Andreamoraes, RPV v28 n1 Passos
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POLÍTICAS SOCIAIS
PADRÕES, TENDÊNCIAS E DESAFIOS
UNIVERSIDADE FEDERAL (UERJ), Lilia Guimarães Pougy, Listz Vieira
DO RIO DE JANEIRO (PUC-Rio), Ludmila Fontenele Cavalcanti,
REITOR Marcelo Macedo Corrêa e Castro (FE/UFRJ),
Roberto Leher Maria Celeste Simões Marques (NEPP-DH/
PRÓ-REITORA DE UFRJ), Maria das Dores Campos Machado,
PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA Marildo Menegat, Marilea Venâncio Porfirio
Leila Rodrigues da Silva (NEPP-DH/UFRJ), Maristela Dal Moro,
Miriam Krenzinger Guindani, Mohammed
ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL ElHajji (ECO/UFRJ), Mônica de Castro
Maia Senna (ESS/UFF), Mônica Pereira
DIRETORA
dos Santos (FE/UFRJ), Murilo Peixoto da
Andréa Teixeira
Mota (NEPP-DH/UFRJ), Myriam Moraes
VICE-DIRETORA
Lins e Barros, Patrícia Silveira de Farias,
Sheila Backx
Paula Ferreira Poncioni, Pedro Cláudio
DIRETORA ADJUNTA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Cunca Bocayuva B Cunha (NEPP-DH/UFRJ),
Rosana Morgado
Raimunda Magalhães da Silva (UNIFOR),
Ranieri Carli de Oliveira (UFF), Ricardo
REVISTA PRAIA VERMELHA
Rezende, Rodrigo Silva Lima (UFF), Rosana
(Para os membros da Equipe Editorial
Morgado, Rosemere Santos Maia, Rulian
pertencentes à Escola de Serviço Social
Emmerick (UFRRJ), Silvana Gonçalves de
da UFRJ o vínculo institucional foi omitido)
Paula (CPDA/UFRRJ), Sueli Bulhões da Silva
EDITORES (PUC-Rio), Suely Ferreira Deslandes (ENSP/
José María Gómez FIOCRUZ), Tatiana Dahmer Pereira (UFF),
José Paulo Netto Vantuil Pereira (NEPP-DH/UFRJ) e Verônica
Maria de Fátima Cabral Marques Gomes Paulino da Cruz.
Myriam Lins de Barros
EDITORES TÉCNICOS
COMISSÃO EDITORIAL Fábio Marinho
Janete Luzia Leite Márcia Rocha
Rita de Cássia Cavalcante Lima Marcelo Rangel
CONSELHO EDITORIAL Jessica Cirrota
Adonia Antunes Prado (FE/UFRJ), Alejandra PRODUÇÃO EXECUTIVA
Pastorini Corleto, Alzira Mitz Bernardes Márcia Rocha
Guarany, Andrea Moraes Alves, Antônio
REVISÃO
Carlos de Oliveira (PUC-Rio), Carlos Eduardo
Andréa Garcia Tippi
Montaño Barreto, Cecília Paiva Neto
João Bosco Telles
Cavalcanti, Christina Vital da Cunha (UFF),
Fátima Valéria Ferreira Souza, Francisco PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
José da Costa Alves (UFSCar), Gabriela Fábio Marinho
Maria Lema Icassuriaga, Glaucia Lelis Alves
Ilma Rezende Soares, Jairo Cesar Marconi Escola de Serviço Social - UFRJ
Nicolau (IFCS/UFRJ), Joana Angélica Av. Pasteur, 250/fundos (Praia Vermelha)
Barbosa Garcia, José Maria Gomes, José CEP 22.290-240 Rio de Janeiro - RJ
Ricardo Ramalho (IFCS/UFRJ), Kátia Sento (21) 3873-5386
Sé Mello, Leilah Landim Assumpção, Leile revistas.ufrj.br/index.php/praiavermelha
Silvia Candido Teixeira, Leonilde Servolo de
Medeiros (CPDA/UFRRJ), Ligia Silva Leite
PRAIAVERMELHA
Estudos de Política e Teoria Social
PERIÓDICO CIENTÍFICO
DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM SERVIÇO SOCIAL DA UFRJ
v. 28 n. 1
2018
Rio de Janeiro
ISSN 1414-9184
Esta obra está licenciada sob a licença Creative Commons BY-NC-ND 4.0.
Para ver uma cópia desta licença, visite:
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR
Semestral
ISSN 1414-9184
RESUMO
Este artigo tem por objetivo apresentar o resultado de pesquisa rea-
lizada em município de pequeno porte no Rio de Janeiro, tendo como
objeto de estudo Piraí, buscando analisar as potências e limites da
Estratégia Saúde da Família (ESF) no âmbito do SUS sob a tensão
entre as diretrizes do movimento da Reforma Sanitária e do Banco
Mundial. O tipo de pesquisa utilizada para este estudo é quantitativa-
qualitativa, tendo o estudo de caso como ferramenta. Para a realização
desta tarefa, nos servimos de instrumentos que possibilitaram a con-
textualização do objeto, tais como: grupo focal, cujos sujeitos foram os
profissionais que atuam na ESF; observação simples; diário de campo e
análise documental através de dados estatísticos, indicadores e infor-
mações produzidas em domínio público. O material qualitativo foi tra-
balhado com a análise de conteúdo sob a técnica da análise temática.
PALAVRAS-CHAVE
SUS, Estratégia Saúde da Família, Atenção Primária em Saúde, Piraí.
ABSTRACT
This article aims to present the results of a research carried out in a small town in Rio de Janeiro,
Piraí, which will be the object of study. It aims to analyze the limits and the possibilities of the
Family Health Strategy within the scope of SUS in small towns under the tension between the gui-
delines of the Sanitary Reform movement and the World Bank. The type of research used for this
study is quantitative-qualitative, using the case study as a tool. In order to carry out this task, we
used instruments that made it possible to contextualize the object, such as: focus group, whose
subjects were the professionals who work at the FHS; simple observation; field diary and documen-
tary analysis through statistical data, indicators and information produced in the public domain.
The qualitative material was dealt with content analysis under the thematic analysis technique.
KEYWORDS
Welfare State. Social Security. Labor Force. Unemployment.
INTRODUÇÃO
Desde 1988 o Brasil tem estabelecido um sistema de saúde basea-
do no princípio do direito de cidadania. O Sistema Único de Saúde
(SUS) tem o objetivo de prover uma atenção abrangente e universal,
preventiva e curativa, por meio da gestão e prestação descentraliza-
da de serviços de saúde, promovendo a participação da comunidade
em todos os níveis de governo (PAIM ET AL, 2011).
Cabe destacar que a reforma do setor de saúde brasileiro ocor-
reu de forma simultânea ao processo de redemocratização, a partir
de um amplo movimento social que cresceu no país, em meados da
década de 1970. A concepção política e ideológica do movimento
pela reforma sanitária defendia a saúde não como uma questão ex-
clusivamente biológica, mas sim como uma questão social e política
a ser abordada no espaço público.
O SUS, então, insere-se em um contexto mais amplo de lutas
políticas e da própria Seguridade Social – conjuntamente com a
Assistência Social e a Previdência Social. A definição do modelo de
Seguridade Social no Brasil significou a formulação de uma estrutura
de proteção social: abrangente, justa, equânime e democrática. Foi
previsto universalidade da cobertura e do atendimento, uniformidade
e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e
rurais, equidade na forma de participação no custeio, assim como o
caráter democrático e descentralizado na gestão administrativa, que
fortalece Estados e municípios, com comando único das diferentes
instituições públicas e privadas. Com esse modelo, intencionou-se
romper com o padrão político anterior excludente e meritocrático,
afirmando o compromisso com a democracia.
No entanto, é na década de 1990, período de implementação do
SUS, que o Estado brasileiro passa a implantar o projeto neoliberal,
o qual foi iniciado pelo governo Fernando Collor de Mello, e consoli-
dado pela contrarreforma do Estado defendida pelo governo Fernando
Henrique Cardoso, tendo como marco principal a reforma gerencial
do Estado de 1995. Consolida-se assim, na segunda metade dos
METODOLOGIA
No campo da saúde, as questões de saúde e doença, assim como
da medicina e das instituições médicas, do ponto de vista marxista,
precisam se fundamentar historicamente. Dito isso, este estudo foi
orientado pelo método crítico-dialético a partir dos princípios da his-
tória, da contradição e da totalidade.
Os procedimentos da pesquisa se constituíram nas seguintes
etapas: pesquisa/revisão bibliográfica; pesquisa na internet com
o objetivo de obter dados estatísticos, indicadores e informações
produzidos em domínio público, através de fontes oficiais; estudo
de caso, através de pesquisa de campo, com o objetivo de aproxi-
mação com o real.
O método utilizado neste estudo foi quantitativo-qualitativo.
Quantitativo com o objetivo de trazer para o estudo dados esta-
tísticos e indicadores. Para isto, utilizamos informações e dados
de fontes oficiais, no que se refere ao sistema de saúde e ESF: o
Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), Departamento
de Informação e Informática do SUS (DATASUS), Cadastro Nacional
de Estabelecimentos de Saúde (CNES), assim como informações a
respeito da organização e estruturação dos serviços, obtidas atra-
vés do IBGE, Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE),
bem como dados em domínio público oriundos do site da Secretaria
Municipal de Saúde do município de Piraí.
Utilizamos o estudo de caso como uma ferramenta que contribui
para gerar conhecimento sobre processos que já ocorreram ou estão
CENÁRIO DA PESQUISA
Piraí pertence à Região do Médio Paraíba, tendo uma área total de
505,4 quilômetros quadrados, correspondentes a 8,2% da área da
Região do Médio Paraíba. Segundo o IBGE, a população estimada
para 2016 no município era de 28.088 habitantes.
O IDH1 de Piraí era de 0,708 em 2010. O município está situado
na faixa de desenvolvimento humano alto. Entre 2000 e 2010, a di-
mensão que mais cresceu em termos absolutos foi educação (au-
mento de 0, 167), seguida por longevidade e por renda.
No que se refere à saúde, Piraí iniciou a implantação da Estratégia
Saúde da Família (ESF), atingindo a cobertura de 100% da população
em 2002. No entanto, na década de 80, antes da implantação do
SUS, Pirai já possuía uma ampla rede de serviços de saúde, sob a
responsabilidade dos governos estadual, municipal e federal, e ainda
um hospital filantrópico conveniado com o INAMPS. Com esses ser-
viços locais, o município já atendia grande parte de sua população.
Dito isso, tentaremos descrever os elementos encontrados na
pesquisa de campo, ou seja, na realidade local, que contribuíram
para que o referido município pudesse ser considerado uma expe-
riência exitosa em tempos de crise do Estado, com rebatimentos di-
retos nas políticas sociais.
TABELA 1 Distribuição percentual dos nascidos vivos de residentes de Piraí por município (2009-2016)
nascidos vivos
nascimento
Total de
Ano do
TABELA 2 Distribuição dos nascidos vivos segundo número de consultas de pré-natal de 2009 a 2016
Fonte: SINASC/MS
Fonte: SINAN/MS
Eu não sei, né? No meu caso, não sei vocês. Tem mês que dá para
você poder bater a sua meta sem você se apertar muito; agora tem
mês que a gente tem que rebolar para poder conseguir alcançar a
nossa meta. Porquê? Paciente que falta; está lá agendado, você vai,
o agente de saúde liga para o paciente no dia ("Oh, a tua consulta
é hoje à tarde.") ou então no dia anterior ("É amanhã de manhã")
para o paciente vir. Aí isso é tipo assim: caraca, aí no tempo de um
mês faltam dez, faltam nove, e você tem que ficar, sabe?, rebolando:
"Caraca, e agora?" Dá aquele desespero na pessoa. A gente está
num stress que você não tem noção (GF1).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Piraí apresenta em sua trajetória elementos que favoreceram a cons-
trução e desenvolvimento do atual sistema de saúde municipal, pau-
tado em uma APS abrangente. O município possui um acúmulo de
ações e serviços de saúde que data da década de 1980 e que ao lon-
go dos anos foi sendo aprimorado, até que em 2002 se estabeleceu
a ESF e, no ano seguinte, atingiu-se 100% de cobertura à população.
Elencamos alguns desses elementos que consideramos relevan-
tes para o êxito da ESF no município.
Em primeiro lugar o acúmulo de serviços já existentes no municí-
pio, ou seja, este já contava com uma rede de serviços bem distri-
buídos em toda a área do município, inclusive com alguns serviços
ofertados de forma descentralizada, como a imunização e em segui-
da houve a implantação do Médico de Família e da ESF em todo o
território. Desta forma não houve grandes modificações na estrutura
de organização, apenas ampliação de uma rede.
Segundo fator relevante para pensar a ESF em Piraí é o núcleo de
atores políticos do poder executivo municipal. Desde 1993 o mes-
mo núcleo vem atuando na gestão da política de saúde municipal, e
pelo que foi apresentado percebe-se que não houve grandes rupturas
de poder, somente um revezamento entre os cargos, ao passo que
algumas pessoas permanecem nos demais cargos, governo após
governo. Este fato nos permite afirmar, com relação à saúde, que
esta não se apresenta como uma política de governo, mas como um
projeto de Estado. Isto é fundamental para entender a legitimidade
do referido grupo à frente da política municipal desde a década de
1990. No entanto, contraditoriamente, esse mesmo grupo compõe
as lideranças do partido no poder Executivo estadual e federal, as
quais estão contingenciando verbas para a saúde pública nas duas
esferas de governo e que lideraram a aprovação da PEC 241, que
congelou o teto dos gastos públicos por 20 anos, em 2016, atingin-
do duramente o SUS. Que impactos essa orientação política terá em
Piraí deverá ser objeto de novas investigações.
REFERÊNCIAS
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IN: XXVII Simpósio Nacional de História. Natal/RN, 22 a 26 de
julho de 2013.
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Banco Mundial, 2007. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/
sites/default/files/Governanca_SUS__Relatorio_banco_mundial.
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aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a
revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção
Básica, para a Estratégia Saúde da Família-ESF e o Programa
de Agentes Comunitários de Saúde-PACS. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 out.2011.
BRASIL. MS. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica.
Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde
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GIOVANELLA, L.; MENDONÇA, M. H. M. Atenção Primária à Saúde. In:
GIOVANELLA, L. et al. (Orgs.). Políticas e sistema de saúde no
Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012, pg. 493-545.
MINAYO, M.C. DE S. O Desafio do Conhecimento. Pesquisa Qualitativa