4 Aula - A Lei Penal No Tempo e No Espa o

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VALIDADE E EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

CONFLITO DE LEIS PENAIS NO TEMPO


Ocorre quando várias leis penais que tratam do mesmo
assunto de modo distinto se sucedem no tempo, deve o
intérprete definir qual delas será aplicada ao fato.
A regra é que a lei que deve ser aplicada é a vigente ao
tempo da prática do fato criminoso, de acordo com ao
princípio do tempus regit actum, contudo, existem exceções
e elas se dividem em retroatividade (aplicação da lei a
fatos cometidos antes da sua vigência quando for mais
benéfica) e ultra-atividade (a lei penal revogada pode ser
aplicada após a sua revogação, quando do ilícito praticado
durante a sua vigência for sucedido por lei mais severa).
Como a lei pode ser revogada, instauram-se situações de
conflito. Nesse sentido, verifica-se o conflito de leis no
tempo quando uma lei nova entra em vigor, revogando a
anterior. De fato, situações problemáticas inevitavelmente
surgirão, eis que a lei nova sempre tem conteúdo ao menos
relativamente diverso da sua antecessora, mesmo porque, se
fossem idênticas, não haveria razão lógica para a sua
edição.

As regras e princípios que buscam solucionar o conflito de


leis penais no tempo constituem o direito penal
intertemporal.

A análise do art. 5.º, XL, da Constituição Federal e dos


arts. 2.º e 3.º do Código Penal permite a conclusão de que,
uma vez criada, a eficácia da lei penal no tempo deve
obedecer a uma regra geral e a várias exceções.

A regra geral é a da prevalência da lei que se encontrava


em vigor quando da prática do fato, vale dizer, aplica-se a
lei vigente quando da prática da conduta (tempus regit
actum). Dessa forma, resguarda-se a reserva legal, bem como
a anterioridade da lei penal, em cumprimento às diretrizes
do texto constitucional.

As exceções se verificam, por outro lado, na hipótese de


sucessão de leis penais que disciplinem, total ou
parcialmente, a mesma matéria, e se o fato tiver sido
praticado durante a vigência da lei anterior, quatro
situações podem ocorrer:

a)Novatio legis incriminadora – A lei cria uma nova figura


penal. A lei posterior se mostra mais rígida em comparação
com a lei anterior. A lei posterior incrimina conduta que
era lícita (cria um novo crime).

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Uma lei nova incrimina uma conduta que antes não era
tipificada, ou seja, era irrelevante para a norma penal.
Não atinge fatos passados. Solução: Irretroatividade.

É a lei que tipifica como infrações penais comportamentos


até então considerados irrelevantes.

A neocriminalização somente pode atingir situações


consumadas após sua entrada em vigor. Não poderá retroagir,
em hipótese alguma, conforme determina o art. 5.º, XL, da
Constituição Federal.

A novatio legis incriminadora, portanto, somente tem


eficácia para o futuro jamais para o passado.

b) Abolitio Criminis (Art. 2º caput do CP) – A lei


posterior descriminaliza condutas, tornando-as atípicas. A
lei posterior extingue o crime. Solução: Retroatividade.

Abolitio criminis é a nova lei que exclui do âmbito do


Direito Penal um fato até então considerado criminoso.

Encontra previsão legal no art. 2.º, caput, do Código Penal


e tem natureza jurídica de causa de extinção da
punibilidade (art.107, III).

Alcança a execução e os efeitos penais da sentença


condenatória, não servindo como pressuposto da
reincidência, e também não configura maus antecedentes.
Sobrevivem, entretanto, os efeitos civis de eventual
condenação, quais sejam, a obrigação de reparar o dano
provocado pela infração penal e constituição de título
executivo judicial.

c) Novatio legis in pejus – A lei posterior, mantendo a


incriminação do fato, torna mais grave a situação do réu. A
nova lei é mais severa do que a lei vigente na época da
conduta. Não irá retroagir, pois não beneficia o réu. (ex:
aumenta a pena cominada ao crime). Solução:
Irretroatividade.

d) Novatio legis in mellius (Art. 2º, parágrafo único do


CP) – A lei posterior, sem suprimir a incriminação do fato,
beneficia de algum modo o agente (ex: diminui a pena
cominada ao crime). Solução: Retroatividade.

A lei penal mais benéfica retroage para atingir os fatos


passados (retroatividade) e a lei revogada será aplicada
aos fatos cometidos durante a sua vigência mesmo quando não
estiver mais em vigor e a conduta for regulamentada por lei
mais severa (ultra-atividade).

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Lei penal posterior e vacatio legis

Durante o período de vacatio legis, a lei penal não pode


ser aplicada, mesmo que ela seja mais favorável ao réu. Com
efeito, se a lei já foi publicada, mas ainda não entrou em
vigor, ela ainda não tem eficácia, sendo impossível sua
incidência no caso prático.

É preciso manter coerência. Se a lei em período de vacância


não pode ser utilizada para prejudicar o réu, porque ainda
não está apta a produzir seus regulares efeitos, também não
pode beneficiá-lo.

Lei penal temporária e lei penal excepcional

Lei penal temporária é aquela feita para vigorar por tempo


determinado, estabelecido previamente na própria lei. Em
tais casos, a lei traz em seu texto à data de cessação de
sua vigência.

É aquela que tem a sua vigência predeterminada no tempo,


isto é, o seu termo final é explicitamente previsto em data
certa do calendário. É o caso da Lei 12.663/2012, conhecida
como “Lei Geral da Copa do Mundo de Futebol de 2014”, cujo
art. 36 contém a seguinte redação: “Os tipos penais
previstos neste Capítulo terão vigência até o dia 31 de
dezembro de 2014”.

Lei penal excepcional é aquela feita para vigorar em épocas


especiais, como tempos de guerra, de grave crise econômica,
etc. São aprovadas para vigorar enquanto perdurar o período
excepcional. É a que se verifica quando a sua duração está
relacionada a situações de anormalidade, tais como
situações de crise social, econômica, guerra, calamidades,
etc. Exemplo: É editada uma lei que diz ser crime, punido
com reclusão de seis meses a dois anos, tomar banho com
mais de dez minutos de duração durante o período de
racionamento de energia.

Essas leis são autorrevogáveis. Não precisam de outra lei


que as revogue. Basta a superveniência do dia nela previsto
(lei temporária) ou o fim da situação de anormalidade (lei
excepcional) para que deixem, automaticamente, de produzir
efeitos jurídicos. Por esse motivo, são classificadas como
leis intermitentes.

Se não bastasse, possuem ultratividade, pois se aplicam ao


fato praticado durante sua vigência, embora decorrido o
período de sua duração (temporária) ou cessadas as

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circunstâncias que a determinaram (excepcional). É o que
consta do artigo 3.º do Código Penal.
Em outras palavras, ultratividade significa a aplicação da
lei mesmo depois de revogada. Imagine, no exemplo
mencionado, que alguém tomou banho por mais de dez minutos
durante o período de racionamento de energia. Configurou-se
o crime tipificado pela lei excepcional. A pena será
aplicada, mesmo após ser superada a situação de economia de
força elétrica.

TEMPO DO CRIME

Entende-se por tempo do crime como o marco adotado para se


estabelecer o momento (tempo) do cometimento de um crime.

Teoria da atividade: Também pode ser chamada de teoria da


ação. De acordo com o dispositivo no art. 4º do CP a teoria
adotada para se estabelecer o momento da prática do crime é
a Teoria da Atividade, segundo a qual considera praticado o
crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado. Todos os elementos do crime, no caso
a tipicidade, ilicitude e culpabilidade, devem estar
presentes no momento da conduta.

Com base na regra do art. 4º do Código Penal, torna-se


possível delimitar o exato momento em que o agente passará
a responder criminalmente por seus atos, isso somente de
dará se a ação ou omissão houver sido praticada quando ele
já tiver completado 18 anos de idade (o que ocorre no
primeiro minuto de seu 18º aniversário).

Delimitação da lei penal aplicável: Nos crimes materiais ou


de resultado, a conduta pode ocorrer num momento, e o
resultado, depois. Exemplo: O agente pretendendo matar seu
desafeto, arquiteta uma emboscada e, colhendo-o de
surpresa, descarrega os projéteis do tambor do revólver,
atingindo gravemente a vítima, a qual passa dois meses
internada em hospital, vindo a falecer (consumando o crime
de homicídio qualificado).

Imagine que o ofendido tenha sido hospitalizado durante a


entrada em vigor da Lei nº 8.930/94 (que transformou o
crime de homicídio qualificado em hediondo). Seria então,
de perguntar: O agente responderá pelo homicídio
qualificado como crime hediondo ou não ??? Observe que no
momento da ação (disparos) o delito não era hediondo, mas
ao tempo do resultado (morte), sim. Qual a solução ??? Por
força do art. 4º do Código Penal, deve-se considerar o
momento da conduta; logo o agente não terá de sofrer os

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efeitos penais gravosos da Lei nº 8.072/90 com a alteração
da Lei nº 8.930/94 (crimes hediondos).

CRIME PERMANENTE E LEI PENAL BENÉFICA

Aplica-se a lei nova durante a atividade executória do


crime permanente, aquele cuja consumação se estende no
tempo, ainda que seja prejudicial ao réu. Convém mencionar
a lição de Hungria: “O crime permanente (em que a atividade
antijurídica, positiva ou negativa, se protrai no tempo)
incide sob a lei nova, ainda que mais severa, desde que
prossiga na vigência dela a conduta necessária à
permanência do resultado.

É que a cada momento de tal permanência está presente e


militando, por ação ou omissão, a vontade do agente (ao
contrário do que ocorre nos crimes instantâneos com
efeitos permanentes), nada importando assim que o ‘estado
de permanência’ se haja iniciado no regime da lei antiga,
ou que esta incriminasse, ou não, o fato” (Comentários ao
Código Penal, v. 1, t. 1, p. 128). Assim também é o
pensamento da maioria da doutrina e da jurisprudência.
Exemplificando: se um sequestro está em andamento, com a
vítima colocada em cativeiro, havendo a entrada em vigor de
uma lei nova, aumentando consideravelmente as penas para
tal delito, aplica-se de imediato a norma prejudicial ao
agente, pois o delito está em plena consumação.

É o teor da Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave


aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a
sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência”.

CRIME CONTINUADO E LEI PENAL BENÉFICA

O crime continuado, previsto no art. 71 do Código Penal, a


ser estudado no contexto do concurso de crimes, é uma
ficção jurídica, idealizada para beneficiar o réu na
aplicação da pena. Tal se dá quando o agente pratica várias
condutas, implicando na concretização de vários resultados,
terminando por cometer infrações penais da mesma espécie,
em circunstâncias parecidas de tempo, lugar e modo de
execução, aparentando que umas são meras continuações de
outras. Em face disso, aplica-se a pena de um só dos
delitos, se iguais, ou do mais grave, se diversas,
aumentada de um sexto a dois terços.

No cenário do crime continuado, há duas posições:

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a) aplica-se a mesma regra do crime permanente, como
defende Nélson Hungria: “Em relação ao crime continuado
(pluralidade de crimes da mesma espécie, sem intercorrente
punição, que a lei unifica em razão de sua homogeneidade
objetiva), se os atos sucessivos já eram incriminados pela
lei antiga, não há duas séries (uma anterior, outra
posterior à lei nova), mas uma única (dada a unidade
jurídica do crime continuado), que incidirá sob a lei nova,
ainda mesmo que esta seja menos favorável que a antiga,
pois o agente já estava advertido da maior severidade da
sanção, caso persistisse na ‘continuação’.

Se, entretanto, a incriminação sobreveio com a lei nova,


segundo esta responderá o agente, a título de crime
continuado, somente se os atos posteriores (subsequentes à
entrada em vigor da lei nova) apresentarem a homogeneidade
característica da ‘continuação’, ficando inteiramente
abstraídos os atos anteriores” (Comentários ao Código
Penal, v. 1, t. 1, p. 128). É também a lição de Frederico
Marques e Aníbal Bruno;

b) não se aplica a mesma regra do crime permanente,


conforme se pode conferir na posição de Delmanto: “o
princípio da legalidade deve ser rigidamente obedecido.
(...) Também a norma penal nova mais grave só deverá ter
incidência na série de crimes ocorridos durante sua
vigência e não na anterior” (Código Penal comentado, p.
10).

O melhor entendimento é o de Hungria, pois se o crime


continuado é uma ficção, entendendo-se que uma série de
crimes constitui um único delito para a finalidade de
aplicação da pena, é preciso que o agente responda, nos
moldes do crime permanente, pelo que praticou em qualquer
fase da execução do crime continuado. Portanto, se uma lei
penal nova tiver vigência durante a continuidade, deverá
ser aplicada ao caso, prejudicando ou beneficiando.

É o teor da Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave


aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a
sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência”.

LEIS INTERMITENTES: As leis, como regra, são feitas para


durar indefinidamente, até que outras, mais modernas,
revoguem-nas ou substituam-nas.

Há leis, no entanto, denominadas de intermitentes, que são


formuladas para durar um período determinado e breve. As
leis excepcionais e temporárias são espécies desse gênero.

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Excepcionais são as leis feitas para durar enquanto um
estado anormal ocorrer. Cessam a sua vigência ao mesmo
tempo em que a situação excepcional também terminar.
Exemplo: durante o estado de calamidade pública decretado
em uma localidade devastada por alguma catástrofe, podem-se
aumentar as penas dos crimes contra o patrimônio para
buscar evitar os saques.
Temporárias são as leis editadas com período certo de
duração, portanto, dotadas de autorrevogação. Assim, por
exemplo, a lei feita para valer por um prazo de seis meses.

RESUMO – BREVE SÍNTESE:

Regra geral da lei penal no tempo: aplica-se a lei vigente


à época do cometimento da infração penal e ainda em vigor
no momento da sentença (tempus regit actum).

Extratividade da lei penal: significa que a lei penal pode


ser aplicada a fato ocorrido fora da sua época de vigência,
dividindo-se em dois aspectos: retroatividade e
ultratividade.

Retroatividade: ocorre quando o juiz aplica nova lei penal,


não existente à época do fato, mas que retroage a essa data
porque beneficia o réu.

Ultratividade: dá-se no momento em que o magistrado, ao


sentenciar, aplica lei penal já revogada, entretanto
benéfica ao réu, que era a lei vigente à época do fato.

Leis intermitentes: são as normas penais feitas para ter


curta duração. Dividem-se em temporárias e excepcionais.

Leis penais temporárias: são aquelas que possuem, no seu


próprio texto, a data da sua revogação. Vigoram por período
certo.

Leis penais excepcionais: são as formuladas para durar


enquanto decorrer uma situação anormal qualquer. Vigoram
por período relativamente incerto, mas sempre de breve
duração.

Normas penais em branco: são as que possuem a descrição de


conduta indeterminada, dependente de um complemento,
extraído de outra fonte legislativa extrapenal, para obter
sentido e poder ser aplicada. A pena prevista é sempre
determinada.

Norma penal em branco própria: é a que possui complemento


extraído de norma hierarquicamente inferior.

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Norma penal em branco imprópria: é a que possui complemento
extraído de norma de igual hierarquia.

Aplicação da Lei Penal no Espaço

Introdução: Sabendo que um fato punível pode,


eventualmente, atingir os interesses de dois ou mais
estados igualmente soberanos, o estudo da lei penal no
espaço visa descobrir qual é o âmbito territorial de
aplicação da lei penal brasileira, bem como de que forma o
Brasil se relaciona com outros países em matéria penal.

Há dois vetores fundamentais para analisarmos a lei penal


no espaço, quais sejam:

a) Territorialidade (art. 5º do CP) – é a regra geral,


aplica-se a lei penal brasileira aos crimes cometidos no
território nacional.

b) Extraterritorialidade (art. 7º do CP) – é a


exceção, aplica-se a lei penal brasileira aos crimes
cometidos no exterior.

TERRITORIALIDADE E EXTRATERRITORIALIDADE

Territorialidade é a aplicação das leis brasileiras aos


delitos cometidos dentro do território nacional (art. 5.º,
caput, CP). Esta é uma regra geral, que advém do conceito
de soberania, ou seja, a cada Estado cabe decidir e aplicar
as leis pertinentes aos acontecimentos dentro do seu
território.

Excepcionalmente, no entanto, admite-se o interesse do


Brasil em punir autores de crimes ocorridos fora do seu
território. Extraterritorialidade, portanto, significa a
aplicação da lei penal nacional a delitos ocorridos no
estrangeiro (art. 7.º, CP).

REGRAS PARA A APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO

São basicamente duas: a) territorialidade (regra geral); b)


extraterritorialidade (exceção: aplicação da lei penal
brasileira a crime ocorrido fora do território nacional).

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Esta, por sua vez, é regida pelos seguintes princípios:
b.1) defesa ou proteção (leva-se em consideração a
nacionalidade brasileira do bem jurídico lesado pelo
delito); b.2) justiça universal ou cosmopolita (tem-se em
vista punir crimes com alcance internacional); b.3)
nacionalidade ou personalidade (leva-se em conta a
nacionalidade brasileira do agente do delito); b.4)
representação ou bandeira (tem-se em consideração a
bandeira brasileira da embarcação ou da aeronave privada,
situada em território estrangeiro).
PRINCÍPIOS APLICÁVEIS

Princípio da territorialidade: É a regra no Brasil,


conforme disposto no art. 5º do CP.

Art. 5ºdo CP - Aplica-se a lei brasileira, sem


prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território
nacional.

É fruto da soberania, comum a todos os países. Ressalta-se


que o Brasil adota uma territorialidade temperada ou
mitigada, pois o próprio art. 5º afirma que será aplicado
sem prejuízo a convenções, tratados e regras internacionais

TERRITÓRIO: É o espaço que o país exerce sua soberania


política.

TERRITÓRIO BRASILEITO POR EXTENSÃO – art. 5º, §1º do CP.

Art. 5º § 1º do CP - Para os efeitos penais,


consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza
pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer
que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço
aéreo correspondente ou em alto-mar.

Por exemplo, dentro de uma aeronave brasileira, em solo


japonês, é cometido um homicídio. A jurisdição será do
Brasil, tendo em vista que a aeronave brasileira é
considerada uma extensão do território nacional.

Art. 5º, § 2º - É também aplicável a lei brasileira


aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou
embarcações estrangeiras de propriedade privada,
achando-se aquelas em pouso no território nacional ou

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em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em
porto ou mar territorial do Brasil.

Vejamos as seguintes hipóteses:

a)Aeronaves ou embarcações MERCANTES ou PRIVADAS quando em


alto-mar ou no espaço aéreo correspondente ao alto mar:
Aplica-se a lei da bandeira que ostentam. Justificativa: lá
nenhum país exerce soberania

b) Aeronaves ou embarcações ESTRANGEIRAS PRIVADAS: São


considerados parte do nosso território quando aqui
atracados ou em pouso.

c) Aeronaves ou embarcações PÚBLICAS ESTRANGEIRAS ou a


SERVIÇO DO GOVERNO ESTRANGEIRO: Não se aplica a lei
nacional (princípio da reciprocidade (Art. 5º §2º).

d) Embaixadas: Não é extensão territorial do país que


representa. É inviolável, mas não extensão.

Todos os princípios que veremos abaixo são para os crimes


praticados fora do Brasil.

Princípio da personalidade ou da nacionalidade: Considera,


para aplicação da lei penal, a personalidade ou a
nacionalidade. Divide-se em:

a) Personalidade ativa: O agente é punido de acordo


com a lei brasileira, independentemente da nacionalidade do
sujeito passivo e do bem jurídico ofendido. Está previsto
na primeira parte do art. 7º, I, d, do art. 7º, II, b do
CP.

Art. 7º do CP - Ficam sujeitos à lei brasileira,


embora cometidos no estrangeiro:

I - os crimes:
(...)
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
domiciliado no Brasil;

II - os crimes:
(...)
b) praticados por brasileiro;

b) Personalidade passiva: Leva em conta a vítima do


crime que deverá ser brasileira, previsto no art. 7º, §3º

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Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora
cometidos no estrangeiro:

(...)

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime


cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do
Brasil, se, reunidas as condições previstas no
parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.

Princípio do domicílio: O agente deve ser julgado pela lei


do país em que é domiciliado, pouco importando a sua
nacionalidade (parte final do art. 7º, I, d do CP).

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora


cometidos no estrangeiro:

I - os crimes:
(...)
d) de genocídio, quando o agente dor brasileiro ou
domiciliado no Brasil;

Por exemplo, um francês que reside no Brasil pratica um


genocídio na Somália. Será aplicada a lei brasileira, local
de seu domicílio.

Princípio da defesa, real ou da proteção: O crime ofende um


bem jurídico brasileiro, pouco importa a nacionalidade do
agente e pouco importa o local do delito, previsto no art.
7º, I, a, b, c, do CP.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora


cometidos no estrangeiro:

I - os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da


República;

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do


Distrito Federal, de Estado, de Território, de
Município, de empresa pública, sociedade de economia
mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder
Público;

c) contra a administração pública, por quem está a


seu serviço;

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Princípio da justiça universal: Também chamado de justiça
cosmopolita, competência universal, jurisdição universal ou
mundial, repressão mundial ou, ainda, universalidade do
direito de punir.

Está relacionado à cooperação penal internacional (mais


ampla), segundo a qual todos os países podem punir os
autores de determinados crimes (cuja punição interessa a
todos os países da comunidade internacional) que se
encontrem em seu território.

Aqui, pouco importa a nacionalidade do agente, o local do


crime e o bem jurídico atingido.
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora
cometidos no estrangeiro:

(...)
II - os crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou


a reprimir;

Exemplo, o tráfico de pessoas.

Princípio da representação: Chamado também de princípio do


pavilhão, da bandeira, subsidiário ou da substituição. Está
previsto no art. 7º, II, c do Código Penal.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora


cometidos no estrangeiro:
(...)

II - os crimes:
(...)

c) praticados em aeronaves ou embarcações


brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
quando em território estrangeiro e aí não sejam
julgados.

Quando o crime for praticado em uma aeronave ou embarcação


pública brasileira ou a serviço do Governo brasileiro, não
se aplicam os princípios acima, pois se trata de território
brasileiro por extensão.

EXTRATERRITORIALIDADE: É a aplicação da lei brasileira aos


crimes (não se aplica para contravenções penais) cometidos
fora do Brasil, são as exceções ao princípio da
territorialidade.

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EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA: Previsto no inciso I
do art. 7º do CP.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora


cometidos no estrangeiro:

I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da
República;

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do


Distrito Federal, de Estado, de Território, de
Município, de empresa pública, sociedade de economia
mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder
Público;
c) contra a administração pública, por quem está a
seu serviço;

d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou


domiciliado no Brasil;

Atentar para o disposto no §1º, do art. 7º do CP, que


consagra a soberania.

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido


segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou
condenado no estrangeiro

EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA: São as hipóteses do


inciso II, do art. 7º do CP.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora


cometidos no estrangeiro:
(...)

II - os crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou


a reprimir; Justiça Universal

b) praticados por brasileiro; Personalidade ou


nacionalidade ativa

c) praticados em aeronaves ou embarcações


brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
quando em território estrangeiro e aí não sejam
julgados. Bandeira, pavilhão, etc.

Observar os §§ 2º e 3º que trazem as condições para que a


lei brasileira seja aplicada.

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§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei
brasileira depende do concurso das seguintes
condições:

a) entrar o agente no território nacional


b) ser o fato punível também no país em que foi
praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a
lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou
não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou,
por outro motivo, não estar extinta a punibilidade,
segundo a lei mais favorável.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime
cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do
Brasil, se, reunidas as condições previstas no
parágrafo anterior:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;


b) houve requisição do Ministro da Justiça.

Um brasileiro, nos EUA, (c) mata (b) um argentino. Logo


depois, entra no Território Brasileiro (a). Nos EUA ele não
foi processado (d) (e). (Art. 7º, II, “b” CP)

a) O brasileiro entrou no território nacional;


b) O homicídio também é crime nos EUA;
c) O homicídio está entre os crimes pelos quais o Brasil
autoriza a extradição;
d) Não foi perdoado;
e) Não há causa extintiva de punibilidade.

CP Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora


cometidos no estrangeiro:

II - os crimes:

b) praticados por brasileiro;

Aplica-se a lei penal brasileira. *De quem é a


competência para o processo e julgamento? Regra = Justiça
Estadual.

*Qual território competente? Capital do Estado em que ele


MORA ou MOROU. Se ele não mora ou nunca morou, será a
Capital da REPÚBLICA, art. 88 do CPP.

CPP Art. 88. No processo por crimes praticados fora


do território brasileiro, será competente o juízo da

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Capital do Estado onde houver por último residido o
acusado. Se este nunca tiver residido no Brasil, será
competente o juízo da Capital da República.

SITUAÇÃO-PROBLEMA: Em 05 de outubro de 2019, ROMUALDO,


fiscal da Secretaria de Vigilância Sanitária da Prefeitura
de determinado município, exige de MÉVIO, proprietário de
um restaurante, o pagamento de vantagem indevida para não
interditar o referido estabelecimento comercial. Em razão
da conduta praticada, ROMUALDO restou denunciado pelo
Ministério Público como incurso nas penas do art. 316,
caput, do Código Penal, que descreve a conduta de
concussão. Em 27 de março de 2020, o juiz julgou o caso e
proferiu sentença condenatória, sujeitando o acusado à pena
máxima prevista na nova redação do art. 316, caput, do CP,
alterada pela publicação da Lei nº 13.964/2019, qual seja
12 (doze) anos de reclusão, e multa. O advogado de
ROMUALDO, diante da sucessão de leis penais no tempo acerca
do delito de concussão, verificou o seguinte: LEI 1 -
Redação ao tempo do crime - CP, Art. 316 - Exigir, para si
ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
LEI 2 - Redação dada pela Lei nº 13.964/2019 - CP, Art. 316
- Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,
ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de 2 (dois)
a 12 (doze) anos, e multa.

Pergunta-se: A partir do estudo dos textos do Módulo 2,


Tema Teoria da Norma Jurídico-Penal, disponibilizado no
Conteúdo Digital da disciplina, e do aprendizado em aula,
relacionado às regras de aplicação das leis penais no tempo
com problemas práticos sobre conflito de normas, avalie se
a decisão do magistrado ao adotar a nova lei (LEI 2) quando
da prolação da sentença está correta?

ESTUDO DE CASO: Relacionando as regras de Direito Penal no


tempo e no espaço com problemas práticos sobre conflito de
normas, analise a seguinte situação hipotética: Marcelo, em
10 de março de 2020, colocou Ana em cárcere privado (crime
previsto no art. 148, do CP) e assim a manteve até outubro
daquele ano. Acontece que, em abril de 2020, houve reforma
do tipo penal do art. 148, do CP, para aumentar a pena.
Marcelo foi preso em dezembro. Tendo em vista as regras e a
jurisprudência dominante sobre o tema, a nova pena deve ser
aplicada a Marcelo? Fundamente sua resposta, considerando,
ainda, seus estudos do Módulo 2, Tema Teoria da Norma
Jurídico-Penal, disponibilizado no Conteúdo Digital da
disciplina.

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Bibliografia:

Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 /


Cleber Masson. – 13. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: Ed. MÉTODO, 2019.

Manual de direito penal, NUCCI, Guilherme de Souza – 16.


ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020

GONÇALVES, Victor Eduardo Rios, Curso de direito penal:


parte geral, vol. 1, 3ªed. - São Paulo: Saraiva Educação,
2019

ISHIDA, Válter Kenji, Curso de Direito Penal: parte geral e


parte especial, São Paulo: Atlas, 2015

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