fizermos isso, agarraremos todas as oportunidades
favoráveis para ministrar vida. Se não perseverarmos
em oração nem formos vigilantes, falharemos em
aproveitar as oportunidades para ministrar vida.
Sempre que contatamos as pessoas sem exercitar
sabedoria desperdiçamos tempo. Às vezes podemos
desperdiçar meia hora de conversa em que nada de
vida é ministrado. Todos precisamos aprender a orar,
a vigiar, e a buscar o Senhor para que Ele nos dê Sua
sabedoria, a fim de remir o tempo.
No versículo 6 Paulo diz: “A vossa conversa seja
sempre com graça, temperada com sal, para saberdes
como deveis responder a cada um” (TB). Em Efésios
4:29 Paulo refere-se a palavras que dão graça a quem
ouve. Graça é Cristo como nosso desfrute e
suprimento. Nosso falar deve transmitir essa graça às
pessoas. Palavras que edificam os outros sempre
ministram graça aos que ouvem. Nosso falar ser com
graça significa que Cristo é expresso por intermédio
das palavras. Isso quer dizer que as nossas palavras
devem ser a expressão e o falar de Cristo. Toda
palavra deve ser a expressão de Cristo como graça.
Nosso falar deve também ser temperado com sal;
o sal torna as coisas apetitosas e agradáveis ao
paladar. Palavras temperadas com sal mantêm-nos
em paz uns com os outros (Mc 9:50). Se nossas
palavras forem com graça e com sal, farão com que as
coisas sejam agradáveis, e também despertarão o
sabor apropriado nos outros.
Em 4:2-6 Paulo aborda cinco pontos
importantes: orar, vigiar, andar em sabedoria, remir
o tempo e um falar com graça e temperado com sal. É
difícil determinar se o ponto principal nesses
versículos é oração ou remir o tempo. Contudo, não
importa qual deles tomemos como ponto central, é
fato que a vida cristã adequada exige que redimamos
o tempo. Hoje todos sobre a terra desperdiçam tempo
e perdem oportunidades valiosas; precisamos remir
cada momento e agarrar cada oportunidade. Para
viver tal vida, precisamos ser preenchidos e saturados
de Cristo. Precisamos ser um com Cristo e permitir
que Sua paz seja o árbitro em nós e Sua palavra nos
preencha. Então O expressaremos orando, vigiando e
andando em sabedoria. Se formos tais pessoas,
remiremos o tempo e agarraremos todas as
oportunidades disponíveis para ministrar vida. Além
disso, nossas palavras não causarão problemas. Pelo
contrário, por meio do tratamento minucioso do
Senhor, de nossa boca só sairão palavras de graça
temperadas com sal. Tais palavras tornarão as coisas
prazerosas e agradáveis ao paladar. Que todos
aprendamos essas coisas e as pratiquemos!
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM TRINTA E UM

CONCLUSÃO

Leitura Bíblica: Cl 4:7-18

Nesta mensagem chegamos à conclusão do livro


de Colossenses, que é 4:7-18.
Os versículos 7 a 17 contêm a comunhão de
Paulo, e o versículo 18, a saudação. Várias vezes
perguntei-me por que um trecho tão longo dessa
epístola é dedicado a essa conclusão. Por que Paulo
não usou esses versículos para dizer algo mais sobre o
Cristo todo-inclusivo? Considerando a revelação
desse livro como um todo, o espaço dedicado à
conclusão parece fora de proporção. Depois de nos
dizer que nossa palavra deve ser sempre com graça,
temperada com sal, Paulo poderia simplesmente ter
concluído a Epístola com as palavras do versículo 18,
eliminando assim todos os detalhes registrados
nesses versículos. Ele, contudo, não fez isso; antes de
concluir, ele diz aos colossenses que Tíquico, um
amado irmão e fiel ministro, lhes informaria de tudo
a seu respeito; que lhes enviara Tíquico junto com
Onésimo para isso mesmo; que Aristarco, o
companheiro de prisão de Paulo, os saudava; que
Marcos, o primo de Barnabé, deveria ser acolhido por
eles; que Jesus, conhecido por Justo, também os
saudava; que Epafras lutava por eles nas orações; que
Lucas e Demas enviavam suas saudações; que
deveriam saudar os irmãos em Laodicéia, fazer com
que essa epístola fosse lida na igreja dos laodicenses,
e ler a epístola de Laodicéia; e que deveriam dizer a
Arquipo para atentar para o ministério que recebera
no Senhor.
Se o livro de Colossenses não abordasse questões
tão importantes, eu entenderia porque Paulo
despendeu tanto tempo mencionando as coisas
relatadas em 4:7-17. Contudo, considere o contraste
entre os aspectos elevados de Cristo revelados nesse
livro e a comunhão de Paulo no final do capítulo
quatro. Não obstante, esses versículos escritos por ele
são parte das Escrituras e não podem ser abordados
levianamente. Portanto, é importante compreender
por que estão incluídos no final desse livro.
APLICAÇÃO

Se considerarmos esses versículos à luz de toda a


Epístola, perceberemos que são uma aplicação do que
Paulo aborda nesse livro. Podemos considerar esses
versículos uma janela pela qual vemos a situação
entre as igrejas na região do Mediterrâneo naquela
época. O que vemos é o viver prático do novo homem.
Em 3:11 lemos que no novo homem “não pode haver
grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão,
bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em
todos”. Em 4:7-17, temos uma ilustração prática da
revelação do novo homem dada em 3:1 0-11. Esses
versículos mencionam diferentes pessoas: judeus,
gregos, circuncisão, incircuncisão, escravos e
mestres. Em 4:11 Paulo se refere aos da circuncisão.
Onésimo, que havia se tornado um “fiel e amado
irmão” (v. 9), era um escravo pertencente a Filemom,
que era pai de Arquipo (Fm 10-13, 1-2). Arquipo,
portanto, era um senhor, ou amo. Assim, o propósito
de Paulo nesses versículos é apresentar uma
ilustração do viver do novo homem.

A CONSCIÊNCIA DO NOVO HOMEM


Essa epístola foi enviada de Roma a Colossos. Na
antigüidade, essa era uma longa jornada. Na região
entre Roma e Colossos havia muitos povos. Todavia,
nesta região próxima do Mediterrâneo, o novo
homem veio a existir e vivia de forma prática. Embora
viajar não fosse fácil, havia um trânsito considerável
entre as igrejas. Há uma lição para nós aqui. Embora
tenhamos todas as facilidades e meios de transporte
modernos, pode não haver tanto trânsito entre as
igrejas como havia na época de Paulo. Além disso,
tenho de admitir que nunca escrevi uma carta
contendo tantas saudações pessoais como há em
Colossenses. Considere quantos nomes são
mencionados em 4:7-17: Tíquico, Onésimo, Aristarco,
Marcos, Barnabé, Justo, Epafras, Lucas, Demas,
Ninfa e Arquipo. Paulo também se refere aos irmãos
em Laodicéia, à igreja na casa de Ninfa e à igreja dos
laodicenses. (A igreja na casa de Ninfa era a igreja
local em Laodicéia; reunia-se em sua casa.) Todos
esses nomes indicam que Paulo possuía um
sentimento, uma consciência do novo homem.
Esse novo homem, que vivia na terra de forma
prática, era constituído de pessoas que, de acordo
com a cultura e status social, eram gregos, judeus,
circuncisão, incircuncisão, bárbaros, citas, escravos e
livres. Entretanto, como já enfatizamos, o verdadeiro
elemento constituinte do novo homem é Cristo e
somente Cristo. Visto que Ele é o único elemento
constituinte do novo homem, não deve haver
diferença entre os membros que compõem o novo
homem.
Além disso, não deve haver diferença entre as
igrejas: por exemplo, nenhuma diferença entre a
igreja em Laodicéia e a igreja em Colossos. Isso é
provado pelo que Paulo diz a respeito da leitura das
cartas: “E, uma vez lida esta epístola perante vós,
providenciai por que seja também lida na igreja dos
laodicenses; e a dos de Laodicéia, lede-a igualmente
perante vós” (4:16). O que Paulo escreveu aos
colossenses era também para os laodicenses, e o que
escrevera aos laodicenses era para os colossenses.
Que comunhão, unidade, harmonia e contato íntimo
isso indica!
Em 4:7 Paulo diz: “Quanto à minha situação,
Tíquico, irmão amado, e fiel ministro, e conservo no
Senhor, de tudo vos informará”. Paulo encarregara
Tíquico de informar aos colossenses tudo sobre sua
situação. Se ele não tivesse consciência do novo
homem, não teria considerado necessário dar a
Tíquico tal incumbência. Em vez disso, poderia ter
pensado consigo mesmo: “Por que eu deveria contar,
aos colossenses as coisas a meu respeito? Eles estão
na Ásia Menor, e eu em Roma, muito longe deles”.
Paulo, contudo, tinha o sentimento do novo homem.
Os colossenses também tinham consciência do
novo homem expresso naquela época na área do
Mediterrâneo. Se não a tivessem, teriam considerado
os assuntos de Paulo questões pessoais dele, e não
estariam interessados em ouvi-las. Mas tanto os
santos em Colossos como Paulo e os que estavam com
ele eram membros do novo homem na prática.

UM RETRATO DO NOVO HOMEM

Quando lemos esses onze versículos,


descobrimos um retrato detalhado do novo homem
vivendo na área do Mediterrâneo. A existência e o
viver do novo homem de forma prática é de tremendo
significado. O Império Romano cobria uma vasta área
e abrangia muitos povos. Na tentativa de unificar
culturalmente os povos, o Império Romano usou a
língua grega. Entretanto, não foi bem-sucedido nisso;
as diferenças entre as nações, raças e classes sociais
permaneceram. Os judeus ainda eram judeus e os
gregos ainda eram gregos. A distinção entre escravos
e mestres de forma alguma fora eliminada. Mas
apesar de todas as diferenças entre nacionalidades,
raças e classes, havia na terra, de forma prática, o
novo homem criado em Cristo Jesus. Não havia
meras igrejas em diversas cidades; havia um novo
homem de forma real e prática.
É vergonhoso para uma igreja isolar-se das
demais. Como é errada a atitude de nos separar de
outras igrejas locais, temendo que elas interfiram em
nossos assuntos ou nos perturbem. Isso é totalmente
contrário à consciência do novo homem. Qualquer
igreja que mantenha tal atitude só tem consciência de
si mesma, e não da totalidade do novo homem. Os
que insistem nessa atitude fazem com que o novo
homem seja fragmentado, partido em pedaços.
Entretanto, muitas igrejas e muitos cristãos
individuais têm a atitude de que deixarão os outros
em paz se os outros os deixarem em paz. Não se
importam com a igreja em outras cidades e não
querem que outras igrejas se envolvam com eles.
Quem tem essa atitude não possui o sentimento, a
consciência do único novo homem. Louvado seja o
Senhor pelo retrato do viver do novo homem nesses
versículos! Por meio desses versículos vemos a
expressão prática do novo homem.

PERTENCER À IGREJA EM TODA PARTE

Secretamente, muitos acham que a igreja em sua


cidade é melhor do que a igreja em outras cidades.
Não têm a percepção de que, embora estejam numa
igreja específica, pertencem à igreja em toda parte.
Posso testificar que, se me perguntarem onde está
minha igreja, responderei que está em toda parte.
Minha igreja está em qualquer cidade na qual estou
em dado momento. Agora estou em Anaheim; assim,
minha igreja está em Anaheim. Contudo, em alguns
dias poderei estar em outra cidade, Então minha
igreja será a igreja ali.
Em 1977 visitei a igreja em Tóquio. Enquanto os
irmãos me mostravam seu novo local de reuniões
disseram-me que bem ao lado havia um terreno
disponível. Imediatamente os encorajei a orar sobre a
possibilidade de adquirir aquela propriedade para
uso da igreja. Embora eu vivesse em Anaheim e fosse
parte da igreja em Anaheim, minha preocupação
nessa hora era pela igreja em Tóquio. Encorajei-os
dizendo que o Senhor certamente lhes proveria os
meios de construir um local de reuniões maior em
Tóquio, embora naquela cidade os terrenos fossem
extremamente caros. Quando tive consciência da
necessidade em Tóquio, meu coração encheu-se de
sentimento. O motivo disso é que minha igreja é a
igreja em toda a parte. Todas as igrejas na terra
compõem o único novo homem.
Quando lemos a conclusão do livro de
Colossenses vemos que o que estava no coração de
Paulo não era apenas uma igreja local ou
determinado irmão, mas o único novo homem. Paulo
conhecia muitos irmãos. Mas nos versículos
dedicados à comunhão ele menciona alguns como
representantes dos diversos povos que, com Cristo
como elemento constituinte, formam o novo homem.
Desse modo ele apresenta um quadro completo do
viver do novo homem. Meu encargo nesta mensagem
é que sejamos impressionados com esse ponto
crucial.

NÃO SECTÁRIO

Se tivermos consciência do novo homem, não


acharemos que as igrejas em nosso país não têm nada
a ver com as igrejas em outras nações. Pelo contrário,
perceberemos que todas as igrejas são o único novo
homem hoje. Que todos olhemos para o Senhor a fim
de não ser sectários de forma alguma. Não devemos
ser sectários individualmente como cristãos nem
corporativamente como igrejas locais. Pelo contrário,
todos nós, os santos em todas as igrejas, somos um só
novo homem. Se na época de Paulo, quando viajar
não era fácil, havia trânsito entre as igrejas, quanto
mais deveria haver hoje, com todas as modernas
facilidades? Por meio do trânsito entre as igrejas
experimentamos de forma prática o viver do novo
homem.

A SAUDAÇÃO DE PAULO

Depois de sua comunhão o apóstolo Paulo saúda


os santos de próprio punho e pede-lhes que se
lembrem das suas algemas (v. 18). Ele conclui essa
Epístola com as palavras: “A graça seja convosco”.
Isso indica que os santos precisam de graça a fim de
perceber e participar da todo-inclusividade de Cristo
como a porção deles para a vida prática do novo
homem.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM TRINTA E DOIS

VIVER CRISTO COMO O ELEMENTO CONSTITUINTE


DO NOVO HOMEM

Leitura Bíblica: Cl 3:4, 10-15; 1:25-27

O livro de Colossenses pode ser dividido em


quatro seções. A primeira é a introdução (1:1-8), e a
última, a conclusão (4:7-18). A segunda seção
(1:9-3:11) concentra-se em Cristo como Aquele que é
preeminente e todo-inclusivo, a centralidade e
universalidade de Deus. Essa seção é o centro da
Epístola aos Colossenses e contém seu tema. A
terceira seção (3:12--4:6) trata do viver dos cristãos
em união com Cristo. Primeiro temos nesse livro uma
revelação plena de Cristo; depois ele nos fala sobre o
tipo de viver que devemos ter em união com Cristo.
Se de fato conhecermos Cristo e O experimentarmos,
viveremos em união com Ele.

O NOVO HOMEM COM CRISTO COMO O


CONTEÚDO
Em 1:9-3:11 vemos sete aspectos principais de
Cristo: Ele é a herança dos santos (1:9-14), o primeiro
tanto na criação como na ressurreição (1:15-23), o
mistério da economia de Deus (1:24-29), o mistério
de Deus (2:1-7), o corpo ou a realidade de todas as
sombras (2:8-23), a vida dos santos (3:1-4), e o
elemento constituinte do novo homem (3:5-11). Esses
aspectos de Cristo são apresentados numa sequência
maravilhosa. Primeiro vemos que Ele é a herança dos
santos, e, por último, que é o elemento constituinte
do novo homem. Isso indica que o resultado final do
desfrute de Cristo como nossa herança é que O
experimentamos como o conteúdo e elemento
constituinte do novo homem. Sempre que
desfrutamos Cristo há um resultado definido, uma
conseqüência desse desfrute. Dizer que o desfrute de
Cristo como a herança dos santos resulta na
experiência de Cristo como o elemento constituinte
do novo homem indica que tal desfrute resulta na
vida da igreja. Contudo, devemos ser cautelosos para
não reduzir a profundidade da revelação em
colossenses. Paulo não nos diz de maneira elementar
que, se desfrutarmos Cristo, a igreja virá a existir. É
claro que isso é verdade, mas tal compreensão fica
aquém da revelação aqui. Cristo é a herança
todo-inclusiva dos santos, tipificada pela boa terra. Se
O desfrutarmos como tal herança, o resultado será o
novo homem com Cristo como o conteúdo. Por fim, o
Cristo que desfrutamos como herança torna-se o
elemento constituinte do novo homem. Nesse novo
homem Cristo é tudo e em todos. Portanto, é crucial
aprender a viver Cristo como o elemento constituinte
do novo homem.

A PAZ DE CRISTO

Se quisermos viver Cristo corno o elemento


constituinte do novo homem, precisamos ser
governados pela Sua paz (3:12-15) e habitados pela
Sua palavra (3:16-17). A paz de Cristo deve ser o
árbitro em nosso interior e a Sua palavra deve habitar
ricamente em nós. Como cristãos temos passados e
conceitos diferentes. Essas diferenças levam a
discordâncias entre nós; por isso há a necessidade de
um árbitro, que é a paz de Cristo. É crucial permitir
que a paz de Cristo governe em nosso coração e dê a
palavra final em qualquer controvérsia entre nós.
Se nos lembrarmos do contexto dessa Epístola,
veremos que havia partidos: um era a favor das
observâncias judaicas e outro favorecia o
gnosticismo. Essas preferências deram margem a
opiniões conflitantes. Por causa disso Paulo lhes disse
que a paz de Cristo deveria ser o árbitro no coração. O
árbitro não deveria ser as opiniões, conceitos,
escolhas ou preferências, e, sim, a paz de Cristo, para
a qual fomos chamados em um só Corpo.
Já ressaltamos que a paz de Cristo é a própria paz
à qual Paulo se refere em Efésios 2:15, onde nos diz
que Cristo “aboliu, na sua carne, a lei dos
mandamentos na forma de ordenanças, para que dos
dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo
a paz”. Essa paz é a unidade do novo homem, o
Corpo. Abolindo as ordenanças, Cristo criou um novo
homem a partir de povos diferentes. Agora, em nós,
como membros do novo homem, há algo que Paulo
chama de a paz de Cristo. Portanto, essa paz é a
própria unidade do novo homem composto de
diferentes povos. Sem a obra de Cristo na cruz não
pode haver unidade entre esses povos. Pela morte,
porém, Cristo fez a paz, isto é, produziu a unidade.
Essa unidade do novo homem está agora em nós.
Precisamos permitir que ela arbitre em nosso
coração. Ela deve funcionar como juiz, resolvendo as
disputas entre diversas partes. Precisamos pôr de
lado as opiniões e conceitos, e ouvir a palavra do juiz
interior. Não há necessidade de brigar ou expressar
opiniões. Devemos simplesmente deixar que a paz de
Cristo tome a decisão final.
Suponhamos que vários jovens morem numa
casa de irmãos. Sempre que tiverem problemas por
viverem juntos, não devem discutir, e, sim, permitir
que a paz de Cristo seja o árbitro no coração. Devem
deixá-la ser o juiz que toma a decisão final. Dessa
forma viverão Cristo como o elemento constituinte do
novo homem . .

A PALAVRA DE CRISTO

Precisamos também permitir que a palavra de


Cristo habite, resida e faça morada em nós.
Precisamos estar dispostos a deixar de lado os
conceitos e opiniões, e dar lugar à palavra de Cristo.
Se quisermos que ela habite em nós, precisamos
esvaziar todo o nosso ser interior. Todas as partes
interiores (mente, emoção, vontade, coração e
espírito) devem estar vazias, disponíveis para ser
enchidas com a palavra de Cristo. Essa palavra deve
não apenas permanecer em nós; deve também
habitar em nós, fazendo morada em todas as partes
do nosso ser interior. Oh l que todos os espaços e
cantos do nosso ser sejam habitados pela palavra de
Cristo!
Se quisermos viver Cristo como o elemento
constituinte do novo homem, a paz de Cristo deve ser
o árbitro em nosso coração, e essa palavra deve ser o
conteúdo do nosso ser interior. Oramos para que
todos os santos na restauração do Senhor dêem lugar
à paz de Cristo como árbitro e deixem a palavra de
Cristo habitar neles.

COMPLETAR A PALAVRA DE DEUS

Já salientamos que a intenção de Paulo no livro


de Colossenses é completar a palavra de Deus. Esse
foi seu propósito principal ao escrever essa Epístola.
Em 1:25-26 Paulo diz: “Da qual me tornei ministro de
acordo com a dispensação da parte de Deus, que me
foi confiada a vosso favor, para dar pleno
cumprimento à palavra de Deus: o mistério que
estivera oculto dos séculos e das gerações; agora,
todavia, se manifestou aos seus santos”. [Dar pleno
cumprimento aqui também pode ser traduzido por
completar.] Esses versículos indicam que a palavra de
Deus completada por Paulo é o mistério agora
manifestado aos santos. Além disso, conforme o
versículo 27, esse mistério é Cristo em nós, a
esperança da glória. O objetivo desse mistério é gerar
a igreja.
Na época em que o livro de Colossenses foi
escrito, o judaísmo já existia havia séculos, e a igreja
já fora gerada. Contudo, embora a igreja já existisse, a
palavra de Deus ainda não havia sido completada.
Paulo estava incomodado com a situação em
Colossos. Os cristãos judeus e gentios negligenciavam
Cristo e a igreja; voltavam a atenção a coisas como
observâncias judaicas e filosofias pagãs. Muitas
pessoas, tanto judeus como cristãos, afirmavam que
conheciam Deus e O adoravam. Entretanto, Cristo era
negligenciado e a vida genuína da igreja era deixada
de lado. Portanto, Paulo escreveu a Epístola aos
Colossenses a fim de completar a palavra de Deus.
Em princípio, a situação hoje é a mesma da que
havia em Colossos quando Paulo escreveu aos irmãos
ali. O judaísmo e o cristianismo estão na terra há
séculos. Embora os judeus tenham o Antigo
Testamento e os cristãos tenham a Bíblia inteira,
pouquíssimas pessoas realmente experimentam
Cristo para a vida adequada da igreja. Cristo ainda é
negligenciado, e a vida da igreja ainda é ignorada.
Portanto, ainda há a necessidade de a palavra de
Deus ser completada de forma prática.
Que é a completação da palavra de Deus, a
completação da revelação divina? Em termos simples,
é experimentar Cristo subjetivamente e desfrutá-Lo
no viver diário para que a vida adequada da igreja
seja produzida a fim de expressar Deus. Essa
revelação é a completação da palavra de Deus.
Os cristãos hoje estão envolvidos em várias obras
para o Senhor, mas onde está a experiência de Cristo
e a prática da vida da igreja? Paulo sabia que nem o
judaísmo nem qualquer outra religião poderia
cumprir o desejo do coração de Deus. O desejo de
Deus é gerar a vida da igreja por meio da experiência
pessoal de Cristo em cada membro do Seu povo. Deus
deseja gerar um organismo, o Corpo de Cristo,
mediante a experiência de Cristo. Na época de Paulo
havia inúmeros judeus e também muitos cristãos.
Contudo, ao considerar a situação, talvez ele
indagasse: “Onde esta a experiência de Cristo? e onde
está a igreja para cumprir o desejo do coração de
Deus?” Devemos fazer as mesmas perguntas hoje.

EXPERIENCIAR CRISTO

Precisamos admitir que somos carentes da


experiência de Cristo. Fomos iluminados para ver que
Deus não deseja coisa alguma senão Cristo para a
vida da igreja. Na experiência, entretanto, ainda
carecemos de Cristo. Isso quer dizer que, num sentido
bem prático, também carecemos da completação da
palavra de Deus. Carecemos de Cristo para gerar a
igreja. Sabemos que uma só coisa importa: Cristo
para a Igreja. Contudo, ainda carecemos de Cristo.
Antes de poder ministrar Cristo aos outros,
precisamos ministrá-Lo a nós mesmos. Para isso,
precisamos despender mais tempo lendo-orando e
tendo comunhão sobre o livro de Colossenses. Se
fizermos isso, começaremos a experimentar as
riquezas de Cristo contidas nesse livro. Então
passaremos a ter a experiência correta de Cristo para
a vida adequada da igreja.
Devido ao fato de os colossenses não terem a
experiência adequada de Cristo para a vida da igreja,
coisas que não eram Cristo começaram a se infiltrar
na igreja. Ocorre o mesmo entre os cristãos hoje. O
povo de Deus tem certo conhecimento bíblico e
conhece Deus até certo ponto. Mas pouquíssimos
experimentam Cristo como o Espírito que dá vida de
maneira viva e prática no viver diário. E crucial que
tenhamos a experiência prática de Cristo revelada em
Colossenses. Precisamos desfrutar diariamente o
Cristo preeminente e todo-inclusivo, que é o
elemento constituinte do novo homem. Todos
precisamos orar para ter mais dessa experiência real e
viva diariamente. Se O experimentarmos na vida
diária, teremos mais para compartilhar de Cristo nas
reuniões da igreja. Então a vida da igreja será
enriquecida mediante nossa experiência de Cristo.
O PROBLEMA DA CULTURA7 HUMANA

O problema em Colossos não era o pecado, como


em Corinto; era a cultura humana. Ascetismo e
filosofia são dois dos principais produtos das diversas
culturas. Pessoas rudimentares são grosseiras,
totalmente destituídas de qualquer forma de
ascetismo. Além disso, quem é rudimentar, primitivo,
não tem filosofia. Quanto mais civilizada ou refinada
for uma pessoa, mais desenvolvida será sua filosofia.
O ponto forte dos gregos é a filosofia, ao passo que os
judeus são conhecidos pelas observâncias religiosas.
A maioria das observâncias religiosas está
relacionada com a repressão da carne e a supressão
do ego. A igreja em Colossos era composta de gregos e
judeus. O problema dos gregos era a filosofia, mas
dos judeus eram as práticas religiosas. Isso indica que
diversas práticas religiosas haviam invadido a vida da
7
A palavra cultura é usada exaustivamente nessa segunda parte do Estudo-Vida de Colossenses. Esse
termo não se refere à atividade e desenvolvimento intelectuais de 11/1/ indivíduo; saber. ilustração.
instrução, e, sim, ao processo ou estado de desenvolvimento social de um grupo. um povo, uma nação,
que resulta do aprimoramento de seus valores, instituições, criações, etc.; civilização, progresso (Dic.
Aurélio). Desse modo, para deixar claro o sentido do termo neste volume, usamos além do vocábulo
cultura outros termos e expressões, como a cultura em que vivemos, ou a que pertencemos, a cultura
humana, cultura da nossa sociedade, conceitos culturais, padrões culturais, costumes e tradições.

De igual modo, para definir as pessoas que pertencem a determinada cultura ou que a possuem foram
usadas expressões como refinado, civilizado, pertencente a uma cultura avançada; e também os que
não possuem essa cultura, como alguém grosseiro, primitivo, rudimentar, bárbaro, incivilizado. (N.T.)
igreja e a contaminaram.
Em 3:10-11 Paulo diz que no novo homem “não
há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão,
bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em
todos” (lit.). Dizer que não há lugar para gregos nem
judeus significa que não há lugar para filosofia e
observâncias religiosas. Se comparar Colossenses 3:11
com passagens paralelas como 1 Coríntios 12:13 e
Gálatas 3:28, verá que somente em Colossenses Paulo
menciona bárbaros e citas. Os cristãos em Colossos
prestavam muita atenção a questões culturais e não
queriam ser como os bárbaros ou os citas. Portanto,
Paulo enfatizou que na igreja como o novo homem
não há lugar para civilizados nem para incivilizados.
Não há lugar para filosofia, ascetismo ou
observâncias. No novo homem Cristo é tudo e em
todos. O novo homem é constituído de Cristo, e não
de elementos culturais.
Os colossenses não eram pecaminosos como
alguns em Corinto. Mas substituíram Cristo, o
elemento constituinte do novo homem, por diversos
aspectos culturais. Alguns apreciavam filosofias,
outros apreciavam observâncias religiosas. Eles
deixaram que essas coisas entrassem na vida da igreja
como substitutos de Cristo. Contudo, no novo homem
não há lugar para nada que não seja Cristo.

VIVER POR CRISTO, E NÃO PELO


ASCETISMO

Essa compreensão do elemento constituinte do


novo homem não deve ser mera doutrina para nós.
Precisamos perceber que todos temos nossa filosofia
e ascetismo. Criticar os outros prova que nos
apegamos à nossa filosofia. Além disso,
humanamente falando, é melhor ter filosofia e
ascetismo do que não pertencer a nenhuma cultura.
Em Corinto havia fornicação, mas em Colossos eles
eram altamente civilizados e tinham domínio próprio.
Todavia, essa civilização e refinamento haviam se
tornado substitutos de Cristo. Não importa quão
elevada fosse a cultura em que viviam, ela não era
Cristo.
Não considere que seu ascetismo é de Cristo.
Você pode embelezar seu ascetismo afirmando que
isso é tomar a cruz. Mas até mesmo o que chamamos
de tomar a cruz ou negar o ego pode ser na verdade
uma forma sutil de ascetismo. Por exemplo, quando a
esposa de um irmão o faz passar por momentos
difíceis, ele pode reprimir a ira. Isso é ascetismo; não
é tomar a cruz nem negar o ego. Ao reprimir-se, ele
pode dizer interiormente: “Não vou perder a calma.
Não vou brigar com minha mulher nem discutir com
ela”. Ele pode parecer vitorioso. Mas o louvor por essa
assim chamada vitória não deve ser dado a Cristo;
deve ser dado para o ascetismo desse irmão. Nessa
situação, ele usou sua filosofia e ascetismo em lugar
de Cristo.
Pela experiência, tenho aprendido a diferença
entre reprimir o ego e viver por Cristo. Agora, em vez
de me reprimir, volto-me para o Senhor e digo:
“Senhor Jesus, Tu estás aqui. Preciso que vivas em
mim”. Então não viverei pela minha filosofia ou
ascetismo, e, sim, por Cristo como o Espírito que dá
vida.
A vida cristã não é uma vida de ismos ou práticas,
mas de Cristo como a Pessoa viva. Em Gálatas
2:19-20 Paulo disse: “Estou crucificado com Cristo;
logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em
mim”. O verdadeiro viver de Cristo em nós é muito
diferente de praticar ascetismo, reprimir o ego, negar
o ego e tomar falsamente a cruz. Há enorme diferença
entre a salvação de Deus e religiões como o
hinduísmo e o budismo! A salvação de Deus é questão
de Cristo viver em nós. Em Sua salvação não há lugar
para esforços e práticas. A salvação de Deus é
somente Cristo. Em vez de tentar negar o ego e tomar
a cruz de maneira religiosa, devemos simplesmente
permitir que a Pessoa viva de Cristo viva em nós cada
momento. Se sua esposa lhe fizer passar por
momentos difíceis, não tente fazer algo. Apenas
permita que Cristo viva em você. A vida cristã é uma
Pessoa viva vivendo em nós.
Os evangelhos nos dizem que devemos negar o
ego e tomar a cruz. Entretanto, é fácil aplicar essas
palavras de acordo com a compreensão natural. Mas
viver Cristo não é conforme o conceito natural. O
conceito natural contém a idéia de negar o ego e
reprimir a concupiscência da carne; mas não a idéia
de Cristo como o Espírito todo-inclusivo que dá vida
sendo a Pessoa viva em nosso espírito. Tendo sido
processado por meio da encarnação, crucificação e
ressurreição, Cristo é agora o Espírito em nosso
espírito para ser nossa vida de maneira prática.
É possível ter um conhecimento doutrinário de
que a vida cristã é Cristo vivendo em nós. Mas no
viver diário podemos na verdade viver segundo certas
práticas. Em vez de viver Cristo, podemos
esforçar-nos para negar o ego ou tomar a cruz. Assim,
pode ser que vivamos de acordo com filosofia e
ascetismo. Isso significa que, na vida diária, Cristo é
substituído pela filosofia e ascetismo pessoais.

CRISTO: TUDO E EM TODOS

Em Colossenses, Paulo ressalta que Cristo deve


ser tudo e em todos. No novo homem não há lugar
para culturas ou práticas pessoais. A intenção de
Deus em Sua economia é que Cristo seja tudo. Ele
deve ser nossa vida, viver, paciência, santidade,
bondade. Deve ser a maneira de lidar com o cônjuge.
Em cada momento no viver diário, Cristo deve ser
tudo o que precisamos. Em vez de viver por certas
práticas, devemos simplesmente viver Cristo.
É significativo que, após abordar tantas questões
importantes em Colossenses, Paulo fale de a paz de
Cristo ser o árbitro no coração e de a palavra de Cristo
habitar ricamente em nós. Toda vez que nossa
filosofia é melhor que a dos outros, tornamo-nos
críticos. Essa era a situação entre os colossenses.
Havia rivalidade e crítica entre gregos e judeus. Por
isso Paulo lhes disse que a paz de Cristo deveria ser o
árbitro. neles. Ele os estava encorajando a esquecer
suas filosofias e costumes. As culturas e a filosofia
não devem ser o padrão ou o árbitro; o árbitro é a paz
de Cristo. Precisamos abandonar as práticas culturais
e permitir que a paz de Cristo seja o árbitro em nosso
coração. E como se Paulo dissesse aos colossenses:
“Deixem a paz de Cristo presidir em vocês. Vocês,
colossenses, têm adotado a filosofia como padrão.
Deixem a paz de Cristo ser o seu padrão. Vocês
precisam abandonar a cultura e a filosofia”.
Em 3:16 Paulo ainda os exorta: “Habite,
ricamente em vós a palavra de Cristo”. Do lado
negativo, precisamos pôr de lado os padrões
culturais; do lado positivo, precisamos estar cheios da
palavra de Cristo. Isso quer dizer que precisamos
permitir que a palavra de Cristo encha nossa mente,
emoção, vontade, pensamentos e considerações. Cada
fibra do nosso ser precisa ser ocupada pela palavra de
Cristo.
O desejo de Deus é que vivamos Cristo todos os
momentos e não deixemos lugar para cultura e
filosofia. A única prática deve ser a Pessoa viva do
próprio Cristo. Em segundo lugar, devemos pôr de
lado os padrões culturais. Nosso padrão não deve ser
nenhuma cultura humana mas a paz interior de
Cristo. Em terceiro lugar, precisamos permitir que a
palavra de Cristo encha todo o nosso ser. Precisamos
deixar que todo o nosso ser seja permeado e saturado
da palavra de Cristo. Se praticarmos essas três coisas
espontaneamente experimentaremos Cristo. Não só
teremos a revelação sublime de Cristo mas também O
experimentaremos de maneira prática na vida diária.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM TRINTA E TRÊS

CRISTO VERSUS AS CULTURAS PARA O NOVO


HOMEM

Leitura Bíblica: Cl 2:2; 3:4, 10-11, 15-16; 4:2

O livro de Colossenses não é fácil de entender.


Não creio que muitos leitores, mesmo em nosso meio,
tenham de fato enxergado a revelação que ele contém.
Por esse motivo, muitos concentram-se em pontos
como confortar o coração em 2:2. O ponto central de
Colossenses não é o conforto do coração; é Cristo
como o mistério de Deus. Até mesmo 2:2, que fala de
o coração ser confortado, deixa isso claro: “Para que o
coração deles seja confortado e vinculado juntamente
em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte
convicção do entendimento, para compreenderem
plenamente o mistério de Deus, Cristo”. O resultado
de ter o nosso coração confortado é ter o pleno
conhecimento de Cristo como o mistério de Deus.
Portanto, o ponto central não é o coração confortado;
é Cristo como o mistério de Deus.
OS ELEMENTOS CULTURAIS

É fácil para os leitores do Novo Testamento


compreender do que Paulo trata em livros como
Coríntios e Gálatas. Em 1 Coríntios, Paulo lida com
diversas coisas negativas, até mesmo pecaminosas,
que impediam os coríntios de desfrutar
adequadamente Cristo e a vida da igreja. Em Gálatas,
Paulo trata da lei e da religião judaica. Entretanto,
não é fácil mostrar do que ele trata na Epístola aos
Colossenses. Alguns expositores observam que Paulo
trata de coisas como adoração de anjos e ascetismo.
Embora esse ponto de vista esteja correto, ele está
relacionado somente com a aparência desse livro. Na
verdade, em Colossenses Paulo trata da questão
oculta das culturas humanas. Um forte indício disso é
a palavra bárbaro em 3:11, palavra que não é
utilizada em 1 Coríntios 12:13 nem em Gálatas 3:28,
versículos paralelos a Colossenses 3:11. O fato de
Paulo usar a palavra bárbaro em Colossenses indica
que essa Epístola trata das diversas culturas
humanas.
A fonte do problema entre os irmãos em Colossos
era a cultura, tanto judaica como grega. Creio que
todas as igrejas na Ásia Menor tinham sido saturadas
da cultura judaica, principalmente com respeito a
observâncias religiosas, e da cultura grega,
especialmente a filosofia. Na época de Paulo, a
cultura na região do Mediterrâneo incluía três
elementos principais: a religião judaica, a filosofia
grega e a política romana. Dois desses elementos (a
religião judaica e a filosofia grega) haviam invadido a
igreja.
Assim como a cultura em que viviam exerceu
forte influência sobre os cristãos em Colossos, hoje
ela exerce forte influência sobre nós.
Inconscientemente estamos sob a influência da
cultura em que nascemos. Parece que os elementos
religiosos e filosóficos dessa cultura são parte do
nosso ser. Em muitos grupos do cristianismo o
elemento político da cultura também está presente.

ADVERTÊNCIA ACERCA DA HUMILDADE E


DO CULTO DOS ANJOS

Em 2:18 Paulo diz: “Ninguém se faça árbitro


contra vós outros, pretextando humildade e culto dos
anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo
algum, na sua mente carnal”. [A expressão jazer-se
árbitro também pode ser traduzida por privar do
galardão.] Aqui ele adverte os irmãos de não serem
enganados pela humildade; não os adverte da
concupiscência carnal. A humildade é uma das
melhores virtudes humanas. Muitos ensinamentos
éticos dão elevado valor à humildade. Em certos
aspectos, a humildade é até mesmo uma virtude mais
refinada que o amor. Mas até a humildade pode ser
usada para privar os cristãos do desfrute de Cristo.
Nesse versículo Paulo também nos adverte de
não sermos enganados pelo culto dos anjos. A
humildade está relacionada com filosofia ética, e o
culto dos anjos, com religião. O culto dos anjos não é
algo grosseiro; pelo contrário, é uma forma
requintada, refinada, aperfeiçoada e altamente
desenvolvida de idolatria. É muito mais refinada do
que o culto pagão de animais. É o culto de seres
celestiais próximos de Deus. A lei foi dada por
intermédio de tais seres. Em 2:18 Paulo refere-se
tanto à filosofia como à religião. Esses aspectos da
cultura humana podem ser usados pelo inimigo para
nos privar de Cristo.
O princípio é o mesmo hoje. Satanás, que é sutil,
ainda usa ética e religião para privar os cristãos do
desfrute de Cristo. Ao dizer isso, não me refiro a
outros, como os que estão na religião católica, mas
principalmente a nós na restauração do Senhor.
Alguns podem concordar que a humildade pode
privá-los de Cristo, mas não admitiriam que são
privados Dele por causa do culto dos anjos. Embora
possamos não adorar anjos, podemos admirá-los.
Além disso, podemos admirar muitas coisas que não
são o próprio Deus.

ENGANADOS PELA INFLUÊNCIA DAS


CULTURAS

Se nos aprofundarmos no livro de Colossenses


veremos que ele trata não do pecado ou da lei, mas
das culturas humanas. Cultura é o viver inconsciente
de todo ser humano. Isso se aplica tanto a sociedades
primitivas como a países avançados. O princípio é o
mesmo em todo lugar. As pessoas em todo o mundo
estão debaixo da influência da cultura em que vivem.
Os orientais podem achar difícil falar
espontaneamente em público porque
inconscientemente são influenciados pela cultura
oriental. De acordo com o livro de Colossenses, o que
nos priva do desfrute de Cristo e impede a vida da
igreja é a cultura em que vivemos.
O livro de Colossenses fala da nossa necessidade
hoje.
Na maioria das vezes não somos perturbados por
coisas pecaminosas, como em 1 Coríntios, nem pela
lei, como em Gálatas. Mas estamos todos
inconsciente e subconsciente mente sob a influência
da nossa cultura. Quando viemos para a vida da igreja
nós a trouxemos conosco. Ela agora mina nosso
desfrute de Cristo. Ela é o método sistemático que
desenvolvemos para existir e nos manter. Quanto
mais forte ela for, mais criticaremos os outros.
Tomando como base a cultura em que vivemos, nós
desenvolvemos nosso ascetismo, nossas práticas para
restringir a concupiscência da carne. Nosso ascetismo
é o método que concebemos para refrear-nos e
impedir-nos de fazer coisas pecaminosas.

CRISTO, NOSSA VIDA


Colossenses revela que, na economia de Deus,
Cristo é tudo. Ele é a herança dos santos, a imagem
do Deus invisível, o Primogênito da criação, o
mistério da economia de Deus, o Primogênito dentre
os mortos, a plenitude de Deus, o mistério de Deus,
Aquele em quem todas as riquezas da sabedoria e do
conhecimento estão ocultas, e o corpo de todas as
sombras. Por fim esse Cristo preeminente,
todo-inclusivo, é o elemento constituinte do novo
homem. Além disso, como Paulo declara em 3:4, Ele é
nossa vida. A expressão “nossa vida” é forte indício de
que devemos experimentar no viver diário o Cristo
revelado nesse livro.
Para existir fisicamente, precisamos ter vida. Se
não houver vida no corpo, tudo o mais relativo a você
estará acabado. Por exemplo, sem vida, como você
pode ter coisas como amor e submissão? Tudo o que é
associado ao viver humano baseia-se em ter a vida
humana. Se a vida acaba, tudo o mais acaba também.
Isso ressalta a importância de Cristo ser nossa vida. É
vital enxergar que o Cristo todo-inclusivo é nossa
vida. De acordo com a revelação do Novo
Testamento, esse Cristo foi processado para tornar-se
o Espírito todo-inclusivo que dá vida.

A PAZ DE CRISTO E A PALAVRA DE CRISTO

Em 3:15-16 Paulo nos diz que a paz de Cristo


deve ser o árbitro em nosso coração e a Sua palavra
deve habitar ricamente em nós. Se permitirmos que a
paz de Cristo seja o árbitro no nosso coração, ela
resolverá todas as disputas entre nós. Os colossenses
eram perturbados por vários ismos, filosofias e
práticas. Assim como é preciso um juiz para resolver
disputas num jogo ou competição, os colossenses
também precisavam de um juiz, um árbitro, para
aquietar todas as opiniões. É significativo que
somente em Colossenses, um livro que trata da
cultura e seus ismos e práticas, Paulo fale do árbitro
interior da paz de Cristo. Esse árbitro aquieta todas as
opiniões cuja fonte é nossa cultura.
Quando a paz de Cristo aquieta nossas opiniões,
a palavra de Cristo, que deve habitar ricamente em
nós, as substitui. Em vez de opiniões, temos a palavra
de Cristo. O Novo Testamento revela claramente que
a palavra de Cristo é o Espírito. Além disso, Cristo
hoje é o Espírito que dá vida. Nossa vida cristã é
totalmente uma questão de Cristo como o Espírito
vivo. Não precisamos de ismos, filosofias, práticas ou
observâncias; precisamos da experiência de Cristo
como o Espírito que dá vida. Os irmãos não precisam
tentar amar a mulher, nem as irmãs precisam tentar
submeter-se ao mando; todos devemos contatar
Cristo e deixá-Lo ser nosso amor e submissão. Hoje,
Cristo, como o Espírito que dá vida está em nosso
espírito. Precisamos dizer: “Senhor Jesus, eu Te
agradeço por estares aqui. Tu estás em mim o tempo
todo para ser tudo o que necessito”. Se queremos
praticar isso, precisamos de uma visão clara de que
Cristo é tudo para nós. Tal visão matará nossa
filosofia, ascetismo, opiniões e ismos; até mesmo
acabará com a influência das diversas culturas em
nossa experiência de Cristo. Então, em vez de ser
pessoas com cultura, seremos pessoas ocupadas com
Cristo, possuídas por Ele e saturadas Dele.
Não há dúvida de que nosso coração precisa ser
confortado e vinculado um ao outro em amor para
termos todas as riquezas da forte convicção do
entendimento. Mas o objetivo desse conforto do
coração é obter o pleno conhecimento de Cristo como
o mistério de Deus. Não devemos permitir que a
preocupação com o coração impeçanos de perceber
que precisamos de Cristo, o mistério de Deus, como
tudo para nós. A todo instante precisamos toma-Lo
como nossa vida e viver por Ele.
Já enfatizamos repetidas vezes que, após nos
dizer que Cristo é nossa vida e o elemento
constituinte do novo homem, Paulo nos exorta a
deixar a paz de Cristo ser o árbitro em nós e a
permitir que a palavra de Cristo habite em nós. Para
ter uma compreensão plena do que significa a paz de
Cristo ser o árbitro em nosso coração, precisamos
conhecer o contexto no qual o livro de Colossenses foi
escrito. As divisões culturais da humanidade vieram a
existir em Babel. As opiniões provenientes dessas
culturas são expressas principalmente em
observâncias religiosas e ordenanças filosóficas,
representadas respectivamente por judeus e gregos.
As opiniões culturais têm dividido a humanidade em
muitas nações. Entretanto, o propósito eterno de
Deus é ter um povo corporativo para ser o Corpo de
Cristo para Sua expressão. Mas se a humanidade
permanecer dividida por opiniões culturais, como o
propósito de Deus pode ser realizado? Seria
impossível. Contudo, de acordo com Efésios 2:15, a
morte de Cristo na cruz aboliu todas as ordenanças e
diferenças culturais, e as eliminou. O propósito de
Cristo ao fazer isso foi criar em Si mesmo um só novo
homem e, assim, fazer a paz. Portanto, a paz feita por
Cristo foi gerada mediante a crucificação das opiniões
culturais. Quando um só novo homem foi criado a
partir de judeus e gentios, a paz foi feita. É a essa paz,
a paz de Cristo, que Paulo se refere em Colossenses
3:15.

NENHUMA DISTINÇÃO CULTURAL NO


NOVO HOMEM

De acordo com 3:11, no novo homem não há


nenhuma possibilidade de as várias distinções
culturais continuarem a existir. Nele já não há
distinção entre pessoas pertencentes a culturas
avançadas e primitivas, pois no novo homem Cristo é
tudo e em todos. Após falar disso, Paulo exorta a nós,
que viemos de diferentes culturas, a permitir que a
paz de Cristo seja o árbitro no coração. Essa paz é o
resultado da morte de Cristo que extinguiu as
diferenças culturais. Portanto, sempre que a paz de
Cristo reina em nós, essa paz subjuga as opiniões
culturais, as observâncias religiosas e os conceitos
filosóficos.

ORAÇÃO AUTÊNTICA

Freqüentemente, quando oramos, não entramos


na autêntica oração. Pela experiência podemos
diferenciar ou discernir a oração que é autêntica da
que não é. Você sabe por que é tão difícil orar de
maneira autêntica? O principal impedimento não é
pecado ou mundanismo, mas as opiniões culturais.
Inconsciente e subconscientemente ainda somos
controlados pelas opiniões culturais. Contudo, se
perseverarmos em oração, por fim oraremos
autenticamente. Isso quer dizer que na oração somos
libertados das opiniões culturais e entramos no
espírito. Sempre que experimentamos a oração
autêntica estamos fora da nossa cultura; em
particular, estamos fora da opinião cultural. Nos
momentos de oração autêntica estamos no espírito e
somos um espírito com o Senhor. É nesses momentos
que vivemos Cristo.
Além disso, nessas horas de oração autêntica a
morte de Cristo opera em nosso interior de forma
prevalecente, a fim de eliminar todas as coisas
negativas no nosso ser. Espontaneamente o poder de
ressurreição de Cristo também prevalece em nós.
Como conseqüência, somos realmente um com Cristo
e identificados com Ele. Essa experiência nos
momentos de oração autêntica nos faz sentir o sabor
da vida cristã normal.
Quanto mais orações autênticas tivermos, mais
teremos a experiência de estar fora das opiniões
culturais, ser um espírito com o Senhor e viver Cristo.
O triste é que, quando paramos de orar,
automaticamente voltamos à nossa cultura. Então
lutamos para viver de acordo com o ascetismo.
Quando entramos na oração autêntica, estamos
muito distantes do ascetismo e de todos os outros
ismos, pois somos um com o Senhor vivo. Além disso,
quando oramos dessa forma com outros, somos de
fato um no espírito de oração. Então tocamos a
realidade do novo homem, onde não há grego ou
judeu, bárbaro ou cita, circuncisão ou incircuncisão.
Percebemos que o novo homem é constituído
somente de Cristo, e nessa esfera não há diferenças
culturais. Todavia, quando paramos de orar,
voltamos à vida natural com as opiniões e disputas.
Em vez de viver Cristo, sendo um espírito com Ele,
nós nos refreamos segundo o ascetismo auto-
imposto. Na vida natural decidimos praticar o
bem e esforçamo-nos por cumprir o que
determinamos. Isso é supressão do ego; não é viver e
expressar Cristo.
Orar com perseverança significa nunca sair do
espírito de oração; devemos permanecer em condição
de oração. Estar nessa condição é estar fora das
opiniões e ser um espírito com o Senhor, vivendo-O e
tomando-O como nossa vida e pessoa.
Espontaneamente estaremos longe de tudo que não é
Cristo e viveremos por meio dessa Pessoa viva. Nosso
problema é que não permanecemos em tal condição
de oração. Esse foi o motivo de Paulo nos exortar a
perseverar em oração. Precisamos orar com
perseverança para ser preservados em tal condição de
oração. Em outras palavras, o viver diário deve ser
igual à experiência dos momentos de oração
autêntica. A experiência de oração deve tornar-se
modelo para a vida cristã diária.
Nestes dias temos o encargo de olhar para o
Senhor para ver o verdadeiro significado de viver
Cristo. Somos-Lhe gratos, pois gradualmente Ele nos
mostra o que significa vive-Lo. Um aspecto de viver
Cristo é permanecer em condição de oração. Quando
estamos nessa condição, estamos fora das culturas.
Sendo um espírito com essa Pessoa viva, tomando-O
como nossa vida e pessoa, não há esforço natural para
viver adequadamente. Em vez disso, quando somos
um com o Senhor em espírito, a morte de Cristo é
aplicada a nós, e Seu poder de ressurreição torna-se
prevalecente em nós. Então espontaneamente O
vivemos.
ESTUDO-VIDA COLOSSENSES

MENSAGEM TRINTA E QUATRO

O CRISTO TODO-INCLUSIVO (1)

Leitura Bíblica: Cl 1:12-29

Nesta mensagem consideraremos o Cristo


todo-inclusivo revelado em Colossenses. A maioria
dos irmãos na restauração do Senhor está
familiarizada com esse termo, “o Cristo
todo-inclusivo”. Já enfatizamos em diversas
mensagens que o Cristo no livro de Colossenses é
todo-inclusivo. Contudo, não tenho certeza de que a
todo-inclusividade de Cristo foi adequadamente
revelada aos irmãos. De que forma Cristo é
todo-inclusivo? e em quais aspectos, itens e questões?
Precisamos ser capazes de mostrar os diversos
aspectos da todo-inclusividade de Cristo.
Em 1:12 vemos que Cristo é a herança dos santos.
Mas nem mesmo esse termo geral nos diz em quais
aspectos Cristo é todo-inclusivo. Dizer que Cristo é
nossa herança é como dizer que acabamos de jantar.
Quais pratos foram servidos? Muitas coisas podem
ser colocadas juntas e chamadas de jantar. Podemos
afirmar que Cristo é nossa herança. Mas de que
maneira? Precisamos ser mais claros e específicos em
relação à todo-inclusividade de Cristo.

A IMAGEM DO DEUS INVISÍVEL

De acordo com Colossenses, o primeiro aspecto


da todo-inclusividade de Cristo é que Ele é a imagem
do Deus invisível (1:15). Esse aspecto da
todo-inclusividade de Cristo envolve todos os
versículos de 1:15 até o fim do capítulo um. No
versículo 15, Paulo diz: “Ele é a imagem do Deus
invisível, o Primogénito de toda a criação”. Quando
lemos esse versículo, é fácil inserir mentalmente a
conjunção “e” entre “invisível” e “o Primogénito”.
Fazer isso é mudar radicalmente esse versículo, pois a
conjunção deixaria implícito que a imagem e o
Primogénito são diferentes. Entretanto, a frase
“Primogénito de toda a criação” na verdade está em
aposição a “imagem do Deus invisível”. A imagem do
Deus invisível é expressa no Primogénito de toda a
criação. Além disso, o Primogénito de toda a criação é
a imagem do Deus invisível. Sendo a imagem do Deus
invisível, Cristo é o Primogénito de toda a criação.
A imagem de Deus denota a expressão divina,
assim como a imagem de uma pessoa denota a
expressão dessa pessoa. Se não tivéssemos imagem
não poderíamos expressar-nos. Cristo é a expressão
de Deus, Sua imagem. Como tal, Cristo expressa Deus
sendo o Primogénito de toda a criação. Todo o
universo é a expressão de Deus.

UMA VISÃO PANORÂMICA DA BÍBLIA

Em relação a esse aspecto da todo-inclusividade


de Cristo, é muito bom ter uma visão panorâmica da
Bíblia, a revelação completa de Deus. Embora seja
verdade dizer que a Bíblia revela Deus, ela não é
simples ao revelá-Lo. Gênesis começa com as
palavras: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”.
Então, nos versículos iniciais de Malaquias, o último
livro do Antigo Testamento, Deus é revelado como
Aquele que ama Jacó. No Antigo Testamento Deus é
revelado como o Criador do universo e como Aquele
que ama Israel. Não é de admirar que os judeus
amem o Antigo Testamento!
Chegando ao Novo Testamento, vemos que
Mateus começa com as palavras: “Livro da geração de
Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão”. O
Evangelho de João começa assim: “No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus”. No último livro do Novo Testamento,
Apocalipse, lemos o seguinte: “João, às sete igrejas
que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da
parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte
dos sete Espíritos que se acham diante do Seu trono, e
da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o
Primogénito dos mortos e o Soberano dos reis da
terra” (1:4-5). Que diferença há entre esses versículos
em Apocalipse e as palavras iniciais de Gênesis! Eles
até mesmo superam em muito o início de Mateus e
João. Hoje estamos nas igrejas locais. Para as igrejas
há uma dispensação não só da parte de Deus ou do
Verbo, mas da parte do Deus Triúno: Daquele que é,
que era, e que há de vir, dos sete Espíritos e de Jesus
Cristo.
Em Apocalipse 1:5, Cristo é descrito como “a Fiel
Testemunha, o Primogénito dos mortos, e o Soberano
dos reis da terra”. O nome Jesus indica a encarnação,
e o título Cristo indica que o Senhor Jesus é o Ungido
de Deus. Ele foi a fiel Testemunha no viver humano e
é o Primogénito dos mortos em ressurreição. Na
ascensão e entronização, Ele é o Soberano dos reis da
terra, pois agora Ele é Senhor e Cabeça de tudo. Além
disso, Ele reinará sobre todas as nações quando vier
no reino. Portanto, a descrição de Cristo nesse
versículo engloba todas as coisas, desde a encarnação
até o reino eterno.
A revelação divina na Bíblia mostra que o Cristo
todo-inclusivo é para a igreja. De forma ainda mais
clara, Apocalipse mostra que Ele é para as igrejas.
Portanto, a revelação da Bíblia é que Cristo é para as
igrejas.

AS CULTURAS: UM EMPECILHO PARA O


PROPÓSITO DE DEUS

Pela queda do homem, coisas negativas vieram a


interferir no fato de Cristo ser para 'a igreja. Essas
coisas negativas incluem Satanás, o pecado e o
mundo. É muito fácil perceber que tais coisas são
empecilho para o propósito de Deus. Mas outra coisa,
muito sutil, atrapalha Cristo e a igreja; esse elemento
sutil de oposição é a cultura em que vivemos. Embora
a palavra cultura não seja encontrada no Novo
Testamento, ela sem dúvida é empecilho para o
propósito de Deus.
Em 1 Coríntios, Paulo trata de diversas coisas
negativas, como fornicação e divisão. Essas coisas
carnais impediam os irmãos em Corinto de ter o
desfrute adequado de Cristo. Em Gálatas, Paulo trata
da lei e das ordenanças do judaísmo, que impediam
os irmãos da Galácia de desfrutar Cristo. No livro de
Colossenses, o que impede os cristãos de desfrutar
Cristo é a cultura a que pertencem.
Os principais elementos da cultura em Colossos
na época de Paulo eram a religião judaica e a filosofia
grega. A cultura hebraica e a grega uniram-se na Ásia
Menor e formaram uma mistura. Certos judeus e
gregos em Colossos entraram na igreja e trouxeram
consigo as diferentes bagagens culturais. Dizer que
temos várias bagagens significa na verdade que temos
culturas diferentes. Os cristãos judeus em Colossos
tinham a bagagem cultural judaica, e os cristãos
gregos tinham a bagagem cultural grega. Sabemos
pela experiência que vir para a vida da igreja não
significa necessariamente abandonar a bagagem
cultural. Assim como os cristãos judeus e gregos em
Colossos, pode ser que desejemos introduzir na vida
da igreja determinados aspectos da nossa cultura que
consideramos importantes e valiosos.
Sabemos que ainda estamos debaixo da
influência do passado cultural pela forma com que
reagimos quando os outros falam desse passado de
maneira positiva ou negativa. Por exemplo, se eu falar
positivamente sobre a cultura judaica, os irmãos
judeus ficarão felizes, mas se eu falar negativamente
sobre ela, eles poderão ficar descontentes. No mesmo
princípio, se encorajar os irmãos chineses a não ir ao
bairro chinês, eles podem ficar descontentes. Mas se
eu disser algo positivo sobre a cultura chinesa, ficarão
contentes.
Nossa cultura inclui não só a nacionalidade, mas
até mesmo o sentimento especial para com
determinada região do país. Os que moram em um
estado ou região têm orgulho desse lugar. Isso nos
mostra como é prevalecente a influência da cultura, e
como é difícil abandonar o passado.
Em Colossos, as culturas judaica e grega
invadiram a vida da igreja e a impregnaram. A vida da
igreja, todavia, deve ser absolutamente em Cristo,
com Cristo, de Cristo, por meio de Cristo e por Cristo.
Mas quando a cultura invade a igreja, esta não é mais
por Cristo, e, sim, pela cultura do homem. Então, em
vez de ser a igreja de Cristo, ela se toma a igreja de
algum tipo de cultura.
Recentemente vi um anúncio em caracteres
chineses anunciando, em Orange County 8 , onde
moro, o cristianismo de Taiwan. Fiquei muito
surpreso por ver tal anúncio no sul da Califórnia. O
termo “cristianismo de Taiwan” ilustra como a
cultura permeia e modela a igreja. Depois que a igreja
é levantada em determinado país, é fácil a cultura do
país invadir a igreja. Como conseqüência, a igreja não
é mais puramente em Cristo, de Cristo, com Cristo,
por meio de Cristo e por Cristo. O livro de
Colossenses foi escrito porque a igreja em Colossos
fora invadida pelas culturas. A filosofia, os
rudimentos do mundo e o culto dos anjos eram
aspectos da cultura humana que invadiram a igreja
naquela cidade.

8
Distrito próximo a Los Angeles, Califórnia. (N.T.)
CRISTO E A CRIAÇÃO

Ao tratar com as culturas que invadiram a igreja


em Colossos, Paulo salienta em 1:15 que Cristo é a
imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda a
criação. No versículo seguinte, ele prossegue: “Pois,
Nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a
terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam
soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo
foi criado por meio dele e para ele”. No versículo 17,
ele continua: “Ele é antes de todas as coisas. Nele,
tudo subsiste”. Precisamos contrastar esses versículos
com o contexto da filosofia grega e do gnosticismo. O
gnosticismo tomou coisas de diversas fontes,
combinando ensinamentos e práticas pagãs, judaicas,
e, mais tarde, cristãs. Ele explorava os mistérios por
trás das formas exteriores das religiões pagãs;
ensinava a existência de dois deuses ou princípios: luz
e trevas, bem e mal. Estava relacionado com a
filosofia grega. De acordo com o gnosticismo, o corpo
físico do homem e todo o mundo material são
malignos. Sob a influência desse conceito filosófico,
alguns cristãos em Colossos achavam que os céus, a
terra, e todas as coisas relacionadas com o mundo
material eram malignos. Em vez de viver por meio de
Cristo, viviam de acordo com essa filosofia. Paulo
argumentou com eles, mostrando que o Cristo no
qual creram era o Primogênito de todas as coisas da
criação material. Paulo disse que todas as coisas,
incluindo as materiais, foram criadas em Cristo, por
meio de Cristo e para Cristo. Além disso, todas elas
subsistem em Cristo. Isso foi um forte golpe na
filosofia gnóstica. Visto que todas as coisas foram
criadas em Cristo, por meio de Cristo e para Cristo, e
uma vez que subsistem Nele, devemos ter uma visão
positiva delas. Em contraste com os gnósticos, não
devemos considerá-las intrinsecamente malignas.
Cristo é o Primogênito de toda a criação a fim de
expressar Deus. Já ressaltamos que Cristo é a imagem
de Deus. Deus é invisível. Mas se olharmos para Sua
criação veremos que ela não é maligna; antes, é a
expressão do Deus invisível. Na criação, vemos a
expressão do poder e da natureza de Deus. Nas
palavras de Romanos 1:20, “Os atributos invisíveis de
Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua
própria divindade, claramente se reconhecem, desde
o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das
coisas que foram criadas”. Cristo é a imagem de Deus
expressa na criação. Se enxergarmos isso, não
teremos uma visão negativa da criação. Perceberemos
que todas as coisas materiais foram criadas em
Cristo, por meio de Cristo e para Cristo, e Nele todas
elas subsistem para que Deus seja expresso.
É como se Paulo dissesse aos colossenses: “Cristo
é todo-inclusivo. Vocês devem crer Nele, e não na
filosofia que possuem. De acordo com a filosofia de
vocês, as coisas materiais são malignas. Mas de
acordo com Cristo, todas são boas. Não digam que as
coisas materiais são malignas e tenebrosas; em vez
disso, precisam ver que Cristo é o Primogênito entre
todas as coisas criadas. Ao olhar para os céus, devem
lembrar-se de Cristo. Ao considerar a terra, devem
pensar em Cristo. Vocês devem lembrar-se de Cristo
até mesmo quando olham para si mesmos”. Cada
aspecto da criação de Deus foi criado em Cristo, por
meio de Cristo e para Cristo. Todas essas coisas
continuam a subsistir em Cristo para a expressão de
Deus. Essa expressão de Deus na criação é Cristo
como a imagem de Deus.
AS DUAS CRIAÇÕES DE DEUS

Deus tem duas criações: a velha e a nova. O


versículo 18 se refere à nova criação. Ele nos diz que
Cristo “é o princípio, o Primogênito de entre os
mortos”. Ele é a Cabeça do Corpo, ela igreja, que é a
nova criação de Deus. Cristo é não só o Primogênito
da velha criação, mas também o Primogênito dentre
os mortos na nova criação. Tanto na velha como na
nova criação Cristo é o primeiro. Se a velha criação é
em Cristo, por meio de Cristo e para Cristo, e Nele
subsiste, muito mais a nova criação. Sendo a nova
criação, nós, a igreja, estamos em Cristo, por meio de
Cristo e para Cristo. Além disso, a cada instante
subsistimos em Cristo. Você está na velha ou na nova
criação? Exteriormente somos a velha criação, mas
interiormente somos a nova criação.
Já ressaltamos que, tanto na velha como na nova
criação, Cristo é o Primogênito com o propósito de
expressar Deus. Após falar das duas criações de Deus,
Paulo diz em 1:19: “Porque aprouve a Deus que, nele,
residisse toda a plenitude”. A palavra plenitude nesse
versículo equivale à imagem no versículo 15. São
termos equivalentes. Cristo é a imagem de Deus e a
plenitude de Deus a fim de expressá-Lo. A imagem é a
expressão, e a expressão é a plenitude. Essa expressão
é mediante a velha e a nova criação. Por meio das
duas criações temos a plenitude. Essa plenitude é a
expressão, e a expressão é a imagem.
Os versículos 15 a 19 são na verdade parte de
uma longa sentença. Essa sentença revela o primeiro
aspecto da todo-inclusividade de Cristo: Ele é a
imagem do Deus invisível. Na velha e na nova criação
Cristo é a plenitude de Deus, Sua expressão.

CRISTO EM NÓS

Podemos perguntar-nos o que tal revelação de


Cristo tem a ver conosco de maneira prática. Em
1:26-27 Paulo fala do mistério. Esse mistério é a
imagem, a plenitude, nos versículos anteriores. De
acordo com o versículo 27, o mistério entre os gentios
é Cristo em nós, a esperança da glória. Você alguma
vez já percebeu que o Cristo que está em você é a
imagem do Deus invisível, a plenitude de Deus, o
Primogênito da criação, e o Primogênito dentre os
mortos? Tal Cristo está em nós. Em 1:28-29 vemos
que Paulo labutava e se esforçava a fim de apresentar
todo homem plenamente crescido em Cristo.
Vimos que o primeiro aspecto da
todo-inclusividade de Cristo é que Ele é a imagem de
Deus. Esse Cristo está em nós. Mas agora precisamos
crescer até ser maduros, plenamente crescidos em
Cristo. Esse crescimento é prejudicado pela cultura
em que vivemos. O que nos impede de crescer em
Cristo é a nossa cultura sutil e oculta.

VER CRISTO E VIVER POR ELE

Todos temos um conceito sobre as coisas físicas


da criação. Até mesmo esse conceito pode
impedir-nos de desfrutar Cristo e crescer Nele. É
crucial perceber que podemos ver Cristo em todos os
itens da criação. Precisamos abandonar o conceito
que temos dos céus, da terra e das coisas físicas;
precisamos ver que Cristo é o Primogênito da velha
criação e o Primogênito da nova criação. Portanto,
Cristo é tudo; Ele é todo-inclusivo. Vendo que Cristo é
tudo, precisamos ter a percepção de que esse Cristo
está em nós para ser nossa esperança da glória. O que
precisamos hoje é crescer Nele até a maturidade.
Todos os santos se apegam a vários conceitos do
universo das coisas materiais. Se irmãos de diferentes
culturas discutissem esses conceitos detalhadamente
e com franqueza, s m dúvida acabariam brigando. Na
maior parte do tempo somos educados e nos
amoldamos para não ofender os outros. Mas se
falássemos sobre os vários conceitos que temos do
mundo, descobriríamos que ainda vivemos de acordo
com nossa filosofia. Os americanos vivem segundo a
filosofia americana e os chineses, segundo a filosofia
chinesa. Embora estejamos na vida da igreja na
restauração do Senhor, permanecemos em nossas
culturas. Doutrinariamente podemos declarar que
Cristo está em nós como nossa esperança da glória.
Mas na verdade o que nos ocupa interiormente não é
Cristo, e, sim, nossa filosofia.
Se quisermos ter a atitude adequada em relação
às coisas físicas, precisamos ver que os diversos
aspectos da criação de Deus são a expressão de Deus
por meio de Cristo. Os cristãos com passado judaico
podem ficar maravilhados com a beleza da criação de
Deus. Usando as palavras do Salmo 8, podem
proclamar que o nome do Senhor é excelente em toda
a terra. Mas enquanto esses irmãos com esse passado
apreciam a criação, os irmãos sob outra influência
filosófica podem desprezá-la. Podem considerar o
universo material intrinsecamente maligno. Na
tentativa de convencer e subjugar uns aos outros,
esses irmãos com filosofias diferentes podem
esquecer-se de Cristo. Embora estejam na igreja, não
se apegam a Cristo de maneira prática em relação ao
universo. Pelo contrário, apegam-se aos próprios
conceitos e idéias.
Nesse ponto, o que Paulo diz no capítulo um é
crucial: a herança dos santos é Cristo, a imagem do
Deus invisível. Essa imagem é o Primogênito de toda
a criação. Nem os gregos nem os judeus estão
corretos. A verdade é que os céus, a terra e todas as
coisas materiais são a expressão de Deus por meio de
Cristo. Além disso, a igreja, a nova criação de Deus,
também é Sua expressão. Na igreja estamos em
Cristo, por meio de Cristo e para Cristo, e subsistimos
Nele para ser a expressão de Deus em Cristo.
Posso testificar que isso não é mera doutrina sem
relação prática com a vida cristã diária. Após eu ter
visto isso, meu conceito dos céus, da terra e de todas
as coisas físicas, até mesmo dos alimentos e das
roupas, mudou. É claro que não prego o panteísmo.
Segundo a Bíblia, entretanto, ensino que todas as
coisas físicas foram criadas em Cristo, por meio de
Cristo e para Cristo. Isso é ainda mais verdadeiro em
relação à igreja como a nova criação de Deus. A igreja
foi criada em Cristo, por meio de Cristo e para Cristo,
e subsiste em Cristo, que é a própria imagem de Deus.
Na vida da igreja na restauração do Senhor não
devemos viver segundo conceitos filosóficos nem
segundo ensinamentos religiosos, e, sim, segundo
Cristo. Ele está em nós como nossa esperança da
glória, e nós agora crescemos Nele. Continuaremos a
crescer Nele até atingir a maturidade, quando todo o
nosso ser, principalmente o ser interior, será
permeado de Cristo.
Ao considerar os céus e a terra, nosso conceito
sobre eles deve estar relacionado com Cristo. Mesmo
quando olhamos para uma mesa, casa, alimento ou
roupa, devemos pensar em Cristo. Vemos Cristo em
todo lugar e em todas as coisas. Portanto devemos
viver Cristo, e não outra coisa. O Cristo pelo qual
vivemos é todo-inclusivo. O primeiro aspecto de Sua
todo-inclusividade é que Ele é a imagem, a plenitude,
a expressão de Deus na velha e na nova criação.
Assim, nosso conceito do universo está totalmente
relacionado com Cristo. Devemos somente conhecer
Cristo e viver de acordo com Ele.
Para descrever Cristo adequadamente
precisamos usar os termos encontrados no livro de
Colossenses. Cristo é a herança dos santos, a imagem
do Deus invisível, a plenitude ele Deus. Ele é também
o Primogênito da criação e o Primogênito dentre os
mortos. Além disso, Ele vive em nós para ser nossa
esperança da glória. Agora precisamos crescer Nele.
Que todos percebamos que o universo é a expressão
de Deus por Cristo! Por todo o universo vemos Cristo,
a imagem do Deus invisível.

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