1.eam Stemi-2017
1.eam Stemi-2017
1.eam Stemi-2017
PORTUGUESA
Recomendações
de Bolso da ESC
de 2017
Comissão para as
Recomendações Práticas
EAM-STEMI
Recomendações para o Tratamento
do Enfarte Agudo do Miocárdio
nos Doentes que se apresentam
com Elevação do Segmento ST
Sociedade Europeia
de Cardiologia
Distribuição no âmbito de Colaboração
para a formação científica continuada
biénio 2017-2019
www.spc.pt
Patrocínio de:
*Adaptado das Recomendações de 2017 da ESC para o tratamento do enfarte agudo do miocárdio em
doentes com elevação do segmento-ST (European Heart Journal 2017; doi:10.1093/eurheartj/ehx393).
1
Índice
2
6. Terapêuticas a longo prazo para o enfarte do miocárdio
com elevação do segmento ST . ........................................................................... Pág. 38
6.1. Intervenções no estilo de vida e controlo dos fatores de risco . .... Pág. 38
6.2. Intervenções farmacológicas ......................................................................... Pág. 39
3
1. Introdução
As atualizações no tratamento de doentes com enfarte do miocárdio com elevação
do segmento ST (STEMI) devem basear-se em evidências fundamentadas, derivadas,
sempre que possível, de ensaios clínicos bem conduzidos ou justificadas, quando
necessário, pela opinião de peritos. É de reconhecer que, mesmo quando ensaios clí-
nicos excelentes foram desenvolvidos, os resultados estão abertos à interpretação,
podendo surgir a necessidade de adaptar os tratamentos tendo em consideração as
circunstâncias e os recursos clínicos.
Tabela 1 Classes de recomendações
Classes de Definição Terminologia a utilizar
recomendações
Classe I Evidência e/ou consenso geral É recomendado /
de que determinado tratamento é indicado
ou intervenção é benéfico,
útil e eficaz.
Classe II Evidências contraditórias e/ou
divergências de opiniões sobre a
utilidade/eficácia de determinado
tratamento ou intervenção.
Classe IIa Peso da evidência/opinião maiorita- Deve ser
riamente a favor da utilidade/eficácia. considerado
Classe IIb Utilidade/eficácia pouco comprovada Pode ser
pela evidência/opinião. considerado
Classe III Evidências ou consenso geral Não é recomendado
de que determinado tratamento
ou intervenção não é útil/eficaz
e que poderá ser prejudicial
em certas situações.
4
1.1 Definição de enfarte agudo do miocárdio
O termo enfarte agudo do miocárdio (EAM) deve ser utilizado quando existe evidência de
lesão no miocárdio (definida como uma elevação dos valores da troponina cardíaca com pelo
menos um valor acima do percentil 99 do limite superior de referência) com necrose num
contexto clínico compatível com isquemia do miocárdio. Por uma questão de estratégias
de tratamento imediatas tais como a terapêutica de reperfusão, é prática habitual designar
os doentes com dor torácica persistente ou com outros sintomas sugestivos de isquemia
e de elevação do segmento-ST em pelo menos duas derivações contíguas por enfarte do
miocárdio com elevação do segmento - ST (STEMI).
1.2 Epidemiologia do enfarte do miocárdio com elevação do segmento ST
Em todo o mundo, a cardiopatia isquémica é a causa isolada mais comum de morte, sendo
cada vez mais frequente. No entanto, na Europa tem havido uma tendência global para uma
redução da mortalidade por cardiopatia isquémica durante as últimas três décadas. Presen-
temente a cardiopatia isquémica é responsável anualmente por quase 1,8 milhões de mortes
ou por 20% de todas as mortes na Europa, embora com grandes variações entre os países.
As incidências relativas de STEMI estão a diminuir e as de enfarte do miocárdio sem ele-
vação do segmento - ST (NSTEMI) estão a aumentar. Existe um padrão compatível com
STEMI que é relativamente mais comum nos mais jovens do que nos mais idosos e mais
comum nos homens do que nas mulheres.
Diversos estudos recentes destacaram uma queda na mortalidade aguda e a longo prazo
verificada no seguimento de STEMI em paralelo com uma maior utilização da terapêutica de
reperfusão, da intervenção coronária percutânea (ICP) primária, da terapêutica antitrom-
bótica moderna e da prevenção secundária. No entanto, o índice de mortalidade continua
significativo: a mortalidade intra-hospitalar de doentes não selecionados com STEMI nos
registos nacionais dos países da ESC varia entre 4% e 12%, enquanto a mortalidade a um ano
dos doentes com STEMI, nos registos de angiografia, é aproximadamente de 10%.
Embora a cardiopatia isquémica se desenvolva em média 7 – 10 anos mais tarde na mulher,
quando comparada com o homem, o enfarte do miocárdio permanece como a causa principal de
morte na mulher. A síndrome coronária aguda (SCA) ocorre três a quatro vezes com mais fre-
quência no homem do que na mulher com menos de 60 anos, mas após os 75 anos, as mulheres
constituem a maioria dos doentes. Discute-se constantemente se os resultados são piores nas
mulheres. Diversos estudos indicam que um resultado pior está relacionado com a idade mais
avançada e com mais comorbilidades entre as mulheres que sofrem de enfarte do miocárdio.
Alguns estudos indicaram que as mulheres têm tendência para serem submetidas com menos
frequência a intervenções do que os homens, nomeadamente a terapêutica de reperfusão.
Estas recomendações têm o objetivo de realçar o facto de que as mulheres e os homens recebem
um benefício idêntico ao submeter-se a uma estratégia de reperfusão e a uma terapêutica
relacionada com STEMI, e que ambos os géneros têm de ser tratados do mesmo modo.
5
2. O que há de novo?
Figura 1 O que há de novo nas Recomendações de 2017 sobre EAM-STEMI
Complete Revascularization
Revascularização completab b • Cangrelor se os inibidores
PRAMI,PRAMI,
DANAMI-3-PRIMULTI,
DANAMI-3-PRIMULTI, da P2Y12 não foram
CVLPRIT Compare
CVLPRIT, -Acute
Compare-Acute administrados
CHAMPION
Thrombus
Aspiração Aspiration
trombosc c
TOTAL,TOTAL,
TASTE TASTE • Mudar para inibidores
potentes P2Y12 48 horas
Bivalirudin
Bivali rudina após a fibrinólise
MATRIX, HEAT-PPCI
MATRIX, HEAT-PPCI Opinião do especialista
Enoxaparin
Enoxaparina • Prolongar o Ticagrelor até
ATOLL,
ATOLL,Meta-análise
Meta-analysis 36 meses nos doentes de
alto risco
Early Hospital Discharge
Alta hospitalar Precoced d PEGASUS-TIMI 54
Small trials
Pequenos ensaios & observational
e dados observacionaisdata
• Utilizar a polipílula para
Oxigénio quando
Oxygen when AVOID
AVOID, Oxygenquando
Oxigénio when aumentar a adesão
SaO2 <95%
SaO2 < 95% DETO2X
DETO2X SaO2<<90%
SaO2 90% FOCUS
Dosei.V:
Dose i.V.TNK-tPA
TNK-tPA Dosei.V.
Dose i.V.TNK-tPA
TNK-tPA
igual
sameem todos
in all patients metade
STREAM half
doentes STREAM nos≥75
in Pts doentes
≥ 75years
anos
BMS = artéria
ARE bare metal stent; DES
relacionada com= drug elutingBMS
o enfarte; stent; IRA =não
= stents infarct
revestidos; DES = i.v.
related artery; = intravenous;
stents LDL fármacos;
revestidos com = low-density
ICP
=lipoprotein;
intervenção coronária
PCI percutânea;
= percutaneous i.v. = intravenoso;
coronary intervention;LDLSaO= 2lipoproteína de baixasaturation;
= arterial oxygen densidade;STEMI
SaO2 == saturação de
ST-elevation
oxihemoglobina arterial;
myocardial infarction; STEMI==enfarte
TNK-tPA do miocárdio
Tenecteplase tissue com elevação activator.
plasminogen do segmento
For ST; TNK-tPA of
explanation = ativador tecidular
trial names, do
see list
plasminogéneo da tenecteplase.
of abbreviations and acronyms. Consultar a lista de abreviaturas e acrónimos para explicação dos nomes dos ensaios.
aa
Apenas
Only forpara operacionais
experienced experientes
radial operators.no acesso pela radial.
bb
Antes
Beforedahospital
alta hospitalar
discharge(ou imediata
(either ou faseada).
immediate or staged).
6
DAÇÕES DE 2017 2017 NEWNOVOS/REVISTOS
CONCEITOS / REVISED CONCEPTS
EM 2017
EMACNO
MINOCA EAND INDICADORES DE QUALIDADE:
QUALITY INDICATORS:
• Revascularização completa • Novos capítulosdedicated
New chapters dedicadostoathese
estes topics.
tópicos
durante a ICP primária
indice nos doentes com SELEÇÃO
STRATEGY DASELECTION
ESTRATÉGIAAND E TEMPO TIME DEDELAYS:
ATRASO:
STEMI em choque •• Definição clara do
Clear definition of primeiro
first medicalcontacto médico
contact (FMC).(PCM)
Opinião do especialista • Definição do «tempo 0» para escolher a estratégia de
• reperfusão
Definition of(p.“time 0” to choose
ex.o relógio referfusion
da estratégia strategy
começa no (i.e. the
strategy clock
momento em que starts at the time ofo “STEMI
é determinado diagnosis”).
«diagnóstico de STEMI»).
• Implantação por rotina • SSelection
eleção daofICPPCIsobre
overafibrinolysis:
fibrinólise:when
quando há antecipação
anticipated delay
de stent diferido de
fromatraso desde
“STEMI o «diagnóstico
diagnosis” to wirede STEMI»is até
crossing ≤120à abertura
min.
DANAMI 3-DEFER • da lesão com
Maximum o fio
delay timeguiafrom
≤ 120 min. diagnosis” to bolus of
“STEMI
• Tempo de espera máximo desde o «diagnóstico de STEMI»
fibrinolysis agent is set in 10 min.
até ao bólus do agente da fibrinólise é definido em 10 min.
•• O
“Door-to-Balloon”
termo «porta-balão» terméeliminated
eliminado from guidelines.
das recomendações.
LIMITES DE TEMPO
TIME LIMITS PARA ABERTURA
FOR ROUTINE OPENING
DE
OF ROTINA
AN IRAeDE : UMA AREe:
• 0-12h
0–12h(Classe I); 12–48h
(Class I); 12-48h (Classe IIa);>48h
(Class IIa); > 48h(Class
(ClasseIII)
III).
ELETROCARDIOGRAMA
ELECTROCARDIOGRAMNA ATAPRESENTAÇÃO:
PRESENTATION:
•• BLeft
loqueio completo
and right bundledosbranch
ramosblock
esquerdo e direito,
considered equal for
considerados iguais, para recomendação de angiografia
recommending
urgente no casourgent angiography
de sintomas if ischaemic symptoms.
isquémicos.
TEMPO
TIME TO PARA A ANGIOGRAFIAAFTER
ANGIOGRAPHY APÓS A FIBRINÓLISE:
•FIBRINOLYSIS:
O período de tempo é estabelecido entre 2-24h após
fibrinólise bem
• Timeframe is setsucedida.
in 2–24h after successful fibrinolysis.
DOENTES
PATIENTSTRATADOS COM ANTICOAGULANTES:
TAKING ANTICOAGULANTS:
• AAcute
presentação do tratamento
and chronic agudo
management e crónico.
presented.
c
Aspiração de trombos por rotina (pode ser considerado de recurso em certos casos).
d
Em 2012 a alta hospitalar precoce foi considerada após 72h, enquanto em 2017 é de 48-72h.
e
Se sintomas ou instabilidade hemodinâmica, a ARE deve ser aberta independentemente do tempo a partir
do início dos sintomas.
Nos painéis da esquerda e do meio, por debaixo de cada recomendação, é indicado o ensaio mais representativo
(acrónimo), na sequência da indicação.
7
3. Cuidados de emergência
3.1 Diagnóstico inicial
O tratamento – incluindo diagnóstico e tratamento – de STEMI inicia-se com o
primeiro contacto médico (PCM). É recomendada a adoção de uma estratégia de
reperfusão regional para maximizar a eficiência.
Um diagnóstico operacional de STEMI (designado por «diagnóstico de STEMI» ao
longo deste documento) deverá ser realizado inicialmente. Tal baseia-se habitual-
mente em sintomas consistentes com isquémia do miocárdio. (p.ex. dor torácica
persistente) e sinais (i.e. ECG de 12 derivações).
Quando há suspeita de STEMI, deve ser realizado e interpretado um ECG de 12
derivações assim que possível, no momento do PCM para facilitar o diagnóstico
e a triagem precoces de STEMI. Nos doentes com suspeita clínica de isquémia do
miocárdio e de elevação do segmento ST, a terapêutica de reperfusão necessita
de ser iniciada logo que possível.
Os critérios eletrocardiográficos baseiam-se em alterações de correntes elétricas
do coração (medidas em miliVolts). A calibração padrão do ECG é 10mm/mV. Por-
tanto 0,1 mV corresponde a 1 mm2 do eixo vertical. Para simplificar, neste docu-
mento, os desvios de ECG são expressos em mm seguindo a calibração padrão.
No contexto clínico próprio, a elevação do segmento ST (medida no ponto J)
é considerada sugestiva de oclusão aguda da artéria coronária em questão nos
seguintes casos: ≥ 2 derivações contíguas com elevação do segmento ST ≥ 2,5 mm
nos homens com < 40 anos, ≥ 2 mm nos homens com ≥ 40 anos ou ≥ 1,5 mm nas
mulheres, nas derivações V2-V3 e/ou ≥ 1mm nas outras derivações. Nos doentes
com enfarte do miocárdio inferior, recomenda-se o registo de derivações precor-
diais direitas (V3R e V4R) em busca da elevação do segmento ST para identificar o
enfarte ventricular direito (VD) concomitante. Do mesmo modo, a depressão do
segmento ST nas derivações V1-V3 sugere isquemia do miocárdio, especialmente
quando a porção terminal da onda T é positiva (equivalente à elevação do seg-
mento ST), devendo ser considerada a confirmação pela elevação concomitante
do segmento ST ≥ 0,5 mm, registada nas derivações V7-V9 como forma de iden-
tificar enfarte do miocárdio posterior. A presença da onda Q no ECG não deve
necessariamente alterar a decisão sobre a estratégia de reperfusão.
A colheita de sangue para determinação dos marcadores séricos deve ser rea-
lizada por rotina na fase aguda. Esta indicação não deve atrasar a estratégia/
tratamento de reperfusão. Se persistirem dúvidas relativamente à possibilidade
de enfarte do miocárdio agudo em evolução, a avaliação imagiológica urgente
contribui para uma terapêutica de reperfusão atempada nestes doentes.
8
Recomendações para o diagnóstico inicial
Recomendações Classea Nívelb
Monitorização por ECG
São indicados o registo e a interpretação de um ECG de 12 derivações logo
I B
que possível após o PCM, com um tempo alvo máximo de 10 min.
É indicada a monitorização eletrocardiográfica com capacidade de desfibrilha-
I B
ção logo que possível em todos os doentes com suspeita de STEMI.
9
Tabela 3 Formas de apresentação eletrocardiográficas atípicas que devem
conduzir a uma estratégia de intervenção coronária percutânea primária nos
doentes com sintomas em curso compatíveis com isquémia do miocárdio
Bloqueio completo do ramo
Os critérios podem ser utilizados para melhorar o rigor do diagnóstico de STEMI no BCRE:
• Elevação concordante do segmento ST ≥ 1mm nas derivações com um complexo QRS positivo
• Depressão coincidente do segmento ST ≥ 1 mm em V1-V3
• Elevação discordante do segmento ST ≥ 5 mm nas derivações com um complexo QRS negativo
A presença de BCRD pode confundir o diagnóstico de STEMI.
Ritmo de pacing ventricular
Durante o pacing VD, o ECG mostra também BCRE e as regras acima referidas também se aplicam
ao diagnóstico de enfarte do miocárdio durante o pacing; no entanto, são menos específicas.
Enfarte do miocárdio de parede posterior isolado
• Depressão isolada do segmento ST ≥ 0,5 mm nas derivações V1-V3 e elevação do segmento
ST (≥ 0,5 mm) nas derivações da parede torácica posterior V7-V9.
Isquémia devida a oclusão da artéria coronária do tronco comum ou a doença
multivaso
• Depressão ST ≥ 1 mm em oito ou mais derivações, acopladas com a elevação do segmento
©ESC 2017
ST em aVR e/ou V1 sugerem obstrução coronária do tronco comum ou equivalente ao
tronco comum ou isquemia grave de três vasos.
BCRD = bloqueio completo do ramo direito; BCRE = bloqueio completo do ramo esquerdo; ECG = eletrocar-
diograma; STEMI = enfarte do miocárdio com elevação do segmento ST; VD = ventricular direito.
11
Paragem cardíaca (continuação)
Recomendações Classea Nívelb
12
As principais características das referidas redes são:
13
Figura 2 Formas de apresentação do doente, componentes do tempo
Tempo total de
Patient
Atraso do delay
doente EMS delay
Atraso do SEM
FMC: EMS
PCM: SEM
<10’
Diagnóstico
STEMI
diagnosis
de STEMI
<10’
FMC:
PCM:
Centro sem
Non-PCI ICP
centre
<10’
FMC: PCI
PCM: centre
Centro com ICP
Atraso do delay
Patient doente
Tempo total de
ICP = intervenção coronária percutânea; PCM = Primeiro Contacto Médico; SEM = Serviço de Emergência
Médica; STEMI = enfarte agudo do miocárdio com elevação do segmento ST.
O modo recomendável de apresentação do doente consiste em avisar o SEM (número nacional de emer-
gência médica: 112 ou número semelhante de acordo com a região). Quando o diagnóstico de STEMI é
realizado fora do contexto hospitalar (via SEM) ou num centro sem capacidade de realizar a ICP, a decisão
de escolher uma estratégia de reperfusão baseia-se no tempo estimado desde o diagnóstico de STEMI até
14
de isquemia e fluxograma para a seleção da estratégia de reperfusão
isquemia
Atraso do sistema
Primary <90’
Estratégia
Reperfusion
Reperfusão
≤120 min PCI
ICP
(Wire crossing)
(Passagem do fio guia)
primária
strategy
Tempo
Time
para a ICP?
to PCI?
Estratégia <10’
Fibrinolysis Reperfusion
Reperfusão
>120 min
strategy
Fibrinólise (Bólus bolus)
(Lytic lítico)aa
Primary
Estratégia <60’ Reperfusão
Reperfusion
PCI
ICP
(Fio guia)
(Wire crossing)
Diagnóstico
STEMI primária
strategy
de STEMI
diagnosis
Atraso do sistema
isquemia
à reperfusão mediada pela ICP (fio guia). O atraso do sistema para os doentes que avisam o SEM inicia-se
no momento do alerta telefónico, embora o PCM ocorra quando o SEM chega ao local (consultar a tabela
4 para definição dos termos).
’significa minutos.
a
Os doentes com fibrinólise devem ser transferidos para um centro com capacidade para ICP imediatamente
após a administração do bólus lítico.
15
Logística dos cuidados pré-hospitalares
Recomendações Classea Nívelb
I C
recurso, sejam atendidos num local com monitorização adequada (p.ex.
serviço de urgência, UCC/UCI, unidade de cuidados intermédios).
24/7 = 24 horas por dia, 7 dias por semana; ECG = eletrocardiograma; ICP = intervenção coronária percutânea;
SEM = serviço de emergência médica; STEMI = enfarte do miocárdio com elevação do segmento-ST; UCC =
unidade de cuidados coronários; UCI = unidade de cuidados intensivos.
a
Classe de Recomendação.
b
Nível de evidência.
16
4. Terapêutica de reperfusão
4.1. Seleção de estratégias de reperfusão
A ICP primária é a estratégia de reperfusão preferencial nos doentes com STEMI no
período de 12 horas após o início dos sintomas, desde que possa ser realizada rapida-
mente (i.e. 120 min a partir do diagnóstico de STEMI) por uma equipa experiente. Esta
inclui não só cardiologistas de intervenção mas também pessoal de apoio qualificado.
Tem sido amplamente debatido se a extensão do tempo de atraso relacionado com
a ICP diminui as vantagens da ICP sobre a fibrinólise. Há falta de dados contempo-
râneos para definir o limite da escolha entre a ICP e a fibrinólise. Para simplificar
optou-se pelo tempo total (120 min) desde o diagnóstico de STEMI até à reperfusão
por ICP (i.e. a passagem do fio guia na oclusão da artéria relacionada com o enfarte
(ARE)) em vez de uma demora relativa relacionada com a ICP relativamente à fibri-
nólise. Se a estratégia de reperfusão for a fibrinólise, o objetivo consiste em injetar
o bólus do fibrinolítico no período de 10 min após o diagnóstico de STEMI.
Tabela 4 Definições dos termos relacionados com a terapêutica de reperfusão
Termo Definição
PCM O momento em que o doente é inicialmente avaliado por um médico, para-
médico, enfermeiro ou por pessoal qualificado do SEM que possa ter acesso e
interpretar o ECG e administrar as intervenções iniciais (p. ex desfibrilhação).
O PCM pode realizar-se ou num ambiente pré-hospitalar ou após a chegada
do doente ao hospital (p.ex. serviço de urgência).
Estratégia Fibrinólise em combinação com ICP de recurso (no caso de fibrinólise mal suce-
fármaco-invasiva dida) ou estratégia de ICP precoce de rotina (no caso de fibrinólise bem sucedida).
ARE = artéria relacionada com o enfarte; ECG = eletrocardiograma; ICP = intervenção coronária percutânea; PCM = pri-
meiro contacto médico; SEM = serviço de emergência médica; STEMI = enfarte do miocárdio com elevação do segmento ST.
17
Figura 3 Tempos alvo máximos de acordo com a seleção da
pelo SEM ou num centro
Strategy clock
ECG:
Diagnóstico
STEMI
0 de STEMI
diagnosis ≤120 min
Alert
Alerta & transfer
e transferência Estratégia de ICP
Primary PCI
para umtocentro com ICP
PCI centre primária
strategy
10 min
Rescue
ICP de
PCI
Recurso No
Não
2 horas
hours
24 horas
hours
ECG = eletrocardiograma; ICP = intervenção coronária percutânea; STEMI = enfarte do miocárdio com
elevação do segmento-ST.
O diagnóstico de STEMI é o ponto 0 do tempo de estratégia. A decisão de escolher a estratégia de reperfusão
nos doentes que se apresentam no SEM (contexto não hospitalar) ou num centro sem capacidade para ICP
baseia-se no tempo estimado desde o diagnóstico de STEMI até à reperfusão por ICP. Os tempos alvo a partir
do diagnóstico de STEMI representam o tempo máximo para fazer intervenções específicas.
18
estratégia de reperfusão nos doentes que se apresentam
sem capacidade para ICP
Time to
Tempo PCI?
para ICP?
>120 min
Fibrinolysis
Estratégia de strategy a a
fibrinólise
Bolus of
Bólus de
fibrinolíticobb
fibrinolytic 60–90 min
Transferência
Transfer to PCI para
centre
um centro com ICP
≥120 min
Cumprem
Meet os critérios
reperfusion criteria? Yes
Sim
de reperfusão?
Estratégia
Routine de PCI
ICP de rotina
strategy
a
Se a fibrinólise for contra-indicada, optar imediatamente para a estratégia de ICP primária, independente-
mente do tempo para ICP.
b
10 min é o tempo de atraso alvo máximo desde o diagnóstico de STEMI até à administração do bólus
de fibrinólise, devendo, no entanto, ser administrado logo que possível após o diagnóstico de STEMI
(depois de excluir contra-indicações).
19
20
Figura 4 Estratégias de reperfusão na artéria relacionada com o enfarte de acordo com o tempo
desde o início dos sintomas
0
ICP
Primary
Início dos
Symptoms Primária
PCI
onset
sintomas
I A I A
Fibrinólise
Fibrinolysis
Fibrinólise (only
(só se ifa ICP
PCInão
cannot realizada no
puderbeserperformed
120 min
período dewithin 120m o diagnóstico
desdefrom de STEMI)
STEMI diagnosis)
STEMI
3 horas
hours
ofSTEMI
ICP
Primary
Primária
PCI
phasede
I A
I A Fibrinólise
Fibrinolysis
Fibrinólise (só
(only
se aifICP
PCInão puder
cannot beser realizada no
performed
período de 120
within
min120m o diagnóstico
desdefrom de STEMI)
STEMI diagnosis)
Earlyinicial
Fase
12 horas
hours
ICP Primária ICP Primária
(no caso de sintomas, (no caso de sintomas,
instabilidade hemodinâmica instabilidade hemodinâmica
ou arritmias) ou arritmias)
IIa B
STEMI em evolução
48 hours
horas
I C ICP de rotina
(doentes estáveis
assintomáticos) III A
STEMI
Recent
STEMI
recente
ARE = artéria relacionada com o enfarte; ICP = intervenção coronária percutânea; STEMI = enfarte do miocárdio com elevação do segmento-ST.
Nos doentes que se apresentam na fase precoce (i.e. aqueles com diagnóstico de STEMI no período de 3 horas desde o início dos sintomas), a estratégia
da ICP primária é a estratégia de reperfusão a eleger. Se o tempo previsto a partir do diagnóstico de STEMI até à reperfusão por PCI for > 120 min, então
a fibrinólise imediata é a indicada. No período de 3 horas (e até 12 horas) após o início dos sintomas, quanto mais tarde se apresenta o doente, maior
consideração deverá ser atribuída à estratégia de ICP primária em oposição à administração da terapêutica fibrinolítica. No STEMI em evolução (12-48
horas após o início dos sintomas), deve ser considerada uma estratégia com ICP primária de rotina (angiografia e ICP posterior se indicado) em todos os
doentes. Após 48 horas (STEMI recente) deve ser realizada uma angiografia, não sendo, no entanto, recomendada uma ICP de rotina à ARE totalmente
ocluída. Independentemente do tempo decorrido desde o início dos sintomas, a manutenção de sintomas sugestivos de isquemia, de instabilidade hemo-
dinâmica ou de arritmias críticas constitui uma indicação para uma estratégia de ICP primária.
21
Recomendações para a terapêutica de reperfusão
Recomendações Classea Nívelb
É indicada a terapêutica de reperfusão em todos os doentes com sintomas de
I A
isquemia com duração ≤ 12 horas e com elevação persistente do segmento ST
Uma estratégia de ICP primária é preferível à fibrinólise dentro dos tempos
I A
indicados.
Se não puder ser realizada uma ICP primária em tempo oportuno após o
diagnóstico de STEMI, recomenda-se a terapêutica fibrinolítica no período I A
de 12 horas após o início dos sintomas nos doentes sem contra-indicações.
Na ausência de elevação do segmento ST, é indicada uma estratégia de ICP
primária nos doentes com suspeita de sintomas de isquemia persisten-
tes sugestivos de enfarte do miocárdio para além de pelo menos um dos
seguintes critérios:
• instabilidade hemodinâmica ou choque cardiogénico
• dor torácica recorrente ou persistente refratária à terapêutica médica I C
• arritmias críticas ou paragem cardíaca
• complicações mecânicas de enfarte do miocárdio
• insuficiência cardíaca aguda
• alterações dinâmicas e recorrentes do segmento ST ou alterações nas
ondas T, em particular com elevação intermitente do segmento ST
Recomenda-se a angiografia precoce (no período de 24 horas) no caso de
alívio completo dos sintomas e de normalização completa e espontânea da
I C
elevação do segmento ST ou após a administração da nitroglicerina (desde
que não haja recidiva dos sintomas ou elevação do segmento ST).
Nos doentes com início dos sintomas > 12 horas, é indicada a estratégia da
ICP primária na presença de sintomas persistentes sugestivos de isquemia, I C
de instabilidade hemodinâmica ou de arritmias críticas.
Deve ser considerada uma estratégia de ICP primária de rotina nos doentes
IIa B
que se apresentam tardiamente (12 – 48 horas) após o início dos sintomas.
©ESC 2017
22
Tabela 5 Resumo dos tempos alvo importantes
Intervalos Tempos alvo
Tempo máximo desde o PCM até ao ECG e diagnóstico . a ≤ 10 min
Atraso máximo expectável desde o diagnóstico de STEMI até à ICP primária ≤ 120 min
(atravessar a oclusão com o fio guia) para escolher a estratégia de ICP primária
relativamente à fibrinólise (se este atraso for superior, considerar a fibrinólise).
Tempo máximo desde o diagnóstico de STEMI até ao atravessamento da oclusão ≤ 60 min
com o fio guia nos doentes que se apresentam nos hospitais com ICP primária.
Tempo máximo desde o diagnóstico de STEMI até ao atravessamento da ≤ 90 min
oclusão com o fio guia nos doentes transferidos.
Tempo máximo desde o diagnóstico de STEMI até à administração de bólus ≤ 10 min
ou início de perfusão de fibrinólise nos doentes sem possibilidade de cumprir
os tempos alvo da ICP.
Atraso desde o início da fibrinólise para avaliar a sua eficácia (bem ou mal 60 – 90 min
sucedida).
Atraso desde o início da fibrinólise até à angiografia (se a fibrinólise for bem 2 – 24 horas
sucedida).
ECG = eletrocardiograma; ICP = intervenção coronária percutânea; PCM = primeiro contacto médico; STEMI
= enfarte do miocárdio com elevação do segmento-ST.
a
O ECG deve ser imediatamente interpretado.
23
Aspetos processuais da estratégia de intervenção coronária percutânea
primária
Recomendações Classea Nívelb
Estratégia da ARE
É indicada a ICP primária da ARE. I A
Recomenda-se nova angiografia coronária com ICP nos doentes com sin-
tomas ou sinais de isquemia recorrente ou persistente após a ICP primária. I C
Técnica da ARE
Recomenda-se a implantação de stents (em detrimento da angioplastia por
I A
balão) na ICP primária.
Recomenda-se a utilização de stents DES da nova geração em detrimento I A
dos BMS na ICP primária.
Recomenda-se o acesso pela radial em detrimento do acesso pela femoral,
I A
quando realizado por um operador experiente.
Por rotina, não se recomenda a aspiração do trombo. III A
Por rotina, não se recomenda a implantação de stent em segundo tempo. III B
Estratégia não relacionada com a ARE
Deve ser considerada a revascularização de rotina das lesões não relacionadas com IIa A
a ARE nos doentes com STEMI e com doença multivaso antes da alta hospitalar.
Deve ser considerada a ICP da artéria não relacionada com enfarte durante o
IIa C
procedimento index nos doentes com choque cardiogénico.
Deve ser considerada a CABG nos doentes com isquemia em curso e com
©ESC 2017
zonas extensas de miocárdio em risco se a ICP da ARE não puder ser rea- IIa C
lizada.
ARE = artéria relacionada com o enfarte; CABG = cirurgia de revascularização do miocárdio; DES = stent revestido
com fármaco; ICP = intervenção coronária percutânea; STEMI = enfarte do miocárdio com elevação do segmento-ST.
a
Classe de Recomendação - bNível de evidência.
Os doentes submetidos a ICP primária devem ser medicados com DAAP (dupla
antiagregação plaquetária) uma combinação de aspirina com um inibidor da
P2Y12 , em associação com um anticoagulante parentérico. A terapêutica anticoa-
gulante de rotina após o procedimento não está indicada após a ICP primária,
exceto quando há outra indicação para anticoagulação em dose terapêutica.
24
Terapêutica antitrombótica periprocedimento e pós-procedimentoc
nos doentes submetidos a intervenção coronária percutânea primária
Recomendações Classea Nívelb
Terapêutica antiplaquetária
Um inibidor potente da P2Y12 (prasugrel ou ticagrelor), ou o clopidogrel, se
estes não estiverem disponíveis ou se forem contraindicados, é recomendado
I A
antes (ou pelo menos no momento da) ICP e mantido durante 12 meses a não
ser que haja contraindicações tais como um risco excessivo de hemorragia.
25
Tabela 6 Doses de terapêuticas antiplaquetárias e anticoagulantes combinadas nos doentes
submetidos a intervenção coronária percutânea primária não tratados com reperfusão
Doses de terapêuticas antiplaquetária e anticoagulantes parentéricos
combinadas na ICP primária
Terapêuticas antiplaquetárias
Aspirina Dose de carga oral de 150 – 300 mg ou dose i.v. de 75 – 250 mg, caso não seja
possível a via oral, seguida de uma dose de manutenção de 75 – 100 mg/dia.
Clopidogrel Dose de carga oral de 600 mg, seguida de uma dose de manutenção de 75
mg/dia.
Prasugrel Dose de carga oral de 60 mg, seguida de uma dose de manutenção de 10mg/dia.
Nos doentes com peso corporal ≤ 60 kg, é recomendada uma dose de
manutenção de 5 mg/dia.
O prasugrel é contraindicado em doentes com acidente vascular cerebral
prévio. Nos doentes ≥ 75 anos, o prasugrel não é geralmente recomendado,
contudo deverá ser administrada uma dose de 5 mg/dia se o tratamento for
absolutamente necessário.
Ticagrelor Dose de carga oral de 180 mg, seguida de uma dose de manutenção de 90
mg b.i.d.
Abciximab Bólus i.v. de 0,25 mg/kg e 0,125 µg/kg/min de infusão (máximo 10 µg/min)
durante 12 horas.
Eptifibatida Duplo bólus i.v. de 180 µg/kg (administrado com um intervalo de 10 min),
seguido de uma infusão de 2,0 µg/kg/min durante e até 18 horas.
Tirofiban Dose de 25 µg/kg i.v. durante 3 min, seguida de uma infusão de manutenção
de 0,15 µg/kg/min até 18 horas.
Terapêuticas anticoagulantes parentéricas
HNF Bólus i.v. de 70 – 100 UI/kg quando não está planeada a administração de um
inibidor da GP IIb/IIIa
Bólus i.v. de 50 – 70 UI/kg juntamente com inibidores da GP IIb/IIIa.
Enoxaparina Bólus i.v. de 0,5 mg/kg.
Bivalirudina Bólus i.v. de 0,75 mg/kg, seguido de infusão de 1,75 mg/kg/hora durante e até
4 horas após o procedimento.
Doses de terapêuticas antiplaquetárias e anticoagulantes parentéricos nos
doentes não tratados com terapêutica de reperfusão
Terapêuticas antiplaquetárias
©ESC 2017
Aspirina Dose de carga oral de 150 – 300 mg, seguida de uma dose de manutenção de
75 – 100 mg/dia.
26
Tabela 6 Doses de terapêuticas antiplaquetárias e anticoagulantes combinadas
nos doentes submetidos a intervenção coronária percutânea primária não
tratados com reperfusão (continuação)
Doses de terapêuticas antiplaquetárias e anticoagulantes parentéricos nos
doentes não tratados com terapêutica de reperfusão
Terapêuticas antiplaquetárias
Clopidogrel Dose de carga oral de 300mg, seguida de uma dose oral de manutenção de
75 mg/dia.
Terapêuticas anticoagulantes parentéricas
HNF A mesma dose com terapêutica fibrinolítica (consultar a Tabela 7).
Enoxaparina A mesma dose com terapêutica fibrinolítica (consultar a Tabela 7).
Fondaparinux A mesma dose com terapêutica fibrinolítica (consultar a Tabela 7).
b.i.d. = duas vezes por dia; GP = glicoproteína; HNF = heparina não fracionada; ICP = intervenção coronária
percutânea; i.v. = intravenoso; UI = unidades internacionais.
Contraindicações
Fármaco Tratamento inicial
específicas
29
Tabela 7 Doses de agentes fibrinolíticos e de terapêuticas antitrombóticas combinadas
Contraindicações
Fármaco Tratamento inicial
específicas
(apenas com mg uma vez por dia durante e até 8 dias ou até à alta
estreptoquinase) hospitalar.
aPTT = tempo de tromboplastina parcial ativado; HNF = heparina não fracionada; i.v. = intravenoso; rPA =
ativador do plasminogénio recombinante; s.c. = subcutâneo; TFGe = taxa de filtração glomerular estimada; tPA
= ativador tecidular do plasminogénio; UI = unidades internacionais.
30
Tabela 8 Contraindicações para a terapêutica fibrinolítica
Absolutas
Qualquer antecedente de hemorragia intracraniana ou AVC de origem desconhecida.
Acidente vascular cerebral nos últimos 6 meses.
Lesão do sistema nervoso central ou neoplasias ou malformação arteriovenosa.
Traumatismo major recente/cirurgia/traumatismo craniano (no último mês).
Hemorragia gastrointestinal no último mês.
Alteração hemorrágica conhecida (excluindo a menstruação).
Disseção da aorta.
Punções não compressivas nas últimas 24 horas (p.ex. biópsia hepática, punção lombar).
Relativas
Acidente isquémico transitório nos últimos 6 meses.
Terapêutica anticoagulante oral.
Gravidez ou até 1 semana após o parto.
Hipertensão refratária (PAS > 180 mmHg e/ou PAD > 110 mmHg).
Doença hepática avançada.
Endocardite infecciosa.
Úlcera péptica ativa.
Reanimação prolongada ou traumática.
AV = arteriovenoso; AVC – acidente vascular cerebral; PAD = pressão arterial diastólica; PAS = pressão arterial sistólica.
32
5.1. Subgrupos de doentes especiais
5.1.1 Doentes sob anticoagulação oral
Muitos dos doentes com STEMI já são submetidos a anticoagulação oral ou
necessitam posteriormente de anticoagulação oral a longo prazo.
Tratamento durante o STEMI: os doentes submetidos a anticoagulação oral
devem ser escolhidos para estratégia de ICP primária independentemente do
tempo previsto para a reperfusão através de ICP. Os doentes devem receber
anticoagulação parentérica adicional, independentemente do momento da última
dose de anticoagulante oral. A carga de aspirina deve ser efetuada tal como em
todos os doentes com STEMI, sendo o clopidogrel o inibidor de eleição da P2Y12
(600 mg de dose de carga) antes ou o mais tardar no momento da ICP. O regime
prolongado de anticoagulação não deve ser interrompido durante a admissão.
Recomenda-se proteção gástrica com um inibidor da bomba de protões (IBP).
Manutenção após STEMI: Deve ser considerada uma terapêutica tripla (anticoa-
gulação oral, aspirina e clopidogrel) durante 6 meses. Seguidamente deve ser
considerada a anticoagulação oral adicionada de aspirina ou clopidogrel durante
6 meses. Após 1 ano deve-se manter apenas a anticoagulação oral.
5.1.2 Doentes idosos
Prevê-se que, devido ao envelhecimento da população, uma proporção mais
elevada de doentes idosos venha a apresentar-se com STEMI. Como estes doen-
tes podem apresentar-se com sintomas atípicos, o diagnóstico de enfarte do
miocárdio pode ser adiado ou omitido. Os doentes idosos têm também risco
particular de hemorragia ou de outras complicações. É, portanto, fundamen-
tal tratá-los conforme recomendado, utilizando as estratégias específicas para
reduzir o risco de hemorragia; isto é, será necessário ter em atenção a dose
adequada das terapêuticas antitrombóticas.
5.1.3 Disfunção renal
O tipo e a dose do agente antitrombótico e a quantidade do agente de contraste
devem ser considerados com base na função renal. Os doentes com SCA e com
doença renal crónica (DRC) recebem frequentemente doses excessivas de anti-
trombóticos, contribuindo para o risco acrescido de hemorragia. Assegurar a
hidratação adequada durante e após a ICP primária e limitar a dose dos agentes
de contraste, de preferência agentes de contraste de baixa osmolaridade, são
passos importantes para minimizar o risco de nefropatia induzida por contraste.
33
Tabela 9 Doses recomendadas de agentes antitrombóticos nos cuidados intensivos aos
Função renal normal e estádios I – 3 da DRC
Agente
(TFGe ≥ 30 mL/min/1,73 m2)
Aspirina
Aspirin Loading
Dose de dose
carga of
oral150–300
de 150 –mg orally
300 followed
mg, seguida deby a maintenance
uma dose of
dose de manutenção
de 75 – 100
75–100 mg/dia.
mg/day.
Clopidogrel
Clopidogrel Loading
Dose de dose
carga of
oral300–600
de 300 –mg orally
600 followed
mg, seguida deby
7575 mg/day.
mg/dia.
Ticagrelor
Ticagrelor Loading
Dose de dose
carga of
oral180
de mg
180orally followed
mg, seguida 90 mg
de 90 mg duas
twicevezes
a day.
ao dia.
Prasugrel
Prasugrel Loading
Dose de dose
carga of
oral60demg60orally followed
mg, seguida by mg/dia.
de 10 10 mg/day.
Enoxaparina
Enoxaparin 1 mg/kg s.c.duas
mg/kg s.c. twicevezes
a day,
ao dia.
0,75
0.75 mg/kg
mg/kgs.c.
s.c.duas vezes
twice dailyaoindiapatients
nos doentes ≥ 75 old.
≥75 years anos.
HNF
UFH Beforedacoronary
Antes angiografiaangiography:
coronária:
Bolus i.v.
Bólus 60–70 – 70 i.v.
de 60IU/kg (maximum
UI/kg (máximo 5000
5000 IU)
UI) eand
infusion(12
Infusão (12–15 IU/kg/hour,máximo
– 15 UI/kg/hora, maximum 1000
1000 IU/hour),
UI/hora),
aPTT
targetalvo
aPTT 1,51.5–2.5
– 2,5 x ox controlo.
control.
Durante a ICP:
During PCI:
70 – 100IU/kg
70-100 UI/kg i.v.
i.v. (50 – 70 IU/kg
(50–70 UI/kg se concomitantewith
if concomitant com GP
os inibidores da GP IIb/IIIa).
IIb/IIIa inhibitors).
Fondaparinux
Fondaparinux 2.5 mg s.c. once a day.
2,5 mg s.c. uma vez ao dia.
Bivalirudina
Bivalirudin Bolus i.v.
Bólus 0.75
de mg/kg i.v., infusion
0,75 mg/kg, infusão 1.75 mg/kg/hour.
de 1,75 mg/kg/hora.
Se
If eGFR ≥ 30and
a TFGe≥30 e ≤≤60
60 mL/min/1,73m
mL/min/1.73m reduzir
2 2
reducea dose de infusão
infusion dose para 1,4mg/kg/hour.
to 1.4 mg/kg/hora.
Abciximab
Abciximab Bolus i.v.
Bólus of de
0.25 mg/kg
0,25 i.v.seguido
mg/kg, followed
deby 0.125deμg/kg/min
infusão infusion
0,125 µg/kg/min
(máximo
(maximum 1010
µg/min).
μg/min).
Eptifibatida
Eptifibatide Bolusa of 180 μg/kg i.v. followed by an infusion of 2.0 μg/kg/min for up to
Bólusa de 180 µg/kg i.v., seguido de uma infusão de 2,0 µg/kg/min até 18 horas.
18 ahours.
Se TFGe < 50 mL/min/1,73 m2 reduzir a dose de infusão para 1,0 µg/kg/min.
If eGFR <50 mL/min/1.73 m2 reduce infusion dose to 1.0 μg/kg/min.
Tirofiban
Tirofiban Bolus de
Bólus 2525 µg/kgi.v.i.v.,
μg/kg followed
seguidoby
de0.15
0,15 μg/kg/min.
µg/kg/min.
aPTT==tempo
aPTT activated partial thromboplastin
de tromboplastina time;
parcial ativado; DRCCKD = chronic
= doença renal kidney
crónica;disease; eGFR = estimated
GP = glicoproteína; i.v. = intravenoso;
s.c. = subcutâneo;
glomerular TFGerate;
filtration = taxa
GPde= filtração glomerular
glycoprotein; IU =estimada; UI = unidades
international units; i.v.internacionais.
= intravenous;
34
doentes com doença renal crónica
Estádio 4 da DRC Estádio 5 da DRC
(TFGe 15-30 mL/min/1,73 m2) (TFGe < 15 mL/min/1,73 m2)
Sem ajuste de dose
Sem ajuste de dose
Não recomendado
Não recomendado
se a TFGe < 20 mL/min/1,73m 2 ou diálise
Não recomendado
Não recomendado
35
Tratamento da hiperglicemia
Recomendações Classea Nívelb
Recomenda-se a medição da glicemia na avaliação inicial de todos os
doentes e a monitorização frequente nos doentes com diabetes conhe-
cida ou com hiperglicemia (níveis estabelecidos de glicose ≥ 11,1 mmol/L I C
ou ≥ 200 mg/dL).
Nos doentes tratados com metformina e/ou com inibidores dos SGLT2, a
função renal deve ser cuidadosamente monitorizada durante pelo menos I C
3 dias após a angiografia coronária/ICPc.
Deve ser considerada uma terapêutica hipoglicemiante nos doentes com
SCA e com níveis de glicose > 10 mmol/L (> 180 mg/dL), devendo ser
evitados episódios de hipoglicemia (níveis estabelecidos de glicose ≤ 3,9 IIa C
mmol/L ou ≤ 70 mg/dL).
Deve ser considerado um controlo glicémico menos rigoroso na fase
©ESC 2017
aguda nos doentes com doença cardiovascular mais avançada, idade IIa C
avançada, diabetes de longa duração e mais comorbilidades.
ICP = intervenção coronária percutânea; SCA = síndrome coronária aguda; SGLT2 = cotransportador de
sódio- glicose 2.
a
Classe de Recomendação. - bNível de evidência
c
Uma curta suspensão de metformina pode ser considerada após um procedimento coronário invasivo.
36
Resumo das indicações para exame imagiológico e prova de esforço nos doentes
com enfarte do miocárdio com elevação do segmento ST
Recomendações Classea Nívelb
Na apresentação
É indicada a ecocardiografia de emergência nos doentes em choque car-
diogénico e/ou com instabilidade hemodinâmica ou com suspeita de com- I C
plicações mecânicas sem atrasar a angiografia.
Deve ser considerada a ecocardiografia de emergência antes da angiografia
IIa C
coronária se há dúvidas relativamente ao diagnóstico.
Não se recomenda a ecocardiografia de rotina que possa atrasar a angio-
grafia coronária. III C
37
6. Terapêuticas a longo prazo para o enfarte
do miocárdio com elevação do segmento-ST
6.1 Intervenções do estilo de vida e controlo dos fatores de risco
As principais intervenções do estilo de vida incluem a cessação tabágica, o controlo rigo-
roso da pressão arterial, o aconselhamento relativamente à dieta alimentar e o controlo
do peso e ainda o incentivo para a prática de atividade física. Uma baixa adesão ao trata-
mento constitui uma grande barreira para alcançar um adequado tratamento alvo e está
associado a piores resultados. O atraso no seguimento do doente após a alta resulta
numa pior adesão à terapêutica a curto e a longo prazo. Os profissionais de saúde e
os doentes devem estar conscientes deste desafio e otimizar a comunicação providen-
ciando informação clara, simplificando os regimes de tratamento, visando a partilha da
tomada de decisões e implementando uma monitorização e feedback repetitivos.
A DAAP é recomendada nos doentes com STEMI que se submeteram a ICP ou a
fibrinólise com ICP posterior. Para os doentes submetidos a fibrinólise sem ICP
posterior e para os que não foram submetidos a reperfusão, recomenda-se a DAAP
durante um mês, devendo ser considerado o seu prolongamento durante 12 meses.
Aspetos comportamentais após enfarte do miocárdio com elevação do segmento ST
Recomendações Classea Nívelb
Recomenda-se a identificação dos fumadores e o aconselhamento sobre
a cessação tabágica com ofertas de ajuda e apoio no acompanhamento, I A
com terapêuticas de substituição da nicotina, vareniclina e bupropiona em
individualmente ou associadas.
Recomenda-se a participação num programa de reabilitação cardíaca. I A
É indicado um protocolo de cessação tabágica em todos os hospitais que I C
participam no tratamento de doentes com STEMI
©ESC 2017
38
6.2 Intervenções farmacológicas
Manutenção da estratégia antitrombótica após enfarte do miocárdio com
elevação do segmento ST
Recomendações Classea Nívelb
É indicada a terapêutica antiplaquetária com aspirina em baixa dose (75 – 100 mg). I A
É recomendada a DAAP sob a forma de aspirina associada a ticagrelor ou
prasugrel (ou clopidogrel se o ticagrelor ou o prasugrel não estiverem dispo-
I A
níveis ou forem contraindicados) durante 12 meses após a ICP a não ser que
haja contraindicações tais como o risco excessivo de hemorragia.
Nos doentes com indicação para anticoagulação oral, são indicados os anti-
I C
coagulantes orais associados a terapêutica antiplaquetária.
Nos doentes com alto risco de complicações hemorrágicas graves, deve ser IIa B
considerada a descontinuação da terapêutica com um inibidor da P2Y12.
Nos doentes com STEMI com implantação de stent e com indicação para
anticoagulação oral, deve ser considerada uma terapêutica triplad durante 1 IIa C
– 6 meses (de acordo com um equilíbrio entre o risco estimado de eventos
coronários recorrentes e hemorragias).
Deve ser considerada a DAAP durante 12 meses nos doentes que não se
submeteram a ICP a não ser que haja contraindicações tais como o risco IIa C
excessivo de hemorragia.
Nos doentes com trombos no VE, deve ser administrada a anticoagulação
durante e até 6 meses orientada por avaliação imagiológica repetida. IIa C
Nos doentes de alto risco isquémicoe que toleraram a DAAP sem com-
plicações hemorrágicas, o tratamento com a DAAP na dose de 60 mg de
ticagrelor duas vezes ao dia para além da aspirina durante mais de 12 meses IIb B
pode ser considerado durante e até 3 anos.
Nos doentes com baixo risco de hemorragia, tratados com aspirina e clopidogrel,
pode ser considerado o rivaroxabano de baixa dose (2,5 mg duas vezes ao dia). IIb B
39
Manutenção da estratégia antitrombótica após enfarte do miocárdio
com elevação do segmento ST (continuação)
Recomendações Classea Nívelb
©ESC 2017
Não é recomendado o tratamento com ticagrelor ou prasugrel como parte
III C
de uma terapêutica antitrombótica tripla com aspirina e anticoagulação oral.
DC = doença coronária; EAM = enfarte agudo do miocárdio; IBP = inibidor da bomba de protões; ICP = inter-
venção coronária percutânea; STEMI = enfarte do miocárdio com elevação do segmento-ST; DAAP = dupla
antiagregação plaquetária; TFGe = taxa de filtração glomerular estimada; VE = ventricular esquerda.
a
Classe de Recomendação.
b
Nível de evidência.
c
História de hemorragia gastrointestinal, de terapêutica anticoagulante, utilização crónica de fármaco anti-infla-
matório não esteroide/ corticosteróide e ≥ 2 ou mais dos seguintes fatores: idade ≥ 65 anos, dispepsia, doença
do refluxo gastroesofágico, infeção por Helicobacter pilori, consumo crónico de álcool.
d
Anticoagulante oral, aspirina e clopidogrel.
e
Definido como idade ≥ 50 anos e ≥ 1 dos seguintes fatores de alto risco adicionais: idade ≥ 65 anos, diabetes mellitus
sob medicação, EAM espontâneo precoce, DC multivaso ou disfunção renal crónica (TFGe < 60 mil/min/1,73m2).
40
Terapêuticas de rotina nas fases aguda, subaguda e a longo prazo:
betabloqueantes, inibidores da enzima de conversão da angiotensina,
bloqueadores dos recetores da angiotensina II, antagonistas dos recetores dos
mineralocorticóides e terapêutica hipolipemiante após enfarte do miocárdio
com elevação do segmento ST (continuação)
Recomendações Classea Nívelb
Terapêuticas hipolipemiantes
Recomenda-se o início de uma terapêutica com estatinas de alta intensidadec, tão cedo
quanto possível, e com manutenção a longo prazo, caso não haja contraindicações. I A
Recomenda-se um C-LDL alvo < 1,8 mmol/L (70 mg/dL) ou uma redução de
pelo menos 50% se o valor do C-LDL basal se situar entre 1,8-3,5 mmol/L I B
(70-135 mg/dL).
Recomenda-se a obtenção do perfil lipídico de todos os doentes com STEMI
logo que possível após a apresentação. I C
ARMs
Os ARMs são recomendados nos doentes com FEVE ≤ 40% e com
insuficiência cardíaca ou diabetes, que já estão a fazer um inibidor-ECA e um I B
betabloqueante, no caso de não haver insuficiência renal ou hipercaliémia.
ARA = antagonista dos recetores da angiotensina II; ARM = antagonista dos recetores dos mineralocorticóides;
AV = auriculoventricular; C-LDL = colesterol de lipoproteínas de baixa densidade; ECA = enzima de conversão
da angiotensina; FEVE = fração de ejeção ventricular esquerda; ICP = intervenção coronária percutânea; PAS =
pressão arterial sistólica; STEMI = enfarte do miocárdio com elevação do segmento-ST; VE = ventricular esquerda.
a
Classe de Recomendação - bNível de evidência – cEstatina de alta intensidade definida por uma dose de 40 – 80 mg
de atorvastatina e por uma dose de 20 – 40 mg de rosuvastatina.
41
42
Figura 5 «Não esquecer» as intervenções nos doentes com STEMI submetidos a uma estratégia
de ICP primária
Relógio estratégico
0 Diagnóstico Monitorização
ECG Alertar o Lab de
Alert
de STEMI com ECG Cath
monitoring Lab &
Hemodinâmica
by-pass ED Dose de carga
Aspirin Oxigénio quando
Oxygen when
I B e ultrapassar o SU loading1 1
com aspirina Sat
Sat<<90%
90% I C
I B i.v.
Betabloqueante Opióides
i.v. iv./
Opioids/
I B i.v.
β-blocker tranquilizante
tranquilizer
Dose de carga
Prasugrel IIa A IIa C
or prasugrel
comTicagrelor
2 2
ouloading
ticagrelor
I A
Acesso
Radial
pela radial3 3
access Heparina não
Unfractionated
I A Heparin
fracionada44 I C
Fio
Lab
90 mina Recurso com GP DES nova
Newda gen
guia GP IIb/IIIa
Cath Lab
geração
Hemodinamica
(reperfusão) bailout
IIb/IIIa IIa C DES
I A
Sem ICP
Non-IRA
Transferência
Transfer backpara
to Dose
Highelevada
dose daPCI
ARE
um
non-PCI sem ICP
centrocentre estatina
destatin
I A IIa A
IIa C
Betabloqueante
Oral βblockeroral Inibidor-ECA
ACE-inhibitor
FEVE ≤ 40 ou
LVEF ≤40% IC I A
or HF LVEF ≤ 40 ou
FEVE ≤40% or HF
IC I A
LVEF 40%, no
FEVE >>40%, semHF
IC IIa B FEVE 40%, sem
LVEF >>40%, no HF
IC IIa A
Hospitalar
horas
24 hours
Eco de
Routine DAAP
DAPT ARM FEVE
MRA(se(ifaLVEF
rotina
echo Aspirina or ≤40%
≤ 40%and HF)
e IC)
Aspirin55 Prasugrel ou
AdmissãoAdmission
Hospital
I B Ticagrelor66 I B
I A
I A
Alta
Hospital
hospitalar
Eco
6–12 (FEVE)
semanas I C
1 ano
b
ARE = artéria relacionada com o enfarte; ARM = antagonista dos recetores dos mineralocorticóides; DAAP = dupla antiagregação plaquetária; DES = stent
revestido com fármaco; ECA = enzima de conversão da angiotensina; ECG = eletrocardiograma; eco = ecocardiografia; FEVE = fração de ejeção ventricular
esquerda; HNF = heparina não fracionada; IC = insuficiência cardíaca; ICP = intervenção coronária percutânea; i.v. = intravenoso; STEMI = enfarte do
miocárdio com elevação do segmento ST; SU = serviço de urgência.
A maioria das intervenções indicadas (Classe I, em verde e IIa, em amarelo) é apresentada ao longo do tempo de espera previsto. As linhas contínuas
representam as intervenções recorrentes (diárias). As setas e as linhas tracejadas representam a janela do tempo na qual a intervenção deverá ser feita.
1
Dose de carga da aspirina: 150 – 300 mg mastigados ou 75 – 250 mg intravenosos (nos doentes ainda não tratados com dose de manutenção de aspirina).
2
Dose de carga de prasugrel: 60 mg. Dose de carga do ticagrelor: 180 mg. No caso de contraindicações para o prasugrel/ticagrelor ou se estes não estiverem
disponíveis, está indicada uma dose de carga de clopidogrel (600 mg).
3
Se um cardiologista de intervenção não for um especialista no acesso pela radial, é preferível efetuar a intervenção através da femoral.
4
A enoxaparina ou a bivalirudina são alternativas à heparina não fracionada (Classe IIa A).
5
Dose de manutenção da aspirina: 75 – 100 mg por via oral.
6
Dose de manutenção do prasugrel: 10 mg uma vez por dia. Dose de manutenção do ticagrelor: 90 mg duas vezes por dia. Caso haja contraindicações para
o prasugrel/ticagrelor ou se estes não estiverem disponíveis, está indicada a dose de manutenção do clopidogrel (75 mg por dia).
a
90 minutos representam o tempo máximo alvo para a reperfusão através da ICP. O tempo alvo é de 60 min para os doentes que se apresentam num centro
com ICP.
b
O prolongamento do ticagrelor (60 mg duas vezes por dia) associado à aspirina pode ser considerado durante e até 36 meses nos doentes com alto risco
isquémico que toleraram a DAAP sem uma complicação hemorrágica.
43
44
Figura 6 «Não esquecer» as intervenções nos doentes com STEMI submetidos a uma estratégia
de fibrinólise bem-sucedida
Strategy
Relógio clock
estratégico
0 Diagnóstico ECG
STEMI Monitorização Oxigénio quando
Oxygen when Opióides iv./
i.v. Opioids/
com ECG tranquilizante
tranquilizer
diagnosis
de STEMI monitoring Sat
Sat<<90%
90% I C
I B Bólus de
Fibrinolysis 1 IIa C
Enoxparina
Enoxaparin
bolus
fibrinólise
I A Dose de carga Dose de carga
I A Aspirin Clopidogrel
10 min aspirina2 2 de clopidogrel
deloading loading3 3
Alertar transferir
Alert &eTransfer I B I A
para
to um centro
a PCI centre
com ICP
I A
horas
2 hours
Estatina
High dose
alta dose
de statin
Angio coronária
Coronary angio I A
ICP
+± PCI ARE sem
Non-IRA Betabloqueante Inibidor ECA
PCI
ICP Oral β-blockeroral ACE-inhibitor
I A
IIa C LVEF ≤ 40 or
FEVE≤40% ouHF
IC I A FEVE ≤ 40%orouHFIC I A
LVEF ≤40%
horas FEVE > 40%,no
LVEF >40%, semHFIC IIa B LVEF > 40%,no
FEVE >40%, semHFIC IIa A
24 hours
Hospitalar
Aspirina
Aspirin44 Clopidogrel5 ARM
MRA(se(ifaLVEF
FEVE
Routine
Eco de I A I A ≤40% HF)
e IC)
≤ 40%and
echo
rotina I B
Hospital Admission
Admissão
I B
48 horas
hours
P2Y inh66
P2Y1212 inib
I A
Alta
hospitalar
days
30 dias I C
Echo
Eco
6–12 (LVEF)
(FEVE)
weeks
semanas I C
year
1 ano
ARE = artéria relacionada com o enfarte; ARM = antagonistas dos recetores dos mineralocorticóides; DAAP = dupla antiagregação plaquetária; DES = stent
revestido com fármaco; ECA = enzima de conversão da angiotensina; ECG = eletrocardiograma; eco = ecocardiografia; FEVE = fração de ejeção ventricular
esquerda; HNF = heparina não fracionada; IC = insuficiência cardíaca; ICP = intervenção coronária percutânea; i.v. = intravenoso; STEMI = enfarte do
miocárdio com elevação do segmento ST.
A maioria das intervenções indicadas (Classe I, em verde e IIa, em amarelo claro) é apresentada ao longo do tempo de espera previsto. As linhas contínuas
representam as intervenções recorrentes (diárias). As setas e as linhas tracejadas representam a janela do tempo na qual a intervenção deverá ser feita.
1
Dose de enaxaparina: bólus i.v. de 30 mg seguido de 1 mg/kg subcutâneo cada 12 horas (ajuste da dose para ≥ 75 anos e insuficiência renal é apresentada
na Tabela 9). A heparina não fracionada é uma alternativa à enoxaparina.
2
Dose de carga de aspirina: 150 – 300 mg mastigados ou 75 – 250 mg intravenosos.
3
Dose de carga de clopidogrel: dose oral de 300 mg (75 mg se ≥ 75 anos).
4
Dose de manutenção da aspirina: dose oral de 75 – 100 mg.
5
Terapêutica de manutenção com o clopidogrel: 75 mg por dia
6
48 horas após a fibrinólise,pode ser considerada a mudança para o prasugrel/ticagrelor nos doentes tratados com ICP.
45
7. Complicações após o enfarte do miocárdio com
elevação do segmento ST
Recomendações para o tratamento da disfunção ventricular esquerda e insufi-
ciência cardíaca aguda no enfarte do miocárdio com elevação do segmento ST
Recomendações Classea Nívelb
É indicada a terapêutica com um inibidor-ECA (se não for tolerado, com um
ARA) em todos os doentes logo que tenham recuperado a estabilidade hemo-
dinâmica com evidência de FEVE ≤ 40% e/ou de insuficiência cardíaca para I A
reduzir o risco de internamento e de morte.
Recomenda-se uma terapêutica com betabloqueante nos doentes com FEVE ≤
40% e/ou insuficiência cardíaca após estabilização para reduzir o risco de morte, I A
de EM recorrente e de internamento por insuficiência cardíaca.
Deve ser considerada a ventilação por pressão positiva não invasiva (pressão
contínua positiva das vias aéreas, pressão positiva bifásica das vias aéreas) nos
IIa B
doentes com dificuldade respiratória (frequência respiratória > 25 /min, SaO2
< 90%) sem hipotensão.
doentes com edema pulmonar e dispneia grave. A respiração deve ser moni- IIb B
torizada.
46
Recomendações para o tratamento da disfunção ventricular esquerda e de insuficiência
cardíaca aguda no enfarte do miocárdio com elevação do segmento ST (continuação)
Recomendações Classea Nívelb
Podem ser considerados os agentes inotrópicos nos doentes com insuficiên-
IIb C
cia cardíaca grave com hipotensão refratária a terapêutica médica habitual.
ARA = antagonista dos recetores da angiotensina II; ARM = antagonista dos recetores dos mineralocorticóides; ECA = enzi-
ma de conversão da angiotensina; FEVE = fração de ejeção ventricular esquerda; PAS = pressão arterial sistólica; SaO2 = satu-
ração de oxihemoglobina arterial; STEMI = enfarte do miocárdio com elevação do segmento ST; VE = ventricular esquerda.
a
Classe de Recomendação - bNível de evidência
47
Recomendações para o tratamento do choque cardiogénico no enfarte
do miocárdio com elevação do segmento ST (continuação)
Recomendações Classea Nívelb
Podem ser considerados os agentes inotrópicos/vasopressores na estabili-
zação hemodinâmica. IIb C
©ESC 2017
em choque refratário.
Não é indicada a implantação de balão intra-aórtico de rotina. III B
CABG = cirurgia de revascularização do miocárdio; ICP = intervenção coronária percutânea; ECMO = oxige-
nação por membrana extra corporal; STEMI = enfarte do miocárdio com elevação do segmento ST; SVEC =
suporte de vida extracorporal.
a
Classe de Recomendação - bNível de evidência – cDispositivos de apoio cardíaco percutâneo, SVEC e ECMO.
48
Tratamento da fibrilhação auricular (continuação)
Recomendações Classea Nívelb
Cardioversão (continuação)
A digoxina é ineficaz na conversão de FA recente em ritmo sinusal e não III A
está indicada para o controlo do ritmo.
Os bloqueadores dos canais de cálcio e os betabloqueantes, incluindo o
III B
sotalol são ineficazes na conversão de FA recente em ritmo sinusal.
O tratamento profilático com fármacos antiarrítmicos para prevenir a FA
III B
não está indicado.
CHA 2DS2-VAS c = Insuficiência cardíaca, Hipertensão, Idade ≥ 75 (2 pontos), Diabetes, Acidente vascular ce-
rebral (2 pontos) – Doença vascular, Idade entre 65 e 74 anos, Género (Feminino); FA = fibrilhação auricular;
STEMI = enfarte do miocárdio com elevação do segmento ST. aClasse de Recomendação - bNível de evidência.
49
Tratamento de arritmias ventriculares e de perturbações da condução na fase
aguda (continuação)
Recomendações Classea Nívelb
Deve ser considerada a interrupção por catéter de pacing transvenoso e/
ou por overdrive pacing se a TV não puder ser controlada por cardioversão IIa C
elétrica repetida.
Deve ser considerada a ablação por cateter de radiofrequência num cen-
tro especializado para ablação seguida de implantação de CDI nos doentes
IIa C
com TV recorrente, FV ou tempestade elétrica apesar de revascularização
completa e de terapêutica médica otimizada.
A TV recorrente com repercussão hemodinâmica apesar de cardioversão
elétrica repetida pode ser tratada com lidocaína se os betabloqueantes, a IIb C
amiodarona e a estimulação overdrive não forem eficazes/aplicáveis.
A terapêutica profilática com fármacos antiarrítmicos não está indicada e
III B
pode ser prejudicial.
©ESC 2017
As arritmias ventriculares assintomáticas e irrelevantes sob o ponto de
III C
vista hemodinâmico não devem ser tratadas com fármacos antiarrítmicos.
AV = auriculoventricular; CDI = cardioversor desfibrilhador implantável; FV = fibrilhação ventricular; i.v. =
intravenoso; TV = taquicardia ventricular. aClasse de Recomendação - bNível de evidência.
50
8. Enfarte do miocárdio com artérias coronárias
não obstruídas (EMACNO)
Em 1 – 14% dos doentes com EM não se regista DC obstrutiva. A demonstração
de DC não obstrutiva num doente que se apresente com sintomas sugestivos
de isquémia e elevação do segmento ST ou equivalente não exclui uma etiologia
aterotrombótica. O EMACNO é um diagnóstico de trabalho que deverá orien-
tar o médico assistente a investigar as causas subjacentes.
51
52
Figura 7 Fluxograma dos testes de diagnóstico do EMACNO
SUSPEITA DE STEMI
INVESTIGAÇÃO NA FASE AGUDA
Não-invasivos Invasivos
ETT Endomyocardial
Biópsia biopsy
endomiocárdica
Miocardite (derrame pericárdico) (miocardite)
(myocarditis)
RM
(miocardite2, pericardite)
ETT (alterações da contractilidade USIV/TCO
segmentar, fonte embólica) (disrupção/disseção da placa)
Coronária
RM (enfarte pequeno) Teste de ergonovina/Acetilcolina1
(epicárdico/
ETE/Eco de Contraste com Soro Agitado (espasmo)
microvascular)
(Foramen ovale patente, comunicação
Fio de pressão/ Doppler
interauricular)
(disfunção microvascular)
ETT
Doença
RM
do Miocárdio
(Takostubo, outros)
53
9. Avaliação da qualidade dos cuidados
Recomenda-se que as redes hospitalares do STEMI juntamente com os seus componen-
tes individuais estabeleçam indicadores de qualidade mensuráveis, sistemas para medir e
comparar estes indicadores, realizem auditorias de rotina e implementem estratégias para
assegurar que todos os doentes com STEMI estejam a ser tratados da melhor forma possível
de acordo com os padrões aceites e de modo a obter os melhores resultados possíveis. Os
indicadores de qualidade destinam-se a medir e a comparar a qualidade da prestação dos
serviços de saúde e a servir como fundamento para as iniciativas da melhoria da qualidade.
Tabela 11 Indicadores de qualidade
Tipo de indicador Indicador de qualidade
e de processo
Medidas estrutu- 1) O centro deve fazer parte de uma rede especificamente desenvolvida
rais (organização) para o tratamento rápido e eficaz dos doentes com STEMI, dotada de
protocolos escritos que abranjam os seguintes pontos:
•• Número de telefone de emergência único para que os doentes possam
contactar os serviços de urgência
•• Interpretação no contexto pré-hospitalar do ECG para diagnóstico
e estratégia de decisão
•• Ativação pré-hospitalar do laboratório de hemodinâmica
•• Transporte (ambulância-helicóptero) equipados com desfibrilhadores
eletrocardiográficos
2) Os tempos chave para a reperfusão são sistematicamente registados
e periodicamente revistos para avaliações de qualidade pelo centro
ou pelos participantes na rede
Medidas de 1) P ercentagem de doentes com STEMI que chegam nas primeiras 12 horas
desempenho para e que recebem terapêutica de reperfusão.
a terapêutica de 2) P ercentagem de doentes com terapêutica de reperfusão atempada, definida como:
reperfusão •• Para dos doentes atendidos no contexto pré-hospitalar:
� < 90 min desde o diagnóstico de STEMI até ao atravessamento da
oclusão da ARE com o fio guia para reperfusão com ICP
� < 10 min desde o diagnóstico de STEMI até à administração de
bólus lítico para reperfusão com fibrinólise
•• Para os doentes admitidos nos centros com ICP:
� < 60 min desde o diagnóstico de STEMI até ao atravessamento da
oclusão da ARE com o fio guia para reperfusão com ICP
•• Para os doentes transferidos:
� < 120 min desde o diagnóstico de STEMI até ao atravessamento da
oclusão da ARE com o fio guia para reperfusão com ICP
©ESC 2017
54
Tabela 11 Indicadores de qualidade (continuação)
Tipo de indicador Indicador de qualidade
e de processo
Medidas de 1) Percentagem de doentes com avaliação da FEVE antes da alta
desempenho para hospitalar.
avaliação do risco
hospitalar
Medidas de desempenho 1) Percentagem de doentes sem contraindicação clara e documen-
para terapêutica anti- tada para aspirina e/ou para um inibidor da P2Y12 com prescrição
trombótica hospitalar de DAAP na alta.
55
Tabela 11 Indicadores de qualidade (continuação)
Tipo de indicador Indicador de qualidade
e de processo
Medidas 1) Mortalidade ajustada a 30 dias (p.ex. ajustado ao score de risco GRACE).
dos resultados 2) Taxas de readmissão ajustadas a 30 dias.
Indicadores de •• Proporção de doentes com FEVE > 40% e sem evidência de insuficiência
qualidade múltiplos cardíaca, tratados na alta hospitalar com baixa dose de aspirina e com
baseados na um inibidor da P2Y12 e com estatinas de alta intensidade.
oportunidade •• Percentagem de doentes com FEVE ≤ 40% e/ou com insuficiência
cardíaca, tratados na alta hospitalar com baixa dose de aspirina,
com um inibidor da P2Y12, com estatinas de alta intensidade, com
um inibidor-ECA (ou ARA) e com um betabloqueante.
ARA = antagonista dos recetores da angiotensina II; ARE = artéria relacionada com o enfarte; DAAP = dupla
anti-agregação plaquetária; ECA = enzima de conversão da angiotensina; ECG = eletrocardiograma; FEVE = fração
de ejeção ventricular esquerda; GRACE = Global Registry of Acute Coronary Events; ICP = intervenção coronária
percutânea; STEMI = enfarte do miocárdio com elevação do segmento ST.
56
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(European Heart Journal 2017; - doi: 10.1093/eurheartj/ehx 393).
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