Tratamento e Evolucao de CR Ian As Autistas Pronto

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 9

77

TRATAMENTO E EVOLUÇÃO DE CRIANÇAS AUTISTAS ATENDIDAS EM UMA


ASSOCIAÇÃO DE JOÃO PESSOA-PB

Cyelle Carmem Vasconcelos Pereira1


Thaís Alessandra da Silva Borges2
Rosa Rita da Conceição Marques3

RESUMO
O autismo é um transtorno de desenvolvimento, que se manifesta antes de 3 anos,
cujas áreas afetadas são: interação social, comunicação e comportamento restrito e
repetitivo. Destas, buscamos pesquisar a evolução do quadro da interação no
tratamento dos transtornos ocasionados pelo autismo. O presente estudo teve como
objetivo geral: verificar a evolução da interação social através do tratamento de
crianças autistas na Associação de Pais e Amigos dos Autistas no Estado da
Paraíba. Trata-se de uma pesquisa de natureza descritiva, com abordagem
quantitativa. A coleta de dados foi realizada nos meses de outubro e novembro de
2014 e foi formalizada após aprovação do projeto no Comitê de Ética e Pesquisa da
FACENE/FAMENE, sob o protocolo nº 133/2014, e foi realizada com base na
Resolução CNS 466/2012. A pesquisa foi realizada na Associação de Pais e Amigos
dos Autistas, no município de João Pessoa-PB. A amostra da pesquisa compõe-se
de 10 mães ou pais de crianças autistas atendidas semanalmente. A pesquisa teve
como instrumento para coleta de dados um formulário contendo perguntas objetivas
e subjetivas. Os resultados indicam que 60% dos pais relatam a ausência de fala
como o primeiro sintoma das crianças identificado pela família; 10% como uso
inadequado de objetos; 10% como mau comportamento; 10% como falta de contato
visual, e 10% como a falta de interação social. Com relação às evoluções
apresentadas após o início do tratamento, 40% indicaram que houve melhora da
autonomia, como ir ao banheiro ou comer sozinho. 20% apresentaram evolução na
interação com pessoas e 20% melhora na concentração e na atenção. Verificamos,
portanto, que algumas crianças apresentaram melhoras quanto à concentração e
atenção às atividades. Alguns pais relataram a melhora no aspecto do atendimento
dos comandos, o que demonstra ser extremamente interessante na relação familiar.

Palavras-chave: Autismo Infantil. Deficiências do Desenvolvimento. Evolução


Clínica. Terapêutica.

INTRODUÇÃO

A Síndrome do Autismo é um transtorno de desenvolvimento, que se


manifesta antes de 3 anos, cujas áreas afetadas são: comunicação, interação social
e comportamento restrito e repetitivo. O termo autista vem do grego autós, que
1
Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela CINTEP-PB. Docente da Faculdade de
Medicina Nova Esperança – FAMENE. End.: Rua Caetano Figueiredo, 2385, apto. 102, Cristo
Redentor. João Pessoa-PB. CEP: 58071-220. Tel.: (83) 8801-3073. E-mail: [email protected].
2
Acadêmica em Enfermagem pela Faculdade de Enfermagem Nova Esperança - FACENE. E-mail:
[email protected].
3
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFPB. Membro titular do Conselho Estadual de Saúde do
Estado da Paraíba. Docente da Faculdade de Enfermagem Nova Esperança e coordenadora do
Comitê de Ética em Pesquisa da FACENE.

Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Jun. 2015;13(1):77-85


78

significa “de si mesmo”. Foi introduzido na psiquiatria por Plouller, após estudar
pacientes que tinham o diagnóstico de demência precoce, mudando para
esquizofrenia. Em 1943, Leo Kanner definiu o autismo para designar o quadro
apresentado por 11 crianças cujas tendências ao retraimento foram observadas
ainda no primeiro ano de vida e tinham certas características comuns. A mais
notável era a dificuldade de relacionamento com pessoas.
Diversos autores1,2,3 afirmam que os autistas podem apresentar uma
disfunção na integração sensorial, onde se tornam hipo ou hipersensíveis aos
estímulos que se relacionam no ambiente cotidianamente, fazendo com que tarefas
simples tornem-se complexas.
O autismo é uma síndrome comportamental com etiologias múltiplas e curso
de um distúrbio de desenvolvimento. Ele foi caracterizado por um déficit na interação
social, visualizado pela inabilidade em relacionar-se com o outro, usualmente
combinado com déficits de linguagem e alterações de comportamento. Calcula-se
que, no Brasil, possam existir aproximadamente 68 a 195 mil autistas.
Aproximadamente, 60% dos autistas apresentam valores de QI abaixo de 50, 20%
oscilam entre 50 e 70, e apenas 20% têm inteligência acima de 70 pontos4.
O autismo apresenta também as seguintes características, embora nem todas
as crianças possuem todas elas: respostas anormais a estímulos auditivos; pouco
contato visual com as pessoas; ausência ou atraso de linguagem nos primeiros anos
de vida; o comportamento baseado em rotinas; resistência a mudanças; dificuldades
no desenvolvimento das habilidades físicas, sociais e de aprendizagem;
autodestruição ou comportamentos agressivos com outras pessoas; fascinação por
objetos rotativos, como ventiladores, piões etc.; choro ou riso incontroláveis e sem
motivo; reação exagerada a estímulos sensoriais, como luz, dor ou som.
O Autismo, na atualidade, é designado como Transtorno do Espectro
Autístico, o qual vem sendo estudado e debatido há mais de 70 anos. Entre as
décadas de 1940 e 1990, há um salto temporal no que diz respeito aos estudos
sobre o autismo, de forma que, durante esses anos, houve pouca evolução nas
pesquisas voltadas para essa área. Somente em meados da década de 1990 é que
houve uma evolução nas pesquisas nessa área, dando início a uma nova etapa de
investigação, em que foram utilizadas, como ponto de partida e figura de fundo, as
observações de Kanner em 19425.
Ao considerar o déficit de pesquisa nessa temática, surgiu o interesse em
pesquisar sobre autismo a partir das seguintes questões norteadoras: qual o quadro
clínico interacional das crianças autistas? Qual a evolução da interação social a
partir do início do tratamento dessas crianças?
Diante destes quadros, a pesquisa teve como objetivo geral verificar a
interação social do tratamento e evolução das crianças autistas atendidas em uma
associação de João Pessoa-PB.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma pesquisa de natureza descritiva, com


abordagem quantitativa. A pesquisa foi realizada na Associação de Pais e Amigos
dos Autistas – ASAS-PB, no município de João Pessoa-PB.
A população da pesquisa foi composta por 18 pais/mães de crianças autistas
atendidas semanalmente na referida associação. A amostra foi composta por 10
pais/mães. Os critérios de inclusão da amostra foram: pais/mães de crianças
diagnosticadas com a síndrome do autismo atendidas na Associação de Pais e

Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Jun. 2015;13(1):77-85


79

Amigos dos Autistas há pelo menos 1 ano; o atendimento ser de pelo menos 2 vezes
por semana; e pais/mães alfabetizados. Os critérios de exclusão foram: pais/mães
que não aceitarem participar da pesquisa e não assinarem o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE.
A coleta de dados foi realizada nos meses de outubro e novembro de 2014,
após aprovação do projeto no Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da
FACENE/FAMENE, sob o protocolo nº 133/2014 e CAAE 35626714.1.0000.5179. Os
participantes foram esclarecidos acerca dos objetivos da pesquisa, assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE e receberam uma cópia do
documento. A pesquisa foi realizada com base na Resolução CNS nº 466/2012, dos
aspectos éticos que trata do envolvimento de seres humanos em pesquisa 6.
Para a coleta dos dados, foi aplicado um formulário estruturado, em duas
partes, contendo questões referentes à temática: Parte I - dados de identificação da
criança autista e dos pais, e Parte II - questões norteadores com a temática,
autismo.
Para análise dos dados, foi utilizado o método quantitativo. Os resultados
encontrados foram apresentados em tabelas e discutidos à luz da literatura
pertinente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra analisada foram 10 pais/mães de crianças autistas, atendidas na


Asas-PB, num período mínimo de 1 ano de tratamento.
Sabe-se que o diagnóstico precoce é de essencial importância para iniciar o
tratamento o mais rápido possível. Dentre os resultados obtidos, a média de idade
em que a criança foi diagnosticada com autismo foi entre 2 a 6 anos. A maior parte,
40%, estava com 2 anos de idade quando foram diagnosticadas autistas.
“A demora no diagnóstico pode desenvolver sérios problemas de conduta,
mais tarde, difíceis de corrigir”7 Observa-se, portanto, que a maior parte das crianças
teve o diagnóstico precoce, o que possibilitou o início da intervenção terapêutica em
curto tempo espaço de tempo.

Tabela 1 – Dados socioeconômicos das crianças autistas e dos pais.


Idade das crianças Nº %
5 anos 01 10%
6 anos 01 10%
7 anos 01 10%
8 anos 02 20%
9 anos 03 30%
13 anos 01 10%
15 anos 01 10%

Escolaridade dos pais Nº %


Nível Médio 02 20%
Nível Superior 08 80%

Renda familiar Nº %
2 salários mínimos 02 20%
3 ou mais salários míninos 08 80%
Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores (2014).

Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Jun. 2015;13(1):77-85


80

De acordo com a Tabela 1, a média de idade das crianças autistas,


atendidas na Associação, é entre 5 a 15 anos. A escolaridade dos pais atinge 80%
com nível superior, o que constata um grau de educação mais elevado. Quanto à
renda, constatou-se que 80% dos pais recebem 3 ou mais salários mínimos. Isso
sugere que as famílias são de classe média e possuem um bom grau de
conhecimento.
Quanto aos aspectos específicos da pesquisa, 60% dos pais relatam a
ausência da fala como o primeiro sintoma das crianças identificado pela família
(Tabela 2). Os demais 40% identificaram: 10% como uso inadequado de objetos,
10% como mau comportamento, 10% como falta de contato visual, 10% como a falta
de interação social.

Tabela 2 - Primeiro sintoma de autismo identificado pelos pais na criança.


PRIMEIRO SINTOMA IDENTIFICADO n %
DO AUTISMO
Ausência da fala 06 60%
Uso inadequado de objetos 01 10%
Mau comportamento 01 10%
Falta de contato visual 01 10%
Interação social 01 10%
Total 10 100%
Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores (2014).

Percebe-se, portanto, que a falta de comunicação é o sintoma mais aparente


do autismo e o que causa grandes transtornos para a criança quanto à interação
social. Devido à dificuldade em se comunicar, as crianças autistas não conseguem
dizer o que querem, não conseguem responder perguntas e até negarem aquilo que
as desagradam. A linguagem é um ponto crucial para os autistas, pois é o que
dificulta a aproximação das pessoas. Daí, podem surgir preconceitos e afastamentos
de outras crianças e até mesmo de adultos.
Dentre as dificuldades encontradas relacionadas à interação social antes de
iniciar o tratamento na Asas-PB, 60% dos pais relatam a falta de comunicação e
interação com outras crianças; seguido de 20% com dificuldade de concentração
advindo da hiperatividade; 10% com aversão a barulhos e falta de contato visual; e
10% com presença de autolesão.
A interação social é o segundo aspecto mais afetado depois da comunicação
das crianças autistas, e um dos que mais chamam a atenção das outras pessoas. É
um dos pontos vulneráveis da Síndrome do Autismo, sendo quase que 100%
recorrentes em autistas. É notório que desvios e comprometimentos ocorram
também em outras síndromes e doenças, mas no autismo sua permanência é quase
que absoluta.
Fica claro que a comunicação é um fator importantíssimo para a interação e,
uma vez que esta também é afetada, fica quase impossível ocorrer socialização de
maneira plena. Por isso, é de suma importância ficar atento ao comportamento diário
da criança em casa, comparar suas atitudes com as atitudes de crianças da mesma
idade, verificar o desenvolvimento da fala, a capacidade de ouvir, compreender e
interpretar sinais, sejam eles visuais ou auditivos, acompanhar aprendizados básicos
como comer sozinho, por exemplo.

Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Jun. 2015;13(1):77-85


81

Com relação ao tempo de tratamento, 60% das crianças são atendidas na


Asas-PB desde sua fundação, há 5 anos; 10% há 4 anos; e 20% há 2 anos. Aqueles
que estão há mais tempo, atingem mais resultados e respondem melhor aos
estímulos, como ter mais tolerância e saber esperar por algo. Mesmo assim, os que
estão em tratamento há apenas 1 ano já apresentaram melhoras no quesito
atenção/concentração, contato visual e interação com outras crianças. Isto se deve
ao trabalho feito pelos profissionais que atendem na Asas-PB quanto à necessidade
de organizar a rotina das crianças, determinando horários para cada atividade,
mostrando para ela que há hora para tudo e, assim, ameniza-se a ansiedade tão
comum nos autistas. Assim, “o grau de desenvolvimento do autista está diretamente
ligado às questões de estimulação, atendimento especializado e conhecimento
adequado de como lidar com as situações do seu cotidiano”.8
As abordagens pedagógicas em pessoas com autismo são de base
comportamental. No entanto, não visam aprisioná-las a condicionamentos
específicos, antes, tentam livrá-las das limitações comportamentais que lhes trazem
dano.9 As técnicas de modificação de comportamento utilizam estímulos positivos
para induzir melhorias, como um elogio ou um alimento. “Tanto a inteligência quanto
a afetividade são mecanismos de adaptação, permitindo ao indivíduo construir
noções sobre os objetivos, as pessoas e as situações, conferindo-lhes atributos,
qualidade e valores”10
Dentre os pontos que apresentaram melhoras e avanços, autonomia para
fazer as atividades diárias sozinho apresentou o melhor resultado em 50% das
crianças participantes da pesquisa. Atividades como ir ao banheiro, beber água,
comer e vestir-se foram as evoluções mais relatadas entre os pais. Outros 50% dos
pais identificaram outras conquistas como: Interação com outras crianças;
Concentração e atenção / atendimento a comandos; Bom comportamento; Maior
contato visual; Aquisição de alguma ou mais linguagem verbal; Atividades
pedagógicas como escrever, com aquisição de melhor coordenação motora.
Para aqueles que apresentam algum nível de comunicação, suas falas podem
apresentar som melódico e a linguagem é ecolálica, ou seja, há repetição de
palavras, mais ou menos como acontece com os papagaios na imitação da fala
humana, e falta de coesão entre frases, ou seja, quase não utilizam conjunções,
pronomes, ocorre, predominantemente, o uso de substantivos e adjetivos.
Após o início do tratamento, 40% dos pais indicaram que houve melhora da
autonomia, como ir ao banheiro ou comer sozinho; 20% apresentaram pouca ou
significativa evolução na interação com pessoas e melhora na concentração e na
atenção. Curiosamente, percebeu-se que este último é o primeiro aspecto detectado
pelos pais, mesmo após pouco tempo de tratamento, como é o caso das 2 crianças
atendidas há 1 ano na Asas-PB. Mesmo após o tratamento, 40% das crianças ainda
resistem à obediência aos pais, ou seja, não atendem aos comandos e possuem
mau comportamento e birra (Tabela 3).

Tabela 3 – Melhoras e avanços de desenvolvimento das crianças após o início do


tratamento na Asas-PB.
MELHORAS E AVANÇOS APÓS O INÍCIO DO n %
TRATAMENTO NA ASAS-PB.

Houve melhora da autonomia 04 40%


Pouca ou significativa 02 20%
Não atendem aos comandos e possuem mau 40 40%

Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Jun. 2015;13(1):77-85


82

comportamento e birra.

Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores (2014).

Sobre o questionamento do que ainda precisa melhorar, 40% dos pais


relataram que a atividade da vida diária ainda é um aspecto que pode ser
aprimorado, sendo este de suma importância para a independência e autonomia da
criança. Outros 40% indicaram o comportamento e a hiperatividade como sendo um
problema persistente entre seus filhos. Os demais, 20%, afirmam que a fala e
comunicação são empecilhos que interferem no desenvolvimento das crianças.
Diante destes pontos a serem melhorados, foi relatado, ainda, a necessidade de
aumentar a frequência do tratamento, não sendo suficiente apenas 2 vezes por
semana.
Quanto às dificuldades para desenvolver ainda mais o processo de interação
social, a autonomia para a atividade diária ainda é uma grande dificuldade no
processo de interação social. A dependência em algumas atividades em casa, ou
fora dela, causam desconforto e cansaço, seja no cuidador seja nos professores.
O preconceito da sociedade em aceitar crianças especiais / inclusão /
aceitação pela dificuldade / contato com outras crianças é o segundo ponto mais
relatado pelos pais como uma dificuldade. Neste aspecto, o não conhecimento sobre
o assunto é um empecilho para se aproximar e permitir que a criança autista se
aproxime. Como os autistas possuem um comportamento diferente das demais
crianças, isto provoca medo nas pessoas de como elas possam agir.
A falta ou a dificuldade de comunicação dos autistas acaba provocando a
rejeição de outras crianças. Daí, surge a dificuldade de compreensão das
brincadeiras e da linguagem. Por não compreender sua fala ou a ausência dela, as
crianças acabam deixando o autista escanteado. Cabe aos educadores e aos pais
facilitarem essa difícil comunicação, para que, no futuro, a interação social seja
possível para os autistas.
A hiperatividade e a agitação em ambientes barulhentos e desconhecidos
provocam mudança de comportamento na família inteira. Se a criança se agita ou se
nega a permanecer num ambiente incômodo para ela, a família acaba tendo que se
adaptar ao desejo da criança e se afastar do ambiente. Muitos pais relataram que
deixam de sair ou voltam para casa mais cedo porque a criança não conseguiu
manter-se calma ou não se adaptou ao ambiente. Festinhas infantis com muitos
estímulos visuais e auditivos são grandes desafios para alguns autistas. O que
acaba sendo um aspecto bastante negativo, uma vez que, exatamente nestas
festas, as crianças aprendem a brincar, a se respeitarem, a gostar de estarem em
companhia umas das outras.
Outro ponto bastante relevante para a interação social é a falta de preparo e
formação profissional para lidar com crianças especiais nas escolas. Ainda há muito
o que conquistar no quesito educação para crianças autistas. O assunto ainda é
pouco discutido, mesmo diante do aumento dos casos clínicos, consequentemente,
as escolas não se preparam para recebê-los. Os pais, infelizmente, ainda encontram
resistência e dificuldade em achar, de fato, escolas inclusivas. 10% responderam
que a falta de percepção e controle da força são dificuldades ainda enfrentadas.
Quanto às atividades diárias, os aspectos em que houve melhora e
organização foram ir ao banheiro sozinho em 30% das respostas dos pais; 20%
relataram que seus filhos colocam a comida sozinho no prato, sentam na mesa,
lavam as mãos; 20% se vestem sozinhos; 20% pegam água na geladeira, escovam

Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Jun. 2015;13(1):77-85


83

os dentes sozinhos; 20% tomam banho sozinhos, embora ainda com dificuldade;
10% alimentam-se sozinhos, vestem-se, escovam-se; em 10% houve melhora no
contato visual e fala; apenas em 10% não houve melhora. Este último refere-se ao
adolescente de 15 anos, que iniciou o tratamento tardiamente e possui um quadro
de autoagressão.
As equipes envolvidas na intervenção do desenvolvimento dos autistas têm
conseguido que crianças menos comprometidas tornem-se mais sociáveis, usando
construtivamente as habilidades aprendidas, apesar da manutenção das
estereotipias.11

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentre as informações coletadas através da pesquisa, constatamos que o


tratamento terapêutico para crianças autistas, iniciado o quanto antes, logo após o
diagnóstico, é de extrema importância, pois irá beneficiá-lo de diversas maneiras.
A dificuldade de comunicação associada à hiperatividade, que alguns
apresentam, deixa-as irritadas e desorganizadas na sua rotina. Sabe-se que a
ordem e a vida regrada é essencial para o aprendizado diário dos autistas, e o
tratamento propicia que elas entendam suas próprias limitações e a limitação do
outro em entendê-lo. Assim, aprende maneiras específicas de se comunicar e
chamar a atenção de adultos e crianças para suas necessidades.
Verificamos, portanto, que, em pouco tempo de tratamento, algumas crianças
apresentaram melhoras quanto à concentração e atenção às atividades. Alguns pais
relataram a melhora no aspecto do atendimento dos comandos, o que demonstra ser
extremamente interessante na relação familiar, pois uma das características
apresentadas nas crianças, antes de qualquer diagnóstico, é a aparente “surdez”
das crianças. Na verdade, ela escuta, mas não atende ou não se interessa, e o
tratamento na Asas-PB tem contribuído para que esse canal de comunicação entre
pais e filhos esteja aberto.
Outro ponto apresentado pelos pais foi a evolução nas atividades diárias. Ter
autonomia é essencial para o autista, uma vez que, inicialmente, apresentam uma
significativa dependência dos pais. Ações como vestir-se, comer sozinho e ir ao
banheiro para muitos parece natural; para o autista é uma conquista alcançada com
muito esforço e dedicação de pais e profissionais, que tentam tornar sua vida mais
fácil e mais aceita.
Sendo assim, as associações especializadas em tratamento de autistas
trabalham para que a vida destas crianças sejam autônomas e mais organizadas,
que suas limitações não sejam empecilhos para seu desenvolvimento. Muito pelo
contrário, o trabalho é voltado para a aceitação dos autistas pela sociedade,
contribuindo com a inclusão social e emocional.

TREATMENT AND DEVELOPMENT OF THE AUTIST CHILDREN ATTENDED AT


AN ASSOCIATION IN JOÃO PESSOA CITY - PARAIBA STATE - BRAZIL

ABSTRACT
The autism is a disturbance of development and it generally appears before 3 years
old, the affected areasare:Social interaction, communication, restrict and repeated
behavior. Thus, we researched the development within the interaction in the
treatment of the disturbances caused by autism. This present work has as general
goal: to verify the development of the social interaction through the treatment of autist

Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Jun. 2015;13(1):77-85


84

children at the Association of parents and friends of autists in Paraiba state Brazil.
The research is from a descriptive nature with quantitative approach. The gathering
data were held in the months of (October and November), in 2014 and it was
approved by the committee of Ethics and Research at FACENE/FAMENE, bill
number 133/2014, with the resolution CNS 466/2012. The sample was composed by
(10 parents of autist children)that were attended each week. The research had as
instrument for gathering data a form containing objective and subjective questions.
The results indicates that 60% of the parents related the absence of speech as the
first symptom, identified by the family; 10% as the inadequate manipulation of
objects; 10% as bad behavior; 10% as lack of visual contact; and 10% as lack of
social interaction. In relation to the development presented after the beginning of
treatment, 40% pointed that there was an improvement of autonomy, suchas:go to
the toilet or eat alone. 20% presented development with social interaction and 20%
improved their focus and attention. Then we verified that some children presented an
improvement in relation to focus and attention to activities. Some parents related an
improvement in the way the children move and act when answering commands, it is
very important because it indicates a better family link.

Key-words: Infant autism. Disturbances in the development. Clinic evolution.


Therapeutic.

REFERÊNCIAS

1. Schwartzman JS, Assumpção JR, F.B. Autismo infantil. São Paulo: Memnon;
1995.

2. Machado ML, Negrine AD. Educação e terapia da criança autista: uma abordagem
pela via corporal. Dissertação [Mestrado em Ciências do Movimento Humano]
Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre; 2001.

3. Sussam F. Mais do que palavras. 5 ed. Canadá: TBHFPD; 2004.

4. Gillberg C. Infantile autism: diagnosis and treatment. Acta Psychiatr Scand.


1990;81:209-15.

5. Andrade MP. Autismo e integração sensorial: a intervenção psicomotora como um


instrumento facilitador no atendimento de crianças e adolescentes autistas. 2012.
Dissertação [Mestrado em Educação Física] Universidade Federal de Viçosa, Minas
Gerais, Viçosa; 2012.

6. Brasil. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466/2012. Comitê de Ética em


Pesquisa. CONEP juntamente com outros setores do Ministério da Saúde,
estabelecerá normas e critérios para: Diretrizes e Normas Regulamentadoras de
Pesquisas Envolvendo Seres Humanos, Brasília; 2013.

7. Szabo C. Autismo em questão. São Paulo: Mageart; 1995.

8. Rodrigues JMC, Spencer E. A criança autista: um estudo psicopedagógico. Rio de


Janeiro: Wak Editora; 2010.

Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Jun. 2015;13(1):77-85


85

9. Cunha E. Autismo e Inclusão: psicopedagogia e práticas educativas na escola e


na família. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Editora; 2010.

10. Porto O. Psicopedagogia Institucional: teoria, prática e assessoramento


psicopedagógico. 3. ed. Rio de Janeiro: Wak; 2009.

11. Carla D. O pedagogo na educação da criança autista. Webartigos; Fev. 2008


[acesso em: 03 set. 2014] Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/o-
pedagogo-na-educacao-da-crianca-autista/4113/.

Recebido em: 31.03.15


Aceito em: 27.04.15

Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Jun. 2015;13(1):77-85

Você também pode gostar