2 Mentira Distorcida - Renascidos em Sangue - Evilane Oliveira
2 Mentira Distorcida - Renascidos em Sangue - Evilane Oliveira
2 Mentira Distorcida - Renascidos em Sangue - Evilane Oliveira
Mentira Distorcida
1ª Edição
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos que aqui serão descritos
são produto da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais
é mera coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. É proibido
o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra, através de quaisquer meios, sem o
consentimento escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº.
9.610. /98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Afastei a cortina devagar enquanto mordia meu lábio. Os raios de sol entravam e eu respirei
fundo ao ver todos envolvidos nos preparativos da festa. Virei-me e encarei o vestido branco, que
era tão perfeito que me deixava emocionada ao olhá-lo. Com um sorriso em meu rosto, caminhei até
ele.
Hoje seria meu casamento. Meu coração deu um pulo com a animação e eu toquei no tecido
rendado, imaginando que em algumas horas eu estaria nos braços dele.
Romeo veio poucas vezes a Nova York e eu nunca tive sua atenção exclusivamente para mim,
meu pai ou o dele sempre estavam ao redor, mantendo-o ocupado e distante. Estava cansada dessa
distância, porém acalentada ao saber que hoje tudo isso mudaria. Nós iríamos nos casar, viveríamos
juntos. A mudança para Chicago não era algo com que eu estava animada, mas saber que enfim
ficaria sozinha com Romeo e o teria só para mim me fazia esquecer esse detalhe.
Chicago seria minha casa. Meu lar. Tudo ficaria bem.
— Bom dia. A equipe está chegando. Que tal tomar um banho antes? — Mamãe sorriu
enquanto entrava no quarto com uma bandeja com o café da manhã.
— Já tomei — eu disse e sorri, então me sentei na cama e segurei a bandeja. Peguei uma taça
com frutas e comi devagar, sentindo os olhos da mamãe presos em mim.
— Lunna — ela se sentou na cama e respirou fundo —, eu sei que gosta bastante do Romeo.
Você se apaixonou por ele e eu estou aliviada por isso, mas...
— O que, mamãe? — questionei, franzindo o cenho quando ela cessou seu discurso. Minha
mãe não media palavras e sua titubeação me preocupou.
— Cuidado. Os homens que vivem em nossa vida... a maioria não se permite nutrir
sentimentos. Não se permite amar sua esposa. Para eles o amor é fraqueza. — Mamãe tocou minha
bochecha e sorriu tristemente. — Guarde seu amor, querida. Cuide dele, mas não deixe que Romeo
quebre isso de você.
— Ele não fará...
— Só me prometa — ela me interrompeu, colocando o cabelo longo atrás da orelha.
— Eu prometo, mamãe — acenei e engoli em seco.
Ela deu um sorriso orgulhoso enquanto eu voltava a comer, porém ainda ponderando seu
pedido. Romeo sabia que eu o amava. Era nítido em meus gestos na sua presença, e até mesmo nas
raras ligações que eu fazia para ele. Pensando bem, ele sempre pareceu desconfortável, talvez
mamãe tivesse razão. Meu coração apertou, mas respirei profundamente e toquei o meu vestido de
noiva.
Romeo me amaria. Eu faria isso acontecer.
Meu pai acenou para mim assim que segurei seu braço, dentro da igreja decorada com flores
azuis e brancas. Mamãe e a decoradora acataram todos os meus pedidos, as rosas azuis foram um
deles. Era a minha segunda cor favorita. Mamãe teria enfartado se eu tivesse solicitado a minha
preferida, rosas pretas não combinam com o casamento. Na igreja, então, seria uma profanação.
— Papai — cumprimentei enquanto sentia minhas mãos suarem. Segurei o buquê de flores
com mais força e apertei o bíceps do meu pai.
Eu não via Romeo há meses. Liguei para ele em algumas ocasiões, mas, infelizmente, ele
sempre parecia ocupado. Então parei de importunar e esperei por hoje. Pelo nosso dia.
Caminhei ao lado do meu pai assim que a marcha nupcial começou a ecoar. Ergui meus olhos
e senti meu corpo estremecer em antecipação quando vi Romeo no altar, mal pude conter meu
sorriso. Ele estava quieto, me olhando sem piscar enquanto eu andava em sua direção.
Andava para ele, para a sua vida.
Ele estava perfeito em seu terno preto, seu cabelo escuro e seus olhos que poderiam desnudar
minha alma.
Quando cheguei diante dele, papai estendeu a mão para Romeo esperando por um aperto de
mão. Mas isso não aconteceu. Meu pai semicerrou os olhos e eu sabia que ele iria explodir, porém
Romeo se moveu rapidamente. Ele segurou meus dedos e eu pisquei, tentando não tremer, como fazia
todas as vezes que o encarava. Meu pai se afastou sem dizer uma palavra. Romeo desviou os olhos
dos meus e ficou ao meu lado enquanto nós encarávamos o padre. Ele parecia calmo, pouco afetado,
enquanto eu estava me forçando a não parecer tão apaixonada quanto eu era.
— Você está linda — ele murmurou devagar e baixo, me assustando por alguns segundos.
Surpresa, olhei para ele, que sorriu devagar, tão casto quanto o brilho em seus olhos.
— Obrigada.
Contive meu sorriso bobo e nós dois mantivemos o silêncio no decorrer da cerimônia.
Quando o padre nos abençoou e deu a permissão para que Romeo me beijasse, eu engoli em seco de
ansiedade. Ele nunca havia me beijado e era algo que eu ansiava dia e noite.
Sua mão segurou minha cintura com um aperto firme e ele juntou nossos lábios. Devagar,
calmo e gentil. Meu corpo virou pó e meu coração saltou, sedento pelo seu beijo. O toque sutil se foi
e eu levei os dedos aos meus lábios, tentando ter certeza de que não imaginei. Porém, o olhar dele me
dizia que não.
— Vamos lá, esposa — Romeo murmurou e me puxou para o seu peito devagar.
Engoli em seco e deixei um sorriso escapar. Romeo me guiou para fora enquanto as pessoas
jogavam arrozes na gente. Era uma tradição chata, na minha opinião. Eu teria que tirar todos os
arrozes do meu cabelo mais tarde.
— Meus irmãos, Matteo e Prince — Romeo me apresentou assim que entramos no carro que
nos esperava para irmos à festa. Os dois garotos eram tão parecidos com Romeo, que me assustou
por um segundo.
Matteo parecia ter minha idade, mas eu não poderia dizer com certeza. Prince era mais novo,
talvez tivesse quinze anos. Os três eram tão parecidos, que fiquei olhando entre eles. Em nenhuma
das vezes que Romeo veio a Nova York ele trouxera os irmãos.
— É um prazer conhecê-los — murmurei, segurando meu vestido que estava quase tocando
neles. Nenhum deles me respondeu, então me remexi desconfortavelmente.
— Vocês perderam a porra da língua e a educação também? — Romeo falou em um tom
cortante, só então seus irmãos me olharam.
— É um prazer também — Prince ecoou e Matteo acenou em concordância.
O carro se afastou da igreja e eu suspirei, ansiosa para dançar. Não sabia se Romeo gostava,
mas eu amava e desejava que ele gostasse pelo menos um pouco. Afinal, era nosso casamento.
— Romeo — olhei pela janela e vi que estávamos indo para outra direção que não era a da
minha casa, onde seria a festa, então me virei para encará-lo e ele apenas me deu um olhar vazio —,
a festa...
— Não iremos à festa — Romeo disse com firmeza. Senti o chão abaixo de mim se abrir ao
compreender suas palavras. — Estamos indo embora.
— Como assim? Eu organizei uma festa... meus pais... minha mãe... — Minha respiração
acelerou e eu pisquei as lágrimas que queriam me assolar. Eu não me despedi de mamãe. Eu...
— Algo está para acontecer, Lunna. Isso é maior que uma despedida ou a porcaria de uma
festa.
O modo como ele falou me fez encolher. Como se estivesse falando com um dos seus
soldados, como se eu fosse apenas uma mosca persistente e não a sua esposa. Engoli meu protesto e
encarei a janela. Esperei ansiosa pelo dia de hoje e não aconteceria como eu esperava. Isso me
entristecia, claro, só não mais que o tratamento que ele estava me dando.
— Rocco já chegou à mansão — Matteo avisou enquanto olhava para o celular.
Romeo acenou e começou a teclar em seu telefone. Eu não sabia quem era Rocco e nem do
que falavam. Prince foi o único que olhou para mim em alguns momentos durante a viagem até o
aeroporto, onde um jato estava à nossa espera. Romeo me ajudou a subir com meu vestido e eu segui
na direção do banheiro, segurando uma das minhas malas de mão. Não sei como, mas todas as minhas
coisas já estavam no jato quando chegamos. Segurei as lágrimas enquanto tentava sair do vestido e
não conseguia.
— Você está bem? — Prince questionou do lado de fora depois de um longo tempo.
Mordi meu lábio, não conseguindo mais segurar o choro. Comecei a soluçar baixinho e deixei
minha mão cair ao lado do meu corpo quando me lembrei que escolhi um vestido que fechava nas
costas, pois queria que Romeo o tirasse. Isso parecia tão idiota agora.
— Vou chamar Romeo...
— Não — pedi e abri a porta. Prince me olhou por alguns segundos e eu limpei meu rosto
com gestos bruscos. — Só abra o zíper, por favor — implorei. Prince parecia desconfortável
enquanto olhava ao redor. — Será rápido.
— Tudo bem — ele murmurou e suspirou.
Virei-me e Prince abriu o vestido rapidamente, então me voltei a ficar de frente para ele.
Meus olhos capturaram Romeo de pé bem atrás do irmão. Seus olhos vazios observavam a cena, mas
ele apenas se afastou sem dizer uma palavra sequer.
— Obrigada. — Tentei sorrir, mas falhei.
Prince saiu e eu tirei o vestido, jogando-o no chão em seguida. Peguei uma calça de tecido
grosso e vesti sobre a minha calcinha branca de renda, deslizei uma camisa de mangas longas e
peguei o casaco grosso branco de dentro da mala. Eu me sentia muito humilhada por estar tirando
meu vestido de noiva em um banheiro no dia do meu casamento. Deveria ser Romeo a tirar o meu
vestido, a me tocar e beijar.
Meus olhos se prenderam em minha imagem no espelho e eu suspirei. Minha maquiagem
estava perfeita, mesmo com as lágrimas. Meu cabelo estava meio preso atrás da minha cabeça e eu
comecei a desmanchar o penteado. Tirei os grampos e as presilhas que o prendiam e abri as mechas
com os dedos, então o joguei para o lado e lavei as mãos antes de calçar minhas botas pretas.
Tentei guardar o vestido na mala, mas foi em vão. Não cabia. Segurei o tecido em meus dedos
e mordi meu lábio para parar de chorar. Romeo disse que algo aconteceria. Talvez eu estivesse sendo
muito egoísta. Se algo mais importante estava para acontecer, eu precisava ser compreensiva. Só que
eu não estava conseguindo. Não com a maneira que ele falou.
Saí do banheiro segurando meu vestido e arrastando a mala. Me sentei perto da janela e não
olhei para nenhum dos irmãos Trevisan. As duas horas de voo foram gastas tentando imaginar a
reação dos meus pais ao saberem que Romeo me levou diretamente para Chicago, sem festa e sem
despedidas. Papai não ligaria, mas mamãe sim.
Deveríamos saber. Os Trevisan não seguiam regras.
— Espere por nós — Romeo falou enquanto segurava o celular contra o ouvido.
Virei meu rosto e o vi se levantar. A comissária de bordo sorriu para mim enquanto eu me
levantava, ainda com meu vestido nos braços. Desci a escada atrás de Prince, e quando ele abriu a
porta do carro para mim, sorri em gratidão. Matteo e Romeo entraram em seguida, ambos tensos e
com o rosto franzido.
— O que está acontecendo? — questionei baixinho Prince.
Ele olhou para os irmãos e depois para mim.
— Vamos tomar o poder. — Suas palavras deveriam ser uma explicação, porém só me
deixaram mais confusa. Eles já não estavam no poder?
Prince não falou mais nada e eu fiquei com medo de que Matteo ou Romeo ouvissem a
conversa, então deixei de lado.
Assim que os portões de uma propriedade se abriram, eu olhei para os lados buscando ver
tudo ao redor, porém não havia nada. Sem seguranças, sem pessoal. Nada. Uma mansão branca
apareceu primeiro e eu suspirei ao ver a fonte em formato de leão na entrada. Era linda e cruel de
uma maneira inquietante.
Assim que o carro parou, comecei a seguir Prince, mas Romeo me segurou.
— Nossa casa é outra. Você ficará aqui apenas hoje, então não desfaça as malas — ele avisou
ao me encarar.
Só acenei e me afastei do seu toque. Assim que entrei na casa, eu sabia que ninguém morava
ali. Não havia nada nos cômodos, nenhuma mobília. Era tudo muito branco, claro demais e
impessoal.
— Até que enfim, porra. — A voz cortante e rouca que vinha da escada me fez pular.
Um homem loiro e coberto de tatuagens apareceu vestido apenas com uma calça de moletom
baixa, deixando à mostra o cós da cueca. Imediatamente dei um passo para trás, intimidada.
— Vista-se — Romeo falou e tocou minha cintura para me empurrar em direção ao homem.
Fiquei mais tensa, mas ele parecia não se importar, simplesmente apertou o meu quadril. — Esse é
Rocco, o meu irmão — Romeo nos apresentou.
Pisquei quando o loiro sorriu, o gesto arrepiou minha alma.
— Que linda. Você teve sorte, Romeo — Rocco falou, ainda sorrindo, e se moveu para longe
da escada.
Subi os degraus em silêncio enquanto Romeo apenas ignorava o comentário do
irmão. Quando chegamos ao primeiro andar, Romeo abriu uma porta e colocou minha mala ao lado.
Olhei para a cama com dossel no meio do quarto e quase sorri ao ver o quanto os lençóis brancos
eram bonitos.
— Eu não deveria ter trazido você. Foi um erro. — A voz de Romeo me fez virar para
encará-lo. O desgosto em sua expressão me acertou no estômago.
— O quê? — questionei, insultada, mas ele simplesmente me olhou sério sem se abalar.
— Posso morrer hoje e você ficaria sozinha em uma cidade que não conhece.
Respirei fundo e dei um passo em sua direção, tremendo. Romeo não se afastou com minha
aproximação, como eu imaginei que faria. Ele apenas ficou parado.
— Do que está falando? — questionei, forçando a minha voz a sair.
— Você me ouviu. — Ele respirou fundo e tirou um papel do bolso. — Minha mãe irá
procurá-la caso eu morra. Você pode ir para a sua cidade novamente, ou para onde desejar.
— Romeo, o que está acontecendo? — perguntei, franzindo as sobrancelhas.
— Você não precisa saber — seus olhos cinza me encararam — e está bom assim. Quanto
menos souber, melhor. Não saia da casa. Não saia do quarto. Tem comida e água no frigobar. Voltarei
pela manhã, se isso não acontecer, você deve esperar por minha mãe. Você me ouviu?
Engoli em seco enquanto tentava compreender o que ele estava falando. Ele sairia, isso era
óbvio, mas para onde? Fazer o quê?
— Por que vai se pode morrer? — Minha pergunta o fez me encarar ainda mais sério.
— Porque Rocco precisa de mim.
— Seu irmão não deseja sua morte...
— Não, ele não deseja, mas se acontecer... que seja — Romeo disse calmamente.
Eu me aproximei mais, desta vez deixando-o tenso, pude perceber.
— Você sabe, não sabe? — questionei baixinho.
Romeo ficou confuso por alguns segundos, mas logo acenou.
— Sei do seu amor há três anos — ele respondeu firmemente, sem se abalar, e me olhou com
os olhos vazios. — É uma perda de tempo.
Afastei-me como se suas palavras fossem tapas e senti meus olhos se arregalarem em choque.
Romeo semicerrou os olhos e me encarou dos pés à cabeça, me avaliando.
— Não espere isso de mim. Você só se frustrará.
Ele se virou e saiu pela porta, me deixando parada e completamente sem reação. O silêncio
no quarto era excruciante, deixando o barulho das batidas do meu coração ainda mais altas. As
batidas quebradas.
E essa foi apenas a primeira vez de muitas que Romeo Trevisan quebrou meu coração.
23 ANOS
Senti meus batimentos cardíacos acelerados e apertei minha mão ao redor da arma. Coberto
de sangue, Rocco deu um passo enquanto eu assimilava o que via ao redor — dois soldados fiéis do
meu pai no chão. Cresci com um sádico de merda como pai, não tinha nada que me abalava, mas isso
era demais.
— Rata nojenta. — Ettore cuspiu sangue enquanto colocava a mão sobre o nariz quebrado.
Meu trabalho. Eu quebrei uma cadeira na cara dele, mas ainda queria fazer mais.
— Não se refira a ela assim! — Prince gritou e apertou as mãos.
Matteo se aproximou, quebrando o copo que segurava contra a orelha do nosso pai. Ele gritou
e caiu de lado enquanto Matteo se abaixava, ficando na altura dos seus olhos.
— Você é um rato. Um doente de merda que é capaz de tocar na porra de uma criança — ele
anunciou, rugindo, e Rocco andou até eles.
— Ele quer tirar nossa calma. Você quer que a gente te mate, Ettore. Eu não vou, porque tenho
muito tempo e pretendo gastá-lo torturando você. — Rocco virou o copo com uísque enquanto eu
andava para o lado, esfregando a mandíbula.
Mesmo com os olhos abertos, eu ainda a via. Sangue. Tanto sangue.
Estávamos dormentes. Eu deveria saber que alguma merda aconteceria. Pensei que
chegaríamos antes dele, por causa do jato, mas eu me enganei. Ele não estava na igreja. Ele tinha
voltado antes do meu casamento.
Medo cruzou os olhos do nosso pai, mas isso logo sumiu. Rocco não morava conosco, ele
vivia sozinho em um apartamento desde os dez anos. No entanto, meu irmão aprendeu cada coisa
sádica antes de sair dessa casa. Nosso pai sabia que tinha criado um monstro. Na verdade, ele criou
quatro monstros que o matariam sem remorso algum.
— Eu a matei. Você a odiava também. Deve estar aliviado — Ettore murmurou, sua mão na
orelha que estava sangrando.
Matteo se afastou, seu corpo tenso.
— Violetta era a única coisa boa na minha vida — Rocco falou próximo enquanto eu
observava meus punhos cheios de sangue. — O que você fez só adicionará mais sofrimento. Pare de
tentar colocar meus irmãos contra mim...
— Você é um bastardo. Eles não são seus irmãos.
— Eles são. Porque seu sangue corre em minhas veias tanto quanto na deles. E você vai pagar
por cada coisa que fez para nós e para a minha mãe. — Rocco estava tenso, tremendo.
Aproximei-me dele e toquei seu ombro. O seu corpo relaxou e o sorriso torcido se estendeu.
— Vamos. Ela precisa da gente — lembrei-o de maneira firme. Meu irmão acenou e ficou
ereto. — Vá buscá-la, Prince.
Os soldados que haviam aceitado ficar ao nosso lado no golpe contra nosso pai se
aproximaram e o pegaram. Nos movemos para a porta e esperamos por Prince. Quando Lake
apareceu, eu desviei os olhos, minha garganta estava fechada. Rocco colocou um saco preto na
cabeça dela enquanto Prince a segurava perto.
Saí com Rocco e nossos irmãos e entramos em nossa van. Os corpos dos soldados que eram
leais ao meu pai se amontoavam na entrada, tudo estava sujo de sangue. Ao pensar em seu corpo lá
em cima, frio e sem vida, apertei meu joelho.
— Ele... — Lake soou ao ver nosso pai sendo levado para outro carro, onde Rocco o
esperava. O saco já tinha sido descartado aos seus pés. — Vocês não o mataram? — ela ecoou, o
nojo se espelhando em seu rosto. — Ele matou a mamãe! Ele a matou na minha frente...
— Nós vamos rasgar a garganta dele, Lake, mas antes nós o faremos sofrer — Matteo falou
enquanto a encarava.
Eu simplesmente acenei, não conseguia falar porcaria nenhuma. Lake meneou a cabeça e
abraçou a si mesma, olhando para o colo. Ela estava com uma camisola de algum desenho de
princesas, meu corpo novamente corpo encheu de fúria.
Ela era uma criança. A porra de uma criança.
— Se quiser, poderá ser você a rasgar a garganta dele — falei com raiva.
— Não — Lake balançou a cabeça —, não quero vê-lo nunca mais. — Lágrimas encheram
seus olhos e ela soluçou, se encostando na porta do quarto.
Lake nunca foi autorizada a sair. Ela era escondida desde seu nascimento, ninguém na Outfit
sabia dela. Ettore não queria que soubessem da filha que não era sua. Depois de conversarmos,
decidimos que era melhor manter assim. Não queríamos que ela se tornasse um alvo na guerra que
começamos hoje.
Paramos na propriedade que Rocco comprou há alguns dias e Prince guiou Lake para dentro
da casa. Ergui meus olhos, ainda no carro, e encarei a janela onde Lunna estava. Minha esposa.
Respirei fundo ao me lembrar de Lunna caminhando até mim na igreja.
Nosso casamento foi arranjado há anos. Nossos pais arquitetaram tudo, e durante o
planejamento dessa noite eu ponderei não comparecer ao casamento. Porém, meu pai desconfiaria.
Eu precisava manter a farsa até o fim, deixar a minha esposa com a sua família e vir embora. Mas eu
não consegui. Assim que a vi vestida de noiva, senti algo me atraindo para ela.
Eu a queria comigo. Em Chicago.
Era um erro e eu sabia.
E eu pagaria por ele.
Rocco deixou nosso pai no Village, uma boate que era da Outfit, e se reuniu com os soldados
e capos. No dia seguinte a bomba explodiria e nós precisávamos ter cuidado. A maioria dos capos
era a favor de Rocco no poder, porém o perigo estava nos que não eram.
— Trazê-la não foi um problema — Rocco resmungou assim que chegamos à mansão, quando
o sol já estava no alto.
Matteo e Prince foram para o andar deles há alguns minutos.
— Eu estou ponderando.
— Sim, foda-se, ela já está aqui. O que vai fazer? Mandá-la de volta? — Rocco revirou os
olhos e se jogou no sofá, pegando um dos seus cigarros.
O sangue que antes estava em seu corpo tinha sumido depois de um longo banho. Eu fiz o
mesmo. O cheiro de sangue estava impregnado, no entanto.
— Eu sei. — Respirei, me movendo, e parei diante da parede de vidro. A mansão era
espaçosa, e quando Rocco a mostrou para mim, fiquei aliviado. Eles ficariam juntos e protegidos.
Era um lugar assim que precisávamos.
Minha casa, no entanto, ficava a alguns metros daqui. Eu não queria Lunna perto de Lake ou
dos meus irmãos. Eu não a queria perto de ninguém. Não envolveria os dois mundos. Lunna Bianchi
era uma inimiga tanto quanto seu pai era. Precisei de muito esforço para não o matar quando ele a
entregou a mim. Eu teria tempo. Eu ainda o mataria.
— Você realmente quer morar lá? — meu irmão questionou enquanto me observava.
— Não vou manter Lunna aqui, ela não terá permissão para pisar nesta casa.
Rocco ficou me olhando por um tempo e semicerrou os olhos.
— Sei que não a machucaria, pouco me importa se o fizer, só lembre-se que ela não tem culpa
das merdas do pai. Ela é como nós. Sobreviventes desses merdas.
Eu sabia disso, mas ainda assim, Lunna Bianchi não era bem-vinda.
Quando deu oito horas, eu fui até Lunna. Não queria acordá-la tão cedo, por isso fiquei na
sala de jogos esperando. Rocco já tinha ido dormir há tempos. Bati na madeira e abri a porta.
A onda preta sobre o travesseiro foi a primeira coisa que vi ao entrar. Seu cabelo ia até a
cintura e estava espalhado pela cama coberta pelo lençol branco. Era uma visão contrastante que me
fascinou. Desci os olhos e vi a camisola de seda preta e sua coluna nua. Sua pele era tão branca
quanto o lençol. Me encostei na porta e apreciei a vista da sua bunda mal coberta. Ela era minha. Só
minha. O sentimento de possessividade me assustou. Lunna não era minha.
Seu pai arruinou a minha família. Ela era meu inimigo.
Seu corpo se esticou e meu pau deu um salto ao ver sua calcinha pequena entre suas nádegas.
Perfeição do caralho. Lunna era pequena, seu quadril largo não era tão pronunciado, mas a deixava
com curvas que me deram água na boca.
Ela se virou lentamente e seus olhos azuis se arregalaram e ela se sentou quando me viu
parado. Seus seios pesados estavam apertados contra o tecido da camisola e os mamilos duros me
deixaram mais excitado do que eu estava.
— Bom dia. Podemos ir — murmurei para ela, minha voz rouca assustou a ambos.
Lunna abaixou a cabeça e saiu da cama enquanto eu observava seus movimentos. Ela pegou a
mala que eu tinha trazido e colocou sobre a cama.
— É longe? Posso tomar banho? — ela perguntou baixinho enquanto meus olhos estavam
presos em suas pernas.
— Não precisa. Vista apenas uma roupa.
Ela acenou e tirou um vestido preto da mala. Parecia que ela realmente amava a cor.
Peguei sua mala e descemos a escada. Lunna parou na sala e olhou ao redor como se
procurasse alguém.
— Onde estão seus irmãos? Gostaria de me despedir...
— Não é necessário — cortei-a e vi que engoliu em seco. Seu cabelo agora estava amarrado
no alto da cabeça e ela apenas acenou, mordendo o lábio.
Saímos da mansão e fomos para nossa casa. Lunna respirou fundo e olhou para cada canto da
casa que era menor que a dos meus irmãos, porém também grande.
— Você pode mudar tudo ou nada. Sua decisão — falei e comecei a subir as escadas.
Ela se virou e me seguiu. Quando parei em frente à porta do seu quarto, Lunna entrou e um
sorriso apareceu em seu rosto ao olhar para o cômodo.
— É bonito. Podemos mudar apenas a cor...
— Você quem sabe — eu disse, deixando sua mala no chão. — O restante das suas coisas já
está no closet. Eu vou dormir — avisei e me virei, mas não sem perceber que seus olhos buscavam
os meus.
— Você não dorme aqui? — Sua voz soou baixa, estremecida.
Virei-me e encarei o seu olhar desanimado.
— Não. Eu durmo no quarto em frente. Não gosto de dormir acompanhado — menti.
Lunna me encarou por alguns segundos antes de molhar os lábios com a ponta da língua.
— O que está havendo? Eu imaginei muitas coisas para o nosso casamento, mas nunca que
seria assim...
— Assim como, Lunna? — questionei, cansado.
— Que você me deixaria de fora. Que seria tão frio comigo quanto um cubo de gelo e me
deixaria a um braço de distância — Lunna respondeu com firmeza.
Então foi a minha vez de encará-la por alguns segundos.
— É um casamento de aparências. Não vou machucá-la, porém, não espere coisas de mim. Eu
não vou lhe dar e você apenas se frustrará — avisei em tom baixo. Lunna balançou a cabeça devagar
e se virou, me dando as costas. — Onde está seu celular?
— Por quê? — ela questionou, irritada.
— Vou dar outro a você. Me entregue.
Lunna me olhou, suas mãos em punhos, e andou até a mala. Ela pegou o aparelho, digitou por
alguns segundos e me passou.
— Já falei com os meus pais. Eles não podiam acreditar no que fez, mas, palavras suas,
“aconteceu algo maior que o nosso casamento”. Foi isso que eu disse a eles.
Sua rispidez não me impressionou. Eu sabia que as mulheres poderiam ser loucas, às vezes.
— Não dou a mínima para os seus pais, Lunna. Você deveria saber disso.
— Nem para mim, pelo que parece. — Seu murmúrio foi baixo, porém consegui escutar.
— Vou protegê-la com a minha vida. Ninguém nunca vai machucá-la.
— Só você.
— O quê? — questionei, confuso.
Lunna projetou seu queixo para cima e pareceu olhar no fundo dos meus olhos.
— Só você vai me machucar.
— Eu jamais machucaria uma mulher. Eu lhe dou minha palavra que jamais colocarei as mãos
em você.
— Você é inacreditável...
— Eu não estou entendendo — rugi, sem paciência.
Lunna deu um passo em minha direção, e só nesse momento eu vi suas lágrimas. Seus olhos
brilhavam e eu franzi a testa, mais confuso ainda.
— Eu amei você, Romeo, desde o dia em que o vi. Eu esperei meu casamento como uma
louca ansiosa e feliz, e você arruinou meu dia. Você destruiu minha imaginação sobre nossa casa,
nossa dinâmica e até nossa noite juntos. Você me machucou e eu sei que é só o começo. Você vai me
destruir. — Lunna deixou as lágrimas caírem pelas bochechas, enquanto eu ficava a encarando. —
Saia do meu quarto.
Demorei para me mexer, mas o fiz. Não disse nada, porque eu sabia que ela estava certa.
Eu ainda a machucaria.
18 ANOS
A maçaneta da porta estava a alguns centímetros da minha mão. Eu busquei coragem, pelo
menos um pouco, para sair do quarto quatro semanas depois do meu casamento. Eu tinha visto Romeo
esporadicamente e estava me sentindo tão sozinha, que a solidão me engolia.
Peguei a maçaneta e empurrei para baixo, abrindo a porta. A casa estava em silêncio, e fora o
meu quarto, o único lugar que eu tinha visitado era a cozinha. Eram os únicos lugares que eu me
sentia bem. Desci a escada enquanto mordia o meu lábio, e assim que cheguei à cozinha, abri a
geladeira e peguei ovos e bacon. Eu vi algumas receitas de comida e estava tentada a aprender a
cozinhar.
Deixei meu celular de lado e coloquei no vídeo onde uma moça ruiva ensinava a fazer ovos e
bacon. Eu nunca tinha entrado na cozinha da casa dos meus pais, pois não era permitido. Agora que
eu tinha minha própria casa, eu queria ser capaz de fazer minha própria comida. Não havia
funcionários regulares. Apenas uma equipe de limpeza vinha e todas as vezes que eu descia
encontrava comida sobre o fogão. Eu não sabia de onde vinha, mas era deliciosa.
Fiz o meu café da manhã sem problemas e peguei o suco de caixa. Montei a mesa para mim e
me sentei na sala de jantar. Os lugares vazios na mesa para oito pessoas enviaram um lampejo de
melancolia em meu coração. Tentando afastá-lo, levei uma garfada de ovos à minha boca.
Para a minha primeira refeição até que estava boa, pensei e ri. Meu celular vibrou ao meu
lado e eu vi uma mensagem de mamãe. Nós não nos falávamos com frequência, pois a Cosa Nostra
voltou a ser inimiga da Outfit. Eles não aceitavam Rocco no poder.
"Enrico Bellucci é novo don da famiglia. Não sei como será com a Outfit, mas espero
que tudo se resolva. Fique bem, querida."
Eu não conhecia Enrico, mas mamãe e papai sempre falaram bem dele. Talvez a paz chegaria
entre a Cosa Nostra e a Outfit. A saudade que eu sentia da minha mãe estava me esmagando.
Respondi dizendo que eu estava bem e que esperava o mesmo.
Ouvi passos antes que Romeo aparecesse na porta da cozinha. Ele estava segurando o celular
contra o ouvido e suas sobrancelhas estavam unidas. Quando ele me viu, seu corpo parou de se
mover.
— Chego em dez minutos. — Ele desligou o celular e o enfiou no bolso da calça jeans
apertada. A grossa camisa de manga longa o protegia do frio de Chicago. — Bom dia.
— Bom dia — murmurei baixo e bloqueei a tela do meu celular, antes de voltar a comer
enquanto ele passava por mim e ia até a geladeira.
O silêncio se estendeu e meu celular vibrou com notificações do Instagram. Eu amava a
coisa e sempre mantinha minhas fotos lá. Eu tinha alguns milhares de seguidores.
— O que é isso? — Sua voz chegou a mim. Apertei o celular e ergui o queixo. Romeo parou
ao meu lado e estendeu a mão. — O que é isso, Lunna?
— Notificações — eu disse devagar e encarei seus olhos com firmeza. — Eu não lhe darei
meu celular, se é isso que espera.
— Lunna...
Eu me ergui e coloquei o celular no bolso do short jeans curto e preto. O movimento
repentino fez meu top subir, mostrando minha barriga. Os olhos de Romeo foram parar rapidamente
na pele exposta. Bem, ele olhava bastante.
— Não vou. Eu tenho minha privacidade. Eu já sou sua prisioneira e vivo nesta casa sozinha.
Não farei suas vontades se você não faz as minhas — eu o desafiei.
Romeo semicerrou os olhos e deu um passo em minha direção até seu peito quase tocar o meu
rosto.
— Eu tenho maneiras de encontrar o que eu quero, Lunna. Isso quer dizer seu celular. Agora,
me dê ele. — Sua voz soava irritada.
Levantei ainda mais o meu rosto em atrevimento.
— Pegue.
Ele o fez. Romeo me puxou pela cintura e enfiou a mão no meu bolso, tirando o celular.
Mesmo com o aparelho nas mãos, ele continuou me mantendo presa. Seus olhos desviaram dos meus
e foram para a minha boca enquanto eu tentava não estremecer. Tentei muito não deixar visível o
quanto eu o queria. Queria seu toque e seus beijos.
Porém Romeo não sentia o mesmo, ele se afastou rapidamente. Apertei minha mandíbula
enquanto o via desbloquear a tela e clicar nas notificações.
— Que porra é essa? — ele questionou, sua voz tensa. Eu me aproximei e vi uma selfie que
eu tinha tirado e postado antes de descer para fazer meu café. Eu estava de costas e minha bunda
estava virada para a câmera. Eu estava bonita. — Quem te deu permissão? Você tem essa merda
desde quando?
Desde sempre. Mas antes de me casar nunca mostrei o rosto, e agora eu o fazia, porém com o
cabelo encobrindo a maior parte.
— Devolva meu celular — pedi, estendendo minha mão.
Romeo não me ouviu, parecia estar lendo os comentários da foto. Eu não ligava, não me
importava com eles, mas sabia que a maioria era feito por homens.
— Você vai excluir essa merda, Lunna. Agora. — Seu punho estava fechado e eu me senti
bem ao ver alguma reação dele. Qualquer uma. — Esses filhos da puta estão falando de você. Da
minha esposa. Apague! — Romeo ergueu o rosto para mim, mas eu apenas o encarei.
— Não vou apagar. Muita gente me acha linda e gostosa. Uma pena meu marido não achar o
mesmo — falei com raiva.
Romeo se aproximou rapidamente e me empurrou em direção à parede.
— Não vou mandar novamente. Apague essa merda antes que eu quebre seu celular.
— Não vou. Se passou um mês e você não me tocou uma vez sequer, Romeo. Estou achando
que você é GAY ou apenas quer que eu encontre alívio com outra pessoa.
Sua expressão ficou escura segundos antes de Romeo segurar meu cabelo na base do pescoço
para me fazer encará-lo.
— No dia em que você deixar outro homem tocar em você, eu o matarei.
— É suposto que eu morra virgem, então. — Pisquei meus cílios enquanto o encarava.
Romeo se inclinou e deixou sua boca a centímetros da minha.
— Um dia, Lunna.
Romeo se afastou e sumiu da cozinha, me deixando parada, sem fôlego e sem o meu celular.
O timer soou e eu corri, pegando as minhas luvas de cozinha. Abri o forno e tirei a travessa
de macarrão com queijo que vi a receita hoje de manhã. Desci achando que talvez não tivesse nada
na geladeira, porém estava cheia. Romeo deve ter mandado alguém fazer as compras.
Já fazia sete meses que eu estava em Chicago e nossa dinâmica não tinha mudado. Eu mal o
via, e quando isso acontecia trocávamos poucas palavras. Depois da briga sobre o celular, ele tinha
deixado o meu aparelho no balcão da cozinha. Minhas redes sociais tinham sumido. Todas deletadas.
Coloquei a travessa sobre o descanso de panelas e sorri, contente por estar parecido com o
que a moça do vídeo fez. Deixei-o sobre o balcão e me afastei. Hoje era meu aniversário, eu ainda
prepararia meu bolo. Seria simples, mas eu queria um.
Montei a mesa e, depois de lavar as mãos, me sentei para comer. O macarrão estava
delicioso, sorri ao pensar que eu poderia ser cozinheira. O macarrão era simples de fazer e a moça
que ensinava disse que fazia para os filhos dela. Eu tentei me imaginar fazendo essa receita para os
meus filhos, porém a imagem não conseguia se formar.
Eu nunca os teria. Depois de tanto tempo aqui, eu sabia que Romeo não me tocaria tempo
suficiente para me engravidar. Era uma constatação que estava se assentando dentro de mim. Nossa
dinâmica não havia mudado. Eu o via esporadicamente, ele passava mais tempo fora de casa do que
era normal, e eu estava magoada demais para tentar algo.
Depois que terminei de almoçar, guardei o restante na geladeira em potes, para o caso de
Romeo querer mais tarde, o que eu achava que não aconteceria. Ele não comia em casa. Nunca na
minha presença, pelo menos.
Arrumei os ingredientes do bolo e coloquei o vídeo da receita para seguir o passo a passo.
Em meia hora minha massa já estava no forno e eu estava preparando o chantili. Quando vi que ficou
do mesmo jeito que o do vídeo, dei um sorriso orgulhoso.
Tirei o bolo do forno e o esperei esfriar enquanto cortava morangos. O chocolate já estava
derretido, então montei o bolo rapidamente. Assim que terminei, mal podia conter meu sorriso. Ele
estava lindo.
Subi para tomar banho e fiquei na banheira por algum tempo, encarando o teto. Dezenove
anos. Eu me imaginei feliz no dia de hoje, com Romeo ao meu lado, mas eu tinha quase certeza que
ele nem mesmo sabia que hoje era meu aniversário. Eu não esperava mais nada de Romeo, e estava
bem assim.
Sequei meu cabelo e o cacheei com o babyliss, deslizei um vestido rosa-claro de seda e
passei a mão pelas tiras finas da alça. Meus brincos tinham diamantes negros, eu os ganhara da minha
mãe no meu aniversário de dezesseis anos. Eram lindos.
Já era noite quando desci, depois de calçar sapatos pretos. Me aproximei do meu bolo e
suspirei, sentindo meu coração apertar. Sozinha. Meu celular tocou como se fosse para me dizer que
era mentira.
— Oi. — Minha voz soou baixa e trêmula.
— Feliz aniversário. — A voz do outro lado da linha era pronunciada, o sotaque era diferente
de tudo que eu já tinha ouvido.
— Hum, obrigada? Quem é? — questionei, confusa. Peguei um pouco de chantili que estava
no cantinho do bolo.
Eu só ouvia a respiração calma do outro lado, ele não me respondeu de imediato.
— Em breve, Lunna.
Sua promessa me fez apertar o celular entre meus dedos.
— Quem é?
A linha ficou muda e eu encarei a tela do celular, vendo que o número era restrito. Eu nem
mesmo tinha olhado antes, imaginei que fosse mamãe mais uma vez. Ela tinha telefonado mais cedo.
— Bolo? — Uma voz soou atrás de mim.
Eu gritei e me virei, encontrando Rocco. Eu não tinha visto nenhum dos meus cunhados desde
o casamento. Rocco estar aqui era uma novidade.
— Hum, sim — murmurei, engolindo em seco. Coloquei meu celular no balcão e me virei
totalmente para Rocco. — Romeo não está.
— Eu sei. Só passei para buscar umas coisas. — Ele apontou para uma mochila, então lhe dei
um sorriso pequeno com lábios tensos. — E o bolo?
— É meu aniversário — falei, engolindo em seco.
Rocco encarou meu bolo mais uma vez.
— Parabéns — ele murmurou e eu agradeci baixinho. — Vou indo.
Rocco sumiu e eu respirei fundo, ainda sentindo meu coração acelerado. Quando meu celular
voltou a tocar, vi que era mamãe em uma chamada de vídeo. Aliviada, atendi de imediato.
— Você está linda. — Ela sorriu na tela.
Sorri também e toquei o meu cabelo.
— Fiz um bolo — murmurei animadamente e virei a câmera para que ela pudesse ver.
— Está lindo. — Mamãe sorriu e eu fiquei aliviada por ela gostar. — Você está virando uma
cozinheira. — Ela riu mais uma vez.
Acenei e virei a câmera novamente para mim. Apoiei o celular no vaso de flores e puxei meu
bolo para a minha frente, assim mamãe conseguia ver tanto ele quanto eu.
— Podemos cantar parabéns juntas? — pedi, minha voz soou como uma súplica.
Mamãe suspirou e piscou os olhos demoradamente antes de acenar. Ela bateu palmas, cantou
e me felicitou, o brilho de amor presente em seus olhos.
— Você ainda será muito feliz, Lunna. Romeo vai perceber que a felicidade está diante dele,
e nesse dia você o fará sofrer um pouco. — Suas palavras ecoaram pela cozinha.
Senti lágrimas encherem meus olhos, porém as afastei quando percebi que só conseguiria
borrar a minha maquiagem, nada mais.
— Estou ansiosa por esse dia.
Minha mãe não sabia o quanto.
Cortei o bolo e comi duas fatias enquanto conversava com mamãe. Depois que desliguei a
chamada, guardei o restante e caminhei até a sala. As paredes impessoais me fizeram suspirar e
prometer que começaria a decorar a casa.
Minha atenção foi atraída quando a porta se abriu e Romeo entrou devagar. Ele não me viu, e
quando percebeu já estava perto demais.
— Lunna. — Sua voz soou bêbada. Engoli em seco quando senti o cheiro adocicado em sua
camisa. — Não sabia que era seu aniversário. Vou comprar seu presente e darei amanhã...
— Não precisa — murmurei, dando um passo para trás, sentindo meu coração virar pó. —
Onde estava? — questionei, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— Eu...
— Não — consegui o interromper, era melhor assim. Levei a mão ao meu peito, em cima do
meu coração, como que o protegendo de Romeo. — Eu já sei.
Romeo virou o rosto e encarou a parede, então saí dali, deixando-o sozinho.
21 ANOS
Preocupada, rolei na cama enquanto mordia o lábio para tentar me acalmar. Ela está bem.
Sienna estava com sua família, eles nunca a machucariam. A esposa de Rocco foi levada de volta à
sua casa. Eles casaram há alguns meses, chocando a maioria das pessoas. Porém, foi pelo casamento
que houve paz.
Infelizmente, ela já não mais existia.
Ouvi os passos de Matteo na escada e suspirei quando ouvi uma porta fechar. Romeo não
confiava mais em soldados, por isso seu irmão estava aqui, cuidando de mim. Já era quase dez da
noite e eu só queria dormir para tentar esquecer que Sienna estava em algum lugar bem longe.
A esposa de Rocco era tão legal comigo, que viramos amigas assim que nos vimos. Fiquei
tocada pela sua bravura em vir até a minha casa tempos atrás. Ela queria saber se eu estava bem,
mesmo sozinha. Ninguém jamais fez isso por mim desde que me casei.
Me sentei na cama assim que escutei uma batida. Suspirei de alívio quando Matteo avisou
que Sienna estava vindo para casa.
— Terei que ir até a casa receber os fodidos e ela. Você pode ficar sozinha por algumas
horas? — Sua pergunta me fez acenar rapidamente.
Eu vivia sozinha, não era novidade nenhuma.
Assim que Matteo acenou e voltou para a sala eu adormeci, muito mais aliviada.
Ouvi passos fora da minha porta antes que a abrissem. Eu sabia que não era Matteo. Fiquei de
pé ao lado da cama e vesti meu robe, achando que poderia ser Romeo. Deveria ser ele chegando.
Romeo foi com Rocco a algum lugar ontem para pegar Sienna. Eu só não sabia onde e como fariam
isso.
A porta se abriu e um homem de cabelos pretos e olhos azuis me encarou. Eu não o conhecia,
e sua presença me fez engolir em seco.
— Quem é você e o que está fazendo na minha casa? — questionei, tremendo levemente. O
homem deu um passo, então ergui a mão, fazendo-o parar. — Não se aproxime. Quem é você?
— Lunna, sou eu.
Tentei me lembrar dessa voz, porém não conseguia. O timbre e o sotaque, no entanto, me
levavam há alguns anos, ao meu primeiro aniversário aqui em Chicago.
— O que quer? Meu marido não está. Você deve sair — eu continuava falando e tentando
pensar em algo. Matteo não estava aqui e não viria por algum tempo. Eu estava sozinha.
— Não o chame assim — ele rosnou, ficando completamente rígido.
— O quê? — Franzi as sobrancelhas.
— Não chame aquele desgraçado assim — o homem rosnou mais uma vez e se aproximou
lentamente, me fazendo recuar até minha coluna colar na parede.
— Saia...
— Está tudo bem, Lunna.
Eu corri pelos lados e alcancei a porta. Meus pés doeram quando corri para a escada. Assim
que alcancei a sala, meu braço colidiu com um dos vasos que pedi pela internet e ele se espatifou no
chão. Gritei quando senti braços rodearem a minha cintura. Tentei lutar contra, chutei, dei socos, mas
o homem era mais forte.
— Está tudo bem, Lunna.
Suas palavras se repetiam em minha mente quando ele pressionou um pano contra a minha
boca e nariz. A escuridão me engoliu devagar e eu gritei inconsciente por Romeo. Ele precisava me
salvar.
O gosto amargo em minha boca me fez franzir o rosto. Mexi minhas pernas e senti o lençol de
seda contra a minha pele. Era bom, mas meu corpo tenso não me deixou apreciar. Forcei minhas
pálpebras a se abrirem e encarei um teto branco. Me sentei devagar e olhei ao redor, vendo um
quarto grande. As paredes eram cor de creme e os móveis brancos deixavam o espaço bonito.
Minhas lembranças voltaram e eu pisquei, sentindo as lágrimas começarem a chegar. Apertei
meu robe entre os dedos e fiquei grata por estar vestida. Me ergui e franzi as sobrancelhas ao ver um
acesso venoso em meu braço. Ele estava me drogando? Meu coração apertou e eu tirei a agulha
rapidamente antes de caminhar até a porta. Sacudi a maçaneta, mas ela não abriu.
Ouvi passos ao longe e me afastei, fechando meu robe com mais força. Quando o mesmo
homem que me tirou de casa apareceu, dei passos para trás, tremendo.
— Onde estou? — Minha voz soava tão baixa quanto medrosa.
— Rússia, amor.
Minhas pernas amoleceram e meu coração sacodiu fortemente.
— Não me chame assim. — Arquejei, chocada por saber que estava no território da Bratva.
— Se vai me matar, faça isso rápido.
— Matar? — Ele sorriu e balançou a cabeça ao se aproximar. — Eu esperei por você durante
anos, Lunna. Quero que seja feliz, e não morta. — O homem passou o polegar pela barba por fazer
enquanto continuava com a atenção fixa em mim.
— Quem é você? — Forcei a pergunta para fora enquanto tremia. — Por que quer me ver
feliz? Eu nem o conheço.
— Nikolai Isayev. — Seu sotaque inglês era forte e carregado com um timbre rouco.
— O que você quer...
— Sou o chefe da Bratva. O novo, no caso. Meu pai faleceu há alguns meses e eu estou no
poder — Nikolai explicou e cruzou os braços.
— O que quer dizer com me esperou? — perguntei, apertando meus dedos trêmulos.
— Você foi prometida a mim, Lunna. Seu pai desfez tudo e fez um novo arranjo com o
Trevisan. Você é destinada a mim, não a ele. — Nikolai falou calmamente e andou até a janela que eu
não tinha visto.
— Me deixe ir.
Porque Romeo nunca virá me buscar. Quase falei, mas segurei as palavras. Nenhum homem
feito entraria no território do inimigo. Nenhum deles quer a morte em massa dos seus soldados.
Romeo nunca viria para a Rússia, mas eu precisava voltar. Voltar para a minha casa, para ele.
— Nunca. Você vai se apaixonar por mim com o tempo. Jamais a machucarei. Eu só a tocarei
com o seu consentimento, Lunna.
— Nunca. Eu nunca deixarei que me toque.
— Talvez sim. — Nikolai deu de ombros e voltou a cruzar os braços sob o terno caro. —
Mas eu vou arriscar. Tem roupas no closet. Vista-se e desça para almoçar.
— Quanto tempo eu dormi? — questionei, sentindo um nó em minha garganta.
— Um dia. O tempo da viagem. Eu não queria que acordasse. — Nikolai sorriu.
Desviei os olhos e encarei a cama enquanto sentia meu estômago tremer. Eu estava com
medo. Medo dele, medo de nunca mais voltar para a minha casa.
— Você cometeu um erro — murmurei baixinho.
Nikolai balançou a cabeça.
— Eu amo você, Lunna. Nada que eu faça pensando em você será um erro.
Suas palavras me chocaram e me deixaram sem fala. Abri e fechei a boca diversas vezes, mas
nada saiu.
Me ama? Esse homem era louco. Como ele poderia me amar?
Nikolai sorriu e me olhou por alguns segundos.
— Quero ficar sozinha — eu disse, incomodada com seu olhar.
Nikolai acenou e se virou, me deixando trancada no enorme quarto. Meu peito apertou e eu
desci pela parede, tremendo. Pensei em Sienna, Lake e Romeo. Lágrimas quentes começaram a
deslizar pelas minhas bochechas.
Ele viria me buscar? A pergunta continuava me cegando. Eu sabia a resposta, porém não
queria acreditar nela.
Romeo não me amava. Ele nem mesmo sentia algo perto disso por mim. Estávamos casados
há quase três anos e Romeo nunca me tocou. Eu continuava virgem enquanto ele me traía.
Minha última conversa com Sienna acabou no tema traições e ela me deixou à beira de
chorar, mas fui forte. Ela não sabia da minha vida privada, não sabia de nada. O fato de Romeo nunca
ter me reclamado como sua me envergonhava. Eu me sentia tão humilhada quanto anos atrás, no dia
do nosso casamento.
Fiquei presa dentro da minha casa por dois anos, e no último ano Romeo me deixava sair com
soldados. Eu estava bem, na medida do possível, mas agora, cá estava eu, no fundo do poço
novamente. Presa.
O sol tinha se posto quando me levantei do chão e fui para o closet. Peguei uma calça e uma
blusa de mangas. Elas eram do meu tamanho e todas estavam limpas e cheirosas. Não tinha cheiro de
roupa nova, e sim, de limpa.
Entrei no banheiro grande e girei a chave, temendo que Nikolai entrasse. Me virei para o
espelho e senti meu coração acelerar com minha pele manchada de lágrimas. Me afastei e tomei um
banho rápido. Saí do banheiro com o cabelo molhado e penteado e já vestida. Me aproximei da
janela e respirei fundo ao ver um jardim na parte de baixo. A casa não era grande como a dos
Trevisan ou a minha, mas era tão luxuosa quanto.
Me sentei na cama e abracei minhas pernas, tentando pensar no que fazer. Nada me vinha à
mente, e mais uma vez Romeo apareceu. Ele me salvaria?
Fiquei triste ao saber que não. Ao ter certeza de que ele me deixaria aqui, na Rússia, para
sempre. Talvez ele já estivesse com as prostitutas do Village, comemorando que tinha se livrado de
mim.
Meus soluços ecoaram e eu levei a mão aos lábios para tentar parar. Não consegui. Romeo
era a única coisa que me tirava do eixo.
A maçaneta girou e eu limpei meu rosto ao ver Nikolai entrar segurando uma bandeja com
comida. Ergui meu rosto enquanto ele a colocava sobre a cama. Eu não desviei os olhos dele, e
quando percebi que estava na cama, lugar onde ele poderia me prender facilmente, eu me levantei.
— Não machucarei você, Lunna. Coma.
— Não.
— Coma e você poderá fazer uma ligação — ele murmurou.
Ergui meu queixo e engoli em seco.
— Para quem?
— Sua mãe. Ela deve estar preocupada — Nikolai esclareceu rapidamente.
Acenei e voltei para a cama. Mamãe deveria estar enlouquecendo, ele estava certo. Eu a
acalmaria. Comi tudo que tinha na bandeja, me surpreendi ao terminar. Eu não comia tanto. Nikolai
estava sentado em uma poltrona, com um celular entre os dedos.
— Terminei — falei, engolindo os resquícios de suco.
— É madrugada nos Estados Unidos. Você pode ligar mais tarde — ele murmurou novamente.
Franzi as sobrancelhas, recordando do fuso horário de oito horas.
— Quando poderei falar com meu... com Romeo. — Me corrigi rápido quando Nikolai me
deu um olhar irritado.
— Não vai. Romeo está preocupado com Sienna, a esposa de Rocco. Foi por isso que ele te
deixou sozinha, certo? — Nikolai disse calmamente.
Ergui meu queixo e apertei meus punhos.
— Ela estava em perigo...
— Ela estava com a família dela. Eles não a machucariam. Romeo correu para ajudar o irmão
e deixou você desprotegida. Por que o ama, Lunna? Ele não gosta de você.
— Por que você me ama? — Devolvi quando encontrei minha voz. Ninguém nunca esfregou a
falta de sentimentos de Romeo na minha cara. Nikolai foi o único, e eu o odiei por isso.
— Porque você é a mulher mais linda que já conheci. Você é boa e leal.
— Homens feitos não saem dizendo que amam...
— Homens fracos não falam. Se eu sei o que sinto, por que diabos vou esconder? — Nikolai
me cortou, falando com firmeza.
— Você é o único. — Desviei os olhos dos dele ao constatar isso.
— Eu sei — ele murmurou e sorriu.
Por um momento eu fiquei relaxada, mas me lembrei que ele me sequestrou e voltei a ficar
alerta.
— Nunca? — questionei baixo.
Nikolai piscou, compreendendo o que eu falava.
— Nunca. Estarei morto quando você sair da Rússia.
Engoli em seco e desviei os olhos dos dele. Me assustei ao perceber que ele estava falando
sério.
Nikolai não me deixaria ir.
Quando o dia amanheceu em Nova York, na Rússia era meia-noite. Nikolai voltou ao meu
quarto e ligou para a minha mãe, como havia prometido. Segurei o celular entre os dedos e suspirei,
tremendo.
— Mamãe? — chamei, sufocando um soluço assim que ela atendeu.
— Oh meu Deus, Lunna! Como você está? — Mamãe chorou ao telefone enquanto Nikolai se
afastava e ficava de frente para a janela.
— Estou bem. Mamãe, eu estou bem. Eu juro.
— Onde está? Ele a levou para a Rússia...
— Sim — falei baixo e escutei uma conversa ao fundo da ligação. — Ficarei bem. Não se
preocupe...
— Como não vou me preocupar, Lunna? Nikolai é um monstro. Você não está segura. — Suas
palavras quebraram, me fazendo engolir em seco e sentir as lágrimas molharem minhas bochechas.
— Ele disse que não vai me machucar...
— Não confie! Lunna, você não conhece esse homem...
— Eu não confio — falei de maneira firme. Nikolai continuou olhando para a janela. Baixei
meu tom para que ele não pudesse me ouvir e suspirei. — Só quero que não se preocupe.
— Romeo vai salvá-la.
— Ele não vai e a senhora sabe disso. — Eu disparei, certa do que estava falando. Minha
mãe ficou calada, parecia nem mesmo respirar. — Eu não sou tão importante a esse ponto. Ele não
mandará a Outfit para a morte.
— Você está enganada.
— Eu passei três anos da minha vida ao lado dele. Eu sei do que ele é capaz. — Engoli em
seco, tremendo. — Eu amo você, mamãe. — Suspirei e desliguei a chamada antes que ela falasse
algo mais.
Nikolai continuava parado quando o avisei que tinha acabado. Ele se virou e me encarou de
onde estava.
— Ele não merece suas lágrimas. Ninguém merece — Nikolai falou com firmeza.
Desviei meus olhos dos dele, sem ter certeza do que dizer.
Nikolai saiu do quarto e eu me enrolei na cama, soluçando.
25 ANOS
Apertei meu punho contra minha boca enquanto me sentava na cama. Tudo cheirava a ela. Os
lençóis, os travesseiros e a porra do banheiro. Em cada canto da casa tinha algo de Lunna. E eu
estava enlouquecendo.
Me ergui e vesti uma camisa. Meu celular tocou em meu bolso ao mesmo tempo que alguém
abriu a porta. Levei o celular ao meu ouvido e encarei meu irmão.
— É Poliana. — A voz da mãe de Lunna ecoou, me fazendo semicerrar os olhos. Ela havia
me ligado ontem e eu falei o que sabia, o que não era muito. — Ela me ligou.
— O quê? — questionei rapidamente e coloquei o celular no viva-voz.
Rocco se aproximou e a minha sogra respirou fundo.
— Eu gravei a ligação. Escute com atenção, Romeo. Talvez você consiga ver o quanto
magoou a minha filha — Poliana murmurou, suas palavras me deixando tenso.
Assim que a voz de Lunna preencheu o quarto, eu apertei meu punho.
— Mamãe?
— Oh meu Deus, Lunna! Como você está? — A voz da mãe dela estava chorosa na ligação.
— Estou bem. Mamãe, eu estou bem. Eu juro.
— Onde está? Ele a levou para a Rússia...
— Sim — Lunna respondeu com a voz baixa. — Ficarei bem. Não se preocupe...
— Como não vou me preocupar, Lunna? Nikolai é um monstro. Você não está segura.
— Ele disse que não vai me machucar...
— Não confie! Lunna, você não conhece esse homem...
— Eu não confio — Lunna falou e eu me sentei na cama, atento a cada palavra que saía da
boca dela. — Só quero que não se preocupe.
— Romeo vai salvá-la.
— Ele não vai e a senhora sabe disso. — Me senti sufocado ao ouvir sua afirmação. — Eu
não sou tão importante a esse ponto. Ele não mandará a Outfit para a morte.
— Você está enganada.
— Eu passei três anos da minha vida ao lado dele. Eu sei do que ele é capaz — Lunna falou
mais uma vez com firmeza. Rocco me encarou enquanto eu me perdia. — Eu amo você, mamãe — ela
falou com a voz embargada e a ligação caiu.
Apertei o celular entre os dedos, ouvindo a respiração de Poliana. Ela realmente achava que
eu a deixaria lá, com ele. Que ela não era nada para mim.
Me odiei mais e mais por isso.
— Eu espero que Lunna esteja enganada.
E ela desligou.
— Ela realmente acha que você a deixará lá. — Meu irmão esfregou o rosto.
Encarei meus sapatos. Ela os tinha me dado de presente no meu último aniversário. Lunna
tentou muito, com esforço, mas eu apenas a afastei.
— Eu a tratei como merda. Eu a deixei sozinha nesta casa de merda. Eu a deixei. Isso foi o
que aconteceu. E se ela resolver ficar com Nikolai não me surpreenderá.
— Lunna ama você. Vamos buscá-la e você poderá se redimir...
— Você não ouviu? Ela não acredita que eu irei até a Rússia pegá-la. Ela não tem por que
acreditar, aliás...
— Pare com essa merda. Nós vamos buscar sua mulher e você vai resolver qualquer merda
que você fez. Vocês vão passar por cima disso, Romeo.
Só acenei, porque estava cansado da conversa. Porém, por dentro eu sabia mais. O medo
dentro de mim significava que eu podia perder Lunna. Eu já a tinha perdido.
Me levantei e saí do quarto, deixando Rocco para trás. Fui para a cozinha e novamente a onda
de Lunna me atacou. Esse cômodo era mais dela que qualquer coisa nessa casa. Ela aprendeu a
cozinhar, agora tudo que fazia era isso. Nunca faltava comida na geladeira. Vários e vários potes.
Respirei fundo e abri a porta, vendo alguns com data de produção, Lunna deixava tudo
organizado. A inquietação voltou com força quando peguei um deles, com macarrão com queijo, algo
que ela amava fazer. Respirei fundo e me senti sufocado. Estava preso aqui. Sem poder ir buscá-la,
sem ter o que fazer ao não ser esperar. Rocco estava tentando muito mover as coisas rápido, mas
ninguém correria para a morte. Dentro de um dia nós partiríamos, e mesmo que morresse no
processo, eu arrancaria a porra da garganta de Nikolai.
Ele poderia até achar que ficaria com Lunna, mas eu mostraria que isso nunca aconteceria.
Ela era minha.
Minha Lótus.
Toda perfeita e cheia de pureza. Minha redenção estava naqueles olhos azuis. Eu soube desde
o dia em que a vi.
Lake estava trancada em seu quarto desde a manhã de ontem. Prince veio falar com ela, mas
ela apenas disse para ele ir embora. Sienna tentou, mas também sem sucesso. Rocco e Matteo tinham
vindo pela manhã e agora cá estava eu, de pé em frente a madeira, tentando compreender o que fiz.
Lake me odiava, e Lunna fará o mesmo quando souber que seu pai é também pai de Lake. Elas
são irmãs. E eu nunca disse a ela. Nunca contei os motivos de mantê-la distante, de odiar sua família.
De ver seu pai a cada vez que eu olhava para ela. De relembrar o que seu pai fez com minha mãe.
E odiei cada segundo.
Bati na madeira e esperei. Quando a porta abriu, eu fiquei tenso e surpreso. Jamais imaginei
que ela abriria.
— Eu soube que era você pela batida — minha irmã murmurou.
Vi seu olhar triste. Ela não se parecia com Lunna. Não. Lake era a cara da nossa mãe.
— Você está bem?
— Não. — Ela balançou a cabeça. — Você me machucou, Romeo.
— Não foi minha intenção, Lake.
— Desde quando? — Ela piscou, ainda segurando a porta.
Respirei fundo e me encostei na parede.
— Dias antes de tudo. Do casamento, da morte dela. Mamãe falou para mim e Rocco que
você não era do pai. Ela foi comigo até o antigo apartamento dele e contou tudo, disse que precisava
que a gente salvasse você.
— Ela sabia o que ele faria comigo? — Lake perguntou, e duas lágrimas deslizaram pelas
suas bochechas.
— Não sei, Lake. Mas ela queria que a gente protegesse você. Talvez, ela soubesse o ódio
que ele nutria por você...
— Foi tão rápido, sabe. — Lake apertou os dedos nas pálpebras e mordeu o lábio, chorando.
— Ela entrou no quarto e o empurrou para longe de mim. Ela chorava muito quando ele avançou nela.
Ele a machucou muito, Romeo. Quando ele a matou, eu morri um pouco ali. Ele rasgou minha vida.
Ele a tirou de mim, e eu me sinto caindo dentro de mim mesma.
— Vai ficar tudo bem, Lake. Eu prometo que isso vai passar.
— Eu só quero poder dormir uma noite completa. Só isso, e eu serei feliz.
Puxei minha irmã para os meus braços e ela relaxou, soluçando e me apertando. Lake estava
além de machucada. Ettore a marcou profundamente, e eu e nossos irmãos, mesmo que tentássemos
muito, não conseguimos alcançá-la.
— Trarei Lunna, Lake. Você terá sua irmã.
— E você sua esposa.
— Sim.
Encontrei Sienna na cozinha, olhando para uma travessa. Já estava na hora do almoço, e à
noite nós sairíamos. Rocco conseguiu encontrar uma rota alternativa. Chegaríamos à Rússia em dois
dias, um a mais que o previsto. Valeria a pena.
— Sei que é bobo e egoísta pedir isso, mas cuide dele? Por favor. — Minha cunhada me
encarou, mordendo o lábio enquanto Tebow estava parado ao seu lado. O cão era nosso antes da
esposa de Rocco chegar, mas agora ele só tinha olhos para ela.
Voltei a encarar Sienna e vi seus olhos se enchendo de lágrimas. A mulher loira era uma
incógnita. Quando Rocco aceitou o casamento, eu esperei tudo, mas nunca que ele se apaixonasse por
ela. Sienna era linda, era óbvio, mas Rocco estava além da redenção. Eu não sabia que Sienna
poderia ser isso para meu irmão. Ela era muito, no entanto.
— Eu me sinto culpada por Lunna. E mais ainda por estar pedindo para que cuide dele. Mas,
Romeo, Rocco está por um fio. Ver você se perdendo está matando-o por dentro.
— Ninguém precisa pedir para que eu cuide de Rocco. Eu faço isso desde que o vi pela
primeira vez — falei com firmeza. Ela acenou. — Vou trazer seu marido de volta, da mesma maneira
que eu trouxe você.
— Me perdoe...
— Se Rocco a vir pedindo perdão a mim, você não vai gostar da reação dele — eu a
interrompi e abri a geladeira para pegar água. — Não se culpe, Sienna. Eu não a protegi. A culpa é
minha.
Sienna abriu a boca para falar algo, mas eu a deixei sozinha.
Matteo apareceu descendo a escada com uma mochila, então ergui a sobrancelha.
— Para onde você vai?
— Vou com vocês...
— Você vai ficar e proteger Sienna e Lake, com Prince.
— Não vou deixar você e Romeo sozinhos. Nós dois sabemos que você está envolvido
demais e Rocco é a porra de um louco. Eu vou — Matteo decidiu e se afastou.
Mesmo que eu quisesse colocar o idiota em seu lugar, não o fiz. Ele estava certo.
Encontrei Rocco no escritório, falando ao celular, então esperei a ligação acabar.
— O idiota do Nikolai a levou para a casa dele — Rocco falou assim que colocou o aparelho
em cima da mesa. — Ivo falou que vamos chegar a São Petersburgo de barco e ir de helicóptero a
uma propriedade próxima a casa. De lá vamos de moto até a margem da casa.
Eu acenei, andando até a estante de livros.
— Matteo irá conosco...
— Nem fodendo. Ele precisa ficar com Sienna e Lake.
— Eu falei isso, mas ele não aceitou dizendo que nós dois estamos fodidos para estarmos
sozinhos. Ele está certo, Rocco — falei, me virando. Meu irmão suspirou e olhou para a mesa de
mogno. — Vamos levar poucos homens. Nós dois damos conta deles se forem poucos ao redor da
casa.
— Nikolai sabe que estamos indo. Ele espera por nós. Você acha que terão poucos homens?
— Ele espera a nossa chegada, mas não tão rápido.
Rocco respirou fundo e acenou. Meu irmão se ergueu e me encarou.
— Não vamos brincar, Romeo. Você chega, pega Lunna e sai.
— Eu vou matá-lo.
— Não. Não vai. — Rocco ficou tenso e se aproximou. — Eu poderia pedir a cabeça de
Enrico quando eles levaram Sienna, mas não o fiz, porque isso é guerra. Não quero a Cosa Nostra e
muito menos a Bratva tentando entrar aqui.
— Você chamou Enrico de fraco quando ele recuou, oferecendo uma esposa. Você está
fazendo o mesmo — murmurei.
Rocco se aproximou de mim, sério.
— Nikolai é apaixonado por Lunna. Ele é um idiota e está agindo com imprudência e burrice.
Ele vai perder. Você não deve matá-lo.
Respirei fundo e encarei meu irmão, sufocando a fúria que eu estava guardando desde que ele
me ligou e falou que tinham levado Lunna.
— Não vou prometer, mas farei o possível.
Meu irmão ficou satisfeito com a minha resposta e andou até o bar.
— Conseguiu falar com Lake?
— Sim. Acho que devemos levá-la para a terapia. Isso está mais fundo nela, Rocco.
Modificou-a. Por mais que a gente insista que ela vai ficar bem, isso não vai acontecer se ela estiver
sozinha.
— Sienna falou sobre isso hoje. Quando voltarmos da Rússia, farei isso.
— Já encontraram Juliano?
O consigliere de Enrico fugiu na confusão dos infernos que recaiu quando roubaram Lunna.
— Não. — Rocco cuspiu com ódio e apertou os punhos. — Ele já deve estar com Enrico.
Meu único arrependimento é não ter ordenado que enfiassem uma bala na cara dele e de Salvatore.
— Mais um na pilha de arrependimentos. Como Sienna está lidando com o fato de que,
possivelmente, Salvatore esteja morto? — questionei, me sentando.
— Chorando. — Ele me encarou. — A mãe dela ligou hoje e foi um inferno do caralho. —
Rocco esfregou o rosto.
— Ainda não entendi por que o levaram. Giulio eu posso entender, ele ficou conosco por um
tempo, poderia saber de algo, mas Salvatore? — questionei, franzindo as sobrancelhas, confuso.
— Não sei, e se não fosse por Sienna, eu pouco me importava. O irmão dela é um rato. Eu o
quero longe da Outfit.
O cunhado do meu irmão roubou Sienna sob seu nariz. Ele não tinha superado.
— Não importa, ele deve estar morto.
— Bom, me lembre de agradecer Nikolai por isso. Eu não precisei matá-lo.
Rocco me deu um sorriso distorcido e eu ri, balançando a cabeça.
— Você quer descer? — Nikolai questionou assim que apareceu no quarto, no dia seguinte.
Eu estava perto da janela, encarando o jardim. — Estamos sozinhos na casa. Não se preocupe com
outras pessoas.
— Não. Eu preciso ligar para minha mãe — falei, abraçando a mim mesma. Virei-me e o
encontrei com os braços cruzados.
Nikolai estava vestindo um terno e eu não gostei de constatar que ele era bonito. Seu cabelo
preto, seus olhos azuis e sua altura faziam parte de um pacote que era algo digno de filme. Ele me
lembrava Romeo, porém seus olhos eram mais calorosos que os do meu marido. O azul cinzento era
sempre vazio, e por mais que eu tentasse, e eu tentei alucinadamente, nunca consegui adivinhar o que
se passava em seus pensamentos. Eu nunca consegui fazer Romeo me olhar como esse homem diante
de mim me olhava em escassas horas na minha presença.
Como se eu fosse alguém importante.
— Almoce comigo lá embaixo. Eu darei o celular e você fala com ela — Nikolai respondeu,
me tirando de Romeo.
— Você vai tirar algo e me dar outra coisa até quando?
— Até você se sentir em casa — respondeu abruptamente.
Eu nunca me sentiria. Minha casa ficava em Chicago. Minha casa era Romeo, por mais que
ele não sentisse o mesmo.
— Tudo bem — aceitei, acenando.
Ele sorriu como se tivesse acabado de conquistar um prêmio.
Tinha encontrado meu café da manhã em uma mesa no quarto assim que acordei. Enquanto
comia, fiquei pensando em como faria para fugir daqui. Nada me veio à mente e eu queria falar com
minha mãe. Ela poderia me ajudar.
Nikolai se afastou da porta e eu o segui para a escada. Apertei o vestido longo preto e o
casaco grosso. Estava fazendo muito frio e nem o aquecedor conseguia me manter quente. Nikolai
não parecia sentir e eu sabia que era por ele já estar acostumado.
Assim que chegamos à sala de jantar, Nikolai afastou uma cadeira para mim e eu me sentei,
encarando os pratos de comida. Tinham vários. Nikolai se sentou à ponta da mesa e começou a me
servir.
— Espero que goste — ele balbuciou assim que comecei a comer. Estava delicioso, mas eu
não disse isso a ele. — Você se esconde atrás do cabelo — Nikolai murmurou e eu pulei, me
afastando quando seus dedos tocaram minha bochecha, afastando meu cabelo. — Calma.
— Não me toque — falei de maneira firme.
Nikolai acenou, relaxado demais para o meu gosto. Nós terminamos de comer e Nikolai se
ergueu. Eu fiz o mesmo e ele andou para a porta. Fiquei em dúvida se o seguia, porém o fiz
impulsionada pela ligação. O vento frio atingiu meu rosto assim que a porta se abriu. Nikolai nos
levou para o jardim e eu abracei meu próprio corpo, mordendo meu lábio gelado.
— Tome, fale com a sua mãe.
Nikolai estendeu o celular já em ligação e eu o peguei, vendo-o se afastar até um segurança
que estava a alguns metros. Me sentei em um banco e olhei para o limite da propriedade, vendo um
muro alto. Eu não conseguiria sair daqui sem ajuda.
— É você? — minha mãe falou. Eu suspirei, dizendo que sim. — Falei com Romeo. Ele não
disse nada sobre buscá-la. Acho que você está certa. — Sua voz era tão baixa e cansada que eu
deixei meus ombros caírem.
— Ele não virá — falei com a voz embargada, e minha mãe fungou na linha. — Talvez, eu só
precise aceitar isso...
— Lunna, o que está falando?
— Nikolai não é ruim para mim. Eu só... — minhas palavras cessaram assim que Romeo
apareceu em meus pensamentos — não consigo nem imaginar.
— Você ama Romeo.
— Sim, eu o amo com tudo de mim, mas ele não sente o mesmo, mãe. — Limpei minhas
bochechas e escutei a respiração da minha mãe. — Como vou sobreviver a isso? Nikolai não vai me
deixar ir, mãe.
— Não sei. Seu pai não quer envolver Enrico. Ele disse que você é um assunto da Outfit
agora. — O lampejo de raiva em sua voz não me surpreendeu, tampouco o que papai falou para ela.
— Vou sobreviver, mãe, e voltarei para casa. Qualquer uma que eu tiver.
— Estão dizendo por aí que ele levou dois homens de Romeo. Você os viu? Seu pai disse que
Salvatore é um deles. — Mamãe mudou de assunto.
— Não. Vou perguntar a Nikolai. Talvez ele me diga.
— Sim, querida, talvez. Fique bem, Lunna.
Eu ficaria.
Nikolai me levou para o quarto assim que devolvi o celular. Andei até a janela e me virei,
vendo-o parado na porta.
— Quem você trouxe comigo? — questionei, semicerrando os olhos.
— Giulio e Salvatore. Meninos da Cosa Nostra — Nikolai respondeu, me surpreendendo,
antes de olhar para o celular entre os dedos.
— Você os matou? — perguntei, engolindo em seco.
Ele me encarou de repente.
— Ainda não.
— Eu posso vê-los? — pedi ao me aproximar.
— Por quê? — Franziu as sobrancelhas
— Eles são conhecidos — menti, segurando seu olhar.
— Apenas se aceitar sair para jantar comigo.
— Você vai continuar com esse cá e lá? — perguntei, irritada.
Ele acenou e deu de ombros.
— Se eu só terei você assim, então, sim. Vou continuar.
— Ok. Mas eles precisam vir aqui agora.
— Agora? — Ele sorriu, me encarando, e eu acenei. — Tudo bem. Em uma hora eles chegam.
É o tempo de viagem de onde estão até aqui.
Eu acenei, tentando esconder minha excitação. Nikolai se virou para sair.
— E Lunna? — Sua voz chegou aos meus ouvidos. — Eles não estão bonitos.
Nikolai saiu do quarto e eu segurei meu vestido apertado, respirando fundo. Giulio e
Salvatore eram minha única chance. Nós três sairíamos daqui.
Uma hora depois os dois homens chegaram à casa. Eu vi pela janela alguns seguranças os
trazendo encapuzados para dentro da casa. Me virei para a porta, e quando a maçaneta girou, encarei
os olhos azuis de Nikolai.
— Vou deixar você sozinha com eles por cinco minutos — ele avisou, me guiando para fora
do quarto.
Assim que entrei numa sala que parecia uma biblioteca, vi que estávamos sozinhos. Isso
durou pouco tempo, no entanto. A porta foi aberta e alguém empurrou Salvatore e Giulio para dentro
do cômodo. Nikolai sorriu enquanto tirava o pano preto da cabeça dos dois.
Salvatore foi o primeiro que olhei e suspirei, ofegando com o estado do seu rosto. Eu nunca o
tinha visto, mas o reconheci por Sienna. Eles eram muito parecidos. As feridas estavam com sangue e
eu sabia que, desde que eu estava nessa casa, comendo e dormindo, eles estavam sendo torturados.
Para quê?
— Cinco minutos — Nikolai avisou novamente antes de sair.
Salvatore semicerrou os olhos e olhou Giulio. O outro homem era tão alto quanto o irmão de
Sienna. Esse, no entanto, era moreno com olhos verdes. Seu cabelo era escuro e alcançava suas
orelhas e caiam em sua testa.
— O que você quer e quem diabos é? — Salvatore questionou, irritado.
— Sou esposa de Romeo. — Engoli em seco.
— Por que o fodido pegou você? — Giulio questionou, olhando ao redor e se movendo. —
Pegue algo que possa machucar e guarde — ele murmurou para Salvatore, que repetiu seus passos.
— Ele, de uma maneira louca, gosta de mim — respondi, com as bochechas pegando fogo.
Ainda era irreal Nikolai ter cruzado o oceano apenas para me capturar.
— Sorte do caralho. Esse homem é doido pra porra — Giulio ofereceu, balançando a cabeça.
— E quem deixa dois prisioneiros, três, no caso, sozinhos? Ele é um idiota.
Eu concordei, porque Nikolai era muito louco ou não fazia questão de nos manter longe.
— Eu sei. Podemos pensar em algo. Fugir os três.
Salvatore me encarou e olhou para Giulio. Os dois pareciam ponderar.
— Estou em contato com ele. Podemos pensar em algo...
— Nós vamos morrer hoje. Não tem escapatória, e se tentarmos levar você, ele nos caçará
até a morte.
— Então vão me deixar? — perguntei baixinho. Salvatore suspirou. — Vão tentar fugir, que
eu sei.
— Vamos, mas não vou arriscar tentando tirar você daqui.
Os dois concordaram nisso, e eu engoli em seco, tremendo, sentindo minha única forma de
escapar se esvair dos meus dedos. Acenei, segurando as lágrimas, e os dois pararam de procurar o
que diabos o ajudassem a sair daqui.
— Ok. Vamos tentar isso. Eles não vão nos levar de volta. Ficaremos aqui. Ele nos levará
para a morte na frente de todos. No caminho, vamos tentar matar quem quer que esteja nos levando.
Você precisa estar no jardim. Dê seu jeito — Salvatore falou de maneira firme.
Eu só acenei e respirei fundo.
Os dois se aproximaram e Giulio parecia indeciso.
— Se nos trair...
— Não vou. Eu quero voltar para o meu marido. Conheço Sienna, confio nela, por isso pedi
para falar com vocês. — Afastei meu cabelo para trás da orelha e os dois acenaram.
Nikolai voltou rápido e os dois homens já estavam longe de mim antes que eu me desse conta.
Ele me levou para o meu quarto e a porta se fechou. Pela primeira vez, ele não falou comigo ao ficar
na minha presença, e eu fiquei aliviada.
À noite, eu me preparei para o jantar que Nikolai me levaria. Meu vestido preto era muito
justo, mas por mais que eu me sentisse estranha com ele, era o único formal que estava no closet.
Meu cabelo estava alisado e os sapatos eram Louboutin.
— Você está linda.
A voz de Nikolai me fez virar, tensa, enquanto ele se aproximava vestindo um terno preto.
— Obrigada.
Nikolai ergueu a mão para me tocar, mas dei um passo para trás. Seu sorriso deslizou e eu
mordi meu lábio, assistindo-o recuperar a máscara de um cara alegre.
— Vamos lá. — Ele acenou para fora antes de eu caminhar ao seu lado.
Assim que saímos, Nikolai me guiou até o carro. Eu entrei, tremendo e apertando minhas
unhas na palma da minha mão. O caminho foi feito em silêncio, porém o olhar de Nikolai estava me
deixando inquieta.
— Você ainda quer fugir. — Nikolai me surpreendeu ao falar. Eu o encarei, tentando me
acalmar. — Escuto tudo que acontece na minha casa, Lunna. — Ele se apoiou nos joelhos, segurando
um celular. — Ele não a quer. Ele não sente sua falta. Na verdade, Romeo estava com outra mulher
hoje mesmo — Nikolai murmurou, deixando-me tensa.
Desviei meus olhos dos seus quando ele virou a tela do celular para mim. Meu estômago
rodou e eu segurei o vômito ao ver Romeo com uma mulher loira. Beijando-a. Eu não sabia dizer se a
foto era recente, mas era meu marido ali.
— Ele te trai regularmente. Ele não te ama, mas você ainda está tentando voltar para ele.
Voltar para a casa vazia, para o silêncio e solidão.
Fiquei calada e encarei a janela do carro, sentindo as lágrimas encherem meus olhos. Nikolai
estava com os dedos sobre a minha ferida mais profunda, e o celular era sua maneira de aumentar o
ferimento. Ele segurou meu queixo e forçou meu olhar no seu.
— Você será feliz comigo, Lunna. Eu prometo — Nikolai jurou, completamente sério.
E eu quis acreditar nele. Desejei ardentemente que pudesse esquecer Romeo e ser feliz.
Mas eu não podia.
Nikolai se afastou e eu limpei meu rosto, focada na paisagem do lado de fora.
— Você os matou — murmurei, certa de que ele sabia da minha tentativa inútil de fugir com
Salvatore e Giulio.
— Ainda não, mas farei isso em breve.
Eu sabia que sim.
Nikolai me ajudou a sair do carro e nós andamos até o restaurante chique. Não havia mais
ninguém, fiquei aliviada por isso. O jantar foi feito em silêncio, mas não pude deixar de perceber que
Nikolai sorria para mim cada vez que eu bebia o vinho.
— Você gostou da comida? — ele questionou quando chegamos à mansão.
Acenei enquanto seguia para a escada. Nikolai subiu comigo, e senti sua mão enrolar na
minha quando chegamos no topo da escada. Tentei me afastar, mas meu movimento estava lento.
Estávamos encarando a noite pela janela quando Nikolai tocou minha bochecha. Eu pisquei,
sonolenta, e ele sorriu ao beijar a minha bochecha. Eu me afastei assim que o vi se inclinando, mas
meu movimento era vagaroso.
— O que está fazendo? — perguntei, engolindo em seco.
Ele segurou minhas bochechas ao se aproximar até juntar nossas bocas. Seus lábios eram
gelados, diferentes dos de Romeo.
— Nada — Nikolai respondeu quando se afastou, porém senti suas mãos nas alças do meu
vestido, descendo-as.
Tentei pedir que se afastasse, mas as palavras ficaram presas. Minha cabeça estava enevoada
e meu corpo não respondia aos meus comandos.
— Talvez estivéssemos certos. Nikolai é um filho da puta prepotente que não pensa muito. —
Rocco riu, enfiando o celular dentro da calça enquanto vestíamos os coletes a prova de bala.
Eu me ergui, segurando no teto do barco, e me movi para a frente.
— Мы приехали. Велосипеды спрятаны за деревьями.[i] — o russo resmungou,
desligando o motor do barco.
Rocco fez uma careta.
— Хорошо.[ii] — respondi com um aceno e peguei minha mochila.
— Que porra ele falou? — Matteo questionou enquanto ria e eu descia do barco.
— Onde as motos estão. Vamos. — Acenei para o restante dos soldados e eles me seguiram
em silêncio. Tínhamos no total dez homens, incluindo a nós.
Entramos na mata e logo encontramos as motos. O céu estava escuro. O que pensávamos que
levaria dois dias durou um e meio, e eu estava aliviado por isso. Não queria ficar nessa merda mais
que o necessário.
Matteo subiu na garupa da moto e eu acelerei, adentrando mais ainda na floresta. Meus
irmãos estavam se arriscando por mim, por Lunna, e isso também era algo que estava me tirando a
paz. Fazia quase cinco dias sem dormir mais que algumas horas, e eu estava cansado pra caralho.
Assim que chegamos aos portões, um dos soldados se posicionou e hackeou a configuração
do portão, com um aparelho que parecia um tablet, talvez fosse, eu não sabia. Nós precisávamos ser
silenciosos. Eu não queria que Nikolai me visse chegando até ser tarde demais.
Os homens da Outfit se espalharam e eu, mais uma vez, duvidei da sanidade de Nikolai. Não
tinham seguranças ao redor, e quando encontramos o primeiro, ele estava na porta da casa.
O sangue dele molhou a camisa de Rocco, mas ele não o percebeu. Apenas continuamos
andando. Algo estava errado. Ainda duvidava que Nikolai deixaria a mansão desprotegida. Isso não
era a Bratva.
— Vou subir — avisei a Rocco e andei para a escadas segurando a FAL[iii].
Mirei a minha frente e subi os degraus. Tudo estava silencioso demais. Parei quando cheguei
à primeira porta, sentindo Matteo por perto. Segurei a maçaneta e abri a porta devagar. Mirei minha
arma na cama e ouvi um praguejo de Matteo, enquanto meu sangue esquentava e eu via vermelho.
Lunna estava nua na cama, no peito de Nikolai. Seus olhos estavam fechados e ela parecia
calma em seu sono. Em paz, enquanto eu queimava. De ódio.
— Romeo — Matteo chiou para me chamar. Vi o exato momento em que ambos acordaram.
Nikolai puxou a arma da mesa de cabeceira e mirou em mim, se erguendo, nu. — Porra.
Lunna abriu os olhos e pareceu aliviada por um segundo quando me viu, mas, em seguida,
franziu as sobrancelhas ao perceber que os peguei juntos. Ela baixou os olhos para o lençol e o
puxou para se cobrir.
— Eu vou atirar em você. Baixe a porra da arma. — Matteo mirou o fuzil que segurava para a
cabeça de Nikolai.
Eu continuava encarando Lunna, nua. Ela estava transando com esse desgraçado enquanto eu
atravessava o oceano e colocava meus irmãos em perigo para buscá-la.
— Cara, só saia. Eu vou deixar vocês irem, sem problema — Nikolai falou, ainda segurando
a arma. Mas eu mirei a minha na testa dela. — Baixe a arma. Lunna não tem...
— Cala a boca — ordenei, apertando mais a arma. Lunna me encarou e as lágrimas em seus
olhos eram como água no deserto. Eu a faria sofrer muito mais. — Se levante e vista uma roupa —
falei diretamente para ela.
Tremendo, minha esposa se moveu. Nikolai respirou fundo e sorriu mesmo quando Matteo
estava tão perto dele que o cano do fuzil tocou sua cabeça.
— Eu disse que ela pediria meu toque. — Ele deu de ombros.
Eu me aproximei e tirei a minha faca, cortando seu pulso e fazendo com que ele derrubasse a
arma. Baixei a minha e segurei seu cabelo, forçando seu corpo para baixo e o colocando de joelhos
de frente para o closet onde Lunna tinha entrado.
Quando ela saiu, seus olhos procuraram os meus e depois viram Nikolai no chão. Lunna
abraçou a si mesma e piscou, desviando a atenção para o lado.
— Olhe para ele! — eu gritei na direção dela e a vi estremecer.
— Romeo...
— Eu mandei você olhar para ele! — voltei a gritar.
Lunna o fez enquanto chorava diante de mim. Chorava por ele. Três dias e ela já estava
fodendo outro homem depois de dizer que me amava.
Eu traí Lunna por vezes e ela sabia disso. Nunca menti, enganei ou disse que não saía com
outras mulheres. Fui verdadeiro pra caralho. Lunna era muito mais traidora que eu. Porque ela
mentia.
— Espero que você tenha memorizado isso, Lunna — falei com firmeza e me inclinei, ficando
ao lado de Nikolai. Puxei minha faca e deslizei na garganta dele, sentindo o sangue descer. Satisfação
vibrou em minhas veias enquanto sentia sua pele abrir e o líquido quente inundar o chão. Afundei a
faca olhando para ela. Para o olhar chocado e temeroso.
— Romeo... — Lunna chorou, de olhos arregalados.
Empurrei o corpo de Nikolai para o chão. Seus olhos ainda abertos encaravam a parede.
Pisei no sangue dele quando caminhava até ela.
— Cala a porra da boca. Coloquei meus irmãos em perigo por uma vagabunda. — Lunna se
encolheu, chorando, e eu segurei seu queixo com força. — Você não sofreu durante esses três anos,
Lunna. Você vai conhecer o inferno agora, vou apresentá-lo a você.
Eu a puxei, segurando a base do seu pescoço, e saí com Matteo nos seguindo. Desci a escada
rapidamente enquanto Lunna tentava me acompanhar, mas suas pernas eram pequenas demais. Ela
tropeçava e quase caía, se não fosse meu aperto.
— O que porra... — Rocco semicerrou os olhos ao nos ver.
Mesmo sem que eu tivesse falado uma palavra, meu irmão soube o que tinha acontecido. Seu
olhar de nojo fez Lunna se encolher mais uma vez.
— Romeo, me deixe explicar — ela pediu sob os olhares dos meus irmãos.
— Eu não preciso de explicações — afirmei rispidamente e me afastei.
Rocco balançou a cabeça em silêncio e se afastou para a porta. Nós ouvimos os carros antes
que saíssemos. Coloquei Lunna para o lado e mirei. Assim que os homens começaram a entrar, nós
matamos um a um.
— Giulio e Salvatore estão vivos. Estão no porão ou algo assim — Lunna murmurou quando
o último homem caiu.
Rocco fingiu que não a escutou e eu fiz o mesmo. Um dos nossos soldados se moveu para ir
procurar enquanto eu encarava Matteo.
— Fique com ela até chegarmos a nossa casa.
Meu irmão me encarou e o lampejo de pena em seus olhos foi ignorado por mim. Eu não
precisava dessa merda. Saí com Rocco e andei para longe.
— Não consigo acreditar...
— Não fale ou toque nesse assunto — eu o interrompi, apertando meus punhos.
Ele acenou, respirando fundo.
— Você o matou. — Não foi uma pergunta, por isso não respondi.
Nós fomos para as motos, e dessa vez fui com Rocco enquanto Matteo ficou com Lunna. Eu
mal podia olhar para a cara dela. Estava com nojo e me sentindo um imbecil.
Um homem fraco.
Um tolo estúpido.
Eu não deveria ter vindo.
A viagem de barco foi rápida e eu tentei manter distância de Lunna tanto quanto podia. Matteo
a manteve com ele e eu não a encarei nem uma vez sequer. Eu precisava pensar no que fazer com ela.
E cada possibilidade me deixava ainda mais irritado.
Entrei no nosso jato e me sentei próximo a Rocco. Minha roupa estava suja com sangue e o
cheiro estava me deixando inquieto. Infelizmente, eu não tomaria um banho agora. Matteo se moveu
com Lunna até a parte de trás e nossos soldados entraram depois.
— O que vai fazer? — Rocco questionou, sentado diante de mim. Ele tinha acabado de falar
com Sienna e sua esposa estava aliviada por estarmos todos bem. Isso incluía seu irmão e Giulio. Os
dois estavam nas poltronas da frente, com soldados os vigiando.
— Não sei — falei a verdade.
— É seu direito matá-la. Tem minha permissão, Romeo — Rocco murmurou, irritado.
Suspirei. Ele estava falando essa merda porque me viu perturbado por causa de Lunna,
enquanto ela fodia com Nikolai. Eu era uma piada do caralho.
— Não vou matá-la, Rocco — respondi e encarei a janela. — Vou mandá-la de volta para os
pais dela.
— É sua decisão.
Eu sabia que sim, e ela estava tomada.
Assim que chegamos a Chicago, eu dirigi sozinho para a casa, Matteo ficou responsável por
levar Lunna, e quando cheguei fui direto ao meu quarto. Tomei um banho longo e me apoiei na
bancada da pia, me encarando no espelho. Idiota. Pensei, balançando a cabeça.
A visão de Lunna deitada no peito dele voltou a minha mente e eu apertei os pulsos. Tentei
imaginar os dois fodendo. Ele tirando a virgindade que eu insisti em deixar intacta. Meu punho voou
para o espelho e ele quebrou em várias partes. Me afastei, respirando fundo, e lavei o sangue que
encharcava a minha pele e a pia.
A sensação de que ela havia me feito de idiota estava me fazendo odiar meus atos. Eu deveria
ser a pessoa que ela me descreveu na ligação com sua mãe. Deixá-la na Rússia e pensar na Outfit
antes dela.
Eu odiava meu pai, mas agora eu gostaria de não ter sentimentos, assim como ele.
Peguei a caixa de primeiros socorros e fui para o quarto. Me sentei na cama, ainda de toalha,
e limpei meus ferimentos. Quando terminei, ouvi passos do lado de fora. Esperei quieto, calmo e
parado no mesmo lugar.
Quando a porta se abriu, eu não me surpreendi ao vê-la.
— Nós, por favor, podemos conversar? — Lunna pediu, me encarando. Suas lágrimas tinham
sumido. Seu cabelo estava molhado e ela estava vestindo uma de suas roupas habituais.
— Não tenho o que falar com você — eu disse de maneira firme.
Lunna mordeu o lábio enquanto me olhava com seus olhos azuis que eu, agora, odiava.
— Romeo. Eu só não quero que...
— Arrume suas coisas — eu a interrompi, me erguendo e andando para o meu closet. Pegava
uma calça enquanto a ouvia me seguindo.
— Para quê? — Lunna gaguejou, parando na porta.
Deixei a tolha cair e vesti minha cueca e depois a calça. Quando me virei, ela estava
encarando meu corpo.
— Você vai voltar para Nova York.
Seus olhos se arregalaram e seus lábios ficaram abertos. Ela estava surpresa?
— Eu deveria matar você, mas não vou. Arrume suas coisas, você irá no primeiro voo de
amanhã — avisei, querendo sair do closet, porém Lunna estava na passagem e eu não a tocaria. —
Saia.
— Você me trai regulamente. Você passou três anos chegando com cheiro de outras mulheres
em sua roupa e eu a lavava chorando no dia seguinte. Você está falando sério?
— Nunca lhe disse que seria fiel a você. Nunca, Lunna. Na sua primeira noite nessa cidade,
eu lhe disse que não me apaixonaria. Eu nunca menti para você. Eu fui verdadeiro.
— E...
— Já você, na primeira oportunidade que teve, fodeu com meu inimigo. O homem que tinha
tirado você da sua casa. Eu não quero você. Seus pais saberão da minha decisão assim que sair da
minha frente — rugi.
— Não faça isso.
— Saia.
— Eu não me lembro de nada, Romeo. Eu estava bêbada... — Lunna começou a falar e eu
continuei encarando seu rosto, esperando a explicação. Mas ela não veio. Ela estava bêbada? Essa
era a porra da desculpa?
— Quero você fora da minha casa. Longe de mim e da minha família — falei e novamente a
mandei sair. — Saia do meu quarto.
Lunna balançou a cabeça e se aproximou até ficar diante de mim.
— Eu não queria que ele me tocasse, Romeo. Por favor...
— Eu cruzei o oceano para encontrar você na cama de outro homem, Lunna. A cada vez que
você implora, é só isso que eu vejo, então, não perca tempo e saliva. Saia da minha frente.
Eu a queria longe. Tão longe que eu nunca mais teria que olhar na cara dela.
Lunna Bianchi era menos que nada para mim.
Ela saberia disso.
Os olhos de Romeo não estavam mais vazios, eles estavam tomados por fúria. Eu segurei
mais lágrimas e dei um passo em sua direção. Seu rosto se contorceu e o nojo ali me deixou à beira
do desespero.
Eu não me lembrava de muito depois que Nikolai desceu meu vestido. Tudo estava embaçado
e as cenas cortadas. Porém, eu sabia, com toda certeza, de que eu não queria seu toque. Ele roubou
algo que não era dele. Algo que pertencia a Romeo.
O sangue seco que vi em minhas coxas depois que fui para o closet me vestir me fez vomitar
lá dentro. Nikolai tinha me estuprado. Ele realmente tinha me tocado enquanto eu estava bêbada e
drogada.
— Eu não queria, Romeo. Por favor, acredite em mim — implorei tão perto dele que nossos
corpos se tocaram. Sua pele morna era um alívio para o gelo dentro de mim.
— Não preciso acreditar, Lunna — ele murmurou firme e distante, me fazendo respirar fundo
e esfregar o meu rosto. — Eu vi.
— Ele me deu uma bebida ontem. Nós saímos para jantar e ele me deu vinho...
— Fico feliz que você tenha saído do seu cativeiro para jantar. — Sua voz fria me atingiu e
eu balancei a cabeça, piscando novas lágrimas.
— Me escuta. Ele me tocou sem minha permissão. Nikolai me estuprou, Romeo. Eu nunca
trairia você. Eu te amo, por favor...
— Não minta para mim! — ele rugiu, pegando meus ombros. Eu só balancei a cabeça, sem ter
mais o que falar. Romeo realmente não acreditava em mim. — Nunca mais diga isso. Nunca mais fale
que me ama, porque você e eu não sabemos o que é isso.
— Você não sabe, mas eu sim! — gritei, me afastando e abraçando meu próprio corpo
enquanto soluçava. — Eu amei você acima do seu descaso, das suas traições e acima de mim mesma!
Eu te amei enquanto era engolida pela solidão. Eu te amei enquanto chorava todas as noites ao
dormir sozinha. E eu te amei mesmo quando sentia o cheiro de mulheres em você.
— Você está melhor agora? — Romeo questionou, frio e distante, me encarando. — Continue
pontuando as coisas que fiz, Lunna. Se isso a deixa melhor, faça. Mas saia do meu quarto. Estou
cansado pra porra. Enquanto você dormia com Nikolai, eu estava acordado há dias.
Suas palavras eram como socos em meu estômago. Balancei a cabeça, sabendo que ele não
acreditaria em mim. Nunca. Era perda de tempo.
— Vou arrumar minhas coisas. — falei de maneira decidida e limpei meu rosto, em seguida,
coloquei meu cabelo atrás da orelha. Eu o encarei, tremendo de medo. Medo de perdê-lo. De perder
o que eu nunca possuí.
Me virei, reunindo minha força e dignidade, e saí do seu quarto, deixando-o para trás.
Assim que entrei no meu, eu tranquei a porta e me sentei contra ela, descansando minha testa
em meus braços. Meus soluços ecoaram pelo quarto e eu me olhei com nojo. Horror me enchendo ao
saber que Nikolai me tocou, me arrancou algo que eu guardei para Romeo. Algo que me pertencia.
Me ergui e fui para o banheiro. Me sentei na banheira com roupa e liguei a torneira. Peguei a
esponja e deslizei pelos meus braços, tentando me limpar. Fechei meus olhos com força e flashs de
Nikolai sobre mim apareceram em minha mente. Porém, tão rápido quanto vieram, eles se foram.
Meus lábios estavam tremendo e meus dedos, enrugados. Toda a minha pele estava com
pontos roxos, e quando comecei a tremer, me ergui da banheira, sabendo que já tinha se passado
muito tempo.
Tirei minha roupa toda e depois que me sequei, vesti uma das minhas camisolas. Andei até a
cama e me deitei, abraçando meu travesseiro. Tentei adormecer. Não foi difícil, eu estava cansada da
viagem.
O olhar de nojo que os irmãos de Romeo me deram quando me viram e depois, durante o voo,
entraram em meus pensamentos e eu chorei baixinho até dormir.
No dia seguinte acabei acordando mais tarde que o habitual. Meu rosto estava inchado e
minha boca com gosto amargo. Escovei meus dentes e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo.
Lavei meu rosto e saí do quarto depois de trocar minha camisola por um vestido preto de algodão
que era justo. Eu estava com saudade das minhas roupas.
Desci a escada e a voz de Romeo me fez parar.
— Não dou a mínima, Rocco. Sienna está proibida de vir, e o mesmo se estende a Lake —
ele falou, tenso, enquanto eu via suas costas nuas e suadas.
Romeo tinha uma rotina que consistia em ir à academia assim que acordava. Eu perdi a conta
das vezes que fiquei escondida observando-o.
— Vou enviá-la de volta para Nova York — ele murmurou, segurando uma arma entre os
dedos, olhando para ela como se ela fosse resolver todos os seus problemas. — Não consigo olhar
para ela. Quando a olho, eu a vejo nua na cama dele. Não queira estar no meu lugar, essa visão dos
infernos está me deixando louco.
Meu peito latejou com suas palavras. Ele pensava que eu o tinha traído. Que eu tinha ido de
boa vontade para a cama de Nikolai. Que eu entreguei minha virgindade a um desconhecido.
— Vou para a mansão por enquanto. É melhor assim. — Ele se virou depois que falou e me
viu ali parada. Romeo desviou os olhos e andou para a cozinha. — Tchau.
Eu o segui, tentando pensar no que fazer. Era óbvio que eu precisava pensar em algo. Não
queria ir para Nova York. Eu queria minha casa, minhas coisas, meu marido.
— Por que não acredita em mim? Eu já menti para você alguma vez? — perguntei baixinho ao
entrar na cozinha e o ver de pé em frente à geladeira.
Ele tirou uma das garrafas que comprei no último Natal e a virou na boca.
— Você arrumou suas coisas? — Ele mudou de assunto. Engoli em seco, negando. — Então,
faça isso. Eu vou para a mansão...
— Não vá — falei abruptamente. Ele arqueou as sobrancelhas. — Eu não estou mentindo. Eu
estou doente, com nojo de mim mesma, com nojo do que Nikolai fez.
— Você chorou por ele quando o matei. — Romeo riu como se me achasse boba.
— Não por ele. Eu juro que não foi por ele. Foi por mim, eu tinha visto meu sangue em meu
corpo, estava machucada, e você estava me olhando como se eu o tivesse esfaqueado. Eu não fiz
nada. Eu não tenho culpa.
Pela primeira vez, Romeo não respondeu imediatamente. Ele andou até mim e eu suspirei.
— Só quero que tudo suma. Que os flashes parem de vir. Eu quero esquecer...
— Eu vou para a mansão.
— Não faça isso. Olhe para mim, Romeo — pedi, segurando seu braço. Mas ele se moveu
rápido e me prendeu contra o balcão. — Me bata. Se sua raiva vai passar, faça isso, mas não me
devolva. Esta é a minha casa. Meu lar.
— Eu nunca a machuquei e hoje não vai ser a primeira vez. Você pode estar falando a
verdade. Nikolai pode ter drogado você e a tocado sem sua permissão, mas esse casamento acabou
antes mesmo de começar. Nós não somos um casal. Nunca fomos.
Eu sentia como se ele estivesse me dando facadas. Suas palavras acabaram com qualquer
coisa que eu pudesse fazer por nós. Eu estava tão cansada. Cansada de lutar por ele, por sentimentos
que sequer existiam.
— Vou ligar para a minha mãe. Eu vou embora hoje ainda. Não se preocupe — murmurei,
empurrando seu peito e me movendo até a pia. Agarrei a bancada enquanto ouvia os seus passos.
— Me diga se precisar de algo.
Então ele saiu.
Eu não derramei lágrimas dessa vez. Eu não podia. Romeo já tinha levado todas.
Depois que terminei de tomar café, eu ouvi a porta se abrindo. Me ergui e andei até lá, vendo
Sienna e Lake. Meus olhos queimaram e eu me aproximei, jogando os braços ao redor de ambas.
— Me desculpa. Por favor, me desculpa — Sienna pediu, chorando.
— Você não tem culpa de nada disso. — Balancei a cabeça. — De nada — eu disse com
firmeza e me afastei para ver a Lake. — Estava com saudade de vocês.
Lake me abraçou novamente e eu a apertei dentro dos meus braços, sentindo seu cheiro bom.
Eu achei que nunca mais as veria.
— Você está bem mesmo? — Lake questionou, seu rosto molhado.
Balancei a cabeça e pisquei demoradamente.
— Estou tão longe de estar bem. — Sorri tristemente e puxei ambas até o sofá. Minha casa
estava do mesmo jeito que deixei. Impecável.
— O que aconteceu lá? — Sienna perguntou, preocupada.
Eu contei tudo, cada coisa, Lake parecia estar a um passo de desmaiar quando terminei.
— Romeo não acredita em mim. Eu já falei uma e outra vez, mas ele só fala em me mandar
embora. — Limpei minhas bochechas e apertei as mãos de Lake. — Não quero ir. Porém, não vou
mais implorar por nada. Eu não posso.
— Nikolai era um desgraçado — ela murmurou.
Eu acenei, porque ele era. Ele fingiu estar sendo paciente para que eu baixasse a guarda e ele
pudesse me drogar.
— Ele era.
— Romeo não pode mandar você embora. Não pode — Sienna afirmou.
— Não quero mais explicar isso. Eu me sinto doente a cada vez que preciso falar que fui
estuprada e não queria Nikolai. Romeo deveria acreditar em mim. Ele deveria olhar para os meus
olhos e ver a verdade.
A porta se abriu e eu limpei meu rosto, vendo os irmãos Trevisan entrarem. Me ergui junto
com Sienna e Lake.
— Porra, Sienna, de novo? — Rocco gritou, mas ela só olhou calmamente para ele.
— Eu pedi a você. Implorei...
— Não importa. Eu disse não. — Rocco apertou as mãos enquanto Romeo, Prince e Matteo
ficaram em silêncio.
— Lunna passou pelo inferno. Ela é minha amiga, eu não a deixarei sozinha.
— Ela passou pelo inferno? — Rocco riu, olhando para Matteo, que fez o mesmo. —
Fodendo Nikolai? Era assim o inferno dela?
— Ele a estuprou! — Sienna gritou enquanto eu me encolhia, envergonhada.
— Ela não lembra de nada. Ele a drogou e a machucou. Por favor, não duvidem dela. Não
façam isso — Lake pediu, enquanto lágrimas caíam por suas bochechas.
— Está tudo bem, Lake...
— Não. Não está. Eu sei o que está sentindo. — Lake se virou e me olhou, seu queixo
tremendo. Prince se moveu rapidamente para o seu lado e a tocou. — Eu só queria ter sido drogada.
Porque assim eu não me lembraria de nada. Assim as imagens não ficariam se repetindo em minha
mente.
Meus joelhos fraquejaram enquanto ela soluçava e me encarava. Meu peito deu um nó e eu
senti meu estômago revirar. Meus olhos queimaram e eu deixei as lágrimas banharem meu rosto.
Segurei seu rosto e a puxei para o meu peito, abraçando-a tão forte quanto eu podia.
— Oh meu Deus. Eu sinto muito. Eu sinto muito, Lake — balbuciei, tremendo.
— Romeo — Prince interveio, fazendo Lake se afastar de mim —, você deveria saber quando
sua esposa fala a verdade.
— Eu amo você com todo meu coração. Mas não posso ficar calada enquanto o vejo duvidar
assim de uma mulher. — Lake se afastou e encarou Romeo enquanto erguia o queixo. — Eu não
deixarei que a devolva. Ela não é uma mercadoria. Ela é uma mulher que foi machucada por um
monstro, e agora está sendo machucada por você. — Suas palavras fizeram seus irmãos praguejarem
e respirarem fundo.
Romeo me olhou com os olhos azuis vazios e eu engoli em seco.
— Está tudo bem. Eu quero ir, preciso — eu disse a Lake e passei a mão por seus cabelos.
— Você não precisa...
— Eu preciso. Eu preciso muito, Lake. Eu não aguento mais. Tudo vai ficar bem.
Ela soluçou enquanto me encarava e nos separávamos. Rocco respirou fundo e olhou para
seus irmãos.
— Essa é uma decisão de Romeo, Lake. Nem eu e nem você o faremos mudar de ideia —
Rocco anunciou. — Vamos.
Sienna me olhou e eu acenei, dizendo a ela para ir. Ela seguiu seu marido e Lake ficou
parada, vendo Matteo e Prince seguirem o casal.
— Você contou para ela?
— Não. E não vou. Vá para casa.
— Ela merece saber — Lake murmurou.
Meu rosto estava franzido em confusão.
— Saia. Não quero magoar você. Só vá e iremos conversar mais tarde — Romeo falou com
firmeza e eu vi Lake acenar.
— Não a magoe. Por mim.
Lake saiu depois de falar e eu fiquei sozinha com Romeo. Seus olhos me mediram e eu engoli
em seco, dividida entre questionar sobre o que Lake falava e esperar para que ele dissesse qualquer
coisa.
Tudo e nada. Que ele me mandasse embora ou que me pedisse para ficar.
— Você precisa fazer exames.
— O quê? — questionei, confusa.
— Quero saber se ele a drogou e com o quê. — Suas palavras se assentaram e eu deixei meus
ombros caírem.
— Você não acredita em mim — falei, engolindo em seco. Romeo me encarou, sem negar. —
Você quer provas.
— Eu quero saber o que ele fez a você.
— Não. Você quer ter certeza de que não estou mentindo.
Seu silêncio me disse o bastante.
— Não preciso de você, Romeo. Eu vou voltar para Nova York amanhã. Já falei com minha
mãe e já comprei minha passagem. Não se preocupe.
Andei para a escada e comecei a subir, mas parei e me virei, encontrando-o parado me
encarando.
— Só quero que você saiba que depois que eu for, nunca mais voltarei.
Lunna subiu a escada e eu peguei um copo meio cheio de uísque e joguei contra a parede. Se
ela ouviu o barulho, não ligou, pois não retornou. Os cacos voaram para todos os lugares. Respirei
fundo e fui até o jardim. Caminhei até a piscina e me sentei em uma das cadeiras, encarando a água
límpida.
Eu acreditava em Lunna. Acreditei assim que ela me encurralou horas atrás na cozinha, mas
eu ainda a queria longe. Ainda queria que ela voltasse para a casa dos pais. E isso tudo porque eu
estava me perdendo. Ela estava me fazendo perder a cabeça, isso vinha acontecendo desde que nos
casamos. No nosso primeiro ano juntos, eu toquei em outras mulheres com cabelos longos e escuros
que tinham olhos azuis iguais aos dela. Eu fingia que era Lunna a cada vez que fodia uma delas.
Quando acabava, eu me sentia fracassado.
Então parei com essa merda. Eu passava longe de morenas com olhos azuis.
Quando descobri que seu pai tinha machucado minha mãe, eu fiquei louco e só quis cancelar
o casamento. Eu pedi ao meu pai para isso, mas ele não deixou. Disse que não existia motivo e nós
cumpriríamos o acordo. Depois disso, eu só queria Lunna longe de mim e a mantive. Lutando contra
meu desejo, meu anseio, eu a deixei longe de mim.
Foi em vão.
Lunna Trevisan era meu desejo mais insano.
Andei para dentro de casa e subi a escada, parando em frente à sua porta. Ouvi seus
movimentos e suspirei, abrindo a porta. Ela se virou para me encarar e as lágrimas em seu rosto me
acertaram mais uma vez. Eu odiava vê-la chorar. Por um momento, depois de vê-la na cama de
Nikolai, eu fiquei feliz por ela ter chorado, mas foi fugaz. Agora eu estava me sentindo sufocado e
odiava isso.
— Fique na casa.
Lunna me encarou em silêncio e eu olhei para o seu quarto.
— Vou me mudar para a casa dos meus irmãos — eu disse e voltei a olhar para os seus olhos.
— Não quero que faça isso.
— Eu sei. — Suspirando, passei a mão pelo cabelo. — Duvidei de você e sei que foi errado.
Nós só não somos o melhor um para o outro. Mas aqui é seu lar. Esta casa é sua. Não quero que se
mude.
— Por que continua me afastando? — Lunna questionou, se aproximando. Senti suas mãos em
meu peito. — Eu sei que deve sentir algo, Romeo. Você não iria até a Rússia se eu não fosse
importante para você.
Afastei seu cabelo e segurei seu rosto, acariciando suas bochechas. Sua boca me chamou, me
rondou, querendo que eu caísse na tentação, e quando Lunna percebeu o que estava acontecendo, ela
se esticou e me beijou. Suas mãos subiram por minha blusa e ela segurou meu pescoço enquanto
chupava meu lábio.
Não sei como me movi tão rápido, mas o fiz. Segurei sua cintura e a ergui, procurando sua
língua e provando sua boca. Lunna abraçou meu corpo com as pernas e gemeu quando segurei sua
bunda nua. Seu vestido tinha subido e agora a única coisa que tinha entre nós era minha calça e sua
calcinha.
Mordi seu lábio e ela choramingou, me beijando de volta. Enfiei meus dedos em seu cabelo e
o puxei, enfiando minha língua em sua boca. Seu corpo relaxou em meus braços e eu andei até a
cama. Coloquei Lunna deitada e deslizei minha boca para o seu pescoço. Seus gemidos eram como
música para os meus ouvidos e eu continuei até sua calcinha.
Toquei sua boceta coberta e Lunna tremeu contra meu toque.
— Lunna — chamei, com a voz rouca, e ela olhou para mim. — Se não quiser ou estiver em
dúvida, fale.
— Não pare. Por favor, só tire a sensação dele de mim.
Suas palavras me fizeram ficar irritado, mas camuflei ao focar em seu prazer. Puxei a
calcinha pequena para a lateral e suas dobras molhadas apareceram. Pequena, pensei rapidamente.
Lambi sua boceta e Lunna gemeu alto, trêmula.
Comi seu prazer e me deliciei com seu gosto e com seus gemidos. Quando ela gozou, eu
mordi sua barriga, subindo seu vestido. Lunna me ajudou, e quando seu corpo pequeno estava nu
embaixo do meu, eu senti meu pau crescer mais ainda. Ela era perfeita.
Me ajoelhei entre as suas pernas e empurrei meus quadris, entrando nela. Suas paredes
internas se alargaram, me recebendo, mas Lunna ficou tensa. Me afastei e encarei seus olhos, então
ela relaxou quando me viu.
— Sou eu, Lótus — murmurei contra seus lábios e ela sorriu.
Beijei sua boca e Lunna se soltou, gemendo enquanto eu entrava em seu corpo, me deliciando
com suas curvas. Desci para lamber seus mamilos e Lunna gritou assim que chupei um deles. Senti
meu pau encharcado e ela gemeu quando lambi novamente e chupei. Sorri devagar, feliz por ter
encontrado o ponto em que Lunna enlouquecia.
— Ah meu Deus. — Ela gemeu quando deslizei novamente em sua boceta e toquei seu
clitóris. Lunna gozou e eu segurei sua cintura, entrando nela e saindo, gozando tão forte que pontos
escuros apareceram em minha mente.
Caí ao lado de Lunna e nós dois respiramos fundo. O teto do seu quarto era claro e eu percebi
que nunca o tinha olhado.
— Obrigada — Lunna murmurou ao se virar e me encarar enquanto descansava a cabeça no
travesseiro.
— Por que está agradecendo? — perguntei, franzindo a testa. Era eu que deveria agradecer.
Lunna era perfeita. Eu não a merecia. Nunca o faria.
— Porque tudo que sinto em mim é você. Isso é tudo que preciso.
Eu me virei e puxei Lunna para mim. Seu rosto tocou meu peito e ela segurou meu pescoço.
— Pensei que nunca te veria novamente — Lótus murmurou contra minha pele.
— Você achou que eu não a buscaria. Sua mãe me disse — falei sobre sua voz.
Lunna acenou, me encarando. Seus olhos azuis me engoliram e eu tentei entender o motivo de
eles me enfeitiçarem tanto.
— Eu estava com medo, juro que não pensei que iria. Não sabia se você sentiria minha falta...
— Você é tudo nessa casa, Lunna. Sentir sua falta foi tudo que fiz desde que entrei aqui e não
a encontrei na cozinha ou no quarto.
Lunna suspirou e piscou novas lágrimas. Limpei uma delas quando começou a descer por seu
rosto com meus dedos, ela sorriu e mordeu o lábio inchado dos meus beijos.
— Eu amo você.
— Eu sei.
Eu sabia que sim. Desde que fomos prometidos um ao outro.
Lunna dormiu contra mim e eu lutei contra o sono, mas foi em vão. Eu não dormia há dias, e
mesmo em casa, sabendo que Lunna estava a salvo, eu ainda não conseguia.
Dormir ao lado dela foi uma surpresa.
Escutei meu celular tocar ao longe. Quando me sentei, o lençol estava bagunçado e vazios.
Lunna não estava no quarto. Peguei o celular e atendi Rocco.
— O jato está pronto. — Sua voz soou baixa.
Demorei para entender o que ele quis dizer com isso.
— Ela não vai. — Respirei fundo e me inclinei, colocando meu cotovelo no joelho enquanto
passava a mão pelo cabelo.
— Ela falou a verdade — Rocco constatou antes que eu pudesse explicar.
— Eu me sinto um cretino. Não deveria ter duvidado de Lunna.
— Você a pegou na cama com ele. Não tem o que pensar.
— Sim, naquele momento. Mas depois? Rocco, eu deveria tê-la escutado.
— Talvez. — Rocco suspirou e eu encarei o chão claro. — Encontrem uma maneira de fazer
funcionar.
— Não sei como. Eu deveria ter trazido Nikolai. Não o matado de cara. — Minha voz baixou
e eu grunhi com ódio puro em minhas veias. — Ele a tocou. Ele a estuprou. Ele merecia sofrer.
— Você o matou. Ele deve estar tomando uísque com o diabo agora, então, pare de remoer
isso.
Meu irmão estava certo, mas eu ainda desejava matá-lo de novo, porém lentamente dessa vez.
— Vai ter uísque para todos nós quando chegarmos lá.
Rocco riu antes de desligar.
Ouvi passos suaves e me virei, vendo Lunna de pé vestindo uma camisola preta de seda. Seus
seios pesados contra o tecido faziam meu pau saltar. Eu a desejava há muito tempo, não achava que
sairíamos desse quarto pelas próximas horas.
— Eu fiz macarrão com queijo. — Seu sorriso e as bochechas coradas me fizeram bem.
— Macarrão com queijo, hum? — questionei, me erguendo.
Seus olhos foram para o meu pau. A vermelhidão em suas bochechas ficou maior, e Lunna
lambeu os lábios. Imaginei sua boca ao meu redor e parei diante dela, já duro.
— Si-sim — Lunna gaguejou.
Segurei sua cintura e a puxei para mim. Beijei seu pescoço e senti seu corpo tremer.
— Vamos comer, então — falei e me afastei, quase sorri ao ver o olhar de decepção em seu
rosto. — Primeiro você, depois o macarrão — eu disse lentamente e ela me olhou, arregalando os
olhos.
Assim que descemos depois de tomar banho, Lunna tirou o macarrão do forno e colocou
sobre a mesa. Eu servi nós dois e começamos a comer. Lunna sabia cozinhar muito bem, eu amava
tudo que ela fazia. Obviamente eu comia longe dos seus olhos.
— Você gostou? — ela questionou, ansiosa, enquanto eu comia.
— Você aprendeu rápido — disse, me referindo à comida.
— Eu gosto. Eu sabia que você comia quando chegava tarde. — Lunna desviou os olhos e eu
segurei sua mão. — Não foi nada. É só que lembrar de tudo que já passamos...
— Eu sei — falei e puxei sua mão, fazendo-a se erguer. Peguei seus quadris e a movi para o
meu colo. Beijei sua orelha e Lunna derreteu em cima de mim. — Vamos esquecer aquilo, ok?
— Tudo bem. — Ela acenou rapidamente, mas eu a prendi quando tentou se erguer.
— Coma aqui.
Lunna sorriu e fez o que pedi, sem reclamar.
— Salvatore e Giulio estão bem? — Fiquei tenso com sua pergunta, nem eu saberia dizer o
motivo.
— Por quê? — questionei.
Lunna se virou e me olhou.
— Nada de mais. Só quero saber. — Ela deu de ombros.
— Eles vão ficar com a Outfit. Salvatore é nosso desde a troca por Sienna. Giulio, no
entanto, é algo que Rocco não se decidiu. Matar ou trazê-lo para cá como o irmão de Sienna.
— Eles iam me ajudar a fugir. Conversamos sobre isso quando Nikolai me deixou vê-los. —
Lunna parou de falar quando fiquei mais tenso e seus ombros cederam. — Me desculpe...
— Não. Eu preciso lidar com essa merda — falei abruptamente e ela acenou.
— Era uma troca, entende? Nikolai me dava algo que eu queria, como ligar para mamãe, e eu
almoçava com ele. Por último, jantar com ele. — Lunna olhou para a mesa e respirou fundo. — Ele
era calmo, simpático. Eu baixei a guarda com sua conversa de nunca me machucar. Por baixo da
calmaria havia uma tempestade se formando. Eu deveria saber.
Lunna piscou lentamente e eu me segurei para não quebrar tudo que estava na minha frente.
— Eu fui uma idiota. É culpa minha ele ter tirado minha virgindade. Eu deveria...
Lunna gritou quando eu me ergui e a peguei em meus braços, coloquei-a sobre o balcão e a fiz
me encarar.
— Você não tem culpa dessa merda, Lunna. Você está me ouvindo? — questionei, gritando, e
tão tenso que uma faca não me machucaria tanto se lançada contra mim. — Você sobreviveu.
— Mas não sou mais virgem. Era sua, não dele. — Lunna mordeu o lábio, chorando.
Segurei seu queixo e a fiz me olhar.
— Eu estaria mentindo se dissesse que não me importo, porque o homem das cavernas em
mim queria muito ver seu sangue em meu pau, mas não vamos voltar ao passado. Não podemos. Você
é minha e sua boceta também. E ela é perfeita, você é perfeita, e eu sou um fodido sortudo por tê-la
pelo resto da minha vida.
— Romeo...
— Você entendeu? — questionei, ainda tenso. Ela acenou, tocando meu peito. Tirei minha
mão do seu queixo e beijei sua boca rapidamente. — Não quero que você se culpe por isso. Pare
com essa merda.
— Tudo bem. — Lunna agarrou meu corpo e eu a deixei me abraçar.
— Agora, vamos terminar a comida.
Quando terminamos de comer, eu tirei a mesa e lavei os pratos enquanto ela ficava ao redor,
me observando.
— Nós podemos ir até a mansão dos seus irmãos? — Sua pergunta me deixou tenso e Lunna
percebeu, pois logo seus ombros caíram. — Não tem problema.
— Quero ficar sozinho com você — expliquei rápido e ela arregalou os olhos. — Eu fiquei
muito preocupado durante os dias que passou longe. Eu sei que tratei você de maneira errada, mas eu
realmente pensei que iria perdê-la. É uma merda, porque antes disso eu não sabia que você era tão
importante.
Lunna piscou os olhos úmidos e se aproximou, tocando meu rosto.
— Não sei por que me manteve longe de você, Romeo, mas eu peço que não volte a fazer
isso. — Sua voz baixa me fez suspirar e acenar enquanto segurava sua cintura. — Vamos encontrar
uma maneira de dar certo?
— Pode apostar que sim.
Lunna suspirou aliviada antes de subirmos para o seu quarto. Ela colocou filmes e quando
anoiteceu, eu odiei saber que precisava sair. Lunna se sentou na cama assim que entrei em seu quarto
enquanto eu ajustava minhas armas e arrumava meu blazer. Lunna suspirou e eu me virei,
encontrando-a olhando para as mãos. Me aproximei devagar e ela ergueu o queixo para me encarar.
— O que foi? — perguntei, confuso.
— Não quero ficar sozinha. — Lunna desviou os olhos dos meus.
— Lunna, eu preciso trabalhar. — Suspirei.
— Eu sei. Só não gosto de ficar só. — Ela mordeu o lábio e piscou, passando a mão pela
perna branca dobrada.
Puxei sua mão, fazendo-a ficar de joelhos na cama, quase na minha altura.
— Por que você só não pede de uma vez? — indiquei, segurando sua bunda e ela engoliu em
seco, as bochechas coradas. — Eu não vou adivinhar todas as vezes que quiser algo e ficar com
charme.
— Não estou fazendo charme! — ela rebateu, irritada. Eu sorri, erguendo as sobrancelhas. —
Só um pouco.
— Se troque. Nós desceremos em cinco minutos.
— Mas eu preciso de mais tempo.
— Você vai para a casa da nossa família, não a um restaurante chique — murmurei, vendo-a
se afastar e correr para o closet. Quando os cinco minutos passaram, eu peguei meu celular. —
Lunna, vamos.
Ela não respondeu.
— Lunna, eu não posso me atrasar — falei e abri a porta do closet.
Suas pernas apareceram e eu fiquei tenso quando percebi que ela estava caída, desacordada.
Me movi rápido e a peguei nos braços. As batidas do meu coração eram ouvidas por mim cada vez
mais altas enquanto eu me movia com ela no colo.
Algo estava errado. Meus olhos não se abriam e eu tentei com muito afinco fazer isso. Escutei
a voz das pessoas ao meu redor, ouvia Romeo e passos apressados. Porém, não conseguia acordar.
— Deve ser a droga que ele deu a ela. — A voz de Rocco soou.
Tentei novamente abrir os olhos. Droga? Forcei meu cérebro a lembrar, e quando o rosto de
Nikolai apareceu, eu chorei em silêncio, querendo acordar. Querendo parar de vê-lo.
— Cadê a merda desse médico? — Romeo questionou, frustrado.
— Vou tentar acordá-la com álcool — Rocco murmurou com a voz abafada.
Em seguida, senti um pano encostar em meu nariz. Devagar, meus sentidos começaram a
funcionar e eu pisquei, abrindo os olhos.
— Acordou Bela Adormecida — Rocco disse ironicamente.
Romeo empurrou o irmão para o lado e se aproximou.
— Você está bem? — ele questionou, tocando meu rosto. Eu só consegui acenar. — Está
sentindo algo?
— Não. Apenas confusa.
— O que aconteceu?
Eu tentei me lembrar e suspirei.
— Eu vesti o vestido e de repente senti uma vertigem. Tentei me segurar nos armários do
closet, mas eu caí. Não lembro de mais nada.
Romeo acenou. A porta foi aberta e Matteo entrou com um homem de terno que estava com
uma maleta. Eu achava que era o médico.
— Ela desmaiou — Romeo tratou de explicar o que tinha acontecido. O médico me examinou
com cuidado. Quando ele se afastou, com o cenho franzido, eu mordi meu lábio, temerosa. — Seus
sintomas são comuns em quem tomou drogas, no caso dela, pesadas. Indico fazerem alguns exames,
ela também pode estar com anemia. Temos que estudar o caso e ter os resultados para confirmar.
Romeo acenou, andando pelo quarto. O médico coletou meu sangue com bastante cuidado.
Quando ele saiu, Rocco e Matteo o seguiram, me deixando sozinha com Romeo.
— Eu estou bem — murmurei para o meu marido, que continuava andando pelo quarto.
— Ele pode ter dado a você algo mais forte. Algo que esteja fazendo mal por dentro. —
Romeo continuou se movendo e pontuou suas preocupações.
— Vamos descobrir com os exames — falei, tentando acalmá-lo.
Romeo acenou e se aproximou.
— Se ele não estivesse morto, eu o rasgaria em pedaços.
Eu sabia que ele o faria. Romeo era tão cruel quanto seu irmão. Sempre soube disso, mas o
ver rasgando a garganta de Nikolai sem pudor ou remorso me levou a acreditar mais ainda nisso.
Os homens do meu mundo são monstros e eu amava um deles.
— Você deve ir ao trabalho. Eu vou para a mansão — falei suavemente.
Vi em seu rosto que ele não queria isso, mas seu trabalho na Outfit era importante. Ele
precisava fazê-lo. Romeo foi comigo para a mansão, e relaxei quando vi Sienna andando em minha
direção. Romeo saiu com Matteo momentos depois de Sienna e eu estarmos na cozinha.
— Rocco disse que desmaiou. Está tudo bem? — ela perguntou, franzindo as sobrancelhas.
— Acho que foi a pressão — desconversei, não querendo mais uma pessoa preocupada
comigo. — Onde está Lake? — questionei, pegando um copo e enchendo-o de água.
— Sessão com a psicóloga. Rocco e Romeo decidiram isso, hoje é a primeira sessão dela. —
Si explicou, suspirou e passou a mão no cabelo loiro. — Não sei o que fazer com Lake. No dia que
você foi levada, ela me contou coisas sobre a família deles. Eu fico ainda mais doente ao saber de
tudo que passaram.
— Lake vai ficar bem — murmurei.
Sienna encarou os dedos, acenando.
— Você não sabia mesmo da existência dela?
— Não. Eu só vim à mansão no dia em que cheguei a Chicago. Romeo não deixava. —
expliquei, com um gosto ruim na boca. Lembrar disso ainda me machucava. Queria ficar bem com
Romeo. Ele estava certo, precisávamos esquecer o passado.
— Você já jantou? — Sienna mudou de assunto e eu neguei. — Podemos pedir algo. Lake
também não comeu. Faremos uma noite de meninas novamente.
Encarei Sienna e, pela primeira vez, vi seus olhos ligeiros. Ela estava preocupada com algo.
— Você está bem? — questionei, tocando seu braço.
— Quero ver Salvatore. Eu me sinto em um rolo compressor. Querendo ver meu irmão e não
querendo decepcionar Rocco. — Ela mordeu o lábio e seus olhos brilharam.
— Você já pediu?
— Não. Eu não quero chateá-lo. Rocco vem passando por muito. Com meu quase sequestro e
com o seu. — Ela sorriu, tentando aliviar o clima.
— Se isso melhora, ele está bem. Sabe, eu o vi quando estávamos na Rússia e no avião vindo
para casa — falei suavemente.
Sienna respirou fundo, sorrindo ao final.
— Isso melhora tudo. Obrigada.
Nós subimos para o andar de Lake, e ao abrir a porta a vimos na janela, olhando para baixo.
Assim que nos escutou, ela se virou e nos encarou parecendo culpada. De quê? Eu não sabia.
— Sua sessão terminou? — questionei enquanto me aproximava. Ela acenou e colocou o
cabelo castanho atrás da orelha. — Vamos pedir algo para o jantar. O que você indica?
— Massa. — Lake sorriu rápido e eu acenei. Sienna pegou o celular e começou a fazer o
pedido.
Me sentei na cama de Lake e liguei a TV. Meus olhos se arregalaram quando vi a tela ser
preenchida. Casos de estupro estavam espalhados pela tela grande.
— O que... — comecei a falar, porém Lake tomou o controle da minha mão e tirou tudo.
Minha cunhada me olhou com o rosto apavorado e eu me virei, vendo que Sienna ainda estava
entretida com o celular. Ela não tinha visto.
— Conversamos depois.
— Tudo bem.
Sienna olhou para nós e ergueu o celular, dizendo que já tinha pedido.
Durante o filme, eu tentei prestar atenção, mas estava preocupada com Lake. Ela parecia
aérea também, e eu desejei que Sienna não estivesse no quarto para que eu pudesse falar com ela.
— Você vai dormir aqui? — Sienna questionou e bocejou.
Bocejei também e neguei.
— Romeo vem me buscar quando voltar do trabalho. Vá dormir. Ficarei aqui com Lake — eu
disse, sorrindo.
Sienna concordou, beijou Lake e saiu do quarto. Assim que a porta bateu, Lake se sentou e me
encarou.
— Por que está vendo isso, Lake?
— Eu... — ela parou de responder e olhou para as mãos — acho que serei uma advogada. —
Sua veemência ao afirmar me fez encarar seu olhar. — Quero poder ajudar a todas. Nós.
Segurei sua mão e me aproximei mais.
— Você pode falar com seus irmãos. Daqui a dois anos já irá para a faculdade e pode fazer.
— Prince disse que não irei para a faculdade, não a presencial, pelo menos. Mas acha pouco
provável que Rocco e Romeo me deixem ser advogada. — Lake franziu as sobrancelhas e olhou para
mim. — Por que somos inferiores a eles? Por que eles podem fazer tudo, e nós não podemos?
— Não sei quem inventou esse patriarcado, mas é assim que as coisas são na máfia.
— Eu odeio a máfia.
— Eu também, mas os homens que amamos fazem parte dela — afirmei rápido e Lake acenou,
entendendo. — Você poderá ser uma advogada. Vou ajudá-la.
— Obrigada, Lunna. Você é como uma irmã e Sienna uma mãe. — Seus olhos encheram de
lágrimas e eu a abracei.
— Eu amaria ter você como irmã.
Não sabia o motivo, mas isso a fez chorar mais.
Quando Romeo chegou, eu estava na sala de jogos com Prince. O garoto estava jogando e
amaldiçoando os concorrentes pelo fone de ouvido. Eu me ergui e andei na direção de Romeo, feliz
por ele ter chegado.
— Ei — murmurei ao me aproximar.
Ele colocou sua mão na minha coluna.
— Pensei que estaria dormindo.
— Não. Quero fazer isso em casa — eu disse e bocejei devagar.
Romeo acenou e eu dei boa-noite a Prince, que não escutou.
— Onde está o seu carro? — questionei ao chegar do lado de fora e não ter nenhum carro à
vista.
— Peguei carona. Vamos no carrinho de golfe. — Ele apontou para um carrinho pequeno e eu
o segui, querendo muito a minha cama.
Assim que chegamos a nossa casa, Romeo foi para o seu quarto. Confusa, eu me sentei em
minha cama e mordi o lábio. Ele continuaria lá? Ficaríamos em camas separadas? Pior, ele
continuaria me traindo? Meus olhos se encheram de lágrimas e eu tentei afastar a dor. Ele estava com
alguém hoje?
Engolindo meu choro, eu me ergui e andei até seu quarto. Ouvi o chuveiro ligado e entrei
devagar. Meus olhos captaram a sua roupa descartada e eu me inclinei, envolvendo meus dedos no
tecido. Levei a camisa ao meu nariz e o cheiro doce me acertou. O mesmo. Quase sempre era o
mesmo cheiro.
Existia uma mulher fixa e isso era o que me machucava mais. Ele a amava? Era por isso que
não a largava? Se passaram anos e ele continuava se encontrando com ela.
Escutei o chuveiro desligar e apertei sua camisa entre meus dedos, me sentindo sufocada.
Presa em um redemoinho de emoções. Queria gritar com ele, mas também queria fazer amor e tentar
mostrar a ele que eu era melhor que ela. Que se me escolhesse, eu seria boa.
Eu odiei isso.
— O que... — Romeo parou de falar ao me ver de pé.
— Quem é ela? — Minha voz soou mais firme do que achei que conseguiria, deixando-me
aliviada. — Por que você sempre corre para os braços dela? — perguntei, tremendo.
Romeo se aproximou, me fazendo recuar.
— Não é ninguém. — Sua voz firme chegou a mim e eu apertei a blusa com mais força. —
Lunna, pare com isso.
— Qual é o nome? Só me diga isso. O nome dela.
— Não existe ninguém. — Sua voz ficou tensa e eu sabia que era mentira. Era mentira dele.
— Eu a sinto em você há muito tempo. Você me trai com a mesma mulher. Eu pensei que
depois de hoje, da gente, você tentaria, mas eu estava enganada.
Romeo respirou fundo e se aproximou, tocando a minha cintura. Me esquivei rápido, fazendo-
o ficar rígido.
— Não me toque! — gritei, saindo do banheiro e jogando sua camisa no chão. — Você nunca
mais vai me tocar, Romeo.
— Olha o que está falando — ele rugiu e me seguiu enquanto eu entrava no meu quarto. —
Lunna, o que diabos deu em você?
— Fale a verdade. Você a vê repetidamente, certo? — questionei, me virando. Ele apertou as
mãos na cintura coberta pela toalha. — Nesses anos. Você teve uma mulher fixa. Diga apenas isso.
Você me deve isso.
— Eu tive — Romeo respondeu, me encarando com seus olhos azuis vazios. Tão vazios que
doeu na minha alma. — Saí com a mesma mulher, Lunna. É isso que você queria?
— Sim, era. — Engoli em seco, cruzei meus braços e mordi meu lábio. — Você pode sair?
Eu estou cansada e quero dormir.
Romeo ponderou um pouco, se mantendo firme e de pé me encarando, porém em algum
momento ele acenou e saiu.
Me arrastei em minha cama e abracei meu travesseiro. Meus pensamentos voando para a
mulher que ele via. Quem era ela? Por que ela fazia isso comigo? Parei ao ver que estava colocando
todo o peso disso nela. Romeo era o homem comprometido comigo, não ela. Além do mais, Romeo
era um homem feito. Mulher nenhuma diria não a ele.
Meu choro cessou e eu engoli a raiva e frustração.
Romeo ainda continuava o mesmo, só que agora ele tinha meu corpo para tomar.
E ele tomou a cada oportunidade, a cada desejo e conexão.
— Você está me ouvindo? — Rocco chamou minha atenção com um grunhido sem paciência.
Tirei meus olhos de Lunna na casa da piscina e os levei até os do meu irmão.
— Sim. Você não quer dar a festa idiota — murmurei, de pé diante da janela. Voltei a olhar
para a casa da piscina e Lunna estava sentada em uma das poltronas, assoprando as mãos, tentando
aquecê-las. Sienna estava com ela, mas não era ela que estava fodendo minha cabeça.
Seu casaco preto estava engolindo-a. O inverno estava com tudo em Chicago. A piscina tinha
virado gelo. Olhei para Lunna mais uma vez e a vi mordendo o lábio vermelho. Eu queria lamber seu
lábio e chupá-lo na minha boca.
— Que merda Ettore tinha na cabeça para inventar essa porra? — A voz de Rocco chamou a
minha atenção novamente e eu odiei meu irmão um pouco por isso.
Fazia três semanas que Lunna tinha surtado com o cheiro da minha camisa. Vinte e um dias
sem tocar nela ou dormir ao lado. Quinhentas e quatro horas do caralho que eu não tocava em seu
corpo. Eu tentei, porra, eu tentei pra caralho, mas cada vez que cheguei em casa, ela se trancou no
quarto e não saiu de lá.
— Não faço ideia. Peça a Sienna e a Lunna para organizarem. Elas vão gostar de se entreter
— murmurei e me movi para pegar a garrafa de uísque para encher o copo. Quando me virei, Rocco
estava me olhado em silêncio.
— Vou fazer isso — ele balbuciou em seguida. Eu acenei, levando o copo à boca. — O que
foi? Você está com a merda da cabeça longe há dias.
— Não é nada. Podemos descer? Eu estou com fome — desconversei, esvaziando o copo e
batendo-o contra a mesa. Me movi para a porta assim que meu irmão acenou.
Nós descemos a escada e fomos para fora. Sienna saiu da casa rapidamente e andou até
Rocco. Eu os perdi de vista quando me aproximei de Lunna. Ela olhou sobre o ombro e se sentou
mais ereta assim que me viu de pé, encarando seu corpo.
— Vamos almoçar — falei e suspirei.
Ela acenou e apertou o casaco entre os dedos. Me afastei, observando-a, e ela se ergueu,
passando por mim. Lunna andou para a casa e eu a segui em silêncio. Quando chegamos à cozinha,
todos já estavam em seus lugares. Me sentei ao lado dela, sentindo seu olhar sobre mim por curtos
segundos.
— Todo ano tem uma festa idiota de Natal na Outfit, e ano passado foi uma porcaria. Romeo
me deu a ideia de colocar vocês para organizarem — Rocco disse preguiçosamente enquanto comia a
comida que Lunna preparou com a ajuda de Sienna.
— Sério? Eu nunca organizei nada, mas posso tentar. — Sienna parecia muito animada
enquanto sorria e olhava para Rocco como se ele fosse Jesus Cristo. Uma piada do caralho.
— Eu ajudava a organizar as festas da famiglia com minha mãe. Será bom fazer algo. —
Lunna respondeu ao meu lado.
Coloquei minha mão em sua coxa, instantaneamente ela ficou rígida e tentou se afastar, mas
meu aperto ficou mais forte e ela desistiu.
— Eu posso ajudar também? — Lake questionou, arregalando os olhos.
— Claro. Será incrível. — Minha esposa sorriu mais ainda.
Eu queria pegar Lunna e a levar para a casa. Queria seu sorriso e a porra do seu corpo.
Eu queria Lunna e isso estava me enlouquecendo.
— Quando será? É no Natal mesmo ou antes? — Sienna perguntou, mexendo na comida em
seu prato.
— No Natal — respondi, apertando a coxa de Lunna enquanto levava uma garfada de carne à
boca.
— Temos três semanas até lá — ela murmurou para Lunna, que acenou e se remexeu na
cadeira.
Prince e Matteo pediram licença e saíram antes mesmo que terminássemos de comer.
— Você quer começar logo? Podemos subir para começar — Sienna se ergueu, encarando
Lunna.
— Não — Lunna falou com uma careta e suspirou. — Estou um pouco cansada. Podemos
começar amanhã? Eu mando algumas coisas que precisam ser agilizadas por mensagem.
— Claro. — Sienna sorriu e se despediu de Lunna, abraçando-a.
— Você está bem? — questionei, seguindo minha esposa até o carro.
Faltavam alguns dias para o aniversário de Lunna e eu já tinha escolhido seu presente. Queria
algo que ela gostasse, por isso demorei mais do que o costume. Nos últimos aniversários dela eu lhe
dei presentes assim que o relógio batia a meia-noite. Depois do seu primeiro ano aqui, quando eu
esqueci disso, eu só queria recompensar.
— Sim. Você pode me deixar em casa? — ela perguntou.
Eu acenei e abri a porta do carro. Lunna entrou rápido e nós fomos para casa. Eram apenas
três minutos de carro, então logo estacionei. Lunna se apressou para sair, mas tranquei as portas.
— Você vai continuar com essa merda? — questionei, cansado.
— Você irá vê-la depois que eu entrar em casa. Então, por favor, não finja se preocupar
comigo.
— Lunna...
— Só me deixe quieta. É melhor para nós dois.
Soquei a porra da ignição e Lunna estremeceu, porém não se encolheu. Ela ficou firme, me
encarando.
— Eu quero você. — Minha voz ficou tensa e Lunna piscou os olhos azuis, me encarando.
— Por quê?
— Por que o quê? — questionei, frustrado.
— Você poderia me ter. Poderíamos ser felizes como Sienna e Rocco. Então, por que
continua me traindo? — Lunna parecia com dor, eu me odiei um pouco.
— Tenho segredos, Lunna, e nem todos posso falar a você.
— Então não diga que me quer.
Ela se inclinou sobre mim e destravou as portas. Observei Lunna me deixar sozinho e suspirei
no silêncio do carro.
— Ela descobriu? — Sua voz me fez querer tampar seus lábios. Eu odiava o quão bem ela me
conhecia.
Vesti minha blusa enquanto andava para a porta e o corpo dela ficou entre mim e a saída. Seu
cabelo vermelho tingido era curto e ela o amava mais que tudo nessa merda.
— Sim. Eu sabia que o faria. Era questão de tempo.
— Cuide da sua vida — murmurei, me movendo ao seu redor.
— Converse com ela. Lunna entenderá...
Sua voz cessou assim que empurrei seu corpo contra a parede e segurei seu pescoço entre
meus dedos. Desde cedo aprendi como torcer pescoços e o dela não exigiria força alguma. Nem uma
gota de suor.
— Nunca mais pronuncie o nome dela. Nunca mais. Você me ouviu, porra? — gritei, tão
furioso como ela nunca viu. Seu corpo trêmulo e seu olhar temeroso indicavam isso. — Cuide da
merda da sua vida.
Eu a soltei e me afastei enquanto ela segurava o pescoço entre as mãos. Me movi para a porta
e saí. Entrei em meu carro minutos depois e dirigi para o Village. Assim que me viu, Rocco revirou
os olhos.
— Onde estava, caralho? Eu te esperei por quase vinte minutos.
— Resolvendo uma merda — avisei e caminhei para o corredor que levava até o fundo da
boate.
Rocco abriu uma das portas e Salvatore se ergueu primeiro, pronto para se defender. O
bostinha. Durante essas semanas mantivemos os dois a pão e água, mostrando a esses idiotas que eles
não mandavam em merda nenhuma aqui.
— Já pensaram? — meu irmão perguntou. Giulio se ergueu. — Eu mataria vocês, mas Giulio
será um bom soldado e você... — Rocco se aproximou do cunhado e ficou cara a cara com ele. —
Sienna ficaria bem chateada se eu matasse o irmão merda dela.
— E por que me quer aqui? Me deixe voltar para a Cosa Nostra. A minha famiglia. —
Salvatore era corajoso, isso era algo que eu e Rocco concordávamos.
— Porque eu não sou idiota. Você entra na minha casa, rouba minha mulher e fode a cabeça
dela com mentiras e ainda quer voltar para a casa? Não sou seu pai, moleque. Você pode decidir se
quer morrer ou ser um soldado. Agora.
— Vamos ficar em Chicago — Giulio falou com firmeza.
Encarei-o, procurando seus olhos. Ele me olhou e eu acenei. Salvatore continuou tenso
encarando Rocco, mas por fim aceitou.
— Bem-vindo a Outfit. A iniciação de vocês começa em três minutos — Rocco falou com um
sorriso de merda no rosto que fodia até a cabeça mais forte. — Temos uma corrida no Navy Pier.
Dois caras que estão em meu território estavam vendendo porra da Bratva. Vocês vão matá-los.
Juntos.
Salvatore acenou e Giulio fez o mesmo em seguida. Rocco se virou rindo e abriu os braços.
— A família está crescendo.
Quem não o conhecia achava que ele estava feliz, contente por ter Giulio e Salvatore
conosco.
Rocco não estava.
Meu irmão estava a um passo de enfiar uma bala na cabeça dos dois, mas não o fez e eu sabia
o motivo. Sua esposa.
E eu fiquei surpreso com a influência que Sienna tinha sobre ele.
Assim que chegamos a Navy Pier, todos se viraram e se afastaram lentamente. Pareciam
baratas tontas tentando buscar um refúgio para o veneno. Nesse caso, nós éramos o veneno.
Giulio e Salvatore nos seguiram, e quando paramos perto de Matteo, eles olharam sob os
ombros.
— O que esses merdas estão fazendo de pé? — Matteo rosnou para mim e Rocco.
Eu ri e me afastei, porque se tinha uma merda que tirava Rocco do sério, era Matteo sendo um
espertinho.
— O que eu quero que eles façam. Comece a próxima corrida — Rocco falou, acendendo um
cigarro e me fazendo virar o rosto para longe da fumaça.
Matteo se afastou bufando e deu a ordem para que começassem a próxima corrida. Rocco
tinha preparado essa iniciação na sua cabeça fodida há dias. Chegou a hora.
Assim que os dois caras perceberam que nós estávamos aqui, ficaram tensos e tentaram sair
de cima das motos. Eu sorri com Rocco e nós andamos até eles.
— Para que a pressa? — Rocco questionou quando um deles conseguiu descer e eu o peguei.
O outro correu pela pista e eu suspirei, achando que eu teria que ir buscá-lo, mas me surpreendendo,
Giulio correu e o pegou pela camisa.
O soldado novo se aproximou com ele e eu forcei o que eu segurava para o chão. Rocco
pegou o outro e fez o mesmo, só que um pouco longe do outro. Olhei para Salvatore e sorri.
— Seu lugar é esse. — Acenei para a minha posição e ele se aproximou, colocando o joelho
na coluna do cara e segurando a cabeça para o chão.
Rocco mandou Giulio fazer o mesmo, o silêncio ao redor enquanto nós dois nos erguíamos foi
bonito.
Rocco subiu na moto enquanto eu observava as rodas ficarem em frente ao rosto dos caras.
Eles gritaram, um em cada extremidade, quando Rocco começou a acelerar. A roda estava tão perto,
mas não era isso que Rocco queria. Não mesmo.
Dois dos nossos soldados se aproximaram e fizeram a moto ficar suspensa, fora do chão, isso
sim os levou ao colapso. Seus gritos e choros eram dignos de pena, se alguém na Outfit pudesse
sentir essa merda.
— Curtam o show e lembrem-se, vocês me fodem e eu fodo vocês de volta — Rocco falou
para a multidão antes de acelerar enquanto eu acenava para Salvatore e Giulio, me afastando mais.
Eles empurraram o rosto dos caras contra os pneus e o sangue jorrou.
Quando Rocco parou, Giulio e Salvatore estavam com sangue dos pés à cabeça. A roupa
encharcada. Os gritos de choque das pessoas e algumas até vomitando chegaram até nós quando eles
soltaram os corpos ensanguentados.
Rocco tirou sua arma da calça e se aproximou dos homens machucados. Os rostos
irreconhecíveis.
— Eu poderia enfiar uma bala na cabeça de vocês, mas não vou. Vocês dois irão morrer
agonizando e eu vou me deliciar com essa merda. — Ele se levantou e mandou Giulio e Salvatore
pegarem os dois.
Assim que se afastaram com mais dois dos nossos soldados, Matteo se aproximou.
— Que merda fodida é essa, Rocco? — nosso irmão perguntou, franzindo as sobrancelhas. —
Eles só vendiam drogas, porra.
— Eles vendiam drogas da Bratva, e como se isso não fosse o suficiente, os dois abusavam
da sobrinha de um deles desde que ela tem cinco anos. Ela tem quinze agora. — Rocco se aproximou
de Matteo e encarou nosso irmão. — Você ainda está com pena deles, porra?
Matteo recuou com os ombros tensos e negou.
— Bom. — Rocco se afastou e segurou o ombro de Matteo. — Vamos embora dessa merda.
Eu vi pela janela quando Romeo chegou. Ele estava com a camisa amassada e a calça jeans
justa suja. Me afastei lentamente e me sentei na cama, pegando minha agenda e as canetas coloridas
que estavam espalhadas. Eu já tinha adiantado muita coisa da festa de Natal. Sienna e eu trocamos
ideias pelo celular, mas amanhã seria um dia importante. Eu queria escolher as flores e decoração da
festa com ela e Lake.
Coloquei meus materiais na mesinha e me movi até meu closet. Me sentei em frente ao
espelho segurando minha escova de cabelo e deslizei pelos fios negros que alcançavam minha
cintura. Olhei para a tesoura, tentada a cortar, mas me detive ao pensar em Romeo. Ele gostava dos
meus cabelos.
Ele tem outra, Lunna. Não importa se ele gosta do seu cabelo.
Engoli com dificuldade e soltei a escova na penteadeira. Eu não conseguia entender isso. Ele
me queria, gostava de mim, eu sentia isso, por que ficava com outra? O fato de ser apenas uma fixa
por anos me deixava tão mal.
Será que ela tinha filhos dele? A questão me fez me encolher. Lágrimas encheram meus olhos
e eu segurei meu rosto entre os dedos. Não. Por favor, não. Era a única explicação, além de ele amá-
la. Ambas me deixaram doente.
— O que está fazendo? — Sua voz chegou até mim e eu olhei para o seu rosto. Seus olhos, no
entanto, estavam presos na minha mão. Olhei para ela e engoli em seco ao ver que a tesoura estava
presa por meus dedos. — Solte a tesoura.
— Nada. Eu não estava fazendo nada — me justifiquei rapidamente, soltando o objeto afiado.
Romeo se aproximou e a pegou, afastando-a de mim.
Em que momento eu a peguei? Eu não conseguia me lembrar.
— Vamos dormir em meu quarto. — Romeo estava muito sério e eu tentei me recompor. Ele
parecia até preocupado, mas por quê?
— Eu estou bem. Só estava pensando em cortar os cabelos — falei, tocando meus fios
enquanto Romeo acompanhava meu toque.
— Eu gosto do seu cabelo.
— Eu sei — respondi.
Ele se aproximou, substituindo meus dedos pelos seus. Ele enfiou a mão por baixo e
acariciou meu couro cabeludo. Eu suspirei, apreciando o contato.
— Quero você, Lunna. — Romeo se inclinou e beijou meu pescoço. Gemi baixinho, sentindo
o desejo fluir através do meu corpo. — Eu preciso de você. — Ele gemeu, chupando meu pescoço.
Apertei minhas mãos, empurrando seu peito.
— Você precisa deixá-la antes. — Minha voz ecoou firme e eu acordei do desejo ao me
ouvir. Ele não me tocaria enquanto estivesse com outra mulher. — Você a viu hoje? — perguntei,
tremendo levemente enquanto Romeo ainda estava sobre mim, completamente parado. — Você está
me magoando tanto, Romeo. Antes eu nunca tinha tido você, agora eu tive e amei, mas odeio que você
dê a ela o que é meu. O que eu amo.
Romeo respirou fundo e se afastou em silêncio. Ele segurou minha bochecha e me beijou
devagar, castamente. Romeo descansou sua boca em minha testa e suspirou.
— Odeio magoar você. Me desculpa, Lótus.
Lótus. Romeo me chamou assim no primeiro ano depois que fomos prometidos um ao outro,
porém parou em um determinado momento e eu ansiei por isso. Pelo apelido que eu amava tanto,
então ele me chamou dias atrás e eu estava nas nuvens.
— Então por que continua? — questionei, saindo das suas mãos.
— Não é isso. Não estou te traindo. — Sua explicação lenta se assentou dentro de mim e eu
me peguei a ela, querendo mais que tudo que ele estivesse certo.
— Ela toca em você?
— Lunna.
— É traição.
— Não é assim. Não dessa maneira.
Romeo passou a mão no cabelo e eu me aproximei, tocando seu peito. Ele ficou tenso sob
minhas mãos e eu segurei seu rosto, fazendo-o me encarar.
— Você não a beija? Não toca no corpo dela? — questionei, nas pontas dos pés, tentando
ficar na altura dele.
— Não. Não mais, eu prometo.
— Mas já o fez. — Engoli com dificuldade e me afastei. — Me deixe sozinha. Por favor.
— Lunna, isso é complicado.
— Só saia. Saia e me deixe em meu canto. Sozinha. Aprendi com os anos morando aqui a
viver bem sem ninguém por perto. Não vou cair, Romeo, e se eu o fizer, eu me levanto porque sou
forte. Sou forte pra caralho.
Romeo desviou os olhos dos meus e acenou, dando passos para trás. Quando ouvi a porta do
quarto fechar, eu suspirei e limpei a umidade em meus olhos.
Eu ficaria bem. Eu sempre ficava.
Na manhã seguinte Romeo estava longe de ser visto. Eu bufei, irritada por ter que ir a pé até a
mansão. Não era longe, mas droga, ainda era cedo. Saí pela porta e arregalei os olhos ao ver um
carro com um laço. Os dois eram pretos. A escuridão dos dois se perdendo um no outro.
Me aproximei e tirei a nota que estava no para-brisa. Segurei o papel com os dedos trêmulos
e comecei a ler.
Feliz aniversário, Lotus. Você é incrível e eu sou sortudo por ter você.
Curta seu dia amanhã. Tive que viajar, mas voltarei antes que seu aniversário acabe.
Romeo Trevisan.
Engoli toda a emoção com dificuldade e me movi para o carro. Abri a porta e suspirei ao
entrar no veículo escuro até por dentro. Era lindo. Segurei a ignição e mordi o lábio com a euforia
explodindo em meu peito.
Dirigi até a mansão e Prince saiu com Lake e Sienna. Eu buzinei, rindo, e elas arregalaram os
olhos.
— Você ganhou um carro? — Sienna gritou, correndo.
Acenei enquanto saía do veículo.
— Romeo me deu de presente antecipado — falei, suspirando, e toquei a lataria do carro. Me
virei para Prince, que estava olhando o carro. — Você pode tirar o laço, mas não descarte, porque
quero guardar.
— Claro, Lunna. — Ele acenou com um sorriso e eu me virei para as meninas.
— Ele é perfeito.
— Eu sei. Estou tão feliz. Queria agradecer a Romeo, mas ele teve que viajar — falei e
suspirei.
Depois que Prince tirou o laço, eu e as meninas entramos na mansão. Sienna me seguiu até o
quarto de Lake e nós passamos o dia falando sobre a festa de Natal. Faltavam menos de três semanas,
então tínhamos um pouco de tempo.
Relutei em ir para a casa quando anoiteceu, porém não queria dormir na mansão sem Romeo
saber. Sienna pediu que eu ligasse para ele, mas eu nunca fiz isso depois de nos casarmos.
— Ele não vai se opor. Quer que eu fale com Rocco? — Sienna balançou o celular.
Engoli em seco, negando. Peguei o meu telefone e coloquei no contato dele. Depois de
chamar algumas vezes, quando pensei que fosse cair, uma voz feminina atendeu.
— Alô?
Meu coração deu um salto e eu tremi, sentindo meu estômago revirar. Era ela? Ele estava com
ela?
— Romeo.
— Hã... — A voz dela sumiu antes de desligar a ligação.
Sienna franziu as sobrancelhas ao me ver derrubar o celular e fechar meus olhos com força.
Não chore. Não faça isso, Lunna.
— O que foi?
— Na-nada. Acho que liguei errado — desconversei, suspirando. — Eu vou para casa. É
melhor — murmurei e me levantei.
— Mas...
— Está tudo bem — interrompi sua fala.
Ela respirou fundo e acenou. Assim que saí da mansão, andei até meu carro. O laço preto
estava no banco traseiro. Senti alguém me olhar e olhei por cima do meu ombro, vendo Salvatore e
Giulio. Ambos estavam próximos a fonte do leão assustador.
— Ei!
A voz de Salvatore me fez parar de andar. Salvatore sorriu e o observei andar até mim.
Giulio estava encarando a densa floresta perto dos muros que rodeavam a propriedade, mas também
se aproximou.
— Oi! Vocês estão bem? — perguntei, diante de ambos.
— Sim. Você parece ótima — Salvatore falou, olhando para meu corpo coberto por uma
calça jeans, moletom preto e casaco grosso. Ainda estava muito frio.
Giulio empurrou Salvatore enquanto eu ainda tentava entender realmente o que ele falou.
— Você estava me paquerando? — questionei, franzindo a testa.
— Ele não estava. — A voz de Giulio soou firme e tensa.
— Realmente não ligo. Sou imune ao charme de vocês, então nem tentem — eu disse e
comecei a rir. Ambos me olharam por alguns segundos antes sorrirem. — Fico feliz que estejam bem.
— Também estamos felizes por sairmos os três com vida da Rússia — Giulio falou
novamente enquanto Salvatore acenava.
— Obrigada. Eu realmente aprecio. — Sorri e dei um passo para trás. — Vejo vocês por aí.
— Boa noite, Lunna — Salvatore falou, me encarando.
Pela primeira vez, eu vi o desejo cintilar no olhar de um homem que não fosse Romeo. Meu
peito bateu rápido e eu acenei, me afastando mais. Ouvi um praguejo assim que me virei e comecei a
andar para o meu carro. Quando entrei, voltei a olhar para Salvatore e seu olhar preso em mim me
deixou tão inquieta quanto era possível.
Assim que cheguei a minha casa, encontrei alguns soldados ao redor. Romeo agora não a
deixava sem segurança, o que me confortava um pouco.
Peguei uma garrafa de vinho da adega e subi a escada, segurando uma taça. Eu não bebia
frequentemente, mas gostaria de tomar um pouco de vinho. Tirei minha roupa depois que coloquei a
banheira para encher. Encarando o espelho, eu prendi meu cabelo no alto da cabeça.
Assim que entrei na água, eu me servi de vinho e tomei em goles pequenos, apreciando o
gosto adocicado. Mordi meu lábio ao lembrar da ligação e suspirei, cansada. Não queria mais
revirar isso, queria esquecer, mas escutar a voz dela, sabendo que agora ele deveria estar lá me
deixava tão triste.
— Ele não merece você — murmurei para mim mesma e peguei meu celular. Assim que
mamãe atendeu, eu pisquei com lágrimas em meus olhos.
— Parabéns, querida. — Sua voz soou baixa.
— Faltam trinta minutos — murmurei, sorrindo.
— Sou sua mãe, posso desejar parabéns antes — ela retrucou rapidamente.
— Sim, a senhora pode. — Suspirei audivelmente e relaxei na banheira. — Estou com
saudades.
— Não mais que eu. Gostaria tanto de ir visitá-la, mas seu pai...
— Eu sei. Está tudo bem, mamãe.
— Sim, sim. — Ela suspirou e eu a escutei se mover. — Como você está, Lunna? E por favor,
eu já sei de tudo. Só lhe dei tempo. Eu não queria empurrar esse assunto.
— Eu não lembro de nada, mãe. Me alivia não lembrar.
— Eu imagino que sim.
— Mas me sinto tão oca por dentro. Como se ele tivesse tirado algo de mim — murmurei
tristemente e mamãe respirou fundo.
— Ele tirou. Mas você é maior que isso. Você será feliz e eu sei que Romeo vai recuperar o
tempo perdido. Vocês têm tanto tempo, Lunna. Filhos, felicidade.
Mamãe sabia que Romeo não me tocava durante nosso casamento. Eu precisava falar para
alguém e minha mãe sempre foi a minha confidente.
— Eu quero tanto, mãe. Mas Romeo tem uma amante. É a mesma mulher. E eu fico me
perguntando se ele a ama. Por que se ele o faz, o que eu estou fazendo aqui?
— Seu casamento é para sempre, Lunna. Não existe divórcio dentro da máfia. De nenhuma.
— A voz dela se tornou rígida e eu entendi. Se eu me separasse e voltasse para a Cosa Nostra, eu
seria uma pária. Uma fracassada. — Sobre a mulher, procure-a. Romeo não é o único que cresceu na
máfia. Você também. Mostre a ela o que acontece quando ela mexe com algo que pertence a você.
— Mamãe...
— Lunna, traições acontecem frequentemente, e pedir ao seu marido, um homem feito, que
seja fiel a você é desperdício de saliva e tempo. Vá na fonte. Ela se arrependerá do dia em que o
deixou usá-la. Eu juro.
As palavras da minha mãe rondaram meus pensamentos pelo resto da noite, e quando
amanheceu eu estava certa de que o faria.
No dia seguinte, Sienna veio para a minha casa e nós trabalhamos até o almoço. Eu pedi
comida chinesa para nós, porque não deu tempo de cozinhar nada. Quando nos sentamos na cozinha,
Sienna colocou uma caixa pequena diante de mim. Confusa, olhei para ela.
— O que é isso? — questionei, curiosa.
Ela moveu o queixo para a caixa sem dizer nada, então eu a peguei e toquei devagar. Abri a
tampa e suspirei, meus olhos ardiam.
— Eu vi que você gosta de joias. Eu também adoro e compro algumas on-line. A sua chegou
no dia certo — Sienna falou enquanto eu deslizava os dedos pelo colar. O pingente tinha meu nome e
era tão delicado. As pedrinhas escuras eram diamantes, suspirei, tocada.
— É incrível. Obrigada! — berrei e me joguei em seus braços. Sienna riu, me abraçando. —
Amo você. Muito obrigada.
— Também amo você. Deixe-me te ajudar a colocar.
Acenei e segurei meu cabelo antes de me virar e respirar fundo ao tocar o meu nome acima
do meu peito.
— A gente merece ser feliz, Lunna. — Siena sorriu. — Se um colar a faz feliz, iremos
comprar muitos.
Eu a abracei, porque se falasse algo poderia chorar.
Passamos o resto da tarde ligando para alguns buffets, quando anoiteceu a campainha tocou.
Deveria ser Lake ou um dos meninos nos apressando. Assim que abri a porta, o irmão de Sienna
estava de braços cruzados, olhando diretamente para mim.
— Ei! Vou chamar Sienna — murmurei, dando um passo para trás. — Entre.
Salvatore entrou enquanto eu me virava para chamar Sienna. Ela estava na biblioteca, falando
com uma florista.
— Só vim buscá-la — ele explicou quando Sienna respondeu que já estava descendo.
— Tudo bem.
— É seu aniversário — Salvatore murmurou enquanto me olhava. Eu me remexi e engoli em
seco. — Parabéns, Lunna. — Ele deu um passo para mais perto.
— Não faça isso — pedi com a voz baixa. — Você parece desejar a morte. Primeiro levando
Sienna de Rocco...
— Não tocarei em você — ele jurou, me olhando.
— Sou casada com Romeo — mordi o meu lábio antes de continuar, estava ficando nervosa
— e o jeito que me encara não é certo. Percebi seu olhar ontem e... só pare. Ele matará você —
afirmei, preocupada.
Salvatore respirou fundo e tirou os olhos claros dos meus. Seu cabelo loiro estava
bagunçado, como se tivesse passado a mão por ele diversas vezes.
— Desculpe — ele pediu calmamente e eu acenei, aliviada.
— Ei! — Sienna apareceu na escada.
Salvatore tinha a minha idade e era atraente. Eu não era cega, via isso, mas não era certo o
jeito que ele me olhava. Eu não queria isso. Principalmente, porque se Romeo descobrisse, eu tinha
medo do que ele faria. Salvatore era irmão de Sienna. Não queria causar problemas.
— Ei, Sal! — Sienna se jogou nos braços do irmão e eu voltei a sorrir.
— Vocês estão prontas? — ele questionou e nós duas acenamos. Estávamos indo jantar na
mansão.
— Eu poderia ir dirigindo — falei para ambos. Salvatore não precisava vir até aqui.
— Estou como segurança particular de Sienna. Não se preocupe — ele falou e sorriu
enquanto abraçava a irmã.
Acenei e peguei minha bolsa. Eu já tinha me arrumado para ir, então o vestido preto e os
sapatos estavam perfeitos. Sienna pediu que eu caprichasse porque iríamos comemorar. Não entendi
realmente, mas estava aqui.
Nós saímos de casa e Salvatore entrou conosco quando chegamos à mansão. Meus olhos se
arregalaram ao ver Prince e Matteo arrumados também. Sorri assim que Lake apareceu, empurrando
um carrinho com um bolo de três andares em cima.
— Ah meu Deus! — gritei, animada, antes de eles começarem a cantar parabéns. — Muito
obrigada, gente. Estou bem emocionada, porque sou uma manteiga derretida. — Enxuguei meus olhos
e eles sorriram.
Todos me parabenizaram e eu ganhei presentes de Lake e Prince. Matteo arrancou uma flor de
um vaso e me entregou como se fosse uma flor criada no deserto.
— Obrigada, Matteo. — Assim que o abracei, senti que ele ficou rígido, mas eu nem liguei,
apenas sorri.
Cortei o bolo e dei o primeiro pedaço a Lake. Ela quase não parou de sorrir. Nós nos
embolamos na sala de jogos para comer. Mordi meu lábio, desejando que Romeo estivesse aqui.
Rocco estava com ele e eu me perguntei como uma mulher atendeu o celular de Romeo, se ele estava
com o irmão? Rocco sabia quem ela era? Ele sabia das traições?
— O que foi? O bolo não está bom? — Prince perguntou, colocando os pés em cima da mesa
de centro enquanto comia.
Olhei ao redor e vi os irmãos do meu marido e Sienna. Salvatore tinha saído assim que nos
deixou aqui.
— Está ótimo — falei e sorri. — Para onde Romeo viajou?
— Oak Park. O novo capo está com problemas — Matteo explicou.
Nós ouvimos a porta abrir e eu foquei minha atenção em meu prato. Comi mais um pedaço de
bolo e suspirei ao sentir o sabor do chocolate. Quando abri meus olhos, Romeo estava diante de
mim, encostado na entrada da sala de jogos, me observando.
— Parabéns, Lunna. — Rocco sorriu ao passar por mim. Agradeci devolvendo o gesto
enquanto Sienna se erguia. Ela o seguiu para fora e eu fiquei com os irmãos Trevisan.
— Vou a uma boate com Prince — Matteo disse ao se levantar.
Logo os dois deixarem a sala. Lake seguiu ambos com os olhos, mas antes que falasse algo,
Romeo se pronunciou.
— Não, você não vai.
— Ok. — Ela bufou e jogou a almofada para o lado. Escondi meu sorriso atrás da mão
quando Lake se virou e me deu um olhar irritado. — Você deveria me apoiar.
— Eu te apoio totalmente, mas não quando o assunto é uma boate e uma garota de quinze anos
— falei de maneira firme, fazendo Lake sair revirando os olhos.
Romeo se aproximou com a saída da irmã e se sentou ao meu lado. Seu braço desceu em
meus ombros e eu suspirei quando seu cheiro me rodeou. Era dele agora, não dela.
— Parabéns, Lótus.
— Obrigada pelo presente — murmurei, descansando minha cabeça em seu peito. — Ele é
perfeito.
— Fico feliz que tenha gostado. — Pude escutar o sorriso em sua voz.
— Liguei para você ontem — eu disse lentamente.
Romeo continuou relaxado ao meu lado. Sua mão deslizou pelo meu cabelo e ele cheirou
minha cabeça.
— Não vi nenhuma ligação sua.
— Uma mulher atendeu.
— Não estive com mulher nenhuma, Lunna, e não tem chamadas suas em meu celular —
Romeo falou de maneira firme, então ergui meu rosto e meu celular. Mostrei a ligação e os segundos
em chamada. — Esse número é antigo. Não o uso mais — ele explicou e eu franzi as sobrancelhas.
— Deixe-me colocar o novo.
Eu me afastei devagar enquanto ele adicionava o seu novo número. Romeo ligou para o meu
celular e me mostrou seu celular chamando.
— Não vou ver mais ninguém, Lunna. Quero apenas você — ele murmurou em meu pescoço.
Suspirei, querendo muito acreditar nele. — Só você, Lótus.
E eu perdi a batalha. Acreditei nele, e por mais que eu estivesse com medo, amei cada
segundo.
— Eu amo você — falei suavemente.
Seu rosto se modificou em um sorriso. Eu amava seu sorriso.
— Eu sei.
Romeo juntou nossas bocas e eu lambi seus lábios, provando seu sabor que eu amava. Sua
boca era exigente, e quando percebi estava deitada no sofá com Romeo sobre mim. Respirei fundo,
sentindo sua boca em meu corpo. Quando ouvi passos, imediatamente fiquei rígida.
— Que porra você está fazendo aqui? — A voz raivosa do meu marido me fez estremecer.
Tentei olhar para a porta, mas a cabeça de Romeo me impediu.
— Só vim me despedir de Sienna.
A voz de Salvatore enviou tensão pelo meu corpo e eu fiquei tão rígida, que Romeo percebeu.
Ele se afastou um pouco e me encarou, suas sobrancelhas juntas e seu olhar furioso.
— Saia daqui. Você não tem permissão para entrar na mansão. — Romeo olhou para
Salvatore e eu evitei fazer isso. Quando o irmão de Sienna saiu, meu marido se afastou enquanto me
encarava. — Você vai me explicar essa merda ou eu vou ter que torturar o idiota?
Meus olhos se arregalaram e eu engoli em seco, tremendo. Oh meu Deus.
— Você está falando de quê? — Tentei desconversar, semicerrando os olhos.
— Eu conheço você. Seus sorrisos, seus olhares, suas verdades e as suas mentiras. Não minta
para mim. — Romeo estava rígido enquanto eu tocava o seu peito e puxava sua camisa. Ele cobriu
meu corpo novamente e eu deslizei meus lábios pelo seu pescoço.
— Não há nada. Por que você não me toca? Preciso de você — implorei, abraçando seu
corpo com as minhas pernas.
Romeo ficou quieto por um segundo, porém, logo desceu para atacar a minha boca com
desejo.
— Vamos — ele chamou e se levantou, mas eu balancei a cabeça.
— Não quero esperar até chegar a nossa casa — resmunguei e Romeo sorriu.
— Então venha.
Ele me guiou até o lado de fora e eu suspirei ao ver o cais. Romeo me levou até o lugar e
tirou meu vestido, me deixando nua no ar gelado. Minha calcinha preta era de renda e pequena.
Romeo não a tirou ou perdeu tempo rasgando-a. Ele apenas me fez inclinar sobre uma das madeiras
de proteção e me preencheu. O cais estava completamente escuro, a água congelada, e eu fiquei
aliviada por ninguém conseguir nos ver. O ar gelado bateu em mim e eu ofeguei, sentindo o prazer se
alastrar.
Gemi com seu membro deslizando em minhas dobras molhadas. Gritei contra minha mão
quando Romeo torceu meu mamilo duro e clitóris ao mesmo tempo. Convulsionei, gozando, e ele saiu
de mim. Fiquei confusa por um momento, mas quando o vi se ajoelhar e abrir minhas pernas, eu
tremi. Sua língua atacou minha boceta sensível e eu choraminguei com o contato.
Romeo bebeu mais um dos meus orgasmos e me fez sentar em seu colo. Seus olhos estavam
escuros e desejo brilhava em sua íris. Gemi ao rebolar em seu colo enquanto sua boca tomava um
dos meus mamilos. Era muito, logo gozei com ele.
— Porra, você é a coisa mais linda que já pus as mãos, Lótus — Romeo falou sob as nossas
respirações. Sorri e lambi meus lábios. Ele me vestiu rápido quando comecei a tremer. Romeo tocou
meu rosto e eu beijei seus dedos. — Você é perfeita, e é minha.
Sua última frase foi feita mais firme. Acenei, querendo que ele soubesse que sim, eu era.
Romeo e eu chegamos a nossa casa e fomos direto para o seu quarto. Ele era igual ao meu, só
o closet era maior. Eu já tinha entrado aqui um milhão de vezes, mas essa era a primeira vez que era
para dormir ao seu lado. Isso me fez flutuar.
Eu me movi pelo quarto enquanto penteava o cabelo e deixei minha escova ao lado da cama.
Minha camisola de seda deslizou pelo meu corpo e eu vesti minha calcinha. Romeo ainda estava no
banho, então peguei meu celular enquanto o esperava.
Ele tremeu com uma mensagem e eu franzi o cenho ao ver o número desconhecido.
"Parabéns."
"Quem é?"
Não obtive resposta, isso me deixou inquieta.
Romeo saiu do banheiro de cueca e se deitou ao meu lado, me puxando contra seu peito.
— O que aconteceu? Por que está com essa cara? — ele questionou quando coloquei o
celular na mesa de cabeceira.
— Mandaram parabéns, mas não tenho o número e nem responderam quando perguntei quem
era — expliquei e me aconcheguei nele.
Romeo me apertou contra si.
— Alguém de Nova York, talvez?
— Sim, pode ser — murmurei, relaxando, e ergui meus olhos, descansando meu queixo em
cima do seu peito. — Deu tudo certo na viagem?
— Sim. Talvez precisemos nos mudar para lá por um tempo. O quanto você odiaria isso? —
ele questionou, colocando o braço atrás da cabeça.
Subi em seu colo e Romeo gemeu quando me sentiu contra seu membro já duro.
— Vou com você para qualquer lugar no mundo — respondi suavemente e me esfreguei contra
o seu corpo. Sorri quando Romeo gemeu mais alto.
— Eu sou um filho da puta de sorte, certo? — ele questionou, rouco.
— Sim, você é. — Acenei e gemi.
Romeo cansou do meu joguinho de sedução e girou, afastando minha calcinha e entrando em
mim. Mordi seu peito e tive uma surpresa ao ver seu rosto se transformar em prazer absoluto. Finquei
minhas unhas em suas costas e Romeo perdeu o controle.
Entre mordidas e arranhões, nós dois encontramos uma nova noção de prazer.
Com a dor.
Rocco me seguiu até uma das mesas no Village e eu me sentei ao ver Prince se aproximar com
Matteo. Olhei por cima do ombro de Rocco e encarei Giulio. Ele estava fazendo a segurança do lugar
enquanto o merdinha Rizzi estava na mansão, cuidando de Sienna e Lake.
— Você confia naquele merda do Salvatore? — Matteo questionou ao se sentar.
Encarei Rocco, querendo saber o mesmo.
Tínhamos acabado de chegar da mansão. Rocco tinha uma reunião com o capo de Oak Park.
Depois da morte de Costa, seu filho tinha assumido. Rocco e eu relutamos em colocar filhos dos
traidores no poder, mas Cesar odiava seu pai tanto quanto a gente. Rocco abriu uma exceção. Agora,
o idiota estava fodendo com a Outfit. Repassando números errados e roubando a gente.
— Salvatore não machucaria Sienna — Rocco disse, tirando um cigarro e acendendo a ponta.
— E Lake?
— Sienna o esganaria antes. Vocês acham que estou confortável com aquele rato por perto?
Não estou, caralho. Eu o queria morto. — Rocco respirou fundo e nos encarou. — Não posso matá-
lo. Não vou deixá-lo perto dos nossos negócios, então a única saída foi a mansão. Temos outros
soldados lá. Salvatore é um idiota, mas não tanto.
Fiquei calado, porque eu não queria discutir com Rocco. Meu irmão era meu melhor amigo,
poderia falar com ele sobre tudo, mas eu odiava discutir com ele. Porque Rocco não era um homem
pensante.
Ele agia. Só isso.
— Lunna está na mansão? — Prince questionou, girando um copo com gelo e Coca-Cola. Ele
era o único que não bebia.
— Sim. Ela e Sienna estão nos últimos preparativos pra festa — expliquei, olhando ao redor,
porém me virei ao ouvir um tsc ecoar vindo dele. Encarei Prince e vi seu olhar franzido. — O que
foi?
— Cuidado, Romeo. O merda come sua mulher com os olhos e você nem percebe. — Prince
soou estranhamente tenso.
Fiquei ereto, sentindo a tensão se espalhar pela minha coluna.
— Que porra você está falando? — rosnei, me inclinando.
Meu irmão mais novo acenou enquanto relaxava na cadeira. Rocco e Matteo só nos
observavam.
— Já vi isso em duas ocasiões. No aniversário dela e dias atrás, quando ela foi para casa.
Olhei para Rocco e ele apertou a mandíbula.
— Se ele a tocou, eu não me importo com o que Sienna acha dessa merda, vou matá-lo.
Eu me ergui, não esperando por sua resposta. Rocco me conhecia bem o suficiente, e se ele
me proibisse de fazer isso, eu não hesitaria em desobedecê-lo.
Lunna era uma linha que ele não ultrapassava.
Sienna era uma linha que eu não ultrapassava.
Entrei em meu carro e acelerei, apertando o volante. O aniversário de Lunna entrou em minha
mente. Sua reação a voz de Salvatore enquanto estávamos no sofá. Meus braços vibraram enquanto
eu apertava mais forte. Vou matar aquele desgraçado.
Estacionei meu carro minutos depois, deslizando os pneus. Procurei entre os soldados o filho
da puta, mas ele não estava. Entrei na mansão contando os segundos.
— Essa combina mais. Não é, Salvatore?
A voz de Sienna chegou a mim e eu parei, entrando na cozinha.
Já era quase noite e as luzes da mansão estavam todas acesas. Assim que procurei por Lunna,
eu a vi olhando para dois pedaços de pano.
— Acho que sim.
— Romeo. — Sienna me notou primeiro e seus olhos se expandiram com o que viu.
Lunna ergueu o rosto começando a sorrir, mas parou ao me observar. Andei diretamente para
o irmão de Sienna e empurrei o idiota loiro contra a parede.
— Você gosta dos seus olhos? — questionei e empurrei meu antebraço na garganta dele. Seu
rosto estava completamente vermelho, eu adorei essa porra. — Responda!
— Sim, cara. — Ele acenou o quanto pôde e eu o enforquei mais.
— Romeo. O que houve? — Sienna questionou ao redor e eu ouvi o pânico em sua voz.
Peguei Salvatore pela blusa e soquei seu rosto. Ele não se defendeu. Esperto.
Me virei para Lunna, ignorando Sienna, e a vi me olhando em choque. Sua garganta subiu e
desceu enquanto dava dois passos em sua direção.
— Você sabe por quê. Certo? — questionei cruelmente, empurrando-a até a parede também.
— Responda a porra da pergunta, Lunna! — gritei contra seu corpo trêmulo e ela negou. — Minta
mais uma vez. Me dê isso — desafiei e ela engoliu em seco.
— Eu sei. Eu sei. — Lunna acenou devagar e eu me inclinei, ficando com o rosto rente ao
dela. — Romeo...
— Quando um homem olha para o que é meu, eu o mato. Você me entendeu? — perguntei,
gritando, e ela acenou, piscando os olhos azuis.
— Não aconteceu nada. Ele não fez nada. Eu juro.
Me virei para Sienna e Salvatore, que ainda estava onde o deixei.
— Não vou matar você hoje, mas sinto que o farei em breve — falei abertamente e vi Sienna
piscar com medo. — E você não vai me impedir. Suas lágrimas causam fraqueza em meu irmão, mas
em mim é apenas água.
Sienna desviou os olhos e eu me aproximei do irmão dela.
— Vou arrancar seus olhos na próxima vez. É uma promessa.
Me afastei e encarei Lunna. Ela recolheu suas coisas assim que entendeu e saiu antes de mim.
Fugindo.
— Eu juro que...
— Pare com essa merda. Você acha que eu não sei disso? — interrompi Lunna rudemente
enquanto entrávamos em meu carro. — Você é minha, Lunna, e antes que eu precise dizer isso, você
sabe, seu corpo e a porra do seu coração.
— Então por que...
— Porque você não me disse. É por isso. Faz dias desde seu aniversário. Desde que ficou
tensa e mentiu na minha cara quando questionei sua reação a ele. Você mente para mim muitas vezes,
certo? — perguntei enquanto acelerava para a nossa casa.
Lunna respirou fundo e mordeu o lábio.
— Só não queria causar problemas. Ele é irmão de Sienna...
— Você acha que eu dou a mínima? — Eu ri, apertando o volante. — Não o matei porque ele
olhou. Se ele tivesse tocado em você, ele estaria morto agora.
— Mas...
— Eu deixaria os pedaços dele por Chicago — falei de maneira firme, fazendo-a ofegar e
arregalar os olhos. — Você acha que o monstro fica na superfície, Lunna? Não, ele fica escondido
nas profundezas.
Estacionei o carro e saí caminhando até a casa. Lunna me acompanhou em silêncio e eu a
deixei. Me servi de uísque enquanto ela ficava de pé no meio do escritório, segurando sua bolsa.
— Me desculpe por mentir. Eu deveria ter dito que ele olhou de maneira errada. Eu só não
queria que ficasse chateado — Lunna sussurrou quando me sentei na cadeira de frente para a minha
mesa.
Ergui meus olhos e a vi morder o lábio e abraçar seu corpo coberto por um vestido e um
casaco.
— Estou muito puto, Lunna. E sim, é pela sua mentira, mas, ainda mais, por causa desse
merda. Ele realmente deseja a morte e eu a darei a ele.
— Não por mim. Por favor, não faça isso por minha causa. — Ela franziu as sobrancelhas,
implorando.
— Você gostou? — Eu a encarei com firmeza enquanto fazia a minha pergunta.
Lunna ficou rígida. Era uma resposta.
— Você realmente está me perguntando isso? — Lunna piscou e lágrimas encheram seus
olhos azuis. — Eu amo você. Sou sua esposa. Eu daria minha vida pela sua, e você me pergunta se eu
gostei de outro homem me olhando? — Sua voz chorosa me fez ficar tenso, porém não demonstrei. —
Até quando vai duvidar de mim? — Lunna questionou, seus ombros caídos.
Respirei fundo e olhei para o meu copo de uísque.
Lunna andou para a porta enquanto limpava o rosto e eu apertava o vidro.
— Vem aqui — pedi, erguendo meus olhos para ela. Lunna parou de se mover e olhou para
mim. — Aqui, Lunna.
Apontei para o meu colo e ela veio até mim. Assim que ela chegou, segurei sua cintura e a
sentei na mesa de mogno. Lunna suspirou quando eu a fiz deitar sobre a mesa. Suas pernas se abriram
e eu beijei sua coxa. Seu vestido subiu e eu vi sua boceta coberta pela calcinha de renda.
— Minha. — Minha voz ecoou enquanto Lunna estremecia. Sua calcinha começou a ficar
molhada e eu afastei o tecido.
Sua boceta estava tão molhada que minha boca salivou. Me inclinei e deslizei a minha língua,
capturando o seu clitóris em seguida. Deixei meus dentes e Lunna gritou, gemendo.
— Romeo! — Seu gozo atingiu minha língua e eu gemi.
Me ergui da cadeira ao mesmo tempo em que abria meu zíper. Sua boceta engoliu meu
cumprimento enquanto eu segurava seu pescoço. Lunna agarrou meu corpo com as pernas e eu gemi
assim que ela entregou seus seios em mim.
Puxei as alças finas e elas arrebentaram. Me inclinei, capturando seu mamilo esquerdo, e
apertei meu domínio sobre seu pescoço. Sua boceta me sugava a cada impulso, e no último Lunna
gritou e gozou comigo.
Puxei seu corpo para fora da mesa e Lunna se sentou em meu colo. Apertei sua coxa e me
inclinei enquanto tirava seu cabelo de cima do seu ombro. Beijei a veia do seu pescoço e ela
suspirou, relaxando.
— Não vou perder você, Lunna. Se tiver que matar alguém, eu o farei.
— Eu sou sua. Sempre fui e sempre serei. — Sua voz estava rouca do sexo
— E não vou deixar ninguém a tirar de mim pela segunda vez. Ninguém tocará em você a não
ser eu.
Lunna ergueu o olhar para mim e beijou meus lábios, tocando em meu rosto.
— Só preciso de você. Sempre será só você.
Eu gostaria de dizer que suas palavras acalmaram o monstro ciumento em meu peito, mas não
o fez.
Eu só pensava em rasgar a garganta, cortar as mãos e arrancar os olhos de Salvatore.
Lunna dormiu assim que saí do seu corpo quente. Eu estava sedento por seu corpo. Fizemos
sexo tantas vezes desde que saímos do escritório, que ela estava cansada. Lunna se aconchegou
contra mim e eu deslizei os dedos por seu cabelo enquanto encarava a janela, onde se via a lua. Ela
estava brilhando forte e eu empurrei a vontade de me erguer e ir até ela.
Minha mãe amava a lua e fazia todos nós olharmos para ela nos dias em que estava cheia e
brilhante. Fazia três anos desde a sua morte. Três anos sem ver, ouvir ou falar com ela. Mesmo com
Ettore como marido, ela nunca se deixou levar pela maldade enraizada nele. Amou Rocco como seu
filho e continuou amando-o até o dia da sua morte.
Violetta tentou nos proteger da violência que o nome Trevisan carregava, mas a máfia era
algo maior que todos nós.
— Você está bem? — A voz de Lunna soou rouca.
Olhei para baixo e vi sua bochecha descansando em meu peito.
— Sim, volte a dormir.
Lunna bocejou, porém manteve seus olhos azuis abertos. Tão linda.
— Suas tatuagens... o que significam?
Senti seus dedos deslizando pela minha pele e olhei para o dragão em meu peito. Eu não tinha
muitas, Rocco era detentor do pódio. Porém, eu tinha coisas que significavam para mim.
— Coragem — apontei para o dragão —, mãe — toquei a lua atrás do animal feroz e, por
último, a flor imperceptível no meio de várias formas geométricas — e você.
Lunna abriu os olhos, agora bem acordada, antes de encarar a tatuagem. Sua boca se abriu e
fechou algumas vezes, e quando as lágrimas apareceram, eu não me surpreendi.
— Você precisa parar de chorar por tudo, Lótus.
— Quando a fez? — Sua voz denunciou urgência, e eu toquei sua boca.
— No aniversário do nosso casamento, um ano atrás — murmurei, enquanto Lunna subia no
meu colo e ficava sobre mim.
— Por quê?
— No dia, eu me convenci de que era por gostar dela. Hoje, eu sei que foi por você ser
importante. Sempre será e estará tatuada em mim para sempre — falei de uma vez.
Ela me beijou forte, tremendo e soluçando.
— Você é tudo que eu tenho. Você e mamãe. Minha família. — Lunna tocou meu rosto e beijou
meu queixo.
— Um dia. Eu prometo que a trarei para você.
— Mas... — Seu rosto espantado ficou tenso.
— Um dia, Lunna. Agora volte a dormir.
Minha Lótus demorou, mas dormiu depois de algum tempo.
— Podemos matá-lo — Matteo falou abertamente no meio da sala que tínhamos no Village.
Apreciei a oferta, mas Rocco só ignorou nosso irmão.
— Uma festa do caralho — Rocco disse, se erguendo e olhando para baixo, para as ruas em
frente ao Village. A festa aconteceria no hotel do outro lado.
— Estou bonito? — Prince perguntou em seu smoking e Matteo começou a desfilar no meio
da sala.
— Vamos descer. Preciso pegar Lunna — falei rápido, me erguendo da poltrona.
Abotoei meu paletó e saí da sala. Apertei o botão para chamar o elevador, e quando as portas
se abriram, semicerrei meus olhos quase que imperceptivelmente. O cabelo vermelho balançou e ela
me viu. Seu olhar foi para o chão enquanto meus irmãos entravam no elevador e eu me acomodava.
— Você é nova aqui? — Matteo questionou, o interesse em sua voz era nítido.
— Hum, não. Só estou de passagem. — Sua voz chegou a mim enquanto eu olhava para as
paredes metálicas.
— Bem-vinda, baby.
As portas se abriram e eu saí primeiro, querendo que ela sumisse da minha frente. Eu a
mataria quando tivesse oportunidade.
Entrei em meu carro e pisei no acelerador em direção à minha casa, com meus músculos
tensos e o aperto no volante quase cessando a circulação do meu sangue no órgão.
— Já acabou?
A voz impaciente da Lake me fez bufar. Continuei esfumando sua sombra e ela suspirou.
— Você precisa ter mais calma — Sienna gritou dentro do closet.
Me afastei com meu pincel de maquiagem e contemplei o esfumado bonito nos olhos de Lake.
— Graças a Deus. — Ela se ergueu rapidamente e andou para longe de mim.
— Como estou? — Sienna entrou no cômodo, e eu sorri.
— Perfeita.
Seu vestido vermelho era longo e quase justo ao corpo até suas coxas. A saia abria ali e o
tecido se amontoava naquele lugar. Seu colo estava exposto e as alças do vestido eram finas, ligando
a parte de trás, que era bem baixa, ao seu busto.
— Esse vestido é incrível — eu disse, apreciando.
Sienna era linda, disso ninguém tinha dúvidas.
— Vá pôr o seu. Os meninos devem estar chegando — ela pediu.
Olhei para Lake uma última vez. Seu vestido era mais curto, porém com tule em camadas,
dando sofisticação para a peça.
Caminhei para o closet e peguei meu vestido. O vermelho dele não era igual ao das meninas,
pelo contrário, era quase um bordô. Um vermelho tão escuro que poderia ser preto. Eu o amei assim
que o vi.
Passei a mão pelo meu corpo coberto em frente ao espelho que ia do chão ao teto e suspirei.
As alças do vestido ficavam abaixo dos meus ombros, na lateral, e o tecido colado ao meu corpo era
tão macio que eu queria me agarrar a ele. Movi minha perna e a fenda alta se abriu e minha coxa
apareceu. Encarei o espelho e toquei minhas orelhas com os diamantes negros. Brilhavam tanto que
me enfeitiçavam. Meus lábios estavam com batom vermelho e meus olhos esfumados com preto.
Passei a mão pelos meus cabelos longos e ondulados. Saí do closet e peguei minha bolsa. A
carteira tinha uma corrente preta e ela tinha alguns brilhos. Era linda. Desci a escada depois de
colocar meu celular, dinheiro e chaves dentro da bolsa. Decidi me arrumar com as meninas na
mansão depois de Lake e Sienna pedirem.
— Romeo é um sortudo filho da puta.
A voz ao longe me fez parar no penúltimo degrau. O rosto de Prince era divertido e eu
relaxei, terminando de descer.
— Sua esposa será linda — eu disse de maneira firme.
— Espero que sim. — Ele olhou para o céu.
— Onde está seu irmão? — perguntei enquanto caminhava.
Sienna apareceu com Lake e Salvatore. Todos estavam vestidos para a festa de logo mais.
— Vindo. Você quer esperá-lo ou ir comigo, Sienna e Lake? — Prince perguntou enquanto
seguia para a porta.
— Vou esperá-lo. — Meu estômago revirou em nervosismo.
Os três saíram da casa e eu fiquei sozinha na mansão. Senti meu celular vibrar e mordi meu
lábio ao abrir a mensagem.
“Feliz Natal!”
Li a felicitação e senti meu estômago revirar mais uma vez. Era o mesmo número do meu
aniversário. Ignorei e guardei o celular. Ouvi um carro parar na entrada e respirei fundo, tocando
minha cintura.
Quando a porta se abriu, meu ar foi tomado e devolvido tão rápido quanto um carro em
corridas. Meu coração apertou com seu sorriso e meu estômago esfriou.
— Você está perfeita, Lótus. — Romeo andou até mim e segurou minha mão. Quando ele
beijou o dorso dela, eu sorri, encantada e apaixonada.
— Você está lindo.
E ele estava. Seu terno era preto e seu rosto quadrado era tão forte que eu desejei ser como
ele. Forte.
Romeo beijou meus lábios e nós saímos de casa.
Quando chegamos ao hotel onde aconteceria a festa, Romeo me guiou pela cintura e eu sorri
ao ver nossa família reunida em uma mesa.
— Sente-se — Romeo pediu quando chegamos e ele puxou uma cadeira.
— Olá, cunhada. — Matteo ergueu a taça de champanhe.
— Olá, Matteo.
— Você está linda. — Ele piscou.
Romeo relaxou na cadeira, olhando para os lados.
— Cale a boca antes que eu arranque seus olhos — meu marido falou com firmeza.
Matteo só riu e ergueu as mãos.
— A festa ficou linda — Lake murmurou enquanto olhava ao redor e eu fiz o mesmo.
O salão estava decorado com flores vermelhas e brancas, com adornos de cristal espalhados.
As cadeiras e mesas transparentes. Tão sofisticado que me encheu de orgulho.
— Fizeram um bom trabalho. — Romeo apertou minha coxa por baixo da mesa e eu sorri,
feliz.
Alguns garçons se aproximaram para nos servir e o meu sorriso caiu quando o cheiro doce e
pungente atacou meu nariz. Ergui meu rosto ao ver uma mulher colocando champanhe na minha taça.
Meu corpo virou pedra. Quando olhei para Romeo, ele estava encarando o seu irmão, porém a
mesma tensão espalhada por mim, estava por ele. Meu coração já abatido virou pó. O vômito parou
em minha garganta e eu me ergui.
— Com licença — pedi aos outros e andei rápido para o banheiro.
O chão limpo do banheiro não estragou meu vestido quando me abaixei, vomitando nada além
do bolo que eu tinha feito hoje pela tarde. Meus olhos arderam e eu lutei contra as lágrimas. Era ela.
Era ela a mulher que ele encontrava.
Baixei a tampa do vaso e me sentei em cima, enxugando os cantos da minha boca com papel.
Ouvi a porta abrir e os passos decididos no banheiro me disseram o suficiente.
— Você está bem? — Romeo questionou do outro lado da porta, fazendo com que eu fechasse
olhos.
Mostre a ela o que acontece quando ela mexe com algo que pertence a você.
— Sim. — Forcei minha voz a sair e me ergui, abrindo a porta do reservado.
— Você tem certeza? Podemos ir ao médico. Seus exames não deram alterações além das
drogas, mas pode estar havendo outra coisa...
Olhei para os olhos azuis nublados e a preocupação neles me fez questionar tudo. Suas
traições, suas mentiras, seu amor. Se ele se preocupava tanto comigo, por que a visitava?
— Estou bem. Não se preocupe — eu disse de maneira firme.
Romeo acenou, tocando minha cintura. Eu me sentia queimando enquanto ele me guiava para
fora do banheiro e de volta para a nossa mesa. Tentei controlar meus olhos enquanto procurava a
mulher pelo salão. Romeo me observava de perto, ainda parecendo preocupado. Fingi um sorriso e
voltei para o meu lugar.
— Você está bem? — Sienna e Lake perguntaram ao mesmo tempo.
Só acenei e engoli em seco.
O jantar foi servido e eu vi a mulher mais uma vez. Porém, dessa vez ela me olhou nos olhos.
Ela me viu olhando para ela e seu olhar de choque seria o bastante para confirmar, se o perfume já
não fosse.
— Precisamos cumprimentar algumas pessoas — Romeo disse ao se levantar.
Rocco fez o mesmo e Sienna o seguiu, porém fiquei parada.
— Posso ficar? Ainda não me sinto cem por cento — menti enquanto o encarava.
Romeo voltou a sentar e tocou meu rosto.
— Vou levar você ao médico.
— Amanhã — declarei, sabendo que discutir agora não era o adequado. Amanhã eu
inventaria algo.
— Ok. — Romeo se ergueu e se afastou enquanto Matteo, Prince e Lake continuavam na
mesa.
Me movi devagar e minha mão bateu na taça de Romeo, respigando sobre mim.
— Oh, droga — murmurei e me levantei. Suspirei ao ver as gotas em meu vestido. — Vou
limpar meu vestido — avisei a eles, colocando o guardanapo sobre a mesa.
Os três acenaram e eu saí devagar, caminhando entre as pessoas. Me virei lentamente e vi que
meus cunhados estavam conversando e não olhando para mim. Apertei minha mão e olhei ao redor,
encontrando a mulher de perfume infame entrando em uma porta. Caminhei enquanto sorria para
algumas pessoas e entrei na mesma porta.
— A entrada...
Sua voz cessou quando ela se virou e me viu. Seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu,
mas não produziu nenhum ruído.
— Qual o seu nome? — Minha voz soou baixa, controlada.
— Senhora...
— Eu não vou perguntar de novo — eu a interrompi agressivamente, fazendo-a estremecer
devagar.
— Katalyna.
— Desde quando?
— Lunna...
Minha mão foi antes que eu sequer pensasse a respeito. Katalyna segurou seu rosto enquanto
minha palma ardia do tapa.
— Não diga meu nome. Responda à pergunta.
— Dias depois do casamento de vocês. Mas não é...
— Eu cresci na Cosa Nostra, Katalyna. Aprendi algumas coisas sobre casamento dentro dela,
e uma delas é que não devo esperar lealdade do meu marido. Mas espero, porque eu o amo, apesar
de tudo. — Dei um passo em sua direção e fiquei frente a frente com ela. — E vou matar você na
próxima vez que eu souber que você tocou nele.
— Isso é...
— Farei e vou amar ver a vida se esvair dos seus olhos — eu disse pausadamente, sentindo a
fúria latente crescer e transbordar. — Sabe quantas noites eu senti você nele? Quantas lágrimas você
e ele me fizeram derramar?
— Senhora Trevisan, eu...
— Prometo que vou matar você se ousar ficar a um metro dele.
Katalyna acenou, desistindo de falar, então me afastei devagar, deixando-a acuada no canto
como a rata que ela era.
Eu a procurei entre as pessoas, meus punhos cerrados. Ela não estava em nossa mesa, eu
sabia que algo estava errado. Lunna estava estranha. Não queria pensar que ela sabia que Katalyna
estava aqui.
— Ela foi ao banheiro — Lake disse quando me aproximei da mesa, procurando Lunna.
— De novo? — Sienna franziu as sobrancelhas ao se sentar ao lado de Rocco.
— Ela derrubou champanhe no vestido — Lake continuou esclarecendo nossas dúvidas.
Olhei para o banheiro e o cabelo escuro apareceu quando a porta foi aberta, então relaxei.
— Ei. — Lunna me olhou e sorriu devagar, me fazendo respirar aliviado.
— Enxugou o vestido?
— Tentei meu melhor. — Ela riu para Sienna e nos sentamos.
Procurei Katalyna entre as pessoas, porém não a encontrei. Algo estava errado. Eu queria
torcer seu pescoço pelo atrevimento ao vir trabalhar aqui, hoje. Numa festa da Outfit. Ela pagaria
pelo seu desrespeito.
— Está tudo bem? — Lunna perguntou ao me encarar. O brilho nos seus olhos me deixou
inquieto.
— Sim.
— Quem está procurando? — Quando olhou no fundo dos meus olhos, fiquei ciente que ela
sabia.
— Ninguém. Estou observando as pessoas. É aberto, perigoso demais — falei o que era
verdade. Lunna continuou me encarando. — Você a viu.
— E você quer vê-la.
— Não existe mais nada. — Fui firme ao dizer.
Lunna sorriu, tão diferente dela. Da sua aura bondosa e inocente.
— Se existisse, você me perderia em um piscar de olhos, Romeo — Lunna prometeu ao me
encarar e ergueu o queixo em um atrevimento que nunca vi ou percebi.
— O que está falando?
— Eu iria embora. Sairia da sua vida tão rápido que você não saberia.
— Eu nunca a deixarei ir. — Me inclinei e apertei sua coxa com força, fazendo-a trincar os
dentes. — Me mate antes. Porque se sair, prometo que caçarei você nos quatro cantos da merda desse
mundo.
Lunna engoliu em seco e eu toquei seu pescoço.
— E você sabe que eu a encontraria.
Lunna se afastou e não falou mais nada.
Agora eu tinha mais um motivo para matar Katalyna.
— Você acha que essa porta vai me manter longe? — perguntei, tocando na madeira enquanto
ouvia Lunna dentro do seu quarto antigo.
Seus passos soaram devagar e eu sabia que ela estava em frente à porta.
— Abra essa merda, Lunna!
— Por quê?
— Por que o quê? — perguntei, apertando meu punho, irritado com essa merda toda.
Voltamos para casa há uma hora, e desde então ela subiu e se trancou aqui. A festa foi boa
para todos, menos para mim. Lunna me manteve longe.
— Por que não me quis antes? Por que me traiu com aquela mulher? Por que me tratou com
tanta indiferença em todos esses anos? Eu não consigo entender. Apenas hoje eu realmente parei para
pensar. Precisa ter um motivo, Romeo. Porque eu não acredito que você fez isso por pura maldade.
Não comigo, entende?
Meu peito apertou tão forte quanto meu punho. Fechei meus olhos e encostei a testa na
madeira que me separava dela. O que ela diria? O que Lunna faria ao saber de tudo?
— Não posso — murmurei devagar. O soluço que cortou sua respiração me fez socar a porta.
— Abre.
— Me deixe sozinha — ela implorou, chorando.
Balancei a cabeça. Não faria isso. Eu nunca mais a deixaria sozinha.
— Se afaste da porta porque eu vou atirar.
Puxei minha arma e apontei para a maçaneta. Escutei Lunna abrindo a porta e coloquei a arma
na cômoda ao lado da porta ao entrar.
— Pare com as mentiras. Diga-me a verdade. Eu preciso dela.
— A verdade pode doer, Lunna.
— Que doa! Eu não me importo com dor, porque é tudo que sinto desde que me casei com
você! Você me machuca mais que qualquer pessoa no mundo e eu ainda continuo te amando. E eu me
pergunto o porquê. Eu gosto disso? Das suas traições e mentiras?
— Lunna, pare com isso. Katalyna não é ninguém, transei com ela antes, não agora. Eu quero
só você.
— Você acha que sou idiota? — Lunna piscou, apertando o vestido que desejei tirar do seu
corpo hoje.
— Não. Eu acho você inteligente e incrível.
— Então pare. Me diga o motivo, só isso que quero.
— Somos maiores que essa merda. Não vou contar. Você é minha, Lunna. Minha e eu nunca
vou deixar você me afastar ou fugir. Nunca mais vou permitir que durma uma noite longe de mim.
Nem mesmo a você.
— O que ela fazia lá? — Sua voz abrandou, mas sua postura continuava na defensiva.
— Eu não sei. Não falei ou me aproximei dela.
— O que ela é para você? Não minta para mim, por favor — Lunna pediu enquanto lágrimas
desciam pelo seu rosto.
— Nada...
— Não minta! — minha Lótus gritou e levou a mão à boca enquanto chorava.
— Ok, Lunna. — Engoli em seco e ela piscou, esperando. — Katalyna me ajudou com
problemas. Coisas que eu guardava dentro de mim. Que ainda guardo.
— Você confiou suas dores a ela? — A mágoa na sua voz era maior agora que no dia em que
ela descobriu que eu a traía.
— Sim.
— Não a mim, sua esposa.
— Não é disso que isso se trata — falei rapidamente.
Lunna acenou e caminhou para longe.
— É exatamente disso que se trata. — Ela me deu as costas e abraçou a si mesma. — Eu
preciso dormir. Amanhã temos que chegar cedo à mansão.
Ela entrou no banheiro e eu ouvi seus movimentos enquanto lutava contra minha necessidade
de a ter. Perdi a batalha e saí do seu quarto, me sentindo tão fracassado quanto no dia em que minha
mãe foi morta.
Andei até meu escritório e peguei o celular. Parei em frente à janela e olhei para o lago
Michigan. Muitos diriam que era um erro morarmos próximo a ele. Nossos inimigos poderiam vir
por ele e atacar sem percebermos. Porém, não éramos idiotas. Rocco tinha mais poder nessa cidade
que o próprio prefeito. Ninguém ultrapassava o limite que colocávamos.
Ele estava completamente congelado e a neve estava amena, caindo devagar. Ouvi a chamada
começar e virei a garrafa de uísque no copo. Levei o vidro aos meus lábios e esperei.
— Eu juro que não falei nada — Katalyna falou rápido assim que atendeu.
— Como?
— Quando ela me encurralou na sala dos funcionários. Eu juro, Romeo, não falei nada.
— Ela... — Parei, apertando o copo e respirando fundo. Porra. — Eu quero que você esqueça
que ela e eu existimos. O que estava fazendo lá, aliás?
— Eu queria vê-la. — Sua voz era baixa, fraca e medrosa.
— Para que, porra? — gritei, querendo socar algo.
— Ver com meus olhos o quanto ela é perfeita. Para você. Vocês combinam. — Ela se
engasgou no meio da fala.
— Katalyna, nunca mais se aproxime.
— Por quê? Você me amava...
— Que merda você está falando? — rugi impacientemente e andei para a minha mesa.
— Ela tomou você de mim, não o contrário. Sua casa deveria ser minha, e você meu! Por que
se casou? Você sempre me teve...
— Escuta a merda que está falando! Nunca existiu isso. Éramos amigos. Só isso.
— Eu sempre o amei. Cada pedaço de mim é seu.
— Eu não quero.
— Eu sei. E eu a odeio por fazer você amá-la.
— Nunca mais quero você no mesmo lugar que ela. Saia da cidade, vá embora. — Fui firme
enquanto apertava o celular. — Se eu voltar a ver você, não vai ser bonito.
Katalyna soluçou na linha e eu encerrei a chamada. Ondas de dor dispararam pelas minhas
têmporas e eu apertei meus dedos contra elas.
Observei, sentado na poltrona, ela sorrir e desfazer o embrulho prata com fitas vermelhas.
Lake gritou quando tirou um celular novo e se jogou nos braços de Prince, agradecendo-o.
— Oh meu Deus! — Sienna puxou uma gaiola dourada e pequena de dentro de uma caixa
vermelha. Seus olhos brilharam e eu vi o pássaro branco na portinha.
Ele poderia voar se quisesse, mas ele permanecia na porta.
— Obrigada. — Ela fungou e olhou para Rocco enquanto ele sorria de lado.
Voltei a encarar Lunna e ela sorriu ao pegar um livro mais grosso que meu punho de dentro da
caixa prateada. Seus olhos brilharam e ela começou a folheá-lo.
— Não tem nome — ela disse, virando a caixa antes de seus olhos encontrarem os meus. Não
falei nada, mas Lunna lambeu seu lábio, umedecendo-o. — Obrigada. Eu amei.
Acenei, ainda distante, e Lunna continuou abrindo seus presentes. Ela parecia uma criança a
cada embrulho aberto, e eu jurei comprar presentes e mais presentes para ela.
— E este? — Lake pegou uma caixa maior e abriu devagar, rindo para a gente.
Quando ela abriu a caixa, seu grito estridente me fez pular e Rocco correr. Assim que olhei
para a caixa, meu corpo virou pedra. A cabeça de Poliana estava ali. Me virei e olhei para Lunna,
vendo-a se aproximar. Puxei-a para mim e escondi seu rosto em meu pescoço.
— Tire isso daqui — gritei furioso e Rocco se moveu rapidamente.
— O que é? O que foi? — Lunna se debateu em meus braços enquanto eu a segurava com
mais força. — Me solta! — ela gritou apavorada e pisou com uma força surpreendente no meu pé. Eu
a soltei por reflexo e ela correu até Rocco.
Quando suas mãos abriram a caixa, os joelhos de Lunna despencaram no chão. Seu olhar
ficou vazio e seu grito cortou o silêncio. Ela levou a mão aos lábios e gritou de novo. Lunna vomitou
em si mesma enquanto eu a puxava para mim de novo.
— No, no, no. Mamma! Mamma! — Lunna gritou, chamando uma e outra vez pela mãe. —
Mamma. Mamma, per favore. — Sua cabeça entrou em meu pescoço e seu choro foi substituído por
soluços que partiram meu coração.
Nunca imaginei que a dor de alguém pudesse me partir ao meio. Eu estava errado.
— Sinto muito — murmurei diversas vezes em seu ouvido, enquanto ela continuava a chorar.
Olhei para a minha família e vi Rocco com o celular no ouvido, Sienna e Lake chorando
juntas, e Prince e Matteo parados no canto, olhando para o chão.
— Foi ele. — Lunna se afastou devagar e me olhou, com lágrimas não derramadas. — Ele a
matou. Mas por quê? Por que ele faria isso? — Suas palavras embolaram enquanto ela continuava se
questionando.
— Vou descobrir, e no dia eu vou trazê-lo para você.
— Eu vou matá-lo. — Sua voz ficou firme.
— E eu vou segurá-lo para você — afirmei, segurando o seu rosto.
Lunna acenou, seu queixo tremendo, então a puxei para mim mais uma vez. Subi com ela para
o meu antigo quarto e tirei sua roupa enquanto ela ficava quieta, olhando para suas mãos. Ajudei
Lunna a entrar na banheira e fiquei de pé observando-a.
Observei-a colocar o queixo nos joelhos e fechar os olhos com força.
— Não queria que você tivesse visto — falei sob sua respiração lenta. — Aquela imagem.
Ela sempre vai te acompanhar, sei dessa merda porque todos os dias eu vejo minha mãe morta no
chão. O sangue consumindo tudo.
Lunna fungou e me olhou, seus olhos azuis vívidos e grandes que engoliam meu mundo.
— Não acredito que isso aconteceu. — Ela capturou uma lágrima que desceu sobre seu lábio
e fechou os olhos. — Mia madre. La mia vita.
— Ele vai pagar, Lótus. Prometo.
E eu honraria minha promessa.
Quando desci, Rocco já havia tirado a caixa da sala. Lunna dormiu e eu queria mantê-la
assim até que eu pudesse entregar seu pai fodido. Carmelo pagaria com a vida.
— Por que ele fez isso? — Rocco estava em frente à janela do escritório quando entrei.
— Não sei, mas vou descobrir.
— Nós descobriremos — meu irmão disse ao se virar.
— Esperamos tempo demais. — Apertei meus punhos. — Se o tivéssemos matado no dia do
casamento, Poliana estaria viva e Lunna... porra, minha mulher estaria bem, não dopada de dor.
— Não é culpa sua. Nada nessa merda é.
— O que eu faço com ela? — Baixei minha voz, desesperado.
— O tempo vai amenizar a dor dela. — Rocco respirou fundo. — Amenizou a minha,
amenizou a sua e dos nossos irmãos. Minha mãe, Violetta e Poliana não mereciam isso. As mulheres
em nosso mundo são usadas como merda. Isso vai acabar dentro da Outfit.
Assim que cheguei a minha casa na manhã seguinte, entrei no banheiro e deslizei a mão pelo
meu cabelo ao me olhar no espelho. Pálida, olhos fundos e roxos, bochechas sem vida ou cor.
Fraca.
Destruída.
Mamma. Fechei meus olhos e os abri tão rápido quando pude. A imagem da sua cabeça
dentro daquela caixa de presentes me acertou no estômago e eu me curvei, ficando de joelhos. O
vômito saiu e eu continuei no chão, sentindo lágrimas e mais lágrimas me cegando.
Peguei o celular na bancada e disquei seu número. Nunca liguei para ele. Nunca perguntei por
ele. Nunca falei que o amava. Eu só o deixei para trás.
— Como aconteceu? — Minha voz soou e eu funguei.
— Eu sinto muito. — Sua voz firme e controlada me deixou à beira do desespero. — Ele a
pegou com um dos soldados.
— O quê? — gritei, tocando meu peito.
— Sua mãe estava com um dos soldados, Lunna. — Mariano esclareceu.
— Não, não estava! É mentira! — berrei, sufocando. Mariano ficou em silêncio por um longo
tempo. — Mari... diga que é mentira.
— Não é. Eu estava lá. Ela merecia ser amada, Lunna, e ela teve isso antes. Ela não sofreu. O
soldado a matou e se matou em seguida. Ele sabia que Carmelo a faria sofrer.
— O quê? — minha respiração parou.
— Ele a salvou do sofrimento — Mariano continuou. — Apenas isso. Seu pai a torturaria,
você sabe disso tão bem quanto eu.
— Sei, sei — eu me apressei em dizer e escutei seus sapatos no chão, percebi que meu amigo
se moveu. — Por que ele enviou a cabeça dela para mim? — Minha voz estremeceu, mas consegui
dizer.
— Você não viu o bilhete?
— Que bilhete? — questionei, tremendo.
— Ele quer ela. Foi um aviso. Ele a quer.
— Ela quem?
— Lake — Mariano esclareceu.
Eu fiquei parada, no chão frio do banheiro.
— Por quê? Ela é uma criança... meu pai nem a conhece...
— Seu marido não contou porra nenhuma a você, caralho? — Mariano gritou, mas sua fúria
era dirigida a Romeo, não a mim. Ele o odiava.
— Mariano, diga.
— Ela é filha de Carmelo. Lake é uma Bianchi.
Meus olhos se arregalaram e eu escutei meu coração batendo em meus ouvidos tão alto
quanto o som de uma bateria acústica.
— Você...
— Lake é sua irmã, Lunna — Mariano disse em um suspiro antes de eu o ouvir bater em algo.
— Carmelo estuprou Violetta quando a sequestrou anos atrás. Ele a enviou grávida para Ettore.
— Não! — gritei, me erguendo. Mariano ficou em silêncio. — Ele não, ela não... Lake...
— Seu marido é um filho da puta. Esse casamento, essa merda dos Trevisan aqui. Tudo foi
um plano. Tirar a filha de Carmelo, matá-la e devolver a pancada.
— Mas Ettore concordou com o casamento. Ettore foi até a nossa casa. Ele e papai deram as
mãos em acordo. Como ele ousou fazer acordo com o homem que havia estuprado sua esposa?
— Ettore não ligava para Violetta. Ela era apenas seu forno para crianças. Ninguém sabia da
existência de Lake até o dia em que ela foi apresentada. Seu pai soube dela e ele a quer.
— Ele não a terá! Ela é uma criança, não tem culpa!
— Ela é filha dele e ele tem direito de tê-la sob seu teto. Você sabe disso.
— Ele vai ter que passar por cima de mim para pegá-la.
— Eu vejo que sim. — Ouvi o som do vento na ligação e eu sabia que Mariano havia saído
de casa. — Não me ligue novamente.
E ele desligou.
Me sentei no vaso sanitário e olhei para os meus dedos. A aliança estava ali, brincando
comigo. Se divertindo. Era por isso?
Romeo me traiu, me afastou e me fez sofrer por causa do meu pai? Do que ele fez com a mãe
dele? Funguei, lutando contra as lágrimas, e fechei os olhos. Ele me odiava, queria me punir. Esse
sempre foi seu plano?
Ouvi seus passos no nosso quarto e me ergui. Joguei água em meu rosto e enxuguei em
seguida.
— Lunna? — Sua voz rouca, forte e paciente me fez tremer suavemente.
— Estou saindo — murmurei me olhando no espelho. Prendi meu cabelo no alto da cabeça e
saí, segurando minha camisola entre meus dedos.
— Com quem estava falando? — Ele se aproximou devagar e tocou meus ombros. Fiquei
rígida por um segundo, mas me forcei a relaxar.
— Mariano.
— Um dos capos de Nova York? — Romeo se afastou, semicerrando os olhos.
Engoli em seco e caminhei pelo quarto até a janela.
— Você esconde segredos de mim, Romeo? — A pergunta direta saiu e eu me virei, olhando
sobre meu ombro. — Seja honesto.
— Não existe uma pessoa no mundo que não tenha segredos. — Ele me encarou sério e eu
ergui meu rosto, olhando diretamente para ele.
— Você planejou me matar? — A pergunta o fez tensionar seu olho levemente.
— Eu nunca, jamais pensei nisso. — Suas palavras me fizeram acreditar nele. Mesmo depois
de um lago de mentiras, acreditei nele.
— Por que se casou comigo?
— Ettore fez esse arranjo.
— Você sabia que meu pai tinha ferido sua mãe? Você me odiou por isso? — Pisquei,
afastando as lágrimas para poder ver Romeo. Seu rosto se contorceu por um segundo, mas logo sua
máscara fria voltou.
— Eu soube um dia antes do nosso casamento.
— E se casou mesmo assim.
— Você cresceu na máfia, Lunna. Temos nossos deveres. Eu fiz o que era meu dever.
— Comigo, Romeo! Filha do homem que sequestrou, estuprou e engravidou sua mãe. Você se
casou comigo! — gritei, parando de fingir que eu estava calma e bem.
— E eu me casaria novamente, mil vezes, porque você é a única coisa que eu desejo ao
acordar e dormir.
— Pare de mentir! Pare de me enganar!
— Lunna, eu me casei com você porque era meu dever...
— Mentira.
— Ok. Tudo bem. Você quer a verdade, Lunna? — Romeo gritou, saindo da calmaria que
sempre o rodeava. — Meu dever era deixar meu pai longe tempo suficiente para Rocco matar seus
homens e tomar o poder. Meu dever era chegar a Nova York e voltar para casa sem uma esposa. Sem
você. Eu mudei o plano, fiz um novo assim que a vi caminhando em minha direção na igreja. Você era
minha e eu a tomei. O que mais quer saber?
Meu coração saltou e bateu descontroladamente enquanto ele me encarava em silêncio,
respirando profundamente.
— Eu deixei você longe de mim, dos meus irmãos, porque mesmo você sendo minha, ainda é
uma Bianchi. Ainda tem o sangue dele nas suas veias. Eu a quis longe de Lake. Longe de mim.
— Você é egoísta, sádico e cruel. Você me envolveu em uma vida que me sugou, me deixou
num rio de lágrimas e me tirou a felicidade. — Minha voz soou forte, mas ele via minha dor dentro
dos meus olhos. — Romeo Trevisan, você foi o único culpado da minha desgraça.
— Eu nunca disse o contrário. — Romeo sustentou meu olhar e eu balancei a cabeça.
— Saia da casa. Leve suas coisas. Eu não quero te ver.
Romeo deu um passo na minha direção e eu peguei a tesoura que ficava na minha penteadeira.
Coloquei-a sobre meu pulso e o encarei.
— Você sabe que a pegarei antes.
— Sim, hoje sim. Mas e quando eu estiver sozinha? — Minhas palavras fizeram Romeo ficar
rígido. — Eu não tenho nada. Minha mãe está morta. Eu vou me cortar se não sair hoje da minha
casa.
— Lunna.
— Saia.
— Me prometa. — A tensão em sua voz me deixou confiante. — Me prometa que não vai
tentar isso. Prometa, agora!
— Se sair, prometo não me machucar. — Forcei meus lábios a se moverem.
— Estou saindo. — Romeo fechou os olhos acenando.
Quando ele fechou a porta, eu soltei a tesoura e deslizei até despencar no chão.
Quebrada.
Destruída.
Por ele.
Andei na grama verde e bonita dias depois. Flores estavam espalhadas pelo ambiente, e
mesmo que eu dissesse repetidamente que aqui era um lugar que ela descansaria, eu não conseguia
ficar em paz. A imagem daquela caixa ainda estava em mim, cravada dentro do meu coração como
uma faca afiada.
Sienna me enviou uma mensagem dizendo que haviam enterrado mamãe aqui. Pelo menos uma
parte dela. Engoli em seco ao pensar nisso. Eu odiava isso. Odiava o que ele fez com ela e por algo
tão estúpido.
Me ajoelhei em frente ao túmulo bonito e cheio de flores. Meu coração destruído ficou
apertado quando li as palavras que havia na lápide.
Poliana Bianchi
Uma mãe amorosa.
Nada além.
Mamãe era mais que amorosa. Ela sempre foi meu porto seguro. Seu sorriso iluminava meus
dias. Ela sempre foi a única pessoa em quem eu podia confiar.
Minha força.
Minha metade.
Não apenas meu coração estava partido. Eu estava assim. Me sentia sozinha mais do que
nunca. Mais do que no dia que pus os pés em Chicago. Porque naquele momento eu ainda a tinha pelo
celular, ainda a tinha em meu dia a dia.
Agora tudo havia mudado.
E eu odiava o motivo para isso.
Mariano foi firme ao falar o motivo e eu nunca duvidaria dele. Mamãe amava outro homem. E
ele a salvou da crueldade do meu pai, a salvou de dias de tortura. Ele a amava também. Eles tiveram
um amor trágico, e por mais que eu ainda queira com todas as minhas forças minha mãe comigo, eu
era grata ao homem. Ele a poupou de uma dor que nem mesmo homens feitos aguentariam calados.
Eu sabia que meu pai era cruel. E eu o odiava profundamente.
— Quando você me prometeu que Romeo me amaria um dia, eu não duvidei. Nunca, mamãe
— murmurei, tocando sua lápide e me inclinando. — Quando você disse que ele seria um homem
bonito, eu também não duvidei. Eu poderia dizer mil coisas, e nenhuma delas seria verdade, e hoje eu
quero dizer coisas que a fará não duvidar de mim. Então, mamma, mi madre, mi amore, eu vou te
amar até meu último suspiro. Vou dizer aos meus filhos o quanto você os amaria e o quanto sua
partida me tirou o chão. Nunca vou te esquecer. Você é minha vida, meu coração, e eu sei que vou te
ver novamente. E você vai amar meus filhos como seus, porque é assim que você é. Com um coração
gigante, sempre disposta a amar todos.
Meus soluços ficaram altos e eu ouvi passos ao meu redor. Eu sabia que eram meus
seguranças. Tentei me erguer e falhei. Um deles me ajudou e eu solucei mais forte. Chorei por longos
minutos e deixei que eles vissem minha dor. Deixei que eles vissem minha fraqueza. Porque abaixo
de nós estava minha mãe.
Eles amavam a deles. Poderiam mensurar minha dor. Eu tinha certeza.
Seu rosto oval, seus olhos cinza e seu cabelo castanho me deixaram parada por um longo
tempo. Nunca olhei para ela com tanta atenção quanto agora. Procurei em cada canto algo que nós
duas tivéssemos em comum. Ela piscou lentamente e uma lágrima fujona deslizou pela sua bochecha.
Eu quis enxugar, mas não me movi.
— Me desculpe — Lake pediu, engolindo em seco. Respirei fundo, apertando o vestido preto
entre meus dedos. — Você está bem? — ela perguntou ao se aproximar, deixando-me rígida.
— Por quê? — implorei por uma explicação, mas Lake olhou para o chão.
— Você tinha tanta coisa na cabeça com Nikolai. Eu não queria sobrecarregar você com mais
peso...
— Você é minha irmã.
— Sim. — Lake piscou mais uma vez e mordeu o lábio. — Eu o odeio. Por tudo.
— Eu o odeio também — murmurei e ela se encostou na ponta da cama.
— Sinto muito por sua mãe, Lunna. Ela não merecia isso.
— Eu também sinto muito pela sua.
Lake se aproximou até se sentar diante de mim. Sua mão procurou a minha e eu apertei seus
dedos, tremendo e lambendo meus lábios ressecados.
— Romeo não quis...
— Não — eu a interrompi com firmeza e olhei para a janela. — Eu não quero falar sobre o
seu irmão.
— Meus irmãos, todos eles, têm feridas criadas única e exclusivamente por meu pai. Por
Ettore. Eles não são homens comuns, Lunna. Eles não pedem desculpas, eles fazem o que querem e
matam quem se coloca no caminho deles. Eu nunca vi Romeo cair. Nunca. Ele nunca mostrou
sentimentos diante de mim. Porém, quando viu aquela caixa, eu enxerguei um homem que estava
apavorado. Com tanto medo que senti entre meus dedos.
“E era por você. Do que aquilo faria a você. Não por ele. Não por ninguém, ele queria
proteger seu sono, sua paz e a imagem da sua mãe. Meu Romeo, meu soldado mais frio e
impenetrável, desabou por você.”
Lake tocou meu rosto e eu percebi as lágrimas banhando minha pele.
— Ele te ama mais que o ar que ele respira. Você é tudo que ele tem ou quer. Não faça isso
com vocês.
— Ele me enganou por anos, me traiu várias vezes. Ele ouvia meu choro à noite. Ele sabia o
quanto eu me corroía por dentro cada vez que pegava suas roupas e o cheiro de outra estava nele.
Romeo me despedaçou por três anos. Eu não aguento mais. Não tem mais nada dentro de mim para
ele rasgar. Eu estou oca.
Lake se jogou em meus braços e me abraçou com tanta força que eu me deixei chorar nos
cabelos dela. Molhando sua roupa e sua pele. Minha irmã, meu sangue, minha menina.
Eu a protegeria de tudo e todos.
Principalmente de Carmelo.
— Sienna quer te ver — Lake avisou assim que nos afastamos.
— Mande-a vir. Eu realmente preciso de um tempo longe do seu irmão.
Lake deixou seus ombros caírem e eu toquei seu rosto.
— Eu amo você, Lake. Todos vocês, mas você... sempre senti uma cordinha me puxando em
sua direção. — Sorri ao vê-la sorrir também em meio a lágrimas. Quando ela me abraçou de novo,
eu a apertei.
Lake se despediu de mim e eu olhei pela janela enquanto Prince e um soldado entravam em
um carro. Me deitei em minha cama e abracei meu travesseiro. Tentei não ver a imagem daquela
caixa, mas ela continuava a me atormentar.
Meu celular vibrou entre meus dedos e eu abri a mensagem.
Sinto muito por sua mãe. Se tiver algo que eu possa fazer, me avise.
S.R.
Eu não precisava pensar, as siglas eram o bastante. Salvatore.
Bloqueei o celular e não o respondi. Não queria mais confusão. Não queria mais mortes ou
sangue. E eu sabia que se Romeo soubesse disso, ele o mataria. Ele prometeu.
Continuei lutando contra meu sono, e quando enfim adormeci, a cabeça dentro da caixa de
presentes não era da minha mãe.
Era a de Lake.
Andei pela sala sem som enquanto Rocco torturava um dos homens da Bratva que havia
entrado aqui. Não tínhamos tido informações daqueles filhos da puta desde que matei Nikolai.
Ninguém ligou ou fez ameaças a Outfit. Até ontem.
— Quem mandou você? — Rocco perguntou pela milésima vez antes de enfiar uma agulha
longa embaixo da unha do homem. Lentamente. O soldado ficou rígido, mas não se moveu. — Quem
mandou você? — meu irmão perguntou devagar e bateu um dos dedos na agulha, fazendo o homem
gritar.
— Você gosta — eu disse, me aproximando e pegando uma agulha nova. Levei a ponta até seu
olho e ele se assustou. A ponta fina entrou na carne e ele gritou de novo, tremendo. — Responda! —
gritei, deixando a agulha dentro do seu olho.
— Eu falo! Eu falo! Tira! — ele berrou e eu o fiz.
— Fale — ordenei, vendo o sangue deslizar pelo canto do olho e molhar seu peito.
— O novo chefe. Ele queria que eu levasse a menina de Nikolai.
— Você errou de cidade. Não tem ninguém aqui que pertence a Nikolai — Rocco falou ao se
aproximar.
Soquei o rosto do homem, fúria nadando em minhas veias.
— O nome do novo cara no comando. Fale.
— Mikhail. Ele é irmão do Nikolai — o homem falou cuspindo sangue e fechou os olhos. —
Virão outros.
— E eu vou matar todos.
Rocco tirou a arma do cós e atirou no homem. Eu não me mexi.
— Vou ligar para Mikhail. Que merda de nome é esse? — Meu irmão e eu andamos para fora
da sala.
— Para quê?
— Você acha que vou esperar esses merdas aparecerem aqui? — Rocco me encarou, confuso.
— Esse merda quer algo. Faremos um trato, a merda de um casamento, o caralho que for, mas não
vou permitir Russos no meu território.
— Casamento? Que merda, Rocco?
— Casamento é sempre a merda que tira a máfia de guerra.
— Todos terminaram em guerra do mesmo jeito. E quem diabos se casaria com um russo?
Lake? Nem pela merda do meu cadáver.
— Você acha que estou ficando fraco? — Meu irmão foi sucinto e me encarou com seriedade.
— Não.
— Porque, Romeo, eu estaria no cais esperando a porra da Bratva, Cosa Nostra e até os
fodidos da Camorra se eu não a tivesse. Eu quero ter filhos, quero vê-los crescer, então se tenho que
ligar para um filho da puta e dizer que quero a porra da paz para isso, foda-se, eu irei.
— Então Enrico Bellucci é nosso destino.
— De todo homem feito.
Segui meu irmão para fora e me separei dele depois de nos limparmos. Dirigi por um tempo e
a vi na esquina quando parei no estacionamento. Vestido justo, casaco grosso e meia-calça. Eu fiz
isso com ela.
— Entre — ordenei assim que o carro parou ao seu lado.
Katalyna abriu a boca e voltou a fechá-la antes de fazer o que mandei.
Dirigi até um hotel e entrei com ela. Katalyna se sentou na cama e mordeu o lábio enquanto
me observava tomar uísque.
— Tem dinheiro e uma passagem aérea no envelope — eu disse, estendendo o papel pardo.
Katalyna o pegou, porém não abriu. — Foi um acordo que ambos concordamos.
— Eu sei.
— Não volte a Chicago. Viva sua vida. Procure alguém e construa uma família. Você merece
isso, Katalyna — falei a verdade, me encostando na parede.
Conheci Katalyna aos quinze anos. Ela tinha treze e era uma menina simples, filha de um dono
de bar. Ela era amigável e não fazia perguntas. Quando me casei, a dor de perder minha mãe me
sufocou e eu precisava contar sobre os pesadelos, visões diárias e a vontade de me entorpecer.
Na primeira vez que transamos, eu sabia que era um erro. Porém voltava cada vez que o
desejo por Lunna alcançava um pico maior. Eu era sujo, um cretino, Lunna merecia algo melhor. Eu
sabia.
Katalyna sempre me recebeu, bem disposta, sedenta pela minha atenção, eu deveria saber que
ela nutria sentimentos. Não soube e eu destruí duas mulheres.
— Espero que ela o faça feliz. — Katalyna engoliu em seco e eu vi as lágrimas em seus
olhos.
— Ela já faz.
Eu saí e deixei Katalyna, minhas mentiras e traições para trás.
Quando cheguei à mansão tudo estava claro. Entrei na sala de jogos e parei ao ver Sienna e
Lake no celular. Elas falavam olhando para a tela, eu já sabia quem era antes de ouvir sua voz.
— Eu fiz macarrão com queijo. Posso mandar um dos soldados levar.
Fechei meus olhos ao ouvir a voz dela. Fazia uma semana desde que a vi pela última vez. Eu
queria vê-la sem ser pelas câmeras de segurança, mas isso era tudo que eu podia ter.
— Você está pálida. Está comendo bem? — Sienna perguntou.
Eu fiquei rígido. Daqui eu não conseguia ver o celular e eu senti a urgência atravessar meu
corpo.
— Eu... sim. Eu vou à farmácia amanhã. Acho que preciso de vitaminas — Lunna respondeu
de prontidão, me fazendo relaxar um pouco.
— Por que não vem para cá? Eu realmente não gosto de saber que você fica sozinha aí —
Lake pediu, sua voz baixa.
— Os soldados estão aqui. Não se preocupe.
— Tem certeza? — Sienna reforçou e eu ouvi a respiração longa de Lunna.
— Eu... vocês podem vir aqui amanhã? Quando eu voltar da farmácia...
— Claro. Você está bem mesmo?
— Estou com medo de uma coisa. Muito medo, mas não quero falar por telefone — Lunna
falou rápido e eu apertei a mão. Droga.
— Estou preocupada agora — Lake disse, eu sentia o mesmo.
— Não fique. É só... — Lunna parou de falar e eu sabia que ela estava mexendo no cabelo.
— Amanhã. Prometo.
Sienna suspirou e eu me afastei quando elas encerraram a chamada. O que Lunna tinha? A
preocupação me perturbou durante o resto da noite, e quando me ergui da cama, ainda de madrugada,
calcei meus tênis.
Corri porta afora e os soldados acenaram ao me ver passar. Corri em direção à minha casa e
parei diante da porta. Os homens que mantinham Lunna em segurança me cumprimentaram e eu abri a
porta.
Subi os degraus devagar e andei tentando não fazer barulho. Sua porta estava fechada e eu a
abri lentamente. Os lençóis brancos estavam espelhados e eu vi Lunna no meio da cama. As tremidas
leves e os gemidos eram tão similares que eu fiquei rígido.
Me aproximei, respirei fundo e baixei meu capuz do moletom grosso.
— Não. Não — Lunna balbuciou enquanto eu via o suor se concentrar em sua testa.
Me arrastei até seu lado e me sentei, tocando sua perna.
— Lunna — chamei, me curvando e tirando seu cabelo do rosto. Procurei o restante do fio e
engoli em seco ao ver que ela o tinha cortado. Antes tão longo que se perdia nos lençóis, agora iam
até seu ombro.
Seus olhos dispararam e ela se sentou rapidamente. Alívio me varreu quando vi que o cabelo
caiu e continuava tão longo quanto antes. Ela tinha cortado apenas os cabelos que adornavam seu
rosto.
— Romeo. — Lunna respirou fundo.
Desci meus olhos por seu colo e parei na blusa branca de botões. Minha.
— Você está bem? — perguntei, sem tocar no assunto.
Lunna molhou os lábios com a ponta da língua.
— Sim. O que está fazendo aqui? Que horas são? — Ela se afastou e puxou o celular que
estava na mesa de cabeceira.
— Ouvi Sienna dizendo que não parecia bem. O que está acontecendo? — questionei.
Ela arregalou os olhos, tensa.
— Não é nada.
— Lunna.
— Não comi direito nos últimos dias. Só isso — ela falou rapidamente. Lunna encarou as
mãos e fechou os olhos. — Você está bem? — Seu olhar azul encontrou o meu e eu toquei sua
bochecha, querendo ardentemente beijá-la.
— Sim — falei e Lunna acenou devagar. — Você quer que eu vá embora?
— Eu deveria querer. — Sua mão tocou a minha antes de se afastar. — Você a viu?
— Quem? — perguntei, porém, antes que ela dissesse, eu já sabia.
— Katalyna.
— Sim — eu disse de uma vez. Lunna se afastou de mim rapidamente e se levantou, enquanto
eu ficava na cama. — Você quer que eu minta?
— Eu queria que não tivesse corrido para ela! Era isso que eu queria. — Sua voz aumentou e
eu fechei meu punho.
— Não foi para isso. — A frustração em meu tom ficou nítida. — Katalyna não era uma puta
que eu pegava na rua, Lunna. Ela era uma amiga, antes de tudo. Antes de nós.
— Eu deveria ir lá e pedir desculpas a ela? — Seu escárnio me fez me levantar e me virar
para ela.
— Não estou dizendo isso. Me escute.
— É melhor não, porque cada frase que você fala, suas palavras me magoam mais e mais. E
estou cansada. Cansada de ser magoada por você.
— Eu não toquei nela. Eu não a quero! — gritei e me aproximei. Lunna andou de costas até
atingir a parede. Eu prendi seu corpo com o meu e lutei contra o desejo de beijar seus lábios. —
Você é minha fraqueza. Você é dona de mim, do meu coração congelado e da minha alma. Eu não
quero ninguém além de você.
— Então, por quê?
— Para dar dinheiro e uma passagem para ela. Quero que ela seja feliz, mas longe da gente.
Da nossa vida — argumentei, tocando seu rosto enquanto ela fechava os olhos. — Você é tudo que
preciso.
— Talvez. — Sua voz ficou fraca e ela mordeu o lábio. — Eu odeio precisar de você para
ser completa. Eu me odeio por continuar te amando mesmo com todos os seus erros.
— Lótus.
— Eu não quero me sentir assim, Romeo.
— Você não quer me amar? — questionei, ouvindo uma fragilidade na minha voz que nunca
presenciei.
— Eu quero me amar antes. Só isso.
Olhei para o lado e me afastei, dando passos para trás enquanto ela continuava parada contra
a parede, então puxei meu capuz sobre minha cabeça.
— Você quer o divórcio? — perguntei, me mantendo ereto.
Seus olhos azuis se arregalaram e o medo dentro deles me deu um pouco de alívio.
— Você nunca me daria.
— Você o quer? — Forcei a pergunta, vendo seu peito subir e descer.
— Você disse que jamais me deixaria ir. Você disse! — ela gritou de volta, desesperada.
— Vou mandar um dos meus advogados falar com você.
— Não se atreva! — ela gritou e se lançou para mim.
Seus punhos bateram em meu peito enquanto ela chorava e se engasgava com os soluços.
Prendi suas mãos e me inclinei, beijando sua boca com força. Lunna parou de se debater e abriu os
lábios, me recebendo como todas as vezes. Soltei seus pulsos e puxei sua cintura contra mim
enquanto provava seus lábios. Enfiei meus dedos em seu cabelo e chupei sua língua em minha boca.
Devagar, nós desaceleramos e eu deixei um beijo pequeno em seus lábios, antes de me
afastar.
— Eu nunca lhe daria o divórcio, Lunna. Você deveria saber.
Deixei-a no meio do quarto, tocando a boca, e saí da nossa casa. Corri até a mansão, tentando
engolir meu sorriso de merda, porém não consegui. Depois de tomar banho, me deitei em minha cama
antiga e me forcei a dormir.
Se Lunna queria que ficássemos longe, então ficaríamos. Porém, eu nunca a deixaria ir. E eu
sabia que ela nunca me deixaria.
Penteei meu cabelo duas vezes antes de sair do quarto. Peguei minha bolsa e desci a escada
sentindo minhas pernas moles. Eu estava nervosa. Eu deveria estar nervosa. O medo estava me
sufocando, e mesmo que eu quisesse, não conseguiria parecer bem.
Entrei em meu carro e vi os soldados que faziam minha segurança entrando em um deles para
me seguir. Passei em frente à mansão, mas não parei. Continuei dirigindo até alcançar a rua. Meus
dedos estavam tremendo e meu estômago revirado. Não queria pensar no que eu estava fazendo. Eu
enlouqueceria se sequer colocasse em palavras.
A minha ida à farmácia não durou muito tempo, logo voltei para a casa. Fiquei de pé em
frente ao espelho no banheiro, olhando para as caixas rosa de várias marcas. Tirei todos os palitos
de dentro e fiz xixi em um potinho. Molhei cada um por cinco segundos e coloquei todos diante de
mim.
Engoli em seco enquanto encarava o relógio de pulso que eu usava, esperando. Meu celular
tocou dentro da minha bolsa, me assustando por um segundo, então fui ao quarto pegá-lo. Atendi a
chamada sem ver quem era e me arrependi instantaneamente.
— Você está bem? — Salvatore perguntou e eu engoli em seco.
— Eu não sei o que pretende, mas me ligar, enviar mensagens e continuar com seus flertes
não vai acabar bem.
— Estou preocupado.
— Você quer morrer? Responda sinceramente.
— Não.
— Então me esqueça! — pedi, batendo o pé no piso, fora de mim. Eu estava com medo dos
testes, de mim e de Romeo. Eu não precisava de Salvatore na equação de merda que minha vida
estava se transformando. — Pare com isso!
— Você acha que eu não quero? — Sua voz ficou alta. Eu fechei meus olhos. — Desde o dia
em que pus meus olhos em você... sua imagem é a única coisa na minha cabeça.
— E ela vai matar você. Estou implorando, pare com isso. Na próxima mensagem ou ligação
eu falarei para Romeo. Ele não matou você ainda, mas ele vai se você continuar. — Puxei o celular
do meu ouvido assim que desliguei a chamada e o joguei na cama, ainda tremendo.
Salvatore queria realmente que Romeo o matasse? Sério? Mordi meu lábio, planejando falar
com Sienna. Eu precisava dela. Salvatore a escutaria.
Respirei fundo e me lembrei dos testes, ficando tensa novamente.
Corri de volta para o banheiro, mordendo minha unha e sentindo minhas pernas virarem
gelatina quando vi os testes positivos na bancada. Deslizei pela parede segurando todos e fechei os
olhos tão apertados quanto consegui. Oh meu Deus.
Grávida.
Pressionei meus dedos contra minhas pálpebras, sentindo meu chão se abrir e os olhos azuis
aparecerem diante de mim. Meu peito doeu, as lágrimas me cegaram e eu solucei.
Nikolai.
Meu choro ecoava pelo banheiro, me deixando doente. Era dele. O bebê dentro de mim era
dele. Ou de Romeo, mas o mero pensamento de ser do homem que me sequestrou e estuprou me
apavorou.
O que Romeo faria? O olhar de nojo que me deu quando me pegou na cama com Nikolai me
acertou, me levando ao desespero. A sensação que tinha deixado meu corpo voltou com tudo e eu me
senti suja. Imunda.
Ele me deixaria. Eu sabia disso. Romeo nunca ficaria com um filho que não era dele. Sangue
do homem que matou com as próprias mãos.
— Lunna!
A voz de Sienna soou e eu me ergui, catando os testes no chão rapidamente. Enfiei todos no
lixo e fechei a tampa, ouvindo minha respiração entrecortada. Joguei água no rosto e puxei a toalha.
— Aqui! — gritei de volta e saí do quarto.
Sienna entrou e eu sorri ao ver Lake segui-la.
— Trouxemos algumas coisas para testarmos um prato novo — Lake falou ao me abraçar.
Pisquei e relaxei, tentando ficar calma e não demonstrar a elas que meu mundo estava
desabando.
— Podemos descer para começar. Vocês estão bem? — perguntei.
Ambas acenaram e começaram a contar coisas triviais. Passei a manhã com elas na cozinha, e
na hora do almoço eu me sentei para comer com ambas. Mexi a salada e cortei a carne suculenta.
Gemi ao comer e Sienna fez o mesmo.
— Está muito bom — Lake disse, acenando.
— Você precisa fazer as pazes com Romeo. — Sienna mudou de assunto drasticamente.
Eu a encarei, erguendo as sobrancelhas, tentando mascarar meu medo. Nunca mais faríamos
as pazes. O pensamento me fez querer chorar.
— Ano-Novo. Precisamos passar juntos... e bem. O ano que chegará será muito bom para
todos nós — Sienna continuou explicando.
Um novo ano. Sem minha mãe. Sem Romeo.
Com um bebê de um estuprador.
Me encolhi ao escolher essas palavras.
— É amanhã.
— O quê?
— O Ano-Novo. Já é amanhã. Como quer que eu faça as pazes tão rápido? — continuei a
conversa, tentando soar normal.
— Fique nua — Sienna disse de uma vez e gritou, tampando a boca ao ver o olhar chocado de
Lake. — Eu esqueci que temos uma baby na mesa.
— Ei! Eu já sou quase adulta.
— Alguns anos, querida, e eu contarei tudo que precisa saber. — Sienna riu e eu fiz o mesmo.
— Onde passarão a virada? — perguntei, suspirando.
Romeo passava comigo nos anos em que esteve aqui. Ele me deixava depois de me desejar
feliz Ano-Novo e ia ver seus irmãos.
— Em casa, eu acho.
— Eu vou — eu disse com firmeza e Sienna sorriu largamente.
Eu me arrumei sozinha em casa. O vestido branco era apertado e alcançava o topo das minhas
coxas. Minha sandália era de salto fino e as tiras adornavam meu pé. Deslizei a bala do batom nude
em meus lábios e olhei para os olhos azuis que estavam esfumados com marrom. Me afastei enquanto
tocava o colar que Sienna me deu de presente em meu aniversário e suspirei.
Vai ficar tudo bem.
Passei a mão pelos meus cabelos que estavam alisados e alcançavam abaixo da minha bunda.
O manto preto era lindo e eu o amava tanto quanto mamãe e Romeo. Afastei o pensamento triste e
segurei minha bolsa, saindo do quarto.
— Boa noite!
A voz rouca me fez pular e gritar ao mesmo tempo.
— O que você...
— Feliz Ano-Novo, Lunna — Salvatore falou, parado no corredor. Ele estava vestindo uma
calça justa, blusa branca e um casaco grosso.
— Por favor, saia — ordenei, tremendo e apertando meu casaco.
— Estou indo embora. É por isso que estou aqui — Salvatore murmurou enquanto se movia e
parava diante de mim.
Indo embora?
— Como assim? — perguntei, confusa. Ele era da Outfit.
— Se você não pertencesse a ele ficaria comigo? — O irmão de Sienna ignorou minha
pergunta e me encarou seriamente.
— Salvatore.
— Só responda isso — ele pediu, se inclinando.
Espalmei seu peito, mantendo-o longe.
— Não — afirmei, convicta. Ele desviou os olhos dos meus. — Não sinto nada por você.
Saia da minha casa. — Eu me afastei rápido e andei em direção à escada. Ele me seguiu em silêncio
e nós saímos de casa juntos.
— Boa vida, Lunna. — Sua voz triste me deixou preocupada, mas eu ficaria muito mais se
Romeo o pegasse comigo.
— Boa vida, Salvatore.
Entrei em meu carro e dirigi até a mansão, tentando esquecer Salvatore, testes de gravidez e
que mamãe não estava curtindo o champanhe que tanto gostava.
As portas da mansão se abriram e eu entrei, tentando parecer relaxada. Sienna apareceu
vestindo um macacão longo e me abraçou. Olhei ao redor na sala de jogos e todos os Trevisan me
encararam. Todos eles estavam arrumados e elegantes.
— Boa noite — murmurei e engoli em seco ao me lembrar a última vez que estive aqui. A
árvore de Natal tinha sumido, os presentes, as caixas. Mamãe.
— Boa noite, Lunna. — Prince se aproximou e sorriu por um segundo antes que eu desse um
passo e o abraçasse.
— Boa noite.
Romeo estava encostado em um canto enquanto balançava o copo cheio de uísque. Seu terno
deu lugar a um casaco grosso, blusa com gola alta preta e calça escura.
— A mesa está posta — Lake avisou e eu beijei seu rosto.
Todos saíram da sala, mas eu permaneci com Romeo. Me virei e percebi seus olhos em meu
corpo. Medindo cada pedaço, desejando e apreciando. Seu olhar me aqueceu em lugares que sentiam
sua falta.
— Você está linda.
— Você também — murmurei de volta e andei até ficar diante dele. — Eu... tenho algo para
contar, mas não quero estragar o jantar. Você pode passar em casa amanhã?
— Eu pensei que dormiria em casa hoje. — Sua frase direta me fez ofegar e morder meu
lábio.
— Precisamos ter essa conversa antes. — Eu fui firme, mesmo querendo levá-lo para a casa,
seduzi-lo e dizer que o amava. Que nada era mais importante que nós dois.
Mas ele me odiaria amanhã.
Romeo respirou fundo e ficou ereto, mostrando o quão mais alto ele era em relação a mim.
Sua mão entrou em meu cabelo e vislumbres de ontem apareceram em meus olhos.
Ele dizendo que me daria o divórcio. Meu desespero ao ouvir suas palavras. Quem eu queria
enganar? Eu não queria perder meu marido. Nos afastei porque realmente precisava de espaço. Não
apenas por suas mentiras, mas por mim. Por meu luto.
— Se o que vai contar estragará o jantar é algo ruim, presumo — sua afirmação me fez
suspirar e desviar os olhos dos dele.
Era? Estar grávida era ruim?
Se for dele, jamais. Mas e se for de Nikolai? Me afastei devagar, sentindo a inquietação
crescer em meu estômago. Não queria me imaginar tendo um bebê como ele. Eu amaria esse bebê? O
que eu faria?
A dor me cegou quando Lake apareceu na porta. Ela era esse bebê anos atrás. Na barriga da
Violetta. Inocente, intocada, perfeita.
Abracei meu corpo e reuni coragem no lugar mais profundo dentro de mim.
Eu amaria meu bebê.
Ele era parte de mim. Eu o amaria.
— Vocês vêm? — Lake sorriu ao questionar.
Eu acenei e comecei a caminhar. Lutei contra a vontade de agarrá-la e dizer que a amava.
Lake era o bebê ainda em meu ventre.
Romeo me seguiu e nós nos sentamos com a nossa família. Matteo deixou o ambiente mais
leve com suas brincadeiras, porém, a cada poucos minutos, Sienna sorria e olhava para a porta como
se esperasse por alguém. Eu sabia quem.
— Salvatore não veio — afirmei quando estávamos na sala de jogos, próximas da janela. A
lareira estava acesa e nossos casacos longe.
— Rocco não permitiria. — Sua voz ficou baixa e ela sorriu tristemente. — Eu fico entre a
cruz e a espada, me sinto sangrando por causa deles.
— Si.
— Mamãe está sozinha na Itália. Passou Natal e hoje sem ninguém além da irmã. Eu me sinto
tão sobrecarregada. Eu amo Rocco com todo meu coração e tento esconder minhas tristezas e
frustrações dele, isso está me consumindo. — Sienna tocou a bochecha, pegando uma lágrima, e eu a
abracei. — Eu sou uma idiota. Você é a única passando por um inferno e eu aqui me lamentando por
coisas bobas.
— O que te machuca nunca pode ser chamado de bobo. São suas dores. Ninguém pode
minimizá-las. Nem mesmo você.
— Você é tão forte, Lunna. Queria ser assim. — Sienna sorriu e beijou meus cabelos, me
embalando em seus braços.
— Uma tempestade está se formando e eu estou com tanto medo. Se soubesse, não me acharia
corajosa ou forte.
Sienna se afastou, franzindo as sobrancelhas.
— Amanhã.
Todo mundo se juntou e nós pegamos taças com champanhe. Matteo gritou a contagem
regressiva e nós sorrimos, brindando ao ano novo que chegou.
— Feliz Ano-Novo, Lótus. — Romeo se encostou contra minha coluna e eu engoli em seco,
ainda segurando a taça intocada.
Sua mão descansou em meu ventre e eu suspirei, implorando a Deus que tudo desse certo.
— Feliz Ano-Novo, Romeo — murmurei devagar, me virando e beijando seu pescoço,
sentindo seu perfume.
Nós nos abraçamos e fomos para a sua família. Todos beberam e festejaram enquanto eu
ficava com Sienna e Lake, conversando trivialidades.
— Eu vou dormir. Não nasci para virar a noite — Lake disse, levantando-se.
Sorri, porque nisso a gente era parecida.
— Eu também.
Me despedi das pessoas e Romeo me seguiu para fora, ainda bebendo uísque. Ele já estava
bêbado e isso estava me deixando preocupada.
— Você já bebeu o suficiente — eu disse, tomando o copo das suas mãos.
Romeo sorriu largamente e eu fiquei sem ar, como todas as vezes em que ele fazia isso.
— Quero você, Lunna. Vamos subir para o meu quarto — ele pediu e fechou a porta da
mansão. — Você é minha, Lótus. Só minha.
— Sim, eu sou — admiti quando ele me tocou.
Seu polegar pressionou meu lábio e Romeo se inclinou, me beijando. E eu deixei. Segurei seu
casaco e abri os lábios, recebendo sua língua habilidosa que tinha o gosto do uísque. Romeo me
empurrou até a parede e segurou minhas coxas, me tirando do chão. Ele mordeu meu lábio e desceu
para meu colo. Sua mão desceu meu vestido e meus seios saltaram. Seus dentes rasparam meu
mamilo esquerdo e eu gemi, apertando seu cabelo.
Meus sentidos estavam perdidos, mas eu sabia que logo alguém nos veria aqui. Era a entrada
da casa. Puxei seu cabelo até sua boca libertar meu peito e ofeguei ao ver seu olhar nublado de
desejo.
— Quarto — pedi sem fôlego, e puxei meu vestido para me cobrir.
Romeo acenou, me colocou no chão e me guiou até a escada enquanto eu latejava de desejo.
Lunna andava até a cama enquanto eu tirava meu casaco. Ela se virou, mordendo o lábio
vermelho e inchado. Dos meus beijos.
— Você está linda — balbuciei, me aproximando e parando diante dela.
— Romeo.
Me inclinei e calei suas palavras com meus lábios ao beijar sua boca. Lunna derreteu contra
mim e eu puxei sua cintura, sentindo sua língua doce deslizar pela costura da minha boca.
— Você me deixa louco — confessei, puxando seu vestido pelas suas coxas. Toquei sua
bunda pela calcinha e andei até a cama, ainda mordendo seus lábios.
Lunna segurou meus ombros e se afastou, virando-se. Desci as alças do vestido e o tirei do
seu corpo. Segurei seu seio pesado e apertei seu mamilo, tirando um gemido alto de Lunna. Desci a
mão pela sua cintura e entrei em sua calcinha de renda. Ela estremeceu quando meus dedos
deslizaram por sua boceta escorregadia.
Segurei seu cabelo e pressionei seu clitóris, fazendo-a se curvar. O aperto nos seus fios
negros ficou forte e ela gemeu mais alto. Curvei Lunna sobre a cama e alisei sua bunda empinada.
Afastei sua calcinha e me ajoelhei para prová-la. Seu gosto doce bateu em minha língua e eu gemi,
segurando seus quadris.
— Romeo! — Lunna gritou quando minha mão colidiu com sua bunda em um tapa forte. Eu a
senti estremecer e suas pernas cederam quando ela gozou.
Me ergui e abri meu zíper enquanto Lunna olhava por cima do ombro, vermelha e perfeita.
Ela se sentou na cama quando terminei de tirar minha roupa e eu me inclinei, cobrindo seu corpo com
o meu.
Empurrei meu pau em sua boceta apertada e fechei os olhos, sentindo Lunna beijar meu peito.
Nós dois gememos em sincronia, lutando contra nossas respirações. Apertei Lunna pelos quadris e
capturei seu mamilo, lambendo e mordiscando. O brilho dos seus seios me enfeitiçou e eu enlouqueci
enquanto empurrava dentro dela.
Lunna gemeu mais alto e mordeu meu ombro, me fazendo gozar imediatamente. Ela gritou e
me seguiu tão rápido quanto eu.
Nossas respirações ofegantes ecoavam pelo quarto e eu beijei seus seios. Lambi seus
mamilos e ela suspirou, mordendo o lábio.
— Quero voltar para casa. Para você — falei, tirando o cabelo escuro do seu rosto suado.
Lunna piscou e seu olhar mudou de apaixonado para preocupado em segundos.
— Vamos dormir.
— Lótus. — Pressionei, segurando seu rosto entre meus dedos. — Somos nós dois. Você é
minha desde os quinze anos. Não me afaste — pedi, desesperado.
Ela tocou minha bochecha.
— Eu te amo tanto que esse sentimento me sufoca. — Lótus piscou, seus olhos cheios de
lágrimas.
Respirei fundo sem entender. Então, por que ela não queria que eu voltasse para casa?
— Romeo.
Me afastei, ficando rígido. Sentei-me enquanto via Lunna fazer o mesmo, puxando um lençol
para cobrir sua nudez. Eu não me incomodei com a minha.
— O que está acontecendo? — perguntei, sabendo que algo estava errado.
— Amanhã.
— Não. Hoje. Agora. O que aconteceu? — eu queria gritar, porém contive meu anseio. Lunna
desviou os olhos de mim, mas segurei seu queixo e a fiz me encarar novamente. — Agora, Lunna.
— Você está bêbado.
— Não mais. Fale.
Lunna piscou e se moveu. Suspirei quando ela se sentou em meu colo, pondo suas pernas em
cada lado das minhas. Seus seios saltaram quando pousei minhas mãos em sua cintura e a puxei
contra meu peito.
— Eu te amo. Só estou pedindo que confie em mim.
— Eu não vou pedir novamente — rosnei, apertando sua cintura entre meus dedos.
Lunna me olhou e engoliu em seco.
— Estou grávida.
Meus olhos se arregalaram e eu senti meu coração parar por um segundo. Olhei para sua
barriga plana e mal contive o sorriso que cortou meu rosto. Ergui a mão para tocar sua pele branca,
mas Lunna se esquivou. Semicerrei os olhos e voltei a encará-la.
— O que...
— Pode ser dele.
Suas palavras não fizeram sentido por longos segundos, porém, quando isso aconteceu, lava
pura encheu meus sentidos.
— O que disse?
— Eu... — Lunna se calou quando eu a tirei de perto de mim e me ergui. Vesti uma calça de
moletom que estava caída na cama, sentindo meu coração bater a uma velocidade assustadora. —
Romeo — ela implorou com os olhos azuis enquanto eu continuava tremendo e precisando matar
alguém.
Lunna estava grávida.
De um filho daquele desgraçado.
Minha Lótus.
Grávida de Nikolai.
O ódio cegou meus sentidos e eu soquei a parede. Puxei o abajur ao lado da cama e joguei-o
do outro lado do quarto. Os cacos de vidro se estilhaçaram e eu senti alguns acertarem meus braços.
— Romeo...
— Você... — Eu não consegui terminar a frase. Me virei, não conseguia encará-la, e fui para
o closet. Puxei uma das minhas camisas antigas que ainda eram guardadas ali, precisando sair desse
quarto, de perto dela. Minha alma clamava para que eu machucasse alguém, mas não podia ser ela.
— Por favor. — Lunna me seguiu e eu apertei meus punhos.
— Não fale. Não fale! — gritei enquanto me vestia e virava para sair do closet. Foi
impossível me mexer. Lunna estava parada na entrada, enrolada em um lençol. Sua maquiagem
borrada, lágrimas fazendo uma lambança em suas bochechas. — Saia da minha frente.
— Não tenho culpa. Olhe para mim! Sou eu, sua Lótus. — Lunna deu um passo em minha
direção.
Eu apertei meus punhos mais uma vez, tremendo.
— Grávida daquele filho da puta!
— Ou de você! — Lunna gritou de volta, chorando. Comecei a andar pelo espaço pequeno.
— Eu não sei. Ficamos juntos assim que voltamos da Rússia. Isso está em branco. Não podemos
saber até fazer um teste, mas ainda sou eu.
— E se for dele, Lunna? — perguntei de maneira firme, encarando-a. — O que você espera
acontecer?
— Eu não sei, Romeo. — Ela fungou e levou as mãos ao rosto, parecendo tão desesperada
quanto eu. — O que você vai fazer?
— Eu não vou criar um bastardo. Isso é o que eu não vou fazer. Você me ouviu? — gritei,
furioso. Lunna desviou os olhos de mim. — É isso que está esperando? Que eu crie essa merda?
— Não diga isso. É um bebê inocente. Não tem culpa de nada disso — Lunna implorou,
dando um passo. Voltei a me afastar, não confiando em mim mesmo perto dela. — Você quer que eu
aborte? Ou talvez, me envie de volta a Nova York? É isso que vai fazer, Romeo?
— Você deve ficar com a família do seu filho. Seu pai nunca a aceitará de volta. Mikhail
mandou homens virem buscá-la. Não sei o que diabos ele quer com você, mas se for ter o filho de
Nikolai, aposto que ele está interessado em recebê-la.
— O quê? — Lunna gritou, perdendo a cor do rosto enquanto eu fingia que sua dor não era
nada para mim.
— Mikhail é irmão do Nikolai.
— Você vai me mandar para a Rússia? — Sua voz baixou e eu soquei uma das portas do
closet, fazendo Lunna pular ao se assustar. — O bebê pode ser seu. Você pelo menos pensou nisso?
— Ela se recuperou, gritando e dando passos para trás enquanto eu me virava.
— Volte para casa. Um dos médicos da Outfit irá até lá amanhã. Vamos fazer o teste.
— Não me trate assim. Sou a mesma mulher que estava na cama com você há alguns minutos.
Sou sua esposa. — A voz aos berros estremeceu e eu a encarei. — Eu juro que carregar seu bebê
sempre foi tudo que mais desejei em minha vida, Romeo. Meu sonho sempre foi ser mãe. Cheguei
aqui com planos. — Sua voz baixou e Lunna derramou mais lágrimas. — Eu só estou pedindo que
não culpe uma criança inocente por tragédias que ela não foi responsável.
— Não culpo — afirmei, virando-me até encarar a parede. — Mas não o quero perto de mim.
Eu nunca quero pôr os olhos nele, e isso é uma decisão minha.
— Lake — Lunna murmurou o nome da minha irmã.
— O que ela tem a ver com essa merda? — Olhei para ela, sem entender.
— Ela era esse bebê anos atrás. Sua mãe voltou de Nova York com ela no ventre. Você...
— Não se atreva.
— Você quer que eu aborte? Depois de saber que é de Nikolai, você vai querer que eu o
mate?
Sua voz começou a me irritar com suas perguntas difíceis.
— Já falei, você irá para a Rússia.
— Você queria que sua mãe tivesse abortado Lake? Lembre-se dela, do seu sorriso, do seu
amor por ela. Você realmente...
— Pare! — gritei, interrompendo-a.
Lunna me olhou por alguns segundos e deixou o lençol cair. Meus olhos me traíram e
apreciaram cada pedaço do seu corpo. Minha esposa limpou o rosto e puxou o cabelo para frente, as
mechas cobrindo os seus seios.
— Você nunca me deixaria ir. — Ela ergueu o queixo e deu um passo para a frente, em minha
direção. — Eu sou sua. Eu pertenço apenas a você.
— Lunna — rosnei quando suas mãos tocaram meu peito ainda nu.
— Você me ama. Seu coração congelado é meu. Você nunca me daria para outra pessoa.
— Não duvide de mim.
— Nunca — ela respondeu e tocou meu rosto enquanto eu permanecia rígido. — Tampouco
duvido da sua possessividade, desejo e do seu amor.
Lunna me olhou sem reservas, completamente convicta de cada palavra dita.
E ela estava certa.
Porque Lunna Trevisan era minha e isso nunca mudaria.
— Vá para casa.
— Você vai comigo.
— Não empurre essa merda — ordenei.
Ela encostou seu corpo ao meu, me olhando de baixo, seus olhos azuis com veias vermelhas
do choro fixos em mim.
— Por favor.
Fechei meus olhos e senti suas mãos segurarem meu pescoço. Lunna se agarrou a mim e
rodeou minha cintura com suas pernas. Segurei seu quadril e ela enterrou o rosto em meu pescoço.
— Eu te amo. Você é tudo que eu tenho. Não me afaste. Estou tão furiosa, triste e frustrada
quanto você.
Suas palavras me fizeram respirar fundo. Andei com Lunna de volta para a cama e me deitei
ainda preso a ela. Puxei as cobertas e toquei seu cabelo devagar.
— Se for dele você tem duas opções. Abortar ou ir embora. Você decide, Lunna. — Deixei as
palavras saírem e segurei seus pulsos, afastando-a de mim, fazendo-a me soltar.
Me afastei até o outro lado da cama e fechei meus olhos, ouvindo seu choro baixo. Eu quis
ardentemente consolá-la, mas não podia. Eu disse a verdade.
Não criaria o bebê daquele filho da puta.
Nunca.
Ouvi quando ele se aproximou. Levei a garrafa aos meus lábios e dei um longo gole enquanto
olhava nosso cais. A neve ainda cobria toda a água congelada e eu fixei meus olhos nela.
— O que houve? — Sua voz ecoou preocupada e eu dei mais um gole para deixar minha boca
ocupada. — Você está me preocupando.
Rocco parou ao meu lado na janela e semicerrou os olhos.
— Lunna está grávida — eu disse rapidamente. Meu irmão arregalou os olhos, o mesmo
sorriso que dei ao ouvir a notícia apareceu em sua boca. — Pode ser do Nikolai.
Rocco parou de sorrir imediatamente. Seu rosto ficou escuro e ele tocou meu ombro enquanto
eu continuava sentindo a dor inebriante que cegava meus sentidos.
— Cara.
— Está se repetindo — murmurei, apoiando minha mão no vidro da janela.
— Que merda, Romeo.
— Mamãe era Lunna. O bebê dentro dela é Lake. Você está entendendo? — Eu me virei para
o meu irmão, ele estava completamente rígido.
— Não faça isso.
— Eu pedi que ela matasse Lake! Você entendeu? Eu disse com todas as letras que ela
deveria abortar ou ir embora. Eu vou entregá-la a Mikhail.
— Você não vai fazer isso. Você ama aquela mulher.
— Mas eu pedi pra ela matar Lake. Você me ouviu? — gritei com meu irmão.
Ele me pegou pelos ombros e me empurrou contra a parede. Seu braço empurrou contra meu
pescoço e Rocco me encarou tão sério como jamais o vi.
— O bebê é seu. Lake não tem nada a ver com essa merda. Se recomponha.
— Eu não o quero.
— Tudo bem. Se não o quer e já disse a Lunna isso, agora é uma decisão dela.
— Se ela escolher ir? — perguntei, soando tão patético que eu apostava meu dinheiro todo
que meu irmão me achava um idiota.
— Então, foda-se.
— Ela é minha, Rocco.
— Você não vai fazê-la abortar, Romeo. Essa é uma decisão dela.
Rocco relaxou o aperto e me soltou. Os olhos azuis dele amoleceram e meu irmão me puxou
contra seu peito, me abraçando.
— Vai ser seu. É seu herdeiro. Você vai ver.
— E se não for?
— Quantas vezes eu menti para você?
Nenhuma.
O lado da cama em que Romeo dormiu estava vazio na manhã seguinte. Me forcei a não
chorar enquanto tomava banho e fechava meus olhos quando parei em frente ao espelho. O rosto de
Nikolai apareceu diante de mim, me testando. Eu precisava pensar no que faria a seguir. Romeo
deixou claro o que faria se o bebê não fosse dele.
Minhas opções eram impensáveis, pois, por mais que eu amasse Romeo, eu não abortaria.
Não tiraria a vida de um bebê inocente.
Mas jamais iria para a Rússia também.
Minha única saída me odiava, mas um dia ele me amou.
— Eu disse para não me ligar novamente. — Mariano rosnou na chamada.
Eu me sentei no vaso sanitário enquanto fechava os olhos.
— Estou grávida.
— Nossa, que bom. Felicidades.
Sua ironia me acertou e eu respirei fundo.
— Quando vai esquecer isso, Mari?
— Eu já esqueci, mas você me ligando não é uma merda que ajuda.
— Eu o amava. Você sabe disso. Quem renuncia ao amor quando o tem entre os dedos? —
perguntei com veemência e apertei a palma contra meu peito.
Mariano ficou em silêncio e eu me recordei do seu pedido de casamento. Eu já era prometida
a Romeo, já o amava tanto que me sufocava, mas amava Mariano também. Ele sempre foi meu melhor
amigo. Crescemos juntos, dentro da máfia. Ele é filho de um dos melhores amigos de Carmelo.
Quando Mari me avisou que pediria minha mão, eu me apavorei. Meu pai poderia desfazer
meu casamento com Romeo se assim desejasse. E se fosse com Mariano, ele o faria sem pensar duas
vezes. Eu implorei para que ele não o fizesse. Chorei e gritei dizendo que não o queria.
Mariano ficou despedaçado.
— O que você quer, Lunna? — ele perguntou sem se abalar.
— Nikolai me estuprou quando estive sob seu domínio na Rússia — eu disse de uma vez e
Mariano praguejou. — Pode ser dele, Mari.
— Porra.
— Romeo pediu o teste, e se o bebê for realmente daquele demônio, ele me enviará para a
Rússia.
— O quê?
— Ou eu aborto. — Minha voz tremeu e Mariano respirou fundo. — Não vou abortar, Mari. E
só entro na Rússia morta, então eu preciso de você.
— Cuidado com o que vai me pedir, Lunna.
— Se o bebê for de Nikolai eu voltarei para Nova York.
— Não fale.
— Me perdoa. Eu não tenho mais ninguém. Você é o único. É tudo que me restou. — Chorei,
segurando o celular, quando Mariano bateu em algo. — Você me receberia? Casaria comigo?
Mariano ficou em silêncio e eu senti que tinha ido longe demais.
— Você o escolheu a mim. Você o ama. Por que eu aceitaria o filho de outro homem?
— Mari...
— Diga! — ele gritou pelo celular.
— Porque me ama. Eu sei disso.
— E ele não. Romeo não te ama, Lunna. Porque se ele te amasse, aceitaria esse filho. Ele nem
mesmo faria um teste, apenas deixaria a dúvida para trás — Mariano gritou cada palavra, me fazendo
perceber as lágrimas em meu rosto.
— Mari.
— Escute o que está me pedindo. Você está me dando “e ses”. Me dando esperança de que eu
a teria comigo apenas se o filho que está esperando fosse daquele filho de puta dos infernos. Você
realmente não percebe o quanto seu pedido me deixa machucado?
— Eu sei...
— Eu digo que sim, faço mudanças, e no final seu filho é do Romeo. E eu mais uma vez sou
deixado para trás e você vai viver a porra do seu conto de fadas. — Mariano enfiou facas em meu
coração com suas palavras e eu chorei, sem conseguir parar.
— Me desculpe. Eu não deveria. Me perdoe, por favor.
— Se chegar na porta da minha casa, eu nunca a mandaria embora, Lunna. Então só chegue.
Não avise, não me dê esperanças. Apenas venha.
Mariano não esperou por respostas. Enquanto eu ficava no silêncio do banheiro, eu vi a
bagunça que minha vida se transformou. Mais uma vez sendo egoísta com a única pessoa que sempre
se deu para mim.
Enxuguei meu rosto e me ergui. Terminei de me arrumar e desci a escada com os cabelos
presos em um rabo de cavalo e abraçada com meu casaco. Andei até a sala de jantar e me sentei ao
lado de Lake, mantendo meus olhos na mesa.
— Bom dia! — Sienna saudou ao se sentar diante de mim. Eu sorri, cumprimentando-a. —
Você quer assar marshmallow mais tarde? Comprei alguns.
— Eu adoraria — falei devagar e vi o momento em que Rocco e Romeo entraram na sala.
Romeo estava completamente suado, sua camisa branca agarrada ao seu peito, e seus braços
brilhavam.
Rocco se sentou, mas seu irmão só pegou uma maçã.
— Vou tomar banho — ele avisou e se afastou.
Senti os olhos de Sienna e Lake sobre mim. Prince e Matteo estavam longe de serem vistos.
— Salvatore falou com você ontem?
A voz de Rocco enviou um arrepio pela minha pele. Perigo. Ergui meu rosto e o vi com os
olhos presos em Sienna.
— Por quê? — Ela franziu as sobrancelhas e eu senti sua preocupação daqui.
— Sienna, se você o ajudou a tentar fugir daqui, eu realmente vou te enfiar na porra de uma
gaiola e te manter lá dentro.
— Não falei com ele. Eu juro — ela se apressou a dizer enquanto Rocco socava a mesa. — O
que aconteceu?
— Estou cansado de me perguntar onde a porra da sua lealdade está. Se naquele merda do
seu irmão ou em mim. — Rocco pegou a faca pequena e a jogou com força. A lâmina prendeu na
parede e eu ofeguei. — Aquele desgraçado matou dois homens meus enquanto tentava voltar para a
Itália.
— Meu Deus. — Sienna ecoou assustada, enquanto Rocco se erguia.
— Não vou poupar aquele desgraçado e vou dormir me odiando hoje, mas enfiarei uma bala
na cabeça dele — ele falou convicto. Eu respirei fundo, estremecendo de medo do homem impiedoso
e cruel diante de mim. — E vou enviar a porra do corpo dele para a sua mãe como uma forma de
respeito. Espero que você não derrame mais nenhuma lágrima de merda por ele, porque se eu ouvir
você implorando, vou ficar muito puto.
— Rocco...
— Não se atreva! — ele gritou quando Sienna se ergueu e o chamou.
— Eu juro que não sabia de nada. Eu juro. Prometo pelo meu coração. Eu nunca trairia você
dessa forma. Jamais — ela disse, ainda sem chorar.
Engoli em seco e senti a mão de Lake em minha coxa.
— Ele foi até a minha casa ontem — eu falei de uma vez. Rocco se virou junto com Sienna.
Vi Romeo se mover na lateral dos meus olhos e engoli em seco. — Ele só se despediu. Eu não
entendi nada, fiquei confusa.
— Por que ele iria à sua casa? — Lake perguntou, franzindo as sobrancelhas.
— Porque ele quer morrer — Romeo rosnou e eu estremeci.
— Eu deveria ter dito algo, mas não lembrei. Eu achei que vocês o tinham deixado voltar. Eu
não sei — me expliquei rapidamente quando Rocco deu um passo em minha direção.
— Onde ele está? — Sienna puxou a atenção de Rocco para si e eu agradeci internamente.
— No Village — Romeo foi o único a responder.
— Posso vê-lo antes? — Sienna pediu, fazendo Rocco rir.
— Você escutou o que eu falei?
— E se fosse Romeo? Eu sei que daria a vida por seu irmão. Eu sei, Rocco. Eu vejo isso em
seu olhar todos os dias. Quando foi para a Rússia disposto a morrer por ele e me deixou aqui. Eu
nunca questionei seu amor por ele...
— Levaram Lunna dele porque, mais uma vez do caralho, seu irmão levou você daqui. Foi
culpa minha e do seu irmão Romeo não estar aqui, então não faça isso. Essa balança vai despencar
para o seu lado.
Sienna se encolheu e eu me ergui devagar.
— Puna-o — eu disse baixo e todo mundo me encarou. — Faça algo que ele não queira. Só
não o mate. — Minhas palavras fizeram Romeo se mover para mim rapidamente.
— Você está pedindo por ele?
— Não. Por Sienna — eu disse com pressa e encarei os olhos do meu marido.
— Não vou puni-lo. Já puni demais — Rocco falou alto e bom som. — Você vai ter que
aprender que na máfia perdemos a vida por erros, Sienna. Eu poupei seu irmão uma vez, não farei
uma segunda.
Sienna olhou para suas mãos e seu marido saiu da cozinha. Romeo ficou parado, me
encarando.
— Não tenho nada a ver com Salvatore. Nada, Romeo.
— Não está parecendo — ele rosnou de volta.
— Vou para casa esperar pelo médico. — Respirei fundo.
Romeo me encarou por alguns segundos e se afastou, me deixando passar. Andei até Sienna e
toquei seu ombro. Si pareceu acordar de um transe e engoliu em seco.
— Me desculpa pelo que falei.
— Eu entendo.
— Eu preciso ligar para minha mãe. — Sienna se afastou e me deu um sorriso apertado. —
Desculpe por Salvatore ter se apaixonado por você.
— Não era paixão.
— Talvez.
Sienna caminhou para longe e eu me virei, vendo Lake e Romeo nos mesmos lugares.
— Eu estou indo.
Lake acenou e nos despedimos com um abraço. Entrei em meu carro e acelerei para casa.
O homem de cabelos grisalhos tocou meu braço e procurou minha veia por alguns minutos. Já
era final de tarde e ele tinha chegado há alguns minutos. Suspirei com a picada da agulha e ele evitou
me olhar diretamente nos olhos. Romeo veio com ele, mas ficou lá embaixo. Ele não me encarava e
isso estava me deixando tão nervosa quanto triste.
— Estresse, má alimentação e esforço físico podem fazer mal ao seu bebê. Essas vitaminas
devem ser tomadas todos os dias. — Sua voz me tirou de Romeo e eu acenei ao vê-lo me entregar um
pote com pílulas.
— Os exames saem quando? — perguntei, engolindo em seco.
— Alguns ainda hoje, outros amanhã.
— E o DNA?
— Só pode ser feito com onze semanas de gestação. Temos algumas semanas pela frente, e
depois será feito. — Novamente ele não me encarou. Respirei fundo, tentando ficar calma. — Você
não tomou medicamentos contra doenças e uma pílula do dia seguinte para evitar a gravidez após o
estupro?
— Não. Eu e Romeo não falamos para o médico que veio me ver que o estupro havia
acontecido. Só falamos das drogas.
— Entendo. Vou solicitar exames para todas as doenças.
Eu não disse mais nada, apenas esperei que ele terminasse e agradeci. Andei até minha
janela, segurando o adesivo que ele colocou sobre o pequeno furinho que a agulha deixou. Meu
coração acelerou quando Romeo apareceu com o médico. Ambos entraram no carro de Romeo e
foram embora.
Semanas até descobrir se o bebê era dele. Semanas sem tê-lo por perto.
Eu achei que não poderia ficar mais triste, porém, como sempre, eu estava errada.
Voltei para a cama e me deitei, puxando meu celular. A foto mais recente de mamãe apareceu
em uma das nossas últimas conversas, e eu não lutei contra as lágrimas. Minha única fuga, meu
refúgio, não estava mais aqui.
Eu ainda podia me lembrar do seu olhar reprovador a cada vez que pedia para cortar meu
cabelo, a cada vez que Romeo foi à nossa casa e ela repetiu o quanto eu seria feliz, que eu seria uma
rainha dentro da Outfit.
Desculpe, mamãe, a coroa é muito pesada.
— Mikhail ligou. — Rocco adentrou o escritório no Village e eu olhei por cima do meu
ombro. Ele se sentou em sua cadeira e me encarou. — Ele aceitou o casamento e blá blá blá.
— Sério?
— Sim, ele tem uma sobrinha e quer enviá-la para Chicago.
— Uma mulher com um dos nossos? Pensei que seria o contrário.
— Que mulher escolheríamos? Não temos mulheres para sair dando para nossos inimigos —
Rocco explicou rápido e eu acenei, porque realmente não tínhamos. A Outfit era forte por isso, nosso
povo era na maioria homens. Mulheres vinham e iam.
— Matteo? — Arqueei a sobrancelha e ri sutilmente.
— Você sabe que ele seria uma dor na nossa bunda. — Rocco riu, balançando a cabeça. Eu
me aproximei, sentando-me diante dele. — Ainda não sei, mas vou pensar.
— Que tal Salvatore? — A voz de Prince ecoou e eu vi o nosso irmão mais novo encostado
na parede.
— Eu vou matá-lo hoje. Próximo? — Rocco respondeu, encarando a arma em cima da mesa.
Prince se moveu até a janela que eu estava.
— Coloque outra pessoa para matá-lo. Sienna vai odiar você pelo resto da vida — Prince
mais uma vez falou e eu me virei para encará-lo.
— Ele assinou sua sentença quando matou Célio e Breno. Eu não vou dar uma esposa do
caralho para um idiota que acabou de matar dois dos meus homens.
— Ele não vai vê-la como um prêmio, Rocco. Talvez visse se fosse Lunna no lugar dela —
Prince disse e eu semicerrei meus olhos, furioso.
— Mate-o. Prince vai se casar — eu falei de uma vez e meu irmão mais novo arregalou os
olhos.
— Eu não vou me casar. — Sua voz aumentou e eu olhei para Rocco.
— Se quiser, eu tiro a opção das suas mãos e eu mesmo vou lá matá-lo. Não me importo com
a opinião da sua esposa, você sabe disso — murmurei preguiçosamente e ele olhou para o teto.
— Por que esse filho da puta veio para cá, em primeiro lugar? Minha vida seria mais fácil
sem aquele merda por perto.
— Então deixe Romeo matá-lo — Prince disse atrás de mim e eu esperei pela resposta de
Rocco.
— Tudo bem.
Nós nos levantamos ao mesmo tempo e andamos para a porta, porém, bateram nela antes.
Prince mandou entrarem e Matteo apareceu, sem camisa e suado.
— Seu dia de sorte, papi. — Ele sorriu ao falar e eu quase revirei os olhos para o apelido
idiota que ele deu a Rocco. — Mataram Salvatore.
Franzi as sobrancelhas e olhei para Rocco, que estava igualmente confuso.
— Quem?
— Você não vai acreditar. — Matteo sorriu ainda mais largamente.
— Fale de uma vez! — berrei para ele, que riu e ergueu as mãos.
— Giulio.
— De jeito nenhum — Rocco disse rápido e eu fiz o mesmo.
Eles eram amigos, não acreditava que ele faria isso.
— Encontraram Giulio na cela de Salvatore, segurando uma arma.
— Onde Giulio está? — perguntei, me aproximando.
— Na propriedade, com os médicos. Ele está ferido.
Rocco saiu rápido e eu o segui, sabendo que algo estava errado. Algo muito sério estava
acontecendo e eu descobriria essa merda.
— Eu tive que induzir ao coma — o médico falou para nós assim que entramos no galpão
longe da mansão. Aqui era nosso centro médico ou alguma coisa perto disso. Não podíamos levar
nossos homens ao hospital, perguntas seriam feitas, então tínhamos nossos próprios médicos.
— Eu não acredito nisso — Rocco falou quando o médico se afastou. Apertei meu punho e vi
Rocco andar de um lado para o outro. — Como vou falar para ela?
— Você disse que o mataria.
— Eu sei! Mas não fui eu. Foi esse merda que está quase morto também.
— Você acredita nisso? Giulio não machucaria Salvatore. — Tentei explicar ao meu irmão e
ele deu de ombros.
— Foda-se. Eu não dou a mínima.
— Algo está errado. Precisamos pensar com calma.
— Você está certo. — Rocco respirou fundo e fechou os olhos. — Mande Matteo enviar o
corpo de Salvatore para a mãe dele.
— Tudo bem.
Rocco se afastou e eu liguei para Matteo, avisando da ordem de Rocco. Quando terminei a
ligação, o nome de Lunna apareceu no visor.
— Romeo — respondi, andando para fora.
— Ele disse a você que o exame só pode ser feito daqui a algumas semanas? — Lunna
perguntou enquanto eu abria a porta do meu carro.
— Sim.
— Então?
— Então, o quê?
— Você vai voltar para casa? — Ela fungou na linha e eu apoiei minha testa no volante.
— Vou — respondi depois de longos segundos em silêncio e desliguei o celular.
Dirigi até a mansão e depois de entrar em casa, parei ao ouvir um grito estrangulado. Eu não
precisava ver para saber que era Sienna. Entrei na cozinha e a vi no chão, de joelhos.
— Foi você! Foi você! Não Giulio! Não minta — ela gritou, segurando o celular contra a
orelha e soluçando. — Só diga a verdade. Por favor, me diga a verdade.
Sienna deixou o celular cair e eu vi o nome do meu irmão. Me aproximei devagar e Sienna se
encolheu contra a parede, me olhando.
— Vocês o mataram.
— Não fomos nós. Pelas evidências foi Giulio, mas também não acredito nisso.
— Não foi! Giulio não faria isso.
— Quando ele acordar vamos descobrir. — Eu me abaixei e encarei seus olhos ficando ainda
mais sérios. — Mas não foi meu irmão. Ele nunca mentiu para você. Nunca. Então pare de atacá-lo.
Seu irmão foi um saco cheio de merda conosco, mesmo depois da gente poupá-lo. Você quer culpar
alguém, Sienna? Culpe Salvatore.
Ajudei-a a se erguer e me afastei. Sienna enxugou o rosto e me olhou, piscando.
— Obrigada.
— Não agradeça. De um jeito ou de outro seu irmão acabaria morto hoje. Só não foi pelas
mãos de nenhum Trevisan, no entanto.
Me virei e a deixei sozinha.
Rocco desceu a escada da mansão meia hora depois de subir para falar com Sienna. Já
passava das onze da noite e o frio estava ainda mais forte. Se me perguntarem, eu nunca me
acostumaria com a temperatura dessa cidade no inverno.
— Ela vai ficar bem — falei para o meu irmão, que parecia preocupado.
— Eu sei. A mãe dela falou com ela e eu não sei quem chorava mais. Foi um inferno.
Enchi meu copo com uísque e virei, olhando para fora pela parede de vidro que ia do teto ao
chão.
— Mikhail me enviou uma mensagem. Quer a foto do noivo e saber qual seu posto dentro da
Outfit. — Rocco coçou o rosto e mordeu o punho. — Iron?
— Ele não vai aceitar — falei de prontidão e Rocco continuou me encarando. — Você acha
que Mikhail, seja quem diabos for, vai dar uma de suas mulheres para o executor da Outfit?
— É isso ou nada. Iron é da família, tem o sangue Trevisan.
— Nunca o vi com mulher nenhuma, nem com as prostitutas do Village.
— Eu não ligo. Mande-o vir aqui amanhã.
— Aqui? Ele nunca veio aqui.
— Sim, eu sei. Essa é uma conversa de família. — Rocco apertou meu ombro e eu acenei. —
Vá para sua mulher agora. Se a minha me quisesse por perto, eu estaria com ela.
Eu não disse nada, só saí da mansão e fui para casa.
Assim que abri a porta, escutei passos dentro da casa. Puxei minha arma do coldre e segurei-
a na minha frente. Lunna estaria dormindo a essa hora. Quem diabos entrou aqui? Dei um passo e
entrei na nossa sala. Os olhos azuis se expandiram quando me viram.
— O que está fazendo acordada? — perguntei, baixando o revólver.
— Esperando você. Não estou conseguindo dormir. — Lunna colocou o cabelo atrás da
orelha e abraçou a si mesma, de pé perto da lareira. — Você disse que vinha, então...
— Suba. Eu preciso tomar banho e dormir. A merda do dia foi cheio. — Me afastei em
direção à escada, porém sua voz me deteve.
— Lake me contou. — Eu me virei e a vi engolir em seco.
— Está triste? — Minha pergunta a fez revirar os olhos.
— Um homem foi morto, o irmão de uma mulher que amo, é claro que estou triste — ela
respondeu prontamente.
Eu me aproximei devagar até estar diante dela.
— Ele se despediu de você. Fez mais do que com a irmã.
— Eu não queria...
— Não importa. Suba para o seu quarto — ordenei, rígido.
Lunna engoliu em seco e se afastou. Eu a segui pela escada e me afastei ao chegar no corredor
dos quartos. Entrei no meu e fui para o meu banheiro. Tomei banho por um longo tempo e quando saí,
Lunna estava sentada na cama.
— Eu preciso dormir.
— Eu vou para Nova York.
Suas palavras me fizeram ficar rígido.
— Seu pai não a aceitará. Nós dois sabemos disso — respondi rispidamente.
— Se o bebê for de Nikolai, eu voltarei para a casa. Nunca mais quero colocar os pés na
Rússia. Nunca. E por mais que eu te ame, não vou abortar. — Lunna se ergueu devagar e apertou os
lábios em uma linha fina.
— Isso é tudo? — perguntei, apertando meus punhos enquanto ela se aproximava devagar.
— Você me ama?
Sua pergunta me pegou totalmente desprevenido. E Lunna viu isso.
— Que pergunta é essa?
— Você nunca disse.
— Não sei o que é amor, Lunna.
Foi como se eu tivesse cortado seu coração em dois. Eu vi seus olhos ficarem frios e ela lutar
contra as lágrimas.
— Boa noite, Romeo.
Iron chegou à mansão no horário certo. Seus olhos escuros preguiçosos olhando em silêncio
para tudo. Eu costumava dizer que ele era um ferro, por isso seu nome, duro, fechado, só amoleceria
no inferno que era para onde iríamos.
Cada um de nós tinha um lugar cativo ao lado do diabo para tomarmos uísque.
— Romeo. — Ele apertou minha mão quando o cumprimentei.
— Rocco está esperando no escritório.
— Achei estranho seu chamado. Fazemos negócios no Village ou por ligações — Iron falou,
me seguindo para dentro de casa.
— Você é nosso primo. Não trazemos desconhecidos para dentro. — Abri a porta e o deixei
passar. — E o assunto é de família.
— Iron! — Rocco se ergueu da poltrona e andou até a gente, vestindo nada mais que uma das
calças ridículas de moletom que ele colecionava. Iron estava com calça jeans e casaco, enquanto eu
estava com meu terno.
— Rocco — Iron cumprimentou meu irmão e nos sentamos.
— O que acha de uma esposa?
Não sei por que me surpreendia com a sutileza escassa de Rocco. Ele falava tudo de uma vez,
não se importando com a reação das pessoas.
— Isso se trata de um casamento?
— Sim.
— Vocês não cansam dos casamentos arranjados? Romeo, você... — Iron falou calmamente e
Rocco riu, descansando os pés em cima da mesa.
— São negócios.
— Perigosos, eu diria — Iron disse sem rir e Rocco piscou lentamente enquanto o encarava.
— Não é um pedido.
— Eu sei. — Iron continuou sem sorrir e respirou fundo. — Não quero uma esposa, não
quero um anel em volta do meu dedo. Peço que reconsidere.
— Não posso. — Rocco coçou o queixo e encarou a mim e, em seguida, Iron. — Você é da
família. Tem sangue Trevisan e precisamos disso. Casamentos desfazem guerras, o seu será um deles.
— Você já pensou em tudo.
— Cada coisa. Quer conhecer sua esposa? — Rocco sorriu largamente e Iron respirou fundo,
negando.
— Dia e horário. Eu estarei lá.
Iron se ergueu e eu fiz o mesmo, ainda em silêncio.
— São negócios, Iron. Ter uma bela russa ao seu lado é apenas um brinde.
— Bratva? — Iron parou de se mover e Rocco acenou.
— Não haverá problemas — eu disse algo pela primeira vez e Iron me olhou. — Esteja na
igreja no dia e tudo ficará bem.
Iron não respondeu, apenas acenou, pediu licença e foi embora.
— Aos preparativos. — Rocco me olhou, sorrindo, e eu balancei a cabeça.
Ele era louco.
As semanas se passaram tão lentamente que eu já estava cansada da espera. Os enjoos
começaram e nada permanecia dentro do meu estômago por muito tempo. Eu ia ao hospital
constantemente, porque estava ficando fraca. Lá me davam soro e me olhavam com preocupação.
Romeo não me via ou sabia dos episódios. Os soldados sabiam, obviamente, pois me seguiam, mas
eu achava que eles não informavam nada a menos que fosse solicitado. E não foi.
Romeo fingia que eu não existia.
— Você está comendo de três em três horas? — a médica questionou quando eu cheguei ao
hospital mais uma vez durante aquela semana. Meus exames estavam em sua mão e seu rosto não era
bom.
— Sim, mas vomito tudo em seguida — eu disse rápido para evitar mais perguntas. Sempre
eram as mesmas, eu estava cansada, sonolenta e enjoada.
— Você está com Hiperêmese gravídica[iv] em um grau bem preocupante. Vou precisar internar
você, Lunna. — Suas palavras me fizeram ficar tensa e eu a encarei, assustada. — Você está fraca,
perdendo peso ao invés de ganhar, e desidratada. Seu bebê precisa que esteja bem. Por ele.
A culpa remoeu meu estômago. Eu estava fazendo mal a ele.
— Me desculpa — pedi, piscando assim que senti lágrimas encherem meus olhos.
— Você não tem culpa. Está pronta? Vou mover você para o quarto. — A doutora Amanda me
acalmou e eu acenei devagar.
— Quanto tempo ficarei aqui? — perguntei depois que o enfermeiro me ajudou a sentar em
uma cadeira de rodas.
— Não sei. Vamos ver conforme você melhora, mas não se preocupe, não passará de alguns
dias.
Acenei e peguei meu celular enquanto eles me guiavam pelo corredor. Não queria preocupar
Sienna, ela ainda estava muito abalada com morte de Salvatore. Lake ainda era uma criança, não
poderia vir aqui. Pensei em Matteo e suspirei. Droga.
— Lunna Trevisan me ligando. Oh, oh. — Matteo balbuciou ironicamente do jeito único dele.
— Estou no hospital.
— Merda, o que foi? Vou chamar Romeo — ele gritou, me fazendo gemer.
— Não, não o chame. Estou bem — eu me apressei a falar e Matteo ficou em silêncio. — Só
preciso que mande meus seguranças trazerem algumas coisas.
— Lunna, você está no hospital. Seja o que diabos for, você não está bem. — Matteo ficou
sério de repente e eu engoli em seco. — O que está acontecendo?
— Estou um pouquinho doente e precisei ser internada. É só isso.
— Vou chamar Romeo.
— Matteo, não precisa.
— Não minto para os meus irmãos, Lunna. Ele é seu marido, deve saber — meu cunhado
falou com firmeza e eu apertei meus dedos contra meus olhos.
— Tudo bem. Se ele vier, mande trazer meus produtos de higiene e meu Kindle. Está no
closet — falei de uma vez e Matteo respondeu que faria isso. — Se ele não vier, você traz?
— Ele vai, Lunna.
Não consegui respondê-lo, pois ele desligou.
— Tudo certo? — Amanda perguntou e eu acenei, esperando que sim.
Fiquei no quarto e ponderei ligar para Sienna mais uma vez. Nenhum deles sabia da minha
gravidez. Eu queria manter assim. Principalmente por temer dizer que o bebê poderia ser de Nikolai.
Queria tirar a dúvida e depois contar, mas infelizmente tudo estava desmoronando.
Bateram na porta do quarto e eu me sentei, tendo cuidado com meu acesso venoso. O pacote
grande de soro não estava nem perto de acabar. Quando o cabelo escuro de Matteo apareceu, eu me
perdi um pouco dentro de mim mesma.
— Então para que você usa esse treco? — Meu cunhado se aproximou com o Kindle nas
mãos e uma bolsa na outra.
— Ele vem, hum? — murmurei devagar, ignorando suas palavras.
— Ele viajou. Não se preocupe, ele já sabe e está voltando.
— Quando?
— Ele viajou hoje de madrugada. — Matteo me entregou minhas coisas e se sentou na
poltrona, relaxado. — Eu não sabia que ele tinha ido.
— Tudo bem. — Acenei e liguei meu aparelho. Procurei o último livro que peguei e abri na
página em que parei. — Você já sabe?
— Juntei os pontos — Matteo falou, seus olhos fixos no celular. — Espero que ela puxe a
você.
— É um homem, mas eu também espero — eu disse de volta e toquei minha barriga redonda e
pequena. Eu havia descoberto o sexo por um exame de sangue dias atrás. Matteo sorriu e se inclinou.
— Posso? — Sua mão pairou acima da minha pele.
— Claro. — Eu me deitei para que ele pudesse ter um melhor acesso.
Matteo contemplou minha barriga de uma maneira que eu nunca fiz. Nunca toquei nela da
maneira fascinada que o Trevisan estava.
— Ele tem nome?
— Ainda não — murmurei, engolindo em seco enquanto Matteo se afastava.
— Um dia, muito, porra, muito mesmo distante, eu vou querer um — ele riu ao falar.
Eu relaxei enquanto o olhava de lado.
— Ele será seu mundo.
— Eu sei. — Matteo sorriu mais largo e me deixou de lado, focando novamente em seu
celular.
Nós jantamos juntos e quando pensei que ele iria embora, Matteo me surpreendeu ao se deitar
na cama de acompanhante, ainda mexendo no celular. O enjoo não me perturbou e eu suspeitava que
era pelos remédios que a doutora Amanda estava me dando.
Adormeci em algum momento sem perceber.
Durante a noite eu senti uma mão contra meus lábios e arregalei os olhos, me debatendo.
Matteo entrou em meu campo de visão e me mandou ficar quieta.
— Ouvi tiros. Vamos sair daqui — ele ordenou. Arregalei os olhos, com medo. — Eu preciso
que tire essa merda. — Matteo apontou para o acesso venoso e eu acenei, me virando. Tirei devagar
e choraminguei com a dor da agulha.
Matteo me puxou ainda vestida apenas com a camisola do hospital e nós andamos para fora
do quarto. O barulho de um novo tiro fez meus olhos encherem de lágrimas.
— É Mikhail? — perguntei a Matteo enquanto ele me segurava perto e andava pelo corredor.
— Talvez.
— Como descobriram que eu estava aqui?
— Não sei. Vamos. — Ele apertou o botão para chamar o elevador e nos escondeu, mirando a
arma que carregava nas portas. Quando elas abriram, as enfermeiras dentro arregalaram os olhos,
assustadas. — Se escondam!
Matteo nos colocou dentro do elevador assim que elas correram em busca de um esconderijo
e socou o painel. A caixa de metal parou de se mover quando ele apertou o botão de parada de
emergência.
— Estamos no elevador. Quem é? — Matteo disse calmamente ao celular e ouviu a resposta.
— Ela está bem. Vou ficar no elevador. É o tempo que vai levar para chegarem. — Matteo desligou e
apertou a arma, ficando de frente para as portas do elevador, mirando-a nelas e na porta do teto.
— Quem é?
— Seu pai.
— O quê? — eu gritei, arregalando os olhos.
— O fodido quer você e Lake. — Matteo acenou.
— Mas por quê?
— Porque ele quer morrer. Desculpe, Lunna, ele não vai sair vivo de Chicago.
Diferente do que Matteo imaginava, eu não senti nada. A imagem da cabeça da mamãe
naquela caixa foi o suficiente para eu desejar ardentemente matá-lo com as minhas próprias mãos.
— Era Romeo no celular?
— Sim.
Eu relaxei um pouco, sabendo que ele nunca me deixaria ser machucada.
Não sei quanto tempo ficamos dentro do elevador, mas quando o celular de Matteo voltou a
tocar, eu suspirei de alívio.
— Droga. Estou indo — ele respondeu rápido e eu o encarei, alarmada. Matteo socou o
painel e o elevador voltou a andar. — Segura. — Matteo tirou uma nova arma do seu coldre e eu
balancei a cabeça. — Romeo está sozinho. Rocco e Prince foram por trás. Você precisa segurar a
arma.
— Eu não...
— Ele pode morrer lá, Lunna — Matteo disse e meu coração parou de bater por alguns
segundos. Depois de um segundo, eu segurei a arma com força. — Você vai parar o elevador da
mesma maneira que fiz. Não abra a porta. Não mova o elevador.
— Tá.
— E se alguém aparecer, não pense, apenas atire.
— Matteo. — Engoli em seco, assustada.
— Eles não teriam pena se fosse você na mira deles.
As portas se abriram e Matteo se virou, mirando a arma para a frente. Quando ele saiu, eu me
vi sozinha e fiz o que ele ordenou. Minha palma começou a suar contra a arma pesada e eu engoli em
seco.
Vamos ficar bem, pensei ao tocar a minha barriga e piscar, apertando a arma com mais força.
Dez minutos depois, Romeo ligou e me mandou sair do elevador. Fiz isso ainda segurando a
arma e não a baixei em nenhum segundo até ver Romeo diante de mim, sujo de sangue e olhando para
baixo.
— Oh meu Deus! — Meus joelhos cederam e eu caí ao lado de Matteo. Vários médicos
estavam sobre ele enquanto mãos me puxavam para longe. — Matteo.
— Ele vai ficar bem — Romeo falou contra meu cabelo e eu pisquei, sentindo lágrimas
encherem meus olhos.
Matteo foi levado por médicos enquanto eu ainda me debatia e Romeo continuava me
segurando.
— O que aconteceu? — perguntei, me afastando dele, mesmo querendo estar em seus braços,
protegida.
— Seu pai tentou sequestrar você e Lake. Os homens que foram à mansão estão mortos. De
alguma maneira ele soube que você estava aqui e veio para cá. — Seus olhos encontraram os meus e
eu pisquei, me recompondo.
— Usei meu cartão de crédito antigo na lanchonete quando cheguei. Eu pensei que estivesse
cancelado a essa altura, mas passou. Eu jamais poderia imaginar...
— Nunca mais faça isso — Romeo ordenou.
— Eu preciso voltar ao quarto.
— Você vai para a casa.
— Não, eu não vou. — Eu me virei, encarando-o com raiva. — Eu não estou bem e,
consequentemente, meu filho também não, então, Romeo, eu vou ficar exatamente onde estou.
— Lunna — ele rosnou, furioso.
— Eu sei que você quer que ele morra, mas eu não. Na verdade, ele é tudo que tenho — eu
disse convicta e o olhei de cima a baixo. — Eu errei por pensar que me amava. Você não consegue.
— Você...
— É um menino, aliás — falei, enxugando minhas bochechas.
— O que você quer?
— Hoje, nada. Amanhã, sim. Quando o resultado sair, eu quero que assine o divórcio e me
deixe ir embora.
— Ele vai ser meu.
— Se for também — murmurei com firmeza e ele franziu as sobrancelhas. — Perdoei demais
você, Romeo. Cada traição, mentira e distância. Perdoei você por ter me deixado sozinha durante
três anos, mas não vou perdoar você por me fazer sentir culpa. Culpa por algo que eu não tive, culpa
por um bebê.
— Eu não...
— Mande seu advogado me procurar.
— Não faça isso! — Romeo gritou, furioso, e eu ergui meu queixo. — Eu nunca vou deixar
você ir. Me mate antes, Lunna, você sabe onde guardo minhas armas.
Ele se virou e sumiu pelo corredor, me deixando sozinha mais uma vez.
Amanda apareceu na manhã seguinte com o semblante cauteloso. A bagunça de ontem tinha
nome e sobrenome. Lunna Trevisan. Eu compreendia seu medo.
— Você já pode ir para a casa. — Suas palavras rápidas me fizeram lhe dar um sorriso
pequeno.
— Eu entendo seu medo. Não se preocupe, ninguém irá machucá-la — eu disse, tentando
consolá-la.
— Desculpe. — Ela pareceu engolir me seco.
— Tudo bem. — Eu me sentei na cama e ela me tocou devagar, tirando o acesso venoso que
colocaram novamente ontem.
— Vou pedir que continue com o soro. Uma dieta calórica e exercícios. — Amanda se
aproximou e sorriu devagar. — Espero que você e seu príncipe fiquem bem.
— Obrigada.
Levei apenas dez minutos para trocar de roupa e pegar meus pertences. Três soldados
estavam de pé do lado de fora e eu acenei para eles, andando para longe do quarto.
— O Romeo quer a sua presença no Village — um deles falou assim que entramos no carro.
Eu acenei, sabendo que era uma ordem direta de Romeo dada a eles.
Quando cheguei ao tal Village, vi uma dúzia de mulheres no bar. Suas roupas eram curtas,
seios grandes saltando das peças. Elas me olharam assim que entrei no local. Não foquei minha
atenção em nenhuma. Não queria imaginar qual delas foi para cama com meu marido. Eu sabia que
muitas.
— Por aqui — um dos homens que me trouxeram disse e eu o segui.
Assim que entrei na sala, eu vi Rocco sentado e Romeo perto de uma janela que dava vista
para a entrada do lugar.
— Romeo lhe fez uma promessa.
Olhei para Romeo, que permanecia virado, e voltei a encarar meu cunhado em busca de
explicações.
— Você vai precisar de uma arma.
Franzi as sobrancelhas e Romeo se virou, travando os olhos nos meus.
— Eu jurei que entregaria seu pai. Ele é seu. — Ele tirou uma das suas armas do coldre e
andou até mim, colocando-a entre meus dedos.
— Romeo — ecoei, chocada.
— Decida. — Ele me encarava com seriedade.
— Não posso. — Engoli em seco e me afastei, deixando a arma nas suas mãos. — Mate-o
por mim. Eu não consigo.
— Tudo bem — Romeo disse, ainda com os olhos presos aos meus.
Rocco se ergueu da mesa.
— Parabéns pelo menino. — Ele tocou meu ombro e eu pisquei, encarando-o completamente
rígida. — Romeo não esconde nada de mim, Lunna.
— Espero que ele já tenha dito que eu pedi o divórcio — falei de uma vez e vi Romeo
semicerrar os olhos, fúria dançando em sua íris.
— Ele nunca lhe dará — Rocco afirmou alto o bastante para me fazer estremecer. — A Outfit
não segue os costumes tanto quanto a Cosa Nostra, mas prezamos alguns e casamento é um deles. Não
há divórcio.
Suas palavras continuaram na sala mesmo depois que ele saiu.
Lunna não pronunciou uma palavra desde que saímos do Village. Eu tinha sua receita e
histórico médico no celular e vasculhei cada linha para saber realmente o que ela tinha. Hiperêmese
gravídica. Uma merda que dá em um por cento das mulheres grávidas.
— Quem é aquela mulher na minha cozinha? — o seu grito não me espantou.
Apostava meu dinheiro que ela gostava mais da cozinha do que de mim.
Me virei e a vi na entrada do meu escritório.
— Contratei uma cozinheira — respondi.
— Eu faço a minha comida! — Ela bateu o pé e o vestido que usava chamou minha atenção. A
bolinha redonda em seu ventre me deixou sem ar por alguns segundos. — Romeo!
— Você precisa descansar e seguir uma dieta. A médica passou tudo e a nutricionista fez um
cardápio que a Morgana vai seguir — expliquei, desviando os olhos dela.
— Mas...
— Cama, soro, comida e caminhada à tarde. É tudo que pode fazer até melhorar — cortei sua
fala e ela fechou os olhos, respirando fundo. — Mais alguma coisa? — perguntei, empurrando sua
irritação.
Ela se virou e me mostrou o dedo do meio.
Sorri e continuei trabalhando.
Sienna apareceu na porta de casa assim que Morgana serviu o almoço. Lunna se ergueu e os
olhos da minha cunhada foram atraídos para a barriga pequena. Lunna poderia não ter percebido, mas
eu sim. Sienna se encolheu um pouco.
— Um menino? — Ela se recuperou e abraçou minha esposa, me dando um sorriso.
— Sim, descobri há pouco tempo — Lunna murmurou baixo e eu vi culpa em seu rosto. —
Desculpa, eu queria contar, mas...
— Não tem problema. Eu vou ser tia! — Sienna gritou, vi a felicidade clarear seu rosto.
As duas se abraçaram mais uma vez e Lunna pediu que Sienna se juntasse a nós. O que ela fez
de bom grado.
— Lake virá mais tarde. Ela tem sessão com a psicóloga.
— Vou escolher um filme para ver com ela.
— Já escolheu o nome dele? — Sienna levou um garfo à boca e mastigou enquanto esperava a
resposta de Lunna. Eu fiz o mesmo.
— Mais ou menos. Eu pensei em alguns, mas não decidi — Lunna disse, revirando o prato.
Sienna olhou entre nós dois. — Sua mãe está melhor?
— Sim, vai fazer um cruzeiro esse mês. — Sienna engoliu em seco. Lunna tocou sua mão por
cima da mesa. — Está amenizando.
— A minha também. — Lunna engoliu em seco e deslizou o dedo pela tela do celular, onde a
foto da sua mãe estava.
Sienna foi embora duas horas depois, pois ficou com Lunna no quarto enquanto ela tomava
soro. Eu subi a escadas depois de receber uma atualização sobre Giulio. Ele continuava em coma.
Parei na entrada do quarto e vi minha esposa acariciar a barriga, perdida em pensamentos.
— Precisa de alguma coisa? — perguntei baixo para não a assustar, mas mesmo assim ela
pulou. — Não quis assustar.
— Não tem problema. — Lunna respirou fundo e balançou a cabeça. — Vou caminhar agora,
não preciso de nada.
— Você sabe ligar a esteira?
— Sim. — Ela acenou e eu cruzei meus braços, ponderando minhas próximas palavras.
Vê-la pedir o divórcio e jogar meus erros no meu rosto naquele corredor de hospital me
deixou inquieto e me sentindo horrível. Eu a estava perdendo. Por erros que não foram cometidos por
mim, por ela ou por nosso filho.
— Não quero mais saber. — Minhas palavras fizeram Lunna me encarar com um ar confuso.
— Ele é meu, Lunna. Nosso.
Seus olhos se expandiram e sua respiração engatou.
— Eu vou amá-lo da mesma forma porque é seu. Veio de você. E nada que saia de você, que
tenha seu sangue e seus olhos, merece nada menos que amor.
— Você... — Lunna engasgou e se levantou da cama.
Continuei parado, mesmo querendo correr em sua direção.
— Você é tudo que eu quero e penso. Eu dou minha vida por você, mas não me peça o
divórcio, porque isso é a única coisa que eu nunca farei por você — pronunciei cada palavra com
todo meu coração.
Nunca pensei que meu coração batesse por outra razão além de bombear sangue. Lunna
Trevisan me mostrou que eu estava enganado. Ele batia por ela.
— Eu te amo, Lótus.
Ela colidiu contra mim e eu senti suas lágrimas molhando minha camisa de manga longa. Seus
braços me rodearam e Lunna inclinou o rosto, seus olhos azuis presos aos meus.
— Eu te amo. Me desculpa por tudo isso.
— Não. Você estava certa no hospital. Eu fiz você se culpar por algo que não teve
responsabilidade, eu pedi que tirasse a vida de um bebê que pode ser meu. Eu não sou assim. Eu
mato pessoas e as torturo, mas eles merecem isso. Nosso filho não.
— Ele é seu. Eu sinto, Romeo.
— Que bom, Lótus. Porque eu sinto o mesmo.
Ela soluçou e eu a peguei em meus braços, abraçando-a tanto quanto eu podia. Lunna me
beijou e segurou meu rosto enquanto eu sentia um tipo de emoção que nunca experimentei com
ninguém além dela.
— Estava com saudade de você. — Ela gemeu quando beijei e lambi seu pescoço.
— Tire a roupa — pedi, minha voz rouca. Lunna desceu, puxando o vestido. — Merda —
murmurei, vendo suas curvas e seus peitos ainda maiores. Segurei um em toda minha mão e Lunna
gemeu.
Segurei seu cabelo enquanto lambia o mamilo e mordia devagar. Me afastei, tirando minha
camisa e saí da calça. Lunna me esperava, nua e ansiosa, então me deitei na cama e a puxei para mim.
Segurei seus quadris largos e a fiz deslizar pelo meu pau. Se isso podia ser verdade, sua boceta
estava ainda mais apertada.
— Ah — ela gritou enquanto eu a ajudava a subir e descer.
Me inclinei e peguei seu outro mamilo, chupando com força. De alguma maneira, sua boceta
apertou mais e eu a senti gozar. Rápido e forte. Nos virei e empurrei dentro dela, segurando seu
pescoço. Lunna me apertou com mais força e eu sorri ao ver que ela gostava. Pressionei meus dedos
mais um pouco e ela gozou mais uma vez, puxando meu esperma para dentro dela.
— Eu gosto disso — ela disse entre respirações quando desabei em cima dela e ri.
— Percebi.
Nós fomos para o banheiro e eu a ajudei a entrar na água quente. Toquei sua barriga enquanto
ela encostava a cabeça em meu peito, de costas para mim. Lunna suspirou e eu beijei seu pescoço.
— Remy.
— Hum?
— O nome que pensei — Lunna explicou.
— Remy Trevisan — murmurei, deslizando a mão em sua barriga.
— O que acha? — ela perguntou, ansiosa.
— Um nome americano.
— Sim. Eu não pensei nisso. — Sua voz ficou preocupada e eu a fiz me olhar por cima do
ombro.
— Eu gostei. Combina.
Lunna sorriu e eu recebi vários beijos em recompensa. Nós saímos do banheiro e eu a
acompanhei na academia. Corri ao seu lado, prestando atenção se ela estava bem. Lunna sorria a
cada vez que me via observando-a.
— Você precisa ir trabalhar — ela disse quando passava das seis da tarde.
Eu tinha algumas coisas para resolver, era verdade.
— Onde está Lake? — perguntei, vendo-a se mover pela cozinha enquanto fazia pipoca.
— Deve estar chegando.
— Oh meu Deus, cadê meu sobrinho? — o grito da minha irmã fez Lunna rir e eu revirar os
olhos.
— De olho nela. Volto daqui duas horas.
— Certo, General.
Ouvi as duas rirem enquanto eu saía.
Me aproximei do meu irmão e ele gritou com alguém pelo fone de ouvido que usava. Me
sentei ao lado da sua cama e Matteo franziu a testa para a TV.
— Seu merda do caralho — seu grito cessou quando ele gemeu de dor. A marca da bala em
sua coxa ainda estava se curando.
— Você deveria estar descansando — eu disse, segurando meu celular e mandando
mensagens a Iron. Rocco tinha escolhido a data de casamento.
Daqui a dois meses.
— Estou bem — Matteo murmurou e olhou para as minhas mensagens. — Iron se fodeu. —
Ele riu e deixou o videogame de lado enquanto eu dava de ombros.
— A moça é bonita, então não acho que ele se fodeu — falei, virando o celular para Matteo.
Meu irmão encarou a mulher ruiva por alguns segundos e arqueou as sobrancelhas em agrado.
— Gostosa.
— Iron não está interessado, mas é seu dever.
— Dever e honra — Matteo balbuciou e eu acenei, guardando o celular. — Qual o nome
dela? — Olhei para Matteo e arqueei as sobrancelhas. — O quê? Eu não posso ser curioso?
— Não cause problemas.
— Eu?
— Você acha que Rocco e eu não sabemos que fode as mulheres de alguns dos nossos
homens? — questionei com seriedade.
— Elas me desejam — Matteo me deu um sorriso presunçoso —, eu dou o que elas querem.
— Ele abriu os braços e eu balancei a cabeça.
— O nome da noiva de Iron é não é da merda da sua conta.
Matteo riu ainda mais enquanto eu me erguia e andava até a porta.
— Nika Petrov — murmurei no limite da porta e Matteo parou de rir. — Se olhar para ela eu
darei permissão a Iron para punir você. Pare de dormir com mulheres que pertencem a outros
homens.
— Claro, chefe — Matteo respondeu enquanto me encarava, mas não ria mais.
— O nome do seu sobrinho será Remy.
Saí deixando a informação e desci a escada. Ouvi uma movimentação na cozinha e andei até
lá. Não era na cozinha em si. No banheiro, que ficava próximo. Me aproximei e ouvi um soluço,
suspirei ao reconhecer Sienna.
Bati à porta devagar e esperei alguns segundos até ela abrir.
— Você está bem? — questionei assim que ela apareceu, seus olhos vermelhos.
— Sim. — Ela mordeu o lábio e olhou para o chão. — Só ando sentindo falta de casa mais
do que o normal.
— Você está em casa — respondi bruscamente e ela arregalou os olhos, porém acenou
rapidamente.
— Eu sei. Mamãe apenas... eu quero a minha mãe. — Ela limpou as bochechas e piscou, se
recuperando. — Não comente com Rocco sobre isso...
— Você mentiu. Não sei o que está acontecendo, então não poderia dizer a ele. Você quer
falar a verdade agora? — Empurrei a questão e vi seus olhos se arregalarem ainda mais.
— Não, não.
— Vá. — Apontei para fora e ela suspirou ao se afastar.
Rocco me encontrou na sala enquanto eu olhava para o lago ainda congelado. O inverno só
acabaria no próximo mês. Ele se sentou no sofá enquanto segurava um copo com uísque.
— Lake pediu para ir para a faculdade em outro estado. Daqui a dois anos. Disse que
pensássemos com calma e depois disséssemos a ela.
Suas palavras me fizeram franzir o cenho.
— É um não — respondi prontamente e Rocco acenou.
— Eu também acho.
— Se ela quiser ir para UC ótimo, caso contrário, ela vai estudar de casa. É o máximo de
liberdade que ela vai ter — falei e me sentei de frente para o meu irmão.
— Ela pediu para ver Carmelo.
— Ele está morto... quase.
— Ela queria vê-lo no seu pior. — Rocco coçou o rosto e me olhou com firmeza. — Ela
cuspiu nele, Romeo. Bem na cara dele.
Fiquei chocado demais para pronunciar algo.
— Lake será uma dor na nossa bunda. Escreva o que estou dizendo.
Eu apostava que sim. Lake tinha um olhar firme quando estava com raiva, e aquele olhar
ainda deixaria homens de joelhos.
— Sienna está bem? — perguntei ao meu irmão diretamente.
Ele respirou fundo e esfregou o rosto.
— Não sei. Ela se fechou de uma maneira que não estou conseguindo entrar. Desde Salvatore
ela está assim. Eu a pego chorando em cada canto, já fui cruel, já fui devagar e calmo, já tentei tudo.
Eu não estou a alcançando.
— Vocês estão tentando engravidar? — perguntei diretamente.
Rocco franziu as sobrancelhas, porém deu de ombros.
— Não tentando realmente, mas nunca usamos proteção. Por quê?
— Ela quer isso. Um bebê — falei para meu irmão e me inclinei. — Eu vi em seu olhar
quando ela soube de Lunna.
— Você acha que é por isso que ela está distante?
— Talvez. Fale com ela. Sienna é sua, Rocco. Aquela mulher ama você.
— Vou falar.
Apertei seu ombro e me ergui, indo embora.
O envelope branco estava sobre a mesa de cabeceira enquanto eu roía minha unha. Eu tinha
acordado pouco depois que Romeo saiu para trabalhar e o exame foi entregue após o café da manhã.
Morgana fez ovos mexidos e me deu um chá, que segundo ela, me deixaria sem enjoos. Porém, desde
que peguei no papel que diria que meu bebê era ou não de Romeo, eu estava em pânico.
— Lunna. — A voz de Sienna me tirou dos meus pensamentos, eu me virei e a encontrei
parada na porta.
— Ei! — Me aproximei devagar e a abracei. Sua pele gelada me arrepiou antes de nos
afastarmos. — Você está melhor?
— Não sei — ela disse devagar e segurou minha mão.
— Eu entendo — murmurei. Sienna acenou, piscando os olhos cheios de lágrimas. — Você
vai ficar bem, Si. Logo logo — afirmei, querendo consolar minha amiga.
— Sim, espero que sim. — Sienna tocou minha mão e apertou devagar. — Salvatore está
morto e eu me sinto culpada. Meu luto não passa e eu menti quando disse que a dor estava
amenizando. Meu irmão era muito jovem, e cada vez que olho para Matteo eu penso nele. — Ela
deixou as lágrimas descerem pelas bochechas.
— Você merece ser feliz, Sienna. — Toquei seu rosto. — Salvatore é o único culpado por sua
morte. Ele fez isso. Não você.
— Mas não somos Deus para decidir quem morre e quem vive. Rocco e Romeo não têm esse
poder... — Sienna contrapôs rapidamente, me interrompendo. — Quando foi que aceitamos isso?
Qual foi o momento que passamos a achar normal...
— Não faça isso — pedi, inclinando a cabeça e franzindo o rosto.
— Lunna.
— Eles são o que são. Isso é a máfia. Isso é nossa vida. Não vou julgar Romeo pelo que ele
é. Não posso mudá-lo e não vou tentar. — Sienna desviou os olhos dos meus e eu apertei seu joelho.
— Não tente. Porque se você fizer Rocco escolher, ele vai ser morto. Ele precisa que o apoie, seja
sua força. Rocco quer você feliz. Feche seus olhos, Sienna, olhe para o outro lado, mas não o faça
achar que o ama menos por ele ser o chefe da Outfit.
— Eu o amo por tudo. Não é uma ou outra coisa. Ele me faz bem, mas a morte de Salvatore
me tirou o chão. E estou caindo, Lunna. — Si piscou e eu limpei a lágrima solitária que deslizou pelo
seu rosto.
— Dói, eu sei. Só peço que não deixe a escuridão te engolir quando você consegue alcançar a
luz. O amor de vocês é seu filete de brilho. Agarre-se a ele e o deixe te curar. Você merece.
— Eu sei. — Ela sorriu. — Amo vocês dois. Obrigada. — Si me puxou contra seu peito.
— Nós te amamos também. — Fechei os olhos, abraçando-a de volta
— Remy, hum? — Ela se afastou e sorriu, limpando as bochechas.
— Você gostou? Eu sou ótima em escolher nomes. Eu te ajudo quando você engravidar do seu
bebê — falei, brincando.
— Obrigada, mas já escolhi. Será Amo ou Alena. — Ela lambeu os lábios e sorriu em
expectativa.
— São nomes italianos. Perfeitos.
— Sim, eu gosto deles desde pequena.
— Nossos filhos serão melhores amigos desde sempre.
— E para sempre.
Nós sorrimos.
— O que eu perdi? — Lake apareceu na porta com uma bacia com pipoca.
— Nada! Você pode pegar meu celular na cômoda? — pedi, fazendo biquinho.
— Você vai usar esse truque para que eu fique com Remy? — Lake questionou enquanto ia
pegar meu telefone.
— Você vai ser minha babá número um.
— Soou como uma ameaça, sabe, Lunna. Uma sentença de morte.
Nós rimos e eu tentei esconder a emoção de ter Lake assim, conosco. A terapia estava
fazendo bem a ela. Seu medo, cautela e tristeza estavam se dissipando. Sienna e eu já tínhamos falado
sobre isso.
— Vocês viram a russa que virá para Chicago? — Lake questionou, juntando as pipocas que
deixou cair, enquanto Sienna estava trançando meu cabelo.
— Como assim? — questionei, confusa.
— Um casamento vai acontecer em alguns meses. Entre Iron e ela.
— Quem diabos é Iron e como você sabe disso tudo? — perguntou Sienna, meio rindo.
— Iron é primo dos meus irmãos. Enfim, eu ouvi. As paredes têm ouvidos, sabia? — Ela
arqueou a sobrancelha e eu balancei a cabeça. — Enfim, eu vi uma foto dela no computador de
Romeo.
— Por que Romeo teria uma foto dela? — questionei, ficando tensa.
— Meu Deus, como você é ciumenta.
— Desembuche, espertinha.
— Não sei, mas... quero conhecê-la.
— Por que haverá casamento entre a Outfit e a Bratva? Estamos em guerra e piorou desde que
o irmão de Nikolai tentou pegar Lunna. — Sienna questionou, me fazendo ficar tensa por um segundo.
— Não sei! Escutei tudo pela metade. Por que vocês não buscam informações com seus
maridos e me contam a fofoca completa? — Lake indicou, pegando o último grão de pipoca e o
levando à boca.
Pensei sobre a mulher russa depois que as meninas foram embora. Não queria questionar
Romeo, ainda mais com o envelope branco diante de nós, mas a curiosidade estava me corroendo.
— Você está nervosa — Romeo murmurou enquanto andava até o closet apenas de toalha. Sua
pele tatuada estava salpicada com pingos de água e eu mordi meu lábio, desejando lamber cada uma
delas. — Lótus. — Sua voz me fez piscar e eu encarei seu rosto.
— Por que haverá um casamento entre a gente e a Bratva? — perguntei de uma vez.
Romeo semicerrou os olhos, talvez se perguntando como eu poderia saber disso.
— Mikhail estava enviando homens para nosso território.
— Por minha causa?
— Sim. Ele não quer guerra com a Outfit. Ele queria apenas você.
Um arrepio me atravessou, porém Romeo me tranquilizou com apenas um olhar.
— Ele teria que passar por mim, Lunna.
— Eu sei. — Acenei, ficando mais tranquila.
— Rocco aprendeu com o Bellucci que casamentos cessam guerras. — Meu marido se
aproximou. — Agora que estamos querendo a cabeça de Enrico, Rocco sabe que Mikhail quer o
mesmo, então ofertou uma aliança — Romeo explicou.
— Vocês confiam? Eles não criam mulheres submissas como a Cosa Nostra. Ela pode estar
vindo me matar. — Eu me surpreendi com o quão firmes as minhas palavras saíram.
Romeo pareceu ter a mesma reação, pois ficou alguns segundos processando isso.
— Se ela chegar a um metro de você, eu cortarei a garganta dela como fiz com aquele filho da
puta. Você é minha única preocupação. Eu matarei todos que colocarem você em perigo. Iniciarei
guerras por você e queimarei no meio delas sem hesitar. — Romeo se inclinou, segurando meu
queixo. Engoli em seco, respirando rapidamente. — Vocês dois são minha única prioridade até o meu
último suspiro.
Eu sabia que suas palavras eram o seu jeito de dizer que nos amava. Toquei seu rosto e o
beijei. Romeo retribuiu de maneira carinhosa, porém suas mãos eram firmes. Eu gemi quando ele me
deitou na cama e cobriu meu corpo com o seu.
Puxei sua toalha e contemplei seu corpo. Seu olhar nublado me deu uma sensação de poder
que nunca tinha experimentado. Empurrei seu peito, e mesmo com o rosto franzido de confusão, ele
se afastou até ficar de pé. Tirei meu vestido e me ajoelhei diante dele. Romeo trincou a mandíbula
assim que peguei em seu membro longo e grosso e me inclinei, levando-o aos meus lábios e
deslizando a minha língua por seu cumprimento.
Enquanto o provava, meu marido enfiou a mão em meu cabelo e segurou em um aperto tão
firme que doía, mas também enviava faíscas doces pelo meu corpo até meu clitóris.
— Porra.
Sorri enquanto o sugava mais forte, e continuei com os olhos presos nos dele. Quando ele
estremeceu, eu me afastei e seu esperma respigou em meus seios e lábios.
— Você de joelhos e suja com minha porra é a visão da merda do paraíso.
Sorri e Romeo me ajudou a me erguer. Sua mão espalhou seu gozo pelo meu corpo e ele
enfiou os seus dois dedos em minha boca. Chupei devagar e ele me virou. Sua mão em minha coluna
pressionou e eu sabia que ele me queria curvada. Ele deslizou para dentro de mim tão lentamente que
meus olhos lacrimejaram de prazer. Sua mão enrolou em meu pescoço e eu tremi, sentindo o aperto
dos seus dedos. Eu não sabia que gostava do jeito bruto, mas descobri que amava quando Romeo
apertava seus dedos em meu pescoço enquanto fazíamos amor.
Gozei em duas estocadas e Romeo continuou até me tirar mais um orgasmo. Desabamos na
cama assim que ele gozou dentro de mim.
— Você é perfeita. — Romeo beijou minha coluna e eu sorri, virando meu pescoço para olhar
seu rosto.
— Eu te amo. — Toquei seu rosto e me aproximei, descansando meu queixo em seu peito. —
Sei que falou que não quer ver o exame, mas ele chegou — falei de uma vez e peguei o papel de cima
da mesinha. O corpo de Romeo ficou rígido e eu toquei seu rosto mais uma vez. — Eu não quero que
faça isso por mim. Se pelo menos uma parte pequena de você quer saber, abra e veja. Por favor.
— Vocês são meus. — Suas palavras saíram firmes, mas ainda assim enxerguei o desespero
por baixo delas.
— Somos e sempre vamos ser, mas não quero que no futuro você acorde e olhe para Remy se
perguntando se ele é seu ou não — balbuciei devagar e beijei seu peito.
— Ele é meu. Só meu. Nosso — Romeo falou ao se sentar, então acenei e fiz o mesmo.
— Converse com Rocco — pedi, sorrindo, e passei a mão por sua barba por fazer.
— Rocco tem seus próprios problemas. — Romeo beijou minha palma e se ergueu. Ainda nu,
ele tirou o papel dos meus dedos e andou até minha escrivaninha. Ele tirou um isqueiro da blusa e o
acendeu, queimando o papel.
Tampei meus lábios e continuei observando o papel pegar fogo lentamente.
— Remy é um Trevisan e ele herdará a Outfit — Romeo murmurou lentamente e se virou,
ainda segurando o papel queimando. — E ele vai queimar a Bratva.
O arrepio que sua frase enviou ao meu corpo me preocupou.
— Não acredito que essa mulher é ela — Lake resmungou ao meu lado assim que a russa
entrou no salão de festas, quatro semanas depois.
Nika Petrov era linda no mais belo significado da palavra. Seus cabelos ruivos eram longos e
chamativos. Tão lisos quanto o meu quando eu fazia chapinha. Corpo esguio, poucas curvas, mas os
seios de uma atriz pornô, sem dúvidas. Eu tinha seios normais, mas os dela pareciam silicone de tão
grandes.
— Quero esses peitos — Sienna disse ao meu lado e eu ri, porém escondi quando vi os olhos
de Romeo presos em mim.
— Romeo parece um segurança em alerta.
— Ele é protetor — murmurei, sem querer contar sobre o medo que eu e meu marido
compartilhávamos.
— Rocco é protetor, Romeo é possessivo.
— Rocco é o possessivo — eu retruquei rápido e Sienna começou a rir.
— O que vocês tanto falam? — Prince se aproximou devagar e tocou o ombro de Lake. Ela
sorriu e falou a ele. — Impressionantes. — Prince mordeu o lábio e Sienna deu um tapa em seu
braço, fazendo-o rir.
— Ela está vindo — Sienna avisou.
Ergui os olhos e a vi se aproximar com um homem alto, musculoso e assustador. Iron era tão
assustador quanto Rocco.
— Romeo — Iron cumprimentou meu marido e eu o vi logo atrás de mim. — Senhoras. Essa
é minha noiva, Nika.
— É um prazer, Nika. — Sienna sorriu do seu jeito simpática, e eu fiz o mesmo.
— Seja bem-vinda — falei.
Eu a vi dar um passo em minha direção. Romeo me puxou e a moça de olhos escuros piscou,
assustada com o gesto brusco.
— Não a toque. — Seu tom cortante fez Nika dar um passo para trás.
— Eu não a machucaria — sua voz saiu baixa.
Iron segurou a cintura dela, deixando-a rígida, então olhou para ela sem expressar qualquer
sentimento.
— Precisamos cumprimentar outras pessoas — ele disse enquanto se afastavam.
— Meu Deus, que esquisito — Lake disse.
Respirei fundo enquanto Romeo continuava me segurando, então beijei seu pescoço.
— Está tudo bem. — Eu o tranquilizei baixinho, porém ele não relaxou.
— Estará em breve.
— Vocês têm medo dela? — Iron perguntou assim que deixei Lunna na mesa com Prince e
Matteo, e viemos a uma sala privada do hotel de luxo.
— Que merda está falando? — Rocco perguntou e levou um dos cigarros à boca.
Eu pensei que ele tivesse parado, mas meu irmão era imprevisível.
— Romeo agiu como um diabo protetor quando Nika tentou tocar a esposa dele — Iron
explicou como se eu não estivesse na merda da sala.
— Você confiaria, porra? — perguntei, semicerrando os olhos.
— Não dou a mínima. Por que diabos a trouxeram se não confiam nela?
— Eu preciso explicar a merda a cada vez, porra? — Rocco gritou ao se virar e olhou com
fúria para Iron. — A mulher é bonita, você vai tê-la esquentando seu pau toda noite e vai te dar
filhos. Qual é a merda do problema? — Ele se aproximou perigosamente.
Eu só respirei fundo ao me afastar.
— Nada. Só fiquei confuso. — Iron se afastou também.
— Você se casa em uma semana. Fique com sua noiva. — Rocco tragou o cigarro mais uma
vez, acenando.
Iron saiu da sala e eu encarei meu irmão.
— E aí? Nika não pode se aproximar da cristal? — meu irmão zombou e eu semicerrei os
olhos.
— Que merda está acontecendo com você? — perguntei, furioso. Rocco olhou para a porta e
eu segui seu olhar, encontrando Sienna sentada à mesa com Lunna. As duas sorriam. — Ela está bem.
— Os problemas de sempre. Só isso — Rocco disse, respirando fundo e se afastando.
Nós fomos até nossas mulheres juntos. Me sentei ao lado de Lótus e ela sorriu, tocando minha
perna. Sua barriga estava maior e era incrível ver suas curvas todo dia ao acordar.
— Podemos ir? — Lunna perguntou assim que bocejou.
— Sim — falei suspirando e me ergui. Estava ajudando Lunna a se levantar quando o celular
de Rocco tocou. Seu rosto ficou escuro com o que quer que a pessoa na linha falou e todos nós o
observamos.
— Eu vou cortar seu pau e enfiar na sua boca, seu filho da puta desgraçado — meu irmão
falou enquanto se erguia.
Eu me aproximei no exato momento em que a chamada foi encerrada e Rocco me encarou.
— O que aconteceu? — perguntei, com pressa.
— Carmelo fugiu.
— O quê? — gritei no meio do salão segundos antes de Lunna agarrar o meu braço. Meu
corpo ficou rígido e eu me virei, olhando para ela. — Lunna...
— Você não o matou? — Sua voz estremeceu e seu corpo se encolheu.
Antes que eu pudesse falar algo, meu irmão rosnou.
— Estávamos torturando por informações da famiglia. Mataríamos após isso. — Rocco
olhou dela para mim, mas Lunna continuou me encarando. — Estou cansado disso. Vocês duas
nasceram nessa merda, parem de estremecer cada vez que dizemos tortura, morte e o caralho. Nós
fazemos isso. É o que somos. Já deveriam ter chegado aqui sabendo disso ou pelo menos terem se
acostumado.
— Rocco. — Sienna arregalou os olhos e meu irmão não a encarou, apenas olhou para a
porta.
— Eu ouvi sua conversa com Lunna semanas atrás. — Ele enfim observou sua esposa. —
Você não desligou nossa ligação e eu ouvi cada palavra.
— Rocco, me deixe falar.
— Não precisa. Eu dei chances ao seu irmão por sua causa. Por mim, eu o teria matado na
primeira vez que ele pisou na minha cidade. Mas não, eu te ouvi e deixei aquele filho da puta ir
embora. — Rocco riu, recordando-se. — Mas eu já aprendi, Passarinha. Na próxima vez que alguém
me trair, eu só vou meter uma bala na testa, sem chance de explicação. Nem por você nem por
ninguém.
Rocco se afastou e acenou para nossos soldados. Todos começaram a se movimentar e eu fiz
o mesmo.
— Leve as três para casa — ordenei a Matteo e a Prince.
Lunna me olhava esperando por algo, mas eu saí sem me despedir.
Rocco andou pelo lugar onde dois homens estavam mortos no chão. Ele socou a parede até
sua mão sangrar, e por pouco eu não fiz o mesmo.
— Lake.
— E Lunna.
— Ele sabe que Lunna está grávida. Alguém falou isso aqui dentro e ele ouviu. Eu não acho
que ele a queira ainda — Rocco falou devagar enquanto puxava uma garrafa de uísque da prateleira
do bar do Village.
— Como ele saiu daqui? — perguntei, apertando meu punho.
— Nós o subestimamos. Deixamos dois homens com ele. Aquele filho da puta é esperto.
Rocco virou a garrafa na boca e engoliu uma grande quantidade enquanto o sangue pingava
das suas juntas.
— Enrico deve saber de algo...
— Enrico possivelmente o ajudou. Salvatore foi enviado morto a ele. — Meu irmão deu de
ombros e engoliu mais bebida.
— Você quer falar...
— Se eu precisar conversar, eu marco consulta com a terapeuta da Lake.
Ignorei sua resposta brusca.
— Ele saiu daqui ferido. Não tentará pegar Lake tão cedo — murmurei, bagunçando meu
cabelo.
Caminhei até a janela, olhei para fora e vi as pessoas andando lá embaixo
despreocupadamente.
— Lunna vai superar.
— Eu não disse a ela que não o tinha matado. Eu menti — falei ainda de costas antes de ouvir
Rocco se erguer.
— Esconder não é mentir.
— Dá no mesmo.
Ele parou ao meu lado e olhou para a rua. Seus homens estavam por aí, caçando Carmelo. Eu
esperava que o filho da puta fosse pego, porque aí sim eu enfiaria uma bala na cara dele no primeiro
segundo.
No dia seguinte eu fui para casa quando ficou claro que não encontraríamos Carmelo. Lunna
estava na cama, deitada de lado, mal coberta e tão bonita que deveria ser considerado crime em
Chicago.
Ela se mexeu quando me deitei na cama, quase que instintivamente ela se aproximou e se
aconchegou contra mim. Segurei sua cintura e acariciei sua barriga.
Acabei dormindo assim, e quando acordei Lunna estava longe de ser vista.
Desci a escada depois de tomar banho e fui diretamente para a cozinha. Ela estava sorrindo
com Morgana enquanto comia ovos e bacon.
— Bom dia — murmurei ao parar na entrada, deixando ambas rígidas.
— Bom dia, senhor. — Morgana se moveu, indo para a sala reservada.
Eu me aproximei de Lunna e me sentei ao seu lado.
— E aí, vamos brigar ou o quê? — perguntei de uma vez.
Lunna arregalou os olhos e se virou.
— O que...
— Eu vou matar seu pai, Lunna. Não se preocupe.
— Que horrível, Romeo.
— O quê?
— O jeito que falou! — ela afirmou, chocada.
— Ele fugiu sozinho. Seu pai é mais esperto do que parece — murmurei devagar e segurei
sua coxa, puxando-a para mim. — Como estão? — perguntei, tocando sua barriga.
Lunna parecia amar cada vez que eu me aproximava e fazia isso.
— Estamos bem. — Sua voz suavizou e ela sorriu. — Não estou tão enjoada. Continuo, é
claro, mas diminuiu.
— Que bom. — Me inclinei e beijei seu ombro.
— Um dia poderemos viajar?
— Como assim?
— Sabe, ir para outro país. — Lunna mordeu o lábio e eu o capturei com meu dedo.
— Qual?
— Eu gostaria de conhecer vários, mas a França está no topo. — Minha esposa sorriu e eu
beijei sua boca devagar.
— Vou levá-la assim que Remy nascer. Bom? — perguntei, mordendo seu queixo.
Lunna suspirou e acenou rapidamente.
— Quero voltar para o quarto. — Sua voz doce e manhosa fez meu pau se contorcer dentro da
minha calça.
— Segure-se em mim, Lótus.
Lunna sorriu e fez o que pedi. Me ergui e andei com ela até a escada. Sua boca deslizou pelo
meu pescoço e ela mordeu minha pele, me fazendo apertar sua bunda.
— Rápido e forte ou lento? — perguntei assim que passamos pela porta do nosso quarto.
Lunna suspirou ao se afastar e me encarou.
— Os dois.
Eu sorri ao ver suas bochechas pegando fogo e a beijei.
FIM
DEVOÇÃO DISTORCIDA
Diversas vezes me questionei se o amor era para sempre. Se o que eu sentia por cada pessoa
na minha vida sumiria ao longo do tempo. Não sumia. Ele só se multiplicava. Consumia cada
pensamento e cada decisão que eu tomava. O amor estava nesse momento irradiando de mim
enquanto eu assinava papéis.
— Você precisa ser forte — Lunna pediu enquanto eu sentia lágrimas querendo vir à tona.
Felizmente, depois da morte de Salvatore, eu conseguia escondê-las rapidamente.
— Eu sei. Está tudo bem. — Respirei fundo e me sentei ao seu lado. Meu vestido preto
estava alinhado, todos ao redor pareciam intactos, menos o meu coração.
Lake havia sido enviada a um internato e eu nem sabia o motivo. O que a levou a tal decisão?
Ela não ligava, não respondia meus recados ou mensagens. Hoje, apenas papéis do colégio chegaram
para que um responsável assinasse. Eu sentia que estava sozinha mesmo estando rodeada dos irmãos
Trevisan.
Prince estava próximo à janela de vidro, olhando de cima a baixo. Eu estava preocupada com
ele mais que todos. Prince e Lake tinham uma ligação forte, mas agora estavam separados.
Apenas ela e Rocco não estavam nessa sala.
Fazia uma semana que procurávamos nos escombros do hotel onde a festa de casamento
daquela rata imunda aconteceu. Olhando para trás, eu deveria saber que algo estava errado. Porém, a
minha bondade cega me fez de tola.
— Ele... — Matteo começou a falar do sofá onde estava sentado, mas suas palavras
cessaram.
Ele está bem.
Era metódico e incontável quantas pessoas se aproximaram e me disseram isso. Eu queria me
apegar a essa afirmação, mas eu sabia que era impossível.
Romeo entrou pela porta da mansão como um furacão e eu me ergui. Meu peito trovejando e
implorando pela única notícia que eu queria receber.
— Eles o acharam, Sienna.
Meus joelhos fraquejaram assim que as palavras dele chegaram aos meus ouvidos.
— Estamos trazendo-o para cá. Ele está bastante ferido, mas respirando.
— O hospital...
— Rocco não pode ir a um hospital comum. Nós dois sabemos disso — Romeo disse rápido
e eu abri minha boca para retrucar, mas ele balançou a cabeça. — Temos os melhores médicos. Você
acha que se aqui fosse um lugar perigoso para o meu irmão eu o traria?
— Você está certo. Sienna está preocupada com o marido. Apenas isso. — Lunna tocou
minhas costas.
— Vamos. — Eu andei em direção a Romeo quando ele chamou. Matteo, Lunna e Prince nos
seguiram.
Assim que entramos nas instalações do prédio, minutos mais tarde, eu me sentei em uma das
cadeiras. O prédio ficava a alguns quilômetros dentro da propriedade, por isso viemos de carro.
Todos estavam em alerta, várias e várias pessoas entrando e saindo. Pelo que eu sabia, aqui era o
hospital da Outfit. Todos os feridos no casamento ainda estavam aqui.
— É ele — Prince murmurou.
Eu me ergui e vi várias pessoas.
O corpo grande, musculoso e intimidante que eu conhecia estava imóvel em cima de uma
maca. Dois profissionais empurravam o objeto enquanto dezenas de soldados estavam ao seu redor.
Me aproximei rapidamente e logo os homens abriram espaço para mim. Minhas mãos tremiam
quando toquei seu peito. Sua pele estava coberta de poeira, os ferimentos estavam por toda parte. Eu
desejei cuidar dele sozinha
— Precisamos examiná-lo — uma voz disse alto o bastante para ser ouvida.
Senti mãos segurarem meus ombros e fui puxada para longe do meu marido.
— Eu quero ficar com ele. — Me virei e encarei Romeo, que acenou.
— Você vai. Calma.
Eu queria mandá-lo se foder com calma, mas não o fiz. Por respeito, mas também, porque eu
entendia. Rocco precisava de profissionais cuidando dele.
Romeo me guiou com toda a família até um dos quartos e nós esperamos por Rocco. Eu andei
de um lado para o outro não sei por quanto tempo. Quando ele chegou ao quarto reservado para ele,
seus olhos já estavam abertos.
— Passarinha — ele me chamou com a voz ainda mais grossa do que eu me lembrava.
Me aproximei rapidamente e segurei sua mão.
— Ei, amor — murmurei, tentando sorrir, mas minhas lágrimas pingaram em cima da sua
pele.
— Você está bem. — Sua mão segurou a minha bochecha e seus olhos azuis se fixaram nos
meus. Eles me desnudaram em segundos. Rocco Trevisan era a única pessoa no mundo capaz desse
feito.
— Estou. — Balancei a cabeça afirmando, enquanto ele limpava minhas lágrimas. — Eu
preciso que você fique bem agora.
— Eu estou bem, Passarinha. Nunca estive melhor.
Suas palavras me deixaram confusa. Rocco tentou se sentar, mas era nítido que estava fraco
demais para isso. Matteo se aproximou e o ajudou a ficar ereto. Deu para ver em seu rosto que ele
odiou isso.
Rocco respirou fundo e apoiou as mãos na cama, nas laterais das suas pernas.
— Eu vou matar Mikhail Isayev e todos que ficarem no caminho até ele.
O arrepio que deslizou pelo meu corpo me deixou preocupada, porém, o olhar de Rocco foi o
estopim.
O ódio dentro da sua íris me levou ao inferno.
Onde ele era o próprio diabo.
Escrever sobre Romeo e Lunna foi prazeroso, intenso e como todos os meus livros,
dramático. Eu realmente amei esses dois de uma forma absurda. Eles percorreram um longo caminho
até chegarem aqui. E eu os amei por tudo. Por seus erros e acertos, por suas dores.
Retratar violência sempre é difícil, mas retratar o que Lunna passou foi de tirar meu sono à
noite ao imaginar quantas mulheres passam por isso. Quero agradecer e dedicar este livro a vocês.
Suas dores e lutas diárias. Que sua força nunca cesse, apenas se multiplique.
Gratidão a todos que chegaram até aqui.
Beijos!
Evilane Oliveira
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[i]
Nós chegamos. Motocicletas estão escondidas nas árvores.
[ii]
Ok.
[iii]
O FN FAL, é um fuzil de batalha criado pelos projetistas belgas Dieudonné Saive e Ernest Vervier
e fabricado pela Fabrique Nationale d'Herstal.
[iv]
Um tipo forte de náusea e vômito durante a gestação.