Por Que Há Discrepâncias Entre Preços de Terras Rurais Do Incra E Da Consultoria FNP'? Uma Análise para O Sul Do Amazonas
Por Que Há Discrepâncias Entre Preços de Terras Rurais Do Incra E Da Consultoria FNP'? Uma Análise para O Sul Do Amazonas
Por Que Há Discrepâncias Entre Preços de Terras Rurais Do Incra E Da Consultoria FNP'? Uma Análise para O Sul Do Amazonas
RESUMO
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1. INTRODUÇÃO
Para os preços de terras a principal e mais aceita ferramenta para tal tomada
de decisão são os mercados de terras. Como bem enfatizou Santos et al (2015) o
termo “mercado de terras” possui mais de uma denominação. (Informa Economics
FNP),- “Mercado de Regional de Terra” (MRT) (definição do INCRA) ou, ainda,
"Mercado Local ou Específico" (Plata, 2001). Numa primeira aproximação conceitual,
portanto, o mercado de terras, corresponderia a um espaço geográfico no qual a
demanda e a oferta das terras rurais, influenciados por outros fatores ou variáveis
homogêneas, regulam a flutuação do preço das terras rurais. Neste conceito, o
mercado de terra está “confinado” a um espaço geográfico definido e delimitado.
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qual incidem fatores semelhantes de formação dos preços de mercado e onde se
observa dinâmica e características semelhantes nas transações de imóveis rurais.
Até 2011 o INCRA publicou os dados de preço de terras, em cada estado,
tendo como referência exatamente a região homogênea coincidente com a
microrregião do IBGE (Ferreira Junior et al, 2009; INCRA, 2010). A exceção é o
Estado de São Paulo, onde o INCRA local utiliza os mercados com base nos
estudos do IEA (Santos et al, 2015). Contudo, a partir de 2014, o órgão passou a
delimitar suas próprias regiões homogêneas (mercados de terras do INCRA) para
todo o pais, por meio do Relatório de Análise de Mercados de Terras – RAMT, com
a respectiva Planilha de Preços Referenciais- PPR, tendo sido aprovado pela
Resolução INCRA/CDR/SR-14/AC/Nº 02, de 13 de junho de 2016. Assim, considera-
se que as principais referências em preços de terras do pais são as PPRs do INCRA
e a consultoria especializada Informa Economics FNP.
Ocorre que quando se analisa as tabelas destas duas fontes há uma forte
discrepância, ainda que para a mesma região, usos da terra (atividade econômica)
ou da atividade e na mesma época. O objetivo deste artigo é fazer uma comparação
e análise dos preços de terras no mercado referente ao Sul do Amazonas,
confrontando os valores apresentados para o ano de 2016 do INCRA (Planilha
Preços Referenciais – PPR) com aqueles apresentados pela Consultoria Informa
Economics FNP. Após esta análise, buscar-se-á explicar quais razões há tais
diferenças.
2. METODOLOGIA
Figura 02. Recorte do “Mercado 129”, conforme denominação da Consultoria Informa Economics
FNP, representando o Sul do Amazonas (adaptado).
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Ao se observar as duas Figuras, há grande semelhança entre os recortes e
limites entre estes dois mercados: alguns poucos municípios estão entre aqueles na
Mercado do INCRA e que não estão no Mercado FNP. Os dados do INCRA do
Amazonas para o MRT Sul Amazonense é resultado de levantamentos de campo
realizados ao fim do ano de 2015, publicados no inicio de 2016. Já os dados do
mercado Consultoria Informa Economics FNP são realizados bimestralmente.
Uma nota importante é que a Tabela do INCRA não pretende ser referência
para negócios envolvendo terras rurais no mercado em si, mas servir de parâmetro
servir como referencia aos processos da própria autarquia na obtenção de imóveis
rurais para fins de reforma agrária.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Tabela 01 – Tabela adaptada de Preço de Terras para o Estado do Amazonas com destaque para a
região do "Mercado 128 e 129", compreendendo parte do Sul do Amazonas (pag. 69 FNP, 2016).
Tabela 02 - Preços de Mercado Regional de Terras (MRT) Sul Amazonense para o ano de 2016,
INCRA/AM. (2016)
Uma conclusão que se leva da Tabela FNP é que não se pode se extrapolar
seus resultados para outros municípios que não estão em seus dados, o que parece
não ser observado nos resultados do INCRA, uma vez que se supõe que os valores
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poderiam ser utilizados para municípios que em tese não estejam citados em sua
tabela.
Em realidade tal extrapolação é um problema, pois claramente os preços de
terras nos municípios de Apui, Humaitá, Manicoré (região de Matupi ou do Km 180)
e Boca do Acre não podem ser comparados com terras mais longínquas e de difícil
acesso como Tapauá. Ademais, aqueles municípios possuem uso econômico
concentrado e em consolidação para pecuária, sobretudo, cuja valorização das
terras é um efeito esperado.
Quais fatores podem explicar a diferença de preço tão grande entre as
duas tabelas? Primeiro, chama atenção é que os valores do INCRA a distância
entre cada uso é praticamente irrisória (floresta, pecuária e agricultura possuem
preços muito similares). Já a FNP há extremos dentro do mesmo município.
Uma explicação é que os dados do INCRA passaram por saneamento
amostral a 30% de Coeficiente de Correlação, o que leva a expurgação (eliminação)
das amostras muito extremadas (não se sabe quantas amostras a FNP utiliza nem
se elimina as mais extremadas etc). Também, o fato de que a FNP utiliza o critério
de acesso (fácil / difícil) fazendo com os preços sejam dispares em determinadas
regiões a depender da localização. Tal informação pode explicar porque a FNP
possui dois valores tão baixos (Boca do Acre terras em flores preço de R$ 350,00 e
produção diversificada em Humaitá R$ 450,00), pois provavelmente a chance de
uma amostra ‘fora da curva’ ser eliminada pela tabela do INCRA é maior que na
FNP. Ademais, como o INCRA faz avaliação com vistoria in loco é pouco provável
ter visitado imóveis de difícil acesso, cujos valores são mais baixos.
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A NBR 14.653-3 não prevê o critério da “moda”, como é o método citado pela
FNP, o que pode explicar a diferença com a comparação com os dados do INCRA.
Ainda que haja uma eliminação de dados mais extremados, não fica claro, no
Relatório da FNP, se o método adotado não está sujeito a uma análise subjetiva –
do contrário com o que ocorre com a metodologia do Coeficiente de Variação e do
Desvio Padrão.
Outra característica importante é quanto a vistoria. A FNP não realiza a visita
dos imóveis (ainda que seus colaboradores possam fazê-lo, mas não há garantia
alguma para tal), até porque se reconhece que os resultados são consultados por
telefone. Em contrário, o INCRA baseia-se em vistorias nos imóveis incluídos na
pesquisa e mesmo aquelas com valores discrepantes são eliminadas no cálculo
final.
No geral, o que se vê é que há uma abrangência melhor no tempo dos dados
da FNP (pesquisas a cada dois meses, enquanto o INCRA é anual, ou até em mais
tempo). Por outro lado, há inconsistências estatísticas na tabela FNP fazendo com
que o dado seja uma referência válida, mas com baixa confiança probabilística dada
a sua amplitude e inclusão de dados máximos e mínimos. Por sua vez, os dados do
INCRA esta utiliza de critérios estatísticos claros, possibilitando que as informações
estejam dentro de 80% de confiança (intervalo de confiança de 80% em torno do
valor central da estimativa.
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5. BIBLIOGRAFIA
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SANTOS, RP; PIZZIOLO, VP. Proteção ambiental versus expansão
agropecuária: uma análise jurídica da destinação de terras públicas para
criação de Unidades de Conservação no Sul do Amazonas. II CONGRESSO
NACIONAL DOS PERITOS FEDERAIS AGRÁRIOS – 2016. Brasília – DF. 19 p.
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