Renascimento
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Renascimento
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Renascimento, Renascença ou Renascentismo são
os termos usados para identificar o período da história da
Europa aproximadamente entre meados do século XIV e o
fim do século XVI. Os estudiosos, contudo, não chegaram a
um consenso sobre essa cronologia, havendo variações
consideráveis nas datas conforme o autor. Apesar das
transformações serem bem evidentes na cultura,
sociedade, economia, política e religião, caracterizando a
transição do feudalismo para o capitalismo e significando
uma evolução em relação às estruturas medievais, o termo
é mais comumente empregado para descrever seus efeitos
nas artes, na filosofia e nas ciências.
O movimento manifestou-se primeiro na região italiana da Toscana, tendo como principais centros
as cidades de Florença e Siena, de onde se difundiu para o resto da península Itálica e depois para
praticamente todos os países da Europa Ocidental, impulsionado pelo desenvolvimento da
imprensa e pela circulação de artistas e obras. A Itália permaneceu sempre como o local onde o
movimento apresentou sua expressão mais típica, porém manifestações renascentistas de grande
importância também ocorreram na Inglaterra, França, Alemanha, Países Baixos e Península
Ibérica. A difusão internacional dos referenciais italianos produziu em geral uma arte muito
diferente dos seus modelos, influenciada por tradições regionais, que para muitos é melhor
definida como um novo estilo, o Maneirismo. O termo Renascimento foi registrado pela primeira
vez por Giorgio Vasari no século XVI, um historiador que se empenhou em colocar Florença como
a protagonista de todas as inovações mais importantes, e seus escritos exerceram uma influência
decisiva sobre a crítica posterior.
Por muito tempo o período foi visto nos Estados Unidos e Europa como um movimento
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homogêneo, coerente e sempre progressivo, como o período mais interessante e fecundo desde a
Antiguidade, e uma de suas fases, a Alta Renascença, foi consagrada como a apoteose da longa
busca anterior pela expressão mais sublime e pela mais perfeita imitação dos clássicos, e seu legado
artístico foi considerado um insuperável paradigma de qualidade. Porém, estudos realizados nas
últimas décadas têm revisado essas opiniões tradicionais, considerando-as pouco substanciais ou
estereotipadas, e têm visto o período como muito mais complexo, diversificado, contraditório e
imprevisível do que se supôs ao longo de gerações. O novo consenso que se firmou, porém,
reconhece o Renascimento como um marco importante na história da Europa, como uma fase de
mudanças rápidas e relevantes em muitos domínios, como uma constelação de signos e símbolos
culturais que definiu muito do que a Europa foi até a Revolução Francesa, e que permanece
exercendo larga influência ainda nos dias de hoje, em muitas partes do mundo, tanto nos círculos
acadêmicos como na cultura popular.
Ideias principais
O humanismo pode ser apontado como o principal valor
cultivado no Renascimento, fundamentado em conceitos que
tinham uma origem remota na Antiguidade Clássica. Segundo
Lorenzo Casini, "uma das bases do movimento renascentista foi
a ideia de que o exemplo da Antiguidade Clássica constituía um
inestimável modelo de excelência no qual os tempos modernos,
tão decadentes e indignos, podiam se mirar para reparar os
estragos produzidos desde a queda do Império Romano".
Entendia-se, também, que Deus havia dado apenas uma
Verdade ao mundo, aquela que produzira o cristianismo e que
só ele preservara integralmente, mas fragmentos dela haviam
sido concedidos a outras culturas, destacando-se entre todas a
greco-romana, e por isso o que restara da Antiguidade em
bibliografia e outras relíquias era tido em alta consideração.[1] Modelos e proporções para a
reconstrução das ordens clássicas,
Vários elementos concorreram para o nascimento na Itália do ilustração em L'architettura, de Leon
Battista Alberti, edição de 1565
humanismo em sua forma mais típica. A memória das glórias
do Império Romano preservada nas ruínas e monumentos, e a
sobrevivência do latim como língua viva são aspectos relevantes. Obras de gramáticos,
comentaristas, médicos e outros eruditos mantinham em circulação referências do classicismo, e o
preparo de advogados, secretários, notários e outros oficiais exigia em geral o estudo da retórica e
legislação latina.[1] A herança clássica nunca desaparecera inteiramente para os italianos, e a
Toscana estava fortemente associada a ela. Mas enquanto havia sobrevivido ali esse cultivo dos
clássicos, ele era pobre quando comparado ao interesse gerado pelos autores antigos na França e
outros países nórdicos pelo menos desde o século IX. Quando a moda classicista começa a declinar
na França, no fim do século XIII, é que ela começa a se aquecer no centro da Itália, e ao que parece
isso se deveu em parte à influência francesa. Petrarca (1304–1374) é tradicionalmente chamado de
fundador do humanismo, mas considerando a existência de vários precursores dignos de nota,
como Giovanni del Virgilio em Bolonha, ou Albertino Mussato em Pádua, antes do que um
fundador, ele foi o primeiro grande expoente do movimento.[1][2]
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Mas se o humanismo foi notável pelo que influiu nos campos da ética, lógica, teologia,
jurisprudência, retórica, poética, artes e humanidades, pelo trabalho de descoberta, exegese,
tradução e divulgação dos textos clássicos, e pela contribuição que deu para a filosofia do
Renascimento nas áreas da filosofia moral e política, segundo Smith et alii a maior parte do
trabalho especificamente filosófico do período foi levado a cabo por filósofos treinados na antiga
tradição escolástica e seguidores de Aristóteles e por metafísicos seguidores de Platão.[2]
Apesar da ideia que os renascentistas pudessem fazer de si mesmos, o movimento jamais poderia
ser uma imitação literal da cultura antiga, por acontecer todo sob o manto do catolicismo, cujos
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Por um lado, alguns daqueles homens se viam como herdeiros A Batalha de São Romano, parte
de uma tradição que havia desaparecido por mil anos, crendo das guerras entre Siena e Florença.
reviver de fato uma grande cultura antiga, e sentindo-se até um Pintura de Paolo Uccello, 1438,
pouco como contemporâneos dos romanos.[7] Mas havia outros Galeria Nacional de Londres
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ética, gerou na época tanto debate que tornou-se claro que o pensamento renascentista foi muito
mais heterogêneo do que se acreditava antes, e que o período foi tão dinâmico e criativo, entre
outras coisas, pelo volume da controvérsia.[1][4][9][10][11]
A Renascença tem sido descrita muitas vezes como uma idade otimista — e a documentação mostra
que assim foi vista em seu tempo em círculos influentes —, mas quando confrontados com a vida
fora dos livros seus filósofos sempre tiveram dificuldades para lidar com o choque entre o
idealismo edênico que propunham como a herança natural do homem, um ser criado à semelhança
de Deus, e a dureza brutal da tirania política, das revoltas populares e das guerras, das epidemias,
da pobreza e da fome endêmicas, e dos crônicos dramas morais do homem comum e real.[1][9][10]
[11][12][13]
De qualquer maneira, o otimismo que era sustentado pelo menos entre as elites se perderia
novamente no século XVI, com a reaparição do ceticismo, do pessimismo, da ironia e do
pragmatismo em Erasmo, Maquiavel, Rabelais e Montaigne, que veneravam a beleza dos ideais do
Classicismo mas tristemente constatavam a impossibilidade de sua aplicação prática. Enquanto
parte da crítica entende essa mudança de atmosfera como a fase final do Renascimento, outra
parte a definiu como uma das bases de um movimento cultural distinto, o Maneirismo.[9][13]
Trecento
O Trecento (século XIV) representa a preparação para o
Renascimento e é um fenômeno basicamente italiano, mais
especificamente da região da Toscana, e embora em vários
centros tenha se verificado nesta época um processo incipiente
de humanização do pensamento e de afastamento do gótico,
como Pisa, Siena, Pádua, Veneza, Verona e Milão, na maioria
desses locais os regimes de governo eram conservadores
demais para permitir mudanças culturais significativas. Coube
a Florença assumir a vanguarda intelectual, conduzindo a
transformação do modelo medieval para o moderno. Porém,
essa centralização em Florença só se tornaria realmente nítida Giotto: Joaquim entre os pastores,
no fim do Trecento.[14] parte de um ciclo de afrescos na
Capela Scrovegni em Pádua,
A identificação dos elementos fundadores do Renascimento 1303-1305
italiano passa necessariamente pelo estudo da economia e
política florentina e seus impactos sociais e culturais, mas há
muitos aspectos obscuros e o campo é recheado de controvérsia. No entanto, segundo Richard
Lindholm, há um consenso bastante amplo de que o dinamismo econômico, a flexibilidade da
sociedade frente a desafios, sua capacidade de reação rápida em tempos de crise, sua disposição em
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Seus líderes em geral eram donos de grandes empresas privadas, tinham muito prestígio, e
ascendiam socialmente também assumindo cargos públicos, pelo mecenato das artes e da Igreja, e
pela construção de mansões e palácios para viver, formando um novo patriciado. Os grandes
empresários muitas vezes mantinham interesses paralelos em casas de câmbio, as precursoras dos
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Por outro lado, o surgimento da noção de livre concorrência e a forte ênfase no comércio
estruturava o sistema econômico em moldes capitalistas e materialistas, onde a tradição, inclusive
a religiosa, era sacrificada diante do racionalismo, da especulação financeira e do utilitarismo.[3][17]
Ao mesmo tempo, os florentinos nunca desenvolveram, como em outras regiões aconteceu, um
preconceito moral contra os negócios ou contra a riqueza em si, considerada um meio de ajudar o
próximo e participar ativamente da sociedade, e na verdade eles estavam conscientes de que o
progresso intelectual e artístico largamente dependia do sucesso material, mas como a avareza, o
orgulho, a cobiça e a usura eram considerados pecados, a Igreja associava-se aos interesses do
empresariado aplacando conflitos de consciência e oferecendo uma série de mecanismos
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Fora incorporada à doutrina a noção de que o perdão dos pecados e a salvação da alma poderiam
ser conquistados também através do serviço público e do embelezamento das cidades e igrejas com
obras de arte, além da prática de outras ações virtuosas, como a encomenda de missas e o
patrocínio do clero e irmandades e suas iniciativas, coisas tão salutares para o espírito como úteis
para aumentar o prestígio do doador. Na verdade, a caridade era um importante cimento social e
uma garantia de segurança pública. Além de sustentar o embelezamento das cidades, ao mecenato
grosso e à esmola miúda se devia também o amparo aos pobres, a existência de hospitais, asilos,
escolas, e o financiamento de muitas demandas administrativas, inclusive guerras, e por isso os
Estados sempre tiveram um forte interesse no bom funcionamento desse sistema. Fortalecia-se,
por várias maneiras, junto com a contribuição dos humanistas, muitos deles conselheiros de
príncipes ou encarregados de altas magistraturas cívicas, uma cultura pragmática e laica que
transformou a sociedade e influiu diretamente no mercado de arte e em suas formas de produção,
distribuição e valoração.[6][17][22]
Mesmo que o cristianismo jamais tenha sido posto seriamente em xeque, no fim do século iniciava
um período de declínio progressivo no prestígio da Igreja e na capacidade da religião de controlar
as pessoas e oferecer um modelo coerente de cultura e sociedade, não só pelo contexto político,
econômico e social laicizante, mas também porque os cientistas e humanistas passariam a buscar
explicações racionais e demonstráveis para os fenômenos da natureza, questionando as explicações
transcendentais, tradicionais ou folclóricas, e isso tanto fragilizava o cânone religioso como
alterava as relações entre Deus, o homem e o restante da Criação. Desse embate, continuado e
renovado ao longo de todo o Renascimento, o homem reemergiria bom, belo, poderoso,
magnificado, e o mundo passaria a ser visto como um lugar bom para se viver.[3][6][17][22]
Quattrocento
Depois de Florença ter experimentado momentos de grande brilho, o final do Trecento havia
encontrado a cidade acuada pelos avanços do Ducado de Milão, havia perdido vários territórios e
todos os antigos aliados, e teve o acesso ao mar cortado.[14][19] O Quattrocento (século XV) abriu
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A expansão da produção local de tecidos de luxo cessou na década de 1420, mas os mercados se
recuperaram e voltaram a expandir em meados do século no comércio de tecidos espanhóis e
orientais e na produção de opções mais populares, e não obstante as costumeiras agitações
políticas periódicas, a cidade atravessou outro período de prosperidade e de intensificação no
mecenato artístico, reconquistou territórios e comprou o domínio de cidades portuárias para
reestruturar seu comércio internacional. Conquistava a primazia política em toda a Toscana,
apesar de Milão e Nápoles permanecerem como ameaças constantes.[28] A oligarquia burguesa
florentina então monopolizava todo o sistema bancário europeu e adquiria brilho aristocrático e
grande cultura, e enchia seus palácios e capelas de obras classicistas. A ostentação gerou
descontentamento na classe média, materializada numa reversão ao idealismo místico do estilo
gótico. Estas duas tendências opostas marcaram a primeira metade deste século, até que a pequena
burguesia abandonou suas resistências, possibilitando uma primeira grande síntese estética que
viria a transbordar de Florença para quase todo o território italiano, definida pela primazia do
racionalismo e dos valores clássicos.[21][29]
Enquanto isso, o humanismo amadurecia e se espalhava pela Europa através de Ficino, Rodolphus
Agricola, Erasmo de Roterdão, Mirandola e Thomas More. Leonardo Bruni inaugurava a
historiografia moderna e a ciência e a filosofia progrediam com Luca Pacioli, János Vitéz, Nicolas
Chuquet, Regiomontanus, Nicolau de Cusa e Georg von Peuerbach, entre muitos outros. Ao mesmo
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Bizantino, e esse novo conhecimento dos textos clássicos originais, bem como de suas traduções,
foi, no entender de Luiz Marques, "uma das maiores operações de apropriação de uma cultura por
outra, comparável em certa medida à da Grécia pela Roma dos Cipiões no século II a.C. Ela reflete,
além disso, a passagem, crucial para a história do Quattrocento, da hegemonia intelectual de
Aristóteles para a de Platão e de Plotino". Nesse grande influxo de ideias foi reintroduzida na Itália
toda a estrutura da antiga Paideia, um corpo de princípios éticos, sociais, culturais e pedagógicos
concebido pelos gregos e destinado a formar um cidadão modelar.[34][36][37] As novas informações
e conhecimentos e a concomitante transformação em todas as áreas da cultura levaram os
intelectuais a sentir que se achavam em meio a uma fase de renovação comparável às fases
brilhantes das civilizações antigas, em oposição à Idade Média anterior, que passou a ser
considerada uma era de obscuridade e ignorância.[5][38]
A morte de Lourenço de Médici em 1492, que governara Florença por quase trinta anos, e que
ganhou fama como um dos maiores mecenas do século, mais o colapso do governo aristocrático em
1494, assinalaram o fim da fase dourada da cidade.[39] Ao longo do Quattrocento Florença foi o
principal — mas nunca o único — polo de difusão do classicismo e do humanismo para o centro-
norte da Itália, e cultivou a cultura que veio a ganhar fama como a mais perfeita expressão do
Renascimento e o modelo contra o qual todas as outras expressões foram comparadas. Essa
tradição laudatória se fortaleceu depois de Vasari lançar no século XVI suas Vidas dos Artistas, o
marco inaugural da historiografia da arte moderna, que atribuiu o claro protagonismo e a
excelência superior aos florentinos. Esta obra teve larga repercussão e influiu nos rumos da
historiografia por séculos.[13][40][41]
Alta Renascença
A Alta Renascença cronologicamente engloba os anos finais do Quattrocento e as primeiras
décadas do Cinquecento, sendo delimitada aproximadamente pelas obras de maturidade de
Leonardo da Vinci (a partir de c. 1480) e o Saque de Roma em 1527. Nesse período Roma assumiu
a vanguarda artística e intelectual, deixando Florença em segundo plano. Isso se deve
principalmente ao mecenato papal e a um programa de reformas e embelezamentos urbanos, que
procurou revitalizar a antiga capital imperial à inspiração, exatamente, da glória dos césares, da
qual os papas se julgaram os legítimos herdeiros. Ao mesmo tempo, como sede do papado e
plataforma de suas pretensões imperialistas, reafirmava-se sua condição de "Cabeça do Mundo".
[35][43][44]
Isso se refletiu ainda na recriação de práticas sociais e simbólicas que imitavam as da Antiguidade,
como os grandes cortejos de triunfo, as festas públicas suntuosas, as cunhagens de medalhas, as
representações teatrais grandiloquentes, cheias de figuras históricas, mitológicas e alegóricas.
Roma até então não havia produzido grandes artistas renascentistas, e o classicismo havia sido
plantado através da presença temporária de artistas de outras partes. Mas com a fixação na cidade
de mestres do porte de Rafael, Michelangelo e Bramante formou-se uma dinâmica escola local,
tornando a cidade o mais rico repositório da arte da Alta Renascença.[35][42]
Nesta altura, o classicismo era a corrente estética dominante na Itália, com muitos centros
importantes de cultivo e difusão. Pela primeira vez a Antiguidade era compreendida como uma
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Renascença, que ressuscitou o diálogo filosófico entre Platão e Aristóteles, ou seja, entre o
idealismo e o empirismo.[49]
O classicismo desta fase, embora maduro e rico, conseguindo plasmar obras de grande pujança,
tinha forte carga formalista e retrospectiva, e por isso vem sendo considerado por alguns críticos
recentes como uma tendência conservadora e não progressista.[43] O próprio humanismo, em sua
versão romana, perdeu seu ardor cívico e anticlerical e foi censurado e domesticado pelos papas,
convertendo-o, em essência, em uma justificativa filosófica para seu programa imperialista.[43][44]
O código de ética que se impunha entre os círculos ilustrados, uma construção abstrata e um teatro
social na mais concreta acepção do termo, prescrevia a moderação, autocontrole, dignidade e
polidez em tudo. O livro O Cortesão, de Baldassare Castiglione, é sua súmula teórica.[49]
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Essa mudança estava sendo preparada há algum tempo. Na década de 1520 o papado havia se
envolvido em tantos conflitos internacionais e a pressão em seu redor era tanta que poucas pessoas
duvidavam de que Roma estava condenada, considerando sua queda apenas uma questão de
tempo. Desde bem antes do desastre de 1527 o próprio Rafael, tradicionalmente visto como um dos
mais puros representantes da moderação e do equilíbrio considerados típicos da Alta Renascença,
em várias obras importantes concebeu as cenas com contrastes tão fortes, os grupos com tanto
movimento, as figuras com expressão tão apaixonada, e em posições tão antinaturais e retóricas,
que segundo Frederick Hartt ele poderia ser colocado não só como um precursor do Maneirismo,
mas também do Barroco, e se tivesse vivido mais sem dúvida teria acompanhado Michelangelo e
outros na transição completa para um estilo consistentemente diferenciado daquele do início do
século.[57]
Vasari, um dos principais eruditos do Cinquecento, não percebeu uma solução de continuidade
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Porém, depois do século XVII e por muito tempo o Maneirismo foi visto como uma degeneração
dos ideais clássicos autênticos, desenvolvida por artistas perturbados ou mais preocupados com os
caprichos de um virtuosismo mórbido e fútil. Muitos críticos posteriores atribuíram o dramatismo
e assimetria das obras do período a uma imitação exagerada do estilo de Michelangelo e de Giulio
Romano, mas esses traços também foram interpretados como um reflexo de uma época agitada e
desiludida.[48][54][58][59] Hartt assinalou a influência de movimentos de reforma da Igreja na
mudança de mentalidade.[57] A crítica recente entende que os movimentos culturais são sempre
fruto de múltiplos fatores, e o Maneirismo italiano não é uma exceção, mas considera-se que foi em
essência o produto de ambientes cortesãos conservadores, de cerimonialismo complexo e cultura
eclética e ultra-sofisticada, e não um movimento intencionalmente anticlássico.[43][48][60]
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O Cinquecento foi também a era de fundação das primeiras Academias de Arte, como a Academia
das Artes do Desenho em Florença e a Academia de São Lucas em Roma, uma evolução das guildas
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Críticas
O Renascimento foi historicamente muito enaltecido como a abertura de uma nova era, uma era
iluminada pela Razão em que os homens, criados à imagem da Divindade, cumpririam a profecia
de reinar sobre o mundo com sabedoria, e cujas obras maravilhosas os colocariam na companhia
dos heróis, dos patriarcas, dos santos e dos anjos. Hoje entende-se que a realidade social não
refletiu os altos ideais expressos na arte, e que esse ufanismo exaltado em torno do movimento foi
em boa parte obra dos próprios renascentistas, cuja produção intelectual, que os auto-apresentava
como os fundadores de uma nova Idade Dourada, e que colocava Florença no centro de tudo,
determinou boa parte dos rumos da crítica posterior. Mesmo movimentos subsequentes
anticlássicos, como o Barroco, reconheciam nos clássicos e em seus herdeiros renascentistas
valores valiosos.[10][13][70][71]
Em meados do século XIX o período havia se tornado um dos principais campos de investigação
erudita, e a publicação em 1860 do clássico A História do Renascimento na Itália, de Jacob
Burckhardt, foi o coroamento de cinco séculos de tradição historiográfica que colocava o
Renascimento como o marco inicial da modernidade, comparando-o à remoção de um véu dos
olhos da humanidade, permitindo-lhe ver claramente.[55][72][73] Mas a obra de Burckhardt surgiu
quando já era sentida uma tendência revisionista dessa tradição, e a repercussão que ela causou só
acentuou a polêmica. Desde lá uma massa de novos estudos revolucionou a maneira como a arte
antiga era estudada e compreendida.[13][74][75]
A tradição e a autoridade foram sendo postas de lado em favor do estudo preferencial das fontes
primárias e de análises mais críticas, nuançadas, contextualizadas e inclusivas; percebeu-se que
havia muito mais diversidade de opiniões entre os próprios renascentistas do que se pensava, e que
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muito devido a essa diversidade se deve o dinamismo e originalidade do período; o rápido avanço
em técnicas científicas de datação e restauro e de análises físico-químicas dos materiais
possibilitou que inúmeras atribuições de autoria tradicionais fossem consolidadas, e outras tantas
fossem abandonadas definitivamente, reorganizando de maneira significativa o mapa da produção
artística; foram definidas novas cronologias e redefinidas as individualidades artísticas e suas
contribuições; novas vias de difusão e influência foram identificadas, e muitas obras importantes
foram redescobertas. Nesse processo, uma série de cânones historiográficos foi derrubada, e a
própria tradição de divisão da História em períodos definidos ("Renascimento", "Barroco",
"Neoclassicismo"), passou a ser vista como uma construção artificial que falseia o entendimento de
um processo social que é continuado e cria estereótipos conceituais inconsistentes. Além disso, o
estudo de todo o contexto histórico, político e social foi e vem sendo muito aprofundado, colocando
as expressões culturais contra um pano de fundo valorado de uma forma que não cessa de se
atualizar e se tornar mais plural.[10][11][13][55][70][73][76]
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A partir da emergência das vanguardas modernas no início do século XX, e depois em várias ondas
sucessivas de reaquecimento, a crítica recente estendeu as relações do Renascimento cultural para
virtualmente todos os aspectos da vida daquele período, e vem interpretando seu legado de
maneiras tão várias que os antigos consensos se esfarelaram em muitos tópicos particulares.
Preservou-se, contudo, a impressão definida de que em muitos domínios o período foi fértil em
realizações magistrais e inovadoras e que deixou uma funda marca na cultura e sociedade do
ocidente por muito tempo.[12][13][73][74]
Legado
Embora a crítica recente tenha imposto um forte abalo ao
tradicional prestígio do Renascimento, passando a valorizar
igualmente todos os períodos e a apreciá-los pelas suas
especificidades, isso ao mesmo tempo possibilitou um
extraordinário enriquecimento e alargamento na compreensão
que hoje se tem dele, mas aquele prestígio nunca foi seriamente
ameaçado, principalmente porque o Renascimento, de forma
incontestável, foi um dos alicerces e parte essencial da
civilização moderna do ocidente, sendo uma referência ainda Grafite com uma releitura da Mona
viva nos dias de hoje. Algumas de suas obras mais importantes Lisa em uma rua do Porto
se tornaram ícones também da cultura popular, como o David
e A Criação de Michelangelo e a Mona Lisa de Da Vinci. A
quantidade de estudos sobre o tema, que vem aumentando a
cada dia, e a continuidade de uma cerrada polêmica sobre
inúmeros aspectos, evidenciam que o Renascimento é rico o
bastante para continuar atraindo a atenção da crítica e do
público.[10][13][55][73][77]
O Adão da Criação de Michelangelo
Mesmo com opiniões muito divergentes sobre aspectos incorporado à iconografia do
particulares, hoje parece ser um consenso que o Renascimento Monstro do Espaguete Voador
foi um período em que muitas crenças arraigadas e tomadas
como verdadeiras foram postas em discussão e testadas através
de métodos científicos de investigação, inaugurando uma fase em que o predomínio da religião e
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seus dogmas deixou de ser absoluto e abriu caminho para o desenvolvimento da ciência e da
tecnologia como hoje as conhecemos. O pensamento político subsequente não teria sido articulado
sem as bases humanísticas consolidadas no Renascimento, quando os filósofos foram buscar na
Antiguidade precedentes para defender o regime republicano e a liberdade humana, atualizando
ideias que tiveram um impacto decisivo na jurisprudência, na teoria constitucional e na formação
dos Estados modernos.[1][70][84]
No campo das artes visuais foram desenvolvidos recursos que possibilitaram um salto imenso em
relação à Idade Média em termos de capacidade de representação do espaço, da natureza e do
corpo humano, ressuscitando técnicas que haviam sido perdidas desde a Antiguidade e criando
outras inéditas a partir dali. A linguagem arquitetônica dos palácios, igrejas e grandes
monumentos que foi estabelecida a partir da herança clássica ainda hoje permanece válida e é
empregada quando se deseja emprestar dignidade e importância à edificação moderna. Na
literatura as línguas vernáculas se tornaram dignas de veicular cultura e conhecimento, e o estudo
dos textos dos filósofos greco-romanos disseminou máximas ainda hoje presentes na voz popular e
que incentivam valores elevados como o heroísmo, o espírito público e o altruísmo, que são peças
fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e livre para todos. A reverência pelo
passado clássico e pelos seus melhores valores criou uma nova visão sobre a história e fundou a
historiografia moderna, e proveu as bases para a formação de um sistema de ensino que na época
se estendeu para além das elites e ainda hoje estrutura o currículo escolar de grande parte do
ocidente e sustenta sua ordem social e seus sistemas de governo. Por fim, a vasta produção artística
que sobrevive em tantos países da Europa continua a atrair multidões de todas as partes do mundo
e constitui parte significativa da própria definição de cultura ocidental.[12]
Com tantas associações, por mais que os estudiosos se esforcem por esclarecer o assunto, ele
permanece recheado de lendas, estereótipos e passionalismo, especialmente na visão popular. Nas
palavras de John Jeffries Martin, chefe do Departamento de História da Universidade de Duke e
editor de um grande volume de ensaios críticos publicado em 2003, onde sintetizou a evolução da
historiografia e as tendências da crítica mais recente,
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Arte
Artes visuais
Nas artes o Renascimento se caracterizou, em linhas muito
gerais, pela inspiração nos antigos gregos e romanos, e pela
concepção de arte como uma imitação da natureza, tendo o
homem nesse panorama um lugar privilegiado. Mas mais do
que uma imitação, a natureza devia, a fim de ser bem
representada, passar por uma tradução que a organizava sob
uma óptica racional e matemática, como um espelho de uma
ordem divina que à arte cabia desvendar e expressar, num
período marcado por muita curiosidade intelectual, um espírito
Um aparato óptico para definição da
analítico e organizador e uma matematização e cientificização perspectiva na construção de um
de todos os fenômenos naturais. É uma época de aspirações alaúde
grandiosas, o artista se aproximava do cientista e do filósofo, e
os humanistas ambicionavam um saber enciclopédico;
aparecem importantes tratados normatizadores e ensaios diversificados sobre arte e arquitetura,
lançando-se os fundamentos para uma nova historiografia e uma nova abordagem do processo de
criação. Todas as artes se beneficiam dos avanços científicos, introduzindo-se aperfeiçoamentos
nas técnicas e nos materiais em vários domínios. Destaca-se, por exemplo, a recuperação da
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O sistema de produção
O artista no Renascimento era um profissional. Até o
século XVI são extremamente raros os exemplos documentados
de obras criadas fora do sistema de encomenda, e a maciça
maioria dos profissionais estava ligada a uma guilda. Os
pintores florentinos pertenciam a uma das Artes Maiores,
curiosamente, a dos Médicos e Boticários. Os escultores em
bronze também eram classe distinguida, pertencendo à Arte da
Seda. Já os outros faziam parte das Artes Menores, como os
artistas da pedra e da madeira. Todos eles eram considerados
profissionais das Artes Mecânicas, que na escala de prestígio da
época ficavam abaixo das Artes Liberais, as únicas em que a
nobreza podia se dedicar profissionalmente sem desonra. As
guildas organizavam o sistema de produção e comércio, e Andrea Pisano: A arte da
participavam na distribuição de encomendas entre as diversas metalurgia, 1334-43
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grupos já organizados ou recrutando ajudantes na própria cidade onde a obra seria realizada, mas
eram uma minoria. A manutenção de uma base fixa, por outro lado, não impedia as oficinas de
receberem encomendas de outros locais, especialmente se seus mestres fossem renomados.[99]
Os artistas em geral eram mal pagos, há muitos relatos sobre pobreza, e só os mestres e seus
principais ajudantes conseguiam uma situação confortável, alguns mestres até ficaram ricos, mas
sua renda estava sempre sujeita a um mercado muito flutuante. Ao longo do Renascimento os
humanistas e os principais artistas desenvolveram um trabalho sistemático para emancipar a
classe artística das Artes Mecânicas e instalá-la entre as Liberais, tendo nisso um sucesso
considerável, mas não completo. O costume de reconhecer o talento superlativo de um artista
existia antes; Giotto, Verrocchio, Donatello e muitos outros foram elogiados com entusiasmo e de
maneira generalizada por seus contemporâneos, mas até aparecerem Michelangelo, Rafael e
Leonardo, nenhum artista havia sido objeto da bajulação dos poderosos em tão alto grau, quase
invertendo a relação de autoridade entre o empregado e o patrão, e entre a elite e a plebe, e isso se
deve tanto à mudança de entendimento do papel da arte como à consciência desses artistas a
respeito de seu valor e à sua determinação em fazê-lo reconhecer.[99]
Pintura
A contribuição maior da pintura do Renascimento foi sua nova
maneira de representar a natureza, através de domínio tal
sobre a técnica pictórica e a perspectiva de ponto central, que
foi capaz de criar uma eficiente ilusão de espaço tridimensional
em uma superfície plana. Tal conquista significou um
afastamento radical em relação ao sistema medieval de
representação, com sua estaticidade, seu espaço sem
profundidade, seu esquematismo figurativo e seu sistema de
proporções simbólico, onde os personagens de maior
importância tinham maior tamanho. O novo parâmetro
estabelecido tinha um fundamento matemático e físico, seu Giotto: Deposição de Cristo, ciclo de
resultado era "realista" (no sentido de criar uma ilusão de afrescos na Capela Scrovegni,
espaço eficiente), e sua organização estava centrada no ponto 1304-1306. Pádua
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Nesse sentido, depois de Giotto, o próximo marco evolutivo foi Masaccio, em cujas obras o homem
tem um aspecto nitidamente enobrecido e cuja presença visual é decididamente concreta, com
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eficiente uso dos efeitos de volume e espaço tridimensional. Deu importante contribuição para a
articulação da linguagem visual moderna do ocidente, todos os principais pintores florentinos da
geração seguinte foram influenciados por ele, e quando sua obra foi "redescoberta" por Leonardo
da Vinci, Michelangelo e Rafael, ganhou ainda maior apreciação, permanecendo em alta por seis
séculos. Para muitos críticos ele é o verdadeiro fundador do Renascimento na pintura, e dele se
disse que foi "o primeiro que soube pintar homens que realmente tocavam seus pés na terra".[102]
[103][104][105]
Em Veneza, outro centro de grande importância e talvez o principal rival de Florença neste século,
havia um grupo de artistas ilustres, como Jacopo Bellini, Giovanni Bellini, Vittore Carpaccio,
Mauro Codussi e Antonello da Messina. Siena, que já fizera parte da vanguarda em anos anteriores,
agora hesitava entre o apelo espiritual do gótico e o fascínio profano do classicismo, e perdia
ímpeto. Enquanto isso também noutras regiões do norte da Itália começava a se fortalecer o
classicismo, através de Perugino em Perugia; Cosimo Tura em Ferrara, Pinturicchio, Melozzo da
Forli e Mantegna em Pádua e Mântua. Pisanello atuou em um grande número de cidades.[105][106]
Também deve-se lembrar a influência renovadora sobre os pintores italianos da técnica da pintura
a óleo, que no Quattrocento estava sendo desenvolvida nos Países Baixos e atingira elevado nível
de refinamento, possibilitando a criação de imagens muito mais precisas e nítidas e com um
sombreado muito mais sutil do que o que era conseguido com o afresco, a encáustica e a têmpera,
uma novidade que teve um impacto importante na retratística e no paisagismo. As telas flamengas
eram muitíssimas apreciadas na Itália exatamente por essas qualidades, e uma grande quantidade
delas foi importada, copiada ou emulada pelos italianos.[34]
Mais adiante, na Alta Renascença, Leonardo da Vinci penetrou no terreno das atmosferas
ambíguas e misteriosas com uma sofisticada técnica de óleo, ao mesmo tempo em que aliava
fortemente arte e ciência. Com Rafael o sistema classicista de representação chegou a uma escala
grandiosa, criando imponentes arquiteturas ilusionísticas e cenários, mas também traduziu nas
suas madonnas uma doçura antes desconhecida, que logo se tornou muito popular. Em Veneza se
destaca principalmente Ticiano, explorando novas relações cromáticas e uma técnica de pintura
mais livre e gestual. Michelangelo, coroando o processo de exaltação do homem, na Capela Sistina
levou-o a uma inflada expressão do mítico, do sublime, do heroico e do patético. Muitos outros
deixaram contribuições importantes, como Correggio, Sebastiano del Piombo, Andrea del Sarto,
Jacopo Palma, Giorgione e Pontormo.[105][107]
Mas essa fase, de grande equilíbrio formal, não durou muito, logo seria transformada
profundamente, dando lugar ao Maneirismo. Com os maneiristas toda a concepção de espaço foi
alterada, a perspectiva se fragmentou em múltiplos pontos de vista, e as proporções da figura
humana foram distorcias com finalidades expressivas ou estéticas, formulando-se uma linguagem
visual mais dinâmica, vibrátil, subjetiva, dramática, preciosa, intelectualista e sofisticada.[108][109]
Escultura
Na escultura os sinais de uma revalorização de uma estética classicista são antigos. Nicola Pisano
em torno de 1260 produziu um púlpito para o Batistério de Pisa, que é considerado a manifestação
precursora da Renascença em escultura, onde inseriu um grande nu masculino representando a
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virtude da Fortaleza, e parece claro que sua inspiração principal veio da observação de sarcófagos
romanos decorados com relevos que existiam no Cemitério de Pisa. Sua contribuição, embora
limitada a pouquíssimas obras, é considerada tão relevante para a história da escultura quanto a de
Giotto para a pintura. De fato, a arte de Giotto é largamente devedora das pesquisas de Nicola
Pisano.[110][111]
Em meados do século Andrea Pisano ganhou notoriedade como autor dos relevos da porta sul do
Batistério de Florença e arquiteto da Catedral de Orvieto. Foi mestre de Orcagna, cujo tabernáculo
em Orsanmichele é uma das obras-primas do período, e de Giovanni di Balduccio, autor de um
requintado e complexo monumento funerário na Capela Portinari de Milão. Sua geração foi
dominada pela influência da pintura de Giotto. Apesar dos avanços promovidos por uma
quantidade de mestres em atividade, sua obra ainda reflete um cruzamento de correntes que seria
típico de todo o Trecento, e os elementos góticos ainda são predominantes ou importantes em
todos eles.[114][115][116][117]
Para o fim do Trecento surge em Florença a figura de Lorenzo Ghiberti, autor de relevos no
Batistério de São João, onde os modelos clássicos se impõem com força. Logo em seguida
Donatello conduz os avanços em várias frentes, exercendo uma larga influência. Nas suas obras
principais figuram as estátuas de profetas do Antigo Testamento, dos quais Habacuque e Jeremias
estão entre os mais impressionantes, imagens cujo porte e expressividade remete à retratística da
Roma republicana. Também inovou na estatuária equestre, criando o monumento de Gattamelata,
o mais importante em seu gênero desde o de Marco Aurélio, do século II. Por fim, sua descarnada
Madalena penitente, em madeira, de 1453, é uma imagem de dor, austeridade e transfiguração que
não teve paralelos em sua época, introduzindo um pungente senso de drama e realidade na
estatuária que só se vira no helenismo.[118][119]
Na geração seguinte, Verrocchio se destaca pela teatralidade e dinamismo das composições. Foi
pintor, escultor, cenografista e decorador, um dos principais favoritos dos Medici. Seu Cristo e São
Tomé tem grande realismo e poesia. Compôs um Menino com um golfinho para a Fonte de Netuno
em Florença que é o protótipo da figura serpentinata, que seria o modelo formal mais prestigiado
no Maneirismo e Barroco, e com sua Dama com um ramo de flores apresentou um novo modelo
de busto, incluindo os braços e metade do corpo, que se tornou popular. Sua obra maior, o
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A escultura estava presente em todos os locais, nas ruas como monumentos e ornamentos de
edifícios, nos salões da nobreza, nas igrejas, e no lar mais simples havia sempre uma imagem
devocional. Vasos, mobiliário e apetrechos de uso diário da elite frequentemente tinham detalhes
esculpidos ou gravados, e podem ser incluídos neste campo miniaturas como as medalhas
comemorativas. Neste período foram desenvolvidos recursos técnicos que possibilitaram um salto
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Música
Em linhas gerais, a música do Renascimento não oferece um
panorama de quebras abruptas de continuidade, e todo o longo
período pode ser considerado o terreno da lenta transformação
do universo modal para o tonal, e da polifonia horizontal para a
harmonia vertical. O Renascimento foi também um período de
grande renovação no tratamento da voz e na orquestração, no Adão, de Tullio Lombardo, c. 1490–
1495. Museu Metropolitano de Nova
instrumental e na consolidação dos gêneros e formas
Iorque. Na comparação com a
puramente instrumentais com as suítes de danças para bailes, imagem oposta, percebe-se as duas
havendo grande demanda por animação musical em todo principais vertentes na figuração
festejo ou cerimônia, público ou privado.[130] renascentista, uma pelo realismo, e
outra pelo idealismo
Na técnica compositiva a polifonia melismática dos órganons,
derivada diretamente do canto gregoriano, é abandonada em
favor de uma escrita mais enxuta, com vozes tratadas de maneira cada vez mais equilibrada. No
início do período o movimento paralelo é usado com moderação, acidentes são raros mas as
dissonâncias duras são comuns. Mais adiante a escrita a três vozes começa a apresentar tríades,
dando uma impressão de tonalidade. Tenta-se pela primeira vez escrever música descritiva ou
programática, os rígidos modos rítmicos cedem lugar à isorritmia e a formas mais livres e
dinâmicas como a balada, a chanson e o madrigal. Na música sacra a forma da missa se torna a
mais prestigiada. A notação evolui para adoção de notas de menor valor, e mais para o final do
período passa a ser aceito o intervalo de terça como consonância, quando antes apenas a quinta, a
oitava e o uníssono o eram.[131][132]
Os precursores desta transformação não foram italianos, mas franceses como Guillaume de
Machaut, autor da maior realização musical do Trecento em toda Europa, a Missa de Notre Dame,
e Philippe de Vitry, muito elogiado por Petrarca. Da música italiana dessa fase inicial muito pouco
chegou a nós, embora se saiba que a atividade era intensa e quase toda no terreno profano, sendo
as principais fontes de partituras o Codex Rossi, o Codex Squarcialupi e o Codex Panciatichi. Entre
seus representantes estão Matteo da Perugia, Donato da Cascia, Johannes Ciconia e sobretudo
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Exemplos musicais
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Arquitetura
A permanência de muitos vestígios da Roma Antiga em solo
italiano jamais deixou de influir na plástica edificatória local,
seja na utilização de elementos estruturais ou materiais usados
pelos romanos, seja mantendo viva a memória das formas
clássicas.[133] Mesmo assim, no Trecento o gótico continua a
linha dominante e o classicismo só viria a emergir com força no
século seguinte, em meio a um novo interesse pelas grandes
Grupo de cantores, Luca della
realizações do passado. Esse interesse foi estimulado pela
Robbia, 1431–38. Museo dell'Opera
redescoberta de bibliografia clássica dada como perdida, como
del Duomo, Florença
o De Architectura de Vitrúvio, encontrado na biblioteca da
Abadia do Monte Cassino em 1414 ou 1415. Nele o autor
exaltava o círculo como forma perfeita, e elaborava sobre
proporções ideais da edificação e da figura humana, e sobre
simetria e relações da arquitetura com o homem. Suas ideias
seriam então desenvolvidas por outros arquitetos, como o
primeiro grande expoente do classicismo arquitetônico, Filippo
Brunelleschi, que tirou sua inspiração também das ruínas que
estudara em Roma. Foi o primeiro a usar modernamente as
ordens arquitetônicas de maneira coerente, instaurando um
novo sistema de proporções baseado na escala humana.[133] Alberti: fachada de Santa Maria
[134] Também se deve a ele o uso precursor da perspectiva para Novella
representação ilusionística do espaço tridimensional em um
plano bidimensional, uma técnica que seria aprofundada
enormemente nos séculos vindouros e definiria todo o estilo da arte futura, inaugurando uma
fertilissima associação entre a arte e a ciência. Leon Battista Alberti é outro arquiteto de grande
importância, considerado um perfeito exemplo do "homem universal" renascentista, versátil em
várias especialidades. Foi o autor do tratado De re aedificatoria, que se tornaria canônico. Outros
arquitetos, artistas e filósofos acrescentaram à discussão, como Luca Pacioli em seu De Divina
Proportione, Leonardo com seus desenhos de igrejas centradas e Francesco di Giorgio com o
Trattato di architettura, ingegneria e arte militare.
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No lado profano aristocratas como os Medici, os Strozzi, os Pazzi, asseguram seu status ordenando
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A italianização da Europa
Com o crescente movimento de artistas, humanistas e professores entre as cidades ao norte dos
Alpes e a península Itálica, e com a grande circulação de textos impressos e obras de arte através de
reproduções em gravura, o classicismo italiano iniciou em meados do século XV uma etapa de
difusão por todo o continente. Francisco I da França e Carlos V, Sacro Imperador Romano, logo
reconheceram o potencial do prestígio da arte italiana para promover suas imagens régias, e foram
agentes decisivos para a sua divulgação intensiva além dos Alpes. Mas isso aconteceu no início do
século XVI, quando o ciclo renascentista já tinha pelo menos duzentos anos de amadurecimento na
Itália e já estava em sua fase maneirista.[57]
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Destarte, cabe advertir que não houve nada como um Quattrocento ou uma Alta Renascença no
restante da Europa. No Cinquecento, período em que a italianização europeia atinge um pico, as
tradições regionais, mesmo que em alguma medida conhecedoras do classicismo, ainda estavam
pesadamente imersas em estilos já obsoletos na Itália, como o românico e o gótico. O resultado foi
muito heterogêneo e ricamente híbrido, produziu a abertura de múltiplos caminhos, e sua análise
tem sido recheada de polêmica, onde o único grande consenso que se formou enfatiza a diversidade
do movimento, sua ampla irradiação e a dificuldade de uma descrição generalista coerente para
suas manifestações, na perspectiva da existência de escolas regionais e nacionais com forte
individualidade, cada qual com uma história e valores específicos.[57]
França
A influência renascentista via Flandres e a Borgonha já existia desde o século XV, como se nota na
produção de Jean Fouquet, mas a Guerra dos Cem Anos e as epidemias de peste atrasaram seu
florescimento, que ocorre somente a partir da invasão francesa da Itália por Carlos VIII em 1494. O
período se estende até cerca de 1610, mas seu final é tumultuado com as guerras de religião entre
católicos e huguenotes, que devastaram e enfraqueceram o país. Durante sua vigência a França
inicia o desenvolvimento do absolutismo e se expande pelo mar explorando a América. O centro
focal se estabelece em Fontainebleau, sede da corte, e ali se forma a Escola de Fontainebleau,
integrada por franceses, flamengos e italianos como Rosso Fiorentino, Antoine Caron, Francesco
Primaticcio, Niccolò dell'Abbate e Toussaint Dubreuil, sendo uma referência para outros como
François Clouet, Jean Clouet, Jean Goujon, Germain Pilon e Pierre Lescot. Leonardo também
esteve presente ali. Apesar disso, a pintura conheceu um desenvolvimento relativamente pobre e
pouco inovador, mais concentrada no detalhe precioso e no virtuosismo, nenhum artista francês
deste período adquiriu uma fama continental como conseguiram tantos italianos, e o classicismo só
é perceptível através do filtro maneirista.[138][139] Por outro lado, surgiu um estilo de decoração
que foi logo muito imitado na Europa, aliando pintura, estuques em relevo e elementos em
madeira lavrada.
A arquitetura foi uma das artes francesas renascentistas mais originais, e não apareceram em toda
a Europa fora da Itália construções comparáveis aos grandes palácios franceses como os de
Fontainebleau, Tulherias, Chambord, Louvre e Anet, a maior parte deles com grandes jardins
formais, destacando-se os arquitetos Pierre Lescot e Philibert de l'Orme, fortemente influenciados
pelo trabalho de Vignola e Palladio, defensores de um classicismo mais puro, e organizadores de
fachadas e plantas simétricas. De qualquer maneira, o seu classicismo não foi de fato puro:
reorganizaram as ordens clássicas de diferentes maneiras, criaram variantes, dinamizaram os
planos e volumes e deram grande ênfase a uma decoração luxuriante e caprichosa, contradizendo
os princípios de racionalidade, simplicidade e economia formal do classicismo mais típico, além de
preservarem tradições locais características do gótico.[138][140]
Na música houve um enorme florescimento através da Escola da Borgonha, que dominou a cena
musical européia durante o século XV e daria origem à Escola franco-flamenga, que produziria
mestres como Josquin des Prez, Clément Janequin e Claude Le Jeune. A chanson francesa do
século XVI teria um papel na formação da canzona italiana, e sua Musique mesurée estabeleceria
um padrão de escrita vocal declamatória na tentativa de recriação da música do teatro grego, e
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favoreceria a evolução para a plena tonalidade. Também apareceu um gênero de música sacra
distinto de seus modelos italianos, conhecido como chanson spirituelle. Na literatura se destacam
Rabelais, um precursor do gênero fantástico, Montaigne, popularizador do gênero ensaio onde é
até hoje um dos maiores nomes, e o grupo integrante da Plêiade, com Pierre de Ronsard, Joachim
du Bellay e Jean-Antoine de Baïf, que buscavam um atualização vernácula da literatura greco-
romana, a emulação de formas específicas e a criação de neologismos baseados no latim e no grego.
[141]
Na música os Países Baixos, junto com o noroeste da França, se tornam o centro principal para
toda a Europa através da Escola franco-flamenga. A pintura desenvolve uma escola original, que
popularizou a pintura a óleo e dava enorme atenção ao detalhe e à linha, mantendo-se muito fiel à
temática sacra e incorporando sua tradição gótica às inovações maneiristas italianas. Teve em Jan
van Eyck, Rogier van der Weyden e Hieronymus Bosch seus precursores no século XV, e logo a
região daria sua contribuição própria à arte europeia consolidando o paisagismo através de
Joachim Patinir e a pintura de gênero com Pieter Brueghel o velho e Pieter Aertsen. Outros nomes
notáveis são Mabuse, Maarten van Heemskerck, Quentin Matsys, Lucas van Leyden, Frans Floris,
Adriaen Isenbrandt e Joos van Cleve.
A Alemanha impulsionou seu Renascimento fundindo seu rico passado gótico com os elementos
italianos e flamengos. Um de seus primeiros mestres foi Konrad Witz, seguindo-se Albrecht
Altdorfer e Albrecht Dürer, que esteve em Veneza duas vezes e foi lá profundamente influenciado,
lamentando ter de voltar para o norte. Junto com o erudito Johann Reuchlin, Dürer foi uma das
maiores influências para disseminação do Renascimento no centro da Europa e também nos Países
Baixos, onde suas célebres gravuras foram altamente elogiadas por Erasmo, que o chamou de "o
Apeles das linhas negras". A escola romana foi um elemento importante para a formação do estilo
de Hans Burgkmair e Hans Holbein, ambos de Augsburgo, visitada por Ticiano.[5][142] Na música
basta a menção a Orlando de Lasso, um integrante da Escola franco-flamenga radicado em
Munique que se tornaria o compositor mais célebre da Europa em sua geração, a ponto de ser
nobilitado pelo imperador Maximiliano II e tornado cavaleiro pelo papa Gregório XIII, algo
extremamente raro para um músico.
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Quentin Massys:
Retrato de um
notário, início do
século XVI. Galeria
Nacional da Escócia
Portugal
A influência do Renascimento em Portugal estende-se de meados do século XV a finais do XVI.
Embora o Renascimento italiano tenha tido um impacto modesto na arte, os portugueses foram
influentes no alargamento da visão do mundo dos europeus, estimulando a curiosidade humanista.
[143]
Como pioneiro da exploração europeia, Portugal floresceu no final do século XV com as navegações
para o oriente, auferindo lucros imensos que fizeram crescer a burguesia comercial e enriquecer a
nobreza, permitindo luxos e o cultivar do espírito. O contacto com o Renascimento chegou através
da influência de ricos mercadores italianos e flamengos que investiam no comércio marítimo. O
contato comercial com a França, Espanha e Inglaterra era assíduo, e o intercâmbio cultural se
intensificou.
Como principal potência naval, atraiu especialistas em matemática, astronomia e tecnologia naval,
como Pedro Nunes e Abraão Zacuto; os cartógrafos Pedro Reinel, Lopo Homem, Estevão Gomes e
Diogo Ribeiro, que fizeram avanços cruciais para mapear o mundo. E enviados ao oriente, como o
boticário Tomé Pires e o médico Garcia de Orta, recolheram e publicaram trabalhos sobre as novas
plantas e medicamentos locais.
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Espanha
Na Espanha, as circunstâncias foram em vários pontos semelhantes. A reconquista do território
espanhol aos árabes e o fantástico afluxo de riquezas das colônias americanas, com o intenso
intercâmbio comercial e cultural associado, sustentaram uma fase de expansão e enriquecimento
sem precedentes da arte local. Artistas como Alonso Berruguete, Diego de Siloé, Tomás Luis de
Vitoria, El Greco, Pedro Machuca, Juan Bautista de Toledo, Cristóbal de Morales, Garcilaso de la
Vega, Juan de Herrera, Miguel de Cervantes e muitos mais deixaram obra notável em estilo
clássico ou maneirista, mais dramático do que seus modelos italianos, já que o espírito da Contra-
Reforma ali tinha um baluarte e, em escritores sacros como Teresa de Ávila, Inácio de Loyola e
João da Cruz, grandes representantes. Particularmente na arquitetura a ornamentação luxuriante
se torna típica do estilo que se conhece como plateresco, uma síntese única de influências góticas,
mouriscas e renascentistas. A Universidade de Salamanca, cujo ensino tinha moldes humanistas,
mais a fixação de italianos como Pellegrino Tibaldi, Leone Leoni e Pompeo Leoni injetaram uma
força adicional no processo.[142][146]
O último Renascimento chega a cruzar o oceano e se enraizar na América e no oriente, onde ainda
hoje sobrevivem muitos mosteiros e igrejas fundadas pelos colonizadores espanhóis em centros do
México e do Peru, e pelos portugueses no Brasil, em Macau e Goa, alguns deles hoje Patrimônio da
Humanidade.
Exemplo musical
Inglaterra
Na Inglaterra, o Renascimento coincide com a chamada Era Elisabetana, de grande expansão
marítima e de relativa estabilidade interna depois da devastação da longa Guerra das Rosas,
quando se tornou possível pensar em cultura e arte. Como na maior parte dos outros países da
Europa, a herança gótica ainda viva mesclou-se com referências da Renascença tardia, mas suas
características distintivas são o predomínio da literatura e da música sobre as outras artes, e sua
vigência até cerca de 1620. Poetas como John Donne e John Milton pesquisam novas formas de
compreender a fé cristã, e dramaturgos como Shakespeare e Marlowe se movem com desenvoltura
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entre temas centrais da vida humana — a traição, a transcendência, a honra, o amor, a morte — em
tragédias célebres como Romeu e Julieta, Macbeth, Otelo, o Mouro de Veneza (Shakespeare), e
Doutor Fausto (Marlowe), bem como sobre seus aspectos mais prosaicos e ligeiros em fábulas
encantadoras como Sonho de uma noite de verão (Shakespeare). Filósofos como Francis Bacon
descortinam novos limites para o pensamento abstrato e refletem sobre uma sociedade ideal, e na
música a escola madrigalesca italiana é assimilada por Thomas Morley, Thomas Weelkes, Orlando
Gibbons e muitos outros, adquire um sabor inconfundivelmente local e cria uma tradição que
permanece viva até hoje, ao lado de grandes polifonistas sacros como John Taverner, William Byrd
e Thomas Tallis, este deixando o famoso moteto Spem in alium, para quarenta vozes divididas em
oito coros, uma composição sem paralelos em sua época pela maestria no manejo de enormes
massas vocais. Na arquitetura se destacaram Robert Smythson e os palladianistas Richard Boyle,
Edward Lovett Pearce e Inigo Jones, cuja obra repercutiu até na América do Norte, fazendo
discípulos em George Berkeley, James Hoban, Peter Harrison e Thomas Jefferson.[147] Na pintura
o Renascimento foi recebido principalmente através da Alemanha e dos Países Baixos, com a figura
maior de Hans Holbein, florescendo depois com William Segar, William Scrots, Nicholas Hilliard e
vários outros mestres da Escola Tudor.[148]
Exemplos musicais
Ver também
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▪ Contra-Reforma
▪ Estilo gótico
▪ História da arte
▪ História da arte ocidental
▪ História da Itália
▪ Humanismo
▪ Maneirismo
▪ Reforma Protestante
Escolas nacionais
▪ Portugal Renascentista
▪ Renascença italiana
▪ Renascimento flamengo
Artes e ciências
▪ Arquitetura do Renascimento
▪ Ciência do Renascimento
▪ Escultura do Renascimento
▪ Literatura do Renascimento
▪ Música do Renascimento
▪ Pintura do Renascimento
▪ Política do Renascimento
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Ligações externas
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▪ «Renaissance Connection - Interativo» (http://www.renaissanceconnection.org/main.cfm) (em
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▪ «Florence: Virtual Travel in the City of the Renaissance» (http://www.italyguides.it/us/florence/fl
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