Acupuntura e A Prática Da Psicologia

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Acupuntura e a prática da Psicologia

Paulo Pedro P. R. Costa


psicólogo com especialização em acupuntura e epidemiologia
http://etnomedicina.blogspot.com/2018/10/acupuntura-e-pratica-da-psicologia.html

A profissão de técnico de acupuntura, médico acupunturista e profissionais


de saúde especializados em acupuntura (acupunturistas com formação de
nível superior) no Brasil, ainda estão sem critérios legais para
regulamentação de sua formação.

Apesar de ser uma ocupação reconhecida por diversos conselhos profissionais


(vide lista de portarias em anexo), fazer parte dos serviços de saúde oferecidos
no SUS - Sistema Único de Saúde (Portaria 971 do Ministério da Saúde, 2006),
assim como também estar incluída no Catálogo Brasileiro de Ocupações
editado pelo Ministério do Trabalho, 1977, em convênio com a OIT
(Organização Internacional do Trabalho (MT/OIT/UNESCO-Bra 70/550 nº
0.79 – 15, onde se define a categoria "Acupunturista"), no Brasil, o
acupunturista ainda está sem critérios legais para regulamentação de sua
formação e exercício profissional.
O objetivo do presente texto é a tentativa de entendimento de uma das querelas
interprofissionais: a "despropositada" intervenção de segmentos da classe
médica, para contestação da Resolução nº 05 de 24 de maio de 2002 do CFP -

1
Conselho Federal de Psicologia, que autorizava os profissionais desta categoria
a prática da acupuntura. O Colégio Médico de Acupuntura – CMA, através da
ação ordinária solicitou a anulação do ato administrativo do CFP, com ação
iniciada em agosto de 2002.

Em 2002, o CFP foi o oitavo conselho federal de saúde a reconhecer a


acupuntura como especialidade e prática reconhecida para suas respectivas
categorias profissionais. Em 23 de agosto de 2004, houve a decisão judicial,
proferida pelo Juiz Federal Alexandre Vidigal de Oliveira considerando
improcedente o pedido do Conselho Federal de Medicina de suspensão da
citada Resolução nº05/2002, editada pelo Conselho Federal de Psicologia, que
reconhece o uso da acupuntura como um recurso complementar ao trabalho do
psicólogo. (Vectore, 2005)
Este processo havia sido julgado pelo TRF - Tribunal Regional Federal e decido
nessa instância que “não estão, os profissionais da Psicologia, habilitados para
a prática do diagnóstico clínico e prescrição de tratamento, por
isso considerando improcedente. Ação esta contestada e vencida como vimos
em 2004. Contudo por recorrência Conselho Federal de Medicina foi a novo
julgamento no STF - Supremo Tribunal Federal.

Apesar recurso do CFP apresentado ao STF (junho/2013), este manteve a


decisão proferida pelo TRF 1ª Região de anulação da Resolução CFP 05/2002,
que reconhecia a acupuntura como recurso complementar no trabalho da(o)
psicóloga(o), uma vez que, houve o entendimento de que é competência da
União legislar sobre as condições do exercício das profissões regulamentadas.
A partir desta decisão o Sistema de Conselhos de Psicologia, iniciado pelo CRP
– SP ponderou que estando o psicólogo(a) apto a assumir responsabilidades
profissionais para as quais está capacitado pessoal, teórica e tecnicamente
(como previsto em seu código de ética), e considerando caráter
multiprofissional e livre do exercício da Acupuntura no Brasil, não há óbice ou
qualquer impedimento para que o psicólogo possa atuar no campo.
Recomendando apenas que não vinculasse a sua prática como acupunturista à
profissão de psicóloga(o) entendendo também, que essa vinculação, por si só,
não constituirá falta ética sobre a qual recairá qualquer procedimento disciplinar
(CRP-SP, 2015)

O estado atual do impedimento do exercício da acupuntura por profissionais de


psicologia limita-se portanto apenas à vinculação da prática simultânea de
acupuntura e psicologia em uma mesma ação clínica ou espaço profissional
(supõe-se). Contudo quero me deter na argumentação proferida nesse
julgamento, o entendimento de que psicólogos não podem exercer a prática da
acupuntura “por se tratar de matéria não prevista na Lei que regulamenta

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a sua profissão” e portanto a Resolução nº 05/2002 do CFP é ilegal e deveria
ser anulada.

Resumindo, cabe também aqui a ressalva de que no Brasil a acupuntura foi


praticada por psicólogos, autorizados pelo CFP, por mais de dez anos (2002-
2013) sendo fiscalizada pela Associação Brasileira de Acupuntura, (até a sua
desautorização, ainda em discussão, em 2013). Além disso já existe ampla
literatura e artigos publicados sobre sua pertinência no tratamento de patologias
mentais decorrente desse exercício, sendo também a psicologia corporal e
bioenergética consideradas uma prática complementar no tratamento da dor,
tensão muscular e ansiedade em doenças crônicas. (Oliveira, 2013)

Psicologia clínica.
Observe-se inicialmente que na história do reconhecimento da acupuntura no
Brasil, já constava sua aplicação a doenças nervosas e saúde mental, estava
previsto que o acupunturista executasse o tratamento de distúrbios psicológicos
(psíquicos), nervosos além de outros distúrbios orgânicos e funcionais;
Naturalmente, ou melhor, possivelmente, para julgar os psicólogos como não
aptos a intervir em distúrbios relativos à saúde mental, os juristas devem ter-se
detido na lei nº 4.119, de 27 de agosto de 1962, que instituía a profissão de
Psicólogo e especificava que constitui função privativa do Psicólogo a
utilização de métodos e técnicas psicológicas com os seguintes objetivos:
a) diagnóstico psicológico;
b) orientação e seleção profissional;
c) orientação psicopedagógica;
d) solução de problemas de ajustamento.
Entendimento este que aparentemente ignora que o diagnóstico psicológico se
aplica à condições clínicas, e que estas foram superficialmente compreendidas
como “solução de problemas de ajustamento”. Naturalmente que este termo
"ajustamento" já sofreu muitas críticas, sobretudo por psicólogos sociais e
comunitários que preveem para a profissão de psicólogo: a ocupação de cargos
de administração no poder público, e o empodeiramento de populações para
que venham obter as necessárias reformas sociais que lhes proporcionem
melhor condição e qualidade de vida. Apesar do termo ajustamento ser uma
nítida referência a capacidade de adaptação das teorias do stress (físico e
psicológico) e da biologia evolutiva.
Observe-se também que a essência da pratica da acupuntura é a estimulação e
que o estudo da estimulação sensorial, sua medida, e efeito neurofisiológico foi
o berço de origem da psicologia científica. Seja nos estudos de psicofísica de
Ernest Heinrich Weber (1795-1878) e Gustav Fechner (1801-1887), sobre a
intensidade física dos estímulos e magnitude da sensação psicológica ou mesmo

3
do próprio W. Wundt (1832-1920), no primeiro laboratório de pesquisa de
psicologia.

Wilhelm Wundt, foi assistente de Hermann Helmholtz (1821-1894) no Instituto


de Fisiologia da Universidade de Heidelberg, e Helmholtz, foi quem mensurou
a velocidade do impulso neural (antes da invenção dos aparelhos de
eletroneuromiografia). Dando seguimento aos estudos de psicofísica. Devemos
a Wundt também a proposição dos princípios básicos para estudo da fisiologia
da consciência (enquanto substrato material da vida mental) e determinação das
quatro características fundamentais das sensações (qualidade, intensidade,
extensão, duração). Diga-se de passagem características essências para o
entendimento da reflexologia e mesmo das científicas interpretações ocidentais
dos efeitos da acupuntura.

Psicoterapia
Além do limitado entendimento da psicologia por parte dos operadores do
direito ou juristas do STF, como visto, observe-se ainda que a interpretação da
referida "solução de problemas de ajustamento" apenas no âmbito
psicopedagógico e organizacional, omite (leia-se ignora) sua aplicação clínica
e estudo da utilização de índices psicofisiológicos, como os aqui mencionados.
Os representantes do Colégio Médico de Acupuntura – CMA e Tribunal
Regional Federal da Primeira Região, ignoraram principalmente a resolução
do Conselho Federal de Psicologia de inclusão das atividades de
psicoterapia na matéria (prevista por Lei) para regulamentar a profissão
de psicólogo.
Reporto-me ao texto das “Atribuições Profissionais do Psicólogo no Brasil -
Contribuição do Conselho Federal de Psicologia ao Ministério do Trabalho”
destinado a integrar o CBO - catálogo brasileiro de ocupações – enviada em 17
de outubro de 1992, onde melhor se especificou a dimensão do diagnóstico e/ou
sua aplicação na psicoterapia como atividades do Psicólogo Clínico.
Nesse referida publicação pode-se ler que o psicólogo atua na área específica
da saúde, colaborando para a compreensão dos processos intra e interpessoais,
utilizando enfoque preventivo ou curativo, isoladamente ou em equipe
multiprofissional em instituições formais e informais. Realiza pesquisa,
diagnóstico, acompanhamento psicológico, e intervenção psicoterápica
individual ou em grupo, através de diferentes abordagens teóricas.
A descrição de ocupação do psicólogo (no detalhamento das atribuições) inclui
nos seguintes itens (aqui selecionados):
1 – Realiza avaliação e diagnóstico psicológicos de entrevistas, observação,
testes e dinâmica de grupo, com vistas à prevenção e tratamento de
problemas psíquicos.
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2 – Realiza atendimento psicoterapêutico individual ou em grupo, adequado
às diversas faixas etárias, em instituições de prestação de serviços de saúde, em
consultórios particulares e em instituições formais e informais.
4 – Realiza atendimento a crianças com problemas emocionais,
psicomotores e psicopedagógicos.
5- Acompanha psicologicamente gestantes durante a gravidez, parto e
puerpério, procurando integrar suas vivências emocionais e
corporais, bem como incluir o parceiro, como apoio necessário em todo este
processo.
7- Trabalha em situações de agravamento físico e emocional, inclusive no
período terminal, participando das decisões com relação à conduta a ser
adotada pela equipe, como: internações, intervenções cirúrgicas, exames e altas
hospitalares.
13-Realiza pesquisas visando a construção e a ampliação do conhecimento
teórico e aplicado, no campo da saúde mental.
17-Participa de programas de atenção primária em Centros e Postos de Saúde
ou na comunidade; organizando grupos específicos, visando a prevenção de
doenças ou do agravamento de fatores emocionais que comprometam o espaço
psicológico.

Psicologia clínica, abordagens teóricas afins


O termo psicoterapia foi utilizado pela primeira vez em 1872, por um médico
inglês, Daniel H. Tuke (1827-1895) no seu “Manual of Psychological
Medicine” (1858), este teve ampla repercussão, integrando-se paulatinamente
à psiquiatria (alienismo), à psicanálise, e finalmente à psicologia,
multiplicando-se as interpretações de seu significado e práticas decorrentes. Há
mesmo autores que acreditam ser inoperante classificar da diversas formas de
psicoterapia, considerando que surgiram mais de setenta escolas dessa ciência
e técnica no mundo, a partir da segunda metade do século XX.

No século XX constata-se a progressiva conquista da teoria e técnica proposta


por Sigmund Freud (1856-1939). Pode-se esboçar a trajetória científica da
psicanálise como abandonando inicialmente as suas relações com o estudo
neurológico das afasias, abandonando a incipiente e tóxica psicofarmacologia
da época, e mesmo o tratamento da histeria através da hipnose, estruturando-se
como ciência no exercício clínico.
Já consagrada como "terapia da palavra", a psicanálise, fundamenta-se, além da
metodologia clínica, no estudo antropológico dos costumes e pesquisas sobre
arte, religiões, e naturalmente sobre linguística e teoria da literatura. Afirma-se
5
paulatinamente como não exclusiva de profissionais de medicina. Contudo
circunscrevendo as demandas da psicopatologia, da psicologia jurídica dos
sociopatas e inimputáveis, além da medicina psicossomática, vem retornando,
na atualidade, ao “projeto de uma psicologia para neurologistas” ou
neuropsicologia. É visível esta tendência com a recriação da neuropsicanálise,
cujo marco histórico pode ser a criação da Internacional Neuropsychoanalysis
Society em Nova York, 1990. Observe-se porém que não perdeu a abertura
teórica e técnica de ser exercida por profissionais não médicos.
Na apresentação dos "textos geradores do ano da psicoterapia",
a psicoterapia é reconhecida como prática do psicólogo, por se constituir,
técnica e conceitualmente, um processo científico de compreensão, análise e
intervenção que se realiza através da aplicação sistematizada e controlada de
métodos e técnicas psicológicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela
ética profissional, promovendo a saúde mental e propiciando condições para o
enfrentamento de conflitos e/ou transtornos psíquicos de indivíduos ou grupos.
(Resolução CFP nº 10/00, de 20 de dezembro de 2000)
Ainda segundo esse texto do Conselho Federal de Psicologia, constata-se que
na atualidade, existem mais de 250 modalidades distintas de
psicoterapias. Numa lista considerada não exaustiva, na classificação de
Escolas de Psicoterapia (há setenta denominações no mundo), pode-se
identificar três grandes grupos:

1) Psicoterapias arcaicas ou clássicas (sete denominações, por exemplo,


hipnotismo);
2) Psicoterapias psíquicas ou psicocorporais, derivadas ou dissidentes da
psicanálise, conhecidas como “novas terapias” (com 39 denominações, por
exemplo, psicodrama e gestalt-terapia);
3) Terapias do comportamento, ditas também terapias cognitivo
comportamentais (TCC) – (10 denominações, por exemplo, terapia cognitivo-
comportamental e dessensibilização pelos movimentos oculares).
Identificam-se ainda outras modalidades, incluídas em outra seção,
classificadas segundo as Escolas de psiquiatria ou de psicopatologia ditas
dinâmicas ou psicodinâmicas (aliança de uma forma clínica e de um sistema de
pensamento, inclui: psicanálise; psicologia clínica; psicoterapia institucional;
psicologia analítica e psicologia individual).

Creio ser ponto pacífico que acupuntura, a ioga e outras técnicas de origem
oriental se inserem no grupo das intervenções psicossomáticas,
psicoterapias bioenergéticas ou corporais.

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A questão essencial da proposição do CFP sobre a psicologia clínica e, em
especial, as psicoterapias, é, se estas podem e/ou devem ser definidas como
ciência?

O próprio CFP nos apresenta uma lógica e brilhante resposta:


... as psicoterapias não podem e não devem ser definidas como ciência. Não
podem porque – como argumentamos acima – elas não se enquadram no
espaço epistêmico da racionalidade moderna. Não devem porque sua não
cientificidade não é defeito a ser corrigido no futuro, mas é o traço essencial
de um saber cuja fecundidade reside justamente em resistir à pretensão de uma
objetividade e de uma operacionalidade universais. As psicoterapias possuem
caráter sapiencial que as aproxima dos antigos exercícios espirituais e sua
riqueza consiste não só em resistir ao avanço da administração total da vida,
mas em preservar o lugar antes ocupado pela sabedoria antiga. (Conselho
Federal de Psicologia. Ano da Psicoterapia, textos geradores. CFP. XIV
Plenário; Gestão 2008 - 2010)
Por outro lado autores como, Stahl, Schwartz e Sachdeva, propõem modelos
científicos para o que denominam farmacopsicoterapia, onde o efeito da
psicoterapia é comparado a uma droga epigenética, ou seja, capazes de produzir
modificações que não envolvem mudanças na sequência de DNA do
organismo. Os citados autores analisam evidências e nos sugerem que tanto a
farmacoterapia como a psicoterapia podem atuar convergindo sua ação,
possivelmente em neurocircuitos semelhantes, alterando o funcionamento do
cérebro como um todo, ao aliviar sintomas psiquiátricos em quadros de
depressão e ansiedade, por exemplo.

Jacques Alain Miller (1944), um dos fundadores da École de la Cause


Freudienne, distingue as psicoterapias das intervenções diretas sobre o cérebro,
cirúrgicas, elétricas ou químicas, entretanto inclui no campo contemporâneo
das psicoterapias, as intervenções sobre a realidade psíquica advindas da
sabedoria oriental e destaca as que "passam pelo corpo", (formas de ginástica
advindas das sabedorias orientais) e ocidentais da antiguidade, de
dominação psíquica das funções e apetites somáticos, ou as disciplinas de
maestria do corpo.

Algumas considerações sobre a acupuntura


Apesar do seu reconhecimento como arte terapêutica e medicina tradicional,
patrimônio cultural intangível da humanidade (UNESCO, 2010) sua integração
ao sistema de saúde hegemônico e conhecimento científico tem sido igualmente
controvertida.

A tese do presente autor (Costa, 2000) destaca a importância da


compreensão das caraterísticas psíquicas e neurológicas para o
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entendimento ocidental da acupuntura. Esta proposição considera que
estamos diante de uma versão etnomédica do antigo conhecimento oriental
(asiático) sobre o cérebro e/ou funções do sistema nervoso. Ou seja,
considera que utilizando a metodologia desenvolvida pela antropologia
estrutural, pode-se investigar como o cérebro sua anatomia, funções e
disfunções, podem ser tomados como objeto de estudo da
antropologia/etnografia ao ser considerado como análogo aos invariantes
biológicos ou mitemas, como por exemplo o modo como os animais podem ser
estudados (na etnozoologia) e se constituem como invariantes,
os zoemas (Levi-Strauss, 1986 p.99) nas distintas narrativas míticas.
Autores como Oliver Sacks (1933-2015) e Clifford Geertz (1926-2006)
denominaram o estudo da interface cérebro, mente, cultura como
neuroantropologia, área do saber que até mesmo já se constituiu como uma
comunidade de pesquisadores, a Sociedade Internacional de
Neuroantropologia. Onde se pesquisa tentando desvendar o enigma de como o
cérebro pode ser pensado (e estudado ou como a mente e os processos
cognitivos produzem a cultura que lhe produz e organiza.
A realidade é que o estudo da acupuntura em sua essência não diverge do estudo
de como diferentes povos lidam com o processo de adoecimento, o
comportamento social e a adaptação do ser humano, e esta questão é o principal
objeto da etnomedicina (Fábegra, 1975)
A capacidade desse sistema etnomédico para modificar estados, sinais e
sintomas de diversas patologias do sistema nervoso, especialmente a dor, é
reconhecida e pesquisada no ocidente há pelo menos 3 décadas, quando houve
um reconhecimento formal da OMS. Em 1980 a OMS publicou uma relação
com cerca de 40 patologias e estados patológicos com eficácia reconhecida
onde pelo menos 22 são distúrbios funcionais (psicossomáticos) que
envolvem o controle direto do Sistema Nervoso Central - SNC e/ou -
Sistema Nervoso Autônomo SNA
Na acupuntura, a mais conhecida técnica da Medicina Tradicional Chinesa,
encontra-se a identificação de muitos sinais e sintomas de alterações da função
nervosa como dor (cefaléia, associadas e não associadas à dano nas estruturas
do sistema periférico - segmentar), ansiedade, distúrbios autonômicos
emocionais, alterações reflexas de tônus e postura, tremores, alterações
comportamentais e cognitivas associadas a disfunções elétricas e funcionais do
cérebro (convulsão, hiperatividade, demência, retardo e deficiência mental) que
podem ser avaliados e tratados por intervenção em pontos que se distribuem por
todo o corpo, nos distintos meridianos identificados por essa técnica, associada
ou não a outras formas de tratamento da medicina tradicional chinesa, onde se
inclui a administração de compostos fitoterápicos (psicoativos inclusive) e
outras formas de intervenção.

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É bem verdade, que esses sinais e sintomas estão descritos e trabalhados de
modo distinto da medicina ocidental, mesmo assim, esta pode beneficiar-se
dessa antiga forma de intervenção terapêutica como referência de pesquisa e/ou
pratica clínica e vice versa.
Na monografia de especialização em acupuntura do presente autor, orientada
pelo professor Jurecê Machado, que na época administrava uma clínica escola
associada a Associação Brasileira de Acupuntura – seção Bahia, fundada pelo
Prof., Haeckel Meyer, foi elaborada uma lista de fenômenos e manifestações
orgânicas (fisiopatológicas e clínicas) do sistema nervoso que são
simultaneamente abordadas pela acupuntura e/ou neuropsicologia e
medicina psicossomática, a saber:
Alterações na organização cíclica temporal (relógios biológicos): o tempo
e possíveis marcadores de ritmos e ciclos ultradianos, circadianos, cósmicos e
especialmente o Ciclo Vital, onde estudaremos as depressões, especialmente
sazonais, a insônia, os distúrbios menstruais e da função sexual.
Alterações do desenvolvimento neuropsicomotor: como o próprio nome
sugere, trata-se de uma abordagem simultânea das aplicações multidisciplinares
no tratamento (por neuroestimulação ou estimulação precoce) do
comportamento motor (especialmente o tônus) e cognitivo (linguagem,
Inteligência) de crianças com características normais e patológicas, (com e sem
retardo mental, déficit sensorial e alterações posturais). Identificaram-se na
Medicina Tradicional Chinesa proposições explicativas e tratamentos para, o
retardo mental, a hiperatividade, epilepsias e paralisias.
Distúrbios emocionais: onde a tarefa da psicologia com as diversas teorias dos
afetos e comportamento emocional é tão significativa para complementar o
trabalho da neurofarmacologia e especialmente na compreensão das doenças
mentais ou mesmo alterações comportamentais associadas a distintas patologias
orgânicas. Patologias consideradas de natureza psicossomática e emocional
como, asma, hipertensão arterial, distúrbios da função sexual são identificadas
e tratadas pela acupuntura.
Alterações da mente/ espírito, ou funções mentais superiores: o estudo
dessas funções concentrando-se no estudo da linguagem enquanto
determinante da conduta e nos quadros psicopatológicos cujo diagnóstico e
tratamento por acupuntura começam a ser reconhecidos e mencionados nos
manuais de tratamento, a exemplo da depressão, histeria, ansiedade e mesmo a
psicose. Mais recentemente tem se evidenciado que o tabagismo e outras
formas de drogadição, também podem ser tratados pela acupuntura,
especialmente se associados a técnicas de meditação auto-conhecimento e
libertação (wu-wei, satori, samhadi) descritos nos textos sagrados, mitos,
aforismos da cultura tradicional oriental que servem de modelo e

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complementação a algumas técnica psicoterápicas como anteriormente
descrito.
Dor, nessa área, onde predomina a abordagem neurofisiológica da anestesia e
clínica, também tem sido relevante a contribuição da acupuntura para
compreensão dos mecanismos fisiológicos da dor, as suas contribuições se
somam as da neuropsicologia, especialmente dos processos depressivos e
aspectos emocionais da propriocepção e inauguram uma nova perspectiva de
compreender a acupuntura em nível microscópico e molecular.

Na citada monografia, "o mar de dentro" (Costa, 2000), abordou-se


especialmente o conhecimento sobre o sistema nervoso nas
disciplinas anatomia, neurobiologia e neuropsicologia embora já se saiba que
muitas das explicações sobre o efeito clínico da acupuntura vêm da imunologia,
da endocrinologia e da medicina psicossomática, seja essa última interpretada
na escola psicanalítica ou medicina comportamental, apesar da ênfase dada ao
estudo das propriedades reflexas do sistema nervoso ou reflexologia
pavloviana. Autores mais recentes tem proposto o termo
psiconeuroendocrinoimunologia para substituir a manifestação psicossomático
ou referindo-se a qualquer atividade do sistema nervoso.

O exercício/ estudo da acupuntura por equipe multiprofissional deve


considerar que na abordagem da neurociência, ainda não há uma
concordância plena dos métodos de estudo e especificidades profissionais
que atuam sobre essa classe de sinais e sintomas que envolvem a
integridade e funcionamento do sistema nervoso.

Seguindo a atual divisão das especialidades médicas e paramédicas esboçamos


aqui uma lista provisória das intervenções interdisciplinares sobre as síndromes,
sinais e sintomas referidos e estudados em:
Neurologia/ Fisioterapia: acidente vascular; paralisias, paresias, parestesias,
tremores, convulsão, demência e retardo mental.

Medicina psicossomática/ Clínica médica: asma, alergias, hipertensão,


taquicardia, constipação (prisão de ventre), colite, gastroptose, frigidez,
vaginismo, impotência, ejaculação precoce.

Psiquiatria/ Psicologia: hiperatividade, ansiedade; depressão, psicose.

Uma abordagem metodológica de tais distúrbios com esta proposição deve


ser, além de multiprofissional e interdisciplinar, considerar-se análoga a
um trabalho bilíngue / transcultural, como também a constatação de uma
impossibilidade de correspondências exatas em todos os níveis ou sentidos dos
sistemas em questão.
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Para concluir
Falar de acupuntura para antropólogos e neurocientistas como num texto
"bilíngüe", um texto escrito em dois sistemas linguístico – descritivos (jargões
técnicos) é a proposição (ambição) da maioria dos textos ocidentais e quiçá
orientais. A maioria dos estudos e monografias publicadas tenta esta abordagem
descreve-se uma patologia na ótica ocidental e em seguida na medicina
tradicional, sendo que poucos trabalhos abordam a eficácia das técnicas
empregadas.

Ainda está por ser realizado um estudo que realmente integre o referencial
correspondente a medicina cosmopolita ocidental e mais especificamente das
neurociências associado a epidemiologia clínica (medicina baseada em
evidências) e outro correspondendo a medicina tradicional chinesa,
considerando a tradição chinesa presente na práticas sobreviventes e /ou
identificada em seus textos mais antigos, sendo interpretada como um conjunto
coerente na ótica da etnologia (ao nosso ver melhor compreendido a partir da
orientação da antropologia estrutural).
A compreensão do taoísmo / confucionismo tem se revelado essencial para
compreensão da própria estrutura da organização da cultura chinesa, além de
constituírem-se como contribuições, ainda atuais, à filosofia e à ética da prática
terapêutica. Observe-se que, o taoísmo (religião cujo principal texto sagrado é
o Tao Te King) junto com o budismo, religiões tibetanas e hindus formam a
base das práticas orientais de meditação, que como veremos se associam ao
conhecimento médico tradicional e à moderna psicoterapia, como referido por
muitos autores incluindo o próprio C. G Jung (1875-1961) na década de 30, (do
século XX), na apresentação ao ocidente de um dos primeiros textos que
aproximam as técnicas ocidentais às práticas orientais: "O segredo da flor do
ouro, um livro de vida chinês".

O que torna espantosa e completamente esdrúxula


a afirmação de que acupuntura “é matéria não prevista
na Lei que regulamenta a profissão de psicólogo”

Referências

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2015
SOUSSUMI, Yusaku. O que é neuro-psicanálise. Cienc. Cult., São Paulo , v.
56, n. 4, p. 45-47, Dec. 2004 . Available from . access on 05 Oct. 2018.

VECTORE, Celia. Psicologia e acupuntura: primeiras aproximações. Psicol.


cienc. prof., Brasília , v. 25, n. 2, p. 266-285, jun. 2005 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98932005000200009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 21 jul. 2019.
WATTS, Alan. Psicoterapia oriental e ocidental. RJ, Record, 1972
WHITE, Adrian, Neurofisiologia da analgesia por acupuntura. in Ernest,
Edzard; White, Adrian, (org.) Acupuntura uma avaliação científica. SP,
Manole, 2001
13
-------------------------xxxxxxxxxxxxo

ILUSTRAÇÃO
Símbolo da Psicologia Ψ, a 23ª letra do alfabeto grego

針灸 Zhēnjiǔ / 針 (Zhēn: Agulhamento) 灸 (Jiǔ: Moxabustão)

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ANEXO

LISTA DE INDICAÇÕES DA ACUPUNTURA, DA ORGANIZAÇÃO


MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) [STUX G.; POMERANZ B., Basics of
Acupuncture de Springer, Fourth Edition, 1997, pg 307) ] saved from: <
http://www.smba.org.br/informacoes/respostas-12.html > SMBA On-
line - Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura
Leis citadas

LEI Nº 4.119, DE 27 DE AGOSTO DE 1962. - Atribuições Profissionais do


Psicólogo no Brasil - Contribuição do Conselho Federal de Psicologia ao
Ministério do Trabalho” destinado a integrar o CBO - catálogo brasileiro de
ocupações – enviada em 17 de outubro de 1992.

PORTARIA Nº 971, DE 03 DE MAIO DE 2006


Aprova a política nacional de práticas integrativas e complementares (pnpic) no
sistema único de saúde.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0971_03_05_2006.html

Reconhecimento da prática da acupuntura por Conselhos Profissionnais


COFITO - Conselho Federal de Fisioterapia e Terapias Ocupacionais:
RESOLUÇÃO COFITO N° 60, DE 29 DE OUTUBRO DE 1985
CFO - Conselho Federal De Odontologia, Resolução185/1993

CFB - Conselho Federal de Biomedicina: reconhece , através da Resolução no.


02/86 e 02/95, que o biomédico pode ser orientado à prática da Acupuntura
(Resoluções CFB Ab. 2012)
14
CRP - Conselho Federal de Psicologia: na Resolução CFP nº 05/2002,
regulamentou a prática da acupuntura para o psicólogo. (revogada)
COFEN - Conselho Federal de Enfermagem: RESOLUÇÃO COFEN Nº.
326/2008 Resolução COFEN nº. 326/2008

CFM - Conselho Federal de Medicina: RESOLUÇÃO CFM Nº 1.666/2003


(RESOLUÇÃO CFM nº 1.455/95; Revogada pela Resolução CFM nº
1.634/2002)
Conselho Regional de Psicologia – São Paulo, CRP - SP. NOTA TÉCNICA
Publicado em
11/5/2015 http://www.crpsp.org.br/portal/midia/fiquedeolho_ver.aspx?id=881

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15

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