8arevista Futuro Do Preterito Feusp
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Revista
PRETÉRITO
NOV.2021 • VOL. 3 • NÚM. 3 FEUSP
Quem foi
Montessori?
Práticas
educativas Múltiplas
infâncias
Brincadeira brasileiras
favorita das
crianças "Apagão" do Lattes:
entenda a polêmica
Conheça a
funcionária docente:
Martha Marandino
INFÂNCIAS
Futuro do Pretérito (revista estudantil da FEUSP) Mariana Peixoto Alves (FFLCH/USP)
ISSN: 2675-455X Melissa Iglesias Alonso (FEUSP)
Núm. 3 - Vol.3 - Nov. 2021
Publicação eletrônica (divulgação) Assessoria de imprensa e comunicação
Quadrimestral Beatriz Hitos Silva (FEUSP)
Camila Penna de Lima (FEUSP)
Imagem da capa Elydimara Durso dos Reis (PPGE/FEUSP)
Martha Marandino Nathalia Rodrigues Pinheiro (Alumni FEUSP)
(Créditos: arquivo pessoal da Martha Marandino)
Colaboração
Direção editorial Comunicação e Mídia da FEUSP
Millena Miranda Franco (PPGE/FEUSP) Direção da FEUSP
Revista
FUTURO DO
PRETÉRITO
FEUSP
SUMÁRIO
SUMÁRIO
05
APRESENTAÇÃO
Estamos muitos felizes por estar aqui! Esta é a
primeira revista feita por estudantes na
história da FEUSP! Saiba mais...
06
10 LEITURAS PARA (RE)PENSAR
A PRÁTICA EDUCATIVA
Dez sugestões de leituras que trazem algum
tema fundamental para a educação!
PERGAMINHO DO TEMPO
Conheça a trajetória de Maria Montessori.
11
15
RELATOS
>> Qual a brincadeira
tradicional favorita das
crianças?
16 36
BIOGRAFIA
CIÊNCIA E Conheça a trajetória de
Martha Marandino,
TECNOLOGIA
50
funcionária da FEUSP.
41
HORA DA
DESPEDIDA
Entre para o nosso time!
A revista é sua!
35 FIQUE DE OLHO
Fique por dentro dos
principais eventos e
atividades formativas do
momento!
SETORES
A importância da
Comissão de Cultura e
Extensão para nossa vida
na FEUSP.
APRESENTAÇÃO
A Futuro do Pretérito é uma revista eletrônica de divulgação produzida na Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP), como um tributo à ciência e à história. O nosso objetivo é que
ambas tornem-se mais acessíveis ao maior número possível de pessoas, a saber, estudantes,
funcionáries, docentes e comunidade externa. Seu nome faz referência ao tempo verbal que
expressa imaginação e questionamento, remete à tentativa de valorização do passado em tempos
presentes e à capacidade desta sintonia de formular perspectivas e aspirações mais conscientes para
o futuro.
Construída por mãos e olhares pautados nesses ideais, a revista busca subverter a lógica do
esquecimento, lançando luzes para que sujeitos e tempos não sejam apenas verbais, mas históricos.
Na história da Faculdade de Educação da USP, a nossa revista é a primeira a ser feita por estudantes.
Temos muito orgulho disso, e estamos cientes da responsabilidade assumida; por essa razão, nos
esforçamos ao máximo para oferecer um trabalho sempre questionador e de excelente qualidade.
No final do mês de outubro, realizamos a Semana Futuro do Pretérito 2021 no âmbito da Semana
Global de Letramento Midiático e Informacional da UNESCO. O tema central contemplou reflexões
sobre a importância da imprensa periódica histórica e contemporaneamente. A este respeito,
agradecemos ao professor Agnaldo Arroio pelo acompanhamento da organização, à Direção da
FEUSP pelo incentivo, aos convidados que aceitaram participar das atividades e às estudantes
editoras da comissão organizadora. Reiteramos que todas as apresentações estão gravadas no nosso
canal do Youtube. Estendemos nossos agradecimentos aos espectadores, incluindo a curiosidade de
que contamos, ao longo do evento, com mais de 100 inscrições provenientes de comunidades como:
UFABC, IME/USP, Instituto de Biociências da USP, FAU/USP, FE/USP, FFLCH/USP (diversas
licenciaturas), Secretaria Estadual de Educação de SP, Secretaria de Educação de Campinas,
Universidade Federal do Paraná e Universidade Estadual de Londrina.
Para finalização dos trabalhos do ano de 2021, esta edição tem como temas centrais infâncias,
brinquedos e brincadeiras infantis. Portanto, buscamos apresentar nas próximas páginas
reflexões, discussões e trabalhos que ajudem a disseminar questões atuais e relevantes sobre as
temáticas.
Seja por meio de relatos de experiências ou da reflexão dos problemas que permeiam a
educação, são muitos os textos que nos ajudam a (re)pensar nossa prática educativa.
Aqui estão dez sugestões de leituras que trazem algum tema fundamental para a
educação!
Essa obra de Paulo Freire relata os dois
primeiros anos de seu trabalho na Guiné-
1
Bissau, por meio de cartas trocadas entre o
educador e a equipe que cuidava dos
trabalhos de alfabetização no país africano.
É uma boa oportunidade de conhecer o
trabalho do nosso patrono em um outro
CARTAS À GUINÉ-
continente que guarda tantas semelhanças
BISSAU: REGISTROS DE com o Brasil.
UMA EXPERIÊNCIA EM
PROCESSO FREIRE, Paulo. Cartas à Guiné-Bissau:
registros de uma experiência em processo.
Paz e Terra, 2007.
Nesta obra que é referência para
educadores, Maria Helena Souza Patto
problematiza o fracasso escolar, postulando
que as causas desse fenômeno não são
individuais, mas têm relação com as
2
questões estruturais do sistema de ensino.
Trata-se de uma leitura fundamental para
compreender e problematizar as PRODUÇÃO DO
desigualdades no interior da escola.
FRACASSO ESCOLAR
PATTO, Maria Helena Souza. A produção do
fracasso escolar: histórias de submissão e
rebeldia. Intermeios, 4ª edição, 2015.
10 COISAS REVISTA FUTURO DO PRETÉRITO
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3
Brasil como um método de formação de
professores e compartilha a experiência da
aplicação desse método em um curso de
formação de educadores no município de
São Paulo. É um ótimo texto para pensar em
nossa própria atuação na sala de aula no que
ASPECTOS HISTÓRICO- se refere às relações étnico-raciais.
ECONÔMICOS DAS
JANUÁRIO, Eduardo. Aspectos histórico-econômicos
RELAÇÕES ÉTNICO- das relações étnico-raciais no Brasil: um estudo para a
5
contrapõem às reformas educativas no
México. A referência aqui são as
experiências pedagógicas vividas em
Oaxaca numa articulação entre o
movimento indígena e o movimento de
professores da região. É um texto muito
COMUNALISMO E interessante para se pensar em formas de
EDUCAÇÃO PRÓPRIA EM organização educacional aliadas à luta por
OAXACA autonomia da comunidade.
10
Antonia Malta Campos e Márcio Moretto
Ribeiro, relata o movimento de ocupação
das escolas públicas de São Paulo que
ocorreu em 2015. É uma oportunidade
de relembrar esse momento importante
na história da educação paulista e pensar
ESCOLAS DE LUTA
no estímulo à autonomia e voz dos
estudantes.
10 de julho de 1896. Nessa data, na Universidade de Roma uma mulher entraria para a
história como sendo a primeira mulher a se formar no curso de Medicina. Transgredir
padrões sociais e status quo há muito arraigados não é nada fácil: para cursar a
faculdade de Medicina ela precisou ir contra a vontade de seus familiares, de seus
colegas de curso, do diretor da faculdade e obter até uma autorização papal (à época
Leão XII) para que pudesse permanecer no curso, mesmo que a contragosto de toda a
comunidade acadêmica, familiares e a maior parte da sociedade da época.
Nesta edição da futuro do pretérito, vamos discutir um pouco a trajetória de Maria
Montessori, a primeira mulher formada em medicina na Itália e que se tornaria
posteriormente conhecida pelo seu método educativo, inovador para a época e ainda
hoje referência em escolas do mundo inteiro.
Para esta edição da revista Futuro do Pretérito, perguntamos para as crianças qual
brincadeira tradicional elas mais gostavam. O resultado foi este belo relato escrito por
Guilherme, 11, e Gustavo, 4.
Oi! Nós somos Guilherme, 11, e Gustavo, 4. Nossa brincadeira favorita é Terra e Mar. Essa
brincadeira tem origem africana, do país de Moçambique.
Para brincar de Terra e Mar só precisamos de um giz. De um lado escrevemos terra e do
outro mar. Você e seus amigos precisarão escolher uma criança ou um adulto para
liderar a brincadeira e essa pessoa vai gritar terra ou mar. Quando gritar terra, todos
passam para o mar e vise versa.
O líder é responsável por dificultar a brincadeira gritando terra ou mar o mais rápido
possível.
O líder também pode repetir terra ou mar para confundir as crianças.
Vence quem não errar, mas o importante é mesmo brincar.
1. A divulgação do relato das crianças passou pela apreciação e foi devidamente autorizada pela responsável legal.
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Porém, mesmo depois de entender a importância de uma plataforma como o currículo Lattes,
ainda persistem alguns mitos que são capazes de gerar receio sobre como organizá-lo.
O primeiro deles é a crença em que ter um currículo Lattes não é necessário nem importante
para quem não está participando de nenhum processo seletivo de pós-graduação ou concorrendo
a uma bolsa. Isso é mentira porque, mesmo que ele não seja obrigatório, o registro é fundamental
para documentar a resistência ao negacionismo científico, como discutimos acima. A elaboração do
currículo também envolve um processo de entender-se como agente de produção de
conhecimento, em vez de permanecer numa postura passiva de consumo do conhecimento vindo
de cima para baixo, de maneira acrítica.
Um segundo mito envolvendo o currículo Lattes é o de que ele deve ser atualizado uma vez
por ano, ou a cada semestre. Inclusive, muita gente que pensou ter perdido o Lattes durante o
apagão do CNPq ficou aliviada ao saber que ainda existia uma versão salva há cerca de um ano
antes, no site Escavador, que coleta os dados do Lattes de forma automática. Mas, não, não é assim
que funciona!
O melhor é inserir imediatamente no Lattes as informações de cada palestra assistida ou curso
concluído – de preferência, no mesmo dia em que você receber o certificado, pessoalmente ou por
e-mail. Isso evita que se percam informações ao longo do tempo, pois das duas, uma: ou você vai
acabar se esquecendo de cada detalhe do que já fez, deixando o seu currículo incompleto e
apagando a sua própria história (!), ou vai se acostumar a não participar de eventos, palestras,
debates e congressos porque se acostumou a não ver o Lattes crescendo, e essas experiências
certamente farão falta na sua formação.
Isso nos leva ao terceiro mito sobre o Lattes, talvez o mais comum: o pensamento de que "não
preciso fazer meu currículo, pois nem tenho o que colocar lá". Tem, sim! Sabe aqueles eventos que
ocorrem no horário da aula de alguma disciplina, e a professora contabiliza presença? Peça um
certificado simples e cadastre no Lattes! Participação em palestras e semanas temáticas? Tem
espaço pra elas no Lattes! Se você fizer parte da comissão organizadora de algum desses eventos,
não deixe de colocar no Lattes! Sobretudo para quem cursa uma Licenciatura e acumula horas de
Atividades Acadêmico-Científico-Culturais, não faltam oportunidades para rechear o currículo
Lattes.
Claro que também é fundamental manter os certificados de todas essas experiências formativas
muito bem organizados na nuvem, de preferência em ordem cronológica. Quem quiser também
pode manter uma pasta com cópias físicas de todos os certificados – aí está um caso em que vale
muito a pena pagar pela impressão colorida!
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Em resumo, não é só com pressão online a parlamentares e atos de rua que se resiste ao
desmonte da Educação, da Cultura e da Ciência no Brasil – embora essas estratégias sejam de
extrema importância. Entender-se a si mesmo como agente do conhecimento, na conjuntura
brasileira do século XXI, após o golpe de 2016 e em plena era digital do neoliberalismo e da
uberização, também significa resistir às implicações obscurantistas dessa conjuntura. Mas é preciso
documentar a resistência.
LISTA DE ITENS
Apresentação
(Apresentação) Lattes: apagão e resistência ................................................................................ 16
Marina Grilli
Entrevista
(Conversa com quem manja) Tecendo sentidos e construindo caminhos de Educação
Linguística crítica ................................................................................................................................. 19
por Marina Grilli; Convidada: Barbra Sabota.
Artigos
Pandemia X periferia: A reprodução da desigualdade através do ensino à distância
................................................................................................................................................................ 28
Edivan Costa Gomes
Marina Grilli
C&T: CONVERSA COM REVISTA FUTURO DO PRETÉRITO
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QUEM MANJA
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TECENDO SENTIDOS E
CONSTRUINDO CAMINHOS DE
por: EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA CRÍTICA
Marina
Grilli Marina: Você faz parte do grupo de estudos Transição, do grupo
de estudos Integra e do Grupo de Pesquisa ELEL (Grupo
Convidada da Perspectivas Críticas em Educação Linguística e Letramentos). A que
edição: se dedica cada um desses grupos?
Barbra Sabota
Docente da Universidade Barbra: Nós temos percebido, aqui no centro-oeste, uma
Estadual de Goiás (UEG) necessidade muito forte de marcar os trabalhos que temos feito,
porque as teorias acabam se pautando muito por aquilo que vem de
fora do Brasil e dos centros hegemônicos. Então, temos tentado
Uma coisa que tem ficado muito forte é a recorrência da vontade de falar sobre a decolonialidade,
sobre como nós entendemos os docentes de línguas aqui no nosso Cerrado. Esses grupos vão se
formando organicamente. O Grupo Transição já está bem consolidado, é sediado na Universidade
Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, e discute perspectivas críticas há muito tempo. Eu comecei a
participar desse grupo em 2014, quando começaram a ler sobre decolonialidade.
Algum tempo depois, em 2017, a professora Viviane Silvestre, uma das fundadoras do grupo
Transição, começou a trabalhar comigo em Anápolis. Ela propôs um grupo de estudos sobre
perspectivas críticas e decolonialidade, e eu já tinha um grupo de estudos sobre perspectivas
críticas e letramentos. Como alguns alunos e alunas se interessavam pelos dois grupos, unimos
todos e todas em um grupo que passou a se chamar “Integra”.
Assim, os dois grupos de estudos têm temas próximos – perspectivas críticas e decolonialidade. No
entanto, recentemente, no Transição, temos lido também sobre pós-humanismo. Já o Integra, em
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2020 e no primeiro semestre de 2021, leu sobre decolonialidade. Neste segundo semestre, vai
ler sobre letramentos. A gente vai construindo as agendas de leitura conforme os temas vão
emergindo dos membros dos grupos.
Barbra: Sim, porque percebemos que lemos e citamos muita gente de fora da região, mas não
conhecíamos muito sobre o que se faz aqui, não tínhamos uma organização para mostrar o que
estamos fazendo! Foi um posicionamento político, mesmo. A gente passou a falar a partir do
nosso lugar e citar também uns aos outros. Para nós, este é um movimento decolonial, marcando
nosso jeito de ser e estar no mundo.
Marina: Em um capítulo de um livro sobre a sua vivência como professora de inglês em uma
escola de Goiás, você afirma que uma vez os alunos pediram à coordenação para substituir o
professor estadunidense por você. Não é o contrário que costuma ocorrer?
Barbra: Esse episódio foi em um centro binacional de estudos de inglês, em Goiânia, que atende
a um público elitizado. Geralmente as pessoas tendem a querer um professor nativo, e uma das
discussões que trago no capítulo do livro era justamente para quebrar esse mito. Porque, de
fato, o falante nativo tem um traquejo com a língua que a gente demora mais a atingir, mas
justamente por isso a gente conhece os caminhos, as dúvidas... conseguimos amparar esse aluno
e ajudá-lo a ter uma trajetória de aprendizagem de uma forma que nem sempre os professores e
as professoras nativos/as, só por serem nativos/as, conseguem.
Então, uma turma de alunos/as lá da escola tinha aula comigo no nível intermediário. No nível
avançado, a direção havia decidido que só teriam aulas com professores/as nativos/as, pois seria
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a única oportunidade de eles/as terem contato com um/a falante nativo/a. Convém esclarecer
que em Goiás não temos tantos falantes nativos de inglês: tem algumas colônias – de japoneses,
de alemães, de italianos – no interior do estado, em povoados, mas não é comum encontrar
estrangeiros nas ruas como em Brasília, Curitiba ou São Paulo. A oportunidade de esses alunos e
alunas falarem com nativos/as acontecia na escola de inglês ou quando viajavam ao exterior [1].
Esses alunos, que eram meus no intermediário, foram para o nível avançado, com um professor
norte-americano, e até gostaram dele, mas disseram que “queriam a ‘Barbra’ de volta, porque a
gente gosta do jeito como ela ajuda a entender a língua e das discussões que ela promove”.
Porque mesmo antes de estudar sobre perspectiva crítica, eu já tinha a prática de trazer o que
ensinava para a realidade dos alunos/as. Isso até gerou uma discussão na escola, sobre o
reconhecimento da fala do nativo em detrimento do reconhecimento do estudo sistemático da
língua e da formação acadêmico- profissional dos/das docentes.
Barbra: Sim! Eu dei aula para a turma no avançado. E foram dois tabus de uma vez, pois lá
também não podia repetir professores/as em dois semestres consecutivos [risos]! Isso foi muito
bom porque me ajudou na construção da minha autoestima docente. Nessa época eu não tinha
nem 30 anos ainda, era bem jovem, e sempre ficava insegura. “Será que tudo isso que eu estudei
está virando uma praxiologia, ou é simplesmente uma transposição da teoria à prática?” Entender
que eu estava fazendo uma coisa bacana me ajudou muito, e me ajuda muito hoje, nas minhas
aulas, para quebrar esse tabu com as minhas alunas da universidade pública. Muitas vezes, essas
alunas ficam muito presas ao estereótipo de que, enquanto não conseguirem pagar um curso
particular, não vão conseguir aprender inglês. E não é assim: a mesma aula de língua que dou na
universidade já dei em outras escolas, então o problema não está nisso. A gente precisa romper
outros obstáculos que estão impedindo a aprendizagem de progredir. E eu também tenho
conseguido fazer isso por meio do meu trabalho com as narrativas, com um movimento de
autoconhecimento.
Marina: Eu queria mesmo saber disso! Em entrevista do Grupo Transição com a professora
Tania Rezende, você menciona o trabalho com narrativas no ensino de inglês, pedindo que
estudantes escrevam suas próprias histórias de contato com a língua. Como funciona essa
proposta?
[1] Convém esclarecer que, à época, no início dos anos 2000, as conversas via internet, por
aplicativos de mensagem e afins não eram corriqueiras como na atualidade.
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Porque o medo não é da língua, mas sim desse construto de língua que pesa sobre o estudante.
As relações interpessoais acabam gerando essa angústia, e se traduzindo naquilo que a Tania
Rezende chama de linguofobia – a autora fala em linguofobia em relação ao português, mas é
possível trazer para o inglês também.
Marina: Eu gostei muito desse termo linguofobia, pois pesquiso numa linha parecida, mas ainda
não tinha ouvido essa palavra.
Barbra: É esse medo da língua, devido ao histórico de violência com a linguagem que nós,
brasileiros/as, sofremos desde a invasão do nosso país pelos colonizadores portugueses. Então,
para nós, a língua é um instrumento de violência, gerando um tabu muito grande, tanto em
relação à língua materna, como também à língua adicional.
É essa relação com a língua que estamos transferindo para os diários e problematizando. Hoje,
continuamos trabalhando com as narrativas, sobre a vivência dos alunos e das alunas de Letras
com a língua, e com a aprendizagem de línguas. Vamos fazendo com que eles/elas revisitem seus
textos e percebam o quanto seu inglês tem melhorado, e saiam de uma postura de
consumidores/as de conhecimento para produtores/as, falando sobre as próprias demandas na
língua adicional. Esse trabalho tem funcionado no sentido de construir a autoestima, a
autoimagem do professor e da professora falante de língua inglesa. É o nosso inglês. Tem dado
muito certo!
Marina: Esse tem sido um tema bem recorrente nos trabalhos dos grupos de pesquisa, não é?
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Barbra: Sim, nós temos utilizado esses resultados como geração de material empírico, de forma
mais sistematizada. Para estudar as narrativas, trabalhamos com o conceito de rizomatização, a
partir de Deleuze e Guattari, mas à nossa maneira, fazendo uma cartografia da aprendizagem
para mapear os caminhos percorridos na aprendizagem da língua adicional.
Temos construído as narrativas não como texto finalizado, mas como texto dialogado,
rizomatizado, um texto que vai crescendo e sendo retomado. A gente não trabalha com a ideia
essencializada de que a pessoa é: ela está em processo de tornar-se. Ao revisitar essa narrativa, a
pessoa se reencontra consigo mesma, como se pudesse ver o filme de toda a sua trajetória, e
isso possibilita ressignificações no modo como ela se relaciona com a língua, com a profissão e
até consigo mesma
Marina: Essa questão das narrativas tem bastante a ver com o respeito à pluralidade, que vai no
sentido contrário de convencer os graduandos de que este ou aquele é o jeito certo de ensinar.
Em um capítulo de livro, você também afirma que o respeito à pluralidade e ao debate é não
tentar convencer todo mundo. Por quê?
Barbra: Esse é o nosso jeito, é o que tem funcionado com a gente. Eu sempre discuto com as
minhas alunas que não precisamos continuar fazendo o que todo mundo sempre fez, seguindo
uma receita. Temos percebido que se trata de um movimento muito importante, porque as
alunas vão se redescobrindo, percebendo a própria força ao revisitar a própria trajetória, e
tentando quebrar certos bloqueios. Goiás é um estado em que as mulheres sofrem muita
violência doméstica, há uma cultura muito machista, e isso vai para a sala de aula com os corpos
dessas mulheres, que são corpos silenciados. Muitas delas chegam à faculdade sem que
ninguém nunca tenha lhes perguntado por que tomaram a decisão de entrar no curso de Letras
– talvez porque fosse a opção mais fácil, talvez porque a tarefa da professora é vista como uma
tarefa de cuidado, e o cuidado costuma ser associado com o feminino. Então, nós trabalhamos
para desmistificar tudo isso! Educação é um ato de cuidado, mas também um ato de
autocuidado, e um ato político.
Quando você começa a falar das narrativas, vai percebendo a relação que as pessoas têm com a
língua e com a vida por meio do corpo. Conforme o trabalho vai avançando, as pessoas se
colocam de modo diferente, a expansividade em sala de aula vai mudando, até o tom de voz fica
mais alto quando começam a perceber aquilo que as estava impedindo de falar. É muito bonito
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Marina: Falando em corpos silenciados, você orientou um trabalho de mestrado sobre Educação
Linguística que envolveu a “selfie” como recurso de questionamento dos padrões coloniais de
aparência. Como foi isso?
Barbra: O Ricardo Almeida, meu ex-orientando que defendeu o mestrado em 2017, propôs
montar um grupo para aulas de conversação em inglês. A ideia era trabalharmos vivências sob
perspectivas críticas, então decidimos não adotar um livro, e sim, construir o nosso próprio
material didático. Fizemos esse curso de conversação como projeto de extensão. Esses
movimentos de ruptura e mudança começam sempre nas brechas, como diz a professora Ana
Paula Duboc, da USP. Porque, em nosso curso, os professores e as professoras usavam sempre o
livro e a exigência era referendada na matriz e, portanto, pelo colegiado. Já na extensão, essa
questão seria livre, daí, optamos pela extensão. No primeiro dia do curso, fizemos um
levantamento de temas que interessavam aos educandos, e apareceu a selfie. Então, em duplas,
os/as participantes do curso produziam o material que seria utilizado nos encontros, mas Ricardo
e eu preparávamos alguns materiais de apoio, como uma “carta na manga”. Daí, fomos atrás de
como surgiu a selfie, relacionando-a ao self-portrait [autorretrato] e coisas assim. Durante a aula,
uma aluna começou a falar sobre seu humor ao tirar as próprias fotos, pois, quando está triste e
posta uma foto, as pessoas começam a comentar e ela se sente melhor. Começamos a
problematizar isso, o papel dessa validação externa. Essa aluna não atendia a todas as questões
do padrão de beleza socialmente imposto, mas sempre recebia muitos elogios ao seu sorriso.
Então esse tema nos levou a mobilizar tantas questões que estavam por trás desse assunto
corriqueiro, e também problematizar sobre o uso que fazemos das redes sociais. Foi uma
discussão muito importante à época, começávamos a questionar padrões, falar de corpo e
rupturas.
Eu sempre digo isso a meus alunos e minhas alunas: não pretendo criar uma nova forma de
ensinar, mas vamos combinar que o jeito como tem sido feito não está dando certo? Se o modo
como se tem ensinado desde a década de 1960 estivesse dando certo, teríamos gente chegando
à faculdade se sentindo fluentes e confiantes no uso do inglês, sem necessidade de pagar um
curso particular ou de viajar para o exterior para validar o próprio conhecimento. Nesse sentido,
cabe discutir a Linguofobia também em aulas de inglês, a violência linguística historicamente
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sentida e mantida pela estrutura da língua padrão ocorre não apenas em aulas de língua
materna.
Recentemente, em vez de um plano de aula no modelo PPP[2], tenho trabalhado na construção
da proposta de um Percurso didático. A meu ver, ele é menos rígido e fixo do que o PPP, que
engessa as pessoas. O percurso didático se desenvolve em trechos, flexíveis e alineares, ou seja,
podem seguir diferentes organizações, por ser mais rizomatizado, orgânico, ecológico. O
percurso pode iniciar com talking topics[3], chamando as pessoas para definir as questões que
queremos discutir, depois pensar nos repertórios – linguísticos, sociais, culturais e políticos que
serão necessários para isso –, discuto isso a partir do trabalho de Canagarajah. Também me
apoio em bell hooks para afirmar que, se eu quero me opor à língua dos dominantes, preciso
saber o que ela está dizendo. Um momento posterior desse percurso é o thinking over[4],
quando aprofundamos o debate, e por fim, o bringing to life[5], quando relacionamos as questões
com as nossas próprias vidas.
Marina: Que interessante você citar a bell hooks, pois, mesmo sendo branca, você trabalhou o
tema racial nesse artigo. Na sua opinião, qual o papel das pessoas brancas na discussão racial?
Barbra: Uma aluna durante uma discussão em projeto de extensão acabou se percebendo
negra durante o nosso curso! Ela disse que não tinha a percepção do próprio corpo como um
corpo negro. Atribuo isso ao colorismo, que é parte do racismo estrutural. A pessoa acaba
fugindo dos traços que mais a aproximam da descendência afro e não se reconhece negra.
Discutir o racismo e trabalhar o letramento antirracista é responsabilidade de todos nós que, em
maior ou menor grau, mantemos a estrutura opressora do racismo em nossa sociedade. Não é
um curso que faz isso, e sim, as oportunidades de falar sobre si e de se conhecer. No caso da
aluna ela foi percebendo que esse desejo de publicar uma foto e esperar pelos likes também
podia ser fruto dessa estrutura, que só permite que ela se perceba bonita por meio da validação
externa. Na época do curso, acabamos não discutindo o feminismo decolonial nem o “mito da
beleza”, de Naomi Wolf. Essas são teorizações mais recentes, mas ultimamente temos incluído
essas discussões em nossos debates. O mesmo acontece em relação aos corpos gordos:
começamos desmistificando a palavra gordo. Mas no curso, nós não chegamos dizendo “hoje
vamos falar sobre gordofobia”. Todos os temas surgem do grupo, e na graduação, aparecem nas
narrativas, assim como nos debates proporcionados pelos percursos didáticos.
[2] Sigla para presentation, practice, production [apresentação, prática, produção], uma sequência bastante comum
em aulas de línguas adicionais.
[3] Em português, “tópicos de conversação”.
[4] Em português, “pensando a respeito”.
[5] Em português, “trazendo para a vida”.
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Entendo que a língua é política. O fato de a bell hooks, por exemplo, assinar o nome em
minúsculas é um recado, é um posicionamento. Nos poemas de rupi kaur, que estamos lendo
agora, o desvio da norma padrão é intencional, Então, a forma como usamos a língua demarca
um posicionamento político. Precisamos conhecer a norma padrão, para então transgredi-la,
abandonando uma posição de subalternidade. Poucas vezes nós somos incentivadas a produzir
os nossos próprios sentidos, aprendemos somente a consumir. E amparadas no conceito de
capitalismo parasitário, de Bauman, procuramos combater isso: eu não preciso saber uma língua
adicional só para consumir, mas saber por que estou consumindo, entender as minhas próprias
intenções por trás disso. Precisamos entender que possibilidades as línguas, adicionais e
maternas, nos abrem, para poder mudar, transformar nossa própria realidade, construir
sentidos. É uma ferramenta de luta e engajamento, um meio de registrar nossa mensagem,
nossa marca na história.
CONVERSA COM REVISTA FUTURO DO PRETÉRITO
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QUEM MANJA ISSN 2675-455X - http://www4.fe.usp.br/futurodopreterito . - . : . .
ALMEIDA, Ricardo R.; SABOTA, Barbra. Falar de selfie também é falar de raça, gênero e
sexualidade: problematizações realizadas por participantes de um curso de extensão. In:
FREITAS, Carla C. et al. (Orgs.). Diálogos entre a universidade e a escola na (trans)formação de
professores de língua. Goiânia: Editora da UEG, 2018, pp. 131-151.
SABOTA, Barbra. Do meu encontro com a Educação Linguística Crítica ou de como eu tenho
revisitado meu fazer docente. In: PESSOA, Rosane R.; SILVESTRE, Viviane P. V.; MONTEMÓR,
Walkyria. (Orgs.). Perspectivas críticas de educação linguística no Brasil. São Paulo: Parábola
Editorial (Pá de Palavra), 2018, p. 59-68.
SILVESTRE, Viviane P. V.; SOARES, Wilker R.; SABOTA, Barbra. Corpos gordos (In)visibilizados na
Linguística Aplicada. Revista RAÍDO (ONLINE), v. 14, 2020, pp. 444-464.
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INTRODUÇÃO
e do mundo como ouvintes, abre espaço para ricos comentários da audiência por escrito
sem que os participantes sejam interrompidos, e fica gravada automaticamente no mesmo
link em que foi transmitida.
Na live em questão, intitulada “EaD na quebrada: onde a educação de qualidade sempre
foi distante”, Edivan Gomes participou como debatedor, na condição de professor de
História nas redes municipal e estadual de São Paulo, em escolas situadas na periferia.
Marina Grilli assistiu à live e propôs complementá-la a partir das reflexões teóricas
construídas ao longo de seu percurso como pesquisadora, fazendo nascer este ensaio.
Nosso foco aqui é a conscientização dos profissionais da educação que atuam na
periferia. Afinal, uma periferia que pensa a sua própria existência é uma periferia que se
mantém erguida.
É fácil perceber que a escola pública oscila hoje entre as duas primeiras tendências: ela
tem servido ao propósito de formar mão de obra barata, passiva e submissa, que aprende
apenas o básico para ter acesso ao mercado de trabalho e ocupar postos subalternos.
Essa formação serve ao propósito de manter uma suposta harmonia entre os membros
da sociedade, na qual os de cima são sustentados pelos de baixo.
A educação que defendemos, pelo contrário, é a educação transformadora: aquela que
leva os alunos a “entender o mundo em que vivem, em seus aspectos políticos, sociais,
econômicos e tecnológicos” (FOGAÇA & GIMENEZ, 2007, p. 173), com vistas a emancipar
esses membros das camadas inferiores da pirâmide, isto é, a classe trabalhadora. Uma
educação que não proporciona a emancipação não interessa à periferia.
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de uma comunidade.
Mas em paralelo ao sucateamento das redes públicas de ensino no Brasil, o ensino
disfarçado de educação tem se tornado um negócio cada vez mais rentável, no qual
grandes empresas elaboram plataformas online, sistemas e métodos apostilados,
treinamentos de professores, soluções em gerenciamento de espaços escolares, e
influenciam até mesmo questões pedagógicas. Então a Educação, que deveria servir à vida,
passa a servir ao mercado.
Assim, a pandemia desnudou as desigualdades sociais e a hipocrisia do discurso de
“voltar à normalidade”. O mundo pós-pandemia será um mundo de ásperas disputas, pois,
se educação é sinônimo de vida, e se o atual modelo de sociedade não proporciona
educação de qualidade para todos, está claro que o atual modelo de sociedade não
proporciona oportunidades de vida para todos. Foi justamente a “normalidade” que nos
trouxe até aqui: o completo descaso do poder público em relação àqueles que pagam
seus impostos, mas não podem custear serviços privados de educação, saúde, moradia,
transporte, segurança e lazer. As consequências da pandemia serão ainda mais severas
diante de tamanhas desigualdades sociais.
Fica claro também o quanto é falaciosa a ideia de que são os empresários que fazem
girar a economia: ao exigirem que o trabalhador siga trabalhando, mesmo arriscando sua
saúde, a fim de “não quebrar a economia”, apenas provam que quem detém nas mãos o
poder sobre a economia é a classe trabalhadora. Paradoxalmente, esse fato convive com a
mentalidade de que as vidas periféricas são descartáveis, pois a classe trabalhadora é
aquela que pode arriscar a vida para continuar trabalhando.
Aí temos mais um reflexo da negação da educação como vida: ao mesmo tempo em
que se reafirma o valor financeiro atrelado ao trabalhador – o chamado capital humano –,
sua própria vida é negada. Portanto, vivemos hoje no Brasil sob essa política de negação à
vida, ou necropolítica, que atinge sobretudo as vidas periféricas. E, já que educação é
sinônimo de vida, a educação também tem sido severamente agredida.
Paulo Freire (2011) observa que nunca existiu educação neutra, nem pode existir: em
um tempo anterior, a educação servia para refletir os valores da aristocracia, e após a
ascensão da burguesia ao poder, ela passou a transmitir os valores burgueses. Assim,
seguimos até hoje tendo, na educação, um modo de inculcação da ideologia dominante
nas mentes dos dominados – prova disso é a ascensão do conservadorismo de extrema-
direita entre aqueles que são os mais prejudicados por essa ideologia.
A periferia precisa tomar a educação em suas mãos para que ela comece a ser
transformadora. Se educação é vida, todas as discussões do âmbito da educação são de
interesse público, de domínio social. O que temos hoje, pelo contrário, é um modelo
excludente, que coloca a educação como ensino de competências a serem aplicadas no
mercado de trabalho; isto é, um ensino tecnicista disfarçado de educação. Assim, a
verdadeira educação se constitui em um privilégio restrito a poucos, e não um direito de
todos.
Porém, em se tratando de uma questão de interesse da sociedade, toda ela deve
participar dos debates acerca da educação. Devemos buscar maneiras de nos
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
FREIRE, P. A importância do ato de ler – em três artigos que se completam. 51ª ed. São
Paulo: Cortez, 2011 [1992].
MORIN, E. A cabeça bem-feita. Repensar a reforma, reformar o pensamento. 17ª ed. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
PINHO, Angela. Menos de metade dos alunos da rede estadual de SP acessa ensino
online na quarentena. Folha de S. Paulo, 14 de mai. de 2020. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/05/menos-de-metade-dos-alunos-da-rede-
estadual-de-sp-acessa-ensino-online-na-quarentena.shtml. Acesso em: 30/11/2020.
MI S S ÃO
CO EXT ENSÃO
RA E
DE CULTU
Por: Rani Beatriz Evangelista
A Universidade é formada pelo tripé ensino, pesquisa e extensão. Isso significa que
além das aulas e das pesquisas desenvolvidas pelos estudantes e docentes da nossa
Faculdade, também há projetos que envolvem o público externo. A Comissão de
Cultura e Extensão (CCEx) é o setor responsável pelas atividades culturais e de
extensão universitária da Faculdade de Educação e cabe a ela deliberar sobre
propostas de cursos complementares e eventos de cultura e extensão. Além disso, a
Comissão orienta os docentes acerca das solicitações específicas de fomento e propõe
novas linhas de políticas da cultura e extensão da Faculdade. Grande parte das
atividades de extensão promovidas pela CCEx são voltadas para as redes públicas de
ensino.
Entre os projetos temos o Projeto de Extensão para Professores da Rede Pública de
Ensino, que visa complementar a formação e renovar os conhecimentos dos
professores. A cada semestre letivo são oferecidas algumas vagas em disciplinas – que
são ministradas na FEUSP - da Pedagogia ou das outras Licenciaturas. Os alunos do
projeto frequentam as aulas como alunos especiais, junto com os alunos regulares, e
se comprometem a cumprir as tarefas propostas pelos docentes da faculdade,
podendo assim receber o comprovante de conclusão da disciplina. Esse projeto
possibilita que os professores da rede básica pensem e discutam sobre as questões
que vivem no cotidiano escolar a partir da leitura dos textos e atividades propostas,
assim como traz para dentro da faculdade a contribuição de quem está no chão da
escola diariamente.
Todas as informações sobre esse e outros projetos e programas de extensão e cultura
promovidos pela CCEx estão disponíveis no site da FEUSP!
1998, vim fazer meu doutorado aqui, orientado pela Professora Myriam Krasilchik. Na época já me envolvi
com a representação discente e fui conhecendo melhor a faculdade. Em 2002, após defender o
doutorado, a professora Myriam se aposentou e abriu concurso para a vaga dela. Fiz o concurso e passei
a ser docente da FEUSP!
FP: E qual é sua rotina de trabalho com a Pesquisa?
Martha: Não vejo a pesquisa separada do ensino e da extensão e nem da gestão universitária. Claro que
cada uma dessas dimensões possui suas especificidades, mas se alimentam [umas das outras] e muitas
vezes se sobrepõem. Desde 2002, quando entrei na FEUSP, iniciei e fundei, na pós-graduação, o Grupo
de Estudo e Pesquisa em Educação Não Formal e Divulgação da Ciência/GEENF, que coordeno e que
reúne alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado, além de interessados no tema. Ano que vem,
faremos 20 anos de existência. Nosso foco é estudar e investigar temas voltados ao ensino de ciências
ATIVIDADES DE CULTURA E
EXTENSÃO SOBRE
O
O
TT .
N
Inscrições:
<https://www.convibra.org/congresso/convibra-
painel/inscricao/>. Acesso em 05/11/2021:
Site do evento:
<https://www.convibra.org/congresso/convibra-
painel/home/>. Acesso em 05/11/2021
Organizadores:
Rinaldo Voltolini - EDF
Douglas Emiliano Batista - EDF
Daniel Revah
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FILMES E
DOCUMENTÁRIOS
Tarja Branca
"As brincadeiras infantis fazem parte de nossa formação social,
intelectual e afetiva. Por elas nos socializamos, nos definimos e
introjetamos muitos dos hábitos culturais da vida adulta. Todos
brincamos na infância e no brincar fomos livres e felizes. Mas
será que ainda carregamos essa subjetividade brincante e
cultura lúdica vivas dentro de nós? Será que a criança que
fomos se orgulharia do adulto em que se transformou? Tarja
Branca é um manifesto à importância de continuar sustentando
um espírito lúdico, que surge em nossa infância e que o sistema
nos impele a abandonar na nossa vida adulta"[1].
Livre para todos os públicos | 2014 | 79 min |Direção: Cacau Rhoden|Produção: Maria
Farinha Filmes |Gênero: documentário. |Idioma disponível: português.
Me liga na lata
“Crianças de comunidades indígenas, quilombolas, do sertão,
litoral ou grandes centros urbanos de nove Estados brasileiros
conversam entre si através de um telefone de lata. Suas
narrativas “na lata” criam uma cumplicidade de temas ao mesmo
tempo que revelam aspectos singulares de cada região. Assim,
vamos conhecer um Brasil a partir das crianças”[2].
“Livre para todos os públicos | 2020 | 90 min |Direção: Renata Meirelles, David Reeks
|Produção: Maria Farinha Filmes| Gênero: documentário.| Idioma disponível:
português
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O começo da vida
“O desenvolvimento de todos os seres humanos encontra-se na
combinação da genética com a qualidade das relações que
desenvolvemos e do ambiente em que estamos inseridos. O
Começo da Vida convida todo mundo a refletir como parte da
sociedade: estamos cuidando bem dos primeiros anos de vida,
que definem tanto o presente quanto o futuro da humanidade?
(...)
O filme iniciou um movimento pela causa da primeira infância,
sendo a principal ferramenta da campanha global da UNICEF.
Foi o documentário mais visto nos cinemas
brasileiros em 2016*: nos seus primeiros três meses de lançamento, mais de 178 mil
pessoas assistiram o filme nos cinemas e em sessões especiais. Hoje, O Começo da
Vida está disponível em diversas plataformas digitais em formato de documentário e de
série em 85 países. Mais de 8 milhões de pessoas em todo o mundo já se inspiraram
por essa história”[3].
Livre para todos os públicos | 2016 | 96 min | Direção: Estela Renner. |Produção:
Maria Farinha Filmes| Gênero: documentário. |Idioma disponível: português
O começo da vida 2
“Conexões genuínas entre as crianças e a natureza podem
revolucionar o nosso futuro. Mas será que essa descoberta
ainda é possível nos grandes centros urbanos do mundo?
Evidências científicas apontam que a falta de contato com a
natureza pode contribuir para problemas físicos e mentais. No
novo capítulo de “O Começo da Vida”, os principais especialistas
no tema mostram como essa conexão pode fazer parte da cura
para os maiores desafios da humanidade contemporânea e da
construção de uma vida de mais bem-estar e felicidade. O filme
revela que esse pensamento tem sido transformador em
diversas cidades pelo mundo que valorizam e promovem uma
maior conexão com o mundo natural. A soma entre ciência e
ação significa uma oportunidade única para um futuro com mais saúde para os
humanos e para o planeta”[4].
Livre para todos os públicos | 2020 | 90 min | Direção: Renata Terra. | Produção: Maria
Farinha Filmes | Gênero: documentário | Idioma disponível: português
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Repense o elogio
"'Repense o elogio’ é um documentário que propõe a reflexão
sobre a maneira como as crianças são elogiadas. Enquanto
meninas são lindas, princesas e delicadas, meninos são fortes,
inteligentes e corajosos. Até que ponto estes adjetivos
aprisionam o verdadeiro ser de cada um? Este é um filme que
reflete sobre o poder das palavras e da cultura, que trouxeram
este desequilíbrio tão profundo na forma que elogiamos
meninas e meninos”[5].
[5]Para mais informações sobre o documentário, acesse:
<https://mff.com.br/films/repense-o-elogio/>. Acesso em
05/11/2021
Livre para todos os públicos | 2018 | 46 min | Direção: Estela Renner. | Produção:
Maria Farinha Filmes | Gênero: documentário | Idioma disponível: português.
Livre para todos os públicos| Brasil| 2021 | 8min | Gênero: documentário |Direção:
Renato Turnes.
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Livre para todos os públicos | 2012 | 80 min | Direção: Estela Renner | Produção:
Maria Farinha Filmes | Gênero: documentário | Idioma disponível: português.
Criança a alma do
negócio
"No documentário ‘Criança, a alma do negócio’, a cineasta Estela
Renner analisa os efeitos que a mídia de massa e a publicidade
têm em relação às crianças, mostrando como a indústria
descobriu que elas são os melhores alvos para venda de
produtos. Além de ouví-las, o filme conversa com os pais que
relatam quão influentes seus filhos são dentro de casa e como
isso está ligado diretamente às propagandas. Além disso,
especialistas debatem os efeitos negativos dessa exposição"[8].
Livre para todos os públicos | 2008 | 49 min | Direção: Estela Renner. | Produção:
Maria Farinha Filmes | Gênero: documentário | Idioma disponível: português
Menino 23
“Em 1998, o historiador Sydney Aguilar ensinava sobre nazismo
alemão para uma turma de ensino médio quando uma aluna
mencionou que havia centenas de tijolos na fazenda de sua
família estampados com a suástica, o símbolo nazista. Esta
informação despertou a curiosidade de Sidney e desencadeou
sua pesquisa. Pouco a pouco, o filme mostra como o historiador
avançou com a sua investigação, revelando que, além de fatos,
ele também descobriu vítimas. Sidney mostrou que
empresários ligados ao pensamento eugenista (integralistas e
nazistas) removeram 50 meninos órfãos do Rio de Janeiro para
Campina do Monte Alegre/SP para dez anos de escravidão e
isolamento na Fazenda Santa Albertina de Osvaldo Rocha Miranda. O trabalho de
Sidney vai reconstituir laços estreitos entre as elites brasileiras e crenças nazistas,
refletidos em um projeto eugênico implementado no Brasil. Aloísio Silva, um dos
sobreviventes, lembra a terrível experiência que escravizou os meninos ao ponto de
privá-los do uso de seus nomes, transformando-o no ‘23’”[9].
Livre para todos os públicos | 2016 | 78 min | Direção: Belisario Franca Elenco. |
Gênero: documentário. | Idioma disponível: português
ioma disponível: português.
Menine
Carreto
“O curta-metragem apresenta a história de Tinho, menino que
trabalha recolhendo mariscos e caju no nordeste do país. Ele,
que é uma das vítimas do trabalho infantil, acaba se tornando
grande amigo da menina Stephanie. A despeito da narrativa
leve e sensível, a exploração infantil aparece, alertando os
espectadores sobre as piores formas”.
LIVROS
História social da criança e da família (Philippe Ariès)
ARTIGOS
O imprevisto previsto (Joseane Maria Patrice Bufalo)
(...) “Neste artigo, Jennifer Keys Adair, Kiyomi Sánchez-Suzuki Colegrove e Molly E.
McManus detalham como esse tipo de discriminação educacional é perpetuado
pela aceitação dos educadores do discurso da “lacuna de palavras”. (...) Em vez de
culpar os educadores, os autores compartilham essa evidência empírica para
demonstrar os danos que podem advir de negar a crianças pequenas uma gama
de experiências de aprendizagem sofisticadas, especialmente quando
institucional e publicamente justificada por pesquisas e pensamentos orientados
para o déficit. Usando o trabalho de Charles Mills, os autores argumentam que
essa negação de experiência para filhos de imigrantes lLatinx e outras
comunidades marginalizadas é discriminatória e, com muita frequência, o status
quo”.
“Este ensaio propõe um balanço da Educação Infantil entre 1995 e 2016, a partir
do questionamento sobre os avanços no âmbito das políticas públicas em relação
aos temas relativos ao campo teórico denominado genericamente de “diferença”:
diferenças raciais, de gênero/sexualidade, étnicas e sociais. Analisa as políticas de
Educação Infantil nas décadas propostas, destacando as forças presentes no
interior do Estado e dos movimentos sociais. Problematiza o lugar da Educação
Infantil nas políticas públicas que derivam de forças diversas por ampliação de
direitos das crianças (...). Questiona a lógica privatista, que sustenta a Base
Nacional Curricular Comum. Conclui sobre a necessidade de uma Educação
Infantil pautada pela infância como experiência”.
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É SUA!
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