PDF - Lei Penal No Tempo e No Espaço
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Anterioridade da Lei
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.
Por força da retroatividade benéfica, a nova lei irá retroagir em benefício de todos aqueles que estão
sendo acusados, processados ou mesmo cumprindo pena por aquela conduta criminosa.
As bancas costumam perguntar se também cessam os efeitos civis da sentença penal condenatória.
Entretanto, a abolitio criminis faz cessar apenas os efeitos PENAIS.
Portanto, digamos que numa conduta delituosa o autor foi submetido a uma sentença com efeitos
penais e cíveis (como indenizar a vítima, por exemplo). Mesmo com o advento da abolitio criminis em favor
do condenado, a indenização cível persistirá!
Outro ponto importante é o da reincidência. Caso o autor seja condenado, e a condenação transite em
julgado, em regra sabemos que numa próxima conduta delituosa, este deverá ser considerado reincidente.
Entretanto, se sobrevier a abolitio criminis pelo crime que este foi condenado, ele voltará a ser considerado
réu primário!
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se
aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.
Aplica-se a novatio legis in mellius aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória
transitada em julgado, sem que haja violação à regra constitucional da preservação da coisa julgada.
Aqui temos a aplicação da chamada teoria da ponderação concreta. Ou seja: Para saber qual lei é a mais
benéfica, deve ser avaliado o caso concreto.
O Juiz, no momento da aplicação da pena ou da medida penal para o caso concreto, se identificar que
há um conflito de leis, deverá analisar diante daquele caso qual lei é mais benéfica, e aplicá-la.
Também da mesma forma que a abolitio criminis, perceba que a novatio legis in mellius irá retroagir
para socorrer a todos os potenciais beneficiários: réus, acusados, investigados e condenados – inclusive com
trânsito em julgado de sua sentença.
Direito penal
Esquematizando:
Devem retroagir! Não podem retroagir.
Abolitio criminis Nova lei in mellius Novatio Legis in Pejus Novatio Legis
(Abolição do crime) (Lei nova mais (Lei nova mais severa Incriminadora
benéfica ou lex ou lex gravior)
mitior).
• Piora de alguma forma • Criminaliza uma
• Descriminaliza • Traz qualquer a situação do autor; conduta até então
uma conduta até benefício para o lícita.
então ilícita; autor; • É o oposto da novatio • É o oposto da
• É o oposto da • É o oposto da legis in mellius. abolitio criminis.
Novatio legis novatio legis in
Incriminadora. pejus.
• Previsto no artigo • Previsto no artigo
2º do CP. 2º do CP, parágrafo
único.
Direito penal
No caso acima, temos um fato praticado sob a vigência de uma lei penal mais gravosa.
Como uma nova lei, mais benéfica, entra em vigor após o fato criminoso (novatio legis in mellius),
ocorrerá a retroação em benefício do réu, que será apenado de forma mais branda do que a prevista
inicialmente.
Veja que este exemplo é exatamente o oposto do primeiro: Aqui o indivíduo praticou a
conduta criminosa sob a vigência de uma lei que lhe era mais benéfica. Entretanto, antes de ser
julgado, entrou em vigor uma lei mais gravosa (ocorreu novatio legis in pejus).
Direito penal
Nesse caso, o julgador não poderá aplicar a nova lei (visto que ela não pode retroagir em
prejuízo para afetar fatos praticados antes de sua vigência. Para resolver o problema, ocorre a
ultratividade da lei anterior, mais benéfica, em benefício do acusado.
Veja que se passaram três leis entre o fato criminoso e o julgamento do acusado. E que a lei
intermediária (vigente após a prática do fato criminoso, mas revogada antes do julgamento do autor)
é que era a mais benéfica para ele.
Neste caso, a lei terá de ultragir e retroagir simultaneamente. Irá ultragir para ser aplicada no
julgamento, após sua revogação, e retroagir para alcançar um fato praticado antes de sua vigência!
Tempo do crime
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda
que outro seja o momento do resultado.
Direito penal
Territorialidade
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de
direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
A territorialidade da lei penal é considerada RELATIVA. Veja que o próprio legislador já abriu
uma exceção (sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional).
Adotamos, no Brasil, o chamado princípio da TERRITORIALIDADE MITIGADA OU TEMPERADA
(Art. 5º CP).
• Aqui estamos falando da aplicabilidade da lei brasileira aos crimes praticados a bordo de
aeronaves ou embarcações ESTRANGEIRAS DE PROPRIEDADE PRIVADA, desde que seguindo as
condições citadas.
• Em relação as embarcações estrangeiras de natureza PUBLICA não se aplica lei brasileira!
Lugar do crime
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão,
no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Vejamos um exemplo que servirá muito bem para ilustrar o que estamos falando:
Um indivíduo implanta uma bomba em um avião Russo que o faz cair em solo egípcio.
Importante ressaltar que AMBOS os países serão considerados como lugar do crime, para
efeitos da aplicação da lei penal, pois o Código Penal admite tanto o local onde ocorreu a ação ou
omissão (local onde a bomba foi implantada no avião) quanto o local onde se produziu o resultado
(no qual a bomba explodiu).
E tem mais! Se o avião deveria pousar na Suécia, por exemplo, mas a bomba explodiu
antes da hora, o Código Penal Brasileiro também irá considerar a Suécia como um dos lugares do
crime – pois será o lugar onde deveria produzir-se o resultado!
Direito penal
Nas hipóteses acima, temos uma espécie de extraterritorialidade que não depende
de nenhuma outra condição. Assim, ocorrendo algum dos crimes listados no art. 7º, I do
Código Penal, a lei penal brasileira será aplicada, qualquer que seja o país onde ocorrer o
delito.
Tal questão é tão séria que mesmo que o indivíduo seja processado e condenado
ou absolvido no país estrangeiro, ainda estará sujeito à punição pela lei brasileira, por
expressa previsão legal:
§1º Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei
brasileira, ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro.
Direito penal
Acima temos as situações e crimes nos quais será possível a aplicação da lei penal
brasileira, desde que preenchidas algumas condições.
Logo, ao contrário do que ocorre na extraterritorialidade incondicionada, aqui não
bastará que ocorra a situação prevista no art. 7º, II. Devem ainda existir as premissas do §2º
para que possa ser aplicada a lei penal brasileira.
Para finalizar, é preciso ainda conhecer o § 3º deste artigo, que versa sobre uma
última hipótese de extraterritorialidade condicionada, chamada, por parte da doutrina, de
hipercondicionada:
§3º A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido
por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se,
reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
Assim, além das hipóteses previstas no §2º, existe ainda a hipótese de punição de
um estrangeiro que pratique um crime contra brasileiro, fora do Brasil.
Nesse caso, no entanto, além de respeitar ao que está previsto no § 2º, serão
necessárias mais duas condições: que não exista pedido de extradição para o autor, e que o
Ministro da Justiça requisite a aplicação da lei brasileira ao caso concreto.
Para que você entenda melhor: Imagine que um estrangeiro roube um brasileiro,
fora do Brasil. E que por algum motivo difícil de entender, resolva passar as férias aqui, no
que acaba sendo localizado pelas autoridades brasileiras.
Direito penal
Contagem de prazo
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e
os anos pelo calendário comum.
Frações não computáveis da pena
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as
frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.
Legislação especial
Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei
especial, se esta não dispuser de modo diverso.