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ANAGEMEN

MM T
HS

anos

DESDE 1997
Nº 160
OS QUATRO DOSSIÊS PARA VOCÊ COMPETIR NO SÉCULO 21

os quatro dossiês para


você competir no século 21
regeneração • disrupção • conexão • coragem
ENTENDA AS PRINCIPAIS OPORTUNIDADES E AMEAÇAS
QUE SURGEM PARA PESSOAS E EMPRESAS NESSAS
FRENTES E PREPARE-SE PARA VOAR
00160

9 771415 886800

nº 160 - R$ 58,00
revistahsm.com.br

EXCLUSIVOS! ESTUDO DE AMBIDESTRIA NO BRASIL | ENTREVISTA COM FRANCISCO SABOYA, ANPROTEC


NOSSO EDITORIAL

Para voar na nova economia, é preciso quebrar a corrente

C
omeço esta carta falando em voar rizontal e vertical, com abrangência e
por três razões. A primeira é para profundidade.)
homenagear a nossa superatleta
da ginástica artística, Rebeca Andra- HSM Management e HSM+ sempre
de, que, além de ampliar cada vez mais trocaram figurinhas, como se faz em um
sua coleção de medalhas nas grandes bom ecossistema de educação, com o
competições internacionais, vem voan- público de uma se beneficiando do que
do tanto (literalmente até) na ginásti- a outra oferece, e vice-versa. Desta vez,
ca que é publicamente reverenciada porém, fomos mais longe. Nosso time
por craques como a americana Simo- editorial “ralou” para antecipar o máxi-
ne Biles, dado o nível de excelência e mo possível a imensidão de conteúdos
complexidade de suas apresentações. que haverá no HSM+. Assim o assinan-
Rebeca aceitou nosso convite para par- te da revista tem um pouco da experiên-
ticipar do HSM+ 2023, o que deu a nós cia do evento em tempo real e o parti-
da organização uma alegria infinita, e cipante do evento recebe a revista com
ao nosso público inspiração de primei- o registro do que viveu e um riquíssimo
ra grandeza para colocar em prática to- conteúdo estendido.
dos os aprendizados obtidos no nosso
megaevento anual. O que eu recomendo ler nesta edição?
Como sempre, tudo. [risos] Mas não 3
A segunda razão tem a ver com a capa vou me furtar a fazer escolhas. Entre
desta revista, que convida o leitor a voar os múltiplos materiais alinhados com o
na economia do conhecimento e, para HSM+, logo nas próximas páginas su-
isso, a quebrar as correntes que eventual- giro que você leia o conteúdo de quatro
mente o estejam impedindo de fazê-lo. headliners do HSM+: Ron Adner falan-
do de estratégia de ecossistemas; Anna
O terceiro motivo da escolha do verbo Lembke, a autora de Nação Dopamina, REYNALDO GAMA é
“voar” no título desta carta são os te- um dos livros que mais me impactou nos CEO da HSM e coCEO
mas sobre os quais esta revista se de- últimos tempos; Karim Lakhani, mestre da SingularityU
bruça. Pela primeira vez, temos quatro em inteligência artificial; e Donald Sull, Brazil. Pós-graduado
Dossiês, em vez de um, para espelhar o que tem tangibilizado a cultura organi- em finanças, possui
HSM+, que tem quatro eixos temáticos: zacional com dados, como ninguém fez MBA com extensão
• disrupção, antes. Sugiro também o artigo de Bruno na China, na França
• regeneração, Stefani sobre a liderança de conexões, e na Inglaterra. Tem
• conexão e em que ele conta de sua transição de mais de 12 anos
• coragem. executivo global para uma carreira solo, de experiência no
e o estudo do centro de inovação CESAR mercado financeiro.
Pelo trabalho de curadoria com nos- sobre organizações design-driven. É casado com a
sa rede de thinkers e practioners da Marcia e coleciona
gestão, estamos confiantes que esses Entre os conteúdos adicionais que vão discos de vinil.
são os quatro principais motores da amplificar sua experiência, recomendo
atual economia do conhecimento, so- a pesquisa inédita sobre ambidestria (e
bretudo para organizações e gestores sobre líderes ambidestros) no Brasil, e
brasileiros. (Lembro que o Dossiê é uma entrevista reveladora com Fran-
aquela parte em que tratamos um de- cisco Saboya, um dos atores-chave no
safio de gestão e liderança com vários ecossistema de inovação do País. Uma
conteúdos e olhares, de maneira ho- ótima leitura!

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 157


NESTA EDIÇÃO #160 • 2023

ARTIG OS, EN T R E V ISTAS , E ST UDOS E R E PORTA GE NS

Disrupção Regeneração
DOSSies
ˆ

11 50
Romper com o status quo virou Especialmente para o Brasil, esse pode
uma regra no novo jogo ser o grande diferencial competitivo

14 Contagem regressiva com… 51 ContAgem regressiva com...


...Maria Augusta Orofino: como ...Carlos Piazza: Os futuros devem ser regenerativos
disruptar e não ser disruptado
53 A re-floresta abundante dos negócios
Use a lente “nem negacionismo nem apocalipse”

16 Pesquisa inédita: ambidestria


Um retrato Inova/Michael Page de
empresas e lideranças brasileiras
4 que atuam no presente e no futuro 59 indigenomics em ascensão
24 DEZ grandes mudanças E os negócios indígenas podem mudar paradigmas

Como os líderes podem aproveitar 62 O CAMINHO DO CO2-to-x


as ondas entre setores
A promissora abordagem complementar à
captura e armazenamento de carbono
27 a “varejização” da
indústria (de novo) H S M + : A R QU É T I P O S
Por que esse movimento se reaquece

34 framework para redes


colaborativas diversificadas
Um método com oito passos a seguir CAPA: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGEM SHUTTERSTOCK

39 Empresa design-driven é...


... aquela cujas pessoas (não
processos) comungam dez pilares

8 Karim lakhani, Donald sull,


43 A chave do modelo de negócio Anna lembke, Ron adner
E mais 55 modelos (templates!)
para abrir essa porta Nos palcos do HSM+, das culturas tóxicas e vício em
dopamina ao melhor de estratégia e inteligência artificial

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


69 Conexão 85 Coragem
Afinal, relações verdadeiras são a base Tudo começa por entender do que você
dos negócios na nova economia tem medo realmente

70 contagem regressiva com... 86 contagem regressiva com...


... Carolina Strobel: tuas conexões te ... Helena Bertho: as conversas
enxergam melhor que você mesmo são a melhor ferramenta

Helena Bertho
72 Os desafios
institucionais
Francisco Saboya,
líder da Anprotec e
da Embrapii, mapeia
oportunidades e
ameaças do contexto

78 Novo olhar para uma nova


Jean Rosier
carreira solo 5
Liderar conexões é a chave deste reino
88 a “assustadora” estrada
para a criatividade
Entendendo a ignição e seus três elementos
Nossos colunistas
92 MENOS microestresse, mais coragem
48 Ellen Kiss Você pode reconhecer o mal dos profissionais de alto
Não é incerteza, é ambiguidade; coragem!
desempenho (microestressores) e controlá-los
49 Edward Tse
Novo BRICS e chip da Huawei mudam a cena
H S M + : U M M O SA I C O
84 Daniela Garcia
Quatro boas companhias para os líderes
101 passeando pelo
100 Neil Patel e Rafael Mayrink megaevento
Mais coragem para tirar a roupa Inspire-se com Rebeca
Andrade, pense como
104 Convidado: Silvio Meira futurista, lidere melhor no
IMAGENS: ACERVO PESSOAL E SHUTTERSTOCK

Uma anotação para 2024 e nove IAs modelo híbrido, aproveite


a descentralização
geográfica, entenda
106 Nossa equipe e AS ORGANIZAÇÕES uma healthtech…
CITADAS POR AQUI

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


CONTEÚDO

Antifrágil, ambidestro e servidor:


a tríade do líder moderno
CONHEÇA O ARCABOUÇO DE HABILIDADES NECESSÁRIAS PARA SER UM LÍDER MELHOR EM 2024
POR LEONARDO GUIMARÃES

N
o complexo mundo BANI (frágil, ansioso, não performance do indivíduo”, aponta Megido.
linear e incompreensível, na sigla em inglês) o Em um cenário de constantes transformações, quais
líder precisa se adaptar rapidamente aos novos são as habilidades imprescindíveis para uma boa lide-
desafios, estar atento ao que acontece no dia a rança? Entre algumas das habilidades consideradas fun-
dia da empresa ao mesmo tempo em que planeja damentais para os líderes e que são abordadas nos cursos
seu futuro e, ainda, estar pronto para servir quem está ao seu da Audencia Business School voltados à alta liderança es-
redor. “Estar a serviço da organização, das pessoas que fazem tão:
parte dela, de todos os stakeholders com quem a própria orga-
nização se relaciona. Em síntese, estar a serviço da harmonia Antifragilidade
do ecossistema. O resultado disso é gerar valor, preservando Quando o matemático e estatístico Nassim Taleb lançou
o equilíbrio econômico, social e ambiental”, comenta Victor o livro Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos,
Megido, diretor de desenvolvimento de negócios no Brasil da rapidamente a obra se tornou referência entre gestores,
Audencia Business School, escola de negócios francesa com especialmente após a crise causada pela pandemia de Co-
campi em Nantes, Paris, China e que tem diversas parcerias vid-19. Segundo Taleb, a antifragilidade é um neologismo
no Brasil. proposto e seria o exato oposto da fragilidade, estando
Como trouxemos na edição 159 de HSM Management, além da robustez. O antifrágil resiste a choques e ao tem-
a liderança não é só um processo de criação coletiva. Todas po e fica melhor. Segundo o autor, diz-se que os melhores
as pessoas exercem três lideranças, e não uma – a lideran- cavalos perdem quando competem com os mais lentos e
ça de si, dos relacionamentos e a sistêmica (de sistemas vencem contra os melhores rivais. Com isso ele quer di-
como a empresa e o mundo, no qual ela opera). “É preci- zer que a ausência de um agente estressor leva à falência.
so alimentar a alma da organização, a sua cultura. É isso O líder antifrágil então aceita o enfrentamento como um
que chamamos de cultura sistêmica da organização, onde modo positivo para se tornar sempre a melhor versão de
a colaboração no coletivo permite o engajamento com alta si mesmo.
No mundo corporativo, ser antifrágil significa estar parte do perfil de um bom gestor. Esse mapeamento faz
preparado para o improvável e disposto a crescer com os parte do dia a dia da Audencia, que em seus cursos –
erros e dificuldades que o cenário externo impõe. A pan- pensados para executivos seniores e jovens futuras lide-
demia de Covid-19 é o grande exemplo recente de uma si- ranças – oferece a experimentação de desafios e orques-
tuação que demanda líderes antifrágeis. Com o lockdown, trações que serão importantes na jornada das lideranças.
o gerenciamento das equipes sofreu uma transformação Além disso, segundo Megido, uma das provocações
instantânea e a adaptação rápida revelou aqueles que se que são feitas aos alunos diz respeito a como lidar com o
destacavam entre os gestores. Hoje, o ambiente corporati- fracasso, “dividir o joio do trigo” e de que maneira pro-
vo volátil e complexo ainda impõe, diariamente, situações mover a criatividade sem confundi-la com negligência.
que precisam de líderes com grande capacidade de adap- “Aí está o salto quântico das organizações.” Sem o de-
tação. A antifragilidade é uma habilidade indispensável senvolvimento de novas lideranças, a tendência é sobre-
para o líder moderno. carregar aqueles que estão à frente das equipes, o que
mostra que ensinar a ser líder também é uma habilidade
Ambidestria importante para o gestor moderno. “O líder é um orques-
No mundo corporativo, a ambidestria ganhou relevân- trador de valor social dentro de sua organização e de ou-
cia quando Julian Birkinshaw, professor de estratégia e tras na rede”, lembra Megido.
empreendedorismo da London Business School, publicou
um artigo sobre o tema em MIT Sloan Management Re- Um convite ao diálogo
view, revelando a importância da adaptabilidade para os A Audencia realizou dois estudos com uma amostra
gestores. Ambidestria, segundo ele, é um conceito que tra- representativa de gestores e colaboradores franceses
ta da gestão simultânea do presente e do futuro. O desafio para comparar como cada grupo classifica a gestão de
para muitos gestores é como lidar, ao mesmo tempo, com sua empresa. Os levantamentos mostraram que as visões
as prioridades e a rentabilidade do presente sem compro- são divergentes: enquanto 63% dos gestores dizem que
meter o olhar para o futuro e mapear tendências e oportu- a organização tem uma gestão inovadora ou muito ino-
nidades de inovação. vadora, 71% dos colaboradores a consideram pouco ou
Ser um líder ambidestro trata da importância em equi- nada inovadora.
librar as obrigações de curto prazo – com metas a serem Outro ponto de divergência foi acerca do estilo de ges-
alcançadas e problemas que precisam ser resolvidos rapi- tão: 81% dos colaboradores franceses dizem que o di-
damente – com as demandas que o mercado impõe para o retor geral de sua empresa pratica uma gestão diretiva,
longo prazo, como inovação e transformação digital. Não sem características de uma liderança colaborativa. Entre
à toa, é uma das habilidades necessárias para a liderança os gestores, porém, apenas 14% classificam seu estilo de
aprimorar em 2024. gestão como diretivo.
Não é possível dizer qual dos dois grupos tem a razão,
Serviço mas uma conclusão é certa: falta diálogo entre eles. Ao
Em 1977, Robert K. Greenleaf escreveu Serveant Lea- avaliar outras pesquisas realizadas no Brasil e no mun-
der (ou, em tradução livre, líder servidor), livro que inau- do, nota-se que há uma tendência na dificuldade da co-
gurou um debate na gestão empresarial sobre o papel da municação nas organizações. Nesse contexto, espaços de
liderança nas empresas. A obra segue dando lições impor- discussão regulares e com métodos como o design thin-
tantes ao falar sobre a necessidade de servir a todos os king podem melhorar a comunicação e os elos de valor
stakeholders de uma organização, como colaboradores, no ambiente de trabalho.
clientes e a comunidade ao redor da companhia. Esse é o Em artigo publicado no site Les Echos, os diretores
valor social da organização. acadêmicos da Audencia, Thibaut Bardon e Nicolas Ar-
Para Greenleaf, o individualismo não combina com um naud, dizem que “a ampliação do diálogo nas empresas é
bom líder, que tem aguçado senso de comunidade e lide- um convite a desafiar o mito de que um líder é angélico
ra pelo exemplo. A empresa com líderes servidores será e onisciente, que sozinho constrói visões messiânicas da
capaz de criar uma cultura poderosa e de se reinventar empresa que dirige”.
frequentemente. Megido explica que o princípio que norteia uma orga-
nização é também a sua meta. Isso define o como fazer,
Como ensinar a ser líder? “porque não é de qualquer jeito, não é qualquer vento
Um dos papéis exercidos pelo gestor está relacionado ao que favorece a organização a chegar aonde busca ir. O
desenvolvimento de novas lideranças que serão responsá- que fazemos no cotidiano é mais assertivo tendo clareza
veis por manter o negócio em pé no futuro, sendo um “lí- de qual tomada de decisão é mais coerente e consistente
der pedagógico”, aquele que se preocupa com a formação com o princípio e fim. Assim, erros são aprendizagem.
de novos gestores. Neste cenário, é importante ser capaz Essa é a honestidade intelectual da liderança, é a gover-
de identificar e promover as hard e soft skills que fazem nança corporativa”, conclui Megido.
8 #GESTORES

Headliners do hsm+ antecipam arquétipos de 2024


por Adriana Salles Gomes

Um gestor vai fazer uma leitura de tarô para o ano que se inicia – como tantos fazem – e
se destacam o rei de ouros, o rei de paus, a dama de copas e o valete de espadas. O que
significa? Se tiver passado pelo HSM+, o gestor talvez veja uma correspondência entre as
cartas e os arquétipos dos gestores necessários nestes tempos: o líder focado em estratégia
é o rei de ouros (o aspecto material); focado em cultura, rei de paus (o espiritual); a líder
voltada às pessoas é a dama de copas (as emoções;) e o inovador da tecnologia, o valete de
espadas (as ferramentas). No HSM+, Ron Adner, Donald Sull, Anna Lembke e Karim Lakhani
deixam clara a necessidade desses quatro arquétipos de gestores para gerar valor hoje.
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGENS SHUTTERSTOCK

líder de estratégia:
ta por competidores ecossistêmicos.
RON ADNER Essa foi a resposta que, desde o final
de 2021, Ron Adner vem dando sobre
Que tipo de estrategista os novos fundamentos da estratégia
você será em 2024? Um corporativa. Exemplos de ecossiste-
que sabe atuar em uma mas disruptadores são as plataformas
era marcada pela disrupção impos- de mobilidade (seguem disruptando os

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


fabricantes de automóveis), as fintechs âncora da definição, veja bem, é a pro-
(disruptam os bancos) e os serviços de posta de valor em questão. NO HSM+ 2023,
streaming (disruptam as tradicionais 4. Orquestrar e executar como EIXOS DE GESTÃO
emissoras de televisão). No livro Win- nunca. A execução eficaz e a entrega E ARQUÉTIPOS
ning the Right Game: How to disrupt, são fundamentais no framework de DE GESTORES
defend, and deliver in a changing Adner. As empresas devem ser real-
world, o renomado professor da Tuck mente capazes de executar seus pla- O HSM+ foi desenha-
School of Business (no Dartmouth Col- nos com sucesso no jogo escolhido. do com quatro eixos
lege, de New Hampshire, EUA) e con- Isso envolve, de maneira central, a temáticos: disrup-
sultor de empresas iluminou o mundo habilidade da orquestração – ou seja, ção, regeneração,
dos ecossistemas, a importância de alinhar todos os elementos do negócio conexão e coragem.
o líder compreender o que é o “jogo para cumprir a estratégia. São uma tentativa de
certo” para seu negócio nesse novo 5. Adaptar-se e flexibilizar. sintetizar oportuni-
mundo e um framework para jogá-lo Reconhecendo – e aceitando, final- dades e ameaças da
de maneira eficaz. Esse framework é mente – que o ambiente de negócios nova economia.
composto de cinco pontos: está em constante mudança, o fra- • constituem as
1.Descobrir seu jogo certo mework incentiva a adaptabilidade alavancas-chave
para, só então, tratar de vencê- e a flexibilidade para responder às para aproveitar as
-lo. Isso se refere ao contexto espe- mudanças no mercado e no ecossis- oportunidades e
cífico e ao ambiente em que seu ne- tema. Isso pode envolver pivotagens • tornam-se, quando
gócio opera, incluindo entender os ou ajustes de estratégias conforme em falta, as princi-
desafios, oportunidades e dinâmicas necessário. pais ameaças.
únicas que mais importam para sua Tal e qual, esta revis-
empresa. Adner diz que um perigo tão líder de cultura: ta foi desenhada com
grande quanto perder o jogo é vencer quatro dossiês sobre
o jogo errado. Segundo ele, foi o que DONALD SULL os mesmos temas.
aconteceu com a Kodak, que fez tran-
sições em seu negócio para ser vence- Enquanto muitos fi- Os headliners do 9
dora no jogo da fotografia digital, mas caram lamentando o en- HSM+ simbolizam
sem se dar conta de que outro jogo es- fraquecimento da cultu- arquétipos de gesto-
tava sendo jogado e não a incluía. ra durante o distanciamento social res do século 21 por
2. Lidar com a inovação den- na pandemia de covid-19, Donald suas especialidades.
tro de casa e a disrupção lá fora. Sull agiu. O professor da MIT Sloan Ron Adner traz o ar-
As empresas devem estar sintoniza- School of Management (de Massa- quétipo estrategista
das tanto com o potencial de disrup- chusetts, EUA) desenvolveu um siste- (no tarô, ele seria o
ção de seu setor/mercado como com ma de avaliação de culturas corporati- rei de ouros). Donald
a necessidade de inovação. Isso inclui vas baseado em inteligência artificial Sull personifica a cul-
não apenas o desenvolvimento de (mais especificamente em proces- tura (o rei de paus no
produtos ou serviços inovadores, mas samento de linguagem natural) em tarô). Anna Lembke,
também o reconhecimento de quando parceria com o Glassdoor, plataforma que trata de saúde
a disrupção representa uma ameaça e de avaliação de empresas por seus mental e adições,
a resposta eficaz a ela. funcionários. Queria descobrir como é o arquétipo das
3. Ter pensamento de ecossis- diagnosticar e como tratar uma cul- pessoas (no tarô, a
tema. Significa considerar a ampla tura enfraquecida. Sull transformou o dama de copas). E Ka-
rede de partes interessadas, parceiros trabalho em um ranking que rapida- rim Lakhani, ao focar
e concorrentes que impactam o seu ne- mente virou referência nos EUA – o inteligência artificial,
gócio. Entender como sua empresa se MIT SMR/Glassdoor Culture 500 – e constitui o arquéti-
encaixa no ecossistema maior e como também em uma startup de avaliação po de ferramentas
pode colaborar com outros players é de empresa, a CultureX, cofundada tecnológicas (o valete
um aspecto fundamental do frame- com seu filho Charles. de espadas).
work. Importante: a definição de Ad- Sabe o que distingue uma boa cul-
ner para ecossistema, que ele acredita tura corporativa de uma ruim aos
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

ser realmente útil, é a estrutura por olhos dos funcionários? Sull desco-
meio da qual as empresas interagem briu em seu estudo de 2020 haver
para entregar uma proposta de valor. A mais de 60 valores distintos que as

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empresas listaram entre seus “valo- passou os últimos 25 anos estudan-
res essenciais” oficiais, que embasam do adições. Ela é autora de um dos
a cultura organizacional, mas que, na grandes best-sellers recentes, Nação
maioria das vezes, sinalizam as aspi- Dopamina, que traz luz sobre o fato
rações culturais dos altos executivos, de a busca incansável de prazer que
em vez de refletir os elementos da ocorre atualmente gerar mais dor do
cultura corporativa que realmente que felicidade.
importam para os funcionários. Eles Neurotransmissor que envia sinais
são dez, e se referem a respeito (um de um neurônio para outro (nas si-
elemento), liderança (quatro elemen- napses), a dopamina é provavelmente
tos), remuneração e benefícios (três), o neurotransmissor mais importan-
estabilidade e reorganização (dois). te em nossa experiência de prazer,
Para tanto, Sull e sua equipe analisa- motivação e recompensa. É a razão
ram 1,4 milhão de avaliações de fun- principal dos nossos vícios. Navegar
cionários com a plataforma Natural em redes sociais, jogar games, comer,
Employee Language Understanding, fazer sexo, consumir drogas lícitas e
desenvolvida pela CultureX, que per- ilícitas são exemplos de atividades que
mite classificar um texto livre com disparam dopamina em nossos cére-
mais de 90% de precisão em mais de bros. Em doses diferentes, no entanto.
150 tópicos, ao mesmo tempo em que Comer chocolate aumenta a dopamina
capta jargões corporativos, expres- acima do basal em cerca de 50%. Fa-
sões idiomáticas, siglas e gírias. zer sexo a aumenta cerca de 100%. A
Para ser um bom líder de cultura nicotina, aproximadamente 150%. E
em 2024, portanto, você deve respon- as anfetaminas, uns 1.000%. Esses são
der às perguntas no texto lateral à di- números médios, porque há variações
reita, e tomar providências diante de de uma pessoa para outra dependendo
respostas insatisfatórias. de sua “droga” de preferência.
10 Uma questão cultural fundamental Uma das descobertas mais fasci-
herdada da pandemia, o trabalho hí- nantes da neurociência nos últimos 75
brido, também foi estudada por Sull. anos, como diz Lembke, é que as mes-
Para ele, o problema real que precisa mas áreas do cérebro que processam o
ser endereçado é a definição estática prazer também processam a dor, e que
de modelos de trabalho híbridos. Para prazer e dor funcionam como em um
terem sucesso em atrair e reter talen- equilíbrio. “Imagine que, em seu cé-
tos, as organizações têm de permane- rebro, há duendes brincando em uma
cer abertas a todo o universo de opções gangorra de playground: a gangorra
de como, quando e onde os funcioná- tende sempre ao equilíbrio, ou seja, a
rios trabalham, no que Sull chama de ficar paralela ao chão. Quando fazemos
"modelo híbrido verdadeiro". algo que é prazeroso, como comer um
Esse arquétipo de gestor ganha im- pedaço de chocolate, experimentamos
portância à medida que mais empre- a liberação de dopamina na via de re-
sas desconsideram qustões culturais compensa do nosso cérebro e é como
como essas ao se posicionar terminan- se os duendes tivessem ido todos para
temente contra o trabalho híbrido e o lado do prazer rompendo com o equi-
ao não afastar líderes tóxicos quando líbrio da gangorra, que fica pendendo
estes têm bom desempenho. para o lado do prazer. Mas, como a ten-
dência é reequilibrar, os duendes logo
vão para o outro lado fazendo a gan-
líder de pessoas: gorra se inclinar em proporção igual
ANNA LEMBKE para o lado da dor, e nós sentimos uma
ressaca do chocolate, uma espécie de
Você deve ter ouvido mal-estar, um desconforto”, tem dida-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

falar da psiquiatra Anna ticamente ensinado Lembke.


Lembke, ligada à Stanford Quando nós entendemos isso e con-
University (Califórnia, EUA), que seguimos esperar um tempo, o mal-

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


-estar passa e o equilíbrio prazer-dor de sucesso. Ele – e seu coautor, Mar-
é restaurado. Para continuar a metáfo- co Iansiti – fizeram uma pesquisa PERGUNTE-SE
ra de Lembke, os duendes se dividem que mostra um forte impacto da IA
igualmente entre os dois lados. na eficiência das pessoas, tão forte 1. Os funcionários se
O problema é que, quando o equilí- que mudará as carreiras. sentem respeitados?
brio prazer-dor se inclina para o lado Como diz Lakhani, hoje profes-
da dor após a experiência de prazer e sor da Harvard Business School (de 2. Há apoio da lide-
não há consciência disso, muitas pes- Massachusetts, EUA), a IA tende a rança para eles?
soas ficam irritadas, inquietas, infelizes amplificar o talento e a capacidade
etc. Isso já pode gerar problemas por si de liderança dos profissionais, aju- 3. Os líderes fazem o
(brigas nos relacionamentos pessoais dando-os a aumentar a velocidade e a que falam?
ou de trabalho, desabafos que afetam a eficiência em tudo que fazem, desde a
reputação em redes sociais etc.), mas, contratação de pessoas até o uso dos 4. Há líderes tóxicos
como se não bastasse, as pessoas vão recursos, reforçando a personalização na organização?
atrás de prazer novamente e comem no desenvolvimento de capacidades e
um segundo pedaço de chocolate. É melhorando a experiência e o enga- 5. Há casos de com-
onde mora o problema mais grave. jamento dos funcionários. A pesqui- portamento antiético
“A exposição repetida a qualquer sa deles mostra que as organizações dos líderes?
experiência prazerosa faz com que o com forte uso de people analytics, por
estímulo prazeroso inicial fique mais exemplo, veem um aumento de 80% 6. Os benefícios
fraco e mais curto, e o efeito posterior na eficiência de recrutamento, um au- oferecidos são bem
da dor, mais forte e mais longo”, diz mento de 25% na produtividade dos avaliados?
a psiquiatra. Aí vem o vício em situa- negócios e uma diminuição de 50%
ções prazerosas – sejam elas quais no turnover. A IA aumenta ainda a re- 7. Quais as vantagens
forem –, e os momentos de abstinên- siliência das organizações, como diz o de estar aí?
cia deixam as pessoas mais irritadas, especialista, porque, com ela, a toma-
inquietas, ansiosas, infelizes, sofrendo da de decisões individuais e em equi- 8. Existem chances de
insônia etc. Esse mecanismo é asso- pe pode ser descentralizada por toda a aprendizado e desen- 11
ciado a um déficit de dopamina. organização. volvimento (formais
Em 2024, o líder que quiser ser um Se as vantagens são tão grandes e informais)?
bom líder de pessoas terá de se preo- para aumentar pessoas com IA, qual o
cupar muito com a saúde mental dos problema? Só é um desafio de acesso à 9. Existe percepção
liderados, e entender esse papel da tecnologia em 30% dos casos, segun- de estabilidade
dopamina fará toda a diferença, por- do Lakhani. Nos outros 70%, a imen- na empresa? (Ou
que desequilíbrios entre prazer e dor sa maioria, o desafio é organizacional, todo mundo tem
estão sendo responsáveis por muitas dependendo do letramento digital das medo de demissões,
fraturas de relacionamentos e reputa- pessoas, sobretudo a liderança (o que terceirizações e auto-
ção, entre outras. inclui entender as possibilidades de mação?)
uso da tecnologia).
inovador tecnológico: Porém, como diz Lakhani, a transi- 10. Como são
ção é realmente inevitável em todas as percebidas as
KARIM LAKHANI empresas. Isso porque a maioria das reorganizações
“A inteligência arti- pessoas já está vive em um mundo li- que acontecem, em
ficial não vai substituir derado pela inteligência artificial em termos de frequência
humanos, mas humanos suas experiências de consumidores de e qualidade?
com IA vão substituir plataformas como Amazon ou Uber.
humanos sem IA.” Essa frase, que Então, quando essas pessoas veem em Fonte: Donald Sull.
aos poucos deve ir se tornando um seus empregadores uma interação do
mantra do mundo corporativo e da serviço ao cliente demorar duas sema-
sociedade em geral, vem de Karim nas e um onboarding de funcionários
Lakhani, paquistanês criado no Ca- novos levar seis meses, a desconexão
nadá e um dos autores do livro A Era é gigantesca. E insustentável no mé-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

da Inteligência Artificial – Como a dio prazo. A boa notícia é que o custo


transformação digital impõe novos de fazê-la continua caindo e já se sabe
desafios e soluções para os negócios o que fazer.

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A pre nd a a prom over
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nas Organizaçõ e s

Qua l ida de HS M

C o mpetênc ia s Hard Skills ,


Sof t Skills e Mindset

C o n exã o c om o M erc a d o:
Real Skills

Master E xper ts, E xper ts e


P ro fessores Espec ia l is tas

S a ib a m a is
s o b re o c u r s o
e m a t r ic u le - s e

Te mo s c ondições es pec ia is pa ra
vo cê, ass ina nte da Rev is ta HSM .
Fale ag o ra c om nos s os cons ultores !
DOSSieˆ
DOSSIÊ 1
A DISCUSSÃO ABRANGENTE
E PROFUNDA DE UM
GRANDE TEMA DA GESTÃO

d2c
AGÊNCIA MARKETPLACE
PLATAFORMA_COMO_SERVIÇO
ASSINATURA proposta de valor design
digital
ambidestria sustentabilidade

CONSULTORIA
liderança

ondas_intersetoriais 13

redes_colaborativas
modelos_de_negócio
#Disrupção
Entre as principais alavancas estão a liderança ambidestra e a organização design-driven

É
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI COM UMAGENS SHUTTERSTOCK

importante tanto “disruptar” (um neologismo) como não ser “disruptado”. Disruptar , na
definição de Clayton Christensen, significa (a) promover uma ruptura de baixo mercado,
ou seja, entrar em um mercado existente atendendo de maneiras novas consumidores que
já são servidos pelos players estabelecidos ou (b) criar um novo mercado, no qual um pro-
duto ou serviço é oferecido a pessoas que até então não consumiam aquilo. Há dois grandes
princípios para conseguir fazer isso – a liderança ambidestra e a organização design-driven
–, mas, indo além, é importante entender as ondas intersetoriais, utilizar redes colaborati-
vas e saber manejar modelos de negócio (entre os quais, o D2C, destacado a seguir).

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


CONTAGEM REGRESSIVA COM MARIA AUGUSTA OROFINO

#HSM+_2023

Como DISRUPTAR E NÃO SER DISRUPTADO


14
por Sandra Regina da Silva

Só há um jeito de conseguir atender às necessidades do negócio em um ambiente marcado


por incertezas, complexidades e em constante mutação: inovar. Mas como? Maria Augusta
Orofino, professora e consultora organizacional, não tem dúvidas: o caminho para inovar,
seja de modo radical ou incremental, passa por liderança pró-inovação, cultura organiza-
cional pró-inovação, uso de metodologias ágeis e adoção criativa de tecnologia.

5
nova forma de trabalho, que são ti-
Há mais de uma década mes auto-organizados, em squads,
você se debruça sobre “li- sem liderança formal, sim, mas
derança para a inovação”. nós temos ainda hierarquias muito
O que distingue esse estilo estruturadas em todas as organiza-
de liderança de outros? Há ções, com organogramas que datam
algo mudando no Brasil? de 1940. Os níveis de liderança são
Acho que a liderança brasileira muito estruturados, em que um se
pouco tem se alterado de modo ge- reporta ao outro, muitas vezes sem
ral. Temos ainda uma visão de cen- poder romper barreiras.
tralização, muito comando e con- Há uma tendência por liderança
IMAGEM: FLÁVIO RODRIGUES

trole. E são muitas as demandas do mais descentralizada, com autono-


líder aos liderados, o que acaba acar- mia, sim, principalmente onde se
retando burnout e estresse nas pes- adotam metodologias ágeis, mas isso
soas. Começamos a ver surgir uma ainda é muito raro no ambiente cor-

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


porativo. Mesmo nesses casos, ainda -centric, não terão mais colaborado- “DESTACO
se espera que as pessoas prestem con- res dispostos a enfrentar o desafio do
tas do tipo “onde estou”, “o que estou dia a dia inovando. A EMPATIA
fazendo”. A visão não é a de gestão de Se o clima organizacional é inade- DEFININDO-A
projetos em si, mas muito em função quado, a liderança é comando e contro- COMO A
de realização de tarefas diárias. le, os desafios desinteressantes e não há

4
possibilidades de crescimento, a organi- CAPACIDADE
Como deveria ser o líder zação não é human-centric, e as pessoas DE TRABALHAR
brasileiro a esta altura? ficam desmotivadas. Portanto, a organi-
O líder hoje deve ter a zação é desmotivada e não inova.
COM AS PESSOAS

2
visão do humano estabele- A PARTIR DA
cido, ser uma pessoa huma- Por que, para inovar, você NECESSIDADE
nitária – não é humanizada, veja bem. defende que haja propó-
Isso significa ele perceber que as pes- sito compartilhado? QUE ELAS TÊM, E
soas são diferentes, com características Quando passamos a tra- NÃO A PARTIR DO
particulares, e ter flexibilidade para li- balhar com OKR, com a de-
dar com isso. Aqui destaco a empatia finição de um objetivo geral que vem
QUE EU, LÍDER,
definindo-a como a capacidade de tra- cascateado tanto de cima como de QUERO”
balhar com as pessoas a partir da ne- baixo trazendo resultados-chave, co-
cessidade que elas têm, e não a partir meçamos a ver que tudo isso vem em
do que eu, líder, quero. função de um propósito. E o propósito
O líder também tem de ter visão de é aquilo que me distingue. Não é mi-
tecnologia. Não podemos fazer ges- nha missão ou valores, mas é porque
tão de pessoas com flexibilidade sem eu estou fazendo isso. Essa visão geral
tecnologia de ponta dando suporte a não pode ficar somente no bord; ela
isso, permitindo a cada um trabalhar tem de permear toda a organização e
no formato que quiser. ser compartilhada.

1
Essa flexibilidade do líder é muito 15
importante, inclusive para ele com- Como exigir tanto dos líde-
preender o todo. Além disso, deve res, se eles já estão muito
ter o compromisso com o entorno, sobrecarregados?
não só com o que está dentro da or- De fato, tenho visto situa-
ganização. ções alarmantes de as pessoas

3
não darem conta, com excesso de de-
Para que se inove, a cultu- mandas e responsabilidades, ainda
ra organizacional tem de mais as que buscam praticar a lide-
ser humanitária também? rança ambidestra, que tem de fazer
Sim. Sempre deveria ter tanto a gestão dos processos no dia a
sido assim. Por muito tempo dia quanto a inovação.
focamos o processo, o lucro, e esque- Somos treinados, educados, pauta-
cemos que são pessoas que fazem as dos, moldados para trabalhar dentro
organizações existirem. de um cronômetro, com hora para co-
É presunção achar que nós fazemos meçar e hora para terminar, e nesse
organizações com métodos e técnicas. tempo temos de ser produtivos. Sabe
Somos nós, as pessoas, que modifica- qual o problema? Geralmente a ino-
mos tudo. Cada vez mais temos de in- vação, a criatividade, os insights vêm
corporar o pensamento do design hu- nos momentos de lampejos de nosso
man-centric, mas ainda não é assim. tempo da folga, do lazer.
Vejo que há grande tendência de Precisamos romper com esse mo-
mudança, até em função dessa gera- delo de produção industrial no cro-
ção mais nova que chega não muito nômetro para nossa produção men-
disposta a ceder espaço em detrimen- tal. Isso é o que está levando tanta
to da qualidade de vida, do bem-estar gente a adoecer. Precisamos nos
e daquilo que querem fazer. Então, se atentar e tomar a decisão de mudar
as empresas não se tornarem human- o modelo.

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


16 #GESTÃO #PESQUISA

O cenário da ambidestria corporativa no brasil


Estudo Inova/Michael Page

Cuidar do negócio no presente ou prepará-lo para o futuro. Mais do que algo semelhante
a equilibrar pratos, o estudo de ambidestria da consultoria de gestão Inova traçou um
panorama do mercado brasileiro. Apesar da ambidestria já ser relativamente conhecida
por aqui, a pesquisa mostra que há muito espaço para ela crescer no Brasil. Veja os
principais resultados.

T
odos poderíamos estar abrindo que o conhecimento é, na verdade, in-
um sorriso: 72,81% dos gestores cipiente: 37,79% dos participantes ad-
brasileiros estão familiarizados mitiram ter um grau de familiaridade
com o conceito. É o que mostra o es- baixo com o tema, e a média pondera-
tudo Ambidestria Corporativa: Raio da de profundidade de conhecimento
X da Realidade Brasileira, que acaba ficou em 2,9 em uma escala ascenden-
de ser realizado pelo ecossistema Ino- te de 0 a 10. A falta de familiaridade
va e pela Michael Page. fica evidente, por exemplo, quando
No entanto, essa conclusão pode entendemos que as pessoas não fazem
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

ser precipitada e enganosa: ao nos ideia das diferentes formas de ambi-


aprofundarmos um pouco mais sobre destria, como a estrutural e a contex-
o conhecimento do conceito, vemos tual [veja texto lateral na pág. 22].

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Não foi só isso. Dentro das empresas, sa quantitativa também indicou que O PENSAMENTO
internamente às áreas, identificamos a alocação de recursos, tanto para
assimetrias. Por exemplo, na área de explorar novidades como para me-
CRIATIVO É A
marketing, 50% dos profissionais dizem lhorar o que já existe, não está clara ABORDAGEM
conhecer o conceito e 50%, não; na área para muitos: 48,08% dos entrevista- DE DESAFIOS
comercial, não melhora muito – 64,29% dos estão indecisos ou discordam da
têm o conhecimento e 35,71% não. A co- eficácia dessa alocação. COM UM OLHAR
nexão da empresa com os clientes e o • Contraste na visão da pro- INOVADOR,
entendimento das tendências do mer- pensão ou resistência à mudan-
cado, vitais à prática da ambidestria, ça. Ao mesmo tempo que 66,12% dos
GERANDO
são responsabilidades delas. respondentes descrevem enfatica- IDEIAS E
O leitor está surpreso? Nós tam- mente que sua cultura organizacional SOLUÇÕES
bém. Isso reforça nossa convicção de é inovadora, 54,65% sentem haver
que dados sobre o management am- barreiras internas. ORIGINAIS.
bidestro são mais do que bem-vindos • Falta de clareza na avalia- O LÍDER
diante do tamanho do desafio que é ção e recompensa pela explo-
AMBIDESTRO,
equilibrar as duas lógicas desse tipo ração de novas oportunidades.
de gestão – para dizer o mínimo, a As opiniões estão divididas igualita- AO TÊ-LO,
exploração (de possibilidades) e o riamente neste item, mostrando um É CAPAZ DE
aproveitamento máximo (de realida- equilíbrio entre concordância, inde-
des) concorrem por tempo, atenção, cisão e discordância. ALTERAR O
energia e recurso de uma organização • Falta de clareza sobre o CURSO DA
e de suas lideranças. Definimos a am- equilíbrio da organização entre SITUAÇÃO E SE
bidestria corporativa como a capaci- presente e futuro. A visão dos res-
dade que uma organização tem de ex- pondentes sobre o equilíbrio entre ADAPTAR ÀS
plorar simultaneamente seus recursos esses tempos e movimentos é confu- OSCILAÇÕES DO
e capacidades existentes para eficiên- sa, com 53% oscilando entre indeci-
cia e desempenho, ao mesmo tempo são e concordância.
MERCADO E DO 17
que explora novas oportunidades de • Falta de comunicação clara AMBIENTE
crescimento e inovação. das lideranças sobre a impor-
Os principais resultados do estudo tância da ambidestria. Uma fatia
estão apresentados a seguir [veja os significativa – 38,26% – dos partici-
resultados nas págs. 18 a 20], mas pantes sentem uma lacuna, indicando
chamamos sua atenção para mais sete um alerta para os gestores.
achados que talvez o surpreendam:
• Disparidade entre a cultu- Porém não é só isso. Investigamos
ra organizacional e as práticas também a liderança ambidestra no
adotadas. Apesar de 66,12% dos Brasil por meio de suas habilidades.
respondentes concordarem que suas Afinal, em um cenário em que 60%
organizações apoiam a exploração de das empresas não duram mais que 20
novas oportunidades, 33,69% sentem anos e em que o ciclo de vida delas é
que não são incentivados a pensar de cada vez menor, segundo um relató-
maneira inovadora. rio da Standard & Poors, líderes am-
• Dúvidas sobre a capacidade bidestros se tornam mais necessários
das empresas de se adaptar às e relevantes a cada dia que passa.
mudanças do mercado. Os núme-
ros mostram as incertezas: 34,98%
dos respondentes demonstram ter es-
habilidades do líder ambidestro
sas dúvidas ao oscilar entre indecisão
e discordância a respeito. Além disso, A liderança ambidestra decidida-
41,53% têm dúvidas sobre o investi- mente não é algo fácil de se encontrar
mento em treinamento das equipes em nenhum lugar do mundo, e o Bra-
para desenvolver a adaptabilidade. sil não foge à regra. Mas com o que
• Alocação de recursos para as ela se parece? Os entrevistados levan-
duas lógicas não é clara. A pesqui- taram 13 habilidades:

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PRINCIPAIS RESULTADOS DA PESQUISA
QUASE 3 DE CADA 4 PROFISSIONAIS JÁ OUVIRAM FALAR PARA A GRANDE MAIORIA, A CAPACIDADE DE SUA
DE AMBIDESTRIA CORPORATIVA EMPRESA DE EXPLORAR NOVAS OPORTUNIDADES É
ALTA OU MUITO ALTA

MAIS DA METADE DOS QUE CONHECEM O TEMA SE CONSIDERAM


BASTANTE FAMILIARIZADOS COM O ASSUNTO

DA MESMA MANEIRA, A MAIOR PARTE ACREDITA QUE A


ORGANIZAÇÃO EM QUE TRABALHA TEM CAPACIDADE ALTA OU
MUITO ALTA DE EXPLORAR MELHOR RECURSOS, PRODUTOS
E SOLUÇÕES NOS NEGÓCIOS

18
SURPRESA: JURÍDICO É A ÁREA MAIS FAMILIARIZADA COM
A AMBIDESTRIA CORPORATIVA. MARKETING, A MENOS

Comercial

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68,85% AFIRMARAM QUE AS EMPRESAS ONDE TRABALHAM AINDA ASSIM, 1 EM CADA 3 ENTREVISTADOS NÃO CONCORDA
EXPERIMENTAM NOVAS IDEIAS QUE É INCENTIVADO A PENSAR FORA DA CAIXA

75,41% DISSERAM QUE SEUS GESTORES APOIAM INICIATIVAS ALÉM DISSO, 41,53% NÃO AFIRMAM QUE A ORGANIZAÇÃO
INOVADORAS INVESTE EM TREINAMENTO PARA PROMOVER ADAPTABILIDADE

PORÉM 34,98% NÃO CONSIDERAM QUE SE ADAPTAM 62,84% DIZEM QUE TÊM FOCO CLARO EM REFINAR PROCESSOS
RAPIDAMENTE A MUDANÇAS NO AMBIENTE EXTERNO 19

2 EM 3 ENTREVISTADOS CONCORDAM QUE A CULTURA QUASE METADE (48,08%) NÃO TEM CLAREZA SOBRE SE AS
ORGANIZACIONAL EM SUAS EMPRESAS APOIA A EXPLORAÇÃO DE EMPRESAS ONDE TRABALHAM SABEM ALOCAR RECURSOS DE
OPORTUNIDADES MODO EFICAZ PARA APOIAR ATIVIDADES EXPLORATÓRIAS OU
PARA MELHORAR A EFICIÊNCIA DO QUE JÁ É FEITO

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60,65% CONCORDAM QUE SUAS EMPRESAS REVISAM 39,35% CONCORDAM QUE HÁ RESISTÊNCIA CULTURAL A
E OTIMIZAM PROCESSOS MUDANÇAS NAS EMPRESAS ONDE TRABALHAM; 45,36%
DISCORDAM

PORÉM QUASE A METADE (47,54%) NÃO SABE AVALIAR SÓ 6,01% CONCORDAM TOTALMENTE QUE HÁ CLAREZA NA
SE A ORGANIZAÇÃO CONSEGUE EQUILIBRAR EFICIÊNCIA FORMA COMO A EXPLORAÇÃO DE OPORTUNIDADES É MEDIDA
OPERACIONAL E INOVAÇÃO E RECOMPENSADA

57,38% DOS FUNCIONÁRIOS ESTÃO INDECISOS SOBRE SE TÊM QUASE METADE DOS RESPONDENTES (46,99%) ACREDITA QUE
20 PREPARO PARA EXPLORAR POSSIBILIDADES A ESTRATÉGIA DA ORGANIZAÇÃO DESCREVE COM CLAREZA O
EQUILÍBRIO ENTRE ATIVIDADES DO PRESENTE E DO FUTURO

AINDA ASSIM, 65,02% CONCORDAM QUE AS DECISÕES PARA 38,26%, SEUS LÍDERES NÃO COMUNICAM CLARAMENTE A
ESTRATÉGICAS DA EMPRESA CONSIDERAM A INOVAÇÃO EM IMPORTÂNCIA DA AMBIDESTRIA CORPORATIVA
LONGO PRAZO E A EFICIÊNCIA EM CURTO PRAZO

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1. Comunicação eficaz Signifi- 9. Habilidades de gestão Conduz
ca saber dialogar, transmitir infor- equipes e gerencia projetos com des-
mações de maneira clara e articular treza, administrando bem as tensões
ideias com stakeholders distintos, entre exploração de oportunidades e
bem como colaborar com diferentes maximização da eficiência.
setores da empresa.
10. Pensamento criativo e adap-
2. Resolução de problemas com- tabilidade Aborda desafios com um
plexos Identificar e criar soluções olhar inovador, gerando ideias e so-
para dilemas que surgem em várias luções originais. Tem capacidade de
áreas de negócios. Em outras palavras, alterar o curso da situação e se adap-
lidar com situações em que as soluções tar às oscilações do mercado e do am-
já conhecidas não se aplicam. biente interno da empresa.

3. Pensamento estratégico Trata- 11. Influência e empatia Tem ha-


-se de desenvolver e executar estraté- bilidades comportamentais balan-
gias voltadas para o longo prazo, ante- ceadas, preserva a capacidade de se
cipando tendências, visando explorar conectar com equipes, influenciar po-
novas oportunidades e, muito impor- sitivamente e ensinar com paciência.
tante, mitigando riscos.
12. Conhecimento do negócio e
4. Gestão de riscos Consiste em desenvolvimento multidiscipli-
conduzir a empresa com estabilida- nar Entendimento das necessidades
de, mesmo em cenários de incerteza, específicas de diferentes áreas da em-
e promover uma abordagem antifrágil presa e dos desafios ligados ao negó-
frente à resistência às mudanças. cio. Investe em competências diversi-
ficadas que combinem e equilibrem
5. Engajamento e motivação Isso habilidades técnicas e interpessoais. 21
pode ser entendido como inspirar,
motivar e envolver os colaboradores 13. Habilidade analítica e toma-
em prol dos objetivos da empresa. da de decisão Utiliza dados e infor-
mações de forma inteligente para to-
6. Curiosidade e orientação para mar decisões bem informadas.
o futuro Trata-se de ter um olhar
amplo e criativo e, mais ainda, de ter Os tipos de líder ambidestro
apetite para explorar tendências tec-
nológicas emergentes. Será que todos os líderes ambi-
destros são iguais? Têm de sê-lo?
7. Visão combinada Capacidade Considerando as 13 competências
de manter uma visão simultânea de citadas, a pesquisa pediu aos entre-
curto e longo prazo, equilibrando as vistados que citassem, a seu ver, as
demandas imediatas com projetos características essenciais para ino-
de construção de futuros. Deve ter var, crescer e entregar resultados.
IMAGENS: ACERVO PESSOAL E ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGENS SHUTTERSTOCK

visão periférica para lidar com os As mais citadas foram curiosidade


cenários futuros e visão sistêmica e orientação para o futuro, influên-
para identificar fatores que podem cia e empatia, pensamento criativo
estar relacionados a problemas de e adaptabilidade, e gestão de riscos.
curto prazo e que podem contri- Com base nessas escolhas, pudemos
buir para uma possível solução. ver que eles buscam líderes que tomem
todas as medidas defensivas corretas e
8. Empreendedorismo inerente ao mesmo tempo estejam inclinados e
Líder com espírito empreendedor, dispostos a testar novas possibilidades.
que busca constantemente novas É um tipo de líder que reflete, também,
oportunidades de negócios. É ágil e o cenário atual, que estimula uma men-
certeiro na tomada de decisões. talidade audaciosa de jogar no ataque e

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AMBIDESTRIA
ESTRUTURAL X SAIBA MAIS SOBRE A PESQUISA
CONCEITUAL ESTUDO LEVOU QUASE UM ANO E ENVOLVEU ENTREVISTAS DE UMA HORA DE DURAÇÃO
A pesquisa Ambidestria Corporativa: Raio X da Realidade Brasileira foi
Existem ao menos realizada ao longo de dez meses em duas etapas. A fase qualitativa teve entre-
duas abordagens vistas online, de cerca de uma hora de duração, com cada participante. O ob-
para alcançar a ambi- jetivo era compreender perspectivas, opiniões, sentimentos e atitudes dos par-
destria, e as maiores ticipantes em relação à ambidestria corporativa e identificar como o conceito
chances de sucesso está presente em suas empresas. A seleção de entrevistados foi feita de acordo
ocorrem quando as com a facilidade de acesso e com a relevância da empresa que representam. Ao
duas convivem: todo, 40 pessoas foram entrevistadas, sendo 15 mulheres e 26 homens. Todos
são presidentes, vice-presidentes, proprietários, membros de conselho, gesto-
Ambidestria res notáveis ou executivos C-level das principais corporações do mercado em
estrutural. Envolve atuação no Brasil. Essas empresas representam setores como finanças, bens de
separar unidades ou consumo, alimentos e bebidas, comunicação, agências de publicidade, agro-
equipes orientadas negócio, mobilidade, saúde, tecnologia, varejo e serviços, além das indústrias
para a exploration automobilística, farmacêutica e química.
(de possibilidades no A fase quantitativa contou com um questionário com perguntas demográficas,
futuro) e exploitation baseado nas descobertas da fase qualitativa, para desenvolver perguntas perti-
(das realidades pre- nentes em questões fechadas e outras técnicas quantitativas. Foi aplicado em pla-
sentes), permitin- taforma online em setembro de 2023, com o objetivo de dimensionar o grau de
do-lhes operar com conhecimento e familiaridade dos participantes com a ambidestria corporativa.
diferentes estruturas As pessoas foram convidadas, por e-mail, a participar. Mais uma vez, não se tra-
e processos. É o ta de amostra representativa nem probabilística, já que os 250 participantes não
tipo mais comum condizem com o perfil demográfico das empresas brasileiras.
22 hoje, talvez porque As duas fases são complementares. A triangulação dos dados obtidos oferece
seja mais fácil de uma visão mais profunda e confiável sobre o tema.
executar.

Ambidestria
contextual. Refere-se
a um ambiente, ou na defesa, que molda comportamentos, como modas passageiras, muitas ve-
uma cultura, em que pressiona pela alocação de recursos e zes repaginações de conceitos anti-
os indivíduos deci- está aberto a insights de todas as partes gos. Com carreiras longevas, eles já
dem por si mesmos, da organização – e de fora. presenciaram diversas tendências e
por meio de práticas Os dados obtidos no estudo ofe- entendem a necessidade de adapta-
e contextos recem um panorama interessante da ção em ambientes corporativos, mas
organizacionais, realidade brasileira a respeito da am- são mais resistentes à adoção de me-
quando devem se en- bidestria corporativa. Com base nisso, todologias tidas como “novas”.
gajar em atividades mapeamos cinco perfis de gestores:
exploratórias Entusiastas Buscam ambides-
(exploit) e quando as Aspirantes Buscam a ambides- tria corporativa como equilíbrio entre
atividades explora- tria, mas demandam uma metodologia práticas tradicionais e métodos ágeis,
doras (explore) é que clara ou um framework que oriente a visando objetivos imediatos e estraté-
devem ganhar priori- prática. Se não há uma estrutura mui- gias futuras. Reconhecem a agilidade
dade na agenda. Essa to clara capaz de implementar e medir das startups, mas valorizam a estru-
é mais duradoura. a ambidestria nesse caso, esses líderes tura das grandes corporações.
. e suas empresas tendem a se perder
Fonte: Ambidestria em meio a metas imediatas, deixando Comprometidos Estão em em-
Corporativa: Raio X da de lado a visão de longo prazo. presas em um estágio intermediário
Realidade Brasileira. ou avançado de ambidestria. Acredi-
Céticos Profissionais experientes tam ser vital identificar e promover
que enxergam jargões corporativos comportamentos ambidestros na or-

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ganização. Entendem ser necessário digital ou pelas mudanças no com-
traçar estratégias que contemplem portamento do consumidor. Criar
decisões proativas, buscam estimular mecanismos de governança que per-
pesquisas sobre tendências, o equi- mitam a colaboração entre as equipes
líbrio entre inovação e eficiência e a responsáveis pelo negócio atual e pelo
personalização de abordagens con- negócio futuro pode ajudar bastante.
forme as necessidades da empresa.
3. Economia em transforma-
Desconectados Têm um enten- ção O Brasil tem enfrentado desafios
dimento raso sobre ambidestria cor- econômicos significativos na última
porativa, mas acreditam na sua futura década, com inflação, recessão e altas
integração nas organizações. Com- taxas de juros. Essa configuração tor-
param o conceito a equilibrar vários na mais difícil a captação de recursos
pratos simultaneamente, se sentem para as empresas brasileiras, que pre-
muitas vezes perdidos diante dele e cisam ser mais eficientes na utilização
reconhecem que algumas empresas de seus recursos.
já operam de forma ágil e adaptável
há tempos. Enfrentam pressões de 4. Talentos A formação e retenção
curto prazo, limitações de recursos e de talentos capazes de administrar essa
direcionamento estratégico. dualidade (maximizar ganhos do pre-
sente e explorar oportunidades para o
Desafios do cenário brasileiro futuro) é um desafio. As empresas bra-
sileiras muitas vezes não têm líderes
O tempo de vida útil dos principais capazes de articular a importância da
executivos nos cargos de liderança e ambidestria nem de implementar es-
gestão no Brasil é baixo. De acordo tratégias para alcançá-la. Outro ponto é
com um estudo encomendado pela a dificuldade de métodos para mapear
Bloomberg, os presidentes e CEOs de o comportamento ambidestro, seja 23
empresas do Brasil ficam, em média, 3 para contratação ou para promoção. É
a 4 anos no comando, o menor tempo preciso investir em educação e treina-
entre os países analisados. Nesse cená- mento para desenvolver profissionais
rio, nossos executivos acabam priori- que naveguem pelos dois mundos.
zando resultados imediatos. Ninguém
quer comprometer o bônus de agora 5. Cultura organizacional Sa-
por uma visão da empresa para daqui a bemos: as empresas brasileiras muitas
dez anos, quando dificilmente estará lá. vezes são resistentes à mudança. Para
Isso já apresenta um desafio a serem ambidestras, é preciso cultivar
mais para a ambidestria corporativa a inovação e a eficiência operacional.
no contexto brasileiro. Tem diversas Isso pode envolver a redefinição de
implicações e desafios, mas que po- estruturas, processos de tomada de
dem apontar para um leque de opor- decisão e sistemas de recompensa. O ESTUDO foi
tunidades: coordenado por
6. Infraestrutura e regulação Luis Rasquilha,
1. Complexidade do mercado O ambiente regulatório brasileiro é cofundador,
As dimensões continentais e a diver- burocrático e desafiador. Empresas CEO, professor
sidade sociocultural e econômica do ambidestras precisam de agilidade e consultor da
País pedem que as empresas sejam para se adaptar a mudanças regulató- Inova, e Eliane El
flexíveis e adaptáveis para atender a rias ao explorar oportunidades. Badouy, professora
diferentes segmentos e regiões. e consultora no
DIFICILMENTE HAVERÁ EMPRESA Ecossistema
2. Inovação x tradição Empre- AMBIDESTRA sem habilidades e lide- Inova. Ele foi feito
sas tradicionais brasileiras, muitas ranças ambidestras. Esperamos que es- em conjunto pelo
vezes com décadas de atuação, pre- ses dados sejam o ponto de partida para ecossistema Inova
cisam se reinventar. Caso contrário organizações e gestores buscarem am- e pela Michael Page.
serão atropeladas pela transformação bidestria estrutural e contextual.

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24 #FUTURODAGESTÃO

As DEZ grandes mudanças em andamento nas empresas


por Patrick Simon, Dana Maor e Patrick Guggenberger

Quais são as transformações mais importantes com que empresas de diversos setores
estão lidando em relação a pessoas, processos e estruturas? Veja as principais mudanças
em curso no mundo pós-pandemia – e como líderes podem abordá-las –, levantadas por
uma nova pesquisa da McKinsey.

A
mbientes voláteis e incertos são artificial? Confira os dez pontos prin-
uma constante, o que faz com cipais do estudo The State of Organi-
que os esforços para fortalecer a zations Report:
resiliência de curto prazo dominem
a agenda de muitas empresas. Mas 1. Mais velocidade e resiliência
como toda essa incerteza e tantas
mudanças têm afetado as pessoas e Nossa pesquisa sugere que mui-
estruturas que constituem uma or- tas organizações deixam de lado uma
ganização? Saúde mental e metas de abordagem mais ampla de revisar e
diversidade enfim estão sendo leva- transformar estruturas, processos e
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

das a sério? O trabalho remoto foi pessoas. Isso não só as ajuda a sair
uma onda passageira? Quais os novos de crises como as impulsiona à fren-
papéis dos líderes? E da inteligência te. Líderes e equipes em organiza-

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ções adaptáveis estão mais prepara- 4. Novas regras de atração, re-
dos para avaliar situações, encontrar tenção e rotatividade COMO LIDAR COM
novos rumos, apostar no que está AS MUDANÇAS
funcionando e se afastar do que não Uma pesquisa da McKinsey de 2022
está – e fazer tudo rapidamente. Con- mostrou que 33% dos funcionários em DEFINA A DIREÇÃO
seguir isso requer velocidade de res- nove países europeus, 40% nos EUA, E ONDE QUER
posta, dar poder aos membros de seu 45% no Oriente Médio e 60% na Índia CHEGAR O primeiro
time e desenvolver uma cultura de planejavam deixar o emprego. Para passo é ter uma
aprendizagem contínua. piorar, a maioria dos empregadores perspectiva clara de
achava que menos de 20% da força de quais mudanças são
2. Trabalho remoto e presencial trabalho queria sair. necessárias para
Muitas pessoas estão redefinindo as
balanceados fronteiras entre trabalho e vida pessoal.
que sua organização
possa competir de
Antes da pandemia, era normal Descobrimos que o que os funcionários forma mais eficaz.
passar mais de 80% do tempo de tra- querem (horários flexíveis, tarefas com Essa calibração
balho no escritório. Agora, só 10% dos significado ou remuneração adequada) definirá o rumo para
funcionários têm uma rotina desse varia bastante. Faixa etária, experiência o restante. Grupos
tipo. A flexibilidade agrada: quatro de e outros fatores influenciam. A pergun- funcionais que se
cada cinco pessoas que trabalharam ta que os executivos devem fazer é: “O isolam dos outros,
em modelo híbrido querem mantê-lo, que precisamos fazer de diferente para sistemas de compu-
e só 14% acreditam que o trabalho re- atrair e reter os melhores talentos?”. tação incompatíveis,
moto será menos comum no futuro. compras excessiva-
Para ter sucesso, cada empresa 5. Fechar o gap de competências. Ou mente complicadas
deve descobrir a melhor combinação
de trabalho remoto e presencial. Or-
fechar de vez e outros processos
administrativos, tudo
ganizações realmente híbridas criam Com a crescente chegada de novas isso pode impedir a
políticas, fluxos e documentação que tecnologias, as empresas estão procu- produtividade.
ajudam os funcionários a ver em rando preencher as lacunas de capa- 25
quais atividades o presencial é melhor cidade. Muitas vezes elas anunciam CULTIVE OS TALENTOS
(ou essencial) e em quais ele é dispen- elementos digitais em suas estratégias Sem o talento certo, é
sável. Além disso, ao olhar além da sem dispor de pessoal com as capaci- provável que nenhum
definição estática de modelos de tra- dades necessárias. Para tanto, precisam modelo organizacio-
balho, essas empresas se tornam mais construir capacidades institucionais, nal funcione. Muito
atrativas para reter talentos (mais so- isto é, os elementos que compõem o su- antes da pandemia, a
bre isso adiante). perpoder de uma empresa: o conjunto digitalização e a glo-
de pessoas, processos e tecnologias que balização já vinham
3. Ninguém vai escapar da inteli- as permitem superar a concorrência. gerando mudanças
Quando bem desenvolvidas, essas ca-
gência artificial aplicada pacidades são uma vantagem duradou-
na forma como as
organizações opera-
A IA pode ajudar líderes a au- ra. Mas as organizações não têm con- vam e as habilidades
mentar a velocidade e a eficiência seguido preencher essas lacunas. Na necessárias para
de muitas coisas, da contratação de pesquisa, 90% dos entrevistados per- competir. Encontrar,
candidatos ao uso de recursos. Tem guntados sobre capacitação considera- desenvolver e reter
dado resultado. As organizações com ram que é algo em que suas empresas talentos agora e para
forte uso de people analytics tiveram precisam agir “agora” ou “em breve”. Só o futuro se tornaram
aumentos de 80% na eficiência de 5% afirmaram que já estão atendidas. desafios fundamen-
recrutamento e de 25% na produtivi- tais, ainda que não
dade dos negócios, além de queda de 6. Retenção na corda bamba intransponíveis.
50% no turnover.
Com a IA, a tomada de decisões in- Manter pessoas-chave está muito
dividuais e em equipe pode ser expan- complicado, e a demanda por profis-
dida ou descentralizada, removendo sionais de tecnologia só aumenta. Na
obstáculos e permitindo respostas pesquisa, 40% mencionaram falta de
mais rápidas. Tudo isso se traduz em pessoal em digital analytics e 32%, em
impacto quantificável. desenvolvimento de software.

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Revisar trimestralmente a alocação lacionados a isso. Mais de 20% dos
de pessoas e entregar as posições mais entrevistados não puderam afirmar INVISTA NA LIDE-
críticas para funcionários de melhor que há um senso de comunidade e in- RANÇA Enquanto o
desempenho dão às empresas 2,2 vezes clusão em suas organizações. talento é a força vital
mais chances de superar os concorren- das organizações,
tes diretos. Mas muitas organizações 9. Investimentos em saúde mental os líderes são o co-
estão incertas sobre quais são essas ração pulsante. Uma
funções estratégicas e onde estão as Segundo o McKinsey Health Ins- organização tem 2,4
pessoas de alto desempenho: 46% dos titute, quase 60% dos entrevistados vezes mais chances
entrevistados perguntados a respei- disseram ter tido algum desafio liga- de atingir as metas
to disseram ter “nenhuma” ou “pou- do a saúde mental na vida. A maioria de desempenho se
ca” clareza sobre o tema. Para agravar dos trabalhadores é afetada direta ou focar no desenvolvi-
ainda mais, cerca de 20% das funções indiretamente por questões do tipo. mento de líderes.
críticas nem sequer existem hoje – ou Quatro em cada cinco gestores de RH
vêm mudando muito. Mesmo quando relatam que a saúde mental é priori- MUDE OS COMPORTA-
as empresas colocam as pessoas certas dade para suas organizações. Estima- MENTOS EM ESCALA
nas funções certas, 40% delas precisa- tivas mostram que 90% das organi- Se as organizações
rão de desenvolvimento de habilida- zações oferecem algum programa de precisam de compor-
des ou outras intervenções para serem bem-estar aos funcionários. Ainda as- tamentos diferentes,
bem-sucedidas. sim, muitos trabalhadores continuam elas precisam enco-
se sentindo sobrecarregados. Nossa rajar a existência de
7. A liderança tem de ser inspira- pesquisa sugere que as empresas se diferentes menta-
concentrem nos sintomas em vez das
dora e autoconsciente causas. É um problema sistêmico,
lidades – o que os
funcionários sentem,
Os gestores que se mantêm muito que requer intervenções sistêmicas, pensam e valorizam.
apegados ao passado correm risco de gerenciadas com o mesmo rigor apli- Para promover isso,
afastar stakeholders que esperam que cado a outras iniciativas corporativas. os líderes devem
26 as organizações sejam responsáveis mudar o sistema – o
em pontos como sustentabilidade e 10. Recarga de eficiência conjunto de expe-
motivação dos funcionários. Esses riências que influen-
gestores devem liderar a si mesmos, Há um claro descompasso entre os ciam a mentalidade
liderar times e liderar em escala, modelos operacionais existentes e as dos funcionários.
coordenando e inspirando redes de realidades do mercado, e a queda de Precisam envolver
equipes e garantindo que a empresa rentabilidade dos últimos anos redu- suas mãos e cabeças,
funcione como um todo coeso. Para ziu a tolerância a erros. Por isso, mais e também o coração.
isso, é necessário construir uma cons- de um terço dos líderes entrevistados
ciência aguçada de si e do ambiente. apontaram que uma de suas três prio-
ridades para os próximos anos é, jus-
8. É obrigatório avançar em di- tamente, a eficiência.
versidade, equidade e inclusão HÁ MUITO TRABALHO PELA
Quase metade dos entrevistados FRENTE. Em muitos casos, mais da
nos disse que suas organizações bus- metade de todos os que se reportam di-
caram cumprir metas em diversidade, retamente a um CEO não têm respon- PATRICK SIMON
equidade e inclusão (DEI). Além dis- sabilidade de lucros e perdas. Muitas é sócio sênior
so, 43% declararam que suas empre- organizações ficaram inchadas, com do escritório
sas tomaram medidas para combater reuniões intermináveis. Acertar na efi- da McKinsey &
o preconceito no local de trabalho. ciência fixa as bases de como o trabalho Company em Berlim.
Porém nossos resultados revelam deve ser feito e coloca direitos de deci- DANA MAOR é sócia
uma lacuna entre o que as organiza- são nas mãos dos funcionários. sênior do escritório
ções dizem querer fazer e o que real- em Tel Aviv. PATRICK
mente fazem. Houve progresso em © Rotman Management GUGGENBERGER,
diversidade, mas não em equidade Editado com autorização da Rotman School of sócio sênior do
e inclusão. Mesmo empresas relati- Management, da University of Toronto. Todos os escritório em Viena.
vamente diversas têm problemas re- direitos reservados.

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27

#INDÚSTRIA #VAREJO

A nova “varejização” da indústria


por Katia Simões

Para estreitar laços com o consumidor final, reforçar a própria marca e ter acesso aos cada
vez mais valiosos dados dos clientes, muitas fabricantes estão apostando nas próprias
lojas e em outros meios de chegar mais rapidamente a seu público, sem intermediários.
Saiba mais sobre o modelo D2C (direto ao consumidor) e conheça fatores de sucesso e
armadilhas em cinco casos bem-sucedidos no Brasil.
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGEM SHUTTERSTOCK

F
ábricas que vendem diretamente com a adoção intensa do e-commerce,
ao consumidor final não são novi- foi a vez de empresas de outros seto-
dade. A Nike, por exemplo, abriu res tentarem a sorte.
sua primeira loja própria em 1990. Se no passado a proposta era sim-
Em meados dos anos 2000, o seg- plesmente aumentar as vendas (ou
mento de higiene e beleza avançou em provocar o varejo tradicional para
direção ao varejo. Mais recentemente, que se esforçasse mais em vender),

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UMA LOJA hoje o objetivo é conhecer melhor o dos apontam que quando uma loja
público-alvo, ter acesso aos dados monomarca é inaugurada, o fluxo
MONOMARCA de comportamento de consumo e, a de acesso ao site da empresa cresce
PODE ATÉ partir daí, criar produtos e serviços 52%.” No entanto, os desafios são
VENDER que façam sentido e levem a marca muitos. Eles passam, segundo Cher-
a ampliar sua participação na cesta to, pela falta de know-how e, muitas
RELATIVAMENTE de compras – sem contar as chances vezes, pela arrogância de acreditar
POUCO, MAS de acelerar a inovação a partir de que todo mundo é capaz de operar
feedback dos consumidores. no varejo. “O varejo é difícil, tem
TEM IMPACTO De acordo com o relatório “Desa- suas peculiaridades, e a indústria
ENORME fio da Indústria no E-Commerce”, precisa ter humildade e admitir que
NO VAREJO realizado pela consultoria Híbrido não é o seu core business, que ela
em parceria com o Portal E-Com- precisa aprender”, explica.
MULTIMARCAS merce, em 2020, o D2C (indústria Por causa disso, é essencial que
AO REDOR que vende ao consumidor final por se crie dentro da empresa uma ope-
meio de loja online própria) é o mo- ração voltada exclusivamente para
delo de relacionamento mais comum o varejo, se possível com um CNPJ
entre empresas e consumidores, diferente. “Quem insiste em não di-
atingindo 48,7% do público. Está à vidir as operações acaba não alcan-
frente do B2BC (venda via market- çando os resultados desejados”, diz
place), com 42,3% e do B2B (venda Cherto. Ele lembra que, no passado,
via distribuidor ou varejista indus- a Alcoa abriu a Alumínio & Cia, uma
trial), com 36,5%. Ainda segundo o loja focada em produtos para casa,
estudo, para 32% das indústrias o que vendia de panela a cadeira, pas-
e-commerce já representava 20% sando por guarda-sol. No formato,
das vendas totais. “O grande negócio tudo certo, mas, na estratégia, não.
das marcas no B2C é ter espaço para O jurídico da empresa queria enqua-
28 conversar e entender o consumidor, drar o varejo às regras da indústria.
mostrar quem elas são”, diz Caio Nos anos 1990, num final de ano, a
Camargo, especialista em inovação loja fechou para contagem de esto-
para o varejo. “No passado não exis- que, porque isso tinha de ser feito
tia um caminho claro, hoje isso sig- simultaneamente às plantas indus-
nifica colocar sua voz no mercado.” triais. Resultado: a loja fechou e não
Segundo Camargo, o maior desa- abriu mais.
fio é entender que o varejo tem di- Um dos maiores receios da in-
mensões diferentes e escala menor. dústria é “ferir” o varejo, provocar
“Enquanto um trabalha com pedi- impacto negativo em canais onde as
dos em toneladas, o outro opera em vendas são consolidadas. Isso não
unidades. A comparação de resulta- acontece quando a estratégia é bem
dos, na frieza dos números, pode le- desenhada, garantem especialistas.
var à interrupção do projeto”, expli- Um bom exemplo é a Swift, única
ca. “É preciso ter consciência de que empresa do grupo JBS que tem ven-
o ganho financeiro pode ser peque- da direta para o consumidor. São
no, mas a possibilidade de conhecer mais de 650 lojas físicas no Brasil,
o consumidor é enorme.” EUA, México e Canadá, sendo duas
Mas quanto vale investir em uma flagships (em São Paulo e Brasí-
loja monomarca em tempos de om- lia), além do e-commerce. Em sua
nichannel? “Muito”, afirma Marcelo participação no Latam Retail Show
Cherto, CEO da consultoria especia- 2023, Marcos Carvalho, diretor de
lizada em franquias Cherto. “Pode marketing da Swift, afirmou que,
até vender pouco, mas gera um im- entre 2015 e 2023, a marca cresceu
pacto grande no varejo multimarca 14 vezes em volume de vendas, oito
ao seu redor, nas compras online e vezes em transações e 16 vezes em
na percepção de valor da marca”, faturamento.
diz. “Nos Estados Unidos, os estu- “Antes de irmos para o supermer-

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cado, criamos uma marca que fosse fundador da consultoria GS&MD. “É
objeto de desejo do varejo”, expli- uma transformação cultural muito
cou. “Quando isso aconteceu, en- grande, afinal o foco sai do desen-
tramos da maneira que queríamos, volvimento de produto e vai para o
com visual nosso de loja, sinalização consumidor.” Ele ressalta que muitas
de PDV de rua, sortimento e equipes indústrias, para tornar essa mudança
próprias no local para controle do mais palpável, criaram a “persona”
abastecimento, o que nos possibilita do consumidor-alvo e a espalharam
manter o mesmo padrão de quali- pelos departamentos, lembrando a
Sandra Chayo,
dade.” Segundo ele, as lojas de rua todos que tudo o que eles fazem tem Hope
constroem e valorizam a marca den- de estar ligado ao consumidor final.
tro do supermercado. Hoje, são mais Com o cliente cada vez mais orien-
de 45 varejistas parceiros, como Ex- tado à conveniência, não demorou
tra, Barbosa e Carrefour. Com ações para as indústrias se darem conta de
de coleta de dados e identificação que não bastava entregar o produto,
de cliente, além da comunicação era preciso ampliar o leque. Não à
personalizada e oferecimento de be- toa, a Nestlé mudou o modo de ven-
nefícios exclusivos no programa de der café com a abertura de lojas da
relacionamento, a Swift tem mais de Nespresso, e a Unilever escolheu o Romael Soso,
3,5 milhões de clientes cadastrados. modelo de franquias para expandir Portobello
“No primeiro semestre desse ano fo- seu serviço de lavanderia Omo –
ram 43 milhões de e-mails entregues mesmo sendo líder de mercado. “A
e muitas campanhas”, diz Carvalho. marca está presente em sete de cada
A estratégia de venda direta da dez lares brasileiros. Nosso objetivo
indústria para o consumidor não era deixar de ser uma marca que en-
pode ter como foco a competição por trega produto para oferecer serviço”,
preço. “Não é a promoção que levará explica Teo Figueiredo, CEO da Omo
o cliente à loja monomarca, é a ex- Lavanderia. “A primeira unidade foi 29
periência que a marca proporciona aberta em 2020. Hoje, são 311, sendo Teo Figueiredo, Omo
Lavanderia
naquele espaço, o mix de produtos, 159 no modelo self-service.” Segundo
a possibilidade de interagir com a ele, a expansão rápida se deu em fun-
marca diretamente”, afirma Denis ção da escolha do sistema de franquia
Santini, CEO do Grupo MD, agência e da compra de redes que já operavam
de propaganda focada em franquias. no mercado. “Trata-se de um movi-
Segundo ele, o mercado vive um mo- mento sem volta, cheio de desafios,
mento peculiar, com o varejo que- entre eles o de ter de lidar com atores
rendo ser indústria, ao investir forte com os quais a indústria não se rela-
em marcas próprias, e a indústria ciona, como os adquirentes. Temos
querendo ser varejo. “É tudo entre- que ter o controle da tecnologia, por-
laçado por conta do empoderamento que se o app falha, o cliente não aces-
do consumidor. Algo que nunca se sa o serviço e por aí vai”, diz. “Mas, no
viu”, diz. fim do dia, capturamos não só dados
importantes do comportamento do
VIRADA DO JOGO consumidor, como trazemos receita
incremental para a indústria.”
Não se trata apenas de abrir lojas, Segundo Tatiana Thomaz, profes-
mas de entregar serviço e experiência, sora do núcleo de varejo da ESPM, o
além do produto. É uma virada que consumidor precisa ter a clareza de
impacta diretamente na cultura da que está tendo um novo relaciona-
companhia. “À medida que o mundo mento com a marca, mesmo que ela
percebeu que tudo gravita em torno seja sua velha conhecida. “A loja fí-
do consumidor, as operações come- sica tem de entregar essa experiên-
IMAGENS: ACERVO PESSOAL

çaram a ser repensadas, a fim de se cia e, em contrapartida, capturar os


criar uma conexão maior com o clien- tão cobiçados dados de comporta-
te”, afirma Marcos Gouvêa de Souza, mento de consumo”, afirma. Como

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LOJAS FÍSICAS exemplo, ela cita o caso das Havaia- Conheça alguns casos bem-sucedi-
nas. “No Rio de Janeiro você trope- dos no Brasil.
TÊM QUE FOCAR ça na venda dos chinelos em toda
A EXPERIÊNCIA esquina, da farmácia ao mercadi-
DO CLIENTE, nho, sem contar os ambulantes que HOPE
circulam pela praia. Mesmo assim,
MAS SEM a campeã de vendas é a loja de Ipa-
Pioneirismo no setor
ESQUECER DE nema”, afirma. “Por quê? Porque ela
entrega uma experiência completa
CAPTURAR com o universo da marca, que passa
DADOS DE por variedade, exclusividade de pro-
CONSUMO dutos e serviço de personalização.
Tudo embalado em um projeto de
loja convidativo e sedutor.”
Segundo Rui Belfort, CEO da
consultoria TDS Company, em lon- “Em 2005, quando tomamos a de-
go prazo a indústria e o varejo pre- cisão de ter um canal proprietário,
cisam entender que o mercado de sabíamos que isso seria crucial para
plataformas digitais é uma realida- a sobrevivência da marca”, afirma
de consolidada, e que a economia Sandra Chayo, sócia e diretora de
digital determina o comportamento marketing e estilo do Grupo Hope.
como um todo, excluindo a inter- “Fomos a primeira indústria do se-
mediação de produtos e serviços. “É tor a ir ao varejo. Por não dominar
uma nova maneira de se relacionar. a operação, decidimos expandir via
As marcas digitalizaram a compra, franquia. O consumidor fez fila na
mas não se preocuparam com o rela- porta da loja do Shopping Center
cionamento”, afirma. “Não criaram Norte [em São Paulo]. Era inusita-
30 canais com fluxo de relacionamento do”, lembra. Hoje, a Hope é a maior
constante, em que se captura e en- rede de lingeries do País, presente
trega valor de maneira contínua.” em mais de 3 mil pontos de venda
Para ele, as empresas que entende- multimarca. Ela deve fechar o ano
ram isso estão um passo à frente, com 290 lojas, sendo sete próprias.
porque mensuram a venda de ma- Até 2025, a meta é chegar a 700 lo-
neira diferente. Como exemplo po- jas. Chayo lembra que as cinco gran-
sitivo, Belfort cita a Natura, que ao des marcas que dominavam o mer-
mesmo tempo é indústria, varejo fí- cado quando a Hope decidiu arriscar
sico, varejo digital e braço logístico. a operar no varejo praticamente de-
De maneira geral, o varejo físico sapareceram. “Não entenderam a
continua sendo o principal canal necessidade de mudança”, afirma.
em termos de receita, porém ele é A Hope também foi pioneira no
incapaz de abrigar todos os itens canal digital: abriu a primeira ope-
produzidos pela indústria. Mesmo ração do segmento de moda em
as grandes operações compram nor- 2006, quando não havia plataforma
malmente os itens da curva A, que desenhada para tantos SKUs. Mais
têm mais saída. Com isso, a maior de uma década depois, em 2020,
parte do portfólio da indústria fica lançou o próprio aplicativo, abrindo
invisível ao consumidor. O D2C é um canal ainda mais direto da con-
um caminho para dar mais visibili- sumidora com a marca. Montou um
dade a esses itens e identificar pro- time de 200 influenciadores e con-
dutos que poderiam ter um desem- tratou uma “avatar de carne e osso”
penho melhor. – como Chayo denomina a influen-
Usar o D2C de maneira estratégi- ciadora que trabalha internamente
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

ca, entregando produtos, serviços e produzindo conteúdo e interagindo


experiência, é o grande desafio para com os seguidores da marca. “O con-
quem ainda não começou a jornada. sumidor mudou para a era da con-

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veniência, quer ter contato com as pusesse a ir mais fundo. A ideia era
marcas em todos os lugares. As re- transferir as informações captadas
des de lojas que cresceram foram as e trabalhadas na loja monomarca
que se diferenciam pelo serviço, pela para os varejistas parceiros, ajudan-
experiência, pela ‘omnicanalidade’”, do-os a comprar com mais assertivi-
diz. “Ninguém segue uma marca por dade. Estava também entre os obje-
olhar lindas peças no catálogo, mas, tivos criar um espaço que traduzisse
sim, pelo que ela passa de conheci- o perfil da marca, que garantisse a
mento." Segundo Chayo, o grande exposição dos produtos de maneira
desafio da operação de varejo é a ca- adequada. “Criamos uma loja com
pilaridade presente em aproveitar as um metro quadrado cinco vezes
Tramontina Factory Store
oportunidades que se multiplicam mais caro que a média do mercado.
em cidades entre 200 mil e 500 mil Um projeto sofisticado como o posi-
habitantes. cionamento que a Tramontina dese-
java adotar”, afirma Takano. “Ao va- A SOFISTICADA
lorizar a marca, o volume de vendas LOJA-CONCEITO
TRAMONTINA mostrou-se quatro vezes maior que
DA TRAMONTINA
a média do varejo.”
Apresentação requintada Em dez anos, a Tramontina so- VALORIZOU
mou 24 lojas, todas próprias, com A MARCA – E
média de 800 SKUs em exposição.
Dessas, duas são lojas-conceito, AINDA TEM
chamadas Tramontina Factory Sto- UM VOLUME
re, ambas no Rio Grande do Sul,
DE VENDAS
que funcionam como um grande
showroom. “Desde o início quería- QUATRO VEZES
mos implantar uma rede, mas a ex- MAIOR QUE
Foi diante da dificuldade de co- pansão só começou em 2015, depois 31
locar no mercado uma linha de que todos os testes foram feitos e os A MÉDIA DO
produtos de alto valor agregado, resultados se mostravam positivos”, VAREJO
criada para marcar o centenário da diz Evandro Costa, gerente-geral da
empresa, que a Tramontina decidiu, Tramontina Store. “A primeira loja
em 2011, levar adiante o projeto de foi aberta no Rio de Janeiro, e em
ter um ponto de venda exclusivo da um ano de operação gerou um au-
marca. A experiência de já trabalhar mento de 40% nas vendas dos vare-
com lojas de fábricas desde a déca- jistas do estado.”
da de 1970 dava à empresa bagagem De acordo com o executivo, alguns
para fazer do D2C um projeto robus- dos fatores que levaram o projeto de
to. Foram dois anos de desenvolvi- varejo a ser bem-sucedido foram o
mento até chegar ao modelo ideal. posicionamento da marca no mer-
“Dos 22 mil SKUs produzidos pela cado no segmento médio-alto – que
Tramontina, o brasileiro não conhe- não concorre diretamente com o va-
ce 200, o que significa que o varejo rejo de grande superfície – e a boa
compra no máximo 400 itens”, diz capacitação dos vendedores, que
Julio Takano, da KT Arquitetura de dominam as características e funcio-
Negócios, responsável pelo projeto nalidades de cada produto, o que é
da Tramontina Store. “Desenhamos sempre reconfortante para o cliente.
o projeto do zero para abrigar ini- Soma-se a isso a independência
cialmente 2,5 mil produtos que não do canal frente à empresa. “A Tra-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ACERVO PESSOAL

eram comprados pelos varejistas.” A montina Store tem um CNPJ dife-


proposta, segundo ele, não era com- rente, é ao mesmo tempo integrante
petir com o varejo, mas entender o do portfólio do Grupo Tramontina
comportamento de compra do con- e cliente da indústria”, explica. “So-
sumidor e mostrar aos clientes que mos o quinto maior comprador da
havia demanda para quem se dis- Tramontina, com vendas na casa dos

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HÁ 18 ANOS, R$ 78 milhões em 2022 e previsão de sumidor.” Graças a esse contato dire-
chegar a R$ 106 milhões este ano.” to, a Granado foi uma das primeiras a
A GRANADO colocar válvula pump na embalagem
NÃO TINHA de sabonete líquido e a oferecer em-
balagens de 500 ml no lugar da tra-
NENHUMA GRANADO dicional de 250 ml, proporcionando
LOJA PRÓPRIA. a força da história melhor custo-benefício.
ATUALMENTE, São quase cem lojas em operação
no Brasil e seis na Europa, que res-
SÃO QUASE CEM pondem por 25% do faturamento da
UNIDADES, NO empresa. Em 2022, a divisão de va-
BRASIL E NO rejo faturou R$ 1 bilhão, e a expecta-
tiva é crescer mais de 30% este ano.
EXTERIOR, QUE “A estratégia deu tão certo que repli-
RESPONDEM camos o modelo com a Phebo, que
Um dos maiores desafios das já conta com cinco lojas”, afirma.
POR 25% DO empresas centenárias é conquistar “É claro que enfrentamos tropeços,
FATURAMENTO clientes e atingir as novas gerações, como a venda da linha de maquia-
DA EMPRESA que talvez não estejam tão inteira- gem, mas na média os resultados fo-
das com a força dessas marcas. É aí ram muito positivos, inclusive para
que entra a estratégia de dissemi- as vendas no atacado”, diz. Com
nação por vários canais, inclusive, visão de longo prazo, a Granado es-
lojas próprias. Fundada no Rio de pera nos próximos anos abrir uma
Janeiro, em 1870, como uma peque- média de oito a dez lojas no País e
na farmácia, a Granado passou dé- duas ou três no exterior, a cada ano.
cadas sendo conhecida por um dos “Acreditamos muito no varejo, é um
produtos nacionais mais icônicos: o canal que permite rejuvenescer a
32 polvilho antisséptico, cujo registro marca, desde que seja bem trabalha-
foi aprovado pelo médico Oswaldo do”, afirma Freeman.
Cruz, em 1903. Em 2004, ela adqui-
riu outra marca clássica brasileira,
a Phebo. No ano seguinte, abriu a
primeira loja-conceito, no mesmo BATERIAS MOURA
endereço da farmácia original. “Es- Plataforma centralizada
tava na hora de o consumidor conhe-
cer nossa linha completa de produ-
tos, se aprofundar na nossa história,
e de apresentarmos a real imagem
da marca”, lembra Sissi Freeman,
responsável pelo reposicionamento
da Granado. O caminho escolhido
foi a abertura de lojas próprias, com
um portfólio expandido de produtos Líder no mercado de baterias au-
e muita história. Do mobiliário às tomotivas, a pernambucana Moura
propagandas na parede, passando não tem pretensão de atuar no varejo.
pelas vitrines e estantes, tudo reme- Pelo contrário, define-se como uma
te às farmácias do tempo do Impé- indústria e distribuidora. O que não
rio. “Cada detalhe da loja provoca significa, porém, que não tenha um
um resgate histórico e gera conexão canal de conexão direta com o con-
emocional com o cliente”, diz Free- sumidor. “Bateria não é produto de
man. “O consumidor e o atacado consumo recorrente, por conta disso
passaram a ver a Granado de outra sempre tivemos a preocupação de ge-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

forma. Não entramos no varejo para rar negócios para nossos varejistas”,
competir com nossos clientes, mas afirma Nilton Miranda, diretor de
para ter um canal direto com o con- operações e vendas para o Brasil. “No

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passado, éramos fortes em anúncios to com o consumidor”, diz Romael
nas Páginas Amarelas, em parceria Soso, CEO da Portobello Shop. “Foi
com os revendedores. Quando a bus- quando deixamos de fazer a inova-
ca passou para o digital, criamos uma ção de dentro para fora e abrimos
plataforma posicionada para reunir nosso olhar para o mercado a fim de
o maior número de parceiros em um inovar de fora para dentro.”
mesmo local. Somos apenas o canal, a Com isso, a loja ganhou um con-
venda é feita pelo varejo.” ceito de experiência de design, indo
Com o mesmo propósito, a em- além da experiência de compra. Se-
presa implantou o programa “Moura gundo Soso, isso contempla o com-
Fácil”, serviço que oferece entrega e promisso da marca com a logística de
Portobello Shop
instalação gratuita, o que pode ser entregas programadas, com serviços
acessado via telefone ou internet. como atendimento personalizado e
“A indústria recebe a demanda do medição de obra. “Colocar o cliente
cliente e encaminha ao revendedor no cerne de nossas operações tem
mais próximo, que efetua a venda e sido nossa prioridade, criando uma
o atendimento, com o comprometi- experiência de compra única baseada
mento de conclusão do serviço em no relacionamento sólido com o con-
até 50 minutos”, explica Miranda. sumidor, o que, para a Portobello,
“Ainda oferecemos condições para envolve o especificador e o cliente fi-
o revendedor conceder crédito ao nal”, afirma o executivo. “Dividimos
cliente, porque sem parcelamento a experiência do cliente em sete fren-
não se trabalha.” Segundo o executi- tes: inspiração, especificação, loja,
vo, toda decisão estratégica tomada mix, serviços, logística e pós-venda.
Omo Lavanderia
pela Moura tem como foco o reven- Para cada uma delas existem inicia-
dedor e o consumidor final. “Se não tivas, ferramentas, produtos e servi-
trouxer benefício e melhoria da ex- ços, gestão da entrega e do relaciona-
periência, não vinga”, garante. mento que sustentam essa jornada.” 33
A virada deu resultado. São 150
lojas, sendo 26 próprias, que res-
pondem por 50% do faturamento
PORTOBELLO do Portobello Grupo. O faturamen-
Virada de chave to triplicou nos últimos três anos,
alcançando um sell out de mais de
R$ 1 bilhão em 2022. “Por 22 anos
as franquias foram vistas como um
POR MAIS
canal de venda. Em 2020, elas vi- DE DUAS
raram uma unidade de negócio in- DÉCADAS, AS
dependente. Hoje, somos o maior
cliente da indústria, a sexta maior FRANQUIAS DA
Movida pela necessidade de ofe- rede de varejo do País, segundo o PORTOBELLO
recer ao mercado soluções comple- ranking da Sociedade Brasileira de
ERAM SÓ UM
tas em um só lugar, que alinhassem Varejo e Consumo 2022”, diz Soso.
o portfólio exclusivo de revestimen- “A Portobello Shop é uma marca de CANAL DE
tos com a oferta de categorias com- varejo, centrada no cliente final e no VENDA. HOJE
plementares, o Portobello Grupo especificador e orientada por dados,
criou a Portobello Shop. A primei- com uma base de gestão que deman- ELAS SÃO UMA
ra loja, aberta em 1998, serviu de da uma robusta estrutura digital UNIDADE DE
laboratório para a estruturação do para todas as áreas e operações.”
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ACERVO PESSOAL

NEGÓCIOS,
varejo. “Na verdade, começamos
a praticar de fato o jogo do varejo MESMO COM A EXPLOSÃO DO RESPONSÁVEL
há dois anos, quando já tínhamos E-COMMERCE nos últimos anos, es- POR 50% DO
notoriedade de marca e queríamos sas empresas mostraram que ainda
ampliar o diálogo do nosso ciclo de há espaço para uma boa loja física no FATURAMENTO
inovação, fortalecendo o canal dire- coração dos consumidores. DO GRUPO

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


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#INOVAÇÃO #INDÚSTRIA

Um framework para redes colaborativas


por Henrique Bussacos e Pablo Handl

É possível enfrentar os enormes desafios da aceleração das mudanças climáticas e a


desigualdade social ao mesmo tempo – e sem perder a competitividade? Com parcerias
externas e uma metodologia eficiente, podemos hackear a gestão por meio de oito passos
desenvolvidos pelo Impact Hub. Conheça três casos de sucesso, que dão visibilidade
ao movimento e mostram como as redes colaborativas diversificadas podem afetar
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

positivamente a inovação no Brasil, a saúde na Argentina e a economia circular na China.

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A
necessidade de gerir os riscos em 60 países. Atualmente, são mais REDES
socioambientais é, também, de 70 mil empreendedores engaja-
uma busca por novas oportu- dos na construção de uma economia
COLABORATIVAS
nidades para muitas corporações. regenerativa. DIVERSIFICADAS
Mas, para isso, é preciso haver um No entanto, sem grandes empre- SÃO A MELHOR
entendimento, entre as lideranças sas para levar essas soluções a um
empresariais, de que muitas vezes novo patamar, a transição não vai FERRAMENTA
seu jeito de fazer negócios preci- ocorrer na velocidade necessária. PARA EXPLORAR
sa mudar. Algumas delas realizam Felizmente, há organizações inte-
essa transformação baseadas em um ressadas. Nos últimos anos, grandes
A ECONOMIA
compromisso profundo com o futu- companhias têm procurado o Im- REGENERATIVA.
ro do planeta e uma compreensão de pact Hub para solucionar desafios MAS, PARA
que elas têm um papel protagonista complexos e explorar novas opor-
nesse processo. Outras são pragmá- tunidades. A principal ferramenta ISSO, ESTEJA
ticas: sem essa transformação, sa- usada é a metodologia de redes co- PRONTO PARA
bem que simplesmente não poderão laborativas diversificadas.
COLABORAR
fazer negócios no futuro. Para enfrentar esses desafios e
Em nossas interações, a pergunta explorar as oportunidades que estão COM VÁRIOS
agora não é por que fazer a transfor- surgindo, é fundamental alavancar STAKEHOLDERS
mação sustentável, mas como. De as redes diversificadas e colaborar
que maneira as empresas devem fa- com diversas partes interessadas, – E ATÉ COM A
zer essa virada, e qual é o risco para como startups, institutos de pesqui- CONCORRÊNCIA
aquelas que ficarem de fora? sa, organizações sem fins lucrativos,
Independentemente da motiva- instituições acadêmicas e até mes-
ção, todos têm um desafio comum. mo concorrentes. Essa rede diver-
Como gerir os riscos socioambien- sificada de conhecimentos e habili-
tais de uma forma efetiva? Como dades proporciona uma visão mais
identificar oportunidades de negó- abrangente e criativa na busca por 35
cios que desaceleram as mudanças soluções inovadoras e sistêmicas.
climáticas e que, ao mesmo tempo, A metodologia das redes colabo-
possam integrar negócios e gerar rativas diversificadas consiste em:
um impacto socioambiental positi-
vo? Para isso, diferentes estratégias 1. Identificar o escopo do desafio
de gestão estão sendo adotadas. Al- alinhado com as prioridades es-
guns desses desafios e oportunida- tratégicas da empresa;
des podem ser explorados envol- 2. Definir metas e indicadores de
vendo mais os colaboradores nos sucesso;
processos de inovação e na tomada 3. Mapear a rede do ecossistema
de decisão. É a busca por uma cul- de inovação em torno do desa-
tura intraempreendedora, que esti- fio da empresa;
mula os funcionários a abraçarem a 4. Identificar as oportunidades a
responsabilidade de criar inovações. serem exploradas no processo;
Já outros desafios dependem de 5. Convidar os stakeholders estra-
mais investimentos em pesquisa e tégicos em torno de oportuni-
desenvolvimento. dades;
Entre essas estratégias, as redes 6. Promover encontros para ino-
colaborativas diversificadas são um var junto com a rede mapeada
caminho efetivo para integrar negó- (processo de coinovação);
cios e impacto. O Impact Hub sur- 7. Priorizar e implementar proje-
giu em 2005 a partir de uma rede de tos-piloto;
empreendedores e lideranças em- 8. Reunir aprendizados e dese-
presariais e cívicas engajadas com nhar planos para escalar.
temas socioambientais. A rede che-
gou a São Paulo em 2007 e depois se Um ponto importante é que a
expandiu para mais de cem cidades metodologia só é efetiva quando a

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DENTRE cultura da colaboração já está ins- demonstrou o poder das redes co-
taurada na organização. Portanto, laborativas, mas também gerou re-
AS VÁRIAS em muitos casos, antes de iniciar a sultados tangíveis. De acordo com
INOVAÇÕES aplicação da metodologia das redes Cristiana Xavier de Brito, diretora
TESTADAS E colaborativas diversificadas, é me- de relações institucionais e susten-
lhor realizar workshops e atividades tabilidade da Basf, o onono, hub de
APLICADAS EM para promover uma cultura alinha- inovação da empresa, lançado em
LARGA ESCALA da a isso. 2019, foi fruto da nova cultura de
abertura e colaboração.
PELA BASF, O onono é um ambiente em que
CASES testados e aprovados
UMA DELAS clientes, fornecedores, startups, es-
APRESENTOU Vamos explorar a aplicação da tudantes universitários e parceiros
metodologia em diferentes empre- se conectam a fim de discutir novos
UMA ECONOMIA sas, países e contextos. Seleciona- modelos de negócio ou desenvolver
DE MAIS DE mos três casos, um no Brasil, um projetos focados em impactar positi-
na Argentina e outro na China, para vamente a sociedade, tanto do ponto
800 HORAS DE
ilustrar como as redes colaborativas de vista econômico quanto social e
TRABALHO diversificadas podem ser um hack ambiental. Tudo isso via uma pla-
de gestão para ampliar o resultado taforma de conteúdo e eventos que,
econômico e o impacto das grandes atualmente, atende um ecossistema
corporações. de inovação aberta composto por
mais de 50 mil pessoas – e que conti-
nua crescendo.
Brasil: Essas iniciativas de redes colabo-
rativas já geraram resultados muito
BASF concretos para a companhia. A Basf
colecionou diversos cases de sucesso
36 com o ecossistema do onono nesses
últimos anos.
Um destaque é a parceria para
O Impact Hub foi convidado pela um desafio de cocriação de uma fer-
Basf para facilitar o Basf Summit e ramenta de eficiência operacional
o Createathon no Brasil, durante as para o time agro da Basf. O projeto
celebrações do 150º aniversário da teve como resultado inicial a eco-
companhia alemã, em 2015. O obje- nomia de mais de 800 horas de tra-
tivo era não apenas comemorar esse balho e gerou ganhos de ergonomia
importante marco, mas também para os funcionários. A ferramen-
orientar o olhar para o futuro, abor- ta, uma garra mecânica da linha de
dando temas críticos para a socie- operações de peças de cerâmica, foi
dade, como urbanismo e habitação, feita a partir de uma parceria com a
desperdício de alimentos e água. A startup Forge em manufatura adi-
proposta era engajar diversos ato- tiva (impressão 3D). A propriedade
res na busca por soluções concretas intelectual da solução foi adquirida
para enormes desafios. pela Basf, que a implementou em es-
Isso envolveu diálogos e cocria- cala no fim do ano passado.
ções enriquecedoras com clientes, Em 2023, a parceria com a Forge,
cientistas, startups e ONGs, todos uma empresa paulista fundada há
unidos para enfrentar desafios com- apenas cinco anos e que tem a ener-
plexos. No evento, realizado em São gia limpa como um de seus pilares,
Paulo, o maior desafio trabalhado se ampliou para um programa de
foi o desperdício de alimentos. intraemprendedorismo em impres-
O Impact Hub conduziu a cocria- são 3D, em que os colaboradores da
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

ção envolvendo diversos stakehol- Basf são treinados e acompanhados


ders na construção de uma intera- para prototipar ideias em diferentes
ção multiatores. Isso não apenas áreas de negócio e operações.

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para melhorar a qualidade dos NA ARGENTINA,
serviços de saúde. Por meio do
Argentina: desenvolvimento e da imple-
O IMPACT
Roche mentação de ferramentas digi-
tais, a ideia é incentivar a inova-
HUB ESTÁ
ACELERANDO A
ção e a tecnologia no setor.
Para alcançar esses objetivos a DIGITALIZAÇÃO
Na Argentina, o Impact Hub tra- Roche realiza chamadas para pro- DA SAÚDE AO
balhou junto com a gigante farma- jetos que abordam áreas críticas no
sistema de saúde, incluindo:
MESMO TEMPO
cêutica Roche e a Fundação Garra-
-han, uma instituição pediátrica do • Acesso aos pacientes: negó- EM QUE AJUDA
país vizinho, para desenvolver o pro- cios que buscam democratizar A ROCHE A
grama “Transformar Salud”. O proje- o acesso a serviços de saúde,
to promove a transformação digital informações e ferramentas, in- DESBRAVAR
e a inovação no sistema de saúde ar- dependentemente do nível de NOVOS
gentino se valendo das redes colabo- atendimento necessário.
MERCADOS
rativas diversificadas. Com objetivo • Qualidade do serviço: solu-
de impulsionar a eficiência e a eficá- ções que buscam melhorar as
cia dos serviços no país e estender o interações entre pacientes e pro-
programa para a América Latina, a fissionais de saúde, promovendo
parceria tem gerado resultados con- maior envolvimento e eficiência
sistentes na Argentina. O programa no atendimento.
foca a digitalização do sistema de • Gestão das organizações:
saúde, a fim de elevar a qualidade ferramentas de software que oti-
dos serviços, mobilizando redes cola- mizam processos operacionais
borativas e incorporando inovações internos e externos das institui-
desenvolvidas por diversos atores do ções de saúde, o que estimula a
ecossistema de saúde. agilidade e a eficiência. 37
A Roche, ao assumir esse papel, Este ano, cinco projetos se desta-
se conectou a inovações e oportuni- caram como vencedores do progra-
dades de entrar em mercados que, ma “Transformar Salud”:
até então, ela não explorava. O pro- • Retinar: uma plataforma de
grama “Transformar Salud” foca a telemedicina baseada em reti-
interoperabilidade entre soluções nografias e inteligência artificial
digitais de saúde para atuar nos ní- que identifica riscos de cegueira
veis municipal, provincial e federal provocada pela diabetes.
na Argentina. O projeto tem três ob- • Solución Digital Promotora
jetivos essenciais: de Conductas de Autocui-
1. Transformação digital: a dado en el Adolescente con
adoção de soluções digitais é o Enfermedades Crónicas:
núcleo do programa, visando um aplicativo para celular para
melhorar a eficiência dos servi- apoiar o autocuidado em adoles-
ços. Foco em tecnologias como centes com doenças crônicas.
telemedicina, registros clínicos • Metapué: uma plataforma di-
eletrônicos e aplicativos de su- gital que simplifica a gestão do
porte ao paciente. processo perioperatório.
2. Sustentabilidade do siste- • Quirófano+: ferramenta onli-
ma de saúde: o programa bus- ne, destinada tanto a pacientes
ca desenvolver ações que for- quanto a profissionais de saúde,
taleçam o sistema de saúde em que simplifica a gestão do pro-
seus objetivos fundamentais e cesso perioperatório.
garantam sua sustentabilidade • Mi Salud: uma plataforma di-
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

em longo prazo. gital projetada para monitora-


3. Promoção da inovação e da mento e automonitoramento de
tecnologia: inovação é a chave pacientes recém-hospitalizados.

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O programa “Transformar Salud” apresentamos aqui dois casos. O pri-
é um exemplo de como a ativação de meiro é da Shianco, que trabalha com
redes colaborativas diversificadas design e produção de móveis de alta
pode mudar radicalmente o siste- qualidade. A empresa usa um mate-
ma de saúde e gerar novas oportu- rial sustentável chamado agiowood,
nidades de negócios sustentáveis. A que substitui toras de madeira na
Roche está ampliando suas referên- construção de mobiliários.
cias e identificando novos nichos de A Shianco recicla cascas de arroz
operações ao interagir com diversos (uma das matérias-primas usadas
atores no ecossistema de saúde. Para pela Budweiser no país) para a pro-
a Argentina, cujo sistema de saúde é dução de agiowood. Hoje, o mate-
marcado pela fragmentação excessi- rial está presente no mobiliário das
va e pela sobrecarga de trabalho de novas instalações e escritórios da
profissionais como enfermeiros, a Budweiser China, o que é um exem-
transformação digital pode ser uma plo notório de economia circular. A
ótima notícia. tecnologia abre também um grande
mercado a ser explorado, afinal as
cascas de arroz eram um resíduo
simplesmente descartado.
Outro caso interessante foi o da
China: Snail Mom, dedicada à pesquisa,
budweiser desenvolvimento e industrialização
de materiais biodegradáveis que
podem substituir o plástico. A Snail
Mom utiliza a tecnologia de poli-
Na China, o Impact Hub trabalha merização para processar produtos
em Xangai com a Budweiser para agropecuários secundários, como
38 identificar oportunidades de negó- cascas e palhas, e transformá-los em
cios sustentáveis envolvendo a ca- novos materiais biodegradáveis.
deia de valor da empresa e uma rede A empresa recicla as palhas da
diversa de atores. A cervejaria tem produção da Budweiser China e

IMAGENS: ACERVO PESSOAL E SHUTTERSTOCK


alguns desafios prioritários como cria um pó em nanoescala. O pó é
o reaproveitamento de resíduos da então misturado com outros mate-
produção de cerveja, a busca por riais poliméricos de base biológi-
embalagens mais sustentáveis, so- ca para formar pelotas, que são de
luções para redução de emissões de base biológica, ecologicamente cor-
carbono na sua cadeia e soluções retas, 100% biodegradáveis e livres
sustentáveis para a operação de ba- de componentes à base de petróleo.
res e restaurantes. O resultado, agora, é o material-ba-
HENRIQUE
Esses desafios fazem parte do dia se usado para produzir embalagens
BUSSACOS e
a dia das equipes internas da Bud- descartáveis para os pacotes de latas
PABLO HANDL são
-weiser China, mas a companhia de cerveja.
cofundadores do
entende que precisa de novas pers-
Impact Hub São
pectivas, novos olhares, formas dife- NOS CASOS DA BASF NO BRASIL,
Paulo, Florianópolis
rentes de entender e encontrar solu- DA ROCHE NA ARGENTINA E DA
e Porto Alegre.
ções. Por isso, a empresa buscou o BUDWEISER NA CHINA, fica claro
Impact Hub Xangai para reunir uma o poder das redes colaborativas di-
rede diversificada de públicos que versificadas como fonte de acesso a
possam apoiar o processo de inova- soluções inovadoras para desafios
ção e transformação. complexos. Essas redes materiali-
O trabalho de redes colaborativas zam o valor da colaboração nos ne-
diversificadas deu origem a várias gócios e são parte importante das
parcerias relevantes para a Budwei- ações que as empresas devem lide-
ser China avançar na sua estratégia rar para reinventar a forma de fazer
de sustentabilidade. Para ilustrar, negócios.

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39

#CULTURA #INOVAÇÃO

Sua organização é design-driven?


Por Priscila Alcântara

Fala-se muito em ser data-driven e, de fato, ter dados é crucial nos dias atuais. Mas está
longe de bastar: a diferenciação no ambiente competitivo atual depende da inovação,
a partir do design thinking. Mas isso não significa só um processo. Trata-se de ter uma
organização inteira de pessoas com 11 competências-chave.

S
elecione uma ou duas alternativas público. Por isso, buscamos adequar
que mais representam sua orga- nossas entregas aos usuários finais e
nização hoje: não a nós mesmos.
( ) Sabemos que não somos os usuá- ( ) Enxergamos a tecnologia como
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

rios finais do nosso produto/serviço um meio de resolução de problemas e


e que, nem sempre, nossos desejos e não como objetivo final do desenvolvi-
necessidades equivalem aos do nosso mento do produto ou serviço.

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( ) Temos o cuidado de não sobre- Nos últimos dois anos mapeamos as
Faça o teste do CESAR carregar as pessoas envolvidas no características que fazem uma organi-
apontando para este processo de desenvolvimento de solu- zação ser design-driven. O mapeamen-
QR code ções de ponta a ponta. to resultou em um teste, que você pode
( ) Temos experiência em nosso fazer em nosso site [veja QR code à
segmento e sabemos o que precisa ser esq.] e em um livro a muitas mãos.
feito. Nossa equipe entende que sacri- Design thinking também não tem a
fícios são necessários para entregar o ver só com jornada do consumidor; é o
que foi definido pela gestão. desenho de projetos, da corporação e
de como suas ações trazem impactos à
Acredita-se cada vez mais que um sociedade. O pensamento e os métodos
fator crítico para o sucesso das orga- do design são essenciais em um centro
nizações é a capacidade de conjugar de inovação como o CESAR – que os
eficiência e continuidade com o ques- empresta a clientes e parceiros – e em
tionamento do status quo – primeiro todas as empresas que querem inovar
passo para provocar saltos disruptivos. com mais naturalidade, que chamamos
Mas, de acreditar a implantar de “organizações design-driven”.
essa capacidade pode haver um Estudos diversos confirmam que
abismo. Isso por pelo menos duas empresas consideradas inovadoras
razões: (1) é bastante desafiadora a usam abordagens de design no dia a
conjugação disso com continuidade dia. Trata-se de uma forma de pensar
e eficiência, e (2) ir além das boas e conduzir projetos que incentiva a
ideias, o que é essencial, é bem mais atitude, promove a experimentação e
difícil do que se pensa. (Ir além sig- impulsiona times e pessoas a expandir
nifica promover um ciclo de produ- seus horizontes.
ção e validação, quando o produto/ Chegamos, então, ao ponto crucial
serviço é aceito no mercado e há re- deste artigo: acreditamos que, mais
40 torno de investimento.) do que o processo em si, uma organi-
Nós, do centro de inovação CESAR, zação só se torna design-driven se as
acreditamos no uso permanente de pessoas e equipes tiverem um padrão
métodos do design para uma orga- de comportamento tal que se sintam
nização alcançar esse elemento do impelidas de maneira natural a buscar
questionamento e atingir o sucesso. novas oportunidades para a solução de
É inerente ao design descobrir e re- problemas complexos.
definir problemas e, então, conceber
soluções. Pelo design, estuda-se um Processos versus pessoas
conceito, para que, quando ele passe à
fase de desenvolvimento, a proposta já O ponto de partida para ser uma or-
esteja mais próxima da ideal, uma vez ganização design-driven não é um pro-
que já foi testada e validada. cesso linear de design ou uma receita
Trata-se de um processo – assim que funcione para todos os tipos de de-
como é processo, por exemplo, a li- safios. O que diferencia as organizações
nha de produção taylorista e outros design-driven é que nelas existem pes-
tantos processos da gestão. Mas há soas regidas por 11 habilidades-chave e
uma grande, gritante, diferença: no uma liderança com características trans-
centro d0s métodos de design têm formadoras, aberta à experimentação e
de obrigatoriamente estar as pes- disposta a estimular a contribuição dos
soas – suas vivências, experiências, times. Colocar em prática ferramentas,
necessidades. Em outras palavras, é abordagens e métodos vem como conse-
um processo, sim, mas colaborativo, quência disso, tendendo a aumentar as
com um olhar para o usuário e, mais chances de bons resultados.
que isso, com um olhar para ques- É preciso colocar as coisas em pers-
tões do cuidado. Cuida-se das pes- pectiva. Às vezes tendemos a comparar
soas e também dos resultados eco- todos os processos de entrega com a
nômicos, socioambientais e outros. linha de produção de uma fábrica, in-

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AS QUATRO PERGUNTAS QUE IMPORTAM
EM UMA ORGANIZAÇÃO DESIGN-DRIVEN, AS DECISÕES SOBRE OFERTAS E ENTREGAS SÃO TOMADAS COM BASE NESSAS
QUATRO QUESTÕES
É possível fazer
com a tecnologia
disponível?

FACTÍVEL

O que propomos é Mesmo sendo


desejável? Tem valor possível, viável e
real para o usuário? DESEJÁVEL ÉTICO desejável, devemos
mesmo fazer?

VIÁVEL

É economicamente
41
sustentável agora e
no futuro?
FONTE: CESAR, ADAPTADO DE DIAGRAMA DO MELD STUDIOS.

cluindo os processos de inovação. Há dinheiro em um produto cujo resulta-


essa expectativa em muitas empresas do ainda é incerto? E se tudo der erra-
para abordar inovação, quase sem que- do? Faz mais sentido aprender com o
rer, esquecendo que isso funciona para erro perdendo pouco tempo e dinheiro
o que precisa escalar. do investimendo pesado.
Embora se entenda que, em pes- Então, repassando, apesar de ser
quisa e desenvolvimento, o foco é na focada na entrega de soluções, uma or-
inovação em si e a fase de escala vem ganização design-driven não pode ser
só depois de avançar em experimen- regida por processos. Nela, precisam
tos, testes e entendimento, a liderança contar as pessoas mais do que os pro-
de uma empresa convencional muitas cessos. (Até por ser focada também no
vezes já pensa na fase de escala. O lí- desenho e redesenho da própria corpo-
der da organização design-driven, não; ração como uma contínua adaptação a
ele lembra que, antes de escalar algo, mudanças de mercado.)
aquilo precisa passar por uma fase de Uma analogia para esse tipo de or-
projeto, estudo e entendimento [veja ganizacão não pode ser uma esteira de
quadro acima com as perguntas que fábrica, portanto, e sim um espetáculo
ajudam nisso]. de música em sua apresentação de es-
Milhões de doses de uma medicação treia. Existem músicos rigorosamente
revolucionária não são logo fabricadas selecionados para que ele aconteça. E
em escala, certo? Passam antes por vá- a composição e a curadoria geralmen-
rias fases de experimentação. Nem um te passam por uma pessoa responsá-
carro novo. Por que se gastaria tanto vel pela condução da orquestra – um

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maestro ou maestrina vai direcionar, porativa, trazendo valores direcionados OS BENEFÍCIOS
incentivar e colaborar para que toda a ao humano em um contexto no qual de-
equipe de instrumentistas e de produ- signers e não designers tornam-se mul-
PARA AS
ção (cenário, figurino etc.) esteja em- tiplicadores desses processos. Quais as PESSOAS
penhada em entregar um espetáculo vantagens da adoção transversal dos AGIREM COM
excepcional ao público. processos de design por organizações?
Semelhante a um espetáculo de mú- A possibilidade de entender contextos AUTONOMIA,
sica, de depende de músicos e entendi- e atuar sobre problemas. CORRENDO
dos em música, não há como entregar 5. Cultura de experimentação
RISCOS,
inovação pelo design sem ter designers ― Quando experimentar faz parte da
e gente com cabeça de design na or- cultura da empresa, novas soluções DEVEM SER
ganização design-driven. E se na or- para problemas (os novos e os anti- REPETIDOS COM
questra há o maestro, na organização gos) emergem das práticas difundidas
design-driven há que ter uma liderança e aplicadas no dia a dia. Experimentar FREQUÊNCIA,
letrada em design, que abraça e admite faz as pessoas inventivas e engajadas. BEM COMO A
a incerteza e a ambiguidade, que é am- 6. Orientação para autonomia
DEMONSTRAÇÃO
bidestra entre presente e futuro, e entre ― Os benefícios para as pessoas cor-
as doutrinas de custo e riscos da inova- rerem riscos devem ser sempre repe- DE QUE
ção. Na prática, as pessoas ali devem tidos, bem como as demonstrações de MERECEM
cultivar 11 características. confiança e apoio que recebem.
7. Criatividade consciente ― A CONFIANÇA E
OS 11 PILARES criatividade está intimamente ligada CONTAM COM
à arte, à experimentação e ao lúdico. APOIO
Agora vamos ajudar você a identifi- Como acontece no contexto corporati-
car do que é feita uma organização de- vo do mercado de trabalho? Em geral,
sign-driven – de pessoas e de um con- restrições servem como ignição.
texto que tenha estes pilares: 8. Abertura para o risco ―
42 1. Empatia e alteridade ― Frases “Sem risco não se faz inovação, e sem
como “colocar-se no lugar do outro” inovação corre-se o risco de ser extin-
têm sido ouvidas frequentemente nas to.” Esse mantra da tolerância ao risco Priscila Alcântara
organizações, mas pouco fala de alteri- é fundamental em uma organização é gerente-sênior
dade. Esse termo da antropologia e visa design-driven e deve ser treinado; pre- de design do
reconhecer o outro com as suas diferen- cede ferramentas e processos. CESAR, centro de
ças no âmbito cultural e social. Empatia 9. Engajamento ― Responsabi- inovação do Recife
e alteridade entram no processo de tra- lidade da liderança, fruto de um am- (PE). Colaboraram
balhar com diferentes pessoas, “apren- biente de trabalho seguro e colabora- Eduardo Peixoto,
der a escutar as outras e extrair o me- tivo, e cultura organizacional. Sempre Érika Campos,
lhor das diferenças para de fato inovar”. o líder deve dedicar tempo a engajar os Gabi Boeira,
2. Colaboração e diversidade ― times das organizações em seus mais Giordano Cabral,
É um dos mais importantes pontos de variados tamanhos e conformações. h.d. mabuse, Helda
sucesso para qualquer iniciativa. A co- 10. Disposição e determina- Barros e Willian
laboração pode ser otimizada de várias ção ― O design pode ser uma pode- Grillo – todos
modos e deve ser enriquecida com a di- rosa ferramenta para construir visões eles designers ou
versidade, amplificando a capacidade de futuro compartilhadas e promover profissionais que
inovadora com perspectivas diferentes. produtividade. E isso leva à criação de trabalham com o
3. Abertura para o novo ― Ob- um ambiente de grande disposição e pensamento do
servar, questionar e experimentar são determinação para novos desafios. design. Este artigo
os princípios-chave aqui. Tudo isso 11. Atitude questionado- reúne highlights
para pensar na jornada, que requer um ra ― Essa é uma parte importante do livro O futuro
ambiente de segurança e autonomia da personalidade das pessoas que das organizações
para as pessoas. É algo cultural. são ou atuam como designers. Não pela perspectiva
4. Conhecimento dos proces- pode haver um limite para questio- design-driven,
sos de design ― Uma organização namentos (educados) dentro do de- recém-lançado
design-driven assimila o processo de senvolvimento de um projeto, pro- pela Alta Books.
design como parte de sua cultura cor- duto ou serviço.

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43

#MODELODENEGÓCIO #MARKETSHARE #OPERAÇÕES #PROPOSTADEVALOR

Não se ganha o jogo sem o modelo de negócio certo


por Luis Lobão

Uma empresa é imbatível para valer quando consegue dominar pelo menos dois destes
três eixos fundamentais: operações eficientes, market share relativo e, especialmente,
proposta de valor superior para o cliente – algo que só funciona quando se adota o
modelo de negócio certo. É com ele que o peso da concorrência fica menos relevante. O
desafio, no entanto, é definir o modelo ideal entre as dezenas existentes.

e
m um mundo empresarial em que a capacidade de inovar é uma neces-
sidade para a sobrevivência e o crescimento, tornar-se relevante para o
IMAGENM: ACERVO PESSOAL

cliente é um processo que envolve múltiplos elementos interconectados.


É complexo, mas começa a ser mais facil de compreender quando entende-

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mos seus elementos-chave e eixos que facilita a implementação de estra-
essenciais. Neste artigo damos aten- tégias e mudanças.
ção a um elemento-chave em espe- MODELO DE NEGÓCIO. Eis que chega-
cial – o modelo de negócio – e um mos ao mecanismo que define o que
eixo essencial, a proposta de valor a empresa oferece, para quem e como
que guia esse modelo, que, em mui- monetiza esse valor gerado. Um mo-
tos casos, acabam tendo um peso delo de negócio bem elaborado é es-
desproporcional no resultado. sencial para a viabilidade comercial e
o sucesso a longo prazo. Ele deve ser
flexível o suficiente para se adaptar
O contexto em que o modelo de às mudanças do mercado e robusto
negócio se insere para fornecer vantagem competitiva.
Quatro elementos-chave cons- Cada um desses elementos não fun-
troem o sucesso de uma empresa, ciona isoladamente. Por exemplo, a
com base em minha experiência tanto cultura organizacional pode influen-
acadêmica como prática: ciar ou ser influenciada pelo modelo
de gestão. O modelo de negócio, por
CONHECIMENTO DOS STAKHEOLDERS. sua vez, deve estar alinhado com a es-
Entender as necessidades e contribui- tratégia, que é informada e alimentada
ções dos stakeholders é fundamental pelo conhecimento sobre os stakehol-
para qualquer negócio, pois são eles ders. É crucial que as empresas consi-
que afetam ou são afetados pelas derem esses quatro elementos como
ações da empresa. A capacidade de partes de um sistema integrado.
responder a essas necessidades gera Arregimentados esses quatro ele-
capacidade de mobilização. O conhe- mentos, vemos três eixos essenciais:
cimento sobre os stakeholders ajuda operações eficientes, market share
a empresa a construir estratégia, pro- relativo e proposta de valor superior
44 pósito e visão do futuro. É um mapea- para o cliente. Empresas vencedoras,
mento que permite identificar opor- em geral, dominam pelo menos dois
tunidades de melhoria e crescimento. desses elementos.
MODELO DE GESTÃO. É o conjunto de Começando pelas operações, a efi-
estruturas e processos que permitem ciência é a chave. Isso não significa
que a empresa execute sua estratégia apenas cortar custos, e sim otimizar
de forma eficaz. Inclui governança, processos para que você possa ofere-
processos, sistemas, estrutura e pes- cer produtos ou serviços de alta quali-
soas. A efetividade garante que todos dade de forma consistente e escalável.
os recursos da empresa sejam usados Isso estabelece a base para os outros
de forma eficiente e eficaz. O modelo dois eixos.
operativo serve como o “sistema ner- O market share relativo se refere
voso” da organização, coordenando à posição da empresa em relação aos
todas as partes para alcançar os ob- concorrentes. Ter um market share
jetivos desejados. relativo alto não apenas valida a
CULTURA ORGANIZACIONAL. É o con- aceitação do mercado, mas também
junto de normas, valores e crenças oferece economias de escala e poder
compartilhadas que governam como de negociação. Quando uma em-
as pessoas na organização interagem presa combina operações eficientes
entre si e com o mundo externo. Cria com um alto market share relativo,
e integra a “atmosfera” em que a orga- ela se torna uma força a ser reconhe-
nização opera. A cultura é muitas vezes cida, que pode dominar o mercado.
descrita como “a forma como fazemos A proposta de valor superior para
as coisas por aqui”. Ela tem impacto o cliente, é, como já adiante, talvez o
significativo na motivação dos funcio- mais crítico dos eixos. Significa en-
nários, na retenção de talentos e no tender profundamente as necessida-
sucesso da empresa. Uma cultura forte des e os desejos dos clientes e ofere-
pode ser um diferenciador competitivo cer algo que não apenas atenda, mas

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


ENTENDA ONDE ENTRA O MODELO DE NEGÓCIO
em um mundo empresarial em que a capacidade de inovar é uma necessidade para a sobrevi-
vência e o crescimento, tornar-se relevante para o cliente é um processo que envolve múlti-
plos elementos interconectados. É complexo, mas começa a ser mais facil de\

Nos quatro elementos


• Solução
1 • Confiança
NECESSIDADE DOS • Serviço
• Propósito
STAKEHOLDERS • Preço
• Proposta de valor • Qualidade
• Estratégia • Prazo
MODELO DE NEGÓCIO • Inovação
2
CULTURA
MODELO DE GESTÃO • Eficiência
4
• Eficácia
• Efetividade
GOVERNANÇA PROCESSOS SISTEMAS ESTRUTURAS
3

Nossa gente: habilidades,


competências e engajamento
FONTE: LUÍS LOBÃO
45

Nas três alavancas


EMPRESAS VENCEDORAS
POSSUEM PELO MENOS 2
• Estabelecer pontos
DOIS DESTES ELEMENTOS fortes estratégicos
MARKET SHARE dentro do mercado
RELATIVO (RMS) • Evitar investimentos
• Garantir a escala que são puramente
necessária para lide- para diversificação
rança de custo
• Manter operações Grande e Poder de
enxutas – combater enxuto mercado
desperdício
SUCESSO
• Determinar crité-
OPERAÇÕES MAIS PROPOSTA DE VALOR
rios-chave de compra
EFICIENTES SUPERIOR PARA O
para os clientes mais
Diferenciador CLIENTE
importantes
• Desenvolver compe-
1 3 tências para atender
os clientes nesses
critérios
FONTE: LUÍS LOBÃO

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


supere suas expectativas. Quando reforçar sua proposta. Além disso, é
“RAZOR & BLADES” uma empresa combina operações preciso ser dinâmico. O que é consi-
A estratégia “razor eficientes com uma proposta de va- derado “superior” hoje pode não ser
and blades” (ou sim- lor superior, ela se torna verdadei- amanhã. Necessidades vêm e vão, a
plesmente “razor”) ramente diferenciada, pois oferece tecnologia evolui, a sociedade muda.
é uma abordagem algo único pelo qual os clientes estão Portanto, é vital continuar a inovar e
de negócios em que dispostos a pagar. se adaptar.
um item é vendido Agora, quando uma empresa con- Ao se concentrar em criar e manter
a um preço baixo ou segue combinar market share relativo uma proposta de valor superior, você
até mesmo abaixo do alto com proposta de valor superior, não apenas atrai e retém clientes, mas
custo para estimu- ela ganha um poder de mercado incrí- cria defesas naturais contra a concor-
lar a venda de um vel. Isso lhe permite definir tendên- rência. Tornar-se a escolha óbvia em
produto complemen- cias e ditar regras, tornando-se uma um mar de alternativas não apenas
tar ou consumível. O espécie de padrão-ouro do setor. impulsiona o sucesso a curto prazo
exemplo básico, que Vale dizer que a fórmula para se como constrói uma base sólida para o
dá nome à categoria, tornar uma empresa imbatível, vem crescimento sustentável a longo prazo.
é o barbeador, muitas da combinação dos três eixos. É o que O livro O Navegador dos Modelos de
vezes vendido a pre- cria uma empresa que não apenas é Negócios, de Oliver Gassmann, Karolin
ços baixos para pro- eficiente e amada pelos clientes, mas Frankenberger e Michaela Csik, serve
mover a venda das também domina o mercado. Uma como um guia abrangente para quem
lâminas de reposição, tríade poderosa, que poucas empre- busca entender e aplicar a inovação em
que têm margens de sas alcançam. Aquelas que o fazem modelos de negócio. É uma ferramenta
lucro mais altas e são tornam-se lendárias em seus setores. que oferece um conjunto de 55 mode-
consumidas regular- los, cada um com seu próprio conjun-
mente. Os mercados proposta de valor superior no to de regras, vantagens e desafios. Eu
agrupo os principais a seguir:
de impressoras e modelo de negócio certo
cartuchos de tinta ou
46 toners e de consoles Se sua ideia central não é – e não 1. MODELOS DE NEGÓCIO BASEADOS EM
de videogame e seus deveria ser mesmo – apenas superar PRODUTO Focam a venda de produtos
respectivos jogos po- a concorrência em uma corrida pelo físicos ou digitais, como Apple e Sam-
dem seguir a mesma menor preço ou as melhores carac- sung. Estão incluídos na categoria os
lógica. O objetivo da terísticas, e sim lutar para tornar os modelos de licenciamento, de venda
estratégia é segurar outros competidores irrelevantes, seu direta, de assinatura de produto, de
os clientes em um caminho depende muito da proposta personalização e de razor and blades
sistema em que de valor e do modelo de negócio. Você (leia mais na coluna).
eles continuamente conseguirá oferecer algo tão único que
compram consumí- os clientes não verão as alternativas 2. MODELOS DE NEGÓCIO BASEADOS EM
veis de substituição como nem sequer comparáveis. Você SERVIÇO Estão centrados na prestação de
ou complementos da não está brigando por um pedaço do serviços aos clientes. Uber e Airbnb são
mesma empresa que bolo – está fazendo seu próprio bolo. exemplos notáveis. A categoria ainda
forneceu o produto Para alcançar isso, é crucial en- inclui os modelos de assinatura de ser-
original. tender as necessidades dos clientes. viço, freemium, de serviço sob deman-
Vai além de pesquisas de mercado e da, de consultoria e de agência.
análises de dados: é sobre empatia e
compreensão. Quando você entende 3. MODELOS DE NEGÓCIO DE PLATA-
o que eles valorizam, pode criar so- FORMA Atuam como intermediários,
luções que vão além das expectativas conectando diferentes grupos de
e resolver problemas que talvez eles usuários e facilitando transações en-
nem soubessem que tinham. tre eles. Amazon e eBay são exemplos
Uma proposta de valor superior clássicos, servindo como marketpla-
também inclui marca, atendimento, ces online. A categoria também inclui
experiência do usuário e narrativa os modelos de rede social, de platafor-
construída em torno do produto ou ma como serviço (PaaS), de software
serviço. Cada ponto de contato com como serviço (SaaS) e de economia de
o cliente é uma oportunidade para compartilhamento.

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4. MODELOS DE NEGÓCIO DE EXPERIÊN- 9. MODELOS DE NEGÓCIO DE DADOS
CIA DO CLIENTE Focam fornecer uma E ANÁLISE Concentram-se na coleta,
experiência excepcional ao cliente, análise e uso de dados. Palantir e Ta-
além do produto ou serviço em si. Os bleau são exemplos, oferecendo so-
parques Disney são notórios repre- luções para uma variedade de clien-
sentantes da categoria. Outros tipos tes. Dentro do grupo também estão
de modelos incluídos aqui são os de os modelos de corretagem de dados,
loja conceito, de venda experiencial, de análise de dados como serviço, de
de comunidade de marca, de gamifi- publicidade direcionada, de venda de
cação e de clube de membros. insights e de monetização de dados.

5. MODELOS DE NEGÓCIO SOCIAIS E CO- 10. MODELOS DE NEGÓCIO DE INOVAÇÃO


MUNITÁRIOS Têm um forte foco social E PESQUISA Focam o desenvolvimento
ou comunitário. O Grameen Bank, de novas tecnologias ou processos.
que oferece microcrédito para em- SpaceX e Tesla são casos famosos.
preendedores de baixa renda, e a Aqui também entram os modelos de
TOMS Shoes, que doa um par de sapa- incubadora, de aceleradora, de labo-
tos para cada par vendido, são exem- ratório de inovação, de desenvolvi-
plos. O grupo também inclui modelos mento aberto e de transferência de
de microfinanças, de comércio justo, tecnologia.
de crowdfunding, de impacto social e
de cooperativa. 11. MODELOS DE NEGÓCIO HÍBRIDOS E
DIVERSIFICADOS Estes modelos combi-
6. MODELOS DE NEGÓCIO DE DISTRIBUIÇÃO nam elementos de várias das catego-
E LOGÍSTICA Concentram-se em como os rias listadas. Virgin Group e Alpha-
produtos ou serviços são entregues ao bet (Google) são exemplos. O Virgin
cliente. FedEx e DHL são líderes na ca- Group opera em diversas indústrias,
tegoria, que também conta com os mo- desde música até viagens aéreas, en- 47
delos de dropshipping, de atacado, de quanto a Alphabet é a empresa-mãe
varejo online, de logística reversa e de do Google e de vários outros nomes
cadeia de fornecimento integrada. inovadores. A categoria inclui ainda
os modelos de negócio multiplata-
7. MODELOS DE NEGÓCIO DE CONTEÚDO forma, de conglomerado, de subsídio
E INFORMAÇÃO Focam a criação, distri- cruzado, de venda direta ao consumi-
buição e monetização de conteúdo. dor (DTC) e de comunidade virtual.
As séries e filmes da Netflix e o jorna-
lismo do New York Times são exem- LISTEI AQUI EXEMPLOS GENÉ-
LUIS LOBÃO É
plos. A categoria também conta com RICOS DE MODELOS DE NEGÓCIO e
conselheiro
os modelos de agregação de conteúdo, podem não capturar todas as nuan- de empresas
de conteúdo gerado pelo usuário, de ces existentes. No entanto, servirão e especialista
licenciamento de conteúdo e de jorna- como ponto de partida para você en- em estratégia
lismo cidadão. tender as diferentes possibilidades. de crescimento
Se quiser se aprofundar na mode- e governança.
8. MODELOS DE NEGÓCIO DE PARCERIA E lagem, faça uma análise abrangente Autor de 14 livros,
COLABORAÇÃO Baseiam-se em relações de seu negócio atual, entendendo é especialista
estratégicas com outras empresas ou pontos fortes, pontos fracos, opor- em governança
indivíduos. Em 2020, Nubank e iFood tunidades e ameaças – e proposta corporativa
lançaram uma parceria em que clien- de valor. Em seguida, identifique e estratégia
tes do banco podiam fazer pedidos na qual dos modelos de negócio (ou empresarial
plataforma para ganhar benefícios. uma combinação deles) pode dar com ênfase em
Vivo e Netflix também já tiveram par- match. Não tenha medo de expe- crescimento.
IMAGENM: ACERVO PESSOAL

cerias do tipo. A categoria ainda inclui rimentar e iterar; inovação é um É mestre em


os modelos de afiliados, de joint ven- processo contínuo. Importante: en- engenharia de
ture, de franquia, de licenciamento e volva a equipe, não só a alta gestão. produção.
de parceria estratégica. Sucesso!

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VALE OCIDENTAL

A Coragem para navegar a ambiguidade


Mais do que caracterizado pela incerteza, o futuro é definido pelo fato de não existir
apenas uma única resposta certa. E isso nos pede ação e adaptação

o
futuro nunca foi tão incerto. UM PADRÃO DE COMPORTAMENTO DESEJÁVEL
Estamos vivendo um período
de mudanças cada vez mais rá- É PODER SUPORTAR AAMBIGUIDADE COMO
pidas. O mundo está complexo e
confuso. A sociedade está dividida e
SUPORTAMOS UMA NEBLINA ATÉ QUE ELA SE
polarizada. Nossa confiança nas ins- DISSOLVA E NOS PERMITA ENXERGAR
tituições estão instáveis. A economia
está em constante flutuação. Mudan-
ça é o novo normal, não somente no dissolver permitisse visualizar com
contexto coletivo, como no indvidual. mais clareza; (2) o engajamento com
Nossas vidas não seguem mais um a ambiguidade, como num salto de
caminho linear. Transições de car- paraquedas em que o risco e a aber-
reira, imprevistos, layoffs, burnouts. tura ao novo pode levar a um cami-
48 Onde existia um único caminho a se- nho anteriormente inexplorado, e
guir, agora existem vários. (3) a adoção ou inclusão da ambi-
Porém, afirmar sobre a incerteza guidade não como um obstáculo mo-
em relação ao futuro, implica em mentário, mas como campo de opor-
considerar que existe uma certeza tunidades, como estar perdido em
ou uma verdade absoluta, o que é uma floresta em busca de riquezas.
impossível. O futuro nunca foi cer- Enfrentar a ambiguidade em algum
to. Sempre existiram variáveis des- momento é fundamental na criação
conhecidas, vagas, indeterminadas e do novo. Além de reconhecer seu pró-
passíveis de mudanças. prio padrão de comportamento é pre-
O “novo” futuro não é caracteriza- ciso aprender a navegar a ambiguida-
do pela incerteza, e sim pela ambi- de, através da ação e da adaptação.
guidade, uma condição desconhecida A ação requer coragem para fa- ELLEN KISS é
em que o passado não é determinan- zer escolhas e não paralisar diante empreendedora
te. Nós não sabemos o que não sabe- do medo. Cada nova abordagem de e consultora de
mos. Na ambiguidade não existe uma aprender e aplicar aumenta ativa- inovação
única resposta certa e sim vários sig- mente sua capacidade de agir, já especializada em
nificados e níveis de interpretações. que está ancorada na confiança ge- design thinking e
São situações que apresentam mais rada por experiências passadas Já transformação
perguntas do que respostas, múlti- a adaptação exige que uma resposta digital, com larga
plas possibilidades de escolha e inde- às mudanças de informações e con- experiência no setor
finidos próximos passos. texto. Ao ser adaptável diante do financeiro. Em agosto
Um projeto em Stanford identi- desconhecido, você reconhece novas de 2022, após um
ficou, por meio de metáforas, três informações e desenvolve flexibili- período sabático,
IMAGEM: ACERVO PESSOAL

padrões de comportamento adequa- dade para responder proativamente. assumiu o posto de


dos a esse contexto: (1) a tolerância “A chave para a sobrevivência é sa- diretora do centro
para suportar a ambiguidade até que ber que está perdido.” - autor desco- de excelência em
ela acabe, como uma neblina que ao nhecido. design do Nubank.

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VALE ORIENTAL

Pontos de inflexão com implicações globais


O novo BRICS e os chips fabricados pela Huawei mudam o jogo; a economia global vai (parcial-
mente) se desdolarizar, dando lugar a moedas nacionais

D
ois fatos importantes com uma se- na, excedeu o comércio com os EUA, a
mana de diferença entre si no mês União Europeia e o Japão em 2022.
passado podem ter significado his- As tendências apontam um reequi-
tórico. O bloco econômico BRICS, que líbrio de poder, com o Ocidente a per-
agrupa Brasil, Rússia, Índia, China e manecer integral e o Sul global a tor-
África do Sul, anunciou em 25 de agos- nar-se cada vez mais influente. Muitas
to que seis novos países-membros se nações que dependem principalmente
juntaram ao grupo, elevando o número de recursos naturais para as expor-
total para 11. E, em 29 de agosto, a big tações poderão tornar-se orientadas
tech chinesa Huawei lançou seu novo para a produção e as exportações.
Mate Smartphone 60 Pro, que vem Nações com grandes recursos, como a
com chips desenvolvidos pela própria Arábia Saudita e os Emirados Árabes
empresa, com conectividade 5G, além Unidos, pretendem ser elas próprias
de suporte para chamadas via satélite. detentoras de tecnologia, utilizando 49
Esses dois acontecimentos vistos inovações do Ocidente e da China.
como um só marcam um ponto de vi- A descoberta dos chips na China irá
rada rumo a uma nova ordem mundial. redesenhar o panorama global da pro-
O grupo alargado dos BRICS repre- dução de semicondutores e, nesse sen-
senta agora mais de 40% da população tido, a forma como a globalização irá
mundial, 25% do produto interno bruto evoluir. Como resultado, a posição da
global, bem como um terço do cresci- China como centro de produção de uma
mento econômico do planeta. Possui vasta gama de produtos tecnológicos se
a maior potência industrial do mundo fortalecerá ainda mais, tal como acon-
(China), grandes nações produtoras de tece com suas supply chains associadas.
óleo e gás (Arábia Saudita, Rússia, Irã e E, à medida que o mundo se diversifica,
Emirados Árabes Unidos), importantes a capacidade de produção vai se espa-
produtores agrícolas e minerais. lhar por outras nações do Sul global.
Tecnologicamente, o novo smartpho- Com a ascensão da classe média nas
IMAGEM: ACERVO PESSOAL

ne da Huawei significa que vários mar- economias emergentes, a procura au-


cos foram alcançados. Os chips de 7 nm mentará tanto por bens de consumo
do conglomerado marcam um avanço como por alimentos. Poderíamos espe-
na autossuficiência, apesar das sanções rar mais comércio de produtos agríco-
dos Estados Unidos à indústria de chips las e de consumo entre as nações do Sul
EDWARD TSE é da China. Quais seriam as implicações global. uso de moedas nacionais para
fundador e CEO que esses eventos terão no mundo? liquidações internacionais vai se acele-
da Gao Feng Tais fatos partem de pontos cruciais rar, embor eu não creia em “desdolari-
Advisory Company, anteriores, com os BRICS já tendo ul- zação” total. O novo mundo pode pare-
uma empresa de trapassado as economias do G7 em pa- cer mais complicado para alguns, mas
consultoria de ridade de poder de compra em 2020, e também fará muito mais sentido para
estratégia e gestão o comércio no âmbito da Iniciativa Cin- outros. As empresas deveriam refletir
com raízes na China. turão e Rota (BRI), liderada pela Chi- mais sobre o que isso significa.

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DOSSiê

DOSSIÊ 2
Inovação futuros
transição_energética
visão_sistêmica
tecnologias_ancestrais
PRODUTOS_DE_CARBONO

liderança_do_brasil
50
POWER-TO-X indigenomics
ESTRATÉGIA_DE_PAÍS
NEGACIONISMO_OU_APOCALIPSE LEIS

FINANCIAMENTO DESCARBONIZAÇÃO
#regeneração
Aproveite as oportunidades: mude seu modo de produção e lucre com isso

E
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI COM UMAGENS SHUTTERSTOCK

m plena pandemia de covid-19, em 2020, John Elkington, pioneiro da sustentabilidade no


meio corporativo com seus conceitos de RSE (responsabilidade socioambiental empresarial)
e “triple bottom line”, lançou livro novo. Foi para falar que, além de o futuro potencialmente
ter muitos cisnes negros (rupturas como emergências climáticas e espécies em extinção), terá
também muitos cisnes verdes. Em entrevista exclusiva a nós [veja a edição nº 143], explicou
os cisnes verdes: são soluções antes altamente improváveis (de modelos de negócio a estru-
turas políticas, de tecnologias a mentalidades), que, como os cisnes negros, também chegam
mais ou menos do nada e têm alto impacto – só que positivo”. Essa é a economia regenerativa.

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CONTAGEM REGRESSIVA COM CARLOS PIAZZA

#HSM+_2023

nossos futuros precisam ser regenerativos


51
por Sandra Regina da Silva

Carlos Piazza, professor, consultor e sobretudo pensador da gestão no Brasil, não tem dú-
vidas de que nosso planeta corre risco de morte. Para evitá-lo, não basta as organizações
deixarem de fazer as coisas erradas; elas precisam fazer cenários de reconstrução. Em sua
visão, isso requer acionar a capacidade imaginativa das pessoas e a capacidade tecnológi-
ca, com respaldo do profundo conhecimento filosófico da humanidade.

5
aprender. Viver, trabalhar e aprender
“Futurismo regenerativo, eram – e são – uma coisa só. As pes-
dessincronização e resso- soas ao longo do tempo dividiram isso
nância”. O que significa em três personas apartadas, com có-
o título de seu painel no digos de conduta e de vestimenta di-
HSM+? Parece complexo… ferentes. Veio a pandemia de covid-19
Vivemos num mundo que perdeu e mostrou que não fazia sentido, mas
completamente a sincronização. Para continuam tentando dessincronizar.
começar, o meio ambiente está fican- Nesse movimento, perde o planeta,
do dessincronizado. Como, por muito perdem as pessoas, perdem as rela-
tempo, só tiramos do planeta, era de ções. Por que o volume de suicídios
IMAGEM: ACERVO PESSOAL

se esperar que ele começasse a agir só aumenta? No ano passado, esse


contra nós. Mas fomos além; perde- número na América Latina foi de 775
mos o sincronismo de absolutamen- mil pessoas. É mais que a cidade de
te tudo: do viver, do trabalhar e do Ribeirão Preto inteira, em um ano.

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4
Qual é o impacto da dessin- nifica colocar as pessoas e o planeta A FALTA DE
cronização nas empresas? que as acolhe em primeiro lugar. Todo
O desengajamento das pes- o resto tem de vir depois. SINCRONISMO É
soas, e seu consequente baixo Do lado da filosofia, já vemos as O QUE EXPLICA
desempenho, é o maior dos duas próximas gerações, a Z e a alfa, A CRISE QUE
impactos. As pessoas estão tentando dizendo que não querem ter coisas,
buscar equilíbrio, mas não conse- voltando-se mais para uma economia ESTAMOS
guem tê-lo. Falam de procrastinação, circular, compartilhada, para um con- VIVENDO NO
porque não sabem por onde começar. sumo consciente. Ela estão alinhadas,
Estão perdidas. Não dá para falar em mesmo sem saber, com o braço da fi-
PLANETA – AS
regeneração sem entender que o pla- losofia que olha os fenômenos subjeti- PESSOAS NÃO
neta perdeu o sincronismo. vos da vida humana, a noética.

3
CONSEGUEM MAIS
Do lado das tecnologias, elas são to-
E ainda dá para regenerar? das regenerativas. O relatório da ONU SINCRONIZAR
Sim, temos o poder de [Organização das Nações Unidas] colo- SEU VIVER, SEU
transformar tudo a nossa ca que a agricultura terá de produzir nos
volta. Desde que os hominí- próximos 40 anos tudo o que ela produ-
APRENDER E
deos desceram das árvores 7 ziu nos últimos 8 mil anos, para suprir SEU TRABALHAR;
milhões de anos atrás, modificamos a necessidade de comida da população. TUDO ISSO
nosso entorno, trazendo inovações, Teremos tecnologia para ir substituin-
mesmo que sejam as biológicas como do a capacidade que nós perdemos da PRECISA SER
andar com as patas de trás. No chão, produção natural? Sim. Vamos ter car- REVISTO
era uma nova realidade, com outros ne feita de célula-tronco, impressão de
animais, pequenos e imensos, até os comida com pastas proteicas e todo tipo
que faziam você de refeição. Fomos de coisa. Na Finlândia, por exemplo, a
aprendendo e inovando em tudo. É Solar Foods está fazendo comida de gás
essa capacidade de transformação de de efeito estufa.

1
52 tudo a nosso redor que, agora, está
nos levando ao risco real da extinção Isso significa que a sociedade
da vida no planeta. inteira vai ter de reaprender
A meu ver, quando a gente se en- as coisas. Mas como, quando
contra nesse nível de dessincroniza- tem gente que nem acredita
ção, só existe uma única maneira: res- que temos uma crise climáti-
sincronizar o futuro, usando a própria ca, até no comando de empresas?
capacidade transformadora do homem É assustador. Me parece que, para
sobre ele mesmo. Como? Usando tec- muitas empresas, isso não existe, por-
nologia de um lado e filosofia do outro. que para elas ainda conta o foco na
Por isso, ao falar sobre regeneração, eu produção em massa. Essas vão come-
falo sobre futurismo regenerativo, com çar a enxergar o que está acontecendo
muita tecnologia e filosofia. só quando vier o ciclo de escassez – no
Tecnologias destroem civilizações cenário de não retorno, no qual já es-
inteiras, e tecnologias criam a huma- tamos em muitos aspectos.
nidade. A filosofia é o que pode fazer Eu não sei responder a sua per-
o pêndulo balançar da destruição gunta sobre conscientização, a não
para a criação nesses casos. Se não ser fazendo outra pergunta: será que
agirmos assim, não será possível a o aprendizado só será possível pela
vida no planeta. Temos de enfrentar dor? Hoje a dedução é que argumen-
a realidade: não conseguimos mais tos racionais e dados não bastam.
ter um planeta responsivo. Mas o fato de o mundo inteiro estar

2
passando por coisas que não con-
Então, a saída é… seguem compreender deveria nos
Colocar o ser humano colocar em estado de dúvida e hu-
no centro, praticando o hu- mildade para aprender. O consolo é
man-centered design para que ciência e tecnologia podem nos
todas as decisões, que sig- regenerar.

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53

#REGENERAÇÃO

floresta abundante de oportunidades de negócios


por Artur Villela Ferreira

Vale a pena as empresas mudarem a lente de ameaças para oportunidades e perceberem: elas
podem atuar em várias frentes da economia de baixo carbono no Brasil, da circularidade e
da agricultura regenerativa ao pré-sal verde. Mas os líderes têm de “esquecer” a vantagem
competitiva natural do País e desenvolver os instrumentos financeiros, a legislação, os
talentos técnicos, a segurança jurídica, os mecanismos de atração de capital em escala
global e as estratégias necessárias a quem quer liderar a economia regenerativa no mundo.

Manter em pé o que resta não basta


Já quase todo o verde se foi
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

Agora é hora de ser refloresta


Que o coração não destrói
Gilberto Gil

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O
s últimos 150 anos, desde a Re- produção e consumo no planeta, é
volução Industrial, foram um maior do que a bioprodutividade, a
período de desenvolvimento capacidade dos sistemas naturais de
tecnológico, científico e humano absorver esse impacto. Estamos há
exponenciais. Deixamos de estar li- 50 anos operando no “cheque espe-
mitados ao uso da força de humanos cial ambiental”, reduzindo áreas de
e animais para controlar combus- biomas naturais que contribuem de
tíveis fósseis e a eletricidade. Em forma importante para nosso bem-
1870 éramos 1,3 bilhão de pessoas, -estar e lançando na atmosfera po-
90% morando em áreas rurais e três luentes que já desestabilizam o cli-
quartos em pobreza extrema. Hoje ma global.
ultrapassamos a marca das 8 bilhões A dilapidação constante do ca-
de pessoas, sua maioria urbana e pital natural disponível começa a
com nove em cada dez acima da li- ser percebido como ameaça à esta-
nha da pobreza. bilidade dos sistemas naturais dos
Nunca na história a humanidade quais toda a humanidade depende.
deteve tanta capacidade produtiva. Da mesma forma que uma fábrica,
Uma fazenda de milho nos Estados máquina ou outro bem de capital
Unidos produz hoje seis vezes mais que não receba os investimentos ne-
por hectare do que em 1870. No Bra- cessários para manutenção, também
sil, a produtividade da soja dobrou o capital natural perde a capacidade
apenas nos últimos 50 anos. Uma de gerar serviços ecossistêmicos se
pessoa viva hoje tem disponível em for depredado.
média quatro vezes mais energia por Desde 2009, o Centro de Resiliên-
ano, entre eletricidade, combustíveis cia de Estocolmo avalia os chamados
e alimentos, do que um antepassado limites planetários, indicadores glo-
do fim do século 19. bais dos principais sistemas dos quais
54 Por um lado, essa abundância de- dependemos para a manutenção de
corre do grande avanço tecnológico: nosso modo de vida. No primeiro se-
um trator, um forno industrial ou mestre o centro publicou sua terceira
um computador hoje é infinitamen- avaliação: já ultrapassamos seis dos
te superior àqueles de um século nove limites mundiais avaliados.
atrás. Por outro lado, uma parte da O atual cenário deixa claro que a
afluência que temos hoje se deve à visão tradicional, de buscar integra-
dilapidação do capital natural que ção entre economia e meio ambiente
NO BRASIL, recebemos das gerações anteriores. que seja apenas “sustentável”, não
UMA PESSOA Antes de continuar, é importan- será o suficiente para garantir um
te definir alguns conceitos: assim ambiente próspero para a humani-
VIVA HOJE TEM
como o capital é o conjunto de bens dade. É crescente o movimento por
DISPONÍVEL EM que garante bem-estar para os se- uma economia regenerativa, que
MÉDIA QUATRO res humanos, o capital natural é o vá além de minimizar impactos ne-
conjunto de todos os bens naturais gativos no capital natural, mas que
VEZES MAIS que contribuem para a geração de busque ativamente afetar de forma
ENERGIA POR bem-estar, geralmente na forma dos positiva a natureza e reverta os da-
ANO, ENTRE chamados serviços ecossistêmicos. nos causados até aqui.
Enquanto uma fábrica produz car- O movimento, apesar de relati-
ELETRICIDADE, ros, uma floresta regula o ciclo da vamente novo, vem ganhando im-
COMBUSTÍVEIS água, fornece frutos, poliniza plan- portante tração com consumidores
tações, captura e estoca carbono, e já afeta cadeias de fornecimento
E ALIMENTOS, mantém a biodiversidade, dentre de escala mundial: marcas globais
DO QUE UM uma infinidade de outras contribui- como Nespresso e Patagonia já pos-
ANTEPASSADO ções para as pessoas. suem produtos comercializados com
Pois bem: desde os anos 1970, a certificações de práticas regenerati-
DO FIM DO pegada ambiental da humanidade, vas. Por sua grande área e imenso
SÉCULO 19 ou seja, o impacto de toda nossa patrimônio natural, o Brasil tem po-

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O DIA DE SOBRECARGA DA TERRA É CADA VEZ MAIS CEDO
1º de junho

1º de julho

1º de agosto

1º de setembro

1º de outubro

1º de novembro

1º de dezembro

1º de janeiro
19 0
71

75
77
79
81
73

83
85
87
89
91
93
95
97
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01
03
05
07
09
11
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7
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20
20
FONTE: GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, NEM NEGACIONISMO NEM APOCALIPSE

OS NOVE LIMITES DO PLANETA – E SEIS JÁ FORAM ULTRAPASSADOS


55
MUDANÇA
CLIMÁTICA

Concentração Forçamento NOVAS


INTEGRIDADE de CO2 radioativo ENTIDADES
DA BIOSFERA

Genética

ESGOTAMENTO DO
OZÔNIO ESTRATOSFÉRICO

Funcional

CARGA DE
MUDANÇAS DE AEROSOL
USO DA TERRA ATMOSFÉRICO

ACIDIFICAÇÃO
USO DE DO OCEANO
ÁGUA DOCE Fósforo
Nitrogênio

FLUXOS BIOQUÍMICOS

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


UMA QUESTÃO tencial enorme para liderar a cons- por manterem suas APPs e reservas
trução de uma economia verdadei- legais de forma adequada.
IMPORTANTE, ramente regenerativa.
QUE TEM Circularidade
IMPACTO TANTO Contenção de danos
Os impactos ambientais negativos
NOS DESCARTES Antes de qualquer coisa, atingir não são limitados ao desmatamento:
DE RESÍDUOS regeneração significativa em escala metade da população brasileira ainda
nacional ou global depende de elimi- não tem esgoto tratado e metade dos
QUANTO NA narmos ou restringirmos ao mínimo municípios do País ainda adota lixões
DEMANDA POR a degradação ambiental. No caso bra- ilegais como “solução” para descar-
MATÉRIA-PRIMA sileiro, isso requer em primeiro lugar tar seus resíduos sólidos. O recente
zerar o desmatamento ilegal e a per- marco legal do saneamento, aprova-
VIRGEM, É A da de biomas nativos, o que responde do em 2020, melhorou o ambiente
RECICLAGEM. por 50% de todas as emissões de gases de investimentos no setor, mas ainda
de efeito estufa do País. serão necessários R$ 500 bilhões em
APENAS 3,3%
Não é tarefa simples, dado que o investimentos para garantir acesso
DOS RESÍDUOS todo o modelo de desenvolvimento universal a água potável e tratamento
SÓLIDOS econômico até este momento, no de esgoto. Não existe economia rege-
Brasil e no mundo, foi baseado na nerativa enquanto houver esgoto des-
URBANOS substituição de florestas por pasta- pejado in natura nos rios brasileiros.
PASSAM gens ou lavouras. O valor estimado Outra questão importante, que tem
POR COLETA pelo Fórum Econômico Mundial impacto tanto nos descartes de resíduos
para os serviços ecossistêmicos quanto na demanda por matéria-prima
SELETIVA NO prestados pelas áreas naturais no virgem, é a reciclagem. Apenas 3,3%
BRASIL planeta é da ordem dos US$ 120 tri- dos resíduos sólidos urbanos passam
lhões, dos quais praticamente nada por coleta seletiva no Brasil, que recicla
56 é efetivamente pago. Enquanto es- apenas (perdão pela redundância) 2,5%
ses ativos não forem devidamente do lixo gerado em nossas cidades.
valorados, nenhuma ação de comba-
te ao desmatamento será perene em Agricultura regenerativa e
escala planetária.
No caso específico de regiões com
reflorestamento
maior pressão por desmatamento, Na realidade brasileira, as maio-
bem como no caso de áreas com res oportunidades na economia re-
autorizações de supressão vegetal, generativa passam pela recuperação
os créditos de carbono por desma- de pastagens degradadas e a adoção
tamento evitado (REDD+) são uma de práticas agroflorestais, como in-
alternativa para produtores, apesar tegração lavoura-pecuária-floresta.
dos desafios de garantir acesso para Para se ter noção do tamanho desta
propriedades menores e credibilida- oportunidade, o Brasil possui cerca de
de ao mercado como um todo. 100 milhões de hectares de pastagens
É importante ter em mente que degradadas, uma área equivalente ao
a maior parte das áreas nativas do tamanho de países como Venezue-
Brasil não são elegíveis para rece- la ou Nigéria. Isso considera apenas
ber créditos de carbono, então faz- aquelas pastagens em nível moderado
-se necessário construir diferentes ou alto de degradação.
alternativas para o pagamento por Atualmente já existem empresas e
serviços ambientais (PSA). O fun- fundos de investimento, como AGBI
do Amarí, construído pela GFB e e Vox Capital, adquirindo terras de-
pela Indie Capital, por exemplo, usa gradadas para investir em sua recu-
CPRs Verdes aliadas a CPRs tra- peração e valorização: transformam
dicionais para prover crédito para pastagens improdutivas em lavouras
custeio de safra a produtores, que de soja e milho, com solo renovado e
recebem um “cashback ambiental” receita por hectare muito superior.

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Essa recuperação de áreas pode ir perar as características naturais das EM ÁREAS
além da transformação em lavouras áreas anteriormente desmatadas. Isso
e adotar uma vasta gama de práticas pode ocorrer tanto por determinação
DEGRADADAS,
de integração entre lavoura-pecuária legal quanto para explorar o merca- É POSSÍVEL
e lavoura-pecuária-floresta, desde as do de carbono. Inclusive, os créditos REFLORESTAR DE
mais simples até verdadeiras agroflo- gerados nesse tipo de projeto são con-
restas com enorme biodiversidade. siderados de alta qualidade, porque MODO ECOLÓGICO,
No ano de 2020, por exemplo, a sua medição é tecnicamente menos CUJO MAIOR
Embrapa publicou um protocolo de controversa e eles são acompanhados
carne carbono neutro, que utiliza eu-
OBJETIVO É
de enormes cobenefícios, como volta
calipto no meio das pastagens para de fauna e flora, microclima e demais RECUPERAR AS
compensar as emissões de gases de serviços ecossistêmicos. CARACTERÍSTICAS
efeito estufa do gado. A Marfrig ado- O Brasil se comprometeu em sua
ta esse protocolo na linha Viva. meta junto ao Acordo de Paris a re- NATURAIS
Segundo o Instituto Escolhas, a re- cuperar 12 milhões de hectares de DAS ÁREAS
cuperação de apenas 1 milhão de hec- biomas nativos, mas pouco foi efeti-
ANTERIORMENTE
tares em APPs e Reservas Legais de vamente realizado nesses oito anos:
pequenas propriedades com sistemas menos de 100 mil. Recentemente, al- DESMATADAS.
agroflorestais tem o potencial de plan- gumas iniciativas privadas, como Re- PODE OCORRER
tar 2 bilhões de árvores, capturando green, Biomas e Mombak, começa-
182 milhões de toneladas de carbono, ram a explorar essa oportunidade. O PARA EXPLORAR
produzindo 156 milhões de toneladas Instituto Escolhas estimou a neces- O MERCADO DE
de alimentos e gerando uma receita de sidade de R$ 228 bilhões em inves- CARBONO
R$ 260 bilhões aos fazendeiros. timentos para reflorestar essa área,
O primeiro grande desafio para a para uma receita da ordem de R$ 776
adoção em larga escala de sistemas bilhões e remoção de 4,3 bilhões de
agroflorestais (SAFs) é a necessidade toneladas de carbono da atmosfera.
de capital: o mesmo estudo aponta 57
um custo da ordem de R$ 33 bilhões Materiais renováveis:
para implantar esse volume de SAFs.
Dado que o retorno estimado é signi-
o pré-sal verde
ficativamente superior, é necessário A busca pela circularidade nas ca-
criar instrumentos de financiamento deias produtivas regenerativas pode
que se adequem a esse tipo de proje- colocar o Brasil como líder global no
to para que seja realizado todo o po- fornecimento de insumos susten-
tencial dos SAFs na recuperação de táveis para diversas indústrias, em
áreas degradadas. substituição a fontes fósseis e não
Vencido o desafio, existem duas renováveis. A produção dessas ma-
questões que não podem ser ignora- térias-primas pode ser um grande
das: a dificuldade de execução, uma vetor de regeneração no País.
vez que praticamente inexiste ma- Um exemplo são os biocombustí-
quinário para mecanização de SAFs; veis. Mesmo que o etanol em espe-
a mão de obra precisa ser treinada cial seja amplamente utilizado no
para novas formas de agricultura e Brasil, eles ainda respondem por
as cadeias de fornecimento de mu- uma fração pequena da utilização
das são insipientes; e a dificuldade total de combustíveis. Inovações
mercadológica, dada a grande con- como o etanol de 2ª geração podem
centração da demanda agrícola, que aumentar a oferta de insumos ver-
faz com que apenas quatro culturas, des na cadeia petroquímica.
soja, milho, cana-de-açúcar e arroz, É importante incluir nesse merca-
respondam por 90% da área de la- do da química verde outras fontes de
voura no Brasil. biomassa, como o agave, que já pos-
Outra destinação possível para sui biorrefinaria-piloto operada pela
áreas degradadas é o reflorestamento Shell em parceria com a Unicamp,
ecológico, cujo maior objetivo é recu- a macaúba e o dendê, explorado por

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58

empresas como BBF e BBB. O zonea- REDUZIR OS IMPACTOS NEGA-


mento agroecológico da palma ma- TIVOS DE NOSSA PRODUÇÃO e con-
peou mais de 30 milhões de hectares sumo é imperativo. Da mesma for-
de áreas degradadas que podem ser ma, chegou a hora de a humanidade
recuperadas com dendê, produzindo recuperar parte do estrago deixado
um óleo altamente energético e que no planeta até aqui, a fim de garan-
atualmente é visto como vetor de des- tir a estabilidade necessária para ARTUR VILELLA
matamento no sudeste asiático. Es- que continuemos um mundo cada FERREIRA é sócio-
sas culturas podem ser insumos para vez mais amigável para a atual e as -fundador da
indústrias dependentes de petróleo, futuras gerações. Global Forest Bond,
ofertando biodiesel e combustível Nesse contexto, o Brasil tem todas pesquisador do
sustentável de aviação, por exemplo. as características naturais para lide- Centro de Estudos
As oportunidades para substituição rar a construção de uma economia em Infraestrutura
por matérias-primas regenerativas que seja realmente regenerativa. É e Soluções
não se limitam à química verde e ao importante agora desenvolvermos Ambientais da
setor energético. As fibras de origem os instrumentos financeiros, legisla- Fundação Getulio
natural também podem substituir di- ção, capacidade técnica, segurança Vargas e coautor de
versos insumos não renováveis, desde jurídica e atração de capital em es- Nem Negacionismo
o algodão ou a viscose para tecidos até cala global, sem as quais todo esse Nem Apocalipse
a madeira engenheirada que pode ter potencial natural não será de forma – economia do
função estrutural e transformar cons- alguma atingido. Na Global Forest meio ambiente:
truções de emissoras de carbono à Bond, estamos buscando fazer tudo uma perspectiva
base de cimento e aço em estoques de isso na medida de nossas possibili- brasileira.
carbono à base de madeira. dades. E em sua empresa?

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#POVOSORIGINÁRIOS 59

A indigenomics, o indigenismo e a gestão de negócios


por Karen Christensen

Nesta entrevista, a autora do livro Indigenomics, Carol Anne Hilton, fundadora e CEO do
Indigenomics Institute do Canadá, esclarece como a visão de mundo indígena pode contribuir
para a evolução dos negócios e da sociedade no século 21. Ao menos nos últimos cinco anos,
o mundo todo acompanha a maior influência do pensamento indígena – e a ação.
IMAGENS: DIVULGAÇÃO/LINKEDIN E ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGENS SHUTTERSTOCK

N
os diversos países da Terra, povos micas, com potencial para ultrapassar
indígenas têm sido colocados no US$ 100 bilhões no mundo.
lado do custo da equação econô-
mica. Segundo Carol Anne Hilton, líder Você diz que a economia indigenista
do movimento indigenista canadense, – indigenomics, em inglês – pode fa-
ascendência Nuu-chah-nulth, da Ilha zer parte da construção de um cami-
de Vancouver, isso não procede – não nho sustentável para a economia de
mais. Os indígenas estão focando a um país. Por favor, explique…
criação de “receita de fonte própria” – Se olharmos para as questões am-
receita que as nações obtêm gerando bientais que já nos afligem, o caminho
renda empresarial e arrecadando im- a ser trilhado deve incluir elementos-
postos. A nova narrativa é a de que os -chave da cosmovisão indígena [veja
povos indígenas são potências econô- texto lateral à dir.]. Eu sou Nuu-chah-

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-nulth da Ilha de Vancouver, e temos país. A dinâmica do “puxar” foi como
A COSMOVISÃO um conceito, “hishuk'ish tsawalk”, que anos de políticas e práticas governa-
INDÍGENA PARA significa “tudo é um e interligado”. Há mentais criaram nossa invisibilidade
reconhecimento crescente de que o sistêmica, expressa por meio da contí-
TOMAR DECISÕES*
conhecimento indígena acumulado é nua negação, resistência e rejeição de
fundamental para desenvolver soluções nossos direitos. Nosso esforço contínuo
PRINCÍPIO #1: TUDO
para a crise climática e alcançar a jus- por reconhecimento tomou a forma de
ESTÁ CONECTADO.
tiça climática. No âmbito dos negócios, mais de 300 processos judiciais, muitos
é importante que as decisões conside- relativos a recursos naturais, e o gover-
PRINCÍPIO #2: HISTÓ-
rem essa visão de mundo. Nossos sis- no perdeu todos. Com essas vitórias
RIA ENSINA.
temas de conhecimento oferecem uma legais, as comunidades indígenas vêm
base para que sejam tomadas ações de redesenhando o mapa do Canadá.
PRINCÍPIO # 3: DEVE-
adaptação e mitigação que contribuam
-SE ANIMAR A FORÇA
para sustentar a resiliência de sistemas A indigenomics fala em “justiça am-
VITAL.
socioecológicos local, regional e global. biental”. O que é isso?
Refere-se aos impactos da distribui-
PRINCÍPIO #4: TRANS-
O que é a cosmovisão indígena? ção desigual dos custos e benefícios da
FORMAR É PRECISO.
É um conjunto coletivo de crenças degradação ambiental, incluindo con-
e valores que compõe uma maneira de sequências das mudanças climáticas.
PRINCÍPIO #5: OS EN-
ver o mundo, e há diferenças importan- Os Povos indígenas vivem os efeitos
SINAMENTOS DEVEM
tes entre a visão de mundo indígena e cumulativos de longo prazo das mu-
SER RESPEITADOS;
a visão de mundo ocidental dominan- danças climáticas a partir de um senso
SÃO IDENTIDADE.
te. Na cosmovisão indígena, como dis- de pertencimento a um lugar que está
se, em primeiro lugar está nossa rela- diretamente ligado a nossa identidade.
PRINCÍPIO #6: HONRE
ção com o ambiente em que vivemos. Exemplo: o aumento do nível do mar
A CRIAÇÃO, O DIREITO
Como estamos interagindo com nosso leva ao aumento da salinização da água
A UM LUGAR E A
ambiente hoje e como precisamos inte- doce e nos causa diminuição significati-
60 PERTENCER.
ragir com ele daqui para frente? va na segurança alimentar e no acesso
O pensamento de longo prazo é ou- a medicamentos tradicionais, entre ou-
PRINCÍPIO #7:
tro elemento-chave de nossa visão de tros impactos.
DEVE-SE REGISTRAR,
mundo. As decisões que tomamos hoje
LEMBRAR, RECONHE-
terão impacto nas gerações futuras, o Outro termo importante na indige-
CER.
que leva ao conceito “sétima geração”. nomics é “consentimento colabora-
Acreditamos que as decisões que estão tivo”. Por favor, descreva-o.
PRINCÍPIO #8: TES-
sendo tomadas sobre a energia, água e É um processo contínuo de com-
TEMUNHOS VALIDAM
recursos naturais devem ser sustentá- promisso engajado entre governos
EXPERIÊNCIAS,
veis por sete gerações no futuro. indígenas e não indígenas para ga-
RELAÇÕES, FATOS.
Nosso conceito de riqueza também rantir o consentimento mútuo. Na
é diferente, muito mais focado na co- condição de jovem líder na região
RINCÍPIO #9: TORNE
munidade. É menos sobre a geração de de Nuu-chah-nulth, testemunhei
VISÍVEL O ESPIRITUAL
receita e mais sobre nossa perpetuida- sérios confrontos em torno do des-
– COMO ACIMA, ASSIM
de como humanos em termos do de- matamento para exploração madei-
SERÁ ABAIXO.
senvolvimento econômico que sustenta reira entre nações indígenas, o setor
nossos modos de ser e defende a sabe- florestal e o governo. Mas, em meio
PRINCÍPIO #10: RE-
doria de nossos anciãos. a todo o caos, estabeleceram-se pro-
NOVE, DEIXE O VELHO
cessos para a inclusão da sabedoria
IR EMBORA.
Como os governos se relacionam com indígena como forma de estabelecer
os povos indígenas? Você fala na “di- práticas florestais de classe mun-
*Texto adaptado. nâmica empurra/puxa” [push/pull]… dial. Essa integração mostrou que a
Sim. No Canadá atual, que dou de defesa da sabedoria indígena pode
exemplo, “empurrar” tem estado no apoiar os resultados econômicos,
centro do progresso e desenvolvimen- com uma perspectiva de gestão, e
to econômico indígena, para que haja também funciona de uma perspecti-
o reconhecimento legal da forma como va de gestão de risco e da financeira.
está cristalizado na constituição deste O progresso começou.

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O FUTURO É ANCESTRAL por Edgar Andrade
UM EMPREENDEDOR GUARANI-KAIOWÁ DO MS MOSTRA CAMINHOS PARA ISSO

Tecnologias ancestrais podem ajudar a posicionar o Brasil como líder global da


economia verde? Como? Recentemente rodei 8 mil quilômetros pelo interior do
Mato Grosso do Sul e descobri algumas primeiras respostas nessas andanças.
Descobri que indígenas empreendem. Em Amambaí, conheci Valdeir Vilhalva, EDGAR ANDRADE é head
empreendedor indígena, economista, mestrando com foco em desenvolvimento da Startupbootcamp no
local. Seu negócio é baseado na produção da erva-mate para vender no merca- Brasil.
do. Quer criar alternativas para gerar mais e melhores receitas para a agricultura
familiar. Sua ideia é produzir a matéria-prima no médio e longo prazo dentro da
aldeia, o que ainda não acontece, uma vez que a região é propícia para a plantação
O MIX ECONÔMICO
da erva-mate. Descobri também que podemos perder oportunidades em econo-
INDÍGENA: 12
mia indígena por preconceito bobo. Se Valdeir não fosse economista, numa uni-
ALAVANCAS PARA O
versidade, será que eu teria tido contato com ele? Talvez não. Do mesmo modo, as
tecnologias ancestrais ainda são tratadas, na maior parte, como crendice, curan-
CRESCIMENTO
deirismo, quando não passam pelo crivo da ciência ocidental.
Para mim, em vez de discutir sobre o marco temporal, deveríamos estar discu- 1. PARTICIPAÇÃO
tindo um mapeamento das tecnologias ancestrais que alimentaram e alimentam a ACIONÁRIA
indústria no mundo, e pagar royalties sobre essas tecnologias. Para mim, se o Bra- 2. CAPITAL
sil quiser realmente ser líder global da economia verde, a apropriação dos saberes 3. EMPREENDEDO-
tradicionais pela indústria que aconteceu historicamente segue mais necessário do RISMO
que nunca. O País precisa agir nessa frente, porque o futuro é ancestral. 4. TRADE
Mas será que os indígenas querem ter essa troca de conhecimentos com não 5. FILANTROPIA
indígenas? Valdeir me disse que há grupos com uma mente muito fechada, mas 6. SUPRIMENTOS 61
outros aceitam a integração. Ele pessoalmente defende que haja a troca, mas com 7. ENERGIA LIMPA
as populações elaborando um planejamento eficiente e de longo prazo. 8. TECNOLOGIA
9. FINANÇAS SOCIAIS
10. INVESTIMENTO
11. COMÉRCIO
No início de 2023, a Nação Tahltan, empresas indígenas focadas em tecno- 12. INFRAESTRUTURA
na Colúmbia Britânica, assinou um logia também estão crescendo. Outra Fonte: Indigenomics.
acordo inédito com a província esten- é a OneFeather Mobile Technologies,
dendo sua abordagem de princípios de que está habilitando soluções bancá-
consentimento para a gestão de terras. rias dedicadas. As economias indígena
e tradicional devem ser integradas, so-
Há oportunidades de negócios para bretudo na economia de baixo carbono.
não ocidentais na indigenomics?
Muitas, como energia limpa, supri- O que é “reconciliação econômica”?
mentos, água potável, comércio. À me- É o espaço entre as realidades vivi-
dida que o investimento nessas áreas das pelos povos indígenas, a necessida-
continuar, haverá criação de valor. Um de de construção do entendimento da
exemplo é a First Nations Power Au- importância da relação com indígenas
thority (FNPA), criada em 2011 como e a demanda por ações progressistas
a única organização de energia limpa em direção à inclusão econômica. Até
sem fins lucrativos da América do Nor- que todas as empresas apoiem isso, não KAREN CHRISTENSEN
te, que é de propriedade de indígenas. teremos reconciliação econômica. é editora-chefe
Entre suas realizações, está a criação da Rotman
de um mestrado em sustentabilidade ©Rotman Management Management
(MSs) e um em segurança energética Editado com autorização da Rotman School of Magazine, do
na University of Saskatchewan School Management, ligada à University of Toronto. Canadá.
of Environment and Sustainability. As Todos os direitos reservados.

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62 #TRANSIÇÃOENERGÉTICA #ECONOMIADEBAIXOCARBONO

produtos químicos baseados em carbono em ascensão


por Sumit Verma, John Paschkewitz, Gabriela Schaefer e Adam Rothman

Existem metas de captura de carbono na atmosfera. Há quatro abordagens complementares


a isso: uso de materiais reciclados e recicláveis, de materiais derivados de biomassa,
de materiais biodegradáveis e transformação “C02-to-X”. Empresas de capital de risco
investiram cerca de US$ 700 milhões em startups da quarta abordagem em 2022.

p
ara empresas químicas e de mate- -to-X”, como o mercado global vem
riais, chegou a hora de fazer a per- convencionando chamar o novo para-
gunta de US$ 3,5 trilhões: digma verde de produção de produtos
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGENS SHUTTERSTOCK

Estaremos vivendo os estágios ini- petroquímicos que aproveita o carbo-


ciais de uma transformação de petro- no sequestrado da atmosfera, em vez
químicos intensivos em emissões para de combustíveis fósseis. Exemplos são
um novo paradigma de produção ver- o precursor químico baseado em CO2
de, no qual o CO2, o hidrogênio e ener- da Covestro, o Cardyon, e o método de
gias renováveis são usados no lugar de produção baseado em CO2 da Econic
combustíveis fósseis? para polióis, usados para criar espumas
de poliuretano sustentáveis. A Evonik,
Aqui vamos falar do CO2, mais es- em colaboração com diversos parceiros,
pecificamente da transformação “CO2- lançou o projeto PlasCO2, que visa usar

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o CO2 como matéria-prima na produ- nais. Por exemplo, a pegada de carbono
O “X” DA QUESTÃO… ção de produtos químicos do tipo C4. do etileno produzido com hidrogênio
A Twelve, startup que trabalha com a com baixa emissão de carbono e CO2
Daimler e a P&G para produzir produ- (de fontes biogênicas ou captura direta
Você vai cada vez
tos baseados em CO2, anunciou recen- do ar) como matéria-prima poderia ser
mais ouvir falar
temente uma rodada de financiamento negativa em comparação com 1,3 a 1,8
em tecnologias
da série B no valor de US$ 130 milhões. tonelada de CO2 por tonelada de etileno
PtX, abreviação da
A Air Company, outra startup, tem ven- gerada no craqueamento a gás atual.
expressão inglesa
dido vodca e fragrâncias baseadas em Desenvolvidos em escala e a custos
“power-to-X”. Essas
CO2, entre outros produtos; ela arreca- razoáveis, os processos de produção
tecnologias fazem a
dou US$ 30 milhões em financiamento baseados em CO2 podem ser um contri-
conversão de energia
da série A. No total, empresas de capital buinte importante para uma indústria
elétrica renovável em
de risco investiram cerca de US$ 700 química com baixo ou nenhum carbo-
hidrogênio, amônia, o
milhões em startups de transformação no, desde que:
próprio CO2 que pode
e utilização de CO2 em 2022, de acordo
ser usado como ma-
com o PitchBook. O investimento tem • A maioria do calor do processo
téria-prima e outras
aumentado a uma taxa anual de 47% seja fornecida por hidrogênio e
moléculas, bem como
desde 2018. eletricidade verde.
combustível susten-
O fato é que, à medida que o ritmo de • Grandes partes dos blocos de
tável de aviação.
inovação e de financiamento em produ- construção petroquímicos ba-
tos químicos baseados em CO2 cres- seados em síntese de gás sejam
… E AS PARCERIAS ce, grandes empresas, especialmente produzidas por meio de méto-
aquelas com compromissos de redução dos CO2-to-X em vez de refor-
DE CCS QUE NASCEM
de carbono ou de zero líquido, precisam mar metano a vapor.
se envolver com insumos e processos • As emissões restantes do pro-
As atividades de
de produção alternativos. cesso sejam capturadas, e o
captura de CO2 da at-
Uma análise recente do BCG indica carbono, reutilizado.
mosfera e armazena-
que o CO2-to-X é um desfecho convin- • Fontes sustentáveis de CO2 63
mento (CCS, na sigla
cente e subestimado para a descarbo- (como biogênicas ou captura
em inglês) geram
nização do setor químico – setor que direta do ar) ou materiais re-
novas parcerias de
produziu aproximadamente 2,5% ciclados forneçam o carbono
negócios, nas quais o
das emissões globais de carbono em usado como matéria-prima.
uso do CO2 como ma-
2022. O CO2-to-X deve ser visto como
téria-prima é previs-
uma das quatro abordagens comple- Os catalisadores para essas melho-
to. Air Liquide, Fluxys
mentares que aumentam a captura e rias serão desenvolvimentos tecnoló-
Belgium e o Porto de
o armazenamento de carbono (CCS, gicos tanto incrementais (como otimi-
Antuérpia-Bruges
na sigla em inglês) e reduzem a in- zação de processos) quanto disruptivos
estão criando o Hub
tensidade de carbono dos processos (como a descoberta de novos materiais
de Exportação de CO2
de produção química. (As outras três catalíticos), bem como a regulamenta-
Antwerp@C, com uma
são produtos circulares, materiais ções em evolução e a geração generali-
rede de dutos intra-
derivados de biomassa e materiais zada de eletricidade verde e produção
portuária de acesso
biodegradáveis.) E à medida que as de hidrogênio.
aberto – há inves-
economias de escala para o CCS avan- As tecnologias de energias renová-
timento da União
çam, os benefícios serão obtidos pelas veis e armazenamento estão avançan-
Europeia. Exxon Mobil
empresas mais bem preparadas com do rapidamente, e a eletricidade para
e Mitsubishi Heavy
abordagens para agir. a indústria pode ser aprimorada ainda
Industries também
Quase todos os produtos petroquí- mais por tecnologias como reatores
se associaram; a
micos usados hoje podem ser produ- nucleares modulares pequenos que a
ideia é a Exxon usar a
zidos usando CO2, hidrogênio com Dow, por exemplo, está buscando. A
tecnologia de captura
baixa emissão de carbono e energias oferta de hidrogênio verde também
da Mitsubishi como
renováveis no lugar de combustíveis precisa aumentar; o BCG estima que
parte das soluções
fósseis e calor. Essas vias baseadas em a demanda por hidrogênio com baixa
CCS industriais ponta
CO2 podem desbloquear novas opções emissão de carbono poderia disparar
a ponta da Exxon.
de redução de gases de efeito estufa al- para 350 milhões a 530 milhões de to-
tamente desejáveis para os usuários fi- neladas por ano até 2050.

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Aposta grande, retorno maior biológica e sobre incentivos regulató-
rios. As empresas precisam comparar DEMANDA
Certamente ser pioneiro nos mer- as várias vias de transformação de CO2 CRESCENTE
cados verdes ainda é uma aposta, mas com outras abordagens de sustentabi-
pode resultar em grandes retornos. Isso lidade, como biodegradabilidade e cir- Um relatório de
porque os players da cadeia de forneci- cularidade, tanto do ponto de vista de janeiro de 2023
mento em setores como o químico têm custo como do da pegada de carbono. preparado pelo
operado há muito tempo em mercados As decisões raramente são simples. As Fórum Econômico
comoditizados, competindo principal- cadeias de valor alifáticas e aromáticas Mundial (WEF) e pelo
mente com base em custo e preço. exigem uma consideração cuidadosa BCG relatou que a de-
O CO2 é uma matéria-prima atraen- com base na economia de processo e na manda nesta década
te porque é abundante industrialmente maturidade. por alguns materiais
e é um gás de efeito estufa problemáti- As empresas precisam fazer três verdes, incluindo
co. O grande desafio é que os processos perguntas-chave sobre quando, como produtos químicos e
CO2-to-X ainda são caros e geralmente e onde implantar tecnologias CO2-to-X: plásticos, logo pode
consomem grandes quantidades de superar a oferta.
energia para criar produtos químicos 1. Quais moléculas escolheremos para As empresas que
fundamentais, como monóxido de experimentar primeiro? tomam a iniciativa e
carbono (um ingrediente-chave em 2. Como se deve avaliar os desenvolvi- atendem a aplica-
uma variedade de produtos químicos mentos tecnológicos e as demandas ções para as quais a
industriais) e etilenoglicol (um agente de mercado e energia? Existem de- demanda dos clientes
anticongelante e precursor das fibras senvolvimentos de curto, médio e por alternativas
de poliéster). longo prazo. verdes é alta já estão
No entanto, a economia de uso de 3. Como o mercado se desenvolverá? obtendo prêmios de
CO2 está melhorando, e há vários cami- Dadas as exigências de escala inten- preço. Um exemplo
nhos à beira da atratividade econômica. siva em capital e a incerteza sobre a de aplicação são as
O BCG demonstrou que os processos disposição dos clientes em pagar um olefinas de baixa
64 baseados em CO2 podem ter emissões prêmio, há um go-to-market que emissão de carbono,
de escopo 2 e 3 menores do que os mé- minimize riscos e acelere prazos? derivadas de óleo de
todos de base biológica, e seus custos pirólise. As empresas
estão se tornando competitivos com o Orientação para a alta GESTão que esperarem
craqueamento a gás (líquidos de subsí- que a demanda se
dios). Mudanças regulatórias esperadas Os caminhos para modelos CO2-to- materialize antes de
na União Europeia, como o Sistema de -X ambiental e financeiramente sus- investir podem estar
Comércio de Emissões e o Mecanismo tentáveis variam por região e segmento atrasadas, na visão
de Ajuste de Fronteiras de Carbono, da indústria. À medida que os custos do BCG.
podem corroer a rentabilidade dos pro- do CO2 para X diminuem, os líderes de
cessos de produção estabelecidos com todas as grandes empresas químicas,
altas emissões de carbono, criando in- bem como de outras empresas, devem
centivos adicionais para a mudança. endereçar as seguintes perguntas: SUMIT VERMA é
Muitas empresas se comprometeram consultor do BCG
com a captura e armazenamento de CO2 • Como uma tecnologia CO2-to-X em Boston, EUA.
como pilar fundamental de seus progra- pode alterar as posições com- JOHN PASCHKEWITZ
mas de sustentabilidade, e o CO2-to-X petitivas e os pools de lucro em é partner e diretor
pode ser uma abordagem complemen- nossos produtos e geografias? associado em
tar [veja texto lateral à esq.]. Dada a • Nossa organização de P&D tem Washington.
variedade de tecnologias em desen- as capacidades para aproveitar GABRIELA SCHAEFER
volvimento, e o número potencial de a nova tecnologia? é diretora associada,
produtos baseados em CO2, avaliar os • Onde nossos ativos ou cadeias na área de químicos,
riscos técnicos, econômicos e comer- de valor criam opções de parce- em Hamburgo,
ciais não é simples. Ainda há muitas ria que podemos explorar? Alemanha. ADAM
questões em aberto sobre a mitigação ROTHMAN é diretor-
do efeito estufa, dependendo da molé- © BCG. -executivo e partner
cula de interesse, sobre a disponibilida- Editado com autorização do Boston Consulting sênior em Chicago.
de de alternativas circulares e de base Group. Todos os direitos reservados.

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


CONTEÚDO

ENTRE O BÁSICO E O FLEXÍVEL: A NOVA


ERA DOS BENEFÍCIOS CORPORATIVOS
EM UM MERCADO CADA VEZ MAIS IMPACTADO PELAS MUDANÇAS DE EXPECTATIVAS E HÁBITOS
DE COLABORADORES, O EQUILÍBRIO ENTRE INCENTIVOS TRADICIONAIS E NOVOS MODELOS DE
ENGAJAMENTO SURGE COMO UM PILAR FUNDAMENTAL DAS ESTRATÉGIAS DE EMPLOYEE EXPERIENCE
POR THOMAZ GOMES

M
ais do que uma estratégia de atração e reten- pliando seu papel de ferramenta de composição salarial
ção de talentos, a experiência do colaborador para um dos principais pilares de estratégias de cresci-
tem se apresentado como fator crucial para a mento e inovação organizacional.
competitividade de qualquer organização. Em Esta nova era de protagonismo do RH foi um dos des-
meio às sucessivas mudanças observadas no taques do Anuário de Benefícios Corporativos 2023.
ambiente de trabalho, a criação de jornadas de employee ex- Realizada pela Swile e pela Leme Consultoria, a pesquisa
perience pode resultar em um aumento de produtividade de coletou percepções diretas de quem recebe os benefícios
até 14%, de acordo com o último levantamento realizado pela e de representantes de mais mil empresas, consideran-
consultoria Gallup — o mesmo estudo aponta um aumento de do os dados de mais de 1 milhão de colaboradores em
23% na rentabilidade e um impulso de 18% nas vendas entre todo território nacional. “Além da visão dos gestores de
negócios com equipes altamente engajadas. recursos humanos, o estudo traz as opiniões dos próprios
Do mesmo jeito que vem abrindo caminhos promissores profissionais que atuam nas empresas. Essa perspectiva
para formar novas relações entre empresas e pessoas, o ce- é fundamental para ajudar as organizações a encontrar
nário atual também apresenta novos desafios para líderes, soluções mais aderentes ao que as pessoas estão procu-
gestores e profissionais de recursos humanos. Trata-se de rando de fato”, diz Bruno Montejorge, vice-presidente de
um contexto no qual as políticas de benefícios vêm am- marketing da Swile Brasil.
PARTICIPAÇÃO POR REGIÃO / 2023

1044 1.161.534 26 16 13
Empresas Total de colaboradores Segmentos Benefícios Boas práticas de
inscritas na das empresas econômicos Gente e Cultura
pesquisa inscritas (RH)

O BÁSICO QUE FUNCIONA


Em um período marcado pela convergência entre a reto- linha com o que os colaboradores realmente desejam. É
mada das atividades presenciais, a chegada de novas gera- preciso definir quais são os interesses das equipes e os be-
ções ao mercado de trabalho e os avanços das tecnologias nefícios que realmente melhoram suas vidas, como acesso
de inteligência artificial, uma visão mais sistêmica sobre os a serviços de saúde de qualidade e oportunidades de de-
pacotes de incentivos passou a ser fundamental na cons- senvolvimento profissional”, afirma.
trução de marcas empregadoras. Entre os profissionais que Na prática, a incorporação da visão do colaborador na
estão na vanguarda desse movimento, ganha força a per- jornada de employee experience começa pela mudança
cepção de que os benefícios fazem parte de um ecossistema dos modelos de análise de comportamento adotados pe-
que inclui agentes como cultura organizacional, planeja- las organizações. “A lógica de construção de marca em-
mento de carreira e qualidade de vida. pregadora segue um racional diferente das pesquisas de
Para Renan Sinachi, CSO da Leme, o momento deman- hábitos de consumo. Marca empregadora se constrói de
da uma abordagem baseada no fortalecimento dos canais dentro para fora, a partir do olhar de quem mais conhe-
de escuta e no resgate de princípios básicos de engajamen- ce a organização como lugar para se trabalhar: o próprio
to. “Nem sempre o que a empresa está oferecendo está em funcionário”, diz Bruna Mascarenhas, consultora especia-
lizada em projetos de comunicação e marca empregadora,
em artigo publicado em HSM Management. FLEXIBILIDADE É A CHAVE
Para navegar em meio às incertezas de um mercado em
OS MAIS POPULARES constante transformação, a oferta de benefícios flexíveis
A definição da oferta de benefícios alinhados às deman- vem se mostrando como estratégia-chave para atender às
das reais de equipes — e que atendam a parâmetros mí- necessidades diversificadas de colaboradores — e equili-
nimos de mercado — continua sendo fator essencial para brar os contextos e as expectativas de grupos de profis-
manter a atratividade de marcas empregadoras e engajar sionais específicos. Oferecido por 37,7% do mercado, a
colaboradores ao longo de suas jornadas profissionais. prevalência dos benefícios flexíveis aumentou cerca de
A realização desse diagnóstico também deve contemplar 80% nos últimos dois anos, desde a primeira pesquisa em
a análise de movimentos sociais, econômicos e culturais 2021. A prevalência é observada inclusive entre gerações
mais abrangentes. de profissionais veteranos, como os baby boomers e a ge-
Nesse contexto, não se pode ignorar os impactos da infla- ração X.
ção sobre os custos de alimentação e saúde das famílias bra- A flexibilidade surge mais uma vez como um dos cami-
sileiras: entre as modalidades de incentivo mais valorizadas nhos mais promissores para alinhar políticas de incentivo
pelos profissionais do País, o Anuário de Benefícios Corpo- ao que talvez seja a principal expectativa sobre o futuro
rativos 2023 aponta os tradicionais vale-refeição e assistên- do trabalho: o desejo das pessoas por mais autonomia so-
cia médica (veja a lista completa no quadro abaixo). bre suas carreiras e qualidade de vida. Tendência que não
A preferência por modelos ligados à segurança e à es- pode mais ser ignorada por organizações realmente com-
tabilidade não significa que não exista espaço para ex- prometidas com suas jornadas de employee experience.
plorar caminhos alternativos e tendências de mercado. A “As lideranças precisam conhecer profundamente as ex-
crescente conscientização global sobre qualidade de vida pectativas das equipes e a cultura das organizações. É des-
e equilíbrio físico e mental, por exemplo, vem impulsio- sa combinação de visões que surgem as melhores oportu-
nando a popularidade de benefícios como descontos em nidades de encontrar os incentivos que fazem a diferença
academias de ginástica e assistência psicológica — en- na maneira pela qual os colaboradores vivem a empresa”,
quanto a popularização de formatos de trabalho híbridos afirma Montejorge.
e remotos vem eliminando itens como vale-combustível e Do mesmo jeito que vem abrindo caminhos promissores
acesso a automóveis corporativos da lista dos benefícios para formar novas relações entre empresas e pessoas, o
mais populares. cenário atual também apresenta novos desafios para líde-
res, gestores e profissionais de recursos humanos. Trata-
-se de um contexto no qual as políticas de benefícios vêm
TOP 10: O RANKING DOS BENEFÍCIOS ampliando seu papel de ferramenta de composição salarial
MAIS VALORIZADOS PELOS BRASILEIROS para um dos principais pilares de estratégias de crescimen-
to e inovação organizacional.

01 VALE-REFEIÇÃO 81,2%

02 assistência médica 81,1%

03 seguro de vida 67,1%

04 assistência odontológica 62,4%

05 vale-alimentação 57,2%

06 desconto em academias 44,3%

07 auxílio educação 41,6%

08 37,3%

09 34,6%

10 assistência psicológica-mental 29,9%

Fonte: Anuário de Benefícios Corporativos 2023


TOP TRENDS: NOVAS DEMANDAS E EXPECTATIVAS
SOBRE OS BENEFÍCIOS MAIS POPULARES DO PAÍS

Fonte: Anuário de Benefícios Corporativos 2023


DOSSieˆ
DOSSIÊ 3
carreira CARREIRA_SOLO portfólio_de_atividades

liderança_de _conexões
RELACIONAMENTOS_VERDADEIROS

financiaMENTO
ecossistemas
inovação
GOVERNO LEIS 69
STARTUPS INVESTIDORES

AGÊNCIAS_GOVERNAMENTAIS INCUBADORAS
ACELERADORAS
EMPRESAS_ESTABELECIDAS

#conexão
Entenda: se a mudança é a única certeza, relacionamentos são a maior vantagem competitiva

U
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI COM UMAGENS SHUTTERSTOCK

m livro lançado em 2023, The Good Life, reuniu as lições do maior estudo científico do
mundo sobre felicidade, em que pesquisadores da Harvard University acompanharam por
90 anos as vidas de um grande grupo de pessoas em Boston, Massachusetts, EUA. A maior
lição diz respeito ao maior fator de influência sobre o bem-estar pessoal e profissional: as
conexões – e a qualidade delas. Na nova economia, marcada por complexidade e incerte-
zas, isso não se limita mais a conexões entre pessoas físicas; aquelas entre pessoas jurídicas
contam muito, de modo crescente. O futuro de trabalho como um portfólio de atividades e
aprendizados (e a carreira solo como tal) são causa e consequência de conexões.

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CONTAGEM REGRESSIVA COM CAROLINA STROBEL

#HSM+_2023

Suas conexões podem te ver melhor que você mesmo


70
por Sandra Regina da Silva

Sempre que verdadeiros, nossos relacionamentos nos apresentam novas possibilidades e


soluções, gerando valor. Carolina Strobel viveu isso ao longo da carreira: foi também graças
a suas conexões que passou de diretora jurídica da Intel a profissional de venture capital
na Redpoint eVentures, conselheira de empresas e consultora. E ela vive isso todo dia como
investidora em inovação; afinal, esta depende de ecossistemas. (Ou seja, de conexões).

5
Conexão é vantagem com- investe sozinho numa startup. Cone-
petitiva quando se pensa xões te ajudam a encontrar oportunida-
na competição por ecos- des de investimento que podem não ser
sistemas das plataformas, óbvias, oferecendo insights e informa-
na economia em rede, no ções que não estão disponíveis em sites,
seu setor de venture capital? e facilitam a avaliação do potencial de
Conexão é essencial em qualquer um investimento – você ouve outros
aspecto da vida. Claro que existem investidores e especialistas, de diferen-
diferentes níveis de conexão, mas eu tes gerações, sobre suas percepções.
a defino como um relacionamento ba- Para mim, é acesso a um conhecimento
seado em afinidades, sejam estas em mais profundo e a apoio. Conexão não
IMAGEM: ACERVO PESSOAL

valores, crenças, paixões… é mentoria, mas é tão valiosa quanto.


Na área de investimentos em empre- Não é necessariamente amizade, mas
sas, startups, times, por exemplo, co- tem de fluir igual; tenho de poder pedir
nexão é fundamental. Nenhum fundo ajuda como quando falo com amigos.

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Os investidores que cultivam essas as encarei como gente que podia que- “OS
conexões fortes com outros investido- rer me prejudicar. Pelo contrário.
res, com empreendedores, com execu- Fico preocupada com as corpora- INVESTIDORES
tivos, certamente estão em uma posi- ções que não incentivam esse tipo de QUE CULTIVAM
ção muito melhor. relacionamento. Quando um rela- ESSAS CONEXÕES
O fato é que ninguém sabe o que cionamento é muito frio, não se cria
vai dar certo ou não. Quando se coloca uma conexão, uma cultura; e está FORTES COM
uma questão para um grupo pensar, nas pessoas e na cultura o grande po- OUTROS
saem melhores respostas, de modo der transformacional das empresas.
mais consistente, do que se fosse só Ainda mais neste momento em que
INVESTIDORES,
um indivíduo pensando – no caso o a grande preocupação corporativa é COM QUEM
investidor, com sua própria crença e o como manter a colaboração para ter EMPREENDE
natural otimismo. mais produtividade, porque nenhum

4
projeto é tocado sozinho. A colabo- E COM QUEM
E quanto à carreira? Na ração precisa de conexão, e para ela GERENCIA
pivotada que você deu ocorrer precisa ter alguma afinidade.

2
na sua, conexões foram CERTAMENTE
importantes? Ainda existe sucesso indi- ESTÃO EM UMA
Foram fundamentais, e não vidual como ideia? POSIÇÃO MUITO
só na pivotada – foram fundamentais Para mim, sucesso é
desde o início. As conexões foram es- sempre esforço coletivo. Ao MELHOR”
senciais quando fui fazer mestrado na menos no venture capital
Inglaterra e, novamente, quando mu- é, sem dúvida. O investidor, o time
dei do Sul para São Paulo, onde fui da startup e todos os demais ao re-
aumentando minha rede de relaciona- dor precisam trabalhar juntos para
mentos, e depois ao transformar a mi- alcançar o sucesso. Mas eu acho que
nha carreira, de diretora jurídica para vai muito além do venture capital. Em
investidora. Eu só entendi que eu não qualquer área, o sucesso depende do 71
era mais diretora jurídica, e sim uma trabalho em equipe para ser sustentá-
profissional de investimento, quando vel e consistente no longo prazo. Até
as minhas conexões começaram a se decisões médicas vêm sendo tomadas
referir a mim como profissional de in- com discussão em equipe. Isso vale
vestimento. Parece que eles já sabiam, para negócios, carreiras, vida pessoal.
e eu fui a última a perceber que era isso E conexão inclui aprendizado: quando
que eu tinha que me tornar. um processo é coletivo, sempre apren-

3
demos algo.

1
Nos ambientes corporati-
vos por onde você circula, Como você recomenda
há conexões de qualidade construir conexões?
entre as pessoas? Ou estas Não tem receita, mas acre-
têm de melhorar? dito que sempre a pessoa tem
Eu acho que há uma crescente de ser verdadeira, autêntica,
preocupação com relação à qualidade genuína. É difícil as pessoas se conec-
das conexões. Entretanto, devo dis- tarem com personas, ou com deuses.
cordar de como as pessoas costumam Sendo prática, se você começar só fa-
tratar o networking no meio corpora- lando de si, será difícil criar conexão. É
tivo: elas não consideram o colega de preciso escutar com respeito e interes-
trabalho como um amigo. Para mim, se. Também importa a generosidade –
meus colegas de trabalho são, sim, em abrir informações para o outro e em
amigos, aliás foram como uma famí- investir tempo para estar com ele.
lia. Em alguns momentos me apoia- Para mulheres, costuma ser difícil
ram, fortaleceram as minhas virtudes, às vezes manter uma conexão pela
entenderam e apontaram meus erros sobrecarga da dupla jornada, mas ga-
para que eu aprendesse. Essas pes- ranto: o tempo de conexão precisa es-
soas estavam ali do meu lado e nunca tar reservado na agenda.

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ENTREVISTA FRANCISCO SABOYA

#EMPREENDEDORISMO #INOVAÇÃO

como parar de desperdiçar futuros


por Adriana Salles Gomes
72
Conexões organizadas entre parques tecnológicos, incubadoras de startups, aceleradoras,
instituições de ensino e pesquisa, órgãos públicos, espaços de coworking e outros ambien-
tes de inovação, em um adensamento geográfico e com visão de longo prazo, geram um
ecossistema de empreendedorismo inovador e este gera desenvolvimento. Essa é a nova
base da competição. Nesta entrevista exclusiva, Francisco Saboya discute a maturidade do
Brasil em empreendedorismo inovador e como acelerá-la para acabar com o embaraçoso
paradoxo que vivemos –apesar de ser o 13º maior produtor de conhecimento científico do
mundo, o País é só o 47º mais inovador e o 96º em competitividade. Saboya preside duas
instituições-chave no fomento do empreendedorismo inovador, a Anprotec e a Embrapii.

Q
uem olha hoje para o Porto Digi- Mas, quando começou, no ano
tal, parque tecnológico de Recife 2000, o Porto Digital não impacta-
(PE) dedicado a desenvolver solu- va ninguém: tinha três empresas, 46
ções inovadoras ligadas às tecnologias empregados e perdia, no ranking do
da informação e comunicação (TICs), ISS, para construção civil, turismo,
impressiona-se: tem 360 empresas de transportes etc. O amadurecimento
software, emprega 15 mil trabalhadores precisou de duas décadas. A história é
e movimenta R$ 4 bilhões anualmente, similar em ecossistemas como Tecno-
sendo o terceiro contribuinte de impos- puc, Unisinos e o da UFRGS (RS), o da
IMAGEM: ACERVO PESSOAL

tos sobre serviços (ISS) do município, Coppe (RJ) e o de São José dos Campos
depois das áreas de saúde e educação. (SP). E se fosse possível escalar esses
Ele é a prova cabal de quanto valor um ambientes de inovação mais rápido e
ecossistema pode gerar. acelerar seu amadurecimento?

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Expansão e aceleração do empreen- Agora, se os diferentes atores do
dedorismo inovador dependem de uma ecossistema estiverem em um mesmo
mentalidade da nova economia, mas ambiente, como ocorre no ator “parque
SAIBA MAIS
sobretudo de institucionalidades e me- tecnológico”, por exemplo – um prédio, SOBRE A
canismos de financiamento que aproxi- um bairro ou qualquer outra área geo- ANPROTEC
mem ciência e o universo da produção. graficamente delimitada –, a circulação
Isso vem avançando no Brasil do sé- e a criação de conhecimento e inovação A Associação Nacional de
culo 21, mas ainda não o bastante. So- ficam potencializadas, porque se fazem Entidades Promotoras
de Empreendimentos
fremos com a falta de continuidade de convergir ativos mais diversos. As pes- Inovadores foi criada em
políticas (da falta de verbas à não per- soas fazem trocas no ponto do ônibus! 1987, como entidade de
cepção das visões estratégicas), com in- Como aprendemos com a biologia, direito privado sem fins
segurança jurídica (há uma visão puni- a riqueza de um ecossistema está na lucrativos, para respon-
der pela congregação de
tivista dos órgãos de controle) e até com diversidade, e isso vale tanto na natu- mecanismos de inovação,
o déficit de conhecimento de gestão de reza quanto na economia humana. O interagir com esferas go-
ambientes de inovação (já que o apren- que a Anprotec faz é estimular a cria- vernamentais nacionais
e estrangeiras na busca
dizado nessa área ainda é insuficiente). ção desses ambientes de inovação e o de apoio e incentivos aos
Duas das maiores forças da institu- aprendizado de uns com os outros. mecanismos, disseminar
cionalidade da inovação no País são a a cultura de empreen-
Associação Nacional de Entidades Pro- O aspecto do adensamento geográfi- dedorismo inovador e
efetuar produção e disse-
motoras de Empreendimentos Inova- co é, então, o mais importante para minação de conhecimen-
dores (Anprotec), que agrega mais de criar esse tipo de ambiente que troca tos específicos para isso,
370 ambientes de inovação de diferen- conhecimento? Ou o incentivo fiscal entre outros pontos.
tes tipos, e a Empresa Brasileira de Pes- pelo governo também é essencial? Reúne mais de 370 as-
sociados e funciona com
quisa e Inovação Industrial (Embrapii), Em todos os lugares do mundo, você uma estrutura enxuta,
que subsidia inovação para a indústria. tem uma participação expressiva do go- de sete funcionários e
Na presidência de ambas, e CEO do verno na atividade de inovação, porque extensões. Suas receitas
vêm da contribuição de
Porto Digital entre 2007 e 2018, Fran- inovar custa caro, é muito arriscado e
cisco Saboya concedeu entrevista ex- complexo. Se governos não incentivam,
associados e convênios.
Por exemplo, para a im- 73
clusiva a HSM Management em que seja cobrando menos impostos ou com plantação da qualificação
analisa avanços, problemas e soluções. políticas públicas de compras, a inova- e certificação CERNE de
incubadoras, a Anprotec
ção não acontece, e o País atrofia. Se en- tem dez consultores
No HSM+ deste ano, temos Ron Adner tidades governamentais não fomentam externos credenciados e
falando que estratégias competiti- esse adensamento geográfico, a energia o convênio é feito com o
Sebrae.
vas baseadas em ecossistemas são o criativa não se forma; ela não flui es-
novo paradigma. Competir em ecos- pontaneamente no setor produtivo.
sistema hoje é obrigatório? Por quê? No caso do Vale do Silício, a guerra
Sim, porque ecossistema gera ino- fria foi a desculpa perfeita para o go-
vação, e inovar é um dos principais verno federal americano comprar o de-
modos de gerar novos empregos e re- senvolvimento de inovações de modo
ceitas agora. O mundo se urbanizou acelerado. No caso do Porto Digital, a
muito rapidamente e os problemas prefeitura municipal do Recife reduziu
urbanos são muito mais diversos e a alíquota básica do ISS de 5% para 2%
complexos, de mais difícil solução do para empresas de software que ocupas-
que eram os problemas de uma socie- sem imóveis no bairro do Recife Antigo.
dade agrária. Então, você precisa criar Além de o incentivo público ser fun-
mais inovações e, para inovar, tem de damental para a inovação em todo o pla-
criar e fazer circular o conhecimento, neta, quero dizer que ele é fundamental
considerando que há mais divisão de na cultura empresarial brasileira, e isso
trabalho – as pessoas são mais espe- precisa ser compreendido. A gente se
cializadas. Isso requer a articulação assemelha aos países da Europa, em
de diferentes atores da inovação, a ex- que a mão do Estado é mais forte.
ploração máxima das máximas siner- O incentivo não é para ser algo para
gias entre eles e, mais, que trabalhem sempre: ele atrai empreendimento, há
como uma rede. Não tem mais como a curva de crescimento – hoje o Porto
gente trabalhar de modo isolado hoje. Digital abarca mais de 150 mil m² do

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“A VISÃO Recife Antigo –, e depois pode acabar. de desenvolvimento nacional.
É claro que o empresário não quer abrir Mas temos déficits. Até há muito
PUNITIVISTA mão do incentivo fiscal se você lhe per- pouco tempo não tínhamos na arquite-
DOS ÓRGÃOS guntar. Mas outros elementos vão se tura institucional do sistema brasileiro
DE CONTROLE afigurar mais relevantes para ele com o de fomento à inovação, por exemplo,
tempo, como a facilidade de comparti- algo importante como o instituto Frau-
É UM GRANDE lhar conhecimento, infraestruturas, ca- nhofer, que a Alemanha criou em 1949;
PROBLEMA pital humano. nós só viemos a ter em 2013 a Embrapii.
É uma bela inovação institucional, com
INSTITUCIONAL. Você cita a valorização desse com- o modelo de tripartição de responsabi-
HOJE O GESTOR partilhamento, palavra-zeitgeist da lidade, descentralizada, não funciona
PÚBLICO TEM nova economia, mas ainda observo com base em chamadas, mas em fluxo
gestores querendo guardar só para contínuo, e o governo tem menos inter-
MEDO DE si tanto informações como pessoas. ferência no destino dos recursos – ele
UTILIZAR OS Muitos temem que – no espaço de sempre tem de ser minoritário no con-
coworking, por exemplo – “rou- selho de administração da Embrapii.
INSTRUMENTOS bem” seu colaborador e, com este, [Veja texto lateral na pág. à direita.]
LEGAIS PARA o conhecimento da empresa... Ganhamos nosso Marco Legal da
COMPRAR Esse mesmo empregado que sai da Ciência, Tecnologia e Inovação, um
sua empresa e vai para outra, daqui a grande avanço, só em 2018, quando re-
INOVAÇÃO E pouco sai desta e vai para uma tercei- gulamentado por um decreto, e foi ele
TER O SEU CPF ra e, em seis meses, retorna para você. que criou mais concretamente a apro-
Isso é positivo; ao levar métodos de uma ximação do universo da academia e o
QUESTIONADO empresa para outra, isso oxigena a eco- universo da produção – entre outras
NO FUTURO. nomia do País. Eu diria que, em termos coisas tipificando as figuras das ICTs,
ISSO EXPLICA de mentalidade competitiva hoje, o me- as instituições de ciência, tecnologia e
lhor que pode acontecer a uma empresa inovação, e criando o conceito da “enco-
74 POR QUE SÓ é essa rotatividade; não se deve temê-la. menda tecnológica”, que é a possibilida-
13% DAS de de o governo dispensar licitação para
NOSSAS ICTS SE E como está o Brasil em instituciona- comprar inovação.
lidade e em mentalidade para inovar? A Lei das Startups foi sancionada
BENEFICIARAM Faz tempo que o Brasil tem uma só agora em 2021. A lei 8666, que rege
DAS institucionalidade madura de supor- licitações, foi modificada para sim-
te à atividade de pesquisa e ciência plificar processos de contratação de
ENCOMENDAS na universidade – somos o 13º maior compras de serviço de inovação pelos
TECNOLÓGICAS produtor de conhecimento científico governos só agora em 2023 – e sabe-se
ATÉ AGORA” do mundo. Mas isso não se transfere que essas compras são um instrumen-
para o universo da produção, tanto que to-chave nos ecossistemas de inovação
hoje o País ainda é o 47º mais inovador internacionais mais bem-sucedidos.
do mundo e o 96º em competitivida- Além disso, a gente vem tendo des-
de. Esse descompasso tem a ver com a continuidades importantes e enfrenta
institucionalidade, que começou a ser o fantasma da insegurança jurídica.
construída para valer na segunda meta- Uma descontinuidade foi o contin-
de da década de 1980, e conta com boas genciamento do Fundo Nacional de
leis e mecanismos, mas que teve gaps Desenvolvimento Científico e Tecnoló-
importantes em um período-chave. gico [FNDCT], que fez vários parques
A criação de um Ministério da Ciên- tecnológicos e incubadoras ficarem
cia e Tecnologia, em 1985, e da Anpro- hibernando. Os retrocessos incluem
tec, em 1987, mostra que o Brasil come- de projetos paralisados ao êxodo de
çou a se dar conta razoavelmente cedo talentos de inovação. Considerando
de que, no mundo que então se dese- que a formação dos quadros técnicos
nhava, ecossistemas de inovação e me- brasileiros para a inovação, e sobre-
canismos específicos, como incubadoras tudo para a gestão de ambientes de
e parques tecnológicos, passariam a ser inovação, se dá na prática muito mais
elementos fundamentais na estratégia do que na universidade, foi um grande

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problema, revertido este ano. Outro foi gestões [Saboya foi eleito para o pri-
a falta e chamadas da Finep, o braço fi- meiro mandato, de dois anos, em 2020
nanceiro do MCTI, desde 2013. e reeleito em 2022], reunindo mais de
SAIBA MAIS
No campo da insegurança jurídica, a 10 mil pessoas da nossa comunidade, SOBRE A
visão punitivista dos órgãos de controle com discussões relevantes para essa EMBRAPII
é um grande problema de instituciona- área. Nunca tivemos tanto alcance.
lidade. Isso ficou mais do que evidente Nossa conferência anual presencial, A Empresa Brasileira de
Pesquisa e Inovação In-
para mim numa audiência que houve que é evento de referência em empreen- dustrial (Embrapii) é uma
no Congresso Nacional, há pouco tem- dedorismo e inovação na América La- organização social, ou
po. Foi unânime entre procuradores tina, voltou em 2022 e reuniu cerca de seja, uma entidade feita
federais, dirigentes de órgãos científi- 800 pessoas em Salvador, o que foi óti- para implementar uma
política pública com ges-
cos etc. que o gestor público tem medo mo. Eu diria que a Anprotec hoje tem tão privada. Criada em
de utilizar os instrumentos legais para uma condição boa do ponto de vista 2013, apoia instituições
comprar inovação e ter o seu CPF ques- financeiro, está estabilizada. Consegui- de pesquisa tecnológica
fomentando a inovação
tionado no futuro. Isso explica por que mos recuperar associados, fazer novos na indústria brasileira,
só 13% das nossas ICTs se beneficiaram convênios e outras fontes de recursos. mas a diferença está
das encomendas tecnológicas até agora. Importante é que temos observado em como o faz. Até sua
o crescimento dos ambientes de inova- criação, as opções de
recursos do governo para
Agora a conexão com os investidores ção no Brasil, apesar dos pesares. Nós inovação eram subsídio
ainda deixa a desejar, certo? temos hoje no Brasil 105 parques tecno- direto a fundo perdido
Muitos investidores ainda se colo- lógicos, dos quais 58, ou seja, metade, l ou empréstimo reembol-
sável. Com a Embrapii, é
cam à margem das iniciativas mais or- estão em operação. O resto é criação re-
introduzido no Brasil o
ganizadas de fato. E essa é uma questão cente. O Sebrae mapeou 250 ambientes modelo, muito usado na
importante, em que devemos melhorar de inovação e estimamos que haja 500. Europa, de tripartição de
bastante. Porque, se os ambientes de recursos:
• um terço é a contrapar-
inovação não aproximarem empreen- Descontingenciou-se o FNDCT. Isso tida não reembolsável da
dedores de investidores, a inovação não deve inspirar otimismo? No empre- Embrapii,
vai acontecer. O nosso mercado de ven- sariado, percebo alguma frustração • um terço é a contri- 75
ture capital cresceu, mas ficou muito com o Ministério de Ciência, Tecnolo- buição econômica (não
financeira) da instituição
mais cauteloso com covid, guerras etc., gia e Inovação (MCTI)... de ciência e tecnologia
muito mais seletivo. Ele cobra mais re- Parte da frustração tem a ver com (ICT) que distribui o
torno e vai buscá-lo em empresas mais desconhecimento, acredito. Nos pri- recurso – em horas-ho-
mem trabalhadas, por
maduras, já com notas fiscais emitidas, meiros meses, o MCTI se dedicou ao exemplo –;
e um ticket médio do investimento descontingenciamento do FNDCT, que • um terço é a contribui-
muito mais alto. O problema disso é era complexo, mas fundamental para o ção financeira da própria
que não se investe na divisão de base, futuro da ciência, tecnologia e inovação empresa beneficiária.
Detalhe: se a empresa
né? Como no futebol. Quem não cuida do País. O resultado é que nós teremos não conseguir arcar
da divisão de base não terá time mais R$ 12 bilhões para a área – os R$ 10 bi com o valor integral que
tarde; a base que não for formada ago- mais acréscimos. Muda a cena. lhe cabe, pode acionar
condições especiais de
ra vai fazer falta para o investidor lá na Razão para otimismo? Nunca tive-
contrapartida.
frente. Temos de fazer o capital privado mos tanto dinheiro para a área. No final Outro diferencial da
chegar às empresas em estágios iniciais de 2021, já tinha havido a retomada das Embrapii é a contratação
no Brasil; esse capital está indo investir chamadas da Finep, o braço financeiro do desenvolvimento da
inovação na ponta, entre
fora do Brasil. do MCTI, para apoio a parques tecno- as partes diretamente
lógicos, centros de inovação e incuba- interessadas. Tudo
Você assumiu a Anprotec em doras, o que não havia desde 2013. Pri- é decidido, de modo
2020... o que deu para fazer no meiro saiu o valor de R$ 360 milhões, descentralizado, pelas
ICTs credenciadas num
olho do furacão? depois mais R$ 240 milhões, 48 par- processo rigoroso, sendo
Bom, ninguém podia imaginar que ques tecnológicos e 18 centros de inova- que a empresa benefi-
viria uma covid ou que haveria o con- ção e incubadoras foram beneficiados ciária pode mudar de ICT.
A influência do governo
tingenciamento do FNDCT. Acho que com esse dinheiro não reembolsável, na gestão da Embrapii
conseguimos nos reinventar em certa que está saindo. é limitada: ele não pode
medida ao ficar mais presentes junto Este ano, foi anunciado o programa ter mais do que 40% dos
aos associados com os seminários on- “Mais Inovação Brasil”, alinhando a assentos do board.
line. Já foram mais de 50 nessas duas Finep ao BNDES, com um fundo de

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


R$ 66 bilhões até 2026. Ele quer ala- já passaram ou passam por processo,
vancar a economia criativa empres- por programa de qualificação, que vai
ONDE ESTÁ SE tando dinheiro a uma taxa de juros ne- formando os profissionais em níveis
DESENHANDO gativa na prática, porque fica travada de maturidade.
UMA ESTRATÉGIA em 4% ao ano, devendo ficar aquém
DE BRASIL da inflação. Voltando à frustração do empre-
Outro ponto é que tem muitas Fapes, sariado, vejo queixas em relação à
Aponte a câmera do as fundações de amparo à pesquisa, que falta de estratégia. O governo esta-
celular para o código
abaixo para conferir as
têm aportado recursos para desenvol- ria sinalizando investir em tudo, até
dez linhas de aplicação vimento tecnológico junto a pequenas em semicondutores, mercado onde o
de recursos do FNDCT. empresas. Não estão só mais naquela Brasil não consegue competir mais
linha de apenas bolsas de estudos para mundialmente, em vez de ter um
pesquisadores. foco como teve no caso da Embraer...
O desafio agora é usar esses recur- De fato, o Brasil perdeu todas as on-
sos. Você primeiro tem de reaglutinar das tecnológicas dos últimos 50 anos
o capital humano altamente qualificado – a da computação, a da microcompu-
que havia e foi dispersado pela falta de tação, a dos semicondutores, a da inter-
E cruze isso com os recursos, indo para a iniciativa privada net, a da rede social, a da inteligência
seis eixos de política até para o exterior. Esse profissional é artificial agora... E perdeu por não ter
industrial do CNDI
que tem expertise em converter conhe- estratégia , o que implica foco, escolhas,
cimento em negócios. Ele tem meto- renúncias. Como diz o Michael Porter,
dologias, habilidades e técnicas de (re) estratégia é, entre outras coisas, exercer
animação desses ambientes, entre ins- opções excludentes, os tradeoffs. O Bra-
trumentos, processos, indicadores, fer- sil só acertou umas quatro ou cinco ve-
ramentas de ativação. Esse profissional zes, quando mirou no petróleo e criou
que evita iniciativas de prédios boniti- uma Petrobras, quando mirou na avia-
nhos com pufes coloridos e nada mais. ção civil e criou uma Embraer, quando
76 mirou em tecnologias apropriadas para
Desafiador... Não dá para acelerar a nossos biomas e criou uma Embrapa
formação de novos quadros? Vi MBAs – e o Brasil deve bastante do que ele é
sendo criados no Sul, por exemplo. hoje a essas escolhas acertadas.
Pessoas com 20 anos trabalhando Então, de um modo geral, o Brasil
nos seus respectivos mecanismos e tem um déficit de futuro estrutural. Ele
ambientes de inovação não são substi- se dá muito bem olhando para o pas-
tuídas tão fácil. Há uns 15 anos, a USP sado, mas, quando olha para o futuro,
[Universidade de São Paulo] criou, a tem dificuldade de dizer qual a aposta
pedido da Anprotec, uma pós-gradua- para os próximos 30 anos. Nisso esta-
ção em gestão de ambientes de inova- mos de acordo.
ção – muitos, que hoje são presidentes Onde discordamos é na avaliação do
ou diretores de parques tecnológicos ou quadro atual. Se olharmos para pila-
de incubadoras, fizeram essa formação. res, das políticas do MCTI e do Minis-
A Unisinos está com essa formação e o tério do Desenvolvimento, Indústria,
próprio Porto Digital fez uma pós-gra- Comércio e Serviços (MDIC), veremos
duação junto com a Universidade de que há um caminho traçado na direção
Pernambuco, para formação de gesto- de inovação e sustentabilidade, que
res de ambiente de inovação. são dois pilares. Existem as dez linhas
Mas ainda é pouca oferta. E a gen- em que os fundos do FNDTC devem
te tem que ter processos contínuos e ser investidos – todos os projetos têm
sistemáticos de capacitação de pes- que caber nessas dez linhas ou não re-
soas para a matéria; não precisa ser cebem dinheiro. No programa Mais
uma pós-graduação tão longa como Inovação Brasil, 70% serão gastos em
um MBA ou uma especialização de projetos que se encaixem nos seis ei-
pelo menos 360 horas. Também é xos de política industrial definidos pelo
além de algo como nossa metodologia Conselho Nacional de Desenvolvimen-
CERNE – mais de cem incubadoras to Industrial (CNDI). Cruzando as dez

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


SAIBA MAIS SOBRE FRANCISCO SABOYA
CONHECIDO COMO CHICO, O ECONOMISTA E PRESIDENTE DE ANPROTEC E EMBRAPII É PROFESSOR DA UPE
Francisco Saboya tem atuação nos três setores da economia: governo, setor privado e terceiro
setor. Já foi secretário de desenvolvimento econômico de Cabo de Santo Agostinho (PE), sócio de
consultorias e empresa de planejamento na área de tecnologia da informação; foi CEO do Porto
Digital por 11 anos, superintendente do Sebrae Pernambuco e presidente da Divisão da América
Latina da Associação Internacional de Parques Científicos e Áreas de Inovação (IASP). Hoje, além
de professor na Universidade de Pernambuco (UPE) e presidente da Anprotec e da Embrapii, atua
como conselheiro do Sebrae Nacional, da Finep e da Confederação Nacional das Indústrias (CNI). E
é assessor de inovação e transformação digital na Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe).

linhas com os seis eixos, você verá que isso. Temos de ter um pé nessa plata-
há uma sinalização de estratégia, sim. forma global.
[Veja texto lateral com informações so- Em se tratando de estratégia, é im-
bre linhas do FNDCT e eixos do CNDI.] portante não errar na dose do foco,
não fazer como a Joana daquela mú-
Mas não é muita coisa para focar? E sica do Chico Buarque, que “errou na
o investimento em semicondutores? dose, errou no amor. Joana errou de
Se você cruzar as dez linhas e os João”. E é importante ter perenidade.
seis eixos, verá um direcionamento, a
meu ver – um foco em inovação e sus- Certo. Você assumiu em julho a pre-
tentabilidade. Amplo? Sim. Eu parti- sidência da Embrapii. Qual vai ser o
cularmente acho que nossa estratégia papel dessa organização no nosso
poderá ser um combinado de transição rearranjo da inovação? 77
energética – decidimos que o Brasil vai A Embrapii captura recursos públi-
ser um campeão em transição energé- cos, incluindo o FNDCT, e consegue
tica, focando combustíveis híbridos, distribuí-los com muito foco e eficiência
hidrogênio verde etc. – e outro eixo, através de uma rede de 96 instituições
talvez esse de desenvolver um comple- de ciência e tecnologia já credenciadas
xo industrial de saúde no Brasil, que é para trabalhar em certas áreas.
algo de interesse interno nosso; não po-
demos depender só do exterior, como Só para deixar claro ao leitor, vou
vimos na pandemia. dar um exemplo de ICT: o Instituto
Mas também temos de lembrar que Eldorado, com unidades em Brasília,
estamos sucateados em áreas básicas Campinas, Manaus e Porto Alegre, e
para o mercado interno. A infraestru- atuação que vai do agronegócio a TI
tura científica foi sucateada: se você e telecom; outro . Agora, Chico, como
for num laboratório de uma universi- dá para fazer tudo isso acontecer se
dade, você vai chorar vendo o resulta- há essa visão punitivista dos órgãos
do de nove anos de penúria, com uns de controle que inibe a inovação?
equipamentos quebrados, outros ob- Temos que conseguir fazer o que o
soletos, falta de estoque de reagentes. Banco Central fez, que foi low profile
É preciso ter dinheiro para recuperar entre os órgãos de controle para desen-
essa infraestrutura. volver o Pix , uma inovação no sentido
O investimento nos semiconduto- clássico de Peter Drucker, que muda o
res se justifica por aí, inclusive: nunca comportamento dos agentes no mer-
o Brasil vai ser um campeão em semi- cado. Para isso, estamos discutindo, o
condutores, mas precisamos dominar caminho passa por sandboxes regulató-
IMAGEM: ACERVO PESSOAL

esse conhecimento minimamente, rios, ambientes protegidos para experi-


disponibilizando fábrica para a comu- mentar, com permissão para errar, sem
nidade acadêmica. Não pode fechar culpa e sem medo.

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


78 #REDESDERELACIONAMENTOS

carreira solo como liderança de conexões


por Bruno Stefani

Em um cenário corporativo em constante transformação, há uma revolução silenciosa


individual em andamento. Mais e mais executivos que um dia lideraram grandes
corporações vêm optando por fazer carreira solo. Mais surpreendente ainda, talvez, é
que essa mudança tem sido vista com bons olhos. Antes considerada só uma fuga da
rotina corporativa, ganha status de redefinição do que é ser líder no século 21, que é
liderar rede de conexões. Mas é preciso planejar muito o portfólio de atividades.

A
decisão de abandonar uma suas habilidades e experiências
carreira linear e tradicional de maneira independente e não li-
em grandes empresas parece near – com sorte, exponencial.
estar cada vez mais comum, ao Há contextos para essa decisão,
menos num certo segmento exe- no entanto. No contexto interno, a
cutivo. Com a ascensão da eco- decisão funciona bem quando está
nomia gig e a democratização do enraizada em uma combinação de
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

empreendedorismo, nunca houve fatores, desde a busca por maior


tantas oportunidades para indi- autonomia e flexibilidade até o de-
víduos talentosos capitalizarem sejo de causar impacto mais dire-

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to e tangível. No contexto externo, solo é uma jornada repleta de intros-
a paisagem geralmente favorece. A pecção e planejamento. A decisão ALGUNS SINAIS
tecnologia, e em particular a inteli- de fazer essa mudança não é apenas DE QUE CHEGOU A
gência artificial (IA), está no cerne resposta a um impulso momentâneo,
HORA DE MUDAR
dessa transformação ao redefinir mas muitas vezes é o culminar de um
os limites do que é possível fazer, sentimento crescente de inquietação
permitindo que os profissionais e o desejo de ter um propósito mais • INSATISFAÇÃO
operem com uma eficiência sem profundo. Para muitos, como foi CRÔNICA: sentimen-
precedentes e alcancem públicos para mim, a busca por autonomia, to persistente de
globalmente. Para executivos expe- a flexibilidade e a oportunidade de descontentamento
rientes, a IA significa a capacidade causar um impacto direto tornam-se com o trabalho atual,
de gerenciar projetos complexos, uma chamada irrecusável. mesmo após suces-
liderar equipes virtualmente e até Existe uma série de sinais indica- sos e promoções.
mesmo criar novos negócios com tivos da necessidade de mudança, e
uma fração dos recursos tradicio- você provavelmente já supõe quais • DESEJO DE MAIOR
nalmente necessários. elas são. [Confira no texto lateral.] IMPACTO: sensação de
Mas o que exatamente impulsio- Uma vez identificados – e con- que suas habilidades
na um executivo de sucesso a fazer firmados, preferencialmente envol- e talentos pode-
essa transição? Para muitos, é a vendo conversas com terceiros –, riam ser mais bem
promessa de “empresarialização” prepare-se para a transição: utilizados em outro
do indivíduo. Em vez de ser apenas lugar ou de maneira
uma engrenagem em uma máquina 1. Autoconhecimento. Antes diferente.
corporativa maior, eles têm a chan- de embarcar em uma nova jor-
ce de ser os arquitetos do próprio nada, é crucial entender o que • BUSCA POR
destino, moldando sua carreira de te move. Reflita sobre suas pai- AUTONOMIA: anseio
acordo com suas paixões, valores e xões, habilidades e o que você crescente por ter
visão de mundo. deseja alcançar. Ferramentas controle sobre seu
Além disso, a carreira solo ofe- como testes de personalidade e tempo, projetos e 79
rece uma oportunidade única de coaching de carreira podem ser decisões.
reinvenção pessoal. Executivos úteis.
podem mergulhar em novas indús- 2. Networking. Uma rede robus- • DESALINHAMENTO
trias, adotar tecnologias emergen- ta é inestimável – talvez o prin- DE VALORES: sentir
tes e até mesmo abordar problemas cipal diferencial isoladamente. que os valores da
globais que são pessoalmente sig- Participe de eventos, seminários empresa não estão
nificativos para eles. Em essência, e workshops. Mantenha-se co- mais alinhados com
eles têm a liberdade de definir o nectado com colegas de indús- os seus.
próprio legado. tria e esteja sempre aberto a co-
Neste artigo, exploraremos mais laborações. • NECESSIDADE DE
profundamente tais motivações, as 3. Educação contínua. O mun- FLEXIBILIDADE: que-
oportunidades que a carreira solo do está em constante evolução, rer equilibrar melhor
oferece – com o planejamento cor- e a aprendizagem é a chave para vida profissional e
respondente – e como a tecnologia, se manter relevante. Seja por pessoal, algo que um
especialmente a IA, está facilitando meio de cursos online, seminá- ambiente corpora-
essa transição. Por meio de minha rios ou certificações, invista em tivo rígido pode não
experiência e observações, espe- sua educação. oferecer.
ro oferecer insights valiosos para 4. Diversificação. Ao iniciar
Fonte: Bruno Stefani.
aqueles que estão considerando uma carreira solo, é prudente
essa jornada e inspirar a próxima diversificar. Ofereça uma gama
geração de líderes a redefinir o su- de serviços, explore diferentes
cesso em seus próprios termos. nichos e considere várias fontes
de renda.
motivação: a hora de mudar 5. Marca pessoal. Sua mar-
ca pessoal é sua assinatura no
A transição de uma carreira cor- mundo. Trabalhe em sua pre-
porativa estável para uma carreira sença online, compartilhe seus

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UM EXECUTIVO insights e estabeleça-se como ministrando cursos em institui-
autoridade em sua área. ções renomadas, dando pales-
NÃO É MAIS 6. Reserva financeira. Antes de tras em conferências ou reali-
APENAS AQUELE fazer a transição, garanta que zando workshops em empresas.
QUE GERENCIA você tenha uma reserva finan- • Consultorias. Usando sua
ceira substancial. Isso lhe dará vasta experiência, os executi-
GRANDES a segurança para explorar no- vos estão oferecendo consulto-
EQUIPES OU vas oportunidades sem sofrer o ria estratégica para empresas,
estresse de precisar gerar renda ajudando-as a navegar por de-
TOMA DECISÕES imediatamente. safios complexos e a identificar
ESTRATÉGICAS oportunidades de crescimento.
EM SALAS DE Em resumo, a transição para uma • Participação em conselhos
carreira solo é uma jornada emo- e serviços de advisory.
REUNIÕES. ELE cionante, sem dúvida, mas pode ter Muitas startups e empresas em
É UM HÍBRIDO, emoções boas e ruins. Minimizar as crescimento buscam executivos
ruins requer preparação meticulosa, experientes para servir em seus
COMBINANDO
não há alternativa milagrosa a isso. conselhos ou como assessores,
HABILIDADES Com o planejamento certo e, impor- proporcionando orientação es-
DE LIDERANÇA tante, uma mentalidade aberta, você tratégica e insights valiosos.
ganha a oportunidade para redefinir • Criação de conteúdo. No
(AGORA DAS sua carreira e sua vida em seus pró- mundo digital de hoje, o conteú-
CONEXÕES) COM prios termos. do é rei. Executivos estão se tor-
CAPACIDADE DE nando blogueiros, podcasters ou
planejamento de Portfólio influenciadores em plataformas
COMPARTILHAR de mídia social, compartilhando
CONHECIMENTO, O cenário corporativo do século 21 suas perspectivas e conhecimen-
é radicalmente diferente do que era tos com um público global.
80 INOVAR E há algumas décadas. A volatilidade
ADAPTAR-SE do mercado, impulsionada por crises Uma nova tendencia relevan-
RÁPIDO ÀS econômicas, avanços tecnológicos e te é o modelo “C-Level as a servi-
mudanças nas expectativas dos con- ce”, o qual permite que executivos
MUDANÇAS sumidores, criou um ambiente onde ofereçam suas habilidades em um
a adaptabilidade e a inovação são formato mais ágil, atendendo às
mais valorizadas do que nunca. necessidades específicas das em-
Estamos prestes a testemunhar, presas sem os compromissos de
talvez, a redefinição do que significa um cargo de tempo integral. Isso
ser um executivo – que ainda segue não só beneficia as empresas que
os preceitos da era indústria, não da recebem expertise sob demanda,
era do conhecimento. Um executivo mas também oferece aos executi-
não é mais apenas aquele que geren- vos a liberdade de escolher pro-
cia grandes equipes ou toma decisões jetos que são alinhados com suas
estratégicas em salas de reuniões. Ele paixões e objetivos.
é um híbrido, combinando habilidades Em conclusão, a evolução do exe-
de liderança (das conexões) com capa- cutivo moderno reflete a transfor-
cidade de compartilhar conhecimento, mação mais ampla do mundo dos
inovar e adaptar-se rápido às mudan- negócios. Em uma era na qual o co-
ças. Ele empreende e inova muito pro- nhecimento é a moeda mais valiosa,
vavelmente por meio de um portfólio os líderes de hoje estão encontrando
de atividades. Eis algumas: novas maneiras de capitalizar expe-
riência, expandir horizontes e gerar
• Aulas e palestras. Com anos impacto significativo. A economia
de experiência e um grande vo- do conhecimento abriu as portas
lume de conhecimento acumu- para uma era de empreendedoris-
lado, muitos executivos estão se mo e inovação, e os executivos estão
voltando para a educação, seja na vanguarda dessa revolução.

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


e a Inteligência artificial dá um E como fica o futuro? EM UM MUNDO
boost no processo… Ao refletir sobre a evolução do
EM MUTAÇÃO,
A IA está se tornando uma força executivo moderno e a transforma- ONDE SE
transformadora em quase todos os ção do cenário corporativo, é evi- DESINTEGRAM
aspectos do mundo dos negócios, e dente que estamos à beira de uma
sua influência na trajetória do exe- revolução na maneira como conce- AS BARREIRAS
cutivo moderno não é exceção. A bemos as carreiras. A combinação TRADICIONAIS
IA tem o potencial de amplificar as de fatores externos, como avanços
capacidades dos líderes, permitindo tecnológicos e mudanças econômi-
DOS NEGÓCIOS,
que tomem decisões mais informa- cas, com uma crescente busca in- O FUTURO DAS
das, identifiquem tendências emer- terna por propósito e impacto, está CARREIRAS
gentes e otimizem estratégias com moldando um novo paradigma para
precisão sem precedentes. os profissionais de hoje. TENDE A SER
Para o executivo que busca di- O surgimento da economia do BRILHANTE
versificar sua atuação, a IA pode ser conhecimento, complementado
uma ferramenta inestimável. Por pela influência transformadora da
exemplo, ao se tornar um criador de IA, está democratizando o acesso a
conteúdo, a IA pode ajudar na análi- oportunidades e nivelando o cam-
se de dados para identificar tópicos po de jogo. Executivos, uma vez
de tendência, otimizar a distribuição confinados aos corredores das cor-
de conteúdo para alcançar públicos- porações, agora têm a liberdade de
-alvo específicos e até mesmo auxi- forjar os próprios caminhos, seja
liar na criação de conteúdo por meio por meio de empreendedorismo,
de ferramentas de redação assistida. consultoria, criação de conteúdo ou
Além disso, a afirmação de que educação.
um “bom autor alavancado por IA A capacidade de diversificar,
pode virar uma editora” é profunda- adaptar e reinventar tornou-se não 81
mente relevante. Com as ferramen- apenas vantagem, mas necessidade.
tas certas, um único indivíduo pode E com a IA como uma ferramenta
produzir, distribuir e promover poderosa a seu lado, os limites do
conteúdo em escala que antes exigia que é possível estão sendo cons-
uma equipe inteira. Isso não ape- tantemente redefinidos. Um bom
nas nivelou o campo de jogo, mas autor, com o apoio da IA, pode ri-
também abriu oportunidades para valizar com editoras inteiras, e um
vozes e perspectivas diversificadas consultor individual pode oferecer
ganharem destaque. insights derivados da análise de big
No mundo das consultorias e advi- data que antes eram domínio exclu- BRUNO STEFANI
sory, a IA pode analisar vastas quanti- sivo de grandes empresas. foi diretor global
dades de dados para fornecer insights de inovação da
acionáveis, identificar oportunidades TENHO ACHADO IMPOSSÍVEL AB Inbev e, antes
de mercado ou riscos potenciais e até NÃO SENTIR UM OTIMISMO PRO- disso, cuidava da
mesmo prever tendências futuras. Isso FUNDO. As possibilidades de car- inovação aberta do
permite que os executivos ofereçam reira nos próximos anos prometem Itaú. Hoje dá aulas
soluções mais precisas e orientadas ser vastas e variadas, à medida que na Fundação Dom
por dados aos clientes. as barreiras tradicionais dos negó- Cabral e lançou
Em resumo, a IA não é apenas cios se desintegrarem. E emerge a consultoria
uma ferramenta tecnológica; é um um novo tipo de liderança em rede, especializada em
catalisador que está empoderando sem cargo, baseada nas conexões e inovação Quanttar,
o executivo moderno a redefinir na autoridade da habilidade e do voltada a empresas
os limites do possível. Em uma era conhecimento, muito adequada a que podem ser
IMAGEM: ACERVO PESSOAL

de constante evolução e inovação, um mundo onde paixão e propósito consideradas


aqueles que abraçam e integram a têm mais peso. Em um mundo em “campeãs
IA em suas estratégias estão posi- constante mudança, o futuro das invisíveis”.
cionados para liderar e prosperar. carreiras parece ser brilhante.

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CONTEÚDO

Origem

Destino

Data

Passageiro

COMPRAR

Vai pra onde?


O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR MUDOU EM 2020 E, NO SETOR DE TURISMO, NÃO FOI DIFERENTE.
VEJA AS TENDÊNCIAS DE “TURISTAR” DE MODO TECH E SUSTENTÁVEL POR TICIANA WERNECK

O
s turistas estão mais abertos a novas tecnologias 11ª Pesquisa de Impacto da Pandemia do Coronavírus nas
e mais dispostos a viajar de maneira sustentável, Micro e Pequenas Empresas, realizada por Sebrae/FGV, 85%
mostra o estudo Travaler Tribes 2033, realizado das pequenas empresas do setor de turismo vendem pela in-
pela plataforma de viagens Amadeus com mais ternet, acima da média de outros setores (67%). Mas as via-
de 10 mil viajantes em 15 países. Além disso, gens corporativas voltaram aquecidas e devem movimentar
estão buscando viagens mais personalizadas, experiências me- US$ 800 bilhões até 2026, segundo estudo da Global Indus-
moráveis, imersões na cultura do local de destino e visitas mais try Analysts, já que o networking nunca foi tão importante.
frequentes – e mais emocionais – a amigos e familiares. “As viagens corporativas são vistas pelas empresas como for-
O comportamento dos turistas desde a pandemia de co- ma de revitalizar o networking”, diz Silveira, da Copastur. A
vid-19 mudou mas não como se imaginava que aconteceria. diferença agora é que o foco das viagens corporativas passou
Para Alessandro Silveira, gerente de customer experience a estar muito mais na qualidade, de dois modos.
da Copastur, ficou claro que “as relações humanas e a cone- Primeiro, o bem-estar pessoal assumiu maior relevância
xão emocional gerada por elas movem o mundo” e também na experiência. Segundo o Booking.com, já são 74% os via-
ganhou clareza o fato de que “vamos continuar evoluindo, jantes corporativos brasileiros que aproveitam o tempo livre
considerando tudo o que a tecnologia pode proporcionar, para visitar pontos turísticos, conhecer restaurantes e fazer
mas sem abrir mão da proximidade pessoal.” compras, praticando o “bleisure”, neologismo em inglês que
O que a tecnologia pode proporcionar? Por exemplo, mui- une as palavras business (negócios) e leisure (lazer). As em-
tas empresas de turismo abraçaram a aceleração digital nos presas aprovam a tendência, inclusive, porque, como diz a
últimos anos, otimizando do uso da inteligência de dados aos área de inteligência em viagens da Panrotas, gera aumento
chatbots na experiência de atendimento do cliente. Segundo a da produtividade.
OS VIAJANTES DE 2033
A Amadeus analisou 215 características atitudinais e encontrou quatro tribos de turistas em dez anos:

Buscadores de experiências. Despreocupados, os integrantes desta tribo (ao menos 44% deles) não têm filhos, o
que contribui para que explorem o mundo. Eles têm condições financeiras para isso: 45% possuem alta renda e empregos
com opção de trabalho flexível. Viver o momento é parte de quem eles são, por isso são mais propensos a agir por instinto.
O “desconhecido” os empolga e as viagens são centradas em se libertar da monotonia. É a tribo menos propensa a usar
agências de viagens, para manter a emoção; estão abertos a tecnologias como a IA, que ajudem a desenhar roteiros.

Viajantes tech-fluencers. São os jovens viajantes de negócios de hoje. Deste grupo, 48% têm menos de 32 anos, três
quartos viajam a trabalho e 81% gostam de ter um plano (em vez de agir por instinto). Além disso, 82% afirmam que a
sustentabilidade dita suas decisões e estão dispostos a pagar mais por voos com biocombustível. Em relação à tecnologia,
esperam que a realidade virtual/aumentada os auxilie nos aeroportos como parte de uma experiência de viagem simpli-
ficada. E, embora 25% achem que reuniões virtuais são substitutas sustentáveis para viagens de negócio, 72% preferirão
encontros presenciais sempre que uma participação virtual puder retardar suas carreiras.

Desbravadores pioneiros. Deste grupo, 82% têm entre 23 e 41 anos e 68% vivem com parceiros e filhos. Sua renda
acima da média permite que vivam uma vida em busca da próxima grande aventura. Têm rotina acelerada e estão abertos
a riscos calculados. Além disso, 79% dizem que a saúde e o bem-estar ditam suas decisões. Esta tribo também afirma que
compra tecnologia de acordo com a funcionalidade. Sobre as questões que envolvem ESG, 42% possuem carro elétrico
e maior probabilidade do que a de outras tribos para ser voluntários em suas comunidades locais. Comparando com os
demais grupos, têm 20% maior propensão de guiar suas decisões em função da sustentabilidade e estão dispostos a pagar
mais por viagens de avião movidas a biocombustível e por acomodações com pegada de carbono negativa.

Criadores de memórias. O pensamento de quem faz parte desta tribo é: “Pessoas em primeiro lugar. Planeta em
segundo”. Dentre eles, 57% dizem que a sustentabilidade não dita as decisões que tomam. E a tecnologia? Eles não se sen-
tem confortáveis com ela invadindo suas vidas e a percebem como algo que desvaloriza as conexões humanas. É o grupo
que mais valoriza as pessoas com quem viajam; 44% deles têm mais de 42 anos e quando viajam esperam criar memórias.

Segundo, as empresas estão focadas em uma gestão com a experiência real. Também a economia de plataforma,
mais consciente das viagens, dos pontos de vista finan- seja no aluguel de acomodações ou no compartilhamento de
ceiro e de sustentabilidade. Como diz Erick Cogliandro, carros, favorece essa gestão consciente. “O fato é que, para se-
diretor associado da Accenture, “o fluxo de dinheiro mu- rem competitivas, as empresas de turismo terão de entender
dou nas empresas, e a redução de custos deve abranger tanto das possibilidades tecnológicas como dos destinos e do
as viagens que não forem estritamente necessárias”. E a que é sucesso para os viajantes”, resume Silveira. Arison No-
pesquisa Sustainable Hospitality Alliance, da Accenture, gueira, líder de customer success da Copastur, tem bons indi-
calcula que a indústria hoteleira precisa reduzir as emis- cativos dessa visão de sucesso emergente: “Eles querem agre-
sões de carbono em pelo menos 66% até 2030 e 90% até gar facilidade, agilidade e segurança em suas experiências,
2050, com base nos níveis de 2010. Como a rede Chalet além de personalização e empatia nos processos de viagem”.
Hotels, sediada na Índia, comprometeu-se a utilizar 100%
de energia renovável até 2031, quem viaja a trabalho para
a Índia pode tender a priorizá-la.

tecnologia, uma aliada da consciência


A pesquisa do Amadeus joga luz sobre a contribuição da tec-
nologia para a gestão mais consciente das viagens, tanto por
pessoas como por empresas. Em dez anos, 51% dos viajantes
esperam usar a realidade virtual como parte do processo de
planejamento da jornada turística, antes de se comprometerem
HEALING LEADERSHIP

quatro boas palavras


Saiba por que “conexão”, “coragem”, “disrupção” e “regeneração”, que definiram os
Dossiês aqui e os eixos do HSM+, remetem à liderança integrativa, consciente e sustentável

T
enho várias paixões na vida, mas 2.CORAGEM. Remete à disposição de
duas vivem comigo diariamente: assumir riscos, desafiar o status quo
aprendizado e palavras. Definiti- e enfrentar situações difíceis. Líderes
vamente sou das letras, da área de hu- corajosos não têm medo de tomar deci-
manas; escrever para mim não é tarefa, sões impopulares quando necessário e
mas prazer. Então, quando me conta- de liderar mudanças desafiadoras. Eles
ram que esta edição espelharia o HSM+ podem encorajar a equipe a sair da zona
e seus quatro eixos temáticos, logo abri de conforto, promovendo a inovação e
minha caixa com o alfabeto de madeira, a melhoria contínua. Destaco aqui que,
montei as palavras-chave – conexão, para se ter coragem, é preciso conviver
coragem, disrupção e regeneração – e com a vulnerabilidade (mas falemos
me abri ao que surgisse. Fui brincando disso numa próxima ocasião…)
de algo parecido com palavras cruzadas. 3.DISRUPÇÃO. Envolve a quebra de pa-
84 O exercício me levou logo ao concei- drões estabelecidos e a introdução de
to de liderança, fazendo-me pensar no novas ideias, produtos, processos ou
momento atual dos líderes que vivem modelos de negócios que transformam
em ambiente em constante evolução, setores ou organizações. Líderes dis-
buscando, no curto prazo, o sucesso e, ruptivos desafiam a norma, questionam
no longo prazo, o bem-estar das pes- o convencional e incentivam a criativi-
soas e do planeta. Entendi que as pala- dade e a inovação em suas equipes. Eles
vras foram muito bem escolhidas para percebem que a mudança constante é
refletir uma visão de liderança holística, uma realidade e que a adaptação é es-
consciente, integrativa e sustentável – sencial para o sucesso.
uma posição (ou estado, ou cargo) que 4.REGENERAÇÃO. Está relacionada com

IMAGEM: ACERVO PESSOAL


de fato considera o impacto de suas de- a restauração e renovação de recursos,
cisões e ações não apenas no presente, sistemas e ambientes naturais. Em um
mas também nas gerações futuras. contexto mais amplo, também pode se
Decidi, então, mergulhar em cada aplicar à renovação de práticas de ne-
uma delas para que juntos pudéssemos gócios e de liderança para criar organi-
construir novos aprendizados: zações mais sustentáveis e resilientes.
1.CONEXÃ0. Refere-se à capacidade Líderes que adotam a regeneração es- DANIELA GARCIA
de estabelecer vínculos significativos tão preocupados não só em minimizar é CEO do Instituto
com pessoas, ideias, culturas e valo- o impacto negativo, mas também em Capitalismo
res. Em um contexto de liderança, a contribuir para o crescimento positivo. Consciente,
conexão é fundamental para construir entusiasta do
relacionamentos sólidos com a equi- O aprendizado em montar e remon- terceiro setor e dos
pe, colegas, clientes e outras partes tar essas palavras é que líderes atuais, negócios de impacto
interessadas. Líderes conectados têm conscientes e eficazes, precisam incor- social e articula
empatia, ouvem ativamente e promo- porar todas essas qualidades em sua li- parcerias com o
vem senso de pertencimento e colabo- derança. Que boas palavras como estas mundo corporativo.
ração nas organizações. os ajudem na jornada.

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160 HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


DOSSieˆ
DOSSIÊ 4
diversidade RESPEITO
mindset

INOVAÇão inclusão
pragmatismo motivação
SEU PORQUÊ
expertise
EDUCAÇÃO CONTINUADA
criatividade
liderança
85
sust
MICROESTRESSORES pensamento
bem-estar crítico

MEDO_DE_MUDANÇA QUESTIONAMENTO

#Coragem
Comece por lidar com diversidade e inclusão, criatividade e o combate aos microestresses

C
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI COM UMAGENS SHUTTERSTOCK

omo diz o psicanalista Jorge Forbes, chegamos a um momento de nossa civilização em que
“podemos mais do que queremos”. O limite que antes era dado desde fora tornou-se, hoje, es-
colha nossa. Queremos ver uma pessoa distante? Basta ligar a câmera do celular ou computa-
dor – a tecnologia nos possibilita isso. Podemos conhecer algo diferente? Basta conviver com
diversidade. Hoje precisa haver a responsabilidade da escolha, não dá para delegá-la a outra
pessoa ou à tecnologia. Isso é vantagem para quem lida bem com a criatividade e desvanta-
gem para quem teme a responsabilidade. O momento atual da civilização exige coragem para
criar, e para conviver com o diferente, uma coragem nutrida pelo bem-estar.

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CONTAGEM REGRESSIVA COM HELENA BERTHO

#HSM+_2023

Conversas como fonte de coragem e transformação


86
por Sandra Regina da Silva

Reconhecida em 2022 como uma das cem pessoas afrodescendentes mais influentes do
mundo abaixo dos 40 anos, pelo Mipad - Most Influential People of African Descent, Helena
Bertho tem se dedicado, em seus 20 anos de carreira, a quebrar barreiras por onde passa,
o que requer coragem e uma ferramenta-chave – a conversa. A diretora global de diversi-
dade e inclusão do Nubank crê que D&I depende muito de conversas que transformam.

5
sobre pessoas, e pessoas não estão
Se eu te pedisse para na moda; elas existem. A gente pre-
listar as lutas que exigem cisa endereçar as questões das pes-
mais coragem no meio soas sem isso ser tendência ou indo
corporativo, você listaria além da inovação. Há necessidade
o esforço de diversidade e de termos intencionalidade e esfor-
inclusão (D&I). Por quê? ço para endereçar isso da melhor

4
Diversidade é um tema muito maneira – coragem ajuda, sim.
aquecido dentro de um contexto
específico – o da inovação na pers- Quais seriam essas ques-
pectiva do negócio. E, como é uma tões a endereçar?
Posso citar algumas. Por
IMAGEM: ACERVO PESSOAL

consolidação de discussões que co-


meçaram lá atrás, não dá para dizer exemplo, organicamente, se
que seja uma tendência ou moda, o nada for feito, mulheres alcançarão
que talvez facilitasse. Diversidade é equidade salarial e de posição pro-

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


fissional em relação aos homens em empresas que apoiam a diversidade, “PRECISAMOS
132 anos, aponta o Global Gender segundo o Opinion Box Consumer
Gap Report 2022 do Fórum Eco- Trends 2023. PENSAR QUE UM

2
nômico Mundial (WEF). Embora TIME PLURAL E
representem quase 30% da popula- Você consegue ver uma MAIS DIVERSO
ção, as mulheres negras ainda são evolução nos processos
minoria nas empresas de tecnologia de atração e retenção de TENDE A TER
do Brasil e ocupam apenas 11% dos grupos minoritários nas PERFORMANCE
cargos no setor, segundo dados com- empresas brasileiras?
pilados em pesquisa da PretaLab. Os Há, sim, uma evolução e uma in-
MELHOR E QUE
efeitos dessa distorção são gritantes: tencionalidade cada vez maior. O que A ORGANIZAÇÃO
em 2020, segundo o Dieese [Depar- precisamos é acelerar essas mudan- ONDE ELE
tamento Intersindical de Estatística ças. Afinal, estamos em 2023. D&I
e Estudos Socioeconômicos], às mu- é uma jornada, é um processo cons- ATUA GERA UM
lheres negras foram impostos ga- tante para que consigamos reduzir a IMPACTO SOCIAL
nhos 48% menores e quase o dobro cada ano as estimativas orgânicas de
da taxa de desemprego na compa- equiparação. Vale ressaltar que, além
MAIOR. TER
ração com homens não negros. En- de atrair talentos diversos, também é DIVERSIDADE E
tão, parte dessas questões passa por importante conseguir retê-los, crian- INCLUSÃO É O
acesso a oportunidades. do um ambiente onde se sintam bem-

3
-vindos, pertencentes, seguros. CERTO A FAZER E

1
Há uma sensação muito É O MELHOR PARA
forte de D&I ser mais A quem cabe ter a coragem OS NEGÓCIOS”
discurso do que prática. de enfrentar as tradições, na
Pergunto: sem coragem causa de D&I: à empresa, aos
para colocar pessoas líderes do alto escalão, aos in-
diferentes na sala, e sem essas tegrantes da área de pessoas,
pessoas terem coragem de dar aos grupos de baixa representati- 87
ideias diferentes, dá para inovar? vidade no ambiente de trabalho…
Acho que não. Uma pergunta que Ou é algo tão bom a se fazer que
devemos fazer é: quem está na sala deveria prescindir de coragem?
na hora de tomar as decisões e dese- Todos devem ser responsáveis por
nhar o futuro? Se chega numa mesa levar adiante essa agenda. Cada um em
e está todo mundo concordando, al- seu papel. Líderes têm a possibilidade e
guma coisa está errada. Não é pos- a responsabilidade de apontar a direção
sível inovar em ambientes sem plu- e a velocidade e de acelerar esse processo
ralidade, sem perspectivas distintas, em suas organizações e setores. As áreas
sem diversidade. de RH são compostas de especialistas
De acordo com um novo relatório que tecnicamente têm a expertise neces-
da Accenture, as empresas america- sária para pensar produtos e soluções. As
nas deixam de ganhar anualmente pessoas que fazem parte dos grupos sub-
US$ 1,05 bilhão por não terem cul- -representados devem dar contribuições
turas de trabalho inclusivas. Isso é – e ser ouvidas e valorizadas. Eu costumo
impulsionado pelo custo das altas dizer que D&I não é (ou não deveria ser)
taxas de rotatividade, baixa produti- somente uma área, mas um mindset, que
vidade e baixo envolvimento dos co- deve estar embarcado na cultura e em to-
laboradores; e, adiciono, pela perda das as áreas de uma organização.
de oportunidades de negócios pela Agora, o racional é forte, tem razão.
desconexão com os consumidores. Precisamos pensar que um time plural
Algumas pesquisas já mostram e mais diverso tende a ter performance
que 52% das pessoas negras têm melhor. Precisamos pensar que o im-
maior tendência a comprar de em- pacto social gerado por uma organização
presas que mostram pessoas como mais diversa é maior. Ter diversidade
elas nas propagandas e 74% do pú- e inclusão é o certo a fazer e é o melhor
blico LGBTQIA+ prefere comprar de para os negócios.

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88

#INOVAÇÃO

A “assustadora” estrada para a criatividade


por Jean Rosier

Qualquer que seja o problema em questão, uma solução criativa significa fazer diferente
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGEM SHUTTERSTOCK

e, por isso, correr risco de perder algo. Ou seja, a coragem deve estar embarcada. Mas
coragem de se autodenominar uma pessoa criativa é a ignição da capacidade de criar.

o
ano era 2010. O mundo estava vivendo o início da segunda década do tão especulado século
21. Não estávamos nos locomovendo com carros elétricos ainda nem tínhamos experimen-
tado o fenômeno da inteligência artificial generativa. O Instagram nascia e o Facebook se
firmava como a maior rede social do mundo. Tínhamos só um ano de WhatsApp e cinco anos

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de YouTube – que, em 2010, lançava etc., em todas as áreas e aspectos
o botão de curtidas nos vídeo e en- da vida. Faz total sentido. Por isso, À LA NAVY SEALS
saiava o streaming. acredito fortemente que é possível
Já meu momento era o de calou- despertar em si esse recurso infinito. Jean Rosier conta
ro de publicidade e propaganda. Na- Para ajudar a esclarecer esse meu que participou de
quela manhã fria de março de 2010, ponto, trago aqui um ensinamento um treinamento com
eu estava sentado em uma sala de do renomado físico norte-america- seis integrantes dos
uma renomada universidade de co- no Richard Feynman (1918-1988), Navy SEALs, uma das
municação brasileira. Era a primeira um dos expoentes da eletrodinâmica forças de opera-
aula, e o professor perguntou: quântica, que encaminha muito bem ções especiais mais
– Por acaso, alguém aqui não esse autorreconhecimento: “hones- respeitadas por sua
se considera criativo? tidade intelectual”. coragem no mundo.
Para Feynman, essa é a principal O treinamento para
Fui a única pessoa a levantar a qualidade de alguém que busca se se tornar um SEAL é
mão. Meio tímido, mas internamen- destacar pelos seus saberes. rigoroso, com taxa
te seguro de não ser criativo. A honestidade intelectual depen- de desistência muito
Passaram-se 13 anos e essa auto- de de nos libertarmos do condiciona- alta. “A ideia era
percepção mudou. Pode soar um tan- mento cultural histórico de sempre combinar aprendi-
to óbvio – afinal, este artigo é sobre nos provarmos certos. Experimentar zados de uma tarde
criatividade e dou palestras sobre o exige arriscar passos em falso. Pre- de treinamento com
tema para profissionais e empresas. cisamos abrir espaço para a dúvida liderança e criativida-
Também pode soar soberbo – quem e o erro. O caminho do sucesso não de. Tivemos de entrar
grita aos ventos “eu sou criativo” tem é tranquilo. É inquieto, se frustra e, no mar de roupa e tê-
grandes chances de ser visto como em alguns trechos, fica tortuoso. E nis, empurrar pneus
prepotente. Mas é justamente sobre justamente por essas questões, a es- de trator, montar,
isso que quero falar aqui: trada da experimentação parece as- carregar troncos de
Ter a coragem de se considerar sustadora. Mas acredite: o medo bate madeira ultrapesados
uma pessoa criativa é justamente a apenas no começo. A coragem pode e, claro, fomos de-
89
ignição do despertar criativo. ser ativada, para que você consiga safiados a trabalhar
A coragem de se autodenomi- comprar riscos e tentar coisas novas. em grupo de maneira
nar uma pessoa criativa deve ser Isso é o que nos leva ao crescimento. criativa e estratégi-
o primeiro passo para despertar a Então, por que não mudar essa ló- ca”, conta Rosier. Seu
capacidade criativa que todos nós gica obsoleta e abraçar a honestidade time venceu, entre
possuímos. Não é questão de privi- intelectual, para o bem da criativida- vários. Segundo ele,
légio ou dom divino; criatividade é de? Aceitarmos a insegurança para isso se deve a saber
uma característica intrínseca ao ser experimentar, sem medo de errar, ouvir atentamente
humano. A coragem aqui atua como potencializa a riqueza de conheci- o que era pedido e à
um catalisador, permitindo-nos su- mentos, esta que é essencial para a coragem. “A coragem
perar barreiras sociais, culturais e roda do pensamento criativo girar para acreditar que
psicológicas que muitas vezes nos cada vez melhor. conseguiríamos criar
impedem de liberar nossa criativi- soluções foi muito
dade. (Preciso mencionar o aspecto pragmatismo contra BLOQUEIOs importante, isso ficou
do privilégio social e econômico de marcado.”
ser um homem branco cis no mundo A história que contei no início des-
atual – que, sim, conta. Mas não sou te artigo – sobre meu primeiro dia
um ser “privilegiado” pelo “dom di- de aula na graduação – mostra justa-
vino” da criatividade.) mente o medo de me colocar nesse lu-
O que quero dizer é que a ativação gar. Eu estava entre pessoas que, por
criativa está no DNA humano. Todos terem decidido cursar publicidade e
IMAGEM: ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR

somos criativos. Ou melhor: já fomos propaganda, já se consideravam cria-


e, se não “estamos criativos” neste tivas em alguma medida. Mas eu não
momento, podemos voltar a estar. A tive a coragem de me “aceitar” criati-
evolução da humanidade está calca- vo. O que passava pela minha cabeça
da na busca constante por novas for- era: “Imagina se, daqui a algumas au-
mas, insumos, linguagens, processos las, eu dou uma ‘ideia’ e ela é péssi-

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


Para a criatividade acontecer, preci-
samos combinar três elementos: moti-
vação, expertise e pensamento crítico.

ELEMENTO #1: MOTIVAÇÃO


Sem motivação, nada acontece. Isso
porque, para ser uma pessoa mais cria-
tiva, você vai precisar se esforçar. E
para se esforçar, precisa estar motiva-
ma? E se ninguém gostar das minhas da. Não tem outra forma. Não tem má-
contribuições? Não quero passar por gica. Tudo começa por aí.
isso. Não quero parecer algo que não Repito: PRIMEIRO você precisa
sou. Conclusão, não sou criativo”. QUERER SER UMA PESSOA MAIS
Esse era o mindset. CRIATIVA para então tornar-se uma.
90 Conseguem perceber a profundi- Quer uma orientação prática? En-
CRIATIVO E
dade do bloqueio que eu carregava? tenda o seu porquê. Sei que pode pa-
DESTRUTIVO
Eu só fui vencer essa barreira no mo- recer trivial esse papo de propósito,
NA JAMAICA mento em que entendi que a única mas a verdade é esta: identifique o que
forma de evoluir era aceitando mi- realmente te motiva a ser mais criativo.
Jean Rosier e sua nhas próprias limitações, aceitando Isso pode ser um projeto pessoal, um
equipe foram que para evoluir eu precisava partir desafio profissional ou simplesmente o
chamados pela Red de algum lugar. desejo de se tornar uma versão melhor
Bull para ir à Jamaica O que me ajudou a vencer isso foi de si mesmo. Sem isso, dificilmente
conduzir a parte cria- buscar visões pragmáticas sobre cria- você vai conseguir superar as dificulda-
tiva de um modelo de tividade. Optei por ir à procura de ele- des e dores que o universo criativo vai
negócio logo depois mentos que facilitassem minha forma trazer. Afinal, nem tudo são flores, e,
que Felix Baumgart- de ver e de me relacionar com ela. Não sim, você vai errar.
ner entrou para a estou dizendo que é a única forma nem
história ao saltar de que é a melhor forma, é apenas a forma ELEMENTO #2: EXPERTISE
uma altitude de 39 que me trouxe resultados. Teresa Amabile fala da importân-
mil metros com um Quando eu descobri que Harvard cia da “expertise”. O que ela quer dizer
balão estratosférico estava falando sobre criatividade, fui com isso? Explico.
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGEM SHUTTERSTOCK

pela empresa. “Uma lá bisbilhotar e pesquisar o que es- Quando dou aulas ou palestras sobre
das atividades que tavam dizendo e me deparei com o o tema, eu pergunto às pessoas: “Qual
propusemos foi trabalho da Teresa Amabile. Amabile foi o último livro que você leu sobre
separar os líderes é professora de Harvard, autora, aca- criatividade?”. Geralmente poucas pes-
em dois grupos. Um dêmica, escreveu mais de cem artigos soas respondem, aí pergunto: “Levanta
deles tinha a missão sobre criatividade. a mão quem já viu mais de três TED
de ‘criar a empresa A partir do olhar de Teresa Amabile, Talks ou ouviu algum podcast sobre o
que iria destruir a a criatividade não é um acidente, não é tema?”. Raramente alguém levanta a
Red Bull’.” algo que acontece por acaso, algo gene- mão. Aí eu continuo: “Quem aí pode-
ticamente determinado. ria me mostrar sua agenda e apontar

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


o tempo que estava dedicado para ter criatividade. Ela acontece, ela se mani-
ideias e desenvolver sua criatividade?”. festa. Perceba como isso é simples de
Nunca ninguém me mostrou. entender. Note que não tem a ver com
O que isso prova? Que todo mun- esperar horas e horas para ter boas
do quer mudança, mas ninguém quer ideias ou comdeixar o acaso vir resol-
mudar. Todo mundo quer desenvol- ver os desafios. Trata-se de abordar a
ver essa habilidade, mas ninguém faz criatividade de maneira pragmática,
nada para isso. E espera que as ideias com esse tripé de forças e as respecti-
caiam do céu. vas orientações práticas.
Você vai precisar acumular horas Também se trata de abordar a cria-
e horas aprendendo e aprimorando tividade com coragem – uma valentia
seus conceitos e métodos. Aqui estou para ter o esforço e a dedicação neces-
falando de acumular conhecimento sários. A criatividade não é um dom
técnico e intelectual sobre o tema. reservado a poucos escolhidos; é uma
Para, depois disso, conseguir criar habilidade que pode ser desenvolvida
seus próprios métodos. por qualquer um que tenha a coragem
Aí vem outra orientação prática de perseguir esse objetivo.
muito valiosa: você tem de investir em A coragem é o que nos permite su-
educação continuada. No Brasil, te- perar as barreiras que nos impedem
mos acesso a uma variedade de cursos de sermos verdadeiramente criativos.
online e workshops (muitos gratuitos) Ela nos dá a força para buscar a moti-
que podem ajudar a aprimorar sua ex- vação, adquirir a expertise e exercitar
pertise em áreas específicas. Aprovei- o pensamento crítico necessários para
te essas oportunidades para expandir liberar nosso potencial criativo. JEAN PHILIPPE
seu conhecimento. Foi assim que eu me desenvolvi ROSIER é professor,
pessoal e profissionalmente, e foi palestrante e
ELEMENTO #3: PENSAMENTO CRÍTICO assim que me senti apto a escrever consultor. Sócio
O último, porém não menos im- este artigo. A vida é um processo da Perestroika 91
portante elemento da criatividade é... de aprendizado constante, e, para e cofundador da
o pensamento crítico. E aqui não es- navegar por ele, precisamos ser hu- Sputnik, também
tou falando de negacionismo. A for- mildes com confiança. (Sim, sei que é palestrante
ma mais simples que eu utilizo para isso pode parecer paradoxal.) internacional
expressar o pensamento crítico se dá Ah, e se você sentir medo, frio dos eventos TEDx
com duas palavras: E SE…. na barriga ou desconforto para ser (Madrid), TEDx
“E se” fizéssemos de outra forma. criativo propondo uma mudança? (Lisbon), Ouishare
“E se” invertermos a ordem dos Bem, isso faz parte. E vai ajudar se (Paris), Worldz
pedidos. você não esquecer a seguinte lição: (Hollywood) e
“E se” combinarmos elementos. nós não temos medo de mudar; nós WebSummit (Rio de
Pensar de forma crítica é não acei- temos medo é de perder. Janeiro). Liderou
tar as coisas como elas são, e não se Você não se importa em criativa- workshops de
contentar em repetir tudo, todas as ve- mente mudar de caminho para o tra- criatividade para
zes. É questionar, é experimentar. Isso marcas globais
balho; você se importa que, ao fazer
é a base para você conseguir desenvol- como Red Bull,
isso, você se atrase para a reunião.
ver o pensamento criativo. LinkedIn, Coca-Cola,
Você não vê problema em mudar de
Eis, então, mais uma orientação Oracle, Walmart
fornecedor; você se preocupa em per-
prática: exercite o questionamento. e Rede Globo.
der a qualidade do serviço.Você não
Faça uma lista de perguntas que desa- E é membro do
vai ter medo de usar uma ferramenta
fiam as normas e convenções em sua PTTOW!, evento
aprendida em um curso; vai temer que
área de atuação. Use essas perguntas internacional
o resultado frustre suas expectativas.
como ponto de partida para brainstor- apenas para
A ciência da psicologia comportamen-
mings individuais ou em grupo. convidados,
tal chama isso de “aversão a perda”.
que acontece
IMAGEM: ACERVO PESSOAL

Na hora de tentar desenvolver seu


anualmente na
SIM, É NA INTERSECÇÃO DESSAS pensamento criativo, não se esqueça do
TRÊS FORÇAS – motivação, expertise
Califórnia, EUA.
que leu aqui e tenha coragem! Lembre-
e pensamento crítico – que nasce a -se: você não tem medo de mudar.

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#SAÚDEMENTAL #ALTODESEMPENHO
92
Controle seus microestressores e melhore seu dia a dia
por Rob Cross e Karen Dillon
Um ano antes da pandemia, muitos profissionais de alto desempenho já sentiam suas
vidas descontroladas. Entrevistas com 300 pessoas de 30 empresas globais revelaram uma
crise de bem-estar – e que esta se devia ao acúmulo de pequenas pressões no ambiente
corporativo. Este artigo reconhece o fenômeno, ensina a medi-lo e a endereçá-lo com
processo e coragem. Afinal, eliminar microestresses ajuda a ganhar mais coragem.

D
epois de décadas de pesquisa sobre Nunca era uma grande coisa que os
trabalho em equipe e colaboração, levava a se sentirem sobrecarregados.
nós já estávamos familiarizados Tratava-se de um acúmulo implacável
com os tipos de estresse que os profis- de pequenos eventos, em momentos
sionais de alto desempenho normal- breves, que estava afetando drastica-
mente suportam. O que presenciamos mente seu bem-estar.
um ano antes da pandemia, porém, foi Demos a essas pequenas pressões o
algo completamente diferente. Eles re- nome de microestresses. Mas o prefixo
clamavam de estresse, sim, mas de uma “micro” não significa que eles não co-
forma que nem eles, nem nós, sabía- brem um preço enorme. Queríamos en-
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

IMAGEM: SHUTTERSTOCK

mos como articular. À medida que as tender seu impacto, então, entre 2019
pessoas tentavam descrevê-lo, muitas e 2021, entrevistamos 300 pessoas
vezes sem sucesso, padrões surgiam. de 30 empresas globais, distribuídas

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igualmente entre mulheres e homens. Categoria 2: esgotam suas re-
Muitos desses profissionais eram como servas emocionais.
barris de pólvora, carregados de estres- São perturbações no “reservatório”
se e, para nossa surpresa, a maioria não interno de paz, força e resiliência que
percebia. Mas, aos poucos, começaram nos ajuda a focar, priorizar e gerenciar
a notar o quanto estavam tendo que lu- conflitos. As principais fontes são:
tar para seguir em frente, tanto no tra- 6. Gerir e sentir-se responsável pelo
balho quanto na vida pessoal. sucesso e bem-estar dos outros.
Em nossa pesquisa identificamos 14 7. Conversas conflituosas.
fontes de microestresse, que dividimos 8. Falta de confiança em sua rede.
em três grandes categorias. 9. Pessoas que espalham estresse.
10. Manobras políticas.
Categoria 1: drenam sua capaci-
dade de fazer as coisas. Categoria 3: desafiam sua iden-
São a razão pela qual muitos de nós tidade.
sentimos que estamos falhando no Desencadeiam a desconfortável sen-
trabalho e em nossas vidas pessoais: sação de que você não é a pessoa que
mal conseguimos superar nossas res- realmente quer ser, o que enfraquece
ponsabilidades diárias. As principais sua motivação e senso de propósito. As
fontes são: principais fontes são:
1. Incerteza sobre o quanto pode- 11. Pressão para perseguir objetivos
mos confiar nos outros. desconectados de seus valores
2. Comportamento imprevisível de pessoais.
uma pessoa em posição de auto- 12. Ataques a seu senso de autocon-
ridade. fiança, valor ou controle.
3. Demandas por colaboração diver- 13. Interações desgastantes ou nega-
sas e em alto volume. tivas com familiares ou amigos.
4. Ondas repentinas de novas res- 14. Rupturas em sua rede. 93
ponsabilidades no trabalho ou em
casa. Ondas de estresse no trabalho vêm
5. Desalinhamento de funções ou de geralmente de situações aparentemen-
prioridades entre colaboradores. te simples, cuja complexidade não é le-
vada em consideração.

O alto custo da responsabilidade


adicional
Quanto mais coisas você tiver sob
sua responsabilidade, mais oportuni-
dades de microestresses surgirão e se
espalharão por setores de sua vida de
maneiras inesperadas: ter um filho,
mudar-se, firmar-se em um novo em-
prego, assumir um projeto voluntário
relevante e assim por diante.
A maioria de nós conhece o peso
que essas responsabilidades têm em
nossas vidas e, quando essas grandes
transições acontecem, nossos amigos
e familiares em geral se mobilizam
para nos apoiar. Mas os picos de res-
ponsabilidade também vêm em doses
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

menores. Ao contrário de uma grande


transição de vida, nas afluências de
microestresse, apenas jogamos a nova

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A “ONDA” DOS MICROESTRESSORES SOBRE NOSSA CAPACIDADE

TERCEIRO
SEGUNDO IMPACTO: Rita
IMPACTO: a equipe é seca com seu
IMPACTO de Rita precisa marido depois
IMEDIATO: a se coordenar da volta tensa
volta de Rita para atender ao para casa. Para
MICROESTRESSOR: para casa é sob pedido/a equipe de atender ao
Rita recebe um estresse por Rita passa um total pedido, Rita não
e-mail no fim causa do e-mail. de 20 horas traba- janta com o filho.
do dia com uma Rita gasta duas lhando para ter o Preocupada por
solicitação feita horas do início da material pronto na falhar com a
por seu novo noite alertando manhã seguinte, família e pressio-
gestor. sua equipe e depois de sair da nar sua equipe,
trabalhando na empresa. Rita co- ela dorme mal.
solicitação. leciona queixas de Outros membros
sua equipe sobre o da equipe de
novo chefe. Rita passam por
situação similar.

conta em nosso prato já cheio, sem causa do trabalho real, mas também
pensar que ela se soma ao que já esta- pela pegada colaborativa da tarefa.
94 mos carregando. Surtos também ocorrem em nossas
Microtensões que aumentam nos- vidas pessoais, e nem sempre se origi-
sas responsabilidades no trabalho nam de responsabilidades familiares
são muitas vezes potencializadas pela imediatas. O microestresse também
quantidade de tempo necessário para pode ocorrer quando sentimos o peso
colaborar com os outros. No momen- da responsabilidade pela família esten-
to em que se espera que sejamos ágeis, dida. Podemos precisar cuidar de pais
capazes de conciliar várias tarefas, idosos, e o estresse pode ser exacerba-
que façamos parte de inúmeras equi- do por parentes que não estão envolvi-
pes multifuncionais e respondamos dos no dia a dia de vocês, mas decidem
às demandas de gestores e clientes dar palpites por conta própria, sem,
em tempo real, vêm picos de trabalho no entanto, oferecer qualquer ajuda. E
– geralmente de situações aparen- é claro que as novas demandas nunca
temente simples, cuja complexidade surgem em um momento tranquilo,
não foi levada em consideração. então causam alguma quantidade de
Dois projetos podem parecer idên- estresse tão somente pelo esforço ne-
ticos em termos da quantidade de tra- cessário para enfrentá-los.
balho, mas, se um deles envolve três Uma entrevistada descreveu o fardo
áreas funcionais em dois fusos horá- do que chamou de “lição de casa dos
rios, dois líderes que não se dão bem e pais”: as tarefas que as crianças trazem
demandam recursos de uma unidade da escola para casa e que estão muito
com prioridades diferentes, a história além de sua capacidade de executar
muda completamente. Um projeto as- de forma autônoma. São tarefas que
sim implica em uma carga de traba- exigem planejamento e preparação e,
lho muito maior do que outro com o muitas vezes, forçam os pais a sair cor-
mesmo número de pessoas em apenas rendo para comprar materiais de últi-
uma unidade. Ondas de responsabili- ma hora. E essas atribuições sempre
dade geram estresse não apenas por parecem se insinuar sobre você.

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4 LIÇÕES DOS MESTRES DO CONTROLE DO MICROESTRESSE
OS 10% DE PESSOAS QUE CONSEGUEM BEM-ESTAR APESAR DAS PRESSÕES TÊM UMA ESPÉCIE DE FÓRMULA DE
QUATRO PONTOS

2.
MUDAR A FORMA DE
INTERAGIR COM
O MICROESTRESSE.

1. 3.
ENCONTRAR BUSCAR
MOMENTOS OPORTUNI-
DE RECUSA. DADES DE
REDEFINIR
RELACIONA-
MENTOS.

4.
DESCONECTAR-SE DO
ESTRESSE. 95

Por exemplo, seu filho pode lhe di- Quando você é consumido por micro-
zer na noite de sexta-feira que tem um tensões do trabalho, não será o seu
grande relatório para entregar na se- melhor eu em casa. Você pode ficar
gunda. Mas você já fez muitos planos até tarde no escritório ou se curvar às
para seu fim de semana. Adicionar um obrigações familiares, decepcionando
projeto extra como esse a uma agenda a todos no processo.
já completa pode espalhar o estresse Mas mesmo simplesmente deixar
por toda a sua família: seu filho sente de dar toda a atenção a sua família
estresse por sua impaciência ou frus- quando você está em casa pode afe-
tração com o projeto; seu cônjuge sente tar profundamente a felicidade diária
estresse enquanto você luta para fazer desse ambiente. Todo mundo sente
com que o trabalho aconteça ou pede isso. E problemas em casa inevita-
que o filho dê conta dele. Você pode fa- velmente criam estresse no trabalho,
zer o trabalho de qualquer jeito porque seja porque você precisa trabalhar
está distraído e frustrado com essa li- mais ou porque precisa administrar
ção de casa dos pais surgida de repente, demandas díspares do trabalho e da
e o estresse continua gerando abalos. vida doméstica. Trabalhar tarde da
Os efeitos secundários do aumento noite e muito cedo pela manhã é ruim
repentino de encargos podem ser es- para o cérebro: os níveis de cortisol
pecialmente prejudiciais. No trabalho aumentam e você está exausto. É difí-
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

já são ruins o suficiente, mas talvez cil estar presente do jeito que deveria
seja ainda mais doloroso como eles no trabalho e em casa quando você se
se convertem em estresse em casa. sente constantemente pendurado por

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um fio. Esses estresses se tornaram das. Em vez de adicionar mais a sua
tão comuns que muitas pessoas vivem lista sem pensar, use essa oportunida-
suas vidas como uma longa sequência de para obter um acordo sobre o que
de microssurtos. pode ser retirado de seu prato ou quais
outros recursos você pode receber para
Estratégias de resistência viabilizar a nova solicitação.

Você nem sempre pode controlar Os padrões do “clube dos 10%”


o que lhe pedem para fazer, mas pode
controlar a forma como responde. Você Em nossa pesquisa, no entanto,
não precisa deixar de dizer sim: pode, encontramos um pequeno subcon-
porém, responder de maneiras que aju- junto de nossos profissionais de alto
dam a evitar que uma onda leve embora desempenho que não foi derrotado
seu dia, sua semana e sua vida. Aqui es- por nenhum microestressor; teve
tão algumas ideias: poucos arrependimentos; era fisi-
Recusar exigências descabidas camente saudável; e teve uma vida
– antes mesmo que as pessoas pergun- rica além do trabalho e da família. O
tem, defina expectativas esclarecendo o contraste entre essas pessoas e os mi-
que você pode fazer. Dessa forma, você croestressados era marcante.
garante que não peçam que você lide Passamos a chamá-los de ‘“os 10%”,
com algo fora de sua seara. Quando e quisemos entender o que faziam de
possível, procure redirecionar o traba- diferente. Embora tenham pouco em
lho para alguém que esteja em melhor comum na superfície, observamos al-
condição de entregá-lo. Seja mais con- guns padrões recorrentes. Cada uma
fiante em recusar quando as demandas das pessoas que faziam parte desse
dos outros não são razoáveis. Por fim, grupo fez escolhas deliberadas para
apoie-se em sua rede para ter opiniões construir os relacionamentos em suas
96 confiáveis para ajudá-lo em um mau vidas. Elas definiram o sucesso para si
momento, ou em dados e no suporte de mesmos de uma forma ampla e mul-
especialistas para legitimar seu ponto tidimensional, e se responsabilizaram
de vista ao transferir demandas irracio- por ele. Conseguir isso envolve estar
nais de suas costas. conectado a uma ampla variedade de
Seja responsável – tenha pessoas
a sua volta que o encorajem a não dizer
sempre sim a cada pedido. Mesmo cole-
gas bem-intencionados tirarão o quan-
to você estiver disposto a dar. Pessoas
mais felizes tendem a ter outras por
perto que as ajudam a tomar decisões
conscientes sobre o que vale ou não a
pena atender. As pessoas importantes
em sua vida, como seu parceiro ou ou-
tros membros respeitados da família,
podem fornecer uma espécie de con-
trapeso quando você está pensando se
deve assumir um novo compromisso
importante. Elas podem ajudar a re-
forçar a importância do tempo pessoal
e familiar para corrigir a tendência de
permitir que o trabalho preencha todo
o tempo disponível.
Renegocie sua carga de traba-
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

lho – no momento em que você for


chamado a assumir uma grande carga
de trabalho, renegocie outras deman-

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pessoas, dentro e fora do trabalho. E Isso se tornou uma oportunidade
essas conexões, por sua vez, as ajudam de se entenderem melhor, abai-
a se defender de microtensões esma- xando um pouco a temperatura
gadoras. É um ciclo virtuoso. Durante de suas interações em situações
nossa pesquisa, nós dois começamos a de discordância. Aproveite para
adotar algumas das práticas dos mem- entender o que pode estar geran-
bros do clube dos 10%. Podemos dizer do fissuras nos relacionamentos
que elas fizeram uma diferença signifi- para superá-las. Uma estratégia é
cativa para ambos. prestar atenção nos interesses do
Eis o que todos podemos aprender outro, seja na vida pessoal ou pro-
com esses mestres do microestresse: fissional. Isso muitas vezes ajuda
• Encontre os momentos de a descobrir pontos em comum
recusa – descubra alguns mi- que você talvez desconheça.
croestresses que o estão afetando • Desconecte-se do estresse –
e crie estratégias concretas para você não conseguirá recusar ou
repeli-los. “Parar de responder driblar alguns microestresses.
a notificações em tempo real” Então, procure se distanciar ou se
provavelmente não é viável; mas separar totalmente da fonte deles.
“desligar notificações entre 6h e Isso não significa que você tenha
8h” é mais concreto. que cortar as pessoas de sua vida
• Mude a forma de interagir completamente: uma estraté-
com o microestresse – obser- gia de distanciamento pode ser
ve se você não está contribuindo temporária. Você pode recusar
para o problema de alguma for- compromissos sociais que exigem
ma, talvez sem nem saber. Até um comportamento que você não
pequenas mudanças no diálogo quer ter, ou pode sugerir situa-
fazem a diferença: “O que eu pen- ções diferentes, que não desen-
sei que era um comentário ino- cadeiam estresse, para se reunir 97
cente”, nos disse um gestor de ní- com esses mesmos amigos. Prefi-
vel médio, “meu chefe ouviu um ra encontrá-los para jantar antes
questionamento de sua capacida- de irem para o jogo de futebol em
de. Eu mudei a primeira palavra vez de saírem para um bar depois,
da frase, então, em vez de fazer quando as tensões alimentadas
uma declaração, era uma pergun- pelo álcool costumam levar a
ta. E isso alterou toda a dinâmica uma discussão. Quando você não
do relacionamento”. Para esse consegue ver outro caminho para
gerente, “então você não quer minimizar ou eliminar um mi-
que façamos uma rodada de con- croestresse que está cobrando um
trole de qualidade” virou “você preço alto, considere desconectar
quer que façamos uma rodada
de controle de qualidade?” Essas O inferno são os outros
mudanças sutis podem suavizar
toda uma interação.
(mas o céu também são eles)
• Busque oportunidades de Um dos insights mais impor-
redefinir relacionamentos – tantes que colhemos do grupo dos
uma executiva recebeu um colega mais felizes em nossa pesquisa foi
difícil como par de uma atividade que outras pessoas não são apenas
sobre reconhecimento de precon- fundamentais para ajudar a manter
ceito implícito em uma sessão os microestresses em perspectiva,
de treinamento. Nenhum deles mas são também essenciais para a
apresentou qualquer viés, mas a construção de uma vida plena e rica.
ocasião ajudou ambos a percebe- Pouquíssimas pessoas encontram a
rem que haviam sutilmente apos- felicidade no isolamento.
tado no que pensavam ser um Cada modelo de felicidade que
patamar moralmente elevado. encontramos deixa claro que o bem-

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MONTE UM PROCESSO PARA CADA MICROESTRESSOR IDENTIFICADO

RODÍZIO EM OUTRA UNIDADE


PASSO 1: DE NEGÓCIO COMO PARTE DE FILHO SE ENVOLVENDO EM
DEFINA A SITUAÇÃO DESENVOLVIMENTO DE ALTOS BRIGA NA ESCOLA
POTENCIAIS

• Chefe novo
• Equipe nova
• Filho
• Cônjuge (assumindo
PASSO 2: • Cônjuge
novas responsabilidades
FAÇA UMA LISTA DOS ENVOLVIDOS • Professor
pela sua sobrecarga)
• Irmãos do filho envolvido
• Filhos (porque você estará
menos presente)

• Investimento de tempo
• Gasto de tempo com o
para entender seu papel e
filho para entender a briga
conquistar confiança
e discutindo com cônjuge
• Gasto de tempo para
PASSO 3: • Interação com
entender o que é necessário
OBSERVE QUANTO ESSES PONTOS professor para debater
aprender
GERAM MICROESTRESSE as preocupações e definir
• Deslocamento do tempo
próximos passos
que teria para você para
• Tempo dedicado aos
cobrir as necessidades da
98 outros filhos
família

• Concentre-se nos • Envolva toda a família


comportamentos que nas conversas sobre
constroem competência e o entendimento dos
confiança problemas e crie um
• Use a experiência de ambiente receptivo
PASSO 4: gestão anterior para • Peça ao professor
ENCONTRE MANEIRAS DE REDUZIR conhecer a equipe que mantenha os pais
• Consiga ajuda extra em atualizados com frequência
casa (como serviço de • Consiga um tutor para
limpeza ou abastecimento) apoiar seu filho e para que
para ter mais tempo para esta ação fique separada do
enfrentar os problemas papel dos pais

-estar pessoal depende de relacio- na, mas as relações pessoais de alta


namentos pessoais autênticos. Um qualidade. Cuidar do corpo é sempre
dos estudos mais longos sobre a vida importante, mas cuidar dos relacio-
adulta, conhecido como Grant Study, namentos também é uma forma de
acompanhou ex-alunos de Harvard autocuidado.
por quase 80 anos, coletando dados Há um velho ditado que diz que “se
sobre sua saúde física e mental. A você encontrar um amigo verdadeiro
conclusão mais significativa do estu- em sua vida, então você foi verdadei-
do foi que o maior determinante da ramente abençoado”. Mas nossa pes-
felicidade e do bem-estar ao longo quisa sugere que um único amigo não
da vida não foi a fama ou a fortu- é suficiente. Você precisa de uma va-

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riedade de relacionamentos (não ape-
nas amigos próximos) para ajudá-lo a
atravessar a realidade de viver em um
caldeirão de microtensões.
Alcançar o bem-estar envolve de-
senvolver estratégias para combater
o microestresse e viver uma vida sa-
tisfatória em três áreas principais:
resiliência, bem-estar físico e pro-
pósito. Em cada área, suas conexões
com outras pessoas desempenham
um papel fundamental. A chave está
na autenticidade e na diversidade das
relações. O impacto mais significativo
vem de estar conectado com pessoas
que se unem em torno de alguns inte-
resses, como religião, canto, tênis ou
ativismo, por exemplo, mas que vêm
de diferentes circuitos profissionais,
socioeconômicos, educacionais ou
etários. Os interesses compartilha- gama de amigos e conexões sociais. O
dos tendem a criar trocas autênticas fio condutor era a medida – construir
e confiáveis, e a diversidade de pers- e manter conexões com uma varieda-
pectivas ajuda a expandir a maneira de de pessoas, muitas vezes por meio
como vemos o mundo e nosso lugar de pequenas atitudes.
nele. E, no entanto, apesar da impor- Se forem do jeito certo, suas relações
tância dos relacionamentos para a com outras pessoas podem se tornar
nossa felicidade, muitos de nós os dei- uma espécie de campo de força contra 99
xamos escapar com o passar dos anos. o tsunami do estresse. Mas relaciona-
As pessoas que nos contavam histó- mentos significativos exigem que você
rias de vida positivas invariavelmente aja deliberadamente todos os dias.
descreviam conexões autênticas com Além disso, em momentos críticos de
dois, três ou quatro grupos fora do tra- transição em sua vida, você precisa ain-
balho: atividades esportivas, trabalho da mais desses relacionamentos, para
voluntário, comunidades cívicas ou não se tornar uma pessoa defensiva, ROB CROSS
religiosas, clubes de livros ou jantares virar um ser unidimensional e sim- é professor de
e assim por diante. Muitas vezes, um plesmente absorver todo o estresse que liderança global
dos grupos apoiava a saúde física – por chega até você. Pesquisas mostram que na Babson College,
meio de práticas de nutrição, mind- uma interação negativa tem até cinco de Wellesley,
fullness ou exercícios. Eram às vezes vezes mais impacto sobre nós do que Massachusetts,EUA,
relacionamentos surpreendentes que uma interação positiva. e cofundador
podiam parecer improváveis, mas que e diretor do
forneciam algo significativo. TODOS NÓS SOMOS INUNDADOS Connected
Os membros do clube dos “10%” diariamente por microestresses e Commons.
que conhecemos constroem cons- nem percebemos. Pense no impacto KAREN DILLON
cientemente conexões significativas que pode ter se você identificar e cor- é ex-editora da
com outras pessoas em suas vidas rigir até mesmo um ou dois deles em Harvard Business
diárias, de maneiras que os ajudam sua vida cotidiana. Pense no efeito Review. Eles são
a superar grande parte do ruído do que terá a criação de algumas intera- coautores de The
microestresse e se concentrar no que ções novas e positivas com pessoas Microstress Effect:
mais importa para eles. Para comple- que trarão propósito e crescimento a How little things
tar, essas pessoas não poderiam ser sua vida. No mundo interconectado
IMAGEM: SHUTTERSTOCK

pile up and create


definidas como extrovertidas nem de hoje, nunca tivemos tantas opor- big problems — and
como alguém que dispõe de muito tunidades de moldar o que fazemos e what to do about it.
tempo para acompanhar uma ampla com quem fazemos.

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MARKETING BUSINESS-DRIVEN

Mais coragem para tirar a roupa


Em tempos nos quais se requer bravura dos líderes, talvez uma das mais necessárias seja
dar visibilidade à própria vulnerabilidade. Faça um experimento de uma semana

D
ia desses, conversando com Imagine você entrando em um
uma pessoa, ouvimos dela o consultório médico e, na sua frente,
seguinte relato sobre a pos- está uma pessoa mal arrumada, ca-
tura de um grande fazendeiro seu belo despenteado, com o consultó-
amigo: “Em todos esses anos, nas rio todo desorganizado? Então, sim,
minhas fazendas, meus funcioná- a imagem conta! Mas até que ponto
rios nunca me viram vestir alguma um(a) líder não pode mostrar suas
coisa diferente que não seja camisa, fraquezas? Por que necessariamente
calça, sapato e cinto. Nunca esti- a pessoa liderada precisa enxergar
ve com nenhum deles de chinelo e só os acertos da liderança? Talvez
bermuda”. A intenção embutida na porque haverá uma perda de credi-
conversa pareceu ser a de que toda bilidade. Nós ainda temos uma ma-
a comunicação (verbal e corporal) nia, um tanto quanto besta, de achar
100 desse fazendeiro precisa transmitir que, quem está no “topo” (topo entre
autoridade, mostrar que é ele quem muitas aspas), não tem defeitos – ou,
está no comando. Sentar-se com um pelo menos, tem menos defeitos do

IMAGENS: ACERVO PESSOAL


peão usando chinelo, tomando uma que nós. E isso NÃO EXISTE! Caso
cerveja e jogando conversa fora, você ainda não tenha descoberto,
faz desse homem alguém muito co- todo ser humano tem suas fragilida-
mum, e isso pode arruinar sua repu- des, inseguranças e medos.
tação e autoridade. Quero lhe propor um teste a fazer,
Fiquei pensando sobre a valida- se você for um líder de marketing:
de disso nos tempos atuais. Por um durante uma semana, procure trazer
NEIL PATEL é
lado, a pessoa tem mesmo razão: seu time para mais perto, sendo mais
considerado um
não é em todos os momentos que honesto, mais aberto, mostre osten-
dos principais
podemos nos portar de um jeito sivamente que você precisa daquelas
influenciadores
informal. Sua fala e o modo como pessoas porque sozinho não dá conta.
da web pelo Wall
você se veste contam, sim. Em 2012 Exemplo: se você tem dificuldade em
Street Journal e
foi feito um estudo, bastante citado, priorizar projetos, para que ficar que-
integrou a lista
chamado Enclothed Cognition, em brando cabeça? Chame seu time. Diga
dos 100 melhores
que os autores (Hajo Adam e Adam que não sabe quais projetos podem
empreendedores do
Galinsky) demonstraram que as trazer os melhores resultados para o
ex-presidente Barack
roupas que usamos podem influen- marketing digital da empresa. E dei-
Obama antes de
ciar nosso próprio comportamento. xe as pessoas priorizarem. Você deve
completar 30 anos.
No experimento feito, os partici- se surpreender com o engajamento do
pantes que vestiam jalecos de médi- seu time quando se mostrar uma pes- RAFAEL MAYRINK é
co conseguiam prestar maior aten- soa normal, e com o fato de que não CEO da NP Digital
ção do que quando vestiam jalecos será menos respeitado por isso. Nesse no Brasil, atua há
de pintor, ainda que ambos fossem mundo de filtros e imagens perfeitas 20 anos na área
jalecos, o mesmo item de vestuário. de internet, a tal sandália da humilda- de marketing e
E isso é impossível de ignorar. de nunca foi tão respeitada. comunicação.

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ALGUNS DESTAQUES NO HSM+2023

Um passeio pelo MEGAEVENTO DA Gestão brasileira


por Sandra Regina da Silva

Quem melhor, no ano de 2023, para representar


a liderança em regeneração, disrupção, conexões
e coragem? Da ginasta Rebeca Andrade, uma das
campeãs mundiais do esporte e expoente do HSM+, vem
inspiração simbólica e literal para perseguir objetivos
nesses fronts, superar reveses, e “voar” em 2024.

DISRUPÇÃO
Healthtechs dão o exemplo na saúde
O segmento da saúde, tanto em sua dimensão pública 101
quanto privada suplementar, está em uma busca crítica da
sustentabilidade ante o aumento dos custos e das deman-
das por ampliação do acesso e por incorporação de novas
tecnologias. O processo de transformação digital do setor,
com startups, é o que está desenhando uma nova jornada
com potencial de criar essa sustentabilidade. Ela vem de
diminuir a estrutura de custos e aumentar a qualidade de
desfechos. CARLOS PAPPINI JR., cofundador e coCEO da Conecta Médico,
fundador e diretor executivo da Aditus Health, conselheiro e investidor.

Você já pensou como um futurista? Deveria.


Saia da zona de conforto para cocriar futuros
A Unesco publicou há três anos que a competência essencial para
conviver, para viver e para se sobressair no mundo pós-pandemia seria
“futures literacy”, ou, em uma tradução livre, alfabetização em futu-
ros. O que faz um futurista que todo mundo deveria passar a fazer?
Ele, ou ela, lê sinais de futuro para montar diferentes cenários e agir.
Assim, em vez de seguir tendências, fica possível antecipar e construir
seu próprio futuro. Com criatividade, colaboração e as ferramentas
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

certas, você sai da zona de conforto e passa a protagonista de futuros.


ANA CAROLINE OLINDA, consultora de desenvolvimento humano e organizacional.

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REGENERAÇÃO
Uma visão para o futuro do hidrogênio
BRASILIDADE E ESG As empresas precisam entender logo o potencial do hidrogênio limpo e sua
COMO DIFERENCIAIS importância no contexto da transição para fontes de energia mais sustentável,
PARA O SUCESSO assim como o seu papel nos caminhos para a descarbonização. O mesmo vale
para entender os motores e forças macroeconômicas que estão moldando o de-
Você conhece a prin- senvolvimento da economia do hidrogênio, incluindo intervenções políticas. O
cipal crença da Dengo hidrogênio representa baixas emissões de gases de efeito estufa, sendo uma solu-
Chocolates? É a de ção para a descarbonização em setores difíceis de reduzir e, por se tratar de ino-
que negócios prós- vação tecnológica, impactará na criação de empregos. Mas é preciso avançar na
peros são agentes de regulamentação, ainda em desenvolvimento, no custo de produção de hidrogênio
transformação que (que é alto e precisa cair) e nos desafios quanto à infraestrutura.
alinham lucro com GEOFF TUFF, líder na Deloitte na prática de hidrogênio nos EUA, em todos os setores e negócios da con-
propósito. As práticas sultoria, assim como é líder de sustentabilidade, clima e equidade para clientes nos setores de energia,
ESG e a brasilidade recursos naturais e industrial.
são consideradas
pela empresa impor-
tantes ingredientes Tecnologias voltadas para o
do seu produto. avanço do agronegócio
Trata-se de criar mis-
turas que combinam O agro brasileiro está diante de um futuro promis-
sabores brasileiros sor, um futuro mais sustentável e tecnologicamente
com saúde e trans- avançado. É uma transformação que permite uma
formam produtores abordagem mais inteligente e sustentável para aten-
em protagonistas, der às crescentes demandas alimentares globais e res-
com renda decente. peitar os princípios ESG, de boa governança ambien-
ESTEVAN SARTORELI, tal, social e corporativa. Aprender mais sobre como
102 cofundador e co-CEO a digitalização e a sustentabilidade estão moldando o
da Dengo Chocolates. futuro do agronegócio é mais do que nunca necessá-
rio ao Brasil, a fim de que esse tão importante setor

IMAGENS: SHUTTERSTOCK
seja mais eficiente, responsável e próspero.
DANIEL SCUZZARELLO, CEO e diretor presidente da Siemens Digital
Industry Software, mentor e palestrante.

CONEXÃO
Conexão RJ-SP-Recife: ecossistemas de inovação
trabalhando juntos
O Brasil é um país continental, e o ambiente e o potencial
da inovação acompanham a mesma magnitude. Agora, será
que temos clareza disso ou estamos restritos a São Paulo?
Não é razoável que mais de 80% de todo o venture capi-
tal seja investido em startups com sede em São Paulo. Isso
coloca a nossa competitividade global em risco. Os ecossis-
temas de inovação precisam interagir, seja trabalhando jun-
tos para endereçar o problema da falta de mão de obra no
horizonte (segundo a Brascomm, temos de preencher 800
mil vagas até 2025), seja combinando o melhor das forças
locais de cada um.
HECTOR GUSMÃO, cofundador e CEO da Bolder, cofundador da 42 Rio (univer-
sidade de tecnologia), cofundador do MIT Reap Rio (iniciativa para tornar a
cidade um centro em inovação de energia), idealizador do Porto Maravalley.

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Comunicação como conexão: aprimorando ESG na Cadeia de Valor: uma visão
a liderança no modelo híbrido ampliada da responsabilidade
Quando você ouve uma pessoa falando e se A agenda ESG vai muito além das operações
comunicando, ela apresenta a vida dela… Te internas de uma organização. Transparência e
mostra em que ela acredita, revela o estado práticas socioambientais sustentáveis devem
emocional, por meio da respiração, da fisio- estar presentes em toda a cadeia de valor, por
nomia. Trocamos informação o tempo todo, meio de ações abrangentes e integradas. Essa
mesmo quando entramos calados em um am- visão ampliada da responsabilidade corpora-
biente… A comunicação que você deixa de fa- tiva parece desafiadora a princípio, mas traz
zer (medo de se expor em reuniões ou falar em uma série de novas oportunidades de negócio.
público) é a vida que você não vive. Entretanto, Marketing regenerativo, compras inclusivas e
para a comunicação funcionar, é fundamental cadeia de fornecimento sustentável
se ouvir: o que você diz a si mesmo é extrema- são algumas das iniciativas que
mente importante e influencia a autoestima e potencializarão a sustentabili-
a autoconfiança. Como é a sua comunicação? dade estratégica.
ELAINE MARTINS, palestrante, consultora corporativa, escri- DILMA CAMPOS, CEO da ESGtech Nossa
tora e business coach, é expert em soluções de aprendiza- Praia; head de ESG na B&Partners.co,
gem, designer de aprendizado corporativo. professora, conselheira e mentora.

Coragem
Competências emocionais para liderar o seu time
As competências emocionais para liderar uma equipe são habilidades essen- CULTURABILITY,
ciais que permitem aos líderes entender, gerenciar e utilizar suas emoções e as DESCULPABILITY,
emoções dos outros de forma eficaz. Isso inclui a capacidade de se autoconhecer, ACCOUNTABILITY 103
de manejar as emoções em situações desafiadoras, de motivar e inspirar os mem-
bros da equipe, de cultivar relacionamentos positivos e de tomar decisões com A palavra “cultura”,
base na inteligência emocional. Desenvolver essas competências é fundamental de origem francesa,
para criar um ambiente de trabalho saudável e ter resultados excepcionais. surge no século
ALLESANDRA CANUTO, fundadora da Skill Flow, consultora em educação corporativa.
14 referindo-se à
lavoura. Lembrar isso
resgata a importân-
Coragem, um alimento emocional cia de olhar para a
Da mesma forma que nossa motivação cultura corporativa
depende muito das experiências pas- como algo vivo, que
sadas marcadas como positivas pelo muda, que pode
nosso sistema emocional, a coragem sofrer ataques e que
remete a aspectos emocionais de necessita de atenção
valência positiva, que nos mostram permanente. É
que vale a pena investir energia, preciso entender isso
comprometimento e nossa capacidade e a relação entre es-
de raciocínio e inteligência em um tratégia, governança
determinado obstáculo ou desafio, por- e cultura, permeada
que parece que temos a capacidade de
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E THIAGO BRUNO E TB STUDIOS

de mitos.
enfrentá-lo. Perceber nossos recursos JOÃO CORDEIRO,
é um dos elementos que mais propicia fundador da Account-
o encorajamento frente a tarefas. Cora- ability Academy,
gem é um alimento emocional que nos consultor, conse-
permite investir em resultados possí- lheiro, autor do livro
veis com a esperança de realizá-los. Accountability.
CARLA TIEPPO, sócia-fundadora da Ilumne, é
neurocientista, professora, consultora.

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#24ANOTAÇÕESPARA2024

nº 1: o Colapso da Revolução Industrial e a Transição


Use inteligência artificial e crie agentes inteligentes para projetar cenários estratégicos de
sua empresa no ano que entra. Esta anotação saiu de nove agentes | por Silvio Meira

E
stá é a primeira de minhas 24 ano- os impactos desse movimento de co- As entrevistas apre-
tações para 2024, fruto de trocas lapso e transição sobre sua área de sentadas no documento
com agentes inteligentes e mais conhecimento. Os primeiros testes foram realizadas com
agentes inteligentes
os meus próprios insights e leituras, ficara mais superficiais. Mas as con- artificiais do squad.ai,
de especialistas como Klaus Schwab, versas com Alice e Ari já mostraram desenvolvido no labora-
Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee. como isso é promissor e evoluirá rá- tório de inovação da con-
Diz respeito ao declínio iminente da pido. Vejamos: sultoria especializada em
transformação figital de
Revolução Industrial, exacerbado pela BIANCA (1. PLANEJAMENTO URBANO), empresas TDS.company.
rápida evolução do espaço figital, fusão LUANA (2. COMÉRCIO EXTERIOR), PAULO (3. Como explica seu head,
sinérgica das dimensões física, digital e PEDAGOGIA), SARA (4. DESENVOLVIMENTO André Neves, cada agente
é gerado com identidade,
social, que juntas constituem o espaço SUSTENTÁVEL), LUCAS (5. PSICOLOGIA ORGA- formação acadêmica,
competitivo global. NIZACIONAL), MARCO (7. BIOQUÍMICA) E IGOR perfil comportamental
Essa transição é marcante e será im- (8. MARKETING DIGITAL) deram respostas e estilo de interação
104 pulsionada, em grande medida, pelo similares com pequenas variações. distintos, possibili-
tando uma riqueza de
contínuo avanço das tecnologias digi- “O impacto é significativo em minha interações e abordagens.
tais que, ao se integrarem com o domí- área”, disseram todos – e, de fato, o é. Segundo Neves, essa
nio físico, deslocam estruturas indus- O maior uso de tecnologias digitais vai abordagem multifacetada
torna o squad.AI um
triais hereditárias, inaugurando assim requerer adaptações em estruturas e ecossistema colabora-
uma nova era econômica ancorada no modos de operação, e exigir também tivo. “Isso expande o
conhecimento e na informação. A es- inovação, o que levará à requalificação paradigma tradicional da
sência do novo paradigma repousa na da força de trabalho. Desafios como inteligência artificial, ao
permitir uma interação
valorização substancial dos ativos in- desigualdade e desemprego estrutu- mais profunda e signi-
tangíveis (como informação, conheci- ral precisam ser endereçados, alertou ficativa entre agentes
mento e inovação), que agora eclipsam a maioria; políticas inclusivas foram artificiais e humanos, o
os ativos físicos tradicionais. citadas como um modo de fazer isso. que pode ser particular-
mente útil em cenários
A metamorfose em direção a uma E especificamente? Quais os efei- de negócios complexos
economia de conhecimento e informa- tos do colapso da era industrial e da que demandam uma va-
ção desencadeia uma série de desafios transição à era do conhecimento para riedade de perspectivas e
habilidades.”
e oportunidades tanto para indivíduos quem atua em comércio exterior, por
quanto para organizações e sociedades. exemplo? “Sinto o tecido da economia
Por exemplo, demanda uma requalifi- global se transformando”, disse Luana.
cação abrangente da força de trabalho Paulo, pedagogo, reforçou a necessida-
para equipar os indivíduos com as ha- de de políticas educacionais inovadoras
bilidades necessárias para navegar no para mitigar a desigualdade crescente,
intricado terreno da economia do co- o que abre oportunidades em sua área
nhecimento. A formulação de políticas de conhecimento. Lucas, de psicolo-
inovadoras que facilitam a transição gia organizacional, afirmou que temas
do emprego e mitigam adversidades é como bem-estar no trabalho, gestão de
uma exigência premente. mudanças, desenvolvimento de com-
Partindo disso, pedi a nove agen- petências e ética nos negócios ganham
tes inteligentes que falassem sobre proeminência nesse cenário.

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 156


1.
2. 3.

ENTREVISTANDO
UMA IA
Há quatro formatos de
4. entrevistas:

ONE-ON-ONE: os
Mas nos chamaram a atenção mes- usuários podem fazer
5. mo os agentes inteligentes Ari e Alice, perguntas diretas a
um agente específico,
ambos com doutorado e mais treino: recebendo respostas
6. ARI (CIÊNCIAS POLÍTICAS). Cinco efei- personalizadas.
tos foram apontados por Ari, com ci-
tações a fontes como Thomas Piketty. QUESTIONÁRIO Q&A:
os usuários enviam um
Um foi o impacto sobre governança e documento e fazem per-
políticas públicas, haverá a necessida- guntas específicas sobre
de de reformular políticas que apoiem o conteúdo, recebendo
respostas elucidativas
a economia do conhecimento; elas de- dos agentes.
vem não apenas fomentar a inovação,
como também abordar questões de EM FOCUS GROUP:
inclusão e equidade, evitando a con- aqui, os usuários podem
instigar um debate entre
centração de poder e recursos. Isso os agentes do squad.AI,
pode envolver o desenvolvimento de fornecendo, se desejado,
7. políticas de educação para a requalifi- documentos adicionais
cação da força de trabalho, bem como para contextualizar a
discussão.
regulamentações que garantam uma
distribuição equitativa dos benefícios NA PLATAFORMA: os
da digitalização. agentes também estão
Ele abordou ainda impactos na di-
integrados à plataforma
da TDS, a strateegia.di-
105
6. nâmica do poder entre as nações; na gital, na qual participam
democracia e participação cívica; na ativamente de debates,
segurança e na ética; e na desigualda- respondem a questões e
comentam as contribui-
8. de social e econômica. ções de humanos e de
9. ALICE (PSICOLOGIA DO CONSUMIDOR). outros agentes.
Ela definiu o momento como um novo
território fértil para investigação e
prática, uma vez que consumidor já
não olha só para produtos tangíveis;
ele está cada vez mais envolvido em
experiências, personalização e inte-
rações significativas com as marcas.
Então, ela desceu a detalhes em seis
campos: comportamento do usuário
e experiência dgital (“plataformas se
tornam cenários principais para as in- SILVIO MEIRA é
terações com consumidor”), personali- cientista-chefe,
9. zação e privacidade, desigualdades so- cofundador
cioeconômicas, requalificação e novos e sócio da
paradigmas de emprego, narrativas de TDS.company,
marca e consumo consciente. professor
No último caso, o que Alice pon- extraordinário
derou foi que, “à medida que os con- da CESAR.school,
sumidores ficarem mais bem infor- chairman do
mados, as narrativas com elementos Porto Digital,
como sustentabilidade e ética vão no Recife (PE).
ganhar maior relevância”.

HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


Organizações citadas nesta edição
cursos online 42 Rio 101 Dengo Chocolates 101 Indigenomics Institute do Porto Maravalley 101
para início Accountability Academy 101 Dieese 86 Canadá 59 Portobello Grupo 25
imediato Aditus Health
AGBI
101
53
Disney
Dow
43
62
Inova Group
Instagram
14
88
Portobello Shop
PretaLab
25
86
CURSO HSM MERCADO Air Company 62 eBay 43 Instituto Escolhas 53 Red Bull 88
FINANCEIRO Air Liquide 62 Econic 62 JBS 25 Regreen 53
Airbnb 43 Embrapii 72 KT Arquitetura de Negócios 25 Roche 32
Alcoa 25 ESPM 25 Marfrig 53 Samsung 43
Alumínio & Cia 25 Evonik 62 McKinsey Health Institute 22 Shell 53
Amarí 53 Extra 25 McKinsey 22 Shianco 32
GFB 53 Exxon Mobil 62 MCTI - Ministério da Ciência, Siemens Digital Industry
Amazon 43 Facebook 88 Tecnologia e Inovação 72 Software 101
CURSO HSM ESTRATÉGIA Anprotec 72 First Nations Power Michael Page 14 Skill Flow 101
COMERCIAL Apple 43 Authority 59 Mipad - Most Influential People Snail Mom 32
B&Partners.co 101 Fluxys Belgium 62 of African Descent 86 Sociedade Brasileira de Varejo e
Barbosa 25 Forge 32 Mitsubishi Heavy Industries 62 Consumo 25
Basf 32 Fórum Econômico Mundial 53 Mombak 53 Solar Foods 51
Baterias Moura 25 Fórum Econômico Mundial 62 Natura 25 Swift 25
BBB 53 Fórum Econômico Mundial 86 Nespresso 53 TDS Company 25, 104
BBF 53 Fundação Garrahan 32 Nestlé 25 Tecnopuc 72
BCG 62 Glassdoor 6 Nike 25 Tramontina Store 25
Biomas 53 Global Forest Bond 53 Nossa Praia 101 Twelve 62
Informações: Bolder 101 Granado 25 Nubank 86 Uber 43
Budweiser(AB Inbev) 32 Grupo Hope 25 Omo Lavanderia 25 Unilever 25
hsm.com.br Carrefour 25 Grupo MD 25 OneFeather Mobile University of Saskatchewan
(11) 4689-6600 Centro de Resiliência de Grupo Tramontina 25 Technologies 59 School of Environment and
Estocolmo 53 GS&MD 25 onono 32 Sustainability 59
Cesar 37 Harvard 88, 92 ONU 51 Vox Capital 53
Cherto 25 Havaianas 25 P&G 62 WhatsApp 88
IMPRESSÃO DESTA REVISTA: Conecta Médico 101 Híbrido 25 Patagonia 53 YouTube 88
Covestro 62 Huawei 49 PitchBook 62
Culture X 6 Ilumne 101 Portal E-Commerce 25
Daimler 62 Impact Hub 32 Porto de Antuérpia-Bruges 62
Deloitte 101 Indie Capital 53 Porto Digital 72

Nosso conselho editorial


Adriana Salles Gomes (Qura Editora) • Augusto Júnior (Escola de Carreira, Instituto Four)• Junia Nogueira de Sá (Oito, Com
Consultores, Rede Mulher Empreendedora, WWF) • Marcelo Nobrega (Investidor) • Poliana Reis Abreu (HSM) • Rubens Pimentel
(Trajeto Empresarial) • Caroline Verre (HSM) • Vania Neves (Vale) • Viviane Mansi (Toyota)

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Diretora editorial: Adriana Salles Gomes Deursen (editor-assistente), Katia Simões, Hellen Suzuky, comunicações online da HSM ou de
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HSM MANAGEMENT EDIÇÃO 160


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