Análise de Uma Sequência Didática No Ensino Do Sistema
Análise de Uma Sequência Didática No Ensino Do Sistema
Análise de Uma Sequência Didática No Ensino Do Sistema
FORTALEZA - CEARÁ
2019
MARIA ROZELEIDE DE OLIVEIRA NÓBREGA
FORTALEZA - CEARÁ
2019
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Estadual do Ceará
Sistema de Bibliotecas
Sou professora há quase 19 anos atuando com 200 horas em sala de aula. Sempre tive o sonho
de fazer um mestrado, mas não tive muitas oportunidades sobretudo pelo fato de morar e
trabalhar no interior e também por desejar fazer mestrado na área específica de Biologia, o
que tornou a realização desse sonho mais difícil. Até que, com o lançamento do edital do
PROFBIO, vi minha oportunidade chegar. Foi com muita expectativa que iniciei essa tão
sonhada jornada. O desejo de aprimoramento profissional e a busca por conhecimentos que
pudessem trazer uma atuação mais eficiente na promoção da aprendizagem de meus alunos
foram motivações para enfrentar o desafio. Uma vez cursando o ProfBio pude entrar em
contato com novas e interessantes metodologias de ensino que contribuíram para uma
inovação de minhas práticas pedagógicas. Além disso, o contato com a produção acadêmica
na área do ensino aprendizagem da disciplina de Biologia proporcionada pelas disciplinas
cursadas foi diferencial para a abertura do pensamento em relação as possibilidade do ensino
nesta área do conhecimento. Foram dois anos muito difíceis, pois fazer mestrado sem se
ausentar da sala de aula e ter que cumprir com exaustivas atividades pré-aula e pós-aula, além
da realização dos projetos semestrais, provas escritas de qualificação, apresentações às bancas
de qualificação e desenvolvimento da pesquisa ao final foram muito desgastantes, não
havendo, a meu ver, muita diferença em relação aos mestrados acadêmicos. No entanto, pus
em prática minha fé e perseverança para cumprir os objetivos propostos. No transcorrer do
curso pudemos fazer reflexões acerca da nossa prática pedagógica de maneira que pude
perceber algumas carências neste sentido. Apesar de em algumas disciplinas ter percebido um
cunho muito conteudista em detrimento da geração de experiências para o aperfeiçoamento da
prática pedagógica, posso dizer que o curso como todo contribuiu de forma significativa para
meu crescimento tanto na área profissional como pessoal, não sendo esses detalhes negativos
suficientes para invalidar os efeitos positivos do mesmo. As estratégias desenvolvidas e as
exigências foram válidas para nos levar a um melhor patamar de conhecimentos e
desenvolvimento de competências para melhor atuação em sala de aula. Foram muitas as
aprendizagens desenvolvidas durante o curso, sendo que à medida que o realizava fui
inserindo aquilo que aprendia nas minhas aulas, de maneira que pude proporcionar aos meus
alunos aulas mais interessantes e proveitosas. Os trabalhos desenvolvidos tanto nos projetos
de aplicação em sala quanto com o projeto final de pesquisa renderam aulas mais motivadoras
e melhorias na aprendizagem dos alunos. Foi perceptível ao final a diferença entre o antes e o
depois do ProfBio na minha atuação profissional.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me ensinado coisas lindas acerca do seu amor e cuidado.
Ao meu esposo Adalberto, pelo companheirismo e atenção no cuidado comigo e com nossas
filhas.
Às minhas filhas Linda Liberty e Pérola Amarílis, por terem suportado minhas ausências
mesmo sem muita compreensão, mas me dando o aconchego necessário para suportar os
momentos mais difíceis.
À minha mãe Adalzira “in memoriam” pelo exemplo de luta e perseverança e pela confiança
a mim dedicada.
Às minhas irmãs Eraneide, Maria e Neide por toda solicitude sempre que precisei, pela
torcida e orações.
Aos meus sobrinhos Jânio, Mattson, Igor, Raquel e Lívia por estarem sempre à disposição nas
horas que precisei de auxilio.
À minha sogra Francisca Gonçalves Nóbrega, por todo o apoio durante todo o mestrado e
durante a escrita deste trabalho.
Aos meus irmãos e irmãs da Igreja Betesda de Tauá por toda a torcida e pelas orações a Deus
por minha vida.
Ao pastor Luciano Batista, que mesmo em pouco tempo de convivência, foi meu incentivador
para esta conquista.
Aos meus colegas e amigos de mestrado, por tornarem essa jornada mais leve, pelo
companheirismo e pela alegria dos nossos encontros.
Aos meus colegas de trabalho da EEEP Monsenhor Odorico de Andrade de Tauá/CE, que
demonstraram sua amizade com o apoio e incentivo para esta conquista.
Ao núcleo gestor da EEEP Monsenhor Odorico de Andrade, pela permissão para a realização
desta pesquisa e pela compreensão durante esse período em que precisei de maior
flexibilidade.
Ao meu orientador Fabrício Bonfim Sudério por sua presteza, competência e compreensão,
tão importantes neste processo.
Ao meu amigo Adervan pelas palavras de amizade, incentivo e orientação no projeto de
aplicação em sala de aula do primeiro semestre, durante a qualificação e por ter aceitado
participar da banca da minha de defesa.
À professora Alana Cecília de Menezes Sobreira pela rica contribuição ao meu trabalho
durante a banca de qualificação.
À professora Erika Freitas Mota, pela disponibilidade em participar da minha banca dando
sua contribuição para este trabalho.
Aos alunos do curso técnico em enfermagem do ciclo 2017- 2019 da EEEP Monsenhor
Odorico de Andrade de Tauá/CE, por terem aceitado participar desta pesquisa contribuindo de
forma efetiva para a realização desse trabalho.
À Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por coordenar a rede de universidades do
Mestrado Profissional em Ensino de Biologia (PROFBIO) no Brasil.
À Universidade Estadual do Ceará (UECE), por organizar e sediar o PROFBIO no Estado do
Ceará.
Aos professores do Mestrado Profissional em Ensino de Biologia (PROFBIO) pelos
ensinamentos, compreensão e incentivo.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por seu apoio
financeiro ao PROFBIO.
À SEDUC pela liberação de 100 h da minha carga horária nos três meses finais do curso para
escrita do TCM, dessa forma contribuindo para meu aperfeiçoamento profissional.
A todos que de forma direta ou indireta colaboraram para esta conquista.
RESUMO
O ensino de Biologia tem encontrado grandes dificuldades para cumprir seu objetivo de levar
os estudantes a aprender de forma satisfatória. Isso se dá principalmente por ser uma
disciplina que envolve eventos complexos aliados ao uso de diversas nomenclaturas de difícil
memorização. Dentre seus conteúdos ainda existem aqueles em que essa característica de
complexidade é mais acentuada, a exemplo da anatomia e fisiologia de sistemas, como o
cardiovascular. Desta forma, faz-se necessário uma inovação das práticas pedagógicas que
possam promover a eficiência da aprendizagem de tais conteúdos. Neste sentido, algumas
metodologias têm se mostrado promissoras, como o uso de Sequências Didáticas (SD).
Sabendo disso e diante da complexidade do conteúdo, este trabalho tem como principal
questão de estudo a seguinte: Em que medida a utilização de uma Sequência Didática (SD)
facilita a aprendizagem de um conteúdo complexo como anatomia e fisiologia cardiovascular?
Considerando os aspectos expostos, o objetivo desta pesquisa foi avaliar a eficácia de uma
sequência didática (SD) com metodologia prática e lúdica como facilitadora do ensino e da
aprendizagem da anatomia e fisiologia do sistema cardiovascular (SC). A abordagem foi
qualitativa e consistiu na aplicação de uma SD como forma de mediar o processo ensino
aprendizagem. A coleta dos dados foi baseada em observações sistemáticas, além de
aplicação e análise de questionários semiestruturados. A pesquisa foi realizada com 44
(quarenta e quatro) estudantes de uma escola profissionalizante da rede pública estadual da
cidade de Tauá, Ceará. A SD foi estruturada em Três Momentos Pedagógicos, utilizando-se
de estratégias metodológicas variadas, como jogo, animações e atividades práticas. A análise
dos dados revelou que a metodologia proporcionou um ganho expressivo no aprendizado do
conteúdo abordado, favorecendo o envolvimento, a participação e o interesse nas aulas.
Assim, pôde-se concluir que a SD apresentou grande potencial como facilitadora da
aprendizagem, sendo confirmada a sua eficácia na abordagem do ensino de anatomia e
fisiologia do Sistema Cardiovascular.
The Biology teaching has been coming across great difficulties in fulfilling its goal of getting
students to learn in a satisfactory way. This is mainly because it is a discipline that involves
complex events allied to the use of diverse nomenclatures of difficult memorization. Among
its contents there are still those ones in which this characteristic of complexity is more
accentuated, such as the anatomy and physiology of systems, for instance the cardiovascular
one. In this way, it is necessary to innovate the pedagogical practices that can promote the
efficient learning of those contents. In this sense, some methodologies have been promising,
such as the use of Didactic Sequences (SD). Knowing this and given the complexity of
content, this paper has as its main study question the following: To what extent does the use
of a Didactic Sequence (SD) facilitate the learning of complex content such as anatomy and
cardiovascular physiology? Considering the exposed aspects, the objective of this research
was to evaluate the effectiveness of a didactic sequence (SD) with practical and ludic
methodology as a facilitator of the teaching and learning of the cardiovascular anatomy and
physiology system. The approach was qualitative and it had consisted in the application of a
SD as a way to mediate the learning teaching process. The research was carried out with 44
(forty-four) students of a vocational school of the public state network in Tauá, Ceará. The SD
was structured in Three Pedagogical Moments, using varied methodological strategies, such
as games, animations and practical activities. The data analysis showed that the methodology
had provided an expressive gain in the learning of the addressed content, favoring the
involvement, participation and interest in the classes. Thus, it was concluded that SD offered
great potential as a learning facilitator, confirming its efficacy in the teaching of anatomy and
physiology of the Cardiovascular System.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................. 16
2.1 ENSINO DE BIOLOGIA NO BRASIL .................................................................... 16
2.2 ENSINO DE ANATOMIA E FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR ....................... 22
2.2.1 Jogos.......................................................................................................................... 25
2.2.2 Animações ................................................................................................................ 26
2.2.3 Atividades práticas .................................................................................................. 27
2.2.4 Conhecimentos prévios ........................................................................................... 29
2.3 SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS .................................................................................... 30
3 METODOLOGIA.................................................................................................... 33
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 39
4.1 DIAGNÓSTICO PRÉVIO ......................................................................................... 39
4.2 DESENVOLVIMENTO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA ......................................... 48
4.2.1 Primeiro momento pedagógico: problematização inicial..................................... 48
4.2.2 Segundo momento pedagógico: organização do conhecimento ........................... 52
4.2.3 Aplicação do conhecimento..................................................................................... 63
4.2.3.2 Reaplicação do questionário da problematização inicial ..................................... 67
5 CONCLUSÃO.......................................................................................................... 84
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 86
APÊNDICES ............................................................................................................ 93
APÊNDICE A - TERMO DE ASSENTIMENTO (PARA MENORES DE 18
ANOS) ....................................................................................................................... 94
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PRÉ-TESTE ................................................... 95
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO SOBRE IMPRESSÕES DOS ALUNOS
SOBRE A SD APLICADA ....................................................................................... 99
APÊNDICE D – ROTEIRO NORTEADOR PARA APLICAÇÃO DA SD .......... 100
ANEXOS ................................................................................................................ 113
ANEXO A - PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ..................... 114
11
1 INTRODUÇÃO
teórica”. É comum observarmos os apelos dos alunos do ensino médio por aulas mais
dinâmicas e algo que os tire da mesma rotina tradicional que por décadas prevalece.
Esses estudantes têm passado por grandes mudanças na forma de viver e de
aprender, onde o contato com as tecnologias da informação e da comunicação lhes
proporciona uma constante aproximação com várias fontes de informação. Isso deixa claro
que a escola não é a única fonte de conhecimento e que essas fontes diversas devem ser
levadas em consideração. Caso esse aspecto não seja repensado pode haver um impedimento
de uma aprendizagem satisfatória, simplesmente pela maneira com que o conteúdo é tratado,
ou seja, com um cunho tradicional e puramente conceitual (LIMA; TEIXEIRA, 2011).
É preciso considerar tanto a solicitação dos estudantes quanto as orientações que
são apresentadas em documentos que servem de base para a organização da educação básica,
os quais preconizam que os objetivos para o ensino médio são “o desenvolvimento de
conhecimentos práticos, contextualizados, que respondam às necessidades da vida
contemporânea, e o desenvolvimento de conhecimentos mais amplos e abstratos, que
correspondam a uma cultura geral e a uma visão de mundo” (BRASIL, 1999, p. 6).
A busca pelo desenvolvimento do conhecimento, levando em consideração essas
instruções, exige dos professores uma forma diferente de organizar suas aulas com o intuito
de conseguir esse fim. Entende-se, dessa forma, que não se pode mais continuar com uma
didática engessada em que se privilegia uma abordagem puramente teórico-expositiva e a
utilização do livro didático como único instrumento de orientação da prática pedagógica
(LIMA; TEIXEIRA, 2011).
De acordo com Sant’anna (2017), é preciso buscar novas possibilidades para que
a aprendizagem se efetive, pois se houver um planejamento das aulas e atividades de forma
diversificada, ou seja, com diferentes estilos metodológicos, é possível atrair a atenção de um
número maior de alunos e, desta forma, alcançar resultados satisfatórios no processo de
ensino e aprendizagem. Nesta busca, é necessário que os professores procurem acompanhar as
novidades da pesquisa e da produção científica nesta área, que, mesmo ainda não sendo tão
abrangente, já nos subsidia com algumas experiências capazes de nos auxiliar na busca por
uma aprendizagem significativa.
Além disso, é importante que o professor experimente essas novidades e faça sua
própria busca por respostas que venham lhe trazer mais conforto ao lidar com os conteúdos da
Biologia. Não obstante, é necessário que a escola e seus professores não se limitem a
reproduzir essas experiências, mas possam investir na produção científica através de
14
pesquisas próprias que supram as lacunas ainda existentes acerca do ensino e aprendizagem
de conteúdos dessa disciplina.
É importante atentar para alguns conteúdos que se destacam por apresentar um
maior nível de dificuldade para serem aprendidos, como é o caso de anatomia e fisiologia.
Alguns autores, como Jesus (2014), Barbosa; Ramos; Sereia (2010), Willers et al. (2013),
Caneppa et al. (2015) e Alves et al. (2016), têm relatado a grande complexidade do estudo
desses conteúdos, considerando a dificuldade que os alunos apresentam tanto para aprender
nomenclaturas de uma enorme gama de estruturas como para relacioná-las ao sequenciamento
de eventos e reações que fazem parte do seu funcionamento. Dentre esses conteúdos, podem
ser citadas a anatomia e fisiologia do sistema cardiovascular.
Não obstante, de acordo com alguns autores, como Borges et al. (2016) e Barbosa;
Ramos; Sereia (2010), esse aprendizado se torna ainda mais difícil quando abordados apenas
através de aulas expositivas. Para estes autores, devido a sua complexidade, o sistema
cardiovascular deve ser trabalhado de forma clara, didática e dinâmica, sendo necessário
diversificar as estratégias de ensino como forma de facilitar esse aprendizado.
Lima; Siqueira; Costa (2013) afirmam que o emprego de metodologias que
venham despertar a atenção e o interesse dos alunos para os assuntos que serão abordados
deverá promover maior motivação para aprender. Neste sentido, a utilização de metodologias
lúdicas e práticas de ensino poderá facilitar esse processo, já que prioriza a participação do
aluno no processo de ensino-aprendizagem, podendo resultar em uma maior eficiência na
aprendizagem.
Todos esses aspectos podem ser integrados e organizados por meio de uma
sequência didática (SD). Para Zabala (1998), uma SD é uma proposta metodológica
organizada com atividades em série, de maneira ordenada e articulada, e com o objetivo de
contribuir para o ensino-aprendizagem de determinado conteúdo. Para Alves e Freire (2014),
por meio dessa metodologia é possível conseguir resultados mais expressivos no processo de
aprendizagem. Já de acordo com Alencar et al. (2015) a SD é considerada um instrumento
fundamental que facilita a abordagem de conceitos de difícil compreensão, sendo uma
estratégia importante para o processo de ensino-aprendizagem.
Sabendo disso, diante da complexidade do conteúdo a ser trabalhado e da
dificuldade de aprendizagem do mesmo, coloca-se como principal questão de estudo desse
trabalho a seguinte: Em que medida a utilização de uma Sequência Didática (SD) facilita a
aprendizagem da anatomia e fisiologia cardiovascular?
15
2 REFERENCIAL TEÓRICO
zootecnia, agricultura e técnicas de laboratório, sendo que os estudantes não tinham base para
aproveitá-las. Dessa maneira, a formação básica sofreu prejuízos sem que a profissionalização
fosse beneficiada (KRASILCHIK, 2011).
No final da década de 1970, a ocorrência de uma séria crise econômica e de
diversos movimentos populares que exigiam a redemocratização do país levou a uma grande
preocupação com o ensino e a aprendizagem dos conteúdos científicos. Era necessário
promover o desenvolvimento de habilidades científicas pelos estudantes, pois se via a
necessidade de enfrentar a “guerra tecnológica” travada pelas grandes potências econômicas.
Dentro desse contexto, preconizava-se uma urgente reformulação do sistema educacional
brasileiro para que as escolas voltassem a oferecer conhecimentos básicos aos cidadãos, de
maneira a promover a formação de uma elite intelectual que pudesse enfrentar, de forma mais
eficaz, os desafios impostos pelo desenvolvimento (NASCIMENTO; FERNANDES;
MENDONÇA, 2010).
De modo geral, o que se deu ao longo dos anos 1970 foi um trabalho intensivo
pela vivência do método científico. No entanto, embora os ideais escola-novistas tivessem
interesse na aprendizagem e na universalização do conhecimento, procurando enxergar o
aluno em sua diversidade, no sentido de promover aulas das ciências de forma estimulante,
sempre na busca de um ensino com qualidade e eficiência, isso não foi suficiente para que
essa proposta tivesse sucesso, pois encontrou diversos obstáculos para ser efetivada. A falta
de estrutura física adequada ao desenvolvimento das atividades propostas e a falta de uma
formação específica de professores que fosse compatível com a proposta de ensino oferecida,
foram obstáculos que acabaram provocando o fracasso desses ideais (BORBA, 2013).
É também importante perceber que os ideais políticos da época visavam à
formação de mão de obra para atender, sobretudo, uma demanda de multinacionais que aqui
se instalavam, o que acabou sendo um elemento que contribuiu para a frustração dos ideais
escola-novistas que ficaram tão evidentes nas práticas propostas nesse período. Dessa
maneira, os resultados esperados não foram alcançados, ou seja, a ideia de superação da
pedagogia tradicional acabou não dando certo, pois de acordo com Borba (2013), a
simplificação do currículo para uma instrução apressada, levou o ensino, especificamente o de
Biologia, a ser praticado de maneira semelhante às práticas tradicionais no que diz respeito ao
desligamento do contexto de atuação do indivíduo.
Nascimento, Fernandes e Mendonça (2010, p. 230) argumentam que:
Longhini (2012) assevera que nos PCN houve a ausência de um diálogo direto
com as escolas, por isso, em 2002, foram criados os PCN+ em complemento ao documento
anterior, o qual trouxe esse diálogo, diminuindo a distância entre a proposição das ideias e sua
execução.
De acordo com Borges, Lima e Menegassi (2009), os PCN+ do Ensino Médio
apresentam a intenção de orientar a construção de currículos que levem em consideração
questões atuais decorrentes de transformações econômicas e tecnológicas causadas pelo
aumento da interdependência entre as nações.
Além de temas estruturadores para o ensino de Biologia, esse documento
apresenta algumas estratégias, como experimentação, estudo do meio, desenvolvimento de
projetos, jogos, seminários, debates e simulações. De acordo com o mesmo, o ensino de
Biologia deveria se pautar pela “alfabetização científica”. São dimensões desse conceito a
aquisição de um vocabulário básico de conceitos científicos, a compreensão da natureza do
método científico e a compreensão sobre o impacto da ciência e da tecnologia sobre os
indivíduos e a sociedade (LONGHINI, 2012).
Em 2006, foram elaboradas as Orientações Curriculares Nacionais (OCN) com o
objetivo de contribuir para o diálogo entre professor e escola sobre a prática docente. Um
documento que pretendia ser menos enigmático para que professores pudessem ser ajudados
na compreensão tanto dos PCN como dos PCN+ e, dessa forma, pudessem melhor colaborar
com a proposta dos mesmos (BRASIL, 2006).
De acordo com as OCN, existem alguns desafios para o ensino de Biologia, como
possibilitar ao aluno participar nos debates contemporâneos que exigem conhecimentos
biológicos, além de formar indivíduos com sólido conhecimento de Biologia e raciocínio
crítico e, dessa forma, norteando o posicionamento dos mesmos diante de questões
importantes que afetam a sua vida, como, por exemplo, o cuidado com o corpo, com a
alimentação e com a sexualidade (BRASIL, 2006).
Ainda na década de 2000, como afirmam Nascimento, Fernandes e Mendonça
(2010), a necessidade de haver responsabilidade ambiental e social por parte dos cidadãos foi
algo que esteve presente de forma acentuada nas discussões sobre educação científica. Dessa
forma, a formação para a cidadania ocupava lugar de relevância, buscando fazer com que os
estudantes assumissem uma postura ativa diante das situações por eles vivenciadas, podendo
reconsiderar sua visão de mundo, questionando instituições, avaliando seu viver pessoal e
coletivo, além de analisar as possíveis consequências de suas decisões e ações junto à
coletividade.
22
vezes, a compreensão por parte dos alunos que acabam se preocupando em decorar
termos em detrimento de compreender e relacionar o estudo com a vida prática,
além de ser necessário o conhecimento prévio de outros assuntos, como por
exemplo, anatomia humana (CANEPPA et al., 2015, p. 2).
De acordo com Domingos Júnior et al. (2018), para que ocorra a aprendizagem é
necessário que o aluno participe ativamente do processo de construção e reconstrução do
conhecimento. Para isso, os procedimentos didáticos devem favorecer o aluno a incorporar
novas formas de aprender e desenvolver-se.
Outro aspecto a ser considerado é o fato de ser preciso fazer com que o aluno
compreenda a importância desse conhecimento para a melhoria de sua qualidade de vida.
Dessa forma, é importante que se trabalhe de maneira a levá-lo a perceber a aprendizagem
desse conteúdo como importante na solução de problemas que podem surgir no seu dia a dia,
colocando-o diante de situações práticas vivenciadas cotidianamente para que o mesmo possa
utilizar o que sabe e perceber a necessidade de aprender mais (DELIZOICOV; ANGOTTI;
PERNAMBUCO, 2002).
Diante disso, uma das estratégias para se trabalhar o sistema cardiovascular seria o
trabalho na perspectiva lúdica, que, de acordo com Luckesi (2002) apud Lins (2016), se
caracteriza por toda e qualquer forma de ensinar que envolva o prazer. Segundo Cortez e
Aggio (2014, p. 2),
2.2.1 Jogos
De acordo com Almeida et al. (2016, p. 9) “Os jogos são importantes aliados ao
processo educacional, sobretudo por motivar os discentes a engajarem de forma efetiva no
processo”. Os jogos são considerados uma atividade lúdica, pois se caracterizam por despertar
o interesse do aluno em aprender brincando. De maneira geral, o aprendizado se torna mais
satisfatório e há o desenvolvimento de habilidades na comunicação e expressão no
relacionamento dos alunos por trabalharem em grupo, onde ocorre cooperação mútua
(OLIVEIRA; SILVA, 2016).
Outro aspecto que favorece o uso de jogos no cotidiano escolar é:
A influência que os mesmos exercem diante dos alunos, pois quando eles
estão envolvidos emocionalmente na ação, o processo de ensino e aprendizagem
torna-se mais fácil e dinâmico e dessa forma a compreensão dos conteúdos torna-se
mais efetiva, tendo em vista que as contextualizações que os jogos lúdicos
proporcionam dão um suporte didático para a prática de ensino dos professores que
podem desse modo tornar o seu ensino mais dinâmico e interativo (MARTINS,
2017, p. 34).
jogos se mostram eficazes, pois é inerente a essa estratégia que os estudantes se engajem
efetivamente para que o processo se desenvolva. Além disso, Oliveira et al. (2012), dizem
que através do jogo os participantes testam continuamente seus conhecimentos, construindo e
desconstruindo diversos conceitos, o que é importante para que o estudante construa essa
aprendizagem. Além disso, “os alunos ficam entusiasmados quando recebem a proposta de
aprender de uma forma mais interativa e divertida, resultando em um aprendizado
significativo” (CAMPOS; BORTOLOTO; FELÍCIO, 2003, p. 48). Para estes mesmos
autores, o jogo se constitui como uma importante e viável alternativa para auxiliar processos
de ensino e aprendizagem por favorecer a construção do conhecimento ao aluno, podendo
preencher muitas lacunas deixadas pelo processo de transmissão-recepção de conhecimentos.
2.2.2 Animações
Dessa forma, entende-se que é um recurso importante para que os alunos possam
ter a oportunidade de participar ativamente do processo de construção da aprendizagem ao
serem estimulados por essa ferramenta.
Luz, Silva e Bezerra (2015) enfatizam que integrar tecnologias da informação e da
comunicação no processo de ensino-aprendizagem das ciências configura-se de forma
promissora a novos ambientes, novas formas de ensinar, de aprender e de pensar. Para esses
autores “... as animações podem fazer parte de um contexto educativo, porém, o professor
precisa selecioná-las de maneira que sejam adequadas aos objetivos propostos para atividade
em sala de aula” (LUZ; SILVA; BEZERRA, 2015, p. 3).
Otto (2017, p. 20) afirma que “a maioria das metodologias de ensino utilizadas na
área de anatomia humana explora, principalmente, o uso de multimídia com imagens
estáticas, gráficas ou vídeo”. Dessa forma, compreende-se que as animações configuram-se
como um recurso viável para o trabalho com anatomia e fisiologia do sistema cardiovascular.
27
Dentre essas metodologias, algumas podem ser citadas como boas alternativas que
podem ajudar os professores a tornarem suas aulas mais atrativas e com melhores resultados
de aprendizagem, como, por exemplo: Estudo de Caso; Arco de Maguerez; Sequência de
Ensino Investigativo (SEI); e Três Momentos Pedagógicos (MARCELINO; SILVA, 2018),
sendo esta última a metodologia adotada para estruturar a sequência didática utilizada nesta
pesquisa.
Os três momentos pedagógicos descritos por Delizoicov; Angotti; Pernambuco
(2002) são: problematização inicial, organização do conhecimento e aplicação do
conhecimento. Essa forma de estruturar a sequência didática foi escolhida porque ela traz uma
organização que possibilita a atuação contínua do aluno no processo de ensino-aprendizagem,
desde o momento em que apresenta suas concepções prévias nas situações apresentadas na
etapa de problematização inicial, na participação de atividades que lhe permita a busca por
uma compreensão científica dessas situações na organização do conhecimento, até a mudança
conceitual que lhe permitirá aplicar seus conhecimentos na solução dessas e de outras
situações que possam ser compreendidas pelo conhecimento adquirido (DELIZOICOV;
ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002).
A problematização inicial se caracteriza por apresentar situações reais aos alunos
que estejam relacionadas aos temas trabalhados, organizando esse momento de maneira que
os mesmos sejam desafiados a expor seu pensamento sobre as situações expostas
(DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002). Dessa forma, privilegia-se o
conhecimento prévio do aluno, usando-o como ponto de partida para a organização do
processo de ensino-aprendizagem.
Dessa forma, pode-se perceber, de maneira geral, o que os alunos conhecem, mas
não de forma tão abrangente, sem explorar o que eles sabem sobre todo o conteúdo, mas
procurando perceber os significados que esse tema tem para eles. É importante também neste
momento a interação inicial na busca pela construção do conhecimento.
A função coordenadora do professor deve ser a de questionar os posicionamentos,
fomentar a discussão das respostas e até lançar dúvidas, sem dar respostas definitivas, sendo
um momento oportuno para identificar as necessidades que os estudantes têm em relação ao
32
assunto e também fazendo com que o próprio aluno sinta que tem essa necessidade
(DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002).
Na etapa de organização do conhecimento elaborada por Delizoicov, Angotti e
Pernambuco (2002, p. 200):
3 METODOLOGIA
estrutura interna, externa e os vasos da base do coração, além da função de cada uma de suas
partes.
Para a realização do jogo, a turma foi dividida em dois grupos de 21 (vinte e um)
alunos, visto que no dia da aplicação do mesmo faltaram dois alunos à aula. Cada equipe
escolheu um participante para auxiliar no processo anotando no quadro os acertos de sua
equipe. As perguntas foram apresentadas pelo vídeo musical, que era pausado a cada
pergunta, à medida que os dois grupos respondiam alternadamente. Houve uma orientação
para que a cada pergunta feita, um participante diferente desse a resposta dentro de 5 (cinco)
segundos, de maneira que todos os integrantes dos dois grupos respondessem pelo menos a
uma pergunta. Todas as perguntas tinham respostas rápidas e objetivas, mas pelo fato de
serem apresentadas em inglês precisaram ser traduzidas previamente. Sendo assim, a
professora ia fazendo as perguntas em português para que os estudantes pudessem responder,
sendo depois apresentada a resposta correta na tela para verificar o acerto. Foi feita uma
adaptação no jogo em relação ao tempo de resposta, pois de acordo com o vídeo musical
deveria ser de apenas 03 (três) segundos.
De acordo com Ramos et al. (2016), vários estudos têm mostrado que os jogos,
em específico os do tipo “quiz”, mostram eficácia no processo de aprendizagem, motivando
os estudantes e se constituindo em um instrumento que facilita a aquisição de conhecimento e
motiva os estudantes para a participação ativa no processo de ensino e aprendizagem.
Em seguida, nas 7ª (sétima) e 8ª (oitava) aulas, teve início o terceiro Momento
Pedagógico, denominado “Aplicação do Conhecimento”. Nestas duas aulas houve uma
prática em laboratório que consistiu em realizar a dissecação de um coração de galinha em
equipe. O intuito foi colocar os estudantes diante de uma situação prática em que os mesmos
pudessem utilizar os conhecimentos até então construídos para localizar e nomear as
estruturas existentes no coração em uma peça anatômica real e pudessem discutir, em equipe,
questões referentes à estrutura observada e posteriormente realizar a sistematização de suas
respostas de forma escrita. Cada equipe, já formada desde a primeira aula da sequência
didática, recebeu um roteiro com orientações acerca do procedimento a ser realizado e
questões para discussão referentes à observação, como também os materiais necessários à
realização do procedimento. Durante a realização da prática, depois de dadas as orientações
iniciais, a professora passou a observar e anotar suas percepções acerca do que via e ouvia
durante o trabalho das equipes, intervindo apenas quando era solicitada pelas equipes.
Dando continuidade ao momento pedagógico “Aplicação do Conhecimento”
procedeu-se nas 9ª (nona) e 10ª (décima) aulas a reaplicação das questões da problematização
38
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
“Não ingerir álcool, gorduras, ter uma dieta balanceada e prática de atividades
físicas.” (A8).
“Práticas de exercícios físicos, boa alimentação e não ser usuário de qualquer tipo de
droga.” (A10).
“Prática de Educação física, não fumar, ter uma boa alimentação.” (A17).
“Fazer exercícios físicos, ter uma alimentação saudável, fazer exames de rotina.”
(A21).
“Ter uma alimentação saudável, fazer exercícios físico, repousar e também passar
pelo médico para saber como anda a saúde.” (A23).
que o fato dessa turma fazer parte do curso técnico profissionalizante de enfermagem e esse
sistema já ter sido abordado na turma em forma de seminário durante as disciplinas técnicas,
pôde contribuir para que os mesmos já compreendessem, de maneira geral, a importância do
estudo do sistema cardiovascular.
A segunda parte do questionário pré-teste contou com 15 (quinze) questões
objetivas visando avaliar o nível de conhecimento da turma acerca do conteúdo de anatomia e
fisiologia do sistema cardiovascular. Os resultados são apresentados na tabela 1.
A análise dessas respostas nos mostra que a turma tem conhecimento de algumas
questões específicas relacionadas aos SC, pois em 33,3% das questões a mesma apresentou
um índice de acerto superando o índice de erro. Algumas das questões exigem um
conhecimento que está presente no dia a dia das pessoas e são consideradas do senso comum,
como as questões 2 e 4, que tratam do coração como órgão central do sistema cardiovascular e
sua respectiva função, ambas com 95% de acerto. Baldissera (2013) afirma ser bem comum
que ao lembrar-se de órgãos vitais do corpo humano se pense em primeiro lugar no coração.
No entanto, as outras questões onde os acertos foram superiores aos erros (questões 5, 7 e 14,
todas com 53,6% de acerto) exigem, de certa forma, um conhecimento um pouco mais
aprofundado. Acredita-se que o fato da turma já ter estudado o assunto no ano anterior,
45
quando um grupo de alunos preparou e apresentou um seminário, pode ter contribuído para
esse percentual de acertos.
Não obstante, foi preciso atentar também para aqueles que ainda não conseguiram
compreender os aspectos tratados nessas questões, de maneira a considerar esse fato durante a
aplicação da sequência didática.
As questões que apresentaram um menor índice de acertos foram as questões 8,
10, 11, 12 e 13. A questão 8, que buscou saber qual o tipo de transporte sanguíneo realizado
pelas veias, apresentou um índice de erro de 87,8%, e questões em branco, de 2,4%. Isso
demonstra que ainda é muito confuso para os estudantes o tipo de sangue (oxigenado ou
desoxigenado) que é transportado por esses vasos sanguíneos bem como a definição de veia
como vaso responsável pelo transporte de sangue das diversas partes do corpo em direção ao
coração. Esse tipo de confusão é comum, pois de maneira geral as pessoas acham que o
sangue arterial (rico em oxigênio) é sempre transportado pelas artérias e o sangue venoso
(rico em gás carbônico) é sempre transportado pelas veias (SANTOS, 2019).
A questão 10 apresentou um índice de erro de 78% e de branco 9,7%. A questão
11 teve um índice de erro de 68,3% e branco de 14,6%. Na questão 12 o índice de erro foi de
65,8% e branco de 19,5%, enquanto a questão 13 teve um índice de erro de 63,4% e branco
de 17%. Essas questões foram as que apresentaram o maior índice de não marcações. Elas são
questões que exigem maior nível de conhecimento a respeito da anatomia e fisiologia
cardiovascular para afirmar com precisão a função exercida por cada cavidade do coração.
Teoricamente esse sistema (e suas estruturas) é muito complexo (CANEPPA et al., 2015).
Além disso, os alunos têm dificuldade com a nomenclatura usada em anatomia, o que
dificulta também sua compreensão da fisiologia, levando-os a não compreender o
funcionamento dos sistemas (ALVES et al., 2016; WILLERS et. al., 2013). Por isso, é
importante que se busquem alternativas que possam contribuir para uma melhor
aprendizagem dos estudantes em relação a esses conteúdos. De acordo com Caneppa et. al.
(2015), devido a dificuldade apresentada por estudantes tornou-se necessário utilizar recursos
diferenciados para facilitar o entendimento de anatomia e fisiologia.
Nas demais questões (1, 3, 6, 9, e 15), houve menor quantidade de acerto, mas
sem muita diferença. Na questão 1, que buscou dos alunos o entendimento sobre a
constituição do SC, a quantidade de acertos foi de 48,8%. Os erros apresentados pela maioria
dos estudantes demonstra a necessidade de se trabalhar essa questão para que possam
conhecer todos os constituintes desse sistema. Na verdade, percebe-se na literatura que trata
desse assunto certa diferença na forma de expor a constituição do sistema cardiovascular
46
pelos diversos autores. Nesta pesquisa, foi considerado que os constituintes do sistema
cardiovascular são: coração, vasos sanguíneos, vasos linfáticos, sangue e linfa.
De acordo com Amabis e Martho (2010, p. 372), “O sistema cardiovascular
humano, também denominado sistema circulatório, pode ser subdividido em sistema
sanguíneo e sistema linfático.” Da mesma forma, Linhares e Gewandsznajder (2014), ao
organizarem o capítulo sobre sistema circulatório, o apresentam dividido em circulação
sistêmica e pulmonar, tendo como componentes o coração e os vasos sanguíneos, e a
circulação linfática, tendo como componentes os vasos linfáticos e a linfa. Ainda de acordo
com esse mesmo pensamento, Lopes e Rosso (2017, p. 79) dizem que “A função de
circulação é realizada pelo sistema cardiovascular, dividido em dois distritos: o sanguíneo e o
linfático.”, enquanto Junqueira e Carneiro (1999) apud Montanari (2016, p.111) ressaltam que
“O sistema circulatório é composto pelo sistema vascular sanguíneo e pelo sistema vascular
linfático.”
Alguns autores, inclusive de obras utilizadas no Ensino Fundamental, como
Barros e Paulino (2001), apresentam como constituintes do SC apenas o coração, os vasos
sanguíneos e o sangue. Também, Manoel et al. (2015) descrevem que o sistema
cardiovascular é formado pelo coração e pelos vasos sanguíneos. Isso pode ter contribuído
para que houvesse esse percentual de erros na questão. Por isso, é importante que o professor
não se limite ao livro didático adotado pela sua escola e busque outras fontes de informação
para que possa abordar os conteúdos da maneira mais correta possível.
Na questão 3, que teve como foco a principal função do SC, mais de 58%
(considerando erros, brancos e nulos) dos estudantes necessitam de maior compreensão sobre
esse assunto. Destes, a maior parte (46,3%) assinalou o controle do funcionamento cerebral e
cardíaco como principal função do sistema cardiovascular. Percebe-se assim a necessidade de
se trabalhar a compreensão dos SC como responsável pelo transporte de substâncias dentro do
corpo, promovendo o entendimento acerca da importância do mesmo para que outros sistemas
orgânicos e o organismo como todo possam funcionar, levando-os a ter uma visão do
funcionamento do corpo de forma integrada.
A questão 6, que abordou os vasos sanguíneos localizados na base do coração,
apresentou 68,3% de erro, o que revela dificuldade da maioria da turma quanto a esse
conhecimento específico. Essa questão é fundamental para compreender o movimento que o
sangue faz na entrada e na saída do coração bem como para compreender questões
relacionadas ao trânsito de sangue rico ou pobre em oxigênio, necessário para manutenção do
funcionamento dos tecidos corporais. A questão 9 verificou o entendimento sobre o vaso
47
sanguíneo responsável pelo transporte de sangue para os pulmões, contando com um índice de
erro de 58,6% e questões em branco de 2,4%.
Questões como estas duas últimas apresentam um maior nível de dificuldade por
exigir que o aluno tenha um conhecimento sólido da nomenclatura das estruturas
cardiovasculares, bem como a consciência da exata localização das mesmas e forma de
funcionamento, o que é um conhecimento complexo, que algumas vezes é dificultado quando
não se tem explicações claras aliadas a imagens pouco esclarecedoras nos livros didáticos.
Brito et al. (2011) afirmam que alguns livros didáticos podem apresentar informações erradas
no texto escrito e que, por vezes, esses erros são apresentados também nas imagens
disponibilizadas. Os livros avaliados pelos mesmos apresentaram uma série de erros quanto à
nomenclatura anatômica, utilização de termos desatualizados ou em alguns casos incorretos.
Dentre os conteúdos que demonstraram uma maior quantidade de erros está o sistema
cardiovascular. Dessa forma, entende-se que é necessária a busca por outras fontes de
informação e que as aulas possam contar com formas diversificadas de apresentar o conteúdo
que não seja apenas pelo livro didático.
A questão 15, que verificou o entendimento sobre a diferença entre os dois
circuitos de circulação do sangue (pequena circulação ou pulmonar e grande circulação ou
sistêmica) contou com um índice de erro de 39% e questões em branco de 12,2%. Essa
questão, a exemplo das duas anteriores também exige um bom nível de conhecimento dos
estudantes por requerer que se compreenda a direção do fluxo sanguíneo nos dois circuitos de
circulação sanguínea. Dessa forma, se percebe a necessidade de investir em uma metodologia
que seja capaz de trazer esse entendimento esclarecendo as dúvidas nesse sentido.
A análise desses resultados demonstrou que os participantes da pesquisa já
compreendem de forma bastante clara a importância do estudo do tema, lhe conferindo um
significado prático para suas vidas, não sendo necessário maior investimento no intuito de
levá-los a essa compreensão, de maneira que, como ajuste da sequência didática, priorizou-se
investir em uma organização da mesma contemplando os aspectos em que a turma
demonstrou ter maior necessidade de aprendizagem. Inferiu-se que embora haja certa
compreensão, muitas carências ainda existem em relação à aprendizagem da anatomia e
fisiologia do sistema cardiovascular, sobretudo quanto às questões mais complexas e que
exigem um maior índice de conhecimento.
Portanto, os dados coletados por meio deste questionário pré-teste serviram de
base para o aprimoramento da sequência didática cuja eficácia foi testada, sendo um
48
Em relação à terceira questão, que buscou saber dos mesmos onde está localizado
o pulso, apenas uma equipe respondeu de forma correta, ao afirmar que existem vários locais
onde o mesmo pode ser localizado. As demais disseram que o pulso se localiza no braço. De
maneira geral, o pensamento era de que o pulso estava localizado no braço, mais precisamente
no punho. Durante a discussão percebeu-se, portanto, que a maioria da turma não apresentou
conhecimento suficiente sobre essa questão.
Sobre o quarto questionamento, que indagou que tipo de vaso é usado para a
percepção da pulsação, a maioria das equipes respondeu corretamente. Seis (06) equipes
disseram ser a artéria, enquanto três (03) equipes não responderam.
O 5º (quinto) questionamento foi por que razões os batimentos cardíacos podem
ser medidos pelo pulso. Cinco (05) equipes não responderam a essa pergunta, enquanto as
demais apresentaram respostas sem clareza, como verificado na resposta do G-3. De acordo
com Silverthorn (2017), o pulso é uma onda de pressão que é percebida quando o coração, por
meio do ventrículo esquerdo, empurra o sangue para dentro da aorta, sendo transmitido ao
longo das artérias. Por isso é que os batimentos cardíacos podem ser medidos pelo pulso.
O último questionamento induziu os alunos a refletirem sobre para quê o sangue
chega ao local do pulso. Cinco equipes responderam de maneira incompleta, sendo que três
delas disseram que seria para levar oxigênio demonstrando compreender a função de
transporte exercida pelo sistema cardiovascular. Contudo, dizer que a função se resume ao
transporte de oxigênio é uma visão limitada, demonstrando a necessidade de mais informação
sobre o assunto. Quatro equipes não responderam. Mais uma vez percebe-se a carência de
esclarecimento sobre as substâncias que são transportadas pelo SC.
Para finalizar esse momento foi apresentada uma paródia “canção do coração”. É
uma música interessante que promoveu um momento descontraído, onde os alunos cantaram,
se divertiram e, ao mesmo tempo, puderam perceber a música como mais uma forma de
sondagem de seus conhecimentos prévios acerca do assunto a ser estudado. Além disso, foi
apresentada a ementa e os objetivos da SD a ser aplicada a partir da paródia.
Esse momento pedagógico foi muito rico em relação ao trabalho dentro de cada
equipe, pois a maioria dos participantes estava plenamente envolvida nas discussões, além da
troca de informações entre as equipes, onde uns puderam aprender com os outros. No entanto,
não houve, por parte da professora, explicações conclusivas, pois o intuito era perceber as
compreensões já existentes e ir aguçando a curiosidade dos mesmos em relação ao conteúdo a
ser trabalhado, além de fazê-los compreender suas carências de aprendizagem
(DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002)
52
Nesse momento, foi feita uma explicação geral sobre o que seriam os vasos linfáticos
e a linfa para depois retornar com a pergunta:
Então eles concordaram que sim, mas disseram não saber disso, pois pelo que se
lembravam do que já tinham visto sobre esse sistema, só faziam parte o coração, os vasos
sanguíneos e o sangue. Dessa forma, relatou-se que alguns autores realmente não deixam
claro que os vasos linfáticos e a linfa fazem parte do sistema cardiovascular. Por outro lado,
afirmou-se, a partir da compreensão própria e de vários autores, que os vasos linfáticos e a
linfa fazem parte do sistema cardiovascular, dada a função que exercem no processo
circulatório.
53
O aluno respondeu:
“Porque os vasos de cor azul são veias e os de cor vermelha são artérias e aí está o
contrário.”
disseram:
“Foi assim que nós aprendemos.”
Perguntou-se:
“Por quê?”
O Aluno respondeu:
“Vocês concordam?”
“Eu não sabia que era quando as válvulas se fechavam que era produzido o som.”
Pelo fato dessa animação apresentar áudio em inglês, fez-se a narração dos sucessivos eventos
fisiológicos apresentados pela mesma. Vale ressaltar que de maneira geral a turma se mostrou
participativa, demonstrando curiosidade e atenção ao processo desenvolvido. Essa afirmação
corrobora com o pensamento de Dias e Chagas (2015), os quais confirmam que os recursos
que trazem visualização de animações se mostram como ferramentas interessantes para o
ensino de Biologia, estimulando a curiosidade e o espírito crítico dos alunos de forma a
promover aprendizagens significativas acerca de fenômenos e processos biológicos.
Depois de exibida a animação foi feito o mesmo questionamento motivador para a
discussão inicial. Quais aspectos lhes chamaram mais atenção por trazer algum entendimento
novo? Dessa vez, percebeu-se uma maior dificuldade dos mesmos para responder à pergunta,
mas ao insistir um pouco um deles disse:
“foi interessante a parte que falou sobre as trocas gasosas do sangue com as células”.
algo importante, que na opinião de Pereti e Tonin da Costa (2013), faz parte das
características dessa metodologia de ensino.
Considerando uma compreensão cada vez mais aprofundada dos conteúdos,
buscou-se, por meio do jogo, integrar os conhecimentos de anatomia já trabalhados na aula
expositiva dialogada e os conhecimentos de fisiologia trabalhados por meio das animações,
buscando uma melhor assimilação do conteúdo. Essa estratégia esteve mais centrada em fazê-
los compreender a parte anatômica e fisiológica, visto que de forma geral e em específico, era
essa a principal dificuldade dessa turma. Então, nesta SD, as estratégias utilizadas estiveram
mais direcionadas a fazer com que eles superassem essa dificuldade.
Após a divisão da sala em duas equipes de 21 (vinte e um) alunos, visto que nesse
dia faltaram dois integrantes da turma, iniciou-se o jogo já descrito na metodologia deste
trabalho. Só para se fazer entender neste momento, é preciso dizer que se tratou de um “quiz”
musical em inglês composto por 74 (setenta e quatro) perguntas objetivas que tinham que ser
respondidas dentro de 5 (cinco segundos) pelo participante, sendo que cada equipe teve que
responder 37 (trinta e sete) perguntas. Sem prejuízo para a realização do jogo fazia-se as
perguntas, traduzidas previamente para o português, ao ritmo do rap “sistema circulatório
musical” e o aluno que estava na vez de responder respondia em até 5 (cinco) segundos, sendo
depois apresentada a resposta imediatamente na tela. Algumas partes do jogo estão na figura
1.
Figura 1 - Algumas partes do “Quiz” Sistema Circulatório Musical
Fonte:https://www.youtube.com/watch?v=T2iVqTckmPQ&list=PLn0DCiMMuRy8ZJK0QbGLY7aA
C1Ei5wbWN.
De acordo com a disposição dos alunos na sala (em quatro duplas fileiras), equipe
61
1 do lado direito (duas duplas fileiras) e equipe 2 do lado esquerdo (duas duplas fileiras), o
jogo foi aplicado, fazendo-se as perguntas alternadamente às duas equipes, indicando-se pelo
nome o participante para respondê-la. Depois que todos os participantes de cada equipe
responderam a uma pergunta, voltou-se a perguntar para aquele que havia iniciado o jogo e
aos outros sucessivamente até esgotarem-se as perguntas, de maneira que muitos dos
estudantes responderam duas vezes.
Um participante de cada equipe anotou os resultados no quadro branco. Quando o
aluno respondente errava a questão era feita uma parada para discutir sobre a mesma, sendo
que de maneira colaborativa, os colegas da equipe que errou passavam a explicar para o
colega qual seria a resposta certa e porque. Quando não conseguiam era o momento de a
professora intervir. Essa forma de trabalho representa o que Almeida et al. (2016) enfatizaram
ao dizer que a interação é um fator considerável para a construção do conhecimento
apresentado pelos jogos.
Ao final tivemos uma equipe vencedora com 33 acertos contra 32 da equipe
concorrente. No entanto, todos saíram convencidos de que, na verdade, todos foram
ganhadores, haja vista que participaram de forma efetiva, demonstrando os conhecimentos já
apreendidos. Tiveram ainda a oportunidade de discutir os resultados das questões que erraram
como forma de aprender mais, além de terem se divertido com a estratégia utilizada. Dessa
forma, o jogo pode ser um aliado do processo educacional, motivando os alunos a um
engajamento efetivo no processo (ALMEIDA et al., 2016).
O engajamento de todos foi muito significativo para o sucesso da estratégia
proposta. Durante a aplicação do jogo o clima foi de descontração com as equipes, que
comemoraram a cada acerto. Dessa forma, percebe-se um aprendizado mais satisfatório,
havendo o desenvolvimento de habilidades na comunicação e expressão e no relacionamento
dos alunos por trabalharem em grupo, havendo cooperação mútua (OLIVEIRA; SILVA,
2016).
Como o jogo exigia que a turma ficasse concentrada por conta do tempo em que
deveriam responder às questões, em alguns momentos foi preciso solicitar que se
controlassem mais na comemoração, mas de maneira geral tudo ocorreu de forma tranquila.
Sabe-se que é necessário que se dê a oportunidade para que os alunos expressem sua alegria
com os acertos, pois é exatamente essa uma das características dos jogos didáticos, levar a um
processo de aprendizagem divertido. Isso confirma o que dizem Campos; Bortoloto; Felício
(2003, p.48), quando afirmam que “os alunos ficam entusiasmados quando recebem a
proposta de aprender de uma forma mais interativa e divertida, resultando em um aprendizado
62
significativo.”
Sobre as impressões que esta pesquisadora e ao mesmo tempo professora da turma
teve sobre o momento da aplicação do jogo, pode-se dizer, por meio da observação, que essa
estratégia didática traz motivação e satisfação aos estudantes enquanto participantes do
processo, mostrando ser uma ferramenta efetiva na facilitação do ensino aprendizagem de
conteúdos tidos como complexos. Isso foi particularmente percebido pela dinâmica do jogo
que foi partindo de perguntas simples para perguntas mais complexas, onde em alguns casos,
as perguntas já respondidas eram agrupadas ao final para serem respondidas novamente. Com
isso se percebeu que as respostas iniciais do jogo ajudaram os participantes que responderam
as perguntas finais a responderem corretamente.
Dessa forma, percebeu-se que o envolvimento, a participação e a atenção na
aplicação e nas discussões sobre as questões do jogo promoveram os acertos posteriores. Esse
aspecto dos jogos que apresentam essa característica também foi percebido por Silva (2015)
quando os participantes de um jogo de tabuleiro perceberam que quando algumas perguntas se
repetiam os participantes tinham mais facilidade em responder. Dessa forma, esse autor
concluiu que “através do jogo, as informações eram internalizadas de uma maneira mais
rápida e eficiente” (SILVA, 2015, p. 68).
Outro aspecto interessante é que mesmo o jogo contendo 74 (setenta e quatro)
perguntas e tendo levado um tempo de aproximadamente 80 (oitenta) minutos, não houve
dispersão, decréscimo de atenção e nem falta de entusiasmo pelas duas equipes, que gostaram
bastante do jogo realizado. Isso foi bem impactante para a pesquisadora/professora, pois esse
aspecto poderia comprometer o andamento da atividade, visto que os estudantes do ensino
médio costumam se queixar com facilidade de cansaço das aulas. Dessa forma, causou
surpresa os elogios dos alunos no final da aula. Isso foi algo que serviu como uma experiência
positiva e que trouxe estímulo para buscar implementar uma prática mais constante de
aplicação de jogos na sala de aula.
Nesse aspecto, verifica-se uma concordância com o que está exposto em Brasil
(2006), que ao orientar a utilização de jogos na sala de aula, diz que além de trazer estímulo e
favorecer o desenvolvimento dos estudantes, também promove uma ampliação do
conhecimento do professor sobre técnicas ativas de ensino, desenvolvendo capacidades
pessoais e profissionais que favorecem sua atuação no sentido de estimular nos alunos uma
nova forma lúdica, prazerosa e participativa de apropriação de conhecimentos.
Finalmente, analisando essa estratégia, verificam-se resultados positivos no
sentido de facilitar o desenvolvimento da aprendizagem.
63
dos materiais: luvas, pratinho descartável, lâmina de barbear, pinça, palito de churrasco e
corações de galinha. Com esses materiais, cada equipe realizou o seguinte procedimento:
Colocaram o coração de galinha disponibilizado no recipiente para dissecação (pratinho
descartável), posicionando-o da mesma maneira que o coração humano está localizado no
corpo, em decúbito dorsal (isso foi possível pela observação do direcionamento do vaso da
base aorta, contando também com a ajuda da professora); Em seguida foi feito um corte,
começando pelo ápice do coração e passando pelos ventrículos até chegar aos átrios, mas sem
apartá-los completamente; O palito de churrasco foi utilizado para localizar os vasos da base
perpassando-o pelas entradas e saídas das cavidades cardíacas (Figura 2).
Os alunos foram orientados a observar as camadas do coração, os átrios e os
ventrículos, como também localizar a artéria aorta e a pulmonar, além das veias cavas, veias
pulmonares e valvas. Como forma de suscitar a discussão no sentido de verificar o nível do
desenvolvimento da aprendizagem dos mesmos, foram apresentados alguns questionamentos,
como: Existe diferença entre o ventrículo direito e o esquerdo? Qual?; Se sim, a que se deve
essa diferença?; Que artérias e veias vocês conseguiram identificar? Como conseguiram isso?;
Que características puderam ser observadas em relação às camadas do coração (pericárdio,
miocárdio e endocárdio)?; Descreva o trajeto do sangue na pequena e na grande circulação a
partir da estrutura observada.
Figura 2 - Equipes realizando atividade prática
A dissecação foi realizada por um dos membros de cada uma das equipes. Depois
das orientações iniciais necessárias, a professora/pesquisadora apenas observou e anotou sua
percepção acerca do que viu e ouviu nos comentários dos alunos durante a prática, intervindo
apenas quando foi solicitada pelos alunos. Dessa forma, foi dada aos mesmos a autonomia
65
“Essa parte é o ventrículo esquerdo, ele recebe o sangue aqui do átrio que tá em
cima.”
“Muito legal!”
“Essa é a artéria aorta, quando você enfia o palito pelo ventrículo esquerdo ele sai
por ela, olha!”
“Ele precisa ser mais forte para bombear o sangue para o corpo.”
Isso indica como a atividade prática é importante para que os estudantes busquem
respostas que contribuam para construção do seu conhecimento. Em uma atividade diferente
como essa, em que se provoca o aluno para que o mesmo aplique os conhecimentos
adquiridos de forma prática se pode perceber o potencial dessa estratégia metodológica. De
acordo com Santolin e Brandenburg (2013), essa é uma característica da prática, pois por
meio dela o indivíduo busca a solução de problemas e de respostas para seus
questionamentos. Percebeu-se, dessa forma, que a interação através do diálogo como tentativa
de responder aos questionamentos colaborou para a consolidação de seus conhecimentos.
De maneira geral eles conseguiram localizar todas as estruturas presentes no
coração: átrios, ventrículos, artérias aorta e pulmonar, veias cavas e pulmonares, além das
valvas. Percebeu-se que alguns tiveram maior facilidade em localizar e nomear as estruturas,
bem como para encontrar respostas aos questionamentos, enquanto outros tiveram maior
dificuldade, mas auxiliados uns pelos outros houve um desempenho satisfatório na atividade.
O trabalho de acompanhamento da professora foi um pouco dificultado pelo fato
de serem nove (09) equipes trabalhando ao mesmo tempo, de maneira que a percepção de
alguns detalhes do que aconteceu no interior de cada equipe pode ter se perdido. Essa é uma
das dificuldades relatadas por alguns professores que se queixam de não realizarem mais aulas
práticas, ou seja, o fato de o trabalho se tornar difícil com o grande número de alunos por sala
(LIMA; SIQUEIRA; COSTA, 2013). No entanto, buscou-se uma forma de amenizar esse
66
problema para que a análise dos resultados não fosse tão prejudicada. Já prevendo que haveria
essa dificuldade, dentro do planejamento foi incluída a estratégia de sistematização das
respostas escritas dadas pelas equipes.
Assim, depois de realizado o procedimento, os alunos passaram a escrever aquilo
que tinham conseguido construir como respostas para as indagações. Neste momento se
percebeu algo interessante, que foi a participação ativa da maioria deles, cada um querendo
colaborar com a construção das respostas. A procrastinação costumeira quando são solicitados
a realizar atividades na sala não ocorreu. Fica evidente que com a prática eles se sentiram
capazes de colaborar com maior segurança para a sistematização das respostas. Esse aspecto
corrobora com o que dizem Soares e Baiotto (2015, p. 57) quando afirmam que “as atividades
práticas em sala de aula proporcionam ao educando a oportunidade de ser ativo, participante e
seguro de suas decisões.”
Nas respostas escritas que eles construíram, foi possível identificar melhor
como se deu a construção do raciocínio dos mesmos em relação aos questionamentos
apresentados. Como forma de representar o raciocínio construído pelas equipes, o quadro 4
apresenta as respostas de uma das equipes aos questionamentos feitos na atividade prática.
Quadro 4 - Respostas construídas por uma das equipes de trabalho aos questionamentos
feitos na atividade prática
Questionamentos Respostas de uma das equipes
1. Existe diferença entre o ventrículo direito e o “Sim. A espessura da parede do ventrículo esquerdo é
esquerdo? Qual? maior que a do ventrículo direito.”
2. Se sim, a que se deve essa diferença? “O ventrículo esquerdo transfere o sangue para a aorta
a qual seguirá para os membros/ parte superior do
corpo, com isso, essa espessura explica-se por a
elevada pressão necessária para esse transporte.”
3. Que artérias e veias vocês conseguiram identificar? “Artéria aorta e entrada das demais. Pela localização e
Como conseguiram isso? o corte.”
4. Que características puderam ser observadas em “O pericárdio é fino e frágil. O miocárdio é grosso,
relação às camadas do coração (pericárdio, miocárdio grande espessura. O endocárdio apresenta uma
(conclusão)
e endocárdio)? camada fina, porém resistente.”
5. Descreva o trajeto do sangue na pequena e na “O sangue dos membros inferiores entra na veia cava
grande circulação a partir da estrutura observada. inferior, o sangue dos membros superiores entra na
veia cava superior, todos em direção ao átrio direito.
O átrio contrai e o sangue rico em CO2 passa para o
ventrículo direito. O ventrículo direito contrai, o
sangue passa para a artéria pulmonar em direção aos
pulmões, aonde ocorre a hematose. O sangue já
oxigenado parte em direção ao coração pelas veias
pulmonares até chegar ao átrio esquerdo. O átrio
contrai e o sangue passa para o ventrículo esquerdo. O
ventrículo esquerdo contrai e o sangue oxigenado
passa para a artéria aorta, para distribuição em todo o
corpo.”
Fonte: Elaborado pela autora.
67
G2, 11,1% não respondeu e 33,3% apresentaram respostas apenas parcialmente corretas,
como a do G7, e nenhuma equipe respondeu de forma correta. Já nas respostas apresentadas
na etapa de aplicação do conhecimento apenas 11,1% respondeu de forma errada, 55,5%
apresentaram respostas parcialmente corretas, como a do G7, e 22,2% apresentaram respostas
completas, como a dos grupos G2 e G8, verificando-se assim uma melhora significativa em
relação à primeira aplicação.
Na segunda questão, no momento inicial, 66,7% das equipes demonstraram ter
certa compreensão sobre o que provoca o som das batidas do coração, mas não apresentando
o conhecimento específico sobre as estruturas que fazem parte do processo e do modo como o
mesmo ocorre, 22,2% apresentaram respostas erradas e 11,1% não responderam. No momento
final, 55,5% demonstraram ter adquirido uma compreensão parcial e 44,4% conseguiram
relacionar o som das batidas do coração ao fechamento das valvas atrioventriculares e
semilunares depois da passagem de sangue por elas.
Na terceira questão, 77,7% dos grupos demonstraram ter aprendido sobre a
localização do pulso no corpo humano, abandonando a concepção inicial errônea, como os
grupos destacados no quadro (G2, G3 e G8), enquanto 11,1%, que já tinham uma
compreensão correta sobre esse aspecto, a mantiveram (como o G7), e apenas 11,1%
continuaram com uma concepção errônea. Esse resultado demonstra um bom aprendizado a
respeito desse aspecto.
Em relação ao quarto questionamento, 66,7% das equipes já tinham acertado na
problematização inicial dizendo que é a artéria o tipo de vaso que é utilizado para a percepção
da pulsação, enquanto que 33,3% das equipes não haviam respondido. Já no momento final de
aplicação do conhecimento, 100% das equipes acertaram essa questão.
Para o 5º (quinto) questionamento, observou-se que na situação inicial, 55,5% das
equipes não haviam respondido e 44,4% demonstraram não ter clareza sobre a resposta. Na
situação final, 66,7% apresentaram uma resposta correta, como o G1 e o G3, e apenas 33,3%
ainda apresentaram uma compreensão equivocada.
Em relação ao último questionamento, na problematização inicial, 44,4% das
equipes não responderam, 22,2% responderam de forma errada, enquanto 33,3% deram uma
resposta parcialmente correta, dizendo que o sangue chega ao local do pulso para levar
oxigênio. Já na etapa de aplicação do conhecimento, 44,4% das equipes trouxeram respostas
parciais, mencionando que o sangue chega ao local do pulso para transportar oxigênio, e
22,2% trouxeram respostas mais completas, dizendo que o sangue chega ao local do pulso
para levar oxigênio e nutrientes para as células.
70
A apresentação dos resultados acima mostra que todas as questões, com exceção
da questão 1, apresentaram um aumento considerável no número de acertos após a aplicação
da SD. Enquanto o questionário pré-teste apresentou apenas 33% das questões com acertos
superando a quantidade de erros, o pós-teste apresentou 87% das questões em que os acertos
superaram a quantidade de erros.
Em relação à primeira questão, que buscou evidenciar a compreensão dos alunos
sobre a constituição do SC, é possível considerar algumas hipóteses para a redução do número
de acerto no pós-teste. É possível que o fato dos estudantes terem sido submetidos ao estudo
de alguns autores no ensino fundamental (que apresentavam apenas o coração e os vasos
sanguíneos ou apenas o coração, os vasos sanguíneos e o sangue como componentes do SC),
ou mesmo pela falta de concordância entre alguns autores do ensino médio, tenha causado
certa confusão na hora de marcar a resposta. Outra explicação que pode ser considerada é o
71
fato deste aspecto ter sido trabalhado apenas durante a aula expositiva dialogada, não tendo
sido mais contemplado por meio de outras estratégias metodológicas utilizadas,
permanecendo assim as concepções errôneas apresentadas no início da SD.
Em relação às questões 2 e 4, os estudantes já tinham apresentado bom índice de
acerto no questionário pré-teste (95%), e 100% acertaram após a aplicação da SD. Essas duas
questões são tidas como questões fáceis por apresentar conceitos que fazem parte do senso
comum, buscando saber dos estudantes qual o órgão central do SC e sua respectiva função.
Na terceira questão, observa-se que antes da aplicação da SD o índice de acertos
foi de 41% e após a aplicação da SD foi de 80%, significando um aumento de 39% no índice
de acertos. Essa questão buscava entendimento sobre a função do sistema cardiovascular. Este
aspecto foi bem evidenciado através das animações e das discussões que delas emanaram,
favorecendo a compreensão de que esta estratégia utilizada na SD cumpriu a função de
facilitar o estudo desse conteúdo. De acordo com Mendes (2010), as animações servem bem
ao estudo de eventos dinâmicos, sendo boas para esclarecer processos que envolvem
movimento, como no caso em questão, em que ficou evidenciado, por meio das animações, o
movimento de distribuição de substâncias para as diversas partes do corpo como função do
sistema cardiovascular.
A quinta questão, que indagou sobre quantas e quais são as cavidades do coração,
apresentou um índice de acerto no pré-teste de 54%, no pós-teste de 95%, tendo um aumento
no percentual de respostas corretas de 41% depois da aplicação da SD. Já a questão de
número 6, sobre quais são os vasos da base do coração, teve 32% como percentual de acertos
no pré-teste, enquanto que no pós-teste este percentual subiu para 97%, proporcionando um
aumento de 65% de acertos após a aplicação da SD. Estas questões envolvem certa
complexidade pelo fato de envolver conhecimento da nomenclatura, que é tido por diversos
autores já citados neste trabalho como um elemento que dificulta o desempenho dos
estudantes. Os conhecimentos referentes a essas duas questões foram trabalhados durante a
SD, sobretudo através do jogo didático e da atividade prática em laboratório, onde as
estruturas mencionadas na questão foram um dos alvos principais destas duas estratégias
utilizadas.
Fica evidente que o uso de estratégias variadas para o trabalho de conteúdos
complexos surte um maior efeito positivo que o trabalho com apenas uma forma de
abordagem. Corroborando com esse pensamento, Sant’anna (2017) diz que se houver um
planejamento de aulas com diferentes estilos metodológicos é possível atrair a atenção de um
número maior de alunos e alcançar resultados satisfatórios no processo de ensino e
72
didático se caracteriza como uma importante e viável alternativa para auxiliar os processos de
ensino e aprendizagem, favorecendo a construção do conhecimento ao aluno.
Finalmente, na questão 15, perguntou-se sobre a diferença entre circulação
pulmonar e sistêmica. Esta questão contou com um índice de acerto de 49% no pré-teste,
enquanto que no pós-teste esse índice subiu para 90%, perfazendo um aumento no número de
acertos de 41% após a aplicação da SD. Essa questão exigiu um bom nível de conhecimento
para ser respondida, pois o aluno teria que ter domínio acerca da direção do fluxo sanguíneo
nos dois circuitos de circulação sanguínea. A estratégia usada nesta SD que trabalhou esse
aspecto de forma mais direta foram as animações. No caso desta questão 15, a exemplo da
questão 3, evidencia-se que as animações foram importantes para esclarecer processos que
envolvem movimento, como afirma Mendes (2010).
O resultado apresentado por meio da análise do desempenho dos alunos no
questionário pós-teste revela que a SD utilizada contribuiu de forma eficaz para a
aprendizagem de conteúdos do SC, facilitando o processo de construção do conhecimento por
parte dos estudantes, conforme afirma Bastos et al. (2017). Para estes autores, a SD se
constitui em uma boa alternativa para trabalhar temas longos e complexos.
Ainda trabalhando com o resultado dos questionários pré e pós-teste, foi realizada
uma análise do percentual de acertos comparando-se o pré-teste ao pós-teste, aluno por aluno.
O resultado mostrou que 38 (trinta e oito) alunos, ou seja, 90% deles apresentou um aumento
no percentual de acertos após a aplicação da SD. Devido à quantidade de participantes da
pesquisa ser grande, optou-se por realizar uma síntese do resultado na tabela 3.
você mais gostou? Esta foi uma questão objetiva onde o estudante pôde escolher uma ou mais
respostas dentre 5 (cinco) opções. O Resultado está no gráfico 1.
O uso de animações foi escolhido como uma das metodologias preferidas por 29
alunos, o que pode estar relacionado ao que afirmam Dias e Chagas (2015), quando
concluíram através da análise de dados de sua pesquisa que o uso de animações nas aulas de
Biologia por meio de metodologias ativas, centradas no aluno, facilita a compreensão de
conceitos, trazendo uma influência positiva na dinâmica da aula.
As demais metodologias também foram escolhidas, no entanto, por uma
quantidade menor de alunos. Compreende-se a importância das mesmas para a SD utilizada,
mas percebe-se que, para os alunos, as metodologias mais votadas lhes chamaram mais
atenção. Isso demonstra que o aspecto lúdico e prático da SD funcionou de forma mais efetiva
na promoção do interesse e participação dos estudantes, conforme Cortez e Aggio (2014) ao
mencionarem que esse tipo de atividade promove um ambiente de alegria que fortalece a
aquisição de saberes escolares, sendo uma importante estratégia de aprendizagem,
favorecendo a motivação, a argumentação e o relacionamento entre alunos e professores.
As questões seguintes foram assim distribuídas: as questões 2 e 5 exigiram
respostas puramente dissertativas e nas questões 3 e 4 o aluno teve que marcar uma opção
dentre quatro oferecidas e depois comentar ou justificar sua resposta. Em resposta à questão
2, que indagou se a sequência metodológica favoreceu a compreensão do assunto abordado,
tivemos quatro tipos de respostas: 38 (trinta e oito) pessoas disseram que “sim”; 01 (uma)
respondeu “mais ou menos”; 01 (uma) respondeu “em parte”; e outra disse “com certeza”. A
questão 2 com algumas respostas e justificativas dos estudantes está registrada no quadro 7.
Pelo resultado das respostas dadas pelos alunos percebeu-se que essa sequência
metodológica favoreceu o interesse e a compreensão do conteúdo. Além disso, pôde-se
perceber que os alunos compreenderam bem a proposta apresentada, percebendo o
investimento na organização de uma sequência que contemplasse o aprendizado gradual dos
estudantes de etapa a etapa, construindo juntamente com eles o conhecimento sobre o assunto.
De acordo com Borges et al. (2017), essa é uma vantagem da SD, que possibilita o
detalhamento do conteúdo.
Compreende-se que os estudantes se sentiram bem à vontade com a metodologia
proposta, reconhecendo seu caráter lúdico, que faz com que as aulas deixem de ser monótonas
e cansativas. Essas características são consideradas por Pereti e Tonin da Costa (2013) como
inerentes às sequências didáticas.
A fala do aluno A37, que afirma não se identificar com aulas dinâmicas, evidencia
a necessidade de variar metodologias como forma de alcançar o maior número de alunos. Essa
variação metodológica, de acordo com Kobashigawa et al. (2008), citado por Mota (2017), é
inerente à sequência didática, se constituindo em uma forma de contemplar a heterogeneidade
da sala de aula. Fica evidente que, para esse aluno, o método que contemplou melhor suas
necessidades foi a aula expositiva dialogada. Sant’anna (2017) diz que com a utilização de
diferentes estilos metodológicos é possível atrair a atenção de um número maior de alunos e
alcançar resultados satisfatórios para o ensino e aprendizagem.
A terceira questão, que teve o intuito de saber sobre o envolvimento de cada aluno
durante o desenvolvimento da SD, teve o resultado apresentado no gráfico 2.
A maioria dos alunos (27) considerou como “bom” o seu envolvimento durante a
SD e apenas um (01) deles considerou o envolvimento “ruim”. Esse resultado mostra que a
metodologia utilizada favoreceu a participação dos alunos, evidenciando sua contribuição na
79
construção de seu próprio aprendizado. Resultados da pesquisa de Borges et al. (2017) sobre o
uso de sequências didáticas demonstram que com a utilização dessa metodologia há uma
maior participação dos alunos nas aulas, justamente por serem mais dinâmicas e por
promoverem mais motivação, tanto nos alunos como nos professores. Além disso, “as
atividades lúdicas motivam os alunos a participarem espontaneamente da aula” (OLIVEIRA;
SILVA, 2016, p. 6693).
Um dos alunos que considerou sua participação como “excelente” comentou a
questão da seguinte maneira:
“Pude acompanhar tudo de perto e ainda tirar todas as minhas dúvida. Claramente o
assunto chamou a minha atenção devido às metodologias abordadas.” A29
Outro aluno que disse que seu envolvimento foi “bom” fez o seguinte
comentário:
“A metodologia favoreceu para que houvesse uma interação e envolvimento maior.”
A12
Outro aluno que disse que seu envolvimento foi “regular” fez o seguinte
comentário:
“achei regular/ruim, pois não gosto de dinâmicas por isso não me envolvo muito.”
A37
O aluno que colocou que seu envolvimento foi “ruim” comentou dessa forma:
Pôde-se perceber que os estudantes que não se envolveram de forma mais efetiva
têm motivos bem particulares que não evidenciam necessariamente uma ineficácia da SD
desenvolvida em promover essa participação, mas a necessidade de se refletir sobre a
heterogeneidade da turma, buscando formas de atender às diversas necessidades, utilizando-se
de formas diferentes de ensinar.
Na quarta questão foi feita a seguinte pergunta: Como você julga seu nível de
compreensão do conteúdo trabalhado na sequência didática? O resultado está no gráfico 3.
80
Como se pode ver, a maioria dos estudantes (27) considerou como “bom” o seu
nível de compreensão dos conteúdos trabalhados na SD, mas nenhum considerou seu nível de
compreensão como “ruim”. Por meio dessa auto avaliação os alunos se reconhecem como
tendo desenvolvido habilidades cognitivas acerca do conteúdo trabalhado. De acordo com
Cortez e Aggio (2014), o ensino lúdico apresentado nesta SD fortalece a aquisição de saberes
escolares. Souza et al. (2013) enfatizam que por meio desse tipo de ensino algumas lacunas
deixadas pela transmissão tradicional podem ser preenchidas, levando o estudante, por uma
participação ativa, a uma melhor compreensão do que se estivesse apenas como receptor de
informações.
Algumas justificativas dos alunos que responderam com “excelente” para esta
questão foram:
“Pois uma coisa complementa a outra e a sequência que foi estabelecida foi de
extrema importância, por nos fazer compreender melhor sobre o assunto.” A7
“As aulas com animações e jogo sobre o conteúdo deixaram mais claras as ideias e
uma forma de compreensão maior.” A21
“Porque esclareci todas as minhas dúvidas e a partir das aulas práticas pude aplicar
meu novo conhecimento.” A29
“Foi muito bom e proveitoso, pois a professora soube avaliar muito bem seguindo
por etapas o que facilitou nossa compreensão do assunto como um todo.” A34
“Com as formas que foram trazidas para a sala de aula o conteúdo se tornou
divertido e interessante principalmente com o uso da música e com o jogo que foi
trabalhado na sala.” A1
“Aprendi e fiquei ciente de vários erros que eu tinha sobre o assunto, depois desse
assunto ser trabalhado na sequência didática que foi, aprendi mais e os meus erros
foram concertados.” A39
“Porque era muita coisa para se aprender em pouquíssimo tempo então não consegui
adquirir todos os conhecimentos.” A32
“Quando a aula era apenas com slide, o meu interesse pelo conteúdo era baixíssimo,
quando começou a ter aula dinâmica, meu desempenho evoluiu.” A23
82
Percebe-se, a partir da fala e da percepção do aluno A32, que apesar do assunto ter
sido trabalhado em 10hs/aula, ainda foi um tempo insuficiente para levá-lo a aprender de
forma satisfatória. Segundo Bastos et al. (2017, p. 9), a SD se mostra vantajosa exatamente
por apresentar um tema em várias aulas, sendo ótima para trabalhar “temas longos que na
maioria das vezes são limitados por dois tempos de aula de 50 minutos”. Mencionam também
que “o tempo de execução da SD pode dificultar sua utilização com todos os conteúdos
durante o ano letivo. Contudo a SD é uma boa alternativa para ser utilizada nas aulas em que
os temas são longos ou complexos”.
O aluno A23 demonstra com a sua fala a importância de aulas dinâmicas para a
evolução de sua aprendizagem. Já o aluno A37 considera sua compreensão regular pelo fato
de não gostar de dinâmicas, como já mencionado na questão 3, além de considerar o conteúdo
difícil, corroborando com o pensamento de vários autores já mencionados neste trabalho. No
entanto, a maioria dos estudantes demonstrou estar satisfeita com a compreensão do conteúdo
que adquiriu, sendo mais um elemento a ser considerado como positivo na avaliação da
eficácia da SD aqui desenvolvida.
A quinta pergunta indagou os estudantes se essa compreensão relatada na questão
anterior teria sido a mesma se o assunto tivesse sido trabalhado apenas de forma expositiva.
Como resposta, 40 (quarenta) estudantes disseram que “não” e apenas um disse que “sim”.
Alguns comentários feitos pelos alunos que disseram “não” e, ao final, o
comentário do aluno que disse que “sim”, foram os seguintes:
“Não, pois iria se tornar cansativo e sem interação dos alunos.” A12
“Não, as aulas teóricas são essenciais, mas com a prática o entendimento foi
satisfatório.” A6
“Não. Pois eu teria me importado menos e não iria participar tanto.” A14
“Acho que teria cido mais complicado, se tivesse cido apenas aquela aula em que o
professor só fala. A participação dos alunos nas aulas ajudou a melhor compreender
o conteúdo estudado.” A1
“Acho que sim, para pessoas que gostam e tem afinidade com esse tipo de aula. A
metodologia é excelente e inovadora, e com certeza pessoas que tenha afinidade com
esse tipo de ensino, irá sem dúvida se dá bem.” A37
83
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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SOUZA, et al. Uso de jogos e modelos didáticos em biologia: uma proposta para consolidar
92
ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
93
APÊNDICES
94
Prezado(a) estudante:
Desde já, gostaria de agradecer por sua colaboração com este estudo, cujo objetivo é
analisar a eficácia de metodologias práticas e lúdicas no ensino e na aprendizagem da
anatomia e fisiologia do sistema cardiovascular por meio da aplicação de uma sequência
didática. Suas informações terão grande contribuição para a realização desta pesquisa.
PARTE I – Questões relacionadas à significação que o estudo de anatomia e
fisiologia do sistema cardiovascular tem para os estudantes
01. Qual o nível de interesse e curiosidade que você tem pelos conteúdos de anatomia
e fisiologia do sistema cardiovascular?
( ) Alto ( ) Médio ( ) Baixo
02. Para você, qual a importância de conhecer bem a estrutura e o funcionamento do sistema
cardiovascular?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
03. Que cuidados você considera importantes para o bom funcionamento do sistema
cardiovascular?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
04. Você conhece ou já ouviu falar de problemas de saúde desencadeados pelo mau
funcionamento do sistema cardiovascular? Qual(is)?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
96
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
a) Átrio direito.
b) Átrio esquerdo.
c) Ventrículo direito.
d) Ventrículo esquerdo.
14. Qual o nome do vaso sanguíneo que é encarregado de levar sangue do coração para todo o
corpo?
a) Artéria aorta.
b) Artéria pulmonar.
c) Veia pulmonar.
d) Veia cava.
4) Como você julga seu nível de compreensão do conteúdo trabalhado na sequência didática:
a) excelente ( )
b) bom ( )
c) regular ( )
d) ruim ( )
Justifique.
5) Na sua opinião, essa compreensão teria sido a mesma caso o assunto tivesse sido
trabalhado apenas de forma expositiva?
100
INTRODUÇÃO
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
1ª e 2ª aulas
Objetivos:
Sondar conhecimentos prévios da turma sobre o conteúdo a ser estudado;
Problematizar o conhecimento exposto pelos estudantes.
Metodologia:
A turma deverá ser dividida em grupos de, no máximo, cinco pessoas, aos quais
será dado o seguinte comando: escolha dois colegas e contem os batimentos
cardíacos dos mesmos em repouso através do pulso, durante 1 (um) minuto.
Depois os dois deverão correr durante 30 segundos. Em seguida, os batimentos
104
deverão ser contados novamente. Orientar para que preencham a tabela a seguir e
discutam sobre os resultados obtidos, buscando respostas para os seguintes
questionamentos:
ALUNO(A) SITUAÇÃO DA PESSOA BATIMENTOS POR
MINUTO
1- Repouso
1- Após corrida
2- Repouso
2- Após corrida
1. Houve diferença entre os batimentos cardíacos de uma situação para a outra? Por quê?
2. O que significa o som das batidas do coração?
3. Onde está localizado o pulso?
4. Que tipo de vaso sanguíneo existente no pulso é usado para a percepção da pulsação?
5. Por que os batimentos cardíacos podem ser medidos pelo pulso?
6. Para que o sangue chega ao local do pulso?
Em seguida abrir discussão para que cada grupo possa colocar suas respostas e
para que o(a) professor(a) possa fazer as indagações pertinentes tentando levá-
los a refletir sobre suas compreensões e necessidades de aprendizagem;
Para concluir esse momento, apresentar uma música (paródia) com o título
“Canção do Coração”, disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=xCbJRVZIACI. Essa paródia fala do
conteúdo que será estudado e deverá ser usada como ponto de partida para
apresentar a ementa das aulas e os objetivos da sequência ora iniciada.
Recursos: Folhas ofício com atividade da problematização inicial impressa para cada grupo;
notebook com vídeo contendo a música “canção do coração”, Datashow e caixa de som.
Comentário Norteador:
Por meio dessa atividade uma situação cotidiana relacionada ao tema trabalhado é apresentada
aos estudantes. Essa é uma situação real que os alunos conhecem e presenciam. Por meio dela
é possível sondar que conhecimentos os alunos já têm para conseguir dar respostas aos
questionamentos apresentados ou se possuem um conhecimento parcial que possa ser usado
como ponto de partida para a construção de novos conhecimentos. É importante que a
105
Metodologia:
Exposição dialogada com uso de imagens em slides.
Recursos: notebook, Datashow, pincel e quadro branco.
Comentário Norteador:
O foco desta aula deve ser apresentar a anatomia do sistema cardiovascular pelo uso
de imagens em slides, de forma interativa, buscando-se sempre a participação dos estudantes
106
por meio do diálogo. A explanação deve ser intercalada com as dúvidas, respostas e
informações dos alunos para que os conhecimentos prévios dos mesmos sobre o assunto
possam ser privilegiados e utilizados no encadeamento das ideias, de modo que o
conhecimento possa ir se construindo. Neste momento é suficiente trabalhar em prol do
conhecimento acerca da parte anatômica, visto que a proposta é ir aprofundando os conteúdos
aos poucos, seguindo um nível hierárquico de complexidade.
4ª aula
Objetivos:
Compreender o funcionamento do sistema cardiovascular como um todo;
Compreender como funcionam as válvulas atrioventriculares e semilunares;
Entender como é produzido o som das batidas do coração;
Conhecer a localização e a função do nó sinoatrial;
Descrever os movimentos de sístole e diástole;
Descrever a movimentação do sangue dentro do coração;
Compreender o fenômeno de hematose;
Conhecer o funcionamento de artérias e veias;
Entender o que provoca o pulso em diversas partes do corpo;
Descrever os dois circuitos de circulação sanguínea (pulmonar e sistêmico).
Metodologia:
Exibição de animações: A primeira animação com o título “Coração: Como
Funciona o Sistema Cardiovascular?” está disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=AjVmakrqZ5U; A segunda animação com o
título “Circulatory System Animation” está disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=nOLFVC10ctw;
Discussão acerca da compreensão dos aspectos apresentados nas animações;
Recursos: Notebook, Datashow, caixa de som, animações em vídeo.
Comentário Norteador:
O recurso das animações em vídeo utilizado nesta aula deve servir como subsídio para
as discussões sobre os aspectos fisiológicos do sistema cardiovascular. O assunto deve ser
aprofundado aos poucos e ter sua complexidade aumentada paulatinamente, seguindo o
pensamento de Zabala (1998) sobre SD. Depois de serem apresentados os aspectos
anatômicos na aula expositiva dialogada, as animações podem complementar o conhecimento
trabalhando os aspectos fisiológicos. A primeira animação tem um tempo de duração de
03min:49s e apresenta os aspectos fisiológicos de forma simples, mas com um bom nível de
107
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALVES, L.S.; FREIRE, L. Proposta de sequência didática para a gestão das águas no ensino
de Biologia. SBEnBIO, Niterói, RJ, número 7, p. 4667- 4678, out. 2014.
ALVES, T. A. et al. Fisio Card Game: um jogo didático para o ensino da fisiologia na
educação básica. Revista de Ensino de Bioquímica, v. 14, n. 1, p. 99-120, jan./jun. 2016.
MOTA, J.G.S.M. Aplicação de uma sequência didática no ensino de Biologia. 2017. 46p.
Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) – Universidade Federal do
Ceará, Fortaleza, 2017.
ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
113
ANEXOS
114