Ensino de Física e Educação Especial
Ensino de Física e Educação Especial
Ensino de Física e Educação Especial
2020
Resumo: A Educação Especial é uma área que vem se destacando e gerando grandes
discussões em âmbito nacional, e o presente trabalho procura contribuir com tais
discussões ao analisar a inclusão no ensino de Física em turmas com alunos do público-
alvo da Educação Especial do Colégio de Aplicação de uma Universidade Federal
brasileira. Assume-se aqui o objetivo de compreender como a docência compartilhada
acontece entre os professores de Física e os professores da Educação Especial. O campo
de pesquisa é o Colégio de Aplicação da Universidade Federal, onde estes professores
foram questionados acerca de como acontece a docência compartilhada entre eles.
Optou-se pela metodologia de análise de conteúdo para a análise das asserções dos
professores. Como fundamentação teórica foi realizada uma contextualização sobre
Educação Especial no Brasil, e como o Colégio de Aplicação buscou se aperfeiçoar para
que os alunos pudessem ser atendidos de forma adequada. Com as asserções nos
questionários percebeu-se que o trabalho conjunto entre os professores está em
processo, que existe uma preocupação em fazer o que for possível para que os alunos
possam ser atendidos de maneira apropriada.
Abstract: Special Education is an area that has been standing out and generating great
discussions at the national level, and the present work seeks to contribute to such
discussions by analyzing the inclusion in Physics teaching in classes with Special
Education students from The Application College of a Federal University Brazilian. The
objective here is to understand how shared teaching happens between physics teachers
and Special Education teachers. The research field is the College of Application of the
Federal University, where these teachers were asked about how the teaching shared
between them happens. We opted for the content analysis methodology for the analysis
of teachers' assertions. As a theoretical foundation, a contextualization of Special
Education in Brazil was carried out, and how the College of Application sought to
improve itself so that students could be adequately served. With the assertions in the
questionnaires, it was noticed that the joint work between teachers is in process, that
there is a concern to do what is possible so that students can be properly served.
1. INTRODUÇÃO
Acredita-se que há muito a ser melhorado, pois, mesmo com a inclusão da área
nos currículos dos cursos de formação de professores, isso não tem sido suficiente para
que os egressos destes cursos saiam preparados para trabalhar com alunos do público-
alvo da Educação Especial.
O objetivo dessa pesquisa foi entender e aferir como essa interação entre os
professores contribui para o desenvolvimento de práticas de ensino-aprendizagem mais
No Brasil, da chegada dos Jesuítas até por volta do final da década de 1940, a
educação era um privilégio, ou seja, era exclusividade da elite que gozava de
oportunidades e de uma educação de alta qualidade. Sem contar que as escolas e
bibliotecas ficavam localizadas em centros urbanos, dificultando o acesso das classes
menos abastadas. Mas, mesmo passando por várias mudanças, a educação não passou a
ser completamente de todos e para todos. Quando se percebeu que esses estudantes
precisavam de uma atenção a mais, optou-se por uma educação de modo substituto ao
ensino regular.
Com a proposta elaborada pelo MEC em 2008 buscou-se aumentar o suporte com
atendimento educacional especializado para todas as etapas e modalidades da escola
básica de forma a apoiar o desenvolvimento do estudante. Assim esse atendimento deve
ser ofertado, de forma obrigatória (que nem sempre acontece), pelos sistemas de ensino,
e realizado em contraturno do aluno nas escolas ou centro especializado (BRASIL,
2008).Para o atendimento desses alunos os professores devem ter em sua formação
conhecimentos específicos da área de Educação Inclusiva, de modo que possam atuar de
forma mais coerentes com esses alunos (BRASIL, 2008).
A busca por uma “didática inclusiva” não é simples, deve respeitar e superar
os modelos pedagógicos gerais enfatizando o impacto das variáveis
específicas na implantação de uma educação para todos. Concluir que incluir
alunos com deficiências em aulas de física, química, biologia, matemática,
história, língua portuguesa, etc., deve ir além dos princípios gerais, e
reconhecer a necessidade do investimento em pesquisas que revelem
propriedades ativas das variáveis específicas.
Das vagas disponíveis para sorteio, está prevista uma cota de 5% do número de
alunos por série para atender este público-alvo da Educação Especial que são os alunos
com deficiências, TEA, AH/SD, bem como outros transtornos funcionais específicos.
Atualmente são atendidos 55 estudantes desse público-alvo, destes 14 estão no ensino
médio.
demais disciplinas da área da educação traziam uma visão mais geral da educação como
um todo.
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
Primeiro foi elaborada uma série de questões para os dois públicos pelos autores
deste trabalho trazendo tópicos considerados importantes. Em seguida, juntamente com
uma professora da área da Educação Especial do colégio de aplicação, mas que não se
enquadra no público da pesquisa por não atuar no Ensino Médio, foram revisadas as
questões que tinham sido previamente elaboradas. Feitas as alterações sugeridas pela
professora, esta fez a validação dos questionários.
professores de outras áreas com os de Educação Especial não acontece com frequência
desejada. Destacam também a falta de compreensão por parte dos professores sobre o
que é a inclusão e como deveriam se portar para a sua efetivação. Relatam também que
muitos professores das outras áreas consideram que a responsabilidade sobre os
estudantes com deficiência é dos professores de Educação Especial, como pode ser visto
na asserção abaixo:
PE4 - “Falta compreensão por parte dos docentes, no sentido de que os estudantes
com deficiência são da NOSSA responsabilidade, ou seja, os mesmos entendem
erroneamente que cabe somente à professora de Educação Especial planejar, elaborar
atividades e provas, além da mediação em sala de aula. Esse é um trabalho
compartilhado, que envolve parceria e comprometimento de ambas as partes. Essa
dificuldade é pouco percebida no Ensino Médio, mas é bem acentuada nos Anos
Finais”.
Categorias Respostas
Realização de planejamento antecipado e compartilhado 3
Discordâncias em relação à inclusão (não compreensão) 1
Professores de outras áreas colocam a responsabilidade no Professor da
1
Educação Especial
Fonte: Os autores, 2019.
Categorias Respostas
Positiva/Significativa (em alguns casos) 3
Falta de tempo hábil 1
Falta de entendimento do que e como fazer as flexibilizações e
1
adaptações de material
Adaptação de material tanto pelo professor de Física como do professor
2
de Educação Especial
Aulas expositivas e abstratas 1
Fonte: Os autores, 2019.
Como todos os professores trabalham no ensino médio, eles também atuam com
professores de Física e destacam que é um trabalho em desenvolvimento constante. Por
vezes os professores têm dificuldade em compreender as necessidades dos alunos. No
entanto, as adaptações são pensadas com atenção buscando compreender a dificuldade
dos alunos, o que pode ser visto na asserção a seguir:
características trazidas pelos professores para uma boa pratica docente, cabendo
destaque à atenção do professor na hora de planejar e adaptar.
Quadro 3 - Considerado importante na prática docente do professor de área quando atua com
estudantes com deficiência, TEA e/ou AH/SD
Categorias Respostas
Empatia 1
Ser professor para todos 3
Preocupação na hora do planejamento e adaptações 4
Perceber a necessidade dos alunos 3
Compreender os alunos como únicos 1
Fonte: Os autores, 2019.
Os professores da área da Educação Especial também foram questionados sobre
os pontos que precisam ser mudados para que a inclusão aconteça. Em suas asserções
destacam que os professores precisam se aproximar mais dos estudantes com
deficiência para que assim consigam perceber as necessidades de cada um. E na fala de
um dos professores é destacado que cada aluno público-alvo da Educação Especial
deveria ter um professor da Educação Especial para acompanhá-lo em sala de aula, mas
sabe-se que isso é algo aquém da nossa realidade.
PE3 - “[...]. Na minha opinião, para garantir uma inclusão mais efetiva,
necessitaria de uma flexibilização na organização e distribuição do trabalho das
professoras de Educação Especial, de modo que todos os estudantes público-alvo da
Educação Especial, recebessem, além o AEE, também a docência colaborativa em sala
de aula com o professor do ensino comum. [...]”.
Categorias Respostas
Planejamento antecipado, adaptações e flexibilizações dos conteúdos 4
Aspectos pedagógicos e didáticos para que haja a inclusão 1
PE2 - “[...]. Além disso, o embate ou a falta de empatia do colega professor para
como estudante ou outro colega, ausência na abertura para a mudança positiva que
beneficie a inclusão e a falta de aproximação com o estudante para ensiná-lo ou
trabalhar diretamente, deixando para outra pessoa fazê-lo, são algumas das dificuldades
encontradas na escola”.
Nesta fala, percebe-se que a falta de empatia entre aluno e professor e aluno com
algum colega é um ponto que precisa ser trabalhado para que o discente possa se
engajar mais e aprender melhor. No quadro 5 estão relacionadas as principais
dificuldades.
Categorias Respostas
Adaptação de conteúdo denso e abstrato 1
Falta de Empatia tanto dos professores como dos outros alunos 1
Sem abertura para mudanças para práticas inclusivas 2
Barreiras conceituais e atitudinais 1
Falta de material adequado para se trabalhar em sala 1
Fonte: Os autores, 2019.
Com a análise das repostas dos professores de Educação Especial é possível
perceber que a docência compartilhada entre eles e professores de outras áreas,
inclusive os da Física, é algo que está em processo. Algumas barreiras ainda precisam
ser quebradas, tanto dos professores como de toda a escola.
Categorias Respostas
São feitas sugestões de adaptações e avaliações 2
Não ocorre o planejamento compartilhado 2
Não há o compartilhamento das aulas 2
Quando há um professor de Educação Especial acompanhando os alunos,
3
as adaptações são melhores organizadas
Fonte: Os autores, 2019.
PF2 - “[...]. Quando isso não ocorre faço mudanças estruturais como, por
exemplo, escrever com letras maiores, descrever as imagens por meio de desenho no
quadro, alterar as avaliações, etc. Todavia, em minha opinião, não ocorre uma melhora
efetiva na aprendizagem para os alunos com deficiência. [...]”.
Quadro 7 – O que você considera que deva ser levado em consideração no processo de ensino-
aprendizagem de Física para a formação de estudantes com deficiência, TEA e/ou AH/SD?
Categorias Respostas
Conhecimento adquirido para uso de tecnologias e metodologias 1
Trabalho junto do professor de Educação Especial 1
Conceitos relacionados a prática cotidiana dos estudantes 1
Fonte: Os autores, 2019.
Os professores foram questionados sobre dificuldades e desafios já encontrados
quando trabalharam com alunos da Educação Especial. Afirmaram que uma das
dificuldades é a falta de conhecimento da área de Educação Especial, pois em suas
formações esse assunto não foi abordado de forma significativa. Levando em conta que
em suas turmas há em torno de 25 alunos, eles consideram que não há tempo suficiente,
em sala de aula, para que possam atender adequadamente todos os alunos. E um deles
acredita que nem todas as atividades propostas precisariam ser realizadas pelos alunos
da Educação Especial.
Para Rigo (2018), a cultura escolar e a formação dos professores, em geral, nunca
levaram em consideração as diferenças na escola, constituindo-se assim como um
espaço normalizador de condutas. Para a autora residem aí as dificuldades em
transformar a escola em um espaço inclusivo para todos. De todo modo, a inclusão nas
escolas brasileiras é um processo que está em construção e precisa ter sua presença
garantida nos cursos de formação docente para que o professor possa saber o que fazer
quando tiver alunos com deficiência em suas aulas. Esta presença pode ser garantida em
disciplinas específicas da área da Educação Especial, mas isso não é suficiente. É
importante que estas questões cheguem a outras disciplinas, como as de Metodologia de
Ensino, Prática de Ensino e de Estágio Supervisionado.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que nem sempre há tempo hábil para isso, como foi relatado pelos
professores de Física e também pelos próprios professores da Educação Especial, mas é
um ponto que demanda mais atenção por parte de todos os sujeitos envolvidos com o
processo de ensino-aprendizagem.
Conforme visto nas falas dos professores da Educação Especial percebe-se que a
docência compartilhada dificilmente acontece e o planejamento antecipado e
compartilhado é outro ponto destacado que está em processo. O que acontece,
geralmente, é que os professores das outras áreas seguem as sugestões dos professores
da Educação Especial, como se fosse uma receita de bolo.
Um dos Professores da Educação Especial traz em sua fala que o ideal seria que
todos os estudantes do público-alvo da Educação Especial deveriam ter um professor os
acompanhando, mas sabemos que isso é algo quase que utópico, principalmente com a
atual situação da educação no Brasil, onde cortes orçamentários e ações públicas
limitadas e a falta de conhecimento de algumas famílias desses alunos acontecem
constantemente.
Como visto nas falas dos professores de Física, percebe-se que não houve em suas
formações disciplinas que contribuíssem para que pudessem atender os alunos público-
alvo da Educação Especial, e assim buscam seguir as orientações dos professores
especializados na área para fazer as adaptações e flexibilizações necessárias. Além
disso, afirmam que quando há um professor especialista em sala as adaptações são
melhores organizadas contribuindo mais para que o aluno possa compreender os
conteúdos.
Assim para que haja no futuro um ensino de Física adequado para turmas com
estudantes do público-alvo da Educação Especial é necessário a presença efetiva do
tema nas disciplinas que possuem compromisso com a formação docente, não só na
licenciatura em Física, mas em todas as demais licenciaturas, buscando mostrar as
metodologias que possam contribuir com o aprendizado dos alunos como também
diferentes maneiras de utilizar essas metodologias, com diferentes recursos, para que os
professores possam suprir as demandas enfrentadas na prática.
Com relação a este ponto, Bozelli e Santos (2015) destacam a formação inicial de
professores não deve ser apenas com inclusão de algumas disciplinas específicas, mas
uma formação que englobe os princípios da inclusão.
Assim percebe-se que há muito o que melhorar no que diz respeito ao ensino de
Física para estudantes da Educação Especial, pois mesmo havendo preocupações, ainda
há um longo caminho a ser percorrido. Neste sentido, para que ocorra a inclusão, faz-se
necessário um entendimento tanto dos professores como de toda a organização escolar
em como acolher e pôr em prática o ensino a esses alunos, efetivando um trabalho árduo
que vem sendo construindo e adaptado ao longo de várias décadas.
6. REFERÊNCIAS