Mercado Financeiro

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Mercado financeiro

Em economia e finanças, mercado financeiro é como se denomina todo o universo que envolve
as operações de compra e venda de ativos financeiros, tais como valores mobiliários (ações,
obrigações, etc.), mercadorias (pedras preciosas, commodities, etc.) e câmbio. É todo o ambiente
em que ocorrem as operações de investimentos financeiros.[1][2][3][4] Existem mercados gerais,
onde muitos produtos são comercializados, e mercados especializados, onde apenas um tipo de
mercadoria é negociada.

Os mercados funcionam colocando muitos compradores e vendedores interessados num mesmo


"local", tornando assim mais fácil encontrarem-se uns aos outros. Uma economia que depende
principalmente de interações entre compradores e vendedores para alocar recursos é conhecida
como uma economia de mercado, em contraste a economia de comando ou com a economia de
não-mercado, como é exemplo a economia de doação. Economistas como o americano Milton
Friedman e o austríaco Friedrich Hayek, ambos ganhadores do Prêmio Nobel de economia,
afirmam que este setor é um dos principais responsáveis por potencializar o crescimento
econômico, gerando consequente desenvolvimento humano e, portanto, aumentando a qualidade
de vida e o bem-estar da sociedade.

A B3, antiga BOVESPA,[5][6] é a bolsa de valores oficial do


Brasil, sediada na cidade de São Paulo. O mercado de ações é uma subdivisão do mercado
financeiro.[4][7]

Em finanças, os mercados financeiros permitem:

 A angariação de capital (no mercado de capitais)


 A transferência de risco (no mercado de derivativos, que são títulos futuros)
 O comércio internacional (no mercado de divisas, sinônimo de moeda)
Um exemplo conhecido é um processo de financiamento. Normalmente, quem quer ser
financiado emite um recibo ao seu financiador, prometendo restituir o capital investido. Essas
receitas são títulos, que podem ser comprados ou vendidos livremente. Em troca do empréstimo
de dinheiro, quem o concede (financiador) espera uma compensação sob a forma de juros ou
dividendos.

Em matemática financeira, o conceito de um mercado financeiro é definido em termos de um


processo estocástico de movimento Browniano em tempo contínuo.

Subdivisões
O mercado financeiro pode ser dividido em quatro grandes mercados[8]:

 Mercado de capitais: é um meio de distribuição de valores mobiliários, que tem o


objetivo de gerar liquidez aos títulos emitidos pelas empresas e viabilizar o seu processo
de capitalização. Isto quer dizer que o objetivo é direcionar os recursos financeiros da
sociedade para o comércio, a indústria e outras atividades econômicas, assim
remunerando melhor o investidor. Fazem parte desta área a compra e a venda de ações,
debêntures, etc.[9];

 Mercado de crédito: atuam neste segmento diversas instituições financeiras e não


financeiras prestando serviços de intermediação de recursos de curto, médio e longo[10]
prazo para agentes deficitários que necessitam de recursos para consumo ou capital de
giro.[11] É o segmento onde ocorrem operações de empréstimo, arrendamento,
financiamento, etc.;

 Mercado de câmbio: é onde são negociadas as trocas de moedas estrangeiras (dólar, euro,
yuan, etc.).[11]

 Mercado monetário: é o mercado onde se concentram as operações para controle da


oferta de moeda e das taxas de juros de curto e curtíssimo prazo com vistas a garantir a
liquidez da economia.[11] Abrange toda a rede de entidades ou órgãos financeiros que
negociam títulos ou valores, concedendo empréstimos a empresas ou particulares a curto
prazo, em troca do pagamento de juros.[12]

Sociologia do mercado financeiro


A Sociologia ainda tem poucas produções sobre o que forma os mercados financeiros, uma vez
que eles são uma instituição em constante mudança que há pouco tempo tem reflexos palpáveis
na organização social e instituições tradicionais.

Nesse sentido, os esforços de autoras como Karen Ho e Annelise Riles retratam bem quem faz os
grandes centros financeiros, desde os responsáveis pelo setor de trading (compra e venda de
ativos) até quem trabalha no back-office (setor operacional, que vai desde advogados que
formulam contratos até operadores de mesas de câmbio).
No que tange à questão do trabalho nessas instituições, tanto as antropólogas como o economista
Costas Lapavitsas, em um livro publicado em 2016, “Profiting Without Producing: how finance
exploits us all”, notam que, à revelia do crescimento do valor e da influência das instituições
financeiras no desenvolvimento da economia mundial, isso não se refletiu na contratação de mais
trabalhadores. Esta constatação leva a duas conclusões: a primeira é de que grande parte do
trabalho dentro dos mercados financeiros é automatizado e baseado no desenvolvimento
constante de novas tecnologias que tornem as transações cada vez mais rápidas e que favoreçam
o autoatendimento de seus clientes – inserindo, dessa forma, uma parcela maior da população no
sistema bancário e financeiro – e a segunda aparece quando a lente é colocada sobre quem
trabalha dentro dessas instituições, onde há uma cultura já consolidada de competição interna e
de altos níveis de exploração, sem garantia de contrapartida financeira para esses trabalhadores.
Quando, no entanto, a lente é colocada sobre a “elite” dos mercados, nota-se que, assim como
nos ambientes nacionais, existe em curso o surgimento de uma nova “elite internacional”,
formada nas mesmas instituições, com as mesmas origens e cultura, que reproduz a separação
entre quem comanda o processo e quem opera para que o mercado consiga funcionar.

Importância do direito
O Direito desempenhou um papel fundamental durante o adensamento do processo de
financeirização mundial. Costas Lapavitsas, em seu livro: “Profiting Without Producing – How
Finance Exploits Us All” retrata, em determinada parte da obra, como ocorreu essa evolução
financeira, destacando a importância da regulação como parte do desenvolvimento. A seguir será
exposta, com base no trabalho do Lapavitsas, a arquitetura jurídica da financeirização.

Logo após a Segunda Guerra Mundial, havia a visão baseada no keynesianismo e estimulada
pelo fantasma da crise de 1930, de que as finanças precisavam ser controladas de forma a
estabilizar o sistema de acumulação capitalista. O controle era feito tanto no interior dos Estados,
quanto de forma externa, no sistema internacional. No âmbito interno, o grande destaque e marco
jurídico do período foi a introdução do Glass Steagall Act em 1933 nos Estados Unidos, pelo
qual eram limitadas as associações dos bancos, separando os de investimento dos comerciais,
assim como a emissão de títulos. Já no meio externo, a evidência é principalmente do acordo de
Bretton Woods de 1944, o qual garantia a relevância do dólar como moeda do sistema financeiro
internacional, sendo que poderia ser convertido para seu valor em ouro.

Foi o sistema Bretton Woods que delineou o capitalismo no pós Segunda Guerra Mundial. Logo,
com o fim do acordo na década de 1970, essa época de grande controle sobre os sistemas
financeiros declinou. Também com a ajuda da expansão dos “euromarkets” que começaram a
surgir já por volta de 1960, pelos quais as corporações conseguiam negociar fora dos controles
estatais. Tais mudanças afetaram permanentemente o sistema financeiro.

Na década de 1980 tem início o que Lapavitsas chama de a era da financeirização. Após o
declínio da antiga forma de regulação do sistema financeiro o que surge não é a completa
ausência de controle, mas uma mudança em sua natureza. O foco agora é moderar cada
instituição financeira não como um sistema, mas individualmente. O olhar passa a ser mais
liberal e microeconômico, com os órgãos públicos tendo centralidade para o funcionamento
dessa nova conjuntura financeira.
Nesse novo cenário a regulação existe para corrigir possíveis falhas do mercado, possuindo três
características fundamentais, segundo Lapavitsas. Primeiramente os bancos centrais dos países
passam a ter o papel de “lender of last resort”, também, são feitas garantias de segurança para
depósito tendo em vista estabilizar a confiabilidade entre o banco e o povo, o terceiro princípio,
de suma importância para a financeirização tem respaldo na expressão “too big to fail” em que, o
Estado se torna obrigado a proteger as instituições financeiras devido aos grandes impactos que
sua queda poderia causar na economia, ocasionando lucros e segurança para os bancos e
incertezas para o povo. As conseqüências de um colapso nesse sistema e da falha dessa forma de
regulação foram sentidas mundialmente durante a crise de 2007, gerando questionamentos e
teorias sobre o desenrolar da financeirização.

Dessa maneira, é possível notar como o direito agiu de forma a possibilitar o ambiente necessário
para o desenvolvimento do fenômeno da financeirização. Tendo nas primeiras décadas do Século
XX, estabelecido os moldes do capitalismo mundial com o advento do sistema Bretton Woods e
leis nacionais como o Glass Steagall Act de países desenvolvidos como os Estados Unidos,
lançaram tendências que foram seguidas mundialmente. E, mais tarde, as redes de proteção
oferecidas pelas entidades nacionais às instituições financeiras.

Hoje, o direito, ainda permeia diversos aspectos da financeirização, como por exemplo, as
instituições financeiras internacionais buscam leis mais seguras e previsíveis, do que aquelas
tidas como parte de sistemas incompletos que provocam incertezas para os investidores. Esse
tema da segurança jurídica é apenas um dentro dos diversos papéis que o direito ainda possui na
atual conjuntura das finanças.

Financeirização
O processo que ficou conhecido como financeirização é uma fase do desenvolvimento do
sistema capitalista caracterizado pelo aumento da liberdade e fluidez dos fluxos de capital entre
os países e pelo surgimento de novos atores e de uma nova dinâmica de funcionamento dentro
dos mercados financeiros, como o surgimento de diversos ativos e produtos financeiros e seus
derivados, previamente dominados por grandes corporações e bancos comerciais, com forte
influência estatal e regulamentação dentro dos espaços nacionais.

Ao final da 2ª Guerra Mundial, as principais economias mundiais se encontraram e redigiram um


acordo que pautaria as regras da economia mundial a partir daquele momento, o que ficou
conhecido como o Acordo de Bretton Woods, em 1946, que instaurou a política conhecida como
“Estado de Bem-Estar Social”, tendo como inspiração teórica a Macroeconomia de John
Maynard Keynes, lançada pouco tempo antes e que previa a necessidade de intervenção estatal
tanto para recuperação quanto para o desenvolvimento das economias, partindo da análise de
agregados macroeconômicos (PIB, renda, despesas, investimento e poupança) e de índices como
inflação e desemprego.

Essa estrutura político-econômica serviu para que os países pudessem recuperar suas economias
e fizessem os índices econômicos e sociais se manterem em patamares saudáveis durante os anos
1950 e 1960. Em 1973, quando o presidente dos Estados Unidos à época, Richard Nixon,
desvinculou a taxa de câmbio do dólar à taxa de conversão do ouro, teve fim o Acordo de
Bretton Woods. No mesmo período, já no âmbito da Terceira Revolução Industrial, há um
aumento da importância do setor financeiro dentro das economias nacionais. Antes disso, sua
participação era muito modesta e tinha como finalidade financiar a produção das grandes
empresas. A partir deste momento, “as taxas de lucro [das empresas transnacionais]
permaneceram abaixo dos níveis de 1950 e 1960, o desemprego, no geral, subiu e se manteve
enquanto os salários reais não mostraram nenhuma tendência sólida de crescimento”[13].

Assim, ao final dos anos 1970 e início dos anos 1980, sob o comando de Margaret Thatcher e
Ronald Reagan, teve início a chamada “Reforma Conservadora”, que desregulamentou boa parte
dos ativos e alimentou o funcionamento dos mercados financeiros através do aumento
exponencial da dívida pública e da criação dos “derivativos” – produtos financeiros fechados em
contrato entre duas partes nos quais o preço deste é definido através do preço de um outro
produto no futuro, quando o valor deste contrato será pago. O produto cujo preço determina o
valor derivado do contrato pode variar desde uma commodity ao preço de uma moeda.

Entretanto, nos anos 1980, as novas políticas de reajuste do funcionamento dos mercados
estavam ainda restritas aos países do “Norte”, principalmente Estados Unidos, Europa e Japão, o
que gerou um processo intensivo de concentração de capital nesses países, gerando um
desequilíbrio acentuado dentro do sistema internacional. Nesse momento, fica clara a
importância da política para a expansão dos ideias neoliberais e a inserção de “mercados
emergentes” no processo de financeirização, uma vez que estes países (como foi o caso do Brasil
e do México) estavam com dívidas públicas altíssimas e se mostraram incapazes de atrair capital
suficiente para financiar seu crescimento.

Nesse ínterim, entram em cena organizações internacionais como o FMI (Fundo Monetário
Internacional) e o Banco Mundial, que, ao salvar países subdesenvolvidos da bancarrota,
impõem uma série de medidas que devem ser tomadas por estes governos, de forma que eles se
tornem países mais atrativos ao investimento externo e assim possam financiar o seu
desenvolvimento, no documento conhecido como “Consenso de Washington”, em 1988.

Desde então, a gestão dos países subdesenvolvidos sempre está envolvida em questões de gastos
públicos para atração de investimentos externos, numa era em que a produção industrial tem
baixas taxas de lucro, o emprego e os salários são cada vez mais flexibilizados para que,
progressivamente, o “lucro não-investido” de empresas seja aplicado em mercados financeiros e
produtos que nada têm a ver com a produção, de forma a gerar “dinheiro que gera mais
dinheiro”, em um espaço onde a produção de capital perde espaço para a circulação, que passa a
ser o fator fundamental da análise do processo de acumulação.

Financeirização no Brasil
Roberto Grün em seu trabalho: “Decifra-me ou Te Devoro! As Finanças e a Sociedade
Brasileira” defende a tese de que o Brasil passou por uma construção de dominação cultural
financeira, na qual não somente permeia os meios econômicos mas, também a cultura, uma
espécie de visão de mundo que procura explicar e resolver os problemas do Brasil por meio de
seu olhar “imbatível”, da lógica financeira.
A construção dessa dominação começa por volta de 1970 em que os pontos centrais eram as
grandes empresas nacionais, juntamente com os projetos desenvolvimentistas e com o “milagre
econômico”. Entretanto, com o advento do governo Collor essa perspectiva começa a mudar,
passando da centralidade da grande empresa, para o foco no indivíduo, sendo tal processo
aprofundado durante o governo FHC, com as privatizações das empresas estatais e os limites
impostos aos mercados sendo vistos como algo negativo e contrário ao progresso.

A mudança da imagem do que constitui o mercado financeiro, antes visto como um jogo de
apostas é agora um mercado de investimentos, essa mudança é um exemplo de como as
mentalidades foram sendo moldadas para abraçarem esse novo método financeiro. Outro ponto
que contribuiu para o avanço da dominação foram as chamadas inovações financeiras, como a
governança corporativa que por meio de processos nas empresas colabora para que funcionários
passem a pensar e a se comportar buscando os objetivos dos acionistas, as altas taxas de juros
brasileiras que são justificadas devido a um componente moral da sociedade também são
simbólicas dessa dominação.

Segundo Grun, essa dominação cultural é difícil de ser superada devido à legitimidade que
advém por intermédio da opinião das elites do país e validada através de teorias intelectuais que
corroboram para a permanência do status quo.

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