Caderno de Física 1 - 1 - Semestre - 2022 v1

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Caderno de Atividades

de Laboratório de Física

DFQ – Departamento de Física e Química


Belo Horizonte, 1º semestre de 2022
SUMÁRIO

Critério de avaliação da disciplina ..................................................................................... 3


Determinação do tempo de reação de uma pessoa ........................................................... 4
Medições e incertezas ....................................................................................................... 7
Medições diretas, indiretas e propagação de erros ........................................................... 11
Gráficos e ajustes .............................................................................................................. 21
Movimento unidimensional ................................................................................................ 29
Posição, deslocamento e velocidade ................................................................................ 34
Movimento de projétil ........................................................................................................ 39
Composição de forças ....................................................................................................... 42
Equilíbrio de um móvel em um plano inclinado .................................................................. 45
Atrito estático .................................................................................................................... 49
Atrito cinético ..................................................................................................................... 52
Constante elástica de molas ............................................................................................. 54
Deformação elástica de uma haste ................................................................................... 58
Momento de inércia de um cilindro .................................................................................... 61
Movimento combinado de rotação e translação ................................................................ 64
Dinâmica de rotação ......................................................................................................... 67
Oscilador harmônico simples: sistema massa-mola .......................................................... 72
Oscilador harmônico simples: pêndulo simples ................................................................. 75
Oscilador amortecido ........................................................................................................ 78
Anexo I: Sistema Internacional de Unidades ..................................................................... 88
Anexo II: Orientações gerais para redação dos relatórios técnicos ................................. 90
Referências bibliográficas ……………………………………………………………………... 93
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA DISCIPLINA

Os critérios de avaliação das atividades realizadas nas disciplinas de laboratório de Física,


ofertadas pelo Departamento de Física e Química nos diversos campi e unidades, são:

1. DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS: as disciplinas supracitadas deverão ter a pontuação


distribuída em duas provas no valor de 30 (trinta) pontos e 40 (quarenta) pontos em
atividades práticas.

2. PROVAS: todas as provas devem ser individuais e com consulta apenas aos relatórios e
cadernos de anotações.
a. As provas devem conter questões relacionadas às atividades práticas realizadas em
laboratório: metodologia, análise de dados, e interpretações teóricas.

3. ATIVIDADES PRÁTICAS: os 40 (quarenta) pontos de atividades práticas devem ser


distribuídos conforme a seguir:
a. No mínimo 20 (vinte) pontos devem ser distribuídos em relatórios técnicos:
i. Devem ser avaliados de 3 a 5 relatórios técnicos (individuais);
ii. Todos os relatórios técnicos devem seguir o padrão indicado nas “Orientações
Gerais” anexadas nos cadernos de roteiros;
iii. Cada professor (a) deve expor claramente aos seus alunos, nos primeiros dias
de aula, os critérios adotados nas correções de tais relatórios técnicos;
iv. Os relatórios devem ser devidamente corrigidos e devolvidos aos alunos na
aula seguinte à data da entrega.
b. Os 20 pontos restantes podem ser distribuídos à critério do(a) professor(a);
i. Exemplos: caderno de anotações, vídeos, testes, apresentações e etc.

3
DETERMINAÇÃO DO TEMPO DE REAÇÃO DE UMA PESSOA

Cada pessoa reage a um dado estímulo após um certo tempo (tempo de reflexo ou tempo
de reação). Tais tempos são importantes em várias situações do dia a dia, por exemplo, no trânsito.
É útil saber quanto tempo uma pessoa demora a reagir a uma situação inesperada.

Fonte: Carlos Magno Sampaio – Curso de extensão no Ensino Fundamental, USP Leste (2008).

Objetivo: Determinar o tempo de reação de um grupo de alunos.


Material Utilizado: Uma régua milimetrada.

4
PROCEDIMENTOS:

1) O aluno A segura uma régua milimetrada em posição vertical de tal maneira que o zero fique
entre o indicador e o polegar do aluno B.

2) O aluno A abandona inesperadamente a régua e o aluno B tenta pegá-la no menor tempo


possível. Mede-se, então, a distância ℎ a partir do zero.

3) Determine 10 vezes o tempo de reação do aluno B a partir da medida de ℎ e da equação de


queda livre
𝑡 = √2ℎ/𝑔
onde 𝑔 = 9,81 𝑚/𝑠² é a aceleração da gravidade. Anote os resultados na Tabela 1.

4) Calcule o valor mais provável (ou valor médio) do tempo, 𝑡𝑚𝑒𝑑 , através de uma média aritmética:

𝑛
1
𝑡𝑚𝑒𝑑 = ∑ 𝑡𝑖
𝑛
𝑖=1

onde 𝑡𝑖 assume o valor de cada uma das medidas realizadas e 𝑛 é o número de medidas
realizadas. Anote os resultados na Tabela 1.

5) Determine a precisão das medições com o cálculo do desvio médio 1:


𝑛
1
∆𝑡 = ∑ ∣ 𝑡med − 𝑡𝑖 ∣
𝑛
𝑖=1
Anote o resultado na Tabela 1.

6) Repita os procedimentos anteriores para obter o tempo de reflexo dos outros alunos do grupo.

1
Observação: Quando o número de medidas for muito grande (n > 100), a incerteza do resultado será determinada
pelo desvio padrão da média. Segundo a teoria matemática dos erros, que consiste exatamente em associar a uma
certa medida não o erro que se comete, mas um intervalo de valores dentro do qual o valor verdadeiro tem uma
determinada probabilidade de estar, a incerteza padrão da medição é identificada com o desvio padrão da média,
através da relação

𝑛
1
∆𝑡 = √( ∑ |𝑡𝑚𝑒𝑑 − 𝑡𝑖 |2 )
𝑛 (𝑛 − 1 )
𝑖=1

5
Tabela 1: Tempo de reação de cada aluno
Aluno 1 Aluno 2 Aluno 3 Aluno 4 Aluno 5
h(m) t(s) h(m) t(s) h(m) t(s) h(m) t(s) h(m) t(s)

(tmed ± Δt) (tmed ± Δt) (tmed ± Δt) (tmed ± Δt) (tmed ± Δt)

Responda:
a) Qual das medidas foi a mais precisa?
Para responder essa questão, utilize o cálculo do desvio médio percentual, definido como
Δt
𝜀= × 100
𝑡𝑚𝑒𝑑
b) Qual aluno possui menor tempo médio de reação? A medida do tempo de reação desse aluno é
a mesma que possui melhor precisão? Por quê?

BIBLIOGRAFIA:

[1] Guia para expressão da incerteza de medição. 3 ed. Rio de Janeiro: ABNT / INMETRO, 2003.
Prática 2 – Medidas e erros.

6
MEDIÇÕES E INCERTEZAS
INTRODUÇÃO

A Física – assim como todas as outras ciências – apoia-se na observação sistemática dos
fenômenos naturais para sustentar as teorias que permitem abordar toda uma classe de fenômenos
semelhantes com as mesmas regras. As regras gerais, ou leis da Física, são as ferramentas
utilizadas para explicar a dinâmica das grandezas físicas e a relação entre elas (as grandezas
físicas são as quantidades que podem ser mensuradas). Uma boa fundamentação das leis da
Física depende de métodos de medição e de procedimentos rigorosos para que os resultados das
medições tenham reprodutibilidade.
O resultado de uma medição deve especificar o valor da grandeza, a incerteza e a unidade.
No Brasil, o sistema legal de unidades é o Sistema Internacional (SI) e as regras para a expressão
dos resultados e das incertezas nas medições são definidas pela ABNT (Associação Brasileira de
Normas Técnicas) e pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial) [1].
Todas as medições de uma grandeza física são afetadas por uma incerteza, devido ao
processo de medição, aos equipamentos utilizados, à influência de variáveis que não são medidas
e, também, ao operador. A incerteza pode ser minimizada pela perícia do operador, mas, jamais
eliminada, e quanto menor o seu valor mais confiável ou mais preciso é o resultado. Os resultados
das medições devem ser expressos de modo tal que se possa avaliar a precisão com que foram
feitas.
A forma mais comum de se expressar o resultado da medição de uma grandeza 𝑥 é
(𝑥 ± ∆𝑥 )[unidade] (1)
em que ∆𝑥 é a incerteza, que deve ser escrita com, no máximo, dois algarismos
significativos1.Existem métodos diferentes para se estimar o valor de ∆𝑥. A escolha do método
depende dos procedimentos adotados para medição de 𝑥 e se a medição é direta ou indireta. Uma
medição é direta quando o resultado é lido diretamente no instrumento utilizado e indireta quando
o resultado é obtido a partir das medições de N outras grandezas físicas e da relação funcional
entre elas.

1 Ao contar os algarismos significativos de uma medição, devemos observar que o algarismo


zero só é significativo se estiver situado à direita de um algarismo significativo. Assim,
• 0,00082 tem apenas dois algarismos significativos (8 e 2), pois os zeros não são
significativos.
• 80200 tem cinco algarismos significativos, pois aqui os zeros são significativos.

7
• 0,000802 tem três algarismos significativos, pois os zeros à esquerda do algarismo 8 não
são significativos.
Nas atividades I e II estudaremos algumas regras relativas à avaliação e à expressão dos
resultados de uma medição. Optou-se pela apresentação de métodos simplificados, mas que, ainda
assim, satisfazem os propósitos gerais das disciplinas de Laboratório de Física.

PARTE EXPERIMENTAL:

Objetivo: Determinar o tempo de queda de uma esfera com sua respectiva incerteza e avaliar a
precisão e a acurácia do resultado.

Material Utilizado: Esfera, cronômetro e régua.

PROCEDIMENTOS:

1. Abandone a esfera de uma altura ℎ e meça o tempo 𝑡 de queda. Como o resultado


depende muito do reflexo do operador, é aconselhável repetir este procedimento 10 vezes.
Anote os resultados na Tabela 1.

𝑖 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
𝑡 (s)
Tabela 1: Tempo de queda de uma esfera medido 10 vezes.

2. Determine o valor mais provável para o tempo de queda através de uma média
aritmética.

3. A incerteza ∆𝑡 da medição é identificada com o desvio padrão definido como


𝑛
1
∆𝑡 = . ∑ |𝑡𝑚𝑒𝑑 − 𝑡𝑖 | , (2)
𝑛
𝑖=1

em que 𝑡𝑚𝑒𝑑 é o tempo médio, 𝑛 é o número de medidas e 𝑡𝑖 é a medida de ordem 𝑖. Calcule o


desvio médio, expresse o resultado como em (1) e anote-o no retângulo abaixo.

Se o resultado encontrado é, por exemplo, 𝑡 = (0,62 ± 0,11) 𝑠, seria incorreto expressar


esse resultado em qualquer das formas seguintes:

8
• (0,62 ± 0,1128) 𝑠 - Nas normas da ABNT, recomenda-se que a incerteza da medição seja
fornecida com, no máximo, dois algarismos significativos. Assim, mesmo que o processo de
cálculo do desvio médio tenha fornecido o valor 0,1128, a norma recomenda que ele seja
escrito como 0,1 ou 0,11. Se o algarismo abandonado for igual ou maior que 5, acrescenta-
se uma unidade ao algarismo que permaneceu. Caso se faça a opção por escrever a
incerteza com um algarismo significativo, o resultado deve ser escrito na forma 𝑡 =
(0,6 ± 0,1)𝑠.

• (0,6185 ± 0,11) 𝑠 - Mesmo que o processo de cálculo do valor médio tenha fornecido o valor
0,6185, como a incerteza é de centésimos de segundo, não faz sentido indicar o resultado
com precisão maior que centésimos de segundo, ou seja, os algarismos 8 e 5 não são
significativos e não devem ser escritos.

4. Anote, na Tabela 2, os resultados para 𝑡𝑚𝑒𝑑 e ∆𝑡 encontrados pelos grupos. Qual é o


resultado mais preciso?
A resposta desta questão é obtida a partir do cálculo do desvio médio percentual, definido
como
∆𝑡
𝜀= × 100.
𝑡𝑚𝑒𝑑
O resultado com menor desvio médio percentual é o mais preciso.

Grupo tmed (s) ∆t (s) 𝜀 (%) 𝑔 (m/s2) ∆𝑔(%)


1
2
3
4
Tabela 2: Tempo médio, tmed, de cada grupo, com os respectivos valores do desvio médio, ∆t e desvio médio
percentual, ∆t (%). Gravidade, g, obtida com o tempo médio e seu desvio percentual com relação ao valor
esperado, ∆𝒈 (%).

5. Qual é o resultado mais acurado, isto é, mais próximo do valor verdadeiro?

A resposta desta questão pode ser obtida utilizando a expressão matemática que relaciona
a posição de um corpo em movimento uniformemente acelerado e o tempo,

9
𝑔𝑡 2
ℎ= .
2

Uma vez que temos ℎ e t podemos determinar a aceleração da gravidade 𝑔 e o quanto se


desvia do valor verdadeiro ou convencional (9,81m/s2) e, assim, verificar qual grupo realizou as
medidas que fornecem um valor do tempo de queda - consequentemente 𝑔 - de forma mais
acurada.

Calcule o valor de 𝑔 e o desvio percentual com relação ao valor esperado, definido como

|𝑔 − 9,81|
∆𝑔 = 𝑥 100 %
9,81

Anote os resultados na Tabela 2. O resultado com menor desvio percentual com relação ao valor
esperado é o mais acurado.

10
MEDIÇÕES DIRETAS, INDIRETAS E PROPAGAÇÃO DE ERROS

INTRODUÇÃO

• Medições Diretas

Imagine que você esteja realizando uma medida qualquer, como, por exemplo, a medida do
comprimento de uma barra, figura 1. Observe que a menor divisão da régua utilizada é de 1mm.
Ao tentar expressar o resultado dessa medida, você percebe que ela está compreendida entre 143
mm e 144 mm. A fração de milímetro que deverá ser acrescentada a 143 mm terá de ser avaliada,
pois a régua não apresenta divisões inferiores a 1mm.
Para fazer essa avaliação, você deverá imaginar o intervalo entre 143 mm e 144 mm
subdividido em 10 partes iguais, e, com isso, a fração de milímetro, que deverá ser acrescentada
a 143 mm, poderá ser obtida com razoável aproximação. Na Figura 1 podemos avaliar a fração
mencionada como sendo 5 décimos de milímetros e o resultado da medida poderá ser expresso
como 143,5 mm.
Observe que estamos seguros em relação aos algarismos 1, 4 e 3, pois eles foram obtidos
através de divisões inteiras da régua, ou seja, você tem certeza deles. Entretanto, o algarismo 5 foi
avaliado, isto é, você não tem certeza sobre seu valor e outra pessoa poderia avaliá-lo como sendo
4 ou 6, por exemplo. Por isto, esse algarismo avaliado é denominado algarismo duvidoso.

Figura 1: Comprimento 𝑙 de uma barra medido com uma régua milimetrada. O resultado é 𝑙 = (143,5 ± 0,5)𝑚𝑚. Os
algarismos 1, 4 e 3 são certos e o algarismo 5 é duvidoso. A incerteza avaliada nesta medição é 0,5 mm, metade da
menor divisão da escala da régua.

A partir deste momento, você pode compreender que duas medidas expressas, por exemplo,
como 42 cm e 42,0 cm, não representam exatamente a mesma coisa. Na primeira, o algarismo 2
foi avaliado e não se tem certeza sobre o seu valor. Na segunda, o algarismo 2 é certo, sendo o
zero o algarismo duvidoso. Do mesmo modo, resultados como 7,65 kg e 7,67 kg, por exemplo, não
são fundamentalmente diferentes, pois diferem apenas no algarismo duvidoso.

11
Quando se realiza uma única medida de uma grandeza, a incerteza pode ser encontrada
usando-se diferentes procedimentos, mas é sempre importante usar-se o bom senso. Uma regra
amplamente difundida é a de que a incerteza de uma medida isolada (erro de leitura) deve ser a
metade da menor divisão da escala do instrumento de medida. Por exemplo, para se medir o
comprimento da barra da Figura 1, alguém poderia considerar como incerteza a metade de uma
unidade correspondente à menor divisão, ou seja, 0,5 milímetro. Assim, a medida do comprimento
da barra seria escrita como l = (143,5 ± 0,5) mm. O resultado escrito dessa maneira indica que há
uma incerteza de 0,5 mm na determinação do comprimento da barra. Entretanto, se essa régua for
usada para medir a altura da porta da sala de aula, é claro que a incerteza não mais poderá ser de
0,5 mm. O procedimento de posicionar a régua várias vezes para completar a medida eleva muito
a incerteza que poderá ser da ordem de centímetro. Portanto, essa regra tão difundida de que a
incerteza é a metade da menor divisão da escala deve ser usada com muito cuidado.
Quando se usa, por exemplo, um voltímetro analógico ou qualquer instrumento com ponteiro,
tem-se que prestar atenção se a leitura é estável ou se o ponteiro oscila em torno de um valor. Se
o aparelho indicar um valor fixo, pode-se considerar como incerteza a própria precisão do
instrumento ou, no caso de não se ter essa informação, usar uma unidade da menor divisão da
escala utilizada [2]. Se houver oscilação, é mais razoável calcular a incerteza a partir dos limites
desta oscilação: o resultado de uma medida poderá ser qualquer valor dentro da faixa de oscilação.
Como exemplo, considere que a única informação que um operador tem sobre uma medição de
uma grandeza é que seu valor se situa entre os limites 𝑦𝑚𝑖𝑛 e 𝑦𝑚𝑎𝑥 . Assim, é aceitável supor que 𝑦
pode assumir qualquer valor dentro desse intervalo com igual probabilidade (distribuição
retangular). Nesse caso, o valor mais provável da grandeza é dado por
𝑦𝑚𝑎𝑥 + 𝑦𝑚𝑖𝑛
𝑦= ,
2
e a incerteza padrão, estimada como desvio padrão dessa distribuição, é dada por
𝑦𝑚𝑎𝑥 − 𝑦𝑚𝑖𝑛
∆𝑦 = .
2√3
O fator √3 decorre da distribuição retangular de probabilidade [2].

No caso de aparelhos digitais, a avaliação do desvio deverá ser feita como no caso anterior,
através dos limites de oscilação, se houver oscilação, ou através da própria precisão do
instrumento, se não houver oscilação. No caso de não se ter a informação da precisão do
instrumento, pode-se considerar 3%.
O desvio relativo é a razão entre a incerteza ∆𝑦 e o valor médio de y,
∆𝑦
.
𝑦
O desvio percentual é o desvio relativo expresso em percentual,
12
∆𝑦
× 100%.
𝑦
Os desvios percentuais permitem comparar as precisões das medidas,

• Medições Indiretas

É muito comum não ocorrer a medição direta de uma grandeza y. Nesses casos, o valor da
grandeza é obtido a partir das medições de N outras grandezas físicas e da relação funcional𝑦 =
𝑓(𝑥1 , 𝑥2 , … 𝑥𝑁 ) . Ao se expressar o resultado de 𝑦 obtido indiretamente a partir de cálculos, é
importante apresentar qual é a incerteza associada a esse resultado, ou seja, qual é a
consequência da propagação das incertezas. Abaixo segue um resumo de algumas regras úteis
para determinação do desvio de uma grandeza medida indiretamente [2].

(i) Se y é a soma ou subtração de grandezas a, b, c,… então:


∆𝑦 = ∆𝑎 + ∆𝑏 + ∆𝑐 + ⋯
(ii) Se y é a multiplicação de uma grandeza a por uma constante k então:
∆𝑦 = 𝑘 ∆𝑎.
(iii) Se y é a divisão de uma grandeza a por uma constante k então:
∆𝑎
∆𝑦 = .
𝑘
(iv) Se y é a multiplicação ou divisão de grandezas a, b, c, … então:
∆𝑦 ∆𝑎 ∆𝑏 ∆𝑐
= + + + …
𝑦 𝑎 𝑏 𝑐
(v) Se y é a potência n de uma grandeza a, então
∆𝑦 ∆𝑎
=𝑛
𝑦 𝑎

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo:(i) Realizar medidas diretas e indiretas, (ii) expressar os resultados com suas respectivas
incertezas e (iii) conhecer o paquímetro, micrômetro, dinamômetro e o transferidor.

Material Utilizado: Paquímetro, micrômetro, dinamômetro e transferidor.

Paquímetro: Frequentemente utilizam-se para a medição de comprimento na indústria o


paquímetro, algumas vezes chamado de calibre, e o micrômetro também chamado de Palmer ou
parafuso micrométrico.

13
Figura 2: (a) Paquímetro de precisão 0,05 mm. (b) Estimativa de um comprimento 𝑙 = 24,85 mm. (Fonte:
http://pt.wikipedia.org).

O paquímetro faz uso de uma escala auxiliar, chamada nônio ou vernier, cujo comprimento
é de 9 vezes a menor divisão da escala principal, subdividida em 10 partes. A Figura 2(a) mostra
as partes principais de um paquímetro. Ao fazer uma estimativa de um dado comprimento 𝑙 lê-se a
quantidade de milímetros na escala principal. Em seguida, procura-se qual subdivisão do nônio
coincide exatamente ao número de décimos de milímetro do comprimento medido. Examine a
Figura 2(b). O comprimento 𝑙 medido é 24,85 mm. A precisão do paquímetro é 0,05 mm.

Micrômetro: A Figura 3 mostra as partes principais de um micrômetro. Para cada avanço


de 1 mm do deslocamento axial do tambor na escala da bainha, o tambor gira 1 volta. Dividindo-se
a circunferência 2𝜋𝑅 do tambor em 100 partes, cada divisão da escala do tambor será de 0,01 mm.
Portanto, a sensibilidade do micrômetro da Figura 3 é de 0,01 mm e a precisão é de 0,005 mm.

14
Figura 3: Micrômetro de sensibilidade 0,01 mm.(Fonte: http://www.bibvirt.futuro.usp.br)

A Figura 4 mostra um micrômetro com precisão de 0,001 mm. Os passos para uma leitura
correta são:

1º - leitura dos milímetros inteiros na escala da bainha.

2º - leitura dos meios milímetros na mesma escala.

3º - leitura dos centésimos na escala do tambor.

4º - leitura dos milésimos com o auxílio do nônio da bainha, verificando qual dos traços do nônio
coincide com o traço do tambor.

A leitura final será a soma dessas quatro leituras parciais.

15
Figura 4: Micrômetro de precisão 0,001 mm. (Fonte: http://www.bibvirt.futuro.usp.br)

O dinamômetro é um instrumento usado para medir forças. Os modelos mais usuais


apresentam uma estrutura tubular, chamados dinamômetros tubulares, como o exemplo da Figura
5. Esses dinamômetros possuem escalas com divisões de 1/100 de sua capacidade máxima de
carga (geralmente indicada no início do tubo da escala). Antes da utilização do dinamômetro é
necessário ajustá-lo através do parafuso liberador da capa, de modo a nivelar o referencial
(extremidade da capa) com a primeira marcação da escala.

Figura 5: Dinamômetro tubular. Figura adaptada de [4].

Atenção: seguem algumas recomendações importantes para manutenção e conservação


do dinamômetro:
➢ Nunca utilize o dinamômetro além da capacidade máxima indicada!
➢ Nunca solte o dinamômetro bruscamente quando ele estiver distendido!

A Figura 6 mostra um diagrama de um transferidor semicircular (de 180º), que é um


instrumento usado para medir ou construir um ângulo de uma dada medida. Existem transferidores
circulares, de 360º. Observe que em geral esses instrumentos possuem duas escalas de ângulos
que são crescentes no sentido anti-horário e decrescentes no sentido horário; assim pode-se medir
16
ângulos em qualquer direção.

Figura 6: Esquema de um transferidor de 180º. Figura adaptada de [5].

Para medir um ângulo entre duas retas deve-se posicionar a base (linha do 0º) sobre uma
das retas (“A”, no exemplo da Figura 6), de modo que o centro do transferidor fique no vértice entre
as retas. O valor da escala na qual coincide com a outra reta (“B”) indica o ângulo formado entre
as retas. Tendo em vista que a menor divisão desse transferidor da figura acima é de 1 de grau,
então a leitura indicada será 𝜃 = (120,0 ± 0,5)°.

Procedimento 1:

1) Com a régua meça o comprimento (A) e a largura (B) de uma folha de papel A 4. Para medir a
espessura (C) da folha utilize o paquímetro. Como é impossível medir diretamente a espessura de
uma única folha com o paquímetro, meça inicialmente a espessura de diversas folhas e divida o
resultado pelo número de folhas.
Escreva os resultados com as incertezas.

A = ________________________

B = ________________________

C = ________________________

2) Tente medir diretamente a espessura da folha com o micrômetro. Compare o resultado com
aquele encontrado com o paquímetro.
3) Determine o volume da folha e escreva o resultado com a incerteza.

17
Procedimento 2:

1) Identifique o valor da menor divisão da escala do dinamômetro e determine sua incerteza.


2) Fixe o bloco de madeira na extremidade do dinamômetro (suspenso verticalmente no tripé) e
determine o valor do peso do bloco.

Procedimento 3:

1) Identifique o valor da menor divisão da escala do transferidor e determine sua incerteza.


2) Determine o valor do ângulo 𝜃 da figura abaixo:

Procedimento 4 (opcional)

1) Meça as dimensões A, B e C da caixa, conforme ilustrado na Figura 1. Utilize primeiro a régua


graduada em decímetro, depois em centímetro e finalmente em milímetro. Anote os resultados na

Tabela 1.

Figura 1: Caixa de dimensões A, B e C.

A B C
dm
cm
mm
Tabela 1: Dimensões A, B e C da caixa.

Questões:

a) Todas as medidas foram expressas com o mesmo número de algarismos significativos?

18
b) Você introduziu algum algarismo para expressar alguma medida? Em caso afirmativo, isto
ocorreu com todas as réguas?

No presente caso, é permitido “acrescentar” um algarismo além dos que temos certeza ou que nos
informa a régua, mesmo que isto seja praticamente impossível para a resolução de nossa visão.
Desta maneira, o valor por nós expresso carregará consigo um erro (desvio) devido a nossa
aproximação e à precisão do instrumento utilizado. Como expressar, então, o valor de nossas
medidas e informar qual o erro (desvio) cometido? As grandezas serão expressas acrescentando-
se ao valor encontrado ± a metade da menor divisão do aparelho (desvio avaliado). Exemplo:
(48,6 ± 0,5) cm.

c) Qual das réguas mediu com maior precisão? Por quê?


d) Qual das grandezas (A, B ou C) está expressa com maior precisão, se medidas em
milímetros? Para respondermos esta questão é importante entendermos o conceito de
desvio relativo e/ou desvio percentual que é uma maneira de expressar de forma mais
clara o quanto se “erra” ao especificar o valor medido de uma grandeza e de certa forma
especificar a qualidade de um produto. O desvio relativo é o desvio avaliado dividido pelo
valor medido (∆x/x) e o desvio percentual é o desvio relativo vezes cem [(∆x/x). 100]. Sendo
assim, determine o desvio percentual das grandezas A, B e C, medidas na escala milímetros,
e escreva a medida ± o desvio percentual.
e) Calcule o volume da caixa e determine o desvio percentual e absoluto. Faça isso para as
três escalas e anote os resultados na Tabela 2.

Volume ∆V/V (%) ∆V


dm3 dm3
cm3 cm3
mm3 mm3
Tabela 2: Volume da caixa e seu desvio percentual e absoluto.

BIBLIOGRAFIA

[1] Guia para expressão da incerteza de medição. 3 ed. Rio de Janeiro: ABNT / INMETRO, 2003.
[2] CORRADI, Wagner; et al. Física Experimental. Belo Horizonte, ed. UFMG, 2008.
[3] CAMPOS, Agostinho Aurélio Garcia; ALVES, Elmo Salomão; SPEZIALI, Nivaldo Lúcio. Física
experimental básica na universidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2007.

19
[4] CIDEPE, Livro de Atividades Experimentais: Física Experimental – Mecânica – Conjunto
lançador com sensores e software.
[5] Measuring an angle by a protractor. Disponível em <http://www.math-only-math.com/measuring-
an-angle-by-a-protractor.html>. Acesso em 24 de junho de 2015.

20
GRÁFICOS E AJUSTES
1. INTRODUÇÃO

1.1 Tabelas
O primeiro estágio de apresentação de uma série de medidas resultante de um experimento é através
de tabelas que, em geral, já são montadas durante o processo de obtenção de dados. Embora em cada
experimento se deva decidir pela forma de tabela mais conveniente, é mostrado a seguir um padrão de
tabela que se adapta à maioria dos experimentos que serão feitos nas disciplinas experimentais de Física.
Considere um experimento onde se aplica tensão elétrica V entre 10 e 50 V em um resistor e mede-se a
corrente I gerada. A Tabela 1 mostra uma forma conveniente de apresentar os valores obtidos:

Tabela 1: Valores da tensão aplicada no resistor e a correspondente corrente.


Tensão (𝑽 ± 𝟏%) Corrente (10-3 A) (𝑰 ± 𝟏%)
11,3 22,5
19,5 40,0
22,7 44,4
29,1 59,2
38,4 76,1
42,3 83,8
50,0 99,3

Deve-se observar que:


• toda tabela deve ter uma legenda;
• no cabeçalho da tabela é importante vir a especificação das grandezas que foram medidas com suas
unidades e a estimativa dos erros, absolutos ou relativos, a elas associados; se cada medida
apresentar um erro diferente, deve-se especificá-lo após cada uma;
• número de algarismos significativos das medidas deve ser compatível com os erros especificados.

1.2 Gráficos

A construção de gráficos associando as variáveis medidas em um experimento é bastante


interessante, pois permite uma visualização rápida do tipo de dependência existente entre as grandezas
estudadas. Existem vários tipos de gráficos, cada um se adequando melhor às grandezas medidas e ao tipo
de relações que se deseja fazer entre elas. Uma forma de gráfico bastante comum em experimentos de
Física é aquele relacionando duas grandezas onde cada valor de uma está associado a um valor
correspondente da outra. O gráfico a seguir, mostrando a relação entre as grandezas tensão e corrente
representadas na tabela anterior, ilustra uma forma comumente utilizada.

21
Figura 1: Exemplo de um gráfico: Tensão elétrica V versus corrente I em um resistor.

Deve-se ter atenção que um gráfico deve conter:


• título e/ou legenda;
• nome da grandeza em cada eixo com sua respectiva unidade;
• dimensionamento correto da escala.

Uma observação rápida do gráfico anterior permite identificar uma relação linear entre as duas
grandezas analisadas.

Tratamento matemático de dados: Ajuste de uma reta por regressão linear

O gráfico da seção anterior sugere, visualmente, que existe uma relação linear entre a tensão elétrica
aplicada e a corrente no resistor. Isso significa que, procurando-se uma relação matemática que associe a
corrente I no resistor sujeito a uma tensão V, deve-se encontrar a equação de uma reta, ou seja, uma
equação do tipo:
𝑦 = 𝐴𝑥 + 𝐵
onde a constante A representa a inclinação da reta e a constante B o valor da grandeza y quando x = 0.
Para o caso do resistor podemos escrever especificamente
𝑉 = 𝐴𝐼 + 𝐵
É possível traçar no gráfico uma reta que, visualmente, melhor equilibra os pontos medidos e, então,
determinar os valores de A e B (faça isso). Entretanto, existem processos matemáticos objetivos que
estabelecem a melhor reta que se ajusta aos pontos medidos. O processo mais utilizado com esse intuito
é chamado regressão linear.
Geralmente, todo processo operacional de ajuste, ou seja, de obtenção das constantes A e B que
definem a reta, será feito por calculadora ou computador. No entanto é interessante que se tenha
conhecimento da origem das fórmulas empregadas e do processo de cálculo envolvido.

Regressão Linear:

Pode-se dizer que regressão linear é a:

“determinação da equação de uma reta que melhor se sobrepõe aos resultados de medidas
relacionando grandezas linearmente dependentes.”

Considere a série de pontos experimentais genéricos (𝑥𝑖 , 𝑦𝑖 ) colocados no gráfico da Figura 2.

22
Figura 2: Pontos experimentais definindo uma reta; 𝛿𝑖 é a diferença entre a ordenada 𝑦𝑖
medida para e 𝑥𝑖 o correspondente valor calculado pela equação da reta.

Se a melhor curva que passa por estes pontos é a reta desenhada, podemos escrever sua equação
na forma 𝑦 = 𝐴𝑥 + 𝐵, onde B é o ponto onde a reta corta o eixo vertical, em x = 0, e A é a inclinação da reta
escolhida.
Observando o gráfico da Figura 2 notamos que para o ponto xi, o valor experimental corresponde é
, mas, pela reta escolhida, a ordenada correspondente a 𝑥𝑖 será A𝑥𝑖 + B. Desta forma, para cada ponto
𝑥𝑖 existe uma diferença 𝛿𝑖 , ou resíduo, entre o valor experimental medido e o valor de y calculado pela reta:
𝛿𝑖 = 𝑦𝑖 − (𝐴𝑥𝑖 + 𝐵)
Alguns resíduos são positivos e outros negativos. Uma grandeza que daria uma visão de “quão boa” é a reta
calculada, seria:
𝐷 = ∑(𝛿𝑖 )2 = ∑[𝑦𝑖 − (𝐴𝑥𝑖 + 𝐵)]2 𝑒𝑞. 1
a qual representa a soma dos quadrados dos resíduos de todos os pontos.

A melhor reta que ajusta os pontos experimentais é aquela que minimiza D, ou seja, deve-se
achar os valores de A e B tais que D seja mínimo.

Como D é uma função de A e B, para que ele seja mínimo devemos ter:
𝜕𝐷 𝜕𝐷
=0 𝑒 =0
𝜕𝐴 𝜕𝐵

Derivando a equação 1 tem-se:

𝜕𝐷 𝜕𝐷
= −2 ∑[𝑦𝑖 − 𝐵 − 𝐴𝑥𝑖 ]𝑥𝑖 𝑒 = −2 ∑[𝑦𝑖 − 𝐵 − 𝐴𝑥𝑖 ]
𝜕𝐴 𝜕𝐵

Assim, para que D seja mínimo, devemos ter:

∑[𝑦𝑖 − 𝐵 − 𝐴𝑥𝑖 ]𝑥𝑖 = 0 𝑒 ∑[𝑦𝑖 − 𝐵 − 𝐴𝑥𝑖 ] = 0 𝑒𝑞. 2

que é um sistema de duas equações com duas incógnitas A e B que determinam a melhor reta 𝑦 = 𝐴𝑥 +
23
𝐵, que passa pelos pontos experimentais (𝑥𝑖 , 𝑦𝑖 ).

A solução do sistema de equações 2 é simples e dá como resultado os seguintes valores para A e B:


𝑛 ∑ 𝑥𝑖 𝑦𝑖 − ∑ 𝑥𝑖 ∑ 𝑦𝑖
𝐴= 2
𝑛 ∑ 𝑥𝑖 2 − (∑ 𝑥𝑖 )

1
𝐵= [∑ 𝑦𝑖 − 𝐴 ∑ 𝑥𝑖 ]
𝑛

Todos os somatórios apresentados aqui são para i de 1 até N, onde N é o número de pares de valores
experimentais (𝑥𝑖 , 𝑦𝑖 ).
Uma descrição mais completa do método nos permitiria ainda determinar estatisticamente os desvios
(incertezas) associadas às constantes A e B calculadas. Aqui serão dados apenas os resultados dos cálculos
destes desvios:
𝐷 𝐷 ∑ 𝑥𝑖 2
∆𝐴 = 𝑒 ∆𝐵 = √
2 (𝑛 − 2) 𝑛 ∑ 𝑥𝑖 2 − (∑ 𝑥𝑖 )2
(𝑛 − 2)√𝑛 ∑ 𝑥𝑖 2 − (∑ 𝑥𝑖 )

Observações
1) Existe um parâmetro estatístico, chamado coeficiente de determinação, que permite avaliar a qualidade
do ajuste. Para os propósitos das atividades deste curso esse parâmetro tem pouca relevância e, portanto,
não será tratado.
2) No método da regressão linear, todos os pares ordenados têm a mesma importância. Em alguns casos,
condições físicas impõem que alguns pontos tenham mais importância que outros (muitas vezes, por
exemplo, a reta deve passar pela origem). Neste caso, você pode entrar com os correspondentes pares de
valores várias vezes para aumentar sua importância nos cálculos. A reta tenderá a passar mais próxima
deste ponto.

Considerações gerais

O processo de superpor uma curva descrita por uma equação a um conjunto de pontos experimentais
não se aplica apenas quando a relação entre as grandezas é linear. Sempre que existir algum modelo ou
previsão teórica para a relação matemática entre as grandezas, é possível encontrar os parâmetros que
ajustem a curva correspondente com os resultados experimentais. O método matemático genérico que
permite esse tipo de ajuste é chamado de “Método de Mínimos Quadrados”, pois, como foi exemplificado
no caso particular do ajuste da reta, são procurados os parâmetros que minimizem o quadrado das
diferenças 𝛿𝑖 (eq.1) entre o valor medido e o correspondente valor calculado. Muitos programas atuais de
tratamento de dados permitem fazer um ajuste diretamente de uma função matemática estabelecida pelo
usuário. Na seção seguinte será apresentado um procedimento que permitirá, através da linearização de
um gráfico, usar ainda a regressão linear apresentada na seção 3-1.

Tratamento matemático de dados: linearização de gráficos

É muito frequente em Física se lidar com fenômenos onde duas grandezas x e y se relacionam
linearmente, ou seja, 𝑦 = 𝐴𝑥 + 𝐵 . Nesses casos, a partir da regressão linear dos pares de resultados
obtidos (𝑥, 𝑦) , é possível encontrar as constantes A e B da reta que melhor se ajusta aos pontos
experimentais, conforme descrito na seção anterior. Usando os valores dessas constantes é possível tirar
informações importantes relativas ao experimento.
Há, obviamente, experimentos onde a relação entre as grandezas estudadas não é linear, o que

24
significa que essas grandezas não estão relacionadas por uma equação de reta. Em situações como
esta, a obtenção de informações relevantes ao experimento pode ser feita de mais de uma maneira.
Apresenta-se a seguir o procedimento de linearização, usando a Lei de Coulomb como exemplo.

Linearização

Considere uma situação física onde duas pequenas esferas carregadas positivamente com cargas 𝑞1 e
𝑞2 estão separadas de uma distância 𝑟; existe uma repulsão elétrica mútua entre elas com forças iguais e
opostas 𝐹⃗1 e 𝐹⃗2 , como indicado na figura abaixo.

Figura 3: Duas cargas positivas 𝑞1 e 𝑞2 separadas por uma distância 𝑟, se repelem com forças
𝐹⃗1 e 𝐹⃗2 . Figura adaptada de [3].

Foi realizado um experimento, dispondo-se de um equipamento apropriado, onde se variou a


distância 𝑟 entre as cargas e mediu-se o valor do módulo 𝐹 da força de repulsão. Os resultados encontram-
se na Tabela 3.

Tabela 3: Força de repulsão entre duas cargas.


F(N) r (cm)

2,93 1,0

2,50 1,2

1,41 1,5

0,96 1,8

0,78 2,0

0,51 2,5

0,36 3,0

0,20 4,0

0,13 5,0

0,09 6,0

0,07 7,0

0,05 8,0

0,04 9,0

0,03 10,0

25
O gráfico do experimento está representado na figura 4.

Figura 4: Módulo da força de repulsão elétrica entre duas pequenas cargas carregadas em função
da distância de separação entre elas.

A Lei de Coulomb afirma que a força elétrica entre duas cargas pontuais varia com o inverso do
quadrado da distância entre elas, ou seja, para valores de cargas constantes, pode-se escrever a lei física,
que deve corresponder ao presente experimento, na forma:
1
𝐹 = 𝐶 ( 2)
𝑟
onde 𝐶 é uma constante.

Definindo-se uma outra variável 𝑋 igual ao inverso do quadrado de 𝑟, tem-se uma relação entre 𝐹 e
𝑋 que é linear, ou seja, definindo-se uma grandeza 𝑋 ≡ 1/𝑟 2 , tem-se 𝐹 = 𝐶. 𝑋.
Plotando o gráfico de 𝐹 (ordenada) em função de 𝑋 (abscissa), e faça uma regressão linear para
encontrar os parâmetros da reta do tipo 𝑌 = 𝐴𝑋 + 𝐵 que melhor se ajustam aos pontos. Sendo assim, pode-
se fazer uma regressão linear considerando as novas grandezas:
𝑌=𝐹
𝑌 = 𝐴𝑋 + 𝐵 𝑜𝑛𝑑𝑒 { 𝑋 = 1⁄𝑟 2
𝐴 = 𝐶; 𝐵 ≈ 0

Esses resultados são apresentados na Figura 5.

26
Figura 5: A força entre duas cargas elétricas é linear com o inverso do quadrado da distância
entre elas.

O procedimento para se linearizar um gráfico depende de cada situação, pois as equações envolvidas
na análise do problema é que irão dar a “receita” do que deve ser feito para se encontrarem novas variáveis,
que serão funções das anteriores, de maneira que elas tenham relação linear entre si. No caso aqui
apresentado, o procedimento foi simplesmente representar a força e o inverso do quadrado da distância.

2. ATIVIDADES

1) A tabela abaixo mostra o deslocamento 𝑥 em função do tempo t de uma partícula, em movimento uniforme,
sobre uma superfície horizontal.

(𝑥 ± 0,001)𝑚 0 0,340 0,670 0,980 1,380 1,630


(𝑡(𝑠) ± 3%) 0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0

(a) Construa o gráfico 𝑥 versus t usando o software SciDavis.

(b) Faça um ajuste linear e determinar os valores dos coeficientes angular A e linear B da reta do tipo
Y=AX+B que melhor se ajusta aos dados. O valor de B é a ordenada do ponto onde a reta corta o eixo y e
o valor de A é a inclinação da reta.

(c) Qual é o significado físico das constantes A e B?

2) Uma partícula, em um plano horizontal, parte do repouso em um movimento com aceleração constante.
A tabela abaixo mostra o deslocamento 𝑥 em função do tempo 𝑡.

(𝑥 ± 0,001)𝑚 0 0,210 0,440 0,830 1,230 1,810 2,420 3,170


𝑡(𝑠) ± 3% 0 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0

(a) Com auxílio do programa Scidavis, construa o gráfico 𝑥 versus 𝑡. Esse gráfico é linear?

27
Em um movimento com aceleração constante, a posição varia no tempo através da relação:
1
𝑥 = 𝑥0 + 𝑣0 𝑡 + 𝑎𝑡 2
2
Como, inicialmente, a partícula estava em repouso (𝑣0 = 0), podemos escrever:
1
𝑥 = 𝑥0 + 𝑎𝑡 2
2

(b) Faça uma linearização da função anterior e construa um gráfico linear com os novos dados. Qual é o
significado físico dos coeficientes angular A e linear B? Determine-os através de uma regressão linear.

BIBLIOGRAFIA:

[1] CORRADI, Wagner; et al. Física Experimental. Belo Horizonte, ed. UFMG, 2008.
[2] CAMPOS, Agostinho Aurélio Garcia; ALVES, Elmo Salomão; SPEZIALI, Nivaldo Lúcio. Física
experimental básica na universidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2007.
[3] CUTNELL, John D.; JOHNSON, Kenneth W. Física: volume 1. 6.ed. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos
e Científicos, 2006.

28
MOVIMENTO UNIDIMENSIONAL

1. INTRODUÇÃO:

Tudo se move. Mesmo as coisas que parecem estar em repouso. Elas se movem em relação
ao Sol e às estrelas. Enquanto você está lendo isto, está se movendo a aproximadamente 107 000
quilômetros por hora em relação ao Sol [1]. Se uma pessoa caminha no interior de um trem em
movimento, sua velocidade em relação ao piso do trem é diferente de sua velocidade relativa aos
trilhos. O movimento é relativo. Quando dizemos que a velocidade de um carro é 60 km/h,
queremos dizer que tal velocidade é relativa a um ponto fixo na estrada. A menos que seja dito
outra coisa, sempre que nos referirmos à velocidade com que um objeto se move em nosso
ambiente, estaremos supondo-a relativa a um ponto estacionário em relação à superfície da Terra.
Uma forma compacta de descrever a posição de um objeto em movimento unidimensional é
construir um gráfico da posição 𝑥 em função do tempo 𝑡, ou seja, um gráfico de 𝑥(𝑡). A partir dos

dados de posição e tempo, podemos determinar a velocidade média, vmed , do objeto entre dois
instantes 𝑡1 e 𝑡2 como:
x 2 − x1 x
v med = = (1)
t 2 − t1 t

em que 𝑥1 e 𝑥2 são as posições nos instantes 𝑡1 e 𝑡2 , respectivamente. Em um gráfico de 𝑥(𝑡), vmed


é a inclinação da reta secante que liga os pontos de coordenadas (𝑡1,, 𝑥1 ) e (𝑡2 , 𝑥2 ).
Objetos em movimento frequentemente sofrem variações em sua velocidade. Neste caso, a
velocidade em um dado instante é obtida a partir da velocidade média reduzindo o intervalo de
tempo ∆𝑡 até torná-lo próximo de zero. Quando ∆𝑡 diminui, a velocidade média se aproxima cada
vez mais de um valor limite, que é a velocidade instantânea:
x dx
v = lim = (2)
t →0 t dt

Em um gráfico de 𝑥(𝑡) a velocidade instantânea 𝑣, em qualquer instante, é a inclinação da curva


secante que representa a posição em função do tempo no instante considerado.
Quando a velocidade do objeto varia, diz-se que o objeto sofreu uma aceleração. Para
movimentos unidimensionais a aceleração média em um intervalo de tempo ∆t é:

v 2 − v1 v
a med = = (3)
t 2 − t1 t

29
onde a partícula tem velocidade 𝑣1, no instante 𝑡1 e velocidade 𝑣2, no instante 𝑡2 . A aceleração
instantânea (ou, simplesmente aceleração) é dada por:
v dv
a = lim =
t →0 t dt
Graficamente, a aceleração instantânea em qualquer instante é a inclinação da curva tangente em
um gráfico 𝑣(𝑡).

2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos: Aprender a construir e interpretar gráficos dos movimentos uniformes e variados


unidimensionais.

Material Utilizado: Plano inclinado com sensores e cronômetro.


Procedimentos 1: Movimento Retilíneo Uniforme
1. Monte o equipamento, conforme Figura 1 (a), com uma inclinação de 150.

(a) (b)
Figura 1: Esfera em um tubo inclinado com fluido viscoso (fonte: www.cidepe.com.br).

2. Com auxílio do imã posicione a esfera, que está no interior do tubo com meio viscoso, a 20
mm antes da marca 0 mm da escala – Figura 1 (b).
3. Libere a esfera e meça o intervalo de tempo transcorrido desde a passagem da esfera pela
posição 𝑥0 = 0 m até a posição 𝑥0 = 0,100 m. Repita o procedimento para as posições
especificadas na Tabela 1.

(𝑥 ± 0,001) m 0 0,100 0,200 0,300 0,400


(𝑡 ± 3%) s 0
Tabela 1: Posição x da esfera em função do tempo t, quando o ângulo de inclinação do tubo é 15 0.
4. Com os dados da Tabela 1 e com auxílio do programa Scidavis, construa o gráfico de 𝑥(𝑡).
30
5. Este gráfico é linear? Qual o significado físico da inclinação da reta (coeficiente angular)?
6. Determine, através do gráfico de 𝑥(𝑡), o módulo da velocidade da esfera.
7. No movimento retilíneo uniforme a velocidade é constante e a função posição em função do
tempo é 𝑥(𝑡) = 𝑥0 + 𝑣𝑡 . Então, escreva esta função para o movimento da esfera e
determine a posição que a esfera deveria ocupar após 10 s de movimento.

Procedimentos 2: Movimento Retilíneo Acelerado (Apenas para os laboratórios do Coração


Eucarístico)
1. Monte o equipamento, conforme a Figura 3, com uma inclinação de 20.

Figura 3 Esfera metálica no Plano inclinado (fonte: www.cidepe.com.br)

2. Libere a esfera do repouso, na calha lateral do plano inclinado, em 𝑥0 = 0 mm e meça o


intervalo de tempo transcorrido até a esfera chegar à posição 𝑥 = 0,050 m. Repita o
procedimento para as posições especificadas na Tabela 3

(𝑥 ± 0,001) m 0 0,050 0,100 0,150 0,200 0,250 0,300 0,350 0,400


(𝑡 ± 3%) s 0
Tabela 3: Posição x da esfera em função do tempo t, quando o ângulo de inclinação do plano é 2 0.

3. Com os dados da Tabela 3 construa o gráfico de 𝑥(𝑡).


4. Qual é o significado físico da inclinação da reta tangente a um ponto da curva 𝑥(𝑡)?
5. O que acontece com a inclinação da reta tangente a cada ponto da curva 𝑥(𝑡) à medida que
o tempo passa?
6. Aceleração do movimento é zero ou diferente de zero?
No movimento retilíneo uniformemente variado a aceleração é constante e a função posição em
função do tempo é 𝑥(𝑡) = 𝑥0 + 𝑣0 𝑡 + (𝑎𝑡 2 )⁄2. Fazendo-se 𝑥0 = 0 e 𝑣0 = 0, a função resume-se a
1
𝑥(𝑡) = 2 𝑎𝑡 2

Discuta com seu grupo de trabalho e seu professor procedimentos simples para determinar
experimentalmente a aceleração do objeto a partir dos dados da Tabela 3.

31
Procedimentos 3: Movimento Retilíneo Acelerado (Atividade para os laboratórios das
unidades Contagem, Praça da Liberdade e São Gabriel)
1. Monte o equipamento, conforme Figura 2, com uma inclinação de 5 0.

Figura 2- Plano Inclinado CIDEPE com sensor (fonte: www.cidepe.com.br)

2. A primeira faixa azul da régua sobre o objeto móvel deve tangenciar a abertura do sensor.
Esta será a posição 𝑥0 = 0.
3. Meça a posição do objeto móvel em função do tempo. Consulte as instruções de manuseio
do multicronômetro. Anote os resultados na Tabela 2.

(𝑡 ± 3%) s (𝑥 ± 0,001) m
0 0
0,018
0,036
0,054
0,072
0,090
0,108
0,126
0,144
0,162
0,180
Tabela 2: Posição x do objeto móvel em função do tempo t.

4. Com os dados da Tabela 2, construa o gráfico de 𝑥(𝑡).


5. Qual é o significado físico da inclinação da reta tangente a um ponto da curva 𝑥(𝑡)?
6. O que acontece com a inclinação da reta tangente a cada ponto da curva 𝑥(𝑡) à medida que
o tempo passa?

32
7. Aceleração do movimento é zero ou diferente de zero?
8. No movimento retilíneo uniformemente variado a aceleração é constante e a função posição
em função do tempo é 𝑥(𝑡) = 𝑥0 + 𝑣0 𝑡 + (𝑎𝑡 2 )⁄2. Fazendo-se 𝑥0 = 0 e 𝑣0 = 0, a função
resume-se em 𝑥(𝑡) = 𝑎𝑡 2 ⁄2 . Discuta com seu grupo de trabalho e seu professor
procedimentos simples para determinar experimentalmente a aceleração do objeto a partir
dos dados da Tabela 2.

Bibliografia:
[1] HEWITT, Paul G. Física Conceitual. 11ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2011.
[2] CIDEPE Livro de atividades experimentais – Física Experimental Mecânica – Plano inclinado.
[3] www.cidepe.com.br (consultado em 13 de fevereiro de 2015)
[4] HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de física: volume 1:
mecânica. 9ª ed. Rio de Janeiro: LTC-Livros Técnicos e Científicos, 2012.

33
POSIÇÃO, DESLOCAMENTO E VELOCIDADE

1. INTRODUÇÃO

Em Física é fundamental estudar o movimento de uma partícula e o estudo do movimento


só é possível a partir do conceito de localização da partícula em relação a um ponto considerado
como origem de um sistema de coordenadas escolhido por nós. No nosso caso iremos trabalhar
com o sistema de coordenadas cartesianas, mas poderíamos trabalhar com outro sistema de
coordenadas se achássemos mais interessante. A partir da localização da posição da partícula em
relação à origem do sistema de coordenadas, podemos dizer se sua posição se mantém fixa e a
partícula está em repouso ou se a posição varia ao longo do tempo, indicando que a partícula está
em movimento. Como a posição pode variar ao longo do tempo, para estudar o movimento
precisamos também de um ou mais cronômetros para medir intervalos de tempo. Em uma trajetória
retilínea a localização da partícula é feita com apenas uma coordenada, normalmente a coordenada
𝑥 ( no movimento de queda livre normalmente usamos a coordenada 𝑦. Quando a trajetória da
partícula ocorre no espaço de três dimensões precisamos das coordenadas cartesianas 𝑥, 𝑦 e 𝑧,
como foi estudado na disciplina Geometria Analítica. Cada ponto 𝑃 do espaço onde a partícula está,
num determinado instante t, é representado através das 𝑥, 𝑦 e 𝑧 . Assim criamos uma associação
biunívoca entre pontos do espaço e números reais. O ponto 𝑃 está associado ao trio de números
reais 𝑥, 𝑦 e 𝑧 e vice-versa, sendo essa associação representada como 𝑃(𝑥, 𝑦, 𝑧) . Quando a
partícula se move ao longo do tempo podemos escrever as coordenadas como funções do tempo,
𝑥 (𝑡), 𝑦(𝑡) e 𝑧(𝑡), sendo o instante de tempo t uma variável comum a todas as coordenadas, sendo
chamado de parâmetro. O conjunto de pontos do espaço tridimensional por onde a partícula passa
determina a trajetória da partícula, sendo que a cada ponto da trajetória localizamos a posição da
partícula através de um vetor posição

𝑟⃗ = 𝑥𝑖̂ + 𝑦𝑗̂ + 𝑧𝑘̂

Para dois pontos quaisquer A e B da trajetória a localização desses pontos é feita através dos
𝑟𝐴 = 𝑥𝐴 𝑖̂ + 𝑦𝐴 𝑗̂ + 𝑧𝐴 𝑘̂ e ⃗⃗⃗⃗
vetores posição ⃗⃗⃗⃗ 𝑟𝐵 = 𝑥𝐵 𝑖̂ + 𝑦𝐵 𝑗̂ + 𝑧𝐵 𝑘̂ . Para estudar o quando a partícula se
desloca entre A e B, definimos o vetor deslocamento da partícula entre esses pontos como sendo

∆𝑟⃗ = ⃗⃗⃗⃗
𝑟𝐵 − ⃗⃗⃗⃗
𝑟𝐴 ou ∆𝑟⃗ = (∆𝑥)𝑖̂ + (∆𝑦)𝑗̂ + (∆𝑧)𝑘̂
34
A partir do conceito de deslocamento e do intervalo de tempo para ocorrer o deslocamento,
podemos definir o vetor velocidade média da partícula entre os pontos A e B. O vetor velocidade
média é definido como
⃗⃗
∆𝒓
⃗⃗𝒎𝒆𝒅 =
𝒗
∆𝒕

mas também pode ser escrito como


∆𝒙 ∆𝒚 ∆𝒛
⃗⃗𝒎𝒆𝒅 =
𝒗 𝒊̂ + 𝒋̂ + ̂
𝒌
∆𝒕 ∆𝒕 ∆𝒕

⃗⃗𝒎𝒆𝒅 possui a mesma direção e sentido do vetor


De acordo com essa definição, o vetor 𝒗
deslocamento ∆𝑟⃗. Há também o conceito de velocidade escalar média, definida como a razão entre
a distância percorrida pela partícula e o intervalo de tempo necessário para percorrer essa distância
𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑝𝑒𝑟𝑐𝑜𝑟𝑟𝑖𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑙𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑡í𝑐𝑢𝑙𝑎
𝑣𝑒𝑚 =
𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑣𝑎𝑙𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜
O velocímetro dos carros e motos medem a velocidade escalar média, que é a velocidade
independente da direção e do sentido. Embora os dois conceitos sejam úteis, o vetor velocidade
média é mais utilizado na teoria. A partir de sua definição podemos definir o vetor velocidade
instantânea e também trabalhar com os conceitos de vetores aceleração média e aceleração
instantânea, assim como trabalhar com forças que atuam sobre uma ou mais partícula que são
grandezas vetoriais. Nesta prática vamos aprender a trabalhar com os dois conceitos de
velocidade, a vetorial e escalar.

2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo: Aprender a construir os vetores posição de uma partícula como uma combinação linear
de vetores unitários, calcular os vetores deslocamento e velocidade média e calcular a velocidade
escalar media.

Material Utilizado: Esfera, cronômetro e trena.

Procedimentos:
1. Escolha de um sistema de coordenadas cartesianas: Usando uma das extremidades da
mesa como origem de um sistema de coordenadas cartesianas, estabeleça o sentido para os
eixos coordenados 𝑥, 𝑦 e 𝑧. É a partir da escolha de um ponto de referência como sendo a

35
origem e da orientação dos eixos que as coordenadas cartesianas de qualquer ponto da
trajetória são encontradas. Como sugestão, veja a figura abaixo.

2. Encontrando as coordenadas: Utilizando uma trena meça os valores das coordenadas


𝑥𝐴 , 𝑦𝐴 , 𝑧𝐴 e 𝑥𝐵 , 𝑦𝐵 , 𝑧𝐵 para dois pontos A e B da rampa, como sugerido na figura acima. Os
valores medidos serão as coordenadas dos pontos A e B,
3. Construção dos vetores posição: Os vetores posição associados aos pontos A e B são,
respectivamente, 𝑟𝐴 = 𝑥𝐴 𝑖̂ + 𝑦𝐴 𝑗̂ + 𝑧𝐴 𝑘̂
⃗⃗⃗⃗ e 𝑟𝐵 = 𝑥𝐵 𝑖̂ + 𝑦𝐵 𝑗̂ + 𝑧𝐵 𝑘̂ . Substitua as coordenadas
⃗⃗⃗⃗
encontradas acima e encontre os vetores posição ⃗⃗⃗⃗
𝑟𝐴 e ⃗⃗⃗⃗
𝑟𝐵 .
4. Verificação dos valores das coordenadas encontradas: Com as coordenadas dos pontos A
e B podemos encontrar o módulo dos vetores posição ⃗⃗⃗⃗
𝑟𝐴 e ⃗⃗⃗⃗
𝑟𝐵 através do cálculo
𝑟𝐴 | = √𝑥𝐴 2 + 𝑦𝐴 2 + 𝑧𝐴 2
|⃗⃗⃗⃗ e 𝑟𝐵 | = √𝑥𝐵 2 + 𝑦𝐵 2 + 𝑧𝐵 2
|⃗⃗⃗⃗

Calcule os módulos dos vetores posição acima e verifique, usando a trena, se os resultados obtidos
são coincidentes com as distâncias entre a origem e o ponto A e entre a origem e o ponto B.

5. Construção do Vetor deslocamento: Com os vetores ⃗⃗⃗⃗


𝑟𝐴 e ⃗⃗⃗⃗
𝑟𝐵 podemos construir o vetor
deslocamento ∆𝑟⃗ , com origem no ponto A e extremidade no ponto B, como mostra a figura
abaixo. Como ∆𝑟⃗ = ⃗⃗⃗⃗
𝑟𝐵 − ⃗⃗⃗⃗
𝑟𝐴 , construa o vetor
∆𝑟⃗ = (∆𝑥)𝑖̂ + (∆𝑦)𝑗̂ + (∆𝑧)𝑘̂
6. Verificação do vetor deslocamento obtido: Calcule o módulo do vetor deslocamento |∆ 𝑟⃗ | =
√∆𝑥 2 + ∆𝑦 2 + ∆𝑧 2 . O resultado do módulo deve ser igual ao comprimento do segmento de reta
que liga os pontos A e B, como mostra a figura abaixo. Usando a trena, verifique essa igualdade.

7. Medida do intervalo de tempo: Um dos nossos objetivos é determinar o vetor velocidade


média da esfera entre os pontos A e B. Para isso precisamos medir o intervalo de tempo
necessário para que a esfera percorra a trajetória entre esses pontos. Para medir esse intervalo

36
de tempo libere a esfera do ponto A e simultaneamente, acione o cronômetro. Quando a esfera
passar pelo ponto B, pare o cronômetro. A leitura no cronômetro será o valor de t. O intervalo
de tempo t é uma medida que não se reproduz se a medida for feita mais de uma vez (iremos
ver esse tipo de medida e como trabalhar com ela na prática da próxima semana). Pelo fato de
haver um valor diferente para cada medida do intervalo de tempo, iremos repetir a medida 10
vezes e escolher o valor de t como sendo o valor médio. Preencha a tabela abaixo e na última
coluna complete com o valor
𝟏𝟎
𝟏
∆𝒕 = ∑ ∆𝒕𝒊
𝟏𝟎
𝒊=𝟏

∆𝑡1 ∆𝑡2 ∆𝑡3 ∆𝑡4 ∆𝑡5 ∆𝑡6 ∆𝑡7 ∆𝑡8 ∆𝑡9 ∆𝑡10 t

8. Vetor velocidade média: Conhecendo o vetor deslocamento ∆𝑟⃗ e o intervalo de t, que
calculamos no item anterior, podemos calcular o vetor velocidade média a partir da equação
⃗⃗ ∆𝒙
∆𝒓 ∆𝒚 ∆𝒛
⃗⃗𝒎𝒆𝒅 =
𝒗 = 𝒊̂ + 𝒋̂ + ̂
𝒌
∆𝒕 ∆𝒕 ∆𝒕 ∆𝒕
Faça os cálculos e escreva o vetor 𝑣⃗𝑚𝑒𝑑 em termos dos vetores unitários 𝑖̂, 𝑗̂ 𝑒 𝑘̂
9. Módulo da velocidade média: Agora que temos o vetor velocidade média podemos encontrar
o módulo desse vetor, ou seja o valor da velocidade média através da equação

∆𝒙 𝟐 ∆𝒚 𝟐 ∆𝒛 𝟐
⃗⃗𝒎𝒆𝒅| = √(
|𝒗 ) +( ) +( )
∆𝒕 ∆𝒕 ∆𝒕

10. Velocidade escalar média: Podemos agora calcular a velocidade escalar média e comparar o
resultado com o valor obtido com o módulo da velocidade média calculado acima. Com a trena
meça o comprimento 𝑠𝐴𝐵 da curva entre os pontos A e B. O valor da velocidade escalar média
é calculado por
𝑠𝐴𝐵
𝑣𝑒𝑚 =
∆𝑡
Compare os resultados de |𝒗
⃗⃗𝒎𝒆𝒅| e de 𝑣𝑒𝑚

11. Questões:
a. Compare o valor do módulo da velocidade média |𝒗
⃗⃗𝒎𝒆𝒅| calculado acima com o resultado da
fração |∆𝒓 ⃗⃗| foi calculado no item 6 e t no item 7. Os valores
⃗⃗|/∆𝒕 , sendo que o valor de |∆𝒓
de |𝒗
⃗⃗𝒎𝒆𝒅 | e |∆𝒓
⃗⃗|/∆𝒕 são iguais ou diferentes? O que você esperava obter e por quê?

37
b. Mostre que a igualdade ∆𝑟⃗ = ⃗⃗⃗⃗
𝑟𝐴 − ⃗⃗⃗⃗
𝑟𝐵 é obtida a partir da regra do paralelogramo que foi
estudada em Geometria Analítica.

38
MOVIMENTO DE PROJÉTIL

1. INTRODUÇÃO

Um projétil é um corpo que se move em um plano vertical com velocidade inicial 𝑣⃗ e com
uma aceleração constante igual à aceleração de queda livre 𝑔⃗, dirigida para baixo. A Figura 1
mostra a trajetória de um projétil após abandonar uma superfície horizontal com velocidade
horizontal 𝑣⃗ e onde o efeito do arraste do ar pode ser ignorado. Durante esse movimento
bidimensional deste projétil a velocidade 𝑣⃗ aumenta continuamente. Como o vetor aceleração da
gravidade 𝑔⃗ só possui componente vertical, o projétil não possui aceleração horizontal. Portanto de
acordo com a figura 1, a componente horizontal da velocidade permanece constante e a
componente vertical aumenta continuamente.
O movimento de projéteis parece complicado, mas temos a seguinte propriedade
simplificadora (demonstrada experimentalmente):
No movimento de projéteis, o movimento horizontal e o movimento vertical são
independentes, ou seja, um não afeta o outro e ocorrem ao mesmo tempo.

⃗⃗. São mostradas


Figura 1: Trajetória de um projétil ao abandonar uma superfície horizontal com velocidade 𝒗
as velocidades em alguns pontos ao longo da trajetória, juntamente com suas componentes. Observe que a
componente horizontal da velocidade permanece constante, mas a componente vertical aumenta
continuamente.

Esta propriedade permite decompor um problema que envolve um movimento bidimensional


em dois problemas unidimensionais independentes e mais fáceis de serem resolvidos, um para o
movimento horizontal (com aceleração nula), no qual

x = v x t (1)
e outro para o movimento vertical (com aceleração constante igual a 𝑔⃗ para baixo), no qual

39
𝑔𝑡 2
𝑦 = 𝑦0 + 𝑣0𝑦 𝑡 + (2)
2

2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo: Comparar as características dos movimentos ao longo dos eixos x e y, ou seja, verificar
se o movimento do projétil é descrito pelas equações (1) e (2).

Material Utilizado: Uma esfera de metal, uma rampa de altura ajustável, uma régua e um
cronômetro.

Procedimentos:

Figura 2: Uma esfera parte do repouso no ponto A e abandona uma superfície horizontal ao passar pelo ponto
B. A esfera percorre uma distância horizontal x, com velocidade horizontal constante, até chocar-se com um
anteparo.

1. Abandone a esfera no topo da rampa, a uma altura h em relação à mesa.


2. Posicione o anteparo a uma distância horizontal 𝑥 da rampa.
3. Meça o tempo do movimento da esfera, a partir do momento em que deixa a rampa até se
chocar com o anteparo.
4. Meça a distância vertical 𝑦 que a esfera percorre da posição B até se chocar com o
anteparo. Varie a distância 𝑥 e repita os procedimentos anteriores. Anote todos os
resultados na Tabela 1.

40
𝒙 (m) 𝒚 (m) 𝒕(s)
0,100
0,200
0,300
0,400
0,500
0,600
0,700
0,800
Tabela 1: Distância horizontal x e distância vertical y que o projétil percorre em um intervalo de tempo t.

3. ANÁLISE DOS DADOS


a) Construa o gráfico 𝑥 em função de 𝑡, com auxílio do programa Scidavis. Faça uma
regressão linear e determine a componente horizontal 𝑣0𝑥 da velocidade de
lançamento, com sua respectiva incerteza, comparando a equação empírica obtida
com a equação (1).
b) Construa o gráfico 𝑦 em função de 𝑡, com auxílio do programa Scidavis. Utilizando
um ajuste polinomial de grau 2, determine os valores de 𝑦0 , 𝑣0𝑦 e de 𝑔, com suas
respectivas incertezas, comparando a equação empírica obtida com a equação (2).
c) Construa o gráfico 𝑦 em função de 𝑡 2 , com auxílio do programa Scidavis. Faça a
regressão linear e, considerando que 𝑣𝑜𝑦 = 0, determine novamente os valores de
𝑦0 e 𝑔.
d) Com os resultados obtidos de 𝑣0𝑥 , 𝑣0𝑦 e 𝑔 , escreva as equações para as
componentes 𝑣𝑥 e 𝑣𝑦 da esfera em função do tempo.
e) Calcule o módulo da velocidade e a direção (o ângulo) da velocidade, medido em
relação ao eixo 𝑥, no instante 𝑡 = 0,5 𝑠.
f) Escreva a equação para a trajetória da esfera, que deve ser uma parábola (quando
se despreza a resistência do ar).

41
COMPOSIÇÃO DE FORÇAS

1. INTRODUÇÃO

A mecânica estuda as interações entre os corpos e seus movimentos; trata, especialmente, das
relações entre essas interações e os movimentos que daí resultam. Estuda, portanto, relações de
causa e efeito. A causa ou a fonte do movimento é uma força ou um torque. Força é um conceito
fundamental na mecânica. É entendida como a interação entre duas partículas, entre dois corpos
(ou objetos), entre dois sistemas físicos.. É uma grandeza vetorial, portanto com modulo, direção e
sentido. Entre partículas, a única interação possível é dada por uma força.

São dois os tipos de forças; forças de contato e forças de campo também chamadas de forças de
ação à distância. Forças de contato são aquelas presentes em uma interação em que há contato
entre os objetos físicos (partículas, corpos); podem produzir movimento e/ou deformação; ex: atrito,
impactos (colisões), forças de apoio, tração, tensão, etc. Forças de campo desenvolvem-se entre
objetos sem que haja contato mutuo entre eles; ex; forças gravitacionais, elétricas, magnéticas.

De acordo com a segunda lei de Newton 𝐹⃗ = 𝑚𝑎⃗, uma força pode produzir translação. Veremos
nas próximas práticas que uma força também pode gerar torque e produzir rotação.

Quando várias forças atuam sobre um corpo, mesmo em pontos diferentes dele, podem ser
substituídas por uma única força (e seu torque, se for o caso de rotação), cujo efeito é o mesmo de
todas as outras. Essa é a força resultante que se obtém pela adição vetorial de todas as forças
atuando no corpo. Isto é as forças obedecem ao princípio da superposição. Se a força resultante
está aplicada em um ponto do corpo e se aplicarmos neste ponto outra força, de mesmo módulo,
direção, mas de sentido oposto, a força resultante será nula. Nesse caso diz-se que o corpo está
em equilíbrio de translação (poderá estar em repouso relativo ou em movimento sem aceleração).
Essa última força, que anulou a primeira, é chamada algumas vezes de força equilibrante. Temos
ainda as forças concorrentes que são aquelas aplicadas ao mesmo ponto de um corpo (ou objeto).
Em uma partícula, todas as forças que atuam são concorrentes.

Assim:

⃗⃗𝑹 = 𝑭
𝑭 ⃗⃗𝟏 + 𝑭
⃗⃗𝟐 + 𝑭
⃗⃗𝟑 + ⋯ + 𝑭
⃗⃗𝒏

⃗⃗𝑹 a força resultante de 𝑛 forças sobre a partícula. Nesse caso, 𝑭


Sendo 𝑭 ⃗⃗𝒆𝒒 = −𝑭
⃗⃗𝑹 é a força

equilibrante, ou seja,

⃗⃗𝒆𝒒 + 𝑭
𝑭 ⃗⃗𝑹 = 𝟎
42
Forças são vetores aplicados; podem ser graficamente representados por segmentos
orientados (setas). A adição de forças, ou sua composição, pode ser feita representando os vetores
como segmentos orientados em uma escala e compondo-os graficamente. Também podem ser
adicionadas por métodos analíticos.

2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos: (i) Determinar a força equilibrante de um sistema de duas forças coplanares. (ii)
Calcular a resultante de duas forças coplanares quaisquer e comprovar o caráter vetorial das
forças.

Material Utilizado: Painel de forças CIDEPE [1], Dinamômetros de fixação magnética de 0 a 2N


com divisão de 0,02N, Conjunto de massas de 0,5N, Escala de ângulos de fixação magnética
(transferidor), Acessórios diversos (Figura 1).

Figura 1-Painel de forças e acessórios CIDEPE. [1]

Procedimentos:
1. Monte o conjunto conforme a figura 2 com os dinamômetros
2. Coloque 3 massas no suporte

43
3. Posicione os dinamômetros de modo a formarem um ângulo de 120ºentre si. Movimente o
gancho com as massas até conseguir o seu alinhamento vertical ao ponto do transferidor
(ponto de aplicação das forças).
4. O ângulo  entre as forças ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑭𝟏 e ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑭𝟐 medidas pelos dinamômetros é lido na escala do
transferidor.
5. Meça os valores de ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑭𝟏 e ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑭𝟐 . Qual o modulo da força equilibrante ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑭𝟑 ? A força resultante
tem sentido contrário à equilibrante. Faça um diagrama (em escala) das forças envolvidas,
representando ⃗⃗⃗⃗
𝐹3 = ⃗⃗⃗⃗
𝐹1 + ⃗⃗⃗⃗
𝐹2 .
6. Conhecendo as forças componentes e o ângulo entre elas, determine o vetor força
resultante utilizando os métodos analítico e geométrico.
7. Compare o valor medido com o valor calculado.
8. Repita o procedimento para outras combinações de massas nos suportes e outros ângulos
entre as forças.

Figura 2: Painel de estática

Bibliografia: [1] CIDEPE Livro de atividades experimentais- Física Experimental-Mecânica-


Painel de Forças

44
EQUILÍBRIO DE UM MÓVEL EM UM PLANO INCLINADO

1. INTRODUÇÃO

Você já deve ter observado que comumente uma rampa é usada quando uma pessoa pretende elevar
uma carga a uma altura ℎ, seja para carregar um refrigerador em uma caminhonete, como na Figura 1, por
exemplo; pedreiros usam tábuas para fazer rampas para levar um carrinho cheio de areia à um local mais
elevado, etc. Uma rampa, que possui uma inclinação 𝜃 em relação à horizontal, é comumentes chamada de
plano inclinado – um tipo de máquina simples amplamente utilizada, que em geral facilita o esforço
necessário para elevar uma carga. Acredita-se, inclusive, que os egípcios tenham construído suas pirâmides
usando recursos de planos inclinados para levar os grandes blocos de pedra aos pontos mais altos; mas
isso é um mistério.

Figura 1: Carga sendo elevada a uma altura 𝒉 através de um plano inclinado. Figura adaptada de [1].

Há uma razão para o fato de planos inclinados serem vastamente utilizados. Os planos inclinados
possuem um fator chamado “vantagem mecânica”, que é definido como a razão entre a força motora (força
que o carregador exerce sobre o refrigerador da Figura 1, por exemplo) e a força resistente (peso do
refrigerador):
𝐹𝑀
𝑉𝑀 ≡
𝐹𝑅

Essa vantagem mecânica depende basicamente do ângulo de inclinação da rampa. Se o carregador da


Figura 1 quisesse suspender verticalmente o refrigerador, ele teria que exercer uma força motora no mínimo
igual ao peso do refrigerador. Porém, lançando mão de uma rampa com inclinação 𝜃, ele poderá exercer
uma força mínima (força motora) menor que o peso da carga.

2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos: identificar as forças que atuam sobre um móvel em um plano inclinado, representando-as através
de um diagrama de forças; calcular a vantagem mecânica de um plano inclinado; estudar como a força
motora varia com a inclinação do plano.

Material necessário:

- 01 carro com pêndulo orientador de força acoplado;


- 02 massas acopláveis de 50g;
- 01 dinamômetro de 2N;
- 01 transferidor 180º e régua.

45
Montagem:

Usando o dinamômetro, determine o peso do móvel formado pelo conjunto carro mais duas massas de 50
g acopladas.

Prenda a cabeceira do dinamômetro entre os dois fixadores, de modo que o dinamômetro fique
paralelo à rampa. Atenção para verificar o “zero” no dinamômetro antes de prendê-lo ao carro. Coloque o
móvel sobre o plano e conecte-o ao dinamômetro, de modo que o pêndulo de orientação fique na vertical,
como na Figura 2.

Figura 2: Esquema de montagem da prática. Retirado de [2].

Procedimento 1:

1) Ajuste o manípulo do fuso de modo a inclinar o plano com ângulo de θ=30º.


2) Prenda o móvel pela conexão flexível ao dinamômetro. Atenção para que o indicador de orientação da
força peso atuando no carrinho não toque na base do conjunto.
3) Usando o transferidor e régua, desenhe um esquema do plano inclinado com o objeto, como indicado na
figura abaixo. Atenção para desenhar o esquema do plano com mesmo ângulo da montagem da prática.

4) Usando a régua, faça o diagrama de forças que atuam sobre o móvel.


5) Usando o transferidor, anote o ângulo 𝜃′ que a força peso faz com a reta normal ao plano inclinado.
6) Considerando o eixo 𝑥 paralelo ao plano inclinado e o 𝑦 perpendicular ao mesmo, calcule o valor da
componente da força peso paralela ao plano:

46
Anote o valor da força, 𝐹𝐷 , que o dinamômetro exerce sobre o móvel:

- Calcule o erro relativo percentual entre a força exercida pelo dinamômetro, 𝐹𝐷 , e a componente 𝑃𝑥 da
força peso:

- Considerando uma tolerância de 5%, é possível dizer as duas forças são iguais? Isso era esperado?
Justifique!

7) Calcule o valor da componente da força peso perpendicular ao plano:

- Determine o valor da força normal atuando sobre o móvel:

8) Tendo em vista a segunda lei de Newton, se o móvel fosse solto do dinamômetro, qual seria o valor de
sua aceleração ao longo do plano (desconsiderando qualquer atrito)? Esse valor depende da massa do
móvel?

9) A força que o dinamômetro exerce, 𝐹𝐷 , para deixar o móvel em equilíbrio é o valor mínimo necessário
para movimentá-lo para cima ao longo do plano. Essa força é chamada de força motora, 𝐹𝑀 ; já o peso é a
força resistente, 𝐹𝑅 . Define-se como vantagem mecânica do plano inclinado, 𝑉𝑀 , a razão entre a força
motora e a força resistente:

𝐹𝑀
𝑉𝑀 ≡
𝐹𝑅

- Calcule a vantagem mecânica do plano inclinado.

Procedimento 2:

1) Meça a massa do móvel com as duas massas acopladas:

2) Tendo em vista que, pelo equilíbrio de forças, a força exercida pelo dinamômetro é igual à componente
𝑃𝑥 da força peso, ou seja,

𝐹𝐷 = 𝑃𝑥 = 𝑚𝑔𝑠𝑒𝑛𝜃

varie o ângulo do plano e anote os valores correspondentes da força exercida pelo dinamômetro, por
leitura direta no aparelho, preenchendo a Tabela 1.

47
θ (º) 𝒔𝒆𝒏𝜽 𝑭𝑫 (𝑵)
10
15
20
25
30
35
Tabela 1: Força exercida pelo dinamômetro em função da inclinação do plano.

3) Plote um gráfico de 𝐹𝐷 vs. 𝑠𝑒𝑛𝜃 e faça uma regressão linear. Qual o significado físico do parâmetros 𝐴
(coeficiente linear) fornecido pela regressão linear?

4) Estime o valor da aceleração da gravidade. Calcule o erro relativo entre essa estimativa e o valor exato,
𝑔 = 9,81 𝑚/𝑠².

5) Qual seria o valor da força exercida pelo dinamômetro caso o plano fosse inclinado em 90º?
6) Mostre que a vantagem mecânica do plano inclinado é

𝐹𝑀
𝑉𝑀 = = 𝑠𝑒𝑛𝜃
𝐹𝑅

BIBLIOGRAFIA:

[1] SERWAY, Raymond A.; JEWETT, John W. Princípios de Física: volume 1: mecânica clássica.
São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.
[2] CIDEPE, Livro de Atividades Experimentais: Física Experimental – Mecânica – Plano
inclinado com sensores e multicronômetro de rolagem de dados.

48
ATRITO ESTÁTICO

1. INTRODUÇÃO

A força de atrito estático, 𝑓𝑒 , atua em um corpo em repouso em relação a uma superfície, sempre que
o mesmo tende a deslizar sobre esta superfície. Essa força varia desde zero, quando não há tendência de
movimento do corpo relativo à superfície, até o valor máximo, quando o corpo estiver na iminência de se
mover relativamente à superfície, ou seja:

0 ≤ 𝑓𝑒 ≤ 𝜇𝑒 𝑁

onde 𝜇𝑒 é o coeficiente de atrito estático (depende basicamente da natureza das superfícies e é


praticamente independente da área de contato entre elas) e 𝑁 a força que a superfície exerce sobre o corpo,
sempre normal ao ponto ou região de contato. Daí a força de atrito estático máxima é

𝑓𝑒,𝑚𝑎𝑥 = 𝜇𝑒 𝑁

Nessa prática serão estudadas duas maneiras simples de se determinar o coeficiente de atrito
estático entre duas superfícies.

2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo: Determinar o coeficiente de atrito estático entre duas superfícies.

Material necessário:
- 01 plano inclinado com escala de 0 a 45º;
- 01 rampa auxiliar;
- 01 corpo de prova de madeira com uma face esponjosa;
- 01 cilindro maciço;
- 01 dinamômetro;
- 01 balança digital.

Procedimento 1: determinação de µe usando dinamômetro

- Determine a massa do corpo de prova:


1) Com o plano inclinado na horizontal, coloque o bloco sem carga com a face de madeira sobre a rampa
auxiliar, conectado ao dinamômetro paralelo à superfície, conforme a Figura 1.

Figura 1: montagem da prática.

Aumente gradativamente a força aplicada através do dinamômetro.


2) Registre o valor aproximado da menor força aplicada capaz de iniciar o movimento entre as superfícies
49
(não se esqueça da incerteza):
- Desenhe um diagrama de forças atuando sobre o bloco. Determine o valor da força normal, 𝑁, entre a
mesa e o bloco.
- Como
𝑓𝑒,𝑚𝑎𝑥 = 𝐹𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑟 𝑚𝑜𝑣𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜

determine o valor do coeficiente de atrito estático entre as duas superfícies.

3) Repita todo o procedimento colocando uma carga (cilindro maciço) de massa 𝑚 = ___________𝑘𝑔 sobre o
bloco.

Responda e justifique as questões abaixo:

- Por que as forças externas aplicadas inicialmente, dentro de um certo limite, não foram suficientes para
movimentar o bloco?

- Há diferença na estimativa da força mínima para iniciar o movimento nos dois casos (com e sem carga
sobre o bloco)? E em relação à força normal agindo sobre o bloco nos dois casos?

- Houve diferença na estimativa do coeficiente de atrito estático entre as superfícies nos dois casos?
- Haveria alguma diferença se a face esponjosa do bloco estivesse em contato com a rampa auxiliar?

Procedimento 2: determinação de µe usando plano inclinado

- Monte o plano inclinado com a rampa auxiliar (que deve estar limpa antes de começar o experimento).
Coloque o corpo de prova com a face de madeira em contato com a rampa auxiliar, com pequeno ângulo de
inclinação, de modo que o bloco fique estático.
- Desenhe um diagrama de corpo livre do bloco na rampa.
- Demonstre que quando o objeto está na iminência de se mover, na inclinação crítica θc, o coeficiente de
atrito estático é dado por
𝜇𝑒 = 𝑡𝑎𝑛𝜃𝑐
1) Eleve com a mão a inclinação da rampa lentamente, até que o objeto esteja prestes a se mover. Anote o
valor desse ângulo crítico na Tabela 2, e estime o correspondente valor de µe;

2) Diminua a inclinação da rampa, e repita o procedimento (1) por cinco vezes.

3) Calcule o valor médio e o desvio médio de θc. e µe.

50
Face de madeira
i
θ µe
1
2
3
4
5
Média
Desvio médio
Tabela 2: medidas do ângulo crítico e coeficiente de atrito estático

- Considerando uma tolerância de 10%, as estimativas de µe entre os procedimentos 1 (sem carga) e 2 são
diferentes? Se sim, explique porque, já que as superfícies são as mesmas.

51
ATRITO CINÉTICO
1. INTRODUÇÃO

A força de atrito cinético é aquela que age sobre um corpo quando em movimento relativo à superfície
de apoio. Em se tratando de superfícies sólidas, a experiência tem mostrado que a força de atrito é
praticamente constante e depende apenas das superfícies e da força normal que uma superfície exerce
sobre a outra. A força de atrito cinético é dada por:

𝑓𝑐 = 𝜇𝑐 𝑁

onde 𝜇𝑐 é o coeficiente de atrito cinético e 𝑁 é a força normal que a superfície exerce sobre o corpo, sempre
normal ao ponto ou região de contato. O coeficiente de atrito é uma quantidade adimensional e deve ser
determinado experimentalmente. Seu valor depende das propriedades do corpo e da superfície em que este
está em contato. Em geral, o coeficiente de atrito cinético é menor que o coeficiente de atrito estático.
Portanto, a intensidade da força de atrito cinético é menor do que a intensidade máxima da força de atrito
estático que age sobre o corpo em repouso.

2. PARTE EXPERIMENTAL

1. Abandone o objeto sobre uma superfície inclinada, em relação à horizontal, conforme Figura 1,
para que o objeto desça em movimento acelerado.

2. Meça o tempo para o objeto percorrer as distâncias 𝑑1 = 0,10 m, 𝑑2 = 0,20 m, etc.. Anote os
resultados na Tabela1.

Figura 1: Um objeto é abandonado sobre uma superfície inclinada para descer em movimento acelerado.

𝑑 (m) 0 0,100 0,200 0,300 0,400 0,500 0,600 0,700 0,800 0,900 1,000

𝑡 (s) 0

𝑡 2 (s2) 0

Tabela1: distância 𝒅(m) percorrida pelo objeto, sobre um plano inclinado, em um tempo t(s).

52
O movimento do objeto sobre o plano inclinado é acelerado, com aceleração 𝑎 constante.
Portanto, seu movimento é descrito pela equação.

𝑎 2
𝑑= 𝑡 , (3)
2

Considerando que o objeto parte do repouso, isto é, com velocidade inicial igual a zero.

3.Construa o gráfico 𝑑 em função de 𝑡, com auxílio do programa Scidavis. O resultado está de


acordo com o esperado?

4.Construa o gráfico 𝑑 em função de 𝑡 2 , com auxílio do programa Scidavis. Faça uma regressão
linear e determine a aceleração do movimento, com sua respectiva incerteza, comparando a
equação empírica obtida com a equação (3).

5. Meça a massa do objeto e determine a força resultante que atua sobre ele.

6. Faça um desenho, mostrando todas as forças que atuam no objeto.

7. Determine o módulo da força de atrito que atua no objeto.

Observação: Neste cálculo você precisará do valor do ângulo de inclinação da superfície. Uma
sugestão é medir as dimensões 𝑥 e 𝑦, mostradas na Figura 1, e considerar que 𝜃 = tan−1 (𝑦/𝑥).

8. Determine o módulo da força normal que age sobre o objeto.

9. Determine o coeficiente de atrito cinético entre o objeto e a superfície.

Bibliografia:
HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de física: volume 1:
gravitação, ondas e termodinâmica. 9ª ed. Rio de Janeiro: LTC-Livros Técnicos e Científicos, 2012.

SERWAY, Raymond A.; JEWETT, John W. Princípios de Física: volume 1: mecânica clássica. São
Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.

53
CONSTANTE ELÁSTICA DE MOLAS

1. INTRODUÇÃO

Sob a ação de uma força de tração ou de compressão, todo objeto deforma-se. Se, ao cessar
a atuação dessa força, o corpo recupera sua forma primitiva, diz-se que a deformação é elástica.
Em geral, existe um limite para o valor da força a partir do qual acontece uma deformação
permanente do corpo. Dentro do limite elástico, há uma relação linear entre a força aplicada e a
deformação, linearidade esta que expressa uma relação geral conhecida como Lei de Hooke 2. O
sistema clássico utilizado para ilustração dessa lei é o sistema massa-mola que é apresentado a
seguir em situações de equilíbrio estático.
Na Figura 1, está mostrada uma mola helicoidal, de massa desprezível, pendurada por uma
de suas extremidades. Um objeto de massa 𝑚 , colocado na outra extremidade, produz um
alongamento 𝑥 na mola.
A força aplicada na mola é o peso do corpo e, dentro do limite elástico, tem-se, no equilíbrio,
𝑚𝑔 = 𝑘𝑥
em que 𝑘 é uma constante que depende do material de que é feita a mola, bem como de sua
espessura, tamanho e outros fatores, e é denominada constante elástica da mola.

Figura 1: Em (a), a mola não está alongada e em (b) está alongada de x, em relação à posição inicial, devido ao
peso de um objeto de massa m. O peso do objeto é equilibrado pela força – 𝒌𝒙 que a mola exerce nele.

Associando-se duas molas, a constante elástica do conjunto passa a ter outro valor que
depende da maneira como foi feita a associação. Na Figura 2, está representado um objeto
suspenso por duas molas associadas em série e em paralelo. Alongar as molas associadas em

2
Robert Hooke, Inglaterra, 1635 a 1703
54
série é “mais fácil” do que alongar as molas associadas em paralelo. Podemos demonstrar esse
comportamento das molas em série e paralelo considerando que:
a) Na associação em série as duas molas atuam como se fossem uma única mola de constante
elástica 𝐾𝑒𝑞 , O alongamento 𝑥 dessa única mola será igual à soma dos alongamentos de
cada uma das molas,
𝑥 = 𝑥1 + 𝑥2
A massa 𝑚 fica em equilíbrio estático quando seu peso 𝑃 se iguala à força elástica 𝐹 =
𝐾𝑒𝑞 𝑥.
𝑃 = 𝐾𝑒𝑞( 𝑥1 + 𝑥2 )
Como
𝐹1 𝐹2
𝑥1 = ; 𝑥2 =
𝐾1 𝐾2
Temos
𝐹1 𝐹2
𝑃 = 𝐾𝑒𝑞 ( + )
𝐾1 𝐾2

Com a massa em equilíbrio, temos 𝑃 = 𝐹1 , 𝑃 = 𝐹2 e obtemos


1 1 1
= +
𝐾𝑒𝑞 𝐾1 𝐾2
Observação: No caso de termos 𝐾1 = 𝐾2 = 𝐾, obtemos 𝐾𝑒𝑞 = 𝐾/2, indicando que as molas
em série se comportam com uma mola mais macia.
b) Na associação em paralelo, quando a massa está em equilíbrio, a força Peso é igual à soma
das forças nas duas molas, de modo que o alongamento seja o mesmo,
𝑃 = 𝐾1 𝑥 + 𝐾2 𝑥
Nesse caso podemos escrever
𝑃
= (𝐾1 + 𝐾2 )
𝑥
A razão 𝑃/𝑥 no lado esquerdo é igual a constante elástica equivalente, 𝐾𝑒𝑞 = 𝑃/𝑥. Portanto,
temos
𝐾𝑒𝑞 = (𝐾1 + 𝐾2 )
Observação: No caso de termos 𝐾1 = 𝐾2 = 𝐾, obtemos 𝐾𝑒𝑞 = 2𝐾 , indicando que as molas
em paralelo se comportam como uma mola mais dura.

55
Figura 2: A associação de duas molas pode ser feita (a) em série, com uma na extremidade da outra, ou (b)
em paralelo, com uma ao lado da outra.

2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos: Determinar a constante elástica (i) de uma mola, (ii) de uma combinação em série e (iii)
de uma combinação em paralelo de duas molas.

Material Utilizado: Duas molas, objetos de massa m, suporte e régua.

Procedimentos:
O experimento consiste em aplicar várias forças (pesos) a uma mola vertical e medir os
alongamentos produzidos preenchendo a tabela abaixo.

1. Suspenda uma das molas e pendure um suporte para os objetos em sua extremidade livre.
Escolha um ponto de referência no suporte e leia a posição dele na régua – este será o
alongamento zero, ou seja, será desprezado o alongamento produzido pelo suporte.

2.Obtenha um conjunto de alongamentos 𝑥 , aplicando forças 𝐹 diferentes à mola, ou seja,


colocando quantidades diferentes de objetos no suporte. Anote os resultados na Tabela 1.
Observação: No cálculo da força peso de cada objeto, considere 𝑔 = 9,78 m/s2, que é um valor
mais apropriado para Belo Horizonte.

3.Retire todos os objetos que você colocou; repare que a mola volta à sua posição inicial – a
deformação foi elástica.

56
4.Retire o suporte da mola e pendure nela, em série, a segunda mola. Repita os mesmos
procedimentos com este novo arranjo.

5.Associe, a seguir, as duas molas em paralelo, isto é, uma ao lado da outra, e refaça as leituras
como nas situações anteriores.

Uma mola Duas molas em série Duas molas em paralelo


𝑥(𝑚) 𝐹(𝑁) 𝑥(𝑚) 𝐹(𝑁) 𝑥(𝑚) 𝐹(𝑁)

Tabela 1: Alongamento x(m) de uma mola, de uma associação de duas molas em série e em paralelo, em função
da força F(N) aplicada.

3. ANÁLISE DOS DADOS


a) Construa, com auxílio do programa Scidavis, os gráficos 𝐹 em função de 𝑥 para a
primeira mola e para cada uma das duas combinações, em série e paralelo. Por meio
do processo de regressão linear, determine, para cada uma das montagens, a
inclinação da reta correspondente e indique a grandeza física a ela relacionada.
b) Escreva o valor da constante elástica e sua respectiva incerteza, para cada uma das
situações. A partir do modelo físico utilizado, o valor do coeficiente linear deve ser
zero no presente caso. Verifique o valor encontrado e explique esse resultado.
c) Justifique por que, na associação em série, o conjunto ficou “mais macio” do que cada
mola individualmente e, na associação em paralelo, ficou “mais duro”.

Bibliografia:
[1] CAMPOS, Agostinho Aurélio Garcia; ALVES, Elmo Salomão; SPEZIALI, Nivaldo Lúcio. Física
experimental básica na universidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2007.

57
DEFORMAÇÃO ELÁSTICA DE UMA HASTE

1. INTRODUÇÃO

Sob a ação de uma força de tração ou de compressão, todo objeto deforma-se. Se, ao cessar
a atuação dessa força, o corpo recupera sua forma primitiva, diz-se que a deformação é elástica.
Em geral, existe um limite para o valor da força a partir do qual acontece uma deformação
permanente do corpo. Dentro do limite elástico, há uma relação linear entre a força aplicada e a
deformação.
Considere-se o caso de uma haste presa por uma de suas extremidades (Figura 1). Uma
força 𝐹 vertical aplicada na extremidade livre provoca uma flexão 𝑦 na haste. Essa flexão depende
do valor da força aplicada, bem como do material e das dimensões da haste. Dentro do limite
elástico, tem-se
𝐹 = 𝑘𝑓 𝑦 (1)
em que 𝐹 é o módulo da força aplicada na extremidade da haste e kf é chamada de constante de
flexão da haste. Essa constante depende da largura l, da espessura 𝑒, do comprimento 𝑥 e do
módulo de Young 𝐸 do material da haste. O módulo de Young 𝐸 para flexão, ou simplesmente
módulo de flexão, é uma propriedade apenas do material de que a haste é feita e mede como um
determinado material reage a uma força que tende a flexionar o objeto. No caso de uma haste,
pode-se mostrar que, abaixo de um valor limite para a flexão, a constante de flexão kf e o módulo
de Young para flexão se relacionam pela equação
𝐸. 𝑙. 𝑒 3
𝑘𝑓 = . (2)
𝑥3

Figura 1: Deformação de flexão y de uma haste sujeita a uma força F, aplicada a uma distância x da extremidade
fixa [1].

58
2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos: (i) Determinar a constante de flexão de uma haste metálica, no regime elástico, e (ii) o
módulo de Young para flexão do material de que é feita.

Material Utilizado: Haste metálica, prendedor, suporte, objetos com massa de aproximadamente
5g e régua milimetrada.
O experimento consiste em aplicar várias forças na extremidade da haste fixada
horizontalmente e medir a flexão correspondente a cada uma delas.

1. Mantendo uma das extremidades da haste fixa, coloque os objetos na extremidade livre, um a
um, de forma a produzir forças 𝐹 de diferentes valores. Meça a flexão 𝑦 correspondente a cada
força aplicada. Anote os resultados na Tabela 1.
Observação: No cálculo da força peso de cada objeto, considere 𝑔 = 9,78 m/s2, valor mais
apropriado para Belo Horizonte.

𝑦(𝑚) 𝐹(𝑁)

Tabela 1: Flexão y (m) de uma haste metálica em função da força F (N) aplicada na sua extremidade.

3. ANÁLISE DOS DADOS


a) Construa o gráfico 𝐹 em função de 𝑦 , com auxílio do programa Scidavis. Faça uma
regressão linear e determine a constante de flexão kf e sua respectiva incerteza, comparando
a equação empírica obtida com a equação (1).
b) Meça as dimensões da haste (o comprimento 𝑥, a largura 𝑙 e a espessura 𝑒) e calcule o valor
de 𝐸, através da equação (2).
59
c) Compare o resultado encontrado com o valor médio do módulo de flexão para o aço, que é
de (4,5 ± 0,5)𝑥 1010 𝑁/𝑚2 .

Bibliografia: [1] CAMPOS, Agostinho Aurélio Garcia; ALVES, Elmo Salomão; SPEZIALI, Nivaldo
Lúcio. Física experimental básica na universidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2007.

60
MOMENTO DE INÉRCIA DE UM CILINDRO

1. INTRODUÇÃO

O momento de inércia de um sólido em relação a um eixo fixo é obtido teoricamente pela


equação:

𝐼 = ∑ 𝑟𝑖2 𝑚 = ∫ 𝑟 2 𝑑𝑚.

Este somatório é obtido por integração e muitos exemplos são desenvolvidos na teoria. Se o corpo
não tem forma geométrica simples ou densidade constante, o cálculo da integral pode se tornar
sumamente difícil, e é necessário utilizar um método experimental.
Se o corpo tem apenas movimento de translação, sua energia cinética é dada por:
𝑚𝑣 2
𝐾= ,
2
Sendo 𝑚 sua massa e 𝑣 a velocidade de translação do centro de massa. Por outro lado, se o corpo
tem apenas movimentação de rotação, sua energia cinética é dada por:
𝐼𝜔2
𝐾=
2
onde 𝐼 é o seu momento de inércia em relação ao eixo de rotação e ω é a velocidade angular em
relação ao mesmo eixo.

2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo: Determinar experimentalmente o momento de inércia de um disco.

Material Utilizado: Cilindro preso em torno de dois mancais de atrito desprezível, barbante ou fio
de nylon, peso e cronômetro.

Procedimentos:
O corpo do qual vai ser determinado o momento de inércia é um cilindro que pode girar
livremente em torno de dois mancais de atrito desprezível. Um fio de nylon ou barbante é enrolado
no cilindro e preso no extremo um peso 𝑃. O sistema se acha inicialmente em repouso, com o fio
inteiramente enrolado. A Figura 1 é uma representação esquemática do experimento.

61
Figura 1: Objeto de massa 𝒎 na extremidade de um fio enrolado em um disco.

1. Abandone o peso 𝑃 e, com um cronômetro, meça o tempo necessário para desenrolar


completamente o fio. Repita cinco vezes esta experiência e determine o valor mais provável deste
tempo, através de uma média aritmética. Anote os resultados na Tabela 1.

𝑰 𝒕 (s)
1
2
3
4
5
Tempo médio =
Desvio médio =
Tabela 1: Valores do tempo t obtidos em cinco repetições do experimento e o seu valor médio.

A energia mecânica inicial 𝐸𝑀0 do sistema (cilindro + peso) é


𝐸𝑀0 = 𝑀𝑔ℎ + 𝑚𝑔ℎ
em que 𝑀 e 𝑚 são as massas do cilindro e do peso, respectivamente, 𝑔 é a aceleração da
gravidade e ℎ é a altura em que o sistema se encontra em relação a posição mais baixa do peso,
quando o fio está completamente desenrolado. A energia mecânica final do sistema, quando o peso
está na sua posição mais baixa é
𝐼𝜔2 𝑚𝑣 2
𝐸𝑀 = 𝑀𝑔ℎ + +
2 2

62
em que 𝐼 é o momento de inércia do cilindro, 𝜔 é a velocidade angular do cilindro e 𝑣 é a velocidade
do peso. Considerando que a energia mecânica do sistema se conserva durante o movimento,
podemos escrever
𝐼𝜔2 𝑚𝑣 2
𝑚𝑔ℎ = + , (1)
2 2
onde
𝑣 2ℎ
𝜔= e 𝑣= .
𝑅 𝑡

Nas relações acima, 𝑅 é o raio do cilindro e 𝑡 é o tempo do movimento do sistema até o peso chegar
à sua posição mais baixa. Substituindo essas relações em (1), conclui-se que:
𝑔𝑡 2
2
𝐼 = 𝑚𝑅 ( − 1) (2)
2ℎ
2. Meça 𝑅, 𝑚 e ℎ e determine o momento de inércia do cilindro com sua incerteza. Considere 𝑔 =
9,78 m/s2 (valor mais correto para Belo Horizonte).

𝑅(m) 𝑚 (kg) ℎ (m) 𝐼 ( kg.m2)

3. Qual é o significado físico do momento de inércia?


4. Qual é o momento de inércia do cilindro obtido pela teoria?
5. Quais as razões da diferença entre o resultado teórico e o experimental?
6. Como se pode aumentar o momento de inércia de um corpo sem variar sua massa?

63
MOVIMENTO COMBINADO DE ROTAÇÃO E TRANSLAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

Considere uma esfera rígida rolando para baixo de um plano inclinado perfeitamente rígido,
como mostrado na Figura 1(a). Se o movimento ocorre sem deslizamento, o ponto da esfera que
está em contato com a superfície permanece instantaneamente em repouso, sem escorregar.
Assim, a força de atrito estático entre a esfera e a superfície não realiza trabalho e a energia
mecânica do sistema se conserva.
Para evitar o deslizamento, a força de atrito tem que ser menor que ou igual à máxima força
de atrito estático. No caso de uma esfera rígida rolando, é possível mostrar que o coeficiente de
2
atrito estático deve ser maior que ou pelo menos igual a (7) tg𝜃, em que 𝜃 é o ângulo de inclinação

da superfície em relação à horizontal.


Conforme se pode ver na Figura 1(a), a linha de ação da força normal e da força peso passa
pelo centro da esfera, de modo que o torque realizado por estas forças é zero. Portanto, o rolamento
(rotação mais translação) sem deslizamento ocorre devido ao torque realizado apenas pela força
de atrito estático.

Figura 1: (a) Uma esfera perfeitamente rígida rolando para baixo de um plano inclinado perfeitamente rígido.
(b) Uma esfera rígida rolando sobre uma superfície deformada. Figura adaptada da Ref. [1].

A Figura 1(b) mostra uma situação mais realista, na qual a superfície se deforma na parte
frontal da esfera e a esfera passa por uma depressão. Por causa dessa deformação, as forças de
contato sobre a esfera não mais atuam sobre um único ponto, porém sobre uma área; as forças
são concentradas sobre a parte frontal da esfera conforme indicado. Como resultado, a força normal
agora exerce um torque que se opõe à rotação. Além disso, existe certo deslizamento da esfera

64
sobre a superfície por causa da deformação, produzindo uma perda de energia mecânica. A
combinação desses dois efeitos origina o fenômeno do atrito de rolamento. O atrito de rolamento
também ocorre quando o corpo é deformável tal como o pneu de automóvel. Quando o corpo que
rola e a superfície são rígidos o atrito de rolamento é desprezível, mas, caso contrário, o atrito de
rolamento sempre provocará uma redução da energia mecânica.
A energia cinética do movimento de rolamento é
𝑚𝑣 2 𝐼𝜔2
𝐾= + (1)
2 2
em que 𝑚 é a massa do corpo,𝑣é a velocidade de translação do centro de massa, 𝐼 é o momento
de inércia do corpo em relação ao eixo de rotação e 𝜔 é a velocidade angular em relação ao mesmo
eixo.
O momento de inércia de uma esfera maciça, obtido pela teoria é
2
𝐼 = ∫ 𝑟 2 𝑑𝑚 = 𝑚𝑅2 , (2)
5
onde 𝑚 é a massa da esfera e 𝑅 o seu raio. Se o rolamento ocorre sem deslizamento, a velocidade
angular é dada por
𝑣
𝜔= (3)
𝑅
Como exercício, substitua as relações (2) e (3) na equação (1) para mostrar que, no caso do
rolamento sem deslizamento,
7
𝐾= 𝑚𝑣 2.
10
2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo: Verificar se o movimento de uma esfera sobre uma superfície inclinada ocorre com ou
sem deslizamento, investigando se há ou não conservação da energia mecânica.

Material Utilizado: Esfera, uma superfície inclinada, uma régua e um cronômetro.

Procedimentos:
Uma esfera parte do repouso do ponto A, a uma altura h em relação ao ponto B, e desce
uma rampa executando um movimento combinado de rotação mais translação, Figura 2. No ponto
A, a esfera tem, em relação ao ponto B, energia potencial gravitacional 𝑈 = 𝑚𝑔ℎ. Ao passar pelo
ponto B a esfera, que tem energia cinética de rotação e translação, liga um cronômetro que é
desligado ao chegar em C. Como no ponto B a velocidade é horizontal seu valor é dado por 𝑣 =
𝑥/𝑡, onde 𝑥 é a distância de B ao anteparo e 𝑡 o tempo gasto neste movimento.

65
Figura 2: Uma esfera sobre uma rampa parte do repouso, no ponto A, e abandona a superfície horizontal ao
passar pelo ponto B. A esfera percorre uma distância horizontal 𝒙, com velocidade horizontal constante, até
chocar-se com um anteparo.

1. Posicione o anteparo a uma distância 𝑥 = 0,10 m do ponto B.

2. Abandone a esfera sobre a rampa, em um ponto situado a uma altura ℎ em relação ao nível
horizontal de referência, e meça o tempo que ela gasta para atingir o anteparo após abandonar a
rampa.

3. Varie a altura ℎ, conforme Tabela 1, e repita o procedimento anterior.


4. Complete a Tabela 1 com os valores de 𝑣, 𝑈 e 𝐾.

5. Compare os valores da energia 𝑈 no ponto A com a energia 𝐾 no ponto B.

6. Houve conservação da energia mecânica? O rolamento foi com ou sem deslizamento?

Tabela 1: Energia potencial gravitacional 𝑈 de uma esfera situada a uma altura ℎ, em relação a
uma superfície horizontal, e sua energia cinética de translação mais rotação 𝐾 ao chegar à
superfície horizontal com velocidades 𝑣. Ao abandonar a superfície horizontal, a esfera atinge um
anteparo em um tempo 𝑡.
ℎ(m) 𝑡(s) 𝑣 (m/s) 𝑈 (J) 𝐾 (J)
0,100
0,150
0,200
0,250

66
DINÂMICA DE ROTAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

1.1 Rotação:

Considere um disco girando em torno de um eixo com velocidade angular, 𝜔⃗⃗. A Figura 1-a mostra um
esquema do uso da “regra da mão direita” para determinar o sentido do vetor velocidade angular: se os
dedos acompanham o sentido de rotação, então o polegar indica o sentido do vetor velocidade angular, 𝜔⃗⃗.

(a) (b)
Figura 1: (a) Regra da mão direita para determinar o sentido do vetor velocidade angular. (b)
Corpo rígido girando em torno do eixo que passa por O. Figura adaptada de [1].

Analisando o movimento de uma partícula, P (a uma distância 𝑟 do eixo de rotação, O) constituinte


de um corpo rígido que gira com velocidade 𝜔 ⃗⃗ no plano x-y, vemos que sua aceleração é dada por
𝑎⃗ = 𝑎⃗𝑡 + 𝑎⃗𝑟
com
𝑎⃗ = 𝛼𝑟 𝑒̂𝜃
{ 𝑡
𝑎⃗𝑟 = −𝜔2 𝑟𝑒̂𝑟
onde 𝑎⃗𝑡 e 𝑎⃗𝑟 são as componentes tangencial e radial da aceleração, respectivamente, 𝛼 = 𝑑𝜔
𝑑𝑡
é a aceleração
angular; 𝑒̂𝜃 e 𝑒̂𝑟 são os vetores unitários na direção tangencial e radial, respectivamente. Observe que a
componente radial da aceleração está direcionada para o eixo de rotação, O. Nese caso, essa componente
é chamada de aceleração centrípeta, 𝑎⃗𝑐 .
Em geral, se uma partícula de massa 𝑚 rotaciona num plano com velocidade angular 𝜔 em torno de
um eixo fixo, O, sofre ação de uma força direcionada ao eixo de rotação, chamada de força centrípeta:
𝐹⃗𝑐 = 𝑚𝑎⃗𝑐 = −𝑚𝜔2 𝑟𝑒̂𝑟
Porém, do ponto de vista de um referencial não-inercial racionando junto com o corpo rígido, a partícula está
em equilíbrio. Concluímos, do ponto de vista desse referencial não-inercial, que atua sobre ela uma força de
inércia (ou força inercial) 𝐹⃗𝑖𝑛 tal que
𝐹⃗𝑐 + 𝐹⃗𝑖𝑛 = 0 ⇒ 𝐹⃗𝑖𝑛 = −𝐹⃗𝑐
Portanto
𝐹⃗𝑖𝑛 = 𝑚𝜔2 𝑟𝑒̂𝑟
Essa força inercial que só aparece no referencial em rotação é chamada de força centrífuga e aponta
radialmente para fora.

67
1.2 Torque, momento de inércia e momento angular:

A Figura 2-a mostra uma partícula P se movendo no plano x-y, que está à uma posição 𝑟⃗ (em relação
a um eixo fixo em O) e sofre ação de uma força 𝐹⃗ (que também está no plano x-y, e faz um ângulo 𝜙 com o
vetor 𝑟⃗). Define-se como torque, 𝜏⃗:

𝜏⃗ = 𝑟⃗ × 𝐹⃗ .
Obseve que torque é uma quantidade vetorial cujo módulo é |𝜏⃗| ≡ 𝜏 = 𝑟𝐹𝑠𝑒𝑛𝜙 . Nesse caso, devido à
definição de produto vetorial, o torque estará paralelo ao eixo 𝑧, apontando na direção positiva desse eixo.
A Figura 2-b mostra uma representação da “regra da mão direita” para determinar a direção e sentido do
produto vetorial resultante, 𝐶⃗, entre dois vetores 𝐴⃗ e 𝐵
⃗⃗ .

(a) (b)
Figura 2: (a) Torque sobre uma partícula P, rotacionando num plano x-y. (b) Resultado do produto
⃗⃗⃗ e 𝑩
vetorial entre 𝑨 ⃗⃗⃗, que estão no mesmo plano. Figura adaptada de [1].

Seja o momento de inércia de um corpo rígido em relação a um eixo fixo

𝐼 = ∫ 𝜌𝑟 2 𝑑𝑉
onde 𝜌 é a densidade volumétrica, 𝑑𝑉 é o volume de uma porção infinitesimal a uma distância 𝑟 do eixo de
rotação. Então o momento angular desse corpo rígido girando com velocidade angular 𝜔⃗⃗ é dado por

𝐿⃗⃗ = 𝐼𝜔
⃗⃗.
Pode-se mostrar que o torque externo total atuando sobre o sistema é igual à taxa de variação temporal do
momento angular, ou seja,
𝑑𝐿⃗⃗
∑ 𝜏⃗𝑒𝑥𝑡 =
𝑑𝑡

Portanto, se o torque total externo é nulo, então


𝑑𝐿⃗⃗
= 0 ⇒ 𝐿⃗⃗𝑓 = 𝐿⃗⃗𝑖
𝑑𝑡
onde 𝐿⃗⃗𝑓 e 𝐿⃗⃗𝑖 são os vetores momentos angulares final e inicial, respectivamente. Pela equação acima
concluímos que há conservação do momento angular quando o torque externo total é nulo. Assim,
pela definição de momento angular:
𝐼𝑓 𝜔
⃗⃗𝑓 = 𝐼𝑖 𝜔
⃗⃗𝑖

68
2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo: Observar o movimento de corpos rígidos e explicar os fenômenos tendo como base leis
e princípios relacionados com a dinâmica de rotação.

1ª Experiência

Monte um plano inclinado e coloque sobre ele um cilindro oco, um cilindro maciço e uma esfera,
todos com mesmo diâmetro e mesma massa. Deixe-os rolar ao longo do plano.

1. O tempo de queda é igual para todos?

2. Qual deles terá maior energia cinética de rotação na base do plano e qual terá maior energia
cinética de translação? Justifique.

3. Se o plano fosse liso e os corpos caíssem escorregando, o tempo de queda seria o mesmo para
os três? Justifique.

4. Um disco de aço rola entre dois trilhos inclinados, apoiados em um eixo de raio pequeno, Figura
1. Observe o que acontece quando o disco chega à base dos trilhos, no momento em que toca a
superfície horizontal. A velocidade de translação do disco variou? Explique o que você observou.

Figura 1: Disco de aço desce rolando entre dois trilhos inclinados.

2.2 – 2ª Experiência:

Na montagem da Figura 4 você poderá realizar várias experiências que lhe permitirão verificar a
conservação do momento angular. Em primeiro lugar, procure lembrar-se do caráter vetorial desta grandeza
e em que condições ela se conserva.

69
(a) (b)
Figura 4: Rotação na plataforma giratório com halteres em diferentes posições. Figura
adaptada de [3]

1) Se você se assentar sobre a plataforma, e um colega lhe colocar a girar, como será o vetor que representa
em módulo, direção e sentido o momento angular adquirido por você?

2) Carregue nas mãos o par de halteres que está sobre a mesa e sentado na plataforma, mantenha os
halteres juntos ao corpo, como na Figura 4-a, e peça a um colega para lhe comunicar a rotação. Em seguida
afaste os halteres, como na Figura 4-b. O que acontece com sua velocidade angular? Explique!

3) Mantenha os braços encolhidos durante uma ou duas voltas completas e em seguida afaste-os
novamente por uma ou duas voltas; repita essa dinâmica por algumas vezes. Verifique o que vai acontecer
e dê uma explicação para os fatos. (Você provavelmente já observou bailarinos, patinadores e nadadores
que saltam em trampolim, lançarem mão destes efeitos para variarem suas velocidades de rotação.)

2.3 – 3ª Experiência:

Figura 5: Análise de momento angular com plataforma giratória e giroscópio. Figura adaptada
de [3].

1) Sobre a plataforma em repouso, tome em suas mãos uma roda de bicicleta e segure-a como eixo
horizontal. Peça a um colega para girar fortemente a roda, conforme a Figura 5-a.

2) Com a roda girando, posicione o eixo verticalmente, inclinando a roda para a direita, como indicado na
Figura 5-b. Descreva o que acontece com a plataforma. Explique!

3) Pare e repita o procedimento (1). Com a roda girando, posicione o eixo verticalmente, inclinando a roda
para a esquerda, conforme a Figura 5-c. Explique o que acontece, e compare com o procedimento (2).
Descreva o que acontece com a plataforma. Explique!

70
2.4 – 4ª Experiência:

Figura 6: Roda suspensa pela corda, com eixo horizontal. Figura adaptada de [3].

1) Segure a roda pelo cordão, deixando-a pendurada com o eixo na vertical.


2) Peça a um colega para girar a roda, de modo a obter um forte giro.
3) Com a roda girando fortemente, peça a um colega para posicionar a roda com eixo horizontal, como na
Figura 6, e solte-a. Descreva e explique o movimento realizado pela roda.

BIBLIOGRAFIA:

[1] SERWAY, Raymond A.; JEWETT, John W. Princípios de Física: volume 1: mecânica clássica. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2005.
[2] CIDEPE, Livro de Atividades Experimentais: Física Experimental – Mecânica – Conjunto interativo
para dinâmica de rotações II.
[3] Rotating plataform. Disponível em <http://www.inds.co.uk/physics/product.php?itemcode=PH135232
Acesso em 24 de junho de 2015.
[4] Rotation and Gyroscopic Precession. Disponível em
<http://demoweb.physics.ucla.edu/content/experiment-7-rotation-and-gyroscopic-precession >. Acesso em
24 de junho de 2015.

71
OSCILADOR HARMÔNICO SIMPLES: SISTEMA MASSA-MOLA

1. INTRODUÇÃO

Seja uma mola “ideal” em repouso pendurada na vertical, como indicado na Figura 1 (esquerda).
Após prender um objeto de massa 𝑚 na extremidade livre, a mola dilata por 𝑦0 até que o sistema fique na
posição de equilíbrio, ou seja, o somatório das forças atuando sobre o bloco é nulo. Assim (considerando o
sentido positivo para baixo),
𝑚𝑔 + 𝐹𝑚 = 0 (1)
onde 𝐹𝑚 = −𝑘𝑦 é a força exercida pela mola sobre o bloco (lei de Hooke), 𝑦 é o deslocamento da mola em
relação a seu comprimento original. Nesse caso, 𝑦 = 𝑦0 , então a Eq. (1) fornece:
𝑚𝑔 − 𝑘𝑦0 = 0
∴ 𝑘𝑦0 = 𝑚𝑔 (2)
Daí encontramos a posição de equilíbrio desse sistema massa-mola:
𝑚𝑔
𝑦0 = (3)
𝑘

Figura 1: Movimento oscilatório de um objeto preso a extremidade de uma mola de constante elástica 𝑘,
em torno da posição de equilíbrio, 𝑦0 . Figura adaptada de [1].

Ao deslocar o sistema por uma distância 𝑦 = 𝑦 ′ + 𝑦0 em relação a posição da mola livre, como
indicado na Figura 1 (direita), o bloco irá oscilar em torno da posição de equilíbrio 𝑦0 . Assim, aplicando a
segunda lei de Newton sobre o bloco, temos:
𝑑2 𝑦
−𝑘𝑦 + 𝑚𝑔 = 𝑚
𝑑𝑡 2
𝑑2𝑦
−𝑘(𝑦 ′ + 𝑦0 ) + 𝑚𝑔 = 𝑚
𝑑𝑡 2

𝑑2 𝑦
−𝑘𝑦 − 𝑘𝑦0 + 𝑚𝑔 = 𝑚 2
𝑑𝑡
72
Tendo em vista a Eq. (2), a equação acima fica:
𝑑2 𝑦
−𝑘𝑦 ′ = 𝑚 (4)
𝑑𝑡 2
𝑑2 𝑦 𝑑 2 𝑦′
Como 𝑦 = 𝑦 ′ + 𝑦0 , e sendo 𝑦0 constante, então = . Portanto, a Eq. (4) nos leva a equação de
𝑑𝑡 2 𝑑𝑡 2
movimento:
𝑑 2 𝑦′
−𝑘𝑦 ′ = 𝑚
𝑑𝑡 2
𝑑 2 𝑦′ 𝑘
∴ 2 = − 𝑦′
𝑑𝑡 𝑚
Para fins didáticos, e sem perder a essência do problema, iremos reescrever a equação diferencial
acima substituindo 𝑦 ′ por 𝑥, tal que:
𝑑2𝑥 𝑘
2 = − 𝑥 (5)
𝑑𝑡 𝑚
Uma das soluções dessa equação de movimento é
𝑥(𝑡) = 𝐴𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 𝜑), (6)
onde 𝐴 é a amplitude do movimento, definimos a frequência angular

𝑘
𝜔=√ (7)
𝑚
e 𝜑 é uma constante de fase.
A interpretação da constante 𝜔 é dada como se segue. Como o movimento do bloco é periódico, com
período 𝑇, então podemos dizer que
𝑥(𝑡) = 𝑥(𝑡 + 𝑇).
Assim, pela Eq. (6), temos
𝐴𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 𝜑) = 𝐴𝑐𝑜𝑠[𝜔(𝑡 + 𝑇) + 𝜑]
𝐴𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 𝜑) = 𝐴𝑐𝑜𝑠[𝜔𝑡 + 𝜔𝑇 + 𝜑]
ou
𝐴𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 𝜑) = 𝐴𝑐𝑜𝑠[𝜔𝑡 + 𝜑 + 𝜔𝑇] (8)
Levando em consideração que 𝑐𝑜𝑠(𝛼) = 𝑐𝑜𝑠(𝛼 + 2𝜋), vemos claramente que a Eq. (8) só é satisfeita se
𝜔𝑇 = 2𝜋.
Portanto
2𝜋
𝜔= (9)
𝑇
2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos: Determinar a constante elástica de uma mola.


Material utilizado: trena, cronômetro, tripé como suporte, e massas aferidas.

Procedimento 1:
1) Monte o experimento conforme a Figura 1 (centro), colocando apenas uma massa aferida na
extremidade da mola.
2) Meça o comprimento 𝑦0 e preencha a Tabela 1.
3) Acrescente as demais massas aferidas, um por vez, e meça o comprimento 𝑦0 , preenchendo a Tabela 1.

73
Tabela 1: Valores das massas colocadas na extremidade da mola, e os respectivos valores da força elástica pela
mola, 𝐹𝑚 , e deformação, 𝑦0 .

𝑚 (kg) 0
𝐹𝑚 (N) 0
𝑦0 (m) 0

4) Construa um gráfico de 𝐹𝑚 vs. 𝑦0 com o auxílio do programa SciDavis. Faça uma regressão linear e,
com base na equação da reta 𝑌 = 𝐴𝑋 + 𝐵, determine a constante elástica da mola.

Procedimento 2:
1) Deixe a montagem com apenas uma massa aferida na extremidade da mola, conforme a Figura 1
(centro). Dê um pequeno deslocamento vertical e meça o período de oscilação.
Dica: meça o tempo de 10 oscilações e divida esse tempo total por 10, para obter o valor mais provável do
período.
2) Acrescente as outras massas aferidas, uma por vez, e repita o passo anterior. Anote os resultados na
Tabela 2.

Tabela 2: Período de oscilação, 𝑇, e frequência angular, 𝜔, em função da massa 𝑚.

𝒎 (kg)
𝑻 (s)
𝝎 (rad/s)
3) Observe a Eq. (7) e pense qual gráfico linear deve ser construído para que a inclinação da reta nos forneça
a constante elástica da mola, 𝑘 . Construa esse gráfico com auxílio do SciDavis e determine o valor da
constante elástica.
4) Compare os valores das constantes elásticas obtidos em cada procedimento, 1 e 2, calculando o erro
relativo.
5) Discuta os resultados.

BIBLIOGRAFIA:

[1] TIPLER, Paul Allen; MOSCA, Gene. Física para cientistas e engenheiros: volume 1: mecânica,
oscilações e ondas, termodinâmica. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, c2009.

74
OSCILADOR HARMÔNICO SIMPLES: PÊNDULO SIMPLES

1. INTRODUÇÃO

O pêndulo simples é um exemplo de oscilador harmônico simples no qual a força de retorno está
associada à gravitação e não às propriedades elásticas de um fio ou de uma mola. O pêndulo simples é
composto por uma partícula de massa 𝑚 suspensa por uma das extremidades de um fio inextensível, de
massa desprezível e comprimento 𝐿, cuja outra extremidade está fixa, como na Figura 1.

Figura 1: Diagrama de forças sobre uma partícula de massa m presa a uma corda inextensível de comprimento L.
Figura adaptada de [1].

As forças que agem sobre a partícula de massa 𝑚 são a tração 𝑇 ⃗⃗ exercida pelo fio e a força
gravitacional 𝑃⃗⃗ = 𝑚𝑔⃗, como mostra a Figura 1, onde o fio faz um ângulo 𝜃 com a vertical. Decompomos 𝑃⃗⃗
em uma componente radial 𝑃𝑟 = 𝑚𝑔𝑐𝑜𝑠𝜃 e uma componente 𝑃𝑡 = 𝑚𝑔𝑠𝑒𝑛𝜃 que é

tangente à trajetória da partícula. A componente tangencial produz um torque restaurador em relação ao


ponto fixo do pêndulo porque sempre age no sentido oposto ao do deslocamento angular, tendendo a levar
a massa 𝑚 de volta à posição de equilíbrio, 𝜃 = 0°.

Aplicando a segunda lei de Newton na direção tangencial, temos:

∑ 𝐹𝑡 = 𝑚𝑎𝑡

𝑑2𝑠
−𝑚𝑔𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝑚
𝑑𝑡 2
𝑑2 𝑠 𝑑2𝜃
Como 𝑠 = 𝐿𝜃, então =𝐿 (pois assumimos 𝐿 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒). Assim, a equação acima fica:
𝑑𝑡 2 𝑑𝑡 2
𝑑2𝜃
−𝑚𝑔𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝑚𝐿
𝑑𝑡 2
75
𝑑2𝜃 𝑔
2 = − 𝑠𝑒𝑛𝜃 (1)
𝑑𝑡 𝐿
Para simplificar a solução da equação de movimento acima, consideramos apenas pequenas
oscilações (𝜃 ≲ 10° ≈ 0,174 𝑟𝑎𝑑), de modo que podemos lançar mão da seguinte aproximação: 𝑠𝑒𝑛𝜃 ≈ 𝜃.
Assim, a equação de movimento se reduz a uma equação diferencial linear de segunda ordem com
coeficientes constantes:

𝑑2𝜃 𝑔
2
= − 𝜃. (2)
𝑑𝑡 𝐿
A solução geral dessa equação de movimento pode ser escrita como

𝜃(𝑡) = 𝜃𝑀 cos(𝜔𝑡 + 𝜑), (3)


onde definimos a frequência angular
𝑔
𝜔≡√ (4)
𝐿
e 𝜑 é uma constante de fase.
Atividade: Como
2𝜋
𝜔= (5)
𝑇
utilizando as Eq. (4) e (5), demonstre a seguinte relação:

𝐿
𝑇 = 2𝜋√ (6)
𝑔

2. PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos: Determinar a aceleração da gravidade.


Material utilizado: Barbante fino, objeto de massa 𝑚, cronômetro e trena.

Procedimentos:

O experimento consiste em se medir o período do pêndulo em função de seu comprimento. Para isso
você deve usar uma montagem como a representada na Figura 1.

1) Varie o comprimento do pêndulo de 10 em 10 cm e meça o período de oscilação para cada comprimento


(é aconselhável que a amplitude de oscilação seja pequena, e que você meça o tempo de 5 oscilações e
divida por 5 para obter o período médio). Anote os resultados na Tabela 1.

Tabela 1: Período de um pêndulo simples em função de seu comprimento.

(𝑳 ± 𝟎, 𝟎𝟎𝟏) 𝒎
(𝑻 ± 𝟓%) 𝒔

2) Faça uma linearização da equação (6), isto é, pense qual gráfico linear deve ser construído para que a
inclinação nos forneça uma informação para determinarmos o valor de 𝑔. Construa o gráfico com auxílio do

76
programa Scidavis. Faça uma regressão linear e determine a aceleração da gravidade local através da
equação empírica obtida.

3) Calcule o erro relativo entre o valor obtido da aceleração da gravidade, e seu valor conhecido da literatura,
𝑔 = 9,80 𝑚/𝑠². Discuta o resultado e as possíveis causas de erros.

BIBLIOGRAFIA:

[1] SERWAY, Raymond A; JEWETT, John W. Princípios de Física: volume 2: oscilações, ondas e
termodinâmica. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.

77
OSCILADOR AMORTECIDO

1. INTRODUÇÃO

1.1 Oscilador harmônico simples:

Vimos na prática “Oscilador harmônico simples: sistema massa-mola” que a equação diferencial que
descreve o movimento de um corpo sujeito o à ação apenas de uma mola ideal, sem considerar qualquer
tipo de amortecimento, é

𝑑2𝑥 𝑘
2 = − 𝑥,
𝑑𝑡 𝑚
cuja solução é do tipo
𝑥(𝑡) = 𝐴𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 𝜑),
onde 𝐴 é a amplitude do movimento (constante),

𝑘 2𝜋
𝜔≡√ =
𝑚 𝑇
é a frequência angular e 𝜑 é uma constante de fase.

1.2 Oscilador harmônico amortecido: sistema massa-mola

Como vimos acima, um sistema “ideal” oscila com amplitude constante. Porém, um modelo mais
realista do problema inclui o atrito ou amortecimento além da força da mola, o que leva a uma variação da
amplitude com o passar do tempo, como podemos ver na Figura 1.

(a) (b)
Figura 1: Exemplo de oscilação amortecida. (a) Bloco oscilando em sob ação da força de uma mola e de
uma força de atrito viscoso. (b) Representação gráfica do movimento. Figuras adaptada de [1].

Considere, portanto, o sistema representado na Figura 1-a: um bloco de massa 𝑚 está sujeito a força
de uma mola ideal
𝐹𝑚 = −𝑘𝑥, (1)
78
onde 𝑘 é a constante elástica da mola e 𝑥 é seu deslocamento além da posição de equilíbrio. Como o bloco
está imerso em um fluido, atuará sobre ele uma força de atrito viscoso
𝑑𝑥
𝐹𝑎𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 = −𝑏 , (2)
𝑑𝑡
onde 𝑏 é o coeficiente de viscosidade (depende do meio em que o objeto está imerso – água ou ar, por
exemplo; e também da área da seção transversal ao longo da direção do movimento) e o sinal negativo
indica que a força de atrito sempre atuará no sentido oposto do movimento (sinal oposto da velocidade).
Aplicando a segunda lei de Newton sobre o bloco, temos

𝑑2𝑥
𝐹𝑚 + 𝐹𝑎𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 = 𝑚
𝑑𝑡 2
𝑑𝑥 𝑑2𝑥
−𝑘𝑥 − 𝑏 =𝑚 2
𝑑𝑡 𝑑𝑡
2
𝑑 𝑥 𝑏 𝑑𝑥 𝑘
+ + 𝑥 = 0 (3)
𝑑𝑡 2 𝑚 𝑑𝑡 𝑚
A solução dessa equação diferencial é

𝑥(𝑡) = 𝐴0 𝑒 −𝛾𝑡 cos(𝜔𝑡 + 𝜑), (4)


onde definimos
2𝜋
𝜔 ≡ √𝜔02 − 𝛾 2 = , (5)
𝑇

𝑘
𝜔0 ≡ √ , (6)
𝑚
𝑏
𝛾≡ . (7)
2𝑚
Observe pela Eq. (4) que a amplitude, 𝐴(𝑡), decai exponencialmente com o tempo:
𝐴(𝑡) = 𝐴0 𝑒 −𝛾𝑡 . (8)

1.1 Pêndulo de torção ideal


Nesta prática vamos utilizar novamente o pêndulo de torção. Na prática anterior vimos que
desconsiderando a dissipação de energia, principalmente devido a resistência do ar, o pêndulo
oscila eternamente com amplitude constante e o ângulo de rotação é função do tempo 𝜃(𝑡)
expressa por

𝜃(𝑡) = 𝜃0 cos (𝜔0 𝑡 + 𝜑0 ) (9)

Essa solução descreve o movimento angular de um pêndulo que não dissipa energia e que oscila
eternamente com amplitude 𝜃0 constante e frequência angular 𝜔0 constante. Nesta função, o
termo 𝜑0 é chamado de constante de fase do movimento. Seu valor está relacionado com a
posição angular do pêndulo no instante de tempo t = 0.

79
1.2 Pêndulo de torção amortecido
Nos problemas de engenharia não podemos evitar a dissipação de energia, principalmente
devido à resistência de um líquido como a água. Sabemos na prática que o pêndulo oscila em
torno de seu eixo, mas eventualmente irá parar. O pêndulo real é amortecido e a força de
resistência da água irá sempre exercer um torque contrário ao movimento. Geralmente esse
torque é proporcional à velocidade angular de rotação 𝜔 = 𝑑𝜃⁄𝑑𝑡 . Portanto vamos escrever

𝑑𝜃
𝜏 = −𝑏 (10)
𝑑𝑡

Agora temos sobre o pêndulo, dois torques, um do fio e outro da água. O torque total é

𝑑𝜃
𝜏 = −𝜅𝜃 − 𝑏 (11)
𝑑𝑡

Mas como

𝑑2𝜃
𝜏=𝛪 (12)
𝑑𝑡 2

Podemos obter a equação de movimento para esse pêndulo real passa a ser

𝑑2𝜃 𝑑𝜃
𝛪 2 +𝑏 + 𝜅𝜃 = 0 (13)
𝑑𝑡 𝑑𝑡

cuja solução pode ser escrita como

𝜃 (𝑡) = 𝜃0 𝑒 −𝛾𝑡 cos (𝜔1 𝑡 + 𝜑0 ) (14)

1.3 Amplitude e frequência angular de movimento

A função (1.6) mostra que à medida que a haste oscila o ângulo 𝜃 varia com o tempo 𝑡 de um
modo mais complicado do que no pêndulo ideal. Enquanto neste a amplitude é constante, no
pêndulo amortecido a amplitude possui um decaimento exponencial (exponencial negativa) e a
função cosseno descreve o movimento de oscilação com uma frequência angular 𝜔1. Na equação

𝜃 (𝑡) = 𝜃0 𝑒 −𝛾𝑡 cos (𝜔1 𝑡 + 𝜑0 )

80
o termo 𝜃0 𝑒 −𝛾𝑡 descreve a amplitude do pêndulo que decresce de acordo com a exponencial
negativa, sendo  uma constante calculada por

𝑏
𝛾= (15)

onde 𝑏 uma constante que depende do meio onde o pêndulo está imerso, água neste caso, e 𝛪
é o momento de inércia do pêndulo. O termo cos (𝜔1 𝑡 + 𝜑0 ) é a parte da função que descreve
a oscilação da haste que ocorre com frequência 𝜔1. Portanto, a rapidez com que a amplitude
diminui depende do meio, através do valor da constante 𝑏 e do momento de inércia 𝐼 do
conjunto. A frequência angular é calculada por

𝜅
𝜔1 = √ − 𝛾 2 = √𝜔02 − 𝛾 2 (16)
Ι

Observe que o valor da frequência de oscilação do pêndulo depende da constante , que é uma
característica do meio em que a haste está imersa. Assim a haste poderá oscilar com frequências
diferentes se estiver imerso no ar ou na água, por exemplo. Apesar disso, a relação entre o
período de oscilação e a frequência ω1 não muda, continua sendo

2𝜋
𝑇= (17)
𝜔1

Podemos escrever

2𝜋
𝑇= (18)
√𝜔𝑜2 − 𝛾 2

2. PARTE EXPERIMENTAL

OPÇÃO 1: SISTEMA MASSA-MOLA

Objetivos: analisar o movimento harmônico amortecido, plotando seu gráfico.


Material utilizado: mola, 02 massas aferidas de 50 g, tripé, haste, trena e cronômetro.

Procedimento 1: Estudo do período em relação a amplitude

1) Pendure a mola no suporte e prenda as duas massas aferidas em sua extremidade livre. Deixe o sistema
na posição de equilíbrio.
2) Cuidadosamente puxe as massas ~50 mm abaixo da posição de equilíbrio e solte-as, acionando ao
mesmo tempo o cronômetro. Meça o período de uma oscilação e anote na Tabela 1. Utilize 03 algarismos
significativos.

81
3) Interrompa o movimento e deixe o sistema na posição de equilíbrio novamente. Cuidadosamente puxe as
massas ~50 mm abaixo da posição de equilíbrio e solte-as, acionando ao mesmo tempo o cronômetro. Meça
o período médio de duas oscilação (tempo total divido pelo número de oscilações) e anote na Tabela 1.
4) Repita o procedimento (3) até completar 10 oscilações.

Tabela 1: Variação do período com o número de oscilações.


𝒏 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
𝑻 (𝒔)

5) Calcule o valor médio dos períodos, o desvio e o desvio relativo. Discuta se o período variou com o
número de oscilações (e consequentemente com a amplitude) e se esse resultado era o esperado.

Procedimento 2: Estudo do decaimento da amplitude em função do tempo

1) Deixe o sistema na posição de equilíbrio. Anote o comprimento inicial do sistema com base na escala
da régua fixada na haste.
𝐿0 = _______________________𝑚𝑚
2) Tendo em vista que o período médio do sistema já foi calculado no Procedimento 1, calcule a frequência
de oscilação do sistema:
𝜔 = ______________________
3) Cuidadosamente desloque o conjunto de massas ~60 mm abaixo da posição de equilíbrio e solte (sem
puxar ou empurrar), acionando ao mesmo tempo o cronômetro.
4) Anote na Tabela 2 o tempo decorrido cada vez que a amplitude diminuir de ~10 em 10 mm, até que a
amplitude seja ~10 mm.
5) Com auxílio do SciDavis, plote o gráfico da amplitude em função do tempo, 𝐴 (𝑚𝑚) × 𝑡(𝑠). Discuta se o
gráfico obtido tem o padrão esperado.
6) Ainda no gráfico criado no item (5), faça um ajuste exponencial de primeira ordem e obtenha o valor da
constante de amortecimento:
𝛾 = ______________________

Tutorial: Clique no menu “Analysis > Quick Fit > Fit Exponential Decay > First Order”. Na janela que se
abre, altere o parâmetro “Decay time” para “1.1”, conforme a imagem abaixo:

Clique em “Fit”.

82
DICA: Na janela “Result log”, que fornecem os parâmetros ajustados, observe a função que o SciDavis usa
para fazer o ajuste exponencial e os respectivos parâmetros e variáveis. Identifique, então, qual é a
constante equivalente ao “𝛾” do nosso problema, tendo em vista a Eq. (8).
7) Tendo em visa a Eq. (4), adicione a função do oscilador harmônico amortecido no gráfico (considere 𝜑 =
0).

Tutorial: Selecione a janela do gráfico aberto e clique no menu “Graph > Add Function”. Na janela que se
abre, insira a equação do movimento [Eq. (4)] com os respectivos valores das constantes obtidas (obs.: “x”
é o tempo). Veja o exemplo abaixo:

-Coloque o limite máximo do eixo “x” igual ao tempo final do movimento (ver Tabela 2).
-Use “500” no campo “Points”.
-Clique em “Ok”.
- Edite o gráfico com os nomes correspondentes aos eixos e as legendas apropriadas.

Tabela 2: Amplitude em função do tempo.


𝑳 (𝒎𝒎) 𝑨 = 𝑳 − 𝑳𝟎 (𝒎𝒎) 𝒕(𝒔)
0

8) Discuta os resultados.
83
OPÇÃO 2: PÊNDULO DE TORÇÃO

Objetivo: Entender o movimento amortecido, obter a função 𝜃 (𝑡) que descreve o movimento, plotar
e analisar seu gráfico.

Material: Pêndulo de torção com acessórios, cronômetro, régua, recipiente com água.

Procedimento: Vamos utilizar o pêndulo de torção para estudar oscilações amortecidas.

2.1 - Estudo do período de oscilação em função da amplitude

Período em função da amplitude: A equação (18) mostram que o período independe da


amplitude de movimento. É o queremos verificar nesta parte. Vamos medir o período de oscilação
à medida que a amplitude diminui e analisar se há influência no valor do período. Para isso
consideramos a resistência da água sobre a haste.

Atenção: É muito importante que você evite que a haste vibre durante a rotação. O correto
seria a haste apenas girar sem vibrar. Quanto maior a vibração, maior é a possibilidade dos
resultados a seguir serem influenciados pela vibração.

(a) Leve a haste para sua posição máxima e solte-a sem puxar ou empurrar.

(b) Para cada oscilação anote o período medido pelo cronômetro utilizando duas casas
após a vírgula, preenchendo a tabela abaixo. Queremos verificar o que acontece com
o período enquanto a amplitude de oscilação diminui. Ao final calcule e anote o tempo
médio utilizando a equação

1 𝑛 (19)
𝑇𝑚𝑒𝑑 = ∑ 𝑡𝑖
𝑛 1

Tabela 3: Períodos de oscilação usando a água como meio de amortecimento.

𝑛 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 𝑇𝑚𝑒𝑑

𝑡𝑖 (𝑠)

84
2.2 Comportamento da amplitude de oscilação com o tempo

Agora vamos determinar o comportamento da amplitude com o tempo. Nessa parte vamos
continuar utilizando apenas a haste sendo o meio de amortecimento a água.

(a) Leitura da posição inicial: Ligue o laser na base do pêndulo e observe onde a luz
refletida pelo espelho atinge a régua. A haste oscila um pouco por isso evite encostar
na mesa e na montagem. Após observar que a luz refletida está aproximadamente
parada, anote a posição inicial x0.

𝑥0 =

(b) Gire e segura a barra de modo que a luz refletida na régua atinja uma posição fixa
escolhida por você (gire de modo que 𝑥 > 𝑥0 ).

Observação: Procedendo desse modo, estamos considerando φ0 = 0 na equação (9).


Você é capaz de entender por quê?

(c) Libere a haste e sucessivamente anote os valores de x para todos os pontos de retorno
enquanto ela oscila (pode ser necessário que um aluno anote as posições à esquerda
e outro à direita).

Medidas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

𝒙 (cm)

Tabela 4: Estudo da posição 𝒙 do reflexo da luz sobre a régua

(d) Meça a distância L, em centímetros, entre o espelho e a régua.


(e) Agora podemos calcular o ângulo máximo de deslocamento angular 𝜃 para cada
posição 𝑥 obtida acima. Utilizando a equação (20) abaixo, calcule o ângulo e anote
na segunda linha da Tabela 5. Deverá haver valores negativos e positivos para 𝜃.

(20)
1 𝑥 − 𝑥0
𝜃 = arctan ( )
2 𝐿

85
(f) Na Tabela 3 calculamos a média do período 𝑇𝑚𝑒𝑑 e o consideramos como sendo o
período de oscilação. Conhecendo o período podemos calcular os instantes em que a
haste assume os valores de 𝜃 calculados. Complete a terceira linha da Tabela 4 com
os valores correspondentes de t, que são múltiplos de 𝑇𝑚𝑒𝑑 ⁄2.

Tabela 5: Estudo da amplitude 𝜽 = 𝜽𝟎 𝒆−𝜸𝒕 com o tempo.

Medidas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

𝜽(𝒓𝒂𝒅)

𝒕(𝒔) 0
2.3 Envoltória da curva 𝜽(𝒕)

Pelos resultados obtidos vimos que a amplitude 𝜃 decresce com o tempo. Há uma curva que
intercepta todos os valores de 𝜃, positivos ou negativos. Ela é formada por todos os pontos de
retorno em que a haste está momentaneamente em repouso.

Essa curva é chamada de envoltória e sua equação é 𝜃 (𝑡) = 𝜃0 𝑒 −𝛾𝑡 . Podemos obter a equação
da envoltória mas para isso precisamos determinar os valores de
𝜃0 e 𝛾 . Copie da Tabela 5 para a segunda linha e para a terceira linha da Tabela 4 apenas os
valores positivos de 𝜽 e os tempos t correspondentes. Para cada valor de 𝜃 calcule 𝑙𝑛𝜃 e
preencha a última linha da Tabela 6 abaixo.

Tabela 6: Somente valores positivos de 𝜃

Medidas 1 2 3 4 5 6 7 8

𝜽(𝒓𝒂𝒅)

𝒕(𝒔) 0

𝒍𝒏𝜽

2.4 Gráficos e análise de dados

Vamos utilizar o programa Scidavis para fazer os gráficos a seguir:

86
1. Gráfico 𝜽 𝐱 𝒕 : Utilizando os dados da Tabela 5 plote o gráfico 𝜃 em função de t.
2. Gráfico 𝒍𝒏𝜽 𝐱 𝒕: trace o gráfico com os dados de 𝒍𝒏𝜽 e t obtidos na Tabela 6. Utilize a
regressão linear para encontrar os valores dos coeficientes angular 𝑎 e linear 𝑏.
3. Os coeficientes angular e linear obtidos acima nos permitem obter os valores de 𝛾 e 𝜃0 , pois
𝛾 = 𝑎 e 𝑏 = 𝑙𝑛𝜃0 . Desta última equação podemos obter que 𝜃0 = 𝑒 𝑏 . Preencha a tabela
7.

Tabela 7
𝛾
𝜃0

2.5 Sugestão de exercícios a serem feitos em sala ou para entregar juntamente com o
relatório.

1) Equação de movimento: O pêndulo de torção que estamos utilizando é um exemplo de


oscilador harmônico amortecido que oscila de acordo com a equação

𝜃 (𝑡) = 𝜃0 𝑒 −𝛾𝑡 cos (𝜔1 𝑡 + 𝜑0 )

Na tabela 3, obtivemos o valor de 𝑇𝑚𝑒𝑑 e agora podemos calcular a frequência ω1 utilizando


2𝜋
𝜔1 =
𝑇𝑚𝑒𝑑

Da Tabela 5 temos os valores de 𝛾 e 𝜃0 . Escreva a função 𝜃 (𝑡) = 𝜃0 𝑒 −𝛾𝑡 cos (𝜔1𝑡) substituindo
os valores de 𝛾,𝜃0 , 𝜔1 na prática.

2) Equação da envoltória: Com os valores de 𝛾 e 𝜃0 obtenha escreva a função f(𝑡) = 𝜃0 𝑒 −𝛾𝑡


3) Gráficos: Utilize o programa Scidavis para traçar os gráficos das funções 𝜃 (𝑡), 𝑓(𝑡) . Plote o
gráfico dessas funções juntamente com os dados da Tabela 5 (no Scidavis clique com o
mouse em GRAPH + ADD FUNCTION ...) e verifique se sua função está correta e ajustada
aos dados da Tabela 3 obtidos na prática.

87
ANEXO I: SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES

Em 1960 um comitê internacional estabeleceu um conjunto padrão para as quantidades


fundamentais da ciência. O Sistema Internacional de Unidades (SI) estabelece que as unidades
fundamentais de comprimento, massa e tempo são metro (m), quilograma (kg) e segundo (s),
respectivamente. Outras unidades-padrão fundamentais e derivadas podem ser encontradas no site do
Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM) http://www.bipm.org/en/measurement-units/.
Múltiplos décimos e submúltiplos dessas unidades são amplamente usados, e recebem uma notação
padrão de prefixos. A Tabela 1 mostra alguns prefixos com seus respectivos nomes e ordens de grandeza.

Tabela 1: símbolos, nomes e ordens de grandeza de alguns prefixos.


Símbolo Nome Valor
𝑝 pico 10−12
𝑛 nano 10−9
𝜇 micro 10−6
𝑚 mili 10−3
𝑐 centi 10−2
𝑑 deci 10−1
𝑑𝑎 deca 101
ℎ hecto 102
𝑘 quilo 103
𝑀 mega 106
𝐺 giga 109
𝑇 tera 1012

Exemplos de conversão de unidades de medidas:

A dica geral para realizar a conversão de qualquer múltiplo ou submúltiplo de uma unidade de medid
é lançar mão dos respectivos valores dos prefixos, conforme a Tabela 1. Veja os exemplos a seguir.

• Exemplo 1 – Converter 2 𝑐𝑚2 para 𝑚2 :

Pela Tabela 1 tem-se que 𝑐 = 10−2 , então a conversão pode ser realizada como se segue:
2 𝑐𝑚2 = 2 (𝑐𝑚)2 = 2 (10−2 𝑚)2 = 2 × 10−4 𝑚2

• Exemplo 2 – Converter 5 𝑐𝑚2 para 𝑚𝑚2 :

Podemos multiplicar e dividir a medida pela unidade que queremos representá-la:

𝑚𝑚2
5 𝑐𝑚2 = 5 [ ] 𝑐𝑚2
𝑚𝑚2
Naturalmente isso não altera o valor da medida, uma vez que o fator dentro dos colchetes é igual a um.
Como deseja-se permanecer com a unidade 𝑚𝑚2 no numerador, então transformamos o
denominador da fração ( 𝑚𝑚2 ) e o fator 𝑐𝑚2 utilizando os respectivos valores de seus prefixos
(𝑚 = 10−3 e 𝑐 = 10−2 ):
𝑚𝑚2
5 𝑐𝑚2 = 5 [ ] (10−2 𝑚)2
(10−3 𝑚)2
Reorganizando a equação:

88
10−4 𝑚2
5 𝑐𝑚2 = 5 ( ) 𝑚𝑚2
10−6 𝑚2
Simplificando a fração dentro dos parênteses:

5 𝑐𝑚2 = 5 × 102 𝑚𝑚2

Observação: note que a medida 5 𝑐𝑚2 possui apenas um algarismo significativo. Por isso a
conversão final foi escrita como 5 𝑐𝑚2 = 5 × 102 𝑚𝑚2 (que também possui um algarismo
significativo). Portanto, o resultado da conversão não poderia ser representado como 500 𝑚𝑚2 , que
possui três algarismos significativos.

Nota:

Esses exemplos são simplesmente uma demonstração básica de como converter qualquer unidade
de medida entre seus múltiplos e submúltiplos, sem a necessidade de decorar qualquer “regra” ou “tabela
de conversões”. Observe que apenas é necessário saber o valor dos prefixos, e então fazer as operações
adequadas.

89
ANEXO II: ORIENTAÇÕES GERAIS PARA REDAÇÃO DOS
RELATÓRIOS TÉCNICOS
a) São individuais;
b) Podem ser entregues no início da aula de laboratório seguinte ao experimento realizado;
c) Somente alunos que participaram da aula é que podem entregar o relatório;
d) A nota final de cada relatório será baseada em dois fatores: (1) participação do aluno nas
atividades e (2) avaliação do relatório em si.

RELATÓRIO:

O relatório de uma atividade experimental consiste basicamente de três partes, as quais são
descritas a seguir:

Parte 1: Título, objetivos e introdução

Deve conter uma capa contendo:


• Nome da instituição, departamento/instituto e curso;
• Título do experimento;
• Nome do autor(es);
• Nome do professor;
• Data e local da realização do experimento;

Em outra folha:

• Objetivos: descreva o que se pretende verificar, medir e aprender com o experimento.


• Introdução: explique claramente os conceitos teóricos e hipóteses que servirão de base ao
experimento, reforçando no final os objetivos. Apresente de forma simplificada, no último
parágrafo, o que será feito na prática.

Parte 2: Desenvolvimento:

• Materiais: Liste todos os equipamentos e materiais de consumo utilizados.


• Método: Faça uma breve introdução ao tema do experimento e relate detalhadamente todos
os procedimentos realizados durante o experimento, os métodos de medidas e os cálculos
envolvidos.
• Resultados e análises: Apresente de forma clara os resultados obtidos, os quais devem
ser destacados no texto com suas respectivas incertezas e unidades. Possíveis limitações
da prática e/ou métodos devem ser discutidas.

Caso alguma interpolação de dados tenha sido realizada na construção de gráficos, os dados
da interpolação devem ser descritos no texto (com o correto número de algarismos significativos e
incertezas); tais dados devem ser relacionados às quantidades físicas e equações pertinentes.

Discuta os resultados obtidos e responda as questões propostas no texto da atividade.

➢ Dados:

90
✓ Tabelas: dados numéricos obtidos durante o procedimento devem ser organizados
em tabelas, as quais devem conter:
• Legenda: Inicia com a palavra “Tabela”, seguida pelo seu número. Deve contar
uma curta frase que descreve seu conteúdo.
• Cabeçalho: Primeira linha da tabela, que deve conter nomes e/ou símbolos das
grandezas listadas em cada coluna, com suas respectivas unidades e, quando
for o caso, suas incertezas.
• Conteúdo: Resultados a serem apresentados em cada linha e coluna. Medidas
devem conter o número correto de algarismos significativos.

❖ Exemplo de tabela:

✓ Gráficos: Recurso fundamental na análise dos resultados, pois permite uma


visualização mais clara da relação entre as quantidades medidas. Deve conter:

• Legenda: Inicia com a palavra “Gráfico” ou “Figura”, seguida pelo número que o
identifica no texto. Deve conter uma curta frase, que descreve o que está sendo
apresentado.
• Eixos: Cada eixo horizontal e vertical deve conter nome e/ou símbolo da
grandeza em questão, com a respectiva unidade.
• Ajustes de curvas: caso tenha sido realizado qualquer ajuste de curva
(regressão linear, por exemplo), os dados da interpolação devem ser incluídos
na descrição do gráfico.

❖ Exemplo de gráfico:

91
Gráfico 1: Tensão em função da corrente elétrica em um resistor. Os parâmetros “A” e “B” são os
coeficientes angular e linear, respectivamente, de uma regressão linear do tipo Y=AX+B.

Parte 3: Conclusão

Tenha como referência os objetivos iniciais e faça um resumo do que foi feito na prática.
Discuta se os resultados estão de acordo com o esperado, tendo em vista os objetivos; também é
válido discutir as qualidades dos resultados no que diz respeito a erros e incertezas, e os possíveis
motivos de tais erros e discrepâncias.

Referências bibliográficas: Registre todas as referências utilizadas, seguindo alguma norma de


citação bibliográfica formal. Por exemplo, as normas vigentes da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) NBR 6023:2002.

92
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEHEB – Laboratórios de Física. Manual de Instruções e Guia de Experimentos: Trilho de Ar.

CAMPOS, Agostinho Aurélio Garcia; ALVES, Elmo Salomão; SPEZIALI, Nivaldo Lúcio. Física
Experimental Básica na Universidade. Belo Horizonte: ed. UFMG, 2007.

CIDEPE, Livro de Atividades Experimentais: Física Experimental – Mecânica – Plano


inclinado com sensores e multicronômetro de rolagem de dados.

CIDEPE, Livro de Atividades Experimentais: Física Experimental – Mecânica – Conjunto


interativo para dinâmica de rotações II.

CIDEPE, Livro de Atividades Experimentais: Física Experimental – Mecânica – Conjunto


lançador com sensores e software.

CHAVES, Alaor; SAMPAIO, J. F. Física Básica: Mecânica. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos
e Científicos, 2007.

CUTNELL, John D.; JOHNSON, Kenneth W. Física: volume 1. 6.ed. Rio de Janeiro: LTC - Livros
Técnicos e Científicos, 2006.

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