HSM160
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HSM160
MM T
HS
anos
DESDE 1997
Nº 160
OS QUATRO DOSSIÊS PARA VOCÊ COMPETIR NO SÉCULO 21
9 771415 886800
nº 160 - R$ 58,00
revistahsm.com.br
C
omeço esta carta falando em voar rizontal e vertical, com abrangência e
por três razões. A primeira é para profundidade.)
homenagear a nossa superatleta
da ginástica artística, Rebeca Andra- HSM Management e HSM+ sempre
de, que, além de ampliar cada vez mais trocaram figurinhas, como se faz em um
sua coleção de medalhas nas grandes bom ecossistema de educação, com o
competições internacionais, vem voan- público de uma se beneficiando do que
do tanto (literalmente até) na ginásti- a outra oferece, e vice-versa. Desta vez,
ca que é publicamente reverenciada porém, fomos mais longe. Nosso time
por craques como a americana Simo- editorial “ralou” para antecipar o máxi-
ne Biles, dado o nível de excelência e mo possível a imensidão de conteúdos
complexidade de suas apresentações. que haverá no HSM+. Assim o assinan-
Rebeca aceitou nosso convite para par- te da revista tem um pouco da experiên-
ticipar do HSM+ 2023, o que deu a nós cia do evento em tempo real e o parti-
da organização uma alegria infinita, e cipante do evento recebe a revista com
ao nosso público inspiração de primei- o registro do que viveu e um riquíssimo
ra grandeza para colocar em prática to- conteúdo estendido.
dos os aprendizados obtidos no nosso
megaevento anual. O que eu recomendo ler nesta edição?
Como sempre, tudo. [risos] Mas não 3
A segunda razão tem a ver com a capa vou me furtar a fazer escolhas. Entre
desta revista, que convida o leitor a voar os múltiplos materiais alinhados com o
na economia do conhecimento e, para HSM+, logo nas próximas páginas su-
isso, a quebrar as correntes que eventual- giro que você leia o conteúdo de quatro
mente o estejam impedindo de fazê-lo. headliners do HSM+: Ron Adner falan-
do de estratégia de ecossistemas; Anna
O terceiro motivo da escolha do verbo Lembke, a autora de Nação Dopamina, REYNALDO GAMA é
“voar” no título desta carta são os te- um dos livros que mais me impactou nos CEO da HSM e coCEO
mas sobre os quais esta revista se de- últimos tempos; Karim Lakhani, mestre da SingularityU
bruça. Pela primeira vez, temos quatro em inteligência artificial; e Donald Sull, Brazil. Pós-graduado
Dossiês, em vez de um, para espelhar o que tem tangibilizado a cultura organi- em finanças, possui
HSM+, que tem quatro eixos temáticos: zacional com dados, como ninguém fez MBA com extensão
• disrupção, antes. Sugiro também o artigo de Bruno na China, na França
• regeneração, Stefani sobre a liderança de conexões, e na Inglaterra. Tem
• conexão e em que ele conta de sua transição de mais de 12 anos
• coragem. executivo global para uma carreira solo, de experiência no
e o estudo do centro de inovação CESAR mercado financeiro.
Pelo trabalho de curadoria com nos- sobre organizações design-driven. É casado com a
sa rede de thinkers e practioners da Marcia e coleciona
gestão, estamos confiantes que esses Entre os conteúdos adicionais que vão discos de vinil.
são os quatro principais motores da amplificar sua experiência, recomendo
atual economia do conhecimento, so- a pesquisa inédita sobre ambidestria (e
bretudo para organizações e gestores sobre líderes ambidestros) no Brasil, e
brasileiros. (Lembro que o Dossiê é uma entrevista reveladora com Fran-
aquela parte em que tratamos um de- cisco Saboya, um dos atores-chave no
safio de gestão e liderança com vários ecossistema de inovação do País. Uma
conteúdos e olhares, de maneira ho- ótima leitura!
Disrupção Regeneração
DOSSies
ˆ
11 50
Romper com o status quo virou Especialmente para o Brasil, esse pode
uma regra no novo jogo ser o grande diferencial competitivo
Helena Bertho
72 Os desafios
institucionais
Francisco Saboya,
líder da Anprotec e
da Embrapii, mapeia
oportunidades e
ameaças do contexto
N
o complexo mundo BANI (frágil, ansioso, não performance do indivíduo”, aponta Megido.
linear e incompreensível, na sigla em inglês) o Em um cenário de constantes transformações, quais
líder precisa se adaptar rapidamente aos novos são as habilidades imprescindíveis para uma boa lide-
desafios, estar atento ao que acontece no dia a rança? Entre algumas das habilidades consideradas fun-
dia da empresa ao mesmo tempo em que planeja damentais para os líderes e que são abordadas nos cursos
seu futuro e, ainda, estar pronto para servir quem está ao seu da Audencia Business School voltados à alta liderança es-
redor. “Estar a serviço da organização, das pessoas que fazem tão:
parte dela, de todos os stakeholders com quem a própria orga-
nização se relaciona. Em síntese, estar a serviço da harmonia Antifragilidade
do ecossistema. O resultado disso é gerar valor, preservando Quando o matemático e estatístico Nassim Taleb lançou
o equilíbrio econômico, social e ambiental”, comenta Victor o livro Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos,
Megido, diretor de desenvolvimento de negócios no Brasil da rapidamente a obra se tornou referência entre gestores,
Audencia Business School, escola de negócios francesa com especialmente após a crise causada pela pandemia de Co-
campi em Nantes, Paris, China e que tem diversas parcerias vid-19. Segundo Taleb, a antifragilidade é um neologismo
no Brasil. proposto e seria o exato oposto da fragilidade, estando
Como trouxemos na edição 159 de HSM Management, além da robustez. O antifrágil resiste a choques e ao tem-
a liderança não é só um processo de criação coletiva. Todas po e fica melhor. Segundo o autor, diz-se que os melhores
as pessoas exercem três lideranças, e não uma – a lideran- cavalos perdem quando competem com os mais lentos e
ça de si, dos relacionamentos e a sistêmica (de sistemas vencem contra os melhores rivais. Com isso ele quer di-
como a empresa e o mundo, no qual ela opera). “É preci- zer que a ausência de um agente estressor leva à falência.
so alimentar a alma da organização, a sua cultura. É isso O líder antifrágil então aceita o enfrentamento como um
que chamamos de cultura sistêmica da organização, onde modo positivo para se tornar sempre a melhor versão de
a colaboração no coletivo permite o engajamento com alta si mesmo.
No mundo corporativo, ser antifrágil significa estar parte do perfil de um bom gestor. Esse mapeamento faz
preparado para o improvável e disposto a crescer com os parte do dia a dia da Audencia, que em seus cursos –
erros e dificuldades que o cenário externo impõe. A pan- pensados para executivos seniores e jovens futuras lide-
demia de Covid-19 é o grande exemplo recente de uma si- ranças – oferece a experimentação de desafios e orques-
tuação que demanda líderes antifrágeis. Com o lockdown, trações que serão importantes na jornada das lideranças.
o gerenciamento das equipes sofreu uma transformação Além disso, segundo Megido, uma das provocações
instantânea e a adaptação rápida revelou aqueles que se que são feitas aos alunos diz respeito a como lidar com o
destacavam entre os gestores. Hoje, o ambiente corporati- fracasso, “dividir o joio do trigo” e de que maneira pro-
vo volátil e complexo ainda impõe, diariamente, situações mover a criatividade sem confundi-la com negligência.
que precisam de líderes com grande capacidade de adap- “Aí está o salto quântico das organizações.” Sem o de-
tação. A antifragilidade é uma habilidade indispensável senvolvimento de novas lideranças, a tendência é sobre-
para o líder moderno. carregar aqueles que estão à frente das equipes, o que
mostra que ensinar a ser líder também é uma habilidade
Ambidestria importante para o gestor moderno. “O líder é um orques-
No mundo corporativo, a ambidestria ganhou relevân- trador de valor social dentro de sua organização e de ou-
cia quando Julian Birkinshaw, professor de estratégia e tras na rede”, lembra Megido.
empreendedorismo da London Business School, publicou
um artigo sobre o tema em MIT Sloan Management Re- Um convite ao diálogo
view, revelando a importância da adaptabilidade para os A Audencia realizou dois estudos com uma amostra
gestores. Ambidestria, segundo ele, é um conceito que tra- representativa de gestores e colaboradores franceses
ta da gestão simultânea do presente e do futuro. O desafio para comparar como cada grupo classifica a gestão de
para muitos gestores é como lidar, ao mesmo tempo, com sua empresa. Os levantamentos mostraram que as visões
as prioridades e a rentabilidade do presente sem compro- são divergentes: enquanto 63% dos gestores dizem que
meter o olhar para o futuro e mapear tendências e oportu- a organização tem uma gestão inovadora ou muito ino-
nidades de inovação. vadora, 71% dos colaboradores a consideram pouco ou
Ser um líder ambidestro trata da importância em equi- nada inovadora.
librar as obrigações de curto prazo – com metas a serem Outro ponto de divergência foi acerca do estilo de ges-
alcançadas e problemas que precisam ser resolvidos rapi- tão: 81% dos colaboradores franceses dizem que o di-
damente – com as demandas que o mercado impõe para o retor geral de sua empresa pratica uma gestão diretiva,
longo prazo, como inovação e transformação digital. Não sem características de uma liderança colaborativa. Entre
à toa, é uma das habilidades necessárias para a liderança os gestores, porém, apenas 14% classificam seu estilo de
aprimorar em 2024. gestão como diretivo.
Não é possível dizer qual dos dois grupos tem a razão,
Serviço mas uma conclusão é certa: falta diálogo entre eles. Ao
Em 1977, Robert K. Greenleaf escreveu Serveant Lea- avaliar outras pesquisas realizadas no Brasil e no mun-
der (ou, em tradução livre, líder servidor), livro que inau- do, nota-se que há uma tendência na dificuldade da co-
gurou um debate na gestão empresarial sobre o papel da municação nas organizações. Nesse contexto, espaços de
liderança nas empresas. A obra segue dando lições impor- discussão regulares e com métodos como o design thin-
tantes ao falar sobre a necessidade de servir a todos os king podem melhorar a comunicação e os elos de valor
stakeholders de uma organização, como colaboradores, no ambiente de trabalho.
clientes e a comunidade ao redor da companhia. Esse é o Em artigo publicado no site Les Echos, os diretores
valor social da organização. acadêmicos da Audencia, Thibaut Bardon e Nicolas Ar-
Para Greenleaf, o individualismo não combina com um naud, dizem que “a ampliação do diálogo nas empresas é
bom líder, que tem aguçado senso de comunidade e lide- um convite a desafiar o mito de que um líder é angélico
ra pelo exemplo. A empresa com líderes servidores será e onisciente, que sozinho constrói visões messiânicas da
capaz de criar uma cultura poderosa e de se reinventar empresa que dirige”.
frequentemente. Megido explica que o princípio que norteia uma orga-
nização é também a sua meta. Isso define o como fazer,
Como ensinar a ser líder? “porque não é de qualquer jeito, não é qualquer vento
Um dos papéis exercidos pelo gestor está relacionado ao que favorece a organização a chegar aonde busca ir. O
desenvolvimento de novas lideranças que serão responsá- que fazemos no cotidiano é mais assertivo tendo clareza
veis por manter o negócio em pé no futuro, sendo um “lí- de qual tomada de decisão é mais coerente e consistente
der pedagógico”, aquele que se preocupa com a formação com o princípio e fim. Assim, erros são aprendizagem.
de novos gestores. Neste cenário, é importante ser capaz Essa é a honestidade intelectual da liderança, é a gover-
de identificar e promover as hard e soft skills que fazem nança corporativa”, conclui Megido.
8 #GESTORES
Um gestor vai fazer uma leitura de tarô para o ano que se inicia – como tantos fazem – e
se destacam o rei de ouros, o rei de paus, a dama de copas e o valete de espadas. O que
significa? Se tiver passado pelo HSM+, o gestor talvez veja uma correspondência entre as
cartas e os arquétipos dos gestores necessários nestes tempos: o líder focado em estratégia
é o rei de ouros (o aspecto material); focado em cultura, rei de paus (o espiritual); a líder
voltada às pessoas é a dama de copas (as emoções;) e o inovador da tecnologia, o valete de
espadas (as ferramentas). No HSM+, Ron Adner, Donald Sull, Anna Lembke e Karim Lakhani
deixam clara a necessidade desses quatro arquétipos de gestores para gerar valor hoje.
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGENS SHUTTERSTOCK
líder de estratégia:
ta por competidores ecossistêmicos.
RON ADNER Essa foi a resposta que, desde o final
de 2021, Ron Adner vem dando sobre
Que tipo de estrategista os novos fundamentos da estratégia
você será em 2024? Um corporativa. Exemplos de ecossiste-
que sabe atuar em uma mas disruptadores são as plataformas
era marcada pela disrupção impos- de mobilidade (seguem disruptando os
ser realmente útil, é a estrutura por olhos dos funcionários? Sull desco-
meio da qual as empresas interagem briu em seu estudo de 2020 haver
para entregar uma proposta de valor. A mais de 60 valores distintos que as
P Ó S - G R A D U A Ç Ã O em
Diversidade e Incl u s ã o
nas Organizaçõ e s
Qua l ida de HS M
C o n exã o c om o M erc a d o:
Real Skills
S a ib a m a is
s o b re o c u r s o
e m a t r ic u le - s e
Te mo s c ondições es pec ia is pa ra
vo cê, ass ina nte da Rev is ta HSM .
Fale ag o ra c om nos s os cons ultores !
DOSSieˆ
DOSSIÊ 1
A DISCUSSÃO ABRANGENTE
E PROFUNDA DE UM
GRANDE TEMA DA GESTÃO
d2c
AGÊNCIA MARKETPLACE
PLATAFORMA_COMO_SERVIÇO
ASSINATURA proposta de valor design
digital
ambidestria sustentabilidade
CONSULTORIA
liderança
ondas_intersetoriais 13
redes_colaborativas
modelos_de_negócio
#Disrupção
Entre as principais alavancas estão a liderança ambidestra e a organização design-driven
É
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI COM UMAGENS SHUTTERSTOCK
importante tanto “disruptar” (um neologismo) como não ser “disruptado”. Disruptar , na
definição de Clayton Christensen, significa (a) promover uma ruptura de baixo mercado,
ou seja, entrar em um mercado existente atendendo de maneiras novas consumidores que
já são servidos pelos players estabelecidos ou (b) criar um novo mercado, no qual um pro-
duto ou serviço é oferecido a pessoas que até então não consumiam aquilo. Há dois grandes
princípios para conseguir fazer isso – a liderança ambidestra e a organização design-driven
–, mas, indo além, é importante entender as ondas intersetoriais, utilizar redes colaborati-
vas e saber manejar modelos de negócio (entre os quais, o D2C, destacado a seguir).
#HSM+_2023
5
nova forma de trabalho, que são ti-
Há mais de uma década mes auto-organizados, em squads,
você se debruça sobre “li- sem liderança formal, sim, mas
derança para a inovação”. nós temos ainda hierarquias muito
O que distingue esse estilo estruturadas em todas as organiza-
de liderança de outros? Há ções, com organogramas que datam
algo mudando no Brasil? de 1940. Os níveis de liderança são
Acho que a liderança brasileira muito estruturados, em que um se
pouco tem se alterado de modo ge- reporta ao outro, muitas vezes sem
ral. Temos ainda uma visão de cen- poder romper barreiras.
tralização, muito comando e con- Há uma tendência por liderança
IMAGEM: FLÁVIO RODRIGUES
4
possibilidades de crescimento, a organi- CAPACIDADE
Como deveria ser o líder zação não é human-centric, e as pessoas DE TRABALHAR
brasileiro a esta altura? ficam desmotivadas. Portanto, a organi-
O líder hoje deve ter a zação é desmotivada e não inova.
COM AS PESSOAS
2
visão do humano estabele- A PARTIR DA
cido, ser uma pessoa huma- Por que, para inovar, você NECESSIDADE
nitária – não é humanizada, veja bem. defende que haja propó-
Isso significa ele perceber que as pes- sito compartilhado? QUE ELAS TÊM, E
soas são diferentes, com características Quando passamos a tra- NÃO A PARTIR DO
particulares, e ter flexibilidade para li- balhar com OKR, com a de-
dar com isso. Aqui destaco a empatia finição de um objetivo geral que vem
QUE EU, LÍDER,
definindo-a como a capacidade de tra- cascateado tanto de cima como de QUERO”
balhar com as pessoas a partir da ne- baixo trazendo resultados-chave, co-
cessidade que elas têm, e não a partir meçamos a ver que tudo isso vem em
do que eu, líder, quero. função de um propósito. E o propósito
O líder também tem de ter visão de é aquilo que me distingue. Não é mi-
tecnologia. Não podemos fazer ges- nha missão ou valores, mas é porque
tão de pessoas com flexibilidade sem eu estou fazendo isso. Essa visão geral
tecnologia de ponta dando suporte a não pode ficar somente no bord; ela
isso, permitindo a cada um trabalhar tem de permear toda a organização e
no formato que quiser. ser compartilhada.
1
Essa flexibilidade do líder é muito 15
importante, inclusive para ele com- Como exigir tanto dos líde-
preender o todo. Além disso, deve res, se eles já estão muito
ter o compromisso com o entorno, sobrecarregados?
não só com o que está dentro da or- De fato, tenho visto situa-
ganização. ções alarmantes de as pessoas
3
não darem conta, com excesso de de-
Para que se inove, a cultu- mandas e responsabilidades, ainda
ra organizacional tem de mais as que buscam praticar a lide-
ser humanitária também? rança ambidestra, que tem de fazer
Sim. Sempre deveria ter tanto a gestão dos processos no dia a
sido assim. Por muito tempo dia quanto a inovação.
focamos o processo, o lucro, e esque- Somos treinados, educados, pauta-
cemos que são pessoas que fazem as dos, moldados para trabalhar dentro
organizações existirem. de um cronômetro, com hora para co-
É presunção achar que nós fazemos meçar e hora para terminar, e nesse
organizações com métodos e técnicas. tempo temos de ser produtivos. Sabe
Somos nós, as pessoas, que modifica- qual o problema? Geralmente a ino-
mos tudo. Cada vez mais temos de in- vação, a criatividade, os insights vêm
corporar o pensamento do design hu- nos momentos de lampejos de nosso
man-centric, mas ainda não é assim. tempo da folga, do lazer.
Vejo que há grande tendência de Precisamos romper com esse mo-
mudança, até em função dessa gera- delo de produção industrial no cro-
ção mais nova que chega não muito nômetro para nossa produção men-
disposta a ceder espaço em detrimen- tal. Isso é o que está levando tanta
to da qualidade de vida, do bem-estar gente a adoecer. Precisamos nos
e daquilo que querem fazer. Então, se atentar e tomar a decisão de mudar
as empresas não se tornarem human- o modelo.
Cuidar do negócio no presente ou prepará-lo para o futuro. Mais do que algo semelhante
a equilibrar pratos, o estudo de ambidestria da consultoria de gestão Inova traçou um
panorama do mercado brasileiro. Apesar da ambidestria já ser relativamente conhecida
por aqui, a pesquisa mostra que há muito espaço para ela crescer no Brasil. Veja os
principais resultados.
T
odos poderíamos estar abrindo que o conhecimento é, na verdade, in-
um sorriso: 72,81% dos gestores cipiente: 37,79% dos participantes ad-
brasileiros estão familiarizados mitiram ter um grau de familiaridade
com o conceito. É o que mostra o es- baixo com o tema, e a média pondera-
tudo Ambidestria Corporativa: Raio da de profundidade de conhecimento
X da Realidade Brasileira, que acaba ficou em 2,9 em uma escala ascenden-
de ser realizado pelo ecossistema Ino- te de 0 a 10. A falta de familiaridade
va e pela Michael Page. fica evidente, por exemplo, quando
No entanto, essa conclusão pode entendemos que as pessoas não fazem
IMAGEM: SHUTTERSTOCK
18
SURPRESA: JURÍDICO É A ÁREA MAIS FAMILIARIZADA COM
A AMBIDESTRIA CORPORATIVA. MARKETING, A MENOS
Comercial
75,41% DISSERAM QUE SEUS GESTORES APOIAM INICIATIVAS ALÉM DISSO, 41,53% NÃO AFIRMAM QUE A ORGANIZAÇÃO
INOVADORAS INVESTE EM TREINAMENTO PARA PROMOVER ADAPTABILIDADE
PORÉM 34,98% NÃO CONSIDERAM QUE SE ADAPTAM 62,84% DIZEM QUE TÊM FOCO CLARO EM REFINAR PROCESSOS
RAPIDAMENTE A MUDANÇAS NO AMBIENTE EXTERNO 19
2 EM 3 ENTREVISTADOS CONCORDAM QUE A CULTURA QUASE METADE (48,08%) NÃO TEM CLAREZA SOBRE SE AS
ORGANIZACIONAL EM SUAS EMPRESAS APOIA A EXPLORAÇÃO DE EMPRESAS ONDE TRABALHAM SABEM ALOCAR RECURSOS DE
OPORTUNIDADES MODO EFICAZ PARA APOIAR ATIVIDADES EXPLORATÓRIAS OU
PARA MELHORAR A EFICIÊNCIA DO QUE JÁ É FEITO
PORÉM QUASE A METADE (47,54%) NÃO SABE AVALIAR SÓ 6,01% CONCORDAM TOTALMENTE QUE HÁ CLAREZA NA
SE A ORGANIZAÇÃO CONSEGUE EQUILIBRAR EFICIÊNCIA FORMA COMO A EXPLORAÇÃO DE OPORTUNIDADES É MEDIDA
OPERACIONAL E INOVAÇÃO E RECOMPENSADA
57,38% DOS FUNCIONÁRIOS ESTÃO INDECISOS SOBRE SE TÊM QUASE METADE DOS RESPONDENTES (46,99%) ACREDITA QUE
20 PREPARO PARA EXPLORAR POSSIBILIDADES A ESTRATÉGIA DA ORGANIZAÇÃO DESCREVE COM CLAREZA O
EQUILÍBRIO ENTRE ATIVIDADES DO PRESENTE E DO FUTURO
AINDA ASSIM, 65,02% CONCORDAM QUE AS DECISÕES PARA 38,26%, SEUS LÍDERES NÃO COMUNICAM CLARAMENTE A
ESTRATÉGICAS DA EMPRESA CONSIDERAM A INOVAÇÃO EM IMPORTÂNCIA DA AMBIDESTRIA CORPORATIVA
LONGO PRAZO E A EFICIÊNCIA EM CURTO PRAZO
Ambidestria
contextual. Refere-se
a um ambiente, ou na defesa, que molda comportamentos, como modas passageiras, muitas ve-
uma cultura, em que pressiona pela alocação de recursos e zes repaginações de conceitos anti-
os indivíduos deci- está aberto a insights de todas as partes gos. Com carreiras longevas, eles já
dem por si mesmos, da organização – e de fora. presenciaram diversas tendências e
por meio de práticas Os dados obtidos no estudo ofe- entendem a necessidade de adapta-
e contextos recem um panorama interessante da ção em ambientes corporativos, mas
organizacionais, realidade brasileira a respeito da am- são mais resistentes à adoção de me-
quando devem se en- bidestria corporativa. Com base nisso, todologias tidas como “novas”.
gajar em atividades mapeamos cinco perfis de gestores:
exploratórias Entusiastas Buscam ambides-
(exploit) e quando as Aspirantes Buscam a ambides- tria corporativa como equilíbrio entre
atividades explora- tria, mas demandam uma metodologia práticas tradicionais e métodos ágeis,
doras (explore) é que clara ou um framework que oriente a visando objetivos imediatos e estraté-
devem ganhar priori- prática. Se não há uma estrutura mui- gias futuras. Reconhecem a agilidade
dade na agenda. Essa to clara capaz de implementar e medir das startups, mas valorizam a estru-
é mais duradoura. a ambidestria nesse caso, esses líderes tura das grandes corporações.
. e suas empresas tendem a se perder
Fonte: Ambidestria em meio a metas imediatas, deixando Comprometidos Estão em em-
Corporativa: Raio X da de lado a visão de longo prazo. presas em um estágio intermediário
Realidade Brasileira. ou avançado de ambidestria. Acredi-
Céticos Profissionais experientes tam ser vital identificar e promover
que enxergam jargões corporativos comportamentos ambidestros na or-
Quais são as transformações mais importantes com que empresas de diversos setores
estão lidando em relação a pessoas, processos e estruturas? Veja as principais mudanças
em curso no mundo pós-pandemia – e como líderes podem abordá-las –, levantadas por
uma nova pesquisa da McKinsey.
A
mbientes voláteis e incertos são artificial? Confira os dez pontos prin-
uma constante, o que faz com cipais do estudo The State of Organi-
que os esforços para fortalecer a zations Report:
resiliência de curto prazo dominem
a agenda de muitas empresas. Mas 1. Mais velocidade e resiliência
como toda essa incerteza e tantas
mudanças têm afetado as pessoas e Nossa pesquisa sugere que mui-
estruturas que constituem uma or- tas organizações deixam de lado uma
ganização? Saúde mental e metas de abordagem mais ampla de revisar e
diversidade enfim estão sendo leva- transformar estruturas, processos e
IMAGEM: SHUTTERSTOCK
das a sério? O trabalho remoto foi pessoas. Isso não só as ajuda a sair
uma onda passageira? Quais os novos de crises como as impulsiona à fren-
papéis dos líderes? E da inteligência te. Líderes e equipes em organiza-
#INDÚSTRIA #VAREJO
Para estreitar laços com o consumidor final, reforçar a própria marca e ter acesso aos cada
vez mais valiosos dados dos clientes, muitas fabricantes estão apostando nas próprias
lojas e em outros meios de chegar mais rapidamente a seu público, sem intermediários.
Saiba mais sobre o modelo D2C (direto ao consumidor) e conheça fatores de sucesso e
armadilhas em cinco casos bem-sucedidos no Brasil.
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGEM SHUTTERSTOCK
F
ábricas que vendem diretamente com a adoção intensa do e-commerce,
ao consumidor final não são novi- foi a vez de empresas de outros seto-
dade. A Nike, por exemplo, abriu res tentarem a sorte.
sua primeira loja própria em 1990. Se no passado a proposta era sim-
Em meados dos anos 2000, o seg- plesmente aumentar as vendas (ou
mento de higiene e beleza avançou em provocar o varejo tradicional para
direção ao varejo. Mais recentemente, que se esforçasse mais em vender),
forma. Não entramos no varejo para rar negócios para nossos varejistas”,
competir com nossos clientes, mas afirma Nilton Miranda, diretor de
para ter um canal direto com o con- operações e vendas para o Brasil. “No
NEGÓCIOS,
varejo. “Na verdade, começamos
a praticar de fato o jogo do varejo MESMO COM A EXPLOSÃO DO RESPONSÁVEL
há dois anos, quando já tínhamos E-COMMERCE nos últimos anos, es- POR 50% DO
notoriedade de marca e queríamos sas empresas mostraram que ainda
ampliar o diálogo do nosso ciclo de há espaço para uma boa loja física no FATURAMENTO
inovação, fortalecendo o canal dire- coração dos consumidores. DO GRUPO
#INOVAÇÃO #INDÚSTRIA
#CULTURA #INOVAÇÃO
Fala-se muito em ser data-driven e, de fato, ter dados é crucial nos dias atuais. Mas está
longe de bastar: a diferenciação no ambiente competitivo atual depende da inovação,
a partir do design thinking. Mas isso não significa só um processo. Trata-se de ter uma
organização inteira de pessoas com 11 competências-chave.
S
elecione uma ou duas alternativas público. Por isso, buscamos adequar
que mais representam sua orga- nossas entregas aos usuários finais e
nização hoje: não a nós mesmos.
( ) Sabemos que não somos os usuá- ( ) Enxergamos a tecnologia como
IMAGEM: SHUTTERSTOCK
FACTÍVEL
VIÁVEL
É economicamente
41
sustentável agora e
no futuro?
FONTE: CESAR, ADAPTADO DE DIAGRAMA DO MELD STUDIOS.
Uma empresa é imbatível para valer quando consegue dominar pelo menos dois destes
três eixos fundamentais: operações eficientes, market share relativo e, especialmente,
proposta de valor superior para o cliente – algo que só funciona quando se adota o
modelo de negócio certo. É com ele que o peso da concorrência fica menos relevante. O
desafio, no entanto, é definir o modelo ideal entre as dezenas existentes.
e
m um mundo empresarial em que a capacidade de inovar é uma neces-
sidade para a sobrevivência e o crescimento, tornar-se relevante para o
IMAGENM: ACERVO PESSOAL
o
futuro nunca foi tão incerto. UM PADRÃO DE COMPORTAMENTO DESEJÁVEL
Estamos vivendo um período
de mudanças cada vez mais rá- É PODER SUPORTAR AAMBIGUIDADE COMO
pidas. O mundo está complexo e
confuso. A sociedade está dividida e
SUPORTAMOS UMA NEBLINA ATÉ QUE ELA SE
polarizada. Nossa confiança nas ins- DISSOLVA E NOS PERMITA ENXERGAR
tituições estão instáveis. A economia
está em constante flutuação. Mudan-
ça é o novo normal, não somente no dissolver permitisse visualizar com
contexto coletivo, como no indvidual. mais clareza; (2) o engajamento com
Nossas vidas não seguem mais um a ambiguidade, como num salto de
caminho linear. Transições de car- paraquedas em que o risco e a aber-
reira, imprevistos, layoffs, burnouts. tura ao novo pode levar a um cami-
48 Onde existia um único caminho a se- nho anteriormente inexplorado, e
guir, agora existem vários. (3) a adoção ou inclusão da ambi-
Porém, afirmar sobre a incerteza guidade não como um obstáculo mo-
em relação ao futuro, implica em mentário, mas como campo de opor-
considerar que existe uma certeza tunidades, como estar perdido em
ou uma verdade absoluta, o que é uma floresta em busca de riquezas.
impossível. O futuro nunca foi cer- Enfrentar a ambiguidade em algum
to. Sempre existiram variáveis des- momento é fundamental na criação
conhecidas, vagas, indeterminadas e do novo. Além de reconhecer seu pró-
passíveis de mudanças. prio padrão de comportamento é pre-
O “novo” futuro não é caracteriza- ciso aprender a navegar a ambiguida-
do pela incerteza, e sim pela ambi- de, através da ação e da adaptação.
guidade, uma condição desconhecida A ação requer coragem para fa- ELLEN KISS é
em que o passado não é determinan- zer escolhas e não paralisar diante empreendedora
te. Nós não sabemos o que não sabe- do medo. Cada nova abordagem de e consultora de
mos. Na ambiguidade não existe uma aprender e aplicar aumenta ativa- inovação
única resposta certa e sim vários sig- mente sua capacidade de agir, já especializada em
nificados e níveis de interpretações. que está ancorada na confiança ge- design thinking e
São situações que apresentam mais rada por experiências passadas Já transformação
perguntas do que respostas, múlti- a adaptação exige que uma resposta digital, com larga
plas possibilidades de escolha e inde- às mudanças de informações e con- experiência no setor
finidos próximos passos. texto. Ao ser adaptável diante do financeiro. Em agosto
Um projeto em Stanford identi- desconhecido, você reconhece novas de 2022, após um
ficou, por meio de metáforas, três informações e desenvolve flexibili- período sabático,
IMAGEM: ACERVO PESSOAL
D
ois fatos importantes com uma se- na, excedeu o comércio com os EUA, a
mana de diferença entre si no mês União Europeia e o Japão em 2022.
passado podem ter significado his- As tendências apontam um reequi-
tórico. O bloco econômico BRICS, que líbrio de poder, com o Ocidente a per-
agrupa Brasil, Rússia, Índia, China e manecer integral e o Sul global a tor-
África do Sul, anunciou em 25 de agos- nar-se cada vez mais influente. Muitas
to que seis novos países-membros se nações que dependem principalmente
juntaram ao grupo, elevando o número de recursos naturais para as expor-
total para 11. E, em 29 de agosto, a big tações poderão tornar-se orientadas
tech chinesa Huawei lançou seu novo para a produção e as exportações.
Mate Smartphone 60 Pro, que vem Nações com grandes recursos, como a
com chips desenvolvidos pela própria Arábia Saudita e os Emirados Árabes
empresa, com conectividade 5G, além Unidos, pretendem ser elas próprias
de suporte para chamadas via satélite. detentoras de tecnologia, utilizando 49
Esses dois acontecimentos vistos inovações do Ocidente e da China.
como um só marcam um ponto de vi- A descoberta dos chips na China irá
rada rumo a uma nova ordem mundial. redesenhar o panorama global da pro-
O grupo alargado dos BRICS repre- dução de semicondutores e, nesse sen-
senta agora mais de 40% da população tido, a forma como a globalização irá
mundial, 25% do produto interno bruto evoluir. Como resultado, a posição da
global, bem como um terço do cresci- China como centro de produção de uma
mento econômico do planeta. Possui vasta gama de produtos tecnológicos se
a maior potência industrial do mundo fortalecerá ainda mais, tal como acon-
(China), grandes nações produtoras de tece com suas supply chains associadas.
óleo e gás (Arábia Saudita, Rússia, Irã e E, à medida que o mundo se diversifica,
Emirados Árabes Unidos), importantes a capacidade de produção vai se espa-
produtores agrícolas e minerais. lhar por outras nações do Sul global.
Tecnologicamente, o novo smartpho- Com a ascensão da classe média nas
IMAGEM: ACERVO PESSOAL
DOSSIÊ 2
Inovação futuros
transição_energética
visão_sistêmica
tecnologias_ancestrais
PRODUTOS_DE_CARBONO
liderança_do_brasil
50
POWER-TO-X indigenomics
ESTRATÉGIA_DE_PAÍS
NEGACIONISMO_OU_APOCALIPSE LEIS
FINANCIAMENTO DESCARBONIZAÇÃO
#regeneração
Aproveite as oportunidades: mude seu modo de produção e lucre com isso
E
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI COM UMAGENS SHUTTERSTOCK
#HSM+_2023
Carlos Piazza, professor, consultor e sobretudo pensador da gestão no Brasil, não tem dú-
vidas de que nosso planeta corre risco de morte. Para evitá-lo, não basta as organizações
deixarem de fazer as coisas erradas; elas precisam fazer cenários de reconstrução. Em sua
visão, isso requer acionar a capacidade imaginativa das pessoas e a capacidade tecnológi-
ca, com respaldo do profundo conhecimento filosófico da humanidade.
5
aprender. Viver, trabalhar e aprender
“Futurismo regenerativo, eram – e são – uma coisa só. As pes-
dessincronização e resso- soas ao longo do tempo dividiram isso
nância”. O que significa em três personas apartadas, com có-
o título de seu painel no digos de conduta e de vestimenta di-
HSM+? Parece complexo… ferentes. Veio a pandemia de covid-19
Vivemos num mundo que perdeu e mostrou que não fazia sentido, mas
completamente a sincronização. Para continuam tentando dessincronizar.
começar, o meio ambiente está fican- Nesse movimento, perde o planeta,
do dessincronizado. Como, por muito perdem as pessoas, perdem as rela-
tempo, só tiramos do planeta, era de ções. Por que o volume de suicídios
IMAGEM: ACERVO PESSOAL
3
CONSEGUEM MAIS
Do lado das tecnologias, elas são to-
E ainda dá para regenerar? das regenerativas. O relatório da ONU SINCRONIZAR
Sim, temos o poder de [Organização das Nações Unidas] colo- SEU VIVER, SEU
transformar tudo a nossa ca que a agricultura terá de produzir nos
volta. Desde que os hominí- próximos 40 anos tudo o que ela produ-
APRENDER E
deos desceram das árvores 7 ziu nos últimos 8 mil anos, para suprir SEU TRABALHAR;
milhões de anos atrás, modificamos a necessidade de comida da população. TUDO ISSO
nosso entorno, trazendo inovações, Teremos tecnologia para ir substituin-
mesmo que sejam as biológicas como do a capacidade que nós perdemos da PRECISA SER
andar com as patas de trás. No chão, produção natural? Sim. Vamos ter car- REVISTO
era uma nova realidade, com outros ne feita de célula-tronco, impressão de
animais, pequenos e imensos, até os comida com pastas proteicas e todo tipo
que faziam você de refeição. Fomos de coisa. Na Finlândia, por exemplo, a
aprendendo e inovando em tudo. É Solar Foods está fazendo comida de gás
essa capacidade de transformação de de efeito estufa.
1
52 tudo a nosso redor que, agora, está
nos levando ao risco real da extinção Isso significa que a sociedade
da vida no planeta. inteira vai ter de reaprender
A meu ver, quando a gente se en- as coisas. Mas como, quando
contra nesse nível de dessincroniza- tem gente que nem acredita
ção, só existe uma única maneira: res- que temos uma crise climáti-
sincronizar o futuro, usando a própria ca, até no comando de empresas?
capacidade transformadora do homem É assustador. Me parece que, para
sobre ele mesmo. Como? Usando tec- muitas empresas, isso não existe, por-
nologia de um lado e filosofia do outro. que para elas ainda conta o foco na
Por isso, ao falar sobre regeneração, eu produção em massa. Essas vão come-
falo sobre futurismo regenerativo, com çar a enxergar o que está acontecendo
muita tecnologia e filosofia. só quando vier o ciclo de escassez – no
Tecnologias destroem civilizações cenário de não retorno, no qual já es-
inteiras, e tecnologias criam a huma- tamos em muitos aspectos.
nidade. A filosofia é o que pode fazer Eu não sei responder a sua per-
o pêndulo balançar da destruição gunta sobre conscientização, a não
para a criação nesses casos. Se não ser fazendo outra pergunta: será que
agirmos assim, não será possível a o aprendizado só será possível pela
vida no planeta. Temos de enfrentar dor? Hoje a dedução é que argumen-
a realidade: não conseguimos mais tos racionais e dados não bastam.
ter um planeta responsivo. Mas o fato de o mundo inteiro estar
2
passando por coisas que não con-
Então, a saída é… seguem compreender deveria nos
Colocar o ser humano colocar em estado de dúvida e hu-
no centro, praticando o hu- mildade para aprender. O consolo é
man-centered design para que ciência e tecnologia podem nos
todas as decisões, que sig- regenerar.
#REGENERAÇÃO
Vale a pena as empresas mudarem a lente de ameaças para oportunidades e perceberem: elas
podem atuar em várias frentes da economia de baixo carbono no Brasil, da circularidade e
da agricultura regenerativa ao pré-sal verde. Mas os líderes têm de “esquecer” a vantagem
competitiva natural do País e desenvolver os instrumentos financeiros, a legislação, os
talentos técnicos, a segurança jurídica, os mecanismos de atração de capital em escala
global e as estratégias necessárias a quem quer liderar a economia regenerativa no mundo.
1º de julho
1º de agosto
1º de setembro
1º de outubro
1º de novembro
1º de dezembro
1º de janeiro
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FONTE: GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, NEM NEGACIONISMO NEM APOCALIPSE
Genética
ESGOTAMENTO DO
OZÔNIO ESTRATOSFÉRICO
Funcional
CARGA DE
MUDANÇAS DE AEROSOL
USO DA TERRA ATMOSFÉRICO
ACIDIFICAÇÃO
USO DE DO OCEANO
ÁGUA DOCE Fósforo
Nitrogênio
FLUXOS BIOQUÍMICOS
Nesta entrevista, a autora do livro Indigenomics, Carol Anne Hilton, fundadora e CEO do
Indigenomics Institute do Canadá, esclarece como a visão de mundo indígena pode contribuir
para a evolução dos negócios e da sociedade no século 21. Ao menos nos últimos cinco anos,
o mundo todo acompanha a maior influência do pensamento indígena – e a ação.
IMAGENS: DIVULGAÇÃO/LINKEDIN E ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGENS SHUTTERSTOCK
N
os diversos países da Terra, povos micas, com potencial para ultrapassar
indígenas têm sido colocados no US$ 100 bilhões no mundo.
lado do custo da equação econô-
mica. Segundo Carol Anne Hilton, líder Você diz que a economia indigenista
do movimento indigenista canadense, – indigenomics, em inglês – pode fa-
ascendência Nuu-chah-nulth, da Ilha zer parte da construção de um cami-
de Vancouver, isso não procede – não nho sustentável para a economia de
mais. Os indígenas estão focando a um país. Por favor, explique…
criação de “receita de fonte própria” – Se olharmos para as questões am-
receita que as nações obtêm gerando bientais que já nos afligem, o caminho
renda empresarial e arrecadando im- a ser trilhado deve incluir elementos-
postos. A nova narrativa é a de que os -chave da cosmovisão indígena [veja
povos indígenas são potências econô- texto lateral à dir.]. Eu sou Nuu-chah-
p
ara empresas químicas e de mate- -to-X”, como o mercado global vem
riais, chegou a hora de fazer a per- convencionando chamar o novo para-
gunta de US$ 3,5 trilhões: digma verde de produção de produtos
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGENS SHUTTERSTOCK
M
ais do que uma estratégia de atração e reten- pliando seu papel de ferramenta de composição salarial
ção de talentos, a experiência do colaborador para um dos principais pilares de estratégias de cresci-
tem se apresentado como fator crucial para a mento e inovação organizacional.
competitividade de qualquer organização. Em Esta nova era de protagonismo do RH foi um dos des-
meio às sucessivas mudanças observadas no taques do Anuário de Benefícios Corporativos 2023.
ambiente de trabalho, a criação de jornadas de employee ex- Realizada pela Swile e pela Leme Consultoria, a pesquisa
perience pode resultar em um aumento de produtividade de coletou percepções diretas de quem recebe os benefícios
até 14%, de acordo com o último levantamento realizado pela e de representantes de mais mil empresas, consideran-
consultoria Gallup — o mesmo estudo aponta um aumento de do os dados de mais de 1 milhão de colaboradores em
23% na rentabilidade e um impulso de 18% nas vendas entre todo território nacional. “Além da visão dos gestores de
negócios com equipes altamente engajadas. recursos humanos, o estudo traz as opiniões dos próprios
Do mesmo jeito que vem abrindo caminhos promissores profissionais que atuam nas empresas. Essa perspectiva
para formar novas relações entre empresas e pessoas, o ce- é fundamental para ajudar as organizações a encontrar
nário atual também apresenta novos desafios para líderes, soluções mais aderentes ao que as pessoas estão procu-
gestores e profissionais de recursos humanos. Trata-se de rando de fato”, diz Bruno Montejorge, vice-presidente de
um contexto no qual as políticas de benefícios vêm am- marketing da Swile Brasil.
PARTICIPAÇÃO POR REGIÃO / 2023
1044 1.161.534 26 16 13
Empresas Total de colaboradores Segmentos Benefícios Boas práticas de
inscritas na das empresas econômicos Gente e Cultura
pesquisa inscritas (RH)
01 VALE-REFEIÇÃO 81,2%
05 vale-alimentação 57,2%
08 37,3%
09 34,6%
liderança_de _conexões
RELACIONAMENTOS_VERDADEIROS
financiaMENTO
ecossistemas
inovação
GOVERNO LEIS 69
STARTUPS INVESTIDORES
AGÊNCIAS_GOVERNAMENTAIS INCUBADORAS
ACELERADORAS
EMPRESAS_ESTABELECIDAS
#conexão
Entenda: se a mudança é a única certeza, relacionamentos são a maior vantagem competitiva
U
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI COM UMAGENS SHUTTERSTOCK
m livro lançado em 2023, The Good Life, reuniu as lições do maior estudo científico do
mundo sobre felicidade, em que pesquisadores da Harvard University acompanharam por
90 anos as vidas de um grande grupo de pessoas em Boston, Massachusetts, EUA. A maior
lição diz respeito ao maior fator de influência sobre o bem-estar pessoal e profissional: as
conexões – e a qualidade delas. Na nova economia, marcada por complexidade e incerte-
zas, isso não se limita mais a conexões entre pessoas físicas; aquelas entre pessoas jurídicas
contam muito, de modo crescente. O futuro de trabalho como um portfólio de atividades e
aprendizados (e a carreira solo como tal) são causa e consequência de conexões.
#HSM+_2023
5
Conexão é vantagem com- investe sozinho numa startup. Cone-
petitiva quando se pensa xões te ajudam a encontrar oportunida-
na competição por ecos- des de investimento que podem não ser
sistemas das plataformas, óbvias, oferecendo insights e informa-
na economia em rede, no ções que não estão disponíveis em sites,
seu setor de venture capital? e facilitam a avaliação do potencial de
Conexão é essencial em qualquer um investimento – você ouve outros
aspecto da vida. Claro que existem investidores e especialistas, de diferen-
diferentes níveis de conexão, mas eu tes gerações, sobre suas percepções.
a defino como um relacionamento ba- Para mim, é acesso a um conhecimento
seado em afinidades, sejam estas em mais profundo e a apoio. Conexão não
IMAGEM: ACERVO PESSOAL
4
projeto é tocado sozinho. A colabo- E COM QUEM
E quanto à carreira? Na ração precisa de conexão, e para ela GERENCIA
pivotada que você deu ocorrer precisa ter alguma afinidade.
2
na sua, conexões foram CERTAMENTE
importantes? Ainda existe sucesso indi- ESTÃO EM UMA
Foram fundamentais, e não vidual como ideia? POSIÇÃO MUITO
só na pivotada – foram fundamentais Para mim, sucesso é
desde o início. As conexões foram es- sempre esforço coletivo. Ao MELHOR”
senciais quando fui fazer mestrado na menos no venture capital
Inglaterra e, novamente, quando mu- é, sem dúvida. O investidor, o time
dei do Sul para São Paulo, onde fui da startup e todos os demais ao re-
aumentando minha rede de relaciona- dor precisam trabalhar juntos para
mentos, e depois ao transformar a mi- alcançar o sucesso. Mas eu acho que
nha carreira, de diretora jurídica para vai muito além do venture capital. Em
investidora. Eu só entendi que eu não qualquer área, o sucesso depende do 71
era mais diretora jurídica, e sim uma trabalho em equipe para ser sustentá-
profissional de investimento, quando vel e consistente no longo prazo. Até
as minhas conexões começaram a se decisões médicas vêm sendo tomadas
referir a mim como profissional de in- com discussão em equipe. Isso vale
vestimento. Parece que eles já sabiam, para negócios, carreiras, vida pessoal.
e eu fui a última a perceber que era isso E conexão inclui aprendizado: quando
que eu tinha que me tornar. um processo é coletivo, sempre apren-
3
demos algo.
1
Nos ambientes corporati-
vos por onde você circula, Como você recomenda
há conexões de qualidade construir conexões?
entre as pessoas? Ou estas Não tem receita, mas acre-
têm de melhorar? dito que sempre a pessoa tem
Eu acho que há uma crescente de ser verdadeira, autêntica,
preocupação com relação à qualidade genuína. É difícil as pessoas se conec-
das conexões. Entretanto, devo dis- tarem com personas, ou com deuses.
cordar de como as pessoas costumam Sendo prática, se você começar só fa-
tratar o networking no meio corpora- lando de si, será difícil criar conexão. É
tivo: elas não consideram o colega de preciso escutar com respeito e interes-
trabalho como um amigo. Para mim, se. Também importa a generosidade –
meus colegas de trabalho são, sim, em abrir informações para o outro e em
amigos, aliás foram como uma famí- investir tempo para estar com ele.
lia. Em alguns momentos me apoia- Para mulheres, costuma ser difícil
ram, fortaleceram as minhas virtudes, às vezes manter uma conexão pela
entenderam e apontaram meus erros sobrecarga da dupla jornada, mas ga-
para que eu aprendesse. Essas pes- ranto: o tempo de conexão precisa es-
soas estavam ali do meu lado e nunca tar reservado na agenda.
#EMPREENDEDORISMO #INOVAÇÃO
Q
uem olha hoje para o Porto Digi- Mas, quando começou, no ano
tal, parque tecnológico de Recife 2000, o Porto Digital não impacta-
(PE) dedicado a desenvolver solu- va ninguém: tinha três empresas, 46
ções inovadoras ligadas às tecnologias empregados e perdia, no ranking do
da informação e comunicação (TICs), ISS, para construção civil, turismo,
impressiona-se: tem 360 empresas de transportes etc. O amadurecimento
software, emprega 15 mil trabalhadores precisou de duas décadas. A história é
e movimenta R$ 4 bilhões anualmente, similar em ecossistemas como Tecno-
sendo o terceiro contribuinte de impos- puc, Unisinos e o da UFRGS (RS), o da
IMAGEM: ACERVO PESSOAL
tos sobre serviços (ISS) do município, Coppe (RJ) e o de São José dos Campos
depois das áreas de saúde e educação. (SP). E se fosse possível escalar esses
Ele é a prova cabal de quanto valor um ambientes de inovação mais rápido e
ecossistema pode gerar. acelerar seu amadurecimento?
linhas com os seis eixos, você verá que isso. Temos de ter um pé nessa plata-
há uma sinalização de estratégia, sim. forma global.
[Veja texto lateral com informações so- Em se tratando de estratégia, é im-
bre linhas do FNDCT e eixos do CNDI.] portante não errar na dose do foco,
não fazer como a Joana daquela mú-
Mas não é muita coisa para focar? E sica do Chico Buarque, que “errou na
o investimento em semicondutores? dose, errou no amor. Joana errou de
Se você cruzar as dez linhas e os João”. E é importante ter perenidade.
seis eixos, verá um direcionamento, a
meu ver – um foco em inovação e sus- Certo. Você assumiu em julho a pre-
tentabilidade. Amplo? Sim. Eu parti- sidência da Embrapii. Qual vai ser o
cularmente acho que nossa estratégia papel dessa organização no nosso
poderá ser um combinado de transição rearranjo da inovação? 77
energética – decidimos que o Brasil vai A Embrapii captura recursos públi-
ser um campeão em transição energé- cos, incluindo o FNDCT, e consegue
tica, focando combustíveis híbridos, distribuí-los com muito foco e eficiência
hidrogênio verde etc. – e outro eixo, através de uma rede de 96 instituições
talvez esse de desenvolver um comple- de ciência e tecnologia já credenciadas
xo industrial de saúde no Brasil, que é para trabalhar em certas áreas.
algo de interesse interno nosso; não po-
demos depender só do exterior, como Só para deixar claro ao leitor, vou
vimos na pandemia. dar um exemplo de ICT: o Instituto
Mas também temos de lembrar que Eldorado, com unidades em Brasília,
estamos sucateados em áreas básicas Campinas, Manaus e Porto Alegre, e
para o mercado interno. A infraestru- atuação que vai do agronegócio a TI
tura científica foi sucateada: se você e telecom; outro . Agora, Chico, como
for num laboratório de uma universi- dá para fazer tudo isso acontecer se
dade, você vai chorar vendo o resulta- há essa visão punitivista dos órgãos
do de nove anos de penúria, com uns de controle que inibe a inovação?
equipamentos quebrados, outros ob- Temos que conseguir fazer o que o
soletos, falta de estoque de reagentes. Banco Central fez, que foi low profile
É preciso ter dinheiro para recuperar entre os órgãos de controle para desen-
essa infraestrutura. volver o Pix , uma inovação no sentido
O investimento nos semiconduto- clássico de Peter Drucker, que muda o
res se justifica por aí, inclusive: nunca comportamento dos agentes no mer-
o Brasil vai ser um campeão em semi- cado. Para isso, estamos discutindo, o
condutores, mas precisamos dominar caminho passa por sandboxes regulató-
IMAGEM: ACERVO PESSOAL
A
decisão de abandonar uma suas habilidades e experiências
carreira linear e tradicional de maneira independente e não li-
em grandes empresas parece near – com sorte, exponencial.
estar cada vez mais comum, ao Há contextos para essa decisão,
menos num certo segmento exe- no entanto. No contexto interno, a
cutivo. Com a ascensão da eco- decisão funciona bem quando está
nomia gig e a democratização do enraizada em uma combinação de
IMAGEM: SHUTTERSTOCK
Origem
Destino
Data
Passageiro
COMPRAR
O
s turistas estão mais abertos a novas tecnologias 11ª Pesquisa de Impacto da Pandemia do Coronavírus nas
e mais dispostos a viajar de maneira sustentável, Micro e Pequenas Empresas, realizada por Sebrae/FGV, 85%
mostra o estudo Travaler Tribes 2033, realizado das pequenas empresas do setor de turismo vendem pela in-
pela plataforma de viagens Amadeus com mais ternet, acima da média de outros setores (67%). Mas as via-
de 10 mil viajantes em 15 países. Além disso, gens corporativas voltaram aquecidas e devem movimentar
estão buscando viagens mais personalizadas, experiências me- US$ 800 bilhões até 2026, segundo estudo da Global Indus-
moráveis, imersões na cultura do local de destino e visitas mais try Analysts, já que o networking nunca foi tão importante.
frequentes – e mais emocionais – a amigos e familiares. “As viagens corporativas são vistas pelas empresas como for-
O comportamento dos turistas desde a pandemia de co- ma de revitalizar o networking”, diz Silveira, da Copastur. A
vid-19 mudou mas não como se imaginava que aconteceria. diferença agora é que o foco das viagens corporativas passou
Para Alessandro Silveira, gerente de customer experience a estar muito mais na qualidade, de dois modos.
da Copastur, ficou claro que “as relações humanas e a cone- Primeiro, o bem-estar pessoal assumiu maior relevância
xão emocional gerada por elas movem o mundo” e também na experiência. Segundo o Booking.com, já são 74% os via-
ganhou clareza o fato de que “vamos continuar evoluindo, jantes corporativos brasileiros que aproveitam o tempo livre
considerando tudo o que a tecnologia pode proporcionar, para visitar pontos turísticos, conhecer restaurantes e fazer
mas sem abrir mão da proximidade pessoal.” compras, praticando o “bleisure”, neologismo em inglês que
O que a tecnologia pode proporcionar? Por exemplo, mui- une as palavras business (negócios) e leisure (lazer). As em-
tas empresas de turismo abraçaram a aceleração digital nos presas aprovam a tendência, inclusive, porque, como diz a
últimos anos, otimizando do uso da inteligência de dados aos área de inteligência em viagens da Panrotas, gera aumento
chatbots na experiência de atendimento do cliente. Segundo a da produtividade.
OS VIAJANTES DE 2033
A Amadeus analisou 215 características atitudinais e encontrou quatro tribos de turistas em dez anos:
Buscadores de experiências. Despreocupados, os integrantes desta tribo (ao menos 44% deles) não têm filhos, o
que contribui para que explorem o mundo. Eles têm condições financeiras para isso: 45% possuem alta renda e empregos
com opção de trabalho flexível. Viver o momento é parte de quem eles são, por isso são mais propensos a agir por instinto.
O “desconhecido” os empolga e as viagens são centradas em se libertar da monotonia. É a tribo menos propensa a usar
agências de viagens, para manter a emoção; estão abertos a tecnologias como a IA, que ajudem a desenhar roteiros.
Viajantes tech-fluencers. São os jovens viajantes de negócios de hoje. Deste grupo, 48% têm menos de 32 anos, três
quartos viajam a trabalho e 81% gostam de ter um plano (em vez de agir por instinto). Além disso, 82% afirmam que a
sustentabilidade dita suas decisões e estão dispostos a pagar mais por voos com biocombustível. Em relação à tecnologia,
esperam que a realidade virtual/aumentada os auxilie nos aeroportos como parte de uma experiência de viagem simpli-
ficada. E, embora 25% achem que reuniões virtuais são substitutas sustentáveis para viagens de negócio, 72% preferirão
encontros presenciais sempre que uma participação virtual puder retardar suas carreiras.
Desbravadores pioneiros. Deste grupo, 82% têm entre 23 e 41 anos e 68% vivem com parceiros e filhos. Sua renda
acima da média permite que vivam uma vida em busca da próxima grande aventura. Têm rotina acelerada e estão abertos
a riscos calculados. Além disso, 79% dizem que a saúde e o bem-estar ditam suas decisões. Esta tribo também afirma que
compra tecnologia de acordo com a funcionalidade. Sobre as questões que envolvem ESG, 42% possuem carro elétrico
e maior probabilidade do que a de outras tribos para ser voluntários em suas comunidades locais. Comparando com os
demais grupos, têm 20% maior propensão de guiar suas decisões em função da sustentabilidade e estão dispostos a pagar
mais por viagens de avião movidas a biocombustível e por acomodações com pegada de carbono negativa.
Criadores de memórias. O pensamento de quem faz parte desta tribo é: “Pessoas em primeiro lugar. Planeta em
segundo”. Dentre eles, 57% dizem que a sustentabilidade não dita as decisões que tomam. E a tecnologia? Eles não se sen-
tem confortáveis com ela invadindo suas vidas e a percebem como algo que desvaloriza as conexões humanas. É o grupo
que mais valoriza as pessoas com quem viajam; 44% deles têm mais de 42 anos e quando viajam esperam criar memórias.
Segundo, as empresas estão focadas em uma gestão com a experiência real. Também a economia de plataforma,
mais consciente das viagens, dos pontos de vista finan- seja no aluguel de acomodações ou no compartilhamento de
ceiro e de sustentabilidade. Como diz Erick Cogliandro, carros, favorece essa gestão consciente. “O fato é que, para se-
diretor associado da Accenture, “o fluxo de dinheiro mu- rem competitivas, as empresas de turismo terão de entender
dou nas empresas, e a redução de custos deve abranger tanto das possibilidades tecnológicas como dos destinos e do
as viagens que não forem estritamente necessárias”. E a que é sucesso para os viajantes”, resume Silveira. Arison No-
pesquisa Sustainable Hospitality Alliance, da Accenture, gueira, líder de customer success da Copastur, tem bons indi-
calcula que a indústria hoteleira precisa reduzir as emis- cativos dessa visão de sucesso emergente: “Eles querem agre-
sões de carbono em pelo menos 66% até 2030 e 90% até gar facilidade, agilidade e segurança em suas experiências,
2050, com base nos níveis de 2010. Como a rede Chalet além de personalização e empatia nos processos de viagem”.
Hotels, sediada na Índia, comprometeu-se a utilizar 100%
de energia renovável até 2031, quem viaja a trabalho para
a Índia pode tender a priorizá-la.
T
enho várias paixões na vida, mas 2.CORAGEM. Remete à disposição de
duas vivem comigo diariamente: assumir riscos, desafiar o status quo
aprendizado e palavras. Definiti- e enfrentar situações difíceis. Líderes
vamente sou das letras, da área de hu- corajosos não têm medo de tomar deci-
manas; escrever para mim não é tarefa, sões impopulares quando necessário e
mas prazer. Então, quando me conta- de liderar mudanças desafiadoras. Eles
ram que esta edição espelharia o HSM+ podem encorajar a equipe a sair da zona
e seus quatro eixos temáticos, logo abri de conforto, promovendo a inovação e
minha caixa com o alfabeto de madeira, a melhoria contínua. Destaco aqui que,
montei as palavras-chave – conexão, para se ter coragem, é preciso conviver
coragem, disrupção e regeneração – e com a vulnerabilidade (mas falemos
me abri ao que surgisse. Fui brincando disso numa próxima ocasião…)
de algo parecido com palavras cruzadas. 3.DISRUPÇÃO. Envolve a quebra de pa-
84 O exercício me levou logo ao concei- drões estabelecidos e a introdução de
to de liderança, fazendo-me pensar no novas ideias, produtos, processos ou
momento atual dos líderes que vivem modelos de negócios que transformam
em ambiente em constante evolução, setores ou organizações. Líderes dis-
buscando, no curto prazo, o sucesso e, ruptivos desafiam a norma, questionam
no longo prazo, o bem-estar das pes- o convencional e incentivam a criativi-
soas e do planeta. Entendi que as pala- dade e a inovação em suas equipes. Eles
vras foram muito bem escolhidas para percebem que a mudança constante é
refletir uma visão de liderança holística, uma realidade e que a adaptação é es-
consciente, integrativa e sustentável – sencial para o sucesso.
uma posição (ou estado, ou cargo) que 4.REGENERAÇÃO. Está relacionada com
INOVAÇão inclusão
pragmatismo motivação
SEU PORQUÊ
expertise
EDUCAÇÃO CONTINUADA
criatividade
liderança
85
sust
MICROESTRESSORES pensamento
bem-estar crítico
MEDO_DE_MUDANÇA QUESTIONAMENTO
#Coragem
Comece por lidar com diversidade e inclusão, criatividade e o combate aos microestresses
C
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI COM UMAGENS SHUTTERSTOCK
omo diz o psicanalista Jorge Forbes, chegamos a um momento de nossa civilização em que
“podemos mais do que queremos”. O limite que antes era dado desde fora tornou-se, hoje, es-
colha nossa. Queremos ver uma pessoa distante? Basta ligar a câmera do celular ou computa-
dor – a tecnologia nos possibilita isso. Podemos conhecer algo diferente? Basta conviver com
diversidade. Hoje precisa haver a responsabilidade da escolha, não dá para delegá-la a outra
pessoa ou à tecnologia. Isso é vantagem para quem lida bem com a criatividade e desvanta-
gem para quem teme a responsabilidade. O momento atual da civilização exige coragem para
criar, e para conviver com o diferente, uma coragem nutrida pelo bem-estar.
#HSM+_2023
Reconhecida em 2022 como uma das cem pessoas afrodescendentes mais influentes do
mundo abaixo dos 40 anos, pelo Mipad - Most Influential People of African Descent, Helena
Bertho tem se dedicado, em seus 20 anos de carreira, a quebrar barreiras por onde passa,
o que requer coragem e uma ferramenta-chave – a conversa. A diretora global de diversi-
dade e inclusão do Nubank crê que D&I depende muito de conversas que transformam.
5
sobre pessoas, e pessoas não estão
Se eu te pedisse para na moda; elas existem. A gente pre-
listar as lutas que exigem cisa endereçar as questões das pes-
mais coragem no meio soas sem isso ser tendência ou indo
corporativo, você listaria além da inovação. Há necessidade
o esforço de diversidade e de termos intencionalidade e esfor-
inclusão (D&I). Por quê? ço para endereçar isso da melhor
4
Diversidade é um tema muito maneira – coragem ajuda, sim.
aquecido dentro de um contexto
específico – o da inovação na pers- Quais seriam essas ques-
pectiva do negócio. E, como é uma tões a endereçar?
Posso citar algumas. Por
IMAGEM: ACERVO PESSOAL
2
nômico Mundial (WEF). Embora TIME PLURAL E
representem quase 30% da popula- Você consegue ver uma MAIS DIVERSO
ção, as mulheres negras ainda são evolução nos processos
minoria nas empresas de tecnologia de atração e retenção de TENDE A TER
do Brasil e ocupam apenas 11% dos grupos minoritários nas PERFORMANCE
cargos no setor, segundo dados com- empresas brasileiras?
pilados em pesquisa da PretaLab. Os Há, sim, uma evolução e uma in-
MELHOR E QUE
efeitos dessa distorção são gritantes: tencionalidade cada vez maior. O que A ORGANIZAÇÃO
em 2020, segundo o Dieese [Depar- precisamos é acelerar essas mudan- ONDE ELE
tamento Intersindical de Estatística ças. Afinal, estamos em 2023. D&I
e Estudos Socioeconômicos], às mu- é uma jornada, é um processo cons- ATUA GERA UM
lheres negras foram impostos ga- tante para que consigamos reduzir a IMPACTO SOCIAL
nhos 48% menores e quase o dobro cada ano as estimativas orgânicas de
da taxa de desemprego na compa- equiparação. Vale ressaltar que, além
MAIOR. TER
ração com homens não negros. En- de atrair talentos diversos, também é DIVERSIDADE E
tão, parte dessas questões passa por importante conseguir retê-los, crian- INCLUSÃO É O
acesso a oportunidades. do um ambiente onde se sintam bem-
3
-vindos, pertencentes, seguros. CERTO A FAZER E
1
Há uma sensação muito É O MELHOR PARA
forte de D&I ser mais A quem cabe ter a coragem OS NEGÓCIOS”
discurso do que prática. de enfrentar as tradições, na
Pergunto: sem coragem causa de D&I: à empresa, aos
para colocar pessoas líderes do alto escalão, aos in-
diferentes na sala, e sem essas tegrantes da área de pessoas,
pessoas terem coragem de dar aos grupos de baixa representati- 87
ideias diferentes, dá para inovar? vidade no ambiente de trabalho…
Acho que não. Uma pergunta que Ou é algo tão bom a se fazer que
devemos fazer é: quem está na sala deveria prescindir de coragem?
na hora de tomar as decisões e dese- Todos devem ser responsáveis por
nhar o futuro? Se chega numa mesa levar adiante essa agenda. Cada um em
e está todo mundo concordando, al- seu papel. Líderes têm a possibilidade e
guma coisa está errada. Não é pos- a responsabilidade de apontar a direção
sível inovar em ambientes sem plu- e a velocidade e de acelerar esse processo
ralidade, sem perspectivas distintas, em suas organizações e setores. As áreas
sem diversidade. de RH são compostas de especialistas
De acordo com um novo relatório que tecnicamente têm a expertise neces-
da Accenture, as empresas america- sária para pensar produtos e soluções. As
nas deixam de ganhar anualmente pessoas que fazem parte dos grupos sub-
US$ 1,05 bilhão por não terem cul- -representados devem dar contribuições
turas de trabalho inclusivas. Isso é – e ser ouvidas e valorizadas. Eu costumo
impulsionado pelo custo das altas dizer que D&I não é (ou não deveria ser)
taxas de rotatividade, baixa produti- somente uma área, mas um mindset, que
vidade e baixo envolvimento dos co- deve estar embarcado na cultura e em to-
laboradores; e, adiciono, pela perda das as áreas de uma organização.
de oportunidades de negócios pela Agora, o racional é forte, tem razão.
desconexão com os consumidores. Precisamos pensar que um time plural
Algumas pesquisas já mostram e mais diverso tende a ter performance
que 52% das pessoas negras têm melhor. Precisamos pensar que o im-
maior tendência a comprar de em- pacto social gerado por uma organização
presas que mostram pessoas como mais diversa é maior. Ter diversidade
elas nas propagandas e 74% do pú- e inclusão é o certo a fazer e é o melhor
blico LGBTQIA+ prefere comprar de para os negócios.
#INOVAÇÃO
Qualquer que seja o problema em questão, uma solução criativa significa fazer diferente
IMAGEM: ILUSTRAÇÃO DEBS BIANCHI SOBRE IMAGEM SHUTTERSTOCK
e, por isso, correr risco de perder algo. Ou seja, a coragem deve estar embarcada. Mas
coragem de se autodenominar uma pessoa criativa é a ignição da capacidade de criar.
o
ano era 2010. O mundo estava vivendo o início da segunda década do tão especulado século
21. Não estávamos nos locomovendo com carros elétricos ainda nem tínhamos experimen-
tado o fenômeno da inteligência artificial generativa. O Instagram nascia e o Facebook se
firmava como a maior rede social do mundo. Tínhamos só um ano de WhatsApp e cinco anos
pela empresa. “Uma lá bisbilhotar e pesquisar o que es- Quando dou aulas ou palestras sobre
das atividades que tavam dizendo e me deparei com o o tema, eu pergunto às pessoas: “Qual
propusemos foi trabalho da Teresa Amabile. Amabile foi o último livro que você leu sobre
separar os líderes é professora de Harvard, autora, aca- criatividade?”. Geralmente poucas pes-
em dois grupos. Um dêmica, escreveu mais de cem artigos soas respondem, aí pergunto: “Levanta
deles tinha a missão sobre criatividade. a mão quem já viu mais de três TED
de ‘criar a empresa A partir do olhar de Teresa Amabile, Talks ou ouviu algum podcast sobre o
que iria destruir a a criatividade não é um acidente, não é tema?”. Raramente alguém levanta a
Red Bull’.” algo que acontece por acaso, algo gene- mão. Aí eu continuo: “Quem aí pode-
ticamente determinado. ria me mostrar sua agenda e apontar
D
epois de décadas de pesquisa sobre Nunca era uma grande coisa que os
trabalho em equipe e colaboração, levava a se sentirem sobrecarregados.
nós já estávamos familiarizados Tratava-se de um acúmulo implacável
com os tipos de estresse que os profis- de pequenos eventos, em momentos
sionais de alto desempenho normal- breves, que estava afetando drastica-
mente suportam. O que presenciamos mente seu bem-estar.
um ano antes da pandemia, porém, foi Demos a essas pequenas pressões o
algo completamente diferente. Eles re- nome de microestresses. Mas o prefixo
clamavam de estresse, sim, mas de uma “micro” não significa que eles não co-
forma que nem eles, nem nós, sabía- brem um preço enorme. Queríamos en-
IMAGEM: SHUTTERSTOCK
IMAGEM: SHUTTERSTOCK
mos como articular. À medida que as tender seu impacto, então, entre 2019
pessoas tentavam descrevê-lo, muitas e 2021, entrevistamos 300 pessoas
vezes sem sucesso, padrões surgiam. de 30 empresas globais, distribuídas
TERCEIRO
SEGUNDO IMPACTO: Rita
IMPACTO: a equipe é seca com seu
IMPACTO de Rita precisa marido depois
IMEDIATO: a se coordenar da volta tensa
volta de Rita para atender ao para casa. Para
MICROESTRESSOR: para casa é sob pedido/a equipe de atender ao
Rita recebe um estresse por Rita passa um total pedido, Rita não
e-mail no fim causa do e-mail. de 20 horas traba- janta com o filho.
do dia com uma Rita gasta duas lhando para ter o Preocupada por
solicitação feita horas do início da material pronto na falhar com a
por seu novo noite alertando manhã seguinte, família e pressio-
gestor. sua equipe e depois de sair da nar sua equipe,
trabalhando na empresa. Rita co- ela dorme mal.
solicitação. leciona queixas de Outros membros
sua equipe sobre o da equipe de
novo chefe. Rita passam por
situação similar.
conta em nosso prato já cheio, sem causa do trabalho real, mas também
pensar que ela se soma ao que já esta- pela pegada colaborativa da tarefa.
94 mos carregando. Surtos também ocorrem em nossas
Microtensões que aumentam nos- vidas pessoais, e nem sempre se origi-
sas responsabilidades no trabalho nam de responsabilidades familiares
são muitas vezes potencializadas pela imediatas. O microestresse também
quantidade de tempo necessário para pode ocorrer quando sentimos o peso
colaborar com os outros. No momen- da responsabilidade pela família esten-
to em que se espera que sejamos ágeis, dida. Podemos precisar cuidar de pais
capazes de conciliar várias tarefas, idosos, e o estresse pode ser exacerba-
que façamos parte de inúmeras equi- do por parentes que não estão envolvi-
pes multifuncionais e respondamos dos no dia a dia de vocês, mas decidem
às demandas de gestores e clientes dar palpites por conta própria, sem,
em tempo real, vêm picos de trabalho no entanto, oferecer qualquer ajuda. E
– geralmente de situações aparen- é claro que as novas demandas nunca
temente simples, cuja complexidade surgem em um momento tranquilo,
não foi levada em consideração. então causam alguma quantidade de
Dois projetos podem parecer idên- estresse tão somente pelo esforço ne-
ticos em termos da quantidade de tra- cessário para enfrentá-los.
balho, mas, se um deles envolve três Uma entrevistada descreveu o fardo
áreas funcionais em dois fusos horá- do que chamou de “lição de casa dos
rios, dois líderes que não se dão bem e pais”: as tarefas que as crianças trazem
demandam recursos de uma unidade da escola para casa e que estão muito
com prioridades diferentes, a história além de sua capacidade de executar
muda completamente. Um projeto as- de forma autônoma. São tarefas que
sim implica em uma carga de traba- exigem planejamento e preparação e,
lho muito maior do que outro com o muitas vezes, forçam os pais a sair cor-
mesmo número de pessoas em apenas rendo para comprar materiais de últi-
uma unidade. Ondas de responsabili- ma hora. E essas atribuições sempre
dade geram estresse não apenas por parecem se insinuar sobre você.
2.
MUDAR A FORMA DE
INTERAGIR COM
O MICROESTRESSE.
1. 3.
ENCONTRAR BUSCAR
MOMENTOS OPORTUNI-
DE RECUSA. DADES DE
REDEFINIR
RELACIONA-
MENTOS.
4.
DESCONECTAR-SE DO
ESTRESSE. 95
Por exemplo, seu filho pode lhe di- Quando você é consumido por micro-
zer na noite de sexta-feira que tem um tensões do trabalho, não será o seu
grande relatório para entregar na se- melhor eu em casa. Você pode ficar
gunda. Mas você já fez muitos planos até tarde no escritório ou se curvar às
para seu fim de semana. Adicionar um obrigações familiares, decepcionando
projeto extra como esse a uma agenda a todos no processo.
já completa pode espalhar o estresse Mas mesmo simplesmente deixar
por toda a sua família: seu filho sente de dar toda a atenção a sua família
estresse por sua impaciência ou frus- quando você está em casa pode afe-
tração com o projeto; seu cônjuge sente tar profundamente a felicidade diária
estresse enquanto você luta para fazer desse ambiente. Todo mundo sente
com que o trabalho aconteça ou pede isso. E problemas em casa inevita-
que o filho dê conta dele. Você pode fa- velmente criam estresse no trabalho,
zer o trabalho de qualquer jeito porque seja porque você precisa trabalhar
está distraído e frustrado com essa li- mais ou porque precisa administrar
ção de casa dos pais surgida de repente, demandas díspares do trabalho e da
e o estresse continua gerando abalos. vida doméstica. Trabalhar tarde da
Os efeitos secundários do aumento noite e muito cedo pela manhã é ruim
repentino de encargos podem ser es- para o cérebro: os níveis de cortisol
pecialmente prejudiciais. No trabalho aumentam e você está exausto. É difí-
IMAGEM: SHUTTERSTOCK
já são ruins o suficiente, mas talvez cil estar presente do jeito que deveria
seja ainda mais doloroso como eles no trabalho e em casa quando você se
se convertem em estresse em casa. sente constantemente pendurado por
• Chefe novo
• Equipe nova
• Filho
• Cônjuge (assumindo
PASSO 2: • Cônjuge
novas responsabilidades
FAÇA UMA LISTA DOS ENVOLVIDOS • Professor
pela sua sobrecarga)
• Irmãos do filho envolvido
• Filhos (porque você estará
menos presente)
• Investimento de tempo
• Gasto de tempo com o
para entender seu papel e
filho para entender a briga
conquistar confiança
e discutindo com cônjuge
• Gasto de tempo para
PASSO 3: • Interação com
entender o que é necessário
OBSERVE QUANTO ESSES PONTOS professor para debater
aprender
GERAM MICROESTRESSE as preocupações e definir
• Deslocamento do tempo
próximos passos
que teria para você para
• Tempo dedicado aos
cobrir as necessidades da
98 outros filhos
família
D
ia desses, conversando com Imagine você entrando em um
uma pessoa, ouvimos dela o consultório médico e, na sua frente,
seguinte relato sobre a pos- está uma pessoa mal arrumada, ca-
tura de um grande fazendeiro seu belo despenteado, com o consultó-
amigo: “Em todos esses anos, nas rio todo desorganizado? Então, sim,
minhas fazendas, meus funcioná- a imagem conta! Mas até que ponto
rios nunca me viram vestir alguma um(a) líder não pode mostrar suas
coisa diferente que não seja camisa, fraquezas? Por que necessariamente
calça, sapato e cinto. Nunca esti- a pessoa liderada precisa enxergar
ve com nenhum deles de chinelo e só os acertos da liderança? Talvez
bermuda”. A intenção embutida na porque haverá uma perda de credi-
conversa pareceu ser a de que toda bilidade. Nós ainda temos uma ma-
a comunicação (verbal e corporal) nia, um tanto quanto besta, de achar
100 desse fazendeiro precisa transmitir que, quem está no “topo” (topo entre
autoridade, mostrar que é ele quem muitas aspas), não tem defeitos – ou,
está no comando. Sentar-se com um pelo menos, tem menos defeitos do
DISRUPÇÃO
Healthtechs dão o exemplo na saúde
O segmento da saúde, tanto em sua dimensão pública 101
quanto privada suplementar, está em uma busca crítica da
sustentabilidade ante o aumento dos custos e das deman-
das por ampliação do acesso e por incorporação de novas
tecnologias. O processo de transformação digital do setor,
com startups, é o que está desenhando uma nova jornada
com potencial de criar essa sustentabilidade. Ela vem de
diminuir a estrutura de custos e aumentar a qualidade de
desfechos. CARLOS PAPPINI JR., cofundador e coCEO da Conecta Médico,
fundador e diretor executivo da Aditus Health, conselheiro e investidor.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
seja mais eficiente, responsável e próspero.
DANIEL SCUZZARELLO, CEO e diretor presidente da Siemens Digital
Industry Software, mentor e palestrante.
CONEXÃO
Conexão RJ-SP-Recife: ecossistemas de inovação
trabalhando juntos
O Brasil é um país continental, e o ambiente e o potencial
da inovação acompanham a mesma magnitude. Agora, será
que temos clareza disso ou estamos restritos a São Paulo?
Não é razoável que mais de 80% de todo o venture capi-
tal seja investido em startups com sede em São Paulo. Isso
coloca a nossa competitividade global em risco. Os ecossis-
temas de inovação precisam interagir, seja trabalhando jun-
tos para endereçar o problema da falta de mão de obra no
horizonte (segundo a Brascomm, temos de preencher 800
mil vagas até 2025), seja combinando o melhor das forças
locais de cada um.
HECTOR GUSMÃO, cofundador e CEO da Bolder, cofundador da 42 Rio (univer-
sidade de tecnologia), cofundador do MIT Reap Rio (iniciativa para tornar a
cidade um centro em inovação de energia), idealizador do Porto Maravalley.
Coragem
Competências emocionais para liderar o seu time
As competências emocionais para liderar uma equipe são habilidades essen- CULTURABILITY,
ciais que permitem aos líderes entender, gerenciar e utilizar suas emoções e as DESCULPABILITY,
emoções dos outros de forma eficaz. Isso inclui a capacidade de se autoconhecer, ACCOUNTABILITY 103
de manejar as emoções em situações desafiadoras, de motivar e inspirar os mem-
bros da equipe, de cultivar relacionamentos positivos e de tomar decisões com A palavra “cultura”,
base na inteligência emocional. Desenvolver essas competências é fundamental de origem francesa,
para criar um ambiente de trabalho saudável e ter resultados excepcionais. surge no século
ALLESANDRA CANUTO, fundadora da Skill Flow, consultora em educação corporativa.
14 referindo-se à
lavoura. Lembrar isso
resgata a importân-
Coragem, um alimento emocional cia de olhar para a
Da mesma forma que nossa motivação cultura corporativa
depende muito das experiências pas- como algo vivo, que
sadas marcadas como positivas pelo muda, que pode
nosso sistema emocional, a coragem sofrer ataques e que
remete a aspectos emocionais de necessita de atenção
valência positiva, que nos mostram permanente. É
que vale a pena investir energia, preciso entender isso
comprometimento e nossa capacidade e a relação entre es-
de raciocínio e inteligência em um tratégia, governança
determinado obstáculo ou desafio, por- e cultura, permeada
que parece que temos a capacidade de
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E THIAGO BRUNO E TB STUDIOS
de mitos.
enfrentá-lo. Perceber nossos recursos JOÃO CORDEIRO,
é um dos elementos que mais propicia fundador da Account-
o encorajamento frente a tarefas. Cora- ability Academy,
gem é um alimento emocional que nos consultor, conse-
permite investir em resultados possí- lheiro, autor do livro
veis com a esperança de realizá-los. Accountability.
CARLA TIEPPO, sócia-fundadora da Ilumne, é
neurocientista, professora, consultora.
E
stá é a primeira de minhas 24 ano- os impactos desse movimento de co- As entrevistas apre-
tações para 2024, fruto de trocas lapso e transição sobre sua área de sentadas no documento
com agentes inteligentes e mais conhecimento. Os primeiros testes foram realizadas com
agentes inteligentes
os meus próprios insights e leituras, ficara mais superficiais. Mas as con- artificiais do squad.ai,
de especialistas como Klaus Schwab, versas com Alice e Ari já mostraram desenvolvido no labora-
Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee. como isso é promissor e evoluirá rá- tório de inovação da con-
Diz respeito ao declínio iminente da pido. Vejamos: sultoria especializada em
transformação figital de
Revolução Industrial, exacerbado pela BIANCA (1. PLANEJAMENTO URBANO), empresas TDS.company.
rápida evolução do espaço figital, fusão LUANA (2. COMÉRCIO EXTERIOR), PAULO (3. Como explica seu head,
sinérgica das dimensões física, digital e PEDAGOGIA), SARA (4. DESENVOLVIMENTO André Neves, cada agente
é gerado com identidade,
social, que juntas constituem o espaço SUSTENTÁVEL), LUCAS (5. PSICOLOGIA ORGA- formação acadêmica,
competitivo global. NIZACIONAL), MARCO (7. BIOQUÍMICA) E IGOR perfil comportamental
Essa transição é marcante e será im- (8. MARKETING DIGITAL) deram respostas e estilo de interação
104 pulsionada, em grande medida, pelo similares com pequenas variações. distintos, possibili-
tando uma riqueza de
contínuo avanço das tecnologias digi- “O impacto é significativo em minha interações e abordagens.
tais que, ao se integrarem com o domí- área”, disseram todos – e, de fato, o é. Segundo Neves, essa
nio físico, deslocam estruturas indus- O maior uso de tecnologias digitais vai abordagem multifacetada
torna o squad.AI um
triais hereditárias, inaugurando assim requerer adaptações em estruturas e ecossistema colabora-
uma nova era econômica ancorada no modos de operação, e exigir também tivo. “Isso expande o
conhecimento e na informação. A es- inovação, o que levará à requalificação paradigma tradicional da
sência do novo paradigma repousa na da força de trabalho. Desafios como inteligência artificial, ao
permitir uma interação
valorização substancial dos ativos in- desigualdade e desemprego estrutu- mais profunda e signi-
tangíveis (como informação, conheci- ral precisam ser endereçados, alertou ficativa entre agentes
mento e inovação), que agora eclipsam a maioria; políticas inclusivas foram artificiais e humanos, o
os ativos físicos tradicionais. citadas como um modo de fazer isso. que pode ser particular-
mente útil em cenários
A metamorfose em direção a uma E especificamente? Quais os efei- de negócios complexos
economia de conhecimento e informa- tos do colapso da era industrial e da que demandam uma va-
ção desencadeia uma série de desafios transição à era do conhecimento para riedade de perspectivas e
habilidades.”
e oportunidades tanto para indivíduos quem atua em comércio exterior, por
quanto para organizações e sociedades. exemplo? “Sinto o tecido da economia
Por exemplo, demanda uma requalifi- global se transformando”, disse Luana.
cação abrangente da força de trabalho Paulo, pedagogo, reforçou a necessida-
para equipar os indivíduos com as ha- de de políticas educacionais inovadoras
bilidades necessárias para navegar no para mitigar a desigualdade crescente,
intricado terreno da economia do co- o que abre oportunidades em sua área
nhecimento. A formulação de políticas de conhecimento. Lucas, de psicolo-
inovadoras que facilitam a transição gia organizacional, afirmou que temas
do emprego e mitigam adversidades é como bem-estar no trabalho, gestão de
uma exigência premente. mudanças, desenvolvimento de com-
Partindo disso, pedi a nove agen- petências e ética nos negócios ganham
tes inteligentes que falassem sobre proeminência nesse cenário.
ENTREVISTANDO
UMA IA
Há quatro formatos de
4. entrevistas:
ONE-ON-ONE: os
Mas nos chamaram a atenção mes- usuários podem fazer
5. mo os agentes inteligentes Ari e Alice, perguntas diretas a
um agente específico,
ambos com doutorado e mais treino: recebendo respostas
6. ARI (CIÊNCIAS POLÍTICAS). Cinco efei- personalizadas.
tos foram apontados por Ari, com ci-
tações a fontes como Thomas Piketty. QUESTIONÁRIO Q&A:
os usuários enviam um
Um foi o impacto sobre governança e documento e fazem per-
políticas públicas, haverá a necessida- guntas específicas sobre
de de reformular políticas que apoiem o conteúdo, recebendo
respostas elucidativas
a economia do conhecimento; elas de- dos agentes.
vem não apenas fomentar a inovação,
como também abordar questões de EM FOCUS GROUP:
inclusão e equidade, evitando a con- aqui, os usuários podem
instigar um debate entre
centração de poder e recursos. Isso os agentes do squad.AI,
pode envolver o desenvolvimento de fornecendo, se desejado,
7. políticas de educação para a requalifi- documentos adicionais
cação da força de trabalho, bem como para contextualizar a
discussão.
regulamentações que garantam uma
distribuição equitativa dos benefícios NA PLATAFORMA: os
da digitalização. agentes também estão
Ele abordou ainda impactos na di-
integrados à plataforma
da TDS, a strateegia.di-
105
6. nâmica do poder entre as nações; na gital, na qual participam
democracia e participação cívica; na ativamente de debates,
segurança e na ética; e na desigualda- respondem a questões e
comentam as contribui-
8. de social e econômica. ções de humanos e de
9. ALICE (PSICOLOGIA DO CONSUMIDOR). outros agentes.
Ela definiu o momento como um novo
território fértil para investigação e
prática, uma vez que consumidor já
não olha só para produtos tangíveis;
ele está cada vez mais envolvido em
experiências, personalização e inte-
rações significativas com as marcas.
Então, ela desceu a detalhes em seis
campos: comportamento do usuário
e experiência dgital (“plataformas se
tornam cenários principais para as in- SILVIO MEIRA é
terações com consumidor”), personali- cientista-chefe,
9. zação e privacidade, desigualdades so- cofundador
cioeconômicas, requalificação e novos e sócio da
paradigmas de emprego, narrativas de TDS.company,
marca e consumo consciente. professor
No último caso, o que Alice pon- extraordinário
derou foi que, “à medida que os con- da CESAR.school,
sumidores ficarem mais bem infor- chairman do
mados, as narrativas com elementos Porto Digital,
como sustentabilidade e ética vão no Recife (PE).
ganhar maior relevância”.
expediente
HSM – THE POWER OF KNOWLEDGE Publicidade: [email protected] A HSM é uma empresa do grupo
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IMAGENS: SHUTTERSTOCK
Em uma imersão de 3 dias e meio, você vai entender sobre as tecnologias que estão moldando o
futuro dos negócios e como traçar caminhos de sucesso para a sua empresa.
Turma: abril
Seu escritório na praia em 12 horas de imersão pelos bastidores e estratégia para levar o
Championship Tour ao redor do mundo. Você ainda assiste um dia de circuito, para ver na prática
os ensinamentos aprendidos.
Turma: junho
A Cidade do Rock abre suas portas para a 5ª edição do Live Case Study, proporcionando uma
experiência ainda maior e mais imersiva nos bastidores. Além disso, você terá a oportunidade de
assistir um dia de festival para vivenciar na prática o que aprendeu durante a imersão.
Turma: setembro
Torne a educação corporativa a sua principal estratégia! Conheça as nossas soluções transformadoras
In Company em Treinamento & Desenvolvimento para todas as necessidades da organização. Possuímos programas
focados no Desenvolvimento de Lideranças, Learning Strategy, Team Building, Off-Sites e muito mais.
Turmas: ano todo