EpidDoenInfecc MCG2021
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EPIDEMIOLOGIA
DAS DOENÇAS INFECCIOSAS
Prefácio
Francisco Antunes
Título
Epidemiologia das doenças infecciosas
Autor
Manuel Carmo Gomes
Prefácio
Francisco Antunes
Capa
Pormenor de Plague in an Ancient City (c.1650-52), de Michael
Sweerts. Los Angeles County Museum of Art / Wikimedia commons
Edição
Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa
Av. Professor Egas Moniz, 1649-028 Lisboa
http://www.aefml.pt | [email protected]
Prefácio 13
Introdução histórica
1. Doenças transmissíveis na História da Humanidade 17
2. De Jenner, Pasteur e Koch à actualidade: fim do fatalismo 25
e início dos programas de controlo de doenças transmissíveis
3. Vacinação em massa e controlo de doenças infecciosas 29
4. História da compreensão e previsão de epidemias 31
Viana J, Van Dorp CH, Nunes A, Gomes MC, Van Boven M, Kretzschmar ME,
Veldhoen M, Rozhnova G (2021). Controlling the pandemic during the SAR-
S-CoV-2 vaccination rollout: a modeling study. Nature Communications 12(1):
3674.
PREFÁCIO
Francisco Antunes*
Once civilisation has begun, the disease load that it harbours beco-
me one of the major weapons of its expansion
—William H. McNeill (1976). Plagues and people.
A edição deste eBook só foi possível pelo apoio que foi dado pela Associação
dos Estudantes da Faculdade de Medicina e pelo Instituto de Saúde Ambiental,
da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Um agradecimento muito
especial ao Dr. Ricardo Santos do Instituto de Saúde Ambiental, da Faculdade
de Medicina da Universidade de Lisboa, pelo seu saber, disponibilidade e grande
entusiasmo com que abraçou a edição deste eBook.
17
INTRODUÇÃO HISTÓRICA
Literatura
A illness due to a specific infectious agent or its toxic products that arises
through transmission of that agent or its products from an infected person,
animal or reservoir to a susceptible host, either directly or indirectly throu-
gh an intermediate plant or animal host, vector or inanimate environment.
—Last JM. 1988. A Dictionary of Epidemiology. Oxford Univ Press,
Oxford.
TRANSMISSÃO DA INFECÇÃO
S + E + I + R = N [9.1]
s+e+i+r=1
a s [9.2]
a s I = a SI/N = a i S [9.3]
R0= a D
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VACINAÇÃO:
PORQUE RAZÃO É TÃO DIFÍCIL
ELIMINAR DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS?
14 Vacinação e imunização
Um programa de imunização contra uma doença in-
fecciosa tem dois efeitos principais. O mais óbvio, o efeito
directo, é que uma fracção de indivíduos da população pas-
sa a estar protegida contra a doença – aumenta portanto a
fracção r da população. O efeito indirecto, consequência do
anterior, é que diminui a força de infecção λ da doença. O
aumento da fracção r tem por consequência a diminuição
da fracção de infectados. Diminui, também, a probabilidade
de que o contacto de um indivíduo infeccioso ocorra com
um susceptível ou, vendo pela perspectiva dos susceptíveis,
diminuir a probabilidade de um indivíduo susceptível en-
trar em contacto com a infecção. Se houver menos candi-
datos a espirrar e tossir à nossa volta (porque r é maior),
diminui a probabilidade de contactos com a infecção.
Uma consequência do efeito indirecto é não ser, em
geral, necessário imunizar todos os indivíduos duma popu-
lação, para erradicar uma doença transmissível. Uma vez
imunizado um número suficiente de indivíduos, os efeitos
indirectos associados orientam o número de substitutos
a ser permanentemente < 1, de tal forma que a doença
não pode permanecer endémica na população. É útil sa-
ber isto, pois vacinar 100% da população pode ser muito
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Infecção Vacinação
Poliomielite Em 1960 davam-se já algumas dezenas de
milhar de vacinas
Desde 1965 mais de um milhão de vacinas
(0-10 anos)
Difteria Em 1960-1962 já se davam cerca de 200 mil
vacinas
A partir de 1963 mais de meio milhão (0-10
anos)
Tétano Em 1960-1962 já se davam cerca de 200 mil
vacinas
A partir de 1963 mais de 700 mil vacinas
Tosse convulsa Em 1960-1963 já se davam 100 a 300 mil
vacinas
Desde 1964 mais de meio milhão (0-10 anos)
Definições
Antitoxina – um anticorpo derivado do soro de animais após estimulação com
antigénios específicos e usado para imunização passiva.
Eliminação de uma doença – deixa de haver casos de doença numa área ge-
ográfica restrita.
Erradicação de uma doença – a doença é eliminada a nível planetário.
Imunoglobulina – solução com anticorpos, derivada de sangue humano ou de
animais, através do fraccionamento de grandes quantidades de plasma com
etanol frio. Com interesse, principalmente para manutenção da imunidade
naqueles com deficiências imunitárias ou para imunização passiva. As for-
mulações são preparadas para administração intravenosa ou intramuscular.
Toxóide – toxina bacteriana modificada por forma a perder a toxicidade, mas,
mesmo assim, reter a capacidade de estimular a formação de antitoxina.
Vacina – suspensão de microparasitas vivos com acção atenuada ou mortos
ou de fracções antigénicas de microparasitas. É administrada com o objectivo
de induzir imunidade e evitar a doença.
15 Imunidade de grupo
Diz-se que uma população adquiriu imunidade de
grupo21para uma dada doença, quando existe um número
suficiente grande de indivíduos imunes, homogeneamente
distribuídos na população, de tal forma que a doença não
2 Imunidade de grupo é uma tradução do termo herd immunity frequente
na literatura anglo-saxónica, o qual tem raízes em trabalhos pioneiros com
animais domésticos.
72
s ≤ 1-p
R0 s ≤ R0 (1-p)
73
pc = 1 - 1/R0 [15.3]
R0 pc
2 0,5
5 0,8
10 0,9
15 0,93
20 0,95
16 Dificuldade
infecciosas
de eliminação de doenças
Doença EV (%)
Tuberculose (BCG) 0-80
Cólera 50
Gripe 40-70
Febre tifóide 50-70
Tosse convulsa 80
Peste (?)90
Difteria 95
Rubéola 95
Tétano 95
Sarampo 95
Papeira 95
Poliomielite 97
Raiva 100
[16.1]
76
17 SARS-CoV-2
É quase impossível discutir imunidade de grupo, em
2021, sem uma referência à actual pandemia causada por
vírus SARS-CoV-2.
Existe já ampla evidência de que as vacinas disponí-
veis para este vírus são eficazes contra a infecção sintomá-
tica e, especialmente, eficazes para as formas mais graves
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Literatura