Ef SN 15072022

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EMILIA FERREIRA SALES NERI

FORMAÇÃO DOCENTE EM FOCO: ANÁLISE DO PROJETO PEDAGÓGICO DO


CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DA PARAÍBA, MATRIZ 2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA


CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA
CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

João Pessoa
2022
EMILIA FERREIRA SALES NERI

FORMAÇÃO DOCENTE EM FOCO: ANÁLISE DO PROJETO PEDAGÓGICO DO


CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DA PARAÍBA, MATRIZ 2018

Trabalho Acadêmico de Conclusão de


Curso apresentado ao Curso de Ciências
Biológicas, como requisito parcial à
obtenção do grau de Licenciado em
Ciências Biológicas da Universidade
Federal da Paraíba.

Orientadora: Profª Dra. Maria de Fátima


Camarotti.

João Pessoa
2022
Catalogação na publicação
Seção de Catalogação e Classificação

N445f Neri, Emilia Ferreira Sales.


Formação docente em foco: análise do projeto
pedagógico do curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas, matriz 2018 / Emilia Ferreira Sales Neri. -
João Pessoa, 2022.
77 f. : il.

Orientação: Maria de Fátima Camarotti.


TCC (Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas)
- UFPB/CCEN.

1. Currículo. 2. Formação de professores. 3.


Identidade docente. I. Camarotti, Maria de Fátima. II.
Título.

UFPB/CCEN CDU 57(043.2)

Elaborado por Ana Roberta Sousa Mota - CRB-15/101


EMILIA FERREIRA SALES NERI

FORMAÇÃO DOCENTE EM FOCO: ANÁLISE DO PROJETO PEDAGÓGICO DO


CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DA PARAÍBA, MATRIZ 2018

Trabalho Acadêmico de Conclusão de


Curso apresentado ao Curso de Ciências
Biológicas, como requisito parcial à
obtenção do grau de Licenciado em
Ciências Biológicas da Universidade
Federal da Paraíba.

Data: 27 de junho de 2022

Resultado: APROVADA

BANCA EXAMINADORA:

Profª Drª Maria de Fátima Camarotti – DME/CE/UFPB


Orientadora

Profº Dr. Rivete Silva de Lima – DSE/CCEN/UFPB


Membro titular

Profº Dr. Joseval dos Reis Miranda – DME/CE/UFPB


Membro titular

Profª Drª Eliete Lima de Paula Zárate - DSE/CCEN/UFPB


Membro suplente
Dedico este trabalho a minha melhor amiga,
companheira de todas as horas e uma das
pessoas mais inteligentes que conheço,
minha irmã.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente preciso agradecer a Deus que de alguma maneira não


permitiu que eu desistisse no meio do caminho. E também a minha família, em
especial a minha irmã Evelin e meu namorado, que sempre acreditaram em mim e
seguraram minha mão durante a minha jornada. Sou a primeira do meu núcleo
familiar a possuir uma graduação e fazer isso em uma universidade pública tem um
peso enorme.

Agradeço à Universidade Federal da Paraíba e a todo o corpo de professores do


curso de Licenciatura em Ciências Biológicas que me forneceram a oportunidade de
construir conhecimento (através das aulas e dos programas de apoio à licenciatura,
monitorias e projetos de extensão) e fazer conexões durante a minha graduação.

Agradeço em especial ao Professor Doutor Hugo Enrique Mendez Garcia por cada
instrução passada, cada ensinamento e por muitas vezes enxergar mais potencial
em mim do que eu mesma.

Talvez o meu maior agradecimento seja destinado aos amigos que eu fiz durante
essa jornada que formaram uma rede de apoio e principalmente de amor que foi
crucial durante a minha formação. Joyce, Ianny, Flávio, Rayane, Erika, Lucas,
Ademilson e tantos outros com quem compartilhei as dificuldades, as dores, os
choros e também as alegrias, que foram muitas. Não teria chegado aqui sem eles e
com certeza levo essa família dentro do meu coração.

Agradeço em especial à Professora Doutora Maria de Fátima Camarotti que além de


ser uma inspiração no que se refere a organização e didática, aceitou percorrer a
construção desse trabalho junto comigo sempre trazendo leveza ao processo. Uma
professora acima da média e uma mulher excepcional. E também agradeço a banca
avaliadora deste trabalho composta pelos professores Rivete Lima e Joseval
Miranda.

E por fim, mas não menos importante, agradeço a todo o pessoal do Projeto
Liberdade, onde ensino artes marciais para crianças, que me suportou durante todo
esse período falando sem parar sobre o meu trabalho, como estou construindo e a
data de apresentação. Eu amo vocês.
RESUMO

A formação de profissionais para a docência é um tema com diversas problemáticas


incluindo o currículo adotado pelas Instituições de Ensino Superior. Atualmente, as
diretrizes que regem o curso estão dispostas em documentos conhecidos como
Projeto Pedagógico do Curso (PPC). O curso de Licenciatura em Ciências Biológicas
(UFPB), adotou um novo PPC no ano de 2018, como resultado do movimento de
separação entre o perfil da licenciatura e do bacharelado. Com isso, o objetivo
principal desta pesquisa é compreender esse documento por meio de elementos como
objetivos, matriz curricular, ementas e como ele é expresso nos planos de curso dos
professores. Esta pesquisa possui abordagem qualitativa de propósito descritivo no
qual a pesquisa bibliográfica/documental foi utilizada como metodologia para
obtenção dos dados e a técnica análise textual discursiva para a análise dos dados
coletados. Os resultados apontam que o PPC 2018 é um marco na separação entre
as habilitações licenciatura e bacharelado possuindo como propósito a formação de
professores que conheçam o processo de ensino e aprendizagem e desenvolvam um
trabalho crítico-reflexivo durante sua jornada acadêmica e profissional. Além disso, os
objetivos do PPC 2018 estimulam a pesquisa na área da educação exigindo de seus
discentes o desenvolvimento de um caráter pesquisador sobre a prática docente.
Tratando-se de carga horária, nota-se alterações importantes em relação ao
documento anterior (PPC 2006). Dentre elas estão a adoção das disciplinas Avaliação
da Aprendizagem e Educação de Jovens e Adultos como obrigatórias e a adequação
da carga horária destinada a Zoologia e Botânica. O documento expande a carga
horária dos conteúdos flexíveis, disponibilizando 200 horas para a participação em
programas (extensões, monitorias, programas de apoio às licenciaturas) e eventos
como congressos, simpósios, dentre outros. Sobre a aplicação do PPC 2018 dentro
de sala de aula, nota-se como persistente a não observância dos objetivos propostos
pelo curso dentro das disciplinas, principalmente relacionadas aos conteúdos
específicos de Ciências Biológicas. Conclui-se que, o PPC 2018 possui o seu foco na
formação e valorização de uma identidade docente, fornecendo meios pelos quais os
estudantes possam agregar valor dentro dos espaços educacionais, porém, essa
identidade precisa ser internalizada na prática docente dos professores a nível
superior.

Palavras-chave: Currículo; Formação de professores; Identidade docente.


ABSTRACT

The training of professionals for teaching is a topic with several problems including the
adoption by Higher Education Institutions. Currently, the guidelines governing the
course are available in documents known as the Pedagogical Course Project (PPC).
The Degree in Biological Sciences (UFPB), like the degree of a new PPC 2018, did
not result from the separation movement between the degree and the bachelor’s
profile. Thus, the main objective of this research is to understand this document
through elements such as objectives, curriculum matrix, elements and how it is
expressed in the teachers' course plans. This qualitative analysis of descriptive
purpose is not what the bibliographic research/used as a methodology for documental
data research and data analysis used as a data research methodology and data
resources. The results point out that the PPC 2018 is a milestone in the separation
between licensure and bachelor's degrees, with the purpose of training teachers who
learn the teaching and learning process and develop critical-reflective work during their
academic and professional journey. In addition to the objectives of the PPC 2018,
research in the area of developing the education of a student teacher on the practice.
In terms of workload, there are important changes in relation to the previous document
(PPC 2006). Among them are the adoption of the Learning Assessment and Learning
Education disciplines as mandatory and youth to adults of the projected workload. The
document expands the workload among other contents, providing 200 hours for
participation in programs (extensions, monitoring, programs to support degrees) and
events such as congresses, symposia, events. Regarding the application of the PPC
2018 within the classroom, the non-observance of the objectives proposed by the
course within the disciplines, mainly related to the specific contents of Biological
Sciences, is noted as persistent. It is added that the PPC 2018 is its training focus and
has a teaching identity, providing means for students to be able to value within
educational spaces, however, this identity needs to be internalized in the teaching
practice of teachers at a higher level.

Keywords: Resume; Teacher training; teacher identity


LISTA DE QUADROS

Página

Quadro 01 - Estrutura curricular dos Projetos Pedagógicos do Curso de Licenciatura


em Ciências Biológicas UFPB quantificados em horas/aula.......................................42

Quadro 02 - Principais diferenças encontradas no eixo Fundamentos da Educação e


Prática Pedagógica extraídas da comparação entre os PPCs do ano 2006 e 2018..44

Quadro 03 - Principais diferenças encontradas no eixo Diversidade Biológica


extraídas da comparação entre os PPC do ano 2006 e 2018.....................................46
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AC - Alfabetização Científica

Art. - Artigo

ATD - Análise Textual Discursiva

BNCC -Base Nacional Comum Curricular

CNE - Conselho Nacional de Educação

CONAES - Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior

EJA - Educação de Jovens e Adultos

IBCC - Instituto Central de Ciências Biológicas

IES - Instituição de Ensino Superior

LDBEN - Lei de Diretrizes e a Bases da Educação Nacional

LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

NDE - Núcleo Docente Estruturante

NSE - Nova Sociologia da Educação

PPC - Projeto Pedagógico do Curso

UFPB - Universidade Federal da Paraíba


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 13

2.1 O currículo e suas correlações: breve histórico ............................................ 13

2.2 A formação de professores no Brasil .............................................................. 21

2.3 Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas na UFPB .............................. 25

2.4 O perfil dos egressos dos Cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas e


o ensino de Ciências e Biologia............................................................................. 28

3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 31

3.1 Objetivo Geral .................................................................................................... 31

3.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 31

4 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 32

4.1 Tipo de pesquisa ............................................................................................... 32

4.2 Exploração e tratamento dos dados ................................................................ 33

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 35

5.1 A separação das habilitações Licenciatura e Bacharelado ........................... 35

5.2 Os objetivos do curso e o encontro com os paradigmas sobre o professor


pesquisador e reflexivo .......................................................................................... 37

5.3 A estrutura curricular do curso e suas alterações ......................................... 42

5.4 O cumprimento do currículo a partir dos planos de curso ........................... 52

5.5 Perspectiva da pesquisa................................................................................... 66

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 66

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 68
11

1 INTRODUÇÃO

A trajetória estudantil enquanto universitário deve ser capaz de desenvolver


uma visão questionadora sobre os diversos aspectos pertinentes à profissão escolhida
e seu impacto na vida em sociedade. É por meio da pesquisa e do conhecimento
produzido que se torna viável repensar determinadas práticas a fim de expandir os
horizontes do que é conhecido. Buscar conhecimento é uma atitude inerente ao ser
humano, e as problemáticas encontradas no percurso auxiliam no próprio
desenvolvimento do pensamento lógico em busca de respostas. As motivações que
originaram a realização deste trabalho nascem dentro da própria disciplina Currículo
e Trabalho Pedagógico ministrada para os cursos de licenciatura, dentre eles o curso
de Licenciatura em Ciências Biológicas.
Na minha caminhada enquanto discente1, diversos questionamentos
emergiram não apenas sobre a organização da educação básica, mas também sobre
a organização do ensino superior. Quem definiu que essa formação seria necessária
para a profissão de professor? Quando optaram por determinada matriz curricular?
Será que existem pontos de aprimoramento na minha formação inicial? Apesar de
sabermos que o processo educacional é moldável em diversas variáveis, incluindo a
cultura local, como saber que estamos preparados para o cotidiano da sala de aula?
Essa série de questionamentos podem ser respondidos considerando diversos
documentos, entre eles podemos destacar o currículo.
O currículo, de acordo com Sacristán (2000), é o resultado da junção de fatores
políticos, econômicos, sociais, culturais, dentre outros, que estabelecem um caminho
no qual a educação constrói seu sistema de conhecimento, crenças e valores. Não é
possível tratar o assunto com irreflexão, principalmente quando levando em
consideração o impacto que tal planejamento curricular pode ter dentro de uma escola
e até mesmo dentro de um curso de ensino superior, pois o planejamento curricular
irá se refletir diretamente na formação dos estudantes. Dentro dessa perspectiva, é
benigno que haja uma preocupação com a organização curricular e reformulações
para que novos paradigmas educacionais surjam e possam fazer parte da educação,

1
Peço autorização da banca avaliadora para escrever em primeira pessoa durante a Introdução por se
tratar de um delineamento da pesquisa.
12

tornando o ensino cada vez mais participativo e colaborativo.


Gomes et al. (2019) explicam que a formação de professores do Brasil passa
por diversos desdobramentos durante a sua história. Ao longo do seu percurso, os
cursos de licenciatura, no geral, possuem como premissa básica o abandono do
ensino voltado para a habilitação do bacharelado em busca de uma perspectiva
própria, formando profissionais com perfil específico para a função de um professor
que desenvolva “um olhar atento e investigativo para com a educação” (CRUZ, 2021,
p.12).
Nesse contexto, o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da
Universidade Federal da Paraíba, no ano de 2016, passou por uma série de
reformulações de cunho administrativo para então aprovar um novo Projeto
Pedagógico do Curso vigente desde o ano de 2018. Esse trabalho visa a compreensão
desse novo documento que concede as bases curriculares para o seguimento do
curso, buscando seus principais pontos de distanciamento com os documentos que
regiam o curso até então a fim de traçar um novo olhar para a formação de professores
de Ciências e Biologia.
13

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo são discutidos aspectos que formam o embasamento teórico


para esta pesquisa. Será apresentada a construção do conceito de currículo e como
o mesmo foi aplicado ao longo da história partindo da ideia de seleção de conteúdos
até um instrumento que regula a caminhada nos centros educacionais e a influência
de aspectos externos dentro do processo educacional. Serão discutidas as questões
que envolvem a formação de professores no Brasil e suas problemáticas, bem como
o processo de criação e desenvolvimento do curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas na Universidade Federal da Paraíba. Neste capítulo também é mencionado
o perfil de egressos esperado para um curso que objetiva a formação de professores.

2.1 O currículo e suas correlações: breve histórico

Falar sobre determinadas problemáticas se torna indispensável quando


falamos em educação, seja em qualquer nível. Uma delas se refere a importância e
cumprimento do currículo. A ideia de selecionar e aplicar determinados saberes em
determinada ordem é capaz de estabelecer caminhos que “regularão a prática didática
que se desenvolve durante a escolaridade" (SACRISTÁN, 2013, p. 17), mas como o
currículo tomou tal proporção?
Gesser (2002) afirma que o estudo da importância e desenvolvimento do
currículo está intrinsecamente ligado aos fatores históricos de sua época. Para
Sacristán (2013) o conceito de currículo é construído de acordo com seu uso ao longo
da história saindo do sentido usado na Roma antiga onde estava ligado a soma de
“honras” adquiridas durante a prestação de “serviços eletivos e judiciais” e tomando
significados relacionados a caminho, formação e carreira do indivíduo.
Durante a idade média, após a invasão germânica ao Império Romano
Ocidental, a Igreja Católica passou a ser a instituição detentora de grande influência
e realizou trabalhos fortemente relacionados à educação com as camadas mais
baixas da população da época (XAVIER; CHAGAS; REIS, 2017). O ensino foi então
ministrado por membros do clero e a ideia de um currículo, como seleção de
conteúdos a serem ensinados, era baseada no bloco trivium (gramática, retórica e
14

dialética) e quadrivium (astronomia, geometria, aritmética e música). O bloco trivium


foi reconhecido como “um conjunto de conhecimentos que abrange desde a forma da
escrita, o significado das palavras, a lógica do pensamento até ao uso da linguagem
que deveria ser escolhida para comunicar e ensinar o que se compreendeu''
(PEINADO, 2012, p. 03). Já o bloco quadrivium foi definido por Durkheim (1995, p.
52), como “um conjunto de conhecimentos relacionados com as coisas. Seu papel era
tornar conhecidas as realidades externas e suas leis, leis dos números, leis do espaço,
leis dos astros, leis dos sons”.
O ensino nesse contexto era baseado também em valores familiares e
religiosos sendo aplicado também nos primórdios do que se conhece atualmente
como universidades (XAVIER; CHAGAS; REIS, 2017; SACRISTÁN, 2013). Silva
(1999) complementa a ideia de que o objetivo da educação naquele contexto foi
aproximar o ser humano das grandes obras clássicas gregas e latinas conferindo
assim um caráter totalmente humanista.
Ainda no final da Idade Média e durante a Idade Moderna, o conceito de
currículo passou por uma expansão onde ocupou também um papel regulador no
processo educacional. De acordo com Fernandes (2013), durante o período
renascentista, observou-se a necessidade de formação de grupos pedagógicos
menores e essa ação permitiu controle para o professor durante o processo de ensino
e aprendizagem, surgindo então o conceito de classe (ou turma) como conhecemos
atualmente. Esse poder regulatório tomado pelo currículo, juntamente com um
aumento significativo do número de alunos, exigiu dos pensadores da época, desde a
criação de graus e melhor estruturação dos conteúdos vistos, até a escolha dos
métodos usados e o tempo total para a conclusão da escolaridade de cada turma para
que o processo educacional tomasse uma forma vertical proporcionando o
desenvolvimento dos estudantes (SACRISTÁN, 2013).
À medida que o currículo passava a englobar mais aspectos da vida escolar, o
mesmo passou a apresentar problemáticas de relevância significativa o qual precisava
ser repensado. Crema (2019, p. 23), argumenta que o processo de escolha dos
conteúdos e padronização dos alunos favoreceu o surgimento de um “processo
avaliativo e normativo, que veio a estabelecer os padrões de sucesso e fracasso
escolar em seus graus”. Além disso, a escolha dos conteúdos específicos e o uso de
metodologias próprias da época permitiu a criação de um ambiente que, por vezes,
minimizou a importância das formas de conhecimento e compreensão dos indivíduos,
15

sendo algo revisto apenas em meados do século XX, no período pós-guerra (CREMA,
2019).
Fernandes (2013) explica que, juntamente com o avanço do sistema
econômico capitalista na Europa, entre os séculos XVI e XVII, surge uma nova
problemática relacionada à formação de pessoas qualificadas para o exercício de
determinadas funções. Como é possível perceber, a educação precisa andar em
sintonia com as mudanças que ocorrem em outros âmbitos da vida cotidiana e sendo
assim, buscando solução para tal problemática, em países como Inglaterra, França e
Holanda, as camadas mais altas da população financiavam a educação para pessoas
de classes sociais inferiores.
No século XX, o estudo sobre o currículo atinge seu ápice e então se
estabelece como uma área de estudo impulsionada primariamente pela expansão
industrial onde a preocupação com “o que ensinar?”, “como formar pessoas
qualificadas para atender o mercado de trabalho?” e “por onde começar?” ganha ainda
mais força. Com a quantidade de acontecimentos que marcam esse século, diferentes
visões sobre a educação moldam a maneira como o currículo é apresentado sendo
necessário ressaltar a criação das teorias tradicionais, críticas e pós-críticas do
currículo.
A teoria tradicional nasce nos Estados Unidos da América da década de 1920,
onde a intensa industrialização associada ao movimento imigratório para os grandes
centros urbanos da época se apresenta como uma força propulsora que exige a
reorganização do processo educacional por parte da administração escolar (SILVA,
1999). Apple (2008) menciona que

as instituições de ensino representam um dos maiores mecanismos


pelos quais o poder se mantém ou, então, é enfrentado. Essas
instituições, e os modos sob os quais estão organizadas ou são
controladas, relacionam-se integralmente às maneiras pelas quais
determinadas pessoas têm acesso a recursos de ordem econômica e
cultural e ao poder (APPLE, 2008, p.07).

Durante esse período, dois importantes movimentos surgiram, sendo estes o


eficientismo e o progressivismo. É necessário destacar como principal teórico
eficientista o educador John Franklin Bobbitt que concebia o currículo como um
instrumento que preconizava uma administração científica baseada em ordem e
eficiência (PACHECO, 2017; LOPES; MACEDO, 2011). Para Bobbitt, o currículo era
16

compreendido como “um processo de racionalização de resultados educacionais,


cuidadosa e rigorosamente especificados e medidos” (SILVA, 1999, p.12). Essa visão
sobre o processo educacional tinha como âncora as teorias do campo da
administração de Frederick Taylor que visava a criação de “técnicas e métodos de
organização do trabalho apresentadas no intuito de eliminar desperdício e perdas
sofridas pelas indústrias devido a momentos de ociosidade do trabalhador”
(TRINDADE, 2004, p. 13). Com isso, analisando então o contexto de aumento da
produção econômica nas fábricas no qual o país estava inserido, as ideologias usadas
no campo econômico se relacionam com a educação de forma que a aprendizagem
se tornou um produto, assim como os produtos gerados em fábricas. A visão
puramente tecnicista do currículo, levou os especialistas na área a realizar
planejamentos cada vez mais mecânicos uma vez que essa tarefa consistia em fazer
levantamentos das necessidades do mercado de trabalho, selecionar habilidades
necessárias para tais ocupações, desenvolver tais habilidades e por fim, planejar
meios de avaliar se o objetivo foi alcançado (SILVA,1999).
Em contraponto ao eficientismo, o movimento progressivista busca trazer para
dentro da organização curricular os aspectos sociais relevantes ignorados pelo ensino
eficientista, como a desigualdade social, por exemplo (FREITAS; SILVA E SILVA,
2017; LOPES; MACEDO, 2011). Esse movimento tinha como principal teórico o
filósofo John Dewey que entendia que o processo educativo precisava considerar não
apenas as necessidades econômicas como também o interesse dos alunos além de
auxiliar no desenvolvimento do senso de democracia e cooperativismo (LOPES,
MACEDO 2011). Tais ideias deram base para o movimento da Escola Nova, no Brasil
da década de 1920, que “surgiu para propor novos caminhos a uma educação que a
muitos parecia em descompasso com o mundo das ciências e das tecnologias”
(SANTOS; PRESTES; VALE, 2006, p. 132).
O movimento escolanovista teve como aliado o educador Anísio Teixeira e
apresentou um currículo que observou as necessidades dos alunos reconhecendo
seus conhecimentos prévios no lugar de considerar apenas a valorização dos
professores (GRZYB, 2012, p.15).
No ano de 1949 foi publicado o livro intitulado Basic Principles of Curriculum
and Instruction pelo educador norte-americano Ralph Tyler que estabeleceu
paradigmas educacionais considerados por décadas. Embora Tyler tenha incluído
aspectos do eficientismo como organização e desenvolvimento de aspectos sociais
17

priorizados pelo progressivísmo, tal preocupação não ocorreu na mesma proporção e


sendo assim, o modelo estabelecido teve ênfase nos princípios eficientistas. De forma
geral, as intenções criadas para a educação daquela época eram expressas pelos
objetivos principalmente, passando pelo ato de selecionar as experiências que melhor
se encaixa nos objetivos criados, a organização do processo educacional e, por fim,
a avaliação (SILVA, 1999; LOPES; MACEDO, 2011).
As teorias tradicionais mantêm sua hegemonia durante a maior parte do século
XX. A partir da década de 1960 até meados da década de 1980, diversos eventos
políticos, econômicos e sociais, como movimentos de independência de colônias
europeias, protestos contra a guerra em países asiáticos, movimentos feministas,
ditadura militar no Brasil, dentre outros, colocam novamente como pauta fundamental
os objetivos traçados pela educação até então. Com isso, nascem as teorias críticas
do currículo, as quais possuem representantes em diversos países, não se
restringindo apenas aos Estados Unidos, apesar de um dos marcos iniciais de tais
teorias tenha sido o movimento de reconceptualização do currículo que se baseava
em uma rejeição dos ideais tradicionais tendo como base a “fenomenologia,
hermenêutica, o marxismo e a teoria crítica da Escola de Frankfurt” (SILVA, 1999, p.
37). Na França, por exemplo, são considerados os trabalhos de diversos teóricos
como Althusser, por exemplo. Na Inglaterra, é possível observar a grande relevância
dos trabalhos de Michael Young “que faziam parte do movimento denominado a “Nova
Sociologia da Educação” (NSE)” (PEREIRA, 2017, p. 61) e no Brasil a principal
referência está contida nos trabalhos do educador Paulo Freire (MENEZES;
SANTIAGO, 2014; SILVA, 1999).
Diferentemente da teoria tradicional que manteve seu foco na organização e
eficiência do currículo sem levar em consideração questões ideológicas, a teoria
crítica concentrou sua atenção principalmente em questionar o "por quê?" de tal
seleção de conhecimentos fazendo uma correlação entre a educação e os recortes
sociais observados como relações de poder, hegemonia e ideologia (FERNANDES,
2013). Com isso, a sociologia aplicada à educação abandona “gradualmente o
interesse exclusivo da pesquisa, através de uma abordagem teórico-científica da
Sociologia, em direção ao corpo social e aos processos de mudança social” (CREMA,
2019, p. 28).
Como é possível analisar, os estudos sobre o currículo perdem gradativamente
o enfoque puramente tecnicista e abrangem novas discussões sobre como o contexto
18

escolar pode ser entendido como um aparelho hegemônico e ideológico do Estado.


Apple (2008, p. 104) afirma que “as escolas existem por meio de suas relações com
outras instituições de maior poder, instituições que são combinadas de maneira a
gerar desigualdades estruturais de poder e acesso a recursos”. Paes et al. (2018),
apontam para a grande influência da teoria marxista nos trabalhos de teóricos críticos
do currículo como é o caso da obra A ideologia e os aparelhos ideológicos do Estado
escrita pelo filósofo francês Louis Althusser. Neste ensaio, Althusser entende que a
escola tradicional está centralizada na manutenção dos papéis sociais associados a
burguesia (composta por donos dos meios de produção) e ao proletariado (composto
pelas pessoas que cedem sua força de trabalho) e assim, os estudantes pertencentes
às classes superiores recebam uma educação voltada ao serviço de comando
enquanto os estudantes pertencentes às classes inferiores recebiam uma educação
voltada ao serviço operário (PAES et al., 2018).
Para Paes et al. (2018, s/n)

A escola apenas forma o trabalhador, a educação bancária privilegia


os ricos que por meio dela dominam a sociedade. A ideologia
hegemônica promove a segregação das pessoas pelo
desenvolvimento intelectual condicionado. Assim um trabalhador
operário jamais se tornará um capitalista, não poderá se quer interferir
criticamente na sociedade, jamais irá fazer valer quaisquer direitos
mesmo que se tenha (PAES et al., 2018, s/n).

No Brasil, os ideais estabelecidos por Paulo Freire abrem uma nova


perspectiva educacional e seus trabalhos se tornaram referência para a teoria crítica
apesar de Paulo Freire não ter escrito especificamente sobre currículo (SILVA, 1999;
MENEZES; SANTIAGO, 2014). A educação bancária, descrita pelo educador como
algo a ser combatido e sua principal menção ao ensino tradicional foi inserido nas
escolas brasileiras a partir da ditadura militar (GRZYB, 2012) e consistia na
consideração de que os alunos são como vasos vazios dentro de sala de aula e desta
maneira o professor age depositando paulatinamente o conhecimento pretendido, tal
qual é possível fazer depósito em bancos. Essa visão sobre os estudantes os
considerava como seres que não possuíam o saber, que não tinham curiosidade e
autonomia no processo de construção do conhecimento e assim levava os alunos a
um processo de desumanização (MENEZES; SANTIAGO, 2014).
Para sobrepujar tal paradigma, a pedagogia libertadora formulada por Freire,
considera que os estudantes devem estar no centro do processo de ensino e
19

aprendizagem, desenvolvendo um caráter crítico perante a sociedade que o cerca a


partir de ferramentas como o diálogo, a problematização e a reflexão crítica. O
processo educacional descrito por Freire não termina com o final dos estudos
regulares e, com isso, a sala de aula se apresenta como o local ideal para o
estabelecimento de trocas de saberes entre professor e aluno tendo em vista que
ambos são dotados de uma cultura a ser compartilhada.
Assim Freire (2001) traz que,

O aprendizado do ensinante ao ensinar se verifica à medida em que o


ensinante, humilde, aberto, se ache permanentemente disponível a
repensar o pensado, rever-se em suas posições; em que procura
envolver-se com a curiosidade dos alunos e dos diferentes caminhos
e veredas, que ela os faz percorrer. Alguns desses caminhos e
algumas dessas veredas, que a curiosidade às vezes quase virgem
dos alunos percorre, estão grávidas de sugestões, de perguntas que
não foram percebidas antes pelo ensinante. Mas agora, ao ensinar,
não como um burocrata da mente, mas reconstruindo os caminhos de
sua curiosidade – razão por que seu corpo consciente, sensível,
emocionado, se abre às adivinhações dos alunos, à sua ingenuidade
e à sua criatividade – o ensinante que assim atua tem, no seu ensinar,
um momento rico de seu aprender. O ensinante aprende primeiro a
ensinar mas aprende a ensinar ao ensinar algo que é reaprendido por
estar sendo ensinado (FREIRE, 2001, p. 259).

A teoria pós-crítica do currículo nasce na década de 1990, porém ganha força


a partir dos anos 2000 (LOPES, 2013). Diferentemente da teoria crítica que surgiu
como contraponto à teoria tradicional, a teoria pós-crítica se baseia em grande parte
nos pressupostos da teoria crítica trazendo mais recortes sociais de grande relevância
tais como o multiculturalismo, diferenças étnoraciais e culturais, relações de poder,
dentre outras (GRZYB, 2012; REIS; OLIVEIRA, 2014).
A teoria possui como uma das bases o movimento filosófico pós - estruturalista
que valoriza inteiramente o processo linguístico além de outras características
(CASALI; GONÇALVES, 2018). Silva (2001) menciona que, a cultura carregada pelo
indivíduo representa uma prática de significação, pois, a partir dela o indivíduo se
reconhece e reconhece seu próximo. Assim, dentro do processo educacional, a
cultura não pode ser minimizada ou ignorada e o currículo se encontra nesse contexto
como uma relação social, no qual, não pode ser apresentado de forma acabada ou
fixa e assim precisa passar por movimentos de formulação que necessitam de um
20

diálogo em conjunto para o seu desenvolvimento reforçando assim o processo de


práxis pedagógica.
Como é possível analisar, à medida que surgem novos estudos sobre o
currículo e que novas teorias são fundamentadas, o planejamento curricular precisa
se adequar aos aspectos significativos no momento de sua formação, pois a função
principal de todo o processo de escolarização do indivíduo é fazer com que seja capaz
de pensar criticamente sobre a sociedade que o cerca.
Por meio do histórico levantado, é possível concluir que o currículo é “um
instrumento que tem a capacidade de estruturar a escolarização, a vida nos centros
educacionais e as práticas pedagógicas, pois dispõe regras, normas e uma ordem que
são determinantes” (SACRISTÁN, 2013, p. 20). Os conteúdos ensinados em
determinado nível de escolarização (seja ele fundamental, médio ou superior), matriz
curricular, assim como qualquer outro aspecto da trajetória educacional estão sujeitos
aos objetivos estabelecidos pelo plano curricular.
Segundo Reis e Oliveira,

[...] os currículos são produzidos pelos: gestores dos sistemas


educacionais, legisladores educacionais e eventualmente legisladores
de fora do contexto educacional, especialistas das diferentes áreas,
estudiosos sobre currículo, editores de livros didáticos e professores
que atuam no dia-a-dia das escolas (REIS, OLIVEIRA, 2014, p. 04).

Dentre esses profissionais, não é possível pensar o sucesso de determinado


plano curricular sem a figura do professor, pois, este profissional age estabelecendo
relações entre os objetivos alcançados em sala de aula e o plano criado pela
instituição (SACRISTÁN, 2013; KRASILCHIK, 2019). Essa dependência se torna
justificável quando existe a compreensão de que o professor é o profissional que mais
se aproxima dos estudantes durante todo o processo escolar de formação do
indivíduo, sendo a principal fonte de pesquisa em casos de necessidade de
readequação. Apesar de sua importância, é necessário frisar que a responsabilidade
pelo sucesso de determinado currículo não é única do professor e depende de uma
série de fatores que iniciam nas políticas educacionais propostas e se estendem até
as condições de trabalho do docente (GATTI, 2010).
No que se refere as Instituições de Ensino Superior, as expectativas acerca do
curso estão dispostas em um documento conhecido como Projeto Político do Curso
21

(PPC). Veiga (1998) explica que tal documento é criado de forma totalmente
democrática sendo fruto de intensas discussões e um processo de reflexão dos
diversos agentes responsáveis pela sua criação e aplicação que visa organizar o
trabalho pedagógico dentro e fora de sala de aula na expectativa de sobrepujar
possíveis conflitos gerados por problemáticas existentes. Entender o PPC representa
compreender todo o processo ideológico que baseia esse documento e como o curso
se relaciona com as expectativas buscadas para além do ensino superior.

2.2 A formação de professores no Brasil

A formação inicial de professores no Brasil é um tema complexo o qual tem


sido alvo de debates desde seu início. A tarefa de formar professores não deve ser
vista como algo simplista, principalmente quando levamos em consideração o grau de
importância desse profissional para a sociedade.
A primeira experiência brasileira relevante, com a formação de professores,
ocorreu no final do período imperial, durante o século XIX, com a criação das Escolas
Normais que era responsável pelo ensino das “primeiras letras” e ficavam sob
responsabilidade de cada província (GATTI, 2010). É necessário lembrar que, no
contexto em que foram inseridas, as Escolas Normais não conseguiram uma boa
projeção havendo poucas escolas públicas (BERTOTTI; RIETOW, 2013; SCHEIBE,
2008).
Apesar da preocupação com a formação de professores ser um assunto trazido
ainda dentro do Brasil Império, no qual o país obteve acesso a um acervo cultural e
científico relevante, seu real desenvolvimento ocorreu apenas após a fase da primeira
república. É possível destacar a Reforma Francisco Campos, em 1931, que
estabeleceu novos parâmetros para a educação secundária e consequentemente
para o ensino superior e comercial/técnico (FÁVERO, 2006). Dentro da reforma
estabelecida por Francisco Campos, toma destaque a criação do Conselho Nacional
de Educação (Decreto-Lei nº 19.850/31) (SANTOS; MORORÓ, 2019) e o aumento do
tempo de escolarização sendo refletido no aumento da carga horária escolar. Por meio
dos aspectos históricos, é possível compreender que a própria criação das
licenciaturas no país se contrasta com a expansão das universidades, pois até então,
o ensino universitário brasileiro era preenchido de um caráter elitista com foco
principal em cursos como medicina, direito e engenharias.
22

Gatti (2010) menciona que, no final da década de 1930, as pessoas formadas


em cursos de bacharelado poderiam cursar mais um ano com disciplinas voltadas
para o âmbito pedagógico e assim poderiam ocupar a profissão de professores em
escolas de ensino secundário. Esse modelo de formação ficou conhecido como
“modelo 3+1” onde os 03 primeiros anos eram voltados a disciplinas específicas para
a habilitação de bacharel.
Pereira (1999), argumenta que essa metodologia para a formação de docentes
trouxe consequências à medida em que, é possível perceber a

[...] separação entre teoria e prática na preparação profissional, a


prioridade dada à formação teórica em detrimento da formação prática
e a concepção da prática como mero espaço de aplicação de
conhecimentos teóricos (PEREIRA, 1999, p. 112).

O “modelo 3+1” de ensino, é reconhecido dentro da literatura acadêmica como


pertencente ao paradigma da racionalidade técnica que, de acordo com Krasilchik
(2019), está pautado na compreensão do aluno como meros receptores e
posteriormente reprodutores do conteúdo lecionado. A problemática trazida pelos
professores com formação puramente técnica voltada para o bacharelado, é algo visto
até os dias atuais e desde a sua origem, permanece sendo um impasse importante a
ser superado, pois, ainda existe uma visão errônea de que o processo de ensinar
depende apenas do conhecimento teórico específico levado para dentro de sala de
aula.
No ano de 1968, nos anos iniciais do período da Ditadura Militar, a chamada
Reforma Universitária (Lei n° 5.540 de 28 de novembro de 1968) trouxe mudanças
para o ensino superior brasileiro. A partir de então, as universidades contariam com
“centro de pesquisas educacionais que são encarregados da Formação Pedagógica
que deveria ser oferecida no curso de Licenciatura” (MELO; SANTOS, 2020, p. 90),
unindo assim o ensino e a pesquisa e formando o que hoje conhecemos como
departamentos. Porém, Santos e Mororó (2019, p. 07) argumentam que, a situação
igualitária entre esses pilares do ensino superior não se manteve e “as práticas de
pesquisa tornam-se cada vez mais hegemônicas à medida que as atividades de
ensino e de formação profissional nas graduações vão perdendo espaço dentro da
instituição”.
23

Após a redemocratização do país em 1988, o ensino precisou de novos pilares


e, a partir da Lei de Diretrizes e a Bases da Educação Nacional (LDBEN), aprovada
em 1996, uma nova dinâmica é compreendida para a educação e consequentemente
para a formação docente. Através desse documento legal, é possível levantar “uma
nova onda de debates sobre a formação docente no Brasil” (PEREIRA, 1999, p. 110).
Em seu art. 2°, a LDBEN menciona que a educação é

dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e


nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Desta forma, a concepção de um ensino puramente tecnicista, voltado apenas


para o conteúdo teórico, e a repetição de práticas pré-estabelecidas deve abrir espaço
para um ensino cada vez mais voltado a aspectos da vida em sociedade e aos poucos,
pelo menos no que tange a lei, a formação em licenciatura abandona seu “caráter
bacharelesco”. É importante ressaltar que a LDBEN, em seu Artigo 62, dispõe que a
formação de professores deve ocorrer em “em curso de licenciatura, de graduação
plena, em universidades e institutos superiores de educação” (BRASIL, 1996), e com
isso, os cursos de licenciatura passam a cultivar um caráter próprio, com a
possibilidades de desenvolvimento e percepção de suas necessidades e não apenas
um complemento à habilitação de bacharel. Além da Lei de Diretrizes e a Bases da
Educação Nacional, o Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou as Diretrizes
Curriculares para a Formação de Professores da Educação Básica (Resolução
CNE/CP 02/2015 a), que possui como um dos seus fundamentos

a articulação entre a teoria e a prática no processo de formação


docente, fundada no domínio dos conhecimentos científicos e
didáticos, contemplando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão (BRASIL, 2015a).

Cada vez mais, o país busca por um novo paradigma para estruturar a
educação, se aproximando da racionalidade prática que possui como um dos seus
principais fundamentos a aproximação da teoria e prática docente. A racionalidade
prática é influenciada por trabalhos como os de Tardif que elencam uma série de
saberes pedagógicos necessários ao exercício da profissão docente e que só podem
24

ser adquiridos através da união entre a formação e a prática docente (AYRES, 2005;
DURÉ, 2018).
Segundo Tardif (2014), o exercício da profissão de professor exige quatro
saberes que se interligam entre si. Os saberes disciplinares correspondem aos
saberes difundidos nas mais diversas áreas do conhecimento e incorporados na forma
de disciplina. Tardif (2014, p. 38) menciona que, “Os saberes das disciplinas emergem
da tradição cultural e dos grupos sociais produtores de saberes". Já os saberes
curriculares estão relacionados aos aspectos do currículo como objetivo, metodologia,
conteúdos e discurso no qual a prática docente está ancorada. Os saberes
profissionais estão relacionados aos saberes transmitidos “pelas instituições de
formação de professores” (TARDIF, 2014, p. 36). E por fim, os saberes experienciais,
que são adquiridos através da prática docente.
As Diretrizes Curriculares para a Formação de Professores da Educação
Básica, veio a fomentar à reformulação dos cursos de licenciatura estabelecendo,
dentre outras exigências, uma carga horária mínima recomendada que inicialmente
foi de 2.800 horas onde,

I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular,


vivenciadas ao longo do curso;
II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a
partir do início da segunda metade do curso;
III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos
curriculares de natureza científico cultural;
IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico-
científico-culturais. (BRASIL, 2002)

e posteriormente, em 2015, passou a corresponder a “3.200 horas de efetivo trabalho


acadêmico, em cursos com duração de, no mínimo, oito semestres ou quatro anos”
(BRASIL, 2015a). Esse ato reforça a necessidade de uma formação profissional
interdisciplinar estabelecendo a proximidade do licenciando com a realidade
vivenciada nas escolas, pois, no decorrer do processo educacional o professor precisa
não apenas agir como um facilitador do processo de ensino e aprendizagem, como
também desenvolver uma visão crítica sobre a prática docente.
Medeiros e Medeiros (2020) explicam que, devido a novas discussões no
âmbito político e governamental, as diretrizes publicadas no ano de 2015 foram
revogadas e um novo texto passou a servir de base para a formação inicial de
docentes no Brasil. A Resolução CNE/CP nº 2, de 20 de dezembro de 2019 “instituiu
25

a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica


(BNC-Formação)” (BRASIL, 2019).
Não é possível considerar que a formação do professor se encerra com a
formação inicial. Duré (2018), corrobora com a ideia de que o professor permanece
em formação mesmo após graduado em um curso de licenciatura, pois a profissão
docente não se constitui como algo estático e a todo momento surgem áreas que
requerem um novo estudo do profissional. Além disso, as experiências vivenciadas
em sala de aula, juntamente com o conhecimento teórico adquirido formam o saber
docente que é extremamente relevante dentro do contexto educacional. A LDBEN
também estabelece como premissa “o aperfeiçoamento continuado, inclusive com
licenciamento periódico remunerado” (BRASIL, 1996, art. 67).
Apesar do que afirmam os documentos legais, a formação continuada de
professores passa por diversas problemáticas que vão desde a extensa carga horária,
gerada pela desvalorização da profissão que muitas vezes afasta o profissional das
oportunidades, até mesmo a problemática levantada por Melo e Santos (2020) na qual
os educadores conseguem alcançar tais oportunidades, porém, não participam do
processo criativo, o que os tornam “meros expectadores”. Cruz (2021, p. 24) menciona
que “A qualificação continuada pode contribuir positivamente para as metodologias
aplicadas pelos professores em suas salas de aula, por isso ela precisa ser pensada
de forma a abranger diversos âmbitos.”
Por meio das problemáticas encontradas no percurso percorrido pela formação
de professores no Brasil, é necessário compreender que os currículos atuais para a
formação desse profissional, carregam a marca de seu passado e problemas que nem
sempre são totalmente resolvidos.

2.3 Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas na UFPB

Os primórdios do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, assim como os


outros cursos de licenciatura do Brasil, surgem a partir do final da década de 1930,
dentro de instituições conhecidas como Faculdades de Filosofia. Reis e Mortimer
(2020) explicam que, a formação de professores de ciências para o ensino básico se
dava a partir do Curso de História Natural que possuía em seu currículo principalmente
disciplinas voltadas às Ciências Biológicas e as Geociências. Dentro de um contexto
26

em que a formação de professores deixava de ser algo puramente vocacional,


pautado no autodidatismo, e passava a exigir uma formação, é comum entender que
havia escassez de profissionais e desta forma, professores de química e física
ocupavam vagas destinadas a professores de ciências apesar dessa ação não ser
recomendada (REIS; MORTIMER, 2020). Medeiros e Medeiros (2020, p. 1972),
afirmam que a formação oferecida até o momento não pode ser confundida com
licenciatura uma vez que

a formação vivenciada pelo formando o oportunizava ser reconhecido


socialmente como bacharel, assim, somente com a finalização do
quarto ano de formação, com as disciplinas pedagógicas, ele recebia
o grau de licenciado.

A partir do final da década de 1960, tendo como mola propulsora a necessidade


de desenvolvimento tecnológico do país (KRASILCHIK, 2019), o Curso de História
Natural deixa de existir e passa a dar lugar para os cursos de Ciências Biológicas e
Geociências. Embora a separação tenha sido relevante, o contexto curricular no que
diz sentido a estrutura do curso não sofreu alterações e mantinha “uma posição
secundária da área pedagógica nas políticas educacionais do ensino superior”
(GOEDERT; LEYSER; DELIZOICOV, 2006, p. 16).
Dentro desse contexto educacional, surge a Universidade Federal da Paraíba,
na década de 1960, como uma junção de vários cursos superiores existentes. Duré
(2018) menciona que o ensino de Ciências Biológicas dentro da UFPB se deu
inicialmente com o Instituto Central de Ciências Biológicas (ICCB), em 1967, que
ministrava os conhecimentos específicos da área para os cursos de Medicina,
Enfermagem, Farmácia e Odontologia. Posteriormente, esse instituto deu origem ao
que conhecemos como Departamento de Biologia do Centro de Ciências Exatas e da
Natureza, que iniciou o processo para a criação do curso específico. O curso Ciências
Biológicas na UFPB foi devidamente instituído no ano de 1977, e tinha por objetivo a
formação única de bacharéis “os quais seriam, em grande parte, absorvidos pelas
Universidades, Institutos de Pesquisa ou empresas em que pudessem exercer sua
profissão” (CCEN-UFPB, 2018, p.08). Porém, a baixa adesão desses profissionais nas
áreas mencionadas, juntamente com a adesão destes em cargos de professor, levou
a instituição a formular um curso voltado para a licenciatura. Assim, o curso de
Ciências Biológicas, passou a apresentar as duas habilidades, no qual o estudante
27

realizava seu ingresso para o curso de bacharelado e poderia continuar na instituição


para a obtenção da habilitação para a licenciatura.
O primeiro Projeto Pedagógico do Curso (PPC) emergiu no ano de 1987, com
a criação do curso na habilitação licenciatura e, de acordo com Duré (2018), o
bacharel e licenciado concorriam juntos a uma vaga dentro do curso e a partir do 5°
período o estudante poderia optar por seguir o curso até a conquista da habilitação
em licenciatura, se permaneceria no curso até a graduação como bacharel ou se
permaneceria até a conquista de ambas as modalidades. O perfil profissional de uma
pessoa com habilitação de bacharel e de um licenciado no mesmo curso não possuem
tanta afinidade quanto aparenta. Apesar de compartilharem conhecimentos
específicos sobre a área, o licenciado “deve apresentar-se como um profissional com
condições de desenvolver um trabalho docente nas áreas de Ciências Naturais e de
Ciências Biológicas, com as devidas competências e habilidades requeridas à
profissão docente” (CCEN-UFPB, 2018, p. 21) para tal, precisa de uma formação
específica que o auxilie no desenvolvimento de habilidade pedagógica crítica e
reflexiva.
Entendendo esses fatores, e considerando os avanços científicos, a partir dos
anos 2000, o curso de Ciências Biológicas da UFPB passa por uma série de
reformulações, criando então um novo PPC em 2006, com aplicação a partir do ano
de 2008, para a separação de tais habilitações, bem como suas formas de ingresso.
Uma importante medida tomada a partir desse novo projeto, foi a criação do curso de
licenciatura nos períodos noturno/sábados. Essa ação tornou possível o aumento do
número de estudantes nas mais diferentes condições sociais servindo como meio de
democratização do ensino superior público (DURÉ, 2018).
Apesar das ações tomadas para fomentar a formação de professores com
identidade própria, ainda é possível visualizar os resquícios da formação tecnicista e
voltada ao bacharelado. Esses resquícios podem ser observados dentro do contexto
prático da formação, na prevalência do “entendimento do ensino como uma atividade
centrada na exposição do professor sobre determinadas informações, confundindo
aprendizagem com a memorização de conteúdos e a replicação de técnicas e
procedimentos” (DURÉ; ABÍLIO, 2019, p. 347-348). Assim, o conceito de práxis
pedagógica, muitas vezes usado para referir ao ensino básico, se constitui como uma
das principais ferramentas para reflexão e aprimoramento dentro das instituições de
ensino superior.
28

Posteriormente, no ano de 2016, houve a distinção das coordenações, do


colegiado e núcleo docente estruturante (NDE) de cada curso, formando assim um
ambiente propício para mudança do Projeto Pedagógico do Curso e, no ano de 2018,
passou a adotar um novo currículo, objeto de estudo para esse trabalho, que busca
orientar a formação de profissionais com perfil crítico voltado para a docência, no qual
estabelece como objetivo geral:

Formar docentes com competência para compreender o processo


ensino aprendizagem com estreita relação entre teoria - prática; e que
sejam capazes de atuar nos níveis de ensino fundamental e médio
(nas disciplinas de Ciências e Biologia, respectivamente). Além disso,
o curso possibilitará a constituição do professor reflexivo e crítico,
como um cidadão intelectual e transformador, orientado pelos valores
e princípios éticos, políticos contribuindo para a autonomia docente e
para a qualidade do ensino na Educação Básica (CCEN-UFPB, 2018,
p.16).

2.4 O perfil dos egressos dos Cursos de Licenciatura em Ciências


Biológicas e o ensino de Ciências e Biologia

Durante o percurso da graduação, seja em qualquer área, a jornada acadêmica


leva o indivíduo ao desenvolvimento de competências e habilidades necessárias para
o exercício da profissão preterida (SILVA, 2021). No caso da licenciatura, é de
conhecimento geral que “ensinar é um trabalho multidimensional que envolve saberes
aprendidos e ressignificados no decorrer das formações e experiências de vida de um
educador” (ANDRADE et al., 2021) e com isso, sabendo da complexidade da
formação de professores, o estabelecimento de características que definem o perfil
dos egressos nem sempre se torna uma tarefa simples.
As Diretrizes Curriculares para a Formação de Professores da Educação
Básica, em seu Art. 7° menciona que o egresso do curso de licenciatura deve

possuir um repertório de informações e habilidades composto pela


pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, resultado do projeto
pedagógico e do percurso formativo vivenciado cuja consolidação virá
do seu exercício profissional, fundamentado em princípios de
interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e
relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética [...] (BRASIL,
2015a).
29

Além desse documento, a mais recente Resolução CNE/CP Nº 2, de 20 de


dezembro de 2019, que cria uma Base Comum para a formação inicial de professores
(ainda em processo de formação), elenca, em seu art. 2°, 3° e 4°, uma série de
competências a serem desenvolvidas durante essa etapa da formação. Tais
competências específicas, de forma geral, abrangem três eixos sendo estes o
conhecimento profissional, que diz respeito ao domínio dos conteúdos específicos,
conhecimento sobre como os estudantes aprendem, reconhecimento do contexto
onde os estudantes estão inseridos e reconhecimento das estruturas governamentais
onde a educação está ancorada; prática profissional, que diz respeito ao
planejamento, condução e gestão das práticas pedagógicas além de avaliação da
aprendizagem; engajamento profissional, sendo este pautado principalmente no
comprometimento com a continuidade da formação docente (BRASIL, 2019). Ou seja,
“a formação acadêmica oferecida precisa capacitá-lo a superar e responder às
representações de mundo presentes na sociedade atual diante das novas
descobertas científicas e dos avanços tecnológicos” (VASCONCELOS; LIMA, 2010, p
.325), e conceder uma base teórica para uma nova fase desse processo de formação
que acontece por meio das competências e habilidades adquiridas dentro do contexto
escolar. Dessa forma, o próprio ato de ensinar forma uma via de sentido duplo no qual
a educação passa a ser um espaço de troca de conhecimentos e não um espaço
focado nos conhecimentos do professor.
Tal perfil de educador, com um viés crítico e pós-crítico, parece ser o ideal
dentro de um contexto como no qual os aspectos “históricos, políticos e culturais na
qual a sociedade está inserida” (SANTOS; LIMA, 2021, p. 371) influenciam a
educação incessantemente. Como é possível perceber, dentro da trajetória histórica
na qual a educação surge até os tempos atuais, a percepção de que a formação
escolar tem por objetivo apenas a formação profissional dá espaço para uma
educação que absorve valores sociais e que “possa desempenhar adequadamente
seu papel na formação de cidadãos” (KRASILCHIK, 2019, p. 13).
As problemáticas que envolvem o ensino de Ciências e Biologia, vão além da
formação do professor com um caráter crítico-reflexivo, apesar de uma formação
profissional satisfatória ser de extrema importância para a melhoria da educação em
nosso país. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), fomenta que nos anos finais
do ensino fundamental e durante o ensino médio, o processo de ensino e
aprendizagem tem como objetivo aprofundar os conhecimentos até então adquiridos,
30

fortalecer o processo de autonomia dos estudantes guiando-os por um caminho em


que eles se tornam sujeitos do seu aprendizado, e, incorporar as novas linguagens
utilizadas pelo jovem como o acesso às tecnologias e seu protagonismo dentro da
cultura digital (BRASIL, 2017).
Porém, em um Brasil de tamanho continental, é possível encontrar, com certa
regularidade, escolas que não oferecem o mínimo no que diz respeito à infraestrutura
e gestão, tornando o alcance desses objetivos uma tarefa cada vez mais complicada.
Por isso, a figura de um professor que estimula o pensamento crítico do aluno e que
se utiliza de novas metodologias para enriquecer as aulas e trazer experiências para
os estudantes, se torna, muitas vezes, o principal fator positivo que favorece a
educação satisfatória.
31

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Compreender o Projeto Político Pedagógico do Curso 2018 (PPC) de


Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) a
partir dos objetivos, ementas, matriz curricular e planos de curso das disciplinas.

3.2 Objetivos Específicos

● Averiguar qual a vantagem da separação dos dois cursos, Bacharelado e


Licenciatura que anteriormente eram juntos na UFPB;
● Identificar as correntes pedagógicas que compõem os objetivos dos Projetos
Pedagógicos do Curso dos anos de 2006, 2014 e 2018 do curso de licenciatura
em Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba;
● Comparar componentes das matrizes dos PPC, ressaltando a importância das
alterações encontradas;
● Analisar os planos de cursos das disciplinas que compõem a nova matriz a fim
de fazer uma correlação com os objetivos propostos pelo curso e as ementas.
32

4 MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa foi realizada na Universidade Federal da Paraíba, Campus I,


situado na cidade de João Pessoa, Paraíba. Refere-se, portanto, a uma pesquisa com
abordagem qualitativa com um propósito descritivo, na qual ressalta-se a pesquisa
bibliográfica/documental como principal metodologia e técnica de obtenção de dados.
O uso da técnica da análise textual discursiva serviu para a interpretação dos dados
coletados a partir dos Projetos Pedagógico do Curso (PPC) do ano 2018 do curso de
Licenciatura em Ciências Biológicas.

4.1 Tipo de pesquisa

A pesquisa qualitativa trabalha os dados na busca de seu significado, tendo


como base a percepção do fenômeno dentro do seu contexto. Complementando tal
pensamento, Proetti (2017) acrescenta que a pesquisa qualitativa tem por objetivo a
busca por um sentido lógico nos dados apresentados. Tal busca pode ser feita através
de diversas metodologias e esse fator torna a pesquisa qualitativa flexível, cabendo
ao pesquisador o estabelecimento do caminho percorrido até o que se busca saber.
Gil (2022) explica que a pesquisa de caráter descritivo geralmente é usada para
o entendimento de características de um grupo ou fenômeno e até mesmo da relação
entre variáveis.
A abordagem metodológica buscada para a realização dessa pesquisa é a
pesquisa bibliográfica/documental. A pesquisa bibliográfica, de acordo com Fonseca
(2002, p. 32) é realizada

[...] a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e


publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos
científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se
com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer
o que já se estudou sobre o assunto (FONSECA, 2002, p. 32).

A pesquisa documental, por sua vez, possui um procedimento semelhante,


porém a fonte principal para tal metodologia, como o próprio nome sugere, são
documentos. Geralmente, a pesquisa documental “constitui um fim em si mesma”
(GIL, 2002, p. 88) não obtendo um uso tão frequente quando se quer levantar o
33

conhecimento já produzido em determinado assunto.


Para a realização deste trabalho, fontes como livros, artigos, resoluções, dentre
outros, foram utilizados de dentro da construção da fundamentação teórica a fim de
apresentar o assunto currículo por meio do conhecimento existente.

4.2 Exploração e tratamento dos dados

A Análise Textual Discursiva (ATD) é uma técnica de análise de dados


utilizada em pesquisas qualitativas que se apresenta de maneira intermediária entre
técnicas já conhecidas como a análise de conteúdo e a análise discursiva (MORAES;
GALIAZZI, 2006). Tal técnica é constituída fundamentalmente em quatro processos
que abordam: a seleção e leituras iniciais do texto se atentando-se para a
fragmentação das unidades selecionadas para o entendimento do fenômeno
estudado; o estabelecimento de relações a partir das unidades selecionadas; a
atribuição de significado a partir de conhecimentos pré-existentes e pôr fim a reflexão
do resultado obtido.
O principal objeto estudado para a realização desse trabalho foi o Projeto
Pedagógico do Curso (PPC) do ano de 2018 do curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas da Universidade Federal da Paraíba, pois esse documento contém as
diretrizes filosóficas e pedagógicas ressaltadas pela instituição (NETA; MIRANDA,
2016) e assim, se constituiu como corpus da pesquisa.
A partir da leitura e exploração do material, foi possível filtrar os itens: a)
Objetivos, nos quais obtivemos a premissa geral do curso; b) Estrutura curricular,
tempo disposto para o desenvolvimento do curso; c) Ementas das disciplinas
expressando o que é esperado de cada disciplina e d) Planos de curso elaborados
pelos professores2, nos quais foi possível analisar a organização geral do plano e se
o mesmo está de acordo com o que é esperado pelo curso. A filtragem do material
permite uma análise direcionada abrangendo a criação e execução do plano
curricular.
Por meio da filtragem mencionada, houve a categorização do material
estabelecendo, quando necessário, relações com o documento curricular anterior. “A

2
Os planos das disciplinas ministradas para o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da
Universidade Federal da Paraíba podem ser encontrados no site da instituição, o SIGAA, por meio do
link: https://sigaa.ufpb.br/sigaa/public/componentes/busca_componentes.jsf
34

categorização é um processo de comparação constante entre as unidades definidas


no processo inicial da análise, levando a agrupamentos de elementos semelhantes”
(MORAES, 2003, p. 197). Para a compreensão do significado dos objetivos propostos
pelo PPC 2018 e de sua estrutura curricular, houve a busca pelos mesmos itens no
PPC criado inicialmente no ano 2006 e para a análise e busca de significação dos
planos de disciplinas foram consideradas as ementas disponíveis dentro do Projeto
Pedagógico do Curso, além dos objetivos.
Após a relação disposta dentro das categorias citadas, houve a construção do
metatexto que se refere à descrição, interpretação e formação de teorias sobre o
fenômeno observado (MORAES, 2003) e por fim, a reflexão sobre novos caminhos
que a pesquisa pode seguir bem como os novos elementos que podem constituir a
análise.
35

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo são descritos os resultados encontrados. Inicialmente são


descritas as vantagens de cunho administrativo em separar as coordenações de
licenciatura e Bacharelado do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal
da Paraíba que origina o PPC 2018. Em seguida, os objetivos do PPC 2018 são
colocados frente a frente com os objetivos do documento anterior (PPC 2006) a fim
buscar suas principais diferenças. Dentro deste capítulo são descritas as principais
alterações no que se refere a estrutura curricular e por fim, são descritas as relações
que existem entre o documento do ano de 2018 e o plano de curso dos professores.

5.1 A separação das habilitações Licenciatura e Bacharelado

Uma das grandes problemáticas encontradas dentro do processo de formação


inicial de professores de ciências e biologia da UFPB, se trata da constante
associação entre as habilitações Licenciatura e Bacharelado, confundindo o perfil
profissional de ambos.
Por meio da Resolução Nº 2 de 1º de julho de 2015, que definiu as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior, importantes eventos
ocorrem a fim de abrir espaço para uma nova perspectiva para o curso de Licenciatura
em Ciências Biológicas da UFPB. Dentro desse contexto, é possível destacar a
separação das coordenações, gerando então uma coordenação de curso para cada
habilitação, a criação do Colegiado e de um Núcleo Docente Estruturante (NDE)
separados.
Silva e Pedreira (2020) apresentam como fundamental uma formação de
professores que não apenas os auxiliem na percepção de conceitos, teorias e
metodologias educacionais, mas que também consigam fazer a aplicação de tais
conhecimentos em situações reais, dentro da sala de aula, e que consigam refletir
sobre a prática docente. Corroborando com essa ideia, Miranda et al. (2020),
mencionam que a formação de professores necessita levar em consideração os
fatores políticos, sociais, culturais e educacionais que compõem a sociedade
contemporânea. Todas essas características apontam para a necessidade de uma
atenção especial durante a criação de um currículo para as licenciaturas e para todo
36

o processo de formação continuada de professores.


De acordo com o Regimento Geral da UFPB, art. 32, é de competência da
coordenação, dentre outras atribuições, “propor ao Colegiado alterações do currículo
do Curso a serem submetidas ao Conselho do Centro e ao CONSEPE 3” além de
“acompanhar e avaliar a execução curricular” (UFPB, 2016). O Colegiado do curso
possui, de acordo com o Estatuto da UFPB (2002), funções deliberativas para a
coordenação didática não apenas dos cursos de graduação como também de pós-
graduação. Tal entidade é formada não apenas por membros de departamentos que
ofertam grande parte do número de créditos exigidos pelo curso, como também é
composto por discentes.
O NDE, de acordo com a Resolução da Comissão Nacional de Avaliação da
Educação Superior (CONAES) nº 01 de 17 de junho de 2010, se refere a um grupo de
docentes do curso, com grande relevância para a área, que possuem, de forma geral,
as funções relacionadas à concepção, consolidação, atualização e acompanhamento
do Projeto Político do Curso (PPC). Ainda neste documento, é possível compreender
algumas dessas funções, sendo estas:

I- Contribuir para a consolidação do perfil profissional do egresso do


curso;
II- Zelar pela integração curricular interdisciplinar entre as diferentes
atividades de ensino constante no currículo;
III- Indicar formas de incentivo ao desenvolvimento de linhas de
pesquisa e extensão, oriundas de necessidades da graduação, de
exigências do mercado de trabalho e afinadas com as políticas
públicas relativas à área de conhecimento do curso;
IV- Zelar pelo cumprimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para
os Cursos de Graduação (CONAES, 2010, art. 2°).

Por meio dessas positivas modificações, o curso de Licenciatura em Ciências


Biológicas UFPB, aprovou um novo PPC, vigente desde o ano de 2018. A criação
dessas entidades formaram uma base sólida para a reformulação do currículo do
curso, pois, a partir do momento em que ocorre a colaboração mútua entre esses
diversos personagens, o processo de formação de professores pôde ser reavaliado
dentro da UFPB, Campus I, passando a assumir uma ótica diferente em relação ao
curso de Ciências Biológicas (Bacharelado) através do estabelecimento de novos
objetivos, ementas, carga horária e principalmente ampliando os espaços para novas

3
Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão.
37

discussões dentro de sala de aula a fim de compreender realmente o papel do


professor (PIZANI; BARBOSA-RINALDI, 2014). Além disso, a criação do Colegiado e
da Coordenação específica para a Licenciatura auxiliam na promoção da autonomia
do curso promovendo maior atenção para as problemáticas exclusivas de cunho
administrativo.

5.2 Os objetivos do curso e o encontro com os paradigmas sobre o


professor pesquisador e reflexivo

No desenvolvimento de um currículo específico para um curso de graduação,


o mesmo precisa exprimir toda a complexibilidade do processo educacional ao qual é
destinado. Dentro do documento do PPC, essa descrição é realizada por meio de
diversos trechos, dentre eles os objetivos. Os objetivos, no PPC, mostram uma ideia
geral do curso além de uma síntese do profissional que se quer formar contendo
algumas de suas características básicas. Ao observar historicamente o curso de
Licenciatura em Ciências Biológicas da UFPB, é possível, entre outras coisas, verificar
a organização do curso por meio da organização do próprio projeto curricular.
Sacristán (2013), menciona que o currículo em si deve conter mais do que uma
lista de conteúdos a ensinar. É o resultado de conhecimentos e valores políticos,
familiares, sociais, dentre outros, e assim, se estabelece como um projeto educacional
formulado pelas instituições de ensino através do desenvolvimento de competências
e habilidades consideradas adequadas. “A educação não consegue deixar de ser o
impulso humano que projeta seus desejos e suas aspirações sobre o que vemos
ocorrer ao nosso redor, sobre como o ser humano é e se comporta, como é a
sociedade, como são as relações sociais e etc” (SACRISTÁN, 2013, p. 24).
Krasilchik (2019), ao falar sobre os objetivos do currículo e sua organização,
menciona que os mesmos podem corresponder a três concepções que podem se
intercalar entre si. A primeira concepção diz respeito a - Racionalidade Acadêmica,
interpretada como currículo “tradicional”, que visa dentre outras coisas a preparação
dos alunos para a aplicação de exames, a construção dos alunos pautada na
produção de conhecimento em forma de dados e o foco na compreensão de teorias e
conceitos. A segunda concepção é nomeada de - Desenvolvimento do Processo
Cognitivo e leva em consideração o desenvolvimento de habilidades que auxiliem na
formulação e resolução de problemas e avaliação dos resultados. A terceira
38

concepção é chamada de - Sociorreconstrucionista e busca levar o contexto social


para dentro da discussão educacional. Um dos aspectos trazidos por essa concepção
é a associação entre Biologia, Tecnologia e Sociedade e como essas áreas interagem.
O PPC instituído no ano de 2006 para o curso de Ciências Biológicas UFPB,
se trata de um documento único para ambas as habilitações (Licenciatura e
Bacharelado) pois até o momento existia uma única coordenação para o curso e com
isso, apresentava em seus objetivos uma mescla de competências e habilidades para
ambas as modalidades. O texto dispõe que,

Os biólogos executam atividades técnico-científicas de grau superior


e de grande complexidade, que envolvem: Ensino, Planejamento,
Supervisão, Coordenação e Execução de trabalhos relacionados com
Estudos, Pesquisas, Projetos, Consultorias, Emissão de laudos e
pareceres técnicos e assessoramento técnico - científico nas áreas de
Ciências Biológicas. Para tanto é necessário o desenvolvimento dos
conteúdos específicos paralelamente ao estímulo à curiosidade, à
inquietação, ao questionamento, à percepção das possibilidades e
limites das teorias científicas existentes, à reflexão crítica, ao
desenvolvimento do raciocínio, à melhoria da capacidade de análise e
síntese, à discriminação de problemas relevantes, à localização de
questões que mobilizem à pesquisa, à busca contínua do
conhecimento e de sua construção, à instrumentalização para pensar
e ter autonomia, ao preparo para o trabalho multidisciplinar, à
capacidade de contribuir em trabalhos de equipe, à percepção da
realidade, ao comprometimento com a sociedade em que se vive, à
adaptação a mudança contínua. Para o trabalho na área de Biologia é
importante que se desenvolva ainda aptidões intelectuais, como
exatidão, atenção concentrada, memória apurada, habilidade
numérica, capacidade de observação, raciocínio abstrato, raciocínio
verbal, assim como alguns traços de personalidade que vão influir no
exercício profissional futuro, como meticulosidade, iniciativa,
perseverança, dinamismo, seriedade e sociabilidade. (CCEN - UFPB,
2006, p. 15) (grifos nossos).

Por meio dessa perspectiva, é possível compreender o forte viés voltado para
a formação de um pesquisador que possa exercer o papel de docente enquanto
complemento e o objetivo enfatiza dentre outros aspectos as habilidades necessárias
que serão desenvolvidas no decorrer do curso. Para o cumprimento desse objetivo, é
esperado dos professores do curso a “responsabilidade criar situações que auxiliem
a aprendizagem, a qual transcorre de forma autônoma respeitando-se as
características individuais e os estilos próprios de cada um” (KRASILCHIK, 2019, p.
45) e o currículo possui como concepção predominante o Desenvolvimento do
Processo Cognitivo. O texto complementa dizendo que,
39

Os Licenciados em Ciências Biológicas têm os mesmos direitos que o


Bacharel podendo, ainda, atuar em escolas de ensino fundamental e
médio, através das disciplinas curriculares Ciências Naturais e
Biologia, podendo ainda, lecionar em Instituições de Ensino Superior.
(CCEN - UFPB, 2006, p. 15) (grifos nossos).

E assim reforça a visão da licenciatura apenas para uma habilitação a mais que
precisaria de um complemento formativo para a sua obtenção e não como uma área
diversa que precisa de uma atenção especial na formação. Maciel e Anic (2019) e
Duré, Andrade e Abílio (2019), apontam a associação do Bacharelado com a
Licenciatura como uma problemática que surge desde os primórdios da formação dos
professores de Ciências e Biologia e os resquícios dessa situação podem ser vistos
até os dias atuais de maneira que descaracteriza a formação docente confundindo a
identidade dos profissionais de ambas as habilitações. A confusão das identidades
profissionais pode ser enxergada por meio da não especificação da carreira docente
como o principal destino profissional para os licenciandos, e sim, colocam como uma
possibilidade a mais.
Dentro da história do curso, no ano de 2014 houve uma reformulação no que
diz respeito à estrutura curricular que passou a adotar a disciplina de Libras como uma
disciplina obrigatória respeitando o Decreto n° 5.626 de 22 de dezembro de 2005 que
afirma em seu Art. 3°

A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos


cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em
nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições
de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos
sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
(BRASIL, 2005).

Ademais, apesar dessa reforma se estabelecer como uma organização


curricular, a matriz permanece com os mesmos objetivos do documento anterior de
2006.
A partir da separação das coordenações ocorrida em 2016, consequentemente
as habilitações foram separadas e com isso, um novo PPC foi formulado e está vigente
desde o ano de 2018. O novo documento se trata exclusivamente da continuidade do
curso de Licenciatura em Ciências Biológicas e possui como objetivo geral:

Formar docentes com competência para compreender o processo


40

ensino-aprendizagem com estreita relação entre teoria – prática; e que


sejam capazes de atuar nos níveis de ensino fundamental e médio
(nas disciplinas de Ciências e Biologia, respectivamente). Além disso,
o curso possibilitará a constituição do professor reflexivo e crítico,
como um cidadão intelectual e transformador, orientado pelos valores
e princípios éticos, políticos contribuindo para a autonomia docente e
para a qualidade do ensino na Educação Básica. (CCEN - UFPB,
2018, p. 16) (grifos nossos).

Por meio do objetivo geral, pode-se perceber o foco do curso de Licenciatura


em formar docentes, reafirmando sua identidade. Além disso, é possível enxergar
aspectos relativos ao esforço para a formação de um professor reflexivo, tal como
afirma Silva (2011, p. 25),

A concepção de professor como sujeito ativo, criativo e construtor de


conhecimentos orienta uma compreensão de ensino como prática
social e reflexiva, que se coloca contrária à concepção de ensino como
ciência aplicada, também característica do modelo técnico ou da
racionalidade técnica (SILVA, 2011, p. 25).

Considerar a necessidade da formação de um docente que possua um olhar


crítico e transformador, pauta-se na concepção Sociorreconstrucionista que visa
trazer os aspectos sociais para que sejam discutidos dentro de sala de aula tornando
o processo educativo cada vez mais significativo e emancipatório (MAGALHÃES;
PORTO, 2021).
Kavalkeviski (2016), menciona que o processo de formação de um professor
pesquisador ou reflexivo é algo que não é feito especificamente na graduação e que
essas características vão se aprimorando à medida em que a prática educacional
acontece. Porém, é indispensável que os cursos de formação inicial de professores
estimulem tal visão que precisará ser trabalhada durante toda a trajetória docente que,
como já foi mencionado, não se encerra apenas com a formação inicial. Dentro dos
objetivos específicos destinados ao curso, a visão da construção de um professor
reflexivo é reforçada, a fim de promover a formação de profissionais que não apenas
se utilizem de metodologias tradicionais na construção do conhecimento, além de
trazer a perspectiva da formação de um professor - pesquisador evidenciado no
trecho:

Construir com os alunos uma concepção de professor-pesquisador na


área de ensino de ciências e biologia, como forma de romper com o
41

paradigma tradicional de ensino-aprendizagem-avaliação e


desenvolva novas posturas frente aos desafios de ensinar na
educação básica (CCEN - UFPB, 2018, p. 17).

O conceito do professor - pesquisador nasce no Brasil por meio da inquietação


de professores de um Curso de Preparação para o Magistério (CPM) do Rio de Janeiro
diante do equívoco entre a formação baseada no aporte teórico e a vivência em sala
de aula. Por meio da pesquisa - ação, os professores passaram a ter uma voz ativa e
ter suas necessidades consideradas já no momento da formação docente, diminuindo
assim o distanciamento entre o conhecimento que há dentro das universidades e a
escola real brasileira (FAGUNDES, 2016).
O esforço do PPC do ano 2018 do Curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas/UFPB em promover uma formação pautada nesses paradigmas, expressa
a real preocupação com uma reforma educacional que possa ocorrer desde a base
formando professores que se utilizem de novas metodologias a fim de tornar o ensino
de Ciências e Biologia cada vez mais dinâmico e participativo na educação básica.
Ainda nos objetivos específicos, o texto dispõe como princípios:

Valorizar a pesquisa e a execução de projetos que aprimoram e


desenvolvam o conhecimento, estimulando a integração entre o
ensino de Ciências e Biologia com as outras áreas de conhecimento,
seja na atuação em ensino, pesquisa e/ou extensão. (CCEN-UFPB,
2018, p.17) (grifo nosso).

e,
Articular os conhecimentos produzidos a partir dos conteúdos
disciplinares de forma contextualizadas aos espaços educativos no
âmbito da Educação formal e não formal, na perspectiva da
alfabetização científica (CCEN-UFPB, 2018, p.17) (grifo nosso).

O PPC - 2018 ressalta a importância de realizar uma formação de um


profissional que seja capaz de reconhecer a associação das Ciências e Biologia com
outras disciplinas dentro de sala de aula, por compreender que a trajetória da busca
ao conhecimento não deve ser segmentada e observada de forma individual.
Favorecendo esse discurso, é possível perceber a presença da Alfabetização
Científica (AC) que se constitui como uma importante ferramenta a ser desenvolvida
dentro do processo formativo. Dentro da proposta de Sasseron e Carvalho (2011), a
AC possui três eixos estruturantes, sendo eles: a) a compreensão dos termos e
conceitos fundamentais; b) a compreensão da natureza das ciências e da ética e
42

política que rodeiam a prática; c) a compreensão das relações que existem entre
ciência, tecnologia, sociedade e meio-ambiente. Assim, “a alfabetização deve
desenvolver em uma pessoa qualquer a capacidade de organizar seu pensamento de
maneira lógica, além de auxiliar na construção de uma consciência mais crítica em
relação ao mundo que a cerca” (SASSERON; CARVALHO, 2011, p. 61) e a utilização
da transdisciplinaridade dentro do contexto educacional e associada a AC proporciona
o diálogo e cooperação entre as várias áreas do conhecimento ao qual o estudante
está exposto.
De maneira geral, os objetivos elaborados para o PPC - 2018 estão pautados
em torno das perspectivas já mencionadas, considerando sobretudo a aplicação do
conhecimento científico dentro do processo educacional e ressaltando a pesquisa em
educação trazendo uma identidade própria para o curso.

5.3 A estrutura curricular do curso e suas alterações

O atual Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas


UFPB (PPC - 2018) possui uma carga horária de 3530 horas no qual o estudante
possui entre 08 e 12 períodos para a conclusão no período integral e entre 10 e 14
períodos para a conclusão no período noturno. Para a organização e análise da
composição da estrutura curricular do PPC - 2018, foi realizada uma segmentação
através de eixos estruturantes baseados no Parecer do Conselho Nacional da
Educação CNE/CES 1.301/2001, que regulamenta a formação em Ciências Biológicas
nas habilitações Licenciatura e Bacharelado, no próprio documento curricular e no
trabalho de Medeiros e Medeiros (2020) ao analisar estruturas curriculares dos cursos
de Licenciatura em Ciências Biológicas de algumas instituições brasileiras. A divisão
por eixos citando a carga horária correspondente é observada no Quadro 1.
Quadro 01 - Estrutura curricular dos Projetos Pedagógicos do Curso de Licenciatura em
Ciências Biológicas UFPB quantificados em horas/aula.

Eixos de Análise Licenciatura em Ciências Biológicas UFPB


PPC 20064 PPC 2018

Fundamentos da Educação e 1050 h 1110 h

4
No ano de 2014, o PPC 2006 incluiu a disciplina LIBRAS como obrigatória. Não houve outras
alterações além desta e por esse motivo adotamos como nomenclatura PPC 2006 para abordar o
currículo de 2006 bem como a inclusão da disciplina.
43

Eixos de Análise Licenciatura em Ciências Biológicas UFPB


PPC 20064 PPC 2018
Prática Pedagógica

Diversidade Biológica 825 h 840 h


Biologia Celular, Molecular e
Evolução 540 h 495 h

Ecologia 270 h 225 h


Fundamento das Ciências
Exatas e da Terra 240 h 240 h
Fundamentos das Ciências
Sociais, Linguagem e
Humanas 150 h 210 h
Trabalho Acadêmico de
Conclusão de curso (TACC) 45 h 30 h

Optativas 120 h 180 h

Conteúdo Flexível 60 h 200 h


Total 3300 h 3530 h
Fonte: Dados da pesquisa (2022).

5.3.1 O eixo Fundamentos da Educação e Prática Pedagógica

O eixo Fundamentos da Educação e Prática Pedagógica é o eixo com maior


carga horária dentro dessa análise, é o que mais sofreu alterações. Nele estão
alocadas as disciplinas que lidam diretamente com a formação docente, disciplinas
voltadas à fundamentação teórica da Educação e à prática propriamente dita. Dentro
do PPC - 2018, consideram-se as disciplinas: Fundamentos Antropo-Filosóficos da
Educação, Didática, Fundamentos Psicológicos da Educação, Fundamentos Sócio-
Históricos da Educação, Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial,
Metodologia e Instrumentação para o Ensino de Ciências e Biologia, Avaliação da
Aprendizagem, Educação em Saúde nas Escolas, Pesquisa em Ensino de Ciências e
Biologia, Política e Gestão da Educação e 04 disciplinas de Estágio Supervisionado,
sendo 02 voltadas ao Ensino Fundamental anos finais e 02 voltadas ao Ensino Médio.
Com exceção da disciplina Metodologia e Instrumentação para o Ensino de
44

Ciências e Biologia, que possui 90 horas e os Estágios Supervisionados, cada um


possui 105 horas, todas as outras disciplinas possuem uma carga horária de 60 horas
e o eixo como um todo possui 1110 horas. Ao comparar com o mesmo eixo no PPC
do ano 2006, apesar de possuir carga horária próxima, e ocupar um lugar de destaque
no curso, algumas diferenças podem ser constatadas, como mostra o Quadro 02.

Quadro 02 - Principais diferenças encontradas no eixo Fundamentos da Educação e Prática


Pedagógica extraídas da comparação entre os PPCs do ano 2006 e 2018.

Eixo de Análise: Fundamentos da Educação e Prática Pedagógica


PPC 2006 PPC 2018
Metodologia e Instrumentação para o Ensino Metodologia e Instrumentação para o
de Ciências Naturais (60h), Metodologia e Ensino de Ciências e Biologia (90 h)
Instrumentação para o Ensino de Biologia
(60h), Projeto e experimentação no ensino de
Ciências e Biologia (60h).
Educação, Meio Ambiente e Saúde nas Educação em Saúde nas Escolas 60 h
Escolas 60 h
Educação e Inclusão Social 30 h Educação Especial 60 h
Fonte: Dados da pesquisa (2022).

A primeira delas é a união das disciplinas Metodologia e Instrumentação para


o Ensino de Ciências Naturais, Metodologia e Instrumentação para o Ensino de
Biologia e Projeto e experimentação no ensino de Ciências e Biologia (todas com
carga horária de 60h) resultando em uma única disciplina com um total de 90 horas.
Outro ponto que merece destaque está na seleção de conteúdos abordados na antiga
disciplina Educação, Meio Ambiente e Saúde nas Escolas, na qual questões
relacionadas ao Meio Ambiente não pertencem mais a essa disciplina. Tal alteração
é justificada pela presença da disciplina Bases da Educação Ambiental (situada no
eixo Ecologia) que assume esse papel de abordar o papel da Educação Ambiental
dentro dos espaços educativos.
É concebida de forma positiva a expansão da carga horária da disciplina
Educação e Inclusão Social, que foi composta anteriormente por 30 horas, passando
a ser chamada Educação Especial e com 60 horas de aula que proporciona a
ampliação das discussões e atividades que auxiliam o licenciando a lidar com as
diversas particularidades que podem ser encontradas dentro da sala de aula.
Um ponto relevante dentro desse eixo, está na consideração das disciplinas
45

Avaliação da Aprendizagem e Educação de Jovens e Adultos como conteúdos


complementares obrigatórios para a formação docente. Cabe salientar que, dentro do
PPC do ano 2006, essas disciplinas eram consideradas optativas, cabendo ao
licenciando optar por cursar ou não. Mesmo dentro da reformulação do curso ocorrida
dentro do ano 2014, com a inserção da disciplina LIBRAS, as disciplinas em questão
permaneceram sendo disciplinas optativas. No processo educacional em todos os
níveis, a avaliação se estabelece como um dos seus principais pilares por ser um
procedimento extremamente necessário principalmente se observado através da ótica
de avaliar a própria prática docente.
Chueiri (2008), mostra a dimensão da avaliação quando menciona que esse
processo não é algo meramente técnico e não ocorre de forma neutra, sendo
influenciada por processos pedagógicos e científicos. Desta maneira, a obtenção de
uma disciplina obrigatória que apresenta uma visão crítica desse processo auxilia os
estudantes a enxergar uma dinâmica diferente dentro de sala de aula que não se
restrinja apenas a aplicação de uma prova ao final do bimestre, mas que possa
desenvolver novas possibilidades.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA), apesar de ser um espaço conhecido
de atuação do Licenciado em Ciências Biológicas, sofre uma depreciação histórica,
pois o seu objetivo de fornecer educação em tempo menor é confundido com falta de
comprometimento com o processo educacional. Alinhando isso com a falta de políticas
públicas, existe um cenário ideal para a manutenção deste quadro, levando os
estudantes, que decidem pelo retorno à escola, à evasão escolar (BORBA; RABELO;
MORAIS, 2022). Em um cenário, muitas vezes desanimador, no qual muitas vezes
não são encontrados livros didáticos voltados para essa modalidade (PAIVA, 2016), o
olhar atento das instituições de Ensino Superior, para a formação de professores que
estejam aptos a repensar essa realidade, se estabelece como um esforço inicial para
a resolução desse problema.

5.3.1.1 Os Estágios Supervisionados

Nos PPC dos anos 2006 e 2018, ocupam uma carga horária total de 420 horas,
sendo os 02 primeiros relacionados ao Ensino Fundamental anos finais e os outros
02 relacionados ao Ensino Médio. O primeiro e terceiro estágios supervisionados
estão relacionados à observação e interlocução, enquanto o segundo e o quarto
46

estágios supervisionados estão baseados na intervenção e exercício profissional.


Dentro dos estágios, os estudantes conseguem ter uma dimensão real do
processo educacional uma vez que ocorre uma imersão na escola sendo possível
associar a teoria e as experimentações realizadas dentro das Instituições de Ensino
Superior, com a prática. Essa prática docente, ainda no momento da formação dos
professores, tem o potencial de reafirmar a escolha por ser um profissional da
educação e modular sua prática durante a graduação levando esses conhecimentos
para toda sua trajetória profissional.

5.3.2 O eixo Diversidade Biológica

No eixo analítico Diversidade Biológica, houve o agrupamento de todas as


disciplinas que expressam a classificação, “filogenia, organização, biogeografia,
etologia, fisiologia e estratégias adaptativas morfofuncionais dos seres vivos.”
(BRASIL, 2001, p. 05). Assim, as disciplinas ligadas à sistemática e biogeografia,
fisiologia humana, anatomia humana, zoologia, botânica e biologia de microrganismos
se encaixam nesse eixo. Dentro do PPC 2018 existem 11 disciplinas presentes, sendo
o segundo maior eixo que compõe o curso, considerando a carga horária. Em
comparação com o documento anterior, o PPC de 2006 possui 04 disciplinas a mais,
formando um total de 15. Por meio da carga horária mostrada no Quadro 01, é
possível notar uma diferença de apenas 15 horas entre as estruturas curriculares,
porém, analisando as disciplinas de forma isolada, a compreensão de tais mudanças
se torna mais evidente.

Quadro 03 - Principais diferenças encontradas no eixo Diversidade Biológica extraídas da


comparação entre os PPC do ano 2006 e 2018.

Eixo de Análise: Diversidade Biológica


PPC 2006 PPC 2018
Organismos Unicelulares e Metazoários Não Zoologia (150h)
Celomados (60h), Metazoários Celomados
Não Deuterostomados (60h) e Metazoários
Deuterostomados (60h)
Biologia e Sistemática de Plantas Vasculares Botânica (150h)
(60 h), Anatomia Vegetal (30h) e Fisiologia
Vegetal (60h)
47

Eixo de Análise: Diversidade Biológica


PPC 2006 PPC 2018

Desenvolvimento Humano (60h) Histologia (45h) e Embriologia (75h)


Anatomia Humana (60h) Anatomia Humana (75h)
Fonte: Dados da pesquisa 2022.

No que diz respeito ao ensino de Zoologia, o PPC do ano de 2006 realiza a


divisão dos conteúdos em 03 disciplinas sendo estas: Organismos Unicelulares e
Metazoários Não Celomados (60h), Metazoários Celomados Não Deuterostomados
(60h) e Metazoários Deuterostomados (60h), somando um total de 180 horas. Tal
divisão também ocorre com o ensino de Botânica que é abordada nessa estrutura
curricular por meio das disciplinas: Biologia e Sistemática de Plantas Vasculares (60
h), Anatomia Vegetal (30h) e Fisiologia Vegetal (60h), somando um total de 150 horas.
Dentro do PPC do ano 2018, existe uma única disciplina de Zoologia possuindo 150
horas e uma única disciplina de Botânica também com uma carga horária de 150
horas.
Em contrapartida, dentro do eixo Diversidade Biológica, é possível observar de
maneira tímida o aumento da carga horária da disciplina Anatomia Humana, saindo
de 60h para 75h, e a separação da disciplina Biologia do Desenvolvimento Humano
(60h), gerando as disciplinas Histologia (45h) e Embriologia (75h). O objetivo
fundamental das Ciências Biológicas está pautado no estudo dos seres vivos bem
como as diversas formas de vida e interações, sendo esse um eixo de análise
indispensável dentro do curso para a formação de um professor para a disciplina. O
objetivo dessas modificações é dar ênfase aos conteúdos ensinados dentro de sala
de aula da Educação básica, a partir da segunda metade do ensino fundamental e
ensino médio, tornando o curso de Licenciatura cada vez mais próximo de seu objetivo
proposto que é o processo de formação do professor (GATTI, 2010; CCEN - UFPB,
2018).

5.3.3 O eixo Biologia Celular, Molecular e Evolução

Dentro do eixo Biologia celular, Molecular e Evolução se encontram as


disciplinas que buscam entender as interações biológicas visualizadas a partir do
estudo da biologia e fisiologia celular e disciplinas adjacentes (biologia molecular,
48

genética, imunologia e evolução) e se trata do terceiro eixo com mais horas/aula em


ambas as estruturas curriculares. Nos dois Projetos Pedagógicos do Curso, esse eixo
de análise é composto por 09 disciplinas, porém a disciplina Princípios de Análise
Genética (com carga horária de 60h) ofertada no PPC do ano de 2006 passa a ser
substituída pela disciplina Genética Aplicada (com carga horária de 30h) que traz em
sua ementa temas atuais além da busca por sua contextualização.
Outra diferença percebida se trata da carga horária destinada para a disciplina
Imunologia que passa de 60h para 45h, perdendo então 15h que equivale a 1 crédito
contado pela instituição. Vigário e Cicillini (2019), argumentam que a biologia celular
serve de ponte para o entendimento de diversos fenômenos cotidianos e que pode
ser usada inclusive de forma transdisciplinar transcendendo assim a fragmentação de
conteúdos no ensino. O saber construído por meio dessas áreas possui ligação
questões desde o meio ambiente até a saúde humana e possui valores econômicos
usados na biotecnologia, por exemplo, e por essas razões, formam um dos eixos
centrais de qualquer curso voltado às Ciências Biológicas.

5.3.4 O eixo Ecologia

No eixo Ecologia, estão agrupadas as disciplinas específicas referentes à essa


subárea, bem como disciplinas associadas como Biologia da Conservação e Bases
da Educação Ambiental. Dentro da estrutura curricular do PPC do ano de 2018, o eixo
é composto pelas disciplinas: Ecologia básica dispondo de 60h, Ecologia de
populações e comunidades dispondo de 60h, Bases da Educação Ambiental dispondo
de 60h e Conservação da Biodiversidade dispondo de 45h. Em comparação com a
estrutura curricular do PPC 2006, o eixo perdeu a disciplina Métodos e Análises em
Ecologia que dispunha de 60 horas de aula e acrescentou 15 horas à disciplina
Conservação da Biodiversidade.
Mais uma vez é possível perceber o foco da estrutura curricular do PPC 2018
nos conteúdos ministrados dentro da Educação Básica principalmente quando se
considera o fato de que a Ecologia, dentro do Ensinos Fundamental anos finais e
médio, aparecem dentro da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de cada etapa
da escolarização, de maneira direta, disciplinar, e também de forma transdisciplinar a
partir da abordagem dos temas relacionados ao Meio Ambiente (FÉLIX; OLIVEIRA,
2021). O aumento da carga horária da disciplina Conservação da Biodiversidade visa
49

a expansão dos debates sobre os assuntos abordados fazendo com que os


licenciandos observem como a Ecologia e seus assuntos associados estão em seu
cotidiano e por conseguinte, espera-se que após formados, os licenciados possam
levar esse debate para dentro da sala de aula.

5.3.5 O eixo Fundamento de Ciências Exatas e da Terra

Dentro do eixo Fundamento de Ciências Exatas e da Terra estão as disciplinas:


Física para Ciências Biológicas, Química para Ciências Biológicas, Estatística Vital ou
Bioestatística e Fundamentos de Geologia, que somam a mesma carga horária em
ambas as estruturas curriculares, ou seja, 240 horas. A relevância dessas disciplinas
para o curso se baseia no fato de que as Ciências Biológicas se relacionam com
diversas áreas do conhecimento e também, dentro do Ensino Fundamental anos
finais, o professor de Ciências leciona conteúdos relacionados à Física e Química, tal
como menciona o eixo Matéria e Energia da BNCC para o Ensino Fundamental que
“contempla o estudo de materiais e suas transformações, fontes e tipos de energia
utilizados na vida em geral, na perspectiva de construir conhecimento sobre a
natureza da matéria e os diferentes usos da energia” (BNCC, 2017, p. 325).

5.3.6 O eixo Fundamentos das Ciências Sociais, Linguagem e Humanas

O eixo Fundamentos das Ciências Sociais, Linguagem e Humanas é composto


por disciplinas com foco no conhecimento sobre Língua Portuguesa, Linguagem
Brasileira de Sinais (LIBRAS), Metodologia Científica, História das Ciências Naturais,
Filosofia, Geografia e Antropologia (MEDEIROS; MEDEIROS, 2020). Dentro dessa
classificação, no PPC do ano de 2018 são encaixadas as disciplinas: História, Filosofia
e Ensino das Ciências Naturais, Formação Docente em Ciências Biológicas, Libras e
Metodologia do Trabalho Científico somando 210 horas. Em comparação a estrutura
anterior, a principal diferença observada está na substituição da disciplina Bioética e
Legislação Profissional, que trazia toda a base legal para a profissão do Biólogo, para
a disciplina Formação Docente em Ciências Biológicas que possui o foco específico
na apresentação do perfil do curso mostrando aspectos filosóficos, históricos e éticos
da formação de professores. Tal disciplina surge por meio de um esforço na tentativa
de sobrepujar a problemática da formação de um professor com o perfil voltado para
50

o Bacharelado apresentando como a Licenciatura consegue ser profunda em


discussões diversas. Outro fator que corrobora para essa análise, é que essa
disciplina é ministrada já no primeiro período, situando o estudante quanto aos
objetivos propostos e seu comprometimento com a formação de professores,
enquanto no PPC 2006, disciplinas voltadas aos fundamentos da educação surgem a
partir do segundo período do curso.

5.3.7 O eixo Trabalho Acadêmico de Conclusão de curso

O eixo Trabalho Acadêmico de Conclusão de curso (TACC), abriga uma única


disciplina que está voltada para a realização do último trabalho realizado durante a
graduação. Em ambas as estruturas curriculares analisadas, o TACC é um requisito
obrigatório e deve ter a sua temática relacionada à Educação. Dentro do currículo do
ano 2006, a realização do TACC para a licenciatura deveria obter relação direta com
as experiências adquiridas por meio do estágio supervisionado. Assim, o trabalho de
conclusão do curso não possuía um caráter próprio e por diversas vezes os relatórios
finais entregues à disciplina de estágio foram utilizados como monografia final.
O PPC 2018 compreende o TACC como um resultado orgânico das
experiências vivenciadas dentro da graduação (CCEN-UFPB, 2018) e dispõe em uma
carga horária de 30 horas/aula, perda de 15 horas/aula em relação ao documento
anterior, destinadas à orientação para construção da monografia. Assim como no PPC
do ano 2006, o PPC 2018 menciona que a disciplina Pesquisa em Ensino de Ciências
e Biologia está voltada para a elaboração do projeto que resultará na monografia a
ser apresentada como TACC.

5.3.8 O eixo Optativas

Ao considerar o eixo optativas é destacado o tempo disposto dentro do curso


para a dedicação às disciplinas escolhidas pelos licenciandos. Tais disciplinas estão
relacionadas ao objetivo do curso e a formação do profissional e se estabelecem como
uma maneira de aprofundar os estudos sobre determinada área (CCEN- UFPB, 2006).
Essa prerrogativa está ancorada no Parecer CNE/CES 1.301/2001, quando determina
que a estrutura do curso deve:
51

[...] estimular outras atividades curriculares e extracurriculares de


formação, como, por exemplo, iniciação cientifica, monografia,
monitoria, atividades extensionistas, estágios, disciplinas optativas,
programas especiais, atividades associativas e de representação e
outras julgadas pertinentes (BRASIL, 2001, p. 05).

Dentro do PPC 2018, esse tempo disposto é de 180 horas, ou 12 créditos, nos
quais os estudantes possuem livre escolha de como realizar essa distribuição
escolhendo disciplinas que estão relacionadas à educação.

5.3.9 O eixo Conteúdo Flexível

Como último eixo de análise da estrutura curricular está o Conteúdo Flexível.


O PPC do ano 2018 define como:

Componentes curriculares livres tais como a participação em:


Seminários, congressos, colóquios, oficinas, tópicos especiais,
projetos de ensino, pesquisa e extensão ou componentes curriculares
em áreas a fins, regulamentadas por Portaria do Colegiado do Curso,
denominada Tópicos Especiais em Ciências Biológicas. (CCEN -
UFPB, 2018, p. 33).

A carga horária de 200 horas passou a ser o total que deve ser cumprido pelos
estudantes. Em comparação com o documento curricular do ano 2006 é possível
observar um aumento de 140 horas. Esse aumento possibilita ainda mais a entrada
dos estudantes em programas voltados à licenciatura como o Programa de
Licenciaturas (PROLICEN), Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
(PIBID) e Programa de Residência Pedagógica (PRP). A importância na participação
desses projetos foi evidenciada no trabalho de Cruz (2021, p. 79) ao concluir que “os
alunos percebem os programas acadêmicos como apoio ao estágio, e oportunidade
maior de prática docente, com um tempo mais extenso de regência nas salas de aula
durante a graduação, o que possibilita uma formação profissional que os torna mais
preparados para a docência”. A participação em congressos, simpósios, colóquios,
dentre outros eventos acadêmicos, permitem ao estudante compartilhar os
conhecimentos produzidos dentro da academia e se inteirar do que foi produzido por
outros estudantes das IES, inserindo os estudantes em uma rede de comunicações
que servirá de base teórica para expansão dos estudos em educação.
52

5.4 O cumprimento do currículo a partir dos planos de curso

Krasilchik (2019), alerta para a importância dos professores dentro do processo


de construção e principalmente de aplicação do currículo tendo em vista que tudo está
escrito nos objetivos curriculares deve ser expresso na prática. Dentro das IES, o
plano de curso fornece as principais orientações que devem ser disponibilizadas aos
alunos para o acompanhamento das disciplinas. Por meio desse conhecimento,
analisar os planos de curso dos professores que ministram disciplinas dentro do PPC
2018 se torna um caminho viável para a compreensão de como está o andamento do
curso. Para efeito de organização será considerado a mesma categorização por eixos
mencionada no item 5.3 deste trabalho e excluindo os eixos das optativas e conteúdo
flexível.

5.4.1 Disciplinas do eixo Fundamentos da Educação e Prática Pedagógica

Como mencionado anteriormente, as disciplinas desse eixo são voltadas a


fundamentos e práticas docentes sendo um eixo primordial para um curso de
licenciatura. Dentro do PPC 2018, foram encontradas as disciplinas: Fundamentos
Antropo-Filosóficos da Educação; Fundamentos Psicológicos da Educação;
Fundamentos Sócio-Históricos da Educação; Didática; Educação de Jovens e
Adultos; Educação Especial; Metodologia e Instrumentação para o Ensino de Ciências
e Biologia; Avaliação da Aprendizagem; Educação em Saúde nas Escolas; Pesquisa
em Ensino de Ciências e Biologia; Política e Gestão da Educação e 04 disciplinas de
Estágio Supervisionado, sendo 02 voltadas ao Ensino Fundamental e 02 voltadas ao
Ensino Médio.
Foi observado que as disciplinas desse eixo possuem uma estreita relação
entre as ementas propostas pelo PPC 2018 e os objetivos traçados. Exemplos claros
dessa relação são encontrados nas disciplinas Didática, Avaliação da Aprendizagem
e Metodologia e Instrumentação para o Ensino de Ciências e Biologia.
O componente curricular Didática, possui como ementa:

A didática e suas dimensões político-social, técnica humana e as


implicações no desenvolvimento do processo de ensino
aprendizagem; O objeto da didática; Pressupostos teóricos, históricos,
filosóficos e sociais da didática; Tendências pedagógicas e a didática;
53

Planejamento de ensino; O ato educativo e a relação professor-aluno.


(CCEN - UFPB, 2018, p. 55).

No plano de curso, os objetivos estão pautados em trazer um panorama que


menciona desde a trajetória histórica e importância social, à concepção da pesquisa
como um ato necessário ao docente, o conhecimento acerca do planejamento,
execução e avaliação bem como a dinâmica em sala de aula através de uma
perspectiva crítica e a reflexão sobre o percurso de profissionalização docente (UFPB,
2022e). Libâneo (1994, p. 16), descreve a Didática como sendo uma disciplina "que
estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino
tendo em vista finalidades educacionais, que são sempre sociais". Nessa perspectiva,
a conciliação da ementa com o plano de curso torna esperada a formação de um
profissional apto a fazer uma leitura da sala de aula e trabalhar em prol do
desenvolvimento dos estudantes a medida em que a disciplina possui um rico
arcabouço de metodologias que estimulam o diálogo, a problematização, a realização
de trabalhos em equipe, a realização de trabalhos escritos, dentre outras atividades
que proporcionam uma imersão dos licenciandos dentro do contexto da sala de aula.
O estímulo à problematização é explicado por Freire, quando afirma que “[...] está
fundamentada sobre a criatividade e estimula uma ação e uma reflexão verdadeiras
sobre a realidade, respondendo assim à vocação dos homens que não são seres
autênticos senão quando se comprometem na procura e na transformação criadoras”
(FREIRE, 1979, p. 42).
O componente curricular Avaliação da Aprendizagem, dispõe como ementa:

Concepções de avaliação: dimensões políticas e culturais. Princípios,


funções, características e modalidades da avaliação. A prática da
avaliação. Avaliação e mecanismos intra-escolares: recuperação,
reprovação, repetência e evasão. Avaliação nos processos de ensino-
aprendizagem (CCEN - UFPB, 2018, p.61).

Os objetivos do plano de disciplina agem em consonância com a ementa e


estabelecem a problematização da avaliação e seu peso político-cultural, uma análise
sobre as diferentes concepções e tipos de avaliação e a relação existente entre
avaliação - reprovação - evasão escolar. Os objetivos ainda incluem a discussão sobre
a importância do erro dentro do processo de ensino e aprendizagem (UFPB, 2022b).
Cometer erros é inerente ao ser humano e dentro do processo educacional, os erros
são a possibilidade rever a metodologia de aulas e a metodologia avaliativa utilizada.
54

Luckesi (2011), considera que a avaliação pode ser entendida como um


processo de investigação sobre como os estudantes progridem na aquisição de
conhecimento. Nesse processo investigativo, uma das ações tomadas se refere a
observância da realidade como está exposta, com suas problemáticas e
oportunidades. Dentro das metodologias propostas no plano de curso, destaca-se,
além da discussão dos temas propostos, o compartilhamento de experiências
discentes e docentes com os processos avaliativos. Esse tipo de atividade é
promissora, pois estimula a reflexão sobre os momentos vivenciados pelos estudantes
impedindo a perpetuação métodos que reduzam a avaliação a uma prática autoritária.
Libâneo (1994), menciona que um processo avaliativo focado apenas na nota
desconsidera fatores como os procedimentos usados pelo professor, o objetivo
proposto pela formação, o contexto sociocultural dos sujeitos e outras situações que
influenciam diretamente o rendimento do estudante.
O componente curricular Metodologia e Instrumentação para o Ensino de
Ciências e Biologia, é voltado para a construção de metodologias e o exercício de
práticas que podem ser utilizadas dentro de sala de aula. Com o ganho de carga
horária no PPC 2018 em relação a disciplina estabelecida no PPC 2006, tal
componente, possui como ementa:

A história da disciplina escolar Ciências e Biologia. A função social e


objetivos do ensino de Ciências e Biologia. Natureza da Ciência e
Ensino de Biologia. Políticas públicas em educação e o ensino de
Ciências e Biologia: financiamento da educação, as questões de
currículo, materiais didáticos, sistemas de avaliação institucional.
Conhecimento científico, conhecimento escolar e processos de
seleção, transposição e mediação didática. História e utilização de
livros didáticos e paradidáticos no ensino de Ciências e Biologia.
Tendências atuais de ensino de Ciências e Biologia. Fundamentos da
metodologia e da instrumentação no ensino de Ciências e Biologia.
Abordagens e modalidades didáticas no ensino de Ciências e Biologia.
Os laboratórios de ensino de Ciências e Biologia. Experimentação
científica e didática: planejamento, execução e avaliação de
Experimentos voltados para o Ensino de Ciências e de Biologia. O
tratamento pedagógico de temas curriculares no ensino de Ciências e
Biologia. A educação em Ciências e Biologia em diferentes espaços e
contextos de formação. (CCEN - UFPB, 2018, p. 63).

Os objetivos possuem como premissa o olhar para o ensino de ciências e


biologia para a educação básica a partir de múltiplas perspectivas, além de permitir a
realização de diversas atividades experimentais ainda no período da formação inicial
docente (UFPB, 2022q). Giordan (1999), ressalta a importância da experimentação
55

ao passo que se constitui como parte da investigação, formando a base necessária


para a construção do conhecimento científico. Além disso, se constitui como uma
ferramenta de grande importância dentro do ensino de Ciências e Biologia, pois
estimula os alunos a conhecer mais do assunto estudado, mantendo a motivação
como grande aliado dentro do processo de ensino e aprendizagem. Não apenas no
ensino básico, mas também no ensino superior, é possível encontrar críticas aos
métodos tradicionais de ensino centrados no conhecimento dos professores e assim,
a experimentação pode ser vista como uma forma de tornar as aulas participativas.
Todas as disciplinas estão dentro do que suas respectivas ementas
sugerem, e possuem em comum uma abordagem metodológica diversificada na qual
pode-se destacar o incentivo às discussões seja dentro de subgrupos para a
realização das atividades ou até mesmo através da exposição dialogada. Tal ação, se
contrapõe à educação bancária descrita por Freire (1987) em Pedagogia do Oprimido,
a medida em que desperta no aluno a possibilidade de ser ouvido e não apenas
aprender como também ensinar.

A auto-suficiência é incompatível com o diálogo. Os homens que não


têm humildade ou a perdem, não podem aproximar-se do povo. Não
podem ser seus companheiros de pronúncia do mundo. Se alguém
não é capaz de sentir-se e saber-se tão homem quanto os outros, é
que lhe falta ainda muito para caminhar, para chegar ao lugar de
encontro com eles. Neste lugar de encontro, não há ignorantes
absolutos, nem sábios absolutos: há homens que em comunhão,
buscam saber mais (FREIRE, 1987, p.46).

Neste sentido, o professor também ocupa o papel de ouvinte, percebendo


muitas vezes a uma interpretação a qual ainda não tinha acesso e abandonando o
papel de único detentor do conhecimento.

5.4.1.1 Os Estágio Supervisionados e a educação não-formal

O Estágio Supervisionado constitui-se como uma área de produção de


conhecimento que busca a interação da formação com o campo para o qual o
profissional está sendo formado (LIMA; PIMENTA, 2006). Dentro dos estudos sobre
educação são considerados os espaços formais, não formais e informais de ensino.
Fávero (2007) menciona como espaço formal a escola e como espaços não formais
todos aqueles que não são a escola propriamente dita. Dentro dessa concepção,
56

Queiroz et al. (2011), dividem os espaços não formais em institucionalizados e não-


institucionalizados. Pertencente a primeira classificação local que apresenta estrutura
física e um sistema de apoio composto por profissionais qualificados, tais como
museus, jardins botânicos e zoológicos, e os espaços não-institucionalizados são
praças e até mesmo áreas verdes no entorno da escola. Se utilizar de novos espaços
é contextualizar os conteúdos ensinados na sala de aula permitindo muitas vezes que
os alunos da Educação Básica tenham acesso ao conhecimento que parece abstrato
à primeira vista. Tinoco (2019), menciona que a formação do indivíduo deve ser
composta por diversas experiências que não se limitam aos acontecimentos dentro
de sala de aula, por mais que seja possível desenvolver diversas atividades.
Nessa perspectiva, apesar dos planos de cursos estarem de acordo com o que
as ementas estabelecem, e a educação não-formal está inserida em tópicos nas
disciplinas Educação de Jovens e Adultos, Metodologia e Instrumentação para o
Ensino de Ciências e Biologia e Educação em saúde nas escolas, é interessante
considerar a discussão sobre a educação em outros espaços também dentro do
Estágio Supervisionado, montando e executando planejamentos, percebendo novas
possibilidades e auxiliando na formação de docentes que não vejam a sala de aula
como único recurso e sim como mais um recurso.

5.4.2 Disciplinas do eixo Diversidade Biológica

Neste eixo, encontram-se as disciplinas: Fundamentos de Sistemática e


Biogeografia, Biologia e Sistemática de Fungos, Algas e Briófitas, Zoologia, Anatomia
Humana, Fisiologia Humana I5, Biologia das Plantas Vasculares, Fisiologia Animal
Comparada, Biologia de Microrganismos, Histologia, Embriologia e Parasitologia II.
Todos os documentos referentes aos planos de curso foram acessados no Sistema
Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA), exceto o referente à
Histologia o qual não foi encontrado.
É perceptível que o plano de curso dos componentes curriculares que
compõem esse eixo não dispõe de uma relação harmônica com o que é exposto pelas

5 A disciplina Fisiologia Humana I é disponibilizada dentro do Centro de Ciências da Saúde (CCS) que
disponibiliza mais disciplinas de fisiologia a depender do curso (levando em consideração o currículo e
carga horária exigida) e por isso possui o numeral I. O mesmo acontece com as disciplinas Parasitologia
II e Imunologia V.
57

ementas e quando essa relação existe, os objetivos não estão organizados ou não
existe uma preocupação com seu estabelecimento. Tal situação pode ser explicada
por meio do fato de que grande parte dos professores desse eixo não possuem uma
formação inicial voltada à licenciatura e durante sua prática docente não são
estimulados a buscar o conhecimento relacionado à docência. Essa problemática fica
evidente quando é realizada uma simples comparação entre os planos de disciplinas.
O componente Fundamentos de Sistemática e Biogeografia, apresentado no
primeiro semestre do curso, possui como ementa:

Biodiversidade, Sistemática, Classificação e Biologia Comparada. O


desenvolvimento histórico da Biologia Sistemática. Sistemática
Evolucionista, Taxonomia Numérica e Sistemática Filogenética.
Teorias e métodos em Biologia Sistemática. Nomenclatura e coleções
biológicas. Tectônica de placas; padrões e processos biogeográficos;
distribuição geográfica de espécies; biomas terrestres; zonas
biogeográficas (CCEN - UFPB, 2018, p. 41).

e dispõe como objetivo:

O objetivo da disciplina é proporcionar aos alunos noções básicas de


sistemática e biogeografia. O curso se baseia nos conceitos teóricos
e práticos do método filogenético, enfatizando sua aplicação no estudo
da biodiversidade e evolução biológica. O objetivo é capacitar o aluno
a entender a organização da informação biológica dentro de um
contexto filogenético, e levá-lo a compreender os padrões e processos
relacionados à distribuição da biodiversidade no espaço, as relações
entre a história e a geomorfologia da Terra e os padrões de distribuição
da biodiversidade (UFPB - 2022l).

Os objetivos propostos pelo plano de curso estão voltados apenas para o


ensino dos conteúdos mencionados no documento curricular e não deixam claro a
relação que a disciplina possui com a educação básica. Essa perspectiva é discutida
no trabalho de Duré (2018), baseado nos estudos de Projetos Curriculares do curso
de Licenciatura em Ciências Biológicas anteriores ao estabelecimento do PPC - 2018,
deixando explícita a perpetuação dessa problemática por mais que os objetivos do
currículo sejam diferentes. A fim de procurar a preocupação com a associação dos
conteúdos com a educação básica dentro do plano proposto, houve a busca pelo item
habilidades e competências que possui apenas mais conteúdos que serão ministrados
dentro da disciplina.
Já o componente Zoologia, criado por meio da junção de disciplinas
58

remanescentes, possui como ementa:

Os grandes grupos dos seres vivos. Os reinos vivos existentes.


Introdução ao estudo da zoologia: conceito e divisão da zoologia.
Origem dos Metazoários, divisão dos grandes grupos zoológicos e
planos e eixos corpóreos. Estudos do bauplan dos metazoários não-
celomados e blastocelomados, em uma abordagem morfológica-
estrutural comparativa e evolutiva elucidando os padrões estruturais
estabelecidos. Evolução dos filos de Metazoarios e diversidade
resultante. Abordagem de temas de zoologia na educação básica.
(CCEN - UFPB, 2018, p. 45)

O plano de curso da disciplina possui como objetivo: “Conhecer a diversidade


animal do ponto de vista evolutivo” (UFPB - 2022s). É notável o caráter reducionista
no qual o plano de curso foi criado à medida que não estabelece uma organização de
seus objetivos e aparenta ser um resumo do que a ementa estabelece. Em outros
momentos do documento, na área destinada a habilidades e competências, o plano
de curso estabelece a finalidade de auxiliar na formação crítica dos licenciandos
fornecendo conhecimento didático e teórico.
O PPC 2018, de forma geral, busca a promoção da formação de um profissional
com perfil para a docência. O fato de algumas disciplinas não indicarem o foco
específico para a os objetivos da licenciatura se mostra como um entrave dentro da
formação inicial de professores e reforça a formação voltada para a habilidade de
bacharelado. Porém, em algumas disciplinas desse eixo, é visível o compromisso da
aplicação dos conteúdos em relação ao currículo proposto.
A ementa disponibilizada no componente Anatomia Humana se baseia nos
estudos da morfologia de órgãos e sistemas do corpo humano e seus mecanismos
reguladores (UFPB, 2022a). Essa premissa se mostra bem articulada no plano de
curso da disciplina que estabelece como objetivo, além do ensino dos assuntos
expostos, a relação interdisciplinar que deve ser estimulada e a reflexão crítica sobre
os conteúdos junto com a prática e sendo assim, o planejamento dessa disciplina é
um dos exemplos de que é totalmente possível fornecer uma educação que seja
científica e aplicada às necessidades do curso.
As disciplinas presentes dentro deste eixo estão voltadas ao ensino de
conteúdos específicos da biologia. Esse fator influencia bastante nas metodologias
apresentadas dentro dos planos de curso. Grande parte dos componentes curriculares
possuem as aulas práticas/de campo nos espaços escolhidos pelos professores,
59

como parte das técnicas aplicadas, além das aulas expositivas, seminários, dentre
outros. Dentro das descrições das metodologias, o plano de curso da disciplina
Fisiologia Humana I traz o texto mais completo abordando não apenas as estratégias
metodológicas usadas como também a importância de tais escolhas. O texto afirma
que:

As estratégias de ensino-aprendizagem foram escolhidas para


fomentar aprendizagens significativas. A docente buscará em todas
elas a participação ativa do estudante, usando o princípio dialético, de
modo a colocar o pensamento deles em movimento nas complexas
operações mentais necessárias para a apreensão de algum tema,
buscando relacionar ao conhecimento prévio de cada um. Algumas
estratégias serão desenvolvidas em grupo, buscando criar
oportunidade para o desenvolvimento das habilidades e competências
requeridas para uma ação coletiva. Uma dessas atividades envolverá
a solução de problemas de um tema específico, enquanto a outra, a
apresentação de um conteúdo sistematizado, contempladas como
itens avaliativos. Também serão utilizados recursos da plataforma
Moodle Classes, permitindo o compartilhamento textos, vídeos e links.
Um dos recursos, o questionário, funcionará como estratégia de
aprendizagem individual para conteúdos factuais e conceituais, na
tentativa de gerar desafios a serem suplantados pela leitura das
referências, pelo acesso aos recursos da plataforma ou por
questionamentos levados para a sala de aula. Esse recurso permitirá
a repetição ilimitada de tentativa visando também funcionar como
mecanismo de estudo. A utilização desse recurso, será considerada
como item avaliativo. Uma avaliação diagnóstica será realizada ao
final do curso, envolvendo questões oriundas dos questionários
respondidos ao longo das semanas e outras questões discursivas
(UFPB, 2022j).

5.4.3 Disciplinas do eixo Biologia Celular, Molecular e Evolução

Dentro desse eixo, estão as disciplinas: Bioquímica Estrutural, Biologia celular,


Bioquímica Metabólica, Biofísica dos Sistemas Biológicos, Genética, Biologia
Molecular, Imunologia V, Genética Aplicada, Evolução Biológica. Na análise dos
planos de curso, a disciplina Genética Aplicada não será considerada pois não houve
a disponibilização do documento.
As disciplinas desse eixo seguem o mesmo padrão mostrado no eixo
Diversidade Biológica. É composto por disciplinas também ministradas por
professores que muitas vezes não possuem formação inicial voltada para a docência
e esse fator contribui grandemente na criação dos planos de curso.
A disciplina Biologia Celular é ministrada dentro do primeiro período do curso
60

apresentando ao aluno uma área crucial dentro da Ciências Biológicas. Por se tratar
do estudo de estruturas que não são vistas a olho nu, a biologia celular precisa de
uma atenção especial no que diz respeito à aplicação de metodologias e técnicas que
auxiliem os alunos na compreensão dos conteúdos e que tais metodologias e técnicas
possam ser levadas para a educação básica. A ementa menciona:

Origem da vida. Organização de Células Procarióticas e Eucarióticas.


Métodos de Estudo em Biologia Celular. Membrana Plasmática,
Comunicação Celular, Núcleo, Organelas celulares, Endereçamento
de Proteínas, Tráfego de vesículas, Citoesqueleto, Ciclo Celular,
Diferenciação e Morte Celular. Instrumentalização para o
ensino/aprendizagem de Biologia Celular (CCEN-UFPB, 2018, p. 47).

Dentro do plano de curso, o objetivo proposto consiste em uma frase que diz:
“formação integral sobre a célula” (UFPB, 2022d). Nas competências e habilidades
esperadas, constam os dizeres: “teoria e prática” (UFPB, 2022d).
Não há uma preocupação genuína com o estabelecimento de objetivos para
uma disciplina que se constitui como um dos pilares do curso, e que serve inclusive
de base teórica para os conteúdos específicos de outras disciplinas durante a
caminhada pela graduação. O estabelecimento dos objetivos nem mesmo estabelece
uma premissa básica de iniciar com um verbo no infinitivo.
Um fenômeno parecido pode ser observado dentro da disciplina Genética,
ministrada dentro do quarto período, que possui como ementa os assuntos específicos
da área e “Estratégias de ensino em Genética” (CCEN - UFPB, 2018, p. 49). O plano
de curso dispõe como objetivo a frase: “Compreender os conceitos relacioandos aos
assuntos trabalhados em sala de aula observando ao ementa do componente
curricular” (UFPB, 2022m) que contém, inclusive, erros gramaticais.
É importante ressaltar a importância dos objetivos dentro do planejamento das
disciplinas. Por meio de uma ótica Freireana, que considera a transformação do
indivíduo por meio da educação, os objetivos educacionais demonstram “propósitos
definidos explícitos quanto ao desenvolvimento das qualidades humanas que todos
os indivíduos precisam adquirir para se capacitarem para as lutas sociais de
transformação da sociedade'' (LIBÂNEO, 1994, p. 120). Desta forma, não deve se
basear apenas nos conteúdos a ensinar. A criação de objetivos que servirão de base
a prática docente exige do professor uma reflexão profunda do que os documentos
oficiais exigem (no caso o currículo), de como o conhecimento dos conteúdos pode
61

auxiliar na vivência dos estudantes, das metodologias que podem ser utilizadas,
dentre outros fatores que tornam o docente parte do processo educacional e não um
mero observador e transmissor dos assuntos ministrados. É necessária a
compreensão de que o plano de disciplina não é apenas um documento que precisa
ser disponibilizado ao estudante, e sim um guia que auxiliará o licenciando no decorrer
do período e que precisa ser apresentado e discutido dentro dos primeiros momentos
de aula além de servir como um exemplo para os planos de curso que os licenciados
farão em sua trajetória como docente.
A disciplina Evolução Biológica possui um conhecimento que serve de base
para todas as outras áreas da biologia. Essa importância é reconhecida inclusive na
BNCC para a Educação Básica, que possui a evolução como um de seus eixos para
o ensino de ciências. No PPC 2018, a disciplina possui como ementa:

O desenvolvimento do pensamento biológico. Biologia Comparada e


Biologia Geral. Evolução fenotípica. Abordagens ao raciocínio
científico e a refutação do criacionismo (incluindo o Planejamento
Inteligente). Mecanismos Evolutivos e Microevolução. Adaptação. O
método comparativo – usando hipóteses filogenéticas. Especiação.
Padrões e processos evolutivos e Macroevolução. Biogeografia
Evolutiva. Extinções e o Registro Fóssil. Taxas de Evolução. Evolução
genômica e de moléculas. Biologia Evolutiva do Desenvolvimento.
Coevolução. Origem da vida e sua diversificação (história da vida).
Evolução Humana. (CCEN - UFPB, 2018, p. 44).

Dentro do plano de curso, os objetivos estão dispostos dentro do local onde


geralmente é feita a descrição dos conteúdos que serão ministrados durante o
semestre. Apesar da localização incomum, os objetivos estão pautados no
desenvolvimento sobre o pensamento crítico do estudante, inclusive fazendo relações
entre a evolução e outras áreas da biologia (UFPB, 2022h).
Embora exista uma relação conflitante dentro deste eixo, há disciplinas que
possuem uma organização do seu plano de curso que age em conformidade com o
que é estabelecido pela ementa e pelo curso de forma geral. Uma dessas disciplinas
é Imunologia V que possui uma ementa voltada para ensino dos conteúdos
específicos desde o estudo de células e tecidos linfóides até tumores e transplantes.
Seus objetivos estão ligados ao ensino dos conteúdos e ao estímulo à utilização de
recursos didáticos durante a disciplina (UFPB, 2022n). O incentivo ao uso de recursos
didáticos é uma das ferramentas comumente adotadas para a solução da
problemática do estudo de estruturas que não são vistas a olho nu.
62

As metodologias das disciplinas desse eixo são abrangentes e incluem desde


métodos mais tradicionais como aulas expositivas até discussões de textos,
elaboração de jogos manuais e virtuais e aulas práticas.

5.4.4 Disciplinas do eixo Ecologia

Dentro do eixo Ecologia foram inseridas as disciplinas: Ecologia básica,


Ecologia de Populações e Comunidades, Bases da Educação Ambiental e
Conservação da Biodiversidade.
Os componentes curriculares que compõem esse eixo estão alinhados com
suas respectivas ementas e buscam não apenas o ensino dos conteúdos como a
associação com os problemas ambientais enfrentados atualmente e o papel do
homem dentro desse processo. Esses fatores podem ser observados dentro do plano
de curso da disciplina Ecologia Básica e Bases da Educação Ambiental que possuem
como objetivo, respectivamente:

[...] compreender o que é ecologia e a importância das inter-relações


entre as espécies e o meio. Identificar os processos de ciclagem de
nutrientes e fluxo energético que regulam o funcionamento dos
ecossistemas. Reconhecer as relações entre as espécies e do homem
com o meio. Ser capaz de entender a aplicabilidade da ecologia nos
seus diferentes níveis (UFPB, 2022f). (grifos nossos).

• Refletir sobre a relação sociedade-natureza; • Compreender a


Educação Ambiental como resposta aos desafios socioambientais
desencadeados por emergência da crise ambiental planetária; •
Entender a sustentabilidade como categoria imprescindível para o
desenvolvimento humano e planetário do século XXI; • Perceber o
caráter multidisciplinar e transversal que envolve as diferentes
dimensões da Educação Ambiental; • Adotar a epistemologia crítica
para tornar a Educação Ambiental viável nos diferentes espaços
educativos da sociedade (UFPB, 2022c).

A perspectiva de um ensino que insira o ser humano como parte das


problemáticas ambientais age de acordo com o que é proposto pela BNCC para o
ensino fundamental que estimula, inclusive, a busca por “alternativas individuais e
coletivas, ancoradas na aplicação do conhecimento científico, que concorram para a
sustentabilidade socioambiental” (BNCC, 2017, p. 327).
Há um plano de curso dentro desse eixo que perpetua as mesmas questões
encontradas nos planos das disciplinas que compõem os eixos Diversidade Biológica
63

e Biologia Celular, Molecular e Evolução, principalmente no que tange sua


organização geral. O plano do componente curricular Ecologia de Populações e
Comunidades descreve de maneira simplista seus objetivos através do texto:

Entender o processo de surgimento da Ecologia, sua importância e


sua integração com outras ciências. - Compreender os principais
conceitos que fornecem as bases da Ecologia de populações. -
Compreender os principais conceitos que fornecem as bases da
Ecologia de comunidades (UFPB, 2022g).

Além disso, na área destinada à descrição das metodologias, existe um texto


corrido oriundo da junção entre os textos dispostos nos itens ementas, objetivos e
metodologia demonstrando um certo descaso com a construção do plano de curso.
Dentre as metodologias observadas dentro do eixo, surgem com mais
evidência as aulas expositivas e dialogadas, que apresentam os conteúdos os quais
serão explanados, discussão de textos, preparação e apresentação de seminários,
abertura de fóruns para a retirada de dúvidas e aulas de campo.

5.4.5 Disciplinas do eixo Fundamento de Ciências Exatas e da Terra

O processo educativo, para ser significativo, dentre outros fatores necessita da


interação das várias áreas do conhecimento. Desta maneira, dentro dos conteúdos
relacionados à Ciências Biológicas existe a associação com os diversos conteúdos
associados às ciências exatas e humanas. Nesse sentido, estão dispostas no eixo as
disciplinas: Física para Ciências Biológicas, Química para Ciências Biológicas,
Estatística Vital e Fundamentos de Geologia.
Na ementa da disciplina Física para Ciências Biológicas estão incluídos os
conhecimentos sobre mecânica, energia, mecânica dos fluidos, cinemática, biofísica
celular e óptica (UFPB, 2022i). Os objetivos dispostos no plano de curso se baseiam
apenas no ensino dos conteúdos elencados e novamente não demonstram a relação
que possuem com o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas ou até mesmo com
a educação básica. É importante ressaltar que, dentro do ensino fundamental, os
professores de ciências ministram conteúdos também relacionados à física, química
e associados à saúde, como menciona as Diretrizes Curriculares Nacionais para os
Cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas (BRASIL, 2001). Silva, Lopes e
64

Takahashi (2019) ao realizar um estudo sobre as dificuldades dos professores de


ciências naturais no ensino dos conteúdos de física elencou três problemáticas
envolvidas. A primeira é o domínio do conteúdo ministrado, a segunda se refere a
necessidade de metodologias para o ensino dos conteúdos e a terceira está ligada ao
domínio do uso da matemática dentro da física. Por meio dessas dificuldades, fica
evidente a necessidade de um ensino dos conteúdos que seja científico e pedagógico
diminuindo assim as necessidades formativas dos professores.
Essa problemática é compartilhada dentro do eixo, sendo encontrada também
nos planos de disciplina dos componentes curriculares Química para Ciências
Biológicas e Fundamentos de Geologia que também possuem o estabelecimento dos
seus objetivos voltados apenas para o ensino dos conteúdos específicos.

5.4.6. Disciplinas do eixo Fundamentos das Ciências Sociais, Linguagens e


Humanas

Agrupadas a este eixo estão as disciplinas: História, Filosofia e Ensino das


Ciências Naturais; Formação Docente em Ciências Biológicas; Libras e Metodologia
do Trabalho Científico. As disciplinas mencionadas possuem um forte viés voltado ao
aos estudos filosóficos e sociais e dispõem de uma relação estreita com as ementas
do PPC 2018.
A disciplina Formação Docente em Ciências Biológicas foi incluída dentro do
PPC 2018, já no primeiro período, a fim de apresentar, como porta de entrada no
curso, uma discussão elaborada sobre a docência. Sua ementa está baseada nos
aspectos históricos e ideológicos da formação de professores além de apresentar
problemáticas importantes como a ética dentro da profissão e a perspectiva do
professor pesquisador e reflexivo (CCEN - UFPB, 2018). O plano de curso possui
como objetivos a reflexão sobre a natureza da docência, o processo de
profissionalização, a importância das competências e habilidades e o uso da práxis
pedagógica no desenvolvimento do profissional docente (UFPB, 2022k). Essa
preocupação na oferta de disciplinas voltadas à licenciatura dentro dos períodos
iniciais, atrai o foco dos estudantes para os objetivos propostos pelo curso.
A disciplina Metodologia do Trabalho Científico possui sua ementa voltada aos
estudos de normas técnicas para a realização de trabalhos científicos (CCEN - UFPB,
2018). Os objetivos propostos no plano de curso atendem não apenas a essa
65

prerrogativa como também abordam os diversos tipos de conhecimentos e de


investigação científica além de trazer uma discussão sobre aspectos éticos e políticos
aplicados à pesquisa (UFPB, 2022p) justificando sua classificação neste eixo de
análise.
Ainda dentro desse eixo, está alocada a disciplina Língua Brasileira de Sinais
(LIBRAS), que surgiu inicialmente dentro do curso por meio de uma reformulação feita
em novembro de 2014 no então PPC 2006 e perpetua no PPC do ano 2018. A ementa
estabelece que:
Aspectos sócio-históricos, linguísticos identitários e da comunidade
surda. Legislação e surdez. Filosofias educacionais para surdo.
Aspectos Linguísticos da Libras: fonológicos, morfológicos, sintáticos
e semântico-pragmáticos da Língua Brasileira de Sinais. Prática de
conversação em Libras (CCEN - UFPB, 2018, p. 65).

Os objetivos do plano de curso estão baseados na introdução dos estudantes


dentro da identidade e cultura surda, além de permitir a prática da língua a nível básico
(UFPB, 2022o). A formação docente precisa quebrar paradigmas para formar
profissionais que promovam uma educação que além de emancipatória, possa ser
inclusiva. A Política Nacional da Educação especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva, menciona que as pessoas surdas devem ser inseridas dentro de todos os
espaços, incluindo a escola (BRASIL, 2008) e sendo assim, o professor precisa estar
preparado para atender essa demanda.

5.4.7 Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso

O Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso se constitui como uma


disciplina obrigatória dentro das IES. Dentro do PPC 2018, a disciplina possui como
ementa “Elaboração de um trabalho original a partir das experiências vivenciadas nos
Estágios Supervisionados, seguindo as normas da ABNT” (CCEN- UFPB, 2018, p.
65).
Apesar da ementa mencionar essa relação direta com os estágios, o trabalho
de conclusão de curso deve ser o resultado das vivências adquiridas dentro do
percurso da graduação. O plano de curso age em conformidade com a ementa
fornecendo meios para a realização da monografia final. Sua metodologia inclui as
aulas síncronas, pesquisas bibliográficas bem como o apoio aos estudantes através
do WhatsApp, permitindo que o estudante possua meios e uma rede de apoio para a
66

realização das atividades (UFPB, 2022r).

5.5 Perspectiva da pesquisa

Esse trabalho é constituído por meio de uma pesquisa bibliográfica e


documental que considerou como fonte de dados apenas os documentos curriculares.
Nas discussões propostas até então, é possível incluir a visão dos discentes que
pertencem à matriz do ano 2018 para compreender, por meio dessa nova ótica, como
que o curso está agindo na formação de professores e quais as problemáticas
encontradas principalmente no que tange ao ensino dos conteúdos específicos do
curso de Ciências Biológicas. Na continuidade da pesquisa poderá ser feita uma
comparação de como os licenciandos percebem a formação inicial durante o curso.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O currículo é o elemento que detém as normativas necessárias para o


andamento do processo educacional. Neste estudo, foi possível caminhar por
aspectos da construção e aplicação desse elemento no curso de Licenciatura em
Ciências Biológicas (UFPB), ressaltando principalmente seu significado e importância
para a formação de um profissional que trabalhe por uma educação transformadora.
Por meio dessa análise, nota-se que a criação das coordenações para cada
habilitação e a criação do PPC 2018 finalizam o processo de separação entre
licenciatura e bacharelado. Com isso, o curso de licenciatura pode assumir um caráter
próprio cuidando das suas necessidades, sejam elas pedagógicas ou até mesmo
administrativas.
O documento PPC 2018, se mantém na busca pela a formação de profissionais
que desenvolvam o perfil para a docência, por meio da valorização da pesquisa e dos
estudos em Educação, estimulando a reflexão crítica sobre as múltiplas realidades
encontradas na educação básica e sobre a prática docente apresentando os espaços
escolares como laboratórios com infinitas possibilidades. As alterações que se
referem a estrutura curricular fomentam sobretudo a participação maior dos alunos
em programas ofertados pela instituição auxiliando formando espaço de interação
onde os licenciandos podem desenvolver sua prática pedagógica.
O currículo é refletido dentro de sala de aula. Nessa concepção, a aceitação e
67

cumprimento do plano estabelecido por parte dos professores que ministram


disciplinas de conteúdo específicos voltados às Ciências Biológicas e áreas
relacionadas, se mostram como um entrave que já havia sido observado no PPC do
ano 2006 e permanece mostrando sua força. A organização de um plano de disciplina
é fundamental para estruturar a prática docente durante o período, tornando a
caminhada acadêmica cada vez mais transparente. Além disso, a disponibilização dos
planos de curso possui um significado especial para a licenciatura, na medida em que
seu objetivo é a formação de profissionais que também irão elaborar planejamentos
em sua trajetória profissional.
Como mencionado durante a pesquisa, a coordenação do curso é responsável
por examinar se o currículo está sendo cumprido e o NDE é responsável pela
observância no que tange ao perfil do egresso e, nesse sentido, nota-se a
necessidade de articulação entre os membros para que haja uma discussão sobre a
realidade apresentada a fim de buscar melhores caminhos para o andamento do
curso.
É importante ressaltar que essa pesquisa, como toda pesquisa, possui suas
limitações e oportunidades de crescimento. Por possuir um caráter
bibliográfico/documental, pode servir de base para novos estudos que incluam a
percepção dos licenciandos sobre como o curso fomenta seu desenvolvimento
pessoal e profissional.
Agradeço a disposição de leitura até o final desse texto que contribuiu muito
para a minha formação docente. A pesquisa de forma geral, tem o intuito de gerar
reflexão sobre o fenômeno estudado e, apesar do potencial para buscar respostas
para os problemas enfrentados, nunca terminamos sem novos questionamentos. A
educação, de forma geral, precisa de pessoas que estejam dispostas a repensá-la. É
o ato de reflexão que a torna tão sublime.
68

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