PL 1091 2019
PL 1091 2019
PL 1091 2019
Seção I
Art. 1º. Esta lei estabelece as condições necessárias para que seja assegurada a proteção
do trabalhador urbano e rural em face de sistemas de automação, adotados ou em vias
de serem adotados, implantados e desenvolvidos pelos empregadores, tomadores de
serviços e outras pessoas a eles equiparados, regulando o disposto no inciso XXVII, do
art. 7º, da Constituição.
§1º. Para os efeitos desta lei, considera-se automação o método pelo qual se utilizem
quaisquer equipamentos, mecanismos, processos ou tecnologias para realização de
trabalho, ou para seu controle, com reduzida ou nenhuma interferência humana.
Art. 2º. A adoção ou implantação da automação, conforme definida nesta Lei, será
obrigatoriamente precedida de negociação coletiva com o sindicato representativo da
categoria profissional.
§1º. Em caso de inexistência de negociação coletiva prévia serão nulos, de pleno direito,
os atos jurídicos tendentes à automação, cabendo reparação por perdas e danos, no que
couber, aos trabalhadores prejudicados.
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§2º. Inexistindo entidade sindical representativa da categoria profissional, formar-se-á
comissão eleita pelos trabalhadores do estabelecimento para a específica finalidade da
negociação versada no caput deste artigo.
Seção II
Da Proteção Trabalhista
Art. 3º. Para fins de discussão, consulta, implementação e fiscalização, como também
para os fins do art. 2º, o empregador ou tomador de serviços é obrigado a comunicar ao
sindicato da respectiva categoria laboral e à Superintendência Regional do Trabalho
competente, com antecedência mínima de seis meses em relação à data de adoção ou
implantação da automação, conforme definida no art. 1º desta Lei:
Art. 4º. A comunicação de que trata o art. 3º desta Lei será acompanhada das
informações e documentos pertinentes à adoção ou implantação da respectiva
automação, com vista ao conhecimento prévio dos objetivos, extensão e cronograma do
modelo adotado.
Art. 5º. As pessoas naturais, jurídicas ou entes despersonalizados que adotarem qualquer
método de automação devem garantir, aos empregados remanescentes, as mesmas ou
melhores condições de trabalho.
§ 2º O empregador não poderá demitir sem justa causa quaisquer empregados, nos
primeiros seis meses, e nenhum dos empregados readaptados para outras funções, nos
primeiros dois anos, sempre contados a partir da adoção, implementação ou ampliação
da automação da empresa.
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§ 3º Durante os dois primeiros anos de adoção da automação, só poderá haver dispensa
de trabalhadores mediante prévia negociação coletiva e adoção de medidas para reduzir
os impactos negativos da implantação do programa, encaminhando-se os trabalhadores
dispensados aos centros a serem criados nos termos do parágrafo 5º deste artigo.
Art. 6º. Para a instalação dos métodos de automação, o empregador deverá proporcionar
cumulativamente:
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Art. 7º. Ao empregado que não se adaptar às novas condições de trabalho, em
decorrência da mudança tecnológica, será garantida opção de remanejamento interno na
empresa, de acordo com a sua formação ou habilidades profissionais e com as
disponibilidades da empresa.
Art. 9º. Fica vedada a dispensa coletiva massiva de trabalhadores decorrente da adoção
ou implantação de métodos de automação.
Seção III
Da Proteção Previdenciária
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§2º. O número de postos de trabalho eliminados em razão de automação deverá ser
anualmente comunicado pela pessoa jurídica ou equiparada para efeitos fiscais, por
ocasião da coleta de dados para Relatório Anual de Informações Sociais – RAIS.
§3º. A omissão dolosa dos dados referidos no parágrafo anterior sujeitará a pessoa
jurídica ou equiparada a multa em favor do Fundo de Participação do Programa de
Integração Social, agravada em caso de reincidência, nos termos de lei complementar.
Seção IV
Art. 13. A lei referida no art. 11 será editada no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, a
contar da publicação da presente Lei.
Art. 14. O Ministério do Trabalho editará a portaria prevista no art. 1º, § 2º, no prazo
máximo de 60 (sessenta) dias, a contar da publicação da presente Lei.
Art. 15. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 (cento e oitenta) dias, a contar de
sua publicação.
JUSTIFICAÇÃO
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É possível o desenvolvimento econômico, com adoção das novas tecnologias,
sem que haja a desvalorização do trabalho ou o aumento das taxas de desocupação.
Ora, não é à toa que, ao mesmo tempo em que se garante a livre iniciativa
empresarial, estabeleça-se no mesmo patamar a garantia aos valores sociais do trabalho,
pois é necessário o equilíbrio entre esses dois direitos, não sendo adequado adotar-se
automação como forma de aniquilar ou ameaçar os valores sociais do trabalho.
Até o presente momento, mais de 30 anos depois do seu advento, ainda não foi
regulamentado o dispositivo constitucional que estabelece a necessidade de proteção do
trabalhador em face da automação. É certo que as tentativas anteriores foram
inadvertidamente arquivadas, continuando a previsão contemporânea, de utilidade
imensurável para os Direitos Humanos de segunda geração (direitos sociais), letra morta
no mundo jurídico, em razão da ausência de sua regulação, propiciando o aumento do
desemprego, das taxas de acidentes e doenças ocupacionais, o que apenas agrava o
custo do Estado e aumenta a desigualdade social. É injustificável a mora legislativa
inconstitucional.
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A insurgência contra a omissão legislativa tem chegado ao Supremo Tribunal
Federal através de mandados de injunção (como exemplo: MI 618/MG), sem sucesso
neste caso.
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A proteção em face da automação torna necessário que a responsabilidade
pelas consequências desta implementação seja, também, do beneficiário da utilização
desta nova tecnologia, que não pode fugir ao risco inerente à sua atividade.
As políticas públicas que tem sido utilizadas no Brasil como forma de amenizar
o desemprego, mesmo sob o argumento de ser medida adotada em face da automação,
tais como, por exemplo, o Programa do Seguro-Desemprego, são paliativos que, além
de não regular especificamente a regra constitucional, não tratam da questão da proteção
da saúde e segurança do trabalhador em face da automação e na prática têm sido
políticas de manutenção provisória de rendas para os desempregados em geral, que
pouco têm contribuído para a reinserção no mercado de trabalho e carecem de qualquer
vinculação específica com as consequências da automação.
“Governos têm se sucedido sem que consiga implementar uma política pública para a
obtenção do pleno emprego. Uma boa iniciativa seria a edição da lei prevista no texto constitucional,
para combater a automação, para impedir ou evitar que a máquina amplie cada vez sua postura autoritária
de suprimir postos de trabalho, sendo para tanto, usado o argumento da redução de custo.
Portanto, apresento este projeto para regulamentar o art. 7º, XXVII, da CF/88,
a fim de garantir a efetividade da proteção do trabalhador em face da automação,
resguardando os princípios da dignidade humana, valorização do trabalho e a cidadania,
todos previstos na Constituição Federal, sendo essencial para o desenvolvimento e
restabelecimento da igualdade social. Acrescenta-se que a presente proposta, ao
estabelecer mecanismos concretos de proteção, incorpora a valorização do diálogo
social e do protagonismo das entidades sindicais.
REFERÊNCIAS:
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COLUSSI, Luiz Antônio. A compreensão das políticas públicas do (RE) Funcionamento a uma política de
Pleno Emprego.Pág.25
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Feliciano, Guilherme Guimarães; Treviso, Marco Aurelio Marsiglia; Fontes, Saulo
Tarcísio de Carvalho. REFORMA TRABALHISTA: visão, compreensão e crítica.
Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho – Anamatra, 2017 - LTr