LIVRO Saúde Do Trabalhador

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Saúde do trabalhador:

a efetividade da
proteção coletiva
Universidade Estadual da Paraíba
Prof. Antonio Guedes Rangel Junior | Reitor
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Editora da Universidade Estadual da Paraíba


Luciano Nascimento Silva | Diretor
Antonio Roberto Faustino da Costa | Editor Assistente
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Clésia Oliveira Pachú
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Saúde do trabalhador:
a efetividade da
proteção coletiva

Campina Grande - PB
2019
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Danielle Correia Gomes

Revisão Linguística
Antônio de Brito Freire
Elizete Amaral de Medeiros
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO, 9

GESTÃO DA SAÚDE: INTERVENÇÃO COM BASE EM MODELO


ADMINISTRATIVO, 13
Maria Dilma Guedes
Clésia Oliveira Pachú

SERVIDORES PÚBLICOS: CONTEXTO TRABALHO E SAÚDE, 33


Magnum Sousa Ferreira Reis
Clésia Oliveira Pachú

HIPERTENSÃO ARTERIAL E INDICADORES


ANTROPOMÉTRICOS DE GORDURA EM SERVIDORES DE
UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA, 57
Thayane Érika Albuquerque
Clésia Oliveira Pachú

PERFIL DO CONSUMO DE ÁLCOOL E TABACO ENTRE


UNIVERSITÁRIOS DOS CURSOS DE HUMANAS DE UMA
UNIVERSIDADE PÚBLICA, 82
Suênya Beserra Costa
Clésia Oliveira Pachú
CONSUMO DE DROGAS PSICOATIVAS POR
UNIVERSITÁRIOS, 99
Valdileide de Melo Barbosa
Clésia Oliveira Pachú

PROMOÇÃO DE AMBIENTES LIVRES DE FATORES QUE


CONDUZAM À DEPENDÊNCIA QUÍMICA: RELATO DE
EXPERIÊNCIA, 122
Helen Jesana Vieira Diniz
Clésia Oliveira Pachú

ANÁLISE LABORAL E CUSTO HUMANO NO SERVIÇO


PÚBLICO, 145
Elaine da Silva Gomes
Clésia Oliveira Pachú

AVALIAÇÃO DA SAÚDE DE DOCENTES DE UMA


UNIVERSIDADE PÚBLICA, 162
Jéssika Emanuela Batista Viana
Clésia Oliveira Pachú

PREVALÊNCIA DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA EM


DOCENTES DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA, 187
Ana Paula Santino Fialho
Clésia Oliveira Pachú

PERFIL DOS IDOSOS ATENDIDOS EM UM SERVIÇO DE


TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR DE TABAGISMO, 204
Patrícia Regina Cardoso de Almeida
Clésia Oliveira Pachú

CUIDADO FARMACÊUTICO DIRIGIDO A TABAGISTAS EM


TRATAMENTO FARMACOLÓGICO COM CLORIDRATO DE
BUPROPIONA, 229
Clésia Oliveira Pachú
Bruna Moura Ribeiro Nunes
Luana Silva Barbosa
Mateus Raposo dos Santos
Matheus Vinícius Nascimento Cabral
Cibelly Alves Santos
Marília Gabrielly Pereira Maniçoba
Genilza de Santana
Flávia Gabryelle de Lima Barbosa
Mirelly Barbosa Santos
Janielle Silva Marinho de Araújo
Gabryella Garcia Guedes

NÍVEL DE ESTRESSE ENTRE TABAGISTAS EM


RECUPERAÇÃO NUM HOSPITAL PÚBLICO EM CAMPINA
GRANDE-PB, 249
Terezinha Lumena Carneiro Rodrigues Silva
Clésia Oliveira Pachú

GASTO PÚBLICO COM ACIDENTADOS DE MOTO NO


ANO DE 2013 EM HOSPITAL DE REFERÊNCIA DE CAMPINA
GRANDE – PB, 262
Matheus Vítor Pereira Lima
Clésia Oliveira Pachú

CONDUÇÃO À PRISÃO EM CUMPRIMENTO À LEI 11.343/2006,


285
Maria Gabryella Nogueira da Rocha
Clésia Oliveira Pachú
APRESENTAÇÃO

No contexto das universidades públicas brasileiras, a Uni-


versidade Estadual da Paraíba sinaliza, ao institucionalizar o Núcleo
de Educação e Atenção em Saúde no ano de 2013, a inclusão da parti-
cipação social na construção de uma estrutura que aproxima política
e administração. Desta forma, a presente abertura política à partici-
pação social favorece a concretização da tríade universitária ensino,
pesquisa e extensão, compreendida como fundamental na formação
de futuros profissionais. Conforme entendimento da autora, a real
vivência na academia, refere-se à produção do conhecimento efi-
ciente e capaz de desenvolver habilidades e potenciais úteis no âm-
bito profissional e pessoal, produto da realização de atividades que
ressignifiquem e vitalizem o potencial transformador social do uni-
versitário. Tornar ciente a sociedade do modo pelo qual essa produ-
ção é realizada, incluindo suas políticas e práticas, se faz necessário.
Nesta obra, ao primeiro olhar e focando os escritos efetuados
por membros do Núcleo de Educação em Saúde da Universidade
Estadual da Paraíba (NEAS/UEPB) intermediado pelo Programa
Educação e Prevenção ao uso de álcool, tabaco e outras drogas (PE-
PAD) e Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde/Doença e Direitos
Sociais (GEPSADDS), constata-se a condução dos artigos mediante
o despertar do interesse e crescente demanda na busca por melho-
rias na saúde do trabalhador. A efetividade do prescrito na Reso-
lução/UEPB/CONSUNI/016/2013, institucionalização do Núcleo
de Educação e Atenção em Saúde, para além de uma possibilidade
de aparente feedback institucional, destaca-se a concretização de

9
atividades concernentes à concepção de educação e de formação do
ser humano.
Os aspectos da obra se entrelaçam, denotando uma complexi-
dade específica à educação e, assim, evidenciam emaranhados com
ensino, aprendizagem, políticas educacionais, concepções de ciência,
compreensões de história, de vida, possibilitando-nos adentrar em
um campo cada vez mais abrangente e profundo e que, ambigua-
mente, se dá a conhecer e se esconde. Essa complexidade se revela no
objeto de estudo, a saúde do trabalhador, instigando a produção de
mais intervenções/investigações nessa área de conhecimento. Neste
sentido, demonstra-se a exigência em saber a respeito das caracte-
rísticas, modo de ser ou de se mostrar daqueles que participam da
intervenção/investigação, colocando o autor diante da questão ine-
vitável: Quando parar, ou se é possível parar?
Referencia-se, neste momento, a necessidade de compartilhar
a tríade universitária colocada à disposição da sociedade que tem
como característica, a abertura e dinâmica, em termos de necessi-
dade de produção de conhecimento e posicionamentos de políticas
educacionais. As questões destacadas no parágrafo acima abrem um
leque de possíveis respostas e, conduzem o profissional comprometi-
do socialmente a efetuar movimentos apropriados para deslanchar o
processo de atendimento às demandas sociais e, ainda, refletir acerca
da formação de futuros profissionais.
É importante, entretanto, esclarecer a postura em relação ao
modo de proceder que permite colocar em relevo o indivíduo do
processo, em especial o futuro profissional, não olhado de modo
isolado, mas contextualizado social e culturalmente, especialmente,
trabalhar concebendo-o como já sendo sempre junto ao mundo e,
portanto, aos outros e aos respectivos equipamentos dispostos na
circunvizinhança existencial, constituindo-se, na história, ao outro
e ao mundo. A presente obra pode nos conduzir a dar conta de que
esses pares já anunciam posturas em relação ao modo de tomar um
ou outro par para intervenção/investigação.
Independentemente dos resultados concretos que possam vir a
ser alcançados com este ensaio, o fato é que ele está sendo realizado
num momento em que não é mais possível manter-se indiferente aos

10
efeitos que as mudanças no ambiente de trabalho vêm provocando
em todo o Brasil. Os estudos apresentados nesta obra requerem da
educação dos indivíduos muito mais que conhecimento de normas,
dogmas. Referencia-se que a inércia no presente tende a crescer ex-
ponencialmente as perdas do trabalhador na medida em que o tem-
po vai passando. A mitigação e a adaptação às mudanças são tarefas
impostergáveis. São uma obrigação imediata de todos, a começar
pelas instituições que atuam na esfera pública. O Núcleo da Univer-
sidade Estadual da Paraíba voltada para o desenvolvimento de estu-
dos, investigação e intervenção nas questões relativas ao mundo do
trabalho, não poderia se furtar a este desafio.
O NEAS soma-se às organizações de empregadores e trabalha-
dores e os governos mandantes da Organização Internacional do
Trabalho em aceitar o desafio e determina-se a participar, mediante
o reforço da nossa capacidade para antecipar as mudanças, a prepa-
rar e posteriormente pôr em prática um processo de adaptação efi-
ciente e justo. Neste sentido, insere-se a Iniciativa Empregos Verdes
(MUÇOUÇAH, 2009). A Iniciativa Empregos Verdes da OIT tem
por objetivo aportar a dimensão vital do trabalho decente à ação das
Nações Unidas com vistas a aplicar uma estratégia integral visando
melhoria do bem-estar dos seres humanos, reduzindo os impactos
ambientais negativos e a escassez ecológica. 
Porém, deve-se adentrar pelos meandros dos processos de orien-
tação e tutoria descritos na literatura como ferramentas importantes
no processo educativo do Ensino Superior (ALBANAES; SOARES;
BARDAGI, 2015). Estas estratégias são caracterizadas por uma diver-
sidade de ações que beneficiam o estudante nos aspectos do processo
de treinamento, relacionado a diferentes esferas da formação acadê-
mica, vocacional, pessoal e social, por meio de ações como orien-
tação, assessoria, informação, acompanhamento e escuta. Podendo
incluir o conjunto de necessidade como guiar o futuro profissional
no conhecimento da universidade para maior integração no novo
contexto universitário, desenvolver a capacidade de estudar e apren-
der de forma mais eficiente; promover informação acerca de ques-
tões acadêmicas e/ou profissional.
Os escritos desta obra apontam para vivências na academia que

11
possibilitam identificar as principais ferramentas de empoderamen-
to utilizadas na formação do futuro profissional, dentre elas, per-
guntas poderosas, feedback, estabelecimento de metas e planos para
Equipe. A população deste estudo é limitada para generalizações,
entretanto, reconhece-se a partir dela que há possibilidade de apre-
ender pertinente e potencializadora da necessária continuidade de
efetivação da tríade universitária: Ensino, pesquisa e extensão.

12
GESTÃO DA SAÚDE: INTERVENÇÃO COM
BASE EM MODELO ADMINISTRATIVO

Maria Dilma Guedes


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
A morbimortalidade no Brasil reflete o estilo de vida não saudável da
população. Padrões de comportamento podem conduzir ao adoeci-
mento, tais como, a falta de atividade física, alimentação inadequa-
da e ausência de relaxamento reforçados por publicidades eficazes
empregando marketing sofisticado e redirecionando as decisões dos
indivíduos para o não cuidado com a saúde. Dietas deficientes em
nutrientes, uso de álcool, tabaco e abuso de substâncias psicoativas,
estão entre os principais problemas de saúde pública na atualidade.
De outro modo, práticas comportamentais saudáveis ​​podem preve-
nir doenças crônicas e melhorar o gerenciamento das condições pre-
valecentes (WHO, 2005).
Neste contexto, satisfazer o usuário de serviços ocupa local de
destaque na qualificação dos serviços. Considera-se que satisfazer
se relaciona de maneira direta com adesão terapêutica e resultados
positivos no cuidado em saúde, por influenciar em comportamentos
modificadores do panorama saúde/doença (BRANDÃO; GIOVA-
NELLA; CAMPOS, 2013). É válido ressaltar que o profissional deverá
atuar na transformação do paciente em protagonista, autor da ação
para melhora ou saída da situação que motivou a busca pelo servi-
ço. As teorias e modelos de mudança de comportamento evoluíram

13
nas últimas 4 décadas, afastando as intervenções de saúde comporta-
mental dos modelos tradicionais baseados em informações e assun-
tos (MARZIALE; JESUS, 2008).
Na atualidade, os serviços de saúde abordam a complexa inte-
ração de motivações, sugerem ações, percepção de benefícios e
consequências, expectativas, analisam as influências ambientais e
culturais, auto-eficácia, protagonismo do assistido, ambivalência e
intenções de implementação. Ao mesmo tempo, o desenvolvimen-
to e a implementação de intervenções que melhoram estratégias de
recrutamento incluindo incentivos adequados e atrativos para a par-
ticipação, integração de componentes múltiplos com intervenções
baseadas em evidências entregues por pessoal competente e creden-
ciado, além de realizar a avaliação da sua eficácia com base em resul-
tados válidos, tais como redução de risco e redução de custos.
A metodologia de pensamento participativo utilizada para defi-
nir a direção que a organização deve seguir por meio da descoberta
de objetivos válidos e não-subjetivos se chama Planejamento Estra-
tégico. Este apresenta como produto final o Plano Estratégico, do-
cumento escrito com direcionamento para nortear as atividades da
organização. Neste contexto, gestores que almejam êxito na condu-
ção do serviço sob sua responsabilidade devem descobrir o melhor
caminho a ser percorrido para garantia da sobrevida, crescimento e
perpetuidade organizacional.
Embora as intervenções variem de acordo com as configurações,
a maioria dos programas normalmente inclui vários componentes,
tais como, avaliações de risco para a saúde, envios educacionais,
apresentações e workshops, programas on-line, triagem biométrica,
gerenciamento de casos e cada vez mais treinamento de saúde. O
presente estudo apresenta a seguinte estrutura: Introdução, Quali-
dade do Serviço e de pessoas, Principais Técnicas Administrativas,
Planejamento Estratégico e Considerações Finais. O objetivo deste
artigo é refletir acerca da utilização de conhecimento em Adminis-
tração como modelo de aprimoramento para intervenção em pro-
grama de gestão da saúde. Espera-se que a gestão em saúde do local
de trabalho melhore o comportamento de autocuidado, autogestão
para pessoas e reduza riscos de agravos à saúde.

14
QUALIDADE DO SER VIÇO E GESTÃO DE PESSOAS
A competitividade e diferenciação das organizações se devem ao in-
vestimento em serviços de qualidade que satisfaçam a expectativas
dos seus clientes agregando valor e aproximando novos usuários dos
serviços prestados. Atender ao cliente não é o suficiente para ade-
são e fidelidade do mesmo, faz-se necessário inovar o serviço e fazer
o usuário “sonhar”. O treinamento de funcionários no desenvolvi-
mento de atividades estabelecidos pela organização conduz a melhor
qualidade do serviço ofertado (CHIAVENATO, 2010).
O termo qualidade não possui uma definição genérica ou uni-
versal aplicável em qualquer situação. Trata-se de conceito flexível
e adaptável possuindo diversas abordagens, gerando apreciações di-
ferentes de cada situação que está envolvida (MARTINS, 2012). Por
qualidade, também se entende a totalidade das características e as-
pectos de um determinado produto ou serviço que proporcionam
satisfação das necessidades declaradas e implícitas (CASTRO, 2012).
Observa-se que usuários de serviços se tornaram mais exigentes em
relação à qualidade e, em consequência, as empresas estão buscando
melhorar, de maneira rápida, os serviços ofertados aos usuários. A
literatura científica correlaciona qualidade como inseparável à satis-
fação e adequação das necessidades dos clientes (SOUZA, 2014).
A qualidade é o conjunto de definições apresentadas por vários
autores, extraídas de diversos estudos, por meio do desenvolvimento
de inúmeros conceitos específicos, liderados pela composição da te-
oria e prática, com argumentos viáveis e diagnósticos sólidos (SOU-
ZA, 2014). Este autor revela ser a qualidade, principal ferramenta
para o sucesso de qualquer organização. Ao satisfazer alguns requi-
sitos do serviço, alcançará níveis de qualidade refletindo em clientes
satisfeitos, resultados financeiros positivos, boa imagem no mercado
e futuro promissor.
O conhecimento dos critérios pelos quais clientes avaliam o servi-
ço se torna a melhor maneira de compreender suas expectativas e po-
der atendê-las, quiçá superá-las (ZAMBONI; GARCIA, 2013). Neste
contexto, faz-se mister que empresas prestadoras de serviços identi-
fiquem as expectativas de potenciais clientes e, permitam-se aperfei-
çoar atividades que favoreçam na compreensão de positividade em

15
relação à qualidade do serviço oferecido. Tal percepção do serviço
conduzirá à manutenção e aumento na clientela e fortalecimento do
serviço de saúde que acrescerá em aperfeiçoamento e implantação
de novas atividades em vista ao bom conhecimento dos usuários do
serviço.
O conceito de qualidade estava ligado às características intrín-
secas ao produto. Contudo, sua construção está alicerçada na tría-
de: Redução de custos, aumento da produtividade e a satisfação do
cliente (ACADEMIA PEARSON, 2010). A evolução do conceito de
qualidade vem se aperfeiçoando, observação disponibilizada por es-
tudiosos, onde suas próprias filosofias propõem mudanças no coti-
diano das organizações. No Quadro 1, apresenta-se uma síntese dos
principais aspectos emanados pelos precursores da qualidade quan-
to a qualidade e ser humano. Embora sejam 5 as dimensões da qua-
lidade: Pessoal, departamental, produtos, serviços e empresas, será
dado ênfase a duas, por serem destaques neste artigo: Qualidade e
ser humano.

Quadro 1– Síntese das abordagens teóricas dos principais precursores da


qualidade
Visão Feigenbaum Deming Juran Ishikawa Taguchi Crosby
Entender
Clientes exigem. Percepção das
perfeitamente as Percepção Desde o momento
Espelhada nas necessidades do
necessidades dos adequada das do design do
especificações mercado. Satisfação do cliente
clientes. necessidades dos produto.
de todas as Satisfação total define as especifica-
Buscar resultados clientes. Reconhece a
Qualidade etapas. nestas necessidades. ções do produto.
homogêneos. Melhorias qualidade como
Processos Adequação dos Cumprimento total
Buscar medidas efetuadas a partir um assunto social
compatíveis às produtos. das especificações.
de previsão que dos níveis já e não apenas da
exigências. Resultados
eliminem as alcançados. empresa.
homogêneos.
variações.

Comprometimento e Valorização total do


Comprometimento,
Conscientização conscientização. ser humano.
conscientização,
da contribuição Motivação via Comprometimento Qualidade é inerente Considera uma
comunicação
Ser individual para integração. com a qualidade ao ser humano. abordagem fraca
e motivação
humano o resultado final Identidade de em todos os níveis. Comprometimento que diz respeito
conseguidas através
da qualidade. objetivos entre Total envolvimento. com a qualidade de ao ser humano.
de recompensas
a empresa e o vida tanto individual
diversas.
funcionário. quanto social.

Fonte: Ballestero-Alvarez (2010).

16
O dimensionamento da qualidade se apresenta como tarefa difí-
cil e complexa. Para Möller (2002), a qualidade pode ser classifica-
da no tocante de cinco dimensões: Pessoal, fundamentando todas
as outras qualidades por ser o serviço direcionado a pessoas. Já a
Departamental, revela que o programa de organização de uma insti-
tuição deve satisfazer as exigências e expectativas, técnicas e huma-
nas, no ambiente interno e no mundo exterior. A terceira dimensão
é a de produtos, centrada na entrega dos produtos e serviços que
possam satisfazer as expectativas de seus clientes, observada a visão
do produtor e usuário do serviço. A penúltima qualidade, serviços,
garantia da qualidade dos serviços, satisfazendo permanentemente
as expectativas dos usuários dos seus serviços.
Ademais, a quinta dimensão da qualidade, é a empresa, englo-
bando todas as dimensões anteriores e satisfazendo não apenas o
usuário, como também, o colaborador, trabalhador da organização.
No lado humano da qualidade, a atividade de gestão de pessoas
exige do colaborador a implantação de ações que modifiquem com-
portamentos. Nas atividades de saúde, a promoção desta e a gestão
de doenças, independente do modelo de intervenção, mesmo por
meio digital, a promoção de reflexão em intervenções realizadas em
várias configurações como comunidade, atendimento primário e, lo-
cal de trabalho entre populações de adolescentes, mulheres somen-
te, idosos e funcionários são fortes modelos de envolvimento ativo
de educador em saúde. Tal procedimento conduz ao treinamento de
atitudes pró ativas de autocuidado promovendo a melhora e/ou per-
cepção da condição de saúde.
Na atualidade, problemas de saúde se tornaram populares devi-
do a abordagem de comportamentos múltiplos, aumentando a ca-
pacidade de abordar acerca de riscos para saúde e autogestão de
doenças de forma econômica. Na literatura científica os resultados
relacionados à saúde incluídos no gerenciamento de saúde do local
de trabalho conclui que a inclusão de programas que oportunizam
aconselhamento individualizado e de redução de risco direcionado a
funcionários de alto risco são mais propensos a resultar em riscos de
saúde diminuídos (MARZIALE; JESUS, 2008).
Os projetos de promoção à saúde dos trabalhadores recente-
mente ganharam popularidade devido sua capacidade de abordar

17
comportamentos múltiplos, riscos para a saúde e autogestão de do-
enças de forma econômica. Os programas de desenvolvimento se
tornaram amplamente defendidos e eficazes. Desta maneira, signifi-
ca reduzir os riscos para a saúde, melhorar a autogestão e o entendi-
mento da necessidade de reduzir e minimizar os riscos de doenças.
A redução do custo em saúde, melhora na produtividade e avaliação
dos serviços em saúde fazem parte da integralidade da saúde neces-
sitando de modelos administrativos para aumentar a qualidade e
adesão às atividades de promoção à saúde.
A prática da promoção da saúde no ambiente de trabalho ou de
comunidade complementa o ensino do comportamento de autocui-
dado e de autogestão para as pessoas na obtenção de esforços adicio-
nais de promoção da saúde. Muito além de uma breve intervenção
evidências mais claras de um benefício para trabalhadores seria o
conhecimento do trabalhador e seu local de serviço.
No mundo da Administração algumas técnicas devem ser utiliza-
das para conhecimento pessoal e ambiente profissional sejam ferra-
mentas de capacitação: Mapa de Perfil; Visão Arquetípica e Consulta
de Cenários Mentais; No Acompanhamento a Avaliação de desem-
penho e  CANVAS. Ademais, no requisito Intervenção aconselha-se
o 5W2H e SWOT. Tais técnicas devem ser precedidas do Planeja-
mento Estratégico por fornecer benefício mensurável para o conhe-
cimento da organização.

PRINCIPAIS TÉCNICAS ADMINISTRATIVAS


No processo de gestão se faz necessário perceber a capacidade de
observação dos participantes de si e do meio ambiente onde é desen-
volvida a atividade, saber se é possível aos colaboradores aprender
com os erros, manter-se alerto e possuir habilidade nos trabalhos
que refletem negatividade. Neste sentido, o conhecimento de técni-
cas administrativas que conduzem à capacitação, acompanhamento
e intervenção seria o princípio do sucesso da gestão.

18
FERRAMENTAS DE CAPACITAÇÃO

MAPA DE PERFIL
O conhecimento do perfil técnico dos servidores públicos constitui
importante instrumento de gestão de pessoas, em amplo aspecto,
como forma de prestação de contas à sociedade e seus diferentes
atores, refletindo como parte do custo financeiro do Estado iden-
tificável. Neste contexto, permite visualizar a distribuição setorial e
espacial dos recursos humanos, a sua qualificação para o exercício
de suas funções públicas. Quando este estudo se faz de forma peri-
ódica ele permite ver a tendência de evolução dos efetivos, tanto em
termos globais como setoriais e como, eventualmente, tem-se trans-
formado o perfil dos servidores da Administração Pública.

VISÃO ARQUETÍPICA
É preciso observar que as organizações, frente a necessidade de defi-
nir suas estratégias de ação, são orientadas pelo contexto ambiental
mais próxima à sua caminhada e, assim os valores internos conforme
interpretação dos seus dirigentes (MACHADO-DA-SILVA; FER-
NANDES, 1998). Neste sentido, Scott (1987) revela que diferentes
esferas institucionais de forma usual apresentam diferentes crenças
e valores, significando que a diversidade simbólica do ambiente in-
fluencia os pensamentos dos dirigentes a adotarem determinadas es-
tratégias. Há de considerar que o contexto organizacional-ambiental
não se dissociam e, permanecem em crescente união. Assim, o ce-
nário social do ambiente define a organização, seja aprendendo ou a
ele ensinando, há reciprocidade na formulação e adequação de ações
(GRANOVETTER, 1985).

CONSULTA DE CENÁRIOS
A construção de cenários se mostra como importante ferramenta
para identificação e análise das possibilidades de acontecimentos re-
levantes para atuação das organizações subsidiando o encontro de
soluções e alternativas flexíveis e consistentes (HAMEL; PRAHA-
LAD, 1995). Prever mudanças e antecipar ações estratégias revela a
boa dinâmica da administração na atualidade. Os cenários podem

19
ser considerados como a visão futura da organização para o cenário
que se apresenta necessitando de mudança e explicações acerca de
aspectos do momento (RIBAS, 2007). As organizações necessitam
trabalhar com soluções para acontecimentos futuros apresentan-
do planos para enfrentamento dos diversos fenômenos (VAN DER
HEIJDEN, 2009).

ACOMPANHAMENTO

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
A conceituação de avaliação de desempenho diz respeito a atuação
do trabalhador no exercício do cargo ocupado na organização, res-
ponsabilidade, atividade atribuída, resolutividade da tarefa atribuída
ao funcionário (LUCENA, 1977). A avaliação positiva do desempe-
nho se vincula à efetiva execução das atividades inerentes à sua fun-
ção alcançando o resultado almejado. A avaliação de funcionários
está em direta harmonia com o resultado efetivo esperado pela or-
ganização constitui o real e inquestionável parâmetro decisório para
o bom desempenho. A avaliação de desempenho objetiva estimular
a iniciativa, encorajar a criatividade, desenvolver o senso de respon-
sabilidade e intensificando esforços para atingir os objetivos da Ins-
tituição demonstrando a necessária positividade, aspectos de cons-
trução positiva do trabalhador no sentido de alcançar os objetivos da
organização (LEITÃO, 1979).

CANVAS
O Canvas é utilizado para definição ou inovação de um modelo de
negócios. Apresenta-se como ferramenta prática e versátil que per-
mitir enxergar todos os aspectos fundamentais de um modelo de
negócios em apenas uma folha. Assim, tem-se a descrição da lógica
de criação, entrega e percepção dos valores da organização (OSTE-
RWALDER; PIGNEUR, 2011). Quatro são as áreas constituintes da
essência do modelo de negócios: produto, interface com o cliente,
gestão de infraestrutura e viabilidade financeira (OSTERWALDER,
2004). Tais áreas estão divididas didaticamente em nove blocos inter
-relacionados, que apresentam os 9 elementos do Canvas: Segmentos

20
de Clientes; Proposta de Valor; Canais; Relacionamento com Clien-
tes; Fontes de Receita; Recursos Principais; Atividades-Chave; Parce-
rias Principais; Estrutura de Custos (Quadro 2).
Neste sentido, o conceito é chamado Business Model Canvas
(BMC) ou Canvas permite pensar e descrever acerca do modelo de
negócio, permitindo a qualquer pessoa interessada na criação ou
inovação do seu modelo de negócio por intermédio de linguagem
comum, possibilitar a troca de ideias e experiências com outras pes-
soas envolvidas no mesmo processo (OSTERWALDER; PIGNEUR,
2011).

Quadro 2 - Business Model Canvas

Fonte: Osterwalder e Pigneur, (2011).

Os nove blocos estão divididos em dois lados, direito e esquerdo,


Emoção e Eficiência, respectivamente. O lado direito aborda ques-
tões relativas ao valor, relacionamento com clientes e fontes de re-
ceita. Em contrapartida, a eficiência, lado esquerdo, cuida da razão
sendo abordadas questões relativas à atividade, recursos, parcerias e
custos necessários para proporcionar valor à proposta de valor.

21
INTERVENÇÃO

5W2H
A utilização de ferramentas de gestão tem sido utilizada pelas orga-
nizações no sentido de aperfeiçoar as atividades desenvolvidas e pro-
porcionar melhor assistência aos colaboradores. Trata-se de ferra-
menta administrativa na concretização do objetivo “o que” organizar
e planejar as atividades, o porquê, por quem, quando, onde e quando
irá custar para organização (POLACINSKI,2012). Neste sentido, o
5W2H promove a agilidade dos processos da organização e aumen-
tando a competitividade (Quadro 3).

Quadro 3 – Planilha 5W2H


What O que será feito (etapas)

Why Porque será feito (justificativa, benefícios)

Where Onde será feito (local, departamento)

When Quando será feito (início e término – Tempo/ Cronograma)

Who Por quem será feito (responsabilidade)

How Como será feito (método, atividades, processos)

How
Quanto custará fazer (custo)
much

Fonte: Meira, 2003.

A Planilha é de fácil preenchimento e necessitando de equipe téc-


nica especializada, porém é preciso alguém que organize o processo
e envide esforços para êxito do planejado na ferramenta.

SWOT
Na análise ambiental se observa em toda organização existirem pon-
tos fortes e fracos, chamados de fatores do ambiente interno. Esses

22
fatores podem ser alterados, pois dependem unicamente de decisões
e ações gerenciais. No ambiente externo, entretanto, existem amea-
ças e oportunidades sobre as quais a empresa não tem controle: ocor-
rem independentemente da vontade e dos esforços de seus dirigentes
(CHIAVENATO; SAPIRO, 2003). A FOFA é o acróstico para Forças,
Oportunidades, Fraquezas e Ameaças. A análise FOFA faz refletir
nos aspectos positivos e negativos de seu negócio. Esta matriz tam-
bém é conhecida como Análise de SWOT (Strenghts and Weaknes-
ses, Oportunities and Threats).
Na análise interna, a avaliação da empresa, mostra-se atividade
importante que deve ser executada constantemente. O objetivo é de-
tectar os pontos fortes e fracos, com a finalidade de tornar a empresa
mais eficiente e competitiva, sanando suas deficiências. Você pode-
rá começar a analisar sua empresa pelos seguintes aspectos: Cultura
Organizacional: visão empresarial e o compartilhamento dentro da
empresa; Estrutura Organizacional: divisão do trabalho, coordena-
ção de atividades e controles; Financeiro: fluxo de caixa, orçamento
anual e acesso a fontes de financiamento; Marketing: objetivos, me-
tas, estratégias, promoção, comunicação com o mercado; e Recursos
Humanos: quantidade, qualificação, satisfação e motivação da equi-
pe, treinamento e reciclagem dos funcionários.
Em se tratando de análise externa, esta tem como objetivo es-
tudar os fatores externos que afetam a organização em diferentes
níveis, e podem ter sua origem nos aspectos, a saber: Políticos: legis-
lação, regulamentações, movimentos populares, etc.; Econômicos:
distribuição de renda, preços, nível de emprego, grau de endivida-
mento da União, padrões de consumo, etc.; Tecnológicos: tecnologia
do produto e do processo de produção, prestação de serviços, co-
municação, etc.; Demográficos: número de habitantes, distribuição
geográfica, sexo, escolaridade, faixa etária, etc.; Culturais: estilos de
vida, valores sociais, atitudes, etc.; Ecológicos: disponibilidade dos
recursos naturais e energéticos, organizações não governamentais,
etc.

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
Inicialmente, tendo como objeto a atividade fabril, a Administração

23
foi paulatinamente ampliando seu campo de atuação para todo tipo
de organização humana, como também para o intercâmbio entre as
organizações e seus ambientes, constatando-se que “diferentes reali-
dades demandarão diferentes formas de se administrar”.
A tarefa atual da Administração é a de refletir acerca dos obje-
tivos buscados pela organização e realizá-los por meio da atividade
organizacional do planejamento, organização, direção e controle de
todos os esforços realizados em todas as áreas e níveis da organiza-
ção. O alcance de tais objetivos da maneira mais adequada à situação
aprimora a eficiência e eficácia organizacional.
A expansão e ampliação do estudo da Administração não se apre-
sentam de maneira uniforme, mas varia de acordo com as escolas,
teorias e abordagens administrativas e de acordo com os aspectos
e variáveis que cada uma delas considerou relevante na sua época,
contextualização.
A história das Teorias Administrativas tem início no começo do
século passado e pode ser resumida em cinco fases bem distintas e
que se superpõem (Quadro 4).

Quadro 4 – As principais teorias administrativas e seus principais enfoques

Fonte: Chiavenato (2013, p.10).

24
Verifica-se que, no tocante a existência de modelos de planeja-
mento estratégico, vários autores (AMBRÓSIO, 1999; WRIGHT;
KROLL; PARNELL, 2000; MENDONÇA, 2003; MAXIMIANO,
2006; CAVALCANTI, 2008; OLIVEIRA, 2011), têm dedicado grande
atenção a sua elaboração, sugerindo uma metodologia específica que
segundo seu ponto de vista, incorpora etapas básicas e essenciais, ca-
pazes de trazerem para a prática a implementação do planejamento
estratégico.
Esses modelos foram adaptados e melhorados ao longo do tempo
pelos pesquisadores de Administração Estratégica, por meio da in-
serção de novas variáveis e abordagens, adequando-os aos ambientes
cada vez mais turbulentos e os imprevisíveis que se apresentam ao
mundo empresarial e, ao mesmo tempo, buscando tornar explícita
a relação entre o planejamento, sua implementação e os resultados.
Ainda que cada autor realce algumas etapas diferentes, os mode-
los apresentados fornecem um esquema cujo fundamento representa
propiciar à empresa, meios estratégicos para alcançar seus objetivos
e, portanto o sucesso organizacional. Assim, seja qual for o modelo
de planejamento estratégico o objetivo é um só, servir de norte para
o processo de elaboração de estratégias de sucesso para as organiza-
ções. Cabe à empresa analisar que modelo de planejamento estraté-
gico melhor se adapta à sua realidade e procurar integrá-lo a seu ao
meio organizacional visando melhores oportunidades de negócios.
Deste modo, o Planejamento Estratégico, independentemente
de suas diferentes interpretações, conceitos e modelos, consiste em
um conjunto de mudanças que visam fazer com que as organizações
busquem um desempenho competitivo, trazendo assim, resultados e
desenvolvimento futuros.
O Modelo de Planejamento Estratégico de Oliveira (2011) conta
com uma série de etapas como, a visão organizacional, as oportuni-
dades e ameaças advindas do meio externo, a análise dos concorren-
tes da organização, os pontos fortes, fracos e neutros presentes no
ambiente interno da empresa, a missão, os propósitos empresariais,
os possíveis cenários, as macroestratégias, os objetivos e metas ne-
cessárias para a elaboração das estratégias.
1. De forma detalhada pode-se dizer o que representa cada etapa
citada, da seguinte forma:

25
2. Visão: a visão proporciona o grande delineamento do plane-
jamento estratégico, uma vez que representa o que a empresa
quer ser;
3. Oportunidades: são as variáveis externas e não controláveis
pela empresa, que podem criar condições favoráveis para a em-
presa, desde que a empresa tenha condições e/ou interesse de
usufruí-las;
4. Ameaças: são as variáveis externas e não controláveis pela em-
presa que podem criar condições desfavoráveis para a mesma;
5. Concorrentes: a análise dos concorrentes pressupõe otimizado
sistema de informações estratégicas a respeito da atuação passa-
da e presente dos principais concorrentes. Com base na análise,
projeções e simulações desses dados e informações é possível
o delineamento inicial da atuação futura desses concorrentes;
6. Pontos fortes, fracos e neutros: os pontos fortes são as vari-
áveis internas e controláveis que propiciam uma condição fa-
vorável para a empresa, em relação a seu ambiente, enquanto
que pontos fracos provocam uma situação desfavorável para a
empresa. Já os pontos neutros são também variáveis internas
e controláveis que foram identificadas, mas que, no momento,
não existem condições de estabelecer se estão proporcionando
uma condição favorável ou desfavorável para a empresa;
7. Missão: representa a razão de ser da empresa. Nesse ponto
procura-se determinar qual o negócio da empresa, por quê ela
existe, ou, ainda, em que tipos de atividades a empresa deverá
concentrar-se no futuro;
8. Propósitos: são compromissos que a empresa se impõe no
sentido de cumprir sua missão. Representam grandes áreas
de atuação selecionadas no contexto da missão estabelecida.
Correspondem à explicitação de posições ou áreas de atuação
planejadas para toda a empresa, devidamente aceitas por seus
acionistas e executivos como desejáveis e possíveis;
9. Cenários: a elaboração de cenários estratégicos é a culminação
de um processo que deve considerar todos os executivos-chave
da empresa, isto porque, além do benefício de maior riqueza
de ideias, informações e visões sobre o futuro que um processo

26
participativo proporciona; sua finalidade principal é estimular
maior interesse e aceitação dos cenários como importantes para
o processo de planejamento estratégico das empresas;
10. Postura estratégica: é estabelecida por uma escolha conscien-
te de uma das alternativas de caminho e ação para cumprir sua
missão;
11. Macroestratégias: correspondem às grandes ações e caminhos
que a empresa vai adotar, visando atuar nos propósitos atuais e
futuros identificados dentro da missão, tendo como motor de
arranque sua postura estratégica;
12. Objetivos: é o alvo ou ponto qualificado, com prazo de reali-
zação estabelecido, que se pretende alcançar através de esforço
extra;
13. Metas: é a quantificação do objetivo ou o passo intermediário
para se alcançar determinado objetivo;
14. Estratégias: são ações formuladas e adequadas para alcançar,
preferencialmente de maneira diferenciada, as metas, os desa-
fios, e os objetivos estabelecidos, no melhor posicionamento da
empresa perante seu ambiente.

27
Figura 1 – Processo de Planejamento Estratégico

Fonte: Oliveira (2012, p.56).

As empresas diferem em tamanho, diversidade de operações, or-


ganização, filosofia e estilo gerencial, razão da inexistência de um
sistema universal de planejamento (LORANGE; VANCIL, 1976). O
propósito do presente artigo não é esgotar a discussão do processo
de aplicação e implantação do planejamento estratégico. A premissa
é revelar a importância do direcionamento da organização para al-
cance dos seus anseios e perspectivas dos que buscam seus serviços.
É importante ter em mente que toda metodologia deverá ser adap-
tada às condições ambientais externas e internas da organização que
pretende utilizá-la.
A metodologia sugerida deve ser desenvolvida por meio e no
âmbito da organização, visto ser o planejamento estratégico essen-
cial para completa interação das pessoas envolvidas no processo de

28
formulação e implantação. A realização do Planejamento Estratégico
não deve ser exclusivamente discutida por administradores, e sim,
em parceria com o corpo técnico da organização (ACKOFF, 1976).
Ressalta-se que o Planejamento deve ser realizado pela própria orga-
nização e, em nenhum momento entregue a outrem, desconhecedor
da realidade vivencial da atividade da organização.
Neste contexto, a assessoria externa deveria ter a responsabilida-
de de treinar no âmbito da organização o pessoal da empresa vincu-
lado à assessoria de planejamento. Assim, o pessoal treinado no inte-
rior da empresa por técnicos externos, ao terminarem seu trabalho,
pode deixar apenas um vazio, incapacidade para manter o plano e
prosseguir o processo de planejamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo contribuiu para compreensão do significado de
desenvolvimento de liderança e formas de caminhar consciente por
meio do estudo da Administração. Ficou demonstrado que “Nem
sempre um passo a frente é a melhor escolha” por precisarmos rever/
reconstruir a atividade para melhor satisfação do usuário.
Em muitas organizações, a liderança parece cada vez menos com
uma hierarquia de autoridade. Em vez disso, é melhor compreendida
como uma rede de relações de influência em que várias pessoas par-
ticipam, prevendo a existência desses relacionamentos de liderança
traduzindo valores em ações e promovendo melhorias organizacio-
nais duradouras.
O lado humano do serviço deve ser ressaltado para maior adesão
ao serviço e satisfação do cliente com a organização. O autoconheci-
mento, autocuidado e autoconfiança lideram o caminho para o êxito
nas atividades disponibilizadas quando discutidas com o usuário.
O processo de qualidade de vida exige do prestador de serviço
transformar reflexão em ação, paciente em protagonista. Nestes ter-
mos, faz-se necessário aprimorar o cuidado e ampliar o resultado
buscado pelo usuário do serviço de saúde.
A política de saúde do trabalhador em sua práxis, teoria e prática,
correlaciona-se ao usuário como principal interlocutor de mudança
do seu próprio cenário. Neste contexto, a utilização do Planejamento

29
Estratégico corrobora com os participantes do processo de trabalho
no recebimento da melhoria da qualidade do serviço, da pessoa e da
vida, a fim de alcançar resultados favoráveis.

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32
SERVIDORES PÚBLICOS: CONTEXTO
TRABALHO E SAÚDE

Magnum Sousa Ferreira Reis


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
O homem no trabalho é objeto de desgaste físico e mental. Os efeitos
provocados pela atividade de trabalho resultam em esforços e riscos
aos trabalhadores, locus e alvo da experiência. O desgaste se efetiva
como parte das condições de trabalho no exercício do ofício. Assim,
como elemento central, o indivíduo desenvolve habilidades, constrói
identidade e promove integração social. Neste contexto, ingredientes
de satisfação, saúde e bem-estar na vida são intrínsecos ao trabalho
e a profissão. O trabalho pode ser considerado fonte de satisfação
das diversas necessidades humanas, autorrealização, manutenção de
relações interpessoais e sobrevivência. O fruto do trabalho corres-
ponde à compensação financeira permitindo ao sujeito atender suas
necessidades básicas (TRÓCCOLI; MURTA, 2004).
Por outro lado, o trabalho também pode ser fonte de sofrimento,
quando contém fatores de risco a saúde e, de certo modo, o traba-
lhador não dispõe de instrumental suficiente para se proteger desses
riscos (TRÓCCOLI; MURTA, 2004; BATISTA; COLS, 2005). Pen-
sando em minimizar possíveis desconfortos no ambiente de traba-
lho, a Universidade Estadual da Paraíba, campus I, Campina Grande,
Paraíba, institucionalizou o Núcleo de Educação e Atenção em Saú-
de (NEAS) destinado a estudar a saúde do trabalhador. Entendendo

33
este como todo e qualquer sujeito em atividade intelectual ou física
na referida instituição. Assim, correspondendo a Docentes, técnicos
-administrativos e estudantes. O interesse nos estudos do NEAS se
justifica por existir vida humana no trabalho e a vida de cada um é
patrimônio da humanidade.
Estimativas do Relatório da Organização Internacional do Traba-
lho (OIT), revelam que do total de 2,34 milhões de mortes relacio-
nadas ao trabalho a cada ano, somente 321 mil se devem a acidentes.
As outras 2,02 milhões de mortes são causadas por diversos tipos
de enfermidades relacionadas à profissão. O documento mostra aci-
dentes e doenças relacionadas ao trabalho resultando na perda anual
de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), conjunto de bens e serviços
produzidos no mundo ou cerca de US$ 2,8 trilhões. O valor se refere
ao custo direto e indireto dos acidentes e doenças (OIT, 2013).
As doenças profissionais são definidas pela organização como
aquelas contraídas por meio da exposição a algum fator de risco re-
lacionado ao trabalho. As mais comuns são pneumoconiose; distúr-
bios musculoesqueléticos e mentais (OIT, 2013).
Neste contexto, recorreu-se no presente estudo ao pensamento
de Hanna Arendt (1981). Nesta ideia de vida activa compreendida
em três atividades humanas fundamentais: o labor, o trabalho/obra
e a ação. O labor corresponde à reprodução do ciclo biológico do
homem e suas necessidades vitais, a condição humana é a própria
vida. O trabalho correspondente à transformação da natureza, pro-
duzindo universo artificial de coisas diferentes do ambiente natural,
artefato humano empresta certa permanência e durabilidade ao ca-
ráter efêmero da vida. O labor e o trabalho não são suficientes na
construção de modo de vida autônomo e autêntico humano, por não
ser livres das necessidades e privações humanas. A ação, diferente-
mente, constitui-se como relação puramente humana entre dois ou
mais indivíduos, porquanto é a única atividade exercida de forma
direta entre homens, sem mediação da matéria ou natureza.
A presente pesquisa quantitativa descritiva objetivou estudar as
condições no trabalho de técnicos-administrativos da Universidade
Estadual da Paraíba (UEPB), por meio da avaliação da saúde destes
profissionais no contexto de trabalho e saúde.

34
REFERENCIAL TEÓRICO

O TRABALHO
O trabalho determina o desenvolvimento humano. Assim, desempe-
nha papel de importância na história da humanidade. Neste sentido,
a condição humana da ação é a pluralidade, “pelo fato de sermos todos
os mesmos, isto é, humanos, sem que ninguém seja exatamente igual
a qualquer pessoa (...)” (ARENDT, 1981, p.16). Devendo-se imaginar
a salubridade do ambiente de trabalho como fator denso em matéria
de saúde e bem-estar das populações, uma vez trabalhadores saudá-
veis e seguros, nos seus locais de trabalho, também saudáveis e segu-
ros, apresentam-se mais produtivos e, dessa forma, contribuintes no
melhor desenvolvimento econômico às sociedades modernas (SOU-
SA-UVA, 2009). Assim refletindo diretamente na qualidade de vida.

O SERVIDOR PÚBLICO
Servidor público pode ser definido como a pessoa física que exer-
ce uma função pública em decorrência de relação de trabalho, seja
em regime estatutário, celetista ou especial, mediante remuneração
paga pelos cofres públicos. No geral, esses profissionais exercem uma
função de trabalho em caráter definitivo, no sentido de desempenho
permanente da função finalizando, em geral, com a aposentadoria
pública (PEREIRA, 2012).
Nas atividades do serviço público não prevalece a lógica de mer-
cado, em que o mecanismo de preços conduz os agentes econômicos
nas suas decisões de comprar ou vender bens privados. Quando o
preço sobe, é porque há excesso de demanda do produto. Em caso
de excesso de oferta, o preço cai. No caso dos bens públicos, não
há como regular “via preços” a produção e o consumo. Ao longo dos
últimos anos, vem sendo muito destacada a perspectiva de se intro-
duzirem mecanismos competitivos na administração pública, de
modo a melhorar seu desempenho (ALONSO, 2014).

RELAÇÃO TRABALHO/SAÚDE
A relação entre trabalho e saúde observada e estudada desde a An-
tiguidade, mas nem sempre se constituiu em foco de atenção. No

35
trabalho escravo ou no regime servil, o trabalho era entendido como
castigo e inexistia a preocupação em preservar a saúde dos trabalha-
dores. O trabalhador era visto como peça de engrenagens “naturais”
e pertences da terra, tais como animais e ferramentas - assim, eram
considerados seres sem história, sem progresso, sem perspectivas ou
sem esperança terrestre (FAIMAN, 2012; FACAS, 2014).
A Revolução Industrial favoreceu o desenvolvimento de novas
indústrias, com novos produtos e mudanças nas condições de tra-
balho. Posteriormente, houve especialização de inúmeras tarefas la-
borais, e nesse cenário, mais moderno, o trabalhador tende a realizar
atividades repetitivas e excessivas, potencializando o aparecimento
de doenças ocupacionais e sintomatologia dolorosa (BRASIL, 2002).
A dor relacionada ao trabalho, a partir da Revolução Industrial, con-
figurou-se claramente como decorrência de desequilíbrio entre exi-
gências das tarefas realizadas no trabalho e capacidades funcionais
individuais, tornando-se mais numerosas as queixas e afastamentos
(MARTINS; DUARTE, 2000).
Nos dias atuais, as lesões por esforços repetitivos e patologias os-
teomusculares relacionadas com a atividade laboral, têm sido fre-
quentemente encontradas dentre os adoecimentos decorrentes do
trabalho, acometendo homens e mulheres, justamente na fase eco-
nomicamente ativa, ocasionando vários afastamentos do trabalho,
podendo evoluir para incapacidades parciais, e, não muito raras, in-
capacidades permanentes, e nesses casos, o encaminhamento para as
aposentadorias por invalidez (BRASIL, 2012).
No Brasil, a dor nas costas idiopática já é primeira causa de inva-
lidez entre as aposentadorias previdenciárias e acidentárias, com um
taxa de incidência de 29,96 acada
100.000 contribuintes (MEZIAT FILHO; SILVA, 2011).
Atualmente, as expressões de desgaste de estruturas do sistema
musculoesquelético atingem várias categorias profissionais e têm
várias denominações, entre as quais lesões por esforços repetitivos
(LER) e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort),
descritas pelo Ministério da Saúde (MS) e Ministério da Previdência
Social (BRASIL, 2012).
Novas interpretações acerca da Psicodinâmica do Trabalho

36
consideram o sofrimento inseparável de qualquer situação laboral,
isto é, inerente à condição do homem no trabalho (MENDES, 2007,
p.31). É definido como estado de luta vivenciada por trabalhadores
buscando permanecerem na normalidade e não adoecerem. Impor-
tante se faz, investigar sofrimento psíquico no trabalho, por meio da
abordagem psicodinâmica do trabalho, remonta explorar o infra-pa-
tológico e o pré-patológico (ALDERSON, 2004, p.54).
Na atualidade se percebe situações de estresse e insatisfação
quanto ao trabalho por parte dos trabalhadores de diferentes cate-
gorias profissionais, apontando para escassa atenção as suas próprias
condições de saúde (DAUBERMANN; TONETTE, 2012).
Assim, qualidade de vida pode ser entendida como percepção do
indivíduo de sua posição na vida, no contexto cultural e no sistema
de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expec-
tativas, padrões e preocupações (WORLD HEALTH ORGANIZA-
TION, 2006). Observam-se conceitos de saúde, trabalho e qualidade
de vida se misturam, sendo considerado bem-estar físico, psíquico,
socioeconômico e cultural, prioridade na busca da cura de qualquer
doença ou na busca pela saúde, em seu âmbito mais abrangente, na
melhora da qualidade de vida. A percepção da pessoa sobre seu es-
tado de saúde física e psicológica e sobre aspectos não-médicos de
contexto de vida é, sobretudo, qualidade de vida. Estes aspectos são
importantes nas ações de promoção, prevenção, tratamento e reabi-
litação em saúde. De um modo geral, não há como dissociar a vida e
o trabalho (LEAL, 2008).
Em toda a história da humanidade, o trabalho sempre aparece
como elemento importante quando se analisa transformações polí-
ticas e sociais. O homem, desde civilizações mais primitivas até a vi-
vência atual, auge da área técnico-científica, atribui o trabalho como
parte de sua existência (ARAÚJO; SACHUK, 2007).
A atividade laboral pode ser influenciada por diversos elemen-
tos, entre os quais se destacam: estrutura macroeconômica; grau
de desenvolvimento socioeconômico e cultural; nível e modelo de
industrialização; modelo organizativo, as características dominan-
tes dos serviços e da prestação de cuidados de segurança, higiene e
saúde dos trabalhadores nos locais de trabalho; sistema nacional de

37
prestação de cuidados de saúde; e maior ou menor (des)valorização
do trabalho pelas sociedades e por quem trabalha. Esses fatores in-
fluenciam e condicionam relações entre o trabalho e a saúde/doença
(SOUSA-UVA; SERRANHEIRA, 2013).
Os fatores de risco para a saúde ocupacional são tradicionalmen-
te classificados, consoante sua natureza, em fatores físicos, químicos,
biológicos, psicossociais e relacionados com a atividade, ergonô-
micos, para alguns autores (SOUSA-UVA; SERRANHEIRA, 2013).
Essas cinco categorias de fatores de risco são suscetíveis de causar
danos para a saúde.
Assim, ambiente com conflitos diários, onde é exigido muito das
pessoas, e muitas vezes a competição pode vir do próprio grupo, es-
sas são características fortes e aplicadas em campos de batalha, mas,
no entanto, acontece no ambiente de trabalho. Torna-se explícito no
mercado atual, iniciando a preocupação com o nível de estresse entre
trabalhadores. Pessoas com esse diagnóstico estão se tornando cada
vez mais comuns, deixando gestores e setores de Recursos Humanos
com esse problema a resolver (TEODORO, 2012). Demonstrando a
relevância em estudar e aperfeiçoar técnicas para melhorar o rela-
cionamento entre trabalhadores e com suas operações, por meio da
Ergonomia.
Dentre os problemas encontrados se destaca a fadiga. A literatu-
ra científica não apresenta consenso conceitual, fato provavelmente
relacionado à complexidade deste fenômeno (SHEN et al., 2006).
A carga gerada pelo trabalho resulta nos efeitos a curto prazo da
fadiga, caracterizados por sintomas emocionais, cognitivos e com-
portamentais (VAN VELDHOVEN, 2008). A fadiga, relaciona-se a
sintomas de fraqueza, cansaço, exaustão, desgaste, alteração da capa-
cidade funcional, falta de energia, letargia, sonolência, diminuição
da motivação, da atenção, da paciência e da concentração, necessida-
de extrema de descanso, mal-estar, aversão a atividades.

METODOLOGIA
O presente estudo se configura numa abordagem quantitativa des-
critiva e exploratória. De acordo com Gil (1987), a pesquisa explora-
tória visa tornar o fenômeno mais explícito e analisar sua ocorrência,

38
estabelecendo dessa forma, relações entre as principais variáveis do
estudo, estresse, sobrecarga e sintomas neuromusculoesqueléticos,
relacionados ao trabalho, sem manipulá-las.
O estudo foi desenvolvido numa instituição pública de ensino
superior situada em Campina Grande, Paraíba. A realização da pes-
quisa ocorreu no segundo semestre de 2014. Foram sujeitos 59 ser-
vidores públicos em função técnica administrativa. Os profissionais
mencionados exerciam atividades no prédio da administração cen-
tral da referida universidade e aceitaram colaborar de forma volun-
tária na pesquisa.
A amostra foi composta a partir de estratégia acidental, definida
por Sarriá, Guardiã e Freixa (1999) como não-probabilística, sendo
formada pelo maior número possível de participantes que foram
incluídos conforme a acessibilidade e disponibilidade em colaborar
na pesquisa. Tal acessibilidade foi previamente mediada pelos chefes
dospesquisados.
Participaram da pesquisa 59 servidores técnico-administrativos,
de ambos os sexos, de setores distintos, estando em pleno exercício
da função e aceitaram colaborar voluntariamente, mediante a assi-
natura do termo de consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em
duas vias, ficando uma em posse do participante, e outra, do (a) pes-
quisador (a). Foram respeitados aspectos éticos relativos à pesquisa
com seres humanos, conforme preconiza a Resolução nº 466, de 12
de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde/MS. Esta pes-
quisa foi autorizada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UEPB, sob o
número 36628014.1.0000.5187.

INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS


Foram utilizados os seguintes instrumentos para caracterizar a po-
pulação da pesquisa:
1. Dados demográfico-ocupacionais: Foi utilizada Ficha So-
ciodemográfica na coleta de informações relativas ao perfil
biográfico e sócio ocupacional (idade, estado civil, nível de
instrução escolar, número de filhos, tempo de serviço), a fim
de caracterizar aamostra;
2. Escala de necessidade de descanso: questionário

39
autoexplicativo, com 11 questões de múltipla escolha, com
quatro possibilidades de resposta. A pontuação total varia de
0 a 100 e, quanto maior a pontuação, maior a quantidade de
sintomas emocionais, cognitivos e comportamentais de fadi-
ga e maior a necessidade de recuperação dos trabalhadores.
Essa versão traduzida e adaptada culturalmente (ENEDE)
apresentou parâmetros psicométricos consistentes para sua
utilização em trabalhadores brasileiros (MORIGUCHI et al.,
2010).
3. Inventário de Sintomas de Stress para adultos de Lipp
(ISSL) – Permite diagnosticar estresse, em qual fase se en-
contra e se o estresse manifesta-se por meio de sintomatolo-
gia na área física ou psicológica. O ISSL apresenta um mode-
lo quadrifásico do estresse, (sem estresse, alerta, resistência e
exaustão). O ISSL apresenta três quadros contendo sintomas
físicos e psicológicos de cada fase do estresse. O quadro 1,
com sintomas relativos à 1ª fase do estresse, o quadro 2, com
sintomas da 2ª e o quadro 3, com sintomas da 3ª fase. O nú-
mero de sintomas físicos é maior em relação aos psicológicos
e varia de fase para fase. No total, o ISSL inclui 34 itens de
natureza somática, e 19, de natureza psicológica (CAMELO;
ANGERAMI, 2004);
4. Questionário Nórdico de sintomas neuromusculoes-
queléticos: Instrumento validado e adaptado para a língua
portuguesa por Barros e Alexandre (2003). É formado por
figura humana dividida em nove regiões anatômicas compre-
endendo questões quanto a presença de perturbações mus-
culoesqueléticas semanal e anual, bem como a intensidade
do desconforto (CARVALHO; ALEXANDRE, 2006; SILVA;
SANTOS, 2010).

PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE DADOS


As respostas contidas nos questionários foram digitadas na forma
de banco de dados do SPSS (Statistical Package for Social Science for
Windows) versão 20.0 e, em seguida, extraídas frequências dos esco-
res dos instrumentos, assim como, foram realizadas categorizações

40
de variáveis para melhor compreensão na interpretação dos resul-
tados. Por fim, foram efetuadas as análises descritivas (média, des-
vio-padrão, frequência e porcentagem) para delinear o perfil socio-
demográfico da amostra e observar os indicadores descritivos da
distribuição dos escores individuais obtidos em cada fator.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Participaram do estudo 59 servidores públicos em função técnica
administrativa de uma universidade pública. Todos responderam
aos instrumentos aplicados, representando uma taxa de participação
de 100%. Os sujeitos são vinculados aos setores: Biblioteca Central,
Bibliotecas da Central de Aulas I e II, Coordenação de Comunica-
ção, Comissão Permanente de Concursos (CPCON), Coordenado-
ria de Tecnologia da Informação (CTIC), Pró-Reitoria Estudantil
(PROEST), Pró-Reitoria de Gestão Financeira (PROFIN), Pró-Rei-
toria de Gestão de Pessoas (PROFIN) e Pró-Reitoria de Graduação
(PROGRAD).
Ao final da tabulação e análise dos dados foi possível perceber na
população estudada faixa etária entre 23 e 57 anos, com idade média
de 36,44±10,68 anos. Quanto ao sexo, 50,8% (30/59) pertenciam ao
feminino e, 49,2% (29/59) ao masculino, similares aos encontrados
por Rodrigues et al. (2014), com média de idade de 34±10,4 anos e
55% (22/40) da amostra classificada no sexo masculino. Houve pre-
valência de 35,6% com trabalhadores na faixa situada entre 26 e 30
anos (21/59). Quando modificada a faixa para idades entre 20 e 35
anos, na pesquisa, representaram 59,4% (35/59), valor próximo aos
59,1% (104/176) encontrados no estudo de Vitta et al., (2012) para
faixa etária mencionada. Portanto, o grupo é formado por adultos
jovens (Tabela1).
Em relação à escolaridade, 42,4% (25/59) afirmaram ser pós-
graduados, seguida daqueles com ensino superior completo, 35,6%
(21/59), divergindo dos resultados de Vitta et al., (2014) com a propor-
ção de 10,2% (18/176) da amostra possuir ensino superior completo.
Observa-se que o tempo de vida dedicado à educação e

41
qualificação é elevado. Quanto ao estado civil, 62,7% (37/59) afirma-
ram ser casados, frente aos 32,2% (19/59) declarados solteiros. Rabay
(2014) em estudo com servidores do Tribunal de Justiça da Paraíba,
conclui que para os pesquisados 55% (42/76) estavam casados e 36%
(27/76) solteiros.
No tocante a filhos, 45,8% (27/59) afirmaram possuírem e 54,2%
(32/59) não possuírem. Tratando-se em tempo de serviço na univer-
sidade, 39% (23/59) declararam entre 1 e 5 anos, 22% (13/59) entre 6 e
10 anos, 16,9% (10/59) a menos de 1 ano e 20,4% acima de
25 anos (Tabela 1), comparando-se com os resultados de Rabay
(2014) obtemos respectivamente 40% (30/76) até 5 anos e 12% (9/76)
acima de 25 anos trabalhados.
Assim, a média de anos trabalhados foi de 9,53±11,64 anos, valor
superior aos 5,8 ± 4,3 anos encontrados em estudo com trabalhado-
res em função similar, desenvolvido por Rodrigues et al., (2014).

Tabela 1 - Distribuição dos participantes segundo características


sociodemográficas e funcionais.
Variáveis Categoria N %

Sexo Masculine 29 49,2

Feminine 30 50,8

Faixa etária 21-25 5 8,5

26-30 21 35,6

31-35 9 15,3

36-40 6 10,2

41-45 5 8,5

46-50 1 1,7
acima de 50 12 20,3
Estado civil casado(a) 37 62,7

solteiro (a) 19 32,2

42
divorciado(a) 2 3,4

viúvo(a) 1 1,7
Filhos Sim 27 45,8

Não 32 54,2

Escolaridade ensino fundamental incomplete 1 1,7

ensino médio completo 6 10,2

superior incompleto 6 10,2

superior completo 21 35,6


pós graduado 25 42,4
Tempo de menos de 1 ano 10 16,9
serviço na
1-5 23 39,0
instituição
6-10 13 22,0

16-20 1 1,7

26-30 3 5,1

acima de 30 9 15,3
Total* 59 100

Fonte: Dados da pesquisa, 2014

As formas encontradas pelas empresas para buscarem a preven-


ção de doenças laborais é a execução de programas de Ginástica
Laboral, caracterizando-se como pausas na jornada de trabalho as-
sociadas a exercícios programados previamente, de acordo com as
atividades e demandas físicas dos trabalhadores da instituição, po-
dendo acontecer antes, durante ou após o expediente (SAMPAIO;
OLIVEIRA, 2008). Quando perguntados se a instituição realiza ati-
vidades preventivas como a ginástica laboral ou pausa ativa e qual a
frequência de realização e participação, 100% afirmaram a inexistên-
cia de tais ações, resultado diferente da taxa de 77% de participação
em programa de pausa ativa em uma instituição pública de ensino,

43
relatado por Martins, Barreto e Selva (2007).

A ESCALA DE NECESSIDADE DE DESCANSO – ENEDE


As condições de trabalho podem gerar demandas excessivas e com-
prometer a saúde dos trabalhadores. Para avaliação da necessidade
de descanso em trabalhadores urbanos, utilizou-se nesse estudo
aplicação da Escala de Necessidade de Descanso (ENEDE) a fim de
verificar a associação de resultados com fatores pessoais e ocupacio-
nais. O valor mínimo registrado foi 0 e o máximo foi 88. A média do
conjunto dos sujeitos foi de 32,87±17,35 pontos.
Para melhor compreensão das frequências, os resultados foram
categorizados em 3 valores, diferentemente do estudo de Kiss, De
Meester e Braeckman (2008) categorizado em apenas dois valores:
até 45 (nível baixo) e maior de 45 (nível alto), e foi visto 49,2% pon-
tuaram de 0 a 33; 49,2% de 34 a 66, e apenas 1,6% mais de 66 pontos,
ou seja, não houve prevalência de casos extremos de fadiga e sim
valores próximos, entre nível baixo e nível moderado da necessidade
de descanso relacionada ao trabalho (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Necessidade de descanso em trabalhadores técnico-administrativo


da Universidade Estadual da Paraíba.

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

44
Estudos realizados com ENEDE em trabalhadores têm demons-
trado que altas pontuações na escala estão associadas à maior inci-
dência de acidentes de trabalho, problemas de saúde e afastamentos.
Nesse contexto, ENEDE pode ser útil para auxiliar a identificação
precoce de sobrecarga dos trabalhadores (MORIGUCHI et al., 2010).

INVENTÁRIO DE SINTOMAS DE STRESS PARA ADULTOS


DE LIPP (ISSL)
Para avaliar se o indivíduo do estudo possui estresse e qual fase se
encontra, foi aplicado o Inventário de Sintomas de Stress para adul-
tos de Lipp (ISSL), conforme Quadro 1. Para o instrumento permitir
análise a partir dos resultados do Inventário de Sintomas de
estresse para Adultos de Lipp, foi identificado que 89,8% (53/59) dos
participantes apresentaram estresse e apenas 10,2% (6/59) não apre-
sentaram, valores acima dos resultados de Minari e Souza (2011), que
identificou 61,9% (26/42) da amostra como estressada. Houve pre-
valência na fase II, resistência, com representação de 54,2% (32/59).

Quadro 1 –Sintomas de estresse entre técnico-administrativo


Classificação Frequência Porcen-
(n) tual (%)

Sem Estresse 6 10,2

Fase III (Exaustão) 10 16,9

Fase II (resistência) 32 54,2

Fase I 11 18,6
(Alerta)

Total 59 100,0

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

De acordo com ocorrência os sintomas observados no inventário,


79,7% (47/59) disseram ter percebido sintomas no último mês, com

45
destaque para 48,9% (23/47) desse grupo terem relatado cansaço ex-
cessivo, 38,3% (18/47) angústia e ansiedade e 36,2% (17/47) insônia.
96,6% (57/59) dos sujeitos da pesquisa relataram sintomas na última
semana, destes, 63,2% (36/57) afirmaram apresentar problemas de
memória, 45,6% (26/57) sensação de desgaste físico constante e 40,4
(23/57) revelaram passar muito tempo pensando em um só assunto.
Já para 84,7% (50/59) dos servidores os sintomas ocorreram nas úl-
timas 24 horas, destacando 54% (27/50) com tensão muscular e 36%
(18/50) com mãos e pés frios.
A análise desses dados indica que os técnico-administrativos da
universidade ultrapassaram a adaptação inicial de alerta e se encon-
tram expostos a contínuas fontes estressoras, significando ser o des-
gaste do organismo uma sensação percebida pelos sujeitos encon-
trados na fase II, de quase exaustão/resistência. O problema se não
tratado, conduzirá sujeitos a fase III, de exaustão, a mais perigosa,
onde a adaptação nessa fase está totalmente esgotada e doenças já
começam a surgir (MINARI; SOUZA, 2011).

QUESTIONÁRIO NÓRDICO DE SINTOMAS


NEUROMUSCULOESQUELÉTICOS (SNME)
No tocante a ocorrência anual e semanal de sintomas neuromuscu-
loesqueléticos (SNME), verificou-se dos cinquenta e nove partici-
pantes, 79,7% (47/59) apresentaram sintomas nos últimos 12 meses e
62,7% (37/59) nos últimos sete dias, percentuais levemente menores
em relação aos observados na pesquisa de Hugue e Pereira Júnior
(2011) com servidores da UNIFEBE, sendo estes respectivamente
83% (34/41) e 63% (26/41).
No último ano, os servidores apresentaram ocorrência maior de
perturbações de origem neuromusculoesqueléticos relacionadas ao
trabalho, principalmente nas regiões da zona lombar com percentual
de 53,2% (25/59 ) do total; zona dorsal e ombros com a mesma pro-
porção: 48,9% (23/59); pescoço com 46,8% (22/59); punho/mão com
40,4% (19/59); joelhos com 29,8% (14/59); tornozelos/pés com 25,5%
(12/59 ); cotovelos com 12,8%(6/59)
E coxas com 8,5% (4/59) (Tabela 02). Valores superiores aos en-
contrados por Hugue e Pereira Júnior (2011), embora com ranking

46
similar.

Tabela 2 - Sintomas neuromusculoesqueléticos nos técnico-


administrativos no último ano
Região Respostas Porcentagem de
casos
N Porcentagem

Pescoço 22 14,9% 46,8%

zona dorsal 23 15,5% 48,9%

zona lombar 25 16,9% 53,2%

Ombros 23 15,5% 48,9%

cotovelos 6 4,1% 12,8%

punho/mão 19 12,8% 40,4%

Coxas 4 2,7% 8,5%

Joelhos 14 9,5% 29,8%

tornozelo/ pés 12 8,1% 25,5%

Total 148 100,0% 314,9%

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Explica-se o resultado encontrado, o fato de nos últimos 12 meses,


tratar de espaço de tempo considerável para exposição de pessoas a
fatores de riscos, a ocorrência dos distúrbios pode estar relacionada
com sobrecarga laboral, realização de atividades repetitivas, posturas
inadequadas, altas demandas de trabalho, mobiliário inadequado e
falta de condicionamento para executar o trabalho (PRZYSIEZNY,
2000).
Em relação à ocorrência nos últimos 07 dias, as regiões corporais
mais citadas foram ombros com percentual de 54,1% (20/59); zona
lombar com 51,4% (19/59); pescoço com 37,8% (14/59); punho/mão
com 37,8% (14/59); zona dorsal com 35,1% (13/59); joelhos com 29,7%

47
(11/59); tornozelos/pés com 18,9% (7/59) ; coxas com 13,5% (5/59); e
cotovelos com 10,8% (4/59) (Tabela 3).
Estas áreas mais acometidas são semelhantes aos resultados en-
contrados na pesquisa de Ribeiro (2010) com agricultores, que des-
tacou a região lombar com percentual de 68,4% (171/250); pescoço
com 24,4% (61/250) e ombros com 20,4% (51/250). Os agricultores
são profissionais com função laboral que exige maior esforço físico e
consequentemente, maior gasto energético.

Tabela 3 - -Sintomas neuromusculoesqueléticos nos técnico-administrativos


Região Respostas
Porcentagem
N Porcentagem
de casos

Pescoço 14 13,1% 37,8%

zona dorsal 13 12,1% 35,1%

zona lombar 19 17,8% 51,4%

Ombros 20 18,7% 54,1%

cotovelos 4 3,7% 10,8%

punho/mão 14 13,1% 37,8%

Coxas 5 4,7% 13,5%

Joelhos 11 10,3% 29,7%

tornozelo/ pés 7 6,5% 18,9%

Total 107 100,0% 289,2%

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Referente à intensidade do desconforto neuromusculoesqueléti-


co relatado nos últimos 12 meses, perante a escala visual analógica
(EVA) - 0 (mínimo) a 10 (máximo), foi observado que os ombros
possuem a maior média (5,88) seguido de tornozelos/pés (5,85) e

48
zona lombar (5,58) (Tabela 4).

Tabela 4- Intensidade do desconforto neuromusculoesquelético dos técnico-


administrativos no último ano

Região Mín. Máx. Méd. D.


Padrão

Ombros 2 10 5,88 2,186

tornozelos/ 3 10 5,85 2,115


pés

zona lombar 3 10 5,58 2,369

Joelhos 2 10 5,21 2,577

Coxas 3 8 5,17 2,041

Pescoço 1 10 5,00 2,629

zona dorsal 2 9 4,76 2,278

punho/mão 2 10 4,68 2,079


Cotovelos 2 8 4,60 2,302
N válido (de lista)

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

No que se refere a intensidade do desconforto neuromusculoes-


quelético relatado nos últimos 7 dias, perante a Escala Visual Ana-
lógica correspondendo a 0 (mínimo) a 10 (máximo), foi observado
que os ombros também possuem a maior média (6,53) seguido de
cotovelos (6,50), tornozelos e pés (6,20) (Tabela 5).

49
Tabela 5 - Intensidade do desconforto neuromusculoesquelético dos técnico-
administrativos na última semana
Região N Min Máx Méd D.
Padrão

ombros 17 2 10 6,53 2,125

cotovelos 2 5 8 6,50 2,121

tornoze- 10 2 10 6,20 2,530


los/pés

pescoço 12 2 10 5,92 2,610

zona dorsal 11 2 9 5,36 2,541

Coxas 3 1 8 5,33 3,786

joelhos 8 2 10 5,13 2,997

zona lombar 18 1 10 5,11 2,654

punho/ 13 2 9 4,85 2,340


mão

N válido (de 1
lista)

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Segundo Lida (2005) a estrutura da coluna vertebral, compos-


ta por discos superpostos, embora capaz de suportar grande força
no sentido vertical, torna-se frágil quando submetida a forças não
direcionadas ao seu eixo. No entanto, dores nos membros superio-
res ocorrem quando se trabalha muito tempo sem apoio, ocorrendo
principalmente no uso de ferramentas manuais, e, agrava-se com
repetição dos movimentos, sendo fatores importantes para o surgi-
mento de dor osteomuscular.
Ao observar os acometimentos na última semana em regiões do
corpo mais afetadas, tais informações ratificam os encontrados no
último ano, ficando evidente a função técnico-administrativa exer-
cida pelos participantes deste estudo exige maior acionamento de
tais estruturas anatômicas, e a posição de sedestação, bem como a

50
repetição da mesma atividade por longas horas e muitas vezes sem
repetição, pode trazer prejuízos à integridade de estruturas e nas
interações destas com a agilidade e coordenação para a prática da
atividade laboral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Destacam-se no estudo trabalhadores técnico-administrativos da
universidade pública serem constituídos por amostra de adultos jo-
vens; maior tempo de dedicação aos estudos, observado pela repre-
sentação de 42,4% dos servidores pesquisados serem pós-graduados
(25/59) e desempenhar trabalho na universidade nos últimos 5 anos,
com percentual de 55,9% (33/59).
A universidade não possui programas preventivos ao adoecimen-
to do trabalhador como pausa ativa ou ginástica laboral, sendo a pro-
vável causa para potencialização das queixas à saúde ocupacional.
Tratando-se da necessidade de descanso por sobrecarga de traba-
lho, 49,2% dos sujeitos do estudo apresentaram baixa percepção de
fadiga, assim como outros 49,2% moderada, e apenas 1,6% com casos
severos; quanto ao estresse percebido, 54,2% (32/59) dos sujeitos es-
tão classificados na fase II, chamada de quase exaustão ou resistên-
cia, na qual a pessoa automaticamente tenta lidar com os estressores
de modo a manter sua homeostase interna, e chama-se a atenção
que 16,9% (10/59) dos técnico-administrativos pesquisados já estão
na fase III, ou seja, se fatores estressantes persistirem em frequência
ou intensidade, há uma quebra na resistência da pessoa e ela passa
à fase de exaustão, onde doenças graves podem ocorrer nos órgãos
mais vulneráveis, como cardiopatias, úlceras, psoríase e depressão
dentre outras (LIPP, 2003).
Quanto aos sintomas neuromusculoesqueléticos de origem labo-
ral 79,7% (47/59) relataram queixas no último ano e, 62,7% (37/59) na
última semana; a dor ou perturbação relacionada ao trabalho alcan-
çou a média de 5,19 na frequência anual e 5,65 na semanal, em uma
escala que vai de 0 a 10, sendo o ideal a ausência da dor, ou seja, zero.
Este estudo possibilitou constatar a situação de saúde atual dos
servidores vinculados à administração central de uma universi-
dade pública, sob o contexto saúde trabalho, sendo constatado a

51
necessidade de implementação de programa específico para assistir
à população estudada e evitar maiores agravos à saúde. Assim, po-
líticas institucionais carecem de discussão para efetiva execução na
instituição, no tocante à proteção da saúde de servidores.

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56
HIPERTENSÃO ARTERIAL E
INDICADORES ANTROPOMÉTRICOS
DE GORDURA EM SERVIDORES DE
UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA

Thayane Érika Albuquerque


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial é caracterizada no Brasil e no mundo como
uma das doenças mais comum (IBGE, 2013), e aumenta progressiva-
mente com a idade (MARTINS et al., 2010). Considerada um proble-
ma de saúde coletiva, tornando-se fator predisponente para doenças
cardiovasculares.
Um dos fatores de risco para elevação da pressão arterial é o ex-
cesso de peso, associado de maneira direta à hipertensão. Assim, re-
comenda-se que o índice de massa corporal - IMC permaneça entre
18,5 a 24,99 e qualquer acréscimo de 2,4 kg/m2 no IMC irá conduzir
ao desenvolvimento de hipertensão arterial (VI Diretrizes Brasileiras
de hipertensão, 2010).
A obesidade central também está associada à elevação da pressão
arterial e sendo mais prejudicial, pois indica diretamente hipertrofia
do ventrículo esquerdo (SANT’ANNA, 2012). Neste contexto, é in-
dicado manter a circunferência abdominal em homens 102 cm e em
mulheres 88cm (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTEN-
SÃO, 2010).
A hipertensão arterial é uma doença controlável embora haja

57
baixas taxas de controle, com o passar dos anos tende a aumentar
progressivamente (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPER-
TENSÃO, 2010; IBGE, 2013).
Segundo IBGE (2013) a proporção de indivíduos de 18 anos ou
mais que referem diagnóstico de hipertensão arterial no Brasil foi de
21,4% em 2013, correspondendo a 31,3 milhões de pessoas. Essa cres-
cente demanda das doenças crônicas não transmissíveis-DCNT’s,
dentre elas a hipertensão arterial explica porque nas últimas décadas
o Brasil tem apresentado mudança no perfil de mortalidade da po-
pulação, com acréscimo dos óbitos causados por DCNT’s, atingindo
países desenvolvidos e em desenvolvimento (RIBEIRO et al., 2013;
PNS, 2015).
Baseado nessa problemática o presente estudo objetivou avaliar a
associação entre hipertensão arterial e indicadores antropométricos
de gordura abdominal em servidores de uma universidade pública
da Paraíba, estes fatores podem atrapalhar o bom desenvolvimento
laboral e a saúde dos profissionais. Desta forma, apresenta-se breve
contribuição a instituição na formulação de política visando melho-
rias na saúde dos servidores.

REFERENCIAL TEÓRICO

HIPERTENSÃO
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) está inserida no quadro
das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT’s), caracterizada no
Brasil e no mundo como doenças mais comum (IBGE, 2013) e fator
predisponente para doenças cardiovasculares.
A HAS é a elevação dos níveis pressóricos de forma sistêmica
(HAS), caracterizada por ser aumento crônico da pressão arterial sis-
tólica (PAS) ou pressão arterial diastólica (PAD) (OLIVEIRA; NO-
GUEIRA, 2009). Considera-se aumento na pressão arterial sistólica
quando superior a 140 mmHg e uma pressão diastólica superior a
90 mmHg, sendo que a hipertensão sistólica isolada é mais comum
em pacientes com a idade mais avançada (BRUNNER; SUDDARTH,
2011).
Segundo a VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2010) são

58
considerados normotensos indivíduos com pressão arterial sistóli-
ca de 120 mmHg e pressão arterial diastólica de 80 mmHg, quando
apresentam pressão diastólica 130–139mmHg e diastólica de 85–
89mmHg são considerados pré-hipertensos.
As pessoas que apresentam hipertensão muitas vezes se encon-
tram assintomáticas. Assim, um assassino silencioso que dificulta
diagnóstico e tratamento, ocasionando desenvolvimento de outras
doenças (BRUNNER; SUDDARTH, 2011; SILVA et al., 2012).
A HAS tem altas taxas de prevalência e baixas taxas de contro-
le, é considerada um dos principais fatores de risco modificáveis e
dos mais importantes problemas de saúde pública (VI DIRETRIZES
BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO, 2010). Segundo pesquisa de-
senvolvida pelo IBGE (2013) mostrou proporção de indivíduos de
18 anos ou mais que referem diagnóstico de hipertensão arterial. No
Brasil foi de 21,4%, em 2013, correspondendo a 31,3 milhões de pes-
soas”. Em relação a características sociodemográficas, observou-se
maior proporção de mulheres que referiram diagnóstico médico de
hipertensão arterial (24,2%), em relação aos homens (18,3%).
Os números da HAS, acima referidos, são altos e preocupantes. A
HAS possui percentuais de controle da pressão arterial baixíssimos,
apesar de haver evidências que o tratamento com anti-hipertensivo
é altamente eficaz em diminuir a morbidade e mortalidade cardio-
vascular, mas devido à baixa adesão ao tratamento e mudança no
estilo de vida aumenta a morbidade e mortalidade (VI DIRETRIZES
BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO, 2010).
Os fatores de risco mais comuns para HASsão doenças cardíacas,
obesidade, diabetes melittus, idade e estilo de vida sedentário, taba-
gismo e alcoolismo. Estudos evidenciam que uma quantidade maior
de etanol eleva a PA, e isto está associado com maiores morbidade e
mortalidade cardiovascular (BRUNNER; SUDDARTH, 2011; SAN-
TOS et al., 2012; VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTEN-
SÃO, 2010).
A relação da elevação da pressão arterial com a idade ocorre por
causa dos resultados de padrões alimentares e atividade física ao lon-
go da vida, além de fatores genéticos, estresse e outros fatores deter-
minantes (VIGITEL, 2009; TACON et al., 2012).

59
Nas últimas décadas, os fatores de risco emergentes foram so-
brepeso/obesidade e sedentarismo. Considera-se excesso de peso e
sedentarismo como uma pandemia havendo associação direta entre
excesso de peso, sedentarismo e altas prevalências de hipertensão
arterial (PIERIN; CAVAGION, 2011).
Somado a esses fatores, os danos causados pela hipertensão são
diversos e envolvem todos os sistemas. Podem ocasionar angina e in-
farto, doenças comuns associadas à hipertensão, assim como, hiper-
trofia ventricular esquerda devido à sobrecarga de trabalho, quando
a pressão arterial está aumentada. Podem ocorrer alterações também
renais e cerebrais. Este, quando ocorre, pode envolver a fala, a visão,
tonturas, hemiplegia, fraquezas mexendo com todo o sistema loco-
motor (BRUNER; SUDDARTH, 2011).

OBESIDADE
Estudo revela que obesidade tem se tornado epidemia global. Na
atualidade cerca de 1,1 bilhões de adultos e 10% das crianças do mun-
do são considerados acima do peso ideal ou, encontram-se obesos
(GOMES et al., 2009).
A obesidade segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é
caracterizada pelo aumento de peso, acúmulo anormal ou excessivo
de gordura. Podendo ser obesidade corporal ou abdominal, esta ca-
racterizada por ser uma obesidade visceral.
A obesidade pode ser desenvolvida por causas multifatoriais,
sendo um dos principais fatores para poder explicar o crescimento
demasiado das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). Está
sempre associada a enfermidades cardiovasculares como hiperten-
são arterial, dislipidemias, diabetes tipo 2, osteoartrites e certos tipos
de câncer (I DIRETRIZ BRASILEIRA DE PREVENÇÃO CARDIO-
VASCULAR, 2013).
O excesso de adiposidade passa a ser um dos fatores mais rele-
vantes para desenvolvimento das doenças cardiovasculares, porque
se estima que, para cada 13,5 kg de excesso de peso, são necessários
40,2 km adicionais de vasos sanguíneos. Assim, impõe-se maio-
res demandas sobre o coração, sobrecarregando todo um sistema
cardiovascular comprometendo todo o organismo (BRUNNER;

60
SUDDARTH, 2011).
Além de todos esses fatores o excesso de adiposidade também é
indicado como uma condição importante que predispõe à mortali-
dade (I DIRETRIZ BRASILEIRA DE PREVENÇÃO CARDIOVAS-
CULAR, 2013).
Segundo pesquisa realizada em 2014 pela Vigilância De Fatores
de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico
(VIGITEL) foi observado que houve crescimento quanto ao excesso
de peso no Brasil. 52,5% dos brasileiros se encontram acima do peso
e, 17,9% da população estão obesas. Também foi revelado o excesso
de adiposidade predominante no sexo masculino com 56,5%, segui-
dos de 49,1% pelo sexo feminino. Quanto à obesidade foi observa-
do no sexo masculino com 17,6 % e no sexo feminino 18,2%. Já em
relação a idade, notou-se que jovens registram menor prevalência,
enquanto populações de 35 a 64 anos apresentaram índices mais ele-
vados (VIGITEL, 2014).
Para avaliar o índice de obesidade dispomos de medidas antro-
pométricas que permitem estimar a quantidade de gordura corporal
de uma pessoa e tem por vantagem ser um método não invasivo. A
medida é denominada índice de massa corporal (IMC), pessoas por-
tadoras de IMC de 25 a 29 se encontram acima do peso, aqueles com
IMC 30 a 39 são considerados obesos, e IMC acima de 40 são con-
siderados extremamente obesos, obesidade mórbida (BRUNNER;
SUDDARTH, 2011).
Obesidade mórbida é um termo aplicado a indivíduos, que têm
mais de duas vezes o seu peso ideal, ou cujo índice de massa corporal
ultrapassa 30 kg/m² (BRUNNER; SUDDARTH, 2011).
O IMC em conjunto com a idade e o sexo são considerados as
variáveis que mais influenciam na distribuição de gordura corporal
(OLIVEIRA; NOGUEIRA, 2009).
Além do IMC contamos com outras medidas, que relatado por
meio de estudos são mais eficaz para identificar a obesidade ab-
dominal. Esta faz relação à associação com hipertrofia ventricular
esquerda que é um importante predisponente para morte cardí-
aca. A obesidade abdominal pode ser identificada por intermédio
da razão cintura/estatura – (RCE), importante que permaneça 0,56

61
independentes do sexo e a circunferência da cintura. Segundo a Or-
ganização Mundial da Saúde (OMS), considerando-se adequada ou
normal quando a CC < 80 cm para mulheres e < 94 cm para homens.
A razão cintura/quadril representando risco quando ≥ 0,95 para ho-
mens e ≥ 0,80 para mulheres (RODRIGUES et al., 2010; OLIVEIRA
et al., 2009; MUNARETTI et al., 2010).
De acordo com Gomes (2009) a relação entre obesidade e morte
por doença cardiovascular, torna-se mais evidente quando se consi-
dera pacientes com obesidade abdominal. Por isso a necessidade de
se avaliar a circunferência abdominal, independentemente do grau
de sobrepeso, o excesso de gordura abdominal pode ser avaliado por
meio da RCQ, sendo importante fator de risco para várias doenças
crônicas não-transmissíveis (OLIVEIRA et al., 2009).

METODOLOGIA
O presente estudo se caracteriza como abordagem quantitativa des-
critiva. Segundo Matijasevich (2008) uma das vantagens de se utili-
zar esse tipo de estudo por ser a hipertensão arterial definida como
doença crônico-degenerativa. Portanto possui início lento e com
uma longa duração, assim, cuidado médico pode somente ser pro-
curado quando já ocorreram complicações cardiovasculares.
O estudo demonstra a importância em avaliar a frequência hiper-
tensão e obesidade e descrever os prováveis fatores de risco na po-
pulação definida em um determinado período de tempo. A pesquisa
foi desenvolvido em uma instituição pública de ensino superior da
Paraíba, Universidade Estadual da Paraíba (Campus I), localizada na
Rua Baraúnas, número 351, Bairro Universitário, em Campina Gran-
de-PB. A realização ocorreu no primeiro semestre de 2016.
Foram sujeitos 72 servidores públicos, estes profissionais exercem
atividades no prédio da Administração Central da referida Univer-
sidade e aceitaram colaborar de forma voluntária na pesquisa. A
amostra foi formada a partir de estratégia acidental, definida por
Sarriá Guardiã e Freixa (1999) como não probabilística, sendo for-
mada pelo maior número possível de participantes que foram in-
cluídos conforme a acessibilidade e disponibilidade em colaborar na
pesquisa.

62
Com base nesse procedimento se obteve a participação de 72
servidores de ambos os sexos, setores distintos, estando em pleno
exercício da função e que aceitaram colaborar voluntariamente me-
diante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). Quanto aos critérios de inclusão foi considerado que os
servidores deveriam ser efetivos, de ambos os sexos, com ativida-
de laboral executada no prédio da administração central de UEPB
(Campus I).
Nos critérios de exclusão, servidores não efetivos, servidores afas-
tados de suas funções ou cedidos para outras instituições ou traba-
lhadores que não desempenham sua função no Campus I.
Foram respeitados aspectos éticos relativos à pesquisa com se-
res humanos, conforme preconiza a Resolução nº 466, de 12 de de-
zembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde/MS. Esta pesquisa
foi autorizada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UEPB (CAAE:
53721115.3.0000.5187).

PROCEDIMENTO PARA COLETA DE DADOS


Para caracterizar a amostra foi utilizado um questionário contendo
questões Socio-ocupacional (idade, estado civil, setor de serviço),
hábitos alimentares e o histórico familiar quanto a DCNT’s. As va-
riáveis antropométricas analisadas foram: massa corporal, estatura,
circunferência de cintura (CC) e a circunferência do quadril (CQ).
Quanto à variável hemodinâmica analisada foi a Pressão arterial
(PA).
A massa corporal foi obtida por meio de uma balança mecânica
tipo plataforma com escala de 100g da marca Welmy. O paciente foi
posicionado de pé, no centro da balança e descalço. Quanto à esta-
tura foi mensurada com estadiômetro acoplado à própria balança
mecânica, com precisão de 0,5cm e alcance máximo de 2 metros. A
aferição da estatura foi realizada com o indivíduo descalço em po-
sição ortostática, corpo erguido em extensão máxima, cabeça ereta,
costas e parte posterior e joelhos encostados ao antroprômetro e cal-
canhares juntos.
O índice de massa corporal foi calculado e classificado segundo
os critérios preconizados pela Sisvan (2011). Assim como medidas

63
CA e CQ, medidas em centímetro, com o indivíduo em posição or-
tostática utilizando fita métrica inelástica graduada em milímetros.
Para a mensuração da CA a fita foi posicionada em torno do ponto
médio entre a última costela e a crista ilíaca e a leitura no momento
da expiração. Em relação à mensuração da CQ foi realizada na ex-
tensão máxima das nádegas.
A pressão arterial foi aferida utilizando o esfigmomanômetro ca-
librado (Bic®, Brasil) com o indivíduo em repouso mínimo de cinco
minutos, sentado com os pés apoiados no chão, braço elevado ao
nível do coração e livre de roupas, apoiado com a palma da mão vol-
tada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido, seguindo as normas
e classificações estabelecidas pela (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS
DE HIPERTENSÃO, 2010).

PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE DADOS


O banco de dados e os cálculos foram realizados no SPSS 21.0 (Sta-
tistical Package for Social Science for Windows). Foramutilizadas a
frequência relativa e absoluta nas variáveis: Pressão arterial (PA),
Alcoolismo, Tabagismo, Atividade física, Estado civil e Faixa etária.
As variáveis: Circunferência Cintura (CA), Razão Cintura Quadril
(RCQ) e Razão Cintura Estatura (RCE) foram analisadas por meio
de regressão linear simples, estratificadas por sexo, para determinar
a associação entre estas variáveis e a hipertensão arterial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra foi constituída por 72 indivíduos correspondendo à igual-
dade nos sexos feminino e masculino com 50% respectivamente. Po-
demos observar no estudo que as mulheres entre a faixa de 20 a 40
anos correspondiam a 33,3%, seguidos por 58,4% entre a faixa de 41
a 59 anos e mais de 60 anos com 8,3%. No sexo masculino viu que
30,5% estavam entre a faixa etária de 20 a 40 anos, seguidos por 50%
entre a faixa de 41 a 59 anos e mais de 60 anos com 19,5%.
Notou-se ao estudar a variável estado civil que 30,5% das mu-
lheres eram solteiras, seguidas por 47,2% casadas, 13,9% divorciada,
2,8% viúva e não apresentaram resposta 5,6%. No sexo masculino
foi visto que 30,5% eram solteiros, seguidos por 52,8% casados, 2,8%

64
divorciado e não apresentaram resposta 13,9%.
Em relação ao tabagismo foi visto que 91,7% das mulheres não
eram tabagistas e apenas 8,3% eram tabagistas. No sexo masculino
88,9% não eram tabagistas, sendo que 8,3% eram tabagistas mos-
trando uma semelhança em relação ao sexo feminino e 2,8% não
responderam.
Quanto ao alcoolismo 63,9% das mulheres não ingeriam bebidas
alcoólicas sendo que 33,3% faziam o uso de bebidas alcoólicas e não
responderam 2,8%. No sexo masculino foi visto que 47,2% não inge-
riam bebidas alcoólicas, semelhantemente 47,2% faziam uso de bebi-
das alcoólicas, não responderam 5,6%.
É interessante ressaltar que segundo Martins e Marinho (2003) a
interação tabagismo/etilismo pode ocasionar um efeito protetor pre-
judicando a avaliação da circunferência da cintura por provocar per-
da do apetite, essa interação se deve ao fato de um vicio induzir ao
outro, esses dados se tornam relevantes visto que o hábito do tabagis-
mo é responsável pelas altas taxas de mortalidade cardiovasculares.
Em relação à prática de exercício físico foi visto que 47,2% das
mulheres praticavam constantemente exercícios físicos, sendo que
44,5% não tinham o hábito de prática atividades físicas e não respon-
deram 8,3%. Foi observado um índice maior de pratica de atividades
físicas entre o sexo masculino com 52,8%, seguidos por 41,7% que
não praticavam atividades físicas, e não quiseram responder 5,5%.
Em relação aos níveis pressóricos, no presente estudo foi obser-
vado que 63,9% da população do sexo feminino apresentaram-se
normotensas, sendo que 36,1% encontravam-se hipertensas, contu-
do no sexo masculino foi observado que 61,1% eram normotensos e
38,9% correspondiam aos hipertensos, mostrando que a população
do sexo masculino nesse estudo predominou assim como na pesqui-
sa realizada por Ulbrichet et al., (2012) onde relatou que “Os homens
apresentaram 2,25 vezes mais chance de desenvolver hipertensão
quando comparados com as mulheres, sendo ainda verificado que,
para cada ano de vida, a chance de desenvolver essa doença aumenta
em 1,04 vez”.

65
Tabela 1 - Estatísticas descritivas estratificada por sexo dos dados
sociodemográficos

Variáveis de
SEXO
Estudo
Masculino
FR² FA¹ FR²

Faixa Etária

20 a 40 anos 12 33,3 11 30,5


41 a 59 anos 21 58,4 18 50,0
60 anos ou
3 8,3 7 19,5
mais
Estado Civil
Solteiro (a) 11 30,5 11 30,5
Casado (a) 17 47,2 19 52,8
Divorciad(a) 5 13,9 1 2,8
Viúvo(a) 1 2,8 - -

SEXO

Variáveis de Estudo Feminino Masculino

FA¹ FR² FA¹ FR²

Não respondeu 2 5,6 5 13,9

Tabagista
Não 33 91,7 32 88,9
Sim 3 8,3 3 8,3
Não respondeu - - 1 2,8
Alcoólismo
Não 23 63,9 17 47,2
Sim 12 33,3 17 47,2
Não Respondeu 1 2,8 2 5,6
Atividade física
Sim 17 47,2 19 52,8

66
Não 16 44,5 15 41,7
Não respondeu 3 8,3 2 5,5

PA¹
Normotenso 23 63,9 22 61,1
Hipertenso 13 36,1 14 38,9

FA¹ Frequência absoluta; FR² Frequência relativa (%) PA¹ Pressão Arterial.
Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

Quanto a avaliação física da população, em média se encontrava


acima do peso, a Circunferência Abdominal (CA) apenas nas mu-
lheres se encontravam moderadamente dentro da zona de risco. Em
relação à razão cintura quadril (RCQ) as mulheres estavam dentro
da zona de risco, porém no sexo masculino estavam levemente alte-
rados. A razão cintura estatura (RCE) em ambos os sexos se apresen-
tou dentro do padrão estabelecido pela OMS.

Tabela 2 - Estatísticas descritivas do sexo Feminino quanto à avaliação Física.

Variáveis Mínimo Máximo Média

do estudo

CA 60,0 107,0 89,278

RCQ 0,72 1,34 0,9150

RCE 0,32 0,71 0,5561

P 49,0 95,0 67,822

IMC 19,37 34,20 26,5078

CA: Circunferência abdominal; RCQ: Razão Cintura Quadril; RCE: Razão Cintura
Estatura; P: Peso; IMC: Índice de Massa Corporal.
Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

67
Tabela 3 - Estatísticas descritivas do sexo Masculino quanto a avaliação Física

Variáveis do Míni- Máxi- Média

estudo mo mo

CA 58,0 127,0 92,889

RCQ 0,79 1,30 0,9606

RCE 0,31 0,72 0,5400

P 59,0 132,9 80,553

IMC 20,96 42,70 27,4592

CA: Circunferência abdominal; RCQ: Razão Cintura Quadril; RCE: Razão Cintura
Estatura; P: Peso; IMC: Índice de Massa Corporal.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016

Esses dados são relevantes visto que de acordo com levantamento


da Vigitel (2014) mostrou que 52,5% dos brasileiros estão acima do
peso ideal. Destes, 17,9% são obesos. E nessa pesquisa também foi ob-
servado que homens estão mais favoráveis a apresentar mais excesso
de peso que as mulheres, com 56,5 contra 49,1 % assim como pode
ser observado no presente estudo que os homens encontravam-se
mais propensos a apresentar excesso de peso.
A totalidade dos dados explica a necessidade de mudança radical
na alimentação e no estilo de vida dos brasileiros, houve aumento no
consumo de proteínas e lipídios de origem animal e vegetal, e, gran-
de redução do consumo de cereais, leguminosas, raízes e tubérculos.
Esta realidade, associada a fatores como hereditariedade, obesidade
e inatividade física têm contribuído para elevação na prevalência da
hipertensão arterial (RIBEIRO et al., 2010).
Quanto à análise da associação entre hipertensão arterial e indi-
cadores antropométricos de gordura abdominal (CA, RCQ e RCE)

68
segundo sexo no presente estudo, mostrou que todos os indicado-
res apresentaram sim uma associação, com a hipertensão arterial,
em ambos os sexos, assim como nos estudos realizados por Frizon
e Boscaini (2013), Pavnelli et al. (2012), Oliveira et al. (2013) e dentre
outros que comprovam a relação entre os indicadores antropométri-
cos e a hipertensão arterial

Gráfico 1 - Associação da razão cintura quadril (RCQ) e Pressão arterial (PA) no


sexo feminino.

69
Gráfico 2 - Associação da razão cintura quadril (RCQ) e Pressão arterial (PA) no
sexo masculino.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

70
Gráfico 3 - Associação da Cintura abdominal (CA) e Pressão arterial (PA) no sexo
feminino.

71
Gráfico 4 - Associação da Cintura abdominal (CA) e Pressão arterial (PA) no sexo
Masculino.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

72
Gráfico 5 - Associação da razão cintura estatura (RCE) e Pressão arterial (PA) no
sexo feminino.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

73
Gráfico 6 - Associação da razão cintura estatura (RCE) e Pressão arterial (PA) no
sexo Masculino

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

Segundo Frizon e Bosconni (2013) as medidas antropométricas


CA, RCQ são consideradas como marcadores importantes que per-
mitem estimar algum risco cardiovascular, assim como no estudo
realizado por Rodrigues et al., (2009) que mostra que a RCE tam-
bém pode ser utilizados para identificar indivíduo com risco para
doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial, em ambos os
sexos.
Porém, no presente estudo, no sexo feminino indicado que mais
se associou à hipertensão arterial foi a Razão Cintura Quadril (RCQ),
(Gráfico 1) assim como foi observado em pesquisas realizadas por
Veloso e Silva (2010) que relataram que a obesidade abdominal é

74
mais frenquente nas mulheres, assim como também Marinho (2003)
que refere que as mulheres são mais propensas a apresentar sete ve-
zes mais risco à obesidade abdominal.
Em relação aos indicadores no sexo masculino, o que fortemen-
te se associou a hipertensão arterial foi a Razão cintura quadril,
(Gráfico 6), diferente dos resultados encontrados por Munaretti et
al., (2010) em que não se observou associação entre a RCE e a hi-
pertensão arterial. Entretanto outros estudos como Hsieh et al., Ho
et al., (2003) comprovaram que a RCE é um ótimo indicador para
diagnosticar distúrbios metabólicos, gordura central e doenças car-
díacas. Isso também pode ser comprovado no estudo realizado por
Benedetti et al., (2012) onde mostrou que a RCE está relacionada
com doenças cardiocirculatórias, assim como hipertensão arterial e
diabetes melittus.
No presente estudo embora exista uma correlação entre os indi-
cadores antropométricos e a hipertensão arterial, mostrou-se fraca
em virtude da população estudada se encontrar dentro dos padrões
estabelecidos.
Contudo, podemos confiar na relação dos indicadores antropo-
métricos com a hipertensão arterial, pois segundo a literatura auto-
res como Rodrigues et al., (2009), Carvalho et al., (2009), Nascente
et al., (2010); Tacon et al., (2012); Moreira et al., (2013); Filho et al.,
(2014) dentre outros, relatam a relação direta da associação da obesi-
dade principalmente a obesidade abdominal com a hipertensão arte-
rial, entretanto também existem a relação com outros importante fa-
tores de riscos como a idade, tabagismo, etilismo e inatividade física.
Segundo Carvalho et al., (2009) relata que independente da ida-
de, mesmo em uma população jovem, o aumento do peso corporal e
a obesidade abdominal são importantes determinantes da elevação
da pressão arterial. Sendo que para Nascente (2010) a relação da hi-
pertensão arterial com idade passa a ser mais agravante em indiví-
duos idosos.
Essa associação da obesidade com a pressão arterial é um fato
verídico e de suma relevância, a Sociedade Brasileira de Hiperten-
são (SBH) - 2010 alega que o aumento do peso corporal pode ser
considerado um fator predisponente para o desenvolvimento da

75
hipertensão arterial, principalmente quanto à presença de obesidade
central, um importante indicador de risco cardiovascular. O excesso
de adiposidade é responsável por 20% a 30% dos casos da pressão
arterial elevada. Mostra também que 75% dos homens e 65% das mu-
lheres apresentam hipertensão diretamente atribuível ao excesso de
peso.
Estes dados são preocupantes principalmente quando associados
a outros fatores que segundo Oliveira (2009). Torna-se, importante
ressaltar, um fator de risco de grande relevância que atribui direta-
mente ao excesso de peso, que é a sobrecarga de trabalho, existe um
número grande de profissionais que trabalha de 6 a 12 horas/dia, o
que acaba desencadeando vários problemas na vida desse indivíduo,
entre eles, má alimentação, poucas horas de sono, estresse, sedenta-
rismo, isto consequentemente levará a ocasionar a obesidade. Esse
excesso de adiposidade entre outros fatores de risco são predispo-
nentes para o desencadeamento de doenças crônicas não transmissí-
veis (DCNT’s), dentre elas a HAS.
A I Diretriz sobre o Consumo De Gorduras e Saúde Cardiovas-
cular (2013) confirma isso dizendo que o processo de transição nu-
tricional brasileiro é multifatorial caracterizando-se por alterações
sequenciais seja do padrão da dieta da população ou da composição
corporal dos indivíduos, assim como também algumas mudanças
sociais sejam elas econômicas, demográficas ou cultural e as mudan-
ças tecnológicas que são fortemente ligadas à má alimentação, estes
são fatores que afetaram diretamente o estilo de vida e o perfil de
saúde da população.
Fica demonstrado que há sim uma relação entre o excesso de
peso e a hipertensão arterial, assim como também mostra que essa
mudança metabólica devido a uma cascata de eventos pode gerar
um distúrbio em todos os sistemas ocasionando outras enfermida-
des seja ela cardiovascular, renal ou cerebral, (SANTOS et al., 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os achados deste estudo demonstraram que a amostra era consti-
tuída por uma população adulta com 54,16% entre a faixa de 41 a
59 anos, correspondendo a 50% os indivíduos casados. Quanto ao

76
hábito do tabagismo foi observado que apenas 8,33% eram tabagis-
tas, contudo foi visto que quanto aos alcoolismos 40,27% da popu-
lação tinha o hábito de ingerir bebidas alcoólicas, destacando o sexo
masculino. Ao analisar se a população se encontrava envolvida em
alguma atividade física observou-se que 50% estavam em alguma ati-
vidade física, destacando a população masculina.
Notou-se que 37,5% da população eram hipertensas, uma quan-
tidade considerável, destacando-se o sexo masculino com mais
predisposição à hipertensão. Quanto à associação dos indicadores
antropométricos com hipertensão todos mostraram uma relação
significativa, entretanto, destacou-se para o sexo feminino a RCQ
e no sexo masculino a RCE que demonstram maior predisposição
quando submetidas a uma regressão linear simples.
Vale lembrar que embora tenha sido comprovada a associação
entre os indicadores antropométricos e a hipertensão arterial, no
presente estudo mostrou-se fraca em virtude da população estar
dentro dos padrões de normalidades.
Este estudo possibilitou constatar a situação de saúde atual dos
servidores vinculados a administração central de uma universida-
de pública e os resultados encontrados também foram importantes
sinalizadores para a utilização de melhores indicadores antropomé-
tricos na avaliação dos riscos cardiovasculares associados ao excesso
de peso.
Há necessidade de implementação de um programa específico
para assistir a população estudada e evitar maiores agravos à saúde
desses servidores, como programas de intervenções diretas, que se-
jam anualmente e associados a uma educação em saúde continuada.
Assim políticas institucionais carecem de discussão para execução
na instituição, em relação à proteção da saúde de servidores.

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o Consumo De Gorduras e saúde Cardiovascular. Rio de Janeiro,
v.100, n.1, p.1-40, 2013. (supl 3).

80
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA.Sociedade Brasi-
leira de Hipertensão.Sociedade Brasileira de Nefrologia.VI Diretri-
zes Brasileiras de Hipertensão. Arquivo Brasileiro de Cardiologia.
v.95, n.1, p.1-51, 2010. (supl 1).

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81
PERFIL DO CONSUMO DE ÁLCOOL E TABACO
ENTRE UNIVERSITÁRIOS DOS CURSOS DE
HUMANAS DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA

Suênya Beserra Costa


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
O consumo de substâncias psicoativas (SPAs) entre estudantes uni-
versitários vem recebendo olhar atento na atualidade. A entrada na
universidade representa um período de transição e vulnerabilidade,
tornando-os propensos ao consumo e prejudicando o processo de
formação acadêmico e profissional (TEIXEIRA, 2014). A substân-
cia psicoativa ao ser consumida altera os processos mentais, como
por exemplo, o humor. Esse termo é utilizado abrangendo todas as
classes de substâncias, lícitas e ilícitas, relacionadas à política sobre
drogas (BRASIL, 2010a).
Neste estudo são abordadas as SPAs, álcool e tabaco, sendo a pri-
meira substância sedativo-hipnótica, com resultados similares aos
barbitúricos. Além dos efeitos coletivos do uso, a intoxicação pelo
álcool pode levar a pessoa à morte; o consumo em excesso e de for-
ma prolongada pode converte-se em dependência ou em extensa
diversidade de transtornos mentais, físicos e orgânicos; e a segunda
substância reflete qualquer preparo a partir das folhas da Nicotiana
tabacum, planta natural das Américas, cujo ingrediente psicoativo
predominante é a nicotina (BRASIL, 2010a).
O alcoolismo, termo clássico e de definição variável, refere-se de

82
forma geral ao padrão crônico e constante de ingestão de álcool, ou
mesmo regular. Evidencia-se pelo comprometimento do domínio
sobre o consumo, constantes episódios de intoxicação e apreensão
com o álcool e seu uso, independentemente dos resultados prejudi-
ciais; e o tabagismo, palavra de derivação francesa, faz referência à
condição do fumante seriamente dependente da nicotina e, em de-
corrência da ausência da substância, apresenta graves sinais de absti-
nência (BRASIL, 2010a).
O consumo de SPAs pela comunidade universitária é mais cons-
tante em relação à população geral. Assim, acentua a necessidade
de conhecer esse fenômeno e intensificar ações de prevenção e de-
rivação de políticas estritamente dirigidas a essa porção (BRASIL,
2010b). A ausência de estudos integralizados acerca do consumo de
álcool e tabaco entre universitários tem admitido novas disposições
ao consumo de drogas lícitas e ilícitas. Neste contexto, impossibilita
a construção de Políticas Públicas no controle e acompanhamento
das mudanças sociais acontecidas nessa comunidade. Assim, o siste-
ma público de saúde se encontra despreparado para fazer o atendi-
mento (BRASIL, 2010b).
O presente estudo busca conhecer o perfil de universitários da
área de Humanas de uma instituição pública de ensino superior
quanto ao consumo de SPAs, álcool e tabaco, visando acrescentar a
prevenção e promoção em saúde em torno dos ambientes saudáveis.

REVISÃO DA LITERATURA
O acesso do indivíduo à universidade, é sem dúvidas uma oportu-
nidade no desenvolvimento profissional, social e familiar, porém é
fase relacionada a fatores de risco psicossociais. Dentre eles, o con-
sumo de SPAs e seus resultados, fácil acesso às drogas ilícitas e uso
dessas substâncias em eventos sociais (FREITAS; NASCIMENTO;
SANTOS, 2012). Os universitários se constituem um dos campos de
estudo no tocante às Substancias Psicoativas (SPAs), visto que, em
breve, participarão do mercado de trabalho, tornando-se responsá-
veis tanto pelo trajeto econômico e político do país (PORTUGAL;
CERUTTI JUNIOR; SIQUEIRA, 2013).
Em 2010, o Brasil contava com 2.252 Instituições de Ensino

83
Superior, somando mais de 5,8 milhões de estudantes universitários,
sendo o ato de ingressar na universidade, muitas vezes, período de
maior autonomia, possibilitando novas experiências para alguns e
para outros se tratando de um momento de vulnerabilidade, tornan-
do-os mais predispostos ao consumo de drogas e suas consequências
(BRASIL, 2010b). Há preocupação devido ao número de usuários na
comunidade universitária, embate pessoal e na sociedade. Esta com-
preende significativa parcela desse universo, apresentando consumo
de SPAs mais acentuado e constante em relação a outras parcelas da
população em geral (BRASIL, 2010b).
No estudo comparativo do uso de SPAs entre universitários brasi-
leiros e universitários estadunidenses, verificou-se maior frequência
de uso de drogas pela classe universitária dos Estados Unidos, em
compensação, universitários brasileiros relatam usar quase duas ve-
zes mais inalantes em relação aos universitários norte-americanos
(ECKSCHMIDT; ANDRADE; OLIVEIRA, 2013). Os universitários
das instituições públicas brasileiras ingerem mais álcool em relação
as instituições privadas (88% vs 85,7%). No tabaco ocorre relação in-
versa (49,7% vs 35,6%). Observou-se que homens consomem mais
que as mulheres, tanto o álcool como o tabaco (90,3% vs 83,1%) e
(51,7% vs 42,9%) respectivamente. No tocante às Regiões do Brasil, a
Sul se destacou com maiores índices no consumo das duas drogas,
sendo 92,1% álcool e 32,2% tabaco (BRASIL, 2010b).
Embora no Nordeste o consumo de ambas as SPAs se apresen-
tem em números menores a preocupação persiste por representarem
mais um problema para saúde pública, em especial, na Paraíba. No
interior, a cidade de Campina Grande foi alvo de estudo no ano de
2012. Foram abordados estudantes da área de saúde do 3° e 4° perío-
dos e, observado o consumo de álcool, em 65 % dos estudantes, de 1 a
2 vezes por semana. O dado representa a realidade em relação ao uso
de SPAs, por futuros profissionais da área da saúde (PACHÚ, 2014).
Estudo realizado com alunos do segundo período do curso de
Enfermagem, da Escola de Enfermagem da Universidade da Costa
Rica, demonstrou a existência de fatores preventivos ao consumo
abusivo de drogas, em contrapartida há presença de fatores de ris-
cos significantes, estilos de vida e convívio com pessoas próximas

84
consumidoras de SPAs. Evidenciou-se perfil de consumo de drogas,
lícitas e/ou ilícitas, semelhante ao observado no panorama nacional
e internacional. Destacando que o consumo de álcool e tabaco ocupa
primeiro lugar, entre os estudantes analisados e em nível nacional,
eles não consideram que essas drogas venham a gerar problemas
tão grandes quando comparados as substâncias ilícitas (DIAZ; VAS-
TERS; COSTA JUNIOR, 2010).
Em pesquisa realizada com estudantes da Escola de Enfermagem
da Universidade de Guayaquil no Equador, objetivou-se compreen-
der e analisar a percepção dos estudantes no tocante ao consumo
de drogas, lícitas e ilícitas. Os resultados obtidos demonstraram ci-
ência dos estudantes da realidade devastadorada que assola a hu-
manidade e, também perceberam que os conhecimentos adquiridos
contribuem para identificar as necessidades e probabilidades de in-
tervenção no cuidado em saúde, enfatizando a promoção da saúde
(BERMUDEZ- HERRERA et al., 2011).
Em estudo anterior, pesquisa realizada com estudantes, professo-
res e residentes de Medicina e Enfermagem da Universidad Mayor
de San Andrés, na Bolívia, revelou existência de baixo nível de co-
nhecimento dos entrevistados. Seja em relação à classificação de
substâncias psicoativas, quanto à estrutura, características químicas
e efeitos produzidos no organismo, destacando-se diferença expres-
siva entre o conhecimento sobre drogas legalizadas, como álcool e
tabaco, e drogas ilegais (NAVIA-BUENO et al., 2011).
A fixação de políticas relacionadas ao consumo de álcool e taba-
co pelos universitários, o conhecimento científico e a educação com
prática de habilidades, tem sido útil na prevenção do alcoolismo e do
tabagismo, sendo adotada em todo o mundo, pois a propagação do
conhecimento pode despertar a importância da conscientização, for-
mação de atividades preventivas e ações na comunidade (ALMEIDA
et al., 2011).
O estudo e o aprofundamento das questões socioculturais com-
prometidas no uso de álcool, tabaco e outras drogas, são de gran-
de importância. Tanto na compreensão dos cuidados aos usuários
quando rejeitados pelos profissionais, quais formas de prevenção e
tratamento são executados e como são estabelecidas e priorizadas

85
algumas políticas públicas (RONZANI; FURTADO, 2010).
Destaca-se na sociedade a forma ambígua de tratar, especifica-
mente, o consumo de bebidas alcoólicas. De um lado, glamour e
incentivo ao consumo de álcool pelas pessoas e, determinados mo-
mentos pela mídia, idealizando cultura de consumo excessivo na po-
pulação. Por outro lado, quando o uso se torna problema, passa a ter
sentido negativo, associando-se a figura de enfraquecimento moral
e individualização do problema julgado e o consumidor é “condena-
do” à segregação social (RONZANI; FURTADO, 2010). A utilização
de SPAs, em especial álcool e tabaco, na comunidade universitária
recebe atenção dos pesquisadores, por conduzirem a consequências
negativas.
O conhecimento universitário deve influenciar no desenvolvi-
mento das atividades acadêmicas e até mesmo na vida profissional.
Neste contexto, o reconhecimento prévio desses universitários que
utilizam indiscriminadamente as drogas pode ajudar na promoção
da saúde e prevenção ao uso de SPAs por meio de intervenções des-
tinadas a essa população.

REFERENCIAL METODOLÓGICO
Trata-se de estudo quantitativo descritivo realizado no Centro de
Educação (CEDUC) e no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
(CCSA) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), campus I,
com acadêmicos dos cursos de: Administração, Ciências Contábeis,
Comunicação Social, Filosofia, Geografia, História, Letras (Portu-
guês, Inglês e Espanhol), Pedagogia e Serviço Social, no segundo se-
mestre de 2014. A área de Humanas foi escolhida por sorteio, onde
foram elencadas para participar do sorteio as áreas de Exatas, Hu-
manas e Saúde.
O estudo foi realizado com universitários dos cursos do CCSA e
CEDUC situados no Centro de Integração Acadêmica (CIA), loca-
lizado no Campus I da Universidade Estadual da Paraíba, no bairro
de Bodocongó. O número de estudantes matriculados nos cursos do
CEDUC e CCSA no período letivo 2014.1 foi utilizado no dimen-
sionamento da amostra. Quando se faz um levantamento em uma
população abrangente, por motivos econômicos, temporais e de

86
análise, procura-se selecionar uma parcela ou parte significativa do
universo, com características comuns, por meio de procedimentos
estatísticos, de forma a se compor a amostra para estudo e análise
(GIL, 2002).
Na determinação da amostra, foi utilizada a fórmula abaixo, a
qual segue a metodologia de cálculo de tamanho de amostra para
populações finitas, proposta por Richardson (1999): n=

Onde, n = corresponderá ao tamanho da amostra; N = ao tama-


nho da população; σ2 = ao nível de confiança que será colhido, em
numero de desvios (sigmas); p = proporção do universo pesquisado
que possui a propriedade pesquisada, em porcentagem; q = propor-
ção do universo que não possui a característica pesquisada; e e2 =
erro de estimação permitido. O cálculo amostral resultou no número
de 360 sujeitos da pesquisa.
A coleta de dados foi realizada por meio de questionário elabo-
rado pelos pesquisadores deste estudo contendo respostas de múl-
tipla escolha. Os dados incluíram sexo, a faixa etária, cor ou etnia,
religião, estado civil, se mora com os pais, números de pessoas que
moram na casa, número de filhos, renda familiar mensal, se faz uso
de tabaco, se ingere bebidas alcoólicas e se tal pessoa considera-se
um dependente químico.
Aplicou-se um método de amostragem estratificada e uniforme-
mente distribuída entre os cursos dos Centros estudados. Os estu-
dantes foram escolhidos de forma aleatória e abordados nas salas de
aula sendo o questionário entregue e preenchido no local, recolhido
após o preenchimento.
O presente estudo foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Estadual da Paraí-
ba, obtendo o cadastro CAAE 37101614.0.0000.5187. Encontrando-se
de acordo com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde
do Ministério da Saúde e RESOLUÇÃO/UEPB/CONSEPE/10/2001.

87
Na análise dos dados se utilizou o programa Statistica 8.0. Foi
realizada a tabulação dos dados e sua descrição a partir de técnicas
estatísticas descritivas, apresentando os dados em forma de tabelas
e gráficos. O teste para médias, t-student, foi utilizado no sentido de
verificar, consequentemente, se pode afirmar o consumo de álcool e
tabaco, como estatisticamente diferente entre os centros estudados.

DADOS E ANÁLISE DA PESQUISA


Inicialmente, apresenta-se o perfil socioeconômico dos estudantes
de Humanas da Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande,
PB, do ano letivo 2014, sendo partícipes
363 estudantes. Prevaleceu na área de humanas universitários do
sexo feminino (62,5%), heterossexual (92,3%), a faixa etária de 16 a 22
anos (71,9%), religião católica (47,6%). Quanto à situação conjugal se
declaram solteiros (84,3%) dos universitários, afirmaram morarem
com os pais (67,8%) e referem renda familiar de 1 a 3 salários míni-
mos (66,4%), conforme Tabela 1.

Tabela 1 - Perfil socioeconômico dos estudantes de Humanas da Universidade


Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB, 2014.

Variável Socioeconômica Nº %
Sexo
Feminino 227 62,5
Masculino 136 37,5
Total 363 100

Orientação Sexual

Heterossexual 335 92,3


Homossexual 8 2,2
Bissexual 13 3,6
Transexual 1 0,3
Não informado 6 1,6
Total 363 100

Faixa Etária

88
(16 a 22 anos) 261 71,9
(23 a 29 anos) 63 17,4
(30 a 36 anos) 23 6,4
(37 a 43) 6 1,6
(Acima de 43) 8 2,2
Não informado 2 0,5
Total 363 100

Religião

Católica 173 47,6


Espírita 8 2,2
Evangélica 87 24
Umbanda 3 0,8
Nenhuma 66 18,2
Outras 25 6,9
Não informado 1 0,3
Total 363 100

Estado Civil

Solteiro (a) 306 84,3


Casado (a) 53 14,6
Divorciado (a) 2 0,5
Viúvo (a) 1 0,3
União Estável 1 0,3
Total 363 100

Mora com os Pais


Sim 246 67,8
Não 111 30,6
Não informado 6 1,6
Total 363 100

Renda Familiar
Menos de 1 salário mínimo 45 12,4
De 1 a 3 salários mínimos 241 66,4
De 4 a 6 salários mínimos 51 14

89
Acima de 6 salários mínimos 21 5,8
Não informado 5 1,4
Total 363 100
Fonte: Dados da Pesquisa,
2014.

O consumo de álcool encontrado no CEDUC se apresentou da se-


guinte forma: Filosofia (5,23%), Geografia (3,03%), História (3,30%),
Letras Português (1,37%), Letras Inglês (1,37%), Letras Espanhol
(1,65%), Pedagogia (1,10%). Enquanto no CCSA foi possível obser-
var no curso de Administração (2,47%), Ciências Contábeis (4,13%),
Comunicação Social (5,23%) e Serviço Social (1,65%), de acordo com
o Gráfico1.
Pode-se perceber nos cursos de Filosofia e Comunicação Social
percentual igual entre si e, maiores em relação aos demais cursos
quanto ao consumo de bebidas alcoólicas. Em contrapartida o curso
de Pedagogia apresentou menor uso de álcool.

Gráfico 1 - Consumo de Álcool entre universitários do CEDUC e CCSA da


Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB, 2014.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2014.

90
Em relação ao consumo de tabaco foi verificado no CEDUC entre
acadêmicos de Filosofia (0,82%), Geografia (0,55%), Letras Português
(0,28%), Letras Inglês (1,10%), CCSA: Ciências Contábeis (0,55%) e
(0,82%) não informaram nos dois Centros, como retrata o Gráfico 2.
O curso de Letras Inglês se destacou como maior consumidor
de tabaco no CEDUC se contrapondo ao curso de Letras Português
apresentando menor consumo. Nos cursos de Administração, Co-
municação Social, Serviço Social, Pedagogia, Letras Espanhol e His-
tória, os universitários não informaram sobre a existência de con-
sumo. Tal fato, possivelmente apresenta relação com determinação
dos ambientes da Instituição livres de fumo e, realização de trabalho
educativo no âmbito institucional.

Gráfico 2 - Consumo de Tabaco entre os universitários do CEDUC e CCSA da


Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB, 2014.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2014.

A comparação do consumo de tabaco e álcool entre o CCSA e


CEDUC, se encontra nas Tabelas 2 e 3, respectivamente. Utilizou-se
nível de confiança 5%, verificou-se o poder do teste t, não existindo
números superiores a este valor, podendo-se afirmar médias iguais.
Em outros termos não se pode afirmar que universitários de um dos

91
Centros fazem mais uso de tabaco e/ou álcool que o outro, com 95%
de certeza, ou seja, estatisticamente, o consumo de álcool e tabaco
entre os Centros é equivalente (Tabelas 2 e 3).
Onde: SQ = Soma dos quadrados, gl= Grau de liberdade, MQ=
Média quadrática, F=Valor da tabela F e P-valor=Poder do teste.

Tabela 2 - Comparação das médias dos Universitários do CCSA e CEDUC


consumidores de tabaco.

Fonte da variação SQ gl MQ F P-valor F crítico


Entre grupos 22,8862 1 22,8862 1,427885 0,257238 4,844336

Dentro dos grupos 176,3085 11 16,02805

Total 199,1947 12

Fonte: Dados da Pesquisa, 2014.

Tabela 3 - Comparação das médias dos Universitários do CCSA e CEDUC


consumidores de álcool
ANOVA
Fonte da variação SQ gl MQ F P-valor F crítico
Entre grupos 2200,484 1 2200,484 3,02749 0,109728 4,844336

Dentro dos 7995,179 11 726,8345


grupos
Total 10195,66 12

Fonte: Dados da Pesquisa, 2014.

Os universitários são público-alvo para indústrias de consumo


e lazer, tendo-os como consumidores em potencial de SPAs. Esta
condição somada ao ingresso na universidade representa libertação
individual da sujeição à família, em particular para aqueles estudan-
tes advindos de distantes comunidades em mudança para grandes
centros. À procura de integração com novos grupos e experiências,

92
várias vezes escolhem experimentar drogas não apenas lícitas, como
ilícitas (PICOLOTTO et al., 2010).
A presente pesquisa corrobora com dados do I Levantamento
Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Uni-
versitários das 27 Capitais Brasileiras, mostrando que o consumo de
álcool ainda é maior do que o de tabaco. O referido levantamento
verificou 48,7%, chegando à metade dos universitários, a utilização
de alguma droga lícita ou ilícita. Destes 86,2% utilizaram álcool e
46,7% tabaco, pelo menos uma vez na vida. O consumo de álcool
foi significativo na faixa etária de 18-24 anos (89,3%), no tocante ao
tabaco foi verificado maior uso em idade acima dos 35 anos (54,6%)
(BRASIL, 2010b).
Estudo realizado com estudantes do curso de Psicologia da Uni-
versidade Federal do Espírito Santo apresenta idênticas caracterís-
ticas deste estudo, onde estudantes eram solteiros (90,1%), do sexo
feminino (81%) e encontrou-se maior prevalência do consumo de
álcool (85,07%) do que tabaco (33,07%) (SANTOS; PEREIRA; SI-
QUEIRA, 2013).
Na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), foi realizada pes-
quisa acerca do consumo de tabaco com estudantes da área de saúde,
onde, os pesquisadores observaram 5,7% de uso por universitários da
saúde. O estudo sugeriu o álcool e tabaco como causadores de maior
nível de dependência química nas pessoas, e também demonstra a
relação bidirecional entre as variáveis: sexo, religião, período do uso
e consumo de bebidas alcoólicas associadas ao consumo de tabaco
(GRANVILLE-GARCIA et al., 2012).
Estudos corroboram com a presente pesquisa quando identificam
a SPA mais utilizada entre os universitários, o álcool, onde dados so-
ciais apontam a faixa etária com maior número de consumidores de
bebidas alcoólicas estudantes entre 16 e 22 anos. Em estudo realizado
na Universidade Federal do Rio Grande/RS, constatou-se idade dos
universitários entre 10 e 17 anos na iniciação do consumo de bebidas
alcoólicas. O uso teve influência de familiares e amigos praticantes
deste hábito, sendo festas e habitação os principais locais para iniciar
e ter o consumo habitual dessa droga (BAUMGARTEN; GOMES;
FONSECA, 2012). Neste contexto, ações direcionadas a adolescentes

93
devem ser privilegiadas, observado 90,0% dos universitários obti-
veram essa prática antes mesmo da vinculação ao meio acadêmico
(RAMIS et al., 2012).
Na pesquisa da Universidade das Índias Ocidentais (UWI), Trini-
dad e Tobago, os resultados encontrados indicam consumo de álco-
ol, em 70% dos universitários pelo menos uma vez na vida, onde 66%
deles informaram que essa prática aumentou após a matrícula na
universidade, 7% perceberam uma diminuição e 26% não apontaram
nenhuma mudança. Ainda no mencionado estudo, 31% relataram
que os pais não eram conhecedores ou não aprovavam essa conduta
e quando foram orientados a indicar quais os problemas relaciona-
dos ao uso de álcool os principais foram: falta às aulas, os desejos e
problemas interpessoais. Na mesma pesquisa, agora em relação ao
consumo de tabaco foi observado que a taxa de prevalência nos últi-
mos seis meses foi de 17% e, 9% foram classificados como fumantes
regulares, enquanto o uso era mais corriqueiro entre os homens do
que as mulheres (77% vs 23%) (DHANOOKDHARY et al., 2010).
Diante dos dados apresentados se torna perceptível a necessidade
de investimento nas políticas de controle à venda de bebidas alco-
ólicas para universitários, destacando-se o controle das festas com
venda de álcool liberada e preços abatidos em eventos estudantis. Do
mesmo modo em recintos, como os bares, adjacentes às instituições
de ensino superior (BAUMGARTEN; GOMES; FONSECA, 2012).
Pode-se dizer que o ambiente universitário influencia o consu-
mo abusivo de SPAs, atribuindo importância no tocante à tomada
de medidas preventivas em âmbito institucional, sendo a prevenção
desse uso abusivo essencial na prevenção aos danos à saúde e à qua-
lidade de vida dos universitários usuários. Deve-se focar na redu-
ção de posterior dependência química de universitários (FREITAS;
NASCIMENTO; SANTOS, 2012).
Em estudo realizado com 500 universitários na Universidade de
El Salvador, identificou-se os primeiros contatos dos estudantes com
drogas em idades entre 13 e 21 anos. O álcool foi citado como pri-
meira droga utilizada, seguido pelos inalantes, maconha, benzodia-
zepínicos e anfetaminas, respectivamente. Quando se trata das per-
cepções dos efeitos causados em si próprios, o grupo tem tendência

94
a negar que drogas desempenham algum impacto em seu desenvol-
vimento na universidade e, ainda relatam o uso não traz consigo ne-
nhum problema que afeta a si próprio, mas sim a outros consumido-
res (ORTEGA-PÉREZ; COSTA-JUNIOR; VASTERS, 2011).
No I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e
Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras, ofer-
tou-se dados sinalizadores da realidade no Brasil. Quase 49% dos es-
tudantes participantes da pesquisa já experimentaram alguma droga
ilícita pelo menos uma vez na vida e 80% dos participantes, alegaram
ser menores de 18 anos, declararam já ter consumido bebida alcoóli-
ca (BRASIL, 2010b).
Em estudo realizado na Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), foi detectado que 85,2% dos estu-
dantes faz uso de bebidas alcoólicas, não havendo relação entre vari-
áveis, sexo e consumo de álcool, e universitários residentes com pais
ou responsáveis apresentavam menor índice de consumo em relação
aos demais. Já o consumo de tabaco foi menor, 16,3% dos entrevis-
tados, porém ocorrendo mais entre os homens e estudantes que não
habitavam com pais ou responsáveis (PETROIANU et al., 2010). O
consumo de álcool e tabaco por futuros profissionais deve ser discu-
tido por influenciar na formação da futura geração de universitários
(PORTUGAL et al., 2013). Os atuais universitários atuarão na for-
mação educacional de outros indivíduos, trabalhando muitas vezes,
com faixas etárias de iniciação ao uso de substâncias psicoativas.

CONCLUSÃO
Nos cursos de humanas da Universidade Estadual da Paraíba o pú-
blico predominante são mulheres, heterossexuais, de faixa etária en-
tre 16 e 22 anos, católicas, solteiras, residentes com pais e possuindo
renda familiar mensal de 1 a 3 salários mínimos.
O consumo de álcool e tabaco está recebendo atenção de estudio-
sos, em virtude dos malefícios decorrentes do uso dessas substâncias
danosas ao organismo. Esses hábitos podem influenciar na vida dos
futuros profissionais.
O consumo de álcool observado é alarmante quando conside-
rado o nível de escolaridade, faixa etária e predominância do sexo

95
feminino. No tocante ao consumo de tabaco, embora menor em rela-
ção ao álcool, demonstra possivelmente a efetiva medida de promo-
ção dos ambientes livres de fumo, adotada pela universidade durante
a realização do presente estudo. A população é vulnerável ao uso,
abuso e dependência química de substâncias psicoativas, devendo
ações educativas de prevenção fazer parte do cotidiano dos sujeitos.

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98
CONSUMO DE DROGAS PSICOATIVAS
POR UNIVERSITÁRIOS

Valdileide de Melo Barbosa


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
Nos últimos anos se tem evidenciado crescente aumento no índice
de consumo de substâncias psicoativas. Estas ocasionam mudanças
moleculares e estruturais no Sistema Nervoso Central (SNC) tor-
nando o aspecto cognitivo do indivíduo consumidor alterado, por
depressão ou estimulação do SNC ou da produção de alucinações.
As substâncias psicoativas são classificadas em lícitas e ilícitas. As
primeiras têm seu uso permitido por lei para indivíduos acima de
18 anos e as ilícitas não há amparo legal para consumo em nenhuma
faixa etária.
Na história, problemas relacionados ao consumo de álcool e
outras drogas eram mais comuns entre homens, porém mudanças
no papel social da mulher têm determinado diminuição dessa di-
ferença. Na atualidade, nota-se a dependência acometer subgrupos
com características heterogêneas. Outros aspectos relacionados ao
aumento do consumo na população feminina são estímulos dados
às drogas lícitas como álcool, tabaco e anorexígenos pelos meios de
comunicação que tendem a associar consumo destes produtos à be-
leza, sedução, sucesso profissional e riqueza. Haja vista o apelo psi-
cológico da mídia acaba influenciando de forma negativa também as
adolescentes (OLIVEIRA et al., 2013).

99
Entre as drogas de uso prevalente na população se encontram
álcool e tabaco. São substâncias merecedoras de diferenciação por
serem consideradas drogas lícitas, livremente comercializadas, e, so-
cialmente aceitas. Estas causam os mesmos males à saúde acarreta-
dos por drogas ilícitas, cuja produção, venda e uso são legalmente
proibidos no Brasil (CARLINI et al., 2007).
No Brasil, o uso/abuso de drogas tem relação direta e indire-
ta com uma série de agravos à saúde, como acidentes de trânsito,
agressões, distúrbios de conduta, comportamento de risco no âm-
bito sexual, transmissão do vírus HIV pelo uso de drogas injetáveis,
além de outros problemas de saúde decorrentes dos componentes
das substâncias utilizadas e via de administração, como álcool asso-
ciado à cirrose, cigarro (nicotina) ao câncer de pulmão (ZEFERINO;
FERMO, 2012).
A preocupação mobilizadora da sociedade no Brasil se deve à
enorme e crescente disseminação do consumo de drogas, aos crimes
hediondos cometidos por seus usuários e pela idade cada vez mais
precoce das pessoas que se tornam dependentes delas, especialmen-
te as ilícitas, mas, também, aquelas com comércio autorizado pelas
instituições (SANCEVERINO; ABREU, 2003).
SANCHEZ (1982), afirma que, na maioria dos casos de usuários
de drogas ilícitas, quem prepara crianças e adolescentes para o uso,
abuso e tráfico de drogas são os própriospais e/ou parentes. Exem-
plificando a afirmativa, responsáveis por crianças pedem a estas para
comprarem bebidas alcoólicas, cigarros ou até mesmo medicamen-
tos de uso controlado, mesmo sabendo que existem leis que proíbem
a venda de tais produtos para menores de idade. Neste contexto, po-
de-se afirmar a existência de períodos na vida onde o indivíduo se
apresenta mais frágil, como na adolescência.Tal período vulnerável
para muitos, fase do desenvolvimento onde ocorrem mudanças físi-
cas e psicológicas; quando o indivíduo começa a se tornar indepen-
dente dos pais e valorizar seus pares; também quando o indivíduo
quer explorar uma variedade de situações com as quais ele ainda não
sabe bem como lidar (HAGGERTY et al., 2001). Assim, um adoles-
cente pode não saber ou não conseguir dizer não a um colega que ele
admira e que está lhe oferecendo drogas.

100
No geral, adolescentes e jovens iniciam suas experiências com
drogas consideradas lícitas, como álcool e tabaco em seus ambien-
tes familiares. Após, podem recorrer às ilícitas para aumentar seu
prazer, procurar outras emoções ou fugir de seus problemas, sendo
inalantes e maconha, drogas mais consumidas nesta fase (BUCHER,
1992).
A Política de Atenção Integral em Álcool e outras Drogas, elabo-
rada pelo Ministério da Saúde, reconhece o problema do uso abusivo
e dependência do álcool como maior problema relacionado ao uso
de drogas no país (MS, 2004), e atua em paralelo com a Política Na-
cional sobre Drogas, da Secretaria Nacional sobre Drogas (SENAD).
Segundo Levantamento Nacional (2010) sobre uso de álcool,
tabaco e outras drogas entre universitários, realizado pelo Grupo
Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a
Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (SENAD) e o Centro
de Integração Empresa-Escola (CIEE), 49% dos universitários pes-
quisados já experimentaram alguma droga ilícita pelo menos uma
vez e 80% dos entrevistados com menos de 18 anos já afirmaram ter
consumido bebida alcoólica.
O ingresso na universidade, ainda que traga sentimentos posi-
tivos e de alcance de meta programada por estudantes do ensino
médio, por vezes pode se tornar um período crítico, de maior vulne-
rabilidade para início e manutenção do uso de álcool e outras dro-
gas (PEUKER et al., 2006). A vida da faculdade é muitas vezes uma
cultura em si mesmo, com muitas oportunidades para experimentar
consumo de várias substâncias que não tinham sido expostas ante-
riormente, como o caso de “partes” desenfreado dentro ou fora da
universidade, promoção que faz do uso de álcool e outras substân-
cias para reduzir estresse e se divertir (SILVA et al., 2013).
Nesta perspectiva, pretende-se avaliar o consumo de drogas psi-
coativas entre universitários de uma determinada universidade de
ensino superior de Campina Grande-PB, em virtude da chegada ao
ensino superior aumentar preocupação quanto ao consumo dessas
substâncias, por poder constituir uma possível fase de exposição às
drogas, tanto lícitas quanto ilícitas.

101
REFERENCIAL TEÓRICO
O consumo de drogas se constitui prática milenar e permeia todas as
sociedades ao longo dos séculos. Porém, apenas a partir dos anos 60
este consumo passou a gerar preocupações antes das negligenciadas,
principalmente nos paises em desenvolvimento, onde este consumo
gera gastos com problemas de saúde e desestruturação do sistema
(TAVARES et al., 2001).
Pesquisas apontam que 5,2% de adolescentes brasileiros são de-
pendentes de bebida alcoólica. É de consenso que os primeiros tra-
gos venham por volta dos 12 anos, idade mais adequada a soltar pipa
e a pular corda que tomar pileques. Os efeitos dos primeiros goles
são instantâneos e não se trata apenas de pernas trançadas ou euforia
momentânea. Tanto quanto as drogas, o álcool atrasa o boletim es-
colar e é meio caminho andado para defasagem e, antes mesmo das
provas finais, o abandono dos estudos (CEBRID, 2001).
Neste contexto de crescente aumento no uso indevido de subs-
tâncias psicoativas, é possível observar que o início do consumo
destas substâncias se dá principalmente durante período da adoles-
cência. Período este caracterizado por mudanças comportamentais,
definição e fixação de personalidade. Processos geradores de insta-
bilidades familiares,sociais e afetivas fazem adolescentes se sentirem
motivados ao uso de substâncias psicoativas (BRUSAMARELLO et
al., 2010).
Estudo aponta o uso de substâncias como parte do processo de
aquisição de autonomia do adolescente em relação ao sistema fami-
liar, relacionado ao processo de separação individuação (PENSO,
2003). Enquanto outros demonstram a importância familiar na dro-
gadição (CARVALHO, 2001; DE MICHELI; FISBERG; FORMIGO-
NI, 2004), já que os fatores familiares têm sido relacionados ao uso,
abuso e/ou dependência de drogas, comprometendo a coesão e o
funcionamento familiar.
O uso abusivo de substâncias psicoativas entre adolescentes está
associado a diversos prejuízos, cognitivos, físicos e comportamen-
tais. Estes prejuízos irão refletir não apenas na vida do próprio ado-
lescente, mas na da sua família, seus círculos de amizade e princi-
palmente na sociedade. Estudos norte americanos evidenciaram a

102
principal causa de mortes automobilísticas que ocorrem no país é
decorrente de adolescentes que dirigem alcoolizados ou sobre efeito
de outras substâncias psicoativas (PAIVA; RONZANI, 2009).
Os prejuízos ocasionados pelo consumo dessas substâncias du-
rante juventude se estendem ao longo da vida dos jovens, repercu-
tindo em problemas neuroquímicos, em deficiência do ajustamento
social, bem como de desestruturação biológica, psicológica e social
(PECHANSKY; SZOBOT; SCIVOLETTO, 2004).
Conforme estudo realizado por Carlini (2002) acerca de drogas e
população estudantil mundial, quatro drogas mais consumidas (uso
na vida) em várias partes do mundo são basicamente maconha, esti-
mulantes/anfetamínicos, inalantes e tranquilizantes/ansiolíticos. Ou-
tras drogas são as cifras mais discretas, salvo exceções como Estados
Unidos, Portugal (cocaína), Luxemburgo e Irlanda (alucinógenos).
No Brasil, levantamentos epidemiológicos demonstram prevalên-
cia do uso de substâncias psicoativas têm aumentado principalmente
álcool e tabaco. Também se verifica nesses estudos aumento de uso
entre adolescente de duas substâncias antes pouco faladas dentro
desse grupo em estudos realizados em outros países: Anabolizantes
e ansiolíticos (PECHANSKY; SZOBOT; SCIVOLETTO, 2004).
Diante disso, adolescentes iniciam seu contato com o mundo
adulto por meio da escola, é quase que unânime entre as pesqui-
sas que um dos principais motivos pelos quais os jovens começam
a fazer uso de substâncias psicoativas seja a falta de informação,
conjugada com uma necessidade de fazer parte de um grupo social
onde os mesmos sejam aceitos, fazendo com que haja a iniciação
no mundo das drogas durante esta fase (CALVALCANTE; ALVES;
BARROSO, 2008).
Muitos adolescentes passam a utilizar substâncias psicoativas, le-
galizadas ou não, primeiramente por “curiosidade” e, e num segundo
momento,“porque os amigos usam”. No caso da curiosidade, essa cor-
responde a uma qualidade natural do ser humano, sendo que alguns
indivíduos são naturalmente mais curiosos do que outros (PRATTA;
SANTOS, 2006). Há preocupação mundial nas últimas décadas, em
função da alta incidência do consumo e dependência de substâncias
psicoativas no contexto universitário e suas consequências diretas no

103
desempenho acadêmico e profissional tem provocado a criação de
programas de prevenção em universidades.
Muitos jovens ao ingressarem na universidade, ambiente que
favorece o crescimento pessoal e profissional, sofrem uma série de
mudanças no cotidiano, como afastamento da família, formação de
novas amizades, maior independência, novas formas de lazer e inte-
ração e maior responsabilidade frente às cobranças acadêmicas. Esta
nova realidade pode influenciar na saúde do indivíduo, principal-
mente em relação ao uso de drogas, visto que estes fatores podem
desempenhar um papel de proteção ou de risco para o uso destas
substâncias (ZEFERINO et al., 2015).
Pode-se perceber que o consumo de drogas psicoativas entre es-
tudantes universitários está associado à vida social mais intensa, tal-
vez porque, fora de casa, ou em grupos, o acesso às drogas se jamais
fácil ou, então, porque esses indivíduos são, devido à educação que
receberam ou ao meio onde estão inseridos, mais “abertos” e com
menos “tabus” em relação a esse consumo.
Pesquisa realizada por Andrade et al., (1997) indica prevalência
de uso de “drogas ilícitas” de 38,1% na vida, 26,3% nos últimos 12 me-
ses e 18,9 % nos últimos 30 dias entre universitários, área de ciências
biológicas. Identificou-se, também, álcool e tabaco são substâncias
mais consumidas, enquanto o uso de “drogas ilícitas” é maior entre
alunos do sexo masculino e maior ainda entre os que moram sem a
família.
Estima-se que 200 milhões de pessoas no mundo façam uso de
alguma substância ilícita, dentre as quais cerca de 25 milhões po-
deriam ser consideradas como “usuários problemáticos de drogas”
(UNODC, 2007).
Em pesquisa semelhante e utilizando o mesmo questionário, Bar-
ría et al., (2000) avaliaram comportamento dos estudantes de gra-
duação também da área de ciências biológicas, em relação ao uso de
álcool e “drogas”. Observaram-se usuários de tabaco e de “drogas” se
dedicavam mais às atividades socioculturais e gastavam menos tem-
po com atividades acadêmicas em relação aos não usuários.
O consumo de drogas pelos jovens é reconhecido também
como comportamentos mediados culturalmente pelos processos de

104
aprendizagem. Agentes culturais de socialização como família, cole-
gas, religião e indústria do entretenimento estão entre as instituições
sociais a partir das quais jovens adultos e adolescentes, cognitiva-
mente assimilam informações e se tornam influenciados. Por ex-
tensão influenciam comportamentos dos outros. Agentes culturais,
portanto, têm potencial de afetar o uso de drogas, bem como normas
ou práticas sociais que regem a utilização de substâncias específicas
dentro de uma cultura (ZEFERINO, 2015).

METODOLOGIA
A presente pesquisa de natureza quantitativa, descritiva, a qual
foi desenvolvida na Universidade Estadual da Paraíba CAMPUS I
(UEPB) Campina Grande, Paraíba, realizada no 1º semestre de 2016 .
A amostra foi constituida de 300 estudantes do 1º ao último período
dos Centros de Ciências da Saúde (CCBS) e Tecnologia (CCT).
Para o procedimento da pesquisa foi utilizado questionário pa-
drão do Programa Educação e Prevenção ao Uso de Álcool, Tabaco
e Outras Drogas (PEPAD) versando sobre o consumo de drogas psi-
coativas com perguntas e respostas de múltiplas escolhas.
O critério de inclusão usado no presente estudo foi ser estudante,
estar regularmente matriculado em algum curso dos Centros de Ci-
ências da Saúde e Tecnologia da Universidade Estadual da Paraíba,
campus I e, encontrar-se presente nos dias da aplicação dos questio-
nários. A aplicação dos questionários ocorreu na sala de aula, coleti-
vamente, como usem a presença do professor na sala. Para assegurar
o anonimato dos questionários, foi entregue um Termo de Consen-
timento Livre e Esclarecido (TCLE).
Os dados foram coletados e armazenados no banco de dados
usando o Programa Excel 2010. As informações foram analisadas
por meio de estatística simples de forma descritiva. Para verificação
da coerência interna das respostas, como exemplo, responder não
ao item “uso na vida” e sim ao item “uso no ano” da mesma droga,
sendo classificada como falta de coerênciae descartada.
Foram respeitados os aspectos éticos relativos à pesquisa com seres
humanos, conforme preconiza a resolução nº 466, de 12 de dezembro
de 2012 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. Os

105
questionários foram aplicados após a autorização do Comitê de Ética
e Pesquisa da UEPB, sob o número CAAE:51780915.9.0000.5187.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a coleta dos dados e tabulação dos mesmos em relação ao
consumo de drogas psicoativas pelos universitários os resultados fo-
ram apresentados em forma de gráfico.
Em relação ao consumo de álcool, no presente estudo, foi possível
observar dos 300 estudantes consultados, 58% (n=174) já fizeram uso
de álcool alguma vez durante a sua vida ou ainda ingerem, como
mostra o Gráfico 1.

Gráfico 1- Consumo de álcool pelo menos uma vez na vida


entre universitários.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Os resultados apresentados no gráfico 1, corroboram com os estu-


dos de Andrade (2012), com 90%. Estudo semelhante realizado por
Souza et al., (2009) com 92%; a pesquisa de Lemos et al., (2007) com
um percentual de 92.8% em estudantes.
O principal motivo alegado para iniciação ao uso de drogas pelo
grupo estudado foi a presença das drogas lícitas ou ilícitas na comu-
nidade de convivência. Segundo Oliveira et al., (2013) a iniciação ao

106
uso de drogas é multifatorial e seu desencadeamento não está vin-
culado unicamente apenas à experimentação, mas à necessidade do
indivíduo manter sua consciência alterada, em um processo onde
fatores individuais, familiares e sociais adversos se combinam de for-
ma a aumentar a probabilidade da continuidade disfuncional do uso.
No Gráfico 2 está representado o total de universitários que fa-
ziam uso de álcool, em 32% dos casos o uso era recorrente. O con-
sumo de álcool em reuniões sociais para serem aceitos ou para se
sentirem mais à vontade nos grupos sociais enquanto 68% relataram
não usar álcool recorrente.

Gráfico 2 - Uso recorrente de álcool entre universitários.

Fonte: Dados de pesquisa, 2016.

Quando comparados os resultados desta pesquisa com a litera-


tura vigente, os mesmos são descordantes, pois Moraes et al., (2011)
encontraram um percentual de 69% de consumo de álcool entre es-
tudantes universitários. Em relação à percepção acerca do consumo
de álcool, 87% confirmaram ser normal o uso de bebidas alcoólicas e
somente 13% não admitem o uso de álcool como normal (Gráfico 3).
Observa-se, diante do resultado, a aceitação do consumo do álcool
entre universitários demonstrando a inexistência de receio por parte
do jovem ao uso dessa droga.

107
Gráfico 3 – Percepção quanto ao uso do álcool entre universitários.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Resultados estes que corroboram com estudos de Silva et al.,


(2006) qual levantou que 53% dos universitários eram etilistas e con-
sumiam mais do que uma dose ao dia, e 25,9% admitem sentimento
de culpa ou remorso após o uso de bebidas alcoólicas (ROCHA et
al., 2011).
O consumo de álcool em festas pode ser relatado como perten-
cente à cultura do povo brasileiro. No gráfico 4, observou-se que
60% (n=180) admitiram ser desnecessário o uso de álcool para se
sentirem à vontade em festas, no entanto 40% (n=120) precisam de
algum tipo de droga para se sentirem desinibidos.

108
Gráfico 4 - Relação ao consumo de álcool para se sentir à
vontade em festas.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Os presentes resultados acompanham um estudo realizado com


universitários do Rio Grande do Sul que mostrou os principais mo-
tivos para uso de bebidas alcoólicas como sendo o uso para facilitar
interações sociais (motivos de tipo social) e para experienciar afe-
tos positivos (motivos de tipo realce) (HAUCK-FILHO; TEIXEIRA;
COOPER, 2012).
Desta forma, os dados sugerem que há necessidade de investi-
mentos na implementação de estratégias para identificação precoce
de indivíduos que usam e abusam de substâncias, para prevenir ou
retardar o seu consumo bem como para tratamento, recuperação
e reabilitação de estudantes que já abusam ou são dependentes de
drogas. Em sua maioria, os jovens começam a experimentar dro-
gas entre 13 e 15 anos de idade. Em geral, caracteriza-se por álcool
na companhia dos amigos ou por curiosidade, uma vez que em sua
maioria não sofrem problemas emocionais, esta sim, a grande causa
do consumo abusivo de drogas pesadas (PAIN et al., 2010).
Drogas como álcool, tabaco, maconha e inalantes merecem
atenção especial, porque são mais “baratas” e de fácil acesso e pos-
suem grande potencial de abuso, dependência e complicações desse

109
consumo, podendo levar a graves problemas de saúde, incapacidades
ou mortes (UNODC et al., 2012; WHO, 2007).
No presente estudo foi possível observar, que 80% dos universitá-
rios do CCT (Gráfico 5) admitem se sentirem mais à vontade quan-
do fazem uso de alguma bebida alcoólica. Destes, aproximadamente
40% são do sexo feminino (n=48) e 60% (n=54) do sexo masculino
admitem se sentirem mais desinibidos, entretanto, 95% (n=38) do
sexo masculino do CCBS (Gráfico 6) . Os universitários relatam ser
desnecessário o uso de álcool em festas, enquanto 70% (n=77) do
sexo feminino confirmam ser necessário o uso de álcool.

Gráfico 5 - Relação ao consumo de álcool para se sentir à vontade


em festa – CCT.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Dados esses que divergem com estudos da literatura que apre-


sentaram 22% indivíduos do sexo masculino e quatro 3% do sexo
femininoe 77,3% do sexo masculino e 66,6% do sexo feminino. Em
relação aos cursos a literatura mostra que 95,2% do sexo masculino
da área da saúde já usaram álcool em festas e 94,7% do sexo feminino
também divergindo com o presente estudo (LARANJEIRA, 2000;
SENAD, 2010; MORAES et al., 2013).

110
Gráfico 6 - Relação ao consumo de álcool para se sentir à
vontade em festas – CCBS.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Ainda versando sobre o gráfico 6, observa-se um percentual alto


de 70% consumo de álcool, entre os estudantes da área da saúde, com
prevalência do sexo feminino. Desse modo, os futuros profissionais
de saúde não se encontram imunes ao problema do abuso e depen-
dência de drogas, e merecem atenção diferenciada, já que serão mo-
delos de saúde para a comunidade.
Quando comparados os dados apresentados nos gráficos 5 e 6, os
mesmos divergem dos trabalhos realizados por Souza et al., (2009),
que encontrou 57% pertencia ao sexo masculino, respectivamente.
Cabe ressaltar que 73,4 % (n=110) dos alunos da área da saúde são
do sexo feminino contrapondo com a área de exatas que a maioria
são do sexo masculino 60% (n=90). Segundo Lima et al. (2010), dado
preocupante, pois o alcoolismo entre indivíduos do sexo feminino é
mais frequente do que se imagina, no entanto, os casos não são fiel-
mente divulgados, ficando, na maioria das vezes, o sexo masculino
como consumidor de álcool.
No gráfico 7 e 8 estão respresentados à relação da influência das
amizades com uso de álcool, dos quais 70% do sexo masculino e 30%

111
do sexo feminino da totalidade dos estudantes do CCT. Estes relata-
ram que os amigos não influenciam, já em relação ao CCBS 85% do
sexo masculino responderam que os o amigos não motivam e 30%
do sexo feminino do CCBS acham que provavelmente não inspiram
a beber e 20% desses têm certeza que sim.

Gráfico 7- Uso álcool relacionado a amizade – CCT.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Gráfico 8 - Uso de bebida relacionado à amizade – CCBS.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

112
Divergindo com estudos de Chiapetti e Serbena (2008), afirma-
ram que os estudantes universitários desfrutam do fácil acesso ao
álcool, que esta substância faz parte de seu relacionamento social e
que leva, portanto, à associação com os amigos e colegas que tam-
bém são usuários.
Os amigos são considerados a estrutura de lazer e contato social
mais importante para os adolescentes. Falta de suporte e monitora-
mento familiar, dificuldade de relacionamento e comunicação com
os pais podem favorecer o uso de álcool e de drogas em situação de
lazer (TOBLER; KOMRO, 2010).
Em relação com a experiência com outras drogas dos 300 univer-
sitários observou-se que 99% responderam que nunca experimen-
taram cocaína ou algum dos seus derivados e somente 1% admitiu o
uso por curiosidade como está representado no gráfico 9.

Gráfico 9 – Uso de cocaína ou algum de seus derivados (crack, oxy ou merla).

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Dados estes semelhantes encontrados por Silva et al., (2006), que


estudando uma população de 926 apresentou um percentual de 1,9%
relacionado ao consumo de cocaína por universitários.
Um dos fatores que influência o primeiro contato com drogas

113
pontentes sempre são os amigos com 57%, problemas familiares com
9%, falta de informação 10%, consumo de outras drogas 24% (Grá-
fico 10).
Dados estes que corroboram com o levantamento da SENAD
(2010), sendo observado que os universitários atribuem que usam
drogas porque gostavam ou porque lhes possibilitando esquecer os
problemas da vida cotidiana; usam as bebidas alcoólicas para ma-
nipular os efeitos de outra substância no sentido de potencializar
os efeitos agradáveis e reduzir os efeitos desagradáveis; nos lugares
onde havia acesso a álcool, havia também o acesso a outras drogas,
tornando a associação obrigatória (influência ambiental) ou faziam
para imitar o comportamento dos amigos.

Gráfico 10 - O que pode levar o primeiro contato com drogas ílicitas?

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Sobre esses fatores indutores ao consumo de drogas licítas e ilíci-


tas, pode ser verificado que o ambiente universitário se torna favo-
rável para o uso de bebidas alcoólicas e de outras drogas, uma vez
que há diversos eventos sociais que favorecem e tornam atrativo o
uso do álcool e de outras drogas ilícitas. É muito frequente o consu-
mo de substâncias ilícitas principalmente o consumo de maconha

114
(NICASTRI et al., 2010; OLIVEIRA et al., 2010).
Observando os dados do gráfico 11, constataram-se que 50%
(n=150) acham que as escolas/universidades deveriam ter um papel
mais ativo perante o consumo de drogas, enfatizando o conhecimen-
to dos malefícios do uso das drogas, na saúde, família e sociedade,
entretanto, 17% desses acham que as escolas não influênciam muito.
Dados estes que corroboram com estudos de Canoletti (2004) e
Soares (2005), demonstraram que, apesar de se levantar quantida-
de significativa de artigos sobre prevenção de drogas, somente uma
parcela, bastante pequena, refere-se ao desenvolvimento de projetos
de prevenção propriamente dito. Dentre os públicos-alvos a que se
destinavam esses projetos, um maior número estava localizado na
escola, com foco, principalmente, nos estudantes e nos professores.

Gráfico 11 – O papel das escolas relacionado ao consumo de drogas

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Em 2004, o levantamento epidemiológico realizado pelo Centro


Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID),
em estudantes de educação básica, comprova a presença de psicotró-
picos nas escolas, a existência do abuso entre alunos e uma tendência
de iniciação precoce, na faixa etária de 10-12 anos mais de 12% das
crianças já usaram algum tipo de droga navida (GALDURÓZ et al.,

115
2004).

O jovem tem direito a saber a verdade sobre as dro-


gas (...) As informações, pois, devem ser objetivas e
fidedignas, usadas para veicular valores que tocam
o aluno, despertam, o interessam. Assim, não pro-
cede focalizar a droga como simplesmente “ruim”
ou “perigosa”, mas sim, situar a questão do consumo
de drogas dentro do contexto social amplo (...) (BU-
CHER, 2007, p.121).

O uso de drogas e suas consequências adversas é um tema de re-


levante preocupação mundial, dado o número de usuários existen-
tes e seu impacto sobre os indivíduos e a sociedade. Em especial, os
estudantes universitários que compreendem uma importante parce-
la desse universo, uma vez que apresentam um consumo de drogas
mais intenso e frequente do que outras parcelas da população em
geral (ANDRADE et al., 2010).

CONCLUSÃO
Os resultados obtidos se assemelham a outros estudos de literatura
científica.
Inexistência de receio ao consumo de álcool, jovens admitem ser
normal o uso de bebidas alcoólicas em eventos sociais.
Maior prevalência de consumo de álcool entre o sexo feminino,
ressalta-se que a mulher vem conseguindo autonomia perante a so-
ciedade, e, tornando-se cada vez independente.
Influência de amigos relacionado ao uso de álcool em even-
tos como reuniões e festas universitárias, tem uma grande parce-
la de inspiração para o consumo de substâncias psicoativas entre
universitários.
Pouca informação sobre prevenção ao uso de álcool e outras dro-
gas, a qual observa-se a grande importância das palestras nas escolas.
O consumo dessas substâncias é uma questão de saúde pública,
quando a análise da sua prevalência, do seu padrão de consumo e
dos fatores desencadeantes influenciam o meio social, principalmen-
te quando presente entre estudantes da área da saúde.

116
Visto que, merecem um enfoque diferenciado em relação a es-
sas atitudes, pois é importante lembrar que eles serão promotores de
saúde junto à comunidade.
Diante do exposto, deve ser lembrado o papel estratégico das uni-
versidades como centros geradores de conhecimento e formação de
líderes.
Assim, pode ser considerado que ações preventivas geradas por
programas de prevenção ao consumo de álcool e outras drogas, re-
sultem numa mudança de padrões de consumo dessas substâncias
entre universitários trazendo benefícios para toda a sociedade.
Ressalta-se a importância do controle das festas com bebidas li-
beradas e da venda de álcool com preços reduzidos em eventos uni-
versitários, assim como, em bares próximos aos campi universitários.

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121
PROMOÇÃO DE AMBIENTES LIVRES DE
FATORES QUE CONDUZAM À DEPENDÊNCIA
QUÍMICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Helen Jesana Vieira Diniz


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
O período de ingresso em instituição de ensino superior é um mo-
mento de grandes modificações. Os estudantes se deparam com uma
vida cheia de novidades e descobertas, abrindo-se leque de experiên-
cias e oportunidades até então desconhecidas.
Os indivíduos tornam-se expostos a desafios e dificuldades ine-
rentes às responsabilidades acadêmicas, onde a pressão para cum-
primento e desenvolvimento de suas atividades e preocupação com
futuro sucesso profissional, agravado pelo distanciamento de seus
municípios de origem e núcleos familiares, tornam-os mais vulne-
ráveis a comportamentos de risco, no que tange ao uso indevido de
substâncias psicotrópicas (SPA).
Para Machado, Moura e Almeida (2015), a temática drogatização
e sua relação com o homem é discutida desde o início dos tempos,
perpassando pela utilização para conexão com o mundo espiritual,
ao consumo contemporâneo desenfreado em busca de prazer ime-
diato e alívio de desconfortos físicos e psíquicos. Antigas comuni-
dades faziam uso dessas substâncias como parte de sua medicina ou
como elemento de seus rituais mágico-religiosos, sendo uma prática

122
milenar bastante difundida que deixou legado cultural para coloni-
zadores e nativos das mais diversas regiões do mundo (ROMERO;
ROMERO, 2016).
O consumo de álcool e tabaco está arraigado na sociedade, es-
tando sempre associado a sensações de relaxamento e como fator de
auxílio na desinibição, favorecendo a construção de relações inter-
pessoais. De acordo com Ferreira et al., (2013) , o consumo abusivo
de álcool demonstra sua correlação com risco de doenças, acidentes
de trânsito, absenteísmo, aumento da violência e criminalidade, den-
tre outros.
O uso e abuso das substâncias psicoativas, sejam lícitas ou ilícitas,
instaura-se no panorama social atual como fenômeno complexo de
saúde pública, trazendo consigo consequências biopsicossociais, in-
fluenciando direta ou indiretamente a economia, dinâmica familiar,
comunidade, país e âmbito global (SCOTT et al., 2015).
Acerca do panorama atual de consumo de drogas em âmbito glo-
bal o Relatório Mundial sobre Drogas - UNODC (2016) informou
que o número de dependentes químicos sofreu aumento significati-
vo em todo o mundo, de 27 milhões (2013) para 29 milhões (2014),
além do salto alarmante de 243 para 250 milhões de indivíduos com
idade entre 15-64 anos que haviam utilizado algum tipo de droga
ilícita. Estimativa que se encontra relativamente estável nos últimos
dez anos.
Neste contexto, uma série de fatores relacionados simultanea-
mente influenciam direta e indiretamente o indivíduo venha a ter
o primeiro contato com substâncias psicoativas, socioeconômicos,
ambientais, educacionais, psicológicos e pressão exercida por ami-
gos e pares. Sabe-se também que fatores familiares possuem carga
considerável de contribuição, por influenciar diretamente na for-
mação de caráter dos sujeitos, além de níveis elevados de estresse
comuns à vida moderna, que expõe jovens à sobrecarga psicológica
(BONILHA et al., 2014).
Em estudo realizado por Cerutti, Ramos e Argimon (2015), sobre
a relação entre percepção dos adolescentes acerca de atitudes paren-
tais e sua tendência ao uso de substâncias psicoativas, demonstrou

123
que uma relação familiar deficiente pode ser considerada como fa-
tor de risco para envolvimento em comportamentos nocivos, como
uso de drogas ilícitas pelos adolescentes, aumentando as chances dos
mesmos abusarem do tabaco, ser dependentes do álcool e abusar e
depender da maconha.
De acordo com Bittencourt, França e Goldim (2015), o consumo
precoce de SPA pode limitar o desenvolvimento biopsicossocial dos
indivíduos, e por consequência, conduzir a déficits mentais ou físi-
cos e até mesmo a redução de sua expectativa de vida. Para comuni-
dade universitária, o uso indiscriminado de substâncias psicoativas
repercute de forma negativa, vindo a acarretar prejuízos acadêmicos
como baixo rendimento, faltas e atrasos, além dos mais diversos pro-
blemas de saúde, implicando diretamente em sua vivência profissio-
nal futura (SILVA et al., 2013)
Portanto, diante dessas perspectivas alarmantes, os estudantes
universitários merecem atenção especial, pois cada vez mais estudos
(CERUTTI; RAMOS; ARGIMON, 2015; BITTENCOURT; FRAN-
ÇA; GOLDIM, 2015) têm apontado para magnitude do uso de SPA
no meio universitário, e vulnerabilidades as quais este grupo popu-
lacional está exposto.
Em concordância com Dázio, Zago e Fava (2016), o consumo de
substâncias psicotrópicas no âmbito universitário é prática comum,
sendo evidenciada pela veiculação de propagandas por meio de ban-
ners e convites para festejos organizados, promovidos e, por vezes,
realizados no âmbito das dependências das instituições de ensino.
Dessa forma, é demonstrada a triste realidade vivenciada nas insti-
tuições de ensino superior, no tocante a utilização abusiva das SPA
por parte de seu corpo discente, situação onde muitos de seus jovens
promissores acabam por se desviarem seguindo por caminho, por
vezes, sem retorno.
Doravante a situação de risco a qual os estudantes estão expostos,
com a finalidade minimizar os danos ocasionados pelo uso abusivo
de substâncias psicoativas em nossa instituição, a Reitoria da Univer-
sidade Estadual da Paraíba, assinou a Portaria/UEPB/GR/0309/2014.
Esta, em inciso único, proibe a utilização de todo e qualquer produto
fumígeno nas dependências da universidade onde haja circulação de

124
pessoas. Tal norma, pautada nas leis, seja Federal 12.546/2011, Esta-
dual 8.958 e Tratados como na Convenção-Quadro para o Contro-
le do Tabaco, que desde o ano de 2005 vem estabelecendo medidas
para redução da epidemia tabágica no mundo. Trata-se do primeiro
Tratado de Saúde Pública da Organização Mundial da Saúde, que
traz como princípio a adoção de medidas eficazes para prover a eli-
minação do hábito de fumar em ambientes fechados, objetivando a
instituição de ambientes 100% livres da fumaça de tabaco, protegen-
do a população dos danos provocados a saúde tanto pelo fumo ativo
quanto passivo (CQPT, 2011).
Diante da problemática causada pelo consumo de tais subs-
tâncias, percebe-se a imprescindível necessidade de realização de
ações voltadas à promoção, prevenção, redução de danos sociais e
à saúde, três dos principais eixos que respaldam a Política Nacional
Sobre Drogas no Brasil, as quais nosso trabalho tem se debruçado.
Com foco na prevenção de ambientes que favoreçam a dependência
química.
O presente estudo objetiva relatar a experiência de uma estudante
de Enfermagem no Projeto “Promoção de Ambientes 100% Livres de
Fatores que Conduzem a Dependência Química”, realizado no cam-
pus I da Universidade Estadual da Paraíba.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL
Relatar a experiência vivenciada durante intervenções de promoção
de ambientes livres de fatores que conduzem a dependência química
em uma instituição de ensino superior.

METODOLOGIA

TIPO DE ESTUDO
O presente estudo trata-se de um relato de experiência construído
com abordagem descritiva, embasado nas vivências da discente no
Projeto de extensão universitária Prevenção a fatores que condu-
zem a dependência química, desenvolvido pelo Núcleo de Educação

125
e Atenção em Saúde e cadastrado na Pró-Reitoria de Extensão da
Universidade Estadual da Paraíba (NEAS/PROEX/UEPB) visando
os ambientes livres de fatores que favoreçam a dependência química
em estudantes universitários.
O relato de experiência objetiva de forma primordial explanar
acerca das informações coletadas e registradas no decorrer de pro-
grama, projeto ou situação problema, analisando vivências a partir
do ponto de vista do observador, contribuindo para melhor compre-
ensão entre prática e conhecimento (SOUSA; MESQUITA; SOUSA,
2017).
Os primeiros relatos históricos acerca da extensão universitária
datam da metade do século XX, tendo a Inglaterra como precursora
seguida da Bélgica, Alemanha e por fim todo o continente europeu.
No Brasil, suas atividades deram início em 1911 nos Estados de São
Paulo, Rio de janeiro e Minas Gerais. Foi regulamentada oficialmen-
te pelo Decreto nº 19.851, de 11/4/1931 (PAULA, 2013).
As atividades extensionistas constituem forma de interação entre
comunidade e universidade, além de ser uma forma de autonomia
didático-científica, administrativa e financeira. Porérm, devido à su-
pervalorização da pesquisa científica por parte das instituições de
ensino superior, a extensão é, de certa forma, pouco explorada (SI-
QUEIRA et al., 2017).
O Núcleo de Educação e Atenção a Saúde (NEAS) vinculado à
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), voltado a ações de edu-
cação e atenção em saúde. Possui público alvo variado, indivíduos
de todos os sexos e idades, tendo por objetivo prestar serviços de
natureza especializada e continuada. O NEAS foi institucionalizado
por meio da RESOLUÇÃO/UEPB/CONSUNI/016/2013.

ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS


Avaliação por parte do comitê de ética em pesquisa da Universidade
Estadual da Paraíba foi dispensada, por se tratar de relato baseado
em experiências de projeto de extensão. A identidade dos partici-
pantes foi mantida em sigilo de acordo com aspectos éticos e legais
dispostos na resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

126
CARACTERIZAÇÕES DO CAMPO DE ESTUDO E
ATIVIDADES REALIZADAS
A construção deste artigo se baseou nas vivências de uma estudante
de Enfermagem na realização de atividades de educação em saúde
com estudantes universitários, de ambos os sexos e todas as idades
da Universidade Estadual da Paraíba- campus I, quanto aos fatores
que favorecem a dependência química. As atividades abrangeram o
Centro de Ciências Jurídicas (CCJ), Centro de Ciências de Biológi-
cas e da Saúde (CCBS), Central Integrativa de Aulas (CIA) e Centro
de Ciências e Tecnologia (CCT).
As intervenções foram realizadas nos anos 2014 a 2016, utilizando
metodologia ativa, do tipo problematização, sendo um novo contex-
to pedagógico no qual o estudante é protagonista de seu processo de
aprendizado. Os princípios teóricos das metodologias ativas estão
fortemente alicerçadas, um deles é a autonomia, algo explicitado nas
obras de Paulo Freire, que traz o respeito à autonomia e a dignidade
de cada indivíduo como um imperativo ético, que permite despertar
a inquietude e curiosidade dos indivíduos (FREIRE, 2016).
As atividades foram realizadas semanalmente e consistiam em
palestras expositivas e rodas de discussão, desenvolvidas sala a sala
com universitários, ressaltando a necessidade da prevenção ao uso
indevido de substâncias psicoativas e aos malefícios do consumo de
tais produtos.
Cada palestra e roda de discussão realizada apresentava duração
de 20 a 30 minutos. No primeiro momento, ocorria explanação da
problemática, causas e efeitos, e, em seguida, era aberto espaço às
discussões acerca de possíveis sugestões de medidas resolutivas ou
formas paliativas de lidar com a situação problema. Havia espaço
para escuta das demandas e opiniões dos participantes

REVISÃO DE LITERATURA

ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS E O CONSUMO DE SPA


O conceito de “droga psicoativa” abrange toda e qualquer substância
natural ou sintética que ao ser utilizada atue ativamente no cérebro
proporcionando modificações em sua atividade psíquica, de cunho

127
físico, emocional e comportamental, podendo causar dependência
química (JUNIOR; GAYA, 2015).
Os meios de comunicação a todo instante veiculam propagandas
que estimulam indivíduos a consumirem substâncias psicotrópicas,
principalmente o álcool, sempre associando a fatores de sucesso fi-
nanceiro, social e afetivo conduzindo a população na crença que seu
uso irá lhe proporcionar alcançar o bem estar psicossocial que tanto
almeja. Porém, por trás de todo esse ideal de glamour e beleza está o
risco não apenas da dependência química, mas também da exposi-
ção desses usuários a fatores de risco que incluem acidentes automo-
bilísticos e variados tipos de agravos à saúde.
Certamente, um dos segmentos sociais que mais chama atenção
de pesquisadores em todo o mundo por suas vulnerabilidades, são es-
tudantes universitários, pois além das modificações ocasionadas pela
difícil transição para idade adulta, após o ingresso nas instituições de
ensino superior, ocorrem mudanças abruptas em suas rotinas, por
vezes, exigindo que morem em outros munícipios, culminando na
quebra do vínculo familiar e social fazendo com que indivíduos te-
nham a necessidade de estabelecer novas conexões (NEMER et al.,
2013). Deve-se destacar que entrar na universidade pode ser um fator
de risco para o uso e abuso de drogas, considerando o acesso fácil
e incentivo por parte dos colegas, além dos efeitos que facilitam a
adequação social e redução da ansiedade (ZEFERINO et al., 2015).
Para Mitchell et al., (2015), o consumo abusivo de drogas por
parte dos estudante universitários esta ligada a influências exercidas,
por amigos, pares, participação em festas e eventos e até mesmo fa-
tores religiosos e espiritualidade. Dados esses que corroboram com
estudo realizado em uma Universidade do Equador que comprovou
que o uso de SPA está correlacionado diretamente às relações fami-
liares, influência de amigos, pressão de pares usuários de drogas e
espiritualidade. Sendo este último considerado pelo autor como fa-
tor de proteção, evitando que jovens se desviem para o caminho das
drogas (SCOTT et al., 2015).
Pode-se observar que o uso de drogas se tornou cada vez mais
recorrente no âmbito universitário. Estudo realizado por Eckschmi-
dt et al., (2013) com finalidade comparativa da utilização SPA entre

128
universitários Americanos e Brasileiros, constatou que estudantes
dos EUA fazem mais uso de tabaco, tranquilizantes, maconha, ecs-
tasy, alucinógenos, cocaína, crack e heroína que brasileiros. No en-
tanto, os universitários do Brasil consomem quase duas vezes mais
inalantes, além de se envolverem com mais frequência no uso de be-
bidas alcoólicas, maconha, tranquilizantes, inalantes, alucinógenos e
anfetamínicos que seus pares da população geral.
Em levantamento anterior realizado por Bortoluzzi et al., (2012)
acerca do consumo de drogas entre estudantes universitários de uma
cidade do sul do Brasil, ficou demonstrado que o tabaco, anfetami-
nas e ansiolíticos assim como álcool, estão entre as drogas lícitas
mais consumidas entre universitários. No tocante ao consumo de
drogas ilícitas, verificou-se que a maconha é a terceira em frequência
de consumo geral e, primeira entre as consideradas ilegais.
Apesar do Nordeste Brasileiro apresentar números menores em
relação ao consumo abusivo de substâncias psicoativas, a preocupa-
ção em relação à promoção da saúde e contenção de agravos persis-
te, pois a dependência química representa grave problema de saúde
pública a nível global.
Pesquisa realizada por Freitas, Nascimento e Santos (2012) inves-
tigou a prevalência do uso de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas
entre universitários em instituições públicas e privadas do município
de Picos-PI. Constatou-se que 74,5% não praticavam automedicação
e nem faziam uso de psicotrópicos, no entanto, em eventos sociais,
usavam o álcool (61,2%) e de tabaco (18,5%), principalmente pela in-
fluência dos amigos (27,3%).
Em estudo realizado por Pachú (2014), na Universidade Estadual
da Paraíba o qual foram abordados acadêmicos da área da saúde dos
3º e 4º períodos, constatou-se que 65% dos estudantes consomem
álcool de 1 a 2 vezes por semana. Em contrapartida, pesquisa reali-
zada na referida Instituição com estudantes do Centro de Ciências
Humanas, verificou que o consumo de álcool e tabaco é alarmante,
com predominância do sexo feminino de faixa etária entre 16 e 22
anos (COSTA, 2015).
Estudos comprovam que estudantes da área da saúde também es-
tão expostos às vulnerabilidades do consumo exasperado de drogas

129
psicoativas, devido aos mais diversos fatores psicológicos como,
pressão social e estresse. Em estudo realizado por Segura e Cáliz
(2015) visando a investigação dos tipos de drogas mais consumidas
por estudantes da área da saúde em uma universidade na Colômbia,
revelou que são mais consumidos álcool, tabaco e maconha. Em con-
trapartida, pesquisa anteriormente realizada no curso de graduação
em Enfermagem de uma universidade no Paraná, averiguou que o
consumo de substâncias lícitas, como álcool e tabaco, estão repre-
sentados por 69,1% consumo de médio risco para álcool e 90,6% de
consumo de baixo risco de tabaco, ambos associados ao estresse aca-
dêmico (SOARES; OLIVEIRA, 2013).
As implicações das condutas adotadas por esses futuros profissio-
nais da saúde, principalmente estudantes de Enfermagem, terá im-
pacto direto em suas carreiras, pois estes, além de promotores ativos
da saúde e do bem estar biopsicossocial serão modelos a serem se-
guido por seus pacientes, sendo responsabilidade ainda maior, pois
suas práticas de saúde estarão sempre a serem observadas e postas
em questionamento.
A utilização de SPA possui natureza multifatorial, pois acarreta
diversos danos à saúde dos indivíduos e causa impacto social ne-
gativo. Deste modo, é necessária implementação de políticas públi-
cas eficazes, que se respaldem em modelos de atenção integral com
ênfase na abordagem psicossocial, por meio de promoção a saúde,
prevenção de agravos, redução de danos, tratamento e reinserção so-
cial de dependentes químicos (TEXEIRA; ENGSTROM; RIBEIRO,
2017).
O estilo de vida adotado por estudantes universitários apresenta
índices elevados de estresse, pressão social e familiar, dificuldades
inerentes às exigências acadêmicas, má alimentação, prática defi-
ciente de esportes e atividades de lazer, contribuem para que cada
vez mais a comunidade acadêmica venha a consumir excessivamente
álcool e outras drogas. Para tal, faz-se necessário que instituições de
ensino superior se mostrem engajadas no combate aos comporta-
mentos de risco, principalmente no tocante ao uso indiscriminado
de substâncias psicotrópicas em suas dependências.
A universidade é o ambiente ideal de favorecimento a debates

130
críticos e reflexivos acerca da relação dos jovens e o consumo de
drogas, que por sua vez pode ser melhorada por meio do engen-
dramento e desenvolvimento de práticas extensionistas que possam
vir a realizar atividades de promoção à saúde, servindo como ponto
de encontro pela busca da produção de uma consciência autônoma,
formando homens e mulheres que atuem como agentes de transfor-
mação social (SIQUEIRA et al., 2017).

CONVENÇÃO-QUADRO PARA O CONTROLE DO TABACO


O tabagismo é um grave problema de saúde publica, sendo conside-
rada como principal causa de morte evitável no mundo, causando
malefícios devastadores na saúde de seus usuários. Pela presença de
substâncias viciantes, tóxicas e mutagênicas, também, principal fator
de risco para doenças crônicas pulmonares como, asma, bronquite,
enfisema, rinite e sinusite; além de doenças cardíacas, coronarianas,
câncer e impotência sexual masculina. Além dos malefícios ocasio-
nados na vida do fumante, a fumaça liberada pela combustão de seus
aditivos causa danos à coletividade e ao meio ambiente (COSTA et
al., 2016).
Como doença crônica advinda do vício, possui características
básicas que definem a dependência, representadas por compulsão,
tolerância e síndrome da abstinência. Esta última subdivide-se em
dependência fisiológica, que abrange a necessidade orgânica da ni-
cotina, psicológica sendo responsável pelo sentimento de apego
emocional e comportamental, vinculada as situações gatilhos, tomar
café, dirigir e consumir álcool (GARCIA et al., 2012).
Como poluente atmosférico mais comum nas residências, tem
despertado a inquietação dos governos, autoridades públicas e so-
ciedade civil como um todo, sendo esta situação considerada estí-
mulo para direcionar campanhas antitabagismo. Países de primeiro
mundo têm se empenhado em desencorajar o uso de produtos fumí-
genos pela população, por intermédio da fomentação de campanhas,
acompanhamento psicológico, farmacológico e estratégias de educa-
ção em saúde (MAURY et al., 2017).
O tabagismo passivo é uma das principais causas de morbimor-
talidade no mundo. Esta é considerada como exposição involuntária

131
de indivíduos não fumantes ao produto da combustão do tabaco.
Constituindo fator de risco, pois coloca a população no mesmo pa-
tamar de predisposição ao desenvolvimento de doenças que o ta-
bagismo ativo, porém, em menor proporção (MALTA et al., 2015).
Estudo realizado por Jorge et al., (2016), demonstrou que o fumo
passivo pode estar associado a dificuldades de aprendizagem em
crianças, causando deficiência intelectual e cognitiva, além de ou-
tras comorbidades como, aborto espontâneo, baixo peso ao nascer e
prematuridade.
Segundo Relatório da Organização Mundial da Saúde sobre
“Mortalidade Atribuída ao Tabaco”, em todo o mundo, cerca de 5%
de todas as mortes por doenças transmissíveis e 14% das decorrentes
de doenças não transmissíveis entre adultos com idade igual ou su-
perior a 30 anos são atribuídas ao tabaco. Deste modo, acarretando
consequências politicas, sociais, econômicas e sanitárias, exigindo
adoção de medidas preventivas e de proteção a saúde (WHO, 2012).
A epidemia tabágica é um mal que assola o mundo todo, para ob-
ter o controle dos malefícios do consumo de tal substância no Brasil,
a esfera governamental tem atuado por meio da formulação de polí-
ticas e medidas intersetoriais que possam ser eficazes no combate ao
fumo, no âmbito municipal, estadual e federal. A implementação de
tais políticas podem vir a auxiliar no processo de formação de opi-
nião popular, contribuindo para a cessação do tabagismo (SPIESS;
COSTA; LAGUARDIA, 2013; FAGUNDES et al., 2014).
Nesse cenário, nível global, surgiram inúmeras políticas visando
impulsionar ações de controle ao tabagismo, dentre estas, destaca-se
a Convenção Quadro para Controle do Tabaco (CQCT). A CQCT é
um marco, primeiro tratado de saúde pública na história mundial.
Desde 2003 após ser aceita na 56ª assembleia mundial da saúde, vem
sendo um acordo entre inúmeros países que se comprometem em
diminuir a publicidade e aumentar os impostos em torno do cigarro,
além de tomar medidas relacionadas à oferta e demanda de produtos
fumígenos e seus impactos ambientais e sociais (CQCT, 2011; POR-
TES; MACHADO, 2015).
O objetivo da Convenção-Quadro é proteger as gerações pre-
sentes e futuras dos danos ocasionados pelo tabagismo e suas

132
consequências devastadoras. Para que tal objetivo seja alcançado,
a mesma é pautada por princípios norteadores, que consistem em
fornecer à população informação acerca das consequências danosas
do consumo e exposição à fumaça do tabaco; compromisso governa-
mental no que tange o cumprimento das políticas públicas sanitárias
na promoção, prevenção e controle do tabagismo em esfera, nacio-
nal, regional e internacional a fim de promover “ambientes livres de
fumo”; cooperação entre países membros levando em consideração
as particularidades de cada local; adoção de medidas multisetoriais;
cumprimento das responsabilidades assumidas e participação ativa
da sociedade civil (BRASIL, 2011).
Essas diretrizes forneceram subsídio para que a partir de sua im-
plementação surgisse uma gama de programas de saúde e políticas
que visam ações de controle do tabagismo como, a Política Nacional
do Controle do Tabaco, Programa Nacional de Controle do Tabaco
(PNCT) que tem por objetivo a promoção de ambientes 100% livres
da fumaça do tabaco além de fornecer acompanhamento e trata-
mento para tabagista gratuitamente por meio do Sistema Único de
Saúde (INCA, 2017).
Com base nas bem sucedidas medidas adotadas pela CQCT, a Or-
ganização Mundial da Saúde desenvolveu um pacote de políticas, o
MPOWER, com finalidade de ajudar os países compromissados com
propostas da Convenção-Quadro na efetivação das intervenções de
controle do tabaco. Porém, para reduzir a epidemia tabágica a nível
global, demanda que as políticas tenham sua eficácia comprovada
por meio de dados coletados por intermédio de pesquisas, exigindo
um controle rigoroso de avaliação de seus impactos (WHO, 2008).
Para que haja a aplicação efetiva desse pacote de medidas, os pa-
íses devem comprometer-se a: Monitor: monitorar o uso de tabaco
e políticas de prevenção; Protect: proteger a população contra a fu-
maça do tabaco; Offer: oferecer ajuda para cessação do fumo; Warn:
advertir sobre os perigos do tabaco; Enforce: fazer cumprir as proi-
bições sobre publicidade, promoção e patrocínio e Raise: aumentar
os impostos sobre o tabaco (WHO, 2015).
Segundo o Relatório Mundial sobre Tabaco da OMS (2015), mais
da metade dos países do mundo aplica pelo menos uma medida

133
MPOWER, correspondendo a 40% da população mundial, cerca de
2,8 bilhões de pessoas. O relatório também revelou que o aumento
de impostos é a medida menos executada e que sete países, dos quais
cinco são considerados de baixa ou média renda, incluindo o Brasil,
aplicaram quatro ou mais medidas MPOWER.
O tabagismo é considerado epidemia global. Seu legado de des-
truição tem conduzido autoridades públicas e sociedade civil, no ge-
ral, à preocupação intensa, por representar complexo problema de
saúde pública de origem multifatorial, exigindo abordagem multidi-
mensional. O hábito de fumar tem sido considerado prática comum
e aceitável durante todo o percurso histórico da humanidade, ora
sendo sinônimo de elegância e sofisticação, ora como representação
de empoderamento, liberdade e rebelião contra normas vigentes.
Portanto, jovens são público-alvo mais vulnerável a investidas da
indústria do tabaco, por meio de propagandas, novelas, filmes que
exaltam maus hábitos de saúde. Eles são influenciados ao consumo
de tais substâncias danosas ao organismo, meio ambiente e socieda-
de como um todo. Diante deste quadro de malefícios causados pelo
tabagismo, é necessária a realização de atividades que promovam os
ambientes 100% livres de fumo, a fim de prevenir agravos à saúde
causados tanto pelo fumo ativo quanto passivo. Ambos danosos, não
havendo distinção de agravos entre si, acarretando custos econômi-
cos, sociais e sanitários incomensuráveis.

RELATO DA EXPERIÊNCIA
As atividades de promoção e educação em saúde realizadas pela dis-
cente foram iniciadas em 2014 e se estenderam até o final de 2016. O
primeiro centro a ser contemplado com atividades foi o Centro de
Educação (CEDUC) e Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA),
seguido pelo Centro de Ciências Jurídicas (CCJ), Centro de Ciências
e Tecnologia (CCT) e por fim, o Centro de Ciências Biológicas e da
Saúde (CCBS).
A conferência internacional sobre promoção à saúde ocorrida em
Ottawa no ano de 1986, trouxe cinco imperativos de atuação, entre
eles, destacam-se a criação de ambientes favoráveis à saúde, refor-
ço da ação comunitária e desenvolvimento de habilidades pessoais

134
(PÉREZ; CÁRDENAS; GONZÁLES, 2014).
Tendo em vista esses princípios, podemos observar que a promo-
ção à saúde é desenvolvida por meio não apenas de ações políticas e
econômicas, mas também sociais e educacionais.
O processo de educação em saúde desenvolvido pela discente á
frente do projeto teve como princípio norteador a valorização da au-
tonomia individual, abrindo espaço para troca de conhecimento e de
experiências pessoais pertinentes, que promovessem reflexão acerca
de hábitos saudáveis.
Para Freire (2016), o respeito à autonomia e dignidade individual
é imprescindível, constituindo-se um imperativo ético, sendo consi-
derada transgressão, negação à curiosidade, linguagem e inquietação
do educando.
As atividades educativas eram ministradas nas salas durante o in-
tervalo das aulas, através de palestras expositivas apresentando ma-
teriais ilustrativos audiovisuais, com a utilização de Datashow. Tais
recursos eram utilizados como método facilitador do aprendizado,
culminando numa melhor assimilação e compreensão da mensagem
transmitida.
No geral, durante o discurso oral o contato com os alunos foi rá-
pido e fácil, pois os mesmos se mostraram receptivos e atentos às
informações transmitidas, demonstrando satisfação com as palestras
seguidas por rodas de conversa.
A roda de conversa além de favorecer produção de conhecimen-
to, promove pensamento crítico, interação e escuta, apresentando-se
como possibilidade metodológica que se mostrou devidamente efi-
caz. A priori, os discentes se mostraram tímidos e constrangidos em
partilhar suas vivências, mas aos poucos, com incentivos e estímulos
adequados, a resistência foi dando espaço a um ambiente descon-
traído onde os alunos puderam expor suas impressões, opiniões e
conceitos acerca da temática.
Quando iniciada as explanações acerca dos posicionamentos
e vivências pessoais pode-se observar que uma grande parcela de
indivíduos relatou já haver experimentado pelo menos uma vez na
vida algum tipo de droga psicoativa seja ela, de uso legal ou ilegal.
Além, de dilemas com parentes e/ou amigos próximos que tinham/

135
têm problemas com o uso indiscriminado de tais substancias.
O entusiasmo com a possibilidade de participar efetivamente de
uma “discussão” sobre a temática drogatização pode ser percebido
ao final de cada encontro, quando os alunos e até mesmo alguns
professores enalteceram a iniciativa do projeto expressando o desejo
de que as intervenções acontecessem com mais frequência. Pode-se
constatar que 90% dos estudantes universitários se mostraram dis-
postos em multiplicar as informações e aprimorar a prevenção ao
uso indevido de substâncias psicoativas.
A quantidade crescente de discentes assistidos que procuram au-
xílio para tratamento de dependência química ratifica a importância
da realização de atividades educativas que promovam a prevenção ao
uso indevido de drogas em instituições de ensino superior.
Os estudantes não vinham apenas solicitar auxílio para si, mas
também para colegas, amigos e familiares que fazem uso de substân-
cias psicoativas lícitas e ilícitas que estejam necessitando de socorro
imediato. Ao final das atividades, sempre procuravam maiores infor-
mações acerca de projetos ligados ao NEAS/PEPAD que pudessem
oferecer suporte a esses indivíduos em situação de risco.
O corpo Docente da instituição se mostrou comprometido com
a causa, procurando mais informações principalmente no tocante
a utilização de produtos fumígenos, com ênfase no tabaco, pois foi
possível observar esta prática sendo difundida de forma alarmante
na instituição sendo alvo de inúmeras reclamações, tanto do corpo
docente como discente.
No tocante às palestras e rodas de discussão acerca do uso in-
devido de substâncias psicoativas no ambiente universitário, os es-
tudantes do Centro de Humanidades se mostraram mais sensibili-
zados em multiplicar os conhecimentos recebidos. Possivelmente, o
posicionamento destes tenha relação com o futuro profissional como
educadores.
Inúmeras reclamações foram feitas ao final da realização das ati-
vidades, as quais se constituam em relatos da utilização indiscrimi-
nada, até mesmo desrespeitosa, de cigarros nos corredores da Cen-
tral de Integração Acadêmica além do uso de diversas outras drogas
psicoativas, principalmente álcool, durante festejos realizados na

136
instituição.
Ao final de cada intervenção é aberto o espaço para exposição
de posicionamentos, inquietações e elucidação de questionamentos.
Inúmeros debates foram realizados com os mais variados temas, po-
rém, um em específico, chamou atenção por ser bastante destacado
pelo corpo docente, a proibição da utilização de produtos fumígenos
nas dependências da instituição onde haja a circulação de pessoas,
com base na Portaria em inciso único: /UEPB/GR/0309/2014.
Esta medida adotada pela Universidade, para muitos, é conside-
rada uma atitude preconceituosa e segreguista, por forçar que o indi-
viduo se retire do ambiente que se encontra para locais ermos, afas-
tados da circulação de pessoas, o que segundo a opinião de alguns
poderia causar sentimentos de constrangimento e exclusão.
Portanto, nesse caso foi de suma importância estabelecer um elo
de comunicação com o público, para Netto (2012), a comunicação é
um fenômeno social com a finalidade de gerar integração entre in-
divíduos. Para tal, argumentar posicionamentos contrários e avaliar
criteriosamente os argumentos do outro permite que as providên-
cias tomadas pela universidade não sejam interpretadas de forma
equivocada.
Diante desse cenário, para cunho de contestação lançamos mão
de abordagem teórica com embasamento prático e legal, a Conven-
ção-Quadro para o Controle do Tabaco. A Convenção-Quadro tem
por objetivo a proteção da saúde e qualidade de vida, controlando a
epidemia de tabágica no mundo através do abandono dos interesses
da indústria do tabaco e seus defensores.
Para efetividade, a CQCT (2011) recomenda conscientizar, con-
sultar e envolver a população acerca dos malefícios e da natureza
aditiva e nociva do tabaco por meio de campanhas de informação
contínuas, além de expor a interferência das indústrias nas politicas
públicas de controle ao tabagismo.
A promoção da saúde nas dependências da instituição traz a re-
flexão acerca do fumo ativo e passivo, além de seus malefícios, pan-
fletos do Ministério da Saúde são disponibilizados de forma conjunta
com dados de pesquisas recentes. Tornando aos poucos o ambiente
de trabalho saudável.

137
Durante a realização das atividades, identificam-se os tabagistas
que demonstram interesse no abandono de tal prática, sendo os mes-
mos encaminhados para outras equipes qualificadas que trabalhem
ativamente em prol desses indivíduos.
A realização de intervenções voltadas à educação em saúde por
meio de palestras e rodas de discussão com a finalidade de inibir
comportamento de risco entre os discentes, obteve êxito em seus
resultados, sendo comprovado por meio de relatos acerca da neces-
sidade de mais intervenções em outros campi da Universidade Esta-
dual da Paraíba.
Tais recursos metodológicos se utilizados de forma pertinente,
funcionam como ferramenta de transformação social e produção de
conhecimento. “O componente educacional é, portanto, imprescin-
dível para a Promoção da Saúde, possibilitando que os indivíduos e
grupos sociais ampliem seus conhecimentos a respeito dos determi-
nantes e condicionantes de suas condições de vida e possam assumir
o controle sobre eles” (OHARA; SAITO, 2014, p.460).
Em virtude das observações realizadas, pode-se constatar que
houve promoção efetiva de pensamento crítico entre a comunidade
acadêmica acerca de possíveis influências nocivas do consumo de
tabaco. Principalmente, quando os estudantes possuem colegas com
doenças respiratórias crônicas graves, como bronquite, enfisema e
asma. Trazendo o entendimento dos agravos em seus quadros de
saúde.
Os resultados das intervenções mostraram-se mostrado satisfa-
tórios, a comunidade demonstra interesse na temática drogatização
e partilham uns com os outros as informações ministradas, além de
evidenciarem o comprometimento em inibir comportamentos de
risco no ambiente universitário, em especial por ser ambiente desti-
nado a formação de jovens. Diante destes relatos podemos atestar a
importância da realização de atividades que promovam a saúde no
ambiente universitário.

138
CONSDERAÇÕES FINAIS
A oportunidade de participar dessa iniciativa proporcionou expe-
riências ímpares de troca de conhecimento, além de vivencias que
possibilitaram identificar a educação em saúde como parte relevante
no processo de combate ao consumo de drogas psicoativas e, seu
poder efetivo na mudança de comportamentos.
A posição do educador possui destaque, pois o mesmo tem a
possibilidade de influenciar positivamente os educandos, não ape-
nas sendo ferramenta no processo de transmissão de conhecimento,
mas facilitando o dialogo através da promoção de espaços onde o in-
divíduo sinta-se livre para expressar suas inquietações e expectativas
num clima de informalidade e, ao mesmo tempo, seriedade. Como
proposta de ferramentas pedagógicas foram escolhidas as rodas de
discussão e palestras expositivas, através dos relatos,foi possível ob-
servar que as mesmas cumpriram com seu objetivo metodológico de
promover reflexão por meio de provocações erigidas que puderam
desvelar as percepções dos assistidos acerca da temática.
No decorrer de minha participação no projeto, uma parcela signi-
ficativa, 1.344 discentes do campus I da instituição foram assistidos,
e sua grande maioria manifestou apoiar sumariamente a iniciativa.
As lições aprendidas por meio das intervenções se devem ao
cumprimento dos princípios da extensão de construção do dialogo
aberto e capacidade de formar relações respeitando as individuali-
dades e singularidades através da escuta, observação e compreensão
do outro, respeito a posicionamentos contrários e aprendizagem no
lidar com diversas opiniões.
Os assistidos evidenciaram por meio de depoimentos o enten-
dimento acerca dos malefícios causados à saúde pelo consumo das
drogas psicoativas além de comprovar a aquisição de conhecimentos
acerca da proibição de seu uso no ambiente universitário.
A iniciativa dos projetos de extensão proporciona ao aluno a
oportunidade de iniciar uma nova trajetória de transformação so-
cial, que surte impacto na formação acadêmica e profissional dos
indivíduos.

139
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144
ANÁLISE LABORAL E CUSTO
HUMANO NO SERVIÇO PÚBLICO

Elaine da Silva Gomes


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
O trabalho é marcado por diversas transformações como moderni-
zação tecnológica, globalização e formas de gestão que culminam
em mudanças no significado do trabalho, em seu conteúdo e natu-
reza. O processo e organização do trabalho são formados por rit-
mo intenso, controle rigoroso de atividades, carga horária excessiva,
profissionais que desempenham diversas funções, precariedade das
relações de trabalho, entre outros (CAMPOS; DAVID, 2011).
As recentes inovações tecnológicas vêm trazendo mudanças no
contexto de trabalho do serviço público brasileiro que passa por um
momento de profissionalização da função pública. Na última déca-
da, uma nova dinâmica de trabalho vem inserindo novas habilidades
e competências para trabalhadores no ambiente de trabalho das or-
ganizações públicas (MAFFIA; PEREIRA, 2014).
O serviço público brasileiro apresenta em seu contexto de tra-
balho modelo burocrático. Este, caracterizado por hierarquização e
atuação em conformidade com regulamentos rotineiros predomi-
nantes nas administrações públicas como universidades, escolas,
hospitais e nas redes municipal, estadual e federal. Essas organiza-
ções empregam grande quantidade de trabalhadores que convivem
com insuficiência de recursos materiais, desvalorização profissional

145
e organização de trabalho rígida, difícil comunicação entre os níveis
hierárquicos e atividades rotineiras (AMAZARRAY, 2003).
Diante das pressões e exigências no ambiente de trabalho, no qual
o trabalhador é exposto, e, dos recursos psicológicos que apresenta
para enfrentar as adversidades, o trabalhador poderá vir a adoecer.
A organização do trabalho pode favorecer o desenvolvimento do in-
divíduo e do grupo, possibilitando a criatividade e essa experiência
pode gerar prazer. Porém, se há inflexibilidade e rigidez nas tarefas
e relações, esses fatores favorecem o aparecimento de sofrimento,
acidentes de trabalho, adoecimento, desequilíbrios psíquicos e até
mesmo mortes relacionadas ao trabalho (ANCHIETA et al., 2011;
CAMPOS; DAVID, 2011).
De acordo com a filósofa alemã Hannah Arendt existe três ati-
vidades que caracterizam a vida e a condição humana na terra: o
“labor”, o “trabalho” e a “ação”. O ser humano é composto por um
conjunto de fatores que se completam como as atividades correspon-
dentes a necessidades vitais (o labor), a necessidade de criar objetos
(o trabalho) e a necessidade de buscar um ambiente propício para a
condição humana (a ação) (PINTO et al., 2014).
Diante disto, faz-se necessário compreender a Ergonomia da Ati-
vidade que pressupõe que para lidar com exigências presentes no
contexto de trabalho os trabalhadores criam estratégias de mediação
individuais e coletivas que são utilizadas para superar as adversida-
des presentes no ambiente de trabalho. Caso as estratégias utilizadas
sejam insatisfatórias, trabalhadores podem vivenciar sofrimento e
vir a adoecer. As estratégias de mediação devem ser estimuladas para
diminuição do risco de adoecimento e compreensão da situação de
trabalho com intuito de transformá-las (ANTLOGA et al., 2014).
A presente pesquisa objetiva realizar uma análise laboral e de
custo humano no serviço público, por meio da avaliação do contex-
to de trabalho, de vivências de bem-estar e risco de adoecimento dos
trabalhadores.

146
REFERENCIAL TEÓRICO

O TRABALHO
O trabalho vai muito além de algo gerador de bens e serviços, mas
como meio de aquisição de identidade e determinação de valores.
Entende-se que o trabalho reflete de maneira positiva ou negativa
na vida do trabalhador, tendo destaque importante a organização do
trabalho e relações existentes no contexto de trabalho (CAMPOS;
DAVID, 2011). O sofrimento no trabalho poderá surgir quando o
trabalhador não concretiza suas aspirações, ideias, desejos. Se o tra-
balhador não possuir liberdade para se organizar e, adaptar-se às
suas necessidades, e ainda não ter liberdade para organizar ritmos e
o próprio estilo da atividade que realiza, quando não dispor de meios
de defesa contra as exigências físicas e mentais, o trabalho poderá
se constituir neste caso, como forma de desequilíbrio podendo ser
gerador de patologias (MATTOS; SCHLINDWEIN, 2015).

A CONDIÇÃO HUMANA
De acordo com a filósofa alemã Hannah Arendt, o homem está sub-
metido a condições, ou seja, está condicionado, pois tudo que entra
em contato com o homem se torna imediatamente condição de sua
existência. Ela apresenta características essenciais da natureza do ho-
mem, representando a condição humana num determinado espaço,
pois sem essas características a existência deixaria de ser humana.
Portanto, a vida, o nascimento, a morte, a diversidade e o planeta
Terra são inerentes à condição humana (PINTO et al., 2014).
As três atividades que caracterizam a vida e a condição humana
na terra são o “labor”, o “trabalho” e a “ação”. O labor corresponde ao
processo biológico do corpo, garantindo a sobrevivência do indiví-
duo, pois as necessidades vitais são introduzidas e produzidas pelo
labor no processo da vida. O trabalho produz modificação do am-
biente natural, correspondendo ao artificialismo da existência hu-
mana. Proporciona a transformação da natureza por meio da criação
de objetos, evidenciando a habilidade e invenção do homem. A ação,
por sua vez, é a única atividade exercida diretamente pelo homem
sem necessidade de intervenção, de coisas ou da matéria, por meio

147
da ação o homem pode demonstrar quem de fato é. A ação corres-
ponde à condição humana de pluralidade, pelo fato de sermos todos
iguais por sermos humanos, porém diferentes, porque ninguém é
igual a qualquer outra pessoa que exista ou possa existir (ARENDT,
2007).

ERGONOMIA DA ATIVIDADE
A ergonomia da atividade se caracteriza por adaptar o contexto de
trabalho ao ser humano, seja ele individual ou coletivo se contrapon-
do às propostas das ciências do trabalho que sugerem a adaptação
do homem ao seu contexto (VERAS; FERREIRA, 2006). De acordo
com Antloga et al., (2014) compreende analisar os indicadores crí-
ticos existentes no ambiente de trabalho e estratégias individuais e
coletivas utilizadas pelos trabalhadores como forma de intervenção
para responder às exigências do ambiente de trabalho.
Para melhor compreensão da ergonomia da atividade, faz-se ne-
cessário expor seus conceitos principais:

CONTEXTO DE PRODUÇÃO DE BENS E SERVIÇOS (CPBS)


Segundo Ferreira e Mendes (2008), o Contexto de Produção de Bens
e Serviços, constitui-se por três dimensões interdependentes: Orga-
nização do trabalho; Condições do trabalho e Relações socioprofis-
sionais. O primeiro é composto por elementos prescritos apresen-
tando formas e práticas de gestão de pessoas e do trabalho utilizadas
na produção para seu funcionamento. O segundo é formado pelos
fatores estruturais que expressam as condições de trabalho presentes
no local de produção caracterizando sua infraestrutura, apoio ins-
titucional e práticas administrativas. E o terceiro é constituído por
fatores de interação expressando as relações socioprofissionais de
trabalho, caracterizando sua dimensão social.

ESTRATÉGIAS DE MEDIAÇÃO INDIVIDUAIS E COLETIVAS


Diante das exigências do Contexto de Produção de Bens e Serviços
(CPBS), os trabalhadores criam estratégias individuais e coletivas,
por meio do modo de pensar, agir e sentir. Desta forma, estraté-
gias de transformação e superação das adversidades do contexto de

148
trabalho são fundamentais para lidar com fatores que compõem o
Custo Humano do Trabalho (CHT), visando equilíbrio físico, psico-
lógico e social (LIMA, 2008).

CUSTO HUMANO DO TRABALHO


De acordo com Lima (2008) impõe-se externamente aos trabalhado-
res por intermédio de constrangimentos para suas atividades, gerido
por meio de estratégias de mediação individuais e coletivas, poden-
do assumir formas positivas e negativas que estarão ligadas às vi-
vências de bem-estar e mal-estar no trabalho. É caracterizado pelas
exigências físicas, cognitivas e afetivas para dar conta das atividades:
• Exigências físicas: Apresenta-se pelo custo corporal em ter-
mos fisiológicos e biomecânicos por meio da postura, gesto,
deslocamento e força física.
• Exigências afetivas: Caracteriza-se pelo custo afetivo em ter-
mos emocionais por intermédio de reações afetivas, senti-
mentos e estados de humor.
• Exigências cognitivas: Compreende-se pelo custo cognitivo
em termos mentais por meio da aprendizagem, resolubilida-
de de problemas e tomada de decisão.
Em situações reais de trabalho, exige-se do trabalhador a realiza-
ção de diversas atividades ordenadas pela organização, elas compõem
a prescrição, porém as atividades realizadas são definidas como ação
para executar o determinado e nem sempre correspondem ao pré-
determinado. Portanto, entre o prescrito (tarefa) e o realizado, real
(atividade), existe distanciamento, pois o trabalhador se depara com
a realidade do trabalho e percebe que existem eventos complexos
não previstos, que podem ser chamados de eventos críticos (ANT-
LOGA et al., 2013).
Apesar das dificuldades imprevistas, o trabalhador precisa reali-
zar atividades e obter estratégias que atendam às exigências do Con-
texto de Produção de Bens e Serviços. Isto implica em Custo Huma-
no do Trabalho nas dimensões física, cognitivas e afetivas. Quando
há eficácia nas estratégias de mediação utilizadas, há vivências de
bem-estar no trabalho, porém se as estratégias forem ineficazes, há
risco de adoecimento (LIMA, 2008).

149
INVENTÁRIO SOBRE TRABALHO E RISCO DE
ADOECIMENTO (ITRA)
Avalia a inter-relação trabalho e processo de subjetivação, o contex-
to de trabalho e consequências exercidas por ele sobre a saúde e o
modo como o trabalhador vivencia. Desta forma, o ITRA objetiva
investigar o trabalho e seus riscos de adoecimento por intermédio de
aspectos contextuais de trabalho e de exigências (físicas, cognitivas e
afetivas), vivências e danos (ANCHIETA et al., 2011).
O instrumento foi criado e validado por Ferreira e Mendes
(2003). Na primeira versão do instrumento foi realizada pesquisa
nacional em parceria com a Federação Nacional dos Auditores Fis-
cais da Previdência Social Brasileira, com 1.916 auditores. Em 2004
foi novamente adaptado e revalidado, e posteriormente submetido
à nova validação em 2006 por necessidade de ajustes (FERREIRA;
MENDES, 2007).
Segundo Ferreira e Mendes (2007) o ITRA avalia dimensões da
relação entre trabalho e riscos de adoecimento, por meio de quatro
escalas, são elas: Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho; Esca-
la de Custo Humano no Trabalho; Escala de Indicadores de Prazer e
Sofrimento no Trabalho; Escala de Avaliação dos Danos Relaciona-
dos ao Trabalho. A seguir serão descritas as duas escalas utilizadas
nesta pesquisa:
• Aspectos relacionados à organização, relações socioprofissio-
nais e condições de trabalho. Essa categoria é avaliada pela
Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho (EACT);
• Aspectos relacionados ao custo físico, cognitivo e afetivo do
trabalho. Esta categoria é avaliada pela Escala de Custo Hu-
mano do Trabalho (ECHT).
A Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho (EACT) é com-
posta por três fatores: organização do trabalho, condições de traba-
lho e relações socioprofissionais. Apresenta uma pontuação de 1 a 5,
ao qual 1 = nunca, 2 = raramente, 3 = às vezes, 4 = frequentemente e
5 = sempre. Sua análise deve ser realizada por fator, baseando-se em
três níveis diferentes. Desta forma, considera-se como resultado para
EACT: acima de 3,70 = avaliação mais negativa, grave; Entre 2,30 e
3,69 = avaliação mais moderada, crítico; Abaixo de 2,29 = avaliação

150
mais positiva, satisfatório. A seguir, a Tabela 1 apresenta as médias
atribuídas para melhor visualização.

Tabela 1 - Médias atribuídas para a Escala de Avaliação do Contexto de


Trabalho (EACT)
Acima de 3,70 Avaliação mais negativa, grave
Entre 2,30 e 3,69 Avaliação mais moderada, crítica
Abaixo de 2,29 Avaliação mais positiva, satisfatória

Fonte: Ferreira; Mendes (2007).

A Escala de Custo Humano do Trabalho (ECHT) é composta por


três fatores: custo físico, cognitivo e afetivo. Apresenta pontuação de
1 a 5, onde 1 = nada exigido, 2 = pouco exigido, 3 = mais ou menos
exigido, 4 = bastante exigido, 5 = totalmente exigido. Assim, a es-
cala anterior é composta por três fatores com três diferentes níveis.
Como resultado para a ECHT, tem-se os mesmos utilizados para a
EACT: acima de 3,70 = avaliação mais negativa, grave; entre 2,30 e
3,69 = avaliação mais moderada, crítico; Abaixo de 2,29 = avaliação
mais positiva, satisfatório. As médias estão dispostas na Tabela 2 para
melhor visualização.

Tabela 2 - Médias atribuídas para a Escala de Custo Humano do Trabalho(ECHT)


Acima de 3,70 Avaliação mais negativa, grave
Entre 2,30 e 3,69 Avaliação mais moderada, crítica
Abaixo de 2,29 Avaliação mais positiva, satisfatória

Fonte: FERREIRA; MENDES (2007).

METODOLOGIA
O presente estudo é de natureza transversal descritiva de abordagem
quantitativa. A pesquisa foi realizada em uma instituição pública de
ensino superior localizada na cidade de Campina Grande, Paraíba,
no segundo semestre de 2014. Foram sujeitos 55 servidores públi-
cos em função técnica-administrativa. Os servidores realizavam
suas atividades no prédio da administração central da instituição e

151
aceitaram participar de forma voluntária da pesquisa.
A amostra foi composta a partir de estratégia acidental não-pro-
babilística (MATTAR, 2012), formada pelo maior número de par-
ticipantes que tinham disponibilidade em participar da pesquisa.
Desta forma, participaram 55 servidores técnico-administrativos, de
ambos os sexos, de setores distintos em pleno exercício da função
e que aceitaram participar da pesquisa voluntariamente, após as-
sinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Foram respeitados aspectos éticos relativos à pesquisa com seres
humanos, conforme preconiza a Resolução nº 466, de 12 de dezem-
bro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde/MS. Esta pesquisa foi
autorizada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UEPB, sob o número
36628014.1.0000.5187.

INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS


Foram utilizados os seguintes instrumentos para caracterizar a po-
pulação da pesquisa:

DADOS DEMOGRÁFICO-OCUPACIONAIS
Foi utilizada Ficha Sociodemográfica na coleta de informações re-
lativas ao perfil biográfico e sócio ocupacional (idade, estado civil,
nível de instrução escolar, tempo de trabalho), a fim de caracterizar
a amostra.

ESCALA DE AVALIAÇÃO DO CONTEXTO DE TRABALHO


(EACT)
É composta por 30 itens associados a uma escala de resposta de cinco
pontos de frequência, variando de 1 (nunca) a 5 (sempre). Os itens
avaliam a Organização do Trabalho (11 itens), as Condições de Traba-
lho (10 itens) e as Relações Socioprofissionais (10 itens). Sua análise
realizada por fator, baseia-se em três níveis diferentes. Desta forma, é
considerado como resultado para a EACT: acima de 3,70 = avaliação
mais negativa, grave; Entre 2,30 e 3,69 = avaliação mais moderada,
crítico; Abaixo de 2,29 = avaliação mais positiva, satisfatório.

152
ESCALA DE CUSTO HUMANO DO TRABALHO
A ECHT é composta por 32 itens associados a uma escala de resposta
de cinco pontos, variando de 1 (nada exigido) a 5 (totalmente exigi-
do). Os itens mensuram o Custo Físico (10 itens), o Custo Cognitivo
(10 itens) e o Custo Afetivo (12 itens). Como resultado para a ECHT,
tem-se: acima de 3,70 = avaliação mais negativa, grave; Entre 2,30 e
3,69 = avaliação mais moderada, crítico; Abaixo de 2,29 = avaliação
mais positiva, satisfatório.

PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE DADOS


As respostas do questionário foram tabuladas na forma de banco de
dados no Microsoft Excel (2010). Foi calculada a média de cada item
do questionário. Em seguida, realizou-se a soma das médias apresen-
tadas pelos itens e a divisão do resultado pela quantidade de itens do
fator, obteve-se a média de cada fator, fez-se a comparação com as
médias estabelecidas pelo autor.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Este estudo integra uma amostra de 55 servidores públicos em fun-
ção técnica-administrativa de ambos os sexos de uma universidade
pública de Campina Grande, Paraíba, realizada no prédio da admi-
nistração central da instituição.
Ao final da tabulação e análise dos dados foi possível observar
que (65,45%), e (34,55%) da população estudada pertence ao sexo
masculino e feminino, respectivamente, podendo ser comparado ao
estudo realizado por Anchieta (2011) com Policiais Civis do Distri-
to Federal onde houve prevalência do sexo masculino com 59,4% e
40,6% do sexo feminino.
Quanto à faixa etária, percebe-se que é formada por adultos
jovens com (41,85%) entre 20 a 30 anos de idade, seguido pela faixa
etária de 31 a 40 anos que correspondeu à (27,25%), apresentando di-
vergência com o estudo realizado por Martins (2009) com docentes
de uma Instituição de Ensino Superior de Belo Horizonte, onde a
faixa etária de 36 a 40 anos correspondeu a 24,0%, seguido pela faixa

153
etária de 31 a 35 anos com 21,7%.
No referente ao estado civil, houve prevalência de servidores ca-
sados (49%), seguido por servidores solteiros (41,80%), diferindo do
estudo realizado por Anchieta et al., (2011) no qual 71,3% eram sol-
teiros enquanto 28,8% eram casados.
No quesito grau de escolaridade, observou-se que os servidores
apresentam nível elevado, com especialização completa correspon-
dendo a (38,15%), seguida por servidores com superior completo
(34,55%). Estes dados apresentam divergência com o estudo realiza-
do por Martins (2009), onde 48,1% dos trabalhadores têm mestrado
completo. A predominância em relação ao tempo de trabalho dos
servidores na instituição, de 1 a 5 anos com (52,74%), seguido por
servidores que trabalham de 6 a 10 anos correspondendo a (27,24%),
divergindo do estudo realizado por Martins (2009), onde 74,5% da
amostra realizada lecionam há mais de seis anos.
A caracterização do percentual dos dados sociodemográficos e
ocupacionais coletados na amostra estão dispostos na Tabela 3 para
melhor visualização e entendimento dos resultados.

Tabela 3 - Dados sociodemográficos e ocupacionais dos servidores


técnico-administrativos
de uma universidade pública
Variáveis Categria N %
Masculino 36 65,45
Sexo Feminino 19 34,55

20 a 30 23 41,85
31 a 40 15 27,25
Faixa Etária 41 a 50 8 14,55
Acima de 50 9 16,35

154
Solteiro (a) 23 41,80
Casado (a) 27 49,00
Estado Civil Separado (a) 0 0,0
Divorciado (a) 4 7,25
Viúvo (a) 1 1,95

Superior Completo 19 34,55


Especialização 21 38,15
Nível de Completa 3 5,45
Escolaridade Especialização 2 3,65
Incompleta 4 7,25
Mestrado Completo 1 1,85
Mestrado Incompleto 5 9,05
Doutorado Incompleto
Não responderam

Menos de 1 ano 3 5,44


De 1-5 anos 29 52,74
De 6-10 anos 15 27,24
Tempo de De 11-15 anos 0 0,0
Trabalho De 16-20 anos 1 1,84
Mais de 20 anos 7 12,74

Fonte: Dados da Pesquisa, 2014.

INVENTÁRIO DO TRABALHO E RISCO DE


ADOECIMENTO
A Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho e a Escala de Avalia-
ção do Custo Humano no Trabalho são classificadas quanto ao risco
de adoecimento em: Média acima de 3,70 (avaliação mais negativa,

155
grave); Média entre 2,30 e 3,69 (avaliação mais moderada, crítico);
Média abaixo de 2,29 (avaliação mais positiva, satisfatório).

ESCALA DE AVALIAÇÃO DO CONTEXTO DE TRABALHO


A Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho (EACT) é composta
pelos fatores: organização do trabalho, relações socioprofissionais e
condições de trabalho.
A Tabela 4 apresenta as médias de cada um dos fatores do estudo
realizado.

Tabela 4 - Fatores da avaliação do contexto de trabalho dos servidores técnico-


administrativos de uma universidade pública
Fator Média
Organização do Trabalho 2,60
Condições de Trabalho 2,18
Relações Socioprofissionais 1,99

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

A média do fator Organização do Trabalho apresentada foi de


2,60 ficando na faixa de avaliação mais moderada à crítica, eviden-
ciando de acordo com a avaliação dos servidores a possibilidade de
adoecimento. Os itens “as tarefas são repetitivas”, “existe fiscalização
do desempenho” e “existe divisão entre quem planeja e quem exe-
cuta” apresentaram as maiores médias do fator, correspondendo,
3,36, 3,05 e 2,89, respectivamente, recebendo avaliação moderada à
crítica. Tal avaliação se mostra semelhante ao estudo realizado por
Antloga et al. (2014) com 383 servidores de diferentes lotações de um
órgão do Poder Judiciário Brasileiro, onde o fator Organização do
Trabalho recebeu avaliação moderada à crítica, com média de 3,25.
No que se refere ao fator Condições de Trabalho, a média calcu-
lada foi de 2,18, recebendo avaliação mais positiva e satisfatória. Pela
avaliação obtida, as condiçõesde trabalho são satisfatórias e ofere-
cem baixo risco para o adoecimento dos profissionais. O item “o mo-
biliário existente no local de trabalho é inadequado” e “o material de
consumo é insuficiente” receberam avaliação mais moderada, crítica

156
com médias de 2,82 e 2,53, respectivamente. O item “os instrumen-
tos de trabalho são insuficientes para realizar as tarefas” apresentou
avaliação mais positiva, satisfatória com média de 2,25. A média do
fator Condições de Trabalho do presente estudo se mostra diferente
da avaliação realizada por Maissiat (2013) com 242 trabalhadores da
rede de Atenção Básica à Saúde em um município do Rio Grande do
Sul, no qual o fator Condições de Trabalho obteve média 2,65 corres-
pondendo à avaliação moderada à crítica.
No fator Relações Socioprofissionais, verificou-se avaliação mais
positiva e satisfatória, com média de 1,99. De acordo com a avaliação
as relações sociais e profissionais existentes mostram-se satisfatórias
gerando bem-estar durante a realização das atividades. O item com
maior média foi “as tarefas não são claramente definidas”, com 2,46
e avaliação mais moderada, crítica. Os itens “os funcionários são ex-
cluídos das decisões” e “a autonomia é inexistente”, obtiveram média
de 2,21 e 2,20, respectivamente, recebendo avaliação mais positiva e
satisfatória. Observa-se discrepância em relação ao estudo realizado
por Campos e David (2011) com 44 enfermeiros trabalhadores de
uma Unidade de Terapia Intensiva de um hospital privado do Rio de
Janeiro, onde o fator Relações Socioprofissionais recebeu média de
2,47 e avaliação moderada à crítica.

ESCALA DE CUSTO HUMANO DO TRABALHO


A Escala de Avaliação Custo Humano do Trabalho (ECHT) é com-
posta pelos fatores: custo físico, custo cognitivo e custo afetivo.
A Tabela 5 apresenta as médias de cada um dos fatores do estudo
realizado.

Tabela 5 - Fatores da avaliação de custo humano do trabalho dos servidores técnico-


administrativos de uma universidade pública
Fator Média
Custo Cognitivo 3,12
Custo Físico 2,08
Custo Afetivo 2,03

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

157
O fator custo cognitivo foi avaliado como mais moderado, crítico,
com média de 3,12. Esta avaliação indica um alto consumo mental
para responder às exigências presentes no contexto de trabalho. De
acordo com Anchieta et al., (2011) o custo humano relativamente
alto pode gerar problemas a longo prazo. O item “usar a memória”
recebeu avaliação mais negativa e grave, com média de 3,71. Os ou-
tros itens como “ter concentração mental” e “usar a visão de forma
contínua” receberam avaliação mais moderada, crítico com média
de 3,42 e 3,33. Tal avaliação difere do estudo realizado por Martins
(2009) com docentes de uma instituição privada de Belo Horizonte,
ao qual o fator custo cognitivo recebeu avaliação mais negativa, gra-
ve com média de 3,76.
A média do fator custo físico é de 2,08, ficando na faixa de ava-
liação mais positiva e satisfatória. Esta avaliação evidencia que os
modos de lidar com as contradições típicas das situações reais de
trabalho, ou seja, as estratégias de mediação estão permitindo que
o servidor possa dar conta do real das tarefas sem adoecer. Os itens
“usar os braços de forma contínua”, “usar as mãos de forma repetida”
e “ficar em posição curvada”, receberam as maiores médias corres-
pondendo a 2,68, 2,64 e 2,44, respectivamente, correspondendo com
avaliação mais moderada, crítica. Constata-se que a média do fator
Custo Cognitivo, pode ser comparada ao estudo com trabalhadores
de um órgão do Poder Judiciário brasileiro realizado por Antloga et
al., (2014) ao qual o fator custo físico recebeu avaliação mais positiva,
satisfatória com média de 2,01.
O fator custo afetivo obteve avaliação mais positivo e satisfató-
rio, com média de 2,03, evidenciando que as estratégias de media-
ção utilizadas pelos servidores no quesito emocional são eficazes e
que este fator não mostra possibilidade de adoecimento. Itens como
“ter controle das emoções”, “ter que lidar com ordens contraditórias”,
recebereram avaliação mais moderada e crítica, com médias 2,80 e
2,60, respetivamente. Esta avaliação mostra-se diferente do estudo
realizado por Anchieta et al., (2011) com policiais civis do DF, onde
o fator custo afetivo apresentou uma média de 2,79 recebendo ava-
liação mais moderada e crítica.

158
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a amostra estudada se constitui majoritariamente de
indivíduos do sexo masculino (65,45%); com relação à faixa etária,
(41,85%) da totalidade da amostra tem entre 20 a 30 anos de idade
correspondendo; Quanto ao grau de escolaridade, houve prevalência
de servidores com especialização completa com (38,15%).
Na Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho, o fator Organi-
zação do Trabalho recebeu avaliação mais moderada, à crítica com
média de 2,60. Os itens “as tarefas são repetitivas”, “existe fiscalização
do desempenho” e “existe divisão entre quem planeja e quem exe-
cuta” apresentaram as maiores médias do fator, correspondendo a
3,36, 3,05 e 2,89, respectivamente, recebendo avaliação moderada à
crítica, evidenciando o risco de adoecimento presente no ambiente
de trabalho.
Na Escala de Custo Humano do Trabalho o fator custo cogniti-
vo foi avaliado como mais moderada à crítica, com média de 3,12.
O item “usar a memória” recebeu avaliação mais negativa e grave,
com média de 3,71. Os outros itens como “ter concentração mental”
e “usar a visão de forma contínua” receberam avaliação mais mode-
rada, crítico com média de 3,42 e 3,33.
De forma geral, os resultados encontrados não indicam proble-
mas graves relacionados à saúde dos servidores. Porém,os fatores or-
ganização do trabalho e custo cognitivo merecem atenção devido às
avaliações mais críticas.
O Inventário do Trabalho e Risco de Adoecimento (ITRA), cujo
objetivo foi avaliação laboral e seu custo humano em servidores téc-
nico-administrativos, mostrou-se eficaz, apresentando os indicado-
res críticos relacionados ao trabalho dos indivíduos que participa-
ram do estudo. Os resultados apresentados poderão servir de base
para intervenções que mudem a atual realidade do contexto de tra-
balho vivenciada pelos servidores da instituição e consequentemente
beneficiem a saúde dos mesmos gerando prazer e bem-estar durante
o processo de realização dos serviços prestados.

159
REFERÊNCIAS

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161
AVALIAÇÃO DA SAÚDE DE DOCENTES
DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA

Jessika Emanuela Batista Viana


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
O trabalho é considerado um elemento central, por meio do qual
o indivíduo desenvolve habilidades, constrói sua identidade e pro-
move sua integração social. Em toda a história da humanidade, o
trabalho sempre aparece como um elemento importante quando se
analisa transformações políticas e sociais. O homem, desde o tem-
po das civilizações mais primitivas, até o que vive no auge da área
técnico-científica, atribui o trabalho como parte de sua existência
(ARAÚJO; SACHUK, 2007).
A Revolução Industrial favoreceu o desenvolvimento de no-
vas indústrias, com novos produtos e mudanças nas condições de
trabalho (BRASIL, 2002). Neste contexto, o profissional se insere
como um operador dessas tecnologias, e é submetido a exigências
físicas, atividades pré-determinadas, com movimentos restritos,
repetitivos e danosos à saúde (BARBOSA; CARNEIRO; DELBIN;
HUNGER, 2014). Dentro deste cenário surge a Saúde Ocupacional,
com características e organização de equipes multi e interdiscipli-
nar, com ênfase na higiene e na estratégia de intervir dentro dos
locais de trabalho, com o propósito de controlar os riscos ambientais
(SOUZA, 2014).
No Brasil, a Saúde do Trabalhador é identificada a partir dos anos

162
80, destacando-se como uma nova forma de pensar sobre o proces-
so saúde-doença e sua relação com o trabalho. Surge, nesta época,
as novas práticas sindicais seguidas das Comissões Internas de Pre-
venção de Acidentes (CIPAs). Em 1988, uma série de discussões le-
vou à inclusão da temática na Constituição Federal. A partir disso,
a denominação Saúde do Trabalhador foi incorporada na nova Lei
Orgânica da Saúde, que estabelece sua conceituação e competências
no Sistema Único de Saúde (SOUZA, 2014).
Nos dias atuais, vemos uma intensa e crescente preocupação com
os agravos à saúde dos trabalhadores, sejam aos agravos causados
pelo custo humano requerido no ambiente de trabalho ou pelos da-
nos físicos causados por esse ambiente. A Organização Internacional
do Trabalho (OIT) define doenças laborais como aquelas contraídas
por meio da exposição a algum fator de risco relacionado ao traba-
lho. As mais comuns são pneumoconiose; distúrbios musculoesque-
léticos e mentais (OIT, 2013).
No caso dos docentes existem exigências específicas que favo-
recem o desenvolvimento de psicopatologias como, por exemplo, a
necessidade de atualização constante, o cumprimento de prazos, a
pressão para acompanhar o avanço do conhecimento, a necessidade
de desdobrar-se em leituras para preparação de aulas, correção de
trabalhos, participação em comissões, pressão para publicação de
pesquisa e outras (SANCHES; SANTOS, 2013).
A exigência de maior produtividade, pressão do tempo e aumen-
to da complexidade das tarefas, produz situações de repercussão ne-
gativa sobre a saúde e estão estatisticamente associadas ao estresse,
insatisfação no trabalho e síndrome de burnout. Tais condições se
situam na direção contrária dos valores e condutas esperadas para
educação. Impedindo diversas vezes que sejam postas em prática as
habilidades necessárias ao docente como ser transformador, usar sua
criatividade e ser capaz de propiciar desenvolvimento do aluno em
seu sentido mais amplo (GIANNINI, 2013).
Na Universidade Estadual da Paraíba, existe atualmente um
Núcleo destinado a estudar a saúde do trabalhador. Esta pesquisa,
exploratória e descritiva, focaliza-se no trabalho dos docentes do
Campus I da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). O interesse

163
nesses estudos se justifica porque existem vidas humanas no traba-
lho e a vida de cada um é patrimônio da humanidade. O objetivo foi
avaliar a saúde com base nas relações entre o contexto de trabalho e
os riscos à saúde dos citados profissionais.
Nesta pesquisa foi utilizada uma Ficha Sociodemográfica, para
coletar informações relativas ao perfil demográfico e sócio ocupacio-
nal e o Inventário sobre Trabalho e Riscos de Adoecimento (ITRA).
Para o estudo foi sujeita uma amostra de 82 docentes. Durante a co-
leta de dados foram considerados os seguintes critérios de inclusão:
ser docente efetivo, estar disponível para responder ao questionário e
atuar por no mínimo um ano, no campus I da Universidade Estadual
da Paraíba. Os critérios de exclusão foram: docentes não efetivos,
docentes afastados de suas funções e professores que não desempe-
nham sua função no Campus

REFERENCIAL TEÓRICO
SAÚDE DO TRABALHADOR Nas décadas de 30 e 40 do século
passado, houve o crescimento da tecnologia industrial, mudanças de
processos de trabalho, fazendo com que, crescessem consideravel-
mente os agravos à saúde e mortes no trabalho. Dessa forma, a Medi-
cina do Trabalho se tornasse insuficiente para manter um indivíduo
saudável e capaz de reproduzir a força de trabalho exigida (KARI-
NO; MARTINS; BOBROFF, 2011). Dentro deste contexto, surge a
Saúde Ocupacional, com características e organização de equipes
multi e interdisciplinar, com ênfase na higiene e refletindo a origem
histórica dos serviços médicos (SOUZA, 2014)
No Brasil, a Saúde do Trabalhador é identificada a partir dos anos
80, destacando-se como uma nova forma de pensar sobre o proces-
so saúde-doença e sua relação com o trabalho (SOUZA, 2014). Seus
antecedentes históricos estão relacionados à luta dos trabalhadores
pelo direito à saúde, no contexto da Reforma Sanitária Brasileira
com influências do Movimento Operário Italiano (LEÃO; CASTRO,
2013). Em 1988, ocorreu a inclusão da temática na Constituição Fe-
deral e a denominação Saúde do Trabalhador foi incorporada na
nova Lei Orgânica da Saúde (SOUZA, 2014)
Atualmente, alguns dispositivos assumem notoriedade e

164
relevância, principalmente após a criação da Rede Nacional de Aten-
ção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast), como é o caso dos
Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) (LEÃO;
CASTRO, 2013). Os Cerests visam à organização da atenção à saúde
do trabalhador dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), atuando
em nível secundário de atenção, agregando maior tecnologia à vigi-
lância prestada aos trabalhadores e articulando ações de assistência
e prevenção nos locais de trabalho e em ambientes hospitalares (AC-
QUES; MILANEZ; OLIVEIRA, 2012).
A saúde do trabalhador é um campo de atuação do SUS que pode
ser entendida como parte do escopo das ações da vigilância sanitá-
ria e epidemiológica, possuindo uma enorme relação com o cenário
e as condições onde o trabalho é exercido (SANOS JÚNIOR et al.,
2015). Sabe-se que os trabalhadores adoecem e morrem por causas
relacionadas ao trabalho, como consequência direta das atividades
profissionais que exercem ou exerceram ou pelas condições adversas
em que seu trabalho é ou foi realizado (CAVALCANTE; SANTOS,
2014).
Em 2013, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) esti-
mou que 160 milhões de trabalhadores são atingidos, anualmente,
por doenças ocupacionais no mundo. Sendo 2 milhões o número de
pessoas que morrem de doenças e/ou acidentes ocorridos no am-
biente de trabalho. A OIT também estimou que os acidentes de tra-
balho e as doenças profissionais resultam em uma perda anual de
4% no produto interno bruto (PIB) mundial, cerca de 2,8 bilhões de
dólares, em custos diretos e indiretos relacionados a lesões e doenças
(OIT, 2013).
Mesmo sendo classificado como quarto lugar quanto ao risco de
morte no trabalho, no Brasil, percebe-se ainda a ausência de infor-
mações precisas sobre os agravos relacionados ao trabalho que cons-
tituem graves problemas de Saúde Pública (OIT, 2013). A escassez e
a inconsistência das informações sobre a real situação de saúde dos
trabalhadores dificultam a definição de prioridades para as políticas
públicas, o planejamento e a implementação das ações em Saúde do
Trabalhador, além de privar a sociedade de subsídios importantes
para a melhoria das condições de vida e trabalho (CAVALCANTE;

165
SANTOS, 2014).

DOCENTES UNIVERSITÁRIOS
A docência é uma das profissões mais antigas e menos valorizadas, os
problemas decorrentes dela, acompanham-na desde os primórdios
(KOETZ; REMPEL, 2013). A investigação do trabalho do professor,
em qualquer lugar do mundo, pode ser a chave para a transformação
das desigualdades no país e para seu crescimento (OLIVEIRA; SAN-
TO, 2013). No caso dos docentes universitários, sabe-se que eles são
os responsáveis pela formação de profissionais de diferentes áreas do
conhecimento (KOETZ; REMPEL, 2013).
Percebe-se que o trabalho toma uma dimensão fundamental para
os professores. Por tratar-se de uma profissão em que a cultura e o
reconhecimento social são preponderantes, ainda mais em se tratan-
do de docentes de Instituições de Ensino Superior (IES) (KOETZ;
REMPEL, 2013). Sabe-se, no entanto, que o trabalho possui um duplo
papel, por um lado proporciona a valorização e o desenvolvimento
intelectual, social e financeiro, também aumenta a expectativa e a
qualidade de vida. Por outro lado pode gerar adoecimento, encurtar
a vida e levar à morte (SANCHES; SANTOS, 2013).
As responsabilidades de um professor de instituições de nível
superior envolvem cobranças como, por exemplo, a necessidade
de atualização constante, o cumprimento de prazos, a pressão para
acompanhar o avanço do conhecimento, leituras, correção de tra-
balhos, publicações de pesquisa, etc. Estas exigências causam danos
à saúde decorrentes da má postura, uso inadequado da voz, má ali-
mentação, estresse, entre outros (SANCHES; SANTOS, 2013).
A despreocupação com um ambiente de trabalho propício para o
bem-estar, produtividade e para o desenvolvimento das habilidades
e valores necessários ao docente reflete-se, em doenças ocupacio-
nais, mentais, físicas e em déficit na educação, além de repercutir
financeiramente. Sabe-se que as doenças ocupacionais resultam em
custos muito elevados em termos de saúde e bem-estar para indi-
víduos e também é responsável por custos financeiros, redução da
capacidade de trabalho e aumento de taxas de absenteísmo (BALAS-
SIANO, 2011).

166
No Brasil, a literatura sobre as condições de trabalho docente e
saúde ainda é restrita, principalmente com relação aos docentes em
IES (SOUZA, 2014). Identifica-se a necessidade de estudos que pos-
sam angariar informações sobre o perfil dos docentes e a ocorrência
dos agravos relacionados ao trabalho, para que se possa subsidiar
ações no campo da Saúde do Trabalhador direcionada a esta popu-
lação e permitir o planejamento e organização de estratégias de edu-
cação e prevenção.

METODOLOGIA

TIPO DE PESQUISA
Tomando por base a classificação de Gil (1987), a presente pesquisa
de campo é de carater exploratório e descritivo, pois visa tornar o
fenômeno mais explícito e analisar sua ocorrência, estabelecendo re-
lações entre as principais variáveis do estudo (contexto de trabalho,
custo humano e danos fisicos e psicossociais), sem manipulá-las.

AMOSTRA E LOCAL DA PESQUISA


A pesquisa foi realizada nos departamentos da Universidade Esta-
dual da Paraíba (Campus I), o qual está localizado na Rua Baraúnas,
n.351, Bairro Universitário, em Campina Grande, Paraíba. Para o es-
tudo foram sujeitos uma amostra de 82 docentes. Durante a coleta
de dados foram considerados os seguintes critérios de inclusão: ser
docente efetivo, estar disponível para responder ao questionário e
atuar por no mínimo um ano, no campus I da Universidade Estadual
da Paraíba. Os critérios de exclusão foram: docentes não efetivos,
docentes afastados de suas funções e professores que não desempe-
nham sua função no Campus

INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS


Foi utilizada uma Ficha Sociodemográfica para coletar informações
relativas ao perfil biográfico e sócio ocupacional (idade, estado civil,
nível de instrução escolar, tempo de serviço, entre outros), a fim de
caracterizar a amostra.
Também foi utilizado o Inventário sobre Trabalho e Riscos de

167
Adoecimento – ITRA. Esse instrumento foi construído e valida-
do por Ferreira e Mendes (2003) em pesquisa nacional com audi-
tores fiscais da Previdência Social Brasileira, sendo posteriormente
adaptado e validado com outras amostras ocupacionais (MENDES;
FERREIRA, 2007). Os autores recomendam seu uso para fins de
diagnóstico ocupacional e para pesquisas acadêmicas voltadas para
melhoria da saúde e qualidade de vida do trabalhador. O ITRA, em
seu formato completo, é composto por quatro escalas que mensu-
ram distintas e interdependentes modalidades de representações dos
respondentes relativas ao mundo do trabalho, sendo que na presente
pesquisa apenas três escalas serão utilizadas, sendo estas descritas a
seguir.
A primeira, denominada de Escala de Avaliação do Contexto de
Trabalho (EACT) reúne 31 itens que variam de 1 a 5 pontos, distribu-
ídos em três fatores: F1) Organização do Trabalho, que diz respeito à
divisão e conteúdo das tarefas, normas, controle e ritmos de trabalho;
F2) Condições de Trabalho, referente à qualidade do ambiente físico,
posto de trabalho, equipamentos e material disponibilizado para a
execução da tarefa e; F3) Relações Socioprofissionais, referente aos
modos de gestão do trabalho, comunicação e interação profissional.
A segunda, denominada de Escala de Custo Humano do Tra-
balho (ECHT) é formada por 32 itens que variam de 1 a 5 pontos,
distribuídos em três fatores: F1) Custo Físico, relativo ao dispêndio
fisiológico imposto ao trabalhador pelas características do contexto
produtivo; F2) Custo Cognitivo, que indica o dispêndio intelectual
para a aprendizagem, resolução de problemas e tomada de decisão
no trabalho e; F3) Custo Afetivo, que aborda o dispêndio emocional
sob a forma de reações afetivas, sentimentos e de estado de humor.

PROCEDIMENTO PARA COLETA DE DADOS


Deu-se início a após recebimento da aprovação do Conselho de Éti-
ca da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Cada participante
respondeu aos questionários no próprio local de trabalho. Antes de
receber os protocolos, todos foram informados sobre os objetivos
e os aspectos éticos da pesquisa. Feito isto, os pesquisadores soli-
citaram o preenchimento do protocolo e permaneceram no local

168
para esclarecer eventuais dúvidas. O tempo gasto para responder
todas as questões foi de aproximadamente 15 minutos. Participaram
da pesquisa os docentes de ambos os sexos que estiverem em pleno
exercício da função e que aceitarem assinar o termo de concordância
(TCLE) em duas vias, ficando uma em posse do participante, outra,
do (a) pesquisador (a).

ANÁLISE DOS DADOS


As respostas contidas nos questionários foram digitadas na forma
de banco de dados do SPSS (Statistical Package for Social Science
for Windows) e, em seguida, foram extraídas as estruturas fatoriais
das escalas EACT e EADRT e examinado a consistência interna dos
fatores. Por fim, foram efetuadas as análises descritivas para deline-
ar o perfil sociodemográfico da amostra e observar os indicadores
descritivos da distribuição dos escores individuais obtidos em cada
fator.

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Serão respeitados os aspectos éticos relativos à pesquisa com seres
humanos, conforme preconiza a Resolução Nº 466, de 12 de dezem-
bro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde/MS. Serão obedecidos os
princípios éticos da Declaração de Helsinque, onde os sujeitos serão
informados dos procedimentos, resultados e da liberdade de saírem
da pesquisa sem ônus a qualquer momento. Assim, a concordância
será registrada em Termo de Consentimento Livre e Esclarecidos.

RESULTADOS

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO
Integra este estudo uma amostra de 82 docentes de uma Instituição
Pública de Ensino Superior. Em relação ao sexo, 37 pessoas referiram
(45,1%) ser do sexo feminino e 45 pessoas (54,9%) do sexo masculi-
no (Gráfico 1). Quando indagados sobre a idade, a faixa etária mais
representativa foi acima de 50 anos (39%) seguidos de 46 a 50 com
25,6% (Gráfico 2). As faixas etárias entre 36 a 40 e 41 a 45 obtiveram
o percentual de 13,4% e 18,3% respectivamente. Os menores índices

169
ficaram com as idades entre 25 e 30 (2,4%) e 31 e 35 (1,2%), como mos-
trado no Gráfico. Quanto ao estado civil, 19,5% afirmaram estarem
solteiros, 2,4% separados, 14,6% divorciados, 4,9% viúvos e 58,5%
afirmaram ser casadas, o gráfico 3 mostra esta relação.

Gráfico 1 - Perfil da amostra segundo o sexo.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Gráfico 2 - Perfil da amostra segundo faixa etária.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

170
Gráfico 3 - Perfil da amostra segundo estado civil.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Segundo o grau de qualificação (Gráfico 4), 4,9% dos pesqui-


sados afirmaram ter especialização completa, 32,9% afirmaram ter
mestrado completo, 52,4% afirmaram ter doutorado completo e 9,8%
informaram ter doutorado incompleto e nenhum dos respondentes
afirmou ter mestrado incompleto. E, quando perguntados sobre a
prática de esportes, 65,9% afirmaram praticar, enquanto 34,1% res-
ponderam que não realizam atividade física (Gráfico 5).

Gráfico 4 - Perfil da amostra segundo grau de qualificação.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

171
Gráfico 5 - Perfil da amostra segundo prática de atividade física.

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

Em relação ao local de trabalho 86% afirmaram que realizam


suas atividades apenas em universidade pública enquanto 14% in-
formaram trabalhar em universidade pública e privada. Quando in-
dagados sobre o turno de trabalho, 73,2% exercerem suas funções
nos dois turnos, 20,7% nos três turnos e 6,1% em apenas um turno.
Quanto ao tempo de trabalho, 35,1 estão trabalhando há mais de 20
anos. Em se tratando do turno de trabalho 73,7% afirmaram traba-
lhar dois turnos (Tabela 1).

Tabela 1- Perfil da amostra segundo local de trabalho, turno e tempo na


instituição
Variável Categoria Nº %
Local de trabalho Apenas em instituição pública 70 85,4
Em instituição pública e privada 12 14,6

Turno de trabalho Apenas um turno 5 6,1


Dois turnos 60 73,2
Três turnos 17 20,7

172
Tempo de trabalho 1-5 8 9,8
na instituição 6-10 14 17,1
11-15 22 26,8
16-20 8 9,8
Mais de 20 anos 30 36,6

Total 82 100%

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

INVENTÁRIO DE TRABALHO E RISCO DE ADOECIMENTO


Os autores recomendam seu uso para fins de diagnóstico ocupacio-
nal e para pesquisas acadêmicas voltadas para melhoria da saúde
e qualidade de vida do trabalhador. O inventário, em seu formato
completo, é composto por quatro escalas que mensuram distintas
e interdependentes modalidades de representações dos responden-
tes relativas ao mundo do trabalho, sendo que na presente pesquisa
apenas duas escalas foram utilizadas, sendo estas descritas a seguir.
A primeira, denominada de Escala de Avaliação do Contexto de
Trabalho (EACT) reúne 31 itens que variam de 1 a 5 pontos, distribu-
ídos em três fatores: F1) Organização do Trabalho, que diz respeito à
divisão e conteúdo das tarefas, normas, controle e ritmos de trabalho;
F2) Condições de Trabalho, referente à qualidade do ambiente físico,
posto de trabalho, equipamentos e material disponibilizado para a
execução da tarefa e; F3) Relações Sócio profissionais, referente aos
modos de gestão do trabalho, comunicação e interação profissional.
A segunda, denominada de Escala de Custo Humano do Tra-
balho (ECHT) é formada por 32 itens que variam de 1 a 5 pontos,
distribuídos em três fatores: F1) Custo Físico, relativo ao dispêndio
fisiológico imposto ao trabalhador pelas características do contexto
produtivo; F2) Custo Cognitivo, que indica o dispêndio intelectual
para a aprendizagem, resolução de problemas e tomada de decisão
no trabalho e; F3) Custo Afetivo, que aborda o dispêndio emocional
sob a forma de reações afetivas, sentimentos e de estado de humor.
A seguir, são apresentados os dados que caracterizam o Inven-
tário de Trabalho e Risco de adoecimento (ITRA) de docentes que

173
atuam na Instituição de Ensino superior analisada: Escala de Avalia-
ção do Contexto do Trabalho (EACT) e Escala de Custo Humano do
Trabalho (ECHT).

ESCALA DE AVALIAÇÃO DO CONTEXTO DE TRABALHO


A secção 2 do questionário, primeira escala do ITRA, a EACT, é
composta por três fatores: organização do trabalho (itens 1 a 11), re-
lações socioprofissionais (itens 12 a 21) e condições de trabalho (itens
22 a 31). Essa escala é de cinco pontos, em que 1= Nunca, 2= Rara-
mente, 3= Ás vezes, 4= Frequentemente, 5 = Sempre. Segundo Men-
des (2007), a análise dos escores médios deve ser feita considerando
o seguinte parâmetro: avaliação grave para médias acima de 3,70;
avaliação crítica para médias entre 2,30 e 3,69; e avaliação satisfatória
para médias abaixo de 2,29.
A tabela 2 demonstra que os fatores de contexto do trabalho
apontam uma situação crítica, uma vez que os escores médios fica-
ram entre 2,30 e 3,69, com destaque para o fator organização do tra-
balho (3,13) como item mais crítico. Pesquisa semelhante, realizada
com docentes, corrobora com o resultado e demonstra que este fator
se destaca entre os demais (PINALLI, 2011).

Tabela 2 – Caracterização da amostra total segundo o fator contexto de


trabalho
Escala Contexto do Trabalho (EACT)

Fatores Média Geral

Organização do Trabalho 3,13

Relações Socioprofissionais 2,40

Condições de Trabalho 3,03

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

No que diz respeito aos indicadores do fator Organização do

174
Trabalho, constatou-se uma situação de crítica grave dos informan-
tes, uma vez que todos os indicadores superaram o valor médio de
2,30. Os resultados da Tabela 3 evidenciam que o indicador de maior
média associado à Organização de trabalho se relaciona com o ritmo
de trabalho excessivo (3,70). Os mais críticos estão relacionados aos
itens pressão de prazos (3,57) e forte cobrança por resultados (3,56).

Tabela 3 – Distribuição dos indicadores referentes à Organização do Trabalho


Nº Indicador do fator Média Classificação
1 O ritmo de trabalho é excessivo 3,70 Grave
2 As tarefas são cumpridas com pressão de prazos 3,57 Crítica
3 Existe forte cobrança por resultados 3,56 Crítica
4 As normas para execução das tarefas são rígidas 3,49 Crítica
5 Existe fiscalização do desempenho 3,00 Crítica
O número de pessoas para realização de pessoas é
6 2,88 Crítica
insuficiente para realizar as tarefas
7 Os resultados esperados estão fora da realidade 2,46 Crítica
8 Existe divisão entre quem planeja e quem executa 2,80 Crítica
9 As tarefas são repetitivas 3,11 Crítica
Falta tempo para realizar pausas de descanso no
10 3,05 Crítica
trabalho
11 As tarefas executadas sofrem descontinuidade 2,87 Crítica
Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Os itens Forte Cobrança por Resultados, Tarefas Cumpridas com


pressão de Prazos e Ritmo de Trabalho Excessivo também foram des-
tacados como os mais graves e/ou críticos em pesquisa semelhante
com docentes universitários (MARTINS, 2009). Os resultados apre-
sentados na tabela 3 constatam os dizeres de Arbex e cols., (2013) que
os professores devem submeter-se às exigências da produção aca-
dêmica, em condições de igualdade com os demais docentes. Além
disso, verifica-se no cotidiano universitário a instalação de horários
atípicos e a aceleração no desempenho das atividades.
No que diz respeito aos indicadores socioprofissionais, consta-
tou-se uma situação satisfatória à crítica dos informantes, uma vez

175
que todos os escores obtidos não exibiram valores médios acima de
3, 69 (Tabela 4).

Tabela 4 – Distribuição dos indicadores referentes a Relações Socioprofissionais


Nº Indicadores do fator Média Classificação
12 As tarefas não são claramente definidas 2,29 Satisfatória
13 A autonomia é inexistente 2,22 Satisfatória
14 A distribuição de tarefas é injusta 2,60 Crítica
15 Os funcionários são excluídos das decisões 2,63 Crítica
Existe dificuldade de comunicação entre chefia e
16 2,17 Satisfatória
subordinados
17 Existem disputas profissionais no local de trabalho 2,18 Satisfatória
18 Falta integração no local de trabalho 2,77 Crítica
19 A comunicação entre funcionários é insatisfatória 2,35 Crítica
Falta apoio das chefias para o meu desenvolvimento
20 2,32 Crítica
profissional
As informações de que preciso para executar minhas
21 2,49 Crítica
tarefas são de difícil acesso

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Os resultados da Tabela 3 evidenciam que os indicadores mais


críticos associados às relações socioprofissionais relacionam-se à fal-
ta de integração no ambiente de trabalho (2,77), seguido pela exclu-
são das decisões (2,63) e distribuição injusta das tarefas (2,60).
Pesquisas mostram que no ambiente de trabalho dos docentes há
disputas profissionais (MARTINS, 2009; PINALLI, 2011). Conforme
Djours (1980), nas “relações do trabalho” a interação entre os envol-
vidos é baseada em relações de hierarquia, chefias, supervisão com
outros trabalhadores causando, às vezes, situações desagradáveis e
até mesmo insuportáveis. Nas relações de laborais em que impera
a desigualdade na divisão do trabalho, Dejours correlaciona com
questões de política e poder que podem precipitar suspeitas, rivali-
dades e perversidade de uns para com os outros.
No que diz respeito aos indicadores relativos às Condições de
Trabalho, constatou-se uma situação crítica, uma vez que todos os

176
fatores expressaram valores médios entre 2,30 e 3,69. Conforme
mostra a Tabela 5.

Tabela 5 – Distribuição dos indicadores referentes às condições de trabalho


Nº Indicador do Fator Média Classificação
22 As condições de trabalho são precárias 3,15 Crítica
23 O ambiente é desconfortável 3,04 Crítica
24 Existe muito barulho no ambiente em que trabalho 3,07 Crítica
25 O mobiliário existente no local de trabalho é 3,28 Crítica
inadequado
26 Os instrumentos de trabalho são insuficientes para 3,20 Crítica
realizar as tarefas
27 O posto/estação de trabalho é inadequado para 2,96 Crítica
realização das tarefas
28 Os equipamentos necessários para realização das 3,23 Crítica
tarefas são inadequados
29 O espaço físico para realizar o trabalho é inadequado 2,80 Crítica
30 As condições de trabalho oferecem riscos à 2,34 Crítica
segurança das pessoas
31 O material de consumo é insuficiente 3,24 Crítica

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Os itens Mobiliário inadequado (3,28), Material de Consumo


Insuficiente (3,24) e Equipamento Inadequado (3,23) se destacaram
como os mais críticos. Itens 30 e 31 da Tabela IV destoam dos encon-
trados por Pinalli (2011), em sua pesquisa os mesmos itens foram
avaliados como satisfatórios e um dos entrevistados afirmou estar
“em um local que permite trabalhar de uma forma tranquila”. Deve-
se compreender que cada universidade é uma realidade, um mundo
à parte, um campo acadêmico que gera suas próprias forças. Por-
tanto, cada universidade deve promover as mudanças naquilo que
for necessário e melhor se adequar a sua realidade (ARBEX e cols.,
2013).

177
ESCALA DE CUSTO HUMANO DO TRABALHO
A segunda escala do ITRA, a ECHT, é composta por três fatores:
custo afetivo (itens 1 a 12), custo cognitivo (13 a 22) e custo físico
(itens 23 a 32). Essa escala é de cinco pontos, em que 1 = Nunca, 2 =
Pouco exigido, 3 = Mais ou menos exigido, 4 = Bastante exigido e 5
= Totalmente exigido. Segundo Mendes (2007), a análise dos escores
médios deve ser feita considerando os seguintes parâmetros: avalia-
ção grave para médias acima de 3,70; avaliação crítica para médias
entre 2,30 e 3,69; e, avaliação satisfatória para médias abaixo de 2,29.
No que diz respeito aos custos do trabalho, constatou-se uma si-
tuação crítica a grave, uma vez que os escores obtidos apresentaram
médias entre 2,30 e 3,69, com exceção do custo cognitivo que consta-
tou uma situação grave (3,84), conforme mostra a Tabela 6.

Tabela 6 - Caracterização da amostra total, segundo fator Custo Humano do


Trabalho
Escala Custo Humano do Trabalho

Fatores Média Geral

Custo Afetivo 2,45

Custo Físico 2,70

Custo Cognitivo 3,84

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Pesquisas indicam que os docentes estão submetidos a uma cons-


tante sobreposição de tarefas que se revertem em cansaço físico,
emocional e psicológico. Um agravante da situação dos professores é
simultaneidade das atividades. Elas são múltiplas e complexas den-
tro da sala de aula. Concomitante a isso, existem os eventos, ativida-
des extracurriculares, a imprevisibilidade e o imediatismo. Também
é comum ao professor, enquanto leciona efetuar outras atividades
como atender ao aluno individualmente, controlar a turma e pre-
encher instrumentos e formulários de controle (GIANNINI, 2013).

178
A Tabela 7 apresenta indicadores relativos ao custo cognitivo dos
professores. Em uma avaliação global, conforme mostra a tabela, ve-
rificou-se que todas as questões relacionadas ao custo cognitivo dos
docentes pesquisados apresentam resultados satisfatórios, graves e
críticos.

Tabela 7 – Distribuição dos indicadores referentes ao custo cognitivo


Nº Indicadores do fator Média Classificação
13 Desenvolver macetes 2,21 Satisfatório
14 Ter que resolver problemas 3,71 Grave
15 Ser obrigado a lidar com imprevistos 3,73 Grave
16 Fazer previsão de acontecimentos 3,29 Crítico
17 Usar a visão de forma contínua 4,04 Grave
18 Usar a memória 4,26 Grave
19 Ter desafios intelectuais 4,35 Grave
20 Fazer esforço mental 4,28 Grave
21 Ter concentração mental 4,37 Grave
22 Usar a criatividade 4,18 Grave

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

O indicador desenvolver macetes (2,21) foi o único que obteve


média satisfatória, o item fazer previsão de acontecimentos (3,29)
foi o único avaliado como crítica e quesito ter concentração mental
(4,37) foi o que obteve média mais grave. Os resultados corroboram
com os de pesquisa realizada por Martins (2009) em que ter desafios
intelectuais também obteve a média mais alta. Na mesma pesquisa,
um dos entrevistados citou a necessidade de “se virar para cumprir
expectativas” evidenciando a necessidade de atender às exigências
do trabalho (MARTINS, 2009).
A cobrança por maior produtividade, redução do contingente
de trabalhadores, pressão do tempo, aumento da complexidade das
tarefas, além de expectativas irrealizáveis causam repercussões ne-
gativas sobre a saúde psíquica e estão estatisticamente associadas ao
estresse, insatisfação no trabalho e síndrome de burnout. Condições
que se situam na direção contrária dos valores e condutas esperadas

179
para educação. Impedindo diversas vezes que sejam postas em prá-
tica as habilidades necessárias ao docente como ser transformador e
capaz de propiciar desenvolvimento do aluno em seu sentido mais
amplo (GIANNINI, 2013).
As tabelas 8 e 9 mostram os resultados do Custo Humano do Tra-
balho dos professores em relação ao custo afetivo e físico, respecti-
vamente. As avaliações de custo afetivo e físico obtiveram avaliações
satisfatórias e críticas, uma vez que nenhum dos itens ultrapassou a
média de 3,69.

Tabela 8 – Distribuição dos indicadores referentes ao Custo Afetivo


Nº Indicadores do fator Média Classificação
1 Ter controle das emoções 3,52 Crítica
2 Ter que lidar com ordens contraditórias 2,82 Crítica
3 Ter custo emocional 3,45 Crítica
4 Ser obrigado a lidar com a agressividade dos outros 3,09 Crítica

5 Disfarçar sentimentos 2,89 Crítica

6 Ser obrigado a elogiar pessoas 1,80 Satisfatório

6 Ser obrigado a ter bom humor 2,40 Crítico

8 Ser obrigado a cuidar da aparência física 2,62 Crítico

9 Ser bonzinho com os outros 1,94 Satisfatório

10 Transgredir valores éticos 1,68 Satisfatório

11 Ser submetido a constrangimentos 1,59 Satisfatório

12 Ser obrigado a sorrir 1,68 Satisfatório

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Os resultados da tabela 8 evidenciam que os indicadores mais


críticos são ter controle emocional (3, 52) e ter custo emocional
(3,45). Pesquisas semelhantes estão em conformidade com os resul-
tados supracitados. Quanto à tabela 9 referente ao custo físico, os
índices mais críticos são subir e descer escadas (3,34). Neste último
fator os resultados diferem de pesquisas similares em que as médias

180
mais elevadas estão relacionadas a usar as pernas de forma contínua
(MARTINS, 2009; PINALLI, 2011). Provavelmente, o resultado do
fator custo físico se deve ao fato de que os acessos aos centros, bi-
blioteca e outras unidades da universidade ocorrem principalmente
por meio de escadas.

Tabela 9 – Distribuição dos indicadores referentes ao Custo Físico


Nº Item do fator Média Classificação
23 Usar a força física 1,96 Satisfatório
24 Usar os braços de forma contínua 2,76 Crítico
25 Ficar em posição encurvada 2,38 Crítico
26 Caminhar 2,82 Crítico
27 Ser obrigado a ficar em pé 3,07 Crítico
28 Ter que manusear objetos pesados 1,84 Satisfatório
29 Fazer esforço físico 2,52 Crítico
30 Usar as pernas de forma contínua 3,05 Crítico
31 Usar as mãos de forma repetida 3,32 Crítico
32 Subir e descer escadas 3,34 Crítico
Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

É recorrente que as exigências físicas do trabalho dos docentes


prejudiquem sua saúde. Pesquisa realizada por Oliveira e cols., (2013)
com docentes universitários do curso de enfermagem, revelou que as
doenças musculoesqueléticas são as queixas que mais resultam em
afastamentos. Segundo o autor, isso pode estar relacionado ao pro-
cesso de trabalho desgastante, como por exemplo, extensa jornada
de trabalho e à falta de exigência pessoal dos próprios profissionais.
Pesquisa semelhante realizada por Sanchez e cols., (2013) em estudo
relata que a dor musculoesquelética está sempre presente nos do-
centes universitários. A incidência de dores musculoesqueléticas nos
docentes é alta e se mostra independente de idade, altura, tempo e
jornada de trabalho.

CONCLUSÃO
Os resultados indicaram que, quanto ao perfil sociodemográfico,

181
54,9% do sexo masculino, 39% com idade entre 46 a 50 anos, 52,4%
doutorado completo, 58,5% afirmaram ser casados e 65,9% afirma-
ram praticar atividade física. Em relação ao contexto de trabalho,
os docentes se encontram em um estado de crítica por apresentar
escores entre 2,30 e 2,69. O fator organização de trabalho alcançou
média geral de 3,13. O fator relações socioprofissionais teve como
média geral 2,40. E o fator condições de trabalho obteve uma média
de 3,03. As médias gerais indicam que os docentes estão submetidos
a um estado crítico. Esse estado sinaliza uma “situação-limite”, com
produção de risco de adoecimento.
A escala de custo humano do trabalho também indicou uma si-
tuação crítica, uma vez que a maioria dos escores obtidos apresentou
uma média entre 2,30 e 3,69, com exceção do custo cognitivo que
constatou uma situação grave (3,84). O fator custo emocional (2,45)
obteve a menor média geral, seguida do custo físico (2,70). Um agra-
vante da situação dos professores é a simultaneidade das atividades
relacionadas à imprevisibilidade e ao imediatismo, aumentando o
nível de estresse e incidência de dor.
Foi constatada a necessidade de maiores discussões sobre o tema
e a implementação de políticas institucionais específicas que assis-
tam à população estudada e evitem maiores agravos à saúde. Tam-
bém é necessário mais estudos que possam angariar informações
sobre o perfil e a ocorrência dos agravos relacionados ao trabalho,
resultando em subsídios para ações direcionadas a esta população e
permitindo o planejamento e organização de estratégias de educação
e prevenção.

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186
PREVALÊNCIA DE DOR
MUSCULOESQUELÉTICA EM DOCENTES
DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA

Ana Paula Santino Fialho


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
O trabalho é um fator determinante para desenvolvimento huma-
no e, no decorrer dos anos exerce grande influência na história da
humanidade, refletindo de forma direta na qualidade de vida e na
saúde das pessoas. Um ambiente de trabalho que ofereça condições
adequadas e promova bem-estar e satisfação, reflete em trabalha-
dores saudáveis e mais produtivos. Da mesma forma, trabalho com
condições inadequadas e recursos insuficientes, carga horária exces-
siva e ambiente hostil, produz trabalhadores doentes e insatisfeitos
(SOUSA-UVA; SERRANHEIRA, 2013).
O trabalho docente, como atividade complexa, exige esforços físi-
cos, psicológicos e emocionais, em virtude do alto grau de exigência
a que esses profissionais são submetidos e das inúmeras cobranças
em termos de produtividade, passando por diversas modificações ao
longo dos anos, decorrentes das mudanças observadas no mundo do
trabalho e reformas educacionais que transformaram esse cenário
profissional. A classe docente universitária se encontra submetida a
fatores de risco para dores musculoesqueléticas, como carência de
recursos humanos e materiais, aumento do ritmo e intensidade do
trabalho (CRUZ et al., 2010).

187
Os problemas ocupacionais, segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), representam grande desafio no campo da saúde do
trabalhador (OMS, 2011). As doenças relacionadas ao trabalho são
responsáveis por prejuízos na saúde do trabalhador, dores, descon-
fortos e incapacidades, e pelo número crescente dos afastamentos
observados no ambiente de trabalho (OIT, 2013).
De acordo com a Associação Internacional para Estudo da Dor
(IASP), a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável,
descrita em termos de lesões teciduais, reais ou potenciais. É perce-
bida por meio de experiência de grande complexidade, de maneira
subjetiva e multidimensional, mediada por fatores sensoriais, afe-
tivos, cognitivos, sociais e comportamentais, percebida a partir de
agressão imposta ao organismo (IASP, 2009).
Estudo realizado por Sanchez, et al., (2013), a dor musculoes-
quelética está sempre presente nos docentes universitários. Estudos
apontam que docentes não conseguem identificar o processo saú-
de-doença, durante sua vida profissionale alguns se encontram em
grande estado de foco e dedicação às suas obrigações, causando falta
de atenção com suas condições físicas e psicológicas (SANTANA;
GOULART; CHIARI, 2012).
A ocorrência de dores musculoesqueléticas nos docentes é alta
e se mostra independente de idade, altura, tempo e jornada de tra-
balho. Tais condições se situam na direção contrária dos valores e
condutas esperadas para educação, impedindo diversas vezes que
sejam postas em prática habilidades necessárias ao docente como ser
transformador e capaz de propiciar desenvolvimento do aluno em
seu sentido mais amplo (GIANNINI, 2013).
A presente pesquisa descritiva surge da preocupação do Núcleo
de Educação e Atenção em Saúde (NEAS) da Universidade Estadual
da Paraíba (UEPB), com desafios promovidos pela atividade laboral,
objetivou avaliar a dor musculoesquelética entre docentes efetivos de
uma universidade pública da Paraíba.

REVISÃO DA LITERATURA
Atividade resultante do esforço e energia física e mental exercida
por profissionais, o trabalho além de se caracterizar como fonte de

188
produção de bens e serviços, exerce influência no grau de satisfação
e bem-estar pessoal, de cada indivíduo. Responsável também pela
construção do processo saúde-doença, o trabalho se apresenta como
fator de risco para desenvolvimento de doenças ocupacionais e afas-
tamento do ambiente de trabalho (SOARES, 2012).
Ao longo do tempo, mudanças relacionadas aos novos modelos
de trabalho e reformas educacionais, fizeram o trabalho docente ga-
nhar nova formulação, refletindo diretamente na qualidade de vida
dos professores. O nível de exigência a qual esses profissionais são
submetidos, em termos de prazos e produtividade, simultaneidade
das atividades, além de precariedade do ambiente de trabalho, ne-
cessidade constante de aperfeiçoamento e desvalorização da classe,
tem ocasionado cada vez mais doenças ocupacionais (FONTANA;
PINHEIRO, 2010).
Tem-se considerado distúrbio osteomuscular como termo que
engloba inúmeros problemas de saúde, dentre os quais estão aqueles
relacionados ao aparelho locomotor. Os principais grupos, dor nas
costas/ lesões e distúrbios dos membros superiores relacionadas com
trabalho, podendo afetar também os membros inferiores. Verifica-
se que a causa pode estar associada com o tipo de atividade laboral
desempenhada pelo indivíduo, má postura, levantamento e movi-
mentos repetitivos (RAMOS; AREZES; AFONSO, 2015)
Atualmente, lesões por esforços repetitivos/Doenças osteomus-
culares relacionadas com o trabalho (LER/DORT), denominações
adotadas pelo Ministério da Saúde (MS) e Ministério da Previdência
Social (MPAS), representam parcela considerável das doenças rela-
cionadas ao trabalho. Verifica-se que essas afecções são ocasionadas
em virtude das relações e organização do trabalho do mundo mo-
derno, decorrentes de atividades que exigem movimentos repetiti-
vos, posturas inadequadas, ritmo intenso de trabalho, grau elevado
de exigência por produtividade, ambiente de trabalho que não ofere-
ça estrutura adequada para desenvolvimento da atividade (BRASIL,
2002).
As LER/DORT são caracterizadas por quadro de dor crônica,
fadiga muscular, dor nas articulações e sensação de formigamen-
to. Trata-se de doença insidiosa, responsável por grande parte dos

189
afastamentos do trabalho, podendo evoluir para incapacidade per-
manente, necessitando de benefício de aposentadoria por invalidez
(BRASIL, 2002).
De acordo com a Agenda Nacional do Trabalho de Investigação
(NORA) do Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacio-
nal (NIOSH) dos EUA as DORT estão entre problemas que impli-
cam, atualmente, em maiores gastos em saúde (RAMOS; AREZES;
AFONSO, 2015). No ano de 2012, o Boletim Estatístico da Previdên-
cia Social contabilizou os benefícios emitidos em mais de 4,5 bilhões
de reais. Em 2013, de janeiro a julho, os valores superaram 2,9 bi-
lhões. Em julho de 2013 o valor de benefícios emitidos foi de 437
milhões, sendo que mais de 44% desse total eram de auxílios-doença
e 3,9% representavam aposentadorias por invalidez. No Estado da
Paraíba as doenças osteomusculares são a segunda maior causa de
aposentadorias por invalidez (GARCIA et al., 2013).
A atenção dirigida à saúde dos trabalhadores tem antecedentes
históricos relacionados à luta dos trabalhadores pelo direito à saúde,
no contexto da Reforma Sanitária Brasileira com influências do Mo-
vimento Operário Italiano (LEÃO; CASTRO, 2013). O crescimento
da tecnologia industrial, aumento à insatisfação, mudanças de pro-
cessos de trabalho, agravos à saúde e mortes no trabalho, cresceram
consideravelmente nas décadas de 30 e 40 do século passado. Tal fato
induziu a Medicina do Trabalho se apresentasse como insuficiente
para manter um indivíduo saudável e capaz de reproduzir a força de
trabalho exigida (KARINO; MARTINS; BOBROFF, 2011).
O Sistema Único de Saúde (SUS) avançou de forma significativa
nos últimos anos, no referente às ações de atenção à saúde. No en-
tanto, diretrizes políticas nacionais voltadas para saúde do trabalha-
dor começaram a ser implantadas somente a partir do ano de 2003
(BRASIL, 2012). Atualmente, investimentos na qualidade de vida se
caracterizam como principais ações de prevenção aos problemas
ocasionados pela atividade laboral que, quando exercida em con-
dições inadequadas, ritmo excessivo de trabalho, e precariedade de
recursos humanos e materiais, trazem prejuízos à saúde do trabalha-
dor (SAMPAIO; OLIVEIRA, 2008).
Além de recursos materiais, ações em saúde do trabalhador, exi-
gem quadro de pessoal suficiente, capacitado e exercendo funções

190
adequadas ao seu cargo, Política de Estado adequada às necessidades
reais dos trabalhadores (COSTA et al., 2013). Nesta perspectiva, é
necessário encontrar estratégias que visem à construção de práticas
relacionadas às diretrizes estabelecidas pelo SUS no campo da Saúde
do Trabalhador (KARINO; MARTINS; BOBROFF, 2011).

METODOLOGIA
A presente abordagem quantitativa descritiva foi desenvolvida no
Campus I da Universidade Estadual da Paraíba, situada em Cam-
pina Grande, Paraíba no primeiro semestre de 2016, contando com
uma amostra de 82 docentes. Os critérios de inclusão considerados
foram: ser docente efetivo, de ambos os sexos, com atividade laboral
executada no período mínimo de 1 ano, no Campus I da Universi-
dade Estadual da Paraíba; e como critérios de exclusão: servidores
não efetivos, servidores afastados de suas funções ou cedidos para
outras instituições, e docentes que não desempenham sua função no
Campus I.
Para caracterizar a amostra foi utilizado questionário socioedu-
cacional com informações relativas ao perfil biográfico e sócio ocu-
pacional (idade, estado civil, nível de formação, turno de trabalho,
tempo de serviço). Para obtenção dos dados referentes à dor muscu-
loesquelética, utilizou-se Questionário Nórdico de sintomas neuro-
musculoesqueléticos. Este instrumento foi validado e adaptado para
língua portuguesa por Barros e Alexandre (2003), apresentando fi-
gura humana dividida em nove regiões anatômicas. Tal divisão per-
mite fazer a relação de cada região com perturbações musculoesque-
léticas em tempo semanal e anual (BARROS; ALEXANDRE, 2003).
Os participantes foram informados acerca do objetivo da pesqui-
sa e aceitaram participar de forma voluntária, mediante assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas
vias. Os aspectos éticos relativos à pesquisa com seres humanos,
preconizados pela Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do
Conselho Nacional de Saúde/MS, foram respeitados. Esta pesquisa
foi autorizada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UEPB, sob o nú-
mero 36628014.1.0000.5187.
Após a coleta de dados, as respostas aos questionamentos foram

191
digitadas no banco de dados do SPSS (Statistical Package for Social
Science for Windows), versão 20.0. A partir do banco de dados foi
possível extrair as frequências dos escores dos instrumentos e rea-
lizar categorizações das variáveis, permitindo melhor interpretação
dos resultados. Por fim, foram realizadas análises descritivas para
delinear o perfil socioeducacional da amostra e observar indicadores
descritivos da distribuição dos escores individuais obtidos em cada
fator.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO
O estudo foi composto por amostra de 82 docentes de uma Insti-
tuição Pública de Ensino Superior do Estado da Paraíba, sendo 45
(54,9%) do sexo masculino e, 37 (45,1%) do sexo feminino (Tabela 1),
resultado que diverge do encontrado por Mango, et al., (2012), com
95,2% da amostra composta pelo sexo feminino.
Entre os docentes pesquisados, as faixas etárias de maior preva-
lência foram acima de 50 anos (39%) e de 46 a 50 anos (25,6%), e as
faixas etárias entre 36 a 40 e 41 a 45 obtiveram o percentual de 13,4%
e 18,3% respectivamente. A faixa de idade entre 25 e 30 anos apresen-
tou um percentual de 2,4%, valor distante dos 59,1% encontrados no
estudo de Vitta et al., (2012) para a faixa etária mencionada. O menor
índice ficou com as idades entre 31 e 35 anos (1,2%). Tais resultados
revelam que o grupo é formado por profissionais adultos e de meia
-idade. (Tabela 1).
Quanto ao estado civil, 19,5% afirmaram estarem solteiros, 2,4%
separados, 14,6% divorciados, 4,9% viúvos e 58,5% afirmaram ser ca-
sados (Tabela 1), resultado próximo do encontrado por Rabay (2014),
em estudo realizado com 76 servidores do Tribunal de justiça da Pa-
raíba, no qual 55% estavam casados e 36% estavam solteiros. Obser-
va-se que entre os docentes pesquisados, houve prevalência daqueles
que são casados, indicando que além do trabalho esses profissionais
também possuem responsabilidades familiares.
Segundo o grau de qualificação, 4,9% dos pesquisados afirmaram
ter especialização, 32,9% afirmaram ter mestrado, 52,4% afirmaram

192
ter doutorado completo, 9,8% informaram ter doutorado incompleto
e nenhum dos respondentes afirmou ter mestrado incompleto. Em
relação ao local de trabalho 85,4% afirmaram que realizam suas ati-
vidades apenas em universidade pública, enquanto 14,6% trabalham
em universidade pública e privada. Portanto, são profissionais com
nível elevado de qualificação e exclusivos da instituição (Tabela 1).
Suda et al., (2011), em estudo com 50 docentes de uma instituição
pública de ensino superior, concluiu que 60 % dos pesquisados eram
mestres, 19,6% possuíam especialização, 15,7 % eram doutores, e 60%
dos pesquisados trabalhavam em outras instituições.
Quando indagados sobre o turno de trabalho, 73,2% responde-
ram que exercem suas funções nos dois turnos, 20,7% nos três tur-
nos e 6,1% em apenas um turno. No tocante ao tempo de trabalho,
36,6% estão trabalhando há mais de 20 anos (Tabela 1). Nota-se que
os docentes pesquisados estão submetidos a uma intensa jornada de
trabalho em virtude do ritmo e da carga horária exercida, condições
que de acordo com Cruz, et al. (2010), se caracterizam como fatores
de risco para o desenvolvimento de doenças ocupacionais.

Tabela 1-Distribuição dos participantes de acordo com características


sociodemográficas e funcionais
Variável Categoria Nº %
Sexo Masculino 45 54,9
Feminino 37 45,1

Faixa Etária 25-30 2 2,4


31-35 1 1,2
36-40 11 13,4
41-45 15 18,3
46-50 21 25,6
Acima de 50 32 39,0

193
Casado 48 58,5
Solteiro 16 19,5

Estado Civil Separado 2 2,4


Divorciado 12 14,6
Viúvo 4 4,9

Grau de Especialização Completa 4 4,9


Qualificação Mestrado Completo 27 32,9
Mestrado Incompleto - -
Doutorado Completo 43 52,4
Doutorado Incompleto 8 9,8

Local de Apenas em instituição pública 70 85,4


trabalho Em instituição pública e privada 12 14,6

Turno de Apenas um turno 5 6,1


trabalho Dois turnos 60 73,2
Três turnos 17 20,7

Tempo de 1-5 8 9,8


trabalho na 6-10 14 17,1
instituição 11-15 22 26,8
16-20 8 9,8
Mais de 20 anos 30 36,6

Prática de Pratica exercício 54 65,9


Atividade Não pratica exercício 28 34,1
Física

Fonte: O Autor, 2016.

Quando perguntados acerca da prática de esportes 65,9% afirma-


ram praticar, enquanto 34,1% responderam que não realizam ativi-
dade física (Tabela 1). Embora tenha prevalecido a prática de ativi-
dade física, percebe-se que o percentual de inatividade obteve um
percentual considerável, evidenciando a necessidade de uma maior
preocupação nesse sentido. A atividade física, segundo Silva et al.,

194
2010, além de ser uma fonte de lazer, também restaura a saúde dos
prejuízos causados por uma rotina intensa e estressante de trabalho,
melhorando o condicionamento físico e a qualidade de vida e pro-
porcionando bem-estar.

QUESTIONÁRIO NÓRDICO DE SINTOMAS


NEUROMUSCULOESQUELÉTICOS (SNME)
Com relação às ocorrências, semanal e anual, de sintomas neuro-
musculoesqueléticos, visualizadas na Tabela 2, verificou-se que dos
82 docentes pesquisados, 67 (81,7%) apresentaram dores nos últimos
12 meses e 41 (59%) nos últimos 7 dias. Estes percentuais se apresen-
tam um pouco maiores em relação aos encontrados por Mohr, et al.,
(2011), em pesquisa realizada com 54 profissionais de Educação Físi-
ca, que atuam em academias de ginástica do município de Florianó-
polis, na qual 41 indivíduos (75,9%) apresentaram dores nos últimos
12 meses e 25 (46,3%) nos últimos 7 dias.
A ocorrência anual de sintomas neuromusculoesqueléticos apre-
sentou maior percentual em relação à ocorrência semanal, por se
tratar de período de tempo maior, aumentando, consequentemente,
o tempo de exposição dos docentes a fatores de riscos para desenvol-
vimento de doenças relacionadas ao trabalho (REIS, 2015).
Dos 82 docentes entrevistados, 30 relataram ter sentido dores nos
últimos 12 meses na região do pescoço (36,6%); 23 nos ombros (28%);
5 em cotovelos (6,1%); 11 sentiram dores no punho/mão (13,4%); 26
na região dorsal (31,7%); 26 na região lombar (31,7%); 3 nas coxas
(3,7%); 13 relataram dores nos joelhos (15,8%) e 13 nos tornozelos/pés
(15,8%) (Tabela 2).
As regiões com maior prevalência de dor no último ano foram a
região do pescoço (36,6%), zona dorsal (31,7 %), zona lombar (31,7
%) e região dos ombros (28 %). Esses resultados são semelhantes aos
encontrados por Suda, et al., (2011), em pesquisa realizada com 50
docentes de uma instituição pública de ensino superior, a região do
pescoço também foi a mais afetada (70%), seguida pela zona lombar
(64%), região dos ombros (50%) e zona dorsal (42%).

195
Tabela 2- Sintomas Neuromusculoesqueléticos em docentes no último ano
REGIÃO Nº %

Pescoço 30 36,6 %
Ombro 23 28 %
Cotovelo 5 6,1 %
Punho/Mão 11 13,4 %
Zona Dorsal 26 31,7 %
Zona Lombar 26 31,7 %
Coxa 3 3,7 %
Joelho 13 15,8 %
Tornozelo/Pé 13 15,8 %

Fonte: O Autor, 2016.

Com relação às dores sentidas nos últimos 7 dias, 18 afirmaram ter


sentido dores na região do pescoço (22%); 16 nos ombros (19,5%); 4
nos cotovelos (4,9%); 11 apresentaram dores no punho/mão (13,4%);
19 na região dorsal (23,2%); 18 na região lombar (22%); 2 na coxa
(2,4%); 7 no joelho (8,5%) e 8 no tornozelo/pé (9,7%) (Tabela 3).

Tabela 3 - Sintomas Neuromusculoesqueléticos em docentes na última semana


REGIÃO Nº %

Pescoço 18 22 %
Ombro 19,5 %
16
Cotovelo 4 4,9 %
Punho/Mão 11 13,4 %
Zona Dorsal 19 23,2 %
Zona Lombar 18 22 %
Coxa 2 2,4 %
Joelho 7 8,5 %
Tornozelo/Pé 8 9,7 %

Fonte: O Autor, 2016.

196
As regiões que obtiveram maiores percentuais de dores na última
semana, foi a zona dorsal (23,2 %), região do pescoço (22 %) e zona
lombar (22 %). Essas regiões também apresentaram maiores percen-
tuais de dor em estudo realizado por Reis (2015) com 59 servidores
técnicos-administrativos, sendo que a região mais afetada foi a re-
gião dos ombros (54,1%), zona lombar e região do pescoço apresen-
taram percentuais de (51,4 %) e (37,8%), respectivamente.
Observa-se com relação à ocorrência anual e semanal de sinto-
mas neuromusculoesqueléticos, a parte superior do corpo apresen-
tou maiores percentuais de dor, atingindo principalmente a região
do pescoço, zona dorsal, zona lombar e ombros. Ao longo de suas
atividades, docentes acabam passando muito tempo em pé e com
braços inclinados, o que, segundo Magnago et al., (2010), aumenta as
dores nas regiões vertebrais por proporcionar, carga extra nos mús-
culos e articulações devido à força da gravidade.
De acordo com Mango et al., (2012), essas regiões são constante-
mente afetadas quando expostas aos riscos ocupacionais do traba-
lho docente: atividades e movimentos repetitivos; esforço físico; má
postura ao planejar e corrigir atividades, e ao atender aos estudantes;
inexistência de mobiliário adequado que atenda às necessidades in-
dividuais de cada profissional; além da grande quantidade de mate-
rial que esses profissionais têm de carregar.
Quando perguntados se haviam evitado alguma atividade em vir-
tude de sintomas neuromusculoesqueléticos, 40 (48,8%) responde-
ram que sim. Esse resultado se aproxima do encontrado por Hugue
e Pereira Júnior (2011), em estudo realizado com 41 funcionários téc-
nicos-administrativos da UNIFEBE, no qual 64% dos trabalhadores
disseram ter se ausentado do trabalho em virtude de desconforto
neuromusculoesquelético.
Segundo Mango et al., (2012) a dor musculoesquelética tem rela-
ção direta com baixa produtividade, níveis elevados de absenteísmo,
afastamentos do trabalho, impedimentos na realização de atividades
da vida diária.
Com relação às regiões, Tabela 4, 15 (18,3%) evitaram ativida-
des relacionadas as suas funções no trabalho, serviço doméstico ou

197
passatempo, por dores na região do pescoço; 16 nos ombros (19,5%);
6 nos cotovelos (7,3%); 11 no punho/mão (13,4%); 19 na região dorsal
(23,2%); 18 na região lombar (22%); 2 nas coxas (2,4%); 9 nos joelhos
(11%) e 8 responderam que evitaram atividades por problemas na
região do tornozelo/pé (9,7%). Zona dorsal, zona lombar, pescoço
e ombros, foram regiões responsáveis por grande parte dos impedi-
mentos relacionados à realização de atividades cotidianas.

Tabela 4 - Impedimentos na realização de atividades cotidianas


Região Nº %

Pescoço 15 18,3 %
Ombro 16 19,5 %
Cotovelo 6 7,3 %
Punho/Mão 11 13,4 %
Zona Dorsal 19 23,2 %
Zona Lombar 18 22 %
Coxa 2 2,4 %
Joelho 9 11 %
Tornozelo/Pé 8 9,7 %

Fonte: O Autor, 2016.

As regiões relacionadas com a parte superior do corpo (zona dor-


sal, zona lombar, pescoço e ombros) também foram as mais mencio-
nadas, no tocante aos impedimentos relacionados à realização de ati-
vidades cotidianas, revelando que nos docentes essas são as regiões
mais afetadas por doenças ocupacionais relacionadas ao trabalho.

CONCLUSÃO
Os docentes pesquisados apresentaram idade mínima de 46 anos;
são casados; prevalecendo os portadores de títulos de mestrado e
doutorado completos; são exclusivos da instituição; trabalham em
dois ou três turnos; trabalham há mais de 20 anos na instituição. No-
ta-se que a instituição possui quadro profissional com nível elevado
de qualificação, sugerindo maior cobrança em termos de resultados

198
e produção, além de estarem submetidos à carga elevada de trabalho
em virtude do ritmo e intensidade de suas atividades.
A presente pesquisa permitiu identificar e realizar dimensiona-
mento da prevalência de sintomas neuromusculoesqueléticas em
docentes universitários, mostrando que 67 (81,7%) dos 82 pesquisa-
dos apresentaram dores nos últimos 12 meses e 41 (59%) nos últimos
7 dias.
Com relação às regiões acometidas por sintomas neuromusculo-
esqueléticos, o estudo em questão revelou que a região do pescoço,
região dos ombros, zona lombar e zona dorsal, foram as mais afeta-
das no tocante à ocorrência anual e semanal, sendo também as mais
mencionadas quanto ao impedimento da realização de atividades di-
árias. Esses dados evidenciam regiões merecedoras de maior atenção
por parte dos docentes.
Diante dos resultados, evidencia-se a necessidade de programar
atividades estratégicas durante atividade laborativa visando reduzir
a sobrecarga dessas regiões, compreendendo a importância da saúde
de trabalhadores visualizada, por meio de queixas referidas, rotinas
ou condições de trabalho, visando um serviço desempenhado com
maior funcionalidade.
No sentido de evitar ou minimizar, futuras disfunções físicas,
bem como, afastamento profissional decorrente dos riscos presentes
no ambiente de trabalho, sugere-se a implantação de exercício físico
aos docentes da Instituição pesquisada.

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203
PERFIL DOS IDOSOS ATENDIDOS
EM UM SERVIÇO DE TRATAMENTO
MULTIDISCIPLINAR DE TABAGISMO

Patrícia Regina Cardoso de Almeida


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
As preocupações que cercam o envelhecimento humano na atuali-
dade refletem o importante período de transição demográfica e epi-
demiológica que o Brasil vivência, representando grande significado
quando se trata da população idosa e do aumento da prevalência de
doenças crônicas, as quais necessitam de tratamentos complexos e
de longa duração.
Nos últimos cem anos observou-se um fenômeno mundial, prin-
cipalmente nos países industrializados, onde é marcante a transfor-
mação do perfil epidemiológico da população, caracterizada pela
gradual e progressiva queda das doenças infecciosas e parasitárias
e pela prevalência das doenças crônico-degenerativas (ARAÚJO,
2012).
Discutir sobre a situação da população no futuro, compreenden-
do fatores de risco e de proteção para as formas de adoecimento mais
prevalentes merece destaque por vislumbrar as consequências que
o aumento da expectativa de vida poderá gerar, principalmente na
área da saúde.
O envelhecimento humano é um processo natural e gradativo, com
variações para cada indivíduo, sendo estas variações dependentes de

204
fatores como o estilo de vida, as condições socioeconômicas, a pre-
sença de doenças crônicas, dentre outros. O tabagismo se apresenta
como um dos fatores associados ao estilo de vida, sendo responsável
por acelerar o processo de envelhecimento, diminuindo a qualidade
de vida do idoso e reduzindo sua longevidade (FECHINE; TROM-
PIERI, 2012).
Na atualidade, o tabagismo é considerado um problema de saúde
pública onde se observa a alta prevalência de fumantes e também as
altas taxas de mortalidade decorrentes das doenças relacionadas ao
tabaco (MIRRA et al., 2010).
Segundo Araújo (2009) o tabagismo é uma doença crônica recor-
rente cujo ciclo se inicia ainda na infância/adolescência e se mantém
na vida adulta, representando a maior causa evitável de doenças e
mortes precoces em todo o mundo e um fator de risco para 55 doen-
ças provocadas pela exposição ativa ou passiva aos componentes do
tabaco. A mortalidade anual relacionada ao tabaco, no mundo, é de
5,4 milhões de pessoas, sendo um óbito a cada dez adultos, dos quais
70% em países em desenvolvimento. No Brasil, ocorrem 200 mil óbi-
tos por ano relacionados ao uso do cigarro (MIRRA et al., 2010).
A cessação do tabagismo é uma das medidas que podem ser ado-
tadas para que a população idosa obtenha uma melhor qualidade
de vida. Fontanella e Secco (2012, p.169) afirmam que “em qualquer
fase do ciclo vital e para qualquer sexo, a cessação do uso dotabaco
promove benefícios à saúde, sobretudo diminuindo riscos cardio-
vasculares e de alguns cânceres”.
Na abordagem aos pacientes tabagistas idosos se faz importante a
compreensão das peculiaridades próprias do envelhecimento, como
as doenças crônicas e os fatores sociais como o isolamento social e
a aposentadoria. Para além do descrito, apresenta-se a dependência
nicotínica, que segundo Carvalho et al., (2013) é aquela que possui
uma relação complexa de estímulos ambientais, de hábitos pessoais,
condicionantes psicossociais e ainda as ações biológicas da nicotina
no organismo.
Observado o exposto, a relação envelhecimento humano e ta-
bagismo, o presente estudo objetivou descrever o perfil das pessoas
idosas que procuraram o Programa de Tratamento Multidisciplinar

205
de Tabagistas do Hospital Universitário Alcides Carneiro – HUAC,
Campina Grande, Paraíba.

REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Brito (2008) a transição demográfica no Brasil surge
como consequência, dentre outros indicadores, da redução da taxa
de mortalidade, da queda na taxa de fecundidade e do aumento da
expectativa de vida, produzindo um fenômeno mundialmente co-
nhecido como “envelhecimento populacional”.
Conforme indicadores sociodemográficos e de saúde do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2009), o grupo etário
de 60 anos ou mais, irá se duplicar, em termos absolutos, no período
de 2000 a 2020, passando de 13,9 para 28,3 milhões, e em 2050 será
de 64 milhões, fazendo-se relevantes estudos e práticas voltadas à
promoção da qualidade de vida desta população.
O índice de envelhecimento é um indicador do processo de enve-
lhecimento da população brasileira, onde em 2008 existia 24,7 idosos
de 65 anos ou mais de idade para cada grupo de 100 crianças de 0 a
14 anos, registrando-se assim, um crescimento de 170% da proporção
de idosos (BRASIL, 2010). Esse indicador de envelhecimento e os de-
mais dados que demonstram o processo ascendente de aumento da
população idosa geram a necessidade de compreensão dos agravos
à saúde mais prevalentes nesta faixa etária, para que, a partir destes
conhecimentos seja possível intervir de maneira eficiente e eficaz na
saúde destes indivíduos.
Nas doenças que acometem a população idosa atual são prevalen-
tes as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), subgrupo das
Doenças e Agravos Não Transmissísveis (DANTs). No Brasil, essas
doenças são responsáveis por 72% da mortalidade, (31,3%,) doenças
do aparelho circulatório, câncer (16,3%), diabetes (5,2%), e a doença
respiratória crônica (5,8%), atingindo indivíduos de todas as cama-
das sociais e econômicas, porém com maior intensidade nos grupos
de maior vulnerabilidade, como aqueles de baixa escolaridade e os
idosos (BRASIL, 2011).
As DCNTs são as formas de adoecimento mais frequentes em
pessoas idosas, visto o próprio fator de cronicidade da doença se

206
desenvolver com o passar do tempo, com períodos variados de latên-
cia. Outro fator é a vulnerabilidade própria do envelhecimento, onde
há uma exposição a diversos fatores de risco e a prática de hábitos de
vida prejudiciais à saúde, como é o caso da utilização prolongada de
substâncias psicoativas prejudiciais à saúde, como o tabaco.
O tabagismo é classificado pela Classificação Internacional de
Doenças (10ª revisão – CID-10) como um transtorno mental e de
comportamento relacionado às substâncias psicoativas (ZAITUNE
et al., 2012).
Com o estado de transição, seja ela, demográfica ou epidemio-
lógica, é inegável a colocação de alguns focos para estudos e inter-
venções da saúde coletiva como é caso do envelhecimento humano.
Devem-se considerar as características, consequências e condições
de vida e saúde dos idosos, sendo ponto-chave da presente pesquisa,
o tabagismo, que tem como substância psicoativa a nicotina, respon-
sável pela dependência dos usuários. As drogas psicoativas represen-
tam um fator de risco relevante para várias formas de adoecimento
de toda a população, inclusive dos idosos.
As drogas psicoativas são aquelas que têm a propriedade de al-
terar o estado mental do indivíduo, sendo utilizadas há milhares de
anos, acompanhando toda a história da humanidade (BRASIL, 2013).
De acordo com Pillon et al., (2010), compreende-se que a utili-
zação de substâncias psicoativas também representa, na atualidade,
uma preocupação em termos de saúde pública. As relações do indi-
víduo com as substâncias psicoativas variam de acordo com o con-
texto, podendo ser inofensivas e com riscos mínimos, mas podem
também assumir padrões de utilização gerando prejuízos biopsicos-
sociais ao indivíduo (BRASIL, 2013).
Em termos de dados epidemiológicos para o tabagismo os autores
Dias-damé, Cesar e Silva (2011) dizem que o tabagismo corresponde
a principal causa de morte para metade dos seus usuários, ocorrendo
uma taxa de 50% de óbitos de usuários do tabaco numa faixa etária
de 35 aos 69 anos de idade, visualizando que nenhum outro fator de
risco é tão devastador quanto o cigarro.
Peixoto, Firmo e Lima-Costa (2006) afirmam que os idosos cor-
respondem a uma faixa etária que apresenta maior prevalência de

207
doenças e agravos crônicos, que podem não estar relacionados ao
tabaco, porém a continuidade do uso do cigarro corresponde a um
fator que contribui para o maior risco de complicações, de surgi-
mento de comorbidades e dos prejuízos terapêuticos decorrentes do
efeito do fumo no metabolismo de vários medicamentos.
A utilização do tabaco e outras substâncias psicoativas podem ser
tidas como consequência de uma diversidade de fatores sejam eles de
risco ou de proteção (BRASIL, 2013).
Fatores de risco podem ser entendidos como aqueles que con-
vergem para a construção das circunstâncias do uso abusivo, já os
fatores de proteção são aqueles que colaboram para que o indivíduo
ainda que tenha contato com a droga possa se proteger (BRASIL,
2013).
Os autores Seabra, Faria e Santos (2011) mostram o tabagismo
como um fator de risco para o desencadeamento da dependência ni-
cotínica na população atual de idosos, visto o prolongado período de
tempo o uso do tabaco que há alguns anos era visto como um sím-
bolo que impunha e remetia a status, independência na sociedade,
especialmente nas mulheres. Atualmente são diversos os fatores de
risco que conduzem o indivíduo a utilização do tabaco, tornando-o
dependente dele.
O tabagismo possui suas peculiaridades e merece ser entendido
como doença de grande relevância a ser observada em indivíduos
idosos, visto o grande período de latência para o desencadeamento
de alterações clínicas, como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
- DPOC. Araújo (2009, p.24) afirma que:

Em geral, o fumante não costuma atribuir ao tabaco


os primeiros sinais de distúrbios orgânicos como,
por exemplo, a queda no desempenho em ativida-
des físicas, crendo tratar-se de cansaço por estresse.
Assim, a maioria dos fumantes busca ajuda tera-
pêutica somente quando surgem manifestações de
alguma doença relacionada ao tabaco (DRT) como,
por exemplo, DPOC, ou se precisam parar por algu-
ma razão temporal como uma cirurgia.

208
Diante do exposto, faz-se necessário a cessação da dependência
do tabaco como uma alternativa para que se tenha uma redução dos
danos que o cigarro pode causar. Carvalho et al., (2013) afirmam que
são diversos os benefícios que podem ser obtidos com a cessação
do tabagismo, como a redução do risco de adoecer, o controle das
doenças pré-existentes, o melhoramento da qualidade de vida e até
mesmo da expectativa de vida, onde nos idosos que utilizam até uma
carteira de cigarros por dia, há aumento de dois a três anos na expec-
tativa de vida após abandono do tabagismo.
O sucesso na cessação do tabagismo é tão maior quanto mais
intensiva a abordagem. Tanto a abordagem individual quanto a em
grupo são eficazes, sendo ideal um tempo de abordagem de 90 mi-
nutos, e um mínimo de quatro sessões para resultados satisfatórios
(MIRRA et al., 2010).
São várias as estratégias de intervenção para o tabagismo no
mundo. A Convenção- Quadro é o primeiro tratado internacional
de saúde pública, elaborado pela Organização Mundial de Saúde e
aprovada em 2003, tem o objetivo de reduzir o consumo e a exposi-
ção ao tabaco (RAMOS; SOARES; VIEGAS, 2009).
No Brasil, merece destaque o Programa Nacional de Controle do
Tabagismo que é tido como um dos mais abrangentes entre os países
em desenvolvimento, com foco na eliminação dos fatores de risco
para o consumo como a proibição da propaganda, a obrigatoriedade
das imagens de advertência nas carteiras de cigarro e restrições ao
fumo em ambientes fechados de uso coletivo (BARROS et al., 2011).
Diante das medidas para a recuperação dos tabagistas é impor-
tante salientar que o uso ou a dependência da droga não restringe o
indivíduo à condenação de nunca se recuperar (BRASIL, 2013).
Goulart et al., (2010) mostram em seu estudo que a cessação do
fumo deve ser feita com auxílio médico tendo em vista que uma
orientação não especializada tem taxa de sucesso de apenas 6%.
O autor Araújo (2009, p.25) orienta quanto ao tratamento que
se deve realizar diante de um paciente que busca ajuda profissional:

1) Colher história clínica completa, incluindo pre-


sença de co-morbidades e outros fatores de risco; 2)

209
levantar dados relativos a dependência e a atitude
do fumante diante desta; 3) valorizar o estágio de
motivação em que se encontra o fumante; 4) valo-
rizar o grau de dependência (escala de Fagerström).

Segundo as diretrizes para a cessação do tabagismo da Sociedade


Brasileira de Pneumologia e Tisiologia - SBPT (2008), o fumante,
ao ser submetido a avaliação clínica na admissão ao programa de
cessação do tabagismo, seja ele saudável, com doenças relacionadas
ao tabagismo ou com outras comorbidades, deve objetivar a recon-
quista da saúde e da qualidade de vida.
No Brasil são poucos os serviços públicos especializados no tra-
tamento intensivo do fumante e infelizmente os dados que existem
disponíveis sobre as características dos pacientes que procuram es-
ses serviços são escassos, visto que o conhecimento do público-alvo
é fundamental para que os programas sejam estruturados de forma
a atender as necessidades específicas de cada população, como é o
caso dos idosos, que necessitam de uma abordagem ainda mais es-
pecífica (CARAM et al., 2009). Diante desta realidade este estudo
surge como um diferencial para se compreender o perfil das pessoas
idosas que procuram espontaneamente serviços para tratamento da
dependência da nicotina, podendo desta forma entender a multidi-
mensionalidade dos fatores que interferem no bom andamento da
terapêutica que será adotada.
O importante é que o tabagismo seja compreendido como uma
doença e não como um “estilo de vida”, devendo existir uma gran-
de preocupação com o diagnóstico e a orientação terapêutica ade-
quada por todos os profissionais sempre existindo uma associação
entre a terapia cognitiva-comportamental e a terapia farmacológica
(ARAÚJO, 2009).

REFERENCIAL METODOLÓGICO
Este trabalho se configura como um estudo de natureza descritiva
que permitirá uma demonstração de resultados de forma quantitati-
va, baseado em dados de pesquisa documental.
De acordo com Prodanov e Freitas (2013, p.52) a pesquisa

210
descritiva acontece:

Quando o pesquisador apenas registra e descreve os


fatos observados sem interferir neles. Visa a descre-
ver as características de determinada população ou
fenômeno ou o estabelecimento de relações entre
variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de
coleta de dados: questionário e observação sistemá-
tica. Assume, em geral, a forma de Levantamento.

Nas pesquisas descritivas ocorre a observação, registro, análise,


classificação e interpretação dos dados sem que haja interferência do
pesquisador (PRODANOV; FREITAS, 2013).
Do ponto de vista da abordagem do problema que o presente es-
tudo trata, pode-se entender esta pesquisa como de cunho quantita-
tiva, na qual:

Considera o que pode ser quantificável, o que sig-


nifica traduzir em números, opiniões e informações
para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de re-
cursos e de técnicas estatísticas (percentagem, mé-
dia, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de
correlação, análise de regressão) (KAUARK; MA-
NHÃES; MEDEIROS, 2010, p.26).

A pesquisa documental, por sua vez, é aquela que é elaborada a


partir de materiais que não receberam tratamento analítico, desta-
cando-se por poder organizar informações que se encontram dis-
persas, conferindo-lhe importância como fonte de conhecimentos
(PRODANOV; FREITAS, 2013).
Esta pesquisa foi realizada a partir dos questionários respondidos
pelos usuários do Projeto de Extensão: “Tratamento do Tabagismo:
enfoque multidisciplinar”, desenvolvido desde 2008, fruto de uma
parceria da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Uni-
versidade Estadual da Paraíba (UEPB), Faculdade Maurício de Nas-
sau, as quais cooperam com os acadêmicos dos cursos de farmácia,

211
medicina, psicologia, nutrição e odontologia; o Hospital Universi-
tário Alcides Carneiro (HUAC), caracterizando-se como local sede
das intervenções e o Laboratório Eurofarma, fornecedor do medi-
camento utilizado no tratamento dos tabagistas. Os atendimentos
são voltados à demanda espontânea de tabagistas do município de
Campina Grande- PB e cidades circunvizinhas.
A população compreendeu todas as pessoas assistidas pelo pro-
grama de tratamento de tabagistas nos anos de 2012 e 2013. A amos-
tra envolveu 49 idosos de ambos os sexos, como idade igual ou supe-
rior a 60 anos, que passaram pelo acompanhamento farmacológico
durante as entrevistas que fazem parte do programa de tratamento.
Foram considerados sujeitos da pesquisa os pacientes do serviço
de tratamento classificados como idosos de acordo com o Estatuto
do Idoso, os quais deveriam possuir idade igual ou superior a 60
anos, ter participado da entrevista com os acadêmicos do projeto e
respondido ao questionário de atendimento farmacológico, perten-
cer a ambos os sexos.
A coleta de dados se deu de forma secundária, onde se utilizou
os questionários de Avaliação Farmacêutica do Paciente dos anos de
2012 e 2013. Este questionário engloba questões objetivas e de múlti-
pla escolha referentes á caracterização dos usuários, o perfil de utili-
zação do tabaco, doenças que o usuário autor refere, questões acerca
de motivações para a cessação do uso. O questionário supracitado
não teve seu total de questionamentos utilizados para esta pesquisa,
tendo-se utilizado apenas aquelas que se fizeram de maior relevância
para compreender o perfil dos usuários idosos e aquelas que estavam
em maior concordância para a área de formação da pesquisadora,
podendo-se assim obter uma descrição mais apurada e consistente
dos resultados obtidos nesta pesquisa.
O procedimento de coleta durou de setembro de 2013 a janeiro
de 2014, visto a necessidade de aguardar a conclusão dos atendimen-
tos até dezembro de 2013, para uma melhor delimitação do espaço
de tempo dos atendimentos, assim como, obtenção de uma maior
abrangência de usuários atendidos no serviço.
O processamento e análise dos dados foram realizados utilizan-
do-se o programa SPSS (Statistical Packag for the Social Sciences)

212
versão 13.0, onde se pode realizar a tabulação dos dados e sua des-
crição a partir de técnicas estatísticas descritivas, apresentando os
dados em forma de tabelas e gráficos.

DADOS E ANÁLISE DA PESQUISA


Quanto às variáveis sociodemográficas, dos 253 questionários de
usuários atendidos no serviço de tratamento de tabagistas pelos ex-
tensionistas do Programa de Educação e Prevenção ao uso de Álcool,
Tabaco e Outras Drogas (PEPAD), entre os anos de 2012 e 2013, n=
49 (19,4%) corresponderam às pessoas com faixa etária igual ou su-
perior a 60 anos.
A média de idade encontrada foi de 65,5 adotando-se um Desvio
Padrão (DP) ±4,21, com idade variando do valor mínimo de 60 e
máximo de 82.
Quanto ao sexo houve um predomínio do sexo feminino corres-
pondendo a 67,3% das pessoas idosas que fazem parte do programa.
Este dado pode ser observado em outros estudos.
De acordo Mirra et al., (2010) tanto indivíduos do sexo mascu-
lino quanto feminino têm igual benefício das mesmas intervenções
no tratamento do tabagismo, considerando-se logicamente as carac-
terísticas individuais.
O mesmo autor afirma que pessoas do sexo feminino possuem
maior receio do ganho ponderal e da ocorrência de depressão no
abandono ao fumo, mas são mais motivadas pelos impactos posi-
tivos da cessação, como a prevenção da osteoporose, procurando
assimtratamento.
Na Tabela 1 é possível observar a relação dos percentuais de idade
e sexo:

Tabela 1 – Distribuição de faixa etária e sexo dos idosos


atendidos no programa de tratamento de tabagistas do
HUAC, 2012-2013.
Idade Sexo Total
Feminino Masculino
60 12,1% ,0% 8,2%

213
61 ,0% 12,5% 4,1%
62 6,1% 25,0% 12,2%
63 15,2% 6,3% 12,2%
64 12,1% ,0% 8,2%
65 6,1% 6,3% 6,1%
66 18,2% 18,8% 18,4%
67 9,1% ,0% 6,1%
68 9,1% 12,5% 10,2%
70 6,1% 6,3% 6,1%
71 3,0% ,0% 2,0%
73 3,0% ,0% 2,0%
76 ,0% 6,3% 2,0%
82 ,0% 6,3% 2,0%
Total 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Programa de Educação e Prevenção ao Uso de Álcool, Tabaco e Outras


Drogas - PEPAD, 2014.

Na Tabela 2 são observadas as comorbidades autorreferidas pelos


idosos. Foi obtido um percentual de 22,8% de idosos com hiperten-
são, 14,1% que declararam possuir artrite e 17,4% o percentual de ido-
sos que afirmaram não possuir nenhuma doença.
A hipertensão arterial, de acordo com Carvalho Filho e Netto
(2006), representa, na atualidade, um dos mais importantes fato-
res de incapacidade, tendo sua prevalência aumentada com a idade,
comprometendo mais de 60% dos indivíduos com mais de 65 anos.
Os mesmos autores realizando uma investigação dos fatores de
risco para a acentuação da hipertensão constataram, dentre outros,
o fumo com fator de complicações e agravos da hipertensão e das
doenças cardiovasculares, sendo sua cessação um passo fundamen-
tal no tratamento não-farmacológico da hipertensão (CARVALHO
FILHO; NETTO, 2006).
A artrite, segunda doença mais autorreferida pelos idosos des-
te estudo, consiste numa doença inflamatória crônica sistêmica
que possui etiologia desconhecida, é autoimune, sofrendo a influ-
ência de fatores genéticos, hormonais e ambientais, afetando mais

214
comumente mulheres entre 30 e 50 anos e sendo mais incidente até
os 85 anos (MONT’ALVERNE et al., 2011).
Na Tabela 2, observa-se a frequência e percentuais das doenças
autorreferidas pelos idosos:

Tabela 2 – Distribuição de frequência e percentuais das doenças


autorreferidas pelos idosos do programa de tratamento de
tabagistas do HUAC, 2012-2013.
Quais doenças você apresenta? Respostas

N %
Hipertensão 21 22,8%
Diabetes 8 8,7%
Epilepsia 1 1,1%
Dislipidemias 4 4,3%
Artrite 13 14,1%
Depressão 7 7,6%
Problema renal 3 3,3%
Asma 2 2,2%
Gastrite 8 8,7%
Outras 9 9,8%
Nenhuma 16 17,4%
Total 92 100,0%
Fonte: Programa de Educação e Prevenção ao Uso de Álcool, Tabaco e Outras
Drogas - PEPAD, 2014.

O Gráfico 1 aborda o perfil de dependência da nicotina, demons-


trando quantos cigarros os idosos fumavam ao dia, ou seja, o núme-
ro de cigarros que o fumante estava consumindo antes do tratamen-
to, visto que o Questionário de Avaliação Farmacêutica é aplicado
durante a primeira consulta de triagem do usuário.
Os resultados obtidos para esta questão podem ser visualizados
no Gráfico 1:

215
Gráfico 1- Quantidade de Cigarros fumados diariamente antes do início do
tratamento de tabagistas do HUAC, 2012-2013.

Fonte: O Autor, 2014

No Gráfico 1 é possível observar um percentual de 44,9% de ido-


sos que informaram fumar a quantidade de 20 cigarros ao dia, cor-
respondendo a uma carteira de cigarros. Esse questionamento é de
extrema relevância para avaliar o perfil de dependência do usuário.
A quantidade de cigarros fumados ao dia é uma das perguntas do
teste de Fagerström que possui medidas generalizadas para a depen-
dência da nicotina (MENESES-GAYA et al., 2009).
A quantidade de cigarros fumados ao dia faz parte da avaliação
do grau de dependência à nicotina do paciente e merece destaque
no enfoque terapêutico para que se possa realizar um planejamen-
to adequado no tratamento para a cessação do tabagismo (BRASIL,
2010).
A idade de iniciação do consumo do tabaco também represen-
ta uma variável relevante quando se fala em dependência, podendo
ser visualizada no Gráfico 2. Um percentual de 22,4% informou ter
iniciado aos 15 anos, seguido de 12,2% que informou ter iniciado o
consumo aos 18 anos. A média da idade de início foi de 15,27 ado-
tando-se um Desvio Padrão (DP) de ±5,003. As idades variaram
entre 7 e 36 anos, utilizando-se as medidas de mínimo e máximo,

216
respectivamente, em relação às idades de início informadas pelos
tabagistas. As demais idades de iniciação ao uso do tabaco são de-
monstradas no Gráfico 2:

Gráfico 2 – Idade de iniciação ao consumo do tabaco dos usuários do serviço


de tratamento de tabagistas do HUAC, 2012-2013.

Fonte: O Autor, 2014

De acordo com Araújo (2009), a idade de iniciação ao consumo


do tabaco geralmente ocorre na adolescência, sendo o tabagismo
muitas vezes considerado como uma patologia de cunho pediátrico,
visto que quanto mais precoce é o seu início, maiores serão o grau de
dependência e os problemas gerados por esta. Estes dados reforçam a
necessidade de intervenções primárias com crianças e adolescentes.
A curiosidade é um exemplo de fator de risco que pode levar à
experimentação, correspondendo ainda a uma característica do ado-
lescente (BRASIL, 2013).
A fase de construção de uma identidade própria faz com que a
população adolescente tenha maior vulnerabilidade para o uso de
substâncias psicoativas (SERRADILHA; RUIZ- MORENO; SEIF-
FERT, 2010).
Nas Diretrizes para Cessação do Consumo do Tabaco da SBPT

217
(2008) essa faixa etária também é falada, onde se tem que o consu-
mo do tabaco tem seu início geralmente na adolescência, em média
entre 13 e 14 anos de idade, destacando que quanto mais precoce o
seu início, maior a gravidade da dependência e os problemas a ela
associados.
Observadas as idades de iniciação é possível abordar o tempo de
consumo do tabaco pelos idosos. No Gráfico 3, encontra-se a distri-
buição dos percentuais relacionadas ao tempo de consumo do taba-
co pelos idosos, em anos. Em termos de dados mais significativos
pode-se observar 12,24% correspondendo aqueles que vêm fumando
há 50 anos.

Gráfico 3– Número de anos que o tabagista fuma todos os dias/HUAC,


2012-2013.

Fonte: O Autor, 2014

Compreendendo a idade de iniciação e o tempo de consumo, te-


mos que “o tabagismo é uma doença crônica recorrente cujo ciclo
se inicia ainda na infância/adolescência e se mantém na vida adulta”
(ARAÚJO, 2009, p.21).
O envelhecimento é uma fase da vida em que já se manifestam as
comorbidades do tabagismo devido ao longo período de exposição
ao tabaco e ao próprio processo de envelhecimento que fazem com

218
que sejam maiores as chances de adoecimento (SATTLER; CADE,
2013).
A exposição mais longa ao fumo, a cigarros sem filtro e com ele-
vados teores de nicotina, faz com que os idosos possuam maior ris-
co atual de apresentar doenças relacionadas ao cigarro (PEIXOTO;
FIRMO; LIMA-COSTA, 2006).
A Tabela 3 mostra outro dado relevante deste estudo, a quantida-
de de vezes que os idosos tentaram cessar o uso do tabaco durante
toda a sua vida por 24 horas. Na amostra 75,5% dos idosos tentaram
parar o fumo, com 51% correspondendo aos que tentaram cessar o
fumo pelo menos uma vez. Sendo 24,5% os que afirmaram nunca
terem tentado parar de fumar durante toda a sua vida. Os demais
números podem ser observados na Tabela 3:

Tabela 3 – Quantidade de vezes que tentou parar de fumar por pelo menos 24
horas durante toda a vida / HUAC, 2012-2013
Quantas vezes Frequência % % %
tentou parar de válido acum.
fumar?
0 12 24,5 24,5 24,5
1 25 51,0 51,0 75,5

2 3 6,1 6,1 81,6

3 2 4,1 4,1 85,7

4 2 4,1 4,1 89,8

8 2 4,1 4,1 93,9

10 3 6,1 6,1 100,0

Total 49 100,0 100,0

Fonte: Programa de Educação e Prevenção ao Uso de Álcool, Tabaco e Outras


Drogas - PEPAD, 2014.

O tratamento farmacológico é considerado uma medida efetiva


para a cessação do tabagismo para todo fumante acima de 18 anos
que apresenta um consumo maior do que 10 cigarros/dia (BRASIL,

219
2010).
No questionário utilizado para este estudo, os idosos, quando
interrogados sobre a participação em outros programas de trata-
mento, 91,8% dos idosos informaram nunca terem participado de
nenhum outro serviço que oferecesse atividades para o tratamento
do tabagismo, demonstrando a imensa relevância do programa para
a melhoria da qualidade de vida destes indivíduos visto a procura ser
realizada por vontade própria do usuário.
As Diretrizes para cessação do tabagismo recomendam que exista
priorização do aconselhamento profissional, aumentando as chances
do tabagista cessar o hábito de fumar (BRASIL, 2008).
Ainda que os idosos não tenham tido acesso a serviços de trata-
mento eles foram questionados acerca da utilização de algum méto-
do farmacológico para a cessação do fumo, tendo 44,9% informado
ter utilizado algum método farmacológico.
Os métodos farmacológicos variaram entre os adesivos de nicoti-
na, comprimidos, pastilhas, spray nasal ou outros tipos de fármacos
utilizados para a cessação da dependência da nicotina. A Tabela 4
mostra a distribuição destes métodos farmacológicos:

Tabela 4 – Distribuição em frequência e percentuais dos fármacos utilizados


pelos idosos para a cessação do fumo / HUAC, 2012-2013
TIPO DE FARMACOTERAPIA N % % dos casos

Adesivos de nicotina 5 9,6% 10,2%


Pastilhas de nicotina 3 5,8% 6,1%
Spray Nasal 1 1,9% 2,0%
Comprimido 14 26,9% 28,6%
Outro 2 3,8% 4,1%
Nenhum 27 51,9% 55,1%
Total 52 100,0% 106,1%

Fonte: Programa de Educação e Prevenção ao Uso de Álcool, Tabaco e Outras


Drogas –PEPAD, 2014.

De acordo com a Tabela 4, o comprimido foi referido por 26,9%,

220
seguido por 9,6% dos que informaram já ter utilizado adesivos.
O tratamento farmacológico deve ser utilizado objetivando a
complementação da terapia cognitivo-comportamental, tendo tam-
bém como efeito o alívio dos sintomas da abstinência (ARAÚJO,
2009).
Um aspecto relevante quando se aborda o tratamento, encontra-
se no fato de que as terapêuticas adotadas não devem ser baseadas
unicamente no afastamento e eliminação da droga do organismo,
mas também abordar aspectos psicológicos e socioculturais (BRA-
SIL, 2013).
Nas recomendações para conselheiros da Secretaria Nacional de
Políticas sobre drogas (BRASIL, 2013) mostra-se evidente que na
atualidade os indivíduos usuários de drogas são grupos heterogêne-
os que necessitam de abordagens terapêuticas diferenciadas, ocor-
rendo pelo fato da dependência envolver aspectos biológicos, sociais
e psicológicos, indicando para intervenções que englobem todas as
áreas relacionadas.
No Programa Multidisciplinar para Tratamento de Tabagistas
onde o presente estudo foi realizado, observa-se a abordagem tera-
pêutica que prioriza o indivíduo em sua integralidade, não restrin-
gindo sua dependência nicotínica apenas às doenças biológicas que
esta pode desencadear, mas também observando os aspectos sociais
e psicológicos que estão presentes neste e desta forma podendo in-
terferir multidimensionalmente a partir de profissionais de diversas
áreas da saúde que atuarão no tratamento do tabagista.
Bicalho e Oliveira (2011) afirmam quanto a abordagem multidis-
ciplinar que sua principal característica é a justaposição das ideias,
estando a multidisciplinaridade hierarquicamente no primeiro nível,
inferior, de integração entre as disciplinas, quando comparada à in-
ter e à transdisciplinaridade.
Por último, foram perguntadas as motivações que conduziram o
idoso a procurar o programa de tratamento de tabagistas.
As motivações para a cessação questionaram acerca de preocu-
pações com a saúde atual, com a família, com a saúde futura. Outros
motivos foram abordados, como a pressão colocada pela família e
pela sociedade para que o idoso se liberte da dependência.

221
Todas as motivações foram listadas e descritas em termos de nú-
meros absolutos e percentuais, entendendo-se sempre a quantidade
de respostas num universo de n=49. A Tabela 5 mostra as motiva-
ções para a cessação do tabagismo pelos idosos atendidos no progra-
ma de tratamento.

Tabela 5 – Distribuição em números absolutos e percentuais das motivações


que levaram os idosos a procurarem tratamento para o tabagismo/HUAC,
2012-2013
Quais motivações o levaram a procurar tratamento para N % do total de
o tabagismo casos

Porque está afetando minha saúde 43 91,5%


Outras pessoas estão me pressionando 30 63,8%
Pelo bem estar da minha família 36 76,6%
Fumar é anti-social 29 61,7%
Porque gasto muito dinheiro com cigarro 30 63,8%

Estou preocupado com minha saúde no futuro 36 76,6%


Porque meus filhos pedem 33 70,2%
Porque não gosto de ser dependente 32 68,1%
Fumar é um mau exemplo para as crianças 26 55,3%
Por conta das restrições de fumar em ambientes fechados 25 53,2%

Fonte: Programa de Educação e Prevenção ao Uso de Álcool, Tabaco e Outras


Drogas –PEPAD, 2014.

A compreensão do tabagista em sua totalidade é essencial para


que se tenha sucesso no processo de cessação do fumo. As motiva-
ções para fumar ou deixar de fumar merecem enfoque na aborda-
gem do dependente do tabaco (SANTOS et al., 2011).
Os 91,5% dos tabagistas referiram o fato de o tabagismo estar afe-
tando sua saúde. Este dado pode ser comparado com dados de estudo
semelhante de Russo e Azevedo (2010) onde 69,8% dos pacientes en-
trevistados também citaram esse fator como a principal motivação,
podendo sugerir a relevância da informação dada pelo profissional

222
de saúde no seu atendimento clínico e um ponto incentivador para o
tratamento que deve ser trabalhado pelos profissionais.
A preocupação com o bem estar da família (76,6%) e a preocupa-
ção com a saúde no futuro (76,6%) são, em segundo lugar, as maiores
motivações dos tabagistas para cessar o fumo.
Outros fatores motivacionais foram abordados em grande escala
pelos tabagistas, o fumo ser anti-social (61,7%) e o fato de não gos-
tar de ser dependente (68,1%). Disto, pode-se compreender o fato
do hábito de fumar ser na atualidade um comportamento rejeita-
do socialmente pelos malefícios que causam à saúde e também pela
maior ação das políticas e legislações que informam sobre o seu uso
e consequências.
A compreensão dos fatores motivacionais para a cessação é im-
portante visto que o tratamento implicará na complexa demanda dos
fatores biopsicossociais que serão identificados pela equipe multidis-
ciplinar, fazendo com que todas as questões envolvidas recebam seus
devidos tratamentos.

CONCLUSÃO
Os achados deste estudo mostraram que 67,3% dos pacientes que
procuraram o programa de tratamento da dependência à nicotina
pertenciam ao gênero feminino. Demostrando que mulheres se pre-
ocupam e buscam com mais frequência cuidar da saúde.
Entre as doenças crônicas, a hipertensão arterial foi a mais citada
com 22,4%, seguida de 14,1% para artrite, tornando evidente a rela-
ção entre tabagismo, envelhecimento e hipertensão.
A quantidade de cigarros fumados ao dia correspondeu em 44,9%
dos pacientes a 20
cigarros. Já a idade de iniciação ao consumo aconteceu na ado-
lescência, ocasionando nos indivíduos, na atualidade idosa, conside-
rável tempo de exposição. Assim, 75,5% dos idosos que já tentaram
abandonar o fumo, porém poucos tiveram acesso a outros progra-
mas de tratamento, 44,9% dos pacientes já utilizaram algum tipo
de tratamento farmacológico para a cessação do hábito de fumar. O
fator motivacional para buscar tratamento se deve ao fato do fumo
estar afetando sua saúde.

223
O estudo traçou o perfil dos idosos atendidos, possibilitando a to-
mada de decisões para aperfeiçoamento e implantação de atividades
voltadas a essa população em tratamento do tabagismo.
O tabagismo como um dos grandes fatores desencadeadores de
doenças e consequentemente com redutor da qualidade de vida do
idoso fumante faz com que os resultados deste estudo apontem para
a necessidade de incentivo a estratégias para cessação do tabagismo
em idosos, propondo ações específicas para este grupo etário o qual
apresenta maior vulnerabilidade à complicações e até mesmo à mor-
te pela permanência do comportamento utilização do tabaco.
O estudo realizado apresentou limitações quanto à sua amostra.
A definição da amostra pode ser considerada um fator limitante, por
ela não ser aleatória. O tamanho da amostra também se configura
como uma limitação importante, onde ao se apresentar em tamanho
reduzido, nos permite apenas considerar os resultados para a popu-
lação em questão.

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228
CUIDADO FARMACÊUTICO
DIRIGIDO A TABAGISTAS EM
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO COM
CLORIDRATO DE BUPROPIONA

Clésia Oliveira Pachú


Bruna Moura Ribeiro Nunes
Luana Silva Barbosa
Mateus Raposo dos Santos
Matheus Vinícius Nascimento Cabral
Cibelly Alves Santos
Marília Gabrielly Pereira Maniçoba
Genilza de Santana
Flávia Gabryelle de Lima Barbosa
Mirelly Barbosa Santos
Janielle Silva Marinho de Araújo
Gabryella Garcia Guedes

INTRODUÇÃO
O tabagismo se inicia por meio de vários fatores, dentre eles, estão
o fácil acesso, o baixo custo e durante longos anos, a influência da
mídia promovendo apenas o lado positivo do uso do tabaco. O ato
de fumar tornou-se natural em inúmeras sociedades, devido a estra-
tégias dos fabricantes para aumentar o consumo do tabaco. Diante
disso, o tabagismo apresenta índices em constante avanço, sendo
considerada a principal causa de mortes evitáveis no mundo todo
(INCA, 2007).

229
O tabagismo é um obstáculo para o desenvolvimento, pois com
o uso indiscriminado do tabaco, os usuários tornam-se dependentes
da nicotina, e, por conseguinte, também são afetados por doenças
decorrentes de outras substâncias contidas no cigarro como alcatrão
e monóxido de carbono. Estas implicando em grande parte dos usu-
ários serem acometidos por doenças, e estes, muitas vezes, tornam-
se incapazes de gerar e prover renda a si e aos seus familiares.
São mais de 50 tipos de doenças relacionadas com o uso do ta-
baco, a de maior destaque, o câncer, seguida por doenças cardio-
vasculares e doenças pulmonares. O tabagismo se atribui a: 85% das
mortes por doença pulmonar (enfisema), 45% das mortes por infarto
do miocárdio, 30% das mortes por câncer e 25% das mortes por der-
rames (INCA, 2003).
Diante de todos os aspectos negativos em consequência do taba-
gismo, torna-se de suma importância intervenções que reduzam o
risco de mortalidades e também reduzam os custos de tratamentos
impostos aos usuários. E essa redução de riscos e custos pode ser
realizada por meio do Cuidado Farmacêutico, na orientação e acom-
panhamento, principalmente farmacoterapêutico, do paciente para
cessação do fumo.
Esta prática compreende valores éticos, competências, habilida-
des, compromissos e responsabilidades em prol da prevenção de do-
enças e da promoção e recuperação da saúde (TORRES, 2011). Na
Atenção Farmacêutica, o que se busca é desenvolver uma prática fo-
cada no paciente e voltada à resolução e prevenção de problemas far-
macoterapêuticos, fundamentalmente pela necessidade de redução
de morbimortalidades relacionadas aos medicamentos e ao fumo.
A abordagem farmacêutica, dependendo da situação, pode apre-
sentar melhores resultados, se apoiada por medicamentos que dimi-
nuem sintomas da síndrome de abstinência. É importante enfatizar
que o apoio farmacoterapêutico tem papel bem definido no processo
de cessação do tabagismo, minimizando sintomas da abstinência ao
tabaco e facilitando a abordagem comportamental.
Atualmente, existem medicamentos com eficácia comprovada
no combate ao tabagismo. A bupropiona é o medicamento de elei-
ção nesse grupo, pois na maioria dos casos não apresenta efeitos

230
colaterais importantes (BRASIL, 2001). A Bupropiona é um antide-
pressivo atípico de ação lenta. Este por sua vez, diminui os sintomas
relacionados à síndrome de abstinência e a vontade de fazer uso do
cigarro. No entanto, o medicamento pode causar insônia, boca seca,
cefaleia e, em casos mais graves, convulsões, taquicardia, hiperten-
são arterial, urticária e manchas na pele. Por isso é indispensável o
acompanhamento da equipe farmacêutica no tratamento (NUNES;
CASTRO, 2011).
Por intermédio de análise criteriosa do tabagista é possível ao
farmacêutico estabelecer a(s) necessidade(s) e o(s) problema(s) de
saúde do indivíduo, identificando a presença de sinais e/ou sintomas
de alerta, como interações medicamentosas e reações adversas à bu-
propiona. Nesses casos, avalia-se o encaminhamento a outro profis-
sional, objetivando a efetividade e segurança do tratamento.
A presente intervenção utilizou a metodologia ativa do tipo
Aprendizagem Baseada em Problemas. Foi realizado no Hospital
Universitário Alcides Carneiro (HUAC) pelo Programa de Trata-
mento de Tabagistas com tabagistas em tratamento farmacológico
com Cloridrato de Bupropiona (BUP), promovendo qualidade na
terapia e visando reduzir o número de tabagistas na cidade de Cam-
pina Grande-PB. Foram assistidos tabagistas que de forma volun-
tária buscaram tratamento com intuito de abandonar o cigarro. Na
abordagem foi realizada entrevista acerca do perfil social e histórico
farmacoterapêutico, nível de dependência à nicotina e motivação
para parar de fumar.
O tabagismo está associado a enormes custos sociais e econômi-
cos originários do aumento de morbi mortalidades relacionadas ao
fumo (NUNES; CASTRO, 2011). A magnitude dos custos relaciona-
dos ao tabagismo impõe uma carga importante tanto para o indi-
víduo quanto para os sistemas de saúde. Estimativas conservadoras
indicam que os custos em saúde atribuíveis às doenças tabaco-re-
lacionadas alcançam em termos globais cerca de USD 500 bilhões
por ano, devido à redução da produtividade, adoecimento e mortes
prematuras (PINTO; PICHON-RIVIERE; BARDACH, 2015).
De acordo com estimativas do Banco Mundial, os gastos rela-
cionados com o fumo representam 6% a 15% dos custos anuais de

231
países desenvolvidos. No Brasil, todo ano, 200 mil pessoas morrem
em consequência do tabagismo. Aponta o referido estudo que cerca
de 90% dos cânceres de pulmão e 30% dos outros tipos de câncer são
devidos ao tabaco (NUNES; CASTRO, 2011). O papel fundamental
de estratégias de marketing sofisticadas e globalizadas no fomento
da expansão do consumo em escala planetária fez a OMS considerar
o tabagismo uma doença transmissível pela publicidade (CAVAL-
CANTE, 2005).
Dessa forma, promover a redução do consumo de cigarros é im-
prescindível. Para um efetivo controle do tabagismo é preciso que se
entenda que o problema do tabagismo envolve questões que não se
limitam ao indivíduo fumante. A problemática é resultante de um
contexto social, político e econômico que historicamente tem favo-
recido que indivíduos comecem a fumar e dificultado outros a dei-
xarem de fumar (INCA, 2003).
Medidas como prevenção, promoção de ambientes livres de fumo
e tratamento do tabagismo devem ser prioridade de saúde pública.
Os malefícios causados são inúmeros e o alcance de pessoas que
consomem cigarros deve ser preconizado. Para isso, os programas
de controle ao tabagismo permitem que o profissional de saúde, em
especial o farmacêutico, realize abordagem do tabagista, acompa-
nhando-o adequadamente de acordo com suas especificidades, au-
mentando a efetividade para cessação do tabagismo.
Objetivou-se abordagem por meio do cuidado farmacêutico ta-
bagistas em tratamento farmacológico com Cloridrato de Bupro-
piona (BUP), promovendo qualidade na terapia e visando reduzir o
número de tabagistas na cidade de Campina Grande-PB.

REFERENCIAL TEÓRICO

A EVOLUÇÃO DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA


A prática profissional do farmacêutico passou por mudanças e adap-
tações, até o surgimento da Atenção Farmacêutica como área de atu-
ação. Hepler e Strand, no ano de 1990, utilizaram pela primeira vez o
termo “Pharmaceutical Care”, que ao ser traduzido para o Português,
recebeu a denominação de Atenção Farmacêutica.

232
Em seu artigo, a atenção farmacêutica foi definida como a “pro-
visão responsável do tratamento farmacológico com o propósito de
alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida dos
pacientes”. Este conceito foi discutido, aceito e ampliado pela Orga-
nização Mundial de Saúde (OMS), na reunião de peritos da realizada
em Tóquio. Nesta reunião, foi designado ao farmacêutico o papel de
ser “dispensador de atenção à saúde, podendo participar ativamente
na prevenção de enfermidades e na promoção da saúde, concomi-
tantemente com outros membros da equipe de saúde” (OMS, 1994).
Debates e discussões surgiram na busca de aprimoramento e
adaptação da temática, para que esta fosse adequada para a realidade
de cada nação. Dentre estas adaptações, encontram-se a publicação
norte-americana Pharmaceutical Care Practice, proposta por Ci-
polle, Strand e Morley, na Universidade de Minnesota, em 1998. E a
abordagem da Espanha, que representa uma adaptação da proposta
de Minnesota para a população espanhola, com a utilização do ter-
mo Atención Farmacéutica e o desenvolvimento do modelo farma-
coterapêutico através da metodologia Dáder, desenvolvida por um
grupo de investigação em Atenção Farmacêutica da Universidade
de Granada. Na Espanha houve também a realização de consensos
para a definição de conceitos, modelos de acompanhamento farma-
coterapêutico e classificação de Problemas Relacionados ao uso de
Medicamentos (PRMs) (PEREIRA; FREITAS, 2008).
No Brasil, o termo Atenção Farmacêutica surgiu como propos-
ta do Consenso de Atenção Farmacêutica em 2002 e foi adotado a
partir de discussões realizadas por instituições como Ministério da
Saúde (MS), Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Or-
ganização Mundial da Saúde (OMS). Neste encontro, o conceito de
atenção farmacêutica foi reconhecido nacionalmente como:

Modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no


contexto da Assistência Farmacêutica, compreen-
dendo atitudes, valores éticos, comportamentos,
habilidades, compromissos e corresponsabilidades
na prevenção de doenças, promoção e recuperação
da saúde, de forma integrada à equipe de saúde.

233
Sendo a interação direta entre o farmacêutico e o
usuário, visando uma farmacoterapia racional e a
obtenção de resultados definidos e mensuráveis,
voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta
interação também deve envolver as concepções dos
seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades bio
-psico-sociais, sob a ótica da integralidade das ações
de saúde (CONSENSO BRASILEIRO DE ATEN-
ÇÃO FARMACÊUTICA, 2002).

Além disso, neste mesmo encontro foram definidos também os


macrocomponentes necessários para a prática da atenção farma-
cêutica, sendo estes a promoção do uso racional de medicamentos
(atenção em saúde), orientação farmacêutica, dispensação de medi-
camentos, atendimento farmacêutico, acompanhamento farmacote-
rapêutico e registro sistemático das atividades (PEREIRA; FREITAS,
2008; TORRES, 2008).
Contudo, a definição de Atenção Farmacêutica, aceita e citada
por pesquisadores como Hepler e Strand continua em seu processo
de adaptação, sendo atualmente aceita como a parte da prática far-
macêutica que permite a interação do farmacêutico com o paciente,
objetivando o atendimento das suas necessidades relacionadas aos
medicamentos.

PROBLEMAS RELACIONADOS A MEDICAMENTOS (PRMS)


E INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA
O ideal de assistência à saúde já foi excessivamente medicalizado
e mercantilizado, sendo o medicamento um dos, senão o principal
fator de recuperação da saúde. A relação médico-paciente era de-
pendente do medicamento, sendo praticamente impossível pensar
a prática médica sem a presença desses produtos, com inclusões de
tratamentos paliativos.
Neste contexto, a morbimortalidade relacionada ao uso irracio-
nal de medicamentos se tornou um grande problema de saúde pú-
blica, enquadrando-se nos problemas relacionados a medicamentos.
O termo Problemas Relacionados a Medicamentos (PRMs)

234
surgiu junto com a proposta de Atenção Farmacêutica. E, em 2002,
foi elaborado o Segundo Consenso de Granada sobre Problemas
Relacionados a Medicamentos que definiu PRM como sendo: “pro-
blemas de saúde, entendidos como resultados negativos, derivados
da farmacoterapia que, produzidos por diversas causas, conduzem à
não obtenção do objetivo terapêutico ou ao aparecimento de efeitos
indesejados” (CINFARMA, 2015).
Diversos fatores podem ser relatados como contribuintes para o
surgimento dos PRMs, dentre estes destacam-se a automedicação,
a não adesão ao tratamento, indicação incorreta do medicamento,
alta/baixa dosagem, entre outros. Com base nisso, o II consenso de
Granada classificou os PRMs em: Necessidade, onde o PRM está
diretamente relacionado com o uso do medicamento desnecessá-
rio e com o não recebimento do fármaco necessário; Efetividade,
o paciente sofre de um PRM em consequência de uma efetividade
quantitativa ou não quantitativa; Segurança, o paciente sofre de um
problema de saúde referente à uma insegurança quantitativa ou não
quantitativa.
Um estudo realizado na Espanha verificou que 1 em cada 3 pa-
cientes que procuram o serviço hospitalar de urgências o faz devido
a um PRM e que na maioria dos casos, cerca de 73,13%, são evitáveis
(CORRER, et al., 2007). Gerando assim, gastos enormes em todo o
mundo.
Desta maneira, o farmacêutico atua na prevenção de PRMs atra-
vés do estudo da farmacoterapia de cada paciente. Para tal são ana-
lisadas a presença de fármacos desnecessários, a efetividade dos fár-
macos utilizados, a aderência do paciente à farmacoterapia, além da
existência de efeitos adversos que promovam insegurança ao uso de
medicamentos e interações medicamentosas que venham a alterar
os efeitos destes.
As interações medicamentosas (IM) podem surgir do uso de dois
ou mais fármacos concomitantemente, assim como do uso de fárma-
cos com alimentos, bebidas e agentes ambientais ou químicos. Estas
interações podem resultar em leves danos a saúde do paciente ou em
complicações mais severas (PAULA et al., 2015).
As IM podem ser classificadas como interações graves, que são

235
potencialmente ameaçadoras, podendo levar a óbito ou sendo capa-
zes de causar danos permanentes; interações moderadas, cujos efei-
tos causam alguma alteração clínica no paciente exigindo tratamen-
to adicional, alteração da dose prescrita ou hospitalização; interações
leves, cujos efeitos são normalmente mais suaves, podendo ser incô-
modos ou passarem despercebidos, sem afetar significativamente o
efeito da terapia (SILVA; SANTOS, 2010).
O crescente desenvolvimento de novos fármacos, o uso abusi-
vo de medicamentos e prescrições com combinações cada vez mais
complexas, aumenta a prevalência de interações medicamentosas
potencialmente prejudiciais ao paciente. Os riscos e gravidade des-
tas interações são determinados por diversos fatores, entre os quais,
estágio da doença, duração do tratamento e associação de vários me-
dicamentos (HAMMESH, et al., 2008).
Fatores como a idade do paciente e presença de doenças podem
interferir na metabolização e eliminação dos fármacos, sendo fa-
tores que potencializam o surgimento de interações medicamento-
sas. Desta forma, os idosos por serem em sua maioria portadores
de doenças crônicas, fazem uso de inúmeros medicamentos e apre-
sentarem as funções hepáticas e renais deterioradas, implicando na
diminuição do metabolismo e eliminação dos fármacos se apresen-
tam como um grupo mais vulnerável a apresentar interações medi-
camentosas (PAULA et al,. 2015).
Por meio da análise das características clínicas e farmacológicas
dos pacientes, das drogas prescritas e dos eventos adversos é possí-
vel identificar quais pacientes estão mais susceptíveis a apresenta-
rem potenciais interações medicamentosas e desencadearem rea-
ções clínicas não desejadas. Nesse contexto, o farmacêutico possui a
formação profissional direcionada para o estudo dos fármacos e sua
atuação no organismo, evidencia-se como o profissional apto para
atuar na prevenção e resolução dos problemas relacionados aos me-
dicamentos e as possíveis reações clínicas indesejadas provenientes
de interações medicamentosas (PAULA et al., 2015).

236
ATENÇÃO FARMACÊUTICA NO TRATAMENTO DE
TABAGISTAS
O tabagismo é considerado pela Organização Mundial de Saúde
como um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade e
principal causador de mortes evitáveis. Responsável por cerca de 5
milhões de óbitos anuais no mundo, deverá alcançar 10 milhões de
mortes anuais em 2030, sendo metade delas em indivíduos em idade
produtiva (entre 35 e 69 anos). O hábito de fumar não somente infli-
ge o usuário, mas também se estima que é responsável, passivamen-
te, por 600 mil mortes anuais (INCA, 2011).
Desse modo, diante do grande potencial maléfico do tabagismo
nos fumantes tanto ativos quanto passivos, é essencial a existência
de projetos multidisciplinares, que ajudem os tabagistas interessados
em interromper definitivamente a prática tabagista, dentre os profis-
sionais empenhados em ajudar os tabagistas, destacam-se os farma-
cêuticos, em que, atualmente, a atividade desepenhada não exerce
apenas a função de dispensação de medicamentos, mas também atua
na prevenção de doenças e na promoção da saúde. O farmacêutico é
um profissional qualificado que atua diretamente em contato com a
população e as comunidades em geral, pois as farmácias são estabe-
lecimentos de atenção primária onde o principal objetivo é promo-
ver as necessidades de saúde da população com ações preventivas e
curativas (CHAGAS, 2012).
Frente a isto, a atuação do farmacêutico no segmento da atenção
farmacêutica se faz fundamental no combate ao tabagismo uma vez
que a função deste profissional é estabelecer um contato maior com
o paciente já que através da coleta de dados, é possível que o far-
macêutico identifique os medicamentos utilizados pelos pacientes,
e com isso analise a farmacoterapia na busca de possíveis interações
medicamentosas buscando identificar possíveis PRMs, possíveis so-
luções para estes, implantar o plano de orientação ao paciente e co-
municar sobre as devidas reações adversas ao prescritor por meio de
notificação sobre o ocorrido. Não se tratando apenas do tratamento
medicamentoso, o farmacêutico também toma conhecimento sobre
a maneira com a qual o paciente utiliza seus medicamentos pro-
porcionando conhecimento sobre a utilização e armazenamento de

237
forma correta e segura, avalia seus problemas de saúde e como estão
se sentindo durante todo o tratamento. Dessa forma, o profissional
farmacêutico é de suma importância na aderência dos pacientes ao
tratamento e busca sempre estratégias que alterem de forma positi-
va o comportamento da comunidade assistida abrangendo um ato
profissional mais amplo, orientando sobre os riscos do consumo do
tabaco, orientando mudanças em seus hábitos alimentares e estilo de
vida, dessa forma, proporcionando a melhora na qualidade de vida
desses pacientes (CHAGAS, 2012).
No âmbito da atenção farmacêutica no tratamento de tabagistas,
a intervenção farmacológica é um grande aliado representando um
grande apoio na redução dos sintomas presentes na síndrome de
abstinência e é o principal fator que influencia a cessação do taba-
gismo (RICARTE, 2016). A bupropiona (BUP) é o medicamento uti-
lizado no tratamento de tabagistas e está na lista dos medicamentos
autorizados pela Portaria nº 571 de 5 de abril de 2013 do Ministério da
Saúde, sendo este considerado um fármaco de primeira linha no tra-
tamento de tabagistas (BRASIL, 2013). O BUP é um antidepressivo
antagonista dos receptores dopaminérgicos e esta atividade resulta
na diminuição dos sintomas da abstinência ao cigarro. Este medica-
mento mostra-se eficaz não apresentando potencial efeito de depen-
dência, entretanto, seus efeitos colaterais mais comuns são a insônia,
boca seca, tontura e aumento da pressão arterial, portanto, deve ser
avaliado a utilização da bupropiona em pacientes hipertensos e não
é recomendado seu uso em gestantes e lactentes (REICHERT, 2007).

METODOLOGIA
A presente intervenção se utilizou de metodologia ativa do tipo
Aprendizagem Baseada em Problemas. O local de realização foi o
Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC), em Campina
Grande, Paraíba, no Programa Multidisciplinar de Tratamento de
Tabagistas, em parceria com a Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG), Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e Facul-
dade Maurício de Nassau.
Foram assistidos tabagistas voluntários maiores de 18 anos e
ambos os sexos com disponibilidade de realizar o tratamento às

238
sextas-feiras à tarde quinzenalmente. Estes foram divididos em qua-
tro grupos por cores: azul, laranja, verde e vermelho. A intervenção
foi realizada no período de Setembro de 2015 a Novembro de 2016.
A assistência ao tabagista contava com equipe multidisciplinar
composta por estudantes de medicina, farmácia, nutrição, psicolo-
gia, odontologia, fisioterapia e educação física, sob a orientação de
seus respectivos professores-orientadores. O acompanhamento do
tabagista foi realizado em conformidade com a área de atuação de
cada profissional.
No âmbito da equipe de farmácia, inicialmente foram realizadas
abordagens por meio de exposições acerca do papel do farmacêuti-
co e dependência química à nicotina, responsável pela dependência.
Com as devidas orientações acerca do mecanismo da nicotina no
SNC abordava-se a terapia medicamentosa a ser utilizada: O clori-
drato de bupropiona (BUP). Como o medicamento é um antidepres-
sivo, as contraindicações, seus possíveis efeitos colaterais e sua poso-
logia, foram explicitadas. Na palestra, seguida por roda de discussão,
procurava-se esclarecer aos assistidos, informações a respeito do
medicamento e demais dúvidas que surgiam.
Uma semana após a palestra e discussões, foram realizadas abor-
dagens individuais, baseado na metodologia Dáder, acerca do perfil
socioeconômico, histórico tabagista, medicamentos utilizados atual-
mente e teste de Fagerströn para avaliação do grau de dependência
à nicotina. Nesses encontros, também foram observados a classifica-
ção conforme ATC e interação medicamentosa dos fármacos que o
assistido utilizava em conjunto com bupropiona.
Após a primeira avaliação da equipe, os assistidos eram libera-
dos para fazer parte do tratamento, com encontros quinzenais para
orientações e, caso não houvesse contraindicação, dispensação da
bupropiona fracionada indicando melhor forma de ser tomada, bem
como a avaliação clínica relacionada dos sintomas de abstinência e
métodos para reduzir a quantidade de cigarros/dia e, se houve algu-
ma reação adversa com o medicamento dispensado.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em se tratando de um conjunto de estratégias intervencionistas,

239
fundamentadas nos objetivos da Política Nacional de Controle do
Tabagismo e elaboradas por uma parceria entre Ensino, pesquisa,
extensão, comunidade, Universidade e Secretarias de Saúde. Dos 164
pacientes assistidos pelo Programa Multidisciplinar de Tabagistas,
predominantemente, 60,4% eram do gênero feminino e 39,6%, do
gênero masculino, sendo dentre estes, a faixa etária mais analisada
referente a pessoas maiores de 46 anos, responsabilizando-se por
64,6% da amostra total, seguidos pela faixa de 36 a 45 anos (17,7%) e
26 a 35 anos (12,8%).
Ainda na abordagem, os entrevistados afirmaram em sua maioria
residir na cidade de Campina Grande, e dentre os bairros existentes
nesta, os mais citados são respectivamente: Malvinas, Catolé e Cen-
tro. Quanto à profissão, apresentam-se em sua maioria como domés-
ticas, dona-de-casa e aposentados. O estado civil mais indicado foi
casado/a, representando (46,3%), seguido por, solteiro/a (29,9%) e
divorciado (11%). Quanto ao grau de escolaridade, dos 164 entrevis-
tados, 3,6% afirmaram ser analfabetos, 25,6% dos assistidos afirma-
ram que só estudaram o 1º ano fundamental incompleto e outros
23,8% concluíram o 2º ano do fundamental completo. Abstiveram-se
de resposta 6,1%.
Abordando sobre a religião praticante, 68,3% são católicos, 14%
evangélicos, outras religiões, 13,4%. Sobre avaliação socioeconômica,
62,2% afirmaram receber menos de 2 salários mínimos, 29,9% entre
2 a 4 salários mínimos e não soube informar, 4,9%. Em seguida rela-
taram sobre a história tabagista e os motivos reforçadores do vício.
A faixa etária prevalente ao início do uso do tabaco foi de 11 a 15
anos (42,08%) por incentivo de amigos, moda ou pelo ato de achar
charmoso, seguido por jovens na faixa de 16 a 20 anos (28,66%) e
crianças, na faixa de 5 a 10 anos (14,64%).
Sobre a quantidade mínima do uso do cigarro, a utilização diária
estabelecida na faixa de 11 a 20 cigarros cerca de 53,7%, seguido por
quem utiliza mais de 10 cigarros (21,9%). Ainda sobre a utilização,
60% dos assistidos afirmaram que logo que acordam, tragam o cigar-
ro, mesmo na cama. Concomitante a porcentagem referida, outros
assistidos fumam o primeiro cigarro entre 6 e 30 min, 28 afirma-
ram que demoram entre 31 e 60 min para tragar o primeiro cigarro,

240
tempo de preparar e tomar café, 16 fumam após 60 min e 1 não soube
informar sobre o real tempo.
Quando se foi perguntado sobre a tentativa de parar de fumar, 134
assistidos ou 81,7%, disseram que já tentaram parar e 18,3%, não fize-
ram a tentativa. Dentro da tentativa de parar o uso do cigarro, 33,6%
utilizaram meios para forçar, como: acupuntura, meditação e força
de vontade, 9% referiram ao apoio da equipe anteriormente e 10,4%
utilizaram a reposição de nicotina (TRN). Ainda sobre a história ta-
bagista, foi questionando sobre o desenvolvimento ou não de morbi-
dades referentes ao uso do cigarro, 76,2% afirmaram não ter nenhum
tipo de doença decorrente ao uso do mesmo e 23,8% afirmaram em
ter, sendo elas DPOC, tuberculose, bronquite e gastrite.
Sobre a associação que eles relataram ao uso do cigarro no dia-a-
dia, 84,1% fazem o uso quando estão ansiosos e outros 79,2% com o
café. Questionados se convivem com fumantes em casa, 68,3% afir-
maram não residir e 31,7% disseram que convivem com pai, mãe,
esposo/a, filho/a e sobrinho/a. Quando citado sobre o temido medo
de engordar após a cessação, 58,5% afirmaram que não têm medo e
35,3% disseram ter medo de engordar. Os assistidos revelaram notar
o prejuízo à saúde devido ao tabagismo, e que é existente a pressão
de familiares e gastos com a compra do cigarro como fatores estimu-
lantes ao cessamento.
Após a entrevista acerca do perfil socioeconômico e história taba-
gistas, é realizado o perfil farmacoterapêutica onde são citados sobre
os problemas de saúde e medicamentos utilizados, sendo problemas
antecedidos ou não, ao uso do cigarro. Nele há pergunta acerca do
nome do medicamento, sua utilização, para que serve, se está se sen-
tindo melhor e se houve algo estranho após sua administração. Com
as respostas obtidas, é realizada uma lista com os fármacos utiliza-
dos, a fim de ser checado do mesmo associado ao tratamento ofere-
cido no hospital.
Sobre os 106 fármacos citados, foram observados 25 casos de in-
teração, sendo dois casos graves: cloridrato de captopril + losartana
- podendo haver, se não for orientado e observado, o aumento do
risco de efeitos secundários tais como baixa pressão arterial, insufi-
ciência da função renal e uma condição chamada hipercalemia (alta

241
concentração de potássio no sangue). Em casos graves, hipercalemia
pode levar à insuficiência renal, paralisia muscular, ritmo cardíaco
irregular e parada cardíaca.
Dentro dos casos moderados: cloridrato de bupropiona + anlodi-
pino – pode ter efeitos aditivos em diminuir a pressão arterial, po-
dendo haver experiência de dor de cabeça, tonturas, vertigens, des-
maios, e/ou alterações no pulso ou frequência cardíaca. E dos casos
leves: hidroclorotiazida + anlodipino – por ser de menor relevância,
não costuma causar dano.
Ao final da triagem, foi realizado o teste de Fagerström, que avalia
o grau de dependência à nicotina e seus respectivos níveis, distribu-
ídos em: muito baixo (13,4%), baixo (28,6%), médio (23,2%), eleva-
do (26,2%) e muito elevado (8,5%) dos assistidos. Com o resultado
obtido, os estudantes de farmácia propõem formas de reduzir pro-
gressivamente o uso do cigarro, como tiras de cenoura simulando
um cigarro, exercício físico, leitura ou até mesmo, jogar a carteira de
cigarro na água. Nos retornos houve relatos sobre a abstinência, a
fome excessiva, ansiedade, insônia, sonolência e irritabilidade e so-
bre a reação adversa ao medicamento (BUP) foram citadas náuseas,
tremor, boca seca, paladar alterado e tontura.
No período de 10 meses, 39% dos assistidos conseguiram parar
de fumar, tendo como êxito comparado as literaturas existentes, que
têm como média, apenas 30%.
Ao profissional de saúde, cabe perguntar a qualquer paciente so-
bre seus hábitos de vida, incluindo o tabagismo e o desejo de trata-
mento, sendo assim, com total responsabilidade, interesse e força de
vontade, há a chance de aumentar o número de assistidos que alcan-
çam a cessação tabágica por meio do projeto, além da total orien-
tação que a equipe de farmácia faz, impedindo o uso irracional de
medicamentos e até mesmo, o encerramento abrupto do tratamento.
O formulário utilizado para atendimento individualizado pos-
sui conteúdo amplo, buscando analisar sob diferentes aspectos as
características e costumes de tabagistas, além das possíveis razões
que os levaram a dar início ao hábito. A amostra foi composta em
sua maioria por pessoas maiores de 46 anos, e em sua minoria por
pessoas mais jovens, o que demonstra que pessoas com idade mais

242
elevada apresentam maior predisposição ao abandono do tabagismo,
o que pode ser explicado pelo maior tempo de uso do cigarro e o
surgimento de complicações de saúde decorrente de muitos anos de
tabagismo, visto que mais de 40% da amostra afirmou ter dado início
ao consumo ainda na infância.
O perfil socioeconômico dos participantes é outro fator relevante,
grande parte destes relatou viver com menos de dois salários míni-
mos, sendo as profissões mais citadas domésticas, donas de casa e
aposentados. Este aspecto demonstra que grande parte dos interes-
sados no programa de tratamento do tabagismo opta por este por
possíveis limitações financeiras para arcar com os custos de um tra-
tamento pago, o que reflete na importância do programa para estes
cidadãos, que encontram neste a oportunidade de superação do ta-
bagismo e mudança de hábitos para uma vida mais saudável. Ade-
mais, ressalta-se que mais de 80% dos participantes buscaram meios
alternativos para o cessamento do tabagismo antes de darem início
ao tratamento por meio do programa, todos sem sucesso em longo
prazo, dado que enaltece a importância do projeto por representar a
esperança para tabaco-dependentes que encontram dificuldades no
alcance da abstinência.
Quanto aos motivos para o início do tabagismo, observa-se que
influência de pessoas próximas e mídia são grandes gatilhos. Ao
considerar que o Brasil adotou medidas para desmotivar fumantes
e diminuir a adesão da população ao tabagismo, nota-se que estas
medidas estão sendo eficazes devido ao baixo número de pessoas
mais jovens buscando o programa de tratamento do tabagismo e a
grande parcela de pessoas mais idosas, que vivenciaram a promoção
do tabagismo quando jovens (BRASIL, 2013).
De modo geral, a regressão dos sintomas de abstinência, bem
como das reações adversas evidencia a eficácia do tratamento pro-
posto, em conjunto com o trabalho da equipe multiprofissional, uma
vez que os resultados têm sido bastante satisfatórios. Desta forma,
a execução da atenção farmacêutica está sendo de extrema impor-
tância, visto que os sintomas indesejados causados pela redução no
número de cigarros, muitas vezes, são as principais barreiras en-
contradas pelos pacientes a desistir de se abster do cigarro. Além de

243
que, a presença de interações medicamentosas tanto com relação a
bupropiona, quanto dentro da própria farmacoterapia dos pacientes
é frequente, e representa riscos à saúde deste e ao sucesso do trata-
mento (PAULA et al., 2015). Medidas específicas são tomadas pela
equipe, sempre atenta a possíveis complicações relacionadas ao tra-
tamento, o que garante segurança, maior adesão e casos de sucesso
dentro do programa.
Desta maneira, o trabalho exercido por farmacêuticos, reflete
no somatório de sucesso do tratamento dos pacientes, que recebem
atenção completa, acompanhamento individualizado, humanizado
e eficaz e encontram no projeto multidisciplinar de tratamento do
tabagismo uma grande oportunidade que vai além da cessação do
tabagismo e representa completa mudança de vida.

CONCLUSÃO
No desenvolvimento deste Programa observou-se como primordial
para todas as equipes a qualidade da terapia dispensada pacientes
que realizaram o tratamento com a Bupropiona, almejando assim,
cessar o vício do tabaco e colaborar com a promoção da saúde.
Os tabagistas que procuraram participar do programa compreen-
deram que a garantia do sucesso esperado pelo tratamento vem prin-
cipalmente da força de vontade do indivíduo carrega em si para se
livrar desse hábito prejudicial e não apenas com o uso da medicação.
Apesar da quantidade de pacientes que possuem doenças resul-
tantes do uso do cigarro no grupo assistido ser a minoria, é impor-
tante frisar que todos os fumantes estão sujeitos a adquirir alguma
dessas doenças, uma vez que a cronificação desse hábito acarreta
morbimortalidade ao indivíduo.
Também se faz útil ressaltar que para os 68,3% que não residem
com fumantes, de uma forma ou de outra, atuam direta ou indire-
tamente incentivando a prática do consumo e prejudicando a saúde
dos que residem naquele ambiente, estes últimos conhecidos como
“fumantes passivos”. O custo atual para manter o vício se apresenta
cada vez maior, principalmente para classe economicamente menos
favorecida, gerando prejuízos também no sentido econômico.
O tratamento para os tabagistas foi oferecido de maneira

244
totalmente gratuita, a maioria dos fumantes não tem condições de
custear um tratamento pago. Assim, promoveu-se grande contribui-
ção para a população adquirir uma melhora na qualidade de vida e
bem estar como um todo.
Além de ser disponibilizado uma equipe multiprofissional que
acompanha todo o tratamento realizado, os assistidos dispunham de
espaço para que cada um deles relate para o grupo sua experiência
no decorrer da terapêutica, fazendo assim com que os demais se sin-
tam motivados a enfrentar os transtornos da síndrome de abstinên-
cia, promovendo a troca de experiências que auxiliaram no êxito do
tratamento.
O cuidado farmacêutico realizado, dentre outras atribuições, vol-
tou-se para forma correta da administração do medicamento, horá-
rios adequados com o intuito de evitar alguns efeitos adversos, inte-
ração medicamentosa impedindo ou evitando que ocorram reações
indesejadas na utilização da Bupropiona (BUP) juntamente com ou-
tros medicamentos utilizados pelos pacientes. É grande o número de
pessoas que se automedicam.
O formulário utilizado apresenta perguntas concisas e claras com
conteúdo amplo buscando analisar diferentes aspectos, característi-
cas e costumes de tabagistas, além das possíveis razões que conduzi-
ram a iniciação ao hábito.
O cuidado farmacêutico se faz fundamental no controle do taba-
gismo, estabelecendo maior contato por meio de rodas de conversa e
consulta individualizada, tornando possível a identificação dos me-
dicamentos já utilizados pelos assistidos, com isso realizar análise da
farmacoterapia na busca de possíveis PRMs, como interações medi-
camentosas, por intermédio do uso concomitante de BUP e anti-hi-
pertensivos, antidepressivos ou ansiolíticos.
A equipe de farmácia atuou no Programa de Tratamento de Taba-
gistas com intervenções farmacêuticas utilizando técnicas e instru-
mentos oferecidos pela atenção ao paciente, já que apresentam mui-
tas dúvidas no início do tratamento acerca do uso de medicamentos
e em especial ao BUP.

245
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248
NÍVEL DE ESTRESSE ENTRE TABAGISTAS
EM RECUPERAÇÃO NUM HOSPITAL
PÚBLICO EM CAMPINA GRANDE-PB

Terezinha Lumena Carneiro Rodrigues Silva


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
Os efeitos adversos do tabagismo à saúde têm sido demonstrados há
décadas. Dados da Organização Mundial da Saúde estimam que 5,4
milhões de óbitos são atribuídos ao tabagismo, sendo na atualida-
de considerado uma pandemia silenciosa por envolver uma série de
consequências negativas, como o câncer de pulmão, doenças coro-
narianas, doenças cerebrovasculares, aneurismas arteriais, trombose
vascular, úlcera do trato digestivo, Infecções respiratórias e impotên-
cia sexual masculina.
Em média se inicia o consumo de tabaco entre 13 e 14 anos, po-
rém a vulnerabilidade para dependência não está relacionada ape-
nas à idade, mas está intimamente relacionada à influência dos pais,
colegas e da mídia, esses são considerados fatores preditores de seu
consumo (RODRIGUES, et al., 2011).
Observa-se que muitos adultos se julgam incapazes de enfren-
tarem situações sociais de conflito. Com o uso de substâncias, en-
contram um escape que, embora não seja a ideal, é a que tende a
diminuir a ansiedade e eles acreditam que diminuem as dificuldades
encontradas. Muitos usuários se dizem fracos e que o uso da droga
os ajuda a enfrentar os problemas diários.

249
Habilidades sociais são descritas, como expressar sentimentos,
atitudes, desejos, opiniões ou direitos de modo adequado à situação,
respeitando esses comportamentos nos demais, resolvendo proble-
mas imediatos, minimizando a probabilidade de futuros problemas,
ou seja, muitos indivíduos acabam buscando nas drogas uma forma
de se tornarem mais sociáveis e com melhor capacidade de interação
com seus pares (RODRIGUES, et al., 2011).
Há evidências também de que a exposição a condutas de risco
como o tabagismo e o uso de drogas ilícitas está intimamente re-
lacionada ao estresse psicossocial em adultos (CARVALHO, et al.,
2011).
Oliveira e Garaieb (2012) observaram que o início do tabagis-
mo está relacionado ao alívio proporcionado diante de situações de
nervosismo, estresse, ansiedade, tristeza e mesmo para esquecer os
problemas.
Portanto, independente do que leva a um repertório diminuído
de habilidades sociais, o uso de drogas fica associado a um meio para
enfrentar a rotina ou a fortes pressões externas (RODRIGUES, et al.,
2011).
Assim, o cortisol como hormônio indicador do estresse fisiológi-
co realiza numerosas funções no corpo e está envolvido em ações an-
ti-inflamatórias, no metabolismo da glicose e nas respostas imunes.
Em alguns estudos, fumantes apresentaram maiores concentrações
de cortisol plasmático em jejum quando comparados a indivíduos
não fumantes, ou seja, pessoas fumantes são mais estressadas quan-
do comparadas aos não fumantes (FRANÇA, et al., 2010). Isso pode
ocorrer através da estimulação do sistema nervoso autônomo simpá-
tico, induzida pelo tabagismo.
Assim, a presente pesquisa se torna relevante, visto que contri-
buirá para ampliação dos conhecimentos disponíveis sobre as alte-
rações fisiológicos, em seres humanos, provocadas pelas substâncias
contidas no tabaco.
Podendo ser fonte de estudo para os clínicos e estudantes, prin-
cipalmente, da área da saúde que buscam compreender e enriquecer
seus conhecimentos a respeito do tema, além de poder contribuir
para o desenvolvimento de novas campanhas que buscam sensibilizar

250
a sociedade sobre os malefícios provocados pelo cigarro.
Dessa forma, o entendimento das alterações fisiológicas dos ní-
veis de cortisol provocadas pelas substâncias contidas no cigarro
contribuirá para a criação de novas estratégias e/ou diretrizes que
irão nortear o tratamento de tabagistas em eventos ocorridos duran-
te a fase de abstinência.

REFERENCIAL TEÓRICO

O CORTISOL
O cortisol é considerado um excelente marcador do estresse fisioló-
gico. Trata-se de hormônio da família dos esteróides que está dire-
tamente envolvida na resposta ao estresse e que realiza numerosas
funções no corpo. Está envolvido em ações anti-inflamatórias, no
metabolismo da glicose e nas respostas imunes (FRANÇA, et al.,
2010).
O hormônio cortisol é produzido pelas glândulas adrenais e au-
menta nas últimas etapas do sono no ser humano, com o objetivo de
preparar o organismo para a vigília (ROCHA, et al., 2013).

O TABAGISMO
Nas últimas décadas, os padrões de morbimortalidade sofreram
grandes transformações. Constatou-se que a predominância das
mortes deixou de ser por doenças infecto contagiosas para ser de-
corrente de doenças ligadas ao estilo de vida (RAMIS, et al., 2012).
Atualmente mais de um bilhão de pessoas são fumantes no mun-
do e na década de 2030 estima-se que esse total poderá chegar a dois
bilhões. O tabagismo é responsável por 90% dos tumores pulmo-
nares, 75% das bronquites crônicas, 25% das doenças isquêmicas do
coração (FILHO, et al., 2010), tornando o tabagismo a principal cau-
sa de morte prematura e evitável no mundo, sendo que 80% delas
ocorrerão em países em desenvolvimento (BARROS, et al., 2011).
A fumaça expelida pelos fumantes é extremamente prejudicial à
saúde, onde a duração e o nível de exposição à fumaça do tabaco
estão diretamente relacionados com o risco e severas consequências
adversas à saúde. Além de o tabaco ser um causador de inúmeras

251
doenças, ele também é responsável por impactos econômicos, so-
ciais e ambientais (PORTES, 2014).
No Brasil, aproximadamente 34% dos homens e 29% das mulhe-
res são fumantes, consumindo cerca de 175 bilhões de cigarro por
ano (RAMIS, et al., 2012).

O ESTRESSE
Condutas de risco à saúde que são incorporadas ao estilo de vida
durante a adolescência tendem a prevalecer na vida adulta, sendo as-
sim apresentam pequenas chances de transformação (CARVALHO,
et al., 2011).
O ser humano, por natureza, procura manter um equilíbrio de
suas forças internas com todos os órgãos, para que assim exista uma
harmonia entre os sistemas. Entretanto, quando ocorre o desequilí-
brio dessas forças, causadas por situações que despertem emoções
positivas ou negativas, isso resultará numa fonte de estresse (RO-
CHA, et al., 2013).
A dependência nicotínica é resultado da relação de estímulos am-
bientais, hábitos pessoais, condicionamentos psicossociais e ações
biológicas da nicotina (CARVALHO, et al., 2011).

A SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA
A Síndrome de abstinência, ausência ou redução de nicotina no or-
ganismo caracteriza-se pela presença de sintomas de irritabilidade,
ansiedade, nervosismo, cansaço ou dificuldade de concentração
quando ocorre a interrupção do uso de determinada substância.
A nicotina é a responsável pela dependência química observada
no tabagista. Está relacionada à perda de controle quanto ao con-
sumo do tabaco, mesmo o indivíduo estando consciente dos riscos
envolvidos no hábito, o que torna a dependência ao tabagismo um
fator que vai além dos efeitos fisiológicos, ou seja, um fator que pode
ser explicado por fatores sociais e psicológicos, que aponta para uma
dependência comportamental traduzida pela associação entre refor-
ços subjetivos da nicotina e situações emocionais ou certos contextos
(ROCHA, 2010).
Os fumantes desenvolvem comportamentos que podem indicar a

252
intensidade da dependência à nicotina, na medida em que a neces-
sidade de fumar é deflagrada por situações relacionadas à melhora
de desempenho, alívio de desconforto ou ampliação da sensação de
prazer, e quanto mais o paciente percebe a necessidade de consumo
relacionada a essas substâncias, é possível considerar sua dependên-
cia mais elevada (ISSA, 2012).
Assim, o craving ou fissura ocorre na síndrome de abstinência
sendo descrito como um processo neurofisiológico que inclui ne-
cessidade intensa, regular, persistente e intrusiva de consumir uma
substância (SANTOS, et al., 2011).

O TRATAMENTO
No Brasil, o tratamento do tabagismo é disponibilizado pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), por meio do Programa de Controle do Ta-
bagismo, regulamentado pelas Portarias Nº 1035/GM de 31/05/2004
e Portaria SAS/MS/442 de 13/08/2004. Estas portarias ampliam o
acesso da abordagem e tratamento do tabagismo na atenção básica
e média complexidade da rede do SUS, incluem no elenco de pro-
cedimentos financiados pelo Piso da Atenção Básica (PAB) aqueles
referentes ao tratamento do tabagismo e aprovam o plano de im-
plantação da abordagem e tratamento do tabagismo na rede SUS e o
protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da dependência à nicotina
(INCA, 2011).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs, em maio de
1999, a adoção do primeiro Tratado Internacional de Saúde Pública,
a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT). O ob-
jetivo da Convenção é proteger as gerações presentes e futuras das
consequências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas geradas
pelo consumo e pela exposição à fumaça do tabaco, proporcionando
uma referência para as medidas de controle do tabaco a serem im-
plementadas nos níveis nacional, regional e internacional, a fim de
reduzir o número contínuo e substancial a prevalência do consumo
e a exposição à fumaça do tabaco (BRASIL, 2011).

REFERENCIAL METODOLÓGICO
Trata-se de pesquisa quantitativa descritiva realizada por intermédio

253
da dosagem sérica do cortisol por radioimunoensaio em tabagistas
em tratamento. O estudo foi desenvolvido no Hospital Universitá-
rio Alcides Carneiro (HUAC), da Universidade Federal de Campina
Grande/PB, no período de dezembro de 2013 a março de 2014.
O município de Campina Grande está localizado no Agreste
Paraibano, a 120 km de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba.
Segundo dados do censo de 2010, disponibilizado pelo Instituto Bra-
sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Campina Grande possui
385.213 habitantes e uma área territorial de 594,179 Km².
O estudo foi realizado com 16 participantes do grupo de trata-
mento de tabagistas, no Hospital Universitário Alcides Carneiro. Fo-
ram sujeitos do estudo os pacientes com idade superior ou igual a 18
anos, de ambos os sexos, que assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido com base na Resolução 466/2012 que regulamen-
ta a pesquisa em seres humanos sob número 0094.0.133.000-08.
As amostras de sangue foram coletadas antes (Basal) do trata-
mento, após 30 dias e 60 dias, para análise dos níveis de cortisol. Os
exames foram realizados no laboratório de análises clínicas do citado
serviço.
A análise dos resultados dos níveis de cortisol foi tabulada por
meio do programa STATISTICA versão 7.0, utilizando Anova e o
teste Tukey-Kramer. O nível de significância estatística adotado para
os testes estatísticos foi de 5%, ou seja, o valor de p igual ou inferior
a 0,05 para o resultado estatisticamente significativo (p<0,05). Os re-
sultados serão apresentados através de tabelas e gráficos.

DADOS E ANÁLISE DE DADOS


Na amostra estudada, observou-se uma maior prevalência de mu-
lheres, constituindo 77,7% e 22,2% de homens.
O nível basal apresentou média 14,1 ng/dl de cortisol. Na coleta
realizada após 30 dias de tratamento foi verificada média de cortisol
em 21,31 ng/dl, após 60 dias de tratamento a média da dosagem de
cortisol foi 18,1ng/dl como representado na Tabela 01. Deve-se consi-
derar que o valor de referência para o cortisol é 20ng/dl.

254
Tabela 1 – Níveis de cortisol a 0,30 e 60 dias de tratamento de tabagista
Período de tratamento (dias) CONTAGEM SOMA MÉDIA VARIÃNCIA

0 16 99,11 14,158 13,058

30 16 149,21 21,315 29,203

60 16 127,05 18,15 17,482

Fonte: Dados da Pesquisa, 2013.

A partir desses valores, foi confeccionada a curva referente aos


níveis de cortisol, demonstrada no gráfico 01.

Gráfico 01 - Níveis de cortisol (ng/dl) de tabagistas em tratamento em 0,30 e 60


dias.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2013.

Na pesquisa, a média do cortisol basal se encontra dentro do


considerado ideal. Em 1998 o pesquisador Lupien já havia estudado
as alterações do cortisol, observando que sua elevação pode causar
graves danos no hipocampo e prejudicar a aprendizagem e a memó-
ria dos indivíduos. Então, pode-se inferir que a abordagem realizada
pela equipe multidisciplinar causa um efeito positivo na aceitação

255
do tratamento pelo usuário onde esse visualiza no tratamento uma
oportunidade para o abandono do vício, criando um vínculo de con-
fiança com a equipe e, segurança demonstrado pelos níveis de corti-
sol (tabela 01), como citou Silva (2010) identificando que a primeira
intervenção para o tratamento se constitui no acolhimento.
Verificou-se que após os 30 dias de tratamento houve um aumen-
to significativo dos níveis de cortisol representando, possivelmente, a
dificuldade do tabagista em superar as situações de estresse durante
a crise de abstinência, como representado no Gráfico 01.
Esse estudo corrobora com a análise de Araújo (2009), quando
refere que o craving mais intenso leva o usuário a procurar estraté-
gias pouco eficientes para a redução do estresse, ocasionando em um
maior número de recaídas durante o tratamento. Deve-se esclarecer
ao usuário que a fissura inicia e desaparece em um curto período e
que o desconforto e as más sensações logo desaparecerão (SILVA,
2010).
A síndrome de abstinência produz sensações desagradáveis e é si-
nalizada ao usuário como um aumento na ansiedade e quando chega
a um nível elevado o mesmo tem a sensação de perda de controle,
levando ao consumo do cigarro (DIAS, et al., 2014) onde o usuário
passa a ser motivado ao uso do tabaco não mais para obter prazer e
sim para controlar os sintomas da abstinência (PILLON, et al., 2011).
Tal fato se encontra intimamente relacionado com o abandono do
tratamento no período, entre 30 e 45 dias após o início do tratamen-
to, ou seja, os pacientes se veem incapacitados de resistir ao cigarro
e acometidos por um sentimento de vergonha de voltar ao hospital
para continuar o tratamento.
Calheiros (2009) e Castro (2010) apontam uma correlação signi-
ficativa entre a dependência física à nicotina e a gravidade nos sinto-
mas de ansiedade, observando que fumantes com mais sintomas de
depressão e ansiedade fumavam maior quantidade de cigarros por
semana.
A medicação utilizada foi a bupropiona, originalmente usada
como antidepressivo, avaliado pelo Federal Drugs Administration
(FDA) e caracterizado como único medicamento psicoativo exten-
samente testado (SILVA, 2010).

256
Segundo as diretrizes, é uma medicação de primeira linha no tra-
tamento do tabagismo, sendo eficaz no controle da dependência. A
medicação era entregue a cada 15 dias de tratamento.
O fumante deve ser motivado a parar de fumar e a evitar as situ-
ações conhecidas como gatilho, ou seja, situações em que o usuário
cria um vínculo com o habito de fumar, como por exemplo, tomar
café, tomar cerveja com amigos, dirigir, entre outras, necessitando
da mudança na rotina (PILLON, et al., 2011).
Pode-se observar na Tabela 02, estatisticamente, que o valor de
Fo e o F crítico equivalem a 4,52 e 3,55, respectivamente, represen-
tando a existência de diferenças significantes entre as amostras. Após
60 dias de tratamento, o cortisol diminuiu, representando um me-
lhor enfrentamento do usuário frente à síndrome de abstinência à
nicotina.

Tabela 2 - Representação do Fo e F crítico do cortisol nas amostras estudadas


Fonte de SQ Gl MQ F P valor F crítico
Variação

Entre 180,08 2 90,04 4,52 0,02 3,55


Grupo

Dentro dos 358,46 18 19,91


Grupos

Total 538,54 20

Fonte: Dados da Pesquisa, 2013.

A atividade física deve fazer parte da vida do usuário, pois além


de reduzir os níveis de colesterol, triglicerídeos e o risco de desen-
volver doenças cardíacas, também reduz a ansiedade e o estresse do
indivíduo. Conforme Rocha (2013) e Souza (2013) as atividades físi-
cas e de lazer favorecem o enfrentamento de situações geradoras de

257
estresse no dia a dia, reduzindo dores osteomusculares, cansaço físi-
co, aumentando a disposição no trabalho e diminuindo a ansiedade
e o estresse dos indivíduos. Ressalta-se a importância de orientar os
pacientes quanto à ingestão de dieta equilibrada e a prática de ativi-
dade física.
A concentração de cortisol como índice fisiológico se mostrou
capaz de avaliar o grau de estresse dos tabagistas demonstrando ser
útil no acompanhamento destes, servindo no aperfeiçoamento das
estratégias de recuperação da dependência à nicotina.
O nível de cortisol demonstra o estado emocional do tabagista
em tratamento e norteia o profissional. Destaca-se que o tabagismo
deve ser tratado com uma visão multidisciplinar, necessitando maior
nível de entendimento e de comprometimento da equipe de saúde
que trabalha em programas de prevenção e de tratamento.
É importante que a equipe multidisciplinar esteja preparada
para psico educar os usuários, mostrando estratégias eficazes no en-
frentamento da fissura, e assim, diminuindo as chances de recidiva
(ARAÚJO, et al., 2009).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O nível de cortisol demonstra o estado emocional do tabagista em
tratamento e norteia o profissional. A concentração de cortisol como
índice fisiológico se mostrou capaz de avaliar com precisão a pre-
sença de estresse dos tabagistas, sendo uma ferramenta importante
de acompanhamento da evolução do paciente. Assim, recomenda-
se durante a evolução do tratamento de tabagistas o doseamento de
cortisol.
Observa-se que o sucesso no abandono do tabaco está intima-
mente relacionado com a ansiedade e pelo estresse causado pela
síndrome de abstinência. Deve-se acompanhar o paciente de forma
intensa apresentando estratégias individuais viáveis à cessação do
fumo.
A prática de exercícios físicos e alimentação adequada devem
ser motivadas durante o tratamento de tabagistas, apresentando-se
como necessidade para manutenção de um estilo de vida saudável.
Além de evitar obesidade, problemas respiratórios e melhorar a força

258
muscular, auxiliando também na redução da ansiedade e melhora do
humor.
Destaca-se que o tabagismo deve ser tratado com visão multidis-
ciplinar, necessitando maior nível de entendimento e de comprome-
timento da equipe de saúde que trabalha em programas de preven-
ção e de tratamento.
O período de maior fragilidade dos usuários frente ao tratamento
do tabagismo demonstrado neste estudo foi após 30 dias de abando-
no do cigarro, visto que a concentração plasmática se encontra acima
dos valores avaliados como ideais demonstrados pelo aumento dos
níveis de cortisol.
Em pesquisas futuras, pretende-se estudar o nível de envolvimen-
to dos profissionais que realizam o tratamento com os tabagistas.

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261
GASTO PÚBLICO COM ACIDENTADOS DE
MOTO NO ANO DE 2013 EM HOSPITAL DE
REFERÊNCIA DE CAMPINA GRANDE – PB

Matheus Vítor Pereira Lima


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
A violência no trânsito é um problema de saúde pública de dimensão
humana e material. Cerca de 1,2 milhão de pessoas em todo o mundo
morrem vítimas dos acidentes de trânsito (AT) a cada ano, sendo
mais de 90% dessas mortes com ocorrência em países de baixa e mé-
dia renda (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009; ABREU et
al., 2012). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que per-
das anuais devido aos AT ultrapassem US$ 500 bilhões. No Brasil,
o número de mortos e feridos graves ultrapassa 150 mil pessoas. O
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), estima que custos
totais dos acidentes sejam de R$ 28 bilhões ao ano (BACCHIERI;
BARROS, 2011).
Os dados acima referidos associados ao consumo de bebidas têm
gerado grande demanda por atendimentos ambulatoriais e interna-
ções. A violência no trânsito engrandece seus números quando as-
sociada ao consumo de bebidas alcoólicas (VIEIRA et al., 2011). Por
meio desse fator parte dos números de atendimento hospitalar e in-
ternações nas emergências provêm do fator de violência no trânsito.
Segundo Oliveira et al., (2013), a maioria dos acidentes ocor-
rem com população masculina jovem, ressaltando os prejuízos

262
econômicos e impacto sobre essa população. Percebe-se ainda, ele-
vado índice de casos de acidentes de trânsito atendidos no setor de
emergência, quando comparados a outras causas, sendo estes res-
ponsáveis pelos principais atendimentos nas grandes emergências
dos hospitais urbanos, onde se observa a gravidade do acidente pos-
suir ligação direta ao consumo de bebidas alcoólicas.
Outro fator de relevância nos AT é o aumento, ano a ano, da frota
de motocicletas, tendo aumentado 300% de 1998 a 2007. De maneira
gradativa, a motocicleta se tornou opção importante de transporte
individual e instrumento de trabalho não só para motofrentistas e
mototaxistas (MONTENEGRO, 2011; VIEIRA et al., 2011).
Diversos estudos (BACCHIERI; BARROS, 2011; PAIXÃO et al.,
2015; MELIONE; MELLO-JORGE, 2008; BRASIL, 2009) relatam va-
lor dos custos em acidente de trânsito. Estes demostram gastos do
Ministério da Saúde, observado no Fundo Nacional de Saúde, Sis-
tema de Informações Hospitalares (SIH) e Sistema de informações
Ambulatoriais (SIA) dos hospitais públicos estudados, não confluin-
do de modo similar nos demais hospitais analisados.
Carneiro e Phebo (1998) em estudo único acerca do tema obti-
veram investigação de custos em saúde com serviço de urgência e
emergência onde obtiveram os dados medindo os custos de vítimas
de causas externas por meio de estudos de caso interacionando com
os valores de custos disponibilizados pelo Departamento de Infor-
mática do SUS (DATASUS) com informações bastante detalhadas
sobre todas as internações realizadas pelo SUS, registradas nas guias
de Autorização para Internação Hospitalar (AIH) do SIH.
Frente o exposto, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas
constitui relevante problema de saúde pública, apresentando como
consequências as doenças cardiovasculares, neoplasias, absenteísmo,
como falta ao trabalho e aposentadorias precoces, acidentes de tra-
balho e de transporte, episódios de violência (agressões, homicídios,
suicídios) e elevada frequência de ocupação de leitos hospitalares.
Na observação dos problemas dos acidentes de transporte/trân-
sito, sabe-se que diversos fatores contribuem para sua ocorrência,
como o desrespeito às leis de trânsito, falta de manutenção das vias
e veículos e condições climáticas. Entretanto, o consumo de bebidas

263
alcoólicas se destaca como um dos fatores mais frequentemente
apontados no estudo da causalidade desses acidentes (CARNEIRO
et al., 2015; OLIVEIRA et al., 2013; MALTA et al., 2010).
Nesse contexto, pretendeu-se observar a incidência do consumo
de bebidas alcoólicas por partes dos motoristas, número de acidentes
automobilísticos em associação ao consumo de álcool e informações
concisas em relação ao gasto dos cofres públicos com motoristas al-
coolizados acidentados. O estudo foi realizado em um hospital de
referência, Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande
– Dom Luiz Gonzaga Fernandes. Pretendeu-se, estudar o gasto pú-
blico com acidentes automobilísticos na cidade de Campina Grande
– Paraíba, o custo hospitalar em acidentes com motos envolvendo
motoristas alcoolizados; O valor com internação de acidentados em
hospital de referência da cidade de Campina Grande-PB e o número
de acidentados em emergências.

REVISÃO DA LITERATURA
Os acidentes de trânsito, como fator da morbimortalidade geral, são
considerados, na atualidade, verdadeiro problema de saúde pública
em muitos países, em especial no Brasil. Estima-se que mais de 1,2
milhão de pessoas morrem por ano no mundo e cerca de 50 milhões
sofrem lesões, sendo que 15 a 20% dessas lesões apresentam seque-
las diversas. Projeções para o ano 2020 apontam que acidentes de
trânsito ocuparão o terceiro lugar nas causas gerais de mortalidade
mundial, no entanto, essa projeção só se concretizará se países de
baixa e média renda não adotarem medidas necessárias a respeito,
sobretudo os países em desenvolvimento (ABREU et al., 2010).
Um estudo nacional demonstrou que no período de 1990 a 2005,
houve aumento de 72% de vítimas fatais de acidentes de trânsito em
municípios com menos de 100 mil habitantes. Ressalta-se que apro-
ximadamente 70% dos acidentes violentos com mortes, no trânsito,
o álcool é o principal responsável. No entanto, ainda que estudos
venham apontando essa relação, pouco se estuda no Brasil, a ocor-
rência do acidente e o nível de alcoolemia da vítima no momento do
acidente (OLIVEIRA et al., 2013).
Pode-se observar na literatura científica, no ano de 2010, 42.830

264
mortes decorrentes de acidentes de transporte terrestre foram regis-
tradas no Sistema de Informações de Mortalidade, sendo a maior
parte entre homens (81,6%) nas faixas etárias de 20 a 39 anos e de 40
a 59 anos (BRASIL, 2010; GOLIAS et al., 2013).
Vivencia-se no país epidemia silenciosa, vidas são tiradas diaria-
mente e muitos necessitam de tratamentos e podem ficar com con-
sequências traumáticas pelo restante da vida. Dentre as causas exter-
nas, lesões e óbitos relacionados ao trânsito ocupam o segundo lugar
em mortalidade, só superado pelos homicídios (REICHENHEIM et
al., 2011), e permanecem como importante desafio aos serviços de
saúde pela magnitude e transcendência (GOLIAS et al., 2013).
Neste contexto, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas se
constitui em relevante problema de Saúde Pública, por apresentar
consequências diretas, ou relacionadas, ao surgimento de doenças
cardiovasculares, neoplasias, transtornos mentais e comportamen-
tais, absenteísmo, acidentes de trabalho e transporte, agressões,
homicídios, suicídios e elevada frequência de ocupação de leitos
hospitalares. Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS)
apontam a participação dessa substância como causa específica de
morte na proporção de 40% a 60% das vítimas de acidentes de trans-
porte terrestre (ATT) (MALTA et al., 2010).
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) implantado pela Lei n°
9.503, de 23 de setembro de 1997, modificado pela Lei n° 11.705, de 19
de junho de 2008, conhecida popularmente como “Lei Seca”, inibe
o consumo de bebida alcoólica pelo condutor de veículo automo-
tor. Esta nova regulamentação inclui e, pode classificar a infração
como crime com pena de reclusão, quando a concentração de álcool
for superior a 0,6g/l. Considerando a relação do consumo de bebida
alcoólica e a ocorrência de ATT, a presente Nota Técnica tem por
finalidade apresentar os resultados preliminares da avaliação do im-
pacto da medida legislativa de restrição do álcool na morbidade e
mortalidade por ATT no Brasil (MALTA et al., 2010).
Nos últimos cinco anos, a frota de veículos cresceu cerca de 30
a 42 milhões, com destaque para motocicletas, cujo licenciamento
cresceu mais de 75%, ocasionado por diversos fatores, dentre es-
tes, seu baixo valor de aquisição em comparação com automóveis,

265
facilidade de acesso aos consórcios, múltiplas linhas de financiamen-
tos e opções de negócios proporcionados com o emprego de motos
(VIEIRA et al., 2011; BRASIL, 2006).
Entre os anos 2008 e 2012, foram registradas 33.185 hospitaliza-
ções causadas por acidentes de transporte resultando no custo total
de R$ 37.739.861,52. Houve tendência de custos crescentes, seguindo
a tendência de aumento de casos, já que, em 2008, tais internações
foram responsáveis pelo gasto de R$ 5.029.642,60, e, em 2012, esse
valor chegou a R$ 9.302.110,90. Os eventos que culminaram com in-
ternações de motociclistas acidentados representaram a maior parte
dos gastos por subgrupo de causas, onerando os cofres públicos em
R$ 19.493.139,34, ou 51,6% do total de gastos, com tendência cres-
cente de custos, evoluindo de R$ 2.229.990,58, em 2008, para R$
5.152500,33 em 2012.
Apesar do aumento dos custos, no período estudado, o valor mé-
dio das internações teve redução em seus principais subgrupos de
causas, incluindo os acidentes com motociclistas. Em 2008, o valor
médio da hospitalização por acidentes de trânsito era R$ 1.220,21. Já,
em 2012, essa média caiu para R$1.111,50. Dentre os subgrupos de cau-
sas, as hospitalizações em pacientes ocupantes de automóveis apre-
sentaram maior média de gastos nos anos estudados (R$1.538,82),
seguido por lesões em motociclistas (R$1.169,07). Numa análise tem-
poral, ambas as causas tiveram uma diminuição no valor do custo
médio com a internação. Também foi observada uma redução na
média de permanência no hospital desse grupo de pacientes (PE-
DREIRA et al., 2013).
Estudo único, a respeito do tema realizado pelo Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão em 2003, constatou que:
A coleta dos custos médico-hospitalares relativos aos progra-
mas de reabilitação foi feita de forma retrospectiva. Foram levan-
tados os prontuários e realizada a seleção e escolha dos pacientes e
entrevistas. Foram escolhidos dois tipos de lesões que resultam em
deficiência física definitiva e exigem um programa de reabilitação
estruturado multiprofissional e que são atendidas de forma rotinei-
ra no serviço. Incluiu-se pacientes com lesão da medula espinhal
e pacientes amputados dos membros inferiores, deficiências essas

266
decorrentes de acidentes de trânsito. No total, foram selecionados
20 pacientes incluídos no programa de reabilitação do Hospital das
Clínicas, abrangendo os 18 primeiros meses de atendimento após a
alta hospitalar, que levaram a um custo médio de R$56 mil por víti-
ma (BRASIL, 2003, p.29).
Estudo realizado durante a Dissertação de Mestrado de Palu
(2013) pode-se observar que “o custo dos danos a motocicleta, variou
de 15,00 a 5.800,00 reais, com mediana de 300,00 e média de 597,20
+/- 860,80. Estes dados se referem a 155 vítimas, e não estão incluídos
valores de perda total do veículo, ocorrido em 9 ocasiões”.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplica-
da (IPEA) e o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN,
2006), com base em estudo realizado entre os anos de 2003 e 2006, os
ATs representam custos anuais da ordem de R$ 28 bilhões no Brasil.
Custos com AT no Brasil foram estimados em R$ 3,6 bilhões (abril
de 2003) de acordo com a pesquisa “Impactos sociais e econômicos
dos ATs nas aglomerações urbanas”, realizada pelo IPEA. Esses cus-
tos foram determinados com base no tratamento e reabilitação das
vítimas, na recuperação ou reposição dos bens materiais danificados,
no custo administrativo dos serviços públicos envolvidos e nas per-
das econômicas e previdenciárias (IPEA; DENATRAN, 2006).
O Brasil ocupa a quinta posição entre os países com maior nú-
mero de mortes por AT, estimando-se, ao ano, 40.000  óbitos, que
somados aos feridos graves, ultrapassam 150 mil vítimas e, custos
totais relacionados aos acidentes em torno de R$ 28 bilhões anuais
(BRASIL, 2014; BACCHIERI; BARROS, 2011; PAIXÃO et al., 2015).

METODOLOGIA
O presente estudo se configura como quantitativo, descritivo e ex-
ploratório. Foi desenvolvido no Hospital Regional de Emergência
e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, referência no município
de Campina Grande-PB no atendimento de acidentados, onde no
ano de 2013 atendeu a 10.064 pacientes acidentados por motoci-
cletas. Os dados foram coletados no setor de arquivologia de pron-
tuários e radiografias juntamente com o departamento de contas
médicas, local que gera o valor dos procedimentos do prontuário

267
(RODRIGUES, 2012). Seguiu-se o preceito da resolução Nº 466, de
12 de Dezembro de 2012 com pesquisa com seres humanos com o
número aprovado no comitê de ética, pela Plataforma Brasil, de nú-
mero 37576914.9.0000.5187, através do projeto de Iniciação Ciénti-
fica intitulado “Gasto Público Com Acidentes Automobilísticos na
Cidade de Campina Grande-Paraíba” cota 2014-2015 com número de
inscrição 4.06.02.00-1-3904.
No tocante aos critérios de inclusão foram analisados todos os
prontuários disponibilizados nas SIH e SIA do respectivo hospital do
ano de 2013 separado por mês que atendam a inclusão no estudo: ser
acidentado de veículos automobilísticos, com registro nos prontuá-
rios da ingestão de bebida alcóolicas na admissão do hospital, bem
como, todos os custos disponibilizados pelo SIH e SIA dos atendi-
mentos prestados com as vítimas já caracterizadas. Foram excluídos
do estudo os demais prontuários, que não atenderem os critérios de
inclusão.
No primeiro momento, foi realizada contagem de todos os pron-
tuários pela planilha mensal do ano de 2013 onde foram registrados
os que possuíssem como fator de atendimento (independente se foi
na internação ou no ambulatório) o fator “Acidente de moto” e “Que-
da de Moto”. Em seguida, separados os prontuários pela amostra am-
bulatorial (85%) e, amostras em internação (15%).
Para a contabilização total dos gastos foi somado os gastos totais
em ambulatório mais os gastos totais em internação. Em seguida os
outros dados foram distribuídos separadamente e em comparação.
Para atender os requisitos de coleta foi utilizada a busca explora-
tória direcionada por meio de um questionário elaborado para com
os documentos de admissões e custeios de pacientes pelas SIA E SIH.
Foram coletados após a autorização do Comitê de Ética no mês
de Outubro de 2014 a Agosto de 2015. Foi realizado com os respecti-
vos documentos de admissão dos pacientes e registros de custo pelo
SIA e SIH. Foram coletados através de uma entrevista semiestrutura-
da. Nessa entrevista como fonte de coleta de dados foi desenvolvido
formulário versando acerca de dados socioeconômicos dos pacien-
tes, intervenções realizadas e número de procedimentos geradores
de valor aos Sistemas de Informações Ambulatoriais e Sistema de

268
Internações hospitalares.
Os dados foram tabulados pelo programa software Excel©. Uti-
lizando a fórmula de amostragem sistemática de estágio único da
fórmula:

de cada mês, onde “n” foi o tamanho da amostra que queríamos


calcular, “Z” o tamanho do universo a uma constante de 1,96, “e” É a
margem de erro máximo que eu quero admitir a uma proporção de
0,5 e “p” é a proporção que esperamos encontrar a uma proporção
de 5%. Onde se obteve a aleatoriedade de amostras aproximadamen-
te em “3” para a fidedignidade da coleta ser permanecida.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

DADOS SOCIOECONÔMICOS DOS ACIDENTADOS


Foram analisados 3152 prontuários de acordo com o valor amostral
apresentado onde foram realizadas análises das variáveis socioeco-
nômicas como sexo, faixa etária, cidade, estado e profissão. Obser-
vou-se que 2073 (85,74%) dos acidentados são provenientes do Sexo
masculino (Tabela 1) e possuem a maior faixa etária entre 21 a 30
anos (Tabela 1). Em comparação com estudos similares acerca do
tema, Pedreira et al., (2013); Paixão et al., (2015); Rechennheihn et
al., (2011); Ascari et al., (2013) e, Nascimento e Alves (2013) afirmam
que pessoas do sexo masculino mais se acidentam no trânsito e con-
sumem bebidas alcoólicas. Esse fato se relaciona diretamente ao fa-
tor cultural, imprudência do sexo masculino quanto a ingestão de
álcool.
Com relação à variável idade, Nascimento e Alves (2013) demons-
traram que parte dos acidentados (81%) possuíam idade superior a 18
anos. Esse fato é atestado pelo fato da grande contingência de jovens
condutores que muitas vezes não possuem experiência no trânsito
assim como a facilidade de consumo de bebidas alcoólicas.

269
A origem dos acidentados relaciona no presente estudo 10 cida-
des, apresentando Campina Grande o maior número (45,68%), Quei-
madas (2,93%), Alagoa Nova (2,24%), Lagoa Seca (1,99%), Esperan-
ça (1,77%), Boqueirão (1,64%), Puxinanã (1,64%), Pocinhos (1,58%),
Aroeiras (1,36%), Juazeirinho (1,20%). Sugere-se a ocorrência do fato
a condição de Campina Grande ser uma cidade de médio porte com
400 mil habitantes (IBGE, 2014), refletindo a proximidade dos aci-
dentados em procurarem o Hospital de Trauma com menos tempo e
mais facilidade do que os outros habitantes das outras cidades. Tam-
bém nota-se o fato das cidades serem circunvizinhas ao município
campinense e todas serem do Estado da Paraíba (Tabela 1).
Quanto a origem, em termo de Estado, os pacientes da Paraíba
assumem a liderança (87,97%), seguida de Pernambuco (0,83%), Ma-
ranhão (0,21%), Minas Gerais (0,21%), Rio Grande do Norte (0,10%)
e, não constava Estado em 10,68% dos prontuários.
Em relação à profissão dos acidentados em 58,61% dos prontu-
ários não constavam com nenhuma informação em relação à sua
atividade laboral. Encontrou-se que 11,83% dos pacientes eram agri-
cultores, 7,76% estudantes, “Do lar” consistiu em 1,9%, Pedreiro em
1,42%, aposentado (a) consistiu em 1,42% e “Menor” em 1,07%. As
outras profissões seguiram um percentual menor que 1%.
A Tabela 1 apresenta a distribuição dos prontuários segundo ca-
racterísticas sociodemográficas.

270
Tabela 1 – Distribuição dos prontuários segundo características
sociodemográficas dos pacientes

Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.

271
NÚMERO DE ACIDENTADOS NO SERVIÇO DE
EMERGÊNCIAS DO HOSPITAL DE TRAUMA DE CAMPINA
GRANDE
Ao analisar e contabilizar os números de acidentados por moto no
setor SAME, distribuídos por mês, o total e tipo de entradas no Hos-
pital e, contabilizado as entradas “Queda de Moto” e “Acidente de
Moto”, procedeu-se a distribuição das frequências e exposição em
gráfico.
Ao analisar a distribuição de entradas dos acidentados por mo-
tocicletas, percebe-se que os meses de junho e julho, meses de maior
festividade na cidade e comumente de maior consumo de bebidas
alcoólicas pela população não foram os meses de maior número de
entradas de acidentados, sendo o mês de dezembro o possuidor de
maior número de entradas. Levanta-se a hipótese desse fato ocorrer,
durante os meses mais festivos, em virtude de maior fiscalização da
regulação da Lei Seca, tornando-a mais efetiva e consequente redu-
ção de motociclistas alcoolizados, assim minimizando acidentes no
trânsito.
Esse fato corrobora com estudos realizados por Malta et al.,
(2010), onde aponta redução de mortalidade após a efetivação da Lei
Seca em 2008, constatou-se haver no âmbito brasileiro geral redução
(-7,4%) de mortalidade por Acidentes de Trânsito.

272
Gráfico 1 – Distribuição e frequência de acidentados por mês, no ano de 2013,
no Hospital Emergência e Trauma de Campina Grande Dom Luiz Gonzaga
Fernandes.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.

GASTO PÚBLICO COM OS ACIDENTADOS POR


MOTOCICLETAS
O gasto total com acidentados correspondeu a R$ 110.596,40 com
média de R$ 25,00 por paciente. O gasto total com pacientes em am-
bulatório de R$ 61.541,65 com média de R$ 14,28 por paciente. O
gasto total internação de R$ 49.054,75 com média de R$ 527,47 por
paciente. O fato a ser destacado se trata da limitação durante a cole-
ta dos prontuários de internação já que não foi possível catalogar o
número de todos os procedimentos que geram valor, já que o ano de
2013 não possuía todos e alguns dos procedimentos possivelmente
já estariam mudados e/ou vencidos. Essa dificuldade atesta também
com dificuldade semelhante encontrada em trabalhos de outros au-
tores como Rodrigues et al., (2009) quando este afirma que: “(...)
Duas limitações nos dados disponíveis dificultam o cálculo direto
do custo da violência para o Sistema de Saúde Pública do Brasil.
Em primeiro Lugar as informações disponíveis não permitem uma

273
distinção dos procedimentos e custos associados”.
Nesse sentido o trabalho também procurou trazer outros tipos de
processos realizados que não geram valor direto, tais como medica-
mentos, exames radiológicos e semelhantes para enriquecer a pes-
quisa. Observa-se, Gráfico 2, exames e medicamentos utilizados no
setor ambulatorial e setor de internação.

Gráfico 2 - Exames Utilizados No Atendimento Ambulatorial Aos Acidentados


Por Moto no Hospital de Trauma em Campina Grande no ano de 2013, em
percentual.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.

Constata-se exames realizados em ordem decrescente de reali-


zação: Radiografia do tórax (9,55%), seguido de radiografia da bacia
(8,24%), Radiografia da coluna cervical (7,87%), Ultrassonografia to-
tal do abdômen (7,33%), radiografia do joelho (6,76%), radiografia
do ombro (5,93%), radiografia do pé (5,56%), radiografia da perna
(4,62%), radiografia do tornozelo (4,45%), não consta entrou em
uma quantidade considerável na pesquisa (8,04%).
Em relação ao setor de internação os exames mais realizados
foram Hemograma (43,70%), seguidos de Ultrassonografia Total
do abdômen (26,07%), Tomografia (7,16%), Tomografia da Cabeça
(7,02%), Ecocardiograma (10,50%) e Tomografia da face (0,57%).

274
Na comparação de estudos semelhantes, pode-se observar que
Soares (2013) conseguiu obter o custo real dos exames além de sua
quantificação não ocorrendo no presente estudo em virtude da con-
tabilidade do hospital ser por registro de quantidade de exames. As-
sim, em estudos futuros, pretende-se conseguir obter valor de cada
exame específico e facilitar a contabilidade de tais procedimentos.

Gráfico 3 – Exames Mais Realizados Na Internação Ao Acidentados Por Moto No


Hospital De Trauma em Campina Grande No Ano De 2013, em Percentual.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.

Em relação aos medicamentos utilizados só conseguiu manter


unanimidade e coesão com prontuários dos pacientes atendidos no
ambulatório, em contrapartida, os de internação não possuíam uma
precisão exata. O Gráfico 4 apresenta os medicamentos mais utiliza-
dos no ambulatório.

275
Gráfico 4 -Principais medicamentos utilizados por acidentados de moto no
ambulatório no Hospital de Trauma em Campina Grande durante o ano de 2013,
em percentual.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.

Nessa avaliação de dados pode-se relacionar que em estudos an-


teriores referidos por Soares (2013) se pode obter, além da quantida-
de dos medicamentos, o valor real total e sua média direta de custos
diferentes do encontrado na pesquisa onde havia registro somente
dos procedimentos e seus respectivos valores. Faz-se então a suges-
tão de que nos futuros estudos se encontrem uma maneira onde este-
jam mais explícitos os valores de cada medicamento e procedimento
realizado.

ÍNDICE DE ALCOOLEMIA ENTRE ACIDENTADOS POR


MOTO DURANTE O ANO DE 2013
A investigação do uso de bebidas alcoólicas pelos acidentados
gerou diferente resultado comparada a estudos semelhantes sobre o
tema. Abreu et al., (2012) e, Bacchieri e Barros (2011) mostram que
o índice de ingestão de álcool ultrapassava o índice de não ingestão.
Os índices de ingestão foram de 9,16% consideravelmente menor que
os de “não ingestão ou não constam o uso de bebidas alcoólicas”
conforme gráfico 5. Esse fato pode se atestar com a possível relação
da Lei Seca na redução de motoristas alcoolizados e também com

276
fato da possível omissão do consumo de bebidas pelos pacientes nos
prontuários, como afirmado por Malta et al., (2010).

Gráfico 5 -Uso De Bebidas Alcoólicas Pelos Acidentados Por Moto Atendidos No


Hospital De Trauma De Campina Grande No Ano De 2013, em Percentual.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES CLÍNICAS


Observados os prontuários, verificaram-se informações diagnósti-
ca ou justificativa de internação do paciente (Gráfico 6) e, especia-
lidades médicas mais requisitadas (Gráfico 7). Semelhantes estudos
sobre o tema, como o de Franco et al., (2015) que averiguou em um
dos objetivos de sua pesquisa sobre a “Distribuição das vítimas de
acidente de trânsito de acordo com o tipo de trauma” onde consta-
tou-se que acidentes na região das pernas, braços, cabeça e lombar
ocorrem em maior quantidade, respectivamente.

277
Gráfico 6 -Diagnóstico dos pacientes acidentados por moto no ambulatório do
Hospital de Trauma de Campina Grande durante o ano de 2013.

Fonte: Dados da pesquisa, 2013.

No presente estudo, o Politrauma é o diagnóstico mais detecta-


do durante a admissão dos pacientes, corroborando com estudo de
Ascari et al., (2013) onde demonstra que segmentos anatômicos dos
acidentados por moto foram em mais de um membro (79%) levando
a crer que a maioria dos acidentes por motocicletas de qualquer na-
tureza acomete traumas de grande extensão ao acidentado.
Os resultados pouco diferem dos apresentados em pesquisas an-
teriores acerca do tema, como o estudo realizado por Santos (2004)
quando este apresenta prevalência de membros/cintura pélvica,
principalmente dos ocupantes de motocicleta. Parreira et al., (2012),
ao analisar as lesões em motociclistas vítimas do trânsito, cita que
80,4% das lesões ocorreram em extremidades, seguida das lesões na
região da cabeça com 15,5% e ainda que, a maior predominância dos
atendimentos na sala de emergência foi dos motociclistas vítimas de
trauma fechado, relatando ainda que as lesões mais graves estavam
entre extremidades (FRANCO et al., 2015).
Fato que chama atenção devido grande quantidade de termo re-
gistrado é o termo “Não Consta” durante a coleta realizada, propon-
do a sugestão que em futuras pesquisas se atentem melhor a lograr
com mais especificidade e precisão os termos não encontrados para

278
melhor análise de dados.

Gráfico 7 - Especialidades Médicas Requisitadas no Atendimento Ambulatorial


de Acidentados por Moto no Hospital de Trauma de Campina Grande no Ano
de 2013.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.

Em comparação com estudos antecessores, pode-se afirmar que


Cirurgião Geral foi a ocupação médica mais revisitada no setor am-
bulatorial com os acidentados no ano de 2013, seguidos por Orto-
pedista e Traumatologista, Radiologista e Diagnóstico por imagem,
neurocirurgião e Buco-Maxilo-Facial (onde a porcentagem ultra-
passa 1%), correlacionando-se com a pesquisa feita por Ascari et al.,
(2013) que por mostrar que a quantidade de membros afetados pelo
trauma em acidentados influi também em suas especialidades médi-
cas para tal processo interventivo de cura e reabilitação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo demonstra que o maior percentual de acidentados
é do sexo masculino, encontrando-se intimamente relacionado com

279
fator cultural da imprudência masculina ser maior que a feminina.
O percentual de jovens motoristas de 21 a 30 anos prevalece a quan-
tidade de acidentados, chamando a atenção para esse grupo estar
presente nos estudos citados.
Na correlação ao número de acidentes provocados por motoci-
cletas, conclui-se ser o mês de dezembro com maior número de aci-
dentados contrariando resultados e estatísticas de estudos anteriores
apontam que em períodos festivos, de mais consumo de álcool pelos
motoristas, tornam-se períodos com mais vicissitudes no trânsito.
No entanto, para melhor detalhamento científico, tornam-se neces-
sários estudos contínuos no mesmo hospital para melhor análise
desse evento.
Acerca dos índices de ingestão de álcool 90,84% de acidentados
não tinham o registro de ingestão de álcool em seus prontuários. Por
isso, propõe-se estudo contínuo no mesmo hospital para anos subse-
quentes e melhor análise acerca do tema.
Em relação aos gastos, existe limitação de acesso aos dados em
virtude da forma de anotação da contabilização dos cálculos, não há
valor direto dos medicamentos.
Quanto às formas de trauma e acometimentos dos acidentados,
o estudo revela e explicita, ainda mais, a gravidade do acidente de
motocicleta pode acometer o cidadão, atestando a necessidade da
população por maior fiscalização no trânsito pelas autoridades res-
ponsáveis, minimizando os agravos. Neste contexto, faz-se necessá-
rio pesquisas subsequentes para avaliação de acidentes envolvendo
motociclistas em outros anos.

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284
CONDUÇÃO À PRISÃO EM
CUMPRIMENTO À LEI 11.343/2006

Maria Gabryella Nogueira da Rocha


Clésia Oliveira Pachú

INTRODUÇÃO
O presente artigo intitulado “Condução à prisão em cumprimento a
lei 13.343/2006” busca evidenciar a problemática do tráfico de drogas
quanto à necessidade de investigação de crimes que envolvem o uso
indevido de drogas. O tráfico de drogas é um desafio para sociedade
e Estado. Este tem o dever de resguardar a proteção dos direitos de
todos os cidadãos que lhes transferiram legitimidade para agir em
nome da coletividade quando a ordem social for perturbada assim
como também tem o dever de reinserir aqueles que transgridam as
suas leis penais (FOUCAULT, 2017). De forma que só caberá ao ente
estatal o dever fundamental de punir o particular que vier a desobe-
decer ao estado de direito.
Neste contexto, a Lei de entorpecentes, datada de 2006, dispõe
acerca da criação do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
Drogas e recomenda medidas preventivas ao uso indevido de drogas
ilícitas, atenção e reinserção social de usuários, e, dependentes quí-
micos (BRASIL, 2017). É válido ressaltar, que a lei prevê repressão à
produção desautorizada de substâncias que causem torpor e o tráfico
de drogas ilícitas.  A presente lei não pune o usuário de drogas ilícitas
com pena de privação de liberdade, remete à existência da necessária
advertência acerca dos efeitos promovidos pelas drogas, prestação de

285
serviços à comunidade e participação em projeto educativo.
Na perspectiva de descobrir quais variáveis influenciam o tráfico
de drogas na Cidade de Campina surge o questionamento: Qual o
perfil sócio demográfico e a forma de condução à prisão dos cida-
dãos que descumprem a Lei Federal, que regula os crimes relaciona-
dos ao uso e venda de drogas ilícitas no Brasil, lei de Drogas? A busca
por resposta acerca da população enquadrada em algum dos artigos
que compõem a Lei de Tóxicos, atualmente conhecida como Lei de
Drogas, quem são essas pessoas que se envolvem com tráfico de dro-
gas, a motivação seria obter vantagem financeira ou simplesmente
para manter o vício.
Dessa forma, esta pesquisa objetivou identificar a forma de con-
dução à prisão em cumprimento a Lei 11.343/2006 na comarca de
Campina Grande, Paraíba. A problemática das drogas ilícitas nessa
cidade carece de propostas para redução efetiva da criminalidade
vinculada ao tráfico de drogas e, delineada pelo perfil sociodemo-
gráfico dos desobedientes à lei de drogas.

REFERENCIAL TEÓRICO

A FIGURA DO USUÁRIO, DEPENDENTE E TRAFICANTE


A lei 11.343/06 revogou a antiga Lei 6.368/76 e criou o Sistema Na-
cional de Políticas sobre Drogas. A nova lei simbolizou novo olhar
do legislador acerca do tráfico de drogas. A antiga lei visualizava ape-
nas repressão e com atenção maior a figura do traficante, em con-
trapartida, a nova lei passou a vislumbrar a saúde pública, trazendo
tratamento diferenciado quanto ao usuário, dependente químico e
traficante. Tais figuras são distintas, o usuário faz uso da substância
ilícita e mantém suas atividades diárias normais, enquanto o depen-
dente tem uso habitual deixando suas atividades em segundo plano
e rompendo os seus relacionamentos sociais. Já o traficante, com fins
meramente econômicos, promove a disseminação de ser atraente e
confortável o uso de substâncias psicoativas ilícitas.
Na doutrina é fácil perceber a diferença entre condutas acima
descritas, no entanto, na prática isso se torna diferente por serem
diferenciadas, figuras delitivas do usuário e traficante. O marco

286
distintivo da variante quantidade de drogas em posse do indivíduo
no momento do flagrante é inócuo ao judiciário na tomada de de-
cisão de medidas adequadas por ausência de conteúdo probatório
suficiente a ensejar condenação.

ESTRATÉGIAS PARA INVESTIGAÇÃO, VALORAÇÃO E


PUNIÇÃO DO CRIME
A problemática das drogas é um desafio percorrido pelas autorida-
des de polícia judiciária. Foucault (1999), em sua obra menciona a
existência de confusão entre dois tipos de poder: O que presta justiça
e formula uma sentença aplicando a lei e o que faz a própria lei.
Neste contexto, considerando essa premissa, quando nos referi-
mos ao âmbito dos entorpecentes nos deparamos com um universo
paralelo ao estado de direito, no qual a norma do país parece não tem
valor (FOUCAULT, 2017).
Durante o século XVIII, Foucault relata uma nova estratégia para
solução dos conflitos, que não seria a de punir mais, mas a de punir
melhor. Desde então, pensou-se em regras para prática de punir, tais
como: um crime só é cometido porque traria vantagens, se tornas-
se desvantagem, deixaria de ser desejável sua prática; a punição não
precisa utilizar o corpo basta representar a dor e o sofrimento; o cri-
me deverá ter efeitos naqueles que ainda não cometeram; cada crime
deve estar associado à ideia de um castigo específico (FOUCAULT,
2017).
É possível cogitar que com esses parâmetros de punição pode-
ria haver uma redução significativa da criminalidade, porém, frisa-
se existir duas faces do criminoso, considerado inimigo de todos e,
desqualificado como cidadão. No entanto, não podemos esquecer o
princípio da individualização dessas penas, utilizando critérios sin-
gulares de cada criminoso.
Também não podemos esquecer que quando trabalhamos com
drogas a situação é mais delicada do que imaginamos, pois no âmbi-
to de uma mesma situação fática poderá estar um inocente, usuário
ou traficante, reduzindo ao magistrado a figura do filósofo proposto
a descobrir a verdade real.
Os núcleos descritos no artigo 28 da legislação especial, frisa que

287
a incriminação se dará a vários agentes, em conjunto, pois ao adqui-
rirem a droga para consumo será absolutamente viável a imputação
de todos os agentes, mesmo que somente um deles tenha sido sur-
preendido com a droga, porquanto o acordo de vontades e o vínculo
psicológico unem os infratores objetivando um propósito comum.
E quando a análise da quantidade de droga encontrada em poder
do réu segue a seguinte orientação legislativa do art.28, § 2º: “Para
determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz aten-
derá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e
às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais
e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente” (BRA-
SIL, 2017).
Podemos perceber a partir deste dispositivo a importância que
existe no conhecimento das variáveis relacionadas não só ao mo-
mento da conduta do agente, bem como o próprio agente e contexto
social em que é inserido.
Dessa forma, inegável a importância da presente pesquisa por
buscar analisar a forma de condução à prisão por descumprimento
da lei e, observar a atuação das autoridades policiais e judiciárias que
lidam diariamente com o tema das drogas ilícitas, dirimindo confli-
tos em torno do Tráfico de Drogas em Campina Grande.

METODOLOGIA
A metodologia da pesquisa no planejamento de atividades deve ser
entendida como o conjunto detalhado e sequencial de métodos e
técnicas científicas a serem executados ao longo da pesquisa, de tal
modo que se consiga atingir os objetivos inicialmente propostos e,
ao mesmo tempo, atender aos critérios de menor custo, maior rapi-
dez, maior eficácia e mais confiabilidade de informação (BARRETO;
HONORATO, 1998).
A presente pesquisa quantitativa descritiva foi desenvolvida no
Fórum Afonso Campos na cidade de Campina Grande, no segundo
semestre de 2014. Foram analisados todos os processos do ano de
2013 e, anotados o perfil sociodemográficos dos cidadãos que des-
cumpriram a lei de drogas, bem como, a forma de condução à prisão.
O caráter descritivo expõe características de determinada

288
população ou fenômeno. E quanto aos meios de investigação se trata
de pesquisa documental, onde foram utilizados processos judiciais
da vara de entorpecentes da Comarca de Campina Grande. Usou-se
formulário próprio e, realizada análise de todos os dados constantes
nos processos da referida vara do ano de 2013.
Foram observados os aspectos éticos conforme preconiza a Re-
solução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde que trata da pes-
quisa envolvendo seres humanos (CAAE 63174716.0.0000.5187). Na
presente pesquisa foi realizada a análise estatística descritiva simples.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste panorama, organizou-se um formulário no qual continha
várias informações dos principais autores das infrações que a Lei
11.343/2006 prevê, bem como o perfil dessas pessoas e a forma como
os profissionais que atuam diariamente com a problemática regis-
tram essas ocorrências, levando-se em consideração todas as variá-
veis possíveis para chegar a conclusão da real situação que Campina
Grande se encontra quando o assunto é tráfico de drogas.

NÚMERO DE RÉUS POR PROCESSO


No Gráfico 1, é possível analisar que grande percentual (62%) dos
processos se encontravam com apenas um réu, ficando em segundo
lugar os processos com dois ou no máximo três réus (31%). Em ape-
nas três processos não foi possível detectar a autoria, tendo em vista
que dois destes a droga foi arremessada ao presídio para suposta-
mente ser utilizada pelos presos e no outro caso foi a situação em que
vários menores estavam em posse de droga no maior evento junino
da cidade e ao ver escolta policial jogaram em direção incerta, de
modo que os policiais não pudesse ter a certeza da autoria do delito.
Em consonância com esses dados, o Estado de São Paulo também
demonstrou em pesquisa realizada no ano de 2011 uma situação se-
melhante, onde a maior porcentagem das apreensões era de apenas
um indivíduo (JESUS et al., 2011).

289
Gráfico 1 – número de réus por processo em percentual.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

TIPO DE DENÚNCIA
No Gráfico 2, demonstra-se a forma como a notícia da ocorrência do
delito chega às autoridades judiciárias, ficando visível que a maioria
(91%) das denúncias são embasados apenas no auto de prisão em
flagrante que sempre tem como testemunha os policiais que partici-
param da abordagem policial que deu ensejo à prisão do indiciado,
tendo sido 41 processos iniciados dessa forma. Apenas 1 portaria de-
flagrou o processo, sendo esta oriunda do presídio, cujo o diretor do
estabelecimento prisional abriu sindicância e encaminhou a denún-
cia para delegacia para ser averiguada a infração cometida.

Gráfico 2 – Forma de condução à prisão.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

290
Em comparação com pesquisa realizada no Estado de São Paulo
em 2011, os dados não parecem ser muito diferentes, tendo em vista
que é uma cidade que já possuia à época uma Delegacia especia-
lizada na área de entorpecentes, aproximando-se de forma notória
os dados, pois 85,63% das apreensões foram efetuadas pela Polícia
Militar e apenas 9,58% foram efetuadas pela polícia civil, o que nos
leva a crer que está havendo uma falha no sistema de investigação
policial, podendo serem levadas em consideração algumas hipóte-
ses, tais como: a) A polícia civil trabalha com um número ínfimo
de profissionais e uma deficiente estrutura que os impossibilitam de
agir com a profundidade que cada caso necessita; b) As colheitas de
provas após a efetuação da prisão se torna muito mais difícil e can-
sativa, tendo em vista que um dos meios de provas mais difíceis de
serem produzidas é a testemunhal, pois a maioria das testemunhas
tem medo de depor (JESUS; OI; ROCHA; LAGATTA, 2011).
Neste diapasão, leva-se em consideração que a Polícia Militar não
tem condições, nem estrutura para o traficante de grande porte, ten-
do, portanto que depender dos mecanismos utilizados pela polícia
civil. O que demonstra que as grandes quantidades ainda estão em
circulação na nossa cidade pelos grandes traficantes que se utilizam
de pessoas para criar uma rede e dificultar o acesso a eles.

SEXO DOS RÉUS


O Gráfico 3 ilustra o crescente envolvimento das mulheres no tráfi-
co, muito embora o público masculino ainda domine a maior parte
desse universo chegando a ser de 93%.
Foi possível constatar que a maioria dessas mulheres que se en-
volve direta ou indiretamente com tráfico é atraída por seus parcei-
ros, seja com o intuito de levar a eles o produto para consumo nos
presídios ou até mesmo para substituir o companheiro na liderança
do tráfico enquanto este se encontra preso.

291
Gráfico 3- Sexo dos réus.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

Segundo dados obtidos junto à pesquisa realizada pelo Departa-


mento Penitenciário de Segurança Nacional, mostrado na Tabela 1,
o número de mulheres encarceradas em virtude do cometimento de
tráfico de drogas cresce a cada ano, sendo o crime com maior ocor-
rência neste caso.
O que nos conduz a que crer que este é um fenômeno que atinge
todas as regiões do país, desde aquelas que possuem grandes centros
de investigação até as cidades de pequeno porte.
As mulheres se envolvem na criminalidade, geralmente, por meio
de seus companheiros e são presas em revistas penitenciárias trans-
portando droga para dentro dos presídios (DEPEN, 2014).

292
Tabela 1 – Tipificação criminal por sexo, em percentual
FEMININO MASCULINO
Violência doméstica 0 Violência doméstica 1
Receptação 1 Receptação 2
Quadrilha ou bando 1 Quadrilha ou bando 3
Latrocínio 2 Latrocínio 3
Desarmamento 3 Desarmamento 8
Roubo 7 Roubo 11
Homicídio 7 Homicídio 12
Furto 8 Furto 14
Outros 8 Outros 21
Tráfico de drogas 63 Tráfico de drogas 25

Fonte: DEPEN, 2014.

É interessante citar que em alguns países como os EUA o sexo


é fator relevante na aplicação da sentença, o sexo feminino possue
mais probabilidade de serem reduzidas as penas do que aos homens,
pois conforme o estudo feito por alguns autores como Albonetti,
(2002), LaFrentz & Spohn, (2006), Mustard, (2001), os homens são
mais propensos à criminalidade. Além disso, mulheres com filhos
são mais prováveis de ganharem benefícios que mulheres sem filhos,
assim como no Brasil (SPOHN; SAMPLE, 2013).

IDADE DOS RÉUS


É possível observar, no Gráfico 4, que a maioria das pessoas que se
envolvem nesses crimes está numa faixa etária de alta produtividade,
ou seja, que teoricamente deveria estar apta a exercer alguma ativi-
dade laborativa, pois se enquadra no conceito de população econo-
micamente ativa.

293
Gráfico 4 - Idade dos réus.

Fonte: Dados da Pesquisa 2016.

A população de jovens nos presídios, segundo pesquisa formu-


lada em junho de 2014 pelo DEPEN, comparando o perfil etário da
população prisional com o da população brasileira em geral e, cons-
tatou-se que a proporção de jovens é maior no sistema prisional que
na população em geral (DEPEN, 2014).
Porém é imprescindível analisarmos a vida diária desses jovens
ou adultos antes de sofrerem a privação da liberdade. Os jovens que
estão envolvidos em situações vulneráveis não só são vítimas da vio-
lência como se tornam um produto fabricado por esta, pois muitos
adultos que hoje se encontram nas grandes penitenciárias quando
eram jovens tiveram um frágil contexto social, familiar e educacional.
Nessa perspectiva, fatores como o ambiente em que habitam,
como iremos observar mais adiante no Gráfico 5, juntamente com
as pessoas com quem se relacionam e o comportamento individual
de cada sujeito são variáveis propícias que o adaptam ao cenário da

294
criminalidade.

ESCOLARIDADE DOS RÉUS


Em consonância com o Gráfico 5, é possível analisarmos a intrínseca
relação que a idade teve com o grau de instrução adquirido por es-
sas pessoas, pois nenhum dos indivíduos examinados durante a pes-
quisa por amostragem possuía ensino superior completo. A maioria
possui como grau de escolaridade máximo apenas o ensino médio
completo.

Gráfico 5 - Escolaridade dos réus.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

Interessante, lembrarmos que este é um dos critérios de seletivi-


dade dos transgressores da lei no nosso país. A passagem pela vida
universitária concede para aqueles que cursaram o ensino superior
completo direito de aguardar o julgamento em uma sala de estado
maior, e somente após a condenação ser inserido na massa carcerária
comum.
Há algum tempo a prisão especial foi objeto de discussão, especi-
ficamente, no ano de 2015, quando o Procurador Geral da República,
Rodrigo Janot, ajuizou ação para considerar tais beneficios incons-
tituicionais. Segundo o procurador, o texto que originou tais privi-
légios foi redigido em uma época onde havia supressão de garantias

295
constitucionais (MARTÍN, 2017).
Após tomar conhecimento o advogado Geral da União deu pa-
recer argumentando que a prisão especial é temporaria e que o res-
paldo estaria vinculado aos princípios da isonomia e presunção de
inocência.
No entanto, ressaltou que a ilegalidade está pautada em não se
conceder o benefício a todos, de modo que seria necessário uma lei
que regulamentasse a extensão do benefício (MARTÍN, 2017).
No Gráfico 5 também se concretiza as palavras lançadas pelo Ju-
rista Flávio Gomes, onde afirma o perfil do preso brasileiro se man-
tém entre os jovens e pessoas de baixa escolaridade. Essa situação
permanece porque não são apresentadas políticas públicas realmen-
te eficazes de inserção do jovem na atual sociedade, ao contrário,
economiza-se em escolas para construir presídios (GOMES, 2017).
O jurista menciona, ainda, o fato de que é preciso trabalhar a base
da sociedade ampliando as possibilidades de participação social e no
mercado de trabalho, a fim de se evitar que nossas crianças e jovens
vejam como única saída, já que quase sempre ela se apresenta como
fácil a entrada para criminalidade (GOMES, 2017).

LOCAL DO CRIME
De acordo com o Gráfico 6, temos uma possível noção do panorama
geográfico da atuação desses indivíduos no que tange à localidade
onde foram realizadas grande parte das abordagens policiais.
Diante dessa observação, foi possível perceber que o tráfico está
presente em todas as regiões, muito embora ainda predomine nos
bairros mais pobres, pois são nestes onde as rondas policiais são
mais intensas.

296
Gráfico 6- Local do crime.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

No entanto, durante a pesquisa foi averiguado alguns casos de


pessoas que apesar de residirem em um bairro não atuam dentro
dele. Alguns indivíduos se organizam de maneira que a comercia-
lização do entorpecente possa ser deixado em algum local prede-
terminado, funcionando como uma espécie de “delivery” no tráfico.
Algumas regiões circunvizinhas que fazem parte da comarca de
Campina Grande também tiveram participantes no crime de tráfico,
porém estes não residiam nessas cidades, faziam apenas a comercia-
lização no momento da abordagem.
Vale ressaltar também que o presídio da cidade de Campina
Grande apesar de situado na região oeste da cidade, ele foi analisado
individualmente como status de uma região/bairro.
Dessa maneira pudemos constatar que ele também teve o maior
número de abordagens, o que evidencia a presença influente do trá-
fico dentro dos presídios.

DROGAS APREENDIDAS
Podemos averiguar a monopolização do circuito que envolve o crack
e a maconha na região da Borborema (Gráfico 7). O crack por ser
uma droga de fácil acesso traz um alto nível de dependência por sua
característica intensa e imediata, o que faz com que estas pessoas que

297
consomem, o consumam cada vez mais.

Gráfico 7- Drogas aprendidas durante abordagens policiais.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

Neste contexto, gera-se um círculo de violência generalizada,


onde a droga passa a ser o centro e a forma de vida de muitas pes-
soas. Porém, esquecemos que por trás das drogas existem famílias
sendo destruídas, pessoas assaltando para seu consumo, pessoas ma-
tando para monopolizar o comércio das drogas.
O Ministro do Desenvolvimento Social no Conselho Nacional de
Políticas sobre Drogas, o senhor Osmar Terra, relata em uma de suas
entrevistas e critica a posição favorável à legalização das drogas ex-
planada pelo ministro do STF, Luís Barroso.
Para Terra, a ideia de que o tráfico e violência acabarão com a
liberação das drogas é uma distorção da real problemática. Segundo
este Ministro, não é o tráfico que mais mata, mas sim otranstorno
mental, a violência doméstica, os latrocínios cometidos por quem
está em busca de droga e são estes que não aparecem nas mídias
(GLOBO, 2017).
Por título comparativo nos deparamos com sistemas congêneres
ao nosso, mas com algumas peculiaridades. Por exemplo, nos Es-
tados Unidos, assim como no Brasil, possui um sistema de amos-
tragem para constatação do material colhido para análise,entretanto

298
em alguns de seus estados se tem a preocupação de analisar todo
o conteúdo do recipiente apreendido para certificar se realmente é
droga. Essas situações ocorrem com mais frequência quando o ma-
terial apreendido é pó solto, já que poderia ser heroína ou cocaína,
por exemplo, ou, possivelmente, um fármaco falsificado, tais como a
farinha, o açúcar.

ENQUADRAMENTO LEGAL DOS RÉUS


O enquadramento legal dos autores das condutas previstas na Lei
13.343 de 2006 (Gráfico 8) é uma questão ainda controvertida, pois
até pouco tempo atrás em nossa cidade não havia um centro de in-
vestigação com especialização na área do tráfico de entorpecentes, o
que dificultava o papel do judiciário na hora de fazer o julgamento
desses indivíduos.
Nesse sentido, foi possível abstrair que grande parte dos pro-
cessos teve sua fundamentação legal embasada ou na posse ou na
associação de duas ou mais pessoas para cometimento dos verbos
elencados no art. 33 da lei 13.343 de 2006, quais sejam:
Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,
vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, tra-
zer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar (BRASIL, 2017).

Gráfico 8 - Enquadramento Legal.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

299
Diante deste contexto vislumbramos a problemática tênue que
perpassa a esfera do poder judiciário ao ter que analisar a situação
de indivíduos que ora se apresentam como usuários ora traficantes.
E ao observamos o quadro abaixo veremos que o maior percen-
tual está enquadrado dentro de tráfico e muitos desses como visto no
quadro 4.1 são duas ou três pessoas que são encontradas sob posse
de drogas em quantidade razoável, mas que a cena geral do crime dá
indícios notáveis da prática do tráfico.
Tendo como referencial uma pesquisa realizada em São Paulo no
ano de 2011, Estado esse que possui uma estrutura de polícia científi-
ca bem melhor que o nosso, uma vez que é o maior Estado do nosso
país e tem a maior população carcerária, a problemática é a mesma.
Nos EUA existem dois fatores graves que são utilizados como
presunção do Narcotráfico: primeiramente ser reincidente no tráfi-
co e em segundo lugar ser pego portando arma, pois a utilização
desta reforça a potencial lesividade da conduta a ser dotadas pelos
agentes. Também é relevante mencionar que nessa mesma pesquisa
observou-se que 72% dos brancos eram pegos com metanfetamina
enquanto os negros 76% trabalhavam com o crack. Porém algo que
chamou atenção é que na dosimetria da pena apesar de os brancos
cometerem mais infrações que os hispânicos (latino americanos), es-
tes tinham pena mais severa, o que evidencia a desigualdade étnica
(SPOHN; SAMPLE, 2013, p.10).
Também se assemelha com a nossa realidade a forma como são
abordados os suspeitos de tráfico nos EUA, pois são através de evi-
dências circunstanciais, tais como: armas, grandes quantidades de
dinheiro, scanners policiais, beepers, telefones celulares, parafernália
de drogas e a quantidade de drogas ilícitas na posse do réu, emba-
lagem, são com esses indícios que a acusação forma um arsenal de
informações para estabelecer a intenção do réu de distribuir drogas
(ALAN J.; IZENMAN, 2003, p.9).

CONCLUSÃO
A ausência de delegacia especializada na área de entorpecentes
pode influenciar na esfera judicial, devido a fragilidade das provas

300
e dificuldade de delimitação da conduta dos indivíduos envolvidos
nos crimes dispostos na Lei de drogas.
Vimos durante a pesquisa que a distinção entre usuários de dro-
gas e traficantes é um debate que ainda parece longe de estar esgota-
do, bem como a dúvida sobre o provável encarceramento de usuários
de drogas como traficantes.
E apesar de ser uma cidade interiorana, Campina Grande, conta
com um alto índice de criminalidade e até o ano de 2016 não pos-
suía um centro de investigação voltado para área de entorpecentes.
Assim, dificultando o trabalha das autoridades policiais e judiciárias
da região, de modo que delegacias distritais e/ou de roubos e furtos
acumulavam suas funções com área de entorpecente, não obtendo o
aprofundamento que esta necessitava.
O trabalho de Investigação tem grande importância, pois é por
intermédio dele que podemos analisar detalhadamente as circuns-
tâncias que envolvem o contexto da conduta delituosa, bem como os
potenciais atores da malha que envolve o tráfico e os crimes conexos
a ele.
Durante a pesquisa o perfil das pessoas que são conduzidas a
prestar esclarecimentos na esfera policial são pessoas jovens e adul-
tas, que de modo geral possuem baixo nível de escolaridade e veem
no tráfico um meio de vida, uma fonte de renda.
Dessa forma, buscou-se por meio dessa pesquisa evidenciar a
problemática do tráfico de drogas desde o perfil das pessoas que in-
fringem a normal penal, a forma que é conduzida à prisão e como
essas variáveis influenciarão no livre convencimento motivado do
juiz, podendo o magistrado julgar contrariamente no todo ou em
parte, o laudo de constatação de drogas.

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303
Sobre o livro

Projeto gráfico Erick Ferreira Cabral

Normatização e correção Antônio de Brito Freire

Mancha Gráfica 10,5 x 16,7 cm


Tipologias utilizadas Adobe Garamond Pro 11/13,2 pt

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