Educacao Financeira Series Iniciais

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Educação Financeira nas séries iniciais: saberes docentes

Daniela Flores Teixeira1

GD 15 – Educação Financeira

Esta pesquisa de mestrado em andamento, do Programa de Estudos Pós-graduados em Educação


Matemática na PUC-SP, tem como objetivo diagnosticar os tipos de saberes mobilizados por professores
do 5º ano do Ensino Fundamental, de uma escola da rede pública no interior do Estado de São Paulo,
quando resolvem problemas no campo da Educação Financeira. Realizaremos uma pesquisa de campo de
cunho qualitativo, utilizando como metodologia o estudo de caso. Os dados serão analisados à luz do
proposto por autores que estudam saberes docentes, discorrendo sobre a base de conhecimento para o
ensino e considerando as diferentes formas de mobilização do conhecimento matemático para
identificação dos níveis de aprendizagem: técnico, mobilizável e disponível. Buscamos destacar a
importância da Matemática Financeira para o entendimento do tema e com intencionalidade da formação
de indivíduos críticos e responsáveis por suas decisões na gestão da vida financeira.

Palavras-chave: Educação Financeira; Sequência didática; Conhecimentos docentes.

Introdução
Durante minha carreira profissional como docente do Ensino Fundamental, observei
entre os colegas, diversas situações em que o envolvimento com os recursos financeiros
não era bem-sucedido, uma vez que em conversas e discussões, este era um tema não
abordado nas práticas docentes.
Percebe-se que um dos maiores desafios da sociedade atual é proporcionar uma
educação básica que contemple as demandas do mundo globalizado, tal como as
geradas pela inovação tecnológica. Desde muito cedo, as crianças deveriam ser
preparadas para lidarem com o dinheiro (administrar mesada, construir objetivos de uso
de suas economias, participar de discussões familiares sobre orçamento, entre outros),
para que possam atuar de forma consciente e cidadã ao longo da vida pessoal e
profissional.
Com o objetivo de melhorar o trabalho em sala de aula e aprofundar minhas reflexões
sobre o tema, ingressei no Programa de Estudo de Pós-Graduados em Educação
Matemática, almejando estudar e compreender melhor o processo de formação docente
relacionado à Educação Financeira.

1
Pontifícia Universidade Católica - SP, e-mail: [email protected], orientador: Profª Drª.
Cileda de Queiroz e Silva Coutinho.
As discussões no decorrer das disciplinas e, principalmente, no grupo de estudos
Processo de Ensino e Aprendizagem em Matemática - “PEAMAT”, contribuíram para a
escolha temática dessa pesquisa, bem como seu aporte teórico.
A Educação Financeira contribui para o desenvolvimento social e econômico do país,
proporcionando aos cidadãos habilidades e competências indispensáveis para planejar,
administrar sua renda, poupar, investir e compreender seus direitos, por esses motivos,
ou seja, almeja uma educação para a cidadania, visto que os próprios Parâmetros
Curriculares Nacionais afirmam:
O ensino da Matemática deve ser desenvolvido de tal maneira que permita ao
aluno compreender a realidade em que está inserido, desenvolver suas
capacidades cognitivas e sua confiança para enfrentar desafios, de modo a
ampliar os recursos necessários para o exercício de cidadania, ao longo do
seu processo de aprendizagem. (BRASIL, 1998, p. 60).

A proposta da Base Curricular Nacional, atualmente em consulta pública, também


aborda a formação para a compreensão das diversas realidades que irão permear o aluno
ao longo da vida, tratando a Educação Financeira como tema transversal, mas como
conteúdo a ser abordado no Ensino Médio.
Mas o que entendemos por Educação Financeira? A Organização de Cooperação e de
Desenvolvimento Econômico (OCDE) a descreve do seguinte modo:
[...] processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram sua
compreensão dos conceitos e dos produtos financeiros, de maneira que, com
informação, formação e orientação claras, adquiram os valores e as
competências necessários para se tornarem conscientes das oportunidades e
dos riscos neles envolvidos e, então, façam escolhas bem informados, saibam
onde procurar ajuda, adotem outras ações que melhorem o seu bem-estar,
contribuindo, assim, de modo consistente para formação de indivíduos e
sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro. (OCDE, 2009, p. 84).

Diante disso, é importante ressaltar que para a formação de indivíduos capazes de


compreender esse processo, promover a competência e confiança essenciais voltadas
para a consciência de riscos e oportunidades financeiras, objetivando melhora no bem-
estar financeiro, as habilidades devem ser trabalhadas desde os anos iniciais da
escolarização, bem como adquiridas ao longo da vida.
Vale destacar que nosso grupo de pesquisa tem assumido, até o momento, tal definição
para o desenvolvimento dos estudos realizados. Aprofundaremos tal reflexão ao longo
do nosso trabalho.

Revisão Bibliográfica
Estamos analisando pesquisas na área da Educação Financeira na abordagem dos
saberes docentes dos profissionais que atuam nos anos iniciais, Teixeira (2015)
verificou pesquisas científicas no período de 2013 a 2015, as quais nenhuma aborda a
temática em questão.
Assim como na pesquisa de Teixeira (2015), as pesquisas que constam na Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações no período de 2013 e 2014, também não
apresentam saberes docentes necessários à Educação Financeira.
Ressaltamos, que até o momento, não encontramos pesquisas que fundamentem ou
norteiem quais os saberes docentes necessários na abordagem da Educação Financeira
nos anos iniciais, mediante a falta de publicações.

Problemática
Neste contexto, nossa pesquisa tem como objetivo diagnosticar saberes mobilizados por
professores do Ensino Fundamental em relação à Educação Financeira, e para isso,
buscamos responder a seguinte questão de pesquisa: Que tipos de saberes são
mobilizados por professores de 5º ano, na resolução de problemas, em relação à
Educação Financeira?
Tendo em vista que a escola é um ambiente que proporciona aos educandos a
capacidade de administrar sua vida em sociedade, a Educação Financeira dialoga com
as diversas disciplinas do Sistema de Educação do Ensino Médio e Fundamental. De
acordo com a Estratégia Nacional de Educação Financeira, ENEF:
Portanto, a educação financeira nas escolas se apresenta como estratégia
fundamental para ajudar as pessoas a realizar seus sonhos individuais e
coletivos. Discentes e docentes educados em temas financeiros podem
constituir-se em indivíduos crescentemente autônomos em relação a suas
finanças e menos suscetíveis a dívidas descontroladas, fraudes e situações
comprometedoras, que prejudiquem não só sua própria qualidade de vida
como também a de outras pessoas. (ENEF, 2005, p.63)
Destacamos que este trabalho é parte de um projeto desenvolvido pelo grupo PEAMAT,
que trata do ensino e da aprendizagem da Educação Financeira, tanto na escola básica
como em outros campos profissionais.
Os projetos em desenvolvimento neste grupo articulam-se abrangendo estudo de
materiais didáticos, estudos diagnósticos de conhecimentos e concepções, estudos sobre
propostas de abordagens (modelagem, situações didáticas e outras), preferencialmente
com utilização de recursos computacionais (estudo da contribuição dessa utilização nos
processos de ensino e de aprendizagem).
Referencial metodológico e teórico
Esta pesquisa tem caráter qualitativo, apresentando um estudo de caso. Segundo
Fiorentini e Lorenzato (2012, p. 110), o estudo de caso:
[...] busca retratar a realidade de forma profunda e mais completa possível,
enfatizando a interpretação ou a análise do objeto, no contexto em que ele se
encontra, mas não permite a manipulação das variáveis e não favorece a
generalização. Por isso, o estudo de caso tende a seguir uma abordagem
qualitativa. Mas isso não significa abandonar algumas quantificações
necessárias. Essas quantificações podem ajudar a qualificar melhor uma
análise.

Corroborando com os autores e considerando tais aspectos presentes no estudo em


questão, serão analisados quatro professores de 5º ano da Rede Municipal de Ensino de
Caçapava, interior de São Paulo, por meio da aplicação de uma sequência didática.
O decorrer da atividade será gravado para posteriores transcrições, buscando retratar a
realidade por meio da interpretação e análise de dados do contexto, pois como
característica sobre o tipo de pesquisa aqui abordada, Ponte (2006) afirma:
[...] um estudo de caso visa conhecer uma entidade bem definida, como uma
pessoa, uma instituição, um curso, uma disciplina, um sistema educativo,
uma política ou qualquer outra unidade social. O seu objectivo é
compreender em profundidade o “como” e os “porquês” dessa entidade [...]
(PONTE, 2006, p. 125).

No entanto, para que a presente pesquisa seja bem caracterizada, vale ressaltar a relação
à Educação Matemática, que de acordo com Ponte (2006):
[...] na Educação Matemática os estudos de caso têm sido usados para
investigar questões de aprendizagem dos alunos, bem como do conhecimento
e das práticas profissionais de professores, programas de formação inicial e
continuada de professores, projectos de inovação curricular, novos currículos,
etc. (PONTE, 2006, p.126).

Para tentarmos responder à questão de pesquisa proposta, desenvolveremos, no grupo


de pesquisa, uma situação didática que permitirá aos pesquisados evoluírem na
resolução do problema proposto.
A partir de entrevista estruturada na qual os professores participantes discutirão, em
duplas, o processo de resolução, assim como o processo para o preparo de uma aula a
ser abordada com seus alunos, coletaremos os dados a serem por nós analisados.
Trataremos da identificação dos saberes mobilizados pelos professores, bem como
consideraremos sua formação um elemento decisivo para um ensino de qualidade.
Com base nos estudos de Shulman (1986) é relevante mencionar os grupos de
conhecimento suscitados por ele: conhecimento do conteúdo e conhecimento
pedagógico do conteúdo.
Para nossos estudos, utilizaremos também o desdobramento do grupo conhecimento
pedagógico do conteúdo, nos termos definidos por Ball et al (1998), subdivididos em
três categorias: Conhecimento do Conteúdo e os Estudantes (do inglês Knowledge of
Content and Students– KCS), Conhecimento do Conteúdo e o Ensino (Do inglês
Knowledge of Content and Teaching – KCT) e Conhecimento do Conteúdo e o
Currículo (Do inglês Knowledge of Content and Curriculum– KCC).
Segundo pesquisas recentes no campo das práticas docentes, os professores que
lecionam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, na maioria das vezes, não possuem
formação específica para atuação matemática, apresentam formação em pedagogia, e
essa não contempla conteúdos matemáticos suficientes para suprir a necessidade de
ensinar matemática com propriedade.
Shulman (1986) afirma que cada área do conhecimento tem uma especificidade própria
que justifica a necessidade de estudar o conhecimento do professor em relação à
disciplina que ele vai ensinar.
O professor deve compreender a disciplina que vai lecionar, bem como sua natureza e
organização, e relacionar vários tópicos com outras áreas do conhecimento; considerar o
conhecimento didático do conteúdo como uma visão da disciplina a ser ensinada de
forma a ser compreendida pelos alunos, e para isso, o professor precisa ter
conhecimento do currículo, selecionar e organizar conteúdo e ainda fazer articulações
entre os conteúdos selecionados.
Hill, Ball e Schiling (2008) apresentaram um diagrama muito relevante sobre o
conhecimento do docente, incluindo algumas subdivisões das categorias anteriormente
propostas por Shulman (1986):

Figura 2: conhecimentos dos professores.

Fone - BALL (et al. 2008, p. 403).


Para as possíveis análises dos dados coletados, vale ressaltar que, utilizaremos apenas o
subgrupo do conhecimento didático do conteúdo, composto por conhecimento comum
do conteúdo e dos alunos, (também chamado de conhecimento dos estudantes):
relacionado à interação entre a compreensão matemática e o pensamento matemático do
aluno, isto é, o professor antecipar possíveis erros dos alunos e identificar o motivo de
acontecerem; o conhecimento do ensino: aquele conhecimento utilizado pelo professor
para decidir a sequência de tarefas que proporá a seus alunos; e por fim, porém não
menos importante, o subgrupo currículo que é relacionado à visão completa da
diversidade de programa de ensino.
Salientamos que, a mobilização de saberes de matemática financeira aqui abordada
busca a promoção da Educação Financeira, que de acordo com Campos, Coutinho e
Teixeira:
o ensino de conteúdos de Matemática Financeira dentro da disciplina de
Matemática em si não basta para cumprir o papel de formar cidadãos e
promover a Educação Financeira se ele não for contextualizado em situações
reais ou realísticas, próximas ao cotidiano do educando (CAMPOS et al,
2015, p.9).

Procuraremos também referências no trabalho de Robert (1998), considerando a


especificidade e complexidade dos programas de ensino, nossas expectativas sobre
saberes docentes e suas crenças sobre o ensino e a aprendizagem.
Aline Robert (1998) aborda que existem diferentes formas de mobilização do
conhecimento matemático, ou seja, diferentes ferramentas de análise que permitem
identificar em que nível de aprendizagem o indivíduo se encontra, dividido em: nível
técnico, mobilizável e disponível.
O sujeito encontra-se no nível técnico, quando, para resolver uma determinada tarefa,
utiliza-se apenas de uma ferramenta concreta (fórmula, teorema ou definição), sem a
compreensão conceitual do que está realizando.
Quando o sujeito resolve certa tarefa necessitando adaptar seus conhecimentos, com
indicações do próprio enunciado ou interferência do professor, precisando articular duas
informações de naturezas diferentes, dizemos que está no nível mobilizável.
Por fim, quando o indivíduo consegue solucionar o que está pronto sem requerer
indicações explícitas, ou seja, o fato de saber solucionar sem interferências, está no nível
disponível.
Tendo em vista que a Educação Financeira está inserida nos temas transversais no que
se refere aos Parâmetros Curriculares Nacionais, buscaremos análises criteriosas que
demonstrem a percepção dos professores.
De acordo com os estudos de Bifi (2015), em sua tese de doutorado, foram analisados
os saberes mobilizados por professores de ciclo I em exercício, porém no que diz
respeito à Estatística. Em contrapartida, encontramos na tese de Teixeira (2015), um
estudo diagnóstico sobre a percepção da relação entre Educação Financeira e
Matemática Financeira, em que os sujeitos de pesquisa eram professores de Ensino
Médio.
Com estudos baseados nos níveis de mobilização dos conhecimentos, buscaremos
diagnosticar, em professores de 5º anos os saberes movimentados por eles na resolução
das atividades, pretendendo assim, construir novas hipóteses para o desenvolvimento de
pesquisas na área da Educação Financeira.
Para a coleta de dados desta pesquisa, será aplicada uma sequência didática, com
professores, que envolverá a resolução de problemas financeiros para investigar os
conhecimentos mobilizados pelos docentes que atuam no Ensino Fundamental de
Caçapava, no interior de São Paulo. Os dados a serem analisados serão frutos de áudio
gravação, de observação e de materiais produzidos pelos docentes.

Considerações
As práticas dos professores que ensinam matemática no Ensino Fundamental são
consideradas muito importantes para embasar a vida escolar e cotidiana do educando,
sendo assim, o fato de contextualizar e aproximar a matemática ao dia a dia dos mesmos
é uma tarefa imprescindível.
As finanças acompanharão os alunos e professores em todos os momentos da vida, tanto
para conseguir acompanhar gastos, ganhos, dívidas e lucros, como para aprenderem a
poupar e realizar sonhos, sejam de curto, médio e longo prazo.
Diagnosticar o que os professores mobilizam para resolver problemas no âmbito da
Educação Financeira se faz necessário para que possam ser identificadas as possíveis
fragilidades e/ou facilidades dos docentes da Rede Municipal de Ensino de Caçapava,
bem como futuramente, de acordo com os resultados e análises da presente pesquisa,
desencadear movimentos de formação para os profissionais que nela atuam, seja nas
Unidades Escolares, ou no próprio departamento de ensino.
REFERÊNCIAS:
BALL, D. L. HILL, H. C., & BASS, H. Knowlng mathematics for teaching.
American Educator, Fall, 14-46. (2005).
BALL, D. L., THAMES, M, H., PHELPS, G. Content Knowledge for Teaching. Journal
of Teacher Education. V. 59, N. 5 – November/December 2008. 389-407. University of
Michigan.
BIFI, C. R. Conhecimentos estatísticos no ciclo I do Ensino Fundamental: um
estudo diagnóstico com professores em exercício. 2014. 134f. Doutorado em Educação
Matemática – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2014.
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2011a. Disponível em: http://www.vidaedinheiro.gov.br/legislação/Default.aspx.
Recuperado em: 06-10-2015.
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PONTE, J, P. Estudo de Caso em Educação Matemática. 2006 Bolema, 25, 103-132.
RIBEIRO, A. J. Conhecimento matemático para o ensino, formação de professores
e ensino de álgebra: uma análise e possíveis relações na educação básica. In:
CIBEM, 7, 2013. Montevideo, Uruguai.
CAMPOS, C. R.; TEIXEIRA, J.; Coutinho, C. Q. S. Reflexões sobre a educação
financeira e suas interfaces com a educação matemática crítica. No prelo.
SHULMAN, L.S. (1986). Those Who Understand: Knowledge Growth in Teaching.
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Secretary General of the OECD, 2005.
TEIXEIRA, J. Um estudo diagnóstico sobre a percepção da relação entre educação
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– Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2015.

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