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O Galhofeiro

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V M ft lA Q O /U U S t y A .

e d ito ra
©g J & Ü S i l P

~—
- LIVRARIA QUARESMA - E ditora .

Rge®LHI©A <ol.!.Kc s Vii


. . DE --

BONS LIVROS
Y E N S A M E N T O S dos grandes vultos da Litteratura Universal sobre
O amor — O casamento — A paixão — A amisade — A affeiçfio — A
belleza— O ciume — O odio, etc., etc. Um grosso volume bem im­
presso em Paris, com linda capa em chromo-lithographia . 2S000
DICCIÒ NARIO DAS F L O R E S , folhas e fructos, ^ontendo o significado
de todas as flores, folhas e fructos, emblemas das cores,, arte de fazer
signaes por meio do leque e da bengala, etc., etc. Um grosso e ele­
gante volume impresso em Paris, com esplendida capa, verdadeiro
primor de elegancia. . . . . . . . . 2$ooo
M ANUAL DO NAMORADO, contendo a maneira de agradar ás moças,
fazer declarações de amor, vestir com elegancia, estar á mesa, em
hailes, em passeios, etc., etc. Seguido de cem cartas de namoro, no­
víssimas e elegantemente escriptas em estylo elevado, por Don Juan
de Botafogo. Um grosso volume ricamente impresso e bem encader­
nado com finissimo chromo-lithogr&phia, trabalho executado em Raris
e proprio para presentear as namoradas. . . . . 3Ê000
S E C R E T A R IO PO ÉTIC O , collecção de poesias de bom gosto, próprias
para serem enviadas por escripto e recitadas em dias de anniversarios
natalicios, baptisados, casamentos, parabéns, etc., pedidos de casa*
mento e 7a ri os outros, declarações amorosas, etc., etc., por Horário
Brazileiro. Um grosso volume. . . . . . 2$ooo
ORADOR DO POVO, ou collecção de discursos familiares e populares
para baptisados, casamentos, anniversarios natalicios, exames e festr.s
collegiaes, felicitações, recepções, manifestações, enterros, etc., etc.
todos modernissimos e escriptos em linguagem fluente e estylo ele­
vado pelo Dr. Annibal Demosthenes, o principe da eloquencia. Um
grosso volume encadernado . . . . . . . 2S000
TRO VAD O R MARÍTIMO", ou lyra do marinheiro, contendo innumeras
modinhas e canções marítimas, fadinhos, etc., etc., colleccionadas por
João Embarcadiço. U m growo volume ricamente impresso em Paris
com linda capa eni chromo-lithographia. . . . 2$doo
YH Y SIO LO GIA DAS P A IX Õ E S e sentimentos moraes do homem e da
mulher, pelo sabio./. L . A libert. Contem este grandioso trabalho, des-
envolvidamente todas as paixões humanas, taes como: Egoismo, Ava­
reza, Ambição, Orgulho, Justiça, Benevolencia, Odio, Vingança, In ­
veja, Adulaç&o, Baixeza, Amor filial, paternal e maternal, Espirito de
imitação, etc. Um grosso volume de 300 paginas encadernado 28000
O \ H YSIO N D M ISTA ou arte de conhecer o caracter, o genio as incli
nações, as qualidades e os sentimentos moraes das mulheres peja
physionomia, segundo Lavater e Gall. Um grosso volume com grando
numero de retratos de todos os typos de mulheres. . 3Í000

L I V R A R I A Q U A R E S M A — R U A D E S. J O S E * Ns. 71 e 73
— L -

E ste livro não tem outro fim sinão fazer rir.


Não tem pretenções litte ra rja s. N ão é uma obra
fie educação ou de m oral. E ’ uma simples*collec-
çào de anecdotas, casos engraçados, pequencij
contos humorísticos, casos galhofeiros, varieda­ ti
des e passa-tqm po.

. () homem é o unico anijnal que ri. U m a pa­


gina e n g r a ç a d a ; quatro linhas que façam rir-;
uma risada franca, uma dessas risadas que arre-
4 ARSENAL DE GARGALHADAS

bentãm cs cós e os botões das calças, valem mui­


to dinheiro. O riso desopila. Quem ri, quem sabe
rir não está doente.
O Fran cez é o povo mais apreciado do uni­
verso, o mais inventivo, o mais inimitável, por­
que é o povo que melhor sabqrir, e o que mais ri.
Porque é que o Don Quixote, as A ventu ras
do engenhoso fidalgo. Don Quixote de la Mancha,
é um livro unico, ■uipá obra immortal., «ie todos
ps tempos e de todas as nações? lv somente pórf^
que faz rir, porque não ha'quem — por mais ma-,
cambuzio, mais concentrado, mais grave, mais
tristonho — o leia, que possa conservar o sério.
R ir é viver!
C h orar é morrer !

* *

Riamo-nos, pois! Mas riamo-nos francam en­


te, alegremente, com as calças desapertadas, as
mã<-,s na barriga, Sacolejando as tripas, deixan­
do c;ihir a cabeça para traz, e sem tapar a boca,
sei11 medo de incommodar os visinhos.
A gargalh ada é contagiosa.
O GALHO FEIRO 5

Ria-se vccê, leitor, com gosto ; ria-se des­


embaraçadamente, no bond, 110 trem dos subúr­
bios, nas barcas F e rry , que consolará a sua tris­
teza e a dos seus companheiros .
A ’ primeira gargalhada, ha de haver sem­
pre um senhor mais. sério, mais sisudo, que fran ­
zirá a testa e esboçará um gesto de desaprovação.
Mas, á segunda. . . á terceira. . . á successão de
bellas, francas g argalh adas, sibilando, esfusian-
d^f-tístalando, espocando, ricocheteando, bim­
balhando, carrilhon atxlo. . . ha de se rir tambem,
levado pelo contagio, quando vir e ouvir todos
os companheiros de viagem r i n d o . . . r i n d o . . .
embora sem sabèr de que.

*
" í{c >;<

E ’ o que pretendemos com a publicação


deste livro s
Aqui „. „,tão colleccionadas todas as aneedo-
tas, casos chistosos, factos engraçados, contos
galhofeiros; que se contam, que andam de boca
em boca, e que se têm publicado, nesses últimos
vinte annos em P o rtu g a l e no B rasil.
6 ARSENAL DE GARGALHADAS

U m a pessoa alegre e paciente colleccionou


tudo quanto ouviu, e tudo quanto leu, que a ti­
vesse feito rir. De vez em quando lia, relia, tor­
nava a ler. sempre caiu o mesmo prazer, rindo-se
sempre, nunca se aborrecendo. De cada vez
qpe lia, era como si lesse ou si escutasse cousa
nova.
F o i assim que se fez este livro. Foi desse
modo que se amontoou, que se obteve esta col-
lecção unica no gênero, inegualavel, de anecdotas
e cousas para rir. E m lingua portugueza não
ha obra i g u a l .
Desafiam os que haja uma pessoa que, lendo
estas paginas, deixe de passar algum as horas
agradaveis, rindo-se francamente, desopilando o
figado e o baço com bellas e sonoras g a r g a ­
lhadas.

Jan eiro de 1920.


\

0 G A LH O FEIR O

•:* •>

P ré g a v a numa das igrejas de Paris, um pa­


dre, certo dia de festa, em que a affluencia era
e xtrem a. Ü m soldado, que passava naquella oc-
casião, vendo tanta gente, e não tendo que fazer,
entr tambem, e sentou-se em uma das cadeiras
que ainda estavam devolutas. Chegou-se a elle
a mulher que as alugava, e requisitou-lhe um
to s tã o .
— U m tostão! — respondeu q soldado —
Si eu tivesse um tostão não me apanhava você
cá ; então era e*u quem pregava íla taverna.
8 ARSENAL DE GARGALHADAS

U m homem, chamado Bomdia, apresenta-se


em casa de uni. alto personagem, a solicitar em­
p rego. A criada vem ábrir-lhe a porta.
— Sua g ra ç a ? — P ergun ta e lla .
O candidato graciosam ente;
— B o m dia. A moça lisongeada com tanta
amabil id ad e :
/ — Bom dia, senhor; queira dizer-me como
é a sua g ra ç a ?
• -■*- E sto u lhe dizendo: B om dia.
— E tambem e u : bom dia, se n h o r; a quem
devo annunciar?
— O h! B o m d ia ! é esse o meu nom e! A mo­
ça comprehendeu, então, que, em log ar de dizer:
“ Bom dia, sen h or” convinha dizer: Sr. Bom dia.
* * *

U m exam inador condescendente, cedendo a


uma carta de empenho, dirige-se ao e xa m in a n d o :
— Sei que é bom estudante. D iga-m e ape­
nas. . . quaes são os quatro E va n g e lista s?
Depois de muito (puxar pela memória, o es­
tudante respondeu:
— Os quatro E v a n g e l i s t a s . . . os quatro
E v a n g e lis t a s . . . s ã o . . . t r e z : E s a ó e Jac.u '.
>jí * s|í

E m um convénto era pratica tocarem os re­


ligiosos, que se recolhiam passada a hora da co­
mida, uma si 11 ela, afim de que da cosinha lhe
O GALHO FEIRO 9
™•
descessem a ração pela roda. O cão do convento,
tantas vezes observou essa operação, que, um dia,
em que o tinham feito jejuar, apezar de não estar
sujeito ás regras monasticas, lembrou-se de to­
car a sineta, e lambeu uma ração. No outro dia
tocou duas vezes a sineta, e lambeu duas, e-assim
foi am iudawlo os toques, até que*se deu com o
caso.
Sempre lhe serviu a esperteza, porque, dahi
em diante, não se esqueceram delle com o sus­
tento regular.
^ >{í
U m sargento, saltando nelle um cão e m or­
dendo-o deu-lhe com o facão tal golpe, qüe logo o •
m atou. Sahiu o dono do cão njuito queixoso, di­
zendo que era deshumanidade m atar daquella
forma um animal podendo dar-lhe'com o cabo, e
não com o fe r r o .
— V ocê parece que tem razão, respondeu o
sargento; mas elle não mé mordeu com o rabo,
. *
foi com os den tes.
* * * • * v.
Certo criado tinha por costume, quando seu
amo o m andava a àlgum recado, demorar-se ho­
ras-esquecidas. E si o amo ralhava com elle, da­
va a desculpa de que tinha achado muita gente;
si era aü açòuguie, dizia que estava cheio até á
porta; si era ao chafariz, que estavam lá muitos
criados, e tc., etc. U m dia que o amo lhe orde-
10 ARSENAL DE GARGALHADAS

nuu que fosse deitar u'm gato ao mar, sahiu o


criado ás duas horas da tarde, e, quando appare-
ccu em casa, já passava da meia noite.
-— Onde estivestes até agora, maldito dia­
bo? — perguntou-lhe o amo muito encolerisado.
— E stive no cáes, respondeu o criado, po
havia tanta gente a deitar gatos ao mar, que só
agora me coube a minha Vez.

ía um padre de aldeia dizer missa, e pediu a


um rapazito para âjudal-a, porque nem sempre
nas aldeias se proporciona logo quem saiba d e ­
sempenhar aquelle serviço.
— Vou, m as ha de dar-me a navalha que me
p ro m etteu .
— Dou-te a navalha.
Começou a missa, e quando o sacerdote se
voltou, em um Dominus vobiscum, o rapaz res­
pondeu:
—* O senhor padre não me dá a navalha, e
então vou-me embora!
E safou-se,. U m a velha espertalhona desen-
talou o sacerdote d ’aquella difficuldade, respon­
dendo em alta voz do fundo da ig re ja :
— Et cum spirito tuó.
E voltando-se para as companheiras aacre­
scentou:
— Sempre é bom a gente saber um bocado
de latinorio.
O GALHOFEIRO ii

U m máo traductor teve a peregrina lem-


brança de traduzir em verso as celebres L a m e n ­
tações de Je re m ia s ; e, mostrarklo o seu trabalho
a um amigo, excessivam ente franco, exclamou
este depois de o ler:
— Não sabes por que se lam entava o pro-
pheta Jere^uias?
— Não, decerto.
— E ’ que já sabia que. tu o havias de tra ­
duzir .
* * *

U m pobre segue um sujeito, a pedir-lhe es­


mola. O sujeito mette a mão na algibeira.
— Que os santos do céo o sigam no cam i­
nho da vida. . . dizia o pobre.
O sujeito tirou a mão da algibeira sem dar
nada.
■ . . . q u e o sigam, continua o pobre, mas
que-nunca o apanhem, seu grande sovina.
;■< í|í

No tribunal:
J u i z ' — P ara que traz o réo esse páo?
Réo — Por ordem de Y E x .
Ju iz — Como assim ?
Réo — Pois não disse V . E x . que viesse
munido da minha defesa? Eu nunca tive outra.
12 ARSENAL DE GARGALHADAS

U m marido estava espancando rudemente


a sua cará m etad e .
Accode um visinho e amigo, e diz-lhe:
Não sabes que numa mulher não se põe
a mão?
E u assim fiz.
E n tão como foi isso?
Puz-lhe só a bengala.
íjí

Batem á p o r t a .
O criado abre.
— Que pretende?
— F a la r á senhora.
E s tá recolhida. Si quizer, deixe ficar a
c o n ta .
— E u não trago conta a lgu m a .
— A h ! n ão?. . . E n tão enganou-se 11a porta.
« i|í >jí

M . é suirdo por conveniencia.


Chega-lhe um credor na ocCasião em que es­
tá na chacara a m atar form igas com o tacão da
bota:
— B o a tarde sr. M . , como tem passado?
— E ’ verdade, meu amigo, é dar cabo dellas
ou ficar sem ra b a n e te s .
— N ão,trato disso, não vim por causa disso:
yim ipor causa daquella letrinha já vencida.
O GALHOFEIRO 13

— Qual, isso nào vale nada, tenho já gasto


muito com essa tal íormicida e de nada serve.
— O que não serve é o sr. amolar-me com
sophism as: ou paga ou recorro ao juiz.
— J á usei verde-pariz, j á ; porém, levam -n’o
para o buraco, e continuam a comer.
— D igo-lhe: quero dinheiro! grita 0 credor
zangado.
— Ora essa é boa! si eu soubesse onde esta­
va o form igueiro,.já o teria extirpado.
— P a g a ou não paga ?
— Cavo, cavo, ha mais de oito dias, c nada
encontro; está muito longe. f
— O senhor parece que brinca c o m m ig o !
— Si fosse só o trigo, não era n a d a ; porém é
tudo até o cebolinho.
— O senhor brinca? V ou ao juiz de paz.
— Qual agua raz, nem kero zene! O bicho
tem alma de g a to ! E u o conheço.
--- O senhor é que é lim caloteiro de patente.
— A c erto u ; só mesmo agua quente, é que
póde com ellas, mas isso é bom si as encontrar­
mos a geito.
O credor foi prégar a outra freguezia E co­
mo este devedor ha muitos ! ^ -
;■< ífc >}: •
Pepita manda a creada saber de um de seus
am igos gravem ente e n ferm o .
—- Caso elle tenha morrido, accrescentou,
saiba o dia do enterro.
14 ARSENAL DE GARGALHADAS

Momentos depois volta a creada:


O sr. Pedro vae muito m elhor; quanto
ao enterro não sabe o dia.
„ —-v

U m professor substituto a um alum no:


Menino, arresponda quanto é cinco veis
oito.
—- Corenta, meu professo.
— Pere ahi. vou oiá mr livro, si não sê assim
eu te racho a s mões de bolo. ,
* * * *

— E ’ cégo? ■
— Sim, senhor.
-—-D e nascimento?
— X ã o senhor, do M aranh ão.
* * *

O vigário de certa íreguezia censura aspe­


ramente um confessado, que tem o vicio da em­
briaguez .
----- A culpa é sua, sr. cura.
— Por*que?
— Porque, quando me baptisou, deitou mui­
to sal na moleira ; e, desde então, tal é a sede que
soffro, que o remedio é abrandal-a com a bran-
quinha da p ip a .
O GALHO FEIRO

Dois sujeitos estão comendo á mesa de um


Ik . ic I 01 dinario e careiro. De repente um do&
commensaes diz ao outro:
— \ eja você o servi |p desta c a s a . Neste
prato ha duas m oscas.
J ii e - a s depressa. Si o proprietário
visse . .. -
— Que succederia ?. . .
— Cobra va : nOs.
^ >|í

Num tribunal* o juiz para uma testemunha:


--- Que modo de vida tem?
.— Sou caixeiro sr. juiz.
—- Caixeiro de que?
. . "" ísso agora é que não s e i : sou caixeiro sr
ju iz . . .
M as caixeiro de que? de loja de fazen­
das.- de taverna ." de arm azém ?
Sou c a ix e ir o ,-s r. juiz ; não tenho outro
modo de vida sinão fazer c aixas.

. ^ ni mendigo entra em uma padaria-e diz ao


c a ix e ir o :
O senhoi da-me uma pedaço de papel pa­
ia eu embrulhar um pão?
— A hi o tem . >
A go i a, dá-me um pão para ser einbru-
inadó^ neste pedaço de'papej?
ARSENAL DE GARGALHADAS

N um baile de provincia. Uma menina para


o seu par:
— O s r. A lferes o senhor é tenente ou ca­
pitão?
íf» í}í j{í
U m sujeito que passava por muito rico, po­
rém, que tinha mais dividas que dinheiro, pas­
seava silencioso, na vespc-ra de seu casamento,
pela sala de sua s o g r a .
—- Oue tem, sr. Z . ? perguntou esta. '
— Nada, minha senhora, absolutamente
nada! * m(
Oito dias depois do casamento, vendo a so­
gra um enxame de Credores q’uie assaltava o;.gen­
ro, disSe-lhe furiosa:
— O senhor enganou-nos!
— Minha senhora, respondeu elle, com a
mais perfeita tranquillidade, eu disse muito mais
de dez vezes a v . e x . , antes de me casar, que não
tinha nada, absolutamente nada.
* * $ *
— Saiba o patrão que o serviço da parteira
já foi dispensado.
— E s t á bom. E ' menino?
— Não, senhor; cousa melhor.
— M enina?
— N ão senhor; cousa m elhor.
— E n tão que diabo é?
— Saiba o patrão que a patroa morreu.
O GALHO FEIRO

U m medico a 'u|m doente dizendo-lhe:


— T om e isso pela m anhãA
O doente traduziu a ordem ao pé da letra,
m astigou e enguliu a receita.
/Resultado: ficou bom.
* * *

U m juiz de paz de A ra çã , dirigiu o seguinte


officio a uma autoridade superior de M inas:

“ lllm o. S r . — Incluso remetto a V . o ca-


davel de um defunto que foi encontrado morto
nos fundos do Chico Guanhami, sem que nin­
guém saiba de onde é que eüe veio. P a ra fazê a
autoxia xam ei o Douto Candio, fio da fia da viu­
va do arfelo Purfirio, e elle dixe que estava d is ­
cou fiado di q'uie o cadavel havéra de tê murrrdo
de secreto politices heralites columpicado com
a u to a n itas.
“ O cadavel foi axad o morto no chão onde
está de aluguel o burro do seu vigário, que é pae
do sobredito doutô acim a alum iãdo. Não fiz o
çnterrogatorio purque o escrivão está duente em
virtude d’umas tapona que levou nas inleição.

O juiz de p a z .

N . P > - O cadaver pela fisulumia paresse al-


lamão, e si não fô entonce é in ta lia n o .”
ARSENAL DE GARGALHADAS

N um a roda de senhoras, conversava-se so­


bre idades. U m a de'cincoenta exclam a com af-
fe c la ç ã o :
— E u cá não occulto os meus annos: tenho
a idade_do Christo.
— 1920 annos! — diz á parte um malicioso.
* >;< *

•D isc u tia certo deputado estadoal um pro­


jecto sobre a creação de meios repressivos' para
a extincção de um abuso, que se dava em relação
as vaccas, nas innumeras fazendas de criação, na
grande ilha de Joannes ou M a ra jó . U m pobre
matuto do interior do estado, que o interesse p o ­
lítico do partido conservador havia eleito depu­
tado por um dos circulos, querendo apoiar o pro­
jecto cm discussão, porque suppunha ir ferir um
seu adversa rio politico, assim se exprim e: “ Se ­
nhor presidente, pedi a palavra para com este
meu palavriado simjples, sem flores de orfogra-
phia, apoiar o que acabou de dizer o meu1 çompa-
nh.eiro na sua fallação, porque, si continuar em
M arajó a matança das vaccas do sexo feminino,
cedo, muito cedo, não teremos 'nenhum g a d o !. . .
E ’ triste, doe 110 meu coração de pae (!) vêr
nós campos de M arajó bezerrinhos d’es.te tam a­
nho (indicando com as mãos- sobre a bancada da
assembléa o tamanho dos bezeivos) chorando vie­
las suas m ães! U m faz p ’ra cá muan, muan, sem
ter onde m a m a r!. . . ”
O GALHOFEIRO 19

lv ocioso dizer que a hilaridade foi geral, e


que as faces do presidente da assembléa senti­
ram-se cobertas de ligeiro rubor, pois que era p
chefe do partido qu|e havia protegido a candida­
tura do illustre matuto e o levára á cam ara.
» ifí

Alceu, poeta grego, a,paixonou-se pela sedu-


ctora Sapho, e escreveu-lhe: “ E u queria exp 1. : ; a r ­
me, mas a vergonha me retem. "
— “ O vosso rosto não teria que c o ra r’ ’,
respondeu-lhe ella, “ sj o vosso coração não fosse
c u lp a d o " .
* * *

M A R T Y R E S DO M U N D O

O devedor, m artyr de credores.


O assassino,, de remorsos .
O infeliz, de desgraças.
O cynico, de surpresas.
O sceptico, de descrenças.
O soldado, de deveres.
O justo,, de respeito.
O hypocrita, de embustes.
O sacerdote, do con fissionario.
O condemnado, de penas.
O incali-to, de abusos.
O poetà, de illusões.
O enfermo, de dores.
O pharmaceutico, de receitas não p agas.
20 ARSENAL DE GARGALHADAS

O medico, de nervos e flatos.


O m iserável,,de abjecções'.
O demandista. de litigios.
O forçado, de trabalhos.
O voluptuoso, de prazeres.
O estudante, de aulas.
í{í ;|í J-C

U m roceiro veiu á cidade, e, entre os muitos


objectos que teve de comprar, para satisfazer ás
enconunendas, figura um chapéo.
Vai á uma qhapelariar, e encontra o cjue lhe.
convem.
—- Quanto custa ?
— T rin ta mil réis.
—- H avéra de tê dois buraco, disse elle.
— Dois b u ra c o s! P a ra que ? perguntou o
chapeleiro a d m ira d o !
— P ara passá as oreia du pedação di burro
que dé os trinta mil réis.
* * *
U m simplório tinha-se esquecido de satis­
fazer á um pedido, que a l g u é m lhe fizéra por
carta.
— Que hei de fazer ago ra ? perguntou a um
am igo.-
— Dize-lhe que não recebeste a c a r t a .
— E ’ verdade, boa idéa.
O GALHO FEIRO 21

Dahi a pouco encontra o amigo, que lhe fi­


zera o pedido, e antes que o censurasse, foi-lhe
logo dizendo:
— Sabes? não fiz o que me ipediste, porque
não recebi a tua carta.
%
* * *

A um pequeno de dez annos perguntou al­


guém :
— Que tal é o noivo de tua irm ã? E moço
ainda ?
— Creio que sim. E lle ainda não tem ca-
bellos. 1 *
;{? ijc

U m hespanhol tenüo ido á R ussia, e percor­


rendo uma aldeia nó inverno, viu-se perseguido
por muitos cães; tentou, abaixando-se, apanhar
uma pedra para os enxotar, porém, como estava
muito enterrada, não a poude arran car. C o n tra ­
riado, então, exclam ou: O h! maldito paiz em
que se prendem as pedras e se soltam os cães!. . .
;Jc >j< i|í

— O logar, dizia um protector a um novo


empregado, tem pequeno ordenado/ mas é um
logar de confiança. B a sta dizer que lhe passam
pelas mãos vinte contos num dia.
O novo empregado (modestamente) : Sen­
do assim, nem precisava de ordenado.
ARSENAL DE GARGALHADAS

X u m •exame de historia :
— Diga-me algum a cousa sobre a vida do
grande V asco da G am a.
O exam inando:
— X ã o está nos meus hábitos intrometter-
me com a vida alheia.
* * *
J

E n tre dois am igos na rua:


— Homem, andas tão triste! Que diabo tens
tu ?
— Ando levado do diabo. Tenho uma sucia
de credores, que me não deixam dorm ir.
— Deves então grandes quantia‘s?
— N ã o : muito p equ en as: mas, como sabçs,
as dividas são como as crianças: quanto mais pe­
quenas, mais berram .
* * *

O Luizito é muito endiabrado: não faz sinão


rnaldades. U m dia, após uma diabrura, é conde-
mnado a jan tar só pão e a g u a . Mas elle não se
rala muito com isso. A ’ hora do jantar, eil-o sen­
tado uo seu logar. á mesa .
— E scusas de ir para abi. não jantas sinão
pão e agua .•
— Bem sei m am ã: eu não quero jan ta r.
—* E n tão que vens cá fazer?
— Venho alm oçar outra vez. . .
O GALHOFEIRO 23

EntiV-um sujeito gravem ente enfermo e um


sacerdot|, qufe vem para o consolar e lhe prestar
os últimos soccorros espirituaes.
Padre — Então, meu filho, \ . não quer ir
para o céo?
Doente —7 Quero, S r . p a d r e . . . m a s . . . já
estava tão acostumado com isto por aqui. . .

'* * *

Antes de se fazer o centenário de Camões,


uma commissão de litteratos brasileiros ficou en­
carregada de o rganisar uma Polyanthéa que de­
veria ser distribuida no memorável dia.
— Não é o que a senhora pensa, m am ãe, bui
grandioso jornal, e fez-se empenho que elle colla-
b o ra sse . *
O Neiva a fu gir.
Um dia segu raram -n’o num café, e obriga-
ram-11'0 a escrever qualquer cousa.
N eiva não poude furtar-se desta vez, e sen-*
tou-se. Mas, ao ver a commissão distrahida. es-
gueirou-se, deixando sobre a mesa o escripto.
E ra uma quadra. L era m -n ’a em voz alta e
era assiim:

Camões, 0 vate zarolho,


E poeta portuguez,
V ia mais por um só olho
Do que nós com todos os trez.
24 ARSENAL DE GARGALHADAS

T'm marselhez dizia a um hespanhol:


— H a quinze dias fuá acommettido de uma
febre tao forte, que o meu medico temia queimar
os dedos, ao tocar-me no pulso.
•--- E eu, disse o hespanhol, também tive uma
vez tal febre, que cosinhava a canja da gallinha,
encostando o pulso no fundo da p an ella .
^ % >|í

Outro hespanhol, tendo escripto um livro


sobre differentes assumptos, pôz-lhe o seguinte
titulo: . .*af | > ! \JMl
"T r a t a d o de todos las cosas conocidas y de
algum as cositas m a s . ”
* * *

E ’ chamado um medico para.ver um doente.


O medico receita um linimento, e entregan­
do o papel á mulher do doente diz-lhe:
— Esfregue-lh e com isto as costas.
Dias depois volta.
— E então? perguntou elle.
— Qual, seu doutor! diz a m ulher. E stá na
m esm a! Pois olhe que esfreguei tanto, que até
cheguei a ra sg a r o rem ed io !
— R a s g o u !? exclam ou o medico espantado.
Mas que foi que a senhora esfregou?
— O remedio, seu doutor! V o ssa senhoria
não me deu um papel, dizendo: Esfregue-lhe com
isto as costas?
Pois foi o que fiz.
O GALHOFEIRO 25

A p e q u é ^ A l b e r t i n a entra em cas-> batendo


palmas, acompanhada do sen irmãosinho, Nônô.
— Sabes, mamãe, diz ella, acabo de fazer
uma cousa que não podia mandar ninguém
f a z e r . ..
— M e n in a!. . . mitra a mãe.
— Não é o que a senhora pensa mamãe — fui
tirar o retrato.
*
* * *

U m a dama, divorciada judicialmente, foi


condemnada a recolher-se ao convento, que ella
mesma de sig n a sse .
— J á escolheu, m inha senhora? perguntou-
lhe o ju iz. Qual prefere?
—- O dos Barbad inh os.

Pergun tava um sujeito a outro:


— V . S . tem filhos?
.— Tenho apenas um.
— E é bem comportado?
— Com não ha oütro.
— Não fum a?
’ — Nunca pegou num cigarro.
— N ão freqüenta 'cafés ?
— E s tá completamente virgem dissò.
— E não se recolhe tarde?
— Não senhor. A o cahir da noite, já está
deitado.
26 ARSENAL DE GARGALHADAS

— Decididamente, o filho de V . S . é de
condueta exem plar! Que idade tem elle?
— Vae fazer dois mezes na próxim a semana,
>{c >{í
*.
E m um café falava-se das emoções produzi­
das pela pintura:
— Eu. disse um, recor/lo-me de um quadro
que me fez chorar am argam ente.
— A lgu m assumpto pathetico?
— X ã o senhor; era uma m agnifica paisa­
gem do R o v le y M endes; mas quando estava a
olhar para ella, cahiu-me em cijma da cabeça. . .
* * *

E m um baile, a gentil e form osa Judith apre­


sentou-se com um vestido de lunga cauda. Na
primeira quadrilha o Juquinha, involuntariam en­
te pisou-lhe no vestido.
A irritável menina exclamou, n e r v o s a . ..
--- A r r e ! A té aqui ha burros. . .
— E de cauda, minha senhora, replicou o
Juqu in ha.
íjí >Jc

No tribunal Correcional.

O presidente para uma testemunha:
— L evan te-se. Como se cham a?
A testemunha —7 Chamo-me Jayriie ou Ma­
noel, mas não estou bem certo.

%
O GALHOFEIRO 27

O presidente — E ntão, como pode ser isso?


Não sabe o seu nome?
A testemunha — E u lhe explico. Nós é ra­
mos dois gêmeos, eu e m eu.irm ão: um chamava-
se Ja y m e e o outro .Manoel: depois morreu um
de nós. MinhaVnãè não sabe qual foi, e desse mo­
do não sei si fui eu ou meu irmão que morreu.
* * *■

Na policia:

O delegado ao accusado:
— E ' verdade que roubou um melão?
— A h ! meu caro senhor delegado, fui bem
castigado, pois que o maldito não prestava para
nada. . . e pilhei uma indigestão!
— Fo i a justiça divina que antecipou a dos
homens.
>O accusado :
— J á é azar! — Palm ei mais de 50. que eram
bons. . . e não fui filado. . . E ago ra por um, que
não presta, pregam commigo na c a d ê a !

A ra g o , o celebre astronomo francez, tinha


um barometro que lhe fóra dado por D a v v . A o
limpal-o um criado, cahiu-lhe ao chão: “ Olá!
disse fleugmaticamente o sabio, vam os ter chu­
va em penca: nunca vi 0 barometro tão b aixo . v
28 ARSENAL DE GARGALHADAS

— P o r toda a parte se fala em meu irmão, di­


zia T h ia g o À ra g o , referindo-se ao celebre astro-
nomo, a quem a F ran ç a honrou com o titulo de
sabia da Evirojpa; e todavia eu sou mais do que
elle.
— Como assim ?
— E ’ verdade, tenho um G m a is .
— Um G?
— Sim senhor; elle é astronomo c eu sou
g a stro n o m o . m
* * *

O Manoel das Bouças de Riba, ilhéo do


F a y a l, viéra para o Brasil, quando começava a
espontar-lhe na queixada o dente do siso.
Como acontece a muitos dos seus patricios,
deixára-se ficar no Rio de Jan eiro e desde logo
em pregára-se em um estábulo de vaccas, situado
para os lados de M atta P o rco s.
O ilhéo no Rio de Jan eiro, escolhe invaria­
velmente uma das seguintes profissões: ou en­
trega-se á exploração hortícula, ou applica-se em
cultivar e vender capim d ’A ngola, forragem mui­
to conhecida, ou atira-se ao commercio de leite,
aliás bem lucrativo.
<aoB<aeT'
Manoel das Bouças escolheu esta ultima pro­
fissão. Sabia-lhe muito o cheiro das vaccas.
R igorosam ente economico, em dois annos
de trabalho conseguiu reunir o dinheiro suffi-
ciente para com p rar uma excellente vacca lei-
O GALHOFEIRO 20

tcira, á qual poz o nome de A ligan te, por lhe


ter soado bem a palavra elegante, que um dia ou- -
vira pronunciar pelo Souza, caixeiro do arm a ­
zém onde com prava o farello.
•Não lhe ajudando a bemdita lingua; para
pronuncmr com correcção o vocábulo que o im­
pressionara, estropiava-o. pela íórm a supradita.
Pôz-se logo o Manoel das Bouçãs a explo­
rar o leite por sua conta. A lig an te era (benza-a
os anjinhos!) uma torneira do precioso liquido;
e depois o Mánoel não era nenhum pêco, íazendo-
o render por uma inofíengiva mistura de a g ir a .
N ão dizem que a agu a é a melhor das bebidas?
Pois não têm que se queixar do Manoel da-s Bou- ■
ças, pois que elle nem polvilho accre^centava ao
leite: era só a g u a . . . e boa, Carioca legitima,
agua leve e que facilita a digestão.
Pouco depois comprou-uma outra vaquinha,
a Frum osa, e no fim de quatro annos já o nosso
Manoel tinha em dinheiro, guardado em casa e
numa caderneta da C a ix a Econom ica, a respei­
tável somma de cinco contos de réis, que não dei­
xa de ser bem importante para um homem de
poucas ambições, por estes tempos que correm .
E n tã o começou a ralar-lhe a nostalgia do
carregado verdasco e da nutriente brôa de milho
do seu querido F a y a l.
E r a solteiro. N ão tinha nada que o pegasse
ao B ra sil. E isso de um homem consumir-se até
ficar velho em terra estranha, sem mais ver o
30 ARSENAL DE GARGALHADAS

cantinho em que Deus foi servido mandat-nos


ao mundo, é d u ro .
Depois vem a morte, lá se vai tudo, com to­
dos os diabos.
Decidiu-se. pois, o bom Manuel a ver a terra.
Deixou A lig an te e Frum o za com um patrí­
cio, que se ipropôz a explorar-o commercio de lei­
te a (meias, emquanto durasse a sua ausência, tro­
cou por bellas e louras libras o dinheiro que pos­
suía e tomou passagem em um paquete da M ala
Real, com destino á E u ro p a .
Ia contentíssimo o M anuel. Contava beber
tanto'vinhó do seu F a y a l, como leite tinha ven­
dido ao povo do Rio de Ja n e iro . Quem lhe impe­
diria de fazer os seus gastos? L e v a v a a bolsa bem
redo nda.
Quando no emtanto, o paquete já estava a
t ranspor a linha equinoxial, sobrevem um aconte­
cimento que ia compromettenclo todos os sonhos
de felicidade bacchica, que form ava o das Rou­
cas de R iba,
O commandante (to navio possuia um grande
macaco africano, que era o divertimento dos pas­
sageiros, durante as longas e fastidiosas traves­
sias. A esse macaco, o inglez, que era pouco af-
feiçoado aos A m ericanos dera por desprezo o
nome de Uncle Sam, que como se sabè, é o ajppel-
lido dos descendentes de Jolm Buli, no Novo
Mundo.
O GALHOFEIRO

Uncle Sam rem exia todos os recantos do


navio, e um dia, penetrando na terceira classe,
em que se âbancava o Manoel, por artes do diabo,
apoderou-se da sua bolsa de libras, que se achava
por.baixo d o .tra ve sseiro .
Foi um alarm a geral entre os passageiros de
proa, que correram para o animal,' afim de lhe
arrancarem a valiosa presa.
Num abrir e fechar de olhos, ganhou o con-
vez, seguido pelos passageiros e tripulação, e ao
apertarem-no muito, subiu por um mastro, indo
ccllocar-se no cesto da g á v e a .
O commandante foi de opinião que não per­
seguissem o macaco, pois poderia lançar ao mar a
bolsa das m o e d a s. —
Entretanto o Manoel das Bouças, encosta­
do a amurada, erguia olhos supplices para o qua-
drumano, sen.tindo-se torturado pelo mais atro'z
desassocego.
— A h ! meu rico macaco, im plorava elle, ti­
rando a A ligan te e a Frum oza, é todo o meu tbe­
souro esta bolsinha. D ai-m ’a, meu querido bicho,
quê te darei uma banana!
Os passageiros riam-se da cômica dôr do
ilhéo, e Uncle-Sam , sem se m ostrar sensibilisado
com os seus rogos, fazia esgares de satisfação, ao
ouvir tilintar as libras. Dando depois com os
cordões da bolsa, desatou-os im m ediatam ente.
A afflicção do ilhéo augm entou de momento para
momento, e todos os passageiros tinham os olhos
ARSENAL DE GARGALHADAS

• fixos sobre o anim al. E ste m etteu'os compridos


dedos na bolsa, tirou uma moeda; contemplou-a
durante algum tempo, mordeu-a e depois com
gesto rapido, jogou-a ao m ar. Manoel das Bou­
ças soltou um grito cie dor. O macaco tirou outra
moeda da b o ls a ., D esta vez lançou-a ao convéz,
apanhando-a o Manuel incontinenti.
— Assim , meu rico m acaco,dizia-quasi cho­
rando, jogadas todas aqui.
A pezar dessa supplica, no qmtanto, a tercei­
ra moeda foi atirada ao mar, tal como a prim eira;
a quarta, porém, foi jogada ao convéz. E assim
continuiou U n cle-Sam : jo g a v a uma libra ao mar
e outra no tonvéz, sendo essa logo recolhida por
M anuel.
Quando a bolsa ficou inteiramente vasia, o
macaco virou-a pelo avesso e lançou-a ao convéz,
descendo depois tranquillamente do m astro.
Manuel metteu dentro delia todas as moe­
das que çahiram no navio, e sopesando-a, soltou
um suspiro de consolação, e exclam ou:
—. A inda beim! O que era do leite cá está;
louvado .seja Deus, e o que ètra d’agua, para a
agua foi, com todos os diabos!. . .

>{í >jc >}í

— Quantos são os mandamentos da lei de


Deus?
— Conforme o sexo da pessoa, senhor v i­
g ário .
O GALHO FEIRO

— Que diz?. . . Isso é uma heresia ! ,


— Não é, não senhor: para os homens são
10 e ipara as mulheres 9 ; porque a ellas não se
póde recom m endar: “ Não desejar a mulher do
proxim o. ”
* * *

E m uma escola de aldeia, o professor a um


discipulo:
— Diga-me, menino, que é que você quer
ser: um burro grande ou um pequeno?
— But. . . quero ser do tamanho do S r . pro­
fessor. 3*
s|c j{í % *

• São cousas sem valo r:

N egociante quebrado.
Mulher preguiçosa.
Lou ça rachada.
Cadeira sem pé.
C avallo sem m archa.
Tinteiro sem tinta.
Charuto sem fo go .
Camisa sem casas.

No meio de uma praça, rodeado de basba-


ques, um charlatão aturdia os ouvintes com as
suas declamações:
ARSENAL DE GARGALHADAS
*_________________________________ _

— V inde senhores, g ritava elle, correi a


comprar o grande remedio de todos os m ales. E ’
uma especie de L e -R o y , e muito melhor que isso-
E ’ um pó admiravel, que dá espirito aos tolos,
honra aos velhacos, innocencia aos m a lv a d o s; ás
velhas dá amantes, aos velhos namorados, meni­
nas que se percam poír elles: aos loucos o preço
da sabedoria, e sciencia aos ignorantes. Com o
meu pó não ha cousa, por mais difficil que seia,
que se não consiga. P o r ell)e tudo se alcança, tu­
do se sabe, tudo se f a z : o' meu pó, emfim, é a
grande encyclopedia.
Dei-me pressa em ver esse prodígio: appro-
ximei-me e o que pensa o leitor que era o tal re­
medio universal ?
U|m pouco de pó de o u r o . -

* * *

E n tre duas a m ig a s:
I
— Porque brigas diariamente com o teu
marido? A s opiniões são differentes?
— N ã o . B rig a m o s muito porque temos opi­
niões iguaes. Elle quer mandar em casa, e eu
também.
% ífc ^

D ialogo entre futuro genro e s o g r o :


— Sim senhor; darei a minha filha 50: 000$
de dote, e penso que chegará ao menos para o a l­
O GALHO FEIRO 35

moço. E o senhor, com quanto entra para o


jan tar?
- Com cousa algu m a. Eu, quando almoço
.bem, costumo dispensar o jantair.
5}í % Jjí

U m politico de grandes aspirações lendo um


jornal que dá o resultado de certa eleição, fica so­
bremodo contrariado com o que encontra. P o r
isso submergindo-se em sérias reflexões, põe-se
a d ize r:
- - Com effeito! pois elegeram o X . ! U m
estupidt)! uma c a v a lg a d u r a ! E m vista disso, eu
também me poderia ter apresentado. . .
>Jí

— P ergun taram a um M anél:


— P o r que é que na sua terra trocaim o b pe­
lo v c o v pelo b ?
— Ora. isso não são todos: são somente os
vu rro sf. . .
* * I
Iy '
No trib u n a l:
Ju iz Por que furtou o relogio deste
homem
R é o — Eu só lhe puxei a corrente; o relogio
foi que quiz vir tambem.
j6 ARSENAL DE GARGALHADAS

U m ,g re g o e um veneziano questionavam so­


bre a superioridade das respectivas nações.
— D a minha patria, disse afinal o grego, sa-
hiram todos os sabios.
— E ’ isso mesmo, e tanto que ago ra já vocês
não têm nenhum p or l á !. . .

* * y

A o chegar á ca$a Mimi, com a testinha que­


brada .
— Que foi isso, minha filha?
A pequena com receio de apanhar, disse:
— Fui eu que ane m o r d i! . . .
Com o poderias tu> morder a testa, si a
boca está em baixo, M im i?
— E u trepei numa cadeira, m am ã!
ifí }}C 5*í

Houve em tempos antigos um rico proprie­


tário, cujo filho desapparecera, e que tinha por
adm inistrador um velho am igo.
De'sconfiado o proprietário de que seu filho,
estivesse vivo, e de que o administrador, depois
da morte do patrão, estragaria toda a fazenda,
fez o seu testamento, e nelle poz a seguinte clau-
s u la :
“ Deixo a meu feitor ou adm inistrador todos
os meus bens. E . si acaso appareecr meu filho,
será dado a este tudo aquillo que o meu feitor
quize-r que fique para si. ”
O GALHO FEIR O 37

Morreu o proprietário, e depois da morte


desse apparecera o filho, que foi ter com 0 adm i­
nistrador para receber a herança .
O feitor respondeu que, tendo seu pai deixa-"
do nas mãos delle, feitor, dar ao filho o que qui-
zesse, dava-lhe uma pequena q u a n tia .
Não esteve o filho por*isso, e levou a questão
á ju s t iç a .
O juiz reuniu-os no tribunal, e perguntou-
lhes qual era o valor de toda a h era n ç a .
— Cem contos, responderam am bos.
— E dessa herahça o que quer o senhor? —
perguntou o juiz ao feitoir.
— Quero noventa e cinco contos.
* # -------- ;-------
— Pois é isso que tem de entregar ao filho
do testador, porque a clausula é bem c la r a : en­
tregar ao filho aquillo que o feitor quizer.
E assim succedcu. (3 feitor cahiu no laço, •
que elle proprio queria arm ar ao dono da herança.
* * * *

A senhora X . entra na cosioha, furiosa, c di­


rige-se ao cosinheiro:
— Então, você acceittm a* carne que o açpu-
gueiro lhe quiz dar? Ora, vejam, são só ossos!
• — Fo i o que disse ao homem do a ç o u g u e . E ’
uma carne que só serve para cachorros. Eu, para
mim, não a queró.
38 ARSENAL DE GARGALHADAS

Num barbeiro:
— V ou fazer-lhe a barba com uma navalha
histórica: era a do barbeiro de D . Jo ão V I .
D'ahi a pouco o fireguez estava com os olhos
cheios de la g r im a s .
— Porque está chorando? — pergunta-lhe
F ig a r o .
— Chóro, ao lembrar-me do que não deveria
ter soffrido o pobre m onarcha.
jjí 5{í

Num hotel:
— Foi o senhoir que pediu que o accordasse-
mos a tempo de tomar o comboio das 4 ?
— Sim senhor, eui mesmo.
— Muito bem : póde continuar a dormir, por­
que o comboio! . . já partiu ha meia hora.
* * *

— Papai, dizem que os castores são animaes


muito industriosos/ Que fazmn elles?
— T o le irã o ! Não sabes que elles fazem
c h a p é o s?!
¥

— Oh que h ôrrifel n e v r a lg ia !
— M as de onde te veio isso."
— Sei lá ! O diccionario diz que vem do g re ­
go, mas eu não creio: soffro immenso e nunca es­
tive na G r e c ia ,
O GALHOFEIRO

U m viajante, indo jan tar a um hotel, pára


diante de uma linda pelle de urso, estendida no
salão, e pergunta:
- - A que animal pertence esta pelle?
- - A este seu criado, responde satisfeito o
dono do hotel.
* * *
/

— Estou com uim soluço terrível! Prega-m e


um susto. . . T alvez passe.
— Tens ahi 5o$ooo?!
— J á passou. Muito obrigado.

'fc H1

\ ocê é accusado, diz o juiz, de ter entrado 11a


casa do queixoso, e de lhe ter batido.
S r . Juiz, isso não foi senão um excesso de
boa educação. Minha mãe ensinou-níe que não
entrasse em parte algum a sem bater.
/ -I'

Geographia m od ern a :
— Que é zona tórrida?
— U m a bella rapariga de 18 a 20 annos.
— E a zona temperada ?
— O am or dos 30 aos 40 annos.
—- E a zona glacial ?
— O amor de dois velhos. *
— Ouantos são os pontos çardeaes?
ARSENAL DE GARGALHADAS

—- D ois: saude e dinheiro.


Quaes são as* estrellas errantes?
— A s n a m o ra d a s.
— E as estrellas fix a s?
— A s esposas.
— Ouaes são as nebulosas?
— A s so gras.
^ *

U m inglez está jantando com swa mulher.


V em o assado, e ella cáe fulfminada com uma
apoplexia.
O marido, muito grave, toca a cam painha.
Ap(parece o ariado.
Elle, apontando para o corpo da m ulher:
— L e v e a senhora, e traga b a t a t a s .
* * *

Certo medico, muito pachorr-ento, cahiu do


cavallo, ao chegar a casa.
— A ssim , como assim, exclam ou elle, sem­
pre me havia de apear.
* *

U m a senhora, ouvindo um mancebo que fal-


láva mal de todas as mulheres, disse para as pes­
soas p re sen tes: E s t e mancebo não terá tido mãe?
* * *

N um a lição de geographia, os alumnos pro­


curavam afanosos no mappa da Europa, a cidade
de M oscou.
O GALHO FEIRO 4i

— Imbecis ! — exclamou o professor, não sa ­


bem que foi queimada pelos íra n c e z e s!
* * *

Num a loja de modas, um am igo do proprie­


tário :
— A dm iro a habilidade com que, em tão
pouco tempo, conseguiste airranjar tam anha fre-
guezia. Como fizeste i s s o ? . . .
O proprietário do estabelecim ento:
— A rra n je i este papagaio, que diz a todas as
freguezas que entram : “ O h! que senhora tão bo­
n i t a ! ’’ E a casa é isso que se vê: sempre cheia!...
"I* 'k 'K ^

N um baile recente, no meio de uma valsa:


E lla — O senhor gosta de dansa?
Elle — Muitíssimo, minha senhora. Sou
apaixonado p or ella.
E lla (com simplicidade) — E n tão parque
não aprende a dansar?
* * *

Certa viuva inconsolável chora desespera­


damente a morte do esposo, o que faz com que
uma senhora pondere á lacrimosa a m ig a :
— M as como choras tanto, si tu mesma sem­
pre me dizías que o teu marido era um animal?
— E era m e s m o ; mas o caso é que já 0 tinha
domesticado . ,.
ARSENAL DE GARGALHADAS

X o cairtorio de unia pretoria:


— V en ho aqui p'ra vancê registra uma crian­
ça qui nasceu. , >
— Perfeitam ente. A creança é do sexo fe­
minino ou do masculino?
— Não é nem Felism ino nem M arcolino: é
Bastião, que é o nome do pae.
I 5jc ^
N um a das nossas secretarias de E sta d o to­
mou posse ultimamente do log ar para que fóra
nomeado em concurso um amanuense novo.
L o g o dois ou tres dias depois, o amanuense
entra mais tarde da hora, chega-se ao chefe para
lhe tirar a faèta e justificar a demora:
— E u peço desculpa a V . E x a . de vir mais
tarde, mas minha mulher teve hoje um parto, e
por isso só me deitei de m adrugada.
— Ora essa! está desculpado, diz am avel­
mente o chefe, deixando-o assignar o ponto.
Passados outros trez dias, o amanuense en­
tra outra vez, depois de fechado o ponto.
D irige-se de novo ao cliefe :
— V . E x a . queira perdoar, mas não pude
vir mais cedo. Deitei-me hoje era já dia claro,
por causa de minha mulher.
— One? está peior?
— Não senhor, mas teve um parto esta noite.
— O utro?
Outro, sim senhor, respondeu o a m a ­
nuense.
O GALHO FEIRO 4.3

O chefe amuou com o negocio, mas tirou-


lhe a fa lt a .
Dias apoz a .mesma scena: o amanuense en­
tra perto das duas horas, e vai direito á mesa do
c h efe .
— E u venho pedir a V . E x a . o favorsinho
do costume. &
O chefe olha-o /meio carran^Judo e resm unga:
- - E u não posso estar todos os dias a tirar-
lhe a falta. E n tã o o senhor quer-me fazer acre­
ditar a sério que sua mulher tivesse trez partos
em 15 dias?
1 — Pode crêr, senhor Conselheiro, e ás ve­
zes tem mais a in d a .
— M a is! ? ...
—- Sim senhor. . . T em tido dias de ter dois
e trez partos a seguir.
A seguir? mas então a sua mulher é uma
coelha ?
— Não senhor, não é uma coelha: é par­
teira.
^ í}í ;{c

Na Polonia é uso, entre as familias ricas dos


judeus, receber á sua mesa, em certos dias do an­
no, correligionários pobres. O banqueiro V iln a
dava um jan ta r nessas condições, achando-se á
mesa dois judeus pobres. U m desses, que vigiava
seu camarada, viu que elle a cab ara de esconder
em uma das botas 11111 talher de prata de subido
44 ARSENAL DE GARGALHADAS

valo r. Isto prejudicava-o bastante, porque tivé-


ra precisamente a idéa de fazer o mesmo com o
seu. No momento em que se iam levantar da me­
sa, diz aos donos da casa:
— Perm itta-m e, em signal de reconhecimen­
to, que faça uma pequena sorte de escamotea-
ção, que divertirá muito esta bella socied ad e.
— Muito b j m, disseram os c o n v iv a s.
— Vêeim este talher de prata? B e m . E u col-
loc.o-o nas minhas botas. V ir a m bem, n ã o ? ! . . .
— Sim .
— Pois bem : Schoutnli! Sch ou m lá! P a sst!
Passou.
E fez com o braço um gesto rapido.
— O talher passou p ara as botas daquellc
senhor! V erifiqu em .
Os convivas (precipitam-se, e acham o otitro
talher nas botas do cam arada. Depois de muitos
applausos, o artista sauda e. . . escapa-se.

* * *

O D r. X . . . foi chamado para vêr upi velho,


e encontrou em volta do leito, uma multidão de
herdeiros. A o sahir do quarto todos o acompa-
^nharam para lhe perguntarem si aquillo ainda es­
tava por m uito.
Elle, desfazendo-se em amabilidades:
— E u não desejava de modo nenhum dar-
lhes uma doiorosa noticia, mas a minha pro­
fissão. ..
O GALHOFEIRO 45

— ??? (O s herdeiros esfregam as mãos de


con ten tam en to ).
— . . . o homem ainda não vae d e s ta ! con­
cluiu o d o u to r.
* * *
f

Conversa um astronom o com um pobre ho­


mem, que teim ava em que o ^ol é que andava, e
fazendo-se conhecedor da H istoria Sagrada, e x ­
clam a: E não se lembra o Senhor que até Josu é
fez parar o sol?
-— Pois é,por isso m esm o/responde o astro ­
nomo, que desde então, para cá, ao menos, elle
está iparado.
* * *

U m cidadão mandou um bilhete para um ne­


gociante :
“ V a le este dois kilos de assucar bem claro. ”
O creado volta com o bilhete e a nota:
“ Não vale nada,' porque não vieram os
cob res. ” *
Quer mais claro?
* * *

Freg u e z — D ig a -m e : porque me conta sem­


pre factos horríveis, assassinatos, furtos?
P>arbeiro — Faço assim para servil-o me­
lhor. S > -*). j
Freg u ez — E que é que têm esses factos
sanguinários com a sua profissão?
46 ARSENAL DE GARGALHADAS

Barb eiro . — T êm que, quando lh os conto,


se levantam os seus cabellos, e, assim, os corto
mais facilmente e imais rapido.
* * *

\
No tribunal:
— Como se chama?
— Jo sé A ntu nes.
r— Seu estado?
— C asad o.
— Com quem?-
— Com uma mulher.
— Pü d éra!
— Piudéra, não, S r . Juiz, porque tenho uma
irmã que é casada com um homem.
* * *

E m um hospital m ilitar:
U m a irmã de caridade, de uma belleza in-
comparavel, vela perto de um officiaL doente.
— Me-ul D eu s! meu D eus! murmura o en-
ferm o.
— Que quer de Deus, meu am igo? F ale que
sou filha delle.
Q ueria. . . queria ser seu genro.
* * *

— Seu doutor, o doente m orreu. .


— C om o? • (
t
O GALHO FEIRO

— X a g a rra fa do remedio dizia que sacudis­


se, antes de tom ar.
— E então?
— E u sacudi o homem, e elle não resistiu:
inorreu:-me nos b ra ç o s.
* * *

Nos bastidores de um theatro:


— B oas horas! Pois ago ra é que o S r . vem,
para o ensaio, quando sabe que te/m de entrar lo ­
go na (primeira scena? Pois o senhor não faz o pa­
pel de Arrependim ento?
— P o r isso mesmo que me demorei: o arre­
pendimento sqmpre chega tarde.
* * *

U m borracho philosophando:
— E ’ preciso acostum ar o corpo ás contra­
riedades. Si pede agua, dá-se-lhe vinho!
— E si pede vinho? — perguntou-lhe alguem.
— H o m em ! T am bem lá uma vez se lhe ha
de fazer a vontade.
* * *

— Ora, não sabes? Fiz hoje o meu testamen­


to, dizia um marido, vendo entrar eim casa a sua
c>"íra metade.
— E n tã o a quem deixas por teu herdeiro,
ainda que mal pergunte?
Respondeu-lhe elle:
— A ti. Pois a quem havia de ser? mas po­
48 ARSENAL DE GARGALHADAS

nho unia condição, e é que te cases logo em se­


guida á viuvez.
— Que me case! E stá s doido!
— Sim, que te cases,: porque só assim é que
estarei seguro de que ao menos, existirá um ho­
mem que lastim ará a minha imorte.

* * * /■

E s t a v a um sujeito agonisando, e querendo


consolal-o um amigo, lhe disse:
— V am os, coragem ! A final ha de se morrer
uma vez.
— Isso é o que sinto, respondeu o outro. Si
morresse dez ou doze vezes, não me a fflig iria .

* * *
T T • • •
Um sujeito casado, mas muito mentiroso,
já não sabe o que ha de inventar para illudir a
mulher a respeito das suas continuas sahidas de
casa- . '■ ; í,
U m dia lembrou-se de dizer que ia á ca­
ça. . . mas logo, por infelicidade, esqueceu-se de
levar a espingarda. A o voltar compra duas per­
dizes mortas, e quando entra em caka dá-as á
mulher, com ar triumphante.
— E n tã o como é isso? Pois si tu esqueceste a
espingarda! Como mataste as perdizes?
— D eixa-m e cá filha, tens razão, tens! Bem
me parecia a mim, a cada tiro que dava, que me
faltava algum a cousa: era a espingarda!
O GALHO FEIRO

U m a senhora m uito espirituosa, que recebia


a côrte de*um advogado intelligente, e elle que
lh’a fazia, tinham por costume dirigir epigram-
mas um ao outro. U m a occasião disse-lhe a da­
ma, com muito interesse:
--- Não gosto de o ver de to g a ; parece um
homem vesti.do de mulher, posto que sem ele­
gancia .
O advogado não res|pondeu.
— Ora diga-m e: continuou a dama, para
que se disfarçam os advogados em mulher?
— Minha senhora, respondeu dessa vez o
doutor é porque temos que falar m uito.

* * *

Queixamo-nos sempre dos males sem nu­


mero desta curta vida, disse Floriam, e de nós
mesmo é que vêm quasi sempre todos elles. A
sêde de oíuro — tal é a fonte dos crimes e das des-
g fa ç a s . , s :fl
O Creador do mundo bem o tinha previsto,
quando occultou nas entranhas da terra esse fu­
nesto m e ta l; e não contente de encher o precipi-
cio, cobriu-o de flores, de fructos, e de tudo que
d e via bastar ao homem para as suas'necessidades
e pra^eres. A insaciavel avareza não se conten­
tou com tantos beneficios. Penetrou nesses abys-
mos, á força de trabalhos e p erig os; arrancou dos
infernos o ouro, e descobriu ao homem a fonte
50 ARSENAL DE GARGALHADAS

dc todos os vicios. E quem soffre mais com tão


fata! descoberta? O am or. U m CoraÇão sensivel
já não basta para ter o direito de a m ar. Si se quer
alcançar aquella que se faria feliz, é necessário
provas de riqueza, e não provas de constancia.
O aimante sem fortuna (pode ser amavel, mas não
pode ser fe liz : quanto mais fiel, mais digno de las­
tim a: os tormentos e o desespero são a partilha
< da sua vida. Que fazer pois, quando se é pobre e
sensivel? Não am ar? A h ! é ainda peior.
* * *

Certo sujeito, que tinha sido governador de


um Estado, com fam a de tirar delle mais interes­
se do que era licito, queixava-se diante de alguns
cavalheiros de uma grande dor de dentes.
Perguntaram -lhe onde a tinha adquirido.
— No meu govenno — respodeu elle.
— Isso não pode ser, acudiu logo um malicio­
so, por que si lá lhe doessem os dentes, não havia
V . E x . de comer tanto.

* * *.

E n tre um urbano e um italiano, que, á meia-


noite, estava parado mima esquina:
— Olá, amigo, que faz ahi?
— Sono aqui per’spetare Euigi..
— P a ra espetar o L u iz ! Não espeta,'não, mas
é o mesmo. Siga para a estação.
O GALHOFEIRO 5i

E a juntou o gesto ás p alavras.


— Duque não volete m 'ascoltare?
— Qual “ d u qu e” ; quem o ha de “ e sco ltar”
hei de ser eu mesmo. .
— P er Dio s a n t o !
— Não faz mal, si perdeu o santo, póde dar a
senha na e sta çã o .
• >Jc 5|c

A mulher perdoa os esquecimentos, as in-


gratidões, ó desamor e os ciumes, mas não per­
doa a infidelidade. Quer ser pisada, com tanto
que seja a preferida. A ’ primeira desconfiança,
a paixão irrompe e flam m eja do coração d’ella
com ardor iindomito. Si não am ára até ali, adora
naquelle instante, e si a cabeça somente estiver
em fogo, começa a verter-lhe sangue o coração.
Nesse ponto não ha differenças; todas se pa­
recem entre s i .
Depois quando a crise acalma, quando a pro­
ceda cala os seus rugidos leoninos, as humildes
ficam ama/ndo mais, as altivas tentam esquecer,
e logram -n’o quasi sempre.

* * * 1

Franklin g ostava de repetir uma observação


que lhe fizéra um negro, a quem acabava de e x ­
plicar o que era um nobre.
— Meu senhor, dissera-lhe o africano, tudo
trabalha nesta terra: a agua, o fogo, a fumaça, os
52 ARSENAL DE GARGALHADAS

cães, os cavallos, e os homens. Só o porco come,


bebe e dorm e. L o g o elle é o unico nobre da In ­
g laterra. '
* * *

Um velhô casára com uma menina form o­


síssima .
Dois annos depois dessç bello hymeneu veiu
á luz um encantador b a b y .
— E ’ o retrato do pae! exclamou classica-
mente a ama, mostrando a criança ás visitas.
— E ’ v e rd a d e ! diz por entre dentes uma
am iga da joven m ãe: é calvo e não tem d e n te s!
* * *

Na roça, entre uma senhora e a sua mu-


cam a:
— Vem vestir-me, Jo se p h in a; rpiero ir ao
. circo esta n o ite .
— Não caia nessa, minha senhora, ouço di­
zer que ha lá um cavallo sabio, que pára sempre
diante das pessoas mais estúpidas da sociedade!
V e ja lá a senhora se vai soffrer algum vexam e!...
* * *

E n tre dois saujeitos chegados da E u ro p a :

— Fez o am igo, por conseguinte, a mesma


viagem que fiz. D iga-m e: esteve também em
Strasb u rgo?
O GALHOFEIRO 53

— Duas vezes por s ig n a l!


— V iu nesse caso a Cathedral ?
—- Se v i ! obra p r im a !
— Conhece então o relogio?. . .
— Conheci até o constructor!
— Perdão, mas o constructor, si me não en­
gano, m orreu ha trezentos annos!
— Tem razão, enganei-m e. . . foi o pai que
con heci!
■%
* * *

U m criado, no primeiro dia em que entrou


para a casa de um patrão novo, dirigiu-se a este
com certo ar de importancia e disse-lhe:
Devo prevenir ao senhor que não costumo
e n g ra x ar b o ta s .
— Pois bem, respomdeu este, então já sei que
todos os dias hei de e n g ra x ar as minhas e as tuas.
* * *

O director de uma companhia de seguros no­


tou um dia a ausência de uni em pregado. No
dia seguinte, quando o viu. reprehendeu-o he­
roicamente .
— Mas, senhor, balbucia o pobre rapaz, esti­
ve doente.
— D oente?! em um dia de sem an a?! Então
que diabo faz o senhor aos dom ingos?
54 ARSENAL DE GARGALHADAS

Num jan tar de fam ilia: ,


O criado traz á mesa uma cabeça de porco
sem miolos.
— Então, como se entende isto? — P e rg u n ­
ta a dona da casa. Que é feito dos miolos dò
animal ?
— Elle não os tinha, minha senhora, era
d o id o .
* * *í

U m inglez estava jogando o bacarat eya um


hotel, e perdendo sempre.
— J á sei, disse elle, é o relogio que me está
cncaiporando.
Tirou-o do bolso e entregou-o ao criado da
c a s a ; continuando a perder, foi tirando a gravata,
a casaca, o collete, as botinas, tudo enfim . Ficou
como nasceu, e perdendo sempre. Finalm ente,
perdendo tambem a ,paciencia.e a razão, disse:
— A h ! sou eu mesmo que me estou encai-
p oran do !
E atirou-se pela jan ella. I
j|c jjl sfí

U m pai perguntava a sua filha de 7 annos:


— Meniina, que está a fazer?
— Estou tingindo de encarnado o vestido
de minha boneca .
— E com que tinta? T iraste do meu escri-
ptorio o vidro de tinta?
O GALHO FEI RO 55

—- Não, papá, estou tingindo com cognac.


Com c o g n a c ? !
— Foi a mamãe, que disse, quando o papá
entrou hontem em casa, qtie se conhecia ter be
bido cognac, porq/ue estava com a ponta do nariz
en ca rn a d a .
* * *

U m alfaiate apresentou a sua conta a um


cliente rebelde.
— Seiscentos mil réis! exclamou este, é im­
possível! Jstq é um*desaforo! N ão pago!
Debalde o alfaiate insistiu, ameaçou, pediu.
Teve de ir-se embora, a ver navios.
Passado algum tempo, o cliente foi p ro­
curai-o .
— Entrem os em accordo; o senhor marcou-
me na conta o dobro do preço que vale a roupa.
Eu dou-lhe 300$ e ficamos quites.
O alfaiate reflectiu que mais vale pouco do
que nada e disse que acceitava.
— Apanhei-te, «ivaqu in h o ! exclamou o
cliente. Contenta-se com trezentos mil réis:'
Ora, como tanto direito tem o senhor de me rou­
bar trezentos mil réis, como eu de os roubar ao
senhor, não lhe dou nada, e estamos quites.
* * *

U m padre, am igo de bons petiscos, apezar de


recom m endar‘ os santos preceitos do jejum aos
56 ARSENAL DE GARGALHADAS

seus subordinados, tinha por costume, quando


comia algum a gallinha chupar-lhe os ossos e
dal-os ao creado, dizendo-lhe:
— V a i jainitar.
— J a n ta r o q u e ? . . . lhe disse este um dia,
si V o ssa R e v m a . já roeu os ossos duas v e z e s !
— E ss a é b o a ! replicou o bom padre, pois eu
posso roel-os duas vezes, e você, seu tratante, não
os pode roer u m a ? . ..

* * *

Seguem ao longo do atalho tres am igos '—


tres ladrões consummados, vá se dizendo. A cem
passos, na frente, .vai caminhando um saloio,
monfado num burrico. A ’ garupa conduz uma ca­
bra — soberba cabra — ornada de uma colleira
de guizos, e o saloio cantarola alegremente, ani­
mado pelo sol claro da manhã e pelo som alegre
dos guizos. í
— Que bella cabra! observa um dos ladrões.
— E que rico b u r r o ! considera o u tr o .
— E a blusa do saloio, ó m en in o s! pondera
o terceiro am igo.
— Si pudessemos apanhar a cabra, o burro e
a fatiota do saloio, ó rapazes!
— A cabra fica por minha conta!
— E u encarregoim e do burro!
— E eu da fa tio ta .
— O ’ Felizard o ! principia tu. Prim eiro a
cabra.

i
O GALHOFEI RO 57

O Felizardo precipita-se nas pisadas do ju ­


mento, lança mão subtil na colleira da cabra,
prende-a á cauda do b u rric o ; empolga o animal-
zinho do despojado e safa-se para junto dos dois
a m ig o s .
A vinte passos, o saloio volta a cabeça, fur­
tando a cara a uma revoada de m oscas. V o lta a
cabeça e não vê a cabra! E span to e consternação!
— Querem ver que a maldita roeu as coadas
e safou-se!
Salta do burro abaixo, abandona o quadru-
pede e retrocede em busca da fu gitiv a.
Não a enicontra. V o lta da partida. E r a uma
vez um b u r r o !
Perde a cabeça, vocifera, dá ao demonio a
sua vida. E is que lhe surge o terceiro am igo.
— Que afflicção é esta, homem de Deus?
— O h! senhor, imagine que trazia o meu ,
burro e minha cabra, dois ani.maes como não ha
outros no logar, sem querer offender ninguém ; e,
afinal, nem burro, nem cabra! E ’ para irtu ho­
mem perder o juizo!
— Socegue, filho de D e u s ! A g o ta vinha eu
ali abaixo e vi um burro cahir dentro de um poço,
na azinh aga. N ão se me dava apostar que a ca­
bra também lá cah iu :
— V a m o s já lá, valha-me D eu s! Onde é o
poço, meu rico senhor?
— E ’ aqui em baixo, homensinho.
L á partem os dois.
58 A R S E N A L D E G A RG A L HA DA S
-------------------------------------------------------------------------
Chegam á beira do poço.
— O ’ F itã o ! berra o amigo larapio. E o éco
fazia >
— A ão! A ão!
— E ’ o burrcf! Conheço-lhe a voz, grita o sa»
loio enthusiasanado. A té por signal está um pou­
cochinho rouco o pobre a n im a l.
— Pois, meu amigo, é preciso descer ao po­
ço. Dispa-se e vamos a isso!
Despe a'blusa o pobre hom em ; despe as cal­
ças e a cam isa; larga os sapatos amarellos e co­
meça a descida perigosa, muna escuridão ab­
soluta .
O ladrão safa-se com as vçstes do pobre ho­
mem e vai reunir-se ao Felizardo e ao outro. En-
thusiasmo e alegria dos tres velhacos.
Em quanto ao pobre saloio, foi preciso que
uns viandantes lhe acudissem para o tirarem do
poço em miserável estado — sent fato, sem ca­
bra e sem b u r r o !
* * *

O D r. Bello, medico bem conhecido nesta


cidade, tinha um patrício que sempre que o en­
contrava na rua se lhe queixava e o consultava.
De ir ao consultorio ou de mandar-lhe p envelop-
pe de ri gor, nem su sp eita. ,
Um dia, na forma do louvável costume, o
tal freguez encontrott-se na rua com o medico e
queixou-se de dôres do estôm ago.
O GALHOFEI RO 59

— Feche os olhcr,'disse-lhe o doutor.


O doente fechou os olhos.
— A g o ra deite a lingua de f ó r a . . . m ais. ..
o mais que puder. ’
E o doutor foi-se embora, deixando o clien­
te no meio da rua, com os olhos fechados e um
palmo de liingua de fóra. no meio das risadas da
visinhança e de quem p assava.

i Quando Calino faz espirito, é uma cousa im­


possível .
E x e m p lo :
E n tr a numa loja de papel e diz ao caixeiro:
— Quero um papel de marca grande.
—' Quanto?
— Dous dedos e meio.
— O que?
— Não comprehendo.
— Pois olhe, é bem simples, meu caro am i­
go : dous dedos e m eio . . . é meia m ã o .
* * *
*

U m sujeito vai alugar 11111 commodo em uma


casa. Diz-lhe o porteiro:
— M as olhe, o proprietário não admitte
crianças a q u i.
— A h ! isso também e x ijo : sou celibatario!
6o ARSENAL DE GARGALHADAS

Dahi a dias o homem, já installado, enconr-


tra ttm enxame de crianças a fazer um grande ba­
rulho na e sc a d a .
— Que diabo! g rila elle. E n tão o proprietá­
rio não admitte crianças aqui. . . e estas?
— Pois é por isso mesimo: para crianças bas­
tam estas, que são filhos d’elle! •
* * *

Dous provincianos, que além de grandes am i­


gos eram compadres, fazendo uma jornada ju n ­
tos, pernoitaram na mesma estalagem, e dorm i­
ram no mesmo quarto. E r a quasi m adrugada
quando um d ’elles erguendo a cabeça, disse para
o seu companheiro:
— T u dormes ainda?!
— Oh ! compadre L u c a s !
— Que é lá! respondeu o outro, que tinha ac-
cordado naquelle instante.
— P o r que me perguin.tas isso?
— E r a que, si não dormisses, me empres-
tasses SSjQoo, de que preciso muito.
— Pois estoMa d o r m i r . . .
* * *

A um condemnado a morte perguntava o


director,da prisão o que desejava para a sua ul­
tima refeição. ^
— M angas, resipondeu o preso.
I
O GAL HOF E I RO 61

— E ' im p ossível. . . Só daqui a seis mezes


haverá m angas, replicou o director.
— Paciência, diz o condemnado, simulando-
se muito contrariado, e dando um suspiro: E s ­
perarei mais esses seis mezes!
* * *

E n tre duas m eninas:


„ — O meu papá deu-me u)m vestido. E a m a­
mã deu-me uma boneca.
— C om o? Pois tu ainda brincas com bo­
necas?
— E a tua, aquella que te comprou teu tio?
— E stá guardada no arm ario. Quando eu
for casada ha de ser para /meus f i l h o s . ..
— E si os não tiveres? •
— Si os não tiver... será para os meus netos!
.■___ ; ... •>
* * *
Ia passar nfnn cavalheiro, por traz de uns bur­
ros, que occupavam a calçada, e vendo o dono que
elle recuava com receio, disse-lhe:
-~ Passe, cavalheiro, que são seguros.
A o que replicou o transeunte:
— São seguros o q u e ? 'o s burros ou os
couces?
íjc >jí
Bocage e T olentino. — E s ta v a o primeiro
encostado ao humbral da porta de uma loja do
02 ARSENAL DE GARGALHADAS

Rocio, aparentemente pensativo e absorto, quan­


do o segundo, chegamdo-se-lhe ao ouvido, per­
gunta :

Elm ano, a lyra divina


P o r que razão emmudece?
A o que logo Bocage respondeu:
Porque mais cala no mundo
Quem mais o mundo conhece.
Tornou Tolentino:
Que tens achado no mundo
Que mais assombro te faça?
Replica Bocage sem hesitar:
Um poeta com ventura,
U m toleirão com desgraça..
*/ . * * *

N um a povoação de Fran ça, que estava sen­


do dizimada pelo typho, foi atacado da moléstia
um serralheiro.
Sua mulher chama um desses facultativos
feitos ás pressas,sque também por lá os ha, e este,
depois de participar á familia que o doente esta­
va em perigo, receitou e retirou-se.
N o dia seguinte volta á casa do enfermo, e
achando a mulher á porta, disse-lhe:
— Como está o doente^
r
O GALHO FE I RO 63

A i ! senhor! E m quanto eu estava na boti-


ca á espera do medicamente que vocemecê recei­
tou, levantou-se e comeu dois arenques salgados,
e um prato de salada.
— Que lo u c u ra ! E n tã o m o r . ..
— Não senhor, salvou-se! J á está na officina
a trabalh ar. »
— E ’ admiravel, exclam ou o curandeiro! Que
grande descoberta^contra a febre typhoide! E
abrindo a sua carteira, escreveu: — Febre t y ­
phoide. Remedio imfaljivel: dous arenques sal­
gados e s a la d a . /
Dous dias depois foi um carpinteiro atacado
da mesma moléstia.
— Meu amigo, diz-lhe o curandeiro, é ne­
cessário que coma' immediatamente dous aren­
ques salgados e um bom prato de salada. A m a ­
nhã voltarei para ver o effeito do remedio.
O carpinteiro passou d’esta para a melhor
vid a ; o doutor ficou, como se costuma dizer,-com
a cara a um lado, ,mas, para se não esquecer de
tão boa lição, escreveu ao lado da nota, que tinha
na carteira:
“ Febre typhoide. R em edio: arenques e sa­
lada: bom para serralheiros; máo para os car­
pinteiros ”

* * *

Conversavam algum as pessoas a respeito de


um dos médicos mais distinctos de P a ris:

/
64 ARSENAL DE GARGALHADAS

— Com effeito, diz um dos interlocutores,


não contesto a sua fam a; infelizmente, porém,
elle contrahiu um habito, que m e impede de pro-
cutal-o. '
— Qual foi ?
— Nunca se faz pagar pelos doentes. . .
—- Como assim ? Q ue.quer dizer?
— Que os seus honorários são sempre pa­
gos pelos herdeiros.
* * *

U m sujeito g-abava enthusiasticamente W a ­


gner, autor de Tanhausser, como poeta e com­
positor musical, dizendo que elle excedia ao mes­
mo tempo Goethe e Beethoven.
— Concedo, replicava o outro, acho-o me­
lhor ipoeta que Beethoven e melhor musico que
Goethe.
% ^ >K

Na rua do Ouvidor, á noite, entre duas


dam as:
— Sempre é preciso que os homens sejam
muito p é r f i d o s .. . Tenho trez am antes e todos
me enganam .
* * *

U m menino viu o jardineiro fazer buracos


para plantar certas sementes. Dahi a dias m or­
reu um gato muito estimado da familia, e a do-
O GA LH O FE IR O

na da casa mandou fazer um buraco para enterrar


d bichinho. E n tra o pae e pergunta ao menino:
—- Onde está tua mãe?
— E stá plantando g a t o s !
* * *

N a estrada de ferro :

Ujm passageiro deita a cabeça fóra da por­


tinhola e de repente grita desvairado:
— A h ! meu D eus! que d esgraça! V em um
trem a toda a força sobre nós. L á vam os pelos
ares!
— Oh com a bréca! exclam a outro p a s sa g e i­
ro: e eu que tomei bilhete de ida e vo lta !. . .

* * *
/
Num a hospedaria da roça.

O dono da casa a unn viajante chegado na


ve sp era :
— Diga-m e uma c o u s a : V . S . fuma ?
— Desde que me entendo, pór signal.
— E n tã o ha de permittir-me que lhe peça
uma c o u sa : que não fu|me no seu quarto.
— P o r que?
— P o r que o fumo faz fugir os percevejos
para os quartos contiguos, o que não é justo.
66 ARSENAL DE GARGALHADAS

E sta v a m á mesa, marido, mulher e um filho


pequeno vivo e curioso.
— E ’ verdade, papai, que Deus está em toda
a parte?
— E ’ verdade.
— E n tã o deve ser muito gordo.
O pae e a mãe olham-se a sorrir ; o pequeno
entendeu que não tinha acertado e procurou
emendar a mão.
— Ou, e n tã ^ si é jmagro, é muito comprido.

* t- *
À

Dizia alguem á um pedante que elle era i r ­


mão de um sujeito que tinha ficado pobre.
— Creio que"o senhor é irmão do S r . F u ­
lano ?
— Não senhor, elle é que é meu irm ão.
\

* * *

U m rapazito costum ava levar bons presen­


tes que seu amo m andava a um doutor, que nun­
ca o g ra tific a v a .
Z angado com isto, o rapaz resolveu nunca
mais tirar o bonet, quando entrasse em casa do
doutor. U m dia assim o fez. En trou coberto, e
pouisando logo á entrada do escriptorio a cesta,
disse com (máo m o d o :
— Aqui está isto que manda meu am o.
O doutor levantou-se, pegou no bonet do ra-
O GALHO FEI RO 67

paz v. na costa que elle tróuxéra, e disse-lhe:


— Ora vou ensinar-te a ser delicado, para
saberes como deves proceder quando aqui tor-
náres.
Simulou que sahia, e, reapparecendo á porta,
disse : __
— Dá licença, S r . Doutor?
O rapaz sentoui-se na cadeira onde aquelle
havia estado, impertigou-se e disse:
—* En tra, meu rapaz.
— Meu amo, tornou o doutor, manda reca­
dos a Y . E x . e ofíerece-lhe este mimo, pedindo-
lhe desculpa da ninharia.
— Dize a teu amo que agradeço ; e tu, meu
rapaz (disse o garoto, tirando de cima da mesa
dez tostões), toma lá isto para ti.

* * *

Um professor de gram m atica portugueza,


depois de haver sufficientemdnte explicado aos
ser.is alumnos a,m aneira de conhecer o adjectivo, .
e distinguil-o do substanctivo, julgando que to­
dos tivessem comprehendido a sua lição, dirige-
se a um deites e pergunta-lhe:
— Comprehendeu bem o que disse, S r . F u ­
lano? i
— Comprehendi, sim senhor, muito bem.
— Então já sabe cotnhecer um adjectivo?
— Perfeitam ente, S r . professor.
ARSENAL DE GARGALHADAS

— B e m ; vou certificar-me, por meio de um


exem plo. T em os aqui uma mesa pequena. Qual
é a qualidade desta mesa.
O discipulo, delpois de examinal-a, cheiral-a
e cravar-lhe a unha para conhecer-lhe a resisten-
cia, disse com emphase, inteiramente convenci­
do de que não errava:
— E ’ de peroba.

* 'K 'K
A ó jantar:

• — Gertrudes, esta lagosta não está fresca.


— E stá , minha senhora, até eu a vi chegar
ao mercado, quando a traziam do m ar.
— E s tá bem certa?
— Ora si estou. P o r signal que foi ha quatro
dias.
* * *

— Papai, me compra uma boneca?


— A m a n h ã : agora é muito tarde; a loja es­
tá fechada. Olha, vae dormir, dá cá um beijo.
—- E ’ muito tarde, papai, minha boca tam ­
bém já está fechada

^ ^ H*

Scena de h o te l:
O freguez. ao partir um ovo quente, conhece
que já está um pouco passado.
O G ALHOFEI RO

— O' rapaz, este ovo está podre.


-— E u bem tenho dito ao cozinheiro que os
ovos podres só servem para fritadas,

* * i
Certo medico, que contava os seus setenta
janeiros, residindo na provincja, não sabia, pa­
ra distancia superior a um kilometro, sem ir a
cavallo e fazer-se acom panhar de um criado tam ­
bém montado.
R azões que não vêm para aqui, lèvaram -n’o
a despedir o.antigo criado.
Tom ou outro, rapaz novo, analphabeto, bo­
cal, vindo lá da terrinha. . .
No primeiro dia, entreteve-se o c r ia d o a ver
o movimento, os costuimes da casa, e tc , '
A ’ noite ordena-lhe o medico: “ A m anhã,
cedo, apparelha o cavallo e o burro; vamos fo ra ."
O lorpa não entendeu e pediu explicações á
creada. mulher de idade e com uns 15 annos de
bons serviços na c a s a .
E sta esclareceu-lhe o que o amo dissera: e
até, de manhit, o foi ensinar a apparelhar as ca­
va lgaduras .
O esculapio quando viu serem horas, desceu
ao pateo, achou as cousas em ordem, põe-se a ca­
vallo e diz para 0 creado:
“ Monta esse animal, e se g u e - m e ."
O criado atira-se para cima da albarda, e
70 ARSENAL DE GARGALHADAS

segue, a certa distancia, o doutor, equilibrando-


se com diííiculdade.
Emqutanto foi caminho plano, não houve
novidade de maior monta, mas, numa descida,
o criado sentiu que lhe era impossível deter-se;
escorregava cada vez mais, e achava-se montado
110 pescoço do j u m e n t o . ..
Viu-se azul, verde, amarello, eu sei lá co­
m o!. . . O burro a desapparecer-lhe
Quando achou de todo insustentável aquel-
la posição, ia, como sempre, no couce. a algum a
distancia-do medico, e desata a g ritar attlictivà-
jme lite :
— ()' senjior doutor?! O ’ senhor doutor?!...
— Que é, rapaz? Que queres?
— Ainda falta muito? Ainda falta muito á
viagem ?!
— Por que? - ,
— Si falta muito, nàq o posso acom panhar!
o burro está-se-me a acab ar; só tenho isto !!!
E , explicando por accionados mostra ao amo
a cabeça do jumento e a posição em que se encon­
trava !
A albarda, roçando nas orelhufís do burro, elle
estupendamente agarrado com ambas as mãos á
cabeçada do paciente anim al.
* * *
»• ‘\
Dois hespanhoes achando-se reunidos, tra­
varam o seguinte dialogo:

■ xf - <- ’’ ■
C GA LH OF E I RO

— Então, amigo, qute novidades me conta?


— Pbucas, m as bonitas e dignas de adm ira­
ção: ha quatro dias matei um lobo á unha!
— Homem, isso pouco me adm ira. Mais bo­
nita é esta: ha muito tempo que um sujeito en­
controu 11111 lobo, o qual se preparava para devo-
ral-o. Sem ter tempo para mais, o supradito des­
pe o casaco è o colete, arregaça as m agas xda ca­
misa até além do cotovello e, correndo contra
o lobo, foi metter-lhe o punho pela boca dentro
até ir a tocar a cauda: dèpois puxou por ella com
tal força, que virou o lobo ás avéssas!
— J á vejo que o teu heroe fez mais que e u .
Mas (variando de assTnnpto), não és capaz de
me apresentar a quem sobre uma azeitona, beba
11111 cantaro de vinho, de duas assentadas.
— Ora, essa! eu conheço um individuo que,
só com o olhar para 11111 xhouriço, bebeu 11111 al-
mude de vinho de uma a s se n ta d a !
— Adeus, amigo, já sei que comtigo não faço
vasa. ■ >
Jjí í|í

O G A LL O E A R A PO SA

Nos sitios da roça não se prendem as galli-


nlias durante a noite. E sta s dormem nas a rv o ­
res e isso preserva-as de um grande numero de
m oléstias que se desenvolvem 110 abafam ento dos
gallinheiros, livrando-as além disso dos piolhos.
ARSENAL DE GARGALHADAS

A ssim , o vistoso gallo de um sitio, ainda an­


tes de anoitecer, fôra empoleirar-se com a sua
unica companheira, uma gallinha carijó, em um
elevado galho de Jaracatiá, e ali desferiu o canto
saudando o dia que se f in a v a .
Ora, aconteceu passar por baixo do j a r a ­
catiá uma raposa, que trazia fome de tres dias,
e levantando os olhos para a a r v o tt descobriu o
casal de gallinaceos.
Dona R ap o sa considerou muito ajuizada­
mente que aquellas duas aves estavam apropria­
das para fortalecer o seu debilitado estom ago.
Como porém alcançal-as, si estavam tão altas?
Dona R a p o sa meneçu durante algum tempo
a cauda, estudando um ardil, e depois, levantando
a cabeça d is s e :
— B o a tarde capitão Gallo.
Boa tarde,Dona R aposa, respondeu delica­
damente o gallo .
— Que.'' T ã o cedo ainda e já o capitão Gallo
está de poleiro?
— Que quer, Dona R ap o sa . Logo que o sol
se encobre começo a distinguir mal as cousas e
assim posso cahir nas g arras de qualquer ini­
migo .
—Não tema isso, capitão G allo. A cab a de ser
assignada entre os animaes uma paz g era l. Os
gatos vivem já em bôa cam aradagem com os
ratos, os coelhos com os cães, as serpentes com
as rãs, as onças com os carneiros, e assim por
O GALHO FEI RO 73

diante. Desça cá em baixo, com a sua estimavel


consorte para mostrar-lhes o decreto e fe stejar­
mos juntos a nossa paz.
— O que dizeis é verdade. Dona R ap osa?
— E m todo o ponto; desça, que lhe mostra-
. rei o decreto, pelo qual, após tantos séculos de
guerra, nos tornamos os melhores am igos.
— Acredito 110 que dizeis, Dona Raposa, e
coino deste galho avisto um cão que vem se apro­
ximando, logo que elle chegue, descerei para fes­
tejarm os todos a paz entre os brutos.
— De que lado vem ? e o gallo, de esperto
disse-lhe que vinha do lado esquerdo, quando na
verdade, vinha do direito.
Dcftia Raposa, no emtanto, poz-se a correr
para o lado direito, logo que ouviu falar 110 cão,
dizendo: — “ Pode ser que elle ainda não conheça
o decreto, e por causa das duvidas deixa-me
raspar. E este, assim que a avistou, bateu em
sua p erseguição.
E corria, corria desesperadamente a embus-
teira^ emquanto o gallo, empoleirado na arvore,
gritava-lhe a bom g rita r:
- Mostra-lhe o decreto! Mostra-lhe o de­
creto !
Escusado é dizer que a raposa não lhe deu
ouvidos, e continuou a correr e a g rita r: — Não
tenho tempo a g o r a ! não teidio tempo a g o r a !
ate apanhar-se em um m atagal seguro.
ARSENAL DE GARGALHADAS

Pergun ta um persa a um ecclesiastico chris-


tão, si Satanaz era casado; ouvindo a resposta
negativa, exclamou elle:
— Infeliz de m im ! (Jue grande delicto terei-
eu commettido para unerecer maior castigo do
que elle?
^ ¥ ¥

U m a mulher muito namoradeira, tendo en­


velhecido, e achando-se em perigo, mandou c h a ­
mar um confessor, o qual lhe disse:
— E ’ preciso, senhora, esquecer a vossa vida
passada, e não am ar sinao a D eus.
- A h ! meu Padre, lhe respondeu ella, na
edade em que estou, como hei de tratar de novos
am ores?
>!- v

Uni viajante apeiando-se numa hospedaria


de aldeia, assistiu a uma grande sova de páu que
o dono da casa dava num rapaz:
— E ’ seu filho? — Perguntou-lhe o viajante
depois da execução.
— X ã o senhor, replicou o estalajadeiro, é
meu sobrinho, da cidade, que veiu passar uns
dias commigo para se divertir.

^ ^

U m roceiro, que tinha um cavallo para ven­


der, chegou á casa de um negociante que estava
O GAL HOF E I RO 75

contando umas mioedas de ouro, e disse, referin­


do-se a e41a s :
— H i! que bonitas caretas! ^
— O setnhor quer vender o seu cavallo por
duas caretas? — Perguntou-lhe o negociante.
— Quero, sim senhor.
— Pois então está dito, é meu o cavallo.
— O negociante recebeu o animal, mandou-o,
para o pasto, e fez ao matuto duas caretas...
— Dê-me o dinheiro, que eu tenho pressa,
disse-lhe o pobre homem.
— Que dinheiro? — Perguntou o n e g o ­
ciante .
— O ra ! o dinheiro do cavallo que lhe vendi.
— E stá doido! Eu comprei-lhe um cavallo
por duas caretas, que já lhe fiz; mas, como me pa­
rece que o senhor não as viu bem. eu as faço de
novo. E il-a s: A briu a boca, deitou a lingua de-
fóra e arregalou os olhos por duas vezes, e depois
accrescentou, empurrando-o pela porta a fó ra :
— A g o ra vá-se com Deus, que tenho m.ais
que fazer,
* * *

• Certo doutor, um pouco ousado, indo de via­


gem, ao chegar a uma porteira, avistou um m atu ­
to, e gritou-lhe asp eram en te:
— O l á ! abra essa porteira !
— E quem é o senhor para mandar-me desse
modo? — acudiu o matuto algum tanto zangado.
76 ARSENAL DE GARGALHADAS

— E u sou um doutor.
— O que vem a ser um doutor?
— E ’ um homem que sabe tudo.
— Pois então deve tajmbem saber abrir a por­
teira. disse o matuto, voltando-lhe as' costas.
*
>!<

Passando um caipira pela porta de um al­


faiate, espirrou fortemente, e o alfaiate exclamou
em tom zombeteiro:
— Dominus tecum. A o que acudiu o caipi­
ra enfurecido:
— Dom inus téco será elle, sô maroto, m al­
criado .
> jf* j Jí ;|í

U m a patrulha, acudindo ás queixas de uma


mulher que-gritava contra os máos tratamentos
que recebia dc seu marido, os levou ao juiz cor-
reccional. E ste perguntou ao marido, porque
m altratava assim sua mulher.
— Senhor, lhe respondeu elle. toda a bulha
que ella fez foi sem motivo, porque eu apenas lhe
dei com o meu lenço de assoar pela c a r a .
— E ’ verdade, acudiu a mulher : mas olhe
Y . Senhoria que elle se assôa á anão.
. * * *

Em- um sarau composto de pessoas de bom


tom, onde reinava a alegria a que todos se entre­
O G AL HO F EI RO 77

gavam , achava-se uma senhora presumpçosa e


muito re c a ta d a .
Chega-se a ella um estudante folgazão e con­
vida-a para dansar.
— O senhor f lhe responde ella com ar de des-
dem, esqueceu-se de trazer luvas.
—- Não tem duvida, minha senhora, acudiu
elle no mesmo instante, eu costumo no fim de ca­
da contradansa lavar as m ãos.
t
* * *

U m a senhora ralhou em presença de alguns


homens contra o costuane de fumar e disse:
— Mormente os cigarros são nocivos, elles
abreviam a v i d a .
— N ão ba tal, respondeu um do auditorio;
11111 tio meu que todo o dia não faz mais do que
fumar, tem seus setenta annos.
A o que replicou a senhora im m ediatam ente:
— T alvez já tivesse oitenta, si não fosse es­
se desagradavel costume.

* í!< *

P erguntava-se a uma menina de sete annos


de qual g ostava m ais: se de seu gato, se de sua
b o n eca.
U m a resposta a compromettia e portanto re-
cusava-se a dal-a.
ARSENAL DE GARGALHADAS

Instaram e resolvendo-se por fim a respon­


der, disse ao ouvido da pessoa que lhe fazia a per­
gunta :
— E u gosto mais do meu gato, mas não di­
ga nada á minha

boneca.s

E m uma noite de espectáculo entrou um di-


lettante no antigo theatro Lucinda, durante um
int-ervallo, e sentou-se perto de um sujeito de
bengalão e chapéo de abas la rg a s.
— Tem a bondade, pergunta o recem-che-
gado, de dizer-me em que acto estamos.
— Não sei, responde o homem de bengalão,
eu não sou da cidade.

* * *

Certo fidalgo, vendo que os criados haviam


feito no pateo um grande monte de lixo e iinmun-
dicies. que tiravam da limpeza do palacio, repre-
hendeu-os p or esse m otivo; porém, desculpando-
se os criados com a difficuldade de remover d ’alli
aquellas immundicies, por causa da prohibição
que havia de se lançarem na rua, lhes respondeu
elle muito a g a sta d o :
— Olhem que toleirões! então porque não
fazem vocês uma cova para as enterrarem ?
— Mas, senhor, lhe respondeu um criado, e
O GAL HOFE IRO 79

o que havemos de fazer da tetra que se tira da


cova ?
— Sempre és bem pedaço d’asno, replicou
o fid algo ; faze a cova tão grande, que caiba
tudo dentro..
H
5 % ^

Certo boticário casado com uma mulher


muito feia e má, tinha por emblema do seu nego­
cio um an jo . A lguem procurando pelã sua boti-
ca perguntou a um collega, que respondeu:
— E ' ali a botica que tem um,anjo á porta e
o diabo em casa.

H a poucos dias chegou um individuo ao pé


de outro a quem não conhecia, e pediu-lhe com
* muita instancia que lhe lesse uma carta. O sujei­
to abriu muito apressado a carta, e fixou nella
. os olhos attentos, finjindo que lia. Passados ins­
tantes começou a mostrar-se afflictissim o olhan­
do para o supplicante:
— Chore, senhor!. . . chore!. ..
— P o r que hei de chorar? — tornou-lhe es­
te já com as lagrim as a bailarem-lhe nos olhos.
— C h o r e ! . . . chore, s e n h o r ! . . .
— Mas porque hei de chorar, diga ?! — vol­
tou o lacrimoso desfazendo-se em pranto*
— Senhor !• chore mas com profunda magua,
a suía desgraça e a minha, porque nenhum de nós
sabe l e r ! '

\
Ho ARSENAL DE GARGALHADAS

Um homem, que era infeliz eim todas as suas -


empresas, exclam ou cheio de desgosto:
— E u creio que si tivesse aprendido o offi-
cio de chapeleiro, Deus teria creado os homens
sem c a b e ç a !
>jí >{c Jfe

O Parocho de uma igreja tinha muito má


voz, e todas as- vezes que cantava, havia uma mu­
lher que chorava. O padre, havendo notado isso
varias vezes, resolveu perguntar á mulher qual
era a razão por que chorava quando elle cantava.
— A h ! senhor, respondeu ella, como não hei
de chorar! E u tinha um bui;ro, que constituía to­
da a minha riqueza, e infelizmente m orreu; a g o ­
ra, quando vos ouço cantar, parece-me ouvir a
voz d e lie .
O padre que esperava algum louvor, retirou-
se todo confuso.

^
Nuana sala:

U m a senh ora: — Estou muito descontente


com a minha c re a d a ; é o desleixo em p e sso a .
U m sujeito: — T am bém eu estou desconten­
te com a minha, e amanhã ponho-a na rua... Im a ­
gine V . E x . que ando, ha seguram ente trez me-
zes, a pedir-lhe agua para os p é s.-. A inda não o
c o n se g u i!
O GAL HOFE IRO 8t

D isputavam dois néscios em uma sala; um


teianava que se devia dizer ao criado:
— Dá-me de beber.
O outro:
Dá-me que beber.
Uma senhora, que estava presente, cortou a
questão, dizendo:
Ju lg o que nenhum dos dois tem razão;
porque homens como os senhores o que devem di­
zer é:
— L eva-m e a beber.

* * *

U m provinciano simplorio veio á capital pe­


la primeira vez. Deslumbrou-lhe o espectáculo
da cidade e diante de tudo parava embasbacado.
A estatua eqüestre de D . Pedro I, no Rocio, os
bonds, as barcas, as lojas de modas, tudo em sum-
ma lhe causava admiração, e p ara que as peque­
nas cousãs lhe não escapassem, parou diante de
uma loja de cambio e perguntou, pois que não via
na loja mais do que um homem, e uma porção de
dinheiro nas vidraças:
— Senhor faz o favor cie me dizer o que
vende? r ,
— Cabeças de jumento, respondeu o cam ­
bista, julgando que podia divertir-se á custa do
pro vin ciano .
6
8? ARSENAL DE GARGALHADAS

— Cabeças de jum ento! lhe replicou este;


então ellas têm muito consumo, porque só vejo
uma na l o j a .
>}í >fí >Jc

Os dois poetas Nicoláu Tolentino e R ocage


tinham ambos um defeito; a natureza os dotára
de pés tão grandes que se reputavam m onstru­
osos. Epigram m avam -se por isso mutuamente,
sempre que se en co n tra va m .
U m dia que Bocage ao dobrar de uma esqui­
na esbarrou-se com Nicoláu Tolentino, lhe diri­
giu o seguinte Deus te salve:

Si o padre-santo tivesse
U m pé tão longo e tão máo,
Pudera, mesmo de Roma,
D ar beija-pé em M acau.

Nicoláu Tolentino não hesitou, e sahiu-se


com este tr o c o :

E ra m trez juntas de bois


E daquelles mais selectos. . .
A puxar pelos sapatos,
E os sapatos sempre quietos.
}{í ijí 5fí

Um portuguez e um hespanhol travaram


uma discussão ácerca dos respectivos méritos
dos dois povos.
0 GAL HOF E I RO «.3

— Os nossos vendedores de gallinhas, disse


o portuguez, são tão peritos no seu offieio, que
assim que «o carro de um delles pára á porta, as
gallinhas e os frangos deitam-se de costas, e cru-
zão as pernàs em attitude de que os atem afim
de mettel-os no gallinheiro.
- Ora adeus! disse o hespanhol, nós temos
um afam ado medico que mandou construir em
Andaluzia, uma aldeia tão salubre q u ejiin g u e m
lá pode morrer, de forma quê os habitantes, quan­
do estão cansados de viver, têm de ir á cidade
próxim a para darem a alma á D eus. Ha ali dois
homens, em particular, chegados a tal grau de
velhice, que já náó sabem quem são, e o peior é
que não ha na aldeia quem lhes possa dizer como
se c h a m a m .
íjí íjí

Encontrou um c é g o de iim olho logo pela


manhã a um corcovado, e disse-lhe:
— A m igo, tão de m adrugada carregaste?
— P o r certo, respondeu o corcovado, que
deve ser cedo, pois ainda não tendes aberto mais
que uma ja n e lla .

* * *

Passando um dia certo sujeito junto de uma


senhora, que de formosa nada tinha, exclam ou:
«4 ARSENAL DE GARGALHADAS

™ Como é b e lla !. . .
Vira-se a dama. e vendo-o feissimo, responde:
— Sinto muito não lhe poder dizer*o mesmo.
— E ’ mentir como eu, minha senhora, lhe
replica o outro.
3}í %
0

Tendo um amante surprehendido sua nam o­


rada nos braços de seu-rival, ella lhe negou atre­
vidamente o facto.
— Como, disse elle furioso, atreveis-vos a
desmentir os meus olhos?
— A h ! pérfido, lhe disse ella, eu bem vejo
que já me não amas, visto que crês mais no que
vês, do que no que te digo.
ío %
*
Dois amigos, que não se tinham visto havia
muito tempo, encontraram-se num passeio. U m
delles era casado, e o outro estava para contrahir
matrim onio.
— Folgu ei de vêr-te, diz o o utro; vais dar-
me informações sobre o estado que estou resol­
vido a tom ar.
— Qual é?
— O casam ento. Fala-m e com franqueza,
que tal é isso?
E u te d igo : nos primeiros tempos não é
lá muito bom ter a gente de mudar de vida, de
O GAL HOF E I RO 85

seguir urtii system a novo. . . Tudo isso causa in-


c o m m o d o ...
— Mas, depois?
— A h ! d ep o is. . . é de um homem se en­
forcar !. . .

Um sujeito, notável pelas suas hernardices,


tinha o m aior medo possível de m orrer.
— N ão se chegar a descobrir, exclamou elle,
uma vez, algum a terra do mundo, em que se não
morra*!. . . L á é que eu queria ir acabar os meus
d ias!
* * *

Conversando uma manhã dois agricultores


sobre a excellente .apparencia da estação, disse
mm d elles: *
—- Si estas chuvas continuarem assim, por
mais alguns dias, tudo resurgirá da terra.
— Que diz você, meu am igo? — exclamou o
outro, muito consternado. Que será de m im ! E u
que tenho duas mulheres no cemiterio!

* * *

U m a senhora muito presumpçosa, que que­


ria passar á grande, impando que era muito rica,
achando-se uma noite com a casa cheia de visitas,
mandou em alta voz aprom ptar um bom c h á ; e,
d ahi a uma hora, vendo o seu moleque em pé, 11a
86 ARSENAL DE GARGALHADAS

porta, dando a entender que lhe queria falar em


particular, disse com .altivez:
—- Que queres? — já apromptaste o chá?
— Xô sióra — respondeu o moleque, o liome
nó qué dá manteiga fiado, o padêro nô manda
mais biscoutinho sem dirriiéro.
* * *

Certo medico de um hospital militar, indo


fazer a visita do costume aos doentes, olhou para
a cama de um soldado, que estava todo tfoberto
coan o lençol, sem lhe vêr a cabeça, e voltando-se
para o enfermeiro lhe disse, apontando para o
d o en te:
— Aquelle póde m andar enterrar, que já está .
m o r to .
A essas palavras fespondeu o doente, deitan­
do a cabeça fóra do len çól:
— X ã o estou morto, estou vivo.
O uvindo essa resposta, o enfermeiro, que fi-
cára atraz do medico, gritou ao supposto de­
funto: • "
— Cale-se, sua besta! sempre é muito igno­
rante. Pois \ m . quer saber mais do que o senhor
doitor? •. j
* * *

Em uma occasiào de temporal para alliviar o


navio, mandou o capitão que cada um lançasse ao
mar o que tivesse de maior peso,
O GAL HOFE IRO 87

U m passageiro, ouvindo isso, pegou na m u ­


lher que comsigo trazia, e procurava lançal-a ao
m ar.
Perguntando-se-lhe o motivo dessa barbari­
dade, respondeu:
. — E ’ para obedecer á o rd e m ; porque é a
cousa que tenho de mais peso.
H" * *

Revolta frad esca . Desgostosos os frades ca-


puchos do Rio de Jan eiro com um provincial au­
stero e zelczo, e reunidos, um dia, cm numero de
mais de trinta, disse o mais exaltado d’entre
elles r . **>; 5 j
A s queixas são estcreis! Decisão e vig or.
— Que podemos fazer? — perguntaram
a lg u n s .
— V am os depôr o guardião.
— E ’ uma revolta!
— E m b o r a ! V a m o s to d o s: o rabugento ve­
lho tremerá, vendo a nossa attitude e o nosso ou-*
sado pronunciamento, e acabará por ceder á
força. V a m o s !
— Quando?
— J á . Tm m ediatamente!
— Falta-nos um chefe: quem falará por nós?
— Eu.
— V arríbs! — bradaram todos.
— Esperem : promettam antes de tudo apoiar
a minha voz, e sustental-a a todo o transe!
88 ARSENAL DE GARGALHADAS

— Nós o prom ettem os!


— Pois bem! Sigaim-me.
A va n ça ra m enthuisiasmados os trinta frades,
até a porta do guardião, e o chefe bateu com
força.
— Quem está ahi?
— Sou eu. . . ou somos nós, padre guardião.
O padre-mestre abriu a porta, e com ar se­
vero perguntou, ainda de d e n tr o :
— Que quer?
— V iem os declarar que vossa caridade não é
mais guardião, pois está deposto!
— D ep osto?. . . e por quem? — perguntou o
velho avançando um passo.
— E m meu nome e no de toda esta communi-
d a d e ! . . . E, quando, estendendo o braço para
m ostrar os companheiros, se viu só, e abandona­
do, sem se confundir, encarou de novo o g u a r­
dião, e disse sorrindo:
— A h ! padre-mestre! confesse, que lhe cau­
sei grande s u s to !
O guardião riu-se tambem e respondeu:
— Sim . . . sim. . . mas não caia em outra.
Retire-se sem receio, e d’ora em diante não se fie
em frades para taes emprezas.
*■ * *

Quando o nosso D . Pedro I I ío i a Alacahé,


o Zé da Venda teve uima idéa que se póde cham ar
g e n ia l.
O GAL HOFE IRO

Tinha elle um excellente papagaio, falador


como uma sogra, grulha, tagarella, que nem o
preto do leite. E que intelligencia. Santo D eus!
Deputados têm havido, ainda ha, e sempre ha­
verá, que não lhe c h e g a m .. . ás pennas. Que
bella figura não faria elle na antiga Cadeia-
Arelha!
Pois o caso foi assim . Zé da Venda, assim
que constou a visita imperial começou a ensinar
o papagaio a dizer: — “ V iv a o re i!. . . V iv a o
rei!. . . ” E tanto fez, tanto insistiu, tanto pelejou,
que, 110 dia da chegada de Sua M ajestade, o bi­
chinho fez um bonito.
Quando 1). Pedro passou em frente á bode­
ga do Zé da Venda, aborrecido com tantos vivas,
foguetes, gritos, sinos, acclamações» o diabo! o
papagaio da sua gaiola, á porta da venda berrou,
muito convencido, sacudindo as azas:
— “ V iv a o r e i ! . . . V iv a o r e i !. . . ”
O Imperador ficou encantadisskno com a
idéa original do vendeiro, indagou quem era elle,
e sabendo que se tratava de um pobre homem, in-
-offensivo, muito trabalhador, mas tambem muito
caipora e muito pobre, mandou-lhe dar uma meia
duzia de contos, que serYiram para o Zé da V e n ­
da augm entar o negocio, prosperar e enriquecer.
Os outros negociantes ralaram-se de inveja,
e aguardaram impacientissimos nova visita im­
perial .

9
90 ARSENAL DE GARGALHADAS

P assados alguns annos, D . Pedro II tornou


a Macahé, de passagem para Cam pos.
M al os jornaes noticiaram o caso, tudo quan­
to foi negociante — desde os grandes proprie­
tários de armazéns, até os mais modestos barbei­
ros, cigarreiros, funileiros, quitandeiros — apres­
saram-se em com prar p apagaios. F o ra m ven­
didos alguns até a conto de réis.
O M anduca F im -F im era paupérrim o. Quiz
tambem um papagaio, m as teve que se contentar
com um, novo, ainda pouco amestrado e muitís­
simo burro. Todos os dias o digno taverneiro le­
vava horas e horas, em frente ao bicho, a ensinar-
lhe : — “ V iv a o re i!. . . V iv a a re i!. . . ” E o pa­
pagaio .. . m o ita !. . .
X a vespera da chegada do grande monarcha,
Manduca F im -F im , vendo que perdera grande
tempo e dinheiro, e -que decididamente nada ob­
teria da estúpida, ave, desesperou, e dando-lhe
uma tremenda bofetada, berrou :
— “ Perdi o meu l a t i m ! . . . ” O papagaio,
atordoado, decorou a 'phrase.
C) imperador chegou no dia seguinte. Cha-
rangas, bim balhar de sinos, espocar de foguetes,
saudações, d iscu rso s... houve de tudo. E , o que
mais é: terrivel, caceteador, massante, inaturavel,
ouvia-se em todas as casas: — “ V iv a o re i!. . .
V iv a o rei!. . . ” berrado por cem mil papagaios.
Sua M agestade já não fazia mais caso, e, in­
O GALHOFE1RO 91

timamente, mandava ao diabo tanto engros­


sa d o r.
A o passar, porém, pela rua Direita, ouviu,
pela décima millionesima vez: — “ V iv a o rei!. . .
V iv a o r e i ! . . . ” E ra o papagaio do M anduca Fim -
F im . Succedeu cjue, naquelle mesmo instante,
soltassem um foguete, que veiu cahir proxim o á
g aiola. Ju lg an d o que seria uma nova bofetada do
dono, o papagaio lembrou-se da phrase ouvida, e
bradou muitíssimo convencido:
--- “ Perdi o meu latim . . . ” D . Pedro achou
muita g ra ç a ; pensou que se tratava de um papa­
gaio muito intelligente, possuido por um nego­
ciante tambem muito atilado, que já previa o seu
indifferentism o. Mandou, então, chamar o M a n ­
duca Fim -F im , gratiíiçou-o com uma boa quan­
tia, e, mais tarde ainda o fez com m endador.

íjí-

Ha quasi um seculo, um convento dos B a r ­


badinhos, em Portugal, era dirigido por Frei
Giló, um m on ge austero, digno, virtuoso e santo.
Quando o eminente frade tomou conta da ab-
badia, achou a Ordem em deplorável estado.
Imagine-se sú que os monges mais sérios, mais
recatados, entravam no convento depois da meia-
noite. . . quando não dormiam féfra.
O illustre dom abbade resolveu acabar com
. tamanho escandalo, e deu ordens terminantissi-
92 ARSENAL DE GARGALHADAS

mas ao ir m ã o ,p orteiro, para não deixar ninguém


entrar, para não abrir siquer a porta, depois das
8 horas.
I*rei Miguelinho (um frade que tinha brado
de arm as) imaginou que aquillo era para inglez
ver, não fez caso, e nessa mesma noite apresen­
tou se na portaria ás horas do costum e: meia-
noite. | •
Bateu, bateu, bateu, e só ao cabo de muito
tempo, o irmão porteiro resolveu-se a perguntar
quem era.
Frei Miguelinho deu-se a conhecer, mas o
porteiro recusou-se a abrir, allegando as ordens
terminantes do abbade.
— “ Abre, irm ão. . . " — supplicava o frade.
“ Olha que sou e u . . . A b re só esta vez. . . E stive
ouvindo um m oribundo... F a ç a favor de a b r i r . . . ” *
Não havia meio. O porteiro, inflexível,, não
attendia ás lamúrias dó Barbadinho.
A final, vendo que nada conseguia, e que t i ­
nha de descer a ladeira, ou ficar ao relento, Frei
Miguelinho tirou do bolço uma moeda de ouro e
passando-a por baixo da porta, disse:
— “ O ’ Irmão, veja, então, si póde abrir com
esta c havi nha. . . ”
O irmão porteiro, reconhecendo a moeda,
apressou-se errt abrir.
Frei Miguelinho pilhando-se do lado de den­
tro, disse ao le ig o :
O GALHO FE IR O 93

— “ 0 ! Irmão, você, com a sua teima, fez-me


deixar o guarda-chuva ahi fóra, encostado á pa­
rede. Fa ça o favor de ir buscal-o. ”
Como resistir a quem acaba de nos mimosear
eom um a'lib ra?'
O porteiro apressou-se em sahir.
A ssim que o viu do lado de fóra, Frei M i­
guelinho mais que depressa fechou a grande por­
ta do convento.
O outro pôz-se a procurar o chapéo, e não o
achando, quiz entrar, mas encontrou a porta fe­
chada .
Rateu, bateu, b a te u . N a d a . Só muito depois
o outro fingiu ouvir, e perguntou:
— “ Quem é . . . ”
— “ Sou eu, frei Miguelinho. Não achei cha­
péo a l g u m . Abre a porta depressa, que está fa­
zendo f r i o . ”
— “ Não p o sso ", replicou Frei Miguelinho
repetindo as mesmas desculpas que o porteiro dé-
ra. “ Nao posso. . . Depois das 8 horas, a^porta
não se abre. . . A s ordens são rigorosas.
— “ Deixa de caçoada, Frei M iguelinho” , —
replicava o porteiro, “ abra a porta, que está
frio.
M as M iguelinho não attendia, até que se re­
solveu dizer:
- “ Si quer que eu abra, dê-me aquella cha-
vinha amarella, que lhe dei ha p o u c o . . . ”
04 ARSENAL DE GARGALHADAS

O porteiro comprehendeu, e não teve renie-


dio sinão restituir a moeda de ouro. . .

^ ^ ^

U m rancho de senhoras e homens foram pas­


sar o dia ao campo, e passando por uni sitio fres­
co e aprazível, disse um dos da companhia, que
pretendia p assar por discreto:
— Que bello campo de relva para jantarm os,
minha se n h o ra !
ijc ;jí ;j í

Certo indivíduo, criticando Milton, por não


ter ensinado'o latim a suas filhas, este lhe res­
pondeu :
— U m a mulher não precisa -senão de uma
lín g u a .

* * *

Um caixeiro inglez encarregado de cobran­


ças, indo de viagem, chegou á porta de uma pe­
quena estalagem e perguntou á d o n a :
— Ten algun coise qui come?
— T em quibebe, respondeu a estalajadeira,
que de facto tinha prompto esse guizado, que
todos sabem ser feito de abobora.
O estrangeiro que não tinha daquillo a m e­
nor idéa, d is s e :
O GALHOFEI HO

— Min pergunte si ten algun coise qui come?


— Tem quibebe, e nada mais, tornou a esta­
la jadeira.
— Oh, senhorra! acudiu o viajante’ já meio
indignado; uá de nós dós non intenda ôtro: mim
pergunta si neste casa tén algun coise <jui come...
— J á lhe disse tantas vezes que só tem qui­
bebe, repetiu a mulher algum tanto enraivecida.
O estrangeiro, que tinha atravessado um
grande rio, onde havia muito que beber, excla­
mou furioso;
— Pois vai a diable você cum seu casa, cura
seu estalagem, e cum sua quibebe, qui onim só
quer qui come.

j|« ifí >}í

V isitando um dia B o cage o seu am igo Bres-


sane Leite, tambem poeta, levava umas calças
novas, cousa que raras vezes lhe succedia. Teve
B ocage a desgraça de se sentar em um velho ca-
nape que alli se achava, e um prego traiçoeiro ras­
gou-lhe as c a lç a s.
Bocage, indignado, levantou-se e dirigiu ao
eanapé uma furiosa apostrophe.
— E x tra n h o , amigo, disse Bressane, que
commettas a incivilidade de fulminar em prosa
um tão venerando canapé. Insultemol-o mas ao
nienos com as honras da p o e sia :
96 ARSENAL DE GARGALHADAS

A inda antes de haver mundo,


E antes de haver Adões,
J á elle tinha o*preguinho
Com <|ue ra sg a va os calções.

Acode Rocage no mesmo instante:

Quando Deus formou o mundo,


Em seis dias, como é fé,
A o setimo descançou
Aqui neste canapé.

Bressane vibrou logo a seguinte q u a d ra :

F u g iu do incêndio de T ro y a ,
L á desse incêndio voraz,
Enéas com o pai ás costas,
E o 'm o ço c o ’aquillo a trá s.

F o i então que Bocage fechou a contenda


com este epigram m a:

Quando a velha antiguidade


Aqui nesta sala entrou,
Disse a este canapé:
“ Sua benção, meu a v ô ! "
* * *

Deram a 11111 sujeito uma pedrada em 11111


olho: ao tempo em que o cirurgião o curava, elle
lhe perguntou com grande ancia:
O ÜAL HOP E I RO y>7

— S e n h o r , perderei o olho.
; — Não meu amigo, disse o cirurgião, que cá
o tenho na m ão.

* *

| ' — Insultou-me! E x ijo uma reparação. E ’


forçoso que corra sangue. Escolha espada ou
pistola a 30 passos.
—- E s c o lh i: aceito a espada a 30 passos, re-
darguiu o adversario.
/ ' '
* * *

Um am igo de passar a vida regalada á custa


alheia, reduzia as suas orações do levantar e do
deitar ás poucas e substanciosas palavras se­
guintes :
“ Meu Deus, não vos peço que me deis ri­
quezas ; dizei-|me só onde ellas estão, que eu as irei
. buscar. A m e n . ”
* * * ■m m

Funccionando a Cam ara Municipal de certa


villa, um dos seus membros accusou o outro de
— egoista. A esta palavra — egoista — levan-
tou-se o accusado possuido de furor, e exclam ou:
— S r . presidente, é um insulto feito á cam a­
ra in te ira ! é um in su lto ! Requeiro, portanto, que
98 ARSENAL DE GARGALHADAS

seja admittido fóra da camara o senhor membro


insultante.
— Elle não insultou — disse o presidente.
— Insultou-me, sim, senhor! E g o is ta quer
dizer filho d ’egu a! E assim por bons modos o
senhor membro veiu a chamar-me de burro!
• ifí :Jc ;Jc

i
U m sujeito que estava com a casa cheia de
visitas, ou palradores, querendo á noite dar seu
passeio, e não o podendo fazer por causa dos im­
portunos, lembrou-se de um expediente, dizendo:
— Ora estou com o moleque atacado de be­
x ig a s bravas.
— D e v e r a s ! exclam aram os hospedes, to­
mando os chapéos; adeus, boa noite, até amanhã.
— A rre diabo! — disse em voz baixa o dono
da casà vendo todos sahirem, só assim poderia
ver-me livre destes m assadores.

* * *

U m a senhora de distincção reprehendia seu


filho pequeno pelo seu acanhamento diante das
visitas, e lhe reeommendava que cum prim entas­
se a to d o s.
— E o que lhes hei de eu dizer: — replicou o
pequeno.
— Perguntar-lhes pela saude das mulheres
e dos filhos, que isso é costume de todos.
Ü GAL HOF E I RO 9Í>

(') menino'decorou betni a lição; e como suc


ced esse que a primeira visita que veiu fosse o pa-
rocho da freguezia, chegou-se o pequeno á elle, e
perguntou-lhe pela saude da mulher e dos filhos.
E ste cumprimento confundiu um pouco a g ra v i­
dade do parocho, o qu-al todavia replicou:
— Que diz meu menino? Pois os padres tem
mulheres e filhos?
O pequeno atrapalhado pela replica, accre
scentou promptamente:
— Isso é o costume de todos, que assim m ’o
disse a mamã.
ijc jft

U m individuo foi ha dias acommetido em uma


das ruas mais afastadas da capital, por alguns
desconhecidos que lhe moeram o corpo a pau­
ladas .
Chegado que foi á casa perguntou-lhe sua
mulher o que tinha.
— Tenho — respondeu elle — que de todas
* as minhas costellas, és tu a unica que tenho s ã .
$ * *

O padre Jo sé A go stin h o de Macedo, aliás


excellente poeta, quiz abocanhar a gloria de L u iz
de Camões, e escreveu o seu poema Gam a que de­
pois intitulou O Oriente, porque começaram a
chamar de Gam elada, para corrigir os defeito,
100 ARSENAL DE GARGALHADAS

dos L u ziad as e m ostrar corno se fazia uma perfei­


ta epopéa.
A imprensa portugueza levantou-se unani-
mente contra semelhante sacrilégio. Um brasi­
leiro, Jo s é Francisco Cardoso, autor do poema la­
tino Tripoli, que Bocage verteu para o portu-
guez, zurziu tambem o rival de Camões com o
seguinte e p ig ra m m a :

A o Parnaso quiz subir


X o vo rival de C am ões;
M as das loucas pretensões
A s musas se põem a rir:
Apollo, sem se affligir„
D est’arte fala ao C a s m u r ro :
Pode entrar que o não em purro.
Nem me vem causar abalo,
Pois sustentando um cavallo,
Sustentarei mais um burro.

* * / jK

U m sujeito indo procurar outro em casa, e,


olhando por acaso para uma das janellas, lhe a-
vistou ainda a cabeça.aõ mesmo tempo que um
criado dizia que seu amo havia sabido para fóra.
— A ssim será. respondeu elle ao criado; po­
rem,diga-lhe que, para outra vez, quando sahir
para fóra não deixe a cabeça em casa.
O GALHO FEIRO I OI

Um inglez,.tão extravagante, quanto rico, sa-


hiu de Londres alguns mezes,disposto a visitar
as prinerpaes cidades da E u ro p a . A penas ch ega­
va a qualquer povoação, tratava logo de ir fazer
a barba, fazendo, porém, ao barbeiro a seguinte
advertencia, antes de com eçar: '
— Senhor mestre, aqui está uma libra ster-
lina com que o remunero, si me barbear com todo
o cuidado; mas cumpre-me avisal-o de que tenho
a pelle muito delicada, e que tambem, si.une dá o
menor golpe, faço saltar-lhe os miolos.
E immediatamente tirava do bolso um p a r
de pistolas, que punha o pobre barbeiro á beira da
eternidade, obrigando-o a exercer o seu mister
com o maior cuidado e attenção.
O original inglez chegou um dia a uma cida­
de, e logo entrou ina primeira loja de barbeiro.
Assentou-se com a sua habitual gravidade,
e,puxando pelas aterradoras pistolas, dirigiu ao
barbeiro, que era um rapaz, alegre e folgazão,
a terrivel e costumada advertencia.
— N ada receio, milord, disse o rapazote.
E, pondo mãos á obra, concluiu o seu traba­
lho num abrir e fechar de olhos. T erm inada
operação, o inglez contemplou-o cheio de a s­
sombro .
— En tão não teve medo das minhas pistolas?
— perguntou, finalmente.
— Não, senhor, respondeu o rapaz com a
maior simplicidade.
(02 ARSENAL DE GARGALHADAS

— Ora essa! então por que?


— E ' boa a p e r g u n ta ! Porque, tomando na de­
vida conta o avizo de milord, si lhe fizesse a me­
nor arranhadura, terminaria a obra cortando-lhe
o p escoço.
Dizem que o inglez nunca mais usou do seu
methodo.
* *

U m cura de aldeia exam inava em cartilha


um rapaz de 17 annos para lhe d a r ' a com-
munhão.
— Quem é D eus! — perguntou-lhe o cura.
— Não sei, senhor padrç — respondeu o
•rapaz.
O h! tratan te! pois tu, lhe tornou o cura,
tu não sabes quem é D eus? J á este anno não com-
m un garás. Diz-me cá: sabes ao menos o dia em
que morreu Nosso Senhor Jesu s C h risto?
— E u , tornou o rapaz, nem sei mesmo que
elle estivesse d o en te ! •
Os devotos, que assistiam, rom peram numa
grande gargalh ad a, ao mesmo tempo que o rapaz
sahiu da egreja a chorar. T re s quartos de hora
depois entrou a mãe na sacristia, e perguntou
ao cura si era verdade o ter negado a 'primeira
communhão a seu menino,
— Sim, respondeu o reverendo, porque o seu
rapaz, já tão talud o,n ão sabia que Nosso Senhor
O GALHO FEI RO 103

lesus Christo m o rre u : e até me disse que não sa­


bia que elle estivesse doente.
__One quer o senhor padre que nós faça­
mos ? replicou a boa m u lh e r: nós somos muito po­
bres. não temos meios para ler os periodicos, e
por isso não sabemos as novidades que vão por
este mundo!
— V á na graça de Deus, respondeu o cura,
voltando-lhe as costas.
* * *

A mulher de um veneziano nobre, tendo per­


dido seu iunico filho, entregou-se á mais viva dor.
querendo um padre seu amigo, consolal-a, recor-
dando-lhe que Deus ordenara a A brahão o sacri-
ficio de seu filho unico, respondeu ella:
— A h ! meu padre, a uma mãe- não teria
Deus ordenado um tal sacrifício!
* * *

Brigando uma velha com uma moça, lhe


chamou ladra. A moça chamou-lhe feiticeira.
—- Bem sabes que sou feiticeira, pois adivi­
nhei o que é s .
* * *

U ns tatues de bom humor encontraram


uma saloia velha que conduzia dois burrinhos
carregados, e querendo gracejar com-ella:
ARSENAL DE GARGALHADAS

— Bons dias, mãe dos burros — lhe disse


ura d e lles.
— Deus vos guarde, meus filhos — respon­
deu a velha. t
* * * i

U m sujeito tinha um nariz muito chato.


— Deus lhe conserve a vista, disse-lhe uma
pobre a que tinha dado a esmola.
— P o r que me desejas tu isso? — pergun­
tou-lhe.
— E ’ porque si vossa vista enfraquecer, não
tendes nariz para usar oculos.

* * *

U m rico proprietário da provincia mandou


seu filho- a L isbo a estudar francez e os preceitos
da co rtezia. A lgu m tempo depois, um criado vai
buscal-o á capital, e, elle. cheio de anciedade, lhe
perguntou o que tinha occorrido na casa paterna.
- — Pouca cousa, lhe respondeu o criado, pas­
sando a mão pela testa, pouca cousa. L em bra-se
daquelle lindo corvo que me deu o meu am igo?
Pois morreu.
— Pobre anim al! E por que?
— P o r ter comido demasiada carne nos ca-
daveres dos nossos famosos cavallos, que foram
morrendo uns atraz dos outros.
— Que dizes? Pois m orreram os quatro ca­
vallos de meu pai? E por que accidente? t
O GAL HOFE IRO *05

— Porque os fizeram trabalhar muito em tra­


zer agua no difc em que se incendiou a c a s a .
— Oue está dizendo? a nossa casa foi incen­
diada? E como?
— Porque não tiveram cuidado com as to ­
chas, na noite em que foram am ortalhar seu pai.
— D esgraçado ! estás doudo. Pois meu pai
morreu?
— Sim, senhor. A não ser isso não houve
nada de novo, nem na aldeia, nem em casa.

* * *

Pergun taram ao poeta inglez Milton qual


seria a causa porque as leis de muitos E stados
permittiam que um príncipe pudesse govern ar
com quatorze annos, emquanto só lhe perm it­
tiam o casam ento aos dezoito?
Milton respondeu:
— Porque é menos difficil governar um E s ­
tado do que uma mulher .

* * * 0

E m uma grande faníilia existia um bobo, que


os paes não consentiam.que se apresentasse em a l­
gum a reunião por causa de seus disparates. U m a
occasião, sendo aquella familia convidada para a s­
sistir a um baile, o bobo fez todos os esforços pa­
ra tambem ir, e os pais lhe disseram que não o le­
vavam , porque elle era um bobo que iria lá para
I
io6 ARSENAL DE GARGALHADAS

proferir asneiras. Elle pediu, instou, rogou, etc.,


e tc ., finalmente concordaram qgr fosse, mas com
a condição de ficar em um canto da sala sem di­
zer p alavra. Compareceram todos ao baile, e o
pobre tolo cncostourse a um canto, conforme ç
trato, e vendo ali um velho isolado e silencioso,
perguntou-lhe :
— O senhor tambem é bobo?
— Que é que diz? — acudiu o velho.
Sim, tornou o tolo, pergunto si V m . tam-
bem está aqui no canto para não dizer asneiras?
* * *

Sentados á mesa de uma hospedaria militar,


um poeta, um padre, um agiota, e um pintor, dis­
corriam calorosamente sobre o merito de alguns
home.ná celebres, depois de ura jan ta r opiyaro.
O criado da hospedaria escutava-os embas­
bacado .
— Proponho um brinde á memória do pri­
meiro homem do mundo: A lexan d re M agno, diz
o m ilitar.
— Protesto, disse o poeta, o primeiro ho­
mem do mundo foi B y r o n .
— Pro fa n a çã o ! exclamou o bom padre; o ^
primeiro homem foi Santo Ignacio de L o y o la .
— Proclamo M a lth u s ! disse o agiota, como
o primeiro homem do mundo.
— N e g o ! bradou o pintor, o primeiro ho­
mem foi M iguel A n g e lo .

/
O G A L H O F E IR O

— Diacho, disse o criado a meia voz, o p ri­


meiro homem do mundo foi A d ã o .
Os commensacs puzeraim-se a rir. O criado
tinha dito a verdade.
* * *

Achando-se um bêbado numa igreja e ao pé


do púlpito, na occasião em que certo religioso es­
tava prégando, principiou a a n a lysar o sermão,
dizendo muito de rijo : — E sta s palavras são de
Santo A g o stin h o . D a lli a pedaço tornava outra
v c z ; — [sto é do E va n g e lh o de S . M arco s. E
continuou a sua analyse até que o pregador já en­
fastiado de o ouvir, lhe g rito u :— Cala-te, bebedo!
A o que este immediatamente accrescentou apon­
tando para o padre.
— Tsto agora é delle.
* * *

U m desses impostores, que os ha por toda a


parte d'este planeta de agua e terra, se gabava de
sabio, por ter conversado com muitos homens
scientificos.
Pois eu tambem, lhe respondeu um pobre
diabo sem ceitil, tenho conversado com muitos
ricos, e ando a tinir.
* * *

Ljido um sujeito, que pretendia passar por


muito engraçado, ver certo convento, e tendo di­
io8 AR SE N A L D E G A R G A L H A D A S

to mil graças pesadas ao R eligioso que o acom pa­


nhava, acabou com esta, quando se despedia
delle, e ia sahindo pela porta do carro:
— *Ora, diga-me Vossa R e v eren d issim a . . .
por aqui é que entram as m oças?. . .
— Não, senhor, respondeu o frade, por aqiii
saem as b e sta s.
* * *

Certo escrivão que havia sido official de mi-


licias, tinha já dado baixa do serviço. Ignorando
isso, um individuo que trazia um negocio no seu
cartorio, julgou acertado presenteal-o com uma
espada. O homem, consideràndo o imimo, disse
mui sisudo para o pretendente:
— Meu am igo, si quizer fazer vasa, puxe por
ouros, porque eu já renunciei ás espadas.
V I
>f:

O secretario de certo rei de Fran ça, homem


mui distrahido, estando a jan ta r com um dos m i­
nistros de E stado e sua irmã. achou-se esta mui­
to a go n iad a. ,
_ () secretario deu a entender que reputava
aquella indisposição um signal de gravidez.
— Isso não póde ser, accrescentou o minis­
tro, pois ha tres annos que minha irm ã é viuva.
— O' minha senhora, exclamou então o se­
cretario, peço-lhe miil perdões pelo que disse,
pois ju lg a v a que V . E x . era solteira.
O G A L H O F E IR O

U m viajante mandou fazer a barba em uma


aldeia na Su issa. O barbeiro cuspia no sabão e
o esfregava na cara do desgraçado.
>{ — Porque é que você cospe no sabão com
,]ue me unta a cara?
— Pela grande consideração em que o te­
nho. pois aos nossos camponezes cuspo na cara.

* * *

Houve num hóspicio de doidos um alienado


qtte se ju lg a va um grande pintor, e que para o
provar m ostrava a todos o sen quadro da P assa­
gem do M ar Verm elho.
E ra uma tela branca, sem o menor traço.
— Mas onde está o M a r V erm elho? — per­
guntavam os visitantes.
— A fastou-se á voz de M o ysés.
— E os Hebreus?
— Já passaram .
'(■ . — E os E g y p c io s ?
— A inda não vieram .
Quanto» artistas não ha por este mundo de
Christo, que muito desejaríam os que pintassem
sempre quadros a s s im !

* * * ^

E r a costume em Coimbra, quando se douto­


rava algum religioso, irem os lentes a cavallo.
Um frade Bento mandou pedir aos Bernardos al­
no A R SE N A L D E G A R G A L H A D A S

gum as bestas; estes promptamente lh as envia­


ram, dizendo “ que se quizesse mais, era boa ôc-
casião, porque tinham chegado o padre geral e o
secretario. ’ ’

5ÍC 3fc

— Um gatuno foi confessar-se a um padre,


velho e falto de v is ta ; e bispando-lhe a caixa de
prata, que tinha ao pé de si, com o lenço, lh’a
tirou com tanta destreza, que o padre não deu
por isso. Chegando a tratar do satimo m anda­
mento, perguntou-lhe o confessor se havia fur­
tado algum a coisa.
— Sim, padre, tirei uma caixa de tabaco a
seu dono.
— Pois é preciso que a restitua, sem o que
não o posso absolver.
— listou prompto a entregal-a, quer o se­
nhor padre recebel-a?
— E u não a quero, entrega-a a seu dono.
— A esse já eu a quiz entregar, e elle res­
pondeu que não a q u eria .
— En tão , si o- dono não a quer, pode ficar
rofn ella sem escrupulo.
A ssim o fez o gatuno, e acabando de co'n;fes-
sar-se retirou-se. O padre, quando deu pela falta
da caixa, foi que percebeu a esperteza do sujeito.
O G A L H O F E IR O iii

U m certo fidalgo, bom conhecido por g ra n ­


de caloteiro, achando-se uma vez gravem ente en­
fermo, dizia ao seu confessor, que a unica mercê
que pediria a Deus, era que lhe prolongasse a
vida até que elle p agasse todas as suas dividas.
— O pedido é tão justo, lhe respondeu o con­
fessor, que sem duvida Deus attenderá aos vo s­
sos ro g o s.
— O h ! si elle me fizesse esta graça, respon­
deu o moribundo, ficava eu seguro de que não
morreria munca.

* * *
«
v
U m viajante pediu em uma estalagem que
lhe servissem algum a coisa de comer, e responde­
ram-lhe que não havia senão ovos cozidos .
— J á não tem daquella exquisita carne sal­
gada que me apresentou a ultima vez que estive
aqui? — perguntou o viajante.
U m criado da estalagem respondeu immedia-
ta mente:
A h ! senhor, a carne de que fala, sahe-nos
muito cara; que seria de nós si todos os dias no?
morresse um burro!

* * *

A uma esposa infeliz chegava o marido, de


quando em quando, a roupa ao corpo. P o r fim
queixou-se á policia.
ARSENAL DE GARGALH ADAS

--De que pretextos se serve seu m a rilo para


lhe bater? — perguntou-lhe a autoridade.
— Não se serve de pretextos respondeu a
mulher a chorar — serve-se de um cabo de vas­
soura .

* %*
, ' I
P ergu n taram um dia a Themistocles a quem
concederia da melhor boa vontade a -mão da filha :
si a um homem honrado e pobre, si a rico tolo. ou
de má réputaçãò?
E lle respondeu:
— A ntes quero um homem sem dinheiro do
que dinheiro sem homem.

* * *

— Meu pai é um dos homens que mais b a ru ­


lho têm feito no imundo : dizia um grum ete a um
seu companheiro.
— Então, que tem elle feito?
— Foi tambor durante cincoenta annos.

* * *

No commissariado de policia:
— O lá! este anno já é a terceira vez que o
prendem. Que o traz cá?
— O sr. commissario bem sabe. Quem me
traz cá são os .policias!. . .
O G A L H O F E IR O 113

Uni sujeito muito impertinente ti;'ha por


habito attribuir sempre ao criado tudo quanto ap-
p a r e c i a V n a l feito ou estragado em casa.
U m dia a dona da casa teve um pimpolho.
O marido sahiu exultando com as delicias da pa­
ternidade e exclam a:
— Que rapagão sacudido! bonito! bem feito!
' — Ora valha-me isso! — resmungou o cria­
do; si 0 pequeno nascesse torto e aleijado, o pa­
trão diria logo que a obra era minha!
5jc * *

Napoleão T, passando revista aos veteranos


reformados, notou que um gramadeiro maneta
não tinha no peito condecoração a lg u m a .
— Onde perdeste o braço?— perguntou elle.
— E m Austerlitz, senhor.
' -----E não fòste condecorado?
— Não, senhor, esqueceram-me.
— Tom a então a minha cruz, faço-te cava­
lheiro .
E 0 Imperador destacou do peito a sua con­
decoração e entregou-a ao granadeiro.
— A h ! — replicou o veterano — V . M . faz-
me cavalheiro porque só perdi uim braço?
E z á s ! Puchou pela espada e decepou o outro.
* * *
Um sujeito, encontrando um desconhecido,
dirige-se a elle com a maior semcerimònia e
diz-lhe:
114 ARSENAL DE GARGALHADAS

— O senhor empresta-me seis libras?


— Mas como, si não tenho a honra de o co­
nhecer ?
— Pois, por isso m esmo: aquelles que me co­
nhecem. já não me emprestam v in té m .

>{c >Jí

Umi alcaide apresentando ao juiz de paz sua


fam ilia:
— Tenho a honra de apresentar a Y . minha
mulher e minha filha. A de mais idade é minha
m u lh e r.
* * *

— De que morreu seu esposo — minha se­


nhora?
— Da g o t a .
—- Vam os, quasi do mesmo que o meu, pois
morreu da pinga.
íjc jjs íjc

U m a senhora feia dizia, lendo o jornal que


fazia a descripção de um baile em que lhe dava
a ella o,s fóros de elegante:
— E ’ um desaforo; estes jornaes conta-m
tudo, e depois é uma m entira. . .
--1 D á graças a Deus que assim seja, disse-
lhe uma am iga, pois cem vezes peor seria si dis­
sessem verdades.
O G A L H O F E IR O

Um alvcilar. lendo curado o cavallo de um


medico, este perguntou-lhe:
— Quantó lhe devo, meu am igo? t*
— Nada — respondeu o alveitar —* não se
leva dinheiro aquelles que são da mesma pro­
fissão.

* * *

Receita para curar g ag u eira . '


Recitar tardos os dias de manhã em jejum a
seguinte q u a d r a :

Num ninho de maphagaphos


Seis m aphagaphinhos ha,
Quem os desm aphagaphisar
Bom desm aphagaphisador será .

i
* *
• V

Confissão de Simplicio:

Padre — Quem é Deus?


— Simplicio — Sou eu.
Padre — Com o?
Simplicio — Minha mulher, quando reza, diz
sem pre: “ Com Deus m e deito, com Deus me le­
vanto . ” L o g o . . .
116 ARSENAL DE GARGALHADAS

Representava-se certo dram a:


U m actor tinha de entrar em scena, depois
que outro queimasse uma carta, e logo na en­
tr a d a d e v ia dizer:
— Que cheiro de papel queimado!
Porém o que estava em scena, não achando
onde queimar a carta, rasgou-a e atirou os peda­
ços para baixo de uma m e s a : o outro que entra,
ao vêr os fragm entos da carta, exclamou muito
senhor de si:
— Que cheiro de papel ra sg a d o !. . .

* * *

Num jan tar de caçadores.


Cada qual faz a apologia dos seus cães.
— Nenhum d’esses, diz um gascão, chega
aos calcanhares da minha defunta D ia n a . Diana
era uma cadella como nunca vi outra. E sinão,
ouçam :
— Faz a go ra justam ente um anno, levei-a
com m igo a caçar. Passa uma lebre, e Diana es­
taca diante delia, esperando que eu fizesse fogo*.
A choim e sem polvora e corro a uma herdade vi-
sinha a pedil-a em p restad a. Volto, mas não posso
reconhecer o sitio. Oito mezes depòis passo por
alli casualmente, e que hei de eu ve r? . . . O es­
queleto do pobre animal, ainda de pé, diante do
esqueleto da lebre! T inham morrido naquella po­
sição!
«
O G A L H O FEIRO 117

U m sujeito toma um criado novo, e um dia


vai encontral-o de oculos azues e engraxando
gravemente um par de botas.
— Você padece dos olhos? — diz o patrão.
— Não senhor — responde o criado — mas,
(juando engraxo umas botas, dou-lhes tanto lus­
tro que me chega a fazer mal á vista.
* * *
E x h o rta v a um pregador a seus ouvintes,
para que fizessem a sua penitencia, e tendo 11a
mão um Crucifixo, e x c la m a v a :
— Sim, meus irmãos, neste mundo cada um
deve levar a sua cruz ao C alvario!
U m marido tomou o conselho ao pé da letra,
e ao sahir, pegou na mulher ao hombro, dizendo:
—-S r. cura, eu cá levo a minha!
* * *
O marido descobriu em um velho alfarrabio
uma iinaxima que diz que cada vez que um gallo
canta é porque disseram uma m entira.
— E porque é — pergunta a esposa — que
os gallos cantam de preferencia de m adrugada?
— E ’ provavelmente por ser a hora em que
se começa a imprimir os jornaes.
» * * *
Um a grande adm inistração financeira, li­
quidando as suas transacções, viu-se forçada a
despedir o seu pessoal.
i i 8 ARSENAL DE GARGALHADAS

— E is uma medida adm inistrativa que vai


custar a vida a muita gente! disse 11111 chefe de se-
cção, despedido como-os outros.
— Que queres dizer com isso? — perguntou-
lhe um de seus am igos.
— \ isto achar-me sem emprego — respon­
deu este — vér-me-hei forçado a exercer de novo
■a minha profissão. . . E eu sou medico. . .
* * *
— Certo .professor, exam inando um menino
em Cathecismo, pergumtou-lhe:
— Quem fo i o discipulo amado de C hristo?
— S . Pedro — respondeu o menino.
E sta enganado — disse o professor —- lYri
S .'Jo ã o .
— E n g a n a d o esta o senhor --- retorquiu o.
■menino. Eoi a S . Pedro que Jesu s Christo deu
as chaves do céo.
* * *■

A o \ isconde de Breteuil, que falava sobre


religião, como si a entendesse a funido, pergun­
tou uma senhora: '
— Quem fez o Padre X o sso ?
O \ isconde, meio confundido, acudiu logo:
— Ora, quem fez o Padre Nosso foi Movsés.
* * *
U m cabelleireiro, que se estabelecera com
luxo, lembrou-se de m andar pintar uma tabuleta
O G A L H O F E IR O itg

muito vistosa e charlatanesca, 110 fim da qual de­


sejou que se puzesse o seguinte letreiro: “ N . B .
()item não souber lêr, dirija-se ao tabellião ali
defronte. ”
^ ¥

Num a estação de estrada de ferro, um sujei­


to põe-se a ler alguns jornaes, da primeira pagina
até á ultim a.
— E n tã o — pergunta-lhe o vendedor — qual
delles com pra?
— Espere que os tenha lido todos para saber
xpial delles .me interessará mais durante a viagem.

* * -f

U m observador francez formulou as seguin­


tes regras para ju lg a r as pessoas, pela sua m a­
neira de r i r : A s que riem em A, são fran<cas, leaes,
am igas do ruido e do mtivimento; mas talvez de
caracter mudavel e v e r s á t il.
A s t|ue riem em E , são fleugm aticas c ás
• vezes melancholicas.
O riso em I é das crianças e das pessoas ti-
midas e fr a c a s .
O riso em O significa generosidade e atre­
vim ento.
Com os que se riem em U deve se ter cuida­
do, porque são falsos ou m isantropos.
i2o A R SE N A L D E G A R G A L H A D A S

A d ã o achando-se no P araizo com todos os


animaes, reuniu-os um dia em tornt> de si, deu
um nome a cada um delies, e o ascendente do fu­
turo e fiel companheiro de Sancho P an ça rece­
beu o nome de burro. Passado algum tempo,
A d ão chamou outra vez todos os animaes e quiz
vêr si/elles haviam decorado a lição. Perguntou-
lhes como se ch am avam ; todos responderam, á
ex^epção do burro, que se tinha esquecido. A dão
zangou-se tanto que foi ás orelhas do pateta e
puchou-lh’as com quanta força tinha, gritando:
— Chamas-te, burro, burro, b u r r o !
Fo i desde então que a especie asinina ficou
adornada com aquellas duas immensas venta-
rolas.

* * sje ■

Dizem que Napoleão (o que morreu em S a n ­


ta Helen/a) era fraco dan sa rin o ; e que, dansando
elle uni dia com certa senhora, esta ria-se occul-
tamente da pouca habilidade do guerreiro, ao
que o mesmo promptamente respondeu:
— Minha semhora, o meu forte não é dansar*
mas sim fazer dansar os outros!

* * *

C onversavam dous gascões.


— Saiba que tenho um gato.
— T am bem tenho um.
O G A L H O F E IR O 121

— O meü cluima-se R a lp h . U m dia tendo-


lhe um garoto atado uqja caçarola nla cauda. ..
— Deitou a correr?
— N a d a ; cortou a cauda. . . por am or pro-
p r io ! !i
— Pois o meu fez cousa muito mais notá­
vel . . . Vendo-se com uma panella presa na
cauda. . .
— Despedaçou-a ?
— Qual h is to ria ! Cosinhou-se n e lla . . em
um momento de fom e. . .
* * *

Simplicio é myope, mas não só do espirito,


como até agora se j u l g a v a .
A o entrar em casa, previne-o a criada:
— Olhe que está ahi uma bacia com agua
q u e n t e .. .
— O h! diabo! sabe Deus si já m e não
queim ei.

* * *

Conta um jornal que uma bonita mulher
hespanhola recebeu em um dos dias de rigoroso
inverno, a seguinte carta:
“ Form osíssim a vizinha. — Não tenho em
casa, nem chaminé nem brazeiro. Si a vizinha
não quer que eu morra gelado, appareça um bo­
cadinho á jan ella. E stá úm frio diabolico. e não
122 ARSENAL DE GARGALHADAS

recebo em casa outro calor que não seja o de


seu o l h a r . ”
A resposta da vizinha não tardou: “ Senhor.
Li a sua carta a meu marido, e este, compadecido
da sua situação, irá brevemente á sua casa para
lhe aquecer as c o s t e lla s .”

* * *

O menino Carlos estuda historia.


— Papai — diz elle ao autor dos seus dias, eu
queria ter vivido na idade média.
— P a ra que, f i l h o ? ! . . .
— P ara não ter de estudar a historia mo­
derna . |

>jí íjc Jfí

D uas jovens trocam palavras anúmadas.


U m a a que"tem a elocução, facil, despeja so­
bre a outra uima alluvião de expressões pouco
p erfu m a d a s.
A contendora ouve-a placidamente, e no fim
diz-lh e:
— T u não tens um papel com que limpes
essa' boca ?

E u — dizia um hespanhol a outro — sõu


tão sensivêT a o vento que me constipo, quando ao
O G A L H O F E IR O 1 23

fechar uma porta, recebo o ar que se encana pelo


buraco da fechadura.
— E eu retorquiu o outro' — apanho uma
constipação sempre que abro o vidro do meu re-
logio!

No Correio: U m empregado a um tabaréo:


— E s ta carta tem peso a m ais; precisa outro
sello.
E n tã o ainda fica mais p e s a d a !

* *

O medico (a uma senhora de certa id a d e ) ;


— P ara Y . E x . só ha uma receita: é c a s a r .
— O S r . doutor é solteiro?
— Sou minha senhora; nós outros médicos,
porém, indicamos o remedio, mas não o to­
mam os.

E m uma casa de p a sto : 0 freguez roendo


um ’ osso muito escarnado, e fazendo, como quem
toca trom beta:
— T a ra tá tá , t a r a t á t á !
O moço:
Que está o senho.r fazendo? Endoideceu ?
124 ARSENAL DE GARGALHADAS

O freguez:
— Homem, você nem ao m enos leu ainda os
livros sagrad os? Pois nunca ouviu dizer que, ao
som da trombeta, se reunirá a carne aos ossos?

* * *

U m roceiro estando para morrer, manda o


filho cham ar o vigário para lhe applicar a santa
uncção. E r a uma hora da m adru gada. O vigário
d o rm ia . O rapaz, em vez de gritar, chama-o em
voz b a ix a . A o cabo de duas horas, o vigário ac-
corda, 'e sabendo do que se p a s s a v a .
— Ora, meu filho, a esta hora o pobre velho
estará morto.. <
— Não, seu padre, o compadre do papae dis-
se-ime que o divertiria emquanto seu padre não
chegasse com o bicho.

* * *
q *
U m credor entra em casa de um dos seus de­
vedores mais caloteiros, 110 momento em que elle,
ao jantar, ia trinchar twn enorme peru’ .
— Meu caro senhor, vinha vêr si afinal se
resolvia pagar-m e o que me deve.
— O xalá eu o pudesse fazer, meu caro am i­
go mas é-me completamente im possível: esti/;
arruinado, não tenho nem um real de meu.
O G A L H O F E IR O

— Pois adm ira! Quem não póde pagar a


suas dividas, n ão tem peru’ ao jan ta r.
— E sabe porque o vê aqui? — disse o deve­
dor com ar compungido, é :porque já nem dinhei­
ro tinha para o 'm ilho.

* * *

— Sabes que partiram cinco barbadinhos


j/ara cathechisar dous mil indios anthropo-
phagos ?
— C oitados! tenho pena delles, dizia um co­
milão. 0
— De quem? dos barbadinhos?
— N ão ! dos indios. . . Só cinco frades para
duas mil bocas!

—* * *

Certo sujeito recqmmenda ao seu boleeiro


que, quando sahir só, elle ponha uma besta no
carro; mas que, quando sahir com a mulher, po,-
nham-se duas, por ser a senhora muito avolum a­
da e p esada. No dia seguinte, diz elle ao boleeiro
que vae sahir e que aprompte o carro.
— V m c e . sahe só ou com a senhora? — per­
guntou o homem da boléa.
— Só — respondeu o sujeito.
O boleeiro vai e volta no carro com duas
bestas.
126 ARSENAL DE GARGALHADAS

Dons burros --- exclam a o _su jeito — dous


burros."!. . . X ã o ouviste o que te reçommendei?
Quando saio eu, sabe um burro; com a se«‘bora
é que "são duas bestas.

>{í íjí ijc

Dois advogados pleiteiam pela propriedade


de um poço, reclamada pelos seus clientes.
N o fim de contas diz o juiz, quasi não
vale a pena tanto barulho por 11111 pouco d’a g u a .
— Pelo contrario, S r . Juiz, di/. 11111 dos ad­
vogados. A causa é muito importante.»porque os
nossos clientes são negociantes de vinho.
* * *

Km 11111 collegio de m eninas:


O professor — D . Josephina, si lhe disser
que o cerebro feminino pesa 20 gram m as menos
que o masculino, que eonclue dahi?
1). Josephina — Que nos cerebros femininos
não entra questão de quantidade, mas sim de
qualidade.
% íK %

N o re s ta u ra n t:
— Que fim levou o coelho que sempre brin­
cava alli na área? — pergunta um freguez ao pa­
trão da c a s a .
1^7

P — O sr. hontem o comeu por íilct clc lebre.


__E por minha causa matou o pobre do bi­
chinho
: — Não senhor! Appareceu morto. Parece
que morreu de velho.
* *

f. — Parece-me cyje na sua cara estou vendo


um jardim; disse certo barbeiro a 11111 freguez ao
qual estava escanhoando os queixos.
' — Ora essa ! por que?
í; — Porque não lhe vejo-sinão cravos.
,

l — E ’ singular! — dizia 11111 velhote, procu­


rando —- não tenho aqui os meus oculos, pois ti­
nha-os agora mesmo aqui ao pé. . . E ‘ singular...
-— O avô engana-se — disse um rapazito, es­
tudante em uma escola municipal — oculos é plu­
ral e não singular.
;Jc s{c >}c

U m pai insistiu um dia com um filho m u ito '


preguiçoso para que se levantasse mais cedo de
manhã, e lhe contou a historia de uma pessoa que
tinha achado de manhã muito ccdo uma bolsa
com dinheiro.
í — E ssa é boa — redarguiu o menino a
Pessoa que perdeu a bolsa se tinha de certo le­
vantado ainda mais cedo! /
f-ft ARSENAL DE GARGALHADAS

E ra costume antigam ente cm S . Paulo os


sinos -darem signaes quando algum a mulher es­
tava com dores de parto e em perigo cie vida, afim
de que os fieis orassem por ella.
Uma vez certa igreja tocava a parto, e um
velho empregado publico tirou gravem ente os
oculos largou a caneta ao lado e poz-se a rp z a r.
— Que ^ isso — perguntou-lhe um outro —
tem então medo de morrer de.parto?
— A li! meu amigo, respondeu-lhe o velho,
neste mundo ninguém póde' dizer: d’esta agua
não hei de beber!

R einava grande altercação, á pròa de um n a ­


vio, entre dous m arinheiros. O commandante
chamou-os e inqueriu do caso.
— Senhor commandante, o meu companhei­
ro disse que o rei dos mares chama-se Neptuno;
eu disse que se chama Reptuno; palavra puxa
p a la v ra .. . .
— B e m ! disse o^ com m andante; cada um de
vocês vai tom ar vinte chibatadas para não se
metterem a discutir cousas da biblia.
* * *
U m padre estava prégando em presença de
pequeno numero de fieis.
De repente cahe um grande aguaceiro e toda
a gente que passava pela rua refugiava-se na
•igreja.
O G A L H O F E I RO

Reparando na causa do augmento do nume­


ro de ouvintes, disse o padre:
— H a muita gente para quem a religião ser­
ve de capa: para os que estão agora entrnndo,
serve a religião de guarda-chuva.

* * *

—- Quem te pòz os dentes ?


— O dentista Fu lan o.
— E stã o muito perfeitos.
— São tão parecidos com os naturaes, que
algumas vezes me d o e m .

* * *

N a China cadá medico é obrigado, de noite,


para indicar a sua morada, a ter accesas tantas
lanternas quantos doentes matou durante a sua
carreira.
Si no nosso ,paiz se fizesse outro tanto, que
economia para a illuminação m un icipal!
U m a noite um europeu percorria os intrin­
cados e estreitos bairros de Pekim , á cata d um
facultativo, até que, por ultimo, parou diante
d’uma porta modestíssima, porque só. estava
alumiada com tres lanternas.
— Filho de E sfu lap io , disse ao doutor, tu
deves ser o jnelhor medico d esta cidade! 1
— P o r que?
ARSENAL DE GARGALHADAS
_________________ _____________ _____ __-
— Porque só tens tres lanternas, em quanto
que os teus collegas penduram-nas aos centos.
— E sta differença consiste, replicou o chi-
nez, em que somente desde hoje de manhã e xer­
ço a m ed icin a.
% % *

— Ai ! senhor padre cura, deite-me a sua


benção, eu não ando em g ra ç a .
— Que dizes, meu filho?
— N ão ando, não, senhor, respondia lasti-
moso, um simples camponio. T o d as as noites,
ao p assa r junto ao muro do cemiterio, me perse­
gue uma A lm a do Outro M u n d o . . .
— S im ? E então que figura tem o tal pífan­
tasm a . . .
— Olhe, senhor padre cura, eu ainda não
pude ver bem, mas parece mesmo um burro.
— Não sejas medroso, isso ha de ser talvez
a tua som bra.
jjc íjc sfc

U m hespahhol ia sendo victima de um desas­


tre, quando em um lago esteve quasi a afogar-se
do qiu-e o livrou o facto de ter-se a garrad o a uns
ramos que encontrou.
U m am igo, vendo-o livre de perigo, disse-
lhe “ Gracias a D io s !”
— G racias a Dios, non! disse o primeiro,
gracias a la ramada, pues la intencion de Dios era
bem conocida de m ’a fo g a r!
O G A L H O F E IR O «31

No convento do Carm o, em Evora, ha uma


fonte de muito boa agua, e por detraz d ’ella re­
bentou um botão, que ainda é de melhor qualida­
de, e lhe chamam o Olho. Succedeu ir a E v o ra
um bispo, e (|iiiz ver as raridades da terra, e en­
tre estas se numera a fonte dos Padres do C a r ­
mo. Procura logo o convento, e seus donos lhe
mostram com franqueza e bom grado o que ha­
via de mais n o tá v e l: conduziram-n’0 á fonte, e
um dos frades pega no buzio, por onde se costu­
mava beber agua, enche-o e offerece ao bispo.
Bebe, e diz: Que bellissima agu a têm V ossas Re-
verendissimas aqui! Na cidade certamente não
ha melhor! Um dos frades, que assentou ser ain­
da pouco o elogio, diz: Pois V ossa Excellencia
não provou da melhor agua, que nós cá temos.
Envergonhado o bispo, da preferencia, diz: E
ainda haverá outra agua m elhor? Sim, (responde
o mais discreto) Si V ossa Excellencia provasse a
agua aqui do olho de traz, achal-a-ia muito
m elhor.

* * *

Um pregador montava 11111 burro, dirigindo-


se a uma aldeiola, onde devia discursar.
M as era tard e; comquanto o animalejo tro­
tasse bem não deixava de ser a miudo brindado
com uma cacetada, applicada com toda a força do
burriqueiro. Porém, tajnto apanhou que o vara-
; Pau p artiu -se.
132 ARSENAL DÉ GAN GALHADAS

N ao se desconcertou com n burriqueiro,


que á falta de cacete, foi-se remediando-com as.
pedras que encontrava pelo caminho e que arre­
messava ao pobre rocinante.
Por fatalidade uma das pedras foi acertar
nas costas do reverendo.
E h ! ó rapaz, gritou o padre, mais deva­
g a r ! Não toques mais o burro porque elle já me
deu um coice nas costas !
s? *1? %
E m geral o homem que perde um processo,
nenhum outro desaforo tem sinão dizer mal dos
juizes que pronunciaram a sentença em favor do
seu adversario. U m demandista, que se achava
nesse caso, lembrou-se de dizer alto e bom som
que, dos dois juizes que haviam julgado a sua
causa, um era pateta e o outro ladrão. Um dos
juizes, tendo conhecimento do caso, foi procurar
o outro, e tentou induzil-o a associar-se com elle
para apresentarem ambos uma querela contra o
homem que os injuriara. O segundo juiz decla­
rou que pela sua parte deitava a injuria ao des­
prezo e chamou pateta ao seu collega por dar im-
portancia a taes m isé ria s!
— A h ! agora estou mais tranquillo, replicou
o que queria intentar querela. O que mais me ir­
ritava era não saber a qual de nós se applicava o
epitheto de ladrão; mas, como acaba de confes­
sar que o pateta sou eu, claro está que o ladrão é
« meu prezado collega .
O S A L H 0 F E IR O

Entre caçadores.
■ « ísií^
Depois de uma prolongada palestra, em que
se ouviram as mais descommunaes patranhas,
um delles disse que vira uma vez unia lebre que
galgo algum poderia caçar, pois que, além das
patas ordinarias, possuía outras quatro sobre o
lombo, de modo que, quando estava cançada
dum lado, virava-se do outro.
j — D essas tenho eu morto muitas, acudiu
lo>go um hespanhol, que estava presente.
P- — C om o ?! interrogaram os circumstantes,
adm irados.
— Muito faciknente. A tando os meus dois
galgos pelo lombo ; emquanto um corre, descança
o outro que vai ás costas do primeiro.
* * $

U m sujeito emprestou a mula por uns dias.


U m am igo disse-lhe que devia sentir a falta da
mula. “ Qual h isto ria !” disse elle "d eix al-a andar
por lá bem tempo: o que ella havia de comer,
como-o e u . ”
* * *

Certo padre que curava uma das freguezias


do seu bispado, adquiriu o estribilho de — ou
coisa que o p a re ç a .
Qualquer coisa em que talasse vinha lo»« e
estribilho: “ Ou coisa que o p areça” , Rfn «cfta •€>
I

134 ARSENAL DE GARGALHADAS

casião encontrou-se elle com um rapaz e uma ra ­


pariga que se achavam em conversa de namoro, e
disse-lhes: — Vam os, vaimos, cazem-se, cazem-
se, ou coisa que o pareça.

N o tribunal, o advogado de defesa paria o de


a c c u sa ç ã o : ,
— Saiba, caro collega, quie estou a cavallo
sobre o C odigo.
— T om e cuidado, collega, deve-se descon­
fiar dos animaes que se não conhecem.
*' * *

O famoso Brum m el apostou com o principe


de Galles duas mil libras esterlinas em como o
levaria ás costas desde a iporta de H yd e -P ark , na
extrem idade de Picadilly, até a T o rre de L o n ­
dres, sem parar e sempre a correr.
A ceita a aposta, e fixada a hora, apresenta­
ram-se a Brum m el o principe e as testemunhas.
— O cavallo está preparado, disse B r u m m e l;
prepare-se o cavalleiro.
— E sto u prompto, disse o principe.
— Não de todo, é preciso tirar a casaca.
— Para que?
— Comprometti-me a levar V ossa Alteza,
mas não a sua casaca,a qual augm entaria o peso,
e é preciso cingir-se á letra da aposta.
O G A L H O F E IR O 135

— S e ja . J á podemos principiar.
t'1 " — Ainda não. A g o ra é necessário que V o s­
sa Alteza tire as botas, as meias, a c a m i s a . . .
§■£■ — Basta, basta, disse o principe, renuncio
a eífectunr a a p o s ta : aqui estão as duas mil libras.

* * *

Depois de um casamento, o bom do parocho


fez uma predica á n o iv a .
— A mulher, minha filha, deve sempre se­
guir o seu marido para toda a parte.
—- C^h! senhor prior, interrompeu ella, isso
commigo é absolutamente impossível, porque
meu marido é carteiro.

* * *

Dons estudantes, indo passeiar, viram um


carvoeiro conduzindo um burro por uma corda
presa ao pescoço. U m dos estudantes tinou a
corda do pescoço do burro, pol-a ao seu proprio
pescoço, e o outro safou-se com o burro. Tudo
isto sem o dono pescar. A certa altura o estu­
dante, que ia a fazer1 de burro, emperrou, e o
dono do burro voltando a cabeça para traz, em
logar do burro viu um homem. E ste disse: J á
seria tempo de se me acabar o fadario? E u anda­
va convertido em burro, e só hoje se me acabou a
penitencia. O dono do burro pediu muitos per­
dões, e cada um foi para sua casa. D ’ahi a poucos
1 36 ARSENAL DE GARGALHADAS

dias havia unia feira de bestas. O dono do burro


foi Já para comprar outro, e os estudantes man­
daram Já o que tinham furtado. Quando o car-
voeiro viu o burro, disse-lhe ao ouvido: O ’ burro,
quem o não conhecer que o compre, e saberá a
prenda que leva.

U m a senhora, entrando, com quatro filhos


pequenos numa quinta, dirigiu-se á casa do casei­
ro, com quem necessitava fa la r. A s creanças,
vendo ao canto da casa um grande monte de
peras e maçãs, começaram logo a co,mer a fructa
como umas desesperadas.
A mãe, assim que notou a semcerimonia dos
pequenos, pretendia reprehendel-os, quando o
caseiro, mostrando-se amavel, se lhe dirigiu, di­
zendo :
— D eixe comer os meninos á sua vontade,
minha senhora, aquellas frtictas, estão ali para
os porcos.

i
* * *

Q U E D O I S . ..
r
U m homem abastado, m orador em certa vil-
la, matou um porco, que tinha creado, e foi fóra
de tempo por lhe ver principio de papeira : porem
como nesta vilía era uso que todas as pessoas,
que matam porcos, mandem aos seus visinhos
O G A L H O F E IR O 137

presentes de carne do padecente, esse homem que


era bastante avaro, tinha recebido de todos os
seus visinhos e am igos a assadlurti dos porcos,
que cada um m atftu; e cogitando no modo, por­
que se livraria d’esse incoonmodo, lhe entrou pela
porta dentro um seu compadre, homem tido por
esperto em toda a terra ao qual contou o aperto
enj que se via, dizendo que um porco só não lhe
chegaria para os presentes que tinha a fazer. Si
fosse eu que matasse o porco, disse o compadre,
punha-o esta noite pendurado a tom ar ar na ja-
nella baixa do quintal, afim de que todos o vis­
sem, e de ser muito facil capacital-os que Os la­
drões o levaram , e pela manhã escondia-o, botava
fam a que m ’o tinham furtado, e ficava livre de
presentear alguiem. O compadre, dono do porqui­
nho, approvando com muita risada o conselho,
sem mais reflexão, foi pendurar o porco no
logar mencionado. A ’ noite o compadre es­
perto, por ser homem de uma vida muito
ajustada e não querer que o seu compadre
mentisse, foi fazer a operação de lh’o fu rta r. E is
qu^e o pobre dono pela manhã, quando viu a falta
do porco, bram ava e ju rava, que, si soubesse do
ladrão, lhe dària cabo da pelle. Sahiu para fóra e
encontrando o laberco do compadre, lhe disse:
Sabes que m ais? furtaram -m e o meu porco.
Bom, bom, lhe diz o com padre. A ssim é que
deves dizer. T eim a va o miserável dono: Não,
compadre, fu rta ra m -m o deveras. Replicava o
1 38 ARSENAL DE GARGALH ADAS

esperto: \ ai bem, vai bem, dize sempre*assim a


todos. T o rn a o pobre homem: Com o queres que
t'o diga, não é peta, é realidade. Respondeu o ou­
tro: Sempre assim, compadre, sempre assim, sus­
tenta isso mesmo e deixa o mais por minha con­
ta. não descubra a ninguém a tram óia. Ou&ndo,
ao mesmo tempo em que questionavam, passa
uma pobre mulher visinha, a quem o laberco ti­
nha mandado de esmola uma parte da cabeça do
porquinho, e bota-se-lhe aos ptes confessando-lhe
a grande obrigação, em que a deixára, e agrad e­
cendo-lhe muito a sua assadura.
O verdadeiro dono, que estava presente,
conrprehendcíu a marosca, ficou para não viver, e
com um cacete que trazia, deu-lhe a valer.

sfc H
* H
*

U m camponio que seguia por uma estrada


com uim burro, ficou deveras atrapalhado, quan­
do lhe disseram que naquelle sitio andavam uns
toiros que haviam fugido das m anadas.
O pobre que, ao quie parece, não era dos
mais valentes, com receio de ser victim a de al­
gum dos touros, chegou-se para junt o de uma pa­
rede onde se acocorou por detraz do burro.
U m cavalheiro que passava, perguntou-lhe:
— Que faz você ahi agachado, homenzinho?
Colloquei-me nesta posição por causa d'uns
to nr os que por ahi andam á solta > Si algum
d'elles vier para este lado. encontrará primeiro o

/
O G A L H O F E IR O 139

burro e, emquanto se entretem com elle, tenho eu


teiinpo de lhe pôr a salvo.
f — E então você não tem dó do pobre burro? !
1 — Tenho, sim, senhor; muito até; ter» sido
o meu ganha pão, mas sempre ouvi dizer: “ M o r­
rer por morrer, m orra meu pai que é mais
v e lh o ..
íj; >S«
] %

Um pintor, filho de P o rtu gal, estabelecido
em uma cidade do Brasil, querendo attrahir a a t­
tenção do publico, poz na porta da casa em que
morava o seguinte letreiro: — Vinte e dois P P .
—- O Governador da cidade, vendo aquelle le­
treiro, tomou nota do numero da casa e unandou
vir â sua presença o pintor para lhe explicar o
que aquillo vinha a dizer. A ppareceu este e sendo
perguntado, respondeu: — Chamo-me Pedro
Paulo Pereira Pinto Peixoto, Pobre Pintor Por-
tuguez ; Pinto Palacios, Portas, Paredes, Pilares,
Pannos, Painéis, Pilastras, Paisagens, Pyram i-
des, P a n o ra m a s. — Tornout-lhe o g overnador:
Estão só 19, faltam 3 . O homem accrescentou:
Per. Pouco P r e ç o .
Deu-se por satisfeito o governador, deu-lhe
uma quantia e disse:
São muitos P P . O Pintor retorquiu; ainda
tenho mais P P e são. Pareço Pobre, Porém P o s­
suo Patacas.
14® ARSENAL D E GARGALHADAS

E sta é de A lexan d re D um as:

Dous esposos requereram de commura ac*


côrdo o divorcio, poucos mezes depois de casados.
— Fizeram muito bem, disse uma pessoa: o
divorcio é a unica salvação para os cônjuges,
que têm demasiados defeitos para viverem em
paz. • -?*• «■•><*!
— Entretanto, observa Dumas, ter assim
em cojnmum os defeitos de ambos os cônjuges,
era um b e n e fic io .. .
— P o r que?
— Porque, si elles não houvessem contra-
hido matrimonio, em vez de um casamento ruim
haveria do'is! *• /
* * *

Um professor fazia uma amputação diante


de grande mumero de seus discípulos, e o pobre
paciente gem ia e so lu ç a v a . 1 rritado por ouvir
tantos ais, o homem da sciencia bradou para o
enfermo-:
— F a ç a favor de se ca lar; de outro modo
não nos entendemos! E stã o aqui, pelos menos,
50 pessoas e é o senhor o unico que se queixa!

— Conhece o D r. E lia s?
Perfeitam ente.
O G A LH O FEI RO i 4t
K __ _ -rv^---------------- ----------------------------- *---- - ---------- «*---

!r— A sua reputação como medico parec.e-me


universal, heim?
B U - Sim, estende-se até o outro mundo!
»
$ * $ .

N u m a sala:
Fala-se de orçamento. U m i economista faz
uma cotrferencia que não acaba nunca.
— Que vem a. ser a divida fluctuante? per­
gunta uma senhora.
O rçonomista zangado por ser interrom­
pido, responde:
— A divida fluctuante, minha senhora, o
seu nome assás o indica: é o orçamento
da m a rin h a .
% ífc % ^

— Com que então o pobre F e lix m orreu?!


— E ’ verdade, estava tisico.
— Que pena! T ã o novo ainda!
§£ — Elle é que teve a c u lp a .
— Com o?
— T ossia muito.
* * *

U m sujeito dizia a um seu am igo muito m i­


serável : tj '
—- Mas homem, é possivel que tu sejas tão
n d k u l o ! ? Diz-se que em tu-a casa todos têm
torne!
142 ARSENAL DE GARGALHADAS

— E ' falso! E m minha casa todo o mundo


está farto. Minha mulher está farta de mim, eu
estou farto de minha mulher, os creados estão
fartos de nós, e nós estamos fartos*dos creados.
* * *

Simplicio não lé bem as horas indicadas nos


relogios.
Ha tempos comprou um m agnifico relogio
de parede, e quando ouviu ó do vizinho bater
meia noite, foi observar o seu.
No dia seguinte, ao badalar do meio-dia, fez
o mesmo e sentiu-se de tal maneira descontente
com a compra, que se resolveu a desfazer o ne>
g o c io . í
— A qui tem a sua espiga, diz elle ao relo­
joeiro. Í.4 Í
— E s p ig a ? ! um relogio m agn ifico! um pên­
dulo fte l.
— O h! sim ! Fie-se nisso. U m diabo que
marca meia-noite, quando os outros batem meio-
dia ! * J
/&3... J
íjí :{c sjc
' >*
—7 T ire p r’a lá a p isto la !
T en ha juizo, senhor!
— Hei de varar-lhe a cachola
Com uma bala! — Oue horror!
O G A L H O F E IR O 143

F Mas que fiz eu, desgraçado,


P r ’a você me assassinar?
Í - — Que é que fe z ? !! Deu-me emprestado,
V " , Dinheiro pr'a me casar!
* * *

Dous m arselhezes:

— Quando estive no R io de Janeiro, fazia


tanto calor, e eu suava tanto, que era obrigado
a mudar uma >camisa de meia em meia hora — 48
caimisas por dia!
— Pois eu, meu amigo, quando estive na
A frica , era tal o calor ali, e suava tanto, que
dispensei o meu criado de me trazer banho pela
m anhã. . .
__?
— . . . M andava que deixasse uma bacia
enxuta debaixo da c a m a : no dia seguinte pela m a­
nhã estava cheia, e o meu banho prompto.
* * *

U m caixeiro, todo formalisado, dizia à um


a m ig o :
— Si o patrão não retira o que me disse hoje
Pela manhã, deixo a sua casa.
— Mas, afinal que te disse elle?
-«- Disse-me que podia procurar outro des­
tino .
744 A R SE N A L DE G A R G A L H A D A S

A C A V E I R A DO D IA B O

O padre Miguelote, parocho de V illa Clara,


costumava todos os domingos, depois da missa^
conventual subir ao púlpito,' e fazer uma predica,
dizer um pequeno sermão, aos seus parqchianos.,1
E m fins de outubro, approximando-se o Dia
de Finados, lembrou-se elle de falar sobre as
vaidades do mundo, mostrando que nada somos,J
e lembrando que a ,m orte a todos igu ala.
Tendo estudado a predica, recommendou ao
sacristão Zé Rendinha que, em certo momento, .
quando fizesse um signal, lhe trouxesse uma ca- !
veira, mas escondido dos assistentes.
A ' hora marcada, subiu ao púlpito e come­
çou. Quando chegou a occasião, fez o signal
combinado e Zé Rendinha correu a buscar uma
caveira, no ossuario geral do cemiterio, que fica­
va ao lado da ig reja.
Succedeu que, não havendo reparado, trou­
xe uma, em oujo interior maribondos tinham fei­
to ca 9 a .
Como o sacristão a trouxesse com todo o cui­
dado, embrulhada num lenço de ramagens, nada
houve de anorm al. Collocou-a no púlpito, aos
pcs do reverendo M iguelote.
O vigário, enthusiasmado, proseguia no ser­
mão, mostrando a fatuidade do mundo, das pes­
soas ricas, 'nobres, orgulhosas, que, depois da
morte, ninguém distingue.
O G A L H O F E IR O 145
-

— “ Sim, meus irm ãos! T odos nós somos


iguaes. Queni differença uma caveira de outra
caveira?!. . . De quem é esta c a v e ira ? !. . . "
E, dizendo estas palavras, abaixou-se e apa­
nhou a caveira. No auge do enthusiasmo, s a ­
cudia-a, elevava-a, abaixava-a, sem cessar de
in terrogar:
— “ De quem é esta c a ve ira?!. . . De quem é
esta c a v e i r a ? ! . . . ”
Os maribóndos assim sacudidos, puzeram-
se a voejar no interior da caveira, sem que o pa-
rocho o presentisse.
De subtto, porém, um delles sahiu zunindo e
(mordeu o vigário nas faces. O reverendo abafou
um grito e p ro seg u iu :
— “ De quem é esta c a v e i r a ? ! . . . ” E perdeu
o fio do sermão, sentindo a dor da íerroad a.
Então, segundo maribondo, e após terceiro-.,
quarto. . . quinto. . . sexto. . %todo o bando prin­
cipiou a sahir, ferroando o vigário na testa,'nos
beiços, no pescoço, na >cara, nas m ãos.
O padre M iguelote tentou prúseguir abafan­
do os gritos, mas perturbava-se e g a g u e ja v a :
— “ E s ta caveira é. . . é. . . é. . '
0 $ ouvintes não sabiam explicar o que se
passava, vendo a agitação do padre. A lg u n s cui­
daram que se tratasse de algum a caveira myste-
n o sa . Começou-se a ouvir um zum-zum,
M<s arsenal de gargalhadas

I)e repente um dos parochianos, que estava


maré.perto do púlpito, sentiu uma ferroada. Im-
mediatamente o u t r o s . . . Depois uma v e l h a . . .
L o g o após uma criança.
E sta va m todos am edrontados. Muitos olha­
vam para a porta procurando lugar para fu g ir.
O vigário, todo ferroado, todo picado, não
podendo mais aguentar, e havendo esquecido a
continuação do sermão, b e rro u :
— E ’. .. é . .. E s t a caveira é do*. . D ia b o ! . . . ”
E atirou fóra a caveira, que foi cahir no meio da
igreja, por entre os fieis de ambos os sexos.
Salve-se quem puder! Foi um dia de Ju iz o !
Homens e mulheres, velhos e crian ças,'ricos e
pobres, tudo debandou, caindo uns sobre outros,
machucando-se, ferindo-se, e s m a g a n d o -s e ... Só
se ouviam gritos, gemidos, pedidos de soccorro,
como si o Diabo em pessoa tivesse de facto ap-
parecido na pequenina igreja d e .V illa -C la ra .
* % ;fc

O conego Raposo havia passado a noite em


casa do conimendador Yereza, que casára a filha.
P o r esse motivo, estava estremunhado, tonto
de somno e de cansaço, aborrecido, contrariado,
vendo tanta geíite na greja, para confissão.
H a via quarenta annos que elle era vigário
de N . S . da Luz, e conhecia bem todas aquellas
devotas da freguezia, velhas, feias, importunas,
m assadoras, cheias de peccadilhos, as mais das
O G A L H O F E IR O M7

vezes cousas insignificantes, taes como m exeri­


cos, mentiras, corcovilhices, maledicencias, in-
triguinhas, o diabo.
H avia algumas, e n tã o ! Santo nome (fé Jesu s !
A Rita Padeira, a Si'nhá Chica do Morro, a Jose-
]>ha Pé-Pé, a M arocas L in g u a de P ra tá e dezenas
de outras. Iam para o coníissionario, e ali fica­
vam horas e horas a remoer peccados, a repisar o
(|ue diziam, n’uma importunação medonha.
Foi justam ente uma dessas, a Ouiteria do
Moinho, que veiu em primeiro lo g ar. Depois de
um interminável preâmbulo, mostrando-se muito
arrependida, gemendo,' suspirando, soluçando,
começou a contai a historia de um papagaio que
havia fu rta d o . . .
O conego Vereza deixava-a fala'".-, f a la r ...
sem a interromper. Em quan to ella falava, em
voz monotona de camto-chão, não poude resistir e
ferrou ne> sonrno, roncando muito baixinho.
A tia Ouiteria acabou finalmente a historia
do papagaio que fu rtá ra . E vendo que o padre
nada dizia, levantou-se, imaginando que elle lhe
daria a costumada penitencia de rezar uns tantos
padre-nossos e ave-m arias.
Levantou-se, e succedeu-lhe a Annhrhas L a ­
vadeira, que começou também uma infindável
lenga-lenga.
O reverendo Vereza despertou so b resaltado ;
e não tendo dado pela substituição da devota, ju l­
gando ser ainda a Quiteria do Moinho, indagou:
T4« ARSENAL DE GARGALHADAS

— “ £ que fez do papagaio, f ilh a ? ”


— “ Que papagaio, seu c o n e g o ? ! . . . " per­
guntou ArfnSnhas, esp a n ta d a .
—- “ O papagaio que você furtou, m u lh e r...”
-— “ Eu. não, seu c o n e g o ; eu nunca roubei
papagaio algu m . . . ”
— “ Mas você não começou dizendo que ha­
via furtado um p a p a g a io ?"
— “ Eu, n ã o . Só si foi a outra qu e.estava
antes de m im , . . ”
— “ A h n . . . a h n . . . H a .d e ser isso ” , disse
o conego. E levantando-se, acenou para o grupo
de devotas que estavam á espera da vez, g r i­
tando:
— “ Olá, senhora que roubou o papagaio,
faça favor de voltar cá, que lhe não dei peniten­
cia algum.a. ”
£ ** *
E r a na qtiaresma dé 1822, e na igreja de urna
íreguezia ru ral.
N a sacristia estava o parocho confessando,
e tinha a seus pés um pastori'nho dos seus. . . dez
annos, chamado A ntonico.
A ' porta da sacristia estavam muitos aldeões
esperando a occasião de serem absolvidos de suas
cu lp a s.
Entre o confessor e o pequeno penitente tra ­
vou-se o seguinte dialogo:
— A chaste algum a c o i s a ? . . . perguntou o
padre.
O G A L H O F E I RO
— — —.............. ......................... ......— ~ ...

— E u . . . a c h e i . . . sim, senhor.
— E não a restituiste?
— Não senhor.
— E r a objecto de valor?
— E r a . . . era. . . M as eu não d i g o ! . . .
— O que?. . . dize*
— Não digo, não senhor.
— Has-de dizer; na confissão nada se oc-
culta ; que era ?
— Ora, o sr. padre vai dizel-o !
— Não digo, não. O que aqui se conta, só
Deus é que o fica sabendo. O que f o i . . . dize,
avia-te.
— E stá a porta tanto p o v o ... podem o u v i r !...
Levantou-se o bom do padre; e chegando á
porta, ordena que todos se afastem para que o
penitente não tenha medo de que o ouçam ouvi­
dos* indiscretos.
V oltando para a cadeira, tornou o padre a
p e rg u n ta r;
— Que foi ? dize. . .
— A i ! . . . sr. p a d r e ! . . . e u . . . sempre lh'o
digo; o sr. padre não o vai d iz e r ? !... Achei no
logar da horta do tio Simão um ninho de pinta-
silgos com cinco p assa rin h o s; mas, pelo amor de
sr. padre, não diga nada a ninguém,'sináo
outros rapazes vão lá c furtam -m ’©.
ARSENAL DE GARGALHADAS

Uni orador sacro em Sexta-feira da P a ix ã o :

— Fo i neste dia, meus caros irmãos, que


morreu na divina cruz o Redem ptor da humani­
dade! . ^
— P a ra cá vens tu de carrinho, grita Ca-
limo, do fundo da ig reja. J á o anno passado ouvi
eu a mesjma coisa.
^ ^ *

O mesmo Calino tinha um formoso burro.


I í a dias, de repente, o animal cae ao chão e
m orre. ,
Calino olha para o cadaver, còntristado, e
murmura, cheio de desanimo :
— Aqui está o que nós s o m o s !
*
* * *

Quando a celebre Sophia ArtnOuld, foi visi­


tar Y o ltaire, disse-lhe este entre outras coisas :
-—A h ! menina, tenho oitenta e quatro annos,
e tenho feito oitenta e quatro tolices.
— Olhe que grande coisa! respondeu a açtriz;
eu que não tenho sinão quarenta annos, tefaho
feito mais de m i l !
* >!: *

Dois pintores hespanhoes encontram -se:

— Sabes que fiz um successo com o retrato


do general ? Salíiu tão parecido que as visitas que
O G A L H O F E IR O 151

en tram no quartel, cumprimentam a tela ju lg a n ­


do cumprimentar o origidial.
—- Isso não é nada, atalha o outro. Pintei
tão perfeito o retrato do conego que até é preciso
fazer-lhe a barba todos os dias, tão depressa ella
cresce.
jj! *

— Meu) filho, aconselha o pai: é preciso que


te deixes de tanta e xtra va g a n c ia .
— P o r que papae?
— Si continuas assim, não chegas ao fim da
v id a .
* * *

U m a senhora queixa-se de dor de dentes.


Um galanteador estouvado, arrisca:
— Porque não permitte V . E x . que lhe dê
um beijo? Passa logo.
— Não acredito. O seu remedio deve ser
magnifico para hem o^rhoidas.

* * *

— Não sabe sinão dizer tolices, dizia uma se­


nhora pouco bem educada a um homem que a cor­
tejava .
— Alguanas vezes commetto o crime de as
ouvir, torna elle, e ago ra apanhou-me V . E x . em
flagrante delicto.
1 52 ARSENAL DE GARGALH ADAS

>' n frade est.iví á mesa, entre dois jovens,


que faziam escarneo delle. “ V ejo, disse elle, que
os senhores escarnecem de mim. V ou clar-lhes
uma idéa verdadeira do meu caracter. N ão sou
realmente um tolo, nem um louco, estou entre
uma coisa e o u t r a . ”
* * *

U m bebedo, encostado a um lampeão de es­


quina, bota as tripas pela boca.
. E m meio da operação, olhando fixamente
para o chão, resmunga, emquanto um cão fam in­
to lhe lambe o vom ito.
— Sim, s e n h o r .. . Feijão, e u . / , comi; a r­
r o z . . . t a m b e m ... comi. M a s . . . c a c h o r r o ? ...
Como é que estou lançando cachorro, si não comi
c a c h o r r o ? ...
* * *

U m solteiro — J á me disseram que os ho­


mens casados vivem mais tempo que os solteiros.
U m casado — Talvez, pelo menos parece o
tempo mais comprido.
;|í ;Jc íjí

— Diga-me, m am ã: quando o P a i do Céo vai


jan tar, os criados põem-lhe na m esa trez ta­
lheres?
— T re s talheres?! por que?
— Purqtie. . . sendo tres pessoas distinctas...
153'

Um cão, de lata ao rabo, vai a correr deses­


emquanto . que um pequeno, que
p e radam e nte ,
lh a pregou, ri-se a bandeiras despregadas.
— Porque gostas tanto de ver soffrer o po­
bre bichinho?!
— Pelo contrario, m am ãe; elle é que gosta
tanto de trazer lata ao rabo, que, assim que se
viu com ella, deitou a fugir com medo que eu lh’a
tirasse.
* * *

U m frade, escrevendo* a uma freira que es­


tava no convento das C h agas, fez assim o sobre-
scripto:
“ A sra. d. Antonia das C hagas, e, em sua
ausência, a sua mana d. Felippa das mesmas, no
convento d e lla s. ”

*tj }'{ ji{

S E G R E D O EM BOCA D E M U L H E R ...

E ra uma vez um marido que quiz experi­


mentar si sua mulher seria capaz de lhe guardar
um segredo. E sse marido, t}ue vivia em Rom a,
um dia. pouco depois do casamento, chamou pela
manhã a mulher e disse que precisava de lhe con­
fiar um grande segredo. Dizendo isso, fechava
muito c u i d a d o s a m e n t e a s portas do quarto, corria
154 ARSENAL DE GARGALHADAS

os reposteiros, e tomava todas as precauções para


que ninguém o ouvisse. Depois de todos esses
cuidados, em voz muito baixa, disse-lhe, com
cara muito afílicta que elle, todas as m adrugadas,
como uma gallinha, p u n h a . . . um ovo! A mulher
olhou-o espavorida, e jurou que guardaria
maior segredo de tal defeito. Dito o juramento,
o marido sahiu e a mulher, num prompto, correu
ao quarto da m ãe: e ali, obrigando-a a juram en­
tos terriveis, disse-lhe os seus desgostos; o ma
rido, todas as manhãs, p u n h a . . . dois ovos! “ A
mamã não diga 'nada, o u v i u ? . ... j u r e ! ” E a mãe,
debulhada em lagrim as, jurou. Sahe a filh a; e,
quasi logo depois, entra em casa o sogro do g era ­
dor d 'o v o s . “ A i ! marido da minha a lm a ; o que eu
tenho que te con tar!. . . ” E , immediatamente no
m aior segredo, confidenciou-lhe que o genro pu­
nha. . . tres ovos! N ada menos que tres! E x a c ta-
mente como uma gallinha bem tratada e fe c u n d a !
O sogro apertou as mãos na cabeça e entre juras,
prometteu o maior sigillo. Dois dias depois, o
marido-gallinha é chamado ao Santo P a d re. V a i
ao V a tic a n o . Abi, Sua Santidade diz-lhe que o
nueria conhecer, por lhe constar ser elle um g ra n ­
de phenomeno: que elle punha, todas as manhãs,
cem ovos ! O marido riu e contou a Sua Santidade
o que h avia: desejoso de conhecer si sua mulher
g u ard ava segredo, dissera-lhe que puzera u,m
ovo, que a voz publica tran sform ara. ... em cem!
“ Sim — diz o Santo Padre — deve ser i s s o . . . A
O G A L H O F E IR O 155
------ »
mim tanibm me disseram que o meu amado filho
punha, todas as manhãs, noventa e nove ovos...
k vai eu. accrescentei-lhe mais um por minha
conta. . .
Ora ahi está o que é a opinião publica, é
como ella ás vezes se fórma!
íjí * %
Um inglez, (|ue quasi nada entendia de por-
tuguez, apaixonou-se por uma moça em certo
b aile.
E sta v a doido ,por declarar-se, m as não sabia
de que modo se havia de explicar. A final, passan­
do por uma mesa de jogo, o az de copas, que tem^
a forma de um coração, suggeriu-lhe uma idéa.
Perguntou a um dos jogadores 0 nome da
carta, foi direito a ella e impingiu-lhe: ___
— Póde vae embora, sua retrata fica na meu
az de c o p a s !

* * *

N a delegacia:
i ^
; — Onde mora você?
— Moro com meu irm ão.
— Onde morá seu irmão?
— M ora coimmigò.
— E onde moram os dois, com os diabos?
— M oram os juntos.
JS6 ARSENAL DE GARGALH ADAS

A um juiz ordinário do seculo passado, fo ­


ram conclusos uns autos para dar a sen ten ça; mas
como era demasiadamente ordinário, e não sabia
como se desenvolver, lavra a seguinte sentença:
“ V isto que esses autos se acham tão intrin­
cados como trezentos diabos_. mando que lá se
avenham . ”
* * *

U m a mulher viu cahir um soldado do caval-


lo a b aixo. Betm conheceu ella que foi quéda; mas
não esquecendo o caridoso conselho de que não
se deve augm entar a aíílicção do afflicto, disse-
lhe com muito bom modo: “ P a ra que se apeou,
cam arada? Si carecia d’algum a coisa, podia
dizel-o!”
* =;• *

U m professor, depois de ter dado alguns


bolos em um discipulo, por não ter sabido a car­
tilha, chamou-o e ordenou-lhe-que dissesse o P a ­
dre N o sso.
O .pequeno a chorar:
— Padre N o s s o . . ,
— A d ia n te . . •
— Que estás no céo.\ .
— A diante.
— Santificado. . .
—* Adiante, seu b u r r o !
—* S eja o vosso n o m e . . .
O G A L H O P E IR O „ 157

P ara curar febres podres,


Um doutor se foi chamar,
Que feitas as cerimonias,
Começou a receitar.

A cada pennada sua


O enfermo arrancava um ai!
Não se assuste, (diz Galeno)
Que ainda d’esta se não vai.

—- A h senhor! (torna o coitado,


Como quem seu fado espreita)
Da molestj^ não me assusto,
Assusto-m e da receita.

* t- *

E ntre a m ig o s :

— T u te queixas do peito. O lh a ; eu já estive


assim e o medico mandou-me m orar por cima
de uma coch eira. . .
— E ficaste bom? Comprehendo isso: a cal­
ma, o socego, a vida em fa m ilia . . .

* %

Certo rei viu em sonhos tres ratazanas, uma


muito gorda, outra muito m agra e a ultima muito

1 58 ARSENAL DE GARGALH ADAS

Alguer», querendo esclarecel-o, interpretou


este sonho da seguinte forma :
— Senhor a ratazana gorda é o vosso mi­
nistro da fazenda: a m agra é o povo, e a céga
sóis v ó s !. . .
* *

Num a escola de instrucção primaria era cos­


tume, quando o mestre espirrava, dizerem os m e­
ninos: Dominus tecum!
U m dia entra o mestre na aula muito consti-
p ad o .
Choviam os Dominus tecum de tal maneira
que o homem, furioso, bradou:
— A rre, diabo! com tanto Dominus tecum!

* * *

No juiz de paz:

— E ’ viuvo?
— Sim, senhor, e venho aqui porque desejo
casar segunda vez.
O juiz de paz, unais amedrontado que irri­
tado :
— Prendam -n’o! E s tá doido!

* * *

U m g ajo olha demoradamente o céo.


P a ssa um curioso e pergunta-lhe:
O G A L H O F E IR O 159

— O senhor é astronom o?
— Não, senhor; sou pertuguez.

* * *

U m padre no púlpito:
I — Meus filh o s . . .
U m bebedo adm irado:
p — O lá! então você sempre os tem?
í|c í|í ;}c

— Então você, seu patife, enganou-me? X o


quadro que me v e n d e u ,Jê -se : E ’ original de R u ­
bens, e afinal não passa de uma c o p ia !
— Ora essa! E n tão não diz lá cpie o original
é de Rubens?
* * * v
P* O preguiçoso é irmão do m endigo.
ífc H
5
Não se póde e xig ir que uma goiabeira dê la­
ranjas. í
:|c * *
O que o diabo não póde, a mulher o faz.
. * * *
í Dois pilotos fazem um barco ir ao fundo.
* * *
Quem tem a vista curta deve olhar de perto.
i6o ARSENAL DE GARGALHADAS
J —-— ~ ............ - ..........-..
M ais vale não adquirir .que perder.
* * *
O velludo e a seda apagam o fogo da cosinha-l
*'
Quando se está na dansa, é preciso dansar. ]
* * *
A despeito dos médicos, viverem os até
m orrer.
x * *
Quando não se tem boa cabeça, é preciso ter»
boas p e rn a s.
íjc >js j |c

A arte. é occultar a a r t e .
* $ *
Quem mais sabe, mais aprende.
* * *
Quem tem arte, em todo lugar tem parte.
* %*
E stan darte velho, honra o capitão.
* * *
Segundo o fructo julga-se a arvore.
, ** *

A s rosas eahêm, ficam os espinhos.


* * *
F ig u ra de mel, coração de í é l .
* * *
Quem quizer branquear um preto, perde o
seu s a b ã o .
O G A L H O F E IR O 161

Nem tudo que se escreve é E va n g e lh o .


* * *
Poucos bens, poucos cuidados.*
* * *
Quêm nada tem, nada é. /.
* * *
Nunca mostres o fundo da tua alma e da
tua b o ls a .
• * * *
A bram os os olhos para que os outros não nos
abram .
<
* * * . * *
U m cerebro ocioso é a officina do diabo.
*
* * *
A grande sciencia da vida resume-se em —
ter fé e esperar.
* * *
/
O C O M P A N H E IR O DO F R A D E

No periodo mais sairguinolento da época do


Terror, na Revolução Franceza, o nevoeiro es­
pesso particular ao norte da F ran ç a exh alava em
uma noite seus vapores fé tid o s.
Nem nana lanterna illuminava as ruas deser­
tas da pequena cidade na qual passaram -se os
acontecimentos que vamos narrar.
162 ARSENAL DE GARGALHADAS

L á pelas dez horas dessa noite, um velho en-


tre-abriu com precaução a porta de uma pobre
casa situada nos baixos quarteirões' da cidade, es­
preitou em roda de si com receio, e aventuròu-se,
finalmente, a por o pé de fora, deslisando ao lon­
go dos muros, de modo a trahir o menos possivel
a sua presença. A despeito do rigor da estação
cam inhava com a cabeça descoberta e m urm ura­
va orações.
A póz sete ou oito minutos de uma carreira
cheia de angustia, durante a qual levou por vezes
a mão ao peito, como um honu m que teme perder
um thesouro que traz, chegou ao alto da cidade e
entrou em uma casa, cuja porta se abriu sem que
elle houvesse dado signal. O velho tremia e de
sua fronte calva corria um suor gelido; o burguez
que veiu abrir-lhe a porta, tinha os òlhos verm e­
lhos de chorar e logo.prostrou-se de joelhos e co­
meçou a orar.
() velho collocou-lhe a mão sobre o hombro
è o burguez acendeu uma véla e caminhou adian­
te do seu visitante noturno. C h egaram assim a
um quarto ao rez do ch ão*ito qual agonisava uma
moça e junto delia chorava a pobre mãe.
O velho desembaraçou-se do amplo capote
e vestido de sobrepeliz e com a estola sobre o pei­
to, tirou então respeitosamente do seio um pe­
queno ciborio de prata e um outro vaso do mes­
mo metal, ajoelhou-se, adorou o pão divino e
depois de teí-o collocado sobre uma especie de
O G A L H O F E IR O

R lta r improvisado, dirigiu baixinho algum as pa­


l a v r a s á enferma, cooneçando as tocantes cere-
nionias da extrema unçào. O coração mais endu­
recido, o espirito mais philosophico desses tristes
t e m p o s não teria sem emoção, assistido a essa
cerimonia santa, a estas consolações, trazidas
com perigo de vida por um velho padre a uma
menina moribunda'.
f
Apenas tinha elle acabado as unções com o
oleo consagrado, fez-se ouvir uma pancada vio­
lenta na porta em seguida uma voz rouca e bem
conhecida, a do pregoeiro publico membro do
Tribunal revolucionário, que g rita v a : A b ra em
nome da lei. ^
O padre persignou-se e ajoelhou-se como
martyr, prompto a morrer pela fé: a pequena
doente encontrou forças para segurar o crucifi-
çado collocado junto do seu leito sobre o atear, e
.occultou-o rio seio devorado pela febre.
O pai, apoz uma curta reflexão, murmurou
algumas palavras ao ouvido de sua mulher e em-
quanto esta levava o velho padre para uma adé-
Jía>elle apagava as velas, retirava a toalha do al­
tar e com ujn passo que propositalmente tornava
sonoro, dirigiu-se para a porta da rua, que só
:>briu depois de ter feito g y r a r uma infinidade de
feitplhos, fechaduras e trancas de ferro.
■ — H a aqui um padre! rughi o pregoeiro pro-
terindo as mais horriveis blasphem ias.
iÓ4 ARSENAL DE GARGALHADAS

— Só ha unia menina que ago nisa! re sp o n J


deu gravem ente o burguez.
O sacripante e os quatro patifes que o acom
panhavam revolveram a casa toda sem encontrar
a presa que buscavam .
— E u o vi. 110 amtanto, sahir de casa e des -3
apparecer nas proximidades, desta, resmungou o j
pregoeiro. E ' que ha aqui algum esconderijo,!
• mas havemos de dar com elle.
E em seguida, dirigindo-se a um de seus]
—agentes, disse: — Colloca-te 110 corredor, toma
sentido em tudo, q'ue eu vou relatar o facto ao]
cidadão representante.
Sahiu, levando os seus homens, com exce-
pção de um só que installou-se no vestibul o .
— Elle está salvo? murmurou a moça com
a sua voz fraca que ella tornava mais fraca ainda.
, O pai respondeu por signal affirimativo e a
mãe inclinou-se para o ouvido da moça para alii
deixar estás p alavras.
— E s tá 110 sfubterraneo.
X o norte da F ra n ç a a maior parte das ade­
gas tem dois andares,-e o ultimo communica mui­
tas vezes com subterrâneos que se estendem por
baixo de uma parte da cidade. Foi em um destes
subterrâneos que a mulher do burguez conduziu
Frei E u stach io. Deixando-o, ella teve bastante
sangue frio para despejar por cima do pequeno
alçapão que dava entrada para o subterrâneo
dois saccos de batatas.
O G A LH O F E IR O

f O juiz do tribunal Revolucionário não per­


cebeu esta abertura.
^ No dia seguinte retiraram o agente, depois
de.ameaçarem o burguez com a guilhotina, se
elle tivesse dado asylo a um frade, porém, o que
é mais curioso, a chegada da guarda revoluciona­
ria qperou uma crise salutar na menina e esta,
depois de passar uma noite pacifica despertou
convalescente.
No emtanto, era preciso fazer sahir o frade
do subterrâneo. A o amanhecer soubera o bur­
guez que haviam collocado sello na casa de Frei
Eustachio. Quatro cabeças cahiriam se o frade
fosse descoberto em sua casa .
O burguez, e principalmente sua mulher, não
perderam nem a coragem, nem o sangue frio.
Ella esperou que batesse meia noite e cm-
quanto seu marido, com o ouvido na fechadura,
ouvia os ruidos da rua, levou ao religioso, em um
cesto provisões e luz, informando-o de tudo quan­
to se p a ss á ra .
Em seguida improvisou para Frei Eustachio
uma cama, uma mesa e uma p o ltro n a . - Deixou-
lhe provisões em abundancia, um isqueiro para
fazer lume, um candieiro e um fogaréiro cheio de
brazas. Feito isto, tornou a subir.
B Frei Eustachio pertencia a uma das ordens
uiais ricas do paiz. E r a um benedictino de Y a u -
P*lcs. Depois de t o m a r a sua refeição. F r e i Eus-
achio entregou-se ás suas orações, quando um
i66 ARSENAL DE GARGALHADAS

, ruido estranho fel-o levantar a cabeça, e, á cla­


ridade do candieiro, avistou uni animal que pa­
recia olhar em torno de si com surpreza, e que
sentado sobre as patas trazeiras, m ostrava mais
adm iração do que medo á vista do novo hospede
do subterrâneo.
T udo é distracção para um p rision eiro ; (^iso­
lamento encarece os incidentes mais vu lgares.
Frei Ejustachio conservou-se immoyel para
/não intimidar o anim al. E ste que era um rato
preto, especie quasi desapparecida hoje. farejava
os restos do jan tar do frade.
Evidentem ente morria de vontade por to­
mar parte nelle; o pão branco, os restos de carne
pareciam-lhe muito mais appetitosos que os re­
síduos do esgoto que constituíam sua refeição ha-’
bitual. Levantou-se sobre as patas, ífvançou, fa ­
rejou, ouviu c afinal caminhou resolutamente
para a mesa, apanhou um pedaço e sahiu na car­
reira a metter-se em um buraco visinho.
F re i' Eustachio am assou um pedaço de pão, *;
distribuiu os fragm entos, de distancia em dis­
tancia, desde o buraco do roedor até junto ao pé
da m esa. O rato reappareceu, comeu as m igalhas
uma a uma vindo tom ar a ultima entre os pro-
prios sapatos do religioso.
N o dia seguinte já o rato comià na mão do
frade, depois acostumou-se a subir aos seus joe­
lhos e tornou-se de uma familiaridade adaniravel.
O G A L H O F E IR O 167-

O frade poz-lhe o nome de Jacqu es e este


adqu,iriu uma infinidade de hábitos que davam ao
recluso 11111 espectáculo divertido. Jacques ter-,
nou-se delicado e conhecedor de guisados, desde­
nhava o pão secco, escolhia os bocados mais sa­
borosos e chegou até a beber vinho e mesmo
aguardente, tomando muitas vezes a sua carras-
pana. cousa que muito divertia o frade.
T res mezes assim se passaram , quando uma
manhã o burguez penetrou ruidosamente no sub­
terrâneo e exclam ou:
— E sta m o s salvos! O tempo das creatUras
honestas chegou. A cabeça de Robespierre cahiu
I*— justiça do céo, sob o cutello da guilhotina (pie
elle proprio levantou. E sta es livre.
Erei Eustachio agradeceu a Deus com lagri­
mas de alegria nos olhos e subiu precipitadamen­
te. A o chegar claridade e ao vêr o céo sentiu
uma verdadeira v e rtig e m . Depois correu depres­
sa para sua casa, afim de tornar a ver os seus li­
vros queridos.
Im aginem a sua felicidade! os seus livros
não estavam dispersos, nem rasgados.
E m seguida recebeu anuitas visitas. Seus
am igos vinham felicital-o e abraçal-o; seus peni­
tentes pediam-lhe para ouvil-o em confissão; fi­
nalmente, no dia seguinte, ao romper do dia cele­
brou a missa em presença de um grande numero
de fièis reunidos em sua pequena casa.
/68 ARSENAL DE GARGALHADAS

Depois do almoço Frei Eustachio oüviu um


alvoroço na rua. Dirigindo-se á janella viu um
bando de meninos armados de pedras e paus que
perseguiam um rato preto coberto de lama, feri­
do e desorientado.
A o chegar em frente á janella o rato parou
e, apezar dos projectis, ganhou a janella por um
salto desesperado e atirou-se no collo do frade.
E ste reconheceu Jacques, Jacqu es moribundo,
Jacques, que, guiado por seu m aravilhoso olfacto,
viera procurar o seu higrato am igo atravez de
tantos obstáculos.e perigos.
O pobre animal lambeu as mãos de Frei
Eustachio, lançou sobre elle um olhar cheio de
ternura e morreu1.
O frade sentiu os olhos humedecidos pelas
la g r im a s .
— A h ! disse elle, tu fostes fiel, e eu m isera­
velmente descuidoso.
D esta vez ainda o animal tem o direito de
fazer enrubescer o hom em ; foi melhor do que
e lle !
* * *

U M A M IN A D E S A L

Peters e Ja m e s Anderson eram primos ir­


mãos . Peters, tendo vindo ao mundo antes de J a ­
mes, tornou-se herdeiro de uma renda de trezen­
tas libras annuaes, que ao morrer o avô de ambos
O G A L H O F E IR O 169

havia deixado para aquellç de setrs netos que na­


scesse prim eiro. O mesmo aconteceu em todas as
outras cousas da vida.
I No collegio P e ters occupou sempre os lu ga­
res que precediam immediatamente os que seu
primo obtinha. Quando, mais tarde, entra-
traram para a casa do mesmo negociante, Peters
tornou-se successivamente o primeiro caixeiro e
socío de seu patrão, ao passo que Jam e s não po­
dia occupar senão ,o degrau de onde o seu feliz ri­
val acabava de retirar o pé.
t Em quauto se tratou somente de hierarchia e
fortuna, Jam es, que dedicava a seu primo um a
amizade sincera, retribuida aliás, não se sentiu
m agoado; abandonou-se porém a um verdadeiro
desespero, quando soube que Peters havia alcan­
çado a mão da encantadora miss Herriet Cam-
dem, na vespera do dia em que elle Jam es, havia
formado o proposito de pedir a moça em casa­
mento.
I Com o coração despedaçado, resolveu afas­
tar-se para sempre de um tão fatal supplantadorr;
solicitou, pois, e obteve um emprego lucrativo
em uma adm inistração recentemente formada
Para explorar uma ininá de carvão que um enge-
phei.ro chamado G rey descobriu em Northw ich.
X — L o g o que haja distancia entre nós, dizia
. ames comsigo mesmo, escaparei talvez á mal-
^*ta influencia que me acabrunha e persegue.
ARSENAL DE GARGALHADAS

Partiu, pois, com a firme resolução de pedir


ao trabalho e á ausência a fortuna e o olvido de
um amor infeliz.
Chegado ao termo de sua viagem procurou,
das alturas em que se achava, descobrir a habf-
J a ç ã o que devia habitar e a officina (pie devia di­
rigir. Só deparou diante de si um estreito valle,
cercado por collinas abruptas, atravessado por
um regato e coberto de pastagens e plantaçõèsl
Apeiou-se e dirigiu-se para um telheiro cuja con-j
strucção muito incompleta tinha um cunho poucoi
attrahente de im provisação.
Debaixo deste telheiro achava-se um gentle-1
m m gravem ente sentado sobre uma viga, porí
falta de c a d e ira .
— Tenho a honra de fallar ao S r . G r e y i
para queiu me entregaram esta carta?
O S r . G rey respondeu silenciosamente p
uma leve inclinação de cabeça, tomou a carta e]
leu-a duas.vezes: desde a data até a a ssig n a tu ra .l
Depois tornou a colloear a carta no envelop-J
pe,*inetteu este em uma grande carteira que mer-j
gulhou no bolso do casaco e levantou os olhos]
para o moço.
— Que alojam ento occnparei eu? Onde 01-
ganisarei os meus escri])torios? p e rg u n to u
Ja m e s .
O gentlemen indicou-lhe com o dedo o
lheiro.
O G A L H O F E IR O 171

Jam es, por um esforço sobrehumano repri­


miu o seu desapontamento e accrescentou :
1 — A mina fica-distante?
■> O S r . G rey abriu a porta e mostrou, a dez
passos de distancia alguns trabalhos apenas á
flór da .terra.
Com sigo mesmo Ja m e s rum inâva se o enge­
nheiro era um homem de íntelligencia superior
ou um rematado estúpido.
N ão tardou a adoptar esta ultima opinião,
comprehendençlo que'era preciso, 11a exploração
da mina, tudo crear, inclusive a própria mina.'
No emtanto, isto não o abateu, cremos mes­
mo que alegrou-se com o facto.
Não ia, finalmente trabalhar só? Ser o nnico
a dar provas de actividade e talento? N ão ia, pela
primeira v e z na sua vida. caminhar só. sem vêr
erguer-se diante de si este primo que- se tornara
-para elle um objecto de' colera, de inveja e ciume;
um pesadello perpetuo e muito t^ealJ.
Estim ulado por estas idéas, installou-se 110
telheiro assim como Deus foi servido, jantou con­
forme poudé. deitou-se mo chão, levántou-se ao
romper do dia. partiu para a aldeia visinha e
trouxe, duas horas depois, cincoenta operários
nue apresentou ao S r . G r e y . Despertado em so-
bresalto, este sentou-se, esfregou os olhos,
olhou para todos os operários, levantou-se, foi a
uma fonte visinha fazer copiosas abluções e vo l­
ARSENAL DE GARGALHADAS

tou vestido com tanto esmero como se sahisse de


um gabinete de toilette.
Consentiu em seguir finalmente Ja m e s e os
operários ao logar em que se achavam traçadas
as circUmvalações da mina.
Com eçaram retirando uma espessura de tres
ou quatro pés de terra v e g e t a l.
P o r baixo das camadas de argilla encontra­
ram camadas de argilla *e m arga, vermelhas,
azues, pardas e chegaram finalmente a uma pro­
fundidade de cento e vinte pés. E s ta s excava-
ções duraram tres mezes.
A ’ medida que o poço aprofundava-se iam
guannecendo-0 de uma arm ação de madeira para
evitar os desmoronamentos.
O S r . G rey via fazer-se tudo e não proferia
uma palavra.
Encontraram , finalmente, um terreno preto,
resistente, que lascava em pedaços brilhantes aos
golpes da picareta. Cham aram a grandes gritos
o S r . Grey, pois Jam es achava-se entre os operá­
rios. O S r . G re y sentou-se commodamente no
tonnel que servia para elevar o desaterro da mina
e transportar os mineiros, tomando im aginaveis
precauções para que nada pudesse comprometter
a sua descida subterranea.
Quando chegou no fundo, Jam e s apresen­
tou-lhe uma pedra. Com a extrem idade de seus
dedos enluvados, o engenheiro tomou o pequeno
O G A L H O F E IR O 171

bloco, examinou-o, sopesou-o^ olhando para J a ­


mes de frente. Este impaciente, gritou-lhe:
— Não é c a r v ã o : é s a l !
O S r . G rey recomeçou o seu exapie, levou
a amostra aos labios e fez estalar a lingua contra
o céo da boca.
— E xcellente sal! disse elle.
E trepou no tonnel para que o fizessem sahir
d a m in a .
Jam e s apressou-se em escrever aos seus pa­
trões de Londres, communicando-lhe um aconte­
cimento tão pouco previsto.
Recebeu uma carta que apenas continha
estas p a la v r a s :
“ O sal dar-nos-ha mais lucros de que o car-
vao. Despeça o S r . G rey do serviço. A ugm en -
tamos cem libras aos vossos honorários. ”
Jam e s ficou só, por conseguinte, só para di­
rigir a exploração da mina de N orth w ich .
Ricam ente remunerado, adorado pelos ope­
rários, levava neste canto da terra, uma vida de
isolamento e de trab alh orq u e não trocaria pela
do lord chanceller. Soberano, sem contestação, do
seu pequeno reinó, apaixouara-se seriamente
pelos trabalhos que ordenava e dirigia. Pouco
depois casou-se com uma bella rapariga, da qual
no fim de quatro annos já tinha dois filhos.
A p ó s a morte do director da mina Ja m e s viu-
se eleito director da Sociedade em commandita
para a exploração das minas de sal de Northwich.
174 A R S E N A L DE G A R G A L H AD A S

E s ta s minas, que contavam sete fossos produ­


ziam por aimo dez mil toneladas de sal gemma
de excellente qualidade e que era vendido por
preços consideráveis.
Um dia elle ouviu gritos nas minas e viu
operários sahirem precipitadamente por todas
as aberturas, pallidos de terror.
— A s aguas, exclam aram elles, as a g u a s! In­
vadem as galerias, abatem os pilares! D estruí­
ram todos os trabalhos!
Jam e s, allucinado, correu ás m inas. Não so­
mente a agua chegava até á beirada dos fossos,
como agitava-se no interior como um m ar furio­
so, ameaçando fazer irrupção fo ra. A o mesmo
tempo, sinistros abalos faziam desm oronar as
casas, o terreno rachava em diversos logares e
afundava rapidamente. T od a a população das
minas teve que fugir precipitadamente para as
aldeias v isin h a s.
No dia seguinte um lago, com a largura de
muitos acres, cobria com as suas agu'as immo-
veis estes logares o u tr’ora tão prosperos, tão
cheios de movimento e de vida.
A catastrophe não só arruinou Jam es; como
lhe acarretou muitos processos e censuras de ne­
gligencia e impericia, que lhe valeram uma triste
reputação de imprevidencia e incapacidade. Os
fanaticos da vespera tornaram -se os seus adver-
sarios encarniçados e irreconciliaveis do dia se­
guinte.
O G AL HO F E I RO 175
■ '—
"
Reduzido á miséria e repellido por todos
^ aquelles a quem pedia trabalho, luctou durante
r cinco annos em Londres, e um dia, sem saber
«perfeitamente o que fazia, dirigiu-se para os la-
l dos de Northwich .
[ A o chegar a quatro milhas pouco mais ou
I menos do lago, admirou-se vendo no valle, outr'
* ora esteril e deserto, uma usina em plena explo­
ração e da qual nunca tinha ouvido fallar. Obser-
T vou machinalmente a fabrica q>ue envolvia-se con­
stantemente de uma espessa nuvem de fum aça;
■ compunha-se ella de.grandes telheiros cheios de
i um vapor branco no meio d-o qual percebia-se
um exercito de operários.
Estes operários enchiam de agua immensas
f caldeiras de ferro. E m cada caldeira observava-
• se uma substancia branca e granulosa que lhe
[' guarnecia as paredes, ao passo que uma outra ca­
mada form ava-se 11a superfície da agua em ebu­
lição. J
— Senhor, disse a Ja m e s 11111 cavalheiro que
I 0 observava a algum tempo e parecia querer re-
I conhecel-o. A dm iraes sem duvida os ricos produ-
E ctos desta mina? O que direis quando souberdes
I que ella apenas tem qUatrx» annos. F ig u ra e que^
I uma bella mainhã, uni de meus rendeiros veio par-
I ticipar-me que uma fonte de agu a salgada fazia
f irrupção neste terreno, do qual todos os esforços
I da agricultura tinham sido improficuos para ti-
rar algum proveito. Apressei-me em vir verifi-
176 A R S E N A L DE G A RG A L H AD A S

car o phenomeno; verifiquei qaie a fonte dava


seis onças de sal por canada de agua e organise
esta mina que rende-me annualmente dez mil h*
hras esterlinas e ainda está mal explorada .
Ja m e s não poude reprimir um movimento
de c o le ra .
• Iv â minha ruina (pie deveis a vossa fortuna
disse elle. Os desastres do valle de Nortlnvich
causaram a prosperidade do valle de W e yn e .
A estas .palavras o proprietário do estabele­
cimento encarou ainda mais attentamente o seu
v isita n te .
— Ja m e s ! exclamou elle, Jam es, meu quierido
prim o. Ha tantos annos que não te vejo que cus-í
tei a reconhecer-te.. E u nada entendo da explo-j
ração destas aguas salgadas, era preciso um h
mem mais intelligente e mais laborioso do que
eu. Queres tu ser este homem?
E m meio da alegria que lhe causaram o aco
lhimento fraternal e os offerecimentos generosos
de Peters, Jam es sentiu-se acabrunhado por este
pensamento: “ Eis-m e ainda abaixo d e lle ."
r— Não, tornou Peters que leii no pensa-;
mento do primo, não meu querido Ja m e s ! Estas
fontes não se origina-m das tuas minas inunda­
das e destruidas? Não te pertencem, tanto co m i
a mim? Serás meu socio, vam os redigir e assi-
gnar o contracto.
— O h! exclamou Ja m e s saltando ao pescoj
ço de seu am igo de infancia, desta vez tu és ver-
O G A L H O F E IR O 1 77

dadeiramente superior a mim c eu envergonho-


me da minha inferioridade. Vales mil vezes mais
do que e u .
A s fontes salgadas de YVeyne tornaram-se
as mais ricas da Inglaterra, e ainda hoje são co­
nhecidas pelo nome de Fontes dos Dois Primos.

* * *

U M C A S A M E N T O E N T R E P R IM O S

E m um formoso dia do mez de Maio de 1804,


o D r . L efort, ãteompanhado do celebre D r .L a e n -
ncc, ainda moço, dirigiram-se á igreja de Saint
Roch para assistirem ao enlace matrimonial do
joven visconde de Y . . . A s proxim idades acha­
vam-se atulhadas de equipagens e da multidão;
P ssim so a muito custo os dois am igos consegui­
ram atravessar as ondas de curiosos, subir os de-
gráos do templo e chegar á nave. 1
J ^ No momento em (pie L efo rt e sfw ça va -se por
r . i* uma passagem até a nave principal, prote­
gido por Laclm ec, o velho medico achou-se fren­
te a frente com o pai da noiva que lh apertou1 a f­
e t u o s a m e n t e as mãos..
P Obrigado, meu amigo, obrigado, disse
V Por virdes tomar parte n ’esta festa de fa-
p d i a ! Sou 0 mais feliz dos homens. Caso minha
I* ha urhica com o filho unico de minha
12
A R S E N A L DE G AR G A L H A D A S

ir m ã ! Reúnem-se duas grandes fortunas em uma


só! São jovens e bellos, am am -se! Antonietta
tem dezesete annos, Jo r g e tem vinte e cinco e já
o citam como ym a dás cabeças do conselho de
E sta d o . Possue cem mil libras de renda e i.|m ma­
gnífico palacio. Ju lg o que não se pó de entrar de
modo mais risonho na vida.
Em quan to exprimia-se assim , o D r. Lefort
e Laennec conservavam os olhares fixos sobre os
noivos; Laennec estava deslumbrado.
T eria sido difficil, com effeito, encontrar um
par mais perfeito. A 'noiva, pequena, esbelta, ele­
gante, de tez rosea e fresca, e envolvida em um
véo vaporoso, apóiava-se com ternura 110 braço
do m arido. A s feições pallidas e delicadas deste
ultimo revelavam u,ma natureza mais intelligente
do que cnergica. O que tornava estes dois jo ­
vens ainda mais encantadores era uma semelhan­
ça que mais os fazia tomar por irmãos do qüe por
esposos. A m bos louros, ambos delgados, tinham
ambos o mesmo typo de belleza e de raça, o mes­
mo olhar, o mesmo sorriso.
— Não é verdade doutor, (pie eu sou muito
feliz e que o futuro me reserva uma doce velhice?
disse o S r . de V . . .
— Deus vos ouça e satisfaça os vossos dese­
jos, senhor con d e! respondeu o velho suspirando.
E m seguida saudou o conde e foi ajoelhar-se
em uma capella latteral, onde orou fervorosam en­
te durante muito tempo.
O G A LH O FE I R O 179

1 Quando sahiu da igreja e tornou a reunir-se


a Laennec, este lhe disse:
j: — O que tendes, querido mestre, pareceis-
me triste.
t — Estou com elfeito, meu filho, replicou Le-
fortl O conde de \ . . . é um dos homens que mais
estimo neste mundo.
m - E no memento cm que elle se torna o mais
feliz homem do mundo é que vos mostraes aba­
tido? s - i 4 - >
I — Feliz! T u és medico e fallas-me 11a felici­
dade daciuelle h o m e m !
r Não observastes os noivos, sua fatal seme­
lhança e a deplorável conformidade do tem pera­
mento de ambos ?
f Nao. ouvistes o pai dizer que elles eram pri-
n’°s irmãos e filhos de primos irm ãos? E sse du­
plo titulo é uma maldição inexorável que pesará
sobre toda a sua vida e que mudará a sua felici­
dade de hoje em uma existencia de desespero.
Peus não permitte què se infrinjam impunemente
P leis que elle impoz á natureza. Quer o cruza­
mento das raças e das fam ilias; e o hemeni divino
F ,a alma, porem animal pelo corpo, mio póde, as-
s,,n tomo os outros subtrahir-se ás fataes con-
«u fe n c ia s do despreso por essa regra u n iv ersa l.
B 0S I)ais de Jo r g e e Antonietta eram irmãos e a
IjSta consangüinidade devem os filhos 0 caracter
B h p h a tic o . T u serás medico delles, visto ser eu
p r e d i c o da fam ilia. P o r mais habituado que es­
i8o ARSENAL DE GARGALHADAS

tejas çom as dores dos hospitacs, com os g r B ^


dos amphitheatros, com as misérias as mais f l
viera
os cuidad
pugnantes do soffrimento humano, verás na casa
daquellas creaturas, tão felizes hoje, males qmj
% I.aen
farão impallidecer de terror tua fronte por maii
tuado em
impassível que queiras ser. A não ser que as m»
tin e foi i
nhas orações de ainda ha pouco não tenham obtil
vam reun
e o visa ir
do de Deus um milagre, valia mais,, para aquelíl
pobre A ntonietta que eu ajudei a nascer, que ella l -r Sc
morresse ao entrar no leito nupcial do que viver] meu sogn
a vida que lhe está reservada. . . E no e m t a n to B tar. e esp
preveni o pai! Não quiz ouvir-me! Sorriu-se dol aneiedade
meus receios! Fallou-me da felicidade que einc^ff uni menin
trava em tal união. Que fatal cegueira! do. Esse
graves rri
Term inando estas palavras elle lim poujoj
olhos húmidos e não rompeu o silencio sinal
e sua i nt c 1
chamar v<
quando, ao chegar em casa achou-se ro d eado jdj
seu estad<
doentes que o esperavam para consultal-o.
>o desasse
Dez annos depois o D r. L êfò rt succumbil
O vi-
em consequencia de uma dessas afíecções
creada tn
teriosas que desconcertam a sciençia h u m a ^ T
xos sobre
Laennec, que se tornára um medico celebre, lutíM -xou os sm
va por seu saber e por sua etoquencia nos cursoi
públicos com Dupuytren e continuava laborioW
dolorosa i
ijpcjueno i]
.mente os trabalhos de B ich at. j
Ora. não se lembrava elle mais do c a s a m e j
: ' !>asia
spara veril
to da filha do conde, nem das predicções do
Lefort. (juando utna manhã recebeu uma cai*
s.Ua fronti
cm a qual se lhe pedia que chegasse a casa do vj^
polvid, i. i
P ada c !jn
conde de V . . ., prefeito do departamento de.
R^uipti >ni;
182 arsenal de gargalhadas

Contemplou durante algum tempo a criançl


e suspirou.
Madam e Antonietta d e sm aio u ; comprehcn
deu! (jue não havia nenhuma esperança de cura,
— Doutor, disse ella ao voltar a si, sa lvai
meu filho, e a metade da minha fortuna vos per
tencerá. Diga-me, pelo menos, que sua intelin
gencia desenvolver-se-ha um d i a . Que ha ainda
alguima esperan ça.
— Senhora, ninguém mais do-que eu deseja
ter-me enganado no diagnostico.
Reuna a senhora, Esquirol, Dupuytren, B i
chat, Corvisart. L erou x, B o y e r e interrogue to:
dos. A ssim será impóssivel um engano. Quanto
a mim, não me atrevo a vos dar esperanças se­
não com o tempo, que ás vezes desconcerta por
seus m ilagres as previsões mais seguras day
sciencia. -
A viscondessa consultou a todas as notabiH-j
dades acima citadas e estas confirm aram o dia­
gnostico de Laenn ec; regressando para.a provin-j
cia a pobre senhora que levava o desespero na
ai m a .
E m 182 ; a saude de Laennec achou-sp com-
p ro m ettid a.
O .au to r de tantos adm iraveis trabalhos sol
bre as nrolestias do peito, o infatigavel inventos
que encontrou e applicou a auscultação e foi °
primeiro que fez a sciencia luctar com energia
O GALHO FEIRO

contra a mais fatal das moléstias, não tardou a


sofírer os insultos da tysica pulm onar.
Ninguém podia enganar-se menos sobre o
seu! estado do que L aenn ec. T om ou corajosa­
mente um partido extrem o: deixou os sei^s tra­
balhos, a sua clientela, e os discipulos que vinham
de toda a parte da E u rop a para ouvil-o. .
L o n g e de P aris, no fundo da Bretanha, foi
p e d ir ao clima do seu paiz natal, ao isolamento e
ao repoulso os meios de com bater o mal que devia
c O n s u m il-o .
Foi em Kerloitanec, no fundo da Finisterra
que se refugiou, fixando a sua residencia cm uma
aprazivel g ra n ja . O quarto em que dormia acha­
va-se por cima de um estábulo cujas emanações
tépidas o envolviam constantemente e alimemlta-
vam sua transpiração.
Nenhum extranho penetrava nos seus apo-
Ventos e todas as tentativas que os seus adm ira­
dores enthusiastas e os seus discipulos fizeram
neste sentido ficáram sem resultado. Laennec
agarrava-se á vida com toda a energia de sua
alma ; estabelecera-se entre elle e o mal uma lucta
realmente sublime, pois o medico, mais do que o
homem, talvez, queria trium phar.
U m a noite Laennec foi despertado em sobre-
salto por gritos que faziam-se ouvir de fó ra.
A algum a distancia-da gra n ja um violento
incêndio acabava de declarar-se em uma habita­
ção, cujos proprietários viviam qtiasi tão solita-
i86 ARSENAL DE GARGALHADAS

seus oitenta annos, que vivia implorando a cari-»


dade publica.
A infeliz mendiga já era conhecida de-todos
os habitantes do povoado e estes nunca deixavam
de soccorrel-a com os seus cinco réis, ou de met-
ter-lhe nla sacola um pedaço de brôa, quando ella
aos sabbados ia de porta em porta esmolando.
U m a cousa simples, porém, tornara assigna-
lada a m endiga. E ’ que, ao contrario dos de sua
classe que, ao receberem uma esmola chamam a
benção e a proteção de Deus, dos santos e dos an­
jos para o líemfeitor, a velhinha, quer dessem-lhe
a esmola ou não respondia in variavelm en te:
— Quem o bem faz para si o faz.
Ora, havia na aldeia de que tratamos, uma
mulher bem casada, com dois filhos pequenos e
sufficierítemnte abastada, porém muito avaren­
ta e de máos bofes.
Nunca dava esmolas á velha mendiga, não
obstante solicital-a a infeliz sempre que sahia ao
peditorio.
E m um sabbado a velha, como eTa costume,
tomou a sua sacola e lá se foi de porta em porta a
implorar o obulo da caridade. Bateu também á
porta da mulher má, esta a despachou com um
duro — Deus a favoreça.
Foi seguindo a mendiga e depois de percor­
rer toda a freguezia, voltou pelo mesmo cami­
nho; ao chegar á porta da mulher sem caridade,
tornou a pedir esmola.
O G A L H O F E IR O 187

A xlona da casa achavam-se n’este momento .


junto ao forno, a cozer uns saborosos bolos para
os filhos.
Irritou-se com a impertinencia da mendiga
e no seu tedio um pensamento perverso atraves-
sou-lhe o cerebro.
— E s ta endemoninhada velha anda.a moer-
me a paciência, pois, bem, eu livro-me das suas
importunações de uma vez para sempre.
E correndo a um arm ario tomou um punha­
do de arseintico que era destinado á extincção dos
ratos, metteu-o dentro de um bolo já meio assa ­
do, acabou de cozer este e. com o sorriso nos lá­
bios levou-o á velha, dizendo:
— Tom a, minha pobre velhinha, regala-te
com este bolo que acabo de tirar do forno.
Quem o bem faz para si o faz, disse a men­
diga . j
A perversa retirou-se para o interior da casa
e os dois meninos ficaram junto á velha, lançan­
do olhares cubiçosos para o bolo que ella ia met-
ter na sacola, pois era o primeiro que sabia do
fo rn o .
Vendo isto a mendiga partiu dois pedacinhos
de pão, deu-os a cada um para contental-os, e de­
pois seguiu o seu caminho.
Qua'nido, porém, ia chegando á sua choupa-
na, um pouco arredada do povaodo, foi agarrada
por*dois policiaes que a trouxeram a presença da
autoridade.

/
*i88 ARSENAL DE GARGALHADAS

E s ta dirigiu-se á velha com ar severo, e


disse:
— M orreram n este momento duas creanças
e tu és accusada de havel-as assassinado.
— Eu, senhor!
— Sim, matando-as com um pão envenenado
que lhes deste a comer.
Sorpreza a infeliz com essa declaração tirou
da sacola o resto do pão envenenado e narrou
com singeleza o que succedera.
Y en d o que achava-se em uma pista falsa a
autoridade fez vir á sua presença a mãe das crian-
_ ças m artas e, interrogando-a, conseguiu colher
toda a verdade.
A .mendiga foi posta em liberdade e a m al­
vada condemnada á prisão perpetua pelos tribu-
naes, verificando-se por essa forma o agradeci­
mento predilecto da velhinha — Ouem o bem faz
para si o faz.
* * *

O R IC O E O P O B R E

Martinho era um menino que gan hava a sua «


vida a recados; um dia, voltando de uma aldeia
muito distante da sua, achando-se cançado dei­
tou-se debaixo de uma arvore á porta de uma es­
talarem . junto da estrada.
E sta v a comendo um bocado de pão que ti­
nha trazido para jantar, quando chegou uma
O G A L H O F E IR O

1 >e11 a carruagem em que vinha um fidalguinho


com o seu professor.
O estalajadeiro correu immediatamente e
perguntou aos viajantes se cpieriam apeiar-se,
mas responderam-lhe que lhes trouxessem um
frango assado e uma g a r ra fa de vinho.
M artinho estava pasmado a olhar para elles:
olhou depois para a sua codea cie pão, para a sua
velha jaqueta, para o seu chapéo todo roto, e sus­
pirando baixinho r
— O h ! se fosse aquelle menino tão rico, em
vez do desgraçado Martiiniho! Que fortuna se elle
estivesse aqui e eu dentro daquella carruagem !
O professor ouviu casualmente o que dizia
Martinho e retirou o seu alumno, que lançando a
cabeça fora da carruagem , chamou Martinho
com a mão .
— Ficarias muito contente, não é verdade,
me.u rapaz, podendo trocar a minha sorte pela
t ua ?
— Peço que me desculpe, senhor, replicou
M artinho chorando, o que eu disse não foi para
m al.
— Não estou zangado comtigo, replicou o fi- •
dalguiíiho, pelo contrario, desejo fazer a troca.
— O h! está a divertir-se com m igo! tornou
Martinho, ninguém quereria estar em meu lugar
quanto mais um bello e rico menino como o
senhor.
190 ARSENAL DE GARGALHADAS

Ando muitas leguas por dia e como pão sec-


co e batatas em quanto o senhor anda em uma
carruagem , póde comer frangos e beber vinho.
— Pois bem, volveu o fidalguinho, si me que­
res dar tudo aquillo que tens e que eu não tenho,
dou-te em troca, de boa vontade o que possuo.
M artinho ficou com os olhos espantados,
sem saber o que havia de dizer; mas o professor
continuou:
— A ceita a troca?
— Ora essa! exclamou Martinho, ainda m ’o
p erguntas? p h ! como a gente da aldeia vai ficar
assom brada de me ver entrar nesta bella car­
ruagem !
E M artinho desatou a rir com a idéa da en­
trada triumphante na sua aldeia.
O fidàlguinho chamou os creados que abri­
ram a portinha e o ajudaram a descer. M as qual
não foi a surpreza de Martinho vendo que elle ti­
nha uma perna de páo e que a outra era tão fraca
que se via obrigado a andar em duas m o le ta s; de­
pois, olhando para elle, de mais perto, Martinho
observou que*era muito pallido e que tinha cara
de doente.
Sorriu para o menino com ar benevokr, e dis­
se-lhe ;
— E n tão sempre deseja trocar?
Ouerias por ventura, si pudesses, deixar as
tuas pernas valentes e as tuas faces córadas, pe-
O G A L H O F E IR O 191

lo prazer de ter uma carruagem e andar bem ves­


tido?
v ' — Oh! não, por coisa nenhuma! replicou
Martinho.
— E u , disse o fidalguittjho, de boa vontade
seria pobre si tivesse saude.
M as, como Deus quiz que eu fosse aleijado
c doente, soffro os meus males, com paciência e
faço por ser alegre, dando g ra ça s á Deus pelos
bens que me concedeu na sua infinita m isericór­
dia. F a z o mesmo, meu amiguinho, e si comes
mal, tens força e saude, coisas que valem mais
que uma carruagem e que não se podem comprar
com dinheiro.
# j}í í{í s
je

U111 roceiro vai tirar um dewte.


O dentista examina-o, e diz-lhe que julga in­
dispensável chloroform isal-o.
— Vai-nie fazer dorm ir? pergunta o roceiro.
— You.
O roceiro tira o dinheiro da algibeira.
— N ão é necessário, diz-lhe o dentista. P a ­
ga depois.
— Não é isso, replica o hom em ; cu o que
vou, antes de adormecer, é contar o dinheiro que
tenho.
* * *

Dois matutos, que vêm pela primeira vez á


cidade, vão ja'rjtar a um hotel de primeira ordem.
102 ARSENAL DE GARGALHADAS

Pincla a sobremesa, o caixeiro traz a cada um


delles um palito num prato. *
Em quan to um esforça-se por p artir o palito
com a faca, diz-lhe o outro ao ouvido:
— Oh, seu estúpido! Isso não se come: é só
para chupar.

sj; ;Jí

Uni medico de má fama é chamado para ver


um doente.
— Ah, minha senhora! diz elle, voltando-se
para a mulher do enferm o; chamou-me tarde de
m ais. Seu marido está perdido. J á tem as mãos
roxas.
— Perdão, senhor doutor; mas meu marido
é tin tu reiro . . .
— E ' ? Pois pode julgar-se muito feliz. Si
não fosse tiwtureiro, era um homem m orto.

sjí sjc

U m chuva insistia por mettçr na fechadura


da porta de casa um grande charuto.
Passa um policia e observa:
— O h! seu bebedo! então você quer abrir a
porta com o charuto?
— Bonito! volve o chuva, titubiando e apal­
p a n d o - s e ... Querem v e r . . . q u e . . . e u . . . fu­
mei : . . a . . . c h a v e ! . . .
O G A L H O F E IR O 193

HOROSCOPOS
SIGNOS E SINAS

ZO D ÍA C O

l Aquário — 2. Peixes — 3. A ries — 4. Toiro — 5. Geraeos — 6. Câncer


7. L e io •—8 Virgem — 9. Libra ou Balança — 10 . Escorpião — 1 1 . Sa
gitario — 1 2. Capricornío.

13
O G A L H O F E IR O 195

H O R O SC O P O D E J A N E I R O

Para pessoas nascidas entre 21 de Dezembro


e 20 de Janeiro

Seu Signo Zodiacal. Capricornio


Sua Estrella Tutelar Saturno
Seu Dia Ditoso . . . . Sabbado
Mezes propicios . . . Março e Novembro
Sua Pedra Natal . . . O Rubi
Sua Flor Afortunada A Tulipa
Côres Favoraveis . . Granada, Castanha, Pra­
teada e Gris

Característicos
«35.

Os que nascerem durante este periodo serão


bondosos e de bom caracter; leaes e comstantes
para c o m a s suas am izades; perseverantes em
seus esforços e constantes na lucta com o fim de
obter n seu intento, estão consequentemente des­
tinados a òccupar elevados cargos e posições.
São pensadores por natureza e de muita sorte em
r:egocios; muito activos e independentes: bons
trabalhadores, mas geralm ente trabalham me­
lhor e mais efíicientemente em negócios proprios
do que sob a direcção de outros. São attractivos
e de temperamento m agnético; não. gostam po-

»
106 ARSENAL DE GARGALHADAS

rem de excessivas manifestações de carinho;


muito cuidadosos em assumpto de dinheiro e em
cumprir semjífe a p alavra.
T é m boa conversação, sabem entreter e são
excellenstes narradores. São ambiciosos e aspi­
ram a dom inar; am igos do prazer e de mudanças
de clima e de pãysagens, lhes é absolutamente
necessaria a excitação de novas vistas ou paizes.
T êm inclinação para fazer as cousas a seu modo,
mas, tendo grandes adaptabilidades, podem em-
pregal-as com bom exito neste sentido: desani­
mam, porém, facilmente com as observações que
se* lhes façam . T êm grandes forças de reserva e
raras vezes utilisam todas as suas faculdades: go-
sam geralm ente de vastas relações e am isades.
A s mulheres nascidas durante este periodo
tornam-se boas modistas e desempenham posi­
ções commertciaes com mais acerto do que as
.q u e nasceram em outras epochas do anno; pos­
suem temperamento artistico e têm um excel-
lentc gosto na escolha e combinação de trajes.
Os homens tornam-se bons. politicos, commer-
ciantes, superintendentes ou engenheiros. T anto
os homens como as mulheres devem estudar a a r­
te do attractivo individual, posto que geralmente
o caracter de suas occupações lhes impede de
prestar muita attenção ao modo de vestir-se e de
apresentar-se em publico. L hes é conveniente c a ­
sar quando jovens e os matrimonios mais vanta-
O G A L H O F E IR O 197

\ josos são com pessoas nascidas .nos mezes de


Maio. Julho, Fevereiro ou N ovem bro. Devem
emprehender negocios proprios, sem se pfeoccu-
par se os mesmos forem reduzidos 110 começo,
visto ser nestes negocios que ellas manifestam
suas surprehendentes faculdades para negocios.
; Os que nascerem durante este periodo não são
demonstractivos nem tampouco am igos de elo
gios e xag g erad os si bem que se deleitem em ser
.a lv o s de elogios merecidos, sem comtudo, u fa ­
nar-se com as adulações.
Si bem que destinados por natureza a preen­
cher elevados cargos e posições, não são, porém,
dados a pôr em pratica todas as suas magiiificas
faculdades; devem, portanto, aprender a conhe­
cer-se 0 utilisar em beneficio proprio os meios de
que dispõem para obter bom exito na vida. Não
possuem uma constituição muiito robusta pelo
que se lhes aconselha prudência e moderação e
precaver-se de doenças. Os característicos que
predominam são: P ara os nascidos em Segundas-
feiras, Muitos desenganos nos am ores; Terças,
Tntelligencia ; Quartas. G uerreiros; Quintas, Am- *
bição intellectu al; Sextas. M aterialistas; £abb a-
dos. Scepticos; Domingos, F o rç a mental.

Conselhos

Os que nascerem neste mez não devem dei­


xar-se dominar pelo ciume ou.' pela cholera, nem
i98 ARSENAL DE GARGALHADAS

pensar muito nas cousas materiaes e tampouco


dedicar-se ao scepticismo, em detrimento pro-
prio. Não devem, tampouco, imitar aos demais,
posto que um do seus dons é originalidade em
idéas e a c ç õ e s ; não devem ser vingativos ou des­
denhosos, desde que taes modos de proceder de­
bilitam muito as suas faculdades. Se lhes aconse­
lha não trabalhar excessivam ente pois que o
cansaço entorpecerá suas disposições naturaes.

Os meninos

Os meninos nascidos durante este periodo,


são de natureza orgulhosa e a ltiv a : desde muito
cedo deve-se mostrar-lhes a necessidade de domi­
nar seus instinctos e fazer-lhes comprehender qu*j
é «necessário tratar o proxim o com tacto e cari­
nho. E ste s meninlos têm m arcadas habilidades
para a imitação, .pelo que deve evitar-se que se
associem com pessoas de maneiras ou costumes
rudes. A s meninas devem aprender a desempe­
nhar pequenos trabalhos caseiros, bem como bor­
dar; costurar etc. P a ra os rapazes se recommen-
da uma autoridade firme e bondosa ao mesmo
tem po; as mães devem tratar de comprehejider
as suas inclinações e talentos especiaes afim de
guial-os sabiamente pela senda do bem, para que
gozem de admiração, de carinho e de respeito.
O G A L H O F E IR O

H O R O SC O P O D E F E V E R E I R O

Para pessoas nascidas entre 21 de Janeiro e


18 de Fevereiro

Seu Signo Zodiacal. Aquarius


Sua Estrella Tutelar Urano
Seu Dia Ditoso . . . . Sabbado
Mezes propicios . . . Abril e Agosto
Sua Pedra Natal . . . A Opala e a Turqueza
Sua Flor Afortunada A Rosa
Côres Favoraveis . . Azul, Rosa Palido, Verde
Nilo e Preto

Característicos

Os. que nascerem durante este período têm


acertado raciocinio e são excellentes juizes do
caracter h u m a n o ; possuem uma memória sur-
prehendente e parece que sem esforço algum ab­
sorvem toda a in fom açãoqu e se lhes communfica:
são bons observadores ; têm excellente e fecun­
da in sp iração ; em todas as occasiões tratam de
manter dignidade própria e de tornar-se agra-
d a v e is ; com frequencia, porem, reprimem estas
boas qualidades devido ao seu amor ao materia-
lismo e á indolência.
Ordinariamente possuem clonls especiaes
para desempenhar com habilidade determinada
ARSENAL D E GARGALHADAS

profissão ou para progredir em uma carreira


d a d a . São de temperamento sanguíneo e bondo­
sos e amam tudo o que pertence ao lar e o que
ajuda a tornal-ó attractivo e confortável'. T êm
muito bom gosto e parecem possuir o dom de
fazer felizes ás pessoas que os rodeiam ; têm uma
elevada idéa da honra e como am igos são leaes
e honrados, mas como inimigos, raramente per­
doam ou esquecem as offensas de que foram al-
vros; ás vezes são extrem am ente sensitivos, o
que lhes causa preoccupaçõts e desgostos.
Como regra gertil são determinados e am i­
gos de fazer as cousas a seu modo o que com
frequência catrsa a que se forme opinião de que
são obstinados e teimosos, especialmente tratan ­
do de convencer a pessoas extranhas e obrigal-as
a proceder como elles. Parecem possuir extra-
ordinario m agnetism o e faculdades hypnoticas
e têm um poder especial para dominar e tran-
quilisar aos loucos e cholericos. N ão se deixam
governar pelo coração posto que tenham um juízo
claro e geralm ente suas decisões são justiceiras.
A s mulheres não expressam toda a energia
de seu affecto a quem amarem ; são muito serias,
fervorosas e confiadas e esperam que o seu cari­
nho seja correspondido em toda a linha. São por
natureza amantes do lar e de fazel-o attractivo ;
e todo o homem com inlclinações para a vida do­
mestica pode considerar-se feliz se se c a sar com
O GALHOFEIHO 201
(__—-- ------------------------------------------------------------------ — — —----- —
g. 4
uma mulher nascida durante esta epocha do
ànno
m. ' •
Os homens não serão muito fieis ou constan­
tes antes d(} matfimonio, mas uma vez casados
com a pessoa de sua escolha, são muito felizes.
Sao muito devotados ás suas esposas e sua familia
e por ellas fazem tudó; comtudo, ante extranhos,
parecem frios e faltos de interesse. T an to os ho­
mens como as mulheres são em grande maioria
dos casos, felizes no m atrim onio; tal é mais pro­
picio, porém, com as pessoas nascidas durante os
mezes de Outubro, Jan eiro 011 Ju n h o . São since­
ros em seus affectos e opiniões, mas são^amantes
dos titulos e cuidam demasiadamente das appa-
rencias pessoaes.
T a n to os homens como as mulheres têm
bom gosto ; os homens, sobresahem 11a advocacia
e medicinla e as mulheres têm um talento espe­
cial para a nlusica e são am igas de vestir-se bem,
adoptando geralm ente as cores escuras e sabem
usal-as e combinal-as muito acertadamente. P o s ­
suem m aravilhosos dons que se desenvolvem
mais facilmente com a ajuda de um ensino m a­
ternal apropriado e com o conhecimento de que
a occupação honrada e o methodo são de vida,
são synonym os de felicidade e bom exito. Os
característicos que predominam são: P a ra os
nascidos nas Segundas-feiras, intelligencia; Ter-
Ça"s, receiosos e Scepticos; Quartas, Am bição
ARSENAL DE GARGALHADAS

frustrad a; Quintas, D eterm inados; Sextas, Bom


caracter; Sabbados, Pu ros; Dom ingos. A m b i­
ciosos .

Conselhos

Os que nascerem nesta e,pocha do anno são


por natureza industriosos, mas deviam tratar
sempre de acabar um trabalho diariamente. De­
vem combater sua tendencia a esquecer os com-
prom missos e promessas contrahidas ; necessitam
de estimulo e que se lhes ensine a confiança em si
m esmos. Geralmente não começam a lutai efti-
caz mente até que tenham experimentado alguns
golpes e revezes para endurecel-os no combate e
manobrar para a vanguarda, a força necessaria
para o desenvolvimento do caracter proprio.

Os meninos

Os meninos nascidos durante este petiodo


são excessivam ente nervosos; possUjem uma me­
mória excellente e correspondem a honradez e
franqueza de igual m aneira. Desde muito cedo
deve-se ensinar-lhes a cumprir com as suas pro­
messas e seus companheiros devem ser alegres,
am áveis e escolhidos. A mãe deve fazel-os eom-
prehender que o trabalho manual não degrada.
O G A L H O F E IR O 203

H O R O SC O P O D E M A R Ç O

Para pessoas nascidas entre ig de Fevereiro


e 20 de Março

Seu Signo Zodiacal. Pisces


Sua Estrella Tutelar Neptuno
Seu Dia Ditoso . ; . Sabbado
Mezes propicios . . . Maio e Junho
Sua Pedra Natal . . . Chrysolito Oriental
Sua Flor Afortunada O Cravo Rosa
Côres Favoraveis . . Azul Pallido, Branco e
Creme

Característicos

Os que nascerem durante esta epocha do


anuo têm grandes disposições naturaes para a
mechanica, as artes e litteratura e especialmente
para a architectura e o desenho; possuem rapida
e facil perceptibilidade e uma memória excellen-
te para tudo que lhes interessa; são m agn éticos;
caridosos no desejo de a ju d a r; am igos de respon­
sabilidades a p'onto de poder-se.confiar-lhes pos­
tos de confiança; inclinam-se ao sceptismo e si
bem que possuam personalidade vigorosa, são
inquietos.
São honrados por natureza e de princípios
sãos, mas devem evitar a sociedade de pessoas
ARSENAL DE GARGALHADAS
M............ ................................................................... .

vulgares c de costumes gro sseiro s; têm inclina­


ção de falar demasiadamente de si mesmos e a
fazer perguntas desnecessárias; são geralm ente
muito modestos, por falta de am or proprio. pelo
<|ue lhes convem procurar a companhia de pes­
soas firm es de caracter e conscientes do proprio
va lo r.
São de um temperamento fervoroso e aman-
le e se regosijam em prodigalisar seuç affectos e
sym pathias a quem os necessitar; são tambem
confiados e raras vezes duvidam que se corres­
ponda ao seu carinho .
A s mulheres nascidas durante este periodo
não gostam do grosseiro e commjjim ; são susce­
ptíveis a ataques de melancholia e prantos ; quasi
sempre, porém, a causa destes desalentos são pre-
occupações de males im agin arios; não sao incli­
nadas ao m atrim onio; torrtam-se, comtudo, boas
ésposas e donas de casa, e uma vez felizmente ca
sadas, lhes é prafeenteiro em alto grão formosear
o lar. tornando-o um pequeno paraizo.
Os homens são cuidadoSos e methodicos, si
bem que inquietos. D evem ser cuidadosos na es­
colha de mulher, posto que sua natural bon­
dade e seus instinctos affectuosos lhes podem ser
prejudiciaes. A os que nascerem durante esta epo-
cha do anno lhe^ convem casar com pessoas na-
sçidas durahte os mezes de Setembro, Outubro
ou Ju lh o . T êm muito interesse nos trabalhos re­
O G A L H O F E IR O 205

ligiosos e frequentemente *sua§ melhores obras


ppão neste sentido. X ã o têm cuidado suffiçiente
í para comsigo e não são prudentes na escolha de
f amizades o (pie com frequencia resulta em detri-
I mento proorio, pois são enganados ou soffrem
[ decepções.
Geralmente soffrem de uma seria doença an­
tes dos trinta e ciuco annos; depois disso, vivem
rran%uillamente e na maioria dos casos, conse-
£ guemcidquirir alguns bens de fortuna e morrem
já entrados em annos, cercados de commodidades
e de relativo bem-estar, sinão ricos. A s mulheres
lhes convem vestir-se em cores pallidas e delica­
das e se lhes aconselha prestar m aior attenção e
mais cuidado no modo de pentear-se, vestir-se e
em geral ser cuidadosas com as suas apparencias
pessoaes. ; , 1|
Os característicos que predominam são:
Para os nascidos em Segunidas-feiras, A m bicio­
sos; T erças, A rr o ja d o s ; Quartas, Inquietos;
Quintas, Inconstantes; Sextas, Anhelam o Im ­
possível; Sabbados, M y stico s; Domingos, A l t a ­
mente m oraes.

Conselhos

A os que nâscerem durante este periodo se lhe


aconselha ser cuidadosos em sxiias conversações e
não falar dem asiadam ente; devem lembrar-se de
que o silencio é ouro e que a imqiuétação e incon-
206 ARSENAL DE GARGALHADAS

stancia não conduzeVn a nada certo ou seguro e


que a anciedade que frequentemente os domina é,
na maioria dos casos, causada por males imagina-
rios e portanto in u til; não devem esquecer que a
liberalidade e generosidade exageradas, faz mais
vagabundos do que a pobreza. Devem aprender
a conhecer o proprio valor e ter consciência de
seus méritos e talentos peculiares e aproveital-os
sabiam ente.
Os Meninos
Os nascidos durante esta epocha do anuo
são geralm ente bondosos, muito independentes,
extrem am ente sensitivos e de tal modo genero­
sos que dariam tudo o que p o ssu íssem : Com-
mummente, são de uma vontade forte, o que ás
vezes induz os paes a crer de que são obstinados.
A intelligencia destes meninos é precoce e se re-
commenda ;Ps mães a ensinar-lhes a serem absolu­
tamente honrados, mesmo em actos insignifican­
tes, posto que devido á sua innata generosidade,
são facilmente seduzidos.
Deve-se tambem ensinar-lhes que o reconhe­
cimento de faltas commettidas não é um acto do
qual devem envergonhar-se. pois que, pelo con­
trario, demonstra sentimentos nobres e honradez
de princípios. E stes meninos devem ser tratados
com carinho e bondade e ao mesmo tempo', deve-
se fazel-os comprehender suas faltas e corrigil-as
com firmeza e determinação.
O G A L H O F E IR O 207

H O R O SC O P O D E A B R I L

Para pessst. as nascidas entre 21 de Março


e 21 de Abril

Seu Signo Z oA acal. Aries


Sua Estrella Tutelar Marte
Seu Dia Ditoso . . . . Terça-feira
Mezes propicios .. . Junho e Julho
Sua Pedra Natal . . . A Amethysta e o Diamante
Sua Flor Afortunada A Malva
Côres Favoraveis . . Branco e Rosado

Característicos

Os que nascerem durante esta epocha do


íaim o são por natureza pensadores e possuem
fqualidades de raciocínio, sobresahindo-se nos
trabalhos que requerem o uso das faculdades
nientaes ; têm ordem no lar e nos negocios e são
exigentes em tudo o que se refere ao desempenho
| de qualquer serviço; são extrem am ente genero-
fcsos para aquelles á quem am am 011 apreciam, mas
I ' atormentadores com aquelles á quem não admi-
í ram ou que não lhes merecem s y m p a th ia ; não es-
I qulecem facilmente os seus inimigos, m as raras
i vezes são vingativos ; não se inclinam a chorar ou
I a entristtcer-se por longo tempo por uma mesma
| c a u sa .
2oS A R SE N A L D E G A R G À L H A D A S

Os homens têm vocação para dirigir, mas não


gostam de posições subordinadas; são muito
afortunados nos negocios.e em ganhar dinheiro,
mas perdem muitos am igos e opportunidades,
devido ao seu genio *sem re flexão . Nem os ho­
mens nem as mulheres são de genio accessivel,
pois não admittem interferencia em seus assumi
ptos, posto que para provar qiue têm razão, são
capazes de pôr tudo a perder, mesmo em detri­
mento proprio; são bons trabalhadores e vão ao
extrem o de sacrificar a saude pelo trabalho; são
am igos de vestir-se bem e viver elegantemente.
Os homens são exigentes em suas relações
am orosas, seja com a esposa ou noiva e vêm mo­
tivos de ciumes nos actos mais insignificantes.!
N ão têm propensão a casar-se jovens, si bem]
que nestas pessoas seja forte o impulso sexual,.]
mas a sua inconstancia e ciumes
com frequencia a opportunidade c
sexo opposto, as qualidades que ji
colha para o m atrim onio; são, p
mais exaltados que affectuosos;
matrimonio deveria inspirar-lhe:
deração, posto que em regra gei
amor que se lhe nega, si bem que
a ser constantes e tampouco faze
nho no am or de que cançaram .
lhes é conveniente; isso, porem
O G A L H O F E IR O 209

de longas rdtaçõés e quando conheçam bem o ca­


racter da pessoa escolhida.
Lhes convem casar com pessoas nascidas du­
rante o mez Dezembro posto que são mais fa-
voraveis á felicidade c o n ju g a l. Quanto á appa-
rencia pessoal, os que nascerem durante esta epo-
cha do anno não são robustos, si bem que pos­
suam uma constituição disposta a fazer frente ás
circum stancias. Devido á exa g g erad a confiança
que têm em si mesmos, não são cuidadosos com a
saude. Os que nascerem durante esta epocha do
anno. devem desde pequenos tratar de domi­
nar a indecisão e inconstancia que lhes é caracte­
rística. * ‘ ' S
Os homenis são astutos por natureza e têm
grandes habilidades para a política; ás mulheres
para maior harmonia, se lhes aconselha vestir-se
de branco, rosa, ou qualquer côr castanha.
Outros característicos são: P a ra os nascidos
em Segundas-feiras, Firm es e A ltiv o s ; nas T e r ­
ças, Desdenham os obstáculos e p e rig o s; Q uar­
tas, Nobres e G enerosos; Quintas, Diplom áticos;
Sextas, A lertas e Versáteis.; Sabbados, Incon­
stantes; Dom ingos, Tntellectuaes.

Conselhos

Os que nascerem durante esta epocha do an­


no devem precaver-se do egoismo, da cholera e
14
ARSENAL DE GARGALHADAS

da im petuosidade; não devem tom ar bebidas al-


coolicas otü embriagantes pois que lhes é facil ad- j
quirir o vicio, se encontrarem um companheiro 1
a m a v e l; uma vez á frente ou em poder de qual­
quer empreza, devem tratar os seus subordinados
com carinho e ser tolerantes com as faltas alheias, j
Não devem, em nenhum caso, esquecer que o
exito na vida depende grandemente de sua habi­
lidade de ser donos de si mesmos e fazer uso apro­
priada e intelligentemente das m agníficas quali­
dades que possuem. Então, e só então, podem j
asipirar a chegar ao cume de suas aspirações, '■
crear fama e obter riqueza e saiude.

Os meninos

Os meninos nascidos durante este período


são extrem am ente sensitivos; resentem os des- ,
prezos ou falta de gentileza mais do que a gene­
ralidade das pessoas; têm o instincto de im ita-j
ção muito desenvolvido, especialmente no que ;
diz respeito ás faltas cu defeitos alheios.
A ’s mães se recommenda que t/atem de com-1
prehender a estas creanças acertadamente, pos- ;
to que a bondade e a consideração que se lhes dis­
pense é a unica maneira de conquistar o seu1 r e s - '
peito e de encaminhal-os para*o bem.
O G A L H O F E IR O 211

H O R O SC O P O D E M A IO
f
Para pessoas nascidas entre 22 de Abril
e 21 de Maio

Seu Signo Zodiacal. Taurus


Sua Estrella Tutelar Venus
Seu Dia Ditosc . . . . Sexta-feira
Mezes propicios . . . Maio e Julho
Sua Pedra Natal .. . A Esmeralda e a A gata
Sua Flor Afortunada A Flor de Laranjeira
Gores Favoraveis . . Roxo, Castanho e Amarel-
lo e Preto

Característicos

Os que nascerem durante esta epocha do


anno possuem geralmerote extraordinaria habili-
jídade physica e m e n ta l; são valentes e generosos
e vão ao extrem o com a sua bondade a ponto de
tomar sobre si as obrigações alheias; são am igos
de tudo o que ha de bom sobre a terra e de a rra n ­
jai' festas e passatempos ; são adm iradores do que
■Prilha, amantes dos titulos e condecorações ; ada-
Ptam-se ao meio em que vivem e sentem-se com­
o d a m e n t e em todas as occasiões e em toda com-
■j Panhia; de eloquencia brilhante e de boa conver­
sação, parecem possivir o dom de attrahir os seus
212 ARSENAL DE GARGALHADAS

am igos e p artidarios; têm uma memória excel -


lente e sabem discutir bem e com exito ; têm ori­
ginalidade e podem dirigir ou executar decora­
ções artísticas.
São bons e leaes amigos, sempre que se lhes
deixe proceder a seu modo, mas, como inimigos,]
são crueis e faltos de com paixão. Os homens
têm grande habilidade executiva e nla generali­
dade dos casos, tornam-se bons engenheiros, ad­
vogados ou contractadores, e frequentemente
tornam-se bons escriptores e especialmente de
ensaios. ,j it&IÉSlf*
A s mulheres têm geralm ente excelltntes
vocações para determinados fins, por isso que de­
vem obedecer ás suas intuições, sem cuidar muito
de opiniões extranhas ou de conselhos de ami­
g o s ; inclinam-se pouco aos trabalhos caseiros,
por isso que se lhes aconselha submetter-se á si
próprias á -cuidadosas considerações, antes do
matrimonio, afim de não tornal-o uma carga pe­
sada para o marido e para si m esm as.
Devem evitar ser coquettes, especialmente
depois dò matrimonio, posto que isto é ás vezes
a causa d£ ruina do matrimonio, em outros rçs-
peitos feliz; antes de se casarem devem expor ao
futuro marido as suas antipathias aos tra b a lh os
caseiros, franqueza esta que ha de concorrer para.
beneficio mutuo, posto que se o homem a ama e
estima verdadeiramente, saberá conciliar suaS
O G A L H O F E IR O 213

* inclinações domesticas com as innatas preoc-


I cupações ou desgostos da que vae ser sua esposa .
A s mulheres dfcyem lembrar-se de que o ma-
i trimonio é utm contracto para toda a vida sanc-
| cionado por Dei^s e a sociedade, e que somente
f, 1jc>de haver felicidade conjugal, quando haja 11111-
! tua consideração e respeito e quando ambas as
I partes fizerem o possivel em ajudar-se e com-
’ prazer-se mutuamente. O matrim onio é mais
\ propicio á felicidade com pessoas nascidas du­
rante os mezes de Jan eiro ou Outubro.
X ã o são amantes do dinheiro, gostam , po-
: rétn, das commodidades que proporciona e Inão
gsão miseráveis com o que possuem ; não são dos
I c|ue se com prazem em com m entar e exhibir as
I faltas alheias, sao pelo contrario justiceiros em
suas opiniões, obedecendo a m axim a de conside­
rar innocentes as pessoas,cuja culpabilidade não
esteja provada. Enraivecem -se facilmente e per­
dem o sangue frio quando lhes mortifica algum a
preocaupação ou obstáculo. U m a vez compre-
hendidos, são de genio accessivel, si bem que não
sejam afortunados na escolha de amizades.
Os característicos predominantes são: P ara
t e»s nascidos em Segundas-feiras, Iintelligentes;
K £erças, D esillusionados; Ouartas, Gentsro s o s ;
«Q u in tas, Independentes; Sextas, L o n g evid ad e;
■ Sabbados, C rédulos; Domingos, F a lto s de san-
I kue f r i o .
214 ARSENAL DE GARGALHADAS

Conselhos

A o s que inascerem nesta epocha do anno se


lhes aconselha, sobretudo, prudência e sangue
frio, o conhecimento dos defeitos proprios e o
modo de reniuncial-os; a moderação com o di­
nheiro e com os bens p e sso a e s: não depender de
outros nem imitar obras, modo de vestir, conver­
sação ou maneiras alheias — devem depender de
sua própria o rig in alid ad e. Se lhes aconselha ab-
ster-se de especulações de dinheiro ou dos jogos
de azar e bem assim do alcool, posto que são fa ­
cilmente levados por esta senda e suas finas qua­
lidades mentaes se entorpecem com o uso do
m esm o .
Os Meninos

Os meninos nascidos durante este periodo


têm um temperamento activo e uima intellectua-
lidade vivaz, e com raras excçpções, são capazes
de aprender rapidamente. T êm inlclinações a se­
rem irritados e não se deve obrigal-os a desempe­
nhar trabalhos ou deveres, posto que a sua final
intelligencia se offende com a obrigação de fazer
aquillo que ‘n ão comprehendem como necessai'io.
A estes meninos é prudente dar-lhes instrucçõesj
explicitas, relativamente ao modo de fazer tuna
cousa, acompanhadas de uma razão que lhes de-i
monstre ser este o melhor modo e porque é feita >
de tal m o d o .
O G A L H O F E IR O

H O R O SC O P O D E JU N H O

Para pesso? j nascidas entre 22 de Maio


e 20 de Junho

Seu Signo Zodiacal. Gemini


Sua Estrella Tutelar Mercúrio
Seu Dia Ditoso . . . . Quartas-feiras
Mezes propicios . . . Abril e Agosto
Sua Pedra Natal . . . A Agua-marinha
Sua Flor Afortunada A Papoula
Côres Favoraveis .. Rôxo e Azul em todas as
suas variações e Branco

Característicos

Os que nascerem durante este período têm


vocações especiaes para a política e a religião, e,
frequentemente, sobresahem nas sciencias e na
litteratura; são affectuosos, abnegados e genero­
sos, mas têm muito orgivlho de fa m ília ; são extre­
mamente syniipathicos e bondosos para com os
que soffrem, si bem que sejam am igos de enfadar-
se e de orjticâr as faltas ou defeitos alheios; têm
habilidade manual e com accentuada facilidade
podem fazer desenhos e plantas.
Parecem possuir o dom de attrahir os passa-
ros.e são amantes das flores; têm inclinações a
serem inquietos e a não estarem satisfeitos com o
2 16 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

seu quinhão; têm o espirito dos vagabundos^


com desejos de viajar, mas sem idéas condensa­
das a esse respeito .
Geralmente são nervosos e lamentam-se de
não ter feito tal ou qual cousa; são desconfiados
e offendem-se facilmente e deveriam portanto
cultivar constantemente a confiança em seus as­
sociados. Estão destinados a occupar postos de
responsabilidade e a alcançar alta posição na vi­
da; antes, porém, é niecessario que tenham con­
quistado sua natural tendencia, de falar dos de­
feitos alheios; seus juizos sobre extranhos, ba­
seiam-se geralmente em apparencias pessoaes e,
devido á sua falta de tacto na escolha de amisa-^
des, soffrem m uito; são extremosos no que fazem
e deveriam cultivar'a moderação e ser cuidadosos
com sua saude.
Geralmente não se casam jovens e somente
podem ser felizes no matrimonio, quando tenham
dominado sua inclinação á critica, um dos prin-
cipaes obstáculos que lhes impede o bom exito
na vida. Deveriam casar-se com pessoas nascidas
nos mezes de Fevereiro ou Novembro.
A s mulheres gostam das flores e do colorido
e são amantes de todo o bello e artistico, tanto
no lar como fóra clelle. Os que nascerem nesta
epocha do anno não são constantes em suas re­
soluções; esperam que se faça mais por elles do
que se faz. Não lhes é característica a constancia
O G A L H O FEIRO 217

em propositos e acções. Deveriam ter por prin­


cipio, não murmurar sobre os demais, nem quei­
xar-se da sua (propria sorte. Este habito augmen-
♦a com a idade e torna-se insupportavel nos an­
ciões. Se lhe^aconselha não ser demasiadamente
generosos com o seu dinheiro, nem ptírder o tem-
])o em conversas inúteis; devem tratar sempre
de cumprir com a palavra empenhada e de de­
sempenhar as resoluções tomadas.
O segredo do exito depende, na maioria dos
casos, em ter confiança nos ideaes proprios e lu-
ctar por elles, deixando o resto da humanidade
trabalhar em pról de seus ideaes.
Outros característicos são: Para os nascidos
em Segundas-feiras, Inquietos; .Terças, Incons­
tantes; Quartas, Descuidados do bem proprio;
Qunitas, Constantes; Sextas, Honrados e F e ­
lizes; Sabbados, Inadvertentes; Domingos, An-
ciosos.

Conselhos

Aos que nascerem durante esto epocha do


anno, se lhes recommenda ser constantes em de­
sempenhar os seus propositos e concentrar as
suas idéas e acções; tratar sempre de dominar
ptfia tendencia em deixar-se levar pela corrente
sem oppor resisteincia; ser cuidadosos na escolha
de amisades, não limitando-se a julgar pelas ap-
parencias, que frequentemente são enganadoras.
218 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

Não devem perder o tempo em lamentações inú­


teis, depois de commetter um erro; devem apro-
veitar-se dos contratempos, ganhando experien-
cia para o futuro. Seu temperamento é nervoso
e não devem portanto, gastar suas energias “ tra­
tando de fazer,” porem emplregal-as em “ fazer. ”

Os meninos

Os meninos nascidos durante esta epocha do


anno são sensitivos, inervosos e algo delicados,
com tendencia ao hysterismo, quando se exci­
tam. Deveriam, consequentemente, associar-se
com pessoas socegadas e tranquillas. Devem ser
vestidos tão bem quanto as circumstancias dos
paes o permittam e dair-lhes alimento são e nutri­
tivo, pois que adoecem facilmente, sem causa
apparente alguma. K ã o deve permittir-se que in­
terrompam o seu trabalho, visto que esta falta
de constancia e de proposito, lhes será prejudi­
cial aò crescer. Deve-se permittir aos meninos*
briacar ao ar livre e ás meninas deve-se ensinar
os trabalhos caseiros e quando estejam na idade
de ajtolar, deve-se fazer-lhes comprehender que
se depende da sua ajuda para desempenhar
prcmptamente os trabalhos da casa.
O G A LH O F E IR O 219

H O R O SC O P O D E JU L H O *
4
Para pessoas nascidas entre 21 de Junho e
20 de Julho

Seu Signo Zodiacal. Cancer


Sua Estrella Tutelar A Lua
Seu Dia Ditoso . . . . Segunda-feira
Mezes propicios . . . Fevereiro e Setembro
Sua Pedra Natal . . . Onyx Preto
Sua Flor Afortunada A Rosa
Côres Favoraveis .. Gris e Rôxo

Característicos

Os que nascerem durante este período têm


uma intelligencia superior e accentuada habili­
dade para dirigir grandes emprezas; são de tem­
peramento dominante e muito ardentes, si bem
que frequientemfínte sejam considerados frios pe­
los extranhos; têm sympathias e antipathias
concentradas e somente põem em evidencia as
suas surprehendentes faculdades, quando rodea­
dos daquelles a quem amam ou com quem sympa-
thisam; são por temperamento temerosos dos
ruidos' noctwjnos, de permanecer sós na obscuri­
dade da poèreza e dos contratempos da vida.
De generosos e honrados sentimentos de-
vern comtudo precaver-se da inveja de seus ini­
220 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

migos e dos ciumes de seus amigos; são orgulho­


sos e severos e muito sensitivos, sobretudo, no
que diz respeito a desprezos ou falta de atten-
ções. Amantes do dinheiro e do que elle propor­
ciona, estas pessoas devem acautelar-se de levar
este amor, ao ponto de tornarem-se miseráveis
011 avarentos.
São amigos de velrem o seu nome na impren­
sa e sempre solicitam elogios ; resentem a critica
e especialmente sobre assumptos pessoaes; são
muito inconstantes e especialmente o são as mu­
lheres. Gostam das mudanças de climas e de pai­
sagens; têm uma memória excellente e possuem
facil e aguda percepção; são amantes do bello e
do artistico e gostam de vestir-se bem e elegan­
temente; ás vezes são >crueis e vingativos.
Os homens nascidos durante este periodo
têm muito boa vocação para a engenharia, a
agricultura, e para a electricidade; as mulheres
são intellectuaes e eloqüentes c sobresahem com
frequcfiicia em trabalhos civicos. Não são muito
constantes em seus affectos; deveriam, portanto,
ponderar seriamente sobre o matrimonio. .As
mulheres, sobretudo, devem estudar cuidadosa­
mente as suas tendencias, aprender a serem so-
cegadas e a governar os seus impulsos. ,
A s mulheres e os homens são amantes do
lar; desejam, porem, estarem sempre na qualida­
de de chefes. Não devem casar-se jovens; se lhes
O G A LH O F EIR O 221

aconselha esperar até que a experiencia lhes tenha


mostrado quaes são os verdadeiros méritos de
aquelle ou aquella com quem pretendem casar e
nuando estiverem completaimente seguros de
seus sentimentos, é resolver então, com sinceri­
dade, o proposito de assumir os deveres do matri-,
monio, tão bem como lhes seja possivel e com
disposição á consideração e respeito mutuo que é
a base de um matrimonio feliz. Tantò os homens
como as mulheres amam muito aos seus filhos e
a tal ponto que ás vezes esquecem os deveres pa­
ra comsigo mesm os.
Para maior felicidade se lhes recommenda
casar-se com pessoas nascidas durante os mezes
de Novembro, Março ou Janeiro.
O seu temperamento os faz amigos da ale­
gria, da luz e de tudo o que tolrna a vida prazen-
teira; não são sempre francos, nem dizem a
verdade em todas as occasiões; não são muito
amigos de trabalhar arduamente, o que, com fre­
quência, degenera em pjreguiça; aborrecem tra­
balhar debaixo de extranhos; mudam frequente­
mente de occupações e não são leaes nas suas
amisades, dando facilmente ouvido a murmu-
rações. . & £.[
Outros característicos predominantes são:
Para os nascidos em Segundas-feiras, inquietos
e Morosos; ÍTerças, Sensitivos; Quartas, Impul­
sivos; Ouintas, Dignos; Sextas, Dramaturgos e
222 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

Músicos; Sabbados, De boa indole; Domingos,


Amantes do bello.

Conselhos

Aos que nascerem nesta epocha do anno se


lhes recommenda não falar demasiado, porém,
dar ouvidos a contversações interessantes. Não
devem permittir que a suia natural sensibilidades
os domine em todas as occasiões, porém aprender
a reconhecer as boas qualidades no proximo, sem “
comtudo, deixar-se guiar pelas apparencias. De­
vem aprender a respeitar as opiniões alheias e
a dominar sua tendencia ao ciume. Uma vez que
tenham aprendido a conhecer os seus defeitos e
o modo de corrigil-os, o caminho para a felicida­
de, não será difficil de seguir.

Os meninos

Os meninos nascidos durante este periodo


necessitam de quem os guie carinhosamente, pela
senda do bem ; que os ensine a não ser orgulho­
sos; que lhes indique a necessidade de serem mo­
derados e que lhes demonstre como é convenien­
te saber apreciar as qualidades próprias, e, bem
assim, as alheias.
O GALHOFÇgRO 223

H O R O SC O P O D E A G O S T O

Para pessoas nascidas entre 21 de Julho e


21 de Agosto

Seu Signo Zodiacal. Leo


Sua Estrella Tutelar O Sol
Seu Dia Ditoso . . . . Domingo
Mezes propicios . . . Janeiro e Outubro
Sua Pedra Natal .. . O Rubi e o Diamante
Sua Flor Afortunada A Flor de Sabugueiro
Côres Favoraveis . . Rôxo e as Côres Escuras

Característicos

Os que nascerem durante esta epocha do an­


no, são bondosos, generosos e magnéticos; têm
temperamento emocional e possuem tambem for­
te intuição, a que deveriam obedecer na maioria
dos casos. Possaiem bem assim, suggestiva e po­
derosa personalidade, de altos e nobres ideaes,
com grandes poderes para o bem e a faculdade
de inspirar ao proximo de seguir esta senda tam­
bem. Têm grande amor ã familia e á patria ; não
darão ouvidos a murmuirações de uma, nem a
commentarios desfavoraveis de outra parte.
Têm tendencia a guardar antipathia á uma
pessoa sem causa apparente que a justifique e
ARSENAL^E gargalhadas

lhes é muito difficil dominar este rasgo de cara­


cter e mudar a opinião que tenham formulado.
Executam e desempenham bem, trabalhos
para outras pessoas; não gostam, porém, de de­
talhes; têm inclinação para fazer as cousas a seu
modo; são ás vezes muito preguiçosos e gostai^
de dormir mais do que as pessoas nascidas em
ouitras epoohias do anno. Têm especiaes disposi­
ções para desempenhar trabalhos de confiança e
occupar posições nas quaes se exige responsabili­
dade. São de um juizo são e geralmente de acer­
tada aplreciação; devem, por isso, depender de si
mesmos, a despeito do que disser ao seu proximc
Têm a tendencia de discutir pontos dos quae
inada sabem, pedir emprestado livros e outros ofc
jecfos, esquecendo-se de devolvel-os, gastar
tempo em diversões e distracções ou •dormindo
Na maioria dos casos" têm um temperamento d
facil accesso; são originaes e deveriam, com cons
tancia, tratar de ser individuaes no seu modo d
vestir procedendo do mesmo modo em sua cor
ducta, conversação e na localidade em que hãcí d
m orar; são bofns trabalhadores e ordinariament
obtêm bom exito m!os negocios, desde que nã<
descuidem a saude e saibam dominar a sua teu
dencia para a preguliça.
A atmosphera da cidade lhes é mais conve
niente, posto que são amantes do movimento 1
lhes agrada participar de uma vida agitada, ond
O G A LH O FEIR O 225

as opportiín idades são maiores e o campo de


acção mais extenso. Não são tão constantes em
seus propositos como deveriam ser e tampouco
tão honrados, como aquelles nascidos em outras
epochas do anno. Não gostam da critica sobre
sua pessoa, caracter oú trabalho, si bem que gos­
tem de criticaJr.
Si bem que tenham magníficas qualidades
de intuição, não são infalliveis em seus juizos,
■por isso, que ás vezes deveriam prestar ouvidos á
opiniões extranhas e desinteressadas. Si bem que
sejam bons trabalhadores, não são amantes do
trabalho mas uma vez que tenham resolvido a de­
sempenhar qualquer trabalho, se esforçam em fa-
zel-o correctamente.
Os homens têm vocação especial para de­
sempenhar cargos de caixeiros ou corretores e
geralmente aocumulam alguns bens de fortuna
alntes de chegarem á idade madura. O matrimo-
nio lhes é conveniente com pessoas nascidas em
Outubro ou Dezembro; não deveriam, porém, ca­
sar-se jovens, devendo fazel-o somente quiando te­
nham aprendido a dominar-se. As mulheres são
amaintes das crianças e do lar, tiratando sempre
de fazel-o confortável e alegre e um logar de re1
pouso e tranquillidade.
Característicos predominantes são: Para os
nascidos em Segundas-feiras, Iracundos; Terças,
226 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

Phleugmaticos; Quartas, Confiados; Quintas,


Talento para a arte plastica; Sextas, Vaidosos;
Sabbados, firm es; Domingos, Ambiciosos e afor­
tunados .

Conselhos

Aos que mtascerem duranle este periodo se


lhes rceommenda constancia e perseverança em
seus propositos; serem commcdidos na conver­
sação e comprehender que os seus juizos hão po­
dem ser sempre correctos; serem cuidadosos na
escolha de amisades; não gastarem tempo em
conversações estereis; não serem muito liberaes
com o seu dinheiro, pois que a liberalidade
exaggerada conduiz á pobreza e ás vezes á misé­
ria ; não se deixarem dominar pelo egoismo, posto
que, si bem que sejam bondosos, e sympathicos
por natureza, têm inclinações á serem egoistas.

Os meninos

Os que nascerem nesta epocha do anno são


sensitivos e emocionaès e devem, consequente­
mente, ser tratados duidadosamente. Desde mui­
to crianças, deve-se prohibir-lhes a imitação e en­
sinar-lhes á fazer as cousas á sua maneira, aju­
dando-lhes com bons conselhos. Sempre que as
circumstancias dos paes o permittam devem ser
vestidos com boa roupa, porem com simplicidade-
O G A LH O F EIR O 227 ,

H O R O SC O P O D E S E T E M B R O

Para pessoas nascidas entre 22 de Agosto e


21 de Setembro

Seu Signo Zodiacal. Virgo ,


Sua Estrella Tutelar Mercúrio
Seu Dia Ditoso . . . . Quarta-feira
Mezes propícios . . . Fevereiro e Novembro
Sua Pedra Natal . . . O Jaspe Rosado
Sua Flor Afortunada O Jasmin
Côres Favoraveis .. Ouro e Preto

Característicos

Os que nascerem durante este período são


bondosos, cortezes e de temperamento retrahido,
si bem que agradaveis quando em companhia; de
uma natureza extremamente amante, com um
amor puro e devotado; que quasi chega a adora­
ção. Devido aos s e u s méritos pessoaes, á sua in­
dustria, e ás suas inherentes faculdades mentaes,
estão destinados a alcançar altas honras e chega­
rão a desempenhar elevados cargos.
São práticos ; não perdem tempo em sonhos
nem em construir castellos no ar 011 perseguindo
illusões. São frios em seus raciocínios, claros pre­
cisos e exclusivistas; têm tendeneia critica e pen-
sadora e alem disso têm excellentes faculdades e

(
22» A R S E N A L DE G A R G A L H A D A S

talento para negocios preterindo tratar sempre


com gente rica e de distincção.
Têm um talenfto engenhoso e um grande
sentimento de justiça e de honra ; são amantes
da litteratura, das artes, da musica. d*o theatro, da
historia, das paisagens moWtanhosas e das belle-
zas da natureza. São methodicos e gostam da or-
deni e desejam que tuldo esteja bem collocáüo e
limpo, alliado á harmonia e ao bom gosto. São
de temperamento magnético e parecem possuir
o dom de aliviar os enfermos por meio de seu ma­
gnetismo; se interessam bastante nos assumptos
amorosos de seus amigos; são leaes e sabem
guardar os segredos que se lhes confia; têm for­
ça de vontade, conitudo, são facilmente persuadi­
dos a mudar de opilníião; são affectuosos e aman­
tes do lar e da familia; crêm na aristocracia do
sangue e nos beneficios que derivam associan­
do-se com pessoas de cathegoria; são amigos do
bom e do elegante e de vestir-se bem e com rou­
pas fin as.
0
Aspiram ao bom e ao grandioso que ha na
vida; todavia desanimam facilmente; têm mui­
to bom gosto para vestir-se; têm inclinações
para a musica e bem assim possuem grandes ap­
tidões para julgar a opinião publica e ler o cara­
cter das pessoas.
Os homens obtêm, geralmente, bom exito
O G A LH O F EIR O 229
•1
---------- ----------_ ----------------------------- _ — -------------- ---- — ---------------------------------------------------------- - -

como jornalistas; têm vocação para a archite-


ctura e tornam-se bons fazendeiros e chimicos.
Os que nascerem durartte esta epocha conservam
os attractivos da juventude por muitos ainnos;
detestam a confusão e a pressa, posto que a sua
aetividáde é mais mental do que physica .
Se inclinam a visitar as cidades populosas.
, onde hà maior opportunidade para o estudo do
caracter, costumes e idéas de outras pessoas. Em
geral se accumularem fortuna, tal não succede-
rá na juventude porém tarde da vida e mesmo as­
sim, muito provavelmente por meio do matri­
mônio. . . *
Os parentes e visinhos não os favorecem ; pe­
lo contrario, os tratam com indifferença. A ’ ca­
ça da fortuna, estas pessoas têm que emprehen-
der freqüentes, porém curtas viagens .
Lhes convem casar com pessoas nascidas du­
rante os mezes de Novembro ou Dezembro.
Quamto a apparencia physica, são geralmente de­
licados. bem formados, cabello cor de castanha,
olhos claros e criticos, graciosos, ageis e appa-
rentemente são de temperamento frio e melan-
cholico.
Outros característicos são: Para os nascidos
em Segundas-feiras, Firm es: Terças, Kgoistas e
Aventureiros; Quartas. Amantes, e Justiceiros:
Quintas. De vida folgada: Sextas. Analvticos:
'Sabbadus, Mechanicos; Domingos. Ordenados e
Econom icos.
/

230 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

Conselhos

Aos que nascerem «leste periodo se lhes acon­


selha precaver-se do egoismo e apprender a co­
nhecer os seus defeitos e a dominal-os. Alem dis­
so se lhes 'recotnmenda ser constantes em seus
propositos e tratar de e-ntabolar amisade com
pessoas de merito e não gastar o tempo em con­
versações ou luctas inúteis. Assim que tenham
adquirido o dominio proprio e obtido o conheci­
mento de suas faculdades mentaes, não lhes será
difficil progredir na vida e encontrar, afinal a sa­
tisfação de haver procedido bem e a recompen­
sa de haver veWcido.

Os meninos

Os meninos nascidos durante esta epocha do


anno são perspicazes e de uma intelligen'cia desen­
volvida e precoce; têm facil comprehensão e so­
bretudo no que se refere a cousas mulndanas, por
isso que é prudente tratar d í apartal-os de todo o
conhecimento que na sua idade lhes possa ser
nocivo. Estas crianças são amantes das bellezas
naturaes; deve permittir-se-lhes o exercicio ao ar
livre e a tomar banhos com frequencia, que, alem
de ser hygienico, serve também para desenvolver
o corpo e ao mesmo tempo para drear costumes
sã o s.
O GALHO FEIR O

H O R Ó SC O P O D E O U T U B R O

Para pessoas nascidas entre 22 de Setembro


e 21 de Outubro

Seu Signo Zodiacal. Libra


Sua Estrella Tutelar Venus
Seu Dia Ditoso . . . . Sexta-feira
Mezes propicios . . . Agosto e Dezembro
Sua Pedra Natal . . . O Diamante e a Opala
Sua Flor Afortunada A Sempre-viva
Côres Favotaveis . . Rôxo e Azul

Característicos
/
Os nascidos duraftute esta epocha do anno são
ambiciosos, generosos e frequentemente são do­
tados de uma intelligemcia superior. Não perdem
facilmente as esperanças em obter o que aspira­
ram; são enthusiastas e os obstáculos, contra­
tempos e as cahidas, parecem incutir-lhes novas
energias para a lucta.
São descuidados em matéria de dinheiro c,
si bem que honrados por natureza, retardam fre­
quentemente o pagamento de suas dividas- e a
miudo esquecem as que contrahiram, isso porque
não apreciam o valor do dinheiro-.
São bondosos e amaveis e aborrecem a cruel­
dade, qualquer que ella seja ; são escrupulosa­
2 J2 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

mente asseiados — detestam, pois, a falta de


limpeza; gostam dos prazeres c attractivos da vi
da social, mas frequentemente incorrem cm ex­
tra vagancias com o fim de maruter as apparencias
de uma posição que os seus meios não permittem;
são amigos de adulações e se offendem facilmen­
te com as criticas; desperdiçam o tempo tratan­
do de fazer varias coisas de uma só vez; confun-
dem-se facilmente, por isso que não gostam de
atravessar ruas muito movimentadas ou nas
quaes ha muito trafico; não são tão constantes
em seus propositos como deveriam, e devido, tam­
bém, á sua impaciência, deixam dé aproveitar op-
portunidades que lhes (proporcionariam vantagens
c melhoramentos.
Não se sentem contentes e felizes quando
obrigados a ausentar-se da familia ou amigos,
por isso que se lhes recommenda fazer o possí­
vel, desde muito cedo na vida, de estabelecerem-
se definitivamente em determinado lugar. Os
homens tratam de abrir caminho pela vida,
apoiados nos esforços próprios e, frequentemen­
te, chegam a serem corretores da bolsa ou jo ga­
dores e, na ultima hypothese, dependem quasi
sempre de sua boa intuição, para ganhar nos jo ­
gos de azar.
A s mulheres são extravagantes e têm tam­
bém inclinação para gastar dinheiro -facilmente,
e a não prestar-lhe grande attenção e como os
O G A LH O F EIR O 233

homens, pedem empréstimos freqüentemente, que


logo esquecem d e p a g a r. Tanto os homens como
as mulheres, deveriam sempre pórem em pratica
as idéas pro,prias e òriginaes e exercerem ,o ma­
gnetismo natural com que são dotados; não lhes
convem associâr-se com toda a classe de pessoas;
devem ser precavidos na escolha de amisades,
visto haver quem se aproveite de sua bondade
natural para con|vertel-a em beneficio proprio.
Os homens nascidos neste periodo são muito
amados, especialmente !pelo bello sexo.
O matrimonio lhes é rtiais conveniente com
pessoas nascidas durante os mezes de Fevereiro,
Março, Maio ou Agosto. Geralmente torntam-se
bons cirurgiões e politicos: deveriam viver na
cidade onde o campo de acção é mais extenso e
as o,pportunidades mais freqüentes. São inclina­
dos a julgar as cousas e as pessoas segundo as
apparencias e frequentemente deixam de apro­
veitar todas as suas faculdades naturaes no me­
lhor sentido possivel.
. Outros característicos são: Para os nascidos
em Segundas-feiras, Independentes. Terças, Ju s ­
ticeiros. Quartas, Defensores dos fracos. Quin­
tas, Ambiciosos. Sextas, Iròquietos. Sabbados.
Capacidade para commandar. Domingos, A rro­
jados e felizes.
234 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

Conselhos

Aos que nascerem durante esta epocha do j


anno se lhes recommenda serem methodicos e i
ter ordem; não dar ouvidos a elogios exaggera- ^
dos; devem prestar muita attenção aos man- 1
datos de sua própria consciência. Devem apreni-I
der a ser pacientes, posto que geralmente o b -J
têm bom exito, si bem que tarde da vida; devem I
procurar a companhia de pessoas amaveis e e v i-1
tar a solidão; devem evitar tudo o que seja tragi-
co, pois o seu: temperamento sensitivo, se resentel
facilmente çom tal genero de calamidades.
«I

Os Meninos 1
Os meninos nascidos durante este periodo, j
são geralmerlte de caracter exaltado e coléricos; ]
têm grande habilidade para-a mechanica;' são <le j
íacil com(prehensão e bons juizes do caracter hu- 1
mano. Deve-se dizer-lhes sempre a verdade e 1
nunca se deve castigal-os sem razão. Quando 1
se enraivecerem não se deve ralhar até que te- 1
nharp voltado ao estado normal e quando es- *
tiverem calmos, proceda-se então a raciocinar so- 9
bre o caso. Estas criançàs necessitam ser educa- 1
das muito cuidadosamente, afim de tornarem-se I
uteis a si mesmas, á sua familia, aos seus sem e-1
lhantes e á patria. ,
O G A LH O F E IR O 235

H O R O SC O P O D E N O V E M B R O
'
Para pessoas nascidas entre 22 de Outubro
fe 21 de Novembro

Seu Signo Zodiacal. Escorpião


Sua Estrella Tutelar Marte
Seu Dia Ditoso . . . . Sexta-feira
Mezes propicios . . . Janeiro e Julho
Sua Pedra Natal . . . O Topázio e o Chrysolito
Sua Flor Afortunada A Acacia
Côres Favoraveis .. Verde e Preto

Característicos

Os cjue nascerem durante este período pos­


suem extraordinaria força de vontade, sangue
frio e têm muita habilidade para os trabalhos ma-
nuaes e geralmente grande tinio e bom gosto na
conversação. Quando não estejam occupados em
algum assumpto sério, são affaveis e cortezes,
mas ás vezes são rudes, a ponto de tornarem-se
cruéis. São poderosos e magnéticos e frequente­
mente sobresahem pelo seu genio; parecem exer­
cer uma injfluencia peculiar sobre os seus simi-
Ihantes; 11a maioria dos casos, .porém, esta in­
fluencia é para o b em .
São amantes dos bens terrestres, da boa rou-
pa e bonis alimentos. Inclinam-se á indolência;
236 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

são, porém, bons trabalhadores quando se inte­


ressarem em desempenhar o trabalho que têm
em mãos : geralmente estão muito occupados com
os seus proprios assumptos para prestar attenção
ou intrometter-se no.s assumptos alheios; obtêm
bom exito em emprezas • importantes e quanto
maior responsabilidade haja e quando maior fòr
a empreza, tanto mais se interessam em termi-
níal-a satisfactoriamente.
Têm abundancia de idéas originaes •com re­
lação ao seu trabalho e não gostam de empregos
em que estejam subordinados a ordens superio­
res,onde raras vezes manifestam suas faculdades;
têm mais interesse e obtêm melhores resultados
quando estão na qualidade de directores ou á
frente de um movimento ou negociação.
Si bem que os homens tenham inclinação á
indolência, são amigos de ívudanças e sua estrel-
la os impulsiona sempre em direcção de maiores
realizações e emprezas mais afortunadas. Têm,
não obstante, o costume de deixar as cousas para
mais tarde c* este é um dos seus principaes defei­
tos e o qual parece pôr mais obstáculos no ca­
minho da vida. As mulheres nascidas durante
esta epocha do anno, amam os prazeres e não
têm muita consideração aos mandatos e restric-
ções sociaes.
Tanto os homens como as mulheres, g e ra l­
mente, g#stam demasiadamente das adulações:
O G A LH O FEIR O 237

amam tamhem as distracções e querem que se


lhes preste attenções continuas. Tambem têm
tendenicias á extravagancia. á ter caracter alegre
e despreoccupado, o que ás vezes reverte em de­
trimento proprio.
Têm a palavra facil; são eloqüentes orado­
res e geralmente viajam muito e para paizes lon-
ginquos; são bons escriptores, artistas e excellen-
tes cirurgiões ou ecclesiasticos. Embora tenham
um coração bondoso e arden/te, são, comtudo crí­
ticos e de caracter frívolo, por isso que não são
comprehendidos frequentemente.Carecem de am­
bição e ás vezes de iniciativa; naturalmente sen­
sitivos e ciumentos, têm a tendencia de não estar
satisfeitos com a sua posição na vida.
A s mulheres são ás vezes enfadonhas e in­
clinam-se a commentar faltas alheias, habito este
qtie devem tratar de dominar em todas as occa-
siões. Tanto aos homens como ás mulheres lhes
convem o matrimonio com pessoas nascidas du­
rante os mezes de Junho, Julho ou Janeiro, pois
são mais propicias á felicidade conjugal.
Os característicos que predominam são:
Para os nascidos em Segundas-feiras, Dispostos
a censurar; Terças, Bondosos sem ser demons­
trativos; Quartas, Am igos de discutir; Quintas,
Orgulhosos; Sextas, Presum pçosos; Sabbados,
Ardentes; Domingos, Amantes do luxo e do bello
sexo.
238 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

v Conselhos

Aos que nascerem durante esta epocha do


anno, se lhes necommenda prudência e tratar de
dominar, as suas paixões, aproveitando sempre as
boas e especiaes faculdades que possuem, para o
bem e para progredir na vida. Uma vez que te­
nham realisado as suas aspirações, não deveriam
esquecer as suas amizades e companheiros' de
outros tempos e ter em conta, que wm amigo leal
e verdadeiro, não se compara com uma duzia de
admiradores interessados. Deveriam, desde mui­
to cedo, dominar sua tendencia a ser exigentes,
sobretudo 110 que se refere á pequenez, e, deixar
de lado, as suspeitas e ciumes inúteis. Então,
não lhes será difficil realizar as suas aspirações.
1
Os Meninos

Os meninos nascidos durante este periodo


têm tendencia a ser dominantes ; querem sempre
que se lhes proporcione divertimentos e que se os
cntretenha; geralmente são inquietos e exigem
immediata attenção aos seus desejos; são babeis,
intelligentes, de facil comprehensão e de boa me­
mória; amam os animaes e se deliciam em vestir-
se bem .
O G A LH O F E IR O 239

H O R O SC O P O D E D ^ E M B R O

Para pessoas nascidas entre 22 de Novembro


e 21 de Dezembro

Seu Signo Zodiacal. Sagittarius


Sua Estrella Tutelar Júpiter
Seu Dia Ditoso . . . . Quinta-feira
Mezes propicios . . . Fevereiro e Junho
Sua Pedra Natal . . . O Diamante e a Turqueza
Sua Flor Afortunada A Dahlia
Côres Favoraveis .. Roxo, Verde, Amarello e
Preto

Característicos
J
^ ,

Os que nascerem durante este periodo são


Brancos, progressistas e energicos e têm geral­
mente grande confiança em seus similhantes;
| sao impacientes e não podem, pois, supportar es-
Iperas longas; são práticos e executivos, o que
s com frequenoia os torna iludes para com as pes­
soas qiu,e nião possuem um caracter tão dilligente;
j, rrjcommodam-se facilmente e são de um tempera­
mento sem reflexão, mas, geralmente, não guar­
dam resentimentos.
Não obtêm bom exito quando interessados
em negocios alheios; são impulsivos e desejam
fazer as cousas a seu modo, o que, com frequen-
240 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

cia, confunde os seus companheiros de trabalho;


em regra geral são optimistas e, seus bons pro-
gnosticos e esperanças, são frequentemente re-
alisados; possuem uma, intuição aguda; são per­
spicazes e na grande maioria dos casos, são mui­
to afortunados em negocios, nos quaes haja
muito dinheiro empatado.
Geralmente viajam extensamente e muito
raras vezes morrem na mesma localidade em que
nasceram; são de um temperamento musical e
artistico e sobresahem mas artes e na litteratura;
não são amigos de intrometter-se em assumptos
alheios; preferem terminar um determinado tra­
balho, antes de dar cometo a otutro; são cuidado­
sos e methodicos no trabalho; não admittem in-
terferencia em seus assumptos, sobretudo, no que
se refere a sua personalidade. São tão afortuna­
dos em matéria de dinheiro, que é raro encontrar
uma destas pessoas, que não tenha conseguido
accumular alguns bens de fortuna.
Os que nasceram durante esta epocha do
anno, são amantes da verdade e honrados; as
promessas feitas, são consideradas sagradas por
estas pessoas; são tão sinceros, que ás vezes se
equivocam em seus juizos em relação a extranhos
pois esperam que todos tenham o memo gráo de
honra e bondade.
Não são sufficientemente cuidadosos em sua
conversação e, por falta de tacto, são ofíensivos
í
O G A LH O F EIR O 241

com frequencia. Possuem boa saude e geralmen­


te vivem por longos annosi^Wb lhes convem pres­
tar muita attenção aos conselhos ou indicações
de extranhos, pois commummente têm originali­
dade própria e magniifica intuição.
A s mulheres deveriam considerar seriamen­
te o matrimonio, posto que, se não encontrarem
no mesmo o apreço e consideração esperada, se
desenganam facilmente e perdem todo o interes­
se na vida. Aos homens se recommenda, que-
antes de casar, estudem detidamente a futitra es­
posa. Uma vez casados, devem abandonar os
ciumes e as suspeitas infundadas e ter confiança
na esposa. Convem-lhes o matrimonio com pes­
soas nascidas nt>s mezes de Abril, Agosto ou N o­
vembro .
Os que nascerem nesta epocha do anno, de­
vem tratar, em todas as occasiões, de manter sua
individualidade, posto que, nella está encerrada
o segredo die sua fo rç a . Dev.em ter poucos ami­
gos intimos e tratar de não offendel-os; não de­
vem commentar os defeitos de suas amizades
nem dar ouvidos á intriga; tambem não devem
depender muito do apreço e da gratidao dos ex­
tranhos ou favorecidos, posto que soffrerão de­
cepções com frequencia.
Outros característicos são: Para os que nas­
ceram em Segundas-feiras, Habilidade para a
musica; Terças, Engenhosos; Quartas, Amantes
16
A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

da arte; Quintas, Poetas e Músicos; Sextas, In­


dependentes; Sabbados, Sombrios; Domingos,
Religiosos.

Conselhos
*
Aos que nasceram durante esta epocha do
anno se lhes aconselha aprender a conhecer os
seus defeitos e o modo de corrigil-os e ao mesmo
tempo aproveitar suas faculdades m&turaes; de­
vem ser liberaes em suas apreciações e respeitar
as idéas alheias; devem, em todas as occasiões,
tratar de dom inar'a sua rudeza, ser commedi-
dos nas palavras e aprender que o caminho mais
curto, para a senda da felicidade, é aquelle que o
homem percorre, com o conhecimento de suas
faculdades, o proposito posto em pratica de corri­
gir os seus defeitos, a confiança em si mesmos e a
resolução e perseverança, em terminar o que foi
proposto, alcançando assim a realisação de seus
ideaes. 1

Os Meninos

Os meninos nascidos durante esta epocha


do anno devem ser guiados com carinho; são
amantes e sympathicos e deveriam ter amigui-
nhos e companheiros em abundancia, posto que
parecem ter intuição <rtatural para escolher os
O G A LH O FEIR O 243
------------------
que têm nobres e generosas aspirações.
Não devem ser castigados, a menos que se.saiba
com absoluta certeza que tenham incorrido em
falta; devem ser tratados amigavelmente e deve-
se dar-lhes occupaçõe's accessiveis ao seu genio.

* * *

M ODO D E A C H A R -S E O D IA D A S E M A N A

Em que occorreu um acontecimento determinado

Tome-se as duas ultimas cifras do armo e


addicioníe-se á mesma a quarta parte do total
que formam, desprezando as fracções; ao resul­
tado addicione-se o dia do mez e a deste total
addicione-se o algarismo que corresponde como
pela seguinte tabella:

Janeiro ............... 3 J u l h o ................... 2


Fevereiro 6 Agosto ................ 5
Março ............. 6 S e te m b r o ............ i
Abril .................... 2 Outubro ............. 3
Maio ................. .. 4 Novembro . . . . . 6
Junho ................. o Dezembro . . . . . . 1

[Divida-se o resultado desta somma *por 7 e o


quociente corresponderá ao dia da semana, eqüi­
valendo r ao Domingo, 2 a Segunida-feira, 3 a
244 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

Tefça-teira e etc. Se nào houver quociente al­


gum, o dia é o Sabbado.
Tome-se, por exemplo, o dia 3 de Abril de
1894. Deseja-se saber em que dia da semana
cahiu esta data. A quarta parte de 94, que são
os dois últimos algarismos do anno, é 23, despre­
zando-se as fracções; 23 sommado a 94 é 117.; a
este montai>te addicione-se o dia do mez e o re­
sultado é 120: a este total ainda, se addiciona o
algarismo correspondente a Abril e o total 122
se divide por 7. O quociente desta divisão 6-3,
que segundo explicado anteriormente, corres­
ponde a Terça-feira. Do que se deduz que o dia 3
de Abril cahiu em uma Terça-feira.
* * $

O Manoel Mendes — enriquecido no com-


tnercio de alhos e cebolas — íôra a bordo receber
um irmão, despachado directamente dos Açores-
Houve os abraços do estylo.
Chegando ao escriptorio. no fundo do arma­
zém, abi deixou elle o mano, meio gebo e zarro e
inda maravilhado do movimento da cidade.
A o sahir, perguntou-lhe:
— J á almoçaste, mano?
— Não#tive tempo a bordo, respondeu este.
— Tanto melhor. Comeremos juntos, vou
mandar vir um almoço avantajado.
246 A R S E N A L DE G A R G A L H A D A S

" E s t e acto de liberalidade é tini debil teste­


munho da minha gratidão pela felicidade que,
graças a estas senhoras pude gozar durante toda
a minha v id a .
* s|t *

No tribunal durante um julgamento, per­


guntava o juiz a uma das testemunhas:
— O senhor estava presente -quando o ac-
ctisado dibparou o primeiro tiro?
— Estava, sim senhor. %
— A que distancia? • >
— A dois ipassos.
— E quando disparou o segundo?
— A um kilometro.

Jjí >]í

Uma dama, por signal muito gentil, viajava


num bond de Catumbv e, quando o carro che­
gou adiante da Estação Central, disse ao condu-
ctor, que tocasse a campainha para apear. Sim-
plicio que desejava apear uo mesmo ponto e que
ouviu isso, bradou ao conduictor: Olhe, toquie duas
vezes, que eu tambem quero descer.
* * *

A palavra dinlheiro é por demais fatal, por­


que tem a força de mudar spamizade em traição e
a fidelidade em perfidia .
O G A LH O F EIR O 247

Viajavam nos Estados Unidos, cm caminho


de ferro, um americano, um francez e ,11111 hes-
panhol.
O americano não se fartava de fazer notar
aos companheiros de viagem as maravilhas do
seu paiz. Naturalmente, a conversação recahiu
na velocidade d’aquelle meio de transporte. O
americano sustentava (jue era 11a America onde
havia a maior rapidez nas viagens.
O francez inpugnava, affirmando que em
França os expressos percorriam sessetoita leguas
em duas horas. •
A discussão ia já tomando maior calor, quan­
do o hespanhol, empertigando-se, e com aquelle
orgulho bem conhecido dos descendentes do Cid
campeador, exclam ou:
— Que estão os senhores para ahi questio­
nando sobre velocidades? Não ha 11a terra cami­
nhos de ferro que possam competir, em velocida­
de, com os de Hespanha.
— Ora adeus! disse o americano.
— Que fanfarrão! ponderou o francez.
— C aram b a! não riam os senhores çxcla-
mou o hespanhol. Em Hespanha a rapidez das
viagens é tal que, um dia, indo de Ciudade Rodri­
go para Madrid, ao pararmos em uma estação,
enfadei-me com o chefe e levadntei a mão para lhe
pespegar uma bofetada. . .
— E então?
248 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

— Quando a despedi, era o chefe da estação


seguinte que a apanhava! .. .

• i 1 * * *

— Então, meu caro critico, que pensa você


do meu drama ?
— Esplendido! Os ladrões, então, são admi-
raveis! Até as palavras que elles dizem, são rou­
badas .

* * *

— E ’ preciso que elle se comporte, dizia o


padre ao sacristão.
O tal sujeito era um atheu pavoroso. E fi­
cou convencionado: o sacristão seria o Senhor
dos P a s s o s ; e collocou-se todo vestido de roxo e
de cruz ás costas, no altar.
Entraram o padre e o atheu na igreja.
— Senhor dos Passos, diz o padre, não é teu
desejo que este infiel se converta?
O falso santo move com a cabeça .
P atheu, aterrado, ajoelha-se, e pÕe-se a con­
fessar :
— Padre, os filhos da mulher do sacristão
são meus filh os.. .
— Cão! diz o sacristão; si eu não fosse o Se­
nhor dos Passos, quebrava-te as ventas com esta
O GALHO FEIR O 249

O commendador Anastacio Fagundes en­


contra uma dama sua conhecida que vinha acom­
panhada da ama, e com o filhinho.
— E ’ seu? pergunta.
— Eí.
. — Que idade tem ?
— Quatro mezes.
— E ’ o u ltim o ? ...
i
k * *

E m um exame de doutrina:
— Quantos sacramentos ha?
— A g o r a . . . nenhum .
— N e n h u m ? !...
— Nenhum, porque hontem morreu lá um
visinho, e o papá disse que elle tinha tomado o
ultimo sacramento.
í}i y

O filho do commendador Anselmo Pascacio:


— Papai! Que quer dizerDominus tecum?.
Commendador:
— E u não sei, meu filho. Posso, porém, di­
zer que é muito bom para os espirros.
* * *

Um geflfieral castelhano chama o comman-


dante de um dos regimentos sob suas ordens, e
diz-lhe:
250 A R S E N A L DE G A R G A L H A D A S

— O rei ordena que disponha as cousas de j


manèira a ser a ilha tomada de assalto. Diga-me: ]
julga poder operar ali um desembarque com o I
seu regimento?
— Permitta-me general, que anfes de res - 1
porlder-lhe dirija uma pergunta.
— D ig a .
— O sol entra na ilha?
— E stá claro que entra.
— Pois bem, si o sol entra lá, tambem o meu^J
regimento ha de entrar.
* * *
Entre duas amigas intimas:

— Digo-te que ninguém se pode fiar nos ho- I


meMs: o meu noivo chama-se Franco e é o sovina 1
que tu sabes. . .
— Ai. filh a ! Que direi eu do meu que se cha- j
ma Casto?. ..
* * *
Bocage entrou em uma taverna e perguntou: 1

— Poderei comer aqui com o meu dinheiro? 1


() dono do estabelecimento olhou com sur- 1
presa para o recem-chegado e respondeu :
— De certo, senhor, o que quizer.
E começou logo a fazer uma loflga enumera- I
cão das iguarias que podia pôr á disposição do 1
seu mterlocütor. . .
O G A LH O F E IR O

Bocage escolheu os pratos que mais lhe


agradavam, repetiu com relação a cada um delles
a pergunta que já íizéra. «O taverneiro, que ria já
daquella insistência, respondia sempre affirmati-
vamente como bem pode suppor-se.
Senta-se o poeta come e bebe á regalada, e
afinal dando por concluida a refeição, levanta-se
e saca da algibeira um vintém, que entrega ao
proprietário do estabelecimento.
— Que é isto? pergunta este ultimo com pro­
funda estupefação.
— Disse-me umas poucas de vezes que eu
podia comer o que quizesse com o meu dinheiro,
e nada mais lhe devo por consequencia, visto que
o meu dinheiro é só esse.
— Tem razão, respondeu o taverneiro, des­
ce r-rando os labios em um sorriso amarello, e per­
doar-! he-ei de bom grado com uma condição. . .
— Qual é.
—- Ha de ir fazer o mesmo no estabelecimenr
to fronteiro a este. . .
— A h ! Creia que muito me custa não poder
acceder ao seu desejo, se n h o r... J á fui hontem
comer com o meu dinheiro na taverna do seu vi-
sinho, e foi elle quem me mandou a q u i..
* * *

Um pobre diabo pára defronte da vitri­


ne de uma casa de artigos de viagem.
A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

— Quer.comprar uma mala? perguntou-lhe


o dono do estabelecimento.
— Para que ?
— Para guardar sua roupa.
— E eu então hei de passear nu'?
* * ^

Pergunta de uma creança á sua m ã e :


— Para honrar pai e mãe, que é preciso
fazef?
— Beijal-os, fazer lhes muitos carin h o s...
— E a isso se chama honrar?
— Sim, meu filho.
— Pois eMitão papai está sempre honrando a
creada.
. 5jí íjí

Uma senhora muito distrahida encontra uma


sua amiga vestida de luto.
— Teve algum desgosto de familia?
— Sim, perdi meu marido.
—- A h ! que pena!. . . E tinha só esse?
* * *

No tribunal, um marinheiro, -muito falador,


depõe como testemunha.
— Como é que a testemunha soube desse
facto? '
• — Como soube? Oculos meus viderunt.
O G A LH O F EIR O 253

— A testemunha sabe latim?


—- Si sei latim. Sr. Juiz? Assim soubesse eu
ler e escrever. ” v
* * *-
— Qual foi o maior homem da antiguidade?
— Foi o gigante Golias. . .
— Não pergunto o maior em estatura, ata­
lhou o professor, franzindo os sobr’olhos.- Quero
saber qual foi o maior em feitos heróicos.
— A h ! J á sei, acóde promptamente o disci-
, pulo: foi Sansão, que matou mil philisteus com
uma queixada de um burro, professor.
ij; jf;

Fazia-se uma vez no Cassino uma subscri-


pção em favor de uma familia desgraçada, e um
conhecido avarento, que estava presente e que
não conseguira escapar-se a tempo, viu-se força­
do a deitar tambem o seu obulo nn sacca.
Logo em seguida teve de sair do salão, ao
qual voltou passados minutos.
A senhora encarregada do peditorio dirigiu-
se de novo para elle e apresentou-lhe a sacca se­
gunda vez,
— J á dei, exclamou vivamente o sovina.
— A h ! perdão. . . não tinha visto, mas acre­
dito, respondeu a senhora .
— Pois eu, replicou alguem, do la/io, vi e ain­
da não acredito!
A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

O domicilio, senhores,
Da morte qualquer explica:
— Nos tinteiros dos doutores, _
— Nas garrafas da botica.
* * *

Um moço, em roda de boa gente, começou a


rir-se de um velho.-
— Não sabeis, disse o ancião, que um asno
de 20 annos é mais velho do que um homem
de 6o ?
* * *
Viajam dois avarentos. O paiz que atraves­
sam não tinha muitas hospedarias. Um dia per­
ceberam que não encontrariam sitio onde co­
messem e um delles perguntou ao outro:
— E você lembrou-se de trazer alguma
coisa? í
— Trouxe uma garrafa de vinho.
— Ainda bem-
— E você?
— Eu trago uma lingua secca.
— Foi boa idéa. Podemos dividir as ndssas
provisões.
—- Está dito. Comece.
O primeiro tirou a garrafa de vinho, o outro
bebeu que se regalou, e foi andando. O primeiro
bebeu tambem e, enxugando a boca, disse:
— Agora venha de lá o que você ahi tem.
O GALHO FEIR O 255

— Eu ?
—- S im .
— One é que tenho?
— Então você 'não disse que tinha uma lin-
gua secca?
Tinha aiinida ha pouco, mas agora já está
m olhada.
* * *

— E ' uma vergonha, dizia um caixeiro da


Torre E i ffel o modo como certa gente royba os
patrões que os empregam. Ha aqui na casa de­
fronte, que está em obras um pedreiro, que (vi eu
com os meus olhos) esteve hora e meia sem fazer
nada. Vim para a-porta de proposito e não o per­
di de v ista .
* * *

Monologo de Simplicio, a suar em bica :


— O Supremo Architecto do Universo não
andou avisadamente pondo o frio no inverno e o
calor no verão. Devia ter feito o contrario; por-
Ique no inverno o calor seria para nós uma delicia
e no verão o frio seria U|in encanto, em vez de se­
rem dois flagellos.
* * *

Foi por occasiào da guerra de Marrocos. De­


pois de uma grande batalha, estavam as tropas
bespanholàs no acampamento, descançando e
A RSEN A L DE GARGALHADAS
*
contando episodios do dia. Cada um relatava as
façanhas que tinha praticado- No meio daquelle
côro de bravuras, um andaluz exclamou:
— Pois eu não pude fazer muito, porque es­
tava na reserva, e só entrei em fog-o no fim da ba­
talha: mas ainda assim o inimigo teve boas noti­
cias minhas.
— Então que fizeste?
— Cortei as pernas a um m ouro!
— E porque lhe não cortaste a cabeça? in-
terpellou um official que passava.
- Porque essa-, respondeu o andaluz, per
filando-se, porque essa, meu capitão, já lh’a ti­
nham cortado!
>}c >}; íje

Um estudante de medicina faz exame em


Dezembro e sae reprovado. Passa, no mesmo dia,
o seguinte telegramma á sua familia, que reside
em Matto Grosso:
“ Exam e esplendido! Os lentes ficaram tão
enthusiasmados que reclamam repetição do exa­
me em Março! Parab én s!”

:Jc s{í *

Barbeiro demorador,
Não me pilhas outra v e z !
Mal haja o pai que te fez!
Devera ser m alfeitor!

0 G A LH O F E IR O 257

Com a barba em sangue, em fogo,


Tanto tempo aqui sentado,
Que outra nova tem brotado!
Mal que a raspas, cresce logo!
%H í
Um leiteiro leva pela manhã a lata de leite a
um botequim .
— Mas que diabo é isso? Você traz-me agua
pura? exclama o caixeiro, olhando o interior da
la ta .
O vaqueiro olhaj^or seu turno, e exclama:
— Ora e ssa ! E nao é que, com as pressas, me
esqueci de lhe pôr o leite!
* * *
— Doutor, tenciono offerecer este quadro a
uim estabelecimento de caridade. A qual me acon­
selha que o dê?
— Ao Asvlo dos Cégos.
* * *
Um pai de familia, indignado:
— Ora o diabrete da pequena! Então não
misturou os charutos todos de forma que con­
fundiu os que fumo com os que destino para as
visita s!
* * *
Um tenente de marinha escreveu á filha de
um contra-almirante este bilhete:
17
258 A R S E N A L D E G A R G A LH A D A S

“ Gentilissima senhora: poderei içar a minha


banjdeira na ilha divina do seu coração?”
A moça respondeu:
— Mil vezes obrigada. E ssa ilha já está so-
br,e o protectorado de meai primo, o capitão R o ­
berto.
* * *
t
Um sujeito, pedindo desculpas a uma senho­
ra de umas inconveniencias que lhe dissera, ex­
plica : , ;
— V . L'x. beim vê, teudo eu perc1 den­
tes da f- ente, as palavras sahem se: j 0,1 dê
por isso.
* * * i
Uma senhora havia amiiunciado precisar de
uma creada para coziruhar e engommar; batem á
porta e uma mulata pimpona, bem vestida e de
luvas, se lhe apresenta.
— Precisa de uma creàda?
— Preciso, mas que saiba cozinhar e en­
gommar .
— E qual o ordenado?
— Sessenta mil reis por mez-
— Convenume. A que horas me levanto?
— A ’s sete no inverno, ás seis no verão.
— Tenho quarto?
— Tem, no primeiro andar.
— E ’ esteirado o meu quarto?
— De certo.
O G A LH O F EIR O •250

— Tem quem taça a limpeza do meu quarto?


— Está visto.
— Tem tambem quem faça as compras?
— J á se vê.
— A creada que a senhora tem lava a loúça e
faz a limpeza da cozinha?
— Isso não se pergunta.
— Quando eu estiver de enxaqueca, a senho-
ra.manda vir a comida do hotel?
— Está bem visto!
— Quanido posso vir?'
— Amanhã si quizer.
— Então até amanhã.
E a creada vai abrindo a sombrinha para re­
tirar-se, quando a senhora lhe pergunta:
— Diga-me uma cousa: sabe tocar piano?
— Não minha senhora.
— Então não me serve.
* * *

Um moço que ia casar, foi confessar-se na


vespera a um padre, que sem a itnenor difficulda-
de o absolveu. Depois de já se haver retirado, do
confissionario, lembrou-se de que o padre não lhe
tinha dado a penitencia, e, suppondo que fôra es­
quecimento, voltou ao confessor e disse-lhe:
— Padre, venho lembrar-lhe que não me deu
penitencia.
— Pois não me disse que ia casar-se am anhã?
replicou o confessor. E ’ quanto basta.
20 O A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

A sra. Z . manda o copeiro á venda.


— Manuel, vai ver quanto custa meia pata-
ca de mainiteiga.
* * *
Em face de um andor que tinha quatro anjos,
um em cada canto, uma menina, que assistia á
procissão de Santa Maria, perguntou á mãe,
apontando para os anjos:
— Que creanças são aquellas?
— São aníjos, respondeu a m ãe. .
— E todos os anjos têm azas, mamãe?
— Sim, todos os anjos têm azas.
— Não é verdade, diz a creança, convicta; o
papai, ao sahir hontem, deu uma pancadinha no
rosto da ama, chamando-lhe de a n j o . . ’. e ella não
tem azas!
— Tem sim, mkuha filha ; quando chegarmos
á casa, verás como eu a faço voar pela porta fóra,
com 'a z a s ... de p á u !
» 5jí j{C ?fí

Qual o nome proprio que começa na panella


e acaba no espaço?
— Z o ro a str o .. •
* * *
—- Quaes são as duas cousas .muito aprecia­
das, quando separadas, e que juntas desagradam
ao paladar?
— Am argoso.
O GALHO FEIR O 261 .

— Em que se parecem os instrumentos de


sopro com os rios?
— Em ter embocaduras.
* *• *

Calino, enviuvando, mandou gravar 11a se­


pultura de sua cara metade, a palavra Saudade.
Por que não põe, objectou-lhe o marmorista,
Saudade eterna ?
f — Impossível, a concessão no cemiterio é só
por cinco annos.'
y ifc #

Um transeunte a um mendigo:
— Faltam-lhe os dois braços, heim, meu
a m ig o ? ...
— E ' verdade, senhor! •
— E é isso que o obriga a estender a mão á
caridade publica?
* * *

O jacintho que é um desses sujeitos que vão


tomar chá a alguma casa, só para encher a algi­
beira de bolos, preparava-se para sahir de uma
soirée em que estivera; e, junto de uma bandeja,
enchia de bolos as algibeiras da casaca e do so­
bretudo, sem reparar que lum criado o observava
silenciosamente. «
De subito, solta um grito, sentindo a penia
esquerda escaldada.
i6z A R S E N A L D E G A R G A LH A D A S

Volta-se, furioso, e vê o creado a entornar-


lhe o bule na algibeira da casaca.
— Que é isto? brada elle.
— A h ! perdão! torna o creado, respeitosa­
mente, como V.. S . leva os bolos, pensei, que
tambem queria levar o chá.
* s|e *
Üpr *

Lilj esteve todo o dia levadinhá da bréca;


por isto sua avó materna julga dever inflingir-
lhe um sabonete e obrigal-a a pedir perdão-
Lili offerece Ulma vigorosa resistencia.,
— A h ! não queres! Pois bem, vou chamar o
diabo para te buscar.
— Pois chame, que eu não tenho medo! Eu
bem sei que elle não veim. Todos os dias ouço di­
zer ao papá falando da avó: “ Que a leve o dia­
b o !” e a avó ainda ahi está! é
* * *
Observação conjugal:
— Mas afinal, diz ella ao marido, que criti­
cava a siuía toillete, que sabe um homem de ves­
tuário de mulher?
Elle, com voz suave:
— O preço, minha q u e rid a !.. .
* 5|s sje

Um padre, que»vivia em apuros, antes de ir


pregar um sermão, disse para um pequeTio que
lhe servia de creado:
O GALHO FEIR O 263

— Vai ao hotel do David e diz-lhe que te dê


um prato de tripas a credito, que depois lhe pago.
O rapaz sahioí, e o padre foi pregar. No meio
do sermão exclam ou:
— Vejamos os psalmos, meus irmãos. Sobre
esse assumpto que disse David?
E o creado, que já voltára e que já estava na
igreja, grita lá de b a ix o :
— O David diz que sem o dinheiro não dá as
tripas. 1
* * *
A ’ nassaeem de um enterro:
--- O senhor sabe dizer-me quem é o morto?
Fesnonde o commendador Anastacio F ag u n ­
des. deitando espirito:
— E ’ o que vai no caixão, imeu caro senhor.
* * *
Num hotel:
— Os le<nçóes desta cama não estão lavados.
— Como assim? respondeut o creado; até
a fo ra nineruem se queixou, e olhe que tem dor­
mido nelles muita gente.
* * *
Henrique IV , tendo perguntado uma vez a.
certo camponez porque os seus cabellos esta-
vam brancos, quando a barba arada se conserva­
va preta, este respondeu-lhe:
2 Ú4 A R SEN A L DE GARGALHADAS

— Senhor, é que meu>s cabellos nasceram


vinte annos antes da minha b arb a!
* * *
O conselheiro Polycarpo Gentil procede á
leitura dos jortn&es, em familia:
— Hontem enterraram-se 170 cadaveres e 8
fetos. . .
Ititerrqmpe-o o Nhonhô:
— Papai, que é um feto ?. •.
— E ’ uma pessoa que vem do outro mundo
até ao nosso, e volta sem e n t r a r .. .
% * %

Um sujeito, que tinha enviuvado pela segun­


da vez, de duas irmãs com quem se tinha casado,
foi pedir a terceira cunhada, ao que lhe respon­
deu o pai da m enina:
— Leve, leve, homem; estou vendo o dia em
que você me vem pedir tambem a m ãe!
* * *
Entre recem-casados:
— A h ! Apanhei-te, M a th ild e ... Desfolhas
essa margarida para saberes s i . ..
— Sim, senhor: para saber si amanhã ainda
te am arei.
* * *
E digam que na AHemanha não ha bons
ty p o s!
O G A LH O F E IR O

Um judeu vai cas^r a filha com um nego­


ciante christão. Na vespera do casamento
diz-lhe:
— Dou á minha filha 30.000 marcos de dote,
mas dou-lhe 40.000 si o senhor não abrir a loja
aos sabbados.
— Oh! meu rico sogro, dê-me 50.000 e eu
nunca mais a abrirei!
* * *

Entre americanos:
— Eu sou da Califórnia; é uma terra tão
productiva que uima vez um homem perdeu num
sitio uma caixa de phosphoros de páo, e mo dia
seguinte encontroít nesse sitio uma verdadeira
floresta de postes telegraphicos.
— Isso não é nada, comparado com Illinois,
donde eu sou. Um primo meu que vive lá, per­
deu uma vez o botão de sua jaqueta, e/no dia se­
guinte encontrou um fato completo pendurado
níuma arvore, ao pé do sitio onde se perdera o
botão.
* * *
0
A s economias de D . Nicota:
— Ganhei 400$ hoje, disse a mulher para o
m arido.
— Ora essa ! Como?
— T u déste 300$ pelo piano velho, não é ver­
dade? Pois eu vendi-o por 7oo$ooo!
266 A R S E N A L D E G A R G A LH A D A S

— Áind-’ V * n ! Que fizeste tu ao dinheiro?


— Não re ^ b i diwheiro nenhum.
, — Então não percebo.
— Vendi-o a um negociante. Elle dá-me um
piano novo por t :2 0 0 $ e leva-me o velho por 700$.
Si tu ficasses em casa e me deixasses ir tratar dos
negocios, ficaríamos ricos em pouQ^ tempo.
* * *
Um bohemio que devia sommas fabulosas a
varios judeus e esperava pagal-as com a herança
de um tio, ao saber que elle casára e tinha um
filho, exclamou:
— E ’ o Messias aquella creança! veiu ao
mundo para ruina dos judeus!
* *• *
Entre escriptores dramaticos:
— Então, a tua peça tem dado dinheiro?
— Devia dar, devia. . . Mas o burro do em­
presário só a leva á scena quando não vai nin­
guém ao th e a tro ...
* * *
No Vaticano.
Um padre da roça é apresentado á Leãc
X I I I - No meio da conversa o papa espirra e o
bom prelado matuto diz comsigo a bater as m ãos:
— Como diabo hei de eu dizer dominus te-
cum em latim?
O GALHO FEIR O 267

Um pobre diabo apresentou-se ao chefe de


uma repartição, pedindo emprego.
— Que sabe o senhor fazer? Quaes são as
suas habilitações? perguntou-lhe o burocrata.
O homem não deu resposta.
— Responde oti* não? gritou, já zangado, o
chefe.
— Eu sou surdo, desculpe V . E x .
— A h ! é s u r d o ? !... Então serve-íme, vou
mandal-o servir na secção das Reclamações do
Publico.
5|C * *

Trez hespanhoes conversavam:


— Um de meus tios morreu com 100 annos.
— Eu tive uma tia q'ute morreu com 120.
— Eu vou mais alem, meus senhores, repli-
.cou uim andaluz; na minha familia ainda não
morreu ninguém.
* *

Um candidato foi jantar com uma influen­


cia eleitoral. Mas, durante a refeição, não arti-
dulou siquer uma palavra.
Ao deixarem a mesa, pergunta o dono da
casa, em voz baixa, a outro conviva:
— Que terá hoje o nosso amigo F - . ., que
ainda não abriu a boca sinão para comer?
—- Não tem nada: cuida achar-se no Con­
gresso.
268 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

Em Nova Y o r k :
Entra num escriptorio de jornal um assi-
gnante, furioso.
—- Por que é que os senhores escrevem a
meu respeito um necrologio como si eu tivesse
morrido? Não estou morto, graças a Deus!
— Pois olhe, parecia! Escrevi-lhe umas pou­
cas de cartas, para que viesse i*agar a sua assi-
gnatura. Não veiu; imaginei que tivesse mor­
rido. Pague a sua assignatura, e desmentiremos
a noticia de graça. Mas, si não pagar continua­
remos a consideral-o morto.
* * *
Entre homens experientes:
«
— Meu caro amigo, venho trazer-lhe os dez
mil réis que me emprestou.
— Então Y . está se preparando para pedir-
me cincoenta?
* * *
Dois hespanhóes falam na habilidade que
têm certos sujeitos para imitar as vozes dos ani-
maes.
— Eu já vi uma coisa extraordinária. . ^ T e ­
nho um amigo que, quando imita o canto do
g a l l o . ..
— Que succede?
— Nasce immediatamente o s o l!
O G A LH O F EIR O 269

O D r. Bertholdo queixava-se em uma re­


união de amigos, dos poucos monumentos que se
têm dedicado aos m édicos.
— Como assim? exclamou um dos presentes.
Como podes queixar-te, quando os cemite-
terios estão cheios?
* * *

Um tenente-coronel da roça passava revista


ao batalhão:
— Você já viu, seu pelintra, um soldado usar
lunetas ?
— Mas, coronel, eu sou myope.
— M a u ! M a u ! Como é que me disseram que
você era cearense?
I
* * *
Outr'ora conheci um tal Tancredo,
boticário afamado, homem capaz, .
que dizia a seu filho, inda rapaz,
que a alma do negocio era o segredo.

O tal filho, porém, que á dianteira


do progresso natal sempre marchou,
diz hoje aos netos d’esse hotwado avô:
— “ A alma do negocio é a ladroeira.
* * *
N ’uma soirée:
U m trocista apresenta um amigo ao dono
da casa, dizendo:
270 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

— O dr. Rodriguez, distincto veterinário.


— Desculpe-me,replica este, sou doutor em
medicina; o meu amigo chama-me veterinário,
porque'o tenho curado varias vezes.

* * *

Um pápá applica boa dóse de vergastadas


no filho, por travessura grau’da.
Finda a sò v a ^ u e re n d o epilogar o castigo
com o competente sermão, deu começo ao inter-
rogatorio, nos seguintes termos:
— O menino sabe a razão por que lhe bati?
— Sei, sim, senhor, respondeu choramingan­
do o pequeno.
— Por que foi, en/tão?
. — Porque o papá tem mais força do que e u .

* * *

Num baile, entre dois sujeitos que se não co­


nhecem :

— Que reunião tão insipida, não acha?


Morre-se de semsaboria.
■— Effectivamente, não está muito animada...
— Eu vou me embora, não estou para aturar
esta massada. O senhor não vetm?
— E u não posso de modo algum retirar-me:
sou o dono da casa.
O G A L H O F E IR O 271

Num (exame de historia natural:


O mestre — Dê-me uma prova da má fé do
gato.
O alutnno (filho do estalajadeiro) — Logo
que o gato se apanha assado, faz-se impingir por
lebre.
* * *
*
Ha uma festa em casa de familia do high-life.
A dona da casa tinha um filho, verdadeiro “ en-
fant terrible” , de uma indiscreção notável, quan­
do dianíte de pessoas d« fóra.
Nesse dia, porém, a (mamãe recommendou-
lhe muito que procedesse bem, principalmente
com relação a um convidado, corretor da praça,
a quem teimosa e funesta moléstia arrancára o
appendice dianteiro do rosto.
E disse-lhe:
— N ão me fale no nariz do com m endador
R . , entendeu? ^___ ^
O menino realmente esteve de uma ouietude
admiravel. Contentava-se unicamente em olhar
para o nariz do illustre convidado, muito pas­
mado, cada vez mais pasmado.
De repente, não podendo conter-se mais, ex­
clamou no meio de todos:
— O’ mamãe, porque razão me prohibiu de
falar no nariz daquelle senhor, si é coisa que elle
não tem?
272 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

Num banquete medico:


Um dos doutores levanta-se e diz:
— Meus senhores, convido-os a beber á
s a u d e ... „
— Nunca! Nunca! protestamos! bradam to­
dos em côro.
* * * 4

Simplicio fez-se agora paginador e estes úl­


timos dias reprehendeu um compositor:
— Isto é vergonhoso: o senhor não compoz
cincoenta linhas, emquanto o S r. Dyonisio com­
poz duzentas teindo uma perna s ó !
Jjc * %

— Nós temos na nossa terra, disse um alle-


mão a um americano, uma igreja em que o pre-
.gador leva sempre meia hora desde que entra
nella, até que chegue ao púlpito.
— Ora! que é isso? Nós temos uma igreja
em que, quando entra um pequeno recem-nascido
pela porta principal, se baptisa e qua!ntdo sahe pe­
la da sacristia já é casado com a segunda mulher.
* * *

Eíiitre caçadores:
— U m a vez matei tres lebres com utma bala.
— Isso não pode s e r !
— Pois foi o que aconteceu. A primeira le­
bre matei-a com um tiro na cabeça a segunda
O G A LH O F EIR O

morreu de medo e a terceira teve um tal accesso


de desespero que atirou comsigo ao rio e sui­
cidou-se.
s|c :je ;jc ,

O papá ao bébé:
— Diz-me, Carinhoso, de quem gostas tu
mais, do avôsinho, ou da avósinha?
— A gora (não posso responder.
— Então quando ?
— Depois de passarem os meus annos.

* * #
Um pobre diabo apiesenta-se em um estabe­
lecimento de banhos, pedindo que lhe dêin qual­
quer occupação.
— Você é prático nesta questão de aguas?
perguntaram-lhe.
— Creio que sim . Fui taverneiro muito
tenq,
* s(s

— O ’ papá: o primo Alberto é meu avô?


— N ão: então não sabes que o Alberto é pri­
mo de tua mãe?!
— A h ! . . . Como elle hontem estava a cha­
mar áimamã “ rica filha” ?
18
A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

No mercado :
Passa o X . com sua mulher.
— O’ patrão ccmpra-me estas gralhas?
— Deus me liv re ! J á tenho duas em casa.
A mulher:
—- Para que és mentiroso? Que gralhas te­
mos nós em casa ?
— E ’ b o a ! tu e tua m ãe.
* * *
FalaVa-se das pessoas que chegam a uma
idadê avançadissima, de 90 annos pelo menos.
O Bermudes que estava presente, exclam ou:
— Essas idades só attingiram as pessoas -que
nasceram antigamente: vejam lá si alguma das
que nasceram nestes últimos annos já conseguiu
chegar a essa idade!
* 4c *

N ’um restaurant ordinário:


Creado para o freguez — E supersticioso?
Freguez — Não, por que?
Creado— porque o senhor é a decima tercei­
ra pessoa a quem sirvo este guardanapo.
* * *

Dizia o Tancredo que além de tudo é menti­


roso:
— A cadeia de oiro de D . João V I pesava
cinco arrobas.
O G A LH O F E IR O 275

— Como assim? Então elle podia com esse


peso?
— Podia, porque era o c a .
jjc

E u pergunto á natureza,
Segundo em seus filhos vejo,
Porque f.ez o goso anão
E fez gigatate o desejo?
* * *
E m uma escola agricola.
O professor — Qual a maneira de conservar
.fresca a carne do carneiro?
O estudante — E ’ não matar o carneiro.

* * *
— Isto meu amigo, é que é um cão, dizia o
Rocha, para caçar, para guardar a casa, para tu­
do emfim. Agora, ficando velho, não presta e ain­
da hontem tive a prova de que já não é o que dan­
tes fôra. Atirei ao mar uma moeda de prata de
dez tostões e aticei-o para ir bulscal-a.
— E elle foi?
— Foi, coitado! mas, por mais que se esfor­
çasse, só trouxe para terra dous cruzados.
v * * *
Calino mandou fazer uma lapide funeraria,
para collocar sobre a sepultura de sua esposa.
®w r-~
276 A R SEN A L D E GARGALHADAS

Como o artista gravasse ao alto da pedra tres


lagrimas cercada d’amores perfeitos, observa-lhe
com espanto:
- — Tres lagrimas! Porque tres lagrimas, si
tenho apenas dois olhos?!
* ❖ *
— Lembras-te da Marianna, aquella moça*
com quem tanta vez danisamos no Club das L a ­
ranjeiras? ♦
— Si me lembro? Deve ter um g e n io ! ...
Quantas vezes disse commigo: desgraçado do ty-
po que casar còm ella!
— Pois ha cinco mezes que ê minha
mulher. , • A ;
- 3*1 íjl
O Delphim que só tinha uma camisa, costu­
mava, quando a mandava lavar, ficar de cam a.
Um dia entra-lhe pela porta a dentro a lavadeira
muito a fflicta .
— Que tem você?
•— A h ! seilhor, perdi-lhe a camisa.
— Pobre m ulher!
— Pobre do senhor, que ficou sem ella.
— Não, porque eu só perdi a camisa, e você
perdeu o freguez. \
* * *
O Lamego, dirigkrdo-se á esposa, em tom
carinhoso:
O G A LH O F EIR O

— Não achas, minha querida mulherzi-


nha, que eu estou me tornando feio, estúpido,
sa n d e u ? ...
A mulher, com um sorriso ineffavel:
— Não, meu querido! Não acho, porque sem­
pre te conheci a s s im .. .

* * *
Na Sociedade Dramatica Particular Estrella
do Rio d'Ouro representava-se uma tragédia, e
na platéa se achava o Mette Braço, valentão te- *
mido por todos os do lugar. v
t No momento em que a heroina se debulhava
em lagrimas aos pés do rei pedindo-lhe que a per­
doasse, o valçntão gritou, possesso, na platéa,
com voz de trovão :
— Perdôa diabo! Perdôa, rei do inferno!
Olha que eu trepo ahi e te faço em m igalhas!
E ’ o (jue te vale, acudia todo tremulo, o ty-
ramno. Estás perdoada. . .
— M as. mas, isso não é da peça, disse o
ponto, assustado.'- *
— Nãõ importa, torna elle ; estou em apuros
e manda quem p o d e .. .
0
* * *

Um sujeito viuvo de uma mulher feia má e


ciumenta mandou gravar em sua sepultura a se­
guinte quadra:
278 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

Nesta triste sepultura


Que o frio mármore tem
Uma santa creatuTa,
Repousa em p a z . .. eu ta/mbem.

* * *

— Onde está a sua mamã meu menino? per­


guntaram ao filho de Carolina M . ..
— A mamã? Foi ha duas horas fazer uma vi­
sita de cinco minutos, aqui, á visilnlha do lado.

* * *

— Venho receber a conta da roupa, Sr.


Delphim.
— De que roupa?
— Do fato que se fez lá na loja.
— Não tenho nada que pagar.
— Mas e n tã p ? .. .
— Expliquemosnntos. E u mandei-lhe fazer
um fato e combinamos pagar-lhe a metade e fi­
car-lhe a dever a outra metade. Não foi assim o
a ju ste?
—- Foi sim,
’ . senhor.
t
— Paguei-lhe a metade, não paguei?
— Pagou. Mas o resto?
— O resto não pago. Si lh’o pagasse, não
lh’o podia ficar a dever. E o nosso ajuste foi
O G A LH O F E IR O 279

Quando Noé estava a plantar a vinha, appa-


receu-lhe o diabo, que lhe perguntou:
— Que fazes?
— Planto uma vinha.
— E qual é a utilidade da vinha?
— P seu fructo fresco ou secco é bom, é do­
ce; o vinho que delle se póde espremer alegra o
coração,co homem.
abalhemos a meias?
—- Aceito.
Oue fez então o diabo? Tomou de um
carneiio, um leão, um porco e um macaco, dego­
lou-os e misturando o sangue desses animaes com
elle regou o solo em que fez a plantação.
E is porque, si o homem come 0 fm.cto da vi­
nha, é terno como um carneiro; si T c v ebe o vi­
nho, julga ser um leão e accxnitecem 1%e desgra­
ças ; si bebe habitualmente, torna-se grosseiro c
repellentè -como um porco; si embriaga-se, taga-
rella, dá por páos e por pedras e faz caretas como
um macaco.
* * *
— Entre nós dois ha uma differença muito
grande. Tu trabalhas pelo dinheiro e eu pela
liotira.
— Meu amigo, cada qual procura aquillo que .
lhe falta. - 1
* * *
— A h ! meu amigo, soU1 muito infeliz.
— Ora essa ! Por que ?
28o A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

™ Imagine: iminha sogra chama-se Perpe­


tua, meu sogro Carrasco e minha mulher Severa!
* * *
't
— Jo rg e por que é que me clavas tantos pre­
sentes antes de casares, e agora não dás nenhum?
— Oh ! menina, já viste um pescador dar isca
ao peixe depois de o ter apanhado?
* * %

Um hespanhol, referindo-se a uma desordem


que tivera com outro homem:
— i
— Si as pessoas presentes não me arrancas­
sem aquelle maroto das m ãos. .. o patife estran­
gula va-tme !
* * *

Tres cousas que arruinam muita gente: —


saber pouco e falar muito; ter pouco e gastar
muito; valer pouc<| e ter muita presumpção.
d
* * *

U m magnetisador é levado ao ju ry por cer­


ta ladroeira.
Terminado o interrogatorio, exclama com
arrogancia:
— Si eu qufizesse adormeceria agora todo o
tribunal.
O G A LH O F EIR O 281

O juiz gravemente — Sente-se; isso compete


ao seu advogado.
■,< * *

Está-se á mesa. O papá, que aproveita todas


as occasiões para dar bons coniselhos aos filhos,
diz-lhes:
— Ha uma sentença que diz que o homem
que quer vir a ser alguma cousa 11a sociedade,
nunca deve esqluiecer: “ Não deixes para amanhã
o que podes fazer h oje!”
Um. que tem estado a prestar grande at-'
tenção:
— Então, papá, passe-me para cá o resto do
doce. Vamos acabar com isso hoie!
* sk *
Carolina deu ao namorado, como presente,
um 'par de meias.' Elle commoveu-se, e diz-lhe
chorando: .
— O ’ C a r o lin a !... estas m e ia s ... Nunca
mais as tirarei dos p é s!
* * *
Ha annos, eram constantes no Campo de
S . Christovão os assaltos ás pessoas que passa­
vam fóra de horas.
Um individuo, tendo que fazer uma visita
e presumindo voltar tarde, muníu-se do seu re­
volver e fo i.
JMNhJ* 11 «

A R S E N A L D E G A R G A LH A D A S
••
Na volta (já tarde), ao entrar no campo,
encontrou um sujeito, encostado a uma arvore.
Ao passar, o tvpo approximou-se-lhe, e, com
bons modos, pediu-lhe o fogo.
O nosso homem deu-lhe o charuto, mas, já
escabriado, apalpou o revolver.
O outro, sempre amavel, inquiriu das horas
que eram .
O nosso heróe proc*urou o relogio: não o en­
controu, |passou-lhe rapido pela mente a ídéa —
Fui roubado!
Não hesitou:— puxou pelo revolver, e, apon>-
tando-o para o homem da arvore, intimou-o a en­
tregar-lhe o seu relogio immediatamente.
O outro, tremulo, executou a ordem e ras­
pou-se.

Chegando á casa, contou o homem á esposa


o que lhe tinha succedido, e acabou:
— V ês? Si não fosse a minha energia, estava
agora sem relogio^
— O teu relogio está alli no prego-, onde o
deixaste, respondeu a s-enhora.
Q homem da arvore era um medroso que
queria arranjar companhia para atravessar o
campo. •
* * *
Scena familiar, em um jardim:
— Alvaro, vê, as roseiras já têm botões. ..
O G ALHO FEIR O 283

Elle, suspirando:
— E ’ v e rd a d e .. . São mais felizes que as mi­
nhas cam isas. ..
* £ *
Nwm exam e:
— Que é patrimonio?
—- E ’ o que o filho herda do pae.
— E si herdar da mãe?
— Então, chama-se matrimonio.
* * *
Um sujeito que tinha mais dividas do que
dias, estava fazendo uma conferemcia sobre a
Theoria do dever.
— Ora, diga-me, perguntou um credor,
quando dissertará o S r. sobre a Theoria do
p agar.
* >1= =t= #
Simplicio está narrando peripecias tristes
de sua vida, apoquentadoras como a sopa a fer­
ver em frente de um esfaim ado.
— Pois é verdade, meus amigos; naquella
noite embranqueceram-se-me os cabellos todos
num quarto de hora !
— Mas você já era calvo nesse tempo. ..
— Bem sei! Talvez você queira saber mais
da minha cabeça do que eu mesmo! Não tinha
cabello nenhum, mas nasceram-me todos brancos
num quarto de hora. Depois tornaram-me a
cah ir!
284 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

Bem dizia um sabio naturalista que o habito


era uma segunda natureza.
Um anarchista em uma arenga aos seus pro-
selytos, bradava com voz de stentor:
— Cidadãos! eu que soUi atheu. . . graças a
D e u s!. ..
* * *
Numa praia de banhos:
Um cavalheiro respeitável, depois do banho,
está se vestintío 11a barraca. Nisto chama o ba­
nhista :
— O' Lu iz!
— Meu senhor. .'.
— Não encontro as minhas calças.
— Eu tambem não sei dellas, meu senhor...
O banhista procura em todos os cantos. Por
fim, não as encontrando pergunta com a maior
simplicidade:
— O senhor está bém certo de que as trouxe?
* * *
O Pacheco tandem é mettido a lettrado,
pelo que uma vez escreveu num album este pen­
samento monumental:
“ A s grandes dores são mudas: um homem de­
pois de cahir morto, geralmente não diz nada” .
I
* %*
R A C IO C ÍN I O D E U M B E B E D O
Dizem que um copo de vinho,
Sendo bom, dá força á gente.
O G A LH O F EIR O 285

Isto é pêta, certamente,


Tal não posso acreditar,
Pois já hoje bebi treze,
E vês tu? Nem posso andar!
i|c 5{c jje

O commendador manda o creado á rua, para


tratar de certos serviços. O creado volta, e dan­
do-lhe conta do desempenho de sua missão, veri­
fica-se qüe fez tudo ao contrario do que fhe fôra
recommendado.
O commendador zanga-se e diz:
— Você não tem senso nenhum: não passa
de um id io t a Q u a n d o eu quizer um idiota para
os meus negocios, não mando pessôa alguma:
vou eu mesmo.
íjí ;|< j Ji

C A R T A D E UM P A E A SE U F IL H O
ESTU D AN TE

Juca, meu filho:


Estás muito atrazado,
Segundo me declara o professor.
Tu bem sabes, o assucar tem baixado,
E eu não quero perder o meu suor.
Tua irmã Josephina está casada;
J á teve um filho, um lindo sefãphim.
Ò teu Pampa morreu na Encruzilhada,
E t u . . . nem patavina de latim!
A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

A ’ vista do teu máu comportamento,


Suspendo-te a mesada d’este mez.
Posso eu sustentar um catavento,
Um asno, um madração como tu és?
Vaes de mal a peior — és ium camello,
E eu sou teu p a i. . .

André Nunes Campello.


* * *
*
Um padre, vendo um velho ajoelhado na
igreja, a orar com muito recolhimento, disse-lhe:
— Irm ão! Gostei do fervor com que oraveis
e espero que Deus vos conceda o que lhe pedistes-
— Tambem eu.
— E o que lhe pedieis, irmão si não sou in­
discreto ?
— Trabalho para sustentar minha fattnilia.
— Ficam-vos muito bem esses sentimen­
tos . . . Qual a vossa proílssão ?
— Coveiro.
>fc * ;Jc

O commendador Abilio mostra o seu jardim


a um visitante que sabe botanica:
— Olhe que este jardim tem-me custado mui­
to caro. Ha por ahi plantas raras e de valor.
— Bem vejo, bem vejo. Olhe, aqui está esta
que é um bom exemplar. Pertence á familia das
monocotyledoneas. . .
w
O G A LH O F EIR O 387

—- Qiual historia! Não pertence a manido-


neas nenhumas! Perteinice-me a mim, que dei,
ainda ha poucos dias, tres mil réis por ella!
* * *

Um sujeito conta os transes por que passou


entre outros que o esbordoaram:
Imaginem que eu a'ndo sempre de revolver,
mas hoje exactamente não o trouxe. Si <5 trou­
xesse. . . eram capazes de matar-me com elle!
* * *
Entre duas cantoras da companhia lyrica.
Dizia a contralto:
— Não imaginas. O auditório fez-me cantar
tres vezes a minha ultima aria. ..
Respondeu a soprano, despeitada:
— Não adminaf elle reconheceu que você
precisava praticar.

^ ;Jc % •
A dona da casa precisa de creados, e apre-
senta-se-lhe um, a quem ella faz. as seguintes per­
guntas:
— Quatn/to tempo esteve na casa que deixou
agora? k
— Dez annos, minha senhora.
— Bom sig n a l! E que casa era ?
— A casa de correcção.
288 A R S E N A L D E G A R G A LH A D A S

Um viajante, indo a um hotel, pára diante


de uma linda pelle de urso, estendida no salão, e
perguirfta:
— A que animal pertence esta bella pelle?
— A este seu creado, respondeu satisfeito, o
dono do hotel.
* * *
Um actor entra num botequim e diz melo­
dramaticamente :
— Dê-me um copo de Lethes, d’um vinho em
que eu possa afogar a minha memória.
— N ’essa não ioaio eu; a primeira cousa de
que se esquecia, era d'e me pagar.
* !<C *
Na escola. Estão se dando lições praticas.
— De onde vem a lan ? pergunta o professor.
—- De ovelhas.
— E depois o que se faz?
O alumno não rusponde.
O professor tocando no casaco do pequeno.
— Como foi que se fez isso ?
— Cortando um casaco velho do papá.
* * *
Um creado modelo:
— Oue deseja o senhor?
— Falar ao barão de Veauminet.
— E que é que lhe quer?
— E ’ para uma c o n t a ...
O G A L H O F E iR O 289

— Partiu hontem para o campo. . .


— . . .que queria pagar-lhe.
— . . . mas voltooi esta m anhã.
* * ,

O Sr. X . .. cjue anda na maré do caiporismo,


encontra-se na rua do Ouvidor com um velho
amigo e pede-lhe 20$ emprestados. O amigo de­
pois de examinar os bolsos, diz-lhe:
— Não tenho commigo um vintem.
— E em casa;?
— Todos estão bons, muito obrigado.
* sje *

O senhor colloca esta chapasinha na boca e


póde assim imitar qualquer voz.
— E si engulil-a?
— Não ha perigo. E sta mesma eu já enguli
uma porção de vezes.
>(í íjc ^
Perguntando-se a Sócrates qual era melhor
— si casar, ou não casar — respondeu: Qualquer
das duas cousas que se escolha é certo o arrepen­
dimento .
* * *
— Então menino gosta de estar assim a ca-
vallo nos joelhos de seu avozinho?
19
A R S E N A L DE GARGALHADAS

— Gosto; e até me parece que monto num


burro de verdade.
* * *
— Simplicia, você quebrou hoje outro copo.
— E ’ verdade, minha senhora; nias fui feliz:
quebrei-o só em tres pedaços.
— Então chama a isso ser feliz? Explique-se.
— Bem se vê que a sembora não sabe o tra­
balho que dá apanhar muitos bocadinhos!
5}: 5£

Num atelier de alfaiate:


— Não lhe parece que me fez estas calças
muito curtas?
— Não, senhor, as calças estão boas; o se­
nhor é que tem as pernas muito compridas.
5}í

Um homem de lettras, convidado para jan­


tar, pela primeira vez, na casa de um collega, ca­
sado >ha pouco, fica extasiado ao avistar duas
gentis meninas extraordinariamente parecidas.
— Meus cumprimentas, disse elle ao joven
casa l: fizeste muito bem em mandar tirar duas
edições de obra tão perfeita.
A mãe suspirando:
— E a terceira já está no prelo. . .
* * *
Calino, que já completou 6o annos, pergunta
onde se vendem corvos: quer comprar u m .
O G A LH O FEIK O

—- Para que precisa você de corvos ern casa?


pergunta-lhe alguém .
— Toda a gente diz que estas aves vivem
tres séculos. Vou experimentar si é verdade.
^ -c
— Faça o favor de ver que horas são?
O sujeito olha para o relogio e responde, con­
tinuando a andar.
— J á vi.
* * *
Um commendador, dictando ao caixeiro:
— Escreva lá: “ Recebemos a sua carta e só-
m en tes.” ; j
Sómentes?
—- Sómentes, sim senhor. Não vê que agora
somos eu e o seu Jo sé. Não sabe que elle este
anno é meu socio. e que portanto deve ir tudo no
plural ?
íf: í*c ij:
Um pai reprehenfdendo um filho:
—- Você viu-me fazer semelhante coi -a,
quando eu era pequeno?
* * I
Km uma taverna: ‘ I
Francez (vendo uma porção de castanhas)
Comment s’apelle çá!
Taverneiro — Come-se com sal, mas não se
pella, quebra-se.
:>'j2 A R S E N A L DE: GARGALHADAS

Francez — Comment?
Taverttyeiro — Sim, com a mão ou outra cou-
sa qualquer.
Francez (aborrecido) — Je ne comprend pas
d u to u t. v'
T&verneiro — Xão precisa comprar de tudo,
leve as que quizer.
Francez (retirando-se) — Je ne comprend
p a s.
Taverneiro — Pois si não queria comprar
não viesse cá me aborrecer.
* * :jí

E ra na Inglaterra. Dois velhos amigos iam


num compartimento de 2" classe num expresso.
Um guarda veiu examinar os bilhetes, e vendo
uma pesada mala em cima do banco disse ao pas­
sageiro que estava sentado ao pé delia:
— Faz favor de tirar essa m a la !
O passageiro não respondeu.
— O senhor faz favor de pôr a mala no chão,
tornou o g u a rd a .
— O senhor faz favor de me deixar? disse o
passageiro. ^ t
— Tira a mala ou nãô tira? berra o guarda.
— Não tiro, e si o senhor me não deixar so-
cegado, queixo-me á companhia.
— Nós veremos.
E o guarda sahiu .
Na primeira estação veio o chefe e disse:
O G A LH O F E IR O 293

— Faz o favor de tirar essa mala?


— Já disse que não tirava.
—- Então ha de sahir.
— Xão saio que eu vou para a Escossia.
— Vá chamar um policia, disse o chefe da
estação para o guarda, e resmungou: “ Já temos
11111 atraso de sete minutos. ’’
Veio o policia.
— Por que é que 0 senhor não tira a mala ?
— Porque não é minha.
—- Xão é sua" exclamou o chefe da estação.
— Será do senhor? acrescentou, voltando-se pa­
ra o outro passageiro.
— E ’ sim senhor.
— Então por que a não tirou?
— Porque ninguém m’ o pediu.
— Faça o favor de a ipór no chão.
— Com todo o gosto.
* íji #

Um typo, encontrando um preto montado


num burro branco, quiz gracejar com o pobre
diabo e disse-lhe:
— O h ! paesiinbo, então você, sendo preto,
vai montado num burro branco?
— “ Ué, sinhó!" exclamou o preto, “ eu não
tenho a culpa que o branco seja burro!"
294 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

Amélia estava gentilissima e nervosissima,


quando disse a um rapaz que freqüentava a sua
casa ha muito tempo:
--- .Meu bom amigo, devo-lhe dar uma noti­
cia. You-me c a s a r ...
— Casar! exclama elle! Y a e casar! Ao me-
d jo s espere! antes de o fazer, rogo-lhe que me
ouça. Eu amo-a. a*pezar de nunca llro ter dito,
mas amo-a desde que a conheço. Não sei como
poderia viver n’este mundo, sabendo que está ca­
sada com outro. Y á, case, case, mas saiba ao me­
nos que eu a amo doidamente, e quando o vento
suspirar ao seu ouvido, pense que é a voz de quem
dorme 11'um tumulo distante. . .
— Mas ouça-me, diz ella: eu não acabei.You-
me casar. . . comsigo.
— Oh! felicidade suprema! disse elle cahin-
do-lhe aos pés.
E lla de si para s i :
— E. si não faço isto, não se decidia!
* * *

Em um consultorio:

Entra o Sr. Manoel Antonio de Moraes, ex­


põe a doença, e pergunta quanto tempo levará a
sua cura.
— Daqui a um mez já póde ir ao seu escri-
ptorio, mas tem de se sujeitar a um tratamento
regular durante dois ou tres annos.
O G A LH O F EIR O 295

— Mas, doutor, olhe que eu não sou o \ is-


conde de Moraes: sou o Maínioel Antonio de M o­
raes, carteiro.
— A h !. . . isso é apenas um pouco de bilis.
Está curado em uma semana.
* * *

X o atelier de um pintor incomprehendido:


— Gosto immenso do seu quadro; mas. . . a
meu ver: 0 original não é tão avermelhado como
o senhor fez.
— Como eu o fiz? Mas a que se refere o
senhor?
— A seu tio? A que diabo havia de ser?
— Tsto não é meu tio! E ‘ o pôr do sol.
*!' ¥ ^

Os Srs. A . e R . discutem a sua autoridade


conjugal:
— Na minha casa. diz A . , os patrões são
dous: a mimjha mulher é o numero um e eu o nu­
mero dous.
— Pois na minha, diz R ., os patrões são to;
minha mulher representa o numero 1 e e u . . , <3
zero.
5}í ;Jc

Um rabujento mluito calvo, com barba de


quatro dias, entra n’uma loja de barbeiro, e sen­
296 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

ta-s-e num a cadeira. U m dos officiaes pergunta-


lhe:
- / .. ' _J
— Faz a barba ?
— N ão ; responde o homem, venho tom ar
m edida a um terno de ro u p a .
— Isto aqui não é loja de alfaiate.
— N ão ?! E n tão o que é?
— E ' um a loja de barbeiro.
E que obra fazem aqiuti?
— Fazemos barba e cortamos o cabello.
—- E o senhor acha que um hom em comple­
tamente calvo poderia vir cortar o cabello?
— N ão senhor.
— Eu pareço doudo?
O barbeiro respondeu negativam ente com a
cabeça, mas bem se percebia que era assim que o
considerava.
— E ntão , si não sou doudo e si sou calvo,
que venho fazer quando me assento num a cadeira
de barbeiro?
— Fazer a b a rb a .
— E n tão para que m ’o perguntou, em vez
de começar logo a trabalhar?
O barbeiro não respondeu, e começou logo a
ensaboar a cara do rabuiento freguez.
O G A LH O F EIR O 297

A mãe (sever'amente) — Julio, que é feito do


podim que ou deixei em cimá da mesa quando
sahi? \
O pequeno Julio — O - mamã dei-o a um pe­
queno que estava com tanta fome e que ficou tão
contente quando eu lh’o dei!
A mãe (enternecida) — Vem a meus braços,
meu filho, meu anjo! Quem era esse pequenino?
Julio — E ra eu, mamã.
;|í sjc

Dialogo entre uma viscondessa espirituosa e


illustrada e um pedante sem educação:
— Sabe, Sra. Viscomjdessa, a differença que
existe entre uma senhora e um espelho?
— Não, senhor.
— E ’ que um espelho « fle c t e sem falar, e as
senhoras, geralmente, falam sem reflectir!
— A h ! E o S r. Simplicio sabe a differença
que ha entre uím homem e o espelho?
— Não, minha senhora. v
— E ’ o que o espelho é polido, e o homem...
nem sempre.
^ 5}í
Entre dois pescadores hes,panhoes:
— No rio da minha povoação, dizia um
delles, atira você o anzol á agua e cada vez traz
uma arroba de peixe.
298 A R S E N A L D E G A R G A LH A D A S

— Pois o rio que passa lá na minha villa não


tem pingo d ’agua.
— Homem! então o que tem?
— E ’ tudo peixe!

* * *

— Tenho ahi um din!heiro guardado e que­


ria dar-lhe applicação.
— Mas em que sentido. . .
— Pol-o a render, mas em collocação segura.
Compra apólices.
— Descem tanto. . .
— E n tã o ... olha... compra foguetes. Esses
sobem.
IN D IC E

P ag s.
IN D IC E D O S C O N T O S :

O macaco e o le ite iro ............................................... 28


O gallo e a r a p o s a ........ ............................................
ÜO
Perd i o meu latim ...................... ...............................
i* rei Miguelinho . .........................................................
Que dç>is! .................. ...................................................
A caveira do diabo ................................................ • •
Segredo em boca de mulher .................................. *53

O companheiro do frade .......................................... . I()r


Um a mina dt sal ........................................................
Um casamento entre primos .................................. J 77

Quem o bem faz, para si o f a z ........................ .. • • I^S


<) rico* e o pobre ..........................................................
300 A R S E N A L DE G A R G A LH A D A S

HOROSCOPOS

SIGNOS E SINAS

Das pessoas nascidas em Janeiro .................


195
em Fevereiro ............................................
199
em M a rç o ................................................. 203
em Abril .................................................... 207
em Maio ..................................................
2 ir
em Junho ....................................................
215
em Julho ........................ ............................ 2 19
cm A gosto ..................................................
22 3
em Setembro ............................................ 227
em Outubro ................................................
231
em Novembro ..........................................
235
em Dezembro ..................................
J 39

Modo de achar-se o dia da semana em que occorreu o


nascimento ou um acontecimento qualquer . . . . 243

♦ ♦ • ♦
* *
<* ❖
*
L I V R A R I A Q U A R E S M A — E d it o r a

O LIVRO
!X Si

Assombrosa collecção de verdadeiras historias de


aimas do outro mundo, lobishomens, mulas sem cabeça,
bruxas, casas mal assombradas, sacys, cantos de coruja,
choros de meninos pagãos, uivos agoureiros de cães,
m ildições de mãi, avisos ou signaes de pessoas falle-
cic is, carros de enterro quando param á porta, indivíduos
que fazem pacto com o demonio, visões, espíritos dia-
bolicos, episodios passados em cemiterios, apparições,
vozes de além-tumulo e toda a sorte de factos sobrena-
turaes observados por insuspeitos testemunhos.

Um grosso volume enriquecido de grande numero


de estampas de pagina inteira, desenhadas por Julião
Machado, Lucas, Childe e outros desenhistas notáveis,
e pavorosa capa colorida, chromo-lithographia, trabalho
do immortal Julião Machado- 5$ooo.

Todo aquelle que pegar n ’este livro e ler as primei­


ras paginas, fatalmente proseguirá a leitura e devorará
todas as paginas, seja qual fôr o terror, o medo, a im­
pressão que sinta.
E ’ uma obra unica no seu genero, e tiella não ha a
menor sombra de especulação. Nem uma só mentira,
babuzeira, falsidade ou invenções nella se encontrará.
Não ha uma só palavra pornographica, e toda a gente
póde lel-a. Em uma palavra: o Livro dos Phantasmas
é honesto, verdadeiro, bem escripto e são.

L IV R A R IA QUARKSM A ^ R u a T . José Ns. 7 1 e 73


LIVRARIA QUARESMA — editora
A C A B A D E S A H IP A LU Z

DANÇAS DE SALÃO
Contendo a explicação facil e ao alcance de todos para se
aprender a dansar com perfeição todas as dansas de salão:
Valsas, Polkas, Quadrilhas. Schottischs, Mazurkas, Qua­
drilhas Americanas e Quadrilha Imperial. — com as diversas
marcações em francez, etc.
Trazendo a maneira de convidar as damas para dansar. O
modo de proceder no salão, comsigo e para com os outros. M a­
neira de saudar. A s reverencias e mezuras. Como se cumpri­
mentam as pessoas. Os passos principaes de dansa. O modo de
segurar as damas, etc., etc..
Q U ADRILH A FR A N C EZA —-E xp licação do que se deve
fazer nas cinco partes.; os diversos finaes da quadrilha; resumo
de vozes para o marcante.
OS LA N C E IR O S — L e Polo ou quadrilha americana
DANSAS D IV E R SA S — A schottisch, a polka, a polka
russa ou troika, polka allemã ou Beiline, polka hespanhola oi
habanera, polka, mazurka, a redowa, valsa, mazurka e a polka
schottisch.
OS D IV ERSO S PAS — Pas de mazurka, ou de glissé; pas
de patineurs; pas polonais; pas boiteux; pas de deux ou W a s ­
hington; pas de quatre; pas de chant ou can-can.
DAS V A LSA S — V alsa a dois tempos; valsa a tres tem­
pos; valsa á franceza ou suissa; valsa pulada, etc.
O BOSTON — Ou valsa americana.
A S DANSAS M ODERNAS — O C ak e-w alk ; a Furlana; o
One step; Th e t\yo steps; L e pas de l’ours (o passo do urso);
le turkey trot (o passo do peru’ ) ; the hitechy, koo, etc.
DOS TANGOS — O tango argentino; o maxixe brasileiro;
o tango dos gau'chos.
O CO TILLO N — Contendo as cem figuras com as com ­
petentes marcações em francez.
Terminando com um completo vocabulario de termos es­
trangeiros, com a pronuncia figurada (franceza e portugueza),
usados nas dansas..
Obra enriquecida de numerosíssimas estampas explicativas,
de todos os passos e posições, mezuras, saudações, reverencias,
etc., etc. empregados nas dansas

por X I C O B R A Z
Um grosso volume encadernado cheio de estampas
explicativas....................................................... 3$ooo
L IV R A R IA Q U A R ESM A — Rua de S José Ns 7 1 e 73
L IV R A R IA QUARESMA — Editora

TO DAS AS M O D IN H A S , C A N T IG A S , C A N Ç Õ E S ,
FA D O S, E T C .
Em 7 volumes .......................................... i 2 $ ooo

Cancioneiro Popular de Modinhas


Brasileiras, um grosso volume. 2 $000
Novos Cantares, um grosso volume 2 $000
L y r a dos Salões, um grosso volume 2$ ooo
Chôros ao violão, um grosso volume 1 $000
L y r a Brasileira, um grosso volume 1 $ooo
Trovas e Canções, um grosso volume 2 $ ooo
Florilegio dos Cantores ................... 2 $000
12 $0 o o
N'estes sete volumes estão reunidas todas as modinhas,
cantigas, canções, fados, etc., do Sr. Catullo da Paixão Cea­
rense, modinhas que se ouvem cantar nos salões familiares, em
reuniões festivas, em concertos, em festas collegiaes, etc.

Todas as modinhas trazem a indicação da


musica com que devem ser cantadas

A V ISO
A L IV R A R IA Q UARESM A remelte para o interior, com
a maxima brevidade possivel e livre de despezas com o Correio,
estes sete volumes, bastajndo, tão somente, enviar a sua impor-
tancia (i2$ooo em dinheiro, não se acceitam sellos), em C A R T A
R E G I S T R A D A C O M O V A L O R D E C L A R A D O e dirigida a
PEDRO DA SILV A QUARESM A, rua de S . Jo sé ns, 7 1 2 73
— R IO D E J A N E I R O .

L IV R A R IA QUARESMA — RUA de S. JO S E ’ NS. 71 E 73


......
L I V R A R I A Q U A R E S M A — Editora

ACABA DE CH EGAR DE P A R IS


L I V R O P A R A C R IA N Ç A S
Contendo sessenta e um contos populares, moraes e
proveitosos, de varios paizes.

Um grosso volume encadernado, de 424 paginas, cheio de es­


tampas coloridas — finíssimos chromos — e centenas de
estampas em preto. . . . 5$ 0oo

O s Contos da Carochinha, que acabamos de publoar são essas


historias que todos nós ouvimos em pequeninos, contadas por
nossas mães, por nossos avós e velhos parentes, e que sabem to­
das as crialnças de todos os paizes; escriptos em linguagem facil,
como convém ás criajnças, os Contos da Carochinha são, pois,
um livro valioso, um livro eterno, porque no Brasil até hoje
nada se tem publicado que os eguale: elles são eternos, datam
de séculos, e séculos durarão ainda.
A ’s mães de famiiia, aos educadores e ao povo em geral, re-
commendamos este precioso livro, unico que póde guiar as
crianças no caminho do bem e da virtude, alegran !o e diver-
títvdo ao mesmo tempo.
índ ice dos Contos: — Os tres cães, A bella e a féra, A gata
borralheira, Jo ão e Maria, Jacques e os seus companheiros, Os
dois avarentos, O patetinha, O chapéosinho vermelho, O perigo
da fortuna, Os meninos vadios, O pequeno pollegar, A E g re ja
de Falster, Os tres presentes da fada, O ratinho recoinhecido, A
perseverança, A guarnição da forta.eza, A gratidão da serpente,
A briga difficil, João Bobo, O tocadior de violino, Os seis com­
panheiros, O Anachoreta, O rei dos metaes, O rabbino piedoso,
O vaso de lagrimas, Os dois caminhos, A lenda da mo|nianha,
O pintasilgo, Branca como a neve, A fina Alice, O frade e o
passarinho, A cathedral do rei, Jacques e o pé de feijão, Õ s pe-
cegos, O urso e a carriça, Os caiporismos do Alfaiate João, O
castello de Kinast, Os onze irmãos da princeza, as tres galli-
nhas, O veadinho ancantado, O menino da matta e o seu cão
Piloto, Jo ão Felpudo, Pedro Malazarte, A moura torta, A bara­

L IY R A R IA QUARESMA — RUA de S. JO S E ’ NS. 71 E 73


L IV R A R IA QUARESMA — Editora

tinha que se casou com o S r. ratinho, Os tres cabellos do dia­


bo, A baba do passarinho, O gato de botas, O barba azul, O
castigo da bruxa, A vida do gigante, A s tres maravilhas, Pelle
de urso ou o pacto com o diabo, A quem Deus a ju d a .. . , A bella
adormecida no bosque, A ladim ou a lam pada m aravilhosa, Os
príncipes com estrellas de ouro na testa, O tapete, o oculo e o
remedio, O diabo e o ferreiro, A formiguinha, O homem de
mármore, etc., etc.

A V ISO

Prevenimos ao publico que quando haja de


comprar os Contos da Carochinha — exija sem­
pre a Decima oitava edição da Livraria Quares­
ma — é um grosso volume de 424 paginas, bem
encadernado, com finíssimos chromos e centenas
de estampas em preto — propositalmente feito
para prêmios collegiaes, e tambem para os paes
presentearem aos filhos ; os padrinhos, aos afilha­
dos ; os tios, aos sobrinhos; os amigos aos filhos
de seus amigos, etc., etc., nos anniversarios na-
talicios, dias festivos, em que a alegria invade to­
dos os corações em que os parentes se reunem
para em commum festejarem o Natal, Anno Bom
e R e is .

A S R E M E S S A S P A R A O I N T E R I O R serão feitas livres


de despezas do correio, bastando tão somente ejn-viiar sua im-
portancia em carfea registrada, com valor dieclar-ado, dirigida a

PED R O DA S IL V A Q U ARESM A
R U A D E S. J O S E ’ N S . 7 1 E 73 R IO D E JA N E IR O

L IV R A R IA QUARESMA - RUA de S. .TOSE’ NS. 7> E 73


L IV R A R IA QUARESMA — editora

flCflBA De SftHIR A LUZ

Historias Brazileiras
Para CREANÇAS
POR

TYCHC) BRAHE
Bellissim a collccção de contos, em prosa e verso adapta­
dos a factos da historia patria, instruindo e deleitando ao mesmo
tempo as creanças de todas as edades, pois, n’este volume, ao
lado da narrativa rigorosamente histórica,que instrue,encontrarão
os jovens leitores verdadeiros primores de phantasia em prosa
e verso, que deleitam o espirito e preparam o entendimento para
as futuras, incruentas e gloriosas batalhas do pensamento.

E is o índice deste primoroso livro:

A mendiga e o Carreiro; O sapo am arello; A medalha e a


Cruz^nas costas; O A v ô e o neto; A mão do Judeu; Quem cheira
paga; A casa mal assombrada ou o thesouro escondido; Medo
e coragem : Pae Jo ão e o Moleque; Dura Verdade; A vida do
Juquinha; Exercícios M odernos; Os dous A m igos ou aventuras
de dous marinheiros; O Tem poral; A gallinha chóca; A ven tu­
ras de um sertanejo; A voz m ysteriosa; Dia de festa; A Casinha
da V ó v ó ; A Patria; Z á sl; O Quarto m aravilhoso; O Cão agrade­
cido; A menina vaidosa; Gloria e farinha; Os filhos do tabaréo;
Historias maritimas contadas por um invalido da patria etc., etc.

Um elegante volume bem impresso e encadernado----- 2|oo«

LIVRARIA QUARESMA RUA S. JO’ SE 71 e 72


LIVRARIA QUARESMA - E d ito r a

ACABA DE SA H JR A' LUZ

HISTORIAS BA M IN H A
L í y j *o p a j* a C ria n ç a s

Contendo cincoenta das mais celebres, primorosas, divinas e


lindas historias, moraes e piedosas, iodas differentes das que se
acham nus “ Contos da Carochinha", tias '‘ H istorias do A r c o
da Velha ” e nas “ H istorias da Baratinha” .
A s H istorias da Avósinh a que acabamos de publicar, são um
dos -melhores e mais encantadores volumes da "Ribliotheca In­
fantil”.

A s Historias da Avósinha encerram maravilhosos contos, raes


como: O avô e o netinho; O . anãosinhos feiticeiros; O soldado
e o diabo; A gatinha branca; O companheiro de viagem: O vio­
lino magteo; O miudinho; O sargento verde; O patinho aleijado;
O bezerro de ouro; O moço pellado; Os tres cavaltos encantados;
Historia de um pintinho; O papagaio dourado; O moleque aa cara­
puça dourada; A onça e o cahritò; O afilhado do diabo; O prín­
cipe enforcado; A princeza dos cabeüos de ouro; O peixe encan­
tado; O passaro mavioso; Joaquim, o enforcado; O príncipe que­
rido; O anjo da guarda; A casa de maribondos; O macaco e o mo­
leque; O bom juiz; A moça encontrada no mar; A s tres prin­
cesas encantadas;Os anões mágicos; Aventuras de um jaboty;
As façanhas do dr Griiio; O grande advogado; Aventuras d»
Zé Gallinha; A princeza adivinha; Os tres ministros; O pae e o
filho; A moça do lix o ; A veiha feiticeira; A sapa casada; A.
onça e a. raposa; O ànnel mágico; Um raio de sol; A faquinha e
a bilha quebrada; A burra e o seu burrinho; O vestido ras­
gado, etc., etc.

Um colossal volume encadernado, com cerca de 400


paginas e illustrado com 131 gravuras desenhadas pelo
genial artista J u l iã o M a c h a u o .................................................. 5$ooo

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LIVRARIA QUARESMA - E d it o r a

A C A B A D E S A H IR A ’ L U Z

Historias do Arco da Velha


L IV R O P A R A C R I A N Ç A S

Contendo sessenta das mais primorosos historias populares, moraes


e proveitosas de vários paizes, algumas tradusidas dos irmãos
, , . .Grimm , Perrauli, Andersen, Madame d’ Aunoy, etc. e outras
recolhidas directamente da tradicção oral.
Eis o indice das historias contidas neste importantíssimo liv r o :
— Historia da Branca F lo r; Alibabá ou os 40 ladrões; A conversão
do filho prodigo; Aventuras de Paulo; A influencia de um the-
eorno; O dragão; Aurelia, ou o passarinho encantado; A lenda
de L a Sarraz; Manuelinho e Manoelão; O Isqueiro; Don M ires;
Bicos.de Am ores; A afilhada de Santo Antonio; Vicente, o ladrão;
Maria Carrucá; O principe cavallo ; Riquete de Crista; A princeza
sobre uma ervilha; A roupa nova do Grão Duque; O lobo, o cam-
ponez e a raposa; O voto fatal; Finuras de soldado; O tam­
bor do rei; O A n jo ; O pequeno Pollegar; Pelle de Asno; A
princeza Rouxinol; A felicidade; A demanda; Os 3 ladrões; A
noiva de S. Pedro; A boa mulher; O moinho do inferno; O burro
e o boi; Os dois companheiros de viagem; O filho ingrato; O
soldadinho de chumbo; A s 3 fiandeiras: O destemido alfaiate;
A s moedas'cahida3 do céu; O urso e o beija-flor; Victimas da
ingratidão; O pescador e sua mulher; João, o venturoso; Os 3
ramos verdes; A familia A gu lh a; Flor de neve e rozinha; O mi­
lagre da fad a; O javali ,* 0 principe da iú a; O castigo da am­
bição, etc., etc.

Um grosso volume, ricamente impresso t encadernado

em Paris, cheio de finíssim os chromos a oito cores e


ci>m centenas de estampas em preto ......................................... 8 $0 0 0

LIVRARIA QUARESMA — RUA S. JO SE’ Ns. 71 e 73


L I V R A R I A QUARESMA — E d it o r a

ACABA DE CH EGAR DE P A R IS

HISTORIAS DA BARATINHA
L IV R O P A R A C R IA N Ç A S

Contendo setenta esplendidos e novos contos in­


fantis, dos mais celebres, conhecidos e apreciados
— fantasticos, moraes, tristes e alegres — todos
elles moralissimos.

Eis o indicc das "H IS T O R IA S D A B A R A T IN H A ":— O


papagaio real; Santo Ajntonio casamenteiro; O genio m ysterio-
so; Historia de A li; Proezas de Beym i; O intrigante; Õs 3 ir­
mãos; Aventuras de Bekir; O genio do lar; Os gátos do reve­
rendo; Mimi e sua cabrinha cinzenta; O califa cegoiiha; Esper-
tezas de Bertoldo; A forca; O mestre escola; Os bons irmãos;
A centenaria; O feiticeiro; Os íilhiinihos do pescador; A boa me­
nina; O pequeno patriota; A santa resignação; Os morangos; A
onça e o gato; A rainha de Golcondâ; O castigo da ambição;
Os carneiros de Panurgio; A camisa do homem feliz; A rã e a
raposa; O passarinho azul; O dinheiro enterrado; O rei e o sa­
pateiro; Os urubus encalntados; O chouriço; O carneirinho; D .
Ratazana e seus filhinhos; A madrasta; O devoto de S . Jo s é ;
Os tres gestos; A bandeira de retalhos; A promessa; A mãe
d’agua; 0 oremio da virtude; O cego das bofetadas; O merca­
dor; O subterrâneo-; Sêde de ouro; A caixa m ysteriosa; A puni­
ção; Lenda de Santa Izabel; O homem riquissimo; O kagado e
o gam bá';.A arvore de natal; O guardador de porcos; Frei João
sem cuidados; Novas diabruras de Pedro M alazarte; A pelle de
eavallo; O surrão m ágico; Falgencio e os sapateiros; A morte
da velha; O medico; Os rebanhos do mar; A s botijas de azeite;
O mentiroso; O mascarado negro; O moinho de Satanaz; L e n ­
da de Santo Antonio; Historia de um cão; etc., etc.

Um grosso volume ricamente impresso e encadernado


em Paris, enriquecido com 14 lindissimos chromos
a oita côres, e ! centenas de estampas em p r e to .. . . 7$ooo

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LIVR AR IA QUARESMA - E m to ra

Castigo de um Anio
E ' um conto do grande escriptor russo, o sabio philosopho, o
santo varão Leon Tolstoi, o novo Jesus Christo, Apostolo do Bem.
Baseado na maxima christã; “ Amae-vos uns aos outros” , é, in-
contestavelraente um primor no seu genero.
Não conhecemos outro volume que tão profundamente commova
e. impressione o leitor.
Depois de lel-o, não ha coração por mais duro e empedernido
que negue uma esmola a aum pobre, recuse um auxilio a um desgra­
çado.
Um lindo volume com bellos dezenhos.............................•. 2$ooo

Os meus brinquedos
Aífirmamos, garantimos que é O M E L H O R L IV R O P A R A
C R I A N Ç A S Q U E H A P U B L IC A D O E M L I N G U A P O R T U -
G U E Z A e o unico assim organisado.
Dividido em quatro partes, contém: P O P U L A R E S C A N T I ­
G A S D E B E R Ç O com que as mães costumam embalar os filhinhos;
interessantes diversões que se fazem com as crianças de tenra ida­
de, de 2 a 4 annos, taes como sejam : “ O dedo minguinho, “ Sermão
de São Coelho, etc., etc., todos os JO G O S e B R IN Q U E D O S , usa­
dos por meninas, não só em casa como nos collegios, nos pateos, nas
chacaras e até nas ruas exemplo: o “ Garrafão ” , a “ Amarella ” , a
“ Barra ” , em summa todos, sem exclusão de um só, acompanhados
de gravuras e explicações que ensinam como se brincam; as C A N T I ­
G A S e D A N Ç A S geralmente adoptadas pelas crianças de ambos os
sexos como sejam: “ Sinhá Viuvinha” , “ Meu bello castello” , a
"P rim a v e ra ” , e milhares de outras, e finalmente, JO G O S D E
P R E N D A S E JO G O S D E E S P IR I T O , que servem para adultos,
mas que a infancia tambem aprecia, e nesse caso estão: o “ A m igo ”1,
“ Cahi no P o ço ” . “ Lampeão de esquna” , acompanhados de toda?
as S E N T E N Ç A S , modo de dirigir o jogo. C O B R A R E P A G A R
E ’ por isso que dissemos e tornamos a dizer que: “ O S M E U S
B R IN Q U E D O S ” é um livro maravilhosíssimo, assombroso, extra-
ordinario, como não ha em lingua portugueza:
Um grosso volume de 300 paginai, ricamente impreso e
encadernado em Paris, com muitas estampas . . . . 5$ooo

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L IV R A R IA Q U A R ESM A — E d i t o r a

AtBUffl DAS efilAflÇAS


O collecionador deste volume, na sua qualidade de poeta,
conseguiu reunir as melhores e mais bellas poesias escriptas em
língua portugueza, desde a antiguidade até nossos dias (mas
só aquellas que, deleitajndo as crianças, tivessem um fundo —
moral e religioso), contos virtuosos, historias alegres, fabulas,
etc., em ver 90 S faceis e de doce harmonia.
Com este livro as crianças aprenderão a ter noções do que
é bello; e, instinctivamente, saberão recitar, desembaraçando-se
d’ esse modo, com facilidade, e educarão a memória, aprendeindo
a decorar.
E ’ pois, um livro que reune o util ao agradavel.
Um grosso volume todo cheio de vrnhetas.......... 4 $000

THEATR1NHO lflF A flm


Numa collecção de obras feitas a capricho e exclusivamente
para crianças, não podia faitar uma que encerrasse: “ Sceínas
côm icas” , “ M ouologos” , “ D iálogos” , “ Com édias”, “ Tra gé d ias",
“ D ram as” , “ M elodram as” , “ Q p eretas” , etc., desde um só per­
sonagem até vinte, com papeis faceis e até mudos, com musica
e sem musica.
A s representações particulares se são favorito divertimen­
to para pessoas grandes, quanto mais para a in fa n cia !... Os pe­
queninos adoram -n’as e sentem-se orgulhosos quafrdo pisam as
taboas de um improvisado theatrkiho.
Sabem todos que não ha melhor meio de desembaraçar uma
criança do que fazendo-a recitar ou representar em publico.
Foi assim pensalndo que o autor organisou tão admiravel
livro, escolhendo de preferencia pequenas peças de facil estudo,
e que nião exijam despezas com scenarios, caracterizações, etc.
Todos os dramas, comédias, etc., que essa obra encerra, po­
dem ser representadas em qualquer logar — seja num tablado,
n’uma sala, seja ao ar livre.
Recommetidamos ás mães de familia, e principalmente aos
directores de collegios, este livro primoroso.
U m grosso volume encadernado contendo 34 peças 5 $000

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LIVR AR IA QUARESMA - E d it o r a
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A caba de sahir á luz e já se acha á venda A maior


novidade litteraria deste se cu lo ü l

O s JR oceiros
i
Sem contestação alguma, fóra de toda a duvida, este livro
é a maior novidade litteraria deste scculo, a obra mais en­
graçada, mais comica (fazendo rir as pessoas melancólicas, tris­
tes, sorumbaticas, graves e sérias), o volume mais original,
mais precioso, mais attrahente, que se tem publicado no Brazil,
talvez mesmo em lingua portugueza, e, quem sabe? no mundo
inteiro.
OS BOOIIBQS
como o seu proprio titulo está indicando, são historias verda­
deiras, casos veridicos, contos, lendas, anecdotas, sobre a vida
dos matutos, os habitantes do sertão do Brazil, a gente da roça,
que nunca veio ou que raras vezes vem á cidade
H a neste livro uma completa, perfeita e leal dcscripção das
festas da roça, taes como: Santo Antonio, S. João, S. Pedro,
Sant’Anna, Natal, Reis, Carnaval e Entrudo, os sambas, os
fados, caterêtês, caxambús, batuques, mana-chica, os desafios
poéticos na viola por dois capadocios, os casamentos em car­
roças de bois ou carrocinhas puxadas por um só boi ou por
burros, cobertos por esteiras, os casamentos a pé, em que os
noivos, padrinho, madrinha, convidados, etc., tudo vae de pé no
chão, com as botinas na ponta de uma vara, só as calçando na
entrada da villa, ou mesmo na igreja, e os casamentos a cavallo:
os baptisados em que as crianças vão em burro com cangalha;
as procissões, festas de igrejas, ladainhas, novenas, leilões de
prendas, bandeiras do divino, preces para pedir chuva; os en­
terros em que se leva o defunto em rede ou em padiola; n’uma
palavra: todas as scenas, festas, episodios que acontecem, com
os costumes da roça, os mais ridiculos, mais exquisitos e en­
graçados, bem como as comadres alcoviteiras, rezadeiras de que-
branto e feitiços; as benzedeiras com galhinhos de arruda; as
que tiram o diabo do corpo e máo olhado; as curandeiras de
espinhela cahida e madre virada.

Um colossal volume com riquíssimas gravuras de notá­


veis a r t is t a s ............................................................. 5$ooo

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L IV R A R IA QUARESMA — Editora

A C A B A D E S A H IR A ’ LUZ

Casamento e Mortalha
R O M A N C E B R A Z IL E IR O
— por —

Julio Cezar L ea l
Um grosso volume, bem impresso, cOm esplendida capa, em
chrom o-lythographia, desenhada pc-o insigne artista brazileiro
A rthur Lu cas .......................... 3$oog.

Náo ha romance <|uc a este se compare. Póde figurar ao


lado das mais encantadoras obras da literatura universal, Não
ha uma só pessoa de coração sensivel, de alma apaixonada a
tudo quanto é bello e grandioso, que não se commova com a
leitura de
CASAM ENTO E M O RTALHA
M oças romanticas, que gostaes de passear á beira-mar, em
noites de lua cheia, ouvindo o murmurio queixoso das ondas
beijando a praia! M oças que suspiraes apaixonadamente por
um ideal sonhado! M oças de 15 a 20 annos, na edade mais ri­
sonha da vida!!! Rapazes que viveis na região do sonho e da
fantazia! M oços que fazeis versos apaixonados, vibrantes de
tnthusiasm oü! Senhoras! V ó s tambem, senhoras, que ainda
não vos julgaes na frialdade dos desenganos!!! Leitores de fo­
lhetins, lêde, lêde todos este magnífico romance:

CASAM ENTO E MORTALHA


Nuuca o coração humano foi tão magistralmente devas­
sado. Não ha uma só pagina que se perca! E ’ a historia de dous
apaixonados — uma moça de 1 4 annos, um joven de 24 prima­
veras — que se adoram delirantissimamente. mas que se vêm
contrariados em um amor ardente! A s lagrimas de C E L I N A , o
desespero de seu noivo, as entrevistas ardentes, os mezes de
saudade, as horas, ora de desanimo, ora de esperança, são pa­
ginas soberbas! Todo o romance é um hymno ao amor! E ’ um
canto apaixonado e triste. F.’ um idyllio sacrosanto, mas tendo
muito de real.

L IV R A R IA QUARESMA — RUA DE S. JO S E ’, 71 E 73.


U V R A R I A Q U A R E S M A — Editora
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Acaba de sair á luz e já se acha á


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O Cozinheiro Popular
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MANUAL C O M P LET ISS 1MO DA A R T E DE
COZINHAR E FA Z E R DOCES
Verdadeira encyclopedia culinaria, onde ha receitas para todos
os gostos, todos os paladares. Além das receitas estrangeiras, como
F R A N C E Z A , P O R T U G U IÍZ A , T N G L E Z A , A L L E M Â , C III-
N E Z A , P O L A C A . T U R C A , R U S S A e de todos os paizes da
terra, com as suas especialidades, ha tambem a cozinha verdadei­
ramente brazileira.
Guizados mineiros, quitutes babianos, generos paulista, iguarias
do norte, manjares do sul, principalmente do R io Grande. Tudo
quanto se qttizer!!!
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cóco; zorós, sarapateis, cangiquinhas, etc. .

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P R I M E I R A P A R T E : — Cozinha estrangeira — Collecção
completa e variada de centenas de receitas, das mais afamadas e
saborosas cozinha»; Portugueza, Italiana, Franceza, Ingleza, Al-
lemã, Russa, Turca e Polaca, precedida de um vooabulario dos ter­
mos francezes mais empregados na cozinha, restaurantes e nos
banquetes. .

S E G U N D A P A R T E : — Cozinha brazileira — Centenas de


variadissimas receitas para se preparar com perfeição qualquer pra­
to da cozinha brazileira. tanto de comidas do trivial como de igua­
rias finas e de preparo pouco conhecido. Especialidade da arte
culinaria fluminense, cearens>e, mineira, paulista, nortista e do sul
do Brasil. Não existe nenhum outro livro que trate tão desenvol-
vidamente e com tanta exactidão da Cozinha Brasileira, como o
C O Z I N H E I R O P O P U L A R — Todas as receitas são verdadeiras,
garantidas, experimentadas.
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rio completo para se preparar qualquer especie dc massa, pasteis,
pastellinhos, empadas, empadões, tortas, croquetes, “ vol-au-vent
dariolas, nugás, panquecas, poços de amor, etc., etc.
Q U A R T A P A R T E : — Manual do Copeiro — A rte de bein
servir e pôr a mesa tanto,em casas de familia como em banquetes,
á franceza ou á americana, seguida de uma collecção de “ menus ”
á européa e á brazileira, em francez e portuguez, de fórnia a faci­
litar os “ maitres d’hotel ” a organizarem qualquer banquete; arte
de trinchar os assados, distribuirão dos vinhos nas differentes par
tes dos banquetes, etc., etc.

Q U IN T A P A R T E : — Inteiramente nova — Accrescida a


esta edição.
O L IV R O D O S D O C E S

Contendo innumeras receitas de Pães de lot, pães: leves, ga


teaux, pudins, petits gateaux, tijelinhas, bunnuelos, bolos, lunchs,
mayonese, gaílettes, tortas, tortinhas, babás, manjares, bons bocca-
dos-, fatias da China, bolo branco, trouxas de ovos, fios de ovos,
tabefes, baba de moças, queijádinhas, Bolo dos AUiados, bolos
de amor de amor, Vaes não vens, doce de queijo, compota de
melão, de cajus, cidras, laranjas, anar.az, morangos, pecegos, còco,
■ameixas, e tc .; biscoitos de vinte qualidades; doces de fruetas de
todas as qualidades; uvas, péras, abobora, limão, figos, marmellos,
etc., etc.

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bastando, tão somente, enviar a sua importancia (S$ooo em dinhei­
ro, não se acceitam sellos), em C A R T A R E G I S T R A D A C O M
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Modinhas Brazileiras
C a n c io n e iro P o p u la r de modinhas brazileiras, organizado pelo S r.
Catullo da Paixão Cearense, distincto moço, conhecido poeta e
prosador, excellente professor de linguas — nome que toda a
gente conhece e tem applaudido.
O autor reuniu pacientemente as mais bellas modinhas popu­
lares que se prestam para o canto (M odinhas ) , emendou-as de
modo que combinassem as palavras e a musica; indicou em cada
uma a musica com que deve ser cantada. Desse modo, o livro
tornou-se admiravel e precioso.
Neste volume encontram-se as mais bellas modinhas popu­
lares, como sejam : Tenho saudades de M aura; A primavera;
Lá para as bandas do Norte; No Sertão da minha terra; Bor­
boleta meus amores; O Perdão; Gosto de ti porque gosto; V ê
que amenidade; O vagabundo; e centenas e centenas de outras
modinhas cada qual mais linda. Um grosso volume de mais de
200 paginas, com bonita capa ............• • ........................... 2$ooo
I jra Brazileirn Repertorio de modinhas populares, escriptas e col-
leccionadas por Catullo da Paixão Cearense. Um grosso volume
de mais de 200 paginas, com bonita capa ..................... i$ooo
C h ô ro s a o V io lã o Optimo livro de modinhas, de Catullo da Paixão
Cearense. Um volume ...................................................... i$ooo
L y r a dos S a lõ e s lindas modinhas de Catullo Cearense, 1 grosso
volume ...................................................... • ■......................... 2$ooo
T r o v a d o r M o d ern o Collecção de modinhas brazileiras, organizada
por Francisco Affonso dos Santos; este volume contem esco­
lhido repertorio de bellissimas modinhas, destacando-se: O
Despreso; Os Olhos A zu es; O Ciumento; Um dia louco; Elvira
quizera amar-te, mas não posso ainda, porque gelado trago o
peito m eu ; Na meiga L y r a ; A Mulata, mostraram-me uni dia
na roça dançando, e muitissimas outras Um volume t$ooo
C a n to r de M odinhas B ra z ile ira , contendo todas as modinhas do
cantor Eduardo das Neves e do barvtono cancionista Geraldo
de Magalhães; contem este livro, além de milhares de modi­
nhas, as seguintes: O Augmento das Pasagens; Foi um Passos
IA da Estrada de Ferro ; O Cinco de Novembro ou a morte do
Marechal Bittencourt; Perdão Em ilia; A gargalhada; A Guer­
ra de Canudos, etc.. etc. Um vojume com unia linda capa, com
o retrato de Eduardo das Neves...................... . . . . . . . lífooo
T ro va d o r da M alan d rag em Ultimo livro do popularissitno cantor
Rthmfdo das Neves, contendo centenas de modinha?,, entre ellas
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Santos. Dumont; Augusto Severo; Chateau velho de guerra,


etc., etc. Um volume i$ooo
L y r a de A p o llo Album de lindas modinhas, recitativos, lundus, e
canções, collecionadas por João de Souza Conegundes. Um vo­
lume de 300 paginas, com capa colorida, desenhada por Julião
Machado 2$000

JLyra P o p u la r Escolhida collecção djas mais celebres poesias de poe­


tas brasileiros e portuguezes, comprehendendo muitas que só
se encontram neste volume, como as de José Bonifácio, Pedro
Luiz e Francisco Octaviano. Obra organizada por Custodio da
Silva Quaresma. Um grosso volume de mais de 600 pa­
ginas ...... ................................................................................. 3$ooo
T r o v a d o r de Esquina ou repertorio do capadocio, contendo milha­
res de modinhas e tambem a revista de Souza Bastos “ Tim-
Tim por T im -T im ” Obra completa. Um grosso volume 2$ooo
S eren a ta s Novissima collecção de modinhas e lundus chorosos.
Um elegante volume ........................................................ i$ooo
T ro v à d o r B ra z ile iro . Unica edição completa, contendo trechos de
operetas, monologos e cançonetas, e uma infinidade de modi­
nhas velhas e novas, tristes e alegres. Um grosso volume de
200 paginas............................................................................. 2$ooo
Po jsias do Zin&o Contendo uma enorme collecção í4 /nodinhas e
fadinhos portuguezes. Un. volume................................. l$ooo
F lo rile g ia dos C antores Ultimo livro de modinhas de Catullo
Cearense contendo: O L U A R DO S E R T Ã O ; A V I O L A E S T A '
M A G O A D A ; O P O E T A DO S E R T Ã O ; T E U A M O R ; A D O R A -
V E I S T O R M E N T O S : F E C H E I O M E U JA R D I M ; S E G R E D O S
Q U E T E N A O D I S S E ; O P O E T A DO S E R T Ã O ; e muitíssimas
outras produções do grande poeta .
Um lindo volume de mais de 160 pags. ............................... 2$ooo
n O V O S C f t N C A R E S — Primoroso livro de modinhas e can-
çõfes por Catullo Cearense. Entre outras contém este livro as
seguintes: Rasga o coração (musica de l á r a ) ; O ndas; Tu pas-
saste por este jardim ; Templo Ideal; O teu pé; O beijo; T u e
minha do r!; Minha dor entre flo re s; Quando morre o am or;
Chuva de pétalas; Diamante d’agua; Trovas da Aldêa, etc.
e elegante capa desenhada pelo genial artista brazileiro Raul

Um grosso volume de cerca de 300 paginas com artistica


Pederneiras 2$000

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Manual Pratico do 0istilíador


ou collecção de milhares de receitas e indicações
para se poder preparar todas as qualidades de vinhos,
licores, cervejas, aguardentes, cognacs,
xaropes, refrescos, 'punchs, tinturas, aguas aromaticas,
bebidas espirituosas, vinagres, elixires, etheres,
etc., etc., segundo os modernissimos
processos de distillação
Por
Annibal Masearenhas
Um grosso volume ene-, de 300 p ags..................... 3$ooo

Este primoroso e utilissimo livro, que acaba de sahir do prélo,


constitue um auxiliar indispensável para todas as donas de casas,
fabricantes de bebidas, donos de botequins, confeitarias, hoteis,
vendas, etc.. e para os Srs. fazendeiros e agricultores, que nelle
encontrarão uma fonte inexgotavel de informações e receitas para
a exploração das innumeras matérias primas que possue o nosso
pa,iz.

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Nova edição para 19x9, com centenas de receitas novíssimas para
o preparo de toda a especie de perfumes, pomadas, pós odoriferos,
essencias, pastilhas odoriferas, almofadinhas perfumadas, aguas de
“ toilette ” , extractos, perfumes inglezes, espíritos perfumados, cre­
mes para os labios e para o rosto, leite virginal, oleos para ca-
bellos, sabões e sabonetes de todas as qualidades; sabões leves em
pó, transparentes, espumosos, molles ou cremes, para tirar nodoas,
etc., etc. Velas de todas as qualidades: de sêbo, stearicas, colori'
das. diaphanas, círios, brandões de Veneza, de Bruxellas, etc.

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L IV R A R IA QUARESMA — editora

D E T IN T A S , V E R N IZ E S E O LE O S E D E
T O D O S OS S E G R E D O S D E O F F I C I N A S
Edição deste anno, 1919, contendo o ‘ fabrico de todas as
tintas: — tintas tvpographicas, Jythographicas, para marcar
roupa, de escrever, indeleveis, da China, para metaes, para pin­
turas, vermelhas, amarellas, verdes, pardas, pretas, brancas, etc.
O ieos: — Yegetaes. animaes, etc. : V ernizes: — vernizes de
todas as qualidades, de álcool, de essências, graxos, de sanda-
raca, para madeira, para encadernadores, para metaes, de côr,
de rezira, de copai, para quadros, télas, molduras, gravuras, etc.
Collas, massas, gommas, balsamos, rezinas, etc. Os processcs
mais modernos de dourar, pratear, nickelar, bronzear, platin.tr
e cobrear; seus differentes banhos, etc., etc. Maneira de tii.ar
parafusos enferrujados, unir peças, collar vidíflfe p orcelan a^
louças, mármores, alabastros, etc.. O fabrico dos Xacres-, das gra­
xas, das gorduras, argam assas, cimentos, collas, visgos, massas
para \udraceiro, etc.; limpeza dos objectos de ouro, prata, ,ni-
cket, etc. dos espelhos, dos crystaes, dos vidros, das vidraças,
dos copos, etc., etc. Processo para tirar-se qualquer jnodoa dos
tecidos de linho, algodão, lã, seda, etc. Innum cras,rec*i$»s-p*rs-
os variadissimos misteres, 110 que.xxinetitvlciTf todos os segre­
dos de officimás. .
O g r a f l S i e valor c utilidade, indispen­
sável ás mães de familia, donas de casa, aos ope­
rários, negociantes, fabricantes, donos de offici-
nas e a todos, em geral, por conter innumeras re­
ceitas de uso caseiro, conselhos, indicações, etc.
— todos de incontestável utilidade na vida pra
tica quotidiana.
POR A N N IB A L M A S C A R E N H A S
Um grosso volume enc., de 426 p a g s . 5$ ooo

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L I V R A R I A Q U A R E S M A — Edi t ora

— OU —

■fjj
A Sciencia de Juca Rosa
■ ..:*** '
Revel
líatadQ pi;atico»e completo fle todas as feitiçarias ct
cidas, mciosMe eniprcgal-as e proveito que dellas & pode
rar, acompanhado de uma jcollecção de reçeitas necessar;
todos os misteres da vidj, taes como: para se saber o pn
destino; para se vêr *■nj soa lio a m ulher que se ha de por
receita para obrigar o marido a ser fiel; receita para obrig:
moças solteiras e até mesmo as casadas^a dizerem tudo ac
que tencionarm fazer; receita para fazer-se amar pelas mulh
pelos homens; receita para se domar o amante ou marido
rico e m alcriado; para se fazer cousas impossíveis; veÜSai
oração para enxotar o canhoto do corpo; para destruir o,
feitos da feitiçaria; oração que.preserva do raio; figa quej
tege no com m ercio; taiisnian qüe faz voltar cedo para a i
natal, rico e feliz; receita para curar m andinga; para ganhi
j°g o , etc., etc., íeguido de 11111 "complctissimo '

T R A T A D O M I llA ET O M A K O IA

o trabalho mais completo qüe s,e tem publicado ate hoje, conte
A maneira de deitar as cartas'p ara se eonliêçer o fui
saber como Será succedido en) seus negcçios; nas suas cr#
. sas e cm seus am ores; a bô.a ou má estrella que nos aeoi
nha; felicidades e dcsgraç.is; ^ e casará ou não e com quet
com móço ou velho, rico ou pobre, feio ou bonito, e tan
para a descoberta de objeclos roubados, etc., etc. poi

João Sirrióes de Sampaio


Um grosso volume de perto de 300 paginas .......... 5 $

L T V R A R T A - Q U A R E S M A — R U A D E S. ÍO SV J, 71 i
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