TRIBUNAIS - Aplicacao Da Lei Penal
TRIBUNAIS - Aplicacao Da Lei Penal
TRIBUNAIS - Aplicacao Da Lei Penal
1) Tipo aberto:
OBS: Para não ofender o principio da legalidade, a redação típica do tipo aberto deve trazer o
mínimo de determinação.
Mas existem exceções. Existem casos em que o legislador já anuncia quais os comportamentos
caracterizados de culpa.
Ex: receptação culposa
Art 180, § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço,
ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso.
Também é uma lei penal incompleta, mas aqui o complemento é dado por outra norma
(complemento normativo).
Se essa outra norma for diferente de lei, teremos uma norma penal em branco em sentido
estrito. Se a outra norma for lei temos uma norma penal em branco em sentido amplo.
O complemento da norma penal em branco ao revés deve ser necessariamente fornecido por
lei, em respeito ao princípio da legalidade.
Ex: lei de genocídio -> o conteúdo é completo, mas remete às penas do código penal. A pena é
incompleta, ela precisa de complementação.
Como decorrência do principio da legalidade, aplica-se em regra a lei penal vigente quando da
realização do fato criminoso. Excepcionalmente, no entanto, será permitida a retroatividade da
lei penal, desde que benéfica ao réu.
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado.
É no momento da conduta que tem que estar presentes todos os substratos do crime.
Ex: Indivíduo era menor no momento da conduta e maior no momento do resultado. Aplica-se
o ECA ou o CP? Vai ser aplicado o ECA, porque é o momento da conduta que define o tempo do
crime.
O momento do crime também é importante para saber qual a lei vigente, que vai acompanhar
o fato até a sentença transitada em julgado (salvo se sobrevier uma lei mais benéfica).
2 – “Lex Gravior”: Se no momento da conduta o fato era típico e vem uma lei mais grave,
aumentando a pena, ela também não poderá retroagir. A lei anterior será “ultra-ativa” para os
fatos praticados durante a sua vigência.
Ex: Prazo prescricional para crimes com pena inferior a 1 ano era de 2 anos, e depois de 2010
passou a ser de 3 anos -> só se aplica para os fatos posteriores.
OBS: No caso de crimes permanentes ou continuados, a lei penal será aplicada se entrar em
vigor antes de cessar a continuidade ou permanência (Sumula 711 do STF).
3 – “Abolitio criminis”: Se no momento da conduta o fato era típico e deixou de ser típico, a lei
posterior descriminalizadora será retroativa, pois é mais benéfica.
Ex: adultério, que deixou de ser crime pela L11106.
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando
em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
OBS: a reincidência é um efeito penal que desaparece com a abolitio criminis, mas o dever de
reparação do dano permanece, pois trata-se de um efeito extrapenal (a abolitio criminis, frise-
se, só cessa os efeitos PENAIS).
4 – “Lex mitior” ou “novatio legis im mellius”: Se o fato era típico e lei posterior tornou a situação
menos grave (Ex: diminuição de pena ou de prazo prescricional), também haverá retroatividade.
Art 2º, Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos
fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
Depois do transito em julgado, quem é o juiz competente para aplicar a lei mais benéfica?
De acordo com a súmula 611 do STF, é o juiz da execução.
5 - Se no momento da conduta o fato era típico e uma nova lei apenas migra o conteúdo
criminoso para outro tipo penal, teremos a aplicação do principio da continuidade normativo-
típica.
Ex: antes da L12015 tínhamos o estupro e o atentado violento ao pudor. A nova lei migrou o
atentado violento ao pudor para o artigo 213, que hoje pune a conduta de “constranger alguém
a ter conjunção carnal”.
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Esse princípio não se confunde com a “abolitio criminis”, em que o fato deixa de ser criminoso.
Na continuidade normativo-típica o fato continua sendo criminoso, mas em outro tipo penal,
com outra “roupagem”. Assim, o atentado violento ao pudor não foi descriminalizado, estando
apenas enquadrado em outro artigo.
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas
as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência
São leis ultra-ativas, pois serão aplicadas ainda que não estejam mais em vigor.
Lei temporária é aquela instituída por um prazo determinado. É uma lei que tem prefixado no
texto o seu lapso de vigência.
Ex: “esta lei tem validade de janeiro de 2010 a dezembro de 2013”
Lei excepcional é aquela editada em função de algum evento transitório. Ela perdura enquanto
persistir o estado de emergência.
Ex: estado de guerra ou epidemia
Se a pessoa pratica um crime na vigência da lei temporária ou excepcional, vai responder por
esse crime. A lei, para o infrator, será ultra-ativa.
Exemplo:
Lei A no momento da conduta estabelecia pena de 1 a 4 anos
Durante o processo vem uma lei B mais benéfica, estabelecendo pena de 6 meses a 2 anos.
E depois ainda vem uma lei C, mais grave, estabelecendo pena de 2 a 5 anos.
Essa lei intermediária mais benéfica (lei B) tem duplo efeito:
- Quando revoga a lei A, ela é retroativa, para atingir os fatos praticados na vigência da Lei A.
- Quando é revogada pela lei C, é ultra-ativa. Os fatos praticados durante sua vigência
continuarão tendo a pena de 6 meses a 2 anos, por ser uma lei mais benéfica.
O estudo da lei penal no espaço visa aferir as fronteiras de atuação da lei penal nacional,
buscando resolver conflitos internacionais de jurisdição.
Nesse ponto estuda-se qual o país que irá aplicar a sua lei penal ao fato.
Ex: americano mata um holandês no Brasil => 3 países tem interesse.
Quais as regras que existem para solucionar esse aparente conflito internacional de
jurisdição?
1 - Princípio da territorialidade: aplica-se a lei penal do local do crime. Aqui não importa a
nacionalidade dos envolvidos ou o bem jurídico tutelado, mas sim o território do crime.
Ex: americano mata um holandês no Brasil -> segundo esse principio, aplica-se a lei penal
brasileira, que é o local do crime.
4 – Princípio da defesa (ou real): aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico lesado.
Aqui não importa o local do crime ou a nacionalidade dos indivíduos.
Ex: servidor português do executivo brasileiro que está na Argentina e pratica um crime de
corrupção contra a administração pública brasileira -> segundo esse principio, aplica-se a lei
penal brasileira, pois atentou contra um bem jurídico do Brasil.
5 – Princípio da justiça penal universal: o agente fica sujeito à lei penal do país em que foi
encontrado. Não importa o local do crime, a nacionalidade dos envolvidos ou do bem jurídico
tutelado. Este princípio está normalmente presente nos tratados internacionais de cooperação
na repressão de determinados delitos de alcance transnacional.
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.
Mas é um caso de territorialidade temperada, porque um crime pode ocorrer no Brasil e não ser
julgado pela lei brasileira, em virtude de tratados e convenções internacionais. E é possível ainda
que um crime ocorra no estrangeiro e a lei brasileira seja aplicável.
Portanto, é preciso saber até aonde vai o território nacional. Tal conceito abrange não só o
espaço geográfico (solo, subsolo, montanhas, mares etc), mas também o espaço jurídico fictício,
previsto no artigo 5º, §1º, que é considerado extensão do território brasileiro.
Art 5º, § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde
quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-
mar.
Art 5º, § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou
embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território
nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
OBS: Pelo princípio da reciprocidade, a lei brasileira não se aplica aos crimes praticados em
embarcações ou aeronaves públicas ou a serviço de governos estrangeiros.
Lugar do crime:
Tempo Teoria da
do Crime Atividade
Lugar do Teoria da
Crime Ubiquidade
OBS: Nos juizados especiais criminais (L9099), o legislador adotou a teoria da atividade, por força
do art. 63:
Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a
infração penal.
CRIMES À CRIMES
JECRIM
DISTÂNCIA PLURILOCAIS
• Teoria da • Teoria do • Teoria da
Ubiquidade Resultado Atividade
Nos casos de extraterritorialidade, o crime é cometido no estrangeiro, mas a lei brasileira será
aplicável, em situações excepcionais.
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; principio da justiça universal
b) praticados por brasileiro; principio da nacionalidade ativa
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. Principio da representação, no caso de
inécia
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou
condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes
condições:
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora
do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: extraterritorialidade
hipercondicionada
O princípio da territorialidade é a regra adotada pelo Brasil, como visto. Mas o ordenamento
jurídico brasileiro admite também a aplicação de outros princípios relativos à lei penal no
espaço, como o da justiça universal, da nacionalidade ativa e da representação. Tais princípios
atuam em nosso ordenamento para permitir a extraterritorialidade da lei penal.
- Incondicionada: nos casos do inciso I. Aqui o agente será punido pela lei brasileira ainda que
absolvido ou condenado no estrangeiro. (Ex: Tício mata o Presidente da República brasileiro,
quando o mesmo estava em uma missão na Alemanha).
- Condicionada: nos casos do inciso II. Aqui a lei brasileira só alcança tais casos se preenchidas
as seguintes condições:
(I) entrar o agente em território nacional;
(II) ser o fato punível também no pais em que foi praticado;
(III) estar o crime incluído nos casos em que o Brasil autoriza a extradição e
(IV) não ter sido o agente absolvido ou perdoado no estrangeiro (não estando extinta a
pena ou a punibilidade).
- Hipercondicionada: no caso do inciso III. Além das condições anteriores, precisa preencher
ainda mais 2 condições: requisição do ministro da justiça e não ter sido pedida ou negada a
extradição.
EXEMPLO:
Brasileiro, em Portugal, mata dolosamente um português e foge para o Brasil. A lei penal
brasileira alcança esse fato?
De acordo com o artigo 7º, II, “b”, sim. É um caso de extraterritorialidade condicionada, que
precisa cumprir as cinco condições:
. O agente fugiu pro território brasileiro, então a 1ª condição está presente.
. O homicídio também é crime em Portugal, então a 2ª condição está presente
. O crime incluído na lista de extradição;
. O brasileiro fugiu antes do fim das investigações, então não foi absolvido e nem cumpriu pena.
. Ele não foi perdoado e nem foi extinta punibilidade.
As 5 condições estão presentes, então a lei brasileira será aplicada nesse caso. E esse brasileiro
vai ser processado na justiça ESTADUAL, e não na federal, pois não há interesse da União
envolvido, de acordo com o artigo 109 da CRFB. A comarca competente, de acordo com o artigo
88 do CPP, será a capital do Estado onde houver por ultimo residido o acusado. Se nunca tiver
residido no país, será competente a capital da República.
Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo
crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.