SC 33770 P - 0000 - Capa Capa - t24 C R0150
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ANEXINS
DA LINGOÂ PORTUGUEZA.
DE
ANEXIIVS
DA LINGOA PORTBGUEZA
POR
$mstreUo tia (ffamara
aa<D © 12
E* CXtk DOS ED1TOBE3
EDUARDO E HENRIQUE LAEMMEItT
Bua da Quitanda n.» 77
1848
COMPPÀ
308637 3^
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::n a oaaftaws
a
3
Pega a criada 11a róca,
A costureira na agnllia.
Os rapazes fazem bulha,
O furão entra na lóca.
Os cientes nascem na boca,
As piteiras nos vallados;
Os servos fazem recados ,
Os oleiros fazem potes,
Os alfaiates capotes,
Amantes fazem agrados.
E IDIOTISMOS
DA LINGOA POKTUGUEZA.
JVZZZ?*
Km casa de Mouro não fallcs algaravia. (Lingoagem
"I a 1"° elle possa entender.)
o"0"1 ldu
Quem
al ,e!o TC3,C
'mal do seu,- mal
praça o despe
calará o alheio.
1
"Ho-llie em alhos, responde-me em bugalhos I
0
que mendiga tem fome,
. E o que arrota alhos come.
Alma e corpo deu ao Demo.
Ainda que negro é,
Alma tein , honra c fé.
Sua alma, sua pallna. (Nào fe ^^#
>' 'cm, seja qual fôr 0 resultado d ellas.)
Os sentimentos da alma
'i raz elle escriplos na palma.
l;0"sellio sem remedio, corpo sem alma.
" T,da c alm" por alguém.
°u d° Aiumtéi
o uucturo d azeite, vinagre, &c.) °- (
GMfrc
^^
12 ALPARCA — AMIGO
Cobrir a alparca com a purpura. (Encubrir lorpeias,
revestindo-sc de honrosas insígnias.)
Saber quantos pães dá um alqueire. (Calcular bem com
economia. Ensinar a alguém as regras do bem tiver.)
Com os ollios em alvo. (Movê-los de sorle que se veja
o branco «Telles, como acontece aos atacados de epilepsia.)
Quem o feio ama, bonito llie parece.
Quem ama mulher casada
Anda com a vida emprestada.
Velho amador, inverno com flôr.
Casarás? — amansarás c le arrependerás.
Estar a duas amarras. (Seguro, ter mais de um recurso.
Quem ameaça e não dá, mfido ha.
Amigo sò de chapéo, ou de = beijo-vo-las mãos. (Com
quem só se guarda cortesia.)
Amigo, amigo, de longe le trouxe um figo, assim que le
vi, comio-o. (Dcnola inconstância , volubilidade. )
Amigo disfarçado, inimigo dobrado.
Amigo de lodos e de nenhum , é tudo um.
Ao amigo o segredo diz ,
Ter-le-ha prêso pelo nariz.
Longe do amigo.
Que come o seu só , e o meu comigo !
Não ha melhor espelho, que amigo velho.
No jogo se perde o amigo e se ganha o inimigo.
Renega do amigo, que por li foge do perigo. <
AMIGOS — ANDA 13
Amigot, amigos, negócios ã parle. (Significa que cm
raateria de negocio se põe de parle a amisade.)
Pelos amigos novos se esquecem os velhos.
Na adversidade ó que se conhecem os amigos. ;>
Km lempo de figos não lia amigos. (Na abundancia.)
Muilos são os amigos e poucos os escolhidos.
Mau é ler moço, mas peior é ler amo.
Emquanlo dorme o amo folgão os fâmulos.
Manda o amo ao moço e ao galo,
!'■ esle só manda ao ralo,
I
tmin — aviiiWUUUIJ 17
Como me tangerem assim bailarei.
Agora assobiem-llie ás bolas. (Já é tarde, u>allog.rou-se
o negocio , perdeu-se a occasi&o.)
Poeta d assobio. (Sem engenho ou estro.)
Tomar alguém com assobio. ( Com promessas aerias ,
como assobio, que o <cnlo leva.)
Quem tem boca, não diga a outro assopra.
0 homem é fogo, a mulher estopa, «m o Diabo assopra.
Quem bem ufa, bem desata.
N
4o ala, nem desata. (Nada explica ou decide.)
Quem caminha por alalltos
Nunca sabe de sobresaltos.
Até ao lavar dos cestos é vindima.
Faier boas ou mis ausências. (Fallar bem ou mal d al-
guém na ausência.)
Todo o ausente accusado, sempre com culpa é achado.
Do faminto avarento o mundo ri,
Pois nada do que ajunta i para si.
O avarento não tem parente, nem amigo.
0 somitigo avarento
Por um real perde um ceaío.
Sahir da iií/ifa. (Faltar ao ajustado.)
Fazer avenra com o tempo. (Accommodar-se aos succcs-
508 ai
• ai'«s dclle, conlemporisar.)
Quem nunca se aventurou,
Nunca perdeu nem ganhou.
2
'13' STE55U — rriuia
Espantalho scin avesso, nem direito. (Homem que só
faz vulto; que não tem préstimo, nem dá razão do que
diz ou faz.)
Não ter avésso, nem direito. (Informe, sem geito.)
Azeite, vinho e amigo,
Prefere o mais antigo.
F. bebe azeite. (É padre-mestre, esperto , ladino, &c.)
Bilha de leite por bilha d'azeite. (Dar tres para receber
seis.)
A verdade e o azeite sempre boião acima d'agoa.
Apagar o fogo com azeite. (Provocar o irado, augmen-
tar a discórdia.)
A azeitona é como a fortuna;
Ás vezes muita, e outras nenhuma.
/
Azemola de pipa e quarto. (Asno da'quinta essencia,
boçal.)
É uni azougue. (Pessoa esperta , trêfega.)
J
BÁCORO — BARATO 19
A mau bácoro boa lande. (Pérolas a porcos.)
Quando os porcos bailão, advinlião chuva. (Diz-se dos
lapazes, cujo desassocêgo ou ruido , faz juz à palmatória,
castigo, &c.)
Não cabe nas bainhas. (Tem demasiada presumpção;
não cabe em si. )
Baixo-Imperio. (Época da decadencia do Império Ro-
mano. )
Dar na balda a alguém. (Descobrir-lhe ou perceber-lhe
raco o defeito habitual. Levar pela - , pelo defeito ,
> c. Em jogos carteados, balda é o naipe que não
emos, ou Ue, que ^ ^ ^
Mda, isto é, joguei naipe que não tinha.)
Baldo ao naipe. (Quc nâo lem carU do naipe cm que
joga. Sem vintém , a tinir, pobre como Lazaro.)
Almoçou, ou, jantou baleia ou aço. (Diz-se de quem
gasta muito tempo na comida.)
Vir, trazer á balha. (Metter á cara, fazer figurar alguém
como pessoa que entra a fazer a sua parte n alguma cir-
cunstancia ou representação.)
Em casa de ladrão não lembrar baraço.
Zangado como uma barata. (Irritado, enfadado.)
honra
" P°r Unheiro. (Trocai-., avilt.l-a por
£ara, com
0 o um ovo por um real.
■ii
20 BARATO — BARRO
Se a cscondidos vendilhões
Compras carneiro barato,
Pagaste carneiro c paio ;
Pois qnando poupar quizeste
Cabra ou bode é que comeste.
O caro 6 barato, e o barato é caro.
Sempre salic caro o barato,
Seippre o lôlo paga o pato.
Barba de tres côres, barba de traidores.
Barba com dinheiro , honra ao cavalheiro.
Dia de barba, semana de porco, anno de casado. (Época
trabalhosa, enfadonha.)
Na barba do néscio alvar
É que se aprende a rapar.
Comer, viver, ou chuchar á custa da barba longa. (Á
sombra da autoridade, antigamente denotada pela longa
barba dos magistrados, fidalgos, &c., isto <!, á custa ou
sombra d elles.)
Bem sabe o galo cujas barbas lambe.
Quando vires arder as barbas do teu visinho, deita logo
as tuas de môllio.
Barco parado não ganha frete.
Allo para váo, baixo para barco, ruim para nado.
A trancos c barrancos. (Vencendo obstáculos, dificul-
dades.)
Palavras não enchem barriga.
Deitar ou lançar barro á parede. (Comprovar, allegar.
Fazer diligencia por alcançar.)
Chuchou um batibarba de patente. (Rcprchensão aSpera,
eornmaça, reprelicnsão, sabonete.)
Cresce o ouro bem batido,
Como a mulher com bom marido.
Se não bebe na hrverna , f„lga (por theoria.)
Beber os ventos por alguém. (DefendC-l-o com fervor,
fazer por elle os maiores excessos.)
Desejar beber o sangue a alguém. (Ter-lhe odio impla-
cável.)
Depois de comer e beber
Cada um dá o seu parecer.
Com villjo de behetria, não porfieis. (Com plebco so-
berbo , ou rústico mal crcado.)
Morder os beiços de raiva. (Esbravejar cm silencio.)
Dar a alguém mel pelos beiços. (Engodar, querer per-
suadir com meios aduladores.)
Bcltscou-me o desejo. (Aguçou-me o appelite, incitou-mc.)
J
Eslas razões não lhe qnadrão no bestunto. (Nos casco?,
mioleira.)
J
BRAÇADAS — BRINCO 27
O mal entra ás braçadas e sahe ás polegadas.
Ser o braço direito dalguem. (Arrimo, protector.)
Ceia, almoço, comida, &c., de braço forte. (De carnes,
de salgados , de vinhos, de garfo, &c.)
Não dar o braço a torcer. (Não confessar o erro ou fra-
queza ; não se deixar violentar ou vencer.)
Em braços com alguém. (Lutando com ellc.)
Quando os enfermos bradão, os médicos ganhão.
Dar brado. (Fazer grande sensação, grangear celebri-
dade. )
f
»do o que é branco não é farinha.
U c n lc ro
" ' ' > que é manso, j (Assim diz quem o não
«ao o quero fazer bravo. j quCr emprestar. )
t:
i
V..K.U1.U1JU — CALCANHARES 31
O uso do cachimbo faz a boca torta , ou
O costume é uma segunda natureza.
E
Noticia echadiça. (Falsa e espalhada .de proposito para
enganar a alguém.)
O couce da egoa, não faz mal ao potro.
Couce d egoa, amores de rocim.
Elogio de inimigo , ouro sem liga.
Embarrancou-se uo atoleiro 110 fio da oração, na cm-
preza , &c. (Ficou atalhado, embaraçado.)
Cuidas embelecar-me coin tuas parolas? (Illudir, em-
bahir, eDgodar com mentiras , trapaças.)
Por bem pouco se embezerrou. (Se amuou, mostron
má cara ou catadura por um nada.)
Embuça-te no capote, conforme a direcção do vento.
Foi peior a emenda que o soneto. (Valeu menos a expli-
cação que o recado.)
EMrACtlU — ENCAHAU To
Não me empacho com taes frioleiras. (Não me importo,
aâo faço caso.)
Boa empada 6 F. (Boa rolha , bello Iraste , velhacão. )
Empalmar os cobres a alguém. (Surripiar, bifar, gata
nar o dinheiro a alguém com destreza. )
EmpandilhàrSo-me os cobres. (Roubáríio-mc com tra-
paças, fraudárão-me com pandilha o dinheiro. Pandilha
é o conloio ou ajuste de duas ou mais pessoas para roubar. )
Fazer empenho. (Diligenciar, procurar com instancia.
Fazer gosto em.... , ler vontade de.... )
Metter empenho ou empenhos. (Diligenciar , empenhando
alguém para conseguir o intento.)
Dous passaros empoleirados no mesmo ramo, não fazem
boa farinha por muito tempo.
O índio então empolgou o arco. (Estirou-lho a corda,
armou-o com a setta para atirar ou lançal-a.)
Perde o seu emprego, quem o abandona.
Casa encantada. (Cuja família vive no maior recato,
n uma especie de clausura. )
Por encantamento. (N'um instante , com promptidão ex-
traordinaria.)
F. encanzinou-se Unto na discussão.... (Irrilou-se, assa.
nhou-se tanto como o cão filado.)
O dia está encapotado. (Nublado, a atmosfera coberta
(de nuvens.
Bem ou mal encarado. (Do boa ou má cara. )
Encarar a espingarda. (Pôl-a á cara, ageital-a paia
atirar.)
EWSBg --3M_
Cl
H
F. ha, que tudo o que luz é oiro. (Pcrsuadc-st, tem
para si, julga, que a apparencia sempre corresponde ao
iuterior. )
F.m termos liabeis. (Adequados, competentes.)
O habito não faz o monge. (O ejterior não consdtue a
qualidade da pessoa.)
Lançar o habito ou o farragulo ás ortigas ou às berras.
( Diz-sc do religioso que se desfiada e reentra na sociedade,
ou dc pessoa que larga emprego , officio.)
llaianca ou facanea. (Cavalgadura fina dc senhoras ou
de personagens.)
O bem e o mal se harmonisão dc tal modo, que d'e!1es
resulta a renovação, conservação e perpetuidade d este
mundo.
6
82 HARPEO — HIMPÁNDO
Lancci-lbe logo harpeo na proposta. (Segurei-me no ne-
gocio , agarrei-o com uulias e dentes.)
Por vezes llie harpoárâo ás baldas, mas a nada o bruto
se moveu. (Teutárão, emprehendêrão seduzil-o, subor-
nal-o, cónveucél-o , &c. , mas iuulilmenle.)
liaste publica. (Leilão, almoeda.)
Ficou feito em liastilha). (Em rachas, lascas, migalhas.)
Ilavél-o, ou havtl-a com alguoui. (Ter pendência, rixa
com; também se diz por contracção : liemos, liia, por ha-
vemos, haveria, &c.)
Teres c haveres. (Bens possuidos, quaesqaer riquezas.)
flavcr-se. (Porlar-se, conduzir-se. — com alguém, ter
negocio, questão, pendência. Vej. Havél-o.)
Em boa, ou, em perfeita kermtniutica. (Em boa critica,
interpretando bem as palavras, deduzindo logicamente o
sentido, a opinião do putlior, &c.)
Ir ou voltar do Herodes para Pilatos. (Andar jogado aos
tombos, ou aos dados, correndo as estradas, a coxia. Ser
ludibrio d alguém. )
Hema má, não lhe empece a geada.
Filho das liervas. (Engeilado, que não conhece os pais.)
Atirar com o habito ás hervas. (Diz-se de frade que se
«ecularisa , o mesmo que ás ortigas. Vej. Habito.)
Estou liimpando com as murcellas que merendei. (Voz
onomatopeia, isto c, imitativa da oppressão causada pelo
affrontauiento do estomago; senlir-se angustiado, oppvi-
midopor ter comido com excesso, ou por effeito de fadiga
ou paixão.)
HOJE — HOMEM
Hoje de humana figura ,
Amanhã na sepultura,
ílonleui vaqueiro, hoje cavalleiro.
Pão de hoje, caruc de hontem, vinho doutro verão,
fazem o homem são.
Tratar, olhar alguém por cima do hombro. (Desprezar,
tratar de resto. )
Pôr, ou dar hombros à obra. (Einprchendel-a, teutal-a.)
Homem pobre. (Ujdigeyte. Pola*e—, de acanhado es-
pirito, insignificante. Bom —, de boa indole.—boui,
honrado, nobre. Santo—, religioso, de costumes puros.
— santo, canonizado.)
Homem velloso, ou valenlc ou luxurioso.
Tenho liomem para o juiz, para El-Rei, &c. (Tenho
pessoa capaz de conseguir d'elle a minha pretençào; bom
empenho, bom canal.)
O homem na praça, e a mulher em casa.
A liomem farto, as cerejas lhe amargão.
O homem põe, e Deos dispõe.
A homem ruivo e mulher barbuda ,
De longe os saúda !
Temos homem! É o nosso homem! ( Aquelle de quem se
faz grande apreço, grande conceito. Oulr'ora usavão nossos
clássicos do termo liomem, equivalendo ao on francez, sig-
nificando alguém, homem, um, &c., v. g., Cam. : Não
sabe homem como se ha de livrar das ciladas. Bar.: Qualquer
cousa que liumem por elle fizer, &c. Pai a fallar porém cor-
rectamente, dir-se-ha : Qualquer cousa que por elle st
fizer; o mesmo com a palavra genle, em vez de nós.)
liomem occupado , não cuida cousas más, nem as faz.
S4 HOMEM — HORA
Homtm grande, besta de pão. (Vej. Pio.)
Homem sem abrigo , pássaro sem niulio.
A homem sem palavra, não lbo fies uma sêde d agoa.
Homem astroso, barba alé o ôllio.
0 homem é fogo , a mullicr estopa, vem o Diabo assopra.
A mulher, o estudo, a cxperiencia e o vinho, mudão a
natureza do homem.
Mal apreciados pelos contemporâneos, os grande» Ao-
míns são admirados e venerados pela illustrada postei idade.
Os homens mudão dopinião
Como destado ou condição.
É quando as flores desabrochão e os fruo tos amadure-
cem , que deleitão a visla, olfacto c paladar : assim também
os homens chegando à virilidade o madurei», ostentão os
primores de sua força , engenho c industria.
Se os homens se não matassem
E impunemente crescessem,
Pôde ser que não achassem
Nem fontes de que bebessem ,
Nem campos que semeassem.
Honra e proveito , não cabcm n um sacco.
Tanta honra a João Fernandes! (Tantas etpressõcs ca-
rinhosas, tantos favores a quem os não merece!)
Em má hora. ( Em infausto momento, aziaga, funesta
occasião , v. g.:
Em má hora do porto desaferres,
Oh príncipe das trevas, enjo nome
É do vate Gel vedado á lyra! [Cast. Ode a D. Mig.]
Está chegada a minjia hora. (Fim da vida, ou hora 6u'a1.)
HORA — IGREJA 85
Anda para cada hora. (Diz-sc da mulher que está pró-
xima a parir.)
Dcos lho dé uma boa hora. (Uin feliz parto.)
A hora de comer é a fome.
Quem a horas não vier,
Comerá do que trouxer.
Horla sem agoa, casa sem telhado, Cavallo aguado,
de graça ainda é caro.
Fazer a conta sem a hóspeda. (Calcular mal, tomar me-
didas sem attender a accidentes ou osbtaculos.)
Hospede tardio, nio vem vasio.
O hospede c o peixe, aos tres dias fede.
Fazer-se ou estar hospede nalguma matéria. { Noto ,
alheio, ignorante delia.)
Fazer-se hospede. (Affcctar ignorancia.)
Depois de despedir os hospedes, comerêmos o pato.
Mulher com assomos dc hyena. (Fcrox, endiabrada,
maligna.
i
<)0 JUSTIÇA — LAB1A
A justiça a lodos guarda .
Mas ninguém a qner cm casa.
Paga o justo pelo peccador. (O innocente pelo crimi-
noso. )
> pa
Se tu tens as pernas tortas? Já coroa ! )
1<\ está no seu kyric-eleison. (Pedindo misericórdia ou
compaixão nahoraCual. (IS. Lobo.)— Comprida ladainha
de tediosas repetições.
De manhã em mauliã,
Peide o carneiro a Ui.
'ir batcar lã e "r tosquiado.
Autcs se perca a lã que a ovelha.
Ir com pés de lâ. (Sorrateiramente, com mansa saga-
cidade, jesuiticamente.)
Ter muita lábia. ( Fallar com destreza , brandura e ar-
dil, para persuadir. Não pegou a —, não teve eííeito, não
surtio feliz a cantiga.)
LADRA — LA VIUDOU 91
Mal ladra o cão, quando ladra <le tnõdo.
Ladrão que furta a ladrão ,
Tem cem annos de perdão.
Não lia ladrão sem encubridor.
Tão bom é o ladrão como o consenlidor.
O ladrão cuida que lodos lacs são.
Ladré-me o cão embora^ mas não me morda.
Ter as gúelas ladrilhadas. ( Estanhadas, forradas de
cobre, cascarronadas.)
Lagrimas de noiva , são como chuva d'eslio , que alegra
e não dura.
í. sujeitinho de boa laia! (De fresca casta, de conducta
ambigua , d'aquelles de cortejar de longe.)
Entrar lambendo, e sahir mordendo.
A laranja pela manhã é ouro, ao meio dia prata, á tarde
cobre, e á noite mata. (Diíia-se outrora em Portugal das
que produzirão as plantas trazidas da China, julgando-sc
que comcndo-as de manhã crão salntiferas, e á noite no-
civas. )
Largos dias tem cem annos. (Exprime que o negocio
de que se trata, offerece grande dilação.)
Lastimado como o pródigo, aborrecido como o avarento.
Agoa sobre agoa , não suja nem lava.
Uma mão lava a outra, e ambas lavão a cara. (Prcstão-se
serviço reciproco.)
Lavrador barbado, p'ra barbudo arado. {Bem pontudo.)
92 LAZEIRA — LEOPARDO
Tirar, levantar da lazeira. (Da desgraça, da miséria.)
Sem latir. (Sem cessar, continuamente. )
Quem muito té, muito Ireslò, ou, tanto lio , que treslêo.
(Perdeu o sizo íi força de porfiada leitura. )
A franqueia pôde ser reprovada, a lealdade é sempre
apreciada.
D um leão conlr'um leão qual a vantagem?
Não tira grau proveito
Corsário que combate outro corsário. (Fyl, El.)
Pela boca morre o peixe, c a lebre ao dente.
Vender gato por lebre.
Fazer como a lebre, comer e rodar longe do covil.
Cousa tão enfadonha, como as legoas do Alemtejo.
Lei de reinar é como a de amaruma só.
Novo Rei, nova lei.
Como a luz e a sombra, o mal e o bem obedecem a cer-
tas leis e condições de um systema que os conslitue.
Leitão de um mez, e marreco de tres.
O que no leite se mama ,
Na mortalha se derrama , ou
O que o berço dá , a cóva o tira.
Bilha de leite por bilha daieite. (Dar um por dez.)
A bom mato vindes fazer lenlia'. ou, A bom sauto vos
encommeudaes! Batei a outra porta.
Barbudo ou barbado como um leopardo.
LÉRIAS — LINGOA 93
Lériaa. (Discursos indiscretos, levianos; termos pono
«crio», v. g. :
1'erabilho uiarquez sem marquezado
Amorosa paixão embute á dona ;
Grama-lbe os cobres, toma liberdades.
Conta lériat á filha.... Oh que milhões
Do duque, pai, um dia elle herdará !...
Hma bonita leira, não annuncia vasta intelligencia , nem
uma eloquencia brilhante, profunda sapiência.
Não tem leiras, mas tem trêtas. (Não é sábio, mas »im
ardiloso. )
I.tuar agoa a outro moinho. (Levar tenção occulta. )
Levar couro e Cabello. (Desabridamente, com rigor,
com aspereza.)
Os viciosos são liberaes para a matéria e objecto de seus
vicios, avaros e tacanhos para tudo mais.
Cu te ensinarei quem é o Liborio I (Tc mostrarei quan-
tos pães dá um alqueire, te apontarei as regra9 de bem
viver!)
Lingoa viperina. (Mordaz, difFamanto.)
Lingoa longa, signal de mão curta.
Lingoa de trapos. (Gago, embaraçado na falia . bal-
bucieote.)
Ter alguma cousa na ponta da lingoa. (Saber bem,
«'tar bem cerlo.)
Ter alguma cousa, algum nome debaixo da lingoa.
(Estar quasi lembrado d'elle. ) ,
Dar com a lingoa nos dentes. (Diíer o segredo, não *
guardar.)
94 LINGOA — LOUCO
Burro velho não aprende lingoa.
F. tem boa poula de lingoa. (Maldizente, satyrico.)
Linguado desapateiro. (Sardinha, qualquer peixe miúdo
e ordinário, por ser barato.)
Passar pelos trabalhos do linlio. (Por fadigas, tareias,
■vicissitudes, &c., alludindo aos diversos processos pelos
quaes passa esta planta, autes de ser tecida.)
Deitar suas linhas. (Calcular, reflectir sobre cousa a
fazer , examinar o pró e o contra . &c. )
Quem nunca vio Lisboa, nunca vio cousa boa.
A melhor companhia acha-sc n uma escolhida livraria.
Quem não quer ser lobo, não lhe vista a pelle.
Nunca um lobo matou outro.
Tirar da boca do lobo. (Com grande perigo e diflicul-
dade. Escuro como a boca do—, cousa negra, escura.)
Onde o lobo acha um cordeiro, busca outro.
liem folga o lobo com o couce da ovelha.
Lógica de bacamarte. (Direito da força. )
Cuidado, oh amantes, nas vossas paixões.
Porque as lograções — vos lião de prender.
Depois de cahir, não ha que escolher:
Adeos liberdade, soedgo e paixões.
De vagar se vai ao longe. (Vej. Manso.)
A palavras loucas, orelhas moucas.
Cada louco com sua teima.
Um louco é capaz de fazer cem loucos.
LOUVAMINHAS — LUZIR
Amigos de louvaminlias,
Com lisonja sempre a geilo ,
Fazem corno as andorinhas :
Vão e vem com tempo feito.
Louvor em boc» própria é vitupério. (ímfiroprio , desai-
roso, indevido.)
Pôr alguém ou alguma cousa nos comos da lua, ou "nas
cslrelks. (Engrandecer, louvar excessivamente.)
[»
d
PATO — PÉ 141
Pato, ou, patinho. (Caloiro, pessoa que se deixa facil-
moulc lograr ; « caliiu como um —. » )
Pagar o pato. (A despeza comuium, ou o damno feito
por outrem ; significa lambem = Pagar a patente. Vej.
P'ra tal patrão tal creado, ou, similis cum similibus.)
Patuléa. ( Alcunha que em Portugal se deu aos rebeldes
da revolução de 1846. Deriva-se de pata, que era o cal-
l ailo da maior parle d clles, isio é , sola do pé no chão.)
Pôr á pavana. (Descompor, injuriar, insultar com pa-
lavras ; o mesmo que á rasa.)
Homem pavoneado. ( Enfeitado com cousas gaiis, lustro-
sas como a plumagem do pavão, de exterior arlequinado.
Presumido, desvanecido como o pavão.)
Pavonear-se. (linfeilar-se como o pavão; vnngloriarse
de ouropéis exteriores; rever-se com desvanecimento n al-
guma cousa, como o pavão nas suas peunas.)
Paz de cajado. ((inerra.)
Pi ante pé. (De mansinho, de vagar.)
Isso não lhe chega nem á sola do pé. (Diz-sc dc cousa
muito somenos, inferior a outra , ou lambem «não lhe dá
pelos pés. » Entrar com o — direito, com boa estreia ou
felizes auspícios. Estar a—quêdo, pelejar a — quêdo, sem
largar campo, conservar-se firme. Tomar — no no, no
mar, ir ou estar até onde a agoa não passe do pescoço , não
afogue. Tomar—, cslabeleccr-se, fixar-se. Tomar — n'um
negocio, entendê-lo, oomprehcndO-lo. Negar aos —s jun-
tos, aflincadaineule, obstinadamente. « Quando me achei
a salvo vi a Deos pelos — » , considerar, julgar grande e
1/42 PÉ — PECHINCHA
inesperada felicidade. Com — de lã , sorrateiramente, com
mansa sagacidade. Ao — da letra , litteralmentc, palavra
por palavra. « D aqui lomou — para não pagar » , pretexto,
motivo. O pé geometrico lem 12 polegadas . 011 1 1/2 palmo
craveiro. Um — de larangeira, de fígQeira, qualquer ar-
vore. Um — de vento, de chuva, o mesmo que pancada
de vento, &c., que se levanta, cahc de repente.)
Pi de boi. (Llomem prudente c honrado.)
Não põe pé cm ramo verde. (Não pára , não socega.)
Pi d'altar. ( Esmola, o flerta ou espórtula que se dá ao
parocho em occasião de baptisado, casamento, cnlerro, &c.)
Todos tem seu pé de pavão. ( Defeito. )
Homem de pé rapado. (Villão, rústico , camponez.)
V6r que pc loinào as cousas. ( Que andamenlo, direcção.)
Acommodar o pi ao sapato, e não o sapato ao pé.
Não tem pé, e quer dar couce !
Tomar pé 11'agoa. (Achar fundo; item, no negocio, Gr»
mar-sc, entender bem a matéria de que se trata.)
A -pé qufido. (Sem se mover, com resolução.)
Pregar uma peça a alguém. (Logração. No Brasil, fal- l
lando de embarcação negreira, dÍ7.-se « traz tantas peras
ou cabeças » por lautos escravos; F. tem tantas peças, &c.,
e peça só por si quer dizer escravo de valor , forte ,
moço, robusto ou prendado, &c.)
Quem mal vive, por onde pecca, por ahi se castiga.
Peceado confessado é meio perdoado.
Antes divida nova, que peccado velho.
Pôr pecha n'alguém , nalguma cousa. (Defeito, tacha.)
Pedincha. (Ganho , ordenado diminuto, ténue. Locução
PEDAÇO — PEDRA 1Z|3
familiar no Rio dc Janeiro, que significa juslamenle o
contrario, isto é: grande lucro de pequeno capital, boa
herança , sorte de loteria , objecto comprado muito barato,
boa acquisição, &c. ; do Ital. piccin, pequeno.)
Dc lai pedaço tal retraço. (De tal burro tal albarda.)
Quem muito peje, muito fede. (Aborrece.)
Pede tempo de letrado ,
Logo vou de moço molle,
Irei já de homem cansado;
Quem taes pirolas engole
Sem lhes fazer resistência ,
E painel da paciência.
Ignoro se me insulta ou se pede para as almas. (Diz-se
de pessoa que cslá faliando lingoa estrangeira, que se não
entende.)
Quem deu, dará, e quem pedio, pedirá.
Antes dar a ruins, que pedir a bons. ,
Vcdra movediça não cm bolor.
Pedra d cscaudalo. (A cousa que escandaliaa, offende. )
Pedra philosophal. (Matcria com que os alchimistas
pretendem fazer ouro. Riqueza imaginária.)
Matar dous passaros com uma pedra.
Lançar a pedra e esconder a mão. (Fazer o mal enco-
bertamente. )
Mctter a pedra no sapato a alguém. (Dar motivo a in-
commodo, a zanga, a susto, a irritação, &c.)
ISão (icar pedra sobro pedra. (Demolido, removido, em
confusão.)
Agoa de serra e sombra dc pedra, fugir d elias.
144 PEDRA — PEIXE
Pôr pedra cm cima do negocio. (Pôr em silencio, em-
baraçar-llie o curso, o andamento.)
Estar de pedra c cal. (Mui Gime, mui solido ; e faltando
de pessoas; obstinado cm sua opinião ou proposito.)
Pessoa pegajosa. (Secante, que não desaferra nem acaba
de fallar ou de despedir-se.)
Não pegão as bichas. (Não me logra ou engana com
«licantinas; é perder tempo; vai barrado.)
F. pegou-se k opinião de B. (Cingio-so, apoiou-se nella.)
Pessoa que não tem por onde se lhe pegue. (Sem prés-
timo, de quem se uão pôde lançar mão para cousa alguma.)
Pessoa que não tem em que se llie pegue. (Que nada
tem cm que se lhe faça penhora , de que pagar. Que uão
tem em que se censure, se critique.)
Plienix. (Ave fabulosa e linda, que se suppõe viver sé-
culos, e renascer de suas cinzas; a allegoria pois desta
fabula 6 .singular, virgem, única na sua especie.,
dirigida ao objecto a que se applica.)
Tornar alguma cousa a peito. (Empenhar-se cm a fazer.
Formalisar-so com alguma acção, palavra, offender se.)
Do peixe a pescada , da ave a perdiz, da carne a vilella.
Pela boca morre o peixe.
Filho de peixe não aprende a nadar.
Isto não é nenhum peixe podre. (Cousa ruim.)
Estar como peixe n'agoa. (A vontade.)
Isso é peixe ou carne? (Pergunta que se faz quando se
não entende o discurso, o recado, &c. , o objecto , a cousa
de que se trata.)
PELICANO — PENA 145
Pelicano. (Symbolo da caridade, da philanthropia ; é avo
aquatica maior que o cysnc, a qual dizião os antigos que
alimentava os Cílios com o sangue que tirava do peito,
ferindo-se.)
Despir, largar a peite. ( Como fazem as cobras , lagar-
tixas, &c., o figuradamente, remoçar, criar novo sangue.
Mudar de opinião, de sentimentos. )
Pa pelle lhe sahiráõ as correias. (Vej. Do Couro, &c.}
Nú cm pelle, ou, cm péllo, como a rnãi o pario.
Defender a pelle. (Tratar de *i, defendei-se. Julgar de
alguém pela —, pelo exterior, pela apparencia.)
Não caber na pelle de contentamento. (Exultar, não «c
conter, trasbordar de satisfação.)
Jurei-llic pela pelle! (Protestei de vingír-uie d clle, de o
castigar. Attentar contra a vida ou pessoa dalguem.)
Ma pelle é F. , ou, F. 6 pelle do Diabo. (Homem inso-
lente e velhaco, libertino, arrogante. Extravagante.)
Dar cabo da pelle d'algucm. (Malar, acabar, dar fim.)
Ir ao ptllo d alguem. (Espancar, toiar-lhe as costas. Vir,
cahir a —, chegar a proposito, a tempo. Montar cm —
ou, em osjo, sem sélla ou albarda.)
0 péllo muda a raposa, mas o natural não despoja.
Como te fizeste calvo? 0 péllo peitando.
Peitudo. (Synonimo de caloiro, novato, como Be ainda
estivesse com o pêllo primitivo, pois peitado também signi-
fica velloso , pclloso, cabelludo.)
Quando olhos não vêm, coração não pena. (Quando
sc ignora o mal, não se sente ellc.)
Sem pena nem gloria. (Nem bem nem mal.)
40
146 PENAR — PÊRAS
Julgava que (los viventes
Eu era o mais infeliz ;
Que outros tein peior destino
Muito exemplo in'o diz.
Da minha sorte já'gora
Queixas não torno a fazer.
Ao Calvario irei com a cruz ;
Antes penar que morrer.
Penca, pencão ou pencudo. (Grande nariz , narigudo.)
Querer encobrir o Céocom uma peneira. (0 que todos
Têm , o que a lodos está patente.)
Quem não tem farinlia , escusa peneira.
V6r por peneiras. (Obscuramente, confusamente.)
Todo o que crfi de ligeiro,
Agoa recolhe cm peneiro.
Ninguém pensa melhor crianças do que a própria uiãi.
(Lava-lus, vesti-las, dar-llies sustento.)
Pensar feridos. (Trata-los, como enfermeiro; — cavai-
los, dar-lhes o sustento, limpa-los, almofara-los, &c.)
Atravessar o rio de pepino na mão. (Sendo em Portugal
0 tempo dos pepinos Julho e Agosto, também é o das
séccas, em que os rios se passão a váo.)
De pequeno verás o boi que terás.
Em todos os tempos, os peixes grandes comerão os pe-
quenos.
Sobre figos, agoa; sobre pêras, vinho.
Sobre pêras vinho bebas, e tanto bebas, que o não
percebas.}
_ —
PÊRAS — PERDOO-LHE 147
F. leoi pão para pêras! (Tem que soffrer, que aturar,
que gastar, que trabalhar, &e. Diz-se, v. g.: dos incom-
modos que uma moléstia ameaça dar, do prejuizo, despela
c trabalhos que certo negocio vai esigir, &c.)
Quem não dá das suas piras , não espere das alheias.
Ladrão que furta a ladrão ,
Tem cem annos de perdão.
Onde força não ha, direito se perde.
Com nó fixo, nunca se perde ponto.
Quem uiuilo dorme, o sen com o alheio perde, '
Da mã<^ á boca se perde a sopa.
De manhã cm manhã, perde o carneiro a lá.
Pelos maus perdem os bons.
Em tempo c lugar, o perder «i ganhar.
Conhece-se só o bem depois de o ler perdido.
Do passado arrependido
Seguro doutro erro tal,
Seja o perdido perdido,
E do ma] o menos mal.
Antes pardal na mão, que perdiz a voar.
A perdiz com a mão no nariz. (Isto d, morta de dias,
para poder estar tenra , pois ó dura por natureza.)
1 eahamos a perdiz, depois se tratará do môlho.
Perdizes no sacco, leitão na gaióla, c castrado em serralho.
Ao que erra, perdoa-lhe uma vez, mas não tres.
Perdoar ao mau, é anima-lo ao ser.
PerdJo-lhe o mal que me faz pelo bem que me sabe.
148 PEREGRINA — PERREXIL.
Belícia peregrina. (Rara, extraordinaria. Peregrino da
sua patria, errante, vagando. Romeiro, peregrinado!-.)
Resposta peremptória. (Decisiva, que termina todas as
duvidas, categórica.)
Sujeito ufano e vaidoso dos seus pergaminhos. (Que
tem em grande valia os títulos de fidalguia dos avocngos.)
Quem pergunta, ou, quem tem boca vai a Roma.
Quem pergunta quer saber.
Andava na egoa, e perguntara por cila.
Perna de pau. (No jogo do whist assim se chama o par-
ceiro que não existe, e pelo qual se joga com as cartas
descobertas, para completar quatro membros.)
De perna estendida. (Ocioso, á vontade, sem fazer nada.)
Fazer uma perna. ( Em termo de jogo é ser parceiro.)
Do capão a perna, da_gallinha a tittclla.
t uma pérola, ou, a — dos moços, das senhoras, &c.
(É-pessoa dotada de preciosas qualidades.)
Nilidas pérolas. (Termo poético, que significa lagri.
mas, v. g. : Do rosto deslisavão níveas perlas.)
De pérolas coalhando a face bulia
Que matizava o pejo d'escarlate. KnetJ,
Deitar pérolas a porcos. (Dizer cousas sensatas c úteis a
quem as não sabe apreciar, ou as não aproveita.)
Dizer pérolas. (Fallar com muito aceito e eloquencia.)
F. 4 o perrexil da reunião, da sucia, &c. (O que a põe
rui alegria , cm folgança com seus ditos, suas graças. Pro-
vém de ser perrexil uma plauta, que posta dcscabeclic,
excita o appetite.)
PÊRR1CE — rÊSO 149
Pérriee. (Peça feita a alguém para o amofinar.)
Busca oulro perro para este ossol ou, A outro perro com
tacs rojões! (Busca oulra pessoa que o creia, que isso
acredite. Pérro é cão cm hespanhol.)
F. è perro velho, ou experimchtado. (Matreiro, fino.)
Dar-sc a perros. (Desesperar, anenegar-se.)
A perseverança sempre alcança.
Pés que Ie pego, contracção viciosa de : pés para que te
pego, ou, para que ie quero. (E vai —, deitou a fugir,
largou-se a toda a brida, &c., significa a acção de fugir,
de pôr-sc a pannos, de dar ás gambias , &c. }
Isso não tem pés nem cabeça. (Não é provável, não
combina nas suas partes, é informe, incohercntc.)
Cahir o coração aos pés. (Esmorecer, desanimar, vendo
ou ouvindo cousa contraria ao que se esperava, se desejava.)
Procurar sete pés ao carneiro , ou, asas ao burro.
Graças pesadas. (OITensivas. Tempo, ar, rosto—,
carregados, pouco dispostos a deleites, folganças, &c.)
Pescada de Janeiro, vale um carneiro.
Comer sardinha c arrotar pescada.
Pescador de canna , mais come do que gauha , mas quan-
do a canna vérga, mais ganha do que come.
Obrar, ou fazer as cousas com tempo, péso c medida.
(Com juizo, opportunamente.)
Gastar com peso e medida. (Com moderação, juizo.)
O dia em péso. (Inteiro, lodo. Razões de—, attendi-
veis. Homem de—, respeitável. A — douro, de dinheiro.)
150 PÈTA — PIFÃO
O já vamos, de barqueiro ,
O sem falia, dalfaiate,
Esporada darrieiro,
Bom vinlto na tabolôta.
Pita.
Petimetre, ou, petit-maitre. (Gallicismo, qne sc pôde
supprir por : peralta , adamado, casquilho , pimpão ; bo-
nifrate e bandalho.)
Petiscar. (Comer aos bocadinhos; o mesuio que debicar.)
Eu cá não lenho pevide na lingoa para lhe cuspir, ou,
para lhe dizer as verdades na cara. (Não lenho pejo, ver-
gonha de lhe dixer as....; nada que me empeça isso.)
Dilos ou graças picantes. (Que tem sal, mordentes,
facetos, porém com acrinionia.)
Picar as amarras. (Corta-las, para se fazer de Tela. — o
lanço (em leilão), augmenta-lo, offerecer mais.)
Picar a retaguarda ao inimigo. (Persegui-lo pelas cestas.)
Monte de piedade. (Casa ou instituição onde se empresta
ao publico, por modico premio, dinheiro sobre penhor.
DifTero de Monte Pio, que é a instituição de um fundo paia
prover as viuvas, principalmente de militares, que para
cilas deixão reservado no erário o soldo òu ordenado de
um dia de cada mei, &c.)
Entrar ou figurar como Pilatos no crédo. (Diz-se de
pessoa ou cousa que apparece 011 figura nalgum discurso,
negocio, &c., fazendo parte da oração, porém muito
secundaria, e até uulla, cujo nome só serve para fazer
sobresahir a matéria em questão.)
Pifão. (Mona, carapanta, bebedeira, embriaguei.}
PILHEI1U — PINO 151
F. tem pilheira, pilhéria, ou, pilhas do sal cm tudo
quanlo diz. (Graça, argúcia, chiste. )
Pilrete: (Homanculo, homem zinho, caturra, anão.)
Pilrilo, ou, pirlito. (Fruclo do pilriteiro ou espinheiro
alvar, que se não come, e de nada serve, e dalii a quadra
deFjlinlo:
Arvore que dás pilrilot
Porque não dás cousa boa?
Cada um dá o que tem
■ Segundo a sua pessoa.
Engulir a pílula. (Acreditar pila. Soffrer dissabor.)
Nariz de pimentão, ou, de beringella. (Vermelho, ala-
gostado, avinagrado.)
Pimpão. (Homem casquilho, aperaltado, polkalisado.
Valentão, chibautc, bravo. Fanfarrão, bravalcador. Pim-
pona, 110 feminino, só tem a primeira significação.)
Pinga. (Diminuta gola, porção ténue. Ficou sem — de
sangue, muito assustado, atemorizado.)
Boa pinga, bom vinho, vinho especial, particular, c
por extensão também assim se diz de uma bonita mulher
(o mesmo que = não é nenhuma asneira —) , e do bom
rapé ou tabaco se diz o mesmo por analogia. )
Galos pingados. (Assim se chama em Lisboa aos homens
que acarrelão ou acompanhão a tumba de qualquer de-
funto, porque andào pingados de cera; no Rio de Janeiro
chamão-lhe urubús. )
Andar pingando. (Miserável, esfarrapado , na penúria.)
No pmo do sol, ou, do dia. (Quando qualquer desles
eslá mais elevado, isto é, meio dia. — da noite, no meio
delia. —da calma, quaudo eslá ciais inlensa.)
152 PINTA — PIS A-MANSINHO
Conhecer pela pinta. (Por signaes fixos exteriores , v. g.:
manchas, defeitos physicos, côr forçada: Velhacos c hy-
pocritas, pela pinta se conhecem. )
Veio-lhe mesmo o negocio pintado ou pintadinho a geilo.
(Chegou-lhe, xahio-llie como desejava.)
Porém quanto vai do vivo ao pintado! (Do veridico á
cópia, da natureza á imagem!)
Os dados, as cartas pintão bem, ou, pintão ao desejo. (Fa-
voráveis , boas para a partida, jogo.)
Pintar ao desejo ou ao querer. (Imaginar conforme se
deseja: Veio-lhe pintado, a proposito, favoravelmente.)
F. está com meias pintas. (Meio embriagado, alegrete.}
F. ú um pinto molhado. (Uui gallinha choca, um ma-
ricas, fracalhSo, frango derrabado.)
F. não é homem de dar agoa a pintos. (Não 6 nenhum
lôrpa , novato que se deixe empanzinar, lograr.)
Mettor-se como piolho por costura. (Ingerir se, cnlrc-
ineller-se importunamente onde o nãochamão. )
Velhaco, ladrão, &c. , de pipa e quarto. (Insigne,
afamado, mestraço.)
Ter pique com alguém. ( Estar ressentido, picado. )
llocha talhada a pique. (Aprumo, perpendicular.)
Estar á piranga ^ 011, pirangando. (Pobre, indigente.)
Levou uma reverenda pisa. (Sóva mestra , tunda.)
Pôr as uvas em pisa a alguém. (Castiga-lo, vingar-se
d elle, opprimi-lo.)
Pisa-mansinlio. (Homem sonso , manhoso, dissimulado.)
PISORGA — POBREZA 153
Agarrai' a pisorga ou pifão. (Bebedeira , mona. )
Seguir a pista do veado, da lebre, &c. (O rasto, as
tiaras, as pisadas. )
Plantar ou assestar uma bateria. (Colloca-Ia em posição.)
Ora vá plantar batatas! ( Vá bugiar, vá á tabúa. Vcj.)
Plumagem d cnxerlia. (Diz-sc das raças cruzadas ou
mescladas, v. g.: branco com negra , pintasilgo com caná-
ria , pereira com larangeira, &c. Por analogia se applica
o mesmo vocábulo aos que sc elevão e enxértão em cargos
e dignidades qne não merecem.)
Sacudir o pó a alguém. (Zunir, balcr, cspaucar. )
Nascer no pó. ( F.m condição humilde , na miséria ; le-
vantar do —, d'cssa humilde condição. )
Andar pelo pó do gato. (Abandonado, desprezado.)
Pôr alguém pelo pó do gato. (Descompor, pôr á rasa,
á pavana.)
O testamento do pobre, na tinha sc escreve.
Serve ao nobre
Ainda que pobre,
Que tempo virá
Que t'o pagará.
Quem é pobre não tem vicios.
Não é pobre o qne tem pouco,
Mas o que muito cubica.
A rico não devas, a pobre não prometias.
O preguiçoso sempre é pobre.
Não le faças pobre com quem te não fará rico.
A quaresma e a cadêa para os pobres 6 feita.
Quem pobreza tem, dos parentes é desdém.
POBREZA — COMBA
Nâo Ic exaltes com a riqueza ,
Nem te abaixes com a pobreza.
Voltaire foi um poço de scicncia. (De muilos conheci-
mentos cm lodo o género; Rotlischild é um —de dinheiro;
que tem muj|o , que delle é abastado. )
Podar, fazer a póda a alguem. ( Dizer mal, censurar; a
qualquer obra litteraria , expurgar, supprimir, emendar.)
Mais faz quem quer, que quem pôde.
Não está cm meu poder. (Em meu arbitrio , não depende
de mim, da minha vontade.)
Conseguir alguma cousa a poder de dinheiro. (Á força de.)
F. levantou, ou, fez uma escandalosa poeira perante os
assistentes. (Desordem, rumor, espalhafato.)
Poeta d agoa doce. (Ruim , falto d'estro , das dúzias.)
Pobre, preguiçoso c pensativo como um poeta.
O poema Lusíadas, de Camões, é o non plus ultra da per-
feição poética. (Cousa que bc não pode exceder, ullrapassar.)
Sapbo foi eximia poetisa. (K o feminino de poeta homem.)
Muito pôde o gallo no seu poleiro.
Negocio dc polpa. (De substancia, de deixar iulcressc.)
Gastar pólvora cm salvas. (Esperdiçar, estragar, dissipar.)
F. é uma polvora. (Pessoa fogosa, ardente, arrebalada.)
Dar, pregar com tudo cm polvorosa. ( Estragar, dilapi-
dar, desbaratar os bens, a fazenda, como se reduzisse
tudo a pá. Dar com os pés na —, fugir a toda a pressa,
abalar a unhas de cavallo.)
F. é uma pomba sem fel. (Um anjo dc bondade, coração
sincero.)
POMO— PORCO-ESPINHO 155
Pomo vedado. (O da arvore defeza, no Paraíso terrestre ;
e por analogia ~ cousa muito appetecivel, de que não ú
licito gozar.)
Por mais propicia que seja a fortuna, lã chega a occasião
cm que ferra o pontapé no seu afilhado ou protegido. )
Vento ponteiro. (Contrario, que sópra da prôa.
Armado de ponto em branco. (Coberto de arma defen-
siva, de modo a varrer ou parar qualquer cutilada ou lan-
çada do adversario; esta defeza corresponde a « permanecer
cm posição concentrada » no jogo d espadão.)
Foi-lhe o negocio com vento em pôpa. (Favoravel,
prosperamente. Falhar, errar de — á prôa, totalmente,
completamente.)
Fazer uma saúde de pôpa á prôa, destibordo a bombor-
do. (Beber á saúde de quantos se achão na meza, sem
individuação.)
O ponto nunca tomado,
A casa nunca varrida,
A cozinha cnnegrecida ,
Onde o prato não lavado
Serve para o oulro dia,
Pobreza nunca foi, é porcaria.
Annel d'ouro em focinho de porco.
Nem sabe amarrar o focinho a um porco. (Ignorante,
sem geito, camellurio.)
O peior porco come a melhor lande.
Nunca se matou porco-espinho, ou , ouriro-caelieiro aos
sôccos. (Estes dous animaes são armados dc puas ou espi-
nhos agudos, que á vontade encolhem ou erriçáo.)
PORCOS — PORTUGAL
Quem com faréllos se mistura, porcos o comem.
Quem por/ia, mala caça.
Por/ia. (Contenda, Incta. A —, cm competição, com
emulação, com esforço para exceder, superar.)
Porfiar, mas não apostar.
Dar, levar porrada. ( Toza bem puebada , pancadas for-
tes. Uma — de vinho, uma boa vez d elle, uma tarrafad»
ou caldeirada.)
Nem em tua casa galgo,
Nem á tua porta fidalgo.
Dôrdc mulher morta, dura até h poria.
F. é porta cerrada. (Incorruptível, discreto , que sc não
delia seduzir ou subornar.)
Atirar, dar com a porta na cara ou nos narizes d'alguem.
(Fecha-la de golpe por desfeita, por insulto a quem que-
ria entrar, ou n'clla bateu.)
O verão, o inverno, &c., eslá á porta. (Proximo, che-
gado ou a chegar.)
Dc portas a dentro. (No interior da casa , da familia.)
Pôr alguém por portas. (Reduzi-lo a pedir esmola, des-
graça-lo. nas, OUi pL.]as— ,ja amargura, ultraja-lo,
vilipendia-lo, vitupera-lo, difTama-lo.)
F. obteve o emprego por portas trazeiras. (Por meios
illicitos, fraudulentos, indevidos.)
Sube a noticia por portas travéssas. (Em segredo, por
pessoa da casa , que o confiou em segredo.)
Reino sem porto, chaminé sem fogo.
li costume cm Portugal
Comer bem e dizer mal.
POSSILGA — PRATINHO 137
Possilga. (Chiqueiro. Lugar porco, immundo, ascaroso.)
Fizemos em postas o inimigo. (Derrotamo-lo totalmente.)
Pôde mnilo bem uma folha politica ou mercantil chegar
ao posterior, porém nunca á posteridade.
Possuirás entranhas do Potosi. (liomenso ouro, riquezas.)
Antes mulher d outro, que couce de pôtro.
O couce da égoa não faz mal ao pôtro.
Contém te nos teus limites,
Nada le promova a inveja;
Quem se contenta com pouco
Tem mais que quem mais deseja.
Pouco fel damna muilo mel.
Pouco em paz, muito se faz.
Falia peuco e bem ,
Ter te-liSo por alguém.
Anles muitos poucos, que poucos niuilos.
Com o muilo poupar e bem não fazer ,
Os bens que 6e juntão mau fim tem a ter.
O homem na praça, a mulher em casa.
Ouem o alheio veste , na praça o déspe.
Quem quizer baralo a caça, cace-a 11a praça, (Mercado.
Rogar pragas a alguém. (Imprecar males sobre elle
desejar-lhe calamidades, infortúnios; o mesmo que pra
guejar.)
Nem boda sem cauto, nem morte sem pranto.
Prata ú o bom faltar, ouro é o bom calar.
Fazer pratinho d'alguem. (Escarnecê-lo, diverlir-se
custa d elle em sociedade, íidicularisa-lo.)
158 PflATINHO — PKESTADIO
K nm pratinho ver F. com B. (Cousa curiosa , risível,
jocosa.)
Pôrempratoslimpos. (Aclarar, mostrar, evidenciar, v. g.:
Melhor razão'foi sempre a do mais forte:
■li o ponho em pratos limpos. Certo lobo, &<•.)
Cada um procura o prazer onde o acha.
Quem o coração quer vingar,
Sua casa vê prior. (Roubar, saquear, ser prêsa.)
F. é um precipício. (Insolente que procura rixa, atrevido,
petulante, de génio bulhento.)
Enganc-uic embora no preço, mas não no que mérco.
Juízo, talento precoce. (Que se manifesta cedo, antes
do praso costumado, prematuro, auticipado.)
Magro c uiyrrhado, como prego na ponla.
Bater o prego. (Assim se chama, entre operários, o
signal que se dá para irem comer, ou voltar ao trabalho.)
A preguiça 6 mãi da indigência.
A preguiça morreu á sede ao pé d'um rio.
Onde a preguiça se arraiga
Não ha vergonha nem brio;
Querer emendar os génios
K malhar cm ferro frio.
Homem dotado de prendas. (Habilidades, dotes pessoaes.)
Estudos preparatórios. (Os qae se fazem antes de entrar
cm qualquer faculdade, em academia ou universidade.)
Preso ou cativo , não leoa amigo.
PrestaJio. (Serviçal, ofGcioso, obsequioso.)
PRESTAR — PROHIBÍDO 159
Prestar. (Ser util, proveitoso, ter preslimo. Não —para
nada, não ter a menor valia, não ter préstimo.)
Quem em mais alto nada , mais prestes sc afoga.
Melhor é prevenir <[ue ser prevenido.
Primavera da vida. (Mocidade, juventude.)
Primeiro que cases, vê o que faies.
Em cama estreita , deitar primeiro.
Quem primeiro anda, primeiro ganha.
Vaso novo , primeiro bebe que seu dono.
Entende , ou, ouve primeiro, e falia derradeiro.
A bom principio, màa lim.
Prisca idade, priscos tempos. (Antigos, dontrora.)
Vèr, encarar aa cousns por nui prisma. (Como ellas se
figurão c não como são na realidade.)
Pró. ( Proveito, lucro, interesse ; por isso d'ahi se diz
Em seu pró, lim pró d elle; Os prós e os contra.)
F. anda com grande prôa, traz uma atrevida —. (Cara
c maneiras arrogantes, soberbas, orgulhosas.)
Pessoa mal procedida. (De conducta reprehensivel.)
Progne. ( Em linguagem figurada significa a primavera,
e na mjthologia, a andorinha, por ser a precursora d'esta
estação. Vej. Diccion. da Fabula.)
Nada sabe lanto como o fructo prohibido, ou
Presunto, vinho e toucinho
Os da Turquia os melhores. (Porque é pro-
liibido pela lei de Mafoma de comer porco, e beber licores.)
160 PROMETTE — PROSOPOPEIA
Quem pés uão tem, couces promelle!
A quem Deos promelle, não falia.
Quem promelle, deve.
Prometler chuva e dar vento.
Prometter mundos c fundos. (Grandiosas promessas.)
Prometter montes d'ouro, ou, villas e castellos.
Prometler mares e ilhas. (Cousas Ião exorbitantes que
é impossível cumprir a promessa.)
Prometter não é dar, mas a néscios contentar.
A quem promcllo, não fallo.
Terra da promiitão. (A que Deos prometteu a Moyscs;
e em sentido figurado , terra mui fértil, abundante e sau-
davel; a em que se faz fortuna, &c.)
Ninguém é proplieta na sua leria, ou, santo de casa não
faz milagres.
Prophelisa. (Mulher que prediz o futuro, que tem o
dom da propbccia; feminino dc propheta.)
l)e bons propositot está o inferno cheio, o céo dc boas
obras.
Pro rata. (Á proporção, em razão do que loca a alguém,
T. g. : pagar, receber —, cada uni segundo a sua entrada ,
capital, &c.; o governo fez uma derrama —, isto é, na
proporção dos haveres dc cada habilanle.)
K sujeitinho debasla prosa. (Loqtiella, parlauda, lábia.)
Cousa muito protaica. (Commum, ordinaria (em estylo
jocoso). Versosprosaicoí, ou, proa rimada, poesia epsossa.)
llomem dc magistral prosopopeia. (Bem apessoado, pom-
poso , de garbo, e osleutoso nos seus discursos e obras.)
PROTECÇÃO — PROVEITO 161
Scuipre suceedccnlre os homens.
Em havendo protecção.
Ficar o delicio impune
E escurecer-se a razão.
N outros , qualquer leve cousa
Traz logo comsigo a peaa,
Pois o arbítrio das paixões
Oraabsohe, ora condemua.
Mulher prol erva. ( Desavergonhada, descarada , desa-
forada, impudente.)
«Essa ha devir cá para o meu prolocoUo.fi (Hei de fazer
assento , tomar lembrança , tombar na memoria , esse dito,
essa aaecdota, ta] acontecimento, &c. Protocollo é o livro
de registro de notas dotabellião, assim como o esboço de
conferencia diplomatioa, para depois se lavrar ou passar a
limpo nas formas legaes.)
Prouvera a Deos ! (Oxalá! assim fôra do agrado de Deos!
quem me dera ! queira Deos ! &c. Vej. Oxalá.)
Á prova de beldade olhos não lemos,
Neiu mãos á prova de ouro;
Bem pouca gente com leal desvello
Guarda bem um thesouro. (Fil. El.)
Á prova d agoa. (Onde eíía se n5o infiltra; á — de bom-
ba, a coberto d'e!la, onde a bomba embaça, achando
íesistcncia; á —de fogo, invulnerável a esle elemento,
onde não pôde penetrar nem atear se , &c. )
Não lhe faz proveito o que come. (Não lhe medra , não
lhe presta utilidade.)
Onde ha honra e nio prnnetfo, dá o trato por desfeito.
11
162 PROVEITO — PUNICEO
Honra e proveito, não cabem n um sacco, ou
Dous proveitos não cabem n'um sacco.
Falia de lisongeiro, sempre vã e sem proveito.
A fome alheia, me faz prover minha ccia.
Como diz o provérbio. (Como é voz vulgar, rifão, sabido.)
O anuo proximo passado. (O ultimo ; o — futuro, que
ha de vir, vindouro. )
Pseudo, ou. pseudonimo. (Falso, supposto (autor ou obra.)
Andar com o prumo na mão. (Viver, obrar, haverse
com prudência, com circumspecção.)
Pudâr. ( Vergonha honesta , pejo de acção deshonesta ,
de discurso torpe, &c. ; d'aqui se deduz o adj. pudibundo,
que tem pejo, vcrgoulia, &c. , v. g.: pudibunda rosa;
moça , que tem côr de pessoa cujas faces córào de pejo.
D ahi também se deriva o vocábulo : parles pudendas; que
são as genitaes ou da geração , de ambos os sexos.)
Isso farei eu n'um salto de pulga. (Num apse, num
virar d'olhos, no espaço que ella gasta em saltar.)
Olhos de pulga. (Mui diminutos, mui pequenos.)
Fazer d uma pulga uui cavallciro armado, ou
Fazer d'uni argueiro um cavalleiro.
Andar com a, pulga, ou, trazer a —detraz da orelha. (An-
dar com desconfiança, com prevenção, e acatando cousa
que suspeita, prevenido, acautelado.)
Ter pulso. (Força muscular, valor, energia.)
Puniceo. (De côr vermelha, escarlate, brilhante, v. g. =
Foge dos lábios a punicea rosa. (Boc.)
PURIDADE —QUAI. 163
Escrivão da puridade. (Assim se chamava antigamente a
qualquer dos secretários ou ministros d'Estado.)
F. anda todo puxado. (Na moda, aceiado , apotkado.)
Puxar, ou, puxar pela trouxa. (Safar-se, ir-sc embora.)
Pirilampo. (O mesmo que vagalume (eagalume, fam.),
insecto, que voando de noite dá uma luz phosphorica.)
d
23 4 VAREJO — VASA-BAMUZ
A varejo. (Arelallio, a miúdo; vendera—. Dar — nos
mantimentos, nas fazendas, &c., averiguar o que d elias
existe. — nas fancarias, boticas, ourives, &c. , para exa-
minar se todas as fazendas que leui são de lei, perfeitas.
Dcriva-se este vocábulo de vara de medir, ou vara alçada.)
Variarão da agulha magnética. (0 seu desvio do verda-
deiro ponto do Norte para onde sempre se dirige ou tende,
á excepção de certas paragens onde a existencia <lo ímau
ou outros metaes a altraliem e desvião.)
A variedade deleita, ou, varietas delectat.
Varinha de condão. (Vara magica dc que o vulgo crê
que se fazem com o toque d'el!a transformações, V. g. :
de cobre em ouro, de um homem em jumeuto, e d ahi
vem a expressão « Ter — » , tudo quanto se deseja.)
Varonia. ( Qualidade de macho, de homem. Descender
por —, pelo macho e não pela femea, por linha masculina.)
Animo, voz, presença varonil. (De varão, valente.)
Varou o inimigo. (Passou-o de lado a lado, atravessou-o.)
I nrrer da memoria. (Esquecer inteiramente. A mos-
qneteria , a arlilheria tudo varreu; tudo derrotou.)
Doudo varrido. (Completo, confirmado.)
Deixar fazer vasa a alguém. (Deixar ganhar  própria
custa, interessar com prejuízo posso. Commigo não faz —;
d esta vez será minha a —. Não fazem ambos boa —; não
travar boa —, não estar d'accordo, dissentir, discrepar.)
Dar com tudo em vasa-barriz. ( Deixar arruinar, estra-
gar tudo; pouca alteração faz de Panlana. Vcj.)
VASCOSSA — VEJO 235
Algaravia, geringonça, mascarada, vasconsa. (Lingoa-
gem lôsca, grosseira, rústica, quasi iuimelligivel. )
Ser o vasculho da sociedade, da casa , da repartição. (A
escória, cousa nojenta, desprcsivel; a ligella da casa.)
Borracha vasia não tira secura.)
Faso. (É nome generico, e por isso se applica a Ioda a
qualidade de vasilhas grandes ou pequenas , v. g.: vasos do
guerra, isto é, navios; — de flores, onde estão planta-
das ou collocadas; —lyuiphaticos, artérias, veias, &c.,
emfim, tudo qnanlo pôde conter ou ser enchido.)
Vaso mau nunca quebra.
Fazer, ou, reconhecer vassalagem. (Dar-se, reconhe-
cer-so por Vassallo.)
Vastidão. (Dilalada extensão; —do Oceano, do de-
serlo, dos Pampas, &c.)
Vé mais que um ljnce.
Véa, 011 veia. (Canal por onde o sangue volta ao coração
depois de propellido pelas artérias. A — d agoa , do rio ,
onde cila corro mais densa, mais forte.)
.Mais vêem dons olhos que um.
I cia poelica. (listro, propensão para a poesia. )
Veia de doudo. (Pancada 11a mola, propensão para a
maluquice.)
I cias, ou, veios de mármore , de ferro, de platina , &c.
(Nas minas assim sc chama a béla 011 parte onde se encon-
tra o mineral ou metal; malhas.)
Se não vejo com os olhos, avisto pelos oculos.
236. VELA — VELHO
A quem vila, ludo se lhe reyéla.
Andar á vèla, fazer-se á —, ou, de —. (Desfraldar,
largar o panno, começar a navegar. Vila lambem se toma
por embarcação , navio , &c. )
Estar, ou, andar á vila. (Despido , nú, em pOllo. )
Pôr-se á vila, ou, á viola. (Ir-se embora , partir.)
Velar as armas. (Ceremonia que fazião os cavalleiros
na véspera da sna recepção , passando a noite sem dormir,
vigiando as armas.)
Carlos V amainou as vilas da ambição, fazendo-se mon-
ge , e amortalhando-se em vida. (Renunciou ao mundo,
á ambição.)
Contos de velha. (Historias fabulosas, patranhas que
ellas contão. Vej. Contos da Carochinha.)
Castigar velha c espulgar cão, «luas doudices são.
Velhaco de cincoenta c cinco costados. (De patente, do
capíllo, de excellencia.)
Fazer bem a velhacos , <i deitar agoa no mar.
Velho só vinho, ouro ctonselho; e novo, só moça,
hortaliça c ôvo, dizião os Jesuilas. )
Não ha rifão velho, se é dito a proposilo.
Burro velho não aprende lingoa.
Vinho velho, amigo velho, e ouro velho.
A cavallo novo , cavalleiro velho.
Mais velho que a onça, ou, do tempo da onça. (Vocá-
bulos brasileiros, que denotão grande antiguidade; o
mesmo que:
Mais velho que a Sé de Braga, ou
Po tempo dos Affoiísinhos, ou, do pai Adão.
VELHO — VENDIDO 237
O homem velho é uiedico de si.
Achar-se, ou, estai' no calçado vellio. (Em idade avan-
çada, não ser já para cousas que fazem os moços.)
Homem velloto, ou valente ou luxuriou.
De ruim a ruim quem acommctte vence.
Vencer o camiulio. ( Chegar ao fim dclle. • Vencerão
mais dei milhas de costa •, adiantarão , avançarão.)
Vencer as paixões. (Rcfrea-las, domina-las. — ovenlo,
o mar, aguentar, resistir-lhe navegando. — em votos a
alguém, ter maior numero d'elles a seu favor, exceder. —
soldo, soldada, ordenado, &c., ganhar, ler direito a elle
por serviço, trabalho, &c.)
Proposta venciila. (Adoptada, depois dc discutida.)
Despreza teu inimigo, logo serás vencido.
Quem diabos compra, diabos vende.
Vende a esposado, e conipra a enforcado.
Queui cabritos vende, c cabras não tem ,
D'ondc lhe vem ? ou
Miguel Miguel, não tens abelhas c vendes mell
Vende publico, e compra secreto.
Vender a pelle do lobo antes dc o malar. (Contar com
milagres do diabo ; liar-se na constância da ventura.)
Vender gato por lebre. (Chibo por cordeiro; o mau por
bom, enganar.)
O cavalheiro Bayard vendeu a vida cara. (Ferindo, ma-
tando, lutando contra os que o attacavão.)
O ruim me compre o amigo ,
Que o bom logo é vendido.
238 VENDIDO — VENTO
Achar-sc, andar, estar vendido. (Enganado, atraiçoado
por pessoa que vendeu nossos interesses, segredos, &c.)
Vcnéta. (Propensão, veiasinlia dc loucura, v. g. : Ter
venetas; deu-llie na—, fazer isso, dizer tal, &c., prati-
ca-lo por maluquice , ou talvez capricho.)
Dar, ou, promeltcr Veneza. (Termo antiguado, que
significa o mesuio que montes douro, alludindo á riqueza
d esta cidade. Vej. Mundos e fundos.)
Pedir vénia, com a devida —. (Permissão, licença.)
Em quanto venta, molha-sc a véla , ou
Aproveita-te cm quanto fôr tempo.
Não me venta muilo bem por esse lado. (Não antevejo
grande vantagem com tal; receiar, não estar com fé, &c.S
Pespegar, ou, ferrar nas ventas. (Dizer, fallar s<m
rebuço a alguém de cara a cara; alludindo a ventas, que
são as duas aberturas exteriores do nariz. Caliir com as —
110 chão. marrar com as — na parede, esmurraras1— a
alguém , tudo como synonimo de cara.)
Ventilar uma questão. (Discuti-la. pondera-la.)
Vento. (Pó de — , furacão, rajada dc —. Emquauto
ventar ou íizer este —, as circumslancias forem as mes-
mas, ou assim ventar. Levar o mesmo —, a mesma for-
tuna, o mesmo caminho. Mover-se com todos os ventos,
s«r muito inconstante , volúvel. Desfazcr-sc em — , desva-
nccer-se, desapparccer, sumir-sc.)
Vai-sc, ou, foge o tempo como o vento.
Vento ou ventura, pouco dura.
Caminhar, ir vento em pôpa. (Felizmente, com fortuna.^
VENTOU-LHE — VERBIAC.EU 239
I entoa-lhe a fortuna. (Foi-llic prospera, venturosa. )
Beber os ventos por alguém. (Fazer excessos por elle.)
Tirar o ventre (la lazeira. (Vcj. llegabofes. )
Onde ventura falia, diligencia é escusada.
A diligencia 6 mãi da ventura, ou , Audaces fortuna juvat.
liei por natura , Papa por ventura.
Chega, ou, vem a ventura a quem a procura.
Tanlo maior é a ventura, qtianlo menos dura.
Entregar á ventura. (Abandonar, largar, dar de mão, )
I'ôr em ventura. (Aventurar, expor a risco, perigo;
d alii Feitos d alla — , como Lucena * fallando da teme-
ridade de V.isco da Gama. Por —, par acaso. )
F. é uma Vénus. (Formosíssima, linda. Planeta uiuito
brilhante, que gyra entre Merciirio-c a Terra; quando
apparece de manhã se chama Estrella d alva, c de tarde
Ilespero, ou Estrella do pastor,)
Kão bêbas sem vér, nem nssignes sem lêr.
A meu vér. (Na minha opinião, segundo meu pensar. )
l'"aze por ter, vir-te-hão vér.
Vér mais que olhos de ljnce. (Agudissimamente.)
Vér com os olhos, comer com a lesta. (Appetpeer c
não gozar, ou. comer por theoiia.)
' ér cslrcllas ao meio dia. (Sentir fome excessiva , gran-
de pesar, dôr profunda, &c. , tudo quanto magoa.)
De tiras. (Sériamenle, na verdade; fora de brincadeira.)
I erbtagem. (Abundancia de palavras imiteis, ouças, ou
sem sentido; é neologismo tirado do franccz.)
240 VERBI-GIUTIA — VERDES
Verbi-gratia. ( Expressão lalina ; o mesmo que = por
exemplo; escreve-se por abrev. =v. g.)
A verdade não tem pés e anda.
A verdade c o azeite bóião sobre a falsidade, ou
A verdade c o azeite andão em cima, ou , á lôna d agoa.
Amigo de todos, e ainda mais da verdade.
Ao medico e ao abbade
Falle-se sempre a verdade.
Dizer a verdade nua e crua. (Sem fingimento.)
Dizer mentiras para tirar verdades , ou
Semeiar menliras para saber verdades.
Sempre as cinzas dos mal premiados resuscitão as ti cr-
ilades.
Nen) todas as verdades se dizem apesar de verdadeiras.
Verde. (Geralmente assim se denomina em Portugal os
cercaes e liervas em quanto não maduras, luas principal-
mente a ferran, que corresponde ao capim do Brasil. D alii
— Dar verde, mandar para o — o Cavallo , &c., costume
que annualmente se pratica na primavera, nntrindo-os só
a berva para se purgarem e reforçar. Dar um —, causa
que alegra ; lograr um —, prazer , &c.)
Velho verde. (Rijo, têso, vigoroso.)
Verdeal. (Guarda ou porteiro da Universidade de Coim-
bra , assim chamado porque anda vestido de verde.)
Estão verdes. (Phrasc que se applica áquelles que não
podendo obter alguma cousa, a menoscábào, cm allusão
, raposa qne assim disse fallaudo das uvas onde não podia
chegar, segundo Pbedro.)
Annos verdes. (Idade juvenil, ainda não madura.)
VERDES—VEZ 241
Misturar verdes com maduras, ou, dar uma verde coin
uma madura. (Involver, baralhar cousas incongruentes.)
No verdor, ou, na flúr da idade. (No viço, na força da
mocidade. Vcj. Viço.)
Verduras, ou verdores da mocidade. (Imprudências,
desvarios, erros proprios d'esla idade.)
Rebentar, mas nio vergar. ( Vej. Fé, no Supplemento.)
Quem não tem vergonha todo o mundo <S seu.
A vergonha revéla os remorsos que se pretende OCcultar.
A vergonha de si própria é o maior supplicio da vida.
Quem sempre mente , vergonha não sente.
As vergonhas do homem, da mulher. (Partes genitaes.)
Homem vergonhoso, o Demo o trouxe ao Paço.
Versejador, (Trovisla, fabricante de versos sem estro.)
Versos soltos, ou, brancos. (Os que não rimão, uias
tem metro.)
Ás vessas, ou, ao avísso. (Do lado opposto ao direito.)
Vertentes. (Encostas , descidas , ladeiras do monte ;
agoaa — , as que se despenhão ou correm pelas ditas. )
Verter agoas. (Svnonimo de ourinar.)
V erter duma lingoa para outra. (Traduzir.)
V éstes. (As diversas peças com que se vésle o homem.)
Vestir a uso, e comer a gosto.
Uma vei se engana ao prudente e doas ao innocente.
Estar de vez, de lua, ou, estar para a cousa. (DL-posto,
de pachorra, preparado.)
Uma vez é a primeira.
16
2/|2 VEZ— VIG AllIO
Vez. (É palavra applicada frequentemente eui diversas
accepções, cujas principaes são : Uma — dc vinho, cer-
veja , &c., a porção que se bebe dc uma só. Chegou a
miuha—, o meu lurno, a miuha occasião ; ilem a occa-
sião propicia, favoravel. Ter —, occasião, cabimento.
Oulra —, noutra occasião. Estar a cousa, o negocio de
—, cm boa disposição para se eflectuar.)
D onde esperanças o homem não tem
A's vezes lhe vem o bem.
Fazer as vezes d'algucin. (Supprir, tomar o lugar. Por
— , de quando cm quando, de tempos a tempos.)
Viandante a caminhar
Sempre paia traz olhou,
li allegra-se do que andou
Psão do que lem para andar.
Víbora. ( Pessoa muito assanhada , de mau génio.)
Vicc-versa. (Reciprocamente. Eni sentido contrário.)
No viço da mocidade, da forluna. ( Na força, no auge.)
Criado com grande viço. (Mimo, melindre, carinho.)
Modo de vida. (Profissão com que se ganha o sustento.)
Levar boa vido. (Viver regaladamente , sem cuidados.)
Fazer pela vida, que a morte eslá certa.
Olhos vidrados. ( Os do moribundo , faitos dc transpa-
rência.) i
Génio de vidro. (Agasladiço, assomado, irascivel.)
Para o que der e vier. (Para o que poder acontecer,
para a occasião que se offerecer, á boa ou má venlura.)
Ensinar o Padre-nosso ao vigário.
VIGOR — VINTE 243
Eslar cm vÍgor. (Era uso, pralica, por ser dc lei.)
Toda a alma vil altribue sempre via motivos ás mais
virtuosas e nobres acções.
Fora dc villa e termo. (Eia grande distanciá. dc lon-
ge. Diz-se de cousa imprópria para o fim a que se applica.)
A' força de villão, ferro em meio.
Teima de villão, perda dc sua casa.
Estende-9c como villão em casa de seu sogro.
Villão-ruim. (Homem grosseiro, vil, mal-creado.)
Eslar feito de fui e vinagre. ( Eueolerisado, agastado.)
De bom vinho, bom vinagre.
Até ao lavar dos cestos é vindima.
Homem , fiuclo vingado. (Chegado à maturidade, ma-
duro, sazonado.)
Quem tudo quer vingar, ccdo quer acabar.
O mêdo é quem guarda a vinha.
Vinho e moça , peral e faval, máus são de guardar.
O bom vinho a venda traz comsigo.
Sobre o figo agoa, sobre a pêra vinho.
O bom vinho escusa pregão.
Cada cuba cheira ao vinho que tem.
Jantar sem vinho, escopeta sem polvora.
Casa dos vinte c quatro. ( Outrora em Portugal e seu«
domínios erào 09 delegados dos officios mecânicos, isto é,
junta dc viutc e quatro pessoas desses officios, que eráo
apresentadas por eleição na meza da vereação pelo juiz do
povo, e tinhão voto nas matérias de economia, nas cama
ras municipaes.)
2 txk VINTÉNS — VISTA
Mais vale uai gostinho que quatro vinténs. (Preferir
satisfarei" um capricho a um lucro certo.)
Tres vinténs. (Termo jocoso Lisboucnse; corresponde a
pudicícia feminina.)
0 dia damanhãa ainda ninguém o vio.
Pôr-sc à viola, ou, fazer ablativo de viagem. (Safar-se,
fugir, mandar-se mudar.)
Metter a viola 110 sacco. (Calar-sc, pôr-se em silencio.)
Pôr mãos violentas u alguém. (Maltratar contra direito.)
Lingoa viperina. (De víbora, de serpente, mordaz.)
Viravoltas. (Vicissitudes, alternativas.)
A virga férrea. (A' força, com lodo o rigor.)
Mares virgens. (Nunca d'antes navegados.)
Em virtude de... (Por elTeito, em consequência de...)
A necessidade é inimiga da virtude.
Visinha, que pouco a pouco
Sintroduz na casa alheia ,
Que hoje janta , amanhã ceia.
Para ir tirando e sabendo
De que se vive c se come ,
Tem mais zorrice que fome.
Kisoj. (Apparcncia, exterior, v. g.: vícios com — de
virtude, hypocrita com — de santarrão. )
Ainda que se vista a mona de seda, mona se quêda.
A vista faz fé. (Mostra a realidade.)
Longe da vista, longe do coração, ou, do pensamento.
Dar uma vista d'olhos. (Vér de passagem.)
VISTA — VIVO 245
Ficar uma cou9a a perder de vista doutra. (Lcvar-lhc
grande vantagem, haver enorme differença entre ellas.)
A' vista d isso. (Allendendo, considerando o caso. )
Dar vista dos autos, do processo, &c. (No foro é da-la
concedc-la ao advogado da parte, ao juiz , &c., pedir .)
Suas vistas erão... (Seus intentos, desígnios.)
Ser bem ou mal visto. (Tido cm boa ou má conla, bem
ou malquislo, avaliado pela fama que sc tem.)
Vislo. (Pôr o—, signal de apresentado á autoridade,
como cm passaportes, guias, &c. Está —, bem sabido,
conhecido, sem duvida, &c.)
Louvor em boca própria 0 vitupério. (Vej. Louvor.)
I ilhos da viuva. ( Os Maçons ou Pedreiros-livres; termo
maçonico.)
Viuva rica, com um olho chora, com o outro repica.
A viuva rica , rasada fica.
A viuva do cães do Tojo. (É a forca , em Lisboa.)
Km carne viva. (Sem pclle, a cútis privada da epiderme.)
De viva voz. (Pfcssoalmente, de palavra, não por cs-
criplo.)
Em roda viva. (Em contínuo movimento, atrapalhado.)
Agoas vivas. (As marés mais altas ou fortes da lua cheia.)
Vivtr vida alegre, folgada. (Passar, lograr. disfructar.)
Também sou vivo. (Expressão de quem se faz lembrado.)
Retratar ao vivo, pintar ao —. (Exactamente, ao na-
tural.)
Tocar no vivo do coração, (fia parte mais sensível,
âmago, ferir os seios d'alma. )
Ter óllio vivo sobre... ( Muito cuidado, attenção.)
VOA — VOZ
Cavallo que vôa não carece espora.
Bom é voar baixo por causa dos milhafres , on
Quem mais baixo vôa, menor lombo leva.
Ave por ave, o carneiro se voasse.
Á vôga arrancada. (Remando com toda a força e dili-
gencia. Á — 6urda , sem rnido, mansamente,)
Pensas certo o ganho ter
Porque as vasas vais fazendo !
Que te podes vêr perdendo
Jamais te deve esquecer.
Da louca illusão te sólta
Porque lia tempos desiguacs,
Se as vélas bòjão de mais /
Ás vezes a náu se volta.
F, deu-lhe volta o juizo. (Enlouqueceu, endoudeceu.)
Num voltar d' olhos. (Num apse, num triz, momento.)
Fazer-se a mente cm mil voltas. (Estar perplexo.)
Furtar as voltas a alguém. (Procurar, evitar ou frustrar
os seus attnques, encontros, ou designios hostis.)
Ter voto na matéria. (Ser juiz competente, idoneo.)
Voz do povo , voz de Deos. (Em latim : Voxpopuli, vox
Dei; a opinião publica.)
Ter vez activa. (Influencia directa. Direito, jus.)
Ter voz activa c passiva. (Direito para votar na eleição
de superior, e aptidão a ser eleito.)
Prender, seguir, &c., á voz d'algaom. (Em nomo, á
ordem de...)
Dar a voz de preso. (Ordem, intimação.)
VOZ — X 247
íi voz publica, ou, corre voz que... (Boato , fama.)
Pula voz sc conhece o musico , ou
Pelo dedo sc conhece o gigante.
Mais são as vozes que as nozes. (É mais a fama qnc a
realidade.}
A bôda dos pobres decifra-se cm vozes.
Vulgata. (Tiaducção lalina da Bíblia, approvada pela
Igreja Calholica liomana.)
Um vulto. (Pessoa, figura indislincta, não conhecida.)
Cousa de vulto. (Importante, avultada.)
Fazer vulto. (Volume notável, cousa volumosa.)
Atirara vulto. (Sem pontaria certa, a acertar.)
X
A". (Letra numeral, que vale 10; collocada antes de
letra que valha mais, tira-lhe 10, v. g. : XC 90 , XL 40 ;
porém posta depois de numero superior augmenta 10.
v. g. : LX 60, DX 510. Signal algébrico ou arilhmetico
de multiplicação., v. g. : 7 #9, isto é, 7 multiplicados'
por 9. Também significa resultado. Vej. Xis.)
248 XÀ — XEQUE
Xá. (Rei, monarca na Pérsia.)
Xá, ou, chá. (Folha aiouialica, oriunda da Cliiua,
bem conhecida no mundo inteiro; arvore do —. Por ana-
logia á infusão que delia fe faz, se diz : xá de macella ,
de goivos, &c.)
Xairel. (Panno de pôr por entre o sellim c o lombo do
cavallo ; d'ahi a phrase = Pretendia fazer de mim seu —!
seu capacho, sua esteira , &c.)
Xira. (Frecha ou setla de atirar com arco, e feita de
madeira rija e resequida, v. g. : voa, ou parle como uma
—, com velocidade. Também 6 animal reptil mui ■veloz.)
Xará. (Termo familiar brasilico, c significa ter o mesmo
nome que a pessoa a quem é dirigido.)
Vento xaroco. (Do Italiano sciroco, porque vem da Svria,
que Cea ao nascente. Vento sueste , que sópra frequente-
mente no Mediterrâneo.)
Não é xarope muito agradavcl. (Pião 6 cousa que saiba
bem , agradavcl, aprazível.)
Xarque. (Mantas de carne dc vacca, pouco salgadas e
curadas ao sol, principal ramo de commercio na provincia
do liio Grande do Sul no Brasil. Xarqueada se chama á
officina onde se prepárão.)
Xeque, ou, xaque. (Termo do jogo de xadrez, que se
profere para annunciar que o rei ou a rainha (peças prin-
cipacs) estão cm perigo, e se defenderem , v. g.: xeque ao
rei. Chama-sc xeque mate quando se annuncia ao parceiro
que o rei se acha.inteiramente sem defeza e perdida a
partida. D ahi vem a phrase de D. do Couto : « E de xaque
XÉQUE — ZANGADO 249
em xaque, andava o pobre príncipe (cm poder de tutores
que o tyrannisavào), ora nas mãos"de uns, ora nas.de
outros tutores. »)
Xeque. (Do Francei ecliec; desgraça, perda. Grande
_damno, calamidade.)
Ximio, ou, ximia. (Macaco, mono, e por ampliação é
sjnonimo de : Imitador, arremedador.)
Fazer boa xira. (Do Franccz : faire bonne cliére. Ter
bom pasto , boa meia. Moraes admitte também esta expres-
são no sentido do Francei = dèbauclie, e significar =: co-
mezainas com más mulheres , e pernoitar com cilas.)
Xis. ( Quantidade ou resultado incognito , isto 6, o pro-
ducto de tal ou tal operação, suppondo-o por um x.)
Xisgaraviz. (Creatura intromettida, que se ingere.)
Fazenda xué. (Muilo ordinária, de pouco corpo. Ir ves-
tido muito —, com pouca e má roupa.)
Xupistn. (Bêbado, borracho. Parasita, papa-jantares.)
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262 CHAVÃO — CONTRADANÇAS
1'. irmão do mesmo chavão. (Da mesma bitolia.)
Quem me manda ir a bordo de tal ekavéeo ? (Metter-me
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essas alhadas, fazer parte de..., &c. Vcj. Xaveco.)
Vou chegar até casa; cliega-me á rua de.... (Ir.)
Dar em cheio. (Completamente. No proprio lugar. A
carga de sal deu em —, chegou cm boa occasião, op-
portunamente.)
Magcstadc Christianissima. (Titulo do Rei de França. )
Isso era uma cifra em comparação de....
Estar muito cm cima. (Na abundancia, boa situação.)
Cada santo tem seu cirio.
O ciúme depende mais da Taidade que do amor.
Passar as noites cm claro. (Não dormir. )
Ter câco com alguém. (Sympathia. Cabimento; fam.)
Melter, ou, dar a sua colherada. (Vcj. Bedelho.)
1''. não come nem deixa comer. (Não goza, não lucra,
não faz, &c., nem deixa os outros aprovcitarem-sc.)
Comesinlio, a. (Objecto —, de fácil intelligencia.)
Isso não Tale um cominho, ou, um caracol. (Nada. )
Sahir das conchas. ( De acanhamento , espertar-sc. )
Congresso , 6 uma fabula convencionada entre diploma-
tas; equivale á penua de Maclnavcllo unida ao alfange
de Mafoma.
O conquistador é um jogador por vicio, que toma milha-
res de homens por tentos e o mundo por taboleiro ou meza.
Não quiz ser parceiro, ou, entrar nas taes contradanças.
COR — CURTIDO 263
Homem d'uin só parecer, d uma síi eír, &c. (Vej. Antes )
Quebrar-se a alguém o coração. (Pcnelrar-so de mágoa.)
Ter o coração nas mãos. (Ser sincero.)
Caliir o coração aos pés. (Descorçoar, esmorecer.)
Para descanço do coração, Iraballio despirito.
Coraçío contente tem o riso na boca.
Coração. (Homem de —, valente; sem —, covarde;
pessoa de Cabello no —, cruel, vingativa.)
Ganharão corpo estas noticias. (Força , crédito.)
Muito corre quem corre, mas mais corre (piem foge.
Ditos, rifãos corriqueiros. (Vulgares, familiares.)
Na côrte, os que estão de pé, não levantão os que cahirSo.
Cortesão é o pobre enriquecido nos escaninhos do Paço.
Os costumes são obra das leis, a felicidade a dos costumes.
Os homens fazem as leis, as mulheres os costumes.
Fallar pelos cotovéllos. (Muito, como um Algarvio.)
Todo o homem sem caracter, não é homem , é um cousa.
Cabe-me 11a cova d um dente.
Ou cova ou dente, ou frade ou mercador. (Ou preto ou
branco, ou rei ou peão.)
Caminhar com o crido na bôcca. (Com mêdo de perigo.)
A credulidade dos lôlos é o patrimonio dos velhacos.
A pena segue o crime, como a sombra o corpo.
t. fácil o criticar, porém sempre dilficil o imitar.
Assignar de cruz. (Estar por tudo sem examinar.)
Raposo bem curtido em maranhas. (Astuto, velhaco.)
264 CUSPAS— DESCOSER
Não cuspas no poço cuja agoa bebas.
Era o mesmo, cuspido e escarrado. (Tal qual, o mes-
míssimo, sem tirar nem pôr.)
Pagar as custas. (Ficar de mau partido, receber o damno.)
Ficarem citstas por custas. (Sem que as partes paguem
ou recebão. Tanlo pelo tanlo, cousa por cousa.)
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FIM.