Formação Ponta Do Mel Albiano Da Bacia Potiguar - UFPA

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 191

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SILMARA CAMPOS

Formação Ponta do Mel – Albiano da Bacia Potiguar:


geoquímica na análise da evolução diagenética

CURITIBA
2012
SILMARA CAMPOS

FORMAÇÃO PONTA DO MEL – ALBIANO DA BACIA POTIGUAR:


GEOQUÍMICA NA ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DIAGENÉTICA

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-graduação, Área de Concentração
em Geologia Exploratória, Setor de
Ciências da Terra, Universidade Federal
do Paraná, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em
Geologia.

Orientador: Prof. Dr. José Manoel dos


Reis Neto.

CURITIBA
2012
Campos, Silmara
Formação Ponta do Mel – Albiano da Bacia Potiguar: geoquímica na
análise da evolução diagenética / Silmara Campos. – Curitiba, 2012.
189 f. : il.; graf., tab.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Paraná, Setor de


Ciências da Terra, Programa de Pós-Graduação em Geologia.
Orientador: José Manoel dos Reis Neto

1. Rochas carbonáticas. 2. Isótopos estáveis. I. Reis Neto, José


Manoel dos. II. Título.

CDD 552.58
TERMO DE APROVACAO

SILMARA CAMPOS

"FORMA<::AO PONTA DO MEL- ALBIANO DA BACIA POTIGUAR:


GEOQUIMICA DA ANALISE DA EVOLU<::AO DIAGENETICA".

Dissertac;ao de Mestrado aprovada como requisite parcial para


obtenc;ao do grau de Mestre no Programa de P6s-Graduac;ao
em Geologia, area de concentrac;ao em Geologia Explorat6ria,
da Universidade Federal do Parana, Comissao formada por:

//- ~:>-L~
Prof. Dr. Rene ftOd-r-i~tt ·-

-===---
Prof. Dr. Ricardo Jahnert- PETR0BRAS

oel dos Reis Neto- UFPR

Curitiba , 03 de agosto de 2012.


À Neide e ao João,
queridos pais, meus verdadeiros mestres,
dedico este trabalho
AGRADECIMENTOS

Uma dissertação não se faz apenas com os olhos grudados nos livros
e com as mãos analisando. É um pedaço da vida da gente que depende de
outras pessoas, às quais nesse momento agradeço.
Ao pessoal do LAMIR: Sr. Carlos que me mostrou o respeito e o rigor
nos procedimentos de preparação das amostras; Sueli e Evelin, pela graça e
sorriso em ensinar o manuseio dos instrumentos; ao Secchi, Clarisse,
Franciele, Keiji e Mikael pela paciência em responder minhas perguntas e
curiosidades e pelas inúmeras repetições de análises, e à Áurea pelo suporte
na administração.
Ao Prof. José Manoel, meu orientador, agradeço pelo incessante
entusiasmo e interminável disposição e por ter me provocado a entrar nessa
jornada, da qual já tenho muito orgulho.
À PETROBRAS, como instituição, e nas pessoas dos gerentes que
permitiram que eu ficasse esse tempo longe das atividades normais: Guilherme
Gontijo, Joelson Falcão, Augusto Franklin e Sylvia Anjos.
Ao pessoal do laboratório da PETROBRAS da Bacia de Santos pela
confecção das lâminas petrográficas, e da Bacia Potiguar pela ajuda na coleta
das amostras, à Miriam do Laboratório da Universidade PETROBRAS e à
Caroline pela ajuda na coleta das amostras dos testemunhos.
Aos meus colegas Bira, Liliane, Maurilo, Elio, Spadini, Cecília, Almério,
Nilo e Marcele, pelas discussões sobre a bacia e sobre carbonatos. Ao Elmo,
Solange, Luiz, Isaac e Renata pela ajuda nas figuras e na pesquisa ao banco
de dados. À Ângela Dieb, Andréia, Josi, meninas da documentação técnica da
PETROBRAS em Natal, por serem sempre tão prestativas e assim fazerem
parte do crescimento do conhecimento científico.
Aos meus colegas e amigos da PETROBRAS: Otaviano, Mariela e
Eugênio pelas palavras decisivas de incentivo e apoio, sensíveis àquele
momento da minha vida.
Ao pessoal do CECAV/ICMBio: Jocy, Uilson, Diego, Darci, Iatagã, Tião
e D. Severina que me proporcionaram as viagens ao mundo das cavernas de
forma divertida, segura e bem alimentada.
À Profa. Dra. Barbara Trzaskos e ao Dr. Pedro Xavier por terem
avaliado a minha qualificação em tempo recorde.
Às minhas jovens colegas de mestrado: Laís, Ana Paula, Márgia, Talita
e Alessandra e à quase-geóloga Fernanda, pelo alegre convívio nesse período.
De forma especial agradeço ao Gerson Terra, pelos preciosos
ensinamentos em carbonatos, pelas ideias, pelas discussões e principalmente
pelo socorro sempre que precisei.
Ao Pedro Xavier, agradeço imensamente pelo incentivo desde o
primeiro momento, pelo fornecimento da vasta bibliografia, pela força em
momentos críticos e pelo acompanhamento constante desse meu caminho.
Aos revisores especiais do meu texto na reta final: Mariela, Gerson e
Pedro. Foi um luxo!
À minha família curitibana agradeço pela compreensão da minha
ausência de convívio, apesar da presença física. À minha família natalense
agradeço pela (im)paciência na espera do meu retorno. Aos meus sobrinhos
queridos, Renata, Henrique, João Pedro e Ana Júlia, foi bonito ver e participar
um pouquinho das vossas descobertas e conquistas.
Ao Seu João que me mostrou que nenhum obstáculo o impede de
aprender mais um pouquinho. À D. Neide que me lembrou que hiperatividade
não tem idade.
E, por causa de todo esse arsenal de pessoas, a quem serei sempre
grata, agora eu sei quartear amostras, usar o moinho excêntrico e o de
panelinhas, fazer catodoluminescência, preparar uma boa amostra de DRX,
usar e limpar a prensa, ver a birrefringência dos carbonatos, usar o Corel-Draw,
usar Alizarina-S, usar o Grapher, colocar amostras no vail, tabelar resultados,
distinguir alga verde de alga vermelha, operar o MEV, lixar lâminas
petrográficas na pasta abrasiva 600, pesar com 4 dígitos, ter mais paciência,
“binarizar” imagens, fazer café de máquina, subir escadas, repetir análises,
lavar moinhos, lavar beckers, não abrir a estufa de 1000ºC, identificar bordas
de reação, pesquisar artigos, pedir artigos, ter dúvidas, capturar imagens...
Agradeço também à saddle dolomite. Não a encontrei por aqui, mas
como a busquei obstinadamente, nesse trilhar acabei encontrando outras
belezas geológicas.
E, enfim, como dizem os nordestinos: “Valeu boi!”
¨...Só as pedras sabiam o formato do silêncio...”
(Manoel de Barros)
RESUMO

O objetivo deste estudo foi caracterizar os eventos diagenéticos identificados na


Formação Ponta do Mel através de análises geoquímicas, aliadas à descrição
petrográfica, e reconhecer os processos que podem desenvolver ou preservar
porosidade em rochas carbonáticas. A Formação Ponta do Mel representa o registro
sedimentar de uma estreita plataforma carbonática depositada durante o Albiano na
Bacia Potiguar, situada na porção sudeste da Margem Equatorial Brasileira. Esta
unidade é composta por mudstones e margas na base que gradam em direção ao
topo para grainstones/rudstones formados por oncolitos, pelóides e algas calcárias,
entre outros bioclastos. Análises petrográficas de amostras de testemunhos e de
amostras de calha oriundas da perfuração de poços da PETROBRAS, aliadas às
análises geoquímicas de isótopos estáveis de carbono e oxigênio, além de
elementos maiores e menores, permitiram caracterizar três intervalos com evolução
distinta. A sequência inferior, caracterizada por sedimentos de águas profundas,
encontra-se depositada sobre arenitos fluviais da Formação Açu e apresenta, no
topo, feições de paleocarste sob a discordância que a separa da seção sobreposta.
A sequência intermediária é composta de grainstones dolomitizados. As dolomitas
apresentam-se quimicamente desde próximas da estequiometria até dolomitas
calcíticas. As texturas variam de subédrica a euédrica, com porosidade intercristalina
de até 21%. A dolomitização desse intervalo foi multifásica, com recristalização por
fluidos hidrotermais. Na sequência superior os grainstones se encontram
preservados de dolomitização e apresentam pequenas intercalações de rochas
siliciclásticas. Evidências de carstificação epigênica singenética foram observadas,
as quais se associam a rebaixamentos do nível relativo do mar. Posteriormente,
reativações tectônicas que afetaram a bacia a partir do Campaniano, desenvolveram
fraturas e falhas, aproveitando principalmente as zonas de fraqueza do paleocarste.
As fraturas foram parcialmente preenchidas por calcita através da percolação de
fluidos hidrotermais, provavelmente associados aos efeitos térmicos do Magmatismo
Macau, que perdurou de 49 a 6 Ma.

Palavras-chaves: Formação Ponta do Mel. Bacia Potiguar. Geoquímica. Isótopos de


carbono e oxigênio. Carste. Dolomitização.
ABSTRACT

The aim of this study was to characterize the diagenetic events identified in the Ponta
do Mel Formation through geochemical analyses coupled with petrographic
description and recognize the processes which can develop or preserve porosity in
carbonate rocks. The Ponta do Mel Formation represents the sedimentary record of
a narrow carbonate platform deposited during the Albian in the Potiguar Basin,
located in the southeastern part of the Brazilian Equatorial Margin. This unit is
composed by mudstones and marls at the base, which grade toward the top into
grainstones and rudstones formed out of oncolites, peloids, calcareous algae and
other bioclasts. Petrographic analyses of core samples and drill cutting samples from
PETROBRAS wells, combined with geochemical analyses of Carbon and Oxygen
stable isotopes, as well as major and minor chemical elements allowed the
characterization of three intervals with distinct evolution. The lowermost sequence is
characterized by deep-sea sediments which were deposited upon fluvial sandstones
of the Açu Formation and presents, at its top, features of paleokarst beneath the
unconformity which bounds the overlying section. The intermediate sequence is
composed of dolomitised grainstones. The dolomites range in composition from near
stoichiometric to calcitic dolomite. The textures span from euhedral to subhedral with
up to 21% of intercrystalline porosity. The dolomitization of this sequence was
multiphasic, with recrystallization by hydrothermal fluids. In the upper sequence the
grainstones were preserved from dolomitization and minor interbedding of siliciclastic
rocks are present. Evidence of epigenic syngenetic karstification were observed,
associated with relative sea level drops. Afterward, tectonic reactivations that
affected the basin from the Campanian onwards developed fractures and faults that
occur mainly over weakness zones of paleocarste. The fractures were partially filled
with calcite through the percolation of hydrothermal fluids, possibly associated with
the thermal effect of Macau igneous event, which lasted from 49 to 6 Ma.

Key words: Ponta do Mel Formation. Potiguar Basin. Geochemistry. Carbon and
oxigen isotopes. Karst. Dolomitization.
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Mapa das bacias sedimentares da margem equatorial.................. 017


FIGURA 2 - Mapa Geológico da Bacia Potiguar................................................. 019
FIGURA 3 - Arcabouço tectônico da Bacia Potiguar........................................... 023
FIGURA 4 - Seção geológica esquemática regional da Bacia Potiguar............. 025
FIGURA 5 - Evolução tectono-estratigráfica da Bacia Potiguar.......................... 026
FIGURA 6 - Carta estratigráfica da Bacia Potiguar............................................. 028
FIGURA 7 - Mapa de isópacas da Formação Ponta do Mel............................... 034
FIGURA 8 - História do soterramento da Formação Ponta do Mel..................... 035
FIGURA 9 - Organismos da Formação Ponta do Mel......................................... 036
FIGURA 10 - Biolitito coralgal.............................................................................. 037
FIGURA 11 - Calcarenito espático bioclástico/peloidal/oncolítico....................... 038
FIGURA 12 - Calcarenito espático oolítico.......................................................... 040
FIGURA 13 - Seção faciológica esquemática da Formação Ponta do Mel......... 041
FIGURA 14 - Fluxograma da metodologia utilizada............................................. 044
FIGURA 15 - Mapa de localização dos poços amostrados.................................. 044
FIGURA 16 - Mini-broca e testemunho................................................................ 046
FIGURA 17 - Amostras de calha antes e após a lavagem................................... 047
FIGURA 18 - Lavadora ultra-sônica e as amostras no Copo de Becker.............. 048
FIGURA 19 - Amostra no Copo de Becker antes e após a lavagem.................... 048
FIGURA 20 - Secagem da amostra e retirada de material magnético................. 049
FIGURA 21 - Amostras de calha do poço P1 após lavagem................................ 050
FIGURA 22 - Moinho e porta-amostras................................................................ 050
FIGURA 23 - Classificação de porosidade de Luo e Machel (1995).................... 061
FIGURA 24 - Classificação de brechas de Loucks (1999)................................... 062
FIGURA 25 - Classificação genética de porosidade de Ahr (2008)..................... 063
FIGURA 26 - Classificação das rochas carbonáticas........................................... 067
FIGURA 27 - Perfil litológico esquemático do testemunho basal do poço P3...... 068
FIGURA 28 - Fotomicrografias dos mudstones do poço P3................................. 069
FIGURA 29 - Perfil litológico esquemático do testemunho do poço P4................ 071
FIGURA 30 - Perfil litológico esquemático do testemunho do poço P2................ 072
FIGURA 31 - Fotomicrografias do GSTBioPel do poço P2................................... 074
FIGURA 32 - Fotomicrografias do GSTBioPel do poço P2.................................. 074
FIGURA 33 - Fotomicrografias do GSTBioPel do poço P2.................................. 074
FIGURA 34 - Fotomicrografias do GSTBioPel do poço P2.................................. 075
FIGURA 35 - Fotomicrografias do GSTBioPel do poço P2.................................. 075
FIGURA 36 - Fotomicrografias do GSTBioPel do poço P2.................................. 075
FIGURA 37 - Fotomicrografias do RUDOncBioPel do poço P3........................... 076
FIGURA 38 - Fotomicrografias do GSTPelBio do poço P3.................................. 076
FIGURA 39 - Fotomicrografias do GSTPelOncBio do poço P3............................ 076
FIGURA 40 - Modelo esquemático dos ambientes deposicionais....................... 077
FIGURA 41 - Estilolitos dos poços P2 e P3......................................................... 079
FIGURA 42 – Rocha dolomitica da amostra P3.G............................................... 083
FIGURA 43 - Fotomicrografias de dolomitas euédricas do poço P3................... 087
FIGURA 44 - Fotomicrografias de poros intercristalinos em dolomitas do poço
P3.................................................................................................. 087
FIGURA 45 - Fotomicrografias de textura planar-s em dolomitas do poço P3... 087
FIGURA 46 - Fotomicrografias de vugs preenchidos por calcita do poço P3..... 088
FIGURA 47 - Fotomicrografias de grainstones dolomitizados do poço P3......... 088
FIGURA 48 - Fotomicrografias de textura planar-e em dolomitas do poço P3... 088
FIGURA 49 - Fotomicrografias de dolomitas do poço P3................................... 089
FIGURA 50 - Fotomicrografias de dolomitas do poço P3................................... 089
FIGURA 51 - Fotomicrografias em CL de dolomitas do poço P3........................ 089
FIGURA 52 - Fotomicrografias em CL de dolomitas do poço P3........................ 090
FIGURA 53 - Desenho esquemático das texturas dolomíticas........................... 090
FIGURA 54 - Perfil litológico dos poços P2, P3 e P4 e indicação das fraturas... 094
FIGURA 55 - Fotografias e fotomicrografias da amostra P2.Ffr........................... 096
FIGURA 56 - Catodoluminescência em cristais de calcita da amostra P2.Ffr..... 096
FIGURA 57 - Catodoluminescência em cristais de calcita da amostra P2.Ffr..... 097
FIGURA 58 - Foto e fotomicrografias da fratura da amostra P2.G1fr.................. 097
FIGURA 59 - Foto e fotomicrografias da fratura da amostra P2.G1fr.................. 098
FIGURA 60 - Fotomicrografias da fratura da amostra P2.G2fr............................ 099
FIGURA 61 - Fotomicrografia da fratura da amostra P2.G2fr.............................. 099
FIGURA 62 - Fotos e fotomicrografias da fratura da amostra P2.J1fr................. 100
FIGURA 63 - Fotos e fotomicrografias da brecha da amostra P3.L..................... 102
FIGURA 64 - Foto e fotomicrografia da fratura da amostra P3.J2fr....................... 102
FIGURA 65 - Fotomicrografias e CL da fratura da amostra P3.J2fr .................... 103
FIGURA 66 - Fotomicrografias da fratura da amostra P3.Hfr............................... 103
FIGURA 67 - Fotomicrografias da fratura da amostra P3.Afr............................... 103
FIGURA 68 - Desenho esquemático das fraturas............................................... 105
FIGURA 69 - Diagrama de δ13C e δ18O dos ambientes diagenéticos e das
dolomitas....................................................................................... 112
FIGURA 70 - Perfil litológico dos poços P2, P3 e P4 versus a variação de δ13C e
δ18O .............................................................................................. 115
FIGURA 71 - Perfil químico das amostras dos poços P2, P3 e P4..................... 118
FIGURA 72 - Fotomicrografias das amostras do topo do poço P1..................... 121
FIGURA 73 - Fotomicrografias das amostras do intervalo intermediário do poço
P1.................................................................................................. 121
FIGURA 74 - Fotomicrografias das amostras da base do poço P1..................... 121
FIGURA 75 - Perfil litológico do poço P1.............................................................. 122
FIGURA 76 - Fotomicrografias dos grainstones do poço..................................... 123
FIGURA 77 - Fotomicrografias dolomitas do poço P1......................................... 124
FIGURA 78 - Fotomicrografias e seções de µCT das amostras do poço P1...... 125
FIGURA 79 - Difratograma das principais reflexões da dolomita......................... 126
FIGURA 80 - Fotomicrografias das rochas dolomíticas com as fraturas.............. 128
FIGURA 81 - Fotomicrografias e imagens em MEV das amostras do poço P1.. 129
FIGURA 82 - Fotomicrografias das amostras da seção carstificada do poço P1. 131
FIGURA 83 - Desenho esquemático da carstificação do poço P1...................... 132
FIGURA 84 - Perfil litológico do poço P1 com a variação isotópica.................... 137
FIGURA 85 - Perfil químico do poço P1.............................................................. 141
FIGURA 86 - Seção geológica esquemática entre os poços P1, P2, P3 e P4.... 143
FIGURA 87 - Perfil químico das rochas dolomíticas dos poços P1 e P3............. 145
FIGURA 88 - História do soterramento da Formação Ponta do Mel.................... 150
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Profundidade e nomenclatura das amostras de testemunhos......... 045


TABELA 2 - Perdas de circulação nos poços P1, P2, P3 e P4............................ 065
TABELA 3 - Topo e base da Formação Ponta do Mel e recuperação de
testemunhos nos poços P2, P3 e P4 ............................................ 065

TABELA 4 - Presença e forma dos estilolitos nas amostras dos testemunhos.. 080
TABELA 5 - Critérios petrográficos para caracterização de dolomitização......... 084
TABELA 6 - Descrição das dolomitas do poço P3.............................................. 085
TABELA 7 - Descrição das fraturas dos poços P2 e P3...................................... 093
TABELA 8 - Valores de δ13C e δ18O da rocha matriz dos testemunhos............. 107
TABELA 9 - Valores de δ13C e δ18O das calcitas das fraturas dos poços P2 e
P3.................................................................................................. 110
TABELA 10 - Valores de porosidade medidas por µCT em amostras do poço
P1.................................................................................................. 126
13 18
TABELA 11 - Valores de δ C e δ O das calcitas das fraturas do poço P1...... 138
TABELA 12 - Porosidade da Formação Ponta do Mel....................................... 155
LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - Diagrama de δ13C e δ18O para o conjunto das amostras de rocha


matriz dos testemunhos.................................................................. 108
GRÁFICO 2 - Diagrama de δ13C versus profundidade para as amostras de rocha
matriz dos testemunhos dos poços P2, P3 e P4............................ 108
GRÁFICO 3 - Diagrama de δ18O versus profundidade para as amostras de rocha
matriz dos testemunhos dos poços P2, P3 e P4............................. 109
GRÁFICO 4 - Diagrama de δ13C e δ18O das fraturas dos testemunhos dos poços
P2 e P3........................................................................................... 110
GRÁFICO 5 - Diagrama de δ13C e δ18O da Formação Ponta do Mel (rocha matriz
e fraturas)....................................................................................... 111
GRÁFICO 6 - Grau de ordenamento das dolomitas do poço P1........................ 127
GRÁFICO 7 - Diagrama de δ13C e δ18O do poço P1........................................... 133
GRÁFICO 8 - Temperatura x razão Ca/Mg de formação das dolomitas............ 146
GRÁFICO 9 - Diagrama de δ13C e δ18O para as dolomitas dos poços P1 e
P3.................................................................................................. 148
GRÁFICO 10 - Equações de paleotemperatura pelo δ18O ................................ 148
GRÁFICO 11 - Diagrama de δ13C e δ18O para as calcitas de fraturas dos P1, P2,
P3 e P4.......................................................................................... 152
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 016


2 GEOLOGIA REGIONAL DA BACIA POTIGUAR ....................................... 020
2.1 LOCALIZAÇÃO .......................................................................................... 020
2.2 HISTÓRICO DO CONHECIMENTO DA GEOLOGIA
DA BACIA POTIGUAR............................................................................... 020
2.3 ARCABOUÇO ESTRUTURAL E EVOLUÇÃO TECTONO-SEDIMENTAR DA
BACIA POTIGUAR..................................................................................... 021
2.4 ESTRATIGRAFIA DA BACIA POTIGUAR.................................................. 027
3 GEOLOGIA DA FORMAÇÃO PONTA DO MEL.......................................... 033
3.1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 033
3.2 DESCRIÇÃO DAS FÁCIES........................................................................ 035
3.2.1 Fácies de borda de plataforma e fácies associadas................................ 036
3.2.2 Fácies de laguna ...................................................................................... 037
3.2.3 Fácies de intermaré e inframaré rasa...................................................... 038
3.2.4 Fácies de barras...................................................................................... 039
3.2.5 Fácies de planície de maré...................................................................... 040
3.2.6 Fácies de águas profundas...................................................................... 040
3.2.7 Doloespatito............................................................................................. 042
3.3 PROCESSOS DIAGENÉTICOS................................................................. 042
4 MÉTODOS E TÉCNICAS ............................................................................. 043
4.1 AMOSTRAGEM E ETAPAS DA PREPARAÇÃO ...................................... 044
4.1.1 Amostras de testemunhos .................................................................... 045
4.1.2 Amostras de calha................................................................................ 046
4.2 TÉCNICAS ANALÍTICAS............................................................................ 051
4.2.1 Microscopia por Luz Transmitida (MLT)................................................ 051
4.2.2 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV/EDS)................................. 051
4.2.3 Difração de Raios-X (DRX).................................................................... 052
4.2.4 Fluorescência de Raios-X (FRX).......................................................... 053
4.2.5 Termogravimetria (TG).......................................................................... 054
4.2.6 Isótopos estáveis de carbono e oxigênio............................................... 055
4.2.7 Catodoluminescência (CL).................................................................... 056
4.2.8 Microtomografia de Raios-X (µCT)........................................................ 057
5 POROSIDADE CÁRSTICA .......................................................................... 058
6 CARACTERIZAÇÃO DA FORMAÇÃO PONTA DO MEL .......................... 066
6.1 CARACTERIZAÇÃO DOS TESTEMUNHOS............................................. 066
6.1.1 ANÁLISE PETROGRÁFICA.................................................................. 067
6.1.1.1 Arcabouço deposicional ..................................................................... 067
6.1.1.1.1 Fácies de águas profundas................................................................ 068
6.1.1.1.2 Fácies de plataforma rasa.................................................................. 070
6.1.1.1.3 Ambiente deposicional dos testemunhos........................................... 073
6.1.1.2 Feições e processos diagenéticos...................................................... 078
6.1.1.2.1 Estilolitos............................................................................................. 078
6.1.1.2.2 Dolomitização..................................................................................... 081
6.1.1.2.3 Fraturas.............................................................................................. 091
6.1.2 ANÁLISE GEOQUÍMICA...................................................................... 106
6.1.2.1 Isótopos de carbono e oxigênio.......................................................... 106
6.1.2.2 Elementos maiores e elementos traços.............................................. 116
6.2 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS DE CALHA.................................. 119
6.2.1 ANÁLISE MACROSCÓPICA................................................................ 119
6.2.1.1 Arcabouço deposicional...................................................................... 119
6.2.1.2 Feições e processos diagenéticos...................................................... 123
6.2.1.2.1 Dolomitização.................................................................................... 123
6.2.1.2.2 Fraturas............................................................................................. 127
6.2.1.2.3 Carstificação...................................................................................... 130
6.2.2 ANÁLISE GEOQUÍMICA...................................................................... 133
6.2.2.1 Isótopos de carbono e oxigênio........................................................... 133
6.2.2.2 Elementos maiores e elementos traços................................................. 138
7 EVOLUÇÃO GEOLÓGICA DA FORMAÇÃO PONTA DO MEL.................... 142
8 CONCLUSÕES.............................................................................................. 157
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 160
APÊNDICES....................................................................................................... 169
16

1 INTRODUÇÃO

As rochas carbonáticas da Formação Ponta do Mel foram estudadas desde


as primeiras perfurações em busca de petróleo na porção marítima da Bacia
Potiguar, a partir dos anos 70. Com a descoberta do Campo de Ubarana, primeiro
campo de petróleo na Bacia Submersa em 1973, vários estudos passaram a ter
como objetivo a identificação de áreas prospectáveis e com condições de
porosidade e permeabilidade de tornarem-se alvo de novas perfurações. Já naquela
época as rochas carbonáticas eram potenciais reservatórios de petróleo, sendo
grandes produtoras no Oriente Médio. Em 1981, um estudo conduzido por Tibana e
Terra teve como objetivo a caracterização das microfácies da Formação Ponta do
Mel para definição das melhores litofácies, sob o ponto de vista permoporoso, com a
finalidade de tornarem-se alvos exploratórios. Tanto esse estudo de 1981, como
posteriormente o trabalho de Terra (1990a) tiveram papel importante como trabalhos
pioneiros no Brasil na descrição de microfácies em rochas carbonáticas nas bacias
sedimentares brasileiras. No entanto, a conclusão para a Formação Ponta do Mel foi
a de uma plataforma carbonática rica em conteúdo fossilífero e variedade de grãos
aloquímicos, mas pobre em porosidade, primária ou secundária.
O objetivo deste estudo é analisar os sedimentos carbonáticos da Formação
Ponta do Mel, agora sob a ótica dos fenômenos capazes de gerar porosidade que
seja geneticamente atribuída a processos de carstificação, sejam eles associados à
exposições subaéreas ou hipogênicos. Neste caso, as microfácies, apesar de serem
sempre importantes, têm papel secundário no arcabouço poroso. Os elementos para
realizar este estudo são principalmente as análises geoquímicas aliadas à descrição
macro e microscópica do arcabouço da rocha e das alterações tardi-diagenéticas.
As bacias sedimentares da Margem Equatorial (Pará-Maranhão,
Barreirinhas, Ceará e Potiguar, FIGURA 1) tiveram uma evolução diferente das
bacias da Margem Leste, principalmente devido à tectônica transcorrente que as
geraram. Em função desse estilo tectônico, cada bacia tem um desenvolvimento
com características distintas em termo de subsidência, fluxo térmico, estratigrafia,
magmatismo e os posteriores eventos de soerguimento e de deformação (MILANI e
THOMAZ FILHO, 2000).
17

FIGURA 1: Bacias sedimentares da margem equatorial. Modificado de Milani e Thomaz Filho, 2000.

Pela sua localização particular, a Bacia Potiguar é um segmento de ligação


entre a Margem Equatorial e a Margem Leste, e por isso mesmo possui elementos
de ambos os contextos, tornando o entendimento de sua evolução ao mesmo tempo
complexo, mas muito importante para a compreensão da ruptura dos continentes
sul-americano e africano. Tectonicamente são descritos três eventos principais: o
início da ruptura da crosta no Neo-Berriasiano (CREMONINI et al. 1998), tendo
como direção principal WNW-ESSE indo até o Eo-Barremiano e a direção E-W entre
o Neo-Barremiano e o Eo-Aptiano onde se inicia a fase transicional aptiana e a
etapa da deriva continental e deposição marinha. A partir do Neo-Campaniano uma
deformação transcorrente afetou a área, tendo sido responsável por uma
discordância importante na porção marítima da bacia.
Esse é o contexto especial em que a Formação Ponta do Mel torna-se
testemunha de um mundo geológico que em breve seria parecido com o atual. E o
seu estudo pode contribuir para tornar mais precisa a cronologia de alguns eventos
de caráter regional e verificar se a reativação tectônica que ocorreu após a fase rift
foi capaz de gerar fraturamentos de forma a criar um sistema de porosidade com
potencial para rocha-reservatório de petróleo.
Para este estudo foram selecionados quatro poços na porção marítima da
Bacia Potiguar, sendo três deles amostrados a partir de testemunhos retirados em
18

posições estratigráficas distintas da Formação Ponta do Mel: base (Poço 3), porção
intermediária (Poço 3) e seção superior (Poços 2, 3 e 4) e um poço (Poço 1),
estudado a partir de amostras de calha que abrangem toda a seção carbonática
(FIGURA 2). As análises realizadas permitiram a caracterização química,
mineralógica e isotópica das amostras e a comparação com os estudos das
microfácies e feições diagenéticas observadas nas análises macro e microscópicas.
Esta dissertação foi organizada em três partes: a primeira, dos capítulos 1
ao 5, é constituída pela revisão bibliográfica do conhecimento geológico da Bacia
Potiguar e da Formação Ponta do Mel e a descrição das técnicas e métodos
empregados nas análises e uma revisão de conceitos sobre porosidade cárstica. A
segunda parte, corpo principal do trabalho (capítulos 6 e 7), foi dividida para
apresentar de forma separada os resultados obtidos a partir das análises
petrográficas e químicas dos testemunhos e das amostras de calha, pois estas
amostras têm natureza bastante distintas umas da outras. Finalizando a segunda
parte é apresentada a integração dos dados e as possíveis interpretações para os
resultados. A finalização desta dissertação, terceira parte do trabalho, apresenta no
Capítulo 8 as conclusões alcançadas pelo entendimento de todo esse estudo.
19

FIGURA 2: Mapa de localização da Bacia Potiguar. Modificado de CPRM (2004).


20

2 GEOLOGIA REGIONAL DA BACIA POTIGUAR

2.1 LOCALIZAÇÃO

A Bacia Potiguar ocorre nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, entre
os paralelos 4º50’S e 5º40’S e os meridianos 35º0’S e 38º30’W. Apenas uma parte
desta bacia aflora e é denominada Bacia Potiguar Emersa, a outra parte encontra-se
submersa, sendo conhecida apenas através de dados de subsuperfície (sísmica e
por poços perfurados pela PETROBRAS desde 1970) e é chamada Bacia Potiguar
Submersa (FIGURA 2).
Delimita-se a sul, na porção emersa, pelas rochas do embasamento
cristalino, a Oeste pelo Alto de Fortaleza e a Leste pelo Alto de Touros. O limite
Norte (submerso) é a isóbata de 3.000 metros, segundo a Agência Nacional do
Petróleo (ANP).

2.2 HISTÓRICO DO CONHECIMENTO DA GEOLOGIA DA BACIA POTIGUAR

As rochas aflorantes da Bacia Potiguar Emersa foram documentadas a partir


de 1885 e 1887 com as citações de Bularmarqui e White (citados por
VASCONCELOS, 1995), respectivamente sobre estudos de fósseis e sedimentos.
As potencialidades aqüíferas das rochas da bacia foram estudadas por Crandall em
1910 (citado por VASCONCELOS, 1995).
Em 1913, Sopper organizou os sedimentos reconhecidos na bacia e dividiu-
os em “Camadas de Arenitos”, “Camadas de Calcário” e “Camadas de Areia e
Argila”, elaborando assim a primeira organização estratigráfica das rochas da Bacia
Potiguar (citado por CÓRDOBA, 2001).
Os carbonatos aflorantes foram datados por Maury em 1924 e 1934,
atribuindo-lhes idade turoniana e Oliveira e Leonardos (1943) agruparam as
camadas definidas por Sopper sob a denominação de Grupo Apodi (citados por
VASCONCELOS, 1995).
21

As rochas areníticas e calcárias foram denominadas por Kreidler (1949,


citado por CÓRDOBA, 2001) e Kreidler e Andery (1950, citado por CÓRDOBA,
2001) de Arenito Açu e Calcário Jandaíra, respectivamente. Kegel (1957, citado por
CÓRDOBA, 2001) e Beurlen (1961, citado por CÓRDOBA, 2001) avançaram com os
estudos palentológicos destas formações. A primeira carta estratigráfica da Bacia
Potiguar foi formalizada por Sampaio e Schaller em 1968, e continha as duas
unidades definidas por Cypriano e Nunes em 1967 (citados por VASCONCELOS,
1995): Grupo Apodi formado pelas formações Açu que seriam as “Camadas de
Arenito” e Jandaíra que seriam as rochas carbonáticas.
A partir da década de 1970, com o desenvolvimento das pesquisas
petrolíferas na Bacia Potiguar Emersa e Submersa o conhecimento teve rápido
avanço e Souza (1982) publicou a primeira carta estratigráfica da bacia incluindo as
formações da porção submersa.
A bacia tornou-se importante no cenário econômico a partir da descoberta
dos primeiros campos de petróleo: em 1973 na porção submersa da bacia (Campo
de Ubarana) e em 1979 na porção emersa (Campo de Mossoró).
A partir da exploração sistemática do petróleo na bacia, diversos estudos
foram realizados pelos profissionais da PETROBRAS em dissertações e teses de
mestrado e doutorado com base principalmente nos dados de subsuperficie dos
poços perfurados e em levantamentos sísmicos adquiridos.
Com a quebra do monopólio em 1998 e com o fomento realizado pela
Agência Nacional do Petróleo a bacia passou a ser fonte de estudos também para
os alunos das universidades utilizando-se de dados adquiridos anteriormente ou
adquiridos em novos estudos.

2.3 ARCABOUÇO ESTRUTURAL E EVOLUÇÃO TECTONO-SEDIMENTAR

A Bacia Potiguar, inserida no contexto da evolução das bacias da margem


equatorial atlântica, implantou-se no domínio tectônico da Província Borborema
(ALMEIDA et al. 1977), reflexo da ruptura do supercontinente Gondwana. A idade
eo-jurássica é atribuída para esse início, movimento que também originou diversas
bacias interiores na Província Borborema, tais como Bacia do Araripe, Rio do Peixe,
22

Lavras da Mangabeira, Iguatu. Esse rompimento deu origem posteriormente ao


Oceano Atlântico Sul e às bacias costeiras da margem brasileira e africana.
O substrato sobre o qual se iniciou a sedimentação da bacia cretácica foi
caracterizado por Jardim de Sá (1984, 1994), como sendo constituído por rochas
das faixas supracrustais com direção NE-SW, aflorantes a oeste do limite emerso da
bacia e rochas do domínio gnáissicos-migmatíticos, situadas no limite sul. Essas
rochas são delimitadas a sul pela zona de cisalhamento Patos, de direção E-W.
A Bacia Potiguar representa um rift intracontinental em sua porção emersa e
uma bacia do tipo pull-apart em sua porção submersa, segundo Neves (1987, citado
por CALDAS, 1998). A geodinâmica dessa fragmentação que originou as bacias
intracontinentais, bem como as bacias da margem leste e equatorial ainda é objeto
de controvérsias. As duas principais conceituações são as propostas por Françolin e
Szatmari (1987) e Matos (1992). Segundo o modelo de Françolin e Szatmari (1987),
a separação América do Sul-África deu-se a partir de rotação horária da placa sul-
americana em relação à africana, envolvendo esforços compressivos e distensivos,
cujo ponto de rotação situa-se a sul da cidade de Fortaleza-CE.
O modelo de Matos (1992) propõe dois estágios principais de geração do rift
Potiguar, ambos distensivos, iniciado durante o Cretáceo Inferior, aproveitando
alguma zona de fraqueza das rochas do embasamento cristalino, de direção
predominante NE-SW. O falhamento principal do rift emerso é denominado Falha de
Carnaubais (FIGURA 3) e segundo Hackspacker e Oliveira (1984) esta seria a
reativação de uma zona de cisalhamento de idade brasiliana, conhecida como Zona
de Cisalhamento de Portalegre.
A geometria resultante destes esforços, independente da direção da rotação
das placas sul-americana e africana é definida por um conjunto de grabens
assimétricos de direção predominante NE-SW na porção emersa da bacia e de
direção aproximadamente W-E na porção submersa da bacia.
A sedimentação da Bacia Potiguar foi dividida, segundo as fases tectônicas
em: rift, transicional e deriva continental (BERTANI et al. 1990).
A fase rift, de duração do Neocomiano ao Eoaptiano é dominada por um
regime tectônico rúptil distensivo. Possui geometria de grabens assimétricos
controlados por grandes falhas normais e de transferência (MATOS, 1992), tem
direção NE-SW na porção terrestre e direção E-W na porção submersa. Segundo
Pessoa Neto (2003), ao longo destes grabens implantou-se uma sedimentação
23

continental constituída de folhelhos lacustres, arenitos flúvio-deltaicos e depósitos de


planície aluvial e planície de inundação, denominada de megassequência
continental, e compreendem os depósitos das formações Pendência (bacia emersa
e submersa) e Pescada (bacia submersa). Essa sedimentação ocorreu
simultaneamente nas bacias interiores e costeiras da porção Setentrional do
Nordeste brasileiro. As altas taxas de extensão litosférica e conseqüente
subsidência caracterizaram a deposição de mais de 5 km de sedimentos na porção
emersa da bacia (CHANG e KOWSMANN, 1987, CHANG et al. 1992, citados por
PESSOA NETO, 2003).

FIGURA 3: Arcabouço estrutural da Bacia Potiguar (modificado de


CREMONINI, 1993).

A fase transicional que foi do Neoaptiano ao Eoalbiano, teve sua


sedimentação em ambiente tectônico calmo, depois de cessada a fase rift, tendo sua
geração de espaço originada pelo resfriamento da crosta e subseqüente subsidência
(BERTANI et al. 1990). Segundo Pessoa Neto (2003), nesta fase depositam-se os
folhelhos e calcários lagunares com influência marinha, intercalados por arenitos
deltaicos, que caracterizam a megassequência transicional representada pelos
sedimentos da Formação Alagamar. No final desta fase iniciou-se as primeiras
ingressões marinhas na Bacia Potiguar, sugeridas por dados bioestratigráficos e
24

pelos depósitos de calcilutitos microbiais e ostracoidais das Camadas Ponta do


Tubarão (VASCONCELOS, 1995), intercalados com arenitos deltaicos.
Com a união dos mares equatorial e atlântico-sul inicia-se a fase de deriva
continental, indo do Albiano até o Holoceno, com sedimentação marinha franca e
regime tectônico dominado pela subsidência termal e compensação isostática
(CHANG e KOWSMANN, 1987, CHANG et al. 1992, citados por PESSOA NETO,
2003), típico do contexto de margem passiva. Segundo Pessoa Neto (2003) o
preenchimento sedimentar da bacia durante esta fase pode ser dividido em dois
grandes ciclos: transgressivo e regressivo.
O ciclo transgressivo inicia-se com a deposição dos sedimentos
siliciclásticos fluviais indo até ambiente marinho profundo, passando por sistemas
carbonáticos de plataforma, implantados entre o Albiano e o Eocampaniano. Estas
sequências englobam rochas das formações Açu, Ponta do Mel, Jandaíra e
Quebradas, cujo máximo transgressivo corresponde aos folhelhos
neocenomanianos conhecidos como Membro Porto do Mangue, da Formação
Quebrada (PESSOA NETO, 2003). O apogeu dessa transgressão ocorreu entre o
Cenomaniano e o Turoniano, marcando o afogamento dos sistemas fluviais e a
implantação de uma nova plataforma carbonática denominada Jandaíra (SOARES,
2000). Os estratos dessa sequência têm geometria de clinoformas sigmoidais e
shingle, caracterizando uma margem em rampa, segundo Soares (2000) (FIGURA
4).
A partir do Neocampaniano inicia-se a deposição da sequência regressiva,
constituída de depósitos de leques costeiros e bancos carbonáticos que progradam
sobre a sequência transgressiva. Essa fase de sistemas deposicionais costeiros-
plataforma-talude-bacia atua até o Holoceno (PESSOA NETO, 2003).
Pessoa Neto em 2003 individualizou três sequências neste intervalo
regressivo, limitadas por discordâncias bem marcadas por vários métodos, entre
eles a sísmica e a bioestratigrafia. A sequência mais antiga, indo do Neocampaniano
ao Neopaleoceno compõe-se de depósitos de plataforma carbonática e fácies de
talude e bacia. A segunda sequência indo do Neopaleoceno ao Eomioceno é
composta por uma cunha sedimentar com o mesmo conteúdo litológico da
sequência sotoposta. Seu limite superior é bem marcado por um evento erosivo,
datado do Eomioceno, a partir do qual se implanta a última sequência regressiva,
representada por fácies carbonáticas de plataforma rasa de forma discordante sobre
25

fácies de talude das sequências anteriores. Estas sequências foram denominadas


por suas características litológicas de megassequência regressiva e compreendem
as formações Tibau, Guamaré e Ubarana (FIGURA 4).

FIGURA 4: Seção geológica esquemática da porção submersa da Bacia Potiguar


(Modificado de SOARES, 2000).

Além das direções estruturais descritas acima, oriundas do rifteamento que


deu origem a separação dos continentes americano e africana, outra direção
estrutural, representada por falhamentos de direção NW-SE, encontra-se presente
tanto na bacia quanto fora dela. Estudos sobre essa direção foram conduzidos por
vários autores (FORTES, 1982, HASCKSPACKER et al. 1985, citados por SOARES,
2000) e são interpretadas como resultado de reativações pós-campanianas
(FIGURA 5), segundo Cremonini (1993).
Essa direção (NW-SE) é interpretada por Matos (1992) como o alinhamento
das falhas de transferência durante a fase rift inicial. Com o prosseguimento da
separação dos continentes, essa se tornou a principal direção dos falhamentos na
porção submersa. Segundo Cremonini et al. (1996), esta superposição de fases de
rifteamento gerou um complexo padrão de falhamentos NW-SE e NE-SW na porção
submersa da bacia, que foram posteriormente reativados por um tectonismo
transtensivo dextral de direção WNW-ESSE ao final do Campaniano.
26

FIGURA 5: Evolução tectono-estrutural segundo Cremonini (1993), do Neoalbiano (c), (b)


Eocampaniano e do Mesocampaniano ao recente (a).
27

2.4 ESTRATIGRAFIA DA BACIA POTIGUAR

A primeira coluna estratigráfica mais completa da Bacia Potiguar, incluindo


dados de subsuperfície e bioestratigráficos foi proposta por Souza em 1982. O
trabalho de Regali e Gonzaga (1985) determinou a cronoestratigrafia a partir de
palinomorfos e o de Tibana e Terra (1981) definiu e separou as plataformas
carbonáticas Jandaíra e Ponta do Mel, posicionando-as como turoniana-
maastrichtiana e albo-cenomaniana, respectivamente.
Bertani et al. (1990) utilizaram-se da carta estratigráfica proposta por Souza
(1982) para relacionar as unidades litoestratigráficas aos três estágios tectônicos,
rift, transicional e drift, conferindo uma conotação genética e evolutiva à divisão
estratigráfica.
Em 1994, Araripe e Feijó modificaram a carta estratigráfica da Bacia
Potiguar de Souza (1982) e agrupam as rochas presentes na bacia em três unidades
litoestratigráficas maiores: uma basal, denominada de Grupo Areia Branca; uma
intermediária, Grupo Apodi, e uma superior, Grupo Agulha. Nesta carta a Formação
Pendência foi subdividida em quatro sequências propostas por Della Favera et al.
(1994) e a Formação Pescada foi incluída no final da fase rift. Em 2008, Pessoa
Neto et al. publicaram uma nova carta para a bacia, incluindo todos os estudos até
aquela data (FIGURA 6).
O Grupo Areia Branca congrega as formações Pendência, Pescada e
Alagamar, compostas predominantemente por rochas clásticas.
A Formação Pendência representa os depósitos mais basais do rift potiguar,
encontrados de forma discordante sobre as rochas do substrato cristalino da bacia.
Por ter sido depositada de forma síncrona à geração do rift apresenta espessuras
maiores em direção à falha de borda (Falha de Carnaubais). Os litotipos
encontrados vão desde folhelhos cinza esverdeado médio a escuro, siltitos cinza
médio a claro e arenito cinza esbranquiçado, de granulometria variando de muito
fino a médio, com cimento calcífero. Como mencionado, nas proximidades da falha
limite da bacia encontram-se conglomerados polimíticos (SOUZA, 1982, ARARIPE e
FEIJÓ, 1994). O contato superior desta formação é dado pela discordância pós-rift,
de caráter regional, sobre a qual se depositou a Formação Alagamar.
28

FIGURA 6: Carta estratigráfica da Bacia Potiguar. FONTE: Pessoa Neto et al.(2008).


29

Os sistemas deposicionais reconhecidos são os leques aluviais nas


proximidades das falhas de borda e fluvio-deltaicos progradantes sobre pelitos
lacustres. Apresenta ainda a ocorrência de turbiditos de lago. A idade dessa deposição
vai do Neocomiano ao Barremiano. Em 1994, Della Favera et al. reconheceram quatro
sequências deposicionais nesta formação a partir de um estudo cronoestratigráfico.
Nas duas sequências neocomianas mais basais, conforme descrito por Della Favera et
al. (1994), predomina a sedimentação lacustre com fluxos gravitacionais de arenitos e
conglomerados vindos tanto da margem falhada quanto da margem flexural,
alimentados por sistemas fan-deltaicos e leques aluviais. Esses sedimentos possuem
espessura máxima de 3.000 metros com espessamento em direção a margem falhada.
Nas duas sequências mais superiores (DELLA FAVERA et al. 1994), a sedimentação é
predominantemente fluvio-deltaica, ficando a sedimentação lacustrina reduzida a
nichos isolados na bacia. Para estas duas sequências a espessura máxima é de 3.200
metros, sendo sua tendência de espessamento em direção a margem falhada menos
evidente que as sequências mais basais. Em 2008 (PESSOA NETO et al.)
formalizaram a individualização do Membro Lagoa do Queimado para designar
sedimentos de leques aluviais e fandeltas que ocorrem junto às falhas de borda do rift
emerso. As litologias dominantes são conglomerados polimíticos, arenitos grossos a
conglomeráticos imaturos e feldspáticos e líticos. Ocorrem próximos às falhas de borda
nos grabens de Guamaré, Umbuzeiro e Apodi. O contato superior com a Formação
Alagamar é discordante e a idade vai do Berriasiano ao Barremiano.
A Formação Pescada, de ocorrência restrita à porção submersa da Bacia
Potiguar é composta por sedimentos siliciclásticos depositados sin-tectonicamente no
bloco baixo da Falha de Pescada. A idade eoaptiana é atribuída à estes sedimentos, a
partir de dados bioestratigráficos. Esta formação foi definida por Araripe e Feijó (1994),
e possui espessura máxima de 1.600 metros (SOARES, 2000). Seus litotipos incluem
arenitos médios com intercalações de folhelhos e siltitos, depositados como leques
aluviais coalescentes e, de forma local, como sistemas fluvio-deltaicos com pelitos e
turbiditos dispersos (CÓRDOBA, 2001). Em 2008 Pessoa Neto et al. formalizaram o
Membro Cristóvão para designar as rochas carbonáticas de origem lacustre de
ocorrência no topo da Formação Pescada. Constitui-se de calcarenitos e coquinas de
conchas bivalves e folhelhos pretos laminados intercalados com margas e calcilutitos.
Encontra-se em contato concordante com os sedimentos inferiores da Formação
Pescada e com limite superior discordante com os arenitos da base da Formação
30

Alagamar. Lateralmente interdigitam-se com os sedimentos siliciclásticos da Formação


Pescada e possui idade eoaptiana segundo datações bioestratigráficas.
A Formação Alagamar sobrepõe-se às formações Pendência e Pescada ou ao
embasamento cristalino de forma discordante (SOUZA, 1982). É composta por arenitos
finos a grossos e folhelhos, depositados em ambientes fluvio-deltaicos, denominados
de Membro Upanema. O Membro Galinhos representa a seção superior e concentra
arenitos, folhelhos e calcilutitos de ambiente marinho nerítico (ARARIPE e FEIJÓ,
1984). As Camadas Ponta do Tubarão estão representadas por calcarenitos e
calcilutitos ostracoidais e folhelhos euxínicos, lagunares, depositados sob períodos
alternados de clima extremamente árido e úmido (HASHIMOTO et al. 1987). Um
terceiro membro foi introduzido na carta estratigráfica de 2008 (FIGURA 6),
denominado Membro Canto do Amaro e definido na porção emersa da bacia. Constitui-
se por fandeltas e depósitos fluviais entrelaçados compostos por conglomerados
polimíticos e oligomíticos e arenitos muito grossos a médios, com intercalações de
arenitos finos. No topo do membro ocorrem sedimentos pelíticos constituídos por
siltitos e folhelhos castanho-avermelhados a cinza claro/escuro. A maior expressão
desse membro é o Graben de Boa Vista. O contato inferior é discordante com a
Formação Pendência e o contato superior é gradacional ou abrupto, mas concordante
com os depósitos mais jovens da Formação Alagamar. Atribui-se idade neoaptiana
para esses depósitos.
O Grupo Apodi contempla as formações Quebradas, Ponta do Mel, Açu e
Jandaíra, conforme definido em 1994 por Araripe e Feijó, as quais constituem a
sequência transgressiva em regime marinho.
Formalizada em 1968 por Sampaio e Schaller, os arenitos da Formação Açu já
eram conhecidos em afloramentos desde 1949 (KREIDLER, citado por CÓRDOBA,
2001) na porção emersa da bacia. Constituem-se na base de conglomerados e arenitos
intercalados com folhelhos e siltitos e na porção superior por arenitos finos intercalados
com folhelhos esverdeados (SOUZA, 1982). Em 1990, Vasconcelos et al. dividiram a
Formação Açu em 4 unidades, denominando-as da base para o topo de Açu-1, Açu-2,
Açu-3 e Açu-4. A unidade Açu-1 constitui-se de arenitos conglomeráticos a
conglomerados depositados em sistema de leques aluviais e fluvial entrelaçado,
respondendo a reativações nas áreas-fontes, em razão de um evento tectônico
ocorrido provavelmente no Albiano. A unidade Açu-2 apresenta arenitos
conglomeráticos e grossos na base passando gradualmente a arenitos finos e siltitos
no topo. A unidade Açu-3 é representada por depósitos fluviais entrelaçados passando
31

gradacionalmente a fluvial meandrante para o topo (CÓRDOBA, 2001). Na unidade


Açu-4 encontram-se as rochas de sistemas costeiros e estuarinos, representando o
início do afogamento do sistema fluvio-aluvial (VASCONCELOS et al. 1990). Esta
formação interdigita-se lateralmente com as formações Ponta do Mel e Quebradas.
A Formação Ponta do Mel, objeto deste estudo e, portanto detalhada em
capítulo especial, foi definida por Tibana e Terra (1981) e formalizada na carta de
Souza (1982). Engloba rochas carbonáticas que vão desde calcarenitos
oolíticos/oncolíticos a biollitos e calcilutitos.
A Formação Quebradas, introduzida na carta estratigráfica de 1982 como
membro e elevada à categoria de formação em 1994 (ARARIPE e FEIJÓ), é composta
predominantemente por folhelhos e siltitos e possui idade cenomaniana. Foi dividida
em dois membros na carta estratigráfica de 2008: Membro Porto do Mangue e Membro
Redonda. O Membro Porto do Mangue, conforme a definição de Pessoa Neto et al.
(2008) é composto pelos depósitos distais das unidades marinhas transgressivas (Açu,
Ponta do Mel e Jandaíra). Os litotipos são margas, calcilutitos e folhelhos de
talude/bacia. Podem conter ainda turbiditos e olistolitos carbonáticos intercalados. O
Membro Redonda é constituído por intercalações de arenito, folhelho e siltito.
A Formação Jandaíra, cujas rochas carbonáticas são conhecidas em
afloramentos na porção emersa da bacia desde o século XIX, foi proposta por Sampaio
e Schaller (1968) e é constituída por calcarenitos bioclásticos a foraminíferos
bentônicos, associados eventualmente a algas verdes e calcilutitos com marcas de
raízes, dismicrito e gretas de contração. Inicialmente interpretada como depósitos de
planície de maré (MONTEIRO e FARIA, 1988, citado por SOARES, 2000), entretanto, a
partir de estudos mais aprofundados caracterizou-se outros ambientes deposicionais
tais como plataforma mista na porção basal e até folhelhos e margas de ambientes de
menor energia e mais profundos nas porções média e superior (SOARES, 2000). Pode
ter até 600 metros de espessura, constatada por poços perfurados.
O Grupo Agulha compreende as formações Ubarana, Tibau, Guamaré e
Barreiras, as quais compõem o conjunto regressivo desde o Neocampaniano até o
recente, representando os depósitos de talude, plataforma e leques costeiros,
respectivamente (ARARIPE e FEIJÓ, 1994).
A Formação Ubarana é constituída por uma seção pelítica de talude, cujos
litotipos são predominantemente folhelhos e argilitos cinzentos, intercalados por
delgadas camadas de arenito grosso a muito fino esbranquiçado, siltito cinza-
acastanhado e calcarenito fino creme-claro. Essas rochas interdigitam-se lateralmente
32

em direção ao continente com as rochas das formações Tibau e Guamaré depositadas


do Campaniano ao Holoceno.
A Formação Guamaré é composta por calcarenitos bioclásticos e calcilutitos
depositados em plataforma e talude. Lateralmente interdigita-se com os arenitos da
Formação Tibau. Foi formalizada por Souza em 1982 e possui idade neocampaniana-
holoceno.
A Formação Tibau foi proposta por Silva (1966, citado por ARARIPE e FEIJÓ,
1994) para designar os sedimentos clásticos grossos que se sobrepõem aos
carbonatos da Formação Guamaré. Sua idade vai do Neocampaniano ao Holoceno.
A Formação Barreiras é composta por conglomerados e arenitos ferruginosos
friáveis de cor avermelhada e esbranquiçada, com matriz caolinítica e abundantes
concreções lateríticas. Representam depósitos de sistemas aluviais, fluviais e
costeiros.
O magmatismo na Bacia Potiguar, segundo Araripe e Feijó (1994) ocorre em
três eventos individualizados nas formações Rio Ceará-Mirim, Serra do Cuó e Macau.
A Formação Rio Ceará-Mirim foi descrita como um evento caracterizado por
diques de diabásio de direção E-W, que cortam as rochas do embasamento cristalino
adjacente à bacia pela sua borda sul. Em estudos realizados por Oliveira (1994, citado
por SOARES, 2000) esse evento magmático relaciona-se com a abertura do rift
potiguar. Esse autor data as rochas em dois principais pulsos: 145 e 130 milhões de
anos. Na porção basal da Formação Pendência, Anjos et al. (1990) identificaram
rochas vulcanoclásticas intercaladas com sedimentos, as quais foram correlacionadas
como pertencentes à Formação Rio Ceará-Mirim.
Outro magmatismo identificado na bacia tem idade de 93 milhões de anos e é
encontrado em afloramentos na borda sul da bacia. Recebeu a denominação de
Formação Serra do Cuó e é constituída de diques de diabásio com tendência alcalina
(SOUZA et al. 2004).
No entanto, a ocorrência das maiores espessuras de rochas magmáticas na
Bacia Potiguar encontra-se na porção submersa e atinge até 2.000 metros na região da
feição denominada de Canyon de Ubarana. São derrames de olivina-basalto que
ocorrem intercalados aos sedimentos do Grupo Agulha e possuem idades entre 6 e 49
milhões de anos (MIZUZAKI et al. 2001 e PESSOA NETO et al. 2008). Para Lima Neto
(1998) a origem deste vulcanismo está associada à passagem da margem equatorial
sobre o hot spot de Fernando de Noronha.
33

3 GEOLOGIA DA FORMAÇÃO PONTA DO MEL

3.1 INTRODUÇÃO

Os carbonatos desta formação foram descritos por Mayer e Alves (1974)


após as primeiras perfurações para prospecção petrolífera na plataforma continental
da Bacia Potiguar submersa. Pela ausência de estudos bioestratigráficos à época,
estas rochas foram incluídas na Formação Jandaíra, a qual se compõe de rochas
carbonáticas turonianas/maastrichtianas aflorantes na porção emersa e descritas em
trabalhos de Kegel (1957, citado por CORDOBA, 2001) e Sampaio e Schaller
(1968).
A Formação Ponta do Mel foi proposta como unidade independente por
Tibana e Terra em 1981, separando-a da Formação Jandaíra e atribuindo-lhe idade
albo-cenomaniana. Foi caracterizada como de ocorrência em estreita faixa de
sedimentos de plataforma rasa de alta energia, compostos por algas vermelhas
solenoporáceas e verdes crustosas, além de oncolitos e foraminíferos bentônicos do
gênero Trocholina, e fácies de mar aberto de baixa energia com foraminíferos
planctônicos (Hedbergella washitensis) e calcisferas. Souza formalizou-a em 1982, e
estabeleceu como seção-tipo a sequência apresentada no poço denominado 1-RNS-
4, perfurado em 1977, no intervalo 1.645 a 2.287 metros. A espessura máxima
atinge 650 metros, conforme mapa de isópacas da FIGURA 7.
A Formação Ponta do Mel, conforme descrição de Terra (1990a, 1990b)
compõe-se de carbonatos depositados em ambiente marinho raso e profundo,
constituídos desde calcarenitos oncolíticos a calcilutitos. Para essa formação foram
definidas 14 fácies deposicionais as quais abrangem desde depósitos de água
profunda, planícies de maré até o ambiente de plataforma rasa. É uma formação que
ocorre exclusivamente em subsuperfície e o trabalho de Terra (1990a) utilizou dados
de 52 poços que atravessam essa sequência carbonática para estudar as fácies, a
história deposicional e a diagênese.
Esta plataforma carbonática ocupou uma estreita faixa, de largura
aproximada de 25 km, paralela à linha de costa, e que vai desde a Plataforma de
Touros a leste até o Alto de Fortaleza a oeste, implantada durante a abertura dos
34

continentes sul-americano e africano e o início da circulação das águas do Oceano


Atlântico.

FIGURA 7: Mapa de isópacas da Formação Ponta do Mel, ocorrência apenas na porção


submersa da Bacia Potiguar. Modificado de Souza (1982).

No início das primeiras incursões marinhas entre os dois continentes,


depositaram-se os calcarenitos oncolíticos dolomitizados, intercalados com
terrígenos (TERRA, 1990a). Ocorreu então um rápido episódio de transgressão
marinha, o qual propiciou os depósitos de água profunda com lama carbonática
gerada a partir da sedimentação que ocorria simultaneamente na plataforma rasa.
Segundo Anjos et al. (1990) estima-se que o soterramento da Formação
Ponta do Mel não foi maior do que as profundidades atuais (FIGURA 8), entre 1.400
a 2.100 metros.
Na base da Formação Ponta do Mel encontram-se calcarenitos
dolomitizados, os quais são sobrepostos por calcilutitos com matriz grumosa, pouco
fossilífero, grãos de pirita e quartzo de tamanho silte, às vezes neomorfismo e
dolomitização incipiente. Os fósseis quando presentes são foraminíferos bentônicos
(nodosarídeos e outros rotalídeos, esporádicos textularídeos), equinóides,
pelecípodes, ostracodes, foraminíferos planctônicos (Hedbergella SSP, Favusella
washitensis) e elementos calcisferulídeos (TIBANA e TERRA, 1981 e DIAS-BRITO,
1985).
35

FIGURA 8: História do soterramento das formações da porção submersa da


Bacia Potiguar. Modificado de Anjos et al. (1990).

3.2 DESCRIÇÃO DAS FÁCIES

As fácies da Formação Ponta do Mel foram definidas inicialmente por Tibana


e Terra (1981) e posteriormente por Terra (1990a) a partir de descrição de
testemunhos de rocha, amostras de calha e lâminas petrográficas. Neste capítulo as
fácies descritas por Terra (1990a) foram agrupadas em sete ambientes
deposicionais principais, as quais serão descritas de forma sucinta, segundo o
trabalho dos autores acima citados. A FIGURA 9 resume os ambientes
deposicionais e os organismos neles encontrados.
36

FIGURA 9: Organismos encontrados nos ambientes da Formação Ponta do Mel.


Modificado de Tibana e Terra (1981).

3.2.1 Fácies de borda de plataforma e fácies associadas

a) Biolitito algal/Biolitito coralgal

Apesar de não terem sido identificadas através de testemunhos, Tibana e


Terra (1981) afirmam que as algas vermelhas Solenoporáceas também devem
formar biolititos, pois se encontram bioclastos em calcirruditos. Terra (1990a) afirma
que pela abundância de fragmentos dessas algas (Solenopora, Parachaetetes) em
amostras de calha e por ocorrerem fragmentos centimétricos de algas
Solenoporáceas nas microfácies de calcarenitos/calcirruditos espáticos bioclásticos,
esses organismos devem ter formados bioconstruções. Entre as lâminas algálicas
observa-se a ocorrência de matriz, indicando períodos de baixa energia. Sedimentos
internos são também comumente encontrados preenchendo os espaços inter-
estruturais e as perfurações biogenéticas. Essa microfácies representa
bioconstruções na margem da plataforma, que, em determinados momentos, deve
ter agido como barreira, formando ambiente lagunar na sua retaguarda.
A microfácies Biolitito Coralgal é composta por algas vermelhas
(Archeolithothaminium, Lithophyllum, Lithothamnium) formando crostas alternadas
com algas verdes crustosas (Picnoporidium) e associadas a corais (Terra, 1990a)
(FIGURA 10).
37

FIGURA 10: Fotografia de biolitito coralgal (TERRA, 1990a).

b) Calcarenito rudáceo espático bioclástico algal

Os grãos bioclásticos pertencem às algas vermelhas Solenoporáceas


(Solenopora e Parachaetetes) e Coralináceas crustosas, associadas a algas verdes
crustosas (Picnoporidium) e alguns oncolitos (TERRA, 1990a). A composição dos
bioclastos permite inferir a proximidade destes depósitos aos biolititos descritos
anteriormente.

3.2.2 Fácies de laguna

a) Calcarenito micrítico peloidal/ calcarenito-calcirrudito micrítico


oncolítico e calcarenito micrítico bioclástico

Fácies caracterizada pela presença de micrita e variação na predominância


dos grãos do arcabouço entre pelóides bacterianos, oncolitos, fragmentos de algas
38

vermelhas e foraminíferos aglutinantes. A granulometria predominante é areia


(Terra, 1990a).

3.2.3 Fácies de intermaré e inframaré rasa

a) Calcarenitos espáticos peloidais, calcarenitos espáticos oncolíticos,


calcarenitos espáticos biolitíticos

Segundo Terra (1990a) os pelóides da microfácies Calcarenitos espáticos


peloidais, possuem origem algálica e são interpretados como a fragmentação de
algas vermelhas coralináceas (Lithothamnium regonis). Os oncolitos ocorrem com
frequência (FIGURA 11).

FIGURA 11: Calcarenito espático bioclástico/peloidal/oncolítico (TERRA, 1990a).

Segundo Tibana e Terra (1981) a fácies que predomina nesse ambiente de


mais alta energia são os Calcarenitos espáticos oncolíticos. São compostos por
39

oncolitos, cujos núcleos são predominantemente de equinóides, algas vermelhas


(Lithothaminium regonis e Solenopora), algas verdes, pelecípodes e foraminíferos
bentônicos, associados a alguns bioclastos de algas vermelhas Lithothaminium
regonis e Amphiroa (TERRA, 1990a). O foraminífero bentônico mais frequente é o
gênero Trocholina. A matriz pode apresentar-se recristalizada. Essa microfácies
pode gradar para um calcirrudito espático oncolítico quando a granulometria
predominante é maior que 2 mm. Múltiplas gerações de cimento espático obliteram o
espaço intergranular, mesmo os criados por lixiviação que ainda apresentam
sedimento interno. Estruturas biogenéticas são frequentes. Essa microfácies
representa barras calcareníticas provavelmente depositadas paralelas à margem da
bacia, em ambiente intermaré e inframaré rasa (TIBANA e TERRA, 1981).
Os Calcarenitos espáticos biolitíticos tem a predominância de bioclastos de
equinóides, algas vermelhas solenoporáceas, algas verdes crustosas
(Picnoporidium). Ocorrem associados a esses bioclastos os oncolitos com núcleos
destes mesmos bioclastos. O foraminífero bentônico Trocholina também é
encontrado nesta microfácies (TERRA, 1990a).

3.2.4 Fácies de barras

Este ambiente é representado pela microfácies Calcarenitos espáticos


oolíticos. Os oolitos possuem núcleo de algas vermelhas, moluscos, equinóides e
quartzo com diâmetros variando entre 0,6 e 1 mm (TIBANA e TERRA, 1981 e
TERRA, 1990a). Esta é uma microfácies de rara ocorrência na Formação Ponta do
Mel. O cimento é formado por franja prismática e mosaico granular. Esta microfácies
de alta energia representa barras que podem ter estado emersas formando praias
(FIGURA 12).
40

FIGURA 12: Calcarenito espático oolítico (TERRA, 1990a).

3.2.5 Fácies de planície de maré

Há uma única fácies representante deste ambiente: Calcilutito a birdseye. É


uma rocha de granulometria tamanho argila, com matriz grumosa. A feição
denominada de birdseye é característica dessa microfácies. Os espaços vazios
gerados pelas perfurações são preenchidos por calcita espática. Pobre em conteúdo
fossilífero, apresenta apenas raros bioclastos do foraminífero bentônico Miliolídeo. É
comum a presença de feições geopetais.

3.2.6 Fácies de águas profundas

No trabalho de Terra (1990a) essa fácies foi caracterizada nas porções mais
distais da Formação Ponta do Mel. Este autor acredita que a profundidade da
deposição foi em torno de 200 metros, ao contrário de Viviers (citado por TERRA,
1990a) que advoga a deposição em lâmina d’água mais rasa, de até 60 metros.
41

Uma única microfácies representa esse ambiente deposicional: Calcilutito com


planctônicos. São rochas com tamanho de grão menor que silte, composta por lama
carbonática e com abundantes foraminíferos planctônicos, principalmente Favusella
washitensis e foraminíferos bentônicos (Dentalina, Nodosaria). As calcisferas são
típicas dessa fácies e podem ocorrer em abundância em algumas camadas.
Bioclastos de crustáceos e micropelecípodes também podem estar presentes bem
como a presença constante de pequena quantidade de argila (TERRA, 1990a).
A FIGURA 13 apresenta a distribuição faciológica das fácies descitas
anteriormente.

FIGURA 13: Seção geológica esquemática apresentando a distribuição faciológica da


Formação Ponta do Mel, segundo Terra (1990a).
42

3.2.7 Doloespatito

A dolomitização foi descrita por Terra (1990a) como de ocorrência em várias


intensidades. Este autor identificou em dois poços localizado próximos a antiga linha
de costa, seções dolomitizadas e em outros poços essa fácies foi identificada
apenas em alguns intervalos. A denominação para doloespatito foi utilizada apenas
quando a rocha precursora estava irreconhecível pela intensa recristalização
dolomítica.

3.3 PROCESSOS DIAGENÉTICOS NA FORMAÇÃO PONTA DO MEL

Os cimentos que ocorrem nas rochas carbonáticas da Formação Ponta do


Mel foram descritos em detalhe por Terra (1990a) e segundo esse autor foi o mais
importante processo diagenético que atuou nas rochas desta formação.
Os cimentos descritos por Terra (1990a) foram: a) cimento de franja acicular
ou fibrosa encontrado na fácies de calcarenitos espáticos oncolíticos/oolíticos, tido
como de ocorrência na diagênese precoce e cujo efeito é a preservação do
arcabouço original da rocha através da trama rígida de contatos pontuais; b) cimento
de mosaico granular: este tipo de cimento pode se formar nos ambientes freáticos
de água doce e também na diagênese de soterramento e, portanto por si só pode
não ser diagnóstico de um ou outro ambiente e na Formação Ponta do Mel ocorre
em calcarenitos oncolíticos/oolíticos/bioclásticos; c) cimento sintaxial que ocorre em
torno de bioclastos de equinoides é tido como de ambiente freático de água doce; d)
cimento de franja prismática equigranular, também característico de ambiente
freático de água doce e ocorre nos calcarenitos espáticos oncolíticos/oolíticos.
43

4 MÉTODOS E TÉCNICAS

Para atingir o objetivo proposto, esse trabalho foi conduzido seguindo as


etapas descritas abaixo e apresentadas de forma esquemática na FIGURA 14:
a) Pesquisa bibliográfica nos temas correlatos: a) trabalhos anteriores sobre a
Formação Ponta do Mel; b) elementos deposicionais predominantes nas rochas
carbonáticas cretáceas; c) geoquímica das rochas carbonáticas; d) associações
mineralógicas paragenéticas; e) elementos maiores e menores e isótopos
estáveis de carbono e oxigênio; f) transformações diagenéticas desde a
deposição até o soterramento profundo e alterações telogenéticas; g) os
processos de carstificação meteórica, carstificação hipogênica e processos
hidrotermais.
b) Coleta das amostras: testemunhos e amostras de calha (definidas no item
4.1.2). As amostras foram coletadas nas litotecas da PETROBRAS, em Natal e
no Rio de Janeiro.
c) Análises macroscópicas das amostras dos testemunhos para a descrição em
detalhe das feições diagenéticas e análise mesoscópica (em lupa) das
amostras de calha para a identificação dos fragmentos predominantes na
amostra e dos fragmentos característicos das fácies deposicionais e dos
eventos pós-deposicionais.
d) Análises químicas, mineralógicas e físicas das amostras com o objetivo de
caracterizar as rochas e os minerais formadores, desde a sua deposição até as
alterações recentes. Técnicas utilizadas: microscopia de luz transmitida, análise
por difratografia de Raios-X (DRX), fluorescência de Raios-X (FRX),
espectrometria de isótopos estáveis de carbono e oxigênio (C & O), descrições
macroscópicas, termogravimetria (TG), microscopia eletrônica de varredura
(MEV), microtomografia de Raios-X (μCT) e catodoluminescência (CL).
e) Análise, integração e interpretação dos dados, correlacionando os dois tipos de
amostragem e determinação dos eventos que atuaram na Formação Ponta do
Mel, bem como a cronologia desses eventos.
44

Descrição macroscópica
Descrição microscópica
Difratografia de Raios‐X (DRX)
Coleta das amostras
Fluorescência de Raios‐X (FRX) Interpretação dos dados
dos testemunhos Isótopos de Carbono e Oxigênio
Microscopia Eletrônica de Varredura
Catodoluminescência
Pesquisa Correlação entre os Definição das feições
Termogravimetria
bibliográfica dados dos dois tipos de pós‐deposicionais e da
amostragem cronologia dos eventos
Descrição macroscópica
Descrição microscópica
Coleta das amostras Difratografia de Raios‐X (DRX)
de calha Fluorescência de Raios‐X (FRX) Interpretação dos dados
Isótopos de Carbono e Oxigênio
Microscopia Eletrônica de Varredura
Catodoluminescência
Termogravimetria
Microtomografia

FIGURA 14: Fluxograma das etapas desenvolvidas.

4.1 AMOSTRAGEM E ETAPAS DA PREPARAÇÃO

As amostras utilizadas neste trabalho são oriundas de poços perfurados pela


PETROBRAS na Bacia Potiguar Submersa (FIGURA 15) e foram coletadas em
testemunhos (P2, P3 e P4) e amostras de calha (P1).

FIGURA 15: Mapa de localização dos poços amostrados.


45

4.1.1 Amostras de testemunhos

Testemunhos são amostras cilíndricas de rochas, obtidas durante a


perfuração de poços ou furos de sondagem. Podem ter diâmetros variáveis, desde 5
até 10 centímetros ou mais. A espessura, ou intervalo testemunhado, varia com a
necessidade de material para análises e com o custo da operação, pois esta é uma
amostragem de alto valor. É uma amostra bastante utilizada tanto na indústria do
petróleo como em hidrogeologia e em pesquisas geológicas científicas.
Neste trabalho foram utilizadas amostras de testemunhos de três poços
(Poço-2, Poço-3, Poço-4), retiradas em intervalos de aproximadamente 1 metro,
quando possível (TABELA 1). Essas rochas foram fotografadas e selecionadas para
análises de DRX, FRX, Termogravimetria, isótopos estáveis de Carbono e Oxigênio,
petrografia, catodoluminescência e MEV. A coleta de material procurou selecionar
porções que representassem o ambiente deposicional e a diagênese de
soterramento, sem interferência dos efeitos de fraturamentos ou feições associadas
a eventos tardi-diagenéticos. Essa amostragem foi selecionada visualmente
evitando-se locais com estilolitos e com fraturas preenchidas.

TABELA 1: Profundidade e nomenclatura das amostras de testemunhos. A numeração dos


testemunhos segue a denominação fornecida pela PETROBRAS.
Poço-2 (P2) Poço-3 (P3) Poço-4 (P4)
Profundidade Nome da Amostra Profundidade Nome da Amostra Profundidade Nome da Amostra
Testemunho 2 Testemunho 2 Testemunho 1
1.633,10 m P2.A 1.648,00 m P3.K,P3.Kfr 1.552,70 m P4.A
1.634,10 m P2.B 1.648,50 m P3.L 1.553,20 m P4.B
1.635,50 m P2.C 1.649,00 m P3.M 1.554,20 m P4.C
1.636,90 m P2.D Testemunho 3
1.637,50 m P2.E 1.678,00 m P3.I e P3.Ifr
1.638,00 m P2.F e P2.Ffr 1.679,00 m P3.J1
1.639,50 m P2.G1 e P2.G1fr 1.679,00 m P3.J2 e P3.J2fr
1.639,50 m P2.G2 e P2.G2fr Testemunhos 4 e 5
1.640,20 m P2.H 1.882,20 m P3.H
1.641,50 m P2.I1 e P2.I1fr 1.885,00 m P3.E
1.641,50 m P2.I2 1.885,50 m P3.F
1.642,70 m P2.J1 e P2.J1fr 1.886,70 m P3.G
1.642,70 m P2.J2 Testemunho 6
1.643,30 m P2.K 2.037,00 m P3.A e P3.Afr
1.644,40 m P2.L 2.037,90 m P3.B
1.645,60 m P2.M 2.038,10 m P3.C
1.646,60 m P2.N 2.039,00 m P3.D
46

O material para análise foi obtido através de mini-broca (FIGURA 16), de


forma a ser o mais seletivo possível para as análises citadas. Uma segunda
amostragem foi realizada nos minerais de preenchimento de fraturas, também com a
mini-broca e em algumas amostras com o microamostrador. Devido à pequena
quantidade obtida por esse tipo de amostragem, as análises realizadas foram de
DRX, termogravimetria e isótopos estáveis de carbono e oxigênio.

FIGURA 16: (a) fotografia da mini-broca utilizada na amostragem dos testemunhos e (b) o
local amostrado indicado pela seta amarela.

4.1.2 Amostras de calha

São fragmentos de rocha resultantes da ação mecânica da broca durante a


perfuração do poço. Esses fragmentos são trazidos à superfície transportados pelo
fluido de perfuração que circula no poço. A coleta é realizada em peneiras utilizadas
para filtrar o fluido de perfuração de forma que ele retorne ao poço isento de frações
sólidas. Após a coleta do intervalo perfurado, a amostra é lavada sobre uma peneira
com malha de 2 mm tendo sob ela uma segunda peneira de malha tamanho argila.
Desta forma evita-se a contaminação por material oriundo de seções acima do
intervalo amostrado, pois se considera que fragmentos maiores que 2 mm não foram
obtidos pela trituração da broca de perfuração, mas pela queda de pedaços de
intervalos superiores. São amostras denominadas intervalares, pois representam
uma espessura de rocha atravessada pela broca. A espessura pode ser variável de
acordo com interesse no detalhamento, indo desde 3 em 3 metros em seções
47

importantes para as análises estratigráficas e/ou de zonas portadoras de


hidrocarbonetos, até de 9 em 9 metros em intervalos estratigráficos já conhecidos e
sem potencial econômico. Estas amostras, apesar de não serem adequadas para a
investigação de estruturas sedimentares, podem fornecer informações valiosas
sobre as rochas atravessadas, tais como: tipo de rocha, cor, granulometria,
arredondamento, seleção, composição mineralógica, matriz, cimento, avaliação
qualitativa da porosidade, indícios de hidrocarbonetos, compactação, conteúdo
fossilífero e outros.
As amostras de calha utilizadas neste trabalho foram coletadas no Poço-1
(P1), no intervalo de 1.548 a 2.151 metros, correspondente a toda a Formação
Ponta do Mel, incluindo um intervalo da seção sotoposta, a Formação Açu e a
sobreposta, a Formação Ubarana. A amostragem é de 9 em 9 metros, no intervalo
de 1.548 a 2.133 metros e de 3 em 3 metros no intervalo de 2.136 a 2.151 metros. A
relação da nomenclatura das amostras e as profundidades estão apresentadas no
APÊNDICE I.
O procedimento analítico para este tipo de amostra é o que se segue:

a) Análise inicial do material em lupa e captura das imagens, permitindo a


comparação com o material após a lavagem (FIGURA 17);

FIGURA 17: (a) foto da amostra de calha antes da lavagem. As fotomicrografias (b) e (c)
são, respectivamente, as amostras antes da lavagem e após a lavagem (amostra 60 do
Poço-1). A imagem (b) permite observar o material esbranquiçado (setas vermelhas),
resíduo do fluido de perfuração, sobre os fragmentos de rochas.
48

b) Lavagem de 40 a 50 g do material na Lavadora Ultra-sônica (FIGURA 18). A


lavagem destina-se a retirada de todo o material sólido oriundo do fluido de
perfuração e que possa interferir nas análises que serão feitas
posteriormente. Coloca-se a amostra em Copo de Becker de 1.000 ml com
água e leva-se ao equipamento, o qual agita o Copo de Becker e a amostra,
através de ondas sonoras, liberando o material tamanho argila que está
sobre o fragmentos de rocha. Esse procedimento foi realizado de 3 a 5
vezes em cada amostra, retirando a água com o material liberado e
colocando novamente até que fosse considerado livre de contaminantes
(FIGURA 19);

FIGURA 18: Fotos (a) e (b) apresentam a Lavadora Ultra-sônica com o Copo de Becker e a
amostra em agitação.

FIGURA 19: (a) amostra após sair da lavadora, com a água turva
devido às partículas de resíduos do fluido de perfuração retiradas
dos fragmentos de rocha; (b) amostra após três ciclos de lavagem.
49

c) Após a lavagem a amostra é colocada em recipiente de porcelana e levada a


estufa de 50ºC para secagem, onde permanece por 12 horas (FIGURA
20.a). Posteriormente à secagem o material passa por uma limpeza de
material ferruginoso oriundo do processo de perfuração, através de imã
(FIGURA 20.c);

FIGURA 20: Foto (a) mostra a estufa para secagem das amostras, (b) amostra seca e (c) retirada
de material magnético da amostra através de imã.

d) Procede-se nova análise em lupa com a finalidade de identificação dos


grãos, agora livres de contaminantes. São feitas capturas das imagens das
amostras como um todo e de detalhes particulares (FIGURA 21). Esta é a
etapa mais importante de todo o processo, pois é nela onde ocorre a seleção
e separação de grãos de rocha que possam pertencer à rocha matriz ou a
intervalos afetados por efeitos tardi-diagenéticos. Nesta etapa é realizada a
estimativa semi-quantitativa visual em lupa binocular, com os valores
reportados em percentual, classificados em: predominantes (acima de 60%),
menor predominância (60-40%), não-predominantes (10 a 40%), raros
(menor que 10%) e traços (inferior a 1%). Essa metodologia é adaptada de
métodos utilizados em contagem de minerais pesados (PARFENOFF et al.
1970);

e) Após análise em lupa das amostras lavadas, o material é pulverizado em


equipamento de moinhos excêntricos de vibração (FIGURA 22.a) ou mini-
moinhos de bola (FIGURA 22.b), cujos recipientes podem ser de ferro ou
carbeto de tungstênio;
50

f) O material pulverizado é preparado para análises de DRX (FIGURA 22.c),


FRX, termogravimetria e isótopos estáveis de carbono e oxigênio (FIGURA
22.d).

FIGURA 21: Fotomicrografias das amostras de calha do poço P1 após lavagem.


(a) amostra 51 e (b) amostra 30.

FIGURA 22: Fotos (a) moinho excêntrico; (b) mini-moinhos


de bola; (c) porta amostra para DRX e (d) tubos de ensaio
para análise no espectrômetro de massa de isótopos de
carbono e oxigênio.
51

4.2 TÉCNICAS ANALÍTICAS

As técnicas descritas a seguir foram todas realizadas nos equipamentos


pertencentes ao Laboratório de Minerais e Rochas do Departamento de Geologia da
UFPR (LAMIR).

4.2.1 Microscopia por Luz Transmitida (MLT)

A análise petrográfica foi realizada em lâminas delgadas com o objetivo de


caracterizar os elementos constituintes do arcabouço da rocha, dos cimentos e das
feições diagenéticas de dissolução e preenchimento de veios e fraturas. Para a
análise foi utilizado o microscópio de luz transmitida Olympus BX60. Algumas
lâminas delgadas foram tratadas com Alizarina Vermelha S com Ferricianeto de
Potássio em solução diluída em HCl a 15%, para distinção de calcitas e dolomitas.
Algumas foram tratadas com Resina Epóxi Azul para realce da porosidade. As
descrições petrográficas permitiram a identificação das principais fácies
deposicionais, dos elementos texturais diagenéticos e dos eventos tardios que
afetam as rochas da Formação Ponta do Mel.
Foram analisadas 48 lâminas confeccionadas nos laboratórios de laminação da
PETROBRAS nas unidades de Santos e Natal.

4.2.2 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV/EDS)

A Microscopia Eletrônica de Varredura utiliza um feixe de elétrons para criar


de forma virtual imagens do objeto de análise. Esse método obtém aumentos
maiores que a microscopia óptica, além de ter uma grande profundidade de foco,
permitindo a visualização 3D da superfície das amostras. Seu princípio de
funcionamento baseia-se na emissão de um feixe de elétrons, através da aplicação
de uma diferença de potencial por um filamento capilar de tungstênio. O feixe de
52

elétrons é direcionado para a amostra através de lentes condensadoras e retorna


para a formação das imagens. A técnica permite ainda realizar o mapeamento
químico dos elementos da amostras, também denominado EDS (Energy Dispersive
System – Sistema de Energia Dispersiva).
A análise por MEV (Microscopia Eletrônica de Varredura) foi realizada em
fragmentos de amostras de calha e fragmentos selecionados dos testemunhos.
Utilizou-se o equipamento JEOL 6010LA InTouchScopeTM, energia de 0,5 a 20 kV,
faixa de magnificação de 5 até 300.000 vezes, com EDS (Energy Dispersive X-Ray
Spectometer), resolução horizontal de 4,0 nm e vertical de 5,0 nm para 20 kV. As
amostras foram tratadas com cobertura de liga metálica de Paladium e Ouro ou com
Carbono. As análises tiveram como objetivos a identificação mineralógica, as
relações de crescimentos dos cristais, os cimentos e a microporosidade.

4.2.3 Difração de Raios-X (DRX)

O método de difração de Raios-X (DRX) baseia-se no princípio de que todos


os materiais sólidos cristalinos quando submetidos aos Raios-X tem a capacidade
de alinhá-los na saída, em ângulos de acordo com a estrutura cristalina. Apenas os
sólidos amorfos não tem essa propriedade. Desta forma é gerado um padrão de
difração de Raios-X, o qual é único para cada substância que possua estrutura
cristalina.
Apesar do método ser bastante complexo do ponto de vista matemático, de
forma simplificada pode-se dizer que se trata da medida de reflexões paralelas aos
planos dentro do cristal. Os espaçamentos interplanares e as orientações desses
planos são definidas por 3 integrais, (h, k, l) denominadas índices. Um conjunto de
planos com índices h, k, l cortam o eixo a da unidade do cristal em seções h, o eixo
b em seções k, e o eixo c em seções l. A intensidade dessas medidas são
apresentadas em gráfico denominado difratograma.
Os equipamentos utilizados para as análises deste trabalho foram o
PW1830-Philips e o Panalytical Empyrean, ambos com tubo de Cobre. Para a leitura
no equipamento é necessário que material seja pulverizado em tamanho de 325
Mesh. A amostra pulverizada pode ser preparada em recipiente de alumínio
53

denominado porta-amostra (FIGURA 22.c), ou então preparada sobre lâmina de


vidro, quando a quantidade de material for insuficiente para utilização do porta-
amostra. O importante é que o material esteja bastante homogêneo com relação ao
tamanho e que a superfície de leitura seja lisa, sem rugosidades que possam afetar
a trajetória da incidência dos Raios-X. Os resultados são interpretados em
programas específicos e neste trabalho, foi utilizado o software X’Pert HighScore-
Phillips. Os picos dos difratogramas são comparados ao banco de dados JCPDS
(Joint Committe on Powder Diffraction Standards). No caso das amostras de calha
do Poço-1, foi muito importante a análise realizada em lupa binocular (SZ-CTV-
Olympus), pois a mistura de fragmentos de várias litologias dificulta a interpretação
dos difratogramas.
O procedimento foi varredura de 3 a 70 º2 Theta, com leituras em intervalos
de 0,02º[2θ]/s.

4.2.4 Fluorescência de Raios-X (FRX)

Este é um método não destrutivo utilizado para análises químicas


elementares de materiais sólidos ou líquidos. A amostra é irradiada por fótons ou
partículas carregadas de energia suficiente para excitar os elementos a emitirem um
espectro de Raios-X característico. O sistema de detecção permite a determinação
da energia emitida e suas intensidades. Os elementos da amostra são identificados
por seu espectro de energia ou seus comprimentos de onda para análises
quantitativas.
Os materiais a serem analisados podem ser sólidos, pós ou líquidos. O
estado cristalino normalmente não afeta a análise, com exceção para materiais
muito leves. Todos os elementos acima do número atômico 11 (Flúor) podem ser
analisados em concentrações que variam de 0,1 a 100 % do peso. Técnicas
especiais devem ser utilizadas quando se pretende analisar materiais com número
atômico baixo (4-10) ou em baixas concentrações e para análise de elementos
traços. O tempo requerido para análise pode variar de poucos segundos a alguns
minutos por elemento, dependendo das características da amostra e da precisão
requerida, mas pode ser muito mais demorada no caso de elementos traços.
54

O método baseia-se na propriedade de cada elemento de possuir um único


espectro de Raios-X e comprimento de onda (λ), que se correlacionam diretamente
com Z (número atômico).
Uma fonte de Raios-X é utilizada para irradiar a amostra e os Raios-X
emitidos são analisados por um espectrômetro. A radiação fluorescente é difratada
por um cristal em diferentes ângulos a fim de separar os comprimentos de ondas e
identificar os elementos. As concentrações de cada elemento são determinadas
pelas intensidades relativas de cada comprimento de onda.
Foram utilizados neste trabalho os equipamentos PW2400 (Tubo de Ródio).
Para a leitura é necessária a preparação das amostras, a qual consiste em pesar 7 g
do material pulverizado juntamente com 1,4 g de cera orgânica, misturar e prensar
em equipamento Pfaff, com pressão de 20 ton/cm2 com duração de 60 segundos. Os
resultados são apresentados em forma dos 10 principais óxidos presentes nas
rochas carbonáticas, além dos traços Ba, S e Sr.
Os resultados são apresentados em lista nos APÊNDICES III e IV.

4.2.5 Análise Termogravimétrica (TG)

A termogravimetria é um método de análise no qual se efetua o registro


contínuo da perda de massa de um composto, numa atmosfera controlada, em
função da temperatura e do tempo. Os equipamentos utilizados neste método são
compostos por uma balança térmica, um forno, um sistema de gás controlado e
inerte (N2, Ar), oxidante (ar atmosférico) ou reativo (CO2) e um computador que
controla o equipamento. Os métodos analíticos térmicos são amplamente utilizados
na investigação mineralógica e petrográfica de minerais e rochas, tais como argilas,
carbonatos, hidratos de sulfatos, carvão, gipsita, entre outros. Alterações químicas e
mineralógicas ocorrem quando se aquecem os compostos minerais. Estas
transformações são acompanhadas pela absorção ou liberação de calor (reações
endotérmicas ou exotérmicas). Esses efeitos termais podem ser detectados com alto
grau de precisão pela técnica de análise de diferencial térmico (ATG). Além disso,
tais reações envolvem alterações no peso, as quais podem ser detectadas com
acuracidade pela curva de TG (termogravimetria) (BASYONI, 1997).
55

A linha analítica da termogravimetria utilizada no LAMIR baseia-se na


análise direta da decomposição térmica dos carbonatos presentes na amostra.
Os carbonatos constituídos por calcitas e dolomitas decompõem-se
termicamente a 750ºC em atmosfera de oxigênio, através da seguinte reação:
CaCO3 → CaO + CO2 (GARDOLINSKI, 2008).
Estas reações são influenciadas pela presença de CO2 na atmosfera
circundante à amostra. Quando submetidas à temperatura e a atmosfera de CO2
com pressão controlada, o equilíbrio termodinâmico diferencia a reação dos óxidos
de tal forma que o óxido de cálcio só ocorrerá em temperatura de 950ºC.
As curvas de TG (termogravimetria) foram obtidas através de uma atmosfera
de queima de CO2, razão de aquecimento de 10ºC/m. As condições foram com fluxo
de CO2 de 50 ml/m, temperatura inicial de 300ºC e temperatura final de 1.100ºC. O
equipamento utilizado nas análises foi o Termogravímetro Mettler Toledo TGA/SDTA
851e.
As análises termogravimétricas realizadas permitiram, de forma bastante
rápida, o diagnóstico do conteúdo de calcita e dolomita de cada amostra.

4.2.6 Isótopos estáveis de carbono e oxigênio

Os isótopos são elementos que possuem mesmo número de prótons em seus


núcleos, mas diferente número de nêutrons e, portanto diferem em seu número de
massa. Isótopos do mesmo elemento têm comportamento químico semelhante. A
configuração de elétrons também é a mesma e isto determina o seu comportamento
nas reações químicas. Entretanto, a diferença de massa entre os isótopos resultam
em pequenas variações nos materiais naturais. Essas variações são denominadas
“fracionamento dependente da massa”. Como exemplo tem-se o CO2 na atmosfera,
o qual está em equilíbrio com o bicarbonato da água do mar através da equação:
CO2 + H2O ↔ HCO3 (-) + H (+) (1)

Em qualquer momento no tempo, algum carbono se movimenta para o


dióxido de carbono e algum carbono vai para o reservatório de bicarbonato. Da
perspectiva isotópica, esse equilíbrio de troca pode ser escrito como:
56

13
CO2 + H12CO3 (-) ↔ 12CO2 + H13CO3 (-) (2)

A variação isotópica encontrada num composto ou numa rocha fornece


informações sobre os processos físicos, geoquímicos e também geobiológicos que
atuaram nos componentes constituintes em que ocorrem (FAURE, 2005).
As análises do conteúdo isotópico de Carbono e Oxigênio são realizadas em
espectrômetros de massa e os resultados são emitidos em comparação com
padrões internacionais, referenciado ao padrão V-PDB (Viena PeeDee Belemnite)
em percentual per mil, denominado delta per mil (δ ‰).
As amostras dos testemunhos (Poços 2, 3 e 4) foram obtidas a partir da
amostragem por mini-broca, em duas etapas: regiões das amostras representativas
do ambiente deposicional e diagenético, incluindo as carapaças de bioclastos e o
cimento e a segunda seleção que amostrou o material de preenchimento das
fraturas encontradas. Uma parte do material é analisada no termogravímetro de
forma a identificar o conteúdo do mineral carbonático (dolomita ou calcita, ou
ambas), facilitando a programação do espectrômetro de massa na análise.
As análises foram realizadas com o equipamento Delta V Advantage com
Gás Bench II acoplado, o qual realiza análises online, onde o ataque das amostras
por ácido fosfórico é feito automaticamente, sem a interferência do operador. Foram
realizadas das amostras de testemunhos para caracterização do ambiente
deposicional e diagenético e em amostras de material de preenchimento de veios
para caracterização da origem. Nas amostras de calha do poço P1 as análises
contemplaram o material pulverizado em rocha total e também análise de
fragmentos selecionados.

4.2.7 Catodoluminescência (CL)

O bombardeamento de uma amostra por um feixe de elétrons pode dar


origem a emissão de fótons de comprimento de onda elevados, situado na região do
espectro eletromagnético referente às radiações ultravioleta, visível e infravermelho.
Esse fenômeno, denominado de catodoluminescência é característico para alguns
57

minerais e o método baseia-se na captação da luminescência produzida pelo


mineral quando submetido a um feixe de elétrons energizados.
Em rochas carbonáticas a luminescência é produzida a partir de elementos
traços nos minerais, os podem ser ativadores da luminescência, sensitivos ou
inibidores. Um dos principais ativadores é o Mn, que mesmo em quantidades entre
10-20 ppm é capaz de produzir luminescência detectável. O elemento Fe é o
principal inibidor da luminescência (MACHEL, 2000).
O equipamento utilizado foi o CITL Mk-5-2 com o objetivo de evidenciar as
fases de crescimento das dolomitas e das calcitas espáticas do preenchimento de
fraturas.

4.2.8 Microtomografia de Raios-X (μCT)

A microtomografia de RX é uma técnica não destrutiva, baseada na emissão


de Raios-X artificialmente por aceleração de elétrons contra um material metálico de
alto número atômico. Essa radiação eletromagnética produzida caracteriza-se por ter
alta freqüência, pequeno comprimento de onda e, portanto alto poder de penetração
na amostra. A atenuação dos Raios-X emitidos que ocorre ao atravessar a amostra,
é capturada pelos detectores e transformada em coeficientes os quais se
correlacionam às características dos minerais e ou rochas investigados. Ao final do
processo são obtidas centenas de seções microtomográficas, as quais podem ser
compostas para visualização tridimensional do arranjo mineralógico e ou do meio
poroso (REIS NETO et al. 2011).
Essas análises utilizaram o equipamento Microtomógrafo Skyscan 1172 e os
softwares de tratamento de imagens: CTAnalyser, CTVol e CTVox, todos
proprietários da Skyscan.
58

5 POROSIDADE CÁRSTICA

A possibilidade de dissolução da rocha carbonática em profundidade ainda


gera discussões, porém a existência de porosidades anormalmente altas em
condições de elevado soterramento em carbonatos e dolomitos não é questionada,
independente do mecanismo gerador. Com o intuito de discutir o sentido dado a
esses conceitos no decorrer desse estudo, os itens seguintes abordarão uma
revisão de conceitos em carstificação como geradores de porosidade importante em
rochas carbonáticas, bem como as classificações de porosidade mais adequadas a
esse tipo de poro.
O conceito de carste foi por muito tempo utilizado no sentido geomorfológico
para descrever terrenos esculpidos em rochas calcárias por processos de
percolação de águas meteóricas descendentes.
Com a evolução do conhecimento das rochas em subsuperfície, a partir de
pesquisas exploratórias, constatou-se a presença de cavidades em profundidade e
em estratos rochosos que nunca estiveram submetidos à exposição subárea, e cuja
dissolução não poderia ter sido originada pelo tradicional processo de carstificação
por percolação de águas superficiais, também denominado de carste epigênico.
Klimchouk (2007), para abranger a possibilidade de dissolução não
associada à superfície, redefine carste como “um sistema de transferência de massa
em rochas solúveis cuja permeabilidade é dominada por condutos que foram
gerados por dissolução na rocha e que facilitam a circulação dos fluidos.” Essa
definição exclui a restrição de ocorrência em superfície.
Para a distinção entre os ambientes superficiais e os ambientes em
profundidade foram adotados os termos epigênico, para carste superficial e
hipogênico para carste originado por processos de dissolução em profundidade.
Enquanto que o termo tradicional de carste epigênico tem seus fundamentos
consolidados, o conhecimento sobre carste hipogênico encontra-se ainda em fase
de aprofundamentos. Klimchouk (2009) define hipogênese como um processo de
formação de estruturas permeáveis a partir de dissolução por fluidos ascendentes,
predominantemente em situações de confinamento. A distinção entre o carste
epigenético e o hipogenético reside em diferenças no tipo, padrão e segmentação de
59

sistema de fluxo de fluidos, caracterizado por condições cinéticas, químicas e


térmicas diferentes.
A definição de Klimchouk (2007) é hidrogeológica: refere-se à origem, tipo e
sistema de fluxo dos fluidos capazes de gerar porosidade cárstica em profundidade,
não tão restrita como a definição de Palmer (2006), que trata da formação
hipogênica como processo geoquímico causado por fluidos hidrotermais e ácidos
(normalmente ácido sulfúrico). Alguns autores enfatizam a necessidade de fluidos
agressivos, reforçando a idéia de acidez como agente de dissolução. Em outro
sentido, Klimchouk (2007) afirma que essa condição “ácida” do fluido, mesmo que
ela exista, é transitória, pois o fluido pode adquiri-la em profundidade quando passa
por formações solúveis ou por reações de oxi-redução, e que no ambiente
hipogênico um grande número de mecanismos de dissolução pode atuar ou
combinados ou em sequência.
A dissolução em profundidade, formando cenário de carste hipogênico,
promove o aumento do sistema permo-poroso da rocha carbonática, o qual pode ou
não ser preservado ao longo de sua evolução. Caso seja preservado, o padrão
encontrado será diferente daqueles de reservatórios carbonáticos caracterizados por
porosidade primária intergranular ou porosidade secundária móldica e cujo tamanho
normalmente situa-se até vugs médios e que podem ser denominados de
convencionais. Já no sistema cárstico, as porosidades são normalmente acima
desse tamanho, podendo ir de vugs grandes até cavernas. A classificação de Luo e
Machel (1995) estabelece o tamanho acima de 256 mm para o poro tipo caverna. Os
ambientes cársticos, sejam eles epigênicos ou hipogênicos, são formadores desse
tamanho de poro.
Para o estudo da porosidade do ambiente cárstico, assim como se procede
em rochas com porosidade primária, utilizam-se classificações, as quais nem
sempre conseguem contemplar o tipo de poro encontrado nesse ambiente.
A classificação de porosidade de Choquette e Pray (1970) apresenta o
enfoque nos grãos do arcabouço deposicional, separando os tipos de poros
naqueles associados à textura da rocha e naqueles não associados. Apresenta
ainda um terceiro, misto dos dois anteriores.
Lucia (1983) apresenta a classificação dos poros em conexão com a
permeabilidade, mais adequada ao uso em rochas-reservatórios e divide o espaço
poroso em dois grupos principais: porosidade interpartícula e porosidade vugular. A
60

porosidade interpartícula pode ser intergranular ou intercristalina. A porosidade


vugular, como definida por Lucia (1983), é o espaço poroso entre grãos ou cristais
ou aquela que é significativamente maior do que estes. A porosidade vugular ainda é
subdividida em vugs separados e vugs interconectados. Vugs interconectados
compreendem fraturas, fraturas alargadas por dissolução, cavernas, brechas e
porosidade fenestral.
Luo e Machel (1995), através do estudo das rochas dolomíticas da
Formação Grosmont (Devoniano da Bacia do Oeste do Canadá), propuseram uma
nova classificação de porosidade para rochas carbonáticas. O objetivo dos autores
foi o de abranger um reservatório heterogêneo, com porosidade variando desde
poros muito pequenos em zonas “fechadas”, até porosidade em fraturas abertas
conectando vugs, além de poros tipo canal e cavernas de dezenas de metros,
associadas a zonas carstificadas, próximas às inconformidades.
Além da porosidade, os autores indicam o tipo de fluxo que ocorre em cada
um dos tamanhos de poros. Esses parâmetros são utilizados para a modelagem de
modelos de fluxos em reservatórios de petróleo (FIGURA 23).
Lonoy (2006) propôs outra classificação, baseada na geometria e tamanho
dos poros e relacionando porosidade e permeabilidade através de um índice. A
classificação foi proposta pela medição de porosidade e permeabilidade em 3.000
plugues de rochas. Os plugues de rocha para medidas de porosidade e
permeabilidade variam entre 2,5 a 3 cm de diâmetro e 3 a 10 cm de comprimento.
Por essa razão a classificação de Lonoy (2006) abrange os poros incluídos nesse
tamanho, mas não aborda a porosidade vugular ou tipo caverna, portanto não é
adequada para a análise do tipo de porosidade encontrada em ambientes cársticos.
61

FIGURA 23: Classificação de porosidade (adaptada de LUO e MACHEL, 1995).

Loucks (1999) propõe uma classificação voltada para os sistemas cársticos,


tendo as brechas como elemento principal do sistema poroso. O enfoque é
qualitativo, uma vez que medidas do ambiente cárstico são difíceis de obter devido
aos poucos afloramentos de paleocarstes e pelos poucos dados de rocha em
subsuperfície, além das dimensões que podem atingir até centenas de metros. O
autor considera que os paleocarstes possuem geometria complexa e são resultantes
de processos que atuaram próximos a superfície, tais como dissolução,
sedimentação clástica, precipitação química e associados à presença de fraturas,
brechas e colapso de tetos de cavernas. Todo esse sistema é sobreposto aos
processos inerentes do soterramento, o que provoca, além da compactação, o
colapso de dutos remanescentes, produzindo brechas (FIGURA 24).
62

FIGURA 24: Classificação de brechas e sedimentos de preenchimento de


ambientes cársticos. Modificado de Loucks, 1999.

Ahr (2008) propôs um diagrama ternário para classificar a porosidade em


rochas carbonáticas associadas ao ambiente deposicional, ambiente diagenético e
fraturamento, por considerar um caso especial ao qual deva ser dada atenção,
devido ao alto potencial de melhorar as características de porosidade e
permeabilidade (FIGURA 25). O objetivo de Ahr (2008) com a proposta de
classificação ternária foi o de ter uma ferramenta que pudesse ser preditiva: se a
rocha tem a porosidade dominada pelas características deposicional, o mapeamento
faciológico da seção carbonática servirá para identificar os alvos; se for
predominantemente diagenética, os atributos a serem mapeados devem contemplar
a história da evolução e se a rocha tiver parte de seu sistema poroso atribuído às
fraturas, o mapeamento estrutural será fundamental para os modelos preditivos de
distribuição da qualidade do reservatório.
Ao contemplar o sistema de fraturas em sua classificação, a proposta de Ahr
(2008) torna-se útil para o ambiente cárstico.
Das classificações descritas, a que melhor se aplica à porosidade
encontrada nos ambientes cársticos é a de Luo e Machel (1995), a de Ahr (2008) e a
de Loucks (1999).
63

FIGURA 25: Classificação genética de porosidade em rochas carbonáticas


proposta por Ahr (2008), acrescida do tipo Híbrida 2 - Carstificação.

A identificação de porosidade maior que 256 mm em subsuperfície, através


de poços de petróleo é tarefa difícil. As ferramentas de detecção e análises
realizadas em ambiente de poços foram desenhadas para medidas de porosidade e
outros parâmetros de reservatórios denominados convencionais, normalmente com
tamanho de poros até vugs médios na classificação de Luo e Machel (1995).
Porosidades do tipo vugs grandes e caverna, geradas por processos de carstificação
epigênica ou hipogênica são difíceis de quantificar em poços. Porém sua
identificação é possível através de parâmetros de perfuração, os quais são fáceis de
reconhecer, mas ainda pouco utilizados de forma sistemática na medição de
porosidades cársticas.
Alguns indicadores podem ser utilizados para a detecção de rochas com
poros vugulares e/ou tipo caverna, sendo um dos mais importantes, a “perda de
circulação” de fluido durante da perfuração. Esse fenômeno é definido como a
penetração indesejável de fluido de perfuração para o interior da formação rochosa
durante a perfuração do poço. Pode ocorrer em qualquer profundidade e pode variar
64

em intensidade, a qual é medida em volume de fluido perdido para os poros da


formação. A perda de circulação ocorre normalmente em formações com alta
permeabilidade, fraturadas naturalmente ou com porosidade vugular ou tipo caverna.
Baomin e Jingjiang (2009) enumeram alguns indicadores de zona carstificada
através de parâmetros de perfuração: a) o tempo de perfuração diminui rapidamente
e ocorre o aumento da taxa de perfuração (metros/hora); b) o diâmetro do poço
aumenta e ocorre ocasionalmente perda de ferramentas (coluna ou ferramentas de
perfilagem) para dentro do poço; c) eventualmente ocorre a presença de
hidrocarbonetos no fluido de perfuração retornado; d) baixa recuperação de
testemunhos e e) perdas de circulação elevadas.
Taghavi et al. (2006) afirmam que a principal forma de avaliar o efeito das
fraturas na qualidade do reservatório é quantificar a perda de circulação durante a
perfuração do poço, a qual é mais severa em intervalos fraturados. Mostafavi et al.
(2011) afirmam: “Apesar de que pequenas fraturas estejam presentes em quase
todas as formações, fraturas naturais de alta condutividade encontradas em rochas
carbonáticas resultam em memoráveis perdas de circulação”.
Esses indicadores (perdas de circulação, baixa recuperação de testemunhos
e de amostras de calha), podem ser acessados em relatórios de perfuração e úteis
no mapeamento de zonas carstificadas em profundidade.
Entre os poços estudados, dois apresentaram perdas de circulação: o poço
P1 e poço P4. No poço P1 as perdas de circulação ocorreram em 4 intervalos,
sendo a primeira no contato entre a Formação Ubarana e a Formação Ponta do Mel.
As outras ocorrências situam-se no intervalo intermediário e basal da sequência
carbonática. No P4 estão situadas próximas ao topo da formação (TABELA 2). A
baixa recuperação de testemunhos também foi observada nos poços amostrados e
conforme TABELA 3. Esses fenômenos serão utilizados no decorrer deste trabalho
como indicativos da presença de intervalos naturalmente fraturados e/ou com
porosidade vugular/caverna, conforme trabalhos de Baomin e Jingjiang (2009),
Taghavi et al. (2006) e Mostafavi et al. (2011).
65

TABELA 2: Perdas de circulação nos poços P1, P2, P3 e P4.


Poço Intervalo com perda de circulação (m)
P1 1.622 / 1.649
P1 1.873 / 1.931
P1 1.936 / 1.998
P1 1.998 / 2.133
P2 Sem registro de perdas
P3 Sem registro de perdas
P4 1.463 / 1.600
P4 1.600 / 1.650
P4 1.650 / 1.704

TABELA 3: Recuperação dos testemunhos nos poços P2, P3 e P4.


Poço Topo e base da Testemunho Intervalo testemunhado Recuperação
Formação Ponta (m) (m/%)
do Mel (m)
P1 1.635 / 2.103 Não foi testemunhado
P2 1.628 / 2.170 Testemunho 2 1.633,0 a 1.647,00 14 m / 100%
P3 Testemunho 2 1.647,00 a 1653,00 3m / 50%
P3 Testemunho 3 1.678,00 a 1.683,00 2,30 m / 46%
P3 1.645 / 2.188 Testemunho 4 1.882,00 a 1.885,00 0,5m / 25%
P3 Testemunho 5 1.885,00 a 1887,50 2,25m / 90%
P3 Testemunho 6 2.037,00 a 2.043,00 2,36 m / 40%
P4 1.524 / 1.972 Testemunho 1 1.552,70 a 1.558,80 2m / 33%
66

6 CARACTERIZAÇÃO DA FORMAÇÃO PONTA DO MEL

As rochas carbonáticas da Formação Ponta do Mel foram depositadas no


final do Albiano, entre 105 e 99 ma, conforme Pessoa Neto et al. (2008). No
Campaniano a bacia foi exposta e parte da deposição carbonática Ponta do Mel foi
erodida. Após esse evento, com a deposição das formações sobrepostas (Ubarana,
Tibau e Guamaré) a Formação Ponta do Mel esteve submetida ao soterramento.
Eventos tectônicos também afetaram suas rochas, desde o final do Cretáceo até o
recente. Devido à alta susceptibilidade química das rochas carbonáticas, a
diagênese e os processos tectônicos modificaram a estrutura primária deposicional,
tanto de forma pervasiva como de forma localizada. A partir de observações
petrográficas e análises químicas das amostras foi possível estabelecer as
alterações pós-deposicionais impressas nos carbonatos Ponta do Mel e avaliar as
possibilidades de geração de porosidade por dissolução tardia.

6.1 CARACTERIZAÇÃO DOS TESTEMUNHOS

Os testemunhos estudados foram coletados em intervalos que abrangeram a


base, a porção intermediária e o topo da Formação Ponta do Mel (TABELA 1). A
partir dessas análises confirmam-se as descrições anteriores na qual são definidas
fácies de granulometria fina, composta por mudstones predominantemente na base
e fácies de granulometria média a rudácea composta por grainstones a rudstones
para o topo.
Os eventos pós-deposicionais, objeto principal deste estudo, desenvolveram-
se sobre rochas cujas características deposicionais serão descritas a seguir e
denominadas de “rocha matriz”. Para a melhor compreensão da interação da rocha
matriz e as feições pós-deposicionais, faz-se necessária a caracterização deste
arcabouço primário, especialmente nas fácies preservadas dos eventos
modificadores. Para a definição das fácies desse estudo foram analisadas 48
lâminas petrográficas e descritos os tipos de grãos do arcabouço e identificação dos
bioelementos, quando possível. Textura, tamanho, seleção granulométrica,
67

empacotamento, contatos entre os grãos, matriz e cimentos também foram


descritos.

6.1.1 ANÁLISE PETROGRÁFICA

6.1.1.1 Arcabouço deposicional

A composição da rocha matriz varia desde mudstones, margas e laminitos


em sua base e grainstones a rudstones no topo da formação. Na descrição macro e
microscópica das rochas foi utilizada a classificação proposta por Terra et al. (2009),
a qual baseia-se, em parte, em classificações anteriores, mas com particularidades
aplicáveis às rochas carbonáticas das bacias sedimentares brasileiras. Dessa forma
utilizam-se termos das classificações de Dunhan, Embry e Klowan, Carozzi (citados
por TERRA et al. 2009), entre outros, conforme FIGURA 26.
REFERÊNCIA
NOMENCLATURA TERMOS TEXTURAS
TEXTURA DEFINIÇÃO NOMENCLATURA COMPLEMENTAR OU
PRINCIPAL CORRELATOS MODIFICADORAS
MODIFICADO DE
COM (Caso ocorram grãos) oolitos,
Rocha suportada pela oncolitos, pelóides, peloides fecais, Calcilutito,
matriz com menos de intraclastos, bioclastos, esferulitos ou dismicrito,
MUDSTONE Dunham (1962)
10% de grãos (tamanho CALCILUTITO A BIRDSEYES = rocha mudstone a
areia ou maior). suportada pela matriz com porosidade birdseyes.
fenestral ou lentes de calcita espática.
Rocha suportada pela
COM (para os grãos) - oolitos, oncolitos,
matriz com mais de 10%
WACKESTONE pelóides, peloides fecais, intraclastos, Dunham (1962)
de grãos (tamanho areia
bioclastos, esferulitos.
ou maior).
‘’+ ‘’(composição principal): oolitico, Calcarenito,
oncolitico, peloidal, peloidal fecal, oomicrito,
Rocha suportada pelos
PACKSTONE intraclástico, bioclástico, esferulítico; com Dunham (1962) biomicrito,
grãos com matriz.
Elementos não ligados durante a formação

fragmentos de estromatolitos, trombolitos, pelmicrito,


laminitos, leiolito, dendrolito. intramicrito
‘’+ ‘’ (composição principal): oolitico, Calcarenito,
C/ feições de
Rocha suportada pelos oncolitico, peloidal, peloidal fecal, ooespatito,
exposição; com
GRAINSTONE grãos, sem matriz (< 5% intraclástico, bioclástico, esferulítico; com Dunham (1962) bioespatito,
feições
de matriz). fragmentos de estromatolitos, trombolitos, pelespatito,
pedogenéticas;
laminitos, leiolito, dendrolito. intraespatito
bioturbado;
COM (para os grãos) - oolitos, oncolitos,
Rocha suportada pela dolomitizado;
pelóides, peloides fecais,
matriz com mais de 10% Embry & silicificado; com
FLOATSTONE intraclastos, bioclastos, esferulitos. Com
dos grãos maiores que 2 Klowan (1971) hardgrounds;
fragmentos de estromatolitos, etc.
mm.
trombolitos, laminitos, leiolito, dendrolito.
‘’+ ‘’ (composição principal): oolitico,
Rocha suportada pelos
oncolitico, peloidal, peloidal fecal,
grãos com mais de 10% Embry &
RUDSTONE intraclástico, bioclástico, esferulítico; com Brecha
dos grãos maiores que 2 Klowan (1971)
fragmentos de estromatolito, trombolito,
mm.
laminito, leiolito, dendrolito, esferulitito.
Rocha constituída pela
dominância de um tipo de
‘’+ ‘’ organismo formador: ex. ostracodes,
organismo sem
BIOACUMULADO bivalvos, macroforaminíferos, crinóides, Carozzi (1972) Coquina
retrabalhamento (in situ)
etc...
e granulometria areia ou
maior.
Rocha suportada pelos ‘’+ ‘’ (composição principal): intraclástica, Brecha de
grãos com mais de 50% com fragmentos de estromatolito, Flugel (2004); Colapso, Breccia,
BRECHA
dos grãos angulosos trombolito, laminito, leiolito, dendrolito, Pettijohn (1974) Rudstone com
maiores que 2 mm. esferulitito. clastos angulosos

FIGURA 26: Excerto da tabela de classificação de rochas carbonáticas de Terra et al. (2009).
68

6.1.1.1.1 Fácies de águas profundas

Fácies descrita na base da Formação Ponta do Mel, no testemunho do poço


P3, entre 2.037 e 2.039 metros. Compõem-se de mudstones com intercalação de
marga (FIGURA 27). São considerados depósitos distais de uma plataforma
carbonática implantada no início da separação dos continentes americano e africano
e cujos depósitos de água rasa, segundo Terra (1990a), não foram preservados.

FIGURA 27: Perfil litológico esquemático do testemunho basal do P3.


Imagens (A) mudstone, (B) marga. As letras das imagens correspondem à
identificação da amostra no perfil.

a) Mudstone com bioclastos (Mudbio)


Apresenta coloração cinza clara a cinza média com textura maciça e
laminação incipiente. Caracteriza-se pela predominância de matriz micrítica calcítica
e presença de raros grãos aloquímicos compostos por calcisferas (Pithonella
esférica), fragmentos de moluscos gastrópodos e foraminíferos (FIGURA 28). As
69

carapaças dos gastrópodes são evidenciadas pela recristalização. Encontram-se


bem preservadas e as câmaras preenchidas por micrita. Além dos aloquímicos
apresenta também cristais de pirita e dolomita romboédrica, dispersos na matriz
micrítica (FIGURA 28.B). Correlaciona-se com a fácies Calcilutito a planctônicos
(L.Pl) de Terra (1990a).

FIGURA 28: Fotomicrografias de mudstones do P3. (A) calcisferas (c) e cristais romboédricos
de dolomita (d); (B) calcisfera (c) e gastrópodos (g); (C) calcisfera (c) e foraminífero (f), matriz
micrítica e textura maciça. Profundidade 2.037,00 metros, luz natural. Imagem (D) foraminífero
bisseriado (seta amarela), profundidade 2038,10 m, luz natural.

São rochas interpretadas como depósitos de águas com profundidade acima


de 50 metros, por suspensão, na porção de mar aberto ou bacia profunda. A
presença de bioclastos de tamanhos maiores que silte sugere o transporte de
material de água rasa para dentro da bacia através de ondas de tempestade ou
correntes de turbidez, as quais, porém não foram verificadas nas amostras deste
trabalho. Em trabalhos anteriores sobre poços perfurados na parte terrestre da Bacia
Potiguar não foram descritos carbonatos de plataforma rasa que pudessem ser
correlacionados com esses depósitos de água mais profunda. Tal fato sugere a
70

paleogeografia do mar da deposição basal da Formação Ponta do Mel configurar-se-


ia particular, pois lateralmente em direção a porção terrestre da bacia, ocorria a
expressiva deposição siliciclástica da Formação Açu (FIGURA 6).

b) Margas (Mrg)
Com ocorrência pouca expressiva, apresentam-se de coloração cinza
escura, sem laminação aparente, mas com fissilidade comum dos folhelhos.
Compõem-se de quartzo e calcita (FIGURA 27.B). Não foi descrita em Terra
(1990a).

6.1.1.1.2 Fácies de Plataforma Rasa

São as fácies predominantes a partir da metade superior da Formação Ponta


do Mel, segundo Terra (1990a). Neste trabalho foram amostradas por testemunhos
nos três poços (P2, P3 e P4). Os grãos aloquímicos do arcabouço são compostos
por oncolitos, bioclastos de algas vermelhas, algas verdes, gastrópodos, artrópodos,
bivalves, foraminíferos, pelóides e raramente oolítos. Apresentam cimentação em
mosaico equigranular espático, localmente observa-se franjas de cimento prismático
preservadas. A micrita encontra-se também como matriz, mas de forma pontual.
Pela análise do conteúdo bioclástico interpreta-se como depósitos em plataforma
rasa, por vezes bioconstruídos. Algumas porções representam as lagunas back-reef
com abundante micrita. Bioturbações, foraminíferos bentônicos e ostracodes
encontram-se presentes. Apresentam variações granulométricas desde tamanho
areia fina até grãos maiores que 2 mm, coloração clara variando do esbranquiçado
até os tons de creme claro a creme médio.
71

a) Rudstone oncolítico/bioclástico/peloidal (RudOncBioPel)


Apresentam coloração creme clara, sem laminação ou estruturas e
normalmente gradam para os grainstones. A granulometria varia desde tamanho
areia fina até grânulos e possuem grande variedade na composição dos
aloquímicos, mas com predominância dos oncolitos e bioclastos, com presença de
pelóides subordinamente (FIGURA 29.A). A estrutura é maciça, o contato entre os
grãos é do tipo flutuante em cimento calcítico blocoso. Os bioclastos são de algas
vermelhas coralináceas e solenoporáceas, algas verdes dasicladáceas, bivalves,
foraminíferos e pelóides. Os oncolitos apresentam formato variado e irregular, com
incorporação de vários outros tipos de bioclastos, como fragmentos de bivalves e
pelóides. Observa-se a presença subordinada de matriz micrítica. Essa fácies foi
encontrada nos três poços amostrados por testemunhos, na porção superior da
Formação Ponta do Mel. Corresponde à fácies Calcarenito/Calcirrudito micrítico
oncolítico de Terra (1990a).

FIGURA 29: Perfil litológico esquemático do testemunho do P4. Imagem (A) é um rudstone
composto por oncolitos, bioclastos de bivalves e pelóides (RudOncBioPel). Imagem (B) é
um grainstone com os mesmos grãos do arcarbouço em (A), porém com granulometria
menor.
72

b) Grainstone peloidal/oncolítico/bioclástico (GSTPelOncBio)


Apresenta características muito semelhantes aos rudstones, variando
apenas a composição principal e tamanho dos grãos menores que 2 mm,
predominantemente. A textura é maciça, com gradações locais para os rudstones. O
contato entre os grãos é flutuante, raramente pontual e em poucas amostras foram
verificados contatos côncavo-convexos, normalmente próximos às feições de
fraturamento. A composição principal são os pelóides e os oncolitos, raramente
ocorrem amostras com predominância de algas vermelhas solenoporáceas
(FIGURAS 30 a 40).

FIGURA 30: Perfil litológico esquemático do testemunho do P2. Fotografias de


GSTPelOncBio (D) e RudOncBioPel (E e L).
73

Os bioclastos são de algas vermelhas, algas verdes, equinodermas,


braquiópodos e bivalves. Oolitos estão presentes, mas são raros. A cimentação é
calcítica, blocosa. A matriz é quase totalmente ausente, apenas verifica-se em
poucos locais associada com bioclastos. Estruturas de bioturbação foram verificadas
em algumas amostras. A seleção granulométrica é baixa, com grande variação no
tamanho dos grãos do arcabouço. Essa fácies corresponde à descrição de duas
fácies de Terra (1990a): Calcarenito espático peloidal e calcarenito espático
oncolítico.

c) Grainstone bioclástico/peloidal (GSTBioPel)


É uma fácies semelhante à anterior, porém com predominância de bioclastos
no arcabouço. Essas rochas representam os depósitos dos ambientes de mais alta
energia próximos às bordas bioconstruídas. Podem variar para a predominância de
pelóides (GSTPelBio). Corresponde a fácies Calcarenito espático bioclástico de
Terra (1990a).

6.1.1.1.3 Ambiente deposicional dos testemunhos

Baseado no conteúdo bioclástico, as amostras permitiram seu


posicionamento em ambiente de laguna e plataforma rasa para os poços P2, topo do
P3 e P4 e bacia profunda para a base do P3. Os bioelementos diagnósticos podem
ser observados nas FIGURAS de 31 a 39. A representação esquemática desses
ambientes está resumida da FIGURA 40.
74

a b

aS p

p
400 μm
p
50 μm

FIGURA 31: Fotomicrografias do GSTBioPel do P2. Em (a) fragmento de alga vermelha


solenoporácea (aS) e pelóides (p). Em (b) detalhe dos pelóides. Luz natural, profundidade
1.633,10 m.

a b

p aC

aC
Onc
b
aC
aC
250 μm 250 μm

FIGURA 32: Fotomicrografias (a) e (b) do GSTBioPel do P2. Fragmentos de algas


vermelhas coralináceas (aC), oncolitos (Onc), bivalvo (b) e pelóides (p). Nicóis cruzados
em (a) e luz natural em (d), profundidade 1.639,30 m.

a b

Ool
g
aD

Ool

250 μm 100 μm

FIGURA 33: Fotomicrografias (a) e (b) do GSTBioPel do P2 apresentado gastrópode (g),


oolitos (Ool), pelóides e alga verde dasicladácea em corte transversal (aD). Nicóis
cruzados em (a) e luz natural em (b). Profundidade 1.639,70 m (a) e 1640,20 m (b).
75

a b
aS

Ool

p
50 μm 50 μm
p
FIGURA 34: Fotomicrografias (a) e (b) do GSTBioPel do P2 exibindo oolito (Ool), pelóides
(p) e fragmento de alga vermelha solenoporácea (aS). Luz polarizada em (a) e luz natural
em (b). Profundidades 1.639,95 m (a) e 1640,20 m (b).

a b In

g
f p
p

100 μm 100 μm

FIGURA 35: Fotomicrografias (a) e (b) do GSTBioPel do P2, apresentando foraminífero (f)
do gênero Trocholina, intraclastos (In), gastrópodo (g) e pelóides (p). Luz natural,
profundidades de 1.640,70 m (a) e 1643,90 m (b).

a b

fa
a

fa

250 μm 100 μm

FIGURA 36: Fotomicrografias (a) e (b) do GSTBioPel do P2 de Grainstone bioclástico com


alga vermelha solenoporácea (aS), foraminífero aglutinante (fa). Luz natural, profundidade
1.644,40 m.
76

a b

Onc

In t

Ool
100 μm
100 μm 50 μm Onc

FIGURA 37: Fotomicrografias de RudOncBioPel do P3. Em (a) um grão composto por


intraclasto em seu núcleo (In), envolto por uma camada oolítica (Ool), e crescimento
oncolítico (Onc) externamente. Em (b) foraminífero do gênero Trocholina e oncolito (Onc).
Luz natural, profundidade 1648,00m.

a b

e e

p
aS

250 μm 250 μm

FIGURA 38: Fotomicrografias (a) e (b) de GSTPelBio do P3, com equinóides (e), pelóides
(p), alga vermelha solenoporácea (aS). Profundidades 1.649,00 m (a) e 1678,70 m (b), luz
natural.

a b

Onc
100 μm 50 μm

FIGURA 39: Fotomicrografias de GSTPelOncBio do P3. Em (a) oncolito composto (Onc),


foraminífero (f), profundidade 1679,00, luz natural. Em (b), detalhe de cimento calcítico em
mosaico blocoso, profundidade 1.678,70 m, luz natural.
77

FIGURA 40: Ambientes deposicionais e os perfis litológicos com a associação dos


bioelementos diagnósticos. Adaptado de James (1984).
78

6.1.1.2 Feições e processos diagenéticos

Logo após a deposição dos grãos e a formação do cimento na diagênese


próxima à superfície, inicia-se nos sedimentos carbonáticos, uma sequência de
alterações sob os efeitos da percolação da água dos poros, da temperatura, da
pressão dos sedimentos sotopostos e de eventos tectônicos. Segundo Esteban e
Taberner (2006), a provável sequência de estágios de alteração pelos quais passam
as rochas carbonáticas-reservatórios são inicialmente o aumento da compactação e
da dissolução por pressão; descontinuidades menores entre os vários estágios de
cimentação e o aumento da temperatura com o soterramento. Como uma segunda
fase ocorreriam as alterações de forma localizada, por hidrotermalismo ou alterações
termobáricas, com a entrada repentina de fluidos com temperatura mais elevada e
fluidos percolantes por fraturas, com brechação hidráulica associada. Nesse ponto
cessaria a dissolução por pressão, mas os estilolitos seriam reabertos. Numa
terceira fase aconteceria a corrosão das texturas anteriores, como resultados do
fluxo local de CO2 derivados da maturação da matéria orgânica associado ao
fraturamento hidráulico e da mistura de fluidos e ou resfriamento dos fluidos. Nessa
fase podem ser encontrados alguns minerais diagnósticos como quartzo, dickita,
fluorita, feldspatos, sulfetos e celestita.
Todas essas alterações, em conjunto, podem ser denominadas de eventos
modificadores pós-litificação. Esse capítulo descreverá as modificações pós-
deposicionais observadas nos testemunhos dos poços estudados: estilolitos,
dolomitização e fraturas.

6.1.1.2.1 Estilolitos

Os estilolitos são feições que ocorrem comumente em rochas


monominerálicas e são frequentes em rochas carbonáticas, em condições de
soterramento como resultado da dissolução química por pressão. Em visão planar
(duas dimensões), apresentam-se como linhas irregulares paralelas ao
acamamento, quando originadas por pressão de soterramento (FIGURA 41a), ou
79

linhas verticais ao acamamento quando originadas por esforços tectônicos. É


frequente a presença de material insolúvel marcando as duas superfícies dos
estilolitos, originado pela dissolução do material acima e abaixo, com a consequente
concentração de argilas e matéria orgânica em sua superfície (FIGURA 41c). Os
estilolitos formados por condições de pressão litostáticas, paralelos ao acamamento,
podem tornar-se importantes barreiras de permeabilidade vertical, devido ao
acúmulo de minerais insolúveis em seus planos (argilas e outros). Por outro lado,
aumentam a permeabilidade horizontal, podendo tornar-se caminhos preferenciais
para a percolação de fluidos (NELSON, 1981). Para Andrews e Railsback (1997), a
heterogeneidade dos litotipos controla o desenvolvimento dos estilolitos e espera-se
que formas mais serrilhadas ocorram em grainstones e packstones, e estilolitos
menos serrilhados em mudstones.
As amostras analisadas apresentam estilolitos paralelos ao acamamento,
serrilhados, indo desde baixa amplitude (menor que 5 mm) no P2 até alta amplitude
nos grainstones dolomitizados do P3 (FIGURA 41). Estão preenchidos em alguns
locais por material insolúvel (argilomineral?), quartzo e piritas. A TABELA 4
apresenta as amostras com estilolitos e suas características.

FIGURA 41: Fotografias dos estilolitos. (a) estilolito serrilhado de baixa


amplitude da amostra P2.A; (b) estilolitos de alta amplitude da amostra
P3.G; (c) fotomicrografia em luz natural da amostra P2.A apresentando
concentração de argilas (cor marrom) e quartzo no plano de sutura (seta
amarela) e (d) forma colunar do estilolito da amostra P2.H.
80

TABELA 4: Presença e forma dos estilolitos nos testemunhos.


Nº Amostra Amostra Profundidade (m) Descrição Estilolito Forma Amplitude Minerais
162 A P4.A 1.552,70 RudOncBioPel Ausente
162 B P4.B 1.553,20 GSTPelOncBio Ausente
162 C P4.C 1.554,20 GSTPelOncBio Sim Serrilhada Baixa Argilomineral (?)
167 A P2.A 1.633,10 GSTPelOncBio Sim Serrilhada Baixa Argilomineral, quartzo
167 B P2.B 1.634,10 GSTPelOncBio Sim Serrilhada Baixa Argilomineral (?)
167 C P2.C 1.635,50 RudOncBioPel Sim Serrilhada Baixa Argilomineral (?)
167 D P2.D 1.636,90 GSTPelBio Ausente
167 E P2.E 1.637,50 RudOncBioPel Sim Serrilhada Baixa Argilomineral (?)
167 F P2.F 1.638,00 GSTPelBio Ausente
167 G1 P2.G1 1.639,50 GSTPelBio Sim Serrilhada Baixa Argilomineral (?)
167 G2 P2.G2 1.639,50 GSTPelBio
167 H P2.H 1.640,20 GSTPelBio Sim Colunar Baixa Argilomineral (?)
167 I1 P2.I1 1.641,50 GSTPelBio Ausente
167 I2 P2.I2 1.641,50 GSTPelBio Ausente
167 J1 P2.J1 1.642,70 GSTPelBio Ausente
167 J2 P2.J2 1.642,70 GSTPelBio Sim Serrilhada Baixa Argilomineral (?)
167 K P2.K 1.643,30 GSTPelBio Sim Serrilhada Baixa Argilomineral(?), piritas
167 L P2.L 1.644,40 RudOncBioPel Sim Serrilhada Baixa
167 M P2.M 1.645,60 GSTPelBio Ausente
167 N P2.N 1.646,60 GSTBioPel Ausente
165 K P3.K 1.648,00 RudOncBioPel Sim Serrilhada Baixa
165 L clasto P3.Lc 1.648,50 GSTPelBio brecha Sim Serrilhada Baixa
165 L matriz P3.Lm 1.648,50 GSTPelBio brecha Ausente
165 M P3.M 1.649,00 GSTPelBio Sim Serrilhada Baixa Argilomineral (?)
165 I P3.I 1.678,00 GSTPelOncBio Ausente
165 J1 P3.J1 1.679,00 GSTPelOncBio Ausente
165 J2 P3.J2 1.679,00 GSTPelOncBio Ausente
165 H P3.H 1.882,20 GSTPelBio dolomitizado Ausente
165 E P3.E 1.885,00 GSTPelBio dolomitizado Sim Serrilhada Baixa
165 F P3.F 1.885,50 GSTPelBio dolomitizado Sim Serrilhada Alta
165 G Cinza P3.G 1.886,70 GSTPelBio dolomitizado Sim Serrilhada Alta
165 A P3.A 2.037,00 MudBio Ausente
165 B P3.B 2.037,90 Mrg Ausente
165 C P3.C 2.038,10 MudBio Ausente
165 D P3.D 2.039,00 MudBio Ausente

Os estilolitos nas amostras analisadas apresentam características distintas.


No topo da Formação Ponta do Mel, (P2, P4 e P3 amostras superiores), são
estilolitos serrilhados de baixa amplitude, com argila e quartzo como material
insolúvel. A dissolução fica evidente em algum locais pela diminuição dos grãos
oncolíticos nas amostras de RudOncBioPel. No intervalo dolomitizado, os estilolitos
caracterizam-se por terem amplitude mais alta, 2 cm ou mais, frequência de
ocorrência maior e com cruzamentos. Alguns parecem verticalizados, o que sugeriria
gênese tectônica compressiva localmente, porém o tamanho da amostra não
permite esta afirmação. Nas amostras da base da Formação Ponta do Mel,
constituídas por Mudbio/Marga, não ocorrem estilolitos.
81

6.1.1.2.2 Dolomitização

As dolomitas compreendem um grupo de minerais carbonáticos com teores


de magnésio e cálcio similares, mas não idênticos. Tal como a família dos
feldspatos, as dolomitas exibem variações não apenas na composição química, mas
também em pequenas alterações nos arranjos atômicos. As dolomitas
estequiométricas, ou seja, com proporções iguais de magnésio e cálcio
[CaMg(CO3)], são raras e as composições podem variar de Ca1,16Mg0,94(CO3) até
Ca0,94Mg1,16(CO3), englobando o espectro das dolomitas calcíticas até as dolomitas
magnesianas (WARREN, 2000).
A dolomitização atualmente é considerada um processo que engloba
sucessivos eventos de resposta às alterações composicionais dos fluidos dos poros
e que produzem uma série de fases de cimentação, substituição e recristalização
(WARREN, 2000). Existem vários modelos de dolomitização para explicar a
quantidade de dolomitas presentes em rochas arqueanas até cretáceas e podem ser
agrupados em três categorias:
a) Modelos evaporativos e por refluxo, onde o primeiro pressupõe um
ambiente deposicional de águas hipersalinas com as dolomitas sendo
precipitadas sindeposicionalmente em lagos de águas supersaturadas
em sal (sabhkas); o segundo, por refluxo de águas salinas (seepage
reflux), admite que, pela densidade superior das águas hipersalinas, elas
percolariam para os estratos inferiores, provocando a dolomitização;
b) Modelo de mistura de águas, onde a formação da dolomita ocorreria em
função da mistura de águas meteóricas com a água salina dos poros da
rocha carbonática, fenômeno que, apesar de diminuir a razão Mg/Ca,
faria com diminuísse a força iônica da água, eliminando o obstáculo
cinético para a formação da dolomita (FOLK e LAND, 1975). No modelo
de águas marinhas (seawater model) a circulação das águas poderia
dar-se de várias maneiras, tais como: convecção termal, modelo de
Kohout, ou combinação de convecção termal e refluxo por infiltração
(seepage reflux). As dolomitas encontradas em sedimentos pelágicos,
por sua vez, podem ser atribuídas a um modelo organogênico onde a
ação das bactérias sulfatoredutoras e metanogênicas retirariam da água
82

o ânion sulfato (SO4-2) o qual é um obstáculo cinético à precipitação da


dolomita, permitindo assim sua ocorrência. Pressupõe a presença de
matéria orgânica e água do mar (COMPTON, 1988).
c) Modelos de dolomitização em profundidade (subsuperfície): segundo
Choquette e Pray (1970) as condições de soterramento médio a
profundo podem satisfazer a condição cinética requerida para a
formação da dolomita, uma vez que com o aumento da temperatura
diminui a proporção de Mg2+ hidratado. Quatro modelos de
dolomitização em profundidade existem: fluxo através dos fluidos
gerados pela compactação dos sedimentos e liberação da água, fluxo
através de altos topográficos, fluxo através de tectonismo por expulsão
de fluidos nas zonas de compressão e fluxo por convecção termal. Este
último modelo é bastante utilizado para explicar a ocorrência de
dolomitas em grandes extensões, sendo que o fluxo de calor origina-se a
partir do gradiente geotérmico ou do calor gerado por intrusões
magmáticas, fonte de calor para o início da convecção termal de fluidos.

Nas amostras dos testemunhos estudados, o intervalo que apresenta


dolomitização foi encontrado no P3, entre as profundidades de 1.882,20 e 1.887,25
m. A alteração foi heterogênea, podendo ser observadas amostras com
dolomitização alta e que oblitera a textura original da rocha e um intervalo onde a
dolomitização ocorreu de forma parcial. Na descrição macroscópica estas amostras
apresentam coloração cinza claro, cinza escuro, creme claro e porções em tons de
rosa claro a escuro, formando manchas de formato aproximadamente elipsoidal,
bordas irregulares, por vezes marcada por bordas brancas. Os estilolitos presentes
tornam mais evidente os contatos entres as duas colorações, fornecendo à rocha um
aspecto brechado (FIGURA 42c). Poros vugulares, de formato arredondado a
alongado ocorrem em quase todo o intervalo analisado. Fraturas submilimétricas e
subverticais estão presentes e preenchidas por calcita.
83

FIGURA 42: Fotografia da amostra do P3.G, profundidade 1886,70m. As fotomicrografias (a) e


(b) apresentam detalhes dos contatos das porções rosa e cinza. A amostra apresenta estilolito
com amplitude de 2cm e aspecto brechado.

A classificação das dolomitas pelos seus atributos petrográficos permite a


distinção entre as dolomitas sindeposicionais, eo-diagenéticas e tardi-diagenéticas.
As dolomitas diagenéticas possuem características que foram listadas na TABELA 5,
a partir de classificações de Füchtbauer e Goldschmidt (1965) e Füchtbauer e
Richter (1988) citados por Zorlu (2007), Sibley e Gregg (1987), Randazzo e Zachos
(1983) e Whright (2001, citado por MACHEL, 2004).
84

TABELA 5: Critérios petrográficos para classificação da gênese da dolomitização.


TAMANHO DOS CRISTAIS AUTOR
> 2µm = afanítica (1)
> 2 e < 16µm: microcristalino (1)
< 50µm: a maioria dos cristais finos, não-planar (anédrico) (1)
Unimodal: o tamanho dos grãos ocorre em uma classe de variação (2)
Polimodal: o tamanho dos grãos ocorre em duas ou mais classes de variações (2)
TEXTURA DOS CRISTAIS
Não planar ou anédrico. Contato entre os grãos de forma irregular, sem faces planas (2)
Planar-e: a maioria dos cristais são facetados, euédricos, em formato romboédrico, (2)
normalmente com matriz envolvendo os cristais
Planar-s: o contato entre os grãos é principalmente por faces retas e junções (2)
planares. Pouca matriz envolvendo os grãos.
Planar-s a não-planar (Planar-t): transição entre as duas texturas (4)
TEXTURA DA ROCHA
Textura da dolomitização: parcialmente dolomitizado, mosaico, porfirotópica, (3)
poiquilotópica
Distribuição dos cristais: empacotamento apertado, empacotamento frouxo, cristais (3)
em laminações, cristais isolados ou flutuando
PRESERVAÇÃO DOS FÓSSEIS
Conchas dos fósseis bem preservadas com os cristais de dolomita substituindo de (2)
forma precisa a estrutura dos fósseis.
Grãos aloquímicos não substituídos (1)
Conchas e esqueletos reconhecidos apenas como sombras ou fantasmas (ghosts) (2)
Grãos aloquímicos com os moldes preservados (1)
Grãos aloquímicos totalmente substituídos. Miméticos ou não-miméticos. (1)
Matriz não substituída (1)
Matriz parcialmente substituída (1)
Matriz totalmente substituída (1)
Preenchimento de poros: não substituídos (1)
Preenchimento de poros: parcialmente substituídos (1)
Preenchimento de poros: totalmente substituídos, miméticos ou não-miméticos
CONTEÚDO FOSSILÍFERO
Sem fósseis ou com fósseis característicos de ambiente restrito (oncolitos, algas (2)
dasicladáceas, ostracodes), planícies de maré-evaporítico.
Fósseis de ambiente marinho normal (2)
Boa preservação das estruturas, por refluxo por infiltração, bombeamento (2)
evaporítico
Crescimento de cristais de forma pervasiva, destruindo estruturas, formado por (2)
compactação, fluidos por infiltração, hidrotermais ou telogenéticos
(1) Füchtbauer e Goldschmidt (1965) e Füchtbauer e Richter (1988) citados por Zorlu (2007)
(2) Sibley e Gregg (1987)
(3) Randazzo e Zachos (1983)
(4) Wright (2001, citado por MACHEL, 2004)
85

Na análise petrográfica das amostras do testemunho, a seção dolomitizada


foi caracterizada e organizada na TABELA 6.

TABELA 6: Descrição petrográfica das dolomitas do P3.


Rocha
Variação
Profund. precursora/ Presença de
Amostra Tamanho dos cristais de Textura Estilolito
(m) grãos vugs
tamanho
identificados
Médio:
Fino Grosso:
>10μm e Planar-e Planar-s Planar-t
<10μm >100μm
<100μm
Sim, bordas
GST/Pel
P3.H 1882,20 50 a 80 100 a 250 Polimodal x x x com dolomitas Ausente
Pelóides
euédricas
Sim, bordas
GST/Pel
P3.H 1882,20 100 a 250 Polimodal x x x com dolomitas Ausente
Pelóides
euédricas
GST/PelOnc Sim, bordas
P3.E 1885,00 50 a 120 100 a 200 Polimodal x x x Pelóides, com dolomitas Sim
Oncolitos euédricas

P3.E 1885,37 100 a 200 Unimodal x x não identificada Ausente Sim

Sim, bordas
P3.F 1885,70 100 a 150 Unimodal x x x não identificada com dolomitas Sim
euédricas
P3.F 1885,80 50 a 250 Unimodal x x não identificada Ausente Sim
Sim, bordas
GST/Pel
P3.F 1886,23 50 a 120 100 a 200 Polimodal x x x com dolomitas Sim
Pelóides
euédricas

GST/PelBio
P3.G 1886,85 10 a 50 e 40 a 120 Polimodal x x Sim Sim
Gastrópodo

Sim, bordas
GST/Bio
P3.G 1887,25 10 a 120 100 a 220 Polimodal x x x com dolomitas Sim
Alga verde
euédricas

A partir das observações petrográficas, as dolomitas foram agrupadas em 3


tipos.
a) Dolomitas médias planar-s com inclusões
São cristais subédricos a anédricos com contatos planares e aspecto escuro
nos núcleos devido a presença de inclusões dos grãos precursores. Não
apresentam extinção ondulante. Sombras de pelóides e de bioclastos são visíveis
com frequência (FIGURA 43.b, 46.b). Não apresentam sinais de compactação. O
tamanho dos cristais varia de 10 a 120-150µm. O carbonato precursor pode ter sido
o GSTPelOncBio. Ocorrem em quase todo o perfil dolomitizado. Evidências macro e
microscópicas sugerem que essa dolomitização ocorreu anteriormente à
compactação química. Classificam-se segundo Sibley e Gregg (1987) como planar-s
(FIGURA 45). A forma como essa textura se apresenta permite inferir que a
dolomitização ocorreu a partir da matriz ou do cimento e avançou para dentro do
grão aloquímico. Como a rocha está completamente dolomitizada (apenas uma
86

exceção foi observada entre as amostras analisadas, amostra bandada na FIGURA


48.a), mesmo que o processo tenha iniciado pelo cimento ou matriz, ele foi eficiente
o suficiente para atingir o centro dos grãos, inclusive os maiores. Localmente a
substituição foi mimética, deixando as sombras do antigo bioclasto ou pelóide
visíveis, através de inclusões de material escuro (FIGURA 50.a).
b) Dolomitas médias-grossas planar-e límpidas
São dolomitas grossas, normalmente associadas aos vugs. Tem ocorrência
menos abundante com relação às dolomitas planar-s. Exibem cristais com duas
fases de crescimento, apresentam textura euédrica e o tamanho dos cristais varia de
100 a 250µm (FIGURAS 43, 44, 46, 47, 49, 50). Os cristais exibem duas formas,
uma com núcleos escuros e crescimento com bordas límpidas formando faces
planas e crescimento para o interior dos poros. A outra forma apresenta-se como
cristais euédricos límpidos, sem núcleo interno visível ao microscópio. Essa textura
destrói completamente o carbonato precursor e apresenta porosidade intercristalina
(FIGURA 44). O preenchimento de calcita nos poros onde esta textura se encontra
indica que um fluido calcítico foi posterior ao crescimento das dolomitas. Observa-se
em alguns intervalos a agressão da calcita nas bordas do cristal da dolomita
(FIGURA 49.a). A FIGURA 43.b representa a dolomitização do carbonato precursor
com o núcleo escuro e crescimento de cimento dolomítico límpido para o interior do
vug.
As duas texturas descritas acima encontram-se próximas, o que classifica a
textura, segundo Sibley e Gregg (1987) em polimodal e segundo Wright (2001,
citado por MACHEL, 2004) seria planar-s a não-planar, onde as duas texturas
ocorrem lado a lado, como é o caso das amostras analisadas.
c) Cimento dolomítico
Através da análise por catodoluminescência (CL) pode ser evidenciado o
crescimento de cimento dolomítico após a fase de dolomitização das texturas
descritas acima (FIGURAS 51 e 52). Pela CL o crescimento deu-se em diversas
fases de alteração do fluido percolante e teve tendência de tornar-se mais rico em
ferro evidenciado pela luminescência cada vez mais fraca em direção às bordas do
cristal para dentro dos vugs.
A luminescência da dolomita é normalmente atribuída à presença de Mn2+
como ativador e Fe2+ como inibidor. A gradação da luminescência é dada pela razão
entre o ativador e o inibidor.
87

FIGURA 43: Fotomicrografias de dolomitas euédricas com crescimento para o interior do vug, o
qual foi preenchido por calcita. Poço P3, profundidade 1882,20 m. Luz natural em (a) e luz
polarizada em (b).

FIGURA 44: Fotomicrografias. (a) vug preenchido parcialmente por calcita e porosidade
intercristalina (azul); (b) a dolomitização deixa visível a sombra dos pelóides. Porosidade
intercristalina em azul. Poço 3, profundidade 1882,20m, luz natural.

FIGURA 45: Fotomicrografias. (a) dolomitas com textura planar-s com contatos planares entre os
cristais (setas vermelhas), poço P3, profundidade 1885,70m, luz natural; (b) vug com 1mm de
diâmetro, preenchido por calcita (seta amarela) e cristais de dolomita euédrica crescendo para o
seu interior. Poço P3, profundidade 1885,00m, luz polarizada.
88

FIGURA 46: Fotomicrografias.(a) vug preenchido por calcita tingida de vermelho por Alizarina-S
e dolomitas euédricas; (b) vug preenchido por calcita e cristais de dolomita com bordas de
crescimento límpidas para o interior do vug. Poço P3, profundidade 1887,25m, luz natural.

FIGURA 47: Fotomicrografias. (a) vug preenchido por calcita e cristais de dolomita com núcleo
escuro apresentando a sombra dos grãos da rocha precursora (seta amarela) e bordas de
crescimento límpidas; (b) possível grão de alga verde (seta amarela) dolomitizado. A seta
vermelha indica cimento calcítico preenchendo vug. Poço P3, profundidade 1887,25m, luz
natural.

FIGURA 48: Fotomicrografias. (a) parte inferior da imagem apresenta dolomitização com cristais
subédricos/euédricos e a parte superior micrítica não está dolomitizada; (b) textura planar-e com
cristais variando de 50 a 250µm (setas amarelas), núcleos escuros e bordas de crescimento
límpidas. A parte escura entre os cristais é micrítica não dolomitizada. Poço P3, profundidade
1885,80m, luz natural.
89

FIGURA 49: Fotomicrografias do P3, profundidade 1886,85. (a) cristal de dolomita com borda
dissolvida (seta amarela) pelo ataque do cimento calcítico no vug, luz polarizada; (b) cristal de
dolomita com fases de crescimento marcada pela cor escura e borda límpida, cimento calcítico
(tingido por Alizarina-S), luz natural.

FIGURA 50: Fotomicrografias do P3. (a) sombra de foraminífero aglutinante/oncolito (?)


dolomitizado (seta amarela), com cristais crescendo para o interior do grão, profundidade
1887,25m, luz natural; (b) textura planar-e em vug preenchido por calcita (tingida de vermelho
por Alizarina-S), profundidade 1885,70m, luz natural.

FIGURA 51: Fotomicrografias do P3, profundidade 1882,20m. Imagens do mesmo local em luz
natural (a) e catodoluminescência (b). As setas azuis indicam a mesma posição nas duas
imagens. A cor alaranjada em CL representa a dolomita de substituição da calcita deposicional.
As sombras dos grãos aloquímicos na imagem em luz natural não aparecem na imagem em CL.
As dolomitas que cresceram para o interior do vug apresentam zoneamento em cores mais
escuras e de forma gradacional até a borda de crescimento com fraca luminescência, sugerindo
modificação lenta no fluido. A última fase de preenchimento do vug foi um fluido calcítico com
luminescência alaranjada brilhante, idêntica a luminescência da matriz dolomítica.
90

FIGURA 52: Fotomicrografias do P3, profundidade 1885,80m. As setas azuis indicam a mesma
posição nas duas imagens: (a) luz natural e (b) catodoluminescência. As bordas de crescimento
da dolomita são muito finas e de luminescência alaranjada brilhante, muito próxima da coloração
da matriz não dolomitizada. A seta roxa indica um cristal de dolomita que apresenta a sombra do
pelóide na luz natural, mas luminescência homogênea em CL.

O desenho esquemático da FIGURA 53 representa as fases de


recristalização das rochas dolomíticas do P3. O carbonato precursor (Cal-P) foram
os grainstones, identificados pelas sombras de bioclastos e pelóides. A
dolomitização (Dol-S) substituiu a calcita por dolomita em quase toda a rocha,
deixando espaços intercristalinos (P). Ainda como uma etapa do processo de
dolomitização houve o crescimento de cimento dolomítico (Cd) ocupando a
porosidade intercristalina. Finalmente um fluido calcítico preencheu parcialmente
vugs com cimento calcítico (Cc).

FIGURA 53: Desenho esquemático das rochas dolomíticas do P3 indicando


a sequência das recristalizações: Cal-P (carbonato precursor), Dol-S
(Dolomitas de substituição), Cd (Cimento dolomítico), Cc (Cimento calcítico)
e P (Poros intercristalinos). Adaptado de Gasparrini (2003).
91

6.1.1.2.3 Fraturas

O termo fratura, neste trabalho, é utilizado para descrever uma feição não-
sedimentar, originada por rupturas mecânicas nas rochas. Compreende
microfraturas, juntas e falhas. Quando preenchidas por algum mineral ou
paragênese mineral denomina-se veio. A presença de fraturas em rochas
carbonáticas tem importância na definição do potencial para rocha-reservatório. As
fraturas menores, submilimétricas a centimétricas, denominadas de microfraturas,
são também relevantes, pois fazem parte de um sistema de fraturamento de escala
maior cuja gênese relaciona-se a contexto estrutural regional, além de influenciarem
o caminho da migração de fluidos, a história diagenética e as propriedades
mecânicas da rocha (FLÜGEL, 2004).
As fraturas em rochas carbonáticas podem se formar em vários estágios da
sedimentação e diagênese, tais como durante a compactação, por dissolução por
água meteórica ou na diagênese de soterramento profundo. Em rochas
carbonáticas, os veios são normalmente preenchidos por calcita, dolomita e em
alguns casos minerais de paragêneses hidrotermais. Laubach et al. (2010)
denominam de diagênese estrutural os processos que envolvem a combinação dos
dois processos: a diagênese e a estrutural. Apesar de ocorrerem durante a
diagênese, tratam-se de alterações mecânicas nas rochas carbonáticas e implicam
em processos de abertura da rocha, crescimento dessa abertura e fechamento por
cimentação. O termo diagênese estrutural será utilizado em algumas situações no
decorrer desse trabalho.
Na descrição das fraturas e microfraturas em rochas carbonáticas, alguns
aspectos devem ser caracterizados: a) ocorrência como fratura única ou em
conjunto, sob a mesma orientação; b) morfologia reta, arqueada, ramificada, em
degraus ou deslocada; c) existência de deslocamentos indicando movimentação e
orientação cinemática; c) forma das terminações superiores e inferiores (abruptas,
gradacionais, irregulares); d) orientação da fratura relativamente à orientação das
camadas (vertical, oblíqua, paralela); e) ocorrência de fraturas que cortam os veios;
f) distribuição, espaçamento e densidade das microfraturas e das fraturas maiores;
g) largura e tamanho das fraturas e microfraturas; h) preenchimento das fraturas; i)
relações espaciais das fraturas e microfraturas com os grãos e estruturas
92

sedimentares; j) associações com estilolitos; k) importância volumétrica dos veios


com a rocha total; l) diferenças de ocorrência dos veios nos vários tipos de camadas;
m) relação da abundância dos veios com a espessura da camada; n) idade relativa
das fraturas preenchidas por calcita ou por outros minerais. No estudo do
preenchimento das fraturas devem ser caracterizadas a mineralogia, as bordas de
reação, os tipos de cimento e a cronologia das gerações dos preenchimentos
(FLÜGEL, 2004). Laubach et al. (2004) denominam de crack-seal a feição de ruptura
inicial da rocha e preenchimento sin-cinemático. Esse termo foi utilizado para
descrever algumas texturas observadas.
As fraturas foram observadas nos poços P2 e P3 (FIGURA 54), e analisadas
conforme os itens da TABELA 7. A partir das análises macro e microscópicas, as
fraturas deste trabalho foram agrupadas em três conjuntos: fraturas maiores que 0,5
cm, fraturas menores que 1 mm e fraturas de 50 µm denominadas de microfraturas.
A orientação vertical é predominante para os três conjuntos de fraturas. As fraturas
menores e as microfraturas não apresentam ramificações significativas e as maiores
têm a tendência a serem ramificadas e com traçado irregular e bordas de reação. As
fraturas maiores estão concentradas no intervalo entre 1.639,00 e 1.643,00m no
poço P2 e 1.678,00 a 1.679,00m no poço P3. Devido à pequena amostragem em
relação à espessura da Formação Ponta do Mel, não é possível afirmar que esses
intervalos são o de ocorrência principal dos fraturamentos nesta formação.
A mineralogia de preenchimento para todas as fraturas é
predominantemente a calcita, com ocorrência de pirita nas fraturas do poço P2 e
presença de argilomineral subordinadamente. As bordas de reação das fraturas
maiores caracterizam-se na descrição macroscópica pela coloração verde e pela
forma anastomosada paralela à parede do contato entre a fratura e a rocha intacta.
Em análise microscópica compõem-se de calcita recristalizada a partir da rocha
matriz e argilomineral. Indicações cinemáticas são raras, mas podem ser observadas
em algumas lâminas pela descontinuidade dos bioclastos. A porosidade é baixa e
quando ocorre caracteriza-se como intercristalina no interior do veio ou em
pequenas aberturas ao longo do contato entre a fratura e a rocha matriz.
A descrição das fraturas será abordada separadamente entre os poços P2 e
o P3.
.
93

TABELA 7: Descrição das características das fraturas do P2 e P3.

Porosidade Porosidade Preenchimento Preenchimento Preenchimento Preenchimento %


% de
Prof. Rocha Fratura/
Morfologia Orientação Espessura preenchi- Clastos
(m) encaixante Localização e Quantificação e Minerais Tamanho dos Textura Morfologia da borda rocha
mento
classificação conectividade minerais
P2.Ffr GST Ramificada Vertical 1 mm Quase Interior da fratura, Baixa e sem Calcita, pirita Até 1 mm Mosaico,contatos planares Sem borda de reação Poucos,próximos 10%
PelOncBio intercristalina conexão à borda
1638,00 total
P2.G1fr GST Única Vertical 2 cm Quase Interior da fratura, Baixa e sem Calcita, pirita Até 1 cm Mosaico,contatos planares Bordas de reação Muitos,borda e 60%
PelOncBio irregular intercristalina conexão interior
1639,00 total
P2.G1fr GST Única Vertical 100 μm Quase Associada à Baixa e conexão Calcita, pirita, 100 µm Mosaico,cristais alongados Bordas de reação Muitos,borda e 5%
PeolBio dissol. da borda baixa argilomineral no sentido da fratura, interior
1639,50 total
de reação (dickita ?) contatos irregulares
P2.G1fr GST Ramificada Vertical 0,5 cm Total Associada à Baixa e sem Calcita,pirita, 500 µm Mosaico,contatos planares Bordas de reação Sim 30%
1639,50 PeolBio irregular dissol. de clasto conexão argilomineral
(dickita ?)
P2.G2fr GST Múltiplas Vertical 50 μm a 1 cm Total Sem porosidade Nula Calcita, pirita De 500 µm a Mosaico,contatos planares Bordas de reação Sim 25%
PeolBio
1639,50 2,5 mm
P2.G2fr GST Ramificada Vertical 500 μm Quase Interior da fratura, Baixa e sem Calcita, pirita, 400 µm Mosaico, contatos planares Bordas de reação Sim 20%
1639,50 PeolBio irregular total intercristalina conexão argilomineral
(dickita ?)
P2.J1fr GST Múltiplas Vertical 0,5 cm Quase Interior da fratura, Baixa e sem Calcita Até 500 µm Mosaico,contatos planares Sem borda de reação Sim, mas poucos 30%
1642,70 PelOnc total intercristalina conexão
P2.J1fr GST Ramificada/ Vertical 50 µm a Total Sem porosidade Nula Calcita, pirita De 50 a 500 µm Mosaico,contatos planares Bordas de reação Muitos 30%
1642,70 PelBio múltiplas 0,5 cm
P3.L GST Ramificada Obliqua 700 µm a 5% Fratura aberta, Alta, conectada Calcita na borda Menor que Microcristalina Sim Ausente 10%
1648,50 PelOncBio 3 mm intraclasto por fraturas e argilomineral 20 µm acompanhando a borda
menores e (dickita ?)
estilolitos
P3.Ifr GSTBioPel Múltiplas Vertical 100 µm a Total Sem porosidade Nula Calcita 200 µm Mosaico,contatos planares Sem borda de reação Poucos 5%
1678,70 400 µm
P3.Ifr GST Múltiplas Vertical 20 µm a Total Sem porosidade Nula Calcita Até 500 µm Mosaico,contatos planares Bordas de reação Sim 10%
1678,70 PelOncBio 1,7 mm
P3.J2fr GST Múltiplas Vertical 50 µm a Total Sem porosidade Nula Calcita Até 1 mm Mosaico com contatos Bordas de reação Sim 10%
1679,00 PelOncBio 0,5 cm planares

P3.J2fr GST Múltiplas Vertical 2 mm Quase Interior da fratura, Baixa e sem Calcita 500 µm Mosaico,contatos planares Bordas de reação Sim 20%
1679,00 PelOncBio total intercristalina conexão
P3.Hfr GST Única Vertical 1,5 mm Total Sem porosidade Nula Calcita Até 1,5 mm Mosaico,contatos planares Sem borda de reação Não 5%
1882,20 dolomitizado
P3.E GST Única Vertical 1,2 mm Total Sem porosidade Nula Calcita Até 1,2 mm Mosaico,contatos planares Sem borda de reação Sim 5%
1885,00 dolomitizado
P3.Afr MudBio Ramificada Vertical e 50 µm a Total Sem porosidade Nula Calcita, Até 400 µm Mosaico contatos planares, Sem borda de reação Sim 5%
2037,00 horizontal 400 µm
94

Figura 54: Perfil litológico composto das amostras de testemunhos e indicações das fraturas.
Fotografias de alguns exemplos das fraturas dos poços P2 e P3.
95

a) Fraturas do poço P2

As fraturas do poço P2 foram observadas entre 1.636,90 a 1.643,30m.


Apresentam variação na espessura, com fraturas menores que 1 mm no topo do
intervalo (FIGURA 55) até 1,5 cm na base da seção fraturada.
As fraturas são do tipo diáclase, sem feições de deslocamentos
significativos, com evidência apenas na amostra P2.G1fr. Predomina a direção
vertical com algumas ramificações subverticais a subhorizontais.
O contato entre os minerais de preenchimento e a rocha matriz, nas fraturas
de maior espessura, é geralmente difuso e do tipo transicional. Os minerais de
calcita permeiam e envolvem bioclastos destruindo as características deposicionais.
Alguns bioclastos e pedaços da rocha matriz podem ser observados no interior das
fraturas, como clastos gerados no processo de rompimento da rocha, ou durante a
percolação dos fluidos, alguns dos quais exibem crack-seals, denotando a relação
de temporalidade entre as microfraturas e as fraturas mais espessas. As bordas
transicionais são constituídas de micrita recristalizada e argilominerais. Ocorrem
também bordas abruptas, onde se observa o crescimento de minerais de calcita
prismática, perpendicular à parede, para o interior do veio. O preenchimento da
fratura dá-se predominantemente por cristais de calcita de tamanho até 1,5 cm,
ocupando todo o espaço entre os dois lados da fratura, em textura poiquilotópica, ou
em cristais subédricos. Observa-se também o crescimento de calcita formando ponte
(bridge) entre as duas paredes da fratura e normalmente exibindo extinção
ondulante. O segundo mineral em ocorrência é a pirita, presente tanto nos veios
maiores como próximas às microfraturas. Apresentam-se com hábito euédrico na
forma hexagonal completa e incompleta ou, em menor freqüência, na forma irregular
ocupando espaços entre os cristais de calcita. Argilominerais estão presentes, mas
não foi possível a identificação.
A técnica de catodoluminescência (CL) foi utilizada para análise dos cristais
de preenchimento dos veios. A zonação foi observada nos cristais das bordas das
fraturas, indo desde laranja forte até luminescência fraca. Os cristais maiores do
interior das fraturas não apresentam zonação e a luminescência é amarela forte a
laranja (FIGURAS 56 e 57).
96

Os poros encontrados são intercristalinos no interior da fratura e poros nas


bordas das fraturas por dissolução do material argiloso (FIGURA 58).
As FIGURAS de 56 a 62 apresentam os principais aspectos descritos das
fraturas do P2.

FIGURA 55: (a) e (b) fotografias da amostra P2.Ffr, profundidade 1.638,00m.


Fratura de 1 mm, vertical, pouco sinuosa e pouco ramificada; (c) e (d)
fotomicrografias da mesma amostra, exibindo o preenchimento por calcita em
mosaico e piritas, luz polarizada.

FIGURA 56: Fotomicrografias da amostra P2.Ffr, profundidade 1.638,00m. (a) borda da


fratura e crescimento de cimento calcítico (vermelho de Alizarina-S); (b) CL do mesmo
local mostrando o crescimento do cristal de calcita com núcleo zonado por 5 estágios, de
forma concêntrica. Linha tracejada indica a borda da fratura.
97

FIGURA 57: Fotomicrografias da amostra P2.Ffr, profundidade 1.638,00m. (a)


cristais de calcita zonados crescendo a partir da borda. Os cristais do interior da
fratura não apresentam zonação em CL; (b) imagem do mesmo local com a linha
pontilhada mostrando o cristal zonado na CL, não evidenciado em luz natural.

FIGURA 58: Fotomicrografias da fratura da amostra P2.G1fr, profundidade 1.639,50m.


(a) e (b) fratura com 100 a 150 µm, preenchida por calcita com crescimento paralelo à
fratura, clastos e porosidade que acompanha a borda da fratura (resina azul, seta
vermelha). Em (c) fotografia da lâmina petrográfica. As setas amarelas sinalizam um
bioclasto que não ocorre do outro lado da fratura indicando movimentação.
98

FIGURA 59: Fotomicrografias da fratura da amostra P2.G1fr, profundidade 1.639,50m. (a)


fratura menor preenchida por calcita, cortando bioclastos, sem deslocamento, luz natural; (b)
fratura maior com dissolução na borda esquerda, clastos no interior da fratura e a borda direita
abrupta por fratura menor anterior (seta amarela), luz natural; (c) detalhe da borda da fratura
com preenchimento de calcita e provável textura “crack-seal” (seta amarela), luz polarizada; (d)
fotografia da lâmina petrográfica apresentado a forma ramificada da fratura; (e) tamanho
grosso dos cristais de calcita do preenchimento, luz natural.
99

FIGURA 60: Fotomicrografias da fratura da amostra P2.G2fr, profundidade 1.639,50m. (a)


borda entre a rocha matriz e a calcita de preenchimento, luz natural; (b) fratura alargada
por dissolução (linhas amarelas) e preenchida por calcita; (c) contato da rocha matriz e
fratura com cristais de calcita exibindo extinção ondulante (seta vermelha), luz polarizada;
(e) detalhe do preenchimento da fratura: piritas, clastos e o cimento calcítico (Cc), luz
natural.

FIGURA 61: Fotomicrografia composta da fratura do P2 indo desde a rocha matriz até o
preenchimento calcítico. Profundidade 1.639,00m, luz natural.
100

FIGURA 62: Fotomicrografias e fotografias das fraturas da amostra P2.J1fr, profundidade


1642,70m. (a) fraturas menores que contornam os grãos e a maior (400 µm) corta os
grãos, preenchimento calcítico, luz natural; (b) fotografia da lâmina do local indicado em
(f); (c) tamanho dos cristais de calcita da fratura maior, luz polarizada; (d) piritas (setas
amarelas) ao longo da direção das microfraturas; (e) microfraturas (setas azuis) e (f)
fotografia da amostra P2.J1 com a fratura ao meio e borda com piritas.
101

b) Fraturas do poço P3

As fraturas ocorrem em todos os intervalos amostrados do P3, indo desde o


topo da Formação Ponta do Mel até a seção basal, com algumas diferenças a seguir
abordadas.
As fraturas mais espessas ocorrem nas amostras do topo, entre 1.648,00 e
1.679,00 m (FIGURAS 63, 64 e 65) e as de menor espessura estão presentes nas
amostras da porção intermediária e basal (FIGURAS 66 e 67).
A fratura da amostra P3.L (FIGURA 63) compõe a brecha do tipo crackle a
tipo mosaico com matriz, segundo a classificação de Loucks (1999). São fraturas
abertas, sem preenchimento posterior, formando poros intraclastos de até 3 mm,
(vugs pequenos em macroporosidade, segundo a classificação de LUO e MACHEL,
1995).
O intervalo 1678,00 a 1679,00m apresenta características das fraturas
semelhantes ao intervalo 1.639,00/1.642,70m do P2. São do tipo diáclase,
apresentam feições de crack-seal nas bordas das fraturas maiores (FIGURA 64).
São preenchidas por calcita em cristais grossos, forma subédrica, formando
mosaicos blocosos. A análise por CL mostra que o material da borda de reação e a
rocha matriz apresentam luminescência amarelo forte, em contraste com o
preenchimento da fratura, com luminescência em dois tons de laranja escuro.
Observa-se a presença de pirita, mas em menor quantidade que no P2.
As fraturas dos intervalos 1.882,20m e 2.037,00m são menos espessas, com
bordas abruptas, sem bordas de reação. São posteriores ao evento de
dolomitização, pelo fato de cortarem a rocha dolomítica (FIGURA 66).
A amostra P3.Afr apresenta cimento calcítico formando ponte entre os dois
lados da fratura, bem marcada pela extinção ondulante dos cristais (FIGURA 67).
Com exceção da brecha da amostra P3.L não foram observadas evidências de
movimentação.
As figuras abaixo exemplificam a descrição dessas fraturas.
102

FIGURA 63: Fotografias e fotomicrografias da amostra P3.L, profundidade 1.648,50m.


(a) brecha com porosidade intraclasto (azul); (b) fotografia da lâmina petrográfica;
fotomicrografias (c), (d) e (e) da porosidade intraclasto, sem preenchimento, luz natural.

FIGURA 64: Fotomicrografias da amostra P3.J2fr, profundidade 1.679,00m. (a)


preenchimento calcítico da fratura; (b) contato entre rocha matriz e fratura principal,
microfraturas e borda de reação. Preenchimento de calcita com cristais menores na
borda da fratura e maiores no centro. Fotografia (c) da lâmina petrográfica.
103

FIGURA 65: Fotomicrografias da amostra P3.J2fr, profundidade 1.679,00m. (a) fratura


com preenchimento calcítico e borda de reação; (b) CL do mesmo local, apresentando a
fratura com luminescência mais escura em relação à borda de reação e rocha matriz. A
borda de reação e as microfraturas apresentam a mesma luminescência.

FIGURA 66: Fotomicrografias da amostra P3.Hfr, profundidade 1.882,20m. (a) contato


abrupto da rocha dolomitizada com a fratura preenchida por calcita, luz natural; (b)
detalhe dos cristais de calcita de preenchimento da fratura em contato com a rocha
matriz dolomítica, luz polarizada.

FIGURA 67: Fotomicrografias da amostra P3.Afr, na profundidade de 2.037,00m. (a)


preenchimento calcítico formando ponte (bridge) entre as bordas da fratura e exibindo
extinção ondulante (seta vermelha), luz polarizada; (b) fratura cortando bioclasto sem
indicação de movimentação, luz natural.
104

O intervalo na Formação Ponta do Mel com maior quantidade de fraturas é o


topo, entre 1636,90m e 1679,00m, cujas rochas encaixantes são GSTPelOncBio e
RudOncBio. São as fraturas mais espessas, associadas com microfraturas e
apresentando bordas de reação. As microfraturas, pela orientação paralela às
fraturas maiores e por serem cortadas em alguns pontos pelas maiores, representam
o início do mesmo evento diagenético estrutural e são interpretadas como textura
crack-seal. O cimento dessas microfraturas é sin-cinemático.
Algumas fraturas não cortam de forma abrupta os estilolitos, o que suge que
sua origem foi anterior à compactação química. No entanto, observa-se que os
estilolitos parecem desviar o trajeto do traço da fratura, atuando como uma fratura
horizontal aberta, dissipando a energia e alterando a direção da propagação da
fratura (FIGURA 54.a).
As fraturas apresentam 3 tipos de porosidade: no contato entre a rocha
matriz e as paredes das fraturas, por dissolução de material da borda de reação
(FIGURA 58); intercristalina, no interior das fraturas maiores e porosidade intraclasto
(FIGURA 63). Ocorrem em percentuais muito pequenos, com exceção da
porosidade intraclasto da amostra P3.L, a qual pode representar intervalos
importantes na prospecção de reservatórios.
A abertura das fraturas parece ter ocorrido com fluido quimicamente reativo
e redutor, o qual promoveu bordas de reação e precipitação de piritas tanto no
interior das fraturas como em suas bordas e produziu também a cristalização de
calcitas zonadas com fraca luminescência (cimento sin-cinemático). Em algumas
amostras observa-se alargamento de fraturas por dissolução e posterior
preenchimento calcítico (FIGURA 60.b). A fase de crescimento da abertura da
fratura e posterior fechamento por cristalização de minerais deu-se por fluido
calcítico de forma lenta, permitindo o crescimento de cristais de calcita grosso, sem
zonação, com luminescência, indicando a pouca presença de ferro (cimento pós-
cinemático).
As fraturas da seção intermediária e da base apresentam características
diferentes, sendo menos espessas, sem ramificação, preenchidas por calcita em
cristais grossos e com extinção ondulante, pouca presença de pirita. Apenas pela
forma não é possível afirmar se a gênese é a mesma das fraturas do topo da
formação.
105

Pela descrição das fraturas foi possível estabelecer uma sequência


temporal: início da ruptura da rocha com a formação da textura de crack-seal,
presente nas microfraturas e em alguns cristais de calcita com presença de inclusão
micrítica paralela à parede da fratura (FIGURA 59.c); abertura da fratura e
preenchimento sin-cinemático com a presença de calcita exibindo extinção
ondulante, seguido do evento de dissolução, recristalização mineral (bordas de
reação) e posterior fechamento das fraturas por cimento calcítico em mosaico grosso
e piritas. A extinção ondulante exibida por alguns cristais de calcita pode ser
relacionada com o início da abertura e cristalização da fratura, onde os cristais
formam pontes entre as paredes e estão sob tensão e exibiriam a extinção
ondulante em resposta ao crescimento em esforço (FIGURAS 60 e 67).
O desenho esquemático da FIGURA 68 representa o processo de diagênese
estrutural.

FIGURA 68: Desenho esquemático da sequência dos eventos de fraturamento dos testemunhos.
106

6.1.2 ANÁLISE GEOQUÍMICA

As análises geoquímicas compreenderam a determinação do conteúdo


isotópico de carbono e oxigênio e análises químicas por FRX de 10 elementos
maiores (Ca, Mg, K, P, Mn, Fe, Al, Si, Ti, Na) e 4 elementos traços (S, Sr, Ba e Cl)
reportados na forma da concentração de óxidos para os maiores e ppm para os
elementos traços.

6.1.2.1 Isótopos de carbono e oxigênio

O conteúdo isotópico de rochas carbonáticas é governado por alguns


fatores, que vão desde os valores da água do mar em que elas se depositaram,
passando pelo fracionamento isotópico produzido pelos organismos secretores das
carapaças e esqueletos carbonáticos que darão origem aos sedimentos, influência
da matéria orgânica, e as trocas isotópicas que ocorrem ao longo de todo o
processo diagenético. O reservatório carbonático oceânico, por sua vez, é
dependente da temperatura (superficial e em profundidade), da salinidade e das
condições geográficas locais ou globais, quando esse oceano circula livremente
entre os continentes. No caso do “mar Ponta do Mel”, esse oceano ainda era restrito
no início da deposição, provavelmente um golfo de baixa circulação de água e
passando a um mar mais aberto no final da sequência carbonática.
As análises isotópicas foram realizadas nos testemunhos para determinação
da variação na rocha matriz e nas fraturas, separadamente, conforme descrito no
Capítulo 4. Serão apresentados inicialmente os resultados para a rocha matriz,
seguido dos valores para as fraturas e ao final do capítulo as interpretações.

a) Rocha matriz
Para a rocha matriz foram individualizados 3 intervalos de variação isotópica.
A seção superior da Formação Ponta do Mel, de 1.552,70m a 1.679,00m,
caracterizada pela predominância da fácies GSTPelOncBio, apresentou valores
entre 0,97 e 2,60‰ para o δ13C e entre -6,04 e -3,56‰ para o δ18O. O intervalo
intermediário, de 1.882,20 a 1.886,70m, apresenta valores mais negativos para o
δ13C, entre -0,20 a 1,91‰ para e também para o δ18O, variando de -5,74 e -8,56‰.
107

Para o intervalo inferior, composto pela fácies de águas profundas, os valores


situam-se entre 1,85 e 2,78‰ para o δ13C e entre -2,97 e -3,84‰ para o δ18O
(TABELA 8).

TABELA 8: Valores de δ13C e δ18O para a rocha matriz dos testemunhos.


Poço Profundidade Descrição Mineral δ13C δ18O Δ δ13C Δ δ18O
(m) principal (‰) (‰) (‰) (‰)
P4.A 1.552,70 RudOncBioPel Calcita 1,96 -5,55 0,08 0,07
P4.B 1.553,20 GSTPelOncBio Calcita 1,88 -5,65 0,06 0,08
P4.C 1.554,20 GSTPelOncBio Calcita 1,91 -6,04 0,09 0,11
P2.A 1.633,10 GSTPelOncBio Calcita 1,59 -5,11 0,06 0,06
P2.B 1.634,10 GSTPelOncBio Calcita 1,45 -4,60 0,03 0,06
P2.C 1.635,50 RudOncBioPel Calcita 1,72 -3,86 0,01 0,05
P2.D 1.636,90 GSTPelBio Calcita 2,53 -3,56 0,06 0,06
P2.E 1.637,50 RudOncBioPel Calcita 2,28 -4,09 0,03 0,03
P2.F 1.638,00 GSTPelBio Calcita 2,16 -4,55 0,05 0,04
P2.G1 1.639,50 GSTPelBio Calcita 1,63 -4,90 0,04 0,03
P2.G2 1.639,50 GSTPelBio Calcita 1,23 -4,87 0,04 0,08
P2.H 1.640,20 GSTPelBio Calcita 2,10 -4,86 0,04 0,05
P2.I1 1.641,50 GSTPelBio Calcita 1,73 -4,51 0,04 0,06
P2.I2 1.641,50 GSTPelBio Calcita 1,42 -4,65 0,03 0,03
P2.J1 1.642,70 GSTPelBio Calcita 1,11 -5,15 0,07 0,05
P2J2 1.642,70 GSTPelBio Calcita 1,82 -5,38 0,03 0,04
P2.K 1.643,30 GSTPelBio Calcita 2,04 -4,99 0,02 0,04
P2.L 1.644,40 RudOncBioPel Calcita 2,23 -5,10 0,05 0,08
P2.M 1.645,60 GSTPelBio Calcita 2,60 -4,34 0,04 0,03
P2.N 1.646,60 GSTBioPel Calcita 2,21 -4,97 0,03 0,04
P3.K 1.648,00 RudOncBioPel Calcita 1,74 -5,50 0,05 0,04
P3.Lc 1.648,50 GSTPelBio brecha Calcita 1,20 -6,00 0,08 0,08
P3.Lm 1.648,50 GSTPelBio brecha Calcita 1,00 -5,50 0,03 0,06
P3.M 1.649,00 GSTPelBio Calcita 1,54 -4,93 0,07 0,10
P3.I 1.678,00 GSTPelOncBio Calcita 1,00 -5,04 0,05 0,07
P3.J1 1.679,00 GSTPelOncBio Calcita 0,97 -5,92 0,06 0,08
P3.J2 1.679,00 GSTPelOncBio Calcita 1,04 -5,99 0,05 0,04
P3.H 1.882,20 GSTPelBio dolomitizado Dolomita 1,00 -7,85 0,02 0,04
P3.E 1.885,00 GSTPelBio dolomitizado Dolomita 1,52 -8,11 0,07 0,07
P3.F 1.885,50 GSTPelBio dolomitizado Dolomita/Calcita 1,16 -5,74 0,08 0,06
P3.Gc 1.886,70 GSTPelBio dolomitizado Dolomita/Calcita 1,91 -8,56 0,06 0,05
P3.Gr 1.886,70 GSTPelBio dolomitizado Calcita/Dolomita -0,20 -9,33 0,04 0,04
P3.A 2.037,00 MudBio Dolomita/Calcita 2,45 -2,97 0,10 0,09
P3.B 2.037,90 Mrg Calcita/Quartzo 2,65 -3,84 0,04 0,04
P3.C 2.038,10 MudBio Dolomita/Calcita 2,78 -3,01 0,09 0,08
P3.D 2.039,00 MudBio Calcita 1,85 -3,38 0,05 0,07
108

Os valores dos isótopos de carbono e oxigênio de todas as amostras da


rocha matriz (GRÁFICO 1) apresentam grande dispersão e tendência inversa com a
profundidade.

GRÁFICO 1: Diagrama de δ13C e δ18O para as amostras de rocha matriz dos


testemunhos dos poços P2, P3 e P4.

A variação isotópica com a profundidade não apresenta uma tendência que


possa ser correlacionada de forma clara com os litotipos. (GRÁFICOS 2 e 3).

GRÁFICO 2: Diagrama de δ13C versus profundidade para as amostras de


rocha matriz dos testemunhos dos poços P2, P3 e P4.
109

GRÁFICO 3: Diagrama de δ18O versus profundidade para as amostras de rocha


matriz dos testemunhos dos poços P2, P3 e P4.

Os valores do δ13C variam muito para a mesma profundidade, como pode


ser observado para os resultados do P2 e da seção intermediária do P3. Para o δ18O
os valores estão ainda mais dispersos, sendo os mais negativos na seção
intermediária e os valores mais positivos nos mudstones/marga da seção basal.
110

b) Fraturas
Os resultados para as calcitas do preenchimento das fraturas variam de 2,47
a - 4,39‰ para o δ13C e de -2,13 a -14,83‰ para o δ18O, conforme apresentado na
TABELA 9 e no diagrama do GRÁFICO 4.

TABELA 9: Valores de δ13C e δ18O das calcitas das fraturas dos testemunhos.
13 18
Local Profund. Descrição Mineral Tamanho da Mineral δ C δ O Desvio Desvio
(m) principal fratura principal (‰) (‰)
13 18
δ C(‰) δ O(‰)
da Rocha da fratura
Matriz

P2.G1fr 1.639,50 GSTPelBio Calcita 100µm a 2 cm Calcita 0,81 -7,48 0,04 0,04

P2.G2fr 1.639,50 GSTPelBio Calcita 50µm a 1 cm Calcita 1,94 -7,26 0,04 0,06

P2.I1fr 1.641,50 GSTPelBio Calcita 50µm a 1,5 cm Calcita 1,99 -8,80 0,05 0,07

P2.J1fr 1.642,70 GSTPelBio Calcita 50µm a 0,5cm Calcita -0,66 -14,83 0,02 0,04

P3.Kfr 1.648,00 RudOncBioPel Calcita 1 a 5 mm Calcita 1,57 -7,16 0,03 0,05

P3.Ifr 1.678,00 GSTPelOncBio Calcita 20µm a 1,7 mm Calcita -2,22 -8,16 0,10 0,09

P3.J2fr 1.679,00 GSTPelOncBio Calcita 50µm a 0,5 cm Calcita -4,32 -8,38 0,05 0,06

P3.Hfr 1.882,20 GSTPelBio Dolomita 1,5 mm Calcita -4,39 -9,90 0,03 0,04
dolomitizado

P3.Afr 2.037,00 MudBio Dolomita/ 50 a 400 µm Calcita 2,47 -2,13 0,05 0,04
Calcita

GRÁFICO 4: Diagrama de δ13C e δ18O das calcitas de preenchimento de


fraturas dos testemunhos dos poços P2 e P3.
111

O GRÁFICO 5 foi construído com todos os resultados e assim melhor


compreender a variação isotópica do conjunto e seus significados. Com a finalidade
de comparação foram acrescentados a esse mesmo gráfico os resultados isotópicos
da Formação Macaé da Bacia de Campos, de idade albiana, obtidos por Robaina
(1990) em amostras dos campos de petróleo de Pampo e Enchova.

GRÁFICO 5: Diagrama de δ13C e δ18O da Formação Ponta do Mel (rocha matriz e


fraturas).

Segundo Allan e Wiggins (1993) os valores estimados para os carbonatos


marinhos do Cretáceo Inferior estariam situados em torno de 3‰ para o δ13C e -1 e -
2‰ para o δ18O. Valores diferentes desses indicariam alterações diagenéticas.
Essas alterações modificam o sinal isotópico tornando-os mais leves para ambos
isotópos. Choquette e James (1987) indicaram os campos dessas alterações à
medida que o soterramento ocorre para os cimentos calcíticos. Allan e Wiggins
(1993) indicaram os campos de variações isotópicas das dolomitas de acordo com a
temperatura em que foram geradas. O diagrama esquemático da FIGURA 69
representa os campos desses dois autores e permite a comparação com os dados
obtidos nesse trabalho.
112

Os valores apresentados para a Formação Ponta do Mel indicam que os


sinais primários do ambiente marinho deposicional não foram preservados quando
comparados com as indicações dos valores da FIGURA 69. A seção basal é a que
mais se aproxima e que pode ser considerada como tendo o conteúdo isotópico
primário menos alterado por eventos diagenéticos. A pequena variação para valores
mais negativos pode ser explicada pela alteração por soterramento, sendo menor
para o carbono e maior para o oxigênio, o qual, a partir do soterramento pode ter
seu sinal apagado pelos eventos diagenéticos em função de sua maior facilidade de
troca entre a fase sólida e líquida que percola nos sedimentos em profundidade. No
caso da seção basal, composta por mudstones/margas, sedimentos mais finos, a
troca seria menor em função da menor mobilidade da água presente em seus
estratos.

FIGURA 69: Diagrama esquemático composto a partir de Choquette e James (1987) e


Allan e Wiggins (1993). Ambientes diagenéticos de Choquete e James (1987): (A)
Ambiente marinho; (B) Ambiente meteórico; (C) Ambiente de mistura; (D) aumento
sucessivo do soterramento do cimento calcítico espático; (E) aumento sucessivo para
o ambiente de soterramento da dolomita em sela. As seções coloridas são as faixas
isotópicas da dolomita de Allan e Wiggins(1993).

A seção intermediária, composta por grainstones dolomíticos (P3, 1.882,20 a


1.886,70m) apresenta resultados bastante negativos quando comparados aos
grainstones não dolomitizados da seção superior e semelhante aos valores das
calcitas das fraturas. Esses valores quando comparados aos valores da FIGURA 69
situam as dolomitas no campo das dolomitas de alta temperatura, indicando que o
processo de dolomitização pode ter sido através de fluidos hidrotermais. A amostra
P3.F é a exceção desse intervalo, a qual apresenta conteúdo isotópico semelhante
113

aos grainstones da seção superior Pela descrição petrográfica dessa rocha


(FIGURA 48), é a única amostra que apresenta faixa não dolomitizada intercalada
com rocha dolomitizada, indicando que a passagem de rocha inalterada para a
rocha dolomítica modifica o conteúdo isotópico para valores bem mais negativos,
especialmente para o δ18O.
Para a seção superior, composta predominantemente por GSTPelOncBio
todos os valores são mais negativos tanto para o δ13C como para o δ18O, quando
comparados com o esperado para ambiente marinho (FIGURA 69) e quando
comparados com os valores para o campo de Pampo. A dispersão também é alta
para pequenas variações na profundidade. Quando se analisa os valores isotópicos
em frente ao perfil litológico percebe-se que o sinal para o δ13C e para o δ18O,
tendem a ficar mais negativos para a rocha matriz em frente às zonas fraturadas do
P2 (1.638,00 a 1.643,30m) e P3 (1.648,00m e 1.678,00-1.679,00m). A explicação
seria a percolação dos fluidos hidrotermais nas fraturas alterando o conteúdo
isotópico da rocha matriz nas suas proximidades, uma vez que, como visto na
descrição das fraturas, a rocha foi quebrada e alterada quimicamente nas suas
bordas. A essa alteração isotópica nas proximidades das fraturas denomina-se
nesse trabalho de halo isotópico de alteração hidrotermal. Essa influência fica mais
evidente no perfil isotópico da FIGURA 70 (linha vermelha), onde se observa a
inflexão da curva exatamente em frente às zonas fraturadas. Essa interpretação
condiz com as descrições das fraturas, as quais apresentam fase de crack-seal e
bordas de reação.
Os resultados apresentados para os cimentos calcíticos dos preenchimentos
das fraturas apresentam valores muito negativos para o δ18O, apesar de bastante
dispersos. Essa variação nos valores isotópicos para as calcitas de fraturas pode ser
indicativo de mais de um evento hidrotermal. Através do que foi observado em CL
poder-se-ia inferir duas fases, sendo a primeira com grande variação na composição
dos fluidos, que provocou zonação das calcitas nas bordas das fraturas (FIGURA
57) e uma segunda fase com fluido mais homogêneo e provável crescimento lento
dos cristais de tamanho grosso, para o interior das fraturas. Uma exceção na
tendência dos valores isotópicos das fraturas é a amostra P3.Afr cujo resultado
situa-se no mesmo campo dos valores da rocha matriz. Pela descrição petrográfica
essa fratura é menor que 1 mm, o que pode ser interpretado que, apesar da
seletividade da amostragem, não foi possível a coleta apenas da calcita da fratura e
114

o resultado reflete a rocha matriz. Outra possibilidade seria relacionada à espessura


da fratura ser tão pequena que o fluido que por ela percola sofre influência do fluido
no interior dos poros da rocha matriz.
A alteração da rocha matriz pela influência do fluido que percola nas fraturas
é dependente da velocidade do fluxo pela trama de fraturas; da temperatura do
fluido (mais frio ou mais quente) em relação à rocha encaixante; da pressão do fluido
(sobrepressurizado ou subpressurizado); da composição química do fluido e da
porosidade existente na rocha encaixante. Essas alterações da rocha encaixante
são indicativas da proximidade de alterações hidrotermais, principalmente em
depósitos minerais do tipo MVT (Mississipi Valey Type). Os condutos hidrotermais
podem ser rastreados através do halo de alteração do isótopo de oxigênio na rocha
matriz (HOEFS, 2009).
No GRÁFICO 5 foram indicados os campos dos eventos hidrotermais e o
campo para a alteração denominada halo hidrotermal. Dessa forma percebe-se que
as amostras do P4 exibem conteúdo isotópico no campo do halo hidrotermal apesar
de não apresentarem fraturas pela descrição macroscópica. Esse fato permite inferir
que, apesar de não apresentarem fraturas, esse intervalo situa-se próximo às zonas
fraturadas. Essa interpretação é corroborada pelas perdas de circulação que
aconteceram nesse poço e pela baixa recuperação do testemunho do P4.
Também para o isótopo de carbono percebe-se uma grande variação nos
valores das calcitas de preenchimento. Uma possível explicação para os valores
negativos do δ13C seria a associação das fraturas com matéria orgânica da face dos
estilolitos, aos quais essas fraturas estão associadas, uma vez que o δ13C é
bastante influenciado pela atuação da produção orgânica, altamente fracionadora
com relação ao isótopo de carbono.
Os valores do δ18O mais negativos que -5,00‰ também poderiam ser
interpretados como alterados por percolação de água meteórica. A sobreposição de
eventos que alterem o conteúdo isotópico não pode ser negligenciada, pois tanto a
percolação de água meteórica ou a percolação de fluidos com elevadas
temperaturas levam o isótopo de oxigênio para valores mais negativos do que o
ambiente marinho deposicional. Porém, um evento de percolação de águas
meteóricas deveria alterar o conteúdo isotópico de forma mais pervasiva e não é o
que se apresenta no caso das amostras analisadas da Formação Ponta do Mel,
onde num intervalo de 14 metros a variação vai de -3,56 a -6,04‰ (P2).
115

FIGURA 70: Perfil litológico dos poços P2, P3 e P4 associado à variação isotópica do carbono e
oxigênio.
116

6.1.2.2 Elementos maiores e elementos traços

As análises químicas por FRX estão apresentadas na forma de curvas de


variação ao lado do perfil litológico na FIGURA 71 e em tabelas no Apêndice III. As
análises dos elementos Ca, Mg e Si confirmam as características petrográficas
descritas no item 6.1.1, onde o Ca predomina na seção superior, o Mg aumenta nas
rochas dolomíticas da seção intermediária e o Si possui maior conteúdo na seção
basal, acompanhando o Fe, o Al e o K.
Além dos elementos maiores, descritos acima, em rochas carbonáticas, a
análise dos elementos Sr, Fe, Mn, e Na podem auxiliar em interpretações do
ambiente deposicional e das transformações diagenéticas.
O Sr apresenta valores entre 170 a 265 ppm para a seção superior onde
predominam os grainstones, entre 118 a 136 ppm para as rochas dolomíticas e
valores de até 353 ppm para os mudstones/margas da seção basal. O Sr assim
como o Na tende a diminuir com a diagênese. No ambiente deposicional o conteúdo
de Sr nos minerais carbonáticos variam de 8.000 a 10.000 ppm nas aragonitas, 1000
a 3000 ppm nas calcitas magnesianas e 1200 a 1600 ppm para as calcitas com
baixo teor de magnésio. Os valores encontrados nas rochas carbonáticas antigas
atingem apenas algumas centenas ou até algumas dezenas de ppm, denotando a
forte diminuição com o soterramento e a diagênese (Tucker e Wright, 1990). Os
valores da Formação Ponta do Mel apresentam baixo conteúdo de Sr para todas as
amostras analisadas e as variações estão associadas ao processo diagenético.
Apresentam conteúdo mais elevado para os mudstones/margas da base, onde a
troca iônica é menor. Os menores valores ocorrem na seção intermediária das
rochas dolomitizadas que passaram por recristalizações que além da substituição da
calcita por dolomita também eliminaram o Sr da estrutura cristalina. A seção superior
apresenta valores que refletem a diagênese que ocasiona a perda do Sr a partir de
provável mineralogia de calcita magnesiana.
O Na varia de 1.261 a 1.632 ppm para a seção superior, de 371 a 593 ppm
para a seção intermediária e 4.451 a 5.193 ppm para a seção basal, apresentando o
mesmo comportamento que o Sr.
O Fe apresenta variação de 490 a 1259 ppm, e uma anomalia na amostra
P2.I1 com valor de 2.028 ppm, explicado pelo alto teor de pirita desta amostra
117

(análise petrográfica e DRX). Para a seção intermediária o valores situam-se entre


1818 a 2797 ppm. A seção basal apresenta alto conteúdo de Fe por tratar-se de
seção composta por margas/mudstones, refletindo a composição mineralogia com
alto percentual de feldspatos, quartzo e piritas. As rochas dolomitizadas apresentam
também valores altos quando comparadas com as rochas não dolomitizadas da
seção superior, denotando um processo diagenético mais intenso nessa seção.
Tucker e Wright (1990) afirmam que o aumento do Fe e Mn ocorre com a diagênese,
pois a água dos poros tende a ficar enriquecida nesses elementos quando
comparados com a quantidade na água do mar de onde os carbonatos primários se
depositaram.
Para o Mn os valores encontrados na seção superior situam-se entre 108 a
163 ppm, onde novamente a amostra P2.I1 é a que apresenta o maior valor (248
ppm), demonstrando que o processo de fraturamento aumenta também o conteúdo
desse elemento químico. Para a seção intermediária os valores situam-se entre 736
e 852 ppm, compatível com a diagênese profunda e recristalização que aumenta os
valores para o Mn. A seção basal apresenta até 635 ppm, podendo ser interpretada
como tendo preservado o seu conteúdo primário deposicional.
118

FIGURA 71: Perfil químico das amostras de rocha matriz dos testemunhos dos poços P2, P3 e P4.
119

6.2 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS DE CALHA

A preparação das amostras seguiu o procedimento descrito no Capítulo 4. A


descrição em lupa, que precedeu a moagem para análises geoquímicas, teve como
objetivo a caracterização de grãos e litotipos que pudessem definir o arcabouço
deposicional a ser correlacionado com as amostras de testemunhos.
A análise de detalhe das amostras de calha do poço P1 permitiu
caracterizar, além do arcabouço deposicional, os eventos modificadores pós-
deposicionais. A posterior associação dessa descrição detalhada com as análises
geoquímicas forneceu elementos para a construção da tardi-diagênese.

6.2.1 ANÁLISE MACROSCÓPICA

6.2.1.1 Arcabouço Deposicional

As amostras de calha coletadas no poço P1 permitiram a caracterização do


arcabouço deposicional, pois a descrição em lupa apresenta definição suficiente
para a identificação da composição deposicional (oncolitos, pelóides, fragmentos de
algas,etc), além de apresentar a vantagem de abranger toda a formação. A partir da
descrição dos grãos predominantes e acessórios e das análises de DRX
(APÊNDICE II) foi construído um perfil litológico para o poço P1, desde o contato da
Formação Ponta do Mel com a Formação Açu, sotoposta, até o topo discordante
com a Formação Ubarana.
No poço P1 a Formação Ponta do Mel divide-se em três intervalos com
características distintas. Na seção basal, entre 1.998 e 2.006m, predomina a
intercalação de mudstones e margas e com ocorrência subordinada de grãos de
rochas siliciclásticas. O contato inferior com a Formação Açu foi marcado em
2.006m. Os mudstones do intervalo basal da Formação Ponta do Mel apresentam
variações de cor na descrição em lupa, indo do creme esbranquiçado entre 2.079 a
2.106m ao marrom avermelhado no intervalo 2.016 a 2.070m (FIGURA 74). A
120

coloração avermelhada e a presença de grãos de siliciclásticos sugerem a presença


de intervalo alterado por carstificação, o qual será abordado mais adiante (item
6.2.1.2.3). A seção intermediária, entre 1.737 e 1.998m, caracteriza-se por estar
dolomitizada, com raras ocorrências de grãos de grainstones identificados. Na
descrição em lupa, os cristais de dolomita apresentam-se na forma maciça,
anédrica, ou na forma euédrica/subédrica e brilho vítreo. As cores variam de creme
claro na textura maciça a amarelo citrino no hábito euédrico, com ocorrência pontual
de grãos com coloração rosada e incolor (FIGURA 73). A textura euédrica apresenta
porosidade intercristalina. Para o topo da Formação Ponta do Mel, a alteração por
dolomitização diminui, tanto pela descrição em lupa, como pelas análises de DRX, e
os fragmentos de grainstones apresentam-se na cor creme claro a branco, com a
presença grãos aloquímicos. A FIGURA 72 apresenta o aspecto geral desses
fragmentos. Próximo ao contato com a Formação Ubarana observa-se aumento da
quantidade de pirita nas amostras, corroborada pelas análises de DRX.
O perfil litológico e mineralógico (FIGURA 75) mostra as variações das
rochas e dos minerais descritos acima. A rocha no perfil litológico está representada
pelos grãos predominantes, mesmo que a amostra contenha grãos de outras rochas,
as quais foram denominadas de acessórios, no sentido que estão presentes em
menor quantidade. A pirita é o mineral acessório descrito em muitas amostras ao
longo de todo o perfil analisado.
No perfil mineralógico (FIGURA 75) foram representados os minerais
identificados por análise de DRX (APENDICE II), cujo percentual de cada mineral na
amostra é avaliado de forma semi-quantitativa.
As amostras 44, 45 e 46 apresentam alto percentual do cimento utilizado
como tampão contra a perda de circulação de fluido de perfuração ocorrida no poço
nos intervalos assinalados e foram descartadas na construção dos perfis litológicos
e mineralógicos.
121

FIGURA 72: Fotomicrografias do aspecto geral das amostras do intervalo superior da


Formação Ponta do Mel, com predominância de grainstones. a) amostra na
profundidade 1.710m; (b) amostra na profundidade 1.674m.

FIGURA 73: Fotomicrografias do intervalo intermediário com rochas dolomíticas. (a)


amostra profundidade 1.818m; (b) amostra na profundidade 1.908m.

FIGURA 74: Fotomicrografias do intervalo basal da Formação Ponta do Mel. (a) amostra
na profundidade 2.070m; (b) amostra na profundidade 2.034m.
122

FIGURA 75: Perfil litológico do poço P1 baseado em descrição de amostras de calha e


análises semi-quantitativas de DRX.
123

Os grainstones foram caracterizados no poço P1 através dos grãos e


compõem-se de pelóides, bioclastos e prováveis oncolitos (GSTPelOncBio)
(FIGURA 76).

FIGURA 76: Grãos de grainstones selecionados das amostras de calha. Predominam os


oncolitos (?), pelóides e os bioclastos.

6.2.1.2 Feições e processos diagenéticos

Além da descrição do grão predominante também foram descritos os


fragmentos acessórios, a fim de determinar possíveis alterações no arcabouço
original da rocha.

6.2.1.2.1 Dolomitização

As rochas dolomíticas no poço P1 foram identificadas entre o intervalo 1.737


e 1.998m. Em toda a seção apresenta-se de forma bastante homogênea, com as
124

texturas maciças e euédricas gradando uma para outra, observação realizada no


mesmo fragmento de amostra (FIGURA 77).

FIGURA 77: Fotomicrografias dos grãos de dolomita do intervalo intermediário da Formação


Ponta do Mel. (a) predominância da textura maciça e cor creme claro; (b) textura maciça e
textura euédrica (setas amarelas) em um mesmo fragmento; (c) predominância da textura
euédrica e incolor; (d) detalhe da textura euédrica e cores amarelo claro e incolor; (e) e (f)
porosidade intercristalina (setas amarelas).

A coloração das dolomitas apresenta grande variação, indo desde incolor até
creme claro/creme escuro, e grãos com cores amarelo e rosado. As texturas são
maciça a euédrica, onde observa-se porosidade intercristalina (FIGURAS 77.e e
125

77.f). Para a avaliação dessa porosidade foram realizadas 7 análises através de


microtomografia de RX (µCT) em grãos das amostras da seção dolomitizada. A
porosidade por µCT variou entre 0,09 a 21,48% (TABELA 10), sendo as maiores
porosidades associadas às texturas subédricas/euédricas. A FIGURA 78 apresenta
dois exemplos da avaliação por microtomografia, onde são realizadas várias seções
tomográficas e integradas para quantificação do volume poroso. Os poros são
vugulares em formato alongado ou subesférico com os cristais euédricos crescendo
para o interior.

FIGURA 78: Seções microtomográficas para avaliação da porosidade. (a) e (b)


amostra 48 (1.971m) com 12,83% de porosidade; (c) e (d) amostra 24 (1.755m) com
21,48% de porosidade. As setas vermelhas e azuis indicam o espaço poroso e os
minerais densos (pirita), respectivamente. Fotomicrografias dos grãos com texturas
subédricas em (b) e (d).
126

TABELA 10: Valores de porosidade medidas por µCT


em amostras do P1.
Amostra Profundidade Porosidade(%)
(m)
24 1.755 21,48
28 1.791 2,77
32 1.827 0,09
36 1.863 0,52
39 1.890 4,77
42 1.917 6,10
48 1.971 12,83

Para o estudo de possíveis gêneses diferenciadas para a dolomitização


desse espesso intervalo, elaborou-se o diagrama do Grau de Ordenamento (I) a
partir da análise das principais reflexões da dolomita no difratograma de Raios-X. A
técnica consiste em identificar o valor do espaçamento d em Angstrom dos planos
d104, d015 e d110 e construir um gráfico onde no eixo da abscissa consta o Grau de
Ordenamento (d015/d110) e no eixo das ordenadas a reflexão principal da dolomita
(d104), conforme FIGURA 79.

FIGURA 79: Reflexões principais da dolomita. A reflexão do Quartzo


é um padrão para assegurar a qualidade do difratograma.
Modificado de Zorlu, 2007.

O resultado dessa análise para o P1, apresentado no GRÁFICO 6, mostra


que as dolomitas do intervalo intermediário estão próximas da estequiometria, pois o
valor da dolomita chamada “ideal” ou estequiométrica é d104 = 2,886 Aº e o grau de
ordenamento nos planos d015/d110 ≈ 1.
127

O GRÁFICO 6 apresenta a distinção entre os intervalos, sendo a seção


intermediária mais ordenada e menos calcítica e o topo e a base menos ordenados,
com alto grau de dispersão dos dados e com alto conteúdo em cálcio. As dolomitas
do topo e da base ocorrem de forma bastante subordinada no perfil (FIGURA 75) e
podem refletir dolomitização incipiente, diferente da seção intermediária.

GRAFICO 6: Grau de ordenamento da dolomitas do poço P1.

6.2.1.2.2 Fraturas

As amostras de calha, pelo tamanho dos fragmentos, não podem ser


utilizadas na caracterização de estruturas deposicionais como acamamentos, tipos
de contatos, etc. Porém, a análise detalhada dos fragmentos, associada com as
análises geoquímicas (item 6.4) e correlação com as calcitas das fraturas dos
testemunhos, permitem a identificação de grãos compostos pela rocha e por calcita
com hábito diferente dos cimentos diagenéticos dos grãos (FIGURA 80). Estas
calcitas foram interpretadas como de preenchimento de fraturas. Apresentam-se em
cristais grossos, incolores, e por vezes com hábito romboédrico. Para assegurar que
são calcitas de fraturas foram consideradas apenas os cristais unidos aos grãos do
arcabouço.
128

FIGURA 80: Fotomicrografias dos grãos compostos de rocha matriz (dolomítica) e de


calcita de preenchimento de fraturas (indicação do contato pela linha preta tracejada
sinalizada pela seta vermelha). Algumas variações na coloração e hábito, em (a) calcita
incolor; (b) calcita incolor a leitosa com crescimento perpendicular ao contato com a
porção dolomítica; (c) calcita leitosa, cristais em mosaico, tamanho grosso; (d) calcita
leitosa; (e) calcita incolor com cristais grossos e faces planares e (f) calcita incolor com
crescimento perpendicular ao contato com a porção dolomítica.

A identificação da rocha dolomítica e da calcita presente nos grãos da


FIGURA 80 foi realizada em microscópio eletrônico de varredura (MEV) e
mapeamento químico por EDS. As imagens c e d da FIGURA 81 mostram o mapa
químico dos elementos Mg e Ca, respectivamente. Na imagem 81.c a cor rosa é
forte quando é detectado o elemento magnésio e a imagem 81.d apresenta a cor
129

FIGURA 81: Análises por MEV e EDS. (a) fotomicrografia do grão selecionado na
profundidade 1.764m; (b) imagem em MEV do mesmo grão; (c) e (d) imagens do
mapeamento químico dos elementos magnésio e cálcio respectivamente, mostrando a
composição mineralógica entre a parte dolomítica e a parte calcítica; (e) imagem em
MEV do grão na profundidade 1.773m e em (f) o detalhe do contato entre a parte
dolomítica (dol) e a parte calcítica (cal); (g) fotomicrografia do mesmo grão em (e).
130

azul quando existe o elemento cálcio. Desta forma distinguem-se os minerais calcita
e dolomita. As imagens em MEV mostram também os hábitos das calcitas e
dolomitas (FIGURA 81).

6.2.1.2.3 Carstificação

No intervalo 2.007 a 2.070m parte significativa dos grãos das amostras


apresenta cor vermelha a marrom-avermelhada, associados com grãos de arenitos,
margas e mudstones (FIGURA 82). A presença de grãos de rochas siliciclásticas
intercalada a sedimentos carbonáticos é sugestiva de sedimentos alóctones,
trazidos para o local por percolação de água meteórica ou rios subterrâneos, o que
poderia ser interpretado como um paleocarste, originado por exposição subárea em
momento de rebaixamento relativo do nível do mar. A exposição subaérea
associada com períodos áridos pode dar origem a formação de paleossolos
(caliches), os quais, se desenvolvidos em terrenos carbonáticos consistem de
crostas duras, marrom-avermelhadas a alaranjadas e irregulares. Um dos
constituintes são os pisóides ou pisolitos, que possuem tamanhos maiores que 2
mm, subesféricos a elipsoidais, com estruturas concêntricas, compostas de
carbonato de cálcio predominantemente e com oxidação ferruginosa.
Paleossolos do tipo caliche foram descritos na Formação Jandaíra,
plataforma carbonática turoniana da Bacia Potiguar, como material friável de cor
marrom avermelhado, tendendo para o branco e sob a forma de nódulos, com
cobertura de grãos terrígenos, como o quartzo e o feldspato (SILVA, 2007).
Os grãos vermelhos descritos nas amostras entre o intervalo 2070 a 2016m
apresentam formato elipsoidal, arredondados e também irregulares, muitas vezes
com bandas concêntricas de coloração vermelho claro a esbranquiçado, envoltos
por matriz arenítica, assemelhando-se à descrição feita por Silva (2007). Foram
realizadas análises por MEV e EDS em alguns grãos vermelhos, as quais
confirmaram a presença de quartzo, feldpspato e zircão envolvendo os grãos de
composição carbonática. Alguns possuem quartzo em seu interior e o elemento Fe
também detectado pelo EDS. A composição mineralógica e química, bem como as
131

FIGURA 82: Fotomicrografias. (a) grãos vermelhos (pisóides ?) com matriz arenítica,
profundidade 2.016m; (b) profundidade 2.016m, grãos vermelhos, musdtones creme
e folhelho cinza; (c) e (d) detalhe dos grãos vermelhos com matriz arenítica,
profundidade 2.016m; (e) e (f) profundidade 2.052m, grãos marrons e vermelhos e
mudstones creme acinzentado; (g) profundidade 2061m, folhelhos cinza, arenito e
mudstones; (h) profundidade 2.070m aspecto geral de todos os grãos da amostra.
132

características descritas em lupa sugerem que tenham sido formados em ambiente


de exposição subárea, muito provavelmente em perfil de paleossolo, terem migrado
para o interior das cavidades e posteriormente terem sido cimentados juntamente
com material terrígeno.
Os grãos considerados como de preenchimento de caverna ocorrem em
intervalo estimado de 50 metros, o que sugere nível de carstificação epigênica, do
tipo singenética, formada logo após a deposição.
A partir dessas observações foi construído um perfil idealizado da
carstificação epigênica nesse intervalo (FIGURA 83), onde esses sedimentos
siliciclásticos são interpretados como provável depósito de preenchimento de
cavernas e os grãos vermelhos podem ter sido originados em perfil de solo acima e
levados para o interior das cavidades.

FIGURA 83: Desenho esquemático de intervalo carstificado interpretado a partir dos perfis
litológico e mineralógico.
133

6.2.2 ANÁLISE GEOQUÍMICA

6.2.2.1 Isótopos de carbono e oxigênio

A análise isotópica foi utilizada na caracterização das amostras do poço P1,


a partir do conteúdo total dos fragmentos de rocha pulverizados, além de análises de
grãos isolados para a caracterização de material de preenchimento de fratura.

a) Rocha matriz
A rocha matriz no poço P1 foi definida como sendo o material pulverizado do
conteúdo total dos grãos de cada amostra (APÊNDICE V). Para toda a seção Ponta
do Mel, os resultados das análises da rocha matriz situam-se entre 0,61 e 3,01‰
para o δ13C e entre -6,13 e -2,84‰ para o δ18O. Os resultados isotópicos estão
apresentados no GRÁFICO 7 e foram agrupados pelas seções superior, composta
predominantemente por grainstones; seção intermediária, composta por rochas
dolomíticas e a seção inferior composta por mudstones e margas.

GRAFICO 7: Diagrama de δ13C e δ18O das amostras do P1.


134

A tendência exibida pelos dados no GRÁFICO 6 é inversa ao apresentado


por Choquette e James (1987) na FIGURA 69, onde o isótopo de oxigênio e carbono
ficariam mais leves com o soterramento e aumento da temperatura da água dos
poros. As razões atribuídas a essa diferença residem em histórias evolutivas e
diagenéticas particulares para cada intervalo, alterando o sinal isotópico primário de
maneira única em cada um, como será abordado em seguida.
A seção basal da Formação Ponta do Mel, composta por mudstones
intercalados com margas, conforme descrições do item 6.2.1.1, apresenta variação
entre 0,61 e 3,01‰ para o δ13C e entre -5,35 e -3,49‰ para o δ18O. Nesse intervalo
as curvas dos isótopos de oxigênio e carbono apresentam covariação positiva. Essa
tendência, aliada ao fato da seção ser composta por depósitos pelágicos, foi
considerada adequada para interpretações das variações relativas do nível do mar.
Depósitos de águas profundas são utilizados com maior confiabilidade para as
análises das variações relativas do nível do mar, pois com o soterramento ocorre
predominantemente a saída de água dos estratos pouco porosos, preservando o
fluido original da deposição e impedindo trocas isotópicas significativas durante a
diagênese.
O isótopo de carbono é o mais utilizado nas análises de variações relativas
do nível do mar, pois reflete as variações do fluxo de soterramento da matéria
orgânica, rica no isótopo mais leve (12C). Quando o soterramento da matéria
orgânica ocorre em condições que a preservem nos sedimentos há a diminuição do
isótopo leve do carbono disponível na água oceânica e os sedimentos carbonáticos
apresentarão aumento no δ13C. Essa condição acontece em subidas do nível
relativo do mar. Durante a queda do nível relativo do mar, a redução da área do
fundo marinho aliada à erosão de sedimentos previamente depositados e a
exposição das margens da bacia conduzem a uma redução do fluxo de
soterramento do carbono orgânico e à oxidação da matéria orgânica previamente
depositada, ocasionando a queda nos valores de δ13C (JARVIS et al. 2006). Pelo
exposto as subidas relativas do nível do mar coincidem com excursões positivas do
δ13C e as descidas relativas do nível do mar relacionam-se com os picos negativos.
Para verificar as variações positivas e negativas dos isótopos de carbono e
oxigênio e as possíveis interpretações das variações relativas do nível do mar, os
dados foram apresentados com relação à profundidade e em conjunto com o perfil
litológico (FIGURA 84).
135

A partir da análise da FIGURA 84 duas excursões negativas do δ13C (EN-1 e


EN-2) foram marcadas na seção basal. O topo dessa seção apresenta, além dos
mudstones e margas, os grãos característicos de depósitos de preenchimento de
caverna, denotando nível de carstificação singenética associada a rebaixamentos do
nível relativo do mar. Essas características do intervalo podem ser associadas às
duas excursões negativas (EN-1 e EN-2). A excursão negativa EN-2 coincide com o
topo da seção de mudstones/margas e marca também o ponto de mudança do nível
relativo do mar, podendo sinalizar a regressão da linha de costa a partir desse local.
Na seção de rochas dolomíticas a ausência da covariação entre o isótopo de
carbono e oxigênio sugere que o processo de recristalização das rochas precursoras
tenha alterado o sinal isotópico primário. A percolação intensa de água nos poros
para que haja a substituição do cálcio pelo magnésio, pode provocar também a troca
isotópica, principalmente do oxigênio, abundante nos fluidos dos poros. Nessa seção
as variações isotópicas foram interpretadas levando-se em consideração as
alterações diagenéticas para o δ18O, e o nível relativo do mar para o δ13C, de forma
inferida.
A curva de oxigênio na seção dolomítica apresenta tendência a ficar mais
leve para topo e exibe dois picos negativos em 1.737m e 1.800 m. Essa seção, além
da alteração pelo processo de dolomitização, apresenta também as feições de
fraturamento interpretadas a partir dos grãos de rocha dolomítica com cimento
calcítico, sinalizadas no perfil da FIGURA 84 em 1.755 a 1.791m e 1.863 a 1.891m.
A análise do isótopo de oxigênio dessas calcitas mostra conteúdo muito negativo
corroborando a interpretação de calcitas de preenchimento de fraturas, como será
abordado mais adiante. Apesar da quantidade das calcitas de preenchimento de
fraturas ser pequena na composição das amostras de calha, o sinal isotópico pode
estar alterado na forma de halo hidrotermal, como observado nas amostras de
testemunhos. A tendência de depleção do isótopo leve para o topo e com dois
eventos negativos (1.737m e 1.800m) muito próximos ao local onde foram
observadas as fraturas nas amostras de calha pode estar relacionada aos eventos
hidrotermais.
O isótopo de carbono na seção de rochas dolomíticas apresenta pouca
variação e os valores situam-se em torno de 2‰. Dois intervalos (1.782m e 1.881m)
apresentam valores mais negativos para o carbono. Considerando-se que essas
excursões negativas encontram-se em frente à descrição de material siliciclástico no
136

perfil mineralógico, é provável que sejam níveis de exposição subaérea, sinalizadas


no perfil da FIGURA 84 como EN-3 e EN-4 de forma inferida. Não se descarta,
porém que sejam sinais alterados pela também pela presença de material calcítico
de preenchimento de fratura. Paleocarstes são zonas preferenciais para
fraturamentos posteriores e dessa forma o sinal isotópico representaria o somatório
desses eventos. Com exceção dessas duas excursões negativas, a curva para o
carbono varia muito pouco e por essa razão pode-se interpretar que o nível relativo
do mar durante a deposição desse intervalo manteve-se constante e que a
construção carbonática nesse período foi agradacional até o topo no contato com a
Formação Ubarana.
Na seção superior, composta por grainstones, a curva de oxigênio
apresenta-se com pouca variação e valores em torno de -6‰. Nesse intervalo
ocorrem fragmentos de rochas siliciclásticas que podem indicar feições de exposição
subaérea a exemplo do que acontece na seção basal. Próximo ao topo, a presença
abundante de pirita e calcopirita, logo abaixo do contato com a Formação Ubarana,
indicam a fase de mineralização dos fluidos hidrotermais ascendentes quando
encontram o selo efetivo formado pelos folhelhos sotopostos. Esse intervalo pode
estar apresentando sinal da sobreposição dos dois eventos, atenuado pelo tipo de
análise em rocha total.
137

FIGURA 84: Perfil litológico do P1 com a variação isotópica.


138

b) Fraturas
Na análise em lupa binocular das amostras do poço P1 foram identificados
grãos de rochas dolomíticas em contato com cristais de calcita, conforme descrição
no item 6.2.1.2.2 (FIGURA 80). Alguns desses grãos, após a confirmação da
composição por MEV/EDS, foram selecionados para análises isotópicas com a
finalidade de comparação com os valores de rocha matriz.
Os resultados, apresentados na TABELA 11, mostram o sinal isotópico mais
negativo que a rocha matriz desse intervalo, tanto para o carbono como para o
oxigênio. Associando as observações realizadas em lupa binocular e em MEV/EDS
com os resultados isotópicos interpreta-se que as calcitas são de preenchimento de
fraturas por fluido hidrotermal, mesmo não sendo possível a análise de feições
morfológicas das fraturas em fragmentos de amostras de calha.
Esses fragmentos foram encontrados apenas nas rochas dolomíticas,
indicando também, da mesma forma observada nas amostras de testemunho do
poço P3, que o fraturamento e preenchimento das fraturas foram posteriores a
dolomitização.
A presença desses grãos e o resultado isotópico confirmam que o poço P1
atravessou zonas fraturadas, as quais podem ser indicativas de processos de
dissolução em profundidade e carstificação hipogênica.
Os locais onde foram observados esses fragmentos estão sinalizados no
perfil da FIGURA 84 com o símbolo de fraturas.

TABELA 11: Isótopos de carbono e oxigênio para as fraturas do P1.


13 18
Amostra Profund. Descrição Mineral Mineral δ C δ O Desvio Desvio
(m) principal da da fratura (‰) (‰)
13 18
δ C(‰) δ O(‰)
rocha matriz

25 1.764,00 GST dolomítico Dolomita Calcita -1,69 -17,95 0,04 0,04

30 1.809,00 GST dolomítico Dolomita Calcita -2,84 -18,04 0,03 0,03

36 1.872,00 GST dolomítico Dolomita Calcita -0,86 -18,20 0,06 0,03

38 1.881,00 GST dolomítico Dolomita Calcita -2,94 -17,16 0,06 0,03


139

6.2.2.2 Elementos maiores e elementos traços

O perfil químico do poço P1 (FIGURA 85) foi elaborado a partir das análises
por FRX das amostras pulverizadas de rocha total, conforme procedimento descrito
no Capítulo 4 e teve como objetivo a identificação de variações nos elementos
maiores e traços que auxiliassem na definição de mudanças nos parâmetros
deposicionais ou diagenéticos.
Os três intervalos identificados na Formação Ponta do Mel no poço P1 nas
análises macroscópicas e mineralógicas foram detectados pelos perfis químicos,
conforme representação das cores na FIGURA 85, a seguir detalhadas.
A seção basal caracteriza-se por apresentar variações no conteúdo dos
elementos principais de rochas carbonáticas (Ca e Mg) intercalados com os
elementos indicativos de depósitos detríticos, como o Si, Al, Fe e K. Essas variações
representam as intercalações de mudstones, margas e intervalos com rochas
siliciclásticas observados nos perfis litológico e mineralógico. O topo dessa seção é
marcado pela passagem de forma abrupta para a seção sotoposta, com a
diminuição dos elementos detríticos e o aumento do conteúdo de Ca e Mg das
rochas dolomíticas do intervalo intermediário.
A seção de rochas dolomíticas do intervalo intermediário da Formação Ponta
do Mel está bem individualizada no perfil químico principalmente pelo aumento do
Mg. O contato com a seção basal é bem marcado pela diminuição abrupta dos
elementos Si e Al e aumento gradual do Ca e Mg. A passagem desse intervalo para
a seção superior de grainstones é sinalizado pela diminuição do Mg e aumento do
Ca. Esse intervalo pode ser divido em três unidades pelas diferenças dos
parâmetros químicos.
A Unidade I, na base da seção dolomitizada, apresenta aumento gradual do
Mg e Mn e diminuição também gradual do Ca e Sr. Essa unidade exibe valores
maiores de Fe, S, Ti, Al, Si, e K relativamente às outras duas unidades. Representa
uma dolomitização gradual da base para o topo.
A Unidade II apresenta valores estáveis de Mg e Ca, compatíveis com a
presença predominante da dolomita e valores baixos e igualmente estáveis dos
elementos detríticos (Si, Al, K, e Ti), com exceção do intervalo 1.854 a 1.872 m com
alteração pontual desses elementos, denotando a presença de pequeno intervalo
140

com depósitos siliciclásticos. O Fe e o S apresentam valores com covariação


positiva e são interpretados como resultado da presença de pirita observada nas
descrições macroscópicas. Esta é a unidade com os valores mais baixos para o Sr
refletindo o grau de cristalização das dolomitas, onde a substituição do Ca pelo Mg
promove também a saída do Sr da estrutura cristalina do mineral tornando a seção
pobre em seu conteúdo. Correlaciona-se com o intervalo das dolomitas mais
estequiométricas conforme GRÁFICO 6.
A Unidade III, no topo do intervalo dolomitizado, apresenta aumento
pequeno e gradual do Ca, acompanhado pela diminuição do Mg e baixo conteúdo
dos elementos detríticos (Si, Al, K, e Ti). O Sr mantêm a tendência de aumento para
o topo e o Mn, Fe e S mantêm os mesmo valores da unidade abaixo. O topo da
Unidade III é caracterizado pelo aumento do Ca marcando a passagem das rochas
dolomíticas do intervalo intermediário para os grainstones da seção superior da
Formação Ponta do Mel.
O contato do intervalo intermediário dolomítico para a seção superior
caracteriza-se pela diminuição abrupta do Mg e do Mn e aumento abrupto do Ca e
Sr. Os elementos detritais (Si, Al, K, e Ti) continuam baixos, com exceção de
pequeno intervalo em torno de 1.700 metros, denotando a entrada de siliciclásticos
no sistema deposicional. A variação química desse intervalo reflete as observações
mineralógicas e permite interpretar que pela ocorrência Si, Al, K e Ti em meio às
rochas carbonáticas é provável a presença de nível de exposição subaérea e/ou
carstificação.
141

FIGURA 85: Perfil químico do poço P1.


142

7 EVOLUÇÃO GEOLÓGICA DA FORMAÇÃO PONTA DO MEL

A partir dos resultados obtidos das análises petrográficas e geoquímicas das


amostras de testemunhos dos poços P2, P3 e P4 e amostras de calha do poço P1,
foi possível estabelecer a correlação de eventos entre os poços, bem como a
história diagenética da Formação Ponta do Mel na área estudada. Os eventos foram
analisados na mesma seqüencia das descrições dos capítulos anteriores.

a) Arcabouço deposicional

O arcabouço deposicional foi dividido em duas fácies principais. A primeira


ocorre na base da Formação Ponta do Mel, seção onde predominam os mudstones
e margas, depositados em ambiente de águas profundas, encontrados na base dos
poços P3 e P1. A espessura desse intervalo é de aproximadamente 100 metros,
pela descrição no poço P1. Essa seção apresenta no topo rochas com grãos
vermelhos, denotando a provável ocorrência de paleossolo, o que marcaria uma
discordância e um limite de sequência. A segunda fácies ocorre sotoposta e
representa a sedimentação de plataforma rasa com predomínio de
grainstones/rudstones identificados entre 2.007 e 1.638m no poço P1 e com
correlação nos poços amostrados por testemunhos (P2, P3 e P4). A espessura é de
400 metros, e representa um crescimento carbonático agradacional para este
intervalo. Nos poços amostrados o topo da Formação Ponta do Mel é truncado por
uma discordância erosiva sobre a qual ocorrem os depósitos da Formação Ubarana,
pertencente à fase regressiva da deposição da bacia (PESSOA NETO et al. 2008).
Parte da deposição de plataforma rasa (grainstones/rudstones) encontra-se
dolomitizada, indo de 1.750 a 2.000m no P1 e amostrada em testemunho no poço
P3 no intervalo de 1.882,20 a 1.886,70m.
A FIGURA 86 apresenta a seção geológica construída a partir dos dados
analisados nos 4 poços, informações de topo e base da Formação Ponta do Mel
oriundas do banco de dados da PETROBRAS e discordâncias do topo e base a
partir da carta estratigráfica de PESSOA NETO et al. (2008).
143

FIGURA 86: Seção geológica esquemática passando pelos poços P1, P2, P3 e P4.
144

b) Rochas dolomíticas

A seção intermediária da Formação Ponta do Mel tem como principal


característica a alteração dolomitíca, caracterizada nos poços P1 (1.737 e 1.998m) e
P3 (1.882,00 e 1886,70m).
Para determinar a origem de seções dolomitizadas é necessária a
integração de vários elementos: a forma geométrica das rochas dolomitizadas, a
associação com a evolução tectônica e a caracterização textural e geoquímica das
rochas dolomíticas.
No caso das amostras deste trabalho, a geometria do corpo rochoso
dolomitizado foi determinada pela integração da seção geológica (FIGURA 86) em
associação com a seção faciológica de Terra (1990a) apresentada na FIGURA 13. A
ocorrência das rochas dolomíticas nas porções intermediárias em ambas as seções
permite interpretar uma forma tabular e ocorrência pervasiva para o processo de
dolomitização.
A textura descrita nas lâminas petrográficas do poço P3 correlaciona-se com
a textura das amostras do poço P1. As texturas euédricas/subédricas a anédricas
(maciça) ocorrem predomina nos dois poços. A determinação do carbonato
precursor foi possível através da identificação de sombras de bioclastos e pelóides
nas lâminas do poço P3 e em uma lâmina do poço P1, permitindo interpretar que o
processo de dolomitização foi posterior à deposição dos sedimentos carbonáticos de
plataforma rasa.
As diferenças nas características geoquímicas associadas à estequiometria
das dolomitas diferenciam dois tipos principais de ocorrência (FIGURA 87) descritas
a seguir.
As dolomitas do intervalo entre as linhas (1) e (2) da FIGURA 87
apresentam-se estequiométricas, com isótopo de oxigênio entre -3 e -5 ‰ δ18O , Sr
abaixo de 180 ppm e espessura de 200 metros. O intervalo entre as linhas (2) e (3)
apresentam dolomitas não-estequiométricas, isótopo de oxigênio entre -4,5 e -6 ‰
δ18O e Sr um pouco superior em torno de 200 ppm. As dolomitas que ocorrem acima
da linha (3) desse intervalo são subordinadas quantitativamente em relação à calcita
e apresentam-se também não-estequiométricas, conteúdo isotópico em conjunto
com a calcita em torno de -6 ‰ δ18O e Sr com a tendência de aumento para o topo,
145

em torno de 300 ppm. As dolomitas no poço P3, apresentam valores para o isótopo
de oxigênio bem mais leves que as rochas do poço P1, estequiometria diferente, e
valor de Sr mais baixo que os valores das dolomitas do P1. Os valores médios o
isótopo de oxigênio, estequiometria e Sr das dolomitas do P3 foram representados
na FIGURA 87 pelo losango rosa.

FIGURA 87: Perfil geoquímico das dolomitas dos poços P1 e P3.

As características texturais e geoquímicas permitem interpretar que no


intervalo (1)-(2) as dolomitas foram formadas pela substituição das calcitas do
arcabouço deposicional durante a diagênese de soterramento, quando a
temperatura geotérmica é capaz de eliminar a barreira cinética de precipitação da
dolomita e a maioria dos fluidos dos poros das rochas apresentam razão Mg/Ca
suficiente para a substituição da calcita pela dolomita (ALLAN e WIGGINS, 1993). O
GRÁFICO 8 de Hardie (1987, citado por ALLAN e WIGGINS, 1993) apresenta a
possibilidade de formação da dolomita em temperaturas de soterramento por
gradiente geotérmico normal e fluidos trapeados nos poros a partir da água do mar,
considerados normais para o magnésio e cálcio.
146

GRAFICO 8: Temperatura x razão Ca/Mg para a formação de


dolomitas (Modificado de HARDIE, 1987, citado por ALLAN e
WIGGINS, 1993).

O valor do isótopo de oxigênio para esse intervalo é mais pesado que o


esperado para um gradiente de soterramento, o que sugere que além do
soterramento, a presença de fluido mais salino e com razão Mg/Ca mais elevada
tenha contribuído para a dolomitização desse intervalo. À época da deposição dessa
seção, no Albiano Superior, o “mar Ponta do Mel” deveria ser ainda restrito e passar
por períodos de clima árido com evaporação mais intensa, o que corroboraria com o
conteúdo isotópico um pouco mais pesado do que o marinho normal. Pelos
parâmetros estequiométricos e do baixo conteúdo de Sr, esse intervalo foi formado
em condições de sistema fechado e de forma lenta, produzindo fácies dolomitizada
bastante homogênea em termos geoquímicos. No entanto, pela ánalise textural em
conjunto com as rochas dolomitizadas do poço P3, pode-se também inferir que a
dolomitização foi um evento multifásico.
As rochas dolomíticas do poço P3 apresentam duas características distintas
das dolomitas do poço P1: o conteúdo do isótopo de oxigênio e a estequiometria. Os
valores bem mais negativos para o isótopos de oxigênio levam a concluir que as
dolomitas em P3 foram recristalizadas a partir de fluidos com temperaturas mais
elevadas e provavelmente calcítico, alterando o sinal isotópico para mais leve e
alterando parcialmente a estequiometria. O Sr permanece inalterado, como era de
147

se esperar uma vez que fluidos hidrotermais são pobres nesse elemento. A
alteração hidrotermal normalmente é localizada na rede de permeabilidade de
percolação dos fluidos e eventualmente, em locais de contraste de pressão, pode
ocorrer o hidrofraturamento.
O intervalo de rochas dolomíticas entre as linhas (2) e (3) da FIGURA 87
apresenta características distintas do intervalo sotoposto. As dolomitas não são
estequiométricas, os valores para o δ18O tendem a ficar mais leves e o Sr inicia a
tendência de aumento para o topo da Formação Ponta do Mel, mas ainda com
valores baixos. A passagem abrupta das dolomitas estequiométricas para dolomitas
não estequiométricas aponta para a possibilidade de existir um contato entre duas
rochas precursoras distintas, com porosidades diferentes o que impediu a
percolação dos fluidos de maneira mais intensa e formação de dolomitas mais
ordenadas. Os valores mais negativos para o δ18O nesse intervalo podem indicar a
influência de fluidos hidrotermais. A curva do isótopo de oxigênio apresenta dois
valores mais negativos, logo acima das linhas 2 e 3 (FIGURA 87) e em níveis onde
foram identificadas fraturas nas amostras (FIGURA 84). Dada a natureza de mistura
de rochas nas amostras analisadas em P1, onde os sinais isotópicos tendem a ficar
atenuados, pode-se inferir que o empobrecimento do isótopo pesado, associado aos
locais onde ocorrem fraturas é correlacionável aos valores entre -8 e -10‰ δ18O das
amostras das rochas dolomíticas do poço P3.
O GRÁFICO 9 apresenta o diagrama de carbono e oxigênio para as
dolomitas dos poços P1 e P3 e a indicação dos eventos a cujos sinais isotópicos
correspondem. Valores do isótopo de oxigênio mais negativos que -7‰ foram
considerados como dolomitas recristalizadas por eventos hidrotermais. Os valores
entre -7 a -5‰, encontrados em amostras dos dois poços (P1 e P3) foram
considerados com influência hidrotermal ou halo de alteração hidrotermal. Os
valores abaixo de -5‰ são as dolomitas formadas durante o soterramento. O valor
médio dos grainstones/rudstones dos poços P2, P3 e P4 foi colocado no gráfico para
permitir a comparação dos campos limites. Esse valor médio reflete também as
alterações identificadas pelo evento hidrotermal, conforme descrito no item 6.2.1.
148

GRÁFICO 9: Diagrama de δ13C e δ18O para as dolomitas (P1 e P2).

A estimativa da paleotemperatura de formação das dolomitas foi realizada


através da análise do isótopo de oxigênio (GRÁFICO 10). Considerando o valor
médio do δ18O das dolomitas de soterramento do poço P1, a temperatura de
formação situa-se entre 50 e 60ºC (Dol-s no GRÁFICO 10). As dolomitas
hidrotermais formaram-se em temperaturas superiores, entre 80 e 90ºC (Dol-h no
GRÁFICO 10). Para o cálculo da paleotemperatura algumas premissas foram
adotadas. O valor isotópico utilizado para a água foi de 0 δ18O (SMOW) e utilizou-se
a equação de Land (1985, citado por WARREN, 2000).

GRÁFICO 10: Paleotemperatura pelo δ18O (LAND, 1985,


citado por WARREN, 2000), com a indicação das duas
dolomitas.
149

A paleotemperatura calculada através dos valores isotópicos foi analisada


com a curva de soterramento de Anjos et al. (1990). Utilizou-se gradiente geotérmico
de 30ºC/Km, o que permitiu interpretar que a formação da dolomitas de
soterramento formadas a partir de 50ºC só atingiriam essa temperatura na
profundidade de soterramento acima de 1.000m.
Pelas relações cronológicas dos eventos analisados, as dolomitas já
existiam quando o fraturamento ocorreu. As fraturas foram consideradas geradas
pela reativação tectônica do Campaniano (CREMONINI, 1995). Para que as
dolomitas tenham iniciado sua formação antes dessa idade é necessário que a
temperatura tenha sido mais alta que o gradiente geotérmico normal de 30ºC/Km.
Oliveira (2000) e Souza et al. (2004) descrevem uma anomalia térmica associada ao
Magmatismo Serra do Cuó (93 Ma). Cremonini e Karner (1995) descrevem evento
térmico associado à passagem de centro de espalhamento pela entrada da crosta
oceânica no Campaniano e Morais Neto (1999) associa o soerguimento que originou
a discordância do Campaniano ao efeito térmico de uma pluma mantélica. Essas
anomalias térmicas, mesmo que transitórias na bacia podem ter sido responsáveis
em fornecer a temperatura de início de formação das dolomitas de substituição
(FIGURA 88).
Pelos elementos descritos anteriormente, a dolomitização foi um processo
multifásico em ambiente de soterramento e recristalizada localmente por processos
hidrotermais na diagênese estrutural. Choquette e Hiatt (2008) afirmam que as
dolomitas pré-Holocênicas são rochas cristalinas multifásicas compostas por: núcleo
do cristal ou “semente”; bordas do cristal que aumentam o núcleo de forma
concêntrica; e um cimento límpido precipitado sintaxialmente, no espaço livre em
torno do cristal. Os grãos remanescentes de CaCO3 e de micrita podem
eventualmente ser substituídos por dolomita, mas normalmente são dissolvidos
entre o segundo e o terceiro estágio, criando um sistema intercristalino e poros
móldicos típicos de dolomitas sacaroidais. Essa textura foi descrita na análise
petrográfica do poço P3 e corrobora a idéia de Gregg (2004), onde se pode separar
os principais processos de dolomitização em: a) dolomitização nas fases
diagenéticas iniciais em temperaturas abaixo de 60ºC e b) dolomitas que se formam
em estágios mais tardios da diagênese, em condições mais profundas de
soterramento e com temperaturas acima 60ºC, normalmente envolvendo percolação
de fluidos bacinais ou fluidos oriundos de regiões mais profundas do embasamento.
150

As duas fases identificadas pela análise isotópica são interpretadas na cronologia


dos eventos, tendo inicialmente ocorrido a dolomitização por substituição em
temperaturas entre 50 e 60ºC, envolvendo longo tempo de amadurecimento das
dolomitas. Sugere-se que o evento que alterou o sinal isotópico das dolomitas de
temperatura mais elevada, entre 80 e 100ºC, tenha sido gerado pela percolação de
fluidos hidrotermais através dos efeitos térmicos do Magmatismo Macau.

FIGURA 88: História do soterramento da Formação Ponta do Mel,


modificada de Anjos et al. (1990).

Sugere-se que as dolomitas de soterramento identificadas no poço P1


tiveram o início de sua formação a partir do efeito térmico do Magmatismo Serra do
Cuó, conforme apresentado através da história do soterramento da Formação Ponta
do Mel (FIGURA 88). Outro fator importante na dolomitização de extensos intervalos
é que deve haver espaço poroso suficiente para a percolação de fluidos e
consequente troca iônica, bem como longo tempo de presença das condições
favoráveis à substituição do cálcio pelo magnésio na rocha. Conclui-se que o
intervalo de rochas dolomíticas tinha porosidade bem mais alta do que os intervalos
superiores e inferiores. Os grainstones/rudstones, ainda com porosidade
preservada, teriam a condição ideal de percolação e o processo dolomitizante seria
profícuo neste intervalo. Isso explica também o motivo pelo qual a Ponta do Mel
superior não está dolomitizada.
151

A importância de identificar, ao menos de forma aproximada, o processo de


dolomitização, reside no fato de rochas dolomíticas serem importantes reservatórios
de petróleo e, portanto é fundamental a predição da geometria das rochas
dolomitizadas, sua extensão areal e o potencial de porosidade.

c) Fraturas

As fraturas na Formação Ponta do Mel foram descritas em 3 dos 4 poços


amostrados. Nos poços P2 e P3 apresentam maior expressão no intervalo superior e
no P1 no intervalo entre 1.750 e 1.850 metros, identificado a partir de grãos de
dolomita associados com calcita e valores do isótopo de oxigênio no campo dos
eventos hidrotermais.
Pelas características das fraturas apresentadas no Capítulo 6, a provável
fase de abertura associa-se à reativação tectônica transcorrente dextral durante a
deriva continental, em locais de esforços extensionais (CREMONINI, 1995). A Falha
de Ubarana, originada nesse evento (FIGURA 3) passa próxima aos poços P1, P2 e
P3. A trama de fraturas gerada por esse falhamento origina um sistema de
porosidade vertical localizado próximo aos locais de extensão. As fraturas passam
pelas fases de reação do fluido com as paredes da rocha encaixante e
posteriormente são fechadas quando fluidos que as percolam possuem
características químicas e físicas que permitem a precipitação de minerais. A
indicação de percolação de fluidos hidrotermais pela trama de fraturas é dada pelo
sinal isotópico do oxigênio das calcitas de preenchimento, com valores mais
negativos que a rocha encaixante.
A origem dos fluidos hidrotermais provavelmente relaciona-se ao
Magmatismo Macau (49 a 6 Ma) e que apresenta até 1.500 metros de rochas
olivina-basalto, encaixadas nos estratos de idade terciária da bacia (Soares et al.
2003). Fluidos hidrotermais originados pelo fluxo térmico de intrusões magmáticas
são de curta duração, porém como o Magmatismo Macau teve longa duração na
história da bacia, vários eventos de percolação de fluidos podem ter acontecido.
Nessa fase ocorreu o fechamento das fraturas por precipitação da calcita em
mosaico blocoso e pode ter ocasionado o hidrofraturamento no topo da Formação
Ponta do Mel, onde a Formação Ubarana, composta por pelitos, forma um selo
152

eficiente para a passagem de fluidos. A precipitação da pirita, presente próxima às


microfraturas e nos veios, denota que o fluido inicial que percolou o sistema de
fraturas continha uma fase sulfetada, a qual pode produzir pirita em reações de oxi-
redução. A origem desse fluido sulfetado pode ser interpretado como a frente de
fluidos associadas à migração do petróleo, a qual teve início nessa mesma idade.
A distinção das diversas fases de fluidos hidrotermais pode ser
correlacionada à diferença isotópica apresentada pelas calcitas de fraturas do P1 e
do P3 (GRÁFICO 11).

GRÁFICO 11: Diagrama de carbono e oxigênio para as calcitas de fraturas


dos P1, P2, P3 e P4.

d) Carstificação

A definição de intervalos carstificados nos poços analisados neste trabalho


foi feita a partir de vários elementos indicativos: perda de circulação durante a
perfuração, alteração nos valores geoquímicos e presença de fraturas, veios,
brechas e sedimentos de preenchimento de cavernas e/ou paleossolos.
Pelas características identificadas nas amostras dos poços, sugere-se a
ocorrência de 5 níveis de carstificação epigênica e/ou hipogênica (FIGURA 86).
153

O nível CE-1 foi caracterizado pela ocorrência de perda de circulação


(TABELA 2) e pelas características das rochas do intervalo entre 2.007 e 2.070 m,
sugestivas de paleocarste e paleossolo no poço P1. Exposições subaéreas em limite
de sequência podem produzir abaixo delas zonas alteradas que variam desde
poucos milímetros até centenas de metros (ESTEBAN e KLAPPA, 1983). As
alterações constatadas foram a presença de oxidação ferrosa nas bordas de clastos
de grainstones/mudstones, envoltos em matriz arenítica, características de depósitos
de preenchimento de cavernas (cave infill). O perfil isotópico do carbono e oxigênio
corrobora a descida relativa do nível do mar nessa seção pelas excursões negativas
EN-1 EN-2 sinalizadas na FIGURA 84. Por caracterizar um limite de sequência é
provável que o nível de carstificação CE-1 ocorra também nos outros poços.
O nível CH-2, considerado como nível de alteração hipogênica, foi sinalizado
no poço P1 apenas pela ocorrência de perda de circulação. Os níveis de 3 a 5 foram
considerados mistos, onde o carste epigênico foi sobreposto pela carstificação
hipogênica. O nível 3 (CE+CH-3) apresenta perda de circulação, presença de rocha
siliciclástica, fraturas e excursão negativa no perfil do isótopo de carbono para o
poço P1 e fratura e dolomita hidrotermal nas amostras de testemunho do poço P3. A
baixa recuperação dos testemunhos do poço P3 nesse intervalo também corrobora a
indicação do nível CE+CH-3 nesse intervalo.
O nível CH-4 foi marcado no topo da seção dolomitizada e apresenta como
indicadores as fraturas identificadas em P1 e valores isotópicos indicativos de
alteração hidrotermal.
O nível CE-CH-5 ocorre na discordância que limita a Formação Ponta do Mel
e a Formação Ubarana, depositada após evento erosivo no Campaniano. As
evidências dessa carstificação são a ocorrência de perdas circulação, intervalos
fraturados e baixa recuperação de testemunhos. Feições do carste hipogênico são
mais visíveis nesse intervalo, pois sobrepõe a carstificação epigênica anterior,
sugerida nesse nível pela situação de topo com discordância. Esse evento foi
identificado nos 4 poços desse trabalho, pela ocorrência de fraturas, baixa
recuperação de testemunhos, perdas de circulação, brechas e feição de colapso no
P3, no topo da Formação Ponta do Mel.
Intervalos carstificados, sejam eles no domínio dos paleocarstes epigênicos
ou carstes hipogênicos são locais de aumento de porosidade e permeabilidade,
muitas vezes associados a rochas com porosidades muito baixas. Podem se tornar
154

alvos exploratórios como reservatórios, e sua geometria associa-se na grande


maioria das vezes com o regime tectônico sem necessariamente corresponder às
fácies porosas deposicionais.

e) Porosidade

A porosidade caracterizada nas rochas estudadas permitiu associá-las com


o processo formador. A porosidade encontrada numa rocha é o resultado da trama
do arcabouço deposicional e as subseqüentes alterações por fatores internos como
o soterramento e por fatores externos como alterações tectônicas e dissolução em
exposição subaérea. Pelas análises realizadas nos capítulos anteriores e pelo
estudo realizado por Terra (1990a), a porosidade controlada pelas fácies
deposicionais da Formação Ponta do Mel foi quase totalmente obliterada pelos
processos de cimentação dos seus espaços intergranulares.
A porosidade identificada nas rochas estudadas associa-se aos processos
diagenéticos de soterramento e aos processos de carstificação epigênica e
carstificação hipogênica através da evolução tectônica que afeta a bacia desde o
Campaniano até o recente.
A porosidade associada ao ambiente deposicional é móldica, encontrada
raramente em bioclastos nos grainstones e é insignificante para que a rocha seja
considerada reservatório.
A seção de rochas dolomíticas apresenta porosidade entre 0,1 a 21 %
medidas em grãos das amostras do P1 (FIGURA 78). Essas rochas ocorrem em
intervalo aproximado de 200 metros no poço P1 e foram também identificadas no
poço P3. Algumas seções dolomitizadas foram descritas também nos poços
estudados por Terra (1990a), conforme a seção faciológica da FIGURA 13. Esse
intervalo mostra potencial para rocha-reservatório, pois além de apresentar
porosidade dentro da variação comum aos reservatórios de petróleo, ocorre com
extensão lateral identificável através de métodos geofísicos.
A porosidade cárstica epigênica, quando preservada, ou parcialmente
preservada pode ser alta a muito alta. Sua ocorrência é controlada pelos limites de
sequência do tipo exposição subaérea, aliados aos processos tectônicos, pois os
155

terrenos cársticos desenvolvem-se preferencialmente em zonas de fraqueza das


rochas carbonáticas. A identificação de sua ocorrência pode ser realizada através da
reconhecimento dos limites de sequência que cortam zonas de falha. A porosidade
dos carstes hipogênicos depende de processos tectônicos e confina-se às
proximidades dos falhamentos. Apresentam seu maior efeito de dissolução ou
hidrofraturamento abaixo de intervalos considerados selos para a passagem dos
fluidos hidrotermais. A porosidade associada à carstificação hipogênica é alta e sua
predição depende do mapeamento das zonas de falha associadas aos selos
sotopostos.
A porosidade associada às fraturas pode ser alta a baixa, dependendo da
fase de preenchimento ou dissolução dos minerais de preenchimento. Sua
ocorrência limita-se às zonas afetadas pelos falhamentos e a predição depende das
técnicas adequadas de identificação.
A TABELA 12 apresenta a avaliação qualitativa da porosidade encontrada
nas amostras desse estudo considerando os seguintes limites: porosidade muito
baixa (<5%), porosidade baixa (>5% e <10%), porosidade média (>10% e <15%)
porosidade alta (>15% e <25%) e porosidade muito alta (>25%). Esta tabela resume
os tipos de porosidade encontradas na Formação Ponta do Mel e a sua avaliação
qualitativa, além das medidas realizadas no poço P1.

TABELA 12: Porosidade da Formação Ponta do Mel

Processo gerador Local/tipo de poro Qualidade


Poros móldicos, dissolução de Muito baixa
Ambiente deposicional
bioclastos.
Recristalização na Poros intercristalinos nas rochas 0 a 21%
diagênese dolomíticas P1 e P3. (TABELA 10)
Carstificação Poros intraclasto na brecha do Alta
P3.
Carstificação Indicação por perdas de circulação Muito alta
e baixa recuperação de
testemunhos nos P1, P3 e P4.
Poros vugulares e tipo caverna.
Tectônico Fraturas abertas (P2.I1fr). Poros Alta
tipo fratura.
Tectônico Poros intercristalinos nos veios Baixa
parcialmente preenchidos.
Tectônico Poros tipo fratura nas paredes Baixa
das fraturas.
156

f) Sequência dos eventos na história da Formação Ponta do Mel

Em síntese ao que foi desenvolvido nesse trabalho e em concordância com


o trabalho dos autores citados anteriormente, a história da evolução da Formação
Ponta do Mel inicia-se com a sua deposição em mar restrito, no Albiano, durante o
início da deriva dos continentes sul-americano e africano, tendo em sua base os
depósitos de águas profundas representados por margas e folhelhos. Nessa fase
ocorrem subidas e descidas do nível relativo do mar, provocando exposição
subaérea e nível de carstificação com a presença de cavernas preenchidas por
sedimentos terrígenos e carbonáticos retrabalhados. Em épocas de clima árido
ocorre a formação de paleossolo. Com a subida do nível relativo do mar e a
retomada da deposição carbonática, depositam-se grainstones/rudstones de
plataforma rasa de forma agradacional. Durante essa sedimentação, variações no
nível relativo do mar provocam novos episódios de carstificação singenética com o
registro de siliciclásticos em meio aos depósitos carbonáticos. O final da deposição é
marcado por um afogamento da plataforma carbonática Ponta do Mel. Inicia-se o
soterramento da sequência carbonática Ponta do Mel e em 93 Ma o Magmatismo
Serra do Cuó promove efeito térmico suficiente para dar início à dolomitização da
seção intermediária, a qual com alta porosidade primária permite a percolação da
água e a troca iônica necessária à dolomitização. No Campaniano inicia-se na bacia
a reativação tectônica que provoca falhas e fraturas ao longo da Falha de Ubarana
afetando as rochas carbonáticas da Formação Ponta do Mel, tendo
preferencialmente aproveitado as zonas de fraqueza da carstificação epigênica. As
fraturas abertas durante a reativação tectônica foram dissolvidas e posteriormente
preenchidas através da ação dos fluidos hidrotermais originados do efeito térmico do
Magmatismo Macau.
157

8 CONCLUSÕES

As análises realizadas em amostras de calha do poço P1 pulverizadas como


rocha total mostraram-se confiáveis para estudos geoquímicos. A descrição
detalhada em lupa binocular antecedendo a moagem permite a identificação e
separação de grãos que ocorrem em menor proporção no conteúdo das amostras,
os quais podem ser analisados separadamente por algumas técnicas analíticas, tais
como MEV/EDS, análises isotópicas e microtomográficas.
A Formação Ponta do Mel foi caracterizada nos poços analisados a partir de
dados petrográficos e geoquímicos em 3 seções. A seção basal é composta por
depósitos de água profunda representados por mudstones e margas. A seção
intermediária encontra-se dolomitizada a partir da substituição das calcitas por
dolomitas em grainstones. A seção do topo caracteriza-se por grainstones/rudstones
depositados em ambiente de plataforma rasa.
As feições de alteração pós-deposicionais observadas na Formação Ponta
do Mel foram: estilolitos, dolomitas, fraturas e dissolução por carstificação epigênica.
Esses aspectos de alteração foram importantes para a caracterização evolutiva e
determinação de possibilidades de geração de porosidade na Formação Ponta do
Mel.
Os estilolitos ocorrem em quase todas as rochas analisadas e a forma
predominante é a serrilhada de baixa amplitude. A ocorrência da alta amplitude foi
observada nas rochas dolomitizadas do poço P3. Os estilolitos permitiram
estabelecer relações cronológicas, onde, no caso da rocha dolomitizada do poço P3,
a dolomitização foi anterior à estilolitização e parece ter sido amplificada pelo
processo de alteração hidrotermal que a afetou. No caso do poço P2, os estilolitos já
estavam presentes quando houve o fraturamento, mesmo que as fraturas não
atravessem de forma homogênea os planos dos estilolitos.
As rochas alteradas por dolomitização foram encontradas em seção espessa
da Formação Ponta do Mel, observadas em intervalo de 200 metros no poço P1 e
em testemunho do poço P3. A análise petrográfica permitiu identificar através das
sombras de pelóides e bioclastos, que o carbonato precursor das dolomitas foi um
grainstone. Pelas características texturais e isotópicas a dolomitização foi um
processo multifásico que teve início provavelmente antes do soterramento ocasionar
158

a compactação química. A interpretação dada ao processo de dolomitização é a


partir da água do mar aprisionada nos poros dos grainstones precursores,
portadores de porosidade primária. Esse processo afetou predominantemente a
seção intermediária da Formação Ponta do Mel. A temperatura necessária para o
início da dolomitização deve ter sido fornecida pela anomalia térmica gerada pelo
calor do Magmatismo Serra do Cuó. Foi observada, através da análise isotópica que
houve uma fase posterior de alteração das dolomitas do poço P3 por fluidos
hidrotermais. Nas amostras de dolomitas do poço P1 é provável sua ocorrência,
porém o sinal isotópico está atenuado.
Dos quatro poços analisados, 3 (P1, P2 e P3) apresentaram fraturas
parcialmente preenchidas por cimento calcítico. São fraturas do tipo diáclase, com
predominância da orientação vertical. Suas características principais são feições de
crack-seal, bordas de reação, clastos da rocha matriz no interior dos veios e bordas
com feições de dissolução. O preenchimento das fraturas é predominantemente por
calcita e pirita. Os resultados isotópicos dessas calcitas permitiram separá-las das
calcitas da rocha matriz, composta por grãos aloquímicos e cimentos diagenéticos.
As diferenças entre os valores isotópicos das calcitas de preenchimento de fratura
são atribuídas a diferentes fases de eventos hidrotermais.
A associação das análises petrográficas e isotópicas das fraturas com as
análises da rocha matriz permitiu estabelecer uma cronologia de eventos. A fase de
ruptura das rochas e a conseqüente formação das fraturas ocorreu no evento de
reativação tectônica no Campaniano. A partir dessa ruptura as fraturas formaram
uma rede de permeabilidade por onde percolaram fluidos hidrotermais originados
pelo calor do Magmatismo Macau. Posteriormente foram fechadas parcialmente por
cristalização de calcita e pirita. A presença de cristais de calcita formando pontes
entre as paredes das fraturas é feição importante, pois indica que as fraturas
mantiveram-se abertas ao menos pelo tempo em que os cristais posteriores não se
formaram. O período em que estiveram abertas pode ser importante ao processo de
migração de petróleo desde que tenha havido o sincronismo dos eventos. Pelas
análises não é possível afirmar se as fraturas ainda estavam abertas quando teve
início a migração de petróleo.
As análises isotópicas da rocha matriz e do material de preenchimento das
fraturas permitiram a separação entre o sinal isotópico das calcitas diagenéticas e
das calcitas do preenchimento das fraturas. No entanto observou-se que a rocha
159

matriz próxima aos intervalos fraturados exibe conteúdo isotópico alterado, o qual foi
denominado de halo de alteração hidrotermal. Pelo tamanho das amostras de
testemunho não é possível afirmar até que distância a alteração ocorre a partir do
local das fraturas. Pelas análises observa-se que a alteração é maior em locais onde
as fraturas são maiores e ramificadas.
A descrição da seção carbonática completa, realizada no poço P1, permitiu
marcar níveis de carstificação epigênica e hipogênica a partir da descrição de
fragmentos das amostras de calha associados à variação isotópica. Esses níveis
foram correlacionados com os poços amostrados por testemunhos. Verificou-se que
os níveis de carstificação epigênica, identificados por fragmentos indicativos de
paleocarste, foram também intervalos preferenciais para a carstificação hipogênica.
Associando as informações de todos os poços foi possível estabelecer 5 níveis de
carstificação, sendo um nível considerado apenas epigênico, no topo da seção basal
e um nível apenas hipogênico, na seção dolomitizada. Os outros 3 níveis, pelas
características apresentadas, foram interpretados como hipogênicos sobrepostos à
carstificação epigênica.
As maiores porosidades observadas nos poços desse trabalho encontram-se
associadas às rochas dolomíticas, aos intervalos alterados por carstificação
epigênica e às zonas de fraturas. As rochas dolomíticas analisadas através de
microtomografia apresentaram porosidade intercristalina de até 21%. São rochas de
ocorrência em intervalo espesso do poço P1 e em intervalos analisados por Terra
(1990a), indicando que pode ter ocorrência pervasiva na Formação Ponta do Mel. As
zonas carstificadas, sejam elas por evento epigênico ou hipogênico, podem
apresentar porosidade associada a brechas como identificada no poço P3 (amostra
L) ou zonas de fraturas abertas. São intervalos onde também ocorrem perdas de
circulação durante a perfuração do poço indicando fluxo heterogêneo para dentro
dos poros da formação rochosa e indicam a presença de megaporosidade.
160

REFERÊNCIAS

AHR, W. A new genetic classification of carbonate porosity and its application


to reservoir characterization. AAPG Annual Convention, San Antonio, Texas. Oral
Presentation, 2008.

ALLAN,J.H.; WIGGINS,W.D. Dolomite reservoirs – Geochemical techniques for


evaluating origins and distribution. AAPG Continuing Education Course Note
Serie #36. American Association of Petroleum Geologists, 1993.

ALMEIDA, F.F.M.; HASUI, Y.; BRITO NEVES, B.B. ; FUCK, R.A. Províncias
estruturais brasileiras. In: SBG, Simpósio de Geologia do Nordeste, 2, Campina
Grande, Anais, 242-258, 1977.

ANDREWS, L.M.; RAILSBACK, B. Controls on Stylolite Development:


Morphologic, Lithologic, and Temporal Evidence from Bedding-Parallel and
Transverse Stylolites from the U.S. Appalachians. The Journal of Geology
v.105, N°1, p. 59-73, 1997.

ANJOS, S. M. C.; SOUZA, R. S.; SOMBRA, C. L.; SCUTA, M. S. Evidência de


atividade vulcânica na base da Formação Pendência, Bacia Potiguar Emersa.
Boletim de Geociências da Petrobras, v.4: 555-558, 1990.

ANP (Agência Nacional do Petróleo).Informações sobre a Bacia Potiguar para o


Round 5, disponível em: http://www.anp.gov.br/brasil-
rounds/round5/round5/Apres_SemTec/R5_Potiguar.pdf, acessado em 25 de agosto
de 2011.

ARARIPE, P.T.; FEIJÓ. F.J. Bacia Potiguar. Boletim de Geociências da Petrobras,


v.8, N°1, p.127-141, 1994.

BAOMIN, Z.; JINGJIANG, L. Classification and characteristics of karst reservoir


in China and related theories. Petrol.Explor.Develop.,36(1):12-29, 2009.

BASYONI, M.H.; ASKARY, M.A. El. Study of carbonate rocks of the Khuff and
Jubaila Formations, Saudi Arabia, by Thermal Derivatography. Qatar univ, Sci, J.
v.17(1):183-193, 1997.
161

BERTANI, R. T.; COSTA, I. G. MATOS, R. M. D. Evolução tectono-sedimentar,


estilo estrutural e “habitat” do petróleo na Bacia Potiguar. In: Raja Gabaglia, G.
P. e Milani, E. J., (Eds.), Origem e Evolução de Bacias Sedimentares. Rio de
Janeiro, PETROBRAS, p. 291-310, 1990.

CALDAS, L.H.O. Estudo geológico e geofísico da Falha de Carnaubais, Bacia


Potiguar – RN, e implicações neotectônicas. Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte- PPGG, 1998.

CHOQUETTE, P.W.;PRAY,L.C. Geologic nomenclature and classification of


porosity in sedimentary carbonate. The American association of petroleum
geologists bulletin. v.54, nº2, p:207-250, 1970.

CHOQUETTE, P.W.; HIATT, E.E. Shallow burial dolomite cement: a major


component of many ancient sucrosic dolomites. Sedimentology, v.55, p:423-460,
2008.

CHOQUETTE, P.W.; JAMES, N.P. Diagenesis#. Diagenesis in limestones-3. The


deep burial environment. Geoscience Canada, 14,3-35, 1987.

COMPTON, J.S. Degree of supersaturation and precipitation of organogenic


dolomite. Geology 16(4), p:318-321, 1988.

CORDOBA, V. C. A Evolução da Plataforma Carbonática Jandaíra durante o


Neocretáceo na Bacia Potiguar: Análise paleoambiental, diagenética e
estratigráfica. Instituto de Geociências e Ciências Exatas, UNESP, Tese
Doutorado, p.239, 2001.

CPRM (Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais). Mapa Geológico do Rio


Grande Norte, 2004.

CREMONINI. O. A. Caracterização estrutural e evolução da área de Ubarana,


porção submersa da Bacia Potiguar, Brasil. Dissertação de Mestrado em
Geologia Estrutural – Escola de Minas, Universidade de Ouro Preto, 136 p., 1993.

CREMONINI, O. A. A reativação tectônica da Bacia Potiguar no Cretáceo


Superior. SIMPÓSIO NACIONAL DE ESTUDOS TECTÔNICOS, Gramado,
Resumos, SBG, v.5, p: 277-280, 1995.
162

CREMONINI, O. A.; KARNER, G. D. Soerguimento termal e erosão na Bacia


Potiguar submersa e seu relacionamento com a evolução da margem
equatorial brasileira. Simpósio de Geologia do Nordeste, 16, Recife, Pernambuco,
Sociedade Brasileira de Geologia, Boletim, 14: 181-184, 1995.

CREMONINI, O. A.; GOULART, J. P. M. & SOARES, U. M. O Rifte Potiguar: novos


dados e implicações tectônicas. In: Simpósio sobre o Cretáceo do Brasil, 4, Rio
Claro, São Paulo, 1996. UNESP, Boletim, pp. 89-93, 1996.

CREMONINI, O. A.; GOULART, J. P. M.; SOARES, U. M. Tectonic-Stratigraphic


Evolution of Offshore Potiguar Basin, Brazil. In: AAPG International Conference e
Exhibition, Rio de Janeiro, Brasil. American Association of Petroleum Geologists,
Extended Abstracts Volume, p. 44-45, 1998.

DELLA FÁVERA, J. C.; CASTRO, J. C.; SOARES, U. M.; ROSSETTI, E. L.;


MATSUDA, N.; HASHIMOTO, A. T.; GUZZO, J.; Rodrigues, R.; AZAMBUJA, N. C. ;
ALVES, D. B. Estratigrafia de Seqüências da Formação Pendência, Bacia
Potiguar. Simpósio sobre o Cretáceo do Brasil, Rio Claro, São Paulo. UNESP,
Boletim, p.35, 1994.

DIAS-BRITO, D. Calcisphaerulidea e microfósseis associados da Formação


Ponta do Mel – Bacia Potiguar, Brasil. Coletânea de Trabalhos de Paleontologia.
Brasília: DNPM, p.307-314, 1985.

ESTEBAN, M.; KLAPPA, C.F. Subaerial exposure enviroment. American


Association of Petroleum Geologist editor, 54 p, 1983.

ESTEBAN, M.; TABERNER, C. Distinguished lecture, 2006. Disponível em:


http://www.searchanddiscovery.com/documents/2006/06069dist_lect_abs/abstracts/e
steban.htm. Acesso em 13/03/2012.

FAURE, G.; MENSING, T.M. Isotopes: principles and aplications. Wiley Editor.
New Jersey, 2005.

FLÜGEL, E. Microfacies of carbonate rocks: analysis, interpretation and


application. Springer-Verlag Berlin Heidelberg, 2004.

FOLK, R.L.; LAND,L.S. Mg/Ca ratio and salinity: two controls on crystallization
of dolomite. American Association of Petroleum Geologists Bulletin, V.59, p.60-68.
1975.
163

FRANÇOLIN, J. B. L.; SZATMARI, P. Mecanismo de rifteamento da porção


oriental da margem norte brasileira. Revista Brasileira de Geociências, 17 (2):
196-207, 1987.

GARDOLINSKI, J.E.F. Quantificação de dolomita e calcita em rochas


carbonáticas por análise termogravimétrica. Relatório Interno do Laboratório de
Minerais e Rochas. Setor de Ciências da Terra. Departamento de Geologia. UFPR,
2008.

GASPARRINI, M. Large-scale hydrothermal dolomitisation in the southwestern


Cantabrian Zone (NW Spain): causes and control of the process and origin of
the dolomitising fluids. Dissertation zur Erlangung der Doktor würde der
Naturwissenschaftlich-Matematischen Gesamtfakultät der Ruprecht-Karls-Universität,
Heidelberg, 2003.

GREGG, J.M. Basin fluid flow, base-metal sulphide mineralization and the
development of dolomite petroleum reservoirs. In: The geometry and
petrogenesis of dolomite hydrocarbon reservoirs. Special Publication 235 of
Geological Society, BRAITHWAITE, C.J.R.; RIZZI,G. and DARKE,G. (Eds.) London,
UK, 2004.

HASCKPACKER, P.C.; OLIVEIRA, D.C. A evolução estrutural das zonas de


cisalhamento Portalegre e Santa Mônica – RN. Congresso Brasileiro de Geologia,
33, Rio de Janeiro, Anais, v. 6, p. 1679-1692, 1984.

HASHIMOTO, A., APPI, C. J.; SOLDANO, A.L. e CERQUEIRA, J.R. O Neo-Alagoas


do Ceará, Araripe e Potiguar (Brasil): caracterização estratigráfica e
paleoambiental. Revista Brasileira de Geociências, v.17(2):118-122, 1987.

HOEFS, J. Stable isotope geochemistry. Editora Springer-Verlag 6a edição, 2009.

JAMES, P.N. Shallowing-upward sequences in carbonates. In: WALKER, R.G


(Ed.) Facies models. 2ª Ed. Ontário: Geoscience Association of Canadá, p:213-
228. 1984.

JARDIM DE SÁ, E. F. A evolução Proterozóica da Província Borborema.


Simpósio de Geologia do Nordeste. Atas: 271-297, 1984.

JARDIM DE SÁ, E.F. A Faixa Seridó (Província Borborema, Nordeste do Brasil)


e seu significado geodinâmico na Cadeia Brasiliana/Pan-Africana. Tese de
doutorado. Universidade de Brasília, Brasília, 803 p, 1994.
164

JARVIS, I.; GALE,A.S.;JENKYNS,H.C.; PEARCE,M.A. Secular variation in Late


Cretaceous carbon isotopes: a new 13C carbonate reference curve for
Cenomanian-Campanian (99,6-70,6 Ma). Geol. Mag. 143 (5), p 561-608, 2006.

KLIMCHOUK, A. Hypogene Spelogenesis: Hydrological and Morphogenetic


Perspective. Special Paper n.1, National Cave and Karst Research Institute,
Carlsbad, NM, 106p, 2007.

KLIMCHOUK, A. Morphogenesis of hypogenic caves. Geomorphology, v.106:


100-117, 2009.

LAUBACH, S.; REED, R.M.; OLSON, J. M.; LANDER, R. H.; BONNEL, R. M.


Coevolution of crack-seal texture and fracture porosity in sedimentary rocks:
cathodoluminescence observations of regional fractures. Journal of Structural
Geology, 27(967-982), 2004.

LAUBACH, S. EICHHUBL, P.; HILGERS, C.; LANDER, R.H. Structural diagenesis.


Journal of Structural Geology, 32(1866-1872), 2010.

LIMA NETO, F. F. O exemplo da interferência mecânica de uma interface fraca:


o campo atual de tensões na Bacia Potiguar. Universidade Federal de Ouro
Preto, Ouro Preto, Dissertação de mestrado não publicada, 320 pp, 1998.

LONOY, A. Make sense of a carbonate pore system. American Associations of


Petroleum Geologists Bulletin, V.90, nº9:1381-1405, 2006.

LOUCKS, R.G. Paleocave carbonate reservoirs: origins, burial-depth


modifications, spatial complexity, and reservoirs implications. American
Associations of Petroleum Geologists Bulletin, V.83, nº11:1795-1834, 1999.

LUCIA, F.J. Petrophysical parameters estimated from visual description of


carbonate rocks: a field classification of pore space. Journal of Petroleum
Techonology, 35:626-637, 1983.

LUO, P.; MACHEL, H.G. Pore size and pore throat types in an heterogeneous
Dolostone reservoirs, Devonian Grosmont Formation, Western Canada
Sedimentary Basin. American Association of Geologists Bulletin, v.79: 1698-1720,
1995.
165

MACHEL,H.G. Application of cathodoluminescence to carbonate diagenesis.


Em PAGEL, M.; BARBIN, V.; BLANC, V; OHNENSTETTER, V. (Eds).
Cathodoluminescence in geoscience, Springer-Verlag, Heildelberg, Alemanha,
p:271-302, 2000.

MACHEL, H.G. Concepts and models of dolomitization. In: The geometry and
petrogenesis of dolomite hydrocarbon reservoirs. Special Publication 235 of
Geological Society, BRAITHWAITE, C.J.R.; RIZZI,G. and DARKE,G. (Eds.) London,
UK, 2004.

MAYER, E.; ALVES, R.J. Estudo preliminar dos carbonatos da Formação


Jandaíra na Bacia Potiguar. Salvador, PETROBRAS. RPBA, DIREX, 41p, 1974.

MATOS, R. M. D. The Northeast Brazilian Rift System. Tectonics, 11(4):766-791,


1992.

MILANI, E.J.; THOMAZ FILHO A. Sedimentary basins of South America. In


CORDANI, U.G.; MILANI, E.J.; THOMAZ FILHO A. e CAMPOS, D.A. (Eds) Tectonic
Evolution of South America. Rio de Janeiro: 31th International Geologic Congress,
p:389-449, 2000.

MIZUZAKI A. M. P.; THOMAZ FILHO A.; MILANI E. J.; CÉSERO P. Mesozoic and
Cenozoic igneous activity and its tectonic control in the northeastern region of
Brazil, South America. Journal of South America Earth Sciences, 15: 183-198,
2001.

MORAIS NETO, J. M. As Coberturas Sedimentares Terciárias do Interior da


Paraíba e Rio Grande do Norte e a Gênese da Antéclise da Borborema.
Universidade Federal de Ouro Preto, MG, Dissertação de mestrado não publicada,
170 p., 1999.

MOSTAFAVI V.; HARELAND, G.; BELAYNEH, M.; AADNOY, B.S. Experimental


And Mechanistic Modeling of Fracture Sealing Resistance With Respect to
Fluid And Fracture Properties. 45th U.S. Rock Mechanics / Geomechanics
Symposium, San Francisco, California, Estados Unidos, 2011.

NELSON, R.A. Significance of fracture sets associated with stylolites zones.


The American Association of Petroleum Geologists Bulletin, v.65, nº11, p. 2417-
2425. 1981.
166

OLIVEIRA D. C. New data on the relative-age and petrochemistry of the


magmatic Cuó event (Potiguar basin; Northeast Brazil). In: International
Geological Congress, 31, Rio de Janeiro, 2000, Abstracts, 2000.

PALMER, A.N. Support for a sulfuric acid origin for caves in the Guadalupe
Mountains, New Mexico. In: LAND, L.; LUETH,V.; RAATZ, B.; BOSTON, P.; LOVE,
D. (Eds), Caves and Karst of Southerstern New Mexico: New Mexico Geological
Society, Guidebook 57, 195-202, 2006.

PARFENOFF, A.; POMEROL, C.; TOURENQ, J. Les Mineraux en grains –


Méthode d’étude e determination. MASSON et Cie Editeur, Paris, 1970.

PESSOA NETO, O.C. Estratigrafia de Sequências da Plataforma mista


neogênica na Bacia Potiguar, Margem Equatorial Brasileira. Revista Brasileira de
Geociências, 33(3):263-278, 2003.

PESSOA NETO, O. C.; SOARES, U.M.; SILVA, J.G.F, ROESNER,


E.H.;FLORENCIO, C.P. e SOUZA, C.A.V. Carta Estratigráfica da Bacia Potiguar.
Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v.15, n.2, p.357-369, 2008.

RANDAZZO, A. F.; ZACHOS, N.G. Classification and description of dolomitic


fabrics of rocks from Floran aquifer, U.S.A. Sedimentary Geology, v.37, p.15-162.
1983.

REGALI, M. S. P.; GONZAGA, S. M. Palinocronoestratigrafia da Bacia Potiguar -


Rio Grande do Norte, Brasil. Departamento Nacional da Produção Mineral,
Coletânea de Trabalhos Paleontológicos, Série Geologia, 27, Seção Paleontologia e
Estratigrafia, 2:443-460, 1985.

REIS NETO, J.M.; FIORI, A.P.;LOPES, A.P.; MARCHESE,C.; PINTO-COELHO,


C.V.; VASCONCELLOS, E.M.V.; SILVA,G.F.; SECCHI, R. A microtomografia
computadorizada de Raios-X integrada à petrografia no estudo tridimensional
de porosidade em rochas. Revista Brasileira de Geociências, 41 (3):498-508, 2011.

ROBAINA, L.E. Geoquímica dos carbonatos reservatórios da Formação Macaé,


dos campos de Pampo e Enchova, Bacia de Campos, Brasil. Dissertação de
Mestrado. UFRGS, Porto Alegre, 176p., 1990.
SAMPAIO, A.V.; SCHALLER, H. Introdução à estratigrafia cretácea da Bacia
Potiguar, Boletim Técnico da Petrobras Vol.11 (1): 19-44, 1968.
167

SIBLEY, D.F.; GREGG, J.M. Classification of dolomite rock textures. Journal of


Sedimentary Petrology, v.57, n.6: 968-975, 1987.
SILVA, I.T. Faciologia, diagênese e propriedades petrofísicas da Formação
Jandaíra- Porção Oeste da Bacia Potiguar Relatório de graduação, UFRN, 2007.

SOARES, U. M. As relações entre tectonismo e seqüências deposicionais no


rifte Potiguar - porção SW do graben de Umbuzeiro, Bacia Potiguar Emersa.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, dissertação de mestrado não
publicada, 128 p., 2000.

SOARES, U.M.; ROSSETI, E.L.; CASSAB, R.C.T. Bacia Potiguar. Em: Bacias
sedimentares brasileiras. Projeto Phoenix, Fundação Paleontológica Phoenix, Ano 5,
Número 56, 2003.

SOUZA, S.M. Atualização da litoestratigrafia da Bacia Potiguar. Anais do XXXIII


Congresso Brasileiro de Geologia – Salvador – v. 5, p. 2392-2406, 1982.

SOUZA, Z.S; VASCONCELOS, P.M; NASCIMENTO, M.A.L.; SILVEIRA, F.V; PAIVA,


H.S.; SILVEIRA DIAS, L.G.; VIEGAS, M.C.D.; GALINDO, A.C.; OLIVEIRA, M.J.R.
Geocronologia e geoquímica do magmatismo cretácico a terciário do NE do
Brasil. In: 42º Congresso Brasileiro de Geologia, 2004.

TAGHAVI, A.A.; MORK, A.; EMADI, M.A. Sequence stratigraphically controlled


diagenesis governs reservoir quality in the carbonate Dehluran Field,
southwest Iran, Petroleum Geoscience, v.12, p.115-126. 2006.

TERRA, G.J.S. Fácies, modelo deposicional e diagênese da sequência


carbonática albo-cenomaniana (Formação Ponta do Mel) da Bacia Potiguar. Rio
de Janeiro. 153p., dissertação de Mestrado em Geociências, Instituto de
Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1990(a).

TERRA, G.J.S. Influência da evolução deposicional na cimentação dos


carbonatos de alta energia da Fm. Ponta do Mel - Bacia Potiguar. Anais do
XXXVI Congresso Brasileiro de Geologia. Natal. v.1 p. 265-280, 1990(b).

TERRA, G.J.S.; SPADINI, A. R.; FRANÇA, A.B.; SOMBRA, C.L.; ZAMBONATO, E.E.;
JUSCHAKS, L.C.S.; ARIENTI, L.M.; ERTHAL, M.M.; BLAUTH, M.; FRANCO, M.P.;
MATSUDA, N.S.; SILVA, N.G.C.; MORETTI JUNIOR, P.A.; D’AVILA, R.S.F.;
SOUZA, R.S.; TONIETTO,S.N.; ANJOS, S.M.C.; CAMPINHO,V.S.; WINTER, W.R.
Classificação das rochas carbonáticas aplicada às bacias brasileiras, Boletim de
Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v.18, n.1, p.9-29, 2009.
168

TIBANA, P.; TERRA, G.J.S. Sequências carbonáticas do cretáceo da Bacia


Potiguar. Bol. Tec. Petrobrás, v. 24, n° 3, p. 174-183,1981.

TUCKER, M.E,; WRIGHT, V.P. Carbonate Sedimentology. Blackwell Science


Editor, United Kingdom, 1990.

VASCONCELOS, E.P. O evento CPT – Camadas Ponta do Tubarão, Aptiano da


Bacia Potiguar. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre,1995.

VASCONCELOS, E.P.; LIMA NETO, F.F.; ROSS,S. Unidades de correlação da


Formação Açu. Congresso Brasileiro de Geologia, 36, Natal. Anais, v.1:227-
240,1990.

WARREN, J. Dolomite Ocurrence, evolution and economically important


associations. Earth Science Reviews 52:1-81, 2000.

ZORLU, J. Sedimentpetrographische und geochemische Untersuchungen an


unterschiedlich überprägten Triasdolomiten der Ost- und Südalpen. Dissertation
zur Erlangung des akademischen Grades eines Doktors der Naturwissenschaften an
der Fakultät für Geowissenschaften der Ruhr-Universität Bochum. Deustchland.
181p, 2007.
169

APÊNDICES

APÊNDICE I: Numeração e profundidades das amostras do poço P1.......... 170

APÊNDICE II: Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 171

APÊNDICE III: Tabela com resultados das análises químicas por FRX das
amostras dos poços P2, P3 e P4............................................. 186

APÊNDICE IV: Tabela com resultados das análises químicas por FRX das
amostras do poço P1................................................................. 187

APÊNDICE V: Tabela com os valores dos isótopos de carbono e oxigênio das


amostras do poço P1................................................................ 189
170

Número Profundidade Número Profundidade


da (m) da (m)
amostra amostra
1 1.548 35 1.854
2 1.557 36 1.863
3 1.566 37 1.872
4 1.575 38 1.881
5 1.584 39 1.890
6 1.593 40 1.899
7 1.602 41 1.908
8 1.611 42 1.917
9 1.620 43 1.926
10 1.629 44 1.935
11 1.638 45 1.944
12 1.647 46 1.953
13 1.656 47 1.962
14 1.665 48 1.971
15 1.674 49 1.980
16 1.683 50 1.989
17 1.692 51 1.998
18 1.701 52 2.007
19 1.710 53 2.016
20 1.719 54 2.025
21 1.728 55 2.034
22 1.737 56 2.043
23 1.746 57 2.052
24 1.755 58 2.061
25 1.764 59 2.070
26 1.773 60 2.079
27 1.782 61 2.088
28 1.791 62 2.097
29 1.800 63 2.106
30 1.809 64 2.115
31 1.818 65 2.124
32 1.827 66 2.127
33 1.836 67 2.130
34 1.845 - -

APÊNDICE I – Númeração e profundidades das amostras do poço P1.


171

Amostra 11 (1.638m).

Amostra 12 (1.647m).

Amostra 13 (1.656m).

Amostra 14 (1.655m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


172

Amostra 15 (1.674m).

Amostra 16 (1.683m).

Amostra 17 (1.692m).

Amostra 18 (1.701m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


173

Amostra 19 (1.710m).

Amostra 20 (1.719m).

Amostra 21 (1.728m).

Amostra 22 (1.737m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


174

Amostra 23 (1.746m).

Amostra 24 (1.755m).

Amostra 25 (1.764m).

Amostra 26 (1.773m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


175

Amostra 27 (1.782m).

Amostra 28 (1.791m).

Amostra 29 (1.800m).

Amostra 30 (1.809m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


176

Amostra 31 (1.818m).

Amostra 32 (1.827m).

Amostra 33 (1.836m).

Amostra 34 (1.845m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


177

Amostra 35 (1.854m).

Amostra 36 (1.863m).

Amostra 37 (1.872m).

Amostra 38 (1.881m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


178

Amostra 39 (1.890m).

Amostra 40 (1.899m).

Amostra 41 (1.908m).

Amostra 42 (1.917m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


179

Amostra 43 (1.926m).

Amostra 44 (1.935m).

Amostra 45 (1.944m).

Amostra 46 (1.953m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


180

Amostra 47 (1.962m).

Amostra 48 (1.971m).

Amostra 49 (1.980m).

Amostra 50 (1.989m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


181

Amostra 51 (1.998m).

Amostra 52 (2.007m).

Amostra 53 (2.016m).

Amostra 54 (2.025m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


182

Amostra 55 (2.034m).

Amostra 56 (2.043m).

Amostra 57 (2.052m).

Amostra 58 (2.061m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


183

Amostra 59 (2.070m).

Amostra 60 (2.079 m).

Amostra 61 (2.088m).

Amostra 62 (2.097m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


184

Amostra 63 (2.106m).

Amostra 64 (2.115m).

Amostra 65 (2.124m).

Amostra 66 (2.127m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1 continua


185

Amostra 67 (2.130m).

APÊNDICE II – Fotomicrografias e difratogramas das amostras do poço P1


186

Nome Prof.(m) P.F. CaO SiO2 Al2O3 Fe2O3 K2O SO3 MgO P2O5 TiO2 Na2O MnO Sr Cl Ba
amostra (%) (%) (%) (%) (%) (%) (ppm) (%) (%) (%) (%) (%) (ppm) (ppm) (ppm)

P4.B 1553,20 43,60 55,00 0,30 0,00 0,10 0,00 0,00 0,90 0,10 0,000 0,00 0,000 0,00 0,00 0,00

P4.C 1554,20 43,27 55,52 0,34 0,04 0,07 0,02 201 0,49 0,017 0,008 0,17 0,014 170 135 0,00

P2.F 1639,50 43,03 55,46 0,50 0,07 0,11 0,05 288 0,46 0,066 0,066 0,17 0,021 256 69 0,00

P2.I1 1641,50 42,49 56,07 0,44 0,04 0,29 0,04 798 0,29 0,026 0,026 0,17 0,032 178 91 0,00

P2.N 1646,60 42,07 54,66 1,51 0,44 0,18 0,17 400 0,57 0,059 0,059 0,22 0,020 265 82 0,00

P3.K 1648,00 43,25 55,51 0,43 0,04 0,07 0,04 250 0,38 0,021 0,009 0,18 0,017 236 89 0,00

P3.H 1882,20 45,92 34,36 0,24 0,00 0,40 0,02 574 18,78 0,02 0,005 0,05 0,110 118 140 0,00

P3.E 1885,00 45,65 35,64 0,39 0,05 0,38 0,04 1016 17,54 0,013 0,008 0,07 0,095 118 205 4,00

P3.F 1885,50 45,43 38,75 0,48 0,08 0,26 0,05 632 14,66 0,017 0,011 0,08 0,104 136 115 0,00

P3.B 2037,90 20,60 21,90 31,50 12,30 5,50 3,40 0,80 2,20 0,200 0,700 0,70 0,000 0 0 0,10

P3.C 2039,00 32,31 28,60 19,85 6,26 4,23 1,82 4805 5,25 0,109 0,337 0,60 0,082 353 161 119

APÊNDICE III – Tabela com resultados das análises químicas por FRX das amostras dos poços P2, P3 e P4.
187

Nome Prof.(m) P.F. CaO SiO2 Al2O3 Fe2O3 K2O SO3 MgO P2O5 TiO2 Na2O MnO Sr Cl Ba
amostra (%) (%) (%) (%) (%) (%) (ppm) (%) (%) (%) (%) (%) (ppm) (ppm) (ppm)
12 1.647,00 *
13 1.656,00 *
14 1.665,00 38,86 50,23 5,61 0,89 1,83 0,14 2635 1,37 0,053 0,042 0,34 0,05 349 1094 1578
15 1.674,00 35,67 49,20 9,00 1,43 1,02 0,72 2154 2,06 0,052 0,056 0,44 0,048 347 120 263
16 1.683,00 43,43 43,39 1,74 0,38 0,83 0,14 918 9,72 0,023 0,023 0,13 0,067 238 87 21
17 1.692,00 39,93 51,01 3,83 0,73 0,72 0,34 1539 2,84 0,05 0,035 0,25 0,042 332 68 54
18 1.701,00 34,01 47,41 10,69 1,97 1,61 0,95 5089 2,09 0,043 0,069 0,54 0,048 253 78 204
19 1.710,00 41,23 54,42 1,83 0,30 0,57 0,17 1390 0,98 0,046 0,019 0,22 0,025 353 56 4
20 1.719,00 42,07 54,18 1,19 0,26 0,51 0,13 1278 1,25 0,035 0,017 0,18 0,017 331 49 0
21 1.728,00 42,56 49,72 1,78 0,42 0,44 0,19 957 4,49 0,037 0,024 0,18 0,032 307 70 2
22 1.737,00 41,76 52,97 1,89 0,52 0,70 0,19 1265 1,51 0,046 0,033 0,19 0,020 335 66 23
23 1.746,00 42,83 48,47 1,84 0,51 0,51 0,18 874 5,27 0,032 0,023 0,16 0,038 224 61 271
24 1.755,00 43,97 37,80 2,32 0,73 0,48 0,25 1223 13,94 0,036 0,014 0,10 0,095 190 119 1105
25 1.764,00 43,72 37,05 1,95 0,57 0,47 0,20 1490 15,5 0,058 0,004 0,09 0,070 195 95 1423
26 1.773,00 43,93 38,64 1,50 0,45 0,60 0,17 1555 14,3 0,061 0,024 0,08 0,049 184 93 154
27 1.782,00 39,82 37,61 6,19 1,21 0,83 0,56 2451 13,1 0,051 0,043 0,21 0,087 193 90 190
28 1.791,00 42,53 33,54 4,14 1,15 0,78 0,42 3636 16,78 0,035 0,057 0,11 0,069 149 118 24
29 1.800,00 43,41 37,54 1,85 0,58 0,69 0,20 2822 14,96 0,079 0,000 0,11 0,049 191 218 2041
30 1.809,00 42,88 36,85 2,51 0,79 0,94 0,28 3631 14,87 0,055 0,000 0,10 0,059 231 153 2760
31 1.818,00 43,16 34,74 1,75 0,49 0,93 0,21 2469 17,99 0,22 0,025 0,08 0,088 140 219 222
32 1.827,00 43,34 33,14 2,76 0,89 0,82 0,31 1896 18,14 0,123 0,041 0,09 0,087 133 265 209
33 1.836,00 46,18 31,70 1,56 0,44 0,27 0,17 598 19,43 0,036 0,024 0,06 0,039 99 149 39
34 1.845,00 45,77 31,91 2,08 0,62 0,30 0,21 769 18,84 0,045 0,028 0,07 0,035 104 149 0
35 1.854,00 42,82 32,48 5,45 1,74 1,02 0,55 3097 15,31 0,05 0,072 0,11 0,045 133 142 92
36 1.863,00 44,67 33,35 1,66 0,52 0,39 0,19 1253 18,63 0,27 0,026 0,07 0,057 114 195 52
37 1.872,00 39,45 30,24 9,64 3,10 2,92 0,99 11140 12,04 0,095 0,134 0,16 0,063 143 132 278
38 1.881,00 43,64 30,31 4,20 1,48 1,18 0,52 2571 18,06 0,081 0,071 0,07 0,104 116 182 33
39 1.890,00 46,15 31,57 0,62 0,17 1,31 0,07 3176 19,32 0,167 0,012 0,06 0,185 90 365 0
40 1.899,00 45,65 31,52 0,71 0,20 0,96 0,08 1638 20,33 0,048 0,012 0,07 0,199 89 453 0
41 1.908,00 45,03 32,22 0,52 0,14 1,16 0,06 2270 20,26 0,039 0,010 0,06 0,215 87 384 0

APÊNDICE IV – Resultado das análises químicas por FRX das amostras do poço P1. continua
188

Nome Prof.(m) P.F. CaO SiO2 Al2O3 Fe2O3 K2O SO3 MgO P2O5 TiO2 Na2O MnO Sr Cl Ba
amostra (%) (%) (%) (%) (%) (%) (ppm) (%) (%) (%) (%) (%) (ppm) (ppm) (ppm)
42 1.917,00 46,21 31,39 0,93 0,30 0,61 0,11 1017 20,07 0,027 0,016 0,06 0,136 78 354 0
43 1.926,00 46,15 31,4 0,89 0,28 0,66 0,11 1097 20,13 0,026 0,017 0,06 0,128 78 360 0
44 *
45 *
46 *
47 1.962,00 36,54 24,54 16,30 5,22 2,14 1,52 4636 12,55 0,061 0,210 0,24 0,150 105 233 214
48 1.971,00 40,27 33,45 7,29 2,45 1,66 0,74 4210 13,21 0,062 0,104 0,16 0,114 156 187 300
49 1.980,00 39,65 40,39 6,97 2,55 1,49 0,70 2654 7,48 0,08 0,091 0,21 0,067 205 145 280
50 1.989,00 41,42 42,83 5,06 1,53 0,96 0,51 1618 7,07 0,059 0,076 0,21 0,054 231 142 170
51 1.998,00 41,13 43,47 5,45 1,57 0,97 0,52 1446 6,27 0,056 0,084 0,21 0,051 277 196 108
52 2.007,00 18,12 20,16 38,22 9,19 3,59 2,84 12680 3,98 0,158 0,423 1,70 0,146 293 409 1216
53 2.016,00 29,31 35,48 20,06 5,35 3,97 1,81 5383 2,05 0,285 0,295 0,67 0,091 357 114 334
54 2.025,00 34,66 43,49 11,89 3,26 2,51 1,06 3818 1,84 0,181 0,185 0,43 0,054 439 101 75
55 2.034,00 31,39 36,15 18,50 5,24 3,24 1,68 3802 2,35 0,173 0,296 0,49 0,054 401 91 151
56 2.043,00 27,50 34,78 20,01 5,89 4,34 1,81 12533 2,26 1,255 0,324 0,45 0,078 291 97 153
57 2.052,00 38,43 47,53 6,62 1,81 1,93 0,62 3603 1,81 0,364 0,098 0,30 0,056 535 115 16
58 2.061,00 16,32 12,86 41,11 12,68 6,81 3,78 17760 2,94 0,242 0,651 0,71 0,063 193 140 357
59 2.070,00 39,36 49,40 5,11 1,45 1,51 0,56 3204 1,55 0,249 0,090 0,29 0,040 557 141 0
60 2.079,00 26,61 29,33 25,90 7,72 3,53 2,40 5620 2,48 0,162 0,420 0,73 0,061 292 456 316
61 2.088,00 33,87 40,31 14,41 4,26 2,23 1,44 4278 2,27 0,084 0,233 0,39 0,036 344 78 64
62 2.097,00 28,54 30,26 23,29 6,92 3,66 2,27 10977 2,86 0,211 0,349 0,45 0,044 266 76 136
63 2.106,00 41,27 50,30 3,56 1,00 0,74 0,38 1398 2,16 0,081 0,060 0,25 0,018 327 44 0
64 2.115,00 29,68 32,37 20,15 6,32 3,33 2,08 13656 3,68 0,145 0,319 0,47 0,046 267 70 113
65 2.124,00 32,79 24,06 21,88 2,46 1,83 1,17 5963 14,72 0,110 0,089 0,17 0,074 118 203 149
66 2.127,00 21,19 14,15 43,62 5,70 1,34 3,14 9307 8,52 0,104 0,102 1,04 0,070 172 168 556
67 2.130,00 *
* - amostras não analisadas

APÊNDICE IV – Tabela com resultados das análises químicas por FRX das amostras do poço P1.
189

Nº Profundidade δ13C δ18O Desvio Desvio


Amostra (m) (‰) (‰) δ13C(‰) δ18O(‰)
12 1.647,00 1,76 -5,90 0,05 0,07
13 1.656,00 1,65 -5,83 0,06 0,08
14 1.665,00 2,34 -5,87 0,03 0,05
15 1.674,00 1,71 -6,04 0,06 0,06
16 1.683,00 2,28 -5,71 0,07 0,04
17 1.692,00 1,88 -6,02 0,08 0,06
18 1.701,00 1,65 -6,01 0,03 0,04
19 1.710,00 2,11 -5,11 0,03 0,04
20 1.719,00 1,87 -5,65 0,05 0,05
21 1.728,00 1,95 -5,69 0,06 0,05
22 1.737,00 1,67 -6,13 0,03 0,03
23 1.746,00 1,27 -4,56 0,06 0,06
24 1.755,00 1,00 -5,27 0,05 0,05
25 1.764,00 1,42 -4,84 0,04 0,04
26 1.773,00 1,63 -5,18 0,06 0,05
27 1.782,00 1,25 -4,60 0,03 0,03
28 1.791,00 2,11 -4,78 0,05 0,08
29 1.800,00 2,22 -5,95 0,09 0,06
30 1.809,00 2,11 -4,93 0,06 0,04
31 1.818,00 2,15 -4,67 0,09 0,07
32 1.827,00 1,90 -4,54 0,08 0,07
33 1.836,00 1,53 -4,09 0,07 0,08
34 1.845,00 1,64 -3,97 0,08 0,09
35 1.854,00 1,76 -4,78 0,06 0,08
36 1.863,00 1,73 -3,78 0,07 0,07
37 1.872,00 1,85 -4,64 0,05 0,07
38 1.881,00 1,10 -4,42 0,05 0,06
39 1.890,00 2,58 -4,02 0,05 0,06
40 1.899,00 2,76 -3,48 0,02 0,04
41 1.908,00 2,79 -3,62 0,02 0,03
42 1.917,00 2,85 -3,87 0,03 0,03
43 1.926,00 2,85 -3,70 0,03 0,05
44 1.935,00 amostra não analisadas
45 1.944,00 amostra não analisadas
46 1.953,00 amostra não analisadas
47 1.962,00 1,81 -2,84 0,02 0,04
48 1.971,00 2,05 -3,64 0,02 0,04
49 1.980,00 2,16 -4,16 0,03 0,03
50 1.989,00 2,38 -4,45 0,05 0,05
51 1.998,00 2,36 -4,62 0,07 0,07
52 2.007,00 1,54 -5,07 0,11 0,09
53 2.016,00 2,12 -4,44 0,07 0,07
54 2.025,00 1,96 -4,12 0,07 0,07
55 2.034,00 2,40 -3,69 0,04 0,05
56 2.043,00 1,76 -4,10 0,07 0,06
57 2.052,00 1,42 -4,02 0,07 0,07
58 2.061,00 0,86 -4,51 0,15 0,14
59 2.070,00 2,46 -4,18 0,07 0,07
60 2.079,00 2,36 -4,24 0,06 0,09
61 2.088,00 3,01 -3,49 0,03 0,03
62 2.097,00 2,11 -3,87 0,04 0,04
63 2.106,00 2,01 -3,89 0,05 0,04
64 2.115,00 1,90 -3,60 0,08 0,08
65 2.124,00 1,69 -5,35 0,04 0,05
66 2.127,00 1,34 -5,06 0,03 0,05
67 2.130,00 0,61 -4,72 0,06 0,04

APÊNDICE V – Resultados das análises dos isótopos de carbono e oxigênio das amostras do P1.

Você também pode gostar