Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul: Failure To Thrive - Atraso Não-Orgânico Do
Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul: Failure To Thrive - Atraso Não-Orgânico Do
Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul: Failure To Thrive - Atraso Não-Orgânico Do
ALESSANDRA SANTIN
Porto Alegre
2007
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ALESSANDRA SANTIN
Porto Alegre
2007
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida que tenho e por ter me guiado para esta profissão.
A meus pais Julia e Jurides, pelo amor e por sempre serem exemplos para minha
vida e ao meu mano Frederico, pelo carinho, amizade e auxílio na elaboração do folder.
Aos meus cães e à Cláudia, pelo incentivo, compreensão e companheirismo de
todas as horas.
À minha querida orientadora Profª Drª Simone Algeri, pelos ensinamentos em
Pediatria, estímulo, amizade e paciência, e por ser um exemplo de pessoa e enfermeira
para todos os alunos.
Aos professores desta Escola de Enfermagem, pelo carinho e dedicação com os
alunos e pela aprendizagem que tive ao decorrer da faculdade.
À bibliotecária Michele, pelas dicas e paciência.
A todos que contribuíram de uma forma ou outra para este trabalho.
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RESUMO
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 06
2 OBJETIVOS 08
2.1 Objetivo geral 08
2.2 Objetivo específico 08
3 CONHECENDO O ATRASO NÃO-ORGÂNICO DO CRESCIMENTO 09
INFANTIL (ANOCI)
3.1 Identificando os fatores de risco do ANOCI 11
3.1.1 Características dos Pais/Cuidadores e perfil familiar 12
3.1.2 Interações nas situações alimentares 12
3.1.3 Depressão e privações emocionais maternas 13
3.1.4 Distúrbios de relacionamento familiar 15
3.1.5 Dependência de drogas dos pais 17
1 INTRODUÇÃO
devem estar aptos a prestar assistência e suporte integral às crianças que apresentam o
ANOCI, bem como a seus pais ou cuidadores, através da identificação das causas, sinais
e sintomas dessa desordem infantil.
Através da elaboração de um folder informativo e explicativo, esta pesquisa
bibliográfica procura contextualizar o ANOCI em todos os âmbitos, visando o
conhecimento e aprimoramento do profissional da Enfermagem frente esse quadro.
Este estudo permitirá também que, posteriormente, sejam realizados grupos de
Educação em Saúde, em enfermarias pediátricas e na atenção primária à saúde, com
familiares ou cuidadores de crianças que apresentem os fatores de risco para o
desenvolvimento do ANOCI, a fim de intervir precocemente e evitar o aparecimento ou
a progressão desse distúrbio infantil.
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2 OBJETIVOS
A criança com baixo ganho de peso por causas psicossociais é aquela que está
insuficientemente nutrida por não receber alimentos e/ou por não receber interações
afetivas adequadas que propiciem a incorporação de nutrientes da dieta (FARINATTI,
BIAZUZ E LEITE, 1993).
No ANOCI, a dificuldade da criança ganhar peso reside na coexistência de
múltiplos fatores e a variável carência econômica não é, na maioria das vezes, a
principal causa, mas atua como coadjuvante importante nesse processo.
Pode parecer estranho que uma criança saudável e vivendo num ambiente
favorável (à primeira vista), apresente um atraso no crescimento pondero-estatural.
Segundo Wright (2000), isso se deve ao fato de que a criança necessita de uma
quantidade de energia, e essa perda precoce de peso resulta de uma combinação de
fatores psicossociais que limitam ou interrompem a entrada de energia, contribuindo
para a falha em alcançar o desenvolvimento adequado para a idade. Ou seja, a criança é
“apenas” alimentada, mas não é “nutrida”, de amor, de carinho e de segurança pela sua
mãe e família.
O ANOCI também é considerado como uma negligência infantil por parte dos
pais/cuidadores. A criança é um indivíduo que, desde o seu nascimento, está em
constante evolução, desenvolvendo sua personalidade e dotada de ampla capacitação de
assimilação de tudo o que acontece ao seu redor e com ela própria.
Segundo o Ministério da Saúde (1991), negligência infantil é o fato da família se
omitir em prover as necessidades físicas e emocionais da criança, configurando no
comportamento dos pais quando falham no vestir, alimentar, medicar, educar e evitar
acidentes.
Assim, a negligência infantil, conforme Morais e Eidt (1999), DePanfilis (2006)
e Gaudim (1993) é definida como toda ação ou omissão por parte dos pais ou
cuidadores, que resulte em prejuízos ao desenvolvimento físico, emocional, intelectual e
social da criança.
As famílias negligentes, mais especificamente os pais, apresentam
comportamentos contínuos que refletem ausência ou insuficiência de cuidados
destinados às suas crianças.
Segundo Morais e Eidt (1999), um contexto de pobreza e isolamento social, e
muitas outras carências apresentadas na história de vida dos pais estão presentes em
torno do sistema familiar, influenciando negativamente no desenvolvimento dos filhos e
assim tornando-os vulneráveis aos fatores importantes para o aparecimento do ANOCI.
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Além disso, Field (1992) apud Motta, Lucion e Manfro (2005) sugerem que a
mãe deprimida pode desenvolver dois estilos de interação com o bebê: o
comportamento intrusivo, caracterizado por irritação e estímulos em excesso ao bebê; e
o retirado, que é o comportamento ausente e apático emocionalmente. Esses
comportamentos levam o bebê a responderem, dentre outras formas, com a recusa
alimentar ou com a dificuldade em ganhar peso, ou seja, podem desenvolver o ANOCI
em resposta às inadequadas estimulações maternas.
Autores como DePanfilis (2006), Morais e Eidt (1999) e Gaudin (1993) sugerem
que as mães que foram negligenciadas ou vítimas de algum tipo de abuso quando
crianças costumam ter comportamentos negligentes para com seus filhos, visto que há
uma reprodução do comportamento violento já vivenciado, o que caracteriza o
fenômeno da transgeracionalidade quando se classifica um comportamento sofrido na
infância e repetido na fase adulta.
Segundo os autores acima citados, uma das principais razões da negligência
materna é a falta de amor das mães na sua infância, fazendo com que se sintam
incapazes de prover a uma criança um ambiente de trocas positivas, sendo um
importante fator de risco para o aparecimento dessa desordem infantil.
A sociedade espera das mães um padrão de comportamento no que se refere ao
cuidado para com o filho, o que significa que há um mito sobre o amor materno.
Badinter (1988) fala que, desde o século XIX, desenha-se uma nova imagem da
mãe, que deveria sacrificar-se a todo o custo para que o filho viva bem, sendo vigilante
de maneira ilimitada e sendo responsável pela felicidade de seu filho. Assim as mães
que não conseguem, por problemas internos, sociais e culturais, desempenhar esse
papel, são carregadas de angústia e culpa, e ainda hoje são apontadas pela sociedade
como não sendo uma boa mãe, ocasionando transtornos mais difíceis de serem
resolvidos e ressaltando fatores de risco para vários problemas na relação mãe-filho.
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comportamento do filho, que acaba, por esses motivos, por recusar o alimento ou não
metabolizar adequadamente as calorias ingeridas, ocorrendo assim um fator de risco
para o ANOCI.
Conforme DePanfilis (2006), a composição familiar é um dado importante a
considerar nas crianças que desenvolvem o ANOCI. A instabilidade familiar afeta
negativamente o crescimento da criança, pois ela se sente insegura em relação aos seus
cuidadores, ocasionando um comprometimento no desenvolvimento e comportamento
afetivo do bebê,podendo ocasionar distúrbios como o ANOCI.
Geralmente, as crianças que desenvolvem ANOCI vivem com um só genitor,
que é, na maioria das vezes, a mãe. Solteiras, com outros filhos e de pais diferentes,
essas mães são jovens e demonstram pouco contato físico e verbal com o bebê. Por ter
pouca experiência ou por outros fatores associados, a mãe dedica pouco tempo à
amamentação ou alimentação adequada da criança.
Nesse contexto é associado também o risco de negligência emocional da mãe,
pois o tempo dispensado ao filho é escasso, seja por trabalhar fora de casa para prover
financeiramente a casa, seja porque a mãe está preocupada com outras demandas
externas ou internas, ficando em segundo plano as necessidades psicológicas do seu
filho.
Observa-se respaldo nesse sentido conforme destaca Goldani (1994), que ao
analisar as famílias brasileiras, menciona que houve mudanças significativas no início
dos anos 90: a família diminuiu de tamanho, diversificou-se em relação aos arranjos, e a
complexidade da vida familiar aumentou. Para essa autora, isso se deve à existência de
transformações demográficas expressas pela elevação da taxa de separações e de
divórcios, a crescente proporção de mulheres solteiras com filhos, e o aumento do
índice de viuvez feminina, entre outros fatores.
Algeri (2001), em seus estudos sobre violência intrafamiliar em relação à mãe
detectou que das 50 famílias pesquisadas, 30 famílias eram compostas por mãe solteira.
Assim, neste sentido, esses autores apontam a tendência do aumento de famílias
monoparentais, no Brasil, o que implica um fator desencadeante para a ocorrência de
negligência materna, visto que via de regra , é a mãe a pessoa mais próxima da criança,
que passa mais tempo com junto do filho, responsável única pela criança, cabendo-lhe
culturalmente o cuidado e a educação da criança.
Quando o pai está presente na família, ele é ausente ou distante e não supre as
necessidades afetivas da criança. Ele está apenas “de corpo presente”, porém, não
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A participação em igrejas, de qualquer religião, faz com que a família não fique
isolada ou excluída, e geralmente reforçam os mecanismos positivos de interação dos
pais com a criança, havendo conseqüentemente maior troca de afeto, auxiliando na
composição de uma família saudável física e emocionalmente.
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Sabe-se que cada criança nasce com um temperamento, uma forma de ser e agir,
percebidas logo após o nascimento. As crianças podem apresentar sinais do ANOCI,
conforme Farinatti, Biazuz e Leite (1993), desde os primórdios da infância.
Figueira, Alves e Bacelar (2002) afirmam que o sinal mais precoce do ANOCI é
a ausência de sinais de desenvolvimento afetivo de acordo com a idade em que se
encontra. O não-estabelecimento de contato visual, ausência de riso social, falta de
reciprocidade vocal e o fato de a criança não procurar se ajustar ao corpo do adulto que
a segura nos braços são encontrados nas crianças com esse distúrbio infantil.
São consideradas de difícil manejo pelas mães, apresentando dificuldades
alimentares, como a recusa em sugar o peito da mãe, gritam ou dormem durante a
mamada, recusam a mamadeira e lutam com quem tenta alimentá-las (FARINATTI,
FERRÃO e BALDISSEROTTO, 1994).
Esses comportamentos podem ser frustrantes para os pais, em especial a mãe,
fragilizando a relação do binômio mãe-bebê. Combinado com as características da mãe,
essas situações acabam deteriorando a relação e conseqüentemente ocorre a falha em
ganhar peso.
A criança com ANOCI geralmente sorri e verbaliza muito pouco, preferem
contatos à distância, preferem objetos inanimados à pessoas, e não reagem bem ao
serem tocados ou levados ao colo. Não demostram ansiedade quando separadas da mãe,
porém, são mais medrosas e apáticas.
Segundo DePanfilis (2006) e Motta, Lucion e Manfro (2005), as crianças
negligenciadas emocionalmente podem ainda ter comportamentos distintos, em resposta
às inadequadas interações com a mãe.
Apresentam comportamentos ditos internos, exemplificados por passividade,
apatia, baixo padrão de atividades, depressão, permanecer dormindo por muito tempo,
agitação noturna, dificuldade de concentração, entre outros. Os comportamentos
externalizados são caracterizados por irritabilidade, hiperatividade, dificuldade de
concentração, comportamentos destrutivos, e distração (FIELD, 1992 apud FRIZZO E
PICCININI, 2005).
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4 METODOLOGIA
Abaixo será descrita a metodologia utilizada como base para a confecção deste
estudo.
4.3 Amostra
A coleta de dados foi realizada por meio de um plano provisório, de acordo com
Gil (2002), o qual consistiu na organização sistemática das diversas partes que
compuseram o objeto de estudo.
Para encontrar as fontes que mais se adequaram à solução do problema
proposto, foram realizadas as leituras exploratória, seletiva, analítica e interpretativa
respectivamente, conforme Gil (2002), indicando o nível de complexidade.
Uma busca bibliográfica foi realizada com o intuito de encontrar os artigos de
periódicos indexados nas bases de dados disponíveis na página eletrônica da BIREME
(Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde). Foram
encontrados um total de 160 artigos situados no período de 1990 à 2006, nos idiomas
Português, Inglês e Espanhol, utilizando-se os termos failure to thrive e insuficiência de
crescimento. Destes artigos, 120 foram encontrados na base de dados Lilacs, 14 na base
de dados MEDCARIB, 16 na base de dados ADOLEC, 8 na base de dados PAHO e 2
na base de dados WHOLIS. A leitura dos resumos dos trabalhos gerou a seleção final
dos textos relevantes para esta pesquisa, e estes foram selecionados na íntegra, por meio
da biblioteca virtual Scielo (Scientific Electronic Library Online), Portal dos Periódicos
CAPS (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) ou ainda, em
alguns casos, por meio da comutação bibliográfica. Um total de 12 artigos foi
selecionado para a pesquisa, sendo que destes, apenas 1, que constava diretamente
sobre o tema, foi encontrado em Língua Portuguesa Estes artigos foram lidos de forma
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analítica e interpretativa, conforme Gil (2002), para atingir os objetivos aos quais esta
pesquisa se propôs.
Como critérios de inclusão para a seleção dos artigos utilizados foram levados
em consideração os trabalhos que contivessem dados pertinentes a respeito da
classificação da desordem, sinais e sintomas mais associados ao non-organic failure to
thrive.
Foi necessário estabelecer também, para a seleção destes artigos, critérios de
exclusão. Artigos que tratavam somente a respeito da legislação não fizeram parte desta
pesquisa, pois foram encontrados, em sua maioria, textos na Língua Inglesa e as leis,
referentes aos países de origem dos trabalhos, diferem muito em relação às leis
brasileiras. Também foram excluídos desta pesquisas artigos que tratavam sobre o
failure to thrive de causa orgânica.
As informações sobre o Atraso não-orgânico do Crescimento Infantil (ANOCI)
foram, ainda, complementadas por meio de materiais extras, encontrados em acervo
bibliográfico. Estas obras foram consideradas fundamentais para se trabalhar esta
temática, pois algumas delas foram citadas em praticamente todos os trabalhos e são,
portanto, um marco referencial para o estudo dessa desordem infantil.
A confecção de fichas de leitura de apontamentos e bibliográficas, conforme
consta no apêndice A, foi adotada para o registro de comentários acerca da obra,
registro de conteúdo e identificação das obras consultadas (GIL, 2002).
A análise dos resultados foi realizada por meio de leitura exploratória, seletiva,
analítica e interpretativa do material selecionado para a pesquisa. As informações sobre
o ANOCI, obtidas na coleta de dados, foram ordenadas e relatadas no sentido de
identificar os aspectos relevantes do distúrbio para relacioná-los com os objetivos da
pesquisa e oferecer subsídios, através da elaboração de um folder, aos profissionais e
acadêmicos da área da saúde, em especial, da Enfermagem para o reconhecimento e
manejo deste transtorno.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Crianças com baixo peso ao nascer e crianças que vivem em situação de pobreza
são mais propensas a desenvolver essa desordem. Além da pobreza, fatores estressores
como interação precária entre criança-pais, estresse grave, maus-tratos infantis também
são descritos como possíveis desencadeantes para o desenvolvimento de ANOCI.
O ANOCI é visto como uma forma de negligência dos pais, pois estes
apresentam comportamentos contínuos que refletem ausência ou insuficiência de
cuidados destinados às suas crianças.
REFERÊNCIAS
BINDARY, A. (Org.) Guidelines on the at-risk concept and the health and nutrition of
young children. American journal of clinical nutrition. Califórnia, v. 30, n.2, p. 242-
254,1987.Disp.em:<http://www.ajcn.org/cgi/search?sortspec=relevance&author1=&full
text=guidelines&pubdate_year=1977&volume=&firstpage=242> Acesso em 18 de
março de 2007.
GAUDIN, J.Jr. Child Neglect: a guide for intervention. Child Welfare Information
Gateway - User Manual Series. U.S. Department of Health and Human Services.
Washington, april 1993. Disp. em:
http://www.childwelfare.gov/pubs/usermanuals/neglect/neglectf.cfm. Acesso em 10 de
fevereiro de 2007.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 175 p.
MORAIS, E.P.; EIDT, O.R. Conhecendo para evitar: a negligência nos cuidados de
saúde com crianças e adolescentes. Revista Gaúcha de Enfermagem. Porto Alegre,
v.20, n. especial, p. 6-21, 1999.
RISCO. In: BUENO, F.S. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Abril, 1986. 1263 p.
SAVAGE, J.; FISCHER, J.O., Birch, L.L. Parental Influence on Eating Behavior:
Conception to Adolescence. Journal of law, medicine and ethics. Oxford, v. 35, issue
1, p. 22-34, spring, 2007. Disp. em http://www.blackwell-
synergy.com/doi/abs/10.1111/j.1748-720X.2007.00111.x. Acesso em 15 de maio de
2007.
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