TCC Luizamelia Marques
TCC Luizamelia Marques
TCC Luizamelia Marques
Teresina - PI
2022
Luizamélia Marques dos Santos
Teresina - PI
2022
Luizamélia Marques dos Santos
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Profa. Dra. Elenita Maria Dias de Sousa Aguiar
Presidente/Orientadora (UESPI)
______________________________________________________
Profº Dr. Jânio Jorge Vieira de Abreu
Co-Orientador/Examinador Interno (UESPI)
_____________________________________________________
Profª Msa. Joilza Rodrigues Cunha Leitão
Examinadora interna (UESPI)
DEDICATÓRIA
À minha mãe Francisca Marques dos Santos, por toda a paciência e amor que teve comigo
neste processo de formação.
Em especial para meu filho, Esdras Lucas Marques de Paula, principal motivo por eu estar
viva. Seu diagnóstico de autismo me fez refletir sobre a importância da educação, e que eu
precisava adquirir saberes para contribuir com a educação dele, desta forma decidi escolher
esta graduação.
AGRADECIMENTOS
.
[...] milhares de crianças e jovens brasileiros vêm sendo
avaliados através de janelas muito pequenas para a grandeza
de suas histórias e de suas promessas como cidadão
(WERNECK, 1999)
RESUMO
The theme Hearing Impairment and Learning Assessment in Undergraduate Course at the
Federal University of Piauí – UFPI was chosen. It was defined as a general objective - to
expand the studies on the learning assessment of students with hearing impairment in higher
education. As specific objectives were defined: to understand how to characterize the
communication between teacher and hearing impaired students; to know the concepts and
practices in the teaching-learning evaluation process from the teacher's perspective; to
identify the difficulties and also the facilities that permeate the teaching activity regarding
the evaluation of the teaching-learning process of the hearing impaired students. Theoretical
dialogue is undertaken with Dessen; Brito (1997), Strobel (2009); Mizukami (1986), Luckesi
(2005), Aguiar (2007); LDB No. 9,394/96, Law No. 10,436/02; Gil (2008), Zanella (2013),
others. Exploratory research with a qualitative approach was carried out; utilized instruments;
production of information; profile/institutional questionnaire and interview. The content
analysis of Bardin's proposal (1977) was organized from seven synthesis expressions. The
participants are professors of the Licentiate in Libras Letters at UFPI. The research findings
demonstrate: Inclusion is to develop active participation and to attend the needs of hearing
impaired students and listeners; communication is mixed, oral Portuguese and Libras
(mediated by an interpreter); difficulties arising from poor literacy; conduct formative
assessment; Using techniques and instruments like: seminars, written and recorded tests, etc.
It was reflected from the teaching perspective on their conceptions and practices in learning
assessment in the Libras Letters Course. These findings are considered a favorable
contribution to educators, it is emphasized that it is up to each of us to contribute so that
inclusion really happens.
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4
2 TRÂNSITO TEÓRICO – DEFICIÊNCIA AUDITIVA E AVALIAÇÃO DA ....... 7
APRENDIZAGEM ....................................................................................................... 7
2.1 Contextualização Histórica ....................................................................................... 7
2.2 Educação Superior – Aproximações Inclusivas à Deficiência Auditiva ................ 12
2.3 Avaliação da Aprendizagem e Deficiência Auditiva .............................................. 16
3 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA DA PESQUISA ............................................. 22
3.1 A Pesquisa e Seus Pressupostos Metodológicos..................................................... 22
3.1.1 Tipo de pesquisa e abordagem adotada ......................................................... 22
3.1.2 Perfil institucional e participativo da pesquisa .............................................. 24
3.1.3 Instrumentos de produção e tratamento das informações .............................. 25
4 OS DESAFIOS À AVALIAÇÃO DOS DEFICIENTES AUDITIVOS.................. 29
NO ENSINO SUPERIOR .......................................................................................... 29
4.1 Conhecimentos Iniciais - Projeto Pedagógico do Curso .......................................... 29
4.2 Contextualizando Descobertas: Avaliação e Deficiência Auditiva ......................... 30
5 CONCLUSÕES REFLEXIVAS ................................................................................ 50
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 52
4
INTRODUÇÃO
Na história da humanidade os surdos sempre existiram, mas por muito tempo foram
excluídos do grupo social, por não serem reconhecidos como indivíduos pensantes, deste
modo foi um longo percurso até o alcance da condição atual, que traz direitos assegurados,
bem como, o reconhecimento da Língua de Sinais1.
No Brasil, as mudanças começam a ocorrer gradativamente na educação dos surdos.
Em 1970 é introduzida a filosofia da comunicação total, que privilegia a comunicação e a
interação, e não apenas a língua oral, o país começa a perceber que o foco não pode ser a
diferença patológica, a diferença perpassa a questão linguística. Nesse sentido, o principal
objetivo desta filosofia emerge para viabilizar a interação entre surdos e surdos, e entre surdos
e ouvintes (DUARTE, 2013).
Como apresenta Fonte (2015), intensa movimentação social acontecia mundialmente,
tendo como ênfase as necessidades à educação. No ano de 1990, na Conferência Mundial
sobre Educação para Todos, em Jomtien, Tailândia, de 5 a 9 de março de 1990, com o plano
de ação à Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem, contemplava e aclamava a
necessidade de atenção às pessoas com deficiências.
Posteriormente, na Conferência Mundial sobre Educação Especial, em Salamanca, na
Espanha, em 1994, foi criada a Declaração de Salamanca, que é uma resolução das Nações
Unidas que trata das "Regras Padrões sobre Equalização de Oportunidades para Pessoas com
Deficiências". A partir de então, os Estados precisam assegurar que a educação de pessoas
com deficiências, seja devidamente integrada ao sistema educacional (SALAMANCA,
1994).
Em 24 de abril de 2002, a sociedade brasileira é contemplada com a Lei n° 10.436/02,
que reconhece e oficializa a Língua Brasileira de Sinais – Libras, processo selado com a
promulgação do Decreto nº 5.626/05, que oficializa o reconhecimento da segunda língua
oficial do país. As iniciativas em difusão e uso da Libras, como políticas de inclusão, mesmo
que timidamente, começam a ser promovidas nos sistemas educacionais federal, estadual,
municipal e privado.
A contextualização inicial apresentada nos remete a algumas perspectivas históricas
1
[...] língua natural em termos formais: um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em
comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos. Portanto, esses elementos básicos são
as palavras faladas para as línguas orais e as palavras sinalizadas para as línguas de sinais, [...] portanto,
consideradas pela lingüística como línguas naturais ou como um sistema lingüístico legítimo e não como um
problema do surdo ou como uma patologia da linguagem. (CHOMSKY,1957 apud QUADROS E
KARNOPP, 2004, p. 30)
5
que dizem da educação do surdo, necessidade sentida para adentrar às minhas interlocuções.
Ao ingressar no Curso de Licenciatura em Pedagogia, uma das áreas que mais me chamou
atenção diz respeito à educação de pessoas com deficiência auditiva, deste modo iniciei o
curso básico de Libras em 2018, tendo seguido para os módulos: intermediário e práticas em
Libras.
Ao longo dos cursos buscava compreender sobre a formação de meus professores,
visto que todos eles eram deficientes auditivos, nesse sentido, alguns questionamentos se
fizeram presentes, cito: Como seria o processo de formação deles? Uma vez que eles eram
alunos do Curso Superior de Libras na Universidade Federal do Piauí - UFPI, observando
que nem todos os profissionais e alunos/as do curso partilham da mesma deficiência, como
seria a comunicação em sala de aula, entre professores/as e alunos/as, tendo em vista suas
necessidades especiais? Como os/as professores/as conduziam a avaliação da aprendizagem?
Sob esta perspectiva e com a responsabilidade de ter que realizar um Trabalho de
Conclusão de Curso – TCC, como requisito final de conclusão de curso, optei por trabalhar
com a temática Deficiência Auditiva e Avaliação da Aprendizagem em Curso de Graduação
na UFPI, na perspectiva de professores/as.
A justificativa para esta pesquisa, é promover um entendimento sobre a realidade do
processo de inclusão na Educação Superior, em nível de graduação para alunos/as com
deficiência auditiva do curso de Letras Libras da UFPI, na perspectiva do processo de
avaliação da aprendizagem sob o olhar de professores/as.
A proposta é que a partir das informações que sejam apontadas pela pesquisa, surjam
contribuições a educadores/as, que sejam relevantes ao conhecimento sobre o tema, bem
como das relações existentes, quanto concepções e práticas utilizadas por professores e
professoras na avaliação da aprendizagem de alunos/as com deficiência auditiva.
Compreendendo que o envolvimento com a organização desta pesquisa teve vários
olhares, como a do professor que conduziu a disciplina “Prática e Pesquisa” I, II e III, da
orientadora que acompanhou a continuidade da pesquisa, bem como das diversas e
significativas contribuições teóricas que me enriqueceram como pesquisadora, e ainda, da
significativa participação dos/as partícipes que contribuíram com esta, é que justifico, o uso
do pronome “nós” a partir deste momento.
A problemática desta pesquisa busca conhecer, sobre o processo de avaliação da
aprendizagem conduzido por professores/as do Curso de Letras Libras da UFPI, para avaliar
o processo de ensino-aprendizagem dos/as alunos/as com deficiência auditiva.
Desta forma, buscamos com o objetivo geral - ampliar os estudos acerca da avaliação
6
O Deficiente Auditivo, termo utilizado nos documentos legais que tratam da inclusão,
ou, o Surdo, como o próprio indivíduo prefere ser mencionado, manifesta-se pela deficiência
auditiva, considerada como a diferença que existe entre os desempenhos dos indivíduos e o
desenvolvimento das habilidades considerados normal à detecção de sons, conforme os
padrões que são estabelecidos pela American National Standards Institute (ANSI – 1989,
apud FIGUEIREDO, et.al, 2016). A audição normal estabelecida pela ANSI, corresponde à
habilidade que permite detectar sons até 20 dB (decibéis), caracterizado como nível de
audição.
Consideramos importante conhecer um pouco sobre a história que envolve a
Deficiência Auditiva, nesse sentido traçamos a seguir uma contextualização histórica que nos
aproxime de maiores compreensões acerca da temática.
Conforme disposto por (CARVALHO, 2007), desde o Antigo Egito os surdos foram
seres adorados e admirados pelo povo, considerados mediadores entre os deuses e os faraós,
eram temidos e respeitados, visto que o seu silêncio lhes dava um ar de misticismo, contudo
em outras partes do mundo a história foi cruel com eles, por exemplo, na China uma
sociedade que se considerava perfeita, sem deficientes, na qual os surdos eram sacrificados,
sendo jogados ao mar.
Na Grécia antiga, o tratamento também era duro, manifestado pelas mais perversas
formas, as vezes sendo abandonados em praça pública pelos espartanos, ou por prática de
morte, sendo jogados de penhascos. O filósofo grego Aristóteles, acreditava que a linguagem
era a condição que nos tornava humano, e como para ele os surdos não tinham uma
linguagem, então não poderiam ser considerados humanos e por isso eram isolados e
excluídos da sociedade.
Os romanos pensavam bem parecido, eles confundiam surdos com deficientes
mentais, imperfeitos e sem direitos. Na idade média a Igreja também perseguiu os surdos,
propagava que suas almas não podiam ser imortais e não seriam salvas, já que eles não eram
capazes de pronunciar oralmente seus sacramentos (CARVALHO, 2007).
Como relata (GUEDES, 2012) a história do surdo começou a mudar na idade
8
moderna, mais especificamente a partir do século XV, na medida em que as famílias nobres
que tinham filhos surdos se preocupavam com o destino de suas heranças, então, passaram a
criar condições para que seus descendentes fossem instruídos, garantindo assim o ensino
mínimo de conteúdo, para adquirirem reconhecimento e responder por questões legais. Sob
estas condições “Os filhos surdos de nobres deveriam, então, aprender a falar, a ler, a
escrever, a fazer contas, a rezar, a assistir missa e confessar-se fazendo uso da palavra falada,
tornando-se um modelo a ser seguido por sua educação e posição” (GUEDES, 2012, p. 12).
A autora descreve que ainda neste século o espanhol Pedro Ponce de León, um monge
beneditino em um monastério na Espanha, instruía alunos surdos, tendo como foco a
oralização, além do ensino da leitura, escrita e filosofia, sendo assim considerado o primeiro
professor de surdos do mundo.
No início do século XVI, o padre e professor espanhol Juan Pablo Bonet, se tornou
conhecido por educar membros surdos da família Velasco, na Espanha, através de sinais,
treinamento da fala e o uso de alfabeto datilologia. Publicou o primeiro livro sobre educação
de surdos, por título “Reducción de las letras y
arte de enseñar a hablar a los mudos” (Redução das Letras e Arte de Ensinar a Falar os
Mudos). Este livro apresentava informações sobre um alfabeto manual, língua de sinais e
manipulação dos órgãos fonoarticulatórios. Seu método virou uma referência mundial, o foco
ainda era a oralização, mas desta vez apoiada na comunicação espaço-visual dos surdos2
(STROBEL, 2009).
Guedes (2012) ressalta que no início do século XVIII, na França, iniciam-se os
primeiros passos à educação inclusiva de surdos. Em 1761 foi fundada a primeira escola
pública, chamada de Instituição Escolar Imperial, localizada em Paris, onde graças ao abade
Charles Michel de L'epée, a oralização deixou de ser o foco principal, visto que este educador
francês fez com que a Língua de Sinais ganhasse realmente força, sendo o primeiro educador
a reconhecer que os surdos têm uma língua e que não precisam aprender um idioma oral para
desenvolver uma linguagem. Além disso,
2
Constitui o canal visual-espacial, a partir do qual a comunicação acontece com a [...]“articulação das mãos,
expressões faciais e do corpo, para estabelecer sua estrutura”. (ALVEZ, 2010, p.14)
9
Após a morte de L’Epée, Roch-Ambroise Cucurron Sicard foi seu sucessor em 1789
na Instituição Escolar Imperial de Paris, neste mesmo período Jean Massieu que era surdo
foi instruído por Sicard, tornando-se o primeiro professor surdo reconhecido na História. No
ano de 1816 Louis Laurent Marie Clerc também surdo, que foi aluno de Sicard e Massieu,
conheceu Thomas Hopkins Gallaudet em uma conferência em Paris, os dois foram para os
Estados Unidos e lá fundaram a primeira escola de surdos, a Hartford School, inaugurada em
1817 (COELHO, 2004).
Em meados do século XVIII, o imperador do Brasil Dom Pedro II, demonstrou
interesse pela educação dos surdos devido seu genro, o Conde d'Eu, marido de sua segunda
filha, a princesa Isabel, ser parcialmente surdo, e seu neto o Príncipe Luís Gastão de Orléans
ser surdo.
Então, conforme nos dispõe Coelho (2004) o imperador convidou o padre e professor
francês Ernest Huet, surdo, com conhecimentos em metodologia de ensino para surdos. Em
1855 Huet chega ao Brasil, juntos Huet e Dom Pedro II fundaram um internato que foi
inaugurado em 1857, o Instituto Imperial de surdos-mudos, que passou a receber surdos do
Brasil inteiro. Esta escola surgiu da mistura da língua de sinais francesa, com os sistemas já
usados pelos surdos de várias regiões do Brasil, a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Outro
fato importante à história da educação do surdo, ocorreu em 1864 nos Estados Unidos, em
que o filho de Gallaudet, Edward Gallaudet, fundou a Universidade Gallaudet, a primeira
cuja língua de instruções era uma Língua de Sinais (COELHO, 2004).
Como apresentado por Strobel (2009), ainda neste século Flausino José da Gama,
surdo que atuou como repetidor, assistia às aulas e depois repetia às lições aos colegas que
estavam sob os seus cuidados. Com apenas 18 anos, tendo sido aluno do instituto imperial
publicou “Iconografia dos Sinais dos Surdos-Mudos”, o primeiro dicionário de língua de
sinais no Brasil, marco muito importante à educação dos surdos no Brasil.
Neste mesmo cenário, Guedes (2012) nos informa que no fim deste século essa
educação sofreu grande retrocesso. No ano de 1880 em Milão, na Itália, aconteceu um
Congresso Internacional de Surdo-Mudez, que teve como sua maior pauta o método oral,
pois acreditavam que o uso da língua de sinais atrapalhava a aprendizagem do surdo da língua
oral, afirmavam que o surdo não se dedicava a aprender por estar acostumado a falar em
sinais.
No congresso foram votadas oito resoluções, estas propunham que a melhor forma de
reinserção das pessoas surdas à sociedade é por meio do método oral, que seria melhor para
a educação de pessoas surdas, promovendo o uso da língua gestual em simultâneo com a
10
língua oral. Este método afeta a fala, a leitura labial e a clareza dos conceitos (DORES, 2017).
A autora apresenta as resoluções que foram votadas por educadores de diversas partes
do mundo. Observando que todos eram ouvintes, estes não teriam total respaldo para decidir
a respeito da educação do surdo, votaram para que fosse alterado os métodos de ensino,
afirmando que o mais adequado para que as pessoas surdas se apropriem da fala, seria o
intuitivo, abrangendo primeiro a fala e depois a escrita.
Uma das resoluções, também recomenda a idade dos oito a dez anos, como o melhor
período para que as crianças surdas comecem sua vida escolar. Estabelece também que a
educação dessas crianças deve durar de sete a oito anos, e que as classes devem ter até dez
alunos, isto gerou ainda mais atraso na educação dos surdos, visto que, entravam tardiamente
na escola (DORES, 2017).
O desfecho resultou na proibição do uso da língua de sinais, permanecendo a
oralização como meio de ensino. Estas resoluções que foram impostas aos surdos, os levaram
a um atraso incalculável, na medida em que:
Durante quase cem anos, predominou o então chamado império oralista. A partir
de 1960, a filosofia educacional denominada oralismo sofreu uma série de críticas
pelas restrições que impunha. Surgiram então pesquisas demonstrando ter a língua
de sinais todos os atributos de uma língua oral (Perello, Tortosa 1978; Wrigley,
1996; Sacks, 1998; Bernardino,1999). (DUARTE, 2013, p. 1724).
Esta autora apresenta que no início do século XIX, a tendência do ensino da oralização
que era difundida mundialmente, chega ao instituto imperial. Esta mesma escola, em 1957,
recebeu o nome de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), ainda ativo atualmente.
Devido às decisões tomadas no já citado Congresso Internacional de Surdo-Mudez, se
manifestou atraso na educação dos surdos, na medida em que os alunos não conseguiam
aprender a ler e a escrever corretamente por meio desse método.
Por estes diálogos acerca da difusão da oralização, reconhecemos que esta foi
utilizada mundialmente, compreendendo que os atrasos para educação do surdo ocorreram
em grande proporção, percebendo que:
Por esta reflexão de Arendt (1961), destacamos que quase um século após o congresso
11
de Milão, tendo como exemplo os Estados Unidos, no Brasil as mudanças começam a ocorrer
na educação dos surdos, gradativamente. Duarte (2013) ressalta que em 1970 é introduzida
a filosofia da comunicação total, que privilegia a comunicação e a interação, e não apenas a
língua oral no Brasil. O país começa a perceber que:
[...] a visão do sujeito surdo deixa de ser focada na diferença patológica para dar
lugar à diferença linguística. Essa filosofia tem como objetivo viabilizar a interação
entre surdos e surdos e entre surdos e ouvintes (DUARTE, 2013, p. 1726).
[...]1997 Closed Caption (acesso à exibição de legenda na televisão) foi iniciado pela
primeira vez no Brasil, na emissora Rede Globo, o Jornal Nacional, em mês de setembro.
[...] 1999 Foi lançada a primeira revista da FENEIS, com capa ilustrativa do desenhista
surdo Silas Queirós (STROBEL, 2009, p. 28).
Dentre as ações propostas, o Decreto nº. 5.626 prevê a inclusão de uma disciplina
de LIBRAS em todos os cursos de licenciaturas no Brasil, com vistas a
instrumentalizar professores e professoras acerca dessa modalidade de
comunicação e, com isso, proporcionar uma melhora do reconhecimento e
relacionamento professor ouvinte-aluno surdo (FRANCO, 2009, p. 3).
A intensidade produzida por um som é medida em decibéis (dB). O som mais delicado
que uma pessoa pode ouvir é definido por 0 dB de nível de audição, o som de uma pessoa
murmurando registrará 30 dB. O nível normal de conversa mede de 45-50 dB de nível de
audição, e um concerto de rock pode medir cerca de 100 dB, que podem até causar surdez
temporária (PERRET; BATSHAW, 1990 apud SILVA, 2008, p. 5)
13
[...] foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos,
pelo qual aprendeu a ser "membro" de sua sociedade de sua família, de seu grupo
de amigos, de sua vizinhança, de sua nação. Foi assim que adotou a sua "cultura",
isto é, os modos de pensamento e de ação, suas crenças e valores, seus hábitos e
tabus (BORDENAVE, 1997, p. 17).
Marques de Melo (1975) destaca que comunicação vem do latim communis, que
significa comum e remete a ideia de comunhão, comunidade.
A educação inclusiva não se baseia apenas na integração dos/as alunos/as surdos/as
na sala de aula, mas sim na inclusão de igual para igual, onde estes/as possam estar
interagindo com a comunidade escolar e desenvolvendo suas capacidades. E neste contexto,
14
[...] ocorre dentro de uma estrutura educacional que oferece ao aluno a oportunidade de
transitar no sistema escolar — da classe regular ao ensino especial — em todos os seus
tipos de atendimento: escolas especiais, classes especiais em escolas comuns, ensino
itinérante [sic] salas de recursos, classes hospitalares, ensino domiciliar e outros. Trata-se
de uma concepção de inserção parcial, porque o sistema prevê serviços educacionais
segregados (MANTOAN, 2003, p.15).
Para a autora, a inclusão, “[...] prevê a inserção escolar de forma radical, completa e
sistemática. Todos os alunos, sem exceção, devem frequentar as salas de aula do ensino
regular”, e para que isso ocorra, é necessário adotar medidas contra a segregação, que divide
a educação em modalidades de ensino especial e de ensino regular.
A inclusão de forma especifica é prevista por meio do Artigo 22 do Decreto nº
5.626 de 22 de dezembro de 2005, neste está disposto que:
Por meio de documentos como este é possível perceber o avanço que ocorreu para
atender e assegurar uma melhor educação às pessoas surdas, possibilitando a oportunidade
de participar ativamente do seu processo educacional, e também social.
Ao longo dos estudos direcionados para esta pesquisa, a respeito dos deficientes
auditivos compreendemos que “[...] durante séculos, a crença de que o surdo não seria
educável ou responsável por seus atos foi justificada com base em textos clássicos, tanto
sacros, quanto seculares” (SLOMSKI, 2010, p.18).
Destacamos a importância da movimentação mundial, que foi sendo estruturada em
torno da questão de inclusão, visto que, grandes e importantes perspectivas despontaram e
continuam a tomar proporções abrangentes no que tange a inclusão de seres humanos, fato
este que valoriza vidas.
No caso do Brasil, é importante afirmar que a Lei nº 13.146/15 institui a Inclusão da
Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) destinada a assegurar e a
15
Em qualquer lugar que haja surdos interagindo haverá a língua de sinais". Porém
"A língua dos surdos não pode ser considerada Universal" compreendendo desse
modo que no campo da Educação " aprender a língua de sinais, fazer parte das
Comunidades surdas, estar em contato com o mundo dos surdos, por exemplo, são
iniciativas que podem nos fornecer subsídios para compreender melhor as questões
delineadas a respeito da cultura surda. (GESSER, 2009, p. 12)
[...] oferecer elementos para que alunos e professores possam esclarecer de modo
insofismável os seus reais propósitos, o que pretendem efetivamente conseguir. O
programa de avaliação visaria permitir que professores e estudantes definissem
mais claramente os seus objetivos (VIANNA, 1989, p. 31).
[...] auto avaliação e/ou avaliação mútua e permanente da prática educativa por
professor e alunos [...]. No processo de avaliação proposto, tanto os alunos como
os professores saberão quais suas dificuldades, quais seus progressos
(MIZUKAMI,1986, p. 102).
Para avaliar, se faz necessário uma constante troca de saberes entre professores/as e
alunos/as, na medida em que o processo ensino-aprendizagem envolve circularidade, e neste,
o exercício responsável de reconhecimento das aprendizagens não é somente do professor/a,
mas de todos os agentes sociais envolvidos na educação.
Por que avaliar? Para Esteban (2003), a avaliação deve ocorrer de forma democrática.
Sob esta perspectiva é preciso:
[...] a avaliação faz parte de um todo, não é possível mudar apenas uma parte;
fazendo isso se pode criar um monstro e os problemas se tornarem mais
diversificados e resistentes. É necessário fazer as mudanças, envolvendo o todo e
de forma integrada (MELCHIOR, 2003, p. 15).
deste modo firmará a efetividade do seu processo de ensino. Como cita Afonso (2009, p.27)
“a avaliação é um dos processos pedagógicos mais importantes [...] assim as diferentes
modalidades de avaliação, terão elas próprias impactos muito diferentes na socialização dos
indivíduos”. Por esta afirmação, percebemos que a inclusão educacional de pessoas com
surdez é uma tarefa muito importante, visto que, o tratamento de uma pessoa com
necessidades especiais deve ser igual ao de qualquer outra, todavia, com peculiaridades
diferenciadas.
Essa constante evolução no processo avaliativo é de suma importância no estudo
central dessa pesquisa, visto que, para o/a professor/a construir as suas técnicas e
instrumentos de avaliação ao ensino diversificado e inclusivo, é preciso ter estes
entendimentos. Entendemos que professores/as precisam considerar a avaliação como
evolução, no intuito de buscar sempre compreender e conhecer novas possibilidades para o
ato de avaliar. Nesse sentido aos/as alunos/as com deficiência auditiva:
[...] é de fundamental importância considerar alguns aspectos: Por ter uma língua
materna (Libras) diferente da sua língua de instrução (Portuguesa), eles terão
dificuldade em compreender a língua portuguesa do modo que os alunos ouvintes
a compreendem [sic] Suas dificuldades não podem ser consideradas com os
mesmos critérios que os demais alunos. O baixo rendimento em Língua Portuguesa
não deve servir como referência para se “medirem” os conteúdos aprendidos pelo
aluno (NOBRE, 2015, p. 24).
Com este olhar é importante que busquemos novos saberes e uma constante mudança,
sempre promovendo qualidade no processo ensino-aprendizagem por meio das necessidades
entre alunos/as e professores/as, reconhecendo as especificidades de cada um e atentando não
para quantidade, mas sim para qualidade em avaliar a aprendizagem.
22
Gil (2008) nos aponta que a pesquisa do tipo exploratória nos encaminha a
esclarecimentos, conceitos, ideias e percepções. Há intencionalidade na busca do
conhecimento, visa maiores compreensões que nos remetam a familiaridade com o problema
em estudo, visando torná-lo mais explícito quanto à temática em estudo. Pretendemos
remeter os leitores a informações sobre o tema, de maneira que possam identificar as relações
entre o objeto de estudo e as compreensões acerca dos saberes e fazeres que nos trazem os
sujeitos estudados, a teoria base do estudo, bem como, algumas percepções iniciais em
construção dos envolvidos nesta pesquisa, no intuito de proporcionar novas visões sobre a
realidade pesquisada.
Sob esta compreensão, Silva (2014) expõe que a pesquisa do tipo exploratória é
necessária quando determinado tema é pouco conhecido, sendo desenvolvida por meio de
estudo bibliográfico, em diálogos com outros investigadores especialistas no tema e por meio
24
universitário Petrônio Portella, e também à coordenação do curso. Neste contato por e-mail,
encaminhamos a ambos o oficio de solicitação para realização de pesquisa, elaborado com
auxílio do professor da disciplina Prática e Pesquisa Educacional III, a partir dos quais
obtivemos parecer favorável. Devido não ser possível realizar a pesquisa de campo in loco,
esta se desenvolveu de forma virtual por meios eletrônicos (Whatsapp e aplicativo Google
meet).
Após este contato inicial, a coordenação do curso nos disponibilizou link para acesso
aos dados profissionais e contato dos professores atuantes no curso. Acessamos o link, onde
identificamos a existência de 13 (treze) professores/as, e ainda sobre o perfil profissional e
currículos lattes destes, bem como seus contatos individuais (e-mails institucionais).
Por seguinte entramos em contato por e-mail com os/as professores/as, obtendo
resposta positiva para a participação da pesquisa de 05 destes. Aos professores/as que
inicialmente aceitaram participar da pesquisa, encaminhamos o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) e questionário fechado, solicitamos ainda autorização para
contato via aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas (Whatsapp), a partir do
qual foi dada continuidade dialogada com os/as professores/as.
Destaca o autor que “Na análise qualitativa é a presença ou a ausência de uma dada
característica de conteúdo ou de um conjunto de características num determinado fragmento
de mensagem que é tomado em consideração” (BARDIN, 1977, p. 21). Sob esta
compreensão, o autor nos orienta a seguir uma sequência de análise a partir de três etapas,
quais sejam: 1 Pré-análise; 2 Exploração do material; 3 Análise e Interpretação dos
resultados.
Após a conclusão das entrevistas, todas foram transcritas sendo mantido o diálogo
original. As informações foram organizadas em um quadro dividido em 05 (cinco) partes
para facilitar as análises. Neste dispomos os tópicos - questões, respostas, autores/as,
concordâncias/divergências, considerações da pesquisadora. Em seguida preenchemos com
28
“[...] Educação Inclusiva a meu ver é estar todas as pessoas juntas, juntas no mesmo espaço
para serem de alguma forma educadas [...]* isso não significa por exemplo, que todas serão
educadas a partir das mesmas ferramentas, [...] é proporcional ao espaço em que as pessoas
estejam aprendendo junto. [...]”. (PPLinguística1)
“[...] Educação inclusiva [...] propicia aos alunos, [...]* aos discentes, uma oportunidade
31
“Educação Inclusiva ela é uma [...]*, eu acredito que a Educação Inclusiva ela deve ser de
fato [...]* deve atender a todos os alunos, [...]* sejam surdos, sejam ouvintes, e a inclusão
acontece em todos os [...]* é em todas as áreas, digamos assim, [...]* em todas as, não é área
que eu quero dizer, mas ela acontece em todo o processo educativo [...]*, então o aluno só
está inserido se ele realmente estiver participando da aula, [...]* através da leitura dos
textos, da compreensão desses textos, através das atividades propostas na sala de aula,
através da relação com os colegas [...]*. Então a inclusão [...] precisa contemplar todos
esses aspectos, dentro e fora da sala, [...]* no ambiente escolar, por exemplo, ela deve
acontecer fora também, o aluno ele tem que ter acesso, a informações [...]* todos os alunos
sejam surdos ou ouvintes, eles devem ter acesso a informações, e participar efetivamente
desse [...]* desse processo [...]* porque muito do que a gente acompanha dessa inclusão é
que os alunos isolados dentro da própria escola, da própria sala de aula [...]*, sem
participar desse processo dinâmico que é a educação [...]* em todas as suas possibilidades,
então a inclusão para mim ela deve acontecer dessa forma, [...]” (PPLetras)
[...] a inclusão implica uma mudança de perspectiva educacional, pois não atinge
apenas alunos com deficiência e os que apresentam dificuldades de aprender, mas
todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. Os alunos
com deficiências constituem uma grande preocupação para os educadores
inclusivos. (Mantoan, 1999) apud (MANTOAN, 2003, p. 16)
com:
“Olha, a comunicação mais trivial, mais comum [...]* nós nos comunicamos, a partir de
diferentes formas, a partir do pouco de libras que eu sei, [...]* a partir do esforço deles
também em se comunicar comigo, a gente vai se ajeitando. Os alunos também participam
33
bastante, os ouvintes, [...]* eu vejo assim a minha sala de aula, como um espaço
extremamente democrático, não sei se por estarmos numa universidade em que as pessoas
têm uma formação mais humana, então todos os alunos fazem de tudo para ajudar os surdos.
Os surdos são muito integrados com todos, com professores, com alunos, com intérpretes. A
comunicação mais específica, mais de conteúdo, uma coisa mais [...]* mais elaborada,
sempre é o intérprete que faz essa mediação, e assim a gente sempre faz o máximo, pra que
essa comunicação, se dê de forma bem, bem, eficaz, [...]* falar mais pausadamente, substituir
algumas palavras que a gente vê que vai dá problema para um intérprete, repete. O intérprete
tem voz na nossa sala, [...] pode parar a aula, e dizer: Professora, fulano não tá entendendo,
ele tá pedindo pra você repetir de outra forma; Professora eu não tô conseguindo, eu não
entendi esse conceito, a senhora pode explicar novamente? [...]* pelo menos na minha aula
a gente se comunica muito assim, não tem aquela, aquela hierarquia vertical, que o professor
tá lá em cima e todas as outras pessoas estão abaixo dele [...]* então a gente se dá muito
bem, porque nós dialogamos, todos têm liberdade para falar, o surdo, ele tem a liberdade de
parar a aula, de perguntar, de trazer as suas experiências, então a gente sempre leva em
consideração as experiências do surdo pra deixar aquele conceito mais próximo deles
possível. [...]* então eu acredito que ultimamente [...] nós estamos em progresso, a cada
período eu percebo que estamos melhorando [...]* se eu coloco algo em prática num período
que eu vi que não deu certo, eu abandono a ferramenta, se eu vejo que dá certo, eu incremento
[...]* eu coloco mais coisas, e assim a gente vai levando, já vamos fazer sete anos, agora dia
vinte de outubro. (PPLinguística1).
“[...] nas minhas aulas em geral, [...] contam com a presença do intérprete, mas eu
particularmente prefiro fazer algo mesclado, então em alguns momentos eu dou aula em
libras com o intérprete fazendo a tradução Libras/Português, e em outros momentos eu dou
aula em Português com os intérprete fazendo a tradução/interpretação Português/Libras,
então eu vou fazendo de forma mesclada, tentando garantir [...] com que todos participem
[...]* é de maneira ativa. Às vezes eu consigo, quando os alunos surdos fazem a pergunta, eu
respondo a pergunta diretamente pra ele em Libras, [...]* se ele me pergunta em Libras eu
respondo em Libras, e quando é um aluno ouvinte, por exemplo, que faz a pergunta eu
respondo pra ele em português, então eu procuro atender a língua primeira do aluno que tá
me perguntando [...]” (PPLinguística2).
“Eu falo em Libras [...]* então eu converso com os meus alunos em Libras, [...]* o
direcionamento das atividades, [...]* questões relacionadas à dúvidas. A minha aula, ela é,
eu tenho intérpretes em sala de aula [...] eu ministro a minha aula em português e a aula é
traduzida, mas toda participação em sala de aula, eu costumo também interagir conforme o
34
aluno me pergunta, então se o aluno surdo me pergunta algo em língua de sinais eu respondo
[...]* dependendo da dinâmica daquele momento [...]* as vezes o intérprete também
participa, [...], mas no geral assim eu não tenho essa, essa dificuldade [...]* porque eu falo
em libras. Então eu me comunico com os meus alunos em libras, e é dessa forma [...]”
(PPLetras).
Resgatando o termo em sua etimologia, Marques de Melo (1975, p. 14) lembra que
“comunicação vem do latim ‘communis’, (MARQUES DE MELO, 1975, p. 14, grifo do
autor). Communis, que significa comum, nos introduz a ideia de comunhão, comunidade”,
assim “[...] Comunicação é o processo de transmissão e recuperação de informações”
(MARQUES DE MELO, 2006, p. 31). No dicionário online de Português, a palavra
“comunicação” significa “ação de transmitir uma mensagem e, eventualmente, receber outra
mensagem como resposta” (COMUNICAÇÃO, 2021).
A comunicação confunde-se com as nossas vidas e existência. Desta forma,
teoricamente compreendemos que “Temos tanta consciência de que comunicamos como de
que respiramos ou andamos. [...] A comunicação é uma necessidade básica da pessoa
humana, do homem social” (BORDENAVE, 1997, p. 19).
As respostas dos/as partícipes nos remeteram compreensões significativas. Para
PPLinguística1 esta pode acontecer de diversas formas, contudo, ao ser direcionada ao/à
surdo/a no que diz respeito aos conteúdos acadêmicos, exige a necessidade do
acompanhamento do intérprete, que promove a mediação entre professor/a, ouvinte e aluno/a
surdo/a. A comunicação possibilita a comunhão, sendo um processo de troca de informações
Marques de Melo (1975; 2006).
PPLinguística2 destaca que busca realizar a comunicação em sua sala de aula de
forma mesclada, concorda assim com Bordenave (1997), que nos traz o entendimento de que
a comunicação é fundamental à pessoa humana, enquanto ser social. O partícipe afirma que
com alunos/as surdos/as utiliza a Libras, e com alunos/as ouvintes utiliza português, tanto
um, quanto outro formato de diálogo em sala são traduzidos pelo intérprete.
O significado de comunicação no Dicionário Aurélio apresenta que comunicação é
troca de mensagens, esta percepção está na compreensão de comunicação manifestada por
PPLetras, por ter em sua aula o intérprete é habitual que a aula seja sempre traduzida por este
profissional, contudo, a partícipe tem conhecimento do uso da Libras e busca dialogar com
os/as alunos/as surdos/as em contextos variados, a partir das necessidades dos/as aluno/as.
Entendemos que a comunicação entre os seres humanos, por viverem em sociedade,
35
“Sim, [...]* nós lidamos com várias questões, porque nós temos muitas disciplinas, [...]* é
um curso de graduação, ele tem disciplinas, mais teóricas, disciplinas mais práticas, algumas
mais voltadas para a realidade do surdo, que é a disciplina para educação de surdos [...]*,
então assim, algumas ele tem bem mais facilidade outras nem tanto. O saldo que eu vejo é
bem positivo [...]*, porque nós recebemos alunos que trazem uma carga de deficiência
escolar da vida toda, [...]* da sociedade, da escola, um atraso de linguagem muito grande
[...]* então nós recebemos alunos em níveis de linguagem as vezes assim bem diferenciados,
[...]* nós temos alunos que sabem bem português escrito, relativamente bem, se viram [...]*
muito bem na libras, assim alunos excelentes em libras, assim como nós temos alunos que
[...]* têm um nível de português ainda muito, muito, muito iniciante, e que aprenderam libras
tardiamente, [...]* e isso evidencia um atraso muito grande pra esse aluno, no entendimento,
especialmente de conceitos mais abstratos. [...]*. Mas o que eu vejo de [...]*, é que a gente
pega esse aluno, com esse atraso muito grande, essa bola de neve que foi criada ao longo de
toda a vida dele, e por mais que ele não se desenvolva como um aluno ouvinte, [...] no quarto
período já tá trabalhando na área, [...] interpretando, [...] fazendo várias coisas, por mais
que eles não se desenvolvam nesse nível, ele está incluído socialmente, ele se desenvolve,
[...]* do ponto de vista de ser um cidadão, de ser uma pessoa, [...]* ele encontra vários
amigos, ele passa a sair, [...]*. Nós temos casos de alunos que chegavam [...]* na UFPI eles
mal olhavam pra gente, eles tinham um medo de olhar, de se comunicar, um ano, dois anos
depois, já é um aluno que dirige, [...]* tirou a carteira, um aluno que vai a festas, que
socializa, que se comunica, tem vários [...]* amigos, as vezes encontra um trabalho [...]*
então assim, do ponto de vista da inclusão social, eu acredito que o nosso saldo é bastante
positivo.
Claro, que nós ainda não temos o desenvolvimento de todos os surdos, como nós temos da
maioria dos ouvintes, [...]* e de alguns surdos também, nós temos surdos brilhantes que
terminam o curso e vão fazer sucesso na sociedade [...]* fazem várias apresentações,
palestras, aparecem na TV, saem em matérias de jornal, dão cursos de muitas coisas, fazem
36
[...]* pós graduação, outros não, mas do ponto de vista da inclusão é um ponto de vista
bastante produtivo para todos eles, [...]* para todos eles” (PPLinguística1).
“Ocorre, eu acho que em todos, na verdade assim não só com aluno surdo, mas o aluno
ouvinte também tem dificuldades, [...]* geralmente quando eu falo de acessibilidade,
principalmente pros meus alunos que são ouvintes, eu tento mostrar pra eles que nós também,
às vezes sofremos da falta de acessibilidade [...]* nós enquanto ouvintes, então às vezes falta
um recurso X ou Y, às vezes falta um material, às vezes falta [...]* uma série de coisas pra
que esse ensino realmente se efetive da forma como deveria, [...]* então assim no caso do
aluno surdo, que muitos alunos têm, inclusive com outros professores que não falam Libras
[...]* que tem também relação aos materiais que são disponibilizados, muitos desses
materiais [...] eles não são adaptados [...]* eles não são organizados de forma que atenda
essa necessidade linguística do aluno surdo [...]* então muitas vezes eles têm dificuldade de
compreensão de leitura [...]* dos textos em português, principalmente aqueles surdos que
realmente têm essa dificuldade maior com a sua segunda língua, [...]* que é a língua
portuguesa, muitos alunos surdos não têm essa dificuldade, mais alguns têm [...] e assim no
processo todo mesmo [...]* o aluno surdo, ele tem dificuldade, por exemplo, a informação
[...]* se ele não tiver acompanhado do intérprete ou de um colega que sabe língua de sinais
[...] fica impedido de resolver algo na reitoria [...]*, então assim num contexto geral [...]*,
37
[...] trazendo essa compreensão das dificuldades [...]* eu enquadro isso também, [...]* não
só as dificuldades que eles enfrentam em sala, [...]* no caso da universidade talvez essas
dificuldades sejam até menores por quê lá nós temos intérpretes [...]* para esse apoio, mas
fora da universidade [...]* eu sei que eles enfrentam maiores dificuldades em relação a isso
também [...]* a falta de intérpretes (PPLetras).
tiveram uma educação básica precária, no que diz respeito a alfabetização, e estes chegam a
universidade com estas dificuldades, contudo a Universidade tem conseguido sanar situações
no que diz respeito à comunicação. Neste contexto, Mizukami (1986) apresenta que o
processo ensino-aprendizagem em visão social busca superar os déficits de educação
bancária, e neste processo, a relação professor-aluno deve ser pautada em uma troca de
conhecimentos.
PPLetras também considera que ocorrem sim dificuldades, não só para alunos/as
deficientes auditivos, mas também para os/as ouvintes, dificuldades de comunicação, falta
de materiais adaptados, apresentando também as dificuldades de leitura e compreensão dos
textos em português. Acrescenta que existem também as dificuldades fora de sala de aula em
espaços que não se tem a presença do intérprete, em consonância com as afirmações, nos
remete ainda às situações que são vividas diariamente, sendo estes relevantes às práticas
avaliativas, assim, destaca o diálogo com os/as alunos/as como especial contribuição ao
processo ensino-aprendizagem.
Refletimos sobre as contribuições dos autores citados nesta questão, e percebemos
que a avaliação da aprendizagem é um processo que visa o desenvolvimento e
aperfeiçoamento das práticas pedagógicas, buscando apoiar os/as professores/as e alunos/as
no processo de ensino-aprendizagem, lhes dando suporte para não classificar, mas identificar
os ganhos e necessidades destes atores sociais na educação, visto que o exercício consciente
da avaliação da aprendizagem requer:
[...] aí eu diversifico [...] as vezes eu peço o interprete pra fazer o vídeo, mas é eu acho mais
produtivo ainda, o interprete ali o tempo todo auxiliando o aluno na leitura da prova no
momento [...]*. [...] no período passado o interprete gravava vídeos, pra os exemplos, então
a questão estava escrita em português, mas como uma forma de controle pra o surdo, mais
ele visualizava o vídeo em português, pra ele vê os exemplos em Libras, pra ele abstrair o
quê de língua nós estávamos estudando [...]. Além das atividades escritas em português a
gente pede muita coisa em vídeo, que é quando o surdo se sente muito a vontade pra se
comunicar, [...]* então nas atividades em vídeos a gente deixa livre o ouvinte, ele fica a
vontade pra sinalizar ou pra falar em português oral e o surdo ele se expressa em Libras.
[...]* Então, isso também ajuda bastante, além de provas que a gente chama de provas
gravadas, que são em vídeo [...]* fazemos também seminários onde o surdo também pode
apresentar através de Libras [...]*, o conteúdo é outra coisa que a gente faz muito, é colocar
grupos mistos, grupos com surdos, pessoas fluentes em libras e os iniciantes em libras, [...]*
que aí um vai ajudando o outro na medida que as necessidades vão surgindo, então o surdo
ajuda o ouvinte que quer aprender a Libras [...]*, o ouvinte que sabe Libras ajuda o surdo e
todo mundo vai se ajudando” (PPLinguística1).
Então, eu procuro usar vários métodos e também depende muito de turma pra turma [...]*
você vai tendo o feeling, o sentimento de cada turma pra você montar ali sua estratégia de
avaliação, mas em geral eu diria que é comum [...]* em todas as turmas que eu ministro
aula, fazer seminários, e ai, eu geralmente desafio os meus alunos ouvintes a apresentar o
seminário em Libras, mesmo eles estando no primeiro período, [...]* claro que a gente vai
cobrar de acordo com aquilo que a gente tá pedindo, assim de acordo com o nível desses
alunos, porque coloca o aluno nesse, como partícipe ativo da sala de aula, [...]* a avaliação
escrita também é algo, que a gente faz, e ai quando eu faço avaliação escrita, geralmente
para os alunos surdos eu também coloco a opção de ter a avaliação gravada, também é uma
outra questão, [...]* produção de vídeos, relatórios, filmes. Então eu procuro ser o mais
dinâmico possível de acordo com a sala de aula (PPLinguística2).
“Por eu ter uma sala com alunos surdos e ouvintes, eu procuro muito fazer atividades que
sejam em grupo [...] as atividades são variadas [...]* tem atividades individuais que são
atividades de sala de aula mesmo, [...]* eu tô ali acompanhando [...]* a avaliação da
aprendizagem geralmente. A minha disciplina ela é uma disciplina de produção de materiais
didáticos em Libras, [...] então, no Letras Libras especificamente [...] eu faço atividades em
grupos [...] dentre elas seminários, textos [...]* peço pra que eles debatam os textos, peço os
vídeos [...]*, os alunos surdos que optarem não escrever [...]* na L2, escrever o português,
nessas atividades eles podem fazer vídeos para tentar [...]* tentar debater na verdade as
leituras, e no caso da minha disciplina produção de materiais, [...], eu peço pra que eles se
40
A avaliação enquanto uma prática pedagógica tem o compromisso com cada aluno/a
que compõe o processo educativo, assim, professores/as precisam pensar as formas de
avaliar, envolvendo-se com os percursos de aprendizagens, de forma a aperfeiçoar o ensino
e assim contribuir com o desenvolvimento das aprendizagens.
O trabalho com a avaliação da aprendizagem perpassa as modalidades avaliativas,
quais sejam: diagnóstica, formativa e somativa, entretanto, é preciso conhecê-las e às suas
funções, nesse sentido, a avaliação da aprendizagem em sala de aula ainda requer mudanças.
Compreendemos a partir das respostas que ora o partícipe contextualiza a forma, ora se
reporta aos instrumentos de avaliação da aprendizagem. Explicitamos que, os instrumentos
nos auxiliam na coleta e organização de informações para tomada de decisões e
posicionamentos, quanto aos percursos de aprendizagens, entretanto, estes também estão
contidos na forma de avaliar, resta apenas ter discernimento de quais os instrumentos
apropriados, conforme sejam os objetivos a serem alcançados. Desta forma é preciso:
[...] olhar para o que cada aluno já sabe e para suas reais necessidades e, isso
significa olhar para a prática e para a teoria que sustenta essa prática, articulando-
as com a dinâmica do trabalho em sala de aula. Superar os conteúdos desvinculados
da prática social dos alunos e a metodologia passiva, uma vez que o professor, pela
avaliação, vai acompanhar a construção da aprendizagem do aluno na perspectiva
de superação do senso comum (VASCONCELLOS, 2005 apud GASPAR, 2009,
p. 4).
“Pela forma como eles se comportam nos períodos seguintes, [...]* a gente vê surdo que
42
chega na universidade [...] com medo de encarar a gente, [...]* e ai a gente já teve um surdo
que [...]* ele já foi matéria de jornal , saiu no Meio Norte, tudo, na TV [...]* por ser um
rapaz que veio do interior e tudo, [...] ele parecia um bichinho do mato, ele tinha medo [...]*
de falar e tudo, e agora nas aulas se posiciona, [...]* ele é orientando do meu marido, e ele
se posiciona, ele explica muito bem, então a gente vê assim que , avaliar não é somente você
vê, passar uma atividade escrita, e medir o aluno pelo nível do português, se ele coloca todos
os “ss”, todos os “as”, se ele faz toda a pontuação [...]* isso não é medir conhecimento de
ninguém, mas a gente vê em relação ao desenvolvimento de linguagem, já que eu sou
professora de lingüística, eu observo muito isso, a postura do aluno em relação a sua
formação profissional [...]* ele vai ser um professor, então ele é uma pessoa que já se
comporta como um professor [...]” (PPLinguística1).
“No meu caso não, os critérios são os mesmos, claro que ai desconsiderando a questão da
escrita [...]* na escrita a gente, [...]* respeita que o surdo não tem o português como
primeira língua, [...]* pra ele é uma segunda língua, então a gente leva essa questão em
consideração, mas do ponto de vista de conteúdo, [...] os critérios são os mesmos, até porque
eu ministro disciplinas, principalmente [...] voltadas pra área da surdez, então ministro
Libras, escrita de sinais, estudo dos surdos, [...] disciplinas voltadas pra área da surdez,
então os critérios que eu adoto de avaliação do conteúdo tanto pro surdo, quanto ouvinte é
o mesmo. Respeitando aí só a questão da escrita do surdo. E muitas vezes eu aceito inclusive
que esse surdo, me envie a resposta em vídeo, por exemplo, se for uma atividade pra entregar
em casa” (PPLinguística2).
“É assim a proposta de atividade, é sempre a mesma [...]* o que vai diferenciar muitas vezes
é uma dificuldade X ou Y, um exemplo, eu tenho alunos surdos que têm dificuldade de fazer
mesmo em vídeo, [...]* de ter aquela leitura do texto e fazer a interpretação em forma de
vídeo [...]* então a atividade foi a mesma para turma, mas eu considero [...] a dificuldade
específica dos alunos, [...]* então aqueles alunos que têm uma maior dificuldade em relação
à atividade que eu proponho, eu atendo individualmente, [...]* então é uma maneira de sanar
essa, essa dificuldade [...]* pra que ela, [...] não se torne uma dificuldade que impeça o aluno
também de ter essa possibilidade de avaliação. Porque no caso de fazer uma atividade
individualizada, separada por exemplo, é pra surdos e ouvintes, eu acho que isso não é
interessante, pelo fato de terem alunos surdos que não têm dificuldade nenhuma na leitura
do português por exemplo, e que [...]* fazem as mesmas atividades que os alunos ouvintes e
vice-versa [...]* têm alunos ouvintes também que não têm dificuldades. [...]* Então assim
não tem porque eu diferenciar as atividades, considerando que um é surdo ou ouvinte, [...]*
eu tenho que ver individualmente a dificuldade desse aluno [...]* então eu apresento a
43
Percebemos que neste aspecto, PPLinguística1 afirma que para ela avaliar não é medir
conteúdo nem nível de aproveitamento, mas perceber o indivíduo como um todo - linguagem,
postura, sua formação completa. As reflexões apontam acerca das condições de avaliação
formativa que preocupa-se com o processo de apropriação dos saberes pelo educando
percebendo e avaliando “[...] as variáveis mais importantes e relevantes na obtenção de um
resultado significativo” (NOVAK, 2000 apud, MOREIRA e SANCHES 2013, p. 3).
PPLinguística2 apresenta que diante da avaliação dos conteúdos utiliza os mesmos
critérios entre seus alunos/as, respeitando as dificuldades de cada um/a, concorda assim, com
a perspectiva de uma avaliação formativa apontada por Blaya (2007) que afirma que os/as
professores/as buscam técnicas e ferramentas para direcionar seus/suas alunos/as no processo
de ensino-aprendizagem, sem priorizar as notas, mas recorrendo ao diálogo de ideias. Nessa
perspectiva, a análise de resultados continuados ou pontuais de avaliação estão sendo
considerados, não sendo priorizado a hierarquização de resultados alcançados, visto que:
Ao destacar que utiliza sempre a mesma proposta para todos em sua sala de aula,
PPLetras manifesta que quando percebe a dificuldade de um aluno, busca atendê-lo
diretamente e individualmente para que esta dificuldade seja sanada, esta manifestação da
prática vai ao encontro das ideias de Melchior (2003) em sua reflexão sobre avaliação
formativa, que visa investigar causalidades inerentes ao processo de ensino-aprendizagem
possibilitando por meio desta compressão e melhorias aos resultados.
A avaliação formativa compreende apoio aos percursos formativos, promovendo
olhares diferenciados que se enquadrem as necessidades dos/as alunos/as nesse processo, a
prática desta modalidade possibilita uma melhor equidade em seus resultados.
A seguir apresentamos algumas considerações sobre “Técnicas e Instrumentos”3 de
3
Concluímos que o assunto muito explorado nas falas dos partícipes em outras expressões sínteses,
principalmente na que trata das formas de avaliar, nesse sentido não consideramos necessário questionar sobre
"Técnicas e Instrumentos".
45
“Hoje não mais, [...]* depois de sete anos a gente vai [...]* desenvolvendo mais, [...]*, mas
no início eu tinha muita dificuldade e ai eu vou dá o dez pro ouvinte e eu vou dá o quatro pro
surdo assim na boa, [...]* e ai eu fui desenvolvendo as minhas metodologias, excluindo
algumas, colocando outras, [...]* medindo de forma diferente, inserindo mais a libras nas
atividades, [...]* apesar de ser disciplinas que envolvem mais português, apesar de ser
disciplinas que envolvem muito linguística, mas eu sempre dou um jeito de colocar as
atividades em Libras pra que eles não fiquem [...]* porque é muito chato você vê o seu colega
tirar dez com muita facilidade, e você tirar cinco, tirar quatro, tirar três o tempo todo [...]*
então tirar cinco na prova de português, que envolve mais o português, mas na prova de
libras tira nove, tira dez e recupera. Hoje eu não tenho mais dificuldade em avaliar alunos,
não, já lido com muita tranquilidade” (PPLinguística1).
“Eu diria que um dos principais problemas e ai falando especificamente, no caso dos alunos
surdos, é o próprio, é a dificuldade que eles tiveram nas séries anteriores [...]* então você
chegar no ensino superior, com o aluno que [...]* vamos dizer assim, semialfabetizados ou
que ele não tem o conhecimento que deveria ter, pra aquela faixa etária de idade, série, eu
acho que essa é uma das grandes dificuldades que a gente tem e muitas vezes também, [...]*
essa relação de você ter alunos ouvintes que também muitos deles entram no Letra Libras é
por curiosidade não tem tanta afinidade ou não tem conhecimento da língua de sinais, então
naquele primeiro momento, essa é uma situação que com o passar do tempo ela vai se
47
normalizando [...]*, você vai tendo uma adequação, mas como eu sou professor de primeiro
período, naquele primeiro momento eu acho que é um choque de realidades, você tem uma
realidade ouvinte, você tem uma realidade surda, e você tem que conviver com essa realidade
dentro de uma mesma sala de aula, então, no começo isso pode ser um pouquinho
complicado, mas ai a gente vai trabalhando isso e isso se torna algo normal com o tempo.”
(PPLinguística2).
“O que é mais difícil essa questão mesmo da escrita, [...] o aluno surdo, ele acompanha toda
aula [...] se envolve nas atividades [...]* eu não vejo dificuldades nisso por exemplo, [...]*
eu ainda não tive esse tipo de dificuldade do aluno por exemplo, se recusar a fazer uma
atividade porque se sente, não se sente em condições de realizar, não tive ainda essa [...]*
essa dificuldade pelo contrário, o que eu vejo nos alunos surdos é um grande empenho [...]
pelo menos no Letras Libras as turmas que tenho acompanhado são assim. Então eles
participam efetivamente dos seminários, [...] dos textos [...] eu sinto mais uma dificuldade
em relação aos textos é essa compreensão de leitura mesmo [...]* da segunda língua, não
são textos pequenos [...]* considerando assim que é um texto para ser discutido numa aula
ou enfim, [...] eu percebo as vezes que eles não fazem a leitura dos textos, os surdos e ouvintes
[...]* não fazem. [...]* de uma turma de 40 alunos, eu às vezes, eu tenho 5 alunos que fizeram
a leitura do texto e outros 35 vão ali debater na hora da aula [...]* mas não fizeram a leitura
[...]* então assim eles também têm essa dificuldade [...]* da leitura e na questão da escrita
[...]* se eu peço alguma atividade escrita, eu percebo que eles têm uma maior dificuldade
mesmo [...]* de escrever em português [...]* fazendo todos aqueles conectivos, e tudo mais
[...]* então assim, a escrita é algo realmente que impacta essa realidade [...]* tô trazendo
os ouvintes também porque eu percebo, [...]* a gente tem uma ideia de que os surdos estão
tendo essa dificuldade e os ouvintes não, que na verdade tem muitos ouvintes que também
têm essa dificuldade, eu talvez seja uma, seja talvez por conta [...]* do passado mesmo de
como foi a educação desse aluno [...]* o que que ele conseguiu absorver talvez e para chegar
na universidade com aquela [...]* é com aquela certeza [...]* muitos deles vem ainda para
aprender na universidade, e isso eu sinto isso sabe, eles estão aprendendo ali na universidade
mas eles chegam muito fragilizados em relação, em especial a leitura e a escrita”
(PPLetras).
Condiz da realidade, por ser uma tarefa complexa que não se resume em fazer provas
aos finais de meses para atribuição de notas. Concordamos com a compreensão de que:
Quando nos referimos ao que avaliar, e como avaliar, torna-se importante termos
respostas condizentes e significativas, de maneira que seja possível direcionar a devida
importância à prática do ato de avaliar no cerne do fazer pedagógico, visto que esta envolve
inúmeras complexidades. Destaca-se a “[...] triste realidade da avaliação com a finalidade de
controlar, por meio de aferição de notas via provas e exames, precisa ser substituída por
práticas contínuas de observação, registros e análises” (NOBRE, 2015, p. 25).
Para Aguiar (2007) a avaliação da aprendizagem nos faz refletir e buscar saberes,
práticas, questionar se estamos no caminho favorável, repensar concepções e criar teorias no
que tange o conhecimento.
Sant’Anna apresenta que a avaliação de aprendizagem é o processo que busca
identificar, verificar, aprofundar e analisar as relações conquistadas e adquiridas (ou não), no
processo de ensino aprendizagem de alunos/as e professores/as. Neste cenário
PPLinguística1 afirma que inicialmente tinha dificuldades para dar notas mais baixas aos
surdos, mas que hoje após sete anos atuando diretamente com eles, pode aperfeiçoar seus
métodos e suas técnicas avaliativas, conseguindo avalia-los de forma coerente e percebendo
suas dificuldades e facilidades.
PPLinguística2 esclarece que as falhas ao longo do processo de aprendizagem,
principalmente no estudo da Língua Portuguesa dos/das alunos/as surdos/as, é a maior
dificuldade para o processo de avaliação da aprendizagem, e isso também ocorre com seus
alunos ouvintes que chegam ao curso sem ter também, nenhum entendimento de libras.
Contudo essas dificuldades vão sendo contornadas ao longo do curso.
Neste contexto como concordam as autoras Aguiar (2007) e Nobre (2015), se faz
importante a contínua busca por melhores práticas ao avaliar, pois não pode o/a professor/a
firmar sua avaliação apenas em números, a avaliação da aprendizagem preconiza buscar
novos saberes, novas práticas, e novas concepções para desta forma melhorar o processo de
49
ensino-aprendizagem.
Libâneo (2006) nos fala que avaliar não significa apenas realizar a prova e dar a nota,
é muito mais complexo, visa a função de diagnóstico e cuidado com as relações dos/as
alunos/as e professores/as quanto a verificação do rendimento escolar. Fazendo a
compreensão disso, relacionamos com PPLetras que dispõe como as maiores dificuldades
também, como disposto por PPLinguística2, as questões relacionadas a Língua Portuguesa,
devido as falhas de aprendizagem na educação inicial destes. Destaca, porém, que os
alunos/as deficientes auditivos são participativos e isso contribui para que ela possa avaliar
eles/as em outros cenários.
Compreendemos que avaliar faz parte do processo ensino-aprendizagem e que esta
tem funções que podem contribuir, visto que a sua utilização adequada proporciona
ressignificações entre professores/as e alunos/as. A avaliação da aprendizagem necessita ser
considerada como de extremamente relevância à educação, por oportunizar a transformação
de práticas educacionais antigas e ainda a criação de novas concepções e práticas, que
atendam às necessidades de seus agentes sociais.
50
5 CONCLUSÕES REFLEXIVAS
O objetivo geral que conduziu esta pesquisa tratou de: ampliar os estudos acerca da
avaliação da aprendizagem dos/das alunos/alunas com deficiência auditiva no ensino
superior.
Os objetivos específicos que conduziram a pesquisa dizem sobre: compreender como
se caracteriza a comunicação entre professor/a e alunos/as deficientes auditivos/as; conhecer
as concepções e práticas no processo de avaliação de ensino aprendizagem sob o olhar
docente; identificar as dificuldades e também facilidades que perpassam a atividade docente
quanto à avaliação do processo de ensino-aprendizagem dos/as alunos/as deficientes
auditivos.
Apresentamos a seguir, considerações reflexivas organizadas e analisadas a partir do
olhar docente.
Sobre as concepções de educação inclusiva, afirmam que ser inclusivo é, permitir que
todos sejam educados em um mesmo espaço, com participação ativa e atendendo às
necessidades dos alunos/as, sejam eles/as surdos/as ou ouvintes.
A caracterização da comunicação ocorre de formas variadas, ou seja, a partir das
necessidades dos/as alunos/as. Embora nem todos/as os/as partícipes realizem a comunicação
em Libras, existe uma mescla, onde os/as que mais dominam a Libras, utilizam no dia a dia
da sala de aula, envolvendo todos/as surdos/as e ouvintes, da mesma forma, quando utilizam
a língua oral terão como mediador o intérprete.
As principais dificuldades relatadas pelos docentes à formação de surdos/as são
advindas de uma alfabetização precária, embora esta também seja manifesta nos/as alunos/as
ouvintes. Destacam como facilidade a possibilidade dada ao/a surdo/a de responderem
atividades diversas em Libras, por exemplo, gravando a resposta em vídeo.
Para avaliar alunos/as com deficiência auditiva desenvolvem variadas metodologias,
acompanham as práticas e ficam atentos às necessidades e facilidades. Compreendem que
devem e precisam respeitar as dificuldades, para direcionar estes/as no processo de ensino-
aprendizagem, nesse sentido, às vezes precisam modificar seus métodos. Destacam os
participes que ao trabalharem juntos/as, partilham saberes, assim, a utilização de variadas
técnicas e instrumentos, têm por objetivo promover a integração maior entre surdos/as e
ouvintes.
Nesta pesquisa ampliamos os estudos acerca da avaliação da aprendizagem dos/das
alunos/alunas com deficiência auditiva no ensino superior, conhecemos por meio do olhar
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docente como esta prática tem sido realizada, refletindo sobre suas concepções teóricas e
práticas utilizadas para a avaliação da aprendizagem desses alunos/as.
A presente pesquisa apresenta-se como uma favorável contribuição para que os/as
educadores/as conheçam mais sobre o tema, e quais as conquistas adquiridas neste longo
processo que tem tido a inclusão do deficiente auditivo tanto na educação como em
sociedade. Enfatizamos que cabe a cada um de nós contribuir para que a inclusão realmente
aconteça.
Reconhecemos que o processo de avaliação de aprendizagem desenvolvido por
professores/as é dinâmico e responsável. Estes/as buscam alinhar as estratégias,
procedimentos e técnicas avaliativas, no intuito de atender as dificuldades, de forma a
conhecer saberes já presentes, e, ou construídos, visando com responsabilidade a inclusão de
alunos/as com deficiência auditiva. Promovem assim, possibilidade de formação plena no
curso de Letras Libras da UFPI, destinados aos/às deficientes auditivos/as e ouvintes.
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APÊNDICES
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