Cap.6. Nutrição e Alimentação de Peixe

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Capítulo 6

Nutrição e alimentação de peixes


Ana Paula Oeda Rodrigues
Giovani Taffarel Bergamin
Viviane Rodrigues Verdolin dos Santos

1. Introdução

A nutrição e alimentação de peixes reservam particularidades importantes


de serem consideradas em uma produção. Ao contrário do que ocorre para bovinos,
suínos e frangos de corte, há uma grande diversidade de espécies de peixes, cada
qual com sua peculiaridade morfofisiológica e comportamental, não permitindo
generalizações. Outra diferença se refere ao meio habitado pelos peixes. No meio
aquático, a avaliação do consumo alimentar é mais complexa, exigindo percepção e
experiência do alimentador, bem como o uso de rações que flutuem. Em adição, se o
alimento não for consumido imediatamente, há perda dos seus nutrientes por lixiviação
na água, acarretando prejuízo econômico e ambiental. Ainda, os peixes são capazes
de absorver minerais solúveis do meio aquático e, dependendo do hábito alimentar,
capazes de utilizar o alimento natural disponível na água (plâncton, principalmente),
reduzindo os custos com a alimentação.

Outra distinção entre os peixes e animais terrestres tange ao metabolismo.


Peixes possuem maior exigência por ácidos graxos do tipo ômega-3, necessários
para manutenção da fluidez da membrana celular em situações de temperaturas
baixas. Adicionalmente, possuem menor exigência energética em relação aos animais
terrestres. Isso ocorre pelo fato de serem animais ectotérmicos, cuja temperatura
do corpo varia com a do ambiente, logo não gastam energia para manutenção da
temperatura corporal. Além disso, economizam energia para locomoção (mais fácil na
água) e para excreção nitrogenada (excretam amônia passivamente pelas brânquias,
ao invés de transformá-la em ureia e ácido úrico).

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Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

Este capítulo apresenta inicialmente os hábitos alimentares dos peixes, os


principais tipos de rações, bem como aspectos importantes do manejo alimentar. Na
sequência, é realizada uma introdução à nutrição de peixes, abordando os nutrientes
necessários, bem como outros componentes não nutricionais da dieta, além dos
antinutrientes e toxinas. Finalmente, os ingredientes comumente utilizados para a
formulação de dietas para peixes, os cuidados que se deve ter no armazenamento de
rações e alguns índices de desempenho associados à alimentação são mencionados.

2. Hábitos alimentares

Os peixes consomem uma enorme variedade de alimentos e possuem muitas


formas de se alimentar, razão pela qual os diferentes hábitos alimentares acabam se
sobrepondo. De acordo com os itens alimentares predominantes na dieta natural, o
hábito alimentar dos peixes pode ser classificado em quatro tipos. Os peixes detritívoros
são aqueles que se alimentam de uma mistura de sedimentos e de itens vegetais
e animais em decomposição (p. ex. curimbatás Prochilodus spp. e cascudos). Os
herbívoros se alimentam predominantemente de itens de origem vegetal (p. ex. carpa
capim Ctenopharyngodon idella). Os onívoros se alimentam tanto de itens de origem
vegetal quanto animal (p. ex. tilápia-do-Nilo Oreochromis niloticus), ao passo que os
carnívoros se alimentam predominantemente de itens de origem animal (p. ex. surubim
Pseudoplatystoma spp. e pirarucu Arapaima gigas). No entanto, a maioria das espécies
de peixe é oportunista, não pertencendo estritamente a um único hábito alimentar. É o
caso do tambaqui (Colossoma macropomum), que se alimenta de frutos e sementes
(itens vegetais) na época da cheia dos rios, enquanto, na ausência destes durante
a seca, alimenta-se de zooplâncton (item animal). Ao longo do desenvolvimento dos
peixes, o hábito alimentar também pode variar. Muitas espécies de peixes que são
onívoras quando juvenis ou adultas, na fase larval são preferencialmente carnívoras,
alimentando-se de zooplâncton e/ou larvas forrageiras (p. ex. matrinxã Brycon
amazonicus e jundiá Rhamdia quelen). Com relação à diversidade de alimentos
consumidos, os peixes podem ser classificados em eurífagos, estenófagos e monófagos.
Os primeiros são aqueles cuja dieta é composta por uma grande variedade de tipos
de alimentos, como tambaqui, pacu (Piaractus mesopotamicus) e tilápia-do-Nilo. São
espécies que possuem maior flexibilidade alimentar e especializações fisiológicas;
consequentemente são as mais utilizadas para a aquicultura. Os estenófagos
consomem uma variedade limitada de fontes alimentares, como os tucunarés Cichla
spp., que se alimentam de crustáceos na ausência de peixes. Já para os monófagos, a
dieta se baseia em somente um tipo de alimento, como é o caso de muitos cascudos
que consomem estritamente detritos.

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Nutrição e alimentação de peixes

O hábito alimentar dos peixes preserva enorme relação com a morfologia do


trato digestório e exerce grande influência sobre o manejo alimentar, como pode ser
observado com maior detalhe no capítulo de “Anatomia e fisiologia de peixes de água
doce”.

Recomendações técnicas

1. A alimentação dos peixes deve considerar as peculiaridades impostas pelo ambiente aquático,
como dificuldade de avaliação do consumo alimentar, exigindo o uso de rações flutuantes e perda
dos nutrientes por lixiviação na água, caso o alimento não seja consumido de imediato;

2. Dependendo da espécie e do hábito alimentar, os peixes são capazes de utilizar o alimento


natural disponível na água, reduzindo os custos com a alimentação.

3. Rações para peixes

A qualidade de uma ração para peixes em cultivo é determinada pelos seguintes


fatores:

- Composição nutricional: a ração deverá suprir as exigências nutricionais da


espécie de peixe na fase e sistema de cultivo em que se encontra;

- Digestibilidade: é o quanto dos nutrientes e energia da dieta são realmente


digeridos e aproveitados pelos peixes. Varia em função da espécie, tamanho
do peixe, seu estado de saúde, condições ambientais, processamento da
dieta, quantidade e qualidade dos ingredientes e proporção relativa entre eles,
manejo alimentar e tamanho das partículas;

- Palatabilidade: remete à aceitação da ração ao paladar do peixe. É importante


principalmente para as rações iniciais (utilizadas na fase em que os peixes
possuem alta exigência nutricional) e para as rações de peixes carnívoros (que
geralmente apresentam menor aceitação por rações com baixa inclusão de
farinha de peixe, ingrediente altamente palatável para a maioria dos peixes);

- Qualidade física: remete à flutuabilidade e estabilidade da ração na água, bem


como à quantidade de pós e finos da ração;

- Tamanho uniforme: a ração deve apresentar grânulos de tamanho uniforme e


adequado à abertura bucal dos peixes;

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Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

- Moagem: a ração deve ser preparada com ingredientes finamente moídos,


assegurando homogeneidade em sua composição e alta digestibilidade.

É fundamental a observação desses fatores na escolha e avaliação de uma


ração. Uma dieta de qualidade aliada a boas práticas de cultivo maximiza o desempenho
produtivo do peixe com reduzido custo e impacto ambiental.

3.1. Tipos de rações

3.1.1. Quanto à natureza

a. Alimentos naturais

Podem ser vivos (bactérias, protozoários, insetos, crustáceos, ovos, larvas,


peixes, macrófitas, microalgas etc.) ou inertes (farinha de resíduo animal, fezes,
alimentos frescos e congelados, partes vegetais, entre outros).

b. Alimentos completos
Compreendem as rações formuladas e processadas artificialmente.

3.1.2. Quanto à umidade

a. Rações úmidas

Possuem entre 50 e 70% de umidade e podem ser utilizadas em locais


distantes dos centros de produção de ingredientes e rações, onde os gastos com
transporte tornam inviável a adoção de rações comerciais. São fabricadas geralmente
na própria fazenda utilizando diversos resíduos de origem animal e vegetal (vísceras,
sangue, carcaças, restos de vegetais e de agricultura). Todos os ingredientes devem
ser previamente moídos e a mistura destes peletizada em uma máquina de moer
carne. A propriedade deve possuir um local limpo, arejado e dotado de congelador
para conservação dos ingredientes e rações. Dentre as desvantagens das rações
úmidas, pode-se citar a necessidade de mão de obra para o seu preparo e de
armazenamento a baixas temperaturas, a alta velocidade de deterioração e a baixa
qualidade nutricional.

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Nutrição e alimentação de peixes

b. Semiúmidas

Apresentam de 35 a 50% de umidade e possuem maior estabilidade de


nutrientes em comparação às rações úmidas. Também necessitam de armazenamento
em baixas temperaturas e apresentam as mesmas desvantagens das rações úmidas.
As rações úmidas e semiúmidas são preparadas misturando-se a parte úmida da
ração com a seca, na proporção que varia de 90:10 até 50:50.

c. Secas

Apresentam umidade inferior a 12%. São as mais utilizadas em cultivos


comerciais e variam entre si quanto ao processamento empregado. São geralmente
fareladas, peletizadas ou extrusadas. Não necessitam de armazenamento a baixas
temperaturas, mas exigem condições adequadas de armazenamento que serão vistas
mais adiante. Apresentam maior valor nutricional e maior durabilidade.

3.1.3. Quanto ao processamento

a. Peletizadas

No processo de peletização, a mistura de ingredientes é comprimida utilizando


umidade, calor e pressão. O produto final é um pélete denso, que afunda rapidamente,
e uma considerável proporção de pós e finos na ração, que aumenta as perdas na
alimentação (Figura 1A). Amido é comumente empregado para uma boa aglutinação,
ao passo que fibras e lipídios são prejudiciais à aglutinação dos péletes (a quantidade
de lipídios na mistura não deve exceder 10%, uma quantidade adicional pode ser
acrescentada após o processo de peletização, borrifando-se óleo).

b. Extrusadas

No processo de extrusão, a mistura de ingredientes sofre expansão em


condições de elevada temperatura, umidade e pressão. Como consequência, há
redução na quantidade de pós e finos e produção de um pélete que flutua na água.
O amido é quase que completamente gelatinizado, contribuindo para a produção de
um pélete íntegro (Figura 1B e C) e estável na água e facilitando a digestão do amido
pelo peixe. Atualmente, é a melhor opção de processamento de rações destinadas
para peixes.

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Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

c. Fareladas

As rações fareladas podem resultar dos processos de peletização ou extrusão


(preferível), seguidos de moagem fina. Tal prática permite que mesmo pequenas
frações de alimento apresentem composição homogênea, contendo todos os
nutrientes incorporados na dieta. Caso resultem da simples mistura de ingredientes
secos, há grande suscetibilidade de segregação dos ingredientes devido a diferenças
de densidade, com consequente lixiviação dos nutrientes e seletividade na ingestão
pelos peixes.

d. Floculadas

São obtidas com a secagem de uma pasta de ração em um rolo aquecido.


São comumente empregadas para a alimentação de peixes ornamentais (Figura 1D).
No entanto, vêm sendo substituídas pelas rações extrusadas em função da melhor
qualidade física e nutricional destas.

A B

C D

Figura 1. Tipos de rações comumente encontradas para alimentação de


peixes: (A) ração peletizada; (B) ração extrusada utilizada para a fase de recria
de peixes (com menor granulometria e maior teor proteico); (C) ração extrusada
utilizada para a fase final de engorda de peixes (com maior granulometria e
menor teor proteico); (D) ração floculada para peixes ornamentais. Fotos: Ana
Paula O. Rodrigues.

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Nutrição e alimentação de peixes

e. Microencapsuladas

A microencapsulação é uma técnica promissora para alimentação de larvas


de peixes, que combina estabilidade da cápsula na água e grande concentração de
nutrientes nas partículas. Porém, ainda não atingiu o nível comercial.

3.1.4. Quanto à função

a. Primeiro alimento para larvas

São alimentos fornecidos para as larvas quando já consumiram praticamente


todas as reservas do saco vitelínico, iniciando, portanto, a procura por alimento
exógeno (Figura 2). Por ser um momento bastante crítico para a sobrevivência das
larvas, deve ter grande aceitação pelo peixe e ser altamente digestível, uma vez que
o trato digestório da larva não está totalmente desenvolvido. Ainda, deve ser estável
na água para manter sua qualidade e limitar a contaminação por bactérias no sistema.
Náuplios de artêmia, zooplâncton, larvas de peixes forrageiros, fígado de boi, gema de
ovo crua de galinha e ração úmida são comumente utilizados como primeiro alimento
para larvas.

Durante essa fase, deve-se prezar mais pela sobrevivência e saúde das larvas,
do que com o custo da dieta, uma vez que apenas uma pequena quantidade de
alimento é utilizada nessa fase.

Figura 2. Larvas de suruvi ou bocudo (Steindachneridion scriptum) iniciando a


alimentação exógena evidenciada pelo trato digestório repleto de náuplios de
artêmia, conferindo coloração alaranjada. Foto: Ana Paula O. Rodrigues.

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Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

b. Dietas secas iniciais

São as rações fareladas já descritas anteriormente. Possuem altíssimos níveis


de proteína, exigência dos peixes nas fases iniciais de vida. Os benefícios obtidos com
uma ração de qualidade nessa fase refletirão na qualidade do lote até o final do ciclo
de produção.

c. Dietas para alevinos

Devem apresentar alta concentração proteica e baixa granulometria. Devem


assegurar que o potencial de crescimento dos peixes está sendo suportado pela dieta.

d. Dietas para engorda

São formuladas para promover o crescimento dos peixes até o tamanho de


abate de forma econômica e eficiente. Representam, de forma geral, cerca de 90% da
quantidade de alimento necessária para todo o ciclo de produção. Na engorda, o peixe
já aceita facilmente ração e possui o trato digestório completamente desenvolvido.
O custo da ração e a eficiência de conversão alimentar devem ser considerados e
monitorados quando se selecionam dietas para engorda.

e. Dietas para reprodutores

Existe pouco conhecimento sobre as exigências nutricionais de peixes adultos


ou maduros sexualmente e inexistem rações específicas para reprodutores no mercado
nacional. As rações destinadas para reprodutores devem conter altos níveis de proteína,
energia e vitaminas associadas à formação e composição dos ovos. Contudo, vários
fatores devem ser levados em consideração, como hábito alimentar e comportamento
reprodutivo. Espécies migradoras tendem a acumular gordura naturalmente como
preparação ao período de migração e desova. No entanto, em cativeiro, não há depleção
dessas reservas pela ausência de migração e, consequentemente, deve haver uma
redução na ingestão calórica para evitar acúmulo de gordura, a qual é antagônica
à eficiência reprodutiva. Já as espécies marinhas exigem altas concentrações de
ácidos graxos n-3 durante o desenvolvimento ovariano. Além disso, sabe-se, também,
que os ovos de algumas espécies apresentam altos níveis de vitamina C, exigindo
suplementação desse nutriente nas dietas dos reprodutores.

Pesquisas com nutrição de reprodutores demandam grande número de peixes


ativos sexualmente, bem como instalações adequadas e mão de obra qualificada para
a condução dos experimentos. A manutenção dos animais é onerosa e deve-se ter o

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Nutrição e alimentação de peixes

cuidado de conhecer a origem genética dos peixes utilizados. Estes e outros fatores
contribuem para o baixo conhecimento sobre nutrição e alimentação de reprodutores.

f. Dietas com imunoestimulantes

Dietas com imunoestimulantes, cuja definição encontra-se no item 6.5 deste


capítulo, geralmente são fornecidas em período antecedente a uma situação de
estresse (despesca, biometria, altas densidades de estocagem, mudança de estação
ou clima etc.), que pode ser o ponto inicial de desenvolvimento de patógenos.

Normalmente, estas substâncias são empregadas como alternativas às vacinas


e métodos quimioterápicos. No Brasil, ainda não há disponibilidade de dietas contendo
imunoestimulantes com efeito comprovado sobre a saúde dos animais. Algumas
empresas têm produzido rações com elevados teores de proteína e vitamina C com
o intuito de utilizá-las em regiões com inverno rigoroso ou em situações de estresse.
Contudo, ainda existem muitas dúvidas a respeito da real eficácia destas formulações
para diferentes doenças e espécies de peixes. A manutenção de peixes bem nutridos
e criados com boas práticas de manejo ainda é a maior garantia de animais saudáveis
e produtivos.

Recomendações técnicas

1. A escolha de rações para peixes deve considerar os seguintes aspectos: composição


nutricional, digestibilidade, palatabilidade, qualidade física, uniformidade de tamanho dos péletes,
grau de moagem dos ingredientes etc.;

2. Uma ração de qualidade aliada a boas práticas de cultivo maximiza o desempenho produtivo
do peixe com reduzido custo e impacto ambiental;

3. O ideal é alimentar os peixes com rações extrusadas, as quais possuem capacidade de flutuar
na água, maior digestibilidade e reduzida quantidade de pós e finos.

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Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

4. Alimentação

4.1. Percepção e aceitação do alimento

O processo de alimentação dos peixes compreende desde a percepção


do alimento até a sua ingestão, sendo influenciado não somente por técnicas de
alimentação, como também pelas características físicas da ração, como tamanho,
coloração e textura. O tamanho ideal do alimento para a maioria das espécies de
peixe é de 25 a 50% do comprimento da abertura bucal. Carnívoros predadores, que
naturalmente consomem grandes presas, aceitam péletes maiores, de forma geral.
As propriedades químicas das rações também influenciam a aceitação das dietas,
principalmente para carnívoros e larvas e, em muitos casos, é importante a adição de
atrativos na ração.

A aceitação de dietas artificiais pelos peixes é muitas vezes desenvolvida


pelo condicionamento alimentar, processo no qual uma ração seca é gradativamente
introduzida na alimentação de peixes objetivando a substituição dos alimentos naturais
ou dietas úmidas. Esse processo é denominado transição alimentar1.

4.2. Ingestão do alimento

A ingestão do alimento é influenciada por diversos fatores abióticos e bióticos,


conforme pode ser observado a seguir.

a. Temperatura da água

Influencia diretamente o metabolismo dos peixes, que são ectotérmicos. De


forma geral, temperaturas baixas levam à redução da atividade metabólica, reduzindo
a ingestão alimentar. Variações térmicas abruptas e em grande escala, bem como
o aumento excessivo da temperatura, além do ideal, também levam à redução na
ingestão dos peixes.

b. Fotoperíodo

Exerce maior influência nas espécies de clima temperado, nas quais um maior
fotoperíodo estimula a ingestão alimentar.

1
A transição alimentar de várias espécies nativas para piscicultura é descrita no livro
organizado por Baldisserotto e Gomes (2010), cuja referência se encontra no item Bibliografia
recomendada deste capítulo.

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Nutrição e alimentação de peixes

c. Luminosidade

Exerce influência principalmente para as espécies consideradas visuais, ou


seja, que utilizam a visão para captura do alimento (tambaqui, tilápias e pirarucu,
por exemplo). A maioria dos bagres, por sua vez, não é tida como visual, utilizando
principalmente o olfato para tal e alimentando-se preferencialmente nos horários de
baixa luminosidade (hábito alimentar crepuscular).

Após uma sequência de dias nublados ou logo nas primeiras horas do dia,
no entanto, a alimentação dos peixes pode ser afetada independentemente de serem
visuais ou crepusculares. Isso ocorre devido à redução da atividade fotossintética do
viveiro e consequente redução na concentração de oxigênio dissolvido na água de
cultivo (vide capítulo de “Monitoramento e manejo da qualidade da água”).

d. Ventos e chuvas

Podem afastar os peixes da superfície aquática, restringindo sua alimentação


em certas partes da coluna d’água.

e. Qualidade da água

Alterações nas concentrações de oxigênio dissolvido, amônia, pH e salinidade


afetam o consumo de alimentos pelos peixes. Para maiores informações sobre
os valores ideais nos parâmetros de qualidade da água e fatores relacionados às
alterações nesses parâmetros, consultar capítulo sobre “Monitoramento e manejo da
qualidade da água”.

f. Poluentes e toxinas

Modificam o apetite atuando na palatabilidade, metabolismo e/ou sistemas


sensoriais (por exemplo, verde de malaquita, formalina, cloramina, óleos, defensivos
agrícolas etc.).

g. Doenças

Podem reduzir a ingestão alimentar, ocasionando até mesmo anorexia.

h. Densidade de estocagem

Os efeitos prejudiciais comumente atribuídos à alta densidade de estocagem


podem ser acentuados por um manejo alimentar inapropriado, resultando em prejuízo
na qualidade da água, heterogeneidade de crescimento e maior suscetibilidade

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Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

a doenças. No caso de espécies territorialistas, maiores densidades de estocagem


podem ser benéficas, reduzindo a ocorrência de dominância e, consequentemente,
melhorando a sobrevivência, crescimento e homogeneidade do lote.

i. Estrutura social

O meio social é influenciado não somente pela densidade de estocagem, como


também pela heterogeneidade de tamanho e proporção sexual do lote. A ocorrência
de hierarquia social geralmente favorece o acesso dos peixes dominados ao alimento,
acentuando a heterogeneidade do lote. Essa situação é mais frequente em condições
de baixa densidade de estocagem e restrição alimentar, seja em quantidade, seja em
tempo e espaço.

j. Presença humana

O homem pode influenciar no comportamento e ingestão alimentar dos peixes


em várias operações de rotina de uma piscicultura, como biometrias, classificações,
limpeza dos tanques, tratamentos profiláticos e terapêuticos. Nesses casos, é
interessante suspender a alimentação no dia ou após 24-48 horas da manipulação
dos peixes. Movimentos e barulhos prolongados próximos ao tanque podem reduzir
a ingestão. Em alguns casos, porém, os peixes podem adquirir condicionamento e
associar a presença humana com o fornecimento de alimento, o que é desejável.

4.3. Fornecimento do alimento

A frequência alimentar ideal depende da temperatura da água, assim como


da espécie e idade do peixe. As espécies carnívoras se beneficiam geralmente de
uma menor frequência alimentar. Isso porque a maioria delas apresenta estômago
volumoso e elástico, capaz de armazenar quantidades significativas de alimento.
Nessas espécies, a frequência alimentar pode ser menor (de uma a duas refeições
diárias), aplicando-se maiores taxas de alimentação por refeição. O contrário ocorre
com as detritívoras, herbívoras e onívoras, as quais são beneficiadas por um maior
número de refeições diárias (de três a seis, dependendo do sistema e fase do cultivo)2.
Nas fases mais jovens dos peixes é necessário maior frequência alimentar, já que suas
exigências nutricionais e taxa de crescimento são maiores (Tabela 1).

2
Para maiores informações sobre a relação entre a morfologia do trato digestório e os
hábitos e estratégias alimentares dos peixes, consultar o capítulo sobre “Anatomia e fisiologia de
peixes de água doce”.

182
Nutrição e alimentação de peixes

Tabela 1. Manejo alimentar comumente empregado em pisciculturas comerciais em


viveiros escavados1.

Fase do Taxa de
Frequência Característica da dieta
cultivo alimentação
Larvicultura e Até saciedade Alimento vivo e ração farelada
Até 10 vezes ao dia
Alevinagem aparente 55-40% proteína bruta

Recria 4 vezes ao dia 10-5% peso vivo 40-32% proteína bruta

Engorda 2 vezes ao dia 5-2% peso vivo 32-28% proteína bruta

1 vez ao dia; 50-40% proteína bruta


podendo ser feita 3 (3 dias da semana) ou
Reprodução2 dias da semana ou 1,5-0,5% peso vivo
5-6 dias 32-24% proteína bruta
da semana (5-6 dias da semana)
1
Variável em função da espécie, sistema de cultivo e densidade de estocagem em questão.
2
Manejo alimentar utilizado para manutenção de reprodutores. Deve-se ter um cuidado
maior logo após a desova, quando as exigências nutricionais são maiores.

Deve-se evitar a distribuição localizada do alimento no tanque ou viveiro, o que


favorece o seu consumo apenas pelos indivíduos dominantes, inibindo o consumo
alimentar daqueles dominados. Em tanques-rede de grande volume, no entanto,
é indicado que se forneça o alimento na porção central do tanque, pois o próprio
movimento dos peixes auxiliará na sua distribuição (Figura 3). Nos de pequeno volume,
a área superficial é reduzida e a ração acaba se distribuindo pela superfície durante
a alimentação dos peixes. Independente do volume do tanque-rede, é importante a
utilização de comedouros, evitando que a ração atravesse a malha do tanque-rede
para seu exterior (Figura 3).

A B

Figura 3. Arraçoamento manual em tanque rede: ração sendo distribuída


no centro do comedouro (setas) (A) e comportamento desejável dos peixes
durante a alimentação (B). Fotos: Ana Paula O. Rodrigues.

183
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

4.4. Horário da alimentação

A maioria dos bagres, como os surubins e jundiá, alimenta-se melhor nos


horários de menor incidência luminosa, ou seja, logo nas primeiras horas do dia e
no entardecer. Deve-se sempre observar, porém, o comportamento dos peixes com
relação aos teores de oxigênio da água de cultivo, conforme mencionado no item 4.2,
c. Para as espécies visuais, a ração deve ser preferencialmente ofertada nos horários
com luminosidade suficiente para visualizarem e capturarem o alimento.

4.5. Técnicas de alimentação

O arraçoamento manual é a forma mais antiga e simples utilizada na


aquicultura (Figura 3). Exige prática, conhecimento e percepção do alimentador.
Tem como vantagem proporcionar a observação diária dos peixes pelo alimentador,
momento em que pode visualizar, ainda que de modo generalizado, o estado de saúde
dos peixes e a qualidade da água do cultivo, permitindo ajustes na alimentação. Torna-
se inviável em grandes produções e em viveiros amplos. Nesse caso, podem ser
utilizados alimentadores automáticos e veículos como barcos e tratores com sistema
de distribuição de ração (estes últimos exigem, no entanto, acessibilidade dos taludes
dos viveiros para tráfego) (Figura 4).

A B

Figura 4. (A) Arraçoamento manual em tanque de grande dimensão sendo


realizado com o auxílio de uma balsa. (B) Arraçoamento mecanizado em tanque
de grande dimensão sendo realizado com o auxílio de trator com sistema de
pulverização da ração (setas). Fotos: Giovani T. Bergamin.

184
Nutrição e alimentação de peixes

Recomendações técnicas

1. As espécies carnívoras se beneficiam geralmente de uma menor frequência alimentar, ao


contrário das detritívoras, herbívoras e onívoras;

2. Nas fases mais jovens dos peixes, é necessário maior frequência alimentar, já que suas
exigências nutricionais e taxa de crescimento são maiores;

3. O tamanho ideal do alimento para a maioria das espécies de peixe está entre 25 e 50% da
abertura bucal;

4. Após uma sequência de dias nublados ou logo nas primeiras horas do dia, o consumo alimentar
dos peixes pode ser afetado devido à redução da atividade fotossintética do viveiro e consequente
redução na concentração de oxigênio dissolvido na água de cultivo;

5. Deve-se evitar a distribuição localizada do alimento em viveiros, o que favorece os indivíduos


que se encontram mais próximos do local, bem como aqueles dominantes, inibindo o consumo
dos dominados.

5. Exigências nutricionais

Os peixes necessitam de proteínas, lipídios, vitaminas e minerais em sua


dieta para manutenção das funções vitais, crescimento e reprodução. As exigências
nutricionais variam em função da espécie, fase de desenvolvimento, sexo e estádio de
maturação sexual, sistema de cultivo e temperatura da água conforme resumido na
Tabela 2.

185
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

Tabela 2. Fatores que influenciam as exigências nutricionais dos peixes.

- Diferenças interespecíficas quanto à anatomia, fisiologia e hábito


Espécie
alimentar.

Fase de - Peixes nas fases iniciais de desenvolvimento apresentam maior


desenvolvimento exigência nutricional devido às maiores taxas de crescimento.

- A produção de gametas, bem como as atividades de acasalamento,


desova e cuidado parental demandam maior aporte nutricional. Nas
espécies reofílicas, há acúmulo de gordura como preparação para
Sexo e estádio de
a migração e desova. Em cativeiro, porém, não há depleção dessas
maturação sexual
reservas pela ausência de migração e, consequentemente, deve haver
uma redução na ingestão calórica para evitar acúmulo de gordura, a
qual é antagônica à eficiência reprodutiva.

Sistema de - A exigência nutricional da espécie se mantém. No entanto, havendo


disponibilidade e capacidade de aproveitamento de alimento natural,
produção há redução na quantidade de nutrientes que a ração precisa fornecer.

- A exigência nutricional da espécie se mantém. O que varia é a


quantidade de alimento ingerida, sua velocidade de passagem no trato
Temperatura da água
digestório e sua digestibilidade, as quais, de forma geral, aumentam
com a elevação da temperatura.

5.1. Energia

A energia do alimento é necessária para reações bioquímicas, formação


e regeneração de tecidos, manutenção do equilíbrio osmótico, movimentação das
moléculas e muitas outras funções fisiológicas, voluntárias e involuntárias. Não é
um nutriente propriamente dito. A energia é obtida com a quebra (catabolismo) de
carboidratos, lipídios e proteínas após ingestão dos alimentos ou mobilização das
reservas corporais e absorção dos nutrientes.

A energia ingerida pelos peixes não é aproveitada em sua totalidade. A energia


líquida utilizada pelos peixes é a energia bruta ingerida menos as perdas pelas fezes,
urina, excreções branquiais e calor (Figura 5). O valor dessas perdas varia principalmente
em função das características da dieta (digestibilidade) e do nível de alimentação.

Sendo a proteína o nutriente mais caro da dieta, as rações devem ser formuladas
para que o fornecimento de energia seja oriundo dos lipídios e carboidratos. Para tanto,
a ração deve apresentar um correto balanço entre energia e proteína. Isso porque a
ingestão pelos peixes é regulada pela quantidade de energia da dieta. Dessa forma, a
deficiência de energia na dieta em relação à proteína levará ao catabolismo da proteína

186
Nutrição e alimentação de peixes

para fornecimento de energia antes que a proteína seja utilizada para crescimento. Já
o excesso de energia levará à redução na ingestão da dieta antes que a quantidade
necessária de proteína e outros nutrientes essenciais para máximo crescimento
seja consumida. Além disso, altas quantidades de energia em proporção aos demais
nutrientes podem levar a uma alta deposição de gordura na cavidade visceral e demais
tecidos, prejudicando a produtividade, bem como a qualidade e tempo de prateleira do
produto final.

Digestão
Alimento Energia bruta

Fezes

Energia digestível

Excreção branquial e urina

Energia metabólica

Incremento calórico

Energia líquida
Energia líquida para mantença:
- Metabolismo basal
- Atividade involuntária

Energia líquida para produção:


- Crescimento
- Reprodução

Figura 5. Representação esquemática do aproveitamento da energia da dieta


pelos peixes.

5.2. Proteína e aminoácidos

As proteínas constituem o nutriente da dieta de maior importância para o


desenvolvimento dos peixes, além de ser o nutriente de maior custo nas rações. Atuam
no transporte de oxigênio (hemoglobina) e ferro (transferrina), controle do metabolismo
(na forma de alguns hormônios), catálise de reações químicas (enzimas) e proteção
imunológica (anticorpos). São os principais componentes das fibras musculares (actina
e miosina), atuando na sua contração, além de possuírem função estrutural por meio
do desenvolvimento da matriz óssea e do tecido conjuntivo (colágeno e elastina).

As proteínas são compostas por aminoácidos, sendo conhecidos 20 no total. A


exigência dos peixes não é exatamente por proteína e sim pelo fornecimento adequado

187
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

e balanceado de aminoácidos essenciais, aminoácidos que os peixes não conseguem


sintetizar ou o fazem em quantidade insuficiente ao exigido. São 10 os aminoácidos
essenciais para os peixes, a saber: arginina, fenilalanina, histidina, isoleucina, leucina,
lisina, metionina, treonina, triptofano e valina. A sua deficiência ocasiona redução
na utilização da proteína e mobilização dos aminoácidos dos tecidos musculares,
resultando em diminuição dos seguintes itens: crescimento, ganho em peso, eficiência
alimentar e resistência a doenças. O excesso de alguns aminoácidos, por sua vez,
pode ocasionar distúrbios metabólicos de toxicidade ou antagonismo devido ao
desequilíbrio entre aminoácidos.

O atendimento da exigência proteica em peixes depende de um balanço


adequado entre proteína e energia da dieta, do valor biológico da proteína (determinado
pela sua digestibilidade e perfil de aminoácidos) e da qualidade e quantidade da fonte
de energia não proteica. De forma semelhante ao que ocorre com a nutrição de plantas
para macro e micronutrientes, o atendimento das exigências em aminoácidos pelos
peixes segue a “Lei do Mínimo”, isto é, enquanto a exigência do primeiro aminoácido
limitante não for suprida, a utilização dos demais fica restrita à quantidade limitada
daquele.

5.3. Lipídios

Os lipídios são uma importante fonte de energia para os peixes, principalmente


para as espécies de água marinha e fria, que apresentam capacidade limitada para
utilizar carboidratos como fonte de energia. Constituem fonte de ácidos graxos
essenciais, necessários para o crescimento e desenvolvimento. Atuam no transporte
e absorção de vitaminas lipossolúveis e como constituintes da membrana celular (na
forma de fosfolipídios). São precursores de eicosanoides e hormônios esteroides,
substâncias relacionadas com funções metabólicas, reprodutivas, imunológicas, entre
outras.

A maioria dos lipídios apresenta ácidos graxos em sua composição. Os


essenciais para os peixes são: ácido linoleico (ômega-6), ácido araquidônico
(ômega-6), ácido linolênico (ômega-3), ácido eicosapentaenoico (EPA) (ômega-3) e
ácido docosaexaenoico (DHA) (ômega-3). A deficiência nesses ácidos graxos causa
redução no crescimento e no desempenho reprodutivo, despigmentação, erosão
das nadadeiras e problemas cardíacos. A quantidade e proporção exigidas desses
ácidos graxos dependem da espécie de peixe em questão. As de água marinha e fria
apresentam maior exigência por ácidos graxos insaturados do tipo ômega-3 do que as
de água doce e tropical.

188
Nutrição e alimentação de peixes

5.4. Carboidratos

Peixes possuem maior habilidade em utilizar lipídios e proteínas como fonte


de energia. Embora nenhuma exigência em carboidratos tenha sido demonstrada para
peixes, sua adequada inclusão na dieta pode reduzir os custos das rações devido ao
seu menor custo e efeito economizador de proteína, que acaba por reduzir a emissão
de compostos nitrogenados na água. Além disso, a presença de amido nas rações,
principal carboidrato utilizado, é importante para a expansão e aglutinação de rações
extrusadas.

O valor nutricional ou a capacidade de utilização de carboidratos varia entre


as espécies de peixe:

− Os de água doce e quente apresentam maior capacidade de utilização de


carboidratos em relação aos de água marinha e fria;

− Espécies carnívoras apresentam menor habilidade em utilizar carboidratos em


comparação às herbívoras e onívoras;

− A maioria das espécies utiliza melhor os carboidratos mais complexos como o


amido do que os mais simples como açúcares;

− A maioria das espécies utiliza mais eficientemente o amido cozido ou


gelatinizado do que o cru;

− Os carboidratos estruturais (que pertencem à fração fibrosa do alimento) não


são aproveitados significativamente pelos peixes porque não são digeridos.

5.5. Vitaminas

As vitaminas são exigidas em pequenas quantidades na dieta dos peixes e


funcionam como catalisadores ou reguladores metabólicos. Suas exigências variam
de acordo com a espécie, fase de desenvolvimento, taxa de crescimento, ambiente,
sistema de cultivo e interações com outros nutrientes. São 15 as essenciais para
os peixes, das quais quatro são lipossolúveis e 11, hidrossolúveis. Suas funções
encontram-se resumidas na Tabela 3. Dentre os principais sinais de deficiência em
vitaminas relatados estão: natação errática ou em espiral, deformidades no corpo,
lordose, escoliose, ascite, escurecimento ou perda de pigmentação da pele, dermatite,
catarata, exoftalmia, anemia, hemorragia, convulsão, letargia, perda de escamas,
excesso de muco, distrofia muscular, falta de apetite, entre outros. Ao contrário das
vitaminas hidrossolúveis, as lipossolúveis são acumuladas no corpo e, em excesso,
podem ocasionar toxidez por hipervitaminose.

189
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

Tabela 3. Principais funções das vitaminas em peixes de água doce (Fonte: Pezzato
et al., 2004; NRC, 2011).

Vitamina Função

- Desenvolvimento embrionário; participa da produção de células


A secretoras de muco; essencial para a visão; manutenção da
resistência a infecções.
Lipossolúveis

- Metabolismo de cálcio e fósforo; importante para o desenvolvimento,


D
crescimento e manutenção da estrutura óssea.

- Função antioxidante, juntamente com a vitamina C e o selênio,


E
protegendo vitaminas e ácidos graxos insaturados da oxidação.

K - Atuação na coagulação sanguínea e no transporte de cálcio.

Tiamina (B1) - Cofator de enzimas importantes na produção de energia.

- Componente de coenzimas importantes em reações de óxido-


Riboflavina (B2)
redução.

- Metabolismo de aminoácidos; catabolismo do glicogênio; essencial


Piridoxina (B6)
para a síntese de neurotransmissores.

Ácido pantotênico (B3) - Metabolismo de aminoácidos, lipídios e carboidratos.

Niacina - Metabolismo de aminoácidos, lipídios e carboidratos.


Hidrossolúveis

Biotina - Metabolismo de aminoácidos, lipídios e carboidratos.

Ácido fólico - Síntese e metabolismo de aminoácidos.

- Metabolismo de carboidratos e lipídios; formação de hemácias;


Cianocobalamina (B12)
manutenção do tecido nervoso.

- Manutenção da estrutura de membranas biológicas e transmissão


Colina
de impulso nervoso.

Inositol - Manutenção da estrutura de membranas biológicas.

- Manutenção do tecido conjuntivo, vascular e ósseo; absorção de


Vitamina C
ferro; atua junto com a vitamina E na redução da oxidação de lipídios
(ácido ascórbico)
da dieta e tecidos corporais.

A estabilidade química e funcional das vitaminas na dieta é prejudicada por


diversos fatores como incidência de raios ultravioleta, presença de lipídios oxidados,
temperaturas elevadas, meio ácido, presença de oxigênio e de microminerais. O uso
de formas mais estáveis das vitaminas e o armazenamento e fornecimento adequados
das rações podem reduzir tais perdas.

190
Nutrição e alimentação de peixes

5.6. Minerais

Os minerais são elementos inorgânicos essenciais para os processos vitais, tais


como formação do esqueleto, manutenção da viscosidade, composição de hormônios
e vitaminas, ativação e composição de enzimas, dentre outros. No caso dos peixes,
podem ser obtidos através da água e da dieta. A concentração de minerais no organismo
depende da espécie, estágio de desenvolvimento, estado fisiológico e de saúde, tipo de
alimentação, qualidade da água e outros fatores ambientais. Na Tabela 4, destacam-se
as principais funções e sinais da deficiência de alguns minerais para peixes.

Tabela 4. Funções biológicas de alguns minerais para peixes e seus respectivos sinais
clínicos e subclínicos de deficiência (Fonte: Pezzato et al., 2004; NRC, 2011).

Mineral Funções Sinais de deficiência

- Desenvolvimento e manutenção do sistema esquelético;


- Descalcificação,
contração muscular; transmissão de impulsos nervosos;
Cálcio osteoporose e distrofia
manutenção da integridade da membrana celular e
osteoide.
ativação enzimática.

- Redução no crescimento e
eficiência alimentar;
- Desenvolvimento e manutenção do sistema esquelético;
constituinte dos ácidos nucleicos, da membrana celular
Fósforo - Amolecimento e
e da molécula de energia ATP; atua no metabolismo de deformação dos ossos
carboidratos, lipídios e aminoácidos. da cabeça, vértebras e
costelas.

- Manutenção da homeostase intra e extracelular;


atua na respiração celular; cofator para reações
enzimáticas; ativação da síntese de aminoácidos; atua
Magnésio - Redução no crescimento.
no metabolismo do tecido esquelético, na transmissão
neuromuscular e no metabolismo de carboidratos,
lipídios e proteínas.
- Deficiência desses
Sódio, - Sódio e cloreto são os principais íons dos fluidos
minerais é rara em peixes,
potássio e extracelulares do corpo, enquanto o potássio, do fluido
pois são abundantes na
cloreto intracelular; atua no equilíbrio osmótico e ácido-base.
água e ração.

- Atua no processo de respiração celular (atividades


de óxido-redução e transporte de elétrons); papel na
Ferro - Anemia microcítica.
produção e funcionamento da hemoglobina, mioglobina,
citocromos e outros sistemas enzimáticos.

- Redução no teor de cobre


Cobre - Constituinte de várias enzimas do metabolismo.
nos tecidos.

191
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

- Cofator na conversão de ureia em amônia, no


metabolismo de aminoácidos, no metabolismo ácido de - Redução no crescimento
Manganês
gorduras e na oxidação da glicose; ativação de enzimas
do metabolismo. - Lesões na pele
e nadadeiras;
- Cofator em sistemas enzimáticos; componente de desenvolvimento de
Zinco metaloenzimas; regulador de vários processos do catarata.
metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas.

- Atua na biossíntese dos hormônios da tireoide


que controlam a oxidação celular e influenciam o
Iodo crescimento; atua em outras glândulas endócrinas; - Hiperplasia tireoidiana.
possui função neuromuscular e dinâmica circulatória;
atua no metabolismo de nutrientes.

- Cofator da enzima glutationa peroxidase; protege


células e membranas dos danos causados pelos - Combinada com vitamina E
Selênio
peróxidos; atua em conjunto com a vitamina E como causa distrofia muscular.
antioxidante biológico.

Recomendações técnicas

1. As proteínas constituem o nutriente da dieta de maior importância para o desenvolvimento dos


peixes, além de ser o nutriente de maior custo nas rações.

6. Outros componentes da dieta

6.1. Água

A água pode estar presente nas dietas de diferentes formas: adicionada


como ingrediente na formulação de rações, como constituinte natural dos alimentos e
absorvida do ar atmosférico. É importante conhecer o teor de água presente na dieta
para evitar perdas na qualidade do alimento ao ser armazenado e manipulado.

6.2. Fibra alimentar

As fibras são a porção indigestível encontrada nos alimentos, composta por


celulose, lignina, pentosanas e outros carboidratos complexos. A sua presença na dieta
diminui o tempo que o alimento permanece no trato digestório, reduzindo seu tempo

192
Nutrição e alimentação de peixes

de exposição à ação de enzimas digestivas e prejudicando a eficiência de absorção


dos nutrientes. Ocorre um aumento na produção de fezes que são lançadas ao meio,
provocando maior poluição do ambiente aquático. A fibra alimentar, no entanto, serve
como preenchimento e aglutinante nas dietas. Sua inclusão não deve passar de 6%
para que não comprometa a digestibilidade e o desempenho dos peixes.

6.3. Antioxidantes

Os antioxidantes são substâncias adicionadas às rações para retardar


os processos de deterioração, rancificação e descoloração. São extremamente
importantes em dietas ricas em ácidos graxos poli-insaturados para prevenir a
oxidação de lipídios, vitaminas lipossolúveis e pigmentos lipofílicos. Esse processo
de rancificação resulta na formação de produtos tóxicos e na alteração da cor, sabor,
aroma e textura dos alimentos, além de afetar seu valor nutricional. Degeneração
do fígado, irritação da mucosa intestinal, diarreias, dentre outras patologias têm sido
relatadas em consequência à ingestão de alimentos rancificados.

Fazem parte do grupo de antioxidantes naturais as vitaminas A, C e E,


carotenoides e minerais como selênio, zinco, cobre, magnésio e ferro. A vitamina E tem
sido suplementada em rações para evitar a rancificação. Uma vez que esta é muito
suscetível à oxidação, quando usada como antioxidante natural, sua inclusão deve ser
feita em quantidades acima da exigência do peixe, já que boa parte será oxidada no
período de armazenamento da ração.

6.4. Pigmentos

Os pigmentos são substâncias químicas responsáveis pela coloração da


pele, carne e ovos dos peixes, conferindo-lhes tons do amarelado ao avermelhado.
Na natureza, esses pigmentos são obtidos por meio do alimento natural, devendo
ser suplementados na dieta dos peixes em cativeiro quando for interessante para
o mercado consumidor e se a espécie for capaz de pigmentar o tecido muscular.
Em ornamentais e salmonídeos, a adição desses componentes na dieta, além de
intensificar a cor, melhora o valor comercial do produto. Entretanto, são indesejáveis no
caso de peixes cujo mercado busca por um filé claro, como bagres.

A astaxantina e a cantaxantina são os principais pigmentos usados em dietas


para salmonídeos. Alimentos de origem vegetal são pobres em astaxantina e ricos
em luteína e zeaxantina, como o milho, produzindo coloração não desejável em filés
preferencialmente claros como os dos surubins.

193
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

6.5. Imunoestimulantes

Os imunoestimulantes são substâncias naturais ou sintéticas, que, adicionadas


à dieta dos peixes, estimulam as funções imunológicas e melhoram a resistência
às doenças, podendo favorecer o seu desempenho. Algumas vitaminas, minerais,
proteínas, aminoácidos, hormônios, substâncias derivadas de plantas e animais,
prebióticos e probióticos podem atuar como imunoestimulantes.

Os prebióticos são substâncias não digestíveis, adicionadas às rações


para manipular a microbiota intestinal, favorecendo a proliferação daqueles micro-
organismos desejáveis ao hospedeiro (peixe). São exemplos: amido, fibras dietéticas,
oligossacarídeos, dentre outros. Já os probióticos são micro-organismos do trato
gastrintestinal que contribuem beneficamente para o hospedeiro, favorecendo o
aproveitamento do alimento, estimulando a resposta imune ou, ainda, melhorando a
qualidade do ambiente intestinal. O uso desses imunoestimulantes e outros podem
contribuir para a redução no emprego de medicamentos, porém, mais estudos sobre
sua utilização e eficácia são ainda necessários.

6.6. Atrativos

A adição de atrativos ou palatabilizantes nas rações tem papel importante na


redução do tempo gasto pelos peixes para detectar e capturar o alimento, diminuindo,
assim, as perdas de nutrientes na água antes que o alimento seja ingerido. Além disso,
estimular o consumo, especialmente nas fases iniciais de vida dos peixes, também é
função dos atrativos.

É através da visão e olfato que ocorre a detecção do alimento pelos peixes,


entretanto, seu sabor é que determinará se será consumido ou não. Cada espécie
reage de forma diferente na detecção dos diversos sabores dos alimentos, de acordo
com suas preferências. São exemplos de substâncias estimulantes, capazes de
melhorar a aceitação do alimento tanto para espécies carnívoras, quanto para onívoras:
aminoácidos livres, dipeptídeos, betaína e inisina.

Para que funcionem como atrativos, devem simular as características químicas


dos alimentos naturalmente procurados pelos peixes em seu ambiente natural.
Carnívoros têm preferência por substâncias alcalinas e neutras. Dessa forma, alguns
aminoácidos com essa natureza, como glicina, prolina, taurina, valina e betaína
apresentam bom resultado como palatabilizantes. Já herbívoros preferem substâncias
ácidas, tais como ácidos aspártico e glutâmico.

194
Nutrição e alimentação de peixes

6.7. Aglutinantes

Melhorias na estabilidade e firmeza dos péletes e redução na quantidade de pós


durante o processamento e manipulação da ração podem ser obtidas por meio do uso
de aglutinantes e de técnicas de processamento, tal como a extrusão. Os aglutinantes
podem ser nutritivos ou não, sendo que seu valor nutricional frequentemente é limitado,
devido ao fato de serem inertes. Alginatos de sódio, compostos de lignina, goma-guar e
carboximetilcelulose são exemplos de aglutinantes não nutritivos. Dentre os nutritivos,
o amido, presente nos grãos dos cereais, é o principal aglutinante usado nas rações.
Quando cozido, gelatiniza, conferindo firmeza, estabilidade e flutuabilidade para a
ração na água.

6.8. Antinutrientes e toxinas

As dietas oferecidas aos peixes, formuladas para atender suas necessidades


nutricionais, podem conter não somente os nutrientes desejáveis, mas também algumas
substâncias que interferem negativamente no organismo. Estas podem estar contidas
nos próprios ingredientes usados na formulação da ração ou serem resultantes de um
processo de contaminação acidental proveniente do mau acondicionamento dessas
rações depois de prontas. Dependendo de sua concentração, podem comprometer
a efetividade da dieta. Portanto, são de grande importância a escolha criteriosa dos
ingredientes das rações e o monitoramento de sua qualidade no processamento e
armazenagem.

Os antinutrientes são substâncias que, de forma geral, afetam negativamente


o desempenho dos peixes e estão presentes em alguns ingredientes, principalmente
naqueles de origem vegetal. Na Tabela 5, encontram-se listados alguns dos principais
antinutrientes, a descrição de suas formas de ação e inativação, bem como alguns dos
ingredientes em que ocorrem.

As micotoxinas são substâncias geradas durante o processo de crescimento


de fungos que se desenvolvem em diversos ingredientes da dieta ou na própria dieta.
Estimulam o aparecimento de células tumorais, são tóxicas para as células, inclusive
para as do sistema nervoso, além de reduzir a imunidade dos peixes. Dentre elas, as
mais conhecidas são as aflatoxinas, causadoras de distúrbios hepáticos. Entretanto,
há toxinas produzidas por outros tipos de fungos (Tabela 6). A sensibilidade às
micotoxinas é espécie-específica. A contaminação das rações com micotoxinas pode
ocorrer direta (contaminação do alimento com o fungo que irá produzir a micotoxina)
ou indiretamente (através do uso de um ingrediente previamente contaminado).

195
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

Tabela 5. Principais fatores antinutricionais em rações para peixes, características de


sua ação e ingredientes onde ocorrem.

Inativação
Principais
ou formas de
fatores Ação Ocorrência
amenizar sua
antinutricionais
ação

- Formam complexos com a


tripsina, prejudicando sua ação - Grãos crus de
no processo digestivo; - Processamento a leguminosas,
Inibidores de tripsina
- Grau de intolerância a sua quente. principalmente a
ação varia de acordo com a soja.
espécie.

- São inativados
pela pepsina no
estômago, não
representando
grandes problemas
Agentes - Aglutinam as células para peixes - Soja.
hemaglutinantes vermelhas do sangue. com estômago
verdadeiro;

- Processamento a
quente associado
com umidade.

- Suplementação
de fitase na dieta
- Peixes não produzem fitase (porém ainda está - Representa
para quebrar a molécula e sendo estudada); cerca de 70%
liberar seu fósforo;
do fósforo na
Ácido fítico ou fitato - Suplementação
- Liga-se a proteínas e minerais maioria dos
mineral em maior
reduzindo a biodisponibilidade ingredientes
quantidade;
destes para os peixes. vegetais.
- Tratamento ácido-
alcoólico.

- Pode causar distúrbios


hepáticos e lesões renais;

- Pode se ligar com a lisina,


tornando esse aminoácido - Solventes
- Caroço de
Gossipol indisponível para o peixe, bem orgânicos e
algodão.
como com o ferro, reduzindo tratamento ácido.
sua absorção e retenção;

- Sua tolerância varia


dependendo das espécies.

196
Nutrição e alimentação de peixes

- Afetam o funcionamento
da tireoide, prejudicando - Tratamento térmico
Glicosinolatos - Colza e canola.
a absorção de iodo e o aquoso.
funcionamento dos rins e fígado.

- Rações que
contenham
- Enzima responsável pela preparos com
destruição da tiamina (vitamina - Tratamento com peixes crus,
Tiaminase
B1), ocasionando sua calor ou ensilagem. sendo mais
deficiência. comum em
peixes de água
doce.

- Ação hemolítica;

-Danos ao epitélio respiratório


das brânquias;

- Modificações na - Remoção por


Saponinas permeabilidade da mucosa - Farelo de soja.
extração aquosa.
intestinal;

- Retardo no crescimento e
diminuição da digestibilidade da
proteína.

- Redução da absorção de
nutrientes;

- Redução da ação de enzimas - Soja, sorgo,


Taninos e outros
digestivas; - Tratamento térmico. canola e
compostos fenólicos
girassol.
- Podem causar hemorragias,
nefrites, necrose hepática e
gastroenterites.

- Aumento da viscosidade da
digesta;
- Farelo de
- Redução da digestibilidade algodão, farelo
do amido, da proteína e dos de canola, farelo
lipídeos; de girassol,
Polissacarídeos não - Adição de enzimas
- Redução da taxa de passagem farelo de arroz,
amiláceos exógenas à dieta.
no trato gastrintestinal com farelo de soja,
consequente redução do farelo de linhaça,
consumo; farelo de trigo,
centeio, triticale.
- Redução na absorção dos
nutrientes no intestino.

197
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

Tabela 6. Micotoxinas comumente encontradas em ingredientes e rações e o efeito


destas nos peixes.

Tipo de Gênero de
Ingredientes Efeitos mais comuns
micotoxina fungo

- Prejudica a síntese proteica;


- Amendoim,
reduz o crescimento e a
milho, caroço de
eficiência alimentar; pode
algodão, sorgo,
causar hepatoxicidade,
Aflatoxina Aspergillus cereais, sementes
imunossupressão,hemorragia
de oleaginosas,
intestinal, anemia,
amêndoas,
carcinogênese, anormalidades
especiarias etc.
renais.

- Problemas neurológicos;
- Milho e outros
Fumonisina Fusarium carcinogênese; hepatoxicidade;
grãos.
imunossupressão.

Fusarium,
Myrothecium,
- Inibição da síntese proteica;
Phomopsis,
- Milho e outros redução do ganho em peso;
Tricotecenos Stachybotrys,
grãos. recusa alimentar; danos aos
Trichoderma,
tecidos hepáticos.
Trichothecium,
Verticimonosporium

- Milho e outros
Zearalenona Fusarium - Problemas reprodutivos.
grãos.

Penicillium, - Arroz, aveia,


Citrinina Aspergillus, centeio, cevada, - Nefropatias.
Monoascus milho, trigo.

- Milho, trigo, - Possui ação tóxica aos


Aspergillus e
Ocratoxina cevada e outros rins, fígado, sistema imune e
Penicillium
cereais. brânquias, sendo cancerígena.

Ácido Aspergillus e - Cereais, milho e - Distúrbios renais e intestinais;


Ciclopiazônico Penicillium amendoim. anormalidades no estômago.

A oxidação de ácidos graxos insaturados dos alimentos ocasiona a formação


de radicais livres, peróxidos, hidroperóxidos, aldeídos e cetona. Esses compostos
reagem com outros componentes da dieta, reduzindo seu valor nutricional. Os
sinais apresentados em peixes alimentados com óleos oxidados são similares
aos apresentados em situações de deficiência de vitamina E. Os sinais podem
ser prevenidos com suplementação adicional de vitamina E na dieta ou adição de
antioxidantes sintéticos à dieta.

198
Nutrição e alimentação de peixes

6.9. Metais pesados

Os metais pesados são definidos como sendo aqueles situados entre o cobre
e o chumbo na tabela periódica e, dependendo do metal e/ou de sua concentração,
podem agir tanto como nutrientes, a exemplo do cobre e zinco, quanto como agentes
tóxicos aos peixes, tais como mercúrio, cádmio e arsênio. A toxicidade de um metal
depende não só de sua concentração na dieta, mas também da concentração de outros
minerais, bem como do tamanho do peixe e espécie em questão. Os peixes absorvem
estes metais pelas brânquias, pela superfície corporal e pela ingestão de alimentos
ou água contaminados, podendo acumulá-los no tecido muscular. Em quantidades
subletais, os metais pesados podem causar mudanças morfológicas, fisiológicas e
comportamentais, tais como redução no crescimento, modificações na respiração e
movimentos natatórios.

6.10. Bifenis policlorados

São compostos sintéticos não biodegradáveis normalmente encontrados em


produtos industriais empregados como fluidos dielétricos e hidráulicos, bem como
retardadores de fogo e isolantes térmicos. Estão presentes também na composição
de graxas e óleos lubrificantes, tintas, pesticidas, tintas de impressão, espuma usada
em móveis, dentre outros produtos, que, lançados ao ambiente, são poluentes do solo,
água ou ar.

Esses compostos destacam-se como um dos dez poluentes com maior potencial
de biotoxicidade, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
de 2003. São lipofílicos, ou seja, acumulados em lipídios, sendo bioacumulados ao longo
da cadeia alimentar. O uso de resíduos de peixes marinhos e de água doce de ambientes
contaminados para a produção de farinha e óleo de peixe torna esses ingredientes a
principal fonte de contaminação com bifenis policlorados nas dietas. Quando em níveis
acima do tolerado pelos peixes, podem ocasionar 100% de mortalidade no lote, podendo,
também, ocorrer lesões hepáticas, alterações no metabolismo do fígado e diminuição da
atividade da glândula tireoide, quando em doses não letais.

6.11. Defensivos agrícolas

Os defensivos agrícolas são compostos usados para prevenir, controlar ou


eliminar pragas na agricultura, sejam elas bactérias, fungos, ácaros, ervas daninhas,
insetos, nematoides, roedores ou moluscos. Podem contaminar a dieta ou a água de

199
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

cultivo, apresentando maior toxicidade em peixes juvenis, devido ao sistema imunológico


ainda imaturo e metabolismo mais acelerado que os adultos, conferindo-lhes maior
sensibilidade aos agentes químicos. Causam displasia e esterilidade das gônadas,
letargia, distúrbios nervosos, anorexia e tumores hepáticos, podendo levar à morte.

7. Ingredientes para a formulação de dietas para peixes

A escolha de um ingrediente para a formulação de dietas eficientes deve


considerar diversos critérios como sua composição nutricional, digestibilidade,
disponibilidade ao longo do ano, economicidade, palatabilidade, entre outros. Os
ingredientes podem ser classificados em:

- Fibrosos: possuem acima de 18% de fibra bruta (matéria seca);

- Energéticos: possuem menos do que 20% de proteína e menos do que 18%


de fibra bruta (matéria seca). São geralmente de origem vegetal (por exemplo,
grãos e óleos);

- Proteicos: apresentam mais do que 20% de proteína (matéria seca). Podem


ser de origem vegetal (farelos de oleaginosas, principalmente) ou animal
(farinhas de resíduos animais, principalmente);

- Suplementos vitamínicos e minerais: geralmente fornecidos na forma de


uma pré-mistura (premix) de vitaminas e minerais incorporados a um veículo
sólido (q.s.p.) (necessário para facilitar a incorporação destes nutrientes na
ração, devido ao baixo volume de inclusão dos mesmos);

- Aditivos: ingredientes adicionados à formulação sem função nutricional, como,


por exemplo, medicamentos, imunoestimulantes, palatabilizantes, pigmentos,
aglutinantes, antioxidantes etc.

A seguir serão apresentados os ingredientes proteicos e energéticos mais


comumente empregados em rações para peixes3.

3
A composição nutricional destes ingredientes e outros utilizados para a formulação de
rações para peixes é encontrada no livro organizado por Rostagno et al. (2011), cuja referência
encontra-se no item Bibliografia recomendada deste capítulo.

200
Nutrição e alimentação de peixes

7.1. Ingredientes proteicos de origem animal

Os ingredientes proteicos de origem animal possuem proteína de elevado


valor biológico em comparação aos de origem vegetal. Isto significa melhor equilíbrio
entre os aminoácidos essenciais, o que contribui para o melhor aproveitamento da
fração proteica do ingrediente. Além disso, ingredientes de origem animal conferem
maior palatabilidade (sabor) às dietas, contribuindo para maior aceitação pelos peixes.
Como pontos negativos, apresentam produção inconstante e grande variabilidade de
composição entre lotes produzidos.

a. Ingredientes derivados de peixe

Compreendem a farinha de peixe inteiro e a de resíduo de peixe (que é a


mais utilizada atualmente nas formulações pelas indústrias brasileiras). Constituem
um subproduto desidratado e moído, obtido pela cocção da matéria-prima, seguida
de extração parcial do óleo. Apresentam bom equilíbrio de aminoácidos essenciais
e ácidos graxos, teores variáveis de gordura (4 a 20%) e de matéria mineral (11 a
23%), constituindo importante fonte de fósforo e microminerais (zinco, manganês,
cobre, selênio e ferro) para a ração. O tipo de resíduo utilizado na produção da farinha
determina sua qualidade: a farinha de peixe integral apresenta maior teor proteico,
quando comparada à de resíduos, que apresenta maior quantidade de matéria mineral.

A farinha de peixe é o ingrediente mais caro utilizado na fabricação de rações


para peixes. Devido ao alto custo e excelente qualidade nutricional, a utilização desse
ingrediente deve ser priorizada em dietas para reprodutores e animais jovens (pós-
larvas e alevinos), que representam as fases de maior exigência nutricional. Na de
engorda, quando é consumido o maior volume de ração, há a necessidade de diminuir
a inclusão de farinha de peixe nas dietas, reduzindo o custo de produção.

Além da secagem para a produção de farinha, os resíduos de peixe podem


ser preservados e aproveitados de outras formas, como é o caso da silagem e do
hidrolisado de peixe. Quando o resíduo é preservado em ácido antes da hidrólise,
chama-se silagem. Quando é hidrolisado e então acidificado para preservação, é
chamado de hidrolisado de peixe. Ácidos orgânicos e inorgânicos podem ser utilizados
como acidulantes. É importante que o pH se mantenha abaixo de 4,0 e que substâncias
antifúngicas e antioxidantes sejam adicionadas. Durante a reação de hidrólise da
proteína do peixe, ocorre liberação de água, resultando em um produto líquido.

201
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

b. Farinha de carne e farinha de carne e ossos

São produtos oriundos do processamento industrial de tecidos animais. Ambas


as farinhas são obtidas a partir do mesmo fluxograma de processamento. O que as
diferencia é o teor de fósforo e de matéria mineral (cinzas). Na farinha de carne, o nível
de fósforo não deve ser superior a 4% e o teor de matéria mineral deve ser menor que
26%. Sempre que os teores forem maiores que estes, a farinha será de carne e ossos.

Existem vários tipos de farinha de carne, de acordo com o teor proteico (de 36
a 60%), quantidade de ossos e origem (bovina, suína ou mista). Essas características
determinam a qualidade nutricional e digestibilidade proteica da farinha. Portanto,
um dos maiores problemas relacionados com proteínas de origem animal é o fato
de haver muita variação entre produtos. Além disso, o conhecimento dos tipos de
resíduos que entram na composição das farinhas é importante, pois, dependendo
de suas proporções, podem alterar a digestibilidade e qualidade do ingrediente. Não
se admite e é considerada adulteração a adição de pelos, pó de chifre ou cascos,
conteúdo gastrintestinal, couro e excesso de sangue.

A principal vantagem da utilização das farinhas de carne ou carne e ossos para


peixes é o custo baixo desses ingredientes, além do aumento da palatabilidade das
rações de origem vegetal. Contudo, diferentes processos industriais de obtenção das
farinhas influenciam na qualidade do produto e influenciarão no desempenho animal.

c. Farinha de vísceras de aves

É obtida através do processamento de pedaços de carcaças de aves (cabeça,


pescoço, sangue e vísceras) isentos de matéria fecal e pedaços de carcaças
condenadas pela inspeção e de aves que morreram durante o transporte. Caracteriza
adulteração a presença de resíduos de incubatórios e outras matérias estranhas a sua
composição, como cascas de ovos ou penas. Seu teor de proteína varia de 55 a 65%,
sendo deficiente em treonina, fenilalanina e lisina. Pode apresentar alta quantidade
de gordura (acima de 13%), o que dificulta o processamento da ração (peletização e
extrusão) e, consequentemente, diminui a estabilidade da ração na água.

d. Farinha de penas hidrolisada

É o produto resultante da cocção, sob pressão, de penas limpas e não


decompostas, obtidas no abate de aves, sendo permitida a participação de sangue e
vísceras. As farinhas de penas de boa qualidade devem conter teores de proteína e
digestibilidade proteica acima de 80%. A farinha de penas é rica em cistina, mas pouco
palatável e deficiente em vários aminoácidos essenciais (histidina, lisina, triptofano e
metionina), portanto seu uso em rações para peixes é limitado.

202
Nutrição e alimentação de peixes

e. Farinha de sangue

É o produto resultante do processo de cozimento e secagem do sangue bovino


ou suíno fresco, sem pelos, urina e conteúdo digestivo, exceto em quantidades que
podem ser admitidas nas boas práticas de processamento. O método de secagem
do sangue é provavelmente o fator que mais contribui para a qualidade da farinha
de sangue. O processamento tradicional, com secagem em tambores rotatórios ou
chapas quentes, diminui severamente a qualidade e digestibilidade da proteína. No
processamento denominado spray-dried, a umidade é removida por evaporação em
baixa temperatura até obtenção de massa pastosa, que é passada na forma de spray
por curto período de tempo em um equipamento com corrente de ar quente. A farinha
de sangue spray-dried apresenta melhor qualidade proteica e, portanto, é a mais
indicada para inclusão em dietas para peixes.

A legislação brasileira e as indústrias de rações estabeleceram como padrão


mínimo o nível de 80% de proteína bruta para esta farinha. É deficiente em metionina e
isoleucina, devendo ser combinada com outros ingredientes proteicos para adequado
balanço de aminoácidos essenciais. Além disso, é um produto que apresenta problemas
de palatabilidade se usado em grandes quantidades na dieta.

7.2. Ingredientes proteicos de origem vegetal

As fontes proteicas de origem vegetal caracterizam-se pela disponibilidade


constante ao longo do ano, composição homogênea e custo relativamente inferior às
de origem animal. Porém, quando utilizadas como único ingrediente proteico na dieta,
há desequilíbrio de aminoácidos, comprometendo o desempenho dos animais. Além
disso, a maioria apresenta problemas de palatabilidade e fatores antinutricionais, que
afetam a eficiência de utilização dos nutrientes, prejudicando o crescimento dos peixes.
Por outro lado, a combinação equilibrada de vários ingredientes proteicos alternativos
traz maior possibilidade de sucesso nessa substituição, além de diminuir o impacto
ambiental por excreção de nitrogênio e fósforo, principalmente. Ingredientes de origem
animal, como as farinhas de peixe, carne ou carne e ossos apresentam altos teores de
matéria mineral (entre eles, nitrogênio e fósforo) em sua composição, sendo o excesso
eliminado pelos animais no ambiente aquático.

203
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

a. Farelo de soja

O farelo de soja é atualmente o ingrediente vegetal mais utilizado na formulação


de rações para peixes, devido ao alto valor proteico (44 a 50% de proteína bruta) e
adequado balanço de aminoácidos, exceto pelos níveis marginais de metionina. Tem
sido utilizado com sucesso como substituto da farinha de peixe, podendo compor até
50% da base proteica da ração, sendo que, para algumas espécies herbívoras, onívoras
ou frugívoras, essa substituição pode ser de até 100%, dependendo da fase de vida do
peixe e da qualidade dos ingredientes.

A inclusão em dietas para algumas espécies de peixe é limitada pela presença


de fatores antinutricionais, como inibidores de tripsina, ácido fítico, saponinas e
lectinas (Tabela 5). Alguns desses antinutrientes podem ser inativados pelo calor
durante o processamento do farelo (tostagem), mas ainda podem restar muitos
fatores termoestáveis os quais são resistentes ao tratamento térmico. Tais fatores
comprometem a qualidade do ingrediente, quando comparado com fontes de origem
animal.

b. Farelo de canola

O farelo de canola figura em segundo lugar no ranking de produção mundial


de proteína de origem vegetal. Este vem sendo estudado como fonte alternativa de
proteína para a formulação de rações para peixes. Obtido após extração do óleo por
prensagem e/ou com solventes, apresenta teor de proteína bruta em torno de 35%
e perfil de aminoácidos semelhante ao do farelo de soja, porém com menor teor de
lisina, sendo mais rico em metionina e cistina. Pode ser incluído em níveis de até
45% da dieta sem reduzir o crescimento de peixes onívoros, como a tilápia-do-Nilo e
o piavuçú (Leporinus macrocephalus). Como pontos negativos são relatados fatores
antinutricionais como o ácido fítico, que representa 75% do fósforo total do farelo, e os
glicosinolatos, que inibem a produção de hormônios pela tireoide (Tabela 5).

c. Farelo de girassol

O farelo de girassol possui teor de proteína bruta entre 30 e 40%, o que permite
seu uso como fonte proteica em dietas para peixes. Por ser deficiente em lisina, um
aminoácido essencial, deve ser utilizado em combinação com outros ingredientes
proteicos. Pelo fato de possuir alto teor de fibra, sua inclusão na dieta de peixes limita-
se a no máximo 30%. Uma forma de melhorar a qualidade desse ingrediente é a
eliminação das cascas do grão antes da extração do óleo, o que resulta em farelo de
girassol com maior teor proteico e menor quantidade de fibras. Além da fibra, outros
fatores antinutricionais presentes no farelo de girassol são o ácido fítico, os compostos
fenólicos e os taninos (Tabela 5).

204
Nutrição e alimentação de peixes

d. Farelo de algodão

O farelo de algodão é o subproduto da prensagem e moagem das sementes


de algodão, que resulta em um ingrediente com teor proteico entre 38 e 42%. Seu
conteúdo em aminoácidos essenciais é satisfatório, exceto em lisina. Como fatores
antinutricionais, apresenta elevado teor de fibra (em torno de 10%) e gossipol
(Tabela 5).

7.3. Ingredientes energéticos

A utilização de ingredientes energéticos de qualidade e em proporções ideais


é importante para maximizar a eficiência de utilização da proteína pelos peixes.

a. Milho

O milho é o ingrediente energético mais utilizado na formulação de dietas para


peixes. Possui entre 7,5 e 9,5% de proteína e 2.200 kcal/kg de energia digestível.
Embora a digestibilidade proteica possa ser superior a 90%, é deficiente em lisina
e metionina. É incluído em maiores quantidades em rações para onívoros, uma vez
que peixes carnívoros apresentam baixa capacidade de digestão dos carboidratos.
Para sua inclusão, devem ser avaliados fatores como teor de umidade e presença de
micotoxinas.

b. Farelo de trigo

O farelo de trigo é um subproduto da moagem do trigo para produção de


farinhas, composto basicamente pelo tegumento que envolve o grão. Possui entre 15
e 17% de proteína bruta, 4,5% de gordura e mais de 10% de fibra. Possui elevado
teor de fósforo, entretanto, aproximadamente 60% desse mineral encontram-se na
forma de ácido fítico (fitato), indisponível para peixes (Tabela 5). O alto teor de fibra e
ácido fítico e a deficiência em aminoácidos essenciais (lisina, metionina e fenilalanina)
limitam sua inclusão na dieta. Uma característica interessante deste farelo é a sua alta
capacidade de absorção de água, o que pode resultar em formação de fungos durante
o armazenamento de rações em locais com elevada umidade relativa do ar.

205
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

c. Farelo de arroz

O farelo de arroz integral é um subproduto gerado em grande quantidade após o


polimento do arroz descascado. Com a extração do óleo deste farelo, obtém-se o farelo
de arroz desengordurado (FAD), que possui maior teor de proteína e aminoácidos do
que o de arroz integral. A utilização do FAD, além de reduzir os custos nas dietas dos
animais, reduz os riscos de rancificação, perdas de vitaminas e uso de antioxidantes,
permitindo assim maior período de armazenamento.

O farelo de arroz integral possui entre 11 e 14% de proteína bruta, enquanto, no


farelo de arroz desengordurado, o teor proteico pode chegar a 17%. Em relação a outros
farelos de cereais, o de arroz possui maior conteúdo de aminoácidos, principalmente
lisina. O cuidado com a inclusão do FAD em rações para peixes é devido ao alto
conteúdo de fibra bruta, além de outros fatores antinutricionais, como inibidores de
tripsina, polissacarídeos não amiláceos e fitato (cerca de 70% do fósforo dos grãos)
(Tabela 5).

d. Sorgo

Em períodos de indisponibilidade de milho no mercado, o sorgo é utilizado como


principal substituto. Possui entre 8,5 e 9,0% de proteína, apresentando deficiência em
lisina e problemas devido ao alto teor de tanino, antinutriente que pode apresentar efeito
tóxico aos peixes e que confere baixa palatabilidade à dieta (Tabela 5). Atualmente, já
existem variedades de sorgo com níveis de taninos inferiores (menor que 0,1%), que
devem ser priorizadas para alimentação animal.

8. Armazenamento de rações e ingredientes secos

Não basta a aquisição de uma ração de qualidade se não houver cuidados


na manutenção dessa qualidade durante seu transporte e armazenamento. O
correto é iniciar este cuidado logo no início da confecção da ração, com a escolha e
armazenamento dos ingredientes.

Um dos problemas mais frequentes do mau armazenamento é devido ao


excesso de umidade, que possibilita o desenvolvimento de fungos, com produção
de toxinas e aumento da temperatura e fermentação da ração. A participação de
ingredientes de origem vegetal nas formulações de rações para peixes tem aumentado,
tornando-as mais suscetíveis à contaminação com micotoxinas (Tabela 6).

Do ponto de vista do armazenamento das rações, alguns cuidados devem ser


observados quanto às características do local:

206
Nutrição e alimentação de peixes

- Deve ser exclusivamente destinado para armazenar ração e outros alimentos,


de forma a evitar contaminação com medicamentos e outros insumos
agropecuários, como defensivos agrícolas e adubos;

- Arejado;

- Coberto, para evitar a incidência direta dos raios solares;

- Protegido das chuvas e livre de goteiras;

- Iluminado;

- Limpo, livre de roedores e pragas;

- Temperatura ambiente.

Quanto à disposição da ração no local, recomenda-se usar estrados (paletes)


de madeira ou outro material, sobre os quais deverão ser empilhados os sacos de
ração, evitando contato direto com o solo e umidade (Figura 6). Deve-se manter
distância dos sacos de ração de pelo menos 50 cm das paredes do depósito para
evitar umidade excessiva (Figura 6). Dessa forma, a ventilação na pilha de ração será
favorecida, evitando a proliferação de fungos.

50 cm

Palete

Figura 6. Forma correta de armazenar rações comerciais: sobre estrados


(paletes) de madeira e mantendo distância mínima de 50 cm das paredes.

207
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

O tratador deverá, ainda, observar alguns aspectos ao manusear a ração, antes


de oferecê-la aos peixes:

- Não deve apresentar alterações em sua coloração;

- O cheiro deve ser característico, não apresentando odor alcoólico ou rançoso;

- A temperatura deve ser ambiente, não apresentando elevações;

- A textura deve ser uniforme e característica do tipo da ração, não devendo


apresentar aglomerados;

- Deve estar livre de insetos, fezes e urina de roedores;

- Em caso de suspeita, o tratador não deverá oferecer a ração aos peixes.

9. Índices de desempenho e eficiência alimentar

Existem alguns índices de desempenho que permitem o produtor avaliar a


eficiência alimentar dos peixes em cultivo. Para tanto, é necessário medir o seu peso
em um momento inicial e final. Quanto maior a densidade de um viveiro ou tanque-
rede, maior deverá ser o número de peixes amostrados para a biometria, garantindo a
representatividade do lote avaliado. O procedimento mais comumente usado envolve
três amostragens de peixes em puçás (“três puçás de peixes”). O conteúdo de cada
puçá é pesado e, na sequência, conta-se o respectivo número de peixes. Do peso
registrado, desconta-se o peso do puçá e divide-se o resultado pelo número de peixes,
obtendo-se o peso médio dos peixes. Posteriormente, calcula-se a média do peso
médio das três amostragens (Figura 7). Com base nessa medida, mais o registro de
consumo de ração e período de cultivo, o produtor poderá calcular os seguintes índices
zootécnicos: peso médio dos peixes, média de ganho em peso, cálculo da biomassa,
ganho em biomassa e taxa de conversão alimentar no período.

208
Nutrição e alimentação de peixes

Biometria

1º Puçá 2º Puçá 3º Puçá

Peso Total = 1.000 g Peso Total = 750 g Peso Total = 1.200 g

Contagem 43 peixes 37 peixes 54 peixes

Peso médio1 = 23,26 g Peso médio2 = 20,27 g Peso médio3 = 22,22 g

Média Peso médio 1, 2, 3 = 21,92 g

Figura 7. Esquema representativo de biometria de peixes cultivados em uma


unidade produtiva.

Considerando, por exemplo, uma amostra com 54 peixes e peso total de 6.480 g,
tem-se que:

a. Peso médio dos peixes: Peso total da amostra/ Número de peixes na amostra
= 6.480/54 = 120 g;

Considerando que um total de 1.000 peixes foi estocado no tanque, com peso
médio final de 120 g e inicial de 10 g e que o consumo de ração durante o período foi
de 132 kg, tem-se que:

b. Média de ganho em peso: Peso final – Peso inicial = 110 g;

c. Biomassa final: Peso médio final x número total de peixes = 120 g x 1.000 =
120.000 g ou 120 kg;

209
Piscicultura de água doce - Multiplicando conhecimentos

d. Biomassa inicial: Peso médio inicial x número total de peixes = 10 g x 1.000 =


10.000 g ou 10 kg;

e. Ganho em biomassa: Biomassa final – Biomassa inicial = 120 - 10 = 110 kg;

f. Taxa de conversão alimentar no período = Quantidade de ração consumida no


período/ Ganho em biomassa no período = 132/110 = 1,2 kg de ração/ kg de
ganho em biomassa.

Recomendações técnicas

1. O armazenamento de rações deve ser feito em locais arejados, protegidos da chuva e raios
solares, livres de goteiras e pragas e com temperatura ambiente;

2. A ração não deve ser fornecida aos peixes quando apresentar alterações na coloração, odor,
temperatura e textura, bem como presença de insetos ou excretas de roedores.

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