Ereção Deficiente

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

Acupuntura no tratamento da disfuno ertil

Antnio Jefferson de Paula1 e-mail: [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia Ps-Graduao em Acupuntura Faculdade vila

Resumo O tratamento da disfuno ertil atravs da acupuntura, tem como base a integralidade do indivduo, oferecendo a necessria segurana, eficcia e qualidade no tratamento. O objetivo geral desse trabalho foi evidenciar como a acupuntura pode ser utilizada no tratamento da disfuno ertil. Para tanto se objetivou especificamente: apresentar a Medicina Tradicional Chinesa - MTC e a Acupuntura em termos histricos, fundamentos e reas de atuao; caracterizar a disfuno ertil; e descrever o tratamento da disfuno ertil atravs da acupuntura. Quanto metodologia, esse trabalho classifica-se como um artigo de reviso, que contempla uma pesquisa literria descritiva. Os aportes tericos revelaram que todo o organismo se interrelaciona e se auto influencia, de forma permanente, um problema como a disfuno ertil, no resulta apenas de um mau funcionamento de um meridiano, mas sim de vrios, portanto, para trat-la, h necessidade de se colocar agulhas em pontos de vrios e diferentes meridianos. As opes de tratamento que a acupuntura oferece so grandes, no entanto, a literatura registra que os pontos mais comumente estimulados so os seguintes: VG 20; VC2; VC3; VC4; VC6; B23; E36. Quanto aos resultados destaca-se que, a acupuntura realiza o equilbrio energtico e oferece resultados positivos no tratamento da disfuno ertil. Palavras chave: Acupuntura; Tratamento; Disfuno ertil.

1. Introduo A disfuno ertil, mais conhecida como impotncia sexual masculina, o objeto de estudo desse artigo, que aborda sobre acupuntura como alternativa de tratamento dessa incapacidade de se obter e manter uma ereo suficiente para um desempenho sexual satisfatrio. importante esclarecer que, embora a disfuno ertil no apresente riscos vida do indivduo, essa patologia, que no pode ser confundida com a diminuio da libido, com os distrbios da ejaculao ou at mesmo com a esterilidade masculina, desencadeia uma srie de transtornos, como a diminuio da auto-estima, aumento da ansiedade, comprometimento do relacionamento social e at depresso, dentre outros transtornos que podem causar repercusses no estado geral de sade do paciente. A disfuno ertil pode ser caracterizada como uma dificuldade ou incapacidade que o homem apresenta de iniciar e/ou manter seu pnis ereto o tempo suficiente, para se relacionar sexualmente de forma satisfatria para o casal, sendo que as causas para essa disfuno

Ps-Graduando em Acupuntura com Licenciatura Plena em Educao Fsica e Especializao em Administrao e Gesto em Sade.

podem ser desencadeadas por dificuldades psicolgicas, problemas orgnicos, de origem neurolgica, hormonal, arterial, ou at mesmo, venosa (AFONSO JNIOR, 2009). De acordo com a Sociedade Mdica Brasileira de Acupuntura SMBA (2012), a acupuntura um dos componentes da Medicina Tradicional Chinesa MTC, que contempla um conjunto de procedimentos teraputicos que introduzem estmulos em certos pontos, anatomicamente definidos, conhecidos como os pontos de acupuntura, com o objetivo de obter do organismo uma resposta recuperao global da sade, ou a preveno da doena, por meio dos seguintes processos regenerativos: normalizao das funes orgnicas de regulao e controle; modulao da imunidade; promoo de analgesia, de harmonizao das funes endcrinas, autonmicas e mentais. Na esfera legal, no Brasil, acupuntura foi reconhecida como especialidade mdica em agosto de 1995 atravs da Resoluo N 1445/1995, no entanto, j est inserida no Sistema nico de Sade - SUS desde 1988 atravs da Resoluo CIPLAN 05/88, que implantou a prtica da acupuntura nos Servios Pblicos Mdico-Assistenciais, para garantir o acesso da populao a este tipo de assistncia, criando procedimentos e rotinas relativas prtica da acupuntura nas Unidades Pblicas de Assistncia Mdica. O exerccio da acupuntura exige a elaborao de diagnstico, prognstico e instituio de procedimento teraputico invasivo (SMBA, 2012). Ainda no que se refere legislao que ampara a prtica da acupuntura no mbito da sade pblica SUS no Brasil, destaca-se a Portaria GM n 971/2006, que aprovou a Poltica Nacional de Prticas Integrativas e Complementares PNPIC estabelecendo que ao SUS, sejam integrados abordagens e recursos que busquem estimular os mecanismos naturais de preveno de agravos e de recuperao da sade, dentre eles a acupuntura e a homeopatia. O problema que deu origem pesquisa est delimitado na seguinte questo: a acupuntura proporciona efeitos positivos e como pode ser utilizada no tratamento da disfuno ertil? A hiptese que norteou a pesquisa partiu da premissa de que a acupuntura realiza o equilbrio energtico e oferece resultados positivos no tratamento da disfuno ertil. O objetivo geral desse trabalho foi evidenciar como a acupuntura pode ser utilizada no tratamento da disfuno ertil. Para tanto foram traados os seguintes objetivos especficos: apresentar a Medicina Tradicional Chinesa - MTC e a Acupuntura em termos histricos, fundamentos e reas de atuao; caracterizar a disfuno ertil; e descrever o tratamento da disfuno ertil atravs da acupuntura. Alm do interesse em aprofundar o conhecimento sobre o assunto, o estudo justifica-se pela necessidade de demonstrar que o tratamento da disfuno ertil atravs da acupuntura, tem como base o modelo de ateno humanizada e centrada na integralidade do indivduo, oferecendo a necessria segurana, eficcia e qualidade. A acupuntura deve estar centrada nas necessidades do paciente e deve ir ao encontro de suas necessidades, levando em considerao suas expectativas. Diante do exposto, que o tema reveste-se da relevncia necessria para ser discutido em nveis acadmicos, profissionais e sociais. No que se refere metodologia, o estudo foi realizado por meio de pesquisa eminentemente bibliogrfica e anlise qualitativa das informaes coletadas, tentando-se estabelecer um paralelo entre as diversas abordagens encontradas. Para o levantamento referencial terico, alm da consulta em trabalhos cientficos, disponveis ao pblico em geral, tais como livros, monografias, dissertaes, teses, manuais, jornais e artigos de revistas, publicados sobre o tema em estudo, a base de dados foi constituda por bibliotecas virtuais na internet, consideradas cientficas na rea de sade. Quanto aos aspectos ticos e legais da pesquisa, foram respeitadas todas as disposies preconizadas pela Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT, no que tange referenciao e retextualizao das obras analisadas, bem como as devidas observaes de citao e pensamento cientfico dos autores abordados.

Para a sistematizao do artigo e para atender aos objetivos propostos, o mesmo foi dividido em quatro sees. Na primeira seo, reservada introduo do trabalho, destaca-se o tema, o problema de pesquisa e hiptese, a relevncia do estudo, bem como os objetivos e a organizao do artigo. Na segunda seo, destinada ao desenvolvimento do artigo, apresentase a reviso da literatura, realizada a partir de uma pesquisa bibliogrfica, que teve como objetivo embasar e uniformizar os conhecimentos primordiais sobre Medicina Tradicional Chinesa - MTC, acupuntura, e disfuno ertil. A terceira seo apresenta a discusso das ideias principais que compuseram o trabalho. Por fim, na quarta seo, expem-se as consideraes finais do artigo e recomendaes para pesquisas futuras.

2. Reviso da Literatura 2.1 Medicina Tradicional Chinesa - MTC: Fundamentos e reas de Atuao Como a acupuntura um dos componentes da Medicina Tradicional Chinesa MTC, faz-se necessria uma boa caracterizao sobre a mesma, por isso, a necessidade de explicit-la antecipadamente, o que certamente fundamental, tendo em vista que tambm sobre esse ponto recai a ateno da presente pesquisa. Entender a medicina tradicional chinesa no uma tarefa fcil, haja vista que se fala de uma cultura e uma vivncia que no est enraizada na cultura ocidental, logo, ela no vem imediatamente mente. Diante deste contexto, entender a cultura e tentar sentir os ensinamentos a cada nova leitura permite, aos poucos, a compreenso, o sentido e a importncia desta medicina. Historicamente, Nakano (2008) esclarece que, a MTC se originou da combinao da prtica da acupuntura, da moxabusto e da farmacologia natural realizando um complexo de meios teraputicos cujos resultados e efeitos eram precisos e eficazes. Sob a dinastia Ming (13681644 d.C.), a acupuntura e a moxabusto adquiriram o aspecto prtico que se conhece atualmente. Nessa poca, conheciam-se no apenas as doses letais ou aquelas eficientes, mas tambm as possibilidades de influenciar de uma maneira absolutamente reprodutvel a reatividade especfica de cada doente. Alguns dados desta poca foram preservados at hoje. Segundo Braga; Yamamura (2008), atualmente, a medicina tradicional chinesa um vasto campo de conhecimento, de origem e concepo filosfica que abrangem vrios setores ligados sade e doena. As concepes da MTC so direcionadas muito mais ao estudo dos fatores causadores da doena e sua maneira de trat-las, conforme os estgios da evoluo do processo de adoecer, e principalmente ao estudo das formas de preveno, nisso residindo toda a essncia da filosofia e da medicina chinesa. A MTC consiste na observao dos fenmenos da natureza e no estudo e compreenso dos princpios que regem a harmonia nela existente, sendo que nessa perspectiva chinesa, o universo e o ser humano so submetidos s mesmas influncias, sendo este parte integrante do universo como um todo. Desse modo, observando-se os fenmenos que ocorrem na natureza, pode-se por analogia estend-los fisiologia do corpo humano, pois nele se reproduzem os mesmos fenmenos naturais (YAMAMURA, 2008). De acordo com Yamamura (2008, p.19), a concepo filosfica chinesa a respeito do universo est apoiada em trs pilares bsicos:
Teoria do Yang/Yin: Conceito bsico e fundamental de todas as cincias orientais que corresponde condio primordial e essencial para a origem de todos os fenmenos naturais, como, por exemplo, o princpio da energia e da matria.

4 Teoria dos Cinco Movimentos: Por meio deste conceito, procura-se explicar os processos evolutivos da natureza, do universo, da sade e da doena. Teoria do Zang Fu (rgos e Vsceras): Aborda a fisiologia energtica dos rgos, das vsceras e das vsceras curiosas do ser humano e constitui o alicerce para a compreenso da fisiologia e da propedutica energtica e da fisiopatologia das doenas e seu tratamento.

E como a acupuntura se apia basicamente nessas trs pilares (teorias da MTC), dentre outras, como a teoria dos meridianos e a teoria das substncias, as teorias do Yin-Yang, teoria dos cinco movimentos e a teoria dos Zang-Fu, permeiam todo o conhecimento da medicina, assim como o funcionamento do corpo humano, causas e sintomas de patologias, diagnstico e tratamento. Portanto, para melhor entendimento do assunto, a partir deste momento ir se discorrer brevemente sobre essas trs teorias bsicas. Conforme Yamamura (2008), o Yang e Yin configuram-se como os princpios essenciais existncia de tudo o que h no universo, e esta dualidade que determina a origem de tudo na natureza, incluindo a vida, sendo que, o Yang somente pode existir na presena do Yin, e vice-versa. Eles so aspectos opostos ou, se vistos sob uma outra perspectiva, representam uma coisa nica. Segundo Yamamura (2008), pela aplicao da filosofia chinesa medicina, constata-se que a fisiologia do corpo humano tambm obedece a um equilbrio dinmico decorrente da influncia de estmulos opostos e complementares. Este fato observado em todos os aspectos do dinamismo do corpo, como, por exemplo, nos sistemas simptico (Yang) e parassimptico (Yin), no transporte ativo (Yang) e passivo (Yin), nas contraturas (Yang) e no relaxamento (Yin), e assim por diante. Deste modo, a fisiologia da medicina tradicional chinesa representa o dinamismo das relaes Yang/Yin do corpo, e a sade expressa um equilbrio dinmico entre esses aspectos Yang e Yin. A medicina tradicional chinesa visa diagnosticar precocemente as alteraes do equilbrio Yang/Yin e a teraputica dirigida no sentido de restabelecer-se esse equilbrio energtico no corpo humano. Na viso cientfica atual, pode-se entender o pensamento do Yang e Yin de forma clara ao se estudar a teoria da relatividade de Einstein na equao E = m.c2, sendo essa premissa tambm a base da teoria energtica da medicina tradicional chinesa, haja vista que, essa equao mostra que a inter-relao entre energia e massa uma condio bsica necessria para que haja harmonizao entre os processos naturais do universo. Estudos posteriores, como, por exemplo, o da teoria quntica, vieram mostrar cada vez mais concordncias conceituais dos princpios do Yang e do Yin (YAMAMURA, 2008). Yamamura (2008), ainda esclarece que, o Yang representa todos os aspectos que se caracterizam por atividade como calor, movimento, claridade, fora, expanso, exploso, polaridade positiva, posio alto. Tambm so Yang o Sol e o homem. Na equao E = m.c2 o Yang equivale energia. O Yin representa o oposto do Yang, ou seja, os aspectos que se caracterizam por grau de atividade menor, como frio, repouso, escurido, retrao, imploso, polaridade negativa, posio baixo. Tambm so fatores Yin a Terra e a mulher. Na equao E = m.c2,o Yin equivale massa. S possvel entender a concepo de Yang e Yin no conjunto, ou seja, no h como se conceber um dos aspectos observado isoladamente. Por exemplo, somente pode-se saber o que significa calor se houver um referencial de frio; somente possvel entender o que escuro quando se conhece o claro, e assim por diante. A teoria Yang/Yin, concebida h milnios com base na observao da Natureza, obedece a trs princpios bsicos: transformao do Yang e do Yin (os aspectos Yang e Yin apresentam um constante movimento de transformao entre si, mantendo-se, no entanto, em um contnuo e constante equilbrio dinmico. Isto significa que quando o aspecto Yang cresce, o Yin decresce, e viceversa); transmutao do Yang e do Yin (quando o Yang e o Yin chegam ao seu extremo

(Yang do Yang ou Yin do Yin) transmutam-se em seu aspecto oposto. Este processo de transmutao um princpio geral inerente natureza) e relatividade do Yang e do Yin. De acordo com o princpio da relatividade, a caracterizao de um fenmeno como sendo Yang ou Yin um conceito relativo, significando que um aspecto pode ter ao mesmo tempo caractersticas Yang ou Yin, dependendo do referencial. . Os princpios do Yang e do Yin constituem um dos pilares sobre os quais se apia a filosofia chinesa, assim como todas as cincias, incluindo a humana (YAMAMURA, 2008). De acordo com Yamamura (2008), a teoria dos cinco movimentos constitui o segundo pilar da filosofia e da medicina tradicional chinesa. A concepo dos cinco movimentos baseia-se na evoluo dos fenmenos naturais, em como os vrios aspectos que compem a natureza geram e dominam uns aos outros. Nesse contexto, todos os fenmenos naturais tm caractersticas prprias, a partir das quais podem originar outros fenmenos e ao mesmo tempo sofrer, destes, influncias benficas ou malficas. As caractersticas prprias dos fenmenos naturais podem ser agrupadas em cinco categorias diferentes, que se encontram em constante movimento de gerao e de dominncia entre si, constituindo o que foi denominado de cinco movimentos, assim descritos:
Movimento gua: representa os fenmenos naturais que se caracterizam por retrao, profundidade, frio, declnio, que da, eliminao; o ponto de partida e chegada da transmutao dos movimentos. Movimento Madeira: representa os aspectos de crescimento, movimento, flores cimento, sntese. Movimento Fogo: representa os fenmenos naturais que se caracterizam por: ascenso, desenvolvimento, expanso, atividade. Movimento Terra: representa os fenmenos naturais que se traduzem por transformaes, mudanas. Movimento Metal: caracteriza os processos naturais de purificao, de seleo, de anlise, de limpeza (YAMAMURA, 2008, p.22).

Conforme Yamamura (2008), as caractersticas naturais que representam, os cinco movimentos guardam entre si uma inter-relao que permite posicion-los obedecendo-se ao critrio da gerao. Deste modo, o movimento gua gera o movimento madeira, que por sua vez, este gera o movimento fogo, o qual gera o movimento terra, que gera o movi mento metal, e este, por sua vez, gera o movimento gua. No seu dinamismo, os cinco movimentos relacionam-se entre si obedecendo, em condies de normalidade, a dois princpios bsicos, que traduzem um estado de normalidade e que caracterizam a sade; em condies de anormalidade, h a desarmonia, que caracteriza a doena (YAMAMURA, 2008). Segundo Yamamura (2008), na concepo da medicina tradicional chinesa, tanto os cinco rgos, quanto as seis vsceras esto relacionados com os cinco movimentos, logo, a teoria chinesa sobre a fisiologia energtica do corpo humano identifica cinco Zang (rgos) e seis Fu (Vsceras) essenciais, que fisiologicamente representam as caractersticas dos cinco movimentos do ser humano. Na fisiologia energtica humana, os cinco Zang (rgos) essenciais, representantes dos cinco movimentos, comandam estruturas orgnicas e promovem o dinamismo das atividades fsicas e psquicas. De acordo com Braga; Yamamura (2008), a concepo da MTC sobre os rgos, diferente daquela do Ocidente e leva em considerao trs aspectos distintos: o energtico, o funcional e o orgnico. Os dois ltimos correspondem fisiologia, histologia e anatomia patolgica estudadas no Ocidente; o enfoque energtico sui generis quer na caracterstica Yang/Yin quer nas funes que essas energias exercem ao nvel somtico e mental. A medicina tradicional chinesa denomina de Zang Fu o estudo dos rgos e das vsceras sob esses trs aspectos.

Os rgos (Zang) tm a funo de armazenar a essncia dos alimentos, que proporciona os dinamismos fsicos, viscerais e mentais e so estruturas geradoras e transformadoras de energia e do Shen (conscincia) que constitui, no exterior, as manifestaes da energia interior. J as estruturas essenciais do organismo, responsveis pela formao, crescimento, desenvolvimento e manuteno do corpo fsico e da mente so representados pelo Xin (corao), Fei (pulmo), Gan (fgado), Pi (bao/pncreas) e Shen (rins). Cada rgo, que representa um dos cinco movimentos, tem a funo de constituir e de comandar tecidos e uma parcela da energia mental (psiquismo) (BRAGA; YAMAMURA, 2008). Conforme Braga; Yamamura (2008), as vsceras (Fu) so as estruturas tubulares e ocas que tm funo de receber, transformar e assimilar os alimentos, bem como promover a eliminao de dejetos. As vsceras curiosas por sua vez, so estruturas que no atendem s caractersticas acima. Os aspectos energticos dos rgos e das vsceras, conhecidos como Zang Fu, so responsveis pela integridade do corpo. Nesse sentido, estando os Zang Fu em harmonia energtica, as funes psquicas, bem como as dos rgos e vsceras (Zang Fu) e das demais estruturas apresentaro bom desempenho funcional, mantendo-se dentro da normalidade. J as alteraes de energia dos Zang Fu para mais (plenitude) ou para menos (vazio) promovem consequncias inicialmente na energia mental (Shen), depois, sucessivamente, na colorao da tez, nas manifestaes funcionais dos rgos e das vsceras (Zang Fu) e, por fim, alteraes orgnicas das estruturas do corpo (BRAGA; YAMAMURA, 2008). Quanto relao dos Zang Fu (rgos e vsceras) com a parte somtica e com a mente (Shen), Braga; Yamamura (2008) esclarecem que essa relao utilizada como meio de diagnstico na medicina tradicional chinesa. Assim, uma alterao do estado mental significa um desequilbrio energtico do rgo correspondente. As modificaes que ocorrem no exterior, nas estruturas orgnicas, significam exteriorizao do processo interno e observando-se o exterior, conhece-se o interior. Nesse contexto, para se adequar o tratamento energtico, preciso chegar origem das alteraes energticas, que so justamente os Zang Fu (rgos e vsceras), pois, estes, alm de promoverem os sintomas e sinais orgnicos e viscerais, tambm se manifestam ao longo do trajeto de seus respectivos meridianos. medida que as alteraes energticas vo se intensificando, surgem manifestaes funcionais que os exames laboratoriais e complementares passam a detectar. O agravamento do processo altera a estrutura fsica dos tecidos (clulas), o que passa a ser demonstrvel no exame anatomopatolgico (BRAGA; YAMAMURA, 2008). Ao discorrerem acerca das reas da MTC, Braga; Yamamura (2008) destacam que a mesma mantm o foco nos fenmenos precursores das alteraes funcionais e orgnicas que desencadeiam sintomas e sinais que, muitas vezes, so acompanhadas de anormalidades nos exames complementares e laboratoriais. Provocado pelo meio ambiente, ou seja, fatores de origem externa, ou pela alimentao desregrada, emoes retidas, fadigas, fatores de origem interna, os fatores causais destes processos, nada mais do que o desequilbrio da energia interna. A MTC aborda vrios segmentos, desde a forma pela qual o indivduo cresce e se desenvolve de maneira normal, at os casos extremos do processo de adoecer. Nesse sentido, destacam-se cinco recursos essenciais, a saber: a alimentao, o Tai Chi Chuan, a acupuntura, as ervas medicinais e o Tao Yin (treinamento interior), alm do estudo da fisiologia e fisiopatologia energtica dos Zang Fu (rgos e vsceras) (BRAGA; YAMAMURA, 2008). Ao abordarem sobre a alimentao, Braga; Yamamura (2008), enfatizam que a alimentao o fator que propicia a formao do corpo fsico e da energia necessria para manter o dinamismo da forma. A verdadeira fonte da energia adquirida, formada pelos nutrientes e

pela essncia que formam e pem em atividade todas as estruturas do organismo, sendo que, foi atravs dos alimentos de origem celeste e terrestre, que foi incorporada toda essa matria. Logo, o tipo, a qualidade, a quantidade e o horrio da alimentao podem condicionar um corpo fsico e energtico inadequado para as suas atividades, originando precocemente um processo de adoecimento que assume propores crnicas e evolutivas, sujeito cada vez mais ao dos fatores etiopatognicos do adoecer (BRAGA; YAMAMURA, 2008). De acordo com Braga; Yamamura (2008), a energia e os nutrientes provenientes dos alimentos necessitam circular pelo corpo para serem consumidos, repondo as perdas e mantendo a dinmica fisiolgica. A energia (Qi) circula atravs dos meridianos (canais de energia), que so distribudos de modo semelhante aos trajetos da rede nervosa e sangunea. medida que a energia se mobiliza, o Xue (sangue) acompanha-a. A atividade muscular representa a maneira mais adequada de fazer circular a energia pelo corpo. Neste contexto, o caminhar e o Tai Chi Chuan, so recursos teis tanto para a consolidao do corpo fsico quanto da psique no favorecimento vitalidade e longevidade. Os nutrientes so distribudos pela rede sangunea. A circulao de energia nos diversos meridianos pode ser dificultada por fatores externos ou internos, o que pode ocasionar bloqueios e estagnaes de energia e de Xue (Sangue), originando os processos lgicos ou o mau funcionamento dos rgos, das vsceras e dos tecidos. Pode ocorrer tambm uma atividade inadequada dos centros de energia do corpo, responsveis pelo controle energtico dos rgos. Nestes casos, as tcnicas da massagem chinesa, o Tui-Na, oferecem melhores recursos, pois sua essncia consiste em desbloquear, circular e fortalecer as energias, principalmente a vital e a essncia sexual (Jing Shen) BRAGA; YAMAMURA, 2008). Aps a caracterizao dos fundamentos e reas de atuao da Medicina Tradicional Chinesa MTC, no item seguinte se apresentar a acupuntura que uma das muitas modalidades de tratamento includas nesse ramo da medicina. 2.2 Acupuntura: Breve histrico e Conceito De acordo com relatos histricos apresentados pela Sociedade Mdica Brasileira de Acupuntura - SMBA (2012, p.1):
A acupuntura nasceu no vale do rio Amarelo, nas costas setentrionais do mar da China, h cerca de 5.000 mil anos. A partir da, sua prtica estendeu-se a todo imprio chins, ultrapassando suas fronteiras para depois atingir a totalidade do continente asitico, onde se desenvolveu e expandiu, sendo introduzida na Coria no sculo VI, chegando ao Japo no mesmo perodo.

Segundo Wen (1985), documentos arqueolgicos e historiogrficos destacam que o desenvolvimento da acupuntura milenar, havendo indcios arqueolgicos de agulhas de slex que datam da Idade da Pedra que segundo o Hwang Ti Nei Jing, escrito h cerca de 700 anos a.C., eram usadas agulhas de pedra. Com o tempo, as agulhas de pedra foram substitudas pelas agulhas de osso e de bambu. Ainda sobre a evoluo histrica da acupuntura, conforme a SMBA (2012), os acontecimentos associados ao seu surgimento permanecem ocultos na pr-histria e como no existem documentos oficiais acerca do incio da prtica da acupuntura, a tradio atribui s origens da filosofia e medicina chinesa a trs personagens mticos:
Fu Hsi, Shen Nong e Hwang Di. Fu Hsi teria sido o primeiro dos trs imperadores mitolgicos e a ele se atribui a elaborao das concepes chinesas do Universo. Shen Nong, o Agricultor Divino, segundo dos imperadores mitolgicos, teria sido o responsvel por difundir o conhecimento e os segredos da agricultura e das plantas

8 que curam. Por fim, Hwang Di, o Imperador Amarelo, teria sido o responsvel pela autonomia da medicina chinesa e pela difuso da Acupuntura (SMBA, 2012, p.1).

Conforme Kwang (2005), no ocidente, as primeiras informaes sobre a acupuntura eram vistas com curiosidade e representava um mtodo brbaro praticado por povos estranhos. A priori foram trazidas por jesutas e viajantes precedentes do extremo oriente em meados do sculo XVII e no sculo seguinte surgiram muitas publicaes sobre o assunto, no entanto, pouco se acrescentou ao conhecimento j existente. Mais recentemente, Kwang (2005) esclarece que, no incio dos anos 70, a acupuntura teve uma grande divulgao no ocidente. Nos Estados Unidos, a acupuntura foi introduzida pelos imigrantes chineses, e, nessa poca Reuben Amber, um psiclogo norte americano, comeou a se interessar pela acupuntura quando ouviu falar na possibilidade da mesma curar doenas mentais. Alm disso, outro fato contribuiu para a divulgao da acupuntura nos EUA: um jornalista que acompanhava Richard Nixon em visita a China, depois de submetido a uma apendicectomia de emergncia, teve suas dores ps-operatrias tratadas com a acupuntura. Depois, esse jornalista publicou um artigo em que descrevia os efeitos da acupuntura e que percorreu o mundo, e ento, muitos neurofisiologistas passaram a pesquisar e desvendaram parte dos mecanismos da acupuntura (KWANG, 2005). Voltando contribuio de Reuben Amber para a divulgao da acupuntura, esse psiclogo norte americano, estudou em Taiwan com o acupunturista mais famoso da poca no mundo e a partir da comeou uma campanha vitoriosa a favor da acupuntura nos EUA, e em 1976 surgiu ento a profisso de Acupunturista (KWANG, 2005). Nakano (2008) complementa essas informaes esclarecendo que, nos Estados Unidos, a acupuntura comeou ser praticada aps os anos 70, encontrando apoio cientfico em publicaes de prestgio e de pesquisas importantes. No ano de 1979, aconteceu em Beijing o primeiro Simpsio Nacional de Acupuntura e Moxabusto, onde participaram mais de 4 mil especialistas da China e do mundo, marcando o triunfo cientfico da acupuntura, depois de trs dcadas de experimentao cientfica e moderna da acupuntura. No Brasil, a SMBA (2012), destaca que o desenvolvimento da acupuntura se processou atravs de duas vertentes bsicas: os imigrantes orientais principalmente chineses e japoneses que se instalaram de preferncia nas regies sul e sudeste do pas; e o professor Frederico Spaeth, considerado o percussor da Acupuntura no Brasil, que na dcada de 1950 chegou ao Brasil vindo da Europa e passou a praticar a acupuntura, formando uma grande clientela em pouco tempo. De acordo com Braga; Yamamura (2008), a acupuntura o recurso teraputico mais conhecido da MTC no Ocidente e o meio pelo qual, atravs da insero de agulhas, faz se a introduo, a mobilizao, a circulao e o desbloqueio da energia, alm da retirada das energias turvas (Xie Qi) classificadas como energias perversas, promovendo a harmonizao e o fortalecimento dos rgos, das vsceras e do corpo. A energia a forma imaterial que promove o dinamismo, a atividade do ser vivo e manifestase sob dois aspectos principais: um, de caracterstica Yang, representa a energia que produz o calor, a expanso, a exploso, a ascenso, a claridade e o aumento de todas as atividades; e outro, de caracterstica Yin, representa a energia que produz o frio, o retraimento, a descida, o repouso, a escurido e a diminuio de todas as atividades (BRAGA; YAMAMURA, 2008). Segundo a Sociedade Mdica Brasileira de Acupuntura SMBA (2012, p.2), a acupuntura:
Pode ser entendida como um conjunto de procedimentos teraputicos que visam introduzir estmulos em certos lugares anatomicamente definidos, os pontos de acupuntura, a fim de obter do organismo, em resposta, a recuperao global da sade, ou a preveno da doena, atravs de incremento dos processos

9 regenerativos, de normalizao das funes orgnicas de regulao e controle, de modulao da imunidade, de promoo de analgesia, de harmonizao das funes endcrinas, autonmicas e mentais.

A acupuntura o nome ocidental dado ao procedimento ou prtica teraputica chinesa que trata disfunes energticas ou promove analgesia atravs da insero de agulhas, moxas, alm de outras tcnicas (SMBA, 2012). Dados estatsticos apresentados por Kwang (2005), destacam que o Brasil um dos pases com maior nmero de profissionais acupunturistas no ocidente. Estima-se haver 20.000 profissionais e 2.500 mdicos especialistas em acupuntura. Os profissionais acupunturistas apresentam formaes diversas como fisioterapeutas, educadores fsicos, veterinrios, farmacuticos e biomdicos. No entanto, em decorrncia da falta de regulamentao proliferam-se cursos e profissionais muitas vezes de qualidade e contedo discutveis, mas mesmo assim, no Brasil considera-se que a acupuntura praticada de alto padro. 2.3 Disfuno Ertil No decorrer do processo histrico dos estudos acerca da disfuno ertil DE, Berg (2000) ressalta que, para se chegar ao estgio atual de discusso do problema, a jornada foi longa e progressiva. Ento, no incio do sculo XX, os problemas relacionados atividade sexual eram, simplesmente, ignorados, sendo que, at a dcada de 1940, a disfuno ertil era considerada como uma evoluo natural para o homem ao envelhecer. Nessa poca, destacam-se as pesquisas de Alfred Kinsey sobre o comportamento sexual, que resultou no conhecido Relatrio Kinsey, que chocou e revolucionou a conservadora sociedade americana. J nos idos da dcada de 1950, algumas pesquisas, dentre as quais se destacam a de William Master e Virgnia Johnson, acerca da fisiologia da resposta sexual humana, deram aos profissionais de sade da poca, maiores subsdios sobre a sexualidade. No entanto, a quase totalidade dos casos ainda era considerada como tendo sua origem na esfera emocional e na esfera do tratamento, a dcada de 1970 pode ser considerada como a poca das prteses penianas. Na dcada de 1980, cresceu o uso das injees intracavernosas e a dcada de 1990 caracterizou-se pelo desenvolvimento das pesquisas de medicamentos de uso oral (BERG, 2000). Em termos epidemiolgicos, destacam-se as seguintes informaes estatsticas:
Milhes de homens no mundo so acometidos pela disfuno ertil e as estatsticas mostram uma incidncia de at 5% nos homens de 40 anos e at 25% nos de 65 anos. De modo geral, quase todos aqueles que so sexualmente ativos j experimentaram um episdio de disfuno ertil pelo menos uma vez na vida (SILVA, apud SOUSA, 2008, p.62).

No que se refere ao dimensionamento da populao atingida, tem-se conhecimentos que, existe uma importante subestimativa das estatsticas, haja vista que, apenas uma pequena parcela dos portadores de disfuno ertil procuram tratamento.
Essa no-procura pode envolver desde aspectos culturais escassez de servios especializados pblicos ou privados, bem como a prpria categoria mdica apresenta suas dificuldades em lidar com o assunto. Mdicos generalistas e de outras especialidades no foram treinados para lidar com o problema das disfunes sexuais, portanto, no esto acostumados a investigar as questes ligadas esfera da sexualidade (CERQUEIRA et al., apud SOUSA, 2008, p.62).

Os estudos de Berg (2000) e de Yassumoto et al. (2004) demonstram que, levando-se em considerao o fato de que, as doenas que favorecem o aparecimento das disfunes sexuais

10

ocorrem com maior incidncia em pessoas de idade mais avanada, pode-se compreender que a disfuno ertil ocorre com mais frequncia medida que o indivduo envelhece, porm, no uma consequncia obrigatria do processo de envelhecimento, embora o mesmo leve naturalmente a algumas alteraes na resposta aos estmulos sexuais. Na esfera conceitual, a disfuno ertil pode ser caracterizada pela dificuldade ou incapacidade que o homem apresenta de iniciar e/ou manter seu pnis ereto o tempo suficiente para se relacionar sexualmente de forma satisfatria para o casal. Essa disfuno pode ser causada por problemas orgnicos, de base neurolgica, hormonal, arterial ou mesmo venosa ou ainda por dificuldades psicolgicas (AFONSO JNIOR, 2009). Por impotncia ou disfuno ertil compreende-se a incapacidade do homem conseguir uma ereo ou conseguir uma ereo mas que seja insuficiente para o sucesso da relao sexual (LEMOS, 2009, p.1). No que se refere classificao da DE, segundo Berg (2000) uma pesquisa divide a disfuno ertil em trs categorias: primria, secundria e circunstancial ou situacional. A disfuno primria ocorre quando o indivduo nunca conseguiu ter uma ereo ou apresenta o problema desde o incio de sua iniciao sexual. Considera-se disfuno secundria, a que ocorre em indivduos onde o problema surge em uma determinada poca da vida, sendo que antes apresentava erees consideradas normais. J a disfuno circunstancial ou situacional, aquela em que o indivduo consegue uma ereo em determinada condio, ou com uma (um) determinada (o) parceira (o), enquanto que com outra pessoa ou em outra situao a ereo no possvel (BERG, 2000). No que se refere origem, Yassumoto et al. (2004) esclarecem que, a disfuno ertil pode ter sua origem em causas psicolgicas (psicognicas) ou fsicas (orgnicas), ainda que no seja incomum a ocorrncia de origem mista e quando desencadeada por fatores psicolgicos, pode levar, eventualmente, a uma disfuno ertil fsica e/ou vice-versa. Segundo Fabri et al. (apud Sousa, 2008), em geral, alguns urologistas afirmam que, as causas da disfuno ertil so 70% dos casos ocasionados por problemas psicolgicos e os 30% restantes, seriam decorrentes de problemas orgnicos. Pesquisas de Chew et al. e Rodrigues et al. (apud Sousa, 2008, p.62) demonstram que:
Dentre as causas fsicas apontadas pela literatura para a disfuno ertil, podemos citar hipertenso arterial, doena isqumica do corao, doena vascular perifrica, idade avanada, diabetes mellitus, lcool e tabagismo, efeitos colaterais de drogas e medicamentos, malformaes genticas ou congnitas do rgo reprodutor masculino, bem como trauma ou cirurgia envolvendo o sistema nervoso ou o suprimento sanguneo do pnis.

De acordo com observaes de Berg (2000) e Silva (apud Sousa, 2008, p.62), os tratamentos para a disfuno ertil so to variados quanto as suas causas e os procedimentos mdicos mais utilizados para o tratamento so: psicoterapia, as prteses penianas, as cirurgias e os medicamentos, que podem ser por via oral ou por injees locais no pnis e mais recentemente a acupuntura, objeto de discusso, apresentada no item seguinte.

3. Discusso 3.1 Acupuntura no Tratamento da Disfuno Ertil Sobre os registros histricos da acupuntura no tratamento da disfuno ertil, Souza (2007), esclarece que, os escritos de Hipcrates diziam que as incises efetuadas no pavilho auricular do homem produziam ejaculao escassa, inativa e infecunda. Ele ensinava que os

11

escitas picavam uma veia no dorso auricular para cura da impotncia masculina. Essa puno provocava sono, do qual o paciente acordava curado. Hipcrates indicava uma puno com estiletes nos vasos auriculares, para tratamento de processos inflamatrios. Porm, muito antes de Hipcrates, os chineses do sculo 27 A.C., faziam meno do tratamento auricular atravs de agulhas, associado ao tratamento pela acupuntura sistmica (SOUZA, 2007). Quanto origem da disfuno ertil, segundo Yamamura et al. (1998) a MTC aponta duas causas: deficincia do Shen (rins) e presena de umidade-calor no sistema Pi (bao/pncreas)Wei (estmago). A disfuno ertil por Vazio do Shen Qi (rins) ou do tipo vazio decorrente da deficincia do Jing Shen (quintessncia energtica). No que se refere fisiopatologia da disfuno ertil, Yamamura et al. (1998) esclarecem que a mesma est relacionada diretamente ao circuito do Jing Shen. A presena de umidade-calor, ou forma plenitude, deve-se ao desregramento alimentar que lesa o Pi (bao/pncreas) e o Wei (estmago), provocando sndrome de umidade-calor no Xia Jiao (aquecedor inferior) acometendo o Shen (rins). Ao nvel dos rins, os sintomas mais comuns incluem: lombalgia, poliria, nictria, sensao de ps frios, fraqueza nas pernas e hipotrofia muscular dos membros inferiores.
Na medula espinhal relaciona-se em dois nveis: sacral, provocando deficincia da rede energtica da regio sacral, importante na circulao energtica plvica, em termos neurofisiolgicos promovendo a deficincia da inervao parassimptica das razes S2-S4, componentes dos nervos pudendo e plvico. Outro nvel a regio toracolombar da coluna vertebral (T11 a L2), onde se relaciona com a cadeia simptico-paravertebral, plexo hipogstrico superior, nervo hipogstrico, participando na formao do plexo plvico e deste para os rgos plvicos e ao pnis (YAMAMURA et al., 1998, p.1).

De acordo com Yamamura et al. (1998, p.1), ao nvel enceflico, a deficincia do Jing Shen, ocorre a hiperfuno do eixo hipotlamo-hipfise, com consequente diminuio dos hormnios gonadotrficos e alm da disfuno ertil, manifestam-se os seguintes sintomas: sensao de peso nos membros inferiores, gosto amargo na boca, sede, urina quente e vermelho-escura, lngua com revestimento espesso e gorduroso. Ao discorrer sobre o diagnstico da disfuno ertil de acordo com a medicina tradicional chinesa, Lemos (2009) esclarece que, existem 3 padres principais para se basear o diagnstico: (1) padro de plenitude - umidade-calor; (2) padro de deficincia - vazio de yang do rim; e (3) padro resultante da relao desarmnica entre 2 rgos - vazio de Qi do bao e corao, e que passam a ser descritos brevemente a seguir:
Umidade-Calor: Impotncia, edema e calor nos genitais externos, sensao de calor, comicho, urina escura, disria, possvel hematria, dor que agrava com calor e acompanhada de sensao de peso, urina com cheiro intenso, lngua vermelha com capa amarela pegajosa, pulso deslizante e rpido. Vazio de Yang do Rim: Impotncia, averso ao frio, lombalgia que melhora com presso e aplicaes de calor, poliria, frio nos genitais, sensao de conforto com aplicaes locais de calor, zumbidos, lentido fsica, tonturas, face plida, lngua plida inchada, pulso profundo e lento. Vazio de Qi do Bao e Corao: Impotncia, diminuio do desejo sexual, palpitaes, fezes moles, sintomas podem agravar com longos perodos sem comer, astenia fsica, alteraes de apetite, face plida, lngua plida, pulso fraco (LEMOS, 2009, p.1-2).

Agostinho (2012) esclarece que, geralmente utilizam-se dois procedimentos em conjunto para o tratamento para disfuno ertil: acupuntura e hipnose. A associao destas duas tcnicas

12

ainda pouco conhecida do pblico brasileiro, e por este motivo h necessidade de divulgao de alguns estudos cientficos, comprovando sua real eficcia no tratamento da disfuno ertil. De acordo com Agostinho (2012), um trabalho cientfico interessante mostrando os benefcios da hipnose e da acupuntura foi citado, em abril de 2005, pelo "American Journal of Clinical Hypnosis por Samuels, Noah no uso em vrias doenas com vrios estudos. Um destes estudos usou 60 homens com impotncia sexual masculina no orgnica. 16 foram tratados apenas com acupuntura, 15 apenas com hipnose e 29 foram do grupo controle, no receberam tratamento e no sabiam disso placebo. Alm disso, h um trabalho especfico, publicado no "Scandinavian Journal of Urology and Nephrology" em 1997. Associando as duas tcnicas, consegue-se potencializar as respostas do tratamento para impotncia sexual, alcanando resultados muito mais elevados. Outro estudo interessante foi feito na "University of Texas Health Science Center, Dallas" sobre o uso apenas da hipnose para a impotncia sexual masculina (AGOSTINHO, 2012). Ao abordar sobre a seleo de pontos para disfuno ertil Lemos (2009) destaca os seguintes pontos: 6BP, 3VC, 2VC, 23B, fazendo as seguintes observaes acerca dos mesmos:
6BP e 3VC uma combinao simples e eficaz para tratar tanto problemas urinrios como problemas relacionados com os genitais. 2VC um ponto local importante. Tanto no 3VC como no 2VC deve-se tentar fazer com que a sensao de Qi se dirija ao pnis. 23B o ponto de assentimento do Rim. Outros pontos a usar: 32B, 33B, 34B, 1VC, 3F. Nestes pontos chamar a ateno para os pontos 32B, 33B e 34B que so de extrema importncia no tratamento desta queixa. O ponto 1VC no muito usado devido sua localizao. No entanto aconselhado para este tipo de problemas. Quando puncturado deve procurar-se fazer o doente sentir sensao de Qi a irradiar at glande (LEMOS, 2009, p.2).

Sob a perspectiva dos padres clnicos, Lemos (2009) destaca os seguintes pontos de umidade-calor: 9BP, 5F, 28E, fazendo as seguintes observaes acerca dos mesmos:
28E ponto local e elimina umidade. 9BP e 5F so pontos distais. O ponto 5F alm de eliminar umidade-calor tambm beneficia os genitais sendo, por isso, um ponto de eleio neste tipo de queixa com este padro especfico. Outros pontos a usar: 10R e 8F so 5 pontos Shu e, como tal, ajudam a eliminar umidade-calor. Uma vez que os principais pontos para tratar problemas no sistema genitourinrio so os pontos dos meridianos Yin da perna e nunca deve-se esquecer estes pontos (LEMOS, 2009, p.2).

Ainda sob a tica dos padres clnicos, Lemos (2009) destaca os seguintes pontos do vazio de Yang do Rim: 4VG, 3R, 52B, 4VC, e vazio de Qi do Bao e Corao: 15B, 20B, 12VC, 17VC, 36E, ressaltando as seguintes informaes sobre os mesmos:
No vazio de Yang do Rim 4VG, 52B e 4VC so pontos locais. Neste caso deve-se dar ateno a vrios pontos locais e recorrer ao uso de agulha quente ou moxa. Outros pontos importantes como 3VC ou 23B j se encontram no protocolo base. A combinao dos pontos do vazio de Qi do Bao e Corao simples e eficaz. O ponto 36E um ponto geral muito forte para tonificar o Qi. Os pontos 12VC e 17VC tm ao sobre o AM e AS respectivamente que onde se encontram os rgos afetados. Alm disso so pontos muito bons para tonificar o Qi e so pontos de rgos muito relacionados com os rgos afetados. Finalmente temos os pontos 15B e 20B que so os pontos de rgo dos rgos afetados. Outros pontos a adicionar: 2BP, 4BP, 30E, 6BP (LEMOS, 2009, p.2).

13

No que se refere aos pontos sintomticos para sintomas mais relevantes, Lemos (2009, p.1) destaca os seguintes: hematria: 8BP, 5R, 6F; lombalgia: 40B, 60B; zumbidos: 2VB, 19ID, 21TA; tonturas: 20VG; palpitaes: 6MC e fezes moles: 37E, 30E. Junying et al. (1996), destacam que um estudo publicado em Chinese Acupuncture and Moxibustion, em 1984, onde foram observados os resultados do embutimento de agulhas no ponto Sanyinjiao Ba6 (bilateral) no tratamento de 31 casos impotncia. O mtodo consistiu de pressionar Huiyin Rn1 com um dedo da mo esquerda e ao mesmo tempo inserir a agulha no ponto Sanyinjiao Ba6. Aps obter a sensao de insero, o terapeuta fixava a agulha com fita adesiva por 3 dias, o paciente era instrudo para repousar por 3 dias aps a retirada da agulha. Segundo os autores, dos 31 casos tratados, 28 foram curados e em 3 no houve efeito. Ao discorrerem sobre a eficcia da acupuntura no tratamento das mais diversas patologias, Tabosa; Yamamura (2008), esclarecem que, as formas especficas de manipulao do ponto de acupuntura e as respostas diversas obtidas encontram respaldo cientfico, uma vez que, cada forma de estmulo gerado pela manipulao da agulha pode liberar neurotransmissores especficos, que podem inibir ou excitar as vrias sinapses em todo o Sistema Nervoso Central - SNC e, com isto, promover respostas tambm especficas, e no tratamento da disfuno ertil, esses mecanismos tambm so eficazes.

4. Consideraes Finais A disfuno ertil (DE) um problema comum e que entrou na pauta da sade pblica, em decorrncia das altas taxas de prevalncia, associada s diversas condies clnicas. No entanto, sua gravidade, ainda corroborada, e nesse sentido, h necessidade de investigaes por meio de estudos populacionais nessa rea, com instrumentos objetivos de investigao populacional, haja vista que, a prevalncia e os fatores de risco de determinada patologia, quando devidamente estimados em estudos, podem contribuir para o desenvolvimento de condies mdicas associadas DE, bem como de aes preventivas e teraputicas mais dirigidas, inclusive as aes teraputicas alternativas como a acupuntura. Esse estudo, por meio da pesquisa bibliogrfica realizada, confirmou a hiptese de que a acupuntura realiza o equilbrio energtico e oferece resultados positivos no tratamento da disfuno ertil. Alm disso, nos meios cientficos, pde-se comprovar ainda que, hoje esta disfuno j est amplamente discutida e as pesquisas divulgam que existem causas fsicas, psicolgicas ou mesmo uma combinao de ambas, que so responsveis pela disfuno ertil, to temida pela maioria dos homens, afinal, ela comea no homem, no entanto, afeta de forma indireta, todos os que partilham da vida do homem. O fato de no se saber lidar com a disfuno ertil e nem procurar tratamento, resulta frequentemente em: ausncia de auto-estima; prejuzo de relacionamentos interpessoais; menor ou atividade sexual quase nula; depresso; alteraes comportamentais de conotao negativa; e separaes matrimoniais. No entanto, se o homem que sofre de disfuno ertil enfrentar o problema, recorrendo ao tratamento, verificar que existem vrias formas e mtodos, que simples medidas saudveis como deixar de beber at prtica da acupuntura. A participao do paciente na sua recuperao fundamental e para que o mesmo se sinta motivado com o tratamento, com a sua volta as atividades sexuais normais, seu tratamento tem que ser eficiente para apresentar resultados positivos. Alm das medidas de tratamento conservador, muitas outras propostas como a acupuntura tm surgido, porm, no existe ainda um suficiente suporte de estudos cientficos, havendo como consequncia um lento crescimento nessa rea. A acupuntura parte do pressuposto bsico de que, todo o organismo se interrelaciona e se auto influencia, de forma permanente, e, nesse contexto, um problema fsico ou mental, como a

14

disfuno ertil, por exemplo, no resulta apenas de um mau funcionamento de um meridiano, mas sim de vrios. Logo, para tratar a disfuno ertil, h necessidade de se colocar agulhas em pontos de vrios e diferentes meridianos. As opes de tratamento que a acupuntura oferece so grandes, no entanto, a literatura registra que os pontos mais comumente estimulados so os seguintes: VG 20; VC2; VC3; VC4; VC6; B23; E36. Na maioria dos casos, a disfuno ertil uma desordem funcional resultante de uma desordem orgnica, cujo tratamento deve ser acompanhado de terapias alternativas como a acupuntura e at sesses de psicoterapia, com a finalidade de ajudar o paciente para que o tratamento tenha bons efeitos teraputicos, alm de ajudar na compreenso clara da natureza da impotncia, libertando-se inclusive do medo de falhar. Concomitantemente recomenda-se que, os pacientes regulem a sua vida sexual e pratiquem exerccios fsicos para potencializar os efeitos teraputicos do tratamento da disfuno ertil. Pesquisar essa temtica um desafio, pois, em geral, no que se refere sexualidade e seus distrbios, como a disfuno ertil, o que ocorre que eles so permeados, ao mesmo tempo, pela superficialidade, por preconceitos e coero. Em decorrncia deste fato, pesquisas sobre este tema deveriam ser realizadas com mais frequncia, tanto em nvel acadmico, quanto profissional, constituindo-se desta forma, em uma rea propcia para futuras pesquisas na rea da acupuntura. Pesquisas sobre como a acupuntura pode ser utilizada no tratamento da disfuno ertil, encontram-se em contnuo processo de melhorias, visando sempre um melhor conhecimento dos elementos que podero resultar na implementao de programas de sade que contemplem tratamentos com medidas preventivas e teraputicas mais especficas e eficazes para a disfuno ertil, incluindo a acupuntura. Este trabalho poder ainda contribuir para a difuso da medicina tradicional chinesa, pois amplia os campos de pesquisa dentro da acupuntura e seus microssistemas.

Referncias
AFONSO JNIOR, G. Consideraes fenomenolgicas acerca da disfuno ertil. In: Revista do Nufen - Ano 01, v. 01 abril-agosto, 2009. Disponvel em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rnufen/v1n1/a10.pdf> Acesso em: 27 abr. 2012. AGOSTINHO, Gilberto. Tratamento da Disfuno <http://www.drgilberto.com/sexualidade.html> Acesso em: 7 maio 2012. ertil. Disponvel em:

BERG, O.L.D. Afinal, o que disfuno ertil? Verdades e mentiras sobre a impotncia sexual. Rio de Janeiro: Dunya, 2000. BRAGA, M.V D.; YAMAMURA, Y. Teoria dos Zang Fu (rgos e vsceras); reas da Medicina Tradicional Chinesa; Acupuntura. In: NAKANO, M.A.Y.; YAMAMURA, Y. Livro Dourado da Acupuntura em Dermatologia e Esttica. 2 ed. So Paulo: Center AO - Centro de Pesquisa e Estudo da Medicina Chinesa, 2008. BRASIL. Portaria GM n 971, de 3 de maio de 2006. Aprova a Poltica Nacional de Prticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema nico de Sade. Disponvel em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/PNPIC.pdf> Acesso em: 27 abr. 2012. JUNYING,G. et al. Selecionando os pontos de Acupuntura: Um manual de Acupunturista. Ed. Roca, So Paulo, 1996. KWANG, W. Curso de acupuntura energtica e medicina tradicional chinesa: guia didtico. So Paulo: CEATA, 2005. LEMOS, Nuno. Impotncia, disfuno ertil e acupuntura. 07/01/2009. Disponvel em:<http://acupuntura.blogas-pt.com/impotencia-disfuncao-erectil-acupuntura-acupunctura/> Acesso em: 7 maio 2012.

15 NAKANO, M.A.Y. Breve Histrico da Medicina Tradicional Chinesa. In: NAKANO, M.A.Y.; YAMAMURA, Y. Livro Dourado da Acupuntura em Dermatologia e Esttica. 2 ed. So Paulo: Center AO - Centro de Pesquisa e Estudo da Medicina Chinesa, 2008. SMBA. Sociedade Mdica Brasileira de Acupuntura. Informaes. Disponvel <http://storminformatica.com.br/sitesclientes/smba/informacoes.php#r1> Acesso em: 27 abr. 2012. em:

SMBA. Sociedade Mdica Brasileira de Acupuntura. Histria da Acupuntura. Disponvel em: <http://storminformatica.com.br/sitesclientes/smba/hist_oriente.php> Acesso em: 27 abr. 2012. SOUSA, J.L. Sexualidade na terceira na terceira idade: uma discusso da aids, envelhecimento e medicamentos para disfuno ertil. In: DST J bras Doenas Sex Transm 2008; 20(1): 59-64. Disponvel em: <http://www.dst.uff.br/revista20-1-2008/9.pdf> Acesso em: 04 maio 2012. SOUZA, M.P. Tratado de Auriculoterapia. Braslia/DF: Editora Novo Horizonte, 2007. TABOSA, A.; YAMAMURA, Y. Mecanismo de ao neuro-humoral da acupuntura. In: NAKANO, M.A.Y.; YAMAMURA, Y. Livro Dourado da Acupuntura em Dermatologia e Esttica. 2 ed. So Paulo: Center AO Centro de Pesquisa e Estudo da Medicina Chinesa, 2008. WEN, T. S. Acupuntura clssica chinesa. So Paulo: Cultrix, 1985. YAMAMURA, Y. et al. Disfuno ertil e a medicina tradicional chinesa. In: Rev. paul. acupunt;4(2):97-102, jul.-dez. 1998. Disponvel em: <http://bases.bireme.br/cgibin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&expr Search=230437&indexSearch=ID> Acesso em: 7 maio 2012. YAMAMURA, Y. Fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa. In: NAKANO, M.A.Y.; YAMAMURA, Y. Livro Dourado da Acupuntura em Dermatologia e Esttica. 2 ed. So Paulo: Center AO - Centro de Pesquisa e Estudo da Medicina Chinesa, 2008. YASSUMOTO, G. et al. Avaliao da funo ertil e da qualidade de vida sexual em pacientes com insuficincia renal crnica em tratamento dialtico no Hospital de Base de So Jos do Rio Preto FAMERP. In: Cincias da Sade 2004; 11(2): 67-69. Disponvel em: <http://www.cienciasdasaude.famerp.br/racs_ol/Vol-112/ac01%20-%20id%2014.pdf> Acesso em: 30 abr. 2012.

Você também pode gostar