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DE

PROVÉRBIOS, ADÁGIOS, ItlFAOS

ANEXINS

SENTENÇAS MORAES E IDIOTISMOS

DA LINGOÂ PORTUGUEZA.
DE

provérbios, adágios, rifãos

ANEXIIVS

SENTENÇAS MORAES E IDIOTISMOS

DA LINGOA PORTBGUEZA

POR
$mstreUo tia (ffamara

aa<D © 12
E* CXtk DOS ED1TOBE3
EDUARDO E HENRIQUE LAEMMEItT
Bua da Quitanda n.» 77
1848
COMPPÀ

308637 3^

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AO LEITOR

Um dos atavios que mais adornáo e rcalção


qualquer idioma, é sem duvida o phraseádo
laconico, conciso, o qual ainda mais signifi-
cativo c elegante se torna, quando expressado
por sentenças e provérbios familiares.
Das lingoas vivas, é a portugueza uma das
mais férteis neste ramo, o que muito contribue
para a sua riqueza e amenidade. Faltava-nos
porém um manancial d'eslas galas e enfeites
lanl
° uso na sociedade , onde escolher ex-
pressões adequadas a nosso intento e decifrar
as que ignoramos. Levou-nos pois este intuito
a publicar a presente Collccção alphabelica,
onde lambem vào incluídos alguns idiotismos,
sjnonimos, e termos mais ambiguos ou com-
plicados, d'esta lingoa.
Tal mnleria já foi em parte investigada no
• '' o passado e publicada cm Lisboa no anno
"c 1780, com o timlo de Adágios, Anexins, &c.,
Porem este trabalho mui longe se desvia do que
VI AO LEITOR
d'elle era d'esperar, porque além de não dar
a significação d'expressão alguma, por mui
diffusa que seja, espraia-se unicamente seu
autor cm repetir, pela maior parto, phrases
que, ou cahirão em desuso, ou pouca elegan-
cia e força encerrão, e o que na dita obra
pudemos colher de bom, vem transcripto na
presente Collecção, a qual julgamos supprir
esta lacuna, ou pelo menos, conter o que ha
de mais saliente. *
Omittimos em muitas expressões a sua inter-
pretação por julga-la desnecessária, c accres-
centámos um Supplemento, pois sendo esta
género de trabalho, por assim dizer, intermi-
nável, ao completar a sua impressão, havíamos
colhido mais a matéria que o finaliza, verifi-
cando-se n'esle trabalho o que disse Lafontaine
outr'orã :

Tont re champ nc se petit Icllcmcfit moissonncr


Que des dciniers vénus ne trouvcnt à glaner.
introdugçAo

Julgúmos bem adequado inserir na preste colleccão


íanp» que nao
(apezar -S °T n,CS decimas
aíphabelieameute)' «*»poMa.
as de rifão»
1 .-
-vir de iatroducção á nossa obra T12S
d 5
sSlTeT
•>Çao 7T"'-
em perfeila rima' Cm C0,,S r ucncia
"I .
e medida.
de
compo!

Lembra-me o tempo passado


Quando sem muita demora.
Fazia lá dhora em hora
Meus versos de pé quebrado.
Hoje siuto-me cansado
Se um verso quero fazer;
NSo sei o que bei de dizer
Por mais que queira o desejo.
Que l,a de ser sc até não vejo
Quando me ponho a escrever!

Lembra-me quando escrevia


Folhas de papel inteiras,
£m que dava verdadeiras
JVolicias do que fazia.
Hoje inda o mesmo faria ,
Porém fallando a verdade,
cu ter vontade
Descrever muito, se, ein summa,
•" "i10 s''' ousa nenhuma
Que possa ser novidade ?
1
Mas se por foliar eslalo
Quero dizer-vos de novo ,
Que põe a gallinha O ôvo
K (lo frango se faz gallo.
No sino toca o badallo ,
O letrado dá conselho.
Toda a mulher leni espelho,
As noras tem alcatruzes,
Foge o DiaUo das cruzes,
Cajado inala coelho.

Corre o galgo aíraz da lebre,


O cão da perdiz leni faro ,
Sempre o barato sai caro,
Não ha vidro que não quebre.
Sezões dão com frio e febre,
Quando mal, nunca maleitas;
Os ciúmes são suspeitas,
0 chorar sempre faz ranho.
Não ha pastor sem rebanho ,
Nem boticas sem receitas.

Pelo mar andão navios,


Andão pela terra carros,
lia pelo inverno calarros
Que exigem pannos ou fios.
Os içmãos dos pais são lios,
O fogo Indo consome,
Quem tem fastio não come.
Toda a criança tem medo;
Mulher não guarda segredo,
Tudo no mundo tem nome.

a
3
Pega a criada 11a róca,
A costureira na agnllia.
Os rapazes fazem bulha,
O furão entra na lóca.
Os cientes nascem na boca,
As piteiras nos vallados;
Os servos fazem recados ,
Os oleiros fazem potes,
Os alfaiates capotes,
Amantes fazem agrados.

Não lia róca sem ler sizo,


Nem ha camisa sem punhos;
iodo o dinheiro tem cunhos,
aga a recolhida o pizo.
0 necessário é precito ,
Nao lalta quem sempre vem;
Mendigo não tem Tintem,
1 udo que não haYescusa ; -
O antigo uão sc usa,
A moda parece bem.

Os alegretes dão flôres,


As hortas dão hortaliça.
As rolhas são dc cortiça ,
As camas tem cobertores.
Os caplivos tem senhores,
Quem tem bem dinheiro é rico;
lambem o macaco 6 mico;
O boi c vacca no açougue;
Quem não quer perder não jogue,
A agulha Icin fundo c bico.
Faz bolas o sapateiro,
Faz o pasteleiro empadas ,
Os marujos dão facadas ,
Os ladrões furláo dinheiro.
Faz doces o confeiteiro ,
O homem já velho é jarra;
Os navios tem amarra,
Q escravo leva surra ,
Toca o mochila bandurra.
Canta com calma a cigarra.

Faz-se do trigo a farinha,


Do porco se faz presunto ;
Não ha sermão sem assumpto,
O medo ti quem guarda a vinha.
Não ha ôvo sem gallinha
Nem ha gálio sem poleiro;
Com saúde o pé ligeiro
De vagar se vai ao longe;
Nunca faz a barba o monge,
Nada se faz sem dinheiro.

As aranhas fazem teias ,


As abelhas cCra c mel,
Pòein-se as leiras 110 papel,
No sobrescriplo as obreias.
Corre o sangue pelas veias,
E o cão traz da perdiz ;
Corre agoa no chafariz
15 o postilhão corre a posta,
Pelo mar corre a lagosta,
Dá sentenças o juiz.
5
L"m anno leni doze mezes,
K vinte e quatro horas o dia ;
Não ha sobrinha sem lia
Nem lia ouro sem ler fezes.
Canta o rouxinol âs vezes
Que não lem no eanlo igna];
O estorninho e o pardal
Fogem com medo ao milhano;
Somente uma vez no anno
Vem a fesla do natal.

No bahú se melle a roupa,


Também se metle em gaveta;
A mulata não é preta,
l^o caldo sc faz a sôpa'.
0 faminto a tudo lopa;
1 omão-se banhos em tinas,
1'õcm-se annuneios nas esquinas;
Os grelos vendem-se aos molhos ,
Não lia meninas sem olhos
Nem lia olhos sem meninas.

, Auda a fretes o Gallego


E este 110 pó tem callo ,
Não ha alface sem lallo
Nem carpinteiro sem prego.
No veráõ gira o morcego ,
Casacas tem entrclellas;
Os pobres vão com tigéllas
Ás portarias jantar,
E os cães quando entrão no mar
^ ão ensiaar-se com polias. •
6
A pala do boi tem casco.
Um ôvo Icm gema c ciara;
Não lia faacraei.ro sem Tara
Nem taverna sem ter frasco.
Enforca gente o carrasco ,
Arroi doce quer canella;
Quem põe castiçal põe Telia,
Melro come coração,
A noite de São João
A cara deiva amarella.

Quem morre não torna cá ,


Quem nasce, nasce cliorando;
Muita gente anda rosnando
Do pago que amor llie dá.
Cantão dó ré mi súl lú
No seminário os meninos.
Querem mama os pequeninos,
A abobra carneira é branca;
A aldraba condiz com a tranca.
Nas borlas nascem pepinos.

Pairar muito é das mulheres,


Castanheiros dão ouriços;
Quem tem sangue faz chouriços,
Quem tem vagar faz colheres.
Sobre teres ou haveres
Movem-se muitas demandas;
Os ofliciaes tem bandas,
O soldado vai á guerra.
Enterros fóra da terra
Costumão ir n umas andas.
J)E

ADÁGIOS, PROVÉRBIOS, RMOS, ETC.

E IDIOTISMOS
DA LINGOA POKTUGUEZA.

•I mi btido.com obra, com trabalho, &c. (Como se


estivesse empachado com obra ali á barba.)
Abarcar a lua com uma joeira.
Abbade donde canta, d'ahi jaula.
Abelha meeira. (Mulher muito astuta c esperta.)
Segredo da abelha. (Objecto mystcnoso; pouco essen-
cial da questão.)
Quanto chapa a abelha se torna mel,
E quanto a aranha, peçonha e fel.
Miguel Miguel, não tens abelhas e vendes mel!
A uno de abelhas, anno de ovelhas.
Abocanhar nalgucm. (Maldizer, criticar outrem.)
Verdades do primçiro d'Abril. (Pélas.)
No principio ou no fim, Abril sôc ser ruim.
8 ABROLHOS — AGOA
Quem abrolhos semeia espinhos colhe.
No soffrer e abster, está todo o vencer.
Quem conta um conto,sempre lhe accrescenta um ponto»
Para os entendidos, bastão acenos.
Ao madeiro sahe a aclia.
Pois de tal acha tal racha.
Dar-se por achado d'alguma cousa. (Fazer reparo,
attenção nella.)
Antes só, ou, mais vai só, que mal acompanhado.
No açougue quem mal falia mal ouve.
Bater as adargas a alguém. (Bravatear, desafiar. )
Com afagos a mula c a mulher,
Sempre fazem o que o homem quer.
A demasiada a/feição céga a razão.
\fiar a lingoa. (Dispôr-se a dizer mal d'alguem.)
Quem nada mais fóra , mais fundo se afoga.
Afogar-se cm pouca agoa. (Perturbar-se por leve mo-
tivo, espantar-se com a sombra duma mosca. )
Julga ter feito grande Africa. (Grande façanha.)
Sletter uma lança em Africa. (Conseguir grande difti-
culdadc. Ganhar grande vantagem.)
\gca o dá, agoa o leva, ou
Dinheiros de sachrislão,
Cantando vem , cantando vão.
AGOA — AGOSTO 9
Agoa e pão, comida dc cão.
Agoa molle cm pçdra dura
Tanto bale até qtie a fura.
^eio-lhe agoa á boca vendo cerla cousa. (Anhelou-a ,
»petcceu-a com Epicurismo, com sabor sensual e pre-
cursor. )
Isso leva, ou, traz agoa no bico. (Encerra mais do que
inoslra alguma má tenção, alguma cousa nociva.)
Nem Ioda a agoa do mar ) ( Diz-se de grande erro
Pôde esta nódoa tirar. j ou crime.)
«Orta sem agoa, casa sem telhado.
Gato escaldado dflffoa f,,a lcm ^
Com agoa passada não móe o moinho.
Nunca digas = Desta agoa não beberei,
" este pão não comerei.
."eiuiada a casa, acudir com a agoa.
Sem dizer agoa vai! (Sem dar aviso prévio. )
Medico ou poeta d«goa doce. ( De pouco talento.)
Estar como peixe n'agoa, J (Satisfeito, feliz - „o
Ou como ferro na fragoa. ) scu elemento'.)
Agoa benta da corte. (Caricias fingidas, promessas
illusonas.) '
Pescar cm agoa, larvas. (Prevalccer-sc da desgraça
, ^ d°
com lesão.)
Cllau,idíd
e geral, para especular, ganhar

Quem não debulhar em Agosto, debulha com mau rosto.


Bom é o anuo quando cm Agosto,
Sobre a castanha se chupa môsto.
10 ÁGUIAS — ALCANÇA
As aguias não produzem pombos.
Mais vai uma aguilhoaila que dous arres. (Factos do
que palavras.)
A má visinlia empresta a agulha Icm liulia.
Procurar agulha cui palheiro. (Cousa diflicullosa de
acliar; uma anomalia, um milagre.)
Ser o Aijesus d'alguem. ( Predileclo, querido.)
Ainda que sejas prudente e velho
Nunca desprezes um bom conselho. *
/linda que vistas a mona de seda , mona se quèda.
Ainda bem. (Felizmente.) Ainda mal. (Infelizmente.)
A verdade, ainda que amarga , se traga.
Ala gostado D» rão. (Avermelhado.)
Quem 6 valente c sua força esquece ,
lióca na cintura ou albarda merece.
Dar vida e alma e não a albarda. (Sacrificar tudo, me-
nos a fazenda, as riquezas.)
Não dar já por si nem pela albarda. (Não dar lento
a nada, estar desatinado.)
Albardc-se o burro à vontade do douo. (Seguir á risca
seus desejos, suas ordens.)
Carrasco cm matar, alcaide em prender,
Ladrão cm furtar, ganhão dc comer.
Fogio do alcaide, topou com o meirinho, ou
Fugio de Scyla, cahio em Cbaiybdis.
Sempre alcança quem não causa, ou
ALCANÇA — ALMOTOLIA 11
Quem espera sempre alcança.
Dar alças. (Além do promellido, gratificarão.)
Alem ou áquem, ollia sempre com quem.
Ser como a folha do ilemo. (Inconstante.)

JVZZZ?*
Km casa de Mouro não fallcs algaravia. (Lingoagem
"I a 1"° elle possa entender.)

o"0"1 ldu
Quem
al ,e!o TC3,C
'mal do seu,- mal
praça o despe
calará o alheio.
1
"Ho-llie em alhos, responde-me em bugalhos I
0
que mendiga tem fome,
. E o que arrota alhos come.
Alma e corpo deu ao Demo.
Ainda que negro é,
Alma tein , honra c fé.
Sua alma, sua pallna. (Nào fe ^^#
>' 'cm, seja qual fôr 0 resultado d ellas.)
Os sentimentos da alma
'i raz elle escriplos na palma.
l;0"sellio sem remedio, corpo sem alma.
" T,da c alm" por alguém.

°u d° Aiumtéi
o uucturo d azeite, vinagre, &c.) °- (
GMfrc
^^
12 ALPARCA — AMIGO
Cobrir a alparca com a purpura. (Encubrir lorpeias,
revestindo-sc de honrosas insígnias.)
Saber quantos pães dá um alqueire. (Calcular bem com
economia. Ensinar a alguém as regras do bem tiver.)
Com os ollios em alvo. (Movê-los de sorle que se veja
o branco «Telles, como acontece aos atacados de epilepsia.)
Quem o feio ama, bonito llie parece.
Quem ama mulher casada
Anda com a vida emprestada.
Velho amador, inverno com flôr.
Casarás? — amansarás c le arrependerás.
Estar a duas amarras. (Seguro, ter mais de um recurso.
Quem ameaça e não dá, mfido ha.
Amigo sò de chapéo, ou de = beijo-vo-las mãos. (Com
quem só se guarda cortesia.)
Amigo, amigo, de longe le trouxe um figo, assim que le
vi, comio-o. (Dcnola inconstância , volubilidade. )
Amigo disfarçado, inimigo dobrado.
Amigo de lodos e de nenhum , é tudo um.
Ao amigo o segredo diz ,
Ter-le-ha prêso pelo nariz.
Longe do amigo.
Que come o seu só , e o meu comigo !
Não ha melhor espelho, que amigo velho.
No jogo se perde o amigo e se ganha o inimigo.
Renega do amigo, que por li foge do perigo. <
AMIGOS — ANDA 13
Amigot, amigos, negócios ã parle. (Significa que cm
raateria de negocio se põe de parle a amisade.)
Pelos amigos novos se esquecem os velhos.
Na adversidade ó que se conhecem os amigos. ;>
Km lempo de figos não lia amigos. (Na abundancia.)
Muilos são os amigos e poucos os escolhidos.
Mau é ler moço, mas peior é ler amo.
Emquanlo dorme o amo folgão os fâmulos.
Manda o amo ao moço e ao galo,
!'■ esle só manda ao ralo,

f Vlui"° nr'° fIucrcra parceiro.


■ ° ,òsse- > «u dono descobrem.
Mais vale pão c agoa com amor,
^ Que bom vinho e gallinha com dôr.
'a íegue outro, como um amor faz esquecer oulro.
Preços d enfeirar e amores,
Os primeiros sempre os melhores.
O amor e a fé nas obras se vô.
Caça, pesca, guerra c amores,
Por um prazer dão mil dores.
' u iLs assobios. (Enlre ridiculo c de diminuta estatura.)
f>eve seguir o dar, nas ancas do promeller. (Cumprir
d
c perto sem falllar.)
Anda o carro adiante dos bois. (Tudo transtornado.)
Quem não anda por frio e por sol,
Nao tem saúde, nem fji seu prol.
- uem com o Demo anila com elle acaba.
ANDA — ANTIGUIDADE
Quem anda em demanda.
Com o Diabo anda.
Andar com furão morto á caça. (Traslc inntil.)
Andar para traz como caranguejo.
Andava na egoa e perguntava por cila !
Dize-me com quem andas, dir-tc-hei que manhas
Ande eu farlo c quente, c ria-sc a gente.
Uma andorinha não faz veràõ.
Vão-sc os anncis c fiquem os dêdos.
Anncl do pescador. (Sinete do Papa.}
Quem fc veste de ruim panno,
Veste-se duas vezes 110 anno.
Remenda o panno, durar-le-lin outro anno.
Antes relho com dinheiro , que moço sem seitil.
Antes se perca a lãa , qne a ovelha.
Antes minha face de fome amarella,
Do que com labéo ou vergonha n'ella.
Homem honrado, antes morto que injuriado.
Homem de um só parecer,
Duma só côr , doma só fé,
T)'antes quebrar (pie torcer;
Elie tudo pôde ser
Mas de côrfc homem não é.
Antigo como a Sé de Braga.
Quando a velha antiguidade
Em certo convento entrou.
An porteiro disse logo :
« Snlvc-o Deos, meu tris-avô. »
APARTADA — ARREGANHEI 15
Filha casada, filha apartada, ou
Quem casa, quer casa.
Num a/,se. (Vej. Dito c feito.)
Jqui torce a porca o rabo. (Objecto de interpretação
diflicultosa. Cousa difficil de superar.)
Jqui-dEl-Reil (Grito de pessoa assaltada por malfeitor,
para que lhe acudáo; quer dizer z= venlião aqui da parte do
Re
'> ou uEl-Rei, &c.)

NSo lia terra tão bravia


Que resista ao atador,
Nem homem q„e por ioleima
Dê a pclle pra tambor.
0 bom ani
P >° «rca se vende.
Na orca do avarento, o Diabo jaz dentro.
slrde o verde pelo sêcco. (O justo pelo peccador.
Fazer de um arguelro um cavalleiro. (Exagerar)
0 laco que armou, no cachaço o gramou.
Como a bolsa já lhe ia arquejando. < Ficando leve, a sêcco.:
Arrear bandeiras. (Abaixa-las. Ceder, dar-sc por ven-
1
eido.)
1 emporãa é a castanha
uc
em Agosto arreganha.
*'•rcganheUhe os dentes. (Amcacei-o, fallei lhe sem
1
ebuço.)
■II ■ « ■ini ji i li mBmP ,
16 ARRIBAÇÃO — ASSIM
Aves d'arribação. (As que cmigrão ou cliegáo a certos
silios em épocas fixas. Peixes de—, os que acodem em
cardumes a certas paragens. Gente dc—, a que cbega junta,
a fim de buscar modo de ganhar a vida, &c.)
Saliio do lôdo, cahio no arroio.
Arrufos de namorados, são amores dobrados.
Quem a boa arvore se cbega , boa sombra o cobre.
Correr arvore sêcca, ou, á —. (Sem véla , desamparado,
sem governo , ir corrido com o vento. )
Mulher, venlo c ventura, asinha se muda. (Depressa,
brevemente.)
Asno morto , &c. (Vej. Burro morto, cevada ao rabo.)
.Asno que tem fome, a mangedoura come. *1
Asno de muitos, lobos o comem.
Mais vai ruim asno, que asno ser.
Asno que entra em defeza alheia,
Carregará pau cm vez daveia.
Sôpa dc mel não se faz para a boca do asno.
Quer queira, quer não queira,
O meu asno ha dc ir á feira.
.(Os rifáos que se não acharem cm Asno , vej. cm Burro.)

eseaço é, quem de palavras tem dó.


Assai és rico de bens
Se te bastão os que tens.

Assim como o abbade cantar,


Deve o acotylo acompanhar.

I
tmin — aviiiWUUUIJ 17
Como me tangerem assim bailarei.
Agora assobiem-llie ás bolas. (Já é tarde, u>allog.rou-se
o negocio , perdeu-se a occasi&o.)
Poeta d assobio. (Sem engenho ou estro.)
Tomar alguém com assobio. ( Com promessas aerias ,
como assobio, que o <cnlo leva.)
Quem tem boca, não diga a outro assopra.
0 homem é fogo, a mulher estopa, «m o Diabo assopra.
Quem bem ufa, bem desata.
N
4o ala, nem desata. (Nada explica ou decide.)
Quem caminha por alalltos
Nunca sabe de sobresaltos.
Até ao lavar dos cestos é vindima.
Faier boas ou mis ausências. (Fallar bem ou mal d al-
guém na ausência.)
Todo o ausente accusado, sempre com culpa é achado.
Do faminto avarento o mundo ri,
Pois nada do que ajunta i para si.
O avarento não tem parente, nem amigo.
0 somitigo avarento
Por um real perde um ceaío.
Sahir da iií/ifa. (Faltar ao ajustado.)
Fazer avenra com o tempo. (Accommodar-se aos succcs-
508 ai
• ai'«s dclle, conlemporisar.)
Quem nunca se aventurou,
Nunca perdeu nem ganhou.
2
'13' STE55U — rriuia
Espantalho scin avesso, nem direito. (Homem que só
faz vulto; que não tem préstimo, nem dá razão do que
diz ou faz.)
Não ter avésso, nem direito. (Informe, sem geito.)
Azeite, vinho e amigo,
Prefere o mais antigo.
F. bebe azeite. (É padre-mestre, esperto , ladino, &c.)
Bilha de leite por bilha d'azeite. (Dar tres para receber
seis.)
A verdade e o azeite sempre boião acima d'agoa.
Apagar o fogo com azeite. (Provocar o irado, augmen-
tar a discórdia.)
A azeitona é como a fortuna;
Ás vezes muita, e outras nenhuma.
/
Azemola de pipa e quarto. (Asno da'quinta essencia,
boçal.)
É uni azougue. (Pessoa esperta , trêfega.)

Musica com baba e latim com barba. (Começar a musica


muito criança (pois é sciencia material) para bem a saber,
e latim já com raciocinio (por ser trabalho mental.)
Baba-se pela mulher, pelo Cavallo, &c. (Estar em es-
tremo satisfeito, enlevado nesses objectos, como se tivesse
a boca aberta, a ponto de deiíar caliir a baba sem o sentir.)
Pedir, tirar bacia. (Pedir esmola pelas ruas.)

J
BÁCORO — BARATO 19
A mau bácoro boa lande. (Pérolas a porcos.)
Quando os porcos bailão, advinlião chuva. (Diz-se dos
lapazes, cujo desassocêgo ou ruido , faz juz à palmatória,
castigo, &c.)
Não cabe nas bainhas. (Tem demasiada presumpção;
não cabe em si. )
Baixo-Imperio. (Época da decadencia do Império Ro-
mano. )
Dar na balda a alguém. (Descobrir-lhe ou perceber-lhe
raco o defeito habitual. Levar pela - , pelo defeito ,
> c. Em jogos carteados, balda é o naipe que não
emos, ou Ue, que ^ ^ ^
Mda, isto é, joguei naipe que não tinha.)
Baldo ao naipe. (Quc nâo lem carU do naipe cm que
joga. Sem vintém , a tinir, pobre como Lazaro.)
Almoçou, ou, jantou baleia ou aço. (Diz-se de quem
gasta muito tempo na comida.)
Vir, trazer á balha. (Metter á cara, fazer figurar alguém
como pessoa que entra a fazer a sua parte n alguma cir-
cunstancia ou representação.)
Em casa de ladrão não lembrar baraço.
Zangado como uma barata. (Irritado, enfadado.)
honra
" P°r Unheiro. (Trocai-., avilt.l-a por
£ara, com
0 o um ovo por um real.
■ii
20 BARATO — BARRO
Se a cscondidos vendilhões
Compras carneiro barato,
Pagaste carneiro c paio ;
Pois qnando poupar quizeste
Cabra ou bode é que comeste.
O caro 6 barato, e o barato é caro.
Sempre salic caro o barato,
Seippre o lôlo paga o pato.
Barba de tres côres, barba de traidores.
Barba com dinheiro , honra ao cavalheiro.
Dia de barba, semana de porco, anno de casado. (Época
trabalhosa, enfadonha.)
Na barba do néscio alvar
É que se aprende a rapar.
Comer, viver, ou chuchar á custa da barba longa. (Á
sombra da autoridade, antigamente denotada pela longa
barba dos magistrados, fidalgos, &c., isto <!, á custa ou
sombra d elles.)
Bem sabe o galo cujas barbas lambe.
Quando vires arder as barbas do teu visinho, deita logo
as tuas de môllio.
Barco parado não ganha frete.
Allo para váo, baixo para barco, ruim para nado.
A trancos c barrancos. (Vencendo obstáculos, dificul-
dades.)
Palavras não enchem barriga.
Deitar ou lançar barro á parede. (Comprovar, allegar.
Fazer diligencia por alcançar.)
Chuchou um batibarba de patente. (Rcprchensão aSpera,
eornmaça, reprelicnsão, sabonete.)
Cresce o ouro bem batido,
Como a mulher com bom marido.
Se não bebe na hrverna , f„lga (por theoria.)
Beber os ventos por alguém. (DefendC-l-o com fervor,
fazer por elle os maiores excessos.)
Desejar beber o sangue a alguém. (Ter-lhe odio impla-
cável.)
Depois de comer e beber
Cada um dá o seu parecer.
Com villjo de behetria, não porfieis. (Com plebco so-
berbo , ou rústico mal crcado.)
Morder os beiços de raiva. (Esbravejar cm silencio.)
Dar a alguém mel pelos beiços. (Engodar, querer per-
suadir com meios aduladores.)
Bcltscou-me o desejo. (Aguçou-me o appelite, incitou-mc.)

Bem ama quem nunca se esquece.


Bem sabe mandar, quem soube obedecer.
Bem toucada não ha mulher feia.
D onde esperança o homem- não tem.
Ás vetes lhe chega o bem.
Bem conhece o Demo enjo fr a galho rompe. (Trapo,
• -andrajo.)
Não ha bem que sempre dure ,
Nem mal que sempre ature.
Nunca se conliecc o bem senão depois de perdido.
Quem bem está e mal escolhe, por mal que lhe venha
não se anoje.
Onde bem me vai, tenho mãi e pai, ou
É minha palria, onde me dou bem.
Chega-se o bem para o bem,
E o mal p'ra quem o tem.
Deita-te a enfermar, saberás quem te quer bem ou mal,
Ha males que vem por bem
E bens que por mal vem.
Só dá quem tem e quem quer bem.
Quem me quer bem
Diz-me o que sabe,
E dá -me o que tem. „
F. benzia-se de si mesmo. (Tremia, tinha horror a si
proprio.)
O que o berço dá, só a cóva o tira.
Artes de berlii/ues e berloques. (Peloticas, artimanhas.)
Andar na berra. (Na fama, na voga.)
Vir a bespa ao nariz d'a]gucm , ou senlil-a no nariz. (Ir-
ritar-se, cncolcrizar-se.)
Homem grande, besta de pau. (Toma-sc geralmente este
rifão como significando — homem corpulento, é fraco.
Outrora dizia-sc — A homem grande basla de pau signi-
ficando justamente o contrario, que é : homem valente ou
corpulento não carece dc pau para debcllar outro qualquer.
Julgo esta interpretação mais sensata que a primeira.)

J
Eslas razões não lhe qnadrão no bestunto. (Nos casco?,
mioleira.)

Bibliotheca, ou templo de Bacco. (AdC-ga.)

Bicho do mato. (Homem bruto, insociável.)


Fulano ú pássaro de bico amarello. (Sagaz, esperto , ma-
cliucho, industrioso.)
Calar o bico. (Guardar silencio.)
Metter alguma cousa no bico dalguem. (Communicar-
lhe segredo, abitrar-lho, alcovitar-lho.)
s
'° ti az agoa no bico. (Cousa que encerra mais do qne
mostra , pertenção occulta. )
Eslar com o bico. (Com a mona, bêbado.)
^uando fores bigorna solTre, e quando malho, malha.
Boa ventura, só com outra dura.
Cobia boa lama, faz o que qnizcres, ou
Ganha fama, deita-te a dormir.
V. M.c0 fez-la, ou fel-a boa. (Subcntende-se cousa,
acção, &c., reprehensivel, nociva, prejudicial a ter-
ceiro , &c.)
Essa 6 boa! (Exclamação admirativa, irónica e repro-
"Uva ; v. g.: Em boas garras vim eu cahirl Em boas mãos
te me/leste.' Boa conducla 1)
Mulher virtuosa e boa
Parto é que muilo soa.
Boca de mel, coração de fel.
 boca da
do inverno, &c. (No comêço.)
Ah boca que tal disseste ! (Interjeição que denota arre-
pendimento de palavra ou termo proferido.)
Pôr a boca cm alguém. (MaJ dizer de, criticar.)
Louvor em boca própria li vitupério. (Elogiar-se a si £
improprio c vergonhoso.)
Pela boca morre o peixe.
Da mão á boca, se perde a sôpa. (Pôde falhar a colhér.)
Quem tem boca vai a Roma. (Perguntando, indagan-
do, &c.)
Fazer boca. (Preparar, aguçar o appetilc ou o paladar;
v. g.: com azeitonas , ou qualquer excitante, para beber. )
A pedir por boca. (Ao desejo dalguem.)
Fazer a boca doce. (Lisongear com mimos, lison jas, &c.)
Ter boa boca, (Gonlentar-sc com qualquer alimento;
estar por tudo, mostrar-se satisfeito.)
Andar nas bocas do mundo. (Ser mal afamado. J
F. sustenta cinco bocas. (Cinco pessoas.)
F. pôde lavar-sc com uma bochecha d'agoa. (Indica que
a pessoa ou cousa é muito limpa , e nada lem que apurar.)
A quem se nio roga não vá á boda, ou
Á boda ou baptisado ,
Não vás sem ser convidado.
Nem boda sem canto, nem morte sem pranto.
Bofe. (Com lisura, com candura; é contracção de á boa fc.)
Ter maus bofes. (Rancoroso, vingativo.)'
Ao boi pelo corno, ao homem pela palavra.
Pé de boi. (Homem prudente, discreto c firme,>
BOI — BOM 25
"c pequeno verás o boi que terás.-
Quem seu carro unta, seus bois ajuda.
Ir ou andar em bolandas. (A toda a pressa, voando. )
1". é um bolas. (Sem juizo, sem capacidade; um nin-
guém.)
Atrellar outra bolina. (Seguir outro rumo, mudar de
vida , trocar farda por farragoulo.)
Abre a tua bolsa, abrirei a minha boca.
Quem tiver doença, bolsa aberta c paciência.
Quem quer a moça, ande do pé e da Bolsa.
Horn é um pão c mais dous pedaços.
Bom saber é o calar, té ser tempo cie faltar, ou
Prata 6 o bom fadar,
Ouro é o bom calar.
" Por s' se giba, o inan por si se acaba.
O bom tiiilio escusa pregão,
O bom peso faz- \einler o pão.
Não c bom o môsto, colhido em Agosto. (Vej. Môslo.)
Do ruim ninho, sahe ás vozes bom passarinho.
Quem bom e mau não pôde soffrer,
A grande honra não pôde vir ter.
Ao bom pagador não dóe o penhor.
' m dia bom, mette-o em casa. (Approveita-o.)
Quem c'bom de contentar.
Raro tem que lastimar.
A scicneia é loucura sc o bom senso a não enra.
Ao bom tudo darás,
• E do mau te afastarás.
26 BOM —
Poucas palavras a bom entendedor.
Com mil bombas 1 (Com mil demonios! inlcrj.)
Passar a vida em bonança. (Prosperamente.)
Coçar na borbulha. (Tocar na mazella d'alguem, alludir
a cousa que lhe desagrada. )
Mau 6 o romeiro que diz mal do seu bordão.
Mudança de tempos, bordão dintrigantes.
Chuchar um jantar , um titulo, uma condecoração, &c.,
de borla. (De graça, gratuitamente; corresponde ao de
meia-cara Brasileiro.)
Ilorracha vasia não tira seccuras.
Quando ha sfide, não é tacha
Dar um beijo na borracha.
Gata borralheira. (Mulher caseira, que sempre lida na
cozinha, que anda mascarrada, suja, &c.)
Deitar um borrão na matéria. (Commetter erro grave,
deilal-a a perder. )
Lançar, deixar cahir um borrão ou um pingo dazeitc
nas paginas da sua historia. (Diz-se jocosamente de uma
falta, um erro, que qualquer commctta.)
Borrar papel. (Escrever muito, á pressa e mal.)
Assobiar ás bolas. (Frustrar algueui, baldar-lhe as espe-
ranças. )
Conversando com os meus botões. (Examinando , pon-
derando o negocio coinmigo mesmo, reflectindo sobre o
pró e o contra , &c.)

J
BRAÇADAS — BRINCO 27
O mal entra ás braçadas e sahe ás polegadas.
Ser o braço direito dalguem. (Arrimo, protector.)
Ceia, almoço, comida, &c., de braço forte. (De carnes,
de salgados , de vinhos, de garfo, &c.)
Não dar o braço a torcer. (Não confessar o erro ou fra-
queza ; não se deixar violentar ou vencer.)
Em braços com alguém. (Lutando com ellc.)
Quando os enfermos bradão, os médicos ganhão.
Dar brado. (Fazer grande sensação, grangear celebri-
dade. )
f
»do o que é branco não é farinha.
U c n lc ro
" ' ' > que é manso, j (Assim diz quem o não
«ao o quero fazer bravo. j quCr emprestar. )

Braza cruel acalenta no seio


Quem se regozija coinfortunio alheio.
Chegar a braza á sua sardinha. (Trabalhar para si. )
Deitar mais uma sardinha na braza. (Accresccntar mais
um pralo.)
Braza, debaixo da cinza. (Maldade cncuberta; engano
solapado.)
Quem se queima, pega em brazas.
I. eslá levado da breca. (De mau humor, zangado.)
Andar ao brejo. (A tuna, bregeirando , gaiatando.)
Brinco da fortuna, do mundo. (Ludibrio, victima do, Scc.)
Essa dama está hoje um brinco. (Enfeitada com gosto ,
linda, louçan, umapimpona.)
Abaler os brios a alguém. (Humilhal-oJ
Peito de bronze. (Firme, constante. )
Os bronzes. ( Peças darlilheria. )
Dar no seu, ou no próprio broquel. (Fazer mal a si
mesmo.)'
Aturar, gramar a bucha. (Aturar pessoa muito impor-
tuna. Soffrer um prejuízo, umembace, &c.)
Tirar alguma cousa do bucho d algncm. (Arrancar-lhc
segredo, fazêl-o fallar o que sabe.)
Dizer a buena dicha. (Hesp. Predizer a fortuna, segundo
as linhas da mão , cartas de jogar, ou meios astrologicos,
como fazem os Ciganos.)
Mandar bugiar alguém. (Despedil-o com despreso, man-
dál-o á tabúa, à fava , &c. Vcj. fabúa.)
O buraco desafia o ladrão.
Depressa se apanha o rato,
Que só conhece um buraco.
lapar buracos. (Deitar remendos ou palliar mal , con-
certar mal, v. g.: F. tomou de empréstimo com usura a
somma de para pagar uma letra rjue se lho vencia.—
O vice-rei da índia anda a tapar buracos da administração
passada, &c.) .

Os males dos meus burrinlios )



Me fizerao
r , .
alveitar. í (Experiente.)

Burro velho não aprende lingoa.


BURRO — CABEÇA 29
Burro. (Epithelo distkielivo injurioso, que os Consti-
íucionaes davão cm Portugal aos parlidarios do Infante
D. Miguel, e que estes por seu luruo alcunhavão de ma-
Miados, libevtiiios e negros.)
Burro morto, cerada ao rabo. (Darsoceorro ou remé-
dio quando já não pôde aproveitar.)
Ensaboar os queixos do burro. (Perda do sabão.)
F. lia de dar bom burro ao dizimo! (Prestar para nada.)
A honra é a bússola do homem de bem.

t:

Ouço como uma cabaça.


Esse modo de proceder vos ha de dar na cabeça. (Pre
judicará.)
I anto faz dar na cabeça, j (Dii-se quando só se mu-
Como na cabeça lhe dar. > da o nome á cousa.)
Quebra-lhe a cabeça, c unla-lbe o casco !
Tal cabeça, tal sizo. (Ou, o filho do asno £ burro.)
Cada cabeça, cada juizo. (Cada opinião.)
Isso te dará na cabeça. (Te custará caro, te fará arre-
pender. )
Quem não tem cabeça, não ha mister carapuça.
Pôr as mãos na cabfça. (Mostrar-se espantado e indig-
nado. )
Não ter pés nem cabeça. (Absurdo , desparatado.)
Ensaboar a cabeça do burro. (Vej. Queixos ou Burro.)
Qocm cospe para o ar, na cabeça lhe cabe.
iiii —' *
30 C AliliCIÒlIi A — CA CA II KJ Ali
Em meza redonda não lia cabeceira.
Fazer cabedal de, ou em alguém. (CouCar, lazer caso.)
Doe-llie o cabello. (Receia, leme algum damno.)
Pelos cabellos. (Forçadamente, contra vontade, com
viokncia.)
Não caber em si, ou, na pclle, de contente. (Trasbor-
dar de satisfação, de jubilo.)
Dar cabo dalgaem. (Destruir, arruinar.)
Lêr, ir, &c., de cabo a rabo. (Do principio até o tim.)
Ir ás do cabo. (Não admittir mais razões ou dilação,
ameaçar em termos ásperos.)
A cabra vai pela vinha, e por onde a mãi a filha.
Quem come cabritos e cabras não tem ,
D'algures lhe vem.
Queijo de um inez, cabrito de tres.
Cábula, epitheto novo e joco-serio, com que em Coim-
bra se alcunha os estudantes calacciros, e que não compa-
recem regularmente ás aulas, porém que são approvados
no Cm do anuo.
Caça, pesca, guerra e amores.
Por um prazer muitas dôres.
Sede de caçador, fome de pescador.
Mentira de caçador, sempre foi a maior.
Cacarejar e não pôr ôvo. (Annuuciar cousa grande e
não a produzir.)

i
V..K.U1.U1JU — CALCANHARES 31
O uso do cachimbo faz a boca torta , ou
O costume é uma segunda natureza.

E sujeito de cachimonia bem assente. (De boa cabeça,


de juizo, de sagacidade.)

Cada terra com seu uso,


Cada roca com seu fuso.
Cada um sente o frio , como anda vestido.
Cada um chega a brasa à sua sardinha. (Pugna por si.)
Cada um colhe como semeia.
Cada um cm sua casa é Rei.
Cada qual com seu igual.
Cada qual sente o seu mal.
Cada um julga os outros por si.
Fallar de cadeira. (A fundo , como professor.)
Quem mais sobe, de mais alto cáe.
Quem com cães se deita , com pulgas se levanta , ou
Quem se deita com meninos amanhece mijado.
Está como cahido do Céo, ou , parece chegado do outro
mundo! (Está maravilhado, nada entende, tudo o espanta.)
Caluo-lhe a sopa no mel. (Foi feliz, teve maior fortuna
do que esperava.)

Negocio, palavra de pedra e cal. (Segurissimo.)


Estar no coifado \elho. (Decadente de forças, idoso, &c.)
Roer os calcanhares a alguém. (Fallar mal dcllo, na
sua ausência.)
Mostrar os calcanhares a alguém. ( ír-ae, voltar o poste-
rior. )
Dar calças, ou estupada cm alguém. (Maçada, impor-
tunação. )
Caldeira dc Pedro Bolellio. (Toma-se pelo Inferno.)
Quem cala, consente.
O parvo calado, por douto é reputado.
Prudente é saber catar
'fé ser tempo dc fallar.
Pregar um callo a alguém. (0 mesmo que calote.)
Ter callo na paciência. (Ter-sc tornado indiffercnle,
não se impacientar, ficar escarmentado.)
Pôr a calva á mostra a alguenj, (Desmascaral-o, de«co-
brir-llie os defeitos, &c.)
Mentira calca. (Sem o menor disfarce. )
Levar a sua cruz, ao Calvario. (Cumprir «eu destino,
preencher os dias de vida trabalhosa 011 mesquinha.)
Subir ao Calvario, (Procurar mortificações.)
Quem má cama faz, n ella se deita.
S'ambicionas boa fama,
Não te pilhe o sol 11a cama.
Fatcr a cnma a alguém. (Dar má fama d'ellc, roer-lhg
na pelle, accusal-o, &c.)
Cambras ou caimbras te dem ! (Imprecação ou praga que
o vulgo grosseiro roga a alguém. Caimbras de per si, 6 o
entorpecimento espasmodico de algum membro, que sc
retràe com força, principalmente nadando, ou fazendo
esforço.)
CAMINHO — CANTA 33
O negocio cslá em caminho. (Vai conforme com a razão,
em regra, em ordem.)
Ignora o caminho que levarão os livros. (Onde furão
parar , a que mãos passarão, &c.)
Em caminho francez, vcnde-sc galo por réz.
Fazer de um caminho dous mandados , ou
Com uma pedrada matar dous coelhos.
Metteo-se cm camisa d'onze Taras. (No que uão sabe.
pelo que não pôde responder, em objecto que llie excede
as forças.)
Palavras campanudas. (Allisonanles e ouças, palavrorio.)
Mandar alguem = Despachar canastras. (0 mesmo que
mandar á tabúa ou bugiar. — Vej. Tabúa.)
Tanto a proposito, como canção dc noivado em cemitério.
A quem tem mulher formosa, Castello na fronteira , vi
nha na carreira , não llie falta canceira.
De noite A candeia, a burra parece donzella , ou
De noite todos os galos são pardos.
Candeia que vai adiante, allumia duas vezes. (Diz-se de
pagamento adiantado.}
Eloquência canina. (Mordaz, maligna.)
Olbos caninos. (Impudicos, sem vergonha.)
As tans afugentão o amor.
A oans honradas, não ha portas fechadas.
Quem canta, seus males espanta.
3
ISS>
U CANTAR —CAIIA^UÇAS
Como o vigário entoar
Deve o choriala canlar.
Alina de cantaro ou de chicbarro. (Çreatura estúpida,
inerte, idiota, 8cc.)
Cão que muito ladra, pouco morde.
Acordar o cão, ou o leSo que está dormindo. (Bolir cm
negocio fatal, infeliz e esquecido ou posto de parle. )
Amor de mulher c festa de cão.
Afagos são sempre p i' á bolça ou p'r á mão, ou
Bole o rabo o cão, não por li, mas pelo leu pão.
Dà-lbe que é cão damnado! ou
A cão mordido, todos chicotcião.
Quem Icm medo, compra um cão.
Capa ou ponche bem escusa
Quem bastante roupa usa.
Capão de oito mezes , para a meza de Pieis.
A capucha. (Occultamcnle, sem estrondo.)
Cara de poucos amigos. (Rosto carrancudo, de catadura
repugnante e feia.)
Maus bofes c boa cara,
Serão bons , mas cousa rara !
Fazer cara. (Resistir. Desapprovar.)
Mettcr a espingarda á cara. (Apontar para desfechar.)
Houicm de duas caras. (Refalsado, disfarçado. )
Andar paralraz como caranguejo.
A carapuça não me serve. (Esse provérbio, recado, re-
moque, &c., não me é applicavel, não é comigo.
Tantas cabeças, quantas carapuças.
Grande carga em fraca besta, , (Porque lhes será
Dizem os corvos, nossa é esta. i fácil de devorar.)
Quem se pica, cardos come.
Caridade bem ordenada, começa por casa.
Faier as caridades a alguém. (Fazer lhe damno, censu-
ral-o , prejudical-o. )
Carne que baste, vinho que farto, e pão que sobre.
Carne sem òsso. (Proveilo , beneficio sem desconto.)
Muita carne do acem,
Não é p'ra quem filhos tem.
Quem lhe comco a carne, rôa-lbe o osso.
Sor unha c carne, ou unha com carne. (Tnlimidade e
confidencia entre duas ou mais pessoas.)
A pescada de Janeiro vai um bom carneiro.
Contos da carouchinha. ( Puerilidades, petas , historietas
que se contão a crianças. Neste sentido figurado, derivase
de caroucha, insecto ou reptil preto com seis pernas c dous
cornos, attributos do anjo 3as trévas, protector das brusas
e feiticeiros, segundo a ciêuça vulgar.)
Comer a dous carrilhos. (Receber proveilo de dous par-
tidos inimigos, servindo a auibos.)
Ter caria branca para fallar, obrar, ítc. (Liberdade
ampla, licença poética.)
Perder por caria de mais. (Por uiuiia loquacidade ou
impaciência.)
Jogar com carias dobradas, (Possuir mais de um recurso )
36 CARTORIO — CASAR
l". lem culpas nocartorio. (Tem matéria para accufação,
está incurso cm delicio, commetteo acção digna de critica.)
Casa onde caibas,
Dinheiro sem conta , c terras que não saibas.
Em uma hora các a casa, c não cada dia.
Em qualquer hora càe a casa. (Pôde acontecer desgraça
inesperada a cada momcnlo.)
Em casa dc ferreiro, espeto de pau.
Queimada a casa, acodir com agoa.
Em casa onde não ha pão,
Todos grilão e ninguém tem razão.
Dc casa do gato, não sabe o rato farto.
Estar como villão cm casa de seu sogro. (A vontade , dc
perna estendida, sem ceremonia.)
Tal estado não se casa com o men génio. (Não se accom
moda , não <S conforme ao meu modo de pensar.)
A quem faz casa ou se casa,
A bolsa lhe fica rasa.
Quem casa, quer casa. (Deve viver só com a mulher. )
A quem casa por amores, maus dias c peiores noites,
1''. quer casaca, (Intenta provocar alguém, para d ahi
se seguirem pancadas, cadeia, e indemuisação, que é a
casaca que l'\ procurava.)
Voltar ou virar a casaca. (Mudar de partido.)
Mal vai á gente casada,
Onde a róca manda á espada.
Ao velho rccem casado, rezar-lbe por finado.
Casar, casar, sôa bem c sabe mal.
Viver c emar, cada qual com seu igual.
CASAR —CAVACO 37
Quem ao longe vai casar.
Ou se engana , ou vai enganar.
A quem Ciliar com velha rica, ruim cama e boa meza.
Por affeição te casaste,
A trabalhos te enlregaste.
Quebrar a cabeça e unlar o casco.
É ligeiro dos cascos, ou tem fraca cachimonia. (Pouco
iuizo , leviano , indiscreto.)
Mctter nos cascos d'alguem. (Persuadir alguma cousa a
pessoa de curta inlelligencia.)
Metter-sc alguma cousa nos cascos ou na mioleira. (En-
casquetarse, persuadir-se firmemente d'ella.)
Remedios caseiros. (Preparados cm casa, simples.)
Cabello em castanha, ou castanha em cabello. (Atado
a traz.)
Castigar velha c espulgar cão,
Duas sandices ou loucuras são.
Quem bem ama bem castiga.
Castigo de dura, uma no cravo, outra na ferradura.
Ser um, ou uma catana. (Maldizente, detractor, critico.)
Cantella c caldo de gallinha, nunca fizerão mal a doente.
Dai-mc m5i cautcllada,
Dar-vos-hei filha honrada.
Dar cavaco. (Dar satisfações a quem zomba ou mofa.
Em sentido contrario, também denota zangar-sc, agastar-
se, &c. É expressão derivada das lascas ou cavacos que se
tirão á madeira, fazendo-lhe assim mós6a como na pessoa
que dà cavaco, ou se formalisa.)
38 CAVALLEIRO — CERA
Barba com dinheiro, lionra o cavalteire.
Fazer de urna pulga ura cavalleiro armado, ou
Fazer de um argueiro um cavalleiro.
Quem compra Cavallo , compra cuidado.
Fugir a unhas de Cavallo. (A Ioda a brida, prensa, &c.)
A cavallo novo, cavalleiro velho.
A cavallo roedor, cabresto curto.
A cavallo dado não ollies o dente. ( O que vem de
graça, é sempre bom e barato.)
O olho do amo engorda o cavallo.
Ao cavallo leve o Diabo,
Que se enfreia peio rabo.
Esperar pelas cebolas do Egypto. (Por cousa imaginaria
ou impossível, pelo Messias dos Judeos.)
Se queres eido engordar ,
Come com fome , bebe de vagar.
Cégo que acha um vintém. (Cousa raríssima , um acaso.)
Louvar-se num cégo, para julgar das côres.
Bordoada ou pancada de cégo. (Com toda a força sem
saber por onde, de levar couro e cabello.)
Em terra de cégos, quem tem um olho é Rei.
Quem espera de mão alheia,
Mal janta e pcior ceia.
A boa ceia antes de tempo se lobriga.
É um Cco aberto. (Vivenda ou companhia mui delei-
tosa, deliciosa, mui feliz.)
F. gasta a sua cera com ruim defunto. (Perde o tempo,
o dinheiro.)
Faliar cerceado. (Bem articulado , apurado. )
A homem farto, as cerejas lhe amargão.
Deixar o certo pelo duvidoso.
Cesteiro qije fai um cesto, faz um cento.
Até o laTar dos cestos 6 vindima.
Cahir debaixo da chaleira. (Ficar dependente ou sujeito
d'algucm.)
Chama-lltc antes que te chamem.
Velhaco chapado, ou descasca. (De capello, perfeito.)
Dar cliasco a alguém. (Burlar, zombar.)
Chia um carro ou fallo eu? (0 mesmo que , silencio !
attenção! oução-ine com respeito !)
Estar chiando. (Ardendo em cólera, esbravejando.)
A mulher que diz, nào tem
Em que cuidar n'uma casa,
E se põe a fazer vasa
Para visinlio cliascote.
De motejo e de dichote,
Ah bom chicote I
Onde deita os seus chinelos velhos? (Arguição que sc
costuma dirigir a quem desfaz de qualquer cousa, ou a
menospreza, sem se acharem estado de a equivaler ou
superal-a em valor ou qualidade.)
Tec chiste. (Encerrar conceito, graça, allusão delicada.)
De chifre. (Apontar e atirar de repente, apenas se le-
vanta a peça de caça.)
Chorar com um ôlho c rir com outro.
0
Fazer chorar o coração. (Inspirar, causar pungente dòr.)
São cartas que fazem chorar um candieiro velho. (Diz-se
quando no jogo as cartas são péssimas.)
Ao arrendar cantar, ao pagar chorar.
Aprende chorando, c rirás ganhando.
Minha màiziuha, que cousa é casar?
Filha , é soffrer, parir e chorar !
Cltorar-se. (Lamentar sua sorte, prantear seus infortn-
nios, para receber auxilio d'oulrcm.)
Moça chorada. (Gorda , fresca, esbelta.)
Chove a cantaros, ou a baldes. (Em torrentes.)
Chove, ou, está chovendo. (Termo maçonico , symbo-
lico, e denota que se acha presente algum profano , isto é,
não maçou, c se não deve então fallar cm nada a respeito
da ordem maçónica.)
Chronica escandalosa. (Discursos maledicos, afrontosos.)
Ficou chupando ou chuchando no dedo. ( Mamado, bur-
lado, com as esperanças mallogradas.)
E parvo de apanhar a cinza e derramar a farinha.
Morte civil. ( Privação dos dirtitos de cidadão, condem-
uaçáo a galés, degredo perpetuo, &c.)
Dar cóca a alguém. (Apoderar-se-lhe do espirito c von-
tade, illudiudo-o com seducções, caricias, &c., fazer-lhe
perder o siso e vontade.)
Ter cócegas na lingoa. (Muita vontade de fallar, de ba-
charelar. )
Náo é maio d'ondc saia coelho.
Vender mel ao cotmeeiro. (Pobre agencia!)
Longe das minhas colmeias semelhante zangão I (Rua
com o parasita da minha casa! passa fóra, malandrim da
minha coutada I)
Brigão as comadres, descobrem-se as verdades
Come, Fulano, come, que todo o teu mal £ fome !
Come, que a lioia de comer ú a fome.
Comer para viver, c não viver para comer.
Comer e coçar, a cousa é começar, ou, está cm começar.
Fazer comer terra a alguém. (Atormentar, vexar.)
K capaz de comer sapos e lagartos. (Destemido. )
Comes e bebes. (Funçanatas, comezanas, papazanas.)
Comida feita , companhia desfeita.
Senão como queremos, passamos como podeaios.
Morto o afilhado, desfeito o compadrado.
Brigão os compadres, descobrem-se as comadres.
Um grão não enche o cclleiro,
Mas ajuda ao companheiro.
Duas aves de rapina, não se guardão companhia.
Quem Diabos compra, Diabos vende.
Quem compra e mente.
Na bolsa o sente.
Vende a esposado, -c compra a enforcado.
Quem desdenha , quer comprar.
Quem te não conhece, te compre 1
Wí CONCHAS — CORAÇAÒ
Metter-se nas conchas. (Retirar-se, uão figurar.)
Saliir das conchas. (Fallar, obrar cora despejo, aquellc
que d'antes era acanhado 011 modesto.) •
Mais amor. ou, mais respeito e menos confiança.
Ilomem apaixonado, não admilte conselho.
O que te disser o espelho ,
Não to dirão em conselho.
0 mal alheio dá conselho.
Até á consummação dos séculos. (Fim do mundo.)
Dar conta de um homem. (Arruinal-o, perdêl-o. Res-
ponder por elle, ou delle ficar responsável.)
Foge de contas com parentes,
E dc dividas com ausentes.
Contas do Porto. (Fazer — , diz-sc da quota ou impor-
tância que cabe a cada um em rancho ou sociedade dc
comes c bebes, c que deve pagar , isto é , contribuir igual
mente para a despesa geral.)
Nunca me dê Deos contenda
Se não só com quem me entenda.
Hospede que se convida, despede-se asinha.
A bôda , nem baptisado
Não vás sem ser convidado.
F. não dá cópia de si. (Mostra, visla. Falia ao promcl-
tido, não obra com lisura e boa fé.)
Contas na mão e o Demo 110 coração.
Fazer das tripas coração, ou, da necessidade virtude.
CORCUNDA — COSTA k3
Corcunda. (Epitheto injurioso com que os Constitucio-
naes cm Portugal, desde 1820, alcunhão os Realistas, ou
amantes do governo absoluto.)
Dar corda a alguém. (Fazer fallar, excitar á maledi
ccncia.)
Oflercccr a alguém uma corda bem ensebada, com laço
corredio. ( Fazer papel de carrasco.)
Em casa de enforcado, não fallcs em corda.
Cordeiro manso , mama sua mài e a alheia.
% / .
Do couro lhe sahiráõ as corrias. (Elie o pagará, o len-
tirá.)
Corretor damores. (Alcoviteiro, mercúrio.)
Cahio na corriola ou na esparrella. (Ficou apanhado,
logrado. )
Sahir do corro. (Desvairar do proposito , divagar.)
Cortar pela honra d alguem. (Menoscabar, dizer mal.)
Corvos a corvos, não sc arrancão os olhos.
Dar, levar cosia de pau. (Sova, bordoadas.)
lr costa arriba. (Subir com difOculdade por caminho
árduo, ou ladeira iugreme.)
Dar á costa. (Encalhar, naufragar. Dar as—, fugir.
Dar as — á fortuna, á desgraça, ceder a ella. Ir nas —
de alguém, apôz, no seguimento, nas ancas. Fazer —
a alguém, dcfcndel-o.)
F. é um traste de cincocnla e cinco coslados. ( Velhacào.
Ás costas. (Vej. á Giba.)
Ter costas n alguem ou n alguma cousa. (Fiar-se nelle
ou n'ella para sua deleza, &c.)
Em quanto o pau vai e vem , folgão as costas. ( Vej. Pau.)
Assentar as costuras A alguém. (Dar-lhe tosa, pancadas.)
De alto cothurno. (Cousa subida, preciosa, d alta laia.)
F. falia pelos cotovellos. (Demasiado, muito.)
Ir ao couro, ás costas, ás ventas, ou
Chegar a roupa ao couro. (Applicar surra, dar sóva.)
Levar, arrancar couro c Cabello. (Á virgaferrêa, sem
contemplação ou misericórdia.}
Deixar alguém cm couro. -(Nú.)
Correr a coxia. (Vogar, andar cm procura dalgucm.
Passar pelas varas , açoutes ou calobrotes.)
Vá cozer a mona, ou, vá cozél-a. (Mandar alguem dor-
mir ou descansar até que lbe passe a bebedeira.)
Crc com cré, lé com lé. (Cada um com quem se lhe
assemelhe , com seu igual, como : cré cré , lé lé. )
Credo. (Entrar como Pilatos no, &c. Vej. Pilatos.)
Todo aquclle que tem criados,
Tem inimigos d alma c do corpo,
Ou malandrins não escusados.
Abater as cristas a alguém. (Rebater-lhe a insolência.)
Jogar ás cristas. (Brigar, ter bulhas.)
CRUZ — CYSNE /t5
Vfir-sc ou acliar-se cnlre a cruz c a caldeirinha. {Em
grande aperto, em critica alleruativa.)
Ainda lhe não vi as cruzes ao dinheiro, ou
Ainda não comi ôvo da sna gallinha. (Diz-se de pessoa
<(ue deve obséquios ou dinheiro, e nada rctribue.)
Claro como um crystal,
Cú de sete lares. (Pessoa andeja, mexeriqueira.)
Essa casa, esse moinho, &c.,está lá no cii dc Judas. (Muilo
longe, muilo dislanle.)
Ainda cheira aos cueiros em que nasceu.
Não compres mula manca cuidando que ha de sarar, nem
cases com mulher má, cuidando que se ha de emendar.
Succulenta mèlgueira são Cum Quibus,
E quem os tem, escolhe ao taboleiro. Fil. Elys.
Metter-se de cunha, ou de gôrra com alguém. (Insi-
nuar-se na sua intimidade. )
Á cunha. (Á força.)
Homem sem cunho nem cruzes. ( Extravagante, iucípli-
eavel em seu procedimento, sem credilo.)
Curar a mordidella do cão com a gadelha do mesmo.
(Diz-se dos que tomão a mona, e suavisão as securas coui
o mesmo licor.)
Quem aconselha, não paga custas.
Culello mau, corta os dedos e não o pau.
Senhor de baraço c culello. (Com jniisdicção até á pena
ultima, que podia mandar enforcar, justiçar, &c.)
Alvo como um cy«nc.
»

Ri-se o Diabo, quando o faminto dá ao farlo.


Sc tc dá o pobre, é para que mais le tome.
Quem dá e sempre não dà,
Tanto perde quanto dá.
Não se me dá que. (Não me importa, tanto me faz que...)
As dadivas applacão os homens e os Deuses.
Ter dados para julgar, ajuizar. (Habilitado a....)
E dd-lhc! (Interjeição que se applica na conversação, á
pessoa que continua a repetir e repisar matéria já sabida e
dcsagradavel.)
Ajuntei como a formiga
P'ra que ninguém mc lançasse
Como á cegarrega , cm rosto,
Que eu em Dezembro dançasse,
Pois que cantara em Agosto.
Dar á sola, ou com tudo á sola. ( Estragar , gastar a sua
fortuna imprudentemente. Quebrar, fallir por sua culpa. )
Dar de mão. (Abandonar, ceder.)
Dar com a lingoa nos dentes. (Descobrir segredo pai-
rando. )
Dar de ôlho. (Fazer signal.)
Dar com sigo cm.... (Ir para , caminhar para.)
Hei de lhe dar que fazer I (Perseguir, fazer resistência,
oppôr difliculdades.)
Promettc sempre com duvida, pois ao dar ninguém tc
ajuda.
UAUfcS — DBtttâSIAS A7
Ter dares e tomares com alguém. (Altercações, dispu-
tas.)
Dar-se bem na Italia , em Portugal, &c. (Viver , passar
bem; gozar saúde , fortuna.)
Dar-se com alguém. (Conviver, ter trato com. )
Sogras e guines de arado debaixo da terra medrão.
Apenas bebeu um dedo de -vinho. ( Porç5o no cópo igual
á grossura de um dêdo.)
Ter dédo para.... (Habilidade, geito.)
Tem dédo para aunei. (K babil, 6 mestre no officio.)
Nem um dédo faz a mão ,
Nem uma andorinha o verão.
Pelo dédo se conhece o gigante, ou
Pela voz se conhece o musico.
Saber o recado, a lição nas pontas dos dédos. (Perfeita-
mente. )
Não são iguacs os dédos da mão.
Quein espora por sapatos do defunto, toda a vida anda
descalso.
Jà São Sebastião cugcita defuntos! (F. acha se já tão
farto ou saciado , que recusa comer mais; está já tão rico,
que regeila mais lucros, &c.)
Deitar em sacco rôlo, ou em cesto furado.
Deixar o certo pelo dutidoso.
Deixar a tuuica pelo burel.
0 demasiado rompe o sacco.
A.a demasias dos poderosos. (Escessos, abusos.)
75 — ULM1L — MUS
Dente de coelho, (Roaz, damninho. Teui seu —, diz-se
de negocio iulrincado, árduo.)
A carne de lobo, dente de cão.
Não lhe mclto dente. (Não entendo nada disso, dis-
to ; e latiu» ou grego para mim.)
Mostrar os dentes a alguém. (Provocar, ameaçar. Asso-
berbar como os cães quando querem brigar.)
Tomar o freio nos doUes. (Desbocar-se, dcfculrear-te.)
Fallar por enlre os dentei. (Não articular bem claro.
Não se expressar de modo a ser muito bem comprehen-
dido.)
Defender com unhas c dentes. (Com ancia , força. )
Dá Deos nozes a quem não tem dentes, e dentes a quem
não tem nozes.
Trazer alguém entre os dentes, ou atravessado uos —.
( Andar resabiado com clle. )

Deos ajuda aos que trabalhão.


A quem Deos promette, não falta.
Dá Deos a roupa segundo o frio.
O mundo não fez Deos n'um dia. (Tudo carece seu
lempo.)
Deixar obrar a Deos, que é Santo velho.
Deos não se queixa, mas o seu não deixa.
Cada um sabe de si, c Deos de lodos.
A,quem Deos quer bem, o vento lhe apanha a lenha,
Mais vale quem Deos ajuda,
Do que quem muito madruga.
Voz do povo, voz de Deos. (Vox populi, voi Dei.)
O homem propõe e Deos dispõe.
DE PENNA O — DESFAZENDO /,«)
Muitas mãos e poucos cabcllos, asinha os depennào.
Má herva depressa nasce, e depressa envelhece.
Sc me der na vontade. (Se me parecer, se mc pedir o
dezejo.)
Quem me déra! (Oxalá, praza ao Còo.)
Entende primeiro, e falia derradeiro.
Der,içar cm alguém. (Mofar, fazer zombaria de.)
Nâo des o dedo ao villão ,
Porque te tomará a mão.
Antes que cases, olha o que fazes, pois já não é nó que
desates.
Homem desazada. (Desmazelado, sem préstimo.)
A desconfiança é mãi da discrição e da prudência.
Dcscozer a vida dalguem. (Cortar, criticar, murmu.
rando , censurando. )
Descozer as orelhas a alguém. ( Arrostar-lhc a sanha , o
furor, dizer-lhe verdades asperas.)
Quem mais tem , mais deseja.
Matar desejos. (Satisfazôl-os.)
Desembuchou verdades. (Descobrio, confessou segredos
ou cousas que occultava.)
Pessoa desempoeirada, on desempoada. (Sacudida, es-
perta. )
Desenfardelar citações, textos, principiosdcdireito, Scc.
(Alardear, citar rhapsodias competentemente aprovisio-
nadas.)
Lingoa desenfreada. (Maldizente, que nada respeita.)
Vae-se desfazendo o nevoeiro. ( Dissipando, desappare-
cendo, desennevoando.)
i
50 DESFAZER — DEVE
Desfazer cm si ou n'algucm. (Humilhar, menoscabar,
apoucar.)
Desfazer-se em pranlo, em desculpas, &.c. (Soltar-sc,
abater-se, acanha i-se em....)
A desfilada. (Rapidamente, a toda a brida.)
A dcslioras. (Fóra da hora costumada, tarde.)
Despachar alguém da vida. (Matar, dar cabo de. )
Despache com isso ! (Vamos, acabe, dC Cm a isso !)
Por despedida. (Em conclusão.)
Despeje o bèco , ou puxe, ou, vá-sc pondo na muda. (Phra-
ses familiares para despedir algueui.)
Despregar a voz. ( Soltal-a , fallar alto.)
DesrendárSo-se-lhe os olhos. (Conheceu-o seu erro, ce-
gueira, engano , &c.)
Calle o que deu, c fallc o que recebeu.
Dcu-se por medico, por militar, Scc. (Altribuio-se o
caracter, a qualidade destas profissões.)
Devagar se vae ao.longc.
A rico não devas, a pobre não prometias.
Devassador do sexo. (Seductor de mulheres.)
Devassar dalguem. (Inquirir, syndicar.)
Quem deve cein , c tem cento e am ,
Não teme a nenhum.
Çuem não deve, não teme.
DIA—DIGERIR 51
Dia bom. mcttc-o em casa. (Aproveita-te dello.)
Dia frio e dia quente,
Faz andar o liouiem doente.
Não se fez Roma em um dia. •
Não ha dia sem Larde, ou, Ncc semper lilia flor et.
Eslar ou andar em dia, ou , conservar os livros cm dia.
(Ter suas contas, sua escrituração bem regulares, ajus-
tadas, &c.)
Trinta dias tem Novembro,
Abril, Junho e Setembro ;
Vinte e oito só tem um ,
F. os demais tem trinla e uxn.
Ás veies atrai da cruz está o Diabo escondido.
Vio-se o Diabo de botas, correu toda a cidade.
Quando o Diabo reza , enganar te quer.
A cruz nos peitos e o Diabo nos feitos.
O mal ganhado, leva-o o Diabo.
De homem dissimulado, guarda-tc como do Diabo.
Nem sempre o Diabo é Ião feio como o pintão.
Nós a fatiarmos uo Diabo e elle a apparecer. (Quando
chega a pessoa de quem se trata.)
O Diabo se fez homem de bem quando ficou velho.
Que Deos se fez homem, seja, porém o Diabo se fez
mulher!
I'ai não conheceste, mãi não temeste, Diabo te fizeste.
O homem é fogo, a mulher eslôpa, vem o Diabo assopra.
Odio de irmãos, odio de Diabos.
Ter differenças com alguém. (Contendas, alterações.
Digerir alTrontas, insultos. (Tolerar, soffrer.)
Digeriridéas, conhecimentos, &c. (Ordenar, elaborar.)
DIGESTÃO — DOBRAR
Negocio de má digestão. (Difficil, árduo.)
Dinheiro A a medida de Iodas as cousas.
Dinheiro emprestaste , inimigo ganhaste.
Negro é o carvoeiro ,
Porém branco o seu dinheiro.
Perdendo tempo, não se ganha dinheiro.
Em quanto ha dinheiro, ha amigos.
Do dinheiro faz valer o effeito ,
E nunca perderás leu direito.
Queui dinheiro tiver, fará o que quizer.
Comprar gallinha gorda por pouco dinheiro.
Onde força náo ha , direito se perde.
A torto c a direito. (Com justiça ou sem ella. Sem se-
lecção ou escolha.)
Discorrem as agoas no mar. (Tem correntes que nelle
descmhocão, rios ou ribeiras que n elle conQuem.)
Foi discorrendo as ondas. (Divagando, sulcando, cor-
rendo por cilas.)
A.' discrição domar, dò vento. (Entregue á...., ao fu-
ror de....)
Disputar a passagem, o terreno, &c. , ao inimigo. (To-
Iher-lha, cortar-lhe o passo, tratar de a impedir.)
Sobre gostos não ha disputas.
Dito c feito. (Sem demora, sem dilação, n'um apse. )
Do dito ao feito , vai muita differença.
O dito, dito. (Ficámos 110 que se disse , se convencionou.)
Dizeres. (Apodos, ditos para ridicularisar.)
Dobrar folha. (Cessar de fallar,)
DOBRAR — DOUDOS 53
Dobrar a voz. ( Cantar com requebros, como rouxinol.)
Dobrar-sc alguém. (Ceder, annuir, mudar.)
Dobre a lingoa. (Diz-se quando se pretende dalguem
mais polidez ou urbanidade, v. g.: exigindo senhoria,
senhor, excellencia , &c.)
Doer o cabello. (Ter receio , suspeita de mal.)
Ficar á domingas. (Burlado, logrado.)
Sempre o alheio suspira por seu dono.
Amor, fogo e tosse, a seu dono descobrem.
Só cava de coração o dono do furão.
Vaso novo , primeiro bebe que seu dono.
Dadiva de ruim, com seu dono se parece.
Tomar as dôres por alguém. (Sentir as penas d outrem ,
tomar defeza d'ellas, acodir cm.... )
Sentir as dôres nove mezes antes do parlo. (Dii-se de
pessoa muito tímida, assustada, medrosa, pasillanime.)
'Quem dorme não pécea. ~ •
Cobra boa fama, deita-te a dormir.
*
Quem tem inimigos, não deve dormir.
Se queres ser pobre sem o sentir,
Melte-te cm obras, deita-te a dormir.
Tempo da dorna. (Da vindima.)
Custa tanto ao doudo callar.
Como ao homem sizado fallar.
Cada doudo tem sua doudice.
De doudo, pedrada ou má palavra.
Os doudos fazem a festa , os avisados a gozão.
Os doudos inventão as modas, c o povo as segue.
54 DOURAR — EMENDA
Dourar a pílula, (\nvolrel-a nalguma cousa, para me-
lhor a engolir. Disfarçar, encobrir pretexto, engano. )
Um burab carregado de livros é doutor.
A moderação faz a duração.
Vós ás duras, e eu ás maduras.
Quem comeu as maduras, chuche as duras.
Duro com duro, não faz bom muro.
lí duro como um corno.
A pão duro, dente agudo.
O que é duro de passar, é doce de lembrar.
Poeta , pregador, advogado das dúzias. (Comutam, de
pouco apreço , como ha dúzias (Telles.)

E
Noticia echadiça. (Falsa e espalhada .de proposito para
enganar a alguém.)
O couce da egoa, não faz mal ao potro.
Couce d egoa, amores de rocim.
Elogio de inimigo , ouro sem liga.
Embarrancou-se uo atoleiro 110 fio da oração, na cm-
preza , &c. (Ficou atalhado, embaraçado.)
Cuidas embelecar-me coin tuas parolas? (Illudir, em-
bahir, eDgodar com mentiras , trapaças.)
Por bem pouco se embezerrou. (Se amuou, mostron
má cara ou catadura por um nada.)
Embuça-te no capote, conforme a direcção do vento.
Foi peior a emenda que o soneto. (Valeu menos a expli-
cação que o recado.)
EMrACtlU — ENCAHAU To
Não me empacho com taes frioleiras. (Não me importo,
aâo faço caso.)
Boa empada 6 F. (Boa rolha , bello Iraste , velhacão. )
Empalmar os cobres a alguém. (Surripiar, bifar, gata
nar o dinheiro a alguém com destreza. )
EmpandilhàrSo-me os cobres. (Roubáríio-mc com tra-
paças, fraudárão-me com pandilha o dinheiro. Pandilha
é o conloio ou ajuste de duas ou mais pessoas para roubar. )
Fazer empenho. (Diligenciar, procurar com instancia.
Fazer gosto em.... , ler vontade de.... )
Metter empenho ou empenhos. (Diligenciar , empenhando
alguém para conseguir o intento.)
Dous passaros empoleirados no mesmo ramo, não fazem
boa farinha por muito tempo.
O índio então empolgou o arco. (Estirou-lho a corda,
armou-o com a setta para atirar ou lançal-a.)
Perde o seu emprego, quem o abandona.
Casa encantada. (Cuja família vive no maior recato,
n uma especie de clausura. )
Por encantamento. (N'um instante , com promptidão ex-
traordinaria.)
F. encanzinou-se Unto na discussão.... (Irrilou-se, assa.
nhou-se tanto como o cão filado.)
O dia está encapotado. (Nublado, a atmosfera coberta
(de nuvens.
Bem ou mal encarado. (Do boa ou má cara. )
Encarar a espingarda. (Pôl-a á cara, ageital-a paia
atirar.)
EWSBg --3M_

Encarniçar. (Cevar, nutrir com carpes, treinar cães


para a caça. Assanhar, incitar na briga homens ou ani-
maes. Assanhar-se, cncher-se de sanha , ira, raiva. )
Encarrilhar. (Metter na estrada direita, encaminhar,
dirigir bem.)
Enchcr-sc de razão. (Accumolar os motivos de queixa
contra alguém, obrando com prudência, v. g. : para cas-
tigar um filho mal procedido, irregular, &c.)
Encheu-me as medidas. (Correspondeu ao que eu espe-
rava, satisfez ao que cu desejava, ou aos meus desejos.)
Encolher os hombros., (Não lhe importar, não tomar
parte no succcsso, no caso.)
Quem erra e se emenda , a Deos se encommenda.
Quem se ama sempre se encontra.
Metter alguém nas encospeas. (Fazer callar, impôr si-
lencio. Apertar, instar, perseguir alguém.)
Encovar alguém. (Fazfil-o retirar vencido, fazêl-o callar
com razões que não adiuillem réplica.)
Encravar. (Pregar logração. Espetar-se, cravar-sc.)

Encrcspou-sc. (Irrilou-se, allerou se.)


Quem más fadas não acha, das boas sc enfada. (A su-
perabundância e prosperidade traz comsigo a saciedade.)
Não ha prazer que não enfade, e inda mais se vem de
graça.
Chora a mulher, dóe-se a mulher.
Mulher enferma quando ella quer.
Ficar enfiado. (Pallido, descorado, como passado de
ira, d espanto, &c. Seguido, enfileirado.)
Enfiar, ou, metter agulhas por alfinetes. (Agenciar a vida
diligentemenle, grangear interesses industriosamente.)
Confeitos, ou, confortos Ac enforcado. ( Consolação ou
beneficio inútil, como os que offerecein ao padecente. )
Enfronhado em fidalguia, em poeta, &c. (Qua aflecta ,
ostenta , ou pVetende sel-o.)
Engajado, engajamento, engajar, &c. (São gallicismos
escusados, que podem ser suppridospor—ajustado, ajuste,
empenhar-se, induzir, alistar-se ou sentar praça , &c.)
F. nunca se engana, senão em proveito sen.
Quando o Diabo reza , enganar te quer.
Quem te faz festa, não a sohendo fazer, ou te quer en-
ganar, ou te lia mister, ou
Quem te honra mais do que solio, ou te quer enganar ,
ou vêr se pódc.
A um engano, outro engano.
Fallar por engonços. (Com rodeios.)
Feito de engonços. (Como boneco ou manequim.)
Obras de Santa Engracia. (Trabalho interminável, in-
finito , alludindo à construcção de um grandioso templo a
esta Santa em Lisboa, começado em 1631 , no qual se des-
pendêrão sommas immensas, porém que nunca se com-
pletou. )
■«asrv- «iinnj
lS li.M.KAClA — LM 111-,
Ha de ter fim, qnando as obras de Santa Engracia. —
(Vej. Santa Engracia. )
Engutir culpas, peccados, &c. (Calar, occultar.)
Engolir a pirula ou a pillula. (Soffrer dissabor com re-
signação. Acreditar péla , logração, caliir no logro. )
Onde ha homens ha cobiça,
Cá e lá tudo cila empeça ,
Se a santa, se a igual justiça
Não corta ou não desempeça
O que a malicia enliça. — (Enreda , trama ou
tccc para fraudar.)
Deitar ensanchas ao argumento. ( Amplial-o com raiões
exuberantes.)
Seja-nos sempre lembrado
Que o arbusto e o menino,
Para se vêr bem crendo ,
De pequeno quer ensino.
Então como então, agora como agora.
Darque entender. (Causar trabalho, cnidado, porem
perplexidade, dar occupação síria.)
Ao menos, entendo o que entenilo. (Sei o que digo, te-
nho razões para basear esta minha opiuiào, para estribar
o meu juizo.)
Fazer seus entes de razão. (Deitar seus cálculos, fazer
tuas contas, combinar. )
Entre mortos e feridos, algum ha de escapar.
Estar entre as dez e as onze, (Nem bem , nem mal.)
N'este entrementes. (Entretanto, neste comenos, no
tempo que mediou.)
Entroucliar o fato. (Dispôr-se a partir.)
Entrar d 'envolta na praça. (Juntamente aom os inimigos,
com os habitantes que a ella se acolhem , &c.)
Fallar enxacoco. (Misturar palavras d'uma lingoa com as
doutra.)
Enxurrada de palavras sem sentido, ou ouças. (Mul-
tidão , kyriella , verbiagem.)
Erva ou lierva má, não lhe empece a giada, ou
Erva má sempre vingará, ou, depressa cresce.
Filho das ervas. (De pais incognitos.)
Comer , mas não esbagoar ou esbagulliar. (Comer quanto
quiicr, mas não esperdiçar. )
F. esbraveja contra os fâmulos. (Grita, urra, irado
contra ellcs.)
Esbulhado dos beus, da herança. (Espoliado, despojado.)
P.cceber o recado uo meio da escada. (Interrompêl-o,
não deisar alguém acabar d'esplicar o que teui a dizer.)
Ladrão escanado. (Ladino, cadimo, velho no ofGcio.)
A' escancara. (A's claras, publica ou abertamente.)
Fedra d'cscandalo. { Cousa que a todos oiíende ou escan-
daliza. )
Aoda-me sempre F. a vasar escaparates. (A dar prelcxtos,
disculpas; allcgar escapulas, subterfúgios. )
Grande escarcéo. (Exageração, hyperbole.)
Ladrão d'escasea. — (Vej. Chapado.)
Cabello corlado á escovinha, (Rente, té onde corla a
escora.)
N eila terra, nem o Diabo pôde ser escravo.
Não quero escudella d'oiro cm que cuspa sangue.
Escumar de raiva, de senha. (Esbravejar, enfureccr-ee.)
Tudo o que não ha s escusa.
Homem esdruxulo. (Extravagante, original nos gostos,
hábitos, &c. )
Burro de muitos, depressa fica esfalfado.
Dar esfola-gato ás leis. (Inteipretál-as á conveniência
dalguem , lorcer-lhe o sentido.)
Esfolar alguém com usuras.
O rabo c o peior, ou o mais custoso d esfolar.
Olhos esgazeados. ( Cor de gazclla , azevichados.)
A esmo. (Incertamente, estimativa feita a ôllio.)
Espada na mão do sandeu
Perigosa para quem lha deu.
Levar tudo á ponta à espada, ou a fio de. (Com violên-
cia , á forra, á valentona.)
Ou para homem ou para cão,
Leva tua espada na mão.
< ESPANTALHO — ESPORA Cl
Espantalho. (Homem que faz vulto e não (em préstimo.)
Caliir na esparrella. (Na logração, no engano , no laço.)
Espatifar a herança. (Estragal-a, dilapidai- a.)
Pagar em cspecie. (Nos fructos do prédio e não o feu
valor em dinheiro.)
Ern boa cspecie. (Em moeda metallica.)
Não ha melhor espelho, que amigo velho.
Concebemos esperanças sem fundamento, c queixamo-
nos depois, de não terem cumprimento.
Responder espevitadamente. (Gora clareza c promptidào.
Fallar —, apurando-sc em pronunciar bem.)
Espichar o rabo. (Morrer, ir d'esta para a melhor.)
Ter espinha, com alguém. (Audar inimisado, picado
com elle. J
Tirar uma espinha da garganta a alguém. (Livral-o dc
grande perigo, ou dc pessoa que o causa.)
Não lhe achou uma espinha ! ( Comeu , bebeu , &c. ,
tudo sem diffieuldade. Acreditou tudo sem repugnancia.)
Está na espinha. (Magro, descarnado, esguio.)
Espiolhar a vida a, ou d alguem. (Averiguar , indagar.)
Espirra-canivetcs. (Pessoa que se irrita por um nada,
rcsingueira.)
F. 6 uma esponja. (Um bcbcrrào.)
Correr á espora fila. (A toda a brida, a toda a carreira
do Cavallo.)
62 ESPOSADO — ESTRELLA
Vende a esposado, e compra a enforcado.
Trazer alguém na espreita. (Vigial-o, lêl-o cm ôllio.)'
Tudo isso bera espremido, não deita nm dedal de cho-
rume. (Bem averiguado, examinado, nada vai, não vai a
pena de se fallar n isso.)
Criança espúria. (Suppositicia , não filha da mài a quem
sc attribue. Palavra — , não genuína , não pura.)
Quem bem ama. tarde esi/ueee.
hscjueccmo-nos dos bens de que gozamos, c só nos occu-
pamos c queixamos dos male9 que soflVemos.
Com esta me vou. (Com esta razão final, esta resposta.)
E esta? (iVesla interjeição sc sub-entende i razão, opi-
nião, circumstancia, &c.; v. g. : Que dizem a este proce-
dimento? Que tal está a loucura? Que modo de pensar!)
Ir 011 passar-se d esta para a melhor. (Morrer.)
<!éla a fazer estalar as pedras.
Cara estanhada. (Sem vergonha, sem pejo.)
Estar em sj. (Em seu juizo. Estar para..., , a ponto
''e proximo a....; disposto ou decidido a...,)
Nao esteve em mim, ou por mim, que isso se não ata"
lhasse. (Em minha mão, em meu poder, não dependeu, &s.)
Esticar, ou dar á canella, ou ã perna. (Morrer.)
Estorninhos e pardaes, lodos somos iguaes. (Querer-se
equiparar com qualquer pessoa, por ambos serem da mes-
ma cor, do mesmo género, &c.)
Estrangeivinha. (Astúcia, trêta, alicantina.)
Boa estrea. (Bom começo, bom annuncio ou agouro.
kstrella dalva. ( O planeta Vénus quando precede o nas-
c«r do sul.)
ESTRELLA — EXPRESSAMOS *Í3
Ter uma estreita ou um T na testa. (Ser tôlo.)
Boa ou má estreita. (Siua, sorte.)
A minha estreita assim ó quiz. (Dita, sorte, destino.)
Levantar ás estreitas. (Vej. Pôr nos cornos da Lua. )
Vèr estreitas ao meio dia. (Achar-sc muito alllicto . an-
gustiado , com fome , ou graude desgosto.)
Verdades lia como estreitas , que só se avislão nos Céos.
Perder as estribeiras. ( Encoleri-ar-se em extremo, ficar
fóra de si.)
Estar com o pé no estribo. (De caminho, para partir,
caminhar.)
Fazer estribo nalguma cousa. (Fundamento, base.)
1 er o pé cm dous estribos. (Manejar uui negocio por
dous canaes ou protectores. Estar liem com ambos os par-
tidos, o mesmo que jogar com pau de dous bicos.)
Aturar, chuchar ou dar uma estopada. (Maçada, im-
porlunaçiio, apouquentação.)
Cheirar a esturro, saber a, &c. (Diz-se das razões de
pessoa esturrada, esquentada, ardida, C de altercação que
ameaça acabar em briga.)
Não ha regra sem excepção.
Melhor é experimenlat-o que julgal-o,
Mas julgue-o quem não pôde experimental-o.
tixpirarão llte as palavras nos lábios. (Não teve força
ou alento para as proferir.)
Dizemos muito fatiando pouso, quando nos expressamos
bem.
6à EXTREMOS"— ntlAITUlss
Força ou coragem louvada
Anda em braços com a prudência;
Irmã sua muito amada
Fõc-na avante a experiência.
Pois tudo sem ella é nada.
Por forças nós que podêmos?
Todo o bom do saber veio ;
O bem lodo está no meio,
O mal todo nos extrémos.

Cidade dos quatro F. (Assim se denomina em Portugal


a «idade da Guarda por ser farta, feia, forte e fria. )
F. 6 fabula da gente. (Alvo de riio, de zombaria.)
O mal e o bem á face nos vem.
Fíier fachina nos bens, no dinheiro. (Estragar , gastar
sem pêso nem medida.)
Cá c lá más fadas lia. (Nem todos somos perfeitos, lodos
tem seu senão. Entre nós e vós lia que se llie diga. )
De uma faísca se queima uma cidade.
Falia pouco e bem, ter-te-liáo por alguém.
Quem muito falia e pouco entende,
Por tagarella c ruim se vende.
Quem muito falia, pouco acerta.
Estou fatiando com o coração nas mãos. (Sinceramente.)
Muito faliar, muito errar.
Como faltardes, assim ouvireis.
FAMA — FAVAS 05
Morra embora o homem, mas fique a fama.
Perca-se tudo, fique a boa fama.
Cobra boa fama, dcita-tc a dormir.
O homem rico, com a fama casa seu filho.
A familiaridade encurta o respeito e rebaixa a aulhoridade.
Hi-se o Diabo quando o faminto dá ao farto.
Dize-me com quem vás,
Dir-le-hei o que farás.
Farandulagem. (Pessoa ou cousa de pouco valor ou es-
timação, de diminuta conta, v. g.: farçanle, farcista, &c.)
Fardel de pedinte nunca está cheio.
F. tem mais no farelo, que B. na farinha, ou , vale mais
110 farelo, &c.
Sovina no farelo, e pródigo ua farinha.
Quem com farelos se mistura, porcos o comem.
Deitai farelos ou cinza aos olhos dalguem. (Impor,
enganar, embutir imposturas.)
Farelorio! (Denota o desprezo ou pouco caso do que
alguém affirma, afiança ou promette. Item farandulagem.)
Quem náo lem farinha, escusa peneira.
F. eB. não fazem boa farinha. (Não concordào . não
vivem em harmonia. Fazer boa —, viver em iulelligencia.)
Essa casa 6 farta e cheia como uma colmeia.
Depois do lobo farto, quiz jejuar o dia seguinte.
Ira fava, ou mandar á fava. (Expressão vulgar de des-
prezo para mandar alguém bugiar.)
Sao lavas contadas. (É negocio seguro, é contar coro
etac
' 'amenle como se esperava.)
5
06 FAZ, — FÉ
Quem má cama faz, nella jaz.
Isso não faz ao caso, ao negocio. (Não llie pôde servir
dc apoio , de argumenlo.)
Qaem mais faz, menos merece.
Faze bem , não calps a quem.
Faze mal, e espera oulro tal.
Fazer bem nunca se perde.
Fazer cstrêuios por dá ci aquella palha. (Por um nada.)
Fazer liomem a alguém. (Melhorar sua fortuna , aju-
dal-o , dar-lhe consideração.)
Fazer tropas, gente, lenha, aguada, &c. (Ajuntar,
colher, prover-se de.)
Fazer de bôbo, de lôlo. (Fingir-sc. Fazer papel de.)
Fazer alto. (Parar na marcha.)
Fazer armas. (Atirar, jogará espada, florete, &e.)
Fazer bom um contracto , boa uma venda. ( Abonal-a ,
responder por....)
Fazer casa. (Adquirir cabcdaes consideraras.)
Fazer caso ou cabedal d'alguem. (Atlender, dar consi-
deração, conscqucncia, importancia.)
Fazer costas a alguém. (Defendel-o, ajudal-o cm risa.)
Fiizer-se com terra. (Julgar estar perto delia,)
Fazer-se à terra. (Navegar para cila, tendo-a avista.)
Fazcr-se em tal altura. (Calcular que nella se está. )
Fazenda rica ou boa fazenda. (Objecto bom , estimável,
perfeito.)
Fé. (Testemunho authcntico dado por official de justiça.)
A fé. (Por cerlo, sem duvida. A falsa —, traiçoeira-
mente. Boa —, tenção pura, sem dolo; má , com
dobrei, engano.)
FÉ — FERREIRO <i7
Dar fé. (Credilo, crença. Dar — d'alguma cousa: es-
preitar, vigiar, dizer corno a cousa se passou.)
Não derão fé disso. (Não virão, não advertirão.)
Nem tão formosa que mate ,
Nem tão feia que espante.
Feio como uma noite de trovões.
Cada uni diz da feira, como llie vai nella.
Desta feita. (Desta vez, nesta occasião.)
Que 6 feito de F.? (Que è d'elle? que fiin levou?)
Olhos feiticeiro». (Seductores, encantadores.)
Voltar-se o feitiço contra o feiticeiro. (Recaliir o mal
sobre quem o faz. Julgar ter lucrado, vantajado, porém
ser o prejudicado.)
Mais vale o feitio que o panno , ou
Mais custa a múcha que o sebo. (Mécha é a torcida ou
pavio da véla dalumiar.)
Agora dá pão e mel,
Depois dará páu e fel.
Verdades ha que amargão como fel, c mentiras que tem
o sabor do mel.
Chegar ao atar das feridas. {Passado o perigo.)
Ferir a batalha. (Romper a peleja, começar o combate.)
Ferrado no somno. (Dormindo profundamente.)
1''. está ferrado, ou monado. (Embriagado.)
l?ma no cravo, outra na ferradura. (Mal sobre mal sem
lazer.)
Em casa de ferreiro espeto de pau.
F erre iro a ferreiro não leva dinheiro.
68 FERRO — FIANÇAS
Malhar ou baler em ferro frio. (Perder seu tempo que-
rendo convencer teimando com alguém.)
Quem a ferro mala, a ferro morre.
Morrer a ferro frio. (Por arma perfurante, punhal,
faca, &c.)
Fcrrou-se ou aferrou-se á sua opinião.
Agulha ferrugenta. (Alcoviteiro, enredador , mexeri-
queiro.)
Ferve-lhe o sangue. (Sente vivo desejo vgrandc impa-
ciência, agaslamenlo, enfado.)
Ferver. (O mesmo que concorrer em grande numero ,
apinhoar-se, v. g.: Fervem ladrões, febres, &c.)
Ferver. (Brilhar, scintillar, como cm Bocage :)
« Em nítida ardenlía as ondas fervem, o

Deitar agoa na fervura a alguém. (Acalmar, moderar o


ímpeto, o furor.)
No melhor da festa, ou, no melhor da luneção. (No
momento de mais regoiijo.)

Homem de fevera ou febra. (Valoroso , alentado. ;

Aqui se fia muilo fino. (Obra-se com extrema alleu


çào, com muito desempenho do dever.)
Descobrir o fiado. (A fraude, a tramóia, o enredo.)
Quem come fiado, obra massarocas.

Fianças e confiança, tem arruinado muita gente.


FIANÇAS — FIANÇAS 69
Fiador, Tbtor, Testamenteiro.
Fianças e Tutorias
São fogo c peste da casa ,
Quando as contas se liquidão
Tudo deixio posto á rasa.
Conheça o homem de senso
Que abonar não lhe convém ,
Pois desde a hora que abona
Perde a posse a quanto tem.
0 Tutor passa dez annos
Com fartura c apparcncia,
liesistindo aos contratempos
Com modéstia c com docência.
Casas nobres, sege sua ,
Tudo quanto intentou fez,
Deitando-lhc sempre a conta
Que uma cifra augmenta dez;
• Mas se não teve depois
Com que inteirar o quinhão.
Coitadinhas das crianças
A quem se tirou o pSo !
O sagaz Testamenteiro
Sabe melhor manobrar,
Porque contas com defuntos
Qualquer as pôde ajustar.
E por que inda conserva
Amisadc ao testador,
Yai-lhe ficando com os trastes
Por metade do valor.
Tal ha que de traficante
Ufano exultando a palma.
Boas contas e más contas
Tudo lhe offerece pela alma.
70 FIAR — FIGUEIRA
Em lempo dc inverno, não La que fiar em Deos.
Fiarei d'cllc ouro cm pó.
Não fiarei d'clle um figo pôdre.
Ficar por algnem. (Abonar, afiançar.)
Tendo um homem vinte bcslas,
Todas vinte carregou,
E por bons c maus caminhos
Conlcnle as acompanhou.
Morrerão duas na estrada ,
Que o pêzo não aguentarão;
Pcrgunla-se-vos agora
Quanlas são as que ficarão?
Resposta.
Sc se disser que desoito ,
Não levem a conta avante ;
Ficão duas, porque as mais
Caminhão para diante.
Fidalgo dc meia tigella. (Pouco illuslre, descasso ren-
dimento. )
É provérbio de fidalgo;
' Antes rôto qu'esfarrapado. »
Estar a balança pela fieira. (Bem equilibrada, com o
fiel de meio a meio.)
Isso não vale uma figa, ou um figo. ( Presta para nada.)
Homem dc fígados. (Valente, animoso. Pessoa de maus
—, rancorosa, vingativa.)
Em tempo de figos ha muitos amigos. (Na abundaneia.)
Seja tua a figueira, e more eu á beira, (Para lhe comer
o fructo sem trabalho.)
FILADA — FIO 71
í'. anda ou eslá com cila filada. (Alludiudo a bebedeira
ou cachorra; está monado, anda com o pifão ou com a
trabuzana.)
Minha filha tareja (Desvaria como criança.)
Tanto vê quanto deseja.
Filho família ou famílias. (Que esiá debaixo do pátrio
poder , não emancipado.)
O bom filho á casa paterna volta.
Filho és e pai serás;
Assim como fizeres, tal haverás.
Meu filho virá barbado
Mas não parido nem emprenhado.
Filhos criados, trabalhos dobrados.
De uns fazeis filhos, de outros enleados! (Pão a uns e
páu a outros!)
Todos somos filhos d'Adão c Eva, só a vida nos differença.
Filhote. (Alcunha dada aos habitantes de Coimbra,
pelos estudantes ; lambem lhe chamão futricas.)
B fino como um coral.
Homem fino. (Astuto, subtil.)
Fio da espada , da faca, &c. (A parte afiada , o gume,
o córte, e d'alii: dar —, amolar, afiar.)
De fio a pavio. (De cabo a rabo , do principio ao fiai.)
Não me fio nem da camisa que trago vestida , ou
Não me fio nem da mãi que me pario. (De ninguém.)
Dar os fios á leia. (Acabal-a; extremos —da vida,
momento final, ultima raia da cxistencia.)
Vm fio dazeile. (Porção que corre em fio do vaso.)
A fio. (A eito, em seguida, successivameule.)
72 FIO — FOGO
Seguir o commum fio. (A Tia, a trilha que os mais se-
guem. )
Cortar o fio do discurso. (Iutcrroinpêl-o, perlurbal-o. )
Estar por um fio. (Em grande risco, v. g.: como um
corpo pendente de um íio c exposto a cahir, qnasi-quasi.)
Pesar a ouro e fio. ( Exactamente , com o fiel da balança
justo a meio.)
Ninguém faça mal a outro
A fiuza de lhe vir bem.
Fú de conta que. (Contei que, esperei que.)
Flava Ceres. (As searas uo estado flavo ou maduro , e
Ceres, deusa da mytliologia, que a ellas presidia.)
A' flor d agoa , do rosto, da terra, &c. (Na superCcie ,
á tona, á vista , patente , &c. )
Na flôr da idade. (No viço, na força, no vigor.)
Flóreo. (Viçoso, forte, v. g. : Nos flóreos dias em que fui
chibante. Boc.)
Metter o focinho n'algum negocio. (Intromcttcf-se, in-
gerir-se.)
Ter mau focinho. (Má cara. Focinho, propriamente,
significa a parte do animal que comprehende a boca, quei-
xos e nariz.)
Cahil' de focinhos. (Com a cara no chão , rosto cm terra.)
Fazer focinhos. (Mostrar mau humor, carranca trom-
bada. Repugnancia, má vontade.)
Muito corre quem corre,
Mas mais corre quem bem foge.
Onde fôgo não ha, fumo se não levanta.
Reino sem porto, chaminé sem fôgo.
I.á onde fumega, ha fôgo, ou, não ha fôgo sem fumo.
FOLEGO — FRALDAS 73
Ter fôlego de gato, ou, os sete fôlegos do gato. (Resis-
tir a trabalhos e males physicos.)
Em follia. (Novo, não usado ainda.)
Folias e cantares. (Folganças, festejos, divertimentos.)
Ir ao folie ou aos folies d'alguem, chegar ao folie. (Ba-
ter, espancar, tosar alguém. — Vej. Saltar aos queixos.)
A fome boceja, a fartura arrota.
Para boa fome não lia ruim-pão.
Quem tem sede não morre de fome.
Fóra da terra. (Locução familiar Lisbonense, que de-
nota todo o logar que 6 situado fóra do recinto de Lisboa.)
Ou forca ou throno, (Ou tudo ou nada.)
O que se ganha pela força, também por ella se perde.
Já a formiga tem catharro 1 (Já o mono quer ser gente !
Ainda tem cueiros e já quer calças! J
Sou fraca formiga para tal empreza.
Náo sejas forneira se tens cabeça de manteiga.
Comer á tripa forra. (Liberalmente á casta doutrem.)
Forrar dinheiro. (1'oupal-o, economisal-o.)
A roda da fortuna anda e desanda.
On frade ou mercador, ou
Ou cova ou dente. (Ou tudo ou nada. — Vej. Ou
forca ou tlirono, &c.)
Fraldas ou faldas da serra. ( Descidas declives d elia.)
7k FRANCEZA — FUTRICA
Dcspedir-sc á FraAceza. (Sem nada dizer, ás escondidas,
ou sem dar parle que se vai. )
Roupa de Franeezes. (Bens, faceadas, objectos de pirata,
cousas roubadas, fraudadas. Talvez que a palavra roupa
seja corrupção de roubo, alludindo ao que os csercitos
Franeezes praticarão em Portugal nas tres invasões. Roupas
destinadas a todos se servirem em cofnmunidade.)
Franzir as bitaculas. (Mostrar má catadura. O mesmo
que fazer focinhos.)
Tomar o freio nos dentes. (Quando o Cavallo corre á
desfilada, ou sc desboca, sem que o cavalleiro o possa go-
vernar. Não ceder á razão, ir cegamente cm seus caprichos.)
Pôr-se ao fresco. (Safar-se, mandar-se mudar, ir-se.)
Dá Deos o frio conforme a roupa, ou
Cada um sente o frio segundo anda vestido.
Fagio do lôdo, cabio no arroio, ou
Saltou da frigideira para as brazas.
Ter fumos de fidalgo, de valente, &c. (Ter a vaidade,
a presumpção, a vangloria de....)
Furioso como um tigre, ou como um leão.
Quem uma vez furta, fiel nunca.
Furtar a volta, o caminho. (Ir por via opposta para
escapar a alguém, 011, ir-lhe ao encontro.)
Não ha roca sem seu fuso.
Futrica. (Um ninguei», um jagodes; 6 tambemalcunha
dos Conimbriccnces, o mesmo que filhote. ~\cj. Filhote.
GADO — GALLINHA 75

Cl

Perdido é o gado que não tem pastor ou cão.


Gagcs do offioio. (Prós , precalços , ganlios.)
Estar de gaita. (Alegrele, meio tocadinho. )
Não é má gaita. (É boa cachopa, agradavcl moça.)
Soubeme como gaitas. ( Com muito sabor. Provém dc
se cliamar gaita á parte do pescoço da lampreia que tem
buracos, c è a mais gostosa e delicada.)
A pena e galardão igual
O homem direito tem ,
Pois que é regra geral,
Que se deve a pena ao mal,
E o galardão ao bem.
Vogue a galé, venha o que vier. (Não haja medo, loca
para a frente, animo e fortuna.)
Galgo velho, duita-o á lebre e não ao coelho.
Galgo que muitas lebres levanta, nenhuma mata.
F. corre mais que um galgo tirante.
Acção galharda. (Briosa, animosa.)
É fresco par dc galliétas! (K um tratante! é fresca peça !)
Cincoenta Gallegos não fazem um homem.
Matar a gallinha que põe ovos d oiro.
Onde estão os pintos, tem a gallinlia os olhos.
Afaga a tua gallinha para le parir gallinhos. (Tratar bem
para ser bem tratado.)
A teu amigo, dá gallinha gorda dc pés amarellos.
76 CALLINHA — GANHA
Querer gallinlia gorda por pouco dinheiro. (Muilo ba-
rato , querer um capão por dei reis de mel coado.)
A gorda gallinlia, faz gorda a cozinha.
Grão a grão enche a gallinlia o papo.
Triste da casa onde canta a gallinlia e calla o gallo.
A gallinlia de ininha visinha
É mais gorda do que a minha.
Isso só alcançarás quando a gallinhn tiver dentes.
F. é um gallinlia clioca. (Fraco, elTemiuado.)

Gallo bom nunca foi gordo.


Ouvir cantar o gallo e não saber d'oude , ou
Farejar e não dar coin a toca, ou com a loura. (Não
atinar com o verdadeiro sentido. )
Muito pôde o gallo em seu poleiro. ( O homem em sua
casa. )
Onde está o gMo, não canta a gallinlia , ou
Onde está branco, não falia prelo.

Dar ás gambias. (Fugir, safar-se muito depressa.)


Gana. (Fome, vontade. Tenho-lhe—, odio, aversão ,
rancor.)

Ganancia. (Juro, premio , lucro.)


Fazer uin gancho. (Ganho que faz o servo ou oUicial em
horas furtivas, e em detrimento da pessoa a quem serve.)
F. é filho do ganha dinheiro. (De homem industrioso,
diligente e ambicioso.)
Perdendo tempo, não se ganha dinheiro.
GANHADEIRO — GATO
*
Almocreve cavalleiro,
Nunca é bom ganhadeiro.

Nunca um bom ganhador é pródigo gastador.


A pai muilo ganhador,
Fillio muilo gastador.
Mais va] ganhar no lôdo, que perder no ouro.
Tem cuidado cm o ganhar,
Que tempo sobra para o gastar.
lissa licou-me atravessada na garganta. (Essa acção,
ossa resposta, &c., não a perdoo, não a soffro.)
Quem muito tem, muito gasta;
Quem pouco tem , pouco lhe basta;
Quem nada tem, Dcos o mantém.
Quem gasla mais do que tem,
Mostra que sizo não tem.
.Muito fallar e pouco saber ; muito gastar c pouco ter;
muito presumir e pouco valer, é a ordem do mundo.
Gato em jornada , ratos de patuscada.
Gato escaldado , dagoa fria tem medo.
Antes lazarando escondido no maio .
Do (jue gordo c nédio no papo do gato.
Sardiuba que o gato leva , gualdida vai.
Um ôlho no prato, outro no gato.
Filho de gato , mata rato.
Não lia cão nem gato que o não saiba.
Buscar cinco pés ao gato. (Intentar provar ou achar nm
impossível.)
78 GATO — GOLODICE
Andar couio gato por brazas.
F. c B. estão como o cão como galo. (luimisados, mal.)
De noite todos os galos são pardos.
Nunca lerás bom gavião
De francelho que tem á mão.
Não ha fechadura tão forte, que uma gania de oiro não
possa abrir.
Amisadc de genro, sol de inverno.
Ser gente, faicr-se gente. (Ter, adquirir consideração.)
A gente não quer isso. (Nós não queremos.)
Nem rio sem váu,
Nem geração sem mâu , ou
Não ha geração sem rameira ou ladrão, ou
Em longa geração, sempre lia conde c ladrão.
Descoser a geração a alguem. ( Censurai-a, murmurando
d cila. Narral-a allcgando factos odiosos.)
Barbara geringonça. (Lingoagem inintelligive), corrupta,
algaravia. Dialecto, gíria ou germania convencional, de
ciganos ou ladrões, paia se entenderem entre si. )
O corcunda não vô a sua giba, mas sim a do proximo.
Ter á giba, ou ás costas, alguma cousa ou pessoa. (A seu
cargo. Achar-se pensionado com ella.)
Cm ginja. (Homem velho aferrado ás modas e costumes
antigos. )
A gloria do conquistador è como a illuminação do
incêndio.
A gotodice tem matado mais gente do que a espada.
GOLPE — GRAÇAS 79
Golpe de mestre. (Acção brilhante , feito ioleOigente.)
Golpe de gente. (Força , quantidade de gente, qne ataca
de repente.)
Negocio gorado. (Frustrado, baldado.)
Ouem a vacca alheia come magra, gorda a paga.
Górdio. (Vej. górdio.)
Melter-se de gorra coai alguém. (Insinuar-se-lhe na
amisade intima.)
Quem ama Beltrão, gosta do seu cão.
Sobre gôstos não ha disputas.
Gôta coral. (O mesmo que epilepsia.)
Gôla e gôta a talha se esgota.
Sempre a tirar gôta a gôta,
Também o tonel se esgota.
A contínua goteira, deixa fignal na pedra.
Deu-lhc no gôto, cahio-lhe no gôto. (Por antiphraso ,
causar gôsto, prazer. Gôto é a entrada do laringe ou canal
por onde se respira, por isso também o termo dar tio gôto,
significa entrar nelle a agoa ou comer, o que causa tosse
e falta de respiração, o ás vezes suffocação.) '
Mais vai caliir cm graça. que ser engraçado.
Por graça. (Por brincadeira, gracejando.)
De graça. (Sem custar, gratuitamente. Jocosamente
diz-se em Portugal: De borla, e no Brasil: De meia cara.)
A sua graça? (O seu nome como se chama V. ?)
Graças. (Ditos picanles, gracejos offensivos.)
80 GRADO — GUERRA
De bom grado. ( De boa vontade.)
De mau grado. (Apezar, a despeito de....)
Grão a grão, lambem se chega a um milliáo.
Muita palha c pouco grão. (Grande exterior.)
Em anuo bom, o grão é palha, e 110 mau, a palha é
grão. (A ahundancia ou escacez 6 que faz o preço.)
Grei ou grey. (Povo, súbditos, relativamente ao Hei.)
Levantar, alçar a grimpa. (Ensoberbccer-se, enleiar-se.)
Jogar grotso. (Forte, sommas avultadas.)
Mais mula c menos gualdrapa. (Haja mais do que é
substancial ou «til, e menos atavios ou esterior; isto é:
Mais obras c menos palavras.)
Guarda em quanto moço, acharás na velhice.
A justiça a lodos guarda, mas ninguém a quer em casa.
Quem lei estabelece, guardal-a deve.
Guardar os dias santos. (Não trabalhar.)
Guardar que comer, e não que fazer.
Guarda-le de trazeiro de mula, dianteira de frade, do
requebros de freira , o de lingoa dc mulher.
Guarda-te de homem que não falia, de mulher que faz
versos, e dc cão que não ladra.
Guarda-le de alvoroço de povo, e de travar com doudo.
Guarda-tc dc mau visinho, sordido e mesquinho.
Guarda-le d'aquclles que a natureza assignalou.
A guerra ou a ceia
Começando se ateia.
Quem vai á guerra, ou di ou íeva.
GUERRA — II iRMONISXO SI
Vatrra bem guerreada, Ira» boa paz.
Quem não vai á guerra, não morre nella.
Caça, guerra c amores, por um prazer mil dôres.
Paz de guerra, cajado í, ou
Amor adquirido a pau, nunca 6 bom, sempre é mau.
Doce c a guerra, para quem não anda n ella.
Bem decide sobre a guerra, quem esti longe d elia.
Em tempo dc guen-a, yôão mentiras por mar c por terra.
F. tem ninho de guincho. {Tem que comer, que gastar,
que disfrutar. Allude, a que o guincho é um passaro marí-
timo, que cria nas rochas, e tem sempre o ninho bem
provido de mantimentos.)
Deu-lhe de gume. (Ferrou-lhe grande cutilada. )

H
F. ha, que tudo o que luz é oiro. (Pcrsuadc-st, tem
para si, julga, que a apparencia sempre corresponde ao
iuterior. )
F.m termos liabeis. (Adequados, competentes.)
O habito não faz o monge. (O ejterior não consdtue a
qualidade da pessoa.)
Lançar o habito ou o farragulo ás ortigas ou às berras.
( Diz-sc do religioso que se desfiada e reentra na sociedade,
ou dc pessoa que larga emprego , officio.)
llaianca ou facanea. (Cavalgadura fina dc senhoras ou
de personagens.)
O bem e o mal se harmonisão dc tal modo, que d'e!1es
resulta a renovação, conservação e perpetuidade d este
mundo.
6
82 HARPEO — HIMPÁNDO
Lancci-lbe logo harpeo na proposta. (Segurei-me no ne-
gocio , agarrei-o com uulias e dentes.)
Por vezes llie harpoárâo ás baldas, mas a nada o bruto
se moveu. (Teutárão, emprehendêrão seduzil-o, subor-
nal-o, cónveucél-o , &c. , mas iuulilmenle.)
liaste publica. (Leilão, almoeda.)
Ficou feito em liastilha). (Em rachas, lascas, migalhas.)
Ilavél-o, ou havtl-a com alguoui. (Ter pendência, rixa
com; também se diz por contracção : liemos, liia, por ha-
vemos, haveria, &c.)
Teres c haveres. (Bens possuidos, quaesqaer riquezas.)
flavcr-se. (Porlar-se, conduzir-se. — com alguém, ter
negocio, questão, pendência. Vej. Havél-o.)
Em boa, ou, em perfeita kermtniutica. (Em boa critica,
interpretando bem as palavras, deduzindo logicamente o
sentido, a opinião do putlior, &c.)
Ir ou voltar do Herodes para Pilatos. (Andar jogado aos
tombos, ou aos dados, correndo as estradas, a coxia. Ser
ludibrio d alguém. )
Hema má, não lhe empece a geada.
Filho das liervas. (Engeilado, que não conhece os pais.)
Atirar com o habito ás hervas. (Diz-se de frade que se
«ecularisa , o mesmo que ás ortigas. Vej. Habito.)
Estou liimpando com as murcellas que merendei. (Voz
onomatopeia, isto c, imitativa da oppressão causada pelo
affrontauiento do estomago; senlir-se angustiado, oppvi-
midopor ter comido com excesso, ou por effeito de fadiga
ou paixão.)
HOJE — HOMEM
Hoje de humana figura ,
Amanhã na sepultura,
ílonleui vaqueiro, hoje cavalleiro.
Pão de hoje, caruc de hontem, vinho doutro verão,
fazem o homem são.
Tratar, olhar alguém por cima do hombro. (Desprezar,
tratar de resto. )
Pôr, ou dar hombros à obra. (Einprchendel-a, teutal-a.)
Homem pobre. (Ujdigeyte. Pola*e—, de acanhado es-
pirito, insignificante. Bom —, de boa indole.—boui,
honrado, nobre. Santo—, religioso, de costumes puros.
— santo, canonizado.)
Homem velloso, ou valenlc ou luxurioso.
Tenho liomem para o juiz, para El-Rei, &c. (Tenho
pessoa capaz de conseguir d'elle a minha pretençào; bom
empenho, bom canal.)
O homem na praça, e a mulher em casa.
A liomem farto, as cerejas lhe amargão.
O homem põe, e Deos dispõe.
A homem ruivo e mulher barbuda ,
De longe os saúda !
Temos homem! É o nosso homem! ( Aquelle de quem se
faz grande apreço, grande conceito. Oulr'ora usavão nossos
clássicos do termo liomem, equivalendo ao on francez, sig-
nificando alguém, homem, um, &c., v. g., Cam. : Não
sabe homem como se ha de livrar das ciladas. Bar.: Qualquer
cousa que liumem por elle fizer, &c. Pai a fallar porém cor-
rectamente, dir-se-ha : Qualquer cousa que por elle st
fizer; o mesmo com a palavra genle, em vez de nós.)
liomem occupado , não cuida cousas más, nem as faz.
S4 HOMEM — HORA
Homtm grande, besta de pão. (Vej. Pio.)
Homem sem abrigo , pássaro sem niulio.
A homem sem palavra, não lbo fies uma sêde d agoa.
Homem astroso, barba alé o ôllio.
0 homem é fogo , a mullicr estopa, vem o Diabo assopra.
A mulher, o estudo, a cxperiencia e o vinho, mudão a
natureza do homem.
Mal apreciados pelos contemporâneos, os grande» Ao-
míns são admirados e venerados pela illustrada postei idade.
Os homens mudão dopinião
Como destado ou condição.
É quando as flores desabrochão e os fruo tos amadure-
cem , que deleitão a visla, olfacto c paladar : assim também
os homens chegando à virilidade o madurei», ostentão os
primores de sua força , engenho c industria.
Se os homens se não matassem
E impunemente crescessem,
Pôde ser que não achassem
Nem fontes de que bebessem ,
Nem campos que semeassem.
Honra e proveito , não cabcm n um sacco.
Tanta honra a João Fernandes! (Tantas etpressõcs ca-
rinhosas, tantos favores a quem os não merece!)
Em má hora. ( Em infausto momento, aziaga, funesta
occasião , v. g.:
Em má hora do porto desaferres,
Oh príncipe das trevas, enjo nome
É do vate Gel vedado á lyra! [Cast. Ode a D. Mig.]
Está chegada a minjia hora. (Fim da vida, ou hora 6u'a1.)
HORA — IGREJA 85
Anda para cada hora. (Diz-sc da mulher que está pró-
xima a parir.)
Dcos lho dé uma boa hora. (Uin feliz parto.)
A hora de comer é a fome.
Quem a horas não vier,
Comerá do que trouxer.
Horla sem agoa, casa sem telhado, Cavallo aguado,
de graça ainda é caro.
Fazer a conta sem a hóspeda. (Calcular mal, tomar me-
didas sem attender a accidentes ou osbtaculos.)
Hospede tardio, nio vem vasio.
O hospede c o peixe, aos tres dias fede.
Fazer-se ou estar hospede nalguma matéria. { Noto ,
alheio, ignorante delia.)
Fazer-se hospede. (Affcctar ignorancia.)
Depois de despedir os hospedes, comerêmos o pato.
Mulher com assomos dc hyena. (Fcrox, endiabrada,
maligna.

O ignorante a todos reprehende ,


E falia mais do que menos entende.
O ignorante é sempre o que mais falia.
O ignorante e » candeia
A si queima e outros allumeia. (Ling. ant.)
A Igreja. (A Heligiâo. Os Ecclesiasticos.)
A Igreja universal. (A universalidade do» Fieis.)
86 IMAGINAÇÃO — INGÉNUO
A imaginação, que avoluma os bens, lambem exagera
os males futuros.
A imaginação encanta os moços, a reflexão desencanta
os velhos.
Impando de patrão em barco alheio. (Fazendo de....)
A importancia exterior, que affeetão certas pessoas , de-
nuncia ordinariamente a sua interior insignificância.
Soneto dc Impoisiveis:
Quer vêr uma perdiz chocar um rato.
Quer ensinar a um burro anatomia,
Exterminar de Góa a senhoria ,
Quer vêr miar um cão, ladrar nm gato.
Quer ir pescar um tubarão no mato ,
Namorar nos serralhos da Turquia,
Escaldar uma perna em agoa fria ,
Vêr uma cobra casliçar c'um pato.
Quer ir n um dia de Pekin a Roma,
Gozar saúde sem comer dous annos,
Salvar-se por milagre dc Mafoma ;
Quer despir a basofia aos Castelhanos,
Das penas iufernaes fazer a somma.
Quem o Géo alcançar com vis enganos.
A incerteza do termo da nossa vida, lhe confere uma
perpetuidade illusoria , mas aprazivel.
Ingénuo, tem conta em ti,
Ha no mundo mil enganos;
Os bons padecem os damnos,
Julgando os outros por si.
INGRATIDÃO — IliMÃOS 87
A ingratidão dos povos, sempre corresponde á extensão
•dos benefícios recebidos.
Sempre será leu inimigo o oflicial do teu officio.
Quem seu inimigo poupa, nas mãos llie vem a cahir.
No jogo se perde o amigo, e se ganha o inimigo.
Quem tem inimigos, não dorme.
Confessara sua inópia. (A própria insulliciencia , a falta
de saber, de inlcffigencia. )
Gomo as aves se alimentão de muitos insectos, os velha
cos subsistem de muitos lôlos.
A intelligencia augmenta a força , dando-llie melhor di-
recção e disciplina.
A maior intensidade do mal, annuncia ordinariamente
a sua menor duração.
Dias intercadentes. (Não seguidos, interrompidos.)
intercalado. (Inlroduzido no mei, no anno. &c.)
O interesse céga o sábio.
Lúcidos interuallos. (O tempo em <(iie os doidos ou
delirantes recuperào o uso da razão.)
Intimar de medico, de Fraaccz, &c. (Dar-sc por, fazer-
«e passar por, Gngir-se, &c.)
Mais vai ser invejado, que compadecido ou lastimado.
Ir ou hir ás do cabo. ( Ás ultimas , ao ultimo excesso ,
desabridamente. )
Ira de irmãos, ira de Diabos.
Partamos como irmãos; o meu meu, e o teu dambos.
Entre pai e irmãos, não meltas as mãos.
IRMÃS — JEJUAR
Duas irmãs sei que vivem
Em uma extrema anião;
Gémeas parecem que sào ,
Jamais houve entre ellas lula ;
Seus nomes porei patentes :
A lingoa dos maldizentes
A orelha de quem a escuta.
Cavallo itabel. (Côr de camurça, amarcllo claro, p«-
Ihete.)

Já no mar, jà na terra. (Ora no —, ora na —.)


Já não sou quem ser sohia ,
Mudei qual da noite ao dia.
Sol dc Janeiro, sempre anda detraz do outeiro. .
Qaem azeite colhe antes de Janeiro ,
Azeite basto deiía no madeiro.
Obreiro cm Janeiro, muito pão te comerá,
Ma» quanto mais to comer, mais obra te fará.
Homem dorminhoco
Mulher janelCeira
E uvas na parreira ,
Gabem 4 gagoza
Na cugulideira
Desperta rapoza.
Jarreta. (Homem que traja on veste á antiga.)
Bem jejua quem mal come.
Jejuar d algama cousa, (Káo a conhecer.)
JEJUM — JUÍZO ' 89
Deixar alguém cm jejum. (Sem entender o que ouvio.)
O farto , do jejum não tem dezejo algum.
Um dia de jejum, e Ires de ernenta guerra ao pão.
Ventre em jejum, não ouve a nenbum.
Quebra-jejum. (Primeira comida que te faz no dia an-
tes do almoço.)
O jôgo da vida e sociedades humauas compõe-se dc
acção c reacção, attracção e repulsão, sympathia c aver-
sSo, amor c odio. D estes contrários elementos rcsultão
o equilíbrio, ordem e harmonia social.
Jôgo. (Apparelho, v. g. : de cartas, de castiçaes, das
obras de F., de esporas; o mesmo que par quando são dois.)
Ser jôgo da fortuna. (Ludibrio, escarnco, joguete.)
Mais descobre uma hora de jôgo t que um anno de con-
versação.
Fazer jôgo. (Termo d'esgrima, pôr-se cm guarda, ou
attacar segundo as regras.)
Quem jogou, pedio, furtou.
Jogará, pedirá, furtará.
Isso c trigo sem joio, ou, ouro de lei. (Dc superior qua-
lidade, cm que não lia nada a dizer.)
Os jornalistas vivem de folhas, mas não produzem seda
como as lagartas.
Homem de marca de Judas. (Muito baixo, anão; tam-
bém se alcunha figura de carrapato. )
Juiz daldeia, quem o dezeja o seja.
Ninguém é bom juiz cm causa própria.
O juito nunca sobeja, falta geralmente a muita gente.

i
<)0 JUSTIÇA — LAB1A
A justiça a lodos guarda .
Mas ninguém a qner cm casa.
Paga o justo pelo peccador. (O innocente pelo crimi-
noso. )

K cambêta como um X. ( Côcho , cambado.)


Gallina, ou, esporro como uni kágado. (ISaixo, enco-
lhido , disforme. )

> pa
Se tu tens as pernas tortas? Já coroa ! )
1<\ está no seu kyric-eleison. (Pedindo misericórdia ou
compaixão nahoraCual. (IS. Lobo.)— Comprida ladainha
de tediosas repetições.

De manhã em mauliã,
Peide o carneiro a Ui.
'ir batcar lã e "r tosquiado.
Autcs se perca a lã que a ovelha.
Ir com pés de lâ. (Sorrateiramente, com mansa saga-
cidade, jesuiticamente.)
Ter muita lábia. ( Fallar com destreza , brandura e ar-
dil, para persuadir. Não pegou a —, não teve eííeito, não
surtio feliz a cantiga.)
LADRA — LA VIUDOU 91
Mal ladra o cão, quando ladra <le tnõdo.
Ladrão que furta a ladrão ,
Tem cem annos de perdão.
Não lia ladrão sem encubridor.
Tão bom é o ladrão como o consenlidor.
O ladrão cuida que lodos lacs são.
Ladré-me o cão embora^ mas não me morda.
Ter as gúelas ladrilhadas. ( Estanhadas, forradas de
cobre, cascarronadas.)
Lagrimas de noiva , são como chuva d'eslio , que alegra
e não dura.
í. sujeitinho de boa laia! (De fresca casta, de conducta
ambigua , d'aquelles de cortejar de longe.)
Entrar lambendo, e sahir mordendo.
A laranja pela manhã é ouro, ao meio dia prata, á tarde
cobre, e á noite mata. (Diíia-se outrora em Portugal das
que produzirão as plantas trazidas da China, julgando-sc
que comcndo-as de manhã crão salntiferas, e á noite no-
civas. )
Largos dias tem cem annos. (Exprime que o negocio
de que se trata, offerece grande dilação.)
Lastimado como o pródigo, aborrecido como o avarento.
Agoa sobre agoa , não suja nem lava.
Uma mão lava a outra, e ambas lavão a cara. (Prcstão-se
serviço reciproco.)
Lavrador barbado, p'ra barbudo arado. {Bem pontudo.)
92 LAZEIRA — LEOPARDO
Tirar, levantar da lazeira. (Da desgraça, da miséria.)
Sem latir. (Sem cessar, continuamente. )
Quem muito té, muito Ireslò, ou, tanto lio , que treslêo.
(Perdeu o sizo íi força de porfiada leitura. )
A franqueia pôde ser reprovada, a lealdade é sempre
apreciada.
D um leão conlr'um leão qual a vantagem?
Não tira grau proveito
Corsário que combate outro corsário. (Fyl, El.)
Pela boca morre o peixe, c a lebre ao dente.
Vender gato por lebre.
Fazer como a lebre, comer e rodar longe do covil.
Cousa tão enfadonha, como as legoas do Alemtejo.
Lei de reinar é como a de amaruma só.
Novo Rei, nova lei.
Como a luz e a sombra, o mal e o bem obedecem a cer-
tas leis e condições de um systema que os conslitue.
Leitão de um mez, e marreco de tres.
O que no leite se mama ,
Na mortalha se derrama , ou
O que o berço dá , a cóva o tira.
Bilha de leite por bilha daieite. (Dar um por dez.)
A bom mato vindes fazer lenlia'. ou, A bom sauto vos
encommeudaes! Batei a outra porta.
Barbudo ou barbado como um leopardo.
LÉRIAS — LINGOA 93
Lériaa. (Discursos indiscretos, levianos; termos pono
«crio», v. g. :
1'erabilho uiarquez sem marquezado
Amorosa paixão embute á dona ;
Grama-lbe os cobres, toma liberdades.
Conta lériat á filha.... Oh que milhões
Do duque, pai, um dia elle herdará !...
Hma bonita leira, não annuncia vasta intelligencia , nem
uma eloquencia brilhante, profunda sapiência.
Não tem leiras, mas tem trêtas. (Não é sábio, mas »im
ardiloso. )
I.tuar agoa a outro moinho. (Levar tenção occulta. )
Levar couro e Cabello. (Desabridamente, com rigor,
com aspereza.)
Os viciosos são liberaes para a matéria e objecto de seus
vicios, avaros e tacanhos para tudo mais.
Cu te ensinarei quem é o Liborio I (Tc mostrarei quan-
tos pães dá um alqueire, te apontarei as regra9 de bem
viver!)
Lingoa viperina. (Mordaz, difFamanto.)
Lingoa longa, signal de mão curta.
Lingoa de trapos. (Gago, embaraçado na falia . bal-
bucieote.)
Ter alguma cousa na ponta da lingoa. (Saber bem,
«'tar bem cerlo.)
Ter alguma cousa, algum nome debaixo da lingoa.
(Estar quasi lembrado d'elle. ) ,
Dar com a lingoa nos dentes. (Diíer o segredo, não *
guardar.)
94 LINGOA — LOUCO
Burro velho não aprende lingoa.
F. tem boa poula de lingoa. (Maldizente, satyrico.)
Linguado desapateiro. (Sardinha, qualquer peixe miúdo
e ordinário, por ser barato.)
Passar pelos trabalhos do linlio. (Por fadigas, tareias,
■vicissitudes, &c., alludindo aos diversos processos pelos
quaes passa esta planta, autes de ser tecida.)
Deitar suas linhas. (Calcular, reflectir sobre cousa a
fazer , examinar o pró e o contra . &c. )
Quem nunca vio Lisboa, nunca vio cousa boa.
A melhor companhia acha-sc n uma escolhida livraria.
Quem não quer ser lobo, não lhe vista a pelle.
Nunca um lobo matou outro.
Tirar da boca do lobo. (Com grande perigo e diflicul-
dade. Escuro como a boca do—, cousa negra, escura.)
Onde o lobo acha um cordeiro, busca outro.
liem folga o lobo com o couce da ovelha.
Lógica de bacamarte. (Direito da força. )
Cuidado, oh amantes, nas vossas paixões.
Porque as lograções — vos lião de prender.
Depois de cahir, não ha que escolher:
Adeos liberdade, soedgo e paixões.
De vagar se vai ao longe. (Vej. Manso.)
A palavras loucas, orelhas moucas.
Cada louco com sua teima.
Um louco é capaz de fazer cem loucos.
LOUVAMINHAS — LUZIR
Amigos de louvaminlias,
Com lisonja sempre a geilo ,
Fazem corno as andorinhas :
Vão e vem com tempo feito.
Louvor em boc» própria é vitupério. (ímfiroprio , desai-
roso, indevido.)
Pôr alguém ou alguma cousa nos comos da lua, ou "nas
cslrelks. (Engrandecer, louvar excessivamente.)

Á lufa-lufa. (Velozmente, muito á pressa, n um | ôr


d'ollios, como uma rajada de vento, que é=z lufada. =)
bailar a lume de palhas. (Com incerteza, duvida.)

Njmpha de lupanar. (De alcouce, de bordel, prostituía.)

Ao lusco e fusco, ou, entre luseo-fusco. (Ao anoitecer,


ás trindades. Ao amanhecer, ao romper d alva. Doriva-se
de luseiis, lai., que só vfi de um ôllio, e fuscus, escuro.
O mesmo que: Entre lobo e cão. Ant.)
Gato com luvas, nunca apanhou ratos.
A razão é uma luz, que faz descobrir as entidades c re-
lações iutellectuaes, como a do sol os objectos c quali-
dades materiaes.
Deitar o lúzio. (Olhar, observar altentamente , lançar
golpe de vista examinador.)
Luzir o trabalho, o ordenado, o talento, &c. (Dar ou
ter bom resultado, brilhar, patentear o seu loin eflVito.
96 MACACO — MADRUGADA

Acabar ou morrer dc morte de macaco, 011 morte macaca.


(Por successo desgraçado e imprevisto.)
Lingoagein, energia, constancia, &c., macha. (Varo-
nil, forte, verbosa, Ínclito.)
Também pequeno machado
Derruba grande carvalho.
Cara feita a machado. ( Dc feições grosseiras.)
Machio. (Augmentativo dc macho. Mulher grande , ro-
busta, despejada, varonil. São svnonimos: virago , varúa,
machia, amazona. )
A pereira , o limoeiro , o damasqueiro , &c., machiirão.
(Tornárào-se slerei*, infrucUferos, não dão mais fructo;
o mesmo que macliorrar, ou ficar macliorro. )
Encargo de macliuclia. (Dc importancia. Homem ma-
■ chucho, eminente cm saber, esforços, riqueza», mas só
se usa em stylo joco-scrio.)
.Wadido elemento. (O mar. Mádido significa húmido.)
p'ra amor dc madrasta, o nome lhe ba«ta.
Mais vale qnern Deos ajuda ,
Do que quem muito madruga,
Madruga c verás, trabalha c leráj.
•Ao abrir da madrugada: ao primeiro alvor da —. (Rom-
per da maulifi, ao romper d'aurora, da alva.)
MADRUGAR — MAL 97
Póde-sc tudo vencer
Havendo forças iguaes,
Pois quem tudo quer fazer
Só d'orate dá signaes:
Tudo alcança em casos tacs
O que de vagar começa ;
Nem por madrugar-se mais
Amanhece mais depressa.
Pifai por muito madrugar, amanhece mais cedo.
Agosto madura, e Setembro vindima (na Europa).
Olhos maganos. (Lascivos, amorosos.)
.Vais vai um toma, que dous te darei.
Mais vai tarde, que nunca.
Slais custa a inécha, que o sebo. (O feitio custa mais
que a fazenda.)
Mais faz quem quer, que quem pôde.
Mais sabe o tôlo no seu , que o avisado no alheio.
Mais apaga boa palavra, que caldeira dagoa.
Mais vale só, que mal acompanhado.
Mais que uma valem duas seguranças;
Nem por carta de mais então sc perde. [Fil. El.]
Quem mais faz, menos merece.
Por muito que sc lenha , nunca é dc mais.
Mal por mal, antes Pombal. ( Assim dizião os povos uo
reinado de D. Maria I*, vendo os desvarios que o governo
adoptara para mallograr as úteis instituições d'aquellc sá-
bio e politico marquez, então em desagrado Real.)
Quem mal padece, tnal parece.
7
98 MAL — MALHO
O mal alheio pésa como um cabello, por grande que
soja, ou, por demasiado que avulte.)
Vai de mal para peior.
Querem-me mal as comadres,
Porque llies digo as verdades.
Cada qual senle o seu mal.
Não podemos gozar sem soffrer; o mal é occasião de
innumeraveis bens.
Minguem faz mal, que o nào venha a pagar.
Trabalha-se mais na vida humana para evitar os males,
que para conseguir os bens.
Quando soffremos, queixamo-nos da Natureza ou da
fortuna para nos justificarmos do procedimento que occa-
«ionou os nossos males.
Ha males que vem por bem.
S'isto vai como vós vêdes,
Meu compadre Belchior,
Males a males succcdem,
Tudo vai de mal a peior.
A meu malgrado, ou, mau grado. (A meu pesar.)
Malhado. (Alcunha que os Miguelistas daváo em Por-
tugal aos Constitucionacs. )
Malhar cm ferro frio. (Trabalhar debalde.)
É do malho ou do malliadeiro ? (Expressão que interroga
»c a falta ou defeito procede dalguem ou d alguma cousa,
do agente ou do paciente, v. g. t de uma carta mal aca-
nhada, procederá o defeituoso delia do malho, que vem
a s«r a letra, ou do malhadeiro, que 6 o papel, pennas,
tinta, &c. ? )
MALHO — MANTEIGA 95
Vér-se entre o malho e a bigorna. (Em grande aperlo.)
Faier-se á malta. (Mandar-sc mudar, pôr-se a paunos;
dii-se do calolciro que foge com o cabedal allicio.)
Ficar mamado. (Logrado, embaçado , burlado.)
Mandar não quer par. (Socio, companheiro.)
Aquellc que más manhas lia,
Tarde ou nuuca as perderá.
Isso c um Manoel furta-galfinhat. (Bandalho, biltre.
Ratoneiro, gatuno. Pateta , imbecil, idiota.)
Mamo e manso sem pressa caminhae:
Quem manso anda, não cansa e longe vac, (Oncmltal.)
Chi va piano na sano ,
Chi va sano va lontano.
Mania. (Coberta de cama. — de traves, armação de
ligamento para pôr a cubei-lo a tropa qne ataca a muralha.
Rêgo para plantar bacèlo. — de toucinho, o de metade
de um porco. Peixe —, ou urja —, espccie de enorme
arraia de quatro braças de circumferencia, que se ach.
•nos mares da Madeira e Açores.)
Acende a fragoa o ferreiro
Ao tempo que o gallo canta ,
Bale solla o sapateiro,
E brada co' moço ronceiro
Qu'inda s'envo!vc na mania.
Quem tem muita manteiga, «ssa-a na ponta do espeto.
vDii-se de quem arrota grandes liquens, de quem bitsofin
mais do que tem.)
100 MANTEIGA — MÃOS
Manteiga dEzequiel. (Bosia, esterco.)
Mão. Os cinco dêdos que a coin|iõe, a saber: pollegar,
Índex, maxi.no, annullar e miuimo, em termos familiares
se denominão como segue: mata-piolhos, fura-bolos,
pai de todos, seu visinho e dôdo meudinlio.
Dar bofetada e esconder a mão.
Bofetada sem mão. (Recado, remoque, reprehensãe.)
Lingoa comprida, signal de mão curta.
Beija o homem a mão, que quisera vêr cortada.
Ir com a mão á parede. (Vej. Parede. )
Não sabe qual a sua mão direita. (Ignorante, néscio,
zote, idiota, bruto.)
Esti na sua mão, ou , tem na sua — decidir o negocio.
( Depende da sua vontade.}
Ser a mão direita d'algucm. (Apoio, sustentáculo, esteio.)
Pessoa, negocio, &c., de mão cheia. (Importante,
avultado, relevante.)
Deixo na sua mão o decidir este negocio. (Arbítrio, von-
tade, opinião, alvedrio.)
Cabe-me o jogar de mão. (Ser o primeiro a jogar. )
De muo-commiim. (De acordo, de sociedade , de con-
venção, de intelligeiícia.)
Bens de mão-morta. (Pertencentes a corporações reli-
giosas, militares, ou civis e inalienáveis.)
° Mãos á obra! (Toca a começar, cia, vamos a ella !)
As tnnoj lavadas. (Sem perigo , sem risco.)
Estar com as mão, na massa, ou ter as-na massa. (Tra-
tando dalgum objecto ou negocio; com ellc entre mãos.)
Ir ou vir ás mãos, ou. i unha. (Pelejar, brigar. Atalhar,
resistir, estorvar.)
MÃOS —MARIDO 101
Caliio cm frescas mãos, ou em más unhas! (Em poder
ou na rêde de conhecido velhaco, traste, tratante, &c.)
Conliêço-o, como as minhas mãos, (Perfeitamente.)
Não ler mãos a medir. ( Excessivamente. Estar muito
occupado, importantemente fixo.)
Dar as mãos, ou, prestar uma mão a... (Auxiliar, ajudar.)
Estar com as mãos na ilharga. (Ocioso, não ter que fa-
zer, ou em que cuidar.)
Ter parte na maquia. (No lucro, ser interessado. Chu-
chou boa —, bom bocado, avultada pitança, pingue
quinhão.) ,
Maquiar uma sommi, uma porção de.... (Defraudar
parle delia, dizimal-a, mctter-lhe a unha.)
Quem se não quer aventurar, não passe o mar.
Nem tanto ao mar, nem tanto á terra. (Justo meio. )
Ás mil maravilhas. (Dellamente, salisfactoriamentc. )
F. ainda está marcando passo. (Ainda está como princi-
piou , não melhorou de coudição , marcha no mesmo ter-
reno.)
Março ventoso, Abril chuvoso. (Em Portugal.)
Do bom colmear farão astroso. (Mau, escasso cm mel.)
Maré de rozas. (Tempo exccllcute para navegar.)
Muita Maria ha na terra. (Muita gente do mesmo nome.)
Entre marido e mulher,
Nunca mettas a colher.
A bom marido, gallinha gorda de pés amarcllos.
Perda de marido, perda dalguidar,
Um quebrado, outro no poial.
102 MARIDO — MAZELLA
Marido banana e eíTeminado, depressa emparelha cooi
o veade.
Bem como se indaga o dia
Para o falo ser vestido .
A mulher sagaz se amolda
Ao génio de 6eu marido.
Marinheiro, poeta d'agoa doce. (De fraco saber, pouco
intelligente, pouco merecimento, Stc.)
Marruaz. (Obstinado, cabeçudo, teimoso.)
I
Lingoagcm mascavada. (Corrompidas dialéctica.)
Se queres que o liquido mal te não faça,
Graiaa-lhe massa. (Comer pão para o abafar.)
Não vejo mata d'onde saia coelho. (Vej. Moita.)
Deitar os cães na mata. (Vej. Moita. )
Matara fome, a sêdc , as saudades. (Satisfazer, saciar.)
Dar na tnatadura a alguém. (Tocar-lhc na técla, na
balda , na ferida , em cousa que o vexa ou magoa. )
Dar matraca. (Surriada, apupada, vaia.)
Burro mau, indo para casa, corre sem pio.
Cutello mau, corta o dôdo e não corta o pão.
A homem mau, com corda e páo.
Pelos maus perdem os bons.
Pelos maus pagão os bons, ou, paga o justo pelo pec-
cador, ou o virtuoso pelo criminoso.)
Ás vezes de pequena bustclla ,
S'origina grã mazella.
MAZELLAS —MEL iOS
Descobrir as mazellas. (O mesmo que Dar namaladura.)
Desfazer a meada. (Desmanchar, aclarar o enródo.)
Ter alampada ou cirio na casa de Meca, ou, Quem tem
padrinho não morre Mouro. (Quem tem protecção, pa-
trocínio , empenho, &c. , é sempre feliz. )
Correr Séca e Meca. (Terras e mares, gyrar, divagar
muito.)
Sempre os excessos forão reprovados,
Sempre teve lugar a mediania,
E quem fazer não sabe esta diffrença,
£ capaz de chamar á noite dia.
Mijar claro, e dar uma liga ao medico. (Signal de saúde.)
Os erros do medico, a terra os cobre.
A medico, confessor e letrado, nunca enganes.
O médo 6 quem guarda a vinha.
Quem tem médo compra um cão.
F. tem médo da própria sombra. ( Covarde, poltrão.)
O médo mette a lebre a caminho.
Mercador afidalgado, nunca medrado.
Pôr, deitar no meio da rua. (Expulsar de casa, des-
pedir com cólera.)
Quem se faz de mel, as vespas o comem. (Ser bom en-
tre os maus.)
Ainda que doce seja o mel,
A mordidella da abelha é cruel.
Com assucar ou com mel, até se comem as pedras.
Isso não vai dez réis de mel coado. (Nada, nem ceitil.)
MEL — MENINA
Fazei-vos mel, comer-vos-hão as moscas,
Nâo se fez o mel para a boca do asno.
Boca de mel, entranhas de fel.
Dar mel pelos beiços. (Lisongear, adular, incensar. J
O melão e a mulher, maus são de conhecer.
O melão e o queijo, tomal-os a pêzo.
Aquilio cora que se compra melões. (Dinheiro.)
Melhor 6 mndar conselho.
Que perseverar no erro.
Melhor é só , que mal acompanhado.
Melhor é perder por leinporão, que por serôdio.
Melhor 6 ser torto, que cégo de todo.
Melhor é prevenir, que ser prevenido.
Melhoramos cm virtude, quanto pcioramos em saúde.
F. é melro velho, ou passaro dc bico amarello, ou me-
ninorio. (Sagaz, astuto. Experiente, previdente.)
Memoria de gallo. (Fraca, que cm breve esquece tudo.).
Menina que mui sizuda
Pede licença ás visitas,
E vai na casa de dentro
Atar duas ou três filas
Para da janella abaixo
Deitar cscripto de nó;
Cautela se a deixão só,
Que por sonsa, sem mais bulha,
Ha de enfiar pai e mãi
Pelo fundo duma agulha.
Menina e vinha, peral e faval, maus são de guardar.
MENINICE—MEZ 105
A velhice é segunda meninice.
Tal tc verás entre inimigos,
Como passaro na mão de meninos.
Ahi lia, ou, n'isso ha mais ou menos. (Inexactidão,
dúvida.)
Quem sempre mente,
Vergonha não sente.
Uma mentira descobre outra,
A verdade dá estima, e a mentira privança.
Menos se mentiria, se de mentir se pagasse sua.
Mais asinha se colhe um mentiroso, que um coxo.
Ao mentiroso, convém ter boa memoria.
Os mentirosos tem patente d invoção , que não compete
aos que fallão verdade.
Saramago com toucinho,
É manjar de homem mesquinho.
Saúda só de longe o teu visinho, quando seja mesquinho.
Mette o ruim no teu palheiro,
Quererá ser teu herdeiro.
Metter agulhas por alGuetes. (Diligenciar, agenciar por
todos os meios, a nada se poupar, &c.)
Metter-se onde não o chamão. ([ntrometter-se em ne-
gocio alheio sem a isso ser convidado, indiscretamente.)
B. está meti ido com fulana. (Amancebado, amigado.)
Meu dito, meu feito. (Aconteceu como eu dissera.)
Mez dos galos. (Janeiro , na Europa.)
106 MEZES — MIJAR-SE
Quem pretende enriquecer em doze metes, pôde muilo
bem no Hm do semestre bailar, sem tocar no clião , com
am fioíito de linho ao gasnete, da grossura de um dèdo.
Meza dirmandade, d'eleitores, de votantes, &c. (Reu-
nião das pessoas que compõem qualquer associação, tribu-
nal, &c., edalii a expressão — estar peta meza = , isto é ,
estar approvado por lodos os votos ou vogaes de que ella se
compõe.)
Meza redonda. (Meza de casa de pasto ou particular,
em que por preço Gxo e hora cerla, se serve a comida )
Pôr a meza. (Preparal a com o necessário para se comer.)
Nem meza sem pão,
Nem exercito sem capitão.
Ter boa meza. (Boa comida, excellente alimento, pasto.)
Ter meza franca. (Meza posta e prouipta sempre , para
amigos, conhecidos, &c.)
Passar por baixo da meza. (Diz-se do parceiro que perde
o jogo sem fazer uma vasa, um lento.)
Não tem que comer, e assenta-sc á mezal
Mija-mansinho. (Velhaquetc, bregeirote, picaro pela
sonsa.)
Mijar para o urso, ou , estar mijando para o urso. (Não
se importar, não fazer caso. Acliar-se em boa condição,
rico, poderoso, &c.)
Mijar na escorva a alguém, (llludir, enganar com pro-
messas e faltar , v. g. : MijdrCLo-llic na escorva os protectores.)
Mijar-se com medo. (Não poder-se conter, tal é o pa-
vor , o mêdo.)
MILAGRE — MNEMOTECHNIA 107
Santo de casa não faz milagre. (Quer dizer que não se
tem prestigio em pessoas de familiaridade, pois a illusão é
que o alimenta; o mesmo que = Ninguém é proplieta «a
sua terra.)
Não vou lá, nem faço mlngoa. (Falta, omissão.)
Fazer-sc os miollos cm agoa. (Applicar muito o pensa-
mento, scismar profundamente.)
Isso não chega, ou não dá para meia missa. (1C muito
pouco, é menos do que se precisa.)
Mixorofada, mistura de grfilos, ou mixordia. (Miscel-
lanea confusa, sem selecção, v. g. : de palavras, de idéas,
de hortaliças, de comidas, &c.)
Mncmotechnia, ou mnemonia. (Engenhosa sciencia mo-
derna, que ensina a decorar datas, números, e classifi-
cações. Consiste o seu inachinismo cm dez letras con-
soantes correspondentes aos dez algarismos seguintes: c,
3ouí0,/ou</1, n 2 , m 3, r à, l 5, x ou eh 6, q ou k, ou
c antes de a , o e u 7, v ou f 8 , 6 ou p 9. Com o auxilio
d estas consoantes se pódem formar todas as desinencias.
c numericamente se achão incluídas nas seguintes claves'.
0 12 3— 4 5 6 7 8 9
C est un homme religieux qui vit bicn ,
"12 3 4 5 6 7 89
ou cm: Esse teu namorado lá chegou no vapor. Estes
algarismos vem a corresponder aos seguintes sons: ce 1,
de 2 , me S , re ti , le 5, cie 6 , ke 7 , le 8 , e pe 9 , os quacs
também se podem decompor em: (a, ce , ci, só, sú, aça,
assa, eça, iça, &c., s6, sim, sSo. Ta, te, ata, até, então ,
atão, tem, tim, &c., sendo indifferente preceder ou seguir
108 MOÇA — MOINHO
á consoanlc qualquer vogal nasal ou diphtongo, cujo va-
lor é nullo. Traduzindo pois os algarismos cm letras, e
com cslas formando palavras ou plirascsqúe tenhão analo-
gia com o objecto em questão, engenhosamente nos re-
cordaremos da data traduzida ou numeração, pois fácil é
recordar ideias, mas não algarismos.)
Moça virtuosa, Deos a esposa.
A moça como é creada ,
A estopa como é fiada.
Quem gabará a moça? é o pai que a quer casar.
Qaem quizer a moça, ande do pé e da bolça.
Mais puxa moça que cabrestante.
Não ha moço doente , nem velho são.
O moço por não querer,
O velho por não poder ,
E o pobre por não ter
Deixão as cousas perder.
Sc qnercs ter bom moço ou criado, antes que nasça o
busca. (Tão bons geralmente o são.)
Casar c sonhar privanças,
Dar garrote á liberdade ,
Nuirir-sc de vãs esperanças,
Esses jogos, essas dansas
Passão com a mocidade.
Para os bens da vida terem duração,
Devem-se goiar com moderação.
Pagnci-lhc na mesma moeda. (Do mesmo modo, pela
mesma bitolla, retribui -lhe.)
Cada um leva a agoa para o seu moinho. (Puxa para si,)
MOINHO — MORGADO 109
Com agoa passada, não móo o moinho.
Já que a agoa não vai ao moinho, vá o inoiulio á agoa.
(Pois que o bispo anda de catana , use da milra o soldado.)
Mudar a agoa ao moinho, ou para oulro moinho. (Mudar
de assumpto, de conversa; trocar as bolas.)
Melter os cães na moita, ou mouta, e deitar-se de fóra.
(Induzir alguém a fazer alguma cousa de risco, e não to-
mar parte nella. Não vejo — d onde lõbo saia : não aclio
ou vejo causa de temor. Nào é — donde surja coelho :
capaz, cousa de que lire utilidade, ou objecto que prometta
utilidade. Moita! silencio, cliiton , calluda!)
Ir de bispo a moleiro, ou
Andar para traz como caranguejo.
Ir moUe-mollc, ou ao seu —, (Pouco a pouco.
Cousa, objecto de pouca monta. (Pouca importancia .
•valor insignificante. )
Correr montes e valles. (Percorrer, girar, divagar por
muitos lugares. Vej. Meca. )
Prometler montes d'ouro. (Grande quantidade , avultada
somma; o mesmo que — mundos e fundos. )
Cào que ladra, não morde.
llomens ha que temem a luz da verdade, como os mor-
cegos a do dia ou do fogo.
Mocetão muito bem feito ,
Morgado d'aqui, d alli,
Que á côrtc vem satisfeito
Fazer rolar senhorias,
Pelas quaes é bem aceito ;
Será farto cm cabedaes ,
Mas melhor seria ter
Bellas virtudes rnoraes.
110 MORGADO — MOSCAS
Asno como um morgado, ou frade Bernardo.
Pela boca morre o poise.
Os Reis nunca morrem, ou
Bei morto, Rei posto.
Muitos morrem na guerra , mas mais vão a ella.
Quem dá o seu anles de morrer,
Apparelhc-se a bem soffrer.
Morte natural. (Pena ultima, de forca, garrote, de-
capitação, &c., applicada pela justiça. )
Estar cm artigos de morte. (Agnnisando, expirando.)
É singular que não possamos familiarisar-nos com »
morte, sendo ella aliás Ião familiar entre nós!
O nascimento desiguala, a morte iguala a todos.
Quem morte alheia espera, a sua llie chcga.
Para tudo ha remédio, menos para a morte.
Jiem boda sem canto, nem morte sem pranto.
Dinheiro morto. (Empatado, c que não produz juro ou
lucro, stagnado , cm mortorio.)
Homem morto não falia. ( Não descobre o seu assassino.)
Finge-lc morto, deisar-tc ha o louro.
A mandriice é o chamaril da mosca.
Pc panella que ferve se arredão as moscas.
Em boca cerrada , não entrâo moscas.
Temos moscas por cordas! ou, mosquitos por arames!
"(Vai haver sarrabulho, desordem, desavençai Temos o
negocio embaraçado, emmaranhado.)
Andar, ou estar ás moscas. (Sem fregueies, sem vender.
Andar em desprezo, em abandono. Vadiar, mandriar,
vagamuudcar, andar á tuna , á pclintrage.)
MOSTARDA — MULHER m
Mostarda de S. Bernardo, ou
Boa mostarda é a fome*
Mostarda depois de jantar. (Fóra de lempo, inútil.)
Lagrimas de mostarda. (Fingidas, provocadas de pro-
pósito , de tarracha , d'encommenda.)
Cliegou-lhe a mostarda ao nariz. (A bilis, a rajía) a co_
lera ; cstã escumando de raiva , ira , &c.)
Quem lem padrinho não morre Mouro. (Vej. Ter alim-
pada na casa de Meca.)
Em casa de Mouro , não faltes algaravia. ((slo é , arabico
coiTupto, que elle possa entender.)
j^unca de bom Mouro bom Christão.
Lançar-sc, arrojar-se como S. Tiago a Mouros.
Pedra movediça nunca ajunla limo.
Pedra movediça, nunca inôfo a cobiça.
Muita cnbiça c muita diligencia,
Pouca vergonha , e pouca consciência.
Muita palha e pouco grão, ou
Muita parra e pouca uva.
Muito pedio o sandeu, mas mais o foi quem lhe deu.
Muito prometter, signal do pouco dar.
Quem muito dorme, pouco aprende.
Nem muito ao mar, nem muito á terra.
Muitos são os amigos, mas poucos os escolhidos.
De muitos poucos se faz um muito.
V»1 mais uma perna sã, que duas maletas.
Á mulher casada c amigada ,
Laço corredio , em corda ensebada.
112 MULHER — MULHER
Mulher janclleira, uvas na parreira.
Mulher formosa, ou douda ou presumpçosa.
Konca com o porco, uiva com o lobo , ruge com o leão,
gane com o crocodilo, rincha com o Cavallo, ladra com o
cio, mas foge da boca e das unhas da mulher, que c Q
ni»is nocivo do lodos os bichos. (J. A. Macedo.)
Em dia de Santo André
Quem nào lem porco que mate,
Amarra a mulher pelo pé.
A mulher, o fogo e os mares, são Ires males.
Mula que faz him, mulher que falia latim ,
Raramente lem bom Gm.
Não ha mulher formosa uo dia da bôda senão a noiva.
(Poios atavios e adereços com que se enfeita.)
A mula c a mulher, com afagos fazem o que se quer.
Em casa de mulher rica ,
Ella manda, cila grita.
Deve a mulher ser e não ser como as tres «ousas seguin-
tes. 1.' Deve ser como o caracol em estar sempre na sua
casa, e não ser como o caracol, que trai tudo quanto tem
ás costas. 2.° Deve ser como o éco em não fallar senão
quando se lhe falia , e não ser como o éco , que tem sempre
a ultima resposta. 3.° Deve ser como o relojo da torre , que
regula bem, e não ser como o relojo, em fallar tão alto ,
que toda a cidade a ouça.
A mulher e a cachorra ,
A que mais calla, mais zorra.
A mulher c a gallinha, com o sol recolhida.
A melhor entidade da terra é uma boa mulher, e a peior
peste , a que é má.
MULHER — Pi ABO 113
Toda a mulher inconslaiitc
Vendèl-a logo convém ;
Deve logo pôr-se cm praça,
Dál-a ale por um vinlcui.
K mais difficulloso saber governai' uma mulher do que
um reino, porque n alguns paizes pôde o Monarca reinar
aos quinze annos, porím não fióde casar antes dos vinte
c cinco.
Mulheres ha como as serpentes, formosas, mas vene-
nosas , insinuantes , mas traiçoeiras.
Nas mulheres pelejão mais as lingoas que os braços.
Multiplicando nossas relações sociacs , multiplicamos tam-
bém nossos commodos c incommodos.
Ha nesta bola mundana
Tão desvairados mortaec,
Que não lkimportão porder-se
Por vêr perdidos os mais !
Prometter mundos c fundos. (Vej. Montes d'ouro.)
Carecemos ãs vezes de nihilidades; já uuj murganho sal-
vou um leão.
Muro bem alvo , papel de gaiato.
Letreiro de muro novo. (Palavra indecente a que se allude.)
Pedra movediça , uâo ajunta musgo.

José nabo. ( Besta de páo; tamanhão, homem espantalho


que avulta e não lem merecimento.)
8
NABO — NAMORADOR
F. é um nabo. (Paleta , néscio, idiota, insipiente.)
Comprar nabos em sacco. (Sem examinar o que se com-
pra , sem averiguar o objecto recebido , communicado.)
Nacarados lábios. (Côrderosa, rosados, encarnados. )
Bem nada quem está fóra dagoa!
Não tem nada, quem nada lhe basta.
Nada dnvida, quem nada sabe.
Nadada ceremonia , de formalidades. (Nenhuma.)
Em Portugal, entra a fome nadando. (As grandes chu-
vas causão a esterilidade n'este paiz.)
Nadar contra a corrente, ou contra a veia d'agoa. (Por-
liar debalde, insistir, teimar em vão.)
Nadar entre o rôlo e a ressaca. (Lidar, lutar com diffi-
culdades, achar-sc ou ficar ajiarbado.)
Filho de.peixe -sabe nadar, ou, filho de gato mata
rato. (Herdou as habilidades, manhas, &c. , do pai.)
Basta ! olhe que já posso nadar sem bexigas. (Já me pos-
so governar, reger, administrar meus bens sem conselho
d'outrem. )
Sobre peras vinho bebas, e seja tanlo, que nadem
i lias. ( Porque 6 fructa que desafia o paladar, aguça o ape-
tite da bebida.)
Nadou nadou, e veio morrer á beira. (Trabalhou quanto
lhe foi possível para se salvar, porém sempre sc afogou.)
Nado. (Nascido, v. g.: Nado nas delicias. Ainda bem
não era nado. Cam. Disp. na lnd.)
\«morador de paredes, de janellas. (Amante infeliz,
theorico namorador, que sc esmera cm galantear, mas
não i correspondido.)
NAMORANDO — NATUREZA 115
I'. anda namorando a forca. (Amontoando crimes que
a ella o lcvaráõ.)
Não digas : desta agoa não beberei,
D'eslc pão não comerei.
Antes um redondo não, que um veremos, ou um-talvez.
Agosto não caminhar,
Dezembro não marear.
Narcisarse. (Rever-se , enlevar-se , mirar-sc como Nar-
ciso, namorar-se a si proprio.)
Versos narcóticos. (Que causão somno, tédio ; sopo-
riieros, amodorriferos, lelliargicos.)
Mettcr o nariz onde lhe não compete. (Intrometter-se,
iugerir-sc em negocio onde se não é chamado.)
Homem bem nascido. (De pais honrados, honestos e
nobres. Mal—, de má Índole, mau natural, propenso .i
perversidade. )
Cahir debaixo do anno do níMí/men/i?. (Ficar compro-
mettido com a justiça, pronunciado, ou criminoso para
com algnem. Vem esla locução da formula por que como-
ção todos os autos judiciacs : Anno do nascimento de nosso
Senhor Jesus Cliristo, &c.)
Patria, lingoa c religião, é o nascimento que as dá.
1'. é Epicurista nos gostos; apenas colhe a nata d aquillo
a que os tlieologos denominão vicios. (A llôr, a superfície,
a melhor e mais preciosa parte d aquillo que homens in-
sensíveis ou stoicos alcunhão desenvoltura, devassidão. )
Os homens ensinão a temer a Deos, a Natureza a ama-lo
e admiral-o.
116 • NAU — NEM
'irando náu, grande tormenla. (O êxito correspondo ao
principio, ou, pia gordo lucro Iraballio qne lai.)
NauseSo-me tacs infamia9. (Causãome asco, nôjo, re-
pognancia.)
ínclito nauta, explorador das ondas, (lllnslre navegante.)
Quando a necessidade bale á poria, Toga a virtude pela
janella. (Luxo c pobreza nunca cmparellião.)
A necessidade não tem lei.
Fazer da necessidade virtude, ou
Fazer das tripas coração. (Amoldar-se , sujeitar-sc.)'
A necessidade é mestra da vida.
Necrologia. (Noticia da vida de pessoa f.dlecida. )
A1 ecro-mancia, uigro —, ou negro—. (Advinhação
1'eita pela evocação dos mortos, a fim de que consullan-
do-os, adviuhem o que se lhes pergunta.)
Por fas e por néfas. (A torto e a direito, sem attender
ao quee licito ou criminoso. Enriquecer por —. por todos
os uieios, licitos e illicilos, legal e iniquamente.)
Negav seus pais, seu sangue, sua geração. (Deshonrar
seu progenitor, menoscabar quem menos se deve.')
Negra. (No jogo 6 a terceira partida, que desempata as
outras duas, e as faz ganhar a quem a ganha.)
■Vegro manto da noite. (Trévas, escuridão coinplcta.)
\egro <5 o carvoeiro, porém alvo o seu dinheiro.
A egro como a alma do Diabo.
A'em tudo o que luz é ouro,
Nem toda a tosse i calarrho.
Nem todas as verdades se dizem.
NEM — NETOS 117
Nem em cada côvo peixe ,
Nem em cada uiata feixe.
Vem sempre o som dc trombetas resuscila defuntos.
Nem tão bonito que espante, nem feio que melta mêdo.
Nem tanto, nem tão pouco. (Termo médio. )
Nem com toda a fome á caixa, nem com toda a sêde ao
póte. (Moderadamente, com regularidade. )
Nem tanto puxar, que arrebente a corda.
Nem todo o mato é ouregão, ou
Nem todos são para tudo ,
Nem tudo a lodos se diz.
Nem com o mar contar, nem a muitos Gar.
Nem todos os que vão á guerra, sáo soldados.
Nem voda sem canto, nem morte sem pranto.
Nem tanto amen , que se damne a missa. (Em termos,
em regra; a repetição acaba por aborrecer.)
Nem sempre o homem está de lua ou de vez. (Disposto.)
Nem rio sem vau, nem geração sem mau.
Nem zombando nem deveras, com teu amo rivalises.
Néscio é quem cuida que os outros são burros.
Na barba do neseio aprendem os outros a rapar.
O néscio está bem em toda a parle, o sábio nunca me-
lhor que no retiro e solidão.
Néscios, o que não entendem, é o que celebrão mais.
O applauso dos néscios ú para os sábios assunda.
^estoreos dias, que sonhava Elmano, &c. Boo. (Longos,
dc grande duração. Vem de Nestor, ancião, que viveu
Ires idades de homem. Mylli.)
Esta vida não chega a netos! (Não irá longe.)
118 NIMIA — NOCTÍVAGO
Nimia boa fé, nimiot desperdícios. (Excessivos, dema-
siados, sobejos.)
Hinguem é bom juiz cm causa própria.
Ninguém faz mal, que o não venha a pagar.
Ninguém se metta onde o não chamão.
Ninguém se metta 110 que não sabe.
Ninguém vô o agreiro no seu ôllio.
Ninguém pôde servir a dous senhores.
Ninguém se contenla com a sua sorle.
Ninguém se considera Ião ignorante como o sábio, nem
tão sabedor como o ignorante.
Ninguém é proplieta na sua terra. (Vej. Milagre.)
Um ninguém. (Homem de nenhuma importancia , um
calhorda, pessoa pouco considerada.)
Onde todos mandão e ninguém obedece, tudo fenece.
Quem tem bom ninlio, não mude jazigo.
Pião ha passaro que ache ruim o seu ninho.
Sempre é má a ave que em sen ninho suja.
Ninho de guincho. (Vej. Guincho.)
A. morte é niveladâra; iguala a todos os viventes.
N6 corredio. (O que se desata puxando por uma ponta
do cordel; o dos enforcados.)
N6 cégo. (Custoso, difficulloso de desatar.)
Nó Gordio ou Gordiano. (O que Alexandre cortou, em
vez de desatar, como propuzera Cordio. Dificuldade inex-
tricável. Cortar o nó Gordio, vencer a dificuldade por
uma resolução decisiva, que vence os obstáculos.)
Noctívago vagabundo. (Que vaguôa , vaga, anda de
noite.)
NOCTURNOS—NOVAS 119
Os ignorantes, charlatães e pedantes, fogem dos sá-
bios , como os animaes nocturnos do fogo. v

Em bom panno cahirão as nódoas! (A boa poria baleai


Hão pegárão as bichas! É trabalho inútil.)
Noite fechada, ou, depois de lusco e fusco. (Algum tem-
po depois do sol posto, quando a noiie substituo o dia.)
Noite c dia, ou, dia c noite. (Continuamente, de con-
tinuo, incessantemente.)
Lá pela noite velha, ou, na noite velha, ou alta noite.
(Adiantada, a horas mortas, no mais profundo e silen-
cioso da noite.)
Passar a noite em claro, ou, não pregar ou fechar olhos
em toda a noite. (Não dormir, passa-la em claro, velar.)
Quem gabará a noiva! (Termo familiar; é applicado a
quem louva a si, ou a cousa própria. )
Ter nâjo dalguma cousa. (Repugnancia , asco , aversão.
Tomar —, eslar de —, com lucto, de dó, veslido de
preto.)
Chamar nomes a alguém. (Descompor, injuriar; sub-
entende-se injuriosos, por phrase elliplica.)
Pares ou nones? (Par ou impar? no jogo dos dados.
Do fi ancez: pair ou non ?)
Andar como os alcatruzes da nora. (Ora abaixo, ora
acima, com os vaivéns da fortuna , jogado aos tombos.)
F. não dá de si, nem novas nem mandado. (Não dá no-
ticias de si; não cumpre com as suas obrigações (estando
ausenle.)
120 NOVICIADO —OBRA
Noviciado militar, jurídico, &c. (Aprendizado, tiro-
cínio. )
Dcos dá nózcs a quem não tem dentes, c dentes a qnem
não tem nózcs. ( Reparte mal as fortunas.)
Nunca de má arvore bom fruto.
Nunca de bom Mouro bom Christáo.
Nunca falta um paspalhão para uma paspalliôa.
Antes tarde, que nunca.
Bem ama quem nunca se esquece.
Quem caminha por atalhos,
Nunca salie de sobresaltos.
Qaem nunca teve, nunca perdeu; quem nunca perdeu,
nada tem que lamentar, ou chorar, ou desejar.)
Nuncupativo. (Testamento —, legado — , feito de boca,
de viva voz.)
F. ainda está nutando se irá á toureada. (Vacillando,
indeciso.)
Xutriz. (É termo absoleto, e significa — ama de leite.)

Obéso corpanzil. (Pessoa de excessiva, monstruosa gor-


dura, um alarve, um colosso de carne.)
Oblação pingue. ( Valiosa ofirenda ou offerta feita a Deos,
aos Santos, isto é, á igreja.)
Obra de meia legoa, —dc com passos, & c. (Perto,
cerca , cousa de....)
O fim corúa a obra, ou, FÍh<j coronal opus.
OBIIA-PRIMA — OCEANO 121
Obra-prima. (Perfeita, apurada, primor. Chefe (Cobra,
(■. gallicismo inútil.)
Ha celebridades de pouca duração; , são obras das cir-
cumslancias, c com cilas passão.
As obras mostião quem cada um é.
Obras-morlas. (Amurada, ludo o que no navio fica da
coberta para cima. Obras-vivas, a parte do navio desde a
quilha até á primeira coberta.)
Obrepção. (Acto de espôr falsamente o facto ou alguma
circumstancia dcllc a fim de obter favoravel resultado.
Embargos de obrepção c subrepção, provarás ou documentos
cm que se pretende provar que houve fraude ou omissão
criminosa na supplica com que o embargo obteve despacho,
inerefi ou provisão, a que se oppõe os ditos embargos.)
Obrepticio. (Obtido com obrepção e subrepção.)
Primeiro está a obrigação que a devoção.
Quem dá o que tein , não lica a mais obrigado.
Obrigar alguém. (Fazcr-llie serviço pelo qual a pessoa
fica penhorada, obrigada, obsequiada. Obrigar-se a....,
responsabilisar-se, ficar por.... , responder por....; os
bens, hypotheca-los, empenha-los.)
O remedio obrou. (Prodiuio o desejado effeito ; — por
cima, fazendo vomitar; — por baixo, purgando. )
Obsesso. (Possessodo Demonio, endiabrado. It. possesso.)
A occasião é que faz o ladrão.
Nas occasiões 6 que se conhecem os maus c os bons.
A ociosidade e mãi de lodos os vicios.
F. 6 um Oceano de sentenças, de virtudes, de malda-
122 OCIOSO — OLHADO
dcs, &c. (Reunião, aggrcgado; por analogia ao mar que
rodeia a terra.)
O homem ocioso lorna-se vicioso.
Boa caixa d oculos è fulano. (Diz-se de pessoa desmase- *.
lada , sem préstimo. Locuçio familiar, que também signi-
fica velhaco, Iraste, bargante.)
Occupamo-nos muito com nosco , e com os outros por
amor de nós.
F. morreu em odor de santidade. (Cheiro, crença,
opinião de.)
F. tem a figura d'um odre. (Disforme, monstruoso. Odre,
Bêbado, beberrão, tarraço.)
Beijo-te bode por que um dia serás ôdre. (Borracho,
pelle de cabra curada c feita em sacco para levar vinho.)
Cada qual no seu offteio. (Cada um no seu ramo, ele-
mento, no que entende.)-
Quem tein ofíicio não morre de fome.
Homem sem ojficio nem beneficio. (Sem modo de vida. )
Fazer bons ou maus o/pcios a alguém. ( Mal ou bem nos
seus negocios, preleuções. Fazer boas ou más ausências.) <
Cada oleiro gaba as suas telhas.
Quem adiante não olha,- fica atraz.
Queres vêr o porvir, olha o passado.
Casa, cidade, rio que ollia ao nascente. (Fronteira, em
frente, dar sobre o.)
Nós cá, bem lhe entendíamos as olhadas. (Comprelien-
diamos, entendíamos, interpretávamos o accionado. )
Olhado. (Quebranto, fascinação; mal, que o vulgo se
persuade que alguém communica a outra pessoa olhando-a.)
OLHAR — OLIIOS 123
Olhar. (— para si, attcnder, cuidar dos proprios inie-
rcsscs. — ao diaulc , cuidar no futuro. — por si, -vigiar se,
acautelar-se. — a dcspczas, a gastos, reparar, observar,
orçar.)
O//10.. ( Menina do —, pupilla. Ter bom —, vista per-
spicaz. penetrante. Abrir o — a alguém, desengana-lo,
tira-lo do erro cm que eslava. Fechar os — sobre isto ou
aquillo, deixar passar, fingir que se não vê; ser conni-
vente ou pouco escrupuloso. Estar com os — n'alguma
cousa, tê-la em vista, attentar nclla. Vêr com bons—,
favoravelmente, c com maus —, desfavoravelmente. Met-
ter-se pelos —, ser manifesto. Crescer, diminuir a —,
visivel ou sensivelmente. Vender a —, a esmo, á estima-
tiva. Fechar o —, morrer. —d agua, nascente. Pôr-se
ao — do sol, bem defronte. — da rua , ou , meio da rua.)
Estar com o ôtlio alerta. (De vigia, dalcateia, despia,
d'alaláia, á espreita.)
Um âllio no prato, outro no galo.
Emquanto o Diíbo esfrega um ôlho, ou
Num abrir e fechar d 'olhos. (N'um apse, instante.)
O âlho do amo engorda o Cavallo.
Nota a palha no âllio alheio , e não a trave no proprio.
Olhos verdes, ollios de traidor.
Os ollios dos namorados
Tem um certo não sei que.
Que serve de sobrescriplo
Da carta que se não lê.
Mais vêem dous olhos que um.
Mais vêem quatro olhos que dous.
Não é pelos seus bellos olhos que.... (Por si, por isso.)
124 OLIIOS — ONOM ATOPEIA
Na face e nos olhos se lê a letra do coração.
Passar pelos olhos. (Vêr, olhar rapidamente, v. g.: um
livro, corrê-lo.)
\o-lo com os olhos, comê-lo com a lesta , ou
Ve-lo com a testa, comê-lo com os olhos. (Por tlicoria.)
Corvos a corvos não se tirão os olhos.
Olla podrida. (Pronunc. olha em Ilespanliol. Soupa ou
guisado de muita substancia que se faz na iíespauha o na
raia de Portugal, c se compõe de carne de vacca, porco ,
chouriço, presunto, carneiro, caça, grão de bico, favas,
&.c. Por analogia ou extensão olha podrida se usa por mis-
cellanea, michordia.)
Olographo, ou, Holograplio. (Testamento — , drama—,
lodo escriplo pela mão do testador, do autor, &c.)
Casa na praça, as ombreiras lem de prata. (Prédio cm
bom sitio é sempre vendavel, procurado , &c.)
Estar com a onça, ou, estar com ella Cilada no cacha-
ço. (Locução brasileira, corresponde ás phrases lishouenses:
Estar muito em baixo; achar-se baldo ao naipe,' estar a tinir,
ou lazarando por cruzes; faltar-lhè o melhor, &c.)
Isso ainda é do tempo da onça. (Muito antigo, de pris-
cos tempos, loc. bras. )
Onde bem me vai, acho mãi e pai.
Onde ha muito riso, sempre ha pouco siso.
Onde não lia honra, não ha deshonra.
Onde força ha , direito se perde. .
Onomatopeia. (Figura que consiste em imitar com o
som a cousa significada; v. g.: Trons da artilheria , Zunido
das abelhas, Rebombo, Rãa, Pato, &c.)
OPINIÃO — ORÁCULO 12 5
Fazer opinião. (Pundonor, timbre, capricho em...)
Tantos liamens, ou, tantas cabeças quantas opiniões.
Chuchar, beber o opio. (Gramar o engodo, a lisonja ,
o engano. )
lí opio dar em casa uma fuução ,
Opio é andar sempre sem real,
São opio boa» feslas no Natal,
Duas noites perder no São João.
É opio rebentar de comilão ,
Andar paramentado ecomer ma],
Poeta morrer rico cm Portugal,
Abi ministro ser e não ladrão.
Paia finalmente concluir
Té n'este mundo um opio vem a ser
Vêrmos uns a chorar, outros a rir.
Ferrar, dar, pregar um opio. (Logração , peça, engano.
A opposiçâo de opiniões suppõe ordinariamente a de in-
teresses iudividuaes ou colleclivos.
Ora. ( Agora , jã, n'cste momento. Nesse caso, portanto,
logo, t. g.: Temos ora a satisfação de... (por agora ). Ora,
admittindo semelhante opinião (porentio, logo, portanto .
A palavra ora, repetida em duas phrases consecutivas,
equivale a umas vezes, g. : ora um ora oulro, ora fugia
ora se approximava. )
Oráculo. (Resposta ambigua, amphibologica, com ar
myslerioso. Pessoa cuja opinião ou decisões são respeita-
das como inf.illiveis; v. g. : Hippocrates na medicina, Ci-
cero em latinidade, Newton em malhematica , Antonio
Vieira em linguagem poiloguezo, &c.)
126 ORATES — ORELHAS
Alcançar , on, ter a primazia 11a casa dos orales. (Con-
summado, chapado doudo ou louco ; orale de capello.)
Pessoa que orça pelos seus quarenta. ( Que tem perlo de
40 annos, que d'ellcs se avisinha , &c. Se é homem , dir-
se-ha : trintão, quarentão, cincuentào, oitentão, &c. ; se
mulher: trintona, cincoenfona, setentona, &c. ; porém não
a menos de 30 annos, pois essas desincncias denotão idade
maior, a madura ou de seneclude.)
Metter, dar, carregar á orça. (Á bolina, contra o vento.)
Orçou a carga do chaveco em... (Andou por..., cerca ,
perto de... )
Ordir enredos, enganos. (Traçal-os, tccfil-os, tramai os.)
Pela orelha. (O inesmo que a ôlho, sem pesar, con-
tar, pela estimativa , &c. )
Torcer a orelha, on, as—a. (Arrependcr-se, apezarar-se.)
Grande pé c grande orelha, signal de grande besta.
Ficar com as orelhas baixas. (Humilhado , aviltado.)
Abanar as orelhas. (Negar o que se pede. Não annuir á
proposta, recusar.)
Palavras ouças, orelhas moucas. (Surdo a asneiras, a
sandices; it. tolices não tem resposta.)
F.mpenhou-se ate ás orelhas. ([ndividou-se muitíssimo.)
1" azer orelhas de mercador, ou, ouvir com orelhas surdas.
(Fingir que se não ouve, não dar ouvidos.)
Quebrar as orelhas. (Importunar, maçar, enfadar.)
l)ar orelhas ou ouvidos. (Altendera, fazer caso dc, es-
cutar, dar, ou prestar attençSo.)
1". qucbrou-mc as orelhas, ou , os ouvidos com essa Iram-
polina. (Atnrdio-mc, azoinou-me, incouimodou-me, en-
fadou-me.)
ORELHA —OSTRACISMO 127
Suai- atrai da orelha, signal de iná besta.
As falftilas c allegorias do Oriente, invadirão e conquis-
lárão o Occidcnlc.
Ornear, ou ornejar. (O zurrar, o reburnar do burro.)
Orplienica melodia. (Suavidade, harmoniosos sons,
maviosos, &c. De Orplieo, insigne tocador de lyr.i.)
Ter ortigas na consciência. (Remorsos, pezares pungi -
tivos.)
Lançar ás ortigas. ( Vej. Lançar o habito ás.)
Orvalho da piedade. (Compaixão, misericórdia, dó.)
Quem chuchou a carne, rôa o osso.
Eslá reduzido a pcllc e osso.
È F. em carne e osso. (A mesma pessoa, a própria,
■vivo, a mesmissima.)
Carne sem osso. (Proveito sem incotnmodo, ganho sem
risco, interesse sem trabalho. )
Em osso. (Sem sélla, albarda ou outro arreio para ca-
valgar, sem arreames.)
Moer os ossos, ou a ossama a alguém. (Pisar com panca-
das, dar lambadas. Causticar, enfadar,'dar maçada.)
Roer os ossos. (Ficar frustrado do ganho ou lucro de
algum trabalho, c onerado com elle; o mesmo que ■ Tra-
balhar para o bispo. •)
Ostracismo. ( Desterro politico de dei annos, ao qual os
antigos Gregos condemnavão qualquer cidadão perigoso
ao Estado por suas riquezas, influencia, saber, serviços, &c.
Por analogia se diz hoje da perseguição, esilio, &c. , a
que se ví exposto qualquer homem de merecimento.)
128 OURIÇO-CACUEIRO — OUTEIRO
Nunca sc malou ouviço-caclieiro ás punhadas.
Nem tudo o que luz é ouro.
Ouro é o que ouro vale, ou
O que ouro é, ouro vale.
Idade ou século de ouro. (Época imaginaria dos pocias,
na qual considerão o homem viver no estado de innocen-
cia e perfeita felicidade. Época de felicidade e singeleza.
Era ou época em que florescerão sábios, doutos e illuslrcs
escriptores.)
Ouro e Co. (Em perfeito equilíbrio, pôso recto.)
Prometter montes d'ouro. (Grandes riquezas.)
Comprar uma cousa a peso douro. (Caro.)
Essa moça vai o seu peso em ouro.
K ouro sobre azul. (Realça , condiz bem.)
Onde o ouro falia , tudo cala.
Hcnego de grilhões anles que sejão d ouro.
Nunca eu faria tal por todo o ouro do mundo.
Ouropel. (Folha mui delgada e lustrosa de cobre ou
latão, que se assemelha a ouro batido. Falso brilhantismo,
fingido esplendor. Ouropéis de eloqucncia, de rhetorica,
&:c. , ornatos frívolos, superficiacs, que brilhào sen» acla.
lar, que lisongêão o ouvido sem commover. Em alguns
aulores veoi erradamente ouropelcs e europcles.)
Ao homem ousado, a fortuna dá a mão.
Outeiro. (Monte pouco alto, collina, montículo, pc-
quena elevação ou achadas. «Os outeiros aspirão a sor uion-
les» : a Ilude Vieira a que, gcnlc de baixa esphera, e sem o
merecimento necessário , aspira a grandes cargos. Outr ora
quando em Portugal havião reuniões festivas , coucur-
OUVE — OUVIR 129
so, &c., de poelas ou rimadores que glosavão motes,
cliauiava-se á reunião outeiro, cuja denominação ou
derivação tcui do monte Parnaso, o do Fr. hauleur, collina,
uionLe.)
Quem diz o que quer, ouve o que não quer, ou
Quem diz o que não deve, ouve o que não espera.
Se queres ser boin juiz
Ouve o que cada um diz.
Uma ovelha má deita um rebanho a perder.
Antes se perca a lã que a ovelha.
Com a mão sobre um ouvido
Ouvia Alexandre as parles,
Como quem linha entendido,
Por fazer certo o fingido,
Quantas que se buscão, artes.
Guardava elle o outro inteiro
A parte não inda ouvida;
Não vai nada em ser primeiro ;
Quem muito sabe duvida ,
Só Deos é o verdadeiro. (SA Mir.)
Entrar por um ouvido e sahir por o outro. (Cousa a que
se não dá atlenção alguma.)
Dizer ao ouvido. (Era voz baixa, para que se não ouça.)
Dar, prestar ouvido. (Escutar, dar atlenção.)
Cuidado, que as paredes l em ouvidos, ou olhos e —. (Ada-
gio que recommenda reserva uas acções e no fallar, para
nao ser visto nem ouvido por pessoa suspeita , indiscreta,
malévola, &c.)
Nao ha maior surdo do que aquelle que não quer ouvir.
9
130 OVO — PADRINHO
Eslá Ião cheio como um âvo. (Completo, repleto como
11 m —.)
Cacarejai' e não pôr óvo. (Annunciar e não publicar , ou
promelter grandes cousas c nada produzir.)
Barco leve corno uma casca d Vim».
Saliir da casca do ôvo. ( Começar a ser senhor de si.)
Barato como um <5oo por um real.
Ao frigir dos ovos. (Quando cbegar a occasião.)
Oxalá. (Interjeição, termo composto do Árabe cxá Allá,
queira Deos, se Allá quizer, prouvera a , &c. )

Pd de boi, de cavallo, de gallinbn, &c. (É a parte car-


nuda mais alta das pernas, onde se unem ao resto do corpo.)
Ficar á pá. ( Reduzido a zero , sem modo de vida , como
se sò a podesse ganliar limpando as ruas com pi, officio
que não <5 necessário aprender.)
Ferrou , gramou com todo o perú, com a melgueira na
pá do rabo. (No buxo, no fundo da barriga, chuchou tudo.)
Estar de pachorra. (Disposto a , com vontade de. Ter —,
paciência, disposição mansa, fleguiatica.)
Paciência de Job. ( Extrema , excessiva.)
Padre-mestrc. (Espertalhão, matreiro , ladino.)
Ensinar o padre-nosso ao vigário, ou, o pai a fazer filhos.
Padrinho. (Protector, patrocinador, patrono. O que pre-
sido ou responde pelo desafiado em duello, combate, Scc.)
Quem tem padrinho não morre Mouro,
PAGADOR — 1» ALICIO 131
Ao bom pagador não dóe o penhor.
Pagar na mesma moeda. ( Tanto pelo tanto.)
Pagar o justo pelo peccador.
Ao arrendar cantar, e ao pagar chorar.
Quem deve a Pedro c pagou a Gaspar,
Torne a pagar.
Pagarei pelo corpo, como S. Francisco.
Pagode. (O senso primitivo d esta palavra índia é:=tem-
pio , monumento religiosos e por analogia Barros, Couto,
Lobo, &c., o usarão como = reunião, ajuntamento de
religiosos idólatras, e = o mesmo ídolo adorado. Também
significa funçanata, função do comesaina, de comes e
bebes, c até de danças, cantares, folganças c prazeres li-
cenciosos, semelhantes aos que na Asia praticào as baila-
deiras de certos pagodes, ganhando pelo preço da prosti-
tuição, a mantença delles. É lambem moída índia, de
valor irregular, segundo o agio; a de praia vale cerca de
1 100 , e a de ouro qoatorze ou quinze vezes mais.)
Onde bem me vai , tenho mãi e pai.
A quem bem me mantém, chamo pai e mãi.
Qual pai tal filho, qual filho tal pai.
De pai santo, filho diabo.
O bom pai amc-se, o uiau soffra-sc.
Pai não tiveste , mãi não temeste, diabo te fizeste.
!'"• à um paio. (Estúpido, ignorante, lôrpa, néscio,
pateta.)
Estar como El-Rei em seu palacio. (Á vontade, em li-
berdade, de perna estendida.)
132 PALANQUE — PALITAR
Vir tourear de palanque. (Presenciar lance arriscado
sem correr perigo.)
Palavra de Rei não volta atraz.
O boi pelo corno, o homem pela palavra.
Minha palavra. (Ou por—, subentende-se de honra.)
Homem de lioa lei, tem palavra como Rei.
Do palavra cm palavra. ( Dc uma razão para outra.)
Palavras não cuslão dinheiro, ou
Palavras e plumas, o tento as leva.
Palavras não enchem barriga. (Com agoa ninguém se
embebeda. )
A duas palavras, tres porradas. ( Diz-se de valentão que
se explica melhor por vias de faclo.)
A bom entendedor, poucas palavras, ou
A poucas palavras, bom entendedor.
Palavras sem obras , plumas ao Tento.
toma-me por Ião lorpa , que me julga capaz de con-
vencer-me com palavras ! (Lógica dc cabo desquadra.)
Ê insípido como palita.
Contender, encolerisar-sc, fazer extremos, &c., por dá
cá aquella palha. (Por motivo levíssimo, por um nada. )
Todos comem palha, sendo dada a proposito.)
A má paga venha cm palha. (Seja como fôr.)
A lume, ou, a fogo de palha. (Rapidamente, n um apse. )
Tirar, tomar a palha a alguém. (Ser mais alio que ellc,
excedê-lo em tamanho. Excedê-lo, supera-lo em saber,
merecimento; levar-lhe vantagem, &c.)
Palitar. (Significa propriamente esgravatar, limpar o»
dentes com palito, mas por ampliação lambem, conversar,
PALMA — PANDAS 133
praticar com alguém por desenfado, desfructa-lo, &c.,
fazendo cliacola, escarneo da pessoa , &c.)
Palma. (Synonimo de victoria, Iriumplio, pois o seu
svmbolo era aaligamente o palmito, o qual se ofTertava ao
vencedor. Levar a — , vencer, trinmpliar. Palmas da mão,
o lado opposto ás costas d elia. Trazer nas — a alguém ,
fazcr-llic grandes finezas, obséquios. Andar nas—, na
fama, na voga. )
Ganhar a palma. (Obter a primazia , ganhar o premio.)
Dar as mãos á palmatória. (Sujcitar-se a melhor juízo,
confessar-se culpado, enganado, vencido.)
Palmo craveiro ou de lei. (A quinta parte da vara, ou a
terceira do covado. — geometrico, 12 pollegadas. Conhe-
cer o lugar a palmos, exactamente, com toda a individua-
ção. Perder, ganhar o terreno palmo a —, combatendo a
cada passo , renhidamente. Crescera—s, rapidamente,
sensivelmente.)
Mulher palreira, de tudo falia ^ e todos d elia fallão.
Panada. (Remédio que a ignorancia do vulgo tem jul-
gado e a impostura dalguns médicos inculcado como geral,
ou especifico para Iodas as moléstias.)
F. 6 um pancada na mola, ou tem —. (Armado no ar.
inconsequente, adoudado, estouvado. É expressão nova e
familiar; allude á mola dorelojo, a qual levando pancada,
transtorna todo o organismo da maquina.)
Pandarane. (Vej. Pântanos.)
Pandas azas , -vélas pandas. (Enfunadas, bojudas, incha-
das pelo vento, abertas, soltas.)
13/i PANDILHÀ — PÃO
Pandilha. ( Associação ou conloio cnlre algumas pessoa?
para fraudar ou roubar alguém; dahi, empandilliar-se,
aggregar-se com gatunos, larápios, malandrins, )
Cavallo pando. (Que lem o espinhaço concavo, curvado
ou sellado.)
Boceta de Pandora. (Origem de lodos os males. )
Alagoslado pandorga. (Homem pansudo, barrigudo , e
avinagrado, ou de côr da lagosla. )
Panella de muitos, sempre 6 mal cozinhada.
Pancila que muito ferve, o sabor perde.
Panno que outrem usou, nunca durou.
Remenda o patino., durar-te-ha outro auno.
De panno escasso, capote curto.
Nunca se queixe do engano,
Quem pela amostra compra o panno.
Pannos quentes. (Vêr-se em — , apertado, atrapalhado,
fóra dos seus eixos. 1'allialivos, meios conciliatorios, con-
ducentes, brandos.)
1'ôr-se a pannos. (Mudar-se, safar-se, bater o chinelo.)
Panlanas. (Dar com tudo cm —, arruiuar-se, perder o
cabedal, estragar a fortuna; antigamente se dizia panda-
rane, c , pantana.)
Pão afatiado, não farta rapaz esfaimado.
Á fome não ha pão duro.
Pão por Dcos. ( O que se dá em diá de finados.)
Ganhar seu pão com o suor do seu rosto. (Ganhar o
proprio sustento á força de trabalhar.)
Pão que sobre, carnc que baste, e vinho que falte.
PÃO — l'ÁO 135
Em casa onde não lia pão,
Todos gritâo e ninguém lem razão.
Pão. ( De munição ou de praça , o que diariamente sc
dá ao soldado. — meiado, de duas qualidades de grão;
v. g. : Irigo c senteio, tramoços, cevada Scc. — terçado,
de Ires sortes. — de ló, de farinha, assucar e ovos. )
Bom é saber, que pão nos La de manter.
Quem mal enforna, terá o pão torto.
Sopas sem pão, como o mijo se vão. ( É caldo, )
Á boa fome não lia mau pão.
Pão alheio caro custa.
Pão quente, muito na despensa, pouco no ventre. (Por
que é indigesto quente e não frio. )
Á fome não lia pão duro.
Pão pão, queijo queijo. (Sc quer diga, quando não,
adeos. Pessoa explicita, franca , sem delongas.)
Páo furado. (Espingarda.)
F. é pito para toda a colhór, ou, para toda a obra. (Serve
para tudo, è capaz de tudo.)
Levar tudo a pão. (Á força, por violência.)
Homem grande , besta de pio.
O pio pela côr, o vinho pelo sabor.
Obedece a teu marido cm toda a acção;
Trata de sondar bem lodo esse \áo
Se não queres a tua perdição.
A mulher faz o homem bom ou mão ,
Qu'um sujeito resoluto e maganão
Assim como dá pão pôde dar páo.
Ser cunha do mesmo páo. (Official do mesmo olBcio.)
Páo c páo. (Sustento c castigo.)
136 PÁO — PÁRA
Em quanto o pào vai c vera, folgão as cosias. (Nesse
intcrvallo se goza de descanso.)
Pào de cabelleira. (Servir dc—, ou de carrollo, diz-sc
da pessoa que ajuda oulra cm namoro, ou intriga amorosa ;
também alcofa, diminutivo d'alcoviteiro.)
Dar por pàos c por pedras. ( Obrar desatinadamentc.
Enfurecer-se por qualquer cousa.)
Papafma. (Cousa muilo delicada, especial, exquisila.)
Falia como um papagaio. (Muito, e sem sentido.)
Papajanlares. (Parasito, desfruclador das uiezas alheias.)
Papalvo. (Simplorio, tolo, paleta.)
Papamoscas. ( Basbaque, estúpido , que está de boca
aberta embasbacado.)
Não tem papas na lingoa. (Falia , obra sem temor, sem
embaraço ; diz as verdades sem rebuço.)
Fazer, desempenhar o seu papel. (A parte que lhe com-
pete, de que se encarrega, do seu oflicio, a personagem
que representa.)
Lm no papo outro no sacco, c chora pelo do prato. (Na
barriga, no alforge e ainda 11a meza.)
Grão a grão, ou, bago a bago , enche a gallinha o papo.
Gallinha não põe do gallo, mas sim do papo.
Não fazer papo. (NâO encher as medidas, não satisfazer.)
Papos d anjos. (Manjar delicioso e esquisito, de Deoses;
primitivamente significa doces d ovos.)
Tarde dar c negar, eslão a par.
Revolução que em seu começo pára, perdida está.
PARABÉNS— PAREDE 137
Parabéns. (Do para e bem; felicitação que sc dá a
alguém por occasião venturosa , anniversario, &c.)
Divida, ou, conta bem parada. (Bem responsabilisada ,
bem cobravel, cm boa firma oti mão ; mal —, desacredi-
tada, onde não ha bens para a satisfazer, onde a sua
cobrança é duvidosa.)
Essa tramóia, esse ardil, tem-me feito parafusar. (Scis-
mar, meditar, reflexionar profundamente.)
Planta parasita. (Assim sc denominão aquellas que cres-
cem sobre outras e d'ellas se nutrem , islo 6, d elias extra-
liem seu alimento ou nutrição. Por analogia se d& o titulo
de parasito ou parasita ao synouiuio de desfructador, papa-
jantare», bcija-cús de bons jantares, &c. )
Dous pardaes o'uma espiga
Nunca fazem boa liga.
Isso existia já antes de liaverem pardaes. (De grande
antiguidade, immemorial.)
Estorninhos e pardaes
Todos querem ser iguaes.
De noite lodos os galos são pardos.
Dure pouco a festa, mas bem pareça.
Dadiva ruim a seu dono parece.
Bem parece o ladrão na fouca.
Quem achaque padece , mal parece.
Quem o leio ama , bonito llie parece.
Ir com a mio á parede. (Commclter erro, falta, engano.
Dar parte de fraco, moslrar-se cansado, enfraquecido.)
Nem só os homens mijão ú parede.
138 PAREDE — PARVO
Levar alguém á parede. (Convencer, demonstrar, per-
suadir. )
Pôr ou arrimar os pés (ou o cú) á parede. (Resistir com
pertinacia a acto ou raciocínio.)
As paredes tem ollios e ouvidos. (Isto 6, recommendar
reserva nas acções c no fallar, para não ser visto nem
ouvido por pessoa suspeita. Vej. Ouvidos.)
Cuidado, que montes vêem , e paredes ouvem.
Jogar parelhas. (Comparar-se, competir, emular.)
Quando o villão está rico, não tem parente nem amigo.
Parlando. (Discurso longo e enfadonho , fallatorio.)
Parte. ( Litigante , auctor , interessado. (Em processo.)
N'cssa comedia , faz elle a parte de F. (O papel.)
Dar parte de morto. (De doente, de impossibilitado.)
Tomar cm má parte. ( Em mau sentido, desfavorável.)
De parte a parte. (De lado a lado, atravei.)
Partes. (Dotes do espirito, dons da natureza, prendas
da arte, &c. Pugnar pelas — do cônsul, sustentar as —
do marcclial, &c., pelo partido, facção, bando. Desem-
penhar, fazer as — de F. , as vezes, o ollicio. Vamos por
—, paulatinamente, examinemos, analyseinos a questão
por artigos. As—baixas, pudendas, pudibundas, naturaes,
ou simplesmente partes, as genilaes, da geração , as que o
pudor faz cobrir.)
Ter partidas, ou, corridas de cavallo , e paradas de sen-
deiro. ( Diz-se do que começa a fazer as cousas muito bem,
e cm breve pára em nada ou cm desacertos.)
O parvo se está callado,
Por sábio è reputado.
PARVO — PASSO 139
Parvo, parvalliúo. (Estúpido, paleia, cstolido.)
Parvoíce, parvoiçada, &c. (Eslupidez, acção, dito de
parvo.)
Nunca faltou um paspallião para uma paspalhoa. (Um
eslupido para uma estúpida.)
Rio sinuoso, cem vetes se passa.
0 rio passado, o santo já uão lembrado.
O passado, passado. (Esqueçamos o —; não se falle no
que já foi; não se trate mais do —.)
Passar por alto. (Introduzir por fraude, não pagar os
direitos do despacho. Cousa que se sonegou, se esqueceu
de proposito.)
0 que é duro do passar, é doce de lembrar.
F. trcmia-llie a passarinha. (Tinha grande môdo, susto.)
De mau ninho nunca cries o passarinho.
De ruim ninho sahe ás vexes bom passarinho.
Pássaro velho. (Vej. Melro de bico amarello.)
Pássaro que n'agoa se cria, sempre por cila pia.
Dar um passe. (Desculpar , dissimular alguma cousa.)
Jogos de passepassc. (De pelloticas, de destrezas, como
os dos Malabares. Alternativas, viravoltas, instabilidade
da fortuna.)
Ao passo. (A medida, ao mesmo tempo, á proporção.
A cada —, repetidamente, a miúdo. A poucos —s, a pe-
quena distancia, perto. Dar— s, ou passadas por, ou para
uiii negocio, acliva-lo , diligencia-lo. Dar um—, fazer,
obrar uma acção. Tomar o—, ir diante, guiar outros,
ser oprimeiro, O — geométrico contém 5 pés; porém o —
PASTELEIRO — PATIBULARES
ordinário só 2-1/2. A —, de vagar, não acccleradamente.
Guardar o —, entrada aberta, posição militar, que dá
sahida ou entrada a força armada, v. g. : o dos Thermo-
pyles, o do Bussaco, o do monte S. Bernardo, &c. Passos
da paixão, são os tormentos e angustias que os Judeos
fizerão padecer a Jesus Christo, e por extensão, a Capella,
oralorio ou retábulo onde estão representados. Tive —s,
engraçados, originaes com F., casos, acontecimentos.)
Moço guloso , mau pasteleiro.
Não enxergar pataca. ^NSoTÊr nada; não entender—,
nada, estará domingas, na mesma")
Pala-choca. (Assim se denomina o occolylo, sacristão,
ou servente da sacristia , por analogia do modo de andar
d estes, com o de uma pata que clioca ovos.)
Ficar no patamal da escada. (A espera do recado, tratado
de resto. Estacar no começo do negocio, da vida.)
Patão. (Homem que tudo ingole , tudo acredita, parvo ,
tôlo. Cousa tosca, grosseira.)
Patarata. (Gabulador, impostor, bazofio que ostenta
o que não tem.)
Pagar a patente. (Contribuição que paga o preso ao en-
trar na cadêa, o estudante na universidade, o estrangeiro
que pela primeira vez chega a uma cidade, e a pessoa qnc
passa a linha cquinoccial, &c. ; e para se gastar em com-
mum entre aquclles que a exigem e o que paga.
Ter indole, inclinações patibulares. (Diz-se dc quem faz
por onde vá á forca , ao patibulo.)

d
PATO — PÉ 141
Pato, ou, patinho. (Caloiro, pessoa que se deixa facil-
moulc lograr ; « caliiu como um —. » )
Pagar o pato. (A despeza comuium, ou o damno feito
por outrem ; significa lambem = Pagar a patente. Vej.
P'ra tal patrão tal creado, ou, similis cum similibus.)
Patuléa. ( Alcunha que em Portugal se deu aos rebeldes
da revolução de 1846. Deriva-se de pata, que era o cal-
l ailo da maior parle d clles, isio é , sola do pé no chão.)
Pôr á pavana. (Descompor, injuriar, insultar com pa-
lavras ; o mesmo que á rasa.)
Homem pavoneado. ( Enfeitado com cousas gaiis, lustro-
sas como a plumagem do pavão, de exterior arlequinado.
Presumido, desvanecido como o pavão.)
Pavonear-se. (linfeilar-se como o pavão; vnngloriarse
de ouropéis exteriores; rever-se com desvanecimento n al-
guma cousa, como o pavão nas suas peunas.)
Paz de cajado. ((inerra.)
Pi ante pé. (De mansinho, de vagar.)
Isso não lhe chega nem á sola do pé. (Diz-sc dc cousa
muito somenos, inferior a outra , ou lambem «não lhe dá
pelos pés. » Entrar com o — direito, com boa estreia ou
felizes auspícios. Estar a—quêdo, pelejar a — quêdo, sem
largar campo, conservar-se firme. Tomar — no no, no
mar, ir ou estar até onde a agoa não passe do pescoço , não
afogue. Tomar—, cslabeleccr-se, fixar-se. Tomar — n'um
negocio, entendê-lo, oomprehcndO-lo. Negar aos —s jun-
tos, aflincadaineule, obstinadamente. « Quando me achei
a salvo vi a Deos pelos — » , considerar, julgar grande e
1/42 PÉ — PECHINCHA
inesperada felicidade. Com — de lã , sorrateiramente, com
mansa sagacidade. Ao — da letra , litteralmentc, palavra
por palavra. « D aqui lomou — para não pagar » , pretexto,
motivo. O pé geometrico lem 12 polegadas . 011 1 1/2 palmo
craveiro. Um — de larangeira, de fígQeira, qualquer ar-
vore. Um — de vento, de chuva, o mesmo que pancada
de vento, &c., que se levanta, cahc de repente.)
Pi de boi. (Llomem prudente c honrado.)
Não põe pé cm ramo verde. (Não pára , não socega.)
Pi d'altar. ( Esmola, o flerta ou espórtula que se dá ao
parocho em occasião de baptisado, casamento, cnlerro, &c.)
Todos tem seu pé de pavão. ( Defeito. )
Homem de pé rapado. (Villão, rústico , camponez.)
V6r que pc loinào as cousas. ( Que andamenlo, direcção.)
Acommodar o pi ao sapato, e não o sapato ao pé.
Não tem pé, e quer dar couce !
Tomar pé 11'agoa. (Achar fundo; item, no negocio, Gr»
mar-sc, entender bem a matéria de que se trata.)
A -pé qufido. (Sem se mover, com resolução.)
Pregar uma peça a alguém. (Logração. No Brasil, fal- l
lando de embarcação negreira, dÍ7.-se « traz tantas peras
ou cabeças » por lautos escravos; F. tem tantas peças, &c.,
e peça só por si quer dizer escravo de valor , forte ,
moço, robusto ou prendado, &c.)
Quem mal vive, por onde pecca, por ahi se castiga.
Peceado confessado é meio perdoado.
Antes divida nova, que peccado velho.
Pôr pecha n'alguém , nalguma cousa. (Defeito, tacha.)
Pedincha. (Ganho , ordenado diminuto, ténue. Locução
PEDAÇO — PEDRA 1Z|3
familiar no Rio dc Janeiro, que significa juslamenle o
contrario, isto é: grande lucro de pequeno capital, boa
herança , sorte de loteria , objecto comprado muito barato,
boa acquisição, &c. ; do Ital. piccin, pequeno.)
Dc lai pedaço tal retraço. (De tal burro tal albarda.)
Quem muito peje, muito fede. (Aborrece.)
Pede tempo de letrado ,
Logo vou de moço molle,
Irei já de homem cansado;
Quem taes pirolas engole
Sem lhes fazer resistência ,
E painel da paciência.
Ignoro se me insulta ou se pede para as almas. (Diz-se
de pessoa que cslá faliando lingoa estrangeira, que se não
entende.)
Quem deu, dará, e quem pedio, pedirá.
Antes dar a ruins, que pedir a bons. ,
Vcdra movediça não cm bolor.
Pedra d cscaudalo. (A cousa que escandaliaa, offende. )
Pedra philosophal. (Matcria com que os alchimistas
pretendem fazer ouro. Riqueza imaginária.)
Matar dous passaros com uma pedra.
Lançar a pedra e esconder a mão. (Fazer o mal enco-
bertamente. )
Mctter a pedra no sapato a alguém. (Dar motivo a in-
commodo, a zanga, a susto, a irritação, &c.)
ISão (icar pedra sobro pedra. (Demolido, removido, em
confusão.)
Agoa de serra e sombra dc pedra, fugir d elias.
144 PEDRA — PEIXE
Pôr pedra cm cima do negocio. (Pôr em silencio, em-
baraçar-llie o curso, o andamento.)
Estar de pedra c cal. (Mui Gime, mui solido ; e faltando
de pessoas; obstinado cm sua opinião ou proposito.)
Pessoa pegajosa. (Secante, que não desaferra nem acaba
de fallar ou de despedir-se.)
Não pegão as bichas. (Não me logra ou engana com
«licantinas; é perder tempo; vai barrado.)
F. pegou-se k opinião de B. (Cingio-so, apoiou-se nella.)
Pessoa que não tem por onde se lhe pegue. (Sem prés-
timo, de quem se uão pôde lançar mão para cousa alguma.)
Pessoa que não tem em que se llie pegue. (Que nada
tem cm que se lhe faça penhora , de que pagar. Que uão
tem em que se censure, se critique.)
Plienix. (Ave fabulosa e linda, que se suppõe viver sé-
culos, e renascer de suas cinzas; a allegoria pois desta
fabula 6 .singular, virgem, única na sua especie.,
dirigida ao objecto a que se applica.)
Tornar alguma cousa a peito. (Empenhar-se cm a fazer.
Formalisar-so com alguma acção, palavra, offender se.)
Do peixe a pescada , da ave a perdiz, da carne a vilella.
Pela boca morre o peixe.
Filho de peixe não aprende a nadar.
Isto não é nenhum peixe podre. (Cousa ruim.)
Estar como peixe n'agoa. (A vontade.)
Isso é peixe ou carne? (Pergunta que se faz quando se
não entende o discurso, o recado, &c. , o objecto , a cousa
de que se trata.)
PELICANO — PENA 145
Pelicano. (Symbolo da caridade, da philanthropia ; é avo
aquatica maior que o cysnc, a qual dizião os antigos que
alimentava os Cílios com o sangue que tirava do peito,
ferindo-se.)
Despir, largar a peite. ( Como fazem as cobras , lagar-
tixas, &c., o figuradamente, remoçar, criar novo sangue.
Mudar de opinião, de sentimentos. )
Pa pelle lhe sahiráõ as correias. (Vej. Do Couro, &c.}
Nú cm pelle, ou, cm péllo, como a rnãi o pario.
Defender a pelle. (Tratar de *i, defendei-se. Julgar de
alguém pela —, pelo exterior, pela apparencia.)
Não caber na pelle de contentamento. (Exultar, não «c
conter, trasbordar de satisfação.)
Jurei-llic pela pelle! (Protestei de vingír-uie d clle, de o
castigar. Attentar contra a vida ou pessoa dalguem.)
Ma pelle é F. , ou, F. 6 pelle do Diabo. (Homem inso-
lente e velhaco, libertino, arrogante. Extravagante.)
Dar cabo da pelle d'algucm. (Malar, acabar, dar fim.)
Ir ao ptllo d alguem. (Espancar, toiar-lhe as costas. Vir,
cahir a —, chegar a proposito, a tempo. Montar cm —
ou, em osjo, sem sélla ou albarda.)
0 péllo muda a raposa, mas o natural não despoja.
Como te fizeste calvo? 0 péllo peitando.
Peitudo. (Synonimo de caloiro, novato, como Be ainda
estivesse com o pêllo primitivo, pois peitado também signi-
fica velloso , pclloso, cabelludo.)
Quando olhos não vêm, coração não pena. (Quando
sc ignora o mal, não se sente ellc.)
Sem pena nem gloria. (Nem bem nem mal.)
40
146 PENAR — PÊRAS
Julgava que (los viventes
Eu era o mais infeliz ;
Que outros tein peior destino
Muito exemplo in'o diz.
Da minha sorte já'gora
Queixas não torno a fazer.
Ao Calvario irei com a cruz ;
Antes penar que morrer.
Penca, pencão ou pencudo. (Grande nariz , narigudo.)
Querer encobrir o Céocom uma peneira. (0 que todos
Têm , o que a lodos está patente.)
Quem não tem farinlia , escusa peneira.
V6r por peneiras. (Obscuramente, confusamente.)
Todo o que crfi de ligeiro,
Agoa recolhe cm peneiro.
Ninguém pensa melhor crianças do que a própria uiãi.
(Lava-lus, vesti-las, dar-llies sustento.)
Pensar feridos. (Trata-los, como enfermeiro; — cavai-
los, dar-lhes o sustento, limpa-los, almofara-los, &c.)
Atravessar o rio de pepino na mão. (Sendo em Portugal
0 tempo dos pepinos Julho e Agosto, também é o das
séccas, em que os rios se passão a váo.)
De pequeno verás o boi que terás.
Em todos os tempos, os peixes grandes comerão os pe-
quenos.
Sobre figos, agoa; sobre pêras, vinho.
Sobre pêras vinho bebas, e tanto bebas, que o não
percebas.}
_ —
PÊRAS — PERDOO-LHE 147
F. leoi pão para pêras! (Tem que soffrer, que aturar,
que gastar, que trabalhar, &e. Diz-se, v. g.: dos incom-
modos que uma moléstia ameaça dar, do prejuizo, despela
c trabalhos que certo negocio vai esigir, &c.)
Quem não dá das suas piras , não espere das alheias.
Ladrão que furta a ladrão ,
Tem cem annos de perdão.
Onde força não ha, direito se perde.
Com nó fixo, nunca se perde ponto.
Quem uiuilo dorme, o sen com o alheio perde, '
Da mã<^ á boca se perde a sopa.
De manhã cm manhã, perde o carneiro a lá.
Pelos maus perdem os bons.
Em tempo c lugar, o perder «i ganhar.
Conhece-se só o bem depois de o ler perdido.
Do passado arrependido
Seguro doutro erro tal,
Seja o perdido perdido,
E do ma] o menos mal.
Antes pardal na mão, que perdiz a voar.
A perdiz com a mão no nariz. (Isto d, morta de dias,
para poder estar tenra , pois ó dura por natureza.)
1 eahamos a perdiz, depois se tratará do môlho.
Perdizes no sacco, leitão na gaióla, c castrado em serralho.
Ao que erra, perdoa-lhe uma vez, mas não tres.
Perdoar ao mau, é anima-lo ao ser.
PerdJo-lhe o mal que me faz pelo bem que me sabe.
148 PEREGRINA — PERREXIL.
Belícia peregrina. (Rara, extraordinaria. Peregrino da
sua patria, errante, vagando. Romeiro, peregrinado!-.)
Resposta peremptória. (Decisiva, que termina todas as
duvidas, categórica.)
Sujeito ufano e vaidoso dos seus pergaminhos. (Que
tem em grande valia os títulos de fidalguia dos avocngos.)
Quem pergunta, ou, quem tem boca vai a Roma.
Quem pergunta quer saber.
Andava na egoa, e perguntara por cila.
Perna de pau. (No jogo do whist assim se chama o par-
ceiro que não existe, e pelo qual se joga com as cartas
descobertas, para completar quatro membros.)
De perna estendida. (Ocioso, á vontade, sem fazer nada.)
Fazer uma perna. ( Em termo de jogo é ser parceiro.)
Do capão a perna, da_gallinha a tittclla.
t uma pérola, ou, a — dos moços, das senhoras, &c.
(É-pessoa dotada de preciosas qualidades.)
Nilidas pérolas. (Termo poético, que significa lagri.
mas, v. g. : Do rosto deslisavão níveas perlas.)
De pérolas coalhando a face bulia
Que matizava o pejo d'escarlate. KnetJ,
Deitar pérolas a porcos. (Dizer cousas sensatas c úteis a
quem as não sabe apreciar, ou as não aproveita.)
Dizer pérolas. (Fallar com muito aceito e eloquencia.)
F. 4 o perrexil da reunião, da sucia, &c. (O que a põe
rui alegria , cm folgança com seus ditos, suas graças. Pro-
vém de ser perrexil uma plauta, que posta dcscabeclic,
excita o appetite.)
PÊRR1CE — rÊSO 149
Pérriee. (Peça feita a alguém para o amofinar.)
Busca oulro perro para este ossol ou, A outro perro com
tacs rojões! (Busca oulra pessoa que o creia, que isso
acredite. Pérro é cão cm hespanhol.)
F. è perro velho, ou experimchtado. (Matreiro, fino.)
Dar-sc a perros. (Desesperar, anenegar-se.)
A perseverança sempre alcança.
Pés que Ie pego, contracção viciosa de : pés para que te
pego, ou, para que ie quero. (E vai —, deitou a fugir,
largou-se a toda a brida, &c., significa a acção de fugir,
de pôr-sc a pannos, de dar ás gambias , &c. }
Isso não tem pés nem cabeça. (Não é provável, não
combina nas suas partes, é informe, incohercntc.)
Cahir o coração aos pés. (Esmorecer, desanimar, vendo
ou ouvindo cousa contraria ao que se esperava, se desejava.)
Procurar sete pés ao carneiro , ou, asas ao burro.
Graças pesadas. (OITensivas. Tempo, ar, rosto—,
carregados, pouco dispostos a deleites, folganças, &c.)
Pescada de Janeiro, vale um carneiro.
Comer sardinha c arrotar pescada.
Pescador de canna , mais come do que gauha , mas quan-
do a canna vérga, mais ganha do que come.
Obrar, ou fazer as cousas com tempo, péso c medida.
(Com juizo, opportunamente.)
Gastar com peso e medida. (Com moderação, juizo.)
O dia em péso. (Inteiro, lodo. Razões de—, attendi-
veis. Homem de—, respeitável. A — douro, de dinheiro.)
150 PÈTA — PIFÃO
O já vamos, de barqueiro ,
O sem falia, dalfaiate,
Esporada darrieiro,
Bom vinlto na tabolôta.
Pita.
Petimetre, ou, petit-maitre. (Gallicismo, qne sc pôde
supprir por : peralta , adamado, casquilho , pimpão ; bo-
nifrate e bandalho.)
Petiscar. (Comer aos bocadinhos; o mesuio que debicar.)
Eu cá não lenho pevide na lingoa para lhe cuspir, ou,
para lhe dizer as verdades na cara. (Não lenho pejo, ver-
gonha de lhe dixer as....; nada que me empeça isso.)
Dilos ou graças picantes. (Que tem sal, mordentes,
facetos, porém com acrinionia.)
Picar as amarras. (Corta-las, para se fazer de Tela. — o
lanço (em leilão), augmenta-lo, offerecer mais.)
Picar a retaguarda ao inimigo. (Persegui-lo pelas cestas.)
Monte de piedade. (Casa ou instituição onde se empresta
ao publico, por modico premio, dinheiro sobre penhor.
DifTero de Monte Pio, que é a instituição de um fundo paia
prover as viuvas, principalmente de militares, que para
cilas deixão reservado no erário o soldo òu ordenado de
um dia de cada mei, &c.)
Entrar ou figurar como Pilatos no crédo. (Diz-se de
pessoa ou cousa que apparece 011 figura nalgum discurso,
negocio, &c., fazendo parte da oração, porém muito
secundaria, e até uulla, cujo nome só serve para fazer
sobresahir a matéria em questão.)
Pifão. (Mona, carapanta, bebedeira, embriaguei.}
PILHEI1U — PINO 151
F. tem pilheira, pilhéria, ou, pilhas do sal cm tudo
quanlo diz. (Graça, argúcia, chiste. )
Pilrete: (Homanculo, homem zinho, caturra, anão.)
Pilrilo, ou, pirlito. (Fruclo do pilriteiro ou espinheiro
alvar, que se não come, e de nada serve, e dalii a quadra
deFjlinlo:
Arvore que dás pilrilot
Porque não dás cousa boa?
Cada um dá o que tem
■ Segundo a sua pessoa.
Engulir a pílula. (Acreditar pila. Soffrer dissabor.)
Nariz de pimentão, ou, de beringella. (Vermelho, ala-
gostado, avinagrado.)
Pimpão. (Homem casquilho, aperaltado, polkalisado.
Valentão, chibautc, bravo. Fanfarrão, bravalcador. Pim-
pona, 110 feminino, só tem a primeira significação.)
Pinga. (Diminuta gola, porção ténue. Ficou sem — de
sangue, muito assustado, atemorizado.)
Boa pinga, bom vinho, vinho especial, particular, c
por extensão também assim se diz de uma bonita mulher
(o mesmo que = não é nenhuma asneira —) , e do bom
rapé ou tabaco se diz o mesmo por analogia. )
Galos pingados. (Assim se chama em Lisboa aos homens
que acarrelão ou acompanhão a tumba de qualquer de-
funto, porque andào pingados de cera; no Rio de Janeiro
chamão-lhe urubús. )
Andar pingando. (Miserável, esfarrapado , na penúria.)
No pmo do sol, ou, do dia. (Quando qualquer desles
eslá mais elevado, isto é, meio dia. — da noite, no meio
delia. —da calma, quaudo eslá ciais inlensa.)
152 PINTA — PIS A-MANSINHO
Conhecer pela pinta. (Por signaes fixos exteriores , v. g.:
manchas, defeitos physicos, côr forçada: Velhacos c hy-
pocritas, pela pinta se conhecem. )
Veio-lhe mesmo o negocio pintado ou pintadinho a geilo.
(Chegou-lhe, xahio-llie como desejava.)
Porém quanto vai do vivo ao pintado! (Do veridico á
cópia, da natureza á imagem!)
Os dados, as cartas pintão bem, ou, pintão ao desejo. (Fa-
voráveis , boas para a partida, jogo.)
Pintar ao desejo ou ao querer. (Imaginar conforme se
deseja: Veio-lhe pintado, a proposito, favoravelmente.)
F. está com meias pintas. (Meio embriagado, alegrete.}
F. ú um pinto molhado. (Uui gallinha choca, um ma-
ricas, fracalhSo, frango derrabado.)
F. não é homem de dar agoa a pintos. (Não 6 nenhum
lôrpa , novato que se deixe empanzinar, lograr.)
Mettor-se como piolho por costura. (Ingerir se, cnlrc-
ineller-se importunamente onde o nãochamão. )
Velhaco, ladrão, &c. , de pipa e quarto. (Insigne,
afamado, mestraço.)
Ter pique com alguém. ( Estar ressentido, picado. )
llocha talhada a pique. (Aprumo, perpendicular.)
Estar á piranga ^ 011, pirangando. (Pobre, indigente.)
Levou uma reverenda pisa. (Sóva mestra , tunda.)
Pôr as uvas em pisa a alguém. (Castiga-lo, vingar-se
d elle, opprimi-lo.)
Pisa-mansinlio. (Homem sonso , manhoso, dissimulado.)
PISORGA — POBREZA 153
Agarrai' a pisorga ou pifão. (Bebedeira , mona. )
Seguir a pista do veado, da lebre, &c. (O rasto, as
tiaras, as pisadas. )
Plantar ou assestar uma bateria. (Colloca-Ia em posição.)
Ora vá plantar batatas! ( Vá bugiar, vá á tabúa. Vcj.)
Plumagem d cnxerlia. (Diz-sc das raças cruzadas ou
mescladas, v. g.: branco com negra , pintasilgo com caná-
ria , pereira com larangeira, &c. Por analogia se applica
o mesmo vocábulo aos que sc elevão e enxértão em cargos
e dignidades qne não merecem.)
Sacudir o pó a alguém. (Zunir, balcr, cspaucar. )
Nascer no pó. ( F.m condição humilde , na miséria ; le-
vantar do —, d'cssa humilde condição. )
Andar pelo pó do gato. (Abandonado, desprezado.)
Pôr alguém pelo pó do gato. (Descompor, pôr á rasa,
á pavana.)
O testamento do pobre, na tinha sc escreve.
Serve ao nobre
Ainda que pobre,
Que tempo virá
Que t'o pagará.
Quem é pobre não tem vicios.
Não é pobre o qne tem pouco,
Mas o que muito cubica.
A rico não devas, a pobre não prometias.
O preguiçoso sempre é pobre.
Não le faças pobre com quem te não fará rico.
A quaresma e a cadêa para os pobres 6 feita.
Quem pobreza tem, dos parentes é desdém.
POBREZA — COMBA
Nâo Ic exaltes com a riqueza ,
Nem te abaixes com a pobreza.
Voltaire foi um poço de scicncia. (De muilos conheci-
mentos cm lodo o género; Rotlischild é um —de dinheiro;
que tem muj|o , que delle é abastado. )
Podar, fazer a póda a alguem. ( Dizer mal, censurar; a
qualquer obra litteraria , expurgar, supprimir, emendar.)
Mais faz quem quer, que quem pôde.
Não está cm meu poder. (Em meu arbitrio , não depende
de mim, da minha vontade.)
Conseguir alguma cousa a poder de dinheiro. (Á força de.)
F. levantou, ou, fez uma escandalosa poeira perante os
assistentes. (Desordem, rumor, espalhafato.)
Poeta d agoa doce. (Ruim , falto d'estro , das dúzias.)
Pobre, preguiçoso c pensativo como um poeta.
O poema Lusíadas, de Camões, é o non plus ultra da per-
feição poética. (Cousa que bc não pode exceder, ullrapassar.)
Sapbo foi eximia poetisa. (K o feminino de poeta homem.)
Muito pôde o gallo no seu poleiro.
Negocio dc polpa. (De substancia, de deixar iulcressc.)
Gastar pólvora cm salvas. (Esperdiçar, estragar, dissipar.)
F. é uma polvora. (Pessoa fogosa, ardente, arrebalada.)
Dar, pregar com tudo cm polvorosa. ( Estragar, dilapi-
dar, desbaratar os bens, a fazenda, como se reduzisse
tudo a pá. Dar com os pés na —, fugir a toda a pressa,
abalar a unhas de cavallo.)
F. é uma pomba sem fel. (Um anjo dc bondade, coração
sincero.)
POMO— PORCO-ESPINHO 155
Pomo vedado. (O da arvore defeza, no Paraíso terrestre ;
e por analogia ~ cousa muito appetecivel, de que não ú
licito gozar.)
Por mais propicia que seja a fortuna, lã chega a occasião
cm que ferra o pontapé no seu afilhado ou protegido. )
Vento ponteiro. (Contrario, que sópra da prôa.
Armado de ponto em branco. (Coberto de arma defen-
siva, de modo a varrer ou parar qualquer cutilada ou lan-
çada do adversario; esta defeza corresponde a « permanecer
cm posição concentrada » no jogo d espadão.)
Foi-lhe o negocio com vento em pôpa. (Favoravel,
prosperamente. Falhar, errar de — á prôa, totalmente,
completamente.)
Fazer uma saúde de pôpa á prôa, destibordo a bombor-
do. (Beber á saúde de quantos se achão na meza, sem
individuação.)
O ponto nunca tomado,
A casa nunca varrida,
A cozinha cnnegrecida ,
Onde o prato não lavado
Serve para o oulro dia,
Pobreza nunca foi, é porcaria.
Annel d'ouro em focinho de porco.
Nem sabe amarrar o focinho a um porco. (Ignorante,
sem geito, camellurio.)
O peior porco come a melhor lande.
Nunca se matou porco-espinho, ou , ouriro-caelieiro aos
sôccos. (Estes dous animaes são armados dc puas ou espi-
nhos agudos, que á vontade encolhem ou erriçáo.)
PORCOS — PORTUGAL
Quem com faréllos se mistura, porcos o comem.
Quem por/ia, mala caça.
Por/ia. (Contenda, Incta. A —, cm competição, com
emulação, com esforço para exceder, superar.)
Porfiar, mas não apostar.
Dar, levar porrada. ( Toza bem puebada , pancadas for-
tes. Uma — de vinho, uma boa vez d elle, uma tarrafad»
ou caldeirada.)
Nem em tua casa galgo,
Nem á tua porta fidalgo.
Dôrdc mulher morta, dura até h poria.
F. é porta cerrada. (Incorruptível, discreto , que sc não
delia seduzir ou subornar.)
Atirar, dar com a porta na cara ou nos narizes d'alguem.
(Fecha-la de golpe por desfeita, por insulto a quem que-
ria entrar, ou n'clla bateu.)
O verão, o inverno, &c., eslá á porta. (Proximo, che-
gado ou a chegar.)
Dc portas a dentro. (No interior da casa , da familia.)
Pôr alguém por portas. (Reduzi-lo a pedir esmola, des-
graça-lo. nas, OUi pL.]as— ,ja amargura, ultraja-lo,
vilipendia-lo, vitupera-lo, difTama-lo.)
F. obteve o emprego por portas trazeiras. (Por meios
illicitos, fraudulentos, indevidos.)
Sube a noticia por portas travéssas. (Em segredo, por
pessoa da casa , que o confiou em segredo.)
Reino sem porto, chaminé sem fogo.
li costume cm Portugal
Comer bem e dizer mal.
POSSILGA — PRATINHO 137
Possilga. (Chiqueiro. Lugar porco, immundo, ascaroso.)
Fizemos em postas o inimigo. (Derrotamo-lo totalmente.)
Pôde mnilo bem uma folha politica ou mercantil chegar
ao posterior, porém nunca á posteridade.
Possuirás entranhas do Potosi. (liomenso ouro, riquezas.)
Antes mulher d outro, que couce de pôtro.
O couce da égoa não faz mal ao pôtro.
Contém te nos teus limites,
Nada le promova a inveja;
Quem se contenta com pouco
Tem mais que quem mais deseja.
Pouco fel damna muilo mel.
Pouco em paz, muito se faz.
Falia peuco e bem ,
Ter te-liSo por alguém.
Anles muitos poucos, que poucos niuilos.
Com o muilo poupar e bem não fazer ,
Os bens que 6e juntão mau fim tem a ter.
O homem na praça, a mulher em casa.
Ouem o alheio veste , na praça o déspe.
Quem quizer baralo a caça, cace-a 11a praça, (Mercado.
Rogar pragas a alguém. (Imprecar males sobre elle
desejar-lhe calamidades, infortúnios; o mesmo que pra
guejar.)
Nem boda sem cauto, nem morte sem pranto.
Prata ú o bom faltar, ouro é o bom calar.
Fazer pratinho d'alguem. (Escarnecê-lo, diverlir-se
custa d elle em sociedade, íidicularisa-lo.)
158 PflATINHO — PKESTADIO
K nm pratinho ver F. com B. (Cousa curiosa , risível,
jocosa.)
Pôrempratoslimpos. (Aclarar, mostrar, evidenciar, v. g.:
Melhor razão'foi sempre a do mais forte:
■li o ponho em pratos limpos. Certo lobo, &<•.)
Cada um procura o prazer onde o acha.
Quem o coração quer vingar,
Sua casa vê prior. (Roubar, saquear, ser prêsa.)
F. é um precipício. (Insolente que procura rixa, atrevido,
petulante, de génio bulhento.)
Enganc-uic embora no preço, mas não no que mérco.
Juízo, talento precoce. (Que se manifesta cedo, antes
do praso costumado, prematuro, auticipado.)
Magro c uiyrrhado, como prego na ponla.
Bater o prego. (Assim se chama, entre operários, o
signal que se dá para irem comer, ou voltar ao trabalho.)
A preguiça 6 mãi da indigência.
A preguiça morreu á sede ao pé d'um rio.
Onde a preguiça se arraiga
Não ha vergonha nem brio;
Querer emendar os génios
K malhar cm ferro frio.
Homem dotado de prendas. (Habilidades, dotes pessoaes.)
Estudos preparatórios. (Os qae se fazem antes de entrar
cm qualquer faculdade, em academia ou universidade.)
Preso ou cativo , não leoa amigo.
PrestaJio. (Serviçal, ofGcioso, obsequioso.)
PRESTAR — PROHIBÍDO 159
Prestar. (Ser util, proveitoso, ter preslimo. Não —para
nada, não ter a menor valia, não ter préstimo.)
Quem em mais alto nada , mais prestes sc afoga.
Melhor é prevenir <[ue ser prevenido.
Primavera da vida. (Mocidade, juventude.)
Primeiro que cases, vê o que faies.
Em cama estreita , deitar primeiro.
Quem primeiro anda, primeiro ganha.
Vaso novo , primeiro bebe que seu dono.
Entende , ou, ouve primeiro, e falia derradeiro.
A bom principio, màa lim.
Prisca idade, priscos tempos. (Antigos, dontrora.)
Vèr, encarar aa cousns por nui prisma. (Como ellas se
figurão c não como são na realidade.)
Pró. ( Proveito, lucro, interesse ; por isso d'ahi se diz
Em seu pró, lim pró d elle; Os prós e os contra.)
F. anda com grande prôa, traz uma atrevida —. (Cara
c maneiras arrogantes, soberbas, orgulhosas.)
Pessoa mal procedida. (De conducta reprehensivel.)
Progne. ( Em linguagem figurada significa a primavera,
e na mjthologia, a andorinha, por ser a precursora d'esta
estação. Vej. Diccion. da Fabula.)
Nada sabe lanto como o fructo prohibido, ou
Presunto, vinho e toucinho
Os da Turquia os melhores. (Porque é pro-
liibido pela lei de Mafoma de comer porco, e beber licores.)
160 PROMETTE — PROSOPOPEIA
Quem pés uão tem, couces promelle!
A quem Deos promelle, não falia.
Quem promelle, deve.
Prometler chuva e dar vento.
Prometter mundos c fundos. (Grandiosas promessas.)
Prometter montes d'ouro, ou, villas e castellos.
Prometler mares e ilhas. (Cousas Ião exorbitantes que
é impossível cumprir a promessa.)
Prometter não é dar, mas a néscios contentar.
A quem promcllo, não fallo.
Terra da promiitão. (A que Deos prometteu a Moyscs;
e em sentido figurado , terra mui fértil, abundante e sau-
davel; a em que se faz fortuna, &c.)
Ninguém é proplieta na sua leria, ou, santo de casa não
faz milagres.
Prophelisa. (Mulher que prediz o futuro, que tem o
dom da propbccia; feminino dc propheta.)
l)e bons propositot está o inferno cheio, o céo dc boas
obras.
Pro rata. (Á proporção, em razão do que loca a alguém,
T. g. : pagar, receber —, cada uni segundo a sua entrada ,
capital, &c.; o governo fez uma derrama —, isto é, na
proporção dos haveres dc cada habilanle.)
K sujeitinho debasla prosa. (Loqtiella, parlauda, lábia.)
Cousa muito protaica. (Commum, ordinaria (em estylo
jocoso). Versosprosaicoí, ou, proa rimada, poesia epsossa.)
llomem dc magistral prosopopeia. (Bem apessoado, pom-
poso , de garbo, e osleutoso nos seus discursos e obras.)
PROTECÇÃO — PROVEITO 161
Scuipre suceedccnlre os homens.
Em havendo protecção.
Ficar o delicio impune
E escurecer-se a razão.
N outros , qualquer leve cousa
Traz logo comsigo a peaa,
Pois o arbítrio das paixões
Oraabsohe, ora condemua.
Mulher prol erva. ( Desavergonhada, descarada , desa-
forada, impudente.)
«Essa ha devir cá para o meu prolocoUo.fi (Hei de fazer
assento , tomar lembrança , tombar na memoria , esse dito,
essa aaecdota, ta] acontecimento, &c. Protocollo é o livro
de registro de notas dotabellião, assim como o esboço de
conferencia diplomatioa, para depois se lavrar ou passar a
limpo nas formas legaes.)
Prouvera a Deos ! (Oxalá! assim fôra do agrado de Deos!
quem me dera ! queira Deos ! &c. Vej. Oxalá.)
Á prova de beldade olhos não lemos,
Neiu mãos á prova de ouro;
Bem pouca gente com leal desvello
Guarda bem um thesouro. (Fil. El.)
Á prova d agoa. (Onde eíía se n5o infiltra; á — de bom-
ba, a coberto d'e!la, onde a bomba embaça, achando
íesistcncia; á —de fogo, invulnerável a esle elemento,
onde não pôde penetrar nem atear se , &c. )
Não lhe faz proveito o que come. (Não lhe medra , não
lhe presta utilidade.)
Onde ha honra e nio prnnetfo, dá o trato por desfeito.
11
162 PROVEITO — PUNICEO
Honra e proveito, não cabem n um sacco, ou
Dous proveitos não cabem n'um sacco.
Falia de lisongeiro, sempre vã e sem proveito.
A fome alheia, me faz prover minha ccia.
Como diz o provérbio. (Como é voz vulgar, rifão, sabido.)
O anuo proximo passado. (O ultimo ; o — futuro, que
ha de vir, vindouro. )
Pseudo, ou. pseudonimo. (Falso, supposto (autor ou obra.)
Andar com o prumo na mão. (Viver, obrar, haverse
com prudência, com circumspecção.)
Pudâr. ( Vergonha honesta , pejo de acção deshonesta ,
de discurso torpe, &c. ; d'aqui se deduz o adj. pudibundo,
que tem pejo, vcrgoulia, &c. , v. g.: pudibunda rosa;
moça , que tem côr de pessoa cujas faces córào de pejo.
D ahi também se deriva o vocábulo : parles pudendas; que
são as genitaes ou da geração , de ambos os sexos.)
Isso farei eu n'um salto de pulga. (Num apse, num
virar d'olhos, no espaço que ella gasta em saltar.)
Olhos de pulga. (Mui diminutos, mui pequenos.)
Fazer d uma pulga uui cavallciro armado, ou
Fazer d'uni argueiro um cavalleiro.
Andar com a, pulga, ou, trazer a —detraz da orelha. (An-
dar com desconfiança, com prevenção, e acatando cousa
que suspeita, prevenido, acautelado.)
Ter pulso. (Força muscular, valor, energia.)
Puniceo. (De côr vermelha, escarlate, brilhante, v. g. =
Foge dos lábios a punicea rosa. (Boc.)
PURIDADE —QUAI. 163
Escrivão da puridade. (Assim se chamava antigamente a
qualquer dos secretários ou ministros d'Estado.)
F. anda todo puxado. (Na moda, aceiado , apotkado.)
Puxar, ou, puxar pela trouxa. (Safar-se, ir-sc embora.)
Pirilampo. (O mesmo que vagalume (eagalume, fam.),
insecto, que voando de noite dá uma luz phosphorica.)

Quadra do anno. (Qualquer das quatro estações, v. g. :


o verão; — da lua , ou quarto, qualquer das quatro divi-
sões do tempo do seu curso, ou, uma das phases da re-
volução lunar. Veio em boa, ou, em má -, occasião,
ensejo, a proposito, &c., fóra de tempo, &c.)
Quadra, ou, quarteto. (Peça de quatro versos.)
Quadrado magico. ( Disposição de algarismos em quadro,
de sorte que, sommaodo os de uma fileira, ou os diago-
naes, dêm sempre a mesma souima , v. g.: 2
cujas fileiras parallelas e diagonaes dão sem- "tf
prcl5,emprognndosóosalgarismosdel a9.) "7
Quadra-me esse modo de viver; vem a quadrar com o
que diz l. ; quadrou esta disciplina com a valentia portu-
gueza, &c. (Accommodar-se, conformar-se, condizer,
ser colierente , adaptado, adequado. )
Zurzir os quadris a alguém. (Tozar, espancar.)
Quadrupedante, ou, quadrúpede. (Que anda em qu.-ftro
pés. Homem estúpido, grosseiro, animalejo.)
Qual carapuçaI (Qual! Qual historia 1 Ora vamos!)
164 QUAL — QUÃO
Seu génio é qual o desejo. (Conforme, que condiz. )
Tal qual o deixei, o acho. (No mesmo estado, o mes-
míssimo, ou = lai mulher me fosse ella , qual marido lhe
sou eu.)
Oual pergunta farás, tal resposta terás.
Todos contribuirão para isso, qual mais, qual menos.
( lim vez de = algum , um , esle , aqui lle, &c.)
Qual brandindo o alfange, qual a lança arremeçando ,
qual do cavallo vóa.... (Um d'enlre clles.)
Quando fôres bigorna , aguenta, e quando malho, malha.
Quando vires arder as barbas do leu vizinho, deita as
tuas de molho. (Precaver-se, acautelar-se.)
Quando Deos uão quer, santos não rogão.
Quando o lobo come outro, fome lia 110 souto.
Quando Deos não quer, não servem votos e rogos.
Quando em casa não está o gato , esteude-se o ralo.
Quando Deos dá, é para lodos.
Quando mingoar a lua , não comeces cousa alguma.
Quando o corsário promelte missas, mal anda o galeão.
Quando o medico é piedoso, está o docnlc perigoso.
Quando o diabo reza , enganar-tc quer.
Quando o vilão está rico, não lem parente nem amigo.
Quando a má ventura dorme, ninguém a desperte.
Quanto faz com a cabeça, desmancha com o rabo.
Quanto mais alio se sobe, maior queda se dá.
Quanto mais vivemos, tanto mais sabemos, ou
Vivendo e aprendendo.
Quão. (Esle adverbio serve de esagerar e de dar mais
energia, em vez de quanto, v. g.: — poderoso é Deos!
Tio formosa — ingrata.)
QUARENTENA —QUEBRA 163 "
Quarcnténa. (Espaço de quarenta dias. Fazer —, ou,
estar de —, diz-se da embarcação que fundeia separada da
coinmunicação com a terra ou com lugares habitados,
para editar o contacto eui caso de moléstia contagiosa. Pôr
em—, ou, dar — ã noticia, ao boato, &c., deixar passar
tempo para vCrse se confirma.)
Quarentona. {Mulher que orça pelos quarenta annos. )
F. entrou na acção, mas esteve sempre no quartel da
saúde. ( Onde não havia perigo, a salvo, na retaguarda.)
D ar quartel. (Conceder a vida, não malar ao vencido.
Pedir — ao vencedor, que lhe poupe a vida, enlregando-se.
O ultimo quartel da vida. (O da caducidade, da decre-
pitude, velhice, seuectude.)
Quartel dos piolhos. (Termo chulo j a cabeça, o caco.)
Achar-se cm quarto mingoante a respeito de cobres. (Es-
tar a tinir, com os alforges dobrados, com as algibeiras
vazias , encalhado cm sêcco, pobre como rato, &c.)
Pôr os quartos na rua a alguém , ou, pôr alguém no
meio da rua. ( Expulsar de casa , corrê-lo.)
S'cu esta cotovia mato, faltão-mc Ires para quatro. (Não
ter feito ainda grande façanha.)
Bóia de quatro quinas, ou cantos, não chega aos páos.
Sempre a corda quebra pelo mais fraco. (A força vence
a razão, o rico esmaga o pobre, &c.)
Quem quebra os cópOB, os paga.
Québra. (Diminuição , abatimento, falha, falta, e d'ahi:
Dar quebras, ou, para as —, dar falhas, descontos para
completar o peso, encher a vasilha, &c. Ser indulgente,
clemente, passaculpas.)
166 QUEBIU-CABEÇA — QUEIJO
Quebra-cabeça. (Incommodo , perturbação, cuidados.)
Homem quebrado. (Que lem ruptura, ou quebradura.
Negociante—, fallido.)
Quebranto. (Desfallecimcnto, abatimento , langor. Dar
—, causar ma] a alguém , por effeito do máu olhado, sorti-
légio ou brocharia, como julga o vulgo ignorante.)
Qucbrão as ondas na praia , 110 rochedo. (Rebentão.)
Quebrar a lei, o preceito. (Infringir, violar, annullar;
— o jejum, não o guardar, comendo. — a cabcça a al-
guém, importunar, impacientar muito. — os olhos a
alguém, fazer cousa que peze á pessoa, causar inveja, má-
goa. —, mingoar, diminuir, v. g. : quebrou-lhe na co-
lheita Ires fungas da ultima. —, ou, romper urna lança
com alguém, ter desafio, duéllo, cartel, combate. — os
ouvidos a alguem , atordoar, importunar.)
Quebrou o vento. (Abateu , diminuio; — o impeto, mo-
derou-se, modificou-se, acalmou-se.)
Ter queda para a musica , para a poesia, &c. (Propen-
são, tendência , inclinação, geito.)
Sobre queda couce. (Desgraça sobre desgraça.)
Na alniocda, tem a bolsa quéda.
Nem tanto quâdo, e mais folguedo. (Muis alegria e me-
nos ccremouia.)
A pé quédo. (Sem recuar, sem mover, fixo. Quêdo e
ijuêdo, de vagar, brandamente, pouco a pouco.)
F. come muito queijo. (É muito esquecido, muito ol-
vidado, ou, faz orelhas de mercador.)
Queijo d'ovclha , manteiga de vacca e leite de cabra.
QUEIJO — QUEM 167
Ter a faca e o queijo na mão. (Diz-se de pessoa habili-
tada a cumprir seu desejo, saciar soa vontade, alludindo
a <jue possuindo a faca e o queijo pódc-se d'clle servir
quando quizer.) ,
Duma faísca se queima também uma villa.
A queima-roupa. (Tiro dado ã —, muito de perto,
quasi em contado do cano com o corpo. De repente
inesperadamenle.)
Essas fazendas forão queimadas cm leilão. (Vendidas por
vil preço, muito barato, diminuto valor.)
Queimar as pestanas. (Estudar assiduamente, trabalhar
de noite á luz, applicar-sc ao estudo com anciã, fervor.)
Iiater o queixo. (Tremer de frio , estar regelado.)
Ficar de queixo cahido. (Embasbacado, pasmado, ad-
mirado tolamente.)
Saltar, ou, ir aos queixos dalguem, ou, ás bitáculas, ás
ventas, á focinheira , às belfas, á denluça , á cúia , ás ore-
lhas, &c. (Baler, espancar, desancar, zurzir, socar.)
Sujeito duro dos queixos, ou , apertado dos fechos. (Que
se não deixa dobrar ou convencer facilmente. Pessoa muito
aferrada ao seu, sovina, usurário.)
Ensaboar os queixos, a cabeça ou a focinheira do bur-
ro. (Perda do sabào, do tempo e trabalho.)
Mostrou n'essa peleja, quejanda sua força ao diante seria
''lua'• que lai) ; quejandos são (quetaes, em que estado
estão); as quaes estalagens ahi não lia, quejandas devia
haver (quaes, como, laes que.)
Quem não pede, Deos não ouve.
168 QUEM — QUER

Quem calla consente.
Quem cu quero não me Cfuer,
Quem me quer não uie convém.
Quem mais faz, quasi sempre menos merece.
Quem mais tem, mais deseja.
Quem diz o que quer, ouve o que não quer, ou
Quem diz o que lhe parece , onve o que não espera.
Quem nunca leve nunca perdeu, c quem nunca perdeu
nada leni que lastimar, ou lamentar, ou chorar.
Quem anda á chuva , molfta-so.
Dize-mc com quem andas, dir-le-lici as manhas que tens.
Malhar no ferro emqnanto está quente. (Cuidar do nego-
cio emquanto é tempo; trabalhar ciu tempo opportuno.)
Ter as costas quentes. (Confiar na protecção d'algucm ;
sentir-se protegido, apoiado, defendido.)
¥
Quem tudo quer, tudo perde, ou em Castelhano:
Quieh lodo lo quiere, todo lo pierde
A quem Deos quer bem, o vento lhe apanlia a lenha.
Quem quando pôde não quer,
Não pôde quando quizer.
Mais faz quem quer que quem pôde.
Quer isto quer aqnillo. ( Ou , se ja , tanlo, como.)
Quer assim quer assado. (D'cstc, d^aquelle ou doutro
modo, seja como fôr.)
Quem me quer Um, dii-mc ò que sabe, dá-me o que
lem , ou, serve-me de pai, serve rne de mài.
Se bem me quer fuão
Suas obras o dirão.
Quem bem quer a Beltrão, bem quer ao seu c&o.
QUERER — QUINTO 169
Querer bem a alguém. ( Desejar-lhc felicidades, ama-lo.)
Prudência è não querer
O que se não pódc haver.
Não o quero, não o quero, deila-m o neste avental. (Cha-
cota applicavel a quem se faz grave, ou recusa por ccre-
monia ou m.inlia , mas sempre accila. )
A como vai o moio de aveia,
Pois d elia quero uma quarta e meia ?
Questão de nome. (Que versa sobre termos, palavras,
e não sobre o essencial; dc quantidade, dc numero.)
Questões dc lãa dc cabra ou dc kágado. (Ociosas, fúteis,
sobre o que não existe, nera ha.)
Queztha, quizila ou quigila. (Aversão, antipatl.ia ;
quiztlci com isto; liomens ha que quitilão, antipathisão.)
Quiçá. (Talvez , por ventura, por acaso. Este adverbio,
já pouco em uso , vem do Franccz qui sait, ou do Italiano
chi sú, quem sabe.)
As Quinas Portuguezas. (São as armas dc Portugal c
a.sim se denominão, em razão dos cineo pontos marcados
no escudo, que seu primeiro rei Portuguez D. Alfonso
Henriques mslituio , cm commcmoração dos cinco reis
Mouros que desbaratou em Campo dOurique a 25 dc Julho
de 1139.)
Quinhentista. (F.scriptor do 15.* século; a pessoa
que aprecia o cstylo dos clássicos dessa época.)

' ma Ia'"1" roda ao carro só causa embaraço.


Ao quinto dia verás que mez lerás.
170 QUINTOS — QUOD
Não dos quintos. (A que outrora transportava a Lisboa
o producto da contribuição do quinto das minas de ouro
do Brasil. Isso nem a —, vale mais que a —, synonimo
de iinmensa riqueza. Vej. Potosi.)
Quiproquó. (Substituição de uma cousa por outra, v. g. ■■
sem por cem; cara (de valor) por cara (rosto); o qui latino
por quo. Troca ou substituição fraudulenta ou accidenlal,
cambio de ruim para bom, &c., ou, substituir cousa
somenos por cavillação, a oulra de mais valor. )
Beni quisto, mal — (Bem ou mal visto, olhado, repu-
tado , considerado, lido , havido.)
Estar quite. (Livre, desobrigado da divida. )
Quem dinheiro tiver, fará o que quizer.
Cobra boa fama, fai o que quizeres, ou
Cobra boa fama e deita-le 11a cama. ou
Adquire fama c deita-te a dormir.
Quoil natura dat, nemo negare potest. Costumou;se aos
calos, não ha herva que lh os cure. (Parodia macarronica,
applicavel a quem allega citações sem as entender. A
seguinte parodia é do principio da Eneida de Virgilio:
Ille ego qui qnondam gracili modulatus avenã
Carmen, et egressus silvis viciua coegi
Ut quam vis ávido pararent arva colono
Gratum opus agricolis at nunc horrentia Martis, &c.
Parodia. Ille ego, aquella egoa, qui condam, que era do
conde, gracili, quasi de graça, modulatus, o cachorro do
mulato , avená, a vendeu, Carmen, no Carmo , cl egressas
silvis, c ao egregio Silva, vicina coegi, vizinho do Coelho,
ut quam vis, aquém vio, ávido pararent, pararem as aves,
QUOTA — RABO 171
arva colono, na arvore <lo colono, gralum opus, agarrou na
opa, agricolis, do senhor Agrícola, at nunc, o a pôz na
nuca, horrenlia Martis, de um horrendo macho, &c.)
Quota parte. (Quinhão, parte que cabe a cada um, cm
rateio de qualqiier natureza que seja.)
Quotidiano. ( De cada dia, diário, diurnal, diurno.-)
Homem de i/uutilii/uí. (Termo chulo; dimportaneja,
de peso, das Arábias.)

Chuchar, ou gramar um R. (Um Reprovado, nos exames


das academias, das universidades, &c.)
Rabaça. ( Pessoa desenxabida , insulsa , insípida.)
Rabada, ou, rabadella do peixe. (A posta do lado do
rabo.)
Cavallo rabão, egoa rabona. (Que tom o rabo cortado.)
Ao som da gaita rabeava como uma cobra. (Rebolava,
saracoteava, dava aos quadris, &c., em dansas lascivas. )
Tocar rabeca n'alguem. (Criticar, dizer mal, censurar.)
Afinar a rabeca á custa do proximo. (Criticar , censurar.)
Rabcquiar na pclle dalguem. {ldcrn.)
Estou rabiando. (Raivoso, cncolcrisado, dado a perros,
arrenegado; do Ilal. rabbia, raiva. )
De cabo a rabo. (Do principio até o fim, de uma cstre-
inidnde á outra ; sem selecção, sem escolha.)
Agora pegnem-lhe pelo rabo! (Lancem-lhc os cães;
exprime que alguém fugio, cestá fóra do alcance.)
172 RABO — RAFADO
Não poder com nm galo pelo rabo. (Ser fraco , débil. )
Brinca com o asno, dar-te-ha com o rabo 11a barba.
De rabo de porco ntmca bom virote. (De Judeu, Mouro
ou ladrão, nunca bom christão.)
Arrenego doicavallo que se enfreia pelo rabo. (Do ho-
mem qnc Téstc pela cabeça, se deixa dominar.)
Asno morto cevada ao rabo. (Moslarda depois de janlar.)
Mentira de rabo. (Péla grande, embuste descarado.)
Sem nada concluir cu vi sessões
Bastantes, não de ratos mas de monges ,
Inda mesmo de concgos
Parar em agua ruça ,
Para deliberar não fallião votos;
Executar !... Alii torce a porca o rabo. (Fil. El. O
mais diflicult060, custoso, embaraçado.)
Mctter o rabo entre as pernas. (Soccgar-se, aqnietar-se
com mèdo temendo argumento mais forte, ou força maior.)
Metlcr o rabo entre as pernas. (Calar-se envergonhado.)
Bom rafeiro até á morte dá ao rabo.
Olhar com o rabo do ôlho. (A furto, desguelha.)
Espichar o rabo. (Termo chulo. Morrer, ir desta para
melhor, faicr a viagem d onde nunca se volta.)
O rabo & o peior d'esfollar. ( O mais custoso ó terminar
o começado.)
Frade que não chega a horas, perde a ração.
Dar a rachar. (Desancar, espancar sem piedade.)
Casquilho rafado, modista —a. (Cujos vestidos estão
gastos, estragados, usados; que já conhecêrão melhores
dias, que estão na terceira secção, reformados, &c.)
RAIAR—RAMO 173
Raiar. (Lançar raios de luz, brilhar, refulgir, v. g.:
Vi ralar o_ prazer, porém Ião pouco
Momentâneo rclampago nso dura ! (Boc.)
F. é uui raio. (Esperto , penetrante, vivo. Cahio-lhe o
— em casa, a calamidade, o desastre que se temia, ou
de que se tratava ou se esperava.)
Dizer dalguem raios c coriscos, ou, cobras e lagartos.
(Desacreditar, menoscabar, desabonar altamente; o mes-
mo que : Dizer d alguem o que Mafoma disse do loucinho.)
Rainha das flores. ( Dá-se esta primazia á rosa , v. g.:
Quem, rainha das floridas campinas,
Tc decepou sem dó?...
Rosa de amor, rosa purpurea e bella ,
Oh ! leva-me comtigo á campa fria ! (Garrett.)
Bens de raiz. (Propriedades rústicas ou urbanas.)
Lançar raízes. (Estabelccer-so, firoiar-se n um lugar.)
Rajadas de vento, vento de—. (De tufão, lufanada,
pautada, furacão, turbilhão.)
Ralar, ou, moer a paciência a alguém. (Mortificar, ator-
mentar, aperrear, molestar, martyrisar.)
Ralé. (Casla, raça ; Ínfima, ultima —, escoria, canalha.).
Não ha geração sem rameira ou ladrão.
Ilammerrlío ou remmerrão. (Termo onomatopico, ioiitau.
do o som uniforme de um instrumento mal torado ou de
utensílio fabril, v. g.: a serra, o moinho. Costume, lia
bito diuturno , trivial, vulgar, v. g. : não passa do seu —,
permanência monolona , que não melhora nem diversia.)
Domem com ramo ao jeito asno perfeito.
174 RAMO — RASA
Gasa de ramo á porta. (Taverna de vinho.)
O bom vinho não lia mister ramo. (Por si se vende.)
Não parar em ramo verde, ou, não pôr pé cm —. (Não
pousar, não descansar, não persistir em lugar algum.)
Assim como as rans nos charcos,
Existem homens'no mundo ,
Que espalhão vozes ao vento
Sem forças, razão nem fundo.
Com motejos e dicterios
Os faz a inveja fallar;
Bem como as rans que só tem
A boca para grasnar. (J. Daniel.)
Qucui não tem dinheiro não come rapadura. (Quem é
pobre não tem vícios , quem é frade não se casa.)
lazer rapapés. (Cortezias com submissão , humildade.)
Na barba do néscio se aprende a rapar. (Vej. Barba.)
Depois de rapar, não ha que tosquiar.
. Guida bem no que fazes,
-Nâo te fies cm rapazes.
Manhoso, astucioso, como uma raposa.
Raposa que muito tarda, caça aguarda.
Quem a raposa tem de enganar,
Cumpre-lhe mnito madrugar.
Rapou-mc o ultimo vintém. (Apanhou, gramou, pilhou.)
Raptar. (Tomar, levar occultamente para maus fins a
filha ou mulher de outrem; impropriamente se lhe chama
roubar.)
Náo rasa. (De duas baterias corridas; tem de 56 a 60
peças, e as de linha dc 74 para cima.)
RASA — RASTOS 175
Pagar pela rasa. (Sein exceder o que limita a labella ou
a laxa , v. g. : a do official a quem se pagão as custas, ta-
bellião, &c.)
Pôr á r/isa. ( 0 mesmo que pôr á Pavana; vej.)
Ter, levar rasca no negocio. (Parle 110 lucro , no ganlio.)
Rascunho. (Borrão ou esboço tosco, de cousa que se quer
pôr a limpo ; minuta, dcscripção imperfeita, &c.)
Comprimento rasgado. (Longo e palavroso , loquaz.)
Raso. (Geralmente significa de condição inferior, baixa,
como : soldado —, cavalleito —, homem —, &c.)
Pôr alguém mais raso que um cliinélo. (Ultrajar , inju-
riar coin palavras o mais que 6 possivel.)
Cabello raso. (Rente, cortado á escovinha.)
Campo raso. (Escalvado, sem vegetação e plano.)
Assento raso. (Sem encosto , sem braços.)
Nem raspa, sem —. (Nem vintém, nem seitil, sem
vintém , pobre como Job.)
Não tem raspa. (Não tem um seitil, um real, um cobrc.)
Rastejar. (Seguir o rasto , as pégadas de perto , v. g.:
rastejou a verdade, o sentido; rastejarão a lebre. Imitar
imperfeitamente , v. g.: o estylo do poeta, os primores do
original. Andar rasteiro, não se elevar, rojar, v. g. : o
caracol, a serpente, o lagarto.)
Seguir o rasto. ( O trilho , os passos, os vestígios ,
indícios ; os costumes , o. modo de -viver, &c.)
Andar, ir de rastos. (De rôjo, arrastaudo-se como o
doente, de gatinhas, sobre as mãos e pés.
Levar do rastos. (Coustrangidainentc, ú força, de rôjo.)
176 PRO-RATÀ — RAZlO
Pro-ra/a. (A parle que cabe em rateio. Vej. Quota»)
Itatazana, ou, ratão. (Homem ridículo c néscio.)
Subtil cozinheira que prova a panella,
Minguando o presunto que está dentro d'ella;
Que vai dhora em hora com o ôlbo na olha,
De sopa no garfo que dez vezes molha ,
Queijo, doce e fruía , ou p5o lé bem duro
Com lai ratazana nada eglá seguro.
Abalárào-se, ou, tremerão os montes, e parirão um ra
tinho. (Grande espalhafato por nada; soarão as Iroiubelas
e apresentou-se em campo uma aranha !)
De casa do galo
Não sai farto o rato, uu
Da casa d esperto galo
Nunca farto sabe o rato.
Bem esperlo é o rato, mas mais é o galo.
Cahio como rato na ratoeira, ou, pássaro em alçapão.
liato que só conhece um buraco, asinha é tomado.
O rato depois de velho ,
Em descargo de consciência ,
Mellen-se denlro d'um queijo
Paia fazer penitencia.
Cahir na ratoeira. (Na espariella, logração, engano ou
laço, no logro, na tramóia.)
Ratoneiro. (Garoto, gaialo, ladrão de objectos diminutos.)
Com um e com outro falia
Se procuras a razão;
Pião vás só a procura-la ,
Porque jãmais pôde acha-la
Quem a busca com paixão.
RAZÃO —REBATE 177
A ratão nem seuiprc anda unida é justiça.
Dar razão de si. (Explicar os motivos do seu procedi-
mento, dar conta, &c. Fazer—, justificar-se; reparar o
mal. Trazer ã —, ou, inetler em —, concordar, pôr de
accordo, conciliar, congraçar.)
A justiça sem razão
É a própria sem-razão.
Ter razão c «ma cousa, e ter justiça é outra.
Onde a razão se não ouve,
Doudo é quem se não cala.
Enclier-ec de razão. ' Prudenciar, aturar por algum tem-
po cousa nociva, até clicgar tempo de castigar, romper. )
A razão é dos homens , mas a justiça é de Deos.
E fallar com mouco dar razão a quem não a entende.
Contra a razão não ha armas, mas só a força, que é a
mesma sem-razão.
Livro de razão. (O em que se lança toda a receita o
despeza. )
A razão dá costas, ou , animo ao covarde.
É tão sandeu meu compadre, que me julga homem ca-
pai de me convencer com razões. (Lógica de vilão.)
1'ôr-se ás razões, ou, ter — com alguém. (Ter discussão,
contenda, briga com elle.)
Traváião-se de razões. (Altercarão, discutirão, argu-
mentarão, dispulàrão com palavras.)
O avarento , por um real, perdeu cento.
Tocar a rebate, dar —. (Alvoroçar, dar aviso do perigo.
I cr —, nolicia repentina. Tomar —, assustar-sc , recciar
ataque.)
12
178 REBEMDITA — RECOCHETE
Rebemdita. (Fazer uma cousa á —, em —, por —, (ie
proposilo para contrariar 011 mortificar algnem , para TÍn-
gar-se j o mesmo que por pirraça. D este modo e que vul-
garmente se pronuncia, porém classicamente deve ser
revindicta.)
Rebotalho. (Ue.-tos, a porçào inferior que fica da fazenda.)
Rebuço. (Disfarce, fingimento; sem —, francamente.)
Recado. (Cauttila, cuidado, segurança, v. g. : Obrar
com — , pôr a —. Mando, mensagem (do Italiano rccarc,
trazer, obrar com —, lento, juizo.)
Dê-lhe muitos recados da minha parte. (Lembranças,
saudações. Fazer —, mandados, mensagens. )
Homem recalcitrante. (Que desobedece resistindo.)
lleceber. (Casar, celebrar matrimonio , desposar.)
Discurso recheado de sentimentalismo. (Clieio, farto.)
Era o cujo nm Bernardo rechonchudo ,
Caveira sem miolo; ampli-pançudo,
Costas p'ra páo c corda, &c. (Muito gordo e nédio.)
Reclamo. (Espeeie de assobio, instrumento com que o
caçador cbarna a caça imitando o seu canto ; e por amplia-
ção assim se chama qualquer cousa que atirahe ou convida,
y. g.: Acodir ao — , á chamada ; o usurário chega-se ao —
do interesse.)
Recochete on ricochcte. (Saltos ou pulos que dá uma pe-
dra chata lançada obliquamente e com força á superfície
dagoa. Lala de —, a que fere, depois de ler balido n'al-
gum objecto, que acerta, recuando. Também se lhe cha-
ma bala perdida, resvalada, dc (ablillia ou labella e de
chapelOta.)
IIECOMMENDAÇXO — REDUNDANCIA 179
Um respeitável perú , nm chernc de arroba e meia , qual-
quer enfiada de marrecos com uma dúzia de Madeira , ou
outras quejandas hortaliças, oITerecidas a tempo, interce-
dem e advogão melhor uma preteução do que a mais acre-
ditada caria de rccominendação. ( J. A. Macedo.)
Rccovagcm. (Conducção, transporte por bestas de carga ,
de fazendas quacsquer; lote das bestas, cáfila.)
Recoveiro. (Almocreve, bagageiro, conductor de cargas.)
fícdada. (Lanço derêde, e por analogia, também signi-
fica prisão de muita genle, v. g. Boa — recheou o Li-
moeiro, pingue — gramou a patrulha.)
Correr á rédea solta. (A toda a brida, á espora fita. )
Andar , correr á rédea solta. (Sem governo sem ordem.)
Despender á rédea solla ,
Sem conta, peso ou medida,
K querer pôr-se por porias
Mingoando os annos da vida.
llcdcas do governo. (Direcção, manejo. Sollar as — ao
prazer, ao pranto, á paixão, dar-lhe largas, livre curso,
entregar-se, desafogar, icc.)
Negar, asseverar redondamente. (Positivamente, desen-
ganadamente. Cahir — de pancada, subilamenle. )
Jazia em escuridão a redondeza. (O mundo, o globo
terrestre.)
Dar um não, um sim redondo. (Uma negativa, uma
adirmativa ou consentimento formal, explicito, desen-
ganado, positivo, sem réplica.)
Redundancia. (Superabundância , sobegidáo de palavras.)
ISO REDUNDOU-LHE — REGALADA
Redundou-llie em grande proveito, redunda-te toda &
gloria. (Vir a dar, ler por effeito, cm resultado.)
Re falsado amigo. (Traiçoeiro , desleal, pérfido.)
Refens. (Plural de refem. Pessoas ou cousas que se põe
rui poder do inimigo ou doulrem, como penhor ou ga-
rantia da execução do pacto, de condições, &c. )
Refinada adulação. (Astuta, subtil, sagaz.)
Refinado velhaco. (Chapado, insigne, descasca.)
A mocidade goza sem reflexão, padece com cila a velhice.
Tivcrâo porfiada refrega. (Renhido combale, condido.)
Refreou sua justa cólera , refrèa luas paixões. (Reprimir ,
conter, coliibir.)
Refrescou o vento. (Tornou-se mais rijo, soprou mais
forte.)
Regabofes. (Contracção de regala bofes. Ter um dia de
—, de grande prazer, folgança, comes e bebes, de tirar
o dente de miséria ou de regalar os bofes.)
Regaço. (Lugar de descanso, de repouso, v. g. :
Magico numen que transportas a alma

Até do triste, do infeliz proscriplo.


Dos entes o misérrimo na terra,
Ao regaço da pátria cm sonhos levas... &c. (Garrett.)
O que se toma por gosto , regala a vida.
Passar i regalada ou regaladamente. (F.m folganças,
prazeres, ás mil maravilhas.)
REGATEAR—REINTEGRADO 181
K capaz de regalear ié cm cineo réis dc toucinho. (De
querer que Ht*o dêm por menos, não havendo moeda
menor. Vcj. Tinhoso.)
Regateira. (Mulher que compra peixe e fruía para re-
vender; a de peixe se lho chama peixeira, e a de fruta
fruteira. Lingoagem de—, obscena, indecente, sórdida,
insullantc, d'alcoucc, do cáes da pedra.)
Tocar cm lodos os registros. (Fallar em todo, cm todas
as maiorias c tons. Tocar nos —, fallar a proposito , com
acerlo. Puchar lodos os —, escoucear, rodar para todos os
lados, nada poupar para conseguir seus fins.)
Rego. (Caminho recto, proceder integro, singelo.)
Vir ao rêgo, ou, chegar-se ao —. (Reuder-sc, approxi-
mar-sc da razão , cahir em si.)
Rei por natureza. Papa porventura.
O braço do Rei e a lança longe alcanção.
Rogos de Rei mandados são.
Novo Rei, nova lei, ou . Rei morto Rei posto.
Em sua casa cada qual 6 Rei.
Sem Rei nem roca. (A tôa, sem governo.)
Por leu Rei pelejaste, lua casa guardaste.
Rei constitucional reina e não governa.
Os Ires reinos da natureza. (Animal, vegetal c mineral;
divisões que comprehendem os animaes, as planlas e as
substancias inorgânicas.)
Subindo ao throno D. Maria I, foi reintegrado o minis-
tio J. dc Seabra no seu posto. (Rcstituido. restaurado
ncllc.)
182 REITOR — REMEDIO
Reitor. (Em Portugal é o regente da Universidade.)
Reixa ou rixa velha. (Inimizade antiga j — nov^, briga
repentina.)
Relampadeja o cio, a atmorplicra. (Lampeja, brillião
relampagos, estar fuzilando.)
Veloz, rápido como o relampago.
Ganhar de relance. (Do primeiro lance ou sorte, no jogo.)
fíelatorio. (Exposição vocal ou por cscripto que faz al-
guma pessoa, do estado do negocio de que fôra encarregada.)
Relento. (Humidade nocturna , sereno, cacimba da costa
dAfrica. Dormir ao —, cm desabrigo, ao abandono.)
Relevar a falia, o castigo. (Perdoar, desculpar, absolver.)
Rillio. (Acoute de couro crú , feito de uma tira torcida
sobre si. Por analogia se diz : Fallar portuguez velho e
réllio, isto é, rígido, duro, que não dá de si, como o
couro crú; inflexível, dizendo as verdades nuas e cruas,
sem dissimulação.)
Relva a cabra onde está alada.
Remanso. (Ilcpouso, quietação, plácido socego.)
Remar contra a agua, ou, contra a eoncnte , ou
Remar contra a maré. (Querer conseguir alguma cousa
apezar das contrariedades que se lhe oppoem.)
Itemar por si. (Achar-sc em idade de se governar.)
Homem remedindo. (Que tem com que subsistir.)
Remediar alguém. (Soccorrê-lo nas suas necessidades.)
De Deos lhe venha o remedio!
REMEDIO — REPERTORIO 185
A grande mal grande rcmciho.
Conselho sem remédio c corpo sem alma.
Só para morte não ha remedio.
Fidalgo, antes rôlo que remendado.
Remendão. (Ollicial dobra grossa, pouco hábil. Que
concerta ou remenda fato ou calçado velho.)
Remendo d outro panno. (Cousa fora do assumpto , de
origem dificrenie, pretexto especioso.)
liemontar-se aos séculos passados. (Meditar a historia
d'elies, volver, transportar a elles o pensamento.)
Remoque. (Palavras que com agudeza de sentido encu-
berto picão ou oflendem alguém , e llie dão a entender o
que queremos por insinuação indirecta.)
Render finezas. (Dizer expressões delicadas, affectuosas,
lisongeiras. — a alma ao Crcador, morrer, expirar. — a*
sentincllas, muda-las, entrrgar o posto a novas tropas.)
F. rendeu pelas virilhas. (Soffreu quebradura, rotura ou
hérnia , por efloito de grande pêso , grande esforço mus-
cular ; rendeu a náo pelo costado, Scc. , alnio, rompeu.)
Está pago e repago. {Mais que pago, com excesso,)
Sempre quem reparte
Toma a melhor parte.
Repeítão. (Empuxão, empurrão, impulso violento. Aos
repellões, aos empurrões, dando empuxões.)
Dcrepente. (Subitamente, repentinamente, d improviso.)
Ter bons repentes. (Felizes idéas, ditos, casos, actos )
l.m jantar como manda o repertorio. (Como é de cos-
tume, usual, sem augmento, &c.)
184 REPIMPAR-SE — RESOLVER
Repimpar-se. (Encher a barriga, atulhar o bandulho ,
recheiar as tripas até Gear impando. Gozar, saborear com
descanço algum objecto. )
Represalia. (Acto de embargar e capturar os effeitos ou
vassallos do inimigo que começou as hostilidades; direito
de — , fazer —s, outro tanto , indemnizar-se.)
Dizer requebros. (Expressões amorosas , finezas.)
Requintar. (Apurar quanto é possível, levar ao auge,
acrisolar, v. g.: finezas, créditos de amante, &c., chegar
ao extremo, á nimiedade. Equivale a extrahir a quinla
essencia. Vcj. Quinta, &c., no Supplemento.)
Resabiar-sc. (Contrabir resabio, asco, desabrimento.)
Resabio ou resaiba. (Sabor , gôsto que se pega a algum
raso, c por analogia, resto de cousa que se communicou
a outra ou se teve antes 11'oulro csiado, v. g.: N esse animo
dedicado ao cullo havia — de prazeres terrestres. Vicio,
manha ou doença das bestas.)
Pessoa reservada. (Circumspecta, prudente , cautelosa. )
Resingar com alguém, (Altercar, disputar, contender.)
Sempre este maldito está resmungando! (Faltando em
voz baixa, entre os dentes, em (om de quem ralha c ex-
prime descontentamento. (Vieira.)
Resolver. (— a questão, a duvida, decidir. —os corpos
aos seus elementos, desfazer, v. g. : O fogo resolve em
fumo a madeira. — o tumor, o leicenço, fazô-lo desappa-
recer. —se, decidir-sc, tomar resolução, fixar. — proble-
ma, decifrar, dissolver, determinar.)
RESPEITO — REVELHUSCA 185
Mais respeito, menos confiança I
Respingou-mc com certas chufas que.... (Rctorquio-me,
replicou-me, acodio com tal azedume, agaslamento, &c.)
Qual pergunta farás, lai resposta terás.
A apressada pergunta vagarosa resposta.
Até á rcsurretção dos capuchos. ( Nunca mais.)
Resvalar. (Escorregar, deslisar, v. g. : Resvalou a lança
no escudo sem fazer presa. — por nm rochedo a baixo.
Resvalava o barco pelo liquido elemenlo. — da fé, da inno-
cencia, afastar-se, desviar-se insensivelmente.)
K falso como manta de retalhos.
Manta ou capa de retalhos. (Obra composta de pedaços
de diversos autores, mal alinhavados; rapsódia. Homem
que alardeia citações ou opiniões a bocados sem conncxão.)
Retentiva. (Faculdade de reler, conservar na mente.)
Retorceu toda a narração ; retorei-lhe lodo o negocio, &c.
(Usar de meios torluosos, evasivos, para não executar o
promctlido, ou contrariar.)
De tal pedaço lai retraço. (Filho de galo mala rato.)
Vender a retro aberlo. (Termo jurídico. Paclo , no qual
o vendedor a todo o lempo pôde resgatar a cousa vendida;
a retro fechado, denota que também pôde remiro objcclo,
porém cm lempo limitado. )
A quem vela, tudo se revela.
Mulher reielhusca. (Termo chulo. Um lanto velha, já
durazia, uma quarentona, cinquentona, &c,
186 REVERENDO — RICO
Reverendo, a. (Adjectivo que familiarmente se usa para
ampliar a significação, v. g. : maçada —, descompostura —,
mona —, velhaco —■, kalibarba —, volume, Stc., tudo
na accepção amplifica de grande, muilo. )
Reverso ou revcz. Vejamos o — da medalha; virámos o
painel do — . (Examinemos o negocio por oulro lado,
debaixo d'outro aspecto , ouçamos outra narração do
caso, &c.)
Ao rcvez. (Ás avessas, ao contrario. Successo infausto,
contrariedade, desgraça, alternativa de bem para mal. A
revezes, cada um por sua vez , por seu turno.)
lléz por rcz. (Muito ao justo , completamente.)
Réz. (Nível, v. g. : Sentado ao — da tenda, ao — do
chão, da rua, &e. , proximo, pegado com.)
Rcz. (Cabeça de gado, ovelha, porco , animal, &e. )
F.m caminho francês vende-se gato como réz.
F. é má réz. (Pessoa má, de má índole, de conducta
reprovada.)
Viuva rica, casada fica.
Homem rico nunca 6 feio.
Tão rico 6 no oulro mundo
Diógenes como Creso;
Cá tão pobre como elle o avaro vive. (Fil. El.)
A pobre não faltes, e a rico não prometias.
De rico a soberbo não ha palmo e meio.
Ao homem rico a fama lhe casa os filhos.
Quem aos trinta não tem siso , aos quarenta não é rico.
listar, ou, ser pôdre derico. (Possuir immensos cabedaes.)
IUFÃO —RODOMONTADA 187
Andar cm rifão. (Ser objecto de mofa , andar na boca
de lodos, indigitado.)
Rimar nabos com bugalhos. (Dizer despropositos.)
Itipio. (Palavra ou syllaba que entra 110 verso para en-
cher a medida, v. g. : Namadidaestaçãopor cnlrearbustos.)
Não le eleves com a riqueza.
Nem te aviltes com a pobreza.
__ Aprende chorando c rirás ganhando.
A risca. (Exactamente , ponctualmenlc.)
Correr ruce. (Estar exposto a perigo. Em — de vida.
exposto a perde-la. Dar dinheiro a —, segurar o — do
inar, &c.)
Muito riso, pouco siso.
Quem corncu a carne, ria o osso.
Jloaz. (Que róe, mordaz, voraz , que bebe sangue, v. g.:
Onde insecto roaz tem couto eterno. (O percevejo.)
Vestido roçagante. (Com cauda de arrastar, grande, )
Couces degoa, amores de rocim.
Itocio. (Orvalho, sereno, chuvisco. Praça publica, largo.)
Itoda de pontapés, de murros. &c. (Boa porção, chu-
veiro de.... , grosa de....)
Andar eui roda viva. (Sein parar, lida contínua , inces-
sante, em ocCnpaçâo eterna.)
Rodomontada. (Fanfarrice . fanfarronice, bravata, qui-
xotada. Deriva-se de Rodumonte, um dos heróes do poema
Orlando Furioso de Ariosto , e siguifica róe-monles.)
1S8 ROER — ROSAS
Roer a corda a alguém. (Enganar, faltar ao promcltido,
não cumprir o ajustado, faltar á palavra.)
fíocr na pelle d'alguem. (Maldizer, censurar. )
Dizer bem por diante e roer por detraz.
De rojo. (De rastos, arrastando pelo chão.)
Fogo rolante, ou, fuzilaria—. (Incessante, continua de
pelotão, uma apoz outra, em seguida.)
F. ú fresca rolha! (Traste, -velhaco, tratante.)
Metter uma rolha na boca. (Fazer calar, impôr silencio.)
Tirar a rolha. (Fallar o que se deveria occultar, dizer
cousas indevidamente, dar com a lingoa nos dentes. )
Roma não se fez n um dia.
Quem tem boca vai a Roma.
O demasiado rompe o sacco.
Romper a paz, o contracto, &c. (Quebrar, violar; — a
guerra, começar; — o ar com gritos, atroar, aturdir,
retumbar.)
Também ronca o mar, c eu mijo n'elle, ou
A. formiga, ainda que pequena, mala o crocodilo.
Quem a porcos ha medo , as moulas lhe roncão.
Ronha. (Especic de sarna que dá no gado lanigcro.
Defeitos, vicios moraes, desacertos. Malícia, manha, v. g.-.
F. tem muita —, astúcia , velhacaria, bebe azeite.)
Rosa nautica, ou, — dos ventos. (Circulo onde se aclião
marcados os rumos dos ventos pela agulha de marear.
Junto da ortiga nasce a rosa.
Rosas do rosto. (A côr encarnada das faces, avermelhada.)
ROSAS — HUA * 1S9.
Foi maré, ou, viagem de rosas. (Excellente.)
Cavallo rositlio ou uiui bom ou mofino.
Lançar cm rosto, ou, dar em rosto. (Queixar-se da pes-
soa, incrcpar, lançar á cara, allegar.)
Uma mão lava a outra e ambas o rosto.
Rosto alegre com perdão ,
Vingança é de baldão.
Iti-se o rôto do esfarrapado. (O tôlo do estúpido.)
Roupa de Franceies. ( Bens mal havidos. Vej. Frantezei.
Dá Deos o frio conforme a roupa, ou
l)á Deos a roupa segundo o frio.
A respeito de roupa vamos que ú um brinco; camisa»
minhas e do meu camarada, numero um, o resto á pro-
porção. )
A roupa suja lava-se 110 seio da família. (As desavenças
domesticas occullão-so —.)
Cantar como um rouxinol. (Maviosamente.)
Rua ! Corpo na — ! (Passa fóra ! longe daqui, fóra !)
Criada que lica cm pé
Depois das amas deitadas ,
E que as janellas fechadas
Abre para vêr quem c;
Qae entra a taramelar,
A tossir, a escarrar.
E diz depois á Senhora
Que foi deitar aguas fóra,
Se n isto mais continua,
Corpo na rua.
190 •RUBICSO — RUSGA
Atravessar,,ou, passar o Rubicão ou Rubicon. ( Atrever-se
a grande empreza , tentar grande dilljculdade , decidir da
sua sorte. Deriva-se de <|iie Rubicon era um rio <|tie sepa-
rava a Itália da Gallia, o qual a nenhum general líouiano
era concedido passar com exercito , Cesar o atravessou
com uni, mostrando assim revollar-sc contra a pátria.)
Rugeruge. ( O som que produz a seda ou selim roçaudo-
se, ou o ar nos intestinos, o que vulgarmente se denomina
« roncar das tripas. » Por analogia se dií = Dos rugesruges
se fazem os cascavéis =: isto é : dos íuinores vem a cousa .
a fama, noticia publica e soada, allnclindo ao cascavél,
que é um guiso de melai com bolinha dentro para soar. )
Ruim senhor cria ruim servidor.
Gente ruim não lia mister chocalho.
Em ruim gado não ha que escolher.
iMelte o ruim no palheiro
Quererá ser leu herdeiro.
De ruim ninho lambeu» sahe bom passarinho.
Manhãa ruiva ou vento ou chuva. ( Em Portugal.)
Ruma de livros, de tábuas, &c. (Monlão, aggregado.)
Seguir seu rumo. (Caminho, direcção, Dm, méta.)
Trazer os seus ncgocios a, ou, em rumo. (A. caminho,
dispostos a sorlirem bom effeilo.)
Rural. (De campo, rústico; é o opposto a urbano, de
cidade.)
Rutga. (No Brasil à syuonimo de desordem, rixa, e
rusguento, de bulliento, precipício, briguento; cm Porlu-
gal significa Una, recrutamento forçado para a marinha.)
SABÃO — SABIDO 191

Dar um sabão, ou, sabonete ualguem. (Repreliçader,


exprobar, dar reprebensão.)
Ensaboar a cabeça ilo asno, perda do sabão.
Sabatina. ( Rccapitulação das lições semanaes que se far
ao sabbado ; exercício académico. )
F. sabe mais a dormir que B. acordado.
K. não sabe o que lem. ( í!. Ião rico que já não sabe con-
tar os itens da sua forluna. Refcrindo-Se a pessoa , signi-
fica : ignora quem lem em casa, com quem vive ( boa
ou má , &c.)
O parvo sabe á sua custa.
ÍVada duvida quem nada sabe.
G inguem se mel la no que não sabe.
Não sabe cpmo governar
Quem a lodos quer contentar.
Nâo sabe qual 6 sua mão direita. (Ignorantão.)
Quanto mais vivemos, tanto mais sabemos.
Saber adoce, a azedo, mal, bem, &c. (Dar ou ler o
Rosto, o sabor de...., parecer, assemelhar-se a....)
Para saber quem é o villão ,
É metter-lbe a vara na mão.
Muilo lallar, pouco saber.
O saber não occupa lugar.
Homem sabido. (Astulo , destro, experimentado. }
192 SÁBIOS — SAFA
Os Sele Sábios da Grécia. ( Os antigos derão esta deno-
minação a selo illustres Gregos, que vivCrão no 6." século
antes de Jesus Chi isto ; seus nomes sào : Sólon, Bias,
Cbiion, Cleobulo, Pillaco, Periandro e Thales. Alguns
autores collocão MysoB ou Anacliarsís o Scjla em lugar
de Periandro.)
Panella que muilo ferve, o sabor perde.
Levar tudo á sabrada, (Ás cutiladas, a Co dVspada.)
A cobiça rompe o sacco.
Deitar em sacco rôlo.
Deitar trigo cm sacco rôlo , ou , agoa n um crivo.
Sacco rôto, ou, vazio. (Mulber que caía sem dote ou que
nada espera herdar.)
Sacerdote. (Ministro da igreja; summo —, máximo —,
o Papa.)
Sacerdotisa. (Mulber idólatra que faz os sacrifícios.)
Dinheiros dc sacristão
Cantando vem, cantando vão. (O que não custa
* ganhar, facilmenlesc gasla; se despende como se ganha.)
Sacristia dc Baceho. ( Adega ou taverna,)
Mulber. moça sacudida. (Elegante, airosa, guapa.)
Foi bem sacudido. (Severamente reprehendido ou cas-
tigado.)
Safa! (Irra! Que lai! Apagé! inlorj. admirativa.)
Safa safa! (P.ua! fóra d aqui! arreda ! inlerj. magistral
.■ subst. , v. g. : Ouvio-se um , vozque mandou safai.)
SAFADA — SAHIU 193
Moeda safada. (Cujo cunho quasi se não distingue pelo
uso, com a serrilha c cunhos gastos.)
Homem safado. (Bandalho, sem vergonha, traslo.)
Villão siifw, mulher stifta. (Tosco, grosseiro, vil.)
Ando safo das escolas. (Livre, desembaraçado.)
Safra. (Colheita, novidade; a coroação do Imp. foi
dos alfaiates; isto ò: tiverão muita obra por occasião d elia.)
A Casa de Bragança salic da de Borgonha, a família
reinante de Ilespanha da dos Bonrbons. (Provim, é ou
são oriundas de...)
Andar, ou, estar sahido, a. (0 cão, Cavallo, cabra,
ovelha, arraia, &c. (Andar com o cio, qualquer do»
sexos disposto a receber o outro. )
Saliimcnto. (Pompa fúnebre de pessoas enlutadas, que
sahião para celebrar ou assistir aos funeraes. )
Saliio do um atoleiro e motleu-se n outro.
F. saliio de si, ou, fóra de si. (Excedcu-se, irou-se, per-
deu as estribeiras, não obrou segundo o seu caracter.)
Saliio a tanto. (Custou tanlo..., andou por..., cerca de.,.)
Saliio-se com a sua. (Subentendc-se, opinião, voto,
parecer de pessoa que tem ouvido ou examinado e a final
falia, eniille a sua opinião , &c.)
Sa/ur a alguém. (Parccer-se com pessoa dc quem se
procede , v. g. : salte á mài c não ao pai, assemelha-se mais
á mãi que ao pai, &c.)
Áaltir ou sobresaliir. (Dar realce, v. g. : Salie perfeita-
mente o ouro sobre o azul; véo prelo cm moça muito alva.)
13
194 SAHIR — SALDOU
Salúr da sua esphera. (Da sua capacidade, categoria,
posição. )
Sahir dos liuiilcs. (Exceder, t. g. : da justiça, razão,
apartar-sc, desviar-se. — do proposito, do assumpto,
fazer digressão, espraiar-fle. — do caminho, arredar-se
por oiro ou com desígnio.)
Entrar lambendo c tahir mordendo.
Sahir do sen elemento. (Assim como: • Estar no seu
elemento» significa, v. g. : o peixe n agoa , o amianllio
110 fogo : considerando a agoa , o ar e o fogo como elemen-
tos , pode-se figuradamente dizer que esta fora dellc toda
a pessoa que salie da sua competente classificação.)
Saltir-se bem. (Conseguir feliz resultado.)
Não lia cão nem gato que o não saiba. (Ninguém.;
Saiba-me d'isso. (Informc-sc a esse respeito.)
Saibo. (Diz-se geralmente do mau gosto, c sabor do bom.)
Este vinho tem certo sainete tentador. (Gôsto particular,
,sabor, aroma, &c., que agrada, condiz ao paladar. Pre-
sente, mimo com que se ameiga pessoa esquiva.)
Ter sal, ou, pillieira. (Chiste, graça, argúcia.)
Fazer sala. (Entreter, recrear alguém em visita. Fre-
quentar, fazer córte a alguém para o grangear.)
Qaem sobre salada não bebe, não sabe o que perde.
Salomão, ou. Salomão. (Rei tios Judeos, e filho do David,
synonimo de sabedoria , sapiência , prudência.)
Honicui quebrado, ás vezes saldou c sarou. [Saldou so
nada pagou , o sarou so melhorou.)
SALICA — SANGUE 195
Lei salica. (A que cxclue as mulheres do llirono.)
Salpicar a fama dalguem. (Macular, mancliar, sujar,)
Salsa oa mostarda de S. Bernardo. ( Grande appelite.)
Salsada. (Confusão, tumulto. Embrulhada, enredo.)
Saltar das brasas para a frigideira.
Saltimbanco, (liai. Charlatão, bailarino de praça pu-
blica, palhaço , pelotiquciro, vendedor de drogas, &c.)
lr, ou, vir num salto. (Depressa, num apse, mui
ligeiro.)
ISoia de salvação. (Ultimorecurso, derradeira esperança.)
Salvaguarda. (Protecção, ou documento por cscriptu
dado a algucin, v. g.: a uma povoação para não ser sa-
queada, ser respeitada , auxiliada; ir com a—, debaixo
da —.)
Pôr-se a salvo. (Livre do perigo, em lugar seguro. l)i-
i-ujlo —, conservado, reservado para poder usar d elle. )
Salvo, ou salvo se.... (Excepto, fóra, senão, só se...)
Salvo-conducto (Titulo legal concedido a inimigo, a
banido, criminoso, &c. , para ir, voltar, transitar livre-
mente ; cousa considerada como privilegio , isenção.)
Mais sabe o sandeu 110 seu , qne o avisado 110 alheio.
O sandeu trata do alheio e deixa o seu.
Quem de sandice adoece,
Tarde , nunca ou mal guarece. (Cura. )
Estar a fogo c sangue com alguém. (Mal, em grande
inimisade.)
Pessoa de sangue. (Fidalga, nobre. — geração, raça.)
SANGUE — SlO
Sou feito dc carne e sangue, ou, sou de.... Sujeilo -i
paixões, a affeçtos, sensível não ler natureza de vergalho
ou dc ferro. (A — fiio, sem paixão, premeditadamente.
Kstar a fogo e — com^lguem , em grande inimisade. )
Não lhe Ceou gota de sangue no corpo. (Assustado,
atemorisado, aterrado.)
O bom vinho faz bom sangue.
Ser carne c sangue com alguém. (Vej. Unha.)
O sangue se herda e o vicio se apega.
Kicar sem gola de sangue no corpo. (Vej. Vinga.)
Ouem tem sangue faz chouriços.
Estar com o sangue na guelra. (Fresco, esperto.)
.Sanguíneo estrago. (Carnificina, mortandade, earnagem.)
Santelmo. (Pessoa ou cousa que salva ou livra de um
mal iuimincnle, protector, defensor. Fogo ou faiscas
eléctricas que durante a tormenta e os grandes calores se
exhalâo dos mastros resinosos dos navios, e das covas dos
cemiterios.)
Dar Santiago 110 inimigo. (Altaca-lo á imprevista bra-
dando —, que é santo mui venerado 11a lltsp. c Port. )
O rio passado , o santo já não lembrado.
A bom santo tc cncommendasteI "(A fresca protecção! )
Deixa obrar a Deos que é santo velho.
Ficar com o santo c a esmola. (Com ajiota c o trôco,
com um no papo e outro 110 sacco.)
Pelos santos novos se esquecem os velhos, ou, os amigos
novos mettem 110 caulo os velhos, ou, (azem esquecer.
Dia dc S?io Martinho , prova teu vinho.
Se queres viver ião, fazc-le velho ante tempo.
SAPATO —SATURNAES 197
laier galo sapato dalgucw. (Vej. Galo, no Supplem.)
Sarabanda. (ReprehcnsSo forte , descompostura , \u'g.
Dansa saracoteada c indecente antiga.)
Saracotear. (Bailar, movendo indecentemente os quadris.)
Eis que todo sarapantado pela visão, &c. (Muito espan-
tado, assustado, espaventado, espavorido.)
Sarapatel. (Guizado feilo de sangue de porco com mui-
tos adubos , especie de sarrabulho, e por ampliação sc toma
por synonuno de mixorofada , mistura. )
Quem de doudice enfermar,
Tarde ou nunca lia de sarar, ou
Quem de doudice enfermou, tarde sarou.
Mellio que não advinha, não vai uma sardinha.
Em sua casa não ter sardinha
li ir n'albeia pedir gallinba!
Cada um chega a brasa á sua sardinha. (Guida em si.
Isso não vale uma sardinha.' ou , um caracol! ( Nada )
liiso sardónico. (Falso , traiçoeiro, dissimulado.)
Nãcrlhe falta sarna para se coçar. (Motivos de queixa.
•Só lhe falia sarna para sc coçar. (Diz-se de pessoa rica e
(cl;?., porém que se está sempre lamentando.)
Mais velho que a sarna. (Vej. Pardaes.)
Sarrabulho. (Bulha porca, ri ta escandalosa. Guizado
de sangue de porco com adubos, semelhante ao sarapatel.)
Saturnaes. (Festas 011 reuniões nocturnas, onde fc com
meltião toda a sorte de deboches; synonimo de orgia.)
198 SAUDADE—SEBASTIANISTA
Saudade. (A mágoa que nos causa a ausência da cousa,
do objecto amado , com o desejo dc o ler presente. Daqui
as expressões : Ter saudades d alguém : Dar — , isto ó, fazer
saber que as tem da pessoa ou cousa em questão. Morrer
dc — por alguém , &c.)
Fazer saudades. (Demonstrações de pesar apartando-se,
assim como causar este mesmo sentimento.)
As saudades são filhas do amor e enteadas do engano.
Matar saudades. (Satisfazc-Ias, apaga-las.)
Em quanto lia saúde, quôdos estão os santos.
Sazão. (Estação do anno. Veio cm , ou de —, opporlu-
namenle, a proposito. Fóra de—, doccasião, d'cnscjo.)
Sazonado. (Fiucto—, maduro, saboroso. Tempo—,
apportuno. Discurso — de conceitos, adornado. )
O sceplicismo dc F. leva-o até sustentar que.... (Incre-
dulidade, renitência cm duvidar dc tudo que não é evi-
dentemente demonstrado, cm matérias religiosas.)
Estar entre Scylla c Carybdis, ou, caliir de Scylla cm
Garybdis. (Evitar um perigo para cahir noutro igualou
maior. São dois roclicdos perigosos situados entre a Ilalia
e a Sicilia.)
Se não bebe na taverna, folga nclla. (Alardear de al-
guma cousa sem a possuir.)
Metter a fouce na seara alheia. (Intromeltcr-se em ne-
gócios d'outrcm.)
Sebastianista. (Sectário da ridicula opinião que El-Rei
D. Sebastião não morreu n Africa cm 1578, e pelo qual
esperão ainda. Ginja, antiquário, cabclleira.)
SÉCCA — SEMEIA 199
Dar, arramar uma sécca. (Maçada, importunação.)
Correrem arvore sâcca. (Vej. Árvore. Ama —, a que
não amamenta , mas que desmama a criança. )
Itesposta sécca. (Desabrida, áspera, desagradarei.)
Homem sécco. (De poucas palavras. Sustentar-sc a pão—,
sem oulro alimento ou conduto.)
Ficar em sécco. (Atalhado, perplexo no meio do discurso.)
Governar o mundo em sécco. (Pretender decidir da sorte
delle ou de qualquer negocio imaginariamente.)
Dar o navio em sécco. (Tocar, encalhar, topar em baixio.)
Portos sfccos, alfandegas séccas. (Interiores, da raia,
onde entrão c se despachâo generos por terra c não por
inar ou rio.)
Sêdc de ouro, de vingança. (Cubiça, grande desejo,
ambição, anhelo.)
Uma séile d'agoa. (Ténue gota, quanto baste para a
matar, um golo.)
Ter síde a alguém. (Odio , desejo de se vingar delle.)
A sedenta ambição. (Cubiçosa, sequiosa, desejosa.)
A quem confiaste segredo, fizeste o senhor de li.
O fraco, de lodos diz mal em segredo.
Quanto maior 6 aventura
Tanto menos é segura.
Em povo seguro não ha mister muro.
F. <5 do seio dclles. (Intimo, amigo, partidario.)
Trouxe.o novo rnczes cm seu seio. (Ventre materno.)
Pôz o scHo ãs suas cxlravagancias. (Itcmale, fim.)
Cada um colhe segundo semeia.
200 SEMEIA — SENTIDOS
Quem em terra boa semeia
Sempre lerá boa estreia.
Quem semeia recolhe, ou, quem semeia, em Deos espera.
Semeiar em ruim terra. (Beneficiar ingratos.'— na nrfia,
trabalhar cm Tão, debalde. —pélas? divulga-las.)
Semeiar mentiras para colher verdades.
Cada um procura o seu semelhante.
bens semoventes. (Gado. animaes de serviço, escravos;
contraposto a de raiz e móveis, que se não tnóvcm.)
Aquém ou além,
Veja cu sempre com quem , ou
Andar sempre com os cinco sentidos na palma da mão.
Sempre o rabo é mau desfolar.
Para todo sempre. (Sem fim, eternamente.)
Vai senão quando. (N'este comenos, n este entremente
ou entremeio, sem o esperar....)
rendeiro que só serve densacar tripas. (Ruim Cavallo,
cavalgadura de péssimo andar, de choulo.)
'•rão-Senhor ou Sullão. (Imperador da Turquia.)
I'icar senhor do campo. ( Apoderar-se d elle , expulsando
o inimigo. — de si, livre , sem dependência d'onlrem.)
Senhorio da casa, da fazenda, do navio. (Dono, pro-
prietário. Dominio util, posse , propriedade.)
Quem sempre mente, vergonha não sente.
Sentido! (Atlenção, cuidado. Offendido, sensibilisado.)
l azer, estar, dizer alguma cousa com os seus cinco
sentidos. (Em perfeito juizo, completo accordo. )
SENTIDOS — SEREIAS 201
Os cinco sentidos do homem. (São os orgãos que rccc-
lietu as sensações, a sabei': o senlklo do ouvir, vèr, tocar,
provar c cheirar.)
Sentimentalismo. (Expressões, razões, argumentos filho*
da própria convicção, ou instigados pelo próprio interesse.)
Sentincllas perdidas. (As que se põem longe do exercilo
e próximas aos postos do inimigo, á approxiuiaçáo do
qual devem dar signal com tini tiro e retirar.)
Sei/uidão ou seccura. "(Frieza, falta de affabilidade.)
Serão, ou, saráo. (Vigília , vigia, véla, ou trabalho que
se faz desde o começo da noite até ir para a cama; fa-.er
serão, baile, festa nocturna em rasa fidalga , v. g. :
Os momos e os serões de Portugal
I ão famosos 110 mundo, onde são hidos? (Sá Mir.)
Sereia. (Ente fabuloso, da cintura para cima mulher
formosa, c peixe no resto do corpo, cujo canto suave
allrahia e encantava os navegantes; por analogia se dá este
litulo ás mulheres seducloras, enganadoras, fogueiras,
v. g.: Cleópatra, Anna 15olena, Leonor Telles, &c., v. g.:
N esta espaçosa Ulysrea
Podc-se a cada canto vèr
Cantar ao peralta sereias
Que fazi m adormecer;
Correndo todas as veias
I)e tal somuo as deixão cheias
A não se poder elle erguer.
Os que mais sabem do mar
Fogem d'ouvir as sereias;
Eu não me pude guardar,
Fui-vo» a vèr c escutar,
Fiz miiih'alma c vida alheias. (Sá Mir.)
202 SERINGADA — SETEMBURRISTA
Que tal eslá a seringada! (Logração com prejuízo.)
Acalenta a serpente, qnc cila Ic dará o pago , ou
Cria o corvo, qnc elle le arrancará o ôllio.
O lio cnlre pedrinhas serpenteia. (Serpfia , vollêa.)
Homem serrazina. (Importuno, enfadonho , cáustico.)
iUiim senhor, cria peior servidor.
Quem a dous amos servir
A algum ha de mentir.
Sesta. (Hora, espaço calmoso 110 estio, durante o qual
se dorme depois do jantar; daqui as phrases ~ dormir
a —, Passar, fazer a — nalguma parte, &c. Defcndersc
da —, do grande calor.)
Á sestra. ( Á esquerda , do lado esquerdo, v. g.:
Á sestra nos ficavão
As mauritanas plagas tio regadas
De sangue luso.
Que de nossas conquiftas e victorias
Berço faial ha sido e sepultura 1 (Garrett.)
Sete-casas. (Alfandega das —, onde se arrecadão cm
l.isboa os direitos sobre géneros da terra que entrão para
o consumo. Corresponde em parte ao consulado no Rio dc
Janeiro.)
Sele-estreito, ou, Plêiades. (Conslellação.)
Setembrista. (Partido demagogo em Portugal. Vej. o
seguinte arligo.)
Setemburrista. (Alcunha dadu em Portugal no anno de
1847 aos sublevados contra o governo dc Lisboa, e provém
de se ter este partido ultra-liberal, denominado setembrista,
reunido ao miguelista , denominado burro; também <5
conhecido pelo nome dc patuleia , com o qual começou.)
SEU — SIGNAL 203
Cada um senlc o seu e não o mal alheio.
Cada qual cm seu officio.
A quem do seu foi man dispensciro,
Mão fies teu dinheiro.
Quem nunca vio Sevilha, nunca vio maravilha. (Assim
dizem osllespanhóes, alludindo á formosura d esta cidade.)
Homem sobre si. (Que evila quanto pôde toda a com-
municação com os outros; recatado, solitário. Indepen-
dente. )
Sicrano. (Nome usado para designar pessoa incerta ,
um quidam; oppõe-se a fulano. Vcj. no Snpplemcnlo.)
Nem fulano nem sicrano. (Nem outro nem estoutro.)
Sigalho de pão, de carne, de papel. (Migalha, peda-
cinho. )
Sigano, 011 Cigano. (Raça de gcnlc vagabuuda, de côr
morena ou bronzeada, e que se julga oriunda do Egyplo.
Occupa-se cm dizer a bucna-dicha, conhecer o futuro de
qualquer pelas raias ou linhas da mão, &c., fazer trocas
e baldrocas, principalmente cm cavallos, manejar alcovi-
tices, perpetrar roubos c galuniccs. Por analogia a seus
manhosos costumes se chama sigano, sigana, á pessoa
que afaga e faz meiguices para caplivar ou seduzir, prin-
cipalmente ás mulheres. Siganices, artimanhas.)
Signal. (Marca da roupa, do gado, &c., para se co-
nhecer. Firma, assignatura d'algucm.)
Por bom signal. (Em prova de...., tanlo que....)
Lingoa longa, signal de mão curla.
20/i SIGNAL— SO'
l)ar, deixar signal. (Dinheiro que sc dá ao vendedor
011 alugador, para segurança da compra ajustada ou do
preço do aluguel. Dar — de si, mostrar-se , dar indicio*
de vida (pessoa que se julgava morta. ) .
Trazer alguém á sirga. (Apóz si, para onde sc «juiz.)
Andar á sirga dc outrem. ( Dependente , sujeito a elle.)
Sirigaita. (Moça, rapariga namoradeira , audeja.)
Por aqui, ou, por esta me sirvo. (Expressão familiar,
que denola a acção de partir, de se ausentar repentina-
mente ou ex abrupto , v. g.: • Mas o larapio Sem mais que
nem p'ra que, enfia o corredor, c eis que por aqui me
sino dizendo , nos mostra j>í calcanhares. » J. Daniel.)
Menos se mentiria sc de incutir se pagasse sisa.
Bexil sei que a mentira nunca pagou sisa.
Vender siso a Calão. ( O mesmo que = ensinar o padre
nosso ao vigário, ou — o pai a fazer filhos.)
Dentes de siso. (Os queixam» os últimos que sabcui.)
Quem a trinta não tem siso, a quarenta não é rico.
Os tolos fazem a festa e os sisudos a gozão.
.Sitibundo de gloria. (Ambicioso , sequioso cm estremo.)
Sitio. (Km bom portuguez significa lugar , poiso, espaço
dc terra, -Na província da Bahia cbama-se roca ao que esta
classificação sc cliama em Portugal quinta; em Pernambuco
denomina-se sitio, assim como no norte do Brasil, e chá-
cara no Rio de Janeiro c províncias do sul.)
Melhor 6 estar só que mal acompanhado.
De mim s:i me aconselhei,
De mim só lamentarei.
SOA — SOCCO
Não lia agoa mais perigosa que a que não sâa.
A mulher ou moça boa,
Prata é que muilo sôit.
O que fôr lia de soar. (Ha de saber-se, ser ouvido.)
A quem não sobeja pão , não sustente cão.
As mulheres onde eslão sobejão, c onde não estão, fallão.
Sobre tô!o, 6 confiado. (Além de, sendo já...)
Sobre palavra. (Sobre seguro, em confiança.)
Sobre a laric, a noite, & c. (Perlo da... , cercado...)
Fallar sobre a questão. (Hclaiivnmente, tocante á.)
Ser ou eslarso6rc si. (Sem dopendencia , independente.)
Tomar sobre si. (Obrigar-sc, afiançar, respousabilisar-se.)
Espichou por comer lampreias sobieposse. (Ein demasia,
além do que podia , excessivamente.)
Cavallo, boi sobreposto. (Folgado, descansado.)
As chammas sobrepajavão os telhados. (Exccdião, so-
bra vão.)
Sobresalentc, ou sobreselente. ( De mais do que o neces-
sário, destinado a supprir as falias, v. g. : genlc, tropa,
dinheiro , navios, &c. De —, cm reserva , de manancial,
para as falhas.)
SobresaUo. (Assalto repentino, acomin oiti mento impre-
^islo; snslo e pavor cansado por ellc. De —, de improviso.)
Uomcui socado. (Reforçado, bem coberto de carne,
'efeito, membrudo.)
Sóceo. ( Calçado vulgar, rústico , usado pelos adores da
antiga Kouia nas comedias, eco opposto ao eolliurno trá-
gico, v. g. : E esla questão ma leria de eolliurno c não dc
sácou, isto é, séria, grave.)
206 SOCCOS — SOL
Não è bom fugir em sóccos.
Soeega, ou, cópo da —. (Ultima dóse de bebida que se
toma para conciliar o somno, para adormecer ; c o opposto
do mata-bicho, que ó a dóse matutina.)
Soffra quem pelares tem,
Que atrai tempo, tempo vem.
Homem soffrego. (Ávido, ambicioso, que deseja com
impaciência. Que come com voracidade, quasi sem mas-
tigar, de um pralo ou iguaria , para se lançar sobre oulra.)
Morrer por ter, c sojfrcr por valer.
Quem bom c mau não pôde soffrer.
Grande fortuna não pôde a vir ler.
No soffrer c abster, está lodo o vencer.
Quem não sabe sojfrcr, não sabe reger.
Mal soffrido. (Insoffrido, que soffre com impaciência,
impaciente, que atura com difficuldade. )
Eslcnde-se como villão cm casa de seu sogro. (Põe-se á
vontade, de perna estendida , faz-se de casa. )
Sol de inverno sempre anda traz do outeiro.
Sol que muito madruga , pouco dura.
Sol de inverno. (Protecção, amisade, que dura pouco. )
J>e sol a sol. (Desde que nasce até se pôr, todo o dia. )
Tomar o sol. (A latitude, orientar-se 11a derrota.)
Todos adorão o sol nascente, ou, que nasce. (Adulão,
lisongeião os poderosos que recentemente adquirirão for-
luna, autoridade; os que as vao herdar, &c.)
Ha chuva que sécca c sol que réga.
Amisade de genro sol de inverno.
SOL— SOPAS 207
Quem não onda por frio e por sol,
Não faz seu prol.
A inalher e a galliuha, coin o sol recolhida.
Com bom sol se estende o caracol.
Vidro, jejum e segredo
Se se quebrão, não tem sólda.
Solido. (Oppõe-se a fluido ; objecto cujas partes formão
mu aggregado inteiriço , que a agitação não pôde desunir;
cousa firme, segura , válida , v. g.: poule —, contracto—,
negociante —. Em —, sem partilha, por inteiro.)
A' rédea sâlta. (A' vonlade.)
Estar á sombra. (Ao amparo, á protecção. Ao abrigo,
encoberto. lazer —. causar ciúme, inveja, offuscar, e
lambem amparar, auxiliar.)
Com, ou, sem sombra de verdade. (Sem a menor appa-
reucia, o mais leve indicio. Iieceber alguém com má —,
eom mau ar , demonstrações de inimisade, desafleição.)
Não querer nem por sombras. ( Dc neulium modo.)
Sonda. (Tomara —, sondar o rio , o fundo do mar, &c.)
Nem por sonhos. (Dc modo nenhum, por pensamento.)
A sonsa, pela . ( Dissimulada mente, com fingimento,
' om alTeclada simplicidade ou necedadu, astuciosamente.)
Cahio-lhe a sopa no mel. (Foi feliz.)
I.evar sopapo. (Baque, grande perda, de truz. Pescoção.
pancada, bufelào nas bocliêchas.)
Estar ás topas dalguem. frComt r ánieza deite por mercê,
por obsequio. Estar feito uma — , muito molhado. Bêbado
como uma —, enfrascado , alcoolisado.)
SOS SORNA -SUBREPTICláMESTE
Fí é iiin soma. (Preguiçoso, molancSo, lcnlo, vagaroso.)
Sorrateiro. (Manhoso, com ardil, pela calada. Ladrão—,
astucioso, ralo 11 eiro. Olliar—, a furto, sem levantai- o
rosto, pela sonsa. C.ão—, que morde sem ladrar, pela
caiada. D este termo se deriva a de : Pela sorrelfa, isto é,
com dissimulada mansidão para enganar.)
■Sortiu o remedio, — bom resultado. (Produziu, fez
o effeilo desejado. )
Homem sorumbático. (Melancólico, carrancudo, triste.)
bar sota e az a alguém. ( llespondcr-lhe sem inédo,
di/.cr as verdades sem rebuço , rebater. )
Dar um sotaque a alguém. (Apodo, remoque, recado
que encerra reproliensão. No Brasil cliama-se sotaque á
pronuncia viciada, dialecto, erro 110 acccnlo.)
Dia, homem soturno. (Tiisle, sombrio, )
Sovetar a paciência a alguém. (Importunar com sollici-
laçòcs ou rogos repelidos. Sovcla o que os faz.)
Stromates. (Collecçáo de pensamentos d um autor mis-
turados com os d'oulros, v. g. : a presente obra.)
Suar como um burro.
1*'. fez das suas; disse, obrou das suas. (Plirase clliptica.
onde se subentende as costumadas extravagâncias, estrepo-
li is , desatinos, disparates de F., Scc. )
De grande subida, grande descida ou cabida.
De súbito. (Repenlinainente.aSufciíos, ditos engeuhonos
c repentinos.^
01» subi-e/ílidamcnte. (Fraudulentamente, dolosamente.)
SUBSTANCIA—SUSTENIDOS 209
Em substancia. (Eni resumo, cm summa. Cousa de
pouca —, pouca força, valor. Dar —, vigorisar, reforçar. )
Subtileza, ou, destreza de mãos. (As do pelotiqueiro,
gatuno, Scapin, &c.)
Bom succcsso. (Parlo feliz; mau —, trabalhoso, infeliz.)
Muitos abração seus inimigos para os suffbcar.
F. sttggcrio-llie a resposta. (insinuou-lhe; lembrou-a.)
Sujar-sc com um roubo, com insulto, &c. (Manchar-se.
a\iltar-scTentorpecer a consciência.)
Sulco. (Rêgo feito com o arado, ou a quilha do navio.)
Levar, ter sumiço. (Perder-se da vista , sumir-se.)
Ganhar o pão com o suor do seu rosto. (Trabalho,
fadiga , e honradamente. )
Suou-mc o topete para conseguir isso. (Custou-me.)
Superno, a. (Superior, ejtcellente, prestante.)
Ignorancia tupina. (A de que não nos tiramos por des-
leixo. Serra , arvore — , alta , elevada.)
Escapar-se , ou, safar-se A surdina. (Á franceza. Vej.)
A' surdina, ou, pela —. (Pela calada, silenciosamente,
sem fazer o menor ruído. Occultamenlc, cm segredo.)
Tão -surdo 6 aquelle que ouve c não entende, como
aquelle que não ouve. )
^ão lia peior surdo que aquelle que não quer ouvir.
Mais atormenta o suspeitado, que o sabido.
Sempre o alheio suspira por seu dono.
I. anda cm sastenidos com B. (Quer mais que hom-
brea-lo, pretende excede-lo á porlia.)

210 T —TAL

Ter, ou, trazer um T na testa. (Scrlôlo, néscio, parvo.)


Levar, ou, chuchar para seu tabaco. (Diz-se da repre-
hensão, ou mesmo pancadas que alguém recebe em castigo.)
Palavras tabellijas. (Dc formalidade, de mero costume,
techuicas, pela maior parte escusadas ou inúteis.)
Dar dc làboa nalguem. (Maltratar, desfeitiar, despre.
sar, menoscabar; li termo brasílico.)
F. 6 lábola epie não joga. (Nullo, que não influe. )
Mandar á labúa. ^Termo de despreso ; mandar bugiar
011 á fava; mandar apanhar tabúa, especic dc junco para
fazer esteiras, como a pessoa tôla, inepta.)
Quando não ha cópo , beber na borracha,
fíunca será taclia.
Caminhar pelo tacto. (Apalpando , ás apalpadellas.)
O ladrão cuida que todos tacs são.
Taful. (Casquilho . peralta, polka, dado a divertimentos,
homem, mulher taful; pl. tafuet.)
Ta«arclla. (Homem ou mulher que muito falia desen-
loadamcntc, loquaz, palreiro.)
Tagarote. (Synonioio de parasito, ou, papa-jantara.)
Quem faz mal, espere outro tal.
Tal se achou lá que nem respirar podia. (Algum,
alguém , pessoa houve que, Scc.)
Tal qual. (Igual, semelhante, o mesmo, idêntico.)
TAL—TARDE 211
9
Que lai? (Ern que condição? De que modo. Como?)
E que tal! (E estai Vejão lá! E entãoI Que lai está!)
Campo» talados. (Arrazados, estragados; sulcados, cor-
tados, v. g. : « Euro talando as húmidas campinas. »)
Vestido talar. (Que desce até os calcanhares; roupas
talares. Vestido de rabo , de côrte, &c.)
Estar em talas, ou, vCr-se cm —. (Em aperto, em dif-
ficuldade, perplexo. )
O talento não tem sexo, pátria, idade ou còr.)
Pena, ou, castigo de talião. (Infligir ao culpado o qnc
elle fez noffrer á victima ; ou,—Quem a ferro mala, a ferro
morre.)
Como le langirem assim bailarás.
Tanto tienes quanto,vales, diz o Castelhano, ou
Tanto vales quanto tens, ou
Tanto vales quanto lias
E o saber por demais.
Tanto bale a agoa na pedra até que a quebra.
Tanto se lhe dá disso corno de chiar um carro, ou, da
neve que choveu ha mil annos. (Não se importar.)
Nem tanto ao mar, nem tanto á terra.
Metteu-se de tarallião lambem o fulaninho. (Metlou a
sua foice na seára alheia; onde o não chamavão.)
Dar á taramela. (Fallar muito , laramelar.)
'1 arde piaste. ( Diz-sc de quem chega tarde , de quem
já nao se apresenta a tempo de conseguir o objecto em
questão, de reclamar. &c.)
frade que não chega a horas, ou tarde, perde a ração.
212 TARDE — TEIA
Quem tarde -vier, comerá do que trouxer.
Tarde madruguei, mas bem arrecadei.
Quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita.
Mais Tale tarde que nunca.
Quem defeitos ruins ha ,
• Tarde ou nunca os perderá.
Filho tardio Cea orphão cêdo.
Na Polonia erSo os reis de tarraclia. (Nomeados pelo
povo , sem dynastia fixa , de pôr c tirar. Moral, lógica de
—, condescendente, que a tudo se amolda.)
Tartáreo bando de fero7.es monstros. (Infernal, do
Tártaro, do Inferno, termo poético.)
Tatibitati, ou, tátaro. (Vej. Trapos (lingoa de.)
Se não bebe na taverna, folga n'ella.
São as tavernas as boticas onde se vende a loucura en-
garrafada, ou o cnlhusiasmo aquartilhado.
Sempre é um enredo tecido por mulher! (Intriga , tra-
mada, urdida com sagacidade, alludindo a que nisso são
insignes.)
Tocar na técla a alguém. (Ferir 110 ponto, acertar no
objecto, uo podre, &c. Vej. Bahia.)
Este homem não teme que o tecto o esmague I (l)iz-se
familiarmente de pessoa desbocada, blasphema, alludindo
a que suas expressões ou opiniões são tão irreligiosas, que
provoquem a cólera celeste a esmaga-lo desabando o tecto.)
Tédio da vida. (Desejo de morrer, aborrecimento d elia.)
Teia ou tia da úda. (Fio, duração; dar fim á —, morrer.)
Dar os fios á teia. (Acabar, pôr ou ler fim, fenecer.)
TEIAS — TEMPO 213
Ter teias daranha nos olhos. (Não vêr, não envergar.)
Casa de telha van. (Coberta só d'clla , sem forro.)
Quem lem lelliado de vidro , não alire pedra ao do
visinlio.
De telhas acima, só Deos e galos. (J. Ag. Macedo.)
Fallar das telhas abaixo. (Cá 110 mundo.)
Ninguém dá o que não tem, nem mais do que tem.
Não tem eira, nem beira, nem ramo de figueira, ou
Não tem onde cáia rrorlo. (Nada possuc.)
Quem inuila manleiga tem, assa-a na ponta do espeto.
( Dii-sc de pessoa basófia , fanfarronã.)
-Não tem real, ou, seilil, ou, vintém.
Quem não deve, não teme.
O temor sempre suspeita o peior.
Com tempo e pachorra muilo se consegue.
\ ôa o tempo como o vento.
liui tempo de guerra,
Mentiras por mar c por terra.
0 tempo e relogio da vida , ou meslre de tudo.
Está fazendo tempo. (Ventando lijo, mar bravo ou eu-
capellado, estado revolto da alhmosphéra, t. marit.)
Sempre ha tempo para ludo, sendo bem repartido.
Já foi tempo, ou, já lá houve — que, &c. (Já esislio
ensejo, occasião, circumslancia em qnr....)
'■anliar tempo. (Demorar, dilatar, procrastinar.)
Dar tempo ao tempo. ( Esperar pela oecasião.)
1 ornar o tempo a alguém. (Estorvar, perturbar.)
1'erdendo tempo, não se ganha a vida.
Com o andar do tempo. (No decurso , continuação.)
214 TEMPO — TENÇAS
A tempo. (Em occasião opportuna.)
0 tempo anda c desanda.
Ao perigo com tenlo, ao remédio com tempo.
Qualquer auxilio, por diminuto que seja, sempre vem
a tempo.
Durante esta temporada. (Grande espaço de tempo.)
Temporão. (Synonimo de prematuro, que vem antes do
tempo proprio, y. g. : Talento —, pêro —, inaçãa tempo-
rãa, uvas —s, nevoeiros tempnrãos: ludo quanto ó produ-
zido antes da própria época de sua sezão; opposto a seroclio.)
De tempos a—. (Por intervallos. A seu tempo, quando
chegar a occasião; por seu turno.)
Os tempos, ou, o tempo. (O estado aclual, a sociedade
presente ou passada, o estado de costumes, de civilisa-
ção, &c. Andar com os —, ir cora o, ou com os—,
conformar-se, ir cobcrcnte, caminhar segundo, con-
forme.... , &c.)
Homem tenaz cm sua opinião. (Aferrado, obstinado,
cabeçudo, de rabo arrumado á parede.)
Xcimicjdecarangnejo. (Boticócs, unhas com que ferrão.)
Voltemos, ou, venhamos á nossa tema. (Ao que nos
importa, ao que nos diz respeito, !i matéria em questão.)
De tenção, ou, por —. (Dc proposito coui intenção ,
com decisão, na mente do.)
Fazer, ter tenção. (Intentar, designar, v. g. : « Fez —
de me calbecliisar á sua crença, poríin baldados forão
os embustes. »— da lei, menle, sentido.)
Tcr-sc ás tenças d'oulrcui. (ConCar na protecção de.... )
TENDIDOS — TERRA 215
Vêr, olhar a olhos tendidos. (Esforçando a vigia para
distinguir, descortinar, objectos distantes, longiqnos.)
Pelejar á mão lente, ou, mão tenente. (Corpo a corpo,
á unha.)
Tentear um negocio. (Ponderar, examinar. Dirigir com
tento, juizo, discrição. Entreter, delongar.)
Tentim por tentim. (Artigo por artigo , cousa por cousa,
com toda a individuação ; vem de tento de jogar.)
Dar tento de.!.. (Cuidar, dar atlenção, reparar.)
Perder o tento das suas obrigações. (Descuidar-se.)
• Por falta de tento se perde o navio.
Fazer as cousas com tento, peso e medida.
Ir ter a.... (Chegar, aportar, ir dar a...., cm v. g.:
Esta rua vai — á praça do Rocio , vai dar a &c.)
Ir ter com alguém, com este, com fulano, &c. (Ir-lhe
fallar, visitar, apresenlar-se-lhe.)
Ter. em muilo. (Fazer grande conceito, apreço. )
Ter em pouco. (Despresar, menospresar. )
Ter por certo, por verdadeiro. (Reputar, julgar.)
Fazer, ou, pôr tei-mo. (Acabar, cessar, Gualisar.)
Termo médio. ( Medianamente entre dous ou mais ex-
tremos, de uns pelos outros.)
Em termos hábeis. (Sem inconveniente, sem prejuízo
de terceiro, convenientemente.)
Terra. (Fazenda da —, géneros da —, Dlho da —.
do paiz, do lugar que se habita.)
Onde me vai bem , ahi é a minha terra. (Patria.)
O boi bravo, na terra alheia se faz manso.
Quem fôr para o mar, avie-sc em terra.
216 TERRA — TESTADA
Ganhar terra com alguém. (Caplar-llic a aITcição. )
Tornar terra, avistar—. (Desembarcar; descobrir, ili
visar. Fazer-se com —, julgar-se perlo d'ella.)
Terra lavrada cm Agoslo,
Á estercada dá de rosto.
Os erros dos médicos a terra os cobie.
Cada terra com seu uso .
Cada róca com seu fuso.
A terra, postoque fértil, se não descansa, torna-se
estéril.)
Terral, ou, vento —. (O <|uc sópra da terra, brando,
viração quasi sempre nocturna.)
lirar, ou, trazer a terreiro. ( Desafiar, provocar. Clia"
ina-se cm Lisboa Terreim do trigo o lugar onde os particu-
lares deposilão o seu grão, para daliio vender ao publico.)
Ser teso. (Esperto, vivo, forte, rijo; ter-se — com
alguém, resislir-llic; ter algum negocio em —, soste-lo
com firmeza, não afrouxar.)
A. tesoura do caldeireiro não corta panno e corta ferro.
Fazer tesourinhas com os dedos. (0 mesmo que r= Arru-
mar os pés , amuíir-se , pegar-se como mií á parede , isto é.
porfiar, não ceder da contenda, teimar.)
Servir de tesia de ferro. (Figurar n'um negocio por outra
pessoa; o que empresta seu nome para contracto, sua
liiwa, tkc. ; figurar como ['ilalos 110 credo.)
Pôr-se á testa. (A' frente, á cabeça. Fazer —, resistir. )
Cada qual limpe sua testada. (Corrija ou emende seus
defeitos. De persi testada significa a dianteira 011 parle da
estrada em frente da casa, do prédio, &c.)
TESTAMENTEIRO — TINIR 217
Testamenteiro. (Vcj. Fiador.) *
De leiuiaj c desordens guar-le,
Pura.não seres testemunha nem parte.
Homem testo. (Cabeçudo, resoluto a obrar sem conselho^)
Mulher teúda o manteúda. (Amiga, manceba, amasia.)
As obras de Montesquieu encerrão um tliesouro de ver-
dades. (Grande numero, cópia, quanlidade.)
Essa fica para tia. (Ironicamente se diz de mulher que
vè casar as irmãas mais moças , ficando cila solteira.)
Tigela da casa. (Vaso onde sc vasão as agoas da cozinha.)
Fidalgo de meia tigela. (Pouco illustre, pouco rico.)
De tigelada. (Sem escolha, selecção, á tôa, promiscua-
menle. Chanfana, caldeirada de peixe cozido com tomate
e scbola , e .que geralmente Tem á meza na tigela ou pa-
nella onde é cozinhada. )
Fazer tijâlo. (Namorar, entreter-ie com namoro ; termo
jocoso.)
Doce de tijolo. (Goiabada da forma do mesmo, doce.)
Fazer timbre d'alguma cousa. fGloriar-se. . Cilou como
timbre de suas proesas., cousa mais eminente.)
Por linha tem a tinlia. (Por geração vem o defeilo. )
Se a inveja fosse tinlia, muila gente era tinhosa.
F. 6 capaz de fallar. de ganhar, de jogar, &e., sobre a
cabeça dum tinhoso. (Excessivo em qualqner dessas acções.)
1 odo o tinhoso quer que os outros o sejão.
Estar, ficar a tinir. (Despojado de bens da forlnna,
embaçado, depennado, reduzido a zéro.)
218 TINTA — TIRITAVA
Afrontar a morte para viver 11a historia, é baratear a
vida por um pingo de tinta.
Ficar no tinteire. (Omitlir o que se havia de dizer, es-
crever; deixar no—, deixar de mencionar, calar, olvidar.)
D'onde se tira e se não põe. cedo se vê o fundo.
A tiracollo. (Levar, trazer a —, como a talabarte ou
boldrié, isto <5, cinta 011 correia atravessada do pescoço ao
bano do braço , para suspender algum objecto.)
Tirada de versos, deloqucncia, &c. (É gallicismo dc
tirade, c escusado, pois temos enfiada, porção, serie. )
Tirar alguma cousa da cabeça a alguém. (Dissuadir.)
Tirar a castanha do fogo com a mão do gato, ou
Tirar a sardinha das brazas com a pata do gato. (Scr-
vir-se de outrem para cxecular cousa arriscada ou incom-
moda; o mesmo (pierr: pescar com rCde alheia.)
Tirar forças da fraqueza. (O inesmo que = fazer das
tripas coração ; praticar grandes esforços, superiores ás
próprias forças, )
Tirar ouro, prata, &c. (Estirar o fio pela fieira. — a
ave, os pintos ou passaros dos ovos, choca-los para d'ellcs
fazer sahir a geração , .1 ercação.)
Sem tirar nem pôr. (Justo, scin exageração.)
Tirar-se de cuidados, ou, de maus cuidados. (Empre-
hender algum projecto scui reflexão, tenta-lo inconside-
radamente. )
Ao menos tirei a minha a limpo. (Sahi-me bem da em-
preza, consegui o que pretendia, não perdi.)
Exhausto tiritava na espessura. (Tremia com frio.)
TIR0U-J1E — TODOS 219
Tirou-me a palavra da boca. (Previnio-me , antccipou-
me no que cu ia dizer.)
Tirou-se habilmente do perigo. (Sabio, escapou.)
Até os cysncs se tisnào. (Ale os puros se maiicb&o.)
Bandeou-se a Ululo de.... (Com o pretexto de....)
Pessoa de mau ou ruim titulo. (Má fama, má nota.)
Á toa. (Sem governo, sem conselho, fóra de villa e
lerino, desordenadamente.)
Andar á tôa dalgucm. (Seguir as suas direcções. Toa,
propriamente, signiBca a sirga ou cabo que serve de rebo-
car alguma embarcação, alar-se para ella algum objecto,
e até a espia ou vaivém que segura os cavallos ou outros
animaes no atravessar os rios.)
/
Tomar só a palavra pela toada. (Atleuder meramente ao
som e não á significação.)
Fadei-llie pela mesma toada. (No mesmo sentido, con-
forme o que era assumpto, ou se acabava de ventilar.)
Tóca a dansar, a andar, a correr, &c. (É tempo de... ,
vamos a... , convém.)
Frucla, carne, &c., tocada. (Quecomeça a apodrecer.)
Tóca-me um conto de réis; — a entrar de guarda; —
metade da herança, &e. (Pertence, compete, cabe.)
Tocar o céo com o dedo. (Fazer impossíveis.)
Tocar ouro, prata. (Esfregar na pedra de loque para
verificar os quilates ou grãos; o ouro puro tóca 22 quilates.)
Quicn todo lo quierc, todo lo pierde, diz o Hespanhol.
Nem todos são para tudo,
Neui Indo a todos se diz,
i.
2-20 TOLDADO—TOMARES
Toldado, a. (Cio —, «lia—. offuscndo , nublado, de
ncbrina ; luz—, não clara. Homem—de vinho, quasi
bêbado, tocadêle.)
Tolera-se, sem comludo approvar, o que detestámos.)
Na barba do lòlo, aprende o barbeiro novo.
Duas vezes í lâlo quem faz o mal e o apregoa.
Cala-se o néscio ignorante.
Bem faz em não responder;
Um lâlo só em silencio
K que se pôde soffrer.
Mais sabe o lâlo no seu. que o avisado no alheio.
Comer, ou, tomar alguém por lâlo. (Julga-lo.)
Os lâlos solfiem muito menos do que se pensa; a sua
eslnllicia c irrellcxão os fazem pouco sensíveis, c mitigão
muito seus males.) -
Dar o lom nas sociedades, — á moda. (Servir de modelo.)
Dar lom ás fibras. (Vigorar, fortiGcar, resliluir-lhes a
tensão e força natural.)
Sem tom nem som. (Despropositadamente, desalmada-
mente, fúra de proposito, sem riuia nem metro.)
Mais vali! um toma que dons le darei.
Cança quem dã e não quem toma.
Sempre quem reparto
Toma a melhor parte.
Tomar o^fteio nos dentes. ( Desbocar-se. F.ncolcrisar-se.)
Tomar e.vpcriencia com os males alheios.
Tonutra eu ! (Bem o quizera , o dezejára, oxalá ! )
Ter dares e tomares com alguém. ('1 ralos, conversações,
relações. Disputas, altercações, rixas.)
TOMBADA — TOQUE 221
A gloria de L. de Camões está tombada 11a posteridade.
( Archivada, gravada. Vej. Tombo.)
Tombo. (Inventario authentico de bens de raiz, coin as
competentes demarcações, confrontações, Scc., e por
analogia se chama = Torre do Tombo — o arcliivo onde se
couservão os livros, registos, originaesdas leis, escripturas,
tratados e mais papeis aulbenticos do reino de Portugal.
Também por ampliação se chama Tombo o homem muito
noticioso e erudito; o que sabe as aneedotas e legendas da
terra onde vive, dá informações de priscos tempos, &c.)
Guarda mór da Torre do lombo. (Archivista, chronista
de Portugal.)
Andar jogado aos lombos. (Aos empurrões, aos vaivéns,
aos baques. Andar aos —, muito afadigado, em grande
diligencia , em incessante azáfeina. )
Homem de tomo e lombo. (Bem fornido de membros e
lombo. De grande préstimo , de insigne merecimento. )
A' tona d'agoa. (A" superfície. É uma —, camada ténue.)
Não lhe toou bem o meu voto. (Não lhe agradou , não se
conformou com o seu sentimento , opinião.)
Toou-me o conselho, o aviso. ( Agradou, conformou-se
com a opinião, com o parecer, conveio.)
Dar uma topada. (Obrar mal por fragilidade, pecear
por fraqueza inconsiderada ou casual.)
Brilhante, resplandecente como um topàsio.
Pedra de tói/ue, ou, de locar. (Pedra mui dura , na qual
se esfrégão as peças de ouro ou prata cuja pureza se pre-
tende conhecer, comparando-a com metal já tocado, islo
é, experimentado, e acrisolado com agoa-forte.)
222 TOQUE — TOSQUIAR
Pôr alguém no olho da rua a tique de rufo , ou, dc caixa.
(Expulsar de casa coui escândalo , com vozeria.)
Magistrado sem torcedura. (Que faz justiça recta.)
Torcer as leis. (Interpreta-las mal, com sentido falso.)
Homem d'antcs quebrar que torcer. (Vcj. pag. 14,
Homem de um, &c., ou pé do Boi.)
F. torceu o focinho, ou, as ventas ás minhas razões.
( Desapprovou-as, mostrou sua aversão ou odio a cilas.)
Torcicollo. (Ambiguidade dc palavras. Pessoa (jue anda
com o pescoço lorto, á banda.)
Chuchar boa torcida, boa mecha. (Lucro pingue, gordo.)
Tornar á vacca fria. (Ao objecto em questão.)
Estylo, discurso bem torneado. (Apurado, polido.)
Fazer torres de vento , ou, edificar castellos no ar.
Escreve Dcos ás vezes o direito com letras tortas.
A torto e a direito. (Sem attender ao que é justo, á
brnta, sem selecção.)
Melhor é ser torto, que cégo de todo.
Quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita.
NSo ha cégo que sc veja, nem torto que se conheça.
Andar dc torto em travei. (De mal para peior.)
Quem mal enfórna , tira os pães tortos.
Tosa. (Pancadas, 6()va; dar —, levar uma —.)
Ir buscar lãa e vir tosiueiailo.
Fazer a tosquia a alguém. (Critica-lo, censura-lo.)
Depois drrapar, não lia que tosquiar.
TOUCADA — TRAMPOSO 223
Bem toucada, não lia mulher feia.
Calado como toucinho cm sacco.
Ter muilo toucinho nos cascos. (Ser um ignorante, um
asselvajado Bernardo.)
Disse de li o que não disse Mafotna do toucinho.
Toupeira. (Homem estupido, de curta intelligencia.)
Vêr-sc nos cornos do touro. (Em grande aperto, apuro.)
Lançar a capa ao touro. (Abandonar tudo para se salvar,
como faz o capinha ou toureador, fugindo dellc.)
Trabalho do parto. As dôros da mulher antes de parir.)
Não ha atalho sem trabalho. (Prazer sem pezar.)
Quem por trabalhos uão passa,
Bem pouco senle os alheios,
Pois sempre a própria desgraça
Para a lição deixa meios. (Bern,)
F. deu traça cm como se conseguiria o negocio. (Meio ,
industria, plano.)
Traços. (Rastos, pisadas, vestigios, pegadas.)
A verdade, ainda que amarga, se traga.
Présa-se a traição, e dctcsta-sc o traidor.
Barba de tres côres, barba de traidores.
Trajar á franceza, ingleza, &c. (Subenlende-sc moda.)
Trambolhão. (Quéda, tombo com ruído. Andar aos—s,
aos lombos, jogado aos dados, rolando.)
Trambolho. (C6po, arrastadouro, quo se ata á perna
d algum animal ou escravo para não se afastarem; por
analogia se diz da mulher em relação ao marido.)
Perder a tramontana. (0 Norte, o juízo, o governo.)
Irampoio. (Trapaceiro, rábula no foro, enredador.)
22/i TRANCAS — TRATO
Dar ás trancai. (Safar-se , fugir, mostrar os calcanhares.)
Tranco. (Salto largo e rápido que dá o Cavallo parando
e ficando espautadiço.)
A trancos e barrancos. (Aos sallos, depressa , porem não
seguidamente; vencendo difficuldades ,ou obslaculos.)
Fallar de tranqueira. (Fora de perigo , a salvo , impune.)
Combalir a lodo o transe. (Morlalmeute , até morrer.)
Transpirou o segredo, a noticia. (Divulgou-se.)
O sol transpoz-se. (Desappareceu, poz-se debaixo do
horisonte, é sol poslo. )
Transtagano. (Natural do Alem-Téjo ; de trans além.)
Trapaças. (Fraudes, dólos, velhaca rias, cavillaçõcs.)
Safa com tanta trapalhada! (Tanta mi.vórdia , confusão.)
Pega-lhe agora com um trapo quente. (Diz-se de nego-
cio ou acontecimento que já não é tempo de remediar.)
Lingoa de trapos. (Diz-se de pessoa que articula ou pro-
nuncia mal e difficultosamente; gago , tatibitati, tátaro.)
Planta muitas vetes iras posta, não medra nem cresce.
Homem que com mil trcgeilos
Quer animar o que diz ,
E franzindo-mc o nariz
Com risinhos amprèllos
Ealla pelos eotovêllos
Campando por bem fallante,
ArcWi-tratante.
Tratar-sc além da nobreza. (Viver com iuxo.)
Ter trato com mulher. (Coruinnnicação carnal, coilo.)
TRATOS — TRESANDA 225
.*
Dar tratos à imaginação, ao juizo. (Alormenlar-sc "para
descobrir alguma verdade, excogilar-ardil, &c.)
Tratos. (Tormentos, torturas, v. g. : de polé, darrô-
cho, cordel, &c. , para extorquir a verdade. )
Finalmente tomei uma resolução consultando com os
uicus travesseiros. (Bem ponderada, madura , prudente. )
Trazer alguém entre dentes. (Ter-llie má vontade.)
Seguir pela treita; andar pela —. (Seguir as pisadas, o
exemplo, o trilho, &c.)
Dar trélla. (Conversar, fallar muito , desafiar a fallar.
Dar folga, licença, largas, sueto. )
Tremenda. (Naco de toucinho cevado com caldo do
mesmo, que os monges de S. Bernardo cm Portugal to-
inavão á meia noite. = Sem ceia, padre-mestre, c sem
(remendai = Garret. Talvez que o synonimo de = Ter
toucinho nos cascos, como Bernardo — d'ahi proceda.)
Tres cousas mudão a natureza do homem : a mulher, o
estudo e o vinho.
Quem não se emenda uma vez,
Não se emendará por tres.
O leitão de um mez, o pato de tres.
O hospede c o peixe, aos tres dias fedem.
A pão de quinze dias, fome de tres semanas.
Ás duas por tres. ( Quasi quasi, sem o esperar, intem-
pestivamente. Num abrir c fechar dolhos.)
Féde que tresanda, ou, trasanda. (Muito, cm extremo,
tanto que penetra tudo. Primitivamente significa fazer
andar, tornar alraz com sensação desagradavcl. Vulgar-
15
22G TRIBUTO — ThIPAS
mente se diz tresandar, corno em muitas oulras palavras
onde ha muitos a se substituo Ires a tras e Iratis. Talvez
venha do francez transir, penetrar de frio , de mêdo.)
Pagar tributo á natureza. (Morrer, finar-se.)
É trigo sem joio. (É prata sem liga, é ouro de lei. Joio
0 uma erva nociva que nasce nas searas e as afoga. )
Com vento se alimpa o trigo,
E os vícios com casligo.
Seguir a trilha a alguém. (Ir apoz , seguir-lhe as pisadas,
o mesmo caminho. Dar na—, descubrir osiutentos, os
desígnios.)
Trilha, trilhada, on , trilho. (Hasto, vestígio; por isso
se diz Caminho trilhado =, por frequentado, seguida,
pisado, &c. Vej. Treita.)
Trinar. (Exprimir cantando, modular harmouiosi-
uienle, v. g.:
Na gaiola empoleirado
Um mimoso passarinho
Trinava brandos queixumes
Com saudades do seu ninho. (lioc.)
Trincoa-se a amarra á galé. (Cortou-sc, ou, picou-se.)
Trindades. ( 0 cahir do sol; a hora da tarde em que nos
paizes catholicos se rczão as Ave-Marias, toca o sino Ires
vezes.)
Viver, divertir-se, comer á tripa forra, ( Termo cholo.
Passar á grande, porém á custa alheia.)
Fazer das tripas coração. (Fazer das fraquezas forças.
TRIPEIRO —TRUTAS 227
Tripeiro. (Alcunha que se dá aos filhos da cidade do
Porto, por comerem tripas como grande iguaria.)
Ir de tripetrepe. (Mansinho, pé ante pé, á sorrateira.)
Por um Iriz. ( Quasi quasi, por um nada.)
Troea-iinta». (Homem caloteiro , bandalho, velhaco.)
Negocio de trocas-Ótitdrocas. (De trocas, transacções de
réles ou iufimo valor, de barganhas.)
A troco de.... (Em compensação, em troca de.. .)
Troço de infanteria, Cavallcria, &c. (Porção, destaca-
oiento, parle de um corpo.)
A tróços. (Irregularmente, com interrupção.)
Fazer trombas a alguém, ou, mostrar—. (Mostrar má
cara, assumir rosto carrancudo, de carrasco.)
Tronco do corpo humano. (Todo, menos a cabeça,
braços c pernas.)
Tronco da geração. ( A pessoa d"onde cila procedeu, em
quem começa a nobreza da linhagem , da arvore genea-
lógica. )
Metter no tronco. (Em prisão muito apertada, com cêpo.)
Não ha cavallo , por bom que seja , que não tropccc.
A trouclic-mouclic. (A torto e a direito, sem selecção.)
Foi Cagliostro um famoso truão. (Embusteiro, impostor.
Bobo, chocarreiro. J. A. Macedo.)
Com uma sardinha comprar uma truta.
Não se comem trutas a barbas enxutas. (Não se gosa sem
trabalho o que bem sabe, ou = Não se tomão trutas .
bragas enxutas = , 0u = Não se apanhão trutas com as
228 TRUZ — TURRA
barba» enxutas =, alludindo que para as apanhar é for-
çoso trabalhar, expôr-sc a molhar as barbas, ou as bragas,
isto é, as ceroulas, &c.)
É negocio de truz, caso de —, forlnna de —. (Impor-
tância , valor.)
A tu por tu, como na taverna.
De tuba canora e bellicosa. ( Clarim , trombeta. Cam.)
Tudo enfada, só a variedade recreia.
Tudo pôde o dinheiro, mas mais consegue quem pôde.
Quem tudo quer vingar, cedo quer acabar.
K. é o meu tudo. (Expressão carinhosa, que equivale a
= Em fulano se concenlra lodo o meu afleeto, amor, &c.)
Nâo tugia nem mugia. (Não dizia palavra, não dava
signal de si, estava calado como o galo á espia do ralo.)
Tunda. (Synonimo de sova, pancadaria, lembrête.)
Turba-multa. (Multidão.)
tlii com as turbas. (Zurrar com os burros, ladrar com
os cães, &c.)
Debaixo de uma turca. ( Em occasião de môna , durante
grande bebedeira, decarapanta, &c.)
Cada um por seu turno. (Por sua vez, a revezes.)
Homem que turra por dá cá aquella palha. (Que arma
pendência por um nada, teimoso , cabeçudo , com paixão.
Turrar também significa =: marrar, ferrar com a cabeça,
donde por analogia vem a expressão supradita.)
UCHARIA — UNHA 229

Casada magra acharia. (Onde nfio reina abundancia •


economia em demasia. Ucliaria é synonimo de despensa, e
principalmente se applica á da casa real.)
Não deixar ado nem miúdo. (Nem grande nem pequeno.)
Defendcr-se até ás ultimai. (Ao estremo, até mais não
poder, palmo a palmo.)
Non plus ultra, ou, nec plus ultra. (O suprasumo, o
mais perfeito, illustre, &c., em qualquer matéria.)
Um rei a um reino convém ;
Vêmos que alumia um mundo
Um sol; um Duos o sostem ;
Gerta a quéda e um lim (cm
O reino onde lia rei segundo. (Sá Mir.)
Lm por todos, c lodos por um. (Obrigação reciproca
que coutrahcm socios em negocio de perdas ou ganhos. )
Um Deos , um Rei,
Uma fé, uma lei.
Um no papo, outro no sacco. (Endier barriga c al-
forje, ficar com o santo e a esmola.)
Um doudo fará um cento de iguacs.
' m tinhoso sempre quer que os outros o sejão.
Um e nenhum , tudo é um.
Uma vez engana ao prudente, e duas ao innocente.
Umas sobre outras. (Desgraça sobre—. golpe sobre—.
Ter unha na palma da mão. (Ser ladrão, raloneiro.)
230 UNHA — ÚTEIS
F. é unha c carne com B. (Tem muila intimidade com
ellc, são duas pessoas num só corpo.)
Melter a unha. (Levar, exigir mais do i|ue é devido, do
que é de direito ; traficar á judia.)
Ser unha e cunha. (O mesmo que = Unha c carne. )
Á unha. (Combater á mão, chrgar-se a contacto, v. g. :
nos curros quando os toureadores fisgão as farpas ou gar-
roclias e se arremrção ao touro para o sopear.)
Untar as unlias. (Peitar, corromper, subornar.)
Fugira unhas de cavallo. (A toda a brida, á pressa.)
Unhas de fome. (Homem mesquinho, vil, aváro.)
Fraco é todo o poder se união fallece. ( Fi). El.)
Quebrar a cabeça e untar o caseo.
Untar as mãos a alguém. (Vej. Untar as unhas.)
Prédio urbano. (Casa, qualquer edifício da cidade, villa
ou aldeia; vem do latim urbs, cidade, e dalii homem
urbano, civilisado , bem educado ; Iralo —, opposto ao de
rústico, agreste, villanesco; urbanidaite, cortesia, civili-
dade, polidez, &c.)
Mijar para o urso, ou, estar mijando para o —. (Não se
importar, não fazer caso. Achar-se cm boa posição de
fortuna, poderoso.)
Urubú. (É ave brasílica, do tamanho de um peru, e se
nutre de carnes mortas ; por analogia assiui se denominào
os enterradores ou acompanhadores d enterros, no Brasil;
corresponde aos gatos pingados de Portugal.)
Dias úteis. (Aquclles em que se vence ordenado traba-
lhando. Os cm que no foro pôde correr a causa; oppóe-se
a contínuos, que são lodos os seguidos, feriados ou não.)
UTERINOS — VAGAMUNDEAIl 231
Irmãos uterinos. (Da mesma inâi e de diversos pais.)
Domínio util. (Aquelle que tem, a pessoa que usa e des-
fructa a cousa, mas lhe nâo pertence.)
Utopia. (Sjstema ou fórma de governo perfeito, e por
conseguinte imaginário, inexequível; semelhante á sonhada
republica de Platão.)

Sé vacante ou vagante. (Vaga, faltando-lhc o bispo.)


Quaulo mais a vacca se ordenha, maior tem a lêta.
Mulher gorda e mollaça como uma vacca.
Mulher prenhe como uma vacca (Termo chulo; com
grande barriga, chegada a parir, de barriga á boca.)
Também o boi é vacca ao açougue.
Vacca de chocalho. (A que faz guia aos touros condu-
zidos bravos e esquivos, e por analogia, a mulher que
ameiga , adestra , c trai outras a commercio amoroso.>
Tornar, ou, voltar á vacca fria. (Ao que era dantes,
ao costumado, ao mesmo , á matéria que se tratava, &c.)
ISezerro manso mania todas as vaccas.
Vatleméco, 011, vademecum. (Carteira ou pasta que os
rapazes levão á escola. Cousa que sempre trazemos.)
Pagalume, ou, cagalume. (O mesmo que pyrilampo,
ou, Cumieira; insecto phosphorico.)
V agamundear , ou . vagabundear. (Vadiar, vaguear,
percorrer o mundo; andar ocioso, sem officio.)
232 VAGAR—VALIDO
Do vagar sc vai ao longe. (Mansamente, piano piano.
Vej. Manso e manso.)
Não ler vagar para.... (Tempo, occasião, opporln*
nidade.)
Nas horas vagai. (Desoccupadas, ociosas.)
Eslar de vago. (Ocioso, desoccupado.)
Quem quer vai, quem não quer manda.
S isto vai como vós vôdes,
Meu compadre Belchior,
Vai ás avessas do mundo ,
Vai de mal para peior.
Levar uma vaia. (Surriada , caçoada , corrimaça. )
Vaivéns da fortuna, do mundo. (Revezes, alternativas.)
Mais vale tarde que nunca.
Mais vale o saber , que dinheiro haver.
Tanto vate a cousa , quanto dão por ella.
Mais vale o feitio que o panno.
Vale quanto pésa, ou, pésa quanto vale.
Também o valente tem quem o metia nas encolhas.
A mais temível valentia i a qtie impõe a necessidade.
Valer-se d alguctn , ou, d'alguma cousa. (Recorrer a...)
Tanto vales quanto lias. (Tanto quanto possues.)
Dizc-me quanto tens, dir-te-hei quanto vales.
Navegante que os pVigos não receia,
Farlo d'oiro no mar 6 sepultado;
O valido cahindo cm desagrado
A vida a^aba em hórrida cadeia.
VALOR — VAIEJAR 2SS
O valor produz vencedores, a concordia invencíveis.
Ha lanlo valor cm soffrer com constância os pezares da
aluía , como a permanecer firme debaixo da metralha de
urna batteria.)
Vandalismo. (Syilcma dcstructivo das sclenclas e arles ,
cm alliisão aos Vandalos que assolarão a Eoropa.)
V angloriar-sc de seus tilulos , sangue, Scc. (Ostentar
gloria sem fundamento, fazer jactancia, vaidade.)
Se o tempo der râo. (Occaslão, ensejo. Chama-se vão,
propriamente, n"um rio , o lugar mais baixo onde se pôde
vadear, isto é, atravc.-sar, e d alii « Não acliar — », não
deparar com meio de vencer as diUiculdades do negocio,
de sahir-se bem d'ellc.)
Nem rio sem vão, nem geração sem mau.
Tomar o ido. (Sondar, examinar com o entendimento.)
Vara. (Insígnia dc magistrado cm fórma de rosca, hoje
desusado em Portugal ç Brasil. Autoridade, magistrado,
juiz, &c. , da l.a, da 4.\ &c. , vara, isto é, divisão, clas-
sificação; por isso a expressão « Empunhar a — », entrar
no cargo dc juiz , magistrado, &c.)
A vara portug. contém 5 palmos craveiros = 3-1/2 pés.
Varão. (Homem corajoso, animoso. Filho—, macho.)
Tremer como varas verdes, (De medo, como os ramos
on varas da arvore agitados pelo vento.)
Varejar. (A oliveira, o castanheiro, &c., sacudir, ba-
ter com varas para fazer cahir o fruclo. — a praça com
tiros, bater com artillieria. Vareja o vento da costa , do
mar, da serra, &c. , sopra com violência, rijo.)

d
23 4 VAREJO — VASA-BAMUZ
A varejo. (Arelallio, a miúdo; vendera—. Dar — nos
mantimentos, nas fazendas, &c., averiguar o que d elias
existe. — nas fancarias, boticas, ourives, &c. , para exa-
minar se todas as fazendas que leui são de lei, perfeitas.
Dcriva-se este vocábulo de vara de medir, ou vara alçada.)
Variarão da agulha magnética. (0 seu desvio do verda-
deiro ponto do Norte para onde sempre se dirige ou tende,
á excepção de certas paragens onde a existencia <lo ímau
ou outros metaes a altraliem e desvião.)
A variedade deleita, ou, varietas delectat.
Varinha de condão. (Vara magica dc que o vulgo crê
que se fazem com o toque d'el!a transformações, V. g. :
de cobre em ouro, de um homem em jumeuto, e d ahi
vem a expressão « Ter — » , tudo quanto se deseja.)
Varonia. ( Qualidade de macho, de homem. Descender
por —, pelo macho e não pela femea, por linha masculina.)
Animo, voz, presença varonil. (De varão, valente.)
Varou o inimigo. (Passou-o de lado a lado, atravessou-o.)
I nrrer da memoria. (Esquecer inteiramente. A mos-
qneteria , a arlilheria tudo varreu; tudo derrotou.)
Doudo varrido. (Completo, confirmado.)
Deixar fazer vasa a alguém. (Deixar ganhar  própria
custa, interessar com prejuízo posso. Commigo não faz —;
d esta vez será minha a —. Não fazem ambos boa —; não
travar boa —, não estar d'accordo, dissentir, discrepar.)
Dar com tudo em vasa-barriz. ( Deixar arruinar, estra-
gar tudo; pouca alteração faz de Panlana. Vcj.)
VASCOSSA — VEJO 235
Algaravia, geringonça, mascarada, vasconsa. (Lingoa-
gem lôsca, grosseira, rústica, quasi iuimelligivel. )
Ser o vasculho da sociedade, da casa , da repartição. (A
escória, cousa nojenta, desprcsivel; a ligella da casa.)
Borracha vasia não tira secura.)
Faso. (É nome generico, e por isso se applica a Ioda a
qualidade de vasilhas grandes ou pequenas , v. g.: vasos do
guerra, isto é, navios; — de flores, onde estão planta-
das ou collocadas; —lyuiphaticos, artérias, veias, &c.,
emfim, tudo qnanlo pôde conter ou ser enchido.)
Vaso mau nunca quebra.
Fazer, ou, reconhecer vassalagem. (Dar-se, reconhe-
cer-so por Vassallo.)
Vastidão. (Dilalada extensão; —do Oceano, do de-
serlo, dos Pampas, &c.)
Vé mais que um ljnce.
Véa, 011 veia. (Canal por onde o sangue volta ao coração
depois de propellido pelas artérias. A — d agoa , do rio ,
onde cila corro mais densa, mais forte.)
.Mais vêem dons olhos que um.
I cia poelica. (listro, propensão para a poesia. )
Veia de doudo. (Pancada 11a mola, propensão para a
maluquice.)
I cias, ou, veios de mármore , de ferro, de platina , &c.
(Nas minas assim sc chama a béla 011 parte onde se encon-
tra o mineral ou metal; malhas.)
Se não vejo com os olhos, avisto pelos oculos.
236. VELA — VELHO
A quem vila, ludo se lhe reyéla.
Andar á vèla, fazer-se á —, ou, de —. (Desfraldar,
largar o panno, começar a navegar. Vila lambem se toma
por embarcação , navio , &c. )
Estar, ou, andar á vila. (Despido , nú, em pOllo. )
Pôr-se á vila, ou, á viola. (Ir-se embora , partir.)
Velar as armas. (Ceremonia que fazião os cavalleiros
na véspera da sna recepção , passando a noite sem dormir,
vigiando as armas.)
Carlos V amainou as vilas da ambição, fazendo-se mon-
ge , e amortalhando-se em vida. (Renunciou ao mundo,
á ambição.)
Contos de velha. (Historias fabulosas, patranhas que
ellas contão. Vej. Contos da Carochinha.)
Castigar velha c espulgar cão, «luas doudices são.
Velhaco de cincoenta c cinco costados. (De patente, do
capíllo, de excellencia.)
Fazer bem a velhacos , <i deitar agoa no mar.
Velho só vinho, ouro ctonselho; e novo, só moça,
hortaliça c ôvo, dizião os Jesuilas. )
Não ha rifão velho, se é dito a proposilo.
Burro velho não aprende lingoa.
Vinho velho, amigo velho, e ouro velho.
A cavallo novo , cavalleiro velho.
Mais velho que a onça, ou, do tempo da onça. (Vocá-
bulos brasileiros, que denotão grande antiguidade; o
mesmo que:
Mais velho que a Sé de Braga, ou
Po tempo dos Affoiísinhos, ou, do pai Adão.
VELHO — VENDIDO 237
O homem velho é uiedico de si.
Achar-se, ou, estai' no calçado vellio. (Em idade avan-
çada, não ser já para cousas que fazem os moços.)
Homem velloto, ou valente ou luxuriou.
De ruim a ruim quem acommctte vence.
Vencer o camiulio. ( Chegar ao fim dclle. • Vencerão
mais dei milhas de costa •, adiantarão , avançarão.)
Vencer as paixões. (Rcfrea-las, domina-las. — ovenlo,
o mar, aguentar, resistir-lhe navegando. — em votos a
alguém, ter maior numero d'elles a seu favor, exceder. —
soldo, soldada, ordenado, &c., ganhar, ler direito a elle
por serviço, trabalho, &c.)
Proposta venciila. (Adoptada, depois dc discutida.)
Despreza teu inimigo, logo serás vencido.
Quem diabos compra, diabos vende.
Vende a esposado, e conipra a enforcado.
Queui cabritos vende, c cabras não tem ,
D'ondc lhe vem ? ou
Miguel Miguel, não tens abelhas c vendes mell
Vende publico, e compra secreto.
Vender a pelle do lobo antes dc o malar. (Contar com
milagres do diabo ; liar-se na constância da ventura.)
Vender gato por lebre. (Chibo por cordeiro; o mau por
bom, enganar.)
O cavalheiro Bayard vendeu a vida cara. (Ferindo, ma-
tando, lutando contra os que o attacavão.)
O ruim me compre o amigo ,
Que o bom logo é vendido.
238 VENDIDO — VENTO
Achar-sc, andar, estar vendido. (Enganado, atraiçoado
por pessoa que vendeu nossos interesses, segredos, &c.)
Vcnéta. (Propensão, veiasinlia dc loucura, v. g. : Ter
venetas; deu-llie na—, fazer isso, dizer tal, &c., prati-
ca-lo por maluquice , ou talvez capricho.)
Dar, ou, promeltcr Veneza. (Termo antiguado, que
significa o mesuio que montes douro, alludindo á riqueza
d esta cidade. Vej. Mundos e fundos.)
Pedir vénia, com a devida —. (Permissão, licença.)
Em quanto venta, molha-sc a véla , ou
Aproveita-te cm quanto fôr tempo.
Não me venta muilo bem por esse lado. (Não antevejo
grande vantagem com tal; receiar, não estar com fé, &c.S
Pespegar, ou, ferrar nas ventas. (Dizer, fallar s<m
rebuço a alguém de cara a cara; alludindo a ventas, que
são as duas aberturas exteriores do nariz. Caliir com as —
110 chão. marrar com as — na parede, esmurraras1— a
alguém , tudo como synonimo de cara.)
Ventilar uma questão. (Discuti-la. pondera-la.)
Vento. (Pó de — , furacão, rajada dc —. Emquauto
ventar ou íizer este —, as circumslancias forem as mes-
mas, ou assim ventar. Levar o mesmo —, a mesma for-
tuna, o mesmo caminho. Mover-se com todos os ventos,
s«r muito inconstante , volúvel. Desfazcr-sc em — , desva-
nccer-se, desapparccer, sumir-sc.)
Vai-sc, ou, foge o tempo como o vento.
Vento ou ventura, pouco dura.
Caminhar, ir vento em pôpa. (Felizmente, com fortuna.^
VENTOU-LHE — VERBIAC.EU 239
I entoa-lhe a fortuna. (Foi-llic prospera, venturosa. )
Beber os ventos por alguém. (Fazer excessos por elle.)
Tirar o ventre (la lazeira. (Vcj. llegabofes. )
Onde ventura falia, diligencia é escusada.
A diligencia 6 mãi da ventura, ou , Audaces fortuna juvat.
liei por natura , Papa por ventura.
Chega, ou, vem a ventura a quem a procura.
Tanlo maior é a ventura, qtianlo menos dura.
Entregar á ventura. (Abandonar, largar, dar de mão, )
I'ôr em ventura. (Aventurar, expor a risco, perigo;
d alii Feitos d alla — , como Lucena * fallando da teme-
ridade de V.isco da Gama. Por —, par acaso. )
F. é uma Vénus. (Formosíssima, linda. Planeta uiuito
brilhante, que gyra entre Merciirio-c a Terra; quando
apparece de manhã se chama Estrella d alva, c de tarde
Ilespero, ou Estrella do pastor,)
Kão bêbas sem vér, nem nssignes sem lêr.
A meu vér. (Na minha opinião, segundo meu pensar. )
l'"aze por ter, vir-te-hão vér.
Vér mais que olhos de ljnce. (Agudissimamente.)
Vér com os olhos, comer com a lesta. (Appetpeer c
não gozar, ou. comer por theoiia.)
' ér cslrcllas ao meio dia. (Sentir fome excessiva , gran-
de pesar, dôr profunda, &c. , tudo quanto magoa.)
De tiras. (Sériamenle, na verdade; fora de brincadeira.)
I erbtagem. (Abundancia de palavras imiteis, ouças, ou
sem sentido; é neologismo tirado do franccz.)
240 VERBI-GIUTIA — VERDES
Verbi-gratia. ( Expressão lalina ; o mesmo que = por
exemplo; escreve-se por abrev. =v. g.)
A verdade não tem pés e anda.
A verdade c o azeite bóião sobre a falsidade, ou
A verdade c o azeite andão em cima, ou , á lôna d agoa.
Amigo de todos, e ainda mais da verdade.
Ao medico e ao abbade
Falle-se sempre a verdade.
Dizer a verdade nua e crua. (Sem fingimento.)
Dizer mentiras para tirar verdades , ou
Semeiar menliras para saber verdades.
Sempre as cinzas dos mal premiados resuscitão as ti cr-
ilades.
Nen) todas as verdades se dizem apesar de verdadeiras.
Verde. (Geralmente assim se denomina em Portugal os
cercaes e liervas em quanto não maduras, luas principal-
mente a ferran, que corresponde ao capim do Brasil. D alii
— Dar verde, mandar para o — o Cavallo , &c., costume
que annualmente se pratica na primavera, nntrindo-os só
a berva para se purgarem e reforçar. Dar um —, causa
que alegra ; lograr um —, prazer , &c.)
Velho verde. (Rijo, têso, vigoroso.)
Verdeal. (Guarda ou porteiro da Universidade de Coim-
bra , assim chamado porque anda vestido de verde.)
Estão verdes. (Phrasc que se applica áquelles que não
podendo obter alguma cousa, a menoscábào, cm allusão
, raposa qne assim disse fallaudo das uvas onde não podia
chegar, segundo Pbedro.)
Annos verdes. (Idade juvenil, ainda não madura.)
VERDES—VEZ 241
Misturar verdes com maduras, ou, dar uma verde coin
uma madura. (Involver, baralhar cousas incongruentes.)
No verdor, ou, na flúr da idade. (No viço, na força da
mocidade. Vcj. Viço.)
Verduras, ou verdores da mocidade. (Imprudências,
desvarios, erros proprios d'esla idade.)
Rebentar, mas nio vergar. ( Vej. Fé, no Supplemento.)
Quem não tem vergonha todo o mundo <S seu.
A vergonha revéla os remorsos que se pretende OCcultar.
A vergonha de si própria é o maior supplicio da vida.
Quem sempre mente , vergonha não sente.
As vergonhas do homem, da mulher. (Partes genitaes.)
Homem vergonhoso, o Demo o trouxe ao Paço.
Versejador, (Trovisla, fabricante de versos sem estro.)
Versos soltos, ou, brancos. (Os que não rimão, uias
tem metro.)
Ás vessas, ou, ao avísso. (Do lado opposto ao direito.)
Vertentes. (Encostas , descidas , ladeiras do monte ;
agoaa — , as que se despenhão ou correm pelas ditas. )
Verter agoas. (Svnonimo de ourinar.)
V erter duma lingoa para outra. (Traduzir.)
V éstes. (As diversas peças com que se vésle o homem.)
Vestir a uso, e comer a gosto.
Uma vei se engana ao prudente e doas ao innocente.
Estar de vez, de lua, ou, estar para a cousa. (DL-posto,
de pachorra, preparado.)
Uma vez é a primeira.
16
2/|2 VEZ— VIG AllIO
Vez. (É palavra applicada frequentemente eui diversas
accepções, cujas principaes são : Uma — dc vinho, cer-
veja , &c., a porção que se bebe dc uma só. Chegou a
miuha—, o meu lurno, a miuha occasião ; ilem a occa-
sião propicia, favoravel. Ter —, occasião, cabimento.
Oulra —, noutra occasião. Estar a cousa, o negocio de
—, cm boa disposição para se eflectuar.)
D onde esperanças o homem não tem
A's vezes lhe vem o bem.
Fazer as vezes d'algucin. (Supprir, tomar o lugar. Por
— , de quando cm quando, de tempos a tempos.)
Viandante a caminhar
Sempre paia traz olhou,
li allegra-se do que andou
Psão do que lem para andar.
Víbora. ( Pessoa muito assanhada , de mau génio.)
Vicc-versa. (Reciprocamente. Eni sentido contrário.)
No viço da mocidade, da forluna. ( Na força, no auge.)
Criado com grande viço. (Mimo, melindre, carinho.)
Modo de vida. (Profissão com que se ganha o sustento.)
Levar boa vido. (Viver regaladamente , sem cuidados.)
Fazer pela vida, que a morte eslá certa.
Olhos vidrados. ( Os do moribundo , faitos dc transpa-
rência.) i
Génio de vidro. (Agasladiço, assomado, irascivel.)
Para o que der e vier. (Para o que poder acontecer,
para a occasião que se offerecer, á boa ou má venlura.)
Ensinar o Padre-nosso ao vigário.
VIGOR — VINTE 243
Eslar cm vÍgor. (Era uso, pralica, por ser dc lei.)
Toda a alma vil altribue sempre via motivos ás mais
virtuosas e nobres acções.
Fora dc villa e termo. (Eia grande distanciá. dc lon-
ge. Diz-se de cousa imprópria para o fim a que se applica.)
A' força de villão, ferro em meio.
Teima de villão, perda dc sua casa.
Estende-9c como villão em casa de seu sogro.
Villão-ruim. (Homem grosseiro, vil, mal-creado.)
Eslar feito de fui e vinagre. ( Eueolerisado, agastado.)
De bom vinho, bom vinagre.
Até ao lavar dos cestos é vindima.
Homem , fiuclo vingado. (Chegado à maturidade, ma-
duro, sazonado.)
Quem tudo quer vingar, ccdo quer acabar.
O mêdo é quem guarda a vinha.
Vinho e moça , peral e faval, máus são de guardar.
O bom vinho a venda traz comsigo.
Sobre o figo agoa, sobre a pêra vinho.
O bom vinho escusa pregão.
Cada cuba cheira ao vinho que tem.
Jantar sem vinho, escopeta sem polvora.
Casa dos vinte c quatro. ( Outrora em Portugal e seu«
domínios erào 09 delegados dos officios mecânicos, isto é,
junta dc viutc e quatro pessoas desses officios, que eráo
apresentadas por eleição na meza da vereação pelo juiz do
povo, e tinhão voto nas matérias de economia, nas cama
ras municipaes.)
2 txk VINTÉNS — VISTA
Mais vale uai gostinho que quatro vinténs. (Preferir
satisfarei" um capricho a um lucro certo.)
Tres vinténs. (Termo jocoso Lisboucnse; corresponde a
pudicícia feminina.)
0 dia damanhãa ainda ninguém o vio.
Pôr-sc à viola, ou, fazer ablativo de viagem. (Safar-se,
fugir, mandar-se mudar.)
Metter a viola 110 sacco. (Calar-sc, pôr-se em silencio.)
Pôr mãos violentas u alguém. (Maltratar contra direito.)
Lingoa viperina. (De víbora, de serpente, mordaz.)
Viravoltas. (Vicissitudes, alternativas.)
A virga férrea. (A' força, com lodo o rigor.)
Mares virgens. (Nunca d'antes navegados.)
Em virtude de... (Por elTeito, em consequência de...)
A necessidade é inimiga da virtude.
Visinha, que pouco a pouco
Sintroduz na casa alheia ,
Que hoje janta , amanhã ceia.
Para ir tirando e sabendo
De que se vive c se come ,
Tem mais zorrice que fome.
Kisoj. (Apparcncia, exterior, v. g.: vícios com — de
virtude, hypocrita com — de santarrão. )
Ainda que se vista a mona de seda, mona se quêda.
A vista faz fé. (Mostra a realidade.)
Longe da vista, longe do coração, ou, do pensamento.
Dar uma vista d'olhos. (Vér de passagem.)
VISTA — VIVO 245
Ficar uma cou9a a perder de vista doutra. (Lcvar-lhc
grande vantagem, haver enorme differença entre ellas.)
A' vista d isso. (Allendendo, considerando o caso. )
Dar vista dos autos, do processo, &c. (No foro é da-la
concedc-la ao advogado da parte, ao juiz , &c., pedir .)
Suas vistas erão... (Seus intentos, desígnios.)
Ser bem ou mal visto. (Tido cm boa ou má conla, bem
ou malquislo, avaliado pela fama que sc tem.)
Vislo. (Pôr o—, signal de apresentado á autoridade,
como cm passaportes, guias, &c. Está —, bem sabido,
conhecido, sem duvida, &c.)
Louvor em boca própria 0 vitupério. (Vej. Louvor.)
I ilhos da viuva. ( Os Maçons ou Pedreiros-livres; termo
maçonico.)
Viuva rica, com um olho chora, com o outro repica.
A viuva rica , rasada fica.
A viuva do cães do Tojo. (É a forca , em Lisboa.)
Km carne viva. (Sem pclle, a cútis privada da epiderme.)
De viva voz. (Pfcssoalmente, de palavra, não por cs-
criplo.)
Em roda viva. (Em contínuo movimento, atrapalhado.)
Agoas vivas. (As marés mais altas ou fortes da lua cheia.)
Vivtr vida alegre, folgada. (Passar, lograr. disfructar.)
Também sou vivo. (Expressão de quem se faz lembrado.)
Retratar ao vivo, pintar ao —. (Exactamente, ao na-
tural.)
Tocar no vivo do coração, (fia parte mais sensível,
âmago, ferir os seios d'alma. )
Ter óllio vivo sobre... ( Muito cuidado, attenção.)
VOA — VOZ
Cavallo que vôa não carece espora.
Bom é voar baixo por causa dos milhafres , on
Quem mais baixo vôa, menor lombo leva.
Ave por ave, o carneiro se voasse.
Á vôga arrancada. (Remando com toda a força e dili-
gencia. Á — 6urda , sem rnido, mansamente,)
Pensas certo o ganho ter
Porque as vasas vais fazendo !
Que te podes vêr perdendo
Jamais te deve esquecer.
Da louca illusão te sólta
Porque lia tempos desiguacs,
Se as vélas bòjão de mais /
Ás vezes a náu se volta.
F, deu-lhe volta o juizo. (Enlouqueceu, endoudeceu.)
Num voltar d' olhos. (Num apse, num triz, momento.)
Fazer-se a mente cm mil voltas. (Estar perplexo.)
Furtar as voltas a alguém. (Procurar, evitar ou frustrar
os seus attnques, encontros, ou designios hostis.)
Ter voto na matéria. (Ser juiz competente, idoneo.)
Voz do povo , voz de Deos. (Em latim : Voxpopuli, vox
Dei; a opinião publica.)
Ter vez activa. (Influencia directa. Direito, jus.)
Ter voz activa c passiva. (Direito para votar na eleição
de superior, e aptidão a ser eleito.)
Prender, seguir, &c., á voz d'algaom. (Em nomo, á
ordem de...)
Dar a voz de preso. (Ordem, intimação.)
VOZ — X 247
íi voz publica, ou, corre voz que... (Boato , fama.)
Pula voz sc conhece o musico , ou
Pelo dedo sc conhece o gigante.
Mais são as vozes que as nozes. (É mais a fama qnc a
realidade.}
A bôda dos pobres decifra-se cm vozes.
Vulgata. (Tiaducção lalina da Bíblia, approvada pela
Igreja Calholica liomana.)
Um vulto. (Pessoa, figura indislincta, não conhecida.)
Cousa de vulto. (Importante, avultada.)
Fazer vulto. (Volume notável, cousa volumosa.)
Atirara vulto. (Sem pontaria certa, a acertar.)

F. perdeu a partida do whist com treze trunfos. (Diz-sc


de quem fica malogrado n uma empreza, havendo toda a
probabilidade de ser 11'ella feliz , pois no jogo inglez wliist
cada parceiro joga com treze cartas, e sendo todos trunfos,
seria uma anomalia não o ganhar. Pode-se applicar este
adagio a D. Miguel cm Portugal, Carlos X na França, &c.)

X
A". (Letra numeral, que vale 10; collocada antes de
letra que valha mais, tira-lhe 10, v. g. : XC 90 , XL 40 ;
porém posta depois de numero superior augmenta 10.
v. g. : LX 60, DX 510. Signal algébrico ou arilhmetico
de multiplicação., v. g. : 7 #9, isto é, 7 multiplicados'
por 9. Também significa resultado. Vej. Xis.)
248 XÀ — XEQUE
Xá. (Rei, monarca na Pérsia.)
Xá, ou, chá. (Folha aiouialica, oriunda da Cliiua,
bem conhecida no mundo inteiro; arvore do —. Por ana-
logia á infusão que delia fe faz, se diz : xá de macella ,
de goivos, &c.)
Xairel. (Panno de pôr por entre o sellim c o lombo do
cavallo ; d'ahi a phrase = Pretendia fazer de mim seu —!
seu capacho, sua esteira , &c.)
Xira. (Frecha ou setla de atirar com arco, e feita de
madeira rija e resequida, v. g. : voa, ou parle como uma
—, com velocidade. Também 6 animal reptil mui ■veloz.)
Xará. (Termo familiar brasilico, c significa ter o mesmo
nome que a pessoa a quem é dirigido.)
Vento xaroco. (Do Italiano sciroco, porque vem da Svria,
que Cea ao nascente. Vento sueste , que sópra frequente-
mente no Mediterrâneo.)
Não é xarope muito agradavcl. (Pião 6 cousa que saiba
bem , agradavcl, aprazível.)
Xarque. (Mantas de carne dc vacca, pouco salgadas e
curadas ao sol, principal ramo de commercio na provincia
do liio Grande do Sul no Brasil. Xarqueada se chama á
officina onde se prepárão.)
Xeque, ou, xaque. (Termo do jogo de xadrez, que se
profere para annunciar que o rei ou a rainha (peças prin-
cipacs) estão cm perigo, e se defenderem , v. g.: xeque ao
rei. Chama-sc xeque mate quando se annuncia ao parceiro
que o rei se acha.inteiramente sem defeza e perdida a
partida. D ahi vem a phrase de D. do Couto : « E de xaque
XÉQUE — ZANGADO 249
em xaque, andava o pobre príncipe (cm poder de tutores
que o tyrannisavào), ora nas mãos"de uns, ora nas.de
outros tutores. »)
Xeque. (Do Francei ecliec; desgraça, perda. Grande
_damno, calamidade.)
Ximio, ou, ximia. (Macaco, mono, e por ampliação é
sjnonimo de : Imitador, arremedador.)
Fazer boa xira. (Do Franccz : faire bonne cliére. Ter
bom pasto , boa meia. Moraes admitte também esta expres-
são no sentido do Francei = dèbauclie, e significar =: co-
mezainas com más mulheres , e pernoitar com cilas.)
Xis. ( Quantidade ou resultado incognito , isto 6, o pro-
ducto de tal ou tal operação, suppondo-o por um x.)
Xisgaraviz. (Creatura intromettida, que se ingere.)
Fazenda xué. (Muilo ordinária, de pouco corpo. Ir ves-
tido muito —, com pouca e má roupa.)
Xupistn. (Bêbado, borracho. Parasita, papa-jantares.)

Zagal. (Moço, pastor; —a, pastora, moça.)


Cavallo zaino. (Castanho escuro sem mescla, boiiino.)
Homem zaino. (Dissimulado, velhaco enouberto.)
Zanàga. (Torto, vésgo , zarolho, zargo.)
Ter zanga a alguém. (Detestar, odiar. Tenho — com
isto , antipathia , grima , aversão.)
Zangado como um diabo que bebe agoa-benla.
250 ZANGALHÍO — ZELOSO
Zangalhão. (Termo chulo ; monogamo , homem qne só
casou uma vez. )
ZAngano. (Trapeiro, traficante de roupa velha, adélo
ambulante; e por ampliação: O qne logra e disIYucta
oulrem com engano nos tratos e ncgocios, que frandSo
\endcndo galo por lebre, especie de Ciganos, d onde pa-
rece derivar-se, ou de zangão, perturbador.)
Zangão. ( Especie de abelha grande que come o mel qne
as outras fazem, c por analogia = Parasito, Disfructador.)
Foge de mulher andeja
E de homem mui fagueiro ;
Também do qne de ligeiro
Em tomar nunca se peja.
fiuarda-te do que dezeja
O alheio e quanto vê,
E do que exige mercê
Por qualquer cousa que seja;
Esse ê zangão mui matreiro;
Quer empalmar leu dinheiro.
Zangarrcar um instrumento. (Toca-lo desentoadamente.)
Zanguizarra. (Desordem, confusão, altercação.)
Zâozão. (A monotonia de sons semelhantes, enfadonha,
sem variedade. . O sonoro — dos consoantes. • Garção.)
Olhos zarcos. (Azues claros ou celeste, garços.)
Zarolho. (Vej. Zandga.)
Zas ou Zaz. (Ruido que faz uma pancada, qualquer
corpo que cáia; e zas-zas usa-se para exprimir diversos
golpes, pancadas, Scc.)
Pessoa zelosa. (Ciumenta, ciosa.)
Zeloso como um gallo.
ZEN1TH — ZORRA 251

O zcnith da gloria, do poder, da força. (O cnmc, o


ponto culminante, o mais alto 011 elevado.)
Zephyro. (Venlo brando , favonio , aragem.)
Dar, levar uma zeribanda. (Sóva, tunda. Descompos-
tura , recado atrevido, insullantc.)
Zero. (Algarismo que de per si nada vale, mas junto ;'i
direita de outro lhe augmenla dez vezes o sen valor; v. g.:
20 , vinte; 700, setecentos. No calculo decimal, pelo con-
trario, quando Icm outros algarismos á sua esquerda, os
dimiaue de dez em dez, v. g.: 0,3 vale Ires décimos; 0,05.
tres centésimos; 0,003 , tres millesimos , &c. Nos thermo-
metros zero ou 0 serve de marcar a temperatura do g£-lo
cm derretimento, por isso se diz — o tliermometro desceu
a zero, está a tantos grãos acima ou a baixo de zéro, &c.)
O crédito de F. eslá 50 grãos abaixo de zéro. (Per-
dido, nada vale; sua fortuna eslá reduzida a —.)
Em ziguezague, ou, cm fórma de —. (Tortuoso, si-
nuoso , em torcicollo.)
F. vai com as pintas descrevendo ziguezagues. (Vai
cambaleando, medindo a rua com a môna, com o
gato, &c.)
Zizania. (Joio, má lierva que nasce entre o trigo co
afoga ; por analogia se diz : Semear a —, produzir, pro-
mover a discórdia, a desordem, a dissensão, &c.)
Zoilo. (Nome de um Grego muito critico. Censor ou
critico mordaz e invejoso.)
Mulher zorra. (Arteira, astuta como a raposa, que assim
se chama cm Castelhano.)
252 ZORROS — ZURZIR
Lew a zorros. (Dc rastos, dc rôjo; alludindo a que
zorra é um carro dc rodas inuilo baixas, para carrear
pedras.)
Fazer zumbaiaa. (Cortezias profundas com os braços
cruzados; vem do Turco — tamlaam ou salaam. )
Zurrar. (Vcj. Ornear ou Ornejar. Zurraria, grande
numero dc jumentos, de burros que orncião.)
Zurztr. (Açoutar, cspancar. Maltratar com palavras,
reprehender asperamente.)
SUPPLEMENTO

Abalou, ou, foi-se sem dizer adeos , ou


Mandou-se mudar, sem tugir nem mugir.
Abre o ôllio com elle I (Cuidado, que não 6 certo , é
sagaz; sentido com o melro, com o sujeito I)
Vai-sc abrindo o tempo , o dia , &c. (Tornai>do-se bom ,
seienando-se.)
Vão-se-lhe abrindo as feições do rosto. (Começando a
formar, desabrochando.)
N um abrir e fechar dolbos. (Num apse, num trii.)
O acaso 6 uma palavra inventada pela ignorancia.
É mais fácil ridiculisar uma boa acção, que imita-la.
A actividade fai mais fortuna do que a prudência.
Os homens se conhecem na adversidade; é nella que
mostráo sua vileza d alma ou elevação d espirito.
(i adversidade embelleza os caracteres que não avilta.
O animo é o sustentáculo da adversidade.
Do tempo dos A/fonsinlios. (Muito antigo. Vej. Otifa.)
Agoa de barreia, de castanhas ou chilra. (Bebida má.)
Ficar com agoa na bocca. (Appctccendo, desejando.)
"25/i AGOSTINHO — AMBIÇÃO
Até alii Sauto Agostinho. (ft o mesmo qnc =Z Isso não
padece duvida r=, é indubitável, &e., alludindo a que os
escriptos desse doutor da Igreja são matérias de fé no
eulto catholico.)
Cavallo aguado. (Esfalfado, enfraquecido.)
Aguar o gosto, o prazer, &c. (Mingoar, adulterar, v. g.:
Nada ao brodio faltou : cabal regalo I
Senão foi qualguem veio aguar-lhe o gôsto
Mo rnór sabor da festa. (l*"il. El.)
Agulha ferrugenta. (Mexeriqueiro, euredador.)
Ser mais fino que o alambre, ou, o ambar. (Esparto,
girio, sagaz, matreiro.)
Os homens são como os alcatruzes da nora; para nu»
ficarem cheios, Ccão os outros vazios.
A alegria é a saúde da alma, e a tristeza o veneno.
Estar alerta. (A espreita, vigiando, precavido.)
Fazer-sc alferes d uuia cousa. (Chama-la sua , usurpa-la.)
Algaravia, geringonça. (Vej. Vasconsa.)
Ser lOso e esperto como um alho.
Alinhavar um negocio. (Prepara-lo, dispô-lo.)
Alvo como ueve, ou leite; oppõe-se a = Preto corno aze-
viche, on a = Negro como uma noite de trovões.)
Quem é muito amado, nunca é muito amante.)
Comer o pão que o diabo amassou. (Passar trabalhos,
difliculdades; ser o ludibrio de traição , velha caria.)
Quando domina a ambição, cala-se a Natureza.
AMOR — ARES 255
Mais amor, menus confiança, ou , mais respeito, & o.
l)e todas as paixões a do amor é a /nais forte, porque
ataca a um tempo a cabeça, o coração c o corpo.
0 amor-proprio 0 o maior inimigo da verdade.
Ampliiguri. (Discurso sem ordem nem sentido, v. g. :
Sabei que por vós, meus olhos,
Me ferve em cachões meu peilo;
Sabei que por vós me abrazo
E de tal sorle me queimo,
Que tenho as tripas em cinza,
Us miollos d'ensopado
E o coração em torresmos'.
O néscio se anda é porque vê os outros anda*
Pôr alguém no andar da rua. (Fora de casa.)
Apurar a paciência a alguém. (Fazc la perder, exhauri-la.)
Pessoa armada no ar. (Volúvel, instável. Vej. Pancada
na mola.)
Estar por arames. (Prestes a desfazer-se, a acabar.)
Andar cm papos á'aranlia. (Inquieto, Sm desordem.)
Fastidioso aranzet. (Ladainha, longa narração.)
Arco da velha. (Termo rústico do — íris.)
Beber os «rei por alguém. (0 mesmo quc=09 ventos; v. g.-.
Aceitai d este amador
Os carinhosos folguedos;
Pois por vós bebe elle os ares
E até lamberá os dedos. (Vej. Venlos.)
256 ARRE— AVENHÃO
Arre! ou. Arre-lapas! (Interjeição que corresponde a
irra I safa I —, arreda! fóra! rua! Também é voz de
recoveiro ou almocreve, e se oppõu a chô! ou xó .')
Arreganho militar. (Ar guerreiro, apparencia marcial.)
Quem não pôde com a carga, arreie-a.
Propender para a parle do arrocho. (Para o mal, o rigor.)
Ali bom arrocho! i Bem dada sóva ! E a forca ás moscas!)
Artigo, cousa, pedaço d'arromba. (Pasmosa, aduiiravcl,
forte, d'estrondo, destriigir.)
Por uma arte nova. (Por meios não vulgares, dex-
tramente, á força de manhas.)
Metter-se em assados. (Vej. Camisa de onze varas.)
Aqui assenta bem o rifão. (É bem applicado.)
Lobo faminto não tem assento.
Pbrase assetinada. (Delicada, mimosa.)
Assim como assim, ou , assim ou assado. (Seja como fôr.)
Assim, assim. (Nem bem, nem mal.)
N um assópro. (N um apse , n um triz.)
A ausência diminue as paixões medíocres e augmenta as
grandes; assim como o vento apaga a véla e accende o lume.
Detestase o avarento, porque nada ha que ganhar com
clle ; ama-se o liberal para o disfructar.
A avareza deslumbra toda a gloria; illuslres scelerados
tem havido, porém nunca illuslres avarentos.
Lá se avenhão, ou, lá se hajão. (Enlendão se, concordem.)
AVIADO—BARRETE 257
Bem aviado eslou eu ! ou, Bem servido dc roupa uie
acho! (Em maus lençócs, aperlado.)
Quem me avisa, meu amigo 6.
Azáfema. (Apertão, de gente janta para comprar a
quem primeiro; fazer—, dar pressa, urgência, querer
logo logo.)
F. quer subir ao Çéo sem azas, ou, esvasiar o mar.
Azoinar os ouvidos a alguém. (Atordoar, v. g.:
Tanto estrugem as trompas clangorosas ,
Que azoinào do bom ginja as bojarronaí. (Ator-
dó&o as orelhas ou os ouvidos do velho. Boc.)
Isso <5 ouro sobre azul. (Vej. Ouro.)

Pessoa linguaruda e bacharela. (Tagarella. )


Bamburrio. (Acaso, lance feliz, casual.)
I'in banana. (Homem molancão, palerma, inerte.)
Mar banzeiro. (Ondulante, como cm calmaria. )
Deu-me agoa pela barba. (Atrapalhou-me; custou-me.)
Está, Geou, Scc., barrado. (Inutilizado, baldado.)
Atirar o barreie. (Dar-sc por convencido, por leigo, v. g.:
Bem consultada a verba e em mil maneiras
Virada e revirada,
Atirão c'os barreies os doutores
E sc dão por vencidos. (Fil. El.)
17
258 BEBRAS — BOLO
Dar bebras em Janeiro. (Cousa que vem antes ou depois
de tempo proprio, d'eslaçào, ex-tcmpore.)
Mctter o seu bedelho. (Ingerir-se, dar opiuião, inlro-
mctter-se no alheio, Sce. Vej. Seára. )
Levar alguém pelo beiço, ou, pelo cabresto.
Dar repetidos beijos na borracha.
A bel-prazer. (A'vontade, com todo o gôslo. Por ca-
pricho, motu-proprio. Contracção de bello.)
È a belleza o principal dom que a Natureza noa outorga,
e o primeiro que nos arrebata.
A belleza exterior inspira amor, a da alma estima.
Ha males que vem por bem.
Pôr-se entre cruzes e agoa benta, ou
Vèr-se entre a cruz e a caldeirinha. (Em lance apertado.)
Bernarda. (Assim se chama modernamente cm Portugal
a qualquer revoluçSo ou conspiração.)
Ferroadas de bespas litterarias. (Critica mordaz.)
Metter-se ás boas com alguém, (Subcntende-se, ma-
neiras. ou, adoptar meios brandos, &c.)
Não provou bocado em todo o santo dia. (Nada comeu.)
É os melhores bofes decrcatnra no uca vista. (Bom génio.)
S.iber , ou, conhecer o nome aos bois, ou
Saber guiar os bois adiante do carro. ( Conhecer, sa-
ber manejar o negocio; saber viver, guiar-se.)
Cabir no boiz. (No laço, esparrclla , armadilha.)
Ter, toinarquiuhào nobôlo. (Parle no lucro, no monte.)
BOLSA —CAREÇA 259
Andar com a bolsa myrrha (É o opposto a bem fornida.)
Chega-te aos bons c serás um «Telles.
líorborinho. (Susurro, estrondo confuso.)
Assignar-se cm branco, (dpprovar, annuir sem cxauie.)
Deixar alguém cm branco. (Baldado, frustrado.)
Onde cslá branco não falia prelo.
Sabio branco o billietc da Io teria. (Sem premio.)
Ficar como uma braza, ou, em—. (Raivoso, colérico.)
Fugir do fogo c caliir nas brazas. (Vej. Alaúde.)
O que mais v.ilc 6 o que mais brilha.
Brinquedo de mão, brinquedo de villão.
Criar sangue de bugio. (Impacicntar-se. Atormentar.)
Metler a bulha. (Fazer zombaria, escarnecer.)
A burra onde o avarento encerrou suas riquezas, é ao
mesmo tempo sua depositária , seu paraíso e seu inferno.
Foi-se sem clinz nem buz. (Sem se despedir.)

Não cabe em si de contcnte.


Aprender cm cabeça alheia. (A' custa d'outrem.)
Levantar cousa de sua cabeça. (Inventar, forjar.)
Não levantar mais cabeça. (Não convalescer; uão me-
lhorar de sorte. )
Tanto faz dar na cabeça, como na cabeça lhe dar.
Sc me dér na cabeça. (Se me parecer, \jer á idéa.)
260 CABELLOS — CARGA
Dever os cabcllos da cabeça. (Eslar muito endividado.)
Dar com alguém uo cagarriio. (Na cadeia, na prisão.)
Dar aos calcanhares. (Fugir apressadamente.)
Vèr-sc em calças pardas. (Atrapalhado, embaraçado.)
Temos o calão entornadoI (O negocio mcchido, aguado.)
Triumpha-sc da calumnia desprezando-a.
A calumnia c um fogo devorador que rcssócca tudo
quanto toca , e enuegrece o que não pôde consumir.
Não podendo o calumniador emparelhar com o homem
de bem, trata , diflamando-o, de chega-lo a si.
Camarço. (Dar —, no jogo, 6 fazer todos os pontos da
partida d uma vez; corresponde ao vote francez ; e levar — ,
é perde-la do mesmo modo. Perder tudo, levar fim.)
Não sou camelcão, que me mantenha com vento.
De caminho. (De passagem, no acto de caminhar.)
Estropear o canastro a alguém. (Aleijar, machucar.)
Isto é outro cantar. (Outro fallar.)
Cão d'outro bairro não venha ladrar n'este.
Contas de grande capitão. (Excessivas, exhorbitanles.)
Atrapalhar O capitulo a alguém. (Interromper, estorvai*.)
Isso não vale um caracol. (Vej. Cominho.)
Carantonha. (Cara inuilo feia, feijões de burro. Fazer
S) visagens, caretas, gaifonas para amedrontar crianças.)

Pregar carapetõcs. (Dizer mentiras.)


A' carga cerrada. (Ao mesmo tempo. Sem selecção.)
W-3T5T.-*
CARNE —CEVAR 261
A carne, carne cria.
Caro bocado. (Prazer, capricho, obtido custosamente.)
Carola. (Enthusiasta por festas, por maçonnaria , &c.)
Ter razão, justiça 4s carradas. (Com abnndancia.)
Todos lêm pela mesma cartilha, ou, calção pela mesma
medida, ou, regulão-se pela mesma bitolla.
Só pôde bem casar, quem casa com seu igual.
Uma no casco outra na ferradura. (Uma cm cheio, ou-
tra cm Tão; a torto c a direito ; alludindo á pancada que
o ferrador dá ora no cravo, ou por erro, na ferradura.
Também se diz = uma no cravo, outra no casco.)
Caso que , dêmoscctso. (Supponhamos, admittindo que.)
Dado o caso. (Suppondo que assim seja, succcda.)
Em todo o caso. (Seja qual fôr, sempre.)
Não vir ao caso. (Não ser applicavcl ao objecto de que
se trata, não convir á questão, á matéria.)
A caso. (Casualmente. —? por ventura, dar-se-ha caso?)
Quem bem ama , bem castiga.
Fazer o catatau a alguém. ( Espancar, tosar.)
Magcstadc Çatholica. (Titulo do monarca de Hespanha.)
Cavallo de batalha d'alguem. (Cousa cm que se tem
mais confiança, cm que mais se couta, o forte.)
Cegar dc raiva. (Alluciuar-se com ira , rancor.)
Mentir como cisto rôto. (Descaradamente.)
A besta comedeira, pedras na cevadeira.
Cevara ambição, a ira, &c. (Fartar, saciar. Nutrir.)

-
262 CHAVÃO — CONTRADANÇAS
1'. irmão do mesmo chavão. (Da mesma bitolia.)
Quem me manda ir a bordo de tal ekavéeo ? (Metter-me
11
essas alhadas, fazer parte de..., &c. Vcj. Xaveco.)
Vou chegar até casa; cliega-me á rua de.... (Ir.)
Dar em cheio. (Completamente. No proprio lugar. A
carga de sal deu em —, chegou cm boa occasião, op-
portunamente.)
Magcstadc Christianissima. (Titulo do Rei de França. )
Isso era uma cifra em comparação de....
Estar muito cm cima. (Na abundancia, boa situação.)
Cada santo tem seu cirio.
O ciúme depende mais da Taidade que do amor.
Passar as noites cm claro. (Não dormir. )
Ter câco com alguém. (Sympathia. Cabimento; fam.)
Melter, ou, dar a sua colherada. (Vcj. Bedelho.)
1''. não come nem deixa comer. (Não goza, não lucra,
não faz, &c., nem deixa os outros aprovcitarem-sc.)
Comesinlio, a. (Objecto —, de fácil intelligencia.)
Isso não Tale um cominho, ou, um caracol. (Nada. )
Sahir das conchas. ( De acanhamento , espertar-sc. )
Congresso , 6 uma fabula convencionada entre diploma-
tas; equivale á penua de Maclnavcllo unida ao alfange
de Mafoma.
O conquistador é um jogador por vicio, que toma milha-
res de homens por tentos e o mundo por taboleiro ou meza.
Não quiz ser parceiro, ou, entrar nas taes contradanças.
COR — CURTIDO 263
Homem d'uin só parecer, d uma síi eír, &c. (Vej. Antes )
Quebrar-se a alguém o coração. (Pcnelrar-so de mágoa.)
Ter o coração nas mãos. (Ser sincero.)
Caliir o coração aos pés. (Descorçoar, esmorecer.)
Para descanço do coração, Iraballio despirito.
Coraçío contente tem o riso na boca.
Coração. (Homem de —, valente; sem —, covarde;
pessoa de Cabello no —, cruel, vingativa.)
Ganharão corpo estas noticias. (Força , crédito.)
Muito corre quem corre, mas mais corre (piem foge.
Ditos, rifãos corriqueiros. (Vulgares, familiares.)
Na côrte, os que estão de pé, não levantão os que cahirSo.
Cortesão é o pobre enriquecido nos escaninhos do Paço.
Os costumes são obra das leis, a felicidade a dos costumes.
Os homens fazem as leis, as mulheres os costumes.
Fallar pelos cotovéllos. (Muito, como um Algarvio.)
Todo o homem sem caracter, não é homem , é um cousa.
Cabe-me 11a cova d um dente.
Ou cova ou dente, ou frade ou mercador. (Ou preto ou
branco, ou rei ou peão.)
Caminhar com o crido na bôcca. (Com mêdo de perigo.)
A credulidade dos lôlos é o patrimonio dos velhacos.
A pena segue o crime, como a sombra o corpo.
t. fácil o criticar, porém sempre dilficil o imitar.
Assignar de cruz. (Estar por tudo sem examinar.)
Raposo bem curtido em maranhas. (Astuto, velhaco.)
264 CUSPAS— DESCOSER
Não cuspas no poço cuja agoa bebas.
Era o mesmo, cuspido e escarrado. (Tal qual, o mes-
míssimo, sem tirar nem pôr.)
Pagar as custas. (Ficar de mau partido, receber o damno.)
Ficarem citstas por custas. (Sem que as partes paguem
ou recebão. Tanlo pelo tanlo, cousa por cousa.)

Dado á caça, á pesca , ás armas. (Amante de.)


Estas luvas , calças, &c., dão de si. (Alargão.)
Dcve-se dar o seu a seu dono, ou
Dar a Cesar o que é de Cesar e a Deos o que e de Dcos.
Pôr o dtdo no cbão. (Dar-se por convencido, ceder.)
Dar-sc a demasias. (Excessos, devassidões.)
Homem dengue. (Affectado, cbeio de partes, de me-
lindres, desvanecido.)
.Sem perder dentada. (Dando aos queixos sem cessar.)
Mente com quantos dentes tem na boca. (Descarada-
mente , sem sombra de verdade.)
Desbancar a alguém. (Levar-lhc a palma, exceder.)
Custou-mc descartar do tal maçadisla. (Vêr-me livre.)
A desconfiança é mãi dos discretos.
A desconfiança c fillia da adversidade.
Descoser a geração a alguém.
DESEJO —DINHEIRO 265
O desejo é uma arvore folliuda, a esperança um arbusto
cm flôr, c o gôzo uma arvore com fructa.
Moça desempennada. (Sacudida, elegante.)
Desengatar pratos e mais pratos. (Devorar, comer com
avidez , esfaimado, com voracidade.)
Já desfiaste o teu cosido? (Já acabaste de fallar? já
desenrolaste essa meada? já paraste a laraméla?)
Deifructar alguém. (Viver, ganhar á custa de.... Es-
carnecer, zombar em menoscabo.)
Deslindar um negocio. (Apurar, aclarar. Demarcar,
pôr limites, marcos, v. g. : um campo, &c.)
Desliza o rio Lima por esta amena várzea. (Corre manso,
sereno. Deslizar também é sinonimo de omitlir, deixar
cm silencio, calar.)
Cara de desmamar crianças, ou, — dc poucos amigos.
Fazer, dizer desproposilos. (Desatinos, desacertos.)
Desvelar-se pelos negocios dc.... (Esmcrar-se, velar.)
Até o dia do juizo. (Até á resurreição geral.)
Ha mais que sc lhe diga. (Náo é o tudo, inda falia.)
Pode-sc frequentemente comparar as dignidades a esses
raausolcos carregados dos mais pomposos títulos, debaixo
dos quaes se não acha mais que podridào e vérmes.
A diligencia é mái da ventura.
A palavra dinheiro c faial aos amigos, pois tem a força
de os tornar traidores, apezar das melhores tenções.
2G6 DINHEIRO — ENFRONHADO
O dinheiro é como o tempo; para quem o não perde,
sempre basta.
Estar no dirás lu , direi eu. (Allegando, citando.)
Discutamos, mas não disputemos.
Meu dilo, meu feito. (Justo como eu predissera.)
Estar á divina. (Subenlende-sc providencia.)
Dizer com os seus botões. (A si proprio, consultar-sc.)
Fazer andar alguém 11'uma dobadoura.
Poeta, medico, &c., das dúzias. (Mediano, medíocre.)

O egoísta amando só a si, de ninguém ú amado : é pois


o egoísmo um suicídio moral.
O elogio mais bem merecido í o do nosso inimigo.
A eloquencia , semelhante a um magestoso rio, deve toda
a sua magnificência á Natureza; porém, como um rio,
necessita de diques que dirijão seu curso; a cloquencia pois
não pode desviar-se das regras do bom-gôstò.
A eloquência parlamentar 6 uma campainha que se toca
quando chega a hora de jantar.
Empanzinar alicantinas. (Pregar logração, embutir péla.)
Estar endinheirado. (Com a bolsa recheada, fornida,
bem artilhado.)
Dar a corda para se enforcar.
Villão enfronhqdo em cavalleiro. (Arrogado, mettído a.)
ENRIQUECER — ESPIAS 267
Para enriquecer: • muita diligencia c pouca consciência.»
Esbravejava o vento, a tormenta. (Bramia.)
Ollios esbugalhados. (A llôr do rosto, proeminentes.)
Servir d 'escada a alguém. (Meio de subir, dattingir.)
Entre os mortos e feridos algum ha de escapar.
Escangalliar-se com, ou, de riso. (Rebentar.)
Escôa-se o tempo sem o sentirmos.
Quarto escolástico. (Desarranjado , d'cstudante.)
Mijar na escorva a alguém. (Roer-llica corda, malograr.)
O homem nasce, vive c morre na escravidão. Ao nascer
cosem-o cm trapos; durante a vida anda curvado no jugo
dinsensatasinstituições, e á morte pregão-o numa tumba,
para se reproduzir n outros bichos.
Esfolar a anguia pelo rabo. (Começar pelo mais dilficil.)
Esmaltar. (Abrilhantar, realçar, adornar, v. g. •-
Do crime os quadros a virtude apurâo,
Esmalta-se a virtude no horror ao crime.
Espalhafato.' (Ostentações, apparato adrede, v. g.:
Homem que mata e que fere,
Descendente d'alta laia ,
Inda que o avô paterno
Vendeu púcaros da Maia ;
Que fazendo espalliafatos
Se metlc cm toda a farofia :
Esprimido este basofia *
Tudo nada entre dous pratos. (J. Daniel.)
Boiar sobre duas espias. (Ter duas protecções.)
268 ESPINHADO — FALLATORIO
Andar espinhado com alguém. (Vej. Espinha.)
Correr á espora Cia. (A Ioda a brida.)
Estalar por saber uma cousa ; — com riso. (Arrebentar.)
Acabar á'estalo. (Rápido couio o lapso dum estoiro.)
Ter uma cstrella na testa. ( O mesmo que um T. Vej.)
Querer contar as atreitas. (Um impossível.)
Perderas estribeiras. (Enfureccr-sc, desatinar. Pertur-
bar-se, turbar-se.)
Com essas me vem V. m. ! (Que cousas me contaes!)
Por císii? c outras. (Por cousas, ou, casos semelhantes.)
Evitar as artimanhas,
Guardar de fazer façanhas
Pessoa que pouco vai;
Porque n este Portugal
Não são vistas nem ouvidas
Acções nobres ou subidas.

. F

facada de Carcavellos. (Diz-se em termo chulo « feliz


como o — , velhaco como o — ■, alltidindo á legenda que
certo homem assim alcunhado vcndèra no mesmo dia um
mesmo porco a sete pessoas.)
Toda a facção sc compõe de velhacos c carneiros.
Molhar a falia, ou, a palavra com o sumo de Bacclio.
Quanto mais fallatorio menos obras.
FAIXOU — FULANO 26D
Já aqui não e*-lá quem faltou. (Ceder, arrepender-sc.)
A familiaridade é a sepultara do amor.
O fanatismo 6 ã religião o que a hypoerisia é à virtude.
Iguoro o que <5 feito de.... { Que fim levou , o quo lhe
aconteceu.)
Também pouco fermento aleveda grande amassadura.
O corpo é o fiador (ou as costas .-ão) da boca.
Magestadc Fidelíssima. (Titulo dos uionarcaS de Portugal.)
As finanças são o pulso de um império , ou
As finanças são a pedra angular do poder dos Estado?.
Em flagrante. (No acto de ser perpetrado; em —delicio.)
Estar a flux. (Ter sempre boas carta?, ser feliz. )
O fogo 6 o melhor companheiro c o peior amigo.
Ao cahir da folha. (No outono da vida , decadeneia.)
O lobo com fome, cardos come.
pára de villa c termo. (-Longe, distante. Incompatível. )
O forte dos mantimentos. (A força, maior porção.)
Um forte rei faz forte a fraca gente,
K nm rei fraco faz fraca a forte gente. (Cam.)
Vui-tc com a fortuna! (Somc-te! Vai-te com o Demo !)
A força das mulheres consiste na sua fraqueza.
Partir pela fresca. (Antes de sahir o sol, madrugada.)
Fulano, <>. (Pronome com que se designa pessoa cujo
nome se ignora ou se não publica. H opposlo a sicrano,
v. a. : Fulano tirou a sicrano, &c., propondo uma questão
jurídica. Fnão i contracção do mesmo.)
270 FUMANDO — GUILLOS
F. eslá fumando com lai; fumei de raiva ao ouvir isso;
fcz-mc fumar, &c. (Arder de raiva, cnfurccer-se.)
Andar com furão uiorlo á caça. (Perder o lempo.)

Dever as gadelhas. (Vej. Cabellos, )


Velha gaiteira. (Mettida a menina, divertida, jovial.)
Pôr, levar alguém ao galarim. (Nos cornos da Lua. Vej.)
Memoria de gallo. (Que esquece facilmente, de lebre.)
Ao cantar do gallo. (Ao romper da manhãa. Á meia noite.)
Missa do gallo. ( Da meia noite pelo Natal.)
Gallo. (Pisadura na testa on cabeça. Outro — me can-
tara , se as cousas mudassem de face « bem ou melhor me
iria. »)
Gambcrna, alteração de gamberria. (Fraude, ladroeira
no jogo ; qualquer trapaçaria , velhacaria, )
Tirar a alguém as ganas do comer. (Dar cabo, matar. )
Galo pingado. (Vej. Pingado e Urubú.)
Girio. (Esperto, vivo; malicioso, manhoso, astuto.)
Saltar de gâsto. (Exultar, regozijar-se.)
I'\ não 6 para graças, gracejos, graçolas. (Mangações.)
Grandalltão. (Estafermo, arganaz, Cavallo de Troya.)
A gravidade affeelada é a casca da sabedoria.
Andar aos grillos. (Occupar-se de ninharias, bagatellas.)
GRIMPA — HONRA 271
Abaixar a grimpa. (Tirar a audacia, abaler a soberba.)
Guardar dc quem desconhece
O que um serviço merece
E o bem que tem recebido.
Guardar dhomem precavido
Onde não o deve ser.
Guardar de te parecer
Que lia em ludo soçobra.
Guardar dc fazer mà obra
Sem casligo receber. ( Chiado.)
Sein dizer « lir-lc nem guar-lc. ». (Vej. Agoa vai.)
Ter gtlelas de paio. (Tudo engolir, acreditar.)
A guerra é o tribunal dos reis; as victorias ou as derro-
tas são as suas sentenças.

II

Em hábitos menores. (Falo ordinário; opposto a de gala.)


Tem existido herdes que se nascessem ua obscuridade ,
nada mais scrião que facinoros, e em lugar de triumphos,
terião em recompensa a calceta ou o patíbulo.
A historia é a mais sábia conselheira dos reis, ou
A historia ó o livro dos reis.
Hoje por vós, vós amanhã por mim.
A honra é como a neve, a qual não pôde mais recuperar
o sen brilhantismo depois de o haver perdido.
272 HONRAS — INSTRUCÇÃO
As lionraa são falsos pesos com que os monarcas cstipu-
lio o preço correnle dos liomens, sem allender ao seu
valor intrínseco.

O idolo das mulheres não <5 o marido, mas sim a moda.


Duas incapacidades existem inliabeis para qualquer trans-
acção da vida, e são o estouvado c o pusillauime. O pri-
meiro obra quando deve reflectir, e o segundo reflecte
quando deve obrar.
Deitar inculcas. (Indagar, pesquizar. )
Negocio da hulia, ou , da China. ( De grande lucro.)
Os sentimentos que nunca se riscão da memoria são os
nascidos na infância; nossas primeiras alícições são sempre
as mais agradaveis recordações.
A ingratidão é o cancro moral de lodos os crimes.
Viver com nossos inimigos como se tivessem de ser nos-
sos amigos nm dia , e viver com nossos amigos', como se
um dia também houvessem de ser nossos inimigos, não é
de certo uma maxima moral, porím politica.
As injurias são as razões dos que a não tem.
O interesse <! a escala ou mola real das acções humanas.
N esse Ínterim. (Intervallo, conicnos.)
A instrucção torna o homem melhor ou peior. K uma
«■•mente que, segundo o terreno, produz frnetos ou
venenos.
INVEJA — LAGRIMAS 273
Que cousa é a inveja? í'l a mais cruel das Eumênides,
fnrias do Avcrno; persegue cila o homem do talento ou
mérito ali o tumulo ; abi pára, e a justiça dos séculos vem
tomar o seu lugar.
O invejoso é infeliz, com a própria desgraça e coin a fe-
licidade d'outrcm.

Pessoas, cousas do mesmo jaez. (Qualidade, sorte.)


Deilar pela yuneí/a fóra. (Esperdiçar , dissipar.)
Comcça-se a jogar por divertimento, coutinua-se por
avareza, e acaba-so por paixão, vicio.
Homem jogral. (Jovial, folgazão.)
Fazèr juz a... (Adquirir direito.)

Tj

Tomou-me por carneiro, por me Tfir vestido de iãa!


Lábia. (Manha geitosa, ardil, expressões persuasivas.)
Tão bom i o ladrão como o consentidor.
Coche do Lagoia. (Carruagem denterros , em Lisboa. )
Lagrimas da aurora. (Orvalho, rocio; termo poético. )
Lagrimas de crocodilo. (Derramadas hipocritamente.)
As lagrimas de um herdeiro, são um riso disfarçado.
As lagrimas são a muda linguagem da dõr.
*8
Yllx LAGRIMAS — LIBOUIO
As lagrimas que nos esforçamos dc occultar são as que
mais commovem.
Boa laia do tratante. ( Qualidade, espccic.)
Lance apertado. (Circumstancia , caso difficil.)
Homem sem casa nem lar. (Vagabundo , passeador das
ruas, sem ter onde caliir, onde se recolha.)
Dar largas. (Liberdade , desenvolvimento.)
Lavrar a sentença. ( Escreve la , passa-la. )
Late ira. (Tirar o dente dc —, de miséria, tomar um
rega bofes, dar um feriado ás tripas.)
Não se correm duas lebres a um tempo.
Quando vires um juiz
Muito unido ao escrivão,
Franze a testa, isso é signal
Que a justiça anda cin leitão.
Estar cm maus lençóes. (Em situação critica , arriscada.)
Lengalenga. (Comprida e insulta narração, ladainha.)
l'ôr o ouvido á leria, estar á —. (Precavido , á espreita.)
Lestes dos pés. (Expedito, ligeiro.)
Mar dc leoadia. (Agitado , revolto na praia.)
A Uberdaded'imprensa é a respiração do corpo social.
A liberdade politica bem analysada. è uma fabula de
convenção entre os homens que governão para embalar os
governados.
Eu te farei vôr quem é o Liborio. (Mostrarei quem sou ,
de quem se trata, quem te ha de ensinar a viver, quem 6
o homem , &e.)
LIBOIIIO — MADRUGAR 275
Tu, Libório, és como as cabras ,
Que no larro cscouccando.
Perdem as próprias riquezas,
O proprio leite entornando.
A lição do futuro existe na contemplação do passado.
Dar íi lingoa. (TagaroHar, baciiareliar.)
Mctter-se na boca do lõbo. (Procurar risco certo, wet-
ter-se em dilliculdades, perigos, Scc.)
Come como um lõbo. (Com voracidade.)
Paliai no lâbo, ver-lhe-heis a pelle.
Os louvores extorquidos, são brevemente desmentidos.
Estar de lua. (Vej. Estar de vez. )
Ao lume dagoa. (Á tona , ã superfície. )
Luvas. (Premio ou recompensa qne se dá a quem fez
algum serviço; a quem trespassa a chave darmazem, de
casa, &c.; somma que o emphyteuta ou foreiro entrega
dc contado ao senhorio, além do fôro por prédio, Scc.)
Ter o lúzio esperto. (Vej. Deitar o lúzio.)

Hacaeo velho não trepa em ramo sêcco.


Magro como um maçarico, ou esqueleto.
Vniltacaz. (Grandalhâo, cavallo dc Troya.)
Recolher-se com as galliuhas,
Com os gallos madrugar,
Assim deve quem quizer
Folgada vida passar.
•27(5 MAFOMA — MATRIMONIO
Dizei dalgucm o que Mafuma disse do toucinho.
Mtti dagoa. ( Reserva tório onde cila se guarda para ser
distribuída, v. g.: a de Lisboa. Nos forles se chama cisterna.)
Pessoa de pouco mais ou menos. (De fraco crédito.)
O odio impotente vinga-se pela maledieencia.
Ha males quo vem por bem , ou, para bem.
Cão malhadiço. (Armazém de pancadas.)
Vêr-se cnlre o malho e a bigorna. (Em grande aperto.)
Mandinga. (Feitiçaria; expressão africana.)
Fazer-se de manto de seda. (Grave , ceremonioso. )
Beija o homem a mão, que quimera ver cortada.
Homem de mão cheia. ( L>e capacidade, de bem.)
Nunca as mãos te dôão, ou, bem hajas, Dcos te ajude.
Muitas mãos e poucos cabellos, asinha os dopeuuau.
Ás mãos lavadas. (Fácil, sem risco ou perigo.)
Não ter mãos a medir. (F.star muito occupado.)
Maria vai com as outras. (Seguir como carneiro.) Ou
A cabra vai pela vinha, por onde vai a inài vai a filha.
Marujo de primeira viagem. (Caloiro, lôrpa.)
Mastigar marmelada para os íysicos. (Diz-se de quem
goza de cmpiego mcchanico , mas rendoso. )
Mala-biclio. (Trago matutino , copinho d'espirito.)
O matrimonio 6 um sacco onde lia 99 viboraí e 1 anguia ;
quem lhe mette a mão p6dc apostar 99 contra 1 , que
apanha víboras.
MÁXIMAS— MORTO 277
As muximas são como os algarismos, que comprehendem
grandes valores em poucas leiras.
O mido c quem guarda a vinlia.
Não valer der. réis de mel coado. (Nada.)
A memoria é o estojo da scicncia.
Querer a alguém como á menina dos seus olhos. (Amar,
estimar ternamente, como á cousa mais preciosa. )
Quem se deita com meninos amanhece mijado.
Homens lia que íi força de repetir a mesma mentira, a
final a acreditào , deslumbrando a sua origem.
31 ij te. (Medroso, que se mija de mêdo.)
Faça-se o milagre, faça-o o Diabo. (Quem quizer.)
Ter dinheiro como milho. (Fmuienso.)
Tirar o dente de miséria. (Vej. Regabofes, ou Ventre.)
Girar do móca em móca. ( Andar escarnecido. )
A mocidade, primavera da vida, aurora da razão, está
exposta á febre dos sentidos , e aos delírios da imaginação.
A modo que. (Equivale a « Quasi que.»)
Quem anda á chuva mollia-sc.
Pôr o sal na motleira a alguém. (Dar juuo á força de
castigo , a poder de muito trabalho.)
Abalárão-sc os montes e parirão um murganho!
Montesinho. (Selvagem, monlez.)
Fater-se moijuenco. (Manhoso, sorrateiro.)
Morto por fazer alguma cousa. (Desejoso. )
278 MOSCANDO — OBSÉQUIOS
Foi-se moscando. (Safando, escapulindo.)
Enlre os selvagens é a mulher um animal de carga ; no
Oriente um trasle de luxo, e no Occidcnte da Europa um
ídolo exigente c dispendioso , que domina o homem, e é
origem de todas as suas desgraças.
E o mundo um vasto templo dedicado á discórdia.

IV

/Vão imporia, não importa, e deu com sete navios i costa !


Quem é senhor do seu nariz, pôde mette-lo onde
quizer, ou
A vontade dc todo o cidadão é livre, ou
Faz o que quizetes, por isso te responderá a lata.
Ter natureza de vergallio, ou, de aço. (Ser forte.)
Quando a necessidade bate á porta, foge a virtude pela
janella.
Ninguém dá o que não tem, nem mais do que tem.
Fazer do dia noite, c da noite dia.
Pela noite velha. (Tarde, alia noite.)
Dá Deos nozes a quem não tem dentes , e dentes a quem
não tem nozes.

São os fructos da terra annunciados por ílôrcs; é d esse


modo que entre os homens os obséquios deverião s6l-o
pelas graças.
OCCASIÕES — PAPA 279

Os amigos conheccm-se nas occasiões.


A ociosidade è a ferrugem da alma.
A lai offensa, tal sentença.
Olhar como boi para palácio. (Não dar apreço, valor. 3
Em quanto o Diabo esfregou um ôlho. (Num apse.)
Trinta cães a um osso. (Muitos pretendentes.)
Nem todo o mato é ouregão, ou
Sem sempre o que luz é ouro.
Uma má ovelha deita um rebanho a perder.
Caro como ovos na quaresma, ou, ao entrudo.
-I

A paciência é amarga, porém o fructo doce.


Só as grandes paixões produzem grandes acções.
Nem tudo pôde andar ao nosso paladar.
Molhar a palavra. (Beber um gólo.)
Palerma, (llomem molancSo. inerte.)
Homem de palha. (Estafermo, tamanhão. )
Travar palha com alguém. (Contender, altercar.)
Escutar com orelha de palmo. (Attentamente.)
Pancada d'agoa, de vento. ( Vej. Pi.)
Pangaio, ou, pangari. (Vej. Pandorga.)
Trabalhar para o Papa, ou, para o Bispo. ( De graça.)
Moita papa e pouco chorume, ou, muita parra pouca uva.
280 PAPO —PIROLA
De papa descansado. ( De sangue frio , tranquillo.)
Não fazerpapo. (Não satisfazer^ não cnclier as medidas.)
Corrida de Cavallo, parada de sendeiro.
Yèr-se em calças pardas. (Apertado , atrapalhado. )
Fazer tremer a passarinha a alguém. (Intimidar.)
Tomar o recado no patamal. (Vej. Escada.)
So longe da palria 6 que sentimos o instincto e amor
maternal que a cila nos liga. .
Pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita.
Pé ou pancada de chuva , ou, d agoa. (Agoaceiro, chu-
veiro. — ou —de vento, lufão, furacão, turbilhão.)
Um tôlo t aborrecido, e um pedante insupportavel.
Bem está São Pedro cm Roma
Como ambrozía cm redoma. (Em lugar proprio.)
Rir como um perdido. (Arrebentar, estalar com riso.)
É bem mesquinha illustração o ter sabido disputar aos
ratos os pergaminhos que documentão a fidalguia !
Isso não se pergunta! (Sem questão , duvida , de certo.)
Onde está o homem ahi está o perigo.
Pesar-sc a ouro, a cêra, &c. (D..r n'esles artigos o
peso do corpo ou o valor. Fazer-se valer, reputar-se.)
1'encudo pimentão abringellado. (Narigão vermelho.)
1'' é o pai, pintado t escarrado. (Tal e qual, igual.)
Se a pirola bem soubera , não se dourara por fóra.
PIRRAÇA — PROTOTYPO 281
Pirraça. ( Alteração de perrice. Vej. Fazer uma — a al-
guém , contrariar, impacientar, ralar a paciência. Teima,
obstinação,)
Dar uma pisa d'arrochadas. (Sovão.)
Andar 11a pingada dalguem. (Na treita , no rasto. )
Podão. (Homem caduco, o qual uão podendo já fazer
qualquer trabalho fragoso, só se ocçupa em podar. Homem
grosseiro e ignorante.)
Todos lem os séus pádres. Fraquezas, mazelas.)
A poesia <- a musica da alma.
Pois não? (Porque não? porque? e aflirmalivo =í Por
certo, justo, sem duvida.)
Pontinho por —. (Cousa por cousa, uma por uma. )
F. saliio-llic a porca mal capado. (Enganon-sono cálculo.)
Estar, acbar-sc ás portas da morte. (No leito da —,
prestes a morrer, largando a casca.)
A preguiça caminha tão de vagar, que a pobreza cm
pouco a alcança.)
Preso por ter cão, e preso por não ler cão. (Ser casti-
gado por ler razão, e por não ler razão, por ser ou não
ser picto, ser Turco ou deixar de o ser, &c.)
Trajar como um príncipe, viver como um patriarca.
Horn prol lhe faça. (Benza-o Deos, bem lhe presle.)
A prosperidade descobre os vicios e a adversidade as
virtudes.
Protoiypo. (Modélo, exemplar.)
282 QUADRADA— RELAMPAGO

ft

F. í uma besta quadrada. (Estúpido, «andeucompleto.)


Ilomcm quadrado. (D'espáduas largas, reforçado c baixo.)
Quente na peleja. (Ardenle, encarniçado.)
O negocio anda quente. (Tiaballia-sc n clle coin fervor. )
Dar uma querena. (Calafetar, embicar de novo a em-
barcação. Fazer reforma no governo da casa, nos fâmulos.)
Quinta essencia. (Parle activa dos corpos no mais alto
grau de apuramento , v. g. : Esta mulher ò a — da malícia ,
da virtude; a — da perfeição , da liypocrisiu, auge, zenilli.)

11

Armar rabichos a algueui. (Tramóias, maranhas.)


Ficar com o rabo na ratoeira. (Compromcltido.)
Ao primeiro raio do dia. (Alvor, romper. )
Quem castiga com raiva, não castiga, vinga-se.
Rasgo. (Acção briosa e repentina, v. g. : —s de ge-
nerosidade. — d'cloquencia , traço eloquente.)
Ter alqueires de razão, ou, razão ás carradas.-
A conveniência própria é razão d'Eslado.
O reconhecimento é a memoria do coração.
Dar rédeas á fúria, ás palavras, á vingança.
O amor ó na mocidade o que a mocidade é na vida. o
que a vida é na eternidade , islo é, um relâmpago!
RELHO—SAUDINHA 285
F. é relho apeiar <le velho , e nobre apezar do pobre.
Mais cusla ser rico que riquíssimo.
Andar cm roda viva. (Em lida contínua, sem cessar.)
Com o rodar, ou, rodear dos aimos. (Decorrer.)
F. <5 fresca râllia. (Tratante, traste, velhaco.)
Rosnar por entre os dentes. (Resmungar, murmurar.)
fíosna-sc que.... (Dizem cm segredo que....)
Bem servido de roupa me vejo ! (Vej. Aviado, no Supp.)
É mais conhecido que c5o ruivo.

Sabe Deos as linhas com que cada um se C09C. ( Como


se arranja, como vive, passa, &c.)
F. sabe-a toda. (Subcntende-se historia, circuuistancias ;
tem cxpcricncia , sabe viver, sabe o nome aos bois, &c.)
Dar um sabonâle 11'alguém. ( Rcprehensão , censura.)
Sacudir o pó a alguém. (Tosar, espancar.)
Passar da sala para a cozinha.
Bolsa sangrada é o mesmo que corpo morto.
Ha um anuo lhe mordeu o sapo, agora é que lhe vem o
inchaço. (Diz-se de quem vein a reconhecer o que já negou,
que dá o braço a torcer, vem com a mão á parede , &c.)
Inimigo como o sapo com a ria, ou, cão com gato.
Com uma sardinha comprar uma truta.
284 SARGENTONA — TEIMA
A sargentona. (A valentona , pela foiça.)
Quem quizer que o barco corra, dc-ihe sebo nos paraes.
Governar o mundo cm siceo. (Dispor, decidir de cousa
além do alcance ; governar por llicoria, por imaginação.)
Kazer-sc de manto de seda. (Grave, ceremonioso.)
A alma do negocio é o segredo.
Fugir com o rabo á seringa. (Evitar o ponlo da questão
com evasivas; fugir de explicação formal.)
Serrazina. (Pessoa importuna, seccanle , canstlca.)
Adeos, por aqui me sigo. (Plirase dc quem parte.)
Sempre o rio s-Sa quando agoa leva.
Onde sobeja amor falta ventura.
As leis são as soberanas dos soberanos.
Dar á sola, ou, com o couro á —. (Quebrar, fallir. Es-
tragar, dilapidar. Vej. dar em Panlanas. )
Ficar n uma sôpajmti, feito u'uma —. (Muito molhado.)
Dar sola e az a alguém. (Arrostar-se-lhe com palavras
«cm rebuço, com galhardia. Apertar, atrapalhar alguém
com razões; desbancar, desmentir, &c.)
Levar a sua ao cabo, ou, avante. (Conseguir. Porfiar. )
Isso ó cantar a um surdo, ou, semear na areia.

Vèr-sc cm talas. (Em aperto, urgência.)_


Cada louco com sua teima.
TEMPO — TREM 285
Para quem csp'rança leni
Traz dc (empo, tempo vem.
O tempo não tem aias para o captivo.
A felicidade leui azas como o tempo.
Oulros tempos, outros costumes.
Terral. (Veulo que sopra da terra para o mar.
Tirar alguém a terreiro. (Desafiar, provocar a dar razão.)
Vir a terreno. (Apresentar-se para decidir dispula.)
V6r com os olhos e comer com a testa.
Tintim por tintim. (Minuciosamente, cousa por cousa;)
Homem tomadête dc vinha. (Pouco monado.)
Cada um ú qne sabe como se torce. (Como vive, como
te governa, o cpie possue, &c. Vej. Sabe. )
Fazer alguém torcer linhas. (Perseguir, atormentar.)
Fazer turfts de vento. (Castellos no ar.)
A torto e a direito. (Sem atlendcr ao juslo.)
Com um trapo atraz, outro adiante. (Uôto, miserável.)
Pegucm-lhe agora com um trapo quente. (O mesmo que
= Apanhem-o pelo rabo. Vej.)
Dar tratos ao juizo. (Alormentar-se para descobrir al-
guma verdade , ou para excogilar alguma subtileza.)
Dar trétta. (Conversa, palestra. Folga, liccuça. )
Pagar o tributo á natureza. ( Morrer.)
F. anda com o trem <ia tartaruga, ou, do kágado. (Diz se
de quem traz sobre si tudo quanto possuo.)
286 TRINTA —UNHA
Trinta dias tem Novembro,
Abril, Junho c Setembro,
Vinte e oito terá um ,
Os mais lodos trinta e um.
Isso é muita tripa, ou, tripa de mui». (Excessivo.)
Triste cousa o escravo diz
É servir a mau senhor;
Triste cousa é ler amor,
Dú um amante infelii;
Triste cousa é gastar gii
Sem uiinca dinheiro ver ,
Grita o vendeiro a gemer;
Triste cousa é não ter trigo ,
O padeiro exclama ; e eu digo
Quão triste cousa é morrer!
Por um triz. (Por um nada, por um apse.)
Pôr cm froco* miúdos, (Explicar minuciosamente.)
Dar um tróte cm alguém. (Caçoada, assoviada, corri-
maça. Perseguir, vexar, atormentar. Correr atra/, de. . .)
Trõxe-mòxc. (De envolta, confusamente, a lorto e a
direito, sem selecção.)
A fama é o mais duradouro dos tumulo.*.

U '

linha. (Ferrar a —, vender caro. Fugir a — < de cavallo,


a toda a brida, a toda a pressa.)
UNHAS — XAVECO 287
Aferrar-SO com unhas e dentes. (Com toda a força.)
Untar o carro, para andar c não cliiar.

Vaivéns. (Viravoltas. Embate, agitação dagoa, v. g.:


No contínuo vaivém das mansas ondas. (Boc.)
Par em vaza-barris. (Deitar a perder, arruinara fortuna.)
Fato, ou, roupa de vir a Deos. (A melhor, a do do-
mingo, com a qual nellc se vai á igreja.)
Valha a verdade, ou, minta cu , valha a verdade.
Apanhar alguém de vez. (De bom humor, cm b(,a
occasião, a geito.)
O iim da vida é triste, o meio nada vale, e o começo
ó ridículo.
Tomar as de Villa-Diogo. ( Abalar, fugir.)
I'ôr alguém cm lcneóes de vinho. (Espancar, tosar
fortemente. Desgraçar, tornar infeliz.)
A virtudç tem muitos pregadores, mas poucos martyres.
Dar volta à vida. (Muda-la, reforma-la. )
A vontade do cidadão 6 livre. ( Vej. Nariz, no Suppleui.)
Não ter voz activa nem passiva. (Nada mandar.)

♦ Quem me manda ir a bordo de lai xaveco '. (Quem me


obriga a entrar cm semelhante negocio? Para que met-
ter-mc em tacs riscos, especulações, &c.)
288 ZAMBO— Z.URZÍI0-0

Ser zambo das pernas. (Com os joelhos medidos para


dcnlro, perneta, tornillia.)
y.um-mm. (Voz imitativa do zunido on ruído surdo, <•
d alii vem a expressão = Híi seus zam-zutis rtiie. . . , isio é ,
rosna-se . falla-sc que. . .)
y.urzio-o a réllio. (Sun ou-o a vergallio. J

FIM.

Rio dc Janeiro. JS4l TrtÁgrt>ít« l.ncmmrrt, ru»'io ®3{Í4Í», vi.

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