1 Redenzione - o Capo (Parte 1) - Amanda Silveira

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Copyright © 2023 by Amanda Silveira| Editora Fruto Proibido

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dos direitos da obra (autora). Texto conforme as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
CAPA: LCHAGAS
DIAGRAMAÇÃO: HB DESIGN EDITORIAL
Quando eu pensava sobre a vida, almejava a felicidade.
Pensava se fosse boa o suficiente para ter essa tal felicidade, seria
merecedora dela. Era o que eu pensava quando criança. Quando se cresce
onde cresci, só queremos acordar bem e seguras, principalmente com o pai
que eu tinha.
A minha família atua na máfia italiana há muitos anos. O meu pai é
um dos Caporegimes, o que nos faz ser parte da famiglia.
Dante Bellini nunca foi um homem bom ou o pai dos sonhos, e isso
fez com que eu e as minhas irmãs odiássemos a criatura repugnante que ele
era. Ele sempre nos quebrou e nos moldou da forma que queria, éramos um
objeto sem valor em suas mãos.
A minha mãe, Esther, não tinha descendência italiana, era de uma
família escocesa. Os seus pais se juntaram a máfia quando ela era jovem.
Foi quando ela foi prometida ao meu pai. Como não podia fazer nada para
cancelar essa união, já que o casamento era a forma de unir as famílias, não
houve resistência de ambos.
Isso se tornou os piores anos de sua vida, minha mãe sofreu o
inferno nesse meio tempo ao lado dele.
O meu pai aceitou esse casamento como um meio mais rápido para
gerar o seu herdeiro, um homem da nossa linhagem que levasse a frente
todo o esforço dele pela máfia, mas ele nunca teve um filho homem, a culpa
da falta de um herdeiro digno recaiu sobre minha mãe, já que teve três
filhas mulheres, a mais velha de 26 anos chamada Lisa, eu com 23 anos
sendo filha do meio, e a mais nova, a Kitty, com 9 anos.
Nossa existência não o afetava em nada, o que estivesse ao seu
alcance para deixar toda a responsabilidade para minha mãe ele fez,
principalmente com as leis da máfia ao seu favor.
Como lei, as esposas escolhem o nome das filhas e os maridos dos
filhos. Além de não termos a fisionomia dos italianos, já que herdamos da
nossa mãe os longos cabelos ruivos, nossos nomes também não eram de
origem italiana, o que nos fizeram ser ainda mais excluídas entre as outras
crianças, pois não éramos de "puro sangue". A miscigenação era odiada na
máfia pelos mais devotos, que só queriam italianos envolvidos na famiglia.
Para eles, a minha existência causava repulsa e atraso.
Eu não me incomodava mais com isso, no começo foi difícil, agora
é tolerável. Eu sou conhecida pelas minhas irmãs pela minha paciência, mas
fique presa a vida toda com Dante e entenderá que brigar ou revidar não vai
te ajudar a se ver livre daqui.
Infelizmente, esta era a minha vida.
Não podia contrariar nada que me era proposto, até porque o meu
pai era um sádico cruel que me castigaria da pior forma possível. Então
sempre fui muito introvertida e não me misturava com ninguém, temia que
tudo causasse revolta em meu progenitor.
Estava sempre sob o controle dele, aguardando o dia em que tudo
mudaria e ele pagaria pelo que fez a mim e a minha família. Era nisso que
eu acreditava.
Hoje o dia estava agitado e eu estava correndo contra o tempo.
— Vamos, Kitty! — a chamava, apressando-a.
— O papá vai nos matar! — disse Kitty enquanto corríamos escada
abaixo para chegar no jardim. — Estaremos mortas até o fim do dia.
Hoje, nosso pai receberia pessoas influentes na nossa casa, essas
"reuniões" aconteciam frequentemente, embora dificilmente serem aqui.
Apesar do apoio recebido por meu pai quando ao tratamento dado a nós,
ele, num geral, não era bem aceito pela máfia, seu jeito e ações deixaram
uma grande lista de pessoas que o odiavam e evitavam lhe dirigir palavras,
assim como faziam conosco.
Não nego minha surpresa ao notar que até aqueles que já não vivem
conosco farão parte da reunião. Realmente, era um evento importante. Era
noite, e isso era esperado, esses encontros acontecem sempre nesse horário
ou pela madrugada, um meio de não atrapalhar nos serviços diários da
famiglia.
— Onde vocês estavam? — perguntou minha mãe angustiada ao nos
encontrar no corredor de casa. Ela tinha tanto medo do meu pai quanto nós.
— O zíper do meu vestido emperrou — disse Kitty mostrando para
mamãe.
O vestido em si estava perfeito, mas o zíper estava pela metade e
não subia mais. A roupa ficou muito tempo guardada já que não tínhamos o
costume de sair.
— Ande rápido que eu tento concertar — avisou minha mãe.
Enquanto nós andávamos apressadas para o jardim, mamãe ajeitava
o vestido de Kitty tentando nos acompanhar. Quando chegamos no jardim
onde aconteceria o evento, estava cheio de homens de todas as patentes da
máfia e suas famílias.
A máfia era dividida em três patentes: baixa, média e alta. Existe
essa diferença entre os membros conforme o seu comprimento com o
trabalho. Há poucos membros que não tem patentes, eles são quase
divindades por aqui. Geralmente são a família do líder ou de uma das cinco
grandes famílias.
Olhava os homens grotescos que me encaravam como uma
mercadoria. Os seus olhos deixavam nítido a frieza que os perseguia. Uns
sorriam maliciosamente, me causando pavor.
— O que o papai está tentando fazer hoje? — perguntou Lisa ao se
aproximar de nós. — Oi, mãe!
— Oi, Lisa, senti sua falta também! — falou Kitty de forma
dramática.
— Oi, Kitty! — respondeu Lisa sorrindo, logo a puxando para um
abraço.
— Hoje é a reunião para escolher uma pretendente para o Capo —
respondeu minha mãe depois de ter ajeitado o vestido da Kitty. — O que
parece é que o Capo precisa de uma esposa para ter logo seu herdeiro, já
que ele tem 33 anos e não tem nenhum sucessor. É o que eu escutei o seu
pai conversar ao telefone mais cedo.
— Achava que ele era casado — comentei.
Como ficávamos muito tempo presa dentro de casa, não sabíamos
do que acontecia na famiglia, a não ser pelas informações dadas por Lisa
em suas visitas.
— Era, até a sua filha morrer há 3 anos. Ele se separou da sua
esposa depois disso. Este ano faz 4 anos da morte dela, só sei porque é o
ano do nascimento do Nando — respondeu Lisa. Tive uma breve lembrança
do caos de alguns anos, lembro vagamente de Lisa comentar sobre esse
acontecimento conosco. Depois que minha irmã mais velha se casou com o
Consigliere do Capo, o Enzo Carbone, ela sabia de tudo. — Mas Enzo
nunca entra em muitos detalhes em relação a isso, eu só sei que ela tinha 7
anos.
Apesar de tudo ser reportado aos membros da máfia, certas
informações eram resumidas para não gerar polêmicas e boatos pelo
quartel.
— Melhor mudarmos de assunto antes que o pai veja que estamos
fofocando da vida alheia.
O silêncio reinou por um momento até ser interrompido por Enzo
que se aproximou de nós.
— Oi, sogra! — Ao lado de Enzo estava Fernando, meu sobrinho.
— Oi, vó! — disse Nandinho um pouco sonolento.
— Nossa, como você cresceu! — disse minha mãe espantada,
segurando Nando nos braços.
Nós não podemos nos ver sempre, já que agora a Lisa tem a sua
própria família. Lisa estava grávida de 5 meses do seu segundo filho, mais
um homem. Mamãe disse que ela deu sorte de encontrar um rapaz decente
no meio da máfia, já que Enzo era bem diferente dos rapazes que nos
cercam todos os dias.
— Onde vocês estavam? — perguntou o meu pai, atrapalhando a
nossa conversa, nos fazendo ficar quietas.
— Estávamos aqui, amore mio — disse minha mãe.
Eu sentia nojo quando a minha mãe precisava tratar bem o nosso
pai, como se realmente fosse apaixonada por ele. Presenciar esse teatro de
família feliz era agonizante.
— Vem, Hope, quero falar com você — disse meu pai me
arrastando para o canto, antes mesmo que eu o respondesse. — Você já
deve saber por que o Capo está aqui, não é? — Assenti. — Ele está atrás de
pretendes, você será uma delas, e antes que pense em me interromper, eu
quebro todos os seus dentes.
Me mantive calada, era bem melhor.
— Pois bem, você não é a única. Ele está atrás de belas jovens entre
18 - 25 anos, você se encaixa nessa faixa etária. Tem muitas concorrentes
de renome, então vamos ver o que eu posso fazer para você não estragar
isso. — Falou tocando no meu cabelo com uma repulsa nítida no seu rosto.
— Por algum motivo divino a liderança concordou em deixar você
participar no meio de tantas mulheres melhores, não ouse desperdiçar essa
oportunidade.
Segurei o riso, a forma que ele aumenta a minha autoestima é de
pular de alegria.
— Conheço esses olhos, sei que está debochando — alegou
agarrando no meu braço com toda a sua educação, me encarando. — Se
estragar tudo com essa merda de amor e livre-arbítrio, eu mato você! Não
ache que eu não sou capaz de fazer isso, porque estou pouco me fodendo
com o que te acontece. Não é porque a Lisa agora usa a porra do casamento
para me chantagear, que eu deixarei você fazer o mesmo. Essa é nossa única
chance, então não ferre com tudo, sua pirralha imprestável!
Não duvido nada que venha desse homem, conhecendo seu mau-
caráter, ele usaria até mesmo a Kitty como forma de me atingir. Não estou
surpresa por, mais uma vez, ele tentar controlar a minha vida, se é que
posso chamar isso de viver.
Eu até pensei que poderia ser diferente. Talvez por ter sido enganada
pelos livros de contos de fadas que li quando criança e diziam que, quando
se era boa, você conquistava tudo. Eu era, tentava ser o mais amável
possível, era paciente e obediente, mas nunca recebi gentileza de ninguém,
apenas de minha mãe e de minhas irmãs. Parece que nem tudo é como nos
contos de fadas.
— Eu farei o que precisa ser feito — disse, sendo a filha ideal para
assim conseguir subir a nossa patente.
A pressão era bem maior agora, depois que Lisa se casou com um
homem com o cargo e uma patente tão alta, o meu pai queria que eu e a
Kitty conseguíssemos também, já que pelo seu temperamento estávamos na
última patente da máfia.
Agora ser pretendente do Capo e conseguir ser a esposa dele, essa
pressão ficou ainda maior.
Ele me levou para perto da minha mãe novamente, com um pouco
mais de brutalidade dessa vez.
— Venham, vou apresentar vocês ao Capo — disse, logo tendo a
sua atenção ao Enzo. — Oi, Enzo, você nunca mais apareceu para beber um
whisky com o seu sogro.
— Estava ocupado com o Capo esses dias — respondeu Enzo, agora
olhando para a Lisa. — Vou levar o Fernando ao banheiro.
Enzo não suportava o meu pai.
Errado ele não estava.
Havia um grupo de pessoas a nossa frente, doze para ser exata. Oito
homens e quatro mulheres muito bem-vestidos. Um palpite, elas não eram
esposas de ninguém ali, talvez filhas. Devem estar na mesma situação que
eu, pretendentes de um rapaz que nunca viram.
— Não me envergonhem! — disse meu pai a nós. — Isso será difícil
vindo de vocês, mas fiquem caladas até eu mandar falarem e não fiquem
encarando sem permissão.
Nos dirigimos para o grupo a nossa frente, até que um rapaz
barbudo notou a nossa presença.
— Ei! — disse, levantando a mão para nos chamar.
— Boa noite, senhores! — disse meu pai sorrindo para eles. — Boa
noite, Capo!
Como a nossa patente era a mais baixa, tudo nos era limitado. Havia
boatos que diziam que essa era a forma usada quando não se podia expulsar
um membro, então era feito de tudo para que ele pedisse para sair.
O meu pai era odiado por todos, mas fazia o seu trabalho, então não
poderiam expulsá-lo por isso, tentavam tirá-lo de outra forma. Só que o que
essa liderança não sabia é que o pensamento de meu pai era o oposto, ele
acreditava que, quanto mais trabalho recebia, maior era o seu valor, e que
ele logo subiria de cargo e patente.
— Dante Bellini, há quanto tempo! — disse o rapaz barbudo de
agora há pouco, o reconheci pela sua voz, já que aparentemente o Capo o
ignorou.
— Giovanni D'amico! — falava meu pai com alegria. — Faz um
tempo que não saímos para beber.
Se eu não me engano, o D'amico é um dos Caporegimes, juntamente
com o meu pai.
— E quem são as belas moças? Não acredito que são as suas filhas,
como cresceram! — disse Giovanni surpreso.
Para o azar do meu pai, ele tinha que nos apresentar agora.
— Bem, esta é a minha esposa, Esther — falou, enquanto apontava
para cada uma de nós. — Esta é a minha filha mais velha, Lisa, que é
casada com o Enzo Carbone. — Ele sempre se gabava do cargo do Enzo.
Ele amava o fato de Lisa ser casada com um Consigliere. Era um dos cargos
mais cobiçados. Quem não queria ser o braço direito do Capo? — Mas
apesar da minha esposa só ter me dado crianças do sexo feminino, minha
filha aqui está grávida do segundo filho homem.
Era mais fácil culpar a minha mãe do que a ele mesmo.
— Então quer dizer que as suas filhas são boas para dar herdeiros?
— disse um homem cuja voz eu nunca ouvira.
— Sim, Lucca Ferraro! — respondeu meu pai.
A voz podia ser desconhecida, mas o sobrenome não era, Lucca era
o filho do Sottocapo, Leonel Ferraro, parente do Capo.
— Gostaria muito de conhecer melhor uma de suas filhas — disse
Lucca já muito malicioso.
— Desculpe, mas a única de minhas filhas que atingiram a maior
idade foram a Lisa e a Hope — respondeu meu pai. — Lisa está casada e a
Hope é uma das pretendentes do Capo. — Realmente eu nasci para ver esse
momento, o meu pai falando de mim com algum orgulho. Seria até bom, se
eu não o odiasse. — Enfim, esta é a Hope e a outra é a Kitty. Vamos,
sorriam para os convidados.
Já sabia que ele estava se referindo ao Capo. Ergui o olhar e tive o
prazer de vislumbrar o muro em forma de homem que estava em minha
frente. Seus belos olhos azuis e a sua beleza rara faziam jus aos boatos que
rolavam por aqui.
"Dio in cielo e Capo nel mio letto." (Deus no céu e Capo na minha
cama.)
Apenas sorri fraco para criatura em minha frente, já que ele não
dirigiu a palavra a mim. Ele não parecia gostar muito de falar, sorria
forçadamente para os presentes e optava pelo silêncio na maioria das vezes.
— Vejo que as suas filhas são de uma beleza rara — disse o Capo
forçando simpatia, mas ele sequer aparentava querer estar aqui. — É um
prazer conhecê-las!
Então era assim a voz do famoso Lorenzo Ferraro?
Eles conversavam entre si, mas os membros do que o líder, ele se
mantinha calado. O Capo mexia a cabeça algumas vezes como se estivesse
participando da conversa, mas ignorava qualquer pergunta a ele, apenas
acenando em negação quando não respondia.
Me mantive em silêncio durante toda a conversa. Falavam tanta
baboseira que estava quase pegando a arma de um dos seguranças do Capo,
só para atirar em mim mesma. Suspiro em alívio por ninguém ser capaz de
ler os meus pensamentos, porque se o meu pai soubesse um terço do que eu
pensava, já estaria morta de verdade.
Passei o olho disfarçadamente ao meu redor, observando melhor o
pessoal. Das pretendentes, havia eu e mais uma moça loira que era da
famiglia, as outras eram da máfia russa. Como a aliança com os russos seria
firmada esse ano, como repassado na última reunião, havia muitos membros
por aqui.
Há tempos essa união vinha sendo pautada nas reuniões, mas só
agora foi aceita. Então essa “disputa” entre pretendentes estavam bem
acirrada. Kitty me tirou dos meus pensamentos quando me puxou para mais
perto de si, falando no meu ouvido:
— Quero ir ao banheiro! — falou tão baixo que quase não pude
escutar, mas senti o desespero no seu tom de voz.
— Não pode segurar mais um pouco? — perguntei sussurrando para
ela.
Se nosso pai nos pegasse conversando, ele nos matava.
— Não, bebi muita água.
Me aproximei ainda mais de minha mãe. Lisa estava ao seu lado
com um sorriso tão forçado que me deu vontade de rir. Logo minha irmã
mais velha notou que eu queria conversar com a nossa mãe e se afastou um
pouco para frente, sem que ninguém percebesse.
— Kitty quer ir ao banheiro — sussurrei.
— Se o seu pai nos pega conversando, seremos punidas, você sabe
— respondeu minha mãe em um tom um pouco frio do que o habitual.
Voltei para perto da Kitty e fiz um sinal de negação bem singelo
com a cabeça para não chamar atenção dos outros. Ela apenas abaixou a
cabeça e colocou a mão na barriga.
Me causava revolta essas regras que tínhamos que seguir. Olhava as
famílias que viviam no mesmo lugar que eu, geralmente na mesma patente,
e não tinham um terço das regras impostas em minha casa.
Não posso falar com nenhum homem, até me chamaram para
conversar.
Não posso olhar para nenhum homem, até que ele dirija a palavra a
mim.
Não posso sair, até que me mandem sair.
Regras idiotas! Se estivéssemos em uma patente mais alta, não
precisaria passar por nada disso. Me indignava ter que aceitar um ditador
em casa, que fazia desse lugar o seu império e as suas filhas suas serviçais.
Quando parei de olhar a Kitty, voltei os meus olhos para os rapazes
a nossa frente, logo vi que o Capo me encarava, ciente que eu e a minha
irmã estávamos conversando agora há pouco sem o consentimento de
nenhum homem.
Se ele falar algo ou se contar para o meu pai... Céus!
Quando percebi que o estava encarando de volta sem que ele tivesse
dirigido a palavra a mim, abaixei o olhar, desviando a minha atenção para
os meus pés.
Merda, Hope, você sabe das regras e ainda faz errado. Está
querendo morrer?
— Sinto muito, senhores, tenho que fazer uma ligação importante
agora — disse o Capo. — Depois voltamos a nossa conversa.
Quando ele saiu, todos os outros homens seguiriam seu rumo até as
suas esposas, não tinha mais para que fingir gostar do Capo, já que o
interesse era só agradá-lo para subirem as patentes ou os cargos.
Meu pai, já que é um desgraçado, saiu deixando a minha mãe para
trás, fazendo com que ela corresse atrás dele.
— Kitty, este é o momento que temos — disse. — Se o pai nos
pegar saindo sem a sua permissão, ele nos mata!
— Sim, sim, andiamo! (Vamos) — disse Kitty segurando na minha
mão, me puxando para dentro de casa.
— Vão, qualquer coisa distraio o pai — disse Lisa.
Corremos sem chamar atenção, adentrando na casa pela porta
lateral. Assim que passei pela porta da cozinha, senti o solavanco de um
impacto potente e dei um passo para trás apenas para dar de cara com o
homem que esbarrei, o Capo. Meu desespero ficou evidente quando ele me
encarou com aquela cara nenhum pouco amigável.
Tudo o que eu queria nessa vida era ter um pouquinho de sorte.
— M-me desculpa! — disse olhando para o chão, não conseguindo
encará-lo, totalmente em desespero.
Antes que eu olhasse para a Kitty, ele a dispensou.
— Pode subir, mocinha — disse o Capo à minha irmãzinha, que
logo me deixou sozinha, correndo para o banheiro.
Me largando de cara, assim, de primeira. Nossa, eu salvando a vida
dela e ela me deixando para morrer.
— O seu pai não lhe deu modos? — perguntou o Capo a mim. —
Onde já se viu, uma ragazza (garota) da sua patente conversar quando os
homens estão falando. Sabe das regras?
— Sì, senhor! — respondi.
Era o que eu tinha que dizer, porque se eu falasse o que queria
dizer... Deus que me ajude!
— Então por que não obedece? — questionou elevando o tom de
voz. Não sabia ao certo se o comportamento dele comigo se devia ao fato
de odiar meu pai e ser incapaz de se livrar dele ou só porque estava com
raiva por eu ter quebrado uma das regras, de qualquer forma, as duas
respostas pareciam perfeitas para a ocasião. — As outras moças têm um
semblante digno de uma esposa a altura de um Capo, enquanto você... —
Ele me encarou de cima a baixo.
Não parecia que ele queria que eu respondesse a pergunta, então
fiquei quietinha na minha só esperando a bronca. Ele murmurava e eu só
pensava no meu pai quando descobrisse isso.
Espera, devo implorar para ele não contar?
Não, Hope, isso é muito humilhante.
Segura o choro e aguenta.
Foi quando ele agarrou o meu braço, me assustando de verdade. Ele
apertava tanto que em questão de segundos senti o meu membro ficar
dormente. O sangue nem conseguia circular em meu corpo.
Que força era aquela?
Imagina ser castigada por um homem desses. Eu é que não quero ser
esposa deste... deste... cavalo!
— Preste bem atenção, ragazza! — falou próximo a mim, olhando
nos meus olhos. — Se te tornar a minha esposa, se mantenha na linha,
detestaria quebrar esse belo rosto por uma simples desobediência.
— Sí, Capo!
Soltou meu braço, passando por mim quase levando o meu ombro.
Ai, cretino!
Se o meu pai descobrir isso ... Santo Cristo, gosto nem de pensar.
— Hope! — disse Kitty se aproximando de mim. — Ele me mandou
subir e eu estava apertada, não tinha como ficar aqui.
— Sério, agora? Levei uma bela bronca por sua causa, mocinha. Se
ele conta para o pai, gosto nem de pensar no que ele vai fazer conosco —
disse segurando na sua mão. — Andiamo!
Levei a Kitty de volta ao jardim e fingi normalidade até chegar em
Lisa.
— Por que demoraram tanto? — perguntou ao nos aproximarmos.
— O futuro marido da Hope já deu uma bronca nela antes mesmo de
se casar — disse Kitty tentando segurar o riso, mas era quase impossível. —
Ele nos pegou no flagra quando entramos em casa.
— Não foi nada! — disse. — Deus me livre casar com ele.
Havia várias pretendentes entre a famiglia, muitas delas com uma
beleza de dar inveja. Dou o Capo a elas sem pensar duas vezes.
— Quando isso vai acabar? Quero dormir — disse Lisa.
Lisa que nunca me ouça falando isso, mas essa segunda gravidez
detonou com ela.
— Não sei, mas já estou ficando farta de fingir sorriso para esse
pessoal — disse.
Era uma curiosidade em mim que eu estranhava, geralmente os
membros nos ignoravam.
Nossa atenção foi para Sottocapo, Leonel Ferraro, irmão do pai do
Capo, Diego Ferraro, que logo começou a chamar todos para perto de onde
ele estava.
— É com muita felicidade que anuncio o segundo casamento do
nosso líder. O seu pai, meu irmão, não pôde comparecer, então cuidarei de
tudo daqui para frente — disse o Sottocapo. — Hoje anunciarei as
pretendentes que ocuparão o cargo de esposa do Capo.
Ele chamou a primeira moça, a que é daqui, Luna D’amico, filha do
Giovanni D’amico.
Nunca entendi quando faziam isso de pretendes, se ele quisesse
alguém, se casaria, porém, ser uma das pretendentes aumentaria muito a
credibilidade dos parentes depois, principalmente se uma delas se casasse
com o Capo. Até nisso eles agem como se casar fosse algum negócio.
Ia uma mulher de cada vez, sempre muito charmosas, elegantes, eu
me olhava me sentindo um tanto inferior. Nossas roupas não eram
diferentes, a idade também não, mas não sentia a confiança que elas
pareciam ter.
Quando todos observavam com atenção as pretendentes chamadas
por Sottocapo, tive um vislumbre do Capo em um canto, ele estava todo
assanhado com uma moça.
Ela era familiar, de onde a conhecia?
Depois de um tempo, lembrei de uma reunião que tivemos que ter
com o advogado da família Ferraro. Ela estava lá, era a filha do advogado
dele, Bianca De Santis.
Soltei uma risadinha discreta. Quem for esposa dele vai colecionar
chifres.
Satisfeita com minha percepção pessoal, voltei a atenção ao meu
redor, então notei os olhares sobre mim. Droga, meu nome foi chamado!
Eu tinha uma certa mania de me perder em meus pensamentos, isso
acontecia com mais frequência do que eu gostaria.
— Hope Bellini? — Anunciaram mais uma vez. Andei até o centro
onde estavam as outras pretendentes. — Conhecemos esses cabelos ruivos.
Todos riam já que as únicas ruivas ali éramos eu e minha família.
As moças que se encontravam na frente me olharam com repúdio,
provavelmente por causa da minha patente. No total eram 7 pretendentes,
todas nós tínhamos alguém na família com um cargo na máfia.
O Sottocapo Leonel começou a dizer o que aconteceria de agora em
diante. Nós passaríamos por exames, para verificar se tínhamos mesmo
alguma doença que pudesse afetar a gravidez, entre outras informações, já
que o intuito do casamento era gerar um herdeiro ao líder. Essa era só a
primeira etapa, já que o Capo escolheria quem mais o agradasse. Também
disse que o casamento deveria acontecer o mais breve possível. A cobrança
para ter um herdeiro deve estar lhe enlouquecendo para tanta pressa em se
casar.
Depois disso, voltamos aos nossos lugares. Eu estava cansada e
louca para tirar aquele salto. Já estava de madrugada, fazia frio e parecia
que havia chegado ainda mais convidados, o jardim estava lotado.
— Titia, eu estou com sono — disse Fernando puxando um pouco a
barra do meu vestido.
Olhei para o Enzo, que estava do outro lado do jardim conversando
com alguns homens, não podia ir lá e interromper. Vi que a Lisa já estava
sentada, com certeza descansando um pouco.
— Mãe, vou levar o Fernando para dormir lá no quarto, avisa a Lisa
— disse assim que a minha mãe chegou ao meu lado.
Meu pai foi em direção aos homens com quem o Enzo estava
conversando, nem ligando para nossa existência. Minha mãe assentiu e eu
coloquei Fernando nos braços indo para dentro de casa.
Não via a hora de todos irem embora.
A maioria já estava bêbado, fazendo muito barulho, incomodando o
resto dos membros com as piadas sem graça e o falatório que não acabava
mais.
Santo Cristo!
Coloquei Fernando em minha cama e esperei que adormecesse.
Quando finalmente pegou no sono, eu desci.
Queria tanto ter me deitado com ele, mas se o meu pai me pegasse
aqui no quarto longe dos olhos do Capo, ele me mataria. Tinha que chamar
atenção daquele homem para ser sua escolhida de alguma forma, era assim
que o meu pai pensava. Eu tinha que ser lembrada, acho que o Capo lembra
de mim, não da forma que o meu pai gostaria.
Quando cheguei na porta da cozinha, lá estava ele, o Capo em
pessoa, com um copo vazio na mão, passeando com os olhos pelos
armários.
Eu realmente não tinha sorte. A todo instante esse homem aparece.
Devo fingir que não o vi?
Não, seria difícil não ver um homem desse tamanho, Hope.
Voltei a olhar para o chão, andando cinicamente até a saída,
tentando sair ilesa.
— Onde está a garrafa de whisky? — indagou.
O meu pai deve ter mandado ele aqui de propósito, não acredito que
sou tão azarada. Não o encarei, apenas segui para o armário que estava atrás
dele e abri a porta, tirando a garrafa de lá de dentro.
Vi que ele colocou o copo do balcão e eu o servi. Coloquei a bebida
em seu copo, indo em direção a geladeira pegando uns cubos de gelos, os
mostrando para ver se ele queria que eu colocasse em sua bebida, o meu pai
gostava, apesar de ser um dos poucos homens que eu já vi gostando disso, o
Capo apenas fez um sim com a cabeça e eu coloquei. Para onde eu ia, sentia
o seu olhar passear por meu corpo.
Um arrepio subiu por minha nuca só de imaginá-lo me encarando.
Ele não se esforçava para disfarçar, olhava descaradamente sabendo que eu
estava ciente, como se estivesse me analisando.
Guardei a garrafa de volta no armário e esperei ele me “liberar”. Ele
me encarava em silêncio, logo tomando a sua bebida.
Olhei para outro lugar, não conseguindo deixar os meus olhos
quietos, passando o olhar a cada centímetro do chão, talvez o Capo
chegasse a pensar que perdi algo.
— Levante o olhar — falou, enquanto me observava.
O encarei e eu não tive como negar sua beleza. Seus cabelos bem-
penteado e a barba para fazer o tornavam ainda mais sexy. Lorenzo tinha
algo no olhar que me intrigava. Era estranhamente familiar.
— Obrigado! — disse o Capo saindo da cozinha.
Nossa, ele sabia ser educado.
Fiquei em choque por alguns minutos. Ele mudou a personalidade
em segundos. Bipolar, talvez?
De qualquer forma, eu não ia criar falsas expectativas, ele foi
educado agora, mas não quer dizer que não seja um brutamontes.
Caminhei de encontro as minhas irmãs e logo vi que os convidados
estavam indo embora. Estranhei a pressa de saírem daqui, até ver o Capo
entrando em um dos carros e logo os seus seguranças irem atrás.
Acabou a bajulação, quem eles queriam havia ido embora.
Finalmente podia descansar.
Respirei fundo, logo me desanimando, lembrando que a bagunça
daqui de fora vai sobrar para mim e para a minha mãe.
Que ótimo!
Já havia se passado alguns dias desde a reunião.
Nos últimos dias fui cobrada de forma absurda por meu pai que
queria respostas que eu não sabia dar, como por que ainda não fui
convidada para sair com o Capo. Não o vi desde aquele dia para o
desespero do meu progenitor.
Pelo que ele deixou subtendido, o líder já havia saído com algumas
moças, deixando claro em palavras o fato de eu não ser boa o suficiente e
muito menos atraente, por tanto, não chamei atenção do Capo para ter sido
uma das primeiras.
Então fui atormentada por toda a semana para que eu arrumasse uma
forma de ir ao encontro do Capo. Eu tenho certeza que ele queria que eu
morresse, porque se eu aparecesse para o nosso líder sem ser convidada,
seria castigada ou morta por não obedecer as regras. De qualquer forma,
uma hora ou outra seria a minha vez de sair com ele.
Resolvi parar de pensar nisso, porque me sentia estranha ao cogitar
me casar, principalmente com o Capo. Sabia que um dia aconteceria, mas
não estava preparada da forma que eu achei que estaria.
Estava no meu quarto, o arrumando, já que para o meu pai estar
parada é sinal de preguiça. Organizava a mesinha que havia no canto do
quarto, limpando o que havia ali. Escutei uma gritaria no andar de baixo, já
sabendo que seria mais uma das discussões sem motivo de Dante.
Desci correndo para saber o que houve agora, não gostando de saber
como esse dia terminaria para nós. Assim que cheguei na escada, o vi jogar
os enfeites da mesa nas paredes enquanto olhava seriamente para Kitty.
Ele segurou os documentos perto da sua poltrona, jogando-os no
rosto da filha que deu alguns passos para trás pelo impacto, logo voltando
para o lugar que estava, apenas o olhando.
— QUE PORRA VOCÊ TEM NA CABEÇA, SUA VADIA!? —
Gritou o meu pai, agora a empurrando.
Olhei para o lado e vi a Kitty chorando silenciosamente, certamente
para não incomodar o pai.
Por vezes meu progenitor ficava semanas longe e quando voltava
era sempre assim, qualquer coisa era motivo para brigar conosco. Se um
vento batia mais forte ou se a nossa respiração o incomodasse, tudo era
motivo de gritaria e surra nessa casa. Se um dia esse lugar estiver em
silêncio, é capaz dos vizinhos reportarem no quartel pela surpresa de não
ouvirem discussões o dia inteiro.
— O que houve, Dante? — perguntou minha mãe saindo da cozinha
e se aproximando dele, claramente apavorada pela gritaria.
— CALA BOCA, SUA PUTA! — Ele deu um tapa forte no rosto
pálido da esposa, que com a força do tapa caiu no chão. — Sua filha que
não sabe obedecer e fazer porra nenhuma dentro desta casa. A sua única
obrigação aqui é dar limites a essas garotas e nem isso você faz direito.
Enquanto o meu pai gritava, caminhei para perto da Kitty. Ela
chorava bastante, o rostinho já vermelho e inchado pelo esforço de tentar
conter as emoções, então a abracei.
— O que aconteceu? — sussurrei para ela.
— Sem querer quebrei o troféu do papai hoje cedo — respondeu
baixinho. — Eu ... Eu estava limpando a prateleira, quando ... Quando
descolou o braço. Eu juro, Hope, não foi porque eu quis.
Kitty era a responsável por cuidar de limpar a poeira da casa,
enquanto o resto ficava comigo e com a minha mãe. O meu pai nunca quis
ter alguma doméstica aqui ele achava que limpar era nossa obrigação, já
que somos filhas mulheres.
Aqui em casa tem muita coisa que o meu pai entulha para nos fazer
trabalhar ainda mais. Coisas como milhares de troféus desgastados que ele
não se livrava. Sempre um deles quebrava ou alguma peça despencava por
estar velha, ele brigava conosco.
— F-fui eu que quebrei, pai — menti, quando a sua atenção para
Kitty novamente, esperando que ela discordasse de minha mentira.
Olhei para a Kitty, mandando-a ficar quietinha, enquanto tentava
livrar ela da surra que estava por vir. Achei que ela morreria na última surra
que meu pai lhe deu. Ela mal se recuperou, não podia levar outra, ela com
certeza não aguentaria. O pai pegava muito mais pesado com ela, já que eu
me acostumei e ficava calada sem rebater. Kitty, por outro lado, implorava
para que ele parasse.
— Não queira assumir a culpa da sua irmã, sabe que eu odeio
quando mente — respondeu, aproximando-se de mim, não recebendo a
resposta que queria de Kitty.
Ele sabia que foi Kitty, era ela a responsável pela limpeza das
estantes.
— Hoje eu troquei com ela, pai — insisti. — Eu estava ocupada e
não ia dar tempo de ajudar a mamãe na cozinha. Eu quebrei, mas ia te
contar...
Antes que eu terminasse, ele agarrou meu cabelo e me deu um tapa
no rosto, com a força do impacto, caí para trás, batendo com a testa na mesa
de vidro da sala.
Sentia a minha visão turva, olhando mais a frente uma pessoa se
aproximando de mim, demorei a perceber que era o meu pai.
O vi desamarrar a gravata e já sabia o que vinha pela frente. Ele
tinha a mania assustadora de ranger os dentes quando ia começar a me
bater. O barulho que era quase inadiável, mas ecoava pela minha cabeça,
escutava ele fazer isso todas as vezes que estava em cima de mim, me
surrando. Eu conseguia sentir os tapas e os murros que viriam só por esse
som.
É indescritível como aquilo me aterrorizava absurdamente.
— DIGA A VERDADE! — gritou, segurando no meu cabelo, me
puxando para mais perto dele.
Eu não ia conseguir responder, nunca conseguia falar quando ele me
olhava daquela forma. A sua expressão maldosa que se destacava com as
rugas próximas aos seus olhos, o deixava ainda mais sombrio e assustador.
Ele poderia não estar sorrindo, mas conseguia ver a felicidade dele em me
bater só pelo seu olhar.
Senti um murro que atingiu o meu ouvido esquerdo, logo ouvi um
zumbido. Antes mesmo de conseguir colocar a mão no local, o meu pai
segurou com a outra mão no meu maxilar, apertando tanto que eu não
conseguia fechar a boca.
— Sua traiçoeira, não me engane, Hope, eu já te disse mais de uma
vez — falava enquanto sentia o hálito de bebida barata sair por entre seus
lábios. — Você é uma imprestável, mentirosa!
Ele puxava a minha cabeça para trás, ainda com a mão presa no meu
cabelo enquanto a outra apertava o meu maxilar.
— Vou te surrar até que você se lembre de me dizer a verdade. —
Ele levantou a mão, tirando a do meu rosto, logo fechando o punho.
Quando ele ia começar a me bater, o seu celular tocou. Ele me
soltou, me fazendo cair com as costas no chão, então olhou o visor,
respirando fundo.
— Oi, Enzo... — atendeu, saindo da sala.
Enzo sempre ligava na hora certa, era impressionante. Minha mãe
veio correndo me socorrer, eu estava toda cortada pelo vidro da mesa.
— Fique calada quando ele voltar, eu vou tirar atenção dele de você
— falou, se calando rapidamente quando o meu pai retornou para sala.
— Vou resolver uns assuntos — disse, depois me olhou caída no
chão. — Foi salva pelo meu celular, sua imprestável! Depois terminamos
essa conversa.
Ele saiu de casa sem demora e Kitty veio chorando me abraçar.
— D-desculpa, Hope! — falou em prantos, tentando me ajudar a
levantar.
— Tudo bem, foi só uns cortes, ele já pegou pesado outras vezes —
disse, sentindo o sangue escorrer da minha testa.
Minha visão estava um pouco embaçada, não sei se era pelo sangue
que estava em meu olho ou se foi realmente foi pela pancada, mas me sentia
um pouco tonta.
Hoje poderia ser considerado um dia bom, estou acordada, nem
minha irmã e nem a minha mãe estão machucadas, então o dia não terminou
da forma que eu imaginava quando escutei a gritaria. Caminhamos até o
banheiro, me sentei no vaso sanitário, colocando a mão na cabeça sentindo-
a doer bastante.
Era como se tivesse sendo espremida, abri os olhos incomodava,
abaixar a cabeça aumentava a pressão na dor, até respirar estava doendo.
— Eu te ajudo a limpar — disse Kitty limpando os meus
machucados enquanto tentava parar de chorar para não se atrapalhar.
Era sempre assim, quando começava a chorar, era difícil parar.
Escutava a minha mãe varrer os cacos de vidros e os sons de seus fungados
vindo da sala. Ela tinha que deixar tudo limpo antes que o meu pai
chegasse, se não era capaz dele esfregar o rosto dela no chão.
Eu odiava isso. Odiava saber que tínhamos que agir como se nada
tivesse acontecido no outro dia. Que tinha que fingir que não sinto pânico
toda vez que ele entra por essa porta. Que não percebo o pavor da minha
mãe ao dividir a cama com ele. Odiava ter que ser submissa e odiava ainda
mais ver Kitty e minha mãe sofrerem nas mãos desse desgraçado. Eu já
perdi a conta de quantas vezes assumi a culpa da Kitty porque sabia quais
eram as consequências para ela.
Quando Lisa morava conosco, ela sempre assumia a minha culpa.
Certa vez meu pai bateu tanto em Lisa que ele deslocou o próprio ombro.
Era sempre assim, nunca tinha um fim.
Quando a Kitty terminou de limpar, vi que eu fiquei com um
hematoma roxo no final do meu olho devido a pancada no chão, com um
belo corte na testa e alguns arranhões no pescoço e braços devido aos cacos
de vidro.
Chamei a Kitty para dormir comigo, sabia que ela se culparia pelos
meus machucados. Só esperava que, quando meu pai chegasse, que ele não
descontasse a sua raiva e frustração em minha mãe.
Nos deitamos, eu seguia sentindo incômodo na cabeça.
— Desculpa! — falou Kitty, colocando a cabeça no meu peito.
— Já disse, os seus problemas são os meus problemas, as soluções
vamos encontrando e resolvendo juntas — disse a enrolando com o
cobertor.
— Será que ele vem hoje? — perguntou. — Ele não vai parar, você
sabe, não é!?
— Ele vai demorar, não se preocupe, vamos ficar bem — afirmei.
O seu olhar em mim me fazia querer chorar. Sobreviver a isso,
passar por todas essas situações, era como me sentir mais próxima da
morte.
Não havia escapatória, não havia um final feliz e muito menos uma
chance de esquecer tudo o que passamos. Era doloroso saber que essa era a
minha vida.
Kitty logo adormeceu, esse era o seu talento, dormir tão facilmente
mesmo depois do que passou. Era uma coisa boa aqui, não pensar em nada
que te atormente.
— Ela dormiu? — Indagou minha mãe ao entrar no quarto, eu
assenti.
— Quer um remédio para dor?
— Eu estou bem.
Já passei por dores piores.
— Me desculpa...
— Mãe, por favor, não se culpe, sabe que não é culpa nossa, ele que
é o problema. Não precisa sentir as nossas dores, sabemos lidar — falei.
Ela me deu um beijo na testa e saiu do quarto, mas sabia que minhas
palavras não tinham efeito. Me ajeitei na cama, fechando os olhos. Eu tenho
que pensar em algo para nos tirar daqui. Só queria acordar melhor do que
hoje.

Passei a madrugada inteira com dor de cabeça. Mandei uma


mensagem para a Lisa informando o que aconteceu na noite passada. Ela
teve a brilhante ideia de pedir para o pai, para que eu, a Kitty e a minha mãe
fôssemos ajudá-la no quarto do bebê. Uma desculpa, já que o meu pai agora
bajulava Lisa para que ela falasse bem dele para o Enzo, que tinha a
confiança do Capo.
Levantamos bem cedo, logo pensando em nos vermos livre desse
homem. Peguei um dos carros da garagem, que com muita insistência do
Enzo, o meu pai me permitiu tirar a habilitação. Rapidamente chegamos na
casa da Lisa que logo abriu um enorme sorriso.
— Estava com saudades de vocês! — disse nos abraçando.
— Também estávamos! — respondeu a minha mãe.
— Ele pegou pesado com você — falou Enzo assim que viu o meu
rosto.
— A culpa foi minha ... — interrompeu Kitty.
— Kitty, não foi culpa sua! — disse.
O Enzo não nos respondeu, apenas suspirou com pesar antes de sair.
Eu sabia para onde ele ia, era para a casa do Capo, nos deixando a sós e
mais a vontade. Ele sempre fazia isso.
— O vovô que fez isso? — perguntou Fernando.
— Claro que não! — menti. — Sabe que eu sou desastrada, não é!?
Caí no banheiro e doeu muito.
Nandinho tinha uma vida completamente diferente da que tivemos.
Lisa e Enzo não são severos igual ao meu pai. Então o que eu pudesse
preservá-lo, eu faria. Lisa nos levou para o quarto do bebê, mostrando as
roupinhas que comprou.
— O Lorenzo já te ligou? — indagou enquanto dobrava a roupa.
— Não, creio que o mau-humor do pai seja por isso — disse, lhe
entregando mais uma peça de roupa. — Não sei se fico feliz pela demora ou
se me desespero.
— Talvez por essa aliança com os russos, o Capo precisa mostrar
mais interação e serviço com eles — explicou. — O Enzo está muito
ocupado esses dias, me preocupo com novas pessoas andando pelo quartel,
se será boa ou não essa união.
— Parece muito burocrático — comento.
Lisa se sentou na cama, já cansada de ficar em pé enquanto eu
organizava as roupas do meu sobrinho.
— Já pensou em um nome, Lisa? Estou cansada de chamar ele só de
“bebê” — indagou Kitty enquanto passava a mão na barriga dela.
— Enzo que escolheu desta vez, já que o do Nando foi eu que
escolhi — respondeu Lisa. — Pensamos em Bernardo, o nome do avô dele.
— Ah, é lindo! — disse minha mãe. — Será que vai ser ruivo?
Nando puxou o pai com os cabelos castanhos. Bernardo tem que puxar o
gene da mãe desta vez.
— Sim! — respondi. — O orgulho dos Bellini é o cabelo ruivo.
Tínhamos que ter orgulho de alguma coisa.

O dia passou rápido. Realmente ajudamos no quarto do bebê.


Ficaríamos na casa da Lisa hoje e amanhã. Kitty amava vir para cá, ela
ficava mais a vontade e brincava com o Nandinho.
Quando estava escurecendo, a Lisa começou a ter enjoos. A minha
mãe ficou com ela, enquanto eu e a Kitty organizávamos a bagunça de
Nandinho na sala. Peguei Nando no colo, quando escutei o barulho da porta
de entrada sendo aberta. O susto veio quando vejo Enzo e o Capo, mas eles
sequer repararam que eu estava ali.
Sabia que Enzo era muito amigo do Capo, mas não fazia ideia que
até visitas eles faziam um para o outro, já que aqui as pessoas não tem esse
costume. Fingi que não os vi, já que eu não queria ter que fingir simpatia.
Subi as escadas com Nando enquanto escutava os cochichos deles:
— Onde está a Lisa? — perguntou Enzo.
— Está com a minha mãe no quarto. Ela ficou um pouco enjoada e
foi se deitar — disse sem olhá-lo, enquanto subia os degraus o mais rápido
possível. Só queria fugir dali. Kitty havia ficado na sala guardando o resto
dos brinquedos. Dei banho no Nando, já que Lisa não ia levantar daquela
cama nem por um decreto.
Depois de um bom banho, deitei Nando na sua cama. Então desci
para fazer o seu mingau. Talvez tenha dado tempo do Capo ir embora. Ele
parecia muito temperamental, só pelo seu sermão daquele dia ficou nítido.
— Kitty, suba aqui rapidinho — chamei.
— Já vou!
Encontrei Kitty na escada e ela acenou para mim, afirmando que o
Capo ainda estava aqui.
— Vou fazer o mingau do Nando e subo daqui a pouco — disse, já
descendo.
Não tinha como fingir que não vi o enorme homem em pé perto da
porta da cozinha. Andei em passos lentos enquanto olhava o chão fingindo
estar perdida em meus pensamentos para que ele não puxasse conversa.
Olhei de canto de olho, sendo flagrada no ato.
Por que tive que olhá-lo?
— Continue o que você estava fazendo — falou.
Isso!
Melhor, não estava a fim de ter uma conversa. Segui para a bancada
e coloquei o leite no fogo. Comecei a ir atrás da mamadeira e, a cada
movimento que eu fazia, sentia o seu olhar pesar sobre mim.
Depois que terminei o mingau do Nando, escutei os passos do Capo
se aproximando de mim. Senti a sua respiração na minha nuca, enquanto ele
se aproximava cada vez mais.
Talvez não seja o Capo, Hope, pense bem, pode ser um espírito
maligno atrás de você, isso sim seria sorte. Pensei comigo.
Senti o seu toque no meu braço e logo me virei para encará-lo.
— O que aconteceu com o seu rosto? — questionou.
Ele parecia curioso, talvez pela última vez que nos vimos, eu não
tinha nenhum deles.
— Fui castigada — respondi rapidamente ser conseguir encará-lo.
Ele me intimidava muito, ele não desviava o olhar, como se fizesse de
propósito para se mostrar mais confiante.
— Isso eu percebi, eu quero saber o porquê — falou.
— Quebrei algo do meu pai — contei a mentira que inventei.
— Alguém já te disse que você não sabe mentir? — indagou. Na
verdade, sim, todos diziam isso, mesmo assim, seguia mentindo. — Detesto
quando mentem para mim, fale a porra da verdade.
O olhei, agora sem desviar como da última vez.
O olhando de perto, dava para notar algumas coisas. Não tinha como
deixar de reparar no olhar vazio desse homem. Ele parecia totalmente
quebrado, mesmo uma estranha que sequer o encarava por muito mais do
que longos minutos desconfortáveis podia notar. Me arrepiei com o olhar de
gelo, sentindo vontade de chorar apenas vendo aqueles olhos. Seus olhos
transpareciam algo que me incomodava, como se eu sentisse e entendesse o
que eles queriam me dizer.
Era estranho, dolorido, como se o sentimento fosse, de alguma
forma, meu. Ele sequer disse algo, mas isso marcava presença no seu
semblante sem que ele notasse. Interrompi meus pensamentos, prestando
atenção em outra coisa que não fosse o seu olhar.
— A minha irmã mais nova quebrou algo e eu assumi a culpa —
disse, observando a janela de vidro que estava entreaberta.
Não ia mentir, já que ele se mostrou que sabia que era o que eu
estava fazendo. Não queria ser castigada duas vezes em menos de 24 horas.
Ele apenas me encarou e eu pude vislumbrar a sua beleza por um curto
espaço de tempo. Apesar de ser grosseiro, ele era muito bonito, isso era
claro, mas o seu lado rabugento ofuscava toda a sua beleza.
— Hope? — Escutei Kitty me chamar.
— Eu posso... — Antes que eu perguntasse se podia sair, ele deu
espaço para que eu passasse.
Subi com o coração na mão, não sabia o que esperar de uma
conversa com ele. Havia muitas possibilidades e nenhuma delas me
agradava.
— Obrigada por me salvar! — disse para a Kitty baixinho.
— Estava te devendo — falou e eu ri.
Peguei Nando no colo, dando a sua comida. Quando o Nandinho
terminou, o coloquei na sua cama.
A Kitty dormiu ao lado do Nando, enquanto eu e a minha mãe
íamos dividir a cama no quarto de hóspedes.
Olhava os dois, pensando em alguma possibilidade boa vindo dessa
relação com o Lorenzo se caso ele me aceitasse como sua esposa. De
qualquer forma, qualquer decisão me levaria a apenas um lugar, ou o meu
pai me matando por não ter sido escolhida, ou o Capo me matando por
conta do seu temperamento, então ambos me levariam ao caixão.
Se pensar positivo, essa poderia ser uma coisa boa.

No outro dia, saímos da casa da Lisa, já que infelizmente tínhamos


que voltar. Assim que adentrei em casa, encontrei o meu pai de frente para a
escada, de costas para nós.
— Já comeu? — Indagou minha mãe, a mesma pergunta que ela
fazia toda manhã a ele.
O seu silêncio já me fez entender que ele estava bravo em um nível
assustador. Havia dois modos de sua ira, a primeira, ele pode estar com
raiva, mas responderia cheio de sarcasmo, nos xingando em seguida. E
existe a segunda, que ele ignora, esperando o melhor momento para se
divertir conosco.
O fato dele não se virar me causou curiosidade.
Ele parecia querer esconder algo, olhava o celular, mas dava para
ver que estava bloqueado a tela. Quando ele se virou para ir até a cozinha,
pude ver o que ele escondia. Vi o rosto do meu pai todo machucado e cheio
de hematomas pelo corpo.
— Dante, o que houve com você? — perguntou minha mãe.
Ele olhou para nós e saiu da sala sem nos responder. Alguma coisa
aconteceu. Talvez ele tenha discutido com alguém e a pessoa resolveu não
aceitar bem.
— O que será que aconteceu? — perguntei a minha mãe.
— Melhor deixarmos quieto, ele ficará uns dias sem falar conosco
para esconder o rosto — falou. — Então vamos aproveitar.
Ele não ditou nenhuma tarefa para a semana. Era estranho, ele não
gostava de nos ver paradas. O seu silêncio era assustador, algo ele ia
aprontar para extravasar a sua raiva.

O resto da semana passou voando. Os meus machucados já estavam


bem melhores. Meu pai passou a semana inteira reclamando do Capo ainda
não ter me chamado para sair ou de ter vindo me ver, já que ele já havia
saído com algumas das suas pretendentes.
Ontem fiz o exame obrigatório as pretendentes e o resultado foi que
eu estava bem e saudável, forte como um cavalo.
Estava no meu quarto olhando os livros que eu havia ganhado da
Lisa de aniversário. Depois que eu terminei o colegial, a minha obrigação
era só ser uma esposa que desse orgulho ao meu marido, a famosa esposa
submissa. Livros eram a única coisa que o meu pai me permitia ter, talvez
fingir que sou intelectual para os de fora, mas eu de fato eu gostava de ler.
Queria ter entrado na faculdade e ter me formado em pedagogia, mas agora
isso virou um sonho muito distante.
Lisa, depois que se casou, conseguiu se formar em recursos
humanos, já que Enzo nunca se incomodou dela ter um curso superior. Isso
não era bem-visto na máfia, principalmente pelos mais devotos as leis
antigas, se uma mulher pudesse ter suas próprias escolhas e ter seu próprio
dinheiro, ela não seria uma mulher submissa. Não precisaria mais do
marido para sobreviver, já que quando casamos, nossa vida só pode ser
dedicada ao nosso cônjuge.
— Se arrume, hoje você vai sair com o Capo. — disse meu pai,
entrando no meu quarto todo feliz.
Ele nem deixou que eu perguntasse para onde eu iria com ele. Uma
das “amigas” do meu pai que é dona de uma loja de vestidos, é a mesma
mulher que está vestindo as pretendentes do Capo. Acho que tínhamos que
nos vestir conforme a patente dele ou só para não o envergonhá-lo mesmo.
Ela havia me dado um vestido para sair com ele hoje. Quando eu ia
reclamar, o meu pai já me olhou bravo.
Olhei bem o vestido longo e vi o quão vulgar ele era para mim
devido a sua abertura, não era muito o meu estilo, roupas que mostravam
muito me deixavam desconfortável.
— Pai... — disse, sendo interrompida por ele.
— Não venha reclamar do vestido. Se o Capo escolheu a Suzi para
vestir as pretendentes dele, é porque sabe que ela tem bom gosto, e trate de
conquistá-lo — falou.
Meu pai nem esperou eu responder e saiu do quarto. Comecei a me
arrumar e realmente estava desconfortável naquela roupa. O decote quase
chegava no meu umbigo e as costas era totalmente nua. Havia uma abertura
imensa nas pernas do vestido em tom escuro, o que deixou ainda mais sexy
e chamativo, dando mais visibilidade em regiões no meu corpo que eu nem
achava que seriam tão atraentes e chamativas.
— Está linda, figlia mia! — disse minha mãe entrando no quarto
acompanhada da Kitty.
— Mãe, eu estou com vergonha de usar essa roupa — disse me
sentando na cama em desânimo. — Impossível me olharem nos olhos,
perderão tempo olhando os meus seios ou esperando mostrar outra coisa a
mais por essa abertura no vestido.
— Não se preocupe, Hope, quando menos imaginar, você já vai
estar em casa — disse Kitty.
Escutei a buzina do carro lá fora e o nervosismo me bateu.
Para onde ele vai me levar?
O que vamos conversar?
Se formos mesmo conversar... Céus, não pense nisso, Hope, ele
realmente está te chamando para sair, apenas isso.
Desci e o meu pai estava na sala me esperando.
— Não estrague tudo! — disse segurando o meu braço. — Vai ser
difícil você não foder com tudo, mas se controle.
— Eu sei!
Fui em direção a porta e, quando eu saí, andei calmante para não
cair naquele salto ou para não mostrar o meu peito. Olhei para o meu pai
que acenou para Lorenzo que o ignorou, virando o rosto.
O vi sair do carro, ajeitando o paletó, olhando o relógio em seguida.
Deve estar pensando no meu atraso de 2 minutos. Ele me olhou e eu
rapidamente desviei o olhar, prestando atenção em outra coisa no chão que
não fosse o enorme homem na minha frente.
Quando levantei o meu olhar disfarçadamente, o Capo estava
belíssimo com um smoking preto, ele ainda não havia me visto, mas logo
senti o seu olhar pelo meu corpo. Dei passos lentos, olhando para os saltos,
com medo até de estragá-los.
— Levante o olhar — falou, assim que que eu me aproximei dele,
me assustando por estar tão próxima.
O olhei e pude me deslumbrar com seus olhos azuis. Ele me encarou
de cima a baixo, logo senti minhas bochechas rosarem. Era absurdamente
surpreendente como seu olhar era diferente todas as vezes que eu o via. O
seu olhar modifica a expressão do seu rosto, causando mais acessibilidade
para conversar em determinadas vezes nessas suas “mudanças”.
— Está muito bonita, senhorita Bellini! — falou.
— Obrigada, Capo! — disse constrangida. — O senhor também está
... sabe, m-muito bonito!
Eu não sei receber elogio e muito menos elogiar em seguida.
— Nada de senhor, me chame apenas de Capo ou de Lorenzo —
falou, abrindo a porta para mim.
Entrei no carro e eu não disse uma palavra a Lorenzo depois que
saímos da minha casa. O silêncio já estava ficando mais constrangedor a
cada segundo. Fiquei com a mão segurando o decote para não mostrar o
meu peito. Na perna o tecido tinha uma abertura e precisei ajeitar a barra do
vestido para não mostrar a minha calcinha. O vestido era mesmo muito
bonito, mas nem um pouco prático.
Tentei de tudo para não mostrar que a roupa estava me incomodando
bastante, mas era quase impossível. Lorenzo as vezes trocava o olhar do
volante para mim, talvez estranhando eu não puxar conversa.
Chegamos em frente a um hotel de luxo, onde havia um belo saguão
de entrada. Fiquei encantada com tudo. Lorenzo saiu do carro, logo abrindo
a porta para mim. Ele colocou a sua mão na minha cintura, os dedos grossos
em contato com minha pele, mesmo através do tecido, me fez arrepiar, me
guiando para o salão de festa do hotel.
Havia tantas pessoas que eu fiquei surpresa pela quantidade.
Lorenzo começou a cumprimentar algumas, sorri para as que me olhavam,
mas logo desviavam o olhar com repulsa. Talvez pensassem que eu era
alguma acompanhante de luxo.
O Capo se sentou em uma das mesas mais centralizadas, apenas o
segui. Enquanto ele ficou só no celular, eu fiquei olhando o folheto que
haviam dado na entrada.
Era um leilão beneficente... Será mesmo?

Havia muitos quadros e artefatos.


Percebi alguns erros na tinta do folheto, mas nada que impedisse
visualizar o que havia.
— Oi, Sr. Ferraro! — disse Bianca De Santis.
Ela me olhou com indiferença, não sei se era porque eu estava com
o Lorenzo ou por causa da minha patente.
— Olá, Bianca! — respondeu o Capo. — Seu pai está aqui? — Ela
fez um não com a cabeça, logo dando um sorriso malicioso.
Sério que ele me trouxe aqui para ver isso? Tentei ao máximo não
revirar os meus olhos. Ignorei a presença deles ainda prestando atenção no
folheto em minhas mãos. Vi que alguns senhores tinha o olhar fixo no meu
decote, me fazendo sentir nojo dos seus olhares.
Eu odeio a Suzi, ela escolheu a pior roupa para mim. Me ajeitei na
cadeira, logo colocando a barra do vestido preso na parte da minha coxa
para não mostrar a minha calcinha. Com uma mão eu segurava o folheto e a
outra segurava o decote do vestido.
Olhei de relance e vi que a Bianca havia se sentado ao lado do
Lorenzo, colocando a mão na coxa dele.
Ousada!
O tempo estava passando e a conversa deles estava ficando mais
picante, já que eles riam com uma malícia no rosto.
Percebia que algumas vezes ela me olhava, esperando alguma ação
minha, mas como todas as vezes, eu a ignorava.
— Oi, minha querida! — disse uma senhora se sentando ao meu
lado. Eu não a respondi, já que Lorenzo não permitiu que eu falasse com
mais alguém. Ela logo lembrou que eu não podia responder sua conversa e
sua atenção foi para Lorenzo. — Boa noite, Capo, posso falar com a moça?
Ele apenas assentiu que sim e logo ela voltou atenção para mim.
— Oi! — disse.
— Achei lindo o seu cabelo! — falou com um sorriso simpático. —
Me chamo Aurora Müller!
— Hope Bellini! — disse.
Ela se aproximou um pouco mais de mim, falando próximo ao meu
ouvido.
— Vi que você está um pouco desconfortável neste vestido. Sempre
ando com alfinetes, você quer um? — perguntou.
Na verdade eu queria, mas não sabia se poderia aceitar, o vestido
não era meu e não poderia estragá-lo, se não a Suzi certamente falaria com
o meu pai, que logo me castigaria.
— Não precisa, muito obrigada! — disse.
— Tudo bem! — disse Aurora. — Se quiser, fale comigo, nós
mulheres devemos nos ajudar.
Ela saiu e eu voltei a ficar olhando para o nada. Disseram que
quando tivéssemos o nosso encontro com o Capo, ele conversaria conosco
para nos conhecer melhor. Não trocámos nem cinco palavras direito. O
leilão começou e a Bianca ainda estava aqui.
Santo Cristo, isso não vai acabar tão cedo!
Me aproximei ainda mais de Lorenzo, esperando que ele notasse que
eu queria falar.
— O que houve? — perguntou.
— Posso ir ao banheiro? — perguntei baixinho.
Ele não tirava os olhos dos meus lábios.
— Volte logo! — falou, olhando para os seguranças que me
seguiram.
Cheguei ao banheiro e me olhei no espelho. Como eu podia aceitar
aquela situação? Lorenzo estava nitidamente tendo um caso com a Bianca,
se eu chegar a me casar com ele, teria que aceitar tudo isso calada. Não
sabia como a minha mãe aguentava as traições do meu pai. Esperava
conseguir ficar na minha, assim como meu pai me ensinou, senão
certamente teria problemas.
Vi a porta do banheiro se abrir, logo entrando a mesma senhora de
antes.
— Dia difícil, não é!? — falou Aurora.
— Sim! — respondi.
— Uma hora você se acostuma com as traições — falou. Ela deve
ser casada com alguém assim. — É difícil, mas se torna tolerável depois.
Esse era o meu medo.
— Não queria ter a vida que a minha mãe tem com o meu pai. Sei
que sua única felicidade com aquele casamento sou eu e as minhas irmãs.
Nunca pensei que isso aconteceria comigo — falei, logo me repreendendo
por admitir isso a uma estranha.
— Nós mulheres não temos voz aqui. Quanto antes aceitar, será
mais fácil viver — falou.
— Desculpe, eu tenho que ir agora — disse. — Foi um prazer
conhecê-la!
A senhora sorriu e eu saí do banheiro antes que Lorenzo viesse atrás
de mim pela minha demora. Quando eu me sentei na cadeira, Lorenzo nem
notou a minha presença. Menos mal, pelo menos não teria que ficar
forçando sorriso.
Quando finalmente terminou o leilão, escutei a Bianca falar,
certamente para que eu escutasse, já que todas as vezes que ela flertava com
ele, ela esperava alguma reação minha.
— Vem para minha casa hoje — sussurrou lentamente para Lorenzo,
passando a língua pelos lábios.
Credo!
— Talvez mais tarde — respondeu, fazendo a mesma quase cair da
cadeira pela falta de interesse dele.
Bianca me olhou, conseguia sentir a sua raiva, achando que a
possibilidade de ele não ir dormir com ela, fosse porque ele pretendia
dormir comigo.
Que isso não aconteça!
Eu fingi que não sabia da conversa deles, já que eu estava olhando o
salão a minha frente. O Capo se levantou, logo esperando eu fazer o
mesmo. Se despediu de algumas pessoas e nos dirigimos ao
estacionamento.
Quando eu ia entrar no carro, ele segurou a porta e ficou me
encarando. Não sabia o que fazer ou o que ele queria. Ele se aproximou
mais, colocou a mão na minha cintura e ficou me olhando, esperando
alguma resposta minha.
Ele me perguntou alguma coisa?
As vezes fico tanto tempo na minha mente que me esqueço do
mundo aqui fora. Lorenzo aproximou o rosto de mim e eu prendi a
respiração ao sentir a maciez de seus lábios na pele de meu pescoço pela
primeira vez. O toque suave percorria minha derme e senti sua boca quente
tocar meu ombro, dando espaço breves de um beijo para outro.
Queria afastá-lo, mas estava com medo.
— Vamos para minha casa!? — perguntou Lorenzo, descendo
lentamente a sua mão por minhas costas, até chegar um pouco acima do
meu quadril. Senti que ele aquilo não era realmente uma pergunta, e sim
uma informação.
— Se o Capo quiser — disse.
Queria dizer não, mas o medo do meu pai descobrir me apavorava.
Ele logo parou de beijar o meu pescoço e me encarou.
Eu falei algo de errado?
— Você quer ir? — perguntou. — E antes que me responda se é o
que eu quero, não quero saber de mim e sim saber se você quer. Me
responda a verdade, odeio mentiras.
— Na verdade, eu não quero — disse quase em um sussurro.
Esse cretino passou a noite me ignorando e acha que só porque é o
Capo eu ia querer me deitar com ele!?
— Por quê? — indagou. — Não quer dar prazer ao seu Capo? —
Ergueu a sobrancelha como se tentasse entender a minha resposta.
— Se é o que você quer, eu não posso negar, mas não quero me
deitar com você — falei. — Depois que isso terminar e se eu não for a
escolhida, as mulheres que não são mais virgens não conseguem se casar
depois.
Realmente era verdade, não queria ficar sempre na casa dos meus
pais. Eu não podia ser independente e já aceitei isso, mas se fosse ser
pretendente de outro homem, eu não ser mais virgem seria um problema.
Mulheres que tem os pais em um cargo bom na máfia não se preocupariam
com isso, mas como o meu pai é um cretino, eu não ser mais virgem seria
um problema.
Ele não me respondeu, só ficou me encarando. Droga, se ele me
castigar por ter falado de mais, eu estarei ferrada.
— Eu entendo o seu ponto de vista, mas não vou implorar para ter
uma ragazza em minha cama — falou.
Acho que feri o seu ego.
— Me desculpe, eu não quis chateá-lo, eu só disse a verdade.
— Eu respeito a sua decisão — falou fazendo menção para que eu
entrasse no carro. — Andiamo!
Entrei no carro, já me sentindo nervosa. O caminho foi mais difícil
do que eu pensei. Lorenzo ficou calado, sem demonstrar nada.
Se ele reclamasse de mim para o meu pai, Deus que me ajude!
Ele acelerava, talvez louco para se livrar de mim.
— Por que veio com esse vestido, já que é evidente que está
desconfortável nele? — perguntou Lorenzo, olhando para mim quando o
sinal ficou vermelho.
Tinha acabado de ajeitar a barra do vestido pela milésima vez
quando ele falou isso.
— Não tive muita escolha. — Suspirei.
Ele ficou me encarando e logo voltou a prestar atenção na estrada.
Quando chegou em frente da minha casa, não sabia o que fazer, se me
despedia ou se pedia desculpa. Apesar de todos sempre falarem que
Lorenzo é o mais calmo dos seus irmãos, fiquei com medo dele me punir
por hoje. Até porque ele pode ser o mais calmo, mas os boatos de ser o mais
severo, principalmente por causa do seu cargo, me assustavam.
— Obrigada por ter me convidado! — disse dando um leve sorriso.
Não ia esperar a resposta, já que parecia que ela não viria.
— Amanhã sairemos de novo — falou. — Hoje não tivemos muito
tempo de conversar, seria injusto com você, já que com as outras eu
conversei e saí com elas.
— Tudo bem! — disse, sem querer prolongar a conversa.
Ele fez menção para que eu saísse do carro, então saí, indo para a
minha casa. Sabia que ele estava olhando a minha bunda, já que ainda
estava parado ali, ao invés de já ter ido embora.
Quando entrei em casa, escutei o barulho do carro se distanciando.
— O que você faz aqui? — perguntou meu pai, me empurrando até
a parede. — Vi que Lorenzo levou todas as pretendes para algum lugar para
foder, se você voltou este horário é porque não dormiu com ele, não é? Sua
imprestável! Como sempre estragando tudo.
— Ele me chamou para sair amanhã — disse antes que o meu pai
me batesse por não ter dormido com o Lorenzo.
— Sério? — falou surpreso me soltando sem perceber. — Então
quer dizer que o Capo chamou você para sair de novo!? Hum, ele não fez
isso com as outras.
Mal sabia ele que eu neguei sexo e que ele só fez isso porque passou
o tempo todo com a Bianca.
Subi para o meu quarto, querendo me livrar daquela roupa. Fechei a
porta atrás de mim e pensei por alguns momentos na noite, Lorenzo tinha
muitos defeitos, mas era impossível negar o charme de seus olhos azuis.
O cheiro dele ficou em mim, só com aqueles segundos de
aproximação. Não tive muito contato com homens, o meu pai sempre
proibiu, então tudo era novo, o toque, a proximidade, o cheiro... Paro por
um segundo, vendo para onde meus pensamentos estão me levando. O que
eu devo esperar de amanhã?
No dia seguinte, já era quase hora do Capo vir me buscar.
Comecei a me arrumar, desta vez, Suzi não trouxe uma roupa tão
chamativa como a última. Fiquei surpresa que ela ainda perguntou se eu
havia gostado da roupa ou se queria mudar. De todas, essa era a que eu mais
gostei.
Era um vestido branco, bem justo por sinal. O decote em V realçava
o busto, deixando mais atraente para quem olhasse, mas sem o risco de meu
peito pular para fora.
Aguardei o Capo chegar na varanda de casa, nervosa por sair com
ele novamente.
— Você está cada dia mais linda, filha! — disse minha mãe me
abraçando.
— Cadê o papai que eu não o vejo desde cedo? — perguntei.
Ele viajou ou estava tramando algo.
— Viajou a negócios — respondeu.
— Nos livraremos dele por esses dias.
Ficava até mais tranquila. Sair e deixar a minha mãe e Kitty
sozinhas com o meu pai me deixava muito preocupada, ninguém sabia
quando ele surtaria.
Vi um bugatti centodieci preto se aproximar da entrada da minha
casa, já sabia que era o Capo, só pelo luxo do carro.
Me despedi da minha mãe e segui para a rua.
Era impossível não notar o quando ele esbanjava sensualidade ao
descer do carro. Agora sabia porque todas as mulheres daqui caíam aos seus
pés. Ele tinha um charme e um sorriso que chamavam a atenção. O
problema era só o seu temperamento que estragava toda a sua beleza.
Não que eu estivesse a fim dele, eu só não podia negar os boatos ao
seu respeito. Ele apenas fez menção para que eu entrasse no carro,
mostrando que estava ao telefone. Só pelo seu olhar, notei que estava bravo
com algo.
Entrei no carro e ele logo nos tirou dali. No caminho ele falava ao
telefone com fúria na sua voz:
— NÃO TEM COMO EU VOLTAR! — gritou. — Como tantos
homens aí, não viram isso acontecer? — Ele ficava cada vez mais bravo
com a pessoa do outro lado da linha. — Você é um figlio di puttana!
O meu medo era que descontasse em mim como o meu pai fazia.
Sua voz era tão grossa, que quando ele elevava o tom, o barulho era
estrondoso. Não nego que estava ficando com medo. Não entendia muito
bem do que ele estava com raiva, mas parecia que uma carga havia sido
roubada do seu depósito. Não tinha como não escutar, só havia nós dois
nesse cubículo.
Comecei a fingir prestar atenção na estrada, já que eu não podia
fingir que não sabia do que a conversa se tratava. Estava em um carro
fechado, até a voz do rapaz do outro lado da linha eu estava escutando.
— Só me ligue quando recuperar o que perdeu, senão eu mato você!
— falou.
Logo em seguida, jogou o celular para trás, que bateu no vidro
traseiro, caindo para debaixo do seu banco. Eu “brincava” com os meus
dedos para que ele não pudesse ver as minhas mãos trêmulas.
— O que foi? — perguntou e eu estranhei. — Você não para de
mexer com os seus dedos. Está com medo?
— Ah, não! — menti. Eu estava apavorada. — Se o Capo quiser ir
resolver a situação que lhe deixou bravo, não me importo de remarcar o
nosso jantar.
Na verdade estava com medo de acabar sobrando para mim.
Bravo ele já estava, e se ele decidisse descontar a raiva em alguém a
sorteada seria eu, já que estava justamente ao seu lado. Talvez remarcar
para quando ele não estivesse bravo ou querendo matar alguém seria ótimo.
— Não pense tanto, a sua obrigação é apenas ficar quieta — falou,
mostrando o quanto estava com raiva.
Eu realmente tentei ser gentil com ele, agora ele que se ferre! Voltei
o meu olhar de indignação para a estrada, já que a criatura ao meu lado era
um rabugento.
— Você se aborrece tão facilmente — zombou de mim.
Resolvi ficar na minha, não queria mais tentar ser amigável com ele
agora. Quando eu menos percebi, já havíamos chegado em frente a um
restaurante.
Ele abriu a porta do carro para mim e colocou a mão na minha
cintura. Eu não havia olhado mais para ele. Se eu pudesse o ignorar a noite
inteira, eu o ignoraria.
— Quer se sentar em qual mesa? — perguntou.
Eu disse que o ignoraria, eu realmente iria ignorar, assim como
estava ignorando o perigo iminente que era fazer aquilo. Talvez eu
realmente não tivesse nenhum senso de autoproteção. De qualquer forma
seria castigada, ou por ele ou pelo meu pai por não fazer o Lorenzo me
escolher, então, por que não fazer o que eu queria? Sinceramente, estava
cansada de tanta arrogância quando eu apenas me preocupei com essa
situação que lhe aconteceu.
Ele pareceu um tanto enfurecido por eu não o responder. Me guiou
as pressas para um lugar mais reservado e agarrou o meu braço.
— Quando eu fazer a porra de uma pergunta, você responde,
caralho! — falou.
— O senhor disse que a minha obrigação era ficar calada, eu apenas
estou lhe obedecendo — respondi, jogando as suas palavras contra ele
mesmo.
— Ragazza... — Lorenzo respirou fundo, se controlando pela minha
ousadia. Eu realmente estava louca, se eu fizesse isso com meu pai, seria
como assinar minha sentença de morte. — Não tente ser mais esperta do
que eu, senão eu não tratarei tão educadamente na próxima vez.
— Na última mesa — falei.
Ele me guiou para a mesa, logo fez o pedido ao garçom. Pedi
qualquer coisa, só para comer logo e ir para casa. A comida chegou e eu me
apressei para terminar, mas sem fazer ele notar.
— Fale-me um pouco sobre você — pediu.
Sei que com as outras pretendes ele fez o mesmo, ele tinha que
saber mais sobre nós.
— Acho que o senhor já deve saber muita coisa ao meu respeito —
disse.
— Já falei para não me chamar de senhor — disse Lorenzo me
repreendendo. — Como tem tanta certeza que já lhe conheço?
— Você certamente investigou a vida das mulheres que seriam as
suas pretendentes, se não fosse o caso, qualquer mulher na máfia poderia
ser uma das suas escolhidas, não precisariam de apenas 7 de nós
concorrendo — disse, enquanto ele prestava atenção ou fingia muito bem
acompanhar. — Se não nos conhecesse, seria como um tiro no escuro
colocar uma desconhecida dentro da sua casa.
Ele ergueu uma sobrancelha, pensando no que me responderia.
— Vejo que a senhorita é bastante perspicaz — falou, enquanto me
encarava. — Então me conte algo que eu não saiba, algo que os meus
homens não poderiam saber sobre a senhorita.
— Minha vida não é tão agitada assim, nada de novo acontece, é
sério! — disse.
— Me conte da sua relação com a sua família, isso é algo que eu
não sei — falou.
Ele realmente estava querendo conversar ou só estava jogando as
perguntas para mim, para que eu tenha que responder, me ocupando para
que ele não falasse muito de si.
— Sou mais próxima das minhas irmãs e da minha mãe do que do
meu pai — expliquei. — Eu e o meu pai não temos uma relação tão
paternal assim, é como se ele nem fosse parte da nossa família. Então a
minha família é composta apenas pela minha mãe e pelas minhas irmãs.
Quando a minha irmã mais nova nasceu, a Kitty, eu tinha 14 anos, achava
que a minha mãe havia me presenteado com uma boneca diferente. Fiquei
bastante decepcionada depois quando descobri que não era um brinquedo.
Dizem que a primeira decepção a gente nunca esquece — falei rindo,
lembrando-me de como fiquei triste.
Vi que o Lorenzo tinha um bem pequeno sorriso nos lábios, o que
estranhei de imediato.
— Mas não sabia que a sua mãe estava grávida? Não é algo que se
dê para esconder — falou se ajeitando na cadeira.
— Eu e a Lisa estávamos morando por um tempo na casa do irmão
do meu pai como uma forma de castigo. Então, quando voltamos, Kitty já
havia nascido.
Minha mãe já estava grávida da Kitty quando saímos de lá, só que a
barriga não era tão perceptiva e como ela tinha medo do meu pai, ela
escondeu a gravidez de todos até onde deu, principalmente quando
descobriu que era uma menina.
— O castigo de vocês era ir para casa do tio?
— Meu tio consegue ser bem mais lunático que o meu pai — disse
quase em um sussurro, mas sei que ele me escutou. Eu realmente tinha
medo daquele parente. — Ainda fui passar um tempo com ele quando eu
tinha 19 anos, já a Lisa, ela se livrou porque havia casado com o Enzo. Não
importava quem era a errada, meu pai sempre nos mandava duas juntas.
— O que você fez para ter sido castigada duas vezes?
— Na primeira vez, a Lisa assumiu a minha culpa por ter entrado no
escritório do meu pai. Eu apenas tinha ido pegar os pratos sujos, quando ele
chegou e me viu parada, ele teve um surto, já que desconfiava de todo
mundo. Lisa chegou antes que ele me batesse e disse que ela havia
mandado eu ir. Meu pai percebendo que não gostávamos do seu irmão, nos
mandou para lá. — falei.
Nem sei se ele realmente estava prestando atenção na nossa
conversa, mas ele fingia bem acompanhar o que eu dizia.
— Então já é de família assumirem a culpa uma da outra? —
indagou, lembrando da última vez que eu assumi a culpa de Kitty. Nem
sabia que ele se lembrava disso. — E qual foi a segunda vez?
— Bem, tem um lago próximo ao centro da cidade. Em uma das
festas da escola da Kitty, uma criança havia caído no lago e eu pulei para
salvá-la.
Isso tem mais de 6 anos, mas ainda lembrava daquele dia como se
fosse hoje. Ele me encarou um pouco sem entender o ponto que eu fui
castigada por isso.
— Por que foi castigada por isso?
— Ele era filho de uma empregada e porque eu não sabia nadar. O
meu pai ficou enfurecido por eu ter quase causado a minha morte, por
alguém que ele mesmo disse que não merecia estar vivo — falei.
Chorei muito naquele dia. Todos olhando aquela criança se afogar,
mas por não fazer parte do nosso padrão social, ninguém havia feito nada.
Entendia que na máfia tínhamos muita rixa devido as patentes, mas era uma
criança. Sabia que pessoas da máfia não tinham tanta sensibilidade assim,
certamente ele devia achar que eu era uma tola.
Vi que ele ia ficar calado, já que mudou rapidamente o semblante
depois que eu o respondi. Os seus olhos estavam inquietos, a forma que a
sua postura mudou, me intrigou. Então comecei a querer saber sobre ele,
ninguém nunca sabe nada do que vem da família Ferraro, principalmente do
líder.
— Você quer falar um pouco de si? — perguntei.
— Eu não sou importante neste jantar, quem vai decidir com quem
vai se casar sou eu — disse Lorenzo, indiferente.
Ele mudou a sua expressão rapidamente.
O que eu disse que o deixou tão mal?
— Posso ir ao banheiro? — perguntei e ele assentiu.
Os seguranças novamente vieram atrás de mim, enquanto eu
agilizava os passos para chegar no banheiro. Meu sangue estava fervendo
de ódio, esse cara só podia ser bipolar. Ele estava super acessível e do nada
ficou daquele jeito. Como eu estava com ódio de mim por não poder ter
dado uma boa resposta para ele, eu queria muito responder.
Estava farta daquilo, era sempre uma arrogância atrás da outra.
Estava acostumada já que o meu pai fazia questão de sempre ser um idiota,
mas achei que, por alguns segundos, Lorenzo não era igual a ele.
Ser usada, ser destratada, ser tão maltratada ao ponto de sempre
achar que o erro era meu.
Se eu não casar com o Lorenzo, eu tenho certeza que o meu pai me
mata ou me manda para casa do tio Marco. Prefiro a morte do que ir para lá
de novo. Ter nas lembranças a Lisa tentando tirar a própria vida para não ter
que sofrer mais nas mãos do tio sádico, não era algo que eu queria viver de
novo.
Meus olhos já começaram a ficar marejados. Resolvi ligar para Lisa,
tinha que falar com alguém, senão eu enlouqueceria e choraria na frente do
Lorenzo, o que era pior.
— Oi, descabelada! — falou assim que atendeu. — Aconteceu algo
para você me ligar a essa hora?
— Me desculpa, eu só queria ouvir a sua voz — disse.
— O que houve, Hope?
— Lisa, eu não quero me casar! — disse tentando segurar o choro.
— Sei que o pai vai fazer algo contra mim se eu desistir deste casamento,
ou pior, fazer algo com a Kitty para me atingir, mas Lorenzo é muito rude,
bipolar, tenho medo de lidar com uma pessoa igual ao pai e sofrer o que a
gente sofreu por todos esses anos. Não quero ter a vida da mamãe.
— Eu sinto tanto por você! — falou. — Essa nossa vida é tão
injusta. Eu tive a sorte de encontrar Enzo nesse lugar. Eu realmente queria
que você fosse feliz aqui. Sei que o pai vai fazer o inferno na sua vida se o
Capo não te escolher, mas o conhecendo, sei que ele vai fazer o que você
mais teme, te levar para casa do tio Marco e ainda pior, fazer Kitty ir com
você. Droga, o Capo tem que te escolher. Eu queria te dar uma outra
opção, uma outra forma de vida. Queria que sentisse o que eu sinto depois
que saí de casa, mas eu não vejo outras soluções para isso.
— Não quero que a Kitty chegue perto do tio Marco. Me desculpe
por te ligar tão tarde, só queria desabafar. Depois eu te ligo, tenho que
resolver umas coisas aqui — disse desligando a chamada.
Havia demorado demais, o Lorenzo com certeza ficaria bravo.
Limpei os vestígios de lágrimas e saí do banheiro. Até que eu vi um muro
em forma de homem parado no corredor.
Estou ferrada!
Ele me encarou sem dizer uma palavra. Só me arrastou pelo braço,
indo para fora do restaurante. Me colocou dentro do carro, logo entrando.
Acelerou indo em direção a rua. Ele antes estava bravo, e agora estava
ainda mais.
— Você realmente testa toda a paciência que eu não tenho, senhorita
Bellini! — falou. Ele estava mais bravo que antes. O que este homem tem
para estar tão bravo assim? — Meu dia está uma merda e você não para de
fazer eu querer...
Com a velocidade que ele estava, rapidamente chegaríamos em
minha casa ou sofreríamos um acidente.
Estava cansada!
Eu só saí com o Lorenzo duas vezes e ele esgotou toda a minha
paciência com essa sua mudança de humor. O meu pai vai me castigar de
qualquer forma mesmo, não tem como evitar, então se for para levar uma
surra, que seja por um bom motivo.
— Me castigue ou me mate, sei lá. Estou farta de tudo isso! — falei.
O ruim de ser muito emotiva, é chorar por tudo. A vontade de chorar veio,
mas me segurei. — Diga que eu não sou boa o bastante para me casar com
você ou que não consigo seguir as regras.
Eu estava lidando com uma pessoa igual ao meu pai, só que não tão
louco e agressivo como ele era.
— Por que você tem que ser assim? Não sabe aceitar e ficar calada
— disse Lorenzo.
Ele alternava o seu olhar da estrada para mim. O medo de ter um
acidente era grande.
— Não sei o que é pior, lidar com o seu mau-humor e a sua
arrogância ou ter que voltar a morar com o meu tio. De qualquer forma,
serei castigada e prefiro mil vezes não me casar com você! — falei o
encarando. — Não quero a vida da minha mãe.
Não queria falar mais nada, estava me expondo de mais. Voltei a
minha atenção para minhas mãos. Só estava esperando o tapa vir, ele com
certeza estava bravo, mas para a minha surpresa, não veio. Ele não havia
dito uma palavra a mim até chegar próximo onde eu moro.
Lorenzo estacionou em frente a minha casa e eu pude ver o quanto
ele estava se segurando para não me repreender. Antes que eu pudesse sair
do carro, ele segurou no meu braço.
— Admito que você tem coragem, ragazza, mas não ouse me
responder de novo. Eu nunca tive tanta paciência com alguém, como eu
tenho com você. Se fosse outra pessoa que estivesse fazendo o que você
acabou de fazer, já estaria sendo enterrado vivo pelo desaforo.
Eu só o encarava, não sabia se ele queria que eu respondesse.
— Amanhã virei conversar com o seu pai, avise-o! — Lorenzo fez
menção para que eu saísse do veículo.
Quando saí do carro, ele logo tomou partida, deixando a frente da
minha casa.
Que merda, agora meu pai vai me matar!
Entrei em casa me arrependendo de cada palavra dita.
— Como foi, Hope? — perguntou Kitty assim que eu entrei.
— Foi horrível! — disse me jogando no sofá ao lado delas. — Eu
fui um pouco grosseira com ele. Sei que ele estava errado por ter sido rude
comigo, mas por que eu estou me sentindo tão mal? Quando o pai
descobrir... Santo Deus, ele me mata!
— É porque você é uma boa pessoa, mia figlia! — disse minha mãe
passando a mão no meu cabelo. — Tudo vai ficar bem, meu amor!
— Mãe... — choraminguei. — Ele vem amanhã conversar com o
pai, se ele reclamar do que eu fiz hoje, o pai vai acabar comigo.
— Mas seu pai não vem amanhã, ele só vem próxima semana —
falou.
— Se ele vier amanhã mesmo, a mamãe fala com ele, não se
preocupe, Hope — disse Kitty.
— Se o pai souber que o Capo veio aqui sem informá-lo, ele vai
ficar uma fera! — disse conhecendo a peste que eu tenho como pai.
— Eu me resolvo com o seu pai depois. Suba e descanse, amanhã
veremos o que fazer — disse minha depositando um beijo na minha testa.
Fui para o meu quarto tomar banho e dormir. Estava apavorada com
o amanhã.
Na manhã seguinte, Kitty havia me acordado mais cedo para
arrumar o seu cabelo. Fui escovar meus dentes primeiro, mas ela estava
muito empolgada para sair, já que hoje era aniversário de uma amiga da
escola. Quando Dante não estava, Kitty podia ser uma criança normal.
Estava no sofá da sala penteando seus cabelos, enquanto conversava com
ela.
— Faz uma trança e coloca uns enfeites de cabelo que a Lisa me deu
— pediu.
— Certo, Kitty! — disse notando o quão ansiosa ela estava.
Então a campainha tocou, nos assustando.
Será que a mãe da amiga da Kitty que vinha buscá-la já chegou? Ela
disse que só apareceria às 08:30h, já que a festa era um almoço e ela queria
ajudar na arrumação.
Minha mãe correu para a porta e a minha surpresa ficou evidente
quando por ela passou Lorenzo e alguns de seus seguranças.
Gente, são 07:30h da manhã, o que esse homem veio fazer aqui tão
cedo?
Santo Cristo!
— Desculpe por ter vindo tão cedo, ia resolver alguns assuntos pela
redondeza e resolvi passar aqui logo. — disse Lorenzo a minha mãe.
— Tudo bem! — respondeu minha mãe a ele. — Entre, Capo!
Minha mãe pediu para que ele se sentasse no sofá a minha frente,
ela logo se sentou ao meu lado. Kitty estava sentada em cima do travesseiro
no chão, já que eu estava arrumando o seu cabelo sentada no sofá, levantei-
a sutilmente, fazendo com que ela se sentar do meu lado esquerdo.
— Pode continuar o que estava fazendo — disse Lorenzo para mim,
apontando para o cabelo da Kitty.
Terminei rapidamente a trança, falando com a Kitty em seguida:
— Suba e termine de se arrumar, depois eu coloco os enfeites no seu
cabelo — falei e ela logo subiu.
— Desculpe, o meu marido está em uma viagem de negócios e só
volta próxima semana. — disse minha mãe a ele. — Hope havia me dito
que o senhor viria aqui hoje, mas não tínhamos como avisar que ele não
estava aqui.
— Serei breve no que eu tenho para falar — disse Lorenzo. — Não
importa se o seu marido está presente ou não, isso a senhora também pode
resolver.
Meu coração estava na mão. Logo me assustei com a campainha
tocando novamente.
Que droga, hoje todo mundo deu para vir aqui!?
— Com licença! — disse me levantando para atender a porta, já que
a conversa do Lorenzo era com a minha mãe.
Assim que abri, vi que era um amigo do meu pai. Ele sempre
aparecia quando o meu pai estava longe, ficava de olho em nós para
repassar o que acontecia aqui em casa na sua ausência. Ele me olhou de
cima a baixo me encarando maliciosamente.
Quando reparei a roupa que eu estava usando, vi que ainda estava de
babydoll.
— Mãe, atenda a porta, por favor, vou trocar de roupa — disse
correndo para a escada, indo para o meu quarto.
Agora eu entendia porque Lorenzo estava me encarando direto.
Coloquei uma calça e uma blusa de manga e desci novamente.
— Não sabia que o Capo faria uma visita a vocês — disse o amigo
do meu pai assim que eu desci. — Depois eu volto...
— O que veio fazer aqui? — perguntou Lorenzo, interrompendo-o.
— Dante pediu para que eu ficasse de olho nelas — respondeu.
— Não precisa voltar depois — falou Lorenzo. — E se disser a
alguém ou ao Dante que me viu aqui, eu corto sua garganta.
— Não falarei, senhor! — falou, se retirando da minha casa.
— Podemos continuar? — perguntou Lorenzo a nós.
— Sim! — respondeu minha mãe, a voz um tanto vacilante.
Sentei ao lado dela, me preparando para o que ele ia dizer. Acho que
o Lorenzo não quis que o rapaz falasse que ele estava aqui para não gerar
algum boato.
— Senhora Esther, apesar da sua filha ser um tanto atrevida, eu a
escolhi a para ser a minha esposa — disse Lorenzo. E eu franzi o cenho,
confusa. Será que eu ouvi bem? Talvez eu ainda estivesse dormindo, talvez
isso fosse um... sonho? Esfreguei os olhos algumas vezes e o Capo ainda
estava lá, parado, aguardando uma resposta. Eu estava sem acreditar, por
que ele me escolheu? Ele disse isso com tanta naturalidade, sem ter
mostrado nenhum índice que eu era a sua escolha, o que me deixou ainda
mais surpresa. Nada mudou quando ele falou isso, sinceramente, eu estava
em choque. — Só que para termos uma boa relação, venho informar que
não prometo ser fiel e muito menos ser um bom marido. Sabe que eu estou
livre para fazer o que quiser da minha vida perante a nossa lei. Não que
você precise saber disso, mas não sou um canalha como todos imaginam,
então deixo claro o meu temperamento e arrogância tanto para a senhora,
como para a sua filha. Estou sendo sincero porque eu sei que Enzo é muito
próximo a vocês e não queria ter problemas com isso futuramente, já que eu
o considero como um irmão.
— Não precisa se explicar — disse a minha mãe. — Fico muito
agradecida por escolher a minha filha. Espero que ela seja feliz! — Ela não
estava sendo sincera, eu sabia disso.
Minha mãe não era muito de expressar os seus sentimentos para os
outros, já que o nosso pai sempre a fazia se reprimir.
— Posso ficar a sós com a sua filha? — perguntou.
Minha mãe se levantou, encarando-me antes de sair.
Para quem achou que ele vinha aqui para reclamar do que eu disse
ontem ao meu pai e sair noiva, chega até ser irônico se não fosse desastroso.
Lorenzo se levantou do sofá e veio se sentar ao meu lado.
Seu cheiro ficou no ambiente assim que ele passeou pela sala. Eu
estava tão nervosa, sequer conseguia abrir a boca.
— Queria deixar as coisas claras agora com você — falou, enquanto
me encarava. — Você será a minha esposa e me dará um herdeiro como já
lhe foi avisado. — Será que eu conto para ele que o meu pai não me deixou
a par dessa situação? — Tenha mais disciplina e não teremos problemas.
Saiba dos seus limites dentro da nossa casa e de como se portar perante os
outros. Também te aviso que não haverá amor na nossa relação, será mais
fácil para ambos de nós conviver.
O que eu deveria fazer? Ficar feliz por me casar com o Capo ou
ficar triste por saber que nunca terei a liberdade que eu queria?
— Tudo bem! — disse. Foi o que consegui dizer, mas me lembrei
que deveria me desculpar pela forma que eu falei ontem, antes que o meu
pai me arrastasse pelos cabelos até a casa dele quando descobrisse. — Me
desculpe por ter sido rude com você ontem. Não sou assim e me senti muito
mal por ter sido grosseira.
— Eu não me importo com o que você faz, mas não ouse me
destratar daquela forma — falou, agora soando mais como Capo do que
como Lorenzo. — Enfim, quero que o casamento aconteça o mais rápido
possível.
Lorenzo deviria estar sendo cobrado por não ter tido um herdeiro
logo.
Escutei a buzina lá fora, era a mãe da amiga da Kitty.
— Me desculpe, eu tenho que atender — disse.
— Vocês recebem muitas visitas — falou surpreso.
— Ah, não, a Kitty vai para um aniversário e a mãe de uma amiga
veio buscá-la. Nos dias normais, não vem muita gente aqui.
Fiquei em pé, indo até a escada.
— Kitty, a moça chegou! — a chamei da escada.
Ela veio correndo com umas presilhas para o cabelo.
— Arrume aqui, por favor, a mamãe não soube colocar — falou.
Coloquei, aproveitando para checar se tinha alguma coisa fora do
lugar na sua roupa.
— Pronto, está linda! — disse. — Vá, antes que a moça reclame.
— Tchau, Capo! — Kitty acenou um tchau com a mão e ele
retribuiu com um sorriso.
Desde quando eles conversam? Desde quando ele sorri?
— Tenho que resolver umas coisas — disse Lorenzo se levantando.
— Hoje a noite você irá para a minha casa, mandarei alguém vir lhe buscar.
Pode usar qualquer roupa, Suzi só vai lhe ajudar quando tiver algum evento
para ir.
— Ah, está bem! — disse tentando não mostrar o meu nervosismo.
O que ele quer? Será que ele quer que eu e ele ...
— Não se preocupe, não é o que imagina — falou se aproximando
de mim. — Quero resolver algumas coisas do casamento e que você leia o
contrato pré-nupcial.
— Ah, certo! — disse.
Lorenzo colocou as mãos na minha cintura, aproximando mais o
meu corpo do seu. Ele parecia bem aproveitador, usava o charme para tentar
me desestabilizar e controlar a situação. Certamente um atirado, canalha...
— Depois que nos casarmos, você não me escapa. — Sussurrou,
com a voz grave bem pertinho do meu ouvido.
Se ele queria que eu levasse isso como um troféu ou como algo
excitante, eu não levei. Sinceramente, casar com ele já não me agradava,
quem dirá transar. Ele usava as palavras de forma adequada para suas
investidas, sabia quando começar e terminar algo.
Como o meu silêncio deixou uma abertura para a sua próxima
investida, ele fez questão de aproveitar, sendo um bom cafajeste como todos
dizem.
Ele veio com a sua mão, afastando os cabelos que estavam no meu
ombro, mantendo o olhar no meu a todo instante. Eu não conseguia deixar
de reparar em como seu olhar estava diferente. Era como se ele lutasse
contra si.
Ele levou agora a mão para o meu queixo, esperando algum sinal
meu, aproximando-se sutilmente. Não nego que eu estava curiosa para
saber o seu próximo movimento. Sentia o meu corpo esquentar, a garganta
secar, era uma sensação diferente, era bom.
Quando eu menos esperei, ele me beijou.
Eu não sabia se queria ou não o beijo, mas a verdade era que a boca
dele era macia, quente, gostosa de sentir. A pressão dos lábios durou apenas
alguns instantes até sua língua pedir passagem e eu recebê-la dentro da
minha boca. Lorenzo começou, então, uma exploração lenta que fazia meu
corpo parecer estranhamente quente.
Minha nossa, ele realmente beijava bem!
Eu não sabia ao certo o que deveria fazer, era inexperiente, estava
confusa, então a sensação estava me guiando para além da razão. A boca,
antes calma, ganhava um certo tom de urgência e eu não me importava, eu
estava provando, saboreando. Então ele apertou ainda mais a sua mão na
minha cintura, fazendo meu corpo colar no seu.
Sua língua passeava na minha boca e o seu toque na minha pele me
fazia arrepiar. Sentia cada centímetro do corpo rijo dele contra o meu, assim
como seu coração acelerado.
Coloquei os braços ao redor do seu pescoço, passando a mão pelo
seus fios de cabelo. Lorenzo mordiscou o meu lábio, retornando o beijo
novamente.
Hope, sai daí!
Pense no que está fazendo!
Minha mente gritava. Eu queria sair, temendo o que poderia
acontecer em seguida. Parei de retribuir o beijo e logo ele se afastou dos
meus lábios. Nos afastamos ofegantes e o mesmo sorriso malicioso voltou
nos seus lábios.
— Mal posso esperar para tê-la na minha cama — falou.
Se ele queria que eu levasse isso como um elogio, não levei, mas
não tinha o que fazer, eu fui criada sabendo disso.
— Até mais, senhorita Bellini!
Ele se despediu e saiu da minha casa como se nada tivesse
acontecido. Ou eu sou muito emocionada ou ele realmente vivia
intensamente.
Me joguei no sofá sem acreditar que eu iria me casar.
— Lisa já esta vindo para cá — disse minha mãe aparecendo na
sala. — Liguei para ela e contei do seu casamento. Seu pai vai ficar tão
orgulhoso de você, finalmente ele não vai mais te desprezar ou te tratar mal.
Via quanto ela ficou feliz por isso. Talvez por ela ver que agora ele
não trata mais Lisa como tratava antes.
— Mãe, o único motivo que eu aceitei me casar, foi porque o pai ia
me chantagear e punir depois — disse. — Agora com esse casamento, ele
que vai estar nas minhas mãos.
Depois de um tempo, Lisa apareceu, estava toda descabelada.
— Não tem pente em casa? — perguntei, pegando Nando dos seus
braços.
— Eu estava dormindo quando mamãe ligou — respondeu. — Eu
nem me olhei no espelho, peguei qualquer roupa e vim.
Nando foi brincar no jardim, enquanto eu, a Lisa e a minha mãe,
ficamos sentada na varanda do jardim o observando.
— Você vai casar, mostre mais empolgação em se livrar do pai —
disse Lisa.
— Lisa, não é como se o Lorenzo fosse melhor do que ele —
respondi.
— O Enzo me contou umas coisas — disse Lisa se aproximando de
mim. — Naquele dia que o pai te bateu e você foi lá para casa, o Lorenzo e
os seus homens bateram no pai por ter quebrado uma das regras. Parece que
não pode encostar nas moças que são as pretendentes, não entendi muito
bem, mas já que o casamento vai ser agilizado, o Capo não queria que a
esposa estivesse cheia de hematomas no grande dia. Aconteceu também
com a família de uma das moças que estavam concorrendo com você.
— Então era por isso que o pai estava tão “pacífico” esses dias, só
estava ameaçando a gente, mas não punia — falei.
— Deixa eu continuar antes que alguns dos homens do pai chegue
aqui e atrapalhe a nossa conversa — falou.
A Lisa estava parecendo uma louca, estava me segurando para não
rir dela. O cabelo bagunçado, batom todo manchado, umas roupas nada
haver com o seu estilo, ela estava realmente apressada para saber o resto da
fofoca quando saiu de casa hoje cedo.
— Pois conte logo, do jeito que o pai é, é bem capaz dele mesmo
aparecer aqui — disse.
— Enzo foi falar com o Lorenzo sobre você. Ele disse que você e
uma outra moça lá, era as que estava lhe causando uma certa dúvida.
Lorenzo havia falado que teve um certo apresso por ti, Hope. Havia visto
que se tivessem logo uma criança, você seria uma boa mãe, porque você
saberia o que fazer, já que a última esposa nem amamentar quis. Falou
também que te achou atrevida, mas isso é o de menos, deixa ele conhecer
esse seu lado paciente, vai enlouquecê-lo com a sua paz.
— Minha filha, ele pode ser diferente. Seu pai que é um cretino e
não tem amor por nada — disse minha mãe.
— Só tome cuidado com a Bianca De Santis, eles tem um caso com
ela há muitos anos. Enzo disse que ela é muito traiçoeira e também tem a
Alessandra, a ex-esposa, o Enzo disse que ela é muito reservada, mas se
mexer no calo dela, a ira que vai cair sob você, é imensa. Entre os irmãos
do Lorenzo, ele é o mais “calmo” — disse Lisa segurando na minha mão.
— Você ficará bem, eu sei que vai.
— Estou um pouco assustada com isso, eu nem o conheço — Falei.
— Sei que isso iria acontecer com ele ou com outro rapaz daqui, mas tenho
medo de ser pior do que o pai faz conosco.
— Não sei, pelo pouco que eu tive a presença do Lorenzo na minha
casa, ele é bastante na dele. Enzo disse que ele ficou muito diferente do que
era antes depois da morte da filha dele. Nem gosto de pensar nisso, porque
se fosse o Nando ou agora o Bernardo, eu nem sei como ia conseguir seguir
a minha vida depois de uma perda dessas — disse Lisa.
Realmente, perder alguém importante pode te causar traumas para a
vida toda, principalmente aqui. As pessoas da famiglia não costumam ter
esse amor pelos filhos ou parentes, então isso não era comum e saber que o
Lorenzo, o próprio Capo, sentia amor pela falecida filha, era até difícil de
imaginar.
— O que será da Kitty? — perguntei.
Eu longe daqui, meu pai ia ter acesso total para infernizar a vida
dela. Bater, machucar, xingar, tudo de ruim que ele puder fazer, eu sabia
que ele faria. Droga, ela só tinha 9 anos!
— Eu não posso proteger as minhas próprias filhas do meu marido
— disse minha mãe cabisbaixa.
— Vou pensar algo! — disse Lisa a ela. — Vamos aproveitar que o
pai esta nas mãos da Hope por enquanto e usar isso. Lorenzo disse quando
ia anunciar o casamento?
— Vamos resolver isso hoje — respondi.
A tarde passou rápido e Kitty já havia chegado do aniversário. Ela
ficou surpresa pelo meu casamento, nem eu acreditei. Agora era só aguardar
a noite chegar e ver como vai ser esse acordo.
O motorista do Lorenzo já aguardava lá fora.
Estava bastante nervosa para esta visita a sua casa, não sabia como
seria e isso me aterrorizava.
— Cuidado! — disse minha mãe.
— Tudo bem, mãe! — disse.
— A gente vai te esperar acordada — avisou Lisa.
— Você vai dormir aqui? — perguntei.
— É óbvio! — respondeu. — Quero saber tudo do que vai
acontecer.
— Fofoqueira! — sussurrou Kitty tossindo em seguida.
Me despedi e saí de casa. Entrei no carro e me simpatizei bastante
com o motorista.
— Como se chama? — perguntei.
— Sou o Thony e a senhora?
— Nada de senhora, por favor, me chame apenas de Hope — disse.
Thony deveria ter entre seus 45 e 50 anos. Era bastante educado e
simpático, o que não era muito comum aqui. Conversámos o caminho
inteiro. Ele me falou um pouco da sua família e eu não falei quase nada
sobre mim. Eu não tinha vivido nem a metade do que ele viveu.
Chegamos na frente do portão da mansão do Capo. Fiquei admirada
com aquele lugar. Na entrada já havia tantos seguranças que nem dava para
contar. O carro estava andando devagar e eu pude deslumbrar a beleza das
árvores até chegar em frente a sua casa. Tinha um campo por trás da enorme
mansão, que deixava ainda mais este lugar admirável aos olhos de quem o
olhava.
Havia uma fonte repletas de flores ao seu redor, as luzes que
iluminavam o jardim, com a água que caía da fonte, dava uma decoração
ainda mais espetacular.
Havia muitos empregados na entrada me esperando. Olhei para o
outro lado do campo um pouco mais distante da mansão e vi um prédio lá
atrás. Conforme fui contanto as janelas de cada andar, deduzo que seja um
prédio de 4° andares.
— O Capo recebe seus convidados ali — disse Thony que notou a
minha curiosidade naquele prédio. — Também acontece reuniões e outras
coisas que eu não posso lhe informar no momento. Dona Lucy ajudará você
lá dentro, entre para que não seja repreendida pelo seu atraso.
Entrei e logo vejo que os empregados não entram na casa comigo.
Vi uma senhora de aproximadamente 60 anos caminhando na minha
direção, sorrindo amigavelmente.
— Boa noite, senhorita! — falou sorridente. — Sou a Lúcya, mas
todos me chamam de Lucy.
— Por favor, só Hope mesmo, sem senhorita. — disse. — É um
prazer conhecê-la. Lucy.
— Venha, vou lhe mostrar a casa — falou.
Já na entrada, vi que tem uma enorme sala, a Lucy fez questão de
me mostrar tudo.
A sala vai de encontro com a enorme cozinha, mas à direta da sala
tem uma entrada para outro cômodo, vi que lá era a sala de jantar. Perto da
cozinha, à esquerda, havia um corredor pequeno. Lá havia a despensa, a
lavanderia e o quarto da Lucy.
Voltamos para o início e de frente para sala havia uma enorme
escadaria para o andar de cima.
— Lá em cima tem apenas quatro quartos, um deles será o seu em
alguns dias. Também há um escritório, um quarto de hóspedes, um quarto
que em hipótese alguma você pode entrar e os banheiros. No terceiro andar
é só a biblioteca pessoal do Lorenzo, ele certamente não deixará você
entrar, já que ele é bem surtado com desconhecidos dentro da sua casa e tem
muitos documentos da máfia. Até ele se acostumar com você, será assim.
— Ah, tudo bem! — disse.
O que será que tem nesse quarto proibido? Será o quarto da filha
dele? Eu que não irei desobedecer.
— Apesar desse lugar ser uma mansão, a casa foi dividida. A outra
ala está inativa, apenas uma parte dela nos fundos que os seguranças ainda
tem acesso. Lá fora você verá outra entrada do lado esquerdo. Ali é onde o
Capo mantém seus homens e onde tem alguns dos seus carros. Acho que
você viu um pouco para o final do campo um prédio? Lá é onde ele faz as
reuniões privadas, onde se diverte com algumas garotas da boate e tortura
pessoas. Tenho certeza que você sabe com quem está se casando, então não
preciso mentir.
— Sim, eu sei! — falei.
— Vamos para a cozinha, Lorenzo vai demorar para chegar —
informou.
Lucy começou a fazer o jantar, enquanto eu a observava.
— A senhora quer ajuda? — perguntei.
— Não precisa se incomodar — falou. — Você vai se sujar toda e eu
já estou acostumada trabalhando sozinha aqui.
— Não tem problema para mim. Posso terminar de cortar as
verduras? — me aproximei.
Lucy começou a cuidar do resto do jantar e eu fiquei cortando as
verduras.
— Desculpe perguntar, mas achei estranho os outros funcionários
não entrarem aqui, por quê? — perguntei. — A senhora sempre faz tudo
isso sozinha?
— Eles não podem entrar — disse Lucy. — Só eu que fico com a
casa, Lorenzo tem sérios problemas de confiança, então não permite a
entrada de ninguém, por isso o tamanho da casa foi reduzido para facilitar
mais o meu trabalho aqui. Se algum empregado entra, é só para arrumar os
quartos ou outros cômodos, mas preciso estar sempre supervisionando cada
um deles.
— Ainda bem que eu vim, agora a senhora não precisa fazer tudo
sozinha — disse dando um sorriso para ela.
— Não precisa se preocupar, minha querida — falou.
— Não tem problema, é sério! — disse.
Se ela soubesse que na minha casa era bem pior, ela entenderia que
eu não veria problema em ajudá-la. Eu me sentiria menos inútil depois que
começasse a morar aqui e tivesse pelo menos algo para fazer.
— Vejo que você é bem diferente do padrão de mulher que o
Lorenzo costuma se relacionar — comentou Lucy. — Fico feliz por ele ter
encontrado alguém descente.
Conversei bastante com a Lucy, ela era um amor de pessoa. Me
senti mais calma por ter alguém aqui que eu pudesse conversar.
Terminei de cortar as verduras, enquanto ela cuidava do jantar.
— Boa noite! — disse Lorenzo aparecendo na cozinha.
Estava lutando para me virar e vê-lo, mas fui forte e me segurei.
Novamente o seu cheiro tomou conta do lugar, ele era extremamente
cheiroso. Que droga!
— Achei que não viria mais — disse Lucy.
Lucy havia me dito que cuidava do Lorenzo e dos irmãos dele desde
que eles nasceram, então eles têm uma ótima relação, como se fossem
realmente parentes.
— Terminei aqui, Lucy — avisei.
Sequei as minhas mãos, sentindo o olhar do homem pesar em mim.
— Lú, por favor, pegue o envelope que está no meu escritório. —
Pediu Lorenzo.
Vi de canto de olho Lucy sair, logo depois senti uma respiração forte
atrás de mim. Suspirei ao sentir Lorenzo afastar os fios de cabelo que
estavam no meu ombro, e inclinei um pouco, apenas um pouco, a cabeça ao
sentir os lábios dele em meu pescoço.
— Não me deu atenção quando eu cheguei, por quê? — perguntou,
enquanto continuava me beijando.
— Estava ajudando a Lucy e queria terminar logo para não
atrapalhá-la aqui — disse, sentindo sua mão descer do meu ombro
lentamente pela lateral da minha cintura, até chegar um pouco acima do
meu quadril. Ele me virou para que eu pudesse enxergá-lo melhor.
— Está muito bonita, senhorita Bellini! — afirmou.
— Obrigada! — respondi.
Lorenzo se aproximou do meu rosto, mantendo o olhar fixo no meu.
Deu um sorriso de lado, senti minhas pernas tremerem, fraquejarem, os
olhos dele tinham esse efeito.
Lorenzo pressionou os lábios contra minha bochecha, um beijo
suave, quase um cumprimento, depois um segundo, agora mais próximo a
minha boca, mais demorado. Os dedos dele, antes parados, deslizaram
devagar até meu quadril.
Era claro que ele era mais da ação e menos da conversar.
— Eu estou me segurando... — sussurrou pausadamente entre os
beijos. — Para não te arrastar para o meu quarto agora.
Eu só o encarava. Ele era muito atraente, claro, e sua proximidade
fazia meu corpo todo se acender como nunca experimentei antes, mas a
verdade é que eu ainda me sentia desconfortável, para mim ele era um
desconhecido, precisava conhecê-lo melhor para encontrar conforto em sua
companhia.
Tudo o que sabia até então era que Lorenzo se tratava de um
cafajeste de carteirinha. Ele sabia o que falar e fazer para colocar alguém de
quatro por ele, literalmente. Era isso que eu temia. Ele era um bom jogador,
cair em seus encantos e gostar dele me aterrorizava.
— Está aqui, Lorenzo — disse Lucy retornando para a cozinha.
— Obrigado, amoré mio! — falou.
Me surpreendi com as palavras ouvidas ali. Nunca tinha visto esse
lado do Lorenzo, ele era tão amoroso com a Lucy. Lorenzo ainda estava
perto de mim, não se importando ou se sentindo desconfortável por alguém
vê-lo flertar comigo.
— O jantar já está saindo — avisou Lucy.
— Vamos para sala terminar a nossa conversa — disse Lorenzo para
logo me guiar até o cômodo. Me sentei no sofá e o Lorenzo fez questão de
se sentar muito próximo de mim, quase no meu colo de tão perto.
— Quer? — perguntou me oferecendo uma bebida.
— Ah, não, obrigada!
— Vamos começar! — falou após dar o primeiro gole e pegar um
envelope. — Aqui diz tudo o que você tem direito. Leia e diga se concorda
com algo ou não.
— Posso riscar? — perguntei.
Me ajudava a entender melhor se eu circulasse e lesse. Aprendi a ser
bem paranoica com isso, meu pai sempre se ferrava por não reportar as
missões devidamente e por não ler os documentos direito, então tinha medo
de um dia acontecer comigo.
— Sim, é só uma cópia, a original vai ser feita depois da decisão
final — respondeu.
Lorenzo pegou a caneta do bolso do seu terno e me entregou. Saí do
sofá, me sentando no chão, apoiando a folha na mesinha a minha frente
“Cláusula 2ª. A NUBENTE tem direitos de propriedade e
administração exclusivos e total, não se comunicando com os demais bens
que vierem a ser adquiridos durante a constância do casamento, a título
gratuito ou oneroso, sobre os seguintes bens: Boate Di lusso di notte,
mansão onde os cônjuges vivem e a empresa da família Ferraro.”.
Eu não me importava muito com a divisão de bens. Se chegássemos
a nos divorciar, se dependesse de mim, não queria nada dele, mas era algo
que eu precisasse que pensar, pois o meu pai não iria querer me sustentar
depois de uma separação. Certamente eu não poderia me divorciar, mas
Lorenzo estava livre para se livrar de mim a hora que quisesse. Eu não tinha
nada em meu nome, o que eu fosse conquistar seria depois de casar com o
Lorenzo.
— Tem algo aqui que eu quero mudar — disse. Risquei logo no
papel para não me esquecer.
— Você vai acabar me deixando louco! — disse Lorenzo, sentando-
se atrás de mim, sabendo que eu ia dar dor de cabeça com este documento.
— O que quer mudar?
— Se a gente se divorciar, não quero 40% dos seus bens — disse
apontando para onde estava no papel. — Quero apenas essa quantia para
que eu consiga me estabelecer e ter uma vida boa até conseguir trabalhar.
— Sei que demoraria bastante, era muito dinheiro, o que me custaria ainda
mais meses para ter que ficar tentando resolver isso. Se me separasse, não
queria mais ter nada ligado a Lorenzo e muito menos ter que ficar vindo em
reunião para essa entrega de dinheiro.
— Só isso? Até um relógio meu é mais caro — falou. — Aumente
mais esse valor.
Eu casada não poderia ter a minha vida, mas depois de uma
separação eu estava livre. Não moraria mais com os meus pais, seria dona
do meu próprio nariz. Não que eu já esteja pensando em separação, mas é
algo que a gente tem que pensar se acontecer futuramente. Eu queria apenas
me livrar dele se isso acontecesse, esse dinheiro já seria a minha ajuda e
receber mais seria uma prisão.
— Não, eu só quero isso e nada mais — disse.
— Você realmente é difícil de lidar — afirmou.
Voltei a ler, mas o Lorenzo me desconcentrava a cada instante.
Começou a beijar meu pescoço, passava as mãos na minha coxa, não estava
conseguindo raciocinar direito.
— Isso nem pensar! — disse e ele suspirou atrás de mim. — “... Por
consenso pelo o pai e pela mãe, ou por qualquer um deles, em ação
autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável ou em
medida cautelar, o pai ficará responsável pelo menor, e o mesmo decidirá
se a progenitora poderá ter relação afetiva com a criança ...”. Isso é sério?
— É óbvio que se a gente se separar, eu não vou deixar meu filho
com você — falou.
Me levantei, e ele fez o mesmo.
— Você quer dizer o “nosso” filho — disse. — Não acredito que
você pensa que se chegássemos a ter um filho e se nós nos separássemos, eu
não iria querer mais a criança.
— Por que você não consegue aceitar as coisas e ficar calada? —
disse Lorenzo aumentando o seu tom de voz.
Parecia um assunto delicado para ele, mas eu não me importava, até
porque se isso chegasse a acontecer, essa criança também era a minha
responsabilidade.
— Não, isso não é negociável! — disse, encarando-o. — É uma
criança, Lorenzo, sabe como ela se sentiria se fosse abandonada pela
própria mãe? Pois é isso que ela pensaria, que foi abandonada. Não sei com
que tipo de mulheres que você se relaciona, mas eu não sou assim.
— Isso não é assunto seu, eu que decido o que é melhor para o meu
filho, porra! — retrucou.
— Eu não vou assinar isso! — disse cruzando os braços. — Uma
coisa é se estivesse aí dizendo que eu ainda ia poder ter contato com ele,
mas nem isso tem. Tenho que ver se VOCÊ vai querer deixar eu ver o meu
próprio filho!? Isso nunca vai acontecer.
Claro que a gente poderia nunca se separar, mas não deixaria isso
como estava, eu não sabia o dia de amanhã e não ia perder filho meu para
homem nenhum.
— QUE PORRA, HOPE! — gritou jogando o copo de whisky no
chão. Me assustei com o barulho, recuando um pouco.
Lucy apareceu na sala, mas não disse nada, só nos observava.
Lorenzo tinha se transformado. Sua ira e o seu ódio estavam tão
evidentes que até com o seu olhar meu corpo tremia de medo. Ele mexia no
cabelo, não disfarçando nem por um segundo a sua vontade de partir para
cima de mim.
— Por que caralhos você sempre tem que achar que a fodida da sua
opinião vai contar em algo? — perguntava, enquanto andava de um lado
para o outo. — Seja a porra de uma esposa que você foi treinada para ser,
caralho! Que merda os seus pais te ensinaram?
Ele gritava e a cada grito eu dava um passo para trás. Quando ele
veio bufando na minha direção, eu fiquei em estado de choque. Não sabia
se corria ou ficava ali parada. Fechei os meus olhos esperando a surra, mas
ela não veio. Quando abri lentamente os meus olhos, Lorenzo estava na
minha frente me encarando. Minha respiração estava tão desgovernada que
achei que teria um troço ali.
Sua mão ainda levantada me aterrorizava ainda mais. Lorenzo
afrouxou a sua gravata e saiu da sala, subindo para o andar de cima.
Quando escutei a porta bater com força, me agachei colocando as mãos no
rosto para abafar o som do meu choro. Ele havia me assustado sem ao
menos me tocar.
— Minha querida, está tudo bem! — disse Lucy se aproximando de
mim, me abraçando em seguida. — Se acalme!
— Eu quero ir para casa, Lucy — disse.
— Ele não permitiu sua saída, aguarde para não ser castigada depois
— falou.
— Eu não quero me casar e pensar que se eu me separar, não vou
poder mais ter meu filho perto de mim — falei. — Ele desse jeito me dá
muito medo. A gente estava discutindo por uma criança que nem existe.
— Lorenzo sempre teve o mundo aos seus pés. Nunca ninguém
questionou as suas vontades, sempre aceitam. Ele tem um temperamento
explosivo, mas é um bom rapaz. Só está muito machucado para querer
pensar em amar ou perder alguém novamente.
Lucy me levou para cozinha e fez um chá para mim. Depois de um
tempo me acalmei, mas o barulho de coisas quebrando vinda do andar de
cima ainda me assustava.
— Depois da morte da filha, Lorenzo — disse Lucy se mostrando
bem triste ao tocar no assunto. — Acho que por isso, caso se separem, ele
não quer pensar na possibilidade de tirar essa criança de perto dele. Foi
difícil para todos nós depois da morte dela, a família ficou devastada e o
Lorenzo enlouqueceu de vez.
Interrompendo a conversa, Enzo entrou na cozinha.
— Lorenzo me ligou puto da vida — disse Enzo. — Vou cuidar
disso, tudo bem?
Ele logo subiu, nos deixando ali sozinhas novamente. Entendia o
quão difícil deveria ser para Lorenzo pensar em “perder” alguém de novo,
mas ele também precisava se pôr em meu lugar.

Os dois ficaram lá em cima por quase duas horas. Já estava cansada


e com sono, até que o Enzo desceu e, mais uma vez, estava sozinho.
— Conversei com ele, não se preocupe, ele está mais calmo —
falou. — Ele quis desistir de se casar com você por conta do seu gênio
forte, mas depois de muita conversa ele está pensando no que pode fazer.
Desculpe o jeito dele, ele é um bom homem, sabe eu que não o deixaria
prolongar esse casamento se não tivesse a certeza disso, só está
traumatizado, assim como a sua irmã era quando me conheceu.
Lisa era difícil de conviver, o olhar de Lorenzo por vezes me
remetia a ela.
— Posso ir para casa com você? — perguntei.
— Ele disse que alguém daqui te levaria — falou. — Espere, vai
ficar tudo bem!
— Ligue para a Lisa e avise que eu vou demorar para chegar —
disse.
— Eu avisarei! — falou, dando um beijo em minha testa. — Se
cuida!
Me sentei no sofá, pronta para esperar a boa vontade de Lorenzo em
me deixar ir embora.
Lucy foi tomar banho, já que estava tarde. Sequer jantamos depois
de tudo o que aconteceu. Não estava com cabeça para comer. Quando
menos percebi, o sono já me dominava. Tentei lugar contra minhas
pálpebras cada vez mais pesada, porém, foi inútil, logo adormeci.

Assim que acordei, me assustei, eu não estava mais no sofá da sala.


Olhei para o lado, tentando me situar e notei que estava em um quarto
grande e luxuoso. Ali, sentada em uma poltrona, vi Lucy.
— Lucy?
— Oi, minha querida! — respondeu vindo na minha direção. —
Lorenzo não quis te acordar e te trouxe para o quarto de hóspedes. Pediu
para que eu ficasse aqui caso acordasse e se assustasse por estar em um
lugar diferente.
— Eu não posso ir para casa, não é? — indaguei.
— Só amanhã.
— Se quiser ir para o seu quarto, não tem problema — digo.
— Te farei companhia, não se preocupe.
Lorenzo odeia estranhos na sua casa, então ela deveria está aqui
para me vigiar com certeza.
— Pode deitar comigo, não me importo em dividir a cama com você
— disse.
Lucy balançou a cabeça em negativa, abri a boca para insistir, mas
ela foi mais rápida ao dizer:
— Acho que já sei o motivo dele ter escolhido você, ou talvez um
dos motivos.
— Qual?
— Talvez você o lembre alguém que ele amou — disse Lucy.
— A filha? — quis saber. Não conseguia imaginá-lo amando
alguém além dela. Ele parecia ser o tipo de pessoa que não deixava
ninguém entrar em seu coração gélido.
— Ah, não! Era uma moça que morava perto da casa dele quando
adolescente. Foi seu primeiro amor. Você tem o mesmo gênio forte dela,
sempre com a língua afiada.
— E é porque eu não digo um terço do que realmente quero —
admiti.
— Você é muita boa e isso é tão incomum aqui — completou Lucy.
— Talvez seja a moça mais honesta e de bom coração que já entrou nesta
casa. Não se importe com os surtos do Lorenzo, ele só ainda está em trevas.
— Só estou ficando cansada de tanta arrogância, já basta o meu pai.
— Vamos dormir, amanhã é um novo dia! — disse Lucy e estendeu
as mãos para segurar as minhas, em poucos segundos me senti segura.
Ela nem me conhecia, muito menos precisava fazer aquilo, mas me
sentia acolhida, protegida por esse jeito comigo.
Tinha sorte se pensar que poderia ter com quem contar aqui dentro.

Acordei com o sol em meu rosto. Me sentei na cama e Lucy logo


acordou. Vi na cabeceira ao meu lado o envelope de ontem. Abri e o li
novamente. Ele alterou o valor que eu receberia, colocando o que eu havia
pedido. Quando olhei mais embaixo, tive uma surpresa.
— Por consenso do pai e da mãe, ou por qualquer um deles, em
ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável
ou em medida cautelar, a guarda do menor será compartilhada entre os
progenitores da criança — li para que Lucy soubesse o que estava escrito
ali.
— Viu? Eu disse que tudo ia ficar bem! — falou animada. — Vem,
vai escovar os seus dentes e vamos descer.
Estava surpresa pela mudança do Lorenzo. Agora eu poderia ficar
mais tranquila com esse casamento. Assinei o acordo e coloquei novamente
no envelope.
Lucy me mostrou onde era o quarto do Lorenzo enquanto descia
para fazer o café da manhã. Caminhei até lá com o envelope nas minhas
mãos. Não sabia se ele estava lá, mas mesmo assim dei uma batida na porta
e passei o envelope por debaixo dela. Quando eu ia me levantar, a porta foi
aberta.
— O que está fazendo? — perguntou.
— Eu vim entregar o envelope — disse ajeitando a postura. Já que o
Lorenzo não havia solicitado a minha presença, fiquei com medo de
quebrar as regras da casa, sei lá.
Ele me encarou por um tempo, quando de repente me puxou para
dentro do quarto. Colocou o envelope em cima da mesa ao lado, e logo após
levou uma de suas mãos até a minha cintura e a outra ao meu rosto.
— Você está fodendo com o meu juízo, ragazza — disse Lorenzo
sussurrando no meu ouvido.
Eu nem sabia o que eu estava fazendo para deixá-lo assim.
Ele, literalmente, a todo instante, só pensava em pegação.
Sem nenhum aviso, seus lábios logo foram de encontro com os
meus, então perdi todo o controle do meu corpo. Não sabia o que ele tinha,
mas eu não conseguia parar de querer mais. Suas mãos passeavam pelo meu
corpo, enquanto ele fazia questão de apertar cada vez mais onde tocava.
Enquanto nos beijávamos, Lorenzo andava para trás, sentando-se. Sentei-
me em seu colo, sem parar de beijá-lo.
Quando vi que o Lorenzo começou a se animar ainda mais, subindo
a barra do meu vestido, me separei dos seus lábios, mas não consegui
encará-lo. Eu não ia me deitar com ele. Não confiava na palavra do
Lorenzo. Se eu transasse com ele, quem garantia que amanhã ele não iria
me dar um pé na bunda? Se ele quisesse, seria só depois do casamento e
com todos os nossos papéis assinado.
Quando ia tentar me levantar, ele impediu.
— Não vou forçar, mas pare de me deixar louco — disse me
encarando.
O que eu estava fazendo para deixá-lo assim? Eu que não ia
perguntar, certamente não ia me agradar com a sua resposta.
— Eu tenho que ir para casa — disse.
— Andiamo, eu te levo! — Lorenzo me ergueu para que eu ficasse
em pé e logo se levantou.
Quando ele entrou no closet do quarto, consegui observar melhor
onde ele dormia. Era um quarto espaçoso e com duas janelas de canto
enormes. A cama ficava entre elas, do lado esquerdo tinha uma cabeceira,
com um sofá de lado e no lado direito havia uma mesa com alguns papéis.
Um pouco mais para o lado, vi uma porta aberta, deveria ser o banheiro. E
na frente de onde estava a cama, a porta do closet onde o Capo havia
entrado.
O quarto era de tons preto e cinza, combinava com o estado de
espírito do Lorenzo.
Do meu lado, vi uma estante com alguns livros ao lado do sofá. Não
toquei em nada, porque eu sabia que não podia mexer, mas observei os
livros daquela estante. Havia livros de ficção científica até de autoajuda.
Não imaginava Lorenzo lendo.
Quando me virei, o enorme homem me olhava com uma
sobrancelha arqueada. Será que ele acha que eu estava espiando? Na
verdade eu estava, mas ele não precisava saber disso.
— Me desculpe por ter sido enxerida — disse sendo interrompida
pelo Lorenzo.
— Este quarto será seu em breve, mas a lugares que eu não quero
que esses seus olhos cheguem perto — falou. — Vou falar com a Lucy para
te dizer as regras da casa, enquanto isso, não olhe e não toque em nada que
você não tenha a certeza se pode estar ou não quebrando uma regra.
Entendido?
— Sim — disse. Pelo menos ele era bem mais civilizado do que o
meu pai.
— Desça, vou fazer uma ligação agora — pediu Lorenzo. Ele não
estava bravo, isso me deixou surpresa então apenas obedeci e saí do quarto.
Quando cheguei lá embaixo, não encontrei a Lucy em lugar nenhum. Fui
para a cozinha atrás dela, mas ela também não estava lá.
— Lucy? — a chamei.
Depois de um tempo ela apareceu vindo do jardim.
— Faz tempo que está me esperando? — perguntou.
— Ah, não! — disse. — O que a senhora está fazendo?
— Estou cuidando de umas flores no jardim, elas estavam bem
secas.
— Eu posso ir ajudar a senhora? — perguntei.
— Desculpe, pequena, mas ajudar creio que não, Lorenzo não te deu
permissão e ela não gosta de ninguém tocando nelas, fora que para ele as
flores têm um lado sentimental, mas ver não tem problema — disse Lucy.
— Tudo bem! — disse, acompanhando-a.
Andamos alguns metros e vi que de onde a Lucy estava com as
plantas não era longe da entrada da cozinha.
— A senhora que fica responsável por cuidar do jardim também?
— Ah, não, essas aqui são minhas que eu cultivei há um tempo —
falou apontando. — Aquelas ali embaixo perto do lago, são as que o
Lorenzo cultivou.
— Não sabia que ele gostava de flores — disse.
Claro, só o conheço há quase uma semana.
— A mãe do Lorenzo gosta muito de flores, depois de ter se casado
com o pai dele, ela recebeu apoio das flores em um momento delicado de
sua vida. Ela ensinou os filhos algumas coisas sobre o cultivo, mas
Lorenzo, entre os irmãos, foi o que mais se interessou — explicou. — Hoje
em dia ele não gosta que ninguém pergunte das suas flores, até porque a
filha vivia aqui mexendo nelas.
— Já sei que não devo perguntar.
Era difícil imaginar aquele homem enorme cuidando de flores.
— Amanhã eu vou mexer no jardim, tirar algumas flores para
colocar na casa, se quiser vir ver como é, mas tem que pedir ao Lorenzo
primeiro — falou.
— Será que ele deixa?
— Só vai saber se pedir — falou. — Então fale com ele, talvez ele
deixe, depende muito do seu humor.
Voltei a minha atenção para o que a Lucy estava fazendo. Estava
agachada e começando a ficar com câimbra na perna.
— Andiamo, senhorita Bellini! — Escutei a voz rouca do Lorenzo
me chamar. Olhei para onde a voz vinha e ele estava na porta da cozinha
esperando por mim.
Fui ao seu encontro, sem saber como pedir. Única pessoa próxima
que eu tinha do sexo masculino era meu pai, então não era boa com isso.
Também muito próxima a Enzo, mas ele não contava.
— O que quer? — perguntou, já notando minha intenção.
— A dona Lucy vai mexer nas flores amanhã e disse que não se
incomodaria se eu viesse ajudá-la — disse, já na sua frente. — Posso vir
amanhã de manhã para ajudá-la?
— Nunca viu um cultivo de flores? — estranhou.
— Meu pai não gostava de nada que desse um ar de paz na casa —
falei a verdade. Quando a Lisa fez uma horta no final do jardim de casa,
meu pai destruiu tudo. — Então nunca presenciei nada disso.
— Pode vir se quiser — respondeu. — Agora vamos logo, eu tenho
que resolver uns assuntos.
Corri na direção da Lucy, me sentia super animada.
— Ele deixou! — disse empolgada. — Me espere, por favor!
— Venha bem cedinho. Te espero amanhã de manhã, minha querida.
Me despedi da Lucy e voltei para perto do Lorenzo.
— Obrigada! — disse, tentando não mostrar a minha empolgação.
Entramos no carro e o Lorenzo falava ao telefone o tempo inteiro.
Quando chegamos na minha casa, olhei para ele, notando que estava
resolvendo algum problema.
— Tchau! — disse baixinho, já que ele ainda estava no celular.
Quando ia sair, ele segurou no meu braço, me impedindo de sair
dali.
— Não está esquecendo de nada? — indagou, colocando o celular
no seu peito para abafar o som da nossa conversa para pessoa do outro lado
da ligação não escutasse.
Eu olhei sem entender, eu não havia levado nada. Ele arqueou a
sobrancelha, encarando-me e eu finalmente entendo do que ele estava
falando.
Respirei fundo e por um impulso, o beijei.
Espero que seja disso mesmo que ele estava falando.
Ele retribuiu o beijo, mas logo paramos quando o som da voz da
pessoa do outro lado da linha começou a nos incomodar.
— Estou aqui, continue! — respondeu Lorenzo novamente ao
telefone.
Ele deu uma piscadela para mim antes que eu saísse do carro e
voltou sua atenção para a ligação. Quando entrei em casa, Lisa estava no
sofá se mostrando super entediada.
— Finalmente! — disse ficando em pé. — Achava que tinha que
inventar alguma desculpa para ir lá na casa do Capo saber o que estava
acontecendo.
— Lisa é uma fofoqueira — disse Kitty cantarolando.
— O Enzo que é, eu sou bem-informada, é diferente — retrucou. —
Depois que eu me casei com ele, ele fica me contando tudo, por isso que eu
sei de tudo que acontece aqui.
— A gente finge que acredita — disse minha mãe.
Contei para elas tudo, inclusive o motivo de eu ter voltado esta
manhã.
— Ainda bem que ele viu o seu lado, imagina só, se separar e não
ter certeza se vai ver seu filho de novo. Gosto nem de pensar nisso — disse
Lisa.
Por isso eu queria tanto que o Lorenzo modificasse aquele
documento, porque eu sabia que o intuito deste casamento era gerar um
filho.
— Viu, filha, nem todo mundo é desprezível igual o seu pai —
falou.
— Não sei não, mãe, o Lorenzo parece o tipo de homem que tenta
sempre colocar tudo ao seu favor. Tenho certeza de que ele só fez isso
porque se não quiser mais casar comigo, teria que ir novamente atrás de
outra moça. Lorenzo é louco — disse, pelo pouco que eu o observei. —
Lisa, queria saber algo, mas não sei se o Enzo sabe.
— O que foi? — perguntou.
— Por que a Bianca De Santis não é uma das pretendentes?
— Ah, o Enzo disse que o pai dela não queria misturar o trabalho
com negócio de família, já que ele é o advogado dos Ferraro — respondeu.
— Eu não disse, a Lisa é fofoqueira, sabe tudo da vida de todo
mundo — brincou Kitty.
— Mãe, olha a Kitty!
— Deste tamanho e não sabe se defender da irmã mais nova —
brinquei.
— Parem as três! — disse minha mãe. — Temos que pensar agora o
que eu vou dizer quando o seu pai me ligar. Eu tenho que falar sobre o seu
casamento, sei que quando eu disser ele volta de viagem rapidinho e não
queria informar a ele agora, está tão bom sem ele aqui.
— Achava que íamos ficar sem ele por um tempo — disse Kitty
cabisbaixa.
— Hope, o Enzo havia me dito que a primeira esposa do Capo
recebia uma quantia para a família dela, como uma forma de pagamento
pela ausência da filha — disse Lisa.
— Eu vi isso no acordo do casamento mesmo. Havia uma
observação embaixo dizendo que não podia ser cancelado, mas nem dei
importância, já que estava discutindo com o Lorenzo sobre a guarda do
nosso filho que não existe — falei.
— TIVE UMA IDEIA! — disse Lisa aos pulos.
— Para de pular, que é capaz da criança até descer daí — disse Kitty
e nós rimos.
— Você pode transferir esse dinheiro para o no nome da mamãe e
ela finalmente pode ser independente e ir embora daqui com a Kitty —
falou.
— Mãe, a senhora quer? — perguntei.
Ela tinha muito medo do pai, então seria difícil para ela de qualquer
forma.
— Vocês sabem que eu nunca amei o pai de vocês. Aguentei tudo
isso por vocês, mas... — respondeu, enquanto encarava as mãos.
— Mas o quê, mãe? Essa é uma oportunidade única, a senhora pode
se livrar dele — disse Lisa.
— Kitty é menor de idade, se o seu pai quiser a guarda dela só para
causar intriga? Tenho medo de que ele consiga.
— Nós damos um jeito, mãe — disse Kitty, segurando na sua mão.
— O pai não vai mais poder machucar vocês e quem daria uma
criança a ele? — falei.
— Posso falar com o Enzo e ver o que a gente pode fazer — disse
Lisa.
— Eu me casarei com o Lorenzo, consequentemente o advogado
dele será o meu advogado, já que carregarei Ferraro no meu sobrenome.
Posso implorar ao Capo se for preciso, mas não desista dessa oportunidade
sem ao menos tentar — disse a ela. — Sei que a senhora deve estar
assustada, mas sempre damos um jeito.
— Vamos ser finalmente livres? — disse minha mãe com os olhos
marejados.
— Sim, mãe! — respondeu Kitty aos pulos.
— Então eu quero o dinheiro, eu posso me reerguer depois disso —
falou.
— Mãe, o dinheiro vai ser sempre da senhora. De qualquer forma,
junte e pense no seu futuro e o no da Kitty. É uma boa quantia e que vai
ajudar muito vocês duas — falei.
— Vocês podem até morar perto de mim, ficarão mais seguras —
disse Lisa.
— Amanhã vou para casa do Lorenzo e falarei com ele sobre esse
acordo — disse a elas.
— Já sinto o gosto da liberdade! — disse Kitty rodando com os
braços abertos.
Ela estava tão feliz de se livrar do pai. Já era um bom começo, uma
esperança. Só quem conviveu com Dante Bellini sabia o quão horrendo ele
era.
Esperava que desse certo!
Me casar com o Lorenzo foi como uma luz no fim do túnel para
mim. Mesmo que ele seja desse jeito, era melhor do que conviver com o
meu pai e a sua família perto de mim. Principalmente sabendo que minha
mãe e a Kitty também podem se livrar dele.
Todos esses anos perto do Dante foram os mais assustadores
possível. Era impossível ver aquele homem como uma figura paterna.
Infelizmente o hábito de chamá-lo de pai era doloroso para nós, ele nunca
foi e certamente nunca será.
Eu realmente esperava que isso funcionasse, porque precisava
funcionar de qualquer forma. Precisávamos nos livrar dele.
— Com medo? — Indagou Lisa enquanto a minha mãe e a Kitty
comemoravam.
— Acho que estou prestes a ter uma crise de pânico.
— Você vai se sair bem, eu te conheço e sei que o seu dom é
extraordinário, a forma que consegue nos passar leveza, calmaria, isso que
você fez por mim. Agora é a sua vez de receber isso, eu espero mesmo que
você seja tão feliz quando eu sou, bem mais se é para ser sincera — falou.
— Eu estarei aqui por você, sabe que eu consigo o que quero com o Enzo,
se precisar, eu estarei disposta a fazer tudo por você.
O fato do Enzo conhecer o Lorenzo me tranquilizava, havia uma
pessoa conhecida que eu poderia buscar ajuda.
Acordei com o sol no meu rosto. Vi que a Lisa dormia e babava ao
meu lado na cama. Me levantei cedo para logo chegar na casa do Lorenzo.
Estava muito animada para hoje!
Me arrumei rapidamente para sair logo, tentando não acordar a Lisa.
Assim que terminei, desci e logo saí depois do café da manhã. Estava a
caminho da mansão do Capo, e já que o meu pai não estava em casa, eu
pude pegar o carro.
Quando finalmente cheguei, vi uma movimentação no prédio ao
lado. Havia muitas mulheres saindo, acompanhadas de homens elegantes.
Lucy havia falado que lá Lorenzo recebia as prostitutas. Acho que
deve ser algo como a boate dele, só que no quintal de casa. Desci do carro,
encarando a multidão que conversava lá fora.
Esperava não ter problemas com isso, já que parecia que ele recebia
bastante convidados da famiglia ali.
— Ora, ora, ora! — Escutei uma voz atrás de mim. Quando me
virei, observei que era um rapaz muito bonito. — Não precisa seguir as
regras comigo, pode olhar para mim. Prazer, sou o Lucca Ferraro!
O rapaz daquele dia. Ele era muito bonito, mas a cara de cafajeste
me fazia ficar em alerta.
— Hope Bellini! — disse.
— Então o Capo escolheu você? É uma pena, queria ter
experimentado você antes — falou.
Seu sorriso malicioso estava presente em seus lábios. Qual é o
problema desses homens? Queria me experimentar? E quem disse que eu o
queria?
— Não sei do que o senhor está falando — disse. Não sabia se o
Lorenzo havia anunciado sobre o nosso casamento, então era melhor me
fazer de louca. — Tenho que ir!
Quando tentei sair, Lucca segurou em meu braço.
— Você realmente é muito bonita, senhorita Bellini! — falou. —
Quando cansar do Lorenzo, me avise. Sei que nos veremos bastante agora.
O avise disso, eu sei que ele vai gostar de saber que eu estou participando
desse jogo.
Me soltei e corri para dentro da casa. Fui para cozinha atrás da Lucy,
logo a encontrei, ela estava preparando o café da manhã.
— Chegou cedo mesmo — disse ela sorrindo para mim.
— A senhora disse para vir cedo, então eu vim.
— Parece assustada, o que foi?
— Não é nada! — disse. — Conversaremos lá fora, tudo bem?
Esperei ela terminar e logo caminhamos até o jardim. Deixei minha
sandália na entrada da varanda para sentir a terra nos meus pés. Era tão bom
aqui fora, me sentia bem.
— Vou separar este lado só para você. — disse Lucy apontando para
o jardim. — Já que vai morar aqui, é bom você ter seu próprio cantinho.
— Sério? — disse. — Muito obrigada!
— Quer me falar o que aconteceu?
Quando ela me mostrava o que eu devia fazer no jardim, eu lhe
contava sobre o que aconteceu agora a pouco:
— O Lucca Ferraro pode se tornar um problema para mim?
— Ele já se engraçou para o seu lado? Cuidado com ele, ele e o
Lorenzo não se dão muito bem, na verdade, Lorenzo não se dá bem com
ninguém da família — falou. — São bem traiçoeiros, principalmente o
Lucca.
— Sério?
Ainda bem que eu tinha Lucy para me alertar sobre essas pessoas.
— Ele tem um certo problema com Lorenzo. Tudo o que Lorenzo
tem, ele também quer ter — falou. — Cuidado com ele, minha pequena.
Lorenzo tem sérios problemas quando ele acha que estão “tomando” o que
é dele.
— Eu sei, foi isso o que eu pensei — disse. — Sei que vou me casar
com o Lorenzo e sei que vou ter que aturar as suas traições, sua arrogância
e até os seus surtos. Eu vou me tornar propriedade dele e eu tenho medo de
ser castigada por ele. Ele me assusta mesmo sem encostar em mim.
— Fique longe do Lucca e de qualquer outro homem que você sentir
que está dando em cima de você — alertou. — Lorenzo não perdoa traição,
isso eu posso te garantir.
Respirei fundo e então contei para a Lucy o que eu ia fazer com o
dinheiro que ele daria para minha família todo mês.
— Então você vai tirar sua mãe dos braços do seu pai? Se você acha
que esse é uma boa ideia, eu também acho.
— Sim, mas antes tenho que falar com Lorenzo. Ele está aí?
— Ele chegou hoje cedo, estava com a Bianca... — Eu a interrompi.
— Tudo bem, Lucy! — disse quando notei que ela ia falar mais
sobre Bianca para mim. — Sei que não posso esperar que Lorenzo seja fiel
a mim e realmente não me importo. Só quero tirar a minha mãe e a minha
irmã de perto do meu pai. Agora eu vi um sentido que me favorece neste
casamento.
Lucy me explicou sobre adubação e mais uma porrada de coisa. Eu
não nego que não entendi nada e não via sentido no que ela fazia, mas eu a
observava e, quando pegasse o jeito, plantaria as minhas próprias flores.
Lucy teve que ir para cozinha, cuidar do almoço, já que ela não quis
minha ajuda, andei por ali. A vista era muito bonita. A brisa, o som dos
galhos das árvores que se mexiam com o vento, a calmaria era surreal.
Havia um lago mais a frente e corri para perto. Coloquei meus pés
na água, sentindo a brisa no meu rosto.
— Gelada! — disse, me arrepiando toda.
Fiquei só por ali mesmo. Não ia me atrever a ir mais afundo, já que
não sabia nadar. Fiquei um tempo lá e logo fui para a ponte que ficava em
cima do pequeno lago. Me sentei na beirada, apreciando a vista.
— Que merda você acha que está fazendo? — perguntou Lorenzo.
Olhei para trás e vi Lorenzo um tanto furioso.
Esse homem só vive com raiva!
Lorenzo olhava para todos os lados, enquanto a raiva em si parecia
aumentar.
— Eu não encostei em nada — disse ficando em pé. — Só vim olhar
a paisagem.
Vi que a Bianca estava ao seu lado, de olho na nossa discussão. Ela
parecia estar gostando de assistir de camarote o nosso desentendimento.
— E quem disse que você poderia vir até aqui? Tenho certeza de
que Lucy não foi. Saia logo daí! — ordenou.
— Eu achei que podia... — disse sendo interrompida por Lorenzo.
— O seu trabalho não é pensar, esqueceu? — disse Lorenzo se
aproximando de mim agarrando meu braço. Vi um sorriso no rosto da
Bianca enquanto ela assistia tudo.
— Não precisa me arrastar, eu sei o caminho — disse, me soltando
dele.
Eu só podia estar querendo ser castigada. Por que eu não consigo
controlar a minha boca?
Quando Lorenzo ia me agarrar novamente, com o impacto do meu
corpo batendo sobre o seu, acabamos por nos desequilibrar, caindo no lago,
já que não havia nenhuma proteção na ponte.
Meu corpo afundava, enquanto eu lutava para subir de algum jeito.
Estava começando a me desesperar pela falta de fôlego.
Enquanto Lorenzo subia para superfície, eu só afundava, mas logo
ele percebeu que eu não estava o acompanhando, ele nadou para próximo
de mim, me ajudando a chegar na margem do lago. Quando pude respirar
aliviada. Tossi um pouco devido a água que eu havia engolido.
— Você não sabe nadar? — perguntou um pouco ofegante.
— Essa daí nunca deve nem ter visto uma piscina — disse Bianca
quando se aproximou de nós dois. Ela estava me chamando de pobre só por
conta da minha patente? — Está bem, querido?
— Fique na sua, Bianca! — respondeu Lorenzo com rispidez.
— Meu pai não nos deixava ter um jardim com flores em casa —
disse, enquanto recuperava o fôlego. — Acha mesmo que nos deixaria ter
uma piscina?
Bianca não esperou muito, indo para cima do Lorenzo. Não havia
reparado, mas a blusa branca dele estava totalmente transparente, deixando
transparecer seus músculos por baixo da camisa.
— Que porra de dia! — disse Lorenzo ainda com raiva. Bianca não
saiu de cima dele. Tirou a blusa para secar o rosto de Lorenzo.
Isso era mesmo necessário? Eu queria rir da sua atitude, porém
pensei melhor e fiquei na minha.
Antes que ele notasse que eu o estava encarando e que estava ciente
de Bianca bem ali lhe prestado socorro, e sequer foi ele que se afogou, me
levantei e saí dali. Achava que o dia seria ótimo, mas eu estava enganada.
Quando entrei na cozinha, Lucy se assustou ao me ver.
— O que aconteceu? — perguntou se aproximando de mim.
— Caí no lago — disse sentindo todo o meu corpo arrepiado pelo
frio. — Estou bem, só encharcada. Vou para casa antes que eu pegue um
resfriado.
Quando ia sair da cozinha, Lorenzo agarrou no meu braço.
— Quem disse que você podia sair dali sem minha permissão? —
perguntou, vindo com a sua sombra atrás, a Bianca.
— Até você está molhado? — disse Lucy a ele.
— Você mesmo, quando me mandou sair de perto do lago — disse
usando as suas palavras contra ele mesmo.
— Ragazza... — Antes que o Lorenzo pudesse terminar, eu espirrei.
Sério? Tinha que ser logo na frente dele?
— Vocês vão acabar ficando doentes — disse Lucy.
— Eu posso ir para casa? — perguntei.
— Não! — respondeu.
— Vamos, Lorenzo, eu te ajudo a trocar essa roupa — disse Bianca.
Lorenzo não lhe deu atenção, não sabia porque ela ainda tentava se
humilhar para ele. Na verdade, achava que sabia sim. Não era por Lorenzo
ser bonito, todo mundo aqui tinha essa ganância de subir de cargo e patente,
e se envolver logo com o Capo, já era uma forma boa de conseguir isso,
mesmo que fosse humilhante a forma dessa aquisição.
— Você vai subir comigo e trocar esta roupa — disse Lorenzo logo
me arrastando.
Chegamos em seu quarto e ele me levou ao closet.
— Eu só quero ir para casa, Capo! — disse quase choramingando.
— Fica quieta pelo menos uma vez na vida — falou.
Eita mau-humor!
Ele trouxe uma blusa e uma cueca nas mãos para perto de mim.
— Vista isso! — falou, me entregando.
— Pode me dar uma calça também? — perguntei.
Do jeito que esse homem só pensava em sexo, eu que não ia ficar
apenas de blusa na frente dele. O que eu conseguisse adiar até o nosso
casamento, eu adiaria.
— Já disseram que você é estranha? — falou pegando uma calça.
— Sim, você sempre me diz quando possível — respondi.
— Acho que esta serve em você — falou, me entregando uma calça
moletom preta. Lorenzo deu uma risada abafada, voltando a me encarar. —
Se fosse outras mulheres, elas ficariam nuas na minha frente e você faz de
tudo para manter meus olhos longe do seu corpo. Você é altamente estranha
para as mulheres da máfia.
— Eu não sou nenhuma delas — disse. — Posso usar o banheiro?
— Sì!
Entrei no banheiro e tranquei a porta. Peguei a toalha dele que
estava estendida no box e me enxuguei. Tirei minha roupa e troquei pela de
Lorenzo. A blusa tinha o cheiro forte do seu perfume.
Observei o banheiro enquanto trocava de roupa. Tudo era em tons
preto com cinza. Ele deve gostar de algo que transparecesse a sua
personalidade, igual no seu quarto.
Saí do banheiro ele também já havia se trocado. Estava com uma
calça moletom, sem blusa.
Exibido!
— Se quiser secar o seu cabelo, tem um secador na gaveta —
avisou.
— Não precisa! — disse. Só quero ir embora. — Acho que usei sua
toalha para me enxugar. Procurei no armário e era alto demais para que eu
conseguisse alcançar.
— Não tem problema — disse Lorenzo segurando na minha cintura.
— Você está me deixando louco novamente.
— Acho melhor eu ir! — disse, não gostando do rumo desta
conversa.
— Eu não deixei você ir! — falou, enquanto se aproximava do meu
rosto.
— Lorenzo... — sussurrei.
— Gosto de quando fala o meu nome... — falou próximo ao meu
ouvido. — Adoraria ver você o gemendo.
Seria incapaz de negar que fiquei um pouco desconfortável com o
pensamento que cruzou minha mente. Se eu cedesse agora, talvez eu me
tornasse apenas uma vadia que ele estava pronto para foder. Não, na
verdade, era isso mesmo independente de ceder agora ou depois. Quando eu
dissesse o sim, era isso que eu me tornaria para ele.
— O que foi? — perguntou, talvez notando o meu desconforto.
— Nada.
Lorenzo era um homem muito atraente, tinha pegada e as vezes me
tratava bem. Tinha medo de cair nos seus feitiços como todas as outras.
Não aguentaria saber que me tornaria uma cadelinha dele, igual as outras
esposas da máfia com seus maridos. Até o momento esse possível
casamento era bom, eu teria vantagens. Via como ele era, notava uma
absurda diferença de como meu pai tratava a minha mãe. E meu medo era
de arranjar alguém tão ruim quanto meu pai.
Olhei o seu peitoral e vi que o Lorenzo tinha uma cicatriz perto do
peito esquerdo. Quando eu ia tocá-la, meu instinto me mandou parar.
Lorenzo segurou na minha mão cautelosamente e colocou por cima da
cicatriz.
— Se quer tocar, toque — falou, me encarando.
Ela não parecia ser recente. Era grossa e foi mal cicatrizada. Ele não
deve ter cuidado bem do seu machucado. Foi um corte de faca ou de outra
coisa pontuda, pelo jeito deveria ter doído bastante.
— Eu posso perguntar como você conseguiu isso? — perguntei.
— Gosto de quando você pergunta antes de falar — respondeu,
afastando os fios de cabelo que estavam no meu pescoço, depositando
beijos no local. — O que eu recebo em troca por dar uma informação tão
pessoal minha?
Não seria trouxa de perguntar o que ele queria, até já sabia a
resposta.
Fiquei na ponta dos pés e o beijei. Na verdade, nem queria tanto
saber da cicatriz, só estava com vontade de beijá-lo. Eu seria esposa dele e
sabia que deveria tratá-lo como se eu o amasse, assim como a minha mãe
tratava o meu pai.
Deixei minhas mãos ainda em seu peitoral, enquanto Lorenzo
percorria o meu corpo com as próprias mãos. Estava ficando cansada de
ficar de ponta de pé. Lorenzo deveria ser uns 30 centímetros maior do que
eu. Ele era enorme!
Meu corpo sumiu quando ele me abraçou, me envolvendo entre seus
músculos. Lorenzo desceu sua mão para a minha cintura, dando leves
apertos, enquanto sua língua passeava pela minha boca. Me afastei dos seus
lábios, enquanto seus olhos estavam fixos no meu.
— Gosto de como você troca informação — falou, enquanto tinha
um sorriso malicioso nos lábios. — Aconteceram muitos ataques contra
mim, principalmente nos últimos anos. Há 4 anos, um grupo invadiu o meu
depósito e já viu, foi tiro para todos os lados. Um fodido que trabalhava
para mim me traiu na hora do ataque e me deu uma facada aqui no peito.
Minha sorte era que eu estava com uma proteção e a faca não perfurou
muito afundo.
— Doeu muito? — perguntei e ele riu.
— Você quer saber se uma facada no peito doeu? — perguntou. Ele
assim até que era bonitinho. — Doeu para caralho!
— Se fosse comigo, eu teria chorado até desmaiar — disse.
Sempre fui muito fraca para dor. Mesmo que eu ficasse calada
durante as surras de meu pai, isso foi algo que aprendi com o tempo,
autocontrole, mas doía muito e eu nunca me acostumei.
— Não deixaria ninguém machucar você — falou. Até porque quem
vai me machucar é você, não é, lindo!? — Enquanto eu viver, te protegerei
e te manterei segura. Enquanto for minha, ficará segura ao meu lado.
Enquanto se manter presente ao meu lado, não te faltará nada. Será a minha
família e me dará um filho que será a continuação dela.
Assim que eu me casasse, a minha família seriam apenas parentes e
o Lorenzo seria a minha nova família.
— Eu posso pedir algo a você? — perguntei.
— Depende do que for — respondeu.
Pensei em perguntar sobre o advogado da família, mas se Lorenzo
falasse para o meu pai o que eu estava tramando por suas costas, ele
acabaria comigo e com a minha mãe.
— Ah, não, esquece, não era nada — disse, soltando-me dos seus
braços.
Achava melhor falar com o próprio advogado do Lorenzo do que
falar com ele. Eu não confiava em ninguém além das minhas irmãs e da
minha mãe. Por isso não confiava na ajuda de Lorenzo e nem de ninguém.
Tive o exemplo disso em casa há muitos anos quando a Lisa contou ao pai o
que aconteceu com ela quando esteve na casa do tio Marco, e ele a chamou
de mentirosa.
— O que é? — Segurou o meu braço.
— Não é nada, sério! — disse.
— Não me faça perder a paciência, Hope. — falou. — Aproveite
que eu estou calmo e responda a minha pergunta.
— Bem... — suspirei.
Lorenzo se sentou na cama, colocando-me no seu colo.
Enquanto eu raciocinava o que diria a seguir, Lorenzo descia um
pouco a manga da minha blusa e beijava o meu ombro, deixando selares
suaves no local. Apesar dos beijos serem até que delicados, sua mão
apertando a minha coxa já me deixava um pouco desnorteada por mais.
— Você poderia parar um pouco com isso, eu não consigo me
concentrar e reformular as palavras — disse.
Ele riu, me encarando pacientemente. Lorenzo era muito estranho,
não sabia quando ele ia mudar esse bom-humor dele e se tornar um cretino.
— Queria mudar algo no acordo nupcial que eu não havia
mencionado antes — disse.
— E o que seria?
— Bem, lá havia um valor que você daria para a minha família,
como uma forma de suprir as necessidades deles na minha ausência —
expliquei e ele assentiu me esperando continuar: — Pois bem, queria fazer
uma pequenininha alteração.
— Quer aumentar o valor?
— Ah, não! — respondi rápido. — Quero passar aquele valor todo
para o nome da minha mãe.
Ele se atentou a cada palavra que eu havia dito, tentando tirar a sua
própria conclusão.
— Por que para o nome da sua mãe e não para o do seu pai? —
estranhou.
— Pode ou não?
— Responda a minha pergunta também — falou.
— Você não respondeu a minha primeiro — falei.
— Pode sim, satisfeita? — indagou. — Agora responda a minha
pergunta.
— Você promete não falar nada para ninguém? — perguntei.
— Hope, não sei se percebeu, mas eu sou o último homem na terra
que você deveria confiar.
Fiquei um pouco desapontada. Não queria que ele se tornasse uma
boa pessoa do dia para noite, mas o que custava ele guardar segredo? Aqui
as coisas rapidamente se espalhavam e, do jeito que o meu pai conhecia a
todos, ele saberia antes de eu conseguir me casar.
— Sim, estou esperando você continuar — insistiu.
— Não quero mais falar! — disse cruzando os braços.
— Tem como você parar de ser uma criança por dois segundos? —
falou. — Fale logo!
— Que porra — sussurrei, notando que ele escutou. — Me
desculpa! — Não sabia como ele lidava com uma esposa boca suja, mas o
meu pai não gostava quando a minha mãe praguejava em casa.
— Você não tem o costume de falar palavrão, não é? — zombou de
como foi pronunciado por mim.
— Não — disse. Não em voz alta, é claro, mas em pensamentos...
Santo Deus!
— Que inferno! — disse Lorenzo notando que eu não ia dizer mais
nada. — Eu prometo não contar a ninguém, satisfeita?
— Sim — Não que eu acreditasse na promessa dele, mas eu estava
dando um voto de confiança. Se desse errado, já sabia que não abriria mais
a minha boca para ele.
— Então?
— É que a minha mãe quer se separar do meu pai. Sei que nós
mulheres não podemos ter nossa independência no casamento, mas sei que
a minha mãe quer ter a dela. Então quero passar o dinheiro para ela, para
que ela e a Kitty possam recomeçar longe do meu pai e da família dele —
disse. Também tem o fato que com esse dinheiro e morando perto da Lisa,
ela conseguiria ficar segura longe deles. — Você acha que isso pode se
tornar um problema para ela depois?
— Na minha concepção, só se o seu pai não aceitasse o divórcio, o
que pode ocasionar uma perseguição a sua mãe. Eu falarei com o Federico
hoje e peço para ele colocar a sua mãe para receber esta quantia e que a
ajude perante a nossa lei na separação — informou.
— Obrigada.
Apesar de notar que o Lorenzo estava pouco se importando para o
que ia acontecer com a minha família, gostei de que pelo menos não me
negaria ajuda.
Ele me colocou no chão e descemos, então vimos Bianca com uma
cara nada boa. Ela ficou esse tempo todo aqui?
Demoramos bastante lá em cima, logo eu entendia a sua raiva. Ela
estava com a blusa um pouco molhada por ter tirado para secar Lorenzo,
mas ele não se importou, estava começando a sentir pena da coitada. Ela
deveria saber que o Lorenzo não queria nada com ela, já que ele parece
transparecer isso, mas por que ela insistia?
— Eu posso ir agora? — perguntei.
— Não quer ficar para almoçar? — perguntou.
Sei que ele não perguntou porque quis ser educado, mas já que
íamos nos casar, ele teria que conviver com a minha presença nesta casa.
— Não, deixa para outro dia — disse. Não queria ficar no meio do
Lorenzo e da Bianca.
Lembrei então que esqueci a minha roupa molhada no banheiro do
Lorenzo, logo me aproximei da Lucy.
— Lucy, esqueci a minha roupa no banheiro. A senhora poderia...
— Lavar? Sim, sem nenhum problema — falou. — Não fique com
vergonha de pedir.
Fiquei grata, não queria subir para ir buscar ou ainda ter que aturar
mais um pouco a Bianca me olhando com nojo.
— Tchau! — disse dando selinho em Lorenzo.
Foi tão espontâneo que eu sequer reparado o que tinha feito. De
qualquer forma ele ia pedir o beijo mesmo. Saí da mansão, entrei no carro e
fui em disparada para casa. Recebi a ligação do advogado de Lorenzo, o
Federico, no caminho. Ele já havia me dito como seria transferido o
dinheiro para a minha mãe. Fiquei feliz por Lorenzo ter resolvido isso bem
rápido.
— Que roupa é essa? — perguntou Lisa assim que eu entrei em
casa.
— Longa história — falei. — Achava que você já tinha ido para a
sua casa.
— Estou aproveitando que o pai não está aqui para trazer o
Nandinho para brincar com a Kitty.
— Falei com o Lorenzo agora a pouco — disse, recebendo toda a
atenção da minha família. — Ele falou com o advogado hoje e o Federico
disse que vai ser depositado tudo em uma conta que farão para a senhora.
Eu disse que não queria que o pai soubesse de nada, ele vai manter em
sigilo, já que serei a futura Ferraro e a sua lealdade será a mim também.
— Então vamos ser livres? — perguntou Kitty empolgada.
— Sim, minha filha! — falou.
Minha mãe estava tão feliz. Esperava que ela se livrasse logo do
meu pai.
— Mas você ainda não explicou essa sua roupa — disse Lisa. —
Você não dormiu com o...
— Não! — a interrompi.
Expliquei tudo que aconteceu, tirando risada delas.
— Você é muito azarada, filha. — disse minha mãe em risos. —
Cair logo no lago e ter a amante em cima de você direto, me desculpe por
rir da sua desgraça.
— Força soldada! — disse Lisa tocando no meu ombro.
— Estou cansada — falei, caminhando para a escada. — Vou me
deitar e aproveitar o resto da tarde.
— Não vai almoçar? — perguntou Kitty.
— Bebi tanta água quando eu caí no lago que eu estou de barriga
cheia — brinquei.
Fui para o meu quarto e tirei um cochilo. O cheiro da roupa do
Lorenzo atrapalhava o meu sono. Sentia ele tocando o meu corpo e me
beijando cada vez que eu fechava os olhos. Resolvi tirar aquela roupa antes
que eu surtasse.

Havia se passado alguns dias desde a minha visita na casa do


Lorenzo. Queria só ficar deitada e apreciar a casa em paz sem a presença de
Dante. Até Suzi me ligar em cima da hora, dizendo que eu tinha que estar
na loja de vestidos de noiva.
Durante esses dias, eu não tive notícias do Capo, então não sabia de
como estava o planejamento do casamento. Já estava com a Suzi enquanto
ela organizava algumas coisas.
— O Capo deixou bem claro que queria algo simples e que fosse
rápido — informou Suzi.
— Eu preciso estar aqui? Você pode escolher sozinha, não me
importo — disse.
Estava com ela a menos de meia hora e já estava enlouquecendo.
Nada que eu achava bom ela gostava. Eu nem queria estar ali, então para
que me chamar se eu não poderia escolher?
— Escolha pelo menos o seu vestido — falou.
Olhei na revista um vestido que combinasse com a ocasião e
comigo. A única certeza que eu tinha nessa festa de casamento, era a de que
teriam muitas flores. O tanto de flores que Suzi encomendava pelo telefone
me deixou chocada. Nem sabia que ela trabalhava também com decoração
de festas.
Escolhi um vestido simples e bonito. Podia ir até com a roupa que
estava no corpo que eu também não ligava. Lorenzo estava mostrando que
não ligava nenhum pouco para essa festa de casamento, por que eu deveria?
— Nem quando ele se casou com a Alessandra, ele não estava tão
desatento e indiferente como ele está com você e com este casamento —
disse Suzi tentando me chatear. Funcionou? Sim, mas ela não precisava
saber.
— Eu realmente não me importo. Se o meu futuro marido não quer
participar, eu também não — tentei soar indiferente.
As moças que trabalhavam ali não foram com a minha cara. Achei
que fosse porque eu estava um pouco aborrecida, mas era porque todas ali
já haviam passado pelos amassos do Lorenzo ou não esperavam que alguém
da minha patente conseguisse ficar noiva de um Capo.
Era só o que me faltava!
— Olá, Suzi! — disse uma voz atrás de mim. Antes que eu me
virasse, Suzi a cumprimentou.
— Srta. Ferraro, estávamos falando agora da senhorita — disse Suzi
se levantando, a abraçando.
A moça retribuiu o abraço, mas se mostrou indiferente.
— Espero que só coisas boas — respondeu com um sorriso fingido.
Não acredito que estava conhecendo a ex-esposa do Lorenzo.
Lembrei do que a Lisa mencionou sobre ela. Ficarei de olhos bem abertos.
— Então você é a garotinha que o Lorenzo vai casar? — perguntou
ela, enquanto me encarava de cima a baixo com um olhar de desaprovação.
Garotinha? Ai, pelo amor de Deus!
— Não seja mal-educada, a cumprimente — disse Suzi a mim.
— Ah, me desculpe! — disse me aproximando dela. — Prazer,
Hope Bellini!
— Alessandra Ferraro! — enfatizou bem o sobrenome, como se
quisesse causar intriga. Ela ainda usava o sobrenome de casada? — Você é
tão novinha, já atingiu a maior idade, minha jovem?
Deus, olha eu aqui de novo.
Eu nunca fui de cair nessa, mas se essa criatura, me chamasse de
criança de novo, que me segurassem!
Fiz minha oração, contanto até mil se fosse necessário, mas não
faria o que ela queria, arrumar confusão. Se for para o Lorenzo acreditar em
alguém, com certeza vai ser na mãe da filha dele.
— Sim, tenho 23 anos — disse forçando um sorriso.
— Vou te dar um conselho, já que temos quase a mesma idade.
— Quantos anos você tem? — quis saber.
— Tenho 29 anos — respondeu. Alguém devia dizer para ela que
não temos “quase” a mesma idade. — Sei que eu e o Lorenzo não estamos
mais juntos, mas saiba qual é o seu lugar nessa hierarquia. Não atrapalhe a
minha vida boa aqui.
Ela estava falando que havia uma hierarquia de mulheres que já
dormiram com o Lorenzo?
— Você está brincando? — perguntei.
— Não, garota — falou. — Eu estou no topo, enquanto você está lá
no final. Não ouse se meter nos meus assuntos com Lorenzo. Não ouse
acabar com a minha mordomia.
— Não sei se você acha que eu quero fazer parte desta “hierarquia”,
mas ... — disse sendo interrompida pela loira.
— Escuta bem! — falou, aproximando-se de mim. — Todas nós já
tivemos alguma coisa com o Lorenzo ou queremos ter. Você acha mesmo
que lutamos pela atenção dele para conseguir algo aqui e no final ele
resolve se casar com você? Chega a ser uma afronta.
Ela fingia que se importava com as outras, mas na verdade, só
estava querendo fazer mais gente me odiar. Ela nem me conhece e já quer
me difamar.
— Pelo amor de Deus! — disse. — Acho que já terminamos aqui.
Fui seguir o caminho para a porta, até escutar o celular da Suzi
tocar.
— Oi, Capo!
Era Lorenzo no telefone. Agora que reparei que nós dois não
havíamos trocado nossos números. Que droga, ele tinha que ligar logo
agora?
— Ela não parece que vai se importar... — disse Suzi me olhando
com uma certa repulsa. — Não, senhor! — Enquanto ela respondia o que o
Lorenzo perguntava, eu ficava com medo, porque eu sabia que ela ia
aprontar. — Ela nem se importa, estou tendo muito trabalho com ela,
senhor. As moças que estão me ajudando, estão reclamando muito da
senhorita Bellini. — Que mentirosa! — Ela não está dando a sua opinião
sobre o que quer, então sei que terei problemas com isso — fingiu ter ficado
triste.
Ela não estava nem aí por eu estar presente assistindo a sua mentira.
— A senhorita Alessandra está aqui, ela veio ajudar no casamento
— informou. — Muito boa ela, mas parece que a senhorita Bellini não
gostou e já está indo embora. — Como sempre, eu sendo errada na história.
Suzi olhou para mim sorrindo. — Ele quer falar com você.
Era só o que me faltava, mas uma discussão com o Lorenzo.
— Sì? — disse assim que peguei o celular.
— Está querendo morrer antes de se casar? — perguntou. Lorenzo
realmente acreditou nela sem antes mesmo falar comigo para saber se era
verdade. — Vamos, Hope, está fazendo eu perder a minha paciência com
você. Um dia eu vou perder e pode ter certeza que não vai gostar.
— Me escute — disse sendo interrompida por ele. Sei que ele não
me conhece há tanto tempo quando as conhece, mas que custava saber a
minha versão?
— A Alessandra ainda foi aí para te ajudar e você nem para
reconhecer...
Entreguei o celular para Suzi, deixando-o falar sozinho. Não quis
escutar o que ele tinha a dizer, ele não queria saber a minha versão mesmo.
Se fosse ser castigada por aquilo, não me importaria de acrescentar mais
algumas coisas. Saí da loja de vestidos, entrando no meu carro.
Que dia mais irritante! Só queria chegar em casa e me acalmar. Nem
me casei e já estava sempre brigando com o meu futuro marido por alguma
besteira. Era cansativo o peso de precisar ser boa o suficiente para ser a
esposa do Capo. Me julgavam pela minha patente, me achando burra,
desrespeitosa, só porque não tinha a mesma liberdade e condições da
grande maioria.
Que ódio!
Hoje aconteceria a reunião onde anunciariam as minhas
pretendentes.
Estava farto de todos sempre perguntarem quando eu me casaria
para ter logo o meu herdeiro.
Eu não queria ter filhos, depois da morte da minha filha, eu não
queria mais sentir a sensação de como é perder um filho e de que como uma
criança te deixa vulnerável.
Eu ainda sou atormentado todos os dias por saber que eu não pude
proteger a única pessoa que eu amei.
Ela precisou de mim, sofreu até o último suspiro esperando que eu a
salvasse e eu não estava lá para ajudá-la.
Parte o meu coração saber que eu não consigo lidar com isso, mas
não mais quando o dela parou de bater.
Depois da morte dela minha vida mudou absurdamente. Meu
casamento, minha família, eu, tudo estava irreconhecível para mim.
Minha ex-esposa ainda me dava muita dor de cabeça mesmo depois
do divórcio. Não conseguia olhar para ela depois que a nossa filha morreu.
Apesar de não amar a Alessandra, via nela os traços da nossa filha e aquilo
era torturante para mim.

Hoje eu poderia manter a bagunça que anda a minha mente ocupada


com a reunião que aconteceria na casa do Dante Bellini, um dos meus
Caporegimes.
Olhei a ficha de algumas pretendentes e realmente eram todas muito
formosas.
Já havia chegado na casa do Dante, conversava com alguns
membros enquanto eles me bajulação atrás de cargos.
Olhava o relógio de pulso, pensando nas papeladas que eu deixei
para resolver no escritório.
— O senhor está ansioso para sair com as pretendentes? — Indagou
um rapaz que eu não lembrava o nome.
Qual o interesse dele em saber, queria fazer parte delas?
— Certamente — disse em um tom de deboche.
Voltei a minha atenção ao redor, observando a casa cheia de
membros.
Eram muitos, comparando que a visita esteja sendo feita na casa do
Dante, achei que muitos resolveriam fazer tarefas para não precisar vir e
aguentar o Dante falando por horas do cargo do Enzo, só por ser o seu
cunhado.
— Boa noite, Capo! — disse um dos russos, com as quatro
pretendentes que eles trouxeram.
— Boa noite! — Respondi tentando ser amistoso com os novos
aliados.
— Fiquem a vontade para conversar com o Capo — Falou o rapaz
saindo me deixando a sós com elas.
As observava e notava o quanto eram charmosas.
Havia algo em comum nos russo que sempre me causava ódio, era
esse ar superior.
Elas pareciam estar confiantes que seriam escolhidas, sorriam
enquanto fingiam interesse em mim.
— Estará ocupado mais tarde? — Indagou uma que parecia ser a
mais desesperada para ser aceita.
Suas mãos inquietas, tocavam a bainha do seu vestido, tentando me
mostrar que sabia o que estava fazendo, mas o seu olhar me mostrava outra
coisa, uma insegurança, o medo da rejeição que certamente ela levará.
Essa atuação de confiança que eles tinham, na maioria das vezes era
apenas uma jogada para driblar o seu adversário, como se soubesse o que
fazer, mas era nítido o quanto estavam perdidos.
— Provavelmente — Respondi, olhando novamente o relógio. As
horas não passam, que porra!
Eu poderia foder quem eu quisesse, mas elas, nem por um milhão de
caralhos.
Eu conhecia a fama dos russos, seus companheiros morrem de
“causas naturais”.
Seja lá o interesse delas, estão enganadas em achar que aqui seja
igual a Rússia e que eu seria estúpido demais em cair na conversa delas.
Devo informá-las que no quintal da minha casa existe um bordel?
— Poderia se desocupar — Tentou uma delas. — Pode ser divertido.
— Certamente será, porém tenho afazeres e horário a seguir, então
podemos deixar para quando eu sair com cada uma — falei. Haveria os
“encontros” para que eu escolhesse quem mais me agradaria.
— Mas ...
— Tenho que ir! — Falei, acenando. — Vou falar com o restante do
meu pessoal.
Andei pelos lugares, até um dos meus Caporegimes acenar para
mim.
Caminhei até eles, onde havia mais pessoas, logo os
cumprimentando.
— Esta é a minha filha, Luna — Apresentou Giovanni. — Ela é
uma das pretendentes.
— É um prazer conhecê-lo pessoalmente — Falou, me dando um
beijo na bochecha. — Com a correria da máfia, nunca podemos nos falar
devidamente.
Deve ser porque você não consegue enganar os meus seguranças
para ter acesso a mim.
Não estava muito para conversa, na verdade, eu nunca estava.
A conversa fluía muito rápido entre eles, quando o Dante se
aproximou com a sua família para me apresentar.
Enquanto ele conversava com o Giovanni, analisava a ruiva que já
sabia que era uma das minhas pretendentes.
Hope Bellini, ela era uma ragazza muito bonita e a sua beleza era
um tanto rara por aqui.
Me apresentei a ela e a sua família e a mesma demonstrava ser
muito tímida, já que não tentou conversar como as outras.
Talvez pela sua patente e por toda as regras que a cercam, ela com
certeza era a única que estava em uma patente baixa das outras moças.
Minha atenção foi para a sua conversa com a irmã mais nova. A
mesma tentou falar algo para a mãe que negou sigilosamente.
A pequena colocou a mão na barriga como se estivesse sentindo dor.
Lembrei de quando levava a Antonella para algumas das minhas
reuniões e sempre ela reclamava das nossas regras, já que não podia fazer
nada sem o consentimento de um homem quando se é solteira.
— Sinto muito, senhores, tenho que fazer uma ligação importante
agora. — disse as pessoas presentes. — Depois voltamos a nossa conversa.
Tirei o celular do bolso, ligando para um dos membros do Conselho.
— Para quem estava fodendo o meu juízo para casar, não vejo
ninguém da liderança aqui nesta reunião. — disse assim que ele atendeu,
enquanto eu entrava na cozinha para ter mais privacidade.
— Perdoe-me, Capo, estamos finalizando o acordo com a máfia
Rússia — Respondeu.
— Receberam o documento que eu enviei de manhã? — Perguntei.
— Quero que o líder russo análise as minhas propostas e que ele me mande
logo as dele para que eu verifique se estamos de acordo com essa aliança.
Peça para que ele me envie até amanhã a noite quando se reunir com ele
amanhã de manhã.
— Ele é bastante temperamental, senhor — Falou.
— Não mais do que eu, mande ele fazer essa porra logo. — disse,
desligando a chamada.
Assim que eu ia sair da cozinha para retornar ao jardim, para a
minha sorte e o azar da Bellini, esbarrei com ela e a irmã.
Ela parecia um anjo de tanta inocência que transparecia da sua
fisionomia e dos seus gestos.
Eu como um bom demônio, adoraria corromper a pureza da jovem.
— Pode subir, mocinha. — disse para pequena que parecia estar se
segurando para usar o banheiro.
Ela correu para o andar de cima, me deixando sozinho com a Hope.
— Seu pai não lhe deu modos? — Perguntei sobre o ocorrido de
agora a pouco. — Onde já se viu, uma ragazza da sua patente conversar
quando os homens estão falando. Sabe das regras?
Dante é o que mais me dá problemas aqui pelo fato de não saber
trabalhar em grupo. Vive passando relatórios das missões, reclamando que
ninguém obedece as regras que tinha, mas a filha dele parece que faz o
mesmo.
— Sì, senhor! — Respondeu.
— Então por que não obedece? — Falei elevando o tom de voz. —
As outras moças tem um semblante digno de uma esposa a altura de um
Capo, enquanto você ... — A encarei de cima a baixo.
Hope por outro lado parecia estar acostumada com reclamações, já
que se manteve em silêncio sem rebater ou tentar se defender.
— Deveria ter mais respeito, isso não é inadmissível, principalmente
você que está concorrendo como esposa de um líder — Falei, notando que
ela não prestava atenção, perdida em seus devaneios, me causando fúria por
ser ignorado.
Segurei no seu braço, a puxando para mais perto de mim para olhar
bem nos olhos dela enquanto falava.
— Preste bem atenção, ragazza ... — disse, aproximando ainda mais
meu rosto do seu. — Se te tornar a minha esposa, se mantenha na linha,
detestaria quebrar esse belo rosto por uma simples desobediência.
— Sí, Capo! — Respondeu.
Soltei o seu braço, passando por ela, voltando para o jardim.
Assim que eu cheguei, me isolei dos outros convidados, ficando no
canto esperando este evento terminar.
Estava começando a ficar entediado, até que a Bianca De Santis
apareceu para animar mais a festa.
A única coisa que eu e a Bianca temos, é o prazer. Ela sempre estava
disponível quando eu queria foder alguém. Ela também não reclamava por
eu a procurá-la apenas por sexo, até porque ela fazia o mesmo comigo.
Apesar que na minha boate eu tenha várias delas colecionadas, com
a Bianca tinha um pouco mais de adrenalina envolvida.
Bianca é a filha do meu advogado. Se ele soubesse que eu faço a
filha dele ficar de quatro para mim, ele com certeza não trabalharia mais
comigo, já que ele não quer envolver trabalho com família. Tenho um certo
apresso pelo trabalho do Federico, ficaria desapontado em perdê-lo, mas
também não queria perder a oportunidade de ter a Bianca na minha cama.
— Vejo que nas suas pretendentes faltam beleza e classe — disse
Bianca assim que se aproximou de mim. Ela só estava com inveja já que
não poderia ser a minha esposa. — Você poderia ter falado com o meu pai
para me ter como sua esposa.
— Deixe de falar bobagens, sabe qual é o interesse da nossa
“relação”. Sempre deixei claro que só quero foder você e você sempre
aceitou calada. Não ache que eu colocarei uma aliança em seu dedo só
porque eu te dou certos privilégios que não dou as outras que param na
minha cama — Desdenhei. — Seu pai já disse que não queria e eu não vou
tentar convencê-lo do contrário. Se não quer continuar o que temos, por
mim tudo bem.
Bianca fechou a cara e voltou a prestar atenção no que o Leonel
estava falando.
Os últimos 4 anos foram os mais difíceis. Essa nova vida e tentar me
adaptar a ela, só tirava o resto da sanidade que eu não tinha.
A minha família era unida, apesar das brigas, sempre estávamos ali
um pelos outros.
Depois da morte da Antonella, as desconfianças e as minhas
paranóias aumentaram, o que me fizeram duvidar da lealdade deles.
Algumas provas surgiram e apontava para alguns membros. Depois disso,
foi cada um por si.
Eu no começo fiz de tudo para pensar no contrário, de que não era
eles, mas a minha filha foi morta por alguém e eu tinha certeza disso. Só
tinha a minha família aquele dia, foi algum deles e isso me corroía cada vez
mais por não ter descoberto quem a machucou.
4 anos sem resposta alguma. 4 anos sofrendo e enlouquecendo para
tentar entender o porquê de tudo isso ter acontecido com a minha filha.
Leonel chamou as 7 pretendentes para o palco, me tirando dos meus
pensamentos.
Tive que acrescentar umas russas para fazerem parte das
pretendentes, mas nem fodendo que eu escolheria elas.
Só queria enganar que eu estava querendo formar uma aliança com
os russos.
Quem me garante que uma delas não será uma espiã dentro da
minha casa? Deixem achar que tem chances de casar comigo.
Minha opção era entre a filha do Giovanni D’amico ou a do Dante
Bellini.
Luna D’amico era muito bonita. Tenho certeza que nada dela era
“real”. Da cor dos cabelos loiros até os peitos avantajados, essa daí já
passou pelo bisturi, mas não tenho problema com isso, no tanto que ela seja
uma boa esposa, ficaria satisfeito.
Olho para a minha segunda opção que era a Hope Bellini. Seus
cabelos ruivos e o seu semblante de pureza me deixava louco para
corrompê-la.
Ela provavelmente se sairia bem como minha esposa, mas não posso
esquecer que ela é parente da esposa do Enzo, isso certamente me dará
problemas depois.
— Olha essa ruiva — disse Bianca rindo. — Que cabelo mais
ridículo! Toda desajeitada, não consegue nem levantar o olhar. Lorenzo,
essa não chega a ser nem uma opção de escolha para a sua esposa, não sei o
que ela faz aí.
— Se nem você foi — sorri, fazendo ela sair brava.
Me livrei dela por algumas horas.
Com o tempo, voltei a ficar entediado.
— Quer mais whisky? — Perguntou Dante.
— Sì!
— Deixe que eu pego para o senhor, Capo — Falou.
— Me mostre aonde tem que eu mesmo pego — disse.
Não confio nem na minha sombra, quem dirá no Dante.
Tem tanta gente tentando me matar que é melhor eu ser mais atento
a esse tipo de “boa ação”.
— No armário da cozinha, senhor — Falou.
Fui atrás e não achei aonde ele disse que estava.
Ia voltar para o jardim, quando um par de olhos verdes me encarou.
— Onde está a garrafa de whisky? — Perguntei.
Hope foi para o armário do canto, trazendo a garrafa de bebida até o
balcão.
Enquanto ela passeava pela cozinha para me servir, eu observava
ainda mais os seus traços de pureza e beleza.
Ela era muito charmosa, tinha um olhar que deixaria qualquer um
louco de desejo.
Parecia tímida demais para saber do poder que tinha em mãos com
toda aquela beleza e elegância.
— Levante o olhar. — disse quando ela havia terminado de encher o
meu copo.
Hope realmente era bela. Não é sempre e que vemos uma ragazza
tão atraente.
Sua pureza me fazia lembrar da Beatrice, uma moça que eu conheci
na adolescência. Bem, ela foi o meu primeiro amor, mas sua beleza não era
nada comparada com a ruiva a minha frente.
Depois o meu pai me explicou que amor não era bom no ramo da
família e que traria problemas, eu achava que ele estava mentindo, até
matarem a minha filha.
Aqui não é comum pais, filhos ou qualquer tipo de membro familiar
sentir amor ou carinho um pelo outro, já que você teria um ponto fraco que
os seus inimigos usariam contra você.
Eu não sofria ataques quando o meu pai era Capo, até porque ficava
muito tempo na casa do Leonel, depois que cresci e assumi a liderança, os
ataques a mim aumentaram, mas não tanto quando a minha filha nasceu.
Chegava a ser absurdo a quantidade de ataques que tivemos nos últimos
anos. No ano que ela morreu foi o ano que mais tivemos mortes.
Então deixei de lado a porra da paixão e me firmei no que eu mais
queria, me tornar Capo.
Agradeci a senhorita Bellini e saí da cozinha.
Com um tempo a reunião já havia terminado, finalmente poderia ir
para casa, já que tinha alguém me esperando.
Quando cheguei em casa, Lucy estava com uma cara nada boa. Sei
que ela odeia qualquer tipo de mulher que eu traga aqui, mas com a Bianca
e com a Alessandra, a minha ex-esposa, era diferente. Lucy não fingia sua
cara de nojo quando elas apareciam.
Lucy era a minha segunda mãe, ela está na família há mais de 40
anos. Apesar de todo esse tempo, ela começou a criar laços com toda a
família depois que nascemos.
Bianca já estava no prédio ao lado, já que ela sabe que eu não gosto
de gente na minha casa.
Se as minhas palavras realmente a incomodassem, ela não olharia na
minha cara, mas sempre aparecia, cedendo pelo poder que eu nunca vou lhe
oferecer aqui dentro.
Devo dizer que ela acredita mesmo que vai mudar a minha opinião,
é surpreendente como ela acha que pode me mudar a minha decisão se eu
me apaixonasse por ela.
Quando eu fui para o prédio, onde alguns rapazes batizaram de
rifugio (refúgio), já que aqui podem fazer o que bem entendem.
Extravasam a sua raiva e fodem as prostitutas aqui mesmo, sem
precisar ir para a boate.
O rifugio tem quatro andares e um andar extra no subsolo. Onde
trazemos uns figlio di puttana que ousam trair a famiglia. Também temos
um depósito no centro da cidade, que lá só ficam os que são de fora da
nossa máfia, como espiões, devedores e alguns bandidos que não
obedeceram as regras da nossa área.
O primeiro andar do rifugio é um bar, onde rola de tudo. Apesar de
ter a boate Di lusso di notte, sempre é bom ter um puteiro e um bar no
quintal de casa. O segundo andar é um cassino. No terceiro é onde os
quartos ficam e no quarto tem a sala de reuniões, este é o andar que mais
tem seguranças.
Cheguei no terceiro andar e fui para o quarto que é só meu. Bianca
já estava nua em minha cama. Não podia perder mais tempo.
A semana se passou rapidamente, o Enzo já estava enfurnado em
minha casa me dando sermão.
— Você vai acabar perdendo o Federico por conta de sexo fácil —
falou.
— Enzo, ele não vai saber de nada — disse, dando o último gole de
whisky que restava no meu copo.
— Do jeito que vocês dois só faltam se comer quando se veem em
público, logo ele saberá — disse Enzo sobre o meu caso com Bianca. —
Irmão, sabe como é difícil achar alguém de confiança aqui. Então pare de
querer enfiar esse seu pau em qualquer buraco e se controle.
Apesar de não sermos da mesma família, nós nos conhecíamos
desde criança e nos tratávamos como irmãos.
— Eu vou me ocupar mais com as pretendentes agora — disse,
tentando acalmá-lo. — Fique tranquilo!
— Tem uns documentos lá em casa para você assinar — falou. — A
propósito, você tem uma audiência na sede dos Juízes hoje com o traidor
que estava passando informações sobre o quartel.
Porra, tinha esquecido!
O quartel era praticamente uma cidade. Tinha escola, hospital, casas
para os membros, lá tinha tudo que pudéssemos precisar, até leis e
condenações para quem quebrasse as regras, isso já estava no poder da
liderança.
Os Juízes estão abaixo do meu cargo, no total são 8 Juízes e 8
Conselheiros. A sede dos Juízes é onde acontece as audiências e
julgamentos para membros que nos traíram ou quebraram regras. Também
tínhamos uma ala no quartel responsável por abrigar os prisioneiros que
eram vigiados pela Elite.
— Você traz esses documentos depois enquanto eu me preparo para
a audiência — disse.
— Você vai me dar uma carona, deixei o meu carro no mecânico
para a limpeza — falou.
A limpeza era uma forma de ver se o carro foi grampeado. Perdi a
conta das vezes que eu achei escutas. Era difícil tentar manter tudo limpo,
não sei como eles conseguiam chegar tão perto para conseguir fazer coisas
do gênero sem serem pegos pela minha segurança.
— Vamos logo antes que eu mate você por me fazer sair de casa em
pleno domingo — disse.
— Mafioso não tem o sétimo dia para descanso — falou, enquanto
me empurrava para a porta.
Quando chegamos na casa do Enzo, fiquei surpreso em ver a Hope.
Ela nem notou a nossa presença. Ela carregava o Fernando nos braços,
enquanto subia as escadas. A irmã havia permanecido arrumando os
brinquedos.
— Vou lá em cima pegar os papéis — disse Enzo saindo da sala.
Me sentei no sofá, observando a garota. Se minha filha estivesse
viva, deviria ter aproximadamente a sua idade.
— Oi! — disse tentando não a assustar. Nem sabia mais conversar
com uma criança.
— Oi!
— Como se chama mesmo? — perguntei.
— Kitty!
— É o seu nome ou um apelido?
— É o meu nome, senhor. A minha mãe não gosta de nomes
extensos, Lisa, Hope e Kitty, não precisa abreviar e nem colocar apelidos —
falou, parando de guardar os brinquedos.
— Sua mãe escolheu belos nomes — afirmei.
— A minha irmã é uma de suas pretendentes — disse Kitty se
sentando ao meu lado, criando coragem para falar algo. — Sei que eu não
pedir algo ao senhor, mas se caso o senhor escolhê-la como sua esposa,
poderia não machucar minha irmã?
— Por que eu a machucaria? — perguntei.
Se Hope fosse a escolhida, seguisse as regras e fosse disciplinada eu
não teria problemas com ela.
— As mulheres são maltratadas, eu sei — falou, de um jeito
inocente, mas sério e articulado demais para a sua pouca idade. — A Lisa
se casou e está feliz. Quero que a Hope também seja feliz. A gente sofre
muito, senhor. Sei que eu não sofri tanto como as minhas irmãs, mas sei que
elas estão machucadas.
— Não sou um homem bom, ragazza, mas posso prometer ter
paciência com ela, tudo bem? — disse.
Havia me esquecido de como era ser "bom" com alguém. A garota
estava assustada e com medo do que a irmã poderia sofrer nas minhas
mãos. Eu não queria tornar aquilo pior para uma criança. Se Hope se
mantivesse no seu lugar, nós ficaríamos bem.
— Kitty, suba aqui rapidinho — chamou Hope do andar de cima.
— Posso ir?
— Sì — respondi.
— Já vou! — respondeu, logo subindo.
Fui para a cozinha atrás de uma bebida. Depois que Nando nasceu,
Enzo escondeu qualquer vestígio de bebida alcoólica da casa. Depois de
alguns minutos, a Hope apareceu na porta da cozinha. Ela continuou o que
ia fazer e aproveitei para observá-la mais uma vez.
Ela estava fazendo leite ou mingau, ou sei lá que porra era aquela.
Quando Antonella nasceu e a Alessandra se recusou a amamentá-la para os
seus seios não caírem, era Lucy quem fazia as mamadeiras de leite.
Só de sentir o cheiro me veio a lembrança da Antonella em meus
braços bebendo rapidamente o seu leite. Certas lembranças eram como uma
facada em meu peito.
A dor de perder alguém não é pela morte, é saber que não viverá
mais momentos com essa pessoa. Que nunca mais a verá, que nunca mais
escutará a sua voz ou a sua risada. As lembranças somem com o tempo e
isso torna tudo pior, principalmente por achar que está esquecendo da
pessoa que tanto amou.
Quando olhei Hope uma segunda vez, vi que estava machucada.
— O que aconteceu com o seu rosto? — perguntei, me aproximando
dela.
— Fui castigada — respondeu, desviando o olhar.
— Isso eu percebi, quero saber o porquê — insisti.
— Quebrei algo do meu pai — falou, enquanto olhava para todos os
lugares, menos para mim.
— Alguém já te disse que você não sabe mentir? — indaguei. —
Detesto quando mentem para mim. Se não quer ser castigada, fale a porra
da verdade.
— A minha irmã mais nova quebrou algo e eu assumi a culpa —
disse Hope.
O filho da puta do pai dela a machucou? Esse merdinha não sabe
das regras que foram estabelecidas pelo Conselho?
Era proibido tocar nas pretendentes ou na família, porque no dia do
casamento não queria ninguém com hematomas, principalmente eu que
tenho uma vida dupla.
Hoje eu acabo com o Dante!
— Hope? — Escutei Kitty chamá-la do andar de cima.
— Eu posso... — disse Hope e eu dei espaço para que ela passasse.
Assim que ela subiu, Enzo desceu.
— Você não ia me contar que o seu sogro quebrou uma das regras?
— perguntei ao Enzo.
— Soube disso hoje cedo. Ia comentar com você, só que você viria
para cá de qualquer forma, então veria com seus próprios olhos — falou,
me entregando o documento.
— Peça para alguém ir pegar o Dante e levar para o rifugio. Vou
terminar a minha audiência e encontro esse maldito lá — disse.
Saí da casa, acompanhado do Enzo e fui para o quartel. Assim que
cheguei, caminhei até a sede dos Juízes.
— Estávamos esperando o senhor — disse um dos Conselheiros.
— Vamos começar logo a audiência, tenho uns assuntos ainda para
resolver — disse indo para o meu lugar na bancada.
Ficava no meio, no meu lado esquerdo ficava os Conselheiros, junto
com o Enzo, já que era o meu Consigliere, ele ficava do meu lado e no meu
lado direito, ao meu lado ficava o Leonel, já que ele era o Sottocapo, junto
com os Juízes.
— Vamos começar — disse.
— O Senhor Alessandro está conosco há mais de 12 anos. Hoje ele
foi pego dando informações sigilosas da entrada do quartel para um homem
desconhecido que ainda não foi identificado. Foi encontrado com ele um
papel da entrada e da quantidade de câmeras que havia nas redondezas do
muro. Ele torturado pela Elite, mas foi confirmado que não sabia mais
informações do outro homem — explicava o Juiz. — Seu envolvimento
nesta história é de repassar apenas o que sabia sobre nós.
— Conte-me de como começou a nos trair — disse ao traidor.
— Foi aproximadamente há dois meses, senhor. Recebi uma carta
na minha casa, aqui no quartel mesmo. Eu estava com dívidas em jogo e eu
não sei como, mas essa pessoa sabia. Me ofereceu dinheiro para passar
informações — o interrompi.
— Está me dizendo que alguém de dentro lhe deu essa carta? —
indaguei.
— Eu não sei, senhor, eu não sei quem foi — respondeu.
— Como ele é estúpido, puta merda! — disse, passando a mão no
rosto com tamanha burrice desse merdinha. — Já parou para usar um pouco
o seu cérebro hoje? O quartel tem segurança máxima, ninguém entra que
não seja convidado. Se sabiam da sua dívida e onde morava aqui dentro,
deveria ser alguém daqui, não acha? O que me deixa ainda mais intrigado,
se é uma pessoa de dentro, por que fazer rodeios e usar justamente você?
— Eu não sei, senhor!
— Creio que seja para despistar qualquer atenção de outra pessoa
que possa estar por trás disso — disse Leonel. — Sempre soubemos que o
inimigo estava aqui dentro, mas ninguém nunca me escuta.
Não suportava ouvir ele falar disso.
— Vamos retornar para esta reunião e não para o drama familiar de
vocês — disse um dos Conselheiros.
— Quer aproveitar que estamos em uma audiência para ser logo a
sua, caro Conselheiro? — perguntei a ele. — Não se meta nos meus
assuntos.
— Perdoe-me, Capo! — falou.
— De qualquer forma, você foi usado e como não tem valor algum
para nós e muito menos para eles que estavam te usando, creio que deixar
você vivo não me seja útil — disse.
— Me dê mais uns dias, eu vou encontrar o homem daquele dia —
falou desesperado. — Ele pediu que eu o encontrasse na praça do centro da
cidade, ele pode estar lá ainda.
— Ninguém se encaixou com o retrato falado descrito pelo senhor
— falou o Juiz a ele. — Ele deve ser igual a você, já sei que eles têm uma
tática de usar pessoas desesperadas para fazerem o serviço sujo sem que
sujem as próprias mãos.
— Só me deem mais uma chance! — insistiu.
— Você só não deu as informações porque um dos nossos
seguranças disfarçados lhe impediu. Sua deslealdade não é permitida entre
os membros da famiglia — disse o Juiz.
— Está pedindo chance para a pessoa errada, Alessandro — disse, o
encarando. — Eu, Lorenzo Ferraro, com o poder que o meu título de Capo
detêm, o condeno a morte na sala de incineração.
— Não, por favor... — gritava Alessandro enquanto era arrastado
pela Elite.
— Se foi um traidor, vai morrer como um — disse. — Fim da
audiência!
Levantei-me sem esperar as pessoas presentes virem falar comigo,
saindo dali. Meu interesse era em Dante. Entrei no meu carro, junto com o
Enzo, indo para a minha casa. Assim que cheguei, já aguardava trazerem
Dante para a cela que eu havia separado para ele.
— Senhor, ele chegou! — disse um dos meus seguranças.
— Capo! — disse Dante vindo até mim sorridente. — Fiquei
surpreso quando o senhor pediu a minha presença.
— Sabe o que eu não suporto? — falei, fazendo-o parar de andar
enquanto me encarava confuso. Seu sorriso se desfez. — Pessoas que fazem
os outros seguirem regras, mas eles mesmos não seguem.
— Desculpe, senhor, não estou entendendo — balbuciou nervoso.
— Enzo, me ajude aqui!
— Enzo, não se meta! — disse, sabendo que ele não ia, mas para
não causar intrigas entre ele e o sogro, achei melhor intervir.
Peguei uma barra de ferro e continuei andando para mais perto do
Dante.
— Eu não fiz nada, senhor! — falou rapidamente em desespero. —
Não estou entendendo o que está acontecendo.
— Não está entendo? — perguntei sarcástico. — Que péssima
educação esta minha de falar e não explicar nada antes, mas pode deixar
que eu explico agora. — Segurei firme a barra de ferro, batendo com força
na sua perna esquerda, ele logo caiu no chão, colocando a mão no local.
Aproximei-me dele, segurando em seu colarinho, trazendo-o para perto de
mim. — O que o Conselho havia dito sobre marcar as moças que eram as
minhas pretendentes? Você é idiota ou faz isso de propósito para que eu te
mate logo? Já havia dito que não quero que toquem no que será meu. Você é
filho da puta o suficiente para não obedecer a uma simples ordem?
— Senhor... Capo... — falou, tentando se justificar e eu bati mais
uma vez, agora atingindo o seu estômago.
— Deixe-me terminar primeiro, sei que você gosta de citar as
regras, mas obedecê-las não parece ser o seu ponto forte — disse, indo para
perto da mesa que havia alguns equipamentos para a tortura, esquentando o
ferro. — Mas essa surra não é só porque você quebrou uma regra, mas sim,
porque ultimamente alguns dos meus homens estão criticando o seu
comportamento em campo. Eles te detestam tanto, que eu estou com várias
reclamações anotadas sobre você só esta semana.
— Eles que não sabem trabalhar direito, Capo. Nunca tive
problemas com o senhor antes... — o interrompi.
— MAS ESTÁ TENDO AGORA, PORRA! — gritei. — Eu só não
lhe dei uma surra antes, porque estava muito ocupado com os ataques que
estava acontecendo contra mim. — Mandei os meus homens o segurarem e
colocarem ele em pé. — Você é o mais figlio di puttana que eu já conheci.
Eu sou um monstro e não nego. Não me importo de sujar as minhas mãos
para obter o que eu quero, mas você finge ser um lobo em uma pele de
cordeiro.
— Isso ... Isso não irá se repetir, senhor — falou.
— Com certeza não vai — falei, colocando o ferro quente no seu
peito. Ele gritava, se remexendo e eu não tirava o ferro dali. O cheiro de
carne queimada tomou conta do lugar fechado. O seu sangue começou a
escorrer, sujando todo o chão. Tirei o ferro, encarando-o, enquanto ele
suava e tremia. — Enfim, nossa conversa muito boa, mas eu tenho que
voltar para o trabalho. Se eu te pegar tocando nas suas filhas, eu arranco a
sua pele e faço de pano de chão, entendeu? — Ele assentiu. — Finalizem
com ele da melhor forma possível.
Logo os meus homens começaram a bater em Dante, que tentava
proteger a sua cabeça com os braços dos chutes que ele levava.
— Certifique que nenhuma das outras moças estejam machucadas
— disse a Enzo.
Sei que não era o trabalho dele, mas Enzo era o único em que eu
confiava.
Passaram-se alguns dias, mas o trabalho havia triplicado aqui.
Já havia saído com algumas das pretendentes, agora só faltava Hope
Bellini. Estava um pouco receoso, já que o Enzo era cunhado dela.
Aguardei do lado de fora da casa da Bellini, esperando-a sair.
Quando os meus olhos foram de encontro com aquele belo corpo,
fiquei surpreso ao vê-la daquele jeito. Onde a ragazza escondia aquele par
de peitos que não havia notado antes? Ela estava sensual demais, com
aquela doçura que transparecia dela, e a deixava ainda mais atraente.
— Levante o olhar — disse assim que ela se aproximou de mim. Ela
me encarou com aqueles belos olhos verdes, mostrando toda a inocência
que tinha. — Está muito bonita, senhorita Bellini!
— Obrigada, Capo! — respondeu envergonhada. — O senhor
também está ... sabe, m-muito bonito.
— Nada de senhor, me chame apenas de Capo ou de Lorenzo —
disse, abrindo a porta do carro para ela entrar.
Hope sorriu e logo entrou.
Estávamos a caminho do leilão que aconteceria hoje. Para os de fora
e os patrocinadores, era apenas um leilão beneficente, mas para os que
sabiam o que estava por trás daquilo, era uma forma de repassar a droga e
as vendas de armas. Cada objeto que ali se encontrava tinha o seu peso
pelas drogas e armas.
Os que estavam acostumados com a forma que trabalhamos, já
sabiam como tudo funcionava e o que marcava cada peso. No folheto que
era dado na entrada explicava cada objeto, do peso ao ano de fabricação.
Pesos de até 12 kg, era o código para as drogas, os últimos dígitos
do ano de fabricação que estavam no folheto que era marcado por uma cor
um pouco acima do tom dos outros números, era a quantidade de
mercadoria ou o peso dela. Acima de 12 kg, eram das armas. Tudo para
passar despercebido da polícia na hora de vender.
Na hora do leilão, tudo acontecia de forma diferente, começávamos
já com o valor que queríamos pela mercadoria e deixávamos aqueles
presentes discutirem e aumentarem o preço para a compra dos "objetos".
Assim que chegamos no salão, cumprimentei alguns membros que
não faziam ideia do que havia por trás do dinheiro arrecadado e logo me
sentei no centro esperando começar. Olhei o folheto, verificando se tudo
estava nos conformes. Na primeira página estavam os quadros, seguidos
pelos outros itens nas páginas seguintes.

Obra: Quadro Maneks


Produto: Quadro
Formato: Retangular
Dimensões do produto: 20 x 20 cm.
Peso do produto: 132 g
Fabricação: 1979
Tudo estava perfeito.
Às vezes, de relance, eu olhava para a ruiva do meu lado, ela estava
muito desconfortável naquele vestido. Nas duas últimas vezes que a vi,
lembro que ela não usava roupas tão chamativas assim, mas não era algo
que a tornava feia, mas sim, que escondia o seu belo corpo.
Ela, por outro lado, nem tentou conversar comigo, o que de fato eu
estranhei um pouco. Então Bianca logo apareceu e se sentou ao meu lado.
Bianca aparecia em todos os meus encontros com as pretendentes.
Com certeza querendo causar intrigas com as moças, já que ficavam de cara
fechada ou disputavam a minha atenção.
Só que ela não contava com o diferencial da ruiva ao meu lado.
Hope era absurdamente estranha. Ela não se importou com a Bianca ao meu
lado, nem mesmo olhou para nós. Sua atenção sempre ia para ajeitar o seu
decote e a abertura do vestido na perna.
Aurora Müller, esposa do Vincent, sentou-se ao lado dela e puxou
assunto. Apesar de Vincent não trabalhar mais para a nossa máfia, ele sabia
o que acontecia por trás daqui. O seu maior interesse era pelas minhas
prostitutas da boate. Vivia lá, esbanjando sua fortuna e pagando altas
quantias só para ter as mais belas putas.
Hope logo se aproximou de mim, dando-me uma bela visão de seu
decote.
— O que houve? — perguntei.
— Posso ir ao banheiro? — perguntou sussurrando.
Olhava aqueles lábios, doido para prová-los.
— Volte logo! — falei e logo a ruiva saiu.
Minha atenção foi para as mãos em minha coxa que já estavam
subindo aos poucos.
— Vamos nos divertir um pouco? — disse Bianca com um sorriso
malicioso nos lábios.
— Infelizmente eu não posso te jogar em cima desta mesa e fazer o
que quiser com você — disse, tirando a mão dela dali. — Eu não posso sair
daqui antes do leilão terminar.
Ela ficou um pouco desapontada, mas nada que eu me importe. A
Srta. Bellini já havia retornado, mas não dei muita atenção.
Só queria ir para casa e encher a cara.
Ao fim do leilão, a Bianca me convidou mais uma vez para ir para a
sua casa. Decidi que talvez passaria por lá mais tarde, já que agora a única
que eu quero foder é a ruiva ao meu lado.
Nos despedimos de todos e caminhamos para o estacionamento.
Antes que a Hope pudesse entrar no carro, a agarrei pela cintura,
depositando beijos em seu pescoço.
— Vamos para a minha casa? — ofereci.
— Se o Capo quiser — respondeu.
Parei de beijá-la e a encarei. Ela não parecia estar a fim de dormir
comigo.
— Você quer ir? — perguntei. — E antes que me responda se é o
que eu quero, não quero saber de mim e sim saber se você quer. Me
responda a verdade, odeio mentiras.
— Na verdade, eu não queria — sussurrou. Quase que eu não
consegui ouvir.
— Por quê? — estranhei. — Não quer dar prazer ao seu Capo?
— Se é o que você quer, eu não posso negar — falou. — Mas
depois que isso terminar e se eu não for a escolhida, as mulheres que não
são mais virgens não conseguem se casar depois.
Ela estava certa. Apesar das outras moças nem pensarem nisso,
porque a patente delas eram mais alta do que da ruiva a minha frente, ela
seria mal vista. Que homem iria querer uma moça na patente em que a
família dela se encontrava, sendo que já havia sido tocada por outro?
Apenas a encarei pela coragem de se impor a mim, mesmo sabendo
que eu sou o Capo.
— Eu entendo o seu ponto de vista, mas não vou implorar para ter
uma ragazza em minha cama.
— Me desculpe, eu não quis chateá-lo, eu só disse a verdade —
explicou.
— Eu respeito a sua decisão — disse fazendo menção para que ela
entrasse no carro. — Andiamo!
Realmente não me incomodava dela não querer, só estranhei, como
todas sempre querem subir sua patente, ela não ter nem tentando isso, era
quase inacreditável. Acelerei o carro pelas ruas, para deixar logo a ruiva em
casa. Pela milésima vez, ela estava ajeitando o decote do seu vestido.
— Por que veio com este vestido, já que é evidente que está
desconfortável nele? — disse, parando no sinal vermelho, a encarando.
— Não tive muita escolha. — Suspirou.
Que porra a Suzi acha que está fazendo? Lembrarei de ligar para ela
depois. Não quero ninguém dando ordens no que será meu. Sempre fui
obsessivo. Minha mãe disse que isso é uma forma de eu esconder o medo
de perder algo. E talvez fosse verdade. Só precisei perder uma vez, para não
querer mais sentir essa sensação nunca mais.
Assim que parei em frente à casa da Hope, a convidei para sair
amanhã novamente. Como não conversamos e eu sei que isso foi injusto
com ela, já que com as outras eu fui muito além de conversas, amanhã iria
me redimir pela minha péssima educação de hoje à noite.
Quando Hope saiu do carro, não evitei de olhar o seu belo traseiro
ao vê-la caminhar para dentro de casa. Peguei o meu celular e liguei para o
Rubens, o homem que tomava conta da minha boate em minha ausência.
— Separe umas mulheres, que já chego aí — avisei.
Posso não ter fodido a Bellini, mas hoje não ficarei na seca nem
fodendo.
No outro dia, minha cabeça estava fodida. Dores de cabeça
constantemente me atormentavam.
Havia ligado para Suzi que se desculpou pelo ocorrido, mas nem dei
importância. Quando estava a caminho da casa da Bellini para levá-la para
o jantar, recebi a ligação de um dos meus homens que cuidavam das cargas.
— O que foi? — perguntei assim que atendi, deixando a ligação no
alto-falante enquanto minha atenção estava na estrada.
Ele estava ligando para o meu telefone pessoal, então já sabia que
aconteceu alguma merda.
— Fomos roubados — falou quase em um sussurro.
— Como é? — disse, parando no sinal vermelho, tirando a ligação
do alto-falante, trazendo o celular para o meu ouvido. — Acho que entendi
errado, repete.
— A carga foi roubada — o interrompi.
— COMO 62 HOMENS DEIXAM A PORRA DE UMA CARGA
SER ROUBADA? — gritei.
Já havia sido a segunda vez em menos de 5 meses que entravam
pessoas no meu depósito e me furtavam.
— Senhor, eu não sei o que aconteceu, ela estava aqui dentro do
caminhão pronto para ser entregue ao comprador, quando fomos fazer a
checagem da mercadoria, o caminhão estava vazio — falou em desespero.
— Então uma carga de quase duas toneladas sumiu repentinamente?
— perguntei cínico. — DUAS TONELADAS, CARALHO! — gritei,
respirando fundo em seguida, tentando ficar calmo para pensar no que fazer.
— Você quer me dizer que vocês não viram essa porra ser levada? Onde
estavam esse tempo todo para uma carga deste peso ser levada e vocês não
viram?
— Estávamos perto dos caminhões, não faz sentindo essa carga ter
sumido, senhor — falou.
— Então os fantasmas que me roubaram? Até em morte mantém os
vícios, é isso? — perguntei sarcástico.
Estava chegando perto da casa da Hope, estacionando, em seguida,
em frente à sua casa.
— O senhor Carbone está aqui, ele checou as câmeras de
segurança, está tudo apagado — falou. — O senhor está vindo para cá?
Hope entrou no carro, enquanto eu resolvia mais um problema.
— NÃO TEM COMO EU VOLTAR! — gritei, tentando ficar calmo
para não ir lá e matar todos eles. Não podia remarcar com a Bellini, já
estava acabando o prazo para anunciar a minha esposa. — Como tantos
homens aí, não viram isso acontecer? — Tentava entender como deixaram
passar isso desapercebido. — Você é um figlio di puttana!
— Vamos procurar a carga, senhor, estamos separando as equipes
— falou.
— Só me ligue quando recuperar o que perdeu, senão eu mato você
— disse desligando a ligação, jogando o celular para o banco traseiro.
Hope ficou calada desde a hora que entrou no carro. Não consegui
me deslumbrar com a sua beleza hoje, já que estava muito ocupado
resolvendo as merdas dos meus Associados.
— O que foi? — perguntei, notando o seu nervosismo. — Você não
para de mexer com os seus dedos. Está com medo?
— Ah, não! — mentiu. — Se o Capo quiser ir resolver a situação
que lhe deixou bravo, não me importo de remarcar o nosso jantar.
— Não pense de mais, a sua obrigação é apenas ficar quieta — soei
mais grosseiro do que eu gostaria. Estava puto pela perda desta carga.
Ela logo voltou a olhar a estrada, parecia magoada.
— Você se aborrece tão facilmente — zombei.
Quando chegamos no restaurante, perguntei em qual mesa ela
gostaria de se sentar, mas fui ignorado. Arrastei-a para o canto a fazendo
olhar nos meus olhos.
— Quando eu fazer a porra de uma pergunta, você responde,
caralho! — disse firme.
— O senhor disse que a minha obrigação era ficar calada, eu apenas
estou lhe obedecendo — respondeu me tratando formalmente novamente.
— Ragazza — disse, tentando me manter calmo. Estava me
controlando para fazê-la engolir toda essa sua arrogância para comigo. Sei
que prometi a sua irmã que teria paciência, mas esta ruiva me tirava do
sério. Enzo certamente não me perdoaria por tocar nela, antes mesmo dela
se tornar minha — Não tente ser mais esperta do que eu, senão eu não
tratarei tão educadamente na próxima vez.
— Na última mesa — respondeu.
Pedimos o jantar e eu quis logo puxar assunto, já que não queria ter
que falar sobre mim. Ela começou a dizer um pouco da sua relação com a
sua mãe e as suas irmãs. Mostrou várias vezes que tinha medo do tio. Não
lembro da pesquisa que fizeram sobre as moças, a dela ter sido mencionado
que morava com alguém antes.
Já estava decido que até amanhã eu tinha que escolher alguém.
Realmente, Luna D'amico era boa de cama, mas me daria trabalho igual a
minha ex-esposa. A Bellini talvez me desse uma bela dor de cabeça pelo
seu gênio forte, mas nada que eu não conseguisse controlar.
Algo que Hope falou me chamou atenção enquanto falava um pouco
sobre si. A vez em que ela salvou uma criança de se afogar.
Minha filha morreu afogada no jardim da casa dos meus pais. Como
eu queria que alguém a tivesse salvado e a ajudado quando eu não pude.
Não sabia se fora um acidente ou alguém a matou, já que nunca consegui
descobrir nada sobre a sua morte, mas certamente a dor não sumiria nem
quando eu descobrisse a verdade.
Hope cansou de falar e esperou que eu falasse um pouco de mim.
— Você quer falar um pouco de si? — perguntou.
— Eu não sou importante neste jantar, quem vai decidir com quem
vai se casar sou eu — disse.
Eu não ia falar da minha vida com ela, até porque eu não tinha porra
nenhuma para falar. Minha vida da minha infância até agora se resumia a
tragédias. Da última gravidez da minha mãe, até a morte da minha filha,
foram apenas traumas atrás de traumas.
Hope pediu para ir ao banheiro, certamente se controlando para não
me dar uma boa resposta. Eu nunca era assim, não antes, agora não me
importo se vão gostar de mim ou me odiar, para mim tanto faz. Só estou
vivo porque tenho que liderar a máfia, já que é a minha responsabilidade,
mas perdi a vontade de viver há muito tempo.
Vi que ela estava demorando demais no banheiro. Essa ragazza
acabava com toda a paciência que me restava. Paguei a conta e fui atrás
dela. Quando cheguei no corredor, seus olhos se encontraram com os meus.
Ela parecia ter chorado. Era só o que me faltava lidar com alguém tão
emotiva. A arrastei sem nenhuma delicadeza para fora, colocando-a dentro
do carro. Dei partida, indo para a rua, tentando não enlouquecer.
— Você realmente testa toda a paciência que eu não tenho, senhorita
Bellini — falei tentando controlar a minha raiva. — Meu dia está uma
merda e você não para de fazer eu querer machucá-la.
Na velocidade em que eu estava, a maior preocupação dela seria em
eu matá-la ou causar um acidente.
— Me castigue ou me mate, sei lá. Estou farta de tudo isso! — disse
Hope. Percebi que ela estava se segurando para não chorar. — Diga que eu
não sou boa o bastante para me casar com você ou que não consigo seguir
regras.
— Por que você tem que ser assim? Não sabe aceitar e ficar calada
— dizia, trocando o meu olhar entre a estrada e a ruiva ao meu lado.
— Não sei o que é pior, lidar com o seu mau humor e a sua
arrogância ou ter que voltar a morar com o meu tio. De qualquer forma
serei castigada e prefiro mil vezes não me casar com você! — Falou me
encarando. — Não quero ter a vida da minha mãe.
Ela realmente tinha medo do tio, mas não me importava. Como um
bom samaritano que sou, resolvi me acalmar antes de querer matá-la. E foi
ali que eu percebi que ela seria a minha esposa. Não sei se foi pela sua
coragem de se impor ou por a querer em minha cama.
Sabia que teria problemas com esse gênio forte, mas com certeza
conseguiria colocar ela em seu devido lugar. Logo cheguei em frente à sua
casa. Antes que ela pudesse sair do carro, a segurei pelo meu braço.
— Admito que você tem coragem, ragazza, mas não ouse me
responder de novo. Eu nunca tive tanta paciência com alguém, como eu
tenho com você. Se fosse outra pessoa fazendo o que você acabou de fazer,
já estaria sendo enterrado vivo pelo desaforo — disse, enquanto ela só me
encarava. — Amanhã virei conversar com seu o pai, avise-o. — Fiz menção
para que ela saísse do veículo.
Ela logo saiu e eu saí disparado pelas ruas. Cheguei em casa e a
Lucy ainda estava acordada.
— Já chegou! — disse Lucy me abraçando.
— Pode ir se deitar, Lú — disse. — Amanhã à noite trarei a minha
futura esposa para você conhecer.
— Já escolheu? Espero que seja uma boa moça — falou. — E como
você está com isso de se casar e ter outro filho?
— Não queria, mas não vou fugir da minha responsabilidade —
disse, indo para a geladeira, tirando a garrafa de água. — Não quero sentir
novamente aquela impotência.
— Vai ficar tudo bem agora — falou segurando na minha mão. —
Estamos todos juntos e bem, isso que importa.
Subi e fui logo me deitar. Minha cabeça estava doendo muito, isso
sempre acontecia quando eu me sentia sobrecarregado. Amanhã ainda tinha
que resolver a questão da carga roubada.
Que inferno!

Pela manhã, acordei cedo e resolvi resolver alguns assuntos


pendentes. Um dos meus informantes morava perto dos Bellini. Aproveitei
a ocasião para passar logo por lá.
Assim que eu cheguei na casa da Hope, meus seguranças ficaram
perto dos carros, enquanto eu esperava alguém atender a porta. Quando
apertei a campainha, a esposa de Dante abriu a porta. Ela era muito bonita.
Já vi de onde a beleza vinha desta família. Ela não escondeu a sua surpresa
ao me ver naquele horário em sua casa.
— Desculpe por ter vindo tão cedo. Ia resolver alguns assuntos pela
redondeza e resolvi passar aqui logo — disse.
Estava tentando ser educado, já que eu estava sendo descortês pela
visita tão cedo e sem avisá-la.
— Tudo bem! — falou. Inclinou-se para que eu entrasse. — Entre,
Capo!
Assim que o fiz, logo encontrei a ruiva penteando os cabelos da
irmã mais nova. Esther me pediu para sentar no sofá. Hope logo pegou a
irmã para ficar lado, já que a Kitty estava sentada no chão.
Elas estavam bastante nervosas com a minha visita.
— Pode continuar o que você estava fazendo — disse, notando que
a mais nova iria sair, por isso estava se arrumando.
Ela logo se apressou para ajeitar o cabelo da irmã e a pediu subir.
— Desculpe, o meu marido está em uma viagem de negócios e só
volta na próxima semana — disse Esther, assim que a filha menor subiu. —
Hope havia me dito que o senhor viria aqui hoje, mas não tínhamos como
avisar ao senhor que ele não estava aqui.
— Serei breve no que eu tenho para falar — informei. — Não
importa se o seu marido está presente ou não, isso a senhora também pode
resolver.
Até preferiria falar com ela do que com o Dante. Conversar com
uma porta seria mais atrativo do que falar com ele. Assim que íamos
prosseguir com a conversa, a campainha tocou tirando a nossa atenção,
fazendo-me olhar para a porta.
— Com licença! — disse Hope, levantando-se para atender a porta.
Vi que a Hope estava de babydoll rendado. Que bela bunda!
— Mãe, atenda a porta, por favor, vou trocar de roupa — disse Hope
subindo as escadas rapidamente.
Vou matar o desgraçado que fez Hope trocar de roupa. Que inferno!
— Não sabia que o Capo faria uma visita a vocês — falou o rapaz
da porta. Ele era um dos Associados do Dante. Já havia visto ele rondando
por aí. — Depois eu volto...
— O que veio fazer aqui? — perguntei, interrompendo-o, notando
que ele ia embora.
— Dante pediu para que eu ficasse de olho nelas — respondeu.
— Não precisa voltar depois. — disse sério. — E se disser a
alguém ou ao Dante que me viu aqui, eu corto a sua garganta.
— Não falarei, senhor! — falou, logo indo embora.
Não queria que já rolasse boatos de que me viram na casa dos
Bellini aquele horário.
Já que ainda não disse quem eu escolhi como esposa, já teria
pessoas desconfiando que seria a Bellini.
— Podemos continuar? — perguntei
— Sim! — respondeu Esther.
— Senhora Esther, apesar da sua filha ser um tanto atrevida, eu a
escolhi a para ser a minha esposa — disse sem muita enrolação. — Só que
para termos uma boa relação, venho informar que não prometo ser fiel e
muito menos ser um bom marido. Sabe que eu estou livre para fazer o que
quiser da minha vida perante a nossa lei. Não que você precise saber disso,
mas não sou um canalha como todos imaginam, então deixo claro o meu
temperamento e arrogância tanto para a senhora, como para a sua filha.
Estou sendo sincero porque eu sei que o Enzo é muito próximo a vocês e
não queria ter problemas com isso futuramente, já que eu considero Enzo
como um irmão.
— Não precisa se explicar, senhor. — Falou. — Fico agradecida por
escolher a minha filha. Espero que ela seja feliz!
Esther não parecia que gostava de expressar a sua real opinião. Pelo
que o Enzo me falava do sogro, o cara era um demônio.
— Posso ficar a sós com a sua filha? — perguntei.
Logo a senhora se levantou e subiu para olhar a outra filha. Me
levantei, indo me sentar mais próximo da Hope.
— Queria deixar as coisas claras agora com você — falei, a
encarando. — Você será a minha esposa e me dará um herdeiro como já foi
lhe avisado. Tenha mais disciplina e não teremos problemas. Saiba dos seus
limites dentro da nossa casa e de como se portar perante os outros. Também
te aviso que não haverá amor na nossa relação, será mais fácil para ambos
de nós conviver um com o outro.
— Tudo bem! — falou. Ela não parecia está muito animada, eu
também estava pouco me fodendo. Só queria ter logo o meu herdeiro, antes
que me tirassem o título de Capo ou continuassem me cobrando um
sucessor. — Me desculpe por ter sido rude ontem. Não sou assim e me senti
muito mal por ter sido grosseira com você.
— Eu não me importo com o que você faz, mas não ouse me
destratar daquela forma — disse. Apesar de tudo, ainda sou o Capo e as
pessoas a vissem me tratar da forma como me tratou, teria mais pessoas
achando que podem fazer e falar o que quiser aqui comigo e com a
liderança. — Enfim, quero que o casamento aconteça o mais rápido
possível.
E novamente alguém chamou lá fora, atrapalhando a nossa
conversa.
— Me desculpe, eu tenho que atender — disse Hope.
— Vocês recebem muitas visitas — falei, um pouco impaciente com
essas interrupções.
— Ah, não, a Kitty vai para um aniversário e a mãe de uma amiga
veio buscá-la. Nos dias normais, não vem muita gente aqui — disse Hope
de frente a escada. — Kitty, a moça chegou!
A garota veio correndo lá de cima, com algo nas mãos.
— Arrume aqui, por favor, a mamãe não soube colocar — pediu.
Hope colocou no seu cabelo as presilhas e conferiu seu trabalho.
— Pronto, está linda! — disse Hope. — Vá, antes que a moça
reclame.
— Tchau, Capo! — disse Kitty acenando para mim, enquanto eu
retribuía com um sorriso.
Gostava da pequena. Vi o horário e já estava dando a minha hora de
sair.
— Tenho que resolver umas coisas. — disse, ficando em pé. —
Hoje à noite você irá para a minha casa, mandarei alguém vir lhe buscar.
Pode usar qualquer roupa, Suzi só vai lhe ajudar quando tiver algum evento
para ir.
— Ah, está bem! — respondeu um pouco nervosa.
Ela pareceu um pouco desconfortável ao saber que iria para a minha
casa à noite.
— Não se preocupe, não é o que imagina — disse, enquanto me
aproximava dela. — Quero resolver algumas coisas do casamento e que
também leia o contrato pré-nupcial. — Mantive o meu sorriso mais
cafajeste e me aproximei do seu ouvido. — Depois que nos casarmos, você
não me escapa.
Encarei seus lábios e na mesma hora quis prová-los. Então eu a
beijei sem aviso. Apertei a sua cintura, enquanto minha língua passeava
pela sua boca. Coloquei a mão próximo do seu rosto, enquanto o beijo se
aprofundava ainda mais.
E não é que a garota tímida beijava gostoso? Estava surpreso, não
nego, Hope era muito intensa e não demostrava ser assim. Quando o beijo
começou a esquentar, eu só queria jogá-la naquele sofá e tirar a sua roupa,
mas infelizmente o meu informante já devia estar me esperando. Afastei-me
dela e mantive o meu sorriso malicioso.
— Mal posso esperar para ter você na minha cama — disse.
Não esperei que falasse nada, despedindo-me e saindo da sua casa.
Ainda estava extasiado pelo beijo dela, talvez pela surpresa dela beijar tão
bem. Entrei no meu carro, indo me encontrar com o meu informante, o
Josh.
Algumas quadras dali, encontrei com o Josh em um parque.
— Bom dia, senhor! — disse Josh assim que eu me sentei ao seu
lado. Ele me entregou o jornal e começamos a conversar. — Aí tem os
dados da transação para o Sr. Carbone que ele me pediu.
Olhava a página do jornal com um pen drive preso.
— Sobre os ataques, descobriu algo? — perguntei.
— Não, já tentei de tudo, sempre que eu chego perto, o meu sistema
é invadido ou eles limpam as provas dos locais que deixam, antes de eu
chegar até lá — falou. — Eu só conto para o senhor sobre o caso, não sei
como estão descobrindo onde eu estou e que horas eu estou em
determinados locais.
— Eu sei que é alguém de dentro — disse, passando a mão no
cabelo.
— Já investiguei a sua família e a todos da liderança, estão limpos
— falou.
— Fique de olho e me informe assim que souber de algo. — Fiquei
de pé. — Está precisando de alguma coisa?
— Não, senhor! — falou.
— Tem certeza?
— Sim! — respondeu.
— Me ligue se tiver problemas — disse, colocando a mão no seu
ombro, me despedindo dele.
Creio que estamos perto, mesmo que não tenhamos descoberto nada
que incrimine alguém, sinto que esse ano eu descobriria.
Já a noite, estava a caminho de casa. A porra da mercadoria ainda
não foi encontrada. Enzo estava puto, pois entraram em seu sistema para
liberar a entrada e apagar as filmagens das câmeras de segurança.
Hope já deviria ter chegado na minha casa, eu estava muito
atrasado. Assim que cheguei em casa, caminhei até a cozinha, já sentindo o
cheiro da comida da Lucy.
Quando entrei na cozinha, a Hope estava cortando algo e a Lucy
olhava as panelas no fogo. Elas conversavam sobre algo da comida. Fazia
um tempo que não via a Lucy tão feliz em conversar com alguém.
— Boa noite! — disse.
— Achei que não viria mais — disse Lucy vindo me abraçar.
— Lú, por favor, pegue o envelope que está no meu escritório —
pedi.
Hope ainda estava de costas, lavando as mãos na pia.
— Não me deu atenção quando eu cheguei, por quê? — perguntei
assim que me aproximei dela, afastando algumas mechas do seu cabelo que
caíam na lateral do seu ombro, dando beijos em seu pescoço.
— Estava ajudando Lucy e queria terminar logo para não atrapalhá-
la aqui — respondeu.
Ela disse qualquer coisa que veio à cabeça. Sabia de seu desconforto
com presença e adorava vê-la corar por qualquer coisa.
— Está muito bonita, senhorita Bellini! — disse a virando para
encará-la.
— Obrigada! — Agradeceu.
Não resistir e comecei a beijar o seu rosto, próximo da sua boca.
— Eu estou me segurando — disse pausadamente ainda a beijando.
— Para não te arrastar para o meu quarto agora.
— Está aqui, Lorenzo — disse Lucy nos atrapalhando.
— Obrigado, amoré mio! — agradeci, levando a Hope comigo para
a sala.
Hope se sentou no sofá, se mostrando está mais desconfortável que
antes.
— Quer? — perguntei oferecendo um copo de whisky.
— Ah não, obrigada! — respondeu.
Me sentei bem próximo dela, com o documento ainda em mãos.
Notei que ela ficou nervosa pela minha proximidade, enquanto bebia o resto
do líquido que estava no meu copo.
— Vamos começar! — falei. — Aqui diz tudo o que você tem
direito. Leia e diga se concorda com algo ou não.
— Posso riscar? — perguntou.
— Sim, é só uma cópia, a original é feita depois da decisão final.
Entreguei a ela uma caneta que estava no bolso do meu paletó. Ela
saiu do sofá, logo se sentando no chão, apoiando o papel na mesa a sua
frente. Gostava da simplicidade que ela esbanjava. Não se importava de
perder a pose ao meu lado.
Ela começou a ler, enquanto se mostrava entretida com o que tinha
no documento.
— Tem algo aqui que eu quero mudar — disse Hope, logo riscando
o papel.
— Você vai acabar me deixando louco! — disse, me sentando perto
dela. Realmente achei que ela aceitaria tudo calada. — O que quer mudar?
— Se a gente se divorciar, não quero 40% dos seus bens — falou.
— Quero apenas essa quantia para que eu consiga me estabelecer e ter uma
vida boa até conseguir trabalhar.
Olhei o valor sem acreditar que ela queria aquela mixaria.
— Só isso? Até um relógio meu é mais caro — disse. — Aumente
mais esse valor.
O que ela pretendia com aquilo?
— Não, eu só quero isso e nada mais — respondeu firme.
— Você realmente é difícil de lidar — disse.
Esperava que ela mudasse o gênio quando nos casássemos. Não
aguentaria ter que lidar com suas opiniões sempre.
Ela voltou a ler o papel a sua frente. A observei ainda mais. Ela nem
percebia as manias que tinha. Colocava a caneta entre os lábios e franzia a
testa quando não entendia algo. Ela olhava para o lado, pensando no que leu
e logo voltava a ler cada palavra tão atentamente que nem se importava com
o seu redor.
Sentei-me atrás dela, começando a beijar o seu pescoço, passando as
mãos na sua coxa, subindo lentamente. Sabia que estava atrapalhando o seu
raciocínio, mas não ia parar.
— Isso nem pensar! — disse Hope e eu revirei os olhos. — “... Por
consenso do pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação autônoma de
separação, de divórcio, de dissolução de união estável ou em medida
cautelar, o pai ficará responsável pelo menor, e o mesmo decidirá se a
progenitora poderá ter relação afetiva com a criança”. Isso é sério?
— É óbvio que se a gente se separar, eu não vou deixar meu filho
com você — disse.
Hope ficou em pé e eu fiz o mesmo, encarando-a.
— Você quer dizer o "nosso" filho — falou, dando ênfase. — Não
acredito que você pensa que se chegássemos a ter um filho e se nós nos
separássemos, eu não iria querer mais a criança.
— Por que você não consegue aceitar as coisas e ficar calada? —
perguntei aumentando o tom de voz.
— Não, isso não é negociável — falou. — É uma criança, Lorenzo.
Sabe como ela se sentiria se fosse abandonada pela própria mãe? Pois é isso
que ela acharia, que foi abandonada. Não sei com que tipo de mulheres que
você se relaciona, mas eu não sou assim.
— Isso não é assunto seu. Eu que decido o que é melhor para o meu
filho, porra!
— Eu não vou assinar isso! — falou, cruzando os braços. — Uma
coisa é se estivesse aí dizendo que eu ainda podia ter contato com ele, mas
nem isso tem. Tenho que ver se VOCÊ vai querer deixar eu ver o meu
próprio filho? Isso nunca vai acontecer!
A ragazza conseguia me tirar do sério.
— QUE PORRA, HOPE! — gritei, jogando o meu copo de whisky
no chão.
Por causa do barulho, Lucy apareceu preocupada na sala. Estava de
saco cheio das opiniões de Hope e de todo mundo sempre querendo
interferir nas minhas decisões. Estava tendo tantos problemas sobre os
roubos da minha mercadoria e os atentados que logo explodi de raiva e não
consegui mais me controlar.
— Por que caralhos você sempre tem que achar que a fodida da sua
opinião vai contar em algo? — falei, andando de um lado para o outro. —
Seja a porra de uma esposa que você foi treinada para ser, caralho! Que
merda seus pais te ensinaram?
Gritava com a ragazza a minha frente. Ela apenas observava tudo
calada. Vi que o seu corpo tremia de medo, mas não me importei. Ela
precisava saber qual era o seu lugar aqui. Fui em sua direção, já indo
castigá-la pelo seu atrevimento, mas quando levantei a mão para lhe bater,
ela fechou os olhos e se encolheu no canto da parede.
Por questões de segundos veio na minha mente a primeira vez que
eu quase bati na minha filha. Ela havia ficado daquele mesmo jeito. Fechou
os olhos esperando a surra vir. Eu congelei por um tempo, ainda me
culpando por ter levantado a mão para minha filha.
Hope abriu os olhos lentamente. Vi que seus olhos estavam
marejados, ela estava tão assustada que nem sabia para onde olhar, se era
para mim ou para minha mão que ainda estava erguida. Sua respiração
estava desgovernada, talvez pelo desespero. Abaixei a minha mão,
afrouxando a minha gravata, saindo da sala.
Subi para o meu escritório, tentando me acalmar. Liguei para o
Enzo, ele sempre me ajudava a colocar a cabeça no lugar. Eu perdi o
controle das minhas ações como sempre acontecia. Eu não conseguia mais
racionar e agir. Eu só explodia. Sentia raiva, raiva de mim, raiva da vida,
raiva de tudo.
Fiquei ali, sentado e bebendo, tentando ficar calmo. A foto da minha
filha em cima da mesa me ajudava a me acalmar, mas não tirava a raiva de
dentro de mim. Há 5 anos atrás eu não era assim, como acabei nesse
estado!? Depois daquele ano, foi quando os meus surtos fugiram de
controle. Eu matei metade da minha segurança, só por raiva.
Onde eles estavam quando a minha filha foi morta? Na verdade, isso
era só uma forma de não pensar na minha culpa. Onde eu estava quando ela
morreu? Era fácil eu falar dos outros, tentando tirar esse peso que eu sentia
em mim, mas não tinha como esquecer o meu erro nessa história.
— O que houve, irmão? — perguntou Enzo entrando no meu
escritório.
— Hope, esse é o meu problema — disse jogando a garrafa de
whisky no chão. — Até ela quer me tirar o que eu tenho, no caso, o que eu
vou ter em breve.
— Se acalme, Lorenzo — falou. — Me explique o que porra está
acontecendo aqui?
Então eu o fiz.
— Você só pode estar de sacanagem, Lorenzo? — perguntou Enzo
se levantando puto do sofá. — Ela está certa, porra! Se coloque no lugar
dela também. Você não quer perder e ela tem que perder esse "filho"
também?
— Agora deu para defendê-la? — perguntei. — Eu não vou permitir
perder mais ninguém.
— Essa não é a questão — falou. — Se eu falasse para você que
quando seu filho nascesse, eu iria tirar a criança de você e nunca mais
deixaria você vê-lo, o que você faria?
— Te matava antes mesmo de deixar tocar em um filho meu —
disse.
— Você não pode ficar sem, mas a Hope pode? Ela também será
parente desta criança, irmão. Vocês nem tiveram um herdeiro ainda e já
discutem sobre isso. Se coloque no lugar dela, Lorenzo — disse Enzo. —
Sei que com morte da Antonella você tem medo de perder alguém
novamente, mas não faça isso com a Hope.
— É só eu arranjar outra esposa, tenho certeza de que as outras não
vão nem argumentar comigo sobre isso — disse. — Eu não vou ceder e
perder ninguém de novo, Enzo.
— Quem você quer encaixar agora? A Luna D'amico? Me poupe,
Lorenzo, você sabe que ela não está nem aí para criança alguma, só quer ter
o título de esposa do Capo — falou.
— Não me importo com isso, sempre estão querendo o que eu posso
oferecer, só será mais uma — falei.
— Então você quer que seu próximo filho sinta a mesma sensação
que Antonella sentia quando Alessandra estava pouco se fodendo pela vida
da sua filha na frente dos outros? Ela poderia entender a mãe, mas ela sentia
o peso das palavras. — perguntou. — Se não fosse por você, ela até hoje
não teria ninguém por ela aqui nesta casa.
— Se eu não a amasse, ela estaria viva — disse.
— Irmão...
— Não quero falar disso — disse.
Preferia sofrer sozinho. Talvez por isso nunca superei a morte dela.
Não senti todo o luto como deveria.
— Não estou falando agora como o seu Consigliere, mas sim, como
o seu melhor amigo — disse Enzo colocando a mão no meu ombro. — Não
faça algo que se arrependa depois. Sei que está com medo. Medo de amar
alguém novamente, medo dos seus inimigos usarem isso contra você de
novo, medo de perder alguém, mas você tem que superar, irmão. Foi trágico
o que aconteceu, eu sei que foi, eu estava lá. Até hoje não consigo dormir
direito lembrando daquela cena. Eu sei que é difícil e eu vi o que aconteceu
com você nesses últimos anos. Eu só quero o seu bem, sabe que eu estou
falando a verdade. Você está se perdendo de si mesmo, está se tornando um
estranho para você mesmo.
— Vou pensar no que fazer — disse me sentando na poltrona. —
Vou resolver isso ainda hoje.
— Eu tenho que ir! — falou. — Posso levar a Hope para casa?
— Não, eu mando alguém levá-la depois, vou logo resolver este
assunto com ela.
— Se cuida, irmão! — disse Enzo saindo do meu escritório.
Eu não sei o que fazer. Porra, minha cabeça doía. Eu me sentia
perdido e sufocado. Depois de um tempo, desci para ver se eu me resolvia
com a Hope, logo a encontrei dormindo no sofá.
— Vou levar ela lá para cima — disse para Lucy assim que ela
também retornou para sala. — Fique com ela, caso acorde e estranhe o
quarto. De qualquer modo, não tire os olhos dela.
Coloquei Hope na cama e olhei cada centímetro do seu corpo. Ela
estava ainda mais linda dormindo. Era ótimo quando sua boca ficava
calada. Voltei para o escritório e fiz o que Enzo havia me dito. Me coloquei
no lugar da Hope. Qualquer coisa se ela me der muito trabalho depois de
uma separação, eu a mato.
Pedi para o meu advogado reescrever o documento. Já estava de
madrugada quando ele me mandou os papéis modificado. Coloquei no
envelope e fui deixar no quarto onde Hope estava.

De manhã, enquanto eu me arrumava para ir para o quartel,


estranhei uma batida na minha porta. Logo o envelope passou pela fresta.
Assim que abri, encontrei a Hope agachada de frente a porta.
— O que está fazendo? — perguntei.
— Eu vim entregar o envelope — disse Hope ficando em pé.
Quando ela ia sair, eu a agarrei fazendo com que ela entrasse no
quarto.
— Você está fodendo com o meu juízo. — disse, beijando-a sem
aviso.
Começamos a nos beijar, enquanto eu caminhava lentamente para
trás trazendo a ruiva comigo. Me sentei no sofá, colocando-a em meu colo.
O beijo dessa ruiva era muito bom! Não sei se por toda essa inocência que
ela transparecia, mas quando eu a beijava, já tinha vontade de tirar toda a
sua roupa e a jogar na minha cama.
Passei a mão por baixo do seu vestido, apertando a sua coxa.
Quando senti meu membro se animar, Hope parou de me beijar e me
encarou.
— Não vou forçar, mas pare de me deixar louco — disse.
Isso era quase impossível, até a respiração dela me excitava. Talvez
por ela não ter se entregado de primeira me deixou curioso para descobrir
mais o que ela era capaz.
— Eu tenho que ir para casa — disse Hope.
— Andiamo, eu te levo!
Coloquei ela de pé e caminhei para o closet para tentar me arrumar e
não pensar na mulher que estava no meu quarto. Coloquei a gravata e o
relógio, saindo do closet em seguida. Quando voltei, vi que ela encarava os
livros ao seu lado.
— Me desculpe por ter sido enxerida — disse nervosa.
— Este quarto será seu em breve, mas há lugares que eu não quero
que esses seus olhos cheguem perto — falei, interrompendo-a. — Vou falar
com a Lucy para te dizer as regras da casa. Enquanto isso, não olhe e não
toque em nada que você não tenha a certeza se pode estar ou não quebrando
uma regra. Entendido?
— Sim! — disse Hope.
— Desça, vou fazer uma ligação agora — pedi.
Assim que ela saiu, tratei de ligar para um dos Juízes.
— Bom dia, Capo! — falou assim que atendeu.
— Bom dia! — disse. — Sabe dizer se os Conselheiros resolveram
o resto da documentação com os russos?
— Sim, já está tudo de perfeito acordo — falou. — O Collalto vai
enviar hoje o acordo para que o senhor olhe e avalie. Já tem alguns anos
que estamos enrolando os russos, vamos tentar resolver isso logo essa
semana.
— Mandem que me envie para o meu e-mail — falei. — Estou indo
para o quartel agora.
— Desculpe perguntar, mas por que não ligou para eles de
imediato?
— A lerdeza deles me incomoda — respondi. — Sobre o roubo da
carga, também resolverei hoje ou amanhã.
— Certo, aguardaremos para punir quem estiver por trás disso —
falou.
Desliguei a ligação e saí do quarto.
Assim que cheguei na cozinha, não encontrei nem Hope e nem a
Lucy. Caminhei para o jardim e as vi conversando, enquanto Lucy cuidava
da sua horta.
— Andiamo, senhorita Bellini! — A chamei. Ela veio para perto de
mim, já com o semblante de que queria pedir algo. — O que quer?
— A dona Lucy vai mexer nas flores amanhã e disse que não se
incomodaria se eu viesse ajudá-la — falou. — Posso vir amanhã de manhã
para ajudá-la?
— Nunca viu um cultivo de flores? — estranhei.
A minha mãe esteve muito mal depois da perda da minha avó.
Como o nome dela remetia as flores, a ligação que ela teve com elas foi
muito rápido na sua recuperação.
Uma forma de unir a nossa família, ela nos chamava para participar
do cultivo depois de tudo que aconteceu.
Os meus irmãos não estavam muito felizes com isso, então eu
aceitei ajudá-la.
A proximidade e a mudança que eu vi nela, me deixou mais
confortável com a sua presença.
Isso facilitou muito na minha relação com a minha filha, apesar de
não ter tido tanto tempo com ela para fazer atividades como essa, o pouco
que tivemos nos uniu ainda mais.
Com isso, os meus irmãos até tentaram participar por minha causa,
talvez em me ver bem com ela, mas eu via que eles só faziam parte porque
eu decidi fazer. Como sempre a iniciativa partia de mim para muitas
decisões da família, mesmo antes de me tornar o Capo, não só os meus
irmãos, mas todos os membros da minha família começaram a se importar
muito no que eu decidia, talvez por isso me viam tanto como líder antes
mesmo de liderar a máfia italiana.
— Meu pai não gostava de nada que desse um ar de paz na casa —
respondeu. — Então nunca presenciei nada disso.
O Dante realmente era um saco, puta que pariu.
— Pode vir se quiser — respondi. — Agora vamos logo, eu tenho
que resolver uns assuntos ainda.
Ela correu para falar com a Lucy e logo voltou ao meu encontro.
Entramos no carro e seguimos caminho para a casa da Hope. Aproveitei
para ligar e resolver uns assuntos da boate com o Rubens.
Assim que chegamos, ela já ia sair do carro quando eu a segurei.
— Não está esquecendo de nada? — indaguei, colocando o celular
no meu peito para abafar o som da nossa conversa para Rubens não escutar.
Hope veio para perto de mim novamente e me beijou.
— Senhor? — Escutei Rubens dizer.
Inferno!
— Estou aqui, continue! — respondi parando de beijar a ruiva.
Ela saiu do carro e eu fui para o quartel.
No outro dia, olhei toda a papelada da aliança com os russos. Não
deu tempo de ir no depósito ver sobre o roubo da carga. Enzo estava
cuidando disso para mim, junto dos meus irmãos. Bianca estava aqui, já que
o seu pai estava em uma reunião aqui no rifugio com alguns investidores.
— Vamos, vai ser rápido, ele está ocupado — insistia ela pela
milésima vez.
— Você está enxergando quantas papeladas eu tenho que preencher
hoje? — disse apontando para a minha mesa. — Eu não estou com tempo.
— O nosso acordo era sempre estar disponível, eu sempre estou
para você e quando é comigo, você sempre coloca a máfia em primeiro
lugar — reclamou.
— Porque eu sou o Capo, caralho! — disse. — Você não faz nada
aqui, então não diga que só porque você tem tempo livre, eu também tenha.
Logo os meus homens me ligaram, perguntando se poderiam intervir
na ruiva que passeava pelo jardim da mansão. Nem um minuto de paz.
Lembrei que ela ia vir ajudar a Lucy com suas flores. Que diabos ela
quer fazer passeando pelo jardim? Depois da morte da Antonella, eu não
confiava em nada, principalmente no jardim, onde havia espaço suficiente
para alguém entrar e se esconder.
Era o lugar da casa em que ela mais estava sozinha. Quando criança
vi minha mãe criar forças enquanto usava as flores por um meio de se
ocupar. Apesar de nunca as ver da forma que ela via, foi assim que me
aproximei dela como filho. Também usei o que aprendi para fascinar a
mente brilhante da minha filha. Hoje, olhar para as flores me doía, um dos
motivos de sempre evitar ir ao jardim.
Saí do rifugio, abandonando tudo e indo encontrá-la, já que avisei
meus homens para não irem até ela.
Hoje eu pego essa ruiva!
Bianca estava comigo, igual uma sombra, como sempre.
Talvez ela ainda achasse que eu lutaria para que ela fosse a minha
esposa, para finalmente ter o título de esposa do Capo como ela tanto
almejou ter.
Porra estava ficando de saco cheio dela enfurnada comigo. Era bom
antes, até que ela começou a se apegar, mesmo sabendo que a nossa relação
era carnal. Talvez por querer tanto que eu gostasse dela e lutasse para fazer
dela minha mulher. Ela não queria só a mim, mas também o título, então se
fosse para escolher, eu escolheria alguém melhor.
Vi só um ponto laranja na ponte, caminhando até lá. Aquilo ainda
me arrepiava, me trazia lembranças horríveis, mesmo não sendo aqui.
— Que merda você acha que está fazendo? — perguntei assim que
me aproximei da ruiva. Aqui tem muitos pontos cegos, é só atirar e nem
saberia o que lhe atingiu.
— Eu não encostei em nada — falou rapidamente. — Só vim olhar
a paisagem.
— E quem disse que poderia vir até aqui? Tenho certeza que a Lucy
não foi — falei, enquanto olhava para todos os lados tentando ver se não
tinha ninguém mirando uma arma nela. — Saia logo daí!
— Eu achei que podia...
— O seu trabalho não é pensar, esqueceu? — Me aproximei dela,
segurando o seu braço pronto para arrastá-la até a minha casa. Porra, se
tiver alguém por aqui, todos nós estaremos mortos.
Há alguns anos privei a saída tanto da Lucy, como da minha filha
para este lado do jardim. Havia muitos pontos cegos e mesmo com a
segurança fazendo a vigia, ainda sim não me sentia seguro aqui fora.
— Não precisa me arrastar, eu sei o caminho — falou, tentando se
soltar de mim.
Sei lá que porra aconteceu, só sei que caí no lago com ela.
Este dia não pode piorar, puta merda!
Comecei a nadar para a margem, mas notei que a Hope não me
acompanhava.
Ela não sabia nadar? Nadei até ela, segurando-a firme, enquanto
nadava até a margem do lago.
— Você não sabe nadar? — questionei ainda ofegante.
— Essa daí nunca deve nem ter visto uma piscina — disse Bianca
colocando sua mão em meu peito — Está bem, querido?
— Fique na sua, Bianca! — respondi ríspido.
A última coisa que eu queria hoje era confusão, e conhecendo a
Bianca e suas artimanhas, não duvidaria que ela começaria a encher o saco
da ruiva.
— Meu pai não nos deixava nem ter um jardim com flores em casa
— falava tentando recuperar um pouco de ar. — Acha mesmo que nos
deixaria ter uma piscina?
Lembrei do nosso "encontro", ela havia informado sobre isso.
Bianca também não ajudava muito, ficava em cima de mim direto. Minha
paciência estava se esgotando. Meu dia já começou errado.
— Que porra de dia! — disse.
Bianca tirou sua blusa para me enxugar. Quis rir, mas ver os seus
seios me deixou até que excitado. Antes que eu observasse se a ruiva estava
intacta, ela se levantou e saiu dali. O seu vestido marcava muito bem suas
partes, principalmente no quadril.
Me levantei e a segui para dentro da casa.
— Vai aonde? — perguntou Bianca.
Quando vi que ela sairia, segurei o seu braço.
— Quem disse que você podia sair dali sem a minha permissão? —
perguntei.
— Você mesmo, quando me mandou sair de perto do lago quando se
aproximou de mim — falou.
— Ragazza... — disse, sendo interrompido pelo espirro de Hope.
Só o que me faltava era ela gripar para o dia fechar com chave de
ouro. A levei para o meu quarto e lhe dei uma blusa e uma cueca para que
ela tirasse suas vestes molhada.
— Vista isso.
— Pode me dar uma calça sua? — perguntou.
Quis ri, mas resolvi me segurar.
— Já falaram que você é estranha? — perguntei, entregando-lhe
uma calça moletom.
Hope fazia de tudo para que os meus olhos não ficassem sempre em
seu corpo. Era difícil, já que essa ragazza tinha um belo par de peitos e uma
bela bunda. Enquanto ela se trocava no banheiro, troquei minha roupa no
closet, ficando apenas com uma calça.
Ela saiu do banheiro e, mesmo coberta, estava muito linda.
— Acho que usei sua toalha para me enxugar. Procurei no armário e
era alta de mais para que eu conseguisse alcançar — falou.
— Não tem problema! — disse.
Não consegui não imaginar aquele corpo sem nenhuma roupa. A
agarrei pela cintura, não deixando que saísse.
— Lorenzo... — sussurrou.
— Gosto de quando fala o meu nome — disse no seu ouvido. —
Adoraria ver você o gemendo.
Ela pareceu não gostar do que eu havia dito.
— O que foi? — estranhei.
— Nada! — respondeu.
Ela olhava a cicatriz que eu tinha no peito, se segurando para
perguntar como eu havia feito. Como sempre curiosa.
— Se quer tocar, toque — disse, após ela ter tirado sua mão.
— Eu posso perguntar como você conseguiu isso? — perguntou.
— Gosto de quando você pergunta antes de falar — disse dando um
beijo no seu pescoço. — O que eu recebo em troca por dar uma informação
tão pessoal minha?
E a ruiva me beijou.
Adorava quando ela tomava a iniciativa. Aproveitei para percorrer
com as minhas mãos todo o seu corpo, apalpando sua bunda empinada.
— Gosto de como você troca informação — disse.
Contei do ataque que tive há 4 anos, quando ganhei a cicatriz.
— Doeu muito?
— Você quer saber se uma facada no peito doeu? — Ri da sua
pergunta. — Doeu para caralho!
— Se fosse comigo, eu teria chorado até desmaiar — comentou.
— Não deixaria ninguém machucar você — disse. Ela se tornaria
minha esposa e a minha família, não deixaria que nada a acontecesse, até
porque ela se tornou a minha responsabilidade e eu me tornei a
responsabilidade dela perante a nossa lei. — Enquanto eu viver, te
protegerei. Enquanto for minha, ficará segura ao meu lado. Se manter
presente ao meu lado, não te faltará nada. Será a minha família e me dará
um filho que será a continuação dela.
— Posso pedir algo a você? — perguntou.
— Depende do que for — disse.
Ela ficou um pouco acanhada, mas logo criou coragem para
perguntar. Enquanto isso, a sentei no meu colo, enquanto eu estava sentado
na cama. Desci a blusa no seu ombro, a beijando e dando leves mordidas.
— Você poderia parar um pouco com isso, não consigo me
concentrar e reformular as palavras — disse Hope e eu ri.
Ela queria mudar o dinheiro que eu enviaria para família na sua
ausência para a sua mãe. Desde que a conheci era nítido que não se dava
bem com o pai, mas não entendia por que daria todo para mãe.
— Por que para o nome da sua mãe e não para o do seu pai? —
perguntei.
— Pode ou não?
— Responda a minha pergunta também — falei.
— Você não respondeu a minha primeiro.
— Posso sim, satisfeita? — disse. — Agora responda a minha
pergunta.
Ela me fez prometer não contar a ninguém. Coitada, ela não sabe
que não pode confiar em mim e nem em ninguém daqui?
— Sim, estou esperando você continuar — insisti.
— Não quero mais falar! — Cruzou os braços.
Por fim, ela finalmente me contou sobre esse mistério.
— É que a minha mãe quer se separar do meu pai. Sei que nós
mulheres não podemos ter nossa independência no casamento, mas sei que
a minha mãe quer ter a dela. Então quero passar o dinheiro para ela, para
que ela e a Kitty possam recomeçar longe do meu pai e da família dele —
disse Hope. — Você acha que isso pode se tornar um problema para ela
depois?
— Na minha concepção, só se seu pai não aceitasse o divórcio, o
que pode ocasionar a ele perseguindo a sua mãe. Eu falarei com o Federico
hoje e pedirei para ele colocar a sua mãe para receber esta quantia e que
ajude perante a nossa lei na separação — informei.
A surpresa de uma separação vindo me pegou desprevenido. A mãe
se separaria e assim seria livre do Dante.
— Obrigada!
Eu nem me importava, contanto que ela esteja no casamento para
dizer o maldito sim, não ligava para quem mandaria o dinheiro, com quem
ficaria ou o que fariam com ele. Desci com Hope, já que eu tinha que
resolver mais uns assuntos. Por educação e com um olhar mortal da Lucy
para mim, a chamei para almoçar, ela logo negou. Tinha muita coisa para
resolver e bater papo hoje não era muito o que eu queria.
— Tchau! — disse Hope se despedindo. Ela logo me deu um beijo,
eu fiquei até surpreso.
A ragazza foi bem treinada para ser um exemplo de esposa amável.
Bato palmas para senhora Esther.
— Temos um problema, senhor! — disse Red, um dos meus
seguranças mais confiáveis.
— Bianca, vá para casa! — disse, enquanto colocava o meu paletó.
— Lorenzo... — disse Bianca e eu a interrompi.
— Me faça repetir e eu te mato — disse puto. Porra, mais um
problema. Ela se levantou e saiu, me deixando com o Red. — O que
aconteceu?
— Um dos soldados está envolvido com a carga roubada — falou.
— Conseguiram o pegar, mas a droga que ele roubou não recuperaram.
— Leve-o para o rifugio. Faça o que quiser com ele, só não o mate,
quero vê-lo depois — disse. — Vou ter uma reunião sobre a nova aliança
com a liderança agora, então cuide dele para mim.
Os ataques recorrentes estavam voltando. Havia uma época
específica para ele aumentar que é quando formamos alianças ou temos
pessoas que nos preocupamos por perto.

Depois da minha reunião com a liderança, fui para o meu escritório


no quartel.
Suzy passou o dia infernizando sobre o que eu queria no casamento.
Na verdade, estava pouco me fodendo, mas tinha que mostrar aos nossos
aliados e patrocinadores que eu estava me casando. Um herdeiro vinha logo
em seguida, me livrando das cobranças feitas pela liderança.
— Como está indo com a organização do casamento? — perguntei,
dado a Suzy atenção que ela queria enquanto estava em ligação com ela. —
Irão pessoas importantes, escolha tudo do melhor. Veja se a Hope quer
mudar algo e me avise.
— Ela não parece que vai se importar — comentou.
— Ela está aí? — perguntei. — Por que ela não está interessada?
— Sim, senhor, ela nem se importa com o que vai acontecer. Estou
tendo muito trabalho com ela.
— Peça para que ela coopere para este casamento acontecer o mais
rápido possível.
— As moças que estão me ajudando, estão reclamando muito da
senhorita Bellini. Ela não está dando sua opinião sobre o que ela quer,
então sei que terei problemas com isso.
— Nenhum sossego, nem com porra deste casamento — disse
passando a mão no rosto.
— A senhorita Alessandra está aqui, ela veio ajudar no casamento
— comentou. — Muito boa ela, mas parece que a senhorita Bellini não
gostou e já está indo embora.
— Passa o maldito celular para a Hope — ordenei.
— Sì? — disse Hope logo na ligação.
— Está querendo morrer antes de se casar? — perguntei. Porra, é
problema com carga e agora com o meu casamento. — Vamos Hope, está
fazendo eu perder a minha paciência com você. Um dia eu vou perder e
pode ter certeza que você não vai gostar.
— Me escute.
— A Alessandra ainda foi aí para te ajudar e você nem para
reconhecer...
— Ela foi embora, senhor — disse Suzi.
Ela me deixou falando sozinho? Eu sou o líder, como ela ousa
desafiar e me desrespeitar dessa forma. Do jeito que os boatos se espalham,
logo vão ter pessoas falando sobre como eu aceito certos comportamentos,
mesmo sendo o Capo.
Desliguei a ligação, saindo da minha sala. Ela vai pagar por isso,
pode ter certeza.
Já estava estacionando na garagem de casa, pensando que com
certeza o Lorenzo surtaria pela minha rebeldia de agora a pouco. Não sei o
porquê de eu ter feito aquilo, nunca fiz isso nem com o meu pai, por que
justamente desliguei o telefone na cara do Capo?
Quando desci do carro, indo em direção a porta de casa, um ser
surge agarrando no meu braço. Lorenzo não disse uma palavra sequer e me
jogou, literalmente, dentro do seu carro.
Ele estava super bravo, bem mais do que da última vez.
Os seus seguranças que estavam no carro atrás, estavam tentando
acompanhar a velocidade de Lorenzo. Estava tão assustada com ele que
decidi ficar calada. Sabia que o que fiz foi errado, justamente por ele ser o
Capo, mas não achei que ele ficaria dessa forma.
Quando chegamos na frente da sua mansão, Lorenzo ao invés de me
levar para dentro da casa, estava me arrastando para o prédio ao lado.
Ele vai me matar!
Passamos pelo enorme portão, enquanto ele me arrastava para
dentro. Havia tantos seguranças que não acreditava que ter os visto mesmo
de longe.
Ainda sem dizer uma palavra, fomos para o elevador e ele apertou o
botão para irmos para o subtérreo. O desespero começou a me atingir
quando lembrei que a Lucy havia falado que ele torturava pessoas aqui. Era
para mim ser castigada, não torturada.
Quando as portas do elevador se abriram, meu pânico aumentou. Na
minha frente havia um enorme corredor e no final dele uma porta prateada.
O lugar tinha uma iluminação horrível, mal conseguia ver os meus pés.
Lorenzo deu duas batidas na porta de ferro e em poucos segundos
um segurança enorme apareceu. Olhei Lorenzo por alguns segundos e o seu
rosto brilhava em fúria. Lorenzo não tentou esconder sua irritação de
ninguém, mostrando o quão bravo ele estava. Sabia de seu posto e o que fiz
foi desrespeitoso ao seu cargo, mas ele estava bravo como se eu tivesse
feito algo imperdoável.
Quando entramos de vez, olhei ao redor e havia sangue por todo tipo
de canto. Tinham umas portas com grades e observei pessoas lá dentro,
como se fossem suas celas. Escutei gente pedindo por ajuda, gemidos de
dor e um mau cheiro de coisa morta.
Lorenzo abriu a porta mais a frente, mostrando um tipo de sala.
Havia um sofá muito surrado no canto, uma cadeira no meio, nela umas
algemas e mais a frente uma mesa cheia de equipamentos para tortura.
Ai meu Deus, tem como reverter o que eu fiz? Eu já gritei com ele
quando saímos, e ele justamente fica com raiva por eu não ter respondido a
sua ligação?
Droga! O que será que a Suzi havia lhe dito para ele ter ficado tão
enfurecido?
Ele me jogou no sofá e eu pude ver o quanto ele era assustador.
— Tragam o traidor! — disse Lorenzo aos seus homens. Logo os
seguranças saíram, nos deixando sozinhos. — Agora me diz, que merda
você tem na porra dessa sua cabeça em achar que pode me deixar falando
sozinho ao telefone? — Ele continuou me encarando, totalmente fora de si.
Nem parecia ele, estava totalmente diferente das outras vezes. — Sabe qual
é o seu problema? Você não me teme, o que te faz achar que tem liberdade
para falar e fazer o que quiser.
— Eu não fiz nada do que ela disse — falei, tentando não deixar
transparecer o meu medo.
— Sério? — perguntou sarcástico. — Então a Suzi, a vadia que
trabalha para mim há mais de 20 anos e a Alessandra, a mulher que morou
comigo por quase 10 anos, estão mentindo? Devo acreditar em você, uma
pessoa que eu conheço há poucas semanas por que mesmo?
— Escute... — Antes que ele me deixasse terminar, ele me deu um
tapa no rosto. Só senti a ardência, logo colocando a mão em cima de onde
ele bateu.
Eu apanhei a minha vida inteira do meu pai, mas nunca senti uma
dor tão forte como aquela. Que força sobrenatural era essa? A vontade de
chorar veio, mas eu me segurei. Não ia dar a ele esse gostinho.
Tentei me levantar do sofá, mas Lorenzo me impediu.
— Eu te disse inúmeras vezes que eu um dia ia acabar perdendo a
paciência com você — falou, enquanto me encarava. — Se você acha que
só porque eu respeitei a sua decisão de não se entregar para mim, você pode
fazer o que quer aqui, está enganada. Vejo que eu preciso te mostrar que eu
sou um monstro para que você entenda o que vai te acontecer se você me
desobedecer mais uma vez.
Quando Lorenzo terminou de falar, um homem todo machucado foi
colocado na cadeira um pouco a minha frente.
— Lorenzo... — tentei falar, mas saiu quase em um sussurro. — Me
escute...
Lorenzo se sentou ao meu lado, enquanto os seus homens prendiam
o rapaz na cadeira.
— Esse figlio di puttana delatou sobre as nossas drogas para os
nossos inimigos e ainda as roubou, quando foi pego pelos meus homens, foi
um tanto atrevido — disse Lorenzo me encarando. — Vou te mostrar o que
acontece quando não respeitam o Capo.
Lorenzo já havia tirado o paletó e afrouxado a gravata, ficou em pé
em seguida, me deixando analisar aquela situação. Levantou as mangas da
sua camisa e pegou um tipo de martelo caminhando para perto do rapaz.
Comecei a encarar o chão, com medo do que vinha a seguir. Seja lá o que o
Lorenzo faria com aquele homem, eu não queria ver, eu já sabia que aquele
era o meu castigo.
— Olhe para cá! — falou. Sua voz ecoou por todo o lugar, me
assustando ainda mais. — Se eu te ver desviando o olhar, nem que seja por
um segundo, deixo os meus homens acabarem com você.
Levantei o olhar, encarando Lorenzo. Ele parecia outra pessoa,
totalmente diferente. Ele era grosseiro, mas isso era outro nível. Era como
se ele não tivesse mais controle de si e não se importava de falar e fazer o
que quisesse, como se não se importasse com o que fosse acontecer. Por
poucos segundos ele me lembrou Lisa, quando já havia desistido de viver,
desistindo da própria vida. Só agindo como louca e magoando as pessoas
que estavam ao seu redor.
Estava assustada e com tanto medo que não sabia o que fazer para
me tirar dali. Segurei a barra do meu vestido, cravando as minhas unhas,
logo senti a dor da minha pele sendo arranhada por mim.
— Você foi desrespeitoso com a minha autoridade? — perguntou
Lorenzo para o homem a sua frente, mas sei que a pergunta era para mim.
— Sí, Capo! — respondeu o rapaz.
— Você foi desrespeitoso com a minha autoridade? — perguntou
novamente.
E o rapaz respondeu que sim novamente. Lorenzo deu uma
martelada em suas mãos e isso o fez gritar. Eu não consegui conter um grito
agudo com o susto e os gritos do rapaz de dor. Ele perguntou novamente e o
rapaz respondeu que sim. Ele deu mais uma martelada, agora em sua perna
esquerda. Estava com a mão na boca, para abafar os meus gritos.
— Você foi desrespeitosa com a minha autoridade?
— Sim! — respondi. Não queria assistir mais aquilo.
O rapaz me olhou sem entender o motivo pelo qual respondi a essa
pergunta, mas agora eu havia entendido, apesar do Lorenzo não está me
torturando fisicamente, ele estava me torturando psicologicamente. Ele
queria me mostrar que um dia ele me machucaria assim como machucou o
rapaz.
Sabia que aquele castigo era meu e não do traidor.
Não sei se Lorenzo não queria me ver com hematomas no dia do
casamento e por isso não estava me torturando fisicamente ou primeiro quis
mostrar do que era capaz caso eu desobedecesse novamente.
Lorenzo trocou o martelo por um ferro pontudo.
— Se sabe das regras, por que desobedece? — perguntou.
O rapaz olhou para mim mais uma vez. Eu não conseguia responder,
estava tão assustada e com tanto medo.
Tio Marco me deixava apavorada, mas o Lorenzo, ele me fazia
sentir que a qualquer momento seria eu ali. Ele queria que eu soubesse que
ele é louco. Como vou conseguir dormir todas as noites com esse louco ao
meu lado? Já que não houve respostas minhas, Lorenzo enfiou o ferro
pontudo no ombro do rapaz.
— Me desculpe! — disse chorando. — Eu não vou desobedecer as
suas regras, só não o machuque mais, por favor... Não o machuque!
Tirou o ferro do ombro do homem e jogou no chão, em seguida o
homem gemeu de dor.
— Você não devia estar preocupada com este traidor, mas sim com
você, Hope — falou.
— Me castigue se for por isso — disse, o encarando. — Eu que fiz
besteira, só para de machucá-lo na minha frente.
— Mas este é o seu castigo, ragazza — falou, soando como Capo
do que como Lorenzo. — Entende que na próxima vez será você ali!? — Eu
assenti. — Tirem ela daqui!
Um rapaz barbudo me levou para fora e eu estava tão desnorteada
que parecia que eu ia cair a qualquer momento. Assim que chegamos lá
fora, vi Lucy perto da entrada.
— Ele mandou eu vir pegar você.
Ela me levou para dentro da mansão, para o seu quarto.
— Aqui não tem ninguém nos observando ou ouvindo nossa
conversa — perguntou. — O que aconteceu?
Expliquei a ela e o que ele fez lá dentro.
— Ele nem me ouviu — disse. — Eu estava tão assustada!
Lucy me abraçou.
— Está tudo bem, meu anjo! — disse Lucy não surpresa pelo que
aconteceu. — Olhe, não sei se você agia assim com o seu pai, mas o
Lorenzo se importa muito com o que vão falar da sua autoridade aqui. Isso
foi um erro seu, o que obviamente não dá motivos para ele ter agido dessa
forma, mas não faça isso nunca mais. Apesar de tudo, Lorenzo ainda é o
Capo — me aconselhou. — De agora em diante você tem que tomar
cuidado com a Suzi e principalmente com a Alessandra, ela é muito ruim.
Ela não gosta de ninguém perto do Lorenzo, principalmente alguém que
roubou seu título de esposa do Capo. Lorenzo é assim, o quanto antes se
acostumar com isso melhor. Depois que a filha morreu ele mudou
completamente, até eu estranho as suas ações.
— Eu estou com medo! — Falei. — Como vou conseguir ficar perto
desse homem sem saber quando ele vai me machucar? Se qualquer um
disser algo sobre mim, ele vai acreditar e não vai querer saber o que de fato
aconteceu.
— Tudo vai ficar bem, minha querida! Com o tempo você vai
aprender quem são as maçãs podres da máfia e vai evitá-las. — disse Lucy.
— Acredite no que eu digo, Lorenzo é uma pessoa boa, só está quebrado
demais para se importar com ele e com os outros. Então de agora em diante,
cuidado com o que faz aqui, principalmente com quem você conversa,
todos aqui querem o seu cargo de esposa, então usaram meios para te
derrubar. Não confie em ninguém, nem na família do Lorenzo.
Estava louca para ir para casa, mas tudo que Lucy disse martelava
em minha cabeça. Ela conhecia bem a todos e eu cheguei agora aqui. Tenho
que aprender a me portar para que o Lorenzo nunca mais faça aquilo
comigo. Lucy foi na cozinha pegar uma água para mim, enquanto me
deixou no seu quarto.
— Ele quer sua companhia para o almoço — disse Lucy ao retornar.
— Eu não quero, Lucy — disse com os meus olhos marejados.
— Não chore, meu bem, ele não vai machucar você, já está calmo
— falou. — Obedeça e fiquei quietinha.
Fui no banheiro lavar o meu rosto. Meu vestido estava bem
amassado nas pernas, acho que foi de tanto apertar quando eu estava com
medo. Voltei para o quarto e a Lucy já me aguardava na porta. Caminhei
para a sala de jantar, me tremendo de medo.
A cada passo dado, achava que meu coração iria parar.
— Sente-se! — disse Lorenzo assim que cheguei na porta da sala de
jantar.
Me sentei na sua frente, tendo a mesa nos separando. Fiquei olhando
as minhas mãos sem tentar nenhum contato visual com ele. Eu até estava
com fome, mas se fosse preciso ficaria com fome até chegar em casa para
não precisar olhar na cara dele.
— Você come carne? — perguntou.
— Sim — respondi.
Eu só queria ir para casa logo.
— Você vai quer beber alguma coisa? — insistiu na conversa.
Ele realmente estava se esforçando para conversar comigo. Será que
ele acha que eu esqueci o que aconteceu agora há pouco? Ele estava
torturando um homem na minha frente.
Ele era louco!
— Sim, um suco!
Ele repassou o que eu queria para a Lucy e ela logo foi para a
cozinha.
— Está evitando conversar comigo, respondendo só palavras breves
para não ter que continuar a conversa? — indagou.
— Sim... Quer dizer, não! — respondi sem pensar e acabei por
levantar os olhos por um breve momento. Ele deu um sorriso para si.
Bipolar!
Lucy chegou com a comida, quebrando o silêncio constrangedor. Eu
comi tudo calada, enquanto Lorenzo ficou no celular resolvendo alguns
assuntos. Quando terminei, esperei ele me liberar. Ele assentiu e acabei
ajudando a Lucy a levar o que sobrou para a cozinha para me livrar dele.
— Eu lavo — disse a Lucy, querendo me livrar de ficar sentada na
mesa com o Lorenzo.
Depois de um tempo, já havia terminado de lavar tudo. Me virei e vi
que o Lorenzo estava em pé, apoiado no balcão. Quando foi que ele
apareceu?
— Andiamo, vou te deixar em casa — falou.
Me despedi de Lucy e caminhei para o seu carro.
Os seguranças que vieram com Lorenzo me olharam surpreso. Acho
que pela raiva de mais cedo, eles devem ter achado que eu voltaria toda
cheia de hematomas. Entrei no carro e O Capo me deu uma bolsa de gelo
para colocar no rosto. O meu rosto estava ainda um pouco dolorido.
Fiquei em silêncio por todo o percurso. Quando chegamos em frente
à minha casa, ele deu uma de querer puxar assunto. Tivemos o caminho
todo, por que ele só queria falar quando eu já estava prestes a me livrar
dele?
— O casamento foi marcado para daqui a 6 dias — informou. — E
amanhã será o jantar de anúncio. Suzi deve aparecer aqui amanhã a tarde
para te ajudar.
Como vão conseguir fazer o vestido a tempo? Não iria pensar nisso,
nem me importo.
— Certo.
— Sobre o que aconteceu hoje, espero que tenha ficado tudo as
claras sobre como eu lido com pessoas desobedientes — falou.
— Sim, ficou — disse.
— Então por que caralhos você ainda está assim? — perguntou.
— Assim como? — perguntei.
Estava tão nítido que eu queria o esganar?
— Sei lá, eu não entendo a porra das emoções das pessoas — falou.
— Está chateada, com raiva, triste, sei lá que caralho. Seja lá que porra
você está sentindo, eu quero saber o porquê.
Vamos ver... por que será que eu estou com raiva? Será que é por
que ele me deu um tapa? Ou por que torturou alguém na minha frente?
Tentaria simplificar tudo para que ele entendesse o que eu estava sentindo.
— Estou chateada, Lorenzo — disse, encarando-o. — Você nem me
escutou para saber a verdade. Sei que você as conhece a mais tempo que me
conhece, mas você acha que eu, com o pai que eu tenho, cometeria erros tão
banais como os que elas falaram? Você já havia me avisado e eu estava
ciente de que não poderia cometer erros. Por que eu seria tão estúpida ao
ponto de fazer algo que pudesse me prejudicar com você? Não precisa
responder nada. Fui castigada e reconheço o que eu posso e o que eu não
posso fazer aqui. Você torturou aquele homem pensando em mim e quer
que eu não fique indiferente? — indaguei. — Sei que cometi um erro sendo
desrespeitosa com você por ser o nosso líder, mas se você tivesse pelo
menos me escutado antes, teria evitado tudo isso. Agora eu posso ir
embora?
Ele me encarou por alguns segundos e assentiu. Quando eu ia sair
do carro, ele segurou o meu braço, com uma sobrancelha arqueada.
Ah, droga, o beijo!
Voltei e o beijei.
Realmente foi o beijo mais rápido e o mais sem emoção que eu
havia dado nele e em todos os seis caras que eu fiquei em toda a minha
vida. Apesar da minha lista ser bem curta, aproveitei todos eles enquanto
pude. Se meu pai soubesse, me mataria, mas o que eu poderia fazer? Estava
no ensino médio e conhecendo gente nova.
— Por favor, agora eu posso ir? — disse.
Não queria mais olhar na cara dele. Toda vez que o fazia, lembrava
do pobre rapaz sendo torturado no meu lugar. Pobre rapaz nem tanto, era
um traidor, mas mesmo assim, era alguém ali.
Lorenzo assentiu, me deixando sair do maldito carro. Então saí e
entrei logo em casa.
— Como foi o seu dia? — perguntou a minha mãe, eu ia correr para
os seus braços, até ver a presença do meu pai atrás dela.
— Tenho que voltar para a porra da minha casa e descobrir que a
desgraçada da minha filha conseguiu o caralho do casamento? — gritou.
— Desculpa por não avisar antes, pai, mas o Capo havia pedido
para não avisar a ninguém, já que o senhor estava viajando a negócios —
disse, omitindo o que aconteceu.
— E quando vai ser o jantar que ele vai avisar que escolheu uma
Bellini? Quero rir da cara das famílias das outras pretendentes — falou.
— Amanhã à noite — disse. — O casamento será em 6 dias.
— Vou adorar ver o rosto do Giovanni D’amico — disse meu pai
bebendo a sua vodka. — De alguma coisa você serviu, Hope.
O dia estava horrível! Só queria ir para o meu quarto e chorar.

No dia seguinte, a Lisa quis me levar para o salão.


— Lisa, eu só quero dormir um pouco mais — reclamei, me
cobrindo novamente com o lençol.
— Olhe, eu consegui alguém que ficasse com o Nando e eu não vou
perder a oportunidade de esfregar na cara de todo mundo que zoava com a
gente na escola de saber que o Capo escolheu você, a ruiva descabelada —
falou. — E a sua bochecha está com um hematoma nada bonito, foi o tapa
que ele te deu?
— Sim — disse, depois de tê-la avisado sobre isso ontem. — Você
não falou nada para mais ninguém, né? Depois ele vem aqui e quer me
castigar porque eu andei espalhando, aí sim, as coisas vão piorar para o meu
lado.
— Não, fique tranquila! — falou. — Vamos só passar uma
maquiagem aí.
Seria cômico, todos que sempre falavam mal de não sermos de puro
sangue italiano, agora teriam que me aturar como esposa do líder. Quando
foi que eu pensei que isso aconteceria comigo? Nunca! Meu pai até havia
deixado a minha mãe e a Kitty irem para o salão também. O que foi uma
surpresa para todas nós, mas com certeza era para se livrar da gente aqui em
casa.
— Quero todas belas para esta noite — disse meu pai com um
sorriso de orelha a orelha. Mal sabia ele que a minha mãe se livraria dele. A
queda seria icônica!
Nunca o vi sorri tanto como agora.
Chegamos no salão de uma amiga da Lisa. Ela disse que era seguro
de alguma ex do Lorenzo. Eu precisava muito daquilo, uma boa massagem
e uma hidratação no meu cabelo.
Agora sim, eu estava ótima!
Voltei para casa e fui me preparar psicologicamente para aturar Suzi
e as suas ajudantes venenosas.
— Seu cabelo está lindo! — disse Suzi sorrindo forçadamente para
mim.
— Cuide bem da minha filha! — disse meu pai a elas.
Nasci para ver o meu pai orgulhoso de mim.
Começaram a ajeitar os vestidos na cama para que eu escolhesse
algum, o que eu estranhei, já que na última vez eu não podia nem opinar.
Elas me olhavam de cima a baixo esperando ver algum hematoma roxo no
meu corpo. Mal sabiam que o machucado estava na minha cabeça.
— Alessandra está vindo ajudar a gente — informou.
Não sabia que ela virara agora ajudante. A tarde prometia estresse.
Ajeitava o vestido que eu usava, para não mostrar como eu estava
com raiva. Suzi, apesar de não falar muito comigo, soltava palavras para as
ajudantes se referindo a mim, esperando que eu respondesse mesmo que ela
não falasse comigo diretamente.
— Achava que não usava vestido decotado — disse Suzi apontando
para o vestido que eu usava.
— Eu uso, só não uso vestidos cujo decote cheguem nas minhas
pernas — retruquei.
Realmente elas estavam querendo me ferrar. Os vestidos que elas
trouxeram eram o tipo de roupas que eu usava em casa. Apesar de gostar de
vestidos longos e que me deixassem mais à vontade, os vestidos que elas
trouxeram eram vestidos enorme e que seria o estilo da minha avó.
— Já que você sempre reclama dos vestidos decotados e que
mostram muito o seu corpo, resolvi trazer esses — disse Suzi com um
sorriso no rosto.
Não é que eu não goste desse estilo de roupa, eu só não estava
acostumada a usar. Elas conheciam o meu pai!?
— Sem problemas — falei.
Resolvi não discutir, já que qualquer coisa que eu dissesse, elas
iriam desconstruir para o Lorenzo. Seria a minha palavra, contra a delas,
melhor não arriscar.
— Desculpem o atraso! — disse Alessandra. — Aqui é o seu
quarto? Parece um quarto de um bebê. Você divide com a sua irmã, criança?
Me chamando de criança de novo. Me segura, Senhor!
— Este quarto é só meu — respondi. — Agora vamos, cuidem de
me arrumar logo.
— Lorenzo lhe viu ontem? — perguntou Alessandra e eu assenti. —
Ele não falou nada com você? Nem a respeito de mim?
— Não — menti. — Deveria?
— Não sei — respondeu se fazendo de indiferente com a minha
resposta. — Oh meu Deus, esses são os vestidos desta noite?
— Sim, foi eu que escolhi — respondeu Suzi.
— Eu sei o que está acontecendo aqui — disse, olhando para elas.
— Vocês não gostam de mim e eu entendo, mas por favor, vamos terminar
logo com isso.
— Querida, eu só estou começando — disse Alessandra.
Elas queriam me prejudicar e eu não iria cair nas armações delas.
Fui para o banheiro, deixando que falassem sozinhas. Mandei mensagem
para Lisa falando do que estava acontecendo ela disse que ia atrás de um
vestido para mim urgentemente, já que esses não serviriam.
— Se controla, Hope! — disse, enquanto me olhava no espelho. —
A próxima naquela cadeira de tortura pode ser você.
Voltei e tentei me manter calma. Nunca pensei que me meteria em
uma briga por um homem, principalmente por um que eu nem me
interessava.
— Estava chorando, criança? Demorou tanto — disse Alessandra.
— Crianças geralmente choram por tudo.
— Não, estava usando o banheiro, quer conferir?
— Ui, a gatinha está começando a mostrar as garras — disse
sarcástica.
— Não, só perdendo a paciência — retruquei.
O tempo passou e elas não faziam nada. Fingiam estar à procura de
um tom de base que combinasse com o meu tom de pele. Sei que elas
estavam fazendo hora para que eu me atrasasse. Apesar de ainda faltar
muito para o jantar, eu estava começando a ficar impaciente. Minha sorte
que pelo menos o cabelo já estava pronto.
Não precisava de ninguém para me ajudar. Com certeza eu saberia
me maquiar e me arrumar sozinha. Só queria as expulsar, mas com o meu
pai em casa, não seria fácil.
— Seu rosto é muito sujo — disse Alessandra me provocando de
novo.
Reparei que Suzi e as suas ajudantes não zombavam de mim. Acho
que por medo. Alessandra podia não ser punida, já que é a ex-esposa do
Capo, mas elas só eram empregadas dele e seriam minhas em breve.
— Sujo? — questionei.
— Cheio dessas manchas — falou, enquanto apontava para o meu
rosto. — Sarnas que diz? Deus, se eu tivesse isso no rosto eu sentiria
vergonha.
E o tempo de escola voltou. Sério que essas meninas se prendiam a
algo assim? Estava me sentindo no primário, quando as crianças não sabiam
brigar e falavam as maiores baboseiras para me atingir.
— São SARDAS! — disse.
Minha mãe sempre dizia que a nossas sardas não eram motivos de
vergonha. Kitty era que mais sofria com isso, já que ela é a mais sardenta
entre nós.
— Sarnas, sardas, tudo a mesma coisa — falou. Além de mal
educada, é burra. — Todos vocês têm, é falta de higiene? Vi a criança
sardenta lá embaixo. Tadinha, deve sofrer tanto. Qual o nome da
menininha?
Eu realmente ia voar no pescoço dela. Minha mãe me disse uma vez
que devemos ser amiga dos nossos inimigos, mas eu não queria nem olhar
no rosto dela, quem dirá ser amiga.
Me levantei da poltrona, a olhando com um olhar mortal. Suzi nem
acreditou no que ela havia falado. Não aguentava ficar naquele quarto.
— Vão embora! — ordenei. — Ou eu juro que faço vocês saírem
daqui sendo arrastadas pelos cabelos.
— Você não ousaria! — retrucou Suzi.
— Não duvide, só Deus sabe o quanto eu estou me aguentando para
não tirar esses seus apliques a puxões — falei.
— Vou ligar para o Lorenzo — Suzi pegou o celular, já me
ameaçando ligar para ele, igual na última vez.
— Ligue, não estou nem aí, mas ligue fora da minha casa — disse,
abrindo a porta do quarto para que elas saíssem, me assustando ao ver o
Lorenzo surgi que nem o mestre dos magos, do nada.
Não nego que eu me assustei com aquele olhar bravo dele.
— Que porra está acontecendo aqui? — perguntou.
— Estou farta! — disse, o encarando. — Eu juro por Deus, que vou
esganá-las.
— Onde você pensa que vai? — perguntou Lorenzo assim que viu
que eu ia sair do quarto.
— Sair daqui, se quiser me castigar, me castigue, mas não vou ficar
no mesmo local que elas — disse.
Passei por ele e desci para o jardim.
— O que aconteceu, minha filha? — perguntou minha mãe. — Você
está tremendo, Hope.
— Eu nunca, em toda a minha vida, pensei que sentiria tanta raiva
de alguém, como eu tenho dessa Alessandra. Eu quase voei no pescoço
dela, a senhora tem noção disso? — falei.
Eu nunca gostei de violência e chegar em um ponto em que eu
quisesse isso, me surpreendeu. Ela realmente me tirou do sério.
— O que houve? — perguntou. — O Capo chegou do nada e subiu.
— Nem sei o que ele veio fazer aqui, mas chegou na hora errada.
Estava quase jogando elas de escada abaixo a vassouradas — disse. Eu
andava de um lado para o outro sabendo que quando Lorenzo soubesse a
versão delas, eu seria castigada. — Elas zombaram das nossas sardas, mãe.
Ficam tentando me tirar do sério, isso é cansativo.
— Melhor mudarmos de assunto, seu pai está vindo — falou
assustada.
Era só o que me faltava!
— O Capo está te chamando lá em cima — falou assim que se
aproximou de nós duas. — Que porra você faz aqui embaixo?
— O senhor subiu? — perguntei.
— Não, tenho mais o que fazer. A Kitty me avisou. Suba antes que
eu te arraste até lá pelos cabelos. — Meu pai como sempre educado.
Logo ele saiu. Minha mãe me acompanhou até a sala e Kitty estava
sentada no sofá.
— Fui saber que gritaria era aquela no seu quarto, achei que era
você brigando com as moças. Quando vi o Capo lá, me assustei — disse
Kitty.
Céus, vai sobrar esta confusão toda para mim.
— Mãe... — choraminguei.
— Suba e enfrente de cara, não se submeta aquilo e não se esconda,
para não ser que nem a sua mãe — falou cabisbaixa.
— As moças foram embora com uma cara nada boa — disse Kitty.
Então elas já foram? Subi rapidamente, antes que ele se aborrecesse
pela minha demora. Quando eu cheguei no quarto, o Lorenzo estava parado
olhando o meu mural de fotos. Que intimidade era essa?
— Feche a porta e tranque! — disse Lorenzo assim que me viu.
Tranquei a porta com medo do que vinha a seguir. Será que está
fazendo pressão psicológica? Porque estava servindo.
— Tem algo para me falar? — perguntou cínico se aproximando de
mim.
— Do que adianta, você não vai acreditar em mim — disse.
Cala a boca, Hope! Testando a paciência dele agora, no final do
campeonato. Tá louca, mulher?
— Se você não estivesse tão linda, te daria umas palmadas agora —
falou sorrindo maliciosamente. Ele não estava bravo, que estranho. —
Responda o que eu quero saber, ruiva.
O apelido não passou despercebido por mim.
Lorenzo me puxou para si e me imprensou na parede com o seu
enorme corpo.
— O que você quer saber? O que elas falaram ou o motivo de eu
querer jogar elas escada abaixo? — perguntei e ele riu.
— Está bravinha! — brincou, passando o polegar nos meus lábios
lentamente. — Nunca havia visto você tão brava. Já escutei a versão delas e
não gostei muito do que ouvi, mas já que não seria justo eu não escutar a
sua, estou esperando você me contar o que aconteceu aqui.
Nossa, o que eu disse da última vez surgiu efeito. Quer saber até o
meu lado da conversa agora.
— Elas... — fui interrompida por Lorenzo que começou a beijar a
minha bochecha, caminhando lentamente com os lábios até chegar próximo
aos meus. Ele não está vendo que eu estou puro o ódio?
— Pode falar, ainda estou escutando — falou, mordiscando o meu
lábio para me provocar. Sério que ele quer que eu raciocine assim? —
Nunca pensei que acharia excitante alguém vestida.
Ele estava muito estranho. Calmo, não gritou nenhuma vez, estava
me escutando ao invés de ter feito o que fez da última vez. Não sabia se
gostava de ele ter me escutado ou se temo essa sua boa ação para comigo.
Aquilo que ele disse agora há pouco me fez lembrar algo que
aconteceu quando eu fui a um bar com a Lisa escondido. Meu pai que
nunca saiba dessa história. Lisa ainda morava com a gente e estava louca
para saber o que acontecia em um bar. Um rapaz começou a flertar comigo,
falando o que Lorenzo me disse.
“Quando mais vestida e coberta está, mas o homem quer saber o
que esconde por baixo do tecido.”
Apesar de eu não ter trocado muitas palavras com ele, já que ele me
assustou bastante, aquela ocasião me fez lembrar disto.
Sério que o Lorenzo estava excitado por isso?
Lorenzo por outro lado, continuou o que estava fazendo. Ele não me
beijava, dava leves mordidas no meu lábio inferior, me esperando responder
a sua provocação.
— Não consigo formar uma palavra, tem como parar um pouco? —
disse.
Nem acreditei no que eu disse. Estava deixando nítido a ele que
estava ficando louca com os seus amassos.
Ele sorriu e me encarou.
— Fale!
Por que ele tinha que ser tão bonito? Divide isso aí. Deus, além de
bonito, tinha um cheiro bom e um belo corpo. Devia ser contra as regras um
homem desses. Pena que seu lado ruim ofuscava a sua beleza e me
apavorava bem mais do que me excitava.
— Elas não estavam fazendo nada. Você viu os vestidos que elas
trouxeram? — disse, apontando para a cama. Fiquei surpresa em ver que
não era os vestidos que elas me mostraram agora a pouco. Eram vestidos de
festa e bem bonitos por sinal. — Está de brincadeira! — Inclinei a cabeça
para trás, tentando acreditar no que eu estava vendo. Novamente ia me
passar de mentirosa.
— Se quer que eu preste atenção no que fala, pare de fazer isso —
falou e eu o encarei. — Estou disposto a te jogar naquela cama e te dar a
melhor foda que você vai ter na sua vida.
— Não eram esses vestidos — disse, me dando por vencida. Não ia
ter como provar de qualquer forma, então para que adiar o inevitável. —
Enfim, qual será o meu castigo?
— Já desistiu de provar a sua inocência? — perguntou.
— Não tenho como provar, se eu não tenho provas, o Juiz me
condena como culpada, fim do julgamento — brinquei.
Parecia que eu estava sendo interrogada mesmo. Só eu mesmo, a
ponto de ser castigada, brincar com o Lorenzo agora.
Ele deu um sorriso bonito e eu estranhei. Fiquei um pouco
encantada com o sorriso dele, nunca o tinha visto.
— Vou deixar essa passar — falou. — Só porque eu realmente estou
de bom-humor hoje.
Sei, ele sabe que eu estou certa e não quer admitir. Então vai passar
o pano pelo que a ex fez, já sabendo que a versão contada por ela era
mentira. Nem precisei me defender, já que dava para notar que eu tenho
muito o que perder se esse casamento der errado.
— É melhor terminar de se arrumar.
— Tudo bem! — disse tentando sair de perto dele, mas ele não saiu
de perto de mim, continuando a segurar firme na minha cintura.
Ele mandou eu me arrumar, por que está me atrapalhando? Será que
ele queria que eu o beijasse? Estava quase achando que ele gostava de
quando eu tomava a iniciativa sem que ele pedisse. Devia ser isso, ele
estava me provocando com isso desde a hora que chegou.
Coloquei os meus braços ao redor do seu pescoço, me aproximei
mais do seu rosto, ficando centímetros de distância.
— Está querendo me beijar? — indaguei nervosa.
Não era muito de flertar e certamente não tinha experiência nisso,
mas ver a reação de Lorenzo, até que valeu a pena.
— Está me brincando comigo, ruiva? — perguntou.
Sua respiração começou a ficar um pouco mais agitada. Lorenzo não
daria o braço a torcer, isso eu já estava conseguia identificar nele. Ele era
orgulhoso em todos os aspectos da sua vida, sendo aqui na máfia ou
sentimentalmente.
— Só fiz uma pergunta, Capo — disse, sabendo que ele gostava de
quando eu falava do seu cargo.
— Está estranha hoje, ainda estou tentando entender o motivo —
falou. — É um jogo ou você fica nervosa e age de forma impensada?
As duas, mais a segunda do que a primeira. Ele era bom em
desvendar as pessoas. Melhor dar um fim nisso, antes que ele saiba mais
sobre mim, do que eu sobre ele.
Então, eu o beijei. Lorenzo rapidamente tomou posse do beijo, como
se estivesse esperando por ele o dia todo. Ele me afastou da parede, me
colocando do lado oposto que eu estava. Tudo com o Lorenzo ficava
intenso. Não havia como negar que ele era bem quente.
Percebi que ele andava lentamente até a minha cama, mas eu não
conseguia sair dos seus beijos. Que homem para beijar bem! Lorenzo logo
se sentou, me colocando no seu colo. Sua mão estava no meu quadril,
fazendo questão de me apertar, me fazendo soltar alguns gemidos baixos.
Deus, eu precisava me controlar!
Seu beijo desceu para o meu pescoço, enquanto eu tentava processar
e sair daquela furada em que eu me meti. Quando senti seu membro ereto,
quis parar, mas não consegui. Esse homem viciava como droga. Eu não
precisei me distanciar dele, ele mesmo parou o beijo.
Na hora, não nego que eu fiquei surpresa, achei que eu tinha mais
autocontrole do que ele.
— Eu disse que respeitaria a sua decisão de se entregar a mim só
depois do casamento — falou ainda com os seus lábios nos meus. — Mas
você tinha que ser tão atraente, ragazza?
Dei um selinho final e me levantei do seu colo. Fiquei com
vergonha por ter quase quebrado minha própria promessa.
— Certo, agora eu vou me arrumar — disse.
Lorenzo saiu do quarto logo em seguida, me deixando respirar mais
aliviada. Vi os vestidos na minha cama e, apesar de serem bonitos, nenhum
serviu em mim. Uns estavam muito apertados e outros já estavam
extremamente folgados.
Suzi fez de propósito, vaca! Minha salvação era a Lisa que estava
trazendo um vestido seu para mim.
— Nunca usei — disse Lisa assim que entrou no meu quarto, me
entregando um vestido. — Guardei para um dia importante, mas nunca
teve, até agora.
— Obrigada, Lisa! — disse dando um beijo no seu rosto — Você
realmente me salvou.
— Não vim apenas para te entregar o vestido, me diga logo o que
aconteceu — falou.
Fofoqueira! Comecei a me arrumar, enquanto contava tudo o que
havia acontecido.
— QUE VADIA! — falou. Nós não tínhamos o costume de falar
palavrão por conta do nosso pai, então sempre que soltávamos algo assim,
sabíamos que é porque estávamos bem bravas. — Desculpe minha falta de
educação, Hope, mas eu estou grávida e com os hormônios a flor da pele e
doida para arrancar a cabeça dessa Alessandra e dessa Suzi.
— Tudo bem, Lisa, já passou! — disse.
— Vocês estão atrasadas! — disse Kitty entrando no quarto
assustada. Olhei às horas e vi que passei tempo demais conversando com
minha irmã. — O pai está bastante alterado lá embaixo porque você ainda
não desceu, Hope.
— Me ajudem a entrar nesse vestido — disse desesperada.
— Não é muito a sua cara, mas é o que temos no momento — disse
Lisa.
— BORA, HOPE, PORRA DE VADIA PARA DEMORAR! —
gritou meu pai.
— Estamos indo! — disse.
Assim que eu coloquei o vestido, calcei os saltos e desci apressada.
Do jeito que esse homem era, ele literalmente me jogava daqui de cima e eu
não duvidava nem um pouco.

Quando chegamos em frente a mansão do Capo, era na ala oeste


onde anunciaria o casamento. A mansão era enorme e nunca havia ido até
aquela ala antes.
Assim que chegamos no salão, me sentei na mesa da minha família.
Olhava ao redor e as moças estavam muito bonitas. Todas loucas para caçar
algum homem importante durante a festa.
Quando Lorenzo chegou, sentou-se na mesa junto de sua família.
Apesar de nunca ter visto a família dele antes, meu pai me explicou quem
era quem ali. A sua mãe e o seu pai estavam conversando com algumas
pessoas ao redor e os seus dois irmãos, Pietro e Enrico, estavam
conversando com o Lorenzo. Sabia que os irmãos dele não serviam
diretamente a máfia, tendo suas próprias vidas afastados daqui.
Respirei fundo. O que devia esperar desta noite? Só queria que
acabasse logo!
Estava impaciente para Lorenzo anunciar logo nosso casamento.
Não entendia o porquê de tanta demora. Será que ele ainda queria se casar
comigo? Meus Deus, ele não podia dar com o pé para trás agora. Se ele não
quisesse mais, Enzo teria me informado com certeza. Deus me livre, depois
de já ter dado entrada na documentação do divórcio da minha mãe, isso não
poderia acontecer.
Que droga, eu estava tão nervosa que estava surtando por isso.
O salão estava cheio, havia tantas pessoas que nunca vi na vida que
era até assustador ver tanta gente junta. Mafiosos presos em um cubículo
sempre dava em confusão.
Lorenzo se afastou dos irmãos, indo para o palco. Finalmente ia
começar.
— Boa noite! — disse Lorenzo tendo atenção de todos. Ele estava
muito bonito como de costume, com o seu terno preto que lhe deixava
impecável. — Obrigado pela presença de todos vocês esta noite! — Falou.
— Sei que estão ansiosos para saber quem eu escolhi para ser a minha
esposa, espero que os aliados que eu fiz nesse período permaneçam ao meu
lado mesmo após minha escolha. Bem, sem mais delongas, a minha futura
esposa será a filha do Dante Bellini. Hope Bellini, venha até aqui, por
favor!
Quando o Lorenzo anunciou meu nome, o rosto de todos
estampavam surpresa. Meu pai estava com um sorriso de orelha a orelha.
Acho que ninguém nunca pensou que o Capo escolheria alguém que não
fosse de puro sangue, uma mestiça.
Os cochichos começaram, uns com olhares de desaprovação e
outros já tentando simpatia comigo para começar a bajulação. Caminhei
lentamente para não cair naqueles saltos. Os olhos de Lorenzo estavam em
mim, observando-me por todo o percurso, sem desviar nem por um segundo
sequer.
— Acho que ela deve ter engravidado dele, não faz sentido não ter
escolhido uma italiana. — Escutei o falatório enquanto caminhava até o
palco.
Só encarei a moça que falou com um leve sorriso. Assim que
cheguei no palco, fiquei ao lado de Lorenzo, ele colocou sua mão na minha
cintura, enquanto alguns membros batiam várias fotos nossa.
— Andiamo, ragazza, sorria — disse Lorenzo no meu ouvido. —
Finja que pelo menos está feliz.
As pessoas eram acostumadas com as encenações que as famílias
poderosas faziam. Depois haveria boatos se espalhando que a noiva do
Capo estava sendo indiferente na cerimônia de noivado.
Fingi o meu melhor sorriso e esperei os fotógrafos tirarem as fotos.
Descemos do palco e ficamos na entrada do salão para o jantar que
seria servido no salão ao lado.
— Felicidades para os dois! — disse Federico, o advogado.
— Obrigado, Sr. De Santis! — respondeu Lorenzo.
— O acordo nupcial já está em ordem — falou.
— Posso falar com o Sr. De Santis depois? — perguntei ao Lorenzo.
— Sim — respondeu no seu tom habitual.
Avisei a Federico que queria falar com ele depois ele me aguardaria
ao fim da festa. Muitas pessoas vieram até nós para nos parabenizar, mas
em nenhum deles senti verdade.
As mulheres estavam sempre se insinuando para o meu futuro
marido, sem nem se importar comigo ao seu lado. Brinquei com o chifre,
agora quem vai levar sou eu. De qualquer forma, um animal sem chifre é
um animal indefeso. Ainda bem que vou ficar “protegida”.
Não dei muita importância aos convidados, até que um dele me
chamou atenção. Seu olhar frio e calculista veio na minha direção, logo a
criatura repugnante sorriu para mim. Estava com a minha mão no braço do
Capo, mas na mesma hora eu o soltei e só pensei em uma pessoa: Lisa.
Quando aquele ser, com aqueles olhos cheio de maldade veio se
aproximando de mim, eu não conseguia racionar nem o meu nome direito.
Sentia seus olhos me seguindo, me fitando enquanto me analisava.
Conseguia lembrar do seu cheiro, da forma que ele pronunciava as
palavras em um som mais pesado e feroz. Da sua arrogância e falta de
delicadeza ao falar e agir.
Era como se uma memória aos poucos se desbloqueasse na minha
mente, me torturando infinitamente mais.
— Posso ir atrás da Lisa? — perguntei rapidamente querendo sair
dali, mas não havia dado tempo, porque aquele desgraçado já estava ao meu
lado, junto com o meu pai.
— Desculpe-me, Capo, por interromper a seu sossego, mas gostaria
de apresentar o meu irmão, Marco Bellini — disse meu pai.
— É um prazer conhecer o senhor! — disse tio Marco estendendo a
mão para Lorenzo e sendo ignorado. Tio Marco colocou a mão no bolso,
desconfortável pelo descaso do Lorenzo com ele. — Fico feliz em saber que
a minha sobrinha irá se casar com o senhor.
Ele veio para perto de mim, para talvez me abraçar e eu me
esquivei, ficando mais atrás do Lorenzo. Meu noivo tinha uma sobrancelha
arqueada, esperando entender aquela situação toda.
— Você não ia atrás da sua irmã? — indagou Lorenzo.
Pela primeira vez eu fiquei grata por algo que ele fez por mim. Sem
mais delongas, dei um beijo em sua bochecha e saí dali. Me aproximei de
Enzo que estava no canto com o meu sobrinho, mas não encontrei Lisa.
— Cadê a Lisa? — perguntei ao Enzo.
— Ela estava aqui agora a pouco e sumiu dizendo que ia ao
banheiro — respondeu Enzo colocando o Nando nos braços. — O que está
havendo?
— Nada! — disse. Não sabia se a Lisa havia comentado em detalhes
o que havia acontecido com ela na casa do tio Marco quando éramos
adolescentes, então fiquei na minha.
Corri para o banheiro e a Lisa estava sentada no chão, tão assustada
como daquela vez na casa do tio Marco.
— Está tudo bem! — disse me aproximando dela, logo a abraçando.
Lisa tinha muitas dessas crises no começo, agora ela até que melhorou
bastante. Ela estava tão aérea que nem notou a minha presença. Ela se
tremia, cobrindo os olhos com as mãos. — Lisa, não é real! — falei, tirando
a sua mão dali, esperando-a abrir os olhos. — Você está bem, apenas olhe
para mim. Vamos, já passamos por isso.
Sentia o seu tremor, o seu pânico em vê-lo.
Era como se tudo ao redor ficasse em silêncio, as batidas do meu
coração ficavam mais alta, audíveis para que eu conseguisse escutar e
sentir. Como se tudo se tornasse um profundo vazio.
O que eu sentia naquele momento, era o que a minha irmã sentiu por
longos anos.
Kitty chegou no banheiro se sentando ao meu lado. Não queria que a
Kitty visse aquilo. Na última vez que a Lisa teve uma crise de pânico, ela
ficou tão assustada.
— Fique com a mamãe, Kitty, eu cuido disso — disse a ela.
— Não, me deixe ajudar também — falou.
— O que está havendo aqui? — perguntou Enzo entrando no
banheiro.
— Enzo, por favor, leve a Kitty com você e depois você conversa
com a sua esposa — falei.
Ele tentou argumentar, mas sabia que só precisava mostrar para a
Lisa que eu estava bem e que ninguém havia nos machucado. Enzo saiu,
levando Kitty com ele.
— Lisa, por favorzinho, olhe para mim! — disse tentando a fazer
abrir os olhos. — Eu estou bem!
Ela chorava tampando os ouvidos, como se estivesse escutando
algo.
— Por favor, olhe para mim e veja que eu estou bem — disse,
tirando as suas mãos do ouvido, as segurando. — Você está bem! Olhe para
mim, não estamos machucadas — choraminguei. — Lisa, por favor!
Ela abriu os olhos e eu senti aquele mesmo olhar daquela noite.
— Viu, eu não estou sangrando — disse a fazendo me olhar. Já
estava com lágrimas prontas para caírem dos meus olhos, mas me segurei
para que ela não me visse daquele jeito. — Você está bem, olhe. — Mostrei
a cicatriz que havia no seu pulso. — Viu, não está sangrando, você está
bem!
— Ele vai nos machucar, Hope, você tem que fugir... — era a única
coisa que ela sempre dizia quando tinha essas crises.
Meu pai sabe o que o irmão dele nos causou e mesmo assim, trazia-
o para perto de nós.
— Ele nunca mais tocará em nós — disse. — Fique calma, você está
grávida.
Ela olhou para a barriga, agora lembrando que o que ela sentia, o
bebê também.
Lisa se acalmou ainda mais, colocando a mão na barriga.
— Eu quero ir para casa — falou. — Me tira daqui... M-me tira de
perto dele!
— Vamos! — disse, segurando na sua cintura. — Vem, eu te ajudo a
ficar de pé.
Levei-a para perto da pia, limpando o seu rosto devido as lágrimas e
a maquiagem que borrou.
— Vai ficar tudo bem, não é? — perguntou.
— Sim! — falei. — Você pode levar a Kitty com você? —
perguntei. Sei que o tio Marco se hospedará lá em casa. Não ia deixar esse
cretino chegar perto dela.
— E você?
— Eu sei me cuidar, está tudo bem! — falei, sabendo que o meu pai
não deixaria nós duas ir. — Vamos falar para o Enzo pedir ao pai para ele
deixar a Kitty ir, tudo bem!?
Sabia que com o Enzo o meu pai deixaria. Levei a Lisa até a porta e
assim que a abri a porta do banheiro, Lorenzo estava lá, encostado na
parede com o Enzo.
— Está tudo bem, meu amor? — perguntou Enzo se aproximando
da Lisa.
— Me desculpe, só não estava me sentindo bem — respondeu. —
Você pode pedir ao meu pai para a Kitty ir lá para casa esses dias para me
ajudar?
Enzo ficou meio desconfiado, mas será que ela nunca comentou o
que aconteceu com ela na adolescência?
— Sim, vamos lá! — falou.
Eles saíram, me deixando sozinha com Lorenzo no corredor.
— Quer me contar o que está acontecendo? — perguntou Lorenzo
se aproximando de mim.
— Não! — sussurrei.
— Não? — repetiu, encarando-me.
— Por favor, não é o meu segredo, então não me peça para te contar
— falei.
— Mas lhe envolve, não é? O que está acontecendo aqui? Nunca vi
a esposa de Enzo ou ele desse jeito — falou.
— Não é nada — menti sabendo que ele não acreditaria.
— Se isso chegar a atrapalhar o nosso casamento... — o interrompi.
— Não vai! — disse. — Eu posso dormir na sua casa hoje?
Melhor dormir perto do Lorenzo do que do tio Marco. Apesar de
sequer conseguir encarar Lorenzo, sabia que assim que eu me casasse com
ele, ele não deixaria mais ninguém me machucar. Do jeito que ele
transparece ser possessivo, ninguém chegaria perto de mim.
— Por quê? Você está sempre me evitando desde o dia do seu
castigo, talvez com medo de fazer algo errado e sabendo que será castigada
por mim na próxima vez. Agora repentinamente quer ficar perto de mim?
— estranhou, achando que talvez eu contaria a verdade. Como ele é
desconfiado. Não tinha um menos paranoico para ser o meu marido não? —
Sei que aí tem coisa, Hope. Se algo chegar a atrapalhar o nosso casamento
ou envergonhar a minha família, seja você ou a porra da família do seu pai,
eu mato quem for os envolvidos nessa merda.
— Não vai atrapalhar em nada, não é nada sério — disse.
— Se quiser dormir, pode ir, a casa será sua mesmo em alguns dias
— falou.
— Obrigada! — disse.
— Andiamo! — disse Lorenzo colocando a mão na minha cintura,
me acompanhando de volta para a festa.
Já na festa, muitos nem notaram a nossa ausência. Lorenzo parecia
não estar em seu melhor momento, mas por quê?
— Finalmente pude te conhecer melhor — disse Leonel beijando a
minha mão.
— Olá, Hope! — disse Lucca que estava ao lado do pai. — Faz uns
dias que não nos vemos.
O sorriso que esse maldito me deu, quis esganá-lo por isso. Isso
realmente soou com duplo sentido.
— Desculpe, eu conheço o senhor? — disse, me fazendo de louca.
Acho que foi convincente. — Quando nos vimos que eu não me lembro?
Lorenzo agora me encarava com uma cara nada boa. Esse Lucca só
pode estar querendo assinar a minha sentença de morte.
— No dia... — disse Lucca sendo interrompido pelo pai, que tampo
a sua boca.
— Lucca, deixe de querer causar confusão — falou. Lucca
rapidamente saiu de perto de nós rindo. — Desculpe o meu filho, ele é
bastante encrenqueiro. Nos vemos depois, senhorita Bellini.
Era só o que me faltava, lidar com um lunático como marido e com
o seu parente cafajeste. Hope, você só pode ter jogado pedra na cruz! Antes
que eu pudesse explicar ao Lorenzo, Federico apareceu dizendo que estava
indo embora. Fui para o canto com ele e perguntei como a papelada estava.
De canto de olho, vi a Alessandra ao lado do Lorenzo, ajeitando sua
gravata.
— Isso vai precisar de um advogado, não é? O senhor pode
representá-la? — perguntei. — Eu pagarei depois que tudo der certo...
— Não precisa se preocupar, senhorita Bellini, serei o seu advogado
assim que tiver o Ferraro como o seu sobrenome — falou, depois de me
interromper. — Não precisa pagar pelos meus serviços. O que você pedir a
mim, eu farei. O Capo já me informou que não era para te negar ajuda.
— Muito obrigada! — disse. — O senhor não sabe o quanto eu fico
calma em saber disso.
Me despedi do Federico e caminhei lentamente até chegar em
Lorenzo.
— Oi, criança! — disse Alessandra a mim. Eu a olhei e voltei a
minha atenção para o Lorenzo, a ignorando.
Fiquei ao seu lado e coloquei uma mão segurando no seu antebraço.
Ignorei a loira ao seu lado e prestei atenção na festa a minha frente.
— Estava tão triste esses dias. — Escutava a Alessandra falar com o
Lorenzo. — Sinto tanta falta da Antonella, que...
— Se você não quer levar uma surra aqui e agora, cala a porra da
sua maldita boca — Respondeu Lorenzo a ela.
Já sabia que falar sobre a filha do Lorenzo não sairia uma conversa
amigável. Me pergunto o que aconteceu com essa menina? Parecia ser um
assunto muito delicado para ele e certamente que lhe machucava bastante.
— Lorenzo, eu tenho o direito de sofrer por ela. Por isso que eu não
converso com você, toda vez que eu quero falar dela, você age assim —
disse Alessandra a ele. — Falar assim comigo só deixava ela triste, você
não lembra?
Nem eu conseguia acreditar naquele teatro dela.
— Andiamo, senhorita Bellini! — disse Lorenzo me guiando para
longe da Alessandra. Ele realmente ficou sentindo pelas suas palavras.
Minha família já havia ido embora e havia poucas pessoas no salão
de festas. Já estava arrependida de ter pedido para dormir na casa do
Lorenzo, do jeito que ele estava agora, parece que ficou novamente mal-
humorado. Na verdade, acho que ele só está machucado e ainda não sabia
lidar com a dor.
O pior das pessoas feridas é que a dor sempre retorna, já que não
houve a cicatrização do machucado. Vejo pela minha irmã, mesmo depois
de anos, ainda sente como se fosse o primeiro dia.
Entramos no seu carro e o caminho para mansão foi o mais
silencioso possível. Quando chegamos, o Lorenzo me deixou na frente da
casa, me mandando entrar, enquanto ele foi para o prédio ao lado.
— Você veio dormir aqui hoje? — perguntou Lucy estranhando a
minha presença.
— Ah, sim! — respondi. — Nem há vi na festa, a senhora não foi?
— Eu fiquei pouco tempo, não me dou muito bem em lugares
cheios, gosto de ficar em casa, geralmente acontece muitas conversas
desagradáveis e isso me deixa enojada. — disse Lucy. — Tem o seu vestido
e suas peças íntimas do dia que caiu no lago, quer trocar de roupa?
— Quero muito! — disse.
Lucy me guiou até o quarto de hóspedes, ela só me deixou lá e foi se
recolher para dormir. Tomei banho e logo troquei aquela roupa. O tempo
estava muito chuvoso. Me deitei no chão, perto da lareira que ficava no
canto do quarto, apenas a observando.
Tentava não pensar na presença do tio Marco por aqui. Quanto
tempo ele vai ficar? Será que vai ao meu casamento?
— Que droga! — disse baixinho, colocando as minhas mãos no
rosto.
— Perdeu a sanidade que lhe restava, senhorita Bellini? — disse
Lorenzo.
Me assustei ao ouvir a voz do Lorenzo e me virei rapidamente para
encará-lo. Ele estava em pé, próximo ao sofá, me olhando.
— Não estava conversando sozinha, apenas pensei alto — disse.
Lorenzo se sentou no chão ao meu lado, enquanto eu ainda estava
deitada de barriga para cima. Ele estava louco para perguntar algo, eu
conseguia ver isso no seu rosto. Ele só me encarava, talvez criando
coragem.
— Quero saber o que você e o Lucca estão tendo? — perguntou
desconfiado.
— Quê? Eu e ele? — indaguei rindo. — Não temos nada.
— Sério? Não me pareceu quando ele falou com você hoje cedo e
você fingiu que não o conhecia — falou.
Ele realmente tinha raiva da família e não confiava nela. Se ele
quisesse me castigar?
Oh, Santo Deus!
— Ele... — Fui interrompida pelo Lorenzo, que se deitou por cima
de mim, se apoiando com as suas mãos no chão. Muito próximo, próximo
até demais.
— Esperando você se explicar... — falou no meu ouvido. — Esse é
o único jeito que eu me vejo escutando algo dessa sua boca, ragazza.
Ele realmente estava louco para me ter na cama. Lorenzo sempre
teve todas as mulheres que quis, por que comigo era assim?
— Não tem “a gente”, é sério — disse. Esse homem não confia em
ninguém. — Quando eu vim no domingo, ele veio falar comigo, mas eu o
ignorei, pode olhar nas câmeras de segurança se quiser.
— Então por que mentiu que não o conhecia? Estava óbvio a sua
mentira para todos nós presentes — disse Lorenzo afastando a mecha do
meu cabelo que estava no meu ombro e com o seu polegar brincava com a
alça do meu vestido.
— Bem, eu vi o que ele estava tentando fazer, eu não ia cair no
joguinho dele de chamar a sua atenção — respondi. — Eu sei as regras, não
iria quebrá-las. Fui castigada e não pretendo deixar que isso aconteça de
novo.
Ainda sentia medo do Lorenzo. Principalmente quando o seu olhar
era vago, não sabia o que ele faria em seguida. Ele não respondeu nada,
apenas me encarou. Seu olhar firme no meu, me causava arrepios.
Engraçado que quando saímos da festa ele não estava tão acessível como
agora. Não sabia se com os olhares de todos sobre ele, ele tinha que fingir
ser alguém que ele não era ou só não gostava mesmo de conversar.
Algo nessa conversa com ele me fez notar algo. Lorenzo queria
sentir que eu era dele e de mais ninguém. Eu sabia que ele tinha sérios
problemas de disputa com Lucca como a Lucy disse. Sabia que o Lorenzo
era muito dominador e possessivo. Eu não iria argumentar, já bastava o meu
pai surtando em casa, eu sabia o que acontecia em seguida, eu desacordada
depois de uma surra ou alguém que eu amo machucado.
— Estou esperando você mostrar que eu posso te beijar — falou. Eu
só o encarei, surpresa por ele deixar nítido. — Era esse olhar que eu queria
ver.
Lorenzo me beijou em seguida, com um beijo feroz e avassalador.
Sua língua passeava pela minha boca, enquanto sua mão descia lentamente
para a minha coxa, como uma forma de juntar mais nossos corpos. Os
beijos de Lorenzo começaram a descer para o meu pescoço e eu tentava
recuperar o fôlego.
Vi que suas mãos estavam prontas para desabotoar o meu vestido,
mas não o impedi. Senti uma ereção contra minha coxa enquanto ele
desabotoava rapidamente, mantendo seu olhar fixo no meu. Seu peitoral
subia e descia, mostrando como sua respiração estava desgovernada.
Menos mal que não era só eu.
Minha relação com o Lorenzo em relação a toque, por minha parte,
era mais curiosidade, eu nunca havia passado dos “limites” com nenhum
outro rapaz. E novamente, estava prestes a quebrar a minha própria
promessa de novo. Ele já havia terminado de desabotoar o meu vestido,
voltou a beijar o meu pescoço, descendo sua mão para as minhas costas.
Seus beijos eram quentes, sedentos de um desejo para desvendar
cada centímetro do meu corpo. Quando percebi que não estava mais
vestida, apenas de lingerie, vi que eu não conseguiria parar.
— Caralho... — disse Lorenzo, enquanto observava cada centímetro
do meu corpo.
Sua mão chegou no fecho do meu sutiã, tentando abri-lo. Ele voltou
a beijar meus lábios, quando senti o fecho se soltar, meus então meus seios
estavam nus. Ajudei o Lorenzo a tirar a camisa e estava preste a desabotoar
a sua calça, quando o celular dele tocou.
Devia ser algum livramento dos céus para que eu não cometesse
esse erro hoje. Lorenzo não deu muita importância e ignorou a ligação,
continuando o que estava fazendo
— Deve ser importante — disse ainda o beijando.
— Porra — falou. Lorenzo se levantou e foi atrás do celular que
estava na mesa, logo atendendo. — Espero que seja importante, senão eu
arranco a sua cabeça e te jogo em praça pública.
Aproveitei que eu estava lúcida e fui me vestir. Olhava-o, enquanto
ele falava ao telefone. Convivendo com o Lorenzo nesses últimos dias,
percebia que ele tinha uma certa mania quando começava a ficar
enfurecido. Começava a passar a mão no cabelo freneticamente, andava de
um lado para o outro e franzia a testa como se estivesse tentando se
acalmar.
Já vestida, peguei a blusa de Lorenzo que estava próximo ao sofá e
o entreguei.
— Estou indo — falou desligando a ligação. Sua atenção estava em
mim, mostrando que ele estava preocupado com algo. — Você não irá para
casa, fique aqui até o casamento caso não seja adiado.
Não sabia se perguntava o que estava acontecendo, mas sabia que
ele não me responderia educadamente. Achei melhor ficar calada, notando
que ele estava com raiva do que escutou na ligação.
— Mandarei alguém pegar algumas roupas para você na sua casa —
falou. — Em hipótese alguma saia da minha casa, entendeu? — Assenti e
ele saiu do quarto.
O que estava acontecendo?
Vi uma movimentação considerável lá fora. Vários seguranças
rondando a casa e até alguns entrando.
— Algo muito sério aconteceu — disse, observando-os da janela. —
Será que estão todos bem?
Saí de perto da janela e fui para a cama, seria difícil dormir. Estava
preocupada, mas também não conseguia dormir pensando no que quase
acabou de acontecer aqui.
Santo Cristo, eu quase transei com ele. Não nego que também estava
bem aflita pela rapidez que o Lorenzo saiu.
O que aconteceu?
Quando me levantei pela manhã, me surpreendi com a enorme
quantidade de seguranças na casa. Lucy havia dito que Lorenzo não gostava
de ninguém transitando pela mansão.
O que está havendo?
Desci e encontrei com a Lucy na cozinha.
— Bom dia, minha querida! — disse Lucy assim que me viu. —
Suas roupas já chegaram, mandarei alguém deixar no seu quarto.
— Bom dia, Lucy! — respondi. — O que está acontecendo?
— Não sei muito bem... — Falou se aproximando mais de mim. —
Mas parece que a boate foi atacada ontem. O Rubens, o rapaz que toma
conta da boate na ausência do Lorenzo, foi baleado e está no hospital. Acho
que devem ser os russos, já que o Capo não escolheu as pretendentes que
ele havia oferecido, mas ainda não tenho certeza. Lorenzo começou essa
aliança com eles, mas eu não confio muito.
— Minha nossa! — disse chocada. Soube que eles estavam tentando
se aliar a nós há muitos anos. — Mas por que eu tenho que ficar aqui?
Posso muito bem ficar em casa. — Na verdade, eu não queria era ficar perto
do Lorenzo. Ele já estava furioso, só não quero estar aqui quando ele
surtasse.
— Você será esposa dele, será atacada da mesma forma, é mais
seguro aqui. Red será o seu segurança particular até tudo se resolver —
disse Lucy apontando para um enorme homem.
Lembrei que era o mesmo que estava no dia do meu castigo, o
barbudo que me levou para fora. Não ia discutir, mas acho que não ia
precisar de um segurança particular quando a casa já estava cheia deles.
— É um prazer conhecê-lo, Red! — disse sorrindo. Ele apenas
acenou com a cabeça sutilmente. — Vou subir e tomar banho para tomar
café.
Red carregou a bolsa que trouxeram da minha casa até o meu quarto
provisório. Vi que ele ainda permaneceu dentro do mesmo, parado na porta.
— Red, você ainda vai ficar aqui? — perguntei. Não queria ser mal-
educada com ele, mas estranhei que até no quarto ele ficaria.
— Sim, senhora! — respondeu. — As ordens do Capo é de não a
deixar sozinha em hipótese alguma.
Lorenzo confiava nele, já que não acha ruim um outro homem estar
no quarto comigo, mas não confia na própria família, já que se mostrou
bravo com essa aproximação do Lucca. Não me preocupei. Tomei o meu
banho e troquei de roupa no banheiro, enquanto Red permaneceu na porta
do quarto.
— Você passou a noite na minha porta ou aqui dentro? — perguntei
assim que retornei para o quarto.
— Na sua porta, senhora — respondeu. — Só tive ordens de entrar
quando a senhora acordasse.
— Nada de senhora, só Hope mesmo. Não está cansado? —
perguntei. Estava querendo puxar assunto, já que não teria ninguém além da
Lucy para conversar aqui.
— Não, senhora ... Hope — falou. — Esse é o meu trabalho, te
manter segura.
Voltei para a cozinha acompanhada do Red, estranhando uma pessoa
tão perto de mim a cada passo.
— Tome um café, vai te ajudar a se manter acordado — disse, já que
ele passou a noite acordado me protegendo.
— Não se preocupe, estou bem — respondeu Red.
— Minha querida, alguns funcionários não podem comer aqui, suas
refeições são na outra ala da mansão — explicou Lucy. — Red tem passe
livre aqui dentro, mas os outros não têm.
— Mas eu não me incomodo de você comer algo aqui — disse ao
Red. — Você parece cansado, tome um pouco de café. — Ele pegou a
xícara e começou a tomar. Lucy estava com um sorriso bobo no rosto. —
Me desculpe, não quis soar arrogante, mas não precisa seguir as regras
comigo, tudo bem? Pelo que a Lucy disse, você já é de casa.
Queria fazer amizade e não ter alguém que me visse como chefe,
deixa essa função para o Lorenzo. Red apenas assentiu, tomando o seu
cafézinho.
— O dia está tão lindo hoje, pena que não podemos ir para o jardim
— disse Lucy.
— Por quê? — perguntei.
— Lorenzo não gostava de pessoas passeando pelo jardim, só pode
por aqui por perto mesmo. — explicou Lucy. — Já que sofremos muitos
ataques, ele tem receio de que alguém acabe conseguindo entrar e por
estarmos afastadas da casa, não conseguíssemos pedir ajuda.
Lembrei no dia que eu estava no lago. Foi por isso que ele ficou tão
bravo pelo meu passeio. Ajudei Lucy com o almoço e Red ficava parado só
nos olhando. Lorenzo não apareceu e não deu notícias desde ontem, devo
me preocupar?
— Quer conversa por que resolveu dormir aqui do nada? — disse
Lucy, enquanto eu lavava a louça.
— Uma visita indesejada na minha casa sem data para ir embora —
respondi.
— Deve ser uma pessoa muito maldosa, a ponto de você preferir vir
dormir aqui depois que o Lorenzo te castigou, você estava o evitando —
falou.
Gostava de conversar com Lucy, ela parecia que me entendia bem,
sempre disposta para conversar e me ajudar.
— Sim, ele fez muito mal a mim e a Lisa. Tenho receio que ele faça
algo conosco em casa, já que o meu pai não acredita que o irmão é louco —
expliquei.
— Seria falta de educação da minha parte perguntar o que ele fez?
— perguntou Lucy.
— Na verdade não, eu só estou acostumada a guarda isso para mim,
que eu nem sei como é confiar em alguém de novo — comentei. — Mas
não pretendo falar aqui, depois a gente conversa sobre isso.
Não queria que isso se espalhasse já que a Lisa sente vergonha e se
sente suja por isso. Lorenzo havia me perguntado ontem e eu menti dizendo
que não era o meu segredo, mas na verdade era sim, porque estou tão
envolvida quanto a Lisa nessa história.
— Talvez mais tarde você possa conversar comigo no meu quarto,
que tal? — falou.
Sabia que o Red não poderia entrar no quarto da Lucy. Precisava
conversar com alguém que não fosse a minha família.
Terminamos de cuidar do almoço e Red havia ido descansar e outro
segurança apareceu. Esse era menos acessível e um pouco arrogante.
Resolvi não forçar uma conversa com ele.
Estava no quarto da Lucy, deitada na cama, com a cabeça no seu
colo, enquanto ela falava de algumas coisas sobre as flores do jardim.
— Quer conversar agora? — perguntou.
Queria poder sentir confiança nas pessoas novamente.
Que eu poderia contar com elas não importa o que fosse.
Presa na minha casa eu estava afastada de todos, que não conseguia
me conectar com ninguém, apenas por um breve período de tempo.
Lucy se mostrava preocupada, carinhosa, sendo sempre muito
gentil. Isso transpareciam para mim os cuidados que a minha mãe tinha
comigo, do apoio que eu poderia recorrer a ela.
Ter com quem conversar aqui nessa casa, será primordial para que
eu não enlouqueça.
— Bem, por favor, guarde segredo — disse e ela assentiu. — Eu e
Lisa nunca falamos sobre esse assunto com ninguém de fora da minha
família. Quando era mais nova, fui para a casa do meu tio duas vezes, na
segunda vez fui sozinha, mas fugi antes mesmo de chegar lá. A Lisa foi a
primeira a ir sozinha, já que eu ainda era pré-adolescente. Quando a Lisa
voltou, ela estava estranha, não entendia o seu isolamento de mim e da
minha mãe. Até que eu fui com ela na sua segunda vez. Eu havia entrado
sem permissão no escritório do meu pai e fui castigada indo com ela para
casa do meu tio. Meu pai achou melhor se livrar da gente por um tempo, já
que ele adorou a ausência da Lisa quando ela esteve fora. Quando eu
cheguei lá, era normal. A esposa do tio Marco não pode ter filhos, então ela
era sempre muito dócil conosco. A Lisa não me deixava sozinha, nem para
tomar banho, até que em uma noite a esposa do tio Marco teve que ficar uns
dias fora, foi então que eu vi o que Lisa tanto temia.
— Está tudo bem, minha querida! — disse Lucy passando as mãos
no meu cabelo quando eu hesitei em falar.
— Ele a machucava, Lucy — disse entre lágrimas. — Como eu
nunca vi as marcas nela? Ele era tão sádico que me amarrou na cabeceira da
cama e me fazia ver ele tocando em seu corpo. Ele fazia pequenos cortes na
barriga dela, cortes que não ficariam cicatrizes. Ele gostava de ver ela
gemer com a dor dos cortes. Ele não podia ir mais além daquilo, porque nós
tínhamos que ser virgens e não deixaria provas do que fez conosco lá. Eu
ainda era nova, mas ele dizia que eu já era uma mulher, já que o meu
primeiro sangramento veio. Foi quando foi a minha vez. Ele me desamarrou
e prendeu a Lisa no meu lugar. Lisa só implorava para que ele não me
tocasse. Ele tirou minha roupa, mas não me tocou. Disse que ia ser mais
paciente comigo já que era a minha primeira vez. Ele fez cortes nos meus
braços e no meu peito. Ele ficava excitado quando eu me debatia de dor.
Quando o céu começava a clarear e era dia, ele saía do quarto. Todas as
noites nos últimos meses foram daquele jeito, até a sua esposa voltar, mas
sempre ele arrumava alguma forma dela sair e se aproveitar de nós, até que
era a minha vez de sentir o real prazer. Ele só me mutilava, não me tocou
nenhuma vez. Quando ele começou a me tocar, eu só chorava. A Lisa
gritava da cama e eu não sabia o que fazer. Ele mordia meu seio e aquilo
doía tanto. Eu tinha 14 anos, o que eu deveria ter feito? Eu estava
apavorada! Quando suas mãos desceram para minha intimidade, escutei um
barulho de algo se quebrando, quando eu vi, a Lisa havia pegado o vidro do
espelho e cortado os seus pulsos. Não havia entendido por que dela ter feito
aquilo. Tio Marco saiu de perto de mim, praguejava pela Lisa ter sido tão
estúpida. Quando ela foi para o hospital, meus pais já haviam chegado e
meu pai perguntou o que houve. Tio Marco disse que Lisa ficou com medo
de ser castigada, quando supostamente entrou no seu escritório e mexeu nos
seus documentos. Meu pai acreditou, nem se quer perguntou para nós o que
aconteceu realmente, já que a Lisa estava debilitada, aproveitou e nos levou
para casa. Kitty havia acabado de nascer e meu pai evitava de ficar em casa
por conta do seu choro e finalmente perguntei por que a Lisa havia feito
aquilo. Ela disse que era a única forma dele parar. Ela não ia conseguir
afastá-lo de mim, até porque ele era mais forte que nós duas juntas. Ela se
apavorou e pensou na primeira coisa que veio na sua mente para me salvar.
Ela colocou sua vida em risco para que eu não ficasse tão traumatizada
quanto ela ficou.
Me culpava por não ter percebido as suas mudanças quando ela foi a
primeira vez. Eu deveria ter notado o seu jeito estranho, mas o que eu
poderia fazer, eu só tinha 14 anos.
— Nem sei o que te falar meu bem — disse Lucy com lágrimas nos
olhos. — Deve ter sido difícil passar por tudo aquilo e ninguém ter
acreditado em vocês. Ver a sua irmã tentar tirar a própria vida para que você
não sofresse as mesmas dores que ela sofreu. Não sei bem como foram as
suas noites naquela casa, mas ninguém tocará em você aqui. O que você
precisar de ajuda para evitar esse homem em sua vida, eu ajudarei. Você e a
sua irmã vão ficar bem, são fortes e corajosas.
— Eu tive que ser forte, a Lisa não estava bem e eu tive que fingir
esquecer o que aconteceu comigo também para que ela não se preocupasse.
Eu estou bem, só me preocupo com ela — falei.
— Não está! — disse Lucy. — Você só não pensa e não fala disso.
Não sofreu e muito menos lidou com o que aconteceu. Você colocou esse
evento traumático escondido em algum lugar bem distante de suas
lembranças, mas uma hora ou outra isso vem à tona, e eu espero que você
esteja bem para lidar com isso.
Eu não sentia que aquele acontecimento me traumatizou, óbvio que
me deixou desestabilizada por um tempo, mas a Lisa ter feito aquilo a ponto
de quase ter morrido, me apavorou mais do que o tio Marco fez comigo. Eu
só não queria ver a minha irmã daquele jeito de novo.
Eu lidei com tudo que aconteceu, tentei de todas as formas superar,
porque eu sabia que quando a Lisa voltasse para casa, eu que tinha que
ajudá-la a superar o que aconteceu. Antes que respondesse, batidas na porta
nos tirou da nossa conversa. Me sentei na cama e limpei algumas lágrimas
que insistiram em cair.
Lucy se levantou para abrir a porta, assim que abriu, o Lorenzo
estava lá parado.
— Quero falar com vocês — falou nos chamando.
Levantei às pressas e tentei acompanhá-lo. Já estava mais calma,
mas não nego que fiquei preocupada com o olhar do Lorenzo. Ele parou em
frente a sala e fez menção para que a gente se sentasse.
— Nosso casamento foi antecipado para daqui a dois dias —
informou. — Você irá na sua casa amanhã com alguns seguranças, cuidará
de organizar o que irá trazer para cá e volte antes de escurecer.
Ainda não havia caído a ficha de que eu ia me casar mesmo.
— Tudo bem! — disse.
— Não saia da casa dos seus pais, meus seguranças já estão cientes
disso — falou. — Quando voltar, está proibida de sair do seu quarto, Red
ficará com você o tempo todo. — Deve ter sido bem sério o que aconteceu
na boate, já que até ficar presa no quarto eu ficaria. Lorenzo olhou para
Lucy e começou a dizer o que ela faria. — Você também não sairá do
quarto, só quando for cozinhar ou subir para falar com a Hope. Deixarei
alguns seguranças na sua porta, então vocês duas nem ousem desobedecer.
Até eu pegar o desgraçado que metralhou a minha boate, essas serão as
regras da casa.
Olhei para Lucy e ela estava assustada.
Lorenzo saiu, indo em direção ao seu quarto, enquanto ficamos na
sala.
— Deve ser sério — disse Lucy. — Eles devem estar muito
próximos de nós para que o Lorenzo não nos deixe nem sair dos quartos
sem supervisão.
— Isso acontece muito? — perguntei.
— Ataques geralmente são fora da mansão. Às vezes conseguem
entrar, mas nunca conseguiram chegar aqui dentro — disse Lucy se
aproximando de mim. — Se conseguiram entrar na boate que tem
armamento pesado, quem dirá aqui.
Certo, isso me assustou. Ficamos ali na sala, conversando sobre
essas novas regras.

No dia seguinte fui com o Red e mais 6 seguranças até a minha casa.
Kitty ainda estava na casa da Lisa, o que me deixava mais calma.
Já havia colocado as roupas em umas malas, os objetos como
maquiagens, acessórios e livros organizei em caixas que os seguranças logo
começaram a levar, deixando apenas Red e eu no quarto.
— Red, posso fazer uma pergunta? — perguntei e ele assentiu. —
Esse não é seu nome ou é?
— Não, devemos usar codinomes, mas Red já virou, de certa forma,
meu nome verdadeiro. — respondeu.
— Como escolheu “Red”?
— Servi no Afeganistão, sempre que voltava das missões estava
banhado com o sangue dos meus oponentes. Então virou um apelido que
logo usei como meu nome — falou. — É melhor voltarmos, antes que
escureça.
— Posso ficar sozinha um pouco? Não sairei daqui, te esperarei. Só
quero ficar um pouco sozinha e me despedir do meu quarto.
— Vou descer essa caixa e subo para pegar você — disse.
Em pensar que este quarto foi a minha salvação nas diversas vezes
em que meu pai bebia e nos atacava aqui dentro de casa. Olhava o guarda-
roupa, lembrando das inúmeras vezes que eu me escondia com Lisa lá
dentro enquanto o meu pai batia na minha mãe.
São péssimas lembranças as que eu tenho desse lugar. Quando ia
sair dali, a visão de um monstro apareceu e me impediu.
— Não falou com o titio, que falta de educação, Hope — disse Tio
Marco entrando no quarto cheio de sarcasmo na sua voz.
— Não tenho nada para falar com o senhor — falei, tentando sair do
quarto, mas ele colocou a mão na minha frente.
— Está muito linda, Hope, quase não te reconheci — falou,
enquanto me olhava com aquela malícia nos olhos. — Seu corpo... Você
cresceu muito bem. A Lisa nem se fala, cada dia mais atraente. Kitty, minha
querida sobrinha, também vai ser tão maravilhosa quanto vocês?
— Fique longe da minha irmã!
— Ah, eu não irei machucá-la. Você e a Lisa criaram uma visão
errada de mim. Eu não sou um monstro como vocês dizem — falou.
Ele usava o que aconteceu para acabar com o resto da sanidade que
nos restava, como se aquele dia nunca tivesse acontecido.
— Não queira me enlouquecer — falei.— Sei bem o que você nos
fez... — Parei de falar quando notei ele se aproximando. — Nem ouse se
aproximar de mim!
— E vai fazer o quê? Não ache que só porque está se casando com o
Capo que temerei você.
— Pois deveria — declarei. — O Lorenzo é tão problemático
quanto você, principalmente se mexem com algo que ele tem como dele.
Adoraria dizer que você me machucou e me tocou. Ele com certeza
separará uma ala no rifugio só para você.
— Sua garota insolente, acha que não cometeu crime em não
reportar? Será julgada junto comigo por ter sido negligente e ter guardado
esse segredo dos Juízes e dos Conselheiros — disse Tio Marco se
aproximando ainda mais. — Nunca ouse me ameaçar de novo, sua vadia...
— Quando ele levantou o braço para me bater, Red chegou, segurando o
seu braço.
— Algum problema aqui, senhorita Bellini? — perguntou Red.
— Nenhum problema! — respondeu tio Marco soltando o seu braço
da mão do Red.
Red o segurou de novo, apertando-o.
— Não perguntei para você — desdenhou. — Algum problema
aqui, senhorita Bellini?
— Não! — menti, sabendo que se eu falasse algo, ele comentaria
com o meu pai que logo usaria e machucaria a minha mãe para me atingir.
— Vamos! — disse me aproximando de Red e saindo do quarto com ele. —
Obrigada por aparecer!
— Minha função é protegê-la.
— Pode não contar o que aconteceu para o Lorenzo? — perguntei.
Agora eu temia o crime que eu cometi por esconder o que aconteceu.
— Me desculpe, tenho que repassar tudo o que acontecer a ele.
— Já vai, Hope? — perguntou minha mãe aparecendo na sala.
— Sim, mãe! — respondi.
— Nos veremos só no casamento, não é?
— Depois que eu me casar, tudo ficará bem com a senhora e com a
Kitty, mas eu tenho que ir agora, se não Lorenzo ficará bravo depois desse
ataque ele ficou ainda mais surtado do que já é — disse. — Ti amo,
mamma!
— Ti amo, figlia!
Saí acompanhada de Red até o carro, me sentia até mais leve
sabendo que teria sua companhia agora.

Estava no quarto, esperando o sono vir. Com o casamento se


aproximando, eu não conseguia pregar o olho. Red estava sentado na
poltrona perto da porta, tendo a visão toda do quarto.
— Red, o que você faz quando está apertado para ir no banheiro, já
que não pode sair de perto de mim? — Perguntei entediada. Já estou
falando bobagens. Estava bem nervosa com esse casamento chegando. —
Desculpe, quando fico nervosa não calo a boca.
— Deixe de importunar o meu segurança, Hope. — disse Lorenzo
entrando no quarto sorrindo para o Red. Me sentei na cama pelo susto, o
observando. — Red, descanse um pouco, depois eu lhe chamo.
— Sim, senhor! — disse Red fazendo continência e Lorenzo riu.
Red se levantou e seguiu para fora do quarto. Eles eram mesmo bem
próximos.
— Algo para me contar? — perguntou Lorenzo cínico.
— Eu fiz algo de errado? — perguntei.
— Não sei, me diga você.
— Que eu me lembre não — disse baixinho, sentindo-me intimidada
por seu jeito de querer informações.
— Então ficar sozinha sem segurança não é quebrar regra? —
perguntou, enquanto me encarava.
— Bem, eu não saí da casa, estava esperando Red voltar...
— Se alguém entra pela maldita janela do seu quarto, quem irá
ajudá-la a tempo? Não que eu me importe com a sua vida, mas teria que ter
o trabalho todo de novo de encontrar uma esposa — falou grosseiro. —
Você tem que ficar atenta a isso, se tornará a minha esposa e alvo de
ataques. Se eu coloquei um segurança 24 horas do seu lado, é para ele ficar
o tempo inteiro com você.
— Me desculpe, isso não irá se repetir — disse.
Eu nunca tive minha casa invadida e muito menos alguém tentando
me matar, isso era novo para mim. Quer dizer, falar que nunca tive alguém
tentando me matar é até sacanagem, meu pai vivia fazendo isso, mas do
jeito dele.
— Venha aqui, por favor! — me chamou, enquanto me encarava de
cima a baixo.
Ele achava que eu estava machucada? Pelo jeito curioso que ele me
olhava, parecia tentar encontrar algo fora do lugar.
Levantei da cama e fui caminhando até ele lentamente. Lorenzo
ainda estava de pé na porta esperando que eu me aproximasse ainda mais.
Fiquei na sua frente, mas Lorenzo parecia arrependido de ter me chamado.
Ele estava com um semblante preocupado e triste ao mesmo tempo.
O que será que aconteceu além desse ataque? Ele tinha essa
arrogância, mas via que era mais uma defesa para afastar as pessoas. De
qualquer forma, Lorenzo transparecia que sentia falta de alguma relação,
não sexual, mas de afeto, de ter a atenção de que alguém se importava com
ele ou de se sentir amado por alguém de novo.
Ele não disse nada, só me encarava em silêncio. Eu me aproximei
dele e o beijei. Talvez fosse uma forma de agradecer por ele ter me deixado
dormir aqui e de ter me livrado do tio Marco, ou era só porque eu estava
com pena.
Lorenzo colocou uma mão na minha cintura e a outra no meu rosto,
logo retribuindo o beijo. Por incrível que pareça, não foi um beijo com
intenção de sexo, mas sim um beijo calmo e talvez até com sentimentos. O
barulho de alguém tossindo atrás do Lorenzo fez com que nós nos
afastássemos rapidamente.
— Me desculpe senhor, mas temos que ir — informou o rapaz.
— Não fique sem os seguranças, isso é uma ordem — falou Lorenzo
saindo do quarto.
Red voltou logo em seguida e agora mesmo que eu não conseguiria
dormir. Eu sentia pena do Lorenzo, não sei, se era o seu olhar ou se era esse
jeito que ele mostrava que estava mal, mas não sabia pedir ajuda. De
qualquer forma, eu tinha que aprender a lidar com ele, assim como aprendi
a lidar com o meu pai.
Só ficava feliz porque sabia que o tio Marco nunca pisaria aqui ou
se aproximaria das minhas irmãs de novo.
Hoje era o meu casamento. Não havia visto Lorenzo desde a nossa
última conversa. Lucy passou a noite comigo, já que eu estava muito
nervosa. Estava me arrumando desde às 05:00h da manhã. O casamento
aconteceria às 09:30h e já estava mais nervosa do que o habitual.
— Você não tem dormido? Olha quanta olheira — reclamou Suzi
passando gelo nelas. Alessandra entrou no quarto, logo trocando olhares
para a Lucy.
— Olá, Lucy, há quanto tempo! — disse Alessandra forçando um
sorriso com uma cara de nojo para a Lucy. — Está velha, hein? Cuidando
da vida dos outros ainda?
Lucy a ignorou, voltando a prestar atenção em mim. Pelo jeito elas
duas não tinham uma boa relação.
— Vamos colocar o seu vestido. — Apontou Suzi para as ajudantes
que logo o trouxeram.
— Espera, espera, espera! — disse. — Esse não foi o vestido que eu
escolhi.
Apesar do vestido ser bonito e um pouco parecido com o meu gosto
careta, não era meu escolhido.
— A senhorita Alessandra que me ligou dizendo que a senhorita
havia escolhido este — disse Suzi se justificando.
Alessandra sorriu para mim, acenando debochada. Experimentei o
vestido e ficou tão frouxo em mim, que fiquei indignada e com ódio de
olhar para ele.
— Saiam daqui! — ordenei.
— Qual é o seu problema? — indagou Alessandra. — Você está se
casando com o meu ex-marido, atrapalhando a minha vida boa, queria que
eu aceitasse calada?
— Red, se elas não saírem daqui em 5 segundos, pode jogá-las de
escada abaixo. Isso é uma ordem! — falei.
— Sim, senhora! — Red chamou mais dois seguranças por via das
dúvidas.
— Você só pode estar ficando louca — disse Alessandra. — Não
sairei daqui e o Lorenzo saberá o que está fazendo.
— Falta 3 segundos, senhora — informou Red.
Suzi e as suas ajudantes saíram rapidamente e a Alessandra viu que
eu não cederia, saiu do quarto logo em seguida.
— Obrigada, Red! — disse.
— Estou aqui para te servir — respondeu.
— O que eu farei com esse vestido, Lucy? — perguntei.
— Acho que eu consigo dar uma ajeitada nele — falou.
Lucy desceu com ele e foi até a sua máquina de costura que ficava
em seu quarto. Continuei me arrumando e estava bastante apreensiva pois
estava ficando sem tempo. Lembrava do casamento da Lisa, foi tão
estressante quanto o meu. Espero que o meu não termine do jeito que o dela
terminou, só faltava isso para fechar o dia com chave de ouro.
— Acho que deu certo — disse Lucy voltando para o quarto. —
Vista!
Corri para o banheiro e me troquei rapidamente.
— Até que não ficou tão ruim assim — disse retornando para o
quarto.
— Você tem que colocar essa coroa de flores — disse Lucy me
entregando.
— Por quê? Suzi não havia mencionado esse acessório — falei.
— É quase uma tradição dos Ferraro, a mãe do Lorenzo que
confeccionou a sua — explicou.
Coloquei e não me senti feia, pelo contrário, havia gostado. O
vestido estilo boho me deixou ainda mais encantada. Apesar de ter ficado
desesperada quando eu o vi, ele era perfeito. Seu tecido fino, com as
mangas compridas transparentes, com uns traços de flores rendadas, o
deixava ainda mais bonito.
A coroa de flores nem se fala, seus tons com cores para o verão, deu
uma cor para a minha roupa e para o meu casamento.
— Como estou? — perguntei.
— Se me permite falar, de certa forma ficou muito bonita! — disse
Red.
— Deu um ar de pureza em você — disse Lucy emocionada. —
Parece um anjo de tão linda, minha querida.
— Ah, obrigada por não me deixarem enlouquecer hoje — agradeci.
Saímos da mansão a caminho de onde aconteceria o casamento. A
cerimônia aconteceria em um espaço aberto, em um jardim que a Lucy
disse que era propriedade dos Ferraro. Rapidamente chegamos, aumentando
ainda mais o meu nervosismo. Sentia as minhas mãos transpirarem, a
garganta seca e o coração acelerado. Estava na sala de espera, aguardando
me chamarem.
E no fim caiu a ficha do que aconteceria hoje, que os meus sonhos e
a liberdade que eu tanto queria ter, se tornaria impossível no momento que
eu dissesse o sim.
— Por que está tão triste, Hope? — perguntou meu pai, se sentando
do meu lado. Até eu estranhei a sua preocupação. — Qualquer garota
estaria pulando de felicidades no seu lugar, garota ingrata.
Estava sendo muito dócil para ser verdade.
— Menos eu — disse. Ter o título não me importava de forma
alguma. Eu sei que nunca poderia opinar em escolher alguém como o meu
marido, mas por um segundo achei que teria a mesma sorte que a Lisa teve.
— Só quero que essa festa acabe logo.
— Está na hora de entrar — disse o cerimonialista.
Meu coração foi a mil naquele momento. Fiquei em pé, colocando o
meu braço entrelaçado com o do meu pai, enquanto ele me guiava até onde
todos me aguardavam. Acho que nunca fiquei tão próxima do meu pai na
minha vida inteira, no caso, sem ele estar em cima de mim me batendo.
Nunca o vi sorrir tanto, até havia me esquecido que ele era um
cretino de carteirinha. Olhei ao redor e vi que tudo estava lindo. Até que a
Suzi leva jeito para cerimônias. Quando eu cheguei de frente para todos,
tive uma visão deslumbrante do local.
Havia um arco de flores violetas onde os noivos ficariam junto com
o padre. As cadeiras enfileiradas já lotada de membros e de pessoas que eu
nunca vi na minha vida. Havia pétalas de flores no chão, onde eu faria o
percurso para chegar no Lorenzo que já me aguardava no altar.
Meus olhos percorreram todo o local. Havia poucos convidados, uns
50 provavelmente, mas estava cheio por conta dos seguranças que
rondavam a cerimônia. Até que os meus olhos se encontraram com os dele.
Lorenzo estava impecável e absurdamente lindo. Estava com um
terno claro, realçando ainda mais seus músculos. Seus olhos não estavam
mais tão vazios como o de costume, até poderia dizer que seu semblante
transparecia ser mais calmo. Ele parecia diferente naquele momento.
Caminhei ao lado do meu pai lentamente com medo de cair.
— Sorria, Hope! — sussurrou meu pai no meu ouvido, apertando o
meu pulso disfarçadamente. Sorri forçadamente, querendo sair logo de
perto dele.
— Cuide bem da minha preciosa filha — disse meu pai assim que
chegamos no altar, me entregando ao Capo. Quase ri, quem vê até pensa
que ele se importa comigo.
— Cuidarei enquanto eu viver — respondeu Lorenzo.
Suas palavras me trouxeram um pouco de conforto. O padre
começou a falar e eu nem prestei tanta atenção, já que Lorenzo não tirou os
olhos de mim desde que eu cheguei do seu lado. O via de canto de olho,
esperando-o parar com aquilo. Estava começando a ficar desconfortável
com ele me encarando sem disfarçar.
Virei para encará-lo e os seus olhos estavam tão brilhantes, que me
encantei. Estavam com um brilho diferente, o jeito dele hoje era diferente
do que costuma ser.
— Está linda! — falou, me deixando surpresa. Nossa, essa eu não
esperava. Nenhuma malícia ou algo que envolva sexo.
— Obrigada! — respondi sem graça. Não sei lidar com elogios. —
Você também ... Hã ... Sabe... As proporções do seu rosto são bastante
simétricas.
Cala a boca, Hope!
— Isso era para ser um elogio? — perguntou formando um pequeno
sorriso nos seus lábios.
— Sì! — Respondi voltando a prestar atenção na cerimônia depois
da vergonha que eu passei.
— Lorenzo, é de livre e espontânea vontade que você aceita a Hope
como sua companheira em matrimônio? — perguntou o padre.
— Sim, eu aceito! — respondeu Lorenzo olhando para ele.
— Hope, é de livre e espontânea vontade que você aceita o Lorenzo
como seu companheiro em matrimônio?
— Sim, eu aceito! — respondi.
Agora não havia volta.
— Assim sendo, por favor, deem as mãos e preparem-se para dar e
receber os votos de amor, que estão entre os maiores presentes da vida —
disse o padre.
Me virei para encarar o Lorenzo e ele segurou nas minhas mãos.
— Prometo te ser fiel, te amar e te respeitar, na alegria e na tristeza,
na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida — recitei os votos
sozinha, já que era lei que só nós esposas tínhamos que ser mulheres de um
homem só, enquanto os nossos maridos estariam com outras.
— Eu como o teu marido, a protegerei de quem queres te fazer
algum mal. Não deixarei que nada te falte e cuidarei de ti até o fim da
minha vida — disse Lorenzo.
Ele deve ter ensaiado muito para não rir, porque nem eu acreditei em
suas palavras. Até que eu fosse conveniente a ele, ele cuidaria de mim.
Trocamos as alianças e voltamos a atenção para o padre.
— Confirme o Senhor, benignamente, o consentimento que
manifestastes perante a sua Igreja, e se digne enriquecer-vos com a sua
bênção. Não separe o homem o que Deus uniu — recitou o padre. — Eu
vos declaro, marido e mulher! O noivo pode beijar a noiva e selar o pacto
realizado pelos noivos.
Lorenzo colocou a sua mão em minha cintura e com a outra segurou
o canto do meu queixo e me beijou. Minhas mãos estavam em seu peito,
enquanto nos beijávamos. O beijo foi calmo e não tão demorado, já que
tínhamos a atenção de todos naquele momento.
Nos viramos para olhar os convidados, logo vi a minha mãe que
chorava horrores com a Lisa ao seu lado. Não sei se era de emoção ao me
ver casando ou porque sabia do meu destino de casada, ou também porque
todas nós nos livraríamos finalmente do meu pai.
Descemos do altar e passamos pela multidão a caminho do salão de
festa. Já na festa, ficamos parados na entrada esperando os convidados
entrarem. Muitos homens apareceram e nos parabenizaram. Algumas
mulheres ainda deram em cima do Lorenzo na minha frente.
Muito chifre para pouco espaço na cabeça.
— Parabéns, Lorenzo! — disse Alessandra se aproximando de nós.
— Obrigado! — respondeu ele. — A propósito, aproveite essa
semana e mude o seu sobrenome. Não quero você andando por aí
carregando o meu sobrenome.
— Lorenzo, a famiglia não me leva a sério sem ele — retrucou
mostrando que ia rebater até ele concordar com ela.
— Já está avisada, Alessandra — disse Lorenzo. — Faça isso antes
que eu perca a paciência com você.
Alessandra saiu sem dizer mais nada. Agora que ela acha mesmo
que eu vou acabar com a mordomia dela.
Faltava mais alguns convidados chegarem e já estava cansada, já
que havia passado a noite em claro e mal descansei.
— Parabéns, Capo! — disse Federico, acompanhado da sua filha,
Bianca, se aproximando de nós. — Posso roubar a noiva por dois segundos?
Lorenzo assentiu e Federico me levou para o canto. Só ele mesmo
para conseguir me tirar dali.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei preocupada.
— Não, pelo contrário, a sua mãe já está com o dinheiro na conta
que foi criada para ela. Devido aos ataques que ocorreram recentemente, o
Lorenzo achou melhor sua mãe ter uma casa próxima ao do Enzo Carbone e
vigiada 24 horas.
— Nós pensamos nisso também, mas ela ficará um tempo com a
Lisa até as coisas se estabilizarem — falei.
— A senhora não entendeu, o Lorenzo dará a casa para sua mãe —
falou.
— Por que ele faria isso? — perguntei.
— Você andará na casa dela, não é? Sua vida pode correr risco e se
tiverem logo um filho, sei que ele andará na casa da própria avó —
explicou. — Será mais seguro assim e a casa já está no nome dela.
Nem tentei argumentar, se estava casada com o Lorenzo, tiraria
proveito do que ele pode me oferecer. Minha atenção voltou para o
Lorenzo, enquanto Federico explicava algumas coisas que eu não estava
entendendo bem, mas minha indignação era nítida olhando Bianca
conversar muito perto do Lorenzo, sempre se insinuando. Não estava com
ciúmes, mas pelo menos um pouco de respeito seria bom.
Terei problemas com essa daí, já estou até vendo. Voltei para perto
do Lorenzo e a Bianca acompanhou o pai saindo de perto de nós dois.
— Obrigada! — disse ao Lorenzo agradecendo pela casa.
— Não sei o que está agradecendo — falou.
— Não importa, só estou grata — disse sorrindo para ele.
Sua família se aproximou de nós, me deixando bem mais nervosa, já
que não conversei com nenhum deles além do Lucca.
— Parabéns ao casal! — disse a mãe do Lorenzo, acho que se
chamava Telma, se eu não me engano. O pai, o Diego e os irmãos, Pietro e
Enrico, também parabenizaram junto com as suas esposas ao seu lado. —
Fazemos um clube do livro todas as quintas, só das mulheres Ferraro.
Gostaria de participar?
— Adoraria! — disse.
— Nós nos juntamos e falamos mal deles — disse Dona Telma
sussurrando no meu ouvido e eu não consegui segurar o riso. — Te
aguardarei na quinta-feira.
— O que ela disse? — perguntou Lorenzo quando elas saíram.
— Nada! — respondi.
— Hope, você está muito linda! — disse Kitty correndo para me
abraçar.
— Tenha modos, criança insolente — disse meu pai.
Dócil.
— Não se importe — disse baixinho para ela, já que o sorriso se
desfez.
— Parabéns, Hope! — disse Lisa me abraçando.
Tio Marco vinha atrás e já olhei para Lisa mostrando que ela já
podia se afastar. Enzo nos parabenizou e levou a Kitty e a Lisa para dentro
da festa.
— É um prazer revê-los! — disse Tio Marco estendendo a mão,
sendo ignorado novamente pelo Lorenzo.
— Está muito bela, meu amor! — falou minha mãe depositando um
beijo em meu rosto.
— Lorenzo deu uma casa para a senhora — disse no seu ouvido. Ela
ficou surpresa e animada ao mesmo tempo. — Não diga nada e aceite,
depois eu explico. Fale com o Sr. Federico, ele já está lhe aguardando lá
dentro. Seu dinheiro está na sua conta, já pode se livrar do pai.
— Deixe de conversas vocês duas — brigou o meu pai tirando a
minha mãe de perto de mim enfurecido.
— Não dê ordens a minha esposa, ela não é mais sua propriedade —
disse Lorenzo enquanto o encarava. — Se eu te pegar dando ordens ou
encostando nela, eu te esfolo vivo, entendido?
— Perdão, Capo, não quis ser grosseiro, é a força do hábito —
respondeu.
Acho que era realmente força do hábito querer brigar comigo por
tudo.
Estava casada e não precisava mais do consentimento de nenhum
homem para conversar, mas como fui criada pelo Dante, sempre tive medo,
já que as suas regras só valiam quando ele queria que valesse. Eu poderia
fazer o certo, mas se ele quisesse me castigar, ele me castigaria.
— Vamos, irmão! — disse Tio Marco.
Todos saíram e eu fiquei novamente sozinha com o Lorenzo.
— Lucy não veio? — perguntei.
— Ela evita andar em lugares cheios — respondeu.
Fiquei surpresa por ele ter me respondido, achei que me ignoraria.
Estava esperando os últimos convidados, vulgo Leonel, com a sua
esposa e o seu filho chegar. Acho que estão fazendo de propósito essa
demora, do jeito que a Lucy disse, eles estavam sempre brigando entre si.
— Desculpe a demora, estava resolvendo uns assuntos — disse
Leonel. — Está cada dia mais encantadora, senhora Bellini!
— Ferraro — corrigiu Lorenzo.
— Perdoe-me! — falou.
— Concordo com o meu pai... — disse Lucca já olhando para o
primo com o jeito de que ia aprontar. — Está muito linda!
Não sorri e muito menos respondi. Minha atenção foi para Red que
estava um pouco atrás deles. Ele tocou em sua orelha e eu havia entendido,
era o código de “me ajude” que ele fez quando eu precisasse de algo. Ele
disse que usava muito com o Lorenzo quando o protegia. Sorri e ele
retribuiu com uma piscadela inocente. Olhei para o Lorenzo que também
sorriu com a ironia do Red.
Eles eram tão amigos assim?
— Vamos para festa, todos já chegaram — disse Lorenzo.
— Não irá agradecer o meu elogio? — disse Lucca.
Ele estava cutucando onça com vara curta. Eu que não ia dar moral
e ser castigada por nada.
— Não a elogie se quer agradecimento depois, seu puto — falou
Lorenzo, colocando a mão na minha cintura, me tirando de perto deles.
Escutei a risada de Lucca antes de nos afastarmos deles.

— Eu... Bem, serei castigada? — perguntei por via das dúvidas. Sei
lá, ainda não sabia lidar com ele, então fazia tudo como se ainda estivesse
lidando com o meu pai.
— Não — falou, enquanto caminhávamos para dentro do salão. —
Os ignore quando der e não fique sozinha com nenhum deles.
Não disse nada, Lucy já havia me informado sobre isso. Todos já
estavam em suas respectivas mesas, só nos aguardando.
— Daqui a pouco acontecerá a dança dos noivos — disse o
cerimonialista.
— Dança? Que dança? — perguntei assustada ao Lorenzo.
— Suzi não te instruiu sobre isso? — quis saber.
— Não! — disse. — Elas me enganaram até com o meu vestido,
quem dirá com essa dança.
Lorenzo me puxou para mais perto da Suzi, mostrando o quanto seu
humor mudou de uma hora para outra.
— Você não ensaiou a dança com a Hope? — perguntou Lorenzo
agarrando no braço da Suzi.
— Já que o casamento foi antecipado, a senhorita Alessandra disse
que não se incomodaria em ajudá-la, já que ela sabe os passos — falou. Ela
estava mentindo, não sei, não parecia verdade. O vestido eu sabia ter sido
aquela cobra, mas a dança eu tenho certeza que foi ela e agora queria anular
o próprio erro notando que a brincadeira foi longe demais. — Foi o que nós
combinamos, senhor.
— Alessandra cuidou de mais alguma coisa? — perguntou.
— Do vestido de casamento, senhor. — Suzi se tremia, agora
olhando para mim. — A senhora não sabe dançar?
Senhora? Agora ela me tratava educadamente.
— Não! — falei, olhando para o Lorenzo. — Não é como se eu
tivesse tempo para aprender.
Lorenzo me puxou novamente para o centro do salão, respirando
fundo para não surtar ali.
— Tem mais alguma surpresa que eu preciso saber que aconteceu
hoje? — perguntou.
— Que eu lembre, não... — disse, já me lembrando do ocorrido de
mais cedo — Tem sim, na verdade eu meio que expulsei a Suzi e a
Alessandra hoje cedo. Antes que pense algo, o vestido não era do meu
tamanho e não foi o vestido que eu havia escolhido. Pode perguntar ao Red
e a Lucy.
Lorenzo passou a mão no cabelo freneticamente. Ele vai surtar?
Estava começando a ficar apavorada.
Lorenzo chamou o Red e ele se aproximou.
— Pegue Alessandra nem que seja a arrastada pelos cabelos e a leve
para o rifugio — falou e Red assentiu, saindo de perto de nós. Não gostava
da Alessandra e isso era óbvio, mas castigá-la da forma que ele castigava
era um tanto cruel.
— Bem... — disse.
— Não se meta nos meus assuntos — disse Lorenzo me encarando.
Desviei o olhar para minhas mãos, já notando que ia sobrar para mim esse
mau humor. — Esse seu bom coração vai acabar te matando. Guarde suas
preocupações para si.
Calada estava, calada fiquei. O cerimonialista chamou o Lorenzo
para o centro e já sabia que a dança começaria.
Eu não dançava, o que faria? Lorenzo me ergueu, colocando os
meus pés por cima dos seus. Sua sorte era que eu não estava de salto.
Colocou suas mãos em minha cintura, me segurando para me deixar
suspensa no ar e meu não incomodar em seus pés.
Entrelacei meus braços entre o seu pescoço e logo acompanhamos a
melodia da música. Fiquei envergonhada, já que estava nítido a todos que
eu não sabia dançar. Tudo aconteceu bem rápido, já que nós dois não
estávamos com muito saco para prolongar aquilo. Eu e o Lorenzo não
trocamos uma palavra se quer, era até melhor assim.
O que me deixou surpresa foi que ele sabia dançar muito bem
conforme a melodia. Ele deve ser bom em tudo. Assim que a dança de
menos de dois minutos terminou, nos afastamos um do outro sorrindo para
a multidão.
Ele também era um ótimo ator.

Quando a festa terminou, nos despedimos de todos, entrando no


carro em seguida. O caminho para casa foi o mais silencioso possível.
Quando chegamos em frente a mansão, Lucy já me aguardava na entrada da
casa.
— Ajude-a com o vestido, vou resolver algo no rifugio e já volto —
disse Lorenzo a ela, indo em direção ao prédio ao lado. Subi com a Lucy
para o quarto do Lorenzo e Red ficou na porta esperando.
— Lucy! — A chamei no closet e logo ela apareceu. — Estou
nervosa!
— Não é como se não tivesse se deitado com ele... — disse Lucy
logo entendendo o meu nervosismo. — Você não dormiu com o Lorenzo
ainda?
— Não, eu disse que queria esperar até o casamento, eu ainda sou
virgem — falei.
— Se acalme e deixe que o Lorenzo te conduza se não se sentir à
vontade de tomar atitude — falou.
Lucy me deu uma camisola de seda branca para vestir e fiquei ainda
mais agitada. Fiquei sozinha no closet, já que a Lucy não poderia ficar
comigo o tempo inteiro até o Lorenzo chegar.
— Está tudo bem, Hope! — disse respirando fundo. — Sua mãe e a
Kitty estão bem agora e você vai fazer isso dar certo para que o seu pai
nunca mais encoste nelas.
Saí do closet e os meus olhos se encontraram com os do Lorenzo
que estava perto da mesinha de bebidas. Ele já não estava com o seu paletó
e a sua gravata. Havia aberto alguns botões da sua camisa, enquanto bebia
um pouco de whisky. Lorenzo virou o copo na boca, bebendo todo o líquido
que restava, colocando o copo em cima da mesinha.
Ele andou até mim tão lentamente, que eu sentia meu coração
acelerar ainda mais. Ele olhou nos meus olhos esperando alguma resposta
neles para me tocar.
— Agora você é minha! — disse Lorenzo me beijando em seguida.
Lorenzo me colocou nos braços, me levando até a cama. Ele me
deitou, ficando por cima de mim, ainda me beijando. Coloquei uma das
minhas mãos na sua nuca, enquanto o beijo ficava ainda mais quente.
Sua mão lhe serviu de apoio para que não ficasse caído em cima de
mim, enquanto a sua outra mão passeava pela minha pele até chegar no meu
quadril que ele fez questão de apertar, me fazendo soltar um gemido entre
os seus beijos.
Lorenzo parou de me beijar, me encarando. Logo assenti, mostrando
que queria que ele continuasse, então senti novamente sua boca na minha.
Desceu os beijos fazendo um percurso até o meu pescoço, enquanto eu
apertava a colcha da cama sentindo o meu corpo queimar a cada toque.
Ele voltou para beijar os meus lábios, os beijos estavam cada vez
mais intenso e o Lorenzo tinha uma pegada que me deixava louca. Ele fazia
questão de tocar em cada ponto sensível do meu corpo que me fazia
arrepiar.
Ele tirou minha camisola, deixando o meu corpo exposto.
Desabotoei a sua camisa, que logo ele jogou para longe. Seus beijos
desciam para o meu pescoço e seios, enquanto eu sentia o meu corpo
esquentar cada vez mais.
— Prometo cuidar de você agora — sussurrou no meu ouvido dando
uma leve mordida na ponta da minha orelha.
Ele continuou a me beijar, afastando-se um pouco de mim,
mostrando o que ia fazer a seguir. Logo senti algo dentro de mim, não havia
prazer, só dor. Lorenzo ainda me beijava em um ritmo lento e eu tentava
disfarçar a dor que eu estava sentindo entre as pernas, até que a minha
excitação veio.
Finalmente a dor diminui e o prazer veio. Nunca pensei que gostaria
tanto disso.
Depois de um longo tempo e quando atingimos o ápice, o Lorenzo
se deitou ao meu lado, ofegante. Eu ainda estava extasiada com o que
aconteceu. Achei que nunca conseguiria dormir com alguém depois do que
eu sofri na mão do tio Marco, mas Lorenzo me trouxe um conforto e
segurança absurdo que eu não sabia explicar ou dizer porquê.
Lorenzo se sentou na cama e eu fiz o mesmo. Queria ir no banheiro
me lavar, mas eu não sabia o que ia acontecer agora.
Ele se levantou, colocando a sua calça.
— Tome banho, eu vou sair para cuidar de uns assuntos — falou.
Fiquei em pé, me enrolando com o lençol.
Ele foi até o banheiro e eu o seguia com o olhar, logo ele tirou a
toalha do armário, a que eu não consegui pegar na primeira vez que eu
entrei aqui e colocou em cima da cama. Então saiu do quarto.
Lucy apareceu logo em seguida, caminhando até mim.
— Eu fiz algo de errado? — perguntei sem entender o que
aconteceu, não sabia, era a minha primeira vez.
— Não, minha pequena, o Lorenzo é o Capo, Capo não tem folga
nem na lua de mel. Também, Lorenzo não tem o costume de dormir com
alguém na mesma cama — falou. — No começo será assim, até ele se
acostumar a dormir com alguém ao seu lado, no caso, até ele confiar em
você de olhos fechados. Ele foi no rifugio, parece que a Alessandra está lá e
tem ainda os problemas dos ataques para resolver, Capo não tem folga nem
no casamento.
Eu não entrei nesse casamento sabendo qual era o interesse do
Lorenzo nele, sabia do interesse do Conselho, mas o dele não. Eu sabia que
queriam que tivesse logo um herdeiro e creio que quanto mais rápido eu
tiver, mais rápido eu me livro do Lorenzo. Tomei meu banho, indo para o
closet, enquanto eu me vestia, conversava com a Lucy.
— Ele não dormia com a Alessandra? — perguntei.
— Só quando tinham as relações, você sabe, sexo — falou
timidamente. — Mas quando ela engravidou, ela começou a dormir em
outro quarto, já que a relação deles também era para ter uma criança.
— Será melhor assim — disse depois que me vesti. — Não vou me
iludir e achar que o Lorenzo sente algo por mim, nossa relação só se baseia
em sexo e nada além disso. Darei o herdeiro e quero ficar o mais distante
dele possível quando isso acontecer.
— Talvez uma certa pessoa o ajude a mudar esse jeito — disse Lucy
sorrindo para mim.
Lucy saiu do quarto, eu voltei para a cama e me deitei. Estava
exausta, o casamento durou o dia todo. Ter que ficar sorrindo e fingindo
amor por Lorenzo foi bem mais difícil do que eu imaginava. Mas amanhã
era um novo dia, espero que as coisas melhorem para que a minha relação
com o Lorenzo seja pelo menos civilizada.
Quando estacionei em frente à casa da Hope, ela havia acabado de
chegar. Caminhei até ela, me segurando para não surtar ali mesmo. Eu sou o
Capo, como ela ousa me desrespeitar desta forma. Ela tinha que aprender a
me respeitar, e ia aprender da pior forma.
Assim que me aproximei dela, segurei no seu braço e vi sua
expressão de pavor. Talvez não esperasse que eu fosse atrás dela e chegasse
tão rápido. Arrastei-a para o meu carro, colocando-a no banco do
passageiro.
O caminho para a mansão foi extremamente rápido. Acelerei para
chegar logo, do jeito que eu estava, temia matá-la. Nem a minha família fez
isso comigo, por que uma ragazza que eu nem conheço acha que pode
destratar como quiser o líder?
Assim que estacionei o carro, a levei para o rifugio. Ela já se tremia
de medo, mas não queria demonstrar para mim.
Hope era um membro da máfia e sendo da máfia tinha que ter
respeito pelo seu líder. Dante que sempre falava da submissão das filhas,
exaltando como sempre conseguiu colocá-las nos eixos e essa ragazza, na
primeira oportunidade, quebra uma regra.
Quando finalmente chegamos no subsolo, a joguei no sofá da sala,
olhando o quanto ela estava apavorada.
— Tragam o traidor! — disse aos meus seguranças. Logo os
seguranças saíram e nos deixaram sozinhos. — Agora me diz, que merda
você tem na porra dessa sua cabeça em achar que pode me deixar falando
sozinho ao telefone? Sabe qual é o seu problema, é porque você não me
teme, o que te faz achar que tem liberdade para falar e fazer o que quiser.
Como todos os outros, se eu desse cabimento uma única vez, fariam
o que queriam aqui, se aproveitando da minha educação ou até da minha
amizade. Por isso que é tão difícil tentar ser sociável com alguém, na
primeira oportunidade eles puxariam o seu tapete e acabariam com você.
— Eu não havia feito nada que ela havia dito — falou com a voz
trêmula.
— Sério? — perguntei sarcástico. — Então a Suzi, a vadia que
trabalha para mim há mais de 20 anos e a Alessandra, a mulher que morou
comigo por quase 10 anos, estão mentindo? Devo acreditar em você, uma
pessoa que eu conheço há poucas semanas por que mesmo?
— Escute... — Não a deixei concluir e dei-lhe um tapa no seu rosto.
Estava sem um pingo de paciência para as suas desculpas. Hope
estava se mostrando ser como as outras pessoas que eu me relacionava, os
aproveitadores, se eu fosse bom, nem que fosse um pouquinho, já se
aproveitavam disso.
— Eu te disse inúmeras vezes que um dia eu ia acabar perdendo a
paciência com você — disse olhando nos fundos dos seus olhos. Conseguia
ver o seu medo, mas não me abalaria, ela tem que me temer para nunca
mais ousar fazer isso. — Se você acha que só porque eu respeitei a sua
decisão de não se entregar a mim, você tem cortesia para fazer o que quiser
aqui, está enganada. Vejo que eu preciso te mostrar que eu sou um monstro
para que você entenda o que vai te acontecer se você me desobedecer só
mais uma vez.
Ela pediu para que eu a escutasse, mas não importava. Ela
aprenderia a me respeitar e nunca mais ousaria me afrontar dessa forma. A
semana estava cada vez fica pior. A porra da carga, o meu casamento, essa
ragazza que insistia em me enlouquecer, a porra de um traidor, era tudo
para tirar o resto da sanidade que eu não tinha.
Logo Red trouxe o traidor, o amarrando na cadeira a frente do sofá.
— Esse figlio di puttana delatou sobre as nossas drogas para os
nossos inimigos e ainda as roubou. Quando foi pego pelos meus homens,
foi um tanto atrevido. Vou te mostrar o que acontece quando não respeitam
o Capo — falei.
Tirei a gravata e subi a manga da minha camisa. Peguei um martelo
e vi que ela parou de encarar, já sabendo o que aconteceria. Ela precisava
ver o que eu fazia quando ousavam me desrespeitar.
— Olhe para cá! — falei. — Se eu te ver desviando o olhar, nem
que seja por um segundo, deixo os meus homens acabarem com você. Seu
olhar mostrava quanto ela estava apavorada. Vi que já havia lágrimas
prontas para caírem dos seus olhos.
— Você foi desrespeitosa com a minha autoridade? — perguntei.
Olhei para ela, mas ela me ignorou.
— Sí, Capo! — respondeu o traidor.
Ele só estava aqui porque eu não podia machucá-la, já que o
casamento estava perto. Sendo homem ou mulher, se quebrasse uma regra,
seria punido igualmente.
— Você foi desrespeitosa com a minha autoridade? — perguntei
novamente.
Eu percebi que ela sabia que eu estava falando com ela, então bati
mais no traidor, até que vi que ela não aguentasse mais.
— Você foi desrespeitosa com a minha autoridade?
— Sim! — respondeu Hope.
— Se sabe das regras, por que as desobedece?
Ela novamente se calou. Quando não era preciso ela falava. Já que
ela não respondia, perfurei o ombro dele e vi que ela não aguentava mais.
— Me desculpe! — falou chorando. — Eu não vou desobedecer as
suas regras, só não o machuque mais, por favor... Não o machuque!
— Você não devia estar preocupado com este traidor, mas sim com
você, Hope.
— Me castigue se por isso — falou entre soluços. — Eu que fiz
besteira, só para de machucá-lo na minha frente.
— Mas esse é o seu castigo, ragazza — falei. Me aproximei do seu
rosto, encarando-a. Por um milésimo de segundo me arrependi de ter feito
aquilo com ela, mas não mostraria o meu arrependimento, conhecendo as
pessoas daqui, usariam isso contra mim na próxima vez. — Entende que na
próxima vez será você ali? — Ela assentiu. — Tirem ela daqui!
Red a levou para fora, logo liguei para Lú para pegá-la na entrada
do prédio. Ela agora sabia o seu lugar, não ousaria mais me afrontar
novamente como fez mais cedo. Voltei minha atenção para o traidor.
— Então, seu arrombado, você ousou me trair? — indaguei para o
inútil a minha frente.
— Eu posso explicar... — Interrompi-o, perfurando o ferro na sua
coxa.
— Eu não quero ouvir mais as suas mentiras — falei.
O cheiro forte de sangue tomou conta do lugar fechado, os gritos
haviam cessado, mas os gemidos de dor não.
— Roubar as minhas drogas já foi uma loucura, mas me trair
justamente na semana de merda que eu estou tendo, chega a ser suicídio —
declarei.
— Vocês já conseguiram as cargas de volta — falou pausadamente.
— Eu não vou fazer de novo.
— Claro, porque você vai estar morto — disse, o encarando. — Eu
não perdoo traição.
— Eu já disse tudo que sei a Elite, os Juízes não descobriram para
quem foi que eu ia vender as drogas, eu só quis ganhar um dinheiro extra e
eles estavam interessados nas cargas, que eu achei que seria fácil —
balbuciou, mas eu não ligava mais para as suas desculpas.
— Eu tenho mais o que fazer, ao contrário de você, eu tenho o dia
todo pela frente — disse, caminhando para perto do meu paletó.
Ele estava desnorteado com o sangue que estava perdendo e com os
machucados que tinha, logo morreria.
— Para onde vão me levar? — indagou, já mostrando que
desmaiaria.
— Para a vila dos unicórnios — debochei. — Idiota!
Meus homens o tiraram dali, arrastando-o para outra sala para
terminar o serviço.
— A Lucy a levou para a mansão — disse Red entrando na cela.
— Os tempos de trevas voltaram novamente — falei.
— Estou notando isso, os ataques começaram a aumentar este mês
— comentou. — É preciso aumentar a segurança novamente, não vamos
vacilar como da última vez... — Lembrou da morte da minha filha. —
Desculpa!
— Não, temos que aumentar mesmo, principalmente agora que eu
estou de casamento marcado — falei.
Saí da cela e caminhei até em casa. Encontrei Lú na cozinha,
preparando algo.
— Onde ela está?
— Que susto! — disse Lucy se virando para me olhar. — Ela está
no meu quarto.
Teria problemas com isso. Lucy estava começando a gostar dela, o
que não era ruim, porque pelo menos as duas teriam com quem conversar
aqui. O ruim seria a Lucy querer sentir suas dores ou começar a me encher
o saco igual era com a Alessandra quando as duas viviam se matando aqui
dentro de casa.
— A traga aqui, quero que ela coma comigo — informei.
Lú saiu, indo ao seu quarto. Não demorou muito para Hope aparecer
na sala de jantar, ela se sentou na cadeira em silêncio, encarando as suas
mãos. Ela não me olhou e muito menos demostrava que falaria algo
comigo.
— Você come carne? — perguntei.
Queria saber o quanto ela me ignoraria.
— Sim.
— Você vai querer beber alguma coisa? — insisti, encarando-a,
enquanto ela não me olhava.
— Sim, um suco!
— Está evitando conversar comigo, respondendo só palavras breves
para não ter que continuar a conversa? — perguntei.
— Sim... quer dizer, não! — respondeu, agora me olhando.
Ri do seu desespero, ela logo pareceu ficar ainda mais brava. Ia me
divertir ainda mais com ela, até que o meu celular tocou.
Com os ataques e os roubos, estava difícil ter paz por muito tempo.
Resolvi uns assuntos sobre o transporte da nova mercadoria pelo telefone.
Com a aliança com os russos, espero que os meus inimigos temam
continuar a me atacar sabendo que as minhas alianças com as outras máfias
estão crescendo gradativamente.
Sem perceber, já havia terminado de almoçar. Hope se levantou da
mesa, ajudando a Lucy.
Quando terminei a minha ligação, fui atrás da senhorita Bellini.
Assim que cheguei na cozinha, ela estava terminando de lavar a louça com
a ajuda da Lucy. Ela estava mais alegre, mas certamente quando me visse o
seu sorriso sumiria. Me encostei no balcão, analisando-a.
Realmente ela era muito diferente, não sei explicar, mas esse jeito
dela me atiçava. Estava arrependido de tê-la levado para o rifugio, mas eu
realmente espero que ela não cometa o mesmo erro novamente. Quando ela
terminou, logo se virou me pegando no flagra a encarando.
— Andiamo, vou te deixar em casa — avisei.
Vi que a sua bochecha estava vermelha, deve ter sido o tapa que eu
dei. Eu não pensava na hora da raiva, então sempre extrapolava, depois
vinha o arrependimento. Já atirei no meu irmão e no meu pai sem querer,
imagina com ela que sequer conhecia, o que faria o dia que eu realmente
perdesse o controle?
Peguei uma bolsa de gelo na geladeira e levei comigo, já que Hope
não estava mais na cozinha e foi me esperar no carro. Entrei no veículo em
seguida, entregando a bolsa de gelo. Ela colocou no rosto como se fosse
normal apanhar.
Nunca fui de bater em alguém que não fosse um traidor ou que me
ofendesse. Já matei diversas mulheres, mas as tratei igualmente como
trataria um homem que me traísse. Pelo dano em Hope na casa de Enzo um
tempo atrás, o pai dela deveria fazer isso com frequência.
Afastei esses pensamentos, logo acelerando o carro. O caminho para
a casa dos Bellini foi rápido, ela não tentou abrir a boca nem por um
segundo. Assim que parei em frente à sua casa, ela tirou o cinto de
segurança, apressada para se livrar de mim.
— O casamento foi marcado para daqui a 6 dias — comentei o que
me foi passado pela manhã. — E amanhã será o jantar em que eu vou
anunciar o nosso casamento. Suzi deve aparecer aqui amanhã à tarde.
— Certo.
— Sobre o que aconteceu hoje, espero que tenha ficado tudo as
claras sobre como eu lido com pessoas desobedientes — disse, querendo
frisar isso com ela, eu realmente não pretendo ter que corrigir um erro dela
novamente.
— Sim, ficou!
— Então por que caralhos você ainda está assim? — perguntei.
Ela parecia com medo e isso eu entendia, eu a machuquei, mas não
entendia o desapontamento, como se tivesse criado expectativas de um
homem bom que nem nas histórias que eu costumava ler para a minha filha.
— Assim como?
— Sei lá, eu não entendo a porra das emoções das pessoas — falei.
— Está chateada, com raiva, triste, sei lá que caralho. Seja lá que porra
você está sentindo, eu quero saber o porquê.
— Estou chateada, Lorenzo — desdenhou. — Você nem me escutou
pra saber se era verdade. Sei que você conhece elas há mais tempo que me
conhece, mas você acha que eu, com o pai que eu tenho, eu cometeria erros
tão banais como os que elas falaram? Você já havia me avisado e eu estava
ciente de que não poderia cometer erros. Por que eu seria tão estúpida ao
ponto de fazer algo que pudesse me prejudicar com você? Não precisa
responder nada. Fui castigada e já reconheço o que eu posso e o que eu não
posso fazer. Você torturou aquele homem pensando em mim e quer que eu
não fique indiferente? — indagou. — Sei que cometi um erro sendo
desrespeitosa com você por ser o nosso líder, mas se você tivesse pelo
menos me escutado antes, teria evitado tudo isso. Agora eu posso ir
embora?
Detesto ser enganado, mas ela não sabe mentir, então tem alguém
mentindo para mim. Antes de sair, ela me deu um beijo tão amargo e rápido
que pude sentir seu desprezo. Ela saiu do carro, logo saí de frente da sua
casa, ligando para as duas vadias que estão me enganando, solicitando que
me encontrassem no escritório da boate.
— Boa tarde, senhor! — disse Rubens, assim que eu cheguei na
boate.
— Estou esperando duas pessoas, libere a entrada delas duas para o
meu escritório — informei e ele assentiu.
Entrei na minha sala, logo indo para a minha mesa. Era problema na
máfia, problema na boate, problema no casamento. Porra, de tanto
problema. Não demorou muito para as duas entrarem juntas na minha sala.
Elas se sentaram na cadeira a minha frente em total silêncio.
— Tem alguém mentindo para mim, agora eu quero saber qual das
duas — disse, as encarando.
— Ela não quis a nossa ajuda, senhor. Não iríamos mentir nisso, ela
nem estava querendo ir atrás de um vestido, que dirá nos ajudar com os
preparativos — disse Suzi.
— Mas se eu estou pagando você, é para que nem eu e nem ela
tenhamos problemas com isso, não acha? Sua função é organizar e nos
informar como que está o andamento dos preparativos do casamento —
disse.
— Ela estava relutante em relação a isso, senhor — disse Suzi. —
Me perdoe, vou tentar mudar isso.
— E você, Alessandra? — perguntei, notando o seu silêncio.
— Eu? Eu não tenho nada a ver com isso — disse Alessandra. — Eu
vim aqui só porque me pediu, mas a criança com que você está se
envolvendo que não quer a minha ajuda.
— Quer saber? Que se fodam vocês duas, só saiam daqui, já tenho
muito problema para resolver, não quero ficar nessa porra de enrolação de
vocês duas — ordenei.
Elas saíram rapidamente da sala e eu tratei de ir logo agilizar os
documentos da boate. Com o meu casamento e os eventos se aproximando,
não teria tanto tempo depois.
Hoje aconteceria a festa onde eu anunciaria a minha esposa. Estava
com o Enzo, já que ele queria ter a certeza que eu não estaria bêbado na
apresentação de noivado.
— Está acabado, irmão — comentou Enzo zombando de mim.
— Cansado, não durmo há dias — respondi, dando o último gole no
líquido que havia em meu copo. — Os problemas começaram a piorar este
ano.
— Ainda tem os pesadelos com a Antonella?
— Nunca deixei de ter. Os anos se passando e as minhas memórias
dela estão sumindo. — Suspirei. Não queria falar mais nisso, porque eu sei
como eu fico depois de tocar no nome dela. — Seremos família agora, já
que eu estou me casando com a irmã da sua esposa.
— Trate a Hope bem, por favor! — pediu. — Sei que a Lisa surtaria
e a Hope é uma boa garota.
Se ele soubesse que a levei para o rifugio ontem, certamente ficaria
puto comigo. O celular do Enzo tocou, fazendo ele se distanciar para
atender.
— Tenho que ir, antes que a Lisa mate alguém — falou, guardando
o celular no bolso. — Não se esqueça do seu compromisso a noite, não
invente de beber ou de sumir.
— Eu sei, eu vou comparecer — disse. — O que foi que aconteceu?
Lisa e o Nando estão bem?
— Eles estão bem, mas acho melhor você não saber o motivo ainda.
— Conte logo! — ordenei.
— Pelo que parece, a Alessandra está na casa da Hope, não sei o
que aconteceu, mas a Hope está prestes a matá-la — respondeu. Sabia que
ele falaria, do jeito que é fofoqueiro. — Para chegar nesse ponto, onde a
doce Hope pense nisso, imagino o que aquela a louca da Alessandra deve
estar fazendo lá.
— Depois você pergunta o porquê do meu mau humor, sempre tem
problema para eu resolver, como não ficar puto com isso!? — disse, ficando
em pé. — Você cuida da sua esposa e eu vou cuidar da minha.
Nem casei e só tenho dor de cabeça agora. Enzo saiu com o seu
carro e eu com o meu. Não demorou muito para chegar na casa da Hope.
Apertei a campainha, logo sendo atendido pela irmã mais nova, a Kitty.
— Oi, princesa, cadê a sua irmã? — perguntei.
— Está lá em cima, Capo — respondeu.
Kitty me explicou onde era o quarto, logo caminhei até a escada, já
escutando um falatório alto lá em cima.
— Vou ligar para o Lorenzo. — Escutei Suzi dizer.
Porra, já estou vendo mais problemas pela frente.
— Ligue, não estou nem aí, mas ligue fora da minha casa — disse
Hope.
Acelerei os passos para chegar lá e antes que eu abrisse a porta,
Hope a abriu se assustando ao me ver ali.
— Que porra está acontecendo aqui? — perguntei sem paciência.
Parecia que eu não era o único que estava perto de surtar.
— Estou farta! — declarou enfurecida. — Eu juro por Deus que vou
esganá-las.
Nossa, a ruiva estava mesmo brava.
— Onde pensa que vai? — perguntei.
— Sair daqui, se quiser me castigar, me castigue, mas não vou ficar
no mesmo local que elas — falou.
Ela sabia que eu a puniria e tenho certeza que se lembrava do
castigo do rifugio e mesmo assim saiu. Me pergunto o que aconteceu aqui.
— Querem me explicar ou devo arrastá-las para o rifugio?
— Lorenzo, ela que é muito sensível — disse Alessandra. — Não se
pode dizer nada que já se estressa.
— A Hope? — Ela era muito gentil e bondosa para tratar alguém
daquela forma. — Então quer dizer que estou louco e não aconteceu nada
aqui?
— Você nem se casou e já a defende — retrucou. — Eu tentei
ajudar, mas ela não quis.
Aquilo eu estranhei. Tinha meus problemas com a Alessandra, mas
era pelo seu temperamento que era incompatível com o meu. Ela ficou
longe muito tempo e voltou agora como se nada tivesse acontecido. Ela
nunca me deu problema com algo referente a isso.
Que porra ela está tentando fazer?
Desde o dia que retornou é só me dando problemas, tocando no
nome da nossa filha, algo que para ela também era inadmissível ser
mencionado.
— Ela está falando a verdade — disse Suzi com os olhos
lacrimejando.
— Se for chorar eu juro que te jogo dessa janela — Falei.
— Senhor, ela não aceitou os nossos vestidos. — Suzi apontou para
a cama. — E fez birra quando eu disse que te ligaria.
— Estou farto dessa porra de vocês! — falei. — Porra, vocês acham
que eu tenho tempo para essa briguinha de merda de vocês? Eu estou
querendo matar vocês aqui... — Me calei quando a irmã mais nova da Hope
apareceu na porta. — Saiam daqui agora!
Elas saíram rapidamente, sabendo que desta vez eu realmente as
mataria se não fossem salvas pela Kitty aparecendo justamente na hora que
eu estava quase surtando.
— Achei que a minha irmã estivesse precisando de ajuda, já que o
senhor apareceu aqui — falou. — Escutei a gritaria e por um momento
achei que fosse o pai que tivesse brigando por algo ou até com o senhor.
— Não, está tudo bem aqui — disse. Dante não é tão corajoso como
ela acha que é. — Chame a sua irmã para mim, por favor!
Ela saiu do quarto, me deixando sozinho. Notei que o quarto era
bem a vibe da Hope. Os livros enfileirados, alguns ursos e fotos na parede,
tinha uma inocência e uma pureza que eu não conseguia descrever.
Ela tinha um belo sorriso tanto pessoalmente como nas fotos, boa
demais para estar aqui no meio disso. Sou um monstro e não nego, conheço
quando alguém não merece a vida que tem, e ela e a sua família me fazem
ter mais certeza disso.
Logo escutei o barulho na porta.
— Feche a porta e tranque! — disse assim que vi ela entrando. —
Tem algo para me falar?
— Do que adianta? Você não vai acreditar em mim — falou.
A ruiva estava bem brava hoje.
— Se você não estivesse tão linda, te daria umas palmadas agora —
falei. — Responda o que eu quero saber, ruiva.
Me aproximei, a deixando em alerta com a minha aproximação.
— O que você quer saber? O que elas falaram ou o motivo de eu
querer jogá-las escada abaixo? — indagou.
— Está bravinha! — brinquei. — Nunca havia visto você tão brava.
Já escutei a versão delas e não gostei muito do que eu ouvi, mas já que não
seria justo eu não escutar a sua, estou esperando você me contar o que
aconteceu aqui.
— Elas... — Não deixei que ela terminasse, beijando o seu rosto,
fazendo um percurso até a sua boca.
Não conseguia ficar dois segundos perto dela, sem querer tocá-la.
Ela tinha algo, não sei se era esse olhar ou esse jeito dela que me deixava
excitado. Toda vez que eu a via ou sentia o seu cheiro, meu corpo era
puxado como um ímã até ela, era absurdo como eu sentia uma conexão com
alguém que eu mal conhecia.
— Pode falar, ainda estou escutando — sussurrei em seu ouvido. —
Nunca pensei que acharia excitante alguém vestida.
Voltei a beijá-la, notando que ela se arrepiava com cada toque meu.
— Não consigo formar uma palavra, tem como parar um pouco? —
perguntou. Ri, sabendo que eu a estava deixando.
— Fale!
— Elas não estavam fazendo nada. Você viu o vestido que elas
trouxeram? — Apontou para a cama e logo ficou decepcionada com o que
viu. — Está de brincadeira!
— Se quer que eu preste atenção no que fala, pare de fazer isso.
Estou disposto a te jogar naquela cama e te dar a melhor foda que você vai
ter em sua vida — disse, após ela jogar a cabeça para trás, me dando uma
bela visão do seu pescoço.
— Não eram esses vestidos — respondeu. — Enfim, qual será o
meu castigo?
— Já desistiu de provar sua inocência? — perguntei.
— Não a como provar, se eu não tenho provas, o Juiz me condena
como culpada, fim do julgamento — brincou.
Gostava desse seu humor.
— Vou deixar essa passar, só porque eu realmente estou de bom
humor hoje — disse, olhando as horas no meu relógio, notando que estava
começando a ficar tarde. — É melhor terminar de se arrumar.
— Tudo bem! — Ela tentou sair de perto de mim, mas não deixei.
Queria beijá-la e adorava quando ela tomava a iniciativa.
— Está querendo me beijar? — indagou nervosa.
— Está me brincando comigo, ruiva? — perguntei.
Ela não falaria isso, pelo pouco que eu a conheço, ela era tímida ao
ponto de ficar vermelha de tanta vergonha.
— Só fiz uma pergunta, Capo — falou
— Está agindo estranho hoje, ainda estou tentando entender o
motivo — falei. — É um jogo ou você fica nervosa e age impensada?
Ela não respondeu, me beijando em seguida. A ragazza para beijar
bem! Agarrei sua cintura, juntando mais o seu corpo no meu. Me sentei em
sua cama, a colocando em meu colo. Apertava seu traseiro, fazendo-a soltar
leves gemidos.
Queria jogá-la ali mesmo e rasgar aquela sua roupa, mas sei que ela
quer esperar até se casar, e com muita força, eu parei de beijá-la.
— Eu disse que respeitaria a sua decisão de se entregar a mim só
depois do casamento, mas você tinha que ser tão atraente, ragazza? — falei.
Ela parecia envergonhada. A coloquei de pé novamente e saí do seu
quarto. Tinha que correr contra o tempo hoje.
— Lú, pegue meu smoking preto e deixe-o separado, já chego em
casa — disse, ligando para ela.
— Tudo bem! — falou.
Desliguei a ligação e corri para o meu carro. Assim que eu cheguei
na mansão, tinha que resolver umas coisas no rifugio. A minha sorte que a
festa de noivado era aqui na ala oeste. Entrei no prédio, indo para o 4°
andar.
— O relatório da missão de segunda-feira chegou — disse Red me
entregando o envelope.
— Vou ver agora, não deixe que ninguém entre no meu escritório —
avisei.
Sentei-me na cadeira e comecei a dar uma olhada na documentação
nas minhas mãos. Tinha 1 hora para resolver isso.

Já na festa, os convidados já estavam chegando. Fui para a mesa


onde a minha família se encontrava.
— Oi, filho! — disse minha mãe a mim, apenas acenei com a
cabeça.
Todos estavam em total silêncio, quando o Enrico resolveu quebrar
o desconforto que nós nos encontrávamos.
— Não vai nos dizer quem é a felizarda? — perguntou Enrico, o
caçula.
— Logo saberá — disse.
— Você não escolherá as russas, do jeito que é desconfiado — disse
Pietro se entrosando na conversa. Ele estava certo. — Entre a loira da ponta
e a ruiva... Porra, são muito bonitas!
— É, fale mais e deixe a sua esposa escutar — disse. O Enrico e o
Pietro mudaram muito depois que casaram e tiveram seus filhos. Nem
quando eu me casei com Alessandra me tornei como eles são hoje. É amor
para cá, é amor para lá.
— Já eu descubro quem é, só pelo seu jeito possessivo — zombou
Enrico. — A loira é muito bonita, um belo par de peitos e deve ser boa de
cama. — Enrico me olhou esperando alguma reação minha, já que não teve,
voltou a falar. — A ruiva é muito bonita também. Tem um belo corpo e um
sorriso amável demais para as pessoas daqui. Vai se foder, Lorenzo, é ela,
não é? Nossa, ela é muito bonita!
— Vai se foder! — retruquei. — Não disse nada, como sabe?
— Seu olhar mortal. Você treme a pálpebra quando fica puto —
disse Pietro. — Mas ela é bonita mesmo.
— Terá problemas viu, ela parece doce demais para um puto como
você — disse Enrico.
— Está querendo morrer? — indaguei e eles riram. — Cuidem da
vida de vocês, seus arrombados.
Os malditos riram, zombando de mim.
Vamos logo começar isso!
— Boa noite! — falei assim que subi no palco e peguei o microfone.
— Obrigado pela presença de todos esta noite! — Os olhares curiosos
ansiosos para descobrirem quem era a minha noiva. — Sei que estão
ansiosos para saber quem eu escolhi para ser a minha esposa. Todas as
moças eram muito belas e espero que os aliados que fiz nesse período,
permaneçam ao meu lado. Bem, sem mais delongas, a minha futura esposa
será a filha do Dante Bellini. Hope Bellini, venha até aqui, por favor!
Não quis enrolar muito, tinha muita coisa para resolver. Quando
anunciei todos pareciam surpreso, talvez porque ela fosse mestiça. Os mais
devotos ainda tinham esse problema de um “metade” italiano na máfia.
A ruiva caminhou até o palco lentamente, mostrando o seu
nervosismo, já que não tirava os olhos do chão com medo de cair. Não
conseguia parar de olhar para ela, estava muito bonita. A leveza com a qual
ela se aproximava me trazia sentimentos estranhos.
O que ela tinha que me deixava assim?
Quando chegou ao meu lado, coloquei minha mão em sua cintura e
os fotógrafos logo começaram com os flashs.
— Andiamo, ragazza, sorria — disse no seu ouvido, já que ela
estava parada apenas encarando a multidão sem nenhuma expressão. —
Finja que pelo menos está feliz.
Ela logo sorriu forçadamente, mas mesmo assim não conseguia ser
menos atraente ou menos angelical. Quando a sessão de fotos terminou,
esperamos na entrada os membros virem falar conosco. Muitos não eram a
favor de eu ter me tornado Capo, já que a maioria preferia o Leonel.
Porém, a beleza da minha futura esposa chamou atenção de todos,
sempre a elogiavam, mesmo não se agradando da sua patente ou do fato de
não ser italiana. Foi quando senti algo apertando o meu braço, vi que era a
Hope. Ela nem havia notado o que estava fazendo.
Ela olhava para um ponto específico, mais assustada do que no dia
do rifugio.
— Posso ir atrás da Lisa? — perguntou para mim rapidamente.
O que a estava deixando daquele jeito? Quando olhei para onde ela
olhava, vi o seu pai se aproximando de nós com um outro homem.
Ela temia tanto assim o pai? Não, não acredito que seja isso.
— Desculpe-me, Capo, por interromper o seu sossego, mas gostaria
de apresentar o meu irmão, Marco Bellini — disse Dante apresentando o
irmão.
Lembro que ela mencionou sobre o tio, então era esse? Agora fazia
sentido, o cretino que ela não gostava, mas não era para tanto. A não ser
que houvesse coisa que eu não soubesse. Meus homens não conseguiram
nada sobre essas “férias” dela na casa do tio. Era como se nunca tivesse ido
até lá.
— É um prazer conhecer o senhor! — disse Marco estendendo a
mão e eu ignorei. Não sou conhecido pela simpatia. — Fico feliz em saber
que a minha sobrinha irá se casar com o senhor. — Tentou encostar na
Hope, que logo se esquivou, indo para trás de mim.
Ela parecia uma criança apavorada. Eu não estava entendendo nada
e não gosto quando isso acontece.
— Você não ia atrás da sua irmã? — perguntei.
Ela me deu um beijo no rosto e saiu. Devo dizer que ela foi bem
treinada para ser esposa a esposa perfeita.
— Vejo que a minha filha já está se saindo muito bem como sua
noiva, senhor — comentou Dante. — Ela é a mais fácil de lidar das irmãs, o
senhor não vai ter problemas com ela.
— Hope certamente é a mais fácil mesmo, sempre aguenta tudo
calada — disse Marco a olhando estranho, enquanto ela se aproximava do
Enzo.
— Se quer seguir enxergando, tira o olho da minha mulher — falei,
me aproximando dele. — Faço você comer os seus olhos se eu te ver
olhando para ela assim novamente.
Sentia a malícia no seu olhar, não queria esse olhar para ela de
ninguém além de mim.
— Eu sou o tio dela, não faria mal, somos família — falou.
— É melhor ficar calado. — Escutei o Dante falar com ele.
— Me deem licença! — disse, indo atrás do Enzo, sem paciência
para fingir simpatia com ninguém hoje. O foda de ser Capo era que eu tinha
que aturar gente falando besteira no meu ouvido direto. — Que porra está
acontecendo?
— Terá que se acostumar com isso, Lorenzo. Sempre que esse
maldito aparece, a Lisa some. Vou atrás da minha esposa — respondeu, não
respondendo à pergunta que eu fiz.
— E você não sabe o que é? — perguntei.
— Tenho alguns palpites, a Lisa nunca foi muito clara comigo sobre
o que aconteceu. Estou esperando o momento de ela falar comigo, sem que
ela se sinta obrigada a dizer o que aconteceu em detalhes — falou, me
deixando confuso.
Ele não disse mais nada, como sempre não nos deixava saber de
muita coisa para não nos preocuparmos com ele. Enzo caminhou até onde
ficavam os banheiros e eu fui com ele.
Se isso estragar o meu casamento, cabeças vão rolar. Os Juízes vão
infernizar a minha vida junto com o Conselho, eu realmente espero que seja
lá que porra esteja acontecendo com essa família da Hope, não me traga
mais problemas com a liderança. Minha cota de confusão está cheia com
eles.
— Fique aqui, vou ver como está lá dentro — disse Enzo me
entregando o Nando.
Não me meti já que era a esposa dele.
— Estou com sono, tio Lorenzo — reclamou Nando coçando os
olhos.
— Vou pedir para o seu pai te levar para casa — respondi. — Você
comeu? — Ele assentiu. — Encoste a cabeça aqui que daqui a pouco você
vai para casa.
Nando encostou a cabeça próximo do meu pescoço, enquanto eu
esperava o Enzo voltar. Não demorou muito e ele logo saiu do banheiro
acompanhado da irmã da Hope, a Kitty.
— Vou deixá-la e já volto — falou.
— Nando está com sono, vai para casa que eu cuido disso — falei.
— Não, isso realmente não vai se resolver com você ou comigo, a
Hope dá um jeito lá dentro — falou, pegando o Nando dos meus braços
como se fossem comum isso acontecer. Não lembro dessas crises da Lisa.
— Vou deixá-los na minha sogra e volto para ver se a Lisa está bem.
Fiquei encostado na porta, que acabei sem querer escutando um
pouco da conversa lá dentro.
— Você está bem! Olhe para mim, não estamos machucadas —
choramingou. Ela estava falando algo relacionado ao pai que batia nelas?
Sei que nisso nem eu e o Enzo pode interferir, até porque mesmo eu sendo
Capo, a família não era minha, só se quebrasse as regras, aí eu poderia me
meter — Lisa, por favor! — Isso está estranho demais. Que porra aconteceu
com elas? — Viu, eu não estou sangrando. Você está bem!
Torturadas? Não, não pode ser, existem leis e devem ser seguidas.
Castigar é diferente de torturar. Tortura só é feita no depósito e no rifugio.
Foi quando Enzo chegou.
— Algo nisso tudo não me cheira bem. Tem alguém quebrando as
regras e descobrirei quem é — avisei, logo me calando quando a Hope saiu
do banheiro com a irmã.
Enzo levou Lisa para casa e levará a Kitty também. Isso tem dedo
do tio, mas em quê especificamente?
— Quer me contar o que está acontecendo? — perguntei.
— Não — sussurrou.
— Não? — repeti.
— Por favor, não é o meu segredo, então não me peça para te contar
— falou.
— Mas lhe envolve, não é? O que está acontecendo aqui? Nunca vi
a esposa do Enzo desse jeito e principalmente ele assim — disse.
— Não é nada — mentiu.
Estava querendo ajudar, mas com ela sempre tenho que ser o Capo e
não o Lorenzo.
— Se isso chegar a atrapalhar o nosso casamento...
— Não vai! — disse Hope. — Eu posso dormir na sua casa hoje?
— Por quê? — estranhei. — Você está sempre me evitando desde o
dia do seu castigo, talvez com medo de fazer algo errado e sabendo que será
castigada por mim na próxima vez. Agora repentinamente quer ficar perto
de mim? Sei que aí tem coisa, Hope. — Me aproximei mais dela, olhando
em seus olhos. — Se algo chegar a atrapalhar o nosso casamento ou
envergonhar a minha família, seja você ou a porra da família do seu pai, eu
mato os envolvidos nessa merda.
Não iria admitir ser ridicularizado por algo que a família da minha
esposa estivesse envolvida, seja lá que porra esteja acontecendo.
— Não vai atrapalhar em nada, não é nada sério — mentiu
novamente.
— Se quiser dormir, pode ir, a casa será sua mesmo em alguns dias.
Agradeceu e voltamos para a festa.
— Finalmente pude te conhecer melhor — disse Leonel beijando a
sua mão.
— Olá, Hope! — disse Lucca já com o seu sorriso diabólico de
sempre. — Faz uns dias que não nos vemos.
— Desculpe, eu conheço o senhor? — perguntou Hope nervosa. —
Quando nos vimos que eu não me lembro?
Encarei a ruiva, porque sabia que Lucca já devia ter começado com
as suas brincadeiras de tirar a minha paciência.
— No dia ... — Leonel interrompeu o filho.
— Lucca, deixe de querer causar confusão. — Lucca saiu rindo, já
que viu que o pai não estava a favor da brincadeira. — Desculpe o meu
filho, ele é bastante encrenqueiro. Nos vemos depois, senhorita Bellini.
Leonel saiu, e antes que pudesse perguntar onde a Hope conheceu o
Lucca, Federico pede para falar com ela.
— Oi, galã! — disse Alessandra assim que se aproxima de mim.
— O que quer?
— Nada! — Ajeitou a minha gravata. — Não posso falar com você
sem interesse?
— Poder pode, mas conhecendo você, está interessada em algo —
falei.
— Preciso de dinheiro para uma viagem. — Está aí o interesse. —
Qual é Lorenzo, faz tempo que eu não peço nada e o dinheiro mensal está
difícil de me manter. Não consigo trabalho e a minha família me virou as
costas. É só um pouco a mais para algo que eu quero fazer.
— O que você quer fazer? — perguntei.
— Desde quando você pergunta? Não é mais fácil me dá sem
estresse com as explicações? — falou.
— Só estou estranhando, você não é de me pedir dinheiro, do jeito
que é orgulhosa. — Falei. Tinha meus problemas com ela, mas essa daí era
muito parecida comigo nesse quesito. — Qual é o interesse?
— Vai me dar ou não?
— Não!
Hope logo se aproxima, ignorando Alessandra do meu lado. Não sei
se achava bom, mas a Hope nem se importava quando me via com alguma
mulher. Quando éramos casados, Alessandra tinha surtos de ciúmes. Na
verdade, ela gostava de provocar todo mundo, até encher o meu saco com
isso.
Logo Alessandra tocou no nome da nossa filha e isso sempre me
doía. Nós dois temos os nossos problemas, mas ela sofreu de um lado e eu
do outro. A minha salvação foi a solidão e a dela foi se transformar em
outra pessoa. Todos mudamos, eu, a minha família, ela, era difícil a nova
realidade. Eu mesmo já não me reconheço mais.
— Andiamo, senhorita Bellini! — Puxei Hope para perto,
caminhando para o estacionamento.
Queria ir para casa encher a cara. Entramos no meu carro e o
caminho para mansão foi o mais silencioso possível. Quando chegamos em
casa, mandei Hope entrar, enquanto eu tentaria entender que merda estava
acontecendo.
— Peça que investiguem o Dante Bellini e o Marco Bellini. Se eles
conseguiram quebrar regras debaixo do nosso nariz e não descobrimos,
imagina quem tenta aqui dentro contra a minha vida — disse ao Red para
falar com o Josh.
— Algo sério, senhor? — perguntou Red.
— Não sei, escutei metade de uma conversa, mas não posso tirar
conclusões precipitadas sem saber do resto — disse.
Como aqui trabalhamos com leis, tinha que informar aos Juízes
sobre isso para que quando eu descobrisse o que aconteceu, os culpados
fossem julgados. Nós investigamos e cuidamos de ser o mais transparentes
possíveis com os membros, porque a apesar de tudo, aqui é uma sociedade e
sem regras isso seria uma puta confusão.
Saí do prédio, indo para casa. Cheguei no meu quarto, mas lembrei
que tinha uma visita no quarto ao lado. Assim que cheguei no quarto de
hóspedes, abri a porta silenciosamente e vi Hope deitada no chão perto da
lareira.
— Que droga! — sussurrou.
— Perdeu a sanidade que lhe restava, senhorita Bellini? — indaguei,
a assustando.
Entrei no quarto e caminhei para mais perto dela.
— Não estava conversando sozinha, apenas pensei alto —
respondeu.
Me sentei ao seu lado e logo percebi o seu desconforto.
— Quero saber o que você e o Lucca estão tendo? — perguntei.
Sabia que ela não teria coragem de se aproximar dele, mas queria a
ouvir falando isso.
— Quê? Eu e ele? Não temos nada.
— Sério? Não me pareceu quando ele falou com você hoje cedo e
você fingiu que não o conhecia — disse cínico.
— Ele... — Não a deixei continuar, me pus por cima dela, me
apoiando com as minhas mãos no chão.
Eu não sei o que ela faz para que eu sempre queira estar perto dela.
Tocando em sua pele, a beijando, escutando o som suave da sua voz. Ela
tinha algo que me deixava intrigado e isso martelava na minha mente
porque eu não conseguia entender. Ela tinha um poder absurdo sobre mim
que me desarmava. Não sei se essa pureza que ela me transmite ou essa
leveza e calma que ela passa em suas ações.
Essa ragazza me enlouquece!
— Esperando você se explicar... — sussurrei no seu ouvido. — Esse
é o único jeito que eu me vejo, eu escutando algo dessa sua boca, ragazza.
— Não tem “a gente”, é sério — respondeu nervosa. — Quando eu
vim no domingo, ele veio falar comigo, mas eu o ignorei. Pode olhar as
câmeras de segurança se quiser.
— Então por que mentiu que não o conhecia? Estava óbvio a sua
mentira para todos nós presentes — falei.
Eu não pretendo perder mais ninguém nem em vida e muito menos
em morte.
— Bem, eu vi o que ele estava tentando fazer, eu não ia cair no
joguinho dele de chamar a sua atenção. Eu sabia as regras, não iria quebrá-
las. Fui castigada e não pretendia deixar que isso acontecesse de novo.
Encarei a ruiva e não consegui mais me controlar, tinha que tocá-la.
— Estou esperando você mostrar que eu posso te beijar — falei. Ela
tinha um olhar que sempre fazia quando queria que eu continuasse. Eu
queria ver, porque assim que eu o visse, era a partida que eu precisava para
continuar. Até que ela sem ao menos saber que tinha esse olhar mais
intenso, me olhou dando sinal verde para prosseguir. — Era esse olhar que
eu queria ver.
Agarrei os seus lábios com um beijo feroz. Hope colocou a sua mão
na minha nuca, apertando suavemente o local. Minha língua passeava pela
sua boca com um desejo de passá-la em cada centímetro da sua pele. Desci
os beijos para o seu pescoço e seios, dando leves mordidas por cada
percurso que eu fazia.
Que belo par de peitos! Comecei a desabotoar o seu vestido e
escutava seus gemidos com o meu toque em seu corpo. Quando joguei seu
vestido longe, pude deslumbrar o belo corpo que ela tanto escondia.
Porra de mulher gostosa!
— Caralho... — Era a única coisa que eu consegui dizer. Apertei
mais seu quadril, roçando o meu membro em sua intimidade. A ruiva
começou a se empolgar, logo me ajudando a tirar minha blusa
Quando ela ia desabotoar a minha calça, o maldito do meu celular
tocou. Resolvi ignorar, mas ela começou a da importância a quem ligava.
Praguejei por terem atrapalhado a minha foda.
— Porra! — Caminhei até o telefone doido para matar o infeliz que
acabou com a minha foda. — Espero que seja importante, senão eu arranco
a sua cabeça e te jogo em praça pública.
— Senhor, atacaram a boate e o Rubens foi baleado — disse Red.
Hope já estava vestida e me entregou minha camisa. Não tenho
sossego nem por um segundo e ainda perguntam por que vivo de mau
humor.
— Estou indo para ir! — disse desligando o meu celular. Olhei para
Hope que parecia confusa. — Você não irá para casa, fique uns dias aqui até
o casamento talvez, se não for adiado. Mandarei alguém pegar algumas
roupas para você na sua casa. Em hipótese alguma saia da minha casa,
entendeu?
Saí do quarto indo para a boate. Deve ter sido os russos. Não escolhi
nenhuma de suas pretendentes. Que inferno de dia! Atrapalharam minha
foda e ainda tenho um homem baleado.
Assim que cheguei na boate, já fui atrás de saber o que aconteceu.
Red já estava aqui, fazendo o reconhecimento do lugar.
— Eles entraram pela porta da frente, mataram os seguranças da
entrada e metralharam a boate, mas ninguém morreu lá dentro, fazendo
vários feridos. Os seguranças que ficam na parte de trás estavam cuidando
dos invasores que tentaram entrar por lá, controlando-os — disse Red. —
Eles fugiram em uma van, a encontramos no ferro velho queimada, então
sem digitais. Acha que pode ter sido os russos?
— Talvez ou alguém querendo armar para que eu duvidasse também
dessa aliança com eles, sabendo que eu acharia provável que fossem os
russos — falei. — Mande pesquisar se os russos tem problema com alguém.
— Certo! — falou. — Sorte que a boate não tem nada que ligue a
sua família.
— Se tivesse, eu estaria mais puto, ter que me explicar para a mídia,
eu realmente ficaria mais bravo do que eu já estou agora — disse.
Olhei os destroços que ficou a minha boate. A entrada estava
irreconhecível, tinha vários cartuchos de bala, com vidros no chão e as
mesas e cadeiras espalhadas por todo o local. Eles não conseguiram passar
da entrada, senão os danos seriam maiores.
Que merda de noite!
Havia passado a noite resolvendo a invasão da boate. Quando
decidir ir para casa descansar um pouco. Red havia dito que a Hope estava
no quarto da Lucy.
Quando ia bater na porta para chamar, algo me chamou atenção.
— Eu tive que ser forte, a Lisa não estava bem e eu tive que fingir
esquecer o aconteceu comigo também para que ela não se preocupasse. Eu
estou bem, só me preocupo com ela. — Escutei a ruiva dizer.
— Não está! — disse Lucy. — Você só não pensa e não fala disso.
Não sofreu e muito menos lidou com o que aconteceu. Você colocou esse
evento traumático escondido em algum lugar bem distante de suas
lembranças, mas uma hora ou outra isso vem à tona, e eu espero que você
esteja bem para lidar com isso.
Então a Bellini também é marcada por um passado assustador?
Meus homens estão virando dia e noite para saber mais do tio dela. Eles não
encontram nada, parece até que é um bom homem.
Bati na porta e a Lucy abriu. Percebi que os olhos de ambas estavam
vermelhos. Andaram chorando?
— Quero falar com vocês — as chamei.
Levei elas para sala e esperei elas se acomodarem no sofá.
— Nosso casamento foi antecipado para daqui a dois dias. Você irá
na sua casa amanhã com alguns seguranças, cuidará de organizar o que irá
trazer para cá e volte antes de escurecer — expliquei para a Hope, ela
apenas assentiu. — Não saia da casa dos seus pais, meus seguranças já
estão cientes disso. Quando voltar, está proibida de sair do seu quarto, Red
ficará com você o tempo todo. — Agora minha atenção foi para a Lucy. —
Você também não sairá do quarto, só quando for cozinhar ou subir para
falar com a Hope. Deixarei alguns seguranças na sua porta, então vocês
duas nem ousem em desobedecer. Até eu pegar o desgraçado que metralhou
a minha boate, essas serão as regras da casa.
Não esperei que respondessem e fui para o quarto tentar dormir. Não
ia confiar, se conseguiram passar pela segurança da boate facilmente, aqui
também seria de fácil acesso. A segurança já foi aumentada, havia homens
em todos os lugares, eu tinha que ser mais atento possível, ia me casar e ter
mais uma pessoa sob minha responsabilidade. Me deitei na cama,
esperando conseguir dormir. Os pesadelos do dia da morte da minha filha
ainda me atormentavam. O seu corpo boiando e o meu desespero de vê-la
morta ali.
Essa noite não conseguirei dormir de novo.
No outro dia, continuava a investigação para saber quem metralhou
a minha boate. A lista era imensa, tanto dos meus inimigos, como os dos
russos. O líder deles disse que mandaria um homem para nos ajudar em
breve, vamos ver quem será.
Escutei o meu celular tocar, logo olhando no visor que era o Red.
— Aconteceu algo?
— Não, só estranhei algo que aconteceu há pouco tempo — falou.
— Acompanhei a Hope na casa da mãe, quando desci as caixas que ela
traria para a mansão, ela permaneceu no quarto. Quando eu subi, a
encontrei com o tio, ela parecia assustada. Creio que devemos investigar
mais o tio do que o pai.
— Não era para deixá-la sozinha, Red — falei, sabendo que o Red
só a deixaria se ela tivesse pedido. — O tio é um arrombado, o Josh não
conseguiu nada até agora. Quando chegar em casa eu vou falar com a ruiva
sobre isso de querer ficar sozinha, depois que leva um tiro ou é sequestrada,
não sabe o porquê. Vou desligar, vou ter mais uma reunião com a liderança.
Desliguei a chamada, já me preparando para a encheção de saco que
eu vou ter sobre o ocorrido.
O casamento estava prestes a começar. Já no altar esperava a ruiva
aparecer, até que marcha nupcial começou a tocar. Enzo estava ao meu lado
junto com os meus irmãos e o Lucca.
Era estranho ter todos aqui, não lembrava a última vez que eu vi a
minha família reunida. Me perdi nos meus pensamentos quando meus olhos
forma de encontro a Hope.
Ela estava linda! Beleza era o que não faltava nela. Não conseguia
tirar os olhos nem por um segundo. Ela caminhava ao lado do pai,
mantendo o seu olhar firme no meu. Dante me entregou a filha e a coloquei
ao meu lado.
O padre começou a cerimônia, mas nem dei importância, a minha
atenção estava na mulher belíssima ao meu lado.
— Está linda! — disse.
Não conseguia parar de olhá-la, era esse seu olhar que me deixava
louco.
— Obrigada! — agradeceu timidamente. — Você também ... Hã, as
proporções do seu rosto são bastante simétricas.
Ela não sabe elogiar ou estava nervosa demais para isso.
— Isso era para ser um elogio? — zombei e ela assentiu.
Voltamos a encarar o padre a nossa frente. Dissemos algumas
palavras e logo vieram as alianças.
— Eu vos declaro, marido e mulher! O noivo pode beijar a noiva e
selar o pacto realizado pelos noivos — disse o padre.
Coloquei minha mão em sua cintura e a beijei. Estava louco para
fazer isso desde a hora que pus os olhos nela. Depois que nos beijamos,
encaramos a multidão, enquanto eles tiravam várias fotos. Ainda tinha a
porra da festa.
Já podemos pular isso e ir para parte que eu a fodo. Ter que fingir
simpatia com algumas pessoas era foda, puta merda.

Na festa, estava um tédio. Muita gente veio me parabenizar, mas na


primeira oportunidade me apunhalariam pelas costas. Federico levou Hope
para conversar, enquanto deixou a filha do meu lado.
— É, parece que se casou mesmo — disse Bianca tentando soar
indiferente.
— Não vem encher o meu saco, porque eu já não estou no clima
para ter que ficar aturando gente reclamando no meu ouvido — falei.
Ainda tinha que ir visitar o Rubens hoje para saber o que realmente
aconteceu pelos fatos relatados por ele. O homem passou por cirurgias e
não tinha como ter falado antes. Logo Federico apareceu e a Bianca saiu
com ele.
Havia dado uma casa para a mãe da Hope, já que quando tivesse
meu filho ele andaria lá e não deixaria ser alvo de quem quer a minha
cabeça. Federico deve já ter avisado, já que ela agradeceu e não disse o que
era.
Na dança dos noivos, fui pego de surpresa por saber que Hope não
sabia que isso aconteceria. Pedi para Red arrastar Alessandra para o rifugio,
já que tentou acabar com o casamento.

Quando chegamos finalmente em casa, pedi para Lucy ajudar Hope


com o vestido, enquanto eu ia fazer uma visitinha a Alessandra.
— E então, pensando no que fez?
— Lorenzo, eu fiz o negócio do vestido, mas a da dança não fui eu
— falou.
— Cale-se! — disse sem paciência para explicações. — Agradeça
por eu não te matar. Ficará uns dias aqui nessa cela pensando no que fez.
Estava cheio de problemas e você como ninguém deveria saber como está
complicada a minha vida ultimamente e mesmo assim insiste nessas
brincadeiras de merda. Não me dê mais problemas, Alessandra, juro que eu
esqueço que tivemos uma filha juntos e te mato.
— Entendo, vou tentar aproveitar a hospedagem — falou.
Que porra deu nela?

Saí do rifugio, retornando para a minha casa. Assim que eu entrei, já


recebi uma ligação.
Que merda!
— Que é caralho? — disse assim que atendi.
— Só avisando que o Rubens já está no quarto, a cirurgia foi um
sucesso — disse o Conselheiro. — Depois que visitá-lo, venha a Sede,
temos uma audiência.
Sem sossego nem no meu casamento.
— Certo! — disse desligando a ligação.
Quando cheguei no quarto, caminhei até a mesinha de bebidas, logo
colocando um pouco de whisky no meu copo.
Sentia minha cabeça martelando, com esses problemas aumentando
novamente, eu temo que algo aconteça de novo como da última vez. Tirei o
paletó o jogando em cima do sofá e abri os botões da minha camisa.
Quando me virei, tive uma bela visão da Hope com uma camisola branca.
Tomei todo o líquido do copo rapidamente, logo o colocando sobre a
mesinha. Hope estava mais tímida do que o normal, ela desviava o olhar,
sem conseguir manter o olhar fixo no meu.
Me aproximei dela, esperando o olhar que eu sabia que ela me dava
quando queria que eu a tocasse. Esse seu olhar me deixava ainda mais
enfeitiçado pela ruiva, quando ela me encarou, eu já sabia que era para
continuar.
— Agora você é minha! — disse logo a beijando.
A coloquei em meus braços, a levando até a cama. Deitei-a sobre o
tecido acolchoado, ficando por cima dela, ainda a beijando. Me apoiei com
a mão na cama, enquanto passeava com a outra por seu corpo. Cheguei no
seu quadril, o apertando, fazendo a ruiva soltar gemidos, enquanto eu a
beijava.
Parei de beijá-la, esperando que ela demostrasse que queria que eu
continuasse. Eu realmente quero fodê-la. Ela logo entendeu e assentiu.
Desci os beijos fazendo o percurso até o seu pescoço, enquanto a ruiva se
contorcia na cama se mostrando excitada. Voltei novamente para a sua
boca, tentando deixá-la o mais molhada possível para que a penetração não
doesse tanto.
Desci a minha mão até a sua intimidade, passando os dedos por ela.
Fiquei ali esperando a ruiva aproveitar bem a sua primeira vez. Tirei a sua
camisola, deixando o seu corpo nu exposto a mim para que eu a admirasse
ainda mais.
Ela tirou a minha blusa e logo comecei a dar leves apertos em seu
quadril.
— Prometo cuidar de você agora — sussurrei no seu ouvido dando
uma leve mordida na ponta da sua orelha.
Voltei a beijá-la, mostrando o que eu faria a seguir. Enfiei devagar e
Hope gemeu de dor, enquanto eu continuava em um ritmo lento até que ela
se acostumasse. Comecei a movimentar dentro dela de novo e de novo,
procurando o ângulo certo, até que ela começou a sentir prazer.
Hope era deliciosa em todos os sentidos, me apertando seu redor
com sua intimidade. Era um prazer por si só saber que ela estava ali, me
desejando. Aos poucos, a ruiva começou a ir de encontro com minhas
estocadas, em busca do próprio prazer. Quando gozei dentro dela, esperei
um pouco e tirei o meu membro.
Me deitei ao seu lado ofegante, observando a ruiva ao meu lado. Me
sentei na cama em seguida, lembrando que eu não poderia ficar e aproveitar
mais a minha lua de mel. Levantei-me da cama, colocando a calça, me
virando para falar com a Hope.
— Tome banho, eu vou sair para cuidar de uns assuntos — falei.
Ela se enrolou no lençol, ficando em pé em seguida.
Fui até o banheiro, tirando uma toalha para ela já que na primeira
vez que ela veio aqui não conseguiu alcançar. Tenho que mandar reformar a
casa. Coloquei a toalha na cama e saí do quarto em seguida, indo atrás da
Lucy.
— Estou indo visitar o Rubens no hospital, olhe se a Hope precisa
de algo — disse, encontrando com ela na cozinha.
— Sim, estou subindo agora — falou. — Não vai tomar banho?
— Tenho uma roupa limpa no meu escritório no quartel, vou tomar
banho e de lá vou para o hospital — disse. — Vou indo, ainda tenho uma
audiência hoje.
Saí de casa indo para o carro. A noite hoje não teria fim.
A semana passou voando.
Minha relação com o Lorenzo não mudou em nada, realmente só
estávamos fazendo sexo todos os dias para logo ter esse bebê. As vezes ele
aparecia na madrugada e tirava um breve cochilo do meu lado, o que eu
estranhava, já que a Lucy avisou que ele não dividia a cama com ninguém.
Ele estava estranho e não deu muita importância para a minha
estadia na sua casa, ou só não sabia lidar com alguém do seu lado. Na
verdade, eu até que gostava, me sentia desconfortável aqui, ainda não sentia
que era a minha casa, então esse afastamento dele me deixava mais
tranquila e eu conseguia ficar mais confortável. Pelo fato de não nos
falarmos, eu não me sentia livre para ser eu com os seus olhares sobre mim.
Não nos conhecíamos e isso de se casar sem se conhecer direito é bastante
complicado, coisa que não é nos passado nas aulas da máfia.
Quando eu digo que não trocamos nem cinco palavras direito essa
semana, eu não estou brincando. Quando ele aparecia para falar algo
comigo, era para perguntar onde a Lucy estava e essa era a nossa conversa.
Só não enlouqueci porque eu tenho a Lucy e o Red. Apesar dos
seguranças terem diminuído aqui dentro, o Red ainda estava aos meus
serviços.
— Você irá hoje para a reunião do clube do livro? — perguntou
Lucy.
— Como você sabe?
— Elas sempre se encontram, mesmo quando a Alessandra ainda
morava aqui, mas não deu muito certo e elas a expulsaram do grupo —
disse Lucy rindo. — Alessandra tem um certo temperamento e é bem
arrogante, ninguém suportou.
— Onde elas se encontram?
— Na casa da sua sogra — respondeu. — Não é longe daqui, na
verdade a família do Lorenzo estão todas pelas proximidades.
Entrei no banheiro e fui logo tirando a minha roupa. Tomei um
banho demorado para tirar todo o estresse que estava no meu corpo. Olhei a
aliança que estava no meu dedo, pensando em como a minha vida mudou
em apenas um mês. Fui me aprontar para não chegar atrasada, já que a
Dona Telma havia marcado no fim da tarde o nosso encontro.
Coloquei o meu vestido e peguei a minha bolsa, já saindo do closet.
Assim que eu ia sair do quarto, esbarrei em alguém e logo seu cheiro me fez
reconhecer a pessoa sem nem mesmo olhá-la.
— Já está de saída? — perguntou Lorenzo.
— Ah, sim! — respondi. — Eu iria lhe avisar, mas não tinha como
te ligar.
— Mandarei providenciar um celular para você — avisou. —
Coloquei mais segurança para quando você for sair, então nada de sair sem
eles — informou indo em direção ao banheiro.
Segurei no seu braço levemente, para que ele não saísse ainda.
— Posso pedir algo? — perguntei.
Lorenzo me encarou e a sua atenção agora estava toda em mim.
— Depende do que seja — falou, estranhando o meu pedido.
— Quando eu sair da casa dos seus pais, posso dar uma passadinha
na casa da Lisa? — perguntei.
Não sabia como estava isso dos ataques, mas estava com saudades
da minha família. Não recebi nenhuma notícia da minha mãe desde o
casamento. Não sabia se ela ainda estava casada com o meu pai ou se já
havia se separado. Lorenzo não havia me permitido sair desde o ataque da
boate, esse homem é muito paranoico. Como também não trocamos muitas
palavras nessa semana, não deu para pedir antes.
— Não, volte para casa — falou, voltando a caminhar para o
banheiro.
Creio que o Lorenzo esteja fazendo isso de propósito, igual que o
meu pai fazia, ele enlouquecia com isso, talvez pela minha paciência ou
obediência extrema, porque no mesmo tempo que o meu pai queria que eu
seguisse as regras, ele queria me punir por quebrá-las para sentir o gosto de
que mandava em mim, igual fazia com a minha mãe. Creio que todo
homem daqui faça isso.
— Tudo bem! — disse.
Dei um beijo em seus lábios como fui moldada para ser a esposa
amorosa que o meu pai tanto quis que eu fosse e saí do quarto cabisbaixa.
Queria acreditar que era por causa dos ataques, mas não entendia por qual
razão ele não me deixaria ficar alguns minutos na casa da minha irmã. Mas
eu não ia me arriscar, Lorenzo que surte sozinho e que vá punir alguém que
não seja eu.
— Está tão triste, senhora Ferraro — disse Thony assim que eu
entrei no carro.
Red estava no banco da frente ao lado do Thony.
— Só Hope, Thony — disse. — Estou bem, só com saudades da
minha família.
— Ultimamente está tendo bastante ataques, é perigoso sair da
propriedade — disse Thony.
Foi a primeira vez desde que a Kitty nasceu que eu fiquei longe
delas por tanto tempo. Lorenzo é um ingrato e insensível, acha que só
porque ele pouco se importa com a família dele, eu tenho que ser assim
também. Ele nem tem o que reclamar, vê todo mundo que ele quer no
quartel e eu fico aqui presa. Eu só queria saber se a minha mãe conseguiu
ou não se livrar do meu pai. Eu estava assustada com isso, porque se ele
tiver descoberto, ele a mataria. Essa dúvida está acabando comigo.
— Quer conversar? — perguntou Red.
— Você vai contar tudo para o seu patrão — disse, cruzando os
braços e ele riu. — Quando não estiver de serviço, talvez a gente possa
conversar.
Não demoramos para chegar na mansão dos meus sogros. Era igual
a minha atual casa, só que menor, ela estava lotada de seguranças e um
grande campo verde atrás. Não sabia para que tanto espaço se não podíamos
nem sair de casa.
A diferença era que não tinha um prédio atrás da mansão deles.
todos devem ser iguais, só os tamanhos que são diferentes.
— Esperarei aqui com o Thony — informou Red. — Se eu entrar a
Dona Telma me matará. É um evento só para as mulheres e é proibido a
entrada de um homem.
Entrei e fui recebida com um abraço da minha sogra que já me
esperava na sala.
— Venha, minha querida! — disse Dona Telma me direcionando
pelos corredores da casa.
Caminhamos silenciosamente até a biblioteca, onde as esposas dos
irmãos do Lorenzo já estavam lá me esperando.
— Perdoe-me, eu me atrasei? — Estranhei, já que havia chegado
bem mais cedo que o horário marcado.
— Não, minha querida, elas passaram o dia comigo — respondeu a
minha sogra. — Talvez se Lorenzo não fosse tão paranoico possa deixar de
birra e não se incomodar de você passar o dia conosco.
Apenas ri, ele era maluco com isso de segurança, chegava a ser
absurdo.
— Não fique com medo, aqui você pode falar o que quiser. É a
biblioteca pessoal da Dona Telma, ninguém entra aqui além de nós — disse
a moça de cabelo preto longo. — Nem me apresentei, sou a Giulia, a esposa
do Pietro.
— Eu sou Emma, a esposa do Enrico — disse a moça de cabelo
castanho curto.
— É um prazer conhecê-las! — disse.
Me sentei no enorme sofá e fiquei um pouco confusa, isso era ou
não um clube do livro?
— Sei o que está pensando — disse Emma. — Não existe clube do
livro, a gente só se junta para ficar um pouco em paz, sem nenhum homem
para nos infernizar.
— Mas levamos sempre um livro, caso nossos maridos perguntem
— disse Giulia.
— E como está a vida de casada? — perguntou Dona Telma.
— Bem! — menti.
— Pode falar, não sairá daqui o que disser — falou minha sogra.
Eu realmente precisava desabafar com alguém. A Lucy ajudava,
mas não conseguia ter sempre a sua atenção já que ela tinha muitas tarefas
na casa.
— Sei que me casar com o Lorenzo não seria um mar de rosas, mas
por que ele precisa ser um cretino 24 horas por dia? — desabafei. — Me
desculpe, não queria ofender o seu filho na sua frente, mas esse jeito dele
me deixa louca, porque quando eu acho que estou lhe entendendo, ele muda
drasticamente.
— Tudo bem, Hope — disse Emma. — Pode extravasar a sua raiva
aqui conosco, é para isso que o clube do livro foi criado.
— Como ele pode ser tão insensível? Estou há uma semana sem ter
notícias da minha mãe e ele sabe que eu me casei com ele mais para livrá-la
do meu pai e nem vê-la ele me deixa — disse segurando as lágrimas que
insistiam em cair. — Fora que o Conselho já está me cobrando sobre
quando eu vou engravidar, eu me casei não tem uma semana e já me
cobram por isso. Os cochichos no quartel já começaram e a Lucy disse que
todos estão falando disso.
— Você é uma boa pessoa, sacrificou sua liberdade para que a sua
mãe tivesse a dela — disse Dona Telma. — Não posso dizer que não acho
correto isso do meu filho de te deixar mais em casa, porque eu sei como é
para ele lidar com perdas. Os ataques estão voltando com tudo novamente e
o mais seguro agora para você e a sua família é não ter visitas, porque elas
podem se tornar um alvo para te atingir, se atinge você, atinge o Lorenzo.
Todas nós sabemos como é isso, passamos pelo que você passou. Sorte que
aqui moramos "perto" uma da outra, mas para sair e pegar as estradas é
complicado. Todas nós temos essa dúvida se nossos maridos vão conseguir
chegar em casa ou não, essa incerteza é que nos deixa mais temerosas.
Sim, isso era perigoso. Não estava acostumada, o único ataque que
eu tinha era do homem que eu chamava de pai, agora ter várias pessoas
tentando me matar, era assustador. Dona Telma tinha os mesmos olhos do
Lorenzo, só que com uma bondade que não transparecia no olhar dele.

— Será um inferno, principalmente as cobranças dos líderes —


disse Emma. — Eu tive sorte de ter um menino logo na minha primeira
gravidez, a Giulia que sofreu, já que na primeira gravidez dela foi uma
menina e o menino veio depois de 1 ano tentando.
— Vocês têm filhos? — perguntei. Não tinha visto elas com crianças
no meu casamento.
— Sim, eu tenho dois filhos, uma menina de 3 anos, que faz 4 daqui
alguns meses e o meu mais novo, que tem 2 anos. O da Emma tem a mesma
idade da minha mais velha, ele tem 3 anos, com alguns meses de diferença
da minha — disse Giulia.
Elas pareciam tão felizes de só mencionar os filhos. Temo que
quando eu engravidar as coisas se compliquem mais para mim,
principalmente se for uma menina.
— Me desculpem pelo choro, sou muito emotiva e isso é horrível —
disse.
— Pode chorar, estamos aqui — disse Dona Telma segurando a
minha mão.
— Todas nós choramos nas nossas primeiras vezes aqui e também é
o único lugar que podemos ser nós mesmas, sem ter regra nos rondando —
disse Giulia.
— Você sabe o número da sua mãe? Posso ligar do meu celular para
ela — perguntou Emma.
— Sei, mas não devo ligar. Lorenzo está louco para me castigar e eu
não darei motivos para ele fazer isso comigo — falei.
— Ele está demonstrando isso a você? — estranhou. — Você não
me parece que quebra as regras como a Alessandra vivia fazendo, mas isso
também nem dava para notar, até porque eles tinham um acordo de que
quando um estava em casa, o outro sairia para uma conveniência melhor
com a minha falecida neta — disse Dona Telma.
— Meu pai é o Dante Bellini, sei que todos sabem das loucuras dele.
Ele adorava citar regras e eu estou acostumada a não as quebrar, pois sei
que os castigos não serão nada agradáveis. Fui moldada e ensinada a
obedecer a tudo que fosse proposto a mim, mesmo não gostando, porque o
meu pai fez questão de que eu fosse tão boa esposa, para logo encontrar
alguém de patente alta para que ele subisse a patente dele. Já fui castigada
uma vez pelo Lorenzo e não pretendo deixar que isso aconteça de novo.
— Por que ele te castigou? — perguntou Giulia.
— A Alessandra e a Suzi mentiram que eu havia feito algo, ele me
castigou e o evito desde então — falei. — Eu sei que ele havia castigado a
Alessandra no casamento, já que ela ferrou com o meu vestido de
casamento e não havia me avisado da tal dança dos noivos.
— Então foi por isso que ele te carregou? — disse Emma rindo.
— A Alessandra era bem difícil, ela veio uma vez aqui e não
sentimos tanta confiança nela, fizemos um teste com ela e ela falou algumas
coisas conosco e disse que falaria para o Lorenzo, porque não queria
participar disso, então ficou só nós três, até você chegar — disse minha
sogra.
— E por que comigo não teve teste? — estranhei. — Ou teve?
— No casamento quando eu falei para você que nós nos juntávamos
para falar mal deles, quando eu saí, eu escutei Lorenzo perguntar a você o
que eu havia dito e você respondeu que não era nada. Então pude notar que
estávamos todas no mesmo barco — falou.
A conversa com elas foi ótima. Apesar de eu ter a Lucy para
conversar, eu não podia demonstrar meus sentimentos, pois nunca sabia
quando o Lorenzo voltaria para casa. Chorar me fez bem para tirar essa
raiva que estava se instalando no meu coração.
Elas me deram um livro, já que não queriam que eu desse bobeira.
As avisei que eu era péssima mentindo e no final do nosso encontro, elas
começaram a falar sobre livros para que eu tecnicamente não estivesse
mentindo se me perguntassem algo. Disse que não era muito chegada a
livros de romance. Dona Telma me indicou Orgulho e Preconceito e A
culpa é das estrelas, disse que a minha visão mudaria sobre livros
românticos e melodramáticos.
O caminho para casa foi o mais silencioso possível.
— Parece que esteve chorando — disse Red. — Seus olhos e o seu
nariz estão avermelhados.
— Eu meio que... — Pensei em algo para omitir que eu chorei. —
Estava espirrando.
Droga, espero que o meu estado mude antes de chegar em casa. Red
riu não acreditando. Assim que cheguei na mansão, desci do carro e
caminhei pela casa atrás da Lucy.
— Oi, minha querida! — disse Lucy me abraçando. — Está tudo
bem?
— Sim, estou bem! — respondi. — Hoje não estou muito disposta,
vou logo me deitar.
— Não vai jantar? Está sentindo algo? — estranhou.
— Eu estou bem, Lucy — respondi a tranquilizando. — Só não
estou com fome, comi na casa da Dona Telma.
Havia bebido apenas um suco de laranja e comido duas fatias de
torta, mas queria logo me deitar para descansar e ver esse dia terminar. Subi
para o quarto e fui tomar banho, logo colocando a minha camisola. Estava
cansada, não fisicamente, mas mentalmente. Não tem nem uma semana de
casada e eu já estou assim. Voltei para o quarto, logo indo me deitar. Estava
tão exausta que rapidamente adormeci.
Acordei um pouco atordoada quando senti um peso no outro lado da
cama. Me virei para ver, logo dando de cara com as costas nua do Lorenzo.
Olhei no relógio e vi que já era 03:35h da madrugada. Apesar de ter notado
que ele havia tomado banho pelo cabelo molhado, o cheiro de whisky
estava impregnado nele, com certeza bebeu mais uma vez antes de dormir.
Me virei no sentindo contrário ao seu, e fitei o relógio a minha frente.
— Está acordada? — indagou. A sua voz rouca ecoou pelo quarto
inteiro, me assustando com o som grave.
— Sim — respondi ainda sem me virar.
— Amanhã sairemos para um evento beneficente em um abrigo —
informou.
Beneficente? Sei, finjo que acredito.
— Tudo bem!
Lorenzo me virou sutilmente para que eu o encarasse.
— As pessoas que vamos ver amanhã não tem nenhum
envolvimento na máfia — falou, enquanto me encarava. — Então fique em
silêncio e não mencione nada sobre o que acontece aqui. Pode usar qualquer
vestido, será rápido, não pretendo ficar muito tempo lá, só vou ter uma
conversa breve com um sócio.
Então era beneficente mesmo? Até que o cretino tem um pouco de
bondade no seu coração.
— Tudo bem!
— Você só sabe falar isso? — perguntou.
Irritado ele já estava, mas agora com o quê?
— Certo, Lorenzo — respondi. — Não falarei nada e ficarei em
silêncio todo o evento.
— Deixei um celular em cima da sua penteadeira, tem o meu
número já nos seus contatos, então só me ligue se for uma emergência ou se
estiver prestes a morrer — falou irônico. Seu humor era de um gosto
duvidoso. Até parece que eu conseguiria falar com ele, do jeito que ele
recebe ligações, eu ia ficar em espera e já estaria morta.
— Certo, só ligarei se for algo de vida ou morte — falei.
Lorenzo me soltou, logo se levantando da cama. Ele estava
mexendo em algo na mesinha, logo olhando o celular, saindo do quarto em
seguida. Tentei voltar a dormir, mas como sempre, estava difícil.

— Meu bem, acorde, está na hora — disse Lucy.


Olhei no relógio e vi que era 06:00hrs.
— Por que tão cedo, Lucy? — perguntei me sentando na cama,
ainda sonolenta.
— Irá ao abrigo com o Lorenzo, cuide antes que se atrase — falou.
Me levantei da cama rápido, indo para o banheiro.
— Que horas ele pretende sair?
— Daqui a 1 hora — informou. — Ele está bem estressado lá
embaixo, recebeu uma ligação e teve que mudar toda a sua agenda de hoje.
Tomei banho rápido e fui ao closet. Lucy já havia escolhido uma
roupa para mim para não precisar demorar ainda mais.
— Lucy, me diz por que o Lorenzo parece mais estressado do que o
habitual? — perguntei.
Já havia colocado o vestido e aproveitei para colocar logo o tênis.
— Não consigo entender o Lorenzo, não sei os motivos dele fazer
certas coisas. Antes eu o conhecia muito bem, hoje em dia ele está muito
diferente de como era há 5 anos atrás — falou parecendo cabisbaixa pela
mudança dele.
— Sinto que o Lorenzo quer me ver perder a cabeça para me
castigar, não sei, esse jeito dele transparece isso a mim — disse. Ou talvez
eu esteja acostumada com o jeito do meu pai que temo até a minha sombra
fora do lugar. — Eu faço algo de errado? Você que conhece bem ele e sabe
das coisas.
— Talvez você seja boa demais, obedece a tudo e do jeito que ele
está ultimamente ele quer se sentir dono de algo, como se ele pudesse
controlar o que ele quisesse, talvez assim ele tivesse controle de tudo que
está acontecendo. Não sei se seja isso ou também pode ser que ele só esteja
mal-humorado mesmo e você está com medo que sobre para você.
— Isso nem chega perto de ser um motivo, Lucy — disse ou talvez
chegaria e eu não queria aceitar porque sempre tinha que ter um motivo.
Meu pai ele realmente me odiava, e o Lorenzo, por qual seria? Não acredito
nisso de mau-humor. Ah, droga, estou ficando surtada com isso. — Eu
quero entender o Lorenzo, mas ele é muito complicado.
— Você segue as regras e não desobedece, porque sabe que é errado.
Você o trata bem, mesmo ele te tratando mal. Vi que você sempre o beija
quando se despede dele, não porque tem afeto, mas porque sabe dos seus
deveres como esposa e mesmo ele te tratando mal, você segue o que lhe foi
passado.
Até que tinha sentido. Terminei de me arrumar e desci correndo para
não me atrasar ainda mais.
— Andiamo! — disse Lorenzo passando por mim.
Eu nem tomei café da manhã.
— Tome! — disse Lucy me entregando uma maçã. — Coma alguma
coisa por lá se der.
Acompanhei o Lorenzo até o carro. Hoje ele não dirigiria, nós
iríamos com o Thony. O caminho foi tão silencioso como os meus dias
naquela casa. O telefone do Lorenzo tocou, fazendo com que eu prestasse
atenção na sua conversa. Ele estava bem bravo, agora entendia a razão dele
sempre desligar o telefone na hora de dormir.
— Não — falou para a pessoa da ligação. — Pode levar Alessandra
para casa, acho que ela entendeu o recado.
Alessandra ainda estava no rifugio? Me casei tem uma semana e ela
ainda estava lá? Me lembraria disso para não cometer nenhum erro.
Lorenzo desligou a chamada, colocando o celular no bolso, enquanto
olhava a rua.
— Chegamos, senhor! — disse Thony.
Thony veio abrir a porta para mim, logo sorrindo em seguida.
Quando o Lorenzo falou que íamos a um abrigo, pensei em um abrigo para
crianças, mas estávamos era em um abrigo canino para cachorros
abandonados de rua.
— Vou entrar! — disse Lorenzo fechando o seu paletó. — Fique
quieta e não fale nada com ninguém aqui. Não saia de perto dos seguranças
e muito menos para longe daqui.
— Venha para cá, senhora — disse uma moça me chamando.
Lorenzo ainda não tinha saído. Esperei que ele falasse algo, mas ele só
olhava todo o local.
Que desconfiado!
— Vou indo! — falou.
Dei um selinho em seus lábios e saí. Red veio com os outros
seguranças para me acompanhar. Enquanto eu esperava a moça voltar com
a água, já que eu havia pedido porque não havia me alimentado e estava
com muita sede por causa do calor, olhava para o Red que não parecia se
sentir bem no lugar. Red havia me dito que o Lorenzo abriu esse lugar
quando a filha era viva, já que uma vez ela viu um cachorro morrer na rua e
se entristeceu. Como uma forma dela ficar bem, ele ia fazer essa surpresa
para ela abrindo esse lugar para animais de rua, só que ela morreu antes
mesmo da abertura.
— Oi, amigão! — disse para um cachorrinho solto.
Ele era bem simpático. Talvez o Lorenzo devesse aprender com ele.
— Está pálida! — disse Red.
— Acho que é o calor ou talvez seja porque ainda não tomei café —
disse.
— Já são 09:00 horas. Ontem você também não jantou, não está
com fome? — perguntou Red.
— Sim, mas não deu tempo comer, já que o Lorenzo parecia estar
bem apressado para resolver o seu problema aqui.
A moça chegou com o copo de água.
— A senhorita pode nos levar ao refeitório? A senhora Ferraro ainda
não se alimentou — disse Red.
A moça começou a nos guiar para dentro, nos deixando próximos a
uma mesa.
— Não precisava, o Lorenzo disse que não demoraria — disse
— Minha função é cuidar de você — respondeu.
Uma senhora muito simpática me trouxe um suco com um pedaço
de bolo. Olhava algumas pessoas que entravam para um salão próximo ao
refeitório, observando a diferença das pessoas da máfia para as pessoas fora
dela.
Alguns se aproximavam de mim, mas ao olhar a minha segurança,
evitavam falar comigo. O celular do Red tocou, logo sua atenção foi para a
ligação.
— Já estamos indo, senhor! — disse Red desligando a chamada. —
O Capo quer ir embora, vamos!
Me despedi das moças e segui para a direção do carro. Lorenzo já
estava dentro do carro com uma cara nada boa.
— O que eu havia falado com você? — perguntou assim que eu
entrei.
— Quê? — estranhei.
— “Não saia para longe daqui”, esqueceu? — falou, me encarando.
— Só fui ao refeitório e não disse nada a ninguém.
— Se eu disse que era para ficar aqui, é porque não era seguro em
outro lugar. Ninguém fez a porra do reconhecimento do refeitório, se tivesse
alguém esperando para te matar, como você escaparia se a porra da
segurança estaria ocupada lidando com eles? — falou. — Era para você ter
ficado aqui e me esperado, porra.
— Eu só fui comer porque não havia tomado café em casa —
retruquei.
Quer argumentar agora, Hope?
Lorenzo me encarava com tanto ódio que não acreditava que essa
raiva fosse por isso. Eu só estava ali na hora errada. Vi que o Thony e o Red
tinham olhos fixos na estrada, como se já soubessem que isso aconteceria.
Logo celular dele tocou e ele o jogou no chão do carro com força.
— Porra, eu só peço para você fazer uma coisa e mesmo assim você
não faz, caralho.
Por que esse homem surtou de repente? Eu não fiz nada, tenho
certeza que não é por isso, mas, como sempre, ele desconta em mim.
— Quer saber, eu estou farta! — disse. Se ele ia me levar para o
rifugio ou não, eu não sei, mas quis logo tirar de dentro de mim o que
estava me matando durante essa semana. — Desde que eu me casei com
você, você fica com essas grosserias. Eu não te dou motivos e você está
criando essas coisas só para me punir. O que eu estou fazendo de errado?
Do que você tem tanta raiva? De mim ou é de você mesmo? Se eu não te
obedecer você fica bravo, agora que eu sigo todas as suas regras você está
querendo me repreender. Eu só saí dali porque você saiu às pressas pela
manhã e eu não tive tempo de tomar o café da manhã e você nem se
importou com isso. Não estava me sentindo bem e fui comer algo no
refeitório. Então pare de querer descontar as suas frustrações em mim, eu
não faço nada para você me tratar dessa forma.
Se fosse ser castigada, seria por um motivo agora. Fiquei aturando
isso a semana inteira, para no final ele ficar descontando os seus problemas
em mim.
— Está bastante ousada hoje — falou. Resolvi não encará-lo mais,
olhando para a estrada. — Esse seu nariz em pé é que me faz querer te punir
por esse seu gênio forte. Ia te avisar que você iria ver a sua família, agora é
que não vai pelo seu desacato a mim.
Fiquei calada e não o respondi, não parecia que ele estava mentindo.
Seu rabugento bipolar. Só queria saber se a separação da minha mãe dera
certo, porque se não tivesse, faria de tudo para ficar longe desse cretino.
Quando chegamos na mansão, Lorenzo pediu que o Thony parasse
na entrada da casa.
— Fique no quarto e não saia de lá até eu chamar — ordenou. Saí
do carro e subi para o quarto.
Estava com tanta raiva, que eu iria surtar aqui. Que ódio!
Já era noite e ainda estava trancada dentro do quarto. Aproveitei
para ler os livros que a Dona Telma havia me dado. Estava começando a
gostar do Augustus, até que eu escutei a porta ser aberta. Fingi não dar
atenção para quem entrava no quarto, já que estava deitada na cama com o
livro cobrindo boa parte da minha visão.
— Hope? — disse Red. Tirei o livro de frente do meu rosto e o
encarei. — Lucy mandou o seu jantar. O Capo mandou comer no quarto
hoje.
Me sentei na mesa e comecei a comer.
— Obrigada por ter trago, Red.
— Nunca havia lhe visto da forma que eu vi hoje no carro. Sempre
foi tão pacífica e levantar a voz para um homem como o seu marido, digo
que tens muita coragem — falou.
— Ou estava louca mesmo — disse, enquanto comia.
Terminei de comer e o Red saiu com a bandeja. Depois de um bom
banho, fui me deitar.
Hoje, Lucy disse que a esposa de um dos Conselheiro veio aqui,
mas já que eu estava fora com o Lorenzo mais cedo, não a vi. Ela veio saber
como está o andamento da minha gravidez. Creio que todo mundo acha que
estou grávida, já que o Lorenzo escolheu alguém da minha patente e ainda
uma mestiça, eles querem achar algum motivo para ser eu e não as outras
garotas, então é mais fácil acreditarem que eu consegui prendê-lo com uma
gravidez.
Falando nele, Lorenzo entrou no quarto em seguida e já foi logo
para o banheiro. Ele não demorou muito, foi para o closet, enquanto secava
o seu cabelo com a toalha. Seu mau-humor não estava tão nítido como de
manhã, ele parecia mais calmo.
Lorenzo retornou para o quarto, já vestido, e se deitou ao meu lado,
de costas para mim. Não era ele que dizia que não ia dividir a cama dele
com ninguém, que não dormiria ao lado de uma desconhecida? Agora está
aqui, se deitando comigo.
Fiquei parada sem esboçar nenhuma reação. Não estava
conseguindo dormir, essa adaptação estava mais difícil do que eu imaginei.
Levantei-me da cama, indo para a poltrona que ficava de frente para enorme
janela e apreciei a vista.
Olhei em direção a cama, Lorenzo parecia adormecido, ou só estava
quieto mesmo.
A preocupação com a minha mãe estava martelando na minha
mente. Se eu não soubesse do que o meu pai era capaz, eu não estaria tão
assustada por falta de informação. O sono começou a me dominar, mas não
quis me deitar ao lado do Lorenzo. Fiquei ali, me acomodando melhor na
poltrona que logo adormeci.

Pela manhã, acordei com a claridade do quarto. Abri os olhos


lentamente tentando me acostumar com a luz. A surpresa foi quando notei
que eu estava na cama. Eu havia retornado para a cama durante a
madrugada?
Lorenzo já não estava mais no quarto, sorte a minha.
Criei coragem para me levantar, hoje o dia seria ainda mais tedioso
do que todos os outros desde o dia que eu vim morar aqui. Apesar de não
gostar, não podia reclamar, pelo menos o Lorenzo não ficava em cima de
mim direto como o meu pai fazia lá em casa.
O cretino nos obrigava a fazer tantos afazeres, que a noite a gente
apagava de tão cansada. Me pergunto se está tudo bem com a minha mãe e
a Kitty.
— Tome banho e desça para tomar o café, minha querida — disse
Lucy entrando no quarto. — Lorenzo pediu a sua presença para o café da
manhã com ele.
— Ele ainda está aqui? — Estranhei e ela assentiu que sim. Lorenzo
assim que acordava já tratava de sumir da casa. — Ainda está mal-
humorado?
— Melhor do que ontem — disse Lucy. — As lembranças são as
piores para nós.
— Lembranças? — disse sem entender o motivo dela ter tocado
nesse assunto agora.
— Não gosto de sair de casa por esse motivo, lembro da pequena
Antonella correndo por todos os lugares. Quando saíamos para os eventos
ou até no abrigo que você foi ontem, as lembranças dela viva ainda nos
maltrata muito — falou. Vi que ela já tinha lágrimas prontas para cair dos
seus olhos. — Desculpe, é difícil para todos nós. Não superamos a morte
dela ainda, creio que isso ainda está muito longe de acontecer.
Eu tinha esquecido disso, o mau-humor do Lorenzo ontem era por
isso. Deve ser difícil olhar para os lugares e lembrar de alguém que você
nunca mais vai poder ver de novo.
— Não sei da dor de vocês, mas vejo quando fala dela o quanto ela
era amada. Pelo jeito que o Lorenzo é e como você sempre diz que ele
mudou muito, creio que o luto o quebrou de uma forma inimaginável. Tem
pessoas que sabem lidar mesmo sofrendo e tem outras que a perda são a sua
destruição — falei, enquanto eu a abraçava. — Que um dia, você, ele e toda
a família possa superar o que aconteceu. Sei que é difícil, mas essa ferida
um dia será cicatrizada e as lembranças dela ficará sempre com vocês.
— Obrigada pelas palavras! — disse Lucy.
Cuidei de me arrumar, enquanto Lucy tentava se recompor. Assim
que eu estava pronta, desci e me sentei na mesa na sala de jantar. Lorenzo
não desviou o olhar do jornal e eu muito menos das minhas mãos.
— Seu pai vira aqui hoje — falou ainda encarando o jornal a sua
frente.
O quê?
— Meu pai? Você sabe o que ele vem fazer aqui? — perguntei.
— Não! — falou. — Quando ele vier a tarde, fique com ele na sala e
quando sair e não ouse se arriscar novamente saindo para outro lugar. Eu
podia receber visitas do meu pai, mas não da minha mãe.
O que será que aconteceu? Ele aceitou a separação? Ou não se
separaram?
— Lorenzo, eu posso ver a minha mãe? — perguntei. Sei que ele
não vai deixar, do jeito que é rancoroso.
— Está brincando comigo? — perguntou.
Fiquei com a cabeça abaixada e o ignorei. Se ele queria que eu me
humilhasse, estava muito enganado, isso não aconteceria. Lucy trouxe o
meu café e um sanduíche. Comi rápido para sair logo da mesa.
— Estou indo trabalhar — disse Lorenzo se aproximando de mim.
Me aproximei dele, o beijando, saindo da sala. Cretino sem coração!
Fui para a cozinha e lá encontrei Lucy e Red conversando.
— Soube que o seu pai está vindo lhe visitar hoje — disse Lucy. —
Parece que ele pode e ela não.
— Sabe que as estradas são perigosas. — disse Red a ela, a
repreendendo pelo comentário. — Talvez o Lorenzo não se preocupe com o
que aconteça com o Dante até chegar aqui. — Riu, logo se recompondo
para talvez não me ofender.
Ele realmente parecia odiar o meu pai, ele também não é o único, há
uma fila imensa.
A tarde se passou rápido, ainda estava no quarto deitada na minha
cama, terminado de ler o meu livro. Batidas na porta me tiraram toda a
minha atenção.
— Seu pai chegou, Hope — disse Red.
Meu coração foi a mil em poucos segundos.
Pedi para o Red ficar com a Lucy na cozinha, pois não queria que
ele ouvisse as palavras de baixo escalão que o meu pai me chamaria. Sei
que Red até podia estar acostumado com esse jeito do Lorenzo, mas ele
ainda não conheceu o meu pai, o quanto ele conseguia ser mais baixo do
que seu chefe.
— Ora, ora, ora, se não é minha a querida filha — ironizou, assim
que eu cheguei na sala.
— O que o senhor quer, pai?
— Me deixe chegar primeiro, já me enche de perguntas — falou. —
Seu marido está? — respondi que não, ele sabia que ele não estava, do jeito
que o Lorenzo vivia para resolver os problemas da máfia. — Melhor assim!
Me sentei no sofá, esperando ele dizer algo. Pelo menos saberia o
que aconteceu com a minha mãe e a Kitty.
— Sei que já sabe que a sua mãe e a pirralha foram embora de casa,
já que as ajudou — falou.
Então elas conseguiram? Graças a Deus! Um peso saiu das minhas
costas, cheguei a me sentir mais leve.
— Pai... — disse sendo interrompida por ele.
— Nunca pensei que seria tão baixa em ajudar a sua mãe pelas
minhas costas. Se eu soubesse que você seria uma traidora, teria te dado
mais surras para que nunca pensasse em me trair, sua estúpida. Chega a ser
irônico, a minha filha mais bondosa era a que me apunhalaria pelas costas
— falava rindo debochado, enquanto andava pela sala. — Vai ficar calada?
Pelo menos tenha coragem de assumir o que fez, sua vadia imprestável.
— Eu não estou escondendo o que eu fiz, eu fiz isso porque eu não
queria mais a minha mãe e a Kitty perto de você. Todos esses anos, você
nunca foi um pai. Nunca nos elogiou ou disse que se importava conosco. Só
sabia nos castigar e nos atormentar — disse segurando as lágrimas que
insistiam em cair. Tentava buscar ar para falar tudo o que estava guardando
em mim, falar o que eu não pude dizer antes. — Você machucou todas nós.
Nos quebrou de todas as formas possíveis e nos maltratou até não sobrar
mais nenhum vestígio de liberdade ou paz dentro de nós. Nos moldou no
seu padrão, nos obrigando a ter medo até da própria sombra e não se
importou em perguntar como nós estávamos em nenhum momento. Nunca
acreditou em mim e na Lisa quando o seu irmão nos machucou. NÓS
SOMOS AS SUAS FILHAS e você nos negligenciou mais uma vez. Ele
tirou tudo de nós e você o ajudou a nos quebrar ainda mais. Me diga, pai, se
alguma vez nessa sua maldita vida se nós trouxemos alguma felicidade ou
orgulho para o senhor? Valeu a pena ter nos quebrado tanto para que você
atingisse a sua meta que era crescer aqui?
— Eu nunca fui feliz nem 1 minuto sequer em toda a minha vida —
falou. Quando ele disse isso, eu me senti ainda mais triste. Por que eu
estava chorando? Ele não merecia as minhas lágrimas. — Você sempre foi a
mais fraca de todas. Sempre se importando com os outros e deixando as
suas emoções a vista para todos verem o quão fraca você é. Sua garota
chorona, seja forte pelo menos uma vez na vida.
— Eu posso chorar por tudo, mas sempre fui forte, mais do que você
— falei, ficando em pé. — Onde você estava quando a sua filha estava
acamada em casa depois de ter tentado se matar? Eu que estava lá! Onde
você estava quando deixou a sua filha mais nova vomitando sangue, quase
morta, depois de uma surra dada pelos seus homens como castigo? Eu que
estava lá! Não diga que sou fraca, porque sou mais forte do que você. Vi a
minha família sofrer e deixei a minha felicidade de lado para que elas
tivessem a chance única de ter uma vida longe de você e mesmo não
conseguindo buscar o que eu queria, agradeço todos os dias por ter me
casado para não ver o senhor nunca mais.
Acordar e se deparar com essa criatura horrenda todos os dias de
manhã, com medo de falar ou até de olhar para algo e ser punida. Temendo
uma respiração errada das minhas irmãs ou da minha mãe e ele as
machucasse na minha frente como fazia e fez inúmeras vezes.
Ele ficou sem silêncio, não como se tivesse escutando e se sentindo
mal, mas se segurando para não me bater.
— O senhor é a encarnação do mal — disse, mantendo o meu olhar
fixo no seu — É penoso e humilhante para mim acreditar que você é o meu
progenitor.
Ele continuou calado, vi que ele travava o maxilar se mostrando
indignado pelo que eu dizia. Nunca tinha nem levantado a voz para ele e
agora eu estava aqui, dizendo tudo que eu queria falar.
— Eu tentei, juro, tentei me colocar no seu lugar, tentei de tudo para
acreditar que você só era assim porque te criaram dessa forma, mas não,
você sempre gostou de ser um monstro. Mesmo quando você me destruiu,
eu tentei te entender — falei, sentindo as minhas pernas tremendo ainda por
me sentir intimidada pelo seu olhar em mim. — Eu fiz isso e não me
arrependo de ter colocado a minha família em primeiro lugar, já que você
nunca fez isso.
— Sua existência não fará falta quando morrer, garota. Não precisa
pensar em ninguém, porque ninguém irá se importar com você — falou
hostil. — Se eu soubesse que seria dessa forma, teria deixado você morrer
naquele lago no dia que salvou aquela criança imunda.
— Você merece tudo o que está passando, pai — disse, notando que
ele se aproximava de mim. — Merece sofrer até o último segundo, mas nem
assim pagará tudo o que fez as suas filhas e a sua esposa passar em vida.
— Me arrependo de não ter deixado o Marco destruir ainda mais
vocês, talvez eu até tivesse o ajudado — falou.
Dei um tapa no seu rosto, enquanto ele me encarava mostrando que
iria responder aquela minha ação.
— Você nem ao menos sabe o que passamos naquela casa ou acha
que o seu irmão só nos castigava? — disse. Ele nunca quis escutar a nossa
versão. — Ele nos cortava, pai. Me fazia assistir quando mutilava a Lisa.
Todas as noites, ele vinha e eu nunca quis tanto levar uma surra ao invés do
que ele fazia conosco. Você acha mesmo que a Lisa tentaria se matar por
um castigo? Você deu os piores para ela. Sabe por que ela fez isso? Porque
ela tentou me proteger, já que eu não tinha um pai para fazer isso por mim.
Enquanto o tio Marco me cortava e acariciava o meu corpo, a Lisa pensou
na minha dor e como me tirar dali. Nós nunca precisamos de você, sempre
soubemos cuidar uma da outra sem ter a sua ajuda.
Eu queria parar de chorar. Queria mostrar que eu não me importava
com a falta de amor que ele não nos deu, mas não conseguia. Não estava
mais me importando em segurar o meu choro. Só chorava alto, sabendo que
o meu choro poderia ser escutado por toda a mansão. Não pararia e não
guardaria mais nenhum choro dentro de mim.
— Você nunca se importou, então PARE DE RECLAMAR DE
TRAIÇÃO SE VOCÊ QUE NOS TRAIU PRIMEIRO — gritei. — EU
SEMPRE ESTIVE SOZINHA! Você nos abandonou mesmo morando no
mesmo teto que a gente.
— Eu olho para você e vejo que será tão solitária quanto eu fui em
vida — falou, não se importando com nada do que eu disse.
— Melhor ficar sozinha do que fazer os outros sofrerem por minha
culpa — falei.
— Acha que tem alguma moral para falar assim comigo? —
indagou, agarrando no meu braço. — Você está começando a sua vida
agora, eu vivi muito, garota burra. Desejo que a sua vida seja tão miserável
quanto a minha foi quando vocês nasceram.
— Eu não queria me importar com nada, mas me odeio por me
importar com você — falei, tentando me soltar. — Como pode ver, a minha
mãe está sobrevivendo bem sem você. Então vai embora das nossas vidas.
Seu jogo acabou, pai.
— O jogo só acaba quando eu quiser.
— Então se divirta jogando sozinho, porque finalmente nos
livramos de você — disse, o encarando.
Quando eu tentei sair de perto, ele segurou mais forte o meu braço.
Olhei nos seus olhos e eu reconheci aquele seu olhar e o ranger de dentes,
era quando ele nos repreendia. Ele fechou o punho e eu fechei os olhos,
apenas esperei o murro vir.
Só que nunca chegou. Abri os olhos, olhando uma mão segurar o
punho do meu pai. O dono dessa mão estava um pouco atrás de mim. Achei
que era Red, mas a minha surpresa foi ver Lorenzo segurando a mão do
meu pai.
— Está querendo morrer, Dante? — falou, enquanto apertava o
punho do meu pai.
Lorenzo virou lentamente o pulso do meu pai, enquanto ele o
encarava assustado.
Quanto mais Lorenzo torcia, mais o meu pai se segurava para não
demostrar o quanto estava doendo. Até que o Lorenzo rapidamente puxou
mais, então escutei um estalo. Meu pai segurou o pulso com a outra mão
quando o Capo o soltou, não conseguindo manter o olhar fixo no homem
ali, mesmo quando ele o fitava bravo.
Saí da sala, correndo para o quarto e me tranquei no banheiro. Me
sentei no chão, me encostando no armário e me derramei em lágrimas. Eu
sabia que o meu pai nunca sentiu nada por nós, ele demostrava isso sempre,
mas ouvir ele falar doeu tanto, mais do que eu imaginava.
Todos parecem sempre presos a algo do passado, digo, em como se
antes fossem melhores do que o agora, mas para mim, o agora era a única
oportunidade que eu tive em toda a vida de fazer diferente.
Nunca quis ser quem eu era no passado, porque aquele meu eu era
tão fraco, que não conseguia nem falar mais alto com o próprio pai depois
de vê-lo espancar a sua própria esposa.
Não tinha um eu meu que eu gostasse, não tinha uma lembrança boa
que eu queria que voltasse, eu não tinha laços comigo em nenhum
momento.
Era sempre dor, tristeza, medo, porque mesmo que aquela criatura
não estivesse em casa, era como se ele estivesse nos observando mesmo
estando longe, não podíamos nos sentir seguras.
Hoje eu vejo que mesmo que o Lorenzo não seja bom o suficiente
para mim, mesmo que essa vida não seja a que eu desejei, eu estava me
surpreendendo que eu estava me contentando com isso, porque foi o melhor
que eu tive em duas décadas de existência.
Talvez para mim seja por isso que até esses surtos do Lorenzo não
me incomodem como deveria, porque eu passava pior em casa que aqui está
sendo um longo passeio de férias de verão.
Essa dor ainda está aqui e sempre estará, com tudo que eu tive que
passar, com todos os traumas que eu tive que aguentar.
Em saber que hoje, definitivamente eu me sinto livre, mesmo
estando presa aqui, mas livre dele, é como se o mundo tivesse cores agora.
Mesmo com isso, percebo que praticamente todo o meu dia, todos
os meus pensamentos sempre serão voltados no que eu passei com o Dante,
no que poderia acontecer em uma situação parecida que eu já sofri no
passado, eu vivo me martirizando por causa do meu pai.
Nenhuma dor será mais forte do que o meu próprio pai me causou,
porque todos os meus problemas vieram dele.
Que sensação dolorida é essa de não ter tido um pai, mesmo
morando com ele?
Por mais que pareça irônico, só agora eu me sinto livre.
— Minha querida, abra a porta — disse Lucy tentando abrir a
mesma.
Eu só queria ficar sozinha pelo menos um minuto. Aquela dor e
decepção no meu peito me maltratava tanto. Como alguém pode ser tão
ruim assim? Nenhuma palavra que eu disse conseguiu fazer aquele homem
sentir nem que fosse pena do que as filhas passaram.
— Desça, Lú. — Escutei Lorenzo falar com ela. — Hope, abra a
porta!
Nem se eu quisesse eu conseguiria. Meu corpo não respondia aos
meus comandos naquele momento.
— Eu quero ficar sozinha... — disse quase em um sussurro que
duvido que ele tenha ouvido. Coloquei as mãos no rosto, tentando abafar o
meu choro.
Escutei um barulho da chave, depois o barulho da porta sendo
aberta. Não me permiti olhar se era o Lorenzo ou não. Não queria que
ninguém me vesse daquele jeito. Alguém estava próximo de mim, talvez
ajoelhado, já que sentia uma respiração perto do meu rosto.
— Pare de chorar, Hope — disse Lorenzo.
Ele não sabe que quando pede para alguém parar de chorar, a pessoa
chora ainda mais.
— E-eu quero ir para a minha casa — disse, ainda chorando muito.
— Sua casa é aqui — falou.
Foi quando eu chorei ainda mais. Eu não queria mais ficar aqui, eu
quero o colo da minha mãe, eu sentia falta dela, de como ela conseguia me
acalmar quando eu chorava.
— Por que o seu choro me incomoda tanto? — falou, quase para si.
— Já vi pessoas chorando, implorando pela vida, mas o seu choro em si me
incomoda. — Ele não entendia e eu muito menos. — Se você parar de
chorar, amanhã te deixo na casa da sua mãe.
Então ele conseguiu escutar a nossa conversa?
— Eu sei, obrigada por cuidar de mim! — disse. — Não consigo
odiá-lo, devo ser muito trouxa mesmo, sempre acredito que as pessoas
merecem uma chance, mas o meu pai já é um caso perdido.
— Você só tem um bom coração, as pessoas hoje em dia só sabem
julgar e apontar o erro dos outros, ninguém agrada ninguém. É mais fácil
reclamar do que tentar ajudar — falou. — Espero que ninguém corrompa e
tire essa sua pureza, garotinha.
Talvez fosse isso mesmo, eu sempre fui assim, talvez por isso o
Lorenzo sempre diz que um dia meu bom coração vai acabar me matando.
— Que horas o Lorenzo chegou de tarde? — perguntei.
Estranhei quando ele apareceu na sala naquele horário, achei que ele
estivesse trabalhando.
— Desde a hora que seu pai chegou — respondeu. Então ele escutou
toda a conversa também?
No outro dia, já era de manhã e acordei cedo para ir visitar a minha
mãe. Peguei uma roupa simples, já que era apenas uma visita. Lorenzo não
apareceu e eu nem sei se chegou. De qualquer forma, tinha que esperá-lo.
Lembrei que o Lorenzo havia me dado um celular. Como me
esqueci disso? Corri para o closet e caminhei até a minha penteadeira.
Achei a caixa do celular e logo o liguei. Apesar de não ter tido
nenhum celular, já que o meu pai havia separado um aparelho para todas
nós lá em casa para que ele conseguisse falar conosco enquanto estava
viajando na intenção pedir algo ou só para encher o saco. Me sentei na
cadeira que estava ao lado e comecei a mexer no aparelho.
Nos contatos só tinha o número do Lorenzo, da Lucy e o de Red.
Estava super entretida com o aparelho em minhas mãos, até que eu escutei a
porta do quarto. Guardei o celular dentro da gaveta da penteadeira. Vai que
era o Lorenzo e ele achasse que eu estava mandando mensagem para
alguém, do jeito que ele era louco, nem duvidava.
Bem capaz de ter grampeado meu celular, só para bisbilhotar para
quem eu ligava. Não confio mesmo, depois do pai que eu tive, desconfio de
todos os homens daqui. Comecei a pentear meu cabelo, para que ele
pensasse que pelo menos estava fazendo algo ali.
Senti o cheiro do seu perfume, era realmente Lorenzo.
— Já está pronta? — perguntou.
Sua voz rouca ecoou pelo closet.
— Ah, sim! — respondi.
Parei de pentear o meu cabelo e fiquei novamente de pé.
— Vou só tomar um banho e desço — informou. — Me espere lá
embaixo, farei uma ligação.
Saí do closet, indo para a sala.
Acho que todos os homens daqui são assim, essas ligações de
negócios ou secretas, sempre tinham que ser feita em sigilo. Enzo fazia isso
com frequência quando eu estava na casa da Lisa. O que nos deixava
curiosas para saber o assunto dessas conversas.
Fiquei no sofá, esperando-o. Depois de uma meia hora, ele
apareceu.
— Andiamo! — disse Lorenzo indo em direção a porta, eu apenas o
segui. Estava tão empolgada que quase não consegui disfarçar.
O caminho foi bem rápido para a minha sorte. Estava com um pouco
de dor de cabeça, creio que foi pelo choro de ontem. Thony estacionou em
frente à casa da Lisa, mas ninguém desceu do carro.
— Enzo disse que a sua mãe está passando o dia aqui — falou
Lorenzo a mim, agora olhando para o Red, que estava no banco da frente.
— Red, se elas forem para casa da minha sogra, leve uns seguranças do
Enzo com vocês.
— Certo! — respondeu Red.
— Fique com o seu celular, te ligarei quando estiver chegando —
disse Lorenzo.
— Bem, pode ter acontecido de eu ter esquecido ele em casa —
disse sorrindo para aliviar a raiva do Lorenzo a seguir.
— Não te dei um celular para ficar guardado, Hope, fique com ele
sempre — falou. — Red, ligarei para você.
Me despedi do Lorenzo e entrei na casa da Lisa. Encontrei com
Enzo no portão, que logo sorriu para mim.
— Bom dia, senhora Ferraro! — brincou
— Bom dia, senhor Carbone! — respondi.
— Elas estão lá dentro — disse Enzo logo entrando no carro do
Lorenzo.
Passei pela sala, não as encontrando ali.
— Lisa? — chamei.
— HOPE! — disse Kitty correndo para me abraçar. — Estava com
tanta saudade de você!
— Também estava, meu amor — disse. Minha mãe entrou na sala e
veio ao meu encontro. — Mãe!
— Como você mudou em uma semana, está mais linda! — brincou,
me abraçando.
Lisa apareceu, logo nos sentamos no sofá e eu disse que o pai havia
aparecido.
— No outro dia, depois do seu casamento, o Sr. Federico mandou a
carta de divórcio para o Dante. A gente saiu logo em seguida, acompanhada
com alguns seguranças de Enzo que foram buscar alguns de nossos
pertences — explicou minha mãe. — Estamos morando a duas casas daqui.
É tão bom, a Kitty vem brincar com Nandinho, eu posso sair sem me
importar que horas vou voltar, posso até falar sem temer seu pai aparecer.
— Que bom, mãe, fico tão feliz pela senhora — disse.
— Tenho que agradecer ao Capo pela casa. É espaçosa e com um
jardim enorme, a Kitty está até querendo ter um cachorro — falou.
— E como está o seu casamento? O pai disse alguma coisa? —
perguntou Lisa.
Kitty foi brincar com Nandinho enquanto conversávamos. Ela
parecia outra criança, mais feliz e viva.
— Estamos bem! — menti. Não queria que elas se preocupassem.
— O pai não disse nada — menti de novo.
Apesar de ser um péssimo pai, ele nunca havia me dito palavras tão
duras como de ontem.
— Quer conhecer a minha casa? — perguntou minha mãe. — A
casa já está no meu nome, realmente é minha.
Saímos dali e encontrando Red conversando com alguns seguranças.
— Este é o Red, o meu segurança. Não podemos falar nada na frente
dele que ele repassa tudo ao Lorenzo, só quando ele está sem a farda, aí ele
é o nosso amigo — disse e o Red riu.
— Sou honesto com o meu chefe, não posso enganá-lo — falou. —
É um prazer conhecê-las!
Red nos acompanhou até a casa da minha mãe e realmente era muito
bonita. Ela estava tão feliz, que até valeu a pena ter me casado com o
Lorenzo. Vi alguns seguranças na entrada da casa, deviam ser os homens do
Lorenzo.
Fizemos uma tour pela casa e minha mãe me mostrou cada
centímetro do lugar. Notava a quantidade absurda de seguranças aqui.
Realmente, isso é coisa do Lorenzo.
— Está difícil seu casamento, não é? — perguntou Lisa quando se
aproximou de mim, enquanto a minha mãe caminhava a nossa frente.
— Dá para aguentar, melhor do que viver com o pai — disse. —
Estou bem e apesar do fato de que Lorenzo nunca teria sido a minha
escolha para marido, ele não me deixa faltar nada. Vejo que isso também
está acontecendo aqui com a mãe, então ficarei bem.
Conversamos sobre várias coisas, colocando o papo em dia, já que
fiquei uma semana longe.

O dia passou extremamente rápido.


— Tenho um celular agora, mas é melhor não falarmos muito por
ele, bem capaz do Lorenzo ter grampeado — disse e Lisa riu.
Eu que não confio.
— Quando chegar em casa, me mande uma mensagem para que eu
salve o seu número — pediu Lisa.
— O Capo está próximo daqui, vamos esperar na entrada da casa,
Hope — disse Red.
Me despedi da minha família e aguardei Lorenzo chegar. Enzo saiu
do carro, me cumprimentando. Entrei logo em seguida, notando que ele
ainda estava de bom-humor.
— Obrigada por ter me deixado ver a minha família — disse.
— Todas as terças, eu e o Enzo saímos para beber, se quiser usar
esse dia para vir ver a sua família, não atrapalharei — falou. — Você vem e
volta comigo.
— Quero sim! — respondi um pouco mais eufórica do que deveria.
— Obrigada!
— Não precisa agradecer — falou, enquanto olhava a estrada.
Até que ele consegue não ser um cretino. Hoje o dia estava lindo e
ninguém o estragaria.
Ontem eu fui em mais uma reunião do clube do livro.
Era tão bom me reunir com as meninas e conversar sobre tudo. Hoje
a gente se encontraria para mais uma reunião, só que agora com outras
esposas. Não entendi bem ao certo o que era, mas a Dona Telma me
explicou que algumas esposas se reuniam para algumas ações beneficentes
para o governo, em troca eles não se meteriam nas ações da máfia.
Hoje era uma reunião sobre o que aconteceria nos próximos dias. As
meninas falaram que era preciso tomar cuidado com as outras esposas e não
mencionar o que acontecia no nosso clube do livro.
Estava me arrumando para esse encontro que seria feito na casa do
Leonel, já que sempre é na casa de alguém. Elas se encontravam duas vezes
por mês. Emma disse que, provavelmente, a segunda reunião seria aqui em
casa, já que eu sou a esposa do Capo e nova no grupo.
Só estava esperando os interrogatórios de quando eu engravidaria
mesmo que eu tivesse apenas três semanas de casada. Eu e o Lorenzo ainda
estávamos tentando, não queria ter que lidar com pessoas enxeridas, mas
infelizmente hoje seria o dia que eu seria questionada sobre a demora da
gravidez.
Estava no closet e a Lucy estava me ajudando a escolher uma roupa.
— Tem que ser algo formal, mas também que não seja brega.
Conheço algumas esposas que participam dessas reuniões, adoram criar
panelinhas de fofocas — disse Lucy. — Que tal esse bore rendado branco
com a calça bege?
— Essa roupa é minha? — estranhei. Não lembrava de ter essa
roupa antes.
— Lorenzo havia pedido para a Suzi comprar algumas roupas para
você assim que casou — explicou. Mudaram praticamente todo o meu
guarda-roupa. Agora fazendo parte da família Ferraro, eu tinha que estar
sempre bem-vestida.
— Ah, sim! — respondi. — A parte de cima vai ficar muito nua,
não sei se me sentiria a vontade perto delas com esse tipo de roupa. Posso
botar um blazer por cima? — disse pegando um que combinasse com a
calça.
— Está ótimo!
Troquei minha roupa e coloquei um salto. Quando ia sair do quarto
com a Lucy, o Lorenzo chega. Olhei no relógio e ainda era 15:30h da tarde.
Lorenzo nunca havia chegado esse horário. Quando ele sai pela manhã, só
chega à noite para o jantar ou só aparece durante a madrugada.
— Lú, faça um lanche para mim — disse Lorenzo. Lucy saiu do
quarto e eu ia fazer o mesmo, mas o Lorenzo parecia que queria falar
comigo. — Está muito bonita, senhora Ferraro, isso tudo é para ver o
Lucca?
Ele ainda está cismado com isso!? Não segurei o riso. Lembrei que
o Lucca deveria estar lá, já que é a casa dos seus pais.
— Desculpe! — disse assim que caiu a ficha que não era para estar
rindo, já que o Lorenzo parecia levar o assunto bem a sério. De qualquer
forma é engraçado pensar que Lorenzo acha que eu teria algo com o Lucca.
Pelo amor de Deus! Ele não era feio, mas realmente não era o tipo de
homem que me atraia, nem o Lorenzo era, que dirá ele.
— Não vai tentar nem se defender? — perguntou, segurando na
minha cintura, me puxando para ficar mais próximo dele.
Aproveitador!
— Sabe que não tem nada acontecendo entre ele e eu, era só uma
jogada dele para tirar você do sério — falei. — Eu não seria estúpida de te
trair. Sei que seria castigada e, também, minha família precisa que eu esteja
casada.
— O problema não é você, e sim ele — falou. Ele realmente não
confiava nos seus parentes. — Você é boa demais para pensar em me trair,
isso é notório. Lucca deve pensar da mesma forma e do jeito que ele gosta
de arrumar confusão e me tirar do sério, não duvido que isso aconteça da
parte dele.
— Eu sei me defender — disse e ele riu.
— Sabe? — Me olhou sarcasticamente. — Então se ele te agarrar
assim... — Lorenzo havia me imprensado na parede, não me permitindo
sair. — E fazer isso aqui... — Levantou os meus braços para cima,
segurando-os firme na parede, acima da minha cabeça. — E te tocar assim...
— Lorenzo se aproximou tão lentamente que era torturante, como se eu
necessitasse logo do seu toque. Ele depositou beijos no meu pescoço
fazendo um percurso ainda mais lento até a minha boca. Quando chegou no
destino, ficou parado apenas me encarando. Seu nariz já tocava no meu de
tão próximo que ele estava de mim. — Como se defenderá, Hope? —
indagou.
Sua respiração pesada e aquele seu olhar marcante me deixavam ser
ar. Eu realmente não estava conseguia pensar em muita coisa.
— Gritaria pelo Red? — indaguei quase em um sussurro, sentindo
minha voz falhar com o seu olhar sobre mim.
Lorenzo soltou uma risada, virando o rosto para o lado, balançando
a cabeça sem acreditar. Achei seu sorriso muito lindinho, já que ele não era
muito de demostrar esse tipo de sentimento, mas logo me repreendi por
isso.
— Acha que o Red sempre vai estar presente para te salvar? —
indagou. Achei que sim, ninguém sabe quando terá outro ataque. — Ele só
está aqui por um tempo e logo voltará a trabalhar na minha segurança. E
você, pequena do jeito que é, um inimigo meu só te colocaria no bolso e
sairia.
Ri do seu comentário. Eu tinha 1,60 cm de altura, talvez eu seja um
pouco baixa, principalmente se for comparar com a altura do Lorenzo, ele
deve ter no mínimo 1,85 cm.
— E o que eu deveria fazer? — perguntei, recebendo a sua atenção
novamente.
— Não tem muito o que se fazer — respondeu, colocando a mão
sobre a minha bochecha, massageando o local com o polegar. — Mandarei
Red lhe ensinar alguns movimentos de defesa pessoal. Talvez te ajude
quando precisar, mas vou logo avisando, se usar comigo, vai se arrepender.
— E se eu machucar alguém? Prefiro não aprender — disse. Se eu
machucasse alguém sem querer, sei lá, desse um soco em alguém por achar
que faria algo comigo e na verdade não era uma pessoa ruim? Não duvido
disso, do jeito que eu sou desesperada. — Que tal só me deixar com mais
seguranças?
— Deixe de ser bondosa, Hope — falou. — Isso é para machucar
mesmo o seu oponente ou acha que se alguém quiser te sequestrar vai pedir
por favor antes?
— Espero não precisar usar — disse. Do jeito que eu sou nervosa,
assim que alguém apontasse uma arma ou uma faca, eu já desmaiaria, essas
aulas não valeriam de nada se eu estaria desacordada. Olhei a hora, notando
já estava um pouco atrasada para o meu compromisso. — Eu posso ir
agora? Vou acabar me atrasando.
— Irei com você. Tenho que conversar com o meu tio — falou. —
Vou tomar um banho e comer algo.
— Tudo bem! — disse.
Tentei me soltar do Lorenzo que ainda segurava as minhas mãos no
topo, mas ele não me soltou.
— Está realmente muito bonita, senhora Ferraro. — Lorenzo me
encarava, enquanto seu polegar descia para alça da minha roupa indo até o
meu decote. Ele apertou ainda mais o seu corpo com o meu. Nossos olhares
se encontram e eu via o desejo nos olhos dele. Nós dois não dissemos nada,
só ficamos ali, presos um no outro.
Lorenzo tomou a iniciativa, beijando o canto da minha boca,
enquanto eu prestava atenção em tudo que ele estava fazendo. Quando
finalmente os seus lábios se encontraram com os meus, o beijo foi
rapidamente se intensificando. Fazia um tempo que não nos beijávamos
daquela forma.
Lorenzo ainda deixou uma de suas mãos segurando as minhas no
topo, e com a outra, fez um percurso pela lateral da minha cintura,
agarrando em cheio o meu quadril. Não consegui segurar o gemido e logo
vi um sorriso vitorioso dele.
Era estranho como nós dois nos conectávamos de uma forma
absurda quando trocávamos carícias. Como se fossemos peças de quebra-
cabeça que se encaixavam perfeitamente.
Seus beijos novamente desceram para o meu pescoço, me fazendo
querer Lorenzo dentro de mim.
— Lorenzo... — sussurrei, enquanto ele beijava o meu pescoço, me
fazendo arrepiar com o seu toque.
— Sì? — falou, não parando de fazer o que estava fazendo. Eu
queria dizer que íamos nos atrasar, mas eu não queria parar com aquilo.
Lorenzo voltou a sua atenção para os meus lábios, sorrindo
maliciosamente. Logo me beijou novamente, aumentando o ritmo.
— Devemos continuar na cama ou nos apressar para a sua reunião?
— perguntou entre os beijos.
Eu sei o que eu queria escolher naquele momento, mas não consegui
dizer. Como não teve respostas minhas, já que nem se eu quisesse
conseguiria respondê-las, ele parou de me beijar, depositando um último
beijo na minha testa.
Muito amoroso, algo está errado.
Lorenzo se afastou de perto de mim, caminhando para o banheiro.
Ainda fiquei parada no canto que ele me deixou, tentando assimilar aquele
beijo na testa. Estava começando a sentir falta do corpo quente do Lorenzo,
que droga!
Saí rapidamente do quarto, tentando me recompor. Estava agitada
demais para ficar ali. Parei nos degraus da escada, respirando fundo para
me acalmar. Bati levemente com as duas mãos no rosto para acordar para a
realidade, logo consegui racionar melhor sem pensar muito no que
aconteceu.
— Red, um spoiler — disse assim que desci, o encontrando na sala.
— Lorenzo vai pedir para você me ensinar a me defender. Então cuidado
para não me machucar.
— Será bom para você, já que é muito pequenininha — debochou.
— Qualquer um te colocaria no ombro que nem um saco de batata e te
levaria.
— Sério que vai todo mundo zombar da minha altura?
— A verdade dói! — falou.
— Ainda está aqui, minha menina? — disse Lucy assim que me viu.
— Lorenzo vai comigo e pediu para aguardar por ele.
Me sentei no sofá. Já estava ficando impaciente com a demora do
Lorenzo. Nem no dia do meu casamento eu demorei tanto. O pior que ele
ainda ia comer alguma coisa antes de sair. Encostei a cabeça no sofá e
fechei os olhos.
Recentemente, já não achava tão ruim o meu relacionamento com
Lorenzo. Sempre que eu via que ele estava bravo, ia logo dormir ou o
ignorava. Ele não estava tão rígido como foi no começo. O único problema
era a Bianca que estava andando um pouco por aqui, mas precisamente na
cozinha. Ouvi ela na cozinha ontem, mas fingi não ter visto e subi logo em
seguida.
Lucy disse que o Lorenzo não a deixava passar dali, era o único
cômodo da casa que ela ainda entrava. Quando queria fazer sexo com ela,
ele a levava para o rifugio. Isso não era algo que me incomodava, até
porque me casei ciente e moro em um lugar muito privativo, principalmente
por ser uma máfia, então já estava acostumada com isso pela experiência de
mais pais, que certas coisas não me abalavam mais. Porém, ela gemia alto,
certamente para que a casa toda escutasse. Sei que fazia de propósito para
me atingir, o Red ficou bem constrangido e disse que isso nunca aconteceu
quando fazia parte da segurança do Lorenzo. Então, não duvido que ela
estava fingindo gemidos para atazanar a minha vida.
— Já dormiu? — disse Lorenzo aparecendo na sala.
— Ah, só estava descansando — disse.
— Andiamo! — falou.
— Você não ia comer algo?
— Já comi — respondeu.
Então por isso que ele estava demorando. Caminhamos para o carro
do Lorenzo, hoje ele dirigiria. Os seus seguranças e o Red estavam no carro
atrás. O celular do Lorenzo começou a tocar e ele atendeu usando uma só
mão.
— Deve ser para você — disse Lorenzo assim que viu no visor
quem era.
Estendeu a mão com o celular para mim e o peguei.
— Para mim? — estranhei. Vi que era a Dona Telma.
— Onde está a sua esposa? Vai prendê-la e não deixar ela vir a
nossa reunião hoje, Lorenzo? — Pela primeira vez vi ela aborrecida com
algo.
— Oi, Dona Telma! — disse. — Desculpe o atraso, é que perdemos
a hora, mas já estou chegando.
— Tudo bem, minha querida — falou. — O Lorenzo deixou o
celular com você?
— Ah, não, ele está aqui do meu lado — disse. — Gostaria de falar
com ele?
— Não, só havia estranhado você ter atendido o celular dele. Na
última reunião, você esqueceu de nos dar o seu número.
— Perdoe-me, fiquei tão fascinada com a história do livro da Emma
que eu esqueci de lhe dar — não menti, realmente gostei.
— Tudo bem, já estou esperando por você — disse minha sogra
desligando a ligação.
Ia devolver o celular dele, mas ele pediu que eu segurasse.
— O que você havia esquecido de dar para a minha mãe? —
perguntou.
— O meu número — respondi.
O celular do Lorenzo tocou novamente. Agora entendo o motivo de
ele desligar o celular. Sempre tem alguém telefonando, não sei como ele
não enlouquece.
— Alguém está te ligando — disse entregando o aparelho, sem ao
menos olhar quem era.
— Olhe quem é — falou, enquanto dirigia.
Fiquei com medo de olhar antes e ele achar que eu estava fuçando o
seu celular, experiência com isso na minha antiga casa nunca dava certo.
— É a Alessandra — disse.
— Atenda.
— Eu? — estranhei.
— Tem mais alguém aqui? — retrucou, dócil como sempre.
Lorenzo sempre atendia o celular, sem se importar se estava
dirigindo ou não. Isso era um teste?
— Sim? — disse assim que eu atendi.
— O que faz com o celular do Lorenzo? Cadê ele?
— Ele está aqui do meu lado — falei.
— Passe para ele — falou.
— Ela quer falar com você — disse ao Lorenzo odiando ter que ser
pombo correio da conversa dos outros.
— Pergunte do que se trata — falou, ainda de olho na estrada.
— Ele quer saber do que se trata?
— Virou pombo correio agora? — eu achava que sim. — É
particular e importante, passe para ele, Hope.
Nossa, ela sabe me chamar pelo nome. Parecia importante mesmo.
— Ela disse que era particular e importante — disse, olhando para o
Lorenzo, colocando a mão no celular para abafar a nossa conversa e ela não
escutar. — Atenda, por favor, não me sinto à vontade de ficar me metendo
nos seus assuntos.
Não confiava, depois me dava problema, eu que sofreria depois.
— Diga que ligarei depois e desligue.
— Ele ligará depois. Tenho que desligar, desculpe — disse já
desligando.
— Primeiro, gosto de saber que não quer se meter em assunto que
não é seu. Segundo, pedi para atender, já que toda vez que eu falo ao
telefone quando estou com você, me parece preocupada em sofrer um
acidente, e terceiro, não peça desculpa para tudo, isso é irritante — disse
Lorenzo trocando sua atenção da estrada para mim.
Não tenho medo por ele falar ao celular, e sim, que toda vez que eu
estou com ele dirigindo, é quando ele está com raiva e acelera sem se
importar com os sinais de trânsito. Em relação a pedir desculpas, ele sabe
que tipo de educação o meu pai me deu? Eu tinha que sempre me redimir,
mesmo estando certa para não ter problemas futuros.
— Certo — disse, voltando a encarar a rua.
A viagem foi até rápida, a mansão deles era a última da propriedade
dos Ferraro. Lorenzo estacionou o carro, logo saindo do mesmo.
Chegamos na mansão luxuosa do Sottocapo. Leonel realmente
esbanjava o dinheiro que tinha. Talvez era uma forma de se sentir superior
ao Capo, pelas coisas que a Lucy dizia. A sua casa era muito parecida com
a minha e a da minha sogra, realmente acho que todos dessa propriedade
sejam assim, a diferença até agora é só o tamanho, já que a do Lorenzo é
bem maior.
— Onde estão todos? — perguntou Lorenzo a um segurança.
— Na ala sul, senhor — respondeu. — Queiram me acompanhar!
— Você não ia conversar com o Leonel? — perguntei notando que
ele ia entrar comigo.
— Vou, quero só confirmar uma coisa — falou.
O que seria? O segurança ainda estava parado esperando que o
acompanhássemos. Lorenzo começou a caminhar e eu fiquei atrás dele.
Quando ele olhou para trás, parando e me esperando. Fiquei pensando se
havia feito algo errado.
— Andiamo! — falou, segurando na minha mão.
Fiquei surpresa, não nego. Pode ter sido porque eu estava andando
devagar ou para mostrar a todos que estávamos nos dando bem, mas do
jeito que o Lorenzo sempre tenta não ser afetivo, isso me surpreendeu. O
segurança parou na nossa frente, apontando para a porta logo ali. Percebi
que os seguranças do Lorenzo não vieram conosco, muito menos o Red.
Acho que eles não podem entrar aqui.
— É aqui, senhor — falou, logo saindo.
Lorenzo abriu a porta e todas as pessoas que estavam ali, não
conseguiram disfarçar a cara de surpresa ao vê-lo.
— Capo, não sabia que o senhor viria — disse uma mulher. Se me
lembro bem, essa era a esposa do Leonel.
— Onde está o seu marido, Ruth? — perguntou.
Então ela se chama Ruth.
— Ainda não chegou. Você pode aguardar por ele na sala de espera
— informou.
— Eu aguardo aqui mesmo. — Lorenzo tirou o celular do bolso e
ligou para alguém. — Red, assim que o carro do Leonel chegar, me avise.
Lorenzo ignorou o resto das pessoas e me levou até onde a sua mãe
e as suas cunhadas estavam. Ainda estava segurando a minha mão, não se
importando com os olhares. Vi que estávamos em uma sala bem arejada,
cheia de sofás, feita para aquele tipo de reunião.
— Que surpresa, meu filho! — disse Dona Telma assim que
chegamos ao seu lado.
— Estou esperando por Leonel, mas ele ainda não chegou — falou.
Me sentei na ponta do sofá, o Lorenzo se sentou ao meu lado e a
Dona Telma ao lado dele. A Emma e a Giulia estavam no sofá ao lado do
nosso.
— A reunião ainda nem começou, não sei para quê marcar um
horário, se ninguém chega na hora marcada — disse minha sogra
descontente. — Falta ainda as moças que o prefeito pediu para participar da
reunião hoje.
Algumas moças vieram cumprimentar o Lorenzo, como sempre
sendo bem atiradas.
— Hope, quero que dê a sua opinião em algo ou talvez um conselho
— disse Emma.
— Não sou boa em dar conselhos — disse.
— Não importa, sei que não consegue mentir. A Giulia já me deu
opinião dela e a Dona Telma achou melhor não falar nada. O que acha da
minha bolsa? — perguntou Emma me mostrando a bolsa no seu colo.
— Oh, bem... — A bolsa não era horrível, mas depende do gosto de
quem a usa. Muitas penas e com cores chamativas. Não é o tipo de bolsa
que eu escolheria.
— Viu, é estranha, eu disse — disse Giulia.
— Não é estranha, mas se deixasse ela guardada seria bem melhor
— concluí.
As meninas caíram na risada com meu comentário.
— Então é por isso que não quis dar a sua opinião, Dona Telma? —
perguntou Emma.
— Cada um com os seus gostos.
— Hope, o que acha... — Antes que a Emma pudesse concluir, eu a
interrompi.
— Pergunte para Giulia, ela saberá — falei já em desespero.
— Acha que os meus utensílios são bregas e por isso não quer falar?
— falou mesmo assim.
— Oh, não! — disse, tentando reverter a situação.
— Pare de brincar com ela, Emma, já está toda vermelha de
vergonha — brincou Giulia.
— Me diga um comentário do meu vestido de ontem, o que achou?
— insistiu Emma.
Ela parecia gostar de me ver nervosa. O vestido dela era bem bonito,
só que rosa neon.
— Quer que eu diga um comentário sarcástico? — disse sorrindo e
ela riu.
Lorenzo estava com uma sobrancelha arqueada, estranhando aquilo.
Talvez fosse porque eu não era muito de me divertir perto dele.
— Tentei falar com você e não me atendeu — disse Alessandra
próxima a nós, sorrindo forçadamente para minha sogra. — Oi, Telma,
saudades da senhora.
— Oi, Alessandra! — respondeu.
— Não estava com tempo de atender — disse Lorenzo.
Vi que a Alessandra tinhas uns machucados no braço por baixo de
toda aquela maquiagem.
— Com licença! — disse a esposa do Conselheiro Collalto se
aproximando de nós. — Vou roubar a Hope por alguns segundos, quero
apresentar ela para algumas mulheres.
Lorenzo não disse nada e eu olhei para a Dona Telma que logo se
levantou com a Emma e a Giulia.
— Iremos juntas, já que também fazemos parte da liderança — disse
Dona Telma.
É isso aí, sogrinha, não me deixa sozinha.
— Não vou machucar ela, Telma — falou. — Ela já está grandinha
e pode falar por si mesma.
Não posso não! Sei lá que tipo de mulheres elas eram, mas não vou
confiar, já basta a Bianca e a Alessandra que eu tenho que aturar.
— Cuidamos dos nossos, não vou deixá-la e ponto final — disse
minha sogra por fim.
Caminhamos para o meio da sala, já que esse cômodo era enorme,
talvez maior que minha antiga casa.
— Bem, eu não sei se sabe, mas nós cuidamos da parte da mídia
para os de fora, que não sabem o que fazemos. Vamos a jantares e festas
beneficentes em nome dos nossos maridos. Em troca o governo não se mete
nos assuntos da máfia e de cada família aqui presente, fazem altas doações
em dinheiro para os eventos de caridade. Se o dinheiro fica lá, não nos
interessa. O governo faz o que quiser com o dinheiro que é doado.
Da mesma forma que eles nos ajudam quando estamos perseguindo
alguém ou precisam repassar a droga e as armas para outro estado.
Então é isso?
Quando nos aproximamos de algumas mulheres, a Vanessa parou de
falar e me apresentou a elas. A dona da casa, a Ruth, estava de olho na
nossa conversa. Ela trocava certos olhares com a Dona Telma, mas elas não
conversavam muito.
— Bom, sei que muitas não estavam no casamento do Capo — disse
a Sra. Collalto tendo a atenção delas. — Esta é a Hope Ferraro, a esposa do
Capo.
Elas me olharam de cima a baixo, não muito felizes por saber que eu
era mestiça.
— É um prazer conhecê-la, senhora Ferraro — disse uma moça loira
forçando simpatia. — Ainda não fomos informadas sobre a sua gravidez.
— É porque ainda não aconteceu — respondi.
— Não precisa ser educada com elas, Hope, elas logo mostraram ser
umas megeras — disse Emma.
— Não venha colocar coisas na cabeça da garota. Está com medo de
que ela se torne nossa amiga? — disse outra loira.
— Como se nós nos incomodássemos com isso, ela logo notará que
vocês não valem nada. Acha que só porque tem as esposas dos Conselheiros
no grupo de vocês, que ele vale mais? — disse Dona Telma.
Nunca havia a visto tão revoltada. De onde vem tanta raiva dessas
moças?
— Gente, se acalmem, não precisa fazer confusão — falei, tentando
acalmá-las.
— Sente-se conosco, senhora Ferraro, não se misture com essas
depravadas — disse a senhora Collalto.
— Desculpe, mas ficarei com elas — declarei. Não gosto da forma
que elas trataram a minha família. — Foi um prazer conhecê-las, mas não
fale da minha família assim novamente.
— Que porra está acontecendo aqui? — disse Lorenzo gentil como
sempre.
— Nada, Capo, só queríamos ser educadas com a sua esposa —
respondeu a senhora Collalto.
— Voltem para os seus lugares agora! — ordenou Lorenzo.
Eu e as meninas voltamos para o nosso lugar. As outras mulheres
rapidamente ficaram caladas, caminhando para o outro lado da sala.
— Ei! — disse Lorenzo segurando no meu braço sutilmente para
que eu o olhasse. — Estou indo conversar com o Leonel agora. Não saia
daqui, não fale com ninguém que não seja essas mulheres e não confie em
ninguém daqui. Quando acabar de resolver os meus assuntos, a gente vai
embora. Tenho uma viagem agora a noite e você irá comigo.
Viagem? Para onde?
Lorenzo logo saiu, indo atrás do Leonel.
Uma viagem só eu e o Lorenzo, o que posso esperar?
Se passou um tempo desde que o Lorenzo saiu.
Já estava querendo ir embora. E depois da nossa pequena discussão
com as moças, elas agora me ignoravam. Terei que me opor a essas coisas.
Dona Telma disse que a Vanessa Collalto só é a líder, porque o Lorenzo não
estava casado. Vão me reivindicar hoje, por isso o interesse das meninas
para eu vir. Não sei se conseguirei, não sou muito boa em ser autoridade.
— O jantar será na segunda — dizia Vanessa para todas nós. —
Usem seus melhores vestidos e sorriam para os paparazzi. Eu entrarei
primeiro, e sentarei na mesa com o prefeito. Alessandra, Isabella e a filha
do advogado do Lorenzo, Bianca De Santis, se juntaram a nós.
Uma mesa com ninguém que gosta de mim, será um evento e tanto.
— Na verdade, Vanessa, queremos reivindicar a Hope — disse
Dona Telma em pé. A atenção das moças foram todas para mim, não muito
satisfeitas com isso. — Hope é a esposa do Capo, ela que deveria ser a
nossa líder e porta-voz.
— Esse é um evento que esperamos o ano todo, Telma, não posso
colocá-la como líder sem ao menos saber se ela fará jus ao sobrenome que
carrega — disse Vanessa. — Não podemos cometer erros nessa noite.
— Ela tem o direito de... — Vanessa interrompeu Dona Telma, a
impossibilitando de concluir o que diria.
— Ela não saberá seguir as leis que obrigam a uma líder — Falou
elevando um pouco o tom de voz.
— Na verdade, eu não me importo — disse. Se era para ser a líder,
eu serei. — Regras? Seguirei sem desobedecê-las. Cuidar dos eventos?
Quem vocês acham que cuidava das festas que o meu pai dava para os
homens daqui? Era eu. Se eu tiver alguma dúvida, eu tenho certeza que
Dona Telma, Emma e a Giulia me ajudaram.
— Você não saberá... — Vanessa iria reclamar novamente, quando
foi interrompida por alguém.
— Não está falando com o seu marido, Vanessa. Para você, ela é
senhora — disse Lorenzo ganhado a atenção de todos. — Vejo que não
estão se agradando da minha esposa, a mulher que eu escolhi para ficar ao
meu lado. Não a querem como sua líder, é isso?
Quando foi que ele chegou aqui?
— Capo, o senhor sabe que essa festa é importante, o prefeito estará
lá — disse Vanessa.
— Estou pouco me fodendo! — falou. — Já não está tudo pronto
para segunda? A Hope só precisa assumir seu dever como líder de vocês
agora.
— Temos que ver com a liderança antes, não atuo sozinha aqui —
disse Vanessa. Ela tem certeza que quer enrolar justamente o Lorenzo? —
Sabe que aqui também a uma hierarquia.
— Que se foda! — disse Lorenzo. — Não deixarei a esposa de um
Conselheiro assumir a liderança se quem deveria é a esposa do Capo. Então
deixe de tentar me dissimular com essas suas asneiras que eu tenho mais o
que fazer hoje. Hope, você assumirá a partir de agora. Quer logo dar uma
mudada de quem faz parte da liderança?
Olhei para a Dona Telma que fez um sim com a cabeça.
— Sim — disse tentando não ser intimidada pelos olhares de
desaprovação. — Como vice-líder, escolherei a Dona Telma, como
conselheira, escolherei a Giulia e tesoureira, a Emma.
— Você não pode as escolher só porque são suas amigas — disse
Alessandra.
— Dona Telma foi líder por anos, até você ter ficado no lugar dela.
A Giulia não se deixa levar por conversinhas e sempre diz a verdade —
disse me lembrando da bolsa da Emma. — Me aconselhará nas minhas
decisões sem se deixar levar por comentários maldosos de algumas de
vocês. A Emma é boa com números e tem boa memória, o mais importante
é de confiança. Ela cuidará da parte financeira e das transações do dinheiro.
— Se essa porra já foi resolvida, vamos cuidar de deixar a boca de
vocês calada de agora em diante — disse Lorenzo a elas. — Se eu souber
de alguma conversa pelos corredores ou de alguma trama para que o evento
de segunda dê errado, eu matarei quem participar. Vou ficar de olho de
agora em diante, já que os roubos das minhas cargas no depósito
misteriosamente acontecem sempre no dia que tem evento de vocês.
Andiamo, Hope, temos uma viagem nos aguardando.
— A reunião ainda não acabou — disse Vanessa.
— Ela já tem uma vice-líder, se ela está aqui, trate a porra do
assunto com ela, caralho — falou Lorenzo sem muita paciência.
Me despedi da minha sogra e das meninas, já que o Lorenzo estava
apressado para essa viagem.
Entramos no carro e o Lorenzo parecia impaciente com algo. Tenho
certeza que não era pelo que aconteceu. Eu também não perguntaria o que
era, do jeito que o Lorenzo odiava quando eu me metia nos seus assuntos,
eu que não ia ficar questionando nada.
— Posso perguntar para onde vamos viajar? — perguntei.
— Havaí — respondeu. — Ficaremos só esse final de semana. As
pessoas que encontraremos são patrocinadores e a maioria não sabe o que
eu faço, fique em silêncio e não faça nada que possa nos comprometer.
Amanhã encontrarei uns amigos que também não sabem o que minha
família faz.
— Certo!
Havaí? Nunca fui, mas deve ser incrível. Estava eufórica querendo
logo viajar, mas, eu deveria mesmo me sentir assim?
Lucy já havia arrumado a minha mala. Escutei Lorenzo falar ao
telefone que iríamos para a cidade de Honolulu. Pelas reportagens que eu já
vi na televisão, dava para ver o quanto o Havaí era bonito. Nem acreditava
que veria o mar de perto.
Já que a viagem seria longa, a gente ia no jatinho particular do
Lorenzo. Então resolvi descansar no avião durante longas horas de viagem.
No jatinho, eu já me encontrava na minha poltrona e muito bem
acomodada.
Havia uma pequena salinha, onde Lorenzo estava tratando alguns
assuntos do trabalho, então resolvi ficar na minha. Fechei os meus olhos e
esperei o sono vir.
Acordei com um certo reboliço do avião e me assustei. Vi que o
Lorenzo já estava na cama atrás de mim, dormindo como se nada estivesse
acontecendo ao seu redor. O avião começou a chacoalhar ainda mais, me
deixando ainda mais apavorada.
Céus!
Quando parou um pouco, pude respirar aliviada. Olhei novamente
para o Lorenzo que dormia feito pedra. Será que estava morto?
A frieza no ar me fez arrepiar toda. Então reparei que ele não estava
com nenhum cobertor. Fui até o armário onde eu havia pegado o meu e
peguei um para ele. Apesar de ele ser um cretino comigo, não seria tão
malvada assim com ele.
Me aproximei e o enrolei. Quando ia sair, alguém segurou a minha
mão.
— O que está fazendo? — perguntou estranhando a minha ação.
Ele não estava sonolento e muito menos com cara de que estava
dormindo. Ele estava acordado esse tempo todo? Como não se moveu
quando o avião estava com turbulência?
— Pensei que pudesse estar com frio e peguei o cobertor —
respondi. Ele ainda estava com aquela cara de desentendido. Será que eu fiz
errado em cobri-lo? Lorenzo realmente era carente de afeto, isso me
surpreendia muito, porque apesar de eu ter sofrido bastante na mão do meu
pai, minha mãe e as minhas irmãs sempre foram muito carinhosas comigo
— Desculpa, isso não irá se repetir.
Do jeito que esse homem é, não sabia se uma simples ação minha
poderia causar raiva nele.
— Sente-se, o avião ainda está em turbulência, vai acabar se
machucando — falou, me soltando, logo se virando de costas para mim.
Estava preocupado comigo? Provavelmente não.
Caminhei de volta para a poltrona do canto e me sentei. Voltei a
olhar a janela e observar a escuridão do céu. Era a minha primeira viagem,
nunca viajei na vida. Único lugar que eu fui a não ser a minha casa, foi para
a casa do tio Marco, mas ainda era na Itália. Então estava cheias de
expectativas. Não me importava se não iríamos aproveitar essa viagem, só o
gostinho de estar em um lugar novo era fascinante para quem viveu a vida
presa.
— Venha cá! — disse Lorenzo.
Acabei de sair de lá, o que ele queria?
— Sim? — indaguei assim que cheguei próximo dele.
— Deite-se! — falou, ainda de olhos fechados.
A cama parecia mais confortável que a poltrona, mas já que o
Lorenzo era do tamanho de um armário, não sobraria tanto espaço para
mim. Eu estava acostumada a não invadir o seu lado da cama, já que não
queria arrumar mais problemas por estar invadindo o seu espaço pessoal.
Então, mesmo que a poltrona fosse realmente bem desconfortável, ainda
hesitei antes de aceitar essa possibilidade.
Me deitei de costa para ele. Me encolhi por conta do frio e praguejei
por ter deixado o meu cobertor. Apesar de estar com um moletom e um
blusão, me sentindo bastante confortável por sinal, estava sentindo um certo
desconforto pela proximidade de nossos corpos ali.
Lorenzo estava um pouco mais carinhoso do que o normal. Isso
estava me assustando bastante. Talvez fosse as mudanças do seu humor, sei
lá.
— Tem como parar de se tremer? — indagou.
Já estava frio e com o ar-condicionado ligado, meu corpo não sabia
lidar com uma quase hipotermia que eu estava começando a ter. Me levantei
para pegar o cobertor e voltei a me deitar novamente. Não demorou para eu
adormecesse de novo.

A claridade fez com que eu acordasse. A preguiça de abrir os olhos


quase me venceu. Não havia dormido tão bem como essa última noite. Abri
os olhos e, para minha surpresa, eu estava abraçada com Lorenzo. Uma
perna por cima das suas e com a cabeça deitada no seu peito. Não sabia se
saía dali ou se ficava para não acordá-lo.
— Parece que teve uma ótima noite, Hope — disse Lorenzo irônico,
me olhando.
O maldito estava acordado?
— Desculpa! — disse, me afastando dele.
Seu olhar me dizia que ele estava adorando aquilo.
Lorenzo rapidamente ficou por cima de mim, se colocando entre as
minhas pernas. Ele me olhava, se apoiando melhor na cama para não cair
por de mim. Eu quase nunca tomava iniciativa com o Lorenzo, porque
sempre tinha medo que ele não quisesse e me rejeitasse. A vergonha que eu
passaria.
Então sabia que ele tinha que tomar a iniciativa em quase para tudo,
já que ele que sempre sabia conduzir tão bem.
— Você ainda não engravidou — falou, tirando alguns fios de
cabelo que estava no meu rosto.
Sei que após 7 dias da relação íntima, dava para saber se eu estava
grávida ou não. Apesar de sempre fazer os testes que a Lucy comprava,
ainda não engravidei.
— Está me culpando? — perguntei. Muitos sempre me perguntavam
de quando eu engravidaria. Talvez quiséssemos tanto que ainda não
aconteceu.
— De forma alguma — respondeu. Uma resposta que eu não
esperava. — Quando chegarmos lá, se perguntarem algo sobre o motivo do
nosso casamento ser tão rápido, fuja do assunto. Eles não sabem que eu me
casei por interesse de um herdeiro.
— Tudo bem!
Lorenzo ainda estava por cima de mim, me fitando com aqueles
belos olhos azuis.
— Troque de roupa, logo nós pousaremos — falou.
Lorenzo não saiu de cima de mim. Sua sobrancelha arqueada já me
fazia ter uma ideia do que ele estava esperando. Ele sempre me mandava ir
fazer algo, mas querendo alguma coisa antes que eu saísse.
Não sei, o Lorenzo pode estar bem mais calmo e eu realmente
gostava de vê-lo assim. Talvez isso seja o seu verdadeiro eu, sem toda essa
maquiagem que ele usa para esconder a sua dor.
O empurrei para o lado, mas agora ficando por cima dele. Ele me
pareceu surpreso com a minha ação, na verdade, até eu estava. Não sabia de
onde eu tirei tanta coragem. Suas mãos se mantiveram nas minhas coxas, as
apertando em seguida. Não fiz movimento algum. Apenas o encarava, me
segurando por cima dele com as minhas mãos na cama.
Alguns fios de cabelo resolveram cair sobre a minha face e com o
polegar, ele colocou atrás da minha orelha, enquanto me olhava cheio de
desejo.
— Gosto do seu olhar — disse sem pensar antes de falar.
Droga, falei demais. Ele ficou ainda mais surpreso. Quando o
Lorenzo ia dizer algo, o impedi. Não esperei mais e o beijei. Seja lá o que
ele ia falar, eu realmente não queria saber.
As primeiras semanas de casados foram bem complicadas, talvez
pela adaptação. Então eu não me sentia tão relaxada como estava agora.
O beijo estava se esquentando e a mão boba do Lorenzo já estava no
lugar de sempre, na minha bunda.
Estava com os braços cansados pela posição, mas ainda sim não
parei de beijá-lo. Lorenzo dava leves apertões no meu quadril, enquanto eu
o beijava ainda mais, sem parar nem para recuperar o fôlego. Uma de suas
mãos acariciava corpo até chegar no meu rosto, ele passeou com a mão
pelos meus cabelos, acariciando, enquanto nos beijávamos. Até que
precisamos parar para respirar.
— Você teve a noite toda para ter me dado um beijo desses e
guardou até agora, ruiva? — falou ofegante, ainda com o rosto próximo do
meu. — Uma pena estarmos para pousar, se não, tiraria essa sua roupa e
aproveitaria bem melhor o nosso tempo juntos presos nesse cubículo.
Apenas fiquei ali em silêncio, tentando controlar a minha respiração.
Uma conversa com o Lorenzo ia de 0 a 100 muito rápido. Saí do seu colo,
sem lhe dá nenhuma resposta. Não era como se eu tivesse uma.
O comodante havia informado que já estávamos pousando, então era
melhor eu ir logo me arrumar. Lorenzo logo se sentou na cama, mostrando
que se levantaria em seguida.
Me levantei da cama e entrei na salinha onde o Lorenzo estava
antes. Tomei um banho e fui atrás de uma roupa. Lorenzo entrou no
banheiro logo em seguida, em silêncio como se nada tivesse acontecido
agora a pouco. Já havia colocado as minhas peças íntimas, mas não sabia se
já encontraríamos alguém ou se ficaríamos no hotel.
Que roupa eu deveria usar?
Antes que eu falasse algo, Lorenzo já havia saído do banheiro,
apenas de toalha.
De longe, eu nunca havia visto cicatrizes no Lorenzo, apenas a que
eu vi no peito antes de nos casarmos, mas com a claridade e ele perto, dava
para notar muitas marcas por todo o seu corpo. Umas mais visíveis que as
outras. O que me deixava ainda mais curiosa para saber como ele conseguiu
cada uma e ao mesmo tempo triste, porque sempre que eu olhava, eu
lembrava que cada uma delas deveria ter doído bastante.
— Por que ainda não está vestida? — estranhou.
— Vamos encontrar alguém ou ficar no hotel? — perguntei e ele riu.
— Falei algo engraçado? — estranhei.
— Estou acostumado com mulheres sempre bem-vestidas, mesmo
indo dormir — zombou.
— Não tenho paciência para ficar me arrumando direto. Confortável
e rápido, é o meu dilema de vestimenta — disse, me arrependendo de ter
me exposto tanto.
Não costumávamos conversar, então era estranho.
— Encontraremos um casal no restaurante na beira da praia. Vista
qualquer coisa que a Lucy colocou na sua mala — falou.
Ele foi em direção a sua mala e começou a se vestir. Olhei um pouco
o seu corpo nu, enquanto ele se vestia. Olhar não tirava pedaço. Logo voltei
a minha atenção para minha mala.
Peguei um cropped e uma saia longa, que era o seu par. Havia
alguns desenhos de folhas neles, que deixava ainda mais essa vibe praiana.
Vesti a saia primeiro, sentindo um olhar pesar em mim. Vesti o cropped
logo em seguida, me virando e encontrando Lorenzo me encarando.
— Às vezes eu esqueço que você tem uma bela bunda — falou.
— Obrigada... Eu acho. — Não esperava por tal elogio.
Calcei a minha rasteirinha e fechei a mala. Voltei para a minha
poltrona, já que o avião estava pousando. Um reboliço no avião me fez dar
um gritinho agudo, momentaneamente fechando os olhos. Tenho certeza
que ouvi uma risada baixa do Lorenzo.
Descemos do avião e já havia um carro nos esperando. Red estava
com alguns seguranças, já a nossa espera. Lembro que Red havia saído
antes de nós viajarmos.
Entramos no carro e nenhuma palavra foi dita.
Já percebi que toda vez que eu e o Lorenzo nos aproximávamos
mais, o Lorenzo em uma forma de defesa, se isolava em seguida. Ele não se
permitia sentir afeto ou simpatia por ninguém, impedindo que essa pessoa
entrasse mais no seu coração. Não sabia se era por tudo o que aconteceu
com ele ou se ele apenas é assim.
Quando finalmente chegamos. Fiquei deslumbrada com a beleza do
local. O restaurante tinha a vista para praia. Trazia uma paz que era
indescritível. Lorenzo entrelaçou a sua mão com a minha e voltamos a
caminhar dentro do restaurante.
— Senhor Ferraro, há quanto tempo! — disse um rapaz. Ele deve
trabalhar aqui, já que estava com a farda com o nome do restaurante. — Sua
mesa já foi separada e se encontra ao lado de fora com uma bela vista para
o mar. Acompanhe-me!
O seguimos, caminhando para uma mesa protegidas com uns
guarda-sóis. Já havia um casal nos esperando e isso me deixava ainda mais
nervosa.
— Desculpem o atraso, a viagem foi bem turbulenta desta vez —
disse Lorenzo.
Um homem um pouco mais velho que Lorenzo se levantou e a sua
esposa, que deveria ter a mesma idade dele, fez o mesmo.
— Tudo bem, Lorenzo! — falou estendendo a mão para ele, o
cumprimentando. — Quem é a bela moça?
— É minha esposa, Hope Ferraro — disse Lorenzo me
apresentando.
Gostei de como soou “minha esposa” saindo dos lábios dele.
— É um prazer conhecê-los! — disse.
— Sou o Harvey Martinez e essa ao meu lado é a minha esposa,
Clarice.
Sorri para a moça. Ela era linda, os cabelos encaracolados e
volumosos a deixavam ainda mais perfeita.
Logo nos sentamos e pedimos alguns aperitivos. Lorenzo
conversava com o Harvey enquanto eu e a Clarice só prestávamos atenção
na conversa dos dois. Às vezes nos olhávamos e sorríamos uma para a
outra.
— Quer me acompanhar para um passeio na praia? — perguntou
Clarice a mim.
Olhei disfarçadamente para Lorenzo, que assentiu sigilosamente.
Não sei, como temos tantos ataques, estava até com medo de andar por essa
praia sem a segurança dele. Mais à frente, vi que o Lorenzo acenou para um
grupo de homens, logo eu os reconheci, lembrando que eram o os
seguranças a paisano que trabalhavam para ele.
— Será um prazer — respondi a Clarice.
Dei um beijo em Lorenzo antes de sair. Ficamos um pouco perto da
água, enquanto conversávamos. Notava os seguranças atrás de mim e duas
vans preta um pouco a frente, já recebendo um aceno do Red que estava lá.
— Me diga, como está a vida de casada? — perguntou Clarice.
— Uma maravilha! — disse. Não é totalmente mentira, fiz bons
amigos e estou tendo uma família, apesar de ser só a minha sogra e as
cunhadas do meu marido, mas elas me tratam bem e me protegem, como se
eu realmente fosse parente delas.
— Que ótimo! — falou. — Quando o Lorenzo se separou da antiga
esposa, não achei que ele encontraria alguém. Como ela se chamava?
— Alessandra! — respondi.
— Isso! — falou. — Apesar de não ter me dado muito bem com ela,
Antonella parecia se dar bem com a mãe. Lorenzo movia céus e terra pela
filha. Depois que você tem seus filhos, você entende o amor de um pai para
um filho. Não imagino a dor que o seu marido sofreu quando a pequenina
morreu. Sequer gosto de pensar nisso, imagina encontrar a própria filha
morta. Os traumas que você passa com isso.
— Lorenzo não toca muito no assunto — disse. Já havia notado que
era um assunto proibido para falar com ele. Pelo fato de também ele não ter
superado, o que dificultava ainda mais a sua dor. — Estamos tentando
engravidar, mas parece que não está dando muito certo.
— Pode demorar — disse Clarice. — Fico feliz que ele esteja
seguindo a vida. Quando engravidei da minha filha, havia tentado por 2
anos, depois vi que o problema era eu. Meu marido me ajudou nesse
momento, o que foi crucial para tudo que estava por vir. Fomos a uma
clínica de fertilização e deu tudo certo depois. Tive a minha menina,
Marina, mas todas a chamam de Nina.
— Que belo nome! — disse. — Já fui ao médico, eu estou bem e o
Lorenzo também. Acho que é porque nós queremos tanto, que não
aconteceu. Ou pela pressão que estamos sofrendo por causa da gravidez.
— Quando menos imaginar, estará grávida — falou.
— Obrigada por me escutar! — disse. — Espero que nossa conversa
fique apenas entre nós.
— Tudo bem, ficará só entre nós.
Conversamos sobre um pouco de tudo, até ver o Lorenzo
acompanhado de Harvey vindo em nossa direção. Lorenzo havia aberto os
botões da sua camisa branca, dando uma real visão do seu peitoral. Agora
estava com um óculos de sol, deixando-o ainda mais sexy.
— Tivemos que vir atrás de vocês — brincou Harvey.
— Nos empolgamos um pouco — respondeu Clarice indo para perto
do marido.
Lorenzo veio para o meu lado, colocando a sua mão em minha
cintura.
— Temos que ir! — disse Lorenzo com um olhar preocupado, eu já
entendi que algo o incomodava. Ele olhou para o amigo, fingindo bem que
estava tudo normal. — Nos encontramos no jantar desta noite?
— Claro! — respondeu Harvey. — Hoje o grupo estará todo aqui.
Quem diria que depois de tanto tempo, a galera da faculdade se juntaria de
novo. Só faltou o Enzo.
Lorenzo fez faculdade?
É por isso que ele havia dito que não sabiam o que ele fazia. Sei que
a família Ferraro tem uma empresa de imóveis, é de onde vem um terço da
fortuna deles. As pessoas de fora devem achar que só trabalham com isso.
Imagina se soubessem tudo que essa família esconde por debaixo dos
panos.
— Enzo é casado com a irmã da minha esposa. Ele não pode vir
porque ela está grávida e não é aconselhável viajar — explicou Lorenzo.
Sabia que o Enzo sempre resguardou muito falar de si, só pela
surpresa do Harvey em saber que ele era casado, já mostrava que o Enzo
não havia mencionado a ninguém isso.
— Ela está com quantos meses de gestação? — perguntou Clarice.
Lorenzo apertou levemente a minha cintura, me esperando
responder.
— No sexto mês, em duas semanas entrará no sétimo mês — disse.
— Vamos indo! — disse Lorenzo um pouco apressado. — Até mais
tarde!
Caminhamos para o restaurante ainda sendo acompanhados pela
segurança.
— O que conversaram? — perguntou assim que eu entrei no carro.
— Sobre tudo — disse. — Ela falou da filha dela e eu falei da
minha suposta vida com você, não citando toda a verdade.
— Hoje à noite, fique ao meu lado e não diga nada que seja sobre a
máfia.
— Eu sei! — disse. — Aconteceu algo?
— Não! — mentiu descaradamente.
Lorenzo não estava bravo, mas sim preocupado, algo estava
acontecendo e ele não quer comentar.
Chegamos no hotel, que não era tão longe do restaurante. Lorenzo
fez questão de pegar uma suíte luxuosa de frente para o mar.

— Vou resolver uns assuntos. Não saia do quarto, não aceite nada de
ninguém e muito menos abra a porta sem verificar quem seja. Fique aqui
até eu chegar, mas se der 18:00hrs e eu não tiver voltado, se arrume. Não
precisa usar roupas de festas, é apenas um jantar entre amigos. Red ficará
com você aqui.
— Certo!
Lorenzo saiu do quarto e eu pude fazer uma tour pelo lugar. Red
logo entrou e conversamos sobre muitas coisas. Logo não tinha mais o que
fazer, estava começando a ficar entediada. A noite demoraria para chegar.
— Está tedioso? — perguntou Red.
— Sim!
— Infelizmente a viagem é a negócios, então não muito o que
aproveitar — disse Red.
Lorenzo tinha que levar com ele aonde fosse. Já que eu sou a sua
esposa, precisava fazer parte. As pessoas da máfia precisam ver que
participo do crescimento dela.
— Lorenzo parecia preocupado, aconteceu algo? — perguntei.
— Nada que se preocupe — falou.
É, era fácil falar, já estava preocupada. Fiquei ali sentada na
varanda, esperando a noite chegar. Esperava que estivesse tudo bem. A
brisa era muito boa, o cheiro do mar passava uma tranquilidade, dava até
vontade de dormir. Me deitei no sofá, olhando a praia a minha frente.
Logo senti os meus olhos pesarem e adormeci.
Quando eu acordei já era de noite. Já se passava das 18:00hrs e
nenhum sinal de Lorenzo.
Amanhã nós encontraríamos alguns patrocinadores de algum evento
que o Lorenzo estava organizando. Hoje era apenas um jantar com os seus
amigos da faculdade, estava mais nervosa do que para o evento de amanhã.
Comecei a me arrumar para o jantar, um pouco assustada por não
saber como são esses amigos do Lorenzo. Não tive nenhuma experiência
com pessoas de fora da máfia até agora, só com os membros da famiglia a
minha vida toda.
Optei por um vestido azul, com uma fenda na perna. Calcei a
sandália e esperei o Lorenzo chegar. No último clube do livro comi na casa
da Dona Telma uma carne mal passada e agora eu estava sentindo as
consequências disso.
Estava um pouco tonta, talvez fosse da viagem também, já que ainda
não havia descansado.
Já se passavam das 20:30h e nenhum sinal de Lorenzo. O cretino se
esqueceu de mim?
— Red, Lorenzo deu algum sinal de vida? — perguntei.
— Não, senhora!
Eu não podia ligar para ele porque, como sempre, esqueci o meu
celular. Estava prestes a tirar a roupa e ir dormir, quando o vi entrando no
quarto.
— Que inferno de dia! — disse Lorenzo murmurando, batendo a
porta com força. Tinha um corte bem superficial abaixo de sua sobrancelha
que ainda sangrava um pouco. — Red, pode descansar, depois eu lhe
chamo.
Lorenzo caminhou até o banheiro, ignorando a minha presença. Ele
ficou um tempo lá e eu não sabia se ia atrás dele ou se ficava na minha.
Achei mais seguro ficar na minha. Lorenzo estava bravo com algo e eu que
não me meteria.
— Hope, venha cá! — me chamou.
E lá se vai o meu plano.
— Sì? — disse assim que cheguei na porta do banheiro.
Lorenzo já havia tomado banho, vestido com uma roupa casual.
Uma calça bege com uma camisa branca de botões. Ele apontou para o
corte em sua sobrancelha e eu sabia que era para ajudá-lo com aquilo.
Peguei o kit de primeiros socorros que havia na gaveta da pia. Eu
sabia onde estava, porque vasculhei o quarto inteiro no desespero do tédio.
Enquanto limpava a ferida do Lorenzo, ele abotoava a camisa. Ele
sempre checava o horário, talvez por estarmos atrasados e ele odiava isso.
Lorenzo tirou o celular do bolso, enquanto mandava mensagem para
alguém.
Estava bem difícil cuidar do seu machucado. Ele era muito alto e eu
tinha que ficar de ponta de pé para alcançar o seu corte.
— Você pode se abaixar um pouco? — perguntei.
Já havia limpado o local, só faltava passar uma pomada e colocar
um curativo. Lorenzo apenas me segurou pela cintura, me colocando sobre
a bancada da pia, me deixando um pouco mais alta que ele.
Ele ficou entre as minhas pernas, me dando mais visibilidade para o
seu machucado. Terminei e coloquei o menor band-aid que tinha. Ele ficou
parado sem demonstrar alguma reação de dor ou ardência. Com base nos
machucados que o meu pai me fez ao longo da vida, aquela pomada ardia
demais.
Lorenzo não parava nem por um minuto, se não era mandando
mensagem, era falando com alguém.
E o meu pai que disse que vida de Capo era fácil, que era só dar
ordens... Lorenzo nem dorme sem ser atormentado por milhares de ligações
e mensagens.
— Prontinho! — disse sorrindo para ele, tentando deixá-lo menos
mal-humorado. — Uma recompensa por ter sido um rapaz muito forte. —
Brinquei, dando um beijinho em seus lábios.
Lorenzo me encarou confuso, frazindo o cenho. Logo notei a
besteira que fiz. Lorenzo não era o tipo de homem com o qual eu podia
fazer esse tipo de coisa. Do jeito que ele era sobre demonstração de afeto,
repudiaria minha ação.
— O que foi isso? — perguntou ainda sem entender.
Foi a única coisa que ele disse, já que parecia tão surpreso.
— Bem, eu não pensei antes e... hum... era só para te deixar mais
tranquilo— disse tentando reverter o que eu fiz.
Obrigada, pai, pelos traumas que o senhor me causou.
Lorenzo colocou as suas mãos em cima das minhas coxas, se
aproximando do meu rosto.
— Se for me dar alguma recompensa, me dê pelo menos um... —
Não deixei ele terminar e o beijei.
De duas, uma, ou ele ia falar alguma coisa desagradável ou ia pedir
para dar um beijo de verdade ao invés do selinho. Votei na segunda e nem
pensei antes de beijá-lo. Pensar ultimamente não é algo que eu tenha feito.
Lorenzo colocou uma de suas mãos na minha nuca e eu aproveitei a
proximidade para envolver os meus braços em seu pescoço.
O beijo estava intenso demais, cheio de desejo. Ele começou a
controlar aquele contato, movimentando rapidamente a cabeça para
acompanhar a velocidade que estávamos. Até o seu celular tocar, fazendo
com que nos afastássemos.
— Já estou chegando! — respondeu para a pessoa na outra linha e
logo virou para mim: — Andiamo!
Ele me ergueu novamente, me tirando de cima da pia. Ele não disse
nada depois e eu fiquei na minha. Sabia que o Lorenzo se afastaria, já que
sempre acontecia isso quando nos aproximávamos demais. Saímos do
quarto, indo em direção ao elevador.
Queria saber como o Lorenzo havia feito aquele machucado, mas
como não falamos da nossa vida um para o outro, creio que nunca saberei.
— Por que ficou tão quieta? — estranhou assim que entramos no
elevador.
Ficar quieta era algo que o Lorenzo sempre me mandava ficar e
quando ficava quieta demais, ele estranhava. Ele vai acabar me
enlouquecendo!
— Nada — respondi.
Na verdade, não era isso, estava pensando no que se tornaria o meu
casamento assim que eu engravidasse. Desde a minha conversa com a
Clarice, estava mais pensativa sobre isso.
Como eu teria coragem de colocar uma criança no meio disso. Seria
ainda pior se fosse uma menina. Pelo jeito que todos falam do Lorenzo com
a filha, ele parecia ser um bom pai, mas a questão é que nós dois não temos
nada juntos, essa criança será tão infeliz por nós dois não termos
sentimentos um pelo outro. Eu vi muito isso com os meus pais em casa, não
quero que essa criança passe por isso.
Resolvi parar de pensar nisso. Não estava grávida e muito menos
com a opção de comandar a minha vida no momento. Entramos no carro e
em menos de 10 minutos chegamos em um clube.
Fiquei um pouco receosa de não ter me vestido bem esta noite, mas
assim que entrei, vi pessoas com roupas de banho. O clube tinha uma vibe
muito boa. Lorenzo segurou na minha mão, já que o lugar estava cheio e foi
bom, pois fiquei até com medo de me perder. Fomos para o andar de cima,
que parecia ser a área vip e vi o Harvey e a Clarice no meio de um grupo.
— Atrasado, Lorenzo, isso nunca havia acontecido — disse um
rapaz.
— Estava ocupado fazendo o que ou com quem? — falou outro
rapaz agora.
O sotaque britânico deles não negavam de onde eles eram. Apesar
de nunca ter saído da Itália, o meu pai recebia muitas pessoas em casa,
então era fácil identificar as pessoas pelo jeito que falavam. Não tinha muita
coisa para fazer na minha antiga casa e era uma forma de me entreter.
Lorenzo devia ser mesmo amigo deles para que fizessem esse tipo
de brincadeira. Pena que não sabiam que o amigo era líder de uma máfia,
pior se soubessem o quão louco ele era.
— Fique quieto, Peter! — falou Harvey dando um murro em seu
ombro. — Ele está com a esposa.
— Achava a outra gata, mas essa... — disse Peter me encarando. —
Meu amigo, onde você as encontra que eu quero andar por lá.
— Deixe de importunar a minha esposa — disse Lorenzo. Ele
parecia outra pessoa, com um ar mais brincalhão e bem mais humorado. —
Esta é a Hope.
— É um prazer conhecê-los! — disse.
— Sei que o Lorenzo não deve ter falado sobre a gente para você
antes, então deixe que eu nos apresento. Sou o Peter, este ao meu lado é o
Noah, ao seu lado é Michelly, a Aisha e a Caroline — falou apontando para
todos eles.
— Somos os solteiros do grupo, já que Harvey, o Enzo e o Lorenzo
se casaram e abandonaram a nossa amizade — brincou Noah.
Os olhares das meninas para mim não eram lá muito diferentes do
olhar da Bianca. Não sei se é por gostar do Lorenzo ou do dinheiro dele,
mas percebi que o Lorenzo só se envolvia com este tipo de gente, por isso
que era tão fácil encontrar interesseiras e pessoas amarguradas no seu
convívio.
Sério que Lorenzo já levou meio mundo para sua cama?
Nos sentamos e a Clarice ficou ao meu lado, já que também era
perceptível que as outras meninas não gostavam dela. Eu meio que as
entendo, nós duas éramos intrusas no seu grupo e elas deveriam estar
acostumada a ser apenas eles oito, sem mais pessoas para interferir na
relação com os seus amigos.
Eles começaram a se gabar da vida deles enquanto conversavam.
Quando a conversa era referida a mim ou a Clarice, uma das meninas
sempre fazia questão de cortar o assunto para nos manter longe do falatório.
Elas deveriam ter realmente ciúmes por ter tirado os rapazes do grupo dos
solteirões.
— O que faz da vida, Hope? — perguntou Peter.
— Pare de fazer perguntas para a minha mulher, seu figlio di
puttana! — disse Lorenzo recebendo a risadas dos rapazes, logo sorrindo
em seguida, um sorriso que não era muito visto por mim.
— Gosto de quando fala em italiano conosco — disse Aisha.
Ela tinha um sorriso bem malicioso nos lábios e botou para jogo
aquele par de peitos. Tentei disfarçar o desconforto que ficou no ambiente,
já que todos notaram a sua investida ao meu marido na minha frente.
— Não trabalho — respondi. — Meu tempo agora é para eventos
beneficentes e para abrigos de caridade. — Não estava mentindo, mas
também não estava falando toda a verdade.
— Então é sustenta pelo seu marido? — perguntou Michelly com
uma sobrancelha arqueada. O seu sorriso tentando me colocar para baixo
ficou evidente.
Sei o que eu queria ter respondido: Querida, nem se eu quisesse
trabalhar, eu poderia. Na máfia mulher não tem voz e você não duraria dois
segundos com essa sua arrogância lá. Lide com os Conselheiros e os Juízes,
fora os pais que são extremamente rigorosos, ainda mais com os
casamentos arranjados sem amor.
Mas foi isso que eu respondi:
— Sim, da mesma forma que seu acompanhante deve bancar a sua
noite — disse.
Quando terminei de dizer isso, Lorenzo apertou a minha coxa,
mostrando que eu estava falando demais. Eu já sabia que tinha feito
besteira. Seu olhar crítico sobre mim, mostrou que não gostou muito da
minha resposta.
— Você não sabe o que diz, garota — falou Caroline se mostrando
incomodada pelo meu comentário.
— Agora fiquei curioso, como sabe que ela está com alguém? —
perguntou Harvey.
— Me diga, vidente, como me conhece tão bem? É uma stalker? —
indagou Michelly zombando de mim. Eu não ia dizer, até porque não queria
expô-la, mas a megera estava merecendo.
Resolvi ficar em silêncio, mas o Lorenzo deu mais um apertão na
minha coxa por debaixo da mesa. Acho que até ele se interessou em saber.
— Está com marca de aliança no seu dedo — falei apontando para a
sua mão. — Peter havia deixado bem claro que o grupo era formado por
solteirões e mesmo que ela tivesse tido alguém, ele teria citado, já que
achou ultrajante o Harvey, o Lorenzo e o Enzo terem “saído” do grupo dos
solteirões por casarem. Você tirou a aliança por desconforto, talvez porque
não quisesse que os demais soubessem o que estava fazendo. Se não fosse
algo que a envergonhasse, você não teria tirado a aliança do dedo, o que me
dá um palpite sobre casamento. Mesmo se tivesse terminado há algum
tempo, com o sol daqui, essa marca de aliança já deveria ter sumido.
— Uau! — disse Clarice enquanto batia palmas. — Você é uma boa
observadora.
Com um marido igual o Lorenzo e o pai que eu tinha, eu pisava em
cascas de ovos. Tinha que pensar mais a frente para não cometer erros, mas
mesmo assim, acabei de cometer um erro hoje. E pela apertada na minha
coxa, entendi a desaprovação com o meu showzinho.
Lorenzo sempre tentava passar despercebido, ele mal falava e agora
com a atenção em o medo de eu entregar o seu segredo deveria ser grande
agora.
— Estou sem palavras — disse Noah olhando para o Lorenzo. — Se
não quiser ela, eu quero.
— Você não sabe de nada — disse Michelly cruzando os braços.
Tive a certeza que estava certa só pelo seu mau-humor.
— Vamos mudar de assunto — disse Caroline tirando a amiga do
centro das atenções.
Fiquei calada, mesmo quando um deles falava comigo, apenas dizia
uma ou duas palavras e tentava cortar o assunto. Eu não sabia o que estava
acontecendo comigo.
Como eu pude dar uma vacilada dessas?
— Posso ir ao banheiro? — perguntei próximo ao ouvido do
Lorenzo, já que não achei a segurança dele aqui dentro. Ele estava
disfarçando o mau-humor para as pessoas na mesa.
— Vou levá-la ao banheiro, já volto — falou aos amigos ficando de
pé.
Espera, eu não queria que ele fosse comigo.
Levantamos da mesa e Lorenzo segurou no meu braço, me
acompanhando até o banheiro mais próximo. Ele ignorou a placa de apenas
mulheres e fechou a porta do banheiro verificando se havia alguém ali
dentro. Quando viu que não havia ninguém, me encarou bravo.
— Agora me diga que tipo de merda você acha que tem na sua
cabeça, para ter feito aquilo na frente dos meus amigos? Qual a parte que
você não entendeu que era para ter ficado na sua? — perguntou.
Minha sorte que não estávamos perto de casa. Conhecendo o
Lorenzo, ele teria me levando ao rifugio.
— Eu não pensei... — Lorenzo se aproximou de mim, me
imprensando na parede.
— A sua sorte é que estamos longe de casa. — disse Lorenzo me
encarando furioso. — Quando chegarmos no hotel, terminamos a nossa
conversa.
Droga! Fazia um tempo que eu não era castigada. Foi a primeira
vez que eu fiquei tanto tempo sem ser punida na minha vida inteira.
O medo correu por todo o meu corpo. Lorenzo certamente me daria
uma surra e com a força que esse homem tem, tenho medo de como eu vou
lidar com a dor.
Qual é, Hope, ele pode só apenas te dar uma bronca como as outras
vezes.
Tentava me convencer do contrário, mas não dava para raciocinar
quando se está apavorada. Não disse nada, só continuei o encarando.
— Vai ficar calada agora? — indagou.
— Não vai mudar se eu disser alguma coisa — disse.
Lorenzo poderia estar acostumado com alguns se humilhando para
ele, mas eu não seria assim. Se era para ser castigada, eu seria. Nem com o
meu pai eu implorava, com ele não vai ser diferente. Só espero ter forças
para não dar o gostinho dele me ver chorar.
— Esse seu gênio forte é o que te prejudica ainda mais — falou. —
Faça o que você ia fazer, te espero lá fora.
Lorenzo saiu do banheiro, me deixando sozinha. Me encarei no
espelho e sei que não saberia disfarçar o meu medo na frente dos amigos do
Lorenzo.
Por que eu fui abrir a boca?
Fiquei um tempo parada em frente a pia até uma mulher entrar no
banheiro e me tirar dos meus devaneios. Abri a porta do banheiro e Lorenzo
permanecia ali, com a mesma cara furiosa.
Ele foi na frente e eu apenas o segui.
Havia algo que me livraria do castigo. Não sabia se conseguiria
encenar aquilo, mas tentaria. Dona Telma disse que os castigos não eram
severos quando se estava grávida.
Eu só posso estar louca de fingir gravidez agora.
Tinha o evento da segunda-feira, não poderia aparecer cheia de
hematomas e na terça-feira veria a minha família, se a minha mãe me visse
roxa, saberia que o meu casamento não estava bem e conhecendo a minha
mãe, ela voltaria a morar com o meu pai para que eu não sofresse mais.
Se desse errado, de qualquer forma, eu seria castigada.
Também não estaria mentindo, estava enjoada desde manhã, já que
não havia comido nada a tarde e fora a viagem turbulenta que tivemos.
Qualquer coisa, digo que foi a minha pressão que baixou.
Força, Hope!
Voltamos para a mesa e fiquei na minha. Não sabia quando poderia
começar a encenar o meu mal-estar com sintomas de gravidez. Pensava em
desistir, mas em lembrar da força do tapa que o Lorenzo me deu naquele dia
e olhe que ele não está um terço bravo como está agora, me faz até arrepiar.
— Coma o polvo, está delicioso! — disse Clarice.
É um sinal dos céus, nem fingiria mais. Aquilo era bem nojento.
Frutos do mar não era o meu forte.
— Ah, não! — disse. Olhei com nojo para o bicho que estava no
meu prato. — Vou ficar só no suco mesmo, estou um pouco enjoada desde
cedo.
Clarice se aproximou de mim, me fazendo eu recuar um pouco. Seu
rosto estava com um enorme sorriso.
— Sua menstruação está atrasada? — perguntou bem próxima a
mim, com um olhar fixo no meu.
Aquilo estava me assuntando. Não pensei que ela que cairia na
minha armação. Iria cortar a conversa, mas vi que tinha atenção do
Lorenzo.
Ajoelhou, agora reza!
— Que dia estamos? — perguntei me fazendo de desentendida. —
Bem, ainda não veio.
— Você pode... — falou se empolgando. — Oh, Deus!
— O quê? Acho que não, deve ser só um mal-estar.
— Está sentindo muito sono e mudança de humor? — perguntou.
Eu durmo muito, mas sempre foi assim. Mudança de humor?
Lorenzo está grávido então.
— Sempre fui muito dorminhoca — disse rindo. — Deve ser só o
mal-estar da viagem fazendo efeito agora.
— Também achei quando eu fiquei grávida.
Onde eu fui me meter? Eu estava parecendo a Lisa, impulsiva.
Lorenzo permaneceu calado por todo o resto do jantar. Nos
despedimos do pessoal e seguimos caminho para o carro. Amanhã cedo o
Lorenzo iria encontrar uns patrocinadores do evento que ele daria. Nós
teríamos que acordar bem cedo.
Estava ficando preocupada. Sei que o Lorenzo estava ciente da
minha conversa com a Clarice, mas o silêncio que ele estava me apavorava.
E se ele me levar ao médico? Santo Cristo, onde fui me meter?
Chegamos no hotel, Red e os outros seguranças ficaram na porta.
Lorenzo havia ficado no bar do hotel e eu nem questionei, apenas fiquei no
quarto. Tomei banho e coloquei uma camisola.
Uma coisa é certa, funcionou.
Dona Telma disse que usou desse artificio muito antes de engravidar
dos filhos já que ela não era muito de seguir regras quando jovem.
Logo escutei a voz do Lorenzo do lado de fora, conversando com o
Red. Estava no sofá da varanda, até pensei em correr para cama, mas vai
que ele me pegava no flagra. Fingi que estava dormindo no sofá mesmo.
Imagina se ele não se importa e me castiga mesmo assim? Meu
casamento será igual ao da minha sogra, cheio de encenação? Se for para
não ser punida, sim!
Escutei a porta do quarto sendo aberta e logo senti o cheiro do
Lorenzo tomar conta do lugar. O perfume dele, com aquele cheiro de
whisky, deveria ser uma combinação perfeita. Sabia que ele estava próximo
a mim, pois senti sua respiração no meu rosto.
Lorenzo me pegou nos braços e me levou para cama.
Estava me sentindo culpada por mentir para ele assim, sabendo que
ele sofria muito em relação a filhos depois da morte da sua filha, mas
resolvi tirar essa culpa de mim, melhor do que ser castigada.
Escutei a porta do banheiro se fechando e pude respirar em paz.
Quando percebi, já havia adormecido.
Pela manhã, acordei com o sol no meu rosto. Lorenzo ainda estava
deitado ao meu lado, mas desta vez, eu não havia invadido o seu espaço.
Não sei se foi a encenação toda de ontem, mas havia acordado um pouco
mais enjoada.
Fui ao banheiro e tentei lembrar o que eu havia comido nos últimos
dias. Veio à mente a carne mal passada da minha sogra na nossa reunião do
clube do livro. Não tinha o costume de comer carne assim, deve ter sido
aquilo. Fora a minha péssima alimentação ontem, com apenas o café da
manhã e vários copos de suco ontem à noite.
O suco estava querendo voltar. Sentia o gosto azedo na garganta.
Isso é uma espécie de castigo por que eu menti para o meu marido? Me
ajoelhei, ficando de frente ao vaso sanitário e vomitei até as minhas tripas.
Eu sabia que não podia ser gravidez, já que antes de vir fiz o teste
que Lucy me deu, fora que eu e o Lorenzo não fizemos nada desde quinta-
feira, seria impossível. Fechei a tampa do vaso, dando descarga. Sentei-me
no chão, colocando o cotovelo em cima da tampa, cobrindo o rosto.
— Que mal-estar! — disse.
— Quer ir ao médico? — perguntou Lorenzo me assustando com a
sua voz atrás de mim.
— Já estou bem, deve ser algo que eu comi — respondi.
Já passou a raiva de ontem, não tinha para quê prolongar a minha
encenação. Agora o mal-estar era cem porcento real.
— Vá para a praia com o Red e tome uma água de coco, talvez
melhore — falou.
Quem é você e o que fez com o meu marido? Eu queria não tirar
proveito da sua preocupação, mas não estava dando muito certo.
— Tudo bem! — disse.
Me levantei e tomei logo um banho. Coloquei um biquíni e um short
por baixo. Pelo menos esse mal-estar valeu de alguma coisa.
Lorenzo já havia se trocado e achei bom não precisar acompanhá-lo.
Vai que alguém falasse algo e eu fizesse a mesma besteira de ontem, ou
pior, vomitasse na mesa. Antes de sair do quarto para ir para a praia,
caminhei até o Lorenzo e dei um beijo para me despedir.
Ele estava pensando em algo que não era real, espero que isso não o
deixe ainda mais traumatizado. Antes de eu falar algo, senti o meu
estômago embrulhar de novo, corri para o banheiro e vomitei ainda mais.
Cristo, quando isso vai passar?
— Você não quer realmente ir ao hospital? Red te levará se for o
caso de você não querer que eu te acompanhe — falou.
— Eu estou bem, deve ser a comida que não me caiu bem. Não
estou sentindo nada além de enjoos.
Fui para a pia lavar a minha boca, já que o gosto estava horrível.
— Estou indo! — disse Lorenzo saindo do quarto. Terminei de me
ajeitar no banheiro, saindo em seguida.
Saí do hotel com o Red, indo para a praia, que era perto do hotel.
Assim que chegamos lá, Red estava sem o terno, com uma roupa mais
casual.
— Amigo ou funcionário? — perguntei.
— Os dois hoje — respondeu. — Está realmente bem? O Lorenzo
disse que se passasse mal, a levasse nem que seja pelos cabelos para o
hospital se resistisse.
— É só um enjoo, o Lorenzo que é dramático — disse.
— Até eu estou nervoso — disse Red.
— Eu estou bem, é sério — disse.
Lorenzo se importava, mas não demonstrava. Pelo menos sei que
ele tem coração, nem que seja minimamente minúsculo.
Assim que cheguei no meu escritório, tomei um banho rápido para ir
logo no hospital falar com o Rubens. Sei que poderia muito bem ter feito
isso em casa, mas com a nova inquilina e seu desconforto, talvez isso
gerasse mais problemas, que consequentemente faziam Enzo tomar suas
dores por causa da esposa.
De qualquer forma, para mim não fazia muita diferença,
dificilmente estava em casa, minha vida sempre foi muito agitada desde que
assumi a liderança. Como já estava no quartel, do meu escritório ao hospital
não era tão longe.
Quando adentrei no hospital, alguns médicos paravam para
conversar comigo, muitos não tinham tempo de me ver nos eventos, já que
aqui nunca parava. Entrei no elevador, indo para uma área mais exclusiva,
que requer mais seguranças e menos atenção dos membros.
— Senhor! — disse Rubens assim que eu entrei no quarto, logo se
sentando na cama.
Havia dois seguranças com ele que logo saíram.
— Vejo que está melhor — comentei, andando pelo quarto.
— Tive sorte — falou. — Foi tudo tão rápido.
— Como aconteceu? As câmeras de vigilância foram destruídas no
ato — informei, sabendo que algumas pegaram as partes do que aconteceu
antes de serem destruídas.
— Estava na entrada, recebendo alguns dos nossos clientes mais
generosos, quando vi uma van parando em frente a boate. Corri para apertar
o alarme, mas eles já estavam dentro do local — explicou. — Não sabia
como, mas eles já estavam misturados na multidão da boate. Eles tinham as
pulseiras da entrada, mas ninguém entra na boate se não estivesse na lista.
Seguimos bem as ordens, não sei se entraram com a equipe de garçons ou
da cozinha, mas eles não passaram pela entrada, eu teria lembrado dos seus
rostos. Eu conheço cada cliente nosso, eles nunca puseram os pés lá.
Isso me preocupava, sei que não era pelos seguranças, o Red sempre
foi muito atento a isso com os seus homens, talvez entre os clientes, mas
tinham só os nossos aliados, investidores e os membros da máfia.
Para entrar naquela forma era preciso conhecer bem a boate,
conhecer os pontos cegos, as trocas de seguranças, a entrada dos
caminhões, mas eu conheço muito bem o Rubens, ele realmente lembraria
deles, então alguém passou essa informação, alguém que tenha acesso
aquele lugar.
— Lembra quantos homens eram?
— Doze — respondeu. — Estavam mascarados e eu sei que eu disse
que eu não reconheci nenhum deles, mas esse tipo de homem não entra na
boate, eles vão ao rifugio se divertir. Eles eram altos, grandes, não é o tipo
de clientela que precisa ir em uma boate pagar prostitutas para se aliviar,
eles conseguiriam facilmente qualquer mulher interesseira aqui. Eu tenho
certeza que escutei alguém falando em russo, mas eu não sei, senhor, o
sotaque deles era muito forte, parecia que estavam aprendendo e
misturavam alguns idiomas enquanto conversavam.
Suspeitava que estavam armando para que eu desconfiasse dos
russos, agora isso me dava a certeza disso. Rubens é poliglota, ajudava
muito nos negócios. Estava em uma aliança com os russos, não escolhi
nenhuma das pretendentes russas para ser a minha esposa, então atacar a
minha boate em uma forma de que eu desconfiasse justamente que seriam
os meus novos aliados foi um golpe de mestre, só que existe um grande
porém nessa história, os russos tinham muito a perder com um ataque
desses. Eles precisavam da visibilidade da minha máfia, da minha gestão,
precisava dos meus recursos, poderiam se sair bem com quantidade de
membros, mas de guerras, eles não participam de uma há muitas décadas,
não estão prontos para um ataque se não tiver aliados para ajudarem os seus
homens, digo em experiência, na teórica, são bons, mas na prática, precisam
aprender muito mais. Eu como sou atacado a cada segundo do meu dia,
tenho doutorado em me livrar de problemas.
— Mais alguma coisa para falar? — perguntei.
— Muitos morreram? — indagou temoroso.
Rubens criou um legado na minha boate, ele faz parte dos poucos
homens que eu confiei um cargo, nem a minha família conseguiu algo
assim. Ele honrou o que eu dei, ele é grato por isso. Quando eu o encontrei,
ele não fazia muita questão de participar da máfia, os seus pais haviam
entrado pouco tempo como investidores.
Ele só queria aprontar ao redor do quartel. Ainda não era o Capo,
mas tinha em mente que um dia eu ia precisar dele, não sabia o motivo, mas
eu sabia que ele iria me oferecer bem mais do que achava que viveria aqui.
Anos depois, ele já havia casado e estava fazendo parte da empresa
da família, mas o seu talento eu o vi na primeira reunião que eu tive como
líder, quando fui a empresa só para despistar os curiosos que estranhavam a
minha família não andar diariamente lá além do Pietro. Ele estava lá,
nervoso com tanto Ferraro por metro quadrado.
O olhava e eu sabia que ele precisava de um estímulo maior, então o
convidei para comandar a boate. Ela era o meu orgulho, assim como era o
dele. Acontecer o que aconteceu quando ele justamente estava liderando,
deveria ser decepcionante.
— Os seguranças do lado de fora estão mortos, as pessoas dentro da
boate se machucaram, mas não houve nenhuma morte dentro da boate —
respondi.
— Eu sempre fui rigoroso, não sei como passaram pela polícia e
entraram na boate, eles pareciam já saber onde cada funcionário estava —
disse Rubens. — Eu sei que o senhor me confiou nesse cargo, eu juro pela
minha vida que não fui eu que os coloquei lá dentro.
A boate ficava próximo a um posto de polícia, qualquer ação
suspeita perto da boate, eles iam investigar. Obviamente pagávamos muito
bem, mas para ter deixado uma van passar, vejo que não.
— Bem, eu estou indo, tenho uma audiência e ainda tenho que falar
com o capitão da polícia. — disse olhando as horas no meu relógio. — Se
lembrar de algo, eu quero ser o primeiro a saber, entendido?
— Sim, senhor!
Saí do hospital, indo para a sede dos Juízes.
— Estávamos apenas esperando o senhor — falou um dos Juízes a
mim assim que eu entrei na sala de audiência.
— O dia foi corrido — comentei.
Meu casamento, a visita a Alessandra no rifugio, a minha "lua de
mel", a visita ao Rubens, essa audiência e ainda uma visita ao capitão. É, a
noite será longa para mim.
— Vamos começar! — disse o Conselheiro.
Era uma audiência "rápida" para falar com um homem que foi pego
na nossa área vendendo drogas.
— Me desculpa, vossa excelência... Capo... Como eu devo me
referir ao senhor? — perguntou nervoso.
— Ele é um imbecil! — declarou Leonel ao meu lado.
— Só diga logo quem é o seu fornecedor — disse.
— Eu mesmo — mentiu.
— Eu tenho cara de quem acredita no que diz? — indaguei e ele
negou temeroso. — Que tal parar com a enrolação de tentar acobertar quem
não deve e me diga logo a porra da verdade, caralho!
— Ele vai me matar, s-senhor — gaguejou quase chorando.
— Eu também vou, mas vou te dar a opção de uma morte rápida ou
lenta. Se me ajudar, será rápido, nem vai sentir, mas se continuar a me
enrolar, eu realmente faço questão de te jogar em uma banheira com ácido.
— Os selvaggio — respondeu rapidamente não duvidando que eu
faria aquilo.
De novo esses arrombados.
— Não foram os mesmos de 4 anos atrás? — perguntou o Juiz.
— Sim, devemos visitá-los novamente — falei.
— Eu não vou dizer nada a ninguém, eu posso até ajudar com a
venda se precisarem — disse o figlio di puttana mostrando o seu desespero
por saber que ia morrer.
— Ah, não, obrigado pela oferta, mas já tenho homens de mais para
fazer o serviço para mim, agora vamos voltar para o que interessa — disse,
o encarando. — Eu, Lorenzo Ferraro, com o poder que o meu título de
Capo detêm, o condeno à forca.
— Você disse que seria uma morte rápida — falou, ficando em pé.
— E vai ser, então vamos ter pensamentos positivos para que não
aguente muito tempo e morra rápido — disse, o encorajando cinicamente.
— Fim de julgamento!
Levantei do meu posto, já notando que era de madrugada.
— Vai para casa? — perguntou Enzo, enquanto me seguia até o
estacionamento.
— Tenho uma visita ao capitão da polícia — disse.
— Eu ia lá amanhã, não prefere que eu vá?
— Eu cuido disso, vai para casa — disse.
— Sabe que não está mais sozinho em casa, não é, Lorenzo? —
indagou Enzo. — Agora tem uma família em casa, é difícil a adaptação,
mas agora alguém te espera lá.
— Pode confiar, ela prefere que eu fique fora — disse, parando em
frente ao meu carro. — Deixa as coisas como estão, só nos casamos para ter
um herdeiro, então não tem para quê complicar a minha situação com ela.
Ela não se sente confortável com a minha presença e eu estou sempre
ocupado com o trabalho, vamos deixar isso assim mesmo. Você vai para
casa e fique com a sua esposa e filho, a semana será longa.
Me despedi do Enzo, entrando no meu carro. Acelerei pelas ruas,
sendo acompanhado do carro da minha segurança. Assim que cheguei na
casa do infeliz, entrei silenciosamente a sua procura. Quando cheguei no
quarto, eu o vi deitado na cama.
Me aproximei dele, ligando a luz do abajur. Logo ele começou a se
remexer, incomodado com luminosidade no quarto. Abriu os olhos
lentamente, me encarando perplexo, talvez por conta da minha invasão na
sua residência.
— Acordei você? — perguntei sarcástico. Quando ele ia pegar a
arma debaixo do travesseiro, eu ergui a mão mostrando que ela estava
comigo. — Atrás disso? Que feio, é assim que recebe visitas? Que falta de
educação, capitão.
Olhei para os meus homens, que logo o tiraram da cama, o
colocando na cadeira que estava no canto.
— Bela casa! — disse. — Pagou ela com a propina que eu pago a
vocês ou com o dinheiro que está roubando dos comércios ambulantes?
— Do... Do meu trabalho — respondeu.
— Nem fodendo! — Declarei rindo, me sentando na sua frente. —
Quer que eu acredite nisso? Não posso ser educado com você, que já acha
que pode me enrolar. — Acenei negativamente com a cabeça me mostrando
magoado.
— Eu não fiz nada.
— Exatamente, é por isso que eu estou aqui — falei, colocando uma
luva na minha mão. — Você não fez caralho nenhum.
Tirei a faca da maleta que um dos meus seguranças segurava,
enquanto ele me olhava a cada ação minha.
— Deve ser foda entrar para a polícia, até incompetentes como você
se torna capitão — disse irônico.
— Senhor, eu não sei o que te trouxe aqui... — O interrompi.
— O meu carro, a minha determinação em te matar, isso resume? —
indaguei debochado.
— Eu sou um capitão de polícia, vai te dar problemas — falou
soando como uma ameaça.
— Acha mesmo que eu tenho medo disso? — perguntei, o
encarando. — Meus crimes ao longo da minha vida são sonegações de
impostos, corrupção, contrabando, extorsão, fraudes, jogos de azar, tráfico
de armas, tráfico de informações, tráfico de influências, formação de
milícias e esquadrões da morte, então você acha que matar um policial
merdinha como você, vai me dar mais problema do que os que eu te listei
agora? — Ele ficou em silêncio. — Você realmente é um idiota!
— Eu não sou qualquer policial, agora sou capitão... — o interrompi
novamente.
— Eu não me importo muito com isso, infelizmente eu vou ter que
te matar porque eu não confio mais em você — disse, aparentando tristeza
enquanto falava. — Foi bom nosso momento junto foi bom, mas eu tenho
que matar esse nosso laço, literalmente.
— O senhor está enganado ao meu respeito — falou.
— Estou? — perguntei cínico. — Por que você não me conta onde a
minha imaginação fértil está fugindo da realidade em achar que você estava
me traindo?
— É sobre o ataque na sua boate, não é? Não sei como isso
aconteceu.
— Então como deixaram uma van suspeita passar? Pago você já
para não ter que me preocupar com isso — falei.
— Deve ter ocorrido na hora da troca de turnos dos policiais, eu
apenas comando para não deixar suspeitas na delegacia — falou.
— Então eu não preciso de você vivo, já que a sua existência não
me ajuda em nada.
— O quê? Não... Ei, qual é, eu não trairia o senhor, eu não sou
burro, sei que iria me matar. Me poupe desta vez, isso nunca mais irá se
repetir — implorou.
— Não vai se repetir mesmo não, porque você vai estar morto —
disse, com os olhos fixos no seu. — A sua incompetência me enoja, faz
com que eu não confie na sua lealdade e na sua tarefa bem-feita. O segredo
de eu ainda não ter sido descoberto por ninguém, não é só por pagar a
mídia, mas é porque, diferente de você, eu faço o meu trabalho bem-feito.
Veja por esse lado, eu estou te ajudando, logo descobriram do que você faz
nas ruas. Acha que ninguém nunca vai te denunciar por pegar dinheiro da
população que está ilegal? Um dia vai acontecer e eu não quero estar no
mesmo barco que você, então prefiro te jogar no mar, enquanto assisto você
ser comido pelos tubarões.
— A perícia vai saber quando encontrar o meu corpo que eu fui
assassinado, vão te caçar por matar um policial — me ameaçou.
— Está achando que é o meu primeiro assassinato? — indaguei,
ficando em pé, caminhando lentamente para atrás dele. Coloquei as mãos
no seu ombro e ele ficou assustado, já que eu ainda segurava a faca. —
Como eu te disse, alguém pode te denunciar pelo que faz nas ruas da Itália.
Vou te contar um segredo — disse no seu ouvido. — Um comerciante
apavorado está agora dando parte de um policial corrupto, no depoimento
ele está sendo muito detalhista sobre ameaças que sofreu do homem que
deveria protegê-lo. Não sei se está conseguindo acompanhar o que eu estou
dizendo, já que o seu cérebro não funciona muito bem, mas eu estou
falando de você. Com isso uma investigação será aberta para você e
encontrão o dinheiro que você roubou das verbas enviadas para a delegacia.
— Mas eu nunca roubei nada da delegacia.
— Pois é, eu sei disso — falei, massageando o seu ombro. — Mas
eles não vão acreditar nisso, porque você estava roubando dos mais
necessitados, justamente porque você está endividado. — Ele ia me
interromper, mas eu não deixei. — Eu sei que você não tem dívidas, porém
mexi uns pauzinhos para que a compra dessa casa tenha te deixado a beira
da falência, por isso que roubou das pessoas e da própria delegacia, que
coisa feia, capitão. Eles vão acreditar no seu suicídio. O senhor será a
desonra da delegacia.
— Eu... Por favor... Não... Eles vão saber, nenhum trabalho é bem
feito.
— Quando se paga a perícia, é bem feito sim — disse.
Segurei na sua mão, quando o meu segurança veio com o papel nas
mãos. Todos nós estávamos usando luvas para não ter digitais nossa na
casa.
— Sua carta de suicídio foi impressa aqui no seu computador, só
para caso algum idiota investigar. Me dê sua mãozinha agora. — Coloquei a
folha na sua mão, deixando suas digitais no papel. Aproveitei que algumas
lágrimas caíam dos seus olhos, para deixar mais vestígios que foi ele que
fez. — Isso, está feito.
— Vai me matar como? Esfaqueado?
— O quê? Não, a faca era só para te assustar — disse.
Peguei a corda da maleta, que estava dentro de um saco esterilizado.
Coloquei na sua mão, deixando suas digitais também ali.
O segurança, que tinha a mesma altura que o capitão, colocou a
corda presa na grade de ferro que tinha em cima da cama.
— Só se caso eles recriarem como você fez, é bom não ter erros —
falei.
Houve dificuldade assim que o segurança posicionou a corda já que
ele era um pouco baixo, igual ao capitão, mas logo ele se afastou e deixou a
cadeira abaixo de onde estava a corda.
— Soube que foi escoteiro quando criança, sorte a minha que o meu
tio me ensinou direito como dar um nó igual dos escoteiros. Está fácil
demais a sua morte — comentei.
Dei o nó na corda, deixando o espaço para passar a cabeça dele por
ela. Ele resistiu em andar até lá, ainda dando trabalho para subir nela,
quando colocamos a corda no seu pescoço.
— Viu, isso é um trabalho bem feito, não essa merda que você diz
que faz — disse. — Agora, adeus!
Dei um empurrão nele e o derrubei. Assistia-o se remexendo no ar,
buscando fôlego. O olhava nos olhos, esperando-o morrer de uma vez. Mas
demorou um pouco até ele parar de se remexer, balançando de um lado para
o outro.
— Verifiquem se não tem nenhuma câmera ou algo escondido pela
casa. Não tirem as luvas e muito menos danifiquem as provas que
implantamos sobre o suicídio. Apaguem o que tem que apagar e deixem que
o Enzo faz o resto — avisei.
Saí dali, enquanto eles ficaram para fazer a limpeza caso tenha algo
que nos comprometesse.

A semana passou rapidamente. Os problemas aumentaram


gradativamente. Todos os dias encontrávamos alguém rondando o quartel,
quando eles eram quase pegos, se matavam antes de serem capturados.
Isso estava me deixando mais estressado do que eu já estou. Esse
arrombado estava brincando comigo, me caçando, tentando me deixar
encurralado sem ter o que fazer.
Que inferno!
Já estava em casa, tentando parar de pensar nisso um pouco, senão
enlouqueceria.
Hope deveria estar no quarto, ela dificilmente saía de lá, até porque
não tem nem o que fazer aqui sem se colocar em risco. Estava mantendo
apenas relações sexuais com minha esposa, já que ambos estávamos
tentando logo gerar o meu herdeiro. Era bem difícil, não estava mais
acostumado com pessoas na minha casa. Era estranho entrar no meu quarto
e me deparar com alguém nele.
Hope era muito silenciosa, não era muito de falar ou talvez fosse
também por eu não dar brecha para isso. Até que eu gostava, ela tinha o seu
espaço e eu tinha o meu.
Eu passo muito tempo resolvendo as coisas da máfia, não tinha
tempo para mim e muito menos para ela, o que deixava tudo ainda mais
complicado, porque ela tinha que engravidar logo. Então eu saía as vezes do
quartel para ir em casa, transávamos e eu já tinha que estar no quartel
novamente.
Depois do casamento as cobranças aumentaram ainda mais. Eu já
estava tão saturado com os problemas que tinha que resolver que não via a
hora de Hope engravidar. Ela por outro lado parecia pensar da mesma forma
que eu, talvez para se livrar logo da minha presença ou só porque estavam a
cobrando também. Era complicado, às vezes eu queria aproveitar bem a
noite com ela. Ela ainda estava aprendendo, mas se saía muito bem.
O corpo dela me atiçava muito, em formas que eu não sei explicar.
Aquele olhar ingênuo me enlouquecia. Mas não era só isso, não sei se era
esse jeito dela de me desprezar e ao mesmo tempo manter seu bom coração
e demonstrar afetos por mim, só sei que eu nunca passei que outra mulher
me enlouquecia. Porém, não podia complicar esse relacionamento, estava
bom assim. Dormia ao seu lado um certo tempo e saía em seguida para
resolver as coisas na boate, já que o Rubens está afastado.
O trabalho dobrou, tinha a boate, os assuntos do quartel, do rifugio,
eu estava ainda mais sobrecarregado. Eu gostava de me manter ocupado,
era difícil dormir quando a sua mente estava a mil.
Então me matar de trabalhar era mais fácil do que pensar no que a
minha vida se tornou. Agora, no momento, eu estava no quarto da
Antonella. Gostava de ficar deitado em sua cama, ajudava a me lembrar do
seu cheiro, da sua voz, dos momentos que eu tive com a minha filha.
Sempre fui uma pessoa ruim, mas depois da morte dela eu me
transformei. Não consigo me reconhecer mais e sei que se ela estivesse
viva, também não reconheceria o monstro que tem como pai. Resolvi parar
de pensar nisso, se não me sentiria ainda pior.
Levantei-me da cama, saindo do seu quarto.
Estava indo para o meu próprio quarto e quando entrei esbarrei na
ruiva quando ela saía do closet. Lembrei que hoje era o tal clube do livro
que o meu pai mencionou alguns dias atrás.
— Já está de saída? — perguntei.
— Ah, sim! — respondeu rapidamente. — Eu iria lhe avisar, mas
não tinha como te ligar.
Ela não tem celular? Avisei que providenciaria um. Assim que eu ia
saindo, ela segurou no meu braço.
— Posso pedir algo? — perguntou.
— Depende do que seja.
— Quando eu sair da casa dos seus pais, posso dar uma passadinha
na casa da Lisa? — indagou.
Pensei bem, mas melhor não. As estradas por aqui pela propriedade
era até mais confiáveis, mas sair delas era uma ideia ruim. Acabei de me
casar, ser viúvo não estava nos meus planos.
— Não, volte para casa — disse.
— Tudo bem — respondeu, me dando um beijo, saindo do quarto
em seguida.
Caminhei para o banheiro, logo tomei banho e tratei de resolver
umas coisas no meu escritório. Olhava algumas papeladas, quando o Red
me ligou.
— Aconteceu alguma coisa? — estranhei.
— Um dos meus homens notou uma atitude suspeita na entrada da
rodovia próximo daí, o senhor vai sair?
— Não, estou organizando umas papeladas que acumulou no meu
escritório — disse. — Quando a Hope terminar aí, volte pelo outro
caminho, mesmo que não passe pela rodovia, não vamos deixar a segurança
dela a desejar. Qualquer coisa você me liga.
— Sim, senhor! — disse Red.
Eram tantos ataques, que eu já até me acostumei.

Havia perdido a noção do tempo, quando vi que já eram 01:30 da


madrugada.
— Senhor? — disse um dos seguranças na minha porta. — O senhor
Carbone mandou uma encomenda.
— Entre! — disse.
Ele entrou, logo colocando a caixa em cima da minha mesa, saindo
em seguida. Abri a caixa, encontrando um celular. Tinha esquecido que
havia pedido para que ele olhasse um celular para a Hope. Ele tinha que
fazer no celular dela o que fazia nos nossos.
Liguei o aparelho e salvei o meu número, o do Red e o da Lucy. Vi
se ele instalou o aplicativo que criou corretamente, notando que estava tudo
certo.
Todos nós tínhamos aplicativo produzido por Enzo que nos
rastreava até no inferno. Depois do que aconteceu com a minha filha e por
todo problema que isso causou depois, se pegássemos uma rota diferente do
normal, se saíssemos para longe dos locais e do perímetro, no caso,
sozinhos, ele já apitava para a equipe do Enzo.
Não tinha só pelo celular, ele já implantou em diversos lugares, em
roupas, brincos, garrafas de bebidas, tudo para não nos perder de vista.
Guardei o celular na caixa, ficando em pé. Estava com uma puta dor
nas costas, fora a minha cabeça que já doía. Saí do escritório, indo para a
cozinha.
Comi algo por lá, enquanto checava as mensagens no meu celular.
Assim que terminei de comer, subi para o meu quarto. Me aproximei da
mesinha onde havia a minha garrafa de whisky e me servi um copo.
Ingeri todo o líquido, caminhando para o closet, colocando a caixa
em cima da penteadeira da Hope, em seguida caminhei para o banheiro.
Hope dormia calmamente na cama, que nem notou a minha presença no
quarto.
Tomei um banho rápido e logo deixei o banheiro. Me deitei na
cama, tentando me acostumar em dividi-la com alguém. Desliguei o celular,
antes checando se tinha algo importante. Se algo acontecesse, Red era
informado e me repassava imediatamente.
Fiquei um tempo tentando tirar pelo menos um cochilo, mas o
maldito sono não vinha. A ruiva começou a se mexer ao meu lado e deduzi
que ela estava acordada.
— Está acordada? — quis ter certeza. Ela respondeu que sim, sem
se virar, ainda de costas para mim. — Amanhã sairemos para um evento
beneficente em um abrigo.
Teria o evento, mas não ficaríamos para ele. Tinha que conversar
com puto do Clóvis, ele estava me dando trabalho. Hope só tinha que ir
porque eu tinha que andar mais com ela, se não falatórios se espalhariam de
que meu casamento ia de mal a pior e que a minha esposa não participava
das virtudes que o meu império me proporcionava.
— Tudo bem! — respondeu ainda sem se virar.
Segurei na sua cintura, a virando rapidamente, encarando a ruiva a
minha frente.
— As pessoas que vamos ver amanhã, não tem nenhum
envolvimento na máfia. Então fique em silêncio e não mencione nada sobre
o que acontece aqui. Pode usar qualquer vestido, será rápido, não pretendo
ficar muito tempo lá, só vou ter uma conversa breve com um sócio —
informei querendo que ela prestasse atenção nisso.
Tinha membros da máfia, mas a grande maioria eram civis.
— Tudo bem!
— Você só sabe falar isso? — perguntei irritado.
— Certo, Lorenzo. Não falarei nada e me manterei em silêncio todo
o evento.
— Deixei um celular em cima da sua penteadeira. Tem o meu
número já nos seus contatos, então só me ligue se for uma emergência ou se
estiver prestes a morrer — disse.
— Certo, só ligarei se for caso de vida ou morte.
Me sentei na cama, pegando o meu celular na cabeceira. Não ia
conseguir dormir aqui mesmo, levantei-me da cama e saí do quarto. Fui
para o quarto da minha filha e me deitei lá. Ali conseguia me sentir mais
calmo.

Notei que já havia amanhecido, não consegui dormir muito.


Retornei para o meu quarto, me arrumando. A ruiva ainda dormia, sem
acordar com os barulhos que eu fazia sem querer. Desci para comer algo e
logo mandei a Lucy acordá-la.
Meu celular tocou, mostrando no visor que era um dos Juiz.
— Sì? — disse assim que eu atendi.
— Bom dia, senhor! — falou. — Vamos ter um jantar em minha
casa hoje à noite, gostaria da sua presença.
— Sobre o que seria?
— Alguns aliados e investidores estarão presentes, será bom para a
sua reputação ter mais contatos na máfia e talvez ser mais amistosos com
eles — respondeu.
— Tentarei ir — disse.
Muitos me odiavam e preferiam que o cargo tivesse sido do Leonel.
Hoje o dia será cheio para mim.
Assim que eu desliguei a ligação, Hope apareceu.
— Andiamo! — falei, a chamando para ir para o carro.
Quando mais rápido eu saísse do abrigo, mais fácil de eu conseguir
resolver tudo o que eu tenho para fazer hoje. Ela veio logo atrás de mim,
comendo uma maçã. O caminho estava tranquilo, até um dos seguranças me
ligarem.
— A senhorita Alessandra quer falar com o senhor — disse um dos
seguranças do rifugio. — O senhor vai vir falar com ela?
Não peguei tão pesado com a Alessandra. Sei que ela entendia que
eu tinha um limite para as suas travessuras, então a conhecendo como eu
conheço, certamente ela vai parar por agora.
— Não! — respondi. A ruiva parecia prestar atenção na minha
conversa, mas logo desviou o olhar para a rua quando notou que eu estava
ciente disso. — Pode levar Alessandra de volta para casa, acho que ela
entendeu o recado.
Desliguei o telefone e logo chegamos no abrigo. Desci do carro,
sentindo aquela sensação horrível de novo.
— Fique quieta e não fale nada com ninguém. Não saia de perto dos
seguranças e muito menos para longe daqui — avisei e ela concordou.
Olhei para todos os lados para ter certeza que não tinha ninguém pelas
redondezas.
— Vou indo! — disse, me afastando dela. Parei alguns segundos
depois, voltando a olhar o percurso que ela fazia. Hope seguiu com o Red
para uma casinha que ficava de frente de onde estacionamos o carro.
— Tudo bem, senhor? — perguntou Thony.
— Sim, só conferindo... — hesitei antes de concluir. — Nada, está
tudo bem.
— Esse lugar mudou um pouco — comentou, já que ele veio aqui
algumas vezes com o Red.
Era o presente de natal da minha filha.
Ela pediu um cachorro, mas fiz algo melhor, daria o seu cachorro e
abriria esse lugar para cuidar dos que estavam abandonados na rua, sei que
ela amaria. Mas minha filha morreu antes de ganhar o presente.
— Percebo que o Clóvis fez umas alterações aqui — disse,
colocando as mãos no bolso da calça. — Eu odiei!
Não andei mais aqui desde a morte dela, então tudo estava no
projeto que eu fiz com os arquitetos e com os decoradores, do jeito que eu
sei que ela gostaria. 4 anos e parecia outro lugar.
— Vou indo! — disse a ele.
Caminhei para dentro do lugar, me trazendo uma nostalgia de
quando antes não tinha nada, só o terreno. Lembro da sensação daquele dia,
ansioso para que ela conhecesse esse lugar. Que reviravolta do caralho.
— Senhor Ferraro, o que devo a visita inesperada? — perguntou
Clóvis, o rapaz que eu havia deixado encarregado de cuidar do local.
— Está achando que aqui é a sua casa onde você pode fazer
mudanças sem me contactar informando antes? — indaguei.
— Como sei que esse lugar é um assunto delicado para tratar com o
senhor, achei melhor não o incomodar com assuntos banais — falou.
— Não queria me incomodar ou só estava esperando esquecer desse
lugar para que eu não te atrapalhasse no que faz aqui? — perguntei
cinicamente.
— Eu não estou entendendo, senhor.
— Não sou muito de enrolação, sei que alguém aqui está desviando
o dinheiro que eu mando todos os meses. Dou até o fim do dia para esse
dinheiro voltar para a conta do abrigo, senão eu vou matar cada um de
vocês até encontrar o culpado — avisei.
Clóvis ficou calado, eu sabia que era ele, ninguém tinha acesso a
conta daqui. Josh sempre ficou de olho nesse lugar para mim, mas esteve
ocupado nos últimos meses com alguns casos importantes da máfia que sem
querer deixou isso passar.
— Sim, s-seenhor! — gaguejou. Senti o medo do Clóvis só pela sua
voz.
— Não faça algo que você não ter coragem de assumir a
responsabilidade depois — disse, me aproximando dele. — Eu pareço o
tipo de pessoa que aceita alguém me roubar? — Ele negou com a cabeça.
— Então por que me faz ser o vilão dessa história? Não fui bom o suficiente
com você esses anos?
— O melhor, senhor! — respondeu temeroso.
Coloquei a mão no seu pescoço, o enforcando.
— Dê a um homem tolo o poder e conhecerá o caráter dele — disse,
apertando o seu pescoço. — A ganância te deixa cego, mas a burrice te
mata. A ambição te tirou um império que era muito fácil de comandar, mas
a falta de inteligência em fazer o trabalho correto sem ser pego, vai te
condenar. — Olhei nos seus olhos, observando o quanto ele estava
assustado. — Qual você acha que foi o seu declínio?
— A... A... A segunda.
— Viu, nem só de tolices vive um homem — debochei, o soltando.
— Não estou com muito tempo hoje, mas saiba de algo, você morrerá. Pode
ser hoje, amanhã, daqui a 1 ano. Aproveite cada segundo porque pode ser o
último. Boa sorte em ter uma vida calma e em paz em saber que eu estarei
te caçando e quando menos esperar, eu estarei lá para te matar.
Saí do seu escritório, já que tinha que resolver mais umas coisas no
rifugio hoje. Peguei o meu celular e liguei para Enzo.
— Peça para alguém vir e cuidar de um certo traidor — informei.
Enzo já sabia quem era, então não precisava de tantos detalhes.
— Achei que cuidaria dele — falou sonolento.
— Não tenho tempo e eu não estragaria o pouco de tempo valioso
que eu tenho com esse merdinha — disse. — Depois arranje alguém para
ficar no lugar dele.
— Você me acordou para isso, seu arrombado? — indagou Enzo
puto. — Você tem mil funcionários, por que me acordou? Esqueceu que me
deu uns dias de folga, seu figlio di puttana!
— Se eu confiasse neles, eu pediria, seu puto. Faz isso, depois você
volta a dormir — disse.
— Certo! — falou. — Não esqueça que terça-feira é o nosso dia de
sair.
— Eu sei, você não me deixa esquecer — falei. — Estou pensando
em levar a Hope para a sua casa, se não tiver nenhum arrombado na rodovia
de novo.
— Fala com o Red para olhar o perímetro de novo e a traga, a Lisa
está louca para ver a irmã — falou.
— Vou falar — disse. — Agora eu vou desligar. — Falei,
desligando a ligação.
Antes de voltar para onde a Hope estava, vi onde os animais
ficavam. Criar uma lembrança de Antonella aqui era tão doloroso. Saber
que eu nunca mais viveria um momento desses ao seu lado. Será que um dia
eu poderei viver sem sofrer pela morte dela?
Quando cheguei, só havia o Thony.
— Onde está a minha esposa e o Red? — perguntei, prestando
atenção na casinha e constando que não havia ninguém.
— Ela foi comer algo, senhor — respondeu Thony. — Estava
pálida, talvez fosse o tempo que está muito quente.
— Não era mais fácil alguém trazer do que tirar ela de perto da
segurança? — indaguei.
— Desculpe, senhor! — falou.
— Tudo bem, é eu que estou estressado com esse lugar, quero logo
sair daqui — disse.
Peguei o celular e liguei para o Red vir logo para cá. Entrei no carro,
tentando controlar o meu mau-humor. Não demorou para a Hope entrar no
mesmo, me encarando confusa.
— O que eu havia falado com você? — perguntei. — "Não saia para
longe daqui", esqueceu?
— Só fui ao refeitório e não disse nada a ninguém.
— Se eu disse que era para ficar aqui, é porque não era seguro em
outro lugar. Ninguém fez a porra do reconhecimento do refeitório, se tivesse
alguém esperando para te matar, como você escaparia se a porra da
segurança estaria ocupada lidando com eles? — falei. — Era para você ter
ficado aqui e me esperado, porra.
— Eu só fui comer porque não havia tomado café em casa —
respondeu.
Logo meu celular tocou e eu o joguei no chão.
— Porra, eu só peço para você fazer uma coisa e mesmo assim você
não faz, caralho — disse.
— Quer saber, eu estou farta! — disse Hope me encarando possessa
de ódio. — Desde que eu me casei com você, você fica com essas
grosserias. Eu não te dou motivos e você está criando essas coisas só para
me punir. O que eu estou fazendo de errado? Do que você tem tanta raiva?
De mim ou é de você mesmo? Se eu não te obedecer você ficaria bravo,
agora que eu sigo todas as suas regras você está querendo me repreender.
Eu só saí dali porque você saiu às pressas pela manhã e eu não tive tempo
de tomar o café da manhã e você nem se importou com isso. Não estava me
sentindo bem e fui comer algo no refeitório. Então pare de querer descontar
as suas frustrações em mim, eu não faço nada para você me tratar dessa
forma.
A encarei, observando a pinscher raivosa. Quase ri, ela era tão
pequena e quando ficava brava, eu não conseguia levar a sério. Havia
notado que toda vez que ela ficava brava, ela piscava várias vezes aqueles
olhinhos como se não acreditasse no que havia dito. Ela não parecia o tipo
que expressava o que sentia.
Tirei esses pensamentos da minha mente rapidamente. Por que
caralho eu tenho que notar isso nela agora?
— Está bastante ousada hoje — falei. Ela encarava a estrada lá fora,
ignorando o que eu estava falando. — Esse seu nariz em pé é que me faz
querer te punir por esse seu gênio forte. Ia deixar você ver a sua família,
agora é que não vai pelo seu desacato a mim.
Ia fazer o esforço de vigiar o perímetro, já que o Red não pode sair
de perto dela para fazer isso. Mesmo com tanto trabalho que eu tenho, ia
tirar um tempo para fazer isso por ela e ela me trata assim? Que se foda!
Quando chegamos em casa, ela subiu para o quarto e eu fui para o
rifugio.
Já anoiteceu e o trabalho não parava. Estava já de frente da casa do
Juiz, estacionando o meu carro. Eu estava tendo sérios problemas com
alguns aliados que não gostavam do jeito que eu comandava os negócios da
máfia. Para todos a melhor opção sempre foi o meu tio, tanto antes do meu
pai, como agora.
Leonel, como sempre, se metendo onde não era chamado, fazendo
com que os aliados ficassem ao seu lado. Eu entendo, quando meu pai saiu
do cargo de Capo era para o Pietro ter assumido como filho mais velho, mas
como ele não queria se envolver nesses assuntos mais burocráticos e como
ele sempre disse que não levaria jeito para comandar todo esse império, o
que eu realmente não discordo, não imagino ele na liderança Então ele ficou
à frente da empresa que usamos de disfarce, era até mais fácil do que lidar
com os Conselheiros e os Juízes 24 horas por dia.
Pietro teve sua adolescência inteira sendo treinado para assumir,
enquanto eu e o Enrico fomos ensinados o necessário, caso acontecesse
algo ao meu irmão mais velho.
Quando Pietro disse que não queria, Leonel quis assumir o cargo
mesmo tendo negado isso há muitos anos, mas o meu pai não queria que
fosse ele para assumir a liderança. Como segundo na linha de sucessão,
ficou comigo.
Passei pela iniciação, para mostrar lealdade apenas para a máfia,
levando a diante o legado da família. No começo eu ainda resisti, mas o
Pietro conseguiu faz a minha cabeça sobre isso e eu acabei cedendo.
Então o fato de eu ter me tornado líder não agradou a grande
maioria. O Juiz queria aproveitar esse jantar para mudar essa concepção de
alguns aliados tinham de mim. Estava com a cabeça cheia para lidar com
pessoas hoje e para piorar, ainda recebi uma ligação do Conselheiro
perguntando quando a Hope me daria logo um herdeiro, então faltava
paciência para aturar algumas pessoas hoje.
Fui ensinado a procurar a minha esposa só quando quisesse ter logo
um filho, sem laços para não atrapalhar nas minhas escolhas. A máfia tinha
que vir em primeiro lugar, não só para mim que era líder, mas para todos os
membros que fazem parte dela.
Com a Alessandra foi mais fácil, nós tivemos pouco contato até que
a Antonella nascesse, depois foi cada um para o seu lado. Era melhor assim,
tudo o que você tem se torna alvo. Se amar, se for afetuoso, se demonstrar
demais, eu sei, porque eu perdi por isso e eu não quero mais passar por isso
jamais.
Entrei na residência, olhando o quão lotada estava.
— Obrigado por vir! — disse o Juiz.
— Tente ser educado — disse Leonel aparecendo com a Ruth.
— Minha ética me permite ser civilizado as vezes — falei, me
afastando deles indo para o grupo dos novos aliados.
— Boa noite, Capo!
— Boa noite, senhores! — falei amistoso. — O que estão achando
do jantar?
— O prato principal está magnífico — respondeu a esposa de um
deles.
— Avisarei ao chefe que a comida está agradando os convidados —
disse, tentando não pegar a minha arma e atirar na minha cabeça por ser
simpático com esses escrotos. Tinha uns que eram mais fáceis de se lidar,
esses daqui são os arrombados que questionam tudo o que eu proponho só
para causar intrigas e dúvidas nos outros aliados e investidores.
— Gostaríamos de falar sobre um novo acordo — falou um deles.
Sabia que iam se aproveitar dessa conversa.
— Nem fodendo! — disse. — Não falo de negócios fora do quartel.
— Mas... — O interrompi.
Esse cara já está enchendo o saco.
— Não vou mudar nada no nosso acordo, se antes estava bom para
vocês, por que mudar agora? Se quiserem ficar, fiquem, mas deixem de vir
para esses jantares para fazer a cabeça do resto dos membros contra mim,
que o próximo jantar que tiver, o cardápio será a cabeça de vocês como
prato principal, entendido? — Assentiram. — Pois bem, boa noite!
Me afastei deles, encontrando o Juiz.
— Se saiu bem? — perguntou.
— Com certeza, educação estava nas minhas aulas de iniciação,
tenho praticado muito bem — falei, saindo de perto dele, indo para o bar.
Bebi um pouco, conversando com alguns membros, mas queria ir
logo para casa.
— Eu tenho que ir, senhores — avisei, tomando todo o líquido que
havia no meu copo, colocando em seguida no balcão. — Aproveitem o
resto da noite.
Caminhei para a saída, tentando ao máximo não ser visto para não
ter que responder perguntas idiotas agora. Queria só descansar e vê se a
minha dor de cabeça passava. Assim que eu cheguei em casa, já fui para o
meu quarto.
Entrei, caminhando para o banheiro. Tomei banho, já retornando
para o quarto novamente. Estava com o meu moletom, esperando não ser
interrompido por ninguém esta noite, eu só queria descansar para amanhã.
Hope estava deitada ao meu lado, logo se levantou indo para a poltrona de
frente para a janela.
Não ia conseguir dormir, me deitar nos últimos anos só servia para
descansar os olhos.

Tirei um cochilo e quando despertei notei que a Hope ainda estava


no mesmo canto. Caminhei até ela e vi o quanto aquela posição estava
desconfortável.
Me aproximei mais do seu rosto, para ter a certeza que ela estava
dormindo. Dava até para contar as suas sardas de tão quieta que ela estava.
A ragazza tinha uma beleza rara. A peguei no colo, a levando para a
cama. Coloquei ela delicadamente em cima da cama, tentando não acordá-
la. Peguei o meu celular em seguida, saindo do quarto. Fui para outra ala,
onde ficava os meus seguranças e a academia.
Vou me entreter por um tempo malhando.

Pela manhã, já estava me arrumando para sair. Hope ainda estava do


mesmo jeito que eu havia deixado. Ela nunca ultrapassava a sua parte da
cama.
Desci para tomar café e a Lucy estava com uma cara nada boa para
o meu lado. Depois que a Hope chegou, Lucy a defendia com unhas e
dentes. Talvez seja porque ela instigava esse instinto protetor nosso, não
sabia explicar.
— Bom dia, Lorenzo! — Me cumprimentou dando um beijo na
minha testa. — Está mais calmo? Posso chamar a Hope para o café ou ela
vai ficar presa no quarto até morrer?
— Lú, veja bem, eu te amo, mas não me faça ser um cretino com
você. Ela é minha esposa, então não se meta nisso. É melhor ela ficar longe
de mim do que eu fazer algo depois contra ele em um surto, não acha?
— Sim, senhor!
Quando a Lucy quer ser maldosa, ela é.
— A acorde e a traga para tomar café comigo — disse.
Nem terminei de falar direito e a Lucy me deu um beijo no rosto.
— Gosto mais de você assim — disse Lucy saindo do meu campo
de visão.
Mal coloquei o café na boca e o meu celular tocou.
— Que inferno! — praguejei.
Peguei o celular e vi que era o maldito do Rubens.
— Espero que esteja morrendo para ter me ligado a essa hora. Seu
quadro de saúde piorou? — perguntei.
— Me desculpe, Capo, mas o Dante Bellini está aqui e quer falar
com o senhor sobre ver a filha — disse Rubens. — Ele está dizendo que é
difícil entrar em contato com o senhor, por isso veio até mim.
— Não é, eu só o evito mesmo — disse. Lembrei da separação da
minha sogra, eu havia esquecido, por isso a ruiva infernizou essa semana
para ver a família. — Os caminhos estão perigosos, estamos sempre
encontrando alguém... — hesitei antes de concluir. — Quer saber, deixe que
ele venha. Mande-os vir a tarde, às 16:00 horas em ponto.
— Ele quer falar com o senhor.
— Não sou desocupado que nem esse arrombado, mande ele ir para
a casa do caralho e parar de encher a porra do meu saco — disse,
desligando a ligação.
Com o tempo a ruiva apareceu e não ficou muito contente em saber
que receberia visita do pai hoje.
— Lorenzo, eu posso ver a minha mãe? — perguntou.
Era muito ingenuidade achar que eu cederia a isso depois de ontem.
Não há problema em Hope ver a mãe, depois de vistoriar a estrada
ela não precisaria nem pedir, mas como eu quem checaria a estrada era eu,
me negava a fazer esse esforço pela forma como ela falou ontem.
— Está brincando comigo? — perguntei e ela não respondeu.
Tomamos o café juntos, mas ela nem desviou o seu olhar da sua
comida. Quando estava saindo, ela veio até mim e me beijou como sempre
faz.
Devo admitir que ela tem uma certa paciência, se fosse comigo, eu
ignoraria tudo que me foi ensinado e mandaria logo ir se foder. Fui para o
quartel já que íamos receber uma visita de um dos investidores do leilão.
No caminho, peguei meu celular e liguei para o Red.
— Red, o que conseguiu investigando o Dante Bellini?
— Senhor, ainda nada. Já pedi para uns homens ficarem na cola
dele e do irmão que ainda está por aqui com a esposa. Nada informa que a
Hope e a esposa do Carbone ficaram lá na adolescência — disse Red. —
Tem algo no registro de 9 anos atrás da senhora Carbone que me chamou
atenção, no prontuário médico informa que ela chegou no hospital com
cortes nos pulsos, diz que foi tentativa de suicídio.
Lisa tentou se matar? Por que caralhos ela tentaria fazer isso?
— Hoje chegarei cedo, mas não informe a Hope. Ela vai receber a
visita do pai, quero estar lá quando isso acontecer — disse, desligando a
ligação, em seguida liguei para o Enzo. — Irmão?
— Oi, o que houve?
— Estou investigando o seu sogro... — hesitei, logo continuando. —
Nosso sogro sobre aquele ocorrido.
— Está investigando a pessoa errada, Lorenzo — disse Enzo. — É
para investigar o Marco Bellini.
— Não tem nada de diferente no registro dele. Eu mesmo já olhei, o
Josh olhou, não tem nada — disse.
— Tem coisa sim, não em papéis.
— O que sabe, Enzo? Sei que a sua esposa tentou suicídio há 9 anos
— falei.
— Nada que eu possa falar, irmão. Prometi a ela que não contaria,
mesmo não sabendo de tudo detalhadamente, estou esperando-a confiar
mais em mim e superar o que aconteceu para contar. Só aguardando isso,
porque senão, já teria matado o Marco mesmo sem ter a confirmação dela
sobre o ocorrido — falou.
Certo, isso me deixou curioso.
Conheço o Enzo há anos, crescemos e fizemos faculdade juntos e eu
nunca o vi querendo matar alguém, como com esse Marco.
— Descobrirei então — disse desligando a ligação.

Já em casa, fui na cozinha comer algo.


— Senhor, o Dante Bellini chegou — disse um dos meus
seguranças.
— Avise o Red e mande ele chamar a minha esposa.
Me sentei na cadeira da cozinha, junto com Lucy.
— O que está aqui fazendo, Lorenzo? — perguntou Lucy
estranhando eu estar em casa aquele horário.
— Tentando descobrir que porra aconteceu com as filhas do Dante
— disse.
Aquilo estava me deixando com uma pulga atrás da orelha.
— É o tio que você deve investigar — disse Lucy.
O que parece é que todos sabiam de algo.
— Você sabe de algo? — perguntei o óbvio.
— Não posso falar — respondeu. — Eu nunca pedi nada a você,
meu querido, mas quando descobrir, faça ele pagar tudo que o que fez a
Hope e a irmã dela.
Quando a Lucy disse isso, atiçou mais a minha curiosidade.
— Porra! — disse passando a mão pelo cabelo.
— Ela é forte, assim como você — disse Lucy segurando na minha
mão. — Um pouco ingênua, mas tem um bom coração. Você vai aprender a
lidar com pessoas novamente, digo pessoas próximas a você.
Acho pouco provável.
— Fui para um jantar ontem na casa do Juiz, a grande maioria ainda
questiona a minha liderança, agora com isso da Hope e da Lisa, certamente
vai me dar problemas se for a público o que eu acho que está acontecendo,
já que aconteceu quando eu liderava — disse.
— Eles preferem o Leonel porque sabe que ele sempre foi bom em
agradar os aliados e os investidores, assim como o filho. Era direito dele se
tornar Capo, tanto ele, como o Lucca por ser filho dele. Não se abale por
isso, você lidera muito bem — falou.
Isso eu nem me importava, agora a preocupação era desse ocorrido
com a Hope e a Lisa. Me perguntava como nunca descobri sobre o que elas
passaram. Tudo é repassado para mim. Tinha minhas suposições, mas
nenhuma delas fazia sentido para mim. Algo grande assim não dá para
esconder da liderança.
Escutei a ruiva na sala, logo fiquei em silêncio para ouvir um pouco
da sua conversa. Os primeiros instantes eram mais alfinetadas do pai sobre
a filha ter tramado isso contra ele da separação da mãe. Quem imaginaria
que ela teria coragem de se opor contra o pai. Venhamos e convenhamos
que a ruiva parece muito ingênua e bondosa demais para fazer tal ação.
— Você merece tudo o que está passando, pai — disse Hope com a
voz trêmula. — Merece sofrer até o último segundo, mas nem assim pagará
tudo o que fez as suas filhas e a sua esposa passar em vida.
— Me arrependo de não ter deixado o Marco destruir ainda mais
vocês, talvez eu até tivesse o ajudado — disse Dante, em seguida escutei
um barulho forte na sala, talvez de um tapa.
— Lorenzo... — disse Lucy a mim, que antes que ela concluísse, já
saí da cozinha, caminhando para a sala.
— Você nem ao menos sabe o que passamos naquela casa ou acha
que o seu irmão só nos castigava? — disse Hope chorando bastante. Ele
tocou no assunto delicado, a ponto da ruiva ter ficado assim e certamente
ela que revidou lhe dando um tapa. — Ele nos cortava, pai. Me fazia assistir
quando mutilava a Lisa. Todas as noites, ele vinha e eu nunca quis tanto
levar uma surra ao invés do que ele fazia conosco. Você acha mesmo que a
Lisa tentaria se matar por um castigo? Você deu os piores para ela. Sabe por
que ela fez isso? Porque ela tentou me proteger, já que eu não tinha um pai
para fazer isso por mim. Enquanto o tio Marco me cortava e acariciava o
meu corpo, a Lisa pensou na minha dor e como me tirar dali. Nós nunca
precisamos de você, sempre soubemos cuidar uma da outra sem ter a sua
ajuda.
Essa merda ficava cada vez pior. Tortura e pedofilia? Que porra
estava acontecendo aqui? A ruiva chorou ainda mais, não sabia se chorava
ou falava entre os seus soluços. O choro dela me incomodava de uma forma
que eu não sabia explicar.
— Acha que tem algum moral para falar assim comigo? Você está
começando a sua vida agora, eu vivi muito, garota burra. Desejo que a sua
vida seja tão miserável quanto a minha foi quando vocês nasceram — disse
Dante.
Já me aproximava da sala já que o som alto da voz deles ficava cada
vez mais ensurdecedor.
— Eu não queria me importar com nada, mas me odeio por me
importar com você. — disse Hope. — Como pode ver, a minha mãe está
sobrevivendo bem sem você. Então vá embora de nossas vidas. Seu jogo
acabou, pai.
— O jogo só acaba quando eu quiser.
— Então se divirta jogando sozinho, porque finalmente nos
livramos de você — disse Hope.
Quando a Hope ia sair, foi justamente na hora que eu cheguei na
sala. Dante segurou no seu braço, sabia o que vinha logo em seguida.
Quando ele fechou o punho, me aproximei segurando seu braço.
— Está querendo morrer, Dante? — indaguei furioso.
Segurei fortemente no seu pulso, virando lentamente, enquanto ele
me encarava assustado. Dante colocou sua mão sobre a minha, tentando
tirá-la dali.
Continuei virando lentamente, até chegar no ponto em que eu
queria. Rapidamente virei o seu punho para o lado contrário e o som do
estralo do seu pulso, fazendo-o gemer de dor e cair no chão. Logo Hope
saiu correndo da sala, subindo para o andar de cima.
— Senhor... — Não deixei que ele concluísse e dei-lhe um soco no
seu rosto.
— Acha que ela é sua ainda para vir na minha casa tentar encostar
nela? Ela se tornou minha quando disse o sim e eu me tornei dela quando eu
disse o mesmo. Tente encostar nela novamente e eu mato você — falei,
segurando-o pelo colarinho.
— Capo...
— Estou me cansando já dessa merda. Você pode até fazer o seu
trabalho bem, mas encher o meu saco do jeito que está fazendo é pedir para
morrer, porra — disse.
— Isso não vai se repetir — falou.
— Não vai mesmo — falei, o jogando por cima da mesa, que o
mesmo quebrou com o maldito corpo. — Cadê a sua coragem? Vejo você
falar e ditar, mas não o vejo seguir porra nenhuma do que tanto diz. — Me
aproximei dele, o tirando de cima dos destroços. — Levanta a voz para
mim, eu quero ver até onde vai essa sua audácia. — O encarei, esperando
ele dizer algo. Ele ficou em silêncio. — Avise ao seu irmão que eu mesmo
irei investigar o que aconteceu há 9 anos e eu descobrirei que porra
aconteceu com elas. E quanto a você, fique longe da minha esposa, se eu te
ver, nem que seja no mesmo ambiente em que ela esteja, eu mato você.
Pode ter certeza que eu não serei julgado por isso pela liderança, você
ameaça a vida da minha esposa só estando vivo.
Olhei para os seguranças e para o Red, eles já sabiam o que tinha
que fazer. Subi escutando a pancadaria deles com o Dante lá embaixo.
Quando cheguei no quarto, vi que a Hope estava no banheiro.
Lucy pedia para que ela abrisse a porta, mas não havia resposta.
— Desça, Lú! — disse e ela logo saiu do quarto.
Peguei a chave reserva e entrei no banheiro, mas a cena que eu vi
quase partiu o coração que eu não tinha mais. Ela estava encolhida,
abraçando as próprias pernas com o rosto entre elas. Me aproximei, me
agachando ao seu lado.
— Pare de chorar, Hope — disse.
— Eu quero ir para a minha casa — falou pausadamente por conta
dos soluços.
— Sua casa é aqui agora — disse e ela continuou chorando. O que
eu faço? — Por que o seu choro me incomoda tanto? Já vi pessoas
chorando, implorando pela vida, mas o seu choro em si me incomoda. —
Tentava entender por que isso me incomodava. — Se você parar de chorar,
amanhã deixo na casa da sua mãe.
— Promete? — disse Hope, me encarando.
Seus olhos e o seu nariz estavam vermelhos. Seu rosto estava todo
molhado pelas lágrimas, que ela não fazia questão de esconder.
— Prometo! — falei. — Só pare com isso.
— Está bem, vou tentar — disse Hope, respirando fundo.
Enquanto ela tentava se acalmar, eu a olhava atentamente. Ela já
estava mais calma, encarei-a mais um tempo e me levantei, deixando-a
sozinha no banheiro. Desci, encontrando com a Lucy na escada.
— Ajude-a, vou esperar vocês aqui embaixo — disse.
Que dia! Fiquei na sala de jantar, esperando Hope descer.
Logo ela desceu para jantar, olhava timidamente para as mãos,
talvez por ter ficado tão exposta com os seus sentimentos perto de mim. O
jantar foi servido, mas não demorei muito. Fui ao rifugio e já mandei
colocarem mais homens na cola do Dante e do Marco, nem que seja para
deixá-los longe da minha sogra e da Kitty.
Fiquei logo por aqui, já que certamente a Hope ficaria mais
constrangida e inclusa no seu canto pelo que aconteceu hoje.

Pela manhã, acordei com o sol no rosto. Havia acordado algumas


vezes a noite, com os pesadelos e porque o sofá do meu escritório era
desconfortável. Retornei para a minha casa, encontrando com a ruiva no
closet, enquanto penteava os cabelos, se arrumando para ir logo para casa
da mãe. Ela conseguia ser encantadora só fazendo aquilo.
Pedi para que ela saísse, já que iria ligar para o Josh.
— Alguma coisa nova que eu precise saber? — perguntei assim que
Josh atendeu a ligação.
— O senhor vai odiar saber disso. — Fiquei com raiva só de ouvir.
— Hoje o russo recebeu uma ligação.
— De quem?
Depois do Josh ter cuidado do roubo do meu carregamento de
drogas, pedi para que ele ficasse na cola do russo, só por via das dúvidas.
— Do Sottocapo Leonel — respondeu.
O que Leonel estava fazendo lá? Que inferno!
— Certo, fique de olho nele — disse, desligando a ligação.
Desci para ir logo deixar a Hope na casa da mãe. Não demoramos
para chegar na casa do Enzo.
— Fique com o seu celular, te ligarei quando estiver chegando —
disse a ela.
— Bem, pode ter acontecido de eu ter esquecido ele em casa —
disse Hope sorrindo para mim timidamente.
— Não te dei um celular para ficar guardado, Hope, fique com ele
sempre. — Falei. Para que servia o rastreador se ela fosse capturada não
saberia onde ela estava, nem que fosse para saber aonde foi o último lugar
que ele registrou. — Red, ligarei para você.
Assim que ela desceu do carro, Enzo logo entrou.
— E essa cara de bunda a essa hora? — perguntou assim que Thony
deu partida.
— O russo recebeu uma ligação do Leonel, nossas esposas devem
ter sofrido tortura e pedofilia do tio e estão conspirando contra mim para
que eu seja exilado e retirado do posto de Capo. Talvez a minha cara de
bunda faça sentido, não acha?
— Que porra! — disse Enzo. — Você está indo atrás do Marco ou
eu mesmo vou?
— Trabalho com provas, Enzo, sabe que eu não posso apresentar
isso para a Bancada da liderança quando for explicar o porquê matei o
Marco sem ter nenhum motivo e prova aparente. O que é dele está
guardado. Quebrou duas regras minhas e pagará por isso.
— Enquanto a minha raiva é porque ele tocou na minha esposa e
cunhada, a sua é porque alguém quebrou as regras. Porra, Lorenzo, sei que
você não a ama, mas... — o interrompi.
— Enzo, eu não estou desmerecendo o que elas passaram. Estou
tocando no ponto de que regras foram quebradas e os infelizes que
quebraram irão ser punidos por isso. Elas sofreram e eu entendo. Farei
justiça pelas regras e por elas, assunto encerrado.
— E o que vai fazer com o Leonel? — perguntou. — Ele está
agindo estranhamente esses anos, não tem nem como perguntar a ele já que
não nos falamos mais.
— Matá-lo talvez? — zombei. — Vou ver o que ele queria com o
Russo, depois ele ficará no lugar dele e eu no meu.
— Vi a sua mãe hoje, ela estava com a esposa do Enrico — falou.
Fiquei em silêncio, sem ter o que dizer. Mantínhamos contato, só
que não como antes. O único que fiquei próximo foi o Enzo, mas ainda sim,
há um abismo muito grande entre nós dois.
Nada era como antigamente.
— Vamos para qual bar hoje? — perguntei, mudando de assunto.
Quando eu me isolei de todos há alguns anos, Enzo criou isso de
todas as terças saíssemos, nem que seja para ficar calado olhando um para
cara do outro. Talvez por isso eu não me afastei, ele sempre ficou presente
que eu não me acostumei com a sua ausência como dos outros.
— Uma surpresa, caro amigo — falou.
Paramos no bar que frequentávamos quando éramos mais jovens.
Fiquei surpreso que ainda existia, fazia tanto tempo que eu não pisava aqui.
Descemos do carro, logo entrando no lugar que estava bastante vazio. Não
era um bar cinco estrelas, mas para adolescentes que queriam fugir dos
seguranças dos pais, era um bom esconderijo.
Eram novos donos, então não os conhecia. Ficamos ali, bebendo e
conversando sobre assuntos diversos.

No fim da tarde, já estávamos na frente da casa de Enzo. Ele saiu,


enquanto eu esperava a Hope aparecer. Não demorou muito para que ela
entrasse no carro.
— Obrigada por ter me deixado ver a minha família — disse Hope.
— Todas as terças, eu e o Enzo saímos para beber, se quiser usar
esse dia para vir ver a sua família, não atrapalharei — falei. — Você vem e
volta comigo.
— Quero sim! — respondeu rapidamente. — Obrigada!
— Não precisa agradecer — disse.
Saímos da frente da casa do Enzo, a caminho da nossa casa. Hope
parecia feliz com apenas um ato tão simples da minha parte.
Os dias se passaram, mas os problemas não. Parece que eles tendem
a aumentar gradativamente. Ontem Hope comentou no jantar sobre a sua
participação nas ações beneficentes que as mulheres da máfia faziam para o
governo. Não via nenhum problema, já que ela como minha esposa tem que
ser líder. Hope não parecia saber disso e eu deixaria minha mãe explicar.
Bianca apareceu aqui ontem, quando cheguei ela estava na cozinha
com Lucy. Foi só eu chegar e o showzinho dela começou. Não tinha tempo
para ela e a mandei embora. Ultimamente eu estava apenas com a minha
esposa.
Minhas noites com a ruiva estavam se resumindo em apenas gerar
esse filho. O que estava acabando comigo, porque ela tinha um belo corpo
que poderia estar sendo bem aproveitado por mim.
Havia chegado mais cedo do quartel, já que queria acompanhar
Hope na casa do Leonel. Havia dois motivos pelo meu súbito interesse em
ir. Primeiro, queria saber que porra Leonel foi se meter com os Russo, e o
segundo, estava bem enciumado com a possibilidade do Lucca estar lá, do
jeito que aquele puto era, faria o inferno só para me tirar do sério.
Quando entrei, a Hope e a Lucy já estavam perto de saírem. Fiz
menção para a ruiva ficar, enquanto a Lucy saiu nos deixando sozinhos.
— Está muito bonita, senhora Ferraro, isso é para ver o Lucca? —
disse.
— Desculpe! — disse Hope depois de soltar uma risada.
— Não vai tentar nem se defender? — perguntei, me aproximando
mais do seu corpo.
Não tem como não olhar para ela e não ter pensamentos
pecaminosos com aquela roupa. Ela estava belíssima, puta merda!
— Sabe que não tem nada acontecendo entre mim e ele, era só uma
jogada dele de tirar você do sério — falou, já sacando como o Lucca era. —
Eu não seria estúpida de te trair. Sei que seria castigada e minha família
precisa que eu esteja casada.
— O problema não é você, e sim ele. Você é boa demais para pensar
em me trair, isso é notório. Lucca deve pensar da mesma forma e do jeito
que ele gosta de arrumar confusão e me tirar do sério, não duvido que isso
aconteça da parte dele.
— Eu sei me defender — disse Hope e eu ri.
Pobrezinha não sabe nada.
— Sabe? — indaguei. — Então se ele te agarrar assim... — A
imprensei na parede, deixando nossos corpos colados. — E fazer isso aqui...
— Levantei os seus braços, os segurando firme na parede, acima da sua
cabeça. — E te tocar assim... — Me aproximei do seu pescoço lentamente,
mantendo o olhar fixo no seu. Depositei beijos no seu pescoço fazendo um
percurso até a sua boca. Não a beijei, ficando parado próximo dos seus
lábios — Como se defenderá, Hope?
A ruiva deu uma gemida que eu tive que me segurar para não a
jogar na cama.
— Gritaria pelo Red? — perguntou bastante confusa no momento.
Não contive a risada. Ela só podia ser ingênua demais ou não estava
pensando direito.
— Acha que o Red sempre vai estar para te salvar? Ele só está aqui
por um tempo e logo voltará a trabalhar na minha segurança. E você,
pequena do jeito que é, um inimigo meu só te colocaria no bolso e sairia. —
E agora foi a vez da ruiva rir.
— E o que eu deveria fazer? — perguntou quase em um sussurro, já
que os meus lábios estavam tão próximos dos seus, que qualquer ação, já
encostariam um no outro.
— Não tem muito o que se fazer. Mandarei Red lhe ensinar alguns
movimentos de defesa pessoal, talvez te ajude quando precisar se defender
de alguém, mas vou logo avisando, se usar comigo, vai se arrepender —
disse.
— E se eu machucar alguém? Prefiro não aprender — falou. — Que
tal só me deixar com mais seguranças?
— Deixe de ser bondosa, Hope. Isso é pra machucar mesmo o seu
oponente, ou acha que se alguém quiser te sequestrar vai pedir por favor
antes?
— Espero não precisar usar — falou. — Eu posso ir agora, vou
acabar me atrasando?
— Irei com você. Tenho que conversar com o meu tio — disse. —
Vou tomar banho e comer algo.
— Tudo bem! — falou, encarando-me.
— Realmente está muito bonita, senhora Ferraro — disse, passando
o polegar pela alça da sua roupa, descendo até o seu decote.
Conseguia ver o quanto ela queria que eu continuasse. Apesar do
nosso casamento não ter amor, ambos aproveitamos bem a presença um do
outro, sexualmente falando.
Ainda mantive os seus braços presos para cima, enquanto, com a
minha mão, eu me aproveitava, acariciando o seu seio. Hope falou, apenas
seguia as minhas ações com o olhar.
Beijei o canto da sua boca, tomando iniciativa para finalmente beijá-
la. Fazia um tempo que não nos beijávamos daquela forma. Hope
acompanhava a velocidade de nosso beijo, deixando tudo ainda mais
intenso. Comecei a descer os beijos até o seu pescoço, inalando mais o seu
cheiro, enquanto a beijava.
— Lorenzo... — sussurrou em um quase gemido.
— Sì? — disse próximo ao seu ouvido, dando uma mordiscada na
sua orelha, retornando o beijo para o seu pescoço.
Voltei a beijar seus lábios, aumentando o ritmo anterior, sentindo a
boca gostosa de Hope se movimentando contra a minha.
— Devemos continuar na cama ou nos apressar para a sua reunião?
— perguntei, ainda a beijando.
Como não tive resposta suas, apenas parei de beijá-la. Olhei aqueles
olhos verdes e meu coração acelerou. Que porra estava acontecendo? Ela
ficou me encarando, me aproximei da sua testa, depositando um beijo ali.
No momento eu não entendi por que caralhos eu fiz aquilo e
certamente Hope compartilhava do mesmo sentimento, dava para ver em
seu olhar confuso.
Saí, caminhando até o banheiro.
Por que caralhos eu fiz isso?
Tomei banho e me arrumei rapidamente para encontrar logo com a
Hope lá embaixo e tentei enterrar minha ação e simplesmente não pensar
demais sobre ela.
Estávamos a caminho da casa do Leonel, quando a minha mãe ligou,
certamente brava pela demora da Hope, porque sabia que eu tinha dedo
nessa história. Hope conversou com ela pelo meu celular. Ela não era de se
meter nos meus assuntos e eu gostava disso. Com certeza isso veio da sua
criação com o pai, mas de certa forma me passava confiança de que mesmo
sendo uma desconhecida dentro da minha casa, não precisarei agir como se
ela fosse uma criminosa, como ajo com quem me visita. Eu não confio,
qualquer um pode entrar no meu escritório usando os meios certos, então,
por via das dúvidas, é bom ser paranoico.
Em seguida, a Alessandra ligou e foi aí que eu tive certeza de que a
Hope não era de querer saber da conversa dos outros. Ela se mostrava uma
esposa a altura. Elegante, bondosa, amorosa e sempre sabendo o que deve
ou não fazer para não se prejudicar e não chamar atenção da liderança por
certas ações.
O que me chamava a atenção era a perseguição recente de
Alessandra. Ela sempre foi difícil de lidar, mas essa dificuldade piorou e
muito nos meses recentes, meses que chegavam a anteceder a chegada de
Hope.
Quando finalmente chegamos na casa do Leonel, a acompanhei para
dentro já que o anfitrião da casa não havia chegado. Caminhamos e eu
percebi que a ruiva andava um pouco atrás. Segurei na sua mão, logo ela
me olhou confusa. Eu só a estava ajudando.
Quando entramos no local onde todas as mulheres se encontravam,
elas pareceram surpresas ao me verem. Caminhei para próximo da minha
mãe, me sentando ao seu lado e das minhas cunhadas.
Hope parecia animada e totalmente diferente de como ela era perto
de mim. Era engraçada e não consegui deixar de admirá-la. Ela se divertia
com as meninas e parecia ser mútuo. Logo a esposa do Conselheiro a levou,
me deixando sozinho com Alessandra que havia aparecido a alguns minutos
antes. Minha mãe e as minhas cunhadas acompanharam, notei que estavam
cuidando uma das outras e me lembrei do carinho de Lucy com Hope. Era
como um instinto protetor. Não sei bem como, talvez sejam aqueles
olhinhos verdes implorando por proteção.
— Já pensou no dinheiro que eu te pedi? — perguntou Alessandra.
Ainda esse assunto.
— Para que você precisa?
— Você nunca se meteu antes, por que agora quer saber como eu
uso esse dinheiro? — falou.
— Porque você nunca me pediu — disse. — Você tem esse orgulho
e eu não julgo, mas para está me pedindo, me pergunto se realmente é para
uma viagem.
Ela ficou em silêncio, cruzando os braços. Vi alguns machucados
ali.
— O que é isso? — perguntei.
— Fiquei presa no rifugio, esqueceu? — falou, não dava para saber
se era mentira ou não.
— Não mandei ninguém encostar em você enquanto esteve lá —
disse.
— Ninguém me bateu, as luzes são péssimas, eu batia nas coisas
sem conseguir me movimentar naquele lugar — falou, mas logo caiu em no
silêncio, olhando para onde Hope estava com minha família.
Olhei minha esposa com aquelas moças. Elas tendem a ser bem
maldosas e Hope do jeito que é bondosa demais, não saberia se defender. Vi
uma certa alteração na minha mãe e me levantei
Depois do estresse com as mulheres querendo fazer a cabeça da
Hope contra a minha família, elas foram para o canto. Retornamos para o
lugar de antes, mas a deixei com a minha mãe, enquanto eu ia resolver o
assunto com Leonel, que já havia chegado, aproveitei e falei da viagem ao
Havaí que faria e a levaria comigo.
Quando cheguei ao escritório de Leonel, ele estava bem surpreso ao
me ver.
— O que devo a honra do Capo em minha casa? — zombou,
querendo já soltar as piadas de sempre.
— Deixa de papo furado, Leonel. Quero saber que porra você estava
fazendo com o Russo. Quer me dizer a verdade ou eu tenho que te arrastar
até o rifugio?
— Eu fui apenas conversar sobre uma nova aliança com ele, já que
você estava ocupado com o ataque na boate — se explicou.
— E desde quando sua função é essa?
— Ele gosta de mim, seu arrombado paranoico. Apenas quis ajudar
a famiglia, não precisa duvidar da minha lealdade.
Até parece!
Segui conversando com Leonel para saber mais sobre a ligação. Ele
parecia ter estudado bastante para me responder, talvez soubesse que eu
descobriria que ele havia falado com o Russo.
— Como você está? — perguntou.
— Bem — disse, olhando o botão do meu paletó. — E você?
— Vejo que ainda é orgulhoso — falou. — Olha, eu esperei o seu
tempo para aceitar o que aconteceu, mas está na hora de parar de se torturar
com isso e parar de acreditar no que dizem da sua família.
— Vim falar de negócios, Leonel — falei, não querendo tocar no
assunto.
— É por isso, Lorenzo, você sempre desvia a porra da conversa,
com qualquer pessoa, não fala, só pensa e guarda aí dentro esperando
esquecer, sabe que isso nunca vai acontecer se você não aceitar o que
aconteceu — falou.
— Eu não posso voltar no tempo, Leonel. Não posso esperar que a
dor suma, porque ela não vai. A dor é gananciosa, ela não quer que eu
apenas a sinta uma vez ao dia, ela quer que eu me corrompa e que eu sofra a
cada fodido segundo da minha existência.
— Você tem que deixá-la ir — disse a mim.
— Deixá-la? Sabe por que eu não durmo, não é só pelos pesadelos,
é que sempre que eu fecho os olhos eu crio uma imaginação dela aqui.
Penso em como ela deve estar. Eu estou criando lembranças que eu nunca
vou poder ter, caralho. Sabe como isso é torturante? Como eu vou deixá-la
ir, se eu quero que ela fique? Eu não posso me perdoar pelo que aconteceu,
então esse é o meu castigo. Há 4 anos você me perguntou por que que não
tinha coragem de acabar com a minha própria vida. Não é pela minha
responsabilidade como líder, mas porque assim eu sinto que eu estou sendo
castigado por ter deixado a minha filha morrer. Estar vivo é a minha
punição.
— Porra, se você não falar com alguém sobre isso não vai mudar
mesmo — falou, batendo na mesa. — Nos afastou...
— Eu tentei salvar todos vocês da dor que a morte dela causou, mas
no final, eu esqueci de me salvar — disse, enquanto olhava a foto dela que
tinha na sua mesa. — O assunto está encerrado.
Saí do seu escritório indo atrás da minha esposa. Eu não conseguia
superar. Quando aproximei da sala, escutava a voz alterada da esposa do
Conselheiro.
Porra de tanta briga para eu apartar. Resolvi logo o problema de
Hope como líder das mulheres. Caminhamos para fora, já entrando no
carro. Estava cansado de tanta confusão por nada.
A viagem seria longa e não via a hora de poder descansar nem que
seja só por dois minutos.
Já no jatinho a caminho do Havaí. Nosso destino era Honolulu.
Estava em uma sala reservada e tratei logo de deixar algumas coisas
resolvidas para que eu descansasse um pouco nessa viagem.
Quando saí da sala, vi a ruiva dormindo tranquilamente na poltrona.
Não quis acordá-la, então fui direto para a cama. Com o tempo o avião
passou por uma certa turbulência, mas não me importei, já estava
acostumado com aquilo. Passado o pior dos tremores, senti alguém se
aproximando, quando abri os olhos, vi a Hope colocando um cobertor em
cima de mim.
— O que está fazendo? — quis saber.
— Está frio, pensei em pegar o cobertor — respondeu. — Desculpa,
isso não irá se repetir.
Para mim ainda não fazia sentido ela ter feito isso por mim sem
querer nada em troca.
— Sente-se, o avião ainda está em turbulência, vai acabar se
machucando — falei. Não que eu me importasse, mas se ela aparecesse
ferida na frente dos meus amigos ia dar o que falar.
Ela se afastou, voltando para a poltrona. Respirei fundo e a chamei
para se deitar na cama, já que provavelmente a poltrona era desconfortável.
Ela logo veio e se deitou ao meu lado silenciosamente, mas o
silêncio não durou muito, já que escutava seus dentes se baterem. Logo ela
se levantou novamente e pegou o seu cobertor.

Mal dormi. A Hope ainda estava no mesmo lugar de antes,


encolhida no canto da cama, não se movia um centímetro sequer com medo
de me incomodar. Me aproximei dela, checando se estava realmente
dormindo. Ela parecia tão calma e graciosa.
Por curiosidade, quis tocar em suas sardas, sentir um pouco mais da
sua pele. Só tínhamos contato quando estávamos transando, fora isso, não
existia relação entre nós dois. Quando a minha mão tocou na sua pele
aveludada, ela logo se mexeu, se aproximando de mim.
Colocou o seu rosto sobre o meu peito e sua perna por cima das
minha, se acomodando melhor. Fiquei parado, apenas a encarando.
— Ragazza espaçosa — sussurrei.
Apoiei a minha cabeça novamente no travesseiro, tentando me
acostumar. Fiquei naquela posição com ela e logo cochilei novamente.

Pela manhã, senti a ruiva se remexendo, já que ela continuava em


cima de mim.
— Parece que teve uma ótima noite, Hope — disse sarcástico.
A ruiva me encarou sonolenta, logo suas bochechas ficaram em um
tom avermelhado. Como ela não era de fazer isso, rapidamente estranhou,
mas a culpa meio que foi minha, por ter tocado nela enquanto dormia.
Poderia dizer até que ela ficou ainda mais linda envergonhada.
— Desculpa! — disse Hope se afastando de mim e isso me
incomodou.
Ela sempre parecia bastante temerosa quando a falar a agir perto de
mim. Mas notava que esse comportamento não se limitava a mim, mas com
todos do sexo oposto. Fui para cima dela, me colocando entre suas pernas.
Ela me olhou um pouco surpresa, mas logo se ajeitou para que eu me
encaixasse melhor.
— Você ainda não engravidou — disse.
Não que eu estivesse apressado para ter um filho, mas estavam me
cobrando. Apesar de ser um cretino, sei que se Hope tivesse nascido longe
dessa porra toda, ela teria sido feliz. Minha esposa é uma garota boa, mas
sei que a minha frieza um dia irá corrompê-la.
— Está me culpando? — perguntou.
Não nego que fiquei um pouco ofendido por ela achar que eu a
culparia ou cobraria.
— De forma alguma — respondi. — Quando chegarmos lá, se
perguntarem algo sobre o motivo do nosso casamento ser tão rápido, fuja do
assunto. Eles não sabem que eu me casei por interesse de um herdeiro.
— Tudo bem! — falou.
Para eles, eu era um homem de família rica, que cursou
administração para cuidar dos negócios da família.
Os conheci quando fiquei 6 meses longe, já havia cursado a
faculdade na Itália, mas quando me casei e Alessandra ficou grávida,
resolvi me ausentar um pouco da máfia e terminar a minha graduação junto
a Enzo. Meu pai cuidou de tudo com o Leonel, me deixando livre por um
tempo das cobranças.
— Troque de roupa, logo nós pousaremos — falei.
Esperei que ela me desse um beijo como sempre fazia ao sair de
perto de mim, mas ela me surpreendeu. Hope me empurrou para o lado,
montando por cima de mim. Nunca imaginei que ela teria essa coragem, já
que a iniciativa era sempre minha. Aquilo realmente me excitou.
Pus minhas mãos em suas coxas, as apertando levemente. A ruiva
me encarava e eu apenas esperava algum movimento seu. Porra, sentia meu
pau duro só com aqueles olhos sobre mim. Uma mecha do seu cabelo
resolveu cair sobre a sua face e com o polegar, coloquei atrás da sua orelha,
a encarando. Hope não sabia do poder que tinha em mãos. Ela era
encantadora e ganharia o mundo apenas com aqueles olhos.
— Gosto do seu olhar — disse Hope.
Porra, isso eu não esperava. Não era acostumado com coisas desse
tipo, o contato que eu tive com uma mulher foram só carnais, mas com
Hope havia sentimentos estranhos. Hope me encarava fixamente e eu mal
me preparei para sentir seus lábios nos meus.
Essa ragazza vai me enlouquecer!
Ela mordeu o meu lábio, e eu senti meu corpo todo vibrar. Sua
língua passeava pela minha boca, aumentando o ritmo do nosso beijo.
— Você teve a noite toda para ter me dado um beijo desses e
guardou até agora, ruiva? — disse, assim que nos separamos para respirar.
— Uma pena estarmos para pousar, se não, tiraria essa sua roupa e
aproveitaria bem melhor o nosso tempo juntos presos nesse cubículo.
Seu corpo pedia por mais, mas infelizmente não tinha tempo para
isso agora. Ela se levantou e logo foi tomar o seu banho. Assim que ela saiu
do banheiro, eu entrei. Quando terminei, vi que a ruiva ainda estava de
lingerie.
— Por que ainda não está vestida? — perguntei.
— Vamos encontrar alguém ou ficar no hotel? — indagou. Soltei
uma risada, enquanto ia para a minha mala. — Falei algo engraçado?
— Estou acostumado com mulheres sempre bem-vestidas, mesmo
indo dormir.
— Não tenho paciência para ficar direto me arrumando. Confortável
e rápido, é o meu dilema de vestimenta — comentou.
Hope realmente não era o tipo que ficava se arrumando ou
escolhendo uma roupa que combinasse com os seus sapatos. Ela logo
voltou a se vestir e eu fiz o mesmo. Assim que eu coloquei minha cueca e a
calça, me virei para ir à cabine do comandante, mas a visão daquela bunda
empinada era bem melhor.
Que bela bunda a minha esposa tem!
— Às vezes eu esqueço que você tem uma bela bunda — disse,
assim que a ruiva me pegou no flagra.
Caminhei para a cabine e quando voltei a Hope já estava sentada. O
avião começou a se remexer um pouco e ela logo deu gritinho agudo, me
fazendo rir involuntariamente. Pousamos e fomos direto encontrar o Harvey
e a sua esposa.
Apresentei ambos assim que chegamos, ela pareceu ter gostado da
Clarice, a esposa do Harvey. Não demorou para que elas saíssem pela praia.
Os seguranças a seguiram junto a Red.
— Sua esposa é muito bonita! — disse Harvey assim que elas
saíram.
— Sim — disse.
Conversamos um pouco, já que a noite eu encontraria o resto do
grupo. Recebi uma mensagem do Red sobre um alguém me espionando.
Olhei para os lados disfarçadamente, tentando encontrar o suspeito. Um
pouco a frente vi um carro parado próximo do meu, vi uma movimentação
no veículo, estranhando alguém estar dentro de um carro fechado naquele
calor.
Logo caminhamos atrás das nossas esposas, achei bem melhor,
queria tirar Hope daqui, mas assim que vi a ruiva de longe, fiquei ainda
mais encantado por ela. Parece que o sol fazia parte daquela mulher. A cor
quente dos seus cabelos alaranjados combinava com aquele lugar. Ela era
perfeitamente linda e era só minha.
Nos despedimos dos demais, entrando no carro de um dos
seguranças, enquanto Red ia até o meu carro. Hope nem notou, ela estava
tão acostumada a só seguir o fluxo que não percebeu que estava entrando no
carro errado.
Saímos da praia, indo para o hotel. Red conseguiu tirar o meu carro
do estacionamento e o homem do carro ao lado permaneceu lá. Mandei
mensagem para o Red para me encontrar no hotel, que eu afastaria esses
filhos da puta daqui. Assim que chegamos, acompanhei a Hope até o
quarto.
— Hoje à noite, fique ao meu lado e não diga nada que seja sobre a
máfia.
— Eu sei! — disse Hope. — Aconteceu algo?
— Não — menti, não querendo tocar nesse assunto com ela.
Ela permaneceu no quarto, enquanto eu saía do hotel. Estava no
carro, fazendo uma vídeo chamada com um investidor.
— Eles continuam nos seguindo — avisou o motorista.
Poderia ser mafiosos ou só ladrões que notaram que eu tinha
dinheiro e estavam se aproveitando da oportunidade. Tratei de terminar
logo a minha reunião, sorte que era bem rápida.
— Pare na próxima esquina — disse.
Logo o meu motorista parou e o carro que antes nos seguia passou
direto. Entrei em um estabelecimento, notando que era um bar. Meus
homens estavam lá fora, caso os espertinhos voltassem.
Quando estava saindo do bar, um grupo de cinco homens veio até
mim.
— Passa tudo! — Ouvi o grito e vi um deles colocar a mão por
baixo da camisa para mostrar que estava armado.
— Está querendo ir para o inferno antes do tempo, meu jovem? —
perguntei sarcástico. — Achei que eram pelo menos ladrões, mas vejo que é
são só um bando de estúpidos. Não acredito que fiz esse esforço todo para
tirar vocês de perto da minha esposa, sendo que vocês são uns merdinhas —
disse indignado.
— Só dá logo suas coisas, porra! — disse outro homem.
— Vocês vão odiar saber quem eu sou — falei, sorrindo para eles.
Vi que eles cederam um pouco, logo os meus seguranças se aproximaram
quando os moleques iam sair correndo. — Já vão? Agora que eu estava
começando a gostar.
Eles olharam a quantidade de seguranças que apareceram, olhando
para mim em seguida. Me sentei em uma das cadeiras do lado de fora do
bar, encarando os covardes a minha frente.
— Plano estúpido — disse, balançando a cabeça em negação. —
Agora me diz, que ideia impensada é essa de tentar me roubar?
— Nós vimos a oportunidade e... — falou, ficando em silêncio sem
ter o que fazer. — É policial?
— Ah, não me jogue praga dessa forma — falei. — Sou alguém que
com certeza vai matar vocês.
Um dos homens partiu para cima de um dos meus seguranças,
jogando a cadeira nele na tentativa de fugir.
Idiota!
Os outros também aproveitaram para correr, mas tinha um grande
contraste aqui, meus seguranças eram muitos e esses homens eram
inexperientes. A briga foi bem rápida, já que os meus seguranças eram
treinados. Quando me aproximei dos indivíduos, um novo homem surgiu
com uma garrafa quebrada em mãos tentando me acertar, consegui me
desviar, mas o vidro ainda atingiu o canto da minha sobrancelha.
— Está querendo me deixar cego, seu porra? — disse assim que eu
coloquei a mão aonde sangrava. — QUE INFERNO!
Me aproximei dele, dando socos no seu rosto.
— Eu tentei conversar com vocês e mesmo assim fazem isso
comigo? Que feio! — disse, enquanto distribuía vários socos no rapaz. Saí
de cima dele, notando que os meus punhos estavam machucados.
Merda, como eu vou explicar isso caso algum deles note no jantar
de mais tarde.
— Mate-os, mas primeiro façam sofrer — disse a um dos meus
seguranças. — Tem um necrotério na cidade, é de um amigo meu, leves os
corpos para lá que ele cuida do resto.
Alguns dos meus seguranças sairiam com os moleques e o resto me
acompanhou até o hotel. Porra, estava atrasado. Assim que entrei no quarto,
pedi para o Red dar uma volta, já que ele não descansou nada hoje.
Caminhei para o banheiro, mas logo chamei a ruiva para me ajudar com o
curativo.
Ela logo começou a limpar a ferida, enquanto eu terminava de me
vestir. Só que com o meu tamanho, era difícil dela limpar a ferida direito.
Logo a peguei no colo e coloquei em cima do balcão da pia. Quando
terminou, a ruiva fez algo que novamente me surpreendeu.
— Prontinho! — falou, sorrindo para mim. — Uma recompensa por
ter sido um rapaz muito forte — disse, dando um beijo em meus lábios.
— O que foi isso? — perguntei confuso com essas demonstrações
de afeto que ela estava tendo ultimamente.
— Bem, eu não pensei antes e... hum... era só para te deixar mais
tranquilo — disse Hope.
— Se for me dar alguma recompensa, me dê pelo menos um... —
Fui interrompido pela boca de Hope na minha. Coloquei a minha mão na
sua nuca e ela envolveu os seus braços ao redor do meu pescoço. Eu a
desejava muito. Ansiava por seu toque e pelos seus lábios.
O que ela estava fazendo comigo? Nunca desejei tanto alguém,
como eu a desejo. Meu celular tocou fazendo com que nós nos
separássemos. Era Harvey perguntando se eu demoraria.
Puxei a ruiva para fora do quarto, indo até o elevador. Ela estava
calada e não disse nada desde o beijo. Quando chegamos no clube,
caminhei de mãos dadas com a minha esposa até chegar na área vip. Meus
colegas de faculdades já haviam chegado, apresentei ela para eles e nos
sentamos em seguida.
A conversa fluía normalmente. Eu havia esquecido de como era
conversar com as pessoas. Sempre conversei mais com o Enzo, estava
acostumado a sermos apenas nós dois.
— O que faz da vida, Hope? — perguntou Peter.
— Pare de fazer perguntas para a minha mulher, seu figlio di
puttana! — disse.
— Gosto de quando fala italiano conosco — disse Aisha.
Eu e ela já transamos na época da faculdade. Na verdade, já transei
com as três aqui, apenas sexo de uma noite e nada mais. Era meu último
ano "livre" e eu quis aproveitar.
— Não trabalho. Meu tempo agora é para eventos beneficentes e
para abrigos de caridade — respondeu Hope.
Fiquei bem receoso com o que ela responderia, mas pelo menos
tirou de vista qualquer dúvida sobre ela. Hope não era boa mentindo, tinha
medo dela entregar tudo sem querer.
— Então é sustenta pelo seu marido? — indagou Michelly.
— Sim, da mesma forma que deve ser o seu acompanhante quem
banca a sua noite — disse Hope para ela.
Eu apertei a sua coxa em desaprovação, sabendo que provavelmente
a Michelly não deixaria isso passar e a provocaria ainda mais. Que porra ela
estava fazendo? Hope não era de fazer esse tipo de cena, que merda ela tem
na cabeça para fazer isso sem saber mentir ou lidar com pressão?
— Agora fiquei curioso, como sabe que ela está com alguém? —
perguntou Harvey.
— Me diga, vidente, como me conhece tão bem? É uma stalker? —
disse Michelly em tom de zombaria.
Mesmo com raiva, eu não podia negar meu interesse em saber como
Hope chegou a tal conclusão. Não era muito de conversar com ela, para
conhecer mais sobre a sua vida ou sobre a sua personalidade.
— Está com marca de aliança no seu dedo — disse Hope apontando
para a mão da Michelly. — Peter havia deixado bem claro que o grupo era
feito por solteirões e mesmo que ela tivesse tido alguém, ele teria citado, já
que achou ultrajante o Harvey, o Lorenzo e o Enzo terem "saído" do grupo
dos solteirões por casarem. Você tirou a aliança por desconforto, talvez
porque não quisesse que os demais soubessem o que estava fazendo. Se não
fosse algo que a envergonhasse, você não teria tirado a aliança do dedo, o
que me da um palpite que seja casado a pessoa com quem você se envolve.
Mesmo se tivesse terminado há algum tempo, com o sol daqui, essa marca
de aliança já deveria ter sumido.
— Uau! — disse Clarice, enquanto batia palmas para a Hope. —
Você é uma boa observadora.
Fiquei admirado com essa sua aptidão desconhecida por mim. Me
pergunto o que mais ela sabia fazer.
Quando eu ia mudar de assunto, Harvey falou primeiro, sabendo que
a Michelly começaria a encher o saco com aquilo. Depois daquilo, Hope
ficou calada o resto da noite. Então, quando ela pediu para eu ir ao
banheiro, acompanhei-a para a sua surpresa. Assim que chegamos,
verifiquei se havia alguém ali e logo vi que não.
— Agora me diga que tipo de merda você tem na sua cabeça, para
ter feito aquilo na frente dos meus amigos? Qual a parte que você não
entendeu que era para ter ficado na sua? — perguntei.
— Eu não pensei... — A interrompi me aproximando dela.
— A sua sorte é que estamos longe de casa — disse, a encarando
furioso. Imagina a merda que isso poderia ter ocasionado. Michelly sempre
foi muito briguenta, se ela encostasse na Hope, eu ficaria puto e isso não
seria nada bom. — Quando chegarmos no hotel, terminamos a nossa
conversa.
Saí do banheiro, tentando ficar calmo.
Que merda!
Logo ela saiu do banheiro e voltamos para a mesa. A conversa
estava começando a ficar tediosa.
— Coma o polvo, está delicioso! — disse Clarice para Hope.
— Ah, não! — respondeu. — Vou ficar só no suco mesmo, estou um
pouco enjoada desde cedo.
Hope fez uma cara de nojo olhando para o prato e eu apertei os
lábios para não fazer alguma piada sobre isso. Eu não conseguir ficar com
raiva dela por muito tempo. Clarisse, por outro lado, sorriu, e eu não
entendi porque o fato valia seu sorriso.
— Sua menstruação está atrasada? — perguntou próxima da Hope.
Aquilo tomou toda a minha atenção.
— Que dia estamos? Bem, ainda não veio.
— Você pode... — disse Clarice se empolgando, colocando a mão
na boca para não chamar atenção dos demais presentes. — Oh, Deus!
— O quê? Acho que não, deve ser só um mal-estar — disse a ruiva.
— Está sentindo muito sono e mudança de humor? — perguntou.
— Sempre fui muito dorminhoca. Deve ser só o mal-estar da
viagem fazendo efeito agora.
— Também achei quando fiquei grávida — disse Clarice.
Grávida? Mas já? Quer dizer, sabia que isso aconteceria, mas será
que eu estava preparado para ser pai de novo? Eu estou fodido, se eu
estragasse a vida da criança? Sabia que precisava me casar para gerar o meu
herdeiro, mas eu não pensei muito nisso, porque estava ocupado sofrendo o
luto da minha primogênita. Estava bastante pensativo desde que escutei a
conversa delas. Analisava a Hope e ela parecia estar bem enjoada.
Avisei a todos que íamos embora, não estava mais com saco para
ficar aqui e com esse som alto me azucrinando. Assim que chegamos no
hotel, eu fui para o bar encher a cara até saber o que deveria fazer e Hope
foi para o quarto.
Eu perguntaria se ela estava mesmo grávida ou pediria para alguém
perguntar? Droga, ela era a minha esposa, por que era tão difícil perguntar
uma simples coisa? Voltei para o quarto já tarde da noite.
— Ela está bem? — perguntei ao Red que estava na porta do quarto.
— Sim, senhor! — respondeu. — Está um pouco abatida, mas ela
estava indo se deitar quando eu saí do quarto — falou, agora olhando os
meus machucados. — Notei os machucados, querendo relembrar os velhos
tempos?
— Realmente, só faltou você e bandidos mais experientes — disse,
lembrando de como eu o conheci. — Descanse, peça para que outro rapaz
fique no seu lugar esta noite, não sairei daqui.
Entrei no quarto e não vi Hope na cama. Meus olhos percorreram
todo o quarto, até achar ela no sofá da varanda dormindo. Me aproximei,
analisando-a. Ela dormia, sem notar a minha presença. Peguei-a nos braços
e a levei para a cama.
Caminhei para o banheiro e tomei banho. Me sentei na cama ao seu
lado com a mente a mil. Fiquei naquela posição por um tempo, até ela se
mexer. Resolvi me deitar, tentando parar de pensar naquilo.

Pela manhã, vi Hope se levantando rapidamente para ir no banheiro.


Fiquei deitado por um tempo, até escutar o barulho vindo de lá. Entrei no
banheiro, a olhando ajoelhada em frente ao vaso. Se me lembro bem de
Alessandra desse jeito quando ficou grávida. Não acompanhei nada da
gravidez da Antonella e aquilo me atormentava.
— Que mal-estar! — disse a ruiva quase em um sussurro.
— Quer ir ao médico? — perguntei, assustando-a.
— Já estou bem, deve ser algo que eu comi — respondeu.
— Vá para a praia com Red e tome uma água de coco, talvez
melhore.
Ela trocou de roupa e quando estava prestes a sair, veio na minha
direção para me dar um beijo, mas não durou muito, a ruiva logo correu de
volta para o banheiro.
— Você realmente não quer ir ao hospital? Red te levará, se for o
caso de você não querer que eu te acompanhe — perguntei, assim que vi
que ela melhorou.
— Eu estou bem, deve ser a comida que não me caiu bem. Não
estou sentindo nada além de enjoos.
Saí do banheiro, deixando-a terminar de se limpar.
— Red, qualquer coisa me liga. Se ela passar mal novamente, leve
Hope ao hospital — disse, saindo do quarto.
O dia seria um inferno com os investidores e saber que uma criança
poderia estar vindo me assustava, mas me trazia uma paz absurda. Será que
saberei amar alguém além da Antonella?
Quando eu voltei da praia, Lorenzo ainda não havia retornado.
Tomei um bom banho e troquei de roupa, usando um vestido branco que a
Lucy havia me presenteado como um presente de boas-vindas quando eu
me casei. Estava pensando se iria dar um passeio pelo hotel ou se me
deitava novamente.
Ainda estava enjoada, então o meu plano de passeio não seria a
melhor escolha no momento. Então resolvi permanecer no quarto deitada.
Depois de ter tomado água de coco, estava me sentindo bem melhor.
Red havia ido descansar. Ficaram apenas alguns seguranças lá fora
para não me deixar sozinha. Fiquei deitada na cama, apenas encarando o
teto. Não me acostumava com o silêncio. Era tão diferente da minha antiga
casa, ter um momento assim para mim, sem me preocupar com as loucuras
do meu pai. Era bom respirar aliviada.
Como não tinha nada para fazer, eu acabei adormecendo.
Quando acordei, me assustei com a hora. Já ia dar 16:30h e eu
passei praticamente o dia dormindo. Dormir me fez bem, pois o enjoo já
havia diminuído.
Tenho que lembrar de nunca mais comer carne mal passada. Me
virei para o outro lado da cama, colidindo com o enorme corpo ao meu
lado. Fiquei encarando Lorenzo, estranhando sua presença. Ele ainda estava
intacto, não fez nenhum movimento sequer, nem para mostrar que estava
vivo.
O machucado na sua sobrancelha estava sem o curativo. Do jeito
que ele é, só tomou banho, não limpou e muito menos passou algo por cima
da ferida.
Me espreguicei, me sentando na cama.
Eu precisava dessas horas de sono. Estava dormindo muito mal,
porque sempre que pegava no sono em casa, era quando Lorenzo chegava
ou saía, então nunca conseguia dormir bem. Fiquei um tempo parada,
pensando em no que eu ia fazer.
— Está melhor? — perguntou, me dando um susto.
— Santo Deus! — Coloquei a mão no peito.
Me virei para ele e notei que Lorenzo não tinha aspecto sonolento.
Esse homem não dorme?
— Vai responder? — perguntou depois do meu silêncio. Sua
impaciência era algo notável.
— Estou bem, só um pouco enjoada. Como havia dito, deve ter sido
algo que eu comi — disse.
Estava repetindo isso mais vezes do que imaginava. Ele colocou o
braço para cobrir os olhos, para provavelmente tentar dormir.
— Cuidado com o seu machucado — disse, afastando o seu braço
de perto da sobrancelha.
— Já está melhor — falou, colocando novamente.
— Claro que não está, se machucou ontem como isso pode estar
melhor? — indaguei. — Vou pegar o remédio, não saia daí.
Me levantei da cama, indo até a gaveta do banheiro onde tinha a
caixinha com os remédios. Retornei para o quarto e o Lorenzo estava do
mesmo jeito. Me sentei do seu lado e ele ficou de olhos fechados durante
todo o processo.
— Quer passar na sua mão também? — perguntei, notando os seus
punhos em carne viva.
— Não precisa — falou.
Segurei na sua mão, limpando os machucados que havia nela. Que
homem orgulhoso! Quando terminei, coloquei a caixinha de remédios no
chão, enquanto o Lorenzo permaneceu deitado. Quis aproveitar que ele
estava de "bom humor" para satisfazer algumas curiosidades.
— Posso fazer duas perguntas? — perguntei, me deitando ao seu
lado.
Encarava o teto, notando que obtive a sua atenção.
— Depende do que seja — falou. — Se é algo sobre o evento de
amanhã que você tomará a frente, sim. Se for algo sobre mim, não.
Lorenzo se deitou de lado, apoiando a mão sobre a cabeça, enquanto
me olhava. Não me atrevi a virar o rosto para olhar, do jeito que ele é, me
enganaria só para não responder as minhas perguntas.
— Então, pode deixar para lá — disse, olhando para ele e desviando
novamente para encarar o teto.
Ficar deitada naquela posição baixa sem travesseiro algum na minha
cabeça, estava me deixando mais enjoada. Deveria ter pedido um chá. Me
sentei, me encostando na cabeceira acolchoada da cama.
— O que quer saber? — perguntou.
Lorenzo poderia não me responder, mas ele era bem curioso.
— É sobre você, mas já que disse que não responderia, tanto faz —
respondi.
— Diga o que é.
— A primeira é... — disse me aproximando dele sem fazer muita
cerimônia. — O que aconteceu para ter cortado a sobrancelha?
— E a segunda qual era?
— Responda a primeira que eu lhe digo a segunda — disse.
— Uma confusão no bar — falou.
— Sério? Detalhes, por favor!
Ele suspirou, sorrindo de lado. Deve achar que eu sou louca, mas na
verdade era que eu não tinha muito com que ocupar a minha mente. Então
tudo o que acontecia ao meu redor me parecia interessante. Até eu começar
mesmo a me entreter os eventos, eu não tinha nada para fazer.
— Só vou falar, porque eu estou entediado — falou, tentando ser
indiferente. — Fui atacado no bar. Não era os tipos de homens que sempre
tentam me matar. Era alguém que não me conhecia e viu que eu tinha
dinheiro e tentou me roubar. Acabei me distraindo e não vi um sexto
homem aparecer com um caco de vidro nas mãos. Me desviei, mas mesmo
assim pegou de raspão. Fim da história. Agora me conte a segunda
pergunta.
— Sei que não devo me intrometer na sua vida, é apenas uma
curiosidade, nada além disso — falei, sabendo que quando se trata da vida
pessoal dele e de seus interesses e emoções, ele normalmente era um chato
com isso. — Percebi que você mal dorme e quando pega no sono, logo
acorda, como se não se permitisse ter descanso. É insônia ou por que
realmente seus pensamentos não te deixam dormir?
— Você é muito perspicaz, senhora Ferraro. Não sabia que tinha
essa aptidão para observar as pessoas — falou, mostrando que não gostou
da minha pergunta. — O mundo não desaparece quando você fecha os
olhos. Ele ainda está lá. Seus medos, seus inimigos, ainda permanecem lá
fora te esperando, pronto para destruir tudo o que você tem e ama.
Percebi que Lorenzo, apesar de todo aquele jeito de "eu não me
importo com nada", ele era igual a qualquer um de nós. Tinha insegurança,
tinha suas falhas e o pior, tinha medo de deixar alguém entrar na sua vida
por medo de perder.
Não nego que sentia pena dele, seu olhar sempre era esse, vazio e
deprimido. Ele não tinha mais um rumo para a sua vida. Ele não vivia,
apenas sobrevivia. Ele havia perdido o ânimo de estar vivo e isso era muito
ruim, porque ele não almejava mais nada, não era feliz, não tinha mais o
desejo de estar vivo. Essa é a pior forma de viver na minha opinião, você
não tem mais nada que te faça levantar da cama e recomeçar mais um dia,
nada que te faça permanecer de pé para não desistir.
O enjoo voltou ainda mais forte. Também com esse clima pesado no
ar, quem melhoraria?
— O que me faz lembrar de ontem... — disse Lorenzo sendo
interrompido por mim que corri para o banheiro.
Na hora certa! Tinha quase certeza que estava vomitando até os
meus órgãos. Minha barriga doía um pouco. Santo Cristo, quando isso
passaria?
Terminei de vomitar e fui para a pia, lavar a minha boca.
— O carro está esperando lá embaixo, vamos para o hospital —
avisou Lorenzo.
— Eu estou bem, já disse — falei.
Por que ele não entendia isso?
— Ficar viúvo com um mês de casado não é muito o que eu quero
agora, ruiva — falou, me guiando até a porta. — Não me contrarie e desça
logo, você não está bem.
O acompanhei até o hospital com toda a má vontade do mundo. Não
sei se era o medo de estar ou de não estar. Nunca passei por isso antes, era
diferente para mim. Não dissemos nada até chegar no hospital. Lorenzo fez
questão de entrar na sala comigo.
— O que está sentindo, senhora Ferraro? — perguntou o médico.
— Não é nada demais. Estava um pouco enjoada ontem e estou
vomitando desde hoje cedo, mas nada além disso — falei.
— Tem uma vida sexual ativa?
— Sim! — respondi um pouco constrangida.
— Sua menstruação está atrasada?
— Não, ela ainda não está no dia de vim — disse.
— Toma algum anticoncepcional ou faz uso de algum meio
contraceptivo?
— Não! — respondi. — Eu comi uma carne mal passada, deve ser
isso.
— Bem, pode ser que sim, mas também possa ser que esteja
grávida, não vamos descartar as possibilidades — disse o médico. — Fará
um exame de sangue e eu vou lhe receitar um remédio para o seu enjoo.
Não se preocupe, não afetará em nada se realmente estiver grávida.
— Quanto tempo demora para sair o resultado? — perguntou
Lorenzo finalmente abrindo a boca.
— Não damos assim na hora. Aqui não é hospital de emergência e
sim uma clínica. Fazemos todo o procedimento legal para não deixar
dúvidas da gravidez. Passarei mais alguns exames, caso seja infecção
intestinal. Sairá provavelmente só no fim da noite ou pela amanhã — falou.
Lorenzo começou a conversar com médico sobre a nossa partida que
seria daqui a uma hora. Ele enviaria o resultado para o hospital em que
Lorenzo o mostrou, que no caso era o hospital do quartel.
Já no jatinho para voltar para casa, nenhuma palavra foi dita por
nenhum de nós. Eu tinha quase certeza de que não era gravidez, mas não
iria contrariar o médico. Sabia que tinha sido a carne e a minha má
alimentação dos últimos dias. Mas a certeza virá amanhã.
Já deitada na cama, de frente para janela, observava o céu escuro lá
fora. Lorenzo permaneceu na cabine do comandante, conversando sobre o
trajeto provavelmente. Já que eu havia dormido o dia inteiro, não tinha
sono. Depois de um tempo, Lorenzo saiu da cabine e se deitou ao meu lado.
— Está dormindo? — perguntei depois de um tempo.
Provavelmente não, mas conhecendo a péssima educação dele, me
ignoraria.
— Não — respondeu.
— Quero falar sobre amanhã — falei e ele se virou, me esperando
continuar. — Bem, o que eu tenho que fazer em si? Sei que eu tenho que
mostrar que eu sou apenas uma esposa bondosa, que toma a causa dos mais
necessitados para mim.
Sabia que Lorenzo e o resto do pessoal nem se importavam com a
causa que em que eles ajudavam. A intenção era ficar bem com a mídia, no
fim, eles sequer sabiam se o dinheiro que doavam iam para o lugar certo.
— Só ser você mesmo, as mulheres desses eventos sempre são
graciosas, bondosas, empáticas — falou em um tom sarcástico. — Você só
precisa saber a hora de ficar calada e não dizer nada que eles possam usar
contra nós depois.
Tenho certeza que Lorenzo sabia os podres do governo e,
conhecendo meu marido, tirava proveito disso. Por isso que não podíamos
falar nada que nos prejudicasse. Sua indireta sobre o que aconteceu ontem,
também não passou desapercebido por mim. Eu realmente entendo que
poderia ter estragado tudo por não saber mentir. Aquela minha ação poderia
desencadear outras, que poderia prejudicar tanto a mim, quanto a ele. Agora
entendo isso e por esse motivo Lorenzo sempre foi muito atento para não
estragar sua imagem.
— Certo! — disse.
— Minha mãe já deve ter deixado tudo em ordem para quando você
retornasse, então não tem com o que se preocupar agora — falou, me
deixando mais calma.
Tinha medo de algo acontecer e eu ter um grande problema em
mãos, já que estamos lidando com pessoas de fora da máfia. Lembrei que a
Dona Telma iria amanhã de manhã lá em casa para me ajudar com o resto
dos preparativos, isso me tranquilizava muito.
Lorenzo ficou em silêncio, apenas me olhando. Não tínhamos mais
o que conversar. Nós não tínhamos assunto, não éramos presenta constante
um para o outro, então ficar algumas horas com ele por perto e ter uma
conversa era estranho.
A única coisa boa nessa viagem o quando Lorenzo foi maleável,
mesmo com a grosseria de ontem, mas a gente conversou bem mais do que
todo esse tempo de casados.
— O que foi? — perguntou.
— Nada! — disse.
— Então por que não para de me olhar? — indagou.
— Você também está fazendo o mesmo comigo — disse.
Lorenzo encostou as costas na cama, colocando os braços por baixo
da cabeça para apoiá-la. Ele encarava o teto do jatinho, bastante pensativo.
Me deitei de lado, o observando. Sem todo aquele personagem para
afastar as pessoas, ele era divertido, bastante sarcástico, mas divertido. Era
mais fácil lidar com ele assim, queria que ele não fosse tão sofrido ao ponto
de ser inacessível.
— Está gostando do que vê, Hope? — perguntou, ainda encarando o
teto.
Exibido!
Em um ato impensado, me pus por cima do Lorenzo, montando
nele. Lorenzo tirou as mãos que antes estavam apoiando a sua cabeça e as
colocou por cima das minhas coxas. Gostava de vê-lo surpreso assim por
alguma ação minha. Sentia que eu o controlava naquele momento, que eu
poderei fazer e pedir o que quisesse que ele aceitaria.
Estava usando as minhas mãos de apoio, as colocando na cama para
que eu não caísse por cima dele. Me aproximei lentamente do seu rosto e
senti seus dedos afundando na carne macia de minhas coxas.
— Está tentando me torturar? — sussurrou, me deixando excitada
com o som grave da sua voz e com o seu olhar cheio de desejo.
Sorri, beijando a sua bochecha, voltando a encará-lo. Lorenzo levou
suas mãos ao meu quadril, apertando para que eu continuasse. Beijei a
lateral do seu pescoço, novamente voltando a encará-lo.
Tirei o apoio de uma das mãos, a levando para o seu rosto,
acariciando, fazendo um percurso até o seu cabelo. Então, num ato que me
era estranho, Lorenzo tirou a mão da minha bunda e aproveitou apenas a
carícia que eu fazia nele. Minha mão permaneceu ali, fazendo cafuné nele.
Ele a segurou rapidamente, beijando a palma. Deitei sobre o seu
peito, repousando a cabeça sobre o seu peitoral, passando a mão por ele.
Lorenzo colocou uma das suas mãos nas minhas costas e a outra em meu
rosto, segurando meu queixo levemente, me fazendo encará-lo novamente.
Ele me levou para mais perto de seu rosto, fitando a minha boca.
Apoiou as mãos nas laterais do meu rosto e sua boca cobriu a minha. O
beijo era diferente, tinha doçura, sentimentos. Lorenzo me virou, ficando
por cima de mim, entre as minhas pernas.
Ele parou de beijar os meus lábios, descendo os beijos para o meu
pescoço, me permitindo respirar um pouco. Ele colocou as mãos no meu
vestido, me ajudando a tirá-lo, o jogando em algum lugar. O ajudei a tirar a
sua blusa, em seguida a sua calça.
Fazia muito tempo que não sentia aquele prazer em ter o Lorenzo
comigo. Ultimamente estávamos apenas transando para que eu logo
engravidasse. Lorenzo desceu a língua entre meus seios, chegando
lentamente até a minha barriga. Segurei na cocha da cama, segurando meu
gemido.
Ele sabia como me deixar louca.
Depois de um longo tempo, quando atingimos o ápice, ele se deitou
ao meu lado. Estava tentando controlar a minha respiração que no momento
quando ele me puxou para mais perto como nunca fez, nos cobrindo com o
cobertor. Não nego que eu estranhei, mas não me importei.
O caminho até chegar em casa seria longo, mas pelo menos não
estamos discutindo.

O jatinho já havia pousado e estávamos desembarcando. Lorenzo


vinha atrás de mim arrastando a minha mala.
— Bom dia, Sr. Ferraro! — disse um senhor ao Lorenzo quando
estávamos entrando no carro. — A quanto tempo!
— Bom dia! — Lorenzo segurou na sua mão e eu notei que ele era
uma pessoa de fora da máfia só pela cordialidade.
— Faz tempo que eu não vejo você e a sua família — comentou o
senhor.
Ainda estávamos na pista de pouso, o barulho me incomodava e eu
só queria ir logo para casa.
— Muitos negócios, é difícil conciliar — respondeu Lorenzo.
— A propósito, sinto muito pela sua filha, soube que ela morreu.
Como não nos vimos antes, não tinha como entrar em contato com você
para desejar os meus pêsames — falou. Lorenzo travou o maxilar,
realmente não querendo tocar naquele assunto. — Era uma menina muito
carismática, infelizmente isso acontece mesmo, temos que ser sempre
atentos com as nossas crianças.
Olhei para o Lorenzo e o olhar vago estava de volta ao seu rosto.
Deve ser difícil escutar as pessoas falando e o culpando, fora as lembranças
vindo à tona.
— Vamos, senhor? — disse Red.
— Sim — disse Lorenzo entrando no carro sem se despedir.
— Foi um prazer conhecê-lo. — disse, tentando deixar essa situação
menos caótica.
Estávamos a caminho de casa no carro com Thony, todos em total
silêncio. Me peguei lembrando do que o Lorenzo estava falando ontem,
sobre o mundo não desaparecer quando fechamos os olhos. Quantos
traumas ele tem para que não consiga nem fechar os olhos e dormir?
Lembrei de uma frase que escutei e ela me veio na mente aquele
momento quando olhava o Lorenzo daquele jeito.
— Pessoas cansadas se deitam e dormem, pessoas tristes apenas
deitam. Há uma diferença entre estar cansado do dia e estar cansado da vida
— sussurrei, enquanto olhava pela janela.
Lorenzo se mexeu do meu lado e eu o encarei. Pensei alto demais
sem perceber e Lorenzo prestou atenção em cada palavra dita por mim. Ele
me olhou e virou para encarar a janela, incomodado com o que eu disse,
mas não falei por mal. Lorenzo tinha um lado bom, um que eu não conhecia
muito bem ainda. Quando ele juntava aquele seu sarcasmo, com as
provocações, ele era mais ele, sem toda aquela arrogância, apenas para
brincar comigo.
— Desculpa se eu te magoei — disse.
— Fique na sua e cuide da sua vida, eu não lembro de ter pedido a
sua opinião — falou, agora soando bem mais arrogante do que das outras
vezes.
É uma droga quando você se acostuma rápido com a mudança da
pessoa e ela volta a ser como era, você não sabe mais lidar. Por isso
conviver com ele era difícil. Uma hora era proteção e cuidado, na outra já
era possessividade e arrogância. Ele me confundia e isso era muito ruim. Eu
sempre acho que ele vai ser mais fácil de lidar e quando eu vou ver, ele já se
torna o ogro que sempre foi.
— Lorenzo...
— Que porra você quer agora, Hope? — perguntou. Ele realmente
estava mal pelas palavras que eu disse agora há pouco, então a ferida ainda
doía, porque se não doesse, ele não estava tão na defensiva assim.
— Não seja legal comigo — falei.
— Quê? — estranhou.
— Se for para ser grosso e ríspido, seja só isso. Estou acostumada a
lidar com arrogâncias desde quando morava com o meu pai, digo porque,
quando você me trata bem, eu me sinto diferente. Você está me confundindo
e eu sei que eu estou baixando a minha guarda, porque você às vezes me
trata bem e eu acho, por um milésimo de segundo, que podemos ser amigos.
Então não me trate bem, se depois for se arrepender e vai me tratar da
forma que está me tratando agora — disse o encarando. — Não falei para te
magoar e sei que você ficou mal depois de ter visto o senhor de agora há
pouco, mas não precisa descontar em mim.
— Chegamos, senhor! — disse Thony.
Dei graças a Deus em não ter que escutar a sua resposta. Eu não
havia pensado antes de falar, mas era melhor assim. Era bom deixar as
coisas claras. Saí do carro e caminhei para dentro da mansão.
— Você espera que eu fique calado ao escutar aquilo no carro? —
perguntou, segurando o meu braço, me impedindo de entrar em casa.
— Lorenzo... — Antes que eu falasse algo, Dona Telma saiu de
dentro da casa.
— Finalmente chegaram! — falou, nos recebendo com um enorme
sorriso.
Ele soltou o meu braço, caminhando até o rifugio.
— Aconteceu algo? — estranhou minha sogra.
Logo a Emma e a Giulia apareceram atrás dela. Pedi para que elas
me seguissem. Encontrei com a Lucy no caminho e fomos todas para a
cozinha.
— E foi isso — disse, contanto tudo o que aconteceu da viagem
para cá.
— Você acha que está grávida? — perguntou Lucy.
— Na verdade, não — disse. — Eu tenho total certeza que é só um
mal-estar devido a minha alimentação desregulada.
— Nem acredito que usou o que eu havia falado — disse minha
sogra rindo.
— Então era tudo fingimento? — perguntou Lucy a encarando.
Lembrei que a Lucy e a Dona Telma se conheciam há bastante
tempo.
— Nem sempre — respondeu. — Passei para a Giulia e para a
Emma quando se casaram e agora para a Hope. Devemos nos cuidar de
qualquer forma.
— Apesar do Lorenzo ser o mais calmo dos irmãos, o problema são
seus surtos, isso o faz se tornar o pior — falou Emma.
— Vamos pensar logo no evento de hoje à noite, antes que chegue a
hora de sair e a gente não planejou nada — disse, querendo mudar o assunto
da conversa.

Estava me arrumando para o evento, me sentindo mais nervosa do


que eu gostaria. As meninas já haviam ido embora para se arrumar também.
Dona Telma que escolheu o meu vestido, ela disse que um grande amigo
seu foi quem o fez.
Estava pronta para sair do quarto, quando o Lorenzo chegou.
— Vamos terminar a nossa conversa? — falou na porta do quarto,
me impedindo de sair
— Eu vou me atrasar, Lorenzo — disse.
— Estou pouco me fodendo com isso, Hope — falou, se
aproximando de mim. — Não é assim que você quer ser tratada?
— Você entendeu o que eu quis dizer — falei, o encarando, sem
desviar o olhar.
— Hope, eu não digo o que você tem que fazer e quando eu falo é
sempre para a sua segurança. Não me meto na sua vida e nem toco nos seus
assuntos delicados, os que eu sei que você passou no passado, então não se
meta nos meus assuntos também — declarou.
Não fiz por mal, nem sei como ele me ouviu.
— Lorenzo, o que eu disse no carro sobre você me tratar bem
quando te convém e quando você não me trata da mesma forma, eu sinto
falta, pois prefiro ser tratada dessa forma. Isso está me deixando louca,
porque estou pisando em cascas de ovos com você. Não sei quando terá um
surto de fúria ou me machucar. Eu sempre acho que podemos, pelo menos,
ter uma vida saudável juntos. Que apesar de nós dois não nos amarmos que
poderíamos, pelo menos, ter um pouco de paz. Isso está me confundindo,
porque eu estou baixando a minha guarda e deixando você entrar aos
poucos. Talvez porque eu seja tão estúpida e me esqueça do você já fez
comigo — disse. — Me desculpe pelo que eu disse, pode ter certeza que eu
não vou mais me meter nisso.
— Você sabia como eu era quando disse o sim. Você pode ter se
casado por interesse de tirar a sua mãe de perto do seu pai, mas não se
casou desavisada sobre mim, porque eu te avisei quando fui informar que
eu te escolhi. Então fique com as suas decepções para si e guarde em
qualquer lugar nessa sua cabeça. Você fica na sua e eu fico na minha,
entendeu?
— Entendi perfeitamente — disse.
— A propósito, saiu o seu exame — falou, afastando-se de mim,
colocando o envelope em cima da mesa.
— O que deu? — perguntei e ele olhou para o envelope para que eu
mesma olhasse.
Me aproximei, lendo o papel nas minhas mãos. O não reagente me
deixou surpresa. Não sabia o que sentir naquele momento.
— Vá, antes que se atrase — falou, entrando no banheiro.
Saí do quarto rapidamente, indo me encontrar com o Thony que já
me esperava no carro. O caminho para o evento foi em total silêncio e
bastante demorado, já que o Thony pegou um caminho diferente para caso
tivesse algum inimigo na rodovia.
— Finalmente! — disse Emma. — Por que se atrasou?
— Lorenzo quis conversar — falei.
— Está tudo bem? Está um pouco abatida — perguntou Dona
Telma.
— Ainda enjoada — disse. — E o teste deu negativo.
As meninas vieram me abraçar e eu fiquei estática, as encarando
sem entender.
— Está tudo bem! — disse Emma. — Uma hora ou outra você
estará grávida e vai se livrar das cobranças.
— Não se abata pelos comentários dos outros, foi difícil para mim e
imagino como está sendo para você, já que é esposa do Capo — disse
Giulia.
Se eu não era cobrada por nenhum dos líderes, eles cobravam o
Lorenzo e creio que por isso que ele vive de mau-humor. Eu só tinha que
lidar com essa pressão de engravidar logo.
— É melhor irmos nos sentar — disse.
Fui apresentada ao prefeito, conversamos um pouco, mas sentia seu
olhar sempre no meu decote. Ele sequer prestava atenção no que eu dizia,
então me peguei repetindo as mesmas coisas muitas vezes.
Subi no palco e anunciei os eventos que aconteceriam no mês e
como seria os eventos beneficentes em alguns lugares. Dona Telma e as
meninas me ajudaram muito. Dei algumas entrevistas para a mídia e tudo
ocorreu perfeitamente bem, até achei que ia desmaiar de tão nervosa que eu
estava. Foi bem mais rápido do que eu imaginava que seria.
Assim que eu cheguei em casa, fui logo trocar de roupa. Botei uma
camisola e amarrei o cabelo em um coque e desci. Caminhei para a cozinha
para fazer um chá devido o meu enjoo e a dor que eu ainda sentia na
barriga. Assim que me aproximei da cozinha, para a minha surpresa,
Lorenzo estava lá, mas não sozinho, acompanhado de Bianca.
Um desconforto bateu em mim. Não estava com ciúmes, mas a falta
de respeito me deixava brava. Ignorei a presença deles, como se não tivesse
os visto.
Lorenzo estava encostado no balcão, fuzilando a Bianca com o olhar
para que ela terminasse logo de comer. Coloquei a água no fogo, fui atrás
da minha xícara e do chá que estava no armário. Fiquei parada, encostada
na ponta do balcão, esperando a água ferver.
— O que está fazendo? — perguntou Lorenzo.
— Chá — respondi, voltando a minha atenção para o bule a minha
frente.
— Oi, lembra de mim? — perguntou Bianca se aproximando de
mim.
— Oi!
— Saia daí, Bianca! — ordenou Lorenzo.
— Só estou sendo amigável com ela — disse Bianca sorrindo
sorrateiramente para mim sem obter nenhuma resposta minha. — Que mal-
amada! — sussurrou.
— Você come na cozinha como se fosse uma funcionária, nem a
Lucy come aqui escondida. Lorenzo fica pastorando o que você faz para se
livrar logo de você e que eu sou a mal-amada? — indaguei.
— Estava sendo educada, já que nos veremos muito por aqui.
Lorenzo está me procurando porque você não está dando prazer a ele —
disse Bianca.
— BIANCA! — Lorenzo gritou, a puxando pelo braço.
Não me mostrei afetada, a ignorei, tirando minha água do fogo e
colocando na xícara. Peguei meu chá e quando ia sair da cozinha, parei para
encará-la.
— Lorenzo não casou comigo para ter prazer, e sim, para lhe dá um
herdeiro. Se fosse por prazer, você seria a esposa, não acha? — retruquei.
Sabia que ela estava incomodada de não ter sido uma das pretendentes. —
Foi o que eu pensei, boa noite!
Subi para o quarto, me sentando na cama para tomar o meu chá e me
deitar. Estava triste, não pelo o que a Bianca havia me dito, mas do teste ter
dado negativo. Com certeza vão infernizar o Lorenzo, então ele vai encher
o saco pelas cobranças.
Apesar de não estar esperançosa quanto a isso, imaginar uma
criança nascer de mim... deveria ser maravilhoso. Amar alguém acima de si
era surreal. Respirei fundo, ao menos acalmava meu coração saber que
amanhã veria a minha família, já que era terça-feira.
Terminei de tomar o meu chá e me deitei. Minha cabeça estava uma
bagunça de pensamentos, essa noite seria um inferno para dormir.
Pela manhã, estava terminando de me arrumar para ir para casa da
minha mãe.
— Red está lhe chamando lá embaixo — disse Lucy entrando no
quarto.
Ela ainda parecia meio triste pelo resultado negativo do meu exame.
Lorenzo apareceu no meio da noite, apenas tomou banho e ficou
sentado na varanda até amanhecer. Eu sei disso porque não consegui
dormir, então fiquei praticamente a noite toda o observando lá fora, com
uma garrafa de bebida, olhando para o nada.
Se o meu casamento for igual ao casamento dele com a Alessandra,
com ele se livrando de mim após a gravidez, vou adorar, essas mudanças de
humor do Lorenzo são de me deixar louca.
— Estou descendo — avisei.
Ela não estava muito para conversa, então eu achei melhor. Desci,
estranhando o Red me chamar.
— Oi, estava atrás de mim? — pergunto.
— Hoje começam as suas aulas de defesa pessoal — falou.
Hoje?
O Lorenzo é muito esperto, sinceramente, usar justamente o dia que
eu vou para casa da minha mãe em uma forma de não me fazer inventar
alguma desculpa para não comparecer às essas aulas, é ardiloso.
— Acho que ainda estou enjoada — menti.
— Está nítido que tenta me enganar — disse Red cruzando os
braços. — Mas o seu marido me deixou ciente das suas artimanhas com os
olhos.
Com os olhos? Do que ele está falando.
Droga!
Red me encarou, mostrando que não ia ceder.
Subi me dando por vencida, indo me trocar.
Entendo os motivos do Lorenzo em me ajudar com essas aulas, mas
tinha que ser hoje? Eu estou tão desmotivada a me exercitar. Desci assim
que me arrumei, já dando de cara com Red me esperando na porta. Saímos
em seguida, andando pela propriedade.
Entramos por uma das portas laterais, me deixando surpresa por ter
isso em casa. Era como um ginásio ou academia, havia equipamentos para
boxe, um tatame no meio, era enorme. Acho que deve ser aqui onde os
seguranças e Lorenzo se exercitam e treinam.
— Vamos começar! — disse Red bem animado, me deixando
apavorada.
— Estou com medo de te machucar com a minha força — ironizei e
ele riu. — Não está me levando a sério?
— O seu tamanho interfere um pouco na visão, não te vejo me
dando uma surra — falou.
— Isso é ofensivo — declaro.
Red riu, jogando a bolsa que estava no chão. Olhava o que tinha ali
dentro, notando ter um pouco de tudo, pesos, ataduras, luvas... Será que é
para mim?
— Primeiro, você vai se alongar, depois vamos correr ao redor do
ginásio — explicou. — Como hoje é a sua primeira aula, começarei apenas
com o básico.
Atividades físicas não eram o meu hobby. Red começou a mostrar
como eu deveria me alongar, enquanto eu repetia as suas ações. Isso até que
era fácil, mas cansativo.
— Já alongada, agora vamos dar cinco voltas pelo tatame — falou.
Achei que seria fácil, nem respondi para não gastar o fôlego. Na
primeira foi até bom, na segunda volta eu queria dar uma pausa de meia
hora, na terceira eu já queria chorar, implorando para parar.
— Três está bom, não é? — indago enquanto ele corria na minha
frente.
— Mais três voltas? Ótimo, gosto é assim! — respondeu eufórico.
— O quê? Não, você me entendeu errado...
Me assustei quando o Red parou de correr, logo mais à frente vi
Lorenzo. A postura que eu estava antes já não era mais mesma. Desde o
teste, eu achei melhor evitar contato com ele. Lorenzo tinha suas ilusões e
obrigações com esse bebê e eu tinha as cobranças. Não nego que ainda
tinha receio de expor até um sorriso com ele por perto.
— Red, organize os seguranças para levarem as cargas — ordenou.
Red saiu e eu ia atrás, quando o Lorenzo ficou na minha frente.
— Ainda terá a sua aula — falou, tirando o paletó, o jogando em
cima da cadeira.
Não estou gostando disso.
— Eu... Eu meio que posso esperar Red retornar — disse, tentando
sair, quando ele novamente ficou na minha frente.
— Faço questão de ajudar a minha esposa — falou, não sei se era
para soar sarcástico ou se realmente ele estava falando sério, mas de
qualquer forma, queria correr dali.
Virei de costas, voltando para o lugar em que estava antes. Lorenzo
subia as mangas da sua camisa enquanto me olhava com um olhar
provocativo. Virei o rosto para o lado, observando o ginásio enquanto ele se
exibia para mim.
— Nervosa? — indagou.
Ele está me provocando?
— NÃO! — disse tão rapidamente que me repreendi por isso. —
Não — Respondi agora mais calmamente.
— Se aproxime mais — falou.
Pensei por alguns segundos, querendo sair o mais rápido possível.
Não que eu achasse que ele iria se aproveitar de mim ou até me bater,
porque se fosse para fazer isso, ele não usaria desculpas, apenas faria. Só
que eu me sentia estranha perto dele, principalmente quando ele estava mais
pacífico do que o normal. Me deixava mais livre e isso era um pouco
assustador para mim.
Ele ainda estava com aquele olhar de decepcionado, igual a todos,
queriam tanto um bebê e isso me causava incômodo.
— Hope? — falou e eu voltei a olhar. — Estou esperando.
Dei alguns passos, parando em seguida.
— Mais perto — falou.
— Está bem! — disse dando mais alguns passos.
Fiquei perto dele, mas não perto o suficiente, já que o seu olhar de
"mais perto" era evidente. Foi quando eu dei mais alguns passos, ficando
frente a frente com ele.
— Já se aqueceu? — indagou.
— Red me colocou para correr — respondi. — Me exercitei e até
me alonguei.
— Então vamos começar — falou.
— Vai pegar pesado? — indaguei. — É que é a minha primeira vez,
tem como ser mais fácil?
— As suas aulas serão três vezes na semana. Pedi que o Red
tentasse encaixar pelo menos 1 hora de aula — contou. — Como você
demonstra nos seus olhos a sua empolgação com as aulas, me permite
colocar uma delas nas terças. Assim quando for para a sua mãe, estará mais
disposta.
O seu tom de deboche era nítido. Resolvi ignorar a sua falta de fé
em mim.
— Vejamos... — falou, respirando fundo como se fosse difícil me
explicar. — Em um ataque, devemos ter em mente um ou vários inimigos.
Não tem como sabermos, pode parecer que tem apenas um e quando você
tenta fugir logo aparecem outros. Então o primeiro ponto, o que eu creio
que não seja difícil para você, é observar. Sei que na ação e com a
adrenalina correndo solta pensar e ter calma é impossível, mas se quer se
salvar é necessário. Você não tem força, não tem experiência, por isso
tantos seguranças rodam a casa. Com isso, veja o que você pode usar para
se salvar, porque se usar a sua força com um homem de 2 metros que pesa
110 kilos, irá perder rapidamente. Então como se salvar de um inimigo
desses?
— Ver o que posso usar? Uma arma? Me esconder até a ajuda
chegar? — questiono.
— Sim, mas também não se deixar ser capturada, resista o tanto que
puder — falou. — Pode parecer algo besta, mas isso pode salvar a sua vida.
Ter atenção e calma vale muito mais do que força.
Lorenzo começou a gesticular mais com as mãos e isso me chamava
atenção nele. Via que ele era muito expressivo as vezes. Ele gostava de se
expressar com gestos. Colocava a mão no braço, apontava as vezes para o
corpo, mostrando meios de atingir o oponente.
— Então? — indagou.
Droga, tempo demais aqui de novo, Hope.
— Correr o tanto que eu puder? — disse a primeira coisa que veio
na minha mente.
— Isso! — falou e eu respirei aliviada. — Quando se observa, você
vê meios de fugir. Essa é a sua primeira aula. Depois você vai começar com
defesa pessoal, uso de armas, mas aos poucos para que você consiga
entender.
— Certo!
Lorenzo novamente começou a explicar, passando a mão algumas
vezes no cabelo, as levando para o bolso em seguida.
Ele tinha aquele ar de superioridade. Ficava surpresa como ele
conseguia ser tão bonito até explicando. Se não fossemos tão diferentes e
ele não fosse tão rabugento, diria que isso é bem atraente nele.
— Então? — indagou novamente.
— Isso! — falei sorrindo.
— O que eu disse?
— Das aulas — respondo.
— Você na maioria das vezes se perde dentro da sua cabeça. Desde
que eu comecei a falar, uso as mãos e o cabelo para te distrair e você caiu
em todas as vezes — falou.
Era um teste?
— Bem...
— Você não pode se distrair, Hope. Mantenha o foco!
Eu tinha essa mania... Droga, já estou aqui de novo.
— Entendido! — disse.
— Com base no que eu te expliquei... — Ele me explicou? Céus! —
Vamos começar!
Lorenzo segurou no meu pulso sem aviso, apertando não com força,
mas a ponto de incomodar. Virou o meu braço para trás das minhas costas,
o deixando em um ângulo um pouco acima do meu cotovelo.
— Está doendo! — disse de imediato.
O que eu faço? Ele me mostrou? Eu não sei sair daqui.
Ele afrouxou um pouco, deixando menos dolorido.
— Tente sair — falou.
Tentei fazer o que achava que deveria, mas com a força dele e o seu
tamanho era até vergonhoso o meu esforço.
— Você poderia fingir que está te machucando? Estou em sentindo
um pouco ofendida — murmurei em ver que ele seque saiu do lugar.
— É só fazer com força como eu te disse.
Essa era a minha força, ele não estava notando?
— Talvez eu possa ser mais frágil do que você imaginaria —
comentei.
— Mas quem for te atacar não, então tente sair — falou não dando
muita atenção. — Faltam 50 segundos.
— Lorenzo... — choraminguei, tentando sair dali, mas não dava
certo. — Eu não sei o que fazer.
— Você sabe, eu acabei de te ensinar.
— Você tem mais força, eu não sei fazer do jeito que me ensinou —
disse.
Eu sei lá como ele me ensinou. Ele não respondeu, me deixando
mais brava pelo seu silêncio.
— É só me soltar um pouco mais que eu consigo. — disse e ele me
ignorou, olhando para o relógio quando eu virei o meu rosto para ver o que
ele tanto fazia que não me respondia.
— 25 segundos.
— Você... — disse tentando puxar o meu braço, pisar no seu pé,
bater com a cabeça no seu rosto, mas ele se esquivava de tudo.
— 10 segundos.
Foi quando eu me joguei para trás com tanta força e senti algo na
lateral da sua cintura. Com a mão livre, rapidamente segurei na faca e a
apontei para o seu pescoço.
— Estava pensando em quando notaria ela ali — falou me soltando.
— O que eu te disse?
— Usar a minha força contra o inimigo? — disse e ele me olhou
sério. — Observar?
— Estar mais atenta ao redor, o que você pode usar — falou. — Em
um ataque, como vai cuidar de tantos assim se você não sabe agir sobre
pressão? Tem que ser rápida o suficiente para pensar em algo para se salvar.
Só o olhei já exausta com esse primeiro exercício.
— Podemos ter pausa para descanso? — pergunto.
— Hope, começamos não tem 5 minutos — falou.
Eu me sentia humilhada, para mim eram muito mais do que simples
5 minutos. Isso era quase uma tentativa de homicídio.
— Eu não ia pedir agora. — Ia sim. — Era só para saber se teria
mesmo.
— Só teremos 1 hora de aula, creio que não seja necessário. Quando
Red estiver disponível novamente, penso se aumento.
Eu quis chorar naquele momento.
— Parece feliz — disse Lorenzo em um tom sarcástico. — É nítido
nos seus olhos que está agradecida.
— Estou sim... — Suspirei. — Nem imagina o quanto.
Lorenzo se aproximou de mim, me fazendo encostar na coluna de
ferro com a sua aproximação.
— Poderia ser mais flexível se me agradasse — falou.
Geralmente eu fugia das investidas do Lorenzo, mas nesse momento
ela veio como uma benção para mim, porque quando mais ele enrolasse,
mais o tempo passaria. Nada contra meu professor nesse momento, ele
explica bem, só que nesse momento eu prefiro Red. O meu silêncio foi
resposta para que ele colocasse sua mão no meu rosto, passando levemente
os dedos pela minha bochecha.
— Esse é o momento que entramos em um acordo — sussurrou
próximo do meu ouvido.
— O que quer? — indaguei bem sonsa, eu sabia o que ele queria,
mas era bom enrolar conversa.
— Você sabe, ruiva — falou.
— Poderia ser mais claro, eu talvez não saiba — disse.
Lorenzo se aproximou ainda mais do meu rosto, tocando os meus
lábios com os seus, depositando um beijo, mordiscando levemente o meu
lábio inferior. Eu o olhei nos olhos. Ele agia com devoção, quase como se
estivesse fissurado.
— Vamos voltar a aula — falou.
— Você disse que seria flexível.
— Eu fui, fingindo cair nessa sua demora para me responder para
passar o tempo mais rápido — respondeu. — Que feio, Hope, tentou me
enganar?
— Não tecnicamente — respondi escutando o seu suspiro.
Ele estava mais acessível, era óbvio, agora o porquê eu não sei.
— Então...
— Senhor, o Sr. Carbone está ligando — disse um segurança se
aproximando de nós.
Lorenzo me olhou, mostrando que estava me liberando. Nem esperei
e corri para fora do ginásio. Como eu vou sobreviver essas aulas? Andei
pela propriedade, voltando para casa. Olhei para trás, observando Lorenzo
já bem mal-humorado. Será que aconteceu algo?
— Já voltou tão cedo — disse Lucy assim que entrei em casa.
— Red precisou resolver algo para o Lorenzo — falei. — Vou me
arrumar, hoje vou para casa da minha mãe.
Subi apressada, temendo algo atrapalhar da minha saída hoje.
Terminei de me arrumar, colocando um vestido cor de cereja, mas sem
decote algum na frente. Ele era bem confortável e simples. Calcei a minha
sandália e desci.
Lorenzo já estava pronto. Ele não havia me chamado, esperava que
não desse para trás na oferta feita de ver a minha família as terças-feiras.
Não é porque agora a pouco ele estava mais acessível, que continue assim.
Ele estava sentado, comendo enquanto olhava o celular.
— Esqueci de perguntar, está melhor, meu bem? — perguntou Lucy.
— Sim.
— Enzo vai dar um almoço na casa da sua mãe, sairemos em 15
minutos — disse Lorenzo a mim, saindo da mesa, atendendo uma ligação.
Terminei de tomar o meu café e fui esperá-lo no carro. Ele estava
mais estranho do que o normal.
O Lorenzo parecia chateado com as minhas palavras de ontem,
mesmo que não tenha dito nada quando me ensinava, ele deixou isso
aparente algumas vezes como agora.
Não demorou para o Lorenzo entrar no carro e Thony dar partida
saindo da propriedade. Chegando na casa de minha mãe, senti parte do peso
sair de mais ombros. Eu me sentia mais livre aqui, já que não precisava
provar minha dignidade de esposa do Capo ali.
Estava com Nandinho nos braços e sorria para a certeza de que ele
puxara a mãe, nunca vi alguém tão carente por atenção igual a Lisa e o
Nando. Eu estava com a Lisa e a minha mãe próximas da mesa no jardim,
conversando e contando como foi o evento da noite passada.
Lorenzo e o Enzo estavam acendendo a churrasqueira, enquanto a
Kitty estava trazendo os seus brinquedos para o jardim para brincar com o
Nando daqui a pouco.
Eu que não quero ver carne tão cedo.
— Estou te achando tão abatida, filha — disse minha mãe com um
semblante preocupado.
— Estou bem, mãe, só comi uma carne na quinta-feira passada que
me fez muito mal — respondi.
— Então por que você e o Lorenzo estão evitando trocar olhares um
com o outro? Está tudo bem mesmo, Hope? Não quero que esteja sofrendo
igual sofria lá em casa — falou.
Comparado a viver com o meu pai, estava vivendo no céu na casa
do Lorenzo.
— Mãe, ele achava que eu estava grávida. Eu estava enjoada por
conta do mal-estar que a carne havia me dado. Lorenzo quer muito ter um
filho e nós estamos bem, mãe — disse.
Não contei todo o resto, mas também não estava mentindo.
— Vai ficar tudo bem! — disse Lisa.
— Imagina, daqui alguns anos, ao invés do Nandinho nos seus
braços, ser seu próprio filho — disse minha mãe entusiasmada.
— Olha, Nando, está escutando isso aí? — disse Lisa a ele.
— Não vou sair do braço da minha titia, vovó — falou Nando.
— Hope! — disse Lorenzo me chamando.
— Sì? — disse, já próximo a ele.
— Peça a sua mãe algum remédio para dor de cabeça — pediu.
— Você está bem? — perguntei notando que ele estava mais pálido
do que o habitual.
Esqueci que estava falando com Lorenzo, certamente ignoraria a
minha pergunta. Quando eu ia sair, ele segurou no meu braço, pegando o
Nandinho nos braços.
Caminhei até a minha mãe, e ela me disse que o remédio estava no
seu quarto, fui pegar e logo desci. Peguei um copo de água e levei para o
Lorenzo.
— Está sentindo mais alguma coisa? — perguntei.
— Não, era só isso mesmo — respondeu depois de tomar o remédio.
— Obrigado!
Peguei o Nandinho e o levei para perto da Kitty. Ela estava tão feliz
com a sua liberdade. Brincava e falava sem medo de nada.
— Este é o Alfredo, Hope — disse Kitty me mostrando o boneco de
pano.
Ela não era muito fã de brinquedos, mas já que o Nando não
entendia muito a conversa dela, ela brincava com ele com o que tinha.
Nando também não era muito de brincar, puxou muito o jeito do Enzo, mais
calado e na dele.
— Ele é lindo, Kitty! — disse, segurando o boneco.
Brinquei um pouco com ela e com Nando, enquanto a Kitty me
contava sobre a escola.
— Hope, pode pegar a faca e a frigideira de brinquedo que está no
meu quarto? Ontem eu estava mostrando para o Nando como a gente
brincava no jardim de casa fazendo comida de terra — pediu Kitty um
pouco nostálgica.
Kitty amava, principalmente quando o meu pai ficava longe por
semanas e a gente podia fazer o que quisesse em casa. Subi, me sentindo
feliz em ver o quarto da Kitty. Toda vez que eu olhava, sentia meu coração
mais calmo. Ela tinha livros, bonecas e tudo que ela gostava espalhados por
ali.
Assim que eu desci para o jardim, Enzo levantou as mãos para cima
assim que me viu.
— Tenho uma péssima lembrança de você com um frigideira em
mãos, Hope — falou.
— Isso é passado, Enzo — disse, lembrando da época que o Enzo e
a Lisa saíam escondidos.
— Passado para você que não foi quase acertada por uma frigideira
na cabeça no meio da noite.
— Quem mandou invadir a minha casa aquele horário, achei que
fosse um ladrão — disse. Com o Dante em casa, quem era louco de entrar?
Os de dentro queriam sair. Minha mãe me entregou o copo de suco, já que
eu ainda não havia comido nada desde que eu cheguei.
— Eu ia ver a Lisa. O pai de vocês me causava raiva, era o único
horário bom para vê-la — respondeu.
— Ver? Sei! — disse minha mãe.
— Eu sei o que ele foi fazer no quarto da Lisa aquele horário da
noite, aprendi na escola isso — disse Kitty encarando os seus brinquedos.
Olhei para a minha mãe e para a Lisa que estavam com um certo
medo de perguntar o que ela achava que era. Apesar da Kitty ter 9 anos, a
gente sabia que ela era muito madura para a sua idade. Sempre tivemos
medo dela não ter mais a inocência de uma criança.
Aqui sugava tudo isso, nos fazendo crescer antes do tempo.
— Kitty, o quê? — perguntou Lisa, tendo coragem de perguntar.
— Parece que vai até desmaiar — zombou Enzo.
— Fica quieto, Enzo, você não entende — disse Lisa.
— Espera, uma reunião rápida agora! — disse minha mãe a nós.
Vivo em uma família dramática.
Nos afastamos de Kitty para que ela não escutasse a nossa conversa.
— Se ela falar de sexo, quem vai explicar? Com certeza ela terá
dúvidas e conhecendo a Kitty, não parará até entender tudo — disse minha
mãe. — Temos que explicar como as patentes funcionam, como os homens
daqui são, não podemos explicar apenas uma coisa porque vai desencadear
para outras perguntas e gerará mais dúvidas nela.
— É óbvio que será a senhora que vai explicar, mãe — disse. — A
senhora que tente explicar algo justamente para a Kitty.
Kitty gostava de questionar, esse é o problema, porque ela
perguntava tudo sem filtrar nada e as perguntas nunca terminavam.
— Lisa, você terá que pensar, Nando vai crescer e você tem que
treinar. Se ela perguntar, você responde — falou minha mãe jogando a
responsabilidade para a Lisa.
— Eu não, a filha é sua.
— Se ela tiver dúvidas, procurará saber com outras pessoas, ou pior,
na internet. Ela é criança, devemos conversar com ela, já que está
crescendo. E vai ser... — Minha mãe olhava para mim e para Lisa
escolhendo alguém. — A Hope!
Me empurrou para mais perto da Kitty agora, me impossibilitando
de fugir.
— Mãe... — choraminguei. Me dei por vencida, me sentando ao
lado da Kitty. — Você sabe o que é?
— Sim, ia pedir a Lisa em casamento parar tirá-la das garras do
nosso pai — falou.
— Graças a Deus! — disse, terminando de beber o meu suco, já que
a garganta estava seca pelo nervosismo. — Isso é pior que um teste
psicológico.
— Vocês achavam que era sobre o quê? Sexo?
Cuspi o suco, sabendo que ia sobrar para mim explicar tudo, ainda
mais sobre a máfia.
— Mãe, eu não consigo! — disse me levantando, indo abraçar Lisa.
— Vocês estão fazendo um grande alvoroço para nada — falou
Enzo rindo.
— Enzo, isso é diferente. Você é homem e tem a vantagem disso
aqui na máfia. Como mulheres, seguimos regras e se a Kitty não souber e
tiver curiosidade, qualquer homem a ganhará só na lábia, principalmente
aqui. Não é só porque o nosso pai não está mais aqui, que não seguimos as
nossas leis — disse Lisa.
Lorenzo se afastou de perto do Enzo, caminhando para perto da
Kitty, sentando-se ao seu lado no chão.
— Tem alguma dúvida sobre o que disse? — perguntou a ela.
— Sexo? — Perguntou e ele assentiu. — A minha professora não
disse muita coisa, mas o meu pai disse que ninguém poderia me tocar até eu
casar. Por quê? Qualquer pessoa toca em mim. — Fez o gesto de alguém
tocando em seu braço. — Por que só no casamento?
Kitty não havia entendido o que o meu pai havia falado. Ela era
ingênua para saber que não era aquele tipo de toque.
— Você é jovem, aprenderá isso quando atingir a maior idade. Deve
conhecer as leis, não é?
— Eu só posso me casar depois dos 18 anos — respondeu Kitty.
— Sabe o por quê disso? — perguntou e ela negou. — Todos nós
aqui temos uma patente, cada um trabalha e conquista a patente que tem
com o esforço para a melhoria da máfia. Algumas patentes requerem mais
regras do que as outras. Há muitos anos quando a nossa máfia foi fundada
por homens, a maioria queria ter o comando de tudo, até das suas esposas.
Com isso, em determinadas patentes tem um ponto sobre isso, no caso, a
sua, que é a patente baixa. Está conseguindo acompanhar?
— Sim! — Assentiu Kitty, prestando atenção em tudo que o
Lorenzo falava.
— Vou tentar te explicar melhor — disse Lorenzo a ela. — Um
exemplo, eu tenho um grande negócio, já tenho nome no mercado, sendo
reconhecido por todos, ganho fortunas com o meu negócio e em um
momento da minha vida quero que a minha empresa cresça mais. A sua
irmã quer se aliar a mim com a empresa dela, só que a empresa da sua irmã
não ganha muito dinheiro, não tem um reconhecimento, totalmente o
contrário da minha empresa. Quem você acha que ganharia mais com a
união das empresas?
— A da minha irmã — falou.
— Isso, então dizer para pessoas com patentes altas que poderiam se
casar com alguém da sua patente, não era vantajoso, então não haveria
crescimento entre as famiglias e quem era de uma patente baixa, pelo pouco
recurso e pela falta de reconhecimento, nunca cresceria na máfia ou teria a
confiança das pessoas — falou. — Por isso que em determinadas patentes,
precisa que a mulher esteja intocada, para que com isso o homem que vai se
casar com ela tenha em mente que ela é dele para sempre e que, de alguma
forma, sinta benefício nessa união, claro que não é só isso, mas é um dos
pontos mais tocados. Como eu te disse, isso foi criado há muitos anos, hoje
em dia você consegue ver que a importância agora do casamento não é mais
essa, agora é só em gerar filhos. Porém, como vivemos com leis, assim
como as pessoas de fora da máfia vivem, temos que ter para que isso não
vire uma bagunça.
— Então as esposas tinham que ser como os maridos queriam, não
é? Por isso que hoje mudou? — perguntou Kitty.
— Exatamente! — disse Lorenzo. — Hoje ainda tem isso, mas é em
poucos casos, agora o importante é gerar herdeiros, então para alguns
homens isso não é importante. Quando eu me casei com a sua irmã, eu não
me importei, porque nós dois tínhamos uma missão aqui dentro. Com base
nisso, você sabe o que diferencia você do Nando, ou melhor, de um
homem? — perguntou Lorenzo.
Ele estava conseguindo desenrolar a conversa muito bem.
— Sim, eu tenho a minha florzinha e ninguém pode tocar lá, não é?
— Gosto do seu pensamento, pense assim por toda a vida —
brinquei. Lorenzo me deu um sorriso, um sorriso muito bonito por sinal. —
Estou apenas incentivando, continue.
— Isso — disse Lorenzo a ela. — Você é uma criança, é normal ter
curiosidades. Já sabe de onde vem os bebês? — Ela assentiu, explicando a
aula de ciências que teve sobre como uma mulher engravida. Ela realmente
deu uma aula, fiquei pasma. — Então tenha em mente que cada pessoa aqui
tem uma patente diferente e seguem regras contrárias das outras, porém
estamos tentando deixar esse lugar mais igualitário para todos os membros.
Agora reformulando, você vai se entregar a um homem virgem, se a sua
patente continuar sendo essa, porém, não é permitido na nossa máfia forçar
que isso aconteça. Se no dia do seu casamento o seu marido te forçar, isso é
proibido, tenha em mente que apesar de tudo, temos leis. Tocando nesse
assunto, as partes proibidas no seu corpo, ninguém pode tocar sem o seu
consentimento e se tocar, tem que ser repassado a nós da liderança. Se não
tiver coragem, avise a sua mãe ou a suas irmãs, que elas nos avisam. Sabe
quais são as partes proibidas além da sua florzinha?
Lorenzo estava nos ajudando bem mais do que imagina, uma pena
que ele não sabe as barbaridades que acontece pelas encolhas.
— Meus peitos? — Ele assentiu. — Meu bumbum? — Lorenzo
assentiu de novo. — E a minha boca.
Nós já tivemos essa conversa com a Kitty, principalmente por causa
do tio Marco. Lorenzo se dava tão bem conversando com crianças, que meu
medo dele não ser um bom pai sumiu. Ele parece ser competente para o
cargo, mais do que eu no caso.
Ele explicou algumas coisas para ela e disse se tivesse dúvida,
perguntasse para ele. Sentamos na mesa para comer e ainda estava
fascinada com o desenrolar dele para tirar a dúvida dela.
— Aprende com ele, Enzo — disse Lisa. — Quando o Nando
perguntar, será você que explicará. É capaz de eu morrer de vergonha.
No nosso caso, ninguém nos explicou. Nosso pai deixou muito a
desejar nesse aspecto e a minha mãe não poderia nos informar sobre
algumas coisas relacionadas a isso, já que o meu pai não permitia isso para
não nos incentivar a ir atrás antes do tempo. Também indo para uma escola
da própria máfia não ajudou muito. As nossas aulas eram diferentes das
aulas dos meninos. Era nos tirado alguns conteúdos para que não
ficássemos muito espertas. Aqui mulheres inteligentes não eram bem-vista.
Começariam a querer ganhar o mesmo salário de um homem, opinariam no
que não queriam, não seriam dependentes de homem algum. Se a mulher
não é criada para ser submissa, quando se casar, vai querer mandar no
marido. Por isso que para nós é mais difícil falar sobre qualquer coisa, já
que nos foi privado tal conhecimento.
Sentamos na mesma para o almoço, já que a conversa com a Kitty já
havia terminado.
— Coma outra coisa — disse Lorenzo no meu ouvido, apontando
para a carne. — Não pretendo passar por mais um perrengue com você
vomitando em todo canto.
— Tudo bem!
O almoço foi super tranquilo. Me despedi da minha família e segui
para a minha casa. No carro, o silêncio não parecia ter fim, até eu querer
quebrá-lo. Lorenzo estava com a mão na cabeça, como se ainda estivesse
sentindo muita dor.
— Está com dor? — perguntei.
— Não! — mentiu, ele parecia pior, mas como é orgulhoso, não
daria o braço a torcer. — Thony, não irei para boate, nos leve para casa.
Chegamos em casa e Lorenzo foi direto para o quarto. Fiquei um
pouco com a Lucy na cozinha, mas logo subi. Lorenzo estava deitado na
cama, suando muito, enrolado com a coberta. Me aproximei dele, parecia
que estava dormindo, mas convivendo com ele, sei que não estava. Toquei
na sua testa e ele estava ardendo em febre.
— O que está fazendo? — falou, segurando a minha mão.
Ele achou aquilo estranho. Sério que ele nunca foi cuidado assim?
— Está com febre, já tomou algum remédio? — perguntei.
— Não — respondeu, se virando de costas.
O ignorei, indo até o banheiro atrás de um pano, o molhando com
água da pia. Voltei para onde Lorenzo se encontrava, colocando o pano na
sua testa.
— Eu estou bem — falou, tirando o tecido úmido do lugar. Com
paciência, coloquei de volta.
— Deixe de birra, não estou fazendo nada — disse. — Parece uma
criança, credo!
— Não pedi a sua ajuda — falou, tirando a toalha novamente.
— Quer saber? Fique aí queimando de febre. Só pensei em te ajudar,
já que me ajudou com a minha irmã hoje cedo. Como você mesmo disse, o
meu bom coração vai acabar me matando um dia — disse, indo para o
banheiro.
Não estava pedindo para ele me amar ou me dar uma mansão. Não
sei para que tanta birra, era só um pano. Bem capaz dele não querer se
mostrar vulnerável do jeito que é orgulhoso. E o meu pai achando que o
Capo era de ferro.
— Estava sendo legal, mesmo sem esse cretino merecer. — disse
baixo, enquanto limpava as gotas de água que caíram no chão quando eu fui
levar o pano. — “Cuide da sua vida!”, “Eu não pedi a sua ajuda!”, só sabe
dizer isso? “Obrigada, Hope, por mesmo eu sendo um babaca com você,
está querendo cuidar de mim, como uma boa esposa que lhe foi ensinada”.
Não, não pode nem ao menos me elogiar, só sabe elogiar a minha bunda.
Elogiar que eu sou uma boa esposa, ah, não, é difícil demais para um Capo.
— Sentei no chão, me encostando na parede. — Vou acabar enlouquecendo
de tanto falar sozinha.
— Cansou de falar? — perguntou Lorenzo encostado na porta de
braços cruzados.
— Santo Cristo! — gritei com o susto que eu levei, senti até meu
coração falhar por alguns segundos. — O quanto você escutou?
— O bastante — respondeu. Isso não me acalmava muito. — Peça
um remédio para dor de cabeça a Lucy, por favor!
— Ah, certo! — disse logo me levantei do chão, passando por ele.
Era melhor sair, vai que ele queria conversar sobre o que eu disse agora há
pouco.
Corri até a cozinha atrás da Lucy, que logo foi atrás do remédio.
Subi com o remédio em mãos, notando que Lorenzo já estava deitado de
novo. Lhe entreguei o copo de água, com o remédio.
— Obrigado! — falou, já se deitando de novo.
Sorri pelo fato dele ter agradecido. Voltei para a cozinha e fiquei um
pouco lá embaixo ajudando a Lucy no jantar. Quando subi para ver como o
Lorenzo estava, me aproximei silenciosamente dele.
— Consigo escutar a sua respiração — falou.
É impossível. Esse homem não dorme mesmo? Estou ficando
preocupada.
— Só vim ver se estava bem.
— Tire as suas próprias conclusões — falou, fazendo menção para
olhar todo o seu corpo.
— Está péssimo! — disse. Lorenzo bebe demais, dorme de menos e
não cuida da sua saúde, nada é favorável a ele. — Sem querer me meter na
sua vida, eu posso fazer uma sopa se quiser, já que não comeu nada o dia
todo.
Eu realmente estava grata pelo que ele fez mais cedo. Ele não
precisava nos ajudar com aquilo e mesmo assim esclareceu todas as dúvidas
que a minha irmã tinha. Eu sei que ele sofre pela filha e ver uma criança
deve doer nele.
— Faça como que quiser — falou, como sempre orgulhoso demais
para pedir.
É um sim?
— Certo!
Lucy me ajudou com a sopa e eu fiz um suco bem forte de laranja
com limão e própolis para ajudar a aumentar a sua imunidade. Coloquei ao
seu lado e fui tomar banho. Conhecendo Lorenzo, ele seria indiferente ou
não comeria mais, só para me estressar.
Já no chuveiro, a água levava todo o meu cansaço do dia embora.
Até que a porta do box foi aberta e Lorenzo entrou totalmente nu no
chuveiro.
— Você comeu? — perguntei e ele me ignorou. — A sopa estava
quente, Lorenzo. Se tiver comido vai fazer mal tomar banho agora.
— Não comi, só vim tomar banho — falou.
Enquanto ele estava no chuveiro, eu lavava o meu corpo com o
sabonete. Estava um pouco desconfortável, já que o Lorenzo não tirava os
olhos de mim.
— Fique mais um pouco debaixo do chuveiro, sua febre vai
diminuir — disse o empurrando para a água de novo.
— Está muito mandona hoje, Hope.
— Eu não estou não, fique aí embaixo e não saia — disse.
Lorenzo obedeceu, depois eu me lavei e saí do box. Nos trocamos e
achei estranho ver o Lorenzo com um shortinho de dormir. Ele nunca
dormia no quarto, sempre usava as calças moletom para “dormir”. Lorenzo
foi para o canto, onde tinha uma prateleira de bebidas.
— Você está pior que uma criança — disse o afastando de lá.
— Não preciso de ninguém para cuidar de mim, Hope.
— É, dá para ver — disse. — Se vai ficar bravo, fique amanhã, mas
se cuida, você doente não cuidará de ninguém da famiglia.
Finalmente se rendeu e se sentou para comer a sopa. Assim que
terminou, foi tomar um gole do suco e fez careta.
— Que porra tem aqui dentro?
— Laranja com limão e própolis, ajuda com a sua imunidade. Não é
querendo cuidar da sua vida, mas você não tem uma alimentação regular,
não dorme, mal come e vive bebendo. — Falei. — E antes que me mande
cuidar da minha vida, eu não tenho uma esqueceu? Vivo por você, não é
assim a lei?
Lorenzo ficou em silêncio e bebeu o suco todo fazendo careta. Fui
pegar a bandeja da cama, mas ele não deixou.
— Não ganho nada por ter tomado tudo? — perguntou.
O sorriso malicioso estava em seus lábios, nem doente esse homem
para de pensar em sexo.
— Você está doente, talvez lhe dê sua recompensa amanhã — disse
dando um beijo em sua testa.
Sentia que o Lorenzo era carente de atenção e de afeto, não sei se foi
depois da morte da filha ou se sempre ele foi assim, mas sentia a
necessidade de mostrar esse carinho existe, que as pessoas são amáveis,
amorosas, que se importam umas com as outras sem interesse por algo. Ele
parecia desconhecer isso.
Desci com a bandeja e jantei com a Lucy esta noite. Conversamos,
logo limpamos a bagunça que estava na cozinha e eu retornei para o quarto.
Estava sentindo falta de Red. Lorenzo liberou todos os seguranças da casa,
então eu o via poucas vezes ao dia.
Me deitei na cama, esperando o sono vir. O relógio já marcava
23:39h. Ainda não havia tirado nenhum cochilo.
Acho que era falta de costume em ter alguém ao meu lado esse
horário. Lorenzo nunca estava em casa à noite, só pela madrugada.
Jantávamos juntos todos os dias, mas depois disso, saía e só voltava tarde
da noite ou de manhã.
Será que o Lorenzo dorme, mas tem o sono frágil e acorda por tudo?
Só pode ser, não acredito que esse homem não durma. De tanto pensar, foi
eu quem acabou adormecendo.

Já de manhã, Lorenzo havia se levantado pela madrugada e demorou


para vir. Umas 04:45 da manhã, ele apareceu e se deitou de novo. Me
levantei, tomei um banho e, em seguida, coloquei uma roupa.
Lorenzo ainda estava dormindo. Me aproximei para ver se ele ainda
tinha febre.
— Eu estou bem! — falou, antes de eu tocar nele. Lucy disse que
ele ficava assim com frequência. Claro, não se cuidava, como teria boa
saúde?
— Lorenzo, você tem que se cuidar — disse. — Sei que não devo
me meter, mas prefiro você como Capo, do que quem os Juízes e os
Conselheiros irão escolher paga ficar no seu lugar. Se continuar assim, não
vejo você durar muito tempo.
— Está se importando comigo, Hope?
— Entenda da forma que quiser — disse. Ele segurou na minha
mão, me levando até ele. Lorenzo me olhou e eu já tinha ideia do que ele
queira. Me deitei em cima do seu corpo, ainda conversando com ele. — Sei
que na maior parte do tempo a gente não conversa, mas pense no que eu
disse.
Suas mãos, que pensei irem para o meu quadril, ficaram na minha
cintura. Lorenzo era como qualquer pessoa, receber carinho de vez em
quando era bom.
— Sobre ontem à noite... — O interrompi, sabendo que era o
assunto da Bianca aqui.
— Como você mesmo disse, eu me casei com todos os motivos do
mundo, mas não me casei desavisada — disse. — Eu sei como funciona as
regras para mim e para você.
Lorenzo ficou em silêncio, então já notei que não teria mais
conversas entre nós. Quando eu ia me levantar, Lucy chamou na porta. Saí
de cima dele e fui abrir a porta para a Lucy.
— O senhor Diego está lá embaixo com o senhor Leonel — avisou.
O pai e o tio, aí tem coisa. Lorenzo logo fechou a cara e foi trocar de
roupa para descer.
— Eles sempre vêm aqui? — perguntei.
— Lorenzo não anda mais na casa do pai, a única forma do senhor
Diego ver o filho é vindo aqui, já que eles não se dão tão bem — falou.
Fiquei intrigada com o que a Lucy disse. Espero que o motivo da
visita não seja para perguntar por que eu ainda não engravidei. Lorenzo
logo desceu, com o seu mau-humor evidente. Permaneci no quarto
esperando as visitas saírem.
Estava na varanda, quando escutei o carro do Lorenzo saindo e atrás
dele o do seu pai e o do seu tio. Desci para saber o que havia acontecido, já
que a Lucy certamente saberia.
— Lucy? — a chamei, não a encontrando na cozinha. — Lucy?
Ela logo apareceu, vindo na minha direção.
— Minha querida, o babado é forte! — disse. — Mataram um aliado
daqui da máfia noite passada. Pior, invadiram a casa dele. Se conseguiram
driblar os seus seguranças, quer dizer que estão perto de atingir pessoas
mais importantes.
— Meu Deus, Lucy! — disse assustada. — Eles podem nos atacar a
qualquer momento.
— Fica pior, Hope. — Falou, se aproximando de mim. — Sabe
quem era a esposa do cara que morreu? — Perguntou não esperando eu
responder. — Beatrice.
— Não a conheço, Lucy.
— É o amor adolescente do Lorenzo que eu havia te falado. Eles
vão trazer ela aqui para a Itália para protegê-la e interrogá-la. Temos que
tomar mais cuidado do que antes, Hope — falou.
Não sabia que eram tantos os ataques. Agora sabia o porquê de
Lorenzo não confiar em ninguém.
Lorenzo não voltou para casa desde a visita do seu pai. Uma semana
já se passou, estava super preocupada porque ele nunca ficou tanto tempo
fora. Lucy estava bastante apreensiva com os ataques, preocupada com a
nossa segurança na ausência do Lorenzo.
A reunião do clube do livro foi cancelada. Dona Telma me ligou
informando que o Sr. Diego achou melhor cada um ficar em suas casas. Não
fiz a visita a minha família, já que estamos todos presos até tudo se resolver.
— Tenho observado algo tem uns dias — disse Lucy enquanto nós
almoçávamos.
— O quê?
— Tem comido bastante esses dias, Hope. Ontem estava muito feliz
e a tarde com raiva da vida — falou.
— Tenho sentido muita fome, mas em relação a ontem, estava bem
pela manhã, mas ficar presa dentro desta casa me deixa louca — disse.
— Não, Hope, você não está me entendendo. Está tendo mudanças
de humor, comendo muito, ficou com nojo do cheiro do peixe na quarta-
feira passada. O que quer dizer que... — falou, me esperando concluir.
— Não sei, Lucy, que eu estou realmente enlouquecendo?
— Grávida, mulher!
— O quê? Lucy, por favor, não aumente suas expectativas nisso —
falei. — Da última vez foi bastante difícil lidar com a decepção de vocês.
— Faça o teste — insistiu segurando a minha mão. — Minha
querida, às vezes acontece de dar um falso negativo. Uma amiga minha fez
o teste 3 vezes na mesma semana e deu negativo, mas ela sabia que algo
estava acontecendo, pois sua menstruação nunca atrasou. Quando foi na
outra semana ela fez e deu positivo. Hoje ela tem uma filha de 6 anos.
Quando foi a última vez que você e o Lorenzo, você sabe, fizeram sexo?
— Na semana passada, eu acho.
— Faça o teste, peço para alguém comprar agora mesmo. Sua
menstruação está atrasada, não é? Deve ser o bebê a caminho mesmo —
falava Lucy empolgadíssima.
— Lucy, acho melhor esperar um pouco, vai que não é nada. Se
esses sintomas começarem a aparecer com mais força, eu faço. Vamos ficar
com isso só entre nós duas, por favor!
Ela não gostou muito, mas não queria me iludir para dar aquele
enorme “não reagente” de novo. Já era de tarde e não tinha muito o que
fazer aqui. Não podia ir para fora e muito menos ir até a biblioteca para ler,
já que Lorenzo guardava alguns documentos lá.
Meus dias eram assistindo TV com a Lucy e ir dormir. Fui me
deitar, já que ultimamente só vivo cansada e com um sono sem fim. Me
assustei com o som do meu celular tocando, logo olhando no visor o nome
do Lorenzo.
Ele está vivo afinal.
— Sì? — disse assim que atendi a ligação.
— Haverá uma reunião com todos da máfia hoje. Arrume-se e esteja
pronta às 18:00 horas. Mandarei Thony te trazer para o quartel.
— Certo — disse.
— Suzi já deve estar chegando para lhe ajudar. Não saia até o Red ir
lhe buscar em casa — falou. — Não fique próximo das janelas ou converse
com pessoas estranhas no quartel. Fique sempre perto da Lucy e dos
seguranças que eu separei.
— Pode deixar — disse. Quando ele ia desligar, o chamei. —
Lorenzo ...
— Sì?
— Está tudo bem? — perguntei.
Estava preocupada, não só com ele, mas com todos daqui. Se a
reunião era para todos, todos se tornaram alvos. Temo por mim e pela a
famiglia em si.
— Tudo vai voltar a ser como antes, não deixarei que machuquem a
minha famiglia — falou. — Agora cuide de se arrumar.
Assim que Lorenzo desligou, esperei a Suzi chegar. Me pergunto se
a Suzi virá acompanhada da ex-megera. Não precisei esperar muito para
saber, Suzi logo chegou acompanhada das suas duas ajudantes. Alessandra
também veio, mas pareceu guardar o veneno por um tempo.
— Já tomou banho, senhora Ferraro? — perguntou Suzi.
Ela estava super educada comigo, nem parecia a mesma mulher de
antes.
— Só, Hope — respondi. — Sim, já tomei.
Vesti o vestido e elas foram logo cuidar de me maquiar. Vestido era
preto, justo, com um decote que realçou os meus seios.
— Soube que a Beatrice está voltando — disse Alessandra. —
Aquela vadia desgraçada!
— Sim — disse.
— Se eu fosse você, tomava cuidado com ela — disse Alessandra se
olhando no espelho, trocando o olhar para mim. — Para ser sincera, ela
transparece ser igual a você na frente dos outros, boa demais para estar na
máfia, mas o personagem dela não dura muito tempo. O problema é que a
vadia é o primeiro amor do Lorenzo. Mesmo ele não sentindo nada por ela
atualmente, do jeito que ela é louca por ele, ela não vai se importar em ser
uma vadia com você para conquistá-lo.
— Não me importo com isso — disse tentando ser indiferente.
— Pois deveria — falou. — O que prende ela agora de ir atrás do
amor da sua vida? O marido? Bem, está morto, casou nova, já que o
Lorenzo a dispensou. Ela seguiu as leis de ficar apenas com um homem que
era o seu marido, então imagine agora, o amor de juventude, o Capo, está
ajudando a protegê-la dos inimigos do marido falecido, logo, logo, ela
roubará o seu lugar se não abrir o olho.
— E por que você está me ajudando? — perguntei.
— Não estou te ajudando, estou apenas te alertando — falou. —
Você é nova aqui, não sabe um terço das coisas que aconteceram no
passado. Prefiro você do que a vadia. Pelo menos você fica na sua, nem se
importa quando eu vou falar com o Lorenzo, ela não, ela é absurdamente
possessiva com ele. Mesmo quando eu estava casada com o Lorenzo, ela
sempre ficava perto dele quando vinha visitar o quartel com o marido. Só
estou te avisando, porque na minha vez ninguém me disse nada.
Será que o Lorenzo se separaria de mim? Minha mãe ainda não tem
estabilidade, o seu divórcio ainda nem saiu, e se eu estiver grávida, o que eu
farei? Não vou pensar nisso, como a Alessandra mesmo disse, Lorenzo não
a quis, não tem porque me preocupar com isso agora.
Terminei de me arrumar e fui para o quartel. Cheguei no quartel e
logo vi a minha sogra e as meninas ao seu lado.
— Oi — disse assim que me aproximei delas.
— Oi, minha querida — disse minha sogra. — Os meus meninos
estão no andar de cima ainda em reunião.
Vi a minha família um pouco atrás delas, pedi licença e me retirei,
indo até elas.
— Hope! — disse minha mãe assim que me viu.
Enzo não estava lá, deveria com o Lorenzo.
— Parece que é sério — disse Lisa.
— Vi o seu pai e o Marco na entrada, quase tive um troço, mas eles
não me viram — falou minha mãe assustada.
Deveria estar mesmo, do jeito que o pai é, eu que não confio. Eles
também estavam aqui, espero que não os veja. Apesar de tudo, meu pai
ainda me dá mais medo do que o Lorenzo.
— Vamos tentar não ficar sozinhas, conhecendo o pai, ele virá tirar
satisfação do nosso apoio ao divórcio e o tio Marco, Deus sabe o que aquele
homem é capaz de fazer se ficarmos sozinhas — disse Lisa.
— Eu fico com a Kitty e a mamãe com você, Lisa — disse a ela.
É melhor eu e a Lisa ficarmos separadas. Ela está enjoada e eu
também, se uma de nós duas passasse mal juntas, quem nos ajudaria?
Nando estava em casa com a babá, então era menos uma preocupação
agora. Fora que eu tinha que ficar cumprimentando as pessoas e indo até
elas por ser a esposa do Capo, e do jeito que a Lisa não consegue mais se
locomover com facilidade, me mataria por fazê-la andar.
Voltei para onde a família do Lorenzo estava, junto com a Kitty. O
quartel estava lotado, havia tantas pessoas que eu nunca vi em toda a minha
vida.
— Hope, vou te apresentar uma amiga da família — disse minha
sogra.
Deixei a Kitty com as meninas e segui para onde ela ia. Era uma
senhora, não muito educada, na verdade, mas era amiga da minha sogra,
então fui simpática com ela.
Voltei sozinha para onde as meninas estavam, já que a dona Telma
ficou conversando com a senhora antipática, mas a surpresa de não
encontrar as meninas me deixou bastante assustada.
— Com licença! — disse chamando o garçom que passava. — Você
viu uma garota ruiva com duas moças ao seu lado?
— Não, senhora! — respondeu. — Vi a garotinha ruiva indo no
banheiro com um homem, mas não vi quem era pois estava ocupado com o
carregamento do alimento que havia chegado.
Saí dali com o coração na mão. Pode ser o meu pai com ela ou não.
Não surta, Hope!
Tentei correr sem chamar atenção das pessoas que estavam ao redor.
Havia tantos banheiros, onde eu procuraria primeiro? Deveria ter
perguntado ao garçom onde ficava antes de sair de lá correndo. O desespero
me consumiu por não encontrar ela e muito menos o tio Marco aqui. Se for
o tio Marco com ela, que Deus a proteja!
Cheguei em um corredor, quando a vi de mãos dadas com o
Lorenzo. Meu coração se aliviou de uma forma, que eu achei que choraria
ali mesmo.
— Hope! — disse Kitty acenando para mim.
Corri até ela, me abaixando para ficar na sua altura.
— Qual é a nossa regra, Kitty? — indaguei, a encarando.
— Não sair sozinha, mas eu estava com o Capo — respondeu.
— Sabe que tem que nos avisar quando sair, não importa onde
estiver. Imagina se você fizesse isso perto da Lisa, ela enlouqueceria —
disse colocando a mão no rosto. — O que se passava na minha mente
achando que algo estava acontecendo com você... Santo Deus!
— Não chora, Hope — falou, me abraçando. — Não vou fazer de
novo.
— Não estou chorando, meu amor, só fiquei preocupada, não faça
mais isso, me avise se sair. — disse. Agora a minha atenção era no Lorenzo.
— Obrigada por não deixá-la sozinha!
Lorenzo apenas me encarou e não disse nada.
— Vamos voltar! — falou Lorenzo, caminhando na nossa frente.
Sentamos em uma das mesas separadas para a família Ferraro. Só
estávamos nós, já que muitos estavam cumprimentando os convidados.
Lorenzo do jeito que não dava a mínima para isso, só cumprimentou os que
eram do seu agrado.
— Hope, deixe-me sentar na cadeira — pediu Kitty, já que estava no
meu colo.
— Por quê? — estranhei. — Não quer ficar perto da sua irmã?
— Hope, sou sincera a lhe dizer, você e a Lisa são muito grudentas
— falou.
— Um tiro doeria menos — disse me fazendo de ofendida.
— Vocês me tratam muito como uma criança, eu não sou mais,
Hope. Vou fazer 10 anos e você fica me beijando e me abraçando na frente
dos outros, vão achar que eu sou uma bebê. — Falou, sussurrando, já que
havia colegas da sua escola aqui.
— Então não quer que eu seja carinhosa com você?
— Só em casa — sussurrou. — Estou amadurecendo e crescendo,
Hope.
— Então não vou poder mais fazer isso? — A puxei para perto,
dando um beijo na sua bochecha, logo dando mais um cheiro no seu
pescoço.
— Não — respondeu rindo.
— Ah, então nem isso? — Dei vários beijos no seu rosto e ela riu.
— Não pode, Hope! — Continuava rindo.
— Ah, mas você é o meu bebê, como não vou fazer mais isso? —
disse.
A beijava ainda mais e ela tentava sair do meu colo.
— Está bem, você venceu! — falou, se rendendo.
— Agora eu quero mais beijos seus, sinto sua falta todos os dias.
Devo dar um beijo para cada dia do ano agora? — disse, não a deixando
responder, lhe dando mais beijos no seu rosto.
— Ah, Hope! — Ria enquanto tentava sair. Ela sempre teve muita
facilidade para sentir cócegas. Sentia falta de acordar a Kitty toda manhã
com os meus beijos matinais.
— Se sente na cadeira adulta — brinquei a soltando. — Devo deixar
você dirigir quando sairmos?
— Dramática! — falou, me dando um beijinho na ponta do nariz. —
Sempre serei o seu bebê, mas não deixa ninguém saber.
Se sentou na cadeira e não consegui não rir dela. Mas desviei a
atenção, logo notando que Lorenzo estava de olho em mim. Ele me
encarava e o seu sorriso era muito lindo.
— Será uma boa mãe, não se preocupe — falou.
Voltou a sua atenção para as pessoas, enquanto eu fiquei surpresa
pelo que ele disse. Não segurei o sorriso pelo seu elogio. Como ele sabe que
eu estava preocupada com isso?
— Desculpem fazer todos esperarem! — disse Enzo no palco. —
Estávamos buscando mais informações para dar um aviso mais detalhado a
vocês.
Lorenzo foi até o palco, olhando cada pessoa ali.
— Como sabem, os ataques estão se tornando frequentes de novo —
disse Lorenzo. — Um dos nossos aliados teve a casa invadida há uma
semana e foi morto. Não sabemos ao certo do que eles estão atrás, mas não
deixaremos isso passar despercebido. Peço que cada homem presente cuide
da sua família. Para cada mulher, não saia sozinha. Com as crianças,
evitarem de levá-las as ruas. Nos guardaremos por enquanto para não ter
mais mortes. Qualquer ação suspeita, tragam a denúncia para o quartel.
Bebam e se divirtam esta noite, pois amanhã haverá toque de recolher.
Informações já foram passadas para os chefes de família. Cuidem dos
nossos familiares!
Lorenzo saiu do palco, conversando com o Enzo.
Haverá toque de recolher?
Minha mãe foi embora com a Kitty, já que a Lisa estava com dor nas
costas. Enzo as levou, fiquei mais tranquila, tinha medo do meu pai se
esbarrar com elas. Lorenzo me chamou para ficar junto com ele em um
grupo de homens.
Como sua esposa, tinha que ficar aturando aquelas bobagens que
eles diziam e sorrir como se concordasse. Lorenzo, por outro lado, não
falava muito, apenas ficava na sua e escutava o que era dito, revirando os
olhos disfarçadamente algumas vezes.
Fiquei quietinha na minha, sem dar muita importância para o que
era dito. Até que uma mulher muita bonita caminhou até nós sorrindo.
— Oi, Lorenzo! — disse dando um beijo no seu rosto e Lorenzo
pareceu não gostar muito daquilo.
Ela olhou para mim, ficando agora ao meu lado, já que ela havia
atrapalhado a conversa dos homens. Lorenzo a ignorou, voltando atenção
para os rapazes que estavam conosco.
— Oi — disse a tal mulher sorrindo para mim.
— Oi — Respondi, devolvendo o sorriso.
— Sou Beatrice, e você?
— Hope.
— Que bom conhecê-la — falou, sendo bem simpática.
A gente não conversou muito, já que o que ela queria mesmo era
falar com o Lorenzo. A mulher ficava o encarando para ver se ele a olhava,
mas ele não deu muita atenção.
Muita mulher para um homem só. Lorenzo deve ter pegado meio
mundo. O problema é que as que me dão dor de cabeça, são só as
interesseiras querendo o cargo de esposa do Capo.
Fiquei apenas a observando, até que um perfume doce de um senhor
que chegou para conversar me deixou enjoada.
— Lorenzo... — sussurrei o trazendo para mais perto, para falar no
seu ouvido. — Posso ficar perto da sua mãe? Estou um pouco enjoada.
— Comeu algo que te fez mal? — perguntou no meu ouvido.
— Não.
— Sua menstruação está atrasada? — Assenti. — Vamos esperar
mais uns dias, pode ser uma virose. Se não melhorar, peça para Red te levar
ao médico se não se sentir confortável em ir comigo.
— Sì!
— Qualquer coisa me chame — falou.
Dei um beijo nele e saí dali. Realmente, só podia ser louca. Eu
deixando meu marido sozinho com sua ex-paixão. Péssimo dia para ser
esposa de um Ferraro.
— O que foi? — perguntou Dona Telma. — Por que saiu dali?
— Estava enjoada com o perfume do... — Me interromperam.
— Está grávida? — perguntou Emma logo sorrindo animada.
— Não sei, não vamos nos empolgar muito... — Fui interrompida
mais uma vez.
— Ai, meu Deus, você está! — disse Giulia me abraçando. — Sua
menstruação está atrasada? — Assenti. — Está tendo enjoos? — Assenti
novamente. — Mudanças de humor e muito sonolenta? — Assenti de novo.
— Está grávida!
— Não quero me iludir, se der negativo de novo não sei como vai
ser. Vou esperar mais um pouco para fazer o teste — disse.
Ficamos paradas ali, enquanto as meninas já organizavam o meu
enxoval. Céus, sequer sabem se estou mesmo grávida.
O tempo parecia não passar, estava com sono e enjoada. Só queria ir
para casa e me deitar perto do meu vaso sanitário.
Decadência, Hope!
— Posso falar com você? — disse Beatrice próximo a mim.
Caminhamos para longe das meninas, mas nem tanto assim. Giulia e
a Emma estavam com os olhos cerrados em mim.
— Pode falar — disse. — É algo importante?
— Na verdade, queria deixar as coisas claras com você. Vejo que é
bem diferente da antiga esposa do Lorenzo. Como sabe, acabei de ficar
viúva, porém não escolhi me casar, já que fui obrigada, assim como você
pela lei da máfia. Nunca amei o meu marido, apesar de ter me entregado a
ele. O Lorenzo foi o único que esteve no meu coração todos esses anos e
pela forma que ele me olha, sei que ainda devo estar no coração dele. Vi
como ele mudou, nem parece o rapaz que me apaixonei na adolescência,
deve ter sido por causa da morte da filha, mas quero te dizer que eu vou
investir nele. Não me importo se você que é a esposa, lutarei para ter o
Lorenzo ao meu lado. Mesmo que ele tenha me dispensado na juventude,
sei que foi obrigado a isso.
— Olhe, não me importo na verdade de você está apaixonada por
ele. Não sei se percebeu, mas metade das mulheres daqui é igual a você.
Lido com isso todos os dias, mesmo você chegando agora. Não vou brigar
por homem nenhum, tenho o meu valor. Mesmo sabendo que devo amar o
meu marido perante a nossa lei, mas não vou batalhar essa batalha com
você ou com a Alessandra ou com a Bianca ou quem for que seja. Se o
Lorenzo me escolheu para ser a sua esposa e para lhe dar o seu herdeiro, é
isso que eu farei. Se quer lutar, lute sozinha.
— Então será assim? — perguntou, não gostando muito. — Pois
bem, vemos com quem o Lorenzo ficará. Não perderei a oportunidade de
novo. Eu o amo e vou lutar por ele.
— Faça como quiser — disse. — Se era só isso, vou voltar para o
meu lugar.
— Mas eu não terminei de... — A interrompi.
— Mas eu sim — disse. — Passar bem, Beatrice!
Era só o que me faltava brigar por homem.
— O que houve? — perguntou minha sogra.
Expliquei o que havia acontecido a elas.
— Sabemos o que está passando — disse Emma segurando na
minha mão. — Não se esqueça que todas nós nos casamos com um Ferraro
e lidamos com as interesseiras.
Olhei de canto e vi a Beatrice triste conversando com o Lorenzo. Ela
falava algo de estar com medo. Então ela já começou as investidas?
— Vou ao banheiro, acho que o meu almoço quer vir — disse,
caminhando para o banheiro mais próximo.
As meninas vieram atrás de mim, já que eu estava muito mal. Estava
em frente ao vaso, vomitando até as minhas tripas, enquanto a Emma me
abanava, a Giulia passava a mão nas minhas costas e a Dona Telma
segurava o meu cabelo.
— Por que está pior do que quando estava com infecção intestinal?
— perguntei.
— Deixa sentir isso os noves meses — disse Giulia.
— Tenho quase certeza que está grávida, minha querida — disse
minha sogra contente.
— Não vamos nos animar ainda — disse.
— Ela está bem? — Escutei Lorenzo falar.
— Está sim, só um enjoo. Pode voltar, nós cuidamos dela — disse
Emma.
— Meu pai está atrás da senhora, mãe. Emma e Giulia, podem ir, eu
fico com a minha esposa — falou.
As meninas logo obedeceram saindo do banheiro.
— Já está melhor para voltar para o salão? — perguntou Lorenzo.
— Pode ir, acho que vou ficar mais um pouco — disse.
Não vomitei tudo o que o meu corpo pedia para botar para fora.
Lorenzo se agachou ao meu lado, me encarando um pouco assustado.
— Você acha que está grávida?
— Não quero me precipitar, então não sei — disse. Senti o almoço
todo na minha garganta, pronto para sair. — Santo Cristo, quando isso vai
passar?
Foi quando vomitei ainda mais. Lorenzo logo segurou o meu cabelo
que insistia em cair no meu rosto. Quando terminei, me senti até mais leve.
— Vem, eu te ajudo a chegar na pia — falou.
— Só espera mais um pouquinho.
— Quer vomitar mais? — perguntou surpreso.
— Só estou um pouco tonta, quero ficar um pouco parada —
respondi.
Esperei a tontura passar, e logo me levantei com a ajuda do Lorenzo.
Ele colocou sua mão na minha cintura, me guiando até a pia. Lavei o meu
rosto, tirando logo toda aquela maquiagem e lavando a minha boca que
estava com um gosto horrível.
— Está melhor? — perguntou e eu assenti. — Vamos voltar para o
salão.
— Eu posso ir para casa? — perguntei. Eu realmente só queria me
deitar agora.
— Sim, eu te levo até o estacionamento — falou.
Lorenzo estava muito bonzinho, tinha medo de que amanhã ele
voltasse a ser o brutamontes de antes. Lorenzo ainda estava com a mão na
minha cintura, enquanto caminhávamos até o estacionamento.
— Lorenzo, peguei uma bebida para você — disse Beatrice se
aproximando de nós, segurando na mão do Lorenzo. — Os rapazes estão te
chamando, vamos!
— Pode ir, consigo chegar no estacionamento sozinha — disse.
O perfume dela me enjoava.
— Daqui a pouco eu converso com eles — disse Lorenzo a ela,
soltando a sua mão.
— Mas... — Beatrice tentou argumentar, mas o Lorenzo fez uma
cara nada boa.
Ela não esperava por aquilo. Ela só pode achar que o Lorenzo é o
mesmo de antes. Se quer brigar por ele, pelo menos o conheça. A peste
odeia ser contrariado. Lorenzo nos tirou dali, logo chegando no carro.
— Thony, a leve para casa e volte para me pegar, só vou me
despedir dos convidados — informou Lorenzo abrindo a porta para mim.
Entrei no carro e me deitei. Dormiria ali mesmo até chegar em casa.
— Thony, só me acorde quando chegarmos em casa, por favor —
disse.
— Peça para a Lucy fazer algo para você comer — disse Lorenzo a
mim.
— Ok — disse.
Lorenzo fechou a porta e logo seguimos para casa. O caminho foi
baseado em, “Thony, pare aqui!”. Vomitava em cada curva, sentindo minha
cabeça girar. Cheguei em casa dando graças a Deus. Thony estava
traumatizado do tanto que eu vomitei.
— Da última vez que vi alguém vomitar tanto, foi quando a minha
mulher descobriu que estava grávida — disse Thony, me ajudando a sair do
carro. — Está bem?
— Sim, Thony, um pouco enjoada, mas bem melhor do que eu
estava antes — disse. — É melhor ir logo buscar o Lorenzo, antes que ele
reclame do seu atraso. Obrigada por vir me deixar!
Entrei em casa e fui logo atrás da Lucy. Ela me ajudou a chegar na
cozinha e eu me sentei em uma das cadeiras.
— Vou fazer uma sopinha, está bem? — disse Lucy me bajulando
muito e eu estava adorando.
— Sim, eu adoraria — respondi. — Posso ficar no seu quarto? Não
quero subir e ter que descer de novo.
— Claro, meu bem! — falou.
Ela me levou para o seu quarto e eu me deitei na sua cama. Lucy me
cobriu com o lençol, deixando a porta aberta para caso eu a chamasse. Não
demorou muito e Lucy logo voltou com a sopa em mãos.
Comi um pouco e me deitei ali mesmo. Lucy ia comer algo e
voltaria para me chamar para subir. Ela ficaria comigo no meu quarto até o
Lorenzo chegar. Quando percebi, já havia adormecido.

Acordei com o sol no rosto. Estava no meu quarto e Lorenzo estava


ao meu lado. Olhei para o meu corpo e vi que eu estava apenas de calcinha
e sutiã. Eu havia tirado o vestido? Me sentei na cama, tentando lembrar de
como eu vim parar aqui. Estava tão cansada a ponto de literalmente apagar?
Lorenzo se remexeu ao meu lado e logo se sentou. Foi para o
banheiro e para o closet em seguida. Eu apenas observava tudo com
atenção, criando coragem para me levantar da cama. Ele logo voltou
arrumado e saiu do quarto em silêncio. Eu estranhei, ele parecia mais
preocupado do que antes.
Lucy logo entrou e eu aproveitei para perguntar o que aconteceu
ontem.
— Eu já estava indo lhe chamar para subir, quando ele chegou.
Lorenzo achou melhor não te acordar e te levou para o quarto. Sua roupa
era apertada e ele tirou. Ele parecia tão preocupado com você que nem
parecia o mesmo de sempre — contou.
— Ah, Lucy, não se iluda, ele só faz algo quando é bom para ele —
disse.
— Tome banho e desça para comer, vamos ver se consegue comer
um pouco mais do que ontem — falou.
Devido o meu enjoo, eu nem me alimentei bem no dia anterior.
— Certo! — disse, me levantando da cama.

Meu dia foi o mais solitário possível.


Quando desci para tomar o café, Lorenzo já havia saído para
trabalhar. Red não estava mais dentro de casa, apesar dos ataques, o
Lorenzo apenas aumentou a segurança lá fora. A Lucy esteve ocupada com
um jantar que Lorenzo daria no quarto andar do rifugio.
Até tentei ajudá-la, mas o cheiro da carne crua me deixou bem
enjoada. Comecei a me arrumar para ir a esse jantar.
Fui atrás de uma roupa que não me apertasse muito. Coloquei um
salto baixo e desci para esperar o Red na entrada da casa, já que ele que me
levaria. Já no elevador do rifugio, tinha péssimas lembranças do dia em que
estive aqui. Quando cheguei, tinha um número considerável de pessoas.
Até que os meus olhos se encontram com algumas visitas indesejadas,
Bianca, Beatrice e a Alessandra.
— Hoje a casa está cheia de ex, não é? — brincou Alessandra se
aproximando de mim.
— Vai disputar atenção dele também? — perguntei.
— Não sei, hoje não estou com muita paciência para brigar pelo
Lorenzo, e você?
— Bem, nunca tive, então não faz diferença hoje — disse e ela riu.
— Se continuarmos assim, logo nos tornaremos amigas, não acha?
— Vai sonhando, Hope — falou saindo de perto de mim rindo.
— Se tornaram amigas? — perguntou Lorenzo assim que se
aproximou de mim, estranhando a minha conversa com a Alessandra.
— Ainda não, mas temos muito em comum — disse.
Lorenzo colocou sua mão na minha cintura e me guiou para onde
estavam os outros.
— Está melhor?
— Ainda enjoada — disse. — O que está acontecendo aqui hoje?
— É só um jantar, acontece com frequência, mas na casa de outros
líderes, já que o rifugio é mais seguro para se estar no atual momento que
estamos passando, acharam melhor ser aqui hoje — respondeu.
Olhei ao redor e observando muito homem bebendo e comendo,
enquanto conversavam alto e falavam muitas baboseiras. Estávamos em
uma roda de senhores. Lorenzo conversava com alguns, enquanto eu
permanecia em silêncio cansada de tanta besteira que eles falavam.
— Posso ir para casa? — perguntei sussurrando no ouvido do
Lorenzo.
— Ainda não acabou o jantar — respondeu.
— Lorenzo, por favor, eu estou enjoada — menti.
Não estava não, só queria poupar a minha sanidade mental de tanto
homem falando bobagens.
— Vai para casa e depois conversamos sobre essa nova mania sua
de ficar mentindo.
Droga, ele descobriu! Me levantei e Red me guiou até em casa.
Lucy estava na cozinha e estranhou a minha presença tão cedo em casa.
Inventei uma história e subi, não queria falar que Lorenzo estava bravo por
eu ter mentido.
Assim que eu entrei no quarto, quando me aproximei da cama, vejo
uma luz no banheiro. Pelo reflexo do espelho que havia perto da porta do
banheiro, vi um homem encapuzado. Meu celular estava na cabeceira ao
meu lado, eu o peguei e me escondi debaixo cama, sabendo que daria tempo
de correr até a porta.
Ele não havia me visto e eu não podia gritar, porque sei que a única
pessoa que me escutaria era a Lucy. Olhei para porta e havia deixado aberta.
Droga!
Ele estava atrás de algo e deve ter aproveitado que todos estavam no
rifugio para vir aqui. O que eu faço?
Pensa, Hope!
Estava assustada, sentia a minha garganta seca e o meu coração acelerado.
O silêncio do quarto deixava tudo ainda mais tenebroso. Escutava o ponteiro do
relógio que havia na mesa próximo da minha cama, marcando cada segundo.
Tentava regular a minha respiração, tampando a minha boca para não
emitir nenhum barulho. Estava tudo tão calmo, que eu conseguia escutar as batidas
do meu coração. O desespero de saber que esse homem poderia me matar se me
encontrasse, tomava conta de mim.
Vai ficar tudo bem!
Ainda estava debaixo da cama, de barriga para o chão, olhando para a
porta do banheiro, pensando em como sairia daqui. O homem encapuzado saiu do
banheiro e eu o acompanhava com os olhos, o observando ir em direção a porta do
quarto.
Droga, deixei aberta.
Quando pensei que ele sairia do quarto, ele fechou a porta, ficando parado
na direção da cama. A única coisa que eu conseguia ver era os seus pés. Me
arrastei mais um pouco para trás, para que ele não me vesse de onde estava.
Ele começou a andar, indo em direção ao closet. O quarto estava iluminado
com a luz da lua que entrava pelas enormes janelas, deixando tudo ainda mais
assustador. Peguei o meu celular rapidamente, o colocando imediatamente no
silencioso.
Baixei o brilho da tela, trocando o meu olhar com os pés do homem e o
meu aparelho. Quando eu ia ligar para alguém, foi quando os pés dele virou de
direção rapidamente, mostrando que ele estava de frente para o resto do quarto.
Bloqueei a tela, segurando o choro para não fazer barulho.
Foi quando ele voltou a sua atenção para o closet. Respirei um pouco mais
aliviada, novamente ligando o meu celular. Liguei para o primeiro contato fixado
nas minhas chamadas, o Lorenzo. Diminui o volume da chamada, para que o
homem não escutasse, já que o quarto estava em completo silêncio.
Tinha experiência de ficar escondida. Quando o meu pai surtava, eu ligava
para a Lisa e o Enzo sempre aparecia. Como o meu pai não deixaria de conversar
com o Enzo, ele logo esquecia da gente. Esperei o Lorenzo atender, mas os
segundos que passavam, pareciam horas para mim.
O maldito quarto era a prova de som, nem se eu gritasse, alguém me
ouviria. Como eu chamaria por ajuda se ninguém me escutaria?
— Achei que havia deixado claro que só queria que me ligasse se fosse
algo de vida ou morte, Hope — disse Lorenzo assim que atendeu.
O homem iluminava com a lanterna dentro do closet, já que eu via uma luz
branca, mas ainda sim, ele permaneceu na porta do closet para não sair de dentro
do quarto. Ele sabia que havia alguém no quarto e estava refazendo os seus passos
para me encontrar.
A pessoa estaria no closet ou escondida no próprio quarto. Tudo porque
deixei a maldita porta aberta, mas como eu saberia que tinha alguém aqui? Sentia
as lágrimas caírem, aumentando o meu desespero de ser encontrada aqui, enquanto
me segurava para não chorar alto pelo medo.
— Me ligou só para escutar a minha voz, Hope? — disse Lorenzo, já que
eu permaneci em silêncio na ligação. Escutava o barulho da Beatrice atrás da sua
voz, insistindo para que o Lorenzo saísse do celular.
Se esse homem entrasse no closet, eu conseguiria pelo menos pedir ajuda
ao Lorenzo, mas se eu emitisse algum som, ele logo saberia onde eu estou. Foi
quando o Lorenzo desligou a ligação. Lorenzo era o único que notaria que algo
estava errado, então insisti, o esperando entender o meu silêncio na chamada.
— Hope, estou perdendo a porra da paciência. Se eu for aí... — Ele parou
de falar em seguida, ficando em silêncio na hora.
Isso, vem!
O Lorenzo ficou um tempo em silêncio e o rapaz fechou a porta do closet
com tanta força que eu me segurei para não o gritar com o susto que eu havia
levado. Ele já estava impaciente de tanto me procurar e eu já estava aterrorizada.
— Hope, tem alguém com você?
Eu queria falar que tinha, que estava com medo e que ele viesse me ajudar.
O rapaz começou a caminhar de volta para a porta do quarto, achava que ele sairia,
mas ele apenas ficou parado para ter uma melhor visão do lugar. A lanterna
começou a passar por cada cômodo, me deixando mais apavorada.
— Se tiver alguém com você, aperte alguma tecla do seu telefone — falou
e eu o obedeci.
Apertei o primeiro número que eu havia visto e logo soou o barulho da
tecla na ligação. Quando voltei a olhar para a porta, o homem havia sumido.
Bloqueei a tela do celular, já que a claridade me entregaria.
Ele foi embora?
Tentei procurá-lo com o olhar, passando por cada canto a minha frente,
mas não o vi. Não escutei a porta sendo fechada, para onde ele foi?
— Porra, me escuta, fique onde você...
Antes que eu pudesse escutar o que o Lorenzo falaria, senti minha perna
ser puxada para fora da cama.
— LORENZO! — gritei, deixando o celular cair.
— Ninguém te escutará, princesa — disse o homem me virando para me
encarar.
Ele certamente não havia notado que eu estava ao telefone. Colocou suas
mãos no meu pescoço, me enforcando.
— Estou procurando uma caixinha marrom, me ajude a encontrar e eu te
solto — falou.
Tentei me soltar, mas o seu peso estava todo nas minhas pernas, enquanto
as suas mãos estavam fixas em meu pescoço.
— Me perdi nessa casa, mas creio que você será boazinha e me ajudará —
falou, próximo do meu rosto.
— Por favor... — disse, sentindo o ar faltar.
Sabia que ele estava mentindo, mas o Lorenzo estava vindo, tentaria
enrolar ele para que o Lorenzo o pegasse. Ele pegou a faca, levando a mesma para
o meu pescoço, enquanto apertava com a outra mão, me esperando responder.
— Eu sei... — disse, sem saber nem do que ele estava falando e ele logo
apertou um pouco mais o meu pescoço. — Eu sei onde está... E-eu sei — Ele
apertava, me impossibilitando de responder.
— Se estiver mentindo, eu mato você e a senhora que está lá embaixo —
falou. — Onde está?
— No closet... — Ele não deixou que eu concluísse, apertando mais o meu
pescoço.
— Acha que eu sou estúpido, vadia? Já olhei lá — falou, guardando a faca,
prendendo no cinto, nas suas costas. — Você estragou o meu plano, por que tinha
que aparecer? Você não me serve para mais nada agora, só está me atrasando.
Foi quando ele não parou mais de apertar o meu pescoço, agora me
enforcando de vez. Tentei tirá-lo de cima de mim, o empurrando, lhe batendo, mas
ele não se mostrava afetado com os meus golpes.
Arranhei o seu rosto com as minhas unhas, cravando-as por onde passava,
tentando fazer ele tirar as suas mãos do meu pescoço. Bati e o empurrei, mas ele
não parava de me enforcar. Tentei encontrar algo para atingi-lo, mas não tinha
nada ao meu alcance. Até tentei pegar a faca nas suas costas, mas não consegui.
Continuei arranhando o seu rosto e os seus braços, tentando fazê-lo me
soltar, mas ele apertava ainda mais. Quando estava perdendo a consciência, a
claridade da porta aberta iluminou o quarto, me fazendo olhar naquela direção.
Lorenzo se jogou por cima do homem, jogando ambos para o lado. Quando
olhei, Lorenzo estava o socando repetidas vezes. Comecei a tossir, tentando
estabilizar a minha respiração. Lorenzo pegou a faca que caiu no chão, a cravando
no ombro do homem, voltando a socá-lo repetidas vezes.
Foi quando o Red se aproximou de mim, me tirando do quarto que já
estava lotado de seguranças. Ele me levou para o quarto da Lucy, enquanto eu
tentava recuperar o fôlego. Cada cômodo da casa estava cheio de homens correndo
para o meu quarto. Ele me colocou na cama e Lucy me deu um copo de água para
me acalmar, já que eu não parava de chorar.
— Está cheio de seguranças mortos na lateral da casa, ele deve ter entrado
pela janela do quarto — disse Red para a Lucy baixinho para que eu não
escutasse. — Feche a porta, não sabemos se ele tem algum cúmplice escondido na
casa.
Red saiu do quarto, deixando 8 homens na porta do quarto da Lucy.
— Está tudo bem agora! — disse Lucy me abraçando.
— Eu... eu... Ele ia descer... Eu fiquei com medo dele te machucar... —
disse ainda abalada pelo que aconteceu, não conseguindo formular uma palavra
sequer.
— Está tudo bem comigo, minha querida — falou, tentando me acalmar.
— Era para eu ter subido com você, pelo menos tinha alguém para correr e pedir
ajuda, me desculpa!
Eu não conseguia dizer nada, além de chorar.
— Você agora tem que se acalmar, você pode estar grávida — disse Lucy.
Alguns minutos se passaram e eu não conseguia parar de chorar. Tentei me
acalmar, explicando o que havia acontecido a Lucy, de como eu vi o homem, do
que ele estava atrás e de como ele me encontrou.
— Ele te bateu? — perguntou, olhando para o meu corpo.
— Não, tentou me enforcar para se livrar de mim — disse.
— Deve estar tudo bem! — disse Lucy tocando na minha barriga. Nem
sabia se estava grávida mesmo. — Descanse um pouco, vou te trazer algo para
você se acalmar. Estou com medo de você estiver grávida, se esse susto possa ter
prejudicado tanto você como o bebê.
Dois seguranças acompanharam Lucy e vierem mais três para ficar comigo
dentro do quarto. Olhei no espelho que havia na cabeceira da cama da Lucy, logo
olhando a vermelhidão que estava no meu pescoço. Se o Lorenzo não tivesse
chegado naquele instante, eu teria sido morta.
Tentei descansar, mas a minha cabeça estava me deixando louca. Alguns
minutos se passaram, quando a Lucy voltou com um chá para mim, eu tomei e
logo ela levou o copo para a cozinha. Quando de repente a porta do quarto se abre
e o Lorenzo entra, caminhando na minha direção.
Suas mãos estavam com feridas expostas, sua camisa com algumas gotas
de sangue e o mesmo parecia acabado pelo cansaço.
— Vem, vamos subir! — falou.
— Me deixe... — disse sentindo a minha voz falhar. — Eu posso ficar
aqui? Não quero ficar sozinha no quarto.
— Eu não sairei do quarto — disse Lorenzo. Me levantei da cama indo até
ele. — Está sentindo dor em algum lugar?
— Não, eu só quero me deitar — disse hesitando em subir, não queria ficar
naquele quarto. — Me deixe dormir aqui esta noite.
— Já disse que eu não sairei do quarto — falou.
Lorenzo foi na frente e eu estava bem atrás dele. A casa estava repleta de
seguranças. Chegamos no quarto e parecia intacto. Só o tapete havia sido retirado,
certamente porque estava cheio de sangue do rapaz.
Conhecendo o Lorenzo, ele não deve tê-lo matado, primeiro saberia como
ele entrou aqui. Ele devia estar no rifugio e eu estava com medo, se ele entrou aqui
com facilidade, sairá de lá da mesma forma.
E se ele voltar?
Lorenzo se sentou na cama e começou a tirar o seu sapato. Me sentei do
outro lado da cama, não querendo sair de perto do Lorenzo.
— Vá tomar um banho e tente descansar — falou.
Me levantei da cama, mas não consegui me afastar muito. Eu estava
apavorada!
— Lorenzo, eu estou com medo! — disse, sentindo os meus olhos
marejados. — Para você pode ser só mais um dia da sua vida, mas para mim não
é. Por favor, eu não quero ficar sozinha. Me deixe ficar com a Lucy.
Estava me aguentando para não chorar. Droga, eu estava mais emotiva do
que o normal.
— Fico com você no banheiro — disse Lorenzo caminhando até o
banheiro comigo.
Ele acendeu a luz, olhando todo o banheiro e esperou eu entrar. Esperei um
pouco para entrar, até ter certeza que não tinha mais ninguém ali dentro. Assim
que entrei, tirei o meu vestido e minhas peças íntimas, entrando no chuveiro.
Ficava sempre conferindo para ver se Lorenzo ainda estava ali, até que ele
entrou no chuveiro comigo.
— Terei que tomar banho também, se não for agora, será mais tarde. Vai
querer ficar sozinha na cama? — perguntou e eu neguei.
Assim que eu terminei, esperei ele terminar também. O segui até o closet e
coloquei a minha camisola. Me comportei feito a sombra de Lorenzo, aonde ele ia,
eu ia atrás.
— Deixe-me ver isso — disse Lorenzo olhando o meu pescoço. — Dói?
— Não!
— Melhor colocar gelo nisso daí — falou.
— Não precisa — disse com medo dele sair para pegar.
— Eu não vou sair, Hope — disse Lorenzo. — Vou pedir para alguém
trazer, você não vai ficar sozinha.
Voltamos para o quarto, enquanto eu me deitava na cama, o Lorenzo falava
com o segurança na porta. Logo ele voltou se deitando ao meu lado.
— Lorenzo? — disse.
— Sì!
— Ele estava atrás de uma caixinha — falei.
— Lucy já me disse o que aconteceu, não precisa relembrar — disse
Lorenzo. — Ele está preso e não sairá de lá.
Fiquei deitada, esperando o sono vir. Um dos seguranças trouxe uma bolsa
de gelo. Coloquei um tempo no pescoço e depois tirei. Vi que o Lorenzo estava de
olhos fechados, provavelmente acordado.
Sabia que ele ia ter que sair para ver o rapaz, então por isso não conseguia
dormir, porque não queria ficar sozinha de novo. O quarto estava escuro, me
deixando paranoica com as sombras que eu via dos objetos, achando que era
alguém. Só me faltava essa agora, ficar com medo de dormir no escuro.
Me deitei de lado, de frente para o Lorenzo. Me aproximei um pouco mais
do Lorenzo, coisa que eu não fazia por não querer invadir o seu espaço.
— Quer segurar a minha mão? — perguntou.
Me aproximei bem mais dele. Segurei a sua mão e apoiei a minha cabeça
encostando no seu braço.
— Obrigada! — disse.
Ele não precisava fazer aquilo, mas mesmo assim fez. Não importa se tem
algum interesse envolvido, eu só não queria sair mais de perto dele esta noite.

Na madrugada, acordei um pouco mais enjoada. Vi que já estava deitada


em cima do peitoral do Lorenzo. Eu que não sairia dali. Me aconcheguei e logo
voltei a dormir. Já pela manhã, quando acordei o Lorenzo não estava mais do meu
lado. Me sentei na cama pelo susto e vi Red sentado na poltrona.
— Ele acabou de sair e pediu que eu ficasse, já que confia em mim —
falou.
— Obrigada por ficar, Red — disse me levantando da cama.
Red se aproximou e me deu um abraço.
— Fiquei preocupado com você — falou. — Te considero da minha
família agora. Sorte deste maldito que entrou por eu seguir as regras, senão eu
mesmo o mataria.
— Obrigada, Red! — disse. — Você realmente cuida de mim como um
irmão.
— Desculpa o abraço, não sou tão afetivo assim, só fiquei preocupado
noite passada quando o Capo correu nos avisando que a casa havia sido
comprometida.
— Por que demoraram tanto? — perguntei.
— Não esqueça que nós estávamos no rifugio, são quatro andares de
elevador, mas o patrão desceu os quatro andares pela escada, já que o elevador
demoraria. Quando chegou no térreo, onde nós estávamos, ele disse que a casa
estava comprometida e que havia alguém aqui dentro com você. Ele ignorou toda
as regras de segurança feitas por ele mesmo e correu para cá junto conosco —
disse Red.
— Quebrou? Como assim?
— Nós devemos mantê-lo a salvo. Se algo desse tipo acontecer,
deveríamos tirar ele e fazer o reconhecimento do local — explicou. — Lorenzo
estava na linha de frente junto conosco, nem parecia que era ele que deveríamos
proteger, e sim você. Ele só parou quando tirou aquele homem de cima de você.
Era até estranho ver Lorenzo se importando comigo.
Me arrumei e desci para tomar café. Quando cheguei, o Lorenzo ainda
estava na mesa. Me sentei e esperei Lucy aparecer.
— Bom dia, minha querida! — disse Lucy assim que me viu. — O que vai
querer para o café?
— Bom dia, Lucy! — disse. — Vou ver na cozinha.
A acompanhei até a cozinha atrás de algo para comer. Todos agiam tão
normais, como se nada tivesse acontecido noite passada. Eles deveriam estar
acostumados com isso, mas eu realmente espero que isso nunca mais aconteça.
— Ainda enjoada? — perguntou.
— Sim, parece que piora de manhã e a noite. Meus seios estão mais
sensíveis do que o normal, até a água caindo sobre eles me incomodou — disse.
— Ah, você está grávida, agora eu tenho a certeza disso. Vamos fazer um
teste hoje? — disse Lucy pulando de felicidade.
— Meus seios estão sensíveis, pode ser que a minha menstruação venha.
— Vamos fazer na hora em que você se sentir confortável com isso, tudo
bem? — falou e eu apenas assenti.
Acabei tomando só um copo de suco, com receio de colocar tudo para fora
depois. Nem voltei para a mesa, fui para a sala e me deitei no sofá. Havia
seguranças espalhados pela casa e agora eu me sentia bem mais segura. Senti o
perfume do Lorenzo se aproximando, já que sempre tomava conta do ambiente.
Lorenzo ficou em pé ao meu lado no sofá, me encarando.
Ele vai falar alguma coisa?
— Não tomou café? — perguntou, se sentando no sofá.
Me afastei um pouco, dando mais espaço para ele se sentar, já que eu
estava deitada.
— Tomei um suco na cozinha.
Lorenzo se deitou ao meu lado, mas não tinha mais espaço para que nós
dois coubéssemos no sofá. O sofá era grande, mas não para uma pessoa que parece
um armário. Ele se posicionou por cima de mim, colocando todo o seu peso nas
suas mãos.
— Sabe o que é engraçado nisso tudo? — falou, enquanto passava o
polegar delicadamente no meu rosto. — Por três anos essa foi a única noite que eu
consegui dormir por muito tempo e olha que a minha casa foi invadida.
Não parecia que ele estava falando para mim e sim tentando entender o
motivo de ter conseguido dormir.
— Isso é ruim? — perguntei.
— De forma alguma, só estou refletindo sobre isso hoje — respondeu. —
Tenho que ir até a boate resolver uns assuntos, então não fique sozinha, fique
sempre perto do Red.
— Lorenzo, tome cuidado — disse.
— Está se preocupando comigo, senhora Ferraro? — falou, sorrindo para
mim. Gosto do seu humor assim. — Eu sempre tenho!
Antes dele se levantar, segurei no seu paletó, o trazendo para mais perto de
mim, o beijando. Um beijo calmo, como forma de agradecimento por ontem.
Lorenzo logo retribuiu com mais intensidade.
— Obedeça o que te disse, não fique sozinha — falou, parando de me
beijar, enquanto olhava fixamente os meus olhos.
— Eu não vou ficar — disse.
Então o Lorenzo saiu de cima de mim, já que tinha que ir trabalhar. Havia
ficado um tempo no sofá, até Red me chamar.
— Venha passear no jardim, o dia está lindo — falou. Me empolguei na
mesma hora. — Mas lembre que não podemos ir para longe.
Chamei Lucy e nem me importei com a quantidade de seguranças que
estava ao meu lado. Era bom pegar um solzinho.
Os seguranças sempre estavam atentos a cada lugar do jardim.
— Red, você pode me fazer um favor? — pedi.
— Claro, contanto que não seja colocando a sua vida em risco, todos os
favores que quiser — respondeu.
— Pode ir na farmácia comprar um teste de gravidez? — perguntei e Lucy
logo abriu um sorriso.
— Você acha que... — falou, não concluindo o que ia dizer. — Posso ir
agora se quiser, mas terá que entrar e ficar em casa até eu voltar.
Eu e a Lucy voltamos para casa e ficamos na cozinha até o Red voltar. Não
demorou muito para Red aparecer com uma sacola em mãos.
— Não sabia qual comprar e comprei um de cada — disse Red me
entregando uma sacola cheia de testes de várias marcas e formas diferentes. —
Este é o teste de gravidez Plus, o que mostra se der positivo (+) ou negativo (-).
Este diz as semanas que está grávida. — Apontava para outra caixinha explicando
o que cada um fazia. — Tem outros aí dentro, a moça da farmácia disse que o mais
indicado era depois que fazer os testes, ir atrás de um médico para fazer a coleta
de sangue. Não entendi muita coisa, fiquei bem nervoso com tantas possibilidades
de testes e trouxe todos para tirar logo a sua dúvida.
— Red, respira! — disse. — Obrigada, farei com esses mesmo.
Fui para o quarto da Lucy e ela trouxe uma jarra de água, já que queria que
eu fizesse todos os testes ali.
— Hope? — Escutei Red falar da porta do banheiro, já que estava
trancada. — Eu tive que avisar ao Capo.
Não queria que ele soubesse agora, nem sabia se daria positivo mesmo.
— Tudo bem, Red!
— Ele pediu que assim que desse algum resultado, você mesmo o ligasse
para falar — falou.
Se der positivo eu nem ia conseguir ligar, imagina se der negativo. Uns
testes eram com fitas e outros não. Estava ficando louca de tanto fazer xixi.
Esperei um tempo, já que a Lucy separou o do sinal positivo e negativo e outro
que dizia as semanas, ela disse que eles eram o mais confiáveis.
Os minutos mais longos de toda a minha vida. Red já estava no banheiro
conosco, só esperando o resultado.
— Já deu a hora, vai olhar — disse Lucy. Me aproximei da bancada da pia,
olhando aquela variedade de testes.
Não consegui segurar o sorriso quando vi o positivo e o símbolo rosa nas
fitas.
— Positivo! — disse.
Lucy correu para ver junto com Red e logo me parabenizaram.
— Parabéns, minha querida! — Lucy dizia um pouco emocionada.
— Parabéns, Hope! — disse Red. — Havia tempos que não ficávamos tão
felizes com algo. Espero que essa criança seja a salvação do Lorenzo, assim como
ele foi a minha.
Não entendi muito bem sobre do que Red estava falando, mas achei melhor
não perguntar.
— Veja quantas semanas você está — disse Lucy.
Peguei o outro teste em mãos, olhando no painel.
— Diz que eu estou entre 2-3 semanas.
— Tem que avisar o Lorenzo — disse Red. — Deixarei você sozinha para
conversar com ele.
— Não me deixem sozinha — disse assim que eu vi que eles sairiam. —
Não quero ficar sozinha, estou com medo.
— Medo de contar que está grávida ou medo do que aconteceu ontem? —
perguntou Red.
— Os dois, eu acho.
Peguei o celular nervosa e disquei o número do Lorenzo. Não deu nem
dois toques e ele atendeu.
— Sì?
— Ah, oi! — disse nervosa. Respira, Hope! — Lorenzo, eu fiz o teste.
— O que deu? — perguntou, mais curioso do que eu estava.
— Bem, deu positivo, eu estou grávida! — disse, sem saber qual seria a
sua reação. — A moça da farmácia indicou ir ao hospital para fazer um exame de
sangue que é mais confiável, mas devido eu ter feito 18 tipos de testes aqui em
casa, tenho quase certeza de que eu estou mesmo. — O silêncio na ligação me fez
achar que ele havia desligado, mas ele ainda estava na linha. — Lorenzo?
— Sì! — respondeu depois de um tempo um pouco aéreo. — Eu vou
marcar uma consulta para você agora a tarde. Encontro com você no hospital.
E desligou.
— O que ele disse? — perguntou Lucy.
— Nada. — Sei que o Lorenzo não é muito de ser sentimental, mas
estranhei a reação. — Só que me encontra no hospital para realizar alguns exames.
— Não se preocupe, é só para saber se está tudo bem com o bebê — falou.
— Esta casa se tornou uma casa sombria desde a morte da Antonella. Achei que
Lorenzo nunca mais seria feliz depois daquilo. Ele ficou muito deprimido e se
culpava tanto pela morte dela, ele enlouqueceu.
— Ele não fala nada sobre ela comigo e creio que com ninguém — disse.
— Ela era tão cheia de vida, só tinha 7 anos quando morreu. Você amaria
conhecê-la, ela colocava ordem na família, tinha um gênio forte que deixava todo
mundo de cabelo em pé — disse Lucy deixando algumas lágrimas caírem. — Para
o Lorenzo foi difícil tentar recomeçar a vida depois da morte dela, então ele está
parado naquela dor desde então. Muitos julgam o estado que ele se encontra,
principalmente alguns da liderança, mas só mostra que eles nunca tiveram amor
por ninguém. Imagina perder alguém que você ama e a encontrar morta na sua
frente. Ele entrou em depressão, alguns sabem lidar, mas ele ao invés de superar,
enlouqueceu tentando entender como ela morreu naquele lago.
— Lorenzo tem um olhar vazio e cheio de dor. Cada fala e ação dele,
mostra o que ele sofre por não ter a filha ao seu lado — disse. — Eu não sei o que
eu posso fazer para que ele se sinta melhor. Eu só estou com medo de que essa
gravidez acabe desencadeando mais traumas nele por ele ter medo de perder
alguém.
Comecei a me arrumar para a consulta, ainda não conseguia acreditar que
eu realmente estava grávida. Não sabia lidar com as minhas emoções. Não sei se
fico feliz por ter engravidado ou se ficava triste por colocar uma criança no meio
disso tudo.
Red já me aguardava no carro, junto com Thony. O caminho para o
hospital foi de muita conversa. Thony falou um pouco da gravidez da sua esposa
explicando um pouco como foi a gestação dela.
Cheguei no hospital e Red logo me levou para o lado dos consultórios.
Notei que só havia mulheres grávidas e bebês.
Quando meus olhos foram de encontro ao Lorenzo, que estava sentado em
uma das cadeiras, com um folheto em mãos. Havia dois seguranças com ele e
notei que as pessoas encaravam com estranheza os homens altos ao seu lado.
— Oi! — disse assim que me sentei ao seu lado.
O folheto que o Lorenzo tinha em mãos, tinha um enorme título: “PARA
PAIS CORUJAS: COMO LIDAR COM UM BEBÊ A CAMINHO?”
Quis ri, porém sei que ele deve ter pegado pelo tédio de me esperar. Logo
ele colocou o folheto no bolso do terno e fingiu que não estava fazendo nada.
Observei algumas mães com os seus bebês e pouca delas estavam acompanhadas
dos seus companheiros.
— Hope Ferraro? — disse a enfermeira me chamando. Fui até ela e ela
logo começou a falar. — Fará um exame de sangue, junto com um teste urinário
agora e será atendida em breve pela médica. Em duas horas no mínimo, sairia o
resultado da amostra de sangue.
— Certo! — disse.
Mais um teste. Fiz xixi em um copinho e esperamos um pouco até ela
colocar a fita branca no copo.
— Rosa é positivo! — Mostrou a enfermeira a fita que ficou rosa para nós.
— Para termos certeza, fará o exame de sangue agora.
— Não vai doer, não é? — disse nervosa.
Tentei não mostrar que estava com medo da injeção, mas eu tinha pavor.
— Será só uma picadinha, porém tenho que encher esses tubos. Comeu
alguma coisa hoje?
— Sim, mas já vomitei antes de vir.
— Tem um refeitório no térreo. Quando acabar, coma algo para não passar
mal — disse a enfermeira.
Ela limpava o ponto onde ia tirar o meu sangue. Tentei não olhar para o
meu braço, mexia as pernas repetidas vezes, demostrando o meu nervosismo,
porém parei, mas só porque ela pediu. Meu olhar foi para todo o espaço onde eu
estava, já que não queria ver o meu sangue sendo retirado.
Até que o meu olhar foi para o rosto de Lorenzo. O maldito estava rindo de
mim? Quando senti a picadinha, fui ao céu e voltei.
Santo Cristo, aquilo doeu!
Com o tempo ela tirou a agulha e eu me senti mais calma.
— Vamos para o refeitório — disse Lorenzo me guiando.
Tomei uma vitamina e fiquei aguardando o resultado.
Duas horas e meia depois, escutei o meu nome ser chamado. Estava dando
graças a Deus, porque Lorenzo fez questão de ficar calado sem abrir a boca por
duas horas.
— Hope Ferraro? — perguntou a médica assim que eu entrei no
consultório.
— Sim! — respondi, me sentando na cadeira a sua frente e o Lorenzo ao
meu lado.
— Pelo seu exame de sangue, detectamos pequenas quantidades do
hormônio HCG, que é produzido durante a gestação — disse a médica me
explicando o resultado que eu já sabia. Fiz 18 testes, todos deram positivos, mas
ela resolveu explicar mais, para caso eu tivesse dúvidas. — O resultado do exame
de sangue indica que quando a mulher está grávida, quando os valores do
hormônio betaCG são maiores que 5,0 mlU/ml. Os seus são de 37mlU/ml, que são
três semanas na idade gestacional. Parabéns, senhora Ferraro, está grávida de três
semanas.
— Ela está enjoada e passa o dia vomitando, isso é normal? — perguntou
Lorenzo. Nem consegui agradecer por ela me parabenizar, já que Lorenzo não
calou a boca. — O feto... Quer dizer, o bebê está bem?
— Durante as primeiras semanas os enjoos matinais são normais, mas
devemos ficar de olho se forem muito frequentes. Se entrar nas 12 para 13
semanas e continuar com as náuseas e os vômitos muito frequentes, que podem
indicar um risco de vida em potencial, aí devemos nos preocupar. É raro, mas
acontece em cerca de uma a cada 200 grávidas podem sofrer de Hiperemese
gravídica. Por agora, é normal. Te encaminharei para a obstetra, não se preocupe,
ela já acompanhava a gravidez de algumas parentes sua, para dar início ao seu pré-
natal.
— Pré-natal? Ela vai ter que se consultar toda semana? — perguntou
Lorenzo. — Não acompanhei a gravidez da minha primeira esposa, então não sei o
que é isso.
Para quem ficou duas horas calado, o Lorenzo estava bem falante. Não me
deixa nem falar e eu que estou grávida.
— O pré-natal deve começar assim que a mulher descobre que está
grávida. Estas consultas devem ser realizadas uma vez por mês até as 28 semanas
de gestação, de 15 em 15 dias das 28ª até a 36ª semana e semanalmente a partir da
37ª semana de gestação — respondeu a médica.
A médica nos esclareceu algumas dúvidas e algumas coisas que não
poderei fazer mais. Sempre deixando claro que era melhor tirar as minhas dúvidas
com uma obstetra. Assim que saímos da sala, já estávamos a caminho de casa.
Lorenzo resolveu ficar calado, já que deve ter gastado toda a sua saliva
falando no meu lugar. Assim que eu cheguei, a minha sogra estava aqui em casa,
junto com os irmãos do Lorenzo e as meninas. Vi que a minha família também
estava aqui.
— O que... — disse, sendo interrompida pelas pessoas vindo me abraçar.
— Parabéns! — disse minha mãe.
— Enzo, seu filho da puta fofoqueiro! — disse Lorenzo ao amigo.
— Já tentou guardar algum segredo da sua esposa? — disse Enzo. —
Notará que quando estão grávidas são ainda mais assustadoras.
Lucy fez um jantar e tudo estava indo bem, até que a Beatrice resolveu
aparecer e Lorenzo saiu da sala de jantar bravo.
— Vamos comprar umas roupinhas depois que esses ataques acabarem —
disse minha sogra. — O que é isso no seu pescoço? Eu mato o Lorenzo se ele
tocar em você assim.
Expliquei o que aconteceu ontem e todos ficaram chocados.
— Tente tomar cuidado e não ficar sozinha, Hope — disse Lisa.
Fiquei feliz por todos se preocuparem comigo e com o bebê, era bom se
sentir amada assim. Nossa, estou muito sentimental, será que já é a gravidez?
— Oi, Hope! — disse um dos irmãos do Lorenzo. — Sou o Enrico, caso
não se lembre.
— Deixa de perturbar a pobre garota — disse o mais velho. — Sou o
Pietro, mas deve se lembrar de mim, como esquecer desse belo rosto.
— Giulia, vem ver o que o seu marido anda fazendo — brincou Enrico. —
Pela Santa Cruz divina, você é mais bonita de perto. Com todo o respeito, mas a
minha Emma é mais.
Nem pareciam um Ferraro de tão simpáticos. Lembrei que no começo, as
meninas falaram que eles eram uns brutamontes que nem o Lorenzo é comigo.
Será que com o tempo Lorenzo se tornará igual a eles?
— Obrigada! — disse.
— A casa continua a mesma — disse Enrico para o irmão.
— Faz tanto tempo que não andamos aqui — disse Pietro.
— Aproveitei a oportunidade para unir a família, mas ainda está faltando
membros — comentou Enzo.
Todos foram embora, mas Lorenzo ainda não havia voltado. Ele tinha ido
conversar com Beatrice no rifugio, sobre algo que ela queria falar com ele. Estava
no meu quarto, já pronta para dormir.
— Red, pode ir descansar — disse.
Sabia que não era ele hoje à noite, já que havia passado o dia comigo. Ele
só estava porque entendia que eu estava com medo de ficar sozinha e o outro
segurança nunca entrava no quarto, apenas ficava do lado de fora.
— Estou bem, pode dormir — falou, mas seu rosto transparecia todo o seu
cansado.
— Red, é uma ordem! — disse, só assim para ele sair. — Eu estou bem, é
sério, eu não estou mais assustada.
Depois de muito tentar, ele cedeu. Deixei a luz do quarto ligada, até porque
eu ainda estava com medo. Me deitei e esperei o sono vir.
Eram 02:05 da madrugada e acordei com um enorme enjoo. Não devia ter
comido demais no jantar. Reparei que Lorenzo ainda não havia voltado. Não sei se
ainda estava no rifugio ou se foi resolver algo no quartel. Corri logo para o
banheiro, sentindo o meu jantar querendo sair.
Fiquei um tempo parada, sentada de frente para o vaso, até que finalmente
coloquei tudo para fora. Quando coloquei praticamente os meus órgãos dentro do
vaso sanitário, fiquei ainda parada ali, esperando um pouco do mal-estar passar.
Pensei em chamar o segurança que estava na porta, mas como ele me
escutaria se o quarto era a prova de som? Fiquei sentada no chão e esperei
melhorar. Quase vinte minutos sentada no chão gelado faz qualquer ser humano
perder a paz interior.
— Maldito quarto a prova de som — resmunguei, colocando a mão na
barriga. — Vai passar!
— Está bem? — perguntou Lorenzo.
Ele veio até mim, se abaixando, ficando na minha altura. Eu só sentia
raiva.
— Por que você teve que fazer uma casa a prova de som, seu maldito? —
perguntei, enquanto batia no seu peito repetidas vezes. — Sabe há quanto tempo
eu estou aqui esperando alguém aparecer para me ajudar?
Sabia que não estava com raiva dele por isso, e sim, por ele ter largado
tudo para ir atrás da Beatrice. Não era ciúmes, era só porque ele não estava
comemorando que seria pai.
Não é ciúmes, ou é? Droga!
Lorenzo segurou o meu braço e, se fosse outro dia, certamente me
castigaria, mas hoje ele apenas tentou entender de onde vinha tanta fúria.
— Enlouqueceu, Hope? — disse Lorenzo. — Vem, eu te ajudo a chegar na
cama.
Eu ia aceitar a ajuda, já que eu não ia conseguir chegar na cama, mas
aquele perfume que exalava dele me deixou mais enjoada.
— Que perfume é esse? — perguntei.
O empurrei para longe de mim, colocando a mão na boca. Lorenzo cheirou
a camisa e logo a tirou.
— Satisfeita? — perguntou, se aproximando de mim para me ajudar.
— Não precisa mais, eu estou bem! — menti.
Lorenzo ignorou e me pegou no colo. Me levou para cama e saiu do
quarto. Não deu tempo para sentir mais ódio, quando ele apareceu com um copo
de água na mão, me entregando. Bebi a água e me deitei, ainda em silêncio.
Lorenzo ia desligar a luz para ir ao banheiro, quando eu o impedi.
— Pode deixar ligada — disse.
Ele não disse nada e foi para o banheiro. Voltou e se deitou ao meu lado,
desligando todas as luzes.
Não está nítido que eu estou com medo do escuro?
— Lorenzo? — o chamei.
— Oi, Hope?
— Vou deixar a luz do abajur ligada — avisei.
Quando ia me virar para acendê-la, Lorenzo me impediu, me colocando
mais perto do seu corpo.
— Não sairei do quarto — falou. — Pode ficar mais perto de mim se
estiver com medo.
Ele queria soar indiferente, como se não se importasse, mas dava para ver
que ele estava começando a se importar comigo, mesmo que seja um pouquinho.
Coloquei a minha cabeça no seu peito e uma perna por cima das suas. Senti sua
mão na minha cintura, me passando mais segurança.
Eu que não ia recusar, estava com medo de qualquer forma. Essa casa não
é tão segura como eu achei que fosse.
Não demorou para que eu logo adormecesse.
Acordei com o peso do braço de Lorenzo em minha cintura. Tentei
me mexer, mas parecia que ele estava dormindo. Ficava mais tranquila em
saber que ele finalmente estava descansando. Qualquer pessoa que olhasse
para Lorenzo por muito tempo, já observava todo o cansaço que ele tinha
nos olhos.
Ele nunca tirava um tempo para si, se não estava no quartel, estava
no rifugio ou na boate. Sentia que ele gostava dessa pressão, dessa falta de
tempo, talvez assim ele não pensasse muito no que lhe machuca.
Fiquei um tempo sem me mexer, ainda de olhos abertos. Lorenzo
deu uma remexida, logo abrindo os olhos lentamente, tentando se
acostumar com a claridade.
Fechei os olhos para não ser pega o encarando. Me mexi para o
lado, me afastando do seu corpo. Não queria que o Lorenzo percebesse que
eu sabia que ele estava dormindo. Vai que ele ficasse desconfortável por
isso?
Até que o meu celular tocou. Peguei o celular e logo atendi.
— Oi, Dona Telma! — disse ainda sonolenta.
— Eu te acordei? Me desculpe, é que eu queria tirar uma dúvida
com você.
— O que seria?
— Estou olhando umas coisinhas aqui na internet e eu estou em
dúvida de qual eu compro. — Ela parecia está muito empolgada. — Você
gosta de rosa ou roxo? Prefere azul ou verde?
— Bem, gosto de roxo e azul — respondi tentando assimilar o
motivo da sua ligação. — Por quê?
— Estou comprando um enxoval para a maternidade, já que não
sabemos o sexo ainda, estou comprando tudo colorido. É tão lindo! —
falava ainda mais animada. — Estou comprando uma camisola e uns sutiãs
para ajudar na sua amamentação, já pedi para a Emma reservar um
fotógrafo para o parto. Então só se preocupe com o bebê que eu cuido de
tudo. Vi também...
— Dona Telma, eu ainda estou com três semanas e a senhora já está
pensando no meu parto? Não precisa ir atrás disso agora — disse depois de
ter a interrompido.
— Quanto mais rápido, melhor. Notará que não terá tempo para
isso, é sério, quando ver já vai estar perto de parir e sem nada — falou. —
Passei a noite em claro junto com a Giulia e a Emma. Faz tempo que não
temos bebê por aqui, então vai logo se acostumando.
— Dona Telma, vai dormir, não precisa virar a noite com as
meninas, podemos cuidar disso no nosso clube do livro — disse.
— Ótima ideia! Vou deixar tudo separado para te mostrar — falou.
— Beijos e volte a dormir.
Desliguei o celular e sabia que a minha paz acabaria em relação a
isso.
— Minha mãe já está dando uma de vó louca? — perguntou
Lorenzo se mostrando um pouco nostálgico.
— Só está empolgada.
Lorenzo foi direto para o banheiro, logo a Lucy entrou no quarto.
— Beatrice dormiu aqui — disse Lucy no meu ouvido. — Ela havia
bebido muito ontem à noite e está revoltadíssima lá embaixo.
— Então ela está aqui? Lorenzo chegou de madrugada. Deve ter se
divertido muito... — disse sendo interrompida pela Lucy.
— Não — sussurrou próximo de mim. — Descobri que ela veio
conversar com o Lorenzo, mas já que ele não deu muita atenção porque
estavam todos aqui no jantar, ela se zangou. Ela começou a chorar dizendo
que estava com medo de que viessem atrás dela, encheu a cara de bebida,
uma loucura só. E depois Lorenzo acabou a trazendo para dormir no quarto
de hóspedes, já que estava impossibilitada de voltar para casa, mas ele não
tocou nela, ela veio sendo arrastada pelos seguranças, já que o Lorenzo não
quis nem carregá-la.
— Como sabe disso? — perguntei. — E como sabe que é verdade?
— Os seguranças têm medo de mim, esqueceu que eu sou a
queridinha do Lorenzo? — brincou. — Fiquei curiosa porque ela estava lá
embaixo com uma cara nada boa, então fui saber com as minhas fontes.
Então não rolou nada ontem?
— É melhor você ir, antes que o Lorenzo nos pegue fofocando e
pergunte o motivo dos nossos cochichos — disse.
Lucy saiu do quarto e Lorenzo logo saiu do banheiro. Entrei e tomei
meu banho em seguida, colocando um vestido simples e saí do closet.
Quando cheguei na sala de jantar, Beatrice ainda estava lá. O cheiro
do seu perfume estava me causando náuseas.
— Bom dia, Hope! — falou. Ela tinha um sorriso cínico.
Como alguém foi de boazinha a uma megera do dia para a noite?
— Oi, Beatrice! — disse, me sentando um pouco mais afastada dela.
— Não se incomoda que eu fique para o café, não é? — perguntou,
fingindo um sorriso e olhou para o Lorenzo.
— Não tem problemas — disse.
Lucy logo fechou a cara quando viu a mulher ali.
— Vou fazer uma torrada para você — disse Lucy a mim.
Os enjoos pela manhã eram os piores, mas a noite era quando
finalmente eu conseguia vomitar.
— Quero só um suco, por favor! — disse.
— Você mal comeu ontem e vai continuar assim? Sua alimentação
está muito desregular — reclamou Lucy.
— Vejo que a senhora gosta de tratá-la como um bebê — disse
Beatrice sorrindo amigavelmente para a Lucy, certamente querendo a
ganhar com essa conversa.
— Ela é muito carente e ama quando eu fico a bajulando, mas não é
algo que ela vai dizer em voz alta, não é? — brincou Lucy beijando a minha
testa.
Amava quando Lucy fazia os meus gostos.
— Lucy, faça uma vitamina, por favor! — disse Lorenzo depois de
ter ficado calado o tempo inteiro.
— Quer que eu coloque mais alguma coisa dentro?
— É para a Hope — falou. — Faça ela beber e antes do almoço dê
alguma coisa para ela comer.
— Está tentando emagrecer, Hope? Por isso não está comendo
direito? — perguntou Beatrice se aproximando de mim. — Faço uma dieta
muito boa, posso lhe ajudar.
— Ah, não... — disse me sentindo enjoada com o perfume dela. —
Você poderia se afastar um pouco?
— Não precisa ser grossa, só quis te ajudar. — disse Beatrice se
fingindo de ofendida. — Desculpa, Lorenzo, por invadir o seu café da
manhã. Vejo que não sou bem-vinda aqui.
— Não é isso... — Tentei reverter aquela situação para que eu não
me prejudicasse depois. — O seu perfume, ele...
Não aguentei mais e corri para o banheiro do quarto da Lucy, já que
era o mais próximo da sala de jantar. Fiquei sentada esperando vomitar, mas
nada veio.
— Você não comeu nada para colocar para fora, minha querida —
disse Lucy, passando a mão nas minhas costas.
— Faça um suco para ela que eu cuido dela aqui, Lú — disse
Lorenzo entrando no banheiro.
Lucy saiu do banheiro, indo para cozinha.
— Pegue o remédio que a médica receitou para os meus enjoos —
pedi para Lorenzo. — Está na cabeceira da cama.
Lorenzo se levantou, indo até o nosso quarto. Achava que ele não
iria, do jeito que era grosseiro, mandaria eu mesma ir, mas ele foi sem dizer
uma palavra.
— Está jogando sujo, Hope — disse Beatrice se encostando na porta
do banheiro. — Isso foi para se livrar do castigo? Sei que eu estou tentando
pegar o seu marido, mas acha que me tratando daquela forma na mesa é
maduro?
Essa garota ainda está aqui?
— Deixe de falar bobagens — disse sentindo meu estômago
embrulhar com esse cheiro dela. — Estou enjoada por conta do seu
perfume. Então, por favor, se afaste um pouco.
— Enjoada? — Riu. — Esta é a sua desculpa para eu ir embora e
deixar o Lorenzo com você?
— Garota, nem tudo roda em torno do Lorenzo — disse enquanto
encarava o vaso. — Estou enjoada porque eu estou grávida!
Ela ficou parada em choque.
— Já tentou prendê-lo com uma criança? Está com medo de que eu
consiga tirar ele de você?
— Santo Cristo! — disse, revirando os olhos. — Eu te conheço não
tem cinco dias e eu engravidei nesse período? Pense antes de falar.
— Olhe... — Ela não terminou, já que o Lorenzo entrou no
banheiro.
— Não sabia qual desses era — disse Lorenzo com alguns remédios
em mãos.
Peguei o remédio para o meu enjoo e logo a Lucy apareceu com o
meu suco. Tomei ambos e esperei melhorar.
Lorenzo pegou o celular do bolso, ligando para alguém.
— Enzo, comece a reunião sem mim, chegarei atrasado — disse
Lorenzo. — Está tudo bem, a Hope está enjoada, caso não melhore, levarei
ela ao médico.
Lorenzo logo desligou a ligação, colocando o celular no bolso
novamente.
— Prefere subir ou descansar aqui no quarto comigo? — perguntou
Lucy.
— Quero ficar com você, Lucy — disse.
Me levantei para caminhar até o quarto, mas Lorenzo me impediu e
me carregou até a cama.
— Você passou mal a noite e está passando mal agora. Não quer que
eu te leve para o hospital? — perguntou Lorenzo.
— Estou bem, é normal — disse. — Pode ir para a sua reunião, eu
ficarei aqui com a Lucy. O Red daqui a pouco chega e ficarei os dois.
Lorenzo pensou um pouco e logo saiu. A sombra Beatrice saiu atrás
dele.
— É, parece que tem mais uma concorrente — disse Lucy. — Está
se sentindo melhor?
— Acho que só piora por conta da minha pressão que é baixa, mas
eu estou bem — respondi me aconchegando na cama.
Eu só precisava dormir um pouco.
Depois que melhorei, fui resolver alguns assuntos pendentes. O dia
foi até produtivo. Comecei a planejar o evento beneficente para um orfanato
no interior do estado. Fiquei surpresa quando vi que já eram 18:45h, havia
passado a maior parte da tarde planejando tudo perfeitamente para mostrar
as meninas.
— Já está na hora do jantar — disse Red. — Está trabalhando muito
hoje desde o almoço.
— Ser a esposa do Capo me fez assumir muitas responsabilidades
— disse. — Sabe dizer se o Lorenzo já chegou?
— Sim, está na biblioteca.
Pedi para Red me levar para lá. Era a primeira vez que eu ia até o
terceiro andar. Dei duas batidas na porta, esperando ele dar algum sinal de
vida.
Será que está com alguma visita?
Oh, céus!
— Sì?
— Sou eu! — Sério, Hope? — Posso falar com você?
Ele demorou um pouco para responder, mas logo me deixou entrar.
Assim que eu entrei, não tive como conter a surpresa no meu rosto. A
biblioteca ocupava o andar inteiro. Tinha muitos livros, bem mais do que vi
na casa da minha sogra. Eu passava o dia sem fazer nada, o que custava ele
me deixar ler um desses livros, eu nem me importo com os documentos que
tem aqui, nem mexeria.
— O que foi? — perguntou.
Ele estava diferente, nem parece a mesma pessoa de hoje cedo. Se
ele está assim, alguma coisa aconteceu.
Será que teve mais um ataque?
Céus, estou ficando com medo.
Lorenzo estava sentado de frente para sua mesa lendo alguns papéis.
Ele parecia preocupado com algo e isso fez eu me arrepender de ter vindo.
— Desculpa, eu atrapalhei? — perguntei. — Falo com você no
jantar.
Já ia sair do cômodo, quando o Lorenzo me chamou.
— Diga o que quer, Hope — falou.
— Bem... — disse, me aproximando da sua mesa. — É que eu andei
pesquisando sobre a próxima ação beneficente e vi que era em um orfanato
no interior do estado precisando de verbas para aumentar o refeitório de lá.
Os eventos das mulheres eram escolhidos junto ao governo. A mídia
escolhia qual era o melhor lugar para melhorar ainda mais a imagem dos
Ferraro fora da máfia. Nesses eventos não tinha nada ilegal a venda, o
problema era que pagávamos um valor para as obras de caridade e o
governo decidia se dava ou não a quantia para os que precisavam.
— Só falar com a secretária do prefeito que ele mesmo fala com
quem está à frente do orfanato — disse Lorenzo. — Tire suas dúvidas com
ela, que ela sabe como isso funciona. Se era só isso que gostaria de falar
comigo, eu estou atolado de coisas para fazer agora.
Na verdade não era só isso, mas já que o Lorenzo estava rabugento,
fiquei na minha.
— Sim, obrigada por me ajudar — respondi desapontada.
Quando ia me virar para seguir caminho para a porta, Lorenzo
começa a praguejar.
— Que inferno, Hope! — falou, jogando os papéis que estavam na
sua mão na mesa. — O que realmente você quer? Não era sobre o que eu te
respondi?
Me assustei um pouco com o barulho dos papéis. Por um segundo
achei que ele ia jogar em mim. Não confio, já presenciei uma cena como
essa do meu pai com a Lisa e não foi muito agradável depois.
— Não era nada — disse saindo dali.
— Conseguiu falar com ele? — perguntou Red.
— Ah, ele está bem ocupado — disse. — Vou jantar mais tarde hoje,
estou um pouco indisposta agora.
Já no quarto, tirei de cima da cama os papéis dos esboços que eu
havia feito para mostrar para as meninas no clube do livro sobre a visita no
orfanato. Guardei no meu lado do closet e logo fui me deitar.
Falei um pouco no telefone com a minha mãe e a Kitty, não
demorando muito na ligação já que estava com sono. Fiquei encarando a
minha barriga por cima da camisola, daqui uns meses essa camisola não
servirá mais em mim.
Fiquei um pouco sonolenta de tanto massagear minha barriga. Isso
era muito bom, mas não consegui dormir por conta da luz do abajur ligada.
Estava sozinha no quarto, só com o segurança lá fora. Ainda estava com
receio de dormir sozinha, não tinha confiança como antes.
Fiquei apenas de olhos fechados esperando o sono finalmente me
nocautear.
— Hope? — Lucy me chamava da porta, logo ela entrou, vindo até
mim. — Lorenzo está pedindo para descer para comer.
Olhei no relógio e já eram 22:35h. Nossa, eu fiquei muito tempo
deitada e não dormi.
— Já estou indo — disse.
— Fiz uma comidinha leve para comer, já que está tarde.
Desci logo em seguida, indo para a sala de jantar. Me sentei na
mesa, um pouco sonolenta.
— Sua consulta com o obstetra está marcada para amanhã à tarde —
disse Lorenzo se sentando ao meu lado.
Meu cérebro ainda estava processando. Estava quase dormindo
quando a Lucy me chamou.
— Certo — disse.
Sabia que amanhã já não veria minha mãe. Lucy chegou com o meu
jantar e tratei logo de comer para voltar para cama. Não comi muito para
não ficar muito cheia e ter o perigo de colocar tudo para fora depois.
Voltei para o quarto e fui logo me deitando. Já havia esperado um
pouco na mesa a comida descer.
— O que você ia pedir mais cedo? — perguntou Lorenzo se
sentando na cama, tirando o seu sapato.
Pude notar que o seu cheiro estava diferente, não era o cheiro do seu
perfume.
— Era só aquilo mesmo — disse.
Eu que não pediria mais nada.
— Diga logo, eu sei que não era só isso.
— Era sobre o orfanato, mas como você disse, tenho que deixar
tudo nas mãos do prefeito.
Era um saco ter que ainda pedir permissão para o prefeito.
Obviamente que ele não vai aceitar perder o dinheiro fácil que ganha.
— Hope, diga logo — insistiu.
— Só não seja grosseiro quando escutar — disse. — Queria saber se
o dinheiro que você doa para esse evento poderia permanecer lá. Sei que
quando o dinheiro é doado, não importa para quem fica, mas não vejo nada
de vantajoso nesse acordo.
Lorenzo arqueou a sobrancelha sem entender onde eu queria chegar
com aquela conversa.
— Não? — indagou. — Então me diga, o que te fez chegar nessa
conclusão?
— Bem, fora os gastos do evento que saem do bolso da máfia e o
dinheiro que é doado, é como se estivessem pagando para eles não falarem
nada, como se eles tivessem poder sobre vocês. O que eles dão em troca?
Ajuda quando estão perseguindo alguém ou facilitam a transportação de
armas e drogas? Isso nem chega a ser uma grande ajuda, já que temos
nossos aliados e investidores que facilitam isso para nós. Vocês têm olhos e
ouvidos por todos os lugares e, estranhamente, com a ajuda deles suas
cargas vivem sendo roubadas!? Já parou para pensar que eles podem estar te
traindo? Fora que se você calculasse o valor do evento com a doação feita,
que abrindo umas aspas aí, nunca foi doado, dava para você fazer a doação
real, pagar a mídia para não fazer certas divulgações que te prejudicassem e
ainda sobraria dinheiro para fazer qualquer outra coisa. Vocês não
comandam o governo, eles que comandam vocês. Só estão fazendo você ver
o lado bom de ser aliado deles, mas na verdade, nada é favorável.
Lorenzo ficou calado, matutando em cada palavra que eu disse. Não
sei se falei demais, porém, ultimamente, não conseguia controlar a minha
boca.
— Desculpa por me meter no seu trabalho, isso não irá se repetir —
disse, já que o Lorenzo ainda permaneceu calado. — Só queria saber
mesmo se o dinheiro poderia ficar realmente no orfanato, eles estão
precisando dessa verba.
— Seu jeito de observar as coisas às vezes me assusta — disse
Lorenzo. — Faça uma ação beneficente no seu nome e o dinheiro pode ficar
realmente onde você quer que fique.
— Lorenzo, esqueceu que eu não tenho nada no meu nome para
doar? — falei.
— Quando se casou comigo, herdou alguns dos meus bens. O que é
meu, é seu. Faça o que quiser com a sua parte — falou.
Então eu não precisava realizar o evento do governo agora? Faria
um no meu nome e ajudaria quem estivesse precisando. De alguma coisa
estava valendo ser rica.
— Obrigado, era só isso mesmo.
Estava empolgadíssima!
— Quero que esses olhos avaliem algo para mim depois. Talvez
amanhã eu te mostre — disse Lorenzo me colocando em seu colo. — Desde
quando você tem essa aptidão de observa as coisas?
Ele estava bem curioso.
— Não podia falar com ninguém, não podia brincar com ninguém e
não podia olhar para ninguém. Eu apenas escuto e avalio. Você ficaria
surpreso se apenas escutasse as coisas com mais atenção. As pessoas podem
até enganar sem mostrar nenhum tipo de emoção, mas a fala diz muito —
disse.
Meu pai sempre foi muito extremista e possessivo comigo e com as
minhas irmãs. Ele não queria que a gente o envergonhá-lo na frente dos
outros, já bastava ser mestiça aqui.
Então sempre nos mandava ficar caladas e hoje isso meio que virou
uma parte de mim. Tinha tanto medo de falar algo, que não me sentia livre
nem para conversar com alguém. Isso me afeta bastante, mesmo que o
Lorenzo não seja igual ao meu pai nesse quesito, criei um trauma muito
grande, porque eu me lembro bem dos seus castigos.
Lisa era a que mais sofria, pois ela sempre quis ter a atenção do meu
pai para que ele não se “dedicasse” tanto nos castigos comigo e nem com a
Kitty.
— Não costumo ficar surpreso com algo, mas você é surpreendente,
Hope — disse Lorenzo.
Lorenzo se aproximou do meu pescoço, afastando algumas mechas
de cabelo que estavam ali, depositando beijos. Ele permaneceu beijando o
local, com a mão na minha cintura, dando leves apertos.
Ele estava fazendo tudo com muita calma e eu apenas queria que ele
acelerasse. Ele sabia que estava me deixando louca e fazia tudo o mais
lentamente possível para me atiçar. Quando seus beijos desceram para os
meus seios, não consegui segurar o gemido de dor.
— Está doendo? — perguntou.
— Estão sensíveis por conta da gravidez — disse.
Lorenzo me deitou na cama, ficando por cima de mim.
— Então terei cuidado para não machucá-los.
Com os lábios, Lorenzo beijava delicadamente cada parte dos meus
seios, mas com as mãos, apertava com força as minhas coxas. Subiu os
beijos para o pescoço e finalmente chegou nos meus lábios novamente.
Lorenzo logo os tomou ferozmente, me deixando mais excitada.
Tirou minha roupa, e eu o ajudei a tirar as suas. Ele finalmente colocou o
seu membro dentro de mim, se movimentando repetidas vezes.

Depois de um tempo, atingimos o nosso ápice. Lorenzo se deitou do


meu lado, encarando o teto.
— Lorenzo... — disse ainda ofegante. — Sabe que eu não me
importo de você ter outras mulheres, mas tente não ficar com o cheiro delas
— menti, não que eu não me importe, sei que as regras são diferentes e
aquilo me incomodava, só que eu não diria isso.
Estava começando a me importar, porque sei que eu não teria
reclamado se não me importasse.
Droga!
Saí para o banheiro para me limpar e logo voltei para a cama.
Lorenzo não disse nada, só ficou parado.
— Eu não durmo com ninguém há muito tempo, Hope —
respondeu. — Mas ando na boate, então não tem como eu não ficar com o
cheiro dos outros em mim.
Ele não precisava falar e certamente não estava mentindo. Eu nunca
o vi mentir. Me deitei e não o respondi.

Pela manhã, acordei e Lorenzo já não estava mais do meu lado.


Cuidei de me organizar para o evento que faria. Liguei para as
meninas informando que na quinta-feira nós só falaríamos disso. Logo elas
ficaram desapontadas.
Estava me arrumando para a consulta e Red já estava na porta do
quarto me esperando. Lorenzo iria do quartel para lá, então não precisava
esperar. Terminei de me arrumar e o acompanhei até o carro.
Chegamos no consultório e logo fui atrás de Lorenzo.
— Por que demorou tanto? — perguntou.
— Parei para vomitar — disse.
Depois de alguns minutos, a enfermeira me chamou.
Caminhei para dentro do consultório e Lorenzo entrou comigo. Só
espero que desta vez ele me deixe falar.
— Hope Ferraro? — perguntou a médica e eu assenti, logo me
sentando na cadeira. — Fico grata que confie em mim na sua trajetória
nesse novo mundo. Sem mais delongas, vamos começar.
A médica começou a verificar o meu peso, a minha altura e a minha
pressão. Anotando tudo na minha nova ficha.
— Está tendo algum sangramento? — perguntou.
— Veio um pouco hoje cedo — respondi.
— O sangramento significa apenas a acomodação do saco
gestacional, é a estrutura que, primeiro momento, irá abrigar o embrião —
explicou, talvez pela cara de preocupação do Lorenzo. — Na verdade, o que
ocorre é que quando ele se implanta na parede do útero, algum vaso
sanguíneo pode se romper. Muitas vezes é confundido com menstruação,
mas caso venha ocorrer do seu sangramento vir periodicamente, com uma
coloração marrom escura, venha ao hospital para que possamos avaliar o
seu quadro médico.
— Certo — respondi.
A médica fez o exame do toque, que me deixou bem desconfortável.
O exame pélvico, para ver a posição do útero ou se havia alguma anomalia
pélvica, também verificou minha mama, tiroide, abdômen, entre outros.
Achava que ia morar dentro do consultório. Lorenzo só ficava
observando tudo calado, se mostrando um pouco incomodado.
— Está tudo normal, mas sua pressão me preocupa um pouco —
disse a médica. — Passarei alguns exames para você. Um hemograma
completo, exames para verificar doenças como sífilis, hepatite, blenorragia,
rubéola, HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. Um exame para
descobrir tipagem sanguínea, exame de urina para verificar como estão os
seus rins e o papanicolau e HPV. Então me entregará tudo isso daqui a 1
mês.
Nossa, quantos exames. Saímos da sala e Lorenzo segurou o meu
braço assim que chegamos no elevador.
— Quando ia falar que teve um sangramento? — perguntou.
— Aconteceu hoje de manhã, Lorenzo. A Lucy havia dito que era
normal acontecer no primeiro trimestre da gestação — disse.
— Não importa — falou. — Tudo que envolver você e esse bebê eu
quero saber. Está me entendendo, Hope?
— Sì — disse.
— Vamos, tenho que passar no Enzo — falou entrando no elevador.
Chegamos no carro e Lorenzo falava ao telefone.
— Thony, passaremos em casa para deixar a Hope — disse Lorenzo
colocando o seu telefone no peito para que a pessoa da linha não escutasse
o que estávamos falando.
— Você disse que íamos na casa do Enzo — disse.
— Eu vou, você vai para casa — disse Lorenzo.
Nem ia argumentar. Não estava escondendo, já que a gente ia para o
médico hoje e que a Lucy, que era técnica de enfermagem havia dito que
era normal aquela pequena gota de sangue, por que eu discordaria? Só para
ele surtar e me arrastar para o hospital do nada?
Thony estacionou em frente de casa, saí do carro sem nem olhar
para trás.
— Não esqueceu de nada? — perguntou Lorenzo me segurando nos
degraus da escada.
O maldito beijo! Estava com tamanha fúria que esqueci. Dei um
beijo rápido e tentei sair, mas ele não deixou.
— Não me provoque, Hope — falou. — Eu sempre tento ser o mais
claro com você e quando é na sua vez você sempre me esconde as coisas.
Me soltou e se virou indo para o carro. Caminhei para dentro da
casa, encontrando com a Lucy na sala.
— Está tudo bem? — perguntou Lucy.
— Estou de “castigo” pelo que aparenta — disse. — Então eu vou
subir e vê se falta algo para o evento.
Fui para o quarto ficar presa até o meu carcereiro voltar. Entendo
que ele deve ter ficado preocupado, mas não era sério, imagina se eu ligasse
para o Lorenzo dizendo que eu sangrei, ele morreria. Confiei no que Lucy
disse e, como eu tinha consulta, não tinha para que se desesperar.
Estávamos indo tão bem.
Que saco!
Quando estava saindo do bar, um grupo de cinco homens veio até mim.
— Passa tudo! — Ouvi o grito e vi um deles colocar a mão por baixo da
camisa para mostrar que estava armado.
— Está querendo ir para o inferno antes do tempo, meu jovem? —
perguntei sarcástico. — Achei que eram pelo menos ladrões, mas vejo que é são
só um bando de estúpidos. Não acredito que fiz esse esforço todo para tirar vocês
de perto da minha esposa, sendo que vocês são uns merdinhas — disse indignado.
— Só dá logo suas coisas, porra! — disse outro homem.
— Vocês vão odiar saber quem eu sou — falei, sorrindo para eles. Vi que
eles cederam um pouco, logo os meus seguranças se aproximaram quando os
moleques iam sair correndo. — Já vão? Agora que eu estava começando a gostar.
Eles olharam a quantidade de seguranças que apareceram, olhando para
mim em seguida. Me sentei em uma das cadeiras do lado de fora do bar,
encarando os covardes a minha frente.
— Plano estúpido — disse, balançando a cabeça em negação. — Agora me
diz, que ideia impensada é essa de tentar me roubar?
— Nós vimos a oportunidade e... — falou, ficando em silêncio sem ter o
que fazer. — É policial?
— Ah, não me jogue praga dessa forma — falei. — Sou alguém que com
certeza vai matar vocês.
Um dos homens partiu para cima de um dos meus seguranças, jogando a
cadeira nele na tentativa de fugir.
Idiota!
Os outros também aproveitaram para correr, mas tinha um grande contraste
aqui, meus seguranças eram muitos e esses homens eram inexperientes. A briga
foi bem rápida, já que os meus seguranças eram treinados. Quando me aproximei
dos indivíduos, um novo homem surgiu com uma garrafa quebrada em mãos
tentando me acertar, consegui me desviar, mas o vidro ainda atingiu o canto da
minha sobrancelha.
— Está querendo me deixar cego, seu porra? — disse assim que eu
coloquei a mão aonde sangrava. — QUE INFERNO!
Me aproximei dele, dando socos no seu rosto.
— Eu tentei conversar com vocês e mesmo assim fazem isso comigo? Que
feio! — disse, enquanto distribuía vários socos no rapaz. Saí de cima dele,
notando que os meus punhos estavam machucados.
Merda, como eu vou explicar isso caso algum deles note no jantar de mais
tarde.
— Mate-os, mas primeiro façam sofrer — disse a um dos meus
seguranças. — Tem um necrotério na cidade, é de um amigo meu, leves os corpos
para lá que ele cuida do resto.
Alguns dos meus seguranças sairiam com os moleques e o resto me
acompanhou até o hotel. Porra, estava atrasado. Assim que entrei no quarto, pedi
para o Red dar uma volta, já que ele não descansou nada hoje. Caminhei para o
banheiro, mas logo chamei a ruiva para me ajudar com o curativo.
Ela logo começou a limpar a ferida, enquanto eu terminava de me vestir.
Só que com o meu tamanho, era difícil dela limpar a ferida direito. Logo a peguei
no colo e coloquei em cima do balcão da pia. Quando terminou, a ruiva fez algo
que novamente me surpreendeu.
— Prontinho! — falou, sorrindo para mim. — Uma recompensa por ter
sido um rapaz muito forte — disse, dando um beijo em meus lábios.
— O que foi isso? — perguntei confuso com essas demonstrações de afeto
que ela estava tendo ultimamente.
— Bem, eu não pensei antes e... hum... era só para te deixar mais tranquilo
— disse Hope.
— Se for me dar alguma recompensa, me dê pelo menos um... — Fui
interrompido pela boca de Hope na minha. Coloquei a minha mão na sua nuca e
ela envolveu os seus braços ao redor do meu pescoço. Eu a desejava muito.
Ansiava por seu toque e pelos seus lábios.
O que ela estava fazendo comigo? Nunca desejei tanto alguém, como eu a
desejo. Meu celular tocou fazendo com que nós nos separássemos. Era Harvey
perguntando se eu demoraria.
Puxei a ruiva para fora do quarto, indo até o elevador. Ela estava calada e
não disse nada desde o beijo. Quando chegamos no clube, caminhei de mãos dadas
com a minha esposa até chegar na área vip. Meus colegas de faculdades já haviam
chegado, apresentei ela para eles e nos sentamos em seguida.
A conversa fluía normalmente. Eu havia esquecido de como era conversar
com as pessoas. Sempre conversei mais com o Enzo, estava acostumado a sermos
apenas nós dois.
— O que faz da vida, Hope? — perguntou Peter.
— Pare de fazer perguntas para a minha mulher, seu figlio di puttana! —
disse.
— Gosto de quando fala italiano conosco — disse Aisha.
Eu e ela já transamos na época da faculdade. Na verdade, já transei com as
três aqui, apenas sexo de uma noite e nada mais. Era meu último ano "livre" e eu
quis aproveitar.
— Não trabalho. Meu tempo agora é para eventos beneficentes e para
abrigos de caridade — respondeu Hope.
Fiquei bem receoso com o que ela responderia, mas pelo menos tirou de
vista qualquer dúvida sobre ela. Hope não era boa mentindo, tinha medo dela
entregar tudo sem querer.
— Então é sustenta pelo seu marido? — indagou Michelly.
— Sim, da mesma forma que deve ser o seu acompanhante quem banca a
sua noite — disse Hope para ela.
Eu apertei a sua coxa em desaprovação, sabendo que provavelmente a
Michelly não deixaria isso passar e a provocaria ainda mais. Que porra ela estava
fazendo? Hope não era de fazer esse tipo de cena, que merda ela tem na cabeça
para fazer isso sem saber mentir ou lidar com pressão?
— Agora fiquei curioso, como sabe que ela está com alguém? —
perguntou Harvey.
— Me diga, vidente, como me conhece tão bem? É uma stalker? — disse
Michelly em tom de zombaria.
Mesmo com raiva, eu não podia negar meu interesse em saber como Hope
chegou a tal conclusão. Não era muito de conversar com ela, para conhecer mais
sobre a sua vida ou sobre a sua personalidade.
— Está com marca de aliança no seu dedo — disse Hope apontando para a
mão da Michelly. — Peter havia deixado bem claro que o grupo era feito por
solteirões e mesmo que ela tivesse tido alguém, ele teria citado, já que achou
ultrajante o Harvey, o Lorenzo e o Enzo terem "saído" do grupo dos solteirões por
casarem. Você tirou a aliança por desconforto, talvez porque não quisesse que os
demais soubessem o que estava fazendo. Se não fosse algo que a envergonhasse,
você não teria tirado a aliança do dedo, o que me dá um palpite que seja casado a
pessoa com quem você se envolve. Mesmo se tivesse terminado há algum tempo,
com o sol daqui, essa marca de aliança já deveria ter sumido.
— Uau! — disse Clarice, enquanto batia palmas para a Hope. — Você é
uma boa observadora.
Fiquei admirado com essa sua aptidão desconhecida por mim. Me pergunto
o que mais ela sabia fazer.
Quando eu ia mudar de assunto, Harvey falou primeiro, sabendo que a
Michelly começaria a encher o saco com aquilo. Depois daquilo, Hope ficou
calada o resto da noite. Então, quando ela pediu para eu ir ao banheiro,
acompanhei-a para a sua surpresa. Assim que chegamos, verifiquei se havia
alguém ali e logo vi que não.
— Agora me diga que tipo de merda você tem na sua cabeça, para ter feito
aquilo na frente dos meus amigos? Qual a parte que você não entendeu que era
para ter ficado na sua? — perguntei.
— Eu não pensei... — A interrompi, aproximando-me dela.
— A sua sorte é que estamos longe de casa — disse, encarando-a furioso.
Imagina a merda que isso poderia ter ocasionado. Michelly sempre foi muito
briguenta, se ela encostasse na Hope, eu ficaria puto e isso não seria nada bom. —
Quando chegarmos no hotel, terminamos a nossa conversa.
Saí do banheiro, tentando ficar calmo.
Que merda!
Logo ela saiu do banheiro e voltamos para a mesa. A conversa estava
começando a ficar tediosa.
— Coma o polvo, está delicioso! — disse Clarice para Hope.
— Ah, não! — respondeu. — Vou ficar só no suco mesmo, estou um
pouco enjoada desde cedo.
Hope fez uma cara de nojo olhando para o prato e eu apertei os lábios para
não fazer alguma piada sobre isso. Eu não conseguir ficar com raiva dela por
muito tempo. Clarisse, por outro lado, sorriu, e eu não entendi por que o fato valia
seu sorriso.
— Sua menstruação está atrasada? — perguntou próxima da Hope.
Aquilo tomou toda a minha atenção.
— Que dia estamos? Bem, ainda não veio.
— Você pode... — Clarice se empolgou, colocando a mão na boca para não
chamar atenção dos demais presentes. — Oh, Deus!
— O quê? Acho que não, deve ser só um mal-estar — disse a ruiva.
— Está sentindo muito sono e mudança de humor? — perguntou.
— Sempre fui muito dorminhoca. Deve ser só o mal-estar da viagem
fazendo efeito agora.
— Também achei quando fiquei grávida — disse Clarice.
Grávida? Mas já? Quer dizer, sabia que isso aconteceria, mas será que eu
estava preparado para ser pai de novo? Eu estou fodido, se eu estragasse a vida da
criança? Sabia que precisava me casar para gerar o meu herdeiro, mas eu não
pensei muito nisso, porque estava ocupado sofrendo o luto da minha primogênita.
Estava bastante pensativo desde que escutei a conversa delas. Analisava a Hope e
ela parecia estar bem enjoada.
Avisei a todos que íamos embora, não estava mais com saco para ficar aqui
e com esse som alto me azucrinando. Assim que chegamos no hotel, eu fui para o
bar encher a cara até saber o que deveria fazer e Hope foi para o quarto.
Eu perguntaria se ela estava mesmo grávida ou pediria para alguém
perguntar? Droga, ela era a minha esposa, por que era tão difícil perguntar uma
simples coisa? Voltei para o quarto já tarde da noite.
— Ela está bem? — perguntei ao Red que estava na porta do quarto.
— Sim, senhor! — respondeu. — Está um pouco abatida, mas ela estava
indo se deitar quando eu saí do quarto — falou, agora olhando os meus
machucados. — Notei os machucados, querendo relembrar os velhos tempos?
— Realmente, só faltou você e bandidos mais experientes — disse,
lembrando de como eu o conheci. — Descanse, peça para que outro rapaz fique no
seu lugar esta noite, não sairei daqui.
Entrei no quarto e não vi Hope na cama. Meus olhos percorreram todo o
quarto, até achar ela no sofá da varanda dormindo. Me aproximei, analisando-a.
Ela dormia, sem notar a minha presença. Peguei-a nos braços e a levei para a
cama.
Caminhei para o banheiro e tomei banho. Me sentei na cama ao seu lado
com a mente a mil. Fiquei naquela posição por um tempo, até ela se mexer.
Resolvi me deitar, tentando parar de pensar naquilo.
Pela manhã, vi Hope se levantando rapidamente para ir ao banheiro. Fiquei
deitado por um tempo, até escutar o barulho vindo de lá. Entrei no banheiro, a
olhando ajoelhada em frente ao vaso. Se me lembro bem de Alessandra desse jeito
quando ficou grávida. Não acompanhei nada da gravidez da Antonella e aquilo me
atormentava.
— Que mal-estar! — disse a ruiva quase em um sussurro.
— Quer ir ao médico? — perguntei, assustando-a.
— Já estou bem, deve ser algo que eu comi — respondeu.
— Vá para a praia com Red e tome uma água de coco, talvez melhore.
Ela trocou de roupa e quando estava prestes a sair, veio na minha direção
para me dar um beijo, mas não durou muito, a ruiva logo correu de volta para o
banheiro.
— Você realmente não quer ir ao hospital? Red te levará, se for o caso de
você não querer que eu te acompanhe — perguntei, assim que vi que ela
melhorou.
— Eu estou bem, deve ser a comida que não me caiu bem. Não estou
sentindo nada além de enjoos.
Saí do banheiro, deixando-a terminar de se limpar.
— Red, qualquer coisa me liga. Se ela passar mal novamente, leve Hope
ao hospital — disse, saindo do quarto.
O dia seria um inferno com os investidores e saber que uma criança
poderia estar vindo me assustava, mas me trazia uma paz absurda. Será que
saberei amar alguém além da Antonella?
Quando voltei da reunião com os investidores, vi que a ruiva estava
dormindo tranquilamente na cama. Não havia prestado atenção em nada na
reunião.
Minha única preocupação era se seria uma criança mesmo esse mal-estar
repentino da minha esposa. Eu quero e, ao mesmo tempo, não quero ter um filho.
Em pensar que poderei perder mais uma criança... um nó já se forma na minha
garganta.
Aproveitei que ela dormia e cochilei ao seu lado, já que não consegui
dormir noite passada. Senti um reboliço ao meu lado na cama e percebi que era a
Hope acordando. Ela logo se sentou, provavelmente achou que eu estava
dormindo.
— Está melhor? — perguntei ainda deitado.
— Santo Deus! — disse Hope assustada com a minha presença ao seu
lado.
Assentiu que estava bem e permaneceu sentada. Coloquei o braço sobre os
olhos, tentando dormir.
— Cuidado com o seu machucado — disse Hope, afastando o meu braço
de perto da sobrancelha.
— Já está melhor — disse, colocando novamente.
— Claro que não está, se machucou ontem como isso pode estar melhor?
— indagou. — Vou pegar o remédio, não saia daí.
Ela ultimamente estava bastante autoritária comigo. Ela não reparava, mas
nas nossas poucas conversas eu havia notei. Não sei se ela já se sentia mais livre
para falar, já que antes ela sequer me olhava.
Hope logo voltou com os remédios, cuidando do meu machucado da
sobrancelha e, em seguida, mesmo sem eu pedir, cuidou dos que eu tinha nos
meus punhos. Estranhava esse tipo de contato e preocupação. Geralmente eu
recebia isso da minha família, e venhamos e convenhamos que eu e a Hope não
nos conhecemos.
Hope me impressionava porque, em meio a tudo, ela não deixou a
escuridão tomar seu coração. Por outro lado, toda escuridão e maldade que
existiam já havia corrompido o meu.
— Posso fazer duas perguntas? — Ela se deitando ao meu lado.
— Depende do que seja — disse, me virando para encará-la. — Se é algo
sobre o evento de amanhã que você tomará a frente, sim. Se for algo sobre mim,
não.
Ela desistiu das perguntas, mas fiquei curioso em saber o que era. Então
depois de um tempo e sem muito esforço meu, ela fez as perguntas, ela parecia
curiosa para conhecer mais o meu lado.
— A primeira é o que aconteceu para ter cortado a sobrancelha? —
perguntou, apontando para o meu corte.
A ruiva já estava encostada na cabeceira da cama, me encarando. Expliquei
o que houve na saída do bar. Então ela finalmente fez a segunda pergunta.
— Sei que não devo me intrometer na sua vida, é apenas uma curiosidade,
nada além disso — falou, já me deixando alerta pela sua pergunta. — Percebi que
você mal dorme e quando pega no sono, logo acorda, como se não se permitisse
ter descanso. É insônia ou por que realmente seus pensamentos não te deixam
dormir?
Ela realmente era bastante observadora. Fiquei surpreso por ela ter notado.
— Você é muito perspicaz, senhora Ferraro. Não sabia que tinha essa
aptidão para observar as pessoas — falei, não gostando muito dessa sua pergunta.
— O mundo não desaparece quando você fecha os olhos. Ele ainda está lá. Seus
medos, seus inimigos, ainda permanecem lá fora te esperando, prontos para
destruir tudo o que você tem e ama.
Não ia falar dos meus problemas com ela, muito menos do que me
atormentava a noite. Quis mudar o assunto daquela conversa, porque eu sabia
como eu ficava.
— O que me faz lembrar de ontem... — Não terminei de falar, quando a
ruiva correu para o banheiro.
Escutava ela vomitando no banheiro. Liguei para Red, o mandando deixar
o carro preparado lá embaixo. A chamei para descer e ela ainda resistiu em ir, mas
se deu por vencida no final.
Durante o caminho para o hospital optei por ficar calado. Agilizei para que
a Hope fosse logo atendida, já que iríamos embora mais tarde. O médico começou
a fazer algumas perguntas e eu apenas observava. Para o meu azar, os resultados
dos seus exames só sairiam a noite ou amanhã.
Já no jatinho, Hope se mostrou inquieta. Conversamos sobre o evento que
ela tomaria a frente amanhã. Seria sua primeira aparição ao público como a minha
esposa e líder do grupo dos eventos.
Não nego que estava um pouco receoso, Hope não é uma mulher que saiba
desviar a conversa e mentir na cara dura. Por sorte, pelo pouco que eu a conheço,
sei que ela não falaria demais para não nos comprometer.
— O que foi? — perguntei, recebendo o seu olhar sobre mim, depois que o
assunto da nossa conversa terminou.
— Nada — disse Hope um pouco constrangida por ter sido pega no flagra.
— Então por que não para de me olhar? — Indaguei, deixando-a ainda
mais envergonhada.
— Você também está fazendo o mesmo comigo — respondeu.
Correto!
Me encostei na cama, apoiando a minha cabeça com os meus braços.
Observava o teto, me sentindo estranho.
De certa forma eu estou me adaptando muito bem com essa vida de
casado. Hope por ser acessível e talvez pela sua bondade e gentileza, deixava tudo
ainda mais fácil. Não me sentia mais estranho em dividir a cama com ela, de
encontrá-la no banheiro ou em qualquer lugar da casa.
Desde criança, sempre foi muito difícil para mim confiar em alguém.
Como uma pessoa que cresce na máfia, você enxerga sempre o lado ruim das
pessoas.
Eu tentava, de certa forma, ver um outro lado, um talento, uma pontada de
lealdade, mas na grande maioria das vezes eu não conseguia confiar em quem
estava por perto, principalmente com a minha vida dupla.
Não poderia estragar tudo, abandonando alguma prova do que eu sou e do
que eu e a minha família fazíamos. Então optava por sempre matar ao invés de
confiar. Hope, de certa forma, abre os meus olhos em relação a isso, sempre
tentando deixar evidente que existem pessoas boas, mas a desgraça desse mundo
já foi corrompida pelo caos.
Enfim, essa é la vita nella mafia.
Estranhei Hope ainda de olho em mim, como se estivesse tentando
entender o que eu pensava.
— Está gostando do que vê, Hope? — perguntei, sem me virar para
encará-la.
Quando menos esperei, ela se aproximou de mim, sentando-se no meu
colo. Tirei as mãos que estavam apoiando na minha cabeça e as levei de encontro
com a coxa da minha esposa.
Não nego que estranhava muito quando ela tomava a iniciativa. Eu
gostava, me deixava excitado. Ela se aproximou lentamente, colocando as mãos na
cama, na lateral do meu rosto, de apoio para não cair em cima de mim.
Ela descia suavemente, sorrindo, até chegar próxima a minha boca.
— Está tentando me torturar? — perguntei, me sentindo frustrado por ela
não ter me tocado ainda.
Ela sorriu atrevida, beijando a minha bochecha, muito próximo dos meus
lábios. Não parecia uma provocação, só que eu não entendia o que ela estava
tentando fazer com aquilo. Levei as mãos para o seu quadril, apertando-o para que
ela continuasse.
Ela se afastou do meu rosto, indo para o meu pescoço, depositando um
beijo na lateral, retornando para me olhar. Não nego que eu queria a tirar daquela
posição e tomar as rédeas para logo tomar posse do seu corpo, mas vê-la assim me
deixava com um sentimento estranho.
Ela levou uma de suas mãos a minha face, acariciando suavemente,
percorrendo os dedos até o meu cabelo. Não conseguia fazer nada, a não ser
observar. Sentia a sua mão passando pelos meus fios de cabelo, em uma leveza e
calma que só ela tinha.
Fechei os olhos, podendo aproveitar mais aquela sua ação, sem entender
muito bem o que era. Ela massageava e passeava com os dedos, me deixando um
pouco sonolento. Abri os olhos, encarando a feição da ruiva a minha frente. Em
um ato impensado, apenas deixando o meu corpo comandar, segurei a sua mão,
depositando um beijo nela.
Ela se deitou sobre o meu peito, passando levemente os seus dedos sobre a
minha barriga e peitoral. Eu queria senti-la, ansiava por aquilo, toquei no seu
queixo, fazendo com que ela se levantasse para me encarar novamente.
A trouxe para mais perto do meu rosto, olhando seus lábios rosados, a
beijando em seguida. O beijo foi tomando outras proporções e quando eu menos
percebi, já estava sem roupa, sendo tomado pelo desejo.

Hope se deitou ao meu lado, totalmente ofegante.


Sentia o suor escorrer pelo meu rosto, enquanto encarava a mulher ao meu
lado. Toquei na sua cintura, a puxando para mais perto de mim. Ela, de imediato,
mostrou que não estava entendendo, nem eu estava, mas eu queria sentir o seu
cheiro, gostava de quando ela estava assim, perto de mim.
Nos cobri com o cobertor e não demorou para a Hope adormecer. Eu
apenas a olhava, tentando entender que bagunça era essa que estava tomando
forma em minha cabeça quando ela estava por perto.

Quando o avião pousou, Hope acordou, tomou um banho rápido, me


esperando, enquanto eu me arrumava para sair também. Descemos do jatinho, a
ajudei com a sua mala de mão, logo caminhamos para o meu carro.
— Bom dia, Sr. Ferraro! — Escutei alguém me chamar, quando me virei,
vi que era o Sr. Marshall. — Há quanto tempo!
Ele era um dos acionistas da empresa da minha família. Quando tinha
reunião, todos nós tínhamos que ir para fingir que comandávamos a empresa
juntos, mesmo que seja da minha família, o Pietro que tomava conta do negócio.
— Bom dia! — disse, o cumprimentando.
— Faz tempo que eu não vejo você e a sua família — comentou.
— Muitos negócios, é difícil conciliar — respondi para cortar o assunto,
ele tinha o costume de ser bem inconveniente, não duvido que pergunte como está
o faturamento da empresa ou se estamos passando por algum problema com ela.
— A propósito, sinto muito pela sua filha, soube que ela morreu. Como
não nos vimos antes, não tinha como entrar em contato com você para desejar os
meus pêsames — falou. — Era uma menina muito carismática, infelizmente isso
acontece mesmo, temos que ser sempre atentos com as nossas crianças.
Apenas o encarei. A mídia tentou amenizar o que aconteceu aquele ano,
mas eu e a Alessandra fomos massacrados pelas pessoas de fora da máfia por ter
deixado isso acontecer com a minha filha. Perguntavam onde nós estávamos, se
estávamos nos divertindo quando essa fatalidade aconteceu, deixando a filha de
lado e por isso ela morreu aquele dia. Na máfia ninguém ousou opinar em nada,
mas fora dela foi doloroso, principalmente pela vida pública que eu tinha.
— Vamos, senhor? — disse Red me livrando de matar esse arrombado por
fazer esse comentário de merda.
— Sim — disse entrando no carro. Não demorou para a Hope entrar e
sairmos dali.
Meu dia estava indo tão bem.
Não tem como cicatrizar se sempre aparece alguém para tocar e perfurar a
ferida.
Estávamos em silêncio no carro a caminho da mansão, até a ruiva quebrar
o silêncio falando algo sem perceber:
— Pessoas cansadas deitam e dormem, pessoas tristes apenas deitam. Há
uma diferença entre está cansado do dia, e estar cansado da vida — sussurrou, mas
eu consegui escutar. Quando ela viu que eu escutei, logo se apavorou: —
Desculpe, se eu te magoei.
— Fique na sua e cuide da sua vida, eu não lembro de ter pedido a sua
opinião — disse.
É por isso que eu não gosto de tocar nesse assunto, porque eu não consigo
falar dele sem sentir raiva de mim.
— Lorenzo...
— Que porra você quer agora, Hope? — indaguei.
Não gostava de saber que ela havia notado que eu sofria tanto. Não quero
que ninguém me veja assim e saiba como é doloroso para mim continuar
respirando.
— Não seja legal comigo — falou.
— Quê?
— Se for para ser grosso e ríspido, seja só isso. Estou acostumada a lidar
com arrogâncias desde quando morava com o meu pai, que quando você me trata
bem, eu me sinto diferente. Você está me confundindo e eu sei que eu estou
baixando a minha guarda com você, porque você as vezes me trata bem e eu acho
que por um milésimo de segundo, que podemos ser amigos. Então não me trate
bem, se depois for se arrepender e vai me tratar da forma que está me tratando
agora — falou, mantendo o olhar fixo no meu. — Não falei para te magoar e sei
que você ficou mal depois de ter visto o senhor de agora há pouco, mas não
precisa descontar em mim.
Antes que eu pudesse responder fomos interrompidos.
— Chegamos, senhor — disse Thony.
A ruiva não me esperou e saiu do carro às pressas. Saí do carro, a
acompanhando, e segurei seu braço.
— Você espera que eu fique calado ao escutar aquilo no carro? —
perguntei.
— Lorenzo... — falou, sendo interrompida com a presença da minha mãe.
A soltei, deixando as duas conversando ali. Caminhei para o rifugio para resolver
as papeladas da nova mercadoria.
Olhei as horas e vi já que era noite. Meu celular começou a tocar, me
arrancando dos meus pensamentos.
— Sì?
— Senhor, estou lhe enviando o resultado do exame da senhora Ferraro, já
está pronto — avisou a secretária do hospital do quartel. — Estamos enviando
para o seu e-mail.
— Certo.
Olhei o resultado no meu computador e aquele enorme não reagente me
pegou desprevenido. Por um momento achei que ela realmente estaria grávida. Saí
do rifugio, retornando para casa com o papel impresso do resultado em mãos.
Minha dor de cabeça aumentou, tanto problemas e frustrações, não tinha como
permanecer são.
Assim que eu cheguei no quarto, me deparo com a bela ruiva pronta para
sair
— Vamos terminar a nossa conversa? — falei, ainda na porta do quarto.
— Eu vou me atrasar, Lorenzo — reclamou.
— Estou pouco me fodendo com isso, Hope — disse, me aproximando
dela. — Não é assim que você quer ser tratada?
— Você entendeu o que eu quis dizer — respondeu, mantendo o olhar fixo
no meu.
— Hope, eu não digo o que você tem que fazer e quando eu falo é sempre
para a sua segurança. Não me meto na sua vida e nem toco nos seus assuntos
delicados, os que eu sei que você passou no passado, então não se meta nos meus
assuntos também — declarei.
— Lorenzo, o que eu disse no carro sobre você me tratar bem quando te
convém e quando você não me trata da mesma forma, eu sinto falta. Isso está me
deixando louca, porque eu estou pisando em casca de ovos com você. Não sei
quando irá ter um surto de fúria ou quando irá me machucar. Eu sempre acho que
podemos pelo menos ter uma vida saudável juntos. Que apesar de nós dois não
nos amarmos, que poderíamos pelo menos ter um pouco de paz. Isso está me
confundindo, porque eu estou baixando minha guarda e deixando você entrar aos
poucos. Talvez porque eu seja tão estúpida e me esqueça do você já fez comigo —
falou. — Me desculpe pelo que eu disse, pode ter certeza que eu não vou mais me
meter nisso.
— Você sabia como eu era quando disse o sim. Você pode ter se casado por
interesse de tirar a sua mãe de perto do seu pai, mas não se casou desavisada sobre
mim, porque eu te avisei quando fui informar que eu te escolhi. Então fique com
as suas decepções para si e guarde em qualquer lugar nessa sua cabeça — disse, a
encarando. — Você fica na sua e eu fico na minha, entendeu?
— Entendi perfeitamente — respondeu.
Passei por ela, lembrando do papel em minhas mãos.
— A propósito, saiu o seu exame — disse, colocando o envelope em cima
da mesa. Ela então me encarou, mostrando a decepção no seu olhar. Me repreendi
por me sentir mal por ter feito algum mal a ela.
— Vá, antes que se atrase — disse, entrando no banheiro.
Hope saiu do quarto, deixando evidente que ficou abalada pelo resultado.
Peguei o meu celular e liguei para Bianca.
— Te espero no rifugio em 20 minutos. — Não esperei ela responder e
desliguei.
De uma coisa era certa, a ruiva estava começando a mexer comigo. Eu não
podia deixar isso acontecer. Estava tudo indo perfeitamente bem porque nós dois
estávamos distantes um do outro, emocionalmente falando.
Desde o dia que eu me casei, não transei com ninguém além dela, estava
ficando preso e eu sei que isso não seria bom para mim. Seu olhar triste de agora a
pouco me afetou de alguma forma.
Acabaria me tornando igual aos meus irmãos. Não posso ter uma fraqueza
aqui e não deixarei que isso se repita. Abri mão de tudo nos últimos anos tentando
deixar isso de lado, me aprofundando em cuidar apenas da máfia e agora eu me
vejo enfeitiçado pela Hope. Como eu deixei essa porra acontecer?

Estava saindo do rifugio acompanhado da Bianca.


Foi pior do que eu pensei, não consegui parar de pensar na Hope.
Literalmente parei na metade da foda, não conseguia raciocinar. Estou com sérios
problemas!
— Estranhei a sua ligação, não me ligava há muito tempo, tínhamos um
acordo — falou. — Fiquei esse tempo todo sem ninguém.
— Porque quis, nós não temos nada — disse. Sempre deixava isso claro,
Bianca sentia a necessidade de mostrar que eu era o único homem na sua vida.
Isso nunca fez parte do nosso acordo. Estamos nos relacionando há quase 6 anos e
desde o meu divórcio ela enche o meu saco com isso. — Estava ocupado com as
coisas da máfia, sem tempo até para dormir.
— Estou com fome, Lorenzo — resmungou.
— O que eu tenho a ver com isso? — perguntei.
— O que custa eu comer na sua casa? Disse ao meu pai que eu estava indo
jantar, ele suspeitará se eu chegar em casa e for comer algo — falou.
— Que porra — disse. — Coma e trate logo de ir embora.
Não gostava de estranhos na minha casa. Na cozinha, a Bianca fazia hora
para comer.
— Se você não comer agora, eu juro eu que vou enfiar toda essa comida de
goela abaixo — disse.
— Não precisa me vigiar, até parece que eu vou roubar algo — falou.
— Confio nem na minha sombra, não vou confiar em você na minha casa
— falei. — Agora come.
Ela logo tratou de comer. Lucy com raiva saiu da cozinha sem dizer nada.
Quando Bianca terminou de jantar, para a minha surpresa, a ruiva apareceu. Ela
sequer se importou com a presença indesejada na cozinha. Alessandra teria
surtado na certa. Bianca, que nem era a minha esposa, sempre tinha uns ataques de
ciúmes. Isso me incomodava em Hope, ela realmente mostrava que estava pouco
se fodendo para mim.
— O que está fazendo? — perguntei e ela logo se virou.
— Chá — respondeu.
Voltou a sua atenção para o bule a sua frente.
— Oi, lembra de mim? — disse Bianca se aproximando de Hope e eu logo
fiquei em alerta.
— Oi.
— Saía daí, Bianca — ordenei.
— Só estou sendo amigável com ela — falou, depois sussurrou algo para
Hope e ela respirou fundo em reação.
— Você come na cozinha como se fosse uma funcionária, nem Lucy come
aqui escondida. Lorenzo fica pastorando o que você faz para se livrar logo de você
e que eu sou a mal-amada? — disse a ruiva a ela.
— Estava sendo educada, já que nos veremos muito por aqui. Lorenzo está
me procurando porque você não está dando tanto prazer para ele.
— BIANCA! — gritei, indo para cima dela, segurando no seu braço para
tirá-la dali.
Hope a ignorou, mas eu sabia que aquilo tinha lhe afetado.
— Lorenzo não casou comigo para ter prazer e sim para lhe dá um
herdeiro. Se fosse por prazer, você seria a esposa, não acha? — disse Hope
olhando para a Bianca. — Foi o que eu pensei, boa noite!
Uau!
Hope subiu e Bianca veio para cima de mim reclamar.
— Você vai deixá-la falar assim comigo?
— Estou pouco me fodendo. A verdade é essa e você sabe. Se tivesse
comido e ficado calada não teria recebido a verdade nua e crua na sua cara —
falei, a puxando para a porta. — Agora saia da minha casa.
Ela sabia o seu lugar e eu nunca a iludi dizendo que daria outra coisa a ela
além de uma foda. Era isso o que tínhamos e ela gostou bastante no começo, agora
vem com isso de querer que eu case, nunca a enganei com essas ilusões, se ela se
enganou, eu não tenho nada a ver com isso.
Se está se iludindo o problema é dela, sempre deixei claro o que
"tínhamos".
Depois da confusão, fiquei no escritório dando baixa em uns arquivos
pessoais, mas logo o peso do cansaço bateu. Retornei para o quarto, encontrando a
ruiva dormindo calmamente na cama. Me limitei a pegar a garrafa de bebida e fui
para a varanda. Me sentei no sofá, olhando o céu.
Que dia de merda!
A porra do comentário do Sr. Marshall não saía da minha cabeça.
Estou andando em círculos por 4 anos. Tudo mudou. Não tinha mais a
minha família, não tinha mais a minha filha, eu não tinha mais ninguém para
compartilhar e agradecer por estar vivo depois de uma missão. Eu estava sozinho.
Essa foi uma escolha minha e não culpo os outros por terem se afastado.
Ninguém saiu da minha vida, eu os expulsei, todos, cada um de uma forma
diferente. Achei que se não vissem o estado que eu me encontrava, conseguiriam
seguir em frente já que eu permaneci estagnado no mesmo lugar. Tentei tirar todos
para que não assistissem o meu sofrimento e eu o deles, mas tudo deu errado.
Tentei e falhei. Salvei a todos e me sacrifiquei. Matei os meus sentimentos, matei
a pequena parte de bondade que existia em mim, eu mesmo coloquei a corda no
meu pescoço e me enforquei por não saber o que fazer.
Me despedi não só da minha filha e da minha família, me despedi de mim,
porque eu não sou mais o mesmo. O meu adeus não foi só pela morte dela, o meu
adeus foi de mim, agora só me resta o corpo, sem sentimentos, eles foram
enterrados junto a minha menina.
Fiquei naquela posição até amanhecer, levantei, sentindo a minha cabeça
doer devido ao álcool e ao estresse diário. Caminhei até o banheiro e tentei aliviar
a ressaca com um bom banho gelado. Me arrumei e saí do quarto, indo para a
cozinha.
Tomei um café bem forte e fiquei sentado na mesa resolvendo algumas
coisas pelo celular, já que mais tarde iria para um almoço na casa da minha sogra.
— Com licença — disse Red. — Hoje eu terei uma hora livre, se quiser
começar com as aulas da Hope.
Hoje seria ótimo, na verdade. Hope não mostra muita animação para
exercício, desde o dia que casamos não a vejo tentar fazer algo. Como hoje é a
visita na casa da minha sogra, então certamente a Hope irá se apressar e não
murmurar o dia inteiro por conta dessas aulas.
— A chame, vou para o meu escritório e depois passo lá e vejo como está a
disposição da Hope — falei. — Cuidado com aqueles olhos, ela usa bastante sem
perceber.
— Entendido!
Red saiu, indo preparar o ginásio. Hope precisava ver como Red é
ensinando, certamente verá que ser aluna dele e sobreviver são dois caminhos
opostos. Permaneci no escritório, quando recebi a mensagem informando que as
cargas chegaram no quartel.
Com resultado dos últimos roubos, estava ficando impaciente, sempre me
preocupando se algo aconteceu. Então fui atrás de Red para que ele cuidasse
pessoalmente do assunto. Desci até onde a aula estava acontecendo e passei o
recado:
— Red, organize os seguranças para levarem as cargas. — Ele rapidamente
saiu, sabendo que deveria ir logo.
Hope tentou fazer o mesmo, aproveitando para se livrar das aulas.
— Ainda terá a sua aula — disse começando a me preparar para ensiná-la
e vi seus olhos se arregalarem em total desespero. Ela retornou para o lugar que
estava, se mostrando bem desconfortável com a minha presença. Pela nossa
discussão, creio que até eu esteja.
— Nervosa? — pergunto.
— NÃO — respondeu tão rápido e alto, que me surpreendeu. — Não! —
repetiu pausadamente.
— Se aproxime mais — pedi.
Ela não disse nada, apenas me olhava.
— Hope? — disse tendo a sua atenção. — Estou esperando.
Ela pensou um pouco, logo dando dois passos.
— Mais perto.
Se ia ensinar, ia aproveitar para me divertir com ela.
— Está bem.
Ela se aproximou mais, agora ficando bem perto de mim.
— Já se aqueceu? — indaguei.
Pelo seu estado, com certeza.
— Red me colocou para correr — respondeu. — Me exercitei e até me
alonguei.
— Então vamos começar.
— Vai pegar pesado? — indagou. — É que é a minha primeira vez, tem
como ser mais fácil?
— As suas aulas serão três vezes na semana. Pedi que o Red tentasse
encaixar pelo menos 1 hora de aula — disse, sabendo que ela não estava muito
feliz com isso. — Como você demonstra nos seus olhos a sua empolgação com as
aulas, me permite colocar uma delas nas terças. Assim quando for para a sua mãe
está mais disposta.
Não que fosse difícil ensiná-la, mas era diferente de ensinar os homens da
Elite. Então comecei a explicar com calma, notando que na maioria das vezes ela
acenava com a cabeça, mas deixava nítido que não estava prestando atenção.
Quis me certificar se estava correto em minha dedução, então comecei a
gesticular, mexendo os lábios, mas não emitindo som e mesmo assim ela
continuou concordando como se estivesse realmente prestando atenção no que eu
falava.
Não sei se era pelo cansaço por não ter a rotina de exercícios ou se
realmente era uma mania dela, mas queria rir da sua situação.
— Então? — indaguei querendo saber qual seria a dela.
— Correr o tanto que eu puder?
Ela realmente não escutou nada?
— Isso! — menti, para que ela achasse que eu realmente estava
explicando. — Quando se observa, você vê meios de fugir. Essa é a sua primeira
aula. Depois você vai começar com defesa pessoal, uso de armas, mas aos poucos
para que você consiga entender.
— Certo!
E novamente ela fez a mesma coisa, concordava, mas vagava o olhar por
mim, para os cantos, mas não prestava atenção.
— Então? — indaguei.
— Isso! — falou sorrindo sabendo talvez que eu estava a pegando na
mentira.
— O que eu disse?
— Das aulas — respondeu.
Eu absolutamente não disse nada.
— Você, na maioria das vezes, se perde dentro da sua cabeça. Desde que
eu comecei a falar, uso as mãos e o cabelo para te distrair e você caiu em todas às
vezes.
— Bem...
— Você não pode se distrair, Hope. Mantenha o foco! — disse preocupado.
— Entendido!
— Com base no que eu te expliquei... — O que na verdade não foi nada.
— Vamos começar!
Queria ver esses olhinhos desesperados. Segurei o seu pulso, logo levando
para trás das suas costas.
— Está doendo — falou e eu afrouxei um pouco.
— Tente sair — disse.
Hope praticamente tentou de tudo, tentou me chutar, me bater, mas
sinceramente, nem os meus sobrinhos eram tão indefesos e sem prática como ela.
— Você poderia fingir que está te machucando? Estou em sentindo um
pouco ofendida — falou quase chorando.
— É só fazer com força como eu te disse.
— Talvez eu possa ser mais frágil do que você imaginaria — comentou.
Isso é óbvio.
— Mas quem for te atacar não, então tente sair — disse. — Falta 50
segundos.
— Lorenzo... — Suspirou, tentando sair. — Eu não sei o que fazer.
— Você sabe, eu acabei de te ensinar.
Eu nem ensinei e ela tentava pensar no que eu sequer disse.
— Você tem mais força, eu não sei fazer do jeito que me ensinou — disse
Hope.
— 10 segundos — disse.
Ela se jogou para trás, certamente para reclamar como uma criança
mimada, quando ela rapidamente mudou a postura.
Finalmente!
Ela segurou na faca que eu tinha presa no cinto da calça, e com agilidade a
colocou no meu pescoço.
— Estava pensando quando notaria ela ali — falei a soltando tirando a faca
da sua mão. — O que eu te disse?
— Usar a minha força contra o inimigo? — indagou. — Observar?
— Estar mais atenta ao redor, ao que você pode usar — disse. — Em um
ataque, como vai cuidar de tantos assim se você não sabe agir sobre pressão? Tem
que ser rápida o suficiente para pensar em algo para se salvar.
— Podemos ter pausa para descanso? — perguntou.
— Hope, começamos não tem 5 minutos.
— Eu não ia pedir agora — mentiu. — Era só para saber se teria mesmo.
— Só teremos 1 hora de aula, creio que não seja necessário. Quando Red
estiver disponível novamente, penso se aumento elas.
Me aproximei dela. Eu poderia mandá-la para casa, mas era prazeroso vê-
la assim.
— Poderia ser mais flexível se me agradasse — disse.
Hope não respondeu, o que sempre fazia, mas o fato de não ter
demonstrado nenhuma timidez com a minha investida era novo para mim.
Ela se acostumou?
— Esse é o momento que entramos em um acordo — sussurrei no seu
ouvido.
— O que quer?
Ela falou? Isso era novo, ela geralmente ficava em silêncio.
— Você sabe, ruiva — disse.
Ela está tramando algo.
— Poderia ser mais claro, eu talvez não saiba — disse Hope.
Mordi o seu lábio, esperando a deixa que ela me dá para beijá-la. Só que
dessa vez ela deixava nítido que não queria, mas parecia uma armação.
— Vamos voltar a aula — falei.
— Você disse que seria flexível.
— Eu fui, fingindo cair nessa sua demora para me responder para passar o
tempo mais rápido — respondi. — Que feio, Hope, tentou me enganar?
— Não tecnicamente — respondi escutando o seu suspiro. Provocá-la
melhorava o meu humor.
— Então...
— Senhor, o Sr. Carbone está ligando — disse um segurança ao se
aproximar de mim provavelmente puto pelo meu atraso. Liberei Hope, que saiu
rapidamente, se esquecendo do beijo que sempre me dava.
— Senhor, há muitos seguranças fora do posto — falou enquanto
caminhávamos para fora do ginásio.
— Veja quem são e passe para o Red, ele cuidará disso.
Queria fugir desses problemas, já bastava o quartel. Não podia nem
respirar em paz.
Na casa da minha sogra Hope permaneceu perto da irmã mais nova e do
seu sobrinho. Estava ajudando Enzo com a churrasqueira já que ele se mostrou
uma negação tentando assar carne. Estava começando a ficar com dor de cabeça.
Ficar doente era algo normal para mim. Lucy sempre reclamava da minha rotina
pesada e da minha péssima alimentação.
Chamei a Hope e pedi para ela ir atrás de um remédio com a sua mãe. Ela
estava linda segurando o Nando nos braços. Me pergunto se quando for o nosso
ela será do mesmo jeito que é com a sua família.
Peguei o Nando do seu braço para que ela fosse.
— Tio Lorenzo, o meu pai me pediu para chorar perto do senhor para dar
férias a ele — disse Nando.
Olhei para o Enzo e ri. Dei alguns dias essa semana para ele, coisa que
nem eu tenho, mas com a chantagem do meu afilhado não era difícil de conseguir.
— Talvez eu dê umas férias a ele quando seu irmão nascer — respondi.
Hope logo apareceu com o remédio e eu agradeci. Enzo e Hope
começaram a conversar sobre algo do passado até que eles se calam ao ouvirem
um comentário de Kitty.
— Eu sei o que ele foi fazer no quarto da Lisa aquele horário da noite,
aprendi na escola — disse Kitty encarando os seus brinquedos.
As irmãs se olharam um pouco assustadas. Elas pareciam lidar com uma
coisa fora da realidade.
Eu perdi a minha virgindade com 13 anos. Não que isso fosse obrigatório
aqui, mas eu acompanhava o meu pai aonde ele ia depois dos meus 11 anos.
Comecei a ter que fazer algumas tarefas para pegar o ritmo de como funcionava a
máfia. Como aqui não falta lugar para foder, um dia nessas idas, fui curioso para
saber mais e aconteceu.
Era até hilário assistir o drama da família Bellini. Uma jogava a
responsabilidade para a outra, até que a Hope foi escolhida. Seu desespero era
evidente. Não imaginava a mulher com quem eu me casei falando sobre esse
assunto com ninguém.
Elas sabem ser dramáticas.
— Mãe... — choramingou, logo se sentando do lado da irmã. — Você sabe
o que é?
— Sim, ia pedir a Lisa em casamento para tirá-la das garras do nosso pai
— respondeu.
— Graças a Deus, isso é pior que um teste psicológico — disse Hope
aliviada.
— Vocês achavam que era o quê? Sexo?
— Mãe, eu não consigo não! — Hope correu para o lado da Lisa, a
abraçando.
— Vocês estão fazendo um grande alvoroço para nada — falou Enzo rindo.
— Enzo, isso é diferente — disse Lisa. — Você é homem e tem a
vantagem aqui na máfia. Como mulheres, seguimos regras e se a Kitty não souber
e tiver curiosidade, qualquer homem a ganha só na lábia, principalmente aqui. Não
é só porque nosso pai não está mais aqui, que não seguimos as nossas leis.
Até que elas tinham razão. Qualquer um poderia enrolar a pobre garota por
sexo e ela não valeria mais nada aqui. Se tornaria uma prostituta ou seria vendida
para outra máfia devido a sua patente.
Quem irá querer moças impuras como esposa na patente dela? Ninguém!
Me aproximei de Kitty, querendo tirar suas dúvidas para que ela não fosse usada
dessa forma. Já passei pela experiência com a minha filha, foi um pouco
aterrorizante no primeiro momento devido a presença do Enrico, da esposa e do
Lucca, mas consegui explicar.
— Tem alguma dúvida sobre o que disse? — perguntei, me sentando ao
seu lado.
— Sexo? — indagou e eu assenti. — A minha professora não me disse
muita coisa, mas o meu pai disse que ninguém poderia me tocar até eu casar. Por
quê? Qualquer pessoa toca em mim. — Fez o gesto tocando em seu braço. — Por
que só no casamento?
— Você é jovem, aprenderá isso quando atingir a maior idade. Deve
conhecer as leis, não é?
— Eu só posso me casar depois dos 18 anos — respondeu Kitty.
— Sabe o por quê disso? — Perguntei e ela negou. — Todos nós aqui
temos uma patente, cada um trabalha e conquista a patente que tem com o esforço
para a melhoria da máfia. Algumas patentes requerem mais regras do que as
outras. Há muitos anos quando a nossa máfia foi fundada por homens, a maioria
queria ter o comando de tudo, até das suas esposas. Com isso, em determinadas
patentes tem um ponto sobre isso, no caso, a sua, que é a patente baixa. Está
conseguindo acompanhar?
Sobre as patentes, ela teria suas dúvidas respondidas nas aulas da máfia,
ela pode fazer em qualquer idade, geralmente os pais costumam escolher.
— Sim!
— Vou tentar te explicar didaticamente para que entenda — disse, tentando
ser o mais explicativo possível. — Um exemplo, eu tenho um grande negócio, já
tenho nome no mercado, sendo reconhecido por todos, ganho fortunas com o meu
negócio e em um momento da minha vida quero que a minha empresa cresça mais.
A sua irmã quer se aliar a mim com a empresa dela, só que a empresa da sua irmã
não tem um faturamento bom, não tem um reconhecimento no mercado,
totalmente contrário do desenvolvimento da minha empresa. Quem você acha que
ganharia mais com a união das empresas?
— A da minha irmã — respondeu.
— Isso, então dizer para pessoas com patentes altas que poderiam se unir
em matrimônio com alguém da sua patente, não era vantajoso, então não haveria
crescimento entre as famiglias e quem era de uma patente baixa, pelo pouco
recurso que tinha e pela falta de reconhecimento, nunca cresceria na máfia ou teria
a credibilidade nela — expliquei. — Por isso que em determinadas patentes,
precisa que a mulher esteja intocada, para que com isso o homem que vai casar
com ela tenha em mente que ela é dele para sempre e que de alguma forma, sinta
benefício nessa união, claro que não é só isso, mas é um dos pontos mais tocados.
Como eu te disse, isso foi criado há muitos anos, hoje em dia você consegue ver
que a importância agora do casamento não é mais esse, agora é só em gerar filhos
para o aumento da máfia. Porém, como vivemos com leis, assim como as pessoas
de fora da máfia vivem, temos que ter para que isso não vire uma bagunça.
— Então isso era mais fácil para moldar as esposas como eles queriam,
não é? Por isso que hoje mudou? — perguntou Kitty.
— Exatamente! — disse, fascinado que ela seja tão esperta. — Hoje ainda
tem isso, mas é em poucos casos, agora o importante é gerar herdeiros, então para
alguns homens isso não é importante. Quando eu me casei com a sua irmã, eu não
me importei, porque ambos de nós dois tínhamos uma missão aqui dentro. Com
base nisso, você sabe o que diferencia você do Nando, ou melhor, de um homem?
Devido aos últimos acontecimentos descobertos por mim, não sei se ela
precisava que eu dissesse mais sobre esse assunto.
— Sim, a minha florzinha, mas ninguém pode tocar lá, não é?
— Gosto do seu pensamento, pense assim por toda a vida — disse Hope,
aproveitando a conversa. — Estou apenas incentivando, continue.
— Isso! — disse a ela. — Você é uma criança, é normal ter curiosidades.
Já sabe de onde vem os bebês? — Ela assentiu, me dando uma aula de
embriologia. Ela era muito inteligente. — Então tenha em mente que cada pessoa
aqui tem uma patente diferente e seguem regras contrárias das outras, porém
estamos tentando deixar esse lugar mais igualitário para todos os membros. Agora
reformulando, você vai se entregar a um homem virgem, se a sua patente
continuar sendo essa, porém, não é permitido na nossa máfia forçar que isso
aconteça. Se no dia do seu casamento o seu marido te forçar, isso é proibido, tenha
em mente que apesar de tudo, temos leis. Tocando nesse assunto, as partes
proibidas no seu corpo, ninguém pode tocar sem o seu consentimento e se tocar,
tem que ser repassado a nós da liderança. Se não tiver coragem, avise a sua mãe
ou a suas irmãs, que elas nos avisam. Sabe quais são as partes proibidas sem ser a
sua florzinha?
— Meus peitos? — Assenti. — Meu bumbum? — Assenti de novo. — E a
minha boca.
Ela era muito inteligente, igual a irmã. Depois de ter tirado suas dúvidas,
nos sentamos na mesa para o almoço.

Na volta para casa, minha dor de cabeça não havia passado. Sentia meu
corpo enfraquecido, e estava um pouco tonto. Ter ficado a noite inteira na varanda
não foi uma boa ideia.
— Está com dor? — perguntou Hope.
Do jeito que minha cabeça estava doendo, eu descontaria minha dor nela.
— Não! — Respondi. — Thony, não irei para a boate, nos leve para casa.

Quando chegamos em casa, fui direto para o quarto. Hope permaneceu na


cozinha, certamente indo conversar com Lucy sobre o ocorrido de mais cedo.
Tomei um banho e me deitei. Desliguei o celular para ninguém perturbar o meu
sossego. Estava tudo calmo, até que eu senti uma mão na minha testa.
— O que está fazendo? — disse, segurando a mão da minha esposa.
— Está com febre, já tomou algum remédio?
— Não! — respondi.
A ruiva saiu e logo voltou. Colocou um pano na minha testa e eu tirei,
estranhando o cuidado. Não estava acostumado com alguém cuidando de mim,
aquilo me assustava muito.
— Eu estou bem! — disse.
Ela ainda insistiu, mas não dei brecha para que ela continuasse. Hope logo
saiu resmungando para o banheiro, puta da vida comigo. Ela só queria ajudar, por
que eu tenho que ser assim?
Caminhei até o banheiro e a vi resmungando.
— Estava sendo legal, mesmo sem esse cretino merecer. — Ela limpava o
chão molhado, reclamando de mim. Encostei na porta, só esperando ela notar a
minha presença. — "Cuide da sua vida!", "Eu não pedi a sua ajuda!", só sabe dizer
isso? "Obrigada, Hope, por mesmo eu sendo um babaca com você, ainda quer
cuidar de mim como uma boa esposa como lhe foi ensinado". Não, não pode nem
ao menos me elogiar, só sabe elogiar a minha bunda. Elogiar que eu sou uma boa
esposa, ah, não, é difícil demais para um Capo. — Se sentou no chão, cansada de
tanto resmungar. — Vou acabar enlouquecendo de tanto falar sozinha.
— Cansou de falar? — perguntei.
Me segurei para não rir do seu desespero quando ela viu que eu escutei o
seu desabafo.
— O quanto você escutou?
— O bastante — disse. — Peça um remédio para dor de cabeça a Lucy, por
favor!
— Ah, certo.
Ela se levantou e desceu. Hope logo apareceu e me entregou o remédio.
Ela voltou para a cozinha e eu me deitei de novo.

Já era noite e eu não consegui tirar um cochilo. Minha cabeça doía muito.
Senti alguém se aproximando de mim e sabia pelo cheiro que era a Hope.
— Consigo escutar a sua respiração — disse.
— Só vim ver se estava bem.
— Tire as suas próprias conclusões. — Fiz um gesto para ela me olhar.
— Está péssimo! — declarou. — Sem querer me meter na sua vida, eu
posso fazer uma sopa se quiser, já que não comeu nada o dia todo.
— Faça o que quiser — disse, tentando me mostrar indiferente.
Ela logo abriu um sorriso, saindo do quarto. Com o tempo ela apareceu
novamente com a sopa. Deixou a comida do meu lado da cama, então foi para o
banheiro. Quando eu ia comer, escutei o chuveiro. Me levantei e resolvi tomar
banho com ela. Tirei a minha roupa e entrei no box. A ruiva não escondeu a
surpresa ao me ver ali.
— Você comeu? — perguntou e eu não respondi. Não porque eu não
queria, mas porque estava admirando o seu belo corpo. — A sopa estava quente,
Lorenzo. Se tiver comido vai fazer mal tomar banho agora.
— Não comi, só vim tomar banho — respondi.
Entrei debaixo do chuveiro, observando a bela ruiva lavar o seu corpo.
Apesar de não reparar nessas coisas, Hope era muito atraente. Não estou falando
fisicamente, mas as suas ações a tornam ainda mais interessante. Esses meses
morando com ela consegui enxergar muitas coisas nela.
Seu sorriso é maravilhoso e a forma que seu rosto toma um tom
avermelhado quando está envergonhada, é ainda mais encantador. Quando eu ia
sair do chuveiro, a ruiva me colocou embaixo de novo.
— Fique mais tempo debaixo do chuveiro, sua febre vai diminuir.
— Está muito mandona hoje, Hope — disse.
— Não estou não! — declarou. — Fique aí embaixo e não saia.
Fiz o que ela mandou, logo terminando de tomar o meu banho. Saímos do
banheiro, indo para o closet. Resolvi colocar o meu short de dormir, já que não
sairia hoje para nenhum lugar. Era até estranho, fazia um bom tempo que eu não o
usava.
Tentei tomar um whisky, mas Hope me impediu. Ela realmente era
mandona quando queria. E talvez eu a achasse bem atraente quando ela mandava
em mim.
Me sentei na cama e comecei a comer a sopa. Até que estava boa, seus
dotes culinários estavam sendo revelados aos poucos. Quando bebi o suco não
consegui segurar o nojo de ter colado aquilo na boca.
— Que porra tem aqui dentro?
— Laranja com limão e própolis, ajuda com a sua imunidade. Não é
querendo cuidar da sua vida, mas você não tem uma alimentação regular, não
dorme, mal come e vive bebendo. E antes que me mande cuidar da minha vida, eu
não tenho uma, esqueceu? Vivo por você, não é assim a lei?
Ela estava certa, não tinha uma vida e não teria uma perante a nossa lei.
Tomei aquela gororoba e não nego que logo me senti melhor.
— Não ganho nada por ter tomado tudo? — disse assim que ela pegou a
bandeja do meu lado.
— Você está doente, talvez lhe dê sua recompensa amanhã — respondeu
dando um beijo em minha testa.
Esses pequenos detalhes que me faziam achar minha esposa ainda mais
encantadora. Ela se deitou ao meu lado, sempre respeitando o meu espaço da
cama, mas não adiantava mais, ela predominou tudo.

Me levantei pela madrugada e caminhei até o escritório. Eu estava me


sentindo ótimo. Aquela gororoba me fez bem. Havia liberado alguns seguranças
da casa, já que não gostava de ver tantas pessoas aqui dentro. Não confiava
mesmo!
Resolvi algumas coisas pelo telefone com alguns informantes, mas não
demorei muito na ligação. Voltei para o quarto antes do nascer do sol, me deitei
novamente ao lado da ruiva. Tirei um cochilo e quando acordei a ruiva não estava
mais ao meu lado. Permaneci com os olhos fechados esperando ter um pouco de
coragem para me levantar.
Sabia que a Hope havia voltado, seu cheiro estava forte pelo quarto.
— Eu estou bem! — falei, abrindo os meus olhos, já que percebi que ela ia
tocar na minha testa novamente.
— Lorenzo, você tem que se cuidar. Sei que não devo me meter, mas
prefiro você como Capo, do que quem os Juízes e os Conselheiros irão escolher
para ficar no seu lugar — falou. — Se continuar assim, não vejo você durar muito
tempo.
— Está se importando comigo, Hope? — zombei.
— Entenda da forma que quiser — respondeu. Segurei na sua mão,
fazendo ela vir para mais perto de mim. Hope se deitou por cima de mim,
repousando sua cabeça no meu peito. — Sei que na maior parte do tempo a gente
não conversa, mas pense no que eu disse.
Ela estava passeando com o seu dedo pelo meu peitoral, com uma forma
de carinho. Era estranho receber afeto de alguém não tão próximo assim de mim.
Lucy e a minha família eram os únicos que eu deixava me abraçar, isso
antes é claro. Hoje em dia eu afastei todos, então não recebia mais com tanta
frequência como antes.
— Sobre ontem à noite... — Ela me interrompeu.
— Como você mesmo disse, eu me casei com todos os motivos do mundo,
mas não me casei desavisada — falou. — Eu sei como funciona as regras para
mim e para você.
Eu sei que ela se incomodou, a porra do problema é que eu não queria me
importar, mas eu estou me importando com isso. Lucy apareceu, quebrando o
silêncio.
— O senhor Diego está lá embaixo com o senhor Leonel — avisou.
Que porra eles fazem aqui? Troquei de roupa e desci. Meu dia havia
começado bem e agora estava todo fodido.
— O que devo da visita de vocês em minha casa? — estranhei, já que fazia
anos que não pisavam aqui.
— Por que a porra do seu celular só dá desligado? — perguntou o meu pai.
— Se gosta ainda de falar, pense duas vezes antes de se dirigir a mim desta
forma — retruquei, querendo manter distância.
— Invadiram a casa do Isaac — disse Leonel já que provavelmente eu e o
meu pai iríamos começar a discutir.
Que inferno!
— Ele está morto — disse meu pai antes que eu perguntasse. — Essa
aliança vai nos abalar, principalmente por nenhum de nós ter comparecido para
ajudá-lo.
Eles conseguiram entrar na casa do Isaac? Ele era paranoico e a sua casa
devia ter mais seguranças do que a Casa Branca. Como eles conseguiram entrar
lá?
— O que eles queriam? — perguntei.
— Achamos que pode ser que o queriam como aliado, mas já que ele
sempre deu a sua lealdade a você, não aceitou — disse o meu pai. — A esposa
dele que se escondeu e escutou a conversa.
Havia esquecido que Beatrice se casou com ele.
— Traga ela para cá e não quero que mais ninguém chegue perto dela —
disse.
— Ainda se interessa pela moça? — perguntou meu pai.
— Nem fodendo! — declarei. Era a verdade. Gostei da Beatrice, mas já
passou. — Não quero que ninguém se aproxime dela para não a subornar. Acha
que eu não sei que tem gente infiltrado aqui? Tragam ela e a levem para o quartel.
— É melhor trazê-la para o rifugio, o quartel há muitos civis — disse
Leonel.
— Não vou colocar em risco a minha esposa e a Lucy, trazendo a Beatrice
para cá — disse.
— Você sabe que a sua esposa só lhe serve para lhe dá um herdeiro, não se
apegue, Lorenzo, você sabe como funciona — disse meu pai.
— Não encha a porra do meu saco! — retruquei. — Se eu quero ter um
herdeiro é bom que a minha esposa esteja viva para isso, não acha? Agora vamos,
tenho que fazer uma reunião no quartel.
Assim que chegamos no quartel, a liderança já nos aguardava.
— Isso vai nos dar problemas — comentou um dos Conselheiros não
notando minha presença.
— Se soubéssemos que teria um ataque, teríamos ido ajudar — falou um
deles.
— Quietos! — disse, dando um susto neles. — Em primeiro lugar, somos
aliados da máfia holandesa, não seguranças, estrategistas e qual porra que seja.
Nossa aliança foi feita para que juntos nós ajudássemos uns aos outros em guerras,
finanças, esquadrão da morte, seja no que for, porém, um ataque assim não tinha
como nós ter premeditado e ter ido ajudá-los. A equipe de segurança que comanda
é que deve estar em maus lençóis. Eu quero que parem com os cochichos e
foquem no que vai acontecer de agora em diante. Eu irei pessoalmente, falarei
com o líder deles, verei se precisam de ajuda com algo e trarei a viúva de volta se
ela quiser, já que ela é da nossa máfia. Investigarei pessoalmente se o que queriam
com o Isaac teria algum envolvimento conosco. Agora voltem para os seus postos
e deixem de criar boatos para que não se espalhem pelo quartel. Fim da reunião!
Tinha uma mala pronta no meu escritório para essas emergências, logo a
peguei, indo para o jatinho. Esses dias serão conturbados!
Uma semana depois.

Se eu soubesse a burocracia que seria trazer Beatrice para cá, já tinha


mandado matá-la. Já que ela era esposa do vice, tipo um Sottocapo da máfia
holandesa, não queriam deixá-la vir, mas ela era nossa, o sangue italiano corria em
suas veias, não podíamos abandonar a famiglia.
Já estava na Itália novamente, me sentindo mais tranquilo em voltar para
casa. Beatrice veio com o Leonel, já que não tive tempo de ir interrogá-la antes.
Assim que cheguei no quartel, sua chegada foi anunciada assim que entrei no meu
escritório.
— Lorenzo! — disse Beatrice correndo para me abraçar enquanto chorava.
Ela ainda parecia a mesma garota de que eu me lembrava. O jeito de
sempre buscar oportunidades para me abraçar ou falar comigo era inconfundível,
até porque nunca tivemos uma aproximação afetuosa, não da minha parte.
— Sem contato físico — disse, tocando em sua testa com o indicador, a
afastando para o lado.
Eu não era o garoto bobão que ela se apaixonou e muito menos era o
moleque que achava que podia gostar de alguém no meio dessa porra toda.
— Você está diferente!
— Não confunda as coisas, eu só te trouxe de volta porque você é da
famiglia. Agora me conte o que aconteceu — falei.
Ela fez bico por não gostar do jeito que eu falei. Estou sem muita paciência
para drama hoje, e conhecendo ela, eu sei que ela criaria formas para me enganar
com sua conversa fiada.
— Estava deitada quando chegaram. Corri para o cômodo secreto no
quarto... — contou buscando ar enquanto falava. Isaac sempre paranoico, era
óbvio que teria um quarto secreto pela casa. — Eles queriam algo, perguntaram
para o Isaac se ele sabia, mas ele dizia que não. Eles o pegaram assim que ele ia
entrar comigo, não deu para escutar muita coisa porque a porta se fechou.
— O que era? — perguntei.
— Eu não sei, não dava para escutar direito — Ela se aproximou de mim,
mostrando que iria me abraçar, mas eu me esquivei. — Estava com tanto medo!
Eu achei que morreria, mas sabia que você viria me salvar — Ela tentou por mais
uma vez se aproximar e eu me afastei novamente.
Essa ragazza está iludida demais. Salvaria nem o meu pai se ele me
ligasse, quem dirá ela. Nas poucas visitas que eu fui na casa do Isaac, Beatrice
sempre mostrou que tinha sentimentos por mim, antes eu achava que era amor de
adolescente, mas hoje vejo que é uma obsessão.
Talvez porque antes a família dela aprovava seu envolvimento com um
Ferraro, gostavam que a garota fosse minha sombra para que eu não me
aproximasse de nenhuma outra garota aqui e ela fosse a minha única opção para
esposa.
— Ficará aqui no quartel. Tem quartos disponíveis e seguranças a sua
disposição — disse, já sabendo que ela não era o foco da invasão.
Se fosse para matá-la, ela já estaria morta e certamente teria outra tentativa
de ataque para fazer isso acontecer. Nada até o momento aconteceu, então minha
dedução está correta.
— Não posso ficar com você? Estou apavorada.
— Rifugio deve ter uma cela se quiser — disse irônico.
— Quero dizer na sua casa — Colocou a mão no meu peito.
— Nem fodendo! — disse, tirando a sua mão dali. — Já tenho muitos
problemas, acrescentar mais um com você não é o que eu quero no momento.
— Lorenzo, eu não posso nem ficar com a minha família aqui sem colocá-
los em perigo, eu gostaria de me sentir segura com alguém que eu conheço —
insistiu.
— Porra, é surda, ragazza? Não, caralho! Se não quiser ficar no quartel,
volte de onde veio.
Ela logo aceitou, sabendo que eu não me deixaria levar pela sua feição
triste. Tinha que voltar para casa, mas não tinha tempo para isso. Hoje aconteceria
a reunião para todos os daqui no quartel. Como sempre, eu tinha que cumprir com
a responsabilidade de um Capo.
Liguei para a Hope e a mandei se arrumar para a reunião de agora a noite.
Em falar de reunião, tinha uma marcada agora com alguns homens. Enzo e Leonel
já estavam na sala me esperando.
Me sentei, sabendo que a tarde seria longa.
— Você falou com a gangue sobre o rapaz que estava vendendo drogas na
nossa área? — perguntou o Conselheiro.
— Estava ocupado para resolver isso — respondi. — E para você, é
senhor, não está falando com um dos seus colegas, não se dirija a mim
informalmente, eu sou o Capo.
— Perdoe-me — falou.
— Visitarei o líder em breve — respondi a sua última pergunta. — Agora
sobre a invasão na casa do Isaac. Eles estavam procurando algo, os seguranças da
casa estavam todos mortos, eles já sabiam como tinha que fazer para entrar, não
havia falhas no plano. Conversei com a liderança holandesa, eles acham que isso
pode ser alguma retaliação devido as brigas entre máfias. De qualquer forma,
somos aliados e deixei alguns soldatos caso precisem. Agora vou dizer o que vai
acontecer conosco: quero que tenha toque de recolher. Não sabemos se o próximo
alvo seremos nós. Não vamos confiar na sorte, até que isso seja esclarecido,
vamos cuidar dos familiares.
— Isso não será bom para os negócios, temos tarefas noturnas, eventos
importantes que não podem ser adiados — comentou Collato olhando para os
Juízes, talvez tentando entrar na cabeça deles. — Já sofremos muitos ataques,
temos que conseguir contornar essa situação para que isso não afete o financeiro.
Vamos aumentar a segurança e deixar os membros avisados do que está
acontecendo, mas poupando alguns detalhes para que eles consigam trabalhar
despreocupados.
— Isso é questão de segurança, Conselheiro — falo. — Do que adianta eu
obrigá-los a trabalhar, se no fim da noite estarão mortos. As atividades da máfia
serão reduzidas assim que começar o toque de recolher. Os membros que
trabalham a noite, mudarão o seu turno para diurno, assim não atrasaremos
nenhum serviço, só precisará ter mais cautela nas tarefas já que durante o dia é
mais visível o que fazemos lá fora dependendo da atividade que o membro cumpra
na máfia. Fora isso, a segurança será aumentada, haverá homens rondando cada
centímetro do quartel e da área disfarçados. A noite eu farei a reunião, avisarei o
que está acontecendo para que se preparem para não serem pegos de surpresa se
algo chegar acontecer e assim cuidaremos disso até pegarem esses desgraçados. Se
entrarem aqui, morrerão, nós cuidaremos dele, não é a toa que me acham bastante
receptivos.
— Concordamos com o Capo, é melhor assim tanto para nós, como para
os membros — disse o Juíz.
A reunião prosseguiu com algumas informações do que aconteceu na
semana enquanto eu estive fora.
Já estava na hora da reunião com todos os membros da máfia. Tomei um
banho no banheiro do escritório e desci para o salão de festas. Já havia boa parte
dos membros aqui, então esperaríamos todos chegarem para dar o comunicado.
Procurei a minha esposa, mas não a vi. Parei para falar com uns soldatos,
quando uma versão menor da Hope se aproxima de mim.
Saí de perto dos rapazes, me aproximando mais dela.
— Por que está andando por aí sozinha, princesa? — perguntei. Gostava da
pequena. Ela era boa como a irmã e simpática como a minha filha.
— Estava com as suas cunhadas, mas elas tiveram que ir atrás de alguém e
saíram. Não quis ficar sozinha, se não as minhas irmãs brigariam comigo. Quando
eu vi o senhor, quis ficar perto de você — respondeu.
— Então fique ao meu lado até a sua mãe ou as suas irmãs aparecerem.
A pequena segurou na minha mão e logo tive a lembrança da mãozinha da
Antonella segurando a minha. Ela era obediente, acho que todas as Bellini são
assim. Ficou calada e não encarava os homens com quem conversava. Até que
senti seu dedo cutucando a minha barriga.
— Posso ir ao banheiro? — perguntou.
— Sì — respondi.
Ela hesitou um pouco, mostrando que queria falar algo.
— O senhor pode me levar? Não posso andar sozinha — pediu.
Caminhei com ela até o banheiro em silêncio, já que ela ficou calada o
tempo inteiro.
— Por que não pode andar sozinha? Está entre a família, ninguém lhe faria
mal — disse. Queria saber se era por conta do tio que estava aqui.
— É uma regra que a Hope e a Lisa criaram. Não posso ficar sozinha
quando o tio Marco está... — Ela percebeu que havia falado demais, mudando o
assunto em seguida. — Vou entrar, me espere, por favor!
Enquanto eu esperava a menor sair do banheiro, pensava em como poderia
achar provas contra o seu tio. Ela logo saiu e antes de deixarmos daquele corredor,
um rosto assustado apareceu ali.
Era Hope.
Ela correu até chegar na irmã, se ajoelhando, ficando na sua altura.
— Qual é a nossa regra, Kitty?
— Não sair sozinhas, mas eu estava com o Capo — respondeu.
Hope começou a conversar com a irmã, bastante preocupada pelo sumiço.
— Não chora, Hope — disse Kitty a abraçando. — Isso não irá se repetir.
— Não estou chorando, meu amor, só fiquei preocupada, não faça mais
isso, me avise se sair — Hope ficou em pé, me encarando. — Obrigada por não
deixá-la sozinha!
As levei de volta para onde todos estavam. Nos sentamos onde indicava a
mesa da minha família e esperei Enzo me chamar para dar o comunicado.
Observava a multidão, até que a conversa de Hope e Kitty me chamou atenção.
Poderia dizer que era gracioso aos olhos ver elas juntas. Hope a beijava
inúmeras vezes pelo fato da irmã não querer mais ser tratada como bebê na frente
dos outros. Kitty ria bastante, tentando se mostrar indiferente com os beijos da
irmã.
Hope seria uma boa mãe e isso me deixava mais tranquilo. Ela parecia
bastante preocupada. Sempre foi altamente oprimida na casa do pai, que achava
que não era boa em nada.
— Será uma boa mãe, não se preocupe — disse em voz alta sem querer.
Ela me olhou e sorriu.
Foi quando o Enzo acenou para mim. Me levantei para ir ao palco falar
com todos. Expliquei para os membros o que aconteceria de agora em diante. Não
sabia do que eles estavam atrás e não colocaria em risco a famiglia.
Saí do palco e caminhei para uma roda dos aliados que haviam vindo para
a reunião. Minha esposa já estava ao meu lado em silêncio, forçando simpatia.
Tínhamos que estar sempre disponíveis para as conversas com os membros.
Escutar o que lhes incomodavam, ser acessíveis para que eles confiassem tanto em
mim, como na mulher que eu escolhi para permanecer ao meu lado.
Como membro da família, ela era vista por todos e tinha que se mostrar
adequada para carregar o título de minha esposa e como parte da família Ferraro.
— Me impressiona o Sr. Isaac com toda aquela paranoia ter sido pego
pelos inimigos — comentava um membro enquanto o restante me olhava talvez
achando que eu fosse dar mais informações do que aconteceu.
— Também fiquei surpreso, mas a máfia holandesa está investigando,
então vamos apenas focar aqui e na nossa situação atualmente — falei.
Eles mudaram logo de assunto, sabendo que eu não iria falar mais nada.
Hope como sempre estava em seus pensamentos não prestando muita
atenção na conversa que estávamos tendo. Penso eu que isso deveria ser uma
forma de não se meter em assuntos que não seja da sua conta, então ela se perde
em seus pensamentos para realmente não escutar nada do que estejam
conversando e sendo assim ela não estaria ciente do que estavam dizendo.
A observava, notando as inúmeras vezes que ela piscava os olhos, como se
quisesse ficar acordada ou só estava com tanto tédio que não queria deixar
evidente.
Ri, sabendo que nem ela mesma deveria saber o que estava fazendo.
— Oi, Lorenzo! — disse Beatrice me dando um beijo no rosto de surpresa.
Ignorei Beatrice e ela logo percebeu que atrapalhou a nossa conversa e
ficou do lado de Hope. Vi as duas se cumprimentando, mas não aconteceu mais
nada.
— Lorenzo... — disse Hope se aproximando do meu ouvido. — Posso
ficar perto da sua mãe? Estou um pouco enjoada.
— Comeu algo que te fez mal? — perguntei.
Já havia passado por isso e não me iludiria novamente.
— Não — respondeu.
A quem eu quero enganar? Já estava acreditando novamente na gravidez.
— Sua menstruação está atrasada? — perguntei e ela assentiu. Aquilo foi
quase uma confirmação para mim. — Vamos esperar mais uns dias, pode ser uma
virose. Se não melhorar, peça para Red te levar ao médico se não se sentir
confortável em ir comigo.
Era nítido que eu a assustava, então com certeza eu não seria a primeira
opção de socorro dela.
— Sì!
— Qualquer coisa me chame — falei.
A ruiva me deu um beijo e saiu.
Saí do meio da conversa indo atrás de alguma bebida, a encontrando
alguns centímetros de onde eu estava. Caminhei até lá, percebendo que uma
sombra chamada Beatrice me seguia, tentando não chamar a minha atenção.
— Lorenzo — disse Bianca.
Era só o que me faltava.
— Olá! — Saudou Beatrice.
Nem dei atenção, peguei a minha bebida, retornando para onde eu estava.
— Quem é você? — perguntou Bianca, estranhando a proximidade que a
Beatrice me seguia.
Eu não queria prestar atenção naquela conversa, mais como era do meu
lado, não tinha como não escutar. Os homens conversavam entre si e sequer
notaram a presença de mais uma mulher aqui.
— Sou Beatrice e você?
— Não acho que isso seja da sua conta — retrucou Bianca. — Lorenzo,
podemos conversar?
Nem a minha esposa se importava, mas Bianca sim.
— Não, estou sem saco para discussão — disse sem olhá-la, fingindo
prestar atenção na conversa dos rapazes.
Beatrice se despediu de mim, ofendida por eu ter falado com a Bianca. Ela
deve achar que eu ia atrás dela. Nem fodendo!
— Eu estava sentindo a sua falta, você nunca mais me chamou — falou,
passando a mão no meu paletó.
— Não deu para notar que eu estava ocupado essa semana? — indaguei,
tirando a sua mão.
Não sou o tipo de pessoa que gosta de ser tocado, o meu ódio social não
me permite ter o mínimo de educação quando isso acontece.
Realmente, eu só a procurei uma vez desde o dia que eu me casei, nunca
havia ficado tanto tempo sem procurá-la, não só ela, como qualquer outra mulher.
Eu sequer tinha tempo para isso, estava tão ocupado com os acontecimentos da
máfia que até foder era difícil.
Me sentia até virgem de novo, só não era para tanto, porque eu ainda
dormia com a minha esposa.
— Por que comigo você é tão grosso e com a sua esposa você não fala
desse jeito?
Apesar de eu ser arrogante com todos, com a Hope eu filtrava muito. Eu
podia até ser mau para ela, mas não era como eu sou com a Beatrice ou com a
Bianca, ou com qualquer outra pessoa. Eu não sei o que acontecia, mas até em
tratá-la mal, eu me culpava depois.
— Bianca, na boa, vai se foder! — disse, nos afastando do resto do
pessoal. — Se não quer que eu te trate assim, é só não vir falar comigo. Já reparou
que toda vez que você vem atrás eu estou lidando com algo? Sério que você quer
que eu largue isso para ficar com você? Eu tenho responsabilidades, eu já te disse
isso, se você tem tempo livre, não o compare com o meu.
— Eu não me importo, só havia reparado que tratava ela diferente — disse
Bianca se aproximando mais e eu me esquivei. — O que foi?
— Seu pai está aqui e perder meu melhor advogado por uma foda não está
nos meus planos hoje — falei.
Bianca murmurou algo, mas não prestei atenção. Minha atenção estava
onde a minha esposa deveria estar. Olhei ao redor e não vi a minha mãe e nem as
minhas cunhadas. Andei olhando para os lados e logo perguntei se alguém as viu.
Logo me disseram que elas foram no banheiro. Apressei o passo sabendo que a
Hope que deveria estar desesperada atrás de um vaso sanitário.
Quando me aproximei da porta do banheiro, logo escutei a voz da minha
mãe:
— Tenho quase certeza que está grávida, minha querida — disse contente.
— Ela está bem? — perguntei assim que entrei no banheiro.
— Está sim, só um enjoo. Pode voltar, nós cuidamos dela — disse Emma.
— Meu pai está atrás da senhora, mãe. Emma e Giulia, podem ir, eu fico
com a minha esposa — falei.
Elas logo saíram, nos deixando sozinhos.
— Está melhor para voltar para o salão? — perguntei.
— Pode ir, acho que vou ficar mais um pouco — respondeu Hope um
pouco pálida.
— Você acha que está grávida? — perguntei, me agachando ao seu lado.
— Não quero me precipitar, então não sei — respondeu. Ela colocou a
mão na boca e eu sabia que vinha mais a seguir. — Santo Cristo, quando isso vai
passar?
Ela não esperou eu dizer nada e vomitou. Segurei o seu cabelo, já que caía
sobre o seu rosto. Nunca me imaginei ajudando alguém assim, que não fosse
pessoas com quem eu me importasse. Essa ruiva estava me mudando.
Que porra!
— Vem, eu te ajudo a chegar na pia — disse assim que ela havia terminado
de vomitar.
— Só espera mais um pouquinho.
— Quer vomitar mais? — perguntei já assustado com o tanto que ela
vomitou.
— Só estou um pouco tonta, quero ficar um pouco parada.
Esperei ela melhorar e quando se mostrou melhor, a ajudei a chegar na pia.
Ela lavou o rosto, tirando toda a maquiagem que ela usava. Gostava mais dela
assim, sem nada, suas sardas ficavam a mostra e a deixava ainda mais graciosa.
— Está melhor? — perguntei e ela assentiu. — Vamos voltar para o salão.
— Eu posso ir para casa? — perguntou.
— Sim, eu te levo até o estacionamento — disse.
Assim que saímos do banheiro, Beatrice apareceu. A mandei me esperar
com o resto dos convidados. Ela ainda tentou argumentar, mas não sou muito de
ter paciência e muito menos gostar de quem não me obedece de primeira. Ela saiu
e eu caminhei com a Hope até o estacionamento.
— Thony, a leve para casa e volte para me pegar, só vou me despedir dos
convidados — disse, abrindo a porta para ela.
A ruiva assim que entrou, já tratou de se deitar no banco.
— Thony, só me acorde quando chegarmos em casa, por favor! — pediu.
— Peça para a Lucy fazer algo para você comer — disse a ela.
— Ok.
Voltei para a festa e enquanto Thony não chegava, tratava logo de me
despedir das pessoas por aqui.
— Já está de saída? — perguntou Bianca.
— Sim, eu estou cansado, quero ir logo para casa — falei.
Eu realmente estava. Essa semana eu não consegui nem tirar um cochilo.
— Quer que eu vá e... — A interrompi.
— Não — disse. — Vá para perto do seu pai, tenho que me despedir dos
demais.
Saí de perto dela, falando com o resto do pessoal.
— Já está indo? — perguntou o Juiz.
— Sim, vou descansar da semana que eu tive.
Depois de muito tempo, consegui falar com todos.
— Lorenzo! — Escutei alguém me chamar.
Já estava no estacionamento quando Beatrice apareceu. Puta merda, eu não
vou ter sossego hoje.
— O que foi? — perguntei.
— Já está indo?
— Não é óbvio? Estaria aqui fazendo o quê?
— Não precisa ser grosso.
— Olhe, seja lá que porra você está pensando agora, mas eu e você não vai
acontecer. Talvez no passado poderíamos ter tido uma foda se eu estivesse carente
e se você quisesse. No atual momento, eu só estou com cabeça e tempo para a
segurança da máfia.
— Acha que eu vou dormir com você só quando você me procurar e me
usar dessa forma? — perguntou indignada.
— Nunca fui de obrigar a ninguém a fazer sexo comigo e certamente você
não será a primeira. Quem já passou pela minha cama foi com total
consentimento. Só estou deixando as coisas claras para que você não ache que eu
sou o mesmo que conheceu na adolescência — disse.
— Lorenzo, você não era assim, esse seu casamento te mudou —
resmungou. Ela se aproximou de mim, falando no meu ouvido. — Mas posso
mudar isso se quiser.
Senti a sua mão entrando por dentro da minha calça, enquanto ela me
olhava com malícia.
— Se fosse outro dia, estaria muito interessado em saber o que essa sua
mão poderia fazer — disse, tirando seus dedos de dentro da minha calça. — Mas
por hoje, só quero chegar em casa e dormir.
— Está me dispensando? — perguntou ofendida. — Eu posso te ajudar em
casa com isso. — Ela não desistia mesmo.
— Eu tenho a minha esposa em casa a minha espera, não preciso de você
— disse. — Se eu quisesse, só te levaria até os quartos do rifugio e não para a
minha casa.
— Quer dizer que se nós dormíssemos juntos, seria em um quarto onde
você leva todas as suas putas? — Beatrice ficou bem brava ao saber disso.
— É óbvio! — declarei. — Única mulher que ainda se deita em minha
cama é a minha esposa. Nenhuma outra passou das portas da minha casa, a não ser
até a cozinha.
— Era para ser eu lá... — falou, se prendendo as promessas do passado. —
Eu deveria ser ela, eu que deveria ser a sua esposa.
Vi Thony se aproximando com o carro.
— Para ser honesto, nunca seria você — falei, olhando lágrimas se
formarem nos seus olhos. — Talvez tivesse te matado ou estaria presa no rifugio.
Eu e a Hope só demos certo até agora, porque ela tem uma bendita paciência e
sabe ficar na dela quando eu estou prestes a explodir. Acho que nenhuma outra
duraria, nem a Alessandra conseguiu durar. Você só está presa ao que aconteceu
no passado, como eu estou com o que me aconteceu. Já se passaram mais de 15
anos, Beatrice, eu nunca seria bom para você. Agora eu tenho que ir, então trate de
não se iludir ao meu respeito, porque nunca será você, sempre será ela.
Entrei no carro sem esperar sua resposta.
— Demorei, chefe? — perguntou Thony.
— Um pouco. Por que demorou?
— A senhora Ferraro me fez parar há cada 5 minutos para vomitar. Última
vez que vi alguém vomitar tanto, foi quando a minha esposa engravidou —
comentou. — Será que teremos alguém com o temperamento da loirinha em casa?
Ninguém nunca seria como ela foi. Mas não sei o que pensar desse mal-
estar da Hope. Será que ela estava mesmo grávida?
Não demoramos para chegar em casa. Quando entrei, encontrei com Lucy
na cozinha.
— Hope está dormindo no meu quarto. Ela comeu e se deitou para te
esperar e acabou dormindo — explicou Lucy. — Irei acordá-la.
— Não precisa, Lucy, eu a levo para o quarto assim mesmo.
Entrei no quarto da Lucy e a Hope dormia calmamente. Seu sono era
pesado, ela nem se moveu quando eu a peguei nos braços. A levei para o nosso
quarto e percebi que seu vestido era apertado.
Estou fazendo tudo que nunca fiz na vida por mulher nenhuma. Tirei o seu
vestido, a deixando apenas de calcinha e sutiã. Cobri o seu corpo com o cobertor,
saindo para o banheiro. Tomei banho e fui logo tratar de me deitar.
Hope ainda estava no mesmo lugar, nem se moveu, realmente deveria está
cansada, geralmente ela já teria mudado de posição até me agarrar no meio da
noite.
Pela manhã, acordei com o reboliço ao meu lado. A ruiva já havia
acordado. Não dormi muita coisa essa noite, só consegui agora pela manhã. Meu
mau-humor pela falta de sono estava evidente. Hoje teria um jantar no rifugio, já
que que os sócios não podiam mais marcar em suas casas e muito menos no
quartel.
Eles se sentiam seguros lá e eu não podia desmarcar, as negociações
tinham que continuar acontecendo. Saí do quarto, deixando a ruiva ali sozinha. Fui
logo tratar de resolver como seria a segurança desse jantar, pois queria descansar
ainda mais quando terminasse. Ainda tinha que ir fazer uma visita para a gangue
dos selvaggio agora a tarde.

Depois que resolvi os assuntos do jantar, já estava na frente da sede da


gangue selvaggio. Entrei sendo observado pelos homens que guardavam o local.
Caminhei por seu escritório, interrompendo uma reunião que ali acontecia.
— Vejo que estão todos os líderes aqui — disse. — Que sorte que eu
tenho!
Fechei a porta. Logo quem comanda o lugar veio até mim, puto da vida
pela minha invasão. Também fui até ele, nos encontrando no meio da sala.
— Por que voltou aqui?
— Senti falta do seu carisma — falei debochado.
— Não entendo por qual motivo você voltou a pisar aqui, mas eu não
quero que você ouse pôr os pés na minha... — O interrompi, pegando a barra de
ferro que estava na lareira, atravessando-o na sua barriga.
Os outros rapazes logo ficaram de pé e Red junto aos meus seguranças
apontaram as armas para as pessoas presentes. Vi que ele ainda estava lúcido, o
encostei na parede, segurando na barra de ferro com as duas mãos.
— Há 4 anos eu te avisei que se visse você a desobedecer as minhas
regras, eu te mataria — disse, enfiando ainda mais o ferro na sua barriga, enquanto
ele vomitava sangue pela boca. O sangue escorria pelo ferro até chegar nas minhas
mãos, as sujando. — Eu fui muito paciente e bondoso com você, mas você testou
a minha paciência em uma semana ruim.
— Nós não estamos mais na sua aérea, obedecemos os limites — disse um
dos rapazes, tirando a minha atenção do homem a minha frente.
— Engraçado, encontrei um dos seus rapazes vendendo drogas justamente
próximo do quartel — falei, jogando o líder deles no chão, pisando na sua barriga
para tirar o ferro de dentro dele. Assim que o fiz, o vi se remexer no chão sem
conseguir dizer nada, se sufocando com o próprio sangue. — Então eu estou
louco?
— Alguns acabam querendo vender mais rápido para ganhar logo o
dinheiro e se esquecem dos limites das áreas. — Falou, olhando para o homem no
chão, temeroso que ele seja o próximo. — Outros se aproveitam para tentar entrar
no quartel e assim conseguir clientes fixos ou nomes de possíveis compradores.
— Erros, erros e mais erros — disse, me aproximando deles, limpando as
minhas mãos com o lenço que havia no bolso do meu paletó. — Não gosto nem
um pouco disso. Isso chama atenção, uma atenção que eu evito constantemente.
Vocês estão abusando do meu bom coração. Não me entendem mal, mas eu estou
um pouquinho decepcionado com vocês.
— Ficamos na nossa depois do ocorrido de 4 anos, vamos manter a paz. —
O acertei com o ferro e ele caiu no chão, colocando a mão na cabeça.
— Não terminei, não me interrompa — aviso, me sentando no lugar onde
o líder deles se sentava. — Sentem-se, vamos terminar essa reunião. — Eles se
sentaram depois que a minha segurança começou a se aproximar. — Eu começo
com o que me incomoda — falei, levantando a mão. — Vejamos, os limites das
áreas foram criados para que nós não tivéssemos problemas, vocês vendem, nós
vendemos, tudo no seu lugar sem ter brigas. Só que existe uma diferença nisso, o
meu pessoal obedece, mas vocês não.
— Podemos falar?
— Claro, agora pode, vivemos em uma democracia afinal. — disse
sorrindo sarcasticamente.
— Não tem como ter o controle de todas as pessoas que trabalham para
nós. Uns vendem, outros usam, é difícil saber onde cada um estão com a
mercadoria.
— Então deveriam ser mais cuidadosos, não acha? Isso chama atenção da
polícia para cá, eu não vou ficar sempre limpando a sujeira de vocês. Encontrem
vendedores melhores, senão eu vou ter dar um fim nesse lugar e vocês não vão
querer isso, não é? — falei e eles negaram com a cabeça. — Estou um pouco
desconfiado em ir para casa e ser retalhado quando eu chegar em nela, por
vingança pelo fato de eu ter matado o líder de vocês.
— Nós sabemos que não temos chances — falou um deles.
— Isso, mas vocês costumam não pensar — falei, olhando para cada um
deles cinicamente. — Como vou poder confiar nisso, sendo que já é a segunda vez
que eu dou uma chance para vocês?
— Já sabemos que irá nos matar, não precisa fazer esses jogos.
Peguei a minha arma e apontei para o homem que falou, apertando o
gatilho, o atingindo com uma bala na cabeça.
— Vamos eliminar a oposição — anunciei, voltando atenção para os que
estavam vivos. — Então, onde eu parei? Lembrei, como eu dizia, temos que voltar
a confiar um nos outros.
— O que o s-seenhor quer? — gaguejou.
— No momento, nada — falei e eles estranharam. — Vocês me devem um
favor por ter deixado vocês vivos, um dia virei cobrar e quero que me ajudem sem
protestar, só isso.
Eles estranharam, olhando uns para os outros.
— Certo!
— Escolham um novo líder, mas um inteligente que saiba que certas ações
são suicídio — disse, ficando em pé, indo até a lareira colocando o ferro no lugar.
Vi que o líder ainda estava vivo e não poderia deixar o serviço inacabado. Me
aproximei dele, tirando a minha arma novamente, colocando no meio da sua testa.
— Eu havia te avisado, era para ter obedecido, isso nunca teria acontecido se você
soubesse seguir as regras.
Logo o som do tiro ecoou pelo cômodo fechado, deixando os demais ainda
assustados.
— Se forem tentar se vingar, sejam mais espertos. Essa semana não é uma
boa, talvez a próxima, mas saibam que podem até entrar, estaremos esperando,
mas se passar pelo portão, o seu sangue estará no chão, assim como dos homens
que passaram. — disse me aproximando da mesa. — Querem tanto conhecer por
dentro dos muros? Eu faço os meus homens conhecerem dentro de você quando o
seu intestino tiver jogado na calçada.
— Entendemos o recado, não faremos nada.
— Pois bem, era isso, tenham uma boa tarde, senhores! — falei, saindo de
lá. Red veio para perto, ficando na minha frente caso alguém atirasse. — Fique de
olho neles de qualquer forma.
— Estranhei, por que deixou eles vivos?
— Um dia eu posso precisar ter alguém para incriminar no meu lugar ou
para me ajudar em algo, não acha? — disse. — Eles estão gratos por eu os ter
deixado vivos, mas não sabem que isso será pior que a morte.
— Certamente — disse Red.
Não sei quando vou precisar de alguém, então, melhor ter uns reservados
para isso.
Já no quarto andar do rifugio. Todos já haviam chegado, menos a minha
esposa. Mas não demorou muito e ela apareceu. Ela estava linda e, infelizmente,
não poderia me deslumbrar de sua beleza, pois havia pessoas demais para eu dar
atenção. Quando me aproximei dela, vi que ela conversa com Alessandra
amigavelmente.
Desde quando elas são amigas?
Assim que me aproximei, tratei logo de levá-la para perto dos sócios.
Perguntei se estava melhor e ela assentiu. Seu rosto não estava tão abatido como
estava ontem. Ela devia estar melhor mesmo. Como nós dois temos que estar
presente nessas reuniões, ficamos ali com um grupo de senhores. Não queria ter
mais problemas por comentários de membros não gostando do fato de mim e da
minha esposa ignorá-los nesses jantares.
Só falavam coisas que não era do meu interesse, estava sendo uma tortura.
— Posso ir para casa? — perguntou Hope no meu ouvido. Ela mal chegou
e já queria ir embora.
— Ainda não acabou o jantar.
— Lorenzo, por favor, eu estou enjoada.
Sabia que ela estava mentindo. Devia estar tão entediada quanto eu, mas
tínhamos um compromisso aqui.
— Vai para casa e depois conversamos sobre essa sua nova mania de ficar
mentindo.
Ela se levantou e saiu. De qualquer forma, não vou confiar, vai que ela
realmente passa mal. Aproveitei a deixa e saí da mesa onde eles estavam.
Fui para o bar, bebendo um pouco ali sozinho. Beatrice ficou perto de mim
e dei sorte da Bianca não vir, já que o seu pai estava aqui também.
— Não me deve desculpas por ontem? — indagou Beatrice.
— Nunca pedi desculpa a ninguém e pode ter certeza de que você
não será a primeira — falei, bebendo o líquido no meu copo.
— Alessandra está aqui também, ainda mantém contato? —
perguntou.
— Virou terapeuta de ex-divorciados?
— Só fiquei curiosa, vocês não se davam muito bem quando
estavam casados — falou.
— E por que nós nos daríamos bem agora? Nada mudou.
Não tinha problema algum com a Alessandra, ela sempre era muito
na dela e eu ficava mais tempo no quartel. Talvez pelo nosso temperamento,
todos achavam que passávamos o dia discutindo ou tentando matar um ao
outro.
— Então só tem a sua atual esposa no caminho entre nós dois? —
questionou e eu ri. — Por que está rindo?
— Estou curioso, eu estou demonstrando algo que te faça acreditar
que um dia a palavra “nós” será mencionada entre mim e você como um
só? Porque sinceramente, eu creio que toda a minha indiferença e
sinceridade, já tivesse deixado óbvio que essa possibilidade nunca será real
— digo.
Inacreditável como eu tinha que ser mais claro do que já sou.
— O que sai da sua boca não interfere em nada, eu vejo nos seus
olhos — respondeu. — Era para ser nós dois, desde da adolescência. Eu que
esperei você ficar maior de idade para me ter como sua mulher, eu era a
única na sua vida. O seu pai tirou isso de mim, quando mostrou o Isaac aos
meus pais. Quando te disse que eu não era adequada para ser a sua esposa.
Te ver casar com aquela outra e agora com essa, você não entende que
nunca vai dar certo porque não sou eu. Daqui a pouco vai se divorciar dessa
e provavelmente arranje outra para substituir, mas é eu que você quer,
Lorenzo. Está procurando em lugares errado, eu estou aqui na sua frente, só
esperando você me aceitar.
Não conseguia realmente entender o que faz ela pensar que eu teria
ela como uma opção.
Antes que eu pudesse responder aquela loucura, vejo meu celular
tocar. No visor vi que era a Hope. O que ela acha que está fazendo?
— Achei que havia deixado claro que só queria que me ligasse se
fosse algo de vida ou morte, Hope — disse assim que atendi.
Não escutava nenhum barulho vindo da outra linha. Será que ela
dormiu por cima do celular?
— Volta para a nossa conversa e desliga essa ligação — disse
Beatrice e eu a ignorei.
— Me ligou só para escutar a minha voz, Hope? — disse, tentando
me certificar que era engano.
Como não tive respostas, desliguei a ligação.
— O que foi? — perguntou Beatrice.
— Nada que seja do seu interesse.
— Viu, é só você falar com ela que já se torna mais grosseiro —
afirmou.
— Não se iluda...
Quando ela ia falar, o meu celular tocou novamente. O que deu na
Hope? Caminhei para o corredor, saindo da sala de reuniões.
— Hope, eu estou perdendo a porra da paciência. Se eu for aí... —
Hesitei em concluir. Qual era a possibilidade da Hope me ligar? Nenhuma.
A ruiva era bem ciente e saberia que eu odeio ficar atendendo ligações. Há
uma semana a casa do Isaac foi invadida, será que... Fui interrompido com
o barulho vindo da sua ligação, como uma porta se fechando com força.
Sabia que era onde ela estava. — Hope, tem alguém com você?
Ela não me respondeu. Óbvio, se alguém estiver com ela, não daria
para responder. O quarto era a prova de som, nem o barulho de um tiro
daria para escutar saindo de lá. Comecei a caminhar para o elevador,
apertando o botão.
— Se tiver alguém com você, aperte alguma tecla do seu telefone —
disse. Pode ser apenas um engano.
Porra!
Foi quando escutei o barulho da tecla soando na ligação.
Puta merda!
Comecei a correr pelas escadas mesmo, já que o elevador
demoraria.
— Porra, me escuta, fique onde você...
Não terminei de falar quando a escutei gritar.
O desespero na sua voz gritando o meu nome, nunca esqueceria
aquilo.
— INFERNO!
Corri o mais rápido que eu pude, tentando ligar para algum
segurança da casa, mas eles não atendiam a ligação. Devem estar mortos.
Assim que cheguei no térreo, vi Red e os seguranças conversando.
— A casa foi invadida, tem alguém no meu quarto — avisei
enquanto corria.
Os seguranças me acompanharam indo em direção a casa.
— A Hope está lá, senhor — disse Red.
Sabia que Red havia criado um vínculo com a minha esposa, logo
ele notou o meu desespero de saber que ela estava lá, presa com um inimigo
meu. Assim que eu entrei na casa, mandei uns seguranças verificarem a
Lucy e corri para o andar de cima.
Quando me aproximei da porta, abrindo-a, a cena que eu vi me
deixou com sangue nos olhos. Havia um homem por cima da Hope, a
enforcando.
— Tire ela daqui — disse para o Red.
Pulei para cima do homem, o tirando de perto dela. Comecei a socar
o seu rosto, pegando uma faca que caiu no chão, cravando-a no seu ombro.
O socava repetidas vezes, sentindo a minha mão dormente pelo inchaço de
meus punhos.
— Como ousa tocar na minha esposa, SEU ARROMBADO? —
gritei, ainda o socando. — Vou fazer você comer as suas próprias mãos por
ter tocado nela.
Red me tirou de cima dele, se não fosse por ele, eu não havia parado
e teria o matado antes mesmo de saber o que estava fazendo aqui. Fiquei em
pé, andando de um lado para o outro, enquanto meus homens colocavam o
infeliz em pé. Vi que Hope já não estava mais no quarto, Red deve ter tirado
ela daqui.
— Leve-o para o rifugio — disse, sentindo um desconforto no meu
ombro. — Tirem todos que estão no quarto andar e não diga nada. Quero
homens vigiando esse arrombado para que não saia daqui.
— Acha mesmo que vai me deter? — disse o maldito cuspindo
sangue, com uma ferida exposta na sobrancelha causada pela minha aliança.
— Red, leve-o para equipe médica e cortes as mãos e as pernas, não
quero que ele consiga sair daqui. E congele, vou precisar delas — disse.
Encarando agora o maldito. — Se tentar sair, será se arrastando, mas não
conseguirá ir longe.
— Você não é louco de cortar as minhas pernas, seu filho da puta!
— começou a gritar, tentando se soltar.
— Red, pode dar uma lição nele, só não o mate, quero ele vivo
quando eu for interrogá-lo — falei, olhando para o maldito. — Certamente
já deve ter ouvido falar de como eu interrogo quem me trai, imagina quem
invade a minha casa e tenta matar a minha esposa. Você pedirá para morrer,
implorará, mas eu não darei o gosto disso agora.
Saí de lá indo atrás da Hope. Encontrei-a com Lucy que logo me
explicou o que aconteceu.
Corri para o quarto da Antonella para saber se ele havia encontrado
a caixinha marrom. Ela estava no mesmo canto, intacta, escondida entre um
desenho da minha filha no canto do quarto, quase invisível por ser da
mesma cor do papel de parede.
Para os de fora, devem achar que eu esconderia perto de mim, no
escritório aqui de casa ou até mesmo no escritório do quartel, mas quem
entraria no quarto de uma pessoa morta para procurar algo?
Deixei a caixinha escondida onde estava, olhando as travas se
estavam ainda ligadas. Tudo só aumentava minhas suspeitas de que
mataram a minha filha. Quem saberia dessa caixinha além de quem lhe fez
mal?
Dentro dela havia um pen drive com algumas informações sigilosas.
Não era o que tinha mais informações, mas era o que tinha mais
importância emocional para mim. Dentro dali havia a gravação das câmeras
de segurança da casa do meu pai, do dia em que aconteceu a morte da
minha filha.
Antonella me viu uma vez com essa caixinha na mão e não duvido
nada dela ter comentado com alguém sem querer. Não sofria apenas pela
perda da minha filha, sofria ainda mais por ser culpado por isso.
Desci novamente indo atrás da ruiva.
— Vem, vamos subir! — disse, assim que a vi no quarto da Lucy.
— Me deixe... — ela tentou falar algo, mas estava nervosa demais
para dizer alguma coisa. Respirou fundo e continuou: — Eu posso ficar
aqui? Não quero ficar sozinha no quarto.
— Eu não sairei do quarto — disse. Ela se levantou da cama e
caminhou até mim. Assim que ela se aproximou, me lembrei que ela
poderia estar grávida. Toquei no seu pescoço, olhando a vermelhidão. —
Está sentindo dor em algum lugar?
— Não, eu só quero me deitar.
Ela ainda hesitou em subir, mas logo me acompanhou. Assim que
cheguei no quarto, me sentei na cama, tratando logo de tirar aquele sapato.
Hope também se sentou, me olhando, sabia que ela não sairia do meu lado.
Queria muito logo cuidar do arrombado que invadiu a minha casa,
mas pelo estado de Hope, ela não ia conseguir ficar muito tempo sozinha
sem ter uma crise de pânico. Tive que ir ao banheiro com ela, já que ela não
queria sair de perto de mim.
Quando viu que o banheiro estava seguro, entrou ainda receosa. Ela
logo tirou a sua roupa e entrou no box. Via que ela ficava olhando para
conferir se eu ainda estava aqui.
Daqui a pouco eu teria que tomar banho e do jeito que ela estava,
não me deixaria ir longe. Tirei minha roupa e entrei no chuveiro com ela.
Assim que terminamos de tomar banho, caminhamos para o closet.
Vesti meu short de dormir e ela sua camisola. Ela não saía de perto de mim
para nada. Me aproximei dela, olhando o roxo que estava em seu pescoço.
Voltamos para o quarto e pedi um segurança que trouxesse gelo para
por no pescoço dela. O segurança logo trouxe e ela colocou em seu
pescoço.
Deitamos em silêncio. Apesar de estar com os olhos fechados, Hope
não era muito discreta. Ela já havia tirado o gelo do seu pescoço, se
aproximando sutilmente de mim.
— Quer segurar a minha mão? — perguntei. Talvez me
arrependesse depois, mas não a deixaria ficar assim, já que era minha culpa
ela ter passado por isso.
— Obrigada — respondeu.
Ela segurou na minha mão e encostou sua cabeça no meu ombro,
não demorando para adormecer. Me senti aliviado em saber que ela estava
bem. A observava, passando os dedos pelos seus fios de cabelo. O cheiro
dela estava impregnado na minha cabeça, mesmo quando não estava perto
dela, conseguia imaginar o seu cheiro.
Me acomodei na cama, deixando o cansaço me dominar. Pela
madrugada, a Hope estava no mesmo canto. Coloquei o meu braço por
baixo dela, a trazendo para mais perto de mim. Sua cabeça estava no meu
peito e eu gostava de sentir seu cheiro tão perto assim.

Pela manhã, acordei e ela ainda estava lá. Fiquei surpreso por ter
acordado só aquela vez de madrugada.
Eu consegui dormir?
Tirei ela de cima de mim delicadamente e fui para o banheiro. Saí,
indo para o closet, ainda confuso do que aconteceu. Quando estava saindo
do quarto, encontrei com Red na porta.
— Sabe como ele entrou? — perguntei sobre o invasor.
— Vi pelas câmeras e os corpos que ele deixou lá fora — falou. —
Ele veio pela lateral, provavelmente da floresta, desceu na rodovia e veio
andando até chegar aqui. Com certeza aproveitou que tínhamos convidados
no rifugio e a nossa atenção estaria mais lá. Esbarrou com alguns
seguranças, os nocauteando com muita facilidade, mostra que é treinado,
creio que não esperava a sua presença no quarto e por isso foi surpreendido
quando o senhor o atacou. Continuando, ele entrou pela janela da escada,
com a ajuda de um equipamento que não é de fácil acesso, equipamento
militar.
— Ou ele teve ajuda ou é um ladrão experiente e já roubou lugares
grandes.
— Voto mais na segunda opção. Ele deve ter roubado algum quartel
do exército e guardou os brinquedinhos para o trabalho que viesse — falou.
— Pois bem, ele chegou a descer para verificar se a havia alguém na casa, a
Lucy estava na cozinha, o mesmo ainda se aproximou dela, mas alguns
seguranças apareceram e ele se escondeu. Como viu que a Lucy
provavelmente não tinha acesso aos andares, por achar que era uma mera
empregada, ele subiu, parando no meio do corredor sem saber por onde
começar. Logo escolheu o seu quarto, não demorou muito e a Hope
apareceu e o resto o senhor sabe.
— Aquele merdinha! — disse. — A equipe médica já tiraram o que
eu pedi?
— Sim, sem anestesia, deixamos que sofresse bastante —
comentou.
— Certo, fique com a Hope, tenho muitos assuntos hoje para cuidar
— falei. — Fique com ela no jardim um pouco, ainda pelas proximidades,
talvez ajude a se acalmar sobre ontem. Ela estava tremendo muito a noite.
Conhecendo a ruiva, ela surtaria se acordasse sozinha no quarto.
Desci para tomar o meu café, pois sabia que o dia seria corrido já que tinha
um convidado no rifugio me esperando.
Logo Hope apareceu, mas foi logo para cozinha. Terminei de tomar
o meu café e ela não havia voltado. Fui até a cozinha e não a vi lá.
Caminhei pela casa e a vi deitada no sofá da sala.
— Não tomou café? — perguntei, me sentando no sofá.
— Tomei um suco na cozinha.
Me deitei por cima dela, admirando aqueles olhos verdes.
— Sabe o que é engraçado nisso tudo? — disse, não esperando ela
responder. — Por três anos, essa foi a única noite que eu consegui dormir
por muito tempo e olha que a minha casa foi invadida.
— Isso é ruim? — perguntou.
— De forma alguma, só estou refletindo sobre isso hoje —
comentei. — Tenho que ir até a boate resolver uns assuntos, então não fique
sozinha, fique sempre perto do Red.
Menti, se ela soubesse que o maldito estava no prédio ao lado, ela
enlouqueceria.
— Lorenzo, tome cuidado.
— Está se preocupando comigo, senhora Ferraro? — indaguei. —
Eu sempre tenho.
Logo Hope me beijou. Sentia uma certa paz quando estava com ela.
Eu sabia que estava começando a me apegar a essa ragazza dos cabelos
acobreados. Tive que interromper o beijo, já que ia no rifugio.
Mesmo depois de horas torturando o maldito, ele ficou em silêncio o
tempo inteiro. Enrico era melhor nisso do que eu, não tenho tanta paciência
para tortura. Triturei o que sobrou da sua mão e o fiz comer como havia
dito, mas ele tinha muita resistência, estava difícil o fazer.
— Acha que quem está te pagando para vir até aqui, te livrará de
mim ou te salvará? — perguntei.
Estava esperando o Josh encontrar algo sobre esse puto para que eu
pudesse usar, foi quando imediatamente meu celular tocou, mostrando no
visor uma mensagem no meu e-mail.
Abri e vi que era um arquivo do Josh.
— Soube que tem família na Tailândia — falei.
Assim que eu disse o homem logo se mostrou apavorado. Tive sorte
dos meus homens terem conseguido alguma informação das digitais da mão
desse maldito. Ele não as tinha mais e sair correndo daqui para ajudar a
família não era mais viável já que não tinha mais as pernas.
Ele logo morreria pela perda de sangue, tinha que agilizar logo isso.
Mesmo que a equipe médica tenha ajudado, ele estava acabado por não ter
se recuperado da cirurgia.
— Não os machuque! — declarou.
— Quer argumentar agora? O tempo está passando, meus homens já
estão perto da casa da sua mãe, lá mora os seus filhos, não é?
— Eu não sei de nada... — falou, respirando fundo.
— Para um ladrão, você parece ser bem experiente. Trabalha com
isso há muito tempo?
— Sim, roubos grandes — falou.
— Viu, não é difícil, eu pergunto e você responde — falei.
— Só me mandaram vir pegar uma caixinha marrom quando você
estivesse ocupado no prédio ao lado. Não sabia que a sua esposa apareceria
na hora, atrapalhando todo o meu plano.
— Quem te mandou? — perguntei.
— Eu não sei, ele me ligou atrás dos meus serviços. Não sei de
nada, o dinheiro caiu na minha conta assim que eu aceitei.
Mantive esse filho da puta vivo para nada? Ele era peixe pequeno e
nem sabia o que estava fazendo. Está acontecendo a mesma coisa de 4 anos
atrás. Mandavam homens que não tinham nada haver para que eu andasse
em círculos tentando encontrar algo.
Estava cansado desse jogo e já sabia o que aconteceria. Eu o
investigaria, não encontraria nada com ligação a quem o pagou, enquanto
isso, eles estavam já tramando algo maior, aproveitando que eu estava
ocupado investigando o último ataque.
— Ter te mantido vivo foi uma perda de tempo — disse.
— Não mate minha família, eu suplico! — implorou.
— Tenho cara de quem mata criança? — indaguei. — Mas para o
seu azar, eu machuco velhinhas, então morrerá sem saber se sua mãe terá o
mesmo fim que você.
Peguei minha arma e atirei na sua cabeça. Eu não tocaria na mãe
dele, não ia deixar aquelas crianças sem a avó, a única parente viva que
cuidava deles, mas ninguém precisava saber disso.
Meu celular tocou e vi que era Red.
— Senhor, sua esposa pediu para que eu fosse a farmácia para ela.
— Fazer o quê, Red?
— Ela me pediu para comprar teste de gravidez.
Aquilo me atingiu em cheio.
— Peça para ela me ligar assim que souber do resultado.
Red assentiu e desligou a chamada. Caminhei para fora do rifugio e
cogitei em subir para ver ela fazer o teste, mas não sei com lidaria com isso.
Tinha que resolver algo na boate, então fui logo para lá.
Assim que cheguei no escritório, não consegui me concentrar em
nada. Quando o meu celular tocou logo atendi.
— Sì? — disse.
— Ah, oi! — disse Hope parecendo nervosa. — Lorenzo, eu fiz o
teste.
— O que deu?
Estava ansioso e ela fazia hora para dizer.
— Bem, deu positivo, eu estou grávida! A moça da farmácia indicou
ir ao hospital para fazer um exame de sangue que é mais confiável, mas
devido eu ter feito 18 tipos de testes aqui em casa, tenho quase certeza de
que eu estou mesmo — fiquei em silêncio processando o que ela havia dito.
— Lorenzo?
Eu seria pai de novo? Não sabia se ficava alegre ou se chorava. Faz
tanto tempo que não sei o que é chorar de felicidade.
Daqui a 9 meses teria um bebê em casa.
Que porra!
O que eu vou fazer?
Será que sei ser um bom pai?
Eu nem sei mais como é ser um.
O que eu tenho que falar e dizer para ela agora?
— Sì! — Falei, caindo em si. — Eu vou marcar uma consulta para
você agora a tarde. Encontro com você no hospital.
Desliguei o telefone, sentindo a minha cabeça aérea. Não pensei
muito e saí do escritório correndo, indo para o escritório do Enzo.
Meu coração estava acelerado e parecia que eu morreria ali mesmo.
O ar faltava nos meus pulmões, eu tentava processar o que poderia
acontecer, pensando nos malefícios que aconteceria quando essa criança
nascesse.
Entrei na sala do Enzo, sem nem bater na porta.
— O que aconteceu, está pálido? — disse Enzo assim que eu entrei,
caminhando até mim.
— Hope está grávida! — disse.
Enzo que tinha um semblante preocupado, veio até mim sorrindo e
me abraçou.
— Parabéns, irmão! — falou. — Que essa criança lhe traga tanta
felicidade como Antonella lhe trouxe.
— E se o bebê morrer por minha causa de novo? Não sei se consigo
ser pai novamente. Quando pensei em ter um herdeiro, nem raciocinei o que
aconteceria depois. Eu vou ter outro filho e os meus inimigos podem fazer
mal a ele. Minha casa foi invadida ontem e essa criança nem nasceu,
imagina o que vai acontecer quando nascer. Lembra de como era difícil?
Ter que ficar apreensivo toda hora que eu saía de casa deixando a minha
filha ...
— Não se culpe pelo que aconteceu com a Antonella — falou,
depois de ter me interrompido. — Você ficará bem! Confie na sua esposa,
confie em si mesmo, você não teve culpa de nada. Antonella deve estar feliz
por ganhar um irmão, sabe como ela fazia a nossa cabeça para ter filhos, só
porque você nunca quis ter outro com a Alessandra.
— É fácil falar — disse, caminhando até a garrafa de whisky e enchi
o meu copo. — Que porra, eu não sei o que fazer!
— Você sabe, só está com medo — falou.
Medo? Eu estava surtando.
Que inferno!

Já estava no hospital, esperando por Hope. Havia tanta criança e


mulheres grávidas que me senti deslocado. Não havia muitos homens por
aqui, até porque amor só pela máfia. Não os julgo, eu nunca nem
acompanhei a gravidez da Alessandra.
Os olhares confusos de todos estranhavam eu, o Capo, em um lugar
como esse, mas certamente não teria burburinhos por temer que eu as mate
se espalharem algo.
Vi um folheto na mesa a minha frente.
"PARA PAIS CORUJAS: COMO LIDAR COM UM BEBÊ A
CAMINHO?"
Comecei a ler para passar o tempo, mas acabei me interessando pelo
que havia ali. Logo a ruiva chegou e se sentou ao meu lado. Guardei o
folheto para ler depois. Não conseguia encarar ela, fiquei receoso dela saber
que eu estava nervoso com aquilo.
Logo a chamaram. Fizeram o teste novamente e deu positivo, mas
tínhamos que esperar pelo exame de sangue. O que me tirou risos ver a
ruiva nervosa com medo da agulha.
Levei a Hope para o refeitório, enquanto aguardávamos o resultado.
Depois de quase duas horas, a chamaram. Entramos na sala e a médica
começou a falar.
Ela estava realmente grávida. Até cogitei em sair correndo dali, mas
não era forma de um Capo agir. Posso dizer que não deixei a Hope falar
nada. Estava com medo e curioso, queria saber tudo. Hope faria alguns
exames e tínhamos que marcar o obstetra para ela. No caminho para casa
foi o total silêncio, não sabia o que dizer.
Assim que chegamos, vi que ela estava cheia de alguns familiares
meus e familiares da minha esposa. Minha mãe logo veio para abraçá-la e
eu sabia que já descobriram que a Hope estava grávida.
— Enzo, seu filho da puta fofoqueiro! — disse.
— Já tentou guardar algum segredo da sua esposa? — disse Enzo.
— Notará que quando estão grávidas, são mais assustadoras.
Todos começaram a nos parabenizar.
Era estranha a felicidade de todos com um ser que nem nasceu
ainda. Ela agora que estava com três semanas. Alguns membros da minha
família estavam aqui, era estranho ter a casa cheia, não só para mim, como
para eles. As meninas se enturmaram muito rápido, mas eu, meu pai e meus
irmãos já ficamos mais tensos, observando-as conversar. Geralmente, quem
quebrava o gelo após uma discussão era Lucca, mas isso não aconteceu.
Lucy havia feito um jantar, mas antes mesmo de provar, meu celular
tocou. Quando atendi, um dos homens do quartel disse que Beatrice havia
lembrado de algo importante. Então, mandei trazê-la para o rifugio, já que
não iria ao quartel somente para falar com ela. Assim que recebi o aviso de
chegada, levantei da mesa, avisando que iria resolver algo.
— Espero que seja importante, se não ficará em uma das celas como
castigo — disse assim que encontrei com a Beatrice. Levei-a para meu
escritório, ela continuou calada. — Estou esperando!
— Pode ser menos arrogante? Eu estou apavorada, Lorenzo —
falou, começando a chorar. — Se eles vierem atrás de mim?
— Creio que você não tem valor para eles, se não teriam ido atrás de
você quando invadiram a sua casa. O que você lembrou?
— Eles disseram algo a respeito de um pen drive. Não lembro bem
o resto das coisas, pois eles acabaram matando o Isaac quando a casa
começou a se encher de segurança. Eu via tudo pelas câmeras do quarto. —
Ela chorou ainda mais. — Eu tenho certeza de que eles falaram pen drive,
consegui escutar, mas li os lábios de um deles que a máscara não cobriu.
Não lembrou de nada que fosse do meu interesse. Já sabia que eles
estavam atrás de algo da caixa, então era o pen drive.
Mas o que liga o Isaac a isso?
Será que o queriam infiltrar na minha casa, por que ele teria acesso a
ela em uma visita? Conhecendo a sua lealdade, ele deve ter negado e foi
morto para não me contar.
— Pode voltar para o quartel.
Ela pegou o copo e o encheu com a bebida do bar, engolindo todo o
líquido de uma vez de uma forma sexy, para tentar me seduzir.
— Você não quer transar comigo? Não sou boa o suficiente para te
dar prazer?
— Se valorize, Beatrice — disse, indo até ela, pegando o copo de
sua mão. — Já disse que não corro atrás de mulher nenhuma, e você não
será a primeira. Se quer, a gente faz, mas como eu te disse antes, eu não
quero no momento.
— O que eu posso fazer para que se interesse por mim de novo...?
— a interrompi, quando a sua mão tocou em meu rosto.
— Eu estava comemorando algo, e você atrapalhou — disse,
segurando a sua mão.
Ela pegou a garrafa e saiu do escritório.
Que inferno!
— Senhor, chegou uma caixa do quartel — disse um dos meus
seguranças.
Aproveitei para dar uma olhada nos documentos, tinha que dar a
minha assinatura neles, e nisso foram horas e horas assinando, até que a
madrugada chegou.
— Senhor, a senhorita Beatrice está bastante alterada no cassino —
disse meu segurança na porta do meu escritório.
Caminhei até o cassino e a vi no bar bebendo, enquanto uns homens
se aproveitavam da sua alteração.
— Vamos! — Ela logo me seguiu.
— Posso dormir na sua casa?
Ela estava bêbada, mas estava consciente no que falava. Era mais
fingimento sua embriaguez.
— Dormirá no quarto de hóspedes e pela manhã, voltará para o
quartel — disse, sentindo pena da mulher que eu conheci ter se tornado
assim por uma obsessão.
— Pode me ajudar a chegar lá, acho que não consigo andar muito —
disse Beatrice se apoiando em mim, mas tratei de logo chamar um dos meus
homens para levá-la.
Eu tenho um bom coração, mas nem tanto.
— Não sou de carregar ninguém. Se quer ir, será com ele, se não,
volte para o quartel— disse, saindo de lá.
Ela veio atrás, mas sem ninguém ajudando. Sabia que ela estava
fingindo. Assim que entramos em casa, guiei ela até o quarto de hóspedes.
— Não posso ficar lá em cima? — perguntou. — Sua esposa é
ciumenta?
— Não ficará lá porque não confio em ninguém na minha casa.
Alguns homens ficarão na porta do seu quarto, e não ande pelos corredores.
Eles serão instruídos de te jogar lá fora se te pegarem andando por aqui sem
minha autorização.
Avisei a Red que ficasse de olho nela, não suportaria mais esses
tipos de comportamento na minha casa. Então, caminhei para meu quarto,
percebendo que a luz do banheiro estava acesa. E era nada mais do que a
ruiva sentada em frente ao vaso.
— Maldito quarto à prova de som — resmungou, colocando a mão
na sua barriga. — Vai passar!
— Está bem? — disse, aproximando-me dela e me agachando
ficando na sua altura.
Hope me olhou com um olhar mortal, que ela nunca havia me
olhado antes.
— Por que teve que fazer uma casa à prova de som, seu maldito? —
Ela batia no peito repetidas vezes. — Sabe há quanto tempo eu estou aqui,
esperando alguém aparecer para me ajudar?
De onde vinha tanta raiva de um ser tão pequeno?
Segurei as suas mãos, tentando assimilar o motivo da sua fúria.
— Enlouqueceu, Hope? — Vi que o chão estava gelado, e pelo seu
joelho estar vermelho, ela deveria ter ficado naquela posição por muito
tempo. — Vem, eu te ajudo a chegar na cama.
— Que perfume é esse? — Ela me afastou, fazendo um cara de
nojo.
Cheirei a minha camisa e senti um cheiro que não era o meu. Havia
ido no cassino, as mulheres se esfregaram em mim, fora o cheiro do cigarro
e da bebida.
— Satisfeita? — perguntei assim que tirei a blusa.
— Não precisa mais, eu estou bem! — A ruiva não sabia mentir
mesmo.
Eu a ignorei e a coloquei nos meus braços, carregando-a até a cama.
Então, fui à cozinha para pegar água, pois ela havia vomitado muito e
precisava se hidratar. Depois de beber água, ela se deitou.
— Pode deixar ligada — disse Hope quando eu ia desligar a luz do
quarto.
— Lorenzo?
— Oi, Hope?
— Vou deixar a luz do abajur ligada — me avisou, aproximando-se
do abajur.
Impedi-a, puxando seu corpo para mais perto de mim.
— Não sairei do quarto. Pode ficar mais perto de mim se estiver
com medo.
Não que eu me importasse, mas ela parecia assustada.
Ela colocou sua cabeça sobre o meu peito e agarrei sua cintura,
colando mais o nosso corpo um com o outro. Não demorou muito para a
ruiva cair no sono, não nego que eu também logo adormeci.
Abri os olhos com dificuldade por causa da claridade. Havia sido
acordado pelo celular de Hope, que não parava de tocar, e ela logo levantou
para atendê-lo. Era minha mãe, devia estar surtando ao saber que teria outro
neto.
— Minha mãe já está dando uma de vó louca? — perguntei, assim
que ela desligou o celular.
— Só está empolgada.
Caminhei até o banheiro, tomando banho.
Me arrumei em seguida e já desci, encontrando com a Lucy na
cozinha.
— Sua convidada ainda está aqui — disse Lucy com uma cara nada
boa.
Que merda!
— Por que caralhos ainda está aqui? — perguntei, encontrando a
Beatrice na sala sendo observada por Red a cada segundo.
— Estava com fome. Não acredito que me negará um prato de
comida!
— Coma e vá embora! — disse, indo para sala de jantar.
Ela me seguiu e começou a comer, tentou puxar assunto comigo,
mas a ignorei. Logo Hope apareceu na mesa, não muito contente em ver a
Beatrice comigo.
— Bom dia, Hope! — disse Beatrice sorrindo forçadamente.
Hope respondeu seu cumprimento e se sentou afastada dela,
aparentemente abatida com a situação, e Lucy fechou a cara, vendo que
Beatrice permanecia na mesa.
— Você poderia se afastar um pouco? — pediu Hope.
— Não precisa ser grossa, só quis ser sua amiga. Desculpa, Lorenzo,
por invadir o seu café da manhã. Vejo que não sou bem-vinda aqui.
— Não é isso ... — falou Hope. — O seu perfume, ele ... — Ela saiu
correndo para o banheiro do quarto da Lucy.
Assim que eu cheguei no banheiro, Hope tentava vomitar, mas nada
vinha.
— Lucy, pode trazer um suco para ela tomar?
— Pegue o remédio que a médica receitou para os meus enjoos —
disse Hope. — Está na cabeceira da cama.
Fui atrás do remédio como pedido, mas, não sabendo qual era qual,
peguei todos os que estavam a minha vista. Quando voltei ao banheiro,
encontrei Beatrice com Hope.
— Não sabia qual desses era.
Ela pegou um dos remédios e com o suco que a Lucy trouxe, ela
tomou.
— Enzo, comece a reunião sem mim, chegarei atrasado — falei,
após lembrar do meu compromisso.
— Está tudo bem?
— Está tudo bem, a Hope está enjoada, caso ela não melhore,
levarei ela ao médico.
— Pode deixar que eu cuido de tudo aqui.
— Você passou mal a noite e está passando mal agora. Não quer que
eu te leve ao hospital? — perguntei após desligar o telefone e carregá-la ao
quarto.
— Estou bem, é normal enjoos matinais. Pode ir para a sua reunião,
eu ficarei aqui com a Lucy. O Red daqui a pouco chega e ficarei com eles
dois.
Assim que sai do quarto, pedi o mesmo para Beatrice. Ela teria que
voltar ao quartel comigo.
— Parabéns, soube que será pai — havia tristeza na voz de Beatrice.
— Obrigado! Você será levada para o quartel.
Entrei no carro, indo para a boate encontrar o Enzo. Estava mais
tranquilo, pois Rubens voltaria essa semana, tudo se organizaria, o que
facilitaria mais para mim.
— Hope está melhor? — perguntou Enzo.
— Sim, ela disse que era normal os enjoos.
— Vai anunciar a gravidez dela?
— Provavelmente não. Eu espero que se espalhe por conta própria,
não quero ter que fazer mais uma reunião com a famiglia. Hope também
não parece disposta para sair, então prefiro assim — respondi. — Agora
vamos mudar de assunto e tratar de negócios.
Ainda era estranho falar da gravidez. Minhas lembranças me
pregavam peças, me deixando mais preocupado com tudo que pode
acontecer.

Só em casa, na biblioteca, podia descansar um pouco. Estava sendo


cobrado com a nova aliança com os russos, já que não fiz nenhuma festa em
comemoração, informando que, depois de anos, nós finalmente nos unimos.
Era um assunto que me atormentava, que estava me deixando tenso, só ali,
naquele pequeno espaço, conseguia me acalmar, até escutar batidas na
porta.
Era a minha esposa, querendo conversar sobre o evento que ela
estava organizando. Eu não estou em um dia bom, na verdade, nunca tive
um, então resolver os problemas da máfia estava em primeiro lugar no
momento.
Hope saiu do escritório, depois de mais uma grosseria minha.
Eu não conseguia controlar, eu só explodia.
O que me incomodava era o seu olhar assustado, aquilo martelava
na minha cabeça.
Por que eu não consigo agir com o mínimo de educação com ela?
Que porra!

Quando percebi que a hora havia se passado rapidamente, levantei


para comer. Lucy ainda estava na cozinha, organizando o espaço.
— Separei o seu jantar — disse Lucy assim que me viu.
— Hope já jantou?
— Não, ela está dormindo.
— Chame ela para comer.
Jantamos juntos, mas percebi que Hope estava desapontada, não
disse uma palavra em toda refeição. Assim que terminou, subiu para o
quarto sem dizer uma palavra.
— O que fez com ela? — questionou Lucy assim que Hope saiu da
sala de jantar.
— Adivinha.
— Tente melhorar esse seu humor, você já foi mais dócil, Lorenzo.
Qual o problema de ser mais gentil com a sua mulher?
— Eu não sei explicar, eu só respondo de imediato da pior forma —
digo. — Darei um jeito nisso.
Terminei de comer, caminhando para o andar de cima.
— O que você ia pedir mais cedo? — perguntei assim que entrei no
quarto, encontrando com a Hope.
— Era só aquilo mesmo.
Tratei de insistir, e ela logo disse. Ela queria que o dinheiro doado
ficasse no orfanato, mas era totalmente contra o acordo feito com o
governo.
— Bem, fora os gastos do evento que saem do bolso da máfia e o
dinheiro que é doado, é como se estivessem pagando para eles não falarem
nada, como se eles tivessem poder sobre vocês. O que eles dão em troca?
Ajudam quando estão perseguindo alguém ou facilitam a transportação de
armas e drogas? Isso nem chega a ser uma grande ajuda, já que temos
nossos aliados e investidores que facilitam isso para nós. Vocês têm olhos e
ouvidos por todos os lugares e estranhamente, com a ajuda deles, suas
cargas vivem sendo roubadas!? Já parou para pensar que eles podem estar te
traindo? Fora que se você calculasse o valor do evento com a doação feita,
que abrindo uma aspas aí, nunca foi doado nada, sempre fica com eles o
dinheiro, dava para você fazer a doação, pagar a mídia para não fazer certas
divulgações que te prejudicassem e ainda sobraria dinheiro para fazer
qualquer outra coisa. Vocês não comandam o governo, eles que comandam
vocês. Só estão fazendo você ver o lado bom de ser aliado deles, mas, na
verdade, nada é favorável a você.
E não é que ela tinha razão? Olhando por esse lado, o acordo era
uma merda. Como eu estava esses anos ocupado, nem percebi isso. Havia
outras pessoas que cuidavam disso para mim, mas realmente tenho que dar
uma olhada nesse acordo agora. Com o meu afastamento de algumas tarefas
na máfia, muitos aproveitavam a oportunidade de saber que eu não iria mais
exercer tal função, aproveitando para tirar proveito da situação.
— Seu jeito de observar as coisas, às vezes, me assusta.
Expliquei sobre o dinheiro que ela tinha, o qual nem lembrava.
Hope não era muito interessada em detalhes que ela poderia utilizar sem
precisar me pedir. A minha autorização sem mesmo ter obrigação de tê-la,
era o que ela sempre esperava de mim.
— Obrigada, era só isso mesmo — ela finalizou.
— Quero que esses olhos avaliem algo para mim depois. Talvez
amanhã eu te mostre — disse, mas logo me arrependi, não era bom se meter
em problemas meus. — Não costumo ficar surpreso com algo, mas você é
surpreendente, Hope.
O seu silêncio foi uma brecha para me aproximar dela.
Ela estava me deixando louco.
Tirei algumas mechas do seu cabelo presas no pescoço, aproveitei
também para depositar um pequeno beijo ali. Mas meus gestos pareciam
lentos demais para ela, então avancei sobre seus seios, e só parei quando ela
gemeu de dor.
— Está doendo?
— Estão sensíveis por conta da gravidez.
— Então terei cuidado para não machucá-los — disse, deitando-a na
cama por cima dela.
Deitamo-nos em seguida, tentando recuperar o fôlego.
— Lorenzo... — falou ofegante. — Sabe que eu não me importo de
você ter outras mulheres, mas tente não ficar com o cheiro delas. —
Levantou-se para ir até o banheiro, sem esperar resposta.
A segui, sabendo que talvez na sua cabeça eu estaria me ocupando
em algum rabo de saia. Eu não tinha tempo nem para isso.
— Eu não durmo com ninguém há muito tempo. Mas ando na boate,
então não tem como eu não ficar com cheiro dos outros em mim.

Não estava mentindo, mas não tinha como evitar as pessoas


próximas a mim. Nos deitamos, mas nenhuma conversa foi mais dita entre
nós dois.
Hope tinha consulta cedo com a obstetra pela manhã, então não
insistir em nenhum assunto com ela.
O dia após acordar foi agitado. Recebi Rubens na boate, resolvi
questões no quartel e estava indo encontrar Hope no consultório. Tudo
estava calmo, até receber uma ligação indesejada.
— Sì?
— Desculpe, senhor, encontramos mais um homem próximo do
quartel — informou o segurança chefe de lá.
— Interroguem, veja o que queria pela nossa área.
— Sim, senhor!
Não podíamos mais nem ter o luxo de sair de casa sem ser vigiados.
Isso me preocupava, principalmente por a Hope ser um alvo fácil.
— Por que demorou tanto? — perguntei assim que a ruiva chegou
após uma longa demora.
— Parei para vomitar — respondeu envergonhada.
Depois de um tempo, uma das enfermeiras a chamou. A médica
começou a verificar o seu peso, a sua altura e a sua pressão, anotando tudo
na nova ficha da Hope.
Eu só observava calado.
— Está tendo algum sangramento? — perguntou a médica.
— Veio um pouco hoje cedo.
Aquilo me deixou puto. Eu não entendia nada da gravidez, a única
forma de participar dela era sendo informado do que acontecia com ela.
O que custava ter contado sobre isso? Se algo acontecesse... Porra,
eu queria estar preparado. Não vou aguentar novamente outra perda.
A médica explicou sobre isso, deixando-me mais calmo, mas, de
qualquer forma, fiquei desapontado por não ter sido informado antes
Droga, eu estava tentando ser presente na vida do bebê e ela me
deixou por fora disso. Em pouco tempo, saímos da sala, quando nos
aproximamos do elevador, segurei no braço da ruiva, encarando-a.
— Quando ia falar que teve um sangramento?
— Aconteceu hoje de manhã, Lorenzo. A Lucy havia dito que era
normal acontecer no primeiro trimestre da gestação — respondeu.
— Não importa! Tudo que envolver você e esse bebê, eu quero
saber. Está me entendendo, Hope?
— Sì!
— Vamos, tenho que passar no Enzo — disse, já entrando no
elevador.
Fiquei em silêncio até chegar no carro.
— Thony, passaremos em casa para deixar a Hope — avisei.
— Você disse que íamos na casa do Enzo.
— Eu vou, você vai para casa.
Não demoramos para chegar em casa. Hope ficou chateada por não
ir. Eu tentava não regrá-la, não impor limites em determinadas ações, mas a
forma dela deixar fácil, aceitando como se eu fosse o seu dono, eu não
conseguia evitar liderar até nisso.
— Não esqueceu de nada? — perguntei quando Hope saiu do carro
sem olhar para trás, parando-a no degrau da escada. Ela me deu um breve
selinho.
— Não me provoque, Hope. Eu sempre tento ser o mais claro com
você, e quando é na sua vez, você sempre me esconde as coisas.
Quando achava que estávamos indo bem, algo me mostrava que
não.
Que inferno!
Lorenzo realmente ficou chateado por eu não ter falado do meu
sangramento. Já faz duas semanas, e ele estava muito na dele, sem muita
conversa comigo Essa semana, completei um mês de gestação. Lucy
decidiu fazer um bolinho simples para comemorarmos.
Como na semana passada, essa também não vi a minha família.
Minha sorte que hoje é quinta-feira e poderei pelo menos ter um pouco de
paz na casa da minha sogra.
No banheiro, enquanto me lavava, olhava se o meu corpo já estava
tendo alguma mudança, e percebi que sim, mas nada muito aparente. Meus
seios estavam bem maiores, o que o sutiã estava começando a me
incomodar, talvez por estarem sensíveis. Os enjoos ainda estavam bem
frequentes, mas faz um tempo que eu não vomito, são só as náuseas.
Me enrolei na toalha, pronta para sair do banheiro, quando esbarrei
com o Lorenzo na porta. Ele me pareceu surpreso por me ver ali, mas
continuou o que ia fazer. Logo foi tirando a roupa, mas não acompanhei
muito o seu strip-tease, pois já estava ficando atrasada para sair. Fui ao
closet e escolhi um vestido que não me incomodasse na região dos meus
seios.
Red avisou que o carro estava me esperando lá embaixo, então me
apressei ainda mais, e antes de sair, o Lorenzo entrou no closet, com uma
toalha cobrindo suas partes íntimas, com o cabelo todo molhado.
Ah, se a toalha caísse...
Deixa de ser pervertida, Hope!
Meus hormônios ultimamente estão me deixando louca!
— Já estou indo! — disse, aproximando-me para lhe dar um beijo,
que ele apenas retribuiu, terminando de se arrumar.
Lorenzo estava muito estranho essa semana, mais do que o normal.
Uma vez na madrugada, fiquei com sede e desci para pegar um copo
de água. Lorenzo ainda não havia chegado, na verdade, era o que eu havia
pensado, mas, quando subi, vi que ele estava saindo do quarto de onde eu
não poderia entrar.
Nunca perguntei para a Lucy o que tinha lá dentro, mas achava que
era o quarto da filha do Lorenzo. Algumas vezes peguei ele saindo de lá,
mas ele não me via. Minha dúvida era apenas se ele ia para lá todas as
noites, mas essa pergunta nunca será respondida
— Só olha essa banheira aqui! — disse Giulia implorando para
mim, quando cheguei à minha sogra. As meninas estavam loucas, vendo as
coisas para os bebês.
— Meninas... — tentei argumentar alguma coisa para ver se elas
paravam com esses surtos de comprar logo tudo agora.
— O quê, Hope? Nós já cuidamos do evento do orfanato, não temos
nada para organizar mais — disse Emma.
— Está bem! O que querem me mostrar?
Dona Telma logo se empolgou, tirando um caderno cheio de
anotações da sua mesa.
— Listamos coisas importantes — falou, mostrando-me tudo que
anotou.
Em uma hora, tive uma aula sobre mamadeiras, chupetas e tudo que
você possa imaginar.
— Isso é assustador! — disse, depois que a Emma começou a listar
várias formas prejudiciais que a minha má-alimentação atrapalharia na
amamentação. — Não sabia disso.
— Viu como é bom ter a gente aqui!? — disse Dona Telma.
O problema era que elas estavam enlouquecendo com a minha
gravidez e me levando junto, deixando-me mais paranoica.
— Antes de ir, gostaríamos de te dar o nosso primeiro presente para
o bebê — disse Giulia.
— Não havíamos decidido o que comprar até agora, por isso
demorou para vir — explicou Emma.
— Não precisava se preocupar com isso.
— Já que não sabemos o sexo, evitamos comprar vestidos ou
acessórios para o cabelo — disse Dona Telma.
Abri o presente da Giulia, nele havia um sapatinho de crochê
branco. O da Emma era uma manta cheia de animais coloridos e o da Dona
Telma, era um ursinho.
— É só uma lembrancinha. Com o tempo, compraremos mais
coisas...
— Está perfeito! — disse, abraçando-as. — Obrigada pelos
presentes!
— Mostre para o meu filho, talvez ele comece a te incentivar a
comprar logo o enxoval — disse Dona Telma.
— Dona Telma, ainda está muito cedo para isso e também o
Lorenzo está mais chato do que o habitual.
— Tenha paciência com ele, minha querida.
— Eu tenho toda a paciência com ele, ele que não tem comigo. Até
parece que quem está grávido é ele — falei.
— Este final de mês que traz lembranças dolorosas — disse Dona
Telma que antes sorria, agora tinha um semblante triste.
— Havia esquecido — disse Giulia, logo se entristecendo também.
— O quê? — perguntei sem entender.
— A semana da morte da Antonella — explicou Emma. — Ele
costuma ficar pior nessa semana.
Agora me sentia meio culpada por ter sido grossa e o ignorado essas
semanas. Ele tentava mostrar em gestos que queria conversar e se
aproximar mais, mas eu apenas fingia não ver. Talvez ele quisesse até
conversar ou só ter alguém por perto, mas nada que ele admitiria ou pediria.
— Que dia é a data de morte dela? — perguntei.
— Terça-feira — respondeu a minha sogra. — Ele costuma se isolar
mais do que já faz, só queria que o meu filho voltasse a andar aqui.
Lembrei que a Lucy um dia havia comentado que ele não andava
mais na casa dos pais.
— Por que ele não anda mais aqui?
— Ela morreu no lago que temos no final do nosso jardim. A casa
nunca estava em silêncio quando ela estava aqui. Ela sorria e brincava com
todos. O Lorenzo não era esse homem que você conhece, apesar de ser
rígido com as pessoas de fora, aqui, conosco, ele ria e mostrava o quanto
era feliz. Encontrar a filha morta foi a morte dele
Ela morreu afogada? Santo Cristo!
— Nunca entendi como aquilo aconteceu — disse Emma. —
Estávamos todos aqui, a casa estava cheia de convidados, como ninguém
viu ela indo para o lago?
— Foi um choque quando demos falta dela e começamos a procurar
— disse Dona Telma. — Ela só sumiu por 10 minutos, os 10 minutos
levaram a minha netinha.
— Foi o Lorenzo que achou o corpo boiando na água, na margem do
lago. Lembro que o Enzo Carbone, o marido da sua irmã, tirou ela da água,
já que o Lorenzo havia ficado em estado de choque — disse Giulia. —
Lembro de como foram os dias depois daquilo, os surtos, os choros, o medo
que ficou. Ela era tão nova e amada por todos nós, falar dela ainda me traz
uma tristeza sem igual, imagina para ele, que é pai.
O ambiente ficou mais triste. Imaginei cada palavra. Imagina a dor
do Lorenzo e da Alessandra ao ver a filha morta ali. Sei que a Alessandra
não deve ter sido a mãe do ano, mas, com certeza, deve ter sofrido. Um
aperto veio no meu coração ao imaginar o Lorenzo, que se mostra frio e
rabugento, se desmoronou na frente de todos quando encontrou a filha
morta. Fomos todos para casa após o clima ter ficado ruim com a história.
Mostrei a Lucy o que havia ganhado, que, com todo mundo, decidiu
também me dar um presente, vai costurar a noite toda algo para o bebê. Por
sua vez, Lorenzo não apareceu para o jantar, o que era estranho, já que era
praticamente a regra da casa estar reunido a noite.
Ele não se abre comigo, mas consigo notar o seu desânimo e tristeza
desde o dia em que o vi. Não gosto nem de pensar em um dia perder a Kitty,
imagina encontrar um filho morto.
Não sei se foi isso que desencadeou esses seus surtos de raiva, onde
ele não pensa no que faz, só quando passa, consegue ver o que causou.
De uma coisa, eu sabia, tocar no assunto da sua filha era proibido,
porque doía muito, não só por lembrar do que aconteceu, mas da saudade
que ficou.
Quando nos tornamos pais, queremos que os nossos filhos durmam
no aconchego dos nossos braços, onde eles não sintam dor ou tristeza, mas
nunca esperamos que eles durmam em caixões.
Fui me deitar, aquilo havia me entristecido de todas as formas
possíveis.

Um barulho no quarto me acordou. Olhei no relógio, já marcava


01:15h da madrugada. Liguei o abajur e vi a figura do Lorenzo à minha
frente, segurando-se na cômoda para não cair. Ele parecia embriagado e
logo o cheiro forte de álcool impregnou no quarto. Sempre bebeu muito,
mas com limite para não chegar àquele estado.
— Lorenzo? — disse ainda sonolenta, sentando-me na cama.
— Vai... dormir! — falou pausadamente, com as palavras todas
embaralhadas.
Pensei em ignorar, mas quando vi que ele mal se mantinha em pé,
levantei-me para ajudá-lo.
Tenho certeza de que ele subiu essas escadas com a ajuda dos
seguranças.
— Eu te ajudo.
— Não precisa, eu sei me cuidar.
— Dá para ver..
Ele se afastou de mim, indo sozinho para o banheiro.
Quer saber, não vou ajudar!
Mas se ele tropeçar e bater a cabeça no vaso?
Esquece, Hope, ele não disse que sabe se cuidar? Deixa ele quieto!
Um barulho de algo se quebrando no chão me fez correr até o
banheiro.
— Caralho! — Escutei-o praguejar. Ele havia derrubado uma
caixinha de vidro, onde colocava os algodões.
Aproximei-me para limpar aquilo antes que alguém se ferisse.
— Vai para lá... — disse Lorenzo, um pouco desorientado. — Você
vai acabar se machucando.
Lorenzo colocou a mão no balcão da pia para tentar ficar em pé sem
se desequilibrar para frente, piscando os olhos fortemente, tentando
enxergar melhor.
— Afaste-se você, do jeito que está, não enxerga nada nem que
estivesse na sua frente.
Peguei os vidros que estavam no chão e o Lorenzo ficou parado,
encostando-se na parede.
Depois de limpar a bagunça, aproximei-me dele, tentando tirar a sua
roupa.
— Está tentando se aproveitar de mim só porque eu estou bêbado,
senhora Ferraro? — brincou Lorenzo com um sorriso travesso. — Eu te
processo por assédio.
Seus olhos pesavam e ele tentava se manter acordado enquanto me
olhava.
— Na verdade, vou lhe dar um banho e você vai logo melhorar —
disse, desabotoando a sua camisa.
Ele tirou a gravata, quase arrancando a própria cabeça de tanto
puxar.
— Não me esconda nada, por favor! — disse Lorenzo
pausadamente. Ele não estava totalmente lúcido, mas sentia verdade no que
ele falava. — Não aguentaria perder mais um filho.
— Está tudo bem com o nosso filho — disse, já tirando a sua calça.
— Não precisa ter medo de amar novamente uma criança, Lorenzo.
Talvez ele não lembrasse do que eu falei amanhã, mas vi que,
naquele momento, ele entendeu o que eu quis dizer. Seus olhos marejaram,
mas logo ele desviou o olhar.
Mesmo bêbado, ele não se permitia sofrer.
Puxei-o para o chuveiro, mas ele não me deixou entrar.
— Você vai adoecer se ficar molhada nesse frio.
Mesmo não estando lúcido, ele ainda era controlador.
Lorenzo tomou um bom banho, sentei-o na tampa do vaso sanitário,
indo buscar o seu short de dormir. Vesti-o e vi o quanto ele ficou
desconfortável por estar à mercê de mim.
Levei-o para cama e logo desci para pegar algum remédio para dor
de cabeça e fazer pelo menos uma sopa, já que, com certeza, deve ter
bebido de estômago vazio. Subi depois de um tempo e Lorenzo estava
parado na porta do quarto, que eu achava que é da sua filha. Ele estava
sentado, com os braços apoiados nos joelhos, com a cabeça abaixada.
O segurança que fica no turno da noite estava apenas observando
tudo, mas pedi que levasse a bandeja que eu carregava para o quarto,
enquanto tentava convencer Lorenzo a voltar para o nosso.
— Lorenzo... — disse, ajoelhando-me e ficando à sua altura. —
Vamos voltar para o quarto.
Lorenzo levantou o olhar e eu só senti o vazio que estava nele. Um
olhar cheio de tristeza e amargura. Abracei-o, mesmo que ele não gostasse
de ser sentimental com alguém, seu olhar pedia por um abraço.
— Não entendo a sua dor, mas sei que para o luto não tem prazo de
validade, a dor é eterna. Mesmo que não a veja mais, mesmo que não fale
mais com ela e mesmo que não a carregue em seus braços, leve ela em seu
coração, porque ela estará sempre aqui — disse, colocando a mão sobre o
seu peito. — Não guarde a sua dor para si e espere que ela suma, porque
isso não irá acontecer. Sofra, chore, grite! Sinta ela, sinta tudo até não doer
mais. Você não irá esquecê-la, só vai aprender a conviver com a sua dor, e
um dia, essa sua ferida será cicatrizada.
Lorenzo ficou em silêncio e não saiu do meu abraço. Ele parecia
querer escutar o que eu estava querendo dizer.
— Deve estar doendo muito, a saudade machuca, as lembranças te
torturam, deve estar se sentindo sufocado por não saber como tirar toda essa
dor de dentro de você — disse, falando o que eu conseguia observar no
Lorenzo nesses meses juntos. — Você está ferido por dentro, por não saber
lidar com essa dor, mas acaba machucando as pessoas. Estou tentando te
dizer que se você não superar e aceitar o que aconteceu, você vai continuar
se machucando e machucando quem está ao se redor. Deixá-la ir não é
esquecer que teve uma filha, é se libertar de uma prisão que está te matando
aos poucos.
Como sempre, ele não disse nada, apenas me encarou, talvez
gostasse de sofrer calado. Coloquei o seu braço no meu pescoço e a mão na
sua cintura, ajudando-o a levantar-se e levando-o até o quarto.
Ele não disse nada, nem cogitou em falar algo.
Talvez gostasse do silêncio ou de sofrer calado.
Tentei não forçar a ele se abrir comigo, quem sabe um dia ele fale
comigo da sua dor.
Quando terminou, coloquei a bandeja na mesa e logo me deitei.
Lorenzo se deitou e já estava mais sóbrio.
Já se passavam das 03:45 da madrugada e logo o mesmo
adormeceu.
Não conseguia não sentir pena dele.
Ele sofre muito, ao ponto de se matar de trabalhar para não sentir a
dor.
Esperava que ele ficasse bem, ele merecia ter sua paz novamente.
Acordei com um peso na minha cintura e uma respiração pesada no
meu rosto. Lorenzo dormia calmamente, sem transparecer ser o mesmo
quando estava acordado.
Não parecia que eu que havia o agarrado a noite, mas, sim, ele que
me agarrou. Seus pés estavam entre as minhas pernas, o seu rosto estava
entre os fios do meu cabelo e um dos seus braços estavam abaixo do meu
pescoço e o outro na minha cintura, em uma espécie de abraço. Quando ele
acordar, certamente irá se arrepender disso, mas, por hoje, devido a tudo
que aconteceu ontem, permanecerei quieta e dormindo para que ele não
fique constrangido com a sua ação noturna. Aconcheguei-me mais entre o
seu abraço, colocando o meu rosto mais perto do seu pescoço, sentindo o
seu cheiro.
Com o tempo, voltei a dormir de novo, só acordei porque o Lorenzo
começou a se remexer.
— Te acordei? — perguntou Lorenzo se sentando na cama.
— Ah, não!
— Sobre ontem...
— Não aconteceu nada e não lembro de nada — disse.
— Ótimo! — falou, ficando de pé. — Obrigado por ter cuidado de
mim e pelas palavras de ontem.
Lorenzo não era muito de agradecer, mas fiquei feliz por reconhecer
o que faço por ele.
— Não sei do que está falando — menti. Brinquei, já que era para
esquecer tudo o que aconteceu ontem. Ele apenas riu, uma risada bastante
diferente. Ele deveria rir mais vezes.
— Cuide de se arrumar, iremos na casa do Leonel depois do café da
manhã.
— Eu tenho que ir?
— Reunião de família — foi a única coisa que ele disse indo para o
banheiro. — Você quebrou a caixinha do algodão? — perguntou já no
banheiro.
Então ele não lembra disso? Acho que talvez só se lembre das coisas
depois que tomou um banho e se acalmou um pouco.
— Na verdade, foi você — disse, elevando o tom de voz para que
ele escutasse. Caminhei para o banheiro, olhando-o confuso. — Só tome
cuidado que eu não limpei muito bem ontem, já que você não conseguia se
manter de pé.
Lorenzo estava descalço e do jeito que é descuidado, acabaria se
machucando.
Agachei-me para ver se encontrava algum caco de vidro, mas o
Lorenzo logo me impediu, colocando-me em cima do balcão da pia.
— O que... — fui interrompida por ele.
— Cuidado para não se machucar — falou, murmurando em
seguida. — Ainda se agacha colocando o peso na barriga... — Lorenzo
resmungava, olhando o chão atentamente.
Quis rir, mas me segurei. Lorenzo se levantou e me segurou no
braço, colocando-me mais perto do box do chuveiro.
— Tome logo o seu banho. Vou atrás da Lucy para limpar isso
daqui.
Tirei a minha roupa e entrei no chuveiro. Sentia minha cintura um
pouco mais larga. Minha barriga ainda estava do mesmo tamanho, a
diferença era que tinha um certo volume no pé, estava crescendo aos
poucos.
Quando acabei de tomar banho e me enrolei no roupão, Lorenzo
chegou. Falava ao telefone com o pai, aparentemente sem nenhuma
paciência. Lucy chegou no banheiro com um aspirador em mãos. Ao passar
por cima de sua limpeza, Lorenzo imediatamente me lançou um olhar de
reprovação.
Ele está mais possessivo e paranoico do que o normal.
Vesti minhas peças íntimas para ir atrás de uma roupa e tive que
trocar de sutiã umas quatro vezes porque estavam apertados. Não via tanta
diferença assim do tamanho dos meus seios, devia ser porque sempre
estavam a minha vista.
— Ainda não se trocou? — disse Lorenzo enrolado com a toalha.
— Meus sutiãs não me servem mais — disse, indo atrás de outros.
— Seus seios estão bem maiores. Pedirei para Suzi providenciar
sutiãs maiores para você.
Queria usar uma roupa simples e uma rasteirinha, mas sabia que a
reunião de hoje não me permitiria, então coloquei um vestido e um blazer
por cima.
Desci esperando o Lorenzo ficar pronto, já que ele demorava por
falar no celular com alguém. Assim que saímos de casa, comecei a ficar
enjoada.
Não sei se era o nervosismo ou o remexido do carro, mas uma coisa
estava certa: eu não aguentaria muito tempo.
— Thony, você pode encostar? — pedi.
— Quer vomitar? — perguntou Lorenzo e eu apenas confirmei com
a cabeça, com medo de abrir a boca e vomitar tudo ali.
— Não dá para parar aqui, vou ver se consigo parar na próxima
esquina.
Apesar da casa da família do Lorenzo ser uma “perto” da outra,
passávamos por uma avenida para chegar na casa do Leonel.
— Oh, céus! — disse, soltando-me do cinto de segurança e largando
a minha bolsa no chão do carro. Coloquei a mão no rosto, baixando um
pouco a minha cabeça.
— Quer água? — perguntou Lorenzo.
Ele sempre andava com uma garrafa de água. Lorenzo se aproximou
mais de mim, entregando-me a sua garrafa.
Bebi um pouco e esperei melhorar.
— Thony... — murmurei. Tudo que eu não queria era vomitar na
frente dos outros.
Thony parou o carro na calçada em frente a uma loja de flores.
Lorenzo saiu do carro e eu saí logo em seguida. Corri para a loja de flores,
já que não queria vomitar na rua.
— Posso usar o seu banheiro? — disse rápido e não sei se a moça
entendeu. — Estou grávida... — Então ela me mostrou o banheiro. Pareceu
entender o que eu estava querendo fazer.
Tranquei-me no banheiro e vomitei todo o meu café da manhã.
Depois fui para a pia e me assustei com o meu reflexo no espelho.
Eu estava acabada!
Lavei o meu rosto para tirar a maquiagem que já estava toda
borrada. Quando saí do banheiro, a muralha em forma de homem estava
parado na porta.
— Está melhor? — perguntou Lorenzo.
— Eu pareço está melhor? — perguntei, aguentando-me para não
chorar. Fiz menção para Lorenzo olhar o meu estado. — Sinto como se
tivesse sido atropelada por um caminhão.
Lorenzo riu e logo colocou a sua mão na minha cintura.
— Andiamo!
— Obrigada por me deixar usar o seu banheiro — agradeci a moça.
— Tudo bem! Eu quando engravidei do meu primeiro filho,
vomitava em todos os lugares, você se acostuma.
Esse era o meu medo.
Voltamos para o carro e logo chegamos na mansão do Leonel.
— Vi umas sacolas em cima do sofá do quarto. Quem deu aqueles
presentes? — perguntou Lorenzo enquanto caminhávamos para dentro da
mansão.
— O urso foi sua mãe, a manta foi a Emma e o sapatinho foi a
Giulia. Havia esquecido de te mostrar.
— Capo! — disse Leonel se aproximando. — Senhora Ferraro!
Apenas dei um sorriso. Já fui instruída de como era a família do
Lorenzo, então eu ficava de olhos bem abertos para não acabar me
prejudicando por conta deles. Aproximamo-nos do resto do pessoal,
sentindo o clima pesado no ambiente.
— Por que demoraram tanto? — perguntou Dona Telma.
— Tivemos que parar no caminho — disse e ela logo entendeu.
— Vamos nos sentar! — disse Ruth.
— Vamos beber algo, antes de começar — disse Leonel.
— Deixe de enrolar, Leonel — disse o pai do Lorenzo.
— Diego, você herdou toda a impaciência do nosso pai, seu
arrombado — retrucou Leonel.
— É porque, diferente de você, eu não tenho o privilégio de ficar
perdendo o meu tempo, seu puto desgraçado.
Gente, pelo amor de Deus, alguém me tira daqui!
— Leonel... — disse Pietro.
— Fica calado aí! — disse Lucca a ele.
Só eu que estou assustada com essa reunião?
Aproximei-me mais do Lorenzo, caso as coisas tomassem outras
proporções. Não chegamos não tem 2 minutos e eles já estão brigando.
— Tampe os ouvidos — disse Lorenzo. Coloquei a mão no ouvido e
ele logo começou a falar alto, assustando todos: — FIQUEM QUIETOS,
SEUS PUTOS!
Ele me avisou antes por que não queria que eu me assustasse?
Tirei a mão do ouvido e comecei a prestar atenção na briga da
família.
— Você me respeite, porque ainda sou seu pai, seu arrombado —
disse o Sr. Diego.
— Estou pouco me fodendo! — disse Lorenzo. — Eu sou o Capo,
se eu mandei ficar calado, vocês obedecem e ficam.
Uma família tradicional, cheia de amor e resolvendo tudo na base
da conversa.
Quase ri do meu pensamento.
— Acelera logo o que tem que dizer, que eu tenho mais o que fazer
— disse Enrico.
Leonel logo fechou a cara e eu vi que todos estavam com o mesmo
semblante de desconfiança. Olhei para a minha sogra e as meninas, parecia
mais um dia comum para elas.
Eu deveria ter sido preparada para ter vindo para cá.
— Já que não tem paciência, vou continuar — disse Leonel. —
Como vocês devem se lembrar, fui eu quem educou vocês três quando eram
pequenos, já que o Diego era o Capo na época e estava em uma missão. —
Ele olhava para os irmãos a sua frente. Enrico não pareceu gostar muito de
lembrar disso. — Vejo que os seus filhos precisam de alguém mais firme
para educá-los, principalmente com todo os ataques que têm e os que vão
ter. Eu preparei vocês bem para lidar com isso e quero preparar os filhos de
vocês também, porque sei que vocês não tem tempo para prepará-los para a
máfia. Me proponho a isso, visando que logo o herdeiro do nosso líder
nascerá, precisará ser moldado conforme seja o melhor para todos nós da
famiglia e para sua segurança.
Segurei a mão do Lorenzo, já apavorada em pensar nesse homem
educando o nosso filho.
Apesar do Lorenzo ser um louco, tudo mostra que ele não seria
assim com o seu herdeiro. De tudo que eu soube deles, pelos boatos que se
espalham na máfia, eu não me sentia segura aqui, quem dirá com o meu
filho sobre a sua guarda.
— Está louco se acha que deixarei os meus filhos ao seu domínio —
disse Pietro em pé.
Dona Telma me olhou e pediu para que eu ficasse quieta. Isso quem
resolveria eram eles.
— Eu não me importo, você não deixou a desejar na forma de
conduta da máfia com os meus filhos — disse Sr. Diego.
— Para quê? Para matar os meus filhos? — falou Pietro. — Eu mato
você antes disso.
Essa briga parecia antiga.
Lucca logo se levantou, ele partiria para cima do Pietro, não
gostando do comentário do primo.
Lorenzo só observava a briga.
— Está ameaçando o meu pai, seu arrombado? — indagou Lucca.
Minha nossa!
Imagina uma briga desses homens? Só acaba quando alguém
morrer.
— Está me machucando — disse Lorenzo, apontando para a sua
mão, logo eu percebi que a apertava.
— Me desculpe... — falei, sendo interrompida pelo abajur que o
Lucca jogou no chão. Aconcheguei-me mais perto do Lorenzo, apavorada
com a família dele.
— Que inferno! — disse Lorenzo ficando em pé. Fiz o mesmo,
ficando perto dele. Ele me colocou para trás do seu corpo, encarando a
todos. — Se for brigar, só me avisem porque não quero sujar o meu terno,
mas vou logo avisando, se começarem uma briga, eu termino matando
vocês.
— É, parece que é cada um por si mesmo — disse Lucca.
— Lorenzo... — falou Leonel sendo interrompido pelo Lorenzo.
— Não quero saber! — disse Lorenzo. — Você não chegará perto
do meu filho ou dos meus sobrinhos. Não quero saber que porra você pensa
nessa sua cabeça em achar que eu fosse concordar com isso, principalmente
depois de tudo que aconteceu. A porra deste assunto foi encerrado agora!
Lorenzo segurou na minha cintura, levando-me para fora da casa.
A família parecia se ruir ainda mais.
— Espera... — disse, parando antes de entrar no carro.
— Está passando mal? — perguntou Lorenzo.
Foram fortes emoções, mas era só o nervosismo do que havia
acabado de acontecer
Eles quase saíram na mão, meu Deus!
— Ah, não, só espere eu me acalmar do susto de lá de dentro.
Apoiei-me na porta, respirando fundo.
— Está melhor? — perguntou e eu assenti que sim, logo entrei no
carro.
Todos agiam normalmente, eu fui a única assustada naquela
situação.
Que família estranha
Não via a hora de chegar em casa e me tranquilizar desses 10
minutos que eu fiquei aqui.
Quando havíamos chegado em casa, Lorenzo foi ao escritório e saiu
para resolver algo. Aproveitei e contei tudo o que aconteceu para a Lucy.
Ela disse que eu não vi foi nada, já que, geralmente, quando junta todos os
Ferraro em um só lugar, saem no soco.
Lorenzo, na última vez que teve essa reunião, voltou com as mãos
machucadas, disse Lucy.

Passaram-se alguns dias desde a visita na casa do Leonel.


Terminei de fazer todos os exames que a obstetra havia me passado.
Uns eram bem mais desconfortáveis, e outros nem tanto. Minha sorte era
que a Lucy havia ido comigo e não me deixou ficar sozinha. Já era a noite e
a casa estava em um silêncio sem fim, até a Lucy hoje estava menos falante.
Por que todos estavam tão estranhos?
Deitei-me na cama, esperando o sono vir, até que eu lembrei o real
motivo. Era terça-feira, o dia da morte da filha do Lorenzo. Essa semana ele
não estava tão ríspido comigo, mas as vezes soltava algumas grosserias. E,
certamente, não o verei.

Já pela manhã, acordei e senti falta da presença do Lorenzo na


cama. Apesar de tudo, me sentia mais segura quando ele estava por perto.
Deus sabe o medo que eu tenho de alguém conseguir entrar aqui de novo.
— Bom dia, Lucy! — disse ao vê-la entretida com o café da manhã,
abraçando-a.
— Bom dia, minha menina! Dormiu bem esta noite?
— Demorei um pouco para dormir, mas dormi bem.
— O dia parece que vai demorar para acabar — disse Lucy um
pouco cabisbaixa. — Alessandra estava aqui agora há pouco tentando falar
com o Lorenzo. Ele está no rifugio com um mau-humor sem fim, e para
piorar, vocês têm um evento hoje com a máfia russa.
— Minha nossa! — disse, já sabendo que hoje seria puxado.
— Tudo vai ficar bem! — disse Lucy passando a mão no pé da
minha barriga. — Já está começando aparecer a barriguinha.
Nem era nada, era quase inexistente.
— Minha camisola está ficando apertada, talvez seja porque a Suzi
comprou tudo no tamanho certinho do meu corpo e agora eu estou perdendo
todas as minhas roupas por estar comendo muito.
— Fale com o Lorenzo para falar com ela, já que você não a suporta
— disse Lucy e eu apenas assenti.
Tomei o meu café e dei uma volta pelo jardim até onde Lorenzo
havia liberado, já que os ataques cessaram um pouco essa semana. Red
estava comigo, ele ficou bastante quieto também.
Vejo o quanto essa menina era amada por todos, mesmo depois de
quatro anos, todos sofriam muito pela perda dela. Creio que ninguém se
recuperou dessa fatalidade.
Estava dando a última volta, quando vi a Alessandra sair do rifugio.
Foi quando ela me viu e caminhou na minha direção, mantendo o olhar fixo
no meu.
Red se afastou um pouco, talvez para nos dar privacidade.
— Fiquei sabendo da novidade. Parabéns, bebê a bordo! — disse
Alessandra fingindo entusiasmo.
Ela parecia bem mal, não pela descoberta da minha gravidez, mas o
seu olhar estava muito igual o olhar do Lorenzo. Quando ela não estava
com aquele seu personagem arrogante e cheia de si, ela parecia uma pessoa
quebrada e assustada, implorando por ajuda.
— Não seja tão dura com você e nem com ele — disse, já
começando a desvendar um pouco a Alessandra.
— O quê? — indagou, soltando uma risada forçada. — Eu estou
bem, sempre estive.
— Sei que não somos próximas, mas quando quiser conversar
comigo, eu deixarei qualquer tipo de desavença com você de lado.
— Eu não preciso da sua pena. Eu estou bem, não preciso de
ninguém.
Não respondi nada e só a encarei. Ela podia estar com tudo, menos
bem. A diferença é que o Lorenzo tinha com quem conversar, tinha o Enzo,
a Lucy, o Red, o Thony, até a mim, e ela parecia solitária, sem ninguém
para compartilhar o que doía.
Aproximei-me dela, logo a abraçando sem aviso algum daquela
minha ação. Ela se esquivou e demorou para retribuir o abraço, sem
entender o meu gesto.
Ela era idêntica ao Lorenzo. Toda aquela pose de que não se importa
com nada e de que está bem, mas só não tinha ninguém para ver o seu lado.
Ela foi colocada como a vilã dessa história, só por não ter tido a
chance de ter a sua versão contada.
— Sinto muito pela perda da sua filha! — disse, passando a mão
levemente pelas suas costas, tentando confortá-la. — Não consigo imaginar
a sua dor.
Todos tinham empatia pela dor do Lorenzo, mas por que não via
ninguém tendo por ela?
— Eu já disse que eu estou bem! — disse Alessandra com a voz
falha.
Sua voz estava trêmula e eu sabia que ela deveria estar em uma luta
dentro de si para segurar o choro.
— Sei! — disse e ela ficou em silêncio por um tempo. — Deve ter
sido difícil esses anos, querer um abraço ou um ombro amigo, e não ter
ninguém para te ajudar com isso.
Foi quando ela desabou.
Sinceramente, achei que ficaria no seu personagem e sairia logo do
meu abraço enfurecida por eu estar me metendo na sua vida, mas ela
parecia estar sofrendo demais para não aproveitar o momento.
— Por que todos só dão os pêsames para o Lorenzo? — Foi quando
ela me abraçou com mais força. Já estava sentindo o meu ombro molhado e
os fungados próximos do meu ouvido. Ela estava chorando? — Ela também
era minha filha... E a ver daquele jeito... Morta, partiu o meu coração. —
Ela soluçava e chorava bastante. Talvez tivesse guardado aquilo por tanto
tempo, que agora não tinha mais como controlar. — Era a minha menina
morta naquele lago.
— Pode chorar! — disse, levando a minha mão para sua cabeça,
passando os dedos pelo seu cabelo, tentando passar nem que fosse um
pouquinho de conforto para ela. — Estou aqui para ser o seu ombro amigo.
— Posso não ter sido uma boa mãe, mas ela nasceu de mim, ela era
a minha filha. Eu nunca achei que ela morreria, principalmente daquela
forma. Me arrependo de não ter dado um abraço nela naquela manhã, de ter
evitado que ela saísse de casa aquele dia. Eu a carreguei em meu ventre,
como não posso sofrer pela morte dela? Ela era a minha filha, droga
Eu já estava chorando com ela. Por um segundo, eu senti a sua dor.
Ela e o Lorenzo tentavam lidar com a culpa e o luto, sendo consumidos pela
dor.
— Acordar e saber que eu não vou mais escutar a sua voz, que
mesmo que eu force as minhas lembranças dela, eu não lembro mais como
é o seu cheiro... Eu não consegui me despedir dela. Sabe quanto isso dói?
Ela ficou em silêncio e eu resolvi também ficar. Sei que nenhuma
palavra que eu dissesse faria a dor diminuir, então achei melhor apenas estar
aqui do seu lado, confortando-a.
Ficamos abraçadas por tanto tempo, que já sentia o sol queimar os
meus braços, até que o celular dela tocou. Ela desligou a chamada, saindo
do abraço. Ela se afastou, secando as lágrimas, já tentando se mostrar de
indiferente.
— Você está horrível! — zombou de mim. — E, para deixar claro,
nós não somos amigas.
— Quero ver você dizer isso quando estiver louca para ter a minha
amizade — disse, sorrindo para ela.
Quando a conheci, não imaginava me aproximar da Alessandra
dessa forma. Ela só estava muito amargurada e sem um rumo na vida,
deixou que a tristeza a dominasse, assim como o Lorenzo fez.
— Vai se iludindo com isso, Kim Possible.
— Está me dando até apelidos — falei, dando uma piscadela, e ela
revirou os olhos.
Alessandra saiu falando ao telefone e eu voltei para casa
acompanhada do Red.
— Fez bem em deixar as diferenças de lado com ela para confortá-
la. Mostra como você é uma pessoa incrível — disse Red.
— Todos precisam de apoio, só temos que ver os dois lados da
história.
Quando entrei na cozinha, Lorenzo estava lá com um copo de
uísque na mão.
Ele parecia igual da última vez, bastante alterado, só que com mais
raiva.
Lorenzo virou o copo todo de uma vez, logo vindo na minha
direção.
— Red, descanse um pouco — disse Lorenzo.
Olhei para o Red, que parecia não querer ir, mas logo obedeceu o
seu comando.
Lorenzo parou na minha frente, colocando suas mãos na minha
cintura. Ergueu-me, colocando-me em cima da mesa, ficando entre as
minhas pernas.
— Você está bem? — perguntei, estranhando aquele jeito dele.
Lorenzo não esperou muito e foi logo beijando ferozmente o meu
pescoço, fazendo a sua barba roçar na minha pele.
Geralmente ele me mostra indícios do que vai fazer, mas hoje estava
diferente.
Se fosse outro dia, eu teria achado isso excitante, mas hoje Lorenzo
estava descontrolado e aquilo estava começando a me machucar com a
força que ele estava exercendo. Ele tão parecia aéreo, tentando fugir da sua
realidade, que não estava notando o que fazia.
— Lorenzo... — Tentei separá-lo um pouco de mim, falhando
miseravelmente. — Está me machucando, Lorenzo.
Ele pareceu não escutar, como se estivesse no seu próprio mundo, e
continuou fazendo.
Lorenzo estava apertando com muita força a minha coxa com a sua
mão e com a outra segurava na minha nuca, apertando ainda mais aquela
região, enquanto beijava o meu pescoço.
— LORENZO! — gritei, empurrando-o com força.
Ele teve que se segurar no balcão para não cair, enquanto eu saía de
cima da mesa com uma certa dificuldade, encarando-o.
Ele ficou ainda mais desnorteado. Olhava para mim, colocando a
mão na cabeça, talvez sentindo dor. Depois, do nada, veio para perto de
mim, não sabia o que ele faria, se voltaria a fazer o que estava fazendo ou
se era para checar se eu estava bem, ou até para me bater, já que eu o
empurrei.
Como a sua expressão não tinha como ser desvendada naquele
momento, me encolhi, fechando os olhos e colocando a mão sobre a minha
barriga, preocupando-me primeiramente com o meu filho.
Ele me bateria? Não confiava mais em homem nenhum!
Esperei, mas nada veio.
Abri os olhos e o Lorenzo estava ali, parado, sem nenhuma
expressão no rosto, sem entender o motivo de eu ter ficado tão assustada
com a sua aproximação. Minha respiração estava um pouco ofegante e eu
não sabia se saía dali ou se esperava ele voltar a consciência para descobrir
o que ele queria fazer. A primeira opção foi válida para mim, pois, no
mesmo momento, saí de lá correndo para o quarto.
Me sentei na cama, colocando a mão no peito, sentindo o meu
coração acelerado.
— Você está bem? — perguntou Lucy entrando no quarto. —
Lorenzo mandou eu subir para checar se estava tudo bem com você.
— Ele está louco, ele estava me agarrando, eu tentei sair e o
empurrei, e do nada ele ficou sem expressão, temi por mim e pelo meu filho
sem saber o que ele ia fazer. Tenho certeza de que ele ia me bater, Lucy.
— Pela virgem Maria, tem certeza? — disse Lucy segurando a
minha mão, estranhando aquilo. — Você está bem? Está sentindo alguma
dor?
— Eu estou bem, Lucy! Só me assustei um pouco.
— Está vermelho o seu pescoço. — Apontou.
Fui ao banheiro olhar e estava bem avermelhado o meu pescoço. Fui
checar a minha coxa, já que ele fez questão de quase arrancá-las com a
mão, e lá também estava vermelho. Resolvi não descer para almoçar. Lucy
disse que o Lorenzo foi para a boate e devia ficar por lá esta noite.
Ah, droga, ainda tinha o maldito evento dos russos.

A tarde passou bem rápido.


Comecei a me arrumar para o tal evento, já me sentindo cansada.
Suzi mandou a roupa que eu tinha que vestir e avisou que não viria. Deve
ser o medo de lidar com o Lorenzo hoje.
Lorenzo não havia aparecido, não sabia se ele viria. Para mim, tanto
faz, eu que não iria atrás dele. O tempo passou, já havia quase uma hora,
estava deitada no sofá quando escutei uma voz:
— Andiamo! — disse Lorenzo surgindo na minha frente.
Levantei de uma vez, sentando no sofá e calçando logo o meu salto.
— Estou indo!
Fiquei de pé e Lorenzo permaneceu calado, encarando-me.
— Preste atenção, pois só vou falar uma única vez — falou,
parecendo um pouco nervoso. — Não sei como faz isso, já que eu nunca
precisei fazer isso em toda a minha vida. — Ele estava enrolando para não
falar ou criando coragem para dizer? — Me desculpe por hoje cedo, isso
não irá se repetir.
Minha boca quase caiu no chão surpresa com o que ele disse. A
palavra desculpa vindo de um homem era quase impossível de acontecer.
Mesmo que o que ele fez fosse errado, acho que a grande maioria não se
importaria, já que para os homens tudo sempre foi mais fácil e mais
liberado aqui na máfia.
Ele se aproximou de mim, olhando o meu pescoço.
— Está doendo? — perguntou, passando o polegar na região que
ainda tinha uma coloração avermelhada.
— Não!
Ele me olhou, pensando em algo.
— Andiamo!
Lorenzo saiu de perto de mim, caminhando até a porta e entrando no
carro junto comigo.
Quase esqueci de como se anda depois disso.
Logo chegamos ao quartel. Era uma espécie de festa comemorando
a paz entre as máfias e a nova união com os russos, o que era para ter
acontecido faz tempo, difícil era durar.
Sentei-me próxima ao palco, prestando atenção em todos. Estava
bem diferente as festas agora. Antes havia poucos seguranças rondando,
agora havia milhares deles em todos os cantos. Perguntava-me o que havia
acontecido com o rapaz que entrou em casa naquele dia.
— Oi, meu bem! — disse Dona Telma me abraçando.
Todos estavam com o semblante triste no rosto, apesar dos sorrisos
falsos.
— Olha quem está querendo aparecer — disse Giulia passando a
mão onde tinha um pequeno volume na minha barriga.
Eu apenas sorria, já que estava adorando a bajulação de todos.
— Não é bom você ficar usando saltos, pode cair, Deus me livre! —
disse Emma.
E voltamos a paranoia das meninas. Se dependessem delas, eu nem
saía mais de casa. Lucy disse que elas ficaram assim depois da morte da
filha do Lorenzo, com medo de tudo, principalmente com os ataques que
eram frequentes naquela época.
— Está querendo roubar toda atenção da festa para si, pontinho? —
disse Dona Telma.
Ela disse que nesse período o bebê parecia um ponto, logo o
apelidou de pontinho.
Levantei para cumprimentá-las enquanto as mesmas tocavam na
minha minúscula barriga.
— Olha só, sendo atrevido em não nos responder — brincou Giulia.
Enquanto as meninas conversavam com o meu bebê, elas roubavam
sorrisos de mim. Sabia que tanto eu, como o meu filho, poderia contar com
elas. Lorenzo só encarava as meninas, não sei se estava se acostumando de
novo em saber que, em breve, teremos um bebê em casa ou se estava se
punindo, já que era responsável por mais uma vida.
A conversa terminou quando um dos russos subiu no palco. Olhei
para o Lorenzo, que parecia compreender tudo o que o rapaz dizia.
Meus olhos percorreram pelo salão, logo encontrando a Alessandra
no final das mesas, com a mesma expressão triste de hoje cedo.
— Posso dar uma volta por aqui? — disse, aproximando-me do
ouvido do Lorenzo.
Estava cheio de seguranças, mas, do jeito que o Lorenzo não
confiava em ninguém, não duvidaria que fosse comigo.
— Está se sentindo mal?
— Estou bem, eu só queria dar uma volta — respondi.
— Diga o real motivo do que irá fazer.
— Eu ia ali na Alessandra — Apontei para onde ela estava.
— Desde quando se tornaram amigas?
Ele pareceu surpreso.
— Só queria ver se ela estava bem.
— Vá e não saia para longe. Se for, leve alguns dos seguranças com
você.
Levantei e caminhei até ela.
— Devo te abraçar ou discutir com você? — perguntei e ela riu.
— Não sei, me surpreenda.
Eu me aproximei dela e a abracei.
— Essa amizade será o acontecimento mais aleatório da minha vida
— disse Alessandra.
Ela não parecia estar fingindo. Ela deve sentir falta de ter uma
amiga, de ter alguém se preocupando com ela.
— Já é um bom começo, acabou de aceitar que temos uma amizade.
Devo te dar um beijinho no rosto?
— Está bem alegre, Merida. — Eu ri da sua comparação de mim
com a protagonista do filme Valente.
— Merida? As minhas emoções não são mais as mesmas. À tarde,
eu estava triste e cansada, agora eu estou super disposta, pronta para correr
uma maratona.
— Aceita que você é louca — disse Alessandra que antes sorria,
ficou séria rapidamente. — Parece que hoje a concorrência está rigorosa.
Olhei para onde Alessandra olhava e vi a Beatrice perto do Lorenzo.
— É, sou esposa de um homem que é de todas.
— Está gostando dele? Não seja estúpida, nem eu quando me casei
me apaixonei.
— Eu não estou... — Me senti um pouco tonta e me encostei na
mesa.
— Está bem? Não vai morrer perto de mim — falou, olhando-me
enquanto segurava no meu braço.
— Eu estou bem, às vezes acontece de eu me sentir tonta. A minha
pressão é baixa e tive fortes emoções hoje. — Já havia melhorado,
geralmente quando acontece é bem rápido e logo melhoro. — Viu, eu já
estou bem.
— Quando fiquei grávida, também ficava assim, mas, voltando ao
assunto de você gostar do Lorenzo, até parece que não está gostando. Olhe,
eu corro atrás do Lorenzo, não porque eu o amo, mas pela vida boa que ele
me oferece, mas se você deixar aquela piranha desgraçada ficar no seu
lugar, eu mesmo raspo sua cabeça.
— Não tenho paciência para brigar por homem.
— Você não, mas eu tenho. Vou me arrepender de fazer isso, mas eu
irei te ajudar.
— Não preciso de ajuda.
— Você me ajudou hoje cedo e eu odeio dever favores a alguém.
Lorenzo casado com você está menos insuportável. Se casar com aquela
dali, minha vida boa que ele banca acabará — disse Alessandra ajeitando o
cabelo. — Você tem algo que eu não tive do Lorenzo e sei que muitas nunca
tiveram.
— O quê?
— Ele se importa com você, essa estava fácil, Bloom. Dá para ver, o
cretino pode até fingir, mas ele não consegue não demonstrar em suas
ações. Agora fique quieta e me deixe resolver essa bagunça.
Alessandra me puxou para perto do Lorenzo, segurando na minha
mão.
— Estou atrapalhando? — perguntou Alessandra assim que
chegamos na mesa onde o Lorenzo estava com a Beatrice.
Ela ainda segurava a minha mão e eu estava com medo do que
estava por vir.
— Sim, está! — respondeu Beatrice fuzilando a Alessandra com o
olhar. Essa briga delas era bem pessoal. — Lorenzo, eu queria conversar
com você — insistiu Beatrice.
Beatrice fazia bico ao falar.
Santo Cristo!
— Nem eu me humilharia tanto, vadia imunda — disse Alessandra
com cara de nojo para Beatrice. — Lorenzo...
— Eu estou conversando, Alessandra, se for sobre hoje cedo, não
quero mais falar desse assunto — Lorenzo a interrompeu.
Beatrice tinha um sorriso de vitória que logo a Alessandra retribuiu
com um diabólico.
— A Hope passou mal comigo e eu só vim trazê-la aqui. Não quero
falar com você, só vim ajudá-la — disse Alessandra.
Bem, eu não passei mal, só tive um mal-estar.
— Está se sentindo bem? — perguntou Lorenzo se levantando da
mesa, ficando à minha frente.
— Eu estou bem... — Não terminei de falar, quando a Alessandra
apertou a minha mão. — Ai!
— Onde está doendo? — perguntou Lorenzo olhando para todo o
meu corpo, procurando algo fora do lugar.
Ele estava apavorado.
— Eu estou bem, só foi um mal-estar — disse, fuzilando a
Alessandra, que sorria bastante.
Alessandra se divertia com a raiva da Beatrice em saber que o
Lorenzo estava pouco se importando com ela.
— Não disse que se sentisse mal me avisasse?
— E ela veio, Lorenzo — Alessandra me defendeu toda cheia de
deboche enquanto falava. — Se eu fosse você, a levava para casa, talvez
isso aconteceu porque ela disse que teve fortes emoções pela manhã e não é
bom isso acontecer na gravidez.
Lorenzo se sentiu culpado e antes que eu explicasse algo, ele foi até
o rapaz russo, que estava próximo da nossa mesa.
— Se aliando com a ex? — perguntou Beatrice aproveitando que o
Lorenzo saiu.
— A sua sorte é que eu fiz as minhas unhas hoje, porque se não
fosse por isso, eu rasgava essa sua cara de puta agora mesmo — disse
Alessandra a ela.
— Vamos para casa! — disse Lorenzo quando retornou da mesa do
russo.
Segurou na minha cintura, guiando-me para fora.
— Lorenzo... — chamou Beatrice.
— Depois conversamos — disse Lorenzo a ela.
— Qualquer coisa, me liga, Hope — disse Alessandra fingindo
preocupação. Via que ela estava se segurando para não rir. — Não precisa
ficar preocupada, estou aqui, viu!? — Alessandra olhou para a Beatrice,
sorrindo em seguida. — Vai se foder, vadia!
Entrei no carro e tentei não rir do showzinho da Alessandra, mas eu
que não diria nada ao Lorenzo, vai que ele me castiga por fazê-lo sair da
festa por nada.
— Thony, vamos para o hospital — disse Lorenzo.
— O quê? Lorenzo, foi só uma tontura devido à minha pressão
baixa e aos enjoos. Não sinto dor e não estou mais tonta, eu só estou
cansada.
— Se sentir nem que seja uma dor na unha, me avise.
— Certo!
Quando chegamos em casa, Lorenzo foi para a cozinha e eu fui para
o quarto.

Coloquei a minha camisola e estava prestes a me deitar quando o


meu celular tocou.
— Desça! — disse Lorenzo.
Será que ele escutou que eu estava cansada?
Cheguei na cozinha e o Lorenzo estava cozinhando. O dia hoje
estava sendo uma caixinha de surpresas.
Primeiro: Ele me pediu desculpas.
Segundo: Mostrou que está se importando com o bebê e talvez um
pouco comigo.
Terceiro: Ele sabe cozinhar?
Se o sabor for tão bom quanto o cheiro, hoje eu comeria bem
— Você está cozinhando? — perguntei o óbvio.
— Sì! — respondeu. Lorenzo havia aberto alguns botões da sua
camisa, subiu um pouco as mangas e não estava mais com a sua gravata, já
que estava jogada em cima do balcão. Esse cretino até cozinhando era
bonito. — Lú está dormindo e eu não quis acordá-la.
— Está cheiroso! — disse, aproximando-me do fogão e apontando
para a panela.
Lorenzo não parecia que gostava de falar muito quando cozinhava,
na verdade, ele não gostava de falar era nada, cozinhando ou não, ele não
falava, parecia até que fez voto de silêncio.
Pelo menos, ele estava entretido com algo. Hoje o dia não parecia
fácil para ele e para a Alessandra, deveriam estar loucos para que passasse
logo.
Sentei na cadeira, esperando Lorenzo finalmente terminar de
cozinhar para que eu pudesse comer. Fazer carinho na minha barriga me
acalmava de um forma que eu não sei explicar. Apesar de ainda está bem
pequena, já sabia que havia alguém ali dentro e não pararia de ficar bobona
só em olhar a barriga que estava se formando.
— Hope! — disse Lorenzo. — Te chamei três vezes.
— Me desculpe, estava meio aérea — respondi. Lorenzo encarou a
minha mão, que fazia movimentos repetitivos ao redor da minha barriga. —
Quer tocar? Não tem muita diferença de antes para agora, mas me acalma
fazer carinho nela e em saber que tem alguém crescendo aqui dentro.
— Já dá para notar o volume nela.
Lorenzo agora aparecia meio tímido.
Aproximei-me dele, pegando a sua mão e colocando na minha
barriga.
— Quando crescer mais, podemos até sentir o bebê chutar, mas, por
agora, é só isso.
Não conseguia entender o que se passava na cabeça do Lorenzo
naquele momento. Ele só encarava a mão na minha barriga. Comecei a
estimular ele a fazer movimentos nela, foi quando começou a massagear
por conta própria.
O que não durou muito, já que o seu celular tocou.
— Tenho que atender. Coma e volte para o quarto, não fique
perambulando pela casa sozinha.
Lorenzo subiu para o andar de cima, indo para o seu escritório.
Olhei a comida no fogão e comecei a colocar no prato.
O cretino cozinhava bem!
Após acabar de comer, lavei a louça e subi para dormir. Lorenzo
ainda não havia aparecido.
Pela exaustão, logo adormeci.

Acordei com um peso de uma mão na minha barriga, com a luz nos
meus olhos. Quando abri os olhos, vi o Lorenzo sentado, encarando a minha
barriga. Fechei os olhos para não ser pega encarando-o, sem entender o que
ele estava fazendo.
— Desculpe por hoje cedo! — sussurrou, mas, mesmo assim, eu
consegui escutar. — Fique bem aí dentro e não se esforce muito. Quando
você nascer, eu prometo não tirar os meus olhos de você. Podemos fazer
uma promessa se quiser. Sua irmã, Antonella, sempre me fazia prometer as
coisas e cumprir o que eu havia prometido. Eu prometo não deixar ninguém
te machucar e de ser um bom pai e, em troca, você fica bem e não suma.
Não sei se o pai... — Respirou fundo, hesitando em continuar. — Não sei
se o pai aqui aguentaria.
Lorenzo ficou parado ainda encarando a minha barriga, mas logo
desligou o abajur e se deitou. Eu fiquei bem emotiva com as suas palavras e
o quanto ele tinha medo de perder mais alguém.
Algumas semanas se passaram rapidamente. Eu continuava a sentir
enjoos. Ontem fui com o Lorenzo para a consulta com a obstetra, ela olhou
os meus exames e estava tudo normal.
Estava com 7 semanas de gravidez e não via a hora da minha barriga
crescer.
Estava sentindo mais enjoos do que o normal e ainda estava
perdendo o apetite, mal estava comendo ultimamente.
A médica disse que era normal, só me passou umas vitaminas e se
continuasse enjoada e sentindo muito mal-estar, fosse ao hospital para
talvez tranquilizar o Lorenzo.
Falando nele, ultimamente não o via com tanta frequência desde
aquela vez que ele cozinhou para mim. Depois da ligação, ele ficou mais na
dele.
Eu não entendia bem, também não perguntaria, Lorenzo era o tipo
de homem que não trazia os problemas para casa e muito menos conversava
sobre eles.
— Fiz um suco — disse Lucy entrando no quarto.
— Não estou com fome — disse, com preguiça de levantar da cama.
Ainda era cedo, acordei porque o Lorenzo resolveu deixar o celular
ligado e alguém o ligou na madrugada. Ele teve que sair e ainda não voltou
— Beba um pouco, minha querida — insistiu Lucy
— Se você não beber esse suco, não irá para casa da sua mãe hoje
— disse Lorenzo entrando no quarto, caminhando para o banheiro.
Achei que ele ficaria o dia todo fora, do jeito que ele ficou quando
atendeu a ligação, parecia ser algo sério. Infelizmente, não sei o que
aconteceu, só acordei depois que ele levantou da cama, colocando o celular
no bolso.
Havia esquecido que hoje era terça-feira.
Peguei o copo de suco de laranja e o cheiro já me deixou enjoada.
— Lucy... — resmunguei, com uma cara de nojo, lhe entregando o
copo
— Beba um pouquinho — disse Lucy me entregando o copo
novamente. Tomei todo líquido de uma vez. Logo, tratei de me arrumar
Esses dias, senti um cheiro de um perfume diferente na cozinha.
Lucy disse que talvez fosse a Bianca, já que ela ainda tinha o privilégio de
andar até a cozinha, e isso estava me incomodando. Lorenzo havia me dito
que não dormia com ninguém, então de quem era o perfume?
Casei sabendo que o Lorenzo não seria fiel e eu realmente pouco me
importava com isso. Fui ensinada a ver e achar “normal”. Por outro lado,
esse casamento valeu de alguma coisa, finalmente me afastei do meu pai.
Havia tanto tempo que eu não o via, que eu estava achando isso excelente.
Fui para o banheiro e o Lorenzo já havia terminado de tomar banho.
— Tomou o suco? — perguntou e eu assenti.
— Lorenzo... — disse, pensando como falar com ele sem parecer
uma esposa ciumenta, o qual eu não me encaixo muito bem. — Você sabe
que eu não sou muito de me meter na sua vida...
— O que foi desta vez, Hope? — disse Lorenzo me interrompendo.
— Só me escuta, tudo bem!? — Enquanto conversava com ele, já
comecei a me despir. — Eu não me importo de você trazer a Bianca para a
cozinha, até porque não eu posso opinar no que você faz ou deixa de fazer,
mas, por favor, peça para ela trocar o maldito perfume. Eu já não estou
comendo e chegar na cozinha com aquele cheiro doce, que só falta não sair,
me deixa ainda mais enjoada.
Eu sei que estava me incomodando de um jeito diferente, porque se
não, eu nunca teria reclamado.
Lorenzo ficou sem entender, já que franziu o cenho confuso com o
meu pedido, mas logo compreendeu o que eu estava tentando dizer.
— Farei algo a respeito.
Lorenzo saiu do banheiro e eu entrei no chuveiro
Tive que mudar o meu shampoo porque até o cheiro dele me
deixava enjoada.
Hoje nenhum mal-estar me venceria.
Queria ver a minha família e também a Lisa, já que ela está com 8
meses e logo poderá entrar em trabalho de parto. Em breve, teremos o
Bernardo aqui conosco.
Entrei no closet e o Lorenzo ainda estava lá. Vesti as minhas peças
íntimas, indo atrás de um vestido.
— Parece uma pochete — zombou de algo.
— O quê? — perguntei confusa.
Não havia entendido a sua risada.
— Sua barriga, o volume dela está mais embaixo, parecendo uma
pochete — falou, apontando para ela.
Tentei não rir, mas quando me olhei no espelho, parecia mesmo.
— Está escutando o que o seu pai disse? — Ri, olhando para a
minha barriga. Olhei para o Lorenzo, que parecia ter ficado surpreso pela
minha ação. Foi a primeira vez que conversei com o bebê na frente do
Lorenzo. — Oh, eu...
— Desça para comer algo que eu te espero no carro — falou, saindo
do closet.
Lorenzo não estava com raiva, mas, por ainda não saber lidar com
isso de ser pai novamente, ele evitava muito. Já havia notado desde aquela
vez que ele estava conversando com o bebê a noite.
A palavra “pai" parecia o assustar muito.
Troquei logo de roupa, usando um vestido mediano e calcei a
rasteirinha. Era tão bom quando eu não era obrigada a estar arrumada
sempre.
Amava a liberdade que eu tinha quando ia para casa da minha mãe.
Quando eu vou para casa da Dona Telma, não consigo ficar tão bem
assim, porque eu tenho medo de esbarrar com o Sr. Diego e ele reclamar de
algo. Fui à cozinha e comi uma torrada à força mesmo. Logo acelerei para
ir encontrar com o Lorenzo no carro.
— Senhora Ferraro, deixei umas sacolas para o caso de não dar
tempo de parar o carro e para a senhora não se preocupar em segurar ou
sujar sua roupa. Também deixei uma garrafa de água que a Dona Lucy deu
para a senhora andar com ela — disse Thony assim que eu entrei no carro.
— Obrigada pela precaução, Thony.
No caminho, até tirei um cochilo rápido, mas logo acordei com a
cabeça encostada no ombro do Lorenzo. Eu estava trocando o dia pela
noite.
— Seu celular tocou e eu atendi — disse Lorenzo assim que eu
acordei. — Era a Giulia nos avisando sobre o aniversário da Sara no
sábado.
Sara era a filha da Giulia e do Pietro, ela estava fazendo 4 anos.
Havia esquecido que ela tinha comentado que faria algo. O seu outro filho,
o Matteo, havia ficado bem feliz em descobrir da minha gravidez, porém
não mais que a Sara, já que ela quer que seja uma menina. O filho da
Emma, Nicolas, disse que tinha que ser um menino, para brincar com ele e
o Matteo.
— O aniversário do Nicolas também está chegando, ele tem a
mesma idade da Sara, não é?
— Sim, o dele, se eu não me engano, é daqui a 2 meses. O do
Matteo que já passou. Ele passou o aniversário todo chorando porque a
Giulia não deu o primeiro pedaço do bolo para a Sarinha.
— Por que a Giulia não deu para ela?
— Sarinha estava meio mal da barriga aquele dia, mas a Giulia
barganhou com o filho e disse que, no aniversário de 3 anos, ele mesmo
cortaria e daria o primeiro pedaço para ela.
Lorenzo lembrava das coisas atentamente. Ele ficava com um brilho
nos olhos sempre que falava dos irmãos ou dos sobrinhos. Ele não parecia
que convivia muito com a família, mas já que esses encontros são
praticamente obrigatórios, como o nosso dever com os nossos parentes, ele
parecia observar tudo.
— Você vai mandar alguém comprar o presente da Sara
— Ela sabe quando eu mando alguém escolher. Ela é bem
espertinha, não se engane.
Ainda não havia conhecido os filhos das meninas, sempre nos
eventos, eles ficavam em casa, já que não era lugar para crianças. Estava
gostando do Lorenzo responder o que eu perguntava, ele sempre evitava
falar.
— Chegamos! — disse Red. — Não ficou enjoada hoje?
— Não!
— Deve ser porque ficou conversando, estava com a mente ocupada
— disse Thony.
Era mesmo.
Lorenzo não saiu do carro e logo o Enzo apareceu.
— Parece uma pochete mesmo — zombou Enzo apontando para a
minúscula barriga que se formava em mim.
Olhei para trás e o Lorenzo ria. Ele já estava repassando os apelidos
para o seu amigo.
Lorenzo era muito fofoqueiro. Ele reclamava do Enzo, mas o Enzo
só sabia porque ele contava.
— Vou já dizer o que aconteceu em uma noite quando você
namorava a Lisa, Enzo — falei, ameaçando-o e logo o seu sorriso se desfez
— Está maldosa! — disse Enzo se afastando de mim. — Irmão, eu
estou com medo da sua esposa
— Agora que a conversa começou a ficar interessante — disse
Lorenzo saindo do carro. — O que aconteceu? Nem com as minhas
ameaças o Enzo ficou desse jeito.
— A Lisa está atrás de você, vai! — disse Enzo me levando para
dentro de casa.
— Você sabe que eu moro com ela, não é? — Escutava Lorenzo
falar. — É questão de horas para eu saber uma boa história para rir de você.
— Vai se foder, Lorenzo! — disse Enzo e eu escutei Lorenzo rindo.
Ele me deixou na frente da porta da casa e logo saiu para encontrar
o Lorenzo, já podia escutar a gritaria de Lisa no andar de cima.
— Olha que lindo, mãe! — disse Lisa. Parece que a Lisa tinha um
megafone na garganta. Era impossível alguém gritar tanto. — Hope! —
Veio me abraçar assim que eu entrei no quarto.
— Escutei você falando lá da minha casa, vim ver se estava tudo
bem com a audição da sua vizinhança
Minha mãe e a Kitty vieram me abraçar em seguida.
— Já está aparecendo — disse minha mãe passando a mão na minha
barriga.
— Sim, ando tão enjoada — choraminguei.
— Depois passa, Hope — disse Lisa. — Quero ver quando acordar
com falta de ar, dor nas pernas, o pé inchado, entre outras coisas que só a
gravidez nos proporciona.
— Você está bem?
— Ficando nervosa, já que o Bernardo está perto de nascer. Será que
darei conta de duas crianças em casa?
— Claro, você será uma ótima mãe, Lisa. Não se preocupe muito.

A tarde com elas era ótima, mas infelizmente passava muito rápido.
A Kitty amava o Red, principalmente quando ele exibia a sua força e
carregava ela e o Nandinho sem protestar.
— Vi o seu pai esses dias quando eu saía do mercado — sussurrou
minha mãe que estava bem tensa. — Kitty não sabe, ela está se adaptando
tão bem, que eu não queria que ela se preocupasse com isso.
— Ele fez algo? — perguntei bastante apreensiva.
— Não fez porque eu saio com os seguranças que o seu marido
contratou.
— O que foi, mãe? Eu sei que não é só isso.
Olhei para a Lisa que estava com uma cara preocupada
— Seu tio vai morar por aqui.
Senti que o meu coração parou de bater por alguns segundos. Por
que esse monstro está querendo morar aqui?
Uma coisa é ele morando do outro lado da cidade, mas aqui, perto
de nós, principalmente perto da Kitty...
Santo Cristo
Dificilmente, eu saio de casa e quando eu saio, é sempre com o
Lorenzo, então eu não me preocupava tanto assim comigo.
Agora, a Lisa fica sozinha o dia todo e a Kitty ia para a escola, não
confio na segurança lá. Fora que a minha mãe está começando a viver
novamente, e isso acontece? Agora ela ficará preocupada com as filhas e eu
sei que ela deve estar tão apreensiva quanto nós.
— Ele está trabalhando com o que aqui?
Tio Marco não era da linha de frente do pessoal do Lorenzo.
Que droga, isso está me deixando nervosa.
Conhecendo um pouco do Lorenzo, sei que ele nunca deixaria o
meu pai ou o tio Marco com algo grande aqui. Do jeito que ele os odeia,
certamente está com outro tipo de trabalho.
— Virará um dos subordinados do seu pai, deve querer crescer na
sua patente.
— Ele vai morar lá em casa?
— Por enquanto sim, a esposa veio junto.
Tia Greta tinha sérios problemas conosco, principalmente depois de
termos acusado o seu marido. Aquilo realmente estragou o meu dia. Sei que
a minha mãe só me disse porque sabia que eu um dia poderia esbarrar com
ele por aí. Eu tinha que me preparar para vê-lo nessas reuniões e eventos
que têm no quartel.
Que droga!
Depois da nossa conversa, fiquei na sala esperando o Lorenzo voltar
com o Enzo.
— Que tamanho o bebê já está, Hope? — perguntou Kitty
encarando a minha barriga.
— Do tamanho de um caroço de feijão.
— É tão pequeno...
— Logo cresce — disse minha mãe a ela.
— Hope, o Capo chegou! — disse Red.
Despedi-me da minha família e saí.
— Boca fechada, Hope — disse Enzo passando por mim um pouco
assustado com o que eu falaria. — Ou devo contar uma das histórias de
quando você saía com a Lisa escondido?
Lisa já havia falado para o Enzo de quando saímos escondidas do
papai para balada. Uma coisa que eu fiz e não aproveitei nada por medo.
Lisa, por outro lado, encheu a cara, pois era a mais intensa de nós. Ela não
pensava, só agia.
— Me ameaçando também? — Ri de nervosa.
Entrei no carro e o Lorenzo me encarava com um olhar de menino
pidão.
— Esperando
— Olhe, Lorenzo, eu não sou x9.
— Não venha com essa para o meu lado, Hope. Enzo sabe de uma
coisa que eu fiz na época da faculdade e eu nunca posso fazer nada além de
ameaçar lhe matar, o que não adianta, já que o figlio di puttana sabe que eu
não faria. Ele gelou assim que você disse que contaria, me diga o que é.
— Não sei se viu, mas ele me chantageou também. Então somos nós
dois nas mãos do Enzo Carbone.
— O que você fez?
— Eu nada, a Lisa que fez e me envolveu. Não falarei mais nada.
— Se eu mandar, você fala — tentou soar autoritário, mas ele assim
não dava medo em ninguém. Que homem fofoqueiro. — Não se esqueça
que eu sou o seu marido e o Capo.
— Não!
O silêncio ficou no ambiente, mas sentia que ele não desistiria assim
facilmente. Chegamos em casa e fui logo para a cozinha.
— Chegou, meu bem!? — disse Lucy me abraçando. — Já jantou?
— Assenti que sim.
Fui pegar um copo de água, quando o Lorenzo entrou na cozinha.
Lucy foi para perto dele e ele a abraçou, dando um beijo na sua testa.
Lorenzo sempre era carinhoso assim com a Lucy, mas não vi tanto
assim com a sua mãe. Ele apenas acenava com a cabeça quando a via,
tentava não manter o contato visual com ela e muito menos com o resto da
família, como se estivessem desconfortáveis uns com os outros ou como se
não soubessem mais como agir.
Comigo era só quando ele queria, mas nada muito parecido com
isso, era só falando sem grosseria mesmo.
— Fui ao shopping com o Enzo hoje e comprei algo para você —
disse Lorenzo entregando algo na mão da Lucy.
— Não precisava! — disse Lucy.
Ela abriu a caixinha e tinha um colar muito bonito.
Meu celular tocou, me impedindo de ver a Lucy experimentando o
presente, logo vi que era a minha mãe no visor.
Aconteceu algo?
Atendi, indo para a sala.
— Oi, mãe! — disse.
Depois de saber que o tio Marco vai permanecer aqui, tudo agora
me assustava.
— É a Kitty. — Ela parecia bem eufórica. — Quero falar com o
Capo, por favor, passe para ele.
Tentei perguntar o que ela queria, mas ela não disse nada.
Quando eu ia voltar para a cozinha, Lorenzo apareceu na sala.
— Minha irmã quer falar com você — disse lhe entregando o
celular.
Lorenzo segurou o telefone, colocando no seu ouvido.
— Oi, princesa! — falou.
Desde quando Lorenzo e a Kitty são próximos?
Pensei no dia do quartel quando eles estavam juntos, também teve o
dia lá em casa quando ele conversou com ela.
Mesmo assim, ainda ficava surpresa.
Lorenzo se aproximou de mim, me entregando o celular.
Droga, fiquei tempo demais aqui de novo, nem consegui escutar a
conversa.
Ele subiu para o quarto e eu estava parada sem entender nada.
— Poderia me explicar o que aconteceu? — perguntei para a Kitty
que ainda estava na ligação
— Agradeci o presente que ele me deu e o Nandinho também
agradeceu o dele.
— Ele deu algo? O que foi?
— Ele me deu uma casa de bonecas e uns livros, Hope. Um
segurança de vocês acabou de deixar aqui e para o Nandinho uma pista de
corrida.
Ele sabia presentear alguém quando quer.
Logo desliguei o telefone, subindo para o quarto.
Estava me sentindo uma criança ciumenta. Lorenzo deu presente
para todos, menos para mim.
Lorenzo estava no banheiro e eu segui para o closet.
Meu celular tocou de novo, mas agora era Lisa.
— Está tudo bem? — perguntei assim que atendi.
Agora não poderia receber nenhuma ligação que eu já me
preocuparia.
— Estou, só que não deu tempo da gente conversar.
— Só espere um pouco, já falo com você — disse, caminhando para
fora do quarto.
Fui para o jardim, até o limite estabelecido pelo Lorenzo. Fiquei na
espreguiçadeira da piscina, olhando céu que estava lindo por sinal.
Alguns seguranças se aproximaram mais, olhando ao redor.
— Você está bem, Lisa? Me diga a verdade, não sou a mamãe e eu
sei quando mente. — disse.
Eu sabia que ela não estava bem com isso do tio Marco.
— Estou com medo, Hope! — confessou. — Aqui eu consigo seguir
a minha vida, mas com ele tão perto ... — Respirou fundo criando coragem
para falar. — Não imaginaria que ele fosse ficar. Tenho medo que ele faça
mal aos meus filhos. A mamãe disse que ele não faria, já que teme o cargo
do Enzo, mas ninguém nunca acreditou em nós, por que acreditariam agora
se eu dissesse que algo aconteceu.
— Vai ficar tudo bem, Lisa! — falei, tentando acalmá-la.
Quem eu estava querendo enganar, eu estava com medo. Temendo
por mim e pela a minha família, principalmente o meu bebê, imagina se for
uma menina.
— Eu sei que você não está bem também. Você sabe que uma hora
ou outra, tanto a Kitty, como os nossos filhos, terão que ter contato com o
papai. Não podemos negar a nossa família. Ele estando lá, isso me
apavorava.
Lisa citava a nossa lei. Eu e ela não servimos mais a lei familiar, já
que nos casamos e a nossa família é a que temos com o nosso marido, mas a
Kitty e o Nandinho não tinham a sua própria família ainda. Não é porque o
meu pai e a minha mãe se separaram que a Kitty não iria mais vê-lo. Meu
pai não se importa com isso, mas um dia ele vai querer ver a Kitty, só para
jogar com a minha mãe.
Tio Marco é outro, ele sabe que eu e a Lisa o evitamos e gosta de
saber que nós o tememos. Ele usa isso, por isso finge que nada aconteceu só
para tentar nos enlouquecer ainda mais.
— Posso falar com o advogado para não deixar a Kitty ir para lá,
talvez marcar algum ponto de encontro para ele ver ela. Nós vamos ficar
bem, Lisa. Sempre damos um jeito, esqueceu!?
— Só se cuida! — falou. — Cuidado nesses eventos e me avise
quando não estiver bem. Não precisa ser forte sempre, Hope. — Não
gostava de vê-la assim. — Nando está me chamando, tenho que desligar.
Beijos e amo você!
— Eu amo mais, Lisa
Coloquei o celular sobre o peito, pensando em como iria falar com o
Federico.
Para falar tinha que contar o que aconteceu e certamente ele não
acreditaria por falta de provas.
Ninguém nunca acreditou, por que ele acreditaria em mim?
— Está frio, entre! — A voz do Lorenzo me tirou dos meus
devaneios.
— Estou indo! — disse, me ajeitando para levantar.
Caminhei para dentro e sentia o olhar do Lorenzo em mim. Apesar
de está alguns passos a sua frente, seu olhar parecia queimar a minha pele.
Entrei no quarto e logo fui para o banheiro. Lorenzo se deitou na
cama em seguida, olhando o celular.
Quando saí do banheiro, vi que o Lorenzo falava com alguém no
telefone.
Ele parecia um pouco preocupado de novo.
Eram muitos problemas e ele sempre quer mostrar a todos que é um
bom Capo.
Fui para o closet me trocar e percebi algo na minha penteadeira.
Me aproximei e havia dois pacotes embrulhados.
Abri o primeiro, encontrando uma roupinha para o bebê. Havia
umas nuvens desenhadas e logo vi que era um pijama. O sorriso que estava
no meu rosto era de orelha a orelha.
O outro eu abri cuidadosamente e vi que era para mim. Um colar e
uns brincos muito bonito por sinal, nenhum pouco chamativo, bem a minha
cara.
Havia um papel dentro dele, que logo reconheci a caligrafia do
Lorenzo que dizia:
Percebi que anda entediada pela casa.
Dei permissão para a Lucy deixar você entrar na biblioteca durante
o dia.
Terá algumas regras que a Lucy lhe informará amanhã, uma delas é
não ficar sozinha lá dentro ou mexer nos documentos.
Segurei o meu grito de felicidade ao ler aquilo.
Lorenzo aos poucos estava me deixando viver.
Mesmo o seu orgulho de não ter me entregado isso em minhas
mãos, sabia que ele não esqueceu de me dar algo, já que não é sua
obrigação.
Me acalmei e voltei para o quarto, como se nada tivesse acontecido.
Me deitei na cama, enquanto Lorenzo ainda estava no celular.
— Obrigada! — disse sem o encará-lo.
Lorenzo não disse nada e eu já sabia que ele não falaria.
Só aproveitaria esse momento.
Acordei no meio da noite com sede. Mesmo sem eu querer, no meio
da noite eu dormia agarrada com o Lorenzo.
Me afastei dele, me sentando na cama, esperando coragem para
descer.

Me levantei e abri a porta. O segurança que ficava a noite pareceu


surpreso em me ver.
— Está tudo normal? — perguntei.
— Sim, senhora! — falou. — Está tudo calmo. A senhora quer algo
— Vou descer para pegar uma água — disse. — Tudo tranquilo lá
embaixo, não é mesmo? — quis confirmar e ele assentiu.
Cada passo que eu dava, eu orava mentalmente. Não sei se eu estava
com medo do escuro ou de ver um espírito.
Casa grande tem mais espaço para os espíritos se esconder.
Deus me livre!
Eu com medo dos mortos, tenho que ter medo é dos vivos,
principalmente os que querem a cabeça do meu marido e me levar junto.
Algumas luzes estavam ligadas, facilitando a minha caminhada até a
cozinha.
Eu ia só beber água, mas me deu fome.
Aproveitei que esses dias eu não estou comendo bem, não negaria
comida para o meu bebê agora que eu finalmente estava sentindo vontade
de comer.
Peguei uns biscoitos e um copo de leite.
— Talvez podemos fazer um acordo — disse conversando com o
bebê. — Você me deixa comer, sem me fazer colocar nada para fora e eu
vou comendo o que você quiser quando começar com os desejos. Que tal?
Parece um ótimo acordo, não acha?
Para mim já se tornou tão normal conversar com a minha barriga
que não estranhava mais.
— Quer um pedaço de chocolate? Só posso comer um pouco, já que
está tarde — falei, dando uma mordida na barra de chocolate que eu peguei
na geladeira. — Não tenha o mau hábito alimentar da sua mamãe, tudo
bem? Eu posso, você não. Entenderá quando crescer.
— Me pergunto o que os seguranças devem achar de ver você
falando sozinha — disse Lorenzo adentrando na cozinha.
Ele tem esse costume de aparecer do nada.
Me senti envergonhada por ter sido pega novamente conversando
com o bebê.
— Ah, não tem com quem conversar e ele parece ser um bom
ouvinte — disse, tomando o resto do meu leite.
— Sábado passaremos o dia na casa do Pietro. O aniversário é só a
noite, mas o meu pai quer que nos reunirmos pela tarde lá.
— Outra reunião de família? — perguntei.
— Não, só quer falar com os filhos, mas não ache que o aniversário
seja calmo, pois estará todos os Ferraro junto. Quero ver você no meio
daquilo, do jeito que é frágil, logo se quebraria — disse Lorenzo rindo.
— Santo Deus! — disse, revirando os olhos.
Acho que ele ia sair, já que estava de terno.
— Quando vai me contar sobre o Enzo? — perguntou.
— Eu não vou contar — disse tentando me manter firme.
— Andiamo, se não eu terei que te dar umas palmadas — falou, se
sentando na cadeira, mantendo o olhar fixo no meu.
Lorenzo estava com as pernas um pouco abertas, com uma mão em
uma de suas coxas, com um semblante tão malicioso no rosto, que era de
deixar qualquer uma louca de desejo.
Mais que eu o olhava, mais eu sentia meu corpo pegar fogo.
Os botões da camisa do Lorenzo estavam abertos até um pouco
abaixo do seu peitoral. Ele estava sentado confortavelmente, com um copo
de whisky na mão e a outra na sua coxa, me encarando.
Seu olhar se mantinha em mim, mesmo quando ele ia ingerir um
pouco da bebida que estava na sua mão.
— Não ... — falei, hesitando.
Esse olhar dele era absurdamente excitante.
Lorenzo colocou o copo na mesa, ficando em pé, caminhando até a
mim.
— Queria saber a história do Enzo. — sussurrou com a sua voz
grave no meu ouvido, beijando o meu pescoço, dando leves apertos na
minha cintura. — Por que você não quer me contar?
— Lorenzo ... — Tentei argumentar, mas o Lorenzo sabia o ponto
certo para me deixar louca por mais.
— Não vai mesmo me dizer? — perguntou arqueando a
sobrancelha, mantendo o olhar firme no meu, tão próximo de mim, que
sentia sua respiração no meu rosto. Lorenzo sabe como tirar o foco de
alguém. — Terei que tirar essa informação de você, ruiva.
Lorenzo me colocou em seus braços, subindo para o nosso quarto.
— Eu não vou dizer! — disse.
— Vamos ver quanto tempo aguenta com essa sua pose de durona.
Alguém me ajuda!
Lorenzo me colocou na cama, ficando por cima de mim.
— Você não vai sair? — Indaguei, tentando não pensar no fato do
que ele vai fazer para tirar essa informação.
— Eles podem esperar — falou.
Seu peso estava todo nos seus braços, que estavam apoiados na
cama.
— Lorenzo ... — disse sendo interrompida pelo beijo que ele me
deu.
Lorenzo desceu os beijos para o meu pescoço, logo descendo para
os meus seios
Sua mão vagava pelo meu corpo, passando por cantos bem
delicadosa.
— Nada? — indagou.
— Eu não posso falar. — disse.
— Não seja tão mesquinha, Hope. É apenas uma besteira, Enzo fez
algo que se envergonhe e eu quero saber — disse Lorenzo levantando a
minha camisola. — Eu sei que você está louca para me contar
— Você morreria se soubesse — disse rindo me lembrando do que
aconteceu.
Foi quando a sua mão finalmente chegou no seu alvo.
Senti seus dedos na minha intimidade, me fazendo apertar a colcha
da cama.
Quando Lorenzo começou a me estimular mais, sua mão parou e eu
não entendi porque ele parou de me dar aquela sensação.
— Me conte e eu continuo. — Cretino para jogar sujo. — Se me
contar, não pararei tão cedo.
Droga!
— Lorenzo, por favor ... — disse. — Ele vai falar o meu.
— Me conte o seu também e ele não irá te chantagear com isso.
Pensei. Ter o Lorenzo entre as minhas pernas ou contar que a Lisa
quase me vendeu por um copo de bebida?
Por uma sensação maravilhosa, votei na primeira opção.
Lorenzo continuou o que estava fazendo e via o sorriso de vitória no
seu rosto.
Depois de ambos ter aproveitado aquela noite, fui para o banheiro
me limpar.
— Está fugindo de mim — Hope perguntou.
— Já estou indo. — Menti. — Você não já sair.
— Não vou mais.
Voltei para a cama e o Lorenzo já estava vestido de novo, agora com
o seu moletom de sempre.
Devem ter ficado bravos pela sua demora e agora não precisa mais
ir.
— Prossiga! — falou.
— Enzo se deitou com a minha avó achando que era a Lisa — disse.
Tem aquela expressão “cair de rir”, realmente Lorenzo caiu da cama
de tanto rir.
Sua risada ecoava pelo quarto.
Uma risada que eu nunca vi ele dando.
Isso foi porque ele não viu a cena, imagina se tivesse visto.
— Ele ... — Lorenzo nem conseguia falar direito de tanto que ria.
Encontrar o amigo praticamente nu, com uma senhora devota igual a
minha avó, era hilário. Agora me pergunto o que Enzo usava contra o
Lorenzo?
Enzo era conhecido por fazer isso mesmo. O Cretino descobria tudo.
Não de forma ruim, mas eu era a única que ela não tinha essas brincadeiras
por conta desse dia.
— Quero saber de tudo — disse Lorenzo depois que se recompôs.
— Lisa havia saído para algum lugar. O meu pai e a minha mãe
foram na reunião da Kitty da escola. A minha avó, mãe da minha mãe,
havia passado o dia comigo e resolveu dormir por ali mesmo. Já que o meu
quarto estava em reforma, a minha avó dormiu no quarto da Lisa e eu ia
dormir junto com a Kitty. Havia escutado um barulho lá fora e eu já sabia
que era o Enzo, pois já peguei ele várias vezes visitando a Lisa a noite. Foi
quando me lembrei da minha avó no quarto. Só que não havia dado tempo
de avisar o Enzo. Quando eu cheguei no quarto, ele estava praticamente nu,
indo se deitar na cama. Eu o puxei e logo a minha avó estranhou o barulho
no quarto, eu disse que não era nada, já que o Enzo se escondeu debaixo da
cama. Peguei as suas roupas e ele se trocou. Estava bem constrangido e foi
isso.
— Finalmente posso usar algo contra o Enzo. Depois de quase 10
anos com ele me chantageando para comprar as coisas para ele, finalmente
eu posso ameaçá-lo com algo — Lorenzo estava muito animado. — E o
seu?
— Não é tão emocionante quanto o do Enzo — disse tentando
enrolar conversa.
— Nem invente de mudar de assunto — falou. — Diga logo.
— Uma noite saímos escondida para uma balada, no caso a Lisa, eu
apenas fui me certificar de que ela não fizesse nenhuma besteira. Já que não
trabalhávamos e não tínhamos dinheiro, a Lisa ganhava algumas bebidas
dos frequentadores do local, mas logo ela ficou bêbada e queria mais
bebidas. Foi quando ela disse que era a minha cafetina e tentou me vender
por 20 dólares e olha que a gente nem usa o dólar no quartel. Ela havia
invadido o palco, falando no microfone anunciando que estava fazendo
descontos nos meus serviços. Nada de muito emocionante, só mais um surto
da Lisa.
— Imagino você, do jeito que é tímida, toda vermelha de vergonha
— disse Lorenzo rindo de mim.
A Lisa é louca!
Depois da nossa conversa, até fiquei sonolenta.
Me deitei e o Lorenzo fez o mesmo.
Gostava de ter essa relação amigável com o Lorenzo. Só queria que
continuasse assim.
Agora o meu receio era sábado, muita gente louca dentro de uma
casa.
Deus que me proteja!
Acordei super disposta.
Não sei se era por conta do aniversário da Sara e finalmente
conheceria os filhos das meninas, ou se eu só estava querendo sair de casa
mesmo. Não tivemos reunião na quinta-feira passada, já que a Giulia disse
que precisaria de tempo para conseguir organizar tudo para hoje.
Além disso, Lorenzo voltou a ficar mais na dele de novo. O ruim é
que ele nunca me contava se algo estava acontecendo, eu só sabia de
algumas coisas porque a Lucy descobria e me contava. Talvez seja isso a
causa do meu mau-humor recentemente.
— Coloquei o seu vestido da festa aqui dentro. O smoking do
Lorenzo mandarei deixar mais tarde — Lucy tentou me fazer prestar
atenção no que ela explicava.
— Lucy, este vestido faz a minha barriga parecer maior ou é
impressão minha? — perguntei, usando um vestido que eu costumo ficar
geralmente em casa.
— Nossa, deve ser o tecido que é grosso ou também porque você
andou comendo muito esses dias, principalmente de quarta-feira para cá —
disse Lucy, olhando a minha barriga.
Minha alimentação estava totalmente desregular. Às vezes, eu não
sentia um pingo de fome, apenas os enjoos, e, nas outras vezes, eu já sentia
muita. Isso acabou me engordando quase dois quilos.
Assim que eu desci para tomar o meu café da manhã, já encontrei
com o Lorenzo. Ele estava no telefone com o Federico, ouvi o seu nome
enquanto Lorenzo conversava com ele. Sentei-me na mesa e ele nem havia
reparado que eu me aproximei dele.
— Andiamo, estamos atrasados — disse Lorenzo desligando a
ligação, ficando em pé.
— Eu ainda não comi.
— Você come na casa do Pietro. Andiamo, ruiva!
— Vou só trocar de roupa e já desço — disse, mas o Lorenzo me
impediu.
Ele nem olhou para a minha roupa. Eu estava muito exibida hoje, já
que a minha barriga estava bem chamativa e ele nem fez questão de descer
o olhar.
— Não será necessário, é só uma visita familiar.
Foi quando eu notei que o Lorenzo estava sem o seu terno, como o
de costume.
Ele ficava diferente sem usar roupa social.
— Tudo bem! — disse, indo me despedir da Lucy.
Caminhei para fora da casa, encontrando o Red. Lorenzo havia ido
no escritório pegar alguns papéis e eu já o esperava no carro, e não demorou
muito, ele logo apareceu.
O caminho foi bem tranquilo e bem rápido, apesar do enjoo matinal,
eu estava me sentindo bem. Além do que não demoramos para chegar na
enorme e luxuosa mansão do Pietro. As casas da família eram todas iguais,
no mesmo padrão, só tinha algumas poucas diferenças, mas a nossa parecia
ser maior. Estava tão acostumada que mal percebia isso.
Assim que entramos, o Lorenzo fez questão de segurar na minha
mão. Fiquei bem mais tranquila, vai que alguém surta que nem da última
vez. Preferia estar bem perto do Lorenzo só por via das dúvidas. Notei que
a divisão da casa não era tão diferente da nossa. A enorme sala chamava
muita atenção.
Entramos em uns corredores, deixando-me um pouco tonta pelas
voltas que dávamos e logo chegamos próximos de algum cômodo, já que o
Lorenzo parou. Quando eu percebi, já estávamos na cozinha.
— Finalmente chegaram! — disse Giulia, agora olhando para o
Lorenzo. — O Pietro, o Enrico e o seu pai estão no escritório.
— Está tão lindo, meu filho! — disse Dona Telma se aproximando
dele, beijando sua bochecha, e logo soltou a minha mão para abraçar a mãe.
No primeiro momento, eu estranhei, ele só acenava com a cabeça
quando a via, até ela estranhou um pouco.
— Vai me sufocar, mãe — resmungou Lorenzo, já que ela o
apertava.
— Meu Deus do céu! — disse Dona Telma, espantada, olhando para
mim, logo vindo na minha direção sorrindo. — Te vi semana passada
semana e olha essa barriga o quanto cresceu!
— Cresceu rápido esses dias, talvez seja porque eu comi mais do
que eu deveria — disse um pouco envergonhada.
— Olha o tamanho do Lorenzo, esse bebê vai ser enorme — disse
Emma. — Você vai passar os nove meses com ele na barriga para nascer a
cara do pai, eu estou te avisando.
— Logo conhecerá os nossos filhos, nem parece que saiu de nós. A
cópia perfeita dos Ferraro — disse Giulia.
— Vou atrás dos meus irmãos, antes que eles matem o meu pai —
disse Lorenzo.
— Não duvido que já estejam se matando lá dentro. Seu pai quis
fazer uma reunião com vocês sem falar absolutamente nada do que se
tratava — falou minha sogra.
— Qualquer coisa, me chame — sussurrou Lorenzo no meu ouvido.
Lorenzo saiu da cozinha e as meninas logo se aproximaram.
— Ele está tão diferente — disse Emma.
— Também achei — concordou Giulia.
— Lorenzo é bipolar, uma hora está bem e no outro instante com
raiva da vida — falei sem querer da muita importância para o que elas
diziam.
— Vamos conversar enquanto organizamos aqui — disse Dona
Telma.
Apesar de ter uma organizadora da festa, a Giulia mostrou um lado
seu que eu nunca havia conhecido, o autoritária. Ela estava adorando ditar o
que cada uma tinha que fazer.
O jardim já estava ficando cheios de unicórnios entre todo o espaço.
Logo uma garotinha apareceu, indo para perto da Giulia.
— Mãe, o Matteo e o Nicolas não me deixam brincar — disse a
garotinha reclamando para a Giulia.
— É mentira, mãe — falou um menininho para Emma, que
aparentava ter a mesma idade da menina.
Ele estava com uma criança menor ao seu lado, segurando a sua
mão, que conclui que era Nicolas, filho da Emma. Ele tinha a mesma idade
da Sara e o Matteo era o menor deles. Eram a cópia dos pais. Tinha uma ou
duas coisas que herdaram das mães, mas o resto era toda dos Ferraro.
— Quer que eu brinque com você? — perguntei a Sara. — As
moças não me deixam fazer nada, já estou ficando entediada de só ficar
sentada.
— Quem é a senhora?
— Crianças, esta é a Hope, a esposa do tio Lorenzo — disse Dona
Telma.
— Ah, seu cabelo é da mesma cor da Anna do Frozen — disse a
Sarinha tocando no meu cabelo em seguida.
— Minha irmã mais nova parece com a Anna quando era criança.
Talvez algum dia te leve para brincar com a Kitty, ela, com certeza, iria
adorar.
— Mãe, eu posso brincar com a tia Hope? — perguntou e a Giulia
assentiu.
A garotinha me arrastou pelo jardim, voltando para dentro da casa
até chegar no seu quarto.
— Eu tenho muitos brinquedos, podemos brincar com o que você
quiser.
— Nós queremos que ela brinque conosco — disse Nicolas entrando
no quarto.
Eles logo começaram a discutir. Percebi que estavam tendo uma
certa rivalidade entre eles. Talvez seja porque aqui tem muito machismo de
que menina só pode brincar com menina e menino só pode brincar com
menino.
— Silêncio! — não gritei, apenas falei firme mostrando autoridade.
— Vejo que está acontecendo aqui o que aconteceu na minha família
quando a minha irmã e o meu sobrinho não queriam se unir. Vamos, os três
se sentem um do lado do outro, de preferência a Sarinha no meio. — Logo
eles se sentaram. — Vocês só não conseguem brincar, porque estão sendo
muito egoístas com a pessoa ao seu lado. Que tal descobrir algo que os três
gostem e que todos nós possámos brincar juntos?
— Mas a Sara é menina, ela só tem brincadeiras de mulherzinha —
disse Matteo.
— Olhe, veja bem, não é porque ela é mulher que seja diferente de
você. Vocês não queriam brincar comigo, eu também sou menina, e aí?
— A senhora é diferente, porque é nossa tia e tem que brincar
conosco, não é, Matteo? — disse Nicolas e Matteo concordou.
— Claro que não, eu brinco com vocês porque eu gosto. Vamos
deixar de lado esse negócio de “você pode e ela não”. Aqui não terá essa
divisão de pessoas. Vamos, me digam o que gostam?
— Podemos brincar de bola lá fora — disse Nicolas.
— Não, o papai não deixa a gente ficar lá fora — disse Matteo.
— Meu pai também não, mas a tia Hope está conosco, não podemos
ficar sozinhos — disse Nicolas.
— Não, se não, o papai chora — disse Sara. — A gente não pode
brincar perto do lago, meu pai fica desesperado.
Lembrei do que aconteceu com a Antonella, deveria ser por isso.
— Foi quando a nossa prima foi morar com o papai do céu, ela não
pode mais voltar — disse Nicolas. — Ela não pode nem ver mais o tio
Lorenzo. Eu choraria se não visse mais o meu pai e a minha mãe.
Não sabia nem o que dizer.
Eles começaram a mudar o rumo da conversa, falando sobre esse
assunto.
— Meu pai bebe quando lembra dela — disse Sara. — A minha mãe
disse que é porque ele sente falta dela, por isso que às vezes o tio Lorenzo
chora no escritório, porque sente falta dela também.
— Vamos brincar, o papai não gosta que fale da Antonella. —
Nicolas quis mudar de assunto.
Deveria ser um assunto delicado para a família.
Logo cada um começou a dizer o que gostava, até que uma coisa me
chamou atenção.
— Vocês três gostam de histórias. Que tal cada um escrever no
papel a história que gostam e o outro tem que fazer uma mímica até
descobrir que história é? — indaguei.
Eles se empolgaram, já que nunca brincaram disso e logo
começaram a anotar as histórias que gostavam em alguns pedaços de papel.
Ajudei o Matteo, já que ainda tinha dificuldade em escrever. Olhei para ver
se algum título de livro se repetia, amassei e coloquei dentro de um copo.
Era estranho, mesmo com a opressão que eu tinha em casa, a minha
mãe sempre tentava brincar conosco, então lá em casa éramos muito unidos,
principalmente na hora das brincadeiras, mas porque aproveitávamos tudo o
que podíamos fazer quando o meu pai não estava presente, porque nunca
sabíamos quando teríamos a chance de brincar de novo.
A brincadeira rendeu umas caras e bocas, que me fizeram rir
bastante.
Era a minha vez, peguei a Branca de Neve.
Quem estava ganhando era a Sarinha, ela parecia entender tudo
apenas em olhar.
Comecei a fazer gesto como se comesse algo e fingi um desmaio em
cima da cama, mas os meninos não estavam conseguindo acompanhar.
— Bela adormecida? — perguntou Sara.
Fiz novamente o gesto.
— Branca de Neve — a voz do Lorenzo ecoou no quarto. — Estava
tão fácil!
— Tio Lorenzo! — Os três foram pulando para os braços do
Lorenzo.
— O que aconteceu que não estão discutindo hoje? — perguntou
Lorenzo.
Enquanto isso, me levantava da cama com uma certa dificuldade. O
vestido apertado não foi uma boa ideia para hoje, quase fui vencida em ficar
na cama deitada até a hora de ir embora, mas resolvi persistir até ficar em
pé.
— Tia Hope nos ensinou uma brincadeira — disse Nicolas. — Até
que é legal.
— Vocês só encontraram algo que ambos gostassem — disse.
— Desçam, a mãe de vocês estão chamando para almoçar — falou
Lorenzo.
Logo eles saíram correndo do quarto, apanhei os papéis que ficaram
no chão, jogando no cesto de lixo ao lado da mesa.
— Parece que se divertiu.
— Me dou bem com crianças.
Lorenzo colocou as suas mãos na minha cintura, encarando-me.
— Está linda, sabia? — Eu sorri. Ele olhou para a minha barriga,
surpreso com o tamanho que já estava. — Cresceu do dia para a noite.
— Sim, deixa só a Dra. Olivia saber que eu ganhei 2kg essa semana.
— Diga que o peso vem do bebê.
Lorenzo mudava muito a sua personalidade e eu não conseguia não
amar quando ele estava assim. Coloquei os meus braços ao redor do seu
pescoço, aproximando-me mais.
— Você deveria falar, parece que ela tem medo de você.
— O que eu ganho em troca? — perguntou, já com aquele sorriso
malicioso.
— Está tentando barganhar com uma moça grávida, Capo?
— Gosto de como Capo saí dos seus lábios — disse Lorenzo dando
um beijo no canto da minha boca. — Mas gosto ainda mais de como você
paga os seus favores.
Logo meus lábios se encontram com os dele.
Essa versão do Lorenzo menos preocupado me deixava mais
confortável com a sua presença. Quando ele ficava afastado dos demais lá
fora, ele podia respirar aliviado, sem toda essa pressão que tem nos ombros.
Não deu para aproveitar o beijo por muito tempo, já que eu escutava
alguém nos chamando no andar debaixo.
— Então temos um acordo? — perguntei, dando um último beijo
nele.
— Sì!
Descemos, caminhando para a sala de jantar. Todos almoçamos
normalmente, mesmo parecendo desconfortáveis. Percebi que o Sr. Diego
me encarava, mas desviei o olhar todas as vezes que percebia
Quando o almoço terminou, o Lorenzo e os seus irmãos inventaram
de tomar banho de piscina com a criançada.
Depois de ter ajudado as meninas na cozinha, estava indo para o
jardim admirar o meu marido, até que eu fui parada pelo meu sogro, que me
assustou.
— Não consegui falar com você desde que se casou — disse Sr.
Diego.
— Teve muitos ataques, mal saía de casa — falei um pouco nervosa.
— Tudo bem! Lorenzo tende a ser um tanto possessivo quando tem
algo e fica com medo de perder. Queria aproveitar e conversar com você.
Podemos? — Sr. Diego fazia menção para irmos para a sala.
Queria negar, mas não queria criar intrigas com o meu sogro, então
caminhei até o sofá e me sentei.
— Vejo que sua barriga está bem visível. Será que terá a mesma
facilidade de ter homens como a sua irmã tem com o Carbone?
— Não sei!
Eu não me importava qual seria o sexo. Lorenzo parecia que
também não se importaria com isso. Eu sabia que ele queria ter um menino,
mas se não viesse agora, tentaríamos depois.
— Lorenzo é cabeça dura. Vejo que você tem uma boa conduta
como esposa. Não sei se foi pela criação que o Dante lhe deu, ele costuma
falar muito sobre isso nas missões.
Meu pai? Quase ri. Ele só nos castigava mesmo. Nossa educação
veio da nossa mãe.
— Ele era bem autoritário e não gostava de quem quebrava as suas
regras.
— O merdinha também não segue regras — sussurrou debochado,
mas eu escutei. — Enfim, eu estava conversando com o Lorenzo para que
quando o filho de vocês tivesse uns 4 anos, que o Leonel possa educá-los.
Ele não me deixou a desejar na educação dos meus filhos. Apesar de agora
eles não me escutarem mais. Aqui é diferente da sua antiga patente, a
pressão é maior com o nome do família. Se for uma menina, vai sofrer bem
mais, e se for um menino, a pressão da liderança vai sufocá-lo. Leonel que
fez os meus filhos chegarem aonde estão, ele sabe o que faz. O problema é
que nenhum dos meus filhos confia mais em mim e muito menos nele. Eles
sabem que nós temos razão, mas não querem ceder.
Deus me livre!
Leonel parece tão radical quanto o meu pai era. Lucy me contou
algumas coisas e isso me apavorou. Não podia conversar sobre isso com o
Lorenzo, do jeito que ele é, mas sempre tive a Lucy para me ajudar a não
cair em furada. Estava começando a conhecê-los, conseguia entender
melhor como eram aos poucos.
— Lorenzo escolherá o que é melhor para o nosso filho.
Sabia que se eu falasse que era contra, ele provavelmente não
aprovaria de bom grado e tentaria fazer a minha cabeça.
— Sim! Sei que se eu pressionar um pouco mais, o Lorenzo acabará
aceitando. Ele sabe que precisa disso, principalmente com os ataques que
temos, só não quer confiar em nós.
Espero que o Lorenzo não ceda.
Logo me levantei querendo encerrar aquela conversa, estava
bastante exaltada já. Caminhei para fora, ainda intrigada com o esse desejo
do Sr. Diego de do nada querer levar os nossos filhos para longe.
Certamente, deve ver como os filhos ficam vulneráveis com eles.
Amor não é algo bem visto aqui.
— Demorou! — disse Dona Telma, que logo viu o seu marido vindo
atrás de mim.
— Desculpe! — disse, sentando-me ao seu lado.
Sr. Diego foi para perto da piscina, onde estavam os seus filhos.
— Ele disse algo? — perguntou Emma.
— Nada não!
Não queria que elas se preocupassem com isso de levarem nossos
filhos para o domínio do Leonel, pois estavam mais tranquilas com isso do
que os rapazes.
— Não vai entrar, ruivinha? — perguntou Enrico. — Emma não
entra nem se a vida dela dependesse disso.
— Não vou molhar o meu cabelo, lavei ele hoje — disse Emma.
— Ela não sabe nadar — Lorenzo zombou de mim. — Talvez até se
afogue na piscina das crianças só pelo seu tamanho.
Os meninos riram da piada do irmão, e o sorriso da Dona Telma em
ver o Lorenzo assim foi um de esperança. Os rapazes ficaram brincando na
piscina, então resolvi me deitar em uma das espreguiçadeiras, até que senti
pingos caírem no meu rosto. Quando abri os olhos, vi o Lorenzo bem
próximo do meu rosto.
— Te acordei? — perguntou e eu neguei. — A toalha...
Percebi que estava deitada por cima da sua toalha, levantei-me e
entreguei. Lorenzo se secava e eu apenas o observava passando a toalha
pelos seus cabelos. Seu short preto estava marcando muito o seu atributo,
mas logo parei de encarar antes que fosse pega.
O que está acontecendo comigo?
Lorenzo se deitou na espreguiçadeira, fazendo menção para que eu
retornasse a deitar lá. Sentei-me e vi o rosto de surpresa das meninas, com
um sorriso de orelha a orelha da minha sogra.
Deitei-me ao seu lado, um pouco desconfortável pelo Lorenzo pegar
todo o espaço.
— O que meu pai conversou com você? — perguntou Lorenzo
colocando o óculos de sol.
— Como sabe que ele falou comigo?
Lorenzo juntou mais os nossos corpos, fazendo-me olhar bem o seu
peitoral a minha frente.
— Está estranha, evitando falar e fazer algo. Achava que era só você
que sabia observar, senhora Ferraro?
— Você não vai aceitar isso de levar o nosso bebê para os cuidados
do Leonel, não é?
— Então foi isso!? É complicado, Hope. Muita coisa aconteceu e a
confiança que eu tinha neles está abalada.
— Ele disse que te convenceria. Lorenzo, eu não sou de pedir muita
coisa a você, mas não deixe ...
— Já disse que o nosso filho não vai — falou, tirando o óculos e me
encarando. — Não precisa se preocupar com isso, nenhum filho meu vai
mais sair do meu campo de visão, nunca mais.
— Vou subir para dormir um pouco — disse, já sentindo os meus
olhos pesarem.
— Vou com você. — Lorenzo logo se levantou.
Lorenzo foi para o banheiro tomar um banho quando eu estava
prestes a me livrar daquele vestido. Ele não atrapalharia meu sono. Só me
cobri com um lençol no caso de alguém aparecer.
— Está com frio? — Lorenzo estranhou eu estar coberta.
— Ah, não! Tirei o vestido porque estava apertado, já que ele me
incomodaria quando eu fosse dormir. Me cobri, caso algum dos seus irmãos
aparecesse.
Lorenzo tirou a blusa preta que ele vestia e me deu.
— Use!
Sentei-me na cama, logo vestindo a blusa.
— Obrigada! — respondi, deitando-me em seguida.
— Você já sente o bebê mexer? — perguntou tímido.
Lorenzo estava meio acanhado de perguntar, parecia diferente
quando ficava assim
— Ainda não, acho que só depois dos 5 meses. Quando formos para
a consulta, a gente pergunta.
Lorenzo se deitou ao meu lado e não demorou para que eu dormisse.

Estava dormindo tranquilamente até que o celular do Lorenzo tocou.


— Lorenzo! — chamei, e ele logo acordou. Para quem dormia
muito antes, estava até bastante.
— Que é caralho? — disse Lorenzo, sonolento. — O que você quer,
Beatrice? — Ele logo pareceu preocupado com algo, sentando-se na cama.
— Estou indo!
Não nego que eu fiquei bem triste em escutar aquilo, mas talvez ela
estivesse precisando de ajuda ou só estava mesmo interessada em roubar o
meu marido. Tirei sua camisa, sabendo que ele precisaria dela.
— Não precisa tirar, eu pego uma outra com o Pietro — falou, logo
voltando a falar com a Beatrice. — Só se acalma, porra! Caralho de vadia
para gritar.
Entreguei a sua blusa e peguei o meu vestido, logo o colocando.
Então Lorenzo desligou o celular e voltou sua atenção para mim.
— Estou de saída. Não saia da propriedade e se o meu pai falar com
você, diga que lhe dei ordem para não dar atenção a ele. Não fique sozinha,
desça e fique com as meninas lá embaixo
— Aconteceu alguma coisa grave?
— Não!
Lorenzo se aproximou de mim, dando-me um beijo.
Eu fiquei surpresa, já que eu que sempre que faço isso. Lorenzo
também não disfarçou a surpresa pela sua ação e não disse nada, só saiu do
quarto.
Talvez seu coração estivesse amolecendo.
Não sei, pelo jeito que ele ficou com o telefonema, sinto que algo
aconteceu. Por isso, perdi o sono e logo desci.
Não via a hora de chegar a noite para a festa.
A tarde passou rapidamente, e o Lorenzo ainda não havia chegado.
Eu já estava pronta e o seu smoking já estava aqui. O vestido era lindo,
apesar do tecido cobrir a minha minúscula barriga, ele era perfeito. Seu tom
rosado, com um pequeno decote, o tornava ainda mais magnífico.
— Lorenzo ainda não chegou? — perguntou minha sogra entrando
no quarto.
— Não! A festa já começou e eu não vou esperar por ele.
Tinha quase certeza de que ele não retornaria. Ele não ligou para
dizer que se atrasaria como todas as outras vezes que isso chegou acontecer,
não informou nada a família, então não sei se o Lorenzo ainda viria. Desci
com a minha sogra para o jardim, onde já havia boa parte dos convidados.
A festa estava dividida em duas. Perto da piscina, era onde havia
boa parte das crianças. De outro modo, em mesas bem afastadas da piscina,
era onde estavam boa parte dos convidados do Pietro.
As expressões não estavam boas. Talvez estivessem ali só por puro
desejo de subirem nas suas patentes, queriam ficar próximos dos Ferraro.
— Aqui! — disse Emma levantando a mão para que eu a visse.
Enrico estava com ela, um pouco impaciente.
— Porra de gente chata do caralho! — reclamou Enrico. — Emma,
se você for inventar de fazer o aniversário do Nicolas, chame só a família.
Estou farto desses bando de filhos da puta virem aqui babar o meu ovo.
— É claro, acha que eu colocaria esses estranhos na minha casa?
Jamais! — disse Emma.
Apenas observava os dois. Achava engraçado como eles trocavam
farpas e ficavam se retrucando enquanto conversavam.
— Está quieta, ruivinha. Cadê o arrombado do Lorenzo?
O amor entre irmãos é tudo.
— Saiu e ainda não voltou. Estou um pouco enjoada, muito perfume
forte, então creio que é melhor ficar quietinha esta noite.
— Não senti tanto enjoo na gravidez, só no começo — disse Emma.
— Estou sentindo muito, eu espero que passe logo.
— Olha o meu vestido, tia Hope — disse Sara se aproximando
animada.
— Está linda! — disse, olhando-a.
Ela estava com brilhos no cabelo, um vestido bastante colorido,
enquanto segurava um enorme balão com o formato de um unicórnio. Vai
acabar cegando alguém com a ponta do chifre do unicórnio.
— Por que está com o chifre do seu pai, Sarinha? — perguntou
Enrico a ela, que pareceu não entender a provocação do tio.
Emma deu um soco no braço do marido, fazendo-o rir.
— Vou brincar! — disse Sara correndo pela multidão.
— Se fazer ela chorar de novo, você que vai ficar com ela até parar
de chorar — disse Emma e o Enrico levantou as mãos para cima, rendendo-
se.
— Que merda de dia! — disse Lorenzo se sentando na mesa.
Ele parecia estressado, estava bem vestido, mas com uma cara nada
boa.
— Problemas? — perguntou Enrico a ele.
— Depois a gente resolve.
Lorenzo estava com um semblante preocupado, eu já sabia que algo
estava errado. Enrico logo entendeu, ficando mais na dele.
— Vou atrás do Nicolas, ele deve estar aprontando algo junto com o
Matteo — disse Emma, levantando-se.
— E eu vou atrás de uma bebida — disse Enrico logo em seguida.
— Pietro que cuide do seu bar, porque pretendo beber tudo.
— Quando voltar, traz um uísque para mim — pediu Lorenzo.
Emma e o Enrico já haviam saído, deixando-nos sozinhos na mesa. — Por
que não me esperou no quarto?
— A sua mãe me chamou.
— Certo! — falou, já mostrando que estava de mau-humor.
Era só o Lorenzo se afastar um pouco que ele voltava a ser um
babaca.
Lorenzo havia se levantado para falar com algumas pessoas, depois
retornou para a mesa novamente, já eu fiquei boa parte da festa sentada.
Enquanto isso, a cada dois segundos, sempre vinha alguém falar
com o Lorenzo, até um dos Conselheiros apareceu, mas nem fez menção
em falar comigo. Não havia ninguém para conversar.
As meninas estavam conversando com alguns convidados e como eu
ainda não pertencia de certa forma para essa patente, era mais difícil me
socializar com as pessoas que estavam aqui. Só me restava observar os
convidados, tentando ficar entretida para não acabar dormindo pelo tédio.

A festa já havia terminado e só estavam os familiares do Lorenzo e


uns amigos próximos do Pietro. As crianças já haviam ido dormir, deixando
só os adultos.
Olhei as horas pelo relógio de um rapaz que estava ao meu lado, já
que o Lorenzo saiu para falar com alguém, surpreendendo-me por ser mais
de 23:40h. Permaneci no mesmo local que Lorenzo havia me deixado, não
tive nem coragem para levantar.
— Olha só o que temos aqui — disse Lucca, cheio de sarcasmo. —
Deveria ser um crime deixar uma preciosidade dessas no meio de tanto
marmanjo.
Resolvi ignorar o Lucca. Sabia qual era a dele, e não cairia nessa.
— Soube que está grávida. Posso tocar na sua barriga?
— Olha, eu sei o que está tentando fazer.
— Ah, é?! Me diga o que eu estou tentando fazer, eu não sei.
— Eu e você não vai rolar. Você é bonitinho, mas não vai me enrolar
com esse seu papinho. Sei que você e o meu marido são bem competitivos,
então pode me tirar do jogo de vocês — falei e ele riu como se fosse uma
piada.
— Qual é! Eu consigo sentir uma certa atração entre nós dois —
falou ainda mais sarcástico do que já estava. Ele está brincando comigo? —
Você não deve receber o prazer que merece. Minha cama deve ser bem mais
atrativa do que na sua casa. Diga que eu disse isso ao seu marido,
certamente ele não irá discutir, sabe do que eu já fiz com muitas mulheres
aqui.
Estava sacando a dele. Isso era só para arranjar confusão. Esperava
que eu repassasse, só para que o Lorenzo fosse tirar satisfação com ele.
— Essa "atração" vem só de você. Você pode até ser o padrão de
homem perfeito, mas o meu cérebro funciona bem e eu não cairei nessa sua
lábia. Então me respeite porque eu não sou as suas vadias que você fala o
que quiser.
Lucca riu, não sei se era pelo que eu disse ou porque ele era um
cretino.
— Lorenzo tem sorte — falou, mostrando-se orgulhoso e me
deixando confusa.
Essa família só em deixa maluca.
Logo me levantei e caminhei até a cozinha, bebendo uma água.
Estava louca para ir embora!
— Está quebrando bastante regras hoje, Hope — disse Lorenzo. O
cheiro de álcool saindo da boca dele me deixou enjoada. — O que eu disse
de ficar sozinha?
— Você me disse que se um dia Lucca viesse falar comigo, eu
saísse, então eu saí.
— O que aquele filho da puta quis com você?
— Nada, Lorenzo.
— Hope...
— Olhe, Lorenzo, eu estou enjoada, fui comparada com uma vadia
praticamente, estou com dor nos meus pés e eu acho que vou chorar, mesmo
sem estar com vontade. Não sei se estou enlouquecendo ou são os
hormônios, mas, por favor, me deixe ficar quieta por um minuto.
— Lucca tentou algo com você? — perguntou.
— Não! Sem confusão hoje...
— Sei quando está mentindo, Hope. Vou matar o Lucca! — disse
Lorenzo saindo enfurecido.
Lorenzo caminhou para o jardim e eu corri atrás dele.
— Lorenzo, por favor!
Vai dar problema!
— Lucca! — Lorenzo o chamou assim que se aproximou. Lucca o
olhou e o cretino ainda sorriu para mim. Lorenzo deu um soco no seu rosto,
fazendo com que ele caísse. — Chegue perto da minha esposa novamente e
o seu menor problema será um soco na cara.
Lorenzo veio em minha direção, mas logo Lucca começou a falar
algo.
— Está falando comigo agora? — indagou com a mão, onde o
Lorenzo o acertou. — Só acho que a sua mulher deveria ter alguém melhor
ao seu lado — provocou-o. — Achei que ela fosse uma dessas vadias que
você costumava transar. Devo dizer que é muito bonita.
— Fica na sua, Lucca! — Lorenzo o avisou.
— E o que você vai fazer, seu puto? — perguntou, sorrindo
debochado para o Lorenzo.
Que droga tem na cabeça desse homem? Por que ele está querendo
brigar sem motivos?
Lorenzo parou, olhando para mim, e virou lentamente para o Lucca.
— Hoje eu te mato! — disse Lorenzo, indo para cima dele.
Lucca manteve o sorriso provocativo, colocando os braços para trás
e mostrando que não faria nada. Lorenzo lhe deu um soco, ficando por
cima, distribuindo vários socos em seu rosto.
— Lorenzo... — Tentei tirá-lo de cima do Lucca. Logo os irmãos
dele também foram tentar apartar a briga.
Lorenzo ficou em pé e começou a tirar o paletó. Eu sabia que ele
não ia parar.
— O que está acontecendo aqui? — disse Dona Telma logo
aparecendo com as meninas.
— Mãe, leva a Hope para dentro com vocês — disse Lorenzo.
— Lorenzo, por favor, eu quero ir para casa — disse, aproximando-
me dele.
— Isso é assunto de família, Hope — disse Lorenzo subindo as
mangas da camisa. — Só obedeça!
Minha sogra veio para mais perto de mim, aproximando-me do seu
corpo.
— Vamos, meu bem! — falou tranquilamente.
— Se alguém me atrapalhar, terá um convite para passar uma longa
temporada no rifugio — disse Lorenzo. Ele estava realmente bravo. —
Deixei essa sua mordomia de fazer o que bem entende ir longe demais. Vou
te ensinar a respeitar um Capo.
Não vi como a conversa terminou, pois já estava dentro de casa.
— Beba um pouco de água — disse Giulia me entregando um copo.
— Vamos subir, isso vai demorar muito — disse Emma.
Subimos e a Giulia me deu uma roupa sua.
— Isso acontece sempre? — perguntei.
Ainda estava nervosa. Leonel e a Ruth com certeza me culpariam.
— Na última, o Pietro quebrou a cara de um dos irmãos do Sr.
Diego. Você se acostuma — disse Emma. — Pelo menos, estão fazendo
algo juntos.
— Não vai dar problema depois
— Quem é louco de ir contra a vontade do Capo? — disse Giulia.
— Vai ficar tudo bem, eles vivem brigando de qualquer forma.
— Deixaremos você descansar um pouco — disse Dona Telma
saindo do quarto com as meninas.
Fiquei caminhando de um lado para o outro, querendo saber como
estava a situação lá em baixo.
As primeiras horas foram torturantes. Não consegui dormir, fiquei
encarando a porta, esperando o Lorenzo entrar. Ele estava diferente,
Lucy uma vez me disse que o Lorenzo não deixava a filha saber dos
assuntos da máfia e que ele e a Alessandra tinham um acordo de saírem
quando o outro estivesse, para que a filha não presenciasse as discussões.
Era o costume dele. Assim que pisava em casa, deixava de ser o Capo.
Todos sempre diziam que ele era calculista, sarcástico, que matava a
sangue frio, mas eu nunca vi esse lado dele, não que eu achasse ruim, ainda
bem, mas o fato dele conseguir se tornar outra pessoa quando estava
comigo mostrava que era diferente quando estava em casa. Hoje é a
primeira vez que eu o vejo assim, era estranho e ao mesmo tempo
assustador.
Estava pensativa nisso, até que o Lorenzo entrou no quarto, como se
nada tivesse acontecido.
Suas mãos estavam machucadas, mas ele parecia não se importar.
— Eu fiquei tão preocupada! — disse, correndo para abraçá-lo. —
Por favor, não faça mais isso de novo.
Não gostava dessas confusões entre a família dele. Tinha péssimas
lembranças de quando eu morava com o meu pai e isso me assustava muito.
— Está tremendo — disse Lorenzo. — Deixe de se preocupar, vai
fazer mal para o bebê.
— Estou bem, só estava preocupada.
— Vem! — Lorenzo me puxou para me deitar na cama. — Durma
um pouco e conversamos amanhã.
— E o Lucca? — Fiquei com medo de perguntar se ele o matou.
— O puto está no quarto ao lado.
Sério? Eles acabaram de brigar e agem como se nada aconteceu?
— Não faça mais isso, por favor!
— Não ia sair do controle, relaxa, conheço a minha família para
saber até onde eu posso ir.
Era fácil para ele dizer isso, quero ver convivendo com o Dante,
assistindo enquanto espancava as suas irmãs na sua frente.
Logo os irmãos do Lorenzo entraram, rindo de algo.
— Seu arrombado, acabou com a minha grama — disse Pietro. —
Desculpe o meu linguajar, bela ruiva.
— Batam na porta, seus arrombados! — falou Lorenzo a eles.
— Ruivinha, está mais calma? Seu marido quebrou a cara do Lucca
— disse Enrico e se virou para o Lorenzo. — Era para ter metido outras
pessoas na confusão, tem uns ali que eu estava louco para socar.
— Calem a porra da boca! — disse Lorenzo. — Andiamo, que são
vocês que vão limpar isso aqui, seus cuzões. — Apontou para sua mão.
Eles saíram do quarto e o Lorenzo veio até mim.
— Vou cuidar dos meus machucados, não saia daqui.
— Está bem mesmo?
— Claro!
Parecia que um peso saiu das costas do Lorenzo.
O que aconteceu lá embaixo?
Em seguida, ele saiu do quarto. Estava sem um pingo de vontade de
dormir e, com o tempo, encarei o teto, até que finalmente o sono veio.

Pela manhã, acordei com o sol no rosto.


— Vamos para casa! — disse Lorenzo.
— Vou dormir só mais 5 minutos — respondi sonolenta.
Agora que o meu sono estava ficando bom.
— Vamos, Hope! — disse Lorenzo dando um tapa de leve na minha
bunda.
— Você bateu na minha bunda?
— Sim, e eu vou bater mais se você não levantar.
— Lorenzo, eu estou no meu melhor sono — disse, virando-me para
o outro lado.
— Andiamo, ruiva! — falou, puxando o lençol. — Deixa de ser
preguiçosa, ragazza.
— Já estou de pé — disse, levantando-me da cama e querendo
voltar a me deitar.
— Chegar em casa você dorme.
Desci para falar com a Giulia e com o Pietro, encontrando com a
família toda na mesa, comendo como se nada tivesse acontecido ontem.
Será que eu estou tão traumatizada com a convivência com o meu pai que,
mesmo eles brigando, não consegui levar na brincadeira?
— Sente para comer — disse minha sogra a mim.
— Tenho que resolver umas coisas e já estou de saída — disse
Lorenzo.
Olhei para o Lucca, que estava com alguns machucados no rosto,
mas deu uma piscadela para mim. Revirei os olhos e o maldito sorriu.
Esse homem é louco!
Despedimo-nos e voltamos para casa.
Não via a hora de dormir.
Estava muito puto pela falta de informação que a minha esposa teve
comigo.
Essas duas semanas que se passaram depois desse acontecimento, eu
me isolei mais.
Tinha problemas a todo momento, uma suspeita de japoneses na
nossa área, tinha a festa de comemoração da nova aliança com os russos,
ainda para foder com tudo era o mês de morte da minha menina.
Mais um ano e eu não descobri o que a minha pequena sofreu.
Estava no escritório, indo para o meu quarto.
Quando eu entrei no quarto, indo para o banheiro, esbarrei com a
Hope.
Havia esquecido que hoje era o dia do clube do livro.
Não me importei e fui logo tratando de tirar a minha roupa.
Tomei o meu banho e voltei para o quarto. Encontrei a ruiva no
caminho, ela se despediu e saiu.
Me arrumei, pois hoje eu ia encontrar com o meu pai na boate.
Rubens voltou a trabalhar, mas ainda estava debilitado para fazer
alguns serviços, então eu estava de olho na nova segurança da boate.
Red e o Enzo fizeram algumas instalações para prevenir que o que
aconteceu não acontecesse mais.
Assim que eu terminei, saí de casa a caminho da boate.
Quando eu cheguei, já encontrei com o Rubens na entrada.
— Seu pai está lá em cima, Capo — informou.
Falei com ele um pouco sobre algumas mudanças na segurança e
subi.
— Isso é horas de chegar, Lorenzo? — perguntou meu pai já no meu
escritório, não muito contente com o meu atraso.
— Estava resolvendo umas coisas em casa — expliquei, me
aproximando da mesinha de bebidas. — O que quer?
— Nada, só vim ver o meu filho.
— Pai, diga logo, faz anos que não conversamos e o senhor... — Fui
interrompido e surpreendido pelo seu abraço.
No primeiro momento eu fiquei estagnado, só tentando processar
aquela demonstração de afeto que eu não recebia dele há muitos anos.
— Sua mãe disse que eu tinha que te confortar — falou, me
abraçando mais forte um pouco desconfortável sem saber o que fazer. —
Desculpe por não ter dito nada a você quando ela morreu.
— Não preciso disso agora, pai.
Tentei me soltar dele, mas ele não deixou.
— Deixe de ser orgulhoso, Lorenzo — declarou. — Sei que eu não
fui um bom pai e muito menos um bom marido. Posso não ter feito parte da
vida de nenhum dos meus filhos e sei que apesar de tudo somos uma
família. Mesmo sem nunca demonstrar nada a vocês, se eu perdesse um dos
meus filhos, eu também morreria por dentro. Agora terá um filho
novamente, não sei como está se sentindo com isso, mas a sua família está
aqui com você.
Nunca pensei que o Diego Ferraro um dia pediria desculpa por algo.
Aquilo de certa forma me acalmou.
Eu sei que eu e a minha família tínhamos o nossos problemas, mas
apesar de tudo, estávamos juntos de alguma forma.
A distância que tivemos nos últimos anos parecia que tinha os seus
dias contados.
— Está tudo bem, pai.
— O que eu faço é pensando em vocês desde que nasceram, posso
não saber colocar em palavras ou em gestos, mas vocês são os meus filhos e
a minha família — falou, saindo do abraço um pouco envergonhado. —
Amanhã terá uma reunião na casa do Leonel, trate de aparecer.
— O que ele quer?
— Não sei, mas pediu para que estivéssemos todos lá — respondeu.
Todos juntos novamente sem pessoas da famiglia, briga na certa.
Meu pai saiu e eu terminei de olhar o faturamento da boate com o
contador.
Eu precisava de uma bebida forte para ver se eu conseguia passar
essa semana embriagado.
Saí do escritório e fui para o andar de baixo.
Peguei uma bebida no bar e me sentei em uma das mesas de frente
para o palco aonde as mulheres dançavam.
Fiquei apenas ali sentado e bebendo, olhando para a garrafa de
bebida tentando parar de pensar um pouco nos problema.
Não nego que passei dos limites no álcool, já estava na segunda
garrafa.
— Finalmente te encontrei — disse Bianca se aproximando de mim.
— Estou ocupado — disse sem muita paciência, mostrando o meu
copo de bebida. Ela sabia que quando eu estava isolado assim, eu não
queria conversa com ninguém.
— Próxima semana é a data de morte ...
— Fica quieta, PORRA! — gritei.
Não queria que ninguém sentisse pena de mim.
— Lorenzo, eu só queria...
— Porra, ragazza, deixe de me importunar — disse ficando em pé,
saindo dali. — Caralho, acabou com o resto da minha noite.
Passei no bar pegando mais uma garrafa, estava sóbrio demais para
a semana de merda que eu teria.
Resolvi ir para casa e beber mais por lá.
Eu realmente não quero ninguém enchendo o meu saco com suas
falsas condolências.
Eu não lembro muito bem de como eu cheguei em casa, talvez
tivesse tido a ajuda dos meus seguranças.
Tinha uns relapsos de memória, mas nada que me ajudasse a
lembrar.
Bebi mais um pouco no escritório, ficando por lá o resto da noite.
Hoje eu não queria me lembrar mais de nada.

Em algum momento, eu parei no chuveiro. Não sei como, mas eu


estava lá junto com a Hope. No caso, ela estava me dando banho.
A água gelada caía sobre o meu corpo, enquanto eu tentava lidar
com a porra da ressaca que eu estava tendo naquele momento.
Apesar de já está consciente dos meus atos, ainda estava bêbado
demais para conseguir ficar em pé.
Hope pacientemente me empurrava para me molhar, logo desligando
o chuveiro depois de ter me dado banho.
Ele me enrolou na toalha, me ajudando a chegar no vaso sanitário,
me sentando no mesmo.
Sentia a minha cabeça rodar, me deixando ainda mais desnorteado.
A ruiva logo voltou, me ajudando a me vestir.
Fiquei desconfortável por está dependente dela e tão vulnerável.
Voltei para o quarto com a sua ajuda e ela desceu, me deixando
sozinho.
Me deitei na cama, mas o pensamento da Antonella veio na minha
cabeça.
O corpo dela na margem do lago, o seu rosto coberto de areia, a sua
pele pálida e sem vida, atormentavam a minha mente naquele momento.
Levantei rapidamente, indo para o seu quarto.
Eu precisava de alguma lembrança dela viva, se não eu vou
enlouquecer com a última lembrança que eu tenho dela morta nos meus
braços.
Assim que eu cheguei na porta do quarto, não consegui entrar.
O aperto em meu peito olhando aquele quarto escuro que antes era o
meu refúgio para não sentir a sua morte, estava perdendo o poder sobre
mim de me fazer esquecer da minha dor, nem que seja por alguns segundos.
Não conseguia mais me enganar em sentir o seu cheiro e fingir que
nada disso aconteceu.
O meu refúgio estava se tornando a minha prisão.
Me sentei de frente para a porta, desesperado por não ter mais para
onde me esconder daquela dor.
Como eu queria ela aqui.
Depois que ela morreu, eu fiquei pensativo sobre a vida.
Foi quando eu percebi que estar vivo era diferente de viver.
O meu fim em algum momento teve um começo, mas o meu fim
naquele instante era o começo do fim da minha dor.
E foi assim que eu me matei. Achei que eu morreria em uma guerra
com os meus inimigos, mas foi muito pior, morri a morte mais dolorosa que
um ser humano poderia sofrer, a morte de si mesmo.
Era uma dor indescritível, uma sensação de angústia.
A morte se tornou mais bonita, mas apreciável, uma boa forma de
cura para um coração ferido.
Entretanto, estar vivo era o meu castigo, eu tinha que sentir tudo
isso para que eu sinta o que ela sentiu em morte.
Eu tentei viver, mas eu já estava morto.
— Lorenzo... — escutei a Hope falar próximo a mim, me tirando
dos meus pensamentos. — Vamos voltar para o quarto.
Eu só sabia olhá-la sem conseguir ter ânimo para lhe responder.
Foi quando a Hope me abraçou.
Fiquei apenas parado sentindo a sua mão nas minhas costas, fazendo
movimentos leves de carinho, me trazendo um pouco de conforto.
Hoje parece que foi o dia de todos me abraçarem.
Hope me consolava com as suas palavras, talvez tentando me passar
mais conforto, para que a minha dor fosse nem que seja um pouco
amenizada
Eu temia esquecer da minha filha, de como eu a amava.
Eu tinha medo de esquecê-la, assim como estava acontecendo.
Não lembrava mais de nada, forçava a minha memória e vinha nada,
como se eu estivesse realmente a esquecendo.
Eu a amo tanto, não queria esquecer as lembranças que me
mantinham vivo.
Hope parecia compreender a minha dor, pela convivência ou por
tudo que já escutou do meu passado pelas pessoas, mas suas palavras me
trouxeram um conforto sem igual. Talvez pela sua doçura, por sua calma
que transpareciam em seus olhos.
Não respondi nada, apenas senti seu abraço quente.
Depois de um tempo, ela me ajudou a me levantar, me levando para
o nosso quarto.
Me sentei na cama de novo e comi uma sopa que ela fez para mim.
Não dissemos mais nada e voltamos a nos deitar.
Depois de um tempo, vi que a ruiva já havia adormecido.
Me aproximei mais dela, a trazendo para perto de mim.
Gostava de sentir ela assim pertinho de mim.
Ela tinha um poder de me acalmar e me tranquilizar que eu não sei
de onde ela tirava isso.
Toda aquela dor saiu de mim depois de suas palavras, poderia ser
apenas por alguns minutos, mas foram os minutos de paz que eu não sentia
em 4 anos.

Acordei, me mexendo um pouco.


Notei que a ruiva estava com a cabeça em cima do meu peito.
Antes de cogitar não acordá-la, ela se mexeu, coçando os olhos.
— Te acordei? — perguntei, me sentando na cama.
— Ah, não!
Lembrei do que fiz ontem e não gostei muito.
Ontem eu mostrei tudo o que eu escondia dentro de mim para ela
sem eu querer.
Hoje eu estava me sentindo vulnerável e sabia que provavelmente
ela não esqueceria do que aconteceu.
Ela é muito bondosa e não deixaria que eu sentisse e guardasse
aquilo dentro de mim novamente.
— Sobre ontem... — disse e ela me interrompeu.
— Não aconteceu nada e eu não lembro de nada.
— Ótimo! — disse. Não queria passar por ingrato, mas isso era
novo para mim. — Obrigado por ter cuidado de mim e pelas palavras de
ontem.
— Não sei do que está falando.
Uma das coisas que eu não via muito dela era o seu lado brincalhão.
Não que eu também desse liberdade para que ela pudesse ser mais alegre
estando comigo, então não poderia reclamar disso.
Lembrei que íamos hoje para casa do meu tio e a avisei.
Entrei no banheiro, estranhando algo faltando na pia.
Fui atrás do algodão e vi que não estava mais ali. Olhei na lixeira e
lá estava a vidraça toda quebrada.
— Você quebrou a caixinha do algodão? — perguntei elevando o
tom de voz para que ela escutasse, já que ela estava no quarto.
— Na verdade, foi você — respondeu, entrando no banheiro. — Só
tome cuidado que eu não limpei muito bem ontem, já que você não
conseguia se manter de pé.
Ela começou a se agachar para limpar e aquilo me incomodou.
Ela sabe que não pode fazer esforço. A médica repetiu isso várias
vezes.
— O que... — Tentou argumentar algo quando eu a levantei, a
colocando encima da pia.
— Cuidado para não se machucar — disse me agachando para
limpar o resto do vidro que estava no chão. — Ainda se agacha colocando o
peso na barriga, podendo machucar o nosso filho — murmurei.
Resmungava enquanto olhava o chão para achar os cacos que
faltavam.
A segurei nos braços, a levando para o box, para que ela tomasse
banho enquanto eu ia atrás da Lucy para limpar isso daqui.
— Lucy, ontem à noite eu quebrei algo no banheiro, você está
ocupada agora para limpar? — indaguei, quando eu cheguei na cozinha.
— Não, já estou indo limpar.
Meu celular tocou, logo olhei no visor que era o meu pai.
— Oi, pai!
— Liguei para avisar para você não esquecer do compromisso na
casa do Leonel.
— Eu sei, já estou me arrumando para ir — disse. — Vou desligar
que eu tenho que me arrumar.
Só precisava de um empurrãozinho para a gente se falar novamente.
Quem diria que um abraço iria fazer a nossa relação melhorar novamente.
A ruiva saiu do banheiro e eu fui logo tomar banho.
Retornei para o quarto quando a Hope saiu do banho.
Resolvi logo tomar banho, já que a Lucy havia terminado de limpar.
Quando eu terminei, fui para o closet encontrando a Hope ainda de
toalha.
— Ainda não se trocou? — estranhei.
— Meus sutiãs não me servem mais.
— Seus seios estão bem maiores — disse. Era algo perceptível isso
nessas últimas semanas. — Pedirei para a Suzi providenciar sutiãs maiores
para você.

Estávamos a caminho da mansão do Leonel, quando a ruiva


começou a se mexer ao meu lado.
— Thony, você pode encostar? — pediu.
— Quer vomitar? — perguntei e ela confirmou.
Ela parecia que se incomodava em ficar assim, não pelo desconforto
do enjoo, mas como se eu fosse brigar ou achar ruim.
Deve ser pela convivência com o pai, sei lá.
Não julgo quando ela fica assim, deve ser foda ficar enjoada o
tempo inteiro.
— Não da para parar aqui, vou ver se consigo parar na próxima
esquina — disse Thony.
— Oh, céus! — Reclamou.
Ela estava mal mesmo.
Tirou o cinto e ficou com a cabeça um pouco abaixada.
Perguntei se ela queria água e ela logo aceitou.
Thony parou o carro na calçada em frente a uma loja de flores que
por sorte era da minha mãe. Saí primeiro para ajudá-la, mas a ruiva foi mais
rápida, correu até a loja e tratei logo de tentar acompanhá-la.
Assim que eu entro na loja, vejo a atendente.
— Está atrás da sua esposa, senhor? — perguntou e eu assenti. —
Ela entrou agora no banheiro.
Não sei se ela poderia querer minha ajuda, mas do jeito que ela
estava, não duvidaria de está querendo ficar sozinha.
— Os primeiros meses são os piores — disse uma senhora. —
Quando eu engravidei do meu primeiro filho, passei os 9 meses presa em
frente a um vaso sanitário, enjoava até de água. Claro que foi porque eu tive
uns problemas na gestação. É só ter cuidado. Não tomar sustos, não comer
o que não deve, ter cuidado para não se machucar, que o enjoo não será tão
importante como essas outras coisas.
Resolvi esperar a ruiva em frente ao banheiro, quando eu menos
esperei, a porta foi aberta.
Hope já havia tirado toda a sua maquiagem, sorte a dela que eu não
me importava com isso, preferia ela assim mesmo, mas conhecendo muitos
dos homens ao meu redor, ela seria castigada por esse simples motivo.
— Está melhor? — perguntei, já sabendo do óbvio.
— Eu pareço está melhor? — Não parecia não, mas não diria isso a
ela. — Sinto como se tivesse sido atropelada por um caminhão.
Gostava das suas comparações.
— Andiamo! — disse colocando o meu braço ao redor da sua
cintura para ajudá-la a chegar no carro.
Não demoramos para chegar na mansão do Leonel.
— Vi umas sacolas encima do sofá do quarto — disse quando
caminhávamos para dentro da casa. Lembrei que eu vi antes de sair de casa
hoje cedo. — Quem deu aqueles presentes?
— O urso foi a sua mãe, a manta foi a Emma e o sapatinho foi a
Giulia. Havia esquecido de te mostrar.
— Capo! — disse Leonel se aproximando. — Senhora Ferraro! —
Sorriu para a Hope.
Tratei logo de sentar, conhecendo essa família, enrolariam para falar.
— Vamos beber algo, antes de começar — disse Leonel.
— Deixe de enrolar, Leonel — disse meu pai que estava tão
impaciente quanto eu.
— Diego, você herdou toda a impaciência do nosso pai — falou
Leonel.
— É porque diferente de você, eu não tenho o privilégio de ficar
perdendo o meu tempo, seu puto desgraçado — respondeu.
As reuniões sempre davam na mesma, alguém sendo surrado.
Essa reunião me trará dor de cabeça.
A ruiva se aproximou de mim, percebi que ela já estava ficando
assustada.
— Tampe os ouvidos — disse a ela notando que a briga deles ia se
estender. — FIQUEM QUIETOS, SEUS PUTOS!
Que inferno, nem aqui teria sossego de briga.
Leonel não gostou muito, mas não sei para quê tanta demora.
— Já que não tem paciência, vou continuar — disse Leonel. —
Como vocês devem se lembrar, fui eu quem educou vocês três quando eram
pequenos, já que o Diego era o Capo na época e estava em uma missão.
Vejo que os seus filhos precisam de alguém mais firme para educá-los,
principalmente com todo os ataques que tem e os que vão ter. Eu preparei
vocês bem para lidar com isso e quero preparar os filhos de vocês também,
porque sei que vocês não tem tempo para prepará-los para a máfia. Me
proponho a isso, visando que logo o herdeiro do nosso líder nascerá,
precisará ser moldado conforme seja o melhor para todos nós da famiglia e
para sua segurança.
Nem fodendo!
Não sei que merda Leonel tem na cabeça em achar que eu e os meus
irmãos aceitaríamos isso.
Todos nós fomos criados por ele em uma época tão fodida para
todos nós.
Enrico o que mais sofreu, achando que foi renegado.
Não tinha mais a confiança de deixar um filho meu longe de mim e
sei que os meus irmãos não aceitariam isso depois do que aconteceu com a
minha filha.
Percebi que a ruiva também não gostou, pois segurou a minha mão,
com um semblante apavorado.
— Está me machucando — disse.
— Me desculpe... — Ela se desculpou e antes que eu pudesse falar
mais alguma coisa, Lucca pegou o abajur e jogou no chão, fazendo um
barulho estrondoso. Ela se aproximou mais de mim por conta do susto.
— Que inferno! — disse me colocando de pé. Hope ficou bem atrás
de mim só por via das dúvidas. — Se for brigarem, só me avisem porque
não quero sujar o meu terno, mas vou logo avisando, se começarem uma
briga, eu termino ela matando vocês.
— É, parece que é cada um por si mesmo. — disse Lucca e aquilo
me incomodou.
Leonel tentou falar algo, mas não deixei.
— Não quero saber! — disse. — Você não chegará perto do meu
filho ou dos meus sobrinhos. Não quero saber que porra você pensa nessa
sua cabeça em achar que eu fosse concordar com isso, principalmente
depois de tudo que aconteceu. A porra deste assunto foi encerrado agora!
Segurei na mão da minha esposa e saímos dali.
Quando estávamos nos aproximando do carro, ela pediu para parar.
— Está passando mal? — perguntei.
— Ah, não, só espere eu me acalmar do susto de lá de dentro —
respondeu.
Depois de uns minutos, ela parecia mais calma. Deve ser esse
negócio dos hormônios, sei lá. A irmã dela parece outra pessoa quando está
grávida.
Lisa sempre é bem calada na minha frente quando estou na sua casa,
mas quando ela ficou grávida do Nando, ela era puro ódio, sanguinária com
sangue nos olhos, vivendo a base da raiva.
Isso era o que eu via aquele tempo.
Quase cogitei de não andar lá até o Nando nascer, pois estava
começando a ter um certo receio de estar no mesmo ambiente que ela.
— Está melhor? — perguntei e ela assentiu.
Entramos no carro e voltamos para casa.
Alguns dias se passaram desde a visita na casa do meu tio. O dia que
eu mais evito durante o ano é hoje, e estava sóbrio demais para passar essa
data lúcido.
4 anos sem a minha filha.
4 anos da culpa que me corrói.
Com apenas um descuido meu, minha filha pagou o preço dessa
vida que eu levo. Mesmo todos achando que foi apenas uma fatalidade, que
não foi nenhum atentado contra mim, sei que não foi bem assim. Desde a
última invasão da minha casa e desses homens indo atrás da caixinha
marrom, sei que a Antonella viu aquilo em minhas mãos e por pura
inocência, deve ter comentado a alguém sem querer. Ela pagou o preço por
uma irresponsabilidade minha, e ninguém vai conseguir tirar isso da minha
cabeça. Sei que eu sou bem rígido com a segurança da Hope, mas não posso
mas ter descuidos aqui dentro. Mesmo que eu tenha que prendê-la em casa,
sem sair ou ter contato com mais ninguém além de mim, eu a manterei a
salva, ela e o meu filho.
Posso não amá-la, mas prometi nos votos de casamento que a
protegeria de quem lhe fizesse mal. E isso eu já estou começando a resolver,
principalmente em relação ao seu tio.
Começamos a investigar mais sobre ele e sempre dava em nada.
Então pensei comigo mesmo, ele pode ter feito isso com mais alguém. Não
acredito que ele tenha tomado esse desejo por tortura com crianças por
apenas prazer ou fetiches de uma noite.
Pedi que o Red investigasse alguns caso fora da nossa máfia sobre o
padrão que ele tinha. Pode demorar dias ou até semanas, mas descobrirei
mais. Não só pela minha esposa ou cunhada, mas por ter que proteger
minha famiglia de pessoas como ele. Se tem leis, é para serem obedecidas.
Estava no rifugio, tentando me isolar de todos hoje, já que eu queria
ficar sozinho.
Eu já não tenho um temperamento bom, agora, em uma dia como
hoje, é loucura se aproximar de mim. Talvez isso seja uma coisa boa em
mim, reconhecer e me esconder de todos quando estou assim.
— Não acha que está exagerando no álcool? — disse Lucy deixando
um café na minha mesa.
— Eu ainda estou sóbrio.
— Te conhecendo, falta pouco para perder a noção das coisas.
— Lucy, eu só quero ficar sozinho.
Assim que ela saiu, escutei a voz da Alessandra lá fora.
Bebi um pouco, sentindo já a minha cabeça doer.
Alessandra estava aqui, tentando falar comigo. Sei que ela quer falar
sobre o dia de hoje, então a evitarei ao máximo
— Senhor, a senhorita Alessandra disse que iria na sua casa, se não
a deixasse entrar — disse um dos seguranças entrando no meu escritório.
Tinha tantos problemas para lidar hoje, fora a maldita festa que
daríamos para os russos por conta da nossa união, e tenho que ainda lidar
com a Alessandra.
Só me faltava ela brigar com a Hope.
— Deixa ela entrar. — Não demorou para a loira aparecer. — O que
quer, Alessandra?
O que eu quero? Fui visitar o túmulo da minha filha e não me
deixaram entrar.
Ela foi visitar? Sabia que a Alessandra às vezes deixava umas flores
no túmulo da Antonella, mas não imaginei que, no dia de hoje, ela quisesse
ir, era pior quando olhava aquele túmulo com o seu nome.
— Pedi para que ninguém entrasse lá hoje.
Sempre que fazia mais um ano, muitos da famiglia iam lá e
prestavam suas condolências a mim e a minha família. Deixavam flores e
mensagens positivas, mas, no ano passado, tivemos um caso de uma
mensagem escrita no túmulo: "Ela mereceu o que teve."
Dias em claro tentando saber quem foi o filho da puta que escreveu
aquilo. Achei o maldito, mas ele era bem treinado, não disse uma palavra
nos últimos cinco meses que ficou no depósito. Até que um dia teve uma
invasão e o mataram. Muitos disseram que foi só uma coincidência ter
matado logo ele, mas sei que tentaram silenciar o informante que tinham.
— Mas é minha filha e eu quero ir lá.
— Olhe, Alessandra, eu estou tentando me manter calmo hoje, então
saia daqui e depois eu decido se deixo você ir lá hoje. Já tenho
preocupações demais, Hope mal ficou grávida e já quase a mataram uns
dias atrás.
— Então terá outro filho? Parabéns! Agora posso ir ver a minha
filha?
— Não me faça repetir novamente, Alessandra.
Ela tentou argumentar, mas, pela minha cara, saiu dali puta da vida.
Alessandra não foi uma boa mãe e sei que ela se culpa por isso. Da mesma
forma que eu me culpo pela minha ausência na vida da minha filha.
— Libere apenas a entrada da Alessandra no cemitério — disse para
o segurança. — Fique de olho em quem entrar lá.
— Sim, senhor!
Ele saiu e eu fui terminar a minha bebida. Ia sair para comer algo
em casa, assim que fiquei em pé, me sentei rapidamente, sentindo-me tonto.
Que inferno!
Esperei melhorar e saí segurando em todo lugar para não cair.
Costumo beber, mas hoje, o álcool me pegou de jeito. Assim que saí do
rifugio, fiquei surpreso quando vi a ruiva abraçando Alessandra. Via tudo
embaçado, mas eu sabia que eram elas duas. Alessandra chorava bastante,
já que eu escutava o seu choro. Red estava um pouco distante, observando
aquilo igual a mim.
Era foda olhar para a Alessandra assim, porque a Antonella era
muito parecida com ela e cada ação que a Alessandra fazia, me lembrava a
minha filha.
Parei de observá-las e fui até a cozinha. Resolvi não comer, peguei
uma boa bebida e comecei a beber, pelo contrário, bebi ainda mais. O álcool
ajudava a me tirar dos meus pensamentos dolorosos. Tudo girava, mas não
parei de beber. Forçava os olhos para não fechá-los e acabar caindo ali. Até
que tudo virou um apagão. Não lembrei do que aconteceu em seguida, até
ouvir o grito de Hope.
Porra!
— LORENZO! — Hope me empurrou com uma força que eu não
sei de onde ela tirou.
Que porra aconteceu?
Meus olhos doíam só de estarem abertos. Sentia uma puta dor na
minha cabeça sem conseguir nem falar. Os relapsos de memória vieram na
minha mente, deixando-me mais zonzo.
Eu costumo beber, que caralho aconteceu?
Porra!
Aproximei-me dela para ver se eu a machuquei e ela se encolheu no
canto, como se eu fosse bater nela.
Parei no meio do caminho, olhando o quanto ela estava assustada
com a minha aproximação. Então segurei na parede, sentindo minha cabeça
rodar. A ruiva abriu os olhos lentamente, tentando entender o porquê de eu
ter parado.
Sua respiração estava ofegante e o seu semblante assustado me
incomodou por ela achar que eu tocaria nela.
Eu não conseguia dizer ou falar nada.
Quando eu menos imaginei, Hope saiu da cozinha correndo para as
escadas.
Eu iria atrás dela?
— O que aconteceu? — perguntou Lucy assim que entrou na
cozinha. — Escutei a Hope gritar.
Um sussurro era como se estivessem gritando dentro da minha
cabeça.
Coloquei as mãos no meu ouvido, tentando silenciar o maldito
zumbido.
— Lorenzo?
— Vai atrás dela e veja se ela está bem — disse, sentando-me na
cadeira e me sentindo ainda pior.
— Lorenzo...
— Lú, por favor, obedeça!
Lucy saiu da cozinha, indo atrás da Hope.
Eu só faço besteira, por isso queria ficar sozinho hoje.
Abaixei a cabeça, tentando entender o que estava acontecendo.
Fiquei em pé, me segurando nas paredes enquanto tentava chegar do
lado de fora.
— Thony, me leve para a boate — pedi assim quer me aproximei do
carro.
Fui para boate, terminar de encher a minha cara, se era para ficar
pior, eu preferia, mas bem longe daqui. Não ia conseguir passar esse dia
consciente. Assim que eu cheguei lá, peguei uma garrafa no bar. Então,
sentei em um dos sofás, com a vista para o palco enquanto algumas stripper
dançavam.
Foi quando meu celular vibrou, logo vi que era o Enzo.
— Onde você está?
— Na boate, como se não soubesse — embaralhei as palavras, sem
conseguir falar direito, e ele desligou a ligação.
Fiquei praticamente jogado no sofá, sentindo cada vez pior.
— Está querendo se divertir, Capo? — disse uma loira peituda se
aproximando de mim. — Se quiser, eu posso ajudar.
— Saia daí, ele não precisa de putas — disse Beatrice. Havia uns
dias que eu não a via. Que caralhos ela fazia na boate? — Está tudo bem?
— perguntou, tocando em meu rosto.
A loira logo saiu, já que a Beatrice a empurrou para longe.
— Estou! — disse, tirando a sua mão do meu rosto, sem ter forças
para levantar e sair dali. — O que está fazendo aqui?
— É assim que você fala uma amiga? — disse Beatrice, cheia de
malícia. Ela não era a garota tímida que eu conheci na adolescência. Ela não
esperou eu dizer nada e se sentou no meu colo, se aproveitando de mim. —
Soube que estava aqui e vim ver você.
Meu pau logo deu sinal de vida com aquela aproximação toda.
Eu estava bêbado demais para pensar.
— O que acha que está fazendo? — perguntei quando ela começou a
rebolar lentamente.
Ela me encarou com um olhar provocativo, tentando me seduzir
com aquilo.
— Estou aproveitando o que eu perdi durante esses anos —
respondeu, dando beijos no meu pescoço. — Não sentiu falta de mim?
— Beatrice, não sei que porra você acha que a gente tem, mas isso
não existe — disse. Já estava me livrando da Bianca, agora tinha ela, puta
merda. — Você é gostosa, vai procurar outros. Se acha que vai me
conquistar trepando comigo, está muito iludida.
— Me dê uma chance de te mostrar que eu serei melhor que
qualquer outra — sussurrou no meu ouvido, dando uma mordiscada em
seguida. — Sua esposa não parece ser do tipo que faz tudo em quatro
paredes.
Era verdade, Hope podia ser bem tímida em relação a isso, mas não
sei que caralho ela faz que tudo com ela era prazeroso ao extremo.
Aqueles olhos, aquela boca, aquele corpo... ela era a pura perdição.
Nunca realizei nenhum dos meus fetiches com ela, porque nunca foi
necessário fazer algo a mais para que eu atingisse o meu ápice ou ficasse
sedento por ela.
A ruiva mexia comigo, mesmo sem eu querer aceitar. Sua inocência
atiçava o desejo em mim
— O que eu e a minha esposa fazemos não é da sua conta — disse,
jogando-a para o outro lado do sofá. — Agora pare de tentar algo, que eu já
estou ficando de saco cheio. Eu tenho que ir, terá uma festa no quartel.
Ela ajeitou o vestido, se endireitando no sofá.
— Lorenzo... — Quando ela veio para perto de mim, foi quando o
Enzo apareceu.
— Levem ela para o quartel, não é para ficar andando por aí, porra!
— falou Enzo para os seguranças que logo arrastaram ela sem esperá-la
ficar de pé. Ele veio até mim, colocando o meu braço por trás do seu
pescoço. — Você está péssimo!
Enzo me ajudou a chegar no meu escritório, colocando-me no
banheiro e me dando banho ainda vestido.
— Você não está sozinho, caralho, não precisa sofrer calado — disse
Enzo.
Ele pegou o meu terno reserva que ficava no escritório, e eu já
estava lúcido para me vestir ao menos sozinho.
— Está melhor?
— Preciso dormir por algumas horas — disse.
— Durma, eu fico aqui esperando você acordar.
Me deitei no sofá, olhando o meu relógio. Eu tinha quatro horas até
a festa que teria a noite.
— Não quer me drogar para que eu durma mais rápido? — pergunto
rindo.
— Parecesse que já está. Que porra você bebeu?
— O de sempre, talvez eu só tenha bebido de menos, é uma
possibilidade.
— Vai se foder! Dorme logo.
Fechei os olhos, sentindo um peso na minha cabeça, como se tivesse
um carro por cima dela.
Me ajeitei no minúsculo sofá, escutando o Enzo digitar no celular
enquanto me vigiava.
— Não preste atenção no que eu estou escrevendo — falou.
— “Lisa, estou bem, parei para colocar juízo na cabeça do
arrombado do Lorenzo, volto a noite”.
— Como descobriu isso? — perguntou surpreso.
— Você é previsível — disse.
— Cala a boca e vai dormir!

Achei que demoraria a dormir, mas como tudo hoje estava sendo
apenas relapsos de memória, eu apaguei.

Acordei com o Enzo me chamando.


Me sentei no sofá, tentando raciocinar.
Eu literalmente só fechei os olhos, como passou tão rápido?
— Se sente melhor? — perguntou.
— Sinto que fui drogado, chutado e espancado por dias, isso
responde a sua pergunta?
— Certamente.
Apenas ajeitei o meu terno e saí para buscar a minha esposa
Ele me deixou em casa, já que eu ainda não estava com condições
para dirigir.
Passei o percurso inteiro me martirizando pelo meu ato de mais cedo
com ela.
Nem sabia que eu tinha consciência, mas sei que ela está bem
pesada hoje. Isso estava me causando uma bela culpa.
Que caralho!
Assim eu entrei em casa, já encontrei com ela no sofá.
Iríamos com o Thony dirigindo, já que eu estava ainda mal.
— Andiamo! — disse assim que eu entrei na sala. A ruiva estava
deitada no sofá, obviamente cansada de tanto me esperar.
— Estou indo.
Ela se sentou no sofá, calçando o salto. Observava o fato dela
conseguir ser perfeita até calçando uma sandália, então, consegui ver a
marca que eu mesmo causei em seu pescoço.
Que merda que eu fiz?
— Preste atenção, pois eu só vou falar uma única vez — disse quase
em um sussurro. — Não sei como faz isso, já que eu nunca precisei fazer
isso em toda a minha vida. — Respirei fundo, me sentindo estranho por
tentar proferir essas palavras. — Me desculpe por hoje cedo, isso não irá se
repetir.
A surpresa em seu rosto foi evidente.
Eu sei reconhecer quando eu erro, dificilmente acontece por eu ser
bom em tudo, mas eu consigo notar e mudar.
— Está doendo? — perguntei, passando o polegar na região que
ainda estava avermelhada. Ela negou e logo caminhamos para o carro sem
muita brecha para uma conversa.
Palavras não foram ditas até o percurso do quartel.
Assim que chegamos, nos sentamos em uma das mesas. Não daria
muita conversa para os russos. Só quero ver quanto tempo essa paz entre
nós durará. Não tinha como não lembrar do dia de hoje, já que, só a olhar
para minha família com o semblante triste, tudo voltava.
Queria sair dali, chorar e encher a cara até perder a consciência.
Talvez assim essa dor diminuiria pelo menos um pouco.
— Olha quem está querendo aparecer — disse Giulia passando a
mão pelo pequeno volume que tinha na barriga da Hope.
Nosso filho já estava crescendo. Daqui uns dias, seria mais evidente.
As minhas cunhadas bajulavam a Hope e o bebê, mas logo parou quando o
líder russo subiu no palco. Nicolai Petrov agradecia a união das máfias e a
paz que estava sendo selada entre nós. Eu conseguia entender o que ele
dizia, mas, ainda sim, o seu idioma era bem complicado. Por que eu fui
inventar de fugir das aulas de russo que Leonel dava? Agora eu me fodia
para ter que conversar sem nenhum problema com ele
— Posso dar uma volta por aqui? — perguntou a ruiva próximo ao
meu ouvido.
Senti um certo interesse no seu pedido.
— Está se sentindo mal?
— Estou bem, eu só queria dar uma volta.
— Diga o real motivo do que irá fazer.
— Eu ia ali na Alessandra.
— Desde quando se tornaram amigas? — Não que eu me
interessasse em saber, mas, desde quando essa amizade delas surgiu?
Aquilo era totalmente novo para mim. Dependendo da Hope nem tanto, mas
pela Alessandra, era algo surreal.
Hope deveria ser considerada uma santa por ter que lidar com o meu
temperamento e com o péssimo humor da Alessandra.
Ela foi e os meus seguranças a acompanharam. Não pude ter um
segundo de paz, pois Beatrice se aproximou.
Ainda bem que eu estava sem a minha arma agora, porque senão, eu
descarregaria o pente garganta a baixo.
— Podemos terminar a nossa conversa? — perguntou.
— Porra, eu não quero me estressar hoje, mas está foda. O dia está
uma merda para ter que ficar conversando com você. O não de hoje, o não
da semana passada e o não que eu vou te dar agora não te mostra que eu não
quero nada com você, caralho?
— Lorenzo, só avalie as coisas boas que eu te darei se me escolher
— disse Beatrice se sentando ao meu lado, tentando argumentar algo que eu
sinceramente não entendia tamanha possessão por mim. Eu sou apenas rico,
líder de uma organização mafiosa, bonito e principalmente, humilde.
Esquece, agora entendo ela. — Preste atenção, a gente se gostava na
adolescência ...
— Isso já passou, porra! Deixe de ficar presa no passado. Eu não
sou o mesmo cara de 1 mês atrás, quem dirá o rapaz que conheceu na
adolescência. Está dando no saco essa sua perseguição. Que porra deu em
você? Eu já estou saturado em te ver e ter essa mesma conversa, você não
se cansa disso?
— Eu quero tentar com você, Lorenzo. — Tentou colocar a mão
sobre a minha, mas eu tirei.
Quando eu dei um fim na relação que tínhamos, foi difícil para
caralho. Desde nova, a Beatrice sempre vivia sendo a minha sombra.
Sinceramente, hoje em dia, eu não vejo o que me fez ter interesse nela
quando eu era jovem.
— Você irá se arrepender de me conhecer melhor, Beatrice. Acha
que eu sou uma pessoa boa? Está enganada.
— Eu te amo! — disse Beatrice.
Não fode!
Isso vai me dar uma dor de cabeça do caralho depois.
Antes de dizer algo, Alessandra chegou acompanhada da Hope.
— Estou atrapalhando? — perguntou Alessandra.
— Sim, está! — respondeu Beatrice.
— Lorenzo, eu queria conversar com você. — Beatrice fez bico, me
olhando manhosa.
— Nem eu me humilharia tanto, vadia imunda — disse Alessandra.
— Lorenzo...
— Eu estou conversando, Alessandra, se for sobre hoje cedo, não
quero mais falar desse assunto.
— A Hope passou mal comigo e eu só vim trazê-la aqui. Não quero
falar com você, só vim ajudá-la.
Meu olhar foi para a ruiva, que ficou calada o tempo inteiro.
— Está se sentindo bem? — Levantei, aproximando-me dela.
— Eu estou bem... — respondeu, logo gemendo de dor.
— Onde está doendo? — perguntei, olhando todo o seu corpo
tentando entender de onde a dor vinha.
— Estou bem, foi só um mal-estar — respondeu nervosa.
— Não disse que se sentisse mal me avisasse — disse a ela.
— E ela veio Lorenzo — Alessandra a defendeu. Isso é estranho. —
Se eu fosse você, a levava para casa, talvez isso aconteceu porque ela disse
que teve fortes emoções pela manhã, e não é bom isso acontecer na
gravidez.
Isso era culpa minha?
Não colocaria a vida do meu filho em risco, então fui até a mesa do
Nicolai para avisá-lo que eu ia embora
— Estou indo embora, a minha esposa não está se sentindo bem —
disse em um russo.
Ele cochichou algo para um senhor do seu lado. O filha da puta sabe
italiano, porque eu já o vi conversando com o Leonel, mas, comigo, ele
ficava falando em russo só para me testar.
— Tudo bem! Vamos marcar um jantar para falar sobre um dos
homens que eu vou mandar ajudar vocês por um tempo.
— Fale com o Carbone, ele já está sabendo disso — avisei.
Saí dali, voltando para a minha mesa.
— Vamos para casa! — disse, segurando na cintura da minha esposa
e levando-a até o estacionamento.
— Lorenzo... — Beatrice me chamou.
— Depois conversamos — disse sem dar muita atenção.
Assim que chegamos no carro, ajudei-a a entrar, logo falando com o
Thony.
— Thony, vamos para o hospital.
— O quê? Lorenzo, foi só uma tontura devido a minha pressão
baixa e os enjoos. Não sinto dor e não estou mais tonta, só estou cansada.
— Se sentir nem que seja uma dor na unha, me avise. — Encarei a
ruiva seriamente.
— Certo!
Assim que chegamos em casa, fui direto para cozinha e a Hope para
o quarto. Ela não havia comido nada, então resolvi fazer um jantar para ela.
Nem eu acreditava que estava fazendo aquilo. Nunca imaginei
cozinhar para ela ou para alguma mulher. Logo liguei pedindo que ela
descesse.
— Você está cozinhando? — perguntou quando chegou na cozinha.
— Sì, a Lú está dormindo e não quis acordá-la.
A ruiva logo se sentou, esperando o jantar ficar pronto.
— Você é alérgica a alguns desses ingredientes? — perguntei, ainda
encarando a panela à minha frente. Sabia que ela e a Lucy deveriam viver
aqui, mas quis tirar a minha dúvida. Como não tive resposta, me virei para
ver se ela ainda estava aqui. Me peguei de surpresa quando eu a vi aérea,
massageando o pequeno volume que havia na barriga.
Chamei mais umas três vezes, até que ela voltou a si.
— Me desculpe, estava meio aérea. — Ela viu que eu a encarava o
que ela fazia com as mãos. — Quer tocar? Não tem muita diferença de
antes para agora, mas me acalma fazer carinho nela e em saber que tem
alguém crescendo aqui dentro.
— Já dá para notar o volume nela — disse um pouco tímido. Não
sabia como agir em ver o nosso filho crescendo aos poucos dentro dela.
Já que não obteve respostas minhas. Ela se aproximou de mim,
pegando a minha mão e a colocando em sua barriga.
— Quando crescer mais, podemos até sentir o bebê chutar, mas, por
agora, é só isso.
Ela me estimulava a fazer movimentos na sua barriga, foi quando
comecei a massagear por conta própria.
Daqui uns meses já o teria em meus braços. Meu filho ou filha,
estaria conosco para a minha felicidade, mas não durou muito, quando o
meu celular tocou.
— Tenho que atender. Coma e volte para o quarto, não fique
perambulando pela casa sozinha.
Subi para o escritório para atender a ligação.
— Oi, Joshua! — disse assim que atendi.
— Senhor, descobri quem está passando informações para os
japoneses.
— Quem é o maldito?
Eles estavam na nossa área, passando por pontos estratégicos que só
os meus homens sabiam.
Viviam rodando as proximidades à procura de algo.
— O seu sogro.
Que porra era aquela?
Dante estava no meio daquilo?
Josh me explicou algumas coisas, mas a raiva de pegar o carro e
matar Dante me dominava.
— Tenho que juntar mais provas para mostrar a liderança.
— Quando tiver todas elas, me avise, eu mesmo vou punir o Dante.
— Pode deixar!
— Está precisando de algo?
— Não, eu estou bem!
— Tem certeza?
— Sim, eu estou bem.
— Qualquer coisa me ligue — disse, desligando a ligação.
Será que teria problemas com a minha esposa depois que eu matar
o pai dela?
Fiquei no escritório, olhando algumas fotos da Antonella que eu
havia guardado lá.
— Espero que você não tenha sofrido quando morreu — dizia,
olhando a sua foto. — Uma morte rápida e sem dor. Não quero pensar em
imaginar o seu desespero tentando lutar pela sua vida. Desculpa o pai por
não ter te salvado a tempo. Sinto sua falta todos os dias da minha vida e a
dor me consome aos poucos. Só sossegarei quando matar quem te tirou de
mim, meu anjinho.
Eu não consegui me preparar para aquilo. Eu sabia que a vida é um
suspiro, uma hora você está aqui e a outra não.
Eu não estava preparado para enterrar a minha filha. Eu não
conseguia existir sem ela.
Tudo parecia um grande silêncio e eu só precisava de uma voz me
dizendo que eu ia conseguir. As pessoas que me diziam, nem elas
acreditavam nisso.
O silêncio me obrigou a nunca mais ouvir aqui fora. Eu fugi, me
escondi desse mundo.
Vivia apenas para a máfia, sem mais pretensões de pedir para
amanhecer no outro dia.
A morte se tornou bela aos meus olhos quando se tratava de mim
possuindo ela.
Toda e qualquer ruindade que eu faço com outros, as grosseiras, as
antipatia, era eu me odiando por ainda respirar.
Passou o tempo que aquilo só me afetava, começou a afetar os
outros, como um vírus, que foi contagiando um por um, até que todos
tivessem contaminados.
Fechar os olhos, imaginar a última imagem dela, aquele caixão
branco, era totalmente difícil para mim.
A última palavra que ela me disse foi que não via a hora do natal
chegar.
Eu não me despedi em vida da minha menina.
Não a abracei quando ela saiu de perto de mim, não disse que eu a
amava tão profundamente, que não tê-la mais comigo foi a minha primeira
morte.
É indescritível a dor de perder um filho.
Eu imaginava ela crescendo, já pensava nas pessoas que eu mataria
por chegar perto dela, mas não pensava em deixá-la partir.
Minha primeira filha, meu primeiro e único amor, minha primeira
morte veio pela dor.
Tentei segurar as lágrimas, mas elas me dominaram primeiro.
Um choro cheio de dor e saudades.

Já estava de madrugada quando voltei para o quarto.


Não sei se era pelo dia que eu estava tão sentimental ou pela dor de
perder mais alguém, mas não pensei antes e me aproximei da ruiva que
dormia tranquilamente.
— Desculpe por hoje cedo — sussurrei para não acordar a Hope. —
Fique bem aí dentro e não se esforce muito. Quando você nascer, eu
prometo não tirar os meus olhos de você. Podemos fazer uma promessa se
quiser. Sua irmã, Antonella, sempre me fazia prometer as coisas e cumprir o
que eu havia prometido. Eu prometo não deixar ninguém te machucar e de
ser um bom pai e, em troca, você fica bem e não suma. Não sei se o pai...
— Respirei fundo, sentindo o meu coração doer. — Não sei se o pai aqui
aguentaria.
Desliguei o abajur e me deitei ao seu lado.
O dia de hoje por sorte passou rápido.
Hoje acordei disposto e me exercitei cedo. Quando cheguei no
quarto, Lucy tentava fazer a ruiva beber um pouco de suco.
Perdi as contas de quantas vezes Hope havia vomitado nessas
últimas semanas. A acompanhei no médico e a médica garantiu que isso era
normal, não sei aonde, estava ficando preocupado em sempre encontrá-la de
frente ao vaso.
Estava sem muito tempo para dar atenção para a minha esposa, mas
mantínhamos a nossa vida sexual ativa, já que ultimamente ela estava me
procurando muitas vezes na noite. Devem ser os hormônios.
Bianca ainda veio esses dias aqui, mas não aconteceu nada. Ela
estranhou eu não ter procurado por ela nos últimos meses, até eu estranhei.
Eu a mandei ir embora, já que ela me esperava na cozinha com a Lucy
Caralho, estava me tornando homem de uma mulher.
— Se não beber esse suco, não irá para casa da sua mãe hoje —
disse assim que entrei no quarto, indo ao banheiro.
Tomei o meu banho, já saindo do box, e depois de um tempo, a
ruiva apareceu.
— Tomou o suco? — perguntei e ela assentiu.
— Lorenzo... — Ela pareceu bem acanhada antes de falar. — Você
sabe que eu não sou muito de me meter na sua vida...
— O que foi desta vez, Hope? — perguntei.
— Só me escuta, tudo bem? — falou enquanto se despia aos poucos.
Se ela queria atenção, não era para fazer isso. — Eu não me importo de
você trazer a Bianca para a cozinha, até porque não posso opinar no que
você faz ou deixa de fazer, mas, por favor, peça pra ela trocar o maldito
perfume. Eu já não estou comendo e chegar na cozinha com aquele cheiro
doce que só falta não sair, me deixa ainda mais enjoada.
A Bianca não anda mais aqui... Aquele dia que ela veio, eu mandei
embora.
— Farei algo a respeito — disse, sem nem mesmo ter algo a ver
com isso.
Não prolonguei mais a nossa conversa e saí do banheiro. Fui para o
closet e me troquei. Com o tempo, a ruiva apareceu novamente. Começou a
vestir suas peças íntimas, enquanto eu olhava cada centímetro daquele belo
corpo. Meus olhos se encantaram do enorme volume que já estava se
fazendo presente na barriga dela.
— Parece uma pochete — zombei alto demais.
— O quê? — perguntou sem entender.
— Sua barriga, o volume dela está mais embaixo, parecendo uma
pochete.
Ela se segurou para não rir e logo voltou sua atenção para a barriga.
— Está escutando o que o seu pai disse? — conversou com o bebê.
Era a primeira vez que a via fazendo aquilo. Ainda me assustava com a
palavra pai. Não sei se era pelo medo de ser igual eu fui quando Antonella
era viva ou o medo de perder mais um filho. A ruiva logo percebeu e tentou
se desculpar. — Oh, eu...
— Desça para comer algo que eu te espero no carro.
Assim que saí do quarto, Enzo me ligou.
— Oi, irmão!
— Você vem me pegar, não é?
— Sim, só esperando a Hope terminar de se arrumar.
— Como ela e o bebê estão
— Estão bem, fomos ao médico ontem. Cara, tem que ver, parece
uma pochete a barriga dela.
— Gosto de te ver assim, irmão. Feliz da vida! Estava sentindo falta
da sua animação.
— Tenho que desligar, já chego aí!
Ser feliz parecia algo muito distante para mim, mas, aos poucos,
sabia que estava deixando a felicidade entrar novamente e a ruiva tinha uma
boa parcela nisso tudo
Já havíamos chegado na casa da Lisa. Giulia havia ligado para que
fôssemos ao aniversário da Sara no sábado. Mesmo afastado da minha
família, estávamos sempre juntos nas comemorações.
— Parece uma pochete mesmo — zombou Enzo assim que viu a
Hope.
— Vou já dizer o que aconteceu em uma noite quando você
namorava Lisa, Enzo — ameaçou. Eu vi que aquilo de certa forma afetou o
Enzo.
— Está maldosa! — disse Enzo. — Irmão, estou com medo da sua
esposa.
— Agora que a conversa começou a ficar interessante — disse,
saindo do carro. — O que aconteceu? Nem com as minhas ameaças o Enzo
ficou desse jeito.
— A Lisa está atrás de você, vai! — Enzo a puxava para dentro de
casa, evitando que eu soubesse o que era.
— Você sabe que eu moro com ela, não é? — elevei o tom de voz
quando ele se afastava. — É questão de horas para eu saber uma boa
história para rir de você.
— Vai se foder, Lorenzo! — disse Enzo. Ri na mesma hora.
Hope entrou, e eu estava morrendo de curiosidade em saber o que
era.
— Parece que vocês estão se dando bem — disse Enzo assim que
retornou para o carro.
— Ela sabe lidar comigo, deve ser por isso. Vamos ao shopping,
tenho que comprar o presente da Sara.
No shopping, aproveitei para comprar um presente para a Lucy e
para os meus sobrinhos também. Fazia um tempo que eu não presenteava
ninguém. Comprei para o Nando, que era o meu afilhado, e para a Kitty,
gostava daquela pequena. Em seguida, passei por uma loja de joias, parando
em frente a um conjunto com um colar e brincos.
— Levarei esse — disse para umas das mulheres que trabalhava
aqui.
Sei que uma ruiva ficaria ainda mais bela usando isso.
— Vai compra o shopping todo, Lorenzo? Vamos logo para casa,
caralho — reclamou Enzo.
Até queria ir logo, mas quando eu passei por uma loja infantil, parei
para ver o que havia ali. Não saia muito, sempre ficava no quartel ou no
rifugio, então não lembrava mais de como era fazer outras coisas além
disso. Enzo aproveitou e levou uma pilha de fraldas para quando o
Bernardo nascesse.
— Muito boa a sua escolha — disse uma moça se aproximando de
mim, vendo que eu admirava um pijama cheio de nuvens. — Serve para
menino e para menina.
— Sì! — Quem é essa louca?
— Desculpe não ter me apresentado, sou a dona da loja, Elisa
Bitencourt. — Estendeu a mão.
— Lorenzo Ferraro!
— Um Ferraro em minha loja. — Ela ficou surpresa em ouvir o meu
sobrenome. Certamente lembrando da empresa multimilionária da minha
família. — Fico honrada em tê-lo aqui.

— Já vou indo. Irei levar só isso aqui mesmo — disse, entregando


para a mulher.
— Eu cuidarei disso — disse a dona, pegando grosseiramente o
pijama das mãos da funcionária. — Me acompanhe, Sr. Ferraro.
Enzo, que já havia pagado suas coisas, me esperava lá fora.
— É para algum sobrinho?
— Não, é para o meu filho.
— Ah, sim! — Ela não gostou muito de saber disso, mas, mesmo
assim, empinou a bunda para se abaixar, para pegar o cartão que caiu no
chão "sem querer". Já estava impaciente pela demora.
Nem me reconhecia mais. Estava ficando velho para ser
mulherengo?
Ou uma certa ruiva estaria me deixando louco?
— Este é o meu número, caso queira ajuda em futuras compras. —
Colocou um papel no bolso do meu paletó.
Não disse nada, apenas joguei o papel no primeiro lixo que eu
encontrei.
Não estava desesperado para aceitar qualquer mulher.
Estava na casa do Enzo, esperando a ruiva aparecer. Mas meu irmão
se adiantou, alertando a Hope a não me contar nada antes de irmos embora.
— Esperando — disse assim que ela entrou no carro.
— Olhe, Lorenzo, eu não sou x9.

— Não venha com essa para o meu lado, Hope. Enzo sabe de uma
coisa que eu fiz na época da faculdade e eu nunca posso fazer nada além de
ameaçar lhe matar, o que não adianta já que o figlio di puttana sabe que eu
não faria. Ele gelou assim que você disse que contaria, me diga o que é.
Faculdade pode ser a melhor época ou a pior. Na nossa formatura,
pela primeira vez, me senti uma pessoa normal. Sem responsabilidades da
máfia ou medo de alguém tentar me matar constantemente. Infelizmente,
exagerei na bebida e o Enzo se aproveitou disso. Tenho certeza que ele me
drogou aquele dia.
O desgraçado me pintou todo, enquanto me carregou nu até a praia
mais próxima, deixando-me lá assim. Ele disse que era um trote, já que
conseguimos ficar vivos para nos formarmos.
Quase o matei depois que voltei a consciência no outro dia.
Fui preso por não estar vestido e o maldito ainda me fez pagar a
minha própria fiança. Para piorar, tem várias fotos minha com um pau
desenhado nas costas.
Tentei pressionar ela, que não cedeu.
Chegamos em casa e acompanhei a ruiva até a cozinha. Fiquei feliz
em entregar o que comprei a Lucy, abraçando-a em seguida. Antes que eu
pudesse entregar o de Hope, ela saiu para atender o celular.
Será que aconteceu algo?
Caminhei até a sala para encontrá-la.
— Minha irmã quer falar com você — disse assim que me viu.
— Oi, princesa! — disse quando peguei o seu celular.
— Queria agradecer o presente.
— Não tem o que agradecer. Você é uma criança encantadora e eu
quis presentear você. Espero que tenha gostado, faz um tempo que eu não
escolho presente para crianças.
— Eu amei, muito obrigada! O Nandinho também gostou.
— Que bom! Tenho que ir. Passarei o celular para a sua irmã —
despedi-me dela.
Entreguei o celular a ruiva e subi para o quarto. Quando estava no
banheiro, escutei um barulho no closet. Devia ser a Hope, mas não a vi
quando saiu. Estava tudo muito quieto. Então, perguntei a um dos
seguranças, que disseram que ela havia saído e estava lá no jardim.
O que ela fazia lá fora uma hora dessas?
Quando cheguei no jardim, Hope estava deitada na espreguiçadeira
olhando o céu.
— Está frio, entre! — disse, tirando-a de seus devaneios.
— Estou indo!
Enquanto subimos, me questionei o que ela fazia ali fora. A ruiva
foi para o banheiro logo em seguida, em silêncio. Não sabia como entregar
o presente que eu havia dado a ela, então optei por deixar na sua
penteadeira.
Quando ela saiu do banheiro, foi direto para o closet. Permiti que ela
fosse a biblioteca, sabia que ela gostaria mais disso do que do colar.
Ela logo voltou para cama. Podia sentir sua felicidade, mesmo
tentando esconder. Deitou-se ao meu lado, sem me encarar.
— Obrigada!
Não disse nada, apenas voltei minha atenção para o celular.

No meio da madrugada, acordei sentindo falta da minha esposa ao


meu lado. Fui ao banheiro e ao closet tentando encontrá-la, então
finalmente vi a mensagem dos Juízes pedindo a minha presença para uma
reunião.

Não era nenhuma reunião importante, mas, como não temos horário,
é sempre o que dava para todos.
Então, aproveitei que ia sair para ir atrás da ruiva.
— Aonde caralhos ela foi? — perguntei a mim mesmo.
— Capo! — disse o meu segurança assim que me viu.
— Viu minha esposa?
— Está na cozinha, senhor.
Rapidamente, corri até lá. Ela estava conversando com bebê,
enquanto comia.
Não consegui não achar aquilo fofo.
— Quer um pedaço de chocolate? Só posso comer um pouco, já que
está tarde. Não tenha o mau hábito alimentar da sua mamãe, tudo bem? Eu
posso, você não. Entenderá quando crescer.
— Me pergunto o que os seguranças devem achar de ver você
falando sozinha — comentei.
— Ah, não tenho com quem conversar e ele parece ser um bom
ouvinte — brincou
— Sábado passaremos o dia na casa do Pietro. O aniversário é só a
noite, mas o meu pai quer que nos reunirmos pela tarde lá.
— Outra reunião de família?
— Não, só quer falar com os filhos, mas não ache que o aniversário
será calmo, pois estarão todos os Ferraro junto. Quero ver você no meio
daquilo, do jeito que é frágil, logo se quebraria — brinquei com o seu
desespero.
— Santo Deus! — resmungou, jogando a cabeça para trás. Achava
muito sexy quando ela fazia isso. Dava-me uma bela visão do seu pescoço.
— Quando vai me contar sobre o Enzo?
— Eu não vou contar.
— Andiamo, se não eu terei que te dar umas palmadas.
Sentei na cadeira, esperando-a me falar por livre espontânea
vontade. Quando vi que isso não funcionaria, levantei indo até ela.
— Queria saber a história do Enzo... — disse, agarrando-a pela
cintura. Ela bocejou algo, aproveitei para beijar o seu pescoço. Eu tinha
minhas artimanhas para tirar isso dela. — Por que não quer me contar?
Ela se negou, logo a coloquei nos meus braços, levando-a para o
nosso quarto.
— Eu não vou dizer!
— Vamos ver quanto tempo aguenta com essa pose de durona.
Coloquei-a na cama, colocando-me por cima dela.
— Lorenzo... — tentou argumentar algo, enquanto eu beijava o seu
pescoço, descendo para os seus seios. Minhas mãos vagavam pelo seu
corpo, até chegar na sua intimidade.
— Nada?
Nem queria mais saber, apenas gostei de brincar com ela.
Ela negou em dizer e vi o quanto eu estava a deixando excitada
— Não seja tão mesquinha, Hope. É apenas uma besteira, Enzo
deve ter feito algo que se envergonhe e eu quero saber. Eu sei que você está
louca para me contar.
— Você morreria se soubesse — falou, certamente se lembrando do
que ele fez, aumentando a minha curiosidade.
Resolvi brincar com os meus dedos em sua intimidade. Ela estava
tão molhada, que eu me segurei para não tirar sua calcinha e fodê-la logo.
— Me conte e eu continuo. — Parei o que eu estava fazendo. A
ruiva me encarou, pedindo mais. — Se me contar, não pararei tão cedo.
Então ela logo decidiu que me contaria depois. Retornei o que
estava fazendo, aproveitando o pouco tempo que eu tinha com ela.

Quando terminamos, logo quis saber o que aconteceu. Então, ela me


contou a história de sua vó. Ri, tentando imaginar a cena dele quase nu,
agarrando-se com a avó da Hope. Finalmente, algo para usar contra o filho
da puta do Enzo. Ela também contou da vez que a irmã quase a vendeu por
um copo de bebida.
Era uma boa história.
Recebi a mensagem do Juíz dizendo que eu não precisava mais
comparecer, já tinha resolvido com o Enzo, sorte a minha e mais sossego.
Não quis conversar mais, já que estava tarde e ela tinha que voltar a
dormir.
Deitamos e logo eu peguei no sono.
Hoje aconteceria o aniversário da Sara.
Meu pai pediu para que eu aparecesse mais cedo. Sei que ele deve
me infernizar sobre o pedido do Leonel de educar nossos filhos.
Nem fodendo!
Estava tomando o meu café, quando Federico me ligou.
— Senhor, liguei para lhe informar que o Dante pediu direito sobre
a guarda da Kitty Bellini — falou assim que eu atendi.
Havia pedido para que ele me avisasse sobre o divórcio da minha
sogra.
— O Dante está na minha mira, não deixe que ele ganhe.
— Darei o meu melhor.
— Tenho que desligar, Federico — disse assim que percebi que a
Hope se sentou na mesa.
Tantas preocupações!
— Andiamo, estamos atrasados.
— Eu ainda não comi.
— Você come na casa do Pietro.
Caminhei para o escritório para pegar uns documentos, enquanto ela
se despedia da Lucy
Assim que chegamos a casa do Pietro, segurei na mão da ruiva para
lhe passar mais confiança. Ela devia estar assustada por ficar tanto tempo
perto do meu pai.
Minha mãe veio nos cumprimentar. Meus irmãos e o meu pai já me
esperavam no escritório do Pietro.
— Meu Deus do céu! Te vi semana passada, e olha essa barriga o
quanto cresceu! — disse minha mãe apontando para a barriga da Hope.
Foi então que eu notei que sua barriga ganhou um volume a mais.
Agora qualquer um poderia ver que ela estava grávida. Ela havia ficado
ainda mais linda.
— Olha o tamanho do Lorenzo, esse bebê vai ser enorme. Você vai
passar os nove meses para nascer a cara do pai, eu estou te avisando —
disse Emma.
Tentei segurar o sorriso em pensar que meu filho pareceria comigo,
mas logo resolvi deixá-las conversando e me encontrar com Pietro.
— Finalmente! — disse Enrico quando me viu.
— Como ousa nos deixar sozinhos com o nosso pai, seu arrombado?
— reclamou Pietro.
— Deixem de drama — disse meu pai. — Sente-se!
— Diga logo o que quer — disse quando me sentei no sofá.
Meus irmãos sempre me deixavam assumir as brigas, já que eu era o
Capo e não seria punido por afrontar o meu pai, o ex-líder.
— Quero que pensem bem na criação dos seus filhos.
— Já dissemos que não iríamos aceitar isso — falou Pietro.
— Vocês sabem que eu estou certo, que isso é necessário. Aqui se
eles não aprenderem a se defender, a não serem mais espertos que os nossos
inimigos, eles vão morrer, caralho. — Eu sei que ele tinha razão, tudo que
sabemos é devido aos ensinamentos do Leonel, porém eu não vou deixar
um filho meu longe de mim nunca mais, que se foda. — Essa porra de
desconfiança já deu, já se passaram 4 anos.
— Pai, eu já disse que nem por um milhão de caralhos um filho meu
e os meus sobrinhos ficaram longe da gente.
A reunião foi de mal a pior, o meu pai insistiu, mas não tinha o que
fazer sobre isso, eu não tinha mais segurança de saber que um filho meu
estaria longe de mim, que poderia sofrer alguma coisa.
— Eu também não quero — disse Enrico.
— Que se foda vocês três, eu tentei — disse meu pai saindo do
escritório.
— Ele está tão sentimental, será que é por que está ficando velho?
— perguntou Enrico.
— Pergunte isso a ele — disse Pietro.
— Eu não, ele me dá um tiro — respondeu. — Pergunte você,
Lorenzo.
— Vão se foder os dois! Já tenho problema demais.
Fui atrás da Hope e logo escutei risadas vindo do andar de cima.
Olhei pela brecha da porta, espiando-a brincar com os meus sobrinhos.
Eles tinham que adivinhar qual história era.
Ela fingia que estava comendo algo e logo fingia um desmaio.
Se Antonella olhasse isso, piraria. Li tanto a história da branca de
neve, que sabia de trás para frente o livro. Ela não gostava, mas fingia
gostar, já que eu só tinha tempo para ler uma história rápida e voltar a
trabalhar logo.
— Branca de Neve — me meti na brincadeira.
— Tio Lorenzo! — Os três vieram pulando para os meus braços.
— O que aconteceu que não estão discutindo hoje? — Estranhei a
paz no ambiente.
— Tia Hope nos ensinou uma brincadeira — disse Nicolas. — Até
que é legal.
— Desçam, a mãe de vocês estão chamando para almoçar — disse,
já sabendo o óbvio. Já era meio-dia e elas deviam estar tão ocupada com a
festa que não repararam no horário. — Parece que se divertiu.
— Me dou bem com crianças.
Juntei os nossos corpos, já sentindo uma certa divisória feita pela
barriga da Hope.
— Está linda, sabia? — disse e ela logo retribuiu sorrindo
maravilhosamente. — Cresceu do dia para noite. — Apontei para a barriga.
— Sim, deixa só a Dra. Olivia saber que eu ganhei 2kg essa semana.
— Diga que o peso vem do bebê.
— Você deveria falar, parece que ela tem medo de você — falou,
colocando os braços ao redor do meu pescoço.
— O que eu ganho em troca? — Gostava do jeito que ela pagava as
nossas trocas.
— Está tentando barganhar com uma moça grávida, Capo?
— Gosto de como Capo sai dos seus lábios. — Dei um beijo em sua
boca. — Mas gosto ainda mais de como você paga os seus favores.
Logo nos beijamos.
Hope sabia o movimento certo para me deixar de quatro para ela,
que foi interrompido por minha mãe nos chamando.
— Então temos um acordo? — perguntou, dando-me um beijo.
— Sì!
Descemos para a sala de jantar, já estavam todos reunidos. E o
almoço foi até pacífico, vamos assim dizer.
— Lorenzo, vamos tomar banho de piscina? — disse Enrico.
Enrico, por ser o mais novo, sempre era tratado como o nosso bem
mais precioso.
Imagina nas brigas da escola, eu e o Pietro brigando no lugar dele.
Isso o deixava puto, ele queria brigar.
Talvez o mimávamos demais.
Não estava a fim de nadar e eu tenho certeza de que Pietro também
não, mas já que a palavra não, não era mencionada ao Enrico, logo
aceitamos.
Ele parecia uma criança alegre.
Ficamos na piscina, aproveitei para brincar com meus sobrinhos, e
estranhei a minha mãe e as minhas cunhadas já aparecerem, e nenhum sinal
da ruiva.
Deveria estar enjoada talvez
Antes que eu saísse da piscina, vi-a vindo. Logo ela se sentou perto
da minha mãe, um pouco desconfortável.
Quando sai da piscina, a vi deitada na espreguiçadeira por cima da
minha toalha. Já que estava com olhos fechados, não me viu. Deslumbrei
um pouco mais da sua beleza. Não cansaria de falar como o sol a deixa
ainda mais linda. Seus cabelos alaranjados ganharam mais vida com a luz
solar. Empurrei o guarda-sol para ela e tentei pegar a toalha sem acordá-la,
falhando miseravelmente.
— Te acordei? — perguntei assim que ela abriu os olhos, logo ela
negou. — A toalha...
Ela percebeu o que eu queria e se levantou, entregando-me a toalha.
Ela não estava dormindo, porque não parecia nem estar sonolenta, deveria
estar apenas descansando mesmo. Enquanto me secava, a ruiva me
encarava. Ela estava um pouco preocupada, pergunto-me se tem a ver com
o meu pai.
Deitei-me na espreguiçadeira depois de seco. Hope ainda ficou em
pé, e pedi para que ela se deitasse ao meu lado.
Ela se deitou no canto. Já que eu era grande, peguei maior parte do
espaço.
— O que meu pai conversou com você? — perguntei, ajeitando o
óculos de sol.
— Como sabe que ele falou comigo?
Aproveitei para juntar mais os nossos corpos, colocando-a mais para
cima de mim.
— Está estranha, evitando falar e fazer algo. Achava que era só você
que sabia observar, senhora Ferraro?
— Você não vai aceitar isso de levar o nosso bebê para os cuidados
do Leonel, não, né?
— Então foi isso?! É complicado, Hope. Muita coisa aconteceu e a
confiança que eu tinha neles está abalada.
— Ele disse que te convenceria. Lorenzo, eu não sou de pedir muita
coisa a você, mas não deixe...
— Já disse que o nosso bebê não vai. Não precisa se preocupar com
isso, nenhum filho meu vai sair do meu campo de visão nunca mais.
— Vou subir para dormir um pouco. — Vi que ela lutava para não
adormecer aqui.
— Vou com você. — Avisamos aos presentes e subimos juntos.
Tomei o meu banho, enquanto a Hope ficou na cama.
— Está com frio? — questionei, quando a vi toda enrolada.
— Ah, não! Tirei o vestido porque estava apertado, já que ele me
incomodaria quando eu fosse dormir. Me cobri caso algum dos seus irmãos
aparecesse — explicou.
Já estava vestido, então dei a minha blusa para que ela usasse.
— Obrigada! — agradeceu, deitando-se.
— Você já sente o bebê mexer? — Eu estava curioso com isso. Há
alguns dias, vi um dos meus investidores falando da sensação de sentir sua
filha mexendo na barriga da sua esposa, já que na da Antonella eu nunca
havia visto aquilo, queria saber como era.
— Ainda não, acho que só depois dos 5 meses talvez. Quando
formos para a consulta, a gente pergunta.
Estávamos dormindo tranquilamente até que o meu celular tocou.
— Que é caralho? — disse assim que atendi.
— Lorenzo, cadê você? — perguntou Beatrice, assustada.
— O que você quer, Beatrice?
— Um homem estava me seguindo, mas seus homens me ajudaram.
Vem para cá, por favor! — falava aos prantos.
— Estou indo! — Não ia por ela, queria saber quem era o maldito
que estava rodando a minha área. Se estavam atrás dela, isso ainda era sobre
a caixinha marrom.
Os pen drives, que tem lá dentro, tem muita coisa que eu uso para
chantagear algumas pessoas, fora a gravação do dia da morte da Antonella,
como também sobre a investigação de suposto traidores.
Da gravação, não tinha nada demais, só a tenho caso um dia precise.
Não tinha nada de estranho, só o percurso que a minha filha fez até o lago,
mas não dá para ver muita coisa, já que onde ela estava não tinha câmeras.
Então era pelo traidores ou pelas minhas chantagens
— Não precisa tirar, eu pego uma outra com o Pietro — disse, assim
que vi a Hope tirar a blusa, entregando-me. Voltei a minha atenção para
Beatrice que não calava a boca no outro lado da linha. — Só se acalma,
porra! Caralho de vadia para gritar. — Desliguei a ligação, sem querer ouvir
mais.
Fiquei em pé, já sentindo dor de cabeça de novo.
— Estou de saída! Não saia da propriedade, e se o meu pai falar
com você, diga que lhe dei ordem para não dar atenção a ele. Não fique
sozinha, desça e fique com as meninas lá embaixo.
— Aconteceu alguma coisa grave? — perguntou.
— Não! — respondi, não querendo assustá-la. Me despedi dela com
um beijo em seguida.
Por que eu fiz isso?
Não preciso demonstrar nada a ela, sabemos o motivo do
casamento, então por que porra eu estou tão sentimental?
Assim que eu cheguei no quartel, Beatrice já me esperava na porta
do meu escritório.
— Agora diga que caralhos aconteceu — disse a ela.
— Eu estava na loja do shopping, quando vi dois homens me
seguindo. Eu fiquei apavorada e tentei te ligar, mas não deu certo. Logo eu
vi um dos homens que você deixou para me proteger, foi quando os outros
dois homens saíram correndo — disse Beatrice. Ela veio até mim e me
abraçou. — Eu estava com tanto medo!
— Conseguiu saber quem era? — perguntei para um dos meus
homens, tirando a Beatrice de perto de mim.
— Estamos averiguando as câmeras de segurança do shopping,
senhor.
— O que eu havia dito de você sair? Se está com tanto medo
mesmo, então por que caralho você saiu e quebrou a regra que eu havia
colocado? Tem merda na cabeça, ragazza?
— Eu estava ficando cansada de sempre ter que ir a boate ou ficar
no quartel.
— O que foi fazer no shopping?
Meus homens logo saíram, já que sempre que eu discutia, eles
tinham medo de que sobrasse para eles.
— Estava com saudades de você — falou, aproximando-se
novamente de mim. — Estava comprando uma lingerie e sei que você
adoraria ver como ficaria no meu corpo.
— Beatrice, o dia foi cheio e eu tenho certeza que não sairia de casa
hoje se não fosse por esse atentado.
— Você parece tão cansado, deixe que eu te ajudo a melhorar.
Beatrice se ajoelhou e eu já sabia que um bom boquete vinha logo
em seguida. Ela desceu o zíper da minha calça, logo colocando o meu pau
para fora.
— Nossa! — surpreendeu-se, sorrindo maliciosamente.
Tudo está proposto para eu cometer um crime hoje. Logo veio a
Hope na minha cabeça. A ruiva era boa naquilo, mesmo eu sendo o seu
primeiro, ela sabia conduzir conforme a melodia.
— Parece ser muito prazeroso, mas não — disse, colocando o meu
pau para dentro da calça.
Não acreditava que eu estava virando um homem de uma mulher só.
Isso nunca aconteceu, sempre tinha alguém comigo, mas depois do
meu casamento, era só a ruiva
— O quê? Está de brincadeira, Lorenzo? — disse Beatrice
incrédula.
— Não, tenho um aniversário para ir e se eu me atrasar, a minha
mãe me mata.
— Agora eu estou excitada, não me deixe assim — reclamou.
— Tem homens aí, se quiser se aliviar.
— Que merda! Eu estou vendo o quanto você também está excitado,
deixe eu ajudá-lo com isso.
— Beatrice, para com isso, você não vê o que está fazendo? Eu digo
não e você fica se humilhando, eu não quero, porra!
Não quis mais prolongar aquela conversa e a tirei do meu escritório.
Vi umas papeladas na minha mesa e fui logo resolver isso para não
acumular trabalho.

Cheguei na casa do Pietro e a festa já havia começado. Arrumei-me,


notando que a ruiva não estava mais ali. Desci para festa, já encontrando a
minha esposa sentada com o Enrico e a Emma.
— Que merda de dia! — disse, sentando-me na mesa.
— Problemas? — perguntou Enrico
— Depois a gente resolve — disse e ele logo entendeu.
Enrico e sua esposa saíram e aproveitei para falar com a Hope.
— Por que não me esperou no quarto?
— Sua mãe me chamou.
— Certo! — disse, dando fim aquela conversa.
Levantei-me, deixando a ruiva ali sentada. Do jeito que ela fica
enjoada com os perfumes, ela vomitaria de novo. Resolvi, então,
cumprimentar os convidados sozinhos. Tratei de falar com alguns de meus
parentes e alguns aliados.
— O que a Beatrice queria? — perguntou Leonel.
— Encher o meu saco — respondi. — Tem homens aqui na Itália
atrás de algo, fora da nossa área. Beatrice disse que os viu no shopping.
Josh está ocupado no momento para investigar mais alguém.
— Temos que ficar de olho, não podemos cometer os mesmos erros
do passado.
— Vou pensar no que fazer. Não vou colocar isso como prioridade,
tenho mais o que fazer do que me importar com os surtos de perseguição da
Beatrice. Ela pode ser membro, mas essa encenação de garota assustada
está me dando nos nervos.
— Fico de olho nela até resolver o resto dos problemas — falou.
As vezes, olhava para ver se ela ainda estava ali, certificando-me
que ela estava bem. A festa terminou para a criançada e os adultos que se
divertiam agora. Com o tempo, fui ver se a minha esposa ainda permanecia
sentada, mas vi que ela havia saído. Procurei por ela, até que a vi na
cozinha.
— Está quebrando bastante regras hoje, Hope — disse assim que me
aproximei. — O que eu disse de ficar sozinha?
Proibido andar sozinha virou quase uma regra aqui.
— Você me disse que se um dia Lucca viesse falar comigo, eu
saísse, então eu saí.
— O que aquele filho da puta quis com você?
Sabia que ele não ia aguentar. 4 anos em silêncio deve ter sido uma
tortura.
— Nada, Lorenzo.
— Hope... — me interrompeu.
— Olhe, Lorenzo, eu estou enjoada, fui comparada com uma vadia
praticamente, estou com dor nos meus pés e eu acho que vou chorar, mesmo
sem estar com vontade. Não sei se estou enlouquecendo, ou são os
hormônios, mas, por favor, me deixe ficar quieta por um minuto.
— Lucca tentou algo com você? — perguntei, conhecendo aquele
puto.
— Não! Sem confusão hoje...
— Sei quando está mentindo, Hope. Vou matar o Lucca! — disse,
saindo dali enfurecido.
Caminhei até o jardim, enquanto a ruiva me implorava para não
fazer nada.
— Lucca! — chamei-o, dando logo um soco no seu rosto e fazendo
com que ele caísse. — Chegue perto da minha esposa novamente e o seu
menor problema será um soco na cara.
Virei-me, tentando manter a calma para não assustar mais a Hope.
Caminhei até ela, quando Lucca disse algo:
— Está falando comigo agora? — indagou, ficando em pé. Aquilo
me doeu de certa forma. — Só acho que a sua mulher deveria ter alguém
melhor ao seu lado. — Lucca sempre causou confusão, por que, caralhos,
ele está fazendo aquilo comigo? — Achei que ela fosse uma dessas vadias
que você costumava transar. Devo dizer que é muito bonita.
Olhei para minha esposa, virando-me para o Lucca.
— Fica na sua, Lucca! — disse, temendo o que eu faria a seguir se
ele continuasse com isso.
— E o que você vai fazer, seu puto?
Foda-se a minha calma.
Hoje eu o pego
— Hoje eu te mato! — disse, partindo para cima dele e distribuindo
vários socos em seu rosto.
— Lorenzo... — escutava as pessoas me chamarem, mas ver o
sorriso diabólico do Lucca me deu mais forças para acabar com esse
arrombado trapaceiro.
Tentaram me tirar de cima dele, mas falharam.
Me afastei de perto do Lucca por vontade própria pedindo para a
minha mãe levar a Hope para dentro de casa, até que elas saíram.
— Se alguém me atrapalhar, terá um convite para passar uma longa
temporada no rifugio — gritei para todos os presentes. — Deixei essa sua
mordomia de fazer o que bem entende ir longe demais. Vou te ensinar a
respeitar um Capo.
— Lorenzo, deixe de causar confusão — disse meu pai.
— Alguém vai fazer alguma aposta que eu vou vencer? — indagou
Lucca.
— Não, eu aposto a minha casa que não — disse Enzo.
— Você já foi mais parceiro — resmungou Lucca ele.
— Para com isso, meu filho — pediu Ruth e ele negou. — Faça o
que quiser com ele, Lorenzo.
— Qual é, mãe?
— Você que decidiu brigar — falei.
— Desaprendeu de como se bate, seu arrombado? — provocou
Lucca. — Me mostra como é mesmo que se faz.
— Isso é assunto meu, e eu não quero que ninguém se meta. —
Olhei para o Lucca, que sorria para mim. — Te livro do castigo se pedir
desculpa.
Eu sabia que do jeito que os Ferraro são orgulhosos, ele não
aceitaria.
— Nem fodendo, seu puto — disse Lucca. — Achei que me
ignoraria como as outras vezes. — Ficou de pé. — Vamos, me bata!
— Filho, por favor, pare com isso — disse Leonel a ele
— Ele escolheu o que queria. Eu te darei uma surra se não pedir
desculpas.
— Deixa de conversa, até parece que não está com pena de me
bater. Vamos, seu arrombado!
Lucca ria, fazendo-me lembrar da nossa infância.
Filho da puta!
Dei lhe um soco, mas ele não revidou. Achei que revidaria, mas só
ficava rindo para mim.
Ele não desiste?
Que puto!
Dei mais dois socos, foi quando o Leonel me tirou de perto dele.
— Parou, caralho! — falou para nós dois.
Peguei o meu paletó que estava no chão, logo o Lucca olhou para
mim.
— Vai dar um beijo nos meus machucados para melhorar logo? —
perguntou rindo.
— Vai se fuder! — disse, e ele riu mais. — Sua sorte que eu estou
de bom-humor agora.
Arrombado!
— É por minha causa.
Pela primeira vez, em 4 anos, estávamos conversando.
Enrico o ajudou a subir para o quarto, enquanto mandava o pessoal
ir embora junto com o Pietro.
— A festa acabou, vão todos embora! — disse Pietro.
Fui para o quarto que a Giulia separou para minha estádia, logo que
eu entrei, Hope correu para perto de mim.
— Eu fiquei tão preocupada! — disse Hope me abraçando. — Por
favor, não faça mais isso.
— Está tremendo. — Isso não era bom. — Deixe de se preocupar,
vai fazer mal para o bebê.
Era algo tão comum, que fico surpreso por ela não ter se
acostumado ainda.
— Estou bem, só estava preocupada.
— Vem! — Puxei-a para a cama. — Durma um pouco e
conversamos amanhã.
— E o Lucca?
— O puto está no quarto ao lado..
— Não faça mais isso, por favor! — disse Hope.
— Não ia sair do controle, relaxa, conheço a minha família para
saber até onde eu posso ir.
Não tive muito o que dizer, já que meus irmãos entraram no quarto.
Esqueço que eles não sabem bater em portas antes de entrar.
— Seu arrombado acabou com a minha grama. — disse Pietro. —
Desculpe o meu linguajar, bela ruiva.
— Ruivinha, está mais calma? Seu marido quebrou a cara do Lucca
— disse Enrico. Logo ele se virou para mim. — Era para ter metido outras
pessoas na confusão, tem uns ali que eu estava louco para socar.
— Calem a porra da boca! Andiamo, que são vocês que vão limpar
isso aqui, seus cuzões.
Eles saíram do quarto rindo, deixando-me sozinho com a minha
esposa.
— Vou cuidar dos meus machucados, não saia daqui.
— Está bem mesmo?
— Claro!
Saí do quarto, deixando a ruiva descansar melhor. Pietro nos levou
para o seu escritório, pegou a maleta de remédios, mas antes de começar a
cuidar dos meus ferimentos, minha mãe bateu na porta
Eita, caralho, lá vem sermão.
— Deixe que eu faço isso — disse minha mãe entrando no escritório
com uma cara nada boa.
Enrico foi cuidar dos machucados do Lucca e o Pietro saiu
rapidamente, deixando-me sozinho com a minha mãe.
— Mãe... — disse, e ela me interrompeu:
— Lorenzo, me escute. Não sei o que você pensa que é uma
gravidez, mas o que você fez hoje foi tão errado. Já pensou que se a briga se
estendesse mais entre os que estavam presentes, um dos socos sem querer
poderia ter sido na sua esposa? Sabe que tudo aqui é motivo de briga, sei
que logo uma briga generalizada aconteceria se algo desse errado e o que
você faria? Gravidez é um misto de emoções, Lorenzo. O susto que a Hope
deve ter sentido não faz bem a ela e nem ao bebê. Fora que você agrediu o
seu primo. Não sei o que vocês tem na cabeça de sempre querer sair no
soco.
Enquanto a minha mãe me dava uma boa lição de moral, vi que
aquilo colocou em risco a minha família.

— Tentarei ter mais paciência.


Ela continuou com o sermão, ajudando-me com os machucados.
— Eu levo a culpa e o filho da puta do Lucca está lá no quarto de
boa — murmuro.
— Eu já estou indo lá falar com ele.
Ela terminou de limpar e eu subi para o quarto. Percebi que a ruiva
já dormia. Me deitei ao seu lado, mas logo ela acordou pelo reboliço da
cama.
Ela se aconchegou no meu peito e logo dormimos.
Pela manhã, acordei e a ruiva ainda dormia.
— Vamos para casa! — disse, acordando-a.
— Vou dormir só por 5 minutos — respondeu sonolenta.
— Vamos, Hope! — Dei um tapa na sua bunda.
— Você bateu na minha bunda? — perguntou incrédula.
— Sim, e eu vou bater mais se não levantar.
— Lorenzo, estou no meu melhor sono — falou, virando-se para o
lado.
— Andiamo, ruiva! — Puxei o lençol. — Deixa de ser preguiçosa,
ragazza.
— Já estou de pé.
— Chegar em casa você dorme.
Descemos, encontrando todos na cozinha. Era estranho vê-los
juntos.
— Sente para comer — disse minha mãe.
— Tenho que resolver umas coisas e já estou de saída.
Lucca deu uma piscadela para Hope, só para encher o meu saco.
Nos despedimos e voltamos para casa.
Finalmente em casa!
Lorenzo foi resolver umas coisas no rifugio e eu fui ver se
conseguia dormir novamente.
Só queria saber de dormir, minha vida será só essa daqui para a
frente?
— Você vai entrar em estado de coma de tanto que você dorme,
Hope — zombou Lorenzo.
— Eu dormi só uns 10 minutos... — Olhei a hora e já era meio-dia.
Santo Cristo, eu dormi a manhã toda?
— Vou fazer uma viagem — disse Lorenzo. — Volto em duas
semanas, no mínimo.
— Eu posso perguntar para onde vai? — perguntei, sentando-me na
cama
— Não é assunto seu, Hope, o quanto menos você souber, é melhor.
— Não soou arrogante, mas me deixou curiosa. — O Pietro, o Enrico e o
Enzo irão comigo. Falei com a sua mãe esta manhã, você e a Lucy ficarão
lá para não ficarem sozinhas aqui. Red e alguns seguranças cuidarão de
vocês. De antemão, não saia, não converse com ninguém que não seja a sua
família e não faça nada que eu não aprovaria. Fique perto do Red 24 horas
por dia.
Eu ia ficar na minha mãe? Quase morri de felicidade.
Algo sério estava acontecendo. Lorenzo estava mais controlador do
que o normal com a minha segurança.
— Tudo bem!
— Me ligue duas vezes por dia — falou, terminando de arrumar a
mala, já me ditando o que eu tinha que fazer
— Não é era para te ligar só quando eu estivesse morrendo?
— Abri uma exceção essa semana.
— Certo! — disse. — Lorenzo, você pode me dar o número do
Federico?
— Para o que você quer?
— Minha mãe quer resolver umas coisas sobre a visita do meu pai...
— disse e o Lorenzo me interrompeu:
— Outra regra que falarei para o Red, seu pai ou quem quer que
seja, não entrarão na casa da sua mãe. O seu único passeio será da casa do
Enzo para a dela. Não estarei aqui para te proteger se algo acontecer, então
obedeça tudo. — Lorenzo estava bem mandão hoje. — Falo com o Federico
para ir à casa da sua mãe, não precisa ligar. Mais alguma coisa?
— Ah, não! E você tem mais alguma exigência?
— Sem clube do livro essa semana. Se a minha mãe, a Emma e a
Giulia quiserem se encontrar na casa da sua mãe, fica a seu critério, mas
ninguém entra lá além delas.
— Lorenzo, em duas semanas, acontece o evento do orfanato —
disse, acompanhando-o até o banheiro.
— Quando é?
— No sábado.
— Eu já devo ter voltado, se não, remarque. — Remarcar? Se ele
soubesse quanto foi difícil arranjar um dia que todas nós pudéssemos ir, ele
não acharia fácil. — Agora desça para comer, que eu vou fazer uma ligação.
— Eu vou voltar a dormir e depois eu desço — disse, retornando
para o quarto.
— Coma e depois durma, Hope, você não está se alimentando
direito — falou do banheiro.
Do jeito que ele é, não vai me deixar dormir até eu comer.
Desci para a cozinha e a Lucy já organizava o almoço.
— Sairemos depois do almoço — disse Lucy. — Sua mãe não se
incomoda de eu ir também?
— Certamente, a minha mãe vai adorar ter alguém para conversar.
Não se preocupe, finalmente você conhecerá a minha família — disse,
dando uma abraço nela.
— Ainda está com sono?
— Sim, não sei de onde vem tanto cansaço.
— Coma um pouco e tire um cochilo antes de sair. Não é
recomendável você ficar tanto tempo sem se alimentar — disse Lucy.
— Eu só quero ficar agarradinha na senhora agora.
Estava muito carente e amava o aconchego da Lucy.
— Está bem carente, minha pequena.
Fiquei abraçada com a Lucy até o Lorenzo chegar.
— Por que você não me dá mais abraços, Lú? — indagou. Não
parecia que o Lorenzo estava brincando, ele realmente estava com ciúmes.
— Você passa o dia fora, agora eu tenho dois bambino em casa.
Sai do seu abraço para Lorenzo ter sua oportunidade. Esperando o
almoço ficar pronto, me deitei no sofá e liguei a TV.
— Vamos almoçar. — Lorenzo apareceu.
Desliguei a televisão e fiquei de pé. Lorenzo se aproximou de mim,
colocando os braços em torno da minha cintura, apoiando a sua cabeça no
meu ombro.
— O que foi? — Estranhei, tentando entender o que ele estava
fazendo.
— Só estou avaliando se o que a Lucy disse era verdade
— E o que ela disse?
— Que o seu abraço era bom — falou.
— E é?
— Você é muito baixinha, talvez eu fique com torcicolo — zombou.
Eu o empurrei, mas logo ele voltou a me abraçar. — Sim, é!
Não podia reclamar do meu casamento como está agora. Antes eu
não podia nem abrir a boca e sempre ficava meio nervosa de fazer algo.
Lorenzo aos poucos estava se abrindo comigo e me deixando viver.
Apesar disso está acontecendo lentamente, fico grata pelo menos
por ele tentar me dar a minha liberdade, mesmo que seja sempre com essas
paranoias de que eu estou sempre em perigo.
Ficamos um tempo assim, até a Lucy nos chamar para comer.
O almoço foi tranquilo, mas o Lorenzo estava apressado para sair,
então subi para tomar banho, já que ele nos deixaria na casa do Enzo para
pegá-lo. Assim que eu saí do chuveiro, Lorenzo apareceu ao telefone com o
Enzo.
— Enzo, você vai voltar antes do seu filho nascer — Lorenzo falava
ao telefone com ele. Acho que estava convencendo o Enzo a ir com ele. —
Você sabe de como isso está ferrando tudo. Você tem que ir, irmão.
— Posso falar com ele? — perguntei e o Lorenzo me deu o celular.
— Enzo?
— Hope? — estranhou.
— Escute, nós estaremos com a Lisa o tempo todo, se tiver uma
pequena possibilidade do Bernardo nascer, eu ligo para você
imediatamente. Não se preocupe, cuide de deixar as coisas em ordem e
voltem em segurança.
— Tenho certeza de que a Lisa não me ligará do jeito que ela não
vai querer me preocupar, mas me prometa que vai me ligar, mesmo sendo
um alarme falso, você me liga.
— Eu vou ligar, peladão.
Passei o celular para o Lorenzo e ele continuou no telefone com o
Enzo. Quando saí do closet, Lorenzo apareceu de toalha, sorrindo
maliciosamente para mim.
— Que tal nos divertimos um pouco antes de sairmos? — perguntou
Lorenzo se aproximando de mim, logo me beijando.
Ele me levou para cama, deitando-se por cima de mim.
Se eu soubesse, tinha nem colocado a minha roupa.

Depois da nossa despedida, corri para o banheiro me limpar, já que


estávamos atrasados.
— Se sentir mal, peça para o Red te levar ao hospital, mas me
informe antes — disse Lorenzo se vestindo ao meu lado.
— Seja lá o que você for fazer, tenta voltar inteiro — pedi.
Estava preocupada. As coisas estão cada vez piores por aqui, tinha
medo de um ataque.
Deus me livre!
— Se continuar a falar assim, vou achar que está apaixonada por
mim. Não se preocupe comigo, só cuide de você e do nosso filho.
— Tudo bem! — disse, colocando o meu sutiã, logo gemendo de
dor.
— Está com dor?
— Meus seios estão doloridos.
Parece que cada vez ficam mais sensíveis.
— Tentarei pegar leve na próxima vez — falou, dando uma
piscadela e eu revirei os olhos. Ele achava que era por causa dele, exibido.
Saímos de casa à caminho da casa da minha mãe.
Quando finalmente chegamos na casa da minha mãe, a Lisa já
estava lá com o Nandinho.
— Lisa ficará aqui com o Nandinho — disse Enzo. — Achei melhor
do que ela ficar saindo muito e se esforçando com aquela barriga daquele
tamanho. Não esqueça do que me prometeu, senhora Ferraro.
— Relaxa, Enzo — disse, tocando em seu ombro.
— Temos que ir, o Pietro e o Enrico já estão nos esperando no
jatinho — disse Lorenzo ao Enzo.
— Com certeza, enfurecidos com o seu atraso, Lorenzo — disse
Enzo entrando no carro.
— Eu estava ocupado — respondeu, dando-me um sorriso
malicioso.
Aproximei-me dele, colocando a sua mão na minha barriga.
— Vamos ficar bem, não se preocupe — disse, notando que ele
estava preocupado em nos deixar. Ele estava muito brincalhão hoje, talvez
para esconder a preocupação.
— Não esqueça de me ligar a noite — falou. Lorenzo me deu um
beijo, afastando-se em seguida. — Agora entre, antes que o Enzo desista.
Entrei e a Lucy estava com um sorriso enorme.
— Ele está tão diferente. Mais carinhoso com você e bem mais
sorridente do que o normal. Você conseguiu entrar no coração do Lorenzo,
isso é para poucos.
— Tenho medo de me acostumar e o Lorenzo voltar dessa viagem
igual um babaca que era — disse.
— Vai ficar tudo bem, minha querida.
Lucy me passava uma confiança extrema.
— Red, aqui você pode ficar sem esse terno quente. Se os outros
seguranças quiserem também, está liberado — disse.
— Só seguirei suas ordens essas semanas, baixinha. Cada vez que
eu olho essa sua barriga, está enorme. Me pergunto como será o bebê que
está aí dentro daqui a sete meses.
Sete meses pareciam tão distantes, mas eu já estava com dois meses
de gravidez e isso estava passando muito rápido.
— O Lorenzo disse algo do Federico a você, Red? — perguntei.
— Ele virá aqui agora a tarde, já que vocês querem urgência.
— Quero logo ver essas visitas do meu pai a Kitty.
— Filha! — disse minha mãe me abraçando assim que entramos em
casa.
— Mãe, eu quero te apresentar a Lucy, ela é que cuida de mim lá em
casa — disse.
— Se cuida da minha filha, já se torna da família. É um prazer
conhecê-la, sou a Esther.
— O prazer é meu! — disse Lucy. — A senhora tem uma filha
incrível.
— Sem esse negócio de senhora, ainda estou jovem — disse minha
mãe. Era um lado que mal víamos dela. Apesar da Lucy ser um pouco mais
velha que a minha mãe, Lucy parecia ser muito rigorosa com a sua
educação. — Essa é a minha filha mais nova, a Kitty. A mais velha deve
estar deitada em algum lugar, mas acho que já conhece a Lisa.
— Já a vi algumas vezes na casa do Lorenzo, mas nunca
conversamos — disse Lucy. — Nunca consegui ver seu rosto, o Enzo
sempre é muito ágil em tirar a família de toda atenção.
A tarde foi tranquila. Passamos um bom tempo só sentada
conversando sobre a vida, até que o Federico chegou. Pedi para a Lucy
olhar o Nandinho e a Kitty por um tempo.
— Pediram urgência e eu vim — disse Federico.
Federico era um senhor muito simpático, diferente da filha.
— Se estivesse ocupado, não precisaria ter se apressado.

— Sirvo aos Ferraro, não importa o horário ou com quem eu esteja,


estou sempre disponível para vocês. Mas qual o motivo da urgência?
— Nós queríamos saber se o juiz já estabeleceu as visitas do Dante
aqui? — perguntou a minha mãe.
O divórcio da minha mãe foi um sucesso, rapidamente foi resolvido.
Nunca pensei que ter dinheiro e ser bem reconhecida ajudaria tanto
em agilizar as papeladas do divórcio. Meu pai não tinha mais nada com a
minha mãe, ela já usava o seu sobrenome de solteira, Esther MacLean.
— Ainda não foi estimulado alguma data já que ele entrou com o
pedido de guarda dela.
Eu não sabia que ele havia entrado com o pedido de guarda da Kitty.
Eu e a Lisa olhamos para a minha mãe e ela logo mostrou culpada por ter
escondido isso da gente.
— Ele tem chance de ganhar? — perguntou Lisa ao Federico.
— Na verdade, se usarmos o meio certo, não. Ele não é ninguém
comparado ao poder que um Ferraro carrega. Com a minha experiência, ele
vai perder, mas o problema vem aí, as suas visitas. O juiz sempre coloca no
dia em que a responsável legal estará presente. Porém, pode ocorrer dele
querer que ela o visite em sua casa, durma alguns finais de semana e faça
viagens com o pai.
— Não, ele não mora sozinho, tem pessoas morando com ele e pode
ser perigoso para ela.
— Tem algo que possamos usar contra ele, senhora Ferraro? —
perguntou Federico, desconfiado.
Olhei para a Lisa que começou a ficar um pouco assustada.
— Só tente o impossível para ela não pisar naquela casa.
Conversamos mais um pouco sobre o que aconteceria logo em
seguida que tivesse a próxima audiência. Estava tudo por debaixo dos panos
para que não investigassem a vida tanto da minha mãe, como a do meu pai.
Já a noite, Federico já havia ido embora. Estava prestes a dormir quando eu
me lembrei de ligar para o Lorenzo.
— Já estava voltando para casa — reclamou Lorenzo assim que
atendeu a ligação. — Por que não me ligou mais cedo?
— Você não disse o horário que eu tinha que ligar, resolvi ligar só
quando eu fosse dormir.
— Quer escutar a minha voz antes de dormir, bela ruiva? — Senti
sua ironia. — Está tudo bem?
— Sim! — respondi um pouco sonolenta. — E o Enzo já se
acalmou?
— Pietro o prendeu no quarto com o Enrico para se caso ele tentar
fugir.
— Ele deve estar preocupado em perder o parto da Lisa ou só com
medo dela matar ele se não estiver ao seu lado quando Bernardo nascer —
disse, era um grande possibilidade.
— O Federico foi aí?
— Saiu agora a pouco.
— Resolveu o que tinha que resolver?
— Ah, sim...
— Vou desligar, antes que me deixe falando sozinho. Lembra o que
deu na última vez, não é? — O dia que eu fui para o rifugio pela primeira
vez, como esquecer? — Qualquer coisa, me liga.
— Tudo bem! Tchau!
Não ia prolongar muito a nossa despedida, porque o Lorenzo não
era muito de dizer: "Tchau, beijos, te amo".
Só espero que eles fiquem bem, seja lá o que eles foram fazer.

Hoje já era quinta-feira. Já faz quatro dias que eu não via o Lorenzo,
apesar de sempre falarmos duas vezes ao dia, só falamos o essencial. Era
difícil me acostumar com essa nova rotina, já que eu estava acostumada a
ter o Lorenzo dividindo a cama comigo.
Dona Telma e as meninas viriam aqui hoje. Pedi para que elas
trouxessem os seus filhos para brincarem com o Nandinho e a Kitty.
Elas logo chegariam, já que passariam o dia conosco.
— Sua sogra gosta de comida com muito tempero? — perguntou
minha mãe nervosa por receber alguém tão importante em sua casa.
— Mãe, se acalma! — disse. — Quando a senhora conhecê-las, logo
vai notar que não são diferentes da gente.
Não demorou muito e as meninas logo chegaram, então apresentei
elas a minha família, vendo que uma amizade aconteceria ali. Ficamos no
jardim, deitadas perto da piscina.
— Pietro me ligou hoje cedo e parecia um pouco bravo. Queria
saber para onde eles foram — comentou Giulia tão preocupada quanto eu.
— Só sei que o Diego está mais chato do que o normal, tem algo
acontecendo no quartel — disse Dona Telma um pouco cansada. Imagina
aturar o Sr. Diego direto. A minha sorte que o Lorenzo ficava longe quando
estava de mau-humor.
— Enrico disse que dormiu agarrado com o Enzo, daqui a pouco
eles assumem o caso que tem entre eles dois — disse Emma.
Ri, pensando nos dois tentando não se matar dentro do quarto.
— Seu bebê é para quando? — perguntou Giulia para a Lisa.
— Já estou na reta final, só esperando mesmo. Bernardo tem o prazo
de até três semanas para nascer, se não iremos fazer uma cesárea —
respondeu Lisa.
— Será que nascerá ruivo? O Fernando é a cara do pai — disse
Lucy.
— Eu quero que o meu neto nasça ruivo — disse Dona Telma. —
Imagina ser tão lindo quanto a mãe.
Ficava meio tímida com os elogios.
O dia foi ótimo, todas nós nos divertimos. O tempo passava tão
rapidamente, que não dava nem tempo de aproveitar direito.
As meninas já haviam ido embora. Era noite, estava um pouco
enjoada para jantar, então resolvi me deitar mais cedo. Resolvi ligar para o
Lorenzo já que eu ia dormir, mas ele não atendeu. Fiquei meio receosa de
ligar duas vezes e ele achar que algo aconteceu, então fui dormir, bem mais
preocupada que os dias normais.
— Ele deve estar ocupado, não se preocupe — disse Red.
Coloquei um colchão no chão, caso o Red quisesse dormir.
Lorenzo o mandou ficar de olho em mim a cada segundo, só tinha
tempo livre no banheiro, menos mal. Do jeito que o Lorenzo estava, não
duvidaria que ele mandasse até o Red ficar comigo ali dentro.

Acordei com o barulho do meu celular tocando, eram 02:37.


Sentei-me na cama, pegando o celular que estava na mesinha ao
lado.
— Sì? — disse assim que atendi sem olhar quem era.

— Só queria saber se estava bem, por isso liguei esse horário —


disse Lorenzo.
Sua voz estava meio fraca, cansado, sei lá.
— Está tudo bem? Sua voz ...
— Está sim! — respondeu depois de me interromper. — Estava
cuidando de uns negócios inacabados, talvez até volte antes... — Escutei
Enzo falar algo. — Enzo está perguntando se a Lisa e o Nando estão bem.
— Estão sim! A Lisa está bem mais violenta do que o normal —
disse, lembrando do que aconteceu no almoço quando a minha mãe disse
que não era bom ela beber refrigerante e ela quase matou todas nós.
— Presumo que tem uma boa história por trás disso — disse
Lorenzo rindo, mas logo gemeu de dor.
— Está machucado? Você não vai morrer falando comigo pelo
telefone, pelo amor de Deus, Lorenzo! — disse, já ficando desesperada.
— Deixe de surtar, porque quem surta sou eu — falou, mostrando
que até falar doía algo nele. — Já disse que eu estou bem. Vai dormir e não
se preocupe com ninguém além do nosso filho.
— Certo! — fingi que acreditava. — Fique bem e cuide dos rapazes.
Se algo acontecer com o Enzo, a Lisa mata cada um de nós.
— Pode deixar! Vou desligar antes que o Enrico beba o bar todo.
E desligou.
Sei que ele estava machucado, mas por que ele tinha que ser tão
orgulhoso de sempre guardar tudo para si?
Ajeitei-me na cama e esperei o sono vir.
Essas semanas seriam longas, mas o Lorenzo disse que chegaria
mais cedo. Assim espero, fico menos preocupada. Meu pai querer a guarda
da Kitty realmente me deixou ainda mais preocupado. Tio Marco morando
por aqui, o meu pai estava fazendo isso de propósito para mexer comigo e
com a minha família.
Estava preocupada demais com isso, mas tenho que ter esperança,
certamente Federico dará um jeito.
Com o tempo, logo adormeci, já que o dia foi agitado.
Uma semana já se passou.
Lorenzo avisou a Red que voltaria hoje. Eles conseguiram resolver
tudo mais cedo, mas mesmo assim achava que o Lorenzo estava bem
diferente só de ouvir sua voz. Red nos levou de volta para casa, Lorenzo
disse que não passaria pela casa da Lisa, já que o Enrico levaria Enzo para
casa.
Cheguei e fui para o quarto.
Minha barriga cresceu tanto que já estava preocupada com a
quantidade de bebês ali dentro, mas logo lembrei da barriga de Lisa quando
estava grávida de Nando, ela cresceu tanto nos primeiros meses que
achávamos que minha irmã estava esperando gêmeos.
Lorenzo é grande, sua família é do tamanho de um armário, se o
bebê puxar ao pai... Deus que me livre de um parto normal. Já entraria na
décima semanas. Eu estava babando ainda mais a minha barriga.
Me deitei na cama, enquanto aguardava o Lorenzo chegar. Eu
passava o dia deitada, sem forças nem para comer. Estava, na maior parte
do tempo, com sono, o que era ruim, porque eu estava trocando o dia pela
noite.
Fiquei tempo demais deitada de lado e já estava com uma dor no
pescoço, gemendo quando fui mudar de posição.
— Está com dor? — Escutei a voz de Lorenzo.
Encarei-o Lorenzo, ele estava bem acabado. Parecia que não dormia
há dias e tinha alguns arranhões no braço.
Ele entrou e foi direto para o banheiro.
— Ah, não, só torcicolo — respondi.
— Vou precisar da sua ajuda aqui — disse Lorenzo me chamando
no banheiro.
Fui ver do que ele precisava.
— Sì?
— Me ajude a tirar a camisa — falou.
Me aproximei dele, desabotoando a sua camisa. Lorenzo não me
pediria isso se não estivesse com problemas. Quando terminei, abri um
pouco a sua camisa e já vi uma enorme faixa branca ao redor de suas
costelas.
— Se machucou? Está doendo? O que foi isso? — perguntei sem
dar pausa para as perguntas.
— Um tiro de raspão — respondeu. — Está tudo bem, só me ajude a
tirar a camisa.
— Um tiro? Meu Deus! — disse em choque. — Você cuidou disso
direito? Quer ir no quartel dar uma olhada nisso?
— Eu estou bem, ruiva, o Enrico já deu uma olhada — falou
despreocupado.
Estava nervosa de machucá-lo enquanto tirava a sua camisa. Olhei
bem o seu corpo, tentando achar mais algum ferimento.
— Está tudo bem agora, Hope — disse Lorenzo.
— Você não vai morrer perto de mim, não é? — indaguei nervosa.
— Eu não sei o que fazer se precisar de alguma ajuda...
— Não precisa ficar nervosa — disse Lorenzo me interrompendo.
— Foi só de raspão, Hope, já basta o Enzo ter enlouquecido na hora.
— Está com dor? Quer que eu pegue um remédio com a Lucy?
— Estou bem e vivo — falou. — Agora só me ajude com isso aqui
que eu preciso de um bom banho.
Comecei a tirar a manga da camisa do seu braço esquerdo, já que o
curativo estava no lado direito. Quando passei para a sua outra mão, fiquei
um pouco receosa, mas tentei tirar com calma, já que o Lorenzo não
conseguia levantar muito o braço.
— Ai! — disse Lorenzo.
— Me desculpe, eu te machuquei? — perguntei.
Tirei as minhas mãos do seu braço, encarando a ferida para ver se
sangrava.
— Estou te zoando, anda logo com isso. — Falou rindo do meu
desespero.
— Não faça isso, eu quase morri do coração — disse.
Lorenzo me virou de costa, me dando um abraço por trás, colocando
o seu rosto no meu pescoço.
— Estava sentindo a sua falta — falou. Suas mãos agora estavam na
minha barriga, me deixando surpresa em saber que Lorenzo sentiu falta de
mim nos últimos dias. — Está enorme, sinto que perdi semanas
importantes.
— Só comi muito, talvez tenha engordado bastante essas semanas
— falei.
— Está linda! — falou, depositando um beijo no meu pescoço. —
Só vou falar dos 2kg que aumentou para a médica. Se aumentar mais terá
que retribuir o favor de novo.
Sabia que ele tinha um sorriso cafajeste no seu rosto, mesmo sem
me virar para conferir.
— Podemos discutir isso depois — falei.
— Não sentiu a minha falta? — perguntou no meu ouvido.
— Senti sua falta também — respondi, colocando a mão por cima
da sua na minha barriga. — Nós dois sentimos.
— Seu cheiro é tão bom — comentou.
Lorenzo estava muito carinhoso e eu estava ficando assustada com
isso. Ele me virou para encará-lo e me beijou.
Como eu senti falta dos seus beijos.
Senti a sua mão no meu rosto enquanto ele passava lentamente o
polegar pela minha bochecha. Lorenzo se afastou de mim, olhando todo o
meu corpo.
— Não tem nada fora do lugar — disse.
Ele tinha um medo absurdo de ficar longe, de tirar os olhos de mim,
como se eu fosse desaparecer quando ele chegasse.
— Queria continuar o que estávamos fazendo, mas eu tenho que
resolver umas coisas no rifugio. Fica para a noite.
Só pensava que Lorenzo estava com muitos problemas para
resolver. Ele mal chegou e já tem mais trabalho lhe esperando.
— Eu vou te esperar lá fora — disse.
— Terá que me ajudar com a calça — apontou e o seu sorriso
malicioso logo surgiu.
— Certo — respondi.
Tirei o seu cinto e desabotoei a sua calça. Quando eu ia descer o
tecido por suas coxas, Lorenzo me impediu.
— Não é bom você se agachar, deixa que eu retiro com a outra mão
— falou. — Peça que Lucy faça uma comida para que eu leve para o
rifugio, vou comer por lá hoje.
Desci, encontrando a Lucy olhando pela janela da cozinha.
— Lucy...
— Que susto, menina! — falou colocando a mão no peito. — Olha
como o rifugio está cheio, será que tem alguém importante lá dentro?
Me aproximei da janela, olhando um aumento dos seguranças que
ficavam lá fora.
— Não sei, o Lorenzo pediu para que você fizesse uma comida para
ele levar para lá — avisei.
Voltei para o quarto e Lorenzo já estava tomando banho. Esperei no
closet para ajudá-lo a se vestir, já que não vai conseguir sozinho. Com um
tempinho, ele logo apareceu.
— Deixa que eu visto a cueca e o moletom, só me ajude a subir —
falou.
Fiz o que ele pediu. Não tinha como não olhar os seus atributos,
Lorenzo era muito bem-dotado.
— Qual camisa você quer? — perguntei.
— Vou ficar sem.
— Alguém vem trocar esse seu curativo? — perguntei.
— No rifugio tem um médico, ele cuida disso — respondeu.
Lá tinha tudo, então nem duvidaria.
— Ah, certo!
Antes do Lorenzo sair, eu o beijei de novo. Só queria sentir os seus
lábios com os meus. Passei a desejar demais o toque de Lorenzo nos
últimos tempos, talvez fossem os hormônios que estavam uma loucura.
— Estava mesmo com saudades, Hope.
— Só fiquei preocupada — disse e ele sorriu de lado feliz de saber
disso.
Lorenzo saiu e eu permaneci no quarto.
A tardezinha desci para comer algo, mas logo escuto uma voz no
andar de baixo quando estava na escada, era Beatrice.
— Nossa, como a sua barriga cresceu — falou.
— O que faz aqui? O Lorenzo está no rifugio.
— Estou esperando por ele, tenho algo para conversar — disse
Beatrice, sentando-se no sofá na maior mordomia.
Saí da sala e fui para a cozinha, encontrando com Lucy
— Lorenzo já sabe que ela está aqui?
— Não, estou tentando falar com ele, mas parece que ele está
ocupado lá dentro do rifugio — respondeu Lucy.
Fiquei com Lucy na cozinha, quando voltei para sala, a Beatrice
estava descendo as escadas. Ela estava totalmente nervosa assim que me
viu.
— O que está fazendo lá em cima? — perguntei.
— Estava atrás do banheiro — respondeu.
Ela segurou a bolsa com força e eu sabia que algo estava errado.
— Está aqui, senhora — disse um segurança trazendo algo em mãos
e logo entregou a chave do carro dela.
Ela ficou sozinha aqui? Lorenzo vai surtar quando souber disso.
— Você a deixou sozinha? — perguntei ao segurança.
— A senhorita Beatrice me pediu para pegar algo em seu carro, só
obedeci, senhora Ferraro — respondeu.
— Se o Lorenzo souber... — disse, pensando na reação do homem.
— Não faça isso novamente, por favor!
— Não sou nenhuma inimiga para ter alguém me seguindo na casa
do meu amigo de infância — disse Beatrice.
— São as regras da casa, se não gosta, espera lá fora — disse
ríspida.
— Acha que está falando com quem? — perguntou, não gostando da
minha resposta.
— Você está na minha casa, então siga as regras dela. — falei. Olhei
para o segurança, falando com ele em seguida. — Se ela andar novamente
sozinha por aí, a arraste ela para fora daqui.
Subi para o quarto antes que eu falasse demais. Antes de abrir a
porta do quarto, escutei Lorenzo chegando na sala. Voltei um pouco e olhei
da escada Beatrice correndo para abraçá-lo, ele logo gemeu de dor.
Aquilo me incomodou muito. Não queria me envolver com o
Lorenzo daquela forma, mas ele já estava entrando no meu coração aos
poucos.
Droga, Hope!
Entrei no quarto e me deitei na cama, mexendo no celular. Tinha que
tomar banho, mas estava com muita preguiça, se eu não tomasse agora, ia
ficar com sono mais tarde e não tomaria.
Deixei o celular na cama e caminhei para o banheiro. Fiquei uns 5
minutos me olhando no espelho tentando criar coragem para tirar a roupa.
Escutei uns barulhos no quarto, mas não dei importância, deveria ser
Lorenzo.
Estava no banheiro quando o Lorenzo chegou abrindo a porta com
tanta força que ela chegou a bater tão forte na parede que voltou a se fechar.
— Lorenzo... — disse, sendo interrompida por ele.
— O que faz você pensar que pode fazer o que quiser? Eu só te dei
um pouco mais de mordomia aqui que você logo aprontou — disse Lorenzo
bastante furioso.
Sua raiva e a sua fúria era tamanha que a sua respiração estava
ofegante. Se eu não tivesse grávida, ele certamente estaria em cima de mim
agora.
— O que foi que eu fiz, Lorenzo? — perguntei sem entender.
— Caralho! — reclamou passando as mãos no rosto totalmente fora
de si.
Ele andava de um lado para o outro, remexendo as coisas no
banheiro atrás de algo. Não cogitei sair do banheiro, já que ele jogava tudo
no chão, impedindo a minha passagem. Lorenzo passou a mão no cabelo e
eu recuei até me encostar na parede. Ele respirava fundo se controlando
para não surtar, mas não tinha mais o que fazer, ele já estava fora de si.
O que eu fiz?
E, no ataque de fúria, Lorenzo começou a quebrar o banheiro inteiro
comigo lá dentro. Ele derrubou no chão tudo o que estava em cima da pia,
fazendo um enorme barulho de vidros se quebrado. Pegou o vaso de flores
que ficava no chão e jogou no espelho.
Eu não conseguia acompanhar o que estava acontecendo.
Estava sendo tudo tão rápido, que eu me sentia ainda mais confusa
desse ataque de fúria do Lorenzo.
— Cadê... — murmurava para si, totalmente fora de controle. Nem
quando bêbado ele ficou desse jeito. — PORRA, CADÊ, HOPE?
Ele falava como se eu soubesse e aquilo me deixava ainda mais
assustada.
— Eu tenho raiva de mim, porque finalmente eu confiei e deixei
alguém entrar novamente na minha vida e isso acontece — falou, enquanto
andava de um lado para o outro. — CARALHO, EU ESTOU CANSADO
DISSO, PORRA!
Eu não sabia do que ele estava falando.
— Lorenzo... — disse, sem saber o que fazer.
Não era ele, ele estava agindo estranho, eu não sabia o que fiz de
errado. Nem quando desliguei o telefone ele ficou agressivo dessa forma.
— Tem certeza que não sabe do que fez, Hope? — perguntou me
encarando com aquele seu olhar vago, não acreditando em mim. — Só me
diga, onde está o que pegou?
— Eu não peguei nada, eu nem sei do que você está falando — disse
em total desespero. — Você sabe quando eu estou mentindo, olhe para mim
e veja.
Eu já estava chorando. Estava muito assustada e, com os hormônios
do jeito que estão, eu estava cada vez mais apavorada. Ele se afastou de
mim, passando a mão no cabelo repetidas vezes, confuso por não entender o
que estava acontecendo.
— PORRA! — gritou.
Lorenzo arrancou o armário da parede, jogando os seus restos no
chão.
De onde vinha essa força?
— EU SEI QUE ENTROU NO QUARTO DA ANTONELLA —
gritou.
Droga, ele está no nível mais alto do surto, principalmente por
envolver a filha.
— Eu não entrei — disse temerosa. — Nunca nem cheguei perto da
porta. Se acalma e tenta pensar no que está acontecendo. Você está com
raiva e não está pensando direito.
— Pare de chorar e me responda onde está a caixinha marrom que
estava no quarto da minha filha? — falou, como se eu soubesse o que era.
Onde eu havia escutado sobre essa caixinha? Ah... foi quando o
rapaz invadiu a casa atrás dela.
— Hope, por favor, só me diga logo onde você guardou — falou
praticamente suplicando para sair da minha frente.
— Eu não peguei nada, Lorenzo — disse, colocando as mãos no
rosto, me agachando antes que eu perdesse a força nas pernas. — Eu estou
com medo, por favor, acredite em mim. Eu não entrei lá. Não sei do que
você está falando.
Eu estava com muito medo dele me bater, de machucar o meu filho.
Eu nunca entraria naquele quarto.
Estava apavorada dele me levar para o rifugio, eu realmente não
fazia ideia do que ele estava falando. Sei que se fosse antes ele já teria me
arrastado para lá, não estaria aqui tendo essa conversa.
O silêncio pairou no ambiente, sem nenhuma resposta dele. Fiquei
nervosa, não sabia se levantava ou não o olhar.
— Está tudo bem, minha querida! — disse Lucy me abraçando.
Levantei o olhar e vi que Lorenzo não estava mais aqui. Escutei uma
quebradeira no quarto, aumentando ainda mais o meu medo.
— Eu juro que não peguei nada, Lucy. Eu nunca nem entrei naquele
quarto — disse.
— Eu acredito em você, está tudo bem — disse Lucy. — Aquele
quarto é uma zona proibida, mas alguém entrou lá e Lorenzo vai matar todo
mundo se não descobrir quem pegou o que tinha lá dentro. Só tínhamos nós
na casa, ele já olhou o meu quarto atrás do que sumiu, eu não sei do que ele
tanto procura.
— Beatrice... — respirei antes de falar.
— Não precisa dizer nada, só se acalme — falou.
— Não, Lucy... — disse e ela me interrompeu de novo.
— Está tudo bem, eu vou pegar uma água para você — falou e eu
segurei a sua mão para que ela me escutasse.
— Quando eu saí da cozinha, Beatrice estava descendo as escadas.
Passamos a semana fora, eu nem cheguei perto daquela porta. Tenho certeza
que foi ela. Me deixe falar com o Lorenzo que eu explico para ele — disse.
— Tem certeza? Você está assustada demais — falou e eu assenti.
— Eu vou falar com ele agora.
Lucy saiu e Red entrou no banheiro, me carregando até a cama.
— Está sentindo alguma dor, pequena? — perguntou.
— Eu estou bem! — disse ainda chorando pelo susto.
O quarto estava uma zona, as gavetas reviradas, tudo fora do lugar.
Pela porta do quarto que estava aberta, vi a bagunça no corredor.
Lorenzo, como sempre, nunca acreditava em mim. Eu nunca
entraria naquele quarto, porque eu sei que ele não fica bem nem quando
tocamos no nome da filha dele, quem dirá invadir seu espaço. Mas... o que
tinha naquela caixinha? Será que é algo a ver com a morte da filha dele?
Guardar no quarto dela era esperteza, já que ninguém além do
Lorenzo entra naquele quarto, isso até agora. Até Red estava estranho, ele
mexia as mãos direto, mostrando estar impaciente, olhava para porta como
se esperasse algo.
— O que foi? — perguntei.
— Quero ir atrás do Lorenzo, ver se ele já se acalmou — falou
preocupado. — Pode ter certeza de que o que aconteceu hoje não é um terço
do quão mal ele está, já o vi atirar no próprio irmão por muito menos, que
dirá com algo envolvendo a Antonella desse jeito.
— Eu vi a Beatrice descendo as escadas. Red, eu juro que eu não
peguei nada — disse.
— Eu sei, o Lorenzo também sabe, o ruim é fazê-lo pensar nisso
durante um surto de raiva, porque ele não pensa na hora da raiva — falou.
— Isso não deveria ter acontecido.
— Você está melhor? — perguntou Lucy, retornando ao quarto com
um copo de suco.
— Só um pouco tonta, vou me deitar — disse, bebendo o suco de
maracujá para ver se me acalmava. — O que a Beatrice queria com isso?
Era só para criar motivos de discussão? Não faz sentido para mim. Ela
poderia usar outros meios.
— É melhor irmos ao hospital, por via das dúvidas — disse Red.
— Lorenzo saiu mais enfurecido do que já estava. Tudo que envolve
a filha entrar em surto de raiva. Não sei como alguém ainda tem coragem de
tentar se meter com Lorenzo usando a filha dele — disse Lucy. — Se quiser
ir atrás dele, Red, eu fico com a Hope.
— Não, eu vou esperar a Hope se acalmar — disse Red para ela.
— Lorenzo deve estar precisando de alguém agora — disse Lucy a
ele. — Ele está mal, Red, sabe o que provavelmente ele deve fazer.
— Vou ligar para Enzo, ele consegue acalmar o Lorenzo — falou.
— Lucy, eu não quero ser chata, mas não fale o nome do Lorenzo
agora. Estou tão brava por ter deixado Lorenzo entrar na minha vida...
Quando coisas assim acontecem, ele mostra que não confia em mim. Eu
nunca dei motivos para desconfianças e na primeira oportunidade ele faz
isso comigo — falei.
— Meu bem, algo sumiu e ele está enfurecido por isso. Claro que
não é motivo para ele te tratar daquele jeito, mas quando ele aparecer,
converse com ele e, se der, o ameace. Agora ele tem muito a perder. —
Apontou para a minha barriga.
Estava magoada com Lorenzo. Entendo que ele não pensa quando
entra em surto, mas eu não invadiria o seu espaço desse jeito. Fiquei um
tempinho na cama e já me sentia mais calma.
Meu celular tocou e eu vi que era Lorenzo.
— É ele? — perguntou Lucy e eu assenti. — Vai atender?
— Não — disse.
O celular do Red tocou em seguida e ele logo me deu o seu celular.
— Ele quer falar com você, Hope, por favor, atenda — pediu Red.
— Eu que estou te pedindo.
Estranhei Red fazer isso, ele nunca me faria fazer algo que eu não
quisesse. Peguei o celular e coloquei no ouvido.
— Sì!
— Por que não atendeu o seu celular? — perguntou.
Lorenzo não parecia estar tão bravo quanto estava antes.
— Porque eu não quis, Lorenzo — respondi. — Devo te aguardar
no rifugio agora?
Não sei onde vinha tanta petulância da minha parte, mas eu estava
muito brava com ele.
— Hope... — Escutei Lorenzo respirando fundo, querendo falar
comigo pacificamente agora.
— Não precisa se controlar, faça o que tem que fazer. Estou com a
Lucy e o Red, quer se certificar com eles que eu não peguei nada?
— Escute... — O interrompi.
— Quer saber, escute você — falei. — Desde o dia que eu me casei
nunca te dei motivos para desconfiar de mim. Eu seguia a risca
absolutamente tudo que você dizia para não ser castigada. Você me
confundiu, me deixou vulnerável e agora eu estou sofrendo por ter deixado
você entrar na minha vida. Eu só digo uma coisa, Lorenzo, a partir de hoje,
não se aproxime de mim, não me beije, não me toque, não pergunte se eu
estou bem, não fale comigo. Não era só o herdeiro que você queria? Já
estou o carregando, então não precisa mais ter nenhum tipo de contato
comigo. Eu faço tudo o que você pede e na primeira oportunidade que você
tem para mostrar que confia em mim, você faz o contrário.
Sei que divorciar eu não podia, do jeito que o Conselho e os juízes
eram, me caçariam até no inferno. Lorenzo, por outro lado, já é assim pela
morte da filha, imagina se eu realmente sumisse com o único filho dele
vivo? Ele me mataria quando me encontrasse.
— Hope... — O interrompi mais uma vez.
— Estou te esperando no rifugio para o castigo por desligar na sua
cara.
E desliguei o telefone.
— Pela virgem Maria! — disse Lucy. — Hoje ele sai de si ou segura
a raiva.
— Eu vou para o rifu... — Antes que eu terminasse, senti uma
dorzinha no pé da barriga.
— Está tudo bem? — perguntou Lucy, aproximando-se de mim.
Eu gemia com a dor aguda que estava sentindo. Sentia a minha
cabeça doer e uma vontade de vomitar.
— Não sei, estou um pouco enjoada — respondi, colocando a mão
na boca temendo vomitar ali.
Logo senti um líquido escorrer na minha perna, vi que era sangue.
— É melhor irmos ao hospital — falou Red bastante preocupado.
— Lucy, eu estou sangrando — disse desesperada.
Red pegou o celular e pediu para Thony trazer o carro para a frente
de casa.
— Está tudo bem! — disse Lucy tentando me acalmar.
Eu escutava a sua voz distante, me sentindo tonta.
— Eu estou um pouco tonta, Lucy ...
Não lembro de muita coisa, só de Red me segurando quando tudo
escureceu.
Acordei um pouco atordoada, sem saber onde estava. Abri os olhos
lentamente, tentando entender o que estava acontecendo.
Meus olhos passaram pelo local e eu percebi que era um quarto de
hospital.
Olhei para as minhas mãos, encarando o acesso em uma delas. Segui
com os olhos o escalpe até chegar no soro preso no suporte acima de mim.
Havia alguns fios no meu peito ligados ao aparelho ao lado, mas eu estava
muito enjoada para tentar assimilar o que estava acontecendo.
Senti um incomodo no nariz, logo tocando com a mão, sentindo o
cateter nasal que estava ali. Minha mão logo chegou de encontro na minha
barriga que parecia intacta a meu ver, então lembrei do que aconteceu na
noite passada.
— Meu bebê... — tentei falar algo, mas parecia tão sonolenta e
cansada.
— Está tudo bem com o seu filho, senhora Ferraro — disse uma
enfermeira aparecendo na minha frente.
— O que aconteceu? Eu sangrei...
— Está tudo bem! — respondeu. — Se toda grávida que sangrasse
perdesse o bebê, o mundo hoje estava inabitável. Foi só o susto que não
deve se repetir, talvez não tenha a mesma sorte na próxima vez.
Simpática.
— Está tudo bem com o bebê? Ele não sofreu nada, tipo nenhuma
sequela? Ele está bem mesmo?
— Se acalme, está tudo bem com o seu bebê — falou. — Só ficará
alguns dias aqui de observação, mas voltará para casa em breve. O seu
marido quase quebrou o hospital para ter notícias suas. Vou chamá-lo para
entrar...
— Eu não quero — disse, a interrompendo. — Sei que é errado, mas
o deixe sofrer mais um pouco, foi culpa dele. Por favor, eu não quero
receber visitas.
— Se acalme, senhora, não é bom a senhora se alterar. Seguirei o
que me pediu, mas ele não parece ser alguém que gosta de escutar — falou.
— Diga que a vida do filho pode estar em risco e ele se cala — falei.
— Só quero ficar sozinha um pouco.
— Chamarei o médico para falar com a senhora — disse, saindo do
quarto em seguida.
Passei a mão pela minha barriga, tentando me acalmar.
— A mamãe quase morreu do coração quando viu aquele sangue —
disse. — Eu vou cuidar de você, meu amor.
Quando eu ergui o olhar, o Lorenzo estava na porta. Ignorei-o,
olhando para o lado.
— Está tudo bem? — perguntou nervoso e eu o ignorei.
Ele permaneceu na porta, esperando eu deixá-lo entrar. Eu não disse
nada, estava extremamente magoada com ele. Lorenzo ficou parado ali, até
que criou coragem e entrou. Acabou por se sentar no final da cama e eu
senti a sua mão na minha barriga.
Ele não disse nada, não tentou uma aproximação e muito menos
reclamou do que eu fiz antes de parar aqui, ele só estava lá, parado e em
silêncio. Não pretendia falar nada com ele, porque eu sei que não adiantaria
eu falar se quando acontecesse novamente ele não acreditaria em mim.
Sei que ele não é de se desculpar, da primeira e última vez que ele
fez isso, ele quase que não conseguia dizer. Até eu escutar o seu fungado
quase inaudível.
Ele estava chorando?
Não quis olhar porque sabia que ficaria com pena, mas eu não
consegui conter a minha curiosidade. Minha atenção foi para o enorme
homem completamente assustado a minha frente.
Lorenzo não olhava para mim, apenas para a minha barriga como se
ali tivesse um ímã o puxando. Vi diversas lágrimas caindo dos seus olhos, o
seu nariz estava bem vermelho e eu via o quanto ele estava se segurando
para não desmoronar.
Não se importe, Hope.
Tentei ignorar, mas não dava. Eu não entendia a sua dor ou que
passou pela cabeça dele ao saber que eu estava no hospital sangrando. Ele
perdeu uma filha, imagina achar que vai perder mais outro filho? Deveria
ter sido aterrorizante.
Droga, Hope, por que tem que ter bom coração?
— Lorenzo... — disse, sendo interrompida com o seu choro.
Me sentei, o observando. Ele não aguentou e desmoronou na minha
frente, totalmente diferente do homem que eu era costumada a ver. Suas
mãos tremiam, o seu fôlego faltava, era como se ele estivesse em pânico.
Ele não parecia o homem que eu conheci. O homem que torturava
pessoas sem ao menos se importar com as suas dores. O homem que matava
quem ele quisesse sem pensar em suas famílias.
— Me desculpa! — disse Lorenzo, tentando respirar e falar ao
mesmo tempo. — Eu enlouqueci! Não pensei direito, achei que tinham
roubado a única prova que eu tinha da morte da Antonella. Tudo me cegou
naquele momento e eu não sabia o que fazer e deixei a raiva me dominar.
Eu sabia que não foi você, mas eu não consegui pensar na hora, eu só
enlouqueci quando cheguei no quarto da minha filha e não vi aquela
caixinha.
Quando eu ia falar algo, ele começou a falar novamente, totalmente
desesperado para se justificar:
— Ninguém acreditava quando eu dizia que ela não caiu, alguém a
matou. Quando eu vi que sumiu, eu surtei e eu não pensei direito. Eu estou
tentando ser diferente, mas eu não consigo. Eu não sou você ou a minha
mãe, eu não consigo controlar a minha raiva. Eu não consigo pensar sem
surtar primeiro. A raiva me domina e eu não consigo enxergar nada a minha
frente, só depois que destruo tudo, eu vejo os danos que eu causei — falou.
Apesar de Lorenzo não ser muito de se abrir, eu conseguia ver que
ele estava arrependido, mas isso não significava que eu esqueceria o que
aconteceu.
— Lorenzo, você sempre é impulsivo, deixa o seu medo falar mais
alto sem pensar nos danos que causa nas pessoas. Eu entendo, juro, eu
entendo que você sofre por tudo que aconteceu a você, a sua família e a
morte da sua filha. Eu entendo que você perdeu o rumo e está deixando que
isso interfira na sua vida. Você está em uma depressão profunda e com um
trauma muito grande, mas ao invés de tentar se ajudar e pedir ajuda, você se
tranca naquele escritório ou no rifugio e espera as coisas sumirem, mas isso
não vai acontecer se você não aceitar o que aconteceu. Foi trágico ter
encontrado a sua filha morta na sua frente, mas você tem que superar para
conseguir seguir em frente. Eu estou tão cansada de tentar entender o seu
lado, de me colocar no seu lugar e na sua dor, mas você tem que aceitar a
nossa ajuda e parar de sofrer sozinho. O que aconteceu ontem só mostra o
quanto você não consegue mais discernir o óbvio mesmo estando na sua
cara. Você se deixa cegar pela raiva e não vê o que está acontecendo na sua
frente.
— Eu entendo... — O interrompi.
— Não, você não entende. Você acha que entende, mas está
totalmente perdido — disse, o encarando. As minhas palavras podem ser
dolorosas, mas ele precisava escutar. — A sua filha morreu, mas você está
vivo. Se sente culpado por ter deixado aquilo acontecer com ela, mas eu te
digo que não foi a sua culpa. Se você não aceitar o que aconteceu e tentar
superar, você sempre vai andar em círculos, só aumentando essa bola de
neve que está crescendo cada vez mais dentro de você e uma hora ou outra
isso não vai só te ferir, mas sim todas as pessoas que estão ao seu redor,
como aconteceu ontem. Daqui alguns meses nosso filho vai nascer e ter
você instável não me deixa mais calma. Já bastava ter que conviver com as
loucuras do meu pai em casa. Eu sei como é difícil e eu não quero que essa
criança presencie uma crise sua como aconteceu ontem.
— Me desculpe — falou. — Eu vou tentar mudar, mas aqui eu não
posso ter fraquezas, Hope. Não é fácil eu te dizer que eu vou tentar ser
diferente, quando eu tenho a pressão de ser o contrário disso. Eu não
consigo me controlar. A dor me consome e me sufoca. Ela rasga e me
dilacera por dentro de tantas formas que eu preferia ser torturado todos os
dias do que senti-la. Eu não consigo esquecer, eu já tentei e eu não consigo.
Acha que eu quero que a minha família me veja dessa forma? Que essa
criança me conheça assim? Eu tentei mudar antes de te conhecer, mas eu
não consegui.
Lorenzo parecia se livrar de um peso a cada palavra que soltava.
— Por 4 anos eu me isolei para não machucar mais ninguém, mas
estava tão ferido que nunca pensei em mim — confessou. — Eu me afastei
de todos, não só porque eu não queria que eles me vissem assim, mas
porque eu sabia que se eu visse como eles estavam, eu não aguentaria
assistir sem me matar.
— Lorenzo, eu entendo que...
— Não, você não entende, Hope, ninguém entende — falou,
deixando algumas lágrimas caírem. — Agora você é mãe, essa sensação
que você sentiu achando que algo aconteceu com o nosso filho foi tão
desesperador, não foi? Eu sinto isso por 4 anos, Hope. Ela aumenta e te
mata aos poucos. A cada respiração, a cada batida do seu coração, você
deseja estar morto, você implora para morrer. A dor não some quando você
quer que ela suma. Ela fica sempre te mostrando que vai estar aqui e que
vai destruir tudo o que você tem. As lembranças ficam se apagando aos
poucos e você se sente ainda pior por estar esquecendo dela e acha que está
deixando de amá-la, o que te faz sentir culpa. Você não sofre só pelo luto,
tem a morte, tem a tristeza de não poder ver mais quem você ama, tem a
saudade, tem a culpa, tem o medo de acontecer de novo. Isso se junta e fode
tanto a sua cabeça, que você esperar morrer todos os dias para que essa dor
suma. Acha que eu nunca quis que isso acabasse? Que eu não queria parar
de dar problema e preocupação? Eu já tentei de tudo, tudo o que você
pensar, eu já tentei. Eu não posso reverter o que aconteceu ontem, meu erro
vai estar marcado para sempre. Eu só quero que me perdoe, não precisa
falar comigo, não precisa olhar na minha cara, mas me perdoe pelo que eu
fiz. Eu não vou fugir, eu assumo que fiz merda. Eu só quero o seu perdão.
Lorenzo me fez lembrar de uma lembrança muito distante de
quando eu era criança.
Eu e a Lisa havíamos discutido por algo, uma besteira. Lembro que
eu fui me desculpar e a Lisa não quis aceitar as minhas desculpas, ela
sempre foi bem malvada em relação a isso, ela demorava a ceder. O que me
lembro foi algo que a minha mãe me disse, uma frase que a avó dela dizia
para ela e isso ficou marcado para mim desde aquele dia:
“O primeiro a pedir desculpas é o mais corajoso. O primeiro a
perdoar é o mais forte. E o primeiro a esquecer é o mais feliz.”
Lembro da paz que senti por ter pedido desculpa, mas também
lembro da Lisa ficando dias chateada e se martirizando por não saber lidar
com aquela mágoa guardada, já que eu não me importava mais. Enquanto
eu esqueci e estavam bem, ela estava sofrendo e se depreciando.
— Você realmente quer que eu te perdoe? — perguntei e ele
assentiu. — Eu só vou te perdoar quando você mudar e, quando isso
finalmente acontecer, você pode se sentir perdoado por mim. Até lá, lide
com as consequências dos seus atos. O que eu disse ontem ainda está
valendo. Olhe, eu deixei você entrar na minha vida, assim como você me
deixou entrar na sua. Eu juro que queria muito odiar quem me faz mal, mas
não é um sentimento que eu quero guardar dentro de mim, porque ele só vai
me destruir, enquanto a pessoa que me fez mal, vai adorar me ver dessa
forma. Se quer o meu perdão, o receberá quando mudar, mas é a algo que
você tem que fazer por você, para ter a sua paz, não por mim. Então,
quando você mudar, será quando poderá sentir que eu o perdoei.
— Eu vou tentar, Hope — falou. — Não será do dia para a noite,
mas eu realmente vou tentar, vou tentar ser mais acessível, mais paciente e
tentar me abrir mais com você.
Lorenzo sempre foi muito transparente com as suas emoções, então
ele falava a verdade, porque isso transparecia nele, mas falar todo mundo
fala, as ações mostrarão se ele realmente mudou.
— Falar não me dói, chorar não me dói, pensar ou imaginar um
futuro alternativo não me dói, o que me dói é estar vivo, Hope —
desabafou.
Ele ficou em silêncio, ainda deixando algumas lágrimas caírem sem
ele mesmo querer. Eu o olhava, ele parecia ter uma crise de pânico pelo
medo do que passou.
— Qual foi o pior dia da sua vida? — perguntei, já sabendo da
resposta.
Ele estranhou a minha pergunta, temeroso em responder.
— Sinceramente, o dia da morte da minha filha — respondeu.
— Até isso acontecer na sua vida, você passou por algo pior?
Ele me olhou confuso, mas continuou a me responder.
— Sim, na minha infância, com a minha mãe, na iniciação para ser
Capo, abri mão de muita coisa ao longo da vida — respondeu sem entender
onde eu queria chegar.
— Você superou isso?
— De certa forma sim.
— Então por que acha que não vai superar a morte da sua filha?
Você passou por coisas horríveis. Eu não estou dizendo que a morte dela
não foi nada, mas quero dizer que o pior já passou, você não está mais
vivendo o dia em que ela morreu, se permita que o tempo passe — disse,
segurando na sua mão que tremia bastante em minha barriga. — O pior dia
da sua vida já passou, Lorenzo, hoje, o agora, não é mais aquele dia. Há
momentos que você sofre o agora se prendendo no que aconteceu, mas o
que já passou, já aconteceu. O dia de hoje não foi aquele dia. Você vive
todos os dias como se fosse aquele — falei, olhando bem nos seus olhos. —
Hoje não é mais aquele dia, Lorenzo.
Ele apenas ficou em silêncio, processando o que eu havia dito. Uma
coisa é certa, esse acontecido recente foi uma forma de nós dois falarmos o
que estava nos incomodando. Mesmo que na parte do Lorenzo tenha sido
mais um desabafo, já que ele nunca falou nada comigo sobre isso, ele
precisava escutar e eu precisava falar.
— É melhor você descansar, a minha mãe já deve estar chegando...
— Não quero que conte a ninguém o que aconteceu — disse, o
interrompendo. — É o nosso problema, não dos outros. Se perguntarem, eu
me assustei com algo e isso acabou acontecendo. Estou cansada de todos
interferirem.
— Tudo bem — falou. — Tenho que cuidar de uns assuntos que
deixei pendente vindo para cá. — Algo sério estava acontecendo, já que o
Lorenzo fez uma viagem de duas semanas, levando os irmãos e Enzo. Do
jeito que o Lorenzo gosta de abafar o caso, ele não vai mencionar o que é.
Só sei que é sério, porque senão ele não sairia daqui depois do que
aconteceu com o filho. — Voltarei para dormir com você.
Tudo aqui me preocupava. Era isso do Lorenzo, era esses ataques da
máfia, era o meu tio morando aqui e o meu pai querendo a guarda da Kitty.
Eu não tinha paz, nem conseguia respirar direito e já tinha problema. Posso
nem ir no jardim da minha casa, sem ter a mira de uma arma em mim.
Lorenzo se aproximou de mim para me beijar e eu me esquivei,
então ele beijou a minha testa. Ele olhou para mim, logo saindo do quarto.
Assim que ele saiu, a Lucy entrou com Red. Avisei que não queria
que mais ninguém soubesse do que havia acontecido. A única coisa que eu
queria, assim que melhorasse, era pegar a Beatrice.
Lembrei que tinha o número da Suzi no celular. Liguei para ela e ela
logo me passou o número de quem eu queria.
— Suzi? — estranhou Lucy.
— Quero o número da Alessandra — respondi.
Eu não sei me vingar e, do jeito que eu sou besta, no primeiro choro
dela eu me arrependeria. Mas Alessandra tem algo contra ela, só juntarei o
útil e o agradável. Por uma rixa besta comigo, ela quase me fez perder o
meu filho. Eu não estou livrando Lorenzo dessa história, porém acho que
ele aprendeu a lição com o susto que levou.
— Estive tão preocupada com você — disse Lucy. — Não sei o que
faria se algo acontecesse a você ou a essa criança. Graças a Deus que estão
bem!
— Eu quero descansar antes que a Dona Telma chegue aqui com as
meninas preocupadas com o que aconteceu — disse. — Lucy e Red, vocês
podem voltar para casa e descansarem também, a noite foi longa para
vocês.
Eles resistiram um pouco, mas logo foram. Liguei para a Alessandra
que não entendeu nada, mas logo apareceu.
— Está bem, sardenta? — perguntou Alessandra assim que entrou
no quarto.
— Aprendeu a diferença — brinquei ao lembrar de que ela me
chamava de sarnenta. — Um susto, mas eu estou bem!
— O que houve?
— Envolve a Beatrice — disse. Assim que Alessandra escutou o
nome revirou os olhos. — Ela fez algo e o Lorenzo achou que fui eu e me
assustou.
Não queria entrar em muitos detalhes.
— E como eu entro nessa história? — perguntou.
— Bem, eu não posso mais ter um susto desses e conhecendo essa
megera, ela vai continuar a aprontar comigo até que o Lorenzo a escolha,
mas não sou de me vingar, de desejar o mal a alguém, por isso que eu te
chamei.
— Quer que eu faça algo? — perguntou Alessandra logo com um
sorriso diabólico.
— Não é para matá-la — disse, não duvidando que a loira fizesse
isso. — Eu não sei ser firme, logo eu estou perdoando a pessoa, você é a
prova viva disso. Só quero que ela não ache que pode fazer isso comigo de
novo. Lorenzo não fará mais, isso eu tenho certeza, mas ela, ela vai tentar
até desgraçar ainda mais o meu casamento para se livrar de mim.
— Eu irei adorar, tenho assuntos pendentes com ela.
— O que ela te fez? — perguntei.
— Quando Lorenzo visitou a Beatrice e o seu marido, ele me levou
junto. Nós dois tínhamos uma rotina, se eu estava em casa, ele saía, se ele
estava em casa, eu saía, a gente evitava que Antonella crescesse nos vendo
discutir. Então quando ele me chamou para essa viagem, eu estranhei.
Depois fui porque eu notei que Lorenzo estava se apegando a nossa filha e
não queria deixá-la longe. Antonella tinha poucos meses, lembro que ela
ainda nem andava — Explicava Alessandra com um pouco nostálgica. —
Eu fui uma péssima mãe e não nego, mas nunca machucaria a minha filha.
Antonella era um bebê e a Beatrice disse ao Lorenzo que me viu bater nela,
mostrando uma vermelhidão na perna da garota. Minha vingança não é por
ela ter armado para mim e eu ter ficado semanas longe da minha filha
depois disso, mas por ela ter encostado na Nella. Ela era um bebê, quem
consegue bater em um bebê indefeso?
— Minha nossa! — disse assustada. — Mas você tem algo em
mente?
— Várias ideias — respondeu com um sorriso bem diabólico. —
Lorenzo sabe que foi ela que mentiu sobre o que você fez?
— Eu havia contado para a Lucy, não sei se ela contou para ele, mas
provavelmente tenha contado. Se não, eu falo com ele depois. — disse.
— Deve ter comentado, conhecendo o Lorenzo já deve ter arrastado
ela para o rifugio. Ela será castigada lá de alguma forma, quando sair, nós
nos encontraremos novamente para tirar ela da jogada — disse Alessandra.
— Mas agora que eu estou lembrando, ela não é mais da nossa máfia, não
sei como o Lorenzo vai fazer para não ter intriga com a máfia holandesa.
Mais problemas. Alessandra encarou a minha barriga, sorrindo para
mim em seguida.
— Quer tocar? — ofereci.
— Tenho cara de quem gosta de tocar na barriga alheia? — falou
tentando soar indiferente. Peguei a sua mão e a coloquei na minha barriga.
— Está enorme para o tempo que você tem de gestação. Quando eu estava
grávida, a minha barriga cresceu tanto que eu me assustei.
Ela lembrava um pouco triste, talvez as lembranças ainda
machucassem muito. Se para o Lorenzo era difícil, imagina para ela.
Depressão é algo sério e eu sinto tanto por eles não buscarem ajuda.
— Cresceu do dia para noite — disse. — Quer ser madrinha? Talvez
quando nascer leve para passar as férias com você.
— Está é louca? Tenho paciência nem comigo, imagina com uma
criança — falava tentando ser indiferente, mas eu via que ela estava
gostando.
— Não faz assim, não está vendo a amizade que estamos
construindo? É questão de tempo para você implorar para ficar com o meu
bebê. Limpar o seu cocô... — disse e ela me interrompeu.
— Você cria umas histórias na sua cabeça e isso me assusta — disse
Alessandra. — Sujar as minhas unhas com cocô de criança? Me respeita,
Bloom.
— Mais um apelido?
— Você deveria se candidatar para ser uma dessas princesas. Amor
para cá, bondade para lá. — disse Alessandra revirando os olhos
sarcasticamente. — Chega até dar uma dor no coração, mas infelizmente
agora eu tenho que ir, eu tenho um bronzeamento a minha espera.
Não sei, parecia que ela estava mentindo. Como eu não tinha
liberdade assim, eu não quis interrogar para saber aonde ela ia.
— Quer um abraço ou um beijo de despedida? — perguntei, a
provocando.
— Está assanhada, Hope — falou. — Vou já chamar um médico
para te dopar, está falando muita besteira.
Antes que ela saísse, dei um abraço nela.
— Um abraço, talvez na próxima eu te beije — disse, dando uma
piscadela.
— Você é louca, garota! — Falou
Quando ela se virou, tomou um susto. Olhei para onde ela olhava e
vi o Lorenzo na porta.
— Está de saída, Alessandra? — perguntou Lorenzo.
— Sim — respondeu. — Só vim ver como a minha grande e melhor
amiga estava. Sabe como eu sou super sentimental.
Ri do seu sarcasmo. Ela passou por Lorenzo e saiu.
— Você ia mesmo dar um beijo nela? — perguntou Lorenzo
fechando a porta.
— Só estava tirando a paciência dela — respondi.
— Nunca pensei que vocês fossem se tornar amigas — disse
Lorenzo se sentando na ponta da cama.
— Temos muito em comum — disse.
— Minha mãe já veio? — perguntou e eu neguei. — Então ela daqui
a pouco aparece.
Lorenzo ficou ali parado e sempre checava o celular. Ele parecia um
pouco nervoso ou preocupado, não conseguia distinguir o que era. Ele já
estava assim há alguns dias. Lisa havia dito que Enzo estava do mesmo
jeito.
O que está acontecendo?
— Hope, o que acha de viajarmos quando tudo melhorar? —
perguntou. — Só nós dois, sem mais ninguém.
— Lorenzo, se for culpa que está sentindo, não precisa — disse.
Não parecia que era por isso, mas pelo jeito que ele estava, eu tinha
dois palpites: o primeiro era que ele queria me tirar daqui, e o segundo era
que ele queria passar mais tempo comigo por algum motivo.
— Não é por isso, Hope — falou. — Você tem algo que me
enlouquece e eu não sei lidar com isso. Quando você franze a testa assim,
me deixa louco. — Apontou para ela. — O seu jeito, a sua fala, o seu
cheiro, o seu modo de lidar com as coisas, faz com que eu sinta coisas que
eu nunca senti. Só estou tentando entender o que está acontecendo comigo.
Eu preciso de um tempo com você longe daqui, longe de toda essa
confusão, longe das minhas lembranças. Eu quero isso, eu quero entender
toda essa bagunça que está se organizando quando você está perto.
— Vai fazer alguma diferença eu dizer que eu vou, se você vai me
arrastar de qualquer forma — falei.
— Eu não vou fazer isso, por isso eu estou perguntando se quer ir —
falou.
— Para onde vamos? — perguntei.
— Será uma surpresa, ruiva, mas... — Antes que eu tentasse saber
onde era, a Dona Telma chegou.
— Minha filha, o que houve? — perguntou me abraçando.
Ela veio logo me abraçando. A Emma, a Giulia e os irmãos do
Lorenzo estavam aqui também. Os irmãos olharam para o Lorenzo, como se
estivesse avisando sobre algo. Droga, por que eu tenho que observar tanto
as pessoas? Agora eu estou curiosa.
— Foi um susto, algo quebrou no banheiro e eu me assustei —
disse.
Eu não estava mentindo, só omitindo o que havia acontecido.
— Pelo amor de Deus, ficamos tão preocupadas — disse Emma.
— Vocês não avisaram a minha família, ou avisaram? — perguntei.
— Não, eu ia ligar agora para... — disse Giulia e eu a interrompi.
— Não avisem, por favor — disse. Lisa já estava assustada com isso
do tio Marco e ela está prestes a parir, não é bom passar por uma emoção
dessas, fora que a minha mãe já estava preocupada em relação ao meu pai.
Quando isso passar, eu digo o que aconteceu. — Minha mãe é nervosa, a
Lisa e a Kitty são piores, principalmente agora que a Lisa está louca.
Quando eu sair do hospital, eu falo com elas direito.
— Quando recebe alta, ruivinha? — perguntou Enrico.
— Médico disse que ela só está em observação, mas sairá quando se
estabilizar e não trazer riscos nem a ela e nem ao bebê — respondeu
Lorenzo.
— Quer que alguma de nós fique com você esta noite? — perguntou
minha sogra.
— Não será necessário, o Lorenzo disse que dormiria aqui, então
não se preocupem — falei.
— Vai dormir aqui, meu filho? — estranhou Dona Telma e ele
assentiu.
— Mãe, acho melhor vocês irem, a Hope tem que descansar —
disse Lorenzo, já os expulsando. — Qualquer coisa eu aviso a vocês.
Depois de um tempo, todos saíram, deixando apenas eu e o Lorenzo
no quarto. Lorenzo caminhou para a poltrona, se sentando ali. Me
aconcheguei na cama e não demorou muito para que eu dormisse. Talvez
fosse pela medição ou só pelo cansaço.

Acordei sentindo o carinho de alguém.


Abri os olhos lentamente, olhando Lorenzo passando a mão na
minha barriga e com a sua outra mão, massagear os seus dedos no meu
cabelo como se fosse um cafuné. Ele não notou que eu acordei, já que
estava apoiado com a cabeça na minha barriga.
Notei que ele havia arrastado a cadeira para mais perto da cama, se
sentando nela. Ele ficou massageando levemente a minha barriga, enquanto
desceu sua mão lentamente para o meu rosto, acariciando com o seu
polegar, me deixando sonolenta.
Nunca recebi esse tipo de carinho de um homem, então era tudo
novo para mim. Como o seu rosto estava de lado contrário para que eu
pudesse vê-lo, sabia que deveria estar com um semblante de culpa.
Coloquei a mão na sua cabeça e ele logo se virou para me encarar.
— Te acordei? — perguntou.
— Não, está tudo bem! — disse, enquanto ele continuava
acariciando o meu rosto.
— Hope, tenho algo que eu quero fazer, mas antes quero te
perguntar — falou.
— O que seria? — perguntei sonolenta.
— Vou proibir do seu pai ou qualquer membro da sua família
paterna de entrar lá em casa e na casa da sua mãe — falou e eu estranhei
isso.
Entendo que o Lorenzo os odeia, mas por que isso agora? Sei que
não é pela culpa, até porque parece que Lorenzo andou pensando nisso há
algum tempo.
— Por quê?
— Estou desconfiado de algo e eu não acho que você e nem elas
estejam seguras com nenhum deles — falou. — O Enzo me pediu isso na
viagem e eu pensei sobre esse assunto. Sei que algo aconteceu com você e a
esposa do Enzo, mas nunca perguntei, já que você nunca tocou no assunto.
— Lorenzo... — disse pensando no que falar. Queria saber o quanto
o Lorenzo sabia do que eles nos fizeram.
— Conversamos outra hora, agora durma — falou, continuando a
massagear a minha barriga.
Eu fiquei intrigada com aquilo, até achei que eu perderia o sono
depois do que o Lorenzo disse, mas com ele fazendo carícias em mim, não
estava dando muito certo.
Logo o sono veio e eu adormeci.
Hoje eu recebi alta do hospital. Fiquei alguns dias recebendo a
visita da minha sogra. Ontem a minha mãe e a Lisa vieram me ver, quase
morreram do coração por eu não ter avisado nada antes.
A viagem foi cancelada. Infelizmente, não podíamos viajar agora.
Lorenzo ainda não me disse para onde a gente iria, só me disse que quando
melhorasse mais, faríamos a tal viagem. Minha rotina agora seria diferente.
O médico mudou da minha comida até o que eu fazia durante o dia.
Tenho que ter repouso absoluto nessa semana. Hoje também
aconteceria o evento do orfanato, mas não poderei ir. Deixei tudo nas mãos
das meninas. Já estava em casa, deitada na cama descansando.
Lorenzo não pode ir me buscar no hospital, pois aconteceu algum
problema na boate noite passada. Ele estava bem quieto essa semana, não
falou muito e ficou bem mais na dele. Isso realmente me preocupou, pois eu
tinha a certeza de que algo estava acontecendo.
Sei que ele estava me dando o espaço que eu pedi quando liguei no
dia eu sangrei, mas eu sentia falta da presença dele.
— Trarei o seu jantar — disse Lucy se levantando da cama.
Passamos o dia todo assistindo televisão. Red estava sentado na
poltrona e Lucy na cama comigo. O quarto já estava todo em ordem, como
se nada tivesse acontecido, principalmente o banheiro e o corredor que
foram os locais que eu tinha visto.
— Red, pode ir descansar — disse Lorenzo entrando no quarto.
Red se levantou e saiu. Quando Red estava prestes a fechar a porta,
uma voz lá embaixo me chamou atenção. Bianca estava aqui. Meu mau-
humor logo se apossou de mim.
Lorenzo parecia um pouco avoado demais para se importar com a
visita lá embaixo, mas eu não entendia o motivo da presença dela aqui. É
claro que ele não ia ficar essa semana "sem" sexo, ele não aguentaria.
— Está bem? — perguntou, saindo do banheiro.
— Sì! — respondi.
Me virei para o outro lado sem encarar aquele homem apenas de
toalha na minha frente.
— Não pode se deitar assim — disse Lorenzo. Ele estava agora ao
meu lado, pois sentia o seu cheiro perto de mim.
O médico havia pedido que eu me deitasse de barriga para cima e
com as pernas mais elevadas. Me virei olhando o enorme homem com
aquele peitoral nu na minha frente. Lorenzo pegou uns travesseiros e pôs
debaixo das minhas pernas.
— Sua comidinha — disse Lucy. — Estou atrapalhando algo?
— Não — respondeu Lorenzo imediatamente. — Não deixe ela se
deitar de qualquer jeito. Depois mandarei a lista que o médico passou para
ela comer e os remédios que têm que tomar e tudo da sua nova rotina.
— Certo! — respondeu Lucy. — Está melhor do seu enjoo?
Passei a manhã enjoada. Não sei se foi porque eu já havia me
acostumado com o cheiro do hospital e chegar aqui em casa com esse
cheiro diferente me deixou enjoada.
— Estou, foi só temporário — respondi.
Lorenzo caminhou para o closet e me sentei na cama para comer.
— Parece aborrecida — disse Lucy. — Está tudo bem?
— Sei que a Bianca está aqui.
— Não queria que soubesse para não se estressar. Ela está bem
aborrecida lá embaixo, ainda não sei o que aconteceu, mas eu vou descobrir
e te conto — disse Lucy.
— Pode pegar um suco para mim, Lucy? — pedi.
— Você comeu quase nada.
— Estou enjoada e eu tenho medo de vomitar tudo — disse.
— Coma mais um pouquinho — falou, já saindo do quarto para
pegar o meu suco.
Lorenzo já havia retornado para o quarto, enquanto terminava de se
arrumar. Me levantei para deixar a bandeja na mesa, recebendo o seu olhar
de desaprovação.
— Qual é o seu problema? — perguntou Lorenzo pegando a bandeja
das minhas mãos.
— Quê?
— O médico deixou claro que não era para fazer esforço. Fique
deitada e quieta — falou.
— Muito esforço levar a bandeja para mesa — debochei.
— Por que está assim? — perguntou me impedindo de me deitar na
cama, segurando o meu braço. — Você já estava mais falante comigo e
agora parece brava com algo.
— Nada, eu estou bem — disse.
— Eu estou tentando mudar, mas você parece cada vez mais brava
comigo — falou. — Porra, eu estou tentando e você fica com raiva sem
motivo algum, sem nem me informar que caralho eu fiz de errado agora.
— Pode me soltar? Estou tempo de mais em pé — disse.
Lorenzo me soltou e saiu do quarto. Me deitei e logo Lucy chegou.
— Minha querida, o babado é forte — falou se aproximando da
cama rapidamente.
— Se envolve o Lorenzo, eu não quero saber — disse.
— Isso certamente você vai querer saber — falou, se sentando na
cama ao meu lado. — Escutei Lorenzo terminando tudo que tinha com a
Bianca, por isso que ela está assim.
Então ele terminou o seu caso com ela? Agora eu me sinto mal por
ter ficado com raiva sem antes saber o contexto do que aconteceu.
Droga!
As últimas semanas se passaram rápido.
Fui para a obstetra junto com Lorenzo, mas era como se ele não
estivesse lá. Ele ficou chateado pelo meu mau-humor no outro dia. Não
trocamos nenhuma palavra essas semanas. Não sabia se achava melhor
assim, não tínhamos contato e, de qualquer forma, não discutimos por nada.
Ele estava absurdamente estranho, então eu não sei se é por conta da
nossa "discussão" do outro dia ou se outra coisa o incomodava. Do nada ele
me deixou apenas fazer as coisas listadas pelo médico. Nada de passeios
para casa da minha mãe e muito menos clube do livro.
Quando fui entrar na biblioteca, ela estava fechada. Ele tirou toda a
mordomia que havia me dado, me fazendo sentir que eu estava novamente
em uma prisão.
Tomou o meu celular e as únicas pessoas que eu falava naquela casa
era a Lucy e o Red. Falando em Red, até ele estava super estranho. Eu
comentei sobre essa atitude do Lorenzo com ele e o Red concordou que era
bem melhor assim.
O que me faz achar que algo está acontecendo e que como sempre
eu sou a última a saber. Mesmo que seja um ataque ou algo assim, eu queria
pelo menos ser informada para ficar mais atenta ou não ficar surtando no
quarto por falta de informação.
Sua desculpa para o seu último ato foi que não queria que eu tivesse
preocupações com as ligações da minha família ou da família dele. Até
Alessandra que veio aqui ele não me deixou vê-la.
— Quer comer alguma coisa? — perguntou Lucy ao meu lado da
cama.
— Não, Lucy — disse.
— Você não comeu nada hoje, Hope, passou a semana passada toda
comendo muito e agora fechou a boca — falou.
— Lucy, eu estava comendo para passar a minha raiva. Ganhei três
quilos e eu sei que a médica irá reclamar disso.
— Única coisa que cresceu foi a sua barriga — falou. — Seu corpo
está ótimo!
— Meu problema não é o meu corpo. A médica mandou eu seguir
direito a dieta e sei que quando for no dia da consulta, ela irá reclamar e o
Lorenzo ficará ainda mais insuportável.
— Ele está bem estranho essa semana, vive no rifugio — disse
Lucy. Sabia que não era só eu que havia reparado isso. — Não consegui
descobrir nada, já que quem está envolvido nisso é só os irmãos dele e o
Red. Eles não iam mencionar algo que estivesse acontecendo aqui para
mim.
— Não sei, o Lorenzo está estranho. Ele disse que está tentando
mudar, mas tenho medo de não conseguir mais discernir o que é certo do
que é o errado. Ele ficou muito tempo agindo por impulso.
— Acha que ele pretende fazer algo com você, por isso está agindo
assim? — perguntou Lucy.
Isso não havia passado pela minha cabeça, mas creio que não, até
porque não tem nem sentido isso.
— Acho que não, Lucy, será? — disse.
— Você disse que ele estava estranho, não estava falando com você,
estava te privando de sair daqui e falar com as outras pessoas. Será que ele
não está tentando se acostumar com a sua ausência? — falou e eu me
arrepiei toda. — Desculpa, não era para eu falar disso com você. Não
pensei antes de falar, não deve ser nada, não se preocupe. Pode ser os
ataques que estão aumentando e está deixando-o mais possessivo.
— Será que essa indiferença do Lorenzo já seja alguma decisão que
ele tomou para depois que essa criança nascer? — disse ficando bastante
paranoica nesse assunto.
— Não se preocupe... — disse Lucy e eu a interrompi.
— Me prometa que se um dia o Lorenzo resolver me matar ou me
tirar da vida do meu filho, você cuidará dele como se fosse seu, Lucy. —
disse. Eu realmente não confio, seja lá o que está acontecendo, eu vou
pensar em todas as possibilidades.
Não sei o que se passava na cabeça do Lorenzo e olhando por esse
lado agora, isso me assustava.
— Hope, você tem direito da guarda da criança, esqueceu? — disse
Lucy. — Não se preocupe com isso, Lorenzo mostra que está mudando. Foi
só um pensamento estúpido que eu tive.
— Não vou confiar naquele papel ou em alguma lei. O Lorenzo faz
o que quer, eu sei que nada o impede — disse. — Cuide do meu bebê se eu
não estiver mais com ele. Eu só quero que me prometa, não sei do dia de
amanhã, principalmente, casada com o Lorenzo e tendo os inimigos dele.
— Lorenzo não te deixará longe dessa criança, meu bem — disse
Lucy passando a mão na minha barriga. — Não se preocupe, deve ser
apenas o medo de que alguns meses essa criança nascerá e deixa a pressão
da responsabilidade maior.
— Mas prometa que vai cuidar dele ou dela, Lucy — disse.
— Eu prometo.
— Obrigada.
Não ia confiar em deixar o meu filho aqui sem mim. Não sei como
vai ser daqui para frente ou se Lorenzo realmente vai mudar. Ele estava
estranho e isso me fazia pensar em mil e uma possibilidades.
Os meus hormônios estão enlouquecidos e a cada segundo eu acho
que eu estou ficando louca. Estava no início do meu segundo trimestre,
quatorze semanas de gestação. Sentia meus quadris mais largos e os meus
seios já estavam enormes.
Aos poucos o meu filho ia crescendo dentro de mim, aumentando
ainda mais o meu pânico sobre ele nascer e presenciar toda essa bagunça. O
silêncio havia se instalado no quarto, assim como a tristeza que ficou no ar.
Não durou muito, já que o Lorenzo entrou praguejando.
— Lucy, me deixe a sós com a minha esposa.
— Certo — respondeu, saindo do quarto em seguida.
— Estava chorando? — perguntou se aproximando da cama.
— O bebê está bem, Lorenzo — respondi.
— Essa não foi a minha pergunta — falou.
Não sei, eu estava com raiva. Eu não sabia mais lidar com as minhas
emoções, tudo me deixava brava com mais intensidade. Sentia que ia
enlouquecer, tudo ficava mais difícil lidar na gravidez. Ninguém disse que
isso aconteceria comigo quando eu estivesse grávida, agora eu sinto que eu
sou louca.
Quero chorar, quero rir, quero ficar brava, tudo no mesmo tempo.
— Eu estou emotiva, a gravidez me deixa assim — disse e ele não
pareceu acreditar.
— O que deu em você esses dias? — perguntou. — Não estou
falando nada, deixando você mais livre de mim, mas toda vez que eu olho
você está com raiva ou triste comigo. Quer saber? Só se troque, iremos sair
para jantar na casa do Enrico.
Ele apenas saiu do quarto e me deixou sozinha. Me levantei da cama
e fui me arrumar.
Finalmente iria sair dessa prisão. Ver gente e sair desses muros
parecia um sonho. Talvez assim eu melhorasse a confusão que estava o meu
humor. Essa semana achei que enlouqueceria. Considerei até pular o muro.
Depois caiu a ficha que meu físico não era o ideal para isso.
Desci e logo esperei o Lorenzo no sofá. Lucy disse que ele havia ido
ao rifugio, mas logo voltaria. Esse "logo" do Lorenzo foi uma eternidade.
Coloquei os pés em cima da mesinha e me encostei no sofá. Lorenzo
estava demorando demais. Estava começando a ficar sonolenta e ele não
aparecia. Esses dias havia comprado algumas coisinhas para o quarto do
bebê, não tinha muita coisa ainda, mas aos poucos eu estava organizando. A
minha sogra me ajudava bastante nisso, se dependesse dela, o quarto já
estaria todo mobiliado.
Fiquei olhando para o teto, esperando o Lorenzo aparecer.
— Andiamo! — Falou, assim que surgiu na sala.
Ele ficou parado me esperando, me encarando como se estivesse
com pressa.
Desci os pés da mesinha, mas para o meu azar estava no meio do
sofá, sem nenhum local para me apoiar.
— Pode me ajudar a levantar? — pedi um pouco envergonhada.
Lorenzo tinha um sorriso no rosto, rindo da minha atual situação.
Segurou a minha mão, envolvendo a sua outra mão na minha cintura, me
ajudando a ficar em pé.
Ajeitei o vestido e o agradeci. O caminho para a casa do Enrico foi
em total silêncio. Essa foi a nossa conversa mais longa das últimas
semanas. Quando finalmente chegamos, Lorenzo desceu do carro, segurou
na minha mão e guiou para dentro da casa.
Assim que entramos ele logo tratou de subir, indo atrás do irmão.
— Você veio! — disse Emma me abraçando. — Como está grande a
sua barriga.
Emma me levou para o jardim, onde poderíamos ter mais
privacidade.
— Onde está o Nicolas? — perguntei.
— Está na casa da Dona Telma. Ela chamou todos os netos para
passar o dia com ela — falou.
Conversamos sobre o evento do orfanato que aconteceu, já que eu
passei essas semanas todas sem notícias de nada.
— Lorenzo está me prendendo de novo — disse cabisbaixa.
— Enrico também está estranho esses dias, vive no rifugio agora —
falou. — Não sei se o que está acontecendo com você, é o mesmo que
aconteceu comigo. Eles ficam estranhos quando escondem algo. Também
tem o fato da gente não se conhecer quando se casa e fica difícil tentar
entender o lado deles. O Enrico me deixou trancafiada em casa boa parte do
começo da minha gestação, já que quando nos casamos, filho não estava no
seu planejamento, mas tinha outras coisas acontecendo por trás disso,
depois eu descobri o que era. A da Giulia já foi mais difícil, já que ela
engravidou do Pietro antes de se casar e aquele tempo a gente sempre sofria
vários ataques, sério, a cada segundo.
— Nossa! — disse. — Eu estava enlouquecendo em casa.
— Deve ser difícil, não é?
— Você nem imagina — falei, sentindo os meus olhos lacrimejarem.
— O Lorenzo está super estranho. Não conversamos nada, ele vive no
rifugio. Eu sinto falta de pessoas, eu sempre tinha a minha família. Não sei
se a gravidez me deixa mais emotiva, mas eu vivo com raiva ou eu vivo
triste, isso me enlouquece, fora que eu estou bem mais paranoica, então
surge umas ideias na minha cabeça que me assustam muito.
— O mal dos Ferraro é nos deixar apreensivas quando está
acontecendo algo e não nos contam — falou. — Eu sofri muito com o
Enrico, nossa relação começou a progredir depois do nosso "meio"
divórcio. O ameacei, mas tive que ter a certeza antes que ele estava
loucamente apaixonado por mim, porque senão, ele já teria me matado só
pela chantagem. Foi difícil, mas vejo que hoje eu tenho uma vida boa com
ele. Enrico mudou muito, eu mudei muito, agora estamos bem.
Era bom escutar isso, me dava mais esperanças. Não de amar o vice-
versa, mas de ter uma vida mais pacífica ao seu lado. Tenho muito medo de
voltar a ter vida que eu tinha quando eu morava com o meu pai.
— Está com fome? — perguntou Emma.
— Na verdade não, comi antes de sair de casa — respondi.
Conversei mais um pouco com a Emma, até o Lorenzo se aproximar
de nós duas, mais estranho do que já estava.
— Enrico está lhe chamando lá em cima, Emma — disse Lorenzo a
ela.
Emma se levantou e Lorenzo logo se sentou ao meu lado. Meu olhar
estava fixo na piscina a minha frente, já que mostrava que o Lorenzo não
falaria nada. Ele estava bem nervoso, como esteve por toda semana, mas
hoje havia algo a mais.
Ele olhava para as mãos, como se quisesse dizer algo.
— Eu matei o seu pai — falou.
Lorenzo me encarava sem reação alguma.
— Quê? — indaguei. Acho que eu entendi errado.
— Eu matei o seu pai e o próximo será o seu tio — falou.
Fiquei em pé, encarando o ser frio ao meu lado. Meu pai era o maior
cretino desse mundo. Só eu sei o quanto ele me fez sofrer naquela casa.
Portanto, eu não sabia o que sentir naquele momento, se eu ficava alegre,
triste, se eu gritava ou se chorava.
Ele era ruim, mas era o meu pai. Dante foi o ser mais pavoroso que
passou pela minha vida, ele e o irmão. Ele me fez sofrer, mas não desejaria
a sua morte de forma alguma. Ainda esperava que ele mudasse e se
arrependesse de todo mal que me causou. Talvez esse seja o meu problema,
eu sempre achava que as pessoas mudariam.
Lorenzo por outro lado não dizia nada e não me explicava o motivo
da sua decisão de te feito aquilo. O homem estava desse jeito a semana
inteira e justamente agora me diz isso!? Ele poderia ter falado em casa,
onde estaríamos só nós dois e não na casa do seu irmão, sem ligar para o
que viria a seguir.
Saí dali, acelerando os passos para chegar no carro. Escutei-o me
chamar e logo senti a sua mão segurando o meu braço.
— Que porra está fazendo? — perguntou.
— Minha família sabe? — quis saber e ele me ignorou. — Porra,
Lorenzo, responda.
Sua surpresa com o meu palavrão estava nítida. Eu estava furiosa.
— Sì!
— Você passou essas semanas inteiras me ignorando, me trancando
dentro de casa, me fazendo achar que você estava tramando algo para mim
futuramente e o que aconteceu foi por que você matou o meu pai? Eu surtei
essa semana, Lorenzo. Fiquei presa e o que custava você ter mencionado,
“Hope, seu pai está no rifugio e eu vou matá-lo”. Me preparasse para isso.
Você diz tanto que não quer que eu me preocupe, mas solta uma bomba
dessas literalmente do nada sem pensar no mal que me faria.
Acho que o meu maior medo era saber do funeral. A família junta,
todos eles, me faz ter péssimas lembranças. Eu os evitei todos esses anos,
agora eu tinha um motivo para vê-los novamente.
Saí de perto dele, novamente caminhando para perto do carro.
— Hope, se acalme para não passar mal — falou.
Entrei no carro, ignorando o Lorenzo e logo ele entrou.
— Posso ver a minha família ou vai me trancafiar em casa
novamente? — perguntei.
— Thony, nos leve para a casa do Enzo.
— Só me diga o qual o motivo de você ter o matado? — perguntei.
— Tenho certeza que não foi por ele ter sido um péssimo pai para a sua
esposa.
— Ele que estava entregando as rotas das cargas para os japoneses
— respondeu. Não parecia ser toda a verdade, ele estava mentindo. — Você
pode se acalmar?
— Eu estou brava, Lorenzo! — disse, o encarando. — Você passou
a semana passada me ignorando e agora do nada resolveu abrir a boca para
me falar? Sei que está me escondendo algo. Isso me faz ficar ainda mais
brava, porque se envolve o meu pai, eu gostaria de saber o que estava
acontecendo. Eu sempre deixo tudo às claras com você, mas na minha vez
você prefere esconder e jogar no ar o que aconteceu, esperando que fique
tudo bem.
Posso não falar do meu passado, mas sempre tento ser o mais clara
com ele.
— Não era assunto seu, Hope — falou.
— Não é assunto meu? Somos um casal, Lorenzo, principalmente
por ser o meu pai, era assunto meu. Ele foi desprezível inúmeras vezes, mas
é do meu pai que estamos falando. A sua falta de confiança em mim me faz
ficar ainda mais brava com isso. Eu nunca estive tão arrependida de ter me
casado com você como estou hoje. Se eu soubesse que esse era o destino do
meu pai, não teria me sacrificado, já que logo ele sumiria de nossas vidas
— disse sem pensar antes de falar.
— Se casar comigo deve ter sido uma merda para você — falou. —
Só se casou para ter o dinheiro para a sua mãe, se não fosse por isso, já teria
me deixado.
— Sim, foi — falei. — Você fez cada minuto da minha vida ao seu
lado ser um inferno. Você está me destruindo e eu te odeio por isso. Nunca
pensei que teria um sentimento tão ruim dentro de mim quanto o que eu
sinto por você agora.
— Não precisa sofrer mais, quando essa criança nascer você pode
seguir sua vida.
— Por quê? Vai me matar? Se acha que eu sairei por livre
espontânea vontade de perto dessa criança está enganado, só a morte me
separará do nosso filho — disse.
Thony estacionou em frente da casa da Lisa enquanto observava a
nossa discussão. Saí do carro, logo entrando na casa. Lorenzo não saiu do
carro e eu não dei muita atenção para isso.
Tio Marco certamente vai aparecer para tirar satisfação e isso me
deixava ainda mais apavorada. Assim que entro na casa da Lisa, vejo minha
irmã e a minha mãe sentadas no sofá.
— Mãe? — disse assim que entrei.
Ela veio e me abraçou.
— Está tudo bem, meu amor — disse minha mãe. — Não culpe o
seu marido pelas ações que o seu pai tomou, ele foi um traidor para a máfia.
Eu nunca precisei falar nada, minha mãe sempre parecia
compreender tudo o que eu sentia.
— A gente colhe o que planta — disse Lisa se aproximando de
mim. — O pai nunca foi um homem bom e foi logo tratar de ser um traidor
na famiglia.
— Eu estou com tanto medo — disse me derramando em lágrimas.
— Se o tio Marco começar a agir ou se a família vier falar conosco, eu temo
a presença deles aqui com a Kitty.
Kitty ainda era membro da família deles e eu sei que a usariam para
nos alcançar.
— Encontrei com o Marco quando o boato da morte do seu pai se
espalhou, ele disse que nós teríamos o mesmo destino dele. Éramos tão
ruins quanto ele foi. O idiota ainda teve coragem de me ameaçar — disse
minha mãe.
Era isso que eu temia. Tio Marco estava livre para fazer o que quiser
e isso me aterrorizava, não tinha mais ninguém para ele fingir segurar esse
seu personagem de bom moço.
— Não se preocupa, mãe, nada vai acontecer. Ele vai ter que ir
embora, já que a casa não será passada a ele, é herança nossa — comentou
Lisa. — Nós não somos nada parecidas com ele, não somos ruins.
Hoje eu me senti uma pessoa ruim. Meu pai morreu e o meu surto
foi porque o meu marido me fez achar, durante uma semana, que ele ia
fazer algo comigo quando me trancafiou em casa. Eu não conseguia sentir
tristeza pela morte dele, eu sentia pena por saber que ele morreu sem o
amor de ninguém, até das próprias filhas. Sei que de agora em diante
seríamos vistas como as filhas de um traidor.
Não nego que estava com medo da família do meu pai me culpar
pela morte dele, já que foi Lorenzo quem o matou.
— A Kitty já sabe? — perguntei para a minha mãe.
— Ainda não, mas sabe como ela é esperta, já está desconfiando,
todos estão nos olhando estranhos na rua do quartel quando eu vou pegá-la
na escola — respondeu.
— E como você descobriu? — perguntou Lisa. — Eu só soube
porque era só o que comentavam nas ruas. Liguei para Enzo e ele
confirmou. Acho que ele já deve estar chegando aqui.
— Lorenzo me contou agora a pouco, nenhum pouco delicado e
muito menos tendo empatia caso eu sofresse — disse.
— Não acho que ele tenha feito por mal, minha filha. — disse
minha mãe fazendo menção para que eu me sentasse no sofá. —
Certamente você descobriria pela boca de outras pessoas e ele queria que
você soubesse por ele.
— Ele faz o que quer, sem se importar se eu vou ficar bem ou não.
Estou farta do meu casamento, mãe — disse.
Não aguentei mais guardar aquilo só para mim. Eu tinha sempre que
pensar nos motivos das ações de Lorenzo e isso me enlouquecia. Eu
pensava em milhares de coisas e isso era desgastante porque me assustava
pensar que em uma dessas possibilidades poderia ser algo horrível para
mim.
— Suas emoções estão diferentes de antes. Na gravidez tudo fica
aflorado. Por isso que a sua raiva, vira fúria — disse minha mãe. — Se
fosse antes da gravidez você poderia lidar com isso melhor, agora com esse
turbilhão de emoções, você fica difícil de entender.
— Não, mãe, a senhora não percebe porque sempre foi submissa do
pai. Eles erram tanto quanto nós, mas por que eu tenho que sempre sofrer
mais ou por que eu tenho que sempre ser a culpada por tudo? Isso é
frustrante!
— Então queria que o seu pai estivesse vivo? — perguntou minha
mãe. Não era isso que eu estava tentando dizer. — Me diga se sente o
mesmo alívio que eu estou sentindo agora sabendo que ele está morto? De
poder sair sem me preocupar. De poder não me importar se a Kitty irá
visitá-lo ou não. Acha que eu queria me sentir uma escrava dele sem me
importar se vocês sofreriam ou não na mão dele?
— Eu não quis dizer isso, mãe — disse.
Droga, estava estragando tudo.
— Não importa, saberá o que eu passei com vocês quando essa
criança nascer. Lisa já tem uma ideia, mesmo tendo uma vida diferente da
que eu tive — falou, se levantando do sofá. — Vou ver a Kitty, a deixei
sozinha em casa. Se cuida, Hope.
Estava me sentindo culpada pelas minhas palavras agora. Coloquei
as mãos no rosto, sentindo que minha cabeça ia explodir.
— Está tudo bem, Hope, estamos de cabeça quente. Amanhã ela
nem lembrará do que disse — disse Lisa assim que ela saiu. — Vai dormir
aqui?
— Não sei se o Lorenzo está lá fora. Eu fiz besteira, Lisa — disse.
— Apesar da forma errada que o Lorenzo me disse o que aconteceu, agora
vejo que ele só me contou antes que alguém dissesse ou inventasse algo
para mim. Sei que o pai era um péssimo ser humano, mas eu sentia pena
dele.
— O pai estava conspirando contra todas nós, Hope. Só me acalma
saber que não terei que me preocupar com a mamãe mais. Sentia tanto
medo dele invadir a casa e fazer algum mal a ela.
Eu estava me importando tanto com os meus problemas que não
lembrei que a minha mãe, a Lisa e qualquer outra pessoa poderia estar
passando por algo ainda pior do que eu. Não tenho ideia de como foi a vida
da minha mãe nesses últimos meses. O seu medo de sair e não voltar ou do
pai aparecer e machucar ela ou a Kitty. O medo da Lisa ao saber que os
seus filhos ficariam próximos do tio Marco, já que ele passou a morar com
o nosso pai.
Os do Lorenzo, que estava sofrendo ataques, diversas traições e fora
esses últimos anos sem saber o que aconteceu com a filha. Sabia que me
sacrifiquei por elas, mas eu tinha a segurança da minha casa e a do Lorenzo,
enquanto elas estavam expostas ao meu pai e ao tio Marco a cada segundo
do dia.
— Me desculpa por só falar dos meus problemas e esquecer dos
problemas de vocês — disse, a abraçando. — Você já está na reta final e eu
nem ao menos perguntei se estava com medo ou nervosa com o nascimento
do Bernardo.
— Está tudo bem, descabelada — disse Lisa. — Estamos todos
lidando com algo que nos preocupa. Bernardo deve nascer essa semana e eu
não nego que eu estava com medo do tio Marco aqui, mas agora eu estou
bem. Queria estar triste pela morte do nosso pai, mas eu não estou. Nunca
me senti tão despreocupada como eu estou me sentindo agora. A diferença
de nós para você, é que você sempre acreditou que o pai poderia ser
diferente, igual nas histórias dos livros que você costumava ler, mas ele
nunca mudaria e se pudesse nos machucar, ele com certeza teria feito.
Nossa preocupação agora é no enterro, teremos que ver toda aquela família
reunida.
— Quando será?
— Amanhã. Ele morreu hoje pela manhã, mas o tio Marco fez
questão de trazer todos ainda hoje para cá. Não acho que a família do pai
venha só para enterrá-lo, devem ficar mais alguns dias. Vão nos culpar e
principalmente você, já que foi o seu marido que o matou.
Era só o que me faltava.
— Oi, meu amor! — disse Enzo abraçando a Lisa. — Desculpa por
não ter falado nada, eu ia contar só agora a noite, mas os boatos já estavam
acontecendo e não tinha mais o que fazer.
— Está tudo bem, Enzo. — Respondeu Lisa. — O Capo está lá
fora?
— Está te esperando, Hope — me avisou.
— Ah, certo — disse.
Me despedi deles, temendo se Lorenzo estaria com raiva.
Pensando no que aconteceu nos últimos dias, talvez existisse um
motivo para Lorenzo ter me feito ficar bastante tempo no quarto, já que me
tirou tudo. Meu pai devia estar em suas mãos e, quando o matou, teve
receio de que eu descobrisse por alguém.
Acho que o motivo de ter me levado para a casa do Enrico hoje foi
para não me deixar sozinha, a mercê dos boatos que já se espalhavam na
máfia agora. Agora eu me sinto mais estúpida.
Estava chegando perto do portão da entrada, já que o carro ainda
estava lá fora. Me sentei no banco que havia no jardim, pensando no que
falaria para o meu marido sobre o funeral de amanhã.
“Lorenzo, a família por parte do meu pai são iguais a ele. Por
favor, não mate ninguém no velório, se não vão me culpar por isso depois.”
Melhor não.
“Lorenzo, meu querido...”
Querido, sério?
“Capo, minha família por parte de pai certamente vai me culpar e
vai te culpar pela morte dele. Talvez tente nos matar na melhor das
hipóteses. Pensando no pior, eles farão algo silenciosamente para que nos
assustem antes, no caso, eu.”
Por que só tem loucos nessa família? Estou me torturando antes do
tempo, nem sei se ele me deixará ir. Nem sei se eu quero ir. Aquela família
faz nos sentir as piores pessoas. Ainda bem que só o víamos em datas
comemorativas, as quais eu e as minhas irmãs sempre fazíamos algo para
não comparecer.
Me pergunto se todas nós um dia tornaremos iguais a eles, parece
que maldade está no sangue dessa família.
— Quer me deixar preocupado? — disse Lorenzo ao meu lado me
dando um susto. — Enzo me liga informando que você já estava vindo e
nada de aparecer. Achei que algo tinha acontecido...
Me aproximei dele e o abracei.
— Eu sou uma pessoa ruim igual o meu pai? — perguntei. Nem sei
o motivo disso ter me incomodado tanto. Talvez sejam os hormônios da
gravidez, mas eu realmente tinha medo de me tornar como meu pai. O tio
Marco deve ter falado isso sabendo que isso de alguma forma nos afetaria.
— Você acha?
— Quem disse isso? — perguntou.
— Só me responda, por favor — pedi. — Sei que você não mente e
desaprova mentiras.
— Você é o ser mais bondoso que eu já conheci, Hope. Não imagino
você machucando uma formiga ou sendo maldosa com alguém. Eu conheço
muitas pessoas, já rodei o mundo e nunca conheci alguém igual a você —
disse Lorenzo que antes não havia retribuído o meu abraço, agora colocou
seus braços ao redor do meu corpo, me abraçando.
Tinha medo de me tornar assim. Conviver tanto com pessoas ruins e
no final não conseguir mais discernir o que é certo do que é errado.
— Posso pedir para aumentar a segurança na casa da minha mãe? —
perguntei.
Não confiava na raiva do tio Marco, principalmente agora com a
morte do meu pai.
— Já foi providenciado desde hoje cedo — falou. — Eu não
consegui contar para você em casa sobre o seu pai, porque achei que daria
tempo para te preparar antes de contar, mas já estava rolando os boatos e eu
queria ser o primeiro a te dizer já que fui eu que o matei. Ele mereceu,
Hope. Você não sabe nada das coisas que eu descobri que ele fez.
— Me desculpa pelo que eu disse mais cedo, só estava com raiva —
disse olhando para ele. Não queria saber que tipo de pessoa ruim o meu pai
conseguiu se tornar, ele já era ruim o bastante quando o conheci. — É um
sentimento novo e perdi o controle.
— Nunca sentiu raiva, ruivinha? — indagou Lorenzo, me olhando
intrigado.
Na verdade, eu nunca demonstrei estar com raiva. Estava tão
acostumada a reprimir os meus sentimentos sabendo que o meu pai me
puniria até por eles que, quando sentia algo, já era intenso demais, como se
fosse a primeira vez.
Gostei dele me chamando assim. Me sentia mais próxima do
Lorenzo quando ele não me tratava com toda aquela formalidade.
— Tão pura, ragazza — disse Lorenzo se aproximando mais do
meu rosto. — Nunca mais diga que se arrepende de ter se casado comigo de
novo, aquilo me entriste... — Lorenzo não concluiu. Ele apenas me olhava
confuso. Ele não assumiria que minhas palavras surtiram efeito nele.
Não esperou eu dizer algo e juntou nossos lábios. Lorenzo colocou a
sua mão na minha nuca e a outra na minha cintura.
Que droga, estava gostando daquilo. Não só do beijo, mas de
Lorenzo. Quando ele estava afetuoso, eu me derretia.
Nossa relação só não ficou mais problemática, porque não tínhamos
afeto um pelo outro. Lorenzo era o meu marido, não tivemos nada além de
sexo para gerar uma criança.
Quando ele não estava de mau-humor, nós tínhamos uma relação
boa, bem melhor do que eu via em casa com os meus pais. Só que aos
poucos eu estou começando a nutrir algo por ele. Não digo que seja amor,
mas tudo está indo para que seja.
— É melhor irmos — disse me afastando um pouco dele.
Caminhamos até o carro em total silêncio. Lorenzo parece ter ficado
desconfortável pelo meu distanciamento, mas que eu podia fazer? Ele me
fazia ser insegura e não acreditar em nada que ele dizia.
Estou apavorada de pensar que poderia sentir algo a mais por ele.
Se fosse só o prazer, até aceitaria, não tem como negar que ele sabe
o que faz em quatro paredes. O que aquele homem faz com a boca... Oh,
céus!
— O que aconteceu? — perguntou Lorenzo quebrando o silêncio
quando já estávamos no carro.
— Só estou cansada — menti. Não queria pensar muito na
possibilidade de amar Lorenzo.
— Sei que está mentindo, Hope — falou.
— Você não sabe como é difícil perdoar alguém, Lorenzo. Não é
pelo perdão, mas conviver com quem te feriu. As feridas que você me
causou... eu posso cuidar delas, mas saber que a qualquer momento elas
podem se abrir novamente é o que torna tudo mais difícil — falei. — Não
quero falar nada, Lorenzo. Posso ter privacidade pelo menos com os meus
pensamentos.
Não tinha nem como eu explicar o que eu estava pensando no
momento. Creio que deve ser por causa da gravidez. Eu sinto que vou
enlouquecer. Ele não me disse nada, apenas voltou a sua atenção para a
janela ao seu lado.
— Lorenzo, posso usar o seu celular?
— Quer me monitorar, ruiva? — brincou.
Vejo que chateado ele não ficou pelo que eu disse. Lorenzo pegou o
celular e me entregou.
— Eu só quero mandar uma mensagem para minha mãe, se não, não
conseguirei dormir — disse.
Sei que eu fui grossa com ela. Eu via o que o pai fazia com minha
mãe e sei que sofreu bem mais do que nós na mão dele. Ela deveria estar se
sentindo aliviada agora. Peguei o celular, indo diretamente nas mensagens.
Comecei a escrever e assim que eu terminei, fui procurar o contato
dela. Lorenzo só tinha doze contatos. Fiquei surpresa, achei que teria mais
números de putas no seu celular. Algo me chamou atenção, na verdade um
contato:
“Minha ruiva”.
Era o meu número.
Não sabia se gostava de saber que ele não salvou o meu contato com
qualquer coisa ou se achava fofo.
Droga, Hope!
Eu me apressei, já que estava demorando tempo demais com o seu
celular. Cliquei em Esther (sogra) e enviei a mensagem. Li e reli para ter
certeza que não a machucaria novamente:
Me desculpa por ter sido tão grossa. A senhora foi a única que
acreditou em mim e na Lisa quando o tio Marco nos machucou. Obrigada
por ter me protegido e ter me amado incondicionalmente mesmo sem eu
merecer um terço desse seu amor. Não queria ter dito aquilo e eu estou tão
arrependida que acho que vou morrer se não me desculpar por isso.
Obrigada por tudo que fez por nós!
Te amo!
Ela aguentou muito por cada uma de nós e me casar com o Lorenzo
para que ela tivesse a liberdade dela, foi o jeito que eu encontrei de retribuí-
la por tudo que ela fez por mim e pelas minhas irmãs.
Assim que chegamos, Lorenzo não seguiu o rumo para a mansão e
sim para o rifugio.
— Lorenzo, o seu celular — disse caminhando até ele e o entreguei.
— Darei o seu quando eu voltar. Não quero que atenda nenhuma
ligação que não seja a minha, mesmo se for a minha mãe — falou e eu
estranhei. Achei que tudo já havia sido resolvido. — Se quiser falar com
alguém, me avise que eu darei o meu celular. Você só ficará com o seu, caso
precisar falar comigo.
— Posso saber o por quê de não falar com ninguém? — perguntei.
— Hope, o seu pai estava metido com gente que não gostou de saber
que ele deixou um trabalho inacabado. Só obedeça e não fale com ninguém
que não seja Lucy e o Red — falou.
O que o meu pai fez? Até em morte ele continua nos ferrando.
— Certo!
— Não demorarei, só irei resolver umas coisas — falou me dando
um beijo na testa, saindo de perto de mim.
Se ele não quisesse que eu me apaixonasse por ele, precisava parar
de ser afetivo comigo.
Droga, estou muito ferrada!

Estava no quarto junto com o Red. Lorenzo pediu para que Red não
tirasse os olhos de mim, só saísse quando ele estivesse presente. Red não
me contou quase nada, mas aquilo estava me deixando ainda mais
preocupada.
Minha vida se tornou uma montanha russa.
Me casei obrigada, o meu tio era um sádico pedófilo, o meu pai traiu
a própria máfia, eu também não posso esquecer a família deles que são
todos loucos, fora que eu tinha que aturar amantes e muitos ataques. Minha
nossa, entrei nos clichês de trama das novelas.
— Red, já pode descansar — disse Lorenzo entrando no quarto.
Red acenou para mim e retribui com um sorriso. Esperei-o sair e eu
me sentei na cama, olhando para Lorenzo que retirava o sapato sentado na
poltrona perto da cama.
— Lorenzo, amanhã é o velório do meu pai — disse.
— Acho melhor você não ir, mas você quem sabe — falou, indo
para o banheiro.
Fiquei em choque. Se fosse outro dia, Lorenzo teria falado que não
me deixaria ir. Agora ele diz que eu posso escolher se eu vou ou não?
O que fizeram com esse homem?
Caminhei até o banheiro, vendo-o se despir na minha frente.
— O que está acontecendo? — perguntei.
— Nada que eu não possa cuidar — respondeu. — Amanhã irei com
você caso decidir ir, então nem ouse sair daqui sem mim.
Eu não tinha opção, era o meu pai e eu tinha que ir perante a nossa
lei.
— Está bem! — disse.
Antes que eu saísse do banheiro, Lorenzo me impediu.
— Hope, eu quero te fazer uma pergunta — falou. O jeito que o
Lorenzo falou me fez arrepiar. — Quer me contar o que aconteceu com
você e a Lisa na casa do seu tio?
Sabia que o Lorenzo desconfiaria, mas não acredito que ele saiba o
que aconteceu.
Eu e a Lisa não o denunciamos, erramos perante a nossa lei por não
denunciar as torturas e os abusos dele. Se os Juízes ou os Conselheiros
castigarem a Lisa por ter omitido as regras que foram quebradas na primeira
vez que aquilo aconteceu, eles certamente a matariam.
Gosto nem de pensar nessa possibilidade. Não tinha medo do
Lorenzo, mas sim da liderança.
— Não aconteceu nada — menti.
Me soltei dele e saí dali. Eu poderia confiar no Lorenzo? Ele estava
mudando, isso era notório, mas não ao ponto de que eu me sinta confortável
para falar sobre isso com ele. Tinha medo, apesar do Lorenzo ser o meu
marido, ele era líder e o que ele mais prezava era a ordem na máfia.
Me deitei na cama e logo o cansaço me consumiu.

Pela manhã, acordei com Lorenzo ainda ao meu lado. Peguei o


celular e vi a mensagem da Lisa. O enterro seria a tarde, já que o corpo do
meu pai seria cremado. Talvez o corpo estivesse tão machucado que não
podiam nem abrir o caixão.
Não duvido nada, do jeito que o Lorenzo odeia traições.
Eu estava estranhando por não está sofrendo pela morte dele. Ele é o
meu pai, um babaca, mas era. Como não conseguia sentir nada? Ontem
ainda fiquei assustada, mais pela surpresa. Hoje, por outro lado, eu não
estou sentindo absolutamente nada.
Lorenzo se remexeu do meu lado, logo se sentando na cama. Ele
tentava se acostumar com a claridade, logo me olhando.
— Irei resolver algo na boate agora pela manhã, mas chegarei a
tempo de ir com você para a cremação do seu pai.
Lorenzo era afrontoso. Não sei se eu, em seu lugar, teria coragem de
ir ao velório de alguém que eu havia matado. Pelo menos ele iria comigo,
melhor do que ir sozinha e ficar presa com aqueles lunáticos.
Minha família certamente não aprovaria nenhum pouco a sua
presença. Só espero que fiquem calados, já que o Lorenzo não é muito
paciente com desaforos.
— Tudo bem, não pretendo ficar muito tempo por lá — disse.
De certa forma, os únicos familiares meus que eu gostava era por
parte da família da minha mãe. Nenhum parente por parte de pai prestava.
Fiquei em pé, esperando criar coragem para tomar banho.
— Por mim está ótimo — falou, também ficando de pé. — Hope, só
avisando que a noite terminaremos a nossa conversa que tivemos no
banheiro noite passada.
De novo aquele assunto.
— Lorenzo... — Ele me interrompeu.
— Hope, eu sei que regras foram quebradas há 9 anos — falou e eu
paralisei. Sabia que Lorenzo desconfiava, mas não que soubesse do
aconteceu lá. — Não culpo você ou a Lisa pelo que aconteceu, mas quero
ouvir da sua boca o que houve. Marco será o próximo a morrer e isso irá
acontecer mesmo você me contando ou não. Porém, eu quero entender e ter
pelo menos a única prova que aquilo realmente aconteceu caso isso seja
levado para a bancada dos Juízes. Você e a Lisa são as únicas testemunhas e
eu não perguntarei a ela, já que está prestes a parir. Quero ter certeza de que
tudo que eu desconfio realmente aconteceu.
— Nós seremos punidas? — perguntei.
Meu corpo se tremia por inteiro. Aquela sensação de impotência
estava presente novamente.
— Não puniria ninguém por isso, Hope — falou se aproximando de
mim, me abraçando. — Posso ser um monstro, mas se criei essas regras
foram para que ninguém fizesse isso com outras pessoas. Torturo pessoas
ruins, as mato sem dó. Você e a Lisa não chegam perto de ninguém que
mereça aquilo. Assédio, estupro, pedofilia não são admitidos aqui. Essa é a
lei que era para ser cumprida. Nunca forcei você a transar ou fiz isso com
alguém e não admito que façam isso aqui. O arrependimento que eu tenho
em minha vida em relação a você é sobre aquele dia que te levei ao rifugio
antes de nos casarmos. Me conte o que aconteceu e eu juro que farei ele
pagar por tudo.
Estava com medo de confiar no Lorenzo e ele tramar contra mim. O
tio Marco precisava pagar pelo que fez a mim e a Lisa, mas o Lorenzo
poderia até não fazer nada, mas ele não poderia prometer isso pelo resto da
liderança.
Se isso for para a bancada dos Juízes, eles vão investigar tudo. Sei
que nesse quesito os Juízes são bem justos em relação a quebra de regras ou
leis. Eu e a Lisa certamente seremos punidas também por não ter informado
assim que aconteceu.
Meu pai não nos deixou nem sair de casa, provavelmente temendo
isso. Ele não está vivo para ser julgado e falar que nos proibiu, estávamos
nós duas contra o tio Marco e a nossa família que com certeza mentiria na
hora do julgamento. Consequentemente seremos a culpada por tudo.
— Tenho que sair — disse Lorenzo já que não houve respostas da
minha parte. — Tratarei de resolver uns assuntos na boate e volto logo.
Lorenzo caminhou para o banheiro e eu me sentei na cama. Só
espero que isso não prejudique a mim e nem a Lisa depois. Me deitei, me
martirizando por ter tanto medo de dizer o que aconteceu.
Assim que chegamos em casa, a ruiva foi para dentro de casa,
enquanto eu fui ao rifugio resolver um problema chamado Dante.
Liguei para o meu informante, que imediatamente atendeu a minha
ligação.
— Conseguiu descobrir mais alguma coisa? Eu estou louco para
encurralar aquele traidor desgraçado — perguntei ao Josh.
— Senhor, eu investiguei mais e o Dante está metido com a
liderança dos japoneses. Ainda não entendi o motivo, mas estou
averiguando e pesquisando mais a respeito disso.
E tudo fica ainda pior.
Sei que a família do Dante tem envolvimento com os japoneses
devido ao casamento entre as máfias, mas o seu envolvimento nisso
começou recentemente. Ele odeia miscigenação das máfias, mesmo tendo
filhas mestiças, então sempre odiou a famiglia se fundir com outra máfia
além da nossa, mas por qual motivo aparente ele tenha se envolvido
justamente agora?
— E onde esse desgraçado está?
— Ele ainda está aqui na Itália, mas irá encontrar o Yamato, o
estrategista da máfia japonesa, no país vizinho ao nosso.
— Certo, Josh, obrigado pelos seus serviços.
— Qualquer informação que eu tiver, eu ligo para o senhor.
— Está precisando de algo?
— Não, eu estou bem!
— Tem certeza?
— Sim!
— Não se esforce muito, coma direito e descanse. — Sabia que ele
viraria a noite por resposta. — Vou desligar, qualquer coisa me avise.
Peguei o meu celular e mandei uma mensagem para o Enzo e os
meus irmãos:
“Arrumem as malas, sairemos em duas horas”.
Eu tinha que ter pessoas que eu confiasse naquele momento, não
poderia envolver alguns homens da máfia, pois sei que o Dante tinha alguns
aliados aqui dentro. Enzo não gostou muito, reclamou para caralho do
começo ao fim da mensagem, e depois que eu disse o motivo, ele aceitou de
imediato.
Voltei para casa, para tratar logo de arrumar as minhas malas para
pegar o puto. Assim que havia chegado, vi que a ruiva ainda dormia. Estava
realmente cansada da gravidez.
Ela já fazia parte dos móveis.
— Você vai entrar em estado de coma de tanto que você dorme,
Hope — zombei e ela logo acordou, mostrando que até para abrir os olhos
estava com preguiça. — Vou fazer uma viagem. Volto em duas semanas, no
mínimo.
— Eu posso perguntar para onde vai? — perguntou, sentando-se na
cama sonolenta.
Caçar o filha da puta do seu pai e saber que merda ele está
envolvido.
— Não é assunto seu, Hope. O quanto menos você souber, é melhor.
De antemão, já informei que ela ficaria na casa da mãe e que não
receberia visitas de ninguém lá. Não sabia o quanto o pai dela estava
envolvido com os japoneses, mas se o Dante realmente tiver com alguma
aliança com eles, a vida delas poderia estar em risco.
Eles são bem trapaceiros, não acredito que o Dante foi tão estúpido
assim. Apesar de tudo, ele é bem esperto, tem algum motivo aparente para
ter ido atrás disso.
Depois de ter dito tudo que ela não poderia fazer na minha ausência,
pareceu bastante animada para ir à casa da mãe.
— Agora desça para comer que eu vou fazer uma ligação.
— Eu vou voltar a dormir e depois eu desço.
— Coma e depois durma, Hope, você não está se alimentando
direito — disse, já entrando no banheiro.
Havia notado que ultimamente ela só dormia e mal comia, isso me
deixava preocupado, já que o meu filho estava dentro dela precisando de
nutrientes, fora que até para ela isso poderia fazer mal depois. Liguei para o
Red e lhe passei o que aconteceria nas próximas semanas. Ele já sabia que
eu estava caçando o pai da minha esposa. Não sabia muito bem quanto
tempo essa viagem demoraria, mas caso o Dante inventasse de ficar mais
tempo por lá, ficaríamos na cola dele.
Quando terminei de tomar o meu banho, organizei a minha mala, até
que vi meu celular tocar. Era Enrico.
— Sì? — disse assim que atendi a ligação
— Já separei alguns homens para ir conosco. O que me interessa
saber é se a sua esposa sabe que estamos caçando o pai dela.
— Não, quero primeiro pegar ele no flagra nos traindo, depois o
trago de volta para interrogá-lo, e aviso o que está acontecendo a ela depois.
— Tratarei de inventar algo para falar para a Emma. Nos
encontramos no aeroporto — finalizei a ligação logo em seguida.
Desci para comer algo na cozinha e vi uma cena inusitada: Lucy
estava abraçando Hope. Apenas encarei a mulher que há muito tempo não
mostrava mais afeto por mim.

— Por que você não me dá mais abraços, Lú? — indaguei, bem


enciumado com aquilo.
— Você passa o dia fora, agora eu tenho dois bambino em casa —
disse Lucy vindo me abraçar.
Em seguida a ruiva saiu, indo para sala.
— Está tudo bem? Parece preocupado com algo.
— Os problemas que não acabam — respondi, tentando não tocar
muito no assunto. — Senti falta do seu abraço, Lú.
— Desculpe, meu bem, agora está mais difícil de te ver. Sua esposa
também tem um abraço muito bom, deveria um dia testar. Notará que o
abraço dela é mais reconfortante do que o meu.
Já havia sacado a jogada da Lucy. Ela queria que eu e a ruiva
tivéssemos uma relação mais afetiva e talvez romântica.
— Quem sabe um dia — disse, saindo do seu abraço.
— O almoço está pronto.
— Vou chamar a Hope.
Saí da cozinha e logo vi a ruiva deitada no sofá. Daqui a pouco, ela
fará parte dos móveis. Toda vez que eu olho, ou ela está encostada em algo
ou deitada. Chamei-a para almoçar, ela logo se levantou com bastante
preguiça.
Quer saber, vou ver se esse abraço dela é bom mesmo.
Aproximei-me dela, colocando os braços em torno da sua cintura e
apoiando a minha cabeça no seu ombro.
— O que foi? — perguntou, estranhando a minha aproximação.
Não a culpo, não era muito de ser afetivo, nem eu mesmo estava
entendendo o motivo de eu querer sentir o seu abraço.
Na verdade, nunca havia notado algo mais afundo nisso. Era só um
abraço, você dá em qualquer pessoa, mas, naquele momento, eu quis senti-
la, essa sensação de paz que ela transmitia, ver o motivo disso ser tão
importante para as outras pessoas.
— Só estou avaliando se o que a Lucy disse era verdade.
— E o que ela disse?
— Que o seu abraço era bom.
— E é? — perguntou.
— Você é muito baixinha, talvez eu fique com torcicolo — zombei.
Ela tentou me empurrar para longe, mas logo voltei para abraçá-la. — Sim,
é!
Senti até uma certa paz. Parece que tudo que eu nunca senti com
outra mulher, eu estava sentindo com ela. Não me lembro nem de nunca
abraçar a Alessandra.
Por que eu queria tanto ser tocado pela ruiva?
Gostava quando ela se preocupava, mesmo sabendo que eu brigaria
com ela depois pelo meu orgulho.
Hope era a paz que eu precisava.
Ficamos um tempo assim, até a Lucy estranhar a nossa demora,
chamando-nos para comer.
O almoço foi tranquilo e rápido. Hope subiu para tomar banho e eu
tratei de deixar as coisas em ordem por aqui na minha ausência. Leonel
assumiria o meu lugar juntamente com o meu pai quando eu estivesse fora.
Esperava, sinceramente, que não se matassem. Quando voltei para o quarto,
vi o telefone tocando. Enzo estava desesperado, havia enchido minha caixa
postal de mensagem.
— Enzo, você vai voltar antes do seu filho nascer — disse assim
que eu atendi, já sabendo que era isso. — Você sabe como isso está ferrando
tudo. Você tem que ir, irmão.
— Deixar a Lisa e o Nando...
— Posso falar com ele? — perguntou Hope a mim. Entreguei o meu
celular, vai que ela consegue domar ele. — Enzo?
Ela conversava com ele e tentava acalmá-lo. Depois voltou para se
trocar e me entregou o meu celular.
— Certo, eu vou. Se quando a Hope ligar e disser que algo
aconteceu, eu quero que você mova céus e terra para me fazer chegar em
casa, senão eu juro que faço a sua esposa ficar viúva.
— Pode deixar, seu arrombado. Agora trate de se arrumar que o
Pietro e o Enrico já devem estar nos esperando.
Desliguei a ligação para terminar de me arrumar.
Assim que entrei no closet, vi a Hope já vestida.
— Que tal nos divertimos um pouco antes de sairmos? — perguntei,
já me aproximando dela, beijando o seu pescoço.

Já a caminho da casa do Enzo, tratei de reforçar tudo que eu já havia


explicado a ela.
— Se sentir mal, peça para o Red te levar ao hospital, mas me
informe antes.
— Seja lá o que você for fazer, tenta voltar inteiro — falou.
— Se continuar a falar assim, vou achar que está apaixonada por
mim. Não se preocupe comigo, só cuide de você e do nosso filho.
— Tudo bem!
Chegamos em frente à casa da minha sogra e o Enzo já nos esperava
lá fora.
— Temos que ir, o Pietro e o Enrico já estão esperando no jatinho.
— Com certeza, enfurecidos com o seu atraso, Lorenzo — disse
Enzo entrando no carro.
— Eu estava ocupado. — Dei um sorriso malicioso para a ruiva.
— Vamos ficar bem, não se preocupe. — Coloquei a minha mão
sobre a sua barriga.
Eu não queria ter que deixá-la. Não confiava em saber que eles dois
estavam longe de mim, longe da minha proteção.
Eu gostava de sentir o meu filho assim, mesmo sem ele demonstrar
nenhuma reação visível, me sentia mais aliviado em ver que eles dois
estavam bem.
— Não esqueça de me ligar a noite — disse, dando-lhe um beijo. —
Agora entre, antes que o Enzo desista.
Esperei-a entrar na casa e voltei para dentro do carro.
— Agora vamos armar a emboscada para aquele verme — disse
para o Enzo.
Não demorou para encontrarmos o Pietro e o Enrico. A viagem seria
longa, por que Dante e esse tal de Yamato foram inventar de se encontrar na
puta que pariu?
Algumas horas depois, eu já estava prestes a cometer um crime.
— Que inferno, achei que nunca chegaríamos — reclamou Enrico.
— Tenho que me lembrar de toda raiva que eu peguei nessa viagem
para depositar no Dante — disse Pietro. — Cadê o Lucca?
— Não atendeu, talvez achou que eu daria alguma tarefa como
castigo — falei.
A viagem foi uma merda. Não sei se era porque estávamos cansados
ou a falta das nossas esposas e filhos, mas eu estava mais estressado do que
o normal. Não demoramos para chegar no hotel e o Enzo já queria voltar
para casa.
Liguei o meu celular, olhando se já havia alguma ligação da ruiva,
mas não havia nada. Quando eu ligaria para ela, a sua ligação logo apareceu
no visor.
— Já estava voltando para casa. Por que não me ligou mais cedo?
Agora eu vou ficar surtando se ela demorar a me ligar, achando que
aconteceu algo.
Que inferno!
— Você não disse o horário que eu tinha que ligar, resolvi ligar só
quando eu fosse dormir — respondeu calmamente.
Esse mulher deveria ser considerada uma santa, de tanta paciência
que ela exala.
— Quer escutar a minha voz antes de dormir, bela ruiva? — tentei
deixá-la envergonhada. — Está tudo bem?
— Sim! — respondeu um pouco sonolenta. — E o Enzo já se
acalmou?
— Pietro o prendeu no quarto com o Enrico para caso ele tentar
fugir.
— Ele deve estar preocupado em perder o parto da Lisa ou só com
medo dela matar ele se não estiver ao seu lado quando Bernardo nascer.
— O Federico foi aí? — perguntei, mas, na verdade, queria saber se
o pai deu as caras.
Talvez ele soubesse que eu saí e aproveitasse para infernizar a
família na minha ausência, já que ainda não saiu para encontrar o Yamato.
— Saiu agora há pouco.
— Resolveu o que tinha que resolver?
— Ah, sim... — bocejou.
Ela estava cansada, achei melhor não prolongar a conversa.
— Qualquer coisa, me liga.
— Tchau! — respondeu, desligando a chamada.
Curta e grossa. Não é como se eu esperasse ela dizer algo a mais.
Guardei o celular no bolso, querendo um bom uísque no momento.
— Me tira daqui! — gritou Enzo batendo na porta.
— Que merda está acontecendo aí dentro? — perguntei ao Pietro,
aproximando-me da porta.
— Enrico está brincando com ele. Está tentando beijá-lo.
Enrico era o mais brincalhão, nada o segurava quando ele queria
tramar algo. Ficamos anos longe um do outro, e talvez ele quisesse se
aproveitar para tirar proveito da situação.
— Eu vou te dá um tiro. — Escutava o Enzo brigar com ele.
— Um tiro por um beijo — disse Enrico. — Vamos dividir a cama?
— Esse filho da puta sabe barganhar — falei.
— Deixa ele sofrer mais um pouco aí dentro — disse Pietro. —
Vem, vamos para o bar.
Já sabia que o Pietro queria conversar, quando ele me chamava para
beber assim, tinha coisa.
— O que foi? — estranhei.
— Já sabe como vai falar para a sua esposa?
— Não tem o que falar agora, Pietro. — disse. Ele não podia ser o
mais responsável dos irmãos, mas sempre assumiu o papel de irmão mais
velho, cuidava tanto de mim, quanto do Enrico. — Tenho que averiguar
primeiro, eu conheço a ruiva, não basta dizer que o pai dela estava nos
traindo, ela quer detalhes e ter que envolvê-la nas tramas do pai, eu prefiro
não informá-la no momento.
— O problema não é você falar da missão, Lorenzo. Sabe que não
ficará só nisso. Quando o pegarmos, ele será julgado e morto, é isso que eu
estou perguntando. Como falará para a sua esposa que matará o pai dela?
Não tinha pensado nisso ainda.
— Não quero me preocupar com isso agora, irmão. Vamos lidar com
uma coisa de cada vez, agora eu só quero bolar um plano para pegar o
Dante.
Queria encurralá-lo, pegá-lo quando ele menos esperasse, tirando
aquele maldito sorriso escroto do seu rosto.
Quatro dias se passaram e todos os dias falava com a Hope, sempre
o essencial. Josh nos ligou ontem explicando onde aconteceria o encontro
deles. O problema era que não estávamos no nosso território, então a máfia
daqui poderia nos retalhar depois por invasão ou por causa das brigas na sua
área. Então achei mais prudente avisar o líder da gangue que domina esse
quarteirão, já que a máfia daqui não tinha poder nas redondezas.
— Está decido, quem vai é você, Enzo — disse, informando que ele
iria falar com o tal líder. Como Consigliere, ele era o melhor para essa
função. — É o mais paciente de nós quatro. Na primeira oportunidade, já
teríamos começado uma briga.
Mandei-o explicar o que estava acontecendo e que pagaríamos pelos
danos que houvesse.
Enzo logo aceitou.
— Se eles pedirem coisas absurdas? — indagou Pietro a mim.
— Fica tranquilo que eles não seriam estúpidos. Tenho o meu
legado aqui fora, eles sabem o que podem ou não fazer comigo — falei
despreocupado com isso
— Eu queria ir com o Enzo — murmurou Enrico.
— Em outra vida você consegue ir — disse.
Depois de um tempo, o Enzo voltou com uma puta lista do que a
liderança queria.
— Acho que não foi como você planejou, Lorenzo — comentou
Pietro rindo de mim.
— Não se esqueça, eu sempre estou certo — falei e ele logo me deu
o dedo de meio mostrando sua gentileza em lembrar que eu falo a verdade.
Ele sabe do que eu estou falando.
Quis ri assim que eu li.
De cara, já vi que era principiantes, não sabiam negociar, só tinha
bobagens.
— Querem drogas e armas basicamente — disse Enzo. — Fiz eles
acharem que seria vantajoso escolher isso, idiotas.
— Poderiam ter pedido passe livre para a Itália, algum terreno
nosso, uma ajuda em alguma missão, realmente estupidez não se discute —
falei.
Aceitamos e já poderíamos colocar o plano em prática.
O relógio apontava às 22:30 da noite. Estávamos de tocaia em um
dos prédios perto do bar, onde o Dante encontraria o japonês, quando vimos
a enorme quantidade de seguranças que esse tal Yamato tinha.
— Quem esse cara pensa que é para andar com tantos seguranças
assim? — perguntou Enzo.
— Ele tem cara de cuzão — disse Enrico.
Isso será um problema.
Não trouxemos muitos homens para que ninguém da máfia
desconfiasse de algo. Dante deveria ter seus aliados, não seríamos tão tolos
de deixar tão evidente o que faríamos.
— O plano continuará o mesmo. Nosso alvo é o Dante, nada de
confusão com os japoneses, a nossa briga com eles fica para outro dia.
Pietro, você ficará encarregado de esperar no saguão do bar, quando
Yamato sair, nos avise — informei.
— Eu posso ficar — disse Enrico.
— É perigoso para você lá — disse Pietro a ele.
— Para você também. Quando vocês dois vão parar de me tratar
como criança? — perguntou Enrico bravo por ficar de fora. — Lorenzo,
qual é, você já tinha dito que eu que tomo as decisões, lembra?
— Lembro, mas isso aqui é outra história. Pietro é o mais
qualificado para entrar naquele bar no momento, depois que o Yamato sair,
o Dante não sairá junto, já que não quer deixar na cara que está envolvido
com ele, mas se algo der errado e a merda começar acontecer, não quero
você no meio daquilo.
O cargo que o Pietro efetua escondido da máfia, seria de uma grande
ajuda. Um segredo apenas nosso.
— Já fui para outras missões, Lorenzo. Sei me defender sozinho —
tentou argumentar.
— Esse assunto já foi encerrado, Enrico. Não saberei focar na
missão, sabendo que você vai estar no meio disso — declaro.
— Nem eu — concordou Pietro.
Enrico murmurou algo, mas logo aceitou.
— Você ficará de prontidão aqui fora com o Enzo, você sabia disso
quando o chamamos. Tem outros homens conosco, não precisa se preocupar
— falei para ele.
— Vocês vão ficar com a diversão toda — reclamou, cruzando os
braços aborrecido.
— Depois te compensamos com algo — disse e ele logo se animou.
Como não tratá-lo como uma criança, se eu ainda o via como uma?
Pietro foi para o saguão e eu fiquei de tocaia no carro. Cada um
tinha um aparelho no ouvido para que pudéssemos nos comunicar, junto
com um walk-talkie¹. O Enrico e o Enzo estavam no prédio ao lado,
esperando algum sinal caso as coisas fugissem do nosso controle.
— Olhem se estão com munição — ordenei.
— Está tudo certo!
O tempo foi passando e o Yamato ainda não tinha saído.
— Ele está saindo do saguão — disse Pietro.
Já estava achando que algo tinha acontecido, quando ele saiu do bar.
Entrou em um dos carros e se saiu dali rapidamente.
— Vou entrar, fique de prontidão, Enrico e Enzo — avisei.
Pietro foi na frente e eu estava logo atrás dele com alguns homens.
O bar estava cheio, sabia que o Dante se esconderia assim que nos
visse na multidão.
Lá no fundo, estava ele acompanhado de alguns homens, não duvido
que fossem os seus seguranças, já que não traria os seus Associados para o
seu encontro secreto.
— Ora, ora, ora, o que achamos aqui — disse, sentando-me na
cadeira ao seu lado.
Seu espanto ficou evidente, até a coloração do seu rosto mudou, ele
estava mais pálido do que o habitual.
Quando ele se levantaria, segurei fortemente no seu ombro, fazendo-
o se sentar novamente.
— Um traidor, irmão — disse Pietro se sentando do outro lado. — E
o que fazemos com traidores?
— Ah, nós o levamos para passar uma longa e demorada estádia no
rifugio, recebendo um tratamento vip por mim — respondi sarcástico.
— C-Capo, o que faz aqui? — perguntou com a voz trêmula.
— Eu? Senti falta do seu sorriso — respondi irônico. — Ah, não
vamos pensar nisso agora, o foco dessa conversa é você. O que você faz
aqui?
— Viagem com uns amigos... — respondeu e eu o interrompi,
apertando o seu ombro que eu ainda tinha a mão por cima.
— Mentindo na cara dura. Agora eu sei com quem a ruiva aprendeu
a não saber mentir. Fico ofendido que tente mentir para mim, logo eu, o seu
genro.
— Aqui tem muitas pessoas, estamos em outro território — tentou
se livrar de mim.
— Estamos em um lugar invisível, ninguém nem se importa o que
acontece aqui. Então vamos voltar ao assunto que eu quero falar agora. Está
tramando contra a sua famiglia? Que feio, Dante!
— Não... — respondeu enquanto olhava para a arma na minha
cintura.
— Andiamo, temos muita conversa para colocar em dia.
Fiquei em pé e logo o Pietro ficou também.
— Você não manda em mim aqui — falou, aproveitando que os seus
seguranças se aproximaram mais de nós dois assim que notaram a
movimentação estranha perto do seu “protegido”.
Olha quem está começando a mostrar as garras. Comecei a rir,
fazendo-o ficar confuso pela minha mudança de humor.
— Nem que eu precise te levar por partes, você virá comigo —
falei, próximo do seu rosto. — Tenho cara de quem aceita traição, porra!?
Os seus seguranças estavam em maior quantidade que os nossos
homens. Erro dele se meter com um Ferraro. Mal sabe ele que brigar já é
algo comum para nós.
— Dizem que eu sou o mais calmo dos Ferraro — disse, afastando-
me dele enquanto os seus seguranças se aproximavam mais de mim. —
Imagina ter os três aqui. Você não deveria ter me traído.
— O que eu não faço por uma boa briga — disse Pietro que mal
terminou de falar e pulou para cima de um dos seguranças, nocauteando-o.
Dois deles vieram para cima de mim, certamente querendo acabar
primeiro com o líder. Dante passou de fininho tentando fugir, enquanto
estávamos ocupados, lidando com os seus seguranças.
— Enrico, ele está fugindo — disse enquanto brigava com alguns
dos seguranças.
O bar logo começou a assistir a nossa briga, mas ninguém nem se
moveu para tentar apartar. Os homens estavam diminuindo e o Enrico não
deu sinal de vida se havia conseguido pegar o Dante ou não. Mal terminei
de pensar e logo o Enzo trouxe Dante no ombro, jogando-o em cima da
mesa.
— Cadê o Enrico? — perguntei quando terminei de derrubar o
último maldito que faltava, dando um soco no seu rosto.
— Aqui! — respondeu, sentando-se em uma das mesas. — Ainda
consegui me divertir com uns que estavam lá fora.
Os meus seguranças começaram a tirar a plateia que assistia, sorte a
nossa que a péssima iluminação evitava de que se tivesse algum civil aqui
nos reconhecesse.
— Eu estou ficando velho ou esses homens estão mais difíceis de
morrer? — disse Pietro se sentando na cadeira ofegante.
— A idade chega para todos — falei.
— Vai se fuder! — retrucou. Eles não trabalhavam tanto nas
missões como antes, já que eu os tirei de campo, então perderam a prática.
Apesar dos seus serviços para um velho amigo, não era mais tão recorrente
como no começo. — Vamos cuidar desse fujão, quero ir logo para casa.
— Me desculpe, Capo, eu... — disse Dante se arrependendo.
Enquanto ele tentava se desculpar, sacou uma arma, disparando logo em
seguida na direção do Enrico, já que estava perto dele. Eu estava perto de
ambos, então me joguei por cima do Enrico, afastando-nos e o Enzo se
jogou por cima do Pietro, empurrando-o de um segundo disparo.
Meus homens logo o desarmaram, já que estavam ocupados tirando
as pessoas que estavam aqui dentro.
— Seu merdinha! — disse, olhando para o Dante. — Levem esse
filha da puta, antes que eu o mate.
Esse maldito é corajoso.
— Lorenzo... — Enrico apontou assustado para a mancha de sangue
que se formava nas minhas costas.
Ele sempre ficava assim quando nos machucávamos.
Não acredito, que inferno!
— Vai tomar no... — disse, sendo interrompido por uma dor
desgraçada.
Enzo veio correndo para me socorrer.
— Está tudo bem? Deixa eu olhar isso — disse Enzo não esperando
eu responder e logo rasgou a minha camisa.
— Não sabia que você tinha essa aptidão — disse com um sorriso
malicioso. — Tão ágil com as mãos.
— Vai se fuder, seu arrombado, deixa de brincadeiras — disse Enzo.
Enzo era o mais nervoso quando se tratava de mim, só estava
tentando aliviar mais o seu surto.
— Está tudo bem, foi só de raspão — disse Enrico passando a mão
no cabelo, recuperando-se do susto. — Por que você teve que se jogar na
minha frente, seu merda? Porra, Lorenzo, quer que o teu filho cresça sem
pai? O tiro ia pegar de raspão em mim, seu arrombado.
— E você ainda quer que a gente te deixe a frente das missões.
Imagina se esse tiro pega em você, seu puto — o repreendi.
— Uma hora dessas me dando lição de moral, porra — reclamou
Enrico.
— Enrico, quero que saiba da gravidade das coisas. Se eu levo um
tiro, eu fico de boa e tento me recuperar. Se você leva um tiro e eu estou em
uma missão com você, eu me culparia pelo resto da minha vida. Porque
você acha que quando ia em alguma missão sem mim ou sem o Pietro, o
número de homens que ia com você era maior? Não quero que se
machuque, então tente ficar longe das missões, seu figlio di puttana.
Aproveitaria para tirar essa ideia do Enrico de querer comandar as
missões. Se ele se machucar, é capaz de eu matar todos os homens que
estavam com ele por não protegê-lo.
— Vamos tratar de cuidar do Dante e você... vamos cuidar desse seu
ferimento — disse Pietro a mim.
Quando a ruiva souber disso, ela vai surtar. Voltamos para o hotel, já
que o jatinho levaria o Dante primeiro. Meu pai e o Leonel já o aguardavam
no rifugio. Enrico cuidou do meu machucado enquanto o resto enchia a
cara.
Foi um dia de merda.
Assim que eu peguei o meu celular, vi as chamadas perdidas da
ruiva. á era mais de 02:00 horas da manhã, mas isso não me impediu de
ligar, precisava saber dela.
— Sì? — disse Hope assim que atendeu sonolenta.
— Só queria saber se estava bem, por isso liguei esse horário —
disse, sentindo dor até na hora de falar.
— Está tudo bem? Sua voz... — falou e eu a interrompi:
Não foi criado algo que engane essa ruiva, ela parece saber e
entender tudo.
— Está sim! Estava cuidando de uns negócios inacabados, talvez até
volte antes... — Enzo me interrompeu, pedindo que eu perguntasse se a Lisa
estava bem. — Enzo está perguntando se Lisa e o Nando estão bem.
— Estão sim! Lisa está bem mais violenta que o normal.
— Presumo que tem uma boa história por trás disso. — Fui rir e a
dor me fez gemer.
— Está machucado? Você não vai morrer falando comigo, pelo
amor de Deus, Lorenzo!
— Deixe de surtar, porque quem surta sou eu. Já disse que eu estou
bem. Vai dormir e não se preocupe com ninguém além do nosso filho.
— Certo! — falou, fingindo que não ia se preocupar comigo. —
Fique bem e cuide dos rapazes. Se algo acontecer com o Enzo, a Lisa mata
cada um de nós.
— Pode deixar! — disse. — Vou desligar antes que o Enrico beba o
bar todo.
Desliguei, apenas querendo descansar agora.
— Enrico, cuidado com essa bebida — disse Enzo tirando a garrafa
da sua mão. — Se bom já é um tarado, imagina bêbado. Eu não vou dormir
com você hoje.
— Ah, só porque eu planejei algo mágico para nossa noite juntos —
disse Enrico passando a mão pelo cabelo do Enzo.
— Vai se fuder, Enrico! Vem, eu vou te dar banho para você dormir
logo.
— Gosto da sua iniciativa, mas e eu? — perguntei.
— Vai se fuder, Lorenzo! — respondeu e eu ri.
Parece que a noite acabará bem, pelo menos isso.
Uma semana depois, não achei que teria tantos problemas com o
maldito transporte de Dante.
Os japoneses estavam loucos atrás dele, então tivemos que ficar
escondidos por um tempo. Compramos um galpão da gangue, já para ter
algum lugar aqui caso um dia precisasse. Dante continuou no galpão com os
meus homens, enquanto eu e o resto dos rapazes ficamos no hotel, sem sair.
Aproveitei para cuidar do meu ferimento, porque queria estar bem quando
fosse torturar o Dante.
Avisei Red do meu retorno. Essas semanas pareceram que nunca
acabariam.
Assim que eu cheguei em casa, subi logo para o meu quarto. Queria
tomar um bom banho e depois ver a ruiva. Quando entrei no quarto, escutei
o seu gemido de dor.
— Está com dor? — perguntei assim que entrei.
— Ah, não, só torcicolo — respondeu.
Quase fui até ela, mas estava sujo da viagem e cansado. Caminhei
até o banheiro para tomar um banho.
— Vou precisar da sua ajuda aqui — a chamei. Ela logo apareceu
confusa. — Me ajude a tirar a camisa.
Ela começou a tirar a minha camisa calmamente, mas os seus olhos
logo foram de encontro a ferida do tiro, mostrando sinais de surpresa, ela
me olhou assustada.
— Se machucou? Está doendo? O que foi isso?
— Um tiro de raspão. Está tudo bem, só me ajude a tirar a camisa —
disse.
Ela havia ficado bem nervosa em saber disso. Gostei de ver que
estava preocupada comigo.
— Um tiro? Meu Deus! — falou assustada. — Você cuidou disso
direito? Quer ir no quartel dar uma olhada nisso?
— Eu estou bem, ruiva, o Enrico já deu uma olhada — disse. Ela
não acreditou, olhando o meu corpo inteiro tentando achar algo fora do
lugar. Até que eu gostei de vê-la assim preocupada comigo. — Está tudo
bem agora, Hope.
— Você não vai morrer perto de mim, não é? — indagou. — Eu não
sei o que fazer se precisar de alguma ajuda...
— Não precisa ficar nervosa — disse. — Foi só de raspão, Hope, já
basta Enzo ter surtado na hora.
Ela continuou a me ajudar com a minha roupa, temerosa a cada
movimento para não me machucar.
— Ai! — disse fingindo que estava com dor.
— Me desculpe, eu te machuquei? — perguntou assustada.
— Estou te zoando, anda logo com isso — disse rindo.
— Não faça isso, eu quase morri do coração — reclamou.
Eu a virei de costa e lhe dei um abraço por trás.
— Eu estava sentindo a sua falta — disse passando as minhas mãos
em sua barriga. — Está enorme, sinto que perdi semanas importantes.
Não me importava de dizer isso a ela, era a verdade, eu senti muita
falta do seu sorriso essa semana.
— Só comi muito, talvez eu tenha engordado bastante essas
semanas.
— Está linda! — falei, dando um beijo no seu pescoço. — Só vou
falar dos dois quilos que aumentou para a médica. Se aumentar terá que
retribuir o favor de novo.
— Podemos discutir isso depois.
— Não sentiu a minha falta? — perguntei.
Queria saber se a ruiva havia sentido a minha falta tanto quanto eu
senti dela.
— Senti a sua falta também — respondeu, colocando a mão por
cima da minha. — Nós dois sentimos.
— Seu cheiro é tão bom! — falei.
Tudo nela me atiçava tanto, não como algum desejo carnal, ia muito
além disso. Aproveitei a nossa aproximação e a beijei. Sentia falta dos
beijos dela. De ter as suas demonstrações de afeto, de ter os seus olhos em
mim, gostava dessa minha nova vida, eu só tinha medo de s destruir, assim
como destruo tudo que eu toco.
Parei de beijá-la querendo ter a certeza de que ela estava bem na
minha ausência.
— Não tem nada fora do lugar — falou.
— Queria continuar o que estávamos fazendo, mas eu tenho que
resolver umas coisas no rifugio — disse entre os beijos. — Fica para a
noite.
Ficamos nos beijando por um tempo, mas logo nos separamos. Hope
me ajudou a me vestir depois do banho e eu logo saí para o prédio ao lado.
Tinha que cuidar do Dante no rifugio.
Os japoneses estavam desesperados atrás dele, alguma coisa ele
sabia.
— A liderança quer que eu leve Dante para o depósito e que seja
levado para julgamento — disse Enzo.
Porra, os boatos aqui se espalham muito rápido, que merda! Estava
tentando me livrar da burocracia que era interrogar o Dante.
A liderança não estava me permitindo deixá-lo no rifugio, pois era o
pai da minha esposa e que eu poderia ter um julgamento impreciso. Eu
quero matá-lo mesmo, porra de julgamento impreciso.
Eu não estava nem aí, Dante era meu e eu que cuidaria disso.
Chamei os líderes para o quarto andar do rifugio no intuito de realizar uma
reunião rápida.
— Estão todos aqui? — perguntei e o Leonel assentiu. — Então
vamos começar.
— Creio que o melhor no momento é levar Dante para a Elite e o
deixar sobre o poder da liderança — disse o Juiz a mim. — Ele foi um
traidor, tem que ser julgado.
— Eu particularmente entendo o que o senhor quer dizer, se fosse
outra pessoa eu aceitaria, até porque se temos a bancada é para ser resolvido
isso lá, porém o que o Dante sabe talvez envolva algo ainda mais
prejudicial a nós e a máfia japonesa. Não quero que isso envolva mais
pessoas porque eu não confio. Eles estavam nos procurando há semana
inteira enquanto estávamos fora. Dante sabe de algo e eu não sei o quanto
ele passou sobre nós para os japoneses para ter a confiança deles — disse.
— Por isso, Dante Bellini ficará sobre a minha responsabilidade aqui, o
julgarei sozinho e o punirei. A minha família está comigo nisso, então creio
que não preciso de ajuda extra, já que um Sottocapo e um Consigliere
também estão envolvidos.
— Mas, senhor... — interrompi o Conselheiro.
— Eu sou o líder e eu decido. Eu estou sendo claro com vocês, pois
fazem parte da liderança, mas a partir do momento que não estamos um do
lado do outro, os verei como meus inimigos — Falei. — Enrico cuidará da
tortura sendo examinado pelos cuidados do Enzo. Pietro, Leonel e o meu
pai ajudarão na segurança. Eu não posso parar com os meus deveres aqui,
então não terei tempo o suficiente para interrogar o Dante sempre, então
deixarei na mão deles e participarei quando tiver tempo dos meus afazeres.
Agora, a reunião chegou ao fim. Se eu tiver mais informações passarei a
liderança, se não, sigam com as suas obrigações.
A liderança levantou, deixando apenas o Enzo, Leonel e o meu pai
na sala.
— Temos que fazer isso logo, eles não vão ser tão pacíficos se
demorarmos para matar o Dante — disse Enzo.
A liderança não gostava de deixar vivo um traidor, então tínhamos
pouco tempo. Descemos para a cela onde o Dante estava. Ele estava
amarrado com uma corrente que o prendia no teto.
— Gostando do quarto? Separei esse especialmente para você —
disse ao Dante. — Ele combina com você.
— A liderança sabe que eu estou aqui? — indagou.
Como eu disse, Dante poderia ser tudo, menos estúpido, ele sabia
das coisas, o que me instigava ainda mais em conhecer o que ele sabia dos
japoneses.
— Senhor, a senhorita Beatrice o aguarda em sua casa — disse um
dos meus seguranças. — Os seguranças a viram lá agora há pouco.
Porra!
— Quem permitiu a sua entrada em minha casa? — perguntei.
— Não sei, senhor, só vim lhe informar.
A tirarei de lá, nem que seja pelos cabelos.
— Enrico, comece, eu vou resolver umas coisas — falei, logo
olhando Enrico pegando a sua maleta de tortura. Voltei para a minha casa,
cansado de tantos problemas.
— Lorenzo! — disse Beatrice me abraçando.
Sua mão acabou machucando a minha ferida, me fazendo gemer de
dor.
— Porra, o que está fazendo aqui? — disse, a tirando de perto de
mim.
— Por que é tão malvado comigo?
— Já deixei claro como eu sou e que eu não terei nada com você.
Você insiste porque quer, agora só aceite as consequências — falei,
segurando no seu braço. — Eu estou ficando de saco cheio. Se eu te ver na
minha casa, eu arranco os seus olhos e te faço comer.
— Você fica colocando espaço entre nós — falou com os olhos
cheios de lágrimas. — Eu nunca fiz nada para receber o seu desprezo.
— Beatrice, isso já é doentio — disse. Ela parecia fora de controle.
Ela sempre foi assim, mas depois da morte do marido talvez achou que eu
largaria tudo por ela.
— Doentio? — indagou. — Você controla onde eu vou se eu pisar
aqui, como se eu fosse uma inimiga sua. Faz isso com todos, mas eu vejo a
sua esposa entrando e saindo dos cômodos sem segurança alguma. Você
confia nela que conhece há pouco tempo, mas eu que te conheço desde
adolescência sou vigiada? Eu fui atrás de você assim que cheguei, fiquei
preocupada com o seu sumiço e esbarrei na sua esposa com uma caixinha
marrom nas mãos, ela estava tão assustada quando me viu, não duvido que
esses ataques que você tem, ela que fale ou das coisas que somem, é ela
quem as pega.
Aquilo me chamou atenção.
— Não deixe que ela saía daqui — disse a um dos meus seguranças.
— Se estiver mentindo, eu farei pagar.
Saí correndo, sem me importar com o meu machucado. Assim que
entrei no quarto, corri imediatamente para onde fica a caixinha e encarei o
vazio ali.
Se controla, Lorenzo.
Dizia para mim mesmo, mas parecia que ficava ainda mais furioso.
Comecei a bagunçar todo o quarto atrás daquela caixinha, não a
encontrando em lugar nenhum. Sentia as minhas mãos trêmulas, o ar me
faltar, tudo estava virando um borrão para mim, como se eu não enxergasse
mais nada a minha frente.
Eu estava com muita raiva de mim, eu só me fodo quando deixo as
pessoas entrarem na minha vida. Fui para o corredor, tirando tudo do lugar.
— O que foi, meu filho? — disse Lucy completamente assustada.
Não a respondi, descendo as escadas indo para a cozinha, tirando
tudo do lugar.
— Lorenzo... — Escutei Beatrice me chamar, mas eu ignorei.
Nem que eu revire essa casa, eu vou encontrar o que pegaram.
— Lorenzo, o que foi? — disse Lucy me seguindo.
Entrei no seu quarto e ela ficou na minha frente.
— Quer me explicar o que está acontecendo? — perguntou.
— Roubaram algo e ninguém vai sair da porra dessa casa até eu
achar — falei, a empurrando para o canto, entrando no seu quarto.
— Vai mexer nas minhas coisas? Acha que eu faria isso? —
indagou. — Eu te ajudo se está tão desconfiado.
Lucy começou a tirar algumas gavetas do lugar, jogando tudo no
chão. Tirou o colchão da cama, mostrando que não havia nada aqui. Saí do
seu quarto, sem dar importância para aquilo. Eu quero a maldita caixinha,
nem que para isso eu mate alguém.
Fui para o meu quarto, tirando tudo do lugar, até escutar Hope no
banheiro, lembrando do que a Beatrice disse. Assim que eu entrei no
banheiro, Hope me olhava altamente confusa.
— O que faz você pensar que pode fazer o que quiser? Eu só te dei
um pouco mais de mordomia aqui, que você logo aprontou — disse.
Eu tinha tanta raiva de mim, eu fiz de tudo por ela. Lucy nunca
entraria naquele quarto, Red principalmente, nem a minha família ousou,
ela era a única de fora.
— O que foi que eu fiz, Lorenzo? — perguntou.
Ela me olhou confusa e aquilo me deixava ainda mais louco. O que
estava acontecendo?
— Caralho! — falei, tentando me acalmar para pensar no que fazer.
Eu já estava acostumado com os meus surtos, sempre me arrependia
no final deles. Eu tinha que pensar no que fazer, estou deixando algo passar.
Aquela caixinha não pode sair daqui. Eu não sabia o que fazer, eu nem me
importava com as provas que eu tinha lá dentro de alguns corruptos, eu só
queria o que envolvia a minha filha.
Olhei para Hope que me olhava assustada. Não pensei e comecei a
descontar a minha raiva no que eu via pela frente.
— Cadê... — Tentei procurar pelo banheiro, mas nem sinal. —
PORRA, CADÊ, HOPE?
Ela ficava em silêncio, sem dizer absolutamente nada.
— Eu tenho raiva de mim, porque finalmente eu confiei e deixei
alguém entrar novamente na minha vida e isso acontece — falei, enquanto
andava de um lado para o outro. — CARALHO, EU ESTOU CANSADO
DISSO, PORRA!
— Lorenzo... — sussurrou, sem nem ao menos se defender para tirar
essa possibilidade da minha cabeça.
Eu olhava para ela e sentia raiva de mim a cada segundo. Nunca fui
com ninguém como eu fui com ela, eu fiz tudo o que eu podia e o que eu
não podia só por ela. Agora ter essa infeliz situação dentro da porra da
minha casa, onde ninguém além das pessoas que moram aqui sabe do que
tem lá em cima.
Como eu devo agir com isso, porra? Eu estava me cegando pelo
ódio e eu sabia o que acontecia quando eu começava a ficar assim.
— Tem certeza que não sabe do que fez, Hope? — indaguei. — Só
me diga onde está o que pegou?
— Eu não peguei nada, eu nem sei do que você está falando —
respondeu desesperada. — Você sabe quando eu estou mentindo, olhe para
mim e veja.
A olhei, me deixando ainda confuso. Minha cabeça parecia que ia
explodir. Me afastei dela, sem saber o que fazer, sem saber o que pensar.
— PORRA! — gritei, passando as mãos no rosto.
Me aproximei do armário, jogando-o no chão. Eu tinha que tirar a
raiva de mim, senão todos nessa casa.
— EU SEI QUE ENTROU NO QUARTO DA ANTONELLA —
falei.
— Eu não entrei — disse Hope temerosa. — Nunca nem cheguei
perto da porta. Se acalma e tenta pensar no que está acontecendo. Você está
com raiva e não está pensando direito.
— Pare de chorar e me responda onde está a caixinha marrom que
estava no quarto da minha filha? — supliquei. — Hope, por favor, só me
diga logo onde você guardou.
— Eu não peguei nada, Lorenzo — falou, se agachando, cobrindo o
rosto para que eu não vesse o seu choro. — Eu estou com medo, por favor,
acredite em mim. Eu não entrei lá. Não sei do que você está falando.
Estava consumido pela raiva de saber que aquela caixinha havia
sumido. Que porra estava acontecendo aqui? Saí do banheiro, me
encontrando com a Lucy na escada.
— Quem entrou no quarto da Antonella, Lucy?
— Ninguém, Lorenzo. Ninguém nem sabe que o quarto dela é esse,
além de mim, do Red e da Hope, ninguém entrou lá dentro. Red e a Hope
ficaram comigo o tempo inteiro — falou.
Escutei o choro da Hope ficar mais alto.
— Cuide dela — disse.
— O que aconteceu? — perguntou Beatrice que estava sendo
vigiada pelo segurança.
Minha respiração cada vez mais ficava acelerada, eu sentia meu
sangue ferver.
— O que faz na minha casa? — perguntei, segurando no seu braço.
— Você sumiu, não apareceu no quartel, eu vim ver se estava bem
— falou. — Pode me soltar, eu já estou indo embora.
— Ninguém vai sair daqui — falei, jogando-a no sofá, olhando para
o segurança. — Feche todas as saídas, mande todos os funcionários me
esperarem lá fora com as mãos para cima. Eu vou olhar cada buraco da
porra desse lugar, eu não quero saber se não sabem onde ficam o quarto da
minha filha, se alguém entrou, vai morrer.
Foi quando Lucy se aproximou de mim apressadamente.
Pensei no pior, e se a ruiva estivesse passando mal? Meu coração
parou de funcionar por alguns segundos.
— Hope disse que a Beatrice estava no andar de cima antes de você
chegar. Veja se o que procura não está com ela — falou.
Olhei para a Beatrice sentada no sofá.
— Saia daqui, Lucy — falei, enquanto me aproximava da Beatrice.
— Você entrou no quarto da minha filha?
Não fazia sentido, ela nunca andou aqui para saber onde era, tem os
seguranças da casa, tinha a Hope e a Lucy, mas mesmo assim o quarto da
Antonella era o último, para entrar lá dentro tinha que ser alguém daqui.
Não tinha como ela saber onde era.
— Eu não fiz nada, sua esposa que está tentando me culpar — falou,
ficando em pé.
— Como sabia que ela estava com uma caixinha nas mãos? Você
escutou isso quando entraram na sua casa, mas como sabia que estava no
quarto da minha filha? — perguntei, segurando o seu pescoço. — Como
sabia que eu surtaria primeiro, antes de analisar o que me disse? Ninguém
sabe disso, como VOCÊ SABE, CARALHO?
Ninguém da minha família sabia dos meus surtos.
— Eu não sei... — Dei um tapa no seu rosto, fazendo-a cair no sofá
colocando a mão no lugar que eu bati.
— Eu vou acabar com você se realmente tiver me traído — falei,
pegando a sua bolsa.
Não importa se é homem ou mulher, vai sofrer as consequências de
tramar contra mim.
— Quer me entregar o que pegou? — disse, já que não encontrei
nada na sua bolsa.
— Eu não peguei nada — falou.
— Tira o vestido.
— Eu não vou fazer isso — falou.
— Não era você que sempre se atirava para cima de mim. Agora,
TIRA A PORRA DO VESTIDO, CARALHO! — gritei.
Ela não fez isso, logo mexendo no sutiã, tirando a pequena caixinha
de lá de dentro. Peguei a caixinha, olhando se tudo estava lá dentro.
— Como você sabia onde ela estava?
— Eu fui ao banheiro e... E entrei nos quartos até achar o da sua
filha. Pensei que se algo importante sumisse e eu encontrasse, você ficaria
grato e me amaria. Quando eu vi a caixinha escondida, lembrei de como
você ficou quando eu te contei que eu escutei que estavam atrás dela, achei
que deveria ser algo importante para você. Eu ia inventar algo, que achei lá
fora e você... Você ficaria feliz comigo como era quando nos conhecemos
— falou, se derramando em lágrimas. — Eu só queria o seu amor, Lorenzo.
Segurei nos seus cabelos, a arrastando para fora da minha casa.
— Acha que eu sou otário e que eu vou cair no seu teatro? Eu sei
que está mentindo, Beatrice. Pode até achar que eu não sou o mesmo de
antes, mas eu ainda te conheço o suficiente para saber que não foi só isso
desse seu interesse na caixinha.
— Lorenzo, está me machucando — falou, enquanto eu arrastava
para as portas do rifugio.
— Não imagina o que eu farei com você lá dentro, comparado a dor
que está sentindo agora — falei. — Tramou contra mim, me usou sabendo
como eu tento lidar com a minha a raiva a cada segundo do meu dia, me fez
ser um monstro, mas eu vou te mostrar como eu consigo ser pior.
Um dos seguranças se aproximou de mim, a levando. Fui para o
quarto da Antonella novamente. Nunca pensei que teria que guardar as
coisas dentro da minha própria casa.
Tranquei a porta do seu quarto e caminhei para o porão que havia
nos fundos da casa. Não era muito de andar ali, mas agora eu tenho que
esconder antes que isso caia em mãos erradas. Guardei em um dos cofres e
logo subi.
Caminhei de volta para o rifugio. Eu estava pensativo nos problemas
que causaria se eu matasse a Beatrice. Ela foi casada com um dos líderes
dos nossos aliados, isso era guerra entre máfias.
Fui à cela que ela estava, logo me aproximando dela.
— Lorenzo, eu não fiz por mal... — Ela se aproximou de mim e eu
segurei no seu pescoço com as duas mãos, a erguendo no ar.
— Está olhando ao redor — disse e ela logo fez isso. — Cada
pessoa nessa cela tramou contra mim. Todos os dias eu venho aqui e os
machuco para entenderem que eu não perdoo traição. Você fez uma merda
muito grande comigo, Beatrice. Mesmo quando me seguia ou enchia a porra
do meu saco, eu não encostava em você, não tirei a mordomia que você
tinha em respeito à sua família. Agora você me deu um problema tão
grande, que eu queria ter te matado assim que eu te trouxe daquele país de
merda que eu te tirei.
— Eu... Eu não vou fazer de novo — falou, segurando nos meus
pulsos tentando tirar as minhas mãos do seu pescoço.
— Não vai fazer mesmo — disse a jogando no chão com tanta força
que ela estremeceu de dor. — Venha, vamos a um lugar.
— Deixe-me explicar... — Tentou argumentar.
— Cala a boca e aproveita que eu ainda não te matei — disse, a
arrastando para o meu carro, colocando no porta-malas.
Saí da propriedade, indo para a sede dos Juízes. Não demorei para
chegar lá, logo a arrastando pelos corredores enquanto todos nos olhavam.
— O que ela faz aqui? — perguntou um dos Juízes a mim assim que
entrei na sala.
— Quero informar que eu vou matá-la — disse.
Os Juízes se olharam, logo um dos homens da Elite a levaram para a
sala ao lado.
— Capo... — disse o Juiz certamente tentando me convencer do
contrário.
— Ela tentou me roubar e eu sei que matá-la causará uma briga
entre nós e a máfia holandesa, mas eu quero acabar com essa vadia —
disse.
— Lorenzo, pense bem — disse Leonel se aproximando de mim.
— Eu já pensei.
— Não, você está com raiva e isso está nítido para mim. Quer
realmente começar uma guerra agora? Eu estou aqui para ir a batalha, mas
não acha que já temos problemas demais? Começar uma guerra agora com
uma máfia aliada pode durar anos, quer que o seu filho nasça no meio de
uma crise entre as máfias? — indagou Leonel.
— Ela roubou a caixinha que estava no quarto da Antonella.
Leonel ficou em silêncio, ele sabia que eu sempre prezo pelo bem da
máfia, não faria algo assim sem motivo.
— Quem comete um erro, comete dois — falou. — Ela é louca por
você, quer ficar sempre ao seu lado, faça algo a ela que a faça fazer uma
loucura para voltar a te ver. Informe a nova família dela do que aconteceu e
o porquê que você vai fazer isso, se algo assim continuar, ela morre. Eu me
prontifico de levá-la de volta e falar com eles, mas você tem que se acalmar.
— Podemos conversar? — perguntou o Juiz a mim.
Leonel me olhou e eu não queria aceitar aquilo, queria matá-la, mas
isso me daria problemas, principalmente colocaria a minha família em
risco. Respirei fundo, passando a mão no cabelo. Leonel fez menção para
trazer a Beatrice de volta e ela ainda chorava muito pelo meu perdão.
— Hoje, eu, Lorenzo Ferraro, Capo da máfia Italiana, informo que
Beatrice Bakker, viúva do nosso aliado e um dos líderes holandês, Isaac
Bakker, está sendo exilada da Itália. Qualquer aparição sua, qualquer
ligação ou envolvimento conosco, causará uma punição severa perante as
nossas leis. Ela será deportada para o seu país e ficará por lá até o fim de
sua vida.
— Capo, não! — Implorou, se ajoelhando aos meus pés. — Não me
deixe longe de você.
— Agradeça por eu não te matar — disse, olhando nos seus olhos.
— Se aparecer aqui, eu vou te matar, então apareça, faço questão de te
receber.
— E a levamos para onde agora? — perguntou o Conselheiro.
— Para o inferno — respondi.
— Leve-a de volta para a sua antiga família e deixe que ela
apodreça por lá — disse Leonel.
Conheço a Beatrice, ela voltaria.
— Se é algo que o Capo ordena, será concedido por nós da
liderança — disse um dos Juízes.
— Se eu tiver por aí novamente, eu juro pela criança que a Hope
carrega no ventre, que eu te esfolarei viva, sua vadia — disse a ela.
A Elite a arrastava para fora da sede, enquanto ela gritava por mim.
— Sabe que fez o certo — disse Leonel tocando no meu ombro. —
Você se vinga dela depois, sabe que ela não consegue ficar longe de você.
Precisamos de calmaria para que o seu filho nasça bem.
— Deixe-os ciente quando for levá-la — disse sobre os líderes
holandeses.
— Certo.
Sai da Sede, a caminho de casa. Liguei para ruiva, mas ela ignorava
as minhas ligações. Resolvi ligar para Red que logo atendeu.
— Red, passa o celular para minha esposa, eu quero me desculpar
— falei.
A rodovia estava engarrafada, mais um estresse.
— Sì? — disse Hope assim que atendeu.
— Por que não atendeu o seu celular?
— Porque eu não quis, Lorenzo — respondeu — Devo te aguardar
no rifugio agora?
Eu merecia a sua raiva.
— Hope... — disse e ela me interrompeu antes que eu concluísse.
— Não precisa se controlar, faça o que tem que fazer. Eu estou com
a Lucy e Red, quer se certificar com eles que não peguei nada no nosso
quarto?
— Escute... — Me interrompeu novamente.
— Quer saber, escute você. Desde o dia que eu me casei nunca te
dei motivos para desconfiar de mim. Tudo o que você dizia eu seguia à
risca para não ser castigada. Você me confundiu, me deixou vulnerável e
agora eu estou sofrendo por ter deixado você entrar na minha vida. Eu só
digo uma coisa a você, Lorenzo, a partir de hoje, não se aproxime de mim,
não me beije, não me toque, não pergunte se eu estou bem, não fale comigo.
Não era só o herdeiro que você queria, já estou carregando-o, então não
precisa mais ter nenhum tipo de contato comigo. Eu faço tudo o que você
pede e na primeira oportunidade que você tem para mostrar que confia em
mim, você faz o contrário.
— Hope...
— Estou te esperando no rifugio para o castigo por desligar na sua
cara.
E desligou. Fiquei olhando para o aparelho em minha mão sem
acreditar que ela tinha feito isso. Não discutiria com ela por conta disso, já
tinha que lidar com o seu pai que estava no rifu...
Ela estava indo para lá. Que porra, se ela o ver? Tentei ligar para o
Red, mas ninguém atendia.
Que merda!
Buzinei para os carros da frente, mas os filhos a puta estavam
andando lentamente. Dei ré, indo na contramão para pegar o outro caminho
para casa.
Depois de alguns minutos, Red retornou a ligação.
— Red, não deixe que a Hope vá para o... — Red me interrompeu.
— Senhor, a Hope desmaiou, estamos levando-a para o hospital.
— O quê? — disse freando o carro bruscamente.
Algo aconteceu em mim que eu não sentia há muitos anos. Na
verdade, a primeira e a última vez que eu senti aquilo foi na morte da minha
filha. Uma puta tristeza, misturada com uma dor sem fim no meu peito.
— Como... Como ela está? — perguntei temeroso.
— Ela está sangrando, Lorenzo — respondeu.
Aquilo doeu em mim, doeu mais que um tiro.
— Lorenzo? — Indagou Red. Eu não conseguia responder. Um
filme se passava na minha mente, achando que assim que chegasse no
hospital, eu receberia a mesma notícia daquele dia. — Lorenzo?
— Já estou a caminho do hospital. Cuida dela, Red — disse,
acelerando o carro.
— Sim, senhor — falou.
Porra! Porra! Porra!
O caminho para o hospital parecia mais longo do que o normal.
Eu acelerava o carro, escutava as buzinas e os xingamentos pela
minha imprudência ao dirigir. Era como se eu estivesse longe, escutava tudo
tão baixo, que não conseguia discernir no que estava acontecendo.
Assim que eu cheguei ao hospital, tratei logo de ir atrás da minha
esposa. Parei nos degraus, sentindo as minhas mãos tremerem. Eu tinha
uma péssima lembrança desse lugar. Achei que nunca mais pisaria aqui.
As lembranças daquele dia invadiram minha mente. Todo o
desespero que eu sentia enquanto carregava a minha filha para um dos
quartos, tentando fazer algo trazer ela de volta, estava triplicado hoje. O
medo de entrar e o médico falar a mesma coisa que me disse aquele dia.
Mas, mesmo assim, entrei naquele maldito hospital, respirando
fundo.
— Lorenzo — disse Red levantando a mão para que eu o vesse,
apontando para o balcão da recepcionista.
Corri para lá, logo recebendo o olhar assustado da recepcionista.
— Minha esposa, ela se internou... — disse, sem conseguir concluir.
— Senhor, tente se acalmar
— Me acalmar? Hope Ferraro, procure em que quarto ela está,
caralho — disse.
Ela me informou o quarto e eu fui atrás dela com Red pelo enorme
hospital. Na porta, encontro Lucy sentada em uma das cadeiras.
— Ela está aí dentro? — perguntei, já indo verificar.
— Não pode entrar — disse Lucy me impedindo. — Obedeça para
que eles possam cuidar dela direitinho.
— Ela estava viva? O bebê estava ... vivo?
— Eu não sei, Lorenzo, eles só colocaram ela na maca e não me
deixaram entrar — disse Lucy secando as lágrimas.
Caminhei de um lado para o outro, sem saber o que fazer. Logo uma
enfermeira se aproximou com o carrinho, entrando no quarto onde a Hope
estava.
— Para que isso? — perguntei.
— São os remédios que ela tem que tomar, senhor — respondeu.
— Red, liga para o Enzo e peça para que o amigo dele fique a frente
dos cuidados de Hope — falei.
— Certo! — disse Red.
Fiquei quieto, esperando a boa vontade do médico aparecer e
esclarecer o que estava acontecendo. Lucy e Red me explicaram o que
havia acontecido. Eu me sentia tão culpado que quase não aguentava
respirar.
Quase duas horas esperando e ninguém falava nada. O amigo de
Enzo chegou e mudou toda a receita de medicamentos da Hope. Aproveitei
que um grupo de médicos passava para saber da minha esposa.
— Alguém pode informar o estado da minha esposa e do meu filho?
— gritei. — Eu vou acabar invadindo esse quarto, caralho.
— Senhor, desculpe a falta de informação do quadro da sua esposa,
estávamos monitorando o estado do bebê — disse o médico saindo da sala
por causa dos meus gritos. — Ela ainda está desacordada, mas eles dois
estão fora de risco.
O alívio que eu senti ao escutar aquilo me fez querer chorar ali
mesmo. Nunca pensei que choraria de novo. Eu só queria checar com os
meus próprios olhos que ela estava bem.
— A paciente acordou — disse uma das enfermeiras.
— Eu vou entrar e não me impeça — disse.
Quando entrei no quarto e aqueles olhos verdes me olharam com um
olhar julgador só por estar lá, me senti ainda pior, mas ver ela bem me
acalmou. Me aproximei da sua cama e ela fazia questão de me ignorar. Me
sentei na ponta da cama, olhando os aparelhos que colocaram na sua
barriga.
Coloquei a mão na sua barriga, só para ter de novo aquela sensação
que pensei que perderia. Não consegui aguentar e chorei. Não acredito que
vou chorar de novo na frente dela.
Eu sentia algo tão ruim dentro de mim, vendo aquele quarto que um
dia se tornou o dia mais fodido da minha vida.
Tentava não olhar para aquele lugar, para não lembrar do que tanto
queria me corromper, mas a dor era absurda principalmente por estar aqui
novamente praticamente pelo mesmo motivo, por minha culpa. Não queria
que ela visse que o marido era um fraco e que chorava ao ponto de não
conseguir nem dizer nada. Que era um fodido sem saber o que fazer.
— Lorenzo... — Escutei a voz suave da Hope e desabei.
— Me desculpa! — disse, a olhando desesperado. — Eu surtei! Eu
não pensei direito, achei que tinham roubado a única prova que eu tinha da
morte da Antonella. Tudo me cegou naquele momento e eu não sabia o que
fazer e deixei a raiva me dominar. Eu sabia que não foi você, mas eu não
consegui pensar na hora, eu só enlouqueci quando eu cheguei no quarto da
minha filha e não vi aquela caixinha.
Respirei fundo, sentindo como se fosse morrer naquele momento.
Até a sensação era como aquele dia, o ar faltava nos meus pulmões,
esperando apenas morrer por não conseguir respirar direito.
— Ninguém acreditava quando eu dizia que ela não caiu, alguém a
matou. Quando eu vi que sumiu, eu surtei e eu não pensei direito. Eu estou
tentando ser diferente, mas eu não consigo. Eu não sou você ou a minha
mãe, eu não consigo controlar a minha raiva. Eu não consigo pensar sem
surtar primeiro. A raiva me domina e eu não consigo enxergar nada a minha
frente, só depois que eu destruo tudo, eu vejo os danos que eu causei —
falei, tentando fazê-la entender que eu não fiz por mal, não era eu naquele
momento.
— Lorenzo, você sempre é impulsivo, deixa o seu medo falar mais
alto e surta, sem pensar nos danos que causa nas pessoas. Eu entendo, juro,
eu entendo que você sofre por tudo que aconteceu a você, a sua família e a
morte da sua filha. Eu entendo que você perdeu o rumo e está deixando que
isso interfira na sua vida. Você está em uma depressão profunda e com um
trauma muito grande, mas ao invés de tentar se ajudar e pedir ajuda, você se
tranca naquele escritório ou no rifugio e espera as coisas sumirem, mas isso
não vai acontecer se você não aceitar o que aconteceu. Foi trágico ter
encontrado a sua filha morta na sua frente, mas você tem que superar para
conseguir seguir em frente. Eu estou tão cansada de tentar entender o seu
lado, de me colocar no seu lugar e na sua dor, mas você tem que aceitar a
nossa ajuda e parar de sofrer sozinho. O que aconteceu ontem só mostra o
quanto você não consegue mais discernir o óbvio mesmo estando na sua
cara. Você se deixa cegar pela raiva e não vê o que está acontecendo na sua
frente.
— Eu entendo... — disse sendo interrompido por ela.
— Não, você não entende. Você acha que entende, mas está
totalmente perdido — disse Hope me encarando não com olhos de
julgamento, mas de consolo. — A sua filha morreu, mas você está vivo. Se
sente culpado por ter deixado aquilo acontecer com ela, mas eu te digo que
não foi a sua culpa. Se você não aceitar o que aconteceu e tentar superar,
você sempre vai andar em círculos, só aumentando essa bola de neve que
está crescendo cada vez mais dentro de você e uma hora ou outra isso não
vai só te ferir, mas sim todas as pessoas que estão ao seu redor, como
aconteceu ontem. Daqui alguns meses nosso filho vai nascer e ter você
instável não me deixa mais calma. Já bastava ter que conviver com as
loucuras do meu pai em casa. Eu sei como é difícil e eu não quero que essa
criança presencie uma crise sua como aconteceu ontem.
— Me desculpe! — falei novamente. — Eu vou tentar mudar, mas
aqui eu não posso ter fraquezas, Hope. Não é fácil eu te dizer que eu vou
tentar ser diferente, quando eu tenho a pressão de ser o contrário disso. Eu
não consigo me controlar. A dor me consome e me sufoca. Ela rasga e me
dilacera por dentro de tantas formas que eu preferia ser torturado todos os
dias do que senti-la. Eu não consigo esquecer, eu já tentei e eu não consigo.
Acha que eu quero que a minha família me veja dessa forma? Que essa
criança me conheça assim? Eu tentei mudar antes de te conhecer, mas eu
não consegui.
Eu queria ser como eu era há 4 anos atrás. Nada me abalava, nada
me deixava fodido psicologicamente, eu tinha a confiança de que ninguém
chegaria perto de mim ou da minha família, eu conseguia lidar com todos
os problemas, pois sabia que eles estavam aqui comigo, até que tudo mudou
e eu perdi todos.
— Por 4 anos eu me isolei para não machucar mais ninguém, mas
eu estava tão ferido que eu nunca pensei em mim — falei, sem saber o
motivo de eu estar falando sobre o que me mata todos os dias para ela. —
Eu me afastei de todos, não só porque eu não queria que eles me vissem
assim, mas porque eu sabia que se eu vesse como eles estavam, eu não
aguentaria assistir aquilo sem me matar.
— Lorenzo, eu entendo que...
— Não, você não entende, Hope, ninguém entende — disse, sem
mais conseguir segurar que me matava por dentro. — Agora você é mãe,
essa sensação que você sentiu achando que algo aconteceu com o nosso
filho foi tão desesperador, não foi? Eu sinto isso por 4 anos, Hope. Ela
aumenta e te mata aos poucos. A cada respiração, a cada batida do seu
coração, você deseja estar morto, você implora para morrer. A dor não some
quando você quer que ela suma. Ela fica sempre te mostrando que ela vai
estar aqui e que vai destruir tudo o que você tem. As lembranças ficam se
apagando aos poucos e você sente ainda pior por estar esquecendo dela e
acha que está deixando de amá-la, o que te faz sentir a culpa. Você não
sofre só pelo luto, tem a morte, tem a tristeza de não poder ver mais quem
você ama, tem a saudade, tem a culpa, tem o medo de acontecer de novo.
Isso se junta e fode tanto a sua cabeça, que você esperar morrer todos os
dias para que essa dor suma. Acha que eu nunca quis que isso acabasse?
Que eu não queria dar mais problema e preocupação a ninguém? Eu já
tentei de tudo, tudo o que você pensar, eu já tentei. Eu não posso reverter o
que aconteceu ontem, vai estar marcado o meu erro para sempre. Eu só
quero que me perdoe, não precisa falar comigo, não precisa olhar na minha
cara, mas me perdoe pelo que eu fiz. Eu não vou fugir, eu assumo que fiz
merda. Eu só quero o seu perdão.
— Você realmente quer que eu te perdoe? — perguntou e eu assenti.
— Eu só vou te perdoar quando você mudar e quando finalmente isso
acontecer, você pode se sentir perdoado por mim. Até lá, você lide com as
consequências dos seus atos. O que eu disse ontem ainda está valendo.
Olhe, eu deixei você entrar na minha vida, assim como você me deixou
entrar na sua. Eu juro que queria muito odiar quem me faz mal, mas não é
um sentimento que eu quero guardar dentro de mim, porque ele só vai me
destruir, enquanto a pessoa que me fez mal, vai estar adorando me ver dessa
forma. Se quer o meu perdão, só receberá quando você mudar, mas é a algo
que você tem que fazer por você, para ter a sua paz, não por mim. Então
quando você mudar, será quando você poderá sentir que eu te perdoei.
— Eu vou tentar, Hope — falei, eu realmente ia. — Não será do dia
para a noite, mas eu realmente vou tentar, vou tentar ser mais acessível,
mais paciente e tentar me abrir mais com você.
Eu quero ser o mesmo de antes.
Quero ter a confiança e saber viver a minha vida como eu fazia.
Não ter medo ou surtar por paranoias, eu quero ser o mesmo quando
eu era quando a minha filha estava viva.
Eu queria ser o Capo que eu era antes, o homem temido e sem medo
algum do que poderia acontecer.
— Falar não me dói, chorar não me dói, pensar ou imaginar um
futuro alternativo não me dói, o que me dói é estar vivo, Hope — disse.
Sequei as lágrimas com a ponta da manga da camisa, tentando parar
de fazer as minhas mãos tremerem.
— Qual foi o pior dia da sua vida? — perguntou.
Não entendi o motivo da sua pergunta, mas ela parecia querer falar
algo para mim.
— Sinceramente, o dia da morte da minha filha — respondi.
— Até isso acontecer na sua vida, você passou por algo pior?
— Sim, na minha infância com a minha mãe, na iniciação para ser
Capo, abri mão de muita coisa ao longo da vida — falei.
Tive uma vida inteira de traumas, mas eu sempre superei porque eu
tinha pessoas comigo, tinha a minha família, a minha filha, tinha todos ao
meu lado.
— Você superou isso? — insistiu.
— De certa forma sim.
— Então por que acha que não vai superar a morte da sua filha?
Você passou por coisas horríveis, eu não estou dizendo que a morte dela não
foi nada, mas quero dizer que o pior já passou — disse Hope segurando na
minha mão que ainda estava na sua barriga. — O pior dia da sua vida já
passou, Lorenzo, hoje, o agora, não é mais aquele dia. Há momentos que
você sofre o agora se prendendo no que aconteceu, mas o que já passou, já
aconteceu. O dia de hoje não foi aquele dia. Você está vivendo como se
todos os dias fosse o dia da morte dela — falou, olhando bem no fundo dos
meus olhos. — Hoje não é mais aquele dia, Lorenzo.
Eu fiquei tão preso no passado, que eu não sabia mais sair dele.
Sempre achei que sofrer fosse a minha punição, que eu merecia isso.
Não falava com ninguém porque eu não queria que ninguém me
visse assim, tão fodido e destruído ao ponto de esperar a morte para ver se a
dor sumia. Escutei um barulho lá fora, sabendo que uma hora ou outra
alguém ia entrar e me ver assim. Do jeito que os boatos se espalham, logo
estariam sabendo que o Capo estava chorando em um quarto de hospital de
novo.
— É melhor você descansar, a minha mãe já deve estar chegando...
Alguns dias se passaram.
Hoje a Hope receberia alta do hospital. Até queria ir buscá-la, mas
os japoneses já estavam arranjando uma forma de tirar o Dante daqui, com
medo de que eu descubra o que estão tramando.
Tive um problema na entrada do quartel com alguns deles, mas logo
fugiriam, achando que o Dante estava lá. Essa semana passei maior parte do
tempo na cela do Dante, junto dos meus irmãos, do Enzo e do meu pai.
Havia deixado Leonel a frente nesse período, já que não queria que
ninguém me incomodasse. Posso dizer que Dante era forte, sofreu bastante
na mão do Pietro e do meu pai e ainda está vivo.
Assistia o Enrico e o Enzo torturando Dante, esperando-o contar
algo. O que ele disse na última vez não era de muita importância, era só
sobre o Yamato, afirmando que ele e o homem estavam se encontrando e
isso eu já sabia.
Ele estava dificultando, esperando morrer para não ter que falar
nada.
— Senhor — disse um dos meus homens me chamando. Me
aproximo dele, um pouco cansado, já que havia alguns dias que eu não
dormia. — A filha do Sr. Federico está o aguardando na entrada do rifugio.
O que a Bianca queria?
— Mande-a embora — falei, olhando para o filha da puta do Dante.
— Senhor, a sua esposa já chegou do hospital.
— Enzo... — o chamei para o canto. — Hope chegou, vou ver como
estão as coisas lá em casa. Cuida desse cretino.
Assim que saí do prédio, já me deparei com a Bianca.
— O que quer? — perguntei.
— Você some por semanas e pergunta o que eu quero?
— E o que isso tem a ver com você?
— Eu quero você — falou, se aproximando de mim.
— Bianca, preste atenção no que eu vou te dizer agora, isso será
crucial para nossa "relação" — disse enquanto ela me seguia animada. —
Eu não quero mais nada com você.
Entrei em casa, ainda sendo seguido pela mulher que nada mais
disse, mas que, por outro lado, invadiu a minha casa.
Acho que ainda estava em choque pelo o que eu havia dito. Eu só
não queria mais dor de cabeça. Eu mudaria por mim, mas também para ter
um bom relacionamento com a ruiva que acha que fodo tudo que se move.
Eu quero me livrar de problemas.
Já me livrei da Beatrice e com Bianca já está meio caminho andado.
Alessandra parece ter baixado a guarda, Dante já está com o pé na cova.
Agora, o meu interesse depois do Dante seria em Marco. Esse filho da puta
não sabe o que o aguarda.
— Lorenzo! — Me chamou enquanto subia as escadas. — Capo!
O segredo da vida era ignorar. Ela ainda persistia, mas não voltaria
atrás. Quando estava subindo para ir ao meu quarto, ela foi para perto da
escada.
— Está terminando tudo comigo?
— Achei que tinha sido óbvio — falei.
— Se terminar, conto tudo o meu pai. Acha que ele ainda trabalhará
com você? — me ameaçou. Ri, balançando a cabeça de um lado para o
outro, passando a mão na barba enquanto ela me olhava. — Vamos
conversar.
Ela estava me ameaçando?
— Vou aqui em cima, me espere aí — disse.
Tenho certeza que ela logo se iludiu achando que eu tinha caído na
dela. Resolveria essa situação, queria apenas ver como estava Hope
primeiro.
Bianca dava pulos de alegria no andar de baixo, mal sabe ela o que a
aguarda quando eu descer. Vi que a ruiva estava deitada, pedi para Red dar
uma volta, sabendo que ele encontraria com a Bianca e ficaria de olho nela,
já que eu queria ficar a sós com a Hope.
Fui primeiro tomar banho, já que estava desde madrugada na cela
com o pai dela.
— Está bem? — perguntei saindo do banheiro. Ela assentiu e ficou
naquilo. — Não pode se deitar assim — disse quando ela se virou de lado.
Peguei uns travesseiros e coloquei debaixo de suas pernas.
— Não deixe ela se deitar de qualquer jeito. Depois mandarei a lista
que o médico passou para ela comer e os remédios que precisa tomar e tudo
da sua nova rotina — disse a Lucy assim que ela entrou no quarto.
Fui terminar de me arrumar e, quando voltei, Hope levava a bandeja
até a mesa.
— Qual é o seu problema? — perguntei, tirando a bandeja de suas
mãos. — O médico deixou claro que não era para fazer esforço. Fique
deitada e quieta.
— Muito esforço levar a bandeja para a mesa — debochou.
— Por que está assim? — perguntei sem entender. Eu não estava
mais forçando conversa com ela, esperava ela me dar uma brecha para
conversar e assim eu puxava assunto com ela. — Você já estava mais
falante comigo e agora parece brava com algo.
— Nada, eu estou bem — disse Hope.
Ela não estava, a ruiva estava estranha. Será que são os hormônios?
— Eu estou tentando mudar, mas você parece cada vez mais brava
comigo — falei. — Porra, eu estou tentando e você fica com raiva sem
motivo algum, sem nem me informar que caralho eu fiz de errado agora.
— Pode me soltar? Estou tempo de mais em pé — disse Hope.
Será que é algo em relação a gravidez? Sabia que não era por isso,
ela estava mentindo e isso me deixou furioso.
Existe mais um problema lá embaixo que eu tinha que resolver.
Porra, não tenho um minuto de paz.
Desci e a Bianca me esperava animada. Vou acabar ficando careca
de tanto problema.
— Lorenzo... — falou e eu a interrompi, segurando no seu braço e a
encarando.
— Preste atenção... — disse. — Me ameace de novo e verá o que te
acontece. Corto a sua língua e deixo na porta de casa em partes.
— Por que não me quer mais? Achei que fosse a falta de tempo...
— Eu estou cheio de problemas e ter que ficar armando para me
encontrar com você estava me deixando louco. Não quero perder o meu
melhor advogado por conta disso. Foi bom? Foi. A adrenalina deixava tudo
ainda mais excitante, mas eu só queria sexo. E não venha com essa de ficar
ofendida, porque sempre deixei claro que o que nós tínhamos era apenas
isso.
— Achei que um dia me amaria e me tornaria sua esposa — falou.
— Eu sei me portar, sei lidar com as mulheres da máfia, eu seria uma
Ferraro.
— Nem por um milhão de caralhos, Bianca — disse, a soltando. —
Você é linda, mas está longe de ser o tipo de garota que chamaria a minha
atenção ao ponto de me apaixonar. Agora eu tenho outros problemas para
resolver. Viva a sua vida, arranje alguém e me deixe. Não me procure,
porque esquecerei de quem você é filha e te tratarei da mesma forma que
trato os homens no rifugio.
— Mas ninguém me quer — falou.
— Você é filha do meu advogado, muitos te querem e vão te
oferecer coisa melhor do que você tinha comigo — falei. — Você só queria
o cargo de minha esposa e isso eu nunca darei.
Bianca não gostou, mas saiu dali. Ela me conhecia e sabia que eu
não daria o que ela queria. Ela ama mais a vida do que tudo, não morreria
por amor a ninguém, principalmente a mim.

As semanas se passaram e manter Dante aqui estava colocando a


minha família em risco, no caso, a Hope, o meu filho e a Lucy.
Ordenei que ela ficasse sem seu celular, com receio de que alguém
descobrisse o seu número e acabasse a assustando. Ela também não ia mais
para o clube do livro e nem mesmo a minha família entraria aqui. Havia
avisado aos meus parentes que dobrassem a segurança de suas casas,
melhor não confiar.
Não duvido de um ataque dos japoneses atrás de Dante. Hoje decidi
que o mataria. Os japoneses não nos incomodariam tão cedo depois que ele
morresse. Dante não cumpriu o seu trato, estavam o caçando para fazê-lo
pagar. Enrico conseguiu tirar tudo o que queria do moribundo e mais tarde
me contaria o que aconteceu. Eu estava com tantos problemas no quartel
que não tinha tempo de me divertir com o meu sogro.
— Hoje será um grande dia, Dante, você finalmente vai morrer —
disse assim que Dante acordou. Achei que ele havia morrido, mas ele é
mais duro na queda do que eu imaginava. — Dá um sorriso vai, é um dia
feliz.
Dante já havia perdido todos os seus dentes, mal dava para ver o seu
rosto com as feridas vazando sangue.
— Quer dar uma volta para ver o céu? — perguntou Enrico. — Ah,
droga, esqueci que você não tem mais os seus pés. É uma pena, o céu está
lindo hoje. Ele desmaiou, mas logo o Enrico foi para cima dele, o
acordando.
— Que falta de educação, dormindo no meio da conversa — disse.
Ele não ia aguentar muito, notei que a sua respiração estava
diminuindo.
— Quero ver esse sorriso... quando... quando souber que um
acontecimento da sua vida foi uma mentira — Dante falava pausadamente,
olhando para mim.
O que ele queria dizer com aquilo?
— Está tentando inventar histórias para que a gente de deixe mais
tempo vivo? — indagou Pietro, aproximando-se dele.
Não parecia, mas aquilo me incomodou.
— Então diga o que é — disse.
Ele ficou em silêncio, logo cuspindo sangue.
— Será uma pena que não verá o que eu farei com o seu irmão. —
disse. Sabia que Dante não passaria de hoje, mesmo se eu o poupasse. —
Opa, opa, opa, não invente de morrer agora.
Segurei no seu cabelo, olhando o seu olhar pesando.
— Posso não ter aproveitado a sua estadia aqui, nem faço questão,
mas o do seu irmão, eu faço questão de arrancar a pele e fazê-lo comer.
Soube que ele tem esses fetiches por mutilação — disse.
— Espero... Espero que esse lugar pegue fogo com você — rebateu
enquanto me olhava nos olhos.
Ele tentava permanecer acordado, seus olhos pesavam e ele as vezes
não conseguia mantê-lo aberto.
— Você fala muito, tanto aqui, como na sua casa. Seu “reinado”
demorou para ter um fim, mas saiba que o seu inferno ainda nem começou
— falei.
— Ele não dura nem uma hora — disse Enzo no meu ouvido
notando o Dante perdendo a consciência.
Peguei a minha arma, já que não queria que ele morresse por conta
própria.
— Eu quero fazer isso — disse Enzo. — Por todo mal que eu o vi
fazer a minha esposa, a Hope, a Dona Esther e, principalmente, a Kitty. Não
sabe da raiva que eu tinha quando as via cheias de hematomas.
— Você é um... Fraco! — disse Dante, provocando-o para que o
Enzo atirasse logo.
— Se eu fosse você, faria isso agora, ele vai morrer... — disse Pietro
sendo interrompido pelo disparo.
Não há como descrever o silêncio que ficou no local. Um peso saiu
das minhas costas ao saber que ele não faria parte da vida do meu filho.
Dante, em nenhum momento, implorou pela vida ou se desculpou
pelo que fez a família. Ele foi um escroto até seu último suspiro.
— Eu assumo a culpa do tiro — disse a Enzo.
Sei que eu me prontifiquei com a liderança que seria eu a dar o fim
nele, não o Enzo, e isso poderia nos dar problemas depois.
— Eu só não vou esconder da minha esposa — falou. — Eu
realmente fiz uma boa coisa hoje, queria ter feito isso antes.
Não tinha mais como voltar atrás, Dante estava morto.

Estava no escritório dando baixa no que aconteceu até a morte do


Dante para a liderança arquivar, mas palavras dele martelavam em minha
cabeça.
O que ele queria dizer com aquilo?
Enrico pediu que eu fosse até sua casa, não sabia o que ele queria,
então resolvi ir.
Fui ao quarto para tomar banho e trocar de roupa, quando vi a Hope
e Lucy um pouco tristes. Pedi para que Lucy me deixasse a sós com a Hope.
Ela parecia ter chorado. Será que já sabia que o pai estava morto?
— Estava chorando? — perguntei.
— O bebê está bem, Lorenzo — respondeu.
— Essa não foi a minha pergunta.
— Eu estou emotiva, a gravidez me deixa assim. — Não, ela não
descobriu ainda.
— Não estou falando nada, deixando você mais livre de mim, mas
toda vez que eu olho você está com raiva ou triste comigo. Quer saber? Só
se troque, iremos sair para jantar na casa do Enrico.
Ia contar assim que voltássemos da casa do Enrico. Só estou a
levando comigo, para caso alguém venha querer abrir a boca antes de eu
dizer o que aconteceu.

O caminho para casa do meu irmão foi rápido. Subi para me


encontrar com ele em seu escritório, enquanto Hope ficou com Emma no
jardim.
— O que era tão importante? — perguntei assim que eu entrei no
seu escritório.
— Estava pensando nas palavras do Dante — falou. — Aquilo está
me deixando louco. Pietro disse que também se incomodou, porque não
parecia que ele estava mentindo. Pode ser apenas um jogo dele para que nós
ficássemos pensativos e paranoicos, não duvido disso, porém por tudo que
ele disse, eu quero tentar entender o que passava na cabeça do Dante.
Eu não era o único.
— Eu não sei do que ele está falando — disse.
— Queria pedir permissão para investigar os japoneses — falou.
— Nem fodendo! — disse.
— Foi a mesma coisa que o Pietro e o pai disseram, grande
novidade — rebateu.
— Investigar alguém é uma coisa, agora investigar uma máfia,
principalmente uma que não temos contato algum, pode acontecer de tudo,
irmão. Sei que está fazendo isso com as melhores intenções, mas não vou te
colocar em risco — disse.
— Vocês são uma merda de tão protetores — retrucou, cruzando os
braços. — Já tenho 29 anos e me tratam como um bebê.
— Pois eu vou falar com a Emma e dizer o que está planejando,
vamos ver o que ela vai falar — disse o ameaçando.
— Já tirei isso da minha cabeça, seu figlio di puttana traiçoeiro —
respondeu de imediato. — Já falou para a sua esposa do pai?
— Não!
— Os boatos já estão rolando, ela vai descobrir por boca de outros.
Fica esperto!
— Eu sei — disse.
— A esposa do Enzo já sabe, ele me ligou avisando — falou.
— Porra! — falei. — Vamos marcar uma reunião para você me
dizer o que descobriu do Dante, vou atrás da minha esposa agora.
Que merda!
Queria descansar, já que fiquei muito tempo sem dormir. Procurei
pela minha esposa, a encontrando perto da piscina. Disse a Emma que
Enrico a estava chamando, já que queria ficar sozinho com a Hope.
Os boatos já estavam rolando, não tinha mais o que fazer. Me sentei
ao seu lado, enquanto ela me ignorava, brava por algo. Eu não sabia o que
dizer. Nunca fui bom para fazer essas coisas. Não sabia como a Hope se
portaria depois de saber, se ficaria muito puta ou aliviada, era algo que eu
não conseguia prever.
— Eu matei o seu pai — disse.
Hope ficou em silêncio me encarando.
Eu digo algo?
— Quê?
— Eu matei o seu pai e o próximo será o seu tio — falei.
Ela ficou em pé com um olhar de que me mataria se pudesse. Hope
não disse nada e saiu rapidamente para longe de mim.
— Hope!
Ela nem olhou para trás, indo para o carro.
— Que porra está fazendo? — perguntei, a impedindo de entrar no
veículo.
— Minha família sabe? — Perguntou. Eu ia ignorar e responder só
quando ela chegasse em casa e tivesse mais calma. — Porra, Lorenzo,
responda.
O seu palavrão me fez ter noção de que ela estava muito puta
comigo.
— Sì!
— Você passou essas semanas inteiras me ignorando, me trancando
dentro de casa, me fazendo achar que você estava tramando algo para mim
futuramente e o que aconteceu foi porque você matou o meu pai? Eu surtei
essa semana, Lorenzo. Fiquei presa e o que custava você ter mencionado
isso, "Hope, seu pai está no rifugio e eu vou matá-lo". Me preparasse para
isso. Você diz tanto que não quer que eu me preocupe, mas solta uma
bomba dessas literalmente do nada sem pensar no mal que me faria.
Porra, eu não fiz por mal. Eu nem sabia como ia dizer isso para ela.
— Hope, se acalme para não passar mal — falei assim que ela
entrou no carro e eu fiz o mesmo.
— Posso ver a minha família ou vai me trancafiar em casa
novamente? — perguntou.
— Thony, nos leve para a casa de Enzo — disse.
Thony nos tirou daqui, seguindo o caminho pedido por Hope.
— Só me diga o qual o motivo de você ter o matado? — perguntou.
— Tenho certeza que não foi por ele ter sido um péssimo pai para a sua
esposa.
— Ele que estava entregando as rotas das cargas para os japoneses
— respondi. Não queria mentir, mas também não queria envolvê-la nisso.
— Você pode se acalmar?
— Eu estou brava, Lorenzo! — disse Hope. — Você passou a
semana passada me ignorando e agora do nada resolveu abrir a boca para
me falar isso? Sei que está me escondendo algo. Isso me faz ficar ainda
mais brava, porque se envolve o meu pai, eu gostaria de saber o que estava
acontecendo. Eu sempre deixo tudo às claras com você, mas na minha vez
você prefere esconder e jogar no ar o que aconteceu, esperando que fique
tudo bem.
— Não era assunto seu, Hope — falei.
Não a estava ignorando, estava lhe dando espaço. Sei que ela estava
com raiva de mim desde aquele dia do banheiro, eu só queria que ela não
ficasse mais puta comigo.
— Não é assunto meu? Somos um casal, Lorenzo, principalmente
por ser o meu pai, o assunto era meu. Ele foi desprezível inúmeras vezes,
mas é do meu pai que estamos falando. A sua falta de confiança em mim,
me faz ficar ainda mais brava com isso. Eu nunca estive tão arrependida de
ter me casado com você, como eu estou hoje. Se eu soubesse que esse era o
destino do meu pai, não teria me sacrificado, já que logo ele sumiria de
nossas vidas.
Realmente, por isso eu não esperava. Entendo que ela esteja brava
por eu não ter avisado sobre o pai, mas ao ponto de se arrepender de ter
casado comigo? Aquilo doeu.
— Se casar comigo deve ter sido uma merda para você — falei. —
Foi tanto que só se casou para ter o dinheiro para a sua mãe, se não fosse
por isso, já teria me deixado.
— Sim, foi! — falou. — Você fez cada minuto da minha vida ao seu
lado ser um inferno. Você está me destruindo e eu te odeio por isso. Nunca
pensei que teria um sentimento tão ruim dentro de mim quanto esse que eu
sinto por você agora.
— Não precisa sofrer mais, quando essa criança nascer você pode
seguir sua vida.
Se ela queria tanto ficar longe de mim, então que seja. Ela poderia
seguir a vida dela. Se é o divórcio que ela quer, darei.
— Por quê? Vai me matar? Se acha que eu sairei por livre
espontânea vontade de perto dessa criança está enganado, só a morte me
separará do nosso filho — disse Hope saindo do carro em seguida.
Que fixação é essa com essa história de eu querer matá-la? Certo,
eu não sou paciente, mas eu não chegaria a isso.
Agora era só esperar ela se acalmar para tentar conversar com ela.
Fiquei fora do carro esperando que ela voltasse.
— Deu tudo errado, não é!? — disse Enzo se encostando no carro
ao meu lado.
— O que faz aqui fora?
— Quis dar privacidade a minha sogra quando apareceu mais cedo,
então fui passear por aí enquanto Lisa e ela conversavam — respondeu.
— Hope está brava, não me deixou nem explicar.
— Você também não tem esse dom — falou.
— Entra e veja se ela está bem. Não quero que ela fique ainda mais
brava — pedi. — Ela acha que farei algo contra ela.
Enzo começou a rir.
— De onde ela tirou isso?
— Sei lá, deve ser a gravidez — disse.
— Realmente, você só falta latir quando ela fala algo.
— Vai se fuder! — disse.
Enzo entrou rindo de mim, enquanto eu esperava aqui fora. Não
demorou muito e Enzo me avisou que ela já estava vindo. O tempo foi
passando e, pelo horário avisado por Enzo, já era para Hope ter chegado
aqui no portão. E se ela estiver passando mal?
Corri, indo de encontro a ruiva sentada em um dos bancos. Um
alívio me atingiu assim que a vi bem.
— Quer me deixar preocupado? — perguntei assim que me
aproximei dela. — Enzo me liga informando que você já estava vindo e
nada de aparecer. Achei que algo tinha acontecido...
E literalmente do nada ela me abraçou. Agora pouco ela queria me
esfolar vivo, agora estava me abraçando? E eu que sou o bipolar.
— Eu sou uma pessoa ruim igual o meu pai? — perguntou cismada
com isso. — Você acha?
— Quem disse isso? — perguntei
— Só me responda, por favor — pediu. — Sei que você não mente e
desaprova mentiras.
Não fazia sentido Hope me perguntar isso. Qualquer um que a
conheça sabe que ela é uma pessoa boa só de olhar.
— Você é o ser mais bondoso que eu já conheci, Hope. Não imagino
você machucando uma formiga ou sendo maldosa com alguém. Eu conheço
muitas pessoas, já rodei o mundo e nunca conheci alguém igual a você —
disse, retribuindo o seu abraço.
— Posso pedir para aumentar a segurança na casa da minha mãe? —
perguntou.
— Já foi providenciado desde hoje cedo — disse. — Eu não
consegui contar para você em casa sobre o seu pai, porque achei que daria
tempo para te preparar antes de contar, mas já estava rolando os boatos e eu
queria ser o primeiro a te dizer já que fui eu que o matei. Ele mereceu,
Hope. Você não sabe nada das coisas que eu descobri que ele fez.
— Me desculpa pelo que eu disse mais cedo, só estava com raiva —
disse Hope. — É um sentimento novo que nunca senti antes e perdi o
controle.
— Nunca sentiu raiva, ruivinha? — indaguei. — Tão pura, ragazza!
— disse me aproximando mais do seu rosto. — Nunca mais diga que se
arrepende de ter se casado comigo de novo, aquilo me entriste...
Por que era tão difícil me expressar para ela? Aquilo me doeu
absurdamente, nunca achei que palavras surtiriam tanto efeito contra mim.
A beijei, querendo sentir os seus lábios. Queria ficar assim com ela
o tempo todo, de bem, mas sempre tinha algo para atrapalhar.
Ela se afastou de mim, querendo ir para casa. Estávamos voltando e
a ruiva pediu o meu celular para mandar uma mensagem para a mãe. Pensei
nos problemas que viriam de agora em diante.
Dante vai me dar mais trabalho em morte do que me deu em vida.
Quando chegamos em casa, Hope foi direto para o quarto e eu fui terminar
de mandar a papelada sobre Dante para a liderança.
Hope quis saber mais sobre no que o pai estava metido, mas resolvi
poupar a ruiva do desgosto.
Peguei o meu celular quando havia terminado de anotar a papelada,
querendo olhar as horas. Vi uma mensagem da mãe da Hope que me
chamou atenção.
“Está tudo bem, minha figlia. A mamãe não está chateada, apenas
não digeriu ainda que está livre de vez.
Se cuide e nos vemos amanhã no velório.
Beijos, mamãe te ama!”
Não foi a bela mensagem de resposta que me chamou mais atenção
e sim a mensagem que a ruiva havia enviado para ela, um trecho em si:
“A senhora foi a única que acreditou em mim e na Lisa quando o tio
Marco nos machucou”.
Fiquei encarando aquele texto, me perguntando quando eu pegaria
esse cretino. Hope nunca tocou no assunto comigo, nem para dizer uma
coisinha que fosse. Aquilo me desapontou, queria acabar com aquele filho
da puta, mas precisaria ter provas para a liderança.
Voltei para o quarto e, finalmente, era hora de descansar.
Liberei Red, querendo entender qual o interesse da ruiva que me
encarava a todo instante.
— Lorenzo, amanhã é o velório do meu pai.
— Acho melhor você não ir, mas você quem sabe — disse entrando
no banheiro.
Ela não poderia ter essa escolha, perante a nossa lei, temos que
sempre estar próximos dos nossos parentes como uma forma de gratidão
por tudo que fizeram por nós e pela máfia.
Não demorou muito para ruiva entrar no banheiro. Ela estava
preocupada com algo sobre o velório de amanhã. Minha preocupação agora
mudou de nome, era Marco. Eu ia pegar o desgraçado, arrancaria aqueles
braços e o torturaria da mesma forma que fez com elas.
— O que está acontecendo? — desconfiou.
— Nada que eu não possa cuidar — disse. — Amanhã eu irei com
você caso decidir ir, então nem ouse em sair daqui sem mim.
Não a deixaria perto daquela família nem fodendo. Já chamei a
minha família para ir também. O melhor que pode acontecer era todos
acabarmos matando uns aos outros.
Hope assentiu, mas não menos preocupada.
— Hope, quero te fazer uma pergunta. Quer me contar o que
aconteceu com você e a Lisa na casa do seu tio?
Já que ela não falava, quis perguntar, vai que ela fala. Hope só me
encarava. Não sei do que ela mais medo, se era do tio, de mim, ou da
liderança por esconder isso.
— Não aconteceu nada — mentiu, saindo do banheiro logo em
seguida.
Não ia prolongar essa conversa HOJE, mas amanhã era outro dia.
Estava todo mundo cansado, resolvi deixar passar.

Acordei querendo ficar na cama, mas tinha muita merda para


resolver.
Tinha que ir até a boate, ver como estava o andamento das coisas lá,
já que não dei as caras nas últimas semanas. Aproveitei que o velório só era
de tarde para resolver isso pela manhã.
Quando já estava de saída, a ruiva acordou.
— Hope, só avisando que a noite terminaremos nossa conversa que
aconteceu no banheiro noite passada.
— Lorenzo... — A interrompi
— Hope, eu sei que regras foram quebradas há 9 anos — disse e ela
ficou só ali me olhando sem dizer nada. — Não culpo você ou a Lisa pelo
que aconteceu, mas quero ouvir da sua boca o que houve. Marco será o
próximo a morrer e isso irá acontecer mesmo você me contando ou não.
Porém eu quero entender e ter pelo menos a única prova que aquilo
realmente aconteceu caso isso seja levado para a bancada dos Juízes. Você e
a Lisa são as únicas testemunhas e eu não perguntarei a ela, já que está
prestes a parir. Quero ter certeza de que tudo que eu desconfio realmente
aconteceu.
— Nós seremos punidas? — quis saber.
— Não puniria ninguém por isso, Hope — falei, a abraçando. —
Posso ser um monstro, mas se criei essas regras foram para que ninguém
fizesse isso com outras pessoas a não ser com a minha autorização. Torturo
pessoas ruins, as mato sem dó. Você e a Lisa não chegam perto de ninguém
que mereça aquilo. Assédio, estupro, pedofilia, não são admitidos aqui.
Essa é a lei que era para ser cumprida. Nunca forcei a você a transar ou fiz
isso com alguém e não admito que façam isso aqui. Os arrependimentos que
eu tenho em minha vida em relação a você, é aquele dia que te levei ao
rifugio antes de nos casarmos. Me conte o que aconteceu e eu juro que farei
ele pagar por tudo.
Não tive resposta da ruiva, sei que era difícil digerir aquilo tudo de
uma só vez.
— Tenho que sair — disse. — Tratarei de resolver uns assuntos na
boate e volto logo.
A beijei e saí do quarto.
Lembrei que ia ligar para Josh ontem, mas acabei esquecendo.
— Josh, quero que investigue o Yamato — disse assim que ele
atendeu.
— Algum interesse específico, senhor?
— Dante me disse algo e você me confirmou que o único que ele
tinha contato dos japoneses era esse Yamato. Já havia investigado Dante
antes e não tinha nada aparentemente fora do lugar. Provavelmente hoje
teremos uma reunião sobre o que o Enrico descobriu. Ligarei para você para
que escute também.
— Certo, senhor!
— Está precisando de alguma coisa?
— Não — respondeu.
— Tem certeza?
— Sim.
— Qualquer coisa me liga — falei, desligando a ligação.
O que aconteceu e foi uma mentira? O que o filho da puta do Dante
queria dizer com aquilo? Será que até em morte ele queria aumentar as
minhas paranoias? Dante não se envolveu com os japoneses em vão. Ele
pode até ser um arrombado, mas sempre foi muito esperto.
Do que ele desconfiava?
Já estava arrumada esperando Lorenzo chegar.
— Lorenzo irá reclamar do seu vestido preto — disse Lucy.
Meu vestido tinha partes pretas na manga. Havia regras, o preto
representava o nosso luto pela perda, mas quando se tratava de um traidor,
não existia tristeza cabível. Hoje, na cremação todos, saberiam que ele foi
um traidor.
Meu pai teve sorte, pelo menos terá um velório.
Voltei para o closet e troquei de roupa. Eu que não iria quebrar uma
regra por conta de uma cor.
— Está pronta? — Escutei Lorenzo me chamar no quarto.
— Um segundo — disse terminando de me vestir. Quando saí do
closet, Lorenzo sorriu para mim. — O que foi?
— Como que até vestida para um enterro você continua linda? —
falou colocando as suas mãos na minha cintura. Apenas retribui o sorriso.
— O que está acontecendo com você, está preocupada com algo?
Lorenzo estranhou o meu silêncio.
Estava preocupada com ele e meus parentes todos juntos em um só
lugar. Lorenzo não é a pessoa mais paciente que eu já conheci e os meus
parentes não eram muito calados. Só não queria que esse velório trouxesse
problemas maiores para nós.
— Não é nada, eu só estou cansada e isso do velório me aterroriza
um pouco — respondi.
Não estava mentindo, mal havia dormido na última noite.
— O Enrico e o Pietro irão com as suas esposas também —
informou.
Aquilo me deixou mais preocupada. Muito Ferraro junto com a
minha família esquentadinha, isso não vai prestar.
— Por quê?
— Ele foi um traidor. Vamos mostrar que não admitimos isso na
famiglia, mesmo sendo o meu sogro. As pessoas saberão que não devem me
trair — disse Lorenzo. — Para não te deixar mais nervosa na hora, todos
vão.
— Todos quem? — perguntei.
— Meu pai, o Leonel, o Lucca... — O interrompi.
A última reunião com todos não foi lá às melhores experiências que
eu já tive.
— Lorenzo, isso não vai dar certo — disse, me afastando dele. —
Olhe eu conheço os meus parentes e eu conheço um pouco de vocês, e o
que eu vi, me apavora. A minha família é uma mistura dos Bellini com os
Yamazaki, sei que eles não se comportarão quando verem vocês.
Dos Bellini, meu pai foi o único que quis crescer no meio da máfia
italiana, o resto da família foi tentar com os japoneses. Minhas primas se
casaram com alguns japoneses e começaram a juntar as famílias, mas
apesar de tudo, ainda moram aqui na Itália seguindo as regras de Lorenzo.
Alguns se mudaram para o Japão, mas a grande maioria ainda reside
aqui na Itália. Foi um dos motivos de eu ter estranhado o tio Marco querer
crescer aqui, não gosto de pensar que estão tramando algo.
Meu maior medo não era por mim, porque eles não eram mais a
minha família, mas Kitty ainda era membro da família deles. Temo que por
isso eles tentem se vingar de nós, a usando para nos atingir.
— Se ofenderem alguém daqui, terão uma longa estadia no rifugio
— disse Lorenzo se aproximando de mim, despreocupado com o velório. —
Sabe que não são mais a sua família, então pare de se preocupar com eles.
Minha família eram Lorenzo e meu filho agora. Pela nossa lei, devia
não me importar com o que eles faziam, mas não dava, aquilo estava me
preocupando. A Kitty ainda fazia parte da família deles e isso me
apavorava.
— Me desculpe — disse, respirando fundo.
— Odeio quando se desculpa por tudo. Não fez nada de errado, só
entenda que eles não são mais nada para você, para que se preocupe com
eles — falou, segurando a minha mão. — Agora, andiamo, não quero me
atrasar.
Oh, céus!
O percurso até onde ocorreria a cremação foi rápido. Já que o
quartel tinha de tudo, a cremação aconteceria lá.
— Boa tarde, Senhor e Senhora Ferraro! — disse uma moça na
entrada. Ela fez menção para que a seguíssemos. — A cremação ocorrerá
no fim da tarde, por agora irão me acompanhar para onde o resto da família
se encontra. A sala dará mais privacidade aos entes para que possam se
despedir do seu parente sem interrupções de ninguém.
No fim da tarde? Santo Cristo!
Chegamos em frente a uma porta, mas logo ela foi aberta.
Quando os meus olhos observaram o local, indo de encontro com
membros da minha família que eu não via há muitos anos.
Meus familiares ficaram em pé, em respeito pela presença de
Lorenzo. Por sua vez, meu marido se limitou a dar um breve aceno de
cabeça. Quando entramos, tratamos logo de nos sentarmos perto da minha
mãe e do Enzo.
— Onde está a Lisa e a Kitty? — perguntei.
— Lisa não pode ter preocupações agora. Achei melhor deixar Kitty
com ela para que não visse a baixaria que é essa família — respondeu
minha mãe sussurrando. — Enzo mentiu para a sua avó e disse que a Lisa
passou mal, por isso não pode vir e a Kitty está lhe ajudando, caso alguém
estranhe a ausência das duas.
Kitty nunca os conheceu, já que quando acusamos o tio Marco na
época do nascimento dela, fomos praticamente deserdadas por eles.
Estavam todos quietos, apenas encarando a mim e a minha mãe. Minha avó
mantinha um olhar frio sobre mim. Conseguia até imaginar o que se
passava em seus pensamentos.
Ela me culpava por acusar um homem tão bom como o tio Marco de
tal ato, e agora, ela deveria me culpar pelo meu marido ter matado o seu
outro filho. O silêncio foi quebrado quando o resto dos Ferraro adentraram
pela porta.
Dona Telma e as meninas se aproximaram de mim, se sentando
entre mim e a minha mãe. Emma ficou ao meu lado e do lado esquerdo da
Emma ficou Giulia, enquanto ao lado do Lorenzo ficou o resto da sua
família.
Foi então que o ambiente se tornou mais tenso. Os meus parentes
ficavam cochichando uns com os outros, às vezes dava para escutar até
umas risadinhas deles. Eles debochavam sem se importarem com os
problemas que viriam a seguir.
— E essa sua cara de bunda, é para quem? — perguntou o Sr. Diego
bem cínico a minha avó.
Ela o olhou friamente, calculando o que falaria:
— Estou apenas sofrendo pela perda do meu filho, senhor —
respondeu, se segurando para não falar mais do que devia.
— Traidores não merecem nossas condolências — falou Leonel.
— Ele não era um traidor, sempre deu tudo de si pela máfia. Creio
que por culpa de algumas pessoas ele foi julgado injustamente — disse
minha avó olhando para mim.
Sabia que eu levaria a culpa disso.
— Ele era um grande merda, isso sim — disse Leonel se ajeitando
no sofá. — Injustiçado? — Ele ria enquanto ajeitava o paletó. — A idade
está fazendo você pensar asneiras, minha senhora, o seu filho foi um grande
figlio di puttana.
— Não ouse falar assim do meu irmão. Ele era um homem bom... —
disse tio Marco elevando o tom de voz, inconformado com as acusações,
mas o seu discurso horrendo sobre como meu pai era bom, foi interrompido
pelo Enrico.
— Se eu fosse você, ficava calado, seu puto. Não levante mais a voz
para o meu tio, CARALHO! — gritou, se aproximando do tio Marco,
derrubando a mesinha que estava na sua frente.
Fiquei sem entender, eles viviam se matando e agora estavam se
defendendo?
— Você se acostuma, eles brigam entre eles, mas apenas eles podem
falar assim com a família. — disse Emma sussurrando para mim sem dar
muita importância para a fúria do marido.
— Passam mais tempo se matando, mas se defendem quando é
preciso — concluiu Giulia.
O marido da minha tia ficou em pé, ficando na frente do Enrico. Ele
era grande e alto, talvez quisesse intimidá-lo.
— Fale com o meu cunhado assim novamente e verá o que
acontecerá com você, pirralho — ameaçou Fuyuki.
Ele é o marido de uma das irmãs do meu pai. O japonês era
violento. No começo, quando minha tia se casou, ela ficou algumas
semanas acamada depois de uma surra.
Enrico começou a rir, como se tivesse se divertindo com aquilo.
— Está louco, seu cuzão? — disse Lucca ficando em pé indo para
perto do Enrico tendo toda a nossa atenção. — Está ameaçando o meu
primo? Irei te mostrar o que acontece quando ameaça um Ferraro.
Céus, eles não vão parar?
Lorenzo, que ficou calado o tempo inteiro, ficou em pé, impedindo
Lucca de revidar.
Eu estava assustada com aquilo.
Mesmo que seja algo comum para eles, eu passei a vida inteira
tentando fugir de confusão porque eu sabia como estaria no fim delas, com
vários machucados sem conseguir nem me levantar da cama. São traumas
que eram difíceis de esquecer.
Finalmente Lorenzo foi fazer algo. Estranhei assim que ele passou
por Lucca, parando de frente para a minha avó.
Ah, não, ele não foi impedir nada, ele vai começar com algo.
— Eu estava tentando manter isso o mais pacífico possível. Me
controlei esse tempo todo para não dar uma surra na senhora, já que é avó
da minha esposa, mas se continuar a olhar para ela assim, quebrarei toda
essa chapa que tem na porra dessa sua boca, está entendendo? — disse
Lorenzo encarando a mulher. Agora a sua atenção estava no resto da
família. — Não me importo se vocês estão sofrendo ou não, o parente de
vocês foi um traidor e será enterrado como um, caralho — a voz grande de
Lorenzo ecoava por toda a sala. — Agradeçam ao meu bom coração de ter
dado pelo menos a cremação a ele, só não o joguei para os cachorros,
porque tive receio deles adoecerem com a carne podre do Dante, mas se
ousarem a ser petulante com a minha família novamente, aproveitarei que
estamos em uma funerária e enterrarei todos vocês aqui. Ficamos
entendidos?
— Sim, senhor! — um coral com um sim foi feito por eles.
— Ótimo — falou arrastando o Enrico e o Lucca com ele.
O marido da minha tia ainda ficou em pé e Lorenzo, ao invés de
voltar a se sentar, ficou parado, retornando para perto do meu tio.
— Algum problema? — indagou Lorenzo ao Fuyuki.
— Não.
— Não? — Lorenzo segurou no colarinho do paletó do Fuyuki, o
encarando. — Mostre respeito por mim, é: “Não, senhor”. Então, algum
problema?
— Não, senhor! — respondeu travando o maxilar com tamanha
raiva.
— Então senta, caralho! — disse Lorenzo novamente aumentando o
timbre da sua voz e o Fuyuki se sentou rapidamente.
Lorenzo retornou para o meu lado, fitando os meus parentes sem
desviar o olhar. Ficamos o tempo todo calados. Achei que as horas não
passariam.
Os Ferraro nem se importaram, se levantaram e foram para as mesas
comer, enquanto o resto dos meus parentes ficaram quietos. Era estranho os
ver conversando sem brigarem. Posso dizer que apesar de toda essa raiva
que o Lorenzo tem da sua família, ele os ama e vice e versa.
— Não vai comer alguma coisa? — perguntou Lorenzo.
— Estou sem fome — respondi, me aproximando um pouco dele
sutilmente.
Eu não queria, na verdade, era me levantar. Sentia o olhar do tio
Marco em mim a todo instante. Quando vi que ele se levantou olhando para
mim, me assustei achando que ele viria até mim, mas ele seguiu para a
mesa das comidas com o mesmo sorriso que dava quando eu e a Lisa
ficávamos assustada, o seu sorriso de vitória. Ele sabia o quanto eu o temia.
— O que foi? — perguntou Lorenzo.
Eu não havia entendido, ele deu uma olhada para a sua mão que eu
segurei pelo susto de agora há pouco.
— Ah, nada, só queria segurar a sua mão — menti, temendo mais
uma confusão.
— Não minta para mim, Hope — falou.
— Desculpe, esse lugar me assusta muito, essa família me apavora e
eu fico lembrando de quando eu morava com o meu pai a todo instante —
disse.
— Então vamos embora — disse Lorenzo.
— Não vou deixar a minha mãe sozinha aqui. Ficaremos até o final,
está bem?
— Não sei como conseguia suportar essa família. Entendo que a
minha não é um sonho, mas não somos nada comparados a essa daqui —
falou.
— Desde o nascimento da Kitty que eu não os via — disse, notando
que Lorenzo estava puxando assunto, talvez para me deixar menos aflita. —
Você tinha que ver quando o meu pai estava com eles, a arrogância era
maior. Ficavam fazendo joguinhos idiotas entre eles, brigavam entre si, não
de brincadeira como você faz com a sua família, mas de um jeito
terrivelmente assustador. Eu ficava no quarto trancada com a Lisa e a Kitty,
sorte quando o meu pai não sentia a nossa falta, mas se ele sentisse, nos
deixava no meio daquilo só para que nós assistíssemos. As vezes eles se
empolgavam e acabava sem querer recebendo alguns tapas e empurrões, era
horrível.
Kitty não presenciou isso com a família paterna, mas com os amigos
do meu pai, era a mesma coisa, a diferença é que com a família não havia
limites.
Até lembrar me deixava enjoada.
Acariciava a minha barriga, fazer aquilo me acalmava, eu estava
começando a ficar mais nervosa só de lembrar.
— Devo aproveitar e matar todos? — perguntou.
— Claro que não, só se quiser que eles tentem culpar ainda mais a
sua esposa — disse.
Eles eram iguaizinhos ao meu pai, usavam Kitty para nos atingir.
Lorenzo podia estar brincando, mas eu não duvidaria.
— É uma pena — falou segurando a minha mão.
Segurei a sua mão, a levando para a minha barriga, fazendo ele
acariciar suavemente o local. Ele não tocaria a não ser que eu pedisse.
Não sabia se para ele era difícil estar em um funeral, apesar de ser a
do meu pai, Lorenzo perdeu a filha, não sei se o ambiente trazia péssimas
lembranças a ele. Ele estava bastante calado e não duvidava que seja isso.
— Está enorme — falou. — Não você, a barriga. Não que você
esteja gorda ou...
— Está tudo bem, Lorenzo, eu entendi — disse.
— A última vez que eu vi o Enzo falar algo assim da sua irmã, ela
jogou um copo nele — disse Lorenzo rindo de Enzo. — Sua irmã é surtada.
— A Lisa sempre foi muito impulsiva e louca — falei. — Não
imagino você perto dela nessas crises.
— Eu conheço o meu temperamento, Hope, então evitava de andar
na casa de Enzo, mas achava engraçado vê-lo tentar acalmar a sua irmã. Ela
não é tão louca assim, ela só é explosiva, me vejo muito nisso — falou.
Ficamos assim por um tempo, até que a paz foi interrompida
novamente.
— EI, cretino de blusa azul! — gritou Pietro que ficou calado o
tempo inteiro. Minha nossa, eles não vão parar de discutir. — Tire os olhos
da minha esposa se ainda quiser enxergar.
— Não estava olhando para ninguém. Deixe de ver coisas onde não
existe — disse Victor, o meu primo.
Victor tentou se defender, mas ele era um tarado e não duvidava que
estava comendo a Giulia com os olhos. Via-o trocando o olhar para a Emma
e para Giulia, talvez por ser “carne nova”, ele deveria querer se aproveitar
disso.
— Já te mostro o que eu estou olhando — disse Pietro ficando em
pé.
Olhei para Lorenzo, mas ele ignorou tudo aquilo.
Se encostou no sofá, bastante despreocupado enquanto olhava o
relógio.
— Eles não farão nada? — pergunto a Giulia.
— A gente não impede, será pior — respondeu. — Deixa-o surtar.
Ferraro tem sangue quente demais.
— Agora diz, porra, fala que eu estou olhando coisas que não existe
— Pietro já estava na sua frente, o empurrando enquanto falava.
— Sem brigas, Pietro — disse Enzo e Pietro imediatamente parou.
Foi até rápido.
Olhei para a minha mãe que estava sendo acalmada pela Dona
Telma. Enzo sempre foi o mais calmo de todos os homens que eu já
conheci, mas às vezes o seu olhar me assustava.
Era diferente para nós duas, vivemos no meio das brigas e
discussões, então o medo do depois era o que sempre pensávamos. Talvez
seja por isso que eu não consiga me “divertir” como eles estão fazendo.
— Observando você aqui, lembro da Lisa, onde ela está? —
perguntou o tio Marco.
Idiota!
— Não é da sua conta onde a minha esposa se encontra, seu figlio
dia putanna — respondeu Enzo friamente. — Fique na sua e não me irrite.
— Sou o tio dela... — falou, sendo interrompido pelo Enzo.
— Quer ser cremado hoje também, SEU ARROMBADO? — gritou
Enzo em pé, empurrando a cadeira para o lado.
Se não fosse pela minha mãe o acalmando, tenho certeza que ele já
teria partido para cima do tio Marco.
— Alarme vermelho — disse Enrico como se fosse um código entre
eles, indo para perto do Enzo, tentando acalmá-lo.
— Me interesso em saber o que você fez para deixar o senhor
tranquilo enfurecido? — perguntou Lucca ao meu tio. — Vamos continuar
essa conversa, estou adorando, vamos ver até onde vai.
— Não é da sua conta, moleque — disse tio Marco.
Ah, não!
Lucca não havia gostado da resposta e jogou a cadeira que estava ao
seu lado em direção ao meu tio que conseguiu desviar, fazendo um barulho
estrondoso na sala fechada assim que atingiu o chão.
— Crianças — murmura Lorenzo ao meu lado.
— Que arrombado — disse Lucca incrédulo apontando para o meu
tio, enquanto Enrico foi até ele, se afastando do Enzo.
— Que se foda! — disse Enrico dando um soco no primeiro que viu.
— Foi mal, ruivinha. — disse Lucca a mim, socando a cara do tio
Marco assim que se aproximou dele.
Santo Cristo!
Socos entre eles e muita barulheira me causavam arrepios.
Fuyuki ficou em pé, vindo na minha direção.
— Lorenzo... — disse assustada.
— QUE INFERNO! — gritou Lorenzo, ficando em pé na minha
frente. — Não sabem ficar quietos até a porra dessa cremação acabar?
PORRA! Minha ordem é para ser seguida, seus putos.
Enzo e o Pietro foram tirar o Enrico e Lucca de cima dos meus
parentes.
— Não tem respeito pelos mais velhos? Que Capo é esse que
seguimos que não tem um pingo de educação com alguém mais velho que
ele — disse a irmã da minha avó se metendo na conversa. — Ser um
Ferraro e Capo não quer dizer nada se não souberem cuidar dos seus.
Isso vai dar ruim.
— Você se acostuma, Smurf — zombou Sr. Diego, já que era assim
que seu filho o tratava as vezes.
Me segurei para não rir do apelido que ele deu a minha tia. Ela
amava a cor azul e se vestia apenas com ela desde que eu me entendo por
gente.
Imagina se ele visse a casa dela. Nada contra, porém...
— Não me importo se gostam da minha liderança, se não querem a
mim como Capo, é só sair da famiglia, mas fale novamente de como eu
cuido dos meus e saberá o que acontece quando me desrespeitam — disse
Lorenzo.
— Tenham respeito pelo nosso líder — disse Leonel. Não parecia
que ele estava mentindo, apesar da inveja que sempre diziam que ele tinha
do sobrinho, não deixaria que alguém o difamasse ou reclamasse do seu
governo. Logo ele mudou a direção de onde olhava, falando em seguida. —
Sentem aqui, Lucca e Enrico.
Eles foram se sentando animados perto do Leonel, como se tivessem
ganhado um presente incrível.
— Alguém traz álcool e um fósforo, deixa eu atirar fogo nisso daí
— disse Lorenzo com cara de nojo, olhando para mão deles dois que tinha
sangue dos meus parentes. — Estão contaminados.
Lucca e o Enrico riam alegremente pelo comentário do irmão. Eles
parecem duas crianças.
— Hope, não acha que o velório deveria ter mais parentes seus
sendo enterrado? — perguntou Pietro.
— Eu... — Não conseguia lhe dar uma resposta, já que todos me
fuzilavam com o olhar.
— Já tentei, ela não me deixou — comentou Lorenzo ao irmão. —
Aquele dali poderia ser o próximo — apontou para um dos meus tios. —
Ele me lembra muito o Dante, me causa nojo. Ainda bem que minha esposa
puxou apenas a mãe.
— Hope deveria ser mais legal — disse Lucca. — Vai, não vamos
fazer barulho.
— São nossas vidas que estão negociando como brincadeira? —
indagou minha avó. — Que líder aceita isso, porque o que eu saiba, você
jurou proteger cada um de nós quando assumiu a liderança.
— Existe sempre exceções, porque geralmente são essas que traem a
máfia — respondeu Lorenzo. — Então não venha com essa conversa de
como eu comando, que você não é a primeira a querer usar palavras para
me difamar. Não gosta? Tente em outra máfia, vamos ver se com esse
descuido em fazer o seu serviço como membro, se vão aceitá-la. Agora que
se foda você, a sua família e o arrombado do Dante que o inferno o incinere
com ele lá dentro.
Antes que alguém pudesse falar mais alguma coisa, um rapaz
adentrou na sala.
— Me desculpem interromper, mas a cremação começa agora.
Graças ao céus!
Comecei a me ajeitar para ficar em pé, querendo que aquilo logo
acabasse.
— Está grávida? — perguntou minha avó assim que eu me levantei
estranhando a minha barriga. — Não lembro termos sido informados sobre
isso.
Agora que ela reparou?
— Ficou linda... — disse tio Marco, mas foi interrompido pelo
Lorenzo.
— Se eu fosse você, filtrava o que vai falar. Não quero elogios seus
a minha esposa — disse Lorenzo se aproximando um pouco mais dele. —
Logo saberá o quão potente é um soco meu.
— Posso dizer que é forte — disse Lucca quebrando o silêncio que
ficou. — Quase que eu não recupero esse belo rosto.
— Não há malícia no meu elogio — disse tio Marco. Me senti
enjoada só pelo seu fingimento. — Não precisa ter ciúmes da minha relação
com a sobrinha, não faria mal algum a ela, não é, Hope?
Eu congelei. Nem sabia o que fazer ou falar. Ele estava mais
próximo de mim, o que não acontecia desde o dia que eu saí de sua casa.
Lorenzo o empurrou, fazendo com que o tio Marco andasse
cambaleando para trás.
— Já disse uma vez, não me faça repetir. — Lorenzo o fuzilava com
os olhos, mostrando que estava se segurando para não matar ele aqui
mesmo.
— Está tudo bem, Lorenzo, vamos! — disse o puxando para longe
dali, mas falhando já que o Lorenzo era mais pesado que um armário.
Lucca logo sorriu para o Enrico e eu sabia que vinha coisa por aí.
— Engraçado que comigo você me surrou na frente de todos, nem
me deu uma segunda chance — comentou Lucca como sempre querendo
arranjar briga. — Dá chance para ele e nem deu para mim que sou o seu
sangue. Quebra ele também, Lorenzo. Quem já se viu, querer jogar charme
para uma mulher casada.
— Não bota lenha na fogueira, Lucca — disse Dona Telma.
— Lucca está certo, mãe. Realmente seria tão injusto — disse
Enrico cínico.
— Isso, tem que ter igualdade, ora porra — falou. — Ensine a
respeitar a sua esposa, Capo.
Lucca e o Enrico eram encrenqueiros.
— O que é dele está guardado, Lucca — disse Lorenzo. —
Esqueceu que não existe nada melhor do que pegar a presa quando ela
menos espera.
— Isso, caralho, era isso que eu queria ouvir — disse Lucca com
empolgação, olhando para o meu tio. — Você está ferrado! Se o Lorenzo
está planejando algo para você depois, pode preparar o pior. Vai me deixar
ajudar, não é, Lorenzo?
— E eu também quero — disse Enrico se aproximando do irmão. —
Ei, não vai me deixar de fora disso, não é!? Sou o seu irmão...
Sr. Diego arrastou Enrico e o Leonel arrastou o filho para sair da
sala, se não nunca iria começar a cremação se dependesse deles.
— O que quer dizer com isso, Capo? — perguntou tio Marco
temeroso me olhando em seguida.
— Saberá no tempo certo, assim como Dante descobriu o dele —
disse Lorenzo segurando na minha mão, olhando para todos ali. —
Andiamo, ou o corpo pegará fogo sem eu ver.
Caminhamos até um lugar onde havia um vidro nos separando de
outro cômodo. Havia um corpo coberto por um pano vermelho por trás do
enorme vidro. Atrás de nós, estavam mais pessoas de algumas patentes.
— Deveríamos ter trazido uma carne para aproveitar o fogo — disse
o Sr. Diego — Trazer whisky, encher a cara, mas sem apostas.
Agora eu sei de onde o Lorenzo tirou o deboche e o sarcasmo.
Não fiquei com raiva deles falarem assim dos meus parentes. Cansei
de me preocupar com eles enquanto sempre quiseram o meu mal e o das
minhas irmãs.
— Dá tempo de comprar, pai, eu posso ir — disse Enrico.
— Outro dia você faz isso, Enrico — disse Pietro a ele.
— Vocês sempre estragam tudo! — reclamou Lucca.
— Tem o do tio, espere que teremos tempo para programar um
melhor — respondeu Lorenzo.
Cristo amado!
Tio Marco olhou para mim, não gostando muito daquela conversa.
Tenho certeza que se o Lorenzo não estivesse aqui agora, ele teria
vindo tirar satisfação dessa conversa.
— Vamos começar! — disse o cerimonialista que logo acenou para
o Leonel ir para frente.
— O pano vermelho simboliza o sangue das vidas de cada membro
da famiglia que foram mortos pelas traições do Dante no decorrer dos anos.
Dante Bellini não merece o pano branco que simboliza a paz em saber que a
sua missão foi cumprida com todos aqui da famiglia — disse Leonel a
todos.
As cinzas eram dadas a família ou seriam jogadas em algum lugar.
Enterrado entre nós ele não seria, sua traição contaminaria o solo.
— Apesar da sua traição, suas cinzas serão dadas a sua família —
continuou Leonel. — Vamos começar!
Não sei se conseguiria assistir aquilo. Acho que não tinha estômago
para tudo isso.
— Não precisa ver — disse Lorenzo no meu ouvido. Logo ele me
puxou para ficar de frente para ele, me deixando de costas para o vidro. —
Não quero que tenha pesadelos por conta desse maldito.
Não derramaria uma lágrima pelo meu pai hoje? Que tipo de pessoa
eu me tornei, que não demonstrava nenhuma emoção ao corpo do meu pai
sem vida.
Talvez eu finalmente percebesse que mesmo sendo o meu pai e
mesmo tendo convivido com eles por anos, sua morte não causará nada a
mim, a não ser felicidade por finalmente me ver livre.
A prisão que ele nos deu por tantos anos, mesmo nem estando
presente na maioria das vezes, hoje, todas nós nos libertamos.
Sabia que ele já estava sendo cremado, já que comecei a escutar o
choro da minha avó. Olhei para o lado, tirando a visão do peitoral do
Lorenzo a minha frente, olhando a minha mãe tão pacífica. Ela também
estava tirando um peso dos ombros.
— Quanto tempo demora uma cremação? — perguntou Enrico.
— Cerca de 2-3 horas, senhor — respondeu um rapaz.
— O quê? Tchau! — disse Lucca caminhando para a porta.
— Apesar das intrigas que tivemos, não ficarei até o final. Esse é
um momento só da família — disse Enrico a minha família. Sabe nem
mentir, sei que ele não esperaria 3 horas só para ver um corpo pegando fogo
na sua frente. — Tchau, ruivinha!
— Eu e a minha família queremos ficar a sós, podemos? — pediu
minha avó ao Lorenzo.
— Claro! — respondeu Lorenzo doido para sair daqui. — Dona
Esther, vamos.
Lorenzo nos guiava para fora, mas a minha avó o chamou.
— Elas fazem parte da família, Capo — disse a minha avó.
Lorenzo que não ouse pensar em me deixar aqui com a minha mãe à
mercê dessas cobras. Eles nos comeriam vivas.
— A minha sogra não é mais casada com o seu filho, ela não tem
mais relação com vocês. Enquanto a minha esposa, sua família sou eu —
respondeu.
— Mas tem a outra garotinha, a menor — falou. Ela nem sabia o
nome da Kitty, não me surpreendi ao saber disso.
— A menor que se refere não virá. Nem tente argumentar algo, ela
não virá ver vocês nem hoje e nem nunca. Fiquem longe dela e eu não mato
vocês — disse Lorenzo.
— Perante a lei, ela não pode negar a família. Ela não é casada e
carrega Bellini no seu sobrenome — disse tio Marco.
— Na verdade, ela carrega o meu sobrenome — respondeu Enzo. —
Kitty pode morar com a minha sogra, mas nós assinamos um acordo em que
ela está desvinculada da família Bellini, já que a sua tutela está no meu
nome. Agora ela é uma Carbone.
O quê? Como é?
Ninguém me contou sobre esses tramites.
Sempre a última a saber, Hope.
— Agora vamos, tenho mais o que fazer — disse Lorenzo me
levando para fora dali.
Minha mãe estava do meu lado, aproveitei para perguntar o motivo
de não terem me dito nada.
— Desculpa, filha, decidimos isso há algumas semanas, mas o Sr.
Federico ia ver se daria certo, então não quis preocupá-la. Ontem depois
que você saiu, ele disse que havia acontecido perfeitamente bem o que
planejamos. Kitty não tem mais nada com a família do seu pai. Ela só
carregará o sobrenome do Carbone, mas quando casar tirará se quiser.
Como você não estava nos melhores momentos, por fim, nem deu para
mencionar o que estávamos planejando.
Aquilo me tranquilizava muito. O que eu mais temia era a Kitty
perto deles. Um alívio tomou meu coração. Eu até conseguia respirar
melhor.
— Agora ficaremos bem — falei.
— Obrigada por ter tomado essa iniciativa — Me abraçou. — Se
você não tivesse aceitado o casamento, ainda estaríamos naquela vidinha ao
lado do seu pai. Que veja a nossa felicidade e saiba que estamos tendo ela
por você. Desculpa ter colocado um peso tão grande para carregar por nós.
— Apesar de tudo, de todos os acontecimentos, eu sou muito feliz
por ter saído de casa — confessei. — Queria que tivesse sido antes, para
que não vivêssemos mais aquela vida miserável, mas agradeço por termos
saído ainda vivas de lá.
— Te amo, minha menina!
— Também te amo, mãe!
Me despedi da minha mãe e da família do Lorenzo.
Me aproximei do meu marido que logo segurou a minha mão.
— Enzo pediu para que você fosse amanhã para casa da Lisa —
avisou quando já estávamos no carro a caminho de casa.
— Ele irá sair?
— Faremos uma curta viagem amanhã. Volto pela noite ou só no dia
seguinte — respondeu. Lorenzo ainda segurava a minha mão, já que eu me
tremia bastante quando estávamos no funeral. — Te deixarei com ela, já que
Enzo está receoso de que ela entre em trabalho de parto. Qualquer coisa nos
ligue e nós retornaremos.
— Certo!
Chegamos em casa e eu logo subi para tomar banho e descansar
antes do jantar.
— Venha comer antes que durma — disse Lorenzo ao me ver
deitada na cama.
— Estou indo! — disse me levantando da cama.
Eu tentava me manter mais disposta, mas eu ano conseguia ter
ânimo, eu só queria ficar o dia inteiro deitada e dormindo. Tinha receio de
que o meu filho ficasse doente por minha causa.
Jantei sozinha, já que Lorenzo ficou no escritório fazendo algo.
Quando terminei, tratei logo de subir e me deitar. O dia foi cansativo,
apesar de não ter feito esforço físico.
— Hope, o Capo está pedindo para que você vá ao seu escritório —
informou Red na porta.
Havia esquecido da conversa que ele queria agora a noite.
— Diga que eu estou dormindo — pedi.
— Sabe que eu não sou de mentir, principalmente para Lorenzo —
disse Red. — Vamos, é melhor assim.
Red parecia saber da conversa que teria com o meu marido.
Juntei todas as forças que tinha, me levantei da cama e fui ao seu
encontro. Quando cheguei ao escritório, fraquejei um pouco antes de bater
na porta. Assim que Lorenzo permitiu a minha entrada, caminhei até a
cadeira que estava de frente a sua mesa.
— O que gostaria? — perguntei.
— Sabe do que eu quero saber.
Eu nunca fui de contar isso a ninguém. Fora a minha família, só a
Lucy que sabia. Ela nem sabia de tudo, mas boa parte do que aconteceu.
— Lorenzo, não sei o que acha que aconteceu, mas realmente
aconteceu — disse não querendo falar mais do que o óbvio.
— Continue.
Hesitei antes de falar algo.
— Lorenzo, eu não quero falar — disse. Falar sobre isso me faz
lembrar o que a Lisa fez e isso era torturante.
— Hope, eu quero saber — falou ficando em pé.
— Eu não quero me abrir para você, Lorenzo. Eu não quero me
lembrar e eu não quero mais sofrer por aquilo. Eu estou bem, a Lisa está
bem e é só isso que eu posso falar — disse em pânico.
— Hope, eu sou o seu marido, confie em mim — falou se
aproximando ainda mais de mim.
— Você nem confia em mim para me contar seus problemas, por
que eu deveria confiar em você? — indaguei. — Não é porque é o meu
marido que eu deva falar tudo sobre mim. Confiança se conquista, Lorenzo.
Você sabe o que ele fez, então o castigue.
— Quero que você me conte desde quando tudo aquilo começou —
falou calmo.
Lorenzo estava mais paciente do que o normal, mas eu tinha muito
medo de acabar complicando tudo para Lisa. Temia Lorenzo me achar
impura para ser a sua esposa. E se ele me deixar longe do meu filho por eu
ser tão suja ou castigar a mim ou a Lisa por achar que somos culpadas pelo
que aconteceu? Ele pode até dizer que não vai fazer isso, mas e a liderança?
Sei como eles conseguem ser podres e fiéis as leis.
— Não quero falar. Quero voltar para o quarto, me deixe ir —
implorei.
— Hope...
— Me deixe ir — supliquei.
— Preste atenção no que eu vou falar — disse Lorenzo olhando nos
meus olhos. — Você pode não me contar hoje e eu não vou te obrigar, mas
saiba que o seu tio será morto por mim. Não importa quando você vai se
sentir confortável em me falar, durante o dia ou durante a madrugada,
apenas me diga. Eu quero saber por você tudo o que aconteceu. Não é, e
nunca será, culpa de vocês duas, Hope.
Eu queria desmoronar na frente dele e pedir que não deixasse o tio
Marco chegasse mais perto de mim ou da Lisa. Queria que, quando eu
tivesse gritado por ajuda, ele tivesse ali para me ajudar.
Só que eu tenho tanto medo do que ele faria depois. Meu pai não
acreditou mesmo olhando o estado do meu corpo e do de Lisa. Por que o
Lorenzo acreditaria em mim mesmo sem ter nenhuma prova que aquilo
aconteceu?
Eu só queria não ser tão medrosa.
— Pode ir para o quarto — falou, já que eu fiquei calada sem lhe
dar nenhuma resposta.
Saí do escritório, caminhando apressada. Amanhã teria o dia para
falar com a Lisa, não poderia agir só por mim e sim por ela também.
Irei perguntar o que ela acha que eu devo fazer. O Conselho pode
nos punir e não deixarei que isso prejudicasse ela, ela já sofreu demais.
Me deitei na cama, tentando esquecer aquilo.
Eu só queria ser forte para falar.
Acordei com uma respiração pesada no meu rosto. Assim que abri
os olhos, me deparei com Lorenzo dormindo calmamente. Afastei os seus
braços da minha cintura, tentando me sentar sem a sua ajuda. Estou apenas
com quinze semanas e já estou com dificuldades para me levantar sozinha.
Imagina quando a barriga aumentar ainda mais.
— Está bem? — perguntou Lorenzo sonolento.
Ele não dorme.
— Me desculpe, eu lhe acordei? — perguntei.
— Não, mas você não respondeu a minha pergunta. Você está bem?
— Estou, só fiquei sem sono — disse. Olhei para o relógio que
marcava 04:00hrs da manhã. — Vou descer para comer, quer algo?
— Comer uma hora dessas não vai lhe fazer mal?
— Eu comendo ou não, o meu destino sempre será o banheiro no
fim do dia — disse e ele riu.
— Alessandra foi ontem na boate — comentou, se sentando na
cama. — Rubens me ligou avisando da sua visita. Ela estava atrás de falar
com você, já que desde o dia do hospital que não tinha notícias suas.
Droga, havia esquecido que Alessandra ia dar um jeito na Beatrice.
— Ah, e ela disse o quê?
— Nada, ela disse que era assunto de mulher — disse Lorenzo um
pouco curioso. — De onde essa amizade de vocês duas surgiu? Vocês duas
não tem nada em comum e agora ficam de segredinhos.
— Na verdade temos — disse. Você é uma delas. — Mas não é nada
importante. Ela é bem divertida quando conhece ela melhor. É tipo eu e
você, não temos nada em comum, mas nos damos bem.
— Eu sou estressado e você calma. Quando eu estou surtando, você
age calmamente como se fosse um dia comum. É por isso que damos certo.
Era verdade, Lorenzo era totalmente o oposto de mim.
— Mas sobre a Alessandra, ela pode vir aqui? — perguntei. Não
sabia se já podia sair novamente ou receber visitas depois do problema que
o meu pai arrumou.
Estava começando a ficar preocupada sobre o que a Alessandra fez.
Há um bom tempo não vejo Beatrice. Será que ela a matou? Não, não acho
que ela chegue a esse ponto, mas por que ela sumiu de repente? Do jeito
que ela era louca pelo Lorenzo, não acredito que ela tenha deixado de
visitá-lo do nada.
— Ela virá aqui amanhã — respondeu. — Então ainda tem as
regras. Se forem para o jardim, não fique nos pontos cegos. Para onde for,
leve Red com você. Não fique sozinha, entendeu, Hope?
— Sim — disse.
Lorenzo se levantou, caminhando para o banheiro. Já estava
acordada e bem-disposta o bastante para correr uma maratona.
O que fazer às 04:00hrs da manhã? Hoje o Lorenzo viajaria, então
aproveitaria a minha estadia na casa da Lisa. Desci e fui logo atacar a
geladeira.
Liguei para a minha mãe porque eu sabia que uma hora dessas ela
estava acordada. Eu estava elétrica, queria me movimentar. Escutei um
barulho vindo da sala, fiquei olhando para porta já que o barulho estava se
aproximando, até que o Lorenzo apareceu um pouco assustado apenas de
toalha.
— O que foi? — indaguei.
— Você sumiu... — falou, como se tivesse entendido o que
aconteceu, se sentando na cadeira. — Eu tinha esquecido que você ia descer
para comer.
— Eu estou bem — disse me aproximando dele, olhando o quanto
ele ficou assustado com o meu sumiço repentino.
— Só não fique sozinha pela casa — falou. — Sei lá se alguém
consegue entrar e você está sozinha e desprotegida, não fique sozinha.
— Pode deixar — falei, me sentando no seu colo. — Está mais
calmo?
— Quer me matar do coração, bela ruiva? — indagou, enquanto eu
passava a mão pelos seus cabelos. — Por favor, não suma assim, me avise
mais de duas vezes se necessário.
Apenas assenti, esperando-o se acalmar.
— Estava pensando em fazer uma caminhada — disse.
— Você? — estranhou querendo rir.
— Sim! — declarei animada. — A sua falta de fé em mim é
ofensiva, sou bastante ativa em atividades físicas.
Lorenzo começou a rir, zombando do que eu disse.
— Indo dormir do sofá para cama, da cama para a espreguiçadeira
no jardim, isso são suas atividades físicas, senhora Ferraro? — debochou.
— Eu estava em uma fase ruim, era a gravidez — disse.
— Então me diga os esportes que já fez? Nadar você não sabe,
correr não acredito muito.
— Está duvidando? — indaguei.
— Sim! — disse Lorenzo me provocando.
— Vou trocar de roupa e você vai ver, eu vou dar uma volta no
jardim — disse.
— Eu só quero ver — disse Lorenzo totalmente desacreditado.
— Eu tenho que me exercitar, a médica disse que ajuda no parto,
mas eu não posso me esforçar muito porque eu estou grávida — disse, já
ficando com preguiça em pensar que eu tinha que trocar de roupa.
Péssima ideia, Hope.
— Eu não disse nada, por que está se justificando? Já está com
preguiça?
Nem dei atenção. Subi e troquei de roupa rapidamente, aproveitando
que eu ainda estava no pique para correr. Lorenzo também de trocou,
vestindo algo mais causal. Caminhamos para o jardim e Lorenzo sinalizou
para alguns seguranças ficarem de olho nas redondezas.
— Vai dar quantas voltas? — perguntou.
Como assim quantas voltas? Era só uma.
— Não posso fazer muito esforço, faz mal para o bebê — disse.
— Está tentando me enganar, ruiva? Não se esqueça que eu também
vou nas consultas, eu lembro do que a médica disse.
Comecei a dar uma volta pelas redondezas da piscina até o canteiro
de flores.
Não nego que a minha disposição já havia acabado, eu só estava
ainda caminhando porque Lorenzo tinha aquele maldito sorriso sarcástico.
Dei mais uma volta, já pensando em fingir um desmaio.
Eu vou ter sérios problemas se o meu parto depender dos meus
exercícios durante a gravidez. Eu só sinto sono e fome.
— Lorenzo...
— Cansada, Hope? — indagou cínico.
— Claro que não! — menti. — Só estou com fome.
— Eu trouxe uma barra de cereal — falou tirando do bolso. — Tudo
para ajudar a minha esposa na caminhada.
Sorri forçadamente e peguei a barra.
— Está bem, talvez eu tenha exagerado um pouco sobre o meu porte
atlético — disse.
— Um pouco? — Arqueou a sobrancelha cinicamente.
— Lorenzo... — choraminguei.
— Certo, vamos entrar — falou segurando na minha mão.
— Se a médica perguntar, eu dei 5 voltas — disse enquanto comia a
barra.
— Cadê o meu pagamento? Sabe que eu odeio mentir, então vamos
precisar de um pagamento melhor — falou sorrindo maliciosamente.
— Certo, vamos resolver isso depois.
— Vou falar com o Red para te acompanhar nas caminhadas quando
eu não estiver — disse Lorenzo e eu logo murmurei não gostando da ideia.
Minha disposição já passou. — Tem que fazer para ajudar na hora do parto.
— Certo! — disse fingindo empolgação.

Já estávamos a caminho da casa de Enzo e Lorenzo já estava


enlouquecendo por ter que tirar os olhos de mim.
— Fique com o seu celular e qualquer coisa me ligue — falou e eu
assenti.
— Lorenzo, você voltará ainda hoje?
— Espero que sim, mas provavelmente só pela madrugada ou
amanhã de manhã mesmo — respondeu. — Por quê?
— Nada, só perguntei por perguntar mesmo.
— Vamos, ruiva, sei que não é só isso — falou. Gostava de quando
ele me chamava assim. — Não me diga que já está com saudades de mim?
Não imaginava que a minha presença era tão importante para você.
Percebo que o Lorenzo está bem animadinho hoje. Fico feliz em vê-
lo se recuperando aos poucos.
— Não é isso — respondi rindo. — Estou pensando na possibilidade
de Lisa entrar em trabalho de parto. Ela já passou das quarenta semanas, me
preocupo com a possibilidade de Enzo não participar do nascimento do
filho.
— Como eu disse, qualquer coisa me ligue. Se você achar que ela
está perto de parir, me ligue e largamos tudo e voltamos — falou. — Da
mesma forma com você, se sentir qualquer coisa, nem que seja uma dor na
unha, me informe. Não se esforce muito e muito menos se preocupe.
Lorenzo passou a mão no meu cabelo e o seu toque me deixou
surpresa. Ele estava fazendo carinho em mim? Aquilo, de certa forma, era
um pouco estranho. Lorenzo não era de fazer isso comigo, não quando eu
estava acordada, pelo menos.
— Tudo bem, ligarei quando for preciso — disse.
— Não fique sozinha — falou pela décima vez hoje.
— Eu prometo que não vou ficar — disse. — Não se preocupe, nós
dois vamos ficar bem.
Ele ficou em silêncio e parecia que ia surtar por não querer me
deixar longe dele. Lorenzo ainda tem muito trauma, mas essa semana está
pior.
Chegamos na casa do Enzo e o homem já estava lá fora com um
papel na mão.
— Lisa está sentindo umas contrações, mas ainda não é nada que
induza o seu parto — disse Enzo já começando a falar. Nem um bom dia e
já foi logo me dizendo o que fazer: — Este é o número da médica dela.
Caso ela sinta uma dessas coisas, essa é a maternidade...
— Enzo, se acalme — disse. — Eu sei disso, qualquer coisa eu te
informarei.
— Hope, se ela entrar em trabalho de parto, não saia do lado dela
até eu chegar — pediu Enzo.
Quando ele queria, sabia ser bem autoritário.
— Eu sei, Enzo — disse.
— Não deixe a minha esposa mais nervosa do que já está — disse
Lorenzo. — Vai ficar tudo bem, irmão. Já expliquei para ela e para Red
tudo direitinho. Se acalme e dará tudo certo.
Falou o que agorinha estava surtando.
— Peça para a Lucy vir, ela fez enfermagem, não é? — perguntou
Enzo e Lorenzo assentiu. — Ficarei mais calmo se ela sentir algo e a Lucy
estiver presente aqui.
— Tudo bem, a Lucy virá agora mesmo — respondeu Lorenzo.
Enzo entrou no carro, enquanto eu e o Lorenzo ficamos lá fora
esperando que ele conseguisse falar com a Lucy. Ele logo conseguiu falar
com ela e ela já estava se apressando para vir para cá.
— Já vou indo, não esqueça de me mandar mensagem avisando que
está bem mais tarde, caso eu não consiga falar com você — falou. Lorenzo
estava mais preocupado do que o normal. — Já foi avisado que ninguém
entra aqui e nem pense em sair.
— Eu sei, Lorenzo.
— Só estou reforçando para caso se esquecer — falou. Lorenzo
colocou a mãos na minha cintura, dando um beijo em meus lábios. — Cuide
do nosso filho.
— Pode deixar!
Lorenzo voltou para o carro e eu entrei em casa junto com Red.
— Sinto muito pelo seu pai — disse Red
A gente ainda não havia falado sobre o que aconteceu.
— Red, não precisa fingir que se importava com a vida do meu pai,
sei que ninguém gostava dele — disse.
— Mas sei que você se importa.
— Me importava — reformulei. — Percebi que a sua ausência foi a
melhor coisa que aconteceu a mim e a minha família. Pode ser egoísmo da
minha parte, mas prefiro ele assim.
— De qualquer forma, ele mereceu o que teve — comentou. — Só
esperando o próximo alvo agora.
— E quem é? — perguntei. Tinha um palpite de quem seria, já que o
Lorenzo deixou bem claro na nossa conversa da noite passada.
— Não devo comentar — respondeu. — Porém a vida da sua
família melhorará ainda mais.
Assim espero!

A manhã foi totalmente tranquila. Lisa permaneceu mais tempo


deitada. Kitty e Nandinho passaram a manhã no quintal junto com Red,
enquanto a minha mãe e a Lucy estavam na cozinha. Eu fiquei apenas
deitada com a Lisa, fazendo companhia.
— Lisa... — disse.
— Finalmente, queria saber quanto tempo eu teria que ficar sozinha
com você para me contar o que está acontecendo — falou.
Estava tentando esperar o momento certo e a Lisa me conhece,
deveria saber que eu estava nervosa demais para tocar no assunto ainda.
— Lorenzo sabe — disse pensando no que falaria.
— Sabe? — perguntou. Ela não entendeu de primeira, mas depois
ficou evidente que entendeu o que eu havia dito. — Você contou?
— Não — respondi de imediato. — Não sei como, mas ele já
suspeitava. Talvez seja a minha culpa por deixar tão nítido o meu medo do
tio Marco, mas o Lorenzo sabe de tudo. Lisa, ele disse que puniria o tio
Marco.
— Hope, ele merece isso — falou, já mostrando que estava um
pouco assustada. — Mas ele vai dizer a liderança? Eu tenho medo disso.
— Eu sei disso, mas o Lorenzo quer saber de tudo que aconteceu
por mim. Não sei o que o tio Marco fez ou se foi só conosco, mas o
Lorenzo me perguntou ontem e eu não tive coragem de dizer — disse
temerosa em saber qual seria a sua reação. — Ele quer que eu conte para
que ele entenda o que aconteceu de verdade.
Lisa ficou em silêncio. Eu sei que o seu medo era igual o meu.
— E se formos punidas por não contar antes, Hope? — perguntou.
— Eu não posso ser levada. Eu tenho dois filhos pequenos que precisam da
mãe e eu não vou me afastar deles. Eu estou com medo e...
— Lisa, está tudo bem. — A interrompi. — Lorenzo disse que não
era a nossa culpa, por isso não contei nada a ele até agora. Também tenho
medo, não pelo meu marido, mas pela liderança. Nós omitimos uma lei que
foi quebrada e eu sei que isso é errado, mas quero confiar no Lorenzo.
Quero que finalmente sejamos livres, Lisa. Livre para viver sem medo e
preocupações. Sei que não temos traumas de ficar perto de outros homens,
mas sei que o medo do tio Marco está atrasando a nossa vida. Viver com
medo, não é viver. Eu já pensei nisso várias vezes, se isso chegar na
liderança, eu tomo a culpa toda para mim. Não precisa se preocupar com
isso.
— Claro que não, Hope — disse Lisa. — A culpa é minha. Se eu
tivesse dito para você o que ele faria desde a primeira vez que eu fui, você
tentaria evitar os castigos do pai, assim como eu evitei. Foi um erro meu e
eu sei disso.
— Não foi, Lisa — disse. — Eu assumo a culpa porque eu sei que
como esposa do Capo, o castigo pode nem acontecer. O Lorenzo pode até
nem mencionar com eles e pode até mentir quando for atrás do tio Marco.
— Ele vai atrás dele? — perguntou.
— Lorenzo já disse que eu falando ou não, o destino do tio Marco já
está traçado por ele. Ele quebrou regras importantes e será julgado pelo
Lorenzo por isso. Não sei quando ou como, mas a vida do tio Marco está
por um fio.
— Eu quero viver em paz — falou um pouco emocionada. — Quero
não me preocupar com a Kitty ou com os nossos filhos perto dele. Quero
poder ficar em uma festa sem me preocupar se ele aparecerá. Eu quero
viver, Hope. Se você acha que o seu marido não irá nos delatar para a
liderança, conte tudo, não ouse amenizar nada, conte tudo detalhadamente
que só nós duas sabemos. Se confiar nele, eu também confiarei. Eu disse
tudo ao Enzo semana passada, não com todos os detalhes, mas eu disse.
Havia mencionado alguns coisas com ele, mas agora, fui totalmente clara.
Ele já estava desconfiando e eu quis me poupar de sempre dizer que eu
estava bem sem estar. Eu contei e não me arrependo, Hope. Me arrependo
de não ter falado antes, por medo do que o pai poderia pensar de saber que
eu estava espalhando o que o irmão fez.
— Então contarei ao Lorenzo quando voltar. Só espero ter coragem
para fazer isso — disse.
— Hope...
— Eu sei, eu tentarei contar tudo — falei.
— Não é isso — falou segurando na minha mão. — Minha bolsa...
— Onde está? — perguntei.
O que ela quer com uma bolsa agora?
— Não, Hope, A MINHA BOLSA ESTOUROU — gritou.
Olhei para enorme poça de água que estava na cama.
— MEU DEUS! — gritei, levantando da cama rapidamente. — Está
tudo bem, é só ficar calma. Respira fundo e deixa comigo. Está tudo bem!
Cadê o meu celular? Meu Deus, eu nem sei onde ele está...
— Eu estou calma, você é que não parece está — respondeu, me
interrompendo.
Corri até a mesa, retornando para cama, lembrando que o meu
celular estava na cabeceira. Eu nem sabia o que fazer primeiro.
— Eu estou super calma! — disse parando de correr de um lado
para o outro, sorrindo forçadamente. — Não, eu estou surtando!
Corri para a porta e gritei pela minha mãe.
— Onde está a sua bolsa da maternidade? Não, tenho que ligar para
o Enzo primeiro. Não, é melhor te levar logo para o hospital — disse indo
de um lado para o outro.
— Se acalma, mulher — disse Lisa se levantando da cama. — É
capaz de você acabar parindo agora.
— O que foi? — perguntou minha mãe entrando no quarto.
Lucy veio com ela e logo o Red apareceu com a Kitty de um lado do
seu braço e com o Nandinho do outro.
— Aconteceu algum problema? — perguntou Red olhando para
todo o quarto.
— A bolsa da Lisa... — disse apontando para cama sem conseguir
concluir a palavra.
— Pela virgem Maria — disse Lucy se aproximando da Lisa.
— Eu estou sentindo as minhas contrações aumentando — reclamou
Lisa.
— Temos que cronometrar — disse minha mãe.
— Red, liga para o Enzo — disse. — Ou para o Lorenzo, quem
atender primeiro.
— Certo!
— Eu vou ligar para a médica — disse.
Ainda bem que o Enzo já deixou tudo separado. Já havíamos
descido e Red não conseguiu falar com o Enzo e muito menos com o
Lorenzo.
— As contrações estão no intervalo de 5 minutos cada. Vamos logo
para o hospital — disse minha mãe.
Meu celular começou a tocar e eu vi que era Lorenzo.
Graças a Deus!
— Qual é o problema de vocês para não atenderem o celular? —
perguntei.
— Está tudo bem?
— A Lisa entrou em trabalho de parto, então tratem logo de vir para
cá — disse.
— Que porra! — murmurou. — Estamos saindo daqui agora, fique
calma que tudo ficará bem. O Enzo quer falar com a Lisa.
Passei o celular para ela, enquanto ajudava o Red a colocar as coisas
no carro. Lisa logo devolveu o meu celular e eu fiquei com ele na mão.
— QUE MERDA! — gritou Lisa gritou de dor. — Esqueci o quanto
doía.
— Lisa, dói tanto assim? — perguntei um pouco apavorada quando
chegar a minha vez.
— Ah, não, está tudo tranquilo... — gritou em seguida.
Certo, entrar em trabalho de parto estava começando a me assustar.
— A levem para o hospital — disse Lucy.
Deixamos a Kitty e o Nando com a Lucy. Lisa passou o percurso
todo reclamando de dor. As contratações aumentaram ainda mais, junto
com alguns gritos agudos da Lisa. Assim que chegamos no hospital, a
médica já estava preparada.
Lisa pediu para que eu a acompanhasse, enquanto a minha mãe
terminava de falar com atendente do hospital, já organizando o quarto e
toda a estádia da Lisa e do Bernardo no hospital.
Lisa estava com 7 centímetros de dilatação. O meu receio era de ter
que ficar para ajudá-la na hora do parto. Nada contra, porém estava muito
assustada para ver isso agora. Não sei como eu vou lidar quando for a
minha vez.
Eu estou apavorada!
— Você está bem, senhora? — perguntou uma enfermeira a mim.
— Ah, sim! — respondi.
A enfermeira nos deixou sozinhas. Estava com medo de ficar perto
da Lisa, ela estava bem mais agressiva do que o normal.
— Onde está o maldito do Enzo? — perguntou. — Acho que o
nosso filho só está esperando o cretino do pai chegar para ele nascer,
enquanto isso eu vou ficar sofrendo de dor.
— Ele já está vindo, Lisa — respondi me distanciando mais dela. —
O Lorenzo deve ter planejado algo para chegar mais rápido.
— Hope, eu te amo, mais está difícil não querer socar você agora —
falou me assustando ainda mais. — Faça o seu marido trazer o meu marido
agora, antes que eu mate os dois.
Peguei o meu celular e logo tratei de ligar para o Lorenzo.
— Onde vocês estão? — choraminguei.
— Estamos esperando o helicóptero. Daqui uns 30 minutos eu
chego aí — respondeu. Ter que aturar a Lisa por 30 minutos me deixou
ainda mais apavorada. — Está bem?
— A Lisa está me assustando, vem logo. Peça para o Enzo se
preparar porque a Lisa está mais assustadora do que no parto do Nando —
disse.
— Hope disse que ela está pior do que no parto do Nando. —
Escutei o Lorenzo repassar para o Enzo que logo soltou um “Caralho”.
Desliguei o telefone, voltando toda a minha atenção para a mulher
assustadora que estava a minha frente.
— Ele já está chegando?
— Sim, o Lorenzo pediu um helicóptero, ele daqui a pouco chega
— disse.
— Pode segurar a minha mão, Hope? — pediu Lisa.
Não, eu estou tentando manter distância de você.
Isso era o que eu queria responder. Porém, não deixaria a minha
irmã sozinha em um momento como esse.
— Tudo bem! — disse.
Segurei sua mão, sentindo todos os ossos da minha mão serem
quebrados com a força da Lisa. O tempo passou e logo a médica voltou.
Olhou a dilatação da Lisa e viu que não dava mais para esperar.
— Ela terá que dar à luz agora — disse a médica. — Está com 9
centímetros de dilatação, se ela der uma forçada, já dará para ver a cabeça
do bebê.
Oh, céus! Onde está Enzo?
— Hope, você entrará comigo — disse Lisa. — Não ouse me deixar
sozinha.
— Eu vou ficar... — Fui interrompida com Enzo entrando na sala.
— Cheguei! — falou. Ele estava um pouco suado e ofegante.
— Vai trocar logo essa roupa, Enzo — disse Lisa implorando pela
rapidez do marido.
— Vou ficar lá fora. Qualquer coisa me avise, tudo bem? — disse.
— Lorenzo está lá fora, pode deixar que eu assumo daqui — disse
Enzo.
Caminhei para fora da sala, até que vi o Lorenzo em pé, escorado na
parede. Caminhei até ele.
— Parece cansada... — Não deixei que ele terminasse e o abracei.
— O que foi?
— Promete que quando for o nosso filho você estará comigo —
falei. — Lisa estava com tanto medo de que Enzo não chegasse, não sei se
ficarei assim também.
— Eu estarei, nem que eu tenha que derrotar um batalhão, estarei ao
seu lado — disse Lorenzo.
Suas palavras me acalmaram.
— Quando foi a vez da Alessandra, ela sofreu muito no parto? —
perguntei.
— Não sei, como eu já havia dito, não acompanhei a gravidez da
Alessandra. Está com medo de quando for a sua vez?
Lembro que a Lucy disse que o Lorenzo não era de conversar com a
Alessandra quando estavam casados. Tanto que até em relação a filha ele
não estava muito interessado, já que se casou obrigado a isso. Foi quando
ela nasceu que ele sentiu esse lado mais paternal.
— Um pouco — admiti.
— Não precisa se preocupar, eu estarei ao seu lado e não sairei até o
nosso filho nascer — falou depositando um beijo na minha testa. — Quer
ficar até o seu sobrinho nascer ou quer ir para casa?
— Quero ficar — disse mais empolgado agora.
O tempo foi passando e nada de notícias da Lisa. Até que a minha
mãe aparece toda sorridente.
— Nasceu — falou, me abraçando. — 3.400 kg e 49 cm.
— Podemos ver? — perguntei.
— Só pelo vidro — respondeu.
Caminhamos até lá. Enzo já estava observando o seu filho, todo
babão.
— Como está a Lisa? — perguntei a ele.
— Cansada — respondeu. — Agora está descansando e pediu para
que eu não tirasse os olhos dele até que a levasse até ela.
Lisa era bastante paranoica. Ele apontou para onde o Bernardo
estava, me enchendo de alegria ao ver ele dormindo.
Meu Deus, era o Enzo todinho, nem parece que nasceu da Lisa.
— Os cabelos são claros. Loiro ou ruivo? — indagou Enzo.
— Começamos com as apostas — brincou a minha mãe.
— Parabéns, irmão! — disse Lorenzo o abraçando.
Ficamos um tempo admirando Bernardo. Era inexplicável como um
ser tão pequeno poderia nos encher de amor assim.
— É melhor irmos para casa, o dia foi agitado para você — disse
Lorenzo no meu ouvido.
Me despedi deles, entrando no carro.
Não demorei para adormecer, acho que estou sendo drogada, não é
possível vir tanto sono de mim.
Acordei com Lorenzo me colocando na cama.
— Nossa, eu dormi — disse assustada por não ter acordado até
chegar aqui.
— Eu até te chamei, mas você não acordou — falou. — Vou fazer o
jantar. Tome um banho, ficará mais relaxada.
Lucy ainda estava na casa de Lisa, havia me esquecido disso.
— Tenho mesmo que tomar banho? Estou com preguiça, não quero
— disse.
— Quer que eu te ajude com isso? — Lorenzo se deitou por cima de
mim. — Posso te animar mais.
Quem negaria? Lorenzo beijou o meu pescoço, sempre mantendo o
peso do seu corpo nas suas mãos.
— Não me canso de te cheirar — falou, ainda beijando o meu
pescoço. — Seu cheiro é tão bom!
— Você conseguiu resolver o que foi fazer?
— Sim — respondeu, me encarando. — Não se preocupe.
Beijei os seus lábios, sentindo a mão firme do Lorenzo na minha
bunda.
— Vou tomar cuidado para não os machucar — falou, descendo os
beijos para os meus seios.
Senti os lábios do Lorenzo beijando delicadamente todo o local,
dando leves mordidas por onde passava. Eu estava precisando disso.
Depois de uma noite prazerosa, fui tomar banho, enquanto Lorenzo
fazia o jantar. Queria que todos os dias fossem assim. Lorenzo brincalhão e
mais simpático. Gostava desse seu humor, tinha medo dele voltar a ser
como antes, mas, por hoje, não me preocuparei com isso.
Amanhã veria a Alessandra, até lá, também tentaria não pensar
muito no que ela aprontou nos últimos dias.
Pela manhã, aguardava a Alessandra. O Lorenzo já havia saído para
a boate e talvez demorasse um pouco por lá. Minha relação com Lorenzo
estava estável. Estávamos nos dando muito bem e isso estava sendo ótimo
para mim.
Gostava do jeito que ele estava me tratando e o fato de demonstrar
que ficava preocupado comigo.
O meu único medo era me apaixonar por ele. Sei que ele está assim
comigo por conta do nosso filho e receio que quando o bebê nascer, o
Lorenzo volte com as suas arrogâncias, mas de certa forma ele estava
começando a entrar no meu coração.
Não tinha mais como evitar aquilo.
— A senhorita Moretti está na sala lhe aguardando — informou
Red, me tirando dos meus devaneios.
Desci para encontrá-la, temerosa com que ela diria.
— Merida, há quanto tempo! — disse Alessandra assim que me viu.
— Vejo que já está se exibindo com a sua barriga.
— Cresce do dia para noite — falei. — Vamos conversar no quarto
da Lucy, não quero que ninguém saiba da nossa conversa.
Levei-a até o quarto. Não confiava nessa casa de jeito nenhum.
Deve ter escutas em todos os lugares daqui. Havia pedido para Lucy me
emprestar o seu quarto por alguns minutos, como sempre, ela me
emprestava sem reclamar.
— O que aconteceu para ter sumido? — perguntei assim que
chegamos.
— Eu estava em Milão com um homem muito gostoso. Se você ver
o tamanho do pa... — a interrompi rapidamente.
O jeito que ela falava forçadamente me fazia ter dúvidas do que ela
realmente foi fazer.
— Sem detalhes, por favor!
— Enfim, curti uns dias fora. Por quê? Não acredito que acha que eu
fiz algo a Beatrice ou acha? — indagou.
— O meu medo é esse. Achei que você tivesse a matado, eu
certamente me culparia. Vai que ela puxa o meu pé a noite — disse e
Alessandra riu.
— Não seja tão bondosa, Hope. Isso hoje em dia é uma estupidez —
falou. — Eu não precisei fazer nada.
— Como assim? — perguntei curiosa.
— Conversei com o Lorenzo sobre alguns assuntos pendentes que
tínhamos e disse coisas que ele não sabia. Não precisei sujar as minhas
mãos, o Lorenzo a expulsou da famiglia.
O quê?
Era isso que me surpreendia em Lorenzo.
Mil coisas aconteciam lá fora, mas, quando ele chegava dentro de
casa, vestia uma máscara como se estivesse tudo bem na máfia.
— Ele a expulsou? — perguntei surpresa. — Por quê?
Um membro ser exilado era a maior vergonha entre as máfias.
Nenhuma outra máfia aceitaria um membro deserdado sem colocá-lo em
funções ou cargos piores.
Ela deve ter retornado para a máfia do marido e certamente será
rebaixada por ter sido exilada da máfia que nasceu.
— Tem coisa nessa história que é melhor você não saber — falou.
— Beatrice saiu da jogada, soube que a Bianca também, e eu só estava
querendo que o Lorenzo não esquecesse da minha existência. Então agarre
o seu homem, Hope.
— Você ainda está nessa — disse. — Não diga bobagens, o
Lorenzo não é o meu homem. De qualquer forma, ele faz o que quer, o
tanto que eu não seja punida, está ótimo para mim.
— Lorenzo não está dormindo com ninguém além de você há alguns
meses — falou. Não nego que eu fiquei surpresa por escutar aquilo,
principalmente com o tempo que ele ficou sem se comunicar comigo, achei
que ele não aguentaria ficar tanto tempo sem sexo, já que não estávamos
fazendo antes dele ter matado o meu pai e eu ter surtado achando que ele ia
me matar. — Ficou surpresa como eu sei disso? Consigo ser bastante
persuasiva quando eu quero.
— Como sabe disso? Lorenzo viver sem sexo? Até parece. Sempre
que ele chega aqui, eu sinto um perfume que não é o dele.
— Como eu disse, conversei com ele e algumas coisas foram se
revelando aos poucos. Não é querendo aliviar para o lado do Lorenzo, até
porque ele é um desgraçado, mas ele anda em boates resolvendo os
problemas, você acha que lá é um lugar sem ninguém? É lotado, pessoas se
esfregam umas nas outras, pode acontecer disso. Lorenzo tem procurado
mais você ultimamente e ficado mais ao seu lado?
Parando para pensar isso estava acontecendo. Apesar do Lorenzo
viver fora de casa, ele estava mais presente do que o de costume e em
relação ao sexo, Lorenzo estava me procurando mais, ficando ainda ao meu
lado quando acabávamos.
Afastei esses pensamentos, não precisava me iludir ainda mais.
Lorenzo não é homem de uma mulher só.
— É melhor não falarmos sobre isso.
— Sei, sei! — disse Alessandra. — E como está a vida de casada?
— Estamos nos dando muito bem. Na verdade, o Lorenzo não é tão
grosseiro como era antes e isso está melhorando a nossa relação conjugal.
— Pelo menos você teve sorte nesse casamento com ele. Lorenzo
sempre permanecia longe de mim e depois que eu engravidei ele me
colocou para dormir no quarto de hóspedes. Eu nunca me importei, até
porque eu tinha a minha vida boa. Até que nós nos divorciamos. No começo
não nego que fiquei puta da vida, a minha mordomia de vida boa estava
com os dias contados, porém o Lorenzo me ajuda bastante financeiramente.
Eu só infernizava mais a sua vida porque fiquei com medo dele cortar o
dinheiro que me dava depois que se casasse.
— Você foi terrível nas primeiras semanas que eu te conheci —
disse. — Quis te depenar toda vez que te via.
— Está me chamando de galinha? — perguntou rindo e eu assenti.
— Eu não gostava de você. O que eu posso fazer, você me intimidava.
— Eu? Por quê? — indaguei.
Fiquei sem entender. Como uma mulher como a Alessandra se
sentiria intimidada por mim?
— Tenho certeza que não sou só eu. A Bianca, a Beatrice e qualquer
outra mulher que passou pelo Lorenzo deve sentir o mesmo. Antes mesmo
dele se casar com você já dava para ver como ele te tratava diferente de
todas nós — comentou.
— Ele não me trata não, sempre foi arrogante e bem mandão —
disse.
— Pode até ter sido, mas não é igual como é conosco — falou. —
Lorenzo é totalmente grosso e ríspido em relação a qualquer mulher que
não seja a Lucy ou alguém da sua família. Ele nos destrata e toca o foda-se
para cada uma de nós. Com você é tudo muito filtrado. Veja como ele trata
a Bianca e veja como ele te trata, tem um enorme contraste nisso tudo. Se
você diz que quer sair de uma festa, o Lorenzo pode até fazer uma birra,
mas deixa você ir. Se fosse eu por exemplo, ele teria me arrastado para uma
sala e teria me castigado.
— Ele deve ter um interesse nisso tudo — tentei argumentar.
— Então vejamos, quantas vezes já foi castigada por ele? — Ela não
me esperou responder. — Tenho certeza que nenhuma.
— Teve sim, no dia do rifugio quando eu desliguei na cara dele
antes de nos casarmos. Ele torturou um homem na minha frente.
— Ele te assustou, não castigou. Ele te ameaça de te castigar, mas
nunca acontece. Você é a mais privilegiada de todas nós. Lorenzo deve
sentir algo por você desde o dia que te viu, ele só deve ser que nem você,
nega tudo. Acha mesmo que o Lorenzo ainda dividiria a cama, deixaria
você viver ‘livre’ de certa forma dos castigos e da mordomia que tem aqui
se não sentisse nada por você!? O quão ingênua você é?
— Alessandra, escute... — disse sendo interrompida por ela.
— Escute você, Hope. Você pode fazer Lorenzo comer na palma da
sua mão e não usa esse seu poder para tirar vantagem dele — falou. — Você
pode ter o mundo aos seus pés, é só você querer.
— Eu não sou assim, Alessandra.
— Sei, bondade e compaixão sempre — zombou e eu ri. — Só estou
lhe informando que sua vida pode melhorar.
Antes que eu dissesse algo, escuto batidas na porta.
— O patrão pede a sua presença no seu escritório — disse um dos
seguranças de Lorenzo.
— Está na hora de eu ir — disse Alessandra.
— Avise que eu já estou indo, só vou acompanhar a senhorita
Moretti até a porta. — O avisei.
Acompanhei Alessandra até o seu carro e me despedi dela.
Caminhei até o escritório do Lorenzo com o coração na mão, sem saber
qual seu interesse.
Dei duas batidas na porta, avisando que eu estava entrando. Lorenzo
estava com cara de poucos amigos.
Que bicho o mordeu hoje?
— Sì? — disse assim que entrei.
— Sente-se! — falou ficando em pé, apontando para o sofá.
Caminhei até o sofá silenciosamente. Lorenzo veio até mim e se
sentou ao meu lado.
— Fiz algo de errado? — perguntei.
Não aguentei a curiosidade e perguntei.
— Você não fez nada de errado, então não precisa se preocupar. Pedi
para que viesse aqui porque tenho que explicar algumas coisas a você, mas
primeiramente, está bem? — perguntou.
— Sim, fiquei um pouco enjoada pela manhã, mas só foi isso —
respondi.
Fiquei curiosa para o que Lorenzo falaria. Não nego que já estava
nervosa e com o coração na mão. O que era tão importante para que o
Lorenzo precisasse me explicar?
— Certo! — falou. Lorenzo passou a mão pela sua barba que já
estava um pouco grande do que o habitual. Deixava-o ainda mais sexy. —
Daqui a duas semanas viajaremos para o casamento da minha prima, filha
da irmã do meu pai.
— Tudo bem! — disse. Não quis mostrar nervosismo de pensar em
um casamento cheio de Ferraro. Minha sorte que no nosso o Lorenzo não
quis nenhum deles além da sua família e o seu tio. — Mas por que está me
avisando agora?
— Era esse o ponto que eu quis chegar — falou. — O casamento
será no domingo daqui a duas semanas, porém terá uma festa na sexta-feira
e no sábado uma despedida de solteiro. Isso não é importante, mas sim que
iremos ficar hospedados na casa de férias da minha tia. Minha família toda
estará lá e passará o final de semana conosco.
Certo, muita gente junta, o que pode dar errado?
— Bem, mas ainda não entendi o que isso me envolve.
— Hope, eu estou te dizendo para que se prepare nessas semanas.
Esse final de semana vai rolar de tudo naquela casa, orgias, drogas e brigas.
Não tenho uma relação boa com a minha família, então fique preparada
para tudo. Não posso negar a minha presença nesse casamento, se não
estaria quebrando uma das minhas leis. Infelizmente são os meus parentes e
teremos que ir.
— Lorenzo... — Me interrompeu.
— Você irá, é a minha esposa e não ficará aqui. Ficarei ao seu lado o
tempo inteiro, é só não se misturar com ninguém, ruivinha.
Já estou tento um treco antes do tempo.
— Não precisa ficar assustada — falou passando a mão na minha
barriga. — Você não se incomoda, não é!?
— Ah, não, eu gosto — disse rápido.
— Estava com Alessandra, o que conversaram?
— Nada demais, ela falou um pouco da viagem que fez — disse
omitindo a maior parte da conversa.
— Viraram amigas mesmo — comentou rindo. — Quem diria, a
Alessandra interagindo com alguém.
— Sim! — confirmei.
Lorenzo parecia um pouco pensativo. Não sei se era preocupação
devido a esse final de semana na casa dos seus parentes.
— Será que conseguiremos ver o sexo na próxima consulta? —
perguntou mudando de assunto.
— Acho que já dará para ver — respondi. — A Doutora Olivia na
última consulta não conseguiu ver muito bem pela posição que o bebê
estava, mas acho que agora já vai dar para ver melhor.
Assim espero, não aguento mais a curiosidade.
— Você já tem algum palpite?
— Não sei, o tanto que venha com saúde, está ótimo! — falei. — A
Lucy acha que será uma menina, mas não sei de onde ela tirou isso. Red
acha que é um menino, o Thony disse a mesma coisa.
— Sonhei esses dias com uma menina também — disse Lorenzo. —
Mas eu não me importo também se for menino ou menina.
Lorenzo sonhou? Era inacreditável imaginar o Lorenzo pensando na
possibilidade de ser uma menina, mas mais inacreditável ainda era ele ter
falado para mim que sonhou. Ele nunca que teria comentado comigo se
fosse antes.
— Mas a liderança não quer que seja menino? — perguntei.
Era isso que me preocupava. Se for uma menina e a liderança
mandar eu abortar, eu enlouqueceria.
O Lorenzo já se casou com o propósito de ter um sucessor para
liderar no seu lugar, como aqui só pode ser líder se for um homem, uma
menina poderia me trazer problemas, principalmente porque eu era de uma
patente baixa e a única coisa que me mandaram fazer eu não fiz
corretamente.
— Se nascer uma menina, poderemos tentar de novo até que venha
um menino — falou já com um sorriso malicioso nos lábios.
Lorenzo sabia dos problemas que ocorreriam se fosse uma menina,
mas do jeito que é, ele não me preocuparia com esses assuntos. Lorenzo
afastou a sua mão da minha barriga, colocando na minha cintura.
Ele logo me colocou no seu colo sem problema algum, colocando
suas mãos no meu quadril.
— O que você está fazendo para me deixar tão louco assim por
você, ruiva? — perguntou enquanto beijava meu pescoço. — Você um dia
irá me enlouquecer, ragazza.
Sempre ficava surpresa quando Lorenzo falava algo assim para
mim.
Ele foi muito indiferente no começo, apesar de sempre apontar os
traços que gostava em mim, ele mesmo sendo um cretino, ele me elogiava
absurdamente.
Não nego que eu me sentia maravilhosa quando ele descrevia esses
pontos positivos quando me olhava. Cresci a vida inteira sendo chamada de
mestiça, sardenta, que nenhum outro homem me olharia e saber que o Capo
reconhece essa beleza que eu não enxergo em mim, eleva até um pouco da
minha autoestima.
Meu pai teve um grande percentual nisso tudo, sempre nos
rebaixava em casa e nos fazia sentir inferiores. Uma das coisas que mudou
em mim depois do meu casamento.
Lorenzo poderia até ser grosseiro, o que eu ainda acho ruim apesar
de não receber mais as suas grosserias, mas eu sinceramente gostava de
mesmo sem estar arrumada, ele me elogiava, nem que seja os meus olhos
ou o meu cheiro.
Notava esses detalhes nele. Apesar de ele gostar muito de apontar
isso, via que ele realmente descrevia coisas em mim que ninguém se
importaria, sem ser fisicamente, ele via algo que os outros nunca viram em
mim e isso realmente me fez ver que eu tinha um lado bom e que eu não era
aquilo que o meu pai dizia.
— Ficou pensativa. O que foi? — indagou.
— Nada, eu só gosto de como você me olha — disse e ele sorriu.
— Eu queria passar cada segundo da minha vida só te observando,
Hope — falou, passando a mão por alguns fios do meu cabelo.
Sorri timidamente, dando um beijo em seus lábios. Suas mãos foram
para as minhas coxas e eu logo senti o Lorenzo ficando de pé, me
segurando firmemente. Lorenzo continuava a me beijar, saindo do seu
escritório.
Chegamos no nosso quarto e ele me pôs sobre a cama.
— Lucy já vai nos chamar para o jantar — avisei.
— Vou tentar ser rápido — falou enquanto me beijava.
— Cuidado com os meus seios, estão mais doloridos hoje — disse
entre os beijos.
— Certo! — falou, me ajudando a tirar o vestido.

Depois de uma rapidinha, fomos tomar banho juntos.


— Você ainda vai sair? — perguntei.
— Terei que resolver algo no depósito — respondeu. — Por quê?
— Achei que já tivesse resolvido os problemas.
— Tem alguns pendentes que estão sendo bastante demorados —
falou.
Ele não ia me dizer, jamais traria os problemas de fora para dentro
de casa.
— Essa semana eu vou poder ir para casa da sua mãe para o clube
do livro ou ainda é perigoso?
— Se quiser ir pode, mas eu aumentei a segurança — falou.
Já era bem a quarta vez que ele aumentava, andava com mais de
quarenta homens atrás de mim, olha que eu nem estou contando com os
homens que já andam com Red quando ele está cuidando da minha
segurança.
— Certo! — respondi, terminando de tomar banho. — Eu vou trocar
de roupa e descer.
Lorenzo ainda ia tomar banho, já que ele só ficava me olhando sem
se molhar.
— Avisa a Lucy que eu não vou jantar aqui — pediu.
— Certo! — disse, me enrolando com a toalha. — Lorenzo, eu vou
descer, está bem!?
— Sì!
Da última vez ele ficou muito assustado, não sei o que estava
acontecendo, mas ele estava preocupado com algo que não envolvia a
máfia, talvez algum problema pessoal. Saí do banheiro e fui para o closet.
Coloquei uma camisola e um robe, descendo para jantar.
— Lucy, o Lorenzo não vai jantar conosco — disse.
Ele sempre se esforçava para jantar junto comigo, podíamos passar
o dia sem se ver, mas sabia que no jantar ele aparecia, então ele sair assim,
me deixa bastante curiosa, porque isso está acontecendo com frequência.
— Soube do casamento — disse Lucy se sentando comigo na mesa
de jantar. — Tente ficar longe das primas do Lorenzo.
— Sério que o Lorenzo levou até elas para cama? — perguntei
indignada.
Esse homem não perdoa ninguém.
— Não, ele odeia todos os seus parentes. Só avisei porque o título
de esposa do Capo ainda é de bastante interesse entre as mulheres,
principalmente as da família dele — disse Lucy. — Corrigindo, fique longe
de todos eles. Não vale a pena. Sei que a senhora Telma e as meninas
devem ir, então fique perto delas. A família do Lorenzo só pensa em três
coisas: sexo, dinheiro e poder. Claro que a maioria deles comandam os
cassinos e cabarés que rodam a Itália, já que não fazem parte de nada que
envolve a máfia. O Lorenzo não deixou que eles fizessem parte dos
negócios dele, só o Leonel e o seu pai, o que causou mais uma briga na
família. Também tem o motivo do Lorenzo ter aprisionado eles lá.
Então o Lorenzo tinha uma raiva da família.
— Por quê? — perguntei. — Lorenzo diz que não gosta da sua
família, mas no primeiro momento os defende.
— O único familiar fora os pais do Lorenzo que ele é próximo, é só
o Leonel, o Lucca e a Ruth. Lorenzo não confia nenhum pouco nos seus
parentes, tentaram derrubar o senhor Diego quando ele era Capo, então
Lorenzo baniu os demais dos seus negócios, fazendo com que cada um
arrumasse o seu próprio trabalho sem precisar dele. Por isso o título de
esposa deve estar em alta nesse casamento que acontecerá. Uma vida boa,
vivendo as custas do Lorenzo, quem não queria!? Também tem o fato deles
não poderem mais sair da cidade onde moram. Nem eu sei o motivo disso,
Lorenzo nunca comentou comigo e olhe que eu já tentei saber. A
implicância que ele tinha com o Leonel, o pai e o Lucca, foram desde a
morte da Antonella, antes disso, eles eram bem unidos.
— Mais brigas entre essa família — disse. — Estou um pouco
assustada, se com o Leonel, o Lucca, o Pietro e o Enrico só falta morrerem
de brigar e o Lorenzo fica se metendo, isso é que ainda eles se gostam,
imagina esse pessoal junto, brigando e se odiando. Santo Cristo!
— Só ficar perto do Lorenzo. Sei que nas festas deles só tem
libertinagem e muita depravação. A Giulia e a Emma com certeza não
levarão os filhos.
— Isso não ajuda muito, Lucy — disse já assustada.
— Vai ficar tudo bem! — falou tentando me acalmar. — Só cuidado
com a família dele.
Era só o que faltava. O silêncio foi interrompido pelo Lorenzo
entrando na cozinha.
— Estou indo! — falou dando um beijo na testa da Lucy, logo se
aproximando de mim. — Não fique sozinha.
— Eu sei.
— Qualquer coisa me liga — falou dando um beijo em meus lábios.
Não era ele que me dizia que eu só devia ligar quando tivesse
morrendo.
— Tome cuidado! — disse.
— Eu sempre tomo, ruiva — falou, dando uma piscadela.
Lorenzo saiu da cozinha, nos deixando sozinhas.
Estava bem nervosa com a situação com a família de Lorenzo. Eu
tinha medo de acontecer algo sério nessas discussões entre eles.
O que eu posso esperar desse final de semana? De família louca já
bastava a minha.
Espero que passe rapidamente.
Para meu desespero, as semanas se passaram rapidamente. Hoje era
sexta-feira, já se passava do meio-dia quando terminei de organizar a minha
mala com a Lucy.
Ontem, no clube do livro, a Dona Telma fez questão de contar mais
algumas coisas sobre a família do Sr. Diego e confesso que eu nunca mais
reclamo da minha. Um queria sempre derrubar o outro, sempre cobiçando
as posses dos irmãos. Depois que o Sr. Diego se tornou Capo, a briga entre
a família só aumentou. A inveja destruiu todo o pilar de harmonia que um
dia existiu, fazendo com que o Sr. Diego e o Leonel, de certa forma, se
separassem dos seus familiares, criando os seus filhos longe deles, mas
houve uma fala específica de minha sogra que me fez refletir:
— Sei que o meu marido e os meus filhos deixaram de serem
pessoas boas. Essa vida tem um custo muito alto. Você recebe o poder, mas
perde a decência e a paz. Tudo de uma hora para outra pode desaparecer.
Seus inimigos aumentam a cada dia, não importa qual decisão você tome,
sempre optaram para o pior, a guerra. Nunca conheci pessoas tão
desprezíveis como quando conheci a família Ferraro. O Diego, o Leonel, o
Lorenzo, o Pietro, o Enrico e o Lucca, podem até ser pessoas ruins na
maior parte das vezes, mas sempre colocam cada um deles como
prioridade, sempre pensando no bem-estar do resto da família, mas nunca
chegaram aos pés dos parentes que têm. Pessoas ruins, fazendo questão de
mostrar os monstros que têm dentro deles. Não se engane com os sorrisos
ou a simpatia que demonstrarem a você, eles te destroem aos poucos sem
ao menos perceber, te punindo com tudo que eles podem usar.
Eu estou bastante assustada e espero que esse final de semana passe
rápido.
Lorenzo pediu para que eu fosse a médica hoje para ver se estava
tudo bem. Apesar de já está com 18 semanas, saber o sexo do bebê estava
mais difícil do que ganhar na loteria. Estava tudo normal comigo e com o
meu filho. Seu peso estava ótimo, o problema ainda eram os enjoos. A
médica mudou o meu remédio de antes e esse parece funcionar.
— Já está pronta? — perguntou Lorenzo me tirando dos meus
devaneios.
Estava trocando de roupa e não vi o tempo passar.
— Sim — respondi.
Lorenzo se aproximou de mim, me abraçando por trás.
— Quase optei por ir de carro para Milão — falou no meu ouvido.
— 6 horas presa comigo dentro de um cubículo, você não me escaparia.
— 6 horas comigo vomitando, seria um pesadelo para você — falei
e ele riu. — O casamento será em Milão?
Eu tinha uma certa mania de sempre fugir das cantadas do Lorenzo.
Talvez fosse o medo de gostar daquilo e sentir falta quando ele não fizesse
novamente.
— Sim, o clima de lá está chuvoso, então se prepare para o frio —
falou.
— Não preciso me preocupar, já que eu vou ficar agarrada em você
— disse, dando uma piscadela. — Me esquentará esse final de semana, Sr.
Ferraro.
Lorenzo ficou em silêncio.
No começo, não entendi o seu silêncio repentino, mas me toquei que
eu nunca havia flertado com ele dessa maneira. Era ele quem sempre
começava e sempre fiquei calada. Mas eu queria tentar, talvez ele se
sentisse tão bem como eu me sinto quando ele fala comigo.
— Bom saber que você não sairá dos meus braços esse final de
semana — disse Lorenzo beijando levemente os meus lábios. — Mas agora
temos que ir, o jatinho já está nos esperando.
Descemos e logo entramos no carro. Lorenzo disse que a viagem
duraria apenas 2 horas no máximo. Queria eu que Lorenzo desistisse de
última hora.
Não tinha um pressentimento muito bom.
Já estávamos no jatinho, Lorenzo conversava com um dos
comissários de bordo. A viagem estava sendo a pior possível. Não sei se era
o ambiente fechado ou a turbulência, mas eu estava bem enjoada. Era
horrível, até com os olhos fechados sentia tudo girar. Talvez o nervosismo
de conhecer a família do Lorenzo era o que estava me deixando assim.
— A senhora quer uma água? — perguntou uma das comissárias.
Na última vez que eu viajei com Lorenzo, ele não levou nenhum
deles, hoje tem três aqui.
— Ah, sim! — disse.
Enquanto ela trazia minha água, peguei o remédio que a médica me
receitou.
— Está se sentindo bem? — perguntou Lorenzo se sentando na
poltrona ao meu lado.
— Um pouco enjoada — disse.
— Um pouco?
— Na verdade, bastante — respondi quase em um choro.
— Vem, vou te levar para cama.
Ele colocou a mão da minha cintura, me guiando para que eu não
caísse com o balanço do avião. Me sentei na cama, esperando a moça trazer
a minha água. Quando ela apareceu, tomei o remédio e me deitei.
— Daqui a pouco eu volto e me deito com você — falou.
— Não precisa se preocupar, eu estou bem — menti.
— Hope, sabe que eu não gosto quando você faz isso — falou. —
Só vou lá no comandante e volto já.
Lorenzo caminhou para a cabine, sumindo do meu campo de visão.
Me virei para ver o céu pela janela. Estava tudo tão tranquilo, mas não
conseguia dormir, nem para descansar um pouco.
Conseguia sentir meu cérebro indo de um lado para o outro.
Cristo amado! Que sensação ruim.
Estava prestes a chorar, pensando em talvez me jogar desse avião
certa de que mortas não sentem enjoo, mas, depois de alguns minutos,
Lorenzo apareceu.
— Ainda não dormiu? — perguntou se deitando ao meu lado.
— Não, estou enjoada demais para isso — respondi um pouco
manhosa.
Lorenzo me puxou para mais perto dele, colocando a minha cabeça
sobre o seu peito.
— O comandante disse que pousaremos em 30 minutos. Aguentará
até pousarmos?
— Logo eu melhoro, é só um mal-estar repentino — disse o
tranquilizando. — Por que hoje tem outras pessoas aqui?
— Isso te incomoda? — perguntou e eu neguei. — Da última vez
tinha, antes era apenas um rapaz. Já que agora você está grávida, achei
melhor ter outras pessoas aqui conosco. Um deles é formado em
enfermagem, caso precisasse.
— Ah, sim!
— Agora durma um pouco para ver se melhora — falou.
Ficamos em silêncio e Lorenzo começou a passar os dedos pelo meu
cabelo, sentindo a suavidade no percurso que ele fazia. Meus olhos
começaram a pesar, me aconcheguei mais perto do seu pescoço, logo
adormecendo.

Acordei com um reboliço.


Abri os olhos lentamente, tentando me acostumar com as luzes de
faróis no meu rosto. Logo percebi que eu não estava mais no jatinho e sim
em um carro. O tempo estava frio e o barulho da chuva lá fora prendeu a
minha atenção.
Era tudo muito bonito, mesmo já anoitecendo, dava para ter uma
imagem de como era maravilhoso durante o dia. Olhei para o lado e
Lorenzo estava com a sua atenção no celular e sequer me notou acordada.
— Por que não me acordou? — quis saber.
— Você parecia cansada e não eu atrapalharia o seu sono —
respondeu olhando para mim. — Se sente melhor?
— Ainda enjoada, mas bem — disse, o acalmando. — Já estamos
chegando na casa da sua família?
— Sì — Lorenzo se aproximou ainda mais de mim. — Já deixei Red
ciente do que fazer caso eu precise sair.
— Sair? Você não pensa em me deixar sozinha com eles? —
choraminguei. — Me leve com você, por favor!
— Não faça isso com os olhos — falou, me encarando.
Lorenzo parecia desconfortável ou tímido, não sei precisar.
— O quê? — perguntei.
Não havia entendido nada.
— Isso com os olhos. — Apontou para eles. — Esse olhar...
Esquece, só não faça, por favor.
Não conseguia pensar em algo em mim que lhe deixasse tão
estranho. Não havia feito nada, talvez seja porque eu sou bastante manhosa
e persuasiva quando quero, mas agora, no momento, eu não estava fazendo
isso.
— Tudo bem, desculpe — disse ainda sem entender.
Esse homem é louco!
— Já disse que não precisa ficar se desculpando, Hope.
Já era de mim, eu não conseguia não falar. Vem como uma resposta
rápida que o meu cérebro utilizou para quando eu fizesse algo errado ou que
eu não entendesse, para que eu não fosse punida.
Obrigada pai, por essa mania horrível.
— Chegamos, senhor! — disse o motorista.
Logo chegamos em frente a uma enorme propriedade. Ela tinha o
seu charme e sofisticação. Era enorme, deve ser bem onde eles costumavam
se reunir antes da família cair aos pedaços.
Era uma casa gigantesca, coberta por madeira e flores nas paredes.
Havia um enorme campo e várias casinhas ao lado. Parecia que havia feito
alguma mudança recentemente pelo cheiro de tinta que eu sentia mesmo
estando no carro.
— Antes que eu esqueça, não aceite nada deles. Quando eu digo
nada, é nada mesmo. Comida, objetos, papéis ou que porra eles te
oferecerem, mandem se foder e saia. Eu e a minha família nunca aceitamos
nada, nem quando eu era criança, então não confie neles, entendeu?
— Sì — respondi. Essa coisa do pai deve ter realmente feito a
família ficar mais paranoica aqui. — Lorenzo, mas o que eu vou comer?
— Você só vai comer comigo ou com o Red. Tenho um amigo na
cidade e ele vai cuidar das nossas refeições — falou. Ele realmente ficava
mais possessivo aqui. — Te levarei ao restaurante desse meu amigo caso
não queria comer no quarto.
— Você sabe que eu estou comendo bastante e a todo minuto, não
creio que isso dará certo — disse.
Tentei fazer ele desistir e me levar para a nossa casa. Coisa boa não
era para tanta desconfiança.
Em pensar que nem no nosso casamento eles foram, realmente não
era de me deixar confortável aqui.
— Você aguenta, Hope.
Calada estava, calada fiquei.
Quando carro finalmente parou, Red saiu do carro da frente, vindo
até nós.
Meu coração acelerou. Não sabia o que eu encontraria durante esse
final de semana.
Assim que descemos do carro, o Lorenzo logo fechou a cara se
mostrando sem muita paciência para hoje.
— Andiamo! — disse Lorenzo.
Ele segurou na minha mão e seguimos para dentro da casa. Red
vinha atrás de nós, também com a cara fechada. Quando entramos, vi o
quão linda a decoração era.
— Red, certifique-se de que o quarto que ficaremos não tem
nenhuma câmera ou que porra seja que nos observe — disse Lorenzo. Red
assentiu e saiu.
Sério que ele acha que a família estaria nos monitorando?
Chegamos em uma enorme sala de estar quando os meus olhos se
depararam com a enorme quantidade de pessoas que ali havia. Todos muito
bem arrumados e chiques. Eu estava com um vestido simples e uma
rasteirinha, me sentindo bastante desconfortável com os olhares.
Ora, droga, se eu soubesse que era para vir arrumada eu teria
vindo!
— Acho que eu preciso trocar de roupa — falei no ouvido do
Lorenzo, me escondendo um pouco atrás dele.
— Não será necessário.
Para você não, já que está todo bem-vestido de terno.
Dona Telma e o Sr. Diego logo se aproximaram de nós, junto com o
Leonel, a sua esposa e Lucca.
— Os figlio di puttana resolveram dar uma festa e não nos avisaram
— disse Sr. Diego. Ele percebeu o meu constrangimento, já que eu estava
simples demais para a ocasião.
Que eu soubesse a festa era amanhã, já que o casamento era no
domingo. Eu segurei o braço do Lorenzo, parecendo um peixinho fora
d’água. Logo Pietro e o Enrico se aproximaram de nós com as suas esposas.
— Finalmente chegaram — disse Emma para nós dois.
— Capo! — disse um rapaz um pouco mais novo que o Sr. Diego se
aproximando de nós. — Por que demoraram tanto para chegar?
— Não acho que isso seja da sua conta — respondeu Lorenzo.
— Deixa de querer se meter na vida do meu filho, seu figlio di
puttana — falou Sr. Diego.
Pronto, começou a briga.
— Olha o jeito que você criou os seus filhos, eles não tem um pingo
de respeito pela família — retrucou o senhor um tanto enfurecido.
— Cala a porra da boca, tio Davis — disse Lucca. — Quando abre a
porra da boca eu quero atirar em mim de tanta merda que fala.
— Não viemos aqui para brigar. — disse uma mulher se
aproximando de nós. — Domingo será o casamento da minha filha mais
velha, quero que seja tudo perfeito e em família. Tratem de se comportarem.
— Não quer briga, mas é a primeira que começa, sua vaca
manipuladora — disse Leonel.
Vejo que deve haver uma rixa entre os dois.
— Olhe... — Ela ia dizer algo, mas foi interrompida por Lorenzo.
— Se vocês não calarem a boca, eu vou cortar a língua de cada um
— disse olhando para todos ao redor. — Ainda estamos na Itália, caralho,
eu ainda tenho poder sobre vocês. Se alguém ousar desobedecer, eu os mato
antes mesmo dessa porra de casamento acontecer.
Todos rapidamente ficaram em silêncio. Não nego que achava muito
atraente quando o Lorenzo falava assim. A autoridade que saía da sua voz e
as pessoas se encolhendo no cantinho com medo... era até excitante.
— Desculpe, Capo! — disse o tal do Davis e a outra mulher. —
Estamos com convidados, juntem-se a nós.
— Tenho mais o que fazer — disse Pietro saindo junto com a Giulia.
— Nem fodendo! — disse Enrico. — Se quisessem a nossa
presença, teria nos avisado mais cedo que aconteceria algo a noite. Vão
todo mundo se foder!
Logo Enrico saiu acompanhado da Emma. Estava louca para que
Lorenzo fizesse o mesmo.
— Andiamo! — disse Lorenzo me levando para a multidão.
Ele está de brincadeira comigo?
Não era ele me mandando ficar longe da família dele e na primeira
oportunidade me arrastava para onde essas pessoas estão em maior
concentração? Mas logo me lembrei do motivo. Tínhamos que ser
acessíveis a todos, conversar, nos enturmarmos só para mostrar que o Capo
e a esposa são próximos dos membros da famiglia.
— Prazer, eu sou a Victória, irmã do seu sogro — disse uma mulher
estendendo a mão para mim. Era a que agora a pouco brigava com todos.
Ruth empurrou a mão dela para que não tocasse na minha, passando
na frente.
— É uma prazer — respondi tentando não mostrar o meu
nervosismo. — Sou a Hope.
— Esses são... — Leonel interrompeu a irmã.
— Ela terá o desprazer de conhecer o resto dos familiares depois —
falou. — Deixa de encher a porra do saco dela.
Ela pareceu não gostar do que o irmão fez, mas pelo jeito que
Lorenzo havia falado agora há pouco, ficou calada. Meu marido começou a
cumprimentar alguns convidados. Acho que eles não eram da sua família, já
que o Lorenzo falava educadamente e civilizadamente com cada um deles.
— Lorenzo — disse uma ruiva falsificada, abraçando-o e me
empurrando para o lado. — Belo vestido — falou, agora olhando para mim
com o seu olhar debochado.
Nada contra, mas odiei essa garota.
— Está amassando o meu terno, caralho — reclamou Lorenzo.
— Desculpe, estava com saudades de você — respondeu um pouco
constrangida.
— Bruna, finalmente te encontrei! — disse uma moça loira se
aproximando da ruiva que agora sei que se chama Bruna. Quando ela viu
que Lorenzo estava presente, logo sua atenção foi para ele. — Há quanto
tempo, Lorenzo!
— Preste bem atenção, Bruna e Safira — disse olhando para as
duas. — Não sei porque porras vocês acham que tem intimidade comigo,
mas me chamem de Capo, entenderam?
— Desculpe, Capo! — disse a tal da Safira. — Obrigada por virem
ao meu casamento.
Então era ela que iria se casar.
— Bela festa! — disse tentando ser simpática e fui ignorada.
Que se ferre isso de ser acessível! Não vou mais falar com ninguém,
até porque ninguém fala comigo. Me sentia invisível. Era como se eu não
estivesse aqui.
Ninguém falou comigo nem para me dizer um “oi”. Não que eu
quisesse, mas fingirem que eu não estava ali me deixava brava. As pessoas
não me davam atenção, não por causa do Lorenzo, mas porque eu não era
importante o suficiente para que eles precisassem de mim para ganhar algo.
Observava o ambiente cheio, notando como os olhares no Lorenzo
eram desconfortantes.
Pelo cargo, creio eu, que todos aqui aproveitariam a oportunidade de
conseguir algo usando simpatia e muita bajulação.
— Lorenzo, eu posso subir? Eu estou cansada e enjoada — sussurrei
no seu ouvido.
Não estava mentindo, mas preferia evitar os olhares.
— Eu não subirei agora e Red saiu para comprar algo para você
comer — respondeu no meu ouvido. — Não ficará lá em cima sozinha.
Que saco!
— Tudo bem — respondi cabisbaixa.
— Que porra, Hope! — falou passando a mão no seu cabelo.
— O que eu fiz? — perguntei.
— Fica jogando sujo me olhando assim — falou.
Eu não fiz nada.
Lorenzo segurou na minha mão, me guiando pela enorme sala. Ele
foi para perto do tio, tentando nos afastar da multidão que tentava falar com
o Lorenzo a cada segundo.
— Irei subir e não quero que me incomodem — disse Lorenzo ao
tio.
— Já? Mal chegaram e temos convidados... — disse a sua tia
Victória foi interrompida por Lorenzo.
— Minha esposa não está se sentindo muito bem, então vou ficar
com ela no quarto.
— Ela não pode ficar sozinha? — falou uma senhora. — Que mau
costume é esse que deu para os seus filhos, Diego? Não largam as esposas
por nada. Não criei vocês desse jeito e não gosto de como os meus netos
foram criados.
Ela era avó do Lorenzo? A senhora tinha um semblante que julgava
até a grama por ser verde demais. Talvez a arrogância da família começasse
por ela.
Ficava surpresa por nenhum momento o Lorenzo apresentar a
família, eu descobria quem era observando suas ações.
— Vó Matilde, não me faça mandar a senhora ir para casa do
caralho e cuidar da sua vida — disse Lorenzo. Realmente ele não tinha
nenhum pingo de respeito por ninguém daqui. Nem quero saber o motivo de
odiar tanto os seus familiares além do que envolve o pai. — Da minha
esposa cuido eu.
Lorenzo não prolongou mais a conversa e me levou para o andar de
cima sem se despedir do pessoal. Nos encontramos Leonel no caminho.
— Te deixo encarregado em meu nome para lidar com eles — disse
Lorenzo.
Acho que porque o Lorenzo era o Capo, tinha que ficar sempre no
meio desse pessoal, tentando formar alianças com alguns dos convidados.
— Certo — respondeu Leonel saindo, já que era o Sottocapo.
Subimos para o quarto que era enorme. Havia uma cama no centro
do quarto, com uma janela com a melhor vista para o jardim, claramente
querem agradar Lorenzo.
— Tome banho, eu vou fazer uma ligação — falou indo para a
varanda.
Ele não estava do jeito que eu o conheci, mas também não estava do
jeito que costumava ficar comigo nas últimas semanas. Talvez fosse o clima
pesado dessa família e que, de certa forma, estava se afastando um pouco de
mim.
Tomei o meu banho e vesti a minha camisola. Me arrependi por não
ter trazido uma roupa de frio apropriada para o clima durante a noite.
Ainda chovia bastante lá fora, o que o Lorenzo não pareceu se
importar já que ainda estava no telefone. Sorte a dele que havia pelo menos
algo para ele se proteger da chuva que caía do céu. Até pensei em olhar lá
fora para ver a vista enquanto Lorenzo falava ao telefone, mas vi que ele
parecia sério e não atrapalharia a sua ligação.
Resolvi me deitar, enquanto aguardava Red com o jantar. Depois de
alguns minutos, ele apareceu.
— Você está sozinha? — perguntou assim que entrou no quarto, me
entregando o jantar.
— Não, o Lorenzo está em uma ligação na varanda — respondi. —
Já comeu?
— Sim — respondeu Red. — Parece agitada.
— Nem conheci essa família direito, mas tenho uma sensação muito
ruim.
— Não deixe que te intimidem, isso eu aprendi nos longos anos
servindo ao Lorenzo — falou. — Observo você nas reuniões das mulheres,
a sua postura mudou muito desde o primeiro dia, seja assim aqui fora
também. Você é a esposa do líder, mostre quem é.
— Me sinto um pouco intimidada, lá nas reuniões, a minha sogra
me ajuda muito. Agora eu sei mais o que dizer e o que não falar, também
como mostrar autoridade para que confiem em mim. Vou tentar trabalhar
mais isso aqui.
Apesar das reuniões serem apenas 1 vez no mês devido aos últimos
acontecimentos. Eu sentia que agora estava começando a me desprender de
muitos anos que me sentindo inferior. Isso do cargo de líderes das mulheres
me auxiliava no meu desempenho. Havia me encontrado em algo que eu
nunca pensei que poderia acontecer.
— Vou ficar aqui fora de vigia, qualquer coisa me chame — falou,
já saindo do quarto.
Me aproximei da varanda para chamar Lorenzo.
— O jantar chegou — disse.
Lorenzo colocou o telefone sobre o peito para abafar a nossa
conversa.
— Pode comer, depois eu janto — disse Lorenzo se virando
novamente, falando ao telefone.
Tudo bem!
Não nego que estava muito entediada. Poderíamos só ter vindo para
o casamento, já que parece que eu ficarei presa nesse quarto. Quando
terminei de jantar, já havia escovado os meus dentes e estava me
preparando para me deitar, quando escutei uma batida na porta.
Seria Red?
Caminhei até a mesma e quando abri, me surpreendi com a avó do
Lorenzo na minha frente. Ele nunca havia falado sobre a sua família, então
saber que ele tinha avó, tios e tias, fora o Leonel e vários primos, me pegou
de surpresa.
— Oh, oi! — disse sem disfarçar o espanto que foi vê-la ali. —
Chamarei o Lorenzo.
Quando eu ia sair, ela segurou a minha mão.
— Queria falar com você mesmo — disse a senhora. Vi que Red
permaneceu de olho na nossa conversa. — Peça para o seu segurança dar
uma volta enquanto conversamos.
Odiei o olhar de desprezo que ela jogou sobre ele. Um olhar
preconceituoso, talvez pela cor dele.
— Não, Red não está permitido de sair de perto de mim — respondi
tentando me mostrar firme. — O que quer falar comigo?
— Vejo que não é muito diferente da ex-esposa do Lorenzo.
Alessandra era petulante assim como você — comentou rindo para que não
soasse como uma ofensa essa sua alfinetada. — Mas não vim aqui para
falar disso, vim saber mais sobre a esposa do meu neto. Não vai me
convidar para entrar?
Olhei disfarçadamente para o Red que fez um não com cabeça.
— Não é permitido a entrada de ninguém no quarto, ordens do seu
neto — disse tentando me livrar dela.
O que ela queria saber de mim? Eu não tinha nada para falar. Ela
soltou uma risada cínica, colocando a mão na boca para rir.
— Garota, não sei quem você pensa que é, mas sou a avó do
Lorenzo, ele não me deixaria ficar plantada em pé em frente à sua porta —
falou.
Ele deixaria sim, sem nem pensar duas vezes. Ela estava tentando
jogar comigo e eu conseguia perceber o seu joguinho.
— Me desculpe, mas a senhora não entrará — disse. — Se quiser
falar comigo, será aqui mesmo. Senão, passar bem.
Red sorriu orgulhoso. Se fosse outro dia eu talvez sairia correndo
para não ter que responder.
— Não fomos devidamente apresentadas, sou a Matilde Ferraro —
falou tentando não se mostrar afetada com o fato que os seus jogos não
surtiram efeito.
— Sou Hope.
— Quando se apresentar a alguém, use o seu sobrenome — corrigiu.
Pelo amor de Deus, qual o problema desse pessoal?
— Só Hope está ótimo para mim — falei.
Como comecei a liderar o grupo das mulheres, comecei a impor
mais. Mesmo que ainda eu seja muito medrosa, era melhor do que antes.
Estava cortando qualquer relação que ela quisesse ter comigo. Dona
Telma deixou bem claro que não era para confiar neles. Não ia dar liberdade
para me controlar, principalmente ela.
— Temos um grupo e nos reunimos aos sábados — começou.
Percebi o interesse dela.
— Não posso vir sempre para cá.
— Peça para o Lorenzo vir morar aqui. Será melhor criar o seu filho
perto dos parentes do seu marido.
Não será não!
Seja lá o que eles queriam com isso, não ia pedir para vir morar
aqui. Tenho a minha família lá e não aceitaria isso.
— Lorenzo não aceitaria... — Ela me interrompeu.
— Será o melhor para o seu filho — insistiu.
A senhora Matilde ia passar a mão na minha barriga, mas outra mão
a impediu a tempo.
— O que faz aqui? — perguntou Lorenzo enfurecido.
Ele me olhou e desaprovou por eu estar conversando com a sua avó
na porta.
— Não posso vir ver o meu neto? — falou. Seu olhar foi para a sua
mão que o Lorenzo ainda segurava. — Não posso tocar na barriga da sua
esposa?
Não, vai que roga uma praga no meu filho?
— Não quero que chegue perto da minha esposa — disse Lorenzo.
— Agora... — Ele não esperou terminar de falar, apenas fechou a porta na
cara da sua avó.
É porque ela disse: Ele não ia me deixar plantada aqui fora.
Até parece.
Lorenzo caminhou para perto da cama e me fitou um pouco
aborrecido.
— O que foi isso, Hope?
— Escutei alguém batendo na porta e achei que era Red. Eu ia te
chamar, só que ela não deixou — disse.
— Já disse que não quero você perto da minha família.
— Se não me queria, então por que me trouxe? — disse. Eu que não
ia levar a culpa de novo por algo que eu não fiz. — Eu não sou igual a você,
Lorenzo. Não fecho a porta na cara dos outros e não sei ser grosseira. Não
me peça para ser assim, porque eu não sei ser. Você disse que ficaria
comigo, mas, tecnicamente, você não estava. Você ficou na varanda
enquanto eu estava aqui, sozinha, à mercê deles. Então não me culpe ou
brigue comigo por isso.
Lorenzo apenas me olhava. Não disse nada. Ele se aproximou de
mim, me abraçando.
— Me desculpa — falou. — Quando eles aparecerem novamente,
grite e me chame. Red está lá fora, poderia pedir para ele jogar ela da
escada ou dar um tiro na velha.
Eu ri e ele se aproximou mais do meu rosto.
— Lorenzo... — disse hesitando em falar, já que eu não sabia o
quanto o assunto poderia ser delicado. — Se eu perguntar algo, você
promete não ficar bravo?
— O que quer saber?
— Promete não ficar bravo? — perguntei de novo.
— Não sei, depende do que seja — falou e eu fiquei em silêncio. —
Prometo, Hope.
— Por que não gosta da sua família?
— O problema foi com o meu pai e nos envolveu. Eles são sacanas
e eu não quero corromper a sua cabeça com assuntos que envolvam a minha
família — falou. — O quanto menos souber sobre a minha família, melhor
será.
Não matou a minha curiosidade, mas tudo bem, melhor que nada.
— Certo.
— Amanhã é a despedida de solteiro. Fique perto de mim e não fale
com ninguém — falou enquanto beijava o meu pescoço.
Pelo pouco que eu conheci sobre a família dele, permaneceria
calada. Agora eu entendo porque ele me pede tanto para ficar na minha.
— Não consigo pensar direito quando você me olha assim — disse
Lorenzo.
Ele continuou a me beijar até chegar nos meus lábios. Lorenzo me
colocou nos braços e me levou até a cama.
— Eu estou um pouco enjoada. — disse. A comida estava querendo
voltar.
— Tudo bem! — falou parando de me beijar. — Precisa de algo?
— Não — falei. — Pode ir comer, deixei a comida na mesa.
— Não estou com fome, vou ficar aqui com você.
— Lorenzo, você não comeu nada, vai comer — disse.
— Está treinando para quando for o nosso filho? — Indagou ficando
em pé se aproximando da mesa. — A ruiva está mandona hoje —
murmurou baixinho.
Lorenzo se sentou, começando a comer. Acho que ele nem sentia
mais fome, ele passa tanto tempo sem se alimentar que eu não sei como ele
não passa mal. Me ajeitei na cama, querendo logo dormir. Única coisa boa é
que o meu sono não mudou, eu dormia muito e a cada instante.
Acordei no meio da noite com muito frio.
Fui até o armário atrás de algo para me enrolar, mas não achei nada.
Lembrei que talvez o Lorenzo tenha tirado tudo que estava no
quarto.
Voltei para cama e tentei acordar o meu marido.
— Lorenzo... — o chamei.
Ele nem se moveu. Para quem não dormia, ele estava dormindo
demais. O chamei mais algumas vezes até ele acordar.
— O que foi? — perguntou sonolento.
— Estou com frio e não achei nenhum cobertor aqui.
Lorenzo se levantou e saiu do quarto.
Para onde ele foi? Os minutos passaram e nenhum sinal dele.
Devo ir atrás dele?
Melhor não, do jeito que essa família é, devem esperar para me
encontrar sozinha e fazer algo. Fiquei sentada na cama, ainda com frio, sem
entender nada. Logo a porta do quarto foi aberta, era o Lorenzo com uma
pilha de cobertores.
— Caso você sentisse mais frio, eu trouxe alguns a mais.
— Não precisava de tanto assim — falei.
— Você pode ficar doente por causa do frio.
Peguei um cobertor e me deitei.
— Obrigada por ter ido atrás disso — disse.
Lorenzo se achegou mais a mim, me abraçando.
— Durma, acordaremos cedo.
— Certo — disse, me aproximando do seu pescoço, eu gostava do
seu cheiro.
Estava com sono e não demorou para que eu dormisse de novo.
O que faríamos pela manhã?
Pela manhã, acordei com um friozinho bom. O céu ainda estava
nublado e duvido muito que fosse parar de chover hoje. Percebi que estava
sozinha na cama. Pela surpresa, me sentei tentando olhar ao redor do quarto
para ver se encontrava Lorenzo. Quando os meus olhos se acostumaram
com a claridade, vi que ele não estava no cômodo.
Ele me deixou sozinha?
Desliguei a luz do abajur, que Lorenzo deixava ligada para caso eu
fosse ao banheiro, quando escutei um barulho vindo do banheiro, era o
chuveiro ligado.
Q é que consegue tomar banho nesse frio?
Aparentemente, só o Lorenzo.
Permaneci sentada, esperando a coragem aparecer para que eu me
levantasse.
— Já ia te acordar — disse assim que saiu do banheiro, secando o
cabelo com a toalha.
— Para onde vamos?
O que estaria aberto em plena 05:30 da manhã de sábado?
— Um lugar — respondeu. Sério? Quando Lorenzo falava assim, já
sabia que não era da minha conta. — Só iremos fazer uma tradição idiota de
família.
— Tradição? — Os Ferraro tinha o hábito de fazer tradições
familiares? — Isso é por causa do casamento ou só por que estão todos
juntos? Não me lembro de algo assim em meu casamento.
— Hope... — disse Lorenzo.
— Não é da minha conta, desculpa, força do hábito — disse.
— Já falamos sobre a sua mania de se desculpar.
Lorenzo nunca entenderia o porquê dos pedidos de desculpa já que
era homem e as nossas regras e condutas eram totalmente diferentes.
— Estou indo tomar banho — avisei, saindo da cama.
Entrei no banheiro e logo tomei coragem para me enfiar de baixo da
água. Estava um pouco nervosa para hoje, principalmente porque o Lorenzo
não disse nada e parecia ainda mais incomodado com algo.
— Quando chegarmos lá e te pedir para olhar para o chão, você
olha, tudo bem? — Falou enquanto escovava os dentes.
Não nego que eu fiquei um pouco assustada. O que eu não poderia
ver?
— Certo — disse.
Já estava pronta. Optei por um vestido longo, com uma cor mais
neutra, também que fosse rápido de tirar depois. Lorenzo, por sua vez,
estava todo arrumado de terno, então já percebi que era algo importante.
Red trouxe o nosso café da manhã e comemos ali mesmo. Fiquei
constrangida, já que o tio do Lorenzo veio aqui nos chamar para tomar café
e foi ignorado. Parece que não só ele, já que o Red havia comprado comida
para os irmãos e os pais do Lorenzo.
— Só para caso tenha esquecido, não fale com ninguém e não aceite
nada da minha família.
Como esquecer se Lorenzo faz questão de me lembrar a todo
instante?
— Eu sei, Lorenzo.
Sem prolongar o assunto, ele se calou. Descemos, a Dona Telma e o
Sr. Diego já aguardavam na sala.
— Onde estão todos? — perguntou Lorenzo.
— Devem estar se atrasando de propósito para ver quem mata quem
primeiro — disse Leonel se aproximando de nós.
— Que inferno! — reclamou Lucca ficando do meu lado. —
Ninguém aqui sabe ser pontual não?
Parece que o resto da família não. Acho que fizeram de propósito.
— Vamos aguardar Enrico e o Pietro chegarem — disse o Sr. Diego.
— Oi, ruivinha! — disse Lucca dando uma piscadela.
— Oi, Lucca! — respondi, sorrindo amigavelmente.
— Queria ser o Enzo agora, não precisaria vir para cá... — disse
Lorenzo encostando as costas no sofá.
— Está linda, Hope! — disse Lucca.
— Lucca, não vai matar o tédio arranjando confusão — disse Ruth
ao filho.
— Relaxa, estava só brincando, a ruiva sabe — falou. Eu duvidava
no começo, agora parecia só mais uma brincadeira. — Você é linda, mas,
sinceramente? Não é o meu tipo, só estava tentando tirar o Lorenzo do sério
antes.
— Eu sei, por isso mandava ela ficar longe de você, seu puto —
retrucou Lorenzo.
— Vai se fuder, acordei cedo e não tem um filho da puta acordado
ainda? — disse Enrico fazendo questão de gritar para todos os cantos da
casa. — Que porra!
— Onde está o Pietro e a Giulia? — perguntou Dona Telma ao
Enrico.
— Não sei, passamos lá no quarto deles, mas não havia ninguém —
informou Emma.
— Aqui — falou Pietro entrando na sala. Ele estava com um
pequeno corte no canto da boca. — Dia de merda, ainda junto com esses
arrombados, é que fode tudo.
— O que é isso na sua boca? — Apontou Lorenzo para a pequena
ferida.
— Já resolvi com o causador disso — respondeu Pietro.
Já entendo que aconteceu uma briga, mas agora, com quem? Pietro
me lembra Lorenzo, ambos esquentadinhos.
— O que vai ser, Lorenzo, vamos ficar aqui esperando a boa
vontade desses bundões descerem? — perguntou Lucca.
Lorenzo se sentou no sofá, bem despreocupado.
— Dou permissão para acordá-los da melhor forma possível —
falou.
Seu sorriso diabólico me fez arrepiar. Deu o presente que as crianças
queriam.
— Era isso que eu queria escutar, caralho! — disse Enrico animado.
Sr. Diego e a Dona Telma foram esperar no carro. Leonel e a Ruth
permaneceram na sala conosco junto com a Emma e a Giulia.
— O que pretende fazer? — perguntou Pietro ao Lucca.
Eles aparentam ser tão unidos, que nem parecem que brigam 24
horas por dia.
— Pensei em atirar neles — disse Lucca.
O Pietro, o Enrico e o Lucca olharam para Lorenzo esperando a
aprovação dele.
Sério?
Me sentei ao lado de meu marido, olhando-o um pouco preocupada
pela sua resposta.
— Que graça teria atirar neles hoje e não os infernizar o resto do
final de semana? — respondeu Lorenzo destruindo os sonhos dos seus
irmãos e do seu primo.
— Só acordem logo os malditos, tenho mais o que fazer — disse
Leonel olhando as horas no seu relógio de pulso.
Os rapazes subiram bem animados. Pietro não foi, ficou do lado da
esposa. Todo mundo estava muito despreocupado, será que com o tempo eu
irei me acostumar com isso?
— Acho melhor a gente subir, antes que algum daqueles arrombados
machuquem o Enrico ou o Lucca — disse Pietro ao irmão.
— Leonel, não deixe ninguém chegar perto da Hope — informou
Lorenzo já em pé.
Lorenzo e Pietro cuidavam muito deles dois. Vejo que eu e a Lisa
somos do mesmo jeito com a Kitty, a diferença era que não saímos brigando
com todo mundo. Pelo menos algum sentimento eles têm.
Eles dois subiram bem calmos, sumindo do nosso campo de visão.
Uma barulheira infernal veio do andar de cima. Uma mistura de gritos e
vidros se quebrando.
— Não se preocupe, eles estão bem — disse Giulia a mim.
Depois de um tempo, Lucca veio rindo com o braço em cima dos
ombros de Lorenzo. Nem parecia que até algumas umas semanas atrás eles
brigaram.
— Já terminaram? — perguntou Leonel e os rapazes confirmaram
que sim. — Andiamo!
Caminhamos para onde os carros estavam nos esperando. Lorenzo
não disse uma palavra sequer, mas ele havia gostado do que fez lá em cima.
Entramos no carro, apenas nós dois.
— Esperaremos o resto deles descerem — avisou Lorenzo ao
motorista.
— Você está bem? — perguntei.
Seja lá o que ele fez lá em cima, queria saber se estava machucado
ou não.
— Estou! — respondeu.
Logo o resto da família apareceu. Cada um entrou nos seus carros
que já os aguardavam. Estavam bem mal-humorados. Certamente queriam
nos fazer esperar por horas, mal sabiam que Lorenzo odeia atrasos.
O motorista acelerou o carro, nos tirando daqui. Não demorou muito
para chegarmos em um campo, quase como um estádio. Escutava barulhos
de relinchos de cavalos vindo de dentro da enorme propriedade.
O que eles vão fazer aí?
Apenas acompanhei Lorenzo, prestando atenção em tudo.
— A festa de solteiro vai ser naquela espelunca que eles chamam de
cabaré — reclamou o Sr. Diego a nós, já olhando o cronograma que deram
na entrada informando o que aconteceria no dia de hoje.
Hoje eu ganho mais uma galhada na cabeça.
— Não precisamos ficar até o fim. Avise aos outros que só prestem
as suas felicitações e podem se mandar — disse Lorenzo.
Lorenzo falava essas coisas, mas sempre ficava até o final.
— Cuidado para não se assustar lá dentro, ruiva — disse Lucca
passando por mim rindo.
Imediatamente olhei para Lorenzo.
Entramos, logo indo para o nosso lugar marcado. A visão que eu
tinha era de um enorme campo, com as arquibancadas cheias de pessoas
que duvido que não fossem ricas.
Elas estavam com uma folha em mãos e havia empregados ao lado
de cada uma delas com umas placas enumeradas.
Na verdade, não pareciam empregados, e sim, escravos. O jeito que
eles estavam vestidos e com um olhar sofrido, aquilo me incomodou muito.
Havia uma mesa no meio do campo, onde tinha muitas ferramentas.
— Não diga nada — disse Lorenzo já sabendo que eu falaria algo.
Ele parecia não querer ter problemas com a família e eu não queria
dar motivos para isso. Porém aquilo era desumano. Enquanto os patrões
comiam e bebiam na sombra de seus guarda-sol, os coitados estavam no sol
e com uma cara de que não comia bem há meses.
— Lorenzo, isso pode? — Perguntei no seu ouvido.
— Estamos tentando mudar isso. São traidores ou ladrões que estão
com eles em pé. Apesar de tudo, eles são membros da famiglia e famiglia a
gente não abandona — disse Lorenzo olhando para os empregados. — Se
for para ser punido, será com as nossas leis.
Talvez aqui fosse bem diferente de onde morávamos.
— Já vai começar, venha. — Escutei Enrico falar com a Emma.
Logo ela se aproximou do marido cobrindo os olhos com os folhetos.
Olhei ao redor e Dona Telma e a Giulia faziam a mesma coisa. Até a
Ruth estava cobrindo os olhos para não ver o que estava prestes a acontecer.
Não faltou muito para alguns membros da família do Lorenzo chegar em
cima de seus cavalos.
Ao todo eram 8 pessoas, vi que entre eles estavam tio Davis e o
futuro marido da Safira, Luiz.
— Hoje será um dia importante. Hoje o Luiz fará a nossa tradição e
já se tornará membro da nossa família — dizia o Davis muito empolgado.
Não demorou quando um grupo de homens entrou no campo. Eles
estavam sujos de sangue e com correntes no pescoço. A família do Lorenzo
logo pegou os seus tacos e uns machados que estavam da mesa.
Não queria acreditar no que estava enxergando. Eles vão matar
aqueles homens na frente de todos? Que esporte louco e sádico era esse?
Que tradição mais estúpida era essa?
— Venha! — disse Lorenzo me chamando para ficar mais próxima
dele.
— Eles vão machucar aqueles homens?
— São traidores, Hope. Não se meta nos assuntos da minha família,
se não sobrará para você, está entendendo? — falou.
— Mas Lorenzo... — Lorenzo me interrompeu.
— Está me entendendo, Hope? — insistiu.
— Sì!
Lorenzo colocou a sua mão no meu queixo delicadamente.
— Obedeça, por favor — falou olhando nos meus olhos. — Se fazer
algo errado aqui, eles te punirão, está na propriedade deles.
Não respondi, apenas me aconcheguei mais perto dele, colocando o
meu rosto próximo ao seu pescoço. Não queria ver, mas certamente
escutaria o que viria a seguir.
— Vamos começar! — gritou um rapaz.
Eu estava com um misto de sentimentos. Nojo, repulsa, raiva, era
tudo o que eu conseguia sentir naquele momento. Eram pessoas ruins? Sim,
mas quem aqui que não era? Agora eu entendia porque Lorenzo disse que
era uma tradição idiota.
Eles pareciam gostar de brincar com as pessoas que estavam
correndo tentando se salvar naquele campo. Risos, pedidos de ajuda e de
perdão era o que eu conseguia escutar.
— Número 8 foi derrubado — disse um rapaz.
Logo a plateia gritava e ria animada.
— Quero ir para casa, Lorenzo — disse.
— Já está acabando — respondeu.
Agora que derrubaram um, quem dirá o resto.
— Dê para ela. — Escutei Leonel falar com o Lorenzo.
Lorenzo logo me entregou um protetor de ouvido para que eu não
escutasse o barulho.
— Obrigada! — agradeci.
Me senti até mal por um dia não ter gostado do Leonel. Coloquei no
ouvido, só fez abafar o som, ainda dava para escutar bem de longe o que
falavam, mas era melhor do que nada. O tempo passou e eu ainda estava
aqui.
Lorenzo passava a mão na minha barriga e isso me acalmava tanto.
— Terminou — falou Lorenzo tirando os tampões do meu ouvido.
— Olhe apenas para o chão.
Escutei que era o mesmo que o resto dos rapazes falavam para as
suas esposas. Lorenzo me guiou para fora daqui.
Eu estava tão enjoada... choraria por dias se pudesse. Isso me fazia
lembrar da sensação de morar com o meu pai. Eu não sei se era pelo
desespero ou pelos gritos e as surras, mas esse lugar era muito parecido
com o meu ambiente familiar antes de me casar.
— O que acharam? Hoje foi um dia bom para jogar — disse um
senhor.
Acho que era da família, mas não sei se era próximo ou não deles.
— Uma merda — disse Lucca. — Vocês todos vão se foder!
— Horas da minha vida que não serão recuperados — reclamou
Enrico.
— Vocês se afastaram e quebraram a nossa tradição. — disse a avó
do Lorenzo se aproximando de nós. — Meus dois filhos se casaram, meus
netos também e não teve tradição nenhuma no casamento de vocês. Cheios
de traidores para serem mortos e vocês sem cumprir a tradição da família
Ferraro. Nem nos convidaram para o casamento.
Ainda bem!
Acho que foi por isso que a Dona Telma criou a tradição da coroa de
flores nos casamentos dos filhos, pelo menos era alguma coisa.
— Acha que eu faria meus filhos fazerem uma bobagem dessas? —
disse Sr. Diego. — Mãe, a gente tem mais o fazer. Acha que somos
desocupados que nem vocês?
A Dona Matilde pareceu não se importar pelo comentário do filho.
Ela logo depositou sua atenção em mim e isso me apavorou, principalmente
porque eu estava na propriedade deles e eles podem achar que qualquer
coisa que eu fale seja ofensivo só para me castigar.
— O que achou do nosso esporte? — perguntou a avó do Lorenzo a
mim.
Eu sei o que eu queria responder.
Esporte? Quão idiota vocês são? Caçam com pessoas, as matam na
frente de gente mais idiotas que vocês, que ainda pagam para ver uma
coisa assim.
Mas infelizmente não foi isso que eu respondi:
— Não... — disse sendo interrompida pelo Lorenzo.
Ainda bem!
— Não importune a minha esposa com as suas perguntas estúpidas
— falou.
— Seu garoto mal-educado, eu ainda sou a sua avó, então tenha
respeito por mim — retrucou.
— Cala a boca, mãe! — disse Sr. Diego. — Se fosse pela senhora,
eu já teria matado os meus filhos para roubar as coisas que eles
construíram.
Ui, uma alfinetada grande essa!
— Ela fez isso com você também? — perguntou o Leonel ao irmão.
— Essa daí é pior que cobra. Porra, erramos feio na família que tivemos.
— Muita conversa e eu tenho mais o que fazer — reclamou
Lorenzo. — Nos veremos a noite.
Lorenzo saiu me puxando para fora, sem querer se despedir dos
demais presentes no local. Entramos no carro e Red, que estava no banco da
frente, parecia preocupado com algo.
— Está tudo bem, Red? — perguntei próxima a ele.
— Estava preocupado com você lá dentro — respondeu.
— Você irá para casa e o Red permanecerá no quarto com você —
disse Lorenzo. — Ele já sabe que só é para você sair daquele quarto, só se a
casa estiver pegando fogo ou for invadida. Não abra a porta para ninguém,
deixe que morram de chamar, a não ser se for a minha mãe ou as meninas.
— Certo — respondi. — Você vai sair?
— Tenho que sair com os meus irmãos e provavelmente o meu pai e
o Leonel. Você não ficará sozinha e não precisa ter medo — falou.
Eu não estava com medo, estava apavorada!
Não demoramos para chegar em casa, já que parece que até onde
eles podem andar por aqui era limitado. Lorenzo me deixou em frente a
porta do quarto, se despediu e saiu.
— O dia foi cansativo, não foi? — disse Red se sentando na
poltrona.
— Mentalmente horrível — disse, me sentando na cama. — Você
sabia que a família do Lorenzo fazia isso nas suas tradições?
— Sim, o Capo me informou há alguns anos e já presenciei uma
vez. Por isso estava preocupado com você, o patrão já havia me avisado que
era para ficar de prontidão caso algo acontecesse e precisasse tirar você
dali.
— Algo acontecesse? — questionei.
— Sim, você falar algo e a família dele não gostar. Você poderia ser
punida por isso, sabia?
Ainda bem que eu fiquei calada. Achei melhor ficar assim até sair
dali.
— Só quero ir para casa — choraminguei. — Eles me assustam
muito.
— O patrão não vai deixar que nada te aconteça — disse Red. —
Ele está muito diferente do que era antes. Vejo ele preocupado com você e
sendo bem-humorado, até brincando, não parece ser o Lorenzo dos últimos
4 anos. Antes de tudo acontecer, no caso, antes da morte da pequena,
Lorenzo tinha ainda os seus problemas, mas nunca deixou isso interferir na
vida. Ele sorria mais, falava mais, ele vivia mais. Realmente a morte da
Antonella foi como um tsunami que passou e levou tudo que tínhamos.
Acho que porque nunca esperávamos que isso acontecesse.
Todos sempre falavam dela com tamanha saudade, que parecia até
que eu a conhecia.
— Você não foi o único que me disse isso. Gosto de ver o Lorenzo
assim, ele parece estar se adaptando melhor na vida que tem agora — disse.
— Red, posso conversar com você, mas não quero que conte ao Lorenzo.
Red logo tirou o seu paletó, ficando apenas com a camisa por baixo.
— Sim, não estou tecnicamente de serviço — brincou. — Não sairá
daqui, pode falar.
— O quão estúpida eu seria, se eu me apaixonasse pelo Lorenzo?
— Amor não é estupidez, Hope — falou. — Sei que você foi criada
para achar que ninguém te amaria e só te trataria como um objeto, mas o
amor é bem mais do que isso. Amar muda as pessoas, tanto para o bem,
quanto para o mal. Não vejo isso como uma falha ou como uma fraqueza.
Apesar que aqui isso pode ser bastante ruim, já que o seu marido tem
muitos inimigos, mas ele te amando ou não, você será sempre um alvo.
Você terá que ficar casada com ele pelas leis, então tire proveito desse
casamento. Ame e faça com que ele veja o que você vê. Acho que isso não
é muito difícil devido as últimas circunstâncias, o patrão deve sentir o
mesmo, só é bruto demais para admitir.
— Obrigada, Red — disse. — Eu tenho medo, ainda não sei de quê,
mas eu tenho. Tenho medo do Lorenzo usar o meu amor contra mim
mesma. Tenho medo de me tornar mais fraca do que eu já sou nessa
famiglia por conta desse amor. Só queria que as coisas fossem mais fáceis.
— Não pense, as vezes temos que nos perder para encontrar o
verdadeiro caminho — falou.
Fiquei pensando naquelas palavras. Minha vida seria essa e eu
poderia escolher se eu a queria diferente ou não.

Já a noite, o Lorenzo ainda não havia chegado. Me arrumei logo


para aguardá-lo. Desta vez optei por um vestido um pouco colado, com uma
fenda na perna. Talvez por ele ser o único que cabia em mim dos outros que
trouxe.
— O patrão ligou, ele pediu para descer com você — disse Red.
— Ele não vai se arrumar?
— Acho que ele já está pronto. — Respondeu. — Agora vamos,
antes que alguém dessa família apareça. Tenho receio de não me segurar e
atirar em todo mundo aqui.
A família do Lorenzo faz transparecer o pior lado de todo mundo.
Desci calmamente com Red, ficando sempre atenta aos corredores. Não
demorou muito para chegarmos no carro.
— Está linda! — disse Lorenzo assim que eu entrei no carro.
Ele já estava vestido elegantemente com o seu terno.
— Obrigada! — disse e retribui o elogio a ele.
O caminho para o tal cabaré foi silencioso e rápido. Assim que
chegamos e entramos no local, fiquei surpresa pelo luxo. Por fora não daria
nada pelo lugar, mas ao entrar, você percebe que o luxo é o que não falta
aqui.
Apesar de tudo, ainda parecia uma boate. Música alta, pessoas
bebendo, strippers em todos os lugares e uma péssima iluminação. Fora
isso, estavam todos muito arrumado, esbanjando dinheiro nos cassinos que
havia nos andares seguintes, já que eu vi o que tinha em cada andar pelo
saguão de entrada.
— Fazer a festa de solteiro aqui foi inteligente da parte da sua
família — comentei.
— Por quê? — perguntou Lorenzo.
Fiquei surpresa por ele ter escutado devido ao som alto.
— Eles ganham e comemoram ao mesmo tempo — expliquei. —
Chamar pessoas que estão a fim de mostrar suas fortunas e gastar tudo o
que tem aqui achando que será apenas uma festa, fora que tem essa boate
que cada garota aqui deve ser bem caro, já que transparecem ser as
melhores e as mais experientes da casa. Eles estão fazendo a festa e
ganhando em cima dela com o que os convidados "consumirem". Bastante
espertos na verdade.
— Não cansa de me surpreender, ruiva? — disse Lorenzo. — Sua
observação me fascina.
— Obrigada.
— É uma pena não aproveitarmos a nossa viagem em Milão —
falou.
É uma pena a gente ainda estar aqui.
Lorenzo me guiou para onde estava os outros familiares. Ele
conversava com alguns e eu apenas observava o local.
O Enrico e Emma dançavam na pista enquanto eu apenas queria
estar em casa deitada. Pietro e a Giulia estavam sentados no bar
conversando e rindo sem dar atenção a ninguém daqui.
— Mais uma por conta da casa — disse uma mulher vestida de
enfermeira ao Lorenzo enchendo o seu copo.
Quem ainda se fantasia? Eu estava ultrapassada ou não tinha mais
noção do que acontecia no mundo a fora.
Agora me veio à mente o que a Lucy disse, o título de esposa do
Capo ainda era bastante desejável aqui.
— Não aceito bebidas daqui — respondeu Lorenzo jogando o licor
do copo que ela havia dado a ele.
— Fico ofendida por achar que eu colocaria algo na sua bebida. Se
eu quisesse, eu apenas jogaria o meu charme e te levaria para um lugar
silencioso — disse na cara dura enquanto eu a olhava incrédula.
Maldita a minha boca porque eu não posso falar. Olhei para o
Lorenzo, esperando a sua resposta.
— Só se eu estivesse louco — respondeu. — Agora saia da minha
frente!
Ela tentou não se abater com o fora, se recompondo.
— Daqui a pouco serei eu no palco, se quiser, posso fazer uma
dança especial para você — falou.
Lorenzo não disse nada e voltou a sua atenção para os convidados.
Que vadia!
— Quero ir ao banheiro.
— Red! — Lorenzo sinalizou para Red que estava um pouco
afastado de nós. — Leve-a ao banheiro, por favor!
Caminhei com o Red em silêncio. Chegamos no banheiro e ele
aguardou lá fora não deixando ninguém entrar.
— Que sujeira! — reclamei ao ver a imundice que estava ali.
— Já? — disse Red surpreso pela minha rapidez.
— Se você vir a sujeira que está aí dentro... — falei sentindo meu
estômago embrulhar. — Santo Cristo!
Red me levou de volta, mas antes pedi para ir até a loira peituda que
estava vestida de enfermeira, a maldita que estava dando em cima do meu
marido.
Nunca pensei que faria isso.
— Ei! — disse segurando o seu braço.
— Algum problema? — perguntou cínica.
— Sim, muitos! — respondi. — Se chegar perto do meu marido
novamente, esse seu silicone e esses seus apliques sairão apenas com um
puxão meu. Saberá o motivo de não se meterem com uma grávida que está
segurando xixi desde a hora que chegou, com medo de pegar uma doença
na sujeira dos banheiros daqui. Se meu marido resolver ficar mais tempo
aqui por sua causa, eu acabo com você!
Soltei o seu braço e saí dali. Mesmo que todo mundo diga que o
Lorenzo está mudando, eu tinha minhas inseguranças. Eu quero ir para casa
e ficar mais umas horas aqui não me deixa menos brava.
— Está furiosa hoje — brincou Red.
— Querendo fazer xixi, na verdade — disse. — Quero ir para casa,
alguma sugestão do que eu possa usar para que o Lorenzo me leve logo?
— Só peça, ele deixará — disse Red.
Não parece ser tão fácil assim quando eu apenas peço.
— Voltou rápido — disse Lorenzo assim que eu me aproximei,
estranhando.
— Estava uma sujeira no banheiro, eu estou enjoada e acho que eu
vou chorar. — disse já fungando de tanto aguentar o meu choro. — Não me
pergunte o motivo, eu não sei, eu só quero chorar.
— Quer ir embora? — perguntou.
Foi mais fácil do que eu imaginava.
— Sim, se não for problema para você — disse.
— Não é, andiamo! — falou.
Lorenzo se despediu dos convidados e saiu. Não demorou muito
para os irmãos, o pai e o Leonel também irem embora junto com o Lucca.
— Já vão? Nem começou direito e já estão de saída — disse
Victoria.
— Já fizemos o showzinho de família feliz, está na hora de ir para
casa — disse Pietro.
— A festa nem começou, ainda tem muita coisa pela frente —
insistiu que ficássemos.
— Terei que negar, minha querida, até mais — disse Enrico saindo.
— As prostitutas já estão chegando, vocês não querem perder uma
foda aqui — disse Davis.
— Tenho cara de quem está precisando de sexo fácil? — retrucou
Lorenzo. — Deixe de me atazanar e saia da minha frente.
Caminhamos para o estacionamento e dei graças aos céus por estar
voltando para o quarto.
Só falta amanhã e voltarei para casa. Nada pode dar errado... Ou
pode?
Só é um casamento, Hope, tudo ficará bem!
Como eu não tinha um minuto de paz, hoje não seria diferente.
O velório de Dante seria agora a tarde e com base nas investigações
que os meus homens fizeram sobre o Dante e o Marco, descobrimos muitas
coisas sobre a sua família. O ponto crucial de Dante ter conseguido
esconder por muito tempo da máfia que estava se aliando com os japoneses,
é que a sua família já estava se fundindo com eles.
Não que não fosse permitido a junção matrimonial de outras pessoas
com outras máfias que não fosse a sua, mas Dante foi bem mais esperto e
pensou a frente, ninguém desconfiaria dele saindo da Itália indo para o
Japão com a sua família se fosse para visitar outros membros.
Tenho certeza que nisso ele não estava sozinho, também não duvido
da sua família inteira sabia. A ruiva nem deve desconfiar, do jeito que não
sabe nem mentir, imagino que não saiba encobrir algo desse tipo.
Já estava na boate esperando Enrico.
— Finalmente! — Declarei depois de quase meia-hora o esperando.
— Eu estava cuidando de umas coisas para os Juízes — falou se
sentando na poltrona a minha frente.
De uns anos para cá, Enrico se tornou muito requisitado pela
liderança.
— O que conseguiu descobrir do Dante?
— Dante estava envolvido com os japoneses há um ano. Como o
sua patente aqui não o agradava mais, ele estava buscando informações com
outras máfias para saber de algo que pudesse lhe ajudar a crescer aqui, algo
que ele pudesse usar de vantajoso com você. Então ele tentou a máfia
espanhola, a máfia turca e, por fim, a máfia japonesa.
— Ele só foi atrás de máfias que já tivemos problemas no passado.
— Exatamente, uma vez nossos inimigos, sempre inimigos —
relatou. — Ele estava pesquisando para tentar ver se alguma máfia não
estava querendo nos retalhar devido aos nossos problemas do passado,
então para ganhar confiança ele delatava algumas informações sobre nós,
tudo por mérito próprio. Foi quando os japoneses se interessaram por ele.
Não deram nada, apenas pediam sempre algo que comprovasse a lealdade
dele. Dante estava ficando sem paciência e tentou fazer tudo às escondidas
até ser pego por nós.
— O que ele deu de informação sobre nós?
— Cargas, alguns pontos cegos de entrada de clubes dos nossos
aliados e sobre como era o planejamento estratégico das missões.
— Só isso?
— Sim, eu perguntei com jeitinho e ele logo contou. Obviamente o
puto esconde mais informações, mas ele não daria, ele estava dificultando
para morrer rapidamente para não contar.
— Vou ficar de olho nos japoneses — falei. — Não quero nem você
e nem o Pietro envolvido nisso.
— Deixa de ser otário, Lorenzo.
— Não — falei.
— Por favor... — insistiu.
— Porra, depois eu vejo algo para vocês dois.
— Isso! — falou empolgado. — Tenho que ir, eu vou terminar de
cuidar de uns ladrões que roubaram um aliado nosso.
— Os Juízes que pediram?
— Sim! — alegou. — A propósito, vi a loira lá fora.
— Alessandra? Não fui avisado que ela me esperava.
O acompanhei até o elevador, olhando a Alessandra no sofá.
Caminhei até ela, estranhando a sua visita.
— O que veio fazer aqui? — perguntei.
— Podemos conversar no seu escritório? — indagou e eu assenti.
Assim que entramos, fui para o meu lugar e ela se sentou na cadeira
a frente da minha mesa.
— Fale.
— Lorenzo, onde está a vadia da Beatrice?
— Por que quer saber? — estranhei.
— Nada. Só a procurei e não encontrei.
— Eu te conheço, Alessandra, podemos até não ser próximos, mas
fomos casados por quase 9 anos, eu sei quando quer algo — disse,
encostando as costas na cadeira.
— Tenho uns assuntos inacabados com ela e, pelo jeito, vejo que ela
aprontou algo já que não ronda o quartel, então quero aproveitar e ter uma
conversa com ela.
— Conversa?
— Pode rolar de tudo, quem sabe sem querer minha mão na cara
dela e talvez eu rasgando a sua pele com as minhas unhas — respondeu
debochada.
— Ela foi exilada.
— Como é? — elevou o tom de voz surpresa. — Isso certamente é
pior do que a morte, Lorenzo. E ela está vivendo de quê? A máfia do
marido a aceitou?
Alessandra parecia bem curiosa a respeito disso.
— Estou sabendo, queria matá-la, a sua dor seria apenas por alguns
minutos, agora a dor dela durará todos os dias até o fim da vida miserável.
Agora sobre a máfia holandesa, ela perdeu totalmente a honra que tinha.
Ser exilado era uma vergonha em todas as máfias. Certamente
Beatrice deve estar sofrendo bastante por ter sido expulsa de onde nasceu.
— E desde quando tem problemas com ela? — perguntei.
— Achava que eu discutia com ela só por causa de você? Lorenzo,
não se ache tanto, eu nem me importava, ela só jogava sujo comigo e eu não
podia retribuir naquela época por causa da liderança que vivia no meu pé já
que eu era a sua esposa.
— Até parece que você brigaria por mim, você nunca nem se
importou. Eu tinha os meus palpites, até achei que fosse porque você
sempre gostou de discutir com as mulheres da liderança, então não temia
ninguém — deduzi.
— Eu discutia porque eu era a sua esposa e elas tinham que me
engolir, hoje eu já tenho que segurar calada, senão elas me engolem —
comentou.
— Por que não avisou que estava me esperando lá fora?
— Sei lá, vai que estivesse com visitas — falou.
— Bianca não anda mais aqui.
— Terminou com ela?
— Está bastante curiosa ao meu respeito, Alessandra, isso é para
passar para a sua nova amiga ruiva?
— Talvez — falou dando de ombros tentando ser indiferente.
— Fiquei curioso, por que ela?
— O quê? — Não entendeu a minha pergunta.
— Você sempre se isolou. Por que não fugiu da Hope?
— Talvez seja pelo mesmo motivo do seu.
— E qual seria? — indaguei.
— Redenzione.
— Hope é a parte humana que eu tinha quando ...
— A Antonella era viva — completou. — É estranho como alguém
possa nos trazer tanta paz e leveza apenas em gestos. Talvez essa relevância
de alguém que foi machucado por nós, mexeu bem mais do que nós
esperávamos. Ela deveria nos odiar, não nos ajudar a curar as nossas
feridas.
Alessandra, como ninguém, entendia o poder da Hope sobre mim.
— Se falar assim vou achar que está apaixonada pela minha esposa
— falei.
— Fique feliz por eu não estar, porque se eu estivesse, ela
certamente te largaria — falou ficando em pé. — Eu tenho que ir, vou
viajar.
— Para quem reclamava das viagens, está viajando bastante — disse
e ela empalideceu imediatamente.
Quando éramos casados, quando eu estava em casa, ela saía. Como
ela não falava com os pais, Alessandra geralmente viajava e sempre
reclamava. Então as vezes eu ficava muito tempo resolvendo as coisas no
quartel e não voltava para casa.
— Comecei a gostar — mentiu.
— Ainda precisa do dinheiro?
— Não mais — falou.
Estava um pouco desconfiado, mas mesmo se eu perguntasse ela
não diria.
— Também tenho que ir, vou enterrar o pai da Hope hoje.
— O matou mesmo? Eu ouvi os boatos rondando o quartel — falou
enquanto andávamos para o elevador.
— Traidor, sabe como eu reajo.
— E a Bloom aceitou de boa? — perguntou.
— Surtou porque achou que eu ia fazer algo contra ela. — disse e
ela riu.
— Ela está louca? — Indagou. Todo mundo vê isso, menos a ruiva.
— Está caidinho por ela, até parece que faria algo assim.
O meu temperamento não ajuda nessa confiança, então não me
ofendo por Hope não acreditar em mim nisso.
— Está bastante falante hoje, Alessandra.
— E parece que você também — falou. — Se a nossa relação fosse
um terço que está sendo agora, Antonella amaria isso.
Com certeza!
Me despedi da loira e fui para o meu carro. Não demorei e logo
cheguei em casa.
Assim que estava adentro, recebi a ligação do Rubens avisando que
a Alessandra viria aqui amanhã conversar com Hope.
Ela estava comigo agora há pouco, por que não me falou?
Certamente porque eu perguntaria, mas ir até a boate só para o
Rubens me passar essa informação, era estranho.
— Cadê a Hope? — perguntei assim que encontrei com a Lucy.
— Estava no quarto quando eu saí — respondeu.
Assim que eu entrei no quarto e não a vi, senti as minhas mãos
suarem. Escutei um barulho no closet, logo consegui respirar aliviado.
— Está pronta? — indaguei, tentando não mostrar o surto que eu
teria em seguida se não a encontrasse aqui.
— Um segundo — respondeu.
Não demorou muito para a ruiva aparecer, estava belíssima.
Puta merda, eu dei muita sorte!
— O que foi? — estranhou o fato de eu ter ficado apenas parado
sem palavras para a sua beleza.
— Como que até vestida para um enterro você continua linda? —
falei maravilhado. Coloquei as minhas mãos na sua cintura, mas minha
aproximação não surtiu muito efeito nela. Estou perdendo o jeito para
coisa? — O que está acontecendo com você? Está preocupada com algo?
— Não é nada, só estou cansada e isso do velório me aterroriza um
pouco.
Informei que a minha família ia para o desespero da bela ruiva.
Ontem havia avisado para eles que seria melhor que todos nós fôssemos.
Estávamos nos relacionando de novo, seria uma boa oportunidade para unir
a família.
Hope parece não gostar muito, provavelmente não está confiando na
nossa educação e autocontrole.
Não demoramos para chegar ao local do velório. Assim que
entramos na sala onde a família da Hope estava, todos já começaram a olhar
para ruiva de uma forma que me incomodou.
Quando Hope falava do pai, sempre mostrava o quanto temia,
apesar de tão ter falado tão abertamente comigo, as suas ações deixavam
claras o seu pavor. Agora a sua família, a olhava como se tudo fosse culpa
dela. Hope não é a mais adequada para lidar com culpas ou acusações, esse
lado sentimental dela lhe deixa muito vulnerável.
Minha família chegou logo em seguida, se sentando perto de mim.
Apenas observava os cochichos da família da ruiva olhando para a minha
sogra e para ela, soltando piadas, já que comigo e com a minha família eles
não tiveram essa coragem.
Isso me causava um ódio sem fim.
Observava as risadas, os olhares e principalmente, o tal do Marco
fissurado na minha mulher.
Ele não conseguia fingir que não estava a encarando, era algo tão
nítido que me enfurecia. Seus olhos ao ver uma presa fácil, como um desejo
escondido.
— E essa sua cara de bunda, é para quem? — perguntou meu pai
para a senhora que estava olhando para minha esposa.
Essa daí também não olhava tão diferente, me lembrava um pouco a
minha avó. Os olhos julgadores, a forma que manipula para colocar a culpa
em alguém por suas próprias ações e conclusões precipitadas que sabiam
que era uma ideia ruim, mas sempre procurando alguém para colocar o peso
desse resultado ruim.
— Estou apenas sofrendo pela perda do meu filho, senhor —
respondeu hesitando não falar bobagem, já que aparentemente conosco ela
sabia os limites.
— Traidores não merecem nossas condolências — disse Leonel.
— Ele não era um traidor, sempre deu tudo de si pela máfia. Creio
que por culpa de algumas pessoas ele foi julgado injustamente — disse a
senhora incomodada com o comentário do meu tio.
— Ele era um grande merda, isso sim — disse Leonel se ajeitando
no sofá. — Injustiçado? A idade está fazendo você pensar asneiras, minha
senhora, o seu filho foi um grande figlio di puttana.
— Não ouse falar assim do meu irmão. Ele era um homem bom... —
disse Marco sendo interrompido por Enrico.
— Se eu fosse você, ficava calado, seu puto. Não levante mais a voz
para o meu tio, CARALHO! — gritou, se aproximando do Marco,
derrubando a mesinha que estava na sua frente.
Até um homem que estava do lado dele ficar em pé, ficando na
frente do Enrico. Enzo que estava do meu lado já se ajeitou no sofá caso ele
tocasse no meu irmão.
— Fale com o meu cunhado assim novamente e verá o que
acontecerá com você, pirralho — ameaçou.
Mais um corpo que vai desaparecer amanhã.
Enrico riu, o encarando sem se importar com a ameaça.
— Está louco, seu cuzão? — disse Lucca caminhando para perto do
Enrico. — Está ameaçando o meu primo? Irei te mostrar o que acontece
quando ameaça um Ferraro.
Fiquei em pé, indo para onde eles estavam já com um alvo em
mente. Passei pelos rapazes, me aproximando da senhora que estava
sentada do lado esquerdo do Marco.
— Eu estava tentando manter isso o mais pacífico possível. Me
controlei esse tempo todo para não dar uma surra na senhora, já que é avó
da minha esposa, mas se continuar a olhar para a minha esposa assim,
quebrarei toda essa chapa que tem na porra dessa sua boca, está
entendendo? — disse enquanto a senhora me olhava assustada. — Não me
importo se vocês estão sofrendo ou não, o parente de vocês foi um traidor e
será enterrado como um, caralho. Agradeçam ao meu bom coração de ter
dado pelo menos a cremação a ele, só não o joguei para os cachorros,
porque tive receio deles adoecerem com a carne podre do Dante, mas se
ousarem a ser petulante com a minha família novamente, aproveitarei que
estamos em uma funerária e enterrarei todos vocês aqui. Ficamos
entendidos?
— Sim, senhor!
— Ótimo! — disse arrastando o Lucca e o Enrico.
Quando eu os sentei no sofá, notei que o rapaz ainda estava de pé, o
mesmo que tentou intimidar o meu irmão.
Caminhei até ele, ficando parado na sua frente. Notava que ele não
queria deixar se intimidar por mim, me olhava nos olhos, mas assim que eu
o encarava, desviava as vezes olhando para a janela lateral.
Escutei o barulho dele engolindo em seco, deixando a sua respiração
audível.
Está nervoso?
— Algum problema? — indaguei.
— Não.
— Não? — repeti, incomodado com o seu desrespeito. Segurei no
seu colarinho do terno, enquanto ele estreitava o olhar, puto por não poder
revidar. — Mostre respeito por mim, é “Não, senhor”. Então, algum
problema?
— Não, senhor! — respondeu.
— Então senta, caralho — disse elevando o tom de voz de forma
autoritária.
Ele se sentou rapidamente e eu voltei para o meu lugar.
Merdinha!
A minha família começou a conversar entre si, se levantando e
andando pela enorme sala.
— Não vai comer alguma coisa? — perguntei.
Ela vivia com fome e estranhei ela ficar tanto tempo sem mastigar.
Duas coisas que eu vi na Hope desde a descoberta da gravidez era:
comer e dormir. Se ela não estava fazendo ambas, era de se estranhar.
— Estou sem fome — respondeu, se achegando a mim.
— O que foi? — perguntei já que ela segurou a minha mão
assustada.
— Ah, nada, só queria segurar a sua mão — mentiu.
— Não minta para mim, Hope.
— Desculpe, esse lugar me assusta muito, essa família me apavora e
eu fico lembrando de quando eu morava com o meu pai a todo instante —
confessou.
— Então vamos embora — disse.
— Não vou deixar a minha mãe sozinha aqui. Ficaremos até o final,
está bem?
— Não sei como conseguia suportar essa família. Entendo que a
minha não é um sonho, mas não somos nada comparados a essa daqui —
comentei.
Hope começou a me contar um pouco da sua infância. Eu nunca
perguntava porque eu sabia que deveria doer. A ruiva só falava quando
acontecia alguma desgraça e ela comparava com o que já aconteceu no
passado.
Ela e a família foram fortes, principalmente por aguentar alguém
como Dante. Agora olhando os seus parentes, vejo que aguentaram bem
mais do que eu imaginava.
— Devo aproveitar e matar todos? — perguntei.
— Claro que não, só se quiser que eles tentem culpar mais a sua
esposa — disse Hope.
— É uma pena — falei, segurando na sua mão.
Hope tirou a minha mão da sua e colocou na sua barriga. Não nego
que aquilo me trazia uma certa calmaria.
Enterros, mesmo de traidores, não me fazia esquecer de que um dia
eu já enterrei alguém que eu amava.
— Está enorme! — comentei olhando a sua barriga. — Não você, a
barriga. Não que você esteja gorda ou...
— Está tudo bem, Lorenzo, eu entendi — disse Hope sorrindo.
— A última vez que eu vi o Enzo falar algo assim da sua irmã, ela
jogou um copo nele — relatei a péssima experiência que tive. — Sua irmã é
maluca, com todo respeito.
— A Lisa sempre foi muito impulsiva — falou. — Não imagino
você perto dela nessas crises que ela tem.
— Eu conheço o meu temperamento, Hope, então evitava de andar
na casa do Enzo, mas achava engraçado ver o Enzo tentar acalmar a sua
irmã. Ela não é tão louca assim, ela só é explosiva, me vejo muito nisso.
Lisa era bem expressiva, mesmo que se controlasse bastante quando
eu visitava sua casa. Como eu sempre fui muito severo com desrespeito a
mim e ao meu cargo, eu tentava me manter longe de algo que pudesse me
fazer sair do sério, principalmente se ela falasse ou agisse com má conduta
perto de mim.
Então eu evitava andar por lá, já que também não era próximo dela.
— Ei, cretino de blusa azul! — disse Pietro a um rapaz que estava
no canto. — Tire os olhos da minha esposa se ainda quiser enxergar.
— Não estava olhando para ninguém. Deixe de ver coisas onde não
existe — respondeu o rapaz cinicamente.
Certamente estava olhando, já que incomodou o meu irmão. Pelo
olhar malicioso que ainda estava, ele não sabia onde estava se metendo,
principalmente porque eu já estava observando a minha mãe cobrir o colo
da Emma com uma almofada.
Ele parecia comer as meninas pelo olhar.
— Já te mostro o que eu estou olhando — disse Pietro ficando em
pé.
— Sem brigas, Pietro — ordenou Enzo ao Pietro que parou
imediatamente.
Pietro voltou a se sentar, apenas olhando o rapaz. Enzo não estava
em seu melhor humor hoje.
— Observando você aqui, lembro da Lisa, onde ela está? —
perguntou Marco.
— Não é da sua conta onde a minha esposa se encontra, seu figlio
dia putanna — respondeu Enzo.
— Sou o tio dela... — falou, sendo interrompido pelo Enzo.
— Quer ser cremado hoje também, seu arrombado? — Gritou Enzo
em pé, empurrando a cadeira para o lado.
Enzo não era muito de se descontrolar, mas quando fazia algo que
parecia isso, nos deixava bastante preocupados por não ser algo que
acontecia com frequência.
— Alarme vermelho — disse Enrico se aproximando do Enzo,
usando o código que ele e o Lucca criaram para quando as coisas
começassem a fugir do controle.
Ele era o mais pacífico, mas não para dizer que não tinha sangue nas
mãos e que a sua mente não nos aterrorizava um pouco.
— Me interesso em saber o que você fez para deixar o senhor
tranquilo enfurecido? — perguntou Lucca ao Marco. — Vamos continuar
essa conversa, estou adorando, vamos ver até onde vai.
— Não é da sua conta, moleque — disse Marco.
Lucca jogou a cadeira que estava ao seu lado em direção ao Marco
que conseguiu desviar infelizmente, fazendo um barulho estrondoso na sala
assim que atingiu o chão.
— Que arrombado! — disse Lucca, incrédulo, apontando para o
Marco, enquanto o Enrico foi até ele.
— Que se foda! — disse Enrico dando um soco no primeiro que viu.
— Foi mal, ruivinha — disse Lucca olhando para a Hope e logo
socando o Marco.
Devo intervir agora?
Não, vou esperar mais um pouco.
Olhavas as horas no meu relógio, notando que não fazia muito
tempo desde que chegamos.
Estava tedioso!
Lucca distribua socos no Marco. Mas quando eu olhei a Hope
assustada de uma forma que eu nunca vi, nem quando eu soquei o Lucca da
última vez, resolvi parar com aquilo.
— Lorenzo... — murmurou do meu lado, segurando fortemente a
manga do meu paletó como se a briga fosse até ela.
— QUE INFERNO! — gritei. — Não sabem ficar quietos até a
porra dessa cremação acabar, PORRA! Minha ordem é para ser seguida,
seus putos.
Enzo e o Pietro foram tirar o Enrico e Lucca da confusão, trazendo-
o para perto de nós.
— Não tem respeito pelos mais velhos? Que Capo é esse que
seguimos que não tem um pingo de educação com alguém mais velho que
ele? — disse uma outra senhora a mim. — Ser um Ferraro e Capo não quer
dizer nada se não souberem cuidar dos seus.
— Você se acostuma, Smurf — disse meu pai zombou da mulher
que estava toda de azul.
— Não me importo se gostam da minha liderança, se não querem a
mim como Capo, é só sair da famiglia, mas fale novamente de como eu
cuido dos meus e saberá o que acontece quando me desrespeitam.
— Tenham respeito pelo nosso líder — disse Leonel.
Ele chamou o Enrico e o Lucca para se sentarem do seu lado.
— Alguém traz álcool e um fósforo, deixa eu atirar fogo nisso daí
— disse com uma certa repulsa de ver aquele sangue nas mãos deles. —
Estão contaminados.
De fato era surpreendente eles ainda estarem vivos aqui.
Esse temperamento, alguém certamente já teria tentado matá-los. Eu
sofro ataques, acredito que a maioria não seja apenas pelo meu cargo ou
dinheiro, meu sorriso amistoso com certeza não é, mas o meu
temperamento ajuda muito para terem ódio de mim, não só eu, mas toda a
família.
— Me desculpem interromper, mas irá acontecer a cremação agora
— disse o cerimonialista.
Finalmente!
Quero ver o corpo queimar logo.
— Está grávida? — perguntou a senhora a Hope assim que ficamos
em pé. — Não lembro da gente ter sido informado sobre isso.
— Ficou linda... — disse Marco e eu logo o interrompi, não
gostando do seu olhar na minha mulher.
— Se eu fosse você, filtrava o que fosse falar. Não quero elogios
seus a minha esposa — disse, aproximando-me dele. — Logo saberá o quão
potente é um soco meu.
— Posso dizer que é forte — disse Lucca. — Quase que eu não
recupero esse belo rosto.
— Não a malícia no meu elogio — disse Marco cinicamente. —
Não precisa ter ciúmes da minha relação com a sobrinha, não faria mal
algum a ela. Não é, Hope?
Respirei fundo, notando a respiração pesada da Hope atrás de mim
desesperada.
— Já disse uma vez, não me faça repetir — disse após empurrá-lo,
sentindo a adrenalina do meu corpo me implorando para matar esse
arrombado.
— Está tudo bem, Lorenzo, vamos! — Hope tentou me tirar dali,
falhando miseravelmente.
— Engraçado que comigo você me surrou na frente de todos, nem
me deu uma segunda chance — comentou Lucca ficando do meu lado
esquerdo. — Dá chance para ele e nem deu para mim, que sou o seu
sangue. Quebra ele também, Lorenzo. Quem já se viu, querer jogar charme
para uma mulher casada.
— Não bota lenha na fogueira, Lucca — disse Dona Telma.
— Lucca está certo, mãe. Realmente seria tão injusto — disse
Enrico cinicamente, ficando do meu lado direito.
Os dois estavam loucos para que eu continuasse.
— Isso, tem que ter igualdade, ora porra — declarou Lucca. —
Ensine a respeitar a sua esposa, Capo.
— O que é dele está guardado, Lucca — disse, enquanto fuzilava o
Marco com o olhar. — Esqueceu que não existe nada melhor do que pegar a
presa quando ela menos espera?
— Isso, caralho, era isso que eu queria ouvir — disse Lucca
entusiasmado. — Você está ferrado! Se o Lorenzo está planejando algo para
você depois, pode preparar o pior. Vai me deixar ajudar, não é, Lorenzo?
— E eu também quero — disse Enrico se aproximando mais de
mim. — Ei, não vai me deixar de fora disso, não é!? Sou o seu irmão...
O meu pai e o Leonel tiraram os dois de perto de mim, arrastando-os
para fora da sala.
— O que quer dizer com isso, Capo? — perguntou Marco temeroso.
— Saberá no tempo certo, assim como Dante descobriu o dele —
disse, voltando atenção para a minha esposa. — Andiamo, ou o corpo
pegará fogo sem eu ver.
Caminhamos para onde aconteceria a cremação. Já havia alguns
membros da máfia, junto da família.
— Deveríamos ter trazido uma carne para aproveitar o fogo — disse
meu pai.
Porra, sabia que eu estava esquecendo alguma coisa.
Não costumo ser tão descuidado em comemorações, mas
ultimamente eu não estava com tanto tempo. Chega da vontade de chorar
em saber que o Dante não vai ter nenhuma comemoração no dia do seu
enterro. Que porra!
— Dá tempo de comprar, pai, eu posso ir — disse Enrico já pegando
a chave do carro.
— Outro dia você faz isso, Enrico — disse Pietro a ele.
— Vamos começar! — disse o cerimonialista que logo acenou para
o Leonel ir para frente.
Leonel começou a dar início a cremação, explicando como
funcionava devido a traição do Dante.
— Não precisa ver — disse, trazendo a ruiva para perto de mim. —
Não quero que tenha pesadelos por conta desse maldito.
— Quanto tempo demora uma cremação? — perguntou Enrico.
— Cerca de 2-3 horas, senhor — respondeu o cerimonialista.
E tão rapidamente, os meus familiares começaram a sair um por um.
— Eu e a minha família queremos ficar a sós, podemos? — pediu a
senhora a mim.
— Claro! — respondi. Já vi o corpo pegando fogo, não tem mais
nada para ver. — Dona Esther, vamos.
— Elas fazem parte da família, Capo — disse a senhora a mim.
— A minha sogra não é mais casada com o seu filho, ela não tem
mais relação com vocês. Enquanto a minha esposa, sua família sou eu.
— Mas tem a outra garotinha, a menor — falou, esquecendo o nome
da Kitty.
— A menor que se refere, não virá. Nem tente argumentar algo, ela
não virá ver vocês nem hoje e nem nunca. Fiquem longe dela e eu não mato
vocês — disse, lembrando do que o Enzo havia me informado alguns dias
atrás sobre o processo de tutela.
Até isso eu esqueci.
Estou sofrendo algum tipo de amnésia temporária ou realmente
estou ficando velho?
— Perante a lei, ela não pode negar a família. Ela não é casada e
carrega Bellini no seu sobrenome — disse Marco.
Agora ele quer seguir a lei?
Arrombado do caralho!
— Na verdade, ela carrega o meu sobrenome. Kitty pode morar com
a minha sogra, mas nós assinamos um acordo em que ela está desvinculada
da família Bellini, já que a sua tutela está no meu nome. Agora ela é uma
Carbone.
Não havia comentado com a Hope porque era algo da família dela e
quando isso aconteceu, logo em seguida foi a morte do pai, não tinha como
elas se comunicarem, já que eu havia deixado a ruiva uns dias sem o seu
celular.
Conheço esse tipo de gente, não tem muita diferença entre mim e a
minha família quando se trata de vingança ou raiva, eu que não deixarei
elas perto deles.
— Agora vamos, eu tenho mais o que fazer — disse.
O funeral foi até que calmo, achei que seria mais caótico pelo que a
ruiva disse.
Ela ficou o tempo inteiro incomodada com algo, certamente deve ser
o olhar frio da sua família para ela. Isso me incomodava bastante, Hope
sempre foi boa demais para que alguém a odiasse tanto. Antes queria
corrompê-la e tirar essa pureza que ela tinha, e hoje em dia é o que eu mais
me fascino por ela.
Enquanto Hope conversava com a sua mãe, eu e Enzo
conversávamos, caminhando para o estacionamento.
— Me informei com alguns aqui da famiglia e me disseram que o
Dante era muito próximo do Giovanni D’amico — disse Enzo.
— Onde ele está? — perguntei.
— Ele estava em uma missão, mas agora está descansando na
cidade que ele estava trabalhando.
— Vamos fazer uma visita a ele amanhã, quero saber se ele sabe de
algo.
— Ah, não! — reclamou, dando um soco no meu braço. — Vai se
foder, Lorenzo. Agora que eu fico em casa com a Lisa, você quer me tirar.
— Voltamos no mesmo dia, seu figlio di puttana — disse,
retribuindo o soco que ele me deu.
— Eu mato você se demorarmos por lá. Leva a Hope lá para casa,
pelo menos a Lisa não fica totalmente puta comigo quando eu disser da
viagem.
— Certo!
Enzo levou a Dona Esther para casa e eu levei a minha esposa
comigo.
Entramos no carro, logo comecei a conversar com ela sobre amanhã.
— Enzo pediu para que você fosse amanhã para casa da Lisa.
Faremos uma curta viagem amanhã. Volto pela noite ou só no dia seguinte.
Te deixarei com ela, já que o Enzo está receoso de que ela entre em trabalho
de parto. Qualquer coisa, nos ligue e nós retornaremos.
— Certo! — disse Hope, empolgada para ver a irmã.
Não demoramos para chegar em casa. A ruiva subiu para tomar
banho e depois comer, e eu fui tratar logo de resolver com os meus irmãos,
já que iríamos atrás do D’amico amanhã.
— Lucca irá amanhã também — informei e o Enzo logo sorriu para
mim na vídeo chamada que fazíamos. — Lucca ficou tempo longe, está na
hora de retornar para fazer parte de alguns trabalhos da máfia.
— Finalmente, achei que o trabalho pesado só ficaria comigo —
reclamou Pietro.
— Deixa de falar bobagens, seu puto, eu comecei a te dar tarefas
agora — disse.
As que me envolvem, o restante não tem ligação comigo.
Havia os afastado dos cargos, deixando apenas eu e o Enzo a frente.
Eles participavam de algumas missões da máfia, mas nada comparado ao
passado.
— Eu tenho a empresa para dar conta e ficar fazendo viagem a todo
instante, aumenta as suposições ao meu respeito — disse Pietro.
Ninguém sabia quem realmente éramos, apesar da empresa ser da
família, o Pietro apenas administrava, tínhamos que ficar sempre fazendo
visitas para que não desconfiassem da ausência da família. As pessoas
começariam a desconfiar das viagens do Pietro que, na maior parte das
vezes, não era negócios, e da família de não pisar na própria empresa.
— É só um dia, arrombado, se não der para ir, a gente vai sem você,
sem problemas — disse, sabendo que ele não ficaria de fora.
— Eu vou, caralho — falou
— Enzo, você o avisará ao Lucca — disse
— Eu sabia que o trabalho difícil ficaria para mim. Dizer para
aquele puto que tem que trabalhar para conseguir as coisas é a mesma
coisa de pedir um tiro. Ele vai ficar sumindo igual fazia antes.
— Só dizer que vamos em uma missão, ele foge porque acha que
vai trabalhar nos arquivos — disse, conhecendo as birra dele.
— Confiamos em você, meu amor — disse Enrico rindo.
— Tenho que desligar. Vou resolver uns assuntos pendentes. Nos
encontramos amanhã de manhã.
Assim que desliguei, pedi que o Red chamasse a minha esposa.
Hope pode ter esquecido, mas eu não.
Hoje tive a prova de que o Marco nem se arrepende do que a
causou. Aquela família deveria ser aniquilada.
— O que gostaria? — perguntou Hope assim que entrou.
— Sabe do que eu quero saber.
— Lorenzo, não sei o que acha que aconteceu, mas realmente
aconteceu.
Ela não queria contar, mas queria que eu soubesse que tudo
realmente aconteceu.
— Continue.
— Lorenzo, eu não quero falar — falou já com a voz trêmula.
— Hope, eu sou o seu marido, confie em mim.
— Você nem confia em mim para me contar o seus problemas, por
que eu deveria confiar em você? — Antes eu não confiava nem em mim,
quem dirá nela, mas hoje a minha percepção mudou totalmente. Eu
confiava nela, só não era de demonstrar isso e também não queria que se
envolvesse nos problemas que a máfia causava para não deixá-la ainda mais
em perigo. — Não é porque é o meu marido que eu deva falar tudo sobre
mim. Confiança se conquista, Lorenzo. Você sabe o que ele fez, então o
castigue.
— Quero que você me conte desde quando tudo aquilo começou.
Tentei fazê-la se abrir comigo.
— Não quero falar. Quero voltar para o quarto, me deixe ir.
— Hope...
— Me deixe ir!
— Preste atenção no que eu vou falar — disse e ela se acalmou um
pouco, prestando atenção no que eu falava. — Você pode não me contar
hoje e eu não vou te obrigar a me contar, mas saiba que seu tio será morto
por mim. Não importa quando você vai se sentir confortável em me falar,
durante o dia ou durante a madrugada, apenas me diga. Eu quero saber por
você tudo o que aconteceu. Não é, e nunca será, culpa de vocês, Hope.
Eu era um monstro, mas não esse tipo de monstro que o tio dela era.
— Pode ir para o quarto — falei, já que ela ficou calada e não me
deu nenhuma resposta.
Ela rapidamente saiu do escritório.
É parece que essa história se prolongará por mais algum tempo.
Pela manhã, acordei com a Hope se sentando na cama.
— Está bem? — perguntei.
— Me desculpe, eu lhe acordei?
— Não, mas você não respondeu a minha pergunta. Você está bem?
— Estou, só fiquei sem sono. Vou descer para comer, quer algo?
— Comer uma hora dessas não vai lhe fazer mal? — indaguei.
— Eu comendo ou não, o meu destino sempre será o banheiro no
fim do dia — disse Hope e eu ri.
— Alessandra foi ontem na boate — comentei, sentando-me na
cama. — Rubens me ligou avisando da sua visita. Ela estava atrás de falar
com você, já que desde o dia do hospital que não tinha notícias suas.
— Ah, e ela disse o quê?
— Nada, ela disse que era assunto de mulher — omiti curioso, já
que a Alessandra não me falaria. — De onde essa amizade de vocês duas
surgiu? Vocês duas não tem nada em comum e agora ficam de segredinhos.
— Na verdade, temos, mas não é nada importante. Ela é bem
divertida quando conhece ela melhor. É tipo eu e você, não temos nada em
comum, mas nos damos bem.
Éramos totalmente incompatíveis, mas juntos de alguma forma
dávamos certo.
— Eu sou estressado e você calma. Quando eu estou surtando, você
age calmamente como se fosse um dia comum. É por isso que damos certo
— falei
— Mas sobre a Alessandra, ela pode vir aqui? — perguntou.
— Ela virá aqui amanhã. Então ainda tem as regras. Se forem para o
jardim, não fique nos pontos cegos. Para onde for, leve o Red com você.
Não fique sozinha, entendeu, Hope?
— Sim! — disse Hope.
Fui para o banheiro, logo entrando no chuveiro.
Gostava de tomar banho com a água bem gelada, ajudava com as
dores musculares.
— Hope, você prefere ir agora para a casa da sua mãe ou só depois
do café da manhã? — perguntei, elevando o tom de voz para que ela
escutasse do quarto, me enrolando na toalha. — Hope?
Caminhei apressado para o quarto, não a encontrando. Corri até o
closet, mas estava vazio.
Saí do quarto rapidamente, sentindo a mesma sensação de desespero
quando a minha filha sumiu. Eu odiava essa sensação, não confiava em
mais nada se não estivesse olhando a pessoa a minha frente e conferindo
que estava bem.
Escutei o barulho na cozinha e fui até lá.
— O que foi? — indagou Hope enquanto comia.
Porra!
Fechei os olhos, respirando aliviado.
— Você sumiu... — disse, tentando me acalmar. — Eu tinha
esquecido que você ia descer para comer.
— Eu estou bem!
Me sentei na cadeira, sentindo meu corpo todo tremer.
— Só não fique sozinha pela casa. Sei lá se alguém consegue entrar
e você está sozinha e desprotegida, não fique sozinha.
— Pode deixar — falou, sentando-se no meu colo. — Está mais
calmo?
— Quer me matar do coração, bela ruiva? — indaguei, recebendo
um pouco da sua carícia. — Por favor, não suma assim, me avise mais de
duas vezes se necessário.
Assentiu, apenas me olhando.
Sentia que o meu coração ia parar.
— Estava pensando em fazer uma caminhada — disse Hope.
— Você? — Estranhei, rindo.
— Sim! — falou animada. — A sua falta de fé em mim é ofensiva,
sou bastante ativa em atividades físicas.
Ri novamente.
Estou casado há pouco mais de 5 meses e nunca a vi fazendo nem
que seja um exercício, olha que temos uma academia na outra ala.
— Indo dormir do sofá para cama, da cama para a espreguiçadeira
no jardim, isso são suas atividades físicas, senhora Ferraro? — debochei,
fazendo-a franzir a testa brava.
— Eu estava em uma fase ruim, era a gravidez — disse Hope.
— Então me diga os esportes que já fez? Nadar você não sabe,
correr não acredito muito.
— Está duvidando? — indagou.
— Sim! — disse.
— Vou trocar de roupa e você vai ver que eu vou dar uma volta no
jardim — disse Hope.
— Eu só quero ver.
— Eu tenho que me exercitar, a médica disse que ajuda no parto,
mas eu não posso me esforçar muito porque eu estou grávida — disse Hope
mostrando está menos empolgada do que estava antes.
— Eu não disse nada, por que está se justificando? Está com
preguiça já?
Trocamos de roupa e fomos para o jardim. Antes passei na cozinha,
porque eu sabia que ela ia inventar algo só para não dizer que estava com
preguiça.
Avisei aos seguranças para aumentarem a atenção para os pontos
cegos que tinha na propriedade enquanto caminhávamos perto da piscina.
— Vai dar quantas voltas? — perguntei.
— Não posso fazer muito esforço, faz mal para o bebê — disse
Hope já ofegante.
— Está tentando me enganar, ruiva? Não se esqueça que eu também
vou nas consultas, eu lembro do que a médica disse — falei.
Demos duas voltas e a Hope andava o mais lentamente possível.
— Lorenzo... — murmurou.
— Cansada, Hope? — perguntei cínico.
— Claro que não! — mentiu. — Só estou com fome.
— Eu trouxe uma barra de cereal — falei, tirando do bolso, sabendo
que ela inventaria algo assim. — Tudo para ajudar a minha esposa na
caminhada.
Ela sorriu forçadamente, querendo me matar com o olhar, enquanto
eu a admirava brava.
— Está bem, talvez eu tenha exagerado um pouco sobre o meu porte
atlético — disse Hope.
— Um pouco? — indaguei cinicamente.
— Lorenzo... — choramingou, jogando sujo quando me olhava
daquele jeito manhoso.
— Certo, vamos entrar — falei, segurando na sua mão.
— Se a médica perguntar, eu dei 5 voltas — disse Hope enquanto
comia a barra de cereal.
— Cadê o meu pagamento? Sabe que eu odeio mentir, então vamos
precisar de um pagamento melhor — falei maliciosamente.
— Certo, vamos resolver isso depois.
— Vou falar com o Red para te acompanhar nas caminhadas quando
eu não estiver — disse e a ruiva logo murmurou, não gostando. A médica
disse que ajudaria na hora da dor no parto, então era bom ela caminhar. —
Tem que fazer para ajudar na hora do parto.
— Certo! — falou, fingindo empolgação.
Entramos em casa e logo fomos nos arrumar.

Já havia deixado Hope na casa do Enzo, junto com a Lucy.


Agora era só encontrar o D’amico.
— Finalmente, por que vocês sempre chegam atrasados agora? —
reclamou Pietro.
— Esqueceu como é ter uma mulher grávida em casa — disse Enzo
dando um soco no seu ombro, ele estava bem violento ultimamente. —
Estou tendo que lidar com duas agora, seu arrombado.
— Força, irmão! — disse Enrico, encorajando-o.
— Por que eu tive que vir? — disse Lucca com um puta mau-
humor. — Se tiverem me enganando para me colocar em arquivar
documentos, eu vou explodir a casa de vocês.
— Porque mordomia só no rifugio. — falei. —Se tentar fugir, eu
vou te dar um tiro.
— Eu estava ocupado antes, agora eu tenho tempo livre — falou.
— Eu quero que você arme alguma coisa, que eu mato você. Deixa
o Enrico longe dele, vocês dois juntos vão ficar tramando contra nós três —
avisei.
Eu conhecia bem a astúcia do Lucca e do Enrico, eles já são os
piores, agora juntos, era um caos. Iriam se aproveitar para tirar a nossa paz
com os seus jogos.
Os dois sempre gostaram de ficar fazendo joguinhos.
— Qual é, Lolo — disse Enrico e eu saquei a arma. — Eu estou
brincando, porra.
Não confiava naquele sorriso travesso deles, eles armariam alguma
coisa.
Porra, eu estou fodido.
Enzo logo se aproximou do Enrico, tirando-o de perto do Lucca, e
eu fiquei perto dele, mas os dois se entendiam só pelo olhar.
Bando de arrombados!
Estávamos indo para uma cidade aqui mesmo na Itália, não muito
distante de onde morávamos.
— O tal do D’amico está em um spa!? — disse Lucca olhando a
documentação que o Josh me mandou.
— Queria ter tempo para ir em um — disse Enrico.
— Eu só queria ter tempo — disse.
Estávamos indo para o tal spa onde o Giovanni estava. Não
demorou muito para chegarmos.
— D’amico, há quanto tempo! — disse Pietro.
O D’amico e o Pietro não se dão bem desde quando o meu irmão
roubou de certa forma a Giulia do seu filho mais velho, Louis.
— Eu não fiz nada de errado — disse Giovanni erguendo as mãos
assim que me viu. — Eu não estou de serviço, senhor, não estou faltando
trabalho, a minha missão já finalizou, eu estou aproveitando o descanso...
— Eu sei, só vim aqui para conversarmos — o interrompi. Ele ainda
parecia assustado, os boatos que rodam sobre mim quando eu visito alguém
da famiglia não são lá os melhores, já que sempre termina em morte. —
Uma conversa civilizada, não se assuste, meu caro.
— O que eu posso ajudar, senhor? — perguntou
Ele olhava para os outros que vieram comigo, sem entender o
motivo da presença deles.
— Eles estão aqui só para analisar se eu deixei passar algo. Enfim,
soube que era muito próximo do Dante.
— Sim, eu era, mas eu não sabia o que ele fazia, eu juro. Dante
sumia muito, às vezes, nos abandonava nos trabalhos para atender
telefonemas, nunca achei que fosse algo contra a nossa máfia, ele parecia
ser tão devoto.
— Ele não dizia nada a você? Ou disse algo suspeito do Capo? —
perguntou Enzo.
— Dante tinha raiva do senhor. Achou que depois que a filha tivesse
se casado com você, ele subiria na sua patente, mas nunca subiu. Então ele
começou a procurar formas de subir por conta própria em outra máfia, acho
que foi por isso que ele traiu a própria famiglia.
Eu já não achava isso, certamente ele queria fazer algo para me
agradar e sucessivamente eu o ajudaria na sua patente.
— Ele não disse nada de importante a você ou você não achou nada
fora do comum? — perguntei.
— Na verdade, ele sempre saía nas terças e nunca mais marcava
nenhuma tarefa nesse dia para não ter que faltar nos seus compromissos.
Nas terças?
Esse cretino devia saber que nesse dia eu saía com o Enzo para
beber e aproveitava a nossa ausência para dar suas escapadas.
— Sabe aonde ele ia? — perguntei.
— Não, senhor! Mas ele vivia no telefone com alguém, menos nas
terças não ligava para ninguém. Talvez fosse o dia de encontrar com a
pessoa, não sei.
— Certo, volte para casa quando suas “férias” acabarem. Quero
você perto, caso eu tenha perguntas — disse.
Enquanto caminhamos para fora do estabelecimento, conversava
com os rapazes.
— Engraçado, já verificamos as ligações do Dante e não tinha
ligações para ninguém e muito menos muitas ligações como o Giovanni
D’amico disse — comentou Pietro.
— Acha que ele está mentindo? — perguntou Lucca.
— Não, acho que não achamos o telefone certo — disse, olhando
para o Enrico.
— Já sei, vou ficar encarregado disso — falou logo em seguida.
— Ficará responsável você e o Lucca. Se unam nisso e deixem de
brincadeiras — falei.
— Nem fodendo! — Enrico começou a reclamar. — Agora eu
entendo o porquê sou eu que vou ficar encarregado disso agora.
— Eu não estou a fim de ficar horas sentado procurando algo —
disse Lucca.
— Não vou deixar o Pietro, porque é mais capaz dos dois se
matarem. Você e o Lucca são os que mais se dão bem de nós cinco juntos. E
outra coisa, , Lucca, já está na hora de tomar responsabilidade, acha que eu
sempre serei Capo? Ou que o seu pai sempre estará aqui para te dar as
coisas de mão beijada? Não sabemos os problemas que virão pela frente. Se
a liderança achar que eu não estou fazendo o meu trabalho direito e me tirar
do cargo, acha que quem eles vão colocar no meu lugar? Você? Pietro ou
Enrico? É claro que não! Trarão pessoas de fora, porque certamente vão
tramar para tirar a nossa família das gerações de Capos seguintes e se isso
um dia chegar acontecer, você estará fodido, porque sempre fugiu e não
conseguiu construir nada aqui para ter a confiança deles. Agora pare de
reclamar e obedeça, caralho — disse por fim.
— Falando como um verdadeiro líder — disse Enzo colocando a
mão no meu ombro.
— Estou parecendo o meu pai quando me dava lição de moral antes
de eu me tornar Capo — disse, lembrando-me daquele tempo tão distante.
— Certo, segurei as suas ordens — disse Lucca. — Vou ganhar o
quê?
Sabia, figlio di puttana!
— Um tiro.
— Um beijo seria melhor — falou.
— Te dou uma missão depois — falei, tentando deixá-lo mais
animado.
— Promete.
— Eu prometo — disse
— Assim não, promete que é uma missão foda, porque se for de
transportes de cargas, eu vou matar geral.
— Vai ser uma que goste, pode deixar, seu puto — disse.
— Porra! — disse Enzo interrompendo a nossa conversa.
— O que foi? — perguntou Pietro.
— Estou com várias chamadas perdidas do Red e da Hope —
respondeu.
— Merda! — disse, indo verificar o meu celular.
Estava do mesmo jeito, várias chamadas perdidas.
Porra, aconteceu algo?
Caralho!
Logo retornei para a Hope.
Espero que nada tenha acontecido.
— Qual é o problema de vocês para não atenderem o celular? —
perguntou brava.
— Está tudo bem?
— A Lisa entrou em trabalho de parto, então tratem logo de vir
para cá — ordenou.
— Que porra! Estamos saindo daqui agora, fique calma que tudo
ficará bem — disse.
— O que aconteceu? Como está a minha esposa? — perguntou
Enzo.
— Ela entrou em trabalho de parto.
— Me deixe falar com a Lisa — pediu.
— O Enzo quer falar com a Lisa — avisei para a Hope.
Enquanto o Enzo conversava com a sua esposa, estávamos a
caminho do heliporto. Pedi um helicóptero para ser mais rápido, Enzo me
infernizará até chegar lá.
— Vamos, Lorenzo, acelera esse carro caralho — disse Enzo do
meu lado enquanto eu dirigia.
— Se acalma, irmão, você verá o seu filho nascer — disse.
— Qualquer coisa nos avisem, vamos procurar mais informações —
avisou Pietro.
— Enrico, sabe que isso é importante. Tente encontrar o outro
telefone logo — disse.
— Pode deixar! Assim que eu encontrar, eu já te aviso.
Estava surtando com várias possibilidades que poderia ter
acontecido e que foi uma mentira.
Demoramos uns 20 minutos para chegar no heliporto, logo o meu
celular tocou novamente.
— Onde vocês estão? — perguntou Hope choramingando.
— Estamos esperando o helicóptero. Daqui uns 30 minutos eu
chego aí. Está bem?
— A Lisa está me assustando, vem logo! Peça para o Enzo se
preparar porque a Lisa está mais assustadora do que no parto do Nando.
— Hope disse que ela está pior do que no parto do Nando —
repassei para o Enzo.
— Caralho! — disse Enzo.
Lisa não era louca, mas ela xingava muito, lembro do parto do
Nando e como tudo foi de mal a pior em segundos devidos as circunstâncias
daquela época.
Já havia desligado a ligação, agora era só esperar.

Chegamos no hospital e o Enzo já corria pelos corredores.


— Eu vou entrar! Pedirei para a Hope lhe encontrar aqui fora.
Enquanto eu esperava a ruiva, me lembrava que eu não havia
assistido o parto da minha filha.
Eu tinha outras “prioridades” na época e não achei que aquilo
importava, agora eu vejo o quanto estúpido eu era.
Logo vejo a Hope, vindo em minha direção.
— Parece cansada... — Não me deixou terminar e me abraçou. — O
que foi?
— Promete que quando for o nosso filho, você estará comigo. Lisa
estava com tanto medo de que o Enzo não chegasse, não sei se ficarei assim
também.
— Eu estarei, nem que eu tenha que derrotar um batalhão, estarei ao
seu lado — disse.
Ela estava assustada, não me admira, não sei como mulheres
aguentam tanta dor. Lembrei-me do parto da Emma, achei que ela mataria
alguém por uma dosagem de anestésico.
Muita mulher grávida parindo perto de mim, puta merda.
Todo mundo sempre me ligava, não sei o motivo, mas eu sempre
estava envolvido em algum parto. Será que eu virei parteiro além de
mafioso?
Não queria que com a ruiva fosse como foi com a Alessandra.
Naquela época, eu não amava ninguém além da minha família, até
achei que com o nascimento da Antonella seria só mais uma das minhas
responsabilidades, até os meus olhos irem de encontro com a loirinha
bravinha. Arrependo-me de tanta coisa, de tanta imaturidade, de tanto
medo, de tanta pressão que eu colocava em mim naquela época.
Eu poderia apenas só viver mais e aproveitar mais quem estava do
meu lado.
Quando recebemos a notícia, Bernardo nasceu forte e saudável.
Era uma nova vida, com novas pessoas.
Não nego que não sou a favor de mudanças, elas na maioria das
vezes te desestabiliza muito rapidamente e você não consegue conduzir e
muito menos controlá-las. Agora, a maior mudança da minha vida está se
tornando algo que eu goste, que não me tira mais o sono e não me causa
mais pavor.
Já estávamos em casa, enquanto a ruiva descansava, eu preparava o
jantar, já que a Lucy ainda estava na casa do Enzo.
Minha vida estava sendo tudo o que eu disse que nunca faria.
Cozinhar para a minha esposa e mostrar afeto por ela eram assuntos bem
distantes para mim. Nunca imaginei fazendo isso e olha só, eu estou
fazendo ainda mais.
Já pela manhã, Hope dormia calmamente, até quis ficar mais um
tempo ao seu lado, mas tinha que resolver alguns assuntos na boate.
Hoje Alessandra viria aqui, já que ela estava há alguns dias
querendo falar com a minha esposa.
— Rubens, quais são as novidades? — perguntei assim que cheguei
na boate.
— A clientela está boa, pagando devidamente. Sem confusões ou
reclamações, livre de qualquer suspeita — respondeu.
— É isso que eu gosto de escutar — disse.
— Senhor, o seu pai está no escritório o aguardando — disse
Adeus paz e sossego.
— Oi, pai! — disse assim que entrei no escritório.
— Está de bom-humor? — estranhou a minha educação. — Soube
que estão investigando o que Dante havia lhe dito.
— Só conferindo para saber se não deixamos passar nada. De
qualquer forma, mesmo ele estando vivo, não teria falado.
— Tome cuidado, se for algo envolvendo os Japoneses, fique ciente
que problemas aumentaram — informou.
— Pai, não preciso dos seus sermões...
— Não é sermão, Lorenzo. Seu filho nascerá em alguns meses, quer
que ele nasça no meio de uma guerra de poder entre máfias? Pense bem e
planeje melhor. A pressa é...
— Inimiga da perfeição. Eu sei, pai, não colocarei a minha família
em risco.
— Mas não era só isso que eu vim falar com você hoje — falou. —
Recebi o convite de casamento da filha da Victoria, já que é difícil ter
acesso a você e aos seus irmãos, ela me mandou os convites de vocês.
— Então você irá? — perguntei
— Não podemos negligenciar nosso dever com o nossos parentes,
não esqueça.
— Isso será um problema. Leonel não pode ficar dois segundos
perto da Victoria sem querer matá-la, na verdade, todos nós estaremos
sendo vigiados por eles, só para nos denunciarem para a liderança.
Tinhas uns dois anos não o víamos mais.
Foram os melhores dois anos.
— Por isso eu vim antes, trate de deixar os seus irmãos cientes das
provocações deles e vamos tentar manter tudo tranquilo — disse meu pai.
Ele havia “perdido” a liderança de Capo por uma denúncia anônima.
Não duvido que tenha sido alguns dos seus irmãos, do jeito que sentiram
inveja do meu pai por ter tal poder aqui.
Surgiram provas de que o meu pai não estava comandando a máfia
corretamente, usaram o ano que ele ficou longe por meses e o Leonel estava
no seu lugar.
Assim que eu assumi o poder de Capo eu os tirei dos negócios,
fazendo cada um trabalhar por conta própria, sem nenhuma ajuda do
dinheiro da máfia.
Se queriam nos foder, eu que os fodi primeiro.

Meu pai do meu escritório saiu e eu aproveitei para deixar os meus


irmãos cientes do que estaria por vir.
Fiz uma vídeo chamada com eles, já esperando o surto.
— Vou nem fodendo! — disse Enrico assim que eu disse do
casamento.
— Essa eu passo, tenho mais o que fazer — disse Pietro.
— Eu terei que punir vocês se não forem por negligência familiar,
vocês que sabem. Então, vamos evitar problemas para mim — disse
— Eu vou sair no soco com o Davis de novo, vou logo avisando —
disse Pietro.
Eles tinham sérios problemas, Davis, no começo do casamento do
Pietro com a Giulia, soltava umas investidas para ela, o que não deu muito
certo. Ele fazia isso para arrumar briga e relatar isso a liderança para me dar
problema.
Apesar de ser o nosso tio, sempre que Pietro e ele se encontravam,
dava em briga. Enrico, por outro lado, não pode ver uma oportunidade de
aprontar e tramar as coisas junto do Lucca.
E eu como sempre tinha que limpar a bagunça deles.
— Só vamos manter tudo na santa paz. Agora, eu tenho que avisar a
minha esposa o que lhe aguarda — falei.
— Eita, é a primeira vez dela com a nossa família — disse Enrico.
— Lembro quando foi a da Emma, ela passou a noite chorando.
— Também, ela veio na época dos ataques — disse Pietro.
— O casamento é daqui a duas semanas, mandarei os convites de
vocês — disse por fim.
Resolvi ir para casa e conversar logo com a Hope.
Fui para o meu escritório e pedi para o Red chamar a Hope. Ela
estava se despedindo da Alessandra, mas logo apareceu.
— Sì! — falou assim que adentrou no escritório.
— Sente-se! — pedi, sentando-me ao seu lado.
— Fiz algo de errado?
— Você não fez nada de errado, então não precisa se preocupar. Pedi
para que viesse aqui porque tenho que explicar algumas coisas a você, mas,
primeiramente, está bem?
— Sim, fiquei um pouco enjoada pela manhã, mas foi só isso.
— Certo! Daqui a duas semanas, viajaremos para o casamento da
minha prima, filha da irmã do meu pai.
— Tudo bem! — Ela ficou um pouco assustada. — Mas por que
está me avisando agora?
— Era esse o ponto que eu quis chegar. O casamento será no
domingo daqui a duas semanas, porém terá uma festa na sexta-feira e no
sábado despedida de solteiro. Isso não é importante, mas sim que iremos
ficar hospedados na casa de férias da minha tia. Minha família toda estará lá
e passará o final de semana conosco.
— Bem, mas ainda não entendi o que isso me envolve — falou.
— Hope, eu estou te dizendo para que se prepare nessas semanas.
Esse final de semana pode rolar de tudo naquela casa. Orgia, drogas e
brigas. Não tenho uma relação boa com a minha família, então fique
preparada para tudo. Não posso negar a minha presença nesse casamento, se
não estaria quebrando uma das minhas leis. Infelizmente, são os meus
parentes e teremos que ir.
— Lorenzo...
Sabia que ela pediria para não ir.
— Você irá, é a minha esposa e não ficará aqui. Ficarei ao seu lado o
tempo inteiro, é só não se misturar com ninguém, ruivinha. Não precisa
ficar assustada — disse, passando a mão na sua barriga. — Você não se
incomoda, não é!?
— Ah, não, eu gosto!
Gostava de sentir o nosso filho, mesmo sem ele mostrar reação
alguma visivelmente falando.
— Será que conseguiremos ver o sexo na próxima consulta? —
perguntei.
— Acho que já dará para ver. A Doutora Olivia na última consulta
não conseguiu ver muito bem pela posição que o bebê estava, mas acho que
agora já vai dar para ver melhor.
— Você já tem algum palpite? — perguntei.
— Não sei, o tanto que venha com saúde, está ótimo! A Lucy acha
que será uma menina, mas não sei de onde ela tirou isso. Red acha que é um
menino, o Thony disse a mesma coisa.
— Sonhei esses dias com uma menina também, mas eu não me
importo também se for menino ou menina.
Sonhei algumas noites com a Hope correndo pela casa atrás de uma
menininha ruiva. Ela sorria entusiasmada, tentando não ser pega pela
ruivinha menor. Normalmente não sonho, como não durmo com frequência,
quando me deito, eu geralmente capoto.
— Mas a liderança não quer que seja menino? — perguntou.
— Se nascer uma menina, poderemos tentar de novo até que venha
um menino — falei, já com um sorriso malicioso nos lábios.
Ela me olhou e sorriu pelo meu flerte.
Não conseguia parar de olhá-la.
A sua perfeição era tamanha que era como um vício para mim, eu
tinha que estar sempre a olhando e observando os seus detalhes.
— O que você está fazendo para me deixar tão louco assim por
você, ruiva? — perguntei, beijando o seu pescoço. — Você um dia irá me
enlouquecer, ragazza.
Hope sorriu timidamente, apenas me observando.
— Ficou pensativa. O que foi? — perguntei.
— Nada, eu só gosto de como você me olha — disse
— Eu queria passar cada segundo da minha vida só te observando,
Hope — falei, passando a mão pelo seu cabelo, sentindo a macieis dos seus
fios.
Hope me beijou e eu logo fiquei em pé, levando-a para o nosso
quarto. Coloquei sobre a cama, ainda a beijando.
— Lucy já vai nos chamar para o jantar.
— Vou tentar ser rápido — falei.
— Cuidado com os meus seios, estão mais doloridos hoje — disse
Hope enquanto eu descia os beijos.
— Certo! — falei, tirando o seu vestido.

Depois de um momento ao lado da ruiva, estávamos no banheiro


tomando banho.
— Você ainda vai sair? — perguntou.
— Terei que resolver algo no depósito. Por quê?
— Achei que já tivesse resolvido os problemas — falou.
— Tem alguns pendentes que estão sendo bastante demorados.
— Essa semana eu vou poder ir para casa da sua mãe para o clube
do livro ou ainda é perigoso?
— Se quiser ir, pode, mas eu aumentei a segurança.
Não vou confiar em deixá-la em perigo.
Observava-a enquanto tomava banho, olhando a água escorrer pelo
seu corpo. Ela sempre terminava o banho mais rápido, porque eu sempre
estava admirando.
— Eu vou trocar de roupa e descer.
— Avisa a Lucy que eu não vou jantar aqui — pedi.
— Certo! — disse Hope se enrolando com a toalha. — Lorenzo, eu
vou descer, está bem!?
— Sì!
Não nego que fiquei feliz por ela ter me avisado mais de duas vezes.
Não que fosse necessário, mas, como da última vez eu esqueci, foi
assustador pensar em perdê-la também.
Hope saiu do banheiro e eu terminei de tomar banho.
— Estou indo! — falei, dando um beijo na testa da Lucy, logo se
aproximando da Hope. — Não fique sozinha.
— Eu sei — falou.
— Qualquer coisa, me liga — disse, dando um beijo em seus lábios.
— Tome cuidado!
— Eu sempre tomo, ruiva — falei, dando uma piscadela.
Agora era só esperar o maldito casamento. Fui para o depósito ver
como as coisas estavam.
— Boa noite, Capo! — disse um dos seguranças.
— Boa noite! Vou para o meu escritório, me mande toda a
documentação de quem foi preso essa semana e quando é a audiência de
cada um.
Tinha trabalho acumulado para resolver, teria que eliminar um por
um até o Enrico achar o celular, porque eu sentia que isso tomaria mais o
meu tempo e que alguma coisa estava por vir.
Que porra!
As semanas foram se passando e o caso Dante estava me deixando
mais louco.
Minha prioridade depois da morte dele seria o seu irmão, mas como
aquilo que o maldito disse não saía da minha cabeça, tive que mudar as
minhas escolhas. Deixei o Josh na cola do Marco esperando um passo em
falso dele. Enrico havia encontrado um celular no hotel onde o Dante havia
se hospedado no dia em que o encontramos no bar.
Ele e o Lucca já estavam verificando as ligações.
Havia tantas chamadas para casas de prostituição que verificar cada
uma demoraria muito. Hoje ainda tem a viagem para a casa da minha
família para atrasar a nossa investigação.
Como não estava envolvendo ninguém da máfia, estava indo tudo
lentamente, porque cada um de nós também tinha as suas tarefas aqui e
complicava ainda mais.
Um dia de paz era o que eu queria.
Todos os dias os problemas aumentavam e com isso, o meu tempo
fora de casa ficava sempre inconstante.
— Já está pronta? — perguntei para Hope assim que eu entrei no
quarto. Ela logo assentiu que sim. Aproximei-me dela, abraçando-a por trás.
— Quase optei por ir de carro para Milão. 6 horas presa comigo dentro de
um cubículo, você não me escaparia.
— 6 horas comigo vomitando, seria um pesadelo para você. O
casamento será em Milão?
Hope tinha uma certa mania de se esquivar das minhas investidas.
— Sim, o clima lá está chuvoso, então se prepare para o frio —
disse.
— Não preciso me preocupar, já que eu vou ficar agarrada em você.
Me esquentará esse final de semana, Sr. Ferraro.
Eu nem sabia o que responder de imediato. Havia ficado surpreso
por ela ter flertado comigo. Ela estava ficando mais segura de si perto de
mim e isso me deixava mais tranquilo.
— Bom saber que você não sairá dos meus braços esse fim de
semana — disse, beijando-a. — Mas agora temos que ir, o jatinho já está
nos esperando.
Já havíamos pousados, Hope ainda dormia. Eu a coloquei no carro
ainda dormindo, já que não acordou por nada. Estava no celular, olhando os
números que o Dante ligou tentando encontrar algum número da lista que
pudesse ligar a alguém.
— Por que não me acordou? — perguntou Hope sonolenta,
estranhando estar dentro do carro.
Guardei o celular, olhando-a.
— Você parecia estar cansada e eu não atrapalharia o seu sono.
— Já estamos chegando na casa da sua família?
— Sì! — respondi. — Já deixei Red ciente do que fazer, caso eu
precisasse sair.
Caso Enrico encontrasse algo, não poderia conversar com ele lá,
naquela casa.
— Sair? Você não pensa em me deixar sozinha com eles? —
choramingou. — Me leve com você, por favor!
Hope não sabia o poder que tinha nas mãos.
A sua beleza e pureza me fazia ficar de quatro quando ela fazia
aquilo com o olhar. Não sei bem como ela faz isso e duvido muito que seja
algo de propósito, mas ela me olhava daquele jeito, que se ela me pedisse
qualquer coisa impossível, eu morreria tentando dar a ela.
— Não faça isso com os olhos — disse um pouco desconfortável.
— O quê? — perguntou.
— Isso com os olhos. — Apontei para eles. — Esse olhar...
Esquece, só não faça, por favor.
— Tudo bem, desculpe!
— Já disse que não precisa ficar se desculpando, Hope — disse.
Realmente aquilo me incomodava. Sei que no começo poderia ser
algo que não chamaria a minha atenção, mas agora, constantemente lhe vejo
falando isso, então eu sempre acho que estou sendo rigoroso demais com
ela, lhe tratando menos como minha mulher e mais como membro da máfia.
O motorista logo nos avisou que estávamos na propriedade da
minha família. Assim que entramos, os desgraçados estavam dando uma
festa.
Me controlei para não atirar em todos ali.
Como esses filhos da puta dão uma festa e não me avisam?
— Os figlio di puttana resolveram dar uma festa e não nos avisaram
— disse o meu pai se aproximando de nós.
— Capo! — disse Davis se aproximando também. Pietro logo
trancou a cara com raiva. — Por que demoraram tanto para chegar?
— Não acho que seja da sua conta — quis cortar o assunto.
— Deixa de querer se meter na vida do meu filho, seu figlio di
puttana — falou meu pai.
Apesar dele ser um puto, o meu pai sempre sentiu nossas dores. Se
alguém estava com raiva, ocasionalmente, todos nós estávamos.
— Olha o jeito que você criou os seus filhos, não tem um pingo de
respeito pela família — retrucou Davis.
— Cala a porra da boca, tio Davis — disse o Lucca. — Quer
respeito, mas quando abre a porra da boca, eu quero atirar em mim de tanta
merda que fala.
— Não viemos aqui para brigar — alegou Victoria se aproximando.
— Domingo será o casamento de minha filha mais velha, quero que seja
tudo perfeito e em família. Tratem de se comportarem.
— Não quer briga, mas é a primeira que começa, sua vaca
manipuladora — disse Leonel.
Leonel e Victoria tem uma rixa desde antes eu nascer.
Victoria era melhor amiga de uma mulher que o Leonel gostava na
juventude, ela tramou contra os dois e a moça que Leonel gostava se casou
com outro. Desde então os dois se odeiam, porque ela disse que o Leonel
estava com outra.
Sei que a briga não foi por causa da mulher, mas pelo fato do Leonel
ter saído como mentiroso e o que ele mais odeia era mentira.
Para o azar dele, ele criou quatro filhos mentirosos.
— Olhe... — ela ia dizer algo, mas eu a interrompi.
— Se vocês não calarem a boca, eu vou cortar a língua de cada um.
Ainda estamos na Itália, eu ainda tenho o poder sobre vocês. Se alguém
ousar desobedecer, eu os mato antes mesmo dessa porra de casamento
acontecer.
— Desculpe, Capo! Estamos com convidados, juntem-se a nós.
Os meus irmãos logo saíram.
Queria fazer o mesmo, mas tenho que primeiro falar com alguns dos
convidados, já que vejo que muitos aqui são aliados antigos da máfia.
Enquanto eu conversava com alguns convidados, Hope observava o
local atentamente.
— Como anda o projeto do banco de sangue? — perguntou.
— Já foi inaugurado há alguns anos, apesar de ter sido um projeto
recusado pela grande maioria de vocês, minha intuição não costuma falhar
— Não ia perder a oportunidade de alfinetar. Eles trabalhavam aqui fora em
hospitais e laboratórios, seria fácil com a ajuda deles, mas recusaram o meu
pedido porque não gostavam da minha gestão. Não obrigamos o membro a
ajudar, eles poderiam escolher outros serviços, mas ter o meu pedido
negado, me deixou bastante rancoroso com eles. — Hoje esse projeto é
considerável um sucesso pelos líderes de outras máfias.
Foi um dos meus primeiros projetos quando comecei a liderar.
Via que a falta de equipamentos e pessoas capacitadas, causava mais
mortes de membros do que em guerras entre máfias.
Como o hospital desse suporte e também passávamos por
transplantes dependendo da gravidade do caso que o membro se feriu,
tínhamos muito gastos com o mercado negro. Então pensei que poderíamos
tirar proveito dos traidores, se estavam saudáveis, viravam nossos
"doadores". De coleta de sangue para quando fosse necessário, ter algum
compatível, até para os transplantes, extraindo apenas os órgãos que
estamos precisando.
Isso diminuiria os gastos da máfia e também os nossos membros em
hospitais da cidade. Causava muito espanto um homem chegar com tiros no
corpo e mostrando índices de que foi torturado, sendo que na ficha era
acidente de trânsito.
Era irônico, mas chamava atenção da polícia.
— Lorenzo! — disse Bruna, a minha prima, vindo me abraçar,
atrapalhando a conversa.
Ela estava diferente, havia pintado os cabelos de ruivo.
Os rapazes saíram, talvez para não me verem me gabar de um
projeto que eles disseram que nos levaria o fim da máfia por não ter
condições de bancar.
Minha atenção agora era na minha prima, que sorria como se tivesse
ganhado um prêmio de mim.
Não tínhamos uma boa relação em família, já que o meu pai não nos
deixava nem brincar com os meus primos quando criança.
Único que tínhamos contato era Lucca.
— Está amassando o meu terno, caralho — disse sem paciência, já
que ela não havia parado de me abraçar.
— Desculpe, estava com saudades de você — respondeu um pouco
constrangida.
Nunca nem conversei com o pessoal daqui, estão com saudades de
quê?
Só se for de tentar me enganar para que eu desse atenção ou um
cargo.
— Bruna, finalmente te encontrei! — disse Safira se aproximando
de nós. Vejo que ela também mudou, já que está loira. — Há quanto tempo,
Lorenzo!
— Preste bem atenção, Bruna e Safira. Não sei que porra vocês
acham que tem intimidade comigo, mas me chamem de Capo, entendeu?
— Desculpe, Capo! — disse Safira. — Obrigada por virem ao meu
casamento.
Soube que ela se casaria com o palerma do Luiz.
— Lorenzo, eu posso subir? Eu estou cansada e enjoada — disse
Hope no meu ouvido.
— Eu não subirei agora e o Red saiu para comprar algo para você
comer. Não ficará lá em cima sozinha.
— Tudo bem! — respondeu cabisbaixa, fazendo aquilo com os
olhos.
Puta merda!
— Que porra, Hope!
— O que eu fiz? — perguntou sem entender.
— Fica jogando sujo me olhando assim — disse, logo me
aproximando do Davis. — Irei subir e não quero que me incomodem.
— Já? Mal chegaram e temos convidados... — disse Victoria e eu a
interrompi.
— Minha esposa não está se sentindo muito bem, então vou ficar
com ela no quarto.
— Ela não pode ficar sozinha? — disse minha avó se metendo na
conversa. — Que mau costume é esse que deu para os seus filhos, Diego?
Não largam as esposas por nada. Não criei vocês desse jeito e não gosto de
como os meus netos foram criados.
— Vó Matilde, não me faça mandar a senhora ir para casa do
caralho e cuidar da sua vida — disse. Ela acha que eu não sei que pedia
para o meu pai nos enganar e assumir a empresa que está no nome dos
filhos agora, apesar de quem gerencia é o Pietro. — Da minha esposa, cuido
eu.
Subi com a ruiva, sem prolongar a maldita conversa.
Deixei o Leonel à frente, para que ele converse com os aliados que
estão aqui.
Já no quarto, enquanto a Hope tomava banho, eu tratava de resolver
algumas coisas pelo telefone com Enrico.
— Lorenzo, a gente ligou e todos eram de casas de prostituição
mesmo. Esse cara era o maior punheteiro que eu já conheci — disse
Enrico.
— Merda, mas ele falava com alguém. Tente ver se não havia algum
homem em uma dessas casas que ele não conversava.
— Já comecei a verificar — falou.
— Lucca está se saindo bem? — perguntei.
— É preguiçoso, mas faz o trabalho que mandam. Só precisa
demais um empurrãozinho para fazer o trabalho sem precisar pedir, já que
ele fica no telefone não sei com quem resolvendo algumas coisas.
— O ajude, ele é o mais próximo de você — disse.
Continuei conversando com o Enrico por mais algum tempo. Logo
uma voz vindo do quarto me chamou atenção. Desliguei o celular, indo para
dentro do quarto.
O que eu vi, eu não gostei.
Minha avó conversando com a Hope na porta. Vi que ela passaria a
mão na barriga da Hope e não duvido de estar com algo na mão só para
matar o meu filho.
Segurei na sua mão antes que encostasse na Hope.
— O que faz aqui? — perguntei para a minha avó, logo olhando
para Hope desaprovando a sua conversa com ela.
— Não posso vir ver o meu neto? — perguntou ofendida. Sua
atenção era a sua mão que eu ainda segurava. — Não posso tocar na barriga
da sua esposa?
— Não quero que chegue perto da minha esposa. Agora... — Fechei
a porta sem querer muita conversa com ela. Hope caminhou para perto da
cama e eu logo a segui. — O que foi isso, Hope?
— Escutei alguém batendo e achei que era o Red. Eu ia te chamar,
só que ela não deixou — respondeu.
— Já disse que não quero você perto da minha família — disse.
— Se não me queria, então por que me trouxe? Eu não sou igual a
você, Lorenzo. Não fecho a porta na cara dos outros e não sei ser grosseira.
Não me peça para ser assim, porque eu não sei ser. Você disse que ficaria
comigo, mas tecnicamente, você não está. Você estava na varanda da hora
que chegou, enquanto eu estava aqui sozinha à mercê deles. Então não me
culpe por isso.
— Me desculpa, Hope! — disse, aproximando-me dela. — Quando
eles aparecem novamente, grite e me chame. Red está lá fora, poderia pedir
para ele jogar ela da escada ou dar um tiro nela.
Ela riu e o seu sorriso já acalmava o meu coração atribulado.
— Lorenzo... — disse Hope hesitando em falar. — Se eu perguntar
algo, você promete não ficar bravo?
— O que quer saber?
— Promete não ficar bravo? — perguntou.
— Não sei, depende do que seja — disse e ela ficou em silêncio. —
Prometo, Hope.
— Por que não gosta da sua família?
— O problema foi com o meu pai e nos envolveu. Eles são sacanas
e eu não quero corromper a sua cabeça com assuntos que envolvam a minha
família — expliquei. — O quanto menos souber sobre a minha família, será
melhor.
— Tudo bem!
— Amanhã é a despedida de solteiro. Fique perto de mim e não fale
com ninguém — falei, beijando o seu pescoço.
Ela me olhou um pouco pensativa.
— Não consigo pensar direito quando você me olha assim — disse.
Beijei os seus lábios, colocando-a em meus braços e a levando para
a cama.
— Eu estou um pouco enjoada.
— Tudo bem! — disse, parando de beijá-la. — Precisa de algo?
— Não! Pode ir comer, deixei a comida na mesa.
— Não estou com fome, vou ficar aqui com você.
— Lorenzo, você não comeu nada, vai comer. — Hope insistiu.
— Está treinando para quando for o nosso filho? — perguntei, indo
para a mesa. — A ruiva está mandona hoje.
Ela era bem autoritária quando queria.
Resolvi comer logo e aproveitar o tempo que eu tenho com ela.
Quando eu chegar em casa, vai estar cheio de trabalho do final de semana
acumulado.
No meio da madrugada, escutei a ruiva me chamar.
— Lorenzo...
— O que foi? — perguntei sonolento.
— Estou com frio e não achei nenhum cobertor aqui.
Lembrei que havia pedido para o Red tirar as coisas que estavam
aqui antes. Não confiava do lençol que usavam até da comida que
colocavam na mesa.
Sorte que havia deixado cobertores do jatinho no carro, já que a
ruiva estava com frio no caminho.
Levantei da cama, saindo do quarto.
— Algum problema? — perguntou Red assim que me viu.
— Não, vou pegar uns cobertores no carro, fique de olho na porta —
disse.
Fui até o carro, logo retornando para casa, tendo a infelicidade de
esbarrar com o Davis.
— Acordado a essa hora? — perguntou curioso. Sua atenção estava
agora nos cobertores nas minhas mãos. — Tinha no quarto, por que não
usou os de lá?
— Não finja que não sabe o motivo de nós não usarmos nada daqui.
Ou acha que eu não sei que foi um de vocês que tramou contra o meu pai?
Ah, vão se foder!
— Não precisa ficar bravo. Amanhã terá a tradição, posso deixar
uns cavalos separados para o senhor e seus irmãos.
— Como se a gente quisesse participar de uma tradição idiota
dessas. Se eu quero matar alguém, eu mato e pronto. Ficar caçando,
perdendo o meu tempo — disse, tentando logo me livrar dele. — Antes que
eu esqueça, a liderança está bem descontente com a forma que as patentes
aqui estão sendo seguidas.
Apesar de ter patentes baixa e alta, dependendo da família, ninguém
passava necessidade ou era escravo de alguém. Aqui a patente baixa
trabalhava que nem escravo para os mais ricos, mesmo não sendo os
traidores ou ladrões que eles usavam como brinquedos.
Isso me deixava puto. Todos nós fazíamos parte de uma só famiglia,
mesmo sabendo que muitos tinham seus problemas com os mestiços ou os
que não tinha as mesmas patentes, nós ainda sim cuidávamos de cada
membro aqui. Não tinha o motivo de uma pessoa da famiglia passar
necessidade, sendo que fazia a mesma coisa que uma patente alta fazia.
— O que o senhor quer dizer com isso?
— Quero dizer que essa mordomia de vocês vão acabar — disse por
fim, deixando-o sozinho lá embaixo.
Entreguei um cobertor ao Red, caso ele precisasse, e entrei no
quarto.
— Caso você sentisse mais frio, eu trouxe alguns a mais — disse,
deitando-me já na cama.
— Obrigada por ter ido atrás.
— Durma, acordaremos cedo — disse.
Agora eu quero descansar e esquecer a merda que nos aguarda
amanhã.
Quando despertei pela manhã, a Hope ainda dormia. Aproveitei para
tomar um bom banho gelado. Meus irmãos diziam que eu era estranho por
gostar de tomar banho com água gelada, mas, para mim, não fazia
diferença.
Eu sentia muita dor e a água gelada ajudava a neutralizar isso um
pouco. Quando voltei para o quarto, Hope já estava acordada.
— Já ia te acordar — disse.
— Para onde vamos?
— A um lugar — respondi sem querer dar tantos detalhes dessa
família para ela. Espero nunca mais ter que trazê-la aqui. — Só iremos fazer
uma tradição idiota de família.
— Tradição? Isso é por causa do casamento ou só porque estão
todos juntos?
Hope estava muito curiosa e isso poderia se tornar um problema.
Não queria que aqueles olhos olhassem o que não era para se ver aqui.
— Hope...
— Não é da minha conta, desculpa, força do hábito — falou.
— Já falamos sobre a sua mania de se desculpar.
Sei que ela teve os seus costumes, mas sempre pedir desculpas me
fazia achar que estava sendo grosso com ela sempre.
Hope foi tomar banho e eu fui terminar de me arrumar. Então Red
entrou no quarto com a nossa comida.
— Red, se houver algum problema, tire a Hope de lá as pressas. Seu
dever é protegê-la, não se preocupe comigo — disse a ele, não sabia se
aconteceria alguma coisa, mas é melhor prevenir.
— Sim, senhor!
Descemos e os meus pais já aguardavam na sala.
— Onde estão todos? — perguntei.
— Devem estar se atrasando de propósito para ver quem mata quem
primeiro — disse Leonel se aproximando de nós.
— Que inferno! — reclamou Lucca. Ninguém aqui sabe ser pontual,
não?
Eles estavam fazendo de propósito. Bando de bundões!
— Vamos aguardar o Enrico e o Pietro chegarem — disse meu pai.
— Oi, ruivinha! — disse Lucca dando uma piscadela para ruiva.
Arrombado para querer confusão.
— Queria ser o Enzo agora, não precisar vir para cá — disse.
— Está linda, Hope! — disse Lucca entediado certamente.
— Lucca, não vai matar o tédio arranjando confusão — disse Ruth
ao filho.
— Relaxa, estava só brincando, a ruiva sabe. Você é linda, mas
sinceramente não é o meu tipo, só estava tentando tirar o Lorenzo do sério
antes.
— Eu sei, por isso mandava ela ficar longe de você, seu puto —
retruquei, querendo lhe dar um soco mais ele estava longe.
— Vai se fuder, acordei cedo e não tem um filho da puta acordado
ainda? — disse Enrico falando alto. — Que porra!
— Dia de merda, ainda junto com esses arrombados, é que fode
tudo — disse Pietro entrando na sala com um corte na boca.
— O que é isso na sua boca? — perguntei, apontando para a ferida.
— Já resolvi com o causador disso — respondeu Pietro.
Ele tinha brigado com o Davis, tenho certeza disso, mas pelos
danos, não demorou muito.
— O que vai ser, Lorenzo, vamos ficar aqui esperando a boa
vontade desses bundões descerem? — perguntou Lucca.
— Dou permissão para acordá-los da melhor forma possível —
disse, sentando-me no sofá despreocupado.
Deixei que os mais jovens se divirtam.
— Era isso que eu queria escutar, caralho! — disse Enrico animado.
Um crianção mesmo.
Meus pais foram esperar no carro, enquanto o Leonel e a Ruth, junto
das esposas dos meus irmãos, permaneceram na sala.
— O que pretende fazer? — perguntou Pietro ao Lucca.
— Pensei em atirar neles — disse Lucca.
Eles me olharam, esperando-me aprovar isso. Sei que se eu
aprovasse, quem teria problemas com a liderança era eu.
— Que graça teria atirar neles hoje e não infernizá-los o resto do
final de semana?
— Só acordem logo os malditos, tenho mais o que fazer — disse
Leonel.
Enrico e o Lucca subiram animado. Hope estava ao meu lado um
pouco nervosa. Às vezes, eu esquecia que ela não era acostumada com essa
animação.
— Acho melhor a gente subir, antes que algum daqueles arrombados
machuquem o Enrico ou Lucca — disse Pietro a mim.
Conhecendo o resto da família, não duvido de machucarem eles.
— Leonel, não deixe ninguém chegar perto da Hope.
Eu e o Pietro subimos para o andar de cima, logo começou um
barulho de coisas se quebrando nos quartos.
— Seu filho da puta! — Escutei o marido da minha tia gritar.
Quando me aproximei, vi que o Lucca tinha derrubado a estante que
ele colecionava bebidas antigas no chão.
— Na próxima vez, acorde cedo e não perca o horário. Não tem
compromisso? — perguntou Lucca. — O Capo me deixou preso por quase
1 dia por causa de 3 horas de atrasado, eu aprendi e você vai aprender
também.
Não lido bem com atrasos.
Pelo menos, o puto estava aprendendo alguma coisa.
— Andiamo, Lucca, tem outros quartos pela frente — o chamei.
Pietro já havia ido atrás do Enrico e eu fiquei com o Lucca.
— Vai deixar ele sair impune dessa, Capo? — perguntou o meu tio.
— Como ele disse, se tivesse mantido a promessa do horário que
havia nos informado, isso não teria acontecido — disse, saindo dali com o
Lucca.
— Quero ir no quarto da Victoria — falou Lucca entusiasmado.
Ele era que nem o Enrico, uma criança no corpo de um homem.
— Faça o que tem de fazer — disse, encorajando-o.
— Tem que ir comigo, para me livrar de uma acusação depois com a
liderança.
— Eu estou indo! — falei, mesmo assim sendo puxado por ele.
Caminhamos para o quarto da Victoria e os gritos misturado com as
risadas do Enrico e do Pietro devem estar sendo escutados pela casa toda.
Era só uma pegadinha, nada demais.
— Se a liderança perguntar o que aconteceu aqui, digo que você está
em treinamento. “Isso era uma forma dele aprender a entrar e sair das
missões sem ser visto” — disse ao Lucca que logo sorriu animado.
— Parece convincente para mim.
Eu observava da porta, ele indo até a cama da Victoria lentamente.
— Bora, porra, acelera aí! — disse, já perdendo a paciência pela
demora.
— Calma!
— O que vai fazer? — perguntei curioso.
— Não vou matá-la, relaxa.
— O que está fazendo aqui? — perguntou Victoria se sentando na
cama assustada. Seu marido que estava ao seu lado, logo se sentou
enfurecido.
— Você acabou com a brincadeira, Lorenzo, seu arrombado —
reclamou Lucca. — Na verdade, eu pensei em fazer uma pegadinha, mas já
que meus planos foram por água baixo, resolvi fazer algo melhor.
— Capo, até o senhor está envolvido nisso? — perguntou Victoria.
— Só estou observando, nada demais — disse. — Continue, Lucca.
— Sabe o que Victoria fez na festa de Natal do ano passado? —
perguntou Lucca para o marido dela.
Ela logo se assustou, atiçando a minha curiosidade.
— Cala a boca, seu pirralho — disse Victoria logo em seguida. —
Não dê ouvidos, querido, ele está tentando te colocar contra mim.
— Eu não, a ocasião — falou Lucca. — Ela está tendo um caso com
o seu amigo do trabalho, aquele que tem um bigode estilo Hitler. Fizeram
sexo no seu escritório, eu tenho o vídeo, é nojento, mas posso te mandar se
quiser.
— É mentira! — disse Victoria.
— Mando por e-mail — disse Lucca caminhando até mim. — Vou
sair e deixar o casal se resolver. Isso foi um presente do meu pai para você,
Victoria, sua vadia.
Vingando o Leonel.
— Vamos descer, antes que as coisas sobrem para você — o chamei.
— Foi divertido, não foi? — disse Lucca colocando o seu braço por
cima do meu ombro.
— Você sabe que ela será castigada por traição ao marido, não é? —
confirmei o que suspeitava.
— Sei sim, ela quer pagar de boa samaritana na frente de todos,
sempre falando mal de nós e de como somos demônios — falou, rindo. —
Vamos ver o que fará quando for castigada e julgada na frente da famiglia.
Descemos enquanto o Lucca e o Enrico conversavam do que
fizeram entre eles.
— Já terminaram? — perguntou Leonel e confirmamos que sim. —
Andiamo!
Havia carros esperando por cada um de nós. Entrei no carro com a
Hope, e o Red já permanecia no banco da frente.
— Esperaremos o resto deles descerem — avisei ao motorista.
— Você está bem? — perguntou preocupada.
— Estou!
De certa forma, foi bom sair um pouco do padrão. Ver o quanto eles
se divertiam me fazia lembrar de quando era eu, o Enzo e o Pietro mais
jovens. Seja isso que essas duas pestes se inspiraram, em nós.
Não demorou muito para o resto da família aparecer. O caminho
para a propriedade onde acontecia a tradição foi bem rápido, já que era
perto o limite que eu estabeleci para eles saírem.
Assim que adentramos no lugar, tratamos logo de nos sentar. Hope
observava todo o lugar e me olhava um pouco assustada, mal sabia do que
vinha pela frente.
— Não diga nada — disse quando eu vi seu olhar julgador dos
empregados de algumas pessoas que estavam aqui.
— Lorenzo, isso pode? — perguntou baixinho.
Expliquei para ela um pouco do que acontecia.
As pessoas que seriam mortas, eram traidores que roubaram,
delataram ou fizeram algo contra eles. Como eram os seus inimigos, eles
poderiam matar da forma que quisesse.
Logo iniciaram os jogos.
— Já vai começar, venha — disse, puxando-a para perto de mim.
— Eles vão machucar aqueles homens?
— São traidores, Hope. Não se meta nos assuntos da minha família,
se não sobrará para você, está entendendo?
— Mas Lorenzo...
— Está me entendendo Hope?
— Sì! — respondeu cabisbaixa.
— Obedeça, por favor! Se fazer algo errado aqui, eles te punirão,
está na propriedade deles — falei.
Eu posso ser o Capo, mas se eles acharem que ela foi desrespeitosa
com eles na estadia dela aqui, eles poderiam julgá-la por isso, já que
estamos na sua propriedade.
Ela logo colocou o rosto sobre o meu pescoço para não assistir a
cena seguinte. Não era nada de novo, havia uns com flechas, outros com
machados, cada um com os seus cavalos corriam atrás dos prisioneiros pelo
campo. Quem derrubasse a maior quantidade ganhava.
— Número 8 foi derrubado — falou.
— Quero ir pra casa, Lorenzo — falou Hope no meu ouvido.
— Já está acabando.
— Dê pra ela — disse Leonel me entregando um protetor de ouvido
e ela logo agradeceu.
Não demorou muito para aquilo acabar.
— Terminou — falei, tirando o tampão do seu ouvido. — Olhe
apenas para o chão.
Do jeito que está, se ela vesse, não dormiria por dias.
— O que acharam? Hoje foi um dia bom para jogar — perguntou
um dos investidores dessa palhaçada, que casou com uma das minhas
primas.
— Uma merda! — disse Lucca. — Vocês todos vão se foder!
— Horas da minha vida que não serão recuperados — reclamou
Enrico.
— Vocês se afastaram e quebraram a nossa tradição — disse minha
avó se aproximando de nós. — Meus dois filhos se casaram, meus netos
também e não teve tradição nenhuma no casamento de vocês. Cheios de
traidores para serem mortos e vocês sem cumprir a tradição da família
Ferraro. Nem nos chamaram para o casamento.
Essa mulher só vem para reclamar.
Como estava tendo ataques na época do casamento, usei ao meu
favor e não convidei nem metade da máfia e muito menos a minha família.
— Acha que eu faria meus filhos fazerem uma bobagem dessas? —
disse o meu pai. — Mãe, a gente tem mais o fazer. Acha que somos
desocupados que nem vocês?
— O que achou do nosso esporte? — perguntou minha avó a Hope.
— Não... — a interrompi, com receio do que ela falaria.
— Não importune a minha esposa com as perguntas estúpidas —
disse
— Olhe, seu garoto mal-educado, eu ainda sou sua avó, e tenha
respeito por mim.
— Cala a boca, mãe! — disse meu pai. — Se fosse pela senhora, eu
já teria matado os meus filhos para roubar as coisas que eles construíram.
— Ela fez isso com você também? — perguntou o Leonel. — Essa
daí é pior que cobra. Porra, erramos feio na família que tivemos.
— Muita conversa e eu tenho mais o que fazer. Nos veremos a noite.
Guiei a Hope para fora dali, antes que acontecesse algo que eu não
pudesse reverter depois. Enquanto caminhávamos para o carro, vi uma
mensagem do Enrico dizendo que descobriu algo.
Entrei no carro junto da Hope e o Red já nos aguardava.
— Você irá para casa e o Red permanecerá no quarto com você. Ele
já sabe que só é para você sair daquele quarto, só se a casa tiver pegando
fogo ou for invadida. Não abra a porta para ninguém, deixe que morram de
chamar, a não ser minha mãe ou as meninas — avisei.
— Certo! Você vai sair?
— Tenho que sair com os meus irmãos e provavelmente com o meu
pai e o Leonel. Você não ficará sozinha e não precisa ter medo.
Assim que chegamos, a deixei no quarto e saí logo em seguida.
Logo encontrei com os meus irmãos, o meu pai e o Leonel no bar de
um amigo do meu pai.
— Cadê o Lucca? — perguntei.
— Ele está terminando de checar o que eu pedi — respondeu
Enrico, logo o Lucca apareceu, entregando-lhe algo.
— Então, o que está acontecendo? — perguntou Leonel.
Não havia comentado sobre o que procurava com ele, apenas o
deixava responsável na minha ausência pela famiglia.
Dei uma explicação rápida para que ele entendesse.
— Ele realmente estava conversando com um homem em umas
dessas casas de prostituição — disse Lucca.
— Comecei a investigar esse rapaz, ele se chama Hiroki, não tem
muita coisa sobre ele, mas sei que cuida de transferir as moças de um lugar
para outro sem ser pego — disse Enrico.
— E o que isso tem a ver com o que ele havia dito ao Lorenzo? —
perguntou meu pai.
— Antes achava que era algum trabalho dele, mas investigando
melhor, vejo que o Dante estava investigando algo — comentou Enrico. —
Na casa dele, não tinha nada, mas vi o registro do quarto em que ele
alugava em uma dessas casas. Em uma específica, ele não levava nenhuma
prostituta. Ficava mais tempo lá do que nas outras e era seu quarto privado.
— Ele passava horas batendo uma, punheteiro — disse Lucca.
— Ele estava bem com algo escondido lá ou guardava o que
descobria — falei.
— Pode ser, se ele estava investigando algo, com certeza, queria
tirar proveito disso para crescer na patente que estava — disse Pietro.
— Pedi para o Enzo conferir o que tinha lá, ele disse que me
retornaria assim que possível — disse Enrico.
Que merda estava acontecendo aqui?
O que algo meu tem a ver com o Dante ou essas casas de
prostituição?
— Ainda não entendo o papel desse Hiroki — disse Leonel. — Já
ouvi falar desse nome, ele é bom em sumir com as coisas, não vejo o que
ele tem a ver nessa conversa.
— Depois que Enzo nos der alguma resposta, saberemos o que liga
ele a nós — disse.

Que porra!

Ficamos conversando que acabamos perdendo a noção do tempo.


Comprei um terno e me arrumei no bar do amigo do meu pai. Então liguei
para o Red descer com a Hope, já que eu estava chegando.
Ainda teria que aturar mais gente essa noite.
A festa de solteiro seria no cabaré deles. Lá é até que arrumado,
comparado o que as pessoas pensam quando escutam esse nome.
— Fazer a festa de solteiro aqui foi inteligente — comentou Hope
assim que entramos no local.
— Por quê? — perguntei.
— Eles ganham e comemoram ao mesmo tempo — explicou. —
Chamar pessoas que estão a fim de mostrar suas fortunas e gastar tudo o
que tem aqui achando que será apenas uma festa, fora que tem essa boate
que cada garota aqui deve ser bem caro, já que transparecem ser as
melhores e as mais experientes da casa. Eles estão fazendo a festa e
ganhando em cima dela com o que os convidados “consumirem”. Bastante
espertos na verdade.
Não sei como ela faz isso, mas me deixa deslumbrado com a sua
inteligência em observar esses detalhes. Queria que eles usasse esse seu
dom aqui dentro, ela cresceria muito rapidamente no cargo que lhe fosse
proposto.
— Não cansa de me surpreender, ruiva? Sua observação me fascina.
É uma pena não aproveitarmos a nossa viagem em Milão.
A guiei para onde o resto dos convidados estavam.
— Mais uma por conta da casa — disse uma mulher vestida de
enfermeira para mim.
Pela primeira vez, eu não fiquei excitado vendo uma mulher assim.
Tem algum problema com o meu pau?
— Não aceito bebidas daqui.
Estava com dor de cabeça e estressado com esse negócio do Dante
está envolvendo mais gente do que eu imaginava.
— Fico ofendida por achar que eu colocaria algo na sua bebida. Se
eu quisesse, eu apenas jogaria o meu charme e te levaria para um lugar
silencioso — falou a vadia.
— Só se eu estivesse louco demais para foder alguém daqui! —
respondi friamente. — Agora saia daqui.
— Daqui a pouco serei eu no palco, se quiser, posso fazer uma
dança especial para você — falou.
— Quero ir no banheiro — disse Hope.
— Red! — sinalizei para o Red que estava um pouco afastado de
nós. — Leve-a ao banheiro, por favor!
Logo Red a acompanhou sumindo na multidão.
— Sua esposa é muito bonita, Capo! — disse um dos convidados.
— E eu ciumento — disse. — Não quer perder os dentes por conta
de um elogio, não é?
— Não, senhor, me desculpe!
Não demorou muito e a Hope voltou.
— Voltou rápido — disse.
— Estava uma sujeira no banheiro, eu estou enjoada e acho que eu
vou chorar — falou manhosa. — Não me pergunte o motivo, eu não sei, eu
só quero chorar.
— Quer ir embora? — perguntei.
Eu não sei ela, mas eu estava louco para ir dormir.
— Sim, se não for problema para você — falou.
— Não é, andiamo! — disse, segurando na sua mão.
Me despedi das pessoas que eu via no caminho. Logo os meus pais,
meus irmãos e o Leonel com a esposa e o filho também resolveram ir
embora.
— Já vão? Nem começou direito e já estão de saída — disse
Victoria.
— Já fizemos o showzinho de família feliz, está na hora de ir para
casa — disse Pietro.
— A festa nem começou, ainda tem muita coisa pela frente —
insistiu Victoria.
— Não, tchau! — disse Enrico saindo.
— As prostitutas já estão chegando, vocês não querem perder uma
foda aqui — disse o Davis.
— Tenho cara de quem está precisando de sexo fácil? — retruquei.
— Deixe de me atazanar e saia da minha frente.
Levei a Hope para o carro e logo saímos daqui.
Estava doido que esse casamento acabasse para que eu fosse ver o
quarto onde Dante ficava na casa de prostituição. Enzo não deu sinal de
vida, aquele filho da puta deve estar bem ignorando as minhas ligações só
para fugir do serviço.
Que tanta merda para resolver.
Hoje era o bendito casamento.
Ontem quando chegamos da festa, o Lorenzo foi resolver algumas
coisas no celular e eu fui me deitar. Não sei se teria mais alguma surpresa
nesse casamento, mas vindo dessa família, tudo pode acontecer.
— Andiamo, já estamos atrasados — disse Lorenzo me chamando
pela décima vez.
— Já estou indo! — disse.
Desde ontem, o Lorenzo está com um mau-humor sem fim. Não sei
o motivo, mas ele estava um chato.
Ele não estava arrogante e muito menos bruto comigo, só estava
diferente do cotidiano. Estava reclamando de tudo, até da cor do céu.
O casamento aconteceria na igreja muito famosa aqui, depois teria
uma festa só para a família e os amigos.
Muita ironia, eles mataram pessoas ontem e põe os pés na igreja
como se não tivesse acontecido nada.
— Pronto! — disse, terminando de colocar os brincos.
— Andiamo!
Estranhei o fato dele não ter me elogiado como todas as vezes. O
que estava acontecendo com ele?
Lorenzo nos guiou até o carro, logo saindo dessa casa antes que
alguém viesse puxar conversa.
Como tudo aqui era perto, não demoramos para chegar na igreja.
A mãe da noiva estava recebendo os convidados, logo nos guiou até
onde nós sentaríamos.
A família do Lorenzo já estava aqui nos esperando.
O lugar estava cheio, havia tantas pessoas que eu não conseguia
nem contar.
— Que porra de tanta demora! — reclamou Enrico.
— Enrico! — repreendeu Dona Telma o palavrão por estarmos na
igreja. — Daqui a pouco o casamento começa, deixem de barulheira e
tenham respeito pelos noivos.
Quando a mãe deles disse isso, ambos os irmãos caíram na risada.
Era difícil fazer os Ferraro terem respeito por alguém.
— AH! — gritou Lucca recebendo atenção de todos. — A Hope vai
parir aqui e esse casamento não acontece.
Realmente, estava demorando, já estava começando a ficar com
calor e olha que o tempo estava chuvoso e o clima agradável.
— Marca uma porra de horário e a noiva já está 1 hora atrasada.
Uma palhaçada com a nossa cara — alegou Leonel tentando criar talvez
uma rebelião entre os convidados.
— Acho que alguém foi abandonado no altar — disse Enrico
olhando para o noivo. — Quer que eu fique no lugar dela?
Começou as brincadeiras deles. Todos já estavam de olho em nós,
pelo barulho deles.
— Sorte a dele de não entrar para a família — disse Lorenzo ao
irmão. — Imagina ter a Victoria como sogra. Da tempo de correr, amigo —
gritou Lorenzo para o noivo que estava no altar.
— A praga da Victoria fica com ele, ele pode até pegar ela e socar
ela lá na puta que p.. — disse Lucca sendo interrompido pela Dona Telma.
— Ei! — falou, agora olhando para o filho. — Lorenzo, se você não
parar, sabe que eles não param.
Por Lorenzo ser o Capo, os rapazes continuavam já que ele também
fazia o mesmo, então se o Capo está fazendo, estava liberado.
— Sua mãe está certa — disse a ele.
— Observe a multidão atrás de você — falou Lorenzo e
imediatamente eu os encarei. — Me diga se alguém aqui mostra ofendido
pelas nossas brincadeiras ou se importando com esse casamento?
Ninguém parecia ligar para o que acontecia ao redor, não estavam
nem aí para os noivos.
Será que todos aqui tinham os seus interesses para estarem presentes
aqui esta manhã?
— Que se foda, vou atrás da noiva! — disse Sr. Diego se
levantando. — Bora, Enrico, você vai comigo.
O filho logo obedeceu animado.
— Eles não podem se prejudicar por irritá-los assim na propriedade
deles? — perguntei ao Lorenzo.
— Não! Hope, tem algo que você precisa ficar ciente aqui — disse
Lorenzo me encarando. — Eles sempre estão fazendo algo para nos irritar,
certamente essa demora tem alguma relação a isso. Nós nos irritamos na
frente dos convidados, boatos se espalham, aliados e patrocinadores
quebram contrato conosco, e por falta de má conduta nossa, ficamos mal
visto para os futuros aliados. Eles planejam, Hope, não seja tão inocente
com isso. É melhor fazer o casamento ser o mais rápido para acabar logo.
— Tudo para nos derrubar e assumir o poder — concluiu o Leonel.
Falta de confiança é o pilar da família Ferraro.
O Sr. Diego e o Enrico estavam demorando. Não sabia o que eles
pensavam em fazer, mas do jeito que o Enrico gosta de fazer pegadinhas,
não duvido que esteja armando algo.
Olhava para o altar e via o noivo conversando com o padrinho que
olhava a nossa direção. Logo uma gritaria vindo do lado de fora da igreja
fez com que todos presentes se virassem para olhar para trás.
— Pronto, caros amigos, trouxe a noiva — disse Enrico com a
Safira no ombro. Colocou-a no chão, ela estava com uma cara nada boa. —
Você não tem respeito pelos convidados presentes? Que falta de educação!
Cínico!
— É, coisa de gente sem compromisso — gritou Lucca.
— A noiva se atrasa? Sim, mas não tanto tempo. O noivo já estava
chorando de desespero — disse Pietro entrando na onda.
— Eu quase que tomava o seu lugar — disse Lorenzo a ela. —
Coitado, achou que ia ser abandonado.
— Parem de brincadeiras! — gritou a mãe da noiva.
— Tanto barulho perto de mim — reclamou Sr. Diego.
— Podem começar! — disse Leonel aos músicos.
Os rapazes voltaram para os seus lugares e a marcha nupcial já
começou a tocar. Para a minha surpresa, o casamento foi tranquilo. Nada de
muita emoção ou algum diferencial.
Talvez porque os rapazes tiveram que sair, por isso foi tão rápido e
silencioso.
Já estávamos na festa que estava acontecendo em um enorme salão
por trás da enorme igreja.
Lorenzo não ficou para assistir o casamento, ele teve que resolver
algo com os irmãos e o Lucca.
Fiquei junto do Sr. Diego e do Leonel, sempre perto deles com
medo dessa família falar comigo.
Depois de um tempo o Lorenzo apareceu pelo menos para participar
da festa. Ficou ao meu lado, mas não falou nada comigo.
Eu olhava para enorme quantidade de convidados notando como
muitos aqui olhavam na direção do Lorenzo, esperando uma brecha para
conversar com ele. Um pouco exagerado, já que não havia espaço para tanta
gente assim.
Enquanto o Lorenzo conversava com o seu pai e o Leonel, um rapaz
em questão me olhava muito. Era o padrinho de casamento do Luiz. Ele não
me parecia estranho, mas pela minha vida privada, acho que era só uma
coincidência.
O problema era que ele não disfarçava nenhum pouco o seu olhar
em mim. Fiquei preocupada, conhecendo o Lorenzo e os seus irmãos que
sentem a dor um do outro, quererem brigar só porque o rapaz me olhava.
Até que ele deu uma piscadela para mim. Ousado ou louco. Tenho
certeza de que sabe quem é o meu marido.
Desviei o olhar e não retribui a sua última ação.
Quanto eu mais pensava neste rapaz, mas ele me lembrava alguém.
Até que a memória me voltou.
Mark Petrov.
Era ele?
Quando achei que algo pudesse acontecer nesse casamento, não
imaginaria que seria isso e nem ele. Mark, o russo que era bem famoso nas
aulas da máfia.
Se me lembro bem, o russo que deu a festa há alguns meses parecia
com ele.
São familiares?
Que mundo pequeno!
Éramos amigos. Apesar de eu ser a isolada em tudo que acontecia na
máfia por não ser puro sangue, o Mark, apesar de não ser italiano, chamava
atenção pela sua beleza.
Ele era legal e tinha uma boa conversa, mas nossa relação não foi
nada além disso. Apesar de ter a minha vida regrada pelo meu pai, as vezes
tinha tempo de conhecer alguém interessante.
Estava na aulas chatas da máfia, já que por ser aulas sobre condutas,
leis, regras, era bem estressante, e conhecer o Mark lá foi como a minha
salvação do tédio.
Só que eu e o Mark acabamos ficando.
Não rolou nada além de uns beijos, eu estava curiosa e ele era bem
pegador, acabou acontecendo. Como todos os outros 6 rapazes que eu já
fiquei na vida, a diferença era que eu era a fim dele, até ver que ele não era
mesmo o meu tipo. Mantivemos o contato apenas nas aulas e quando
terminou, cada um seguiu com a sua vida.
Mark sorriu, notando que eu o reconheci. Então bebeu todo o
líquido do seu copo, colocando o mesmo na mesa, caminhando até a mim.
Ele não vai fazer isso?!
Me virei, fingindo não ter notado sua aproximação.
Droga!
— Raposinha, é você? — falou assim que se aproximou de mim.
Ainda me chamava pelo mesmo apelido que me deu naquela época.
Apelido devido a cor dos meus cabelos.
O que eu faço?
Finjo demência ou o cumprimento?
Se o Lorenzo não fosse tão surtado, eu não teria tanto medo assim.
Sei como as leis funcionam para nós mulheres, e temia bastante.
— Sim, só por esse olhar sei que é você, Hope — disse Mark
sorrindo.
Maldito do sorriso bonito.
A atenção da mesa agora era nele e os membros da minha família
não disfarçaram a curiosidade de saber quem era o Mark.
— Oi, Mark! — disse, ficando em pé. — Há quanto tempo!
Mark estendeu a mão para que eu o cumprimentasse, mas o Lorenzo
foi mais ágil e segurou na sua mão primeiro.
— Prazer, Lorenzo Ferraro, marido da Hope — Lorenzo fez questão
de apertar bem a mão do Mark, estreitando o olhar para ele.
— Mark Petrov — respondeu, soltando a sua mão. — Mas creio que
já conheça o meu nome, já que fui informado que trabalharia com o senhor
a partir da próxima semana.
O quê?
Vê o Mark será mais fácil aqui.
— Sim, o representante do líder russo — disse Lorenzo descontente.
— Mas de onde conhece a minha esposa? Não lembro de muitos russos no
meu território.
Todos os presentes estavam de olho na nossa conversa.
Não diga que ficou comigo!
Não diga que ficou comigo!
Não diga que ficou comigo!
Enrico acenou para o Lucca e um arrepio veio na minha nuca,
temendo o que eles aprontariam para chamar atenção.
— Ei, Lorenzo... — disse Enrico sendo interrompido pela mão do
Pietro em sua boca.
Lucca viu a ação, logo ia falar, e o Sr. Diego, que estava próximo
dele, fez a mesma coisa do Pietro, colocando a mão na boca do Lucca.
Lorenzo é louco e possessivo. Apesar de ter mudado muito, não sei
se ele terá uma crise aqui.
— Éramos grandes amigos na escola, não é, Hope? — disse Mark
sorrindo sorrateiramente para mim.
Não joga o problema para mim, seu cretino!
— Sim! — confirmei. Não estava mentindo.
Mark tinha um ego do tamanho do mundo, porém ele sempre foi
bem legal comigo. Conversávamos muito no intervalo de uma aula para
outra que tinha, e depois de quase 1 anos da sua amizade, ficamos no último
dia de aula. Não aconteceu nada além disso, porém estamos falando do
Lorenzo, isso já é muita coisa para ele.
Eu tive que aguentar a Bianca e o seu amor de infância, agora ele
que lute para lidar com o Mark.
— Acho que não ouviu falar de mim antes, porque não era Capo
ainda — explicou Mark a última pergunta do Lorenzo.
— Hum... — disse Lorenzo que encarava o Mark.
— É melhor nos sentarmos de novo — disse Pietro.
— Nos vemos por aí, raposinha — disse Mark me dando uma
piscadela, afastando-se de nós.
Vi o Lorenzo travar o maxilar só por conta desse apelido. Vejo que
serei interrogada mais tarde.
O silêncio que estava na mesa era de deixar qualquer um
desconfortável.
Ninguém disse mais uma palavra desde a visita do Mark aqui.
— Então... — disse Lucca me olhando. — Achei que eu seria o
único homem na sua vida, Hope.
— Deixa a menina em paz — repreendeu sua mãe.
— Se o Lorenzo não está surtando, eu acho que eu posso surtar no
lugar dele — falou.
Realmente, o Lorenzo nunca foi tão calmo.
Fiquei pensando no que passava na cabeça deste malandro para vir
aqui, provavelmente sabendo que os boatos sobre o Lorenzo não é muito de
ter paciência. Ele sempre foi muito brigão, então não duvido que tenha feito
isso só para arrumar confusão.
— Amigo? — disse Lorenzo no meu ouvido depois de ter ficado em
silêncio. — Não sabia que você tinha amigos homens, Hope.
Deus que me ajude!
— Sim, tive alguns. Mas creio que o que aconteceu antes de nos
casarmos não é para ser mencionado, não é? — indaguei.
Era um dos acordos, provavelmente o Lorenzo quis isso para que
não falasse nada sobre o seu passado, mal sabia ele que quem usaria era eu.
Obrigada, Sr. Federico, por colocar essa regra no nosso acordo
nupcial.
— É, é, é, estou sabendo! — falou, virando-se para o canto.
Ele está fazendo birra?
Nasci para ver o Lorenzo enciumado com algo.
— Não acredito que você está chateado por eu não falar sobre o
Mark — disse.
— Acha que eu estou com ciúmes? — perguntou, dando uma
gargalhada forçada. — Eu só não quero conversar, Hope. Se quiser falar
com alguém, vai falar com esse tal de Mark, parece que são bem próximos.
E se virou novamente.
Me segurei para não rir desse jeito do Lorenzo.
Ele parecia uma criança birrenta.
— Eu posso ir então? — perguntei.
Na verdade, queria conversar mesmo com o Mark. Se me lembro
bem, ele era bastante encrenqueiro. Não podia ver uma oportunidade para
arranjar briga que logo se animava. Daria certo uma amizade com o meu
marido e com a minha nova família.
— Está brincando comigo? — Olhou-me incrédulo.
— Não, você disse que eu podia ir falar com ele. Só estou com
medo da sua família se aproximar de mim, se eu me afastar de você.
Ele deu uma risada cínica.
— Vá e tire a prova que eu não estou com ciúmes — falou, forçando
um sorriso. — Vou ficar aqui te olhando.
— Tudo bem! — disse logo ficando de pé.
Lorenzo parecia surpreso por eu ter ido que até o seu sorriso se
desfez.
Até eu estranhei, mas não deixaria o Lorenzo achar que eu sou
apenas um objeto para ele. Ele estava diferente e aproveitaria isso para
mudar a concepção de esposa que lhe foi ensinada, talvez assim eu aceite
essas emoções que estão fluindo em mim.
Sei que o Lorenzo não é um príncipe encantado e muito menos se
tornará um, mas quero que ele me respeite e seja pelo menos mais
amigável. Sei que ele não vai mudar totalmente, porque é algo que já é
enraizado nele, mas não posso me contentar com pouco. Ganhar arrogância,
desprezo e falta de afeto e achar que aquilo está bom, que era a vida que eu
tinha. Eu mereço mais. Mereço o amor e a paciência que dou.
Se eu tiver paciência e for amável mil vezes, ele tem que ser assim
também, mil vezes mais. Não posso aceitar nada menos que isso.
Eu não seria diferente só com ele, mas com a máfia. Eu tinha que
me impor mais, ter mais voz. Eu vou conseguir trabalhar isso, eu preciso
disso.
Caminhei até o Mark, que tinha um belo sorriso no rosto.
— Não sabia se continuava lá e levava um tiro ou esperaria você vir
falar comigo — falou assim que eu me aproximei. — A propósito, ficou
linda grávida!
— Obrigada! — disse. — Mas o que deu na sua cabeça em ir lá?
Está tentando me matar?
— Ainda continua dramática, raposinha? — brincou. — Apenas fui
cumprimentar a minha amiga de infância, não posso?
— Claro que pode, só estava receosa de você abrir essa sua boca e
dizer o que não era preciso.
— Dizer que a gente ficou? — falou. — Seu beijo foi tão bom!
Encheu meu coração de...
— Cala a boca! — disse, empurrando-o. Me sentia livre para brincar
com o Mark, esse seu humor dava uma leveza na nossa conversa. — Cadê a
Alice? Achei que se casaria com ela.
— Até quis, mas a vadia queria colocar um par de chifres em mim
— disse Mark. Ele, às vezes, era um babaca? Sim, mas, pelo menos, levava
a sério esse negócio de fidelidade, principalmente com a leis da máfia dele.
— E aí, já domou o seu marido?
— Quem me dera. Ele foge de amor, como o diabo foge da cruz.
— Não parece isso pelo que eu estou observando — disse Mark
olhando para a mesa onde os rapazes estavam. — O jeito que ele está
mandando os irmãos me olharem para que ele não fosse pegue te olhando,
acho que ele está com ciúmes.
Não acredito que o Lorenzo estava mandando os irmãos me vigiar,
enquanto eles repassavam para ele o que estava acontecendo.
Isso era só para não mostrar que estava com ciúmes?
— Ele é tão orgulhoso — falei, revirando os olhos. — Mas você
veio para ficar?
— Sim, somos aliados agora — comentou. — Talvez até te ajude
com o seu marido.
— Pode ficar na sua, está igual a Alessandra e já basta ela com essa
ajuda.
— Ela é bonita e simpática? Se for, pode me apresentar. Sabe que eu
serei o melhor homem que ela já conheceu. Você já experimentou a
mercadoria e não teve do que reclamar.
— Você não é o tipo dela — disse.
— Os opostos se atraem, bela raposinha — falou com um ar bem-
humorado. — Mas, por agora, volte para a sua mesa, acho que a sua nova
família vem já aqui e eu tenho receio de não estar vivo até o fim da noite.
Antes não gostava muito de alguns deles, mas a ironia é tamanha
aqui que todos que eu “odiava”, estão se tornando alguém importante para
mim.
Alessandra, o Leonel, o Lucca, a Ruth estão me fazendo ter uma
outra concepção de família.
— É capaz de vocês virarem até amigos do jeito que gostam de
confusão — disse.
— Não sabia que o Luiz entraria para a família Ferraro.
— Você o conhece de onde? Participou da tradição ontem?
— Eu cheguei hoje e já vim para o casamento. Eu o conheci em uma
reunião para os homens nas aulas da máfia. Ele me convidou para o
casamento, já que agora somos aliados e ele certamente quer algo na minha
máfia — disse Mark cruzando os braços. — E aí, quando vai me apresentar
a sua amiga?
— Estou indo, talvez nos vemos por aí — disse, ignorando a sua
pergunta conhecendo esse seu jeito mulherengo.
— Tchau, raposinha! — falou enquanto eu me afastava.
Voltei para a minha mesa e os irmãos do Lorenzo voltaram a sua
atenção para o copo de bebida que eles tinham em mãos.
Sentei-me e o Lorenzo ficou em silêncio com uma cara de menino
birrento. Conversava com a Dona Telma e as meninas sem dar atenção para
o meu marido ciumento.
— Andiamo! — disse Lorenzo em pé quando a festa terminou.
Nos despedimos dos demais e caminhamos para o estacionamento.
O caminho foi em total silêncio.
— O jatinho já está à espera de vocês — disse Red.
Finalmente estávamos indo para casa.
Assim que chegamos no jatinho, já prontos para decolar, o Lorenzo
foi para a cabine do comandante e eu fui trocar aquele vestido.
Sério que o Lorenzo iria me ignorar o resto da noite?
Assim que eu troquei de roupa, fui me deitar. Lorenzo não falaria
comigo, então não tinha para que eu ficar em cima dele direto.
Acordei com o reboliço do avião.
Por que eu não consigo pegar uma viagem tranquila?
Permaneci de olhos fechados, esperando parar.
— Fique tranquila! — disse Lorenzo ao meu lado. Quando ele veio
se deitar? — Daqui a pouco, pousaremos.
É fácil para ele falar, não tinha medo de nada.
Uma queda dessa altura...
Não pensa nisso, Hope.
Permaneci imóvel, esperando tranquilizar mais.
— Fique calma, vai acabar tendo o bebê aqui — falou, notando o
meu nervosismo.
— Não me manda ficar calma, que eu fico mais nervosa —
choraminguei. — Não é mais seguro nós irmos para as poltronas?
— É perigoso se sairmos daqui com essa turbulência que está tendo
— respondeu.
Lorenzo parecia tão calmo que dava até raiva.
— Se eu morrer aqui, eu juro que eu volto para puxar o seu pé a
noite por me obrigar a vim para esse casamento — falei em total desespero.
— Só puxar o meu pé? Que fantasma sem graça você vai ser.
Às vezes, eu esquecia que o Lorenzo leva tudo para o duplo
sentindo para o lado malicioso da conversa.
— Vou nem discutir com você agora, porque eu não sei nem o que
pensar primeiro — disse.
Mal terminei de falar e as luzes se apagaram.
Com o susto, dei um grito agudo e me agarrei no Lorenzo.
— É só uma turbulência, Hope. A tempestade já vai acabar e a
turbulência também — falou com a voz tão suave que de certa forma me
tranquilizava.
Me aconcheguei mais nele, que aproveitava para zombar de mim.
— Que esposa medrosa eu arrumei — murmurou. Ele se divertia
com o meu desespero, homem sem coração. — Achei que eu não fosse
importante depois do seu recontro com o seu amigo. Acho que eu vou
voltar para a poltrona e você fica aqui sozinha.
Chantagem?
— Lorenzo, não ouse em sair de perto de mim — disse, encarando-
o.
— Me olhando assim toda delicada quem resiste? — zombou da
minha raiva.
Não demorou muito para a turbulência cessar e logo pousarmos.
Chegamos em casa e eu corri para ver a Lucy.
— Lucy, achei que eu fosse morrer hoje — choraminguei,
abraçando-a.
— Tão exagerada e dramática — disse Lorenzo atrás de mim.
— Deixe ela, está mais sensível por conta da gravidez, não é, meu
bem? — disse Lucy me abraçando ainda mais.
— Sim! — respondi manhosa.
— Você continua a mimando, por isso que ela está tão manhosa —
disse Lorenzo.
Mal sabe ele que quem me mima é ele.
— Escutou o que ele disse? — indaguei. — Por isso que eu estava
morrendo de medo no jatinho.
— Na próxima vez que quiser um abraço, vai procurar o tal do Mark
— disse Lorenzo ainda com o assunto do Mark.
— Quem é Mark? — perguntou Lucy.
— Um idiota do caralho que coloca apelido na mulher dos outros —
respondeu Lorenzo, já começando a ficar irado novamente. — Vou subir,
alguém vai querer mais alguma coisa de mim?
— Não, estamos bem! — disse Lucy. — Boa noite, meu filho!
— Figlio di puttana, exibido do caralho... — dizia Lorenzo
enquanto subia reclamando do Mark.
Lucy me olhou curiosa e eu contei apenas que eu fiquei com ele,
nada muito sobre o seu passado, já que certamente a Lucy falaria ao
Lorenzo.
— Você sente algo por ele? — perguntou.
— Claro que não! — respondi de imediato. — Ele é legal, mas não
é o meu tipo.
— Lorenzo está lidando com isso bem — comentou Lucy. — Se
fosse outro tempo, você estaria no rifugio e esse Mark morto. Vejo que ele
realmente está mudando.
Lorenzo foi bem paciente mesmo, me surpreendeu muito.
Espero que nossa relação fique estável assim.
Apesar do Lorenzo estar fingindo que não se importa, mostra que
ele sente algo por mim.
Agora eu vou subir e lidar com o birrento lá em cima.
Espero ter forças para não rir das suas tentativas falhas de mostrar
que não está com ciúmes.
Assim que eu subi, o Lorenzo estava tomando banho enquanto murmurava
dentro do banheiro.
— Lorenzo, me ajude a tirar o vestido — disse, entrando no banheiro e me
virando de costas para ele descer o zíper.
Ele desligou o chuveiro, aproximando-se de mim.
— Lembrou que tem marido? — indagou, passando a mão no rosto que
estava molhado.
— Você é tão dramático — disse, rindo dele.
— Sou mesmo! — murmurou.
Ele me ajudou a tirar o vestido, voltando a tomar banho.
— Vou esperar você tomar banho já que está chateado comigo — disse,
fingindo que sairia do banheiro.
— Ei, volta aqui! — falou e eu dei meia-volta, olhando-o cinicamente.
— Achei que não queria ficar perto de mim — falei.
— Vem logo! — Puxou-me.
Tirei as peças íntimas, entrando no box.
— Está jogando comigo? — perguntou, colocando as mãos na minha
cintura.
— Provavelmente — falei.
— Ruiva...
— Está mal-humorado ainda? — indaguei, dando um beijinho em seus
lábios.
— Sim! — Dei outro beijo. — Um pouco menos do que antes. — Dei um
beijo mais demorado. — Meio mal-humorado ainda. — Coloquei as mãos no seu
peito, beijando-o mais intensamente.
— E agora? — perguntei.
— Estou melhor! — falou, colocando a mão na minha nuca. — Vamos
voltar a nos beijar só para se caso eu fique com mau-humor de novo.
Lorenzo me beijou, aproveitando-se da situação.
Gostava de como tudo estava ultimamente. Esse jeito mais bem-humorado
dele, mesmo que com ciúmes ele estava levando na brincadeira de certa forma.
Assim que terminamos de tomar banho, retornamos para o quarto. Então
Lorenzo recebeu uma ligação, saindo da cama para atender. Nem mesmo vi
quando retornou.
Céus, eu vou morrer de tanto dormir.
Pela manhã, acordei e o Lorenzo não estava mais no quarto. Lucy disse
que ele já foi para o quartel, já que o Mark começava a trabalhar lá hoje.
Então conhecendo o Mark, Lorenzo voltaria cheio de birra igual ontem
pelas provações.
Estava no quarto me preparando para descer, quando o Lorenzo entrou.
— Figlo di puttana exibido — disse Lorenzo indo para o banheiro. — Vou
meter um tiro bem na cara dele, eu quero ver colocar apelido na mulher dos
outros.
Parece que a reunião saiu bem, já que o Lorenzo não parece estar
machucado ou ter machucado alguém.
— Lorenzo, a Dra. Olivia ligou, tenho uma consulta amanhã de manhã —
disse, entrando no banheiro.
— Eu vou desmarcar o compromisso que eu tenho amanhã e lhe
acompanho — falou ainda sem me olhar.
— Certo! — disse.
— Hope... — disse Lorenzo me chamando quando eu sair do banheiro. —
Qual é o seu nível de amizade com o Mark cuzão?
Esse era o apelido que o Lorenzo colocou nele?
— Por quê? — Estranhei.
— Caso se hipoteticamente eu matar ele, você ficaria brava igual quando
foi com o seu pai? — perguntou
Ele realmente fez essa pergunta para mim?
— Nada de matar ninguém, pelo amor de Deus...
— Eu não ia matá-lo, foi só uma curiosidade — falou.
Sei!
— Ele é legal, Lorenzo, dê uma chance a ele — disse.
— Eu poderia ser amigo do Mark metendo um tiro na cara dele.
— Eu escutei isso, por favor, não faça nada.
— Eu não vou fazer. Mas ele vai ter que parar com aquele apelido. Juro
que arranco a língua dele na próxima vez.
— É só um apelido, nada demais — tentei tranquilizar o seu lado
possessivo e ciumento. — Seus irmãos as vezes me chamam de ruivinha, é a
mesma coisa.
— Não é não, é ele que está falando e não os meus irmãos — falou.
Não dá para argumentar com o Lorenzo assim.
— Tudo bem, Lorenzo! — disse.
— Você vai falar com o cuzão? — perguntou.
— Não! — disse. — Não tenho nada para falar com ele.
Lorenzo não gostou muito, mas não ia deixá-lo me controlar assim, até
com os meus amigos. Antes eu tinha medo de tudo, principalmente com a minha
criação, mas agora não sei o que está acontecendo, mas não tenho tanto medo de
enfrentá-lo.
— Ele virá aqui amanhã. Tenho que mostrar umas coisas para ele no
rifugio.
— Você não vai... — Ele me interrompeu de novo.
— Não vou machucar ninguém, é negócio do trabalho — falou.
Ficava meio insegura, o Lorenzo não é um símbolo de paciência e
autocontrole.
Desci para ficar um pouco com a Lucy lá na cozinha.
No outro dia, acordei com o Lorenzo empolgado já que hoje era a minha
consulta e poderia dar para ver o sexo do bebê.
— Acorda! — disse Lorenzo dando batidinhas na minha bunda.
— O quê? — disse sonolenta.
Tentei racionar aquela agitação toda do Lorenzo pela manhã.
— Vamos, se não nos atrasaremos — falou.
Olhei o Lorenzo e ele já estava arrumado.

Santo Cristo!

— Lorenzo, ainda são 06:30 da manhã, a minha consulta só é às 10:00


horas.
— Por isso sairemos em 1 hora, acelere!
Lorenzo parecia estar elétrico e bastante empolgado. Talvez fosse porque
hoje teríamos uma grande chance de sabermos o sexo do bebê.
— Estou com sono, daqui a pouco, eu levanto — disse.
— Não, andiamo, ruiva! — falou novamente dando batidas na minha
bunda. — Andiamo, andiamo, andiamo!
Pelo amor de Deus, o Lorenzo assim não dá para aguentar.
— Já levantei! — disse, ficando em pé.
Me arrumei rapidamente já que o Lorenzo me olhava aonde eu ia,
suspirando pela minha demora.
Não demorou muito para que eu já estivesse pronta.
— Será que já dá para ver o sexo do bambino? — perguntou Lucy assim
eu que cheguei na cozinha.
— Espero que sim, estou animada — disse. — Se não der, o Lorenzo
comete um crime, acho que ele não consegue aguentar mais a sua curiosidade.
— Ele está empolgado mesmo — falou. — Ele está tão diferente, não
acha?
— De certa forma sim, fico mais tranquila com ele desse jeito. Sei que não
posso pedir tanto por uma mudança cem porcento, mas assim já está de bom
agrado.
— Lorenzo disse que o tal do Mark viria aqui hoje. Será que eles vão se
dar bem? — perguntou Lucy. — Fico um pouco receosa pelo que me disse da sua
relação com ele e o Lorenzo não gostar.
— Mark é igual a eles, sem o lado surtado, mas não pode ver uma briga.
Na época das aulas da máfia ele era o mais brigão. O Lorenzo só precisa deixar
esse ciúmes besta de lado. Se ele deixar isso de lado, vai notar que eles dois tem
muita coisa em comum — disse.
— Bora, ruiva! — gritou Lorenzo lá de fora.
— Se eu não for agora, ele vai enlouquecer — disse me despedindo da
Lucy.
Caminhei para o lado de fora, onde o Lorenzo já se encontrava.
— Por que demorou tanto? — perguntou.
— Lorenzo, não sei se vê, mas eu estou com mais dificuldades para andar
rápido — disse apontando para a minha barriga que estava enorme.
— Está linda! — falou. — Agora, andiamo!
Pela velocidade que o Lorenzo pediu que o Thony fosse, rapidamente
chegamos no consultório da Dra. Olivia.
Não sabia lidar com essa empolgação toda do meu marido.
— Sua consulta é só às 10:00 horas — disse a recepcionista assim que
chegamos. — Chegaram duas horas e meia adiantados.
Eu queria matar o Lorenzo, não sei para que essa pressa toda.
— Liguei hoje pela manhã para a Olivia, disse que chegaríamos mais cedo,
porque eu tenho que resolver outras coisas ainda pela manhã — disse Lorenzo.
Ele poderia ter mandado o Enzo resolver, mas sei que só está tramando
para que eu seja atendida logo.
— Vou verificar com a médica, só um instante — disse a recepcionista
saindo do balcão.
— Lorenzo para que essa pressa toda? — perguntei.
— Eu quero saber o sexo do nosso filho, isso é pedir demais? — falou. —
Outra coisa, irei fazer uma viagem hoje com os meus irmãos, o Lucca e o Mark
cuzão.
— Houve algum problema?
— Nada que você precisa se preocupar — falou. — Você ficará na sua
irmã, lhe pego quando voltar.
— O Enzo não vai com você? — perguntei já estranhando o Lorenzo não
ter citado o nome do Enzo nessa viagem.
— Estou indo encontrar com ele lá — respondeu. — O Enzo foi fazer um
serviço e não voltou.
— Ele está bem? A Lisa deve estar louca. Quando ele foi fazer essa
missão? — perguntei sem dar pausa para as perguntas.
— Ele falou conosco no sábado, havia encontrado o lugar que eu pedi. Só
que hoje ele retornaria, mas não deu notícias ainda — disse Lorenzo. — Ele está
bem, vou só ver se aconteceu algum problema.
— Lorenzo...
— Ele está bem, Hope! — afirmou. — No sábado ele sumiu, mas só estava
ignorando mesmo as minhas ligações. Ele encontrou o que tinha que encontrar e
voltaria para a sua família hoje como o combinado, mas até agora não chegou,
deve ser só problema de comunicação.
Sabia que o Lorenzo estava mentindo, se não ele não iria às pressas para lá.
— Alguém já foi atrás dele?
— Mandei os meus irmãos irem na frente. Eu soube disso agora que
saímos do carro. Sorte a minha que eu já havia pedido para a Olivia te atender
cedo — respondeu.
— Por que você está me contando isso? — perguntei.
Lorenzo não me diria isso nunca. Diria apenas que tinha que resolver uns
assuntos e fim de conversa.
— Porque você acha que eu não confio em você, então eu estou mostrando
que o que eu sinto por você é bem mais do que apenas confiança — disse Lorenzo
me encarando.
— O que você está tentando dizer?
— Eu... — disse Lorenzo sendo interrompido pela recepcionista.
— A doutora está aguardando vocês no consultório.
— Estamos indo! — disse Lorenzo.
Droga, ele ia falar algo.
Enquanto seguimos para a sala da doutora, conversávamos mais um pouco.
— Lorenzo, se for uma menina? — perguntei temerosa.
Eu realmente não me importo, mas dizer que isso não me assustava eu
estaria mentindo.
— Podemos tentar de novo — respondeu dando um sorriso malicioso
tentando tirar a minha preocupação.
— É sério, não terá problemas com a liderança? — perguntei.
— Se for uma menina, ficará só entre a gente por um tempo.
— Acha que a liderança vai pedir que eu aborte?
— Nem fodendo que eu deixaria isso acontecer — disse Lorenzo. — Não
se esqueça que a Giulia teve uma menina primeiro.
— Mas você terá duas meninas, Lorenzo — disse tentando não ser
indiscreta com o fato da morte da filha dele.
— Não terá problemas, se chegar a ter, eu resolverei — disse Lorenzo
dando um fim na conversa.
Assim espero mesmo!
Entramos na sala e já fui tentando agilizar logo para que o Lorenzo fosse
atrás do Enzo.
Sei que o Lorenzo deve estar preocupado com o amigo e que também não
me deixaria aqui sozinha.
— Está nas 19 semanas? — perguntou a doutora e eu confirmei. — Será
que hoje conseguiremos ver se é um menino ou uma menina?
— Espero que sim! — disse animada.
Ela fez o que sempre fazia. Olhou meus exames e conversou um pouco
comigo.
Minha perna tremia debaixo da mesa, não sei se era nervosismo para logo
saber o sexo do meu filho ou só preocupação com o Enzo.
— Agora deite-se na maca, vamos ver o bebê — falou.
Lorenzo se aproximou mais de mim, olhando a tela do computador a nossa
frente.
— Está normal o coração? Não está acelerado demais? — perguntou
Lorenzo assim que escutamos o coração do bebê.
Ele sempre fazia a mesma pergunta.
— Está normal, não tem com que se preocupar — disse Dra. Olivia o
tranquilizando. — Ora, ora, já dá para ver, querem mesmo saber?
— Sim! — Respondemos juntos.
— Algumas coisas que eu e a minha esposa temos em comum, é não
gostar de enrolação. Pode mandar ver! — disse Lorenzo.
Realmente, eu não gostava dessa enrolação toda.
— Já que insistem — falou um pouco desapontada, provavelmente
idealizando contar de uma forma inusitada sobre o sexo do bebê do Capo.
— Desculpa, é que estamos apressado — falei.
— Parabéns, vocês terão um belo e forte menino.
Ela nem terminou de falar e já comecei a chorar.
— Um menino? — disse sentindo algumas lágrimas caírem dos meus
olhos.
Os últimos meses com toda a pressão que eu sofri para ser um menino,
fora das inúmeras falas do meu pai se referindo a mim dizendo que nem para
engravidar eu serviria, isso mexeu muito com a minha cabeça me deixando
insegura como se eu fosse culpada se não acontecesse.
Ver o meu filho dentro de mim, crescendo bem e saudável era um alívio.
— Nosso menino! — disse Lorenzo dando um beijo na minha testa. — Te
espero lá fora.
E saiu.

Sabia que o Lorenzo não demonstraria nenhuma reação na frente de outras


pessoas.
Do jeito que ele é orgulhoso, vai comemorar no banheiro.
Terminei de me consultar e saí da sala indo atrás do meu marido.
— Com licença, você viu o meu marido? — perguntei a recepcionista.
— Ele foi ao banheiro. — Confirmou o que eu já suspeitava.
Fui atrás do Lorenzo no banheiro, pensando em como ele deve estar.

Sinto que o Lorenzo é extremamente inseguro quando se trata do nosso


filho. Talvez pela perda da filha, ele ache que não é um bom pai por ter deixado
aquilo acontecer. Não imagino a bagunça que deve estar a sua mente agora com
tanta coisa vindo à tona.
— Lorenzo? — O chamei pela porta, dando duas batidas na mesma.
— Já estou indo!
Não demorou muito para o enorme homem aparecer.
— Está bem? — perguntei sabendo que ele havia chorado.
— Sim, só estava apertado para usar o banheiro. — Mentiu
descaradamente.
Me aproximei dele e o abracei.
— Sabe que comigo não precisa ser forte sempre, não é? — disse,
passando a mão sobre o seu peitoral. — Agora é só esperar o nosso filho nascer.
— Será... — disse Lorenzo respirando fundo antes de concluir. — Será que
eu vou saber ser um bom pai? Se acontecer algo por minha causa de novo, eu não
sei se eu vou aguentar, Hope.
Ele realmente estava muito inseguro com isso. O que era novo para mim
vê-lo assim, ele sempre foi tão cheio de confiança.
— Você não será apenas bom, será o melhor! — disse o tranquilizando. —
Você não precisa se preocupar com isso, Lorenzo. Nosso filho vai nascer bem e
seguro.
— Obrigado por dizer isso! — falou, me beijando logo em seguida.
— É melhor irmos, você tem que trazer o Enzo de volta.
Lorenzo não quis passar em casa, já veio me deixar na casa do Enzo.
— Não comente nada com a sua irmã para não preocupá-la. Conheço o
Enzo, se eu chegar a comentar algo, ele ficará puto — disse Lorenzo.
— Está bem!
— Cuide do nosso filho — disse Lorenzo passando a mão na minha
barriga. — Um menino.
Lorenzo estava bobo e sorridente.
— Só falta escolher um nome — disse.
— Quer escolher? — perguntou.
Sei das leis e quem escolhe os do menino é sempre o homem.
— Não vai querer quebrar uma tradição, não é? Sei que escolherá um
nome lindo — falei.
Assim espero!
— Talvez eu o chame de alguma marca de bebida que eu goste, ou melhor,
eu o chame de Lorenzo II — falou pensativo.
Esquece, me deixa escolher.
— Pelo amor de Deus! — disse revirando os olhos.
— Whisky Ferraro...
— Não, esquece, eu posso escolher — falei.
— Chegamos, senhor! — disse Thony.
— Red já está vindo, pedi que a Lucy viesse e ajudasse você e a sua irmã
se precisasse — disse Lorenzo. — Tentarei voltar o mais rápido possível.
— Traga o Enzo logo e inteiro — disse o beijando. — Se cuide!
— Pode deixar! — Falou. — Me ligue se acontecer alguma coisa.
— Certo! — disse. — Tchau, Thony!
— Tchau, Hope e parabéns pelo meninão — falou.
— Obrigada!
Saí do carro com o coração na mão. Estava tendo um pressentimento ruim
nesta viagem, não com o Lorenzo ou o Enzo, mas com alguém, como se algo fosse
acontecer.
Espero que todos fiquem bem!
— Lisa? — disse, a chamando assim que eu entrei.
— O que faz aqui? — perguntou. — Não que eu não queira você aqui, mas
sempre avisa quando vem.
— Lorenzo foi buscar o Enzo — disse omitindo a maior parte da verdade.
— Ah, graças a Deus, estava preocupada — falou. — Enzo disse que
voltaria hoje e ainda não havia chegado. Quando ele chegar, arrancarei as bolas
dele.
— Deixa de ser louca! — disse. — Cadê o Bernardo e o Nandinho?
— Estão dormindo, ainda é 09:00hrs, só acordam a hora que quer — falou.
— Aproveite, eles passam a noite acordado e o dia dormindo. Sabe que horas você
dormirá? Nunca!
— Obrigada, isso me tranquiliza bastante — disse sarcasticamente.
— Vou ligar para mamãe e avisar que está aqui.
— Sim, quero falar algo com vocês — disse.
— O quê? — Estranhou. — É sobre o seu casamento, você ou o bebê?
— O bebê.
— Já sabe o sexo? — perguntou e eu sorri.
— Vou buscar elas — falou saindo correndo para fora de casa.
— Você acabou de parir sua louca! — Gritei, mas ela já havia sumido.
Não demorou muito para a minha mãe aparecer de camisola, junto com a
Kitty.
— Acordou agora mãe? — perguntei.
— Estou ajudando a sua irmã, meu horário está completamente desregular
— explicou.
— Sim, agora diz — disse Kitty apressada tentando se acostumar com a
claridade.
— Acho que é verdade o que dizem sobre as suas filhas, mãe, só sabemos
fazer menino — disse sorrindo.
— Um menino??? — disse Lisa animada. — Meus parabéns!
Elas vieram me abraçar super empolgada.
— Traidor! — disse Kitty para minha barriga. — Mas ainda te amarei,
mesmo sabendo que eu estou sozinha aqui como menina, tudo bem, vou superar.
Kitty queria que fosse uma menina, quem sabe na próxima.
— Mais um netinho — disse minha mãe um pouco emocionada. — Capo
já pensou em algum nome?
— Ainda não — disse, tentando não mencionar o fato que uma das
possibilidades era “Lorenzo II”.
— Vou em casa tomar banho e já volto com a Kitty — disse minha mãe
saindo.
Aproveitei e conversei um pouco com a Lisa.
— Sabe o que Enzo foi fazer para o seu marido? — perguntou Lisa.
— Não, Lorenzo não conta as coisas detalhadamente das suas missões —
disse.
— Enzo estava preocupado quando falei com ele ontem — falou. —
Sábado não havia conseguido entrar em contato com ele. Ontem deu certo, ele foi
encontrar algo que o Capo queria, por isso voltaria hoje, mas não sei o que ele
encontrou, mas o deixou diferente.
— Lorenzo está um pouco apreensivo, também não sei com o quê, mas
vejo que ele tenta guardar para ele como se não quisesse me envolver. —
Comentei. — Me pergunto se é alguma coisa grave, sei lá.
— Eles voltam hoje? — perguntou.
— Não sei, eu nem sei onde era o lugar que eles iam — respondi. — Mas
ele disse que viria o mais rápido possível.
Eu não queria falar, mas estava preocupada. Lorenzo viajando de imediato,
sem planejar um plano para esta viagem, o deixava mais exposto a algum ataque.
Não sei o que Enzo encontrou ou por que não voltou ainda, mas sei que
tem alguma coisa muito importante acontecendo.
Só espero que eles fiquem bem!

Já a noite, a Lucy e o Red já haviam chegado, só que eu ainda não contei


do sexo do bebê.
— Quando vai nos contar? — perguntou Lucy pela milésima vez.
— Estou esperando a Dona Telma e as meninas chegarem — disse.
Enrico havia comentado com a Emma, que comentou com a Giulia, que
comentou com a Dona Telma, que eu já sabia sobre o sexo do bebê.
Só que o Enrico não havia contado qual era, então elas disseram que
estavam vindo para cá.
Espero que não estejam tão loucas que nem a Lisa foi.
— Cheguei! — disse Giulia ofegante com a minha sogra e a Emma do seu
lado.
Depois percebi que os seus filhos estavam aqui também.
— Acho que levei alguma multas de trânsito — disse Emma.
— A mamãe veio rápido — disse Nicolas falando da Emma.
— Sim, sem mais delongas, conta logo, por favor! — disse Emma
esperando eu dizer.
— Sim, conta! — disse Dona Telma.
— Bem, eu não sou de enrolar e muito menos deixar as coisas misteriosas
— falei. — É, parece que alguns meses terá um mini-Lorenzo aqui, Deus que me
ajude!
— Um menino de primeira? — perguntou Giulia. — Sinto inveja de você!
Ela logo veio me abraçar.
— Eu disse que não choraria — disse Dona Telma já chorando. — Espero
que essa criança te faça tão feliz, quanto eu sou com os meus filhos.
— Não chora, que eu já sou chorona e choro junto — disse, já em
lágrimas.
— Parabéns, um bambino está a caminho — disse Lucy me abraçando
também.
— O tio será bem babão, rapazinho — disse Red com a minha barriga. —
Não sei se lembro mais como é ter um pequeno em casa, mas sei que o protegerei
com a minha vida.
— Obrigada, Red! — disse.
— Ah, não, mais um menino — disse Sara. — Eu não acho ruim, mas...
— Eu te entendo! — disse Kitty.
A vida delas era rodeada por homens.
— Vocês podem aproveitar que tem uma à outra e brincarem — disse para
as duas.
— Nandinho, leve os meninos para brincar com você — disse Lisa.
— Esse é o Bernardo ? — perguntou Emma.
— Sim, quase me rasgou — disse Lisa sempre muito discreta.
— Sem detalhes do seu parto, Lisa — disse.
Lisa deixava as coisas mais assustadoras.

Dona Telma e as meninas já haviam ido embora.


Ainda estava na sala, sentada no sofá.
— Hope, eu ia perguntar mas esqueci de falar — disse Lisa me entregando
o Bernardo, logo se sentando ao meu lado no sofá. — Você falou com o seu
marido? Na última vez você disse que falaria sobre o tio Marco.
— Não, da última vez você começou a entrar em trabalho de parto que
nem me lembrei de tão assustada que eu estava — disse.
Sei que eu tive oportunidade de falar nas últimas semanas, mas nunca tive
coragem para dizer.
— Sabe que nossos filhos estarão com a nossa família, não sabe!? — disse
Lisa. — Não só por eles, mas por nós, Hope. Merecemos que ele seja punido, nós
fomos as vítimas e ele anda por aí como se não tivesse feito nada de errado.
— Eu sei, isso me deixa louca! — disse. — Eu vou falar, só não sei como.
— Hope, não queria falar disso, mas ele pode estar machucando outras
pessoas, você sabe como era, imagina isso com outra criança — falou.
Eu tinha que dar um basta e eu darei.
— Eu juro que falarei agora — disse.
— Promete?
— Prometo! — disse.
Eu estava tão acostumada a fingir que aquilo nunca aconteceu, que eu
“esquecia” realmente desse episódio da minha vida.
Não importa mais, eu vou falar com o Lorenzo, só me sinto fraca demais
para falar com ele sobre isso.
— Hope, o chefe disse que já está voltando e pediu que lhe levasse de
volta — disse Red aparecendo na sala.
Já era quase 23:00hrs, me pergunto o que fizeram durante o dia inteiro?
— Certo, já estou indo — disse.
Me despedi da minha família e fui para o carro.
Red logo me levou para casa, junto com a Lucy.
Assim que chegamos, Lucy foi para o seu quarto e eu fui para o meu,
esperar o Lorenzo lá.
O relógio mostrava que já se passava da meia-noite.
Não estava conseguindo dormir e por falta de informação da parte do
Lorenzo, estava bastante preocupada.
Até que eu escutei o barulho do carro lá fora.
Desci as escadas e esperei na sala o Lorenzo entrar.
Para a minha surpresa, o Lorenzo entrou junto com o Mark.
— Mark? — Estranhei.
— Oi, raposinha — falou vindo me abraçar, quando o Lorenzo o segurou
pelo paletó, o impedindo.
— Já conversamos sobre isso — disse Lorenzo o encarando.
— É estou sabendo — disse Mark completamente desinteressado nesse
assunto. — Ele sempre é ciumento assim?
— Sim! — disse, indo até o Lorenzo. — Está tudo bem?
— Sim, não se preocupe — respondeu, mas vi alguns arranhões em seu
braço. — Está tudo bem, foi só uns estilhaços de vidro, nada demais.
— Eu salvei o seu marido — disse Mark. — Devemos nos beijar e selar
nossa amizade, Lorenzo?
— Vai se fuder! — disse Lorenzo. — Ele parece o Enrico.
— Disse que se dariam bem — falei, mas não achei que se dariam bem até
demais.
— Ele vai dormir aqui, podia dar uma cela do rifugio, mas vou deixar
dormir na minha casa — disse Lorenzo e o Mark deu sorriu para ele
maliciosamente.
— Essa eu passo — disse Mark. — Soube que é um menino, meus
parabéns, raposinha!
— Figlo di puttana! — disse Lorenzo travando o maxilar.
— Você me chama de Mark cuzão, então acho que eu posso chamar ela de
raposinha — respondeu Mark.
Está bem, eles estão bem próximos e isso era estranho.
— Vou subir, o seu quarto é o terceiro a esquerda — disse Lorenzo. — A
cozinha é ali, se quiser comer algo, coma e volte para o seu quarto. Odeio pessoas
perambulando pela minha casa à noite.
— Certo, chefia! — disse Mark fazendo continência.
— Continua com as suas brincadeiras que um tiro se tornará uma opção
para mim — disse Lorenzo. — Andiamo, ruiva!
— Cadê o meu beijo de boa noite, amorzinho? — disse Mark.
— Sério? Nem um tiro? — indagou Lorenzo a mim tirando a arma da
cintura. — É rápido, ele não vai nem sentir.
— Não, Lorenzo, guarda a arma — disse.
— Porra!
Me despedi do Mark e subi com o Lorenzo.
Tudo bem, está tudo muito estranho.
Lorenzo odeia pessoas aqui dentro, mas mesmo assim colocou o Mark que
só conhece há poucos dias.
— Mark te salvou como? — perguntei assim que entramos no quarto.
— Sabe que eu confio em você, mas explicar isso terei que esclarecer mais
outras coisas que no momento ainda eu estou tentando entender — disse Lorenzo.
— Na hora certa eu falarei.
— Tudo bem, não precisa se preocupar — disse. — Agora vai tomar um
banho e descansar, está fedendo a whisky.
— Certo, senhora Ferraro! — respondeu.
— Talvez amanhã a gente possa conversar um pouco — disse ainda
insegura. Eu vou falar do tio Marco e isso não passará de amanhã.
— Sobre? — perguntou já se despindo.
— Amanhã a gente conversa melhor — disse dando um selinho nele. — É
melhor dormir, você está muito cansando.
Lorenzo foi tomar banho e eu o esperei na cama.
De amanhã não passará.
Não queria preocupar mais o Lorenzo com os meus assuntos, mas quero
dar um basta nessa minha história.
Quero me sentir segura e que a minha família também fique.
Amanhã será um dia longo.
O Lorenzo parecia aéreo, não sei o que aconteceu na viagem, mas
ele não estava no seu estado habitual.
— Vou no rifugio — falou saindo do quarto.
Já havia se passado dois dias desde o dia que ele voltou de viagem.
Eu tentei conversar com ele algumas vezes sobre o tio Marco, mas
ele estava tão ocupado com algo, que não quis deixá-lo ainda mais
estressado.
Ele agora passava mais tempo no rifugio e eu aqui em casa.
Passei o dia lendo, comendo e dormindo.
Durante a noite, o Lorenzo não apareceu nem para o jantar, o que
me deixava mais preocupada com ele, porque ele sempre se esforçava para
não me deixar comer sozinha.
Lucy estava bastante ocupada com a festa de Natal que se
aproximava, já que seria o meu primeiro natal com a família. Ela tomou a
frente da grande festa que aconteceria aqui em casa.
Red agora vivia enfurnado com o Lorenzo, aonde o Lorenzo estava,
o Red ia atrás.
Lorenzo anda distante, mas creio eu que seja problemas, então não
culpo a sua falta de tempo comigo.
Estava sozinha, sem nada para fazer durante o dia inteiro. Ler me
acalmava, mas só fazer isso o dia inteiro, logo eu que estava cheia de
energia para gastar, estava sendo uma tortura.
Eu ia enlouquecer, as vezes eu tinha uma preguiça sem fim e em
outros momentos eu estava muito agitada.
Hoje resolvi ir dormir cedo, não teria nada para fazer mesmo.
Acordava algumas vezes na noite, esperando o Lorenzo aparecer
para dormir.
Como ele não retornava, eu voltava a dormir novamente, e foi assim
a madrugada toda.
— Hope, Hope, Hope! — Escutei Lorenzo me chamar no andar de
baixo, já que a porta do quarto estava aberta.
Me sentei na cama, olhando o relógio, era 04:15 da manhã.
Esse homem não dorme e não deixa ninguém dormir.
Me levantei da cama e logo o Lorenzo apareceu no quarto apenas de
moletom.
— Cadê a sua blusa? — indaguei.
Sério? A primeira coisa que você vai perguntar para ele é isso? Era
melhor ter perguntado o que ele tinha na cabeça em te acordar às 4 da
manhã.
— Estava me sentindo sufocado com ela — explicou. Caminhou até
a mim rapidamente e segurou na minha mão. — Andiamo!
Lorenzo começou a me puxar para fora do quarto em uma
velocidade que eu não conseguia acompanhar.
Ele estava bravo?
Não parecia, apenas estava apressado.
— Lorenzo, ande mais devagar, eu vou acabar caindo da escada —
disse e ele logo parou de andar, se virando para me olhar.
— Desculpa! — falou me pegando nos braços, acelerando mais os
seus passos. — Quero que você veja algo.
Estávamos do lado de fora da mansão enquanto o Lorenzo me
levava sem muito esforço.
— Lorenzo, estou de camisola — falei enquanto ele caminhava até
o rifugio. — Fiz algo de errado?
— Não, só quero que esses olhos vejam algo que eu não vi.
Chegamos no elevador e o Lorenzo apertou o botão do 4° andar.
Assim que as portas se abriram, Red estava em frente a uma porta
preta.
— Tome — disse Red me entregando o seu paletó.
Depois entendi que eu estava de camisola em um ambiente cheio de
seguranças.
Vesti e caminhei junto com o Lorenzo para dentro da sala.
Minha surpresa foi ver os irmãos do Lorenzo, Enzo, o Sr. Diego, o
Leonel e o Lucca e o Mark.
— O que está acontecendo aqui? — perguntei.
— Olhe isso. — Lorenzo apontou para o computador.
— Nada contra, ruivinha, mas não vejo como ela pode nos ajudar —
disse Lucca. — Todos nós já vimos isso milhares de vezes.
Sentei na cadeira de frente para o computador, sem entender nada.
— O que vê nessas filmagens? — perguntou Lorenzo enquanto eu
olhava um vídeo.
No começo não entendi, era apenas um jardim e não havia ninguém,
mas logo uma criança com os cabelos loiros passou.
Era a Antonella?
Estavam investigando a morte dela? Será que já descobriram quem
fez isso?
— É a sua filha? — perguntei e ele assentiu.
Ela era muito parecida com a Alessandra, mas o rosto lembrava
muito o Lorenzo.
Ela era linda!
Ele estava me mostrando a filmagem do dia que a filha morreu?
— Só olha bem e veja se tem algo de diferente — disse Enzo.
Repeti o vídeo dela caminhando para algum lugar diversas vezes.
— Só tem essa filmagem? — perguntei.
— Era o mais próximo do lago, ela caminhou mais pelos pontos
cegos das câmeras de segurança — disse Enrico.
Olhei atentamente, até que algo me chamou atenção.
— Aqui! — Apontei e todos que estavam aqui olharam para a marca
da sombra do canto da tela. — Não dá para ter uma melhor visão, mas isso
é estranho.
— É só uma sombra, pode ser de qualquer coisa, uma árvore, um
pássaro pousando por cima de um galho... — Interrompi Leonel.
— Não estava antes — expliquei, voltando o vídeo. — Mesmo se
fosse uma árvore, a sombra permaneceria ali toda a filmagem. O sol não
estava se pondo para a sombra desaparecer do nada depois que a Antonella
passou e sumiu de frente das câmeras.
— Pelo porte deve ser um homem, não tem outra explicação —
disse Pietro.
— É um homem, isso parece um ombro muito largo e encurvado
para ser uma mulher — disse Mark apontando para uma parte da sombra.
— E não é que a ruiva tem talento — disse Lucca me abraçando e o
Lorenzo o empurrou para o lado com a cadeira.
— Vamos olhar os convidados daquele dia e vejamos se alguém bate
mais ou menos com o tamanho que mostra na foto — disse Lorenzo. —
Depois de achar o nosso suspeito, o investigamos e vemos se tem algo de
errado nele. Sei que já investigamos isso milhares de vezes, mas vamos
fazer de novo.
— Sente-se aqui — disse Leonel a mim me deixando no sofá.
Sentei e observei eles do canto.
Uma sombra de um homem atrás da árvore com certeza era estranho
ali.
Lorenzo já deveria ter investigado todos que estiverem aquele dia,
não entendia o que mudou agora.
Parecia que a pessoa sabia bem os pontos cegos e guiava a
Antonella, fazendo-a se esconder sem nem perceber das câmeras de
segurança.
— Não, esse é muito baixo — disse Enrico para a enorme lista de
convidados.
Depois de um tempo, todos estavam bem desapontados pelo
decorrer dessa investigação.
— Ninguém bate nesse padrão — disse Lorenzo jogando os papéis
no chão. Ele parecia esperançoso para descobrir quem fez aquilo com a sua
filha. — INFERNO!
Lorenzo passava as mãos nos cabelos e eu via o quanto ele estava
preocupado.
Ele precisava descobrir para finalmente ficar em paz com essa culpa
que ele carrega.
— Talvez não fosse alguém dos convidados e sim algum funcionário
do evento — comentei pensando alto.
Todos me olharam surpresos.
Sério que eles não pensaram nisso?
Talvez eles não acreditassem tanto em algo que seria tão óbvio,
então procuravam algo impossível achando que só assim para aquilo ter
acontecido com a Antonella quando ela estava sobre os cuidados deles.
Lorenzo caminhou até mim com um olhar de esperança.
— Nunca estive tão feliz por ter me casado com você, como estou
agora — falou depositando um beijo em minha testa, logo olhando para os
rapazes. — Procurem nos funcionários.
— Muito bem, raposinha! — falou Mark.
— Surpreendente! — disse meu sogro.
— Hope, eu estou muito grato pelo que fez hoje e não que eu não
valorize o que está fazendo... — disse Lorenzo e eu o interrompi.
— Tudo bem, Lorenzo, sei que não quer me deixar saber de tudo
para não me deixar na mira de ninguém.
— Isso! — falou. — Na hora certa eu digo o que está acontecendo,
eu prometo.
— Só tome cuidado, seja lá o que estiver acontecendo — disse, lhe
dando um beijo.
— Pode deixar, ruiva — falou. — Agora volte para casa, ainda dá
tempo de tirar um cochilo.
Até queria, mas do jeito que eu já estava ansiosa para saber o que
estava acontecendo, não conseguiria dormir.
Me pergunto o que está acontecendo aqui.
Será que tem pistas de quem matou a filha dele???
— Cadê o meu beijo, raposinha? — indagou Mark quando eu ia sair
da sala.
— Saí daí, eu que causo briga — falou Lucca o empurrando. —
Lorenzo, olha esse arrombado querendo roubar o meu lugar.
— Pois me dá um beijo no lugar dela então — disse Mark a ele.
— Seu...
— Eu vou dar um tiro nos dois — disse Lorenzo a eles. — Hope,
pode voltar, obrigado!
Voltei para o quarto, tentando não deixar a curiosidade me dominar.
Pela manhã, o Lorenzo ainda estava no rifugio, cansei de esperá-lo
no quarto e fui ficar na cozinha com a Lucy.
— Está se sentindo abandonada? — perguntou Lucy já que eu
estava a olhando deprimida. — Tem uns dias que não conversámos.
— Eu entendo que todos estão ocupados, mas não tem nada para
fazer aqui — respondi. — Até os eventos das mulheres não está mais
acontecendo devido aos últimos ataques, então não tem nada para eu fazer
ou planejar.
— Estou tão ocupada com a festa do Natal, que eu não estou lhe
dando atenção — disse Lucy, logo o interfone tocou interrompendo a nossa
conversa. — Já estou indo! — respondeu para a pessoa da ligação. — Vou
buscar alguns utensílios para a festa que acabou de chegar.
Lucy logo saiu e novamente eu fiquei sozinha.
— Raposinha! — disse Mark entrando na cozinha.
— Eu estou surpresa com essa sua amizade com o meu marido.
Lorenzo não deixa qualquer um ficar entrando aqui em casa — falei.
— Não se preocupe, sempre estarei aqui apenas por você — disse
Mark se escorando no balcão, ficando ao meu lado, sorrindo para mim.
— Precisa estar vivo para estar aqui na próxima vez — disse
Lorenzo entrando na cozinha logo em seguida.
— Ele é tão ciumento, eu gosto disso, me deixa mais atraído por ele
— disse Mark dando uma piscadela para o Lorenzo.
— Vai se fuder! — disse Lorenzo. — Esqueço que está me ajudando
e te mato por ter ficado com a minha mulher.
Eu congelei quando o Lorenzo disse isso.
— Não foi nada demais, você apontou uma arma para mim e olha
que não foi nada além de um beijo, não é, raposinha? — indagou Mark a
mim.
Eu nem sabia o que responder, ainda estava chocada, não pelo
Lorenzo saber, mas sim, por ter aceitado tão pacificamente.
— É, não foi nada — disse praticamente em um sussurro.
— Relaxa que eu estou apenas esperando a Hope me apresentar a
amiga dela — disse Mark apoiando a cabeça no peito do Lorenzo o olhando
manhoso.
— Que amiga, Mark? — perguntei sem lembrar disso, ainda
estranhando o Lorenzo não ter empurrado o Mark para longe.
— A sua, a que você falou no casamento — comentou.
— Alessandra? — indaguei rindo pensando nela com ele.
— Ela é a minha ex-esposa — disse Lorenzo ao Mark. — Não que
eu me importe, mas ela acabaria com você.
Não podemos discordar disso.
Alessandra foi uma megera quando eu a conheci, mas ela se abriu
mais comigo, mostrando um lado que ela não mostrava a ninguém.
— Gosto de uma surtada! — disse Mark passando a mão no rosto do
Lorenzo. — Bom que fica tudo em família, eu peguei a sua esposa, a ex e
você.
Lorenzo o empurrou, rindo do comentário do Mark.
— Vai se fuder, seu cuzão! — disse Lorenzo a ele, aproximando-se
de mim agora.
— Agora eu tenho que ir, antes que o Capo me mate — disse Mark.
— Tchau, raposinha!
Mark saiu, me deixando sozinha com o Lorenzo.
— Lorenzo, desde quando você sabe que eu e o Mark ficamos? —
perguntei curiosa.
— No dia que pegamos o Enzo — respondeu, comendo um bolo que
estava em cima do balcão.
— Ah!
— O que foi? Achou que eu surtaria? — perguntou. Talvez. — Não
tenho que te cobrar nada, não fui um santo no começo do nosso casamento
e o que você fez, não me interessa, pois era a sua vida. Casar com você de
certa forma abriu os meus olhos em muitos aspectos, ruiva.
— Só fiquei um pouco preocupada sobre como você lidaria. Ainda
bem que entende — disse. Ele estava diferente, essa sua versão era a que eu
mais gostava. — Lorenzo, eu queria falar com você.
— Você voltou! — disse Lucy interrompendo a nossa conversa.
Sempre tem alguém para interromper a nossa conversa.
— Cheguei agora há pouco — respondeu. — Andiamo, ruiva, eu
quero terminar essa conversa lá em cima. Sei que quer conversar comigo
tem uns dias.
Subimos e o meu coração parecia que sairia pela boca.
— Sou todo seu agora, pode falar — disse Lorenzo se sentando na
cama.
— Eu não quero falar em detalhes e muito menos enrolar muito,
mas seja paciente e escute — disse, tentando criar coragem.
— Minha paciência é toda sua, não dou ela a ninguém, sinta-se
lisonjeada — falou me deixando mais confortável.
— É sobre o tio Marco.
Assim que eu disse, o Lorenzo já se ajeitou na cama.
— Você quer me dizer ou está se sentindo pressionada por que eu
estava perguntando? — indagou.
— Eu quero dizer, porque eu confio em você.
Ter esse lado compreensivo do Lorenzo era novo para mim.
Nunca pensaria no começo do meu casamento que aquele
brutamontes que eu casei se tornaria o homem que é hoje. Nem passou pela
minha cabeça.
— Quando se sentir à vontade pode começar — disse Lorenzo. —
Não quer se sentar?
— Não, quero ficar em pé mesmo — disse. — Bem, tudo o que
você sabe é verdade e aconteceu. A Lisa foi a que mais sofreu nas mãos
dele, já que foi a primeira.
Parei para raciocinar o que falaria, eu não queria contar tudo com
detalhes, lembrar daqueles dias era horrível.
Sequei as mãos no meu vestido, já que elas transpiravam bastante.
Sentia a minha respiração ofegante, a minha garganta seca e o meu
corpo já estremecendo.
— Está tudo bem, amor! — falou.
Travei com a palavra “amor”.
Lorenzo não era de demonstrar afetos, até me sinto um pouco
ingrata, ele demonstrava mais do que eu.
Respirei fundo, tentando me acalmar.
— Quando a Lisa tinha uns 15 anos, o meu pai a castigou e a
mandou para casa do irmão para se livrar dela por um tempo. Quando ela
retornou para casa, ela estava estranha. Ela ficou lá apenas uma semana e
mudou drasticamente as suas ações desde que retornou. Ela não comentou
nada, só disse que não era hora de falar. Até que um dia o meu pai resolveu
me punir. Como ele viu que a Lisa mudou muito e ele sempre ameaçava
falando que a levaria para casa do irmão e ela obedecia rapidamente, ele
queria ter o mesmo poder sobre mim como tinha por ela. Quando foi a
minha vez de ir, a Lisa foi comigo porque ela estava envolvida no meu
castigo. Eu não sabia o motivo dela ter tanto medo dele, ele era normal, era
sorridente e nos dava presentes. Ficaríamos por lá por uma semana, então
não aconteceu nada durante a primeira semana, foi quando o meu pai ligou
avisando que ficaríamos lá mais tempo, depois eu descobri que foi quando
ele descobriu a gravidez da minha mãe e ficou bravo. A tia Greta que é a
esposa do tio Marco, teve que ficar uns dias fora e começou a sair à noite
nos deixando sozinha com ele.
Respirei fundo novamente lembrando até do cheiro que tinha aquela
casa.
— Ele nos levava para o quarto de hóspedes e fazia o que queria,
porque ninguém nos escutaria ou nos ajudaria. Ele era tão sádico, me
amarrava na cabeceira da cama e me fazia ver ele tocando no corpo da Lisa.
Ele fazia pequenos cortes na barriga dela, mas nada que fosse deixar
cicatrizes nela. Ele gostava de ver ela gemer com a dor dos cortes. Ele não
podia ir mais além daquilo, porque nós tínhamos que ser virgens e não
deixaria provas do que fez conosco lá. Eu ainda era nova, mas ele dizia que
eu já era uma mulher, já que meu primeiro sangramento veio. Foi quando
foi a minha vez... — Minha voz falhou e eu me aguentava para não chorar.
— Eu fiquei assustada, gritei por ajuda, mas ninguém apareceu. Ele me
desamarrou e prendeu a Lisa no meu lugar onde eu estava antes assistindo
aquilo. Lisa implorava para que ele não me tocasse. Ele tirou a minha
roupa, mas não me tocou, dizia que ia ser mais paciente comigo já que era a
minha primeira vez. Ele fez cortes nos meus braços e nos meus seios. Ele
ficava excitado quando eu me debatia de dor. Quando o céu começava a
clarear e era dia, ele saía do quarto. Tínhamos sorte quando a tia Greta
ficava a semana em casa, mas ele sempre arrumava alguma forma dela sair
e se aproveitar de nós. Até que era a minha vez de sentir o “real prazer”. Ele
só me mutilava, não me tocou nenhuma vez. Quando ele começou a me
tocar, eu só chorava. Lisa gritava da cama e eu não sabia o que fazer. Ele
mordia o meu seio e aquilo doía tanto. Eu tinha 14 anos, o que eu deveria
ter feito? Eu estava apavorada! Quando as suas mãos desceram para minha
intimidade, escutei um barulho de algo se quebrando, quando eu vi, a Lisa
havia quebrado o vidro do espelho que havia na cabeceira da cama com a
cabeça e cortado o seus pulsos com a mão que estava livre, já que ele só
amarrava uma mão nossa na cama. Fiquei tão desesperada que corri até ela.
Sentia lágrimas caírem dos meus olhos, sentindo perder a força das
pernas cada vez que eu lembrava da Lisa daquele jeito.
— Tio Marco praguejava por a Lisa ter sido tão estúpida. Quando
ela foi para o hospital, os meus pais já haviam chegado e o meu pai
perguntou o que aconteceu, o Tio Marco mentiu dizendo que a Lisa ficou
com medo de ser castigada quando supostamente ela entrou no seu
escritório e mexeu nos seus documentos. Meu pai acreditou, mas já que a
Lisa estava debilitada, nos levou para casa. A Lisa se machucou para me
salvar, Lorenzo. Ela colocou a sua vida em risco para que eu não ficasse tão
traumatizada quanto ela ficou. Quando o meu pai disse que eu iria para lá
de novo quando eu tinha uns 19 anos, eu fugi antes mesmo de chegar
naquela casa. Eu e a Lisa merecemos que ele pague o que fez. Ele pode
estar fazendo isso com outras pessoas. Eu só quero que ele suma de nossas
vidas para sempre.
Lorenzo estava sem expressão alguma. Não disse nada e só me
olhava. Não sabia o que fazer ou o que falar para o Lorenzo sair daquele
estado.
Ele só estava ali, me escutando quando ninguém de fora quis me
ouvir.
— Você pode dizer alguma coisa, está me deixando preocupada —
disse, secando as lágrimas.
Ele se levantou da cama e me abraçou.
— Eu te prometi que te protegeria até o fim da minha vida e eu farei
isso. Me desculpe por não ter te conhecido antes e não ter te livrado daquele
escroto — falou passando a mão delicadamente na minha cabeça me
passando um conforto que eu não sei descrever. Me aconcheguei mais no
seu abraço, chorando em seu peito. — Farei ele pagar da pior forma que eu
encontrar. Não importa o que vai acontecer, eu farei ele implorar pela vida.
— Obrigada por acreditar em mim!
Eu sentia um peso sair das minhas costas. Sentia o ar que eu tanto
prendia se soltar.
— Tudo vai ficar bem agora, meu amor — disse Lorenzo me
abraçando mais forte. — Se quiser chorar, pode, não sairei daqui até que
você se sinta melhor.
E foi isso que eu fiz, me permiti chorar depois de tantos anos.
Confio que o Lorenzo não deixará mais ninguém me fazer mal.
Eu não conseguia explicar a sensação que eu estava sentindo agora.
O Lorenzo em nenhum momento me questionou ou desconfiou do
que eu disse, ele só acreditou e eu precisava disso, de alguém acreditando
em mim mesmo sem ter provas do que aconteceu.
Feridas na carne podem ser cicatrizadas, mas feridas na alma eram
mais difíceis de ser curada e superada.
As vezes precisamos de alguém que nos ajude a nos tirar do fundo
do poço e que nos jogue uma corda para não nos deixar afundar ainda mais.
Precisamos da cura da alma para seguir uma vida sem medo e culpa.
Eu precisava de alguém que não fosse a minha mãe ou as minhas
irmãs, eu precisava do Lorenzo.
Não que a minha dependência fosse dele, mas de receber ajuda de
alguém, já que eu não conseguiria sair sozinha da zona de dores que eu
estava.
Era ele.
Ele estava na minha frente o tempo todo, era ele quem eu precisava
e procurava, eu só não consegui enxergar isso antes porque ele estava
diferente, lidando com os próprios monstros, mas agora sem toda aquela
máscara que ele usava, eu via que era ele que eu queria.
Depois de tanto chorar, eu me sentia mais leve.
Me afastei dele, secando as minhas lágrimas.
— Tenho que fazer uma ligação, tome banho e se deite um pouco —
disse Lorenzo dando um beijo na minha testa.
Lorenzo saiu do quarto e eu fui tomar banho.
Coloquei uma roupa, já que eu ainda jantaria.
Quando eu saí do banheiro, o Lorenzo já havia voltado.
— Ficará na sua irmã até a véspera do Natal. Sua mãe ficará com
vocês, já que o Enzo ficará comigo uns dias — disse Lorenzo.
— Mas é só próxima semana, vai ficar tanto tempo longe?
— Hope, eu tratei o seu tio hoje para o rifugio, não quero você aqui
sabendo que ele está no prédio ao lado — falou. — Eu vou fazê-lo pagar, eu
te prometo isso. Eu mesmo estou indo buscá-lo, e você ficará na sua mãe
com as suas irmãs.
— A Lucy e o Red também irão? — perguntei.
— A Lucy está ocupada com as coisas do Natal e o Red disse que
tinha um acerto de contas com o seu tio, então ficará comigo — explicou.
Até o Red está no meio disso. — Não se preocupe, a casa terá seguranças e
te ligarei todos os dias. Só quero me dedicar apenas na estadia do seu tio
aqui.
— Você vai ficar bem?
— Não se preocupe comigo, cuide do nosso filho e fique bem! —
falou, me abraçando.
— Obrigada por tudo! — disse.
— Você é boa demais para esse mundo, minha ruivinha — disse
Lorenzo. — Arrume suas coisas para levar.
— Farei isso — disse dando um beijo nele.
Lorenzo permaneceu ainda no beijo, ele estava tão bom, que não
queria parar.
— Eu estou indo agora! — disse Lorenzo se afastando aos poucos
os seus lábios dos meus. — Você sairá em 10 minutos, tente se apressar,
vou pegar o seu tio agora.
— Certo!
— Fique bem e me ligue se precisar de algo — falou, já se
distanciando de mim.
Enquanto Lorenzo caminhava para a porta, eu caminhava para o
closet.
— Hope! — disse Lorenzo me chamando de frente para a porta.
Parei de andar, parando em frente a porta do closet, o encarando.
— Por muito tempo eu quis te odiar e te tornar minha, não do jeito
certo. Sei que fui um péssimo marido e que não te dei o real valor, eu não
fui fiel e te machuquei tanto verbalmente, quanto fisicamente. Não há um
dia em que eu não me arrependa do que eu te causei, até cair na real do que
estava acontecendo comigo. Eu espero que me perdoe por ter sido tão ruim
com você. Eu estou tentando dizer é que você quebrou todas as barreiras
que tinha para conseguir entrar no meu coração e conseguiu. Hope, eu estou
perdidamente, loucamente e insanamente apaixonado por você.
E saiu do quarto sem esperar eu dizer algo.
Eu fiquei parada, sem falar nada, sem nem acreditar no que eu havia
acabado de escutar.
Ele soltou e saiu, literalmente.
Minha respiração estava agitada e desregular.
Meu coração ia sair pela minha boca a qualquer minuto.
Não esperava receber uma declaração de amor do Lorenzo jamais na
vida.
Não podia me enganar ainda mais do que estava acontecendo entre
nós dois.
Não pensei muito e fui atrás do Lorenzo.
— Lorenzo, espera! — O chamei na escada.
Ele já estava na sala e me encarava do andar debaixo. Acelerei os
passos para chegar o mais rápido até ele e quando eu fiquei frente a frente,
eu apenas conseguia admirar aqueles belos olhos azuis.
— Como ousa dizer aquilo e sair sem esperar eu falar algo ou te dar
alguma resposta — disse.
— Não sou tão corajoso quanto pensa, Hope — respondeu um
pouco tímido.
Me aproximei dele, colocando os braços ao redor do seu pescoço.
— Se tivesse esperado, você teria escutado isso lá em cima — disse.
— Eu tentei não gostar de você. Não que fosse fácil, mas você me fazia
feliz do seu jeito. Os últimos meses estão me fazendo enxergar mais o
grande homem que você está se tornando. O que eu quero dizer é que eu te
amo também, Lorenzo.
Lorenzo não me esperou terminar e me beijou.
Ver que o Lorenzo também me amava, me deixou ainda mais feliz.
— Eu mudei, Hope, eu mudei por amar você. Você foi a causa da
minha redenzione (redenção) — falou, passando a mão no meu rosto
delicadamente. — Eu sei que eu nunca serei um homem bom e eu
realmente não pretendo ser, mas com você eu quero ser. Não quero que eu
seja só o seu marido ou o pai do seu filho, eu quero ser a sua base, eu quero
que você caminhe do meu lado, eu quero que juntos conquistamos tudo o
que almejamos.
Lorenzo falava, beijando o meu rosto.
— Eu só quero você comigo. Pode partir o meu coração quantas
vezes você quiser. Pode pisar nele. Pode quebrá-lo em milhares de pedaços.
Eu junto tudo e colo de novo para você fazer isso repetidas vezes se quiser,
eu só quero você perto de mim — sussurrou, beijando o meu pescoço.
— Eu nunca faria isso, Lorenzo — disse, o afastando um pouco para
olhar nos seus olhos. — Por te amar, eu cuidaria do seu coração, não o
machucaria. Eu juntaria os cacos quebrados e te ajudaria a colar, mas eu não
seria o motivo deles estarem quebrados. Eu vou cuidar de você.
Lorenzo me beijou novamente, agora mais intenso do que antes.
Tudo estava indo tão bem que eu nunca pensei que eu viveria assim.
— Quando voltar, a gente pode terminar essa conversa — disse,
sentindo que o Lorenzo já me levaria para o quarto.
— Irei cobrar, ruiva — falou depositando mais um beijo.
— BORA, LORENZO! — Escutei Enrico gritar lá fora. —
AQUELE DESGRAÇADO NÃO VAI MORRER SOZINHO.
— Antes que pergunte, não contei nada para os meus irmãos, só
pedi que estivessem comigo para não me deixar matá-lo rápido. Não
consigo me controlar e matar ele logo não está nos meus planos — falou.
— Não me importo se eles souberem ou não, só tente não deixar a
liderança saber de tudo, temo por mim e pela Lisa — disse.
— Não saberão de nada. — Afirmou. — Eu tenho planos maiores
para isso, não se preocupe, a liderança não saberá.
— Agora vá, antes que os seus irmãos invadam a casa — disse
depositando outro beijo em seus lábios.
— Tchau, amor! — Falou sorridente. — Ti amo, ragazza!
— Também te amo! — respondi.
— Vou gostar muito disso — falou animado.
Era um pouco estranho, mas me acostumaria rápido com isso.
Agora não me preocuparia mais com nada.
Eu e Lorenzo estávamos bem, tio Marco pagaria pelo que fez e tudo
ficará bem.
Assim que eu cheguei na casa da Lisa, ela estava bem nervosa.
Não tinha como não ficar, o tio Marco sempre foi bom em fugir de
acusações. Apesar da Lisa está com medo, eu confiava que o Lorenzo não o
deixaria sair de lá vivo.
— Então você contou mesmo — disse Lisa se sentando ao meu
lado. — Ele disse algo de mim, digo, se a liderança perguntar o motivo de
eu não ter relatado antes sobre o que aconteceu na primeira vez?
— Lisa, ele não vai deixar a liderança se aproximar da gente. Eu sei
que você está com medo, eu não nego que eu também estou, mas
convivendo com o Lorenzo e a sua família, eu sei que o que eles mais
sabem fazer de melhor é proteger uns aos outros. Sei que não deixariam
nada acontecer conosco, porque nós nos tornamos família para eles. Vai
ficar tudo bem! O Lorenzo havia mencionado algo a mim que não falaria
com a liderança, mas eu não sei o que ele pretende fazer.
— Eu só quero que isso acabe logo — falou.
Só me acalmaria quando soubesse que o tio Marco morreu.
Havia comentado com ela sobre o Lorenzo ter se declarado
primeiro.
Era bom se sentir amada por alguém. Cresci a minha vida inteira
escutando que eu não seria nada para o meu marido e saber que não é bem
assim, me traz uma certa felicidade.

Já se passaram uma semana desde o dia que eu vim para a casa da


Lisa.
Lorenzo me ligou durante o dia, mas não entrava em detalhes do que
estava acontecendo.
Eu ficava preocupada, não pelo tio Marco é claro, mas por estar toda
a família reunida, junto do Mark e do Enzo, então eu não sei se eles já se
mataram entre si. Não duvido de estarem discutindo o dia inteiro.
— DESCABELADA, o Red chegou! — disse Lisa rasgando a
garganta de tanto gritar.
Me despedi deles e fui encontrar o Red.
Eu realmente não entendo, a Lisa passa o dia gritando, não sei como
o Bernardo e o Nandinho não acordam.
Não nego que eu não via a hora do Lorenzo ligar.
Estava com saudades de casa.
Era estranho ter um lar para retornar, desejar voltar para casa.
Achei que eu nunca me adaptaria ao casamento, achava que eu
nunca teria um lugar para dizer que é meu, que eu poderia sentir prazer em
voltar para casa no fim do dia.
Eu nunca tive um lar de fato e agora depois de casada era
aconchegante e ao mesmo tempo reconfortante saber que eu tenho para
onde ir e para quem recorrer.
— Oi, Red! — disse, o abraçando.
— Vejo que cresceu muito essa semana — falou apontando para a
minha barriga. Sem querer vir as feridas em sua mão e ele logo escondeu.
— Semana difícil!
— Estão todos bem? — perguntei.
— Acho melhor fazer as perguntas ao seu marido — disse Red. —
Mas estão todos bem!
— Está bem! — disse.
Não demorou muito para que chegássemos em casa.
— Minha pequena, estava com tantas saudades suas — disse Lucy
me abraçando.
— Também senti sua falta, Lucy — disse.
— Hoje a casa vai estar cheia, espero que dê tudo certo —
comentou empolgada.
— Hoje? Por quê?
— Véspera de Natal — respondeu. — Anda esquecida?
— Nossa, é hoje! — disse surpresa. — Nem lembrava, minha
cabeça ultimamente anda nas nuvens.
— São as preocupações, não é!? — disse Lucy. — Enfim, suba, o
Lorenzo está lá em cima.
Subi e assim que eu entrei no quarto, escutei o barulho do chuveiro.
Tirei a minha roupa e entrei no banheiro.
Lorenzo estava de costa para a porta, então nem notou a minha
presença. Entrei no box e ele logo se virou.
— Que bela surpresa! — falou me beijando em seguida. — Senti a
sua falta!
— Também senti a sua!
— Ficou mais linda essa semana, como isso é possível? — indagou
e eu o empurrei para debaixo do chuveiro timidamente com os seus elogios.
Eu amava quando ele fazia isso, eu me sentia maravilhosa.
— Está machucado? — perguntei escutando o seu gemido.
— Não, é só dor muscular — falou, mexendo o pescoço de forma
circular.
Troquei de lugar com ele e logo fui para debaixo do chuveiro.
— Quer uma massagem?
— Eu mataria por uma — falou, mostrando o quanto aquilo o
incomodava.
Terminei de tomar banho e ele também.
— Quer que eu faça agora a massagem? — perguntei.
— Eu quero matar a saudade primeiro — falou me beijando
intensamente, me levando para a cama.
— Você realmente sentiu a minha falta — disse, abraçando o seu
corpo que estava por cima de mim.
— Não imagina quanto — falou beijando o meu pescoço. — Como
vocês dois estão?
— Estamos bem e você? — indaguei. — Parece cansado.
— Sabe que os problemas aumentaram, mas nada que eu não
resolva — falou enquanto me olhava, passando o polegar delicadamente no
meu rosto.
— Estão todos bem? — perguntei.
— De certa forma sim, o Enrico quase saiu no soco com o Mark, o
Lucca e o Pietro discutiram, o meu pai e o Leonel ficaram a semana inteira
aqui também discutindo com todo mundo, mas nada que fugisse do normal.
— O tio Marco...
— Está morto! — falou. — Não se preocupe, você e a sua família
ficaram bem agora.
Não sabia se chorava ou se sorria.
Nunca imaginei que um dia de fato nos livraríamos dele, e hoje, esse
dia chegou.
Não sei como deve está sendo para a Lisa, mas para mim, é como se
agora eu pudesse prosseguir a minha vida.
— Terá funeral? — perguntei.
Não sabia se Lorenzo permitiria, até porque o tio Marco não traiu,
apenas quebrou regras, também não sei qual foi a desculpa que ele usou
para a liderança.
— A liderança está avaliando — avisou. — Provavelmente terá,
porque para todos o Marco apenas ofendeu a mim e a minha família, então
foi punido por todos nós.
Então foi essa desculpa que o Lorenzo deu para a liderança?
Mexer com um Ferraro e ser punido por isso, a liderança não
investigaria, até porque é uma família poderosa aqui na máfia.
— Eu terei que ir, quero dizer, a minha família também irá — disse
já com medo do que acontecerá.
Em um mês morreu dois membros da família, a minha avó e os
meus parentes não gostarão disso e eu já estou sentindo o peso da
responsabilidade que eu vou ter que segurar.
Não estava preparada para rever a minha família de novo, muito
menos ver eles no funeral do tio Marco.
Mais um velório que os Ferraro irão acompanhado da minha família.
— Se eles começarem a fazer o que fizeram da última vez, a gente
só mata eles — falou. Não soou como brincadeira. Eu tinha receio, não que
eu me importasse, mas a minha família estava junto com os japoneses, uma
guerra por conta disso, eu me sentiria culpada.
— Lorenzo... — Ele me interrompeu.
— Não vamos estragar o dia por conta disso — falou. — Hoje eu
terei uma folga merecida. Pensei em tomar um banho de piscina com a
minha esposa e o meu filho, depois ficar a tarde toda agarrada com você
aqui na cama e de noite comemorar o nosso primeiro natal juntos. Isso não
parece bom?
— Parece ótimo! — falei dando beijos em seus lábios. — Não é
querendo estragar, mas o clima está bem frio.
— Não está tanto assim, eu te aqueço.
— Por mim, está ótimo! — disse.
— Andiamo! — Falou se levantando logo em seguida.
Lorenzo estava animado demais, talvez fosse porque não tinha uma
folga há muito tempo.
Não demorou muito para descermos para o jardim.
— Lorenzo você lembra que eu não sei nadar, não é? — perguntei
assim que ele pulou na piscina.
Estava frio, o tempo nublado e ventando bastante.
— Eu posso deixar você grudada comigo, porém quero algo em
troca — falou logo abrindo um sorriso malicioso.
— O que quiser, eu faço. Eu estou aceitando ideias para negociações
— disse.
— Ruiva... — Seu sorriso ficou ainda mais malicioso. — Não diga
isso para mim, a minha imaginação é bem fértil.
Me sentei na borda da piscina e esperei ele se aproximar de mim.
— Podemos discutir isso de noite, se tiver a favor de negociar —
falei.
— Gosto de como você paga as nossas negociações — disse
Lorenzo me segurando, logo me colocando na piscina com ele.
— Santo Cristo, está muito frio! — disse.
— Já liguei o aquecedor — falou. — Demorará um pouco para
esquentar.
— Só não vamos muito para o fundo — disse temendo me afogar.
— Relaxa, está comigo, não deixarei nada te acontecer.
Ficamos um pouco ali grudadinhos, literalmente. Não tirei os meus
braços do pescoço do Lorenzo nem por um minuto. Ele ria do meu
desespero a todo instante com um sorriso muito lindo por sinal.
Lorenzo deveria sorrir mais vezes.
A cara de carrancudo dele afasta as pessoas e fazem elas terem uma
ideia errada da pessoa maravilhosa que ele é.
— O que é um ponto laranja na piscina? — indagou com um sorriso
travesso.
— Uma Bellini morrendo afogada?
Lorenzo soltou uma gargalhada, jogando a cabeça para trás de tanto
rir.
Depois eu pensei no que eu disse. Se fosse em outro momento, o
Lorenzo certamente teria se sentido mal só pelo fato de relacionar a
brincadeira a um afogamento. Hoje vejo como ele está lidando bem com
tudo que aconteceu.
— Você destruiu a minha cantada — falou.
— Você ia flertar comigo?
— Eu estou sempre flertando com você, Hope — falou depositando
beijos no meu rosto.
— E eu soltando comentários estragando o clima — disse. —
Tentarei segurar na próxima vez.
— Mas não seria você. Gosto da sua autenticidade e de como pensa
rápido em uma resposta engraçada. Me pergunto o que passa na sua cabeça
toda vez que fica em silêncio. Certamente terá comentários hilários.
— Você não faz ideia quantos — disse sabendo que se eu falasse um
terço das coisas que eu penso, eu seria massacrada aqui.
— Você está a cada dia mais linda! — falou dando beijos no meu
pescoço.
— Estou ficando inchada, eu não sei como eu estou engordando
tanto.
— Também não sei, talvez seja porque come a cada 5 minutos e
passa o dia dormindo sem fazer nenhum exercício, mas certamente não
deve ser por isso — respondeu em um tom debochado.
— Se a Dra. Olivia perguntar, eu estou seguindo tudo direitinho —
disse.
— Ganho o quê em troca por mentir? Sabe que eu sou contra a
enganar as pessoas — alegou cinicamente.
— Sei, odeia muito — disse sarcástica. — Ela tem medo de você,
mas podemos discutir sobre isso depois.
— Ótimo!
— Ei, está muito frio para você, Hope — disse Lucy. — Já está na
hora do almoço, venham comer.
Lucy cuidava muito de mim, sempre com medo de que eu
adoecesse.
— É melhor irmos, não quero que adoeça — falou.
Lorenzo me ajudou a sair e logo caminhamos para dentro de casa
novamente.
Parecia que ia chover a qualquer momento.
O almoço foi tranquilo.
Estava me acostumando com essa versão do Lorenzo e isso seria
muito fácil, pois era a que eu mais gostava.
Assim que o almoço terminou, a gente subiu para o quarto.
— Nós nunca fomos muito de conversar, até porque eu sempre fui
muito inacessível. Quer começar a mudar isso? — perguntou Lorenzo.
— Claro!
Gostava dessa brecha que ele me dava para entrar na sua vida.
Lorenzo se sentou na cama, enquanto eu fazia massagem nos seus
ombros.
Comecei a falar algumas coisas da época da escola, o Lorenzo disse
algumas coisas da época que era adolescente.
Única coisa que eu notei nessas histórias, é que o Lorenzo brigava
ainda mais quando era jovem. O engraçado era ele querendo justificar o
motivo de ter brigado.
— Hope, a culpa não é minha se a minha mão parou na cara dele o
socando diversas vezes — disse Lorenzo se defendendo.
— Certamente não foi a sua culpa mesmo, começar uma briga,
induzir ela, continuar com ela e finalizá-la, não teve nada a ver com você —
disse.
— Por que eu estou sentindo doses de sarcasmo na sua fala?
— É coisa da sua cabeça — disse.
Logo percebi que o Lorenzo estava com sono, também o homem
mal dorme. Sei que ele estava querendo me agradar para conversar mais
comigo, mas já que hoje teria a festa de Natal, a noite ele ficaria ainda mais
cansado.
— Lorenzo, quero tirar um cochilo, você se incomoda? — perguntei
mentindo.
— Claro que não! — respondeu de imediato. — Também dormirei
um pouco, a noite será longa.
Me abracei mais ao seu corpo, sentindo o calor dele.
Não demorou muito para que o Lorenzo caísse no sono.
— Orgulhoso, era só dizer que estava cansado — disse baixinho
dando um beijo no seu rosto.
Até queria descansar, mas eu estava muito preocupada.
Outro velório para ir e estava bem nervosa com o que aconteceria.
O primeiro já foi aquela confusão, imagina agora.
Sei que se o Lorenzo tivesse falado para a liderança que o tio Marco
havia traído a máfia, teria que provar e não precisaria ter velório, já que a
do meu pai ele só fez uma exceção. Também sei que se o tio Marco fosse
acusado de ter quebrado as leis, tudo seria mais severo a ele e não precisaria
também ter o velório, mas teria que dizer o que aconteceu, logo envolveria
eu e a Lisa.
Lorenzo escolheu a melhor forma para que eu e a Lisa não fôssemos
a julgamento por conta dele, mas era necessário a gente ir para o funeral, a
partir dali era uma forma de mostrar que estávamos livres dele, para
sempre.
— Bora, ruiva! — Escutava Lorenzo dando batidinhas na minha
bunda. — Andiamo, Andiamo, Andiamo!
— Que horas são? — perguntei criando coragem para levantar.
— Já é 18:00 horas — falou. — E era porque você queria tirar
apenas um cochilo.
A única coisa que não saiu de mim, foi o sono sem fim.
— Estou com preguiça de levantar — falei. — Será que eu vou ficar
assim toda a gestação?
— Provavelmente — falou rindo de mim. — Tem que estar
acordada para ver o Mark dando em cima da Alessandra na festa — disse
Lorenzo em um tom brincalhão. — O maldito vai mesmo tentar, deixa só
ele ver o doce que a Alessandra é.
Lorenzo já estava virando o melhor amigo do Mark, até o convidou
para a festa.
— Do jeito que a Alessandra é, ele vai comer o pão que o diabo
amassou — disse. — Quando ela chegar eu vou conversar com ela, vai que
ambos tenham interesses mútuo.
— Tem que estar lá é para separar a briga deles — disse Lorenzo já
em pé.
— Por quê? Acha que vão brigar? — perguntei.
— Às vezes esqueço que a minha esposa é muito ingênua — disse
Lorenzo. — A Alessandra está com algum ficante novo e certamente o
trará.
Lembrei da viagem que ela disse que fez e estava acompanhada com
alguém.
— E?
— Quer dizer que o Mark cuzão não vai se importar de flertar com
ela mesmo ela estando com alguém e o que vai acontecer? — perguntou
para mim.
— Ela dará um fora nele, simples — disse. — Mas conhecendo a
Alessandra, acho que ela pode se interessar pelo Mark.
— Acha que Alessandra sai com homens bons? Ela casou comigo.
Ela escolhe o nível mais surtado e problemático, verá quando conhecer os
loucos que ela fica. Imagina um deles junto do Mark. Se nem comigo o
figlio di puttana temeu, quem dirá um dos putos que fica com a Alessandra.
Ele gosta de briga, fará mais só por isso.
— É só você apartar a briga se acontecer, a final ele é o seu amigo,
não é?
— É capaz de eu participar, meu amor. — sussurrou no meu ouvido,
beijando o meu pescoço. — Agora levanta, ruiva!
Mais uma coisa para me preocupar.
— Lorenzo, sem confusão hoje — disse.
— Não prometo nada — falou caminhando para o banheiro rindo.

Me arrumei para o jantar. O Lorenzo se arrumou rápido e saiu para


resolver algo.
Coloquei um vestido vermelho justo, que havia uma abertura na
perna com um pequeno decote no busto.
— Está linda! — disse Lucy entrando no quarto.
Aproveitei que estávamos só nós duas e conversei com ela sobre a
declaração do Lorenzo.
— Estou surpresa! — disse Lucy. — Criei o Lorenzo e o conheço
bem, ele é muito orgulhoso e nunca que ele ia se declarar para ninguém. Ele
realmente gosta de você e eu sei que você gosta muito dele.
Lucy parecia realmente chocada, como se fosse algo até impossível
de acontecer.
— Quando se conhece melhor o Lorenzo e ele tira toda aquela
camada de machão e arrogância, não tem como não se apaixonar por ele —
disse.
Antes que a Lucy respondesse, uma barulheira lá embaixo nos
chamou atenção.
— Acho que a família chegou — falou Lucy.
Desci e já vi todos reunidos na sala.
— Ruivinha, está magnífica! — disse Enrico.
Cumprimentei a todos e os elogios não faltou pela decoração e a
comida da Lucy.
— Cadê o Lorenzo? — perguntou Pietro.
— Não sei, ele apenas saiu para resolver algo — respondi.
Eles se olharam entre si e eu não nego que eu fiquei desconfiada.
— Aquele idiota vai vir? — perguntou Enrico.
— Espero que não esteja falando de mim — disse Enzo entrando
com a Lisa, os seus filhos, a minha mãe e a Kitty.
— Nunca falaria isso de você, meu amor — disse Enrico indo beijar
o Enzo.
— Esse cretino está falando de mim — disse Mark entrando em
seguida. — Se continuar a falar de mim, não vai prestar.
— E você vai fazer o quê? — perguntou Enrico.
— Eu vou já te dar um beijo se não calar essa boca — falou Mark.
— Esse cara é idiota, só fica querendo saber de beijar a gente —
disse Enrico.
— E ele parece com quem? — perguntou Emma ao marido.
Mark era idêntico ao Enrico. Na verdade, ele parecia a versão de
todos aqui.
— Cadê o meu outro amor? — perguntou Mark para mim.
— Lorenzo? Saiu para resolver algo — disse.
— Estou aqui, vamos começar! — disse Lorenzo entrando na sala.
Lorenzo cumprimentou a todos e logo veio para perto de mim.
— Está linda! — falou, depositando um beijo na minha testa.
— Está tudo bem? — perguntei.
— Sem preocupações para esta noite — falou. — Amanhã a gente
conversa melhor.
Leonel, a Ruth e o Lucca logo chegaram.
— Radiante, ruiva! — disse Lucca se aproximando para me beijar,
quando o Lorenzo colocou a mão no seu rosto, o impedindo. — Porra, na
próxima eu acerto.
Quem ainda faltava era Alessandra e o seu namorado.
Todos conversando e rindo, nem parece a família que vive se
matando.
— Raposinha! — disse Mark vindo até a mim. — Soube que hoje
me apresentará a sua amiga.
— Qual o seu interesse nela? — perguntei. — Aqui não falta mulher
e sei que tem várias que se encaixam no seu padrão, por que o interesse do
nada na Alessandra?
— Se ela é sua amiga, então deve ser uma boa pessoa. — comentou.
Boa pessoa? Na máfia? Ele quer é outra coisa, está me enganando com essa
bajulação. — Aqui realmente tem muita mulher bonita, mas me dariam
muito problema depois. Você sabe, sou homem de uma mulher só. Fora que
eu quero aproveitar que eu estou fora das leis da minha máfia, então vou
aproveitar cada segundo da minha estadia na Itália.
— Não sei não, a Alessandra deve estar com alguém.
— Por mim, se ela não quiser, tudo bem — falou. — Mas se ela
quiser... — Passou o polegar no lábio com um sorriso cafajeste. — A sorte
que ela vai ter por ter um homem maravilhoso, carinhoso, bonito...
— Deixa de ser exibido! — disse, o interrompendo.
— Ei, se tiver o velório, me chama. O Lorenzo disse que na última
vez faltou pouco para brigarem, não quero deixar isso acontecer na próxima
vez. Quem já se viu, não brigar.
— Não, pode ficar longe desse velório — disse.
— Vou falar com o meu amor, ele vai me chamar — falou saindo de
perto de mim caminhando para perto do Lorenzo todo manhoso.
E foi assim que eu perdi o meu marido.
— Hope! — disse Lisa se aproximando de mim. — Já soube que o
velório é amanhã?
— Não sabia — disse. — Vai ser cremação ou será enterrado?
— Não sei, o Enzo disse que provavelmente será cremação, já que o
corpo dele está fatiado — disse Lisa. — Enzo não me disse nada, escutei
ele falar com a mamãe.
— Teremos que ir, você sabe.
— Não posso dar a desculpa que eu estou perto de parir igual da
última vez — falou rindo de nervosa. — Estou assustada!
— Não queria te assustar, mas deixa ver eles com a família do
Lorenzo, saberá o que é ficar com medo.
Me pergunto o quanto ele deve ter sofrido nas mãos dos Ferraro.
Lisa saiu e eu fiquei na mesa da comida, comendo para esquecer a
minha preocupação.
Ou era só mais uma desculpa para comer ainda mais.
— Por que está tão pensativa? — perguntou Lorenzo.
— Não estou.
— Está afastada de todos e parece um pouco abatida — disse
Lorenzo colocando as suas mãos ao redor da minha cintura. — O que foi,
bela ruiva?
— Estou preocupada com amanhã, é só isso.
— Não precisa, tudo vai ficar bem! — Falou. — Hope, você
conhece um rapaz chamado Yamato? Não me lembro dele no velório do seu
pai.
— Conheço, era um amigo do meu pai. Ele não era muito acessível,
mas o meu pai não era muito próximo dele, só se tiver ficado agora depois
que eu saí de casa.
— O que você sabe sobre ele? — perguntou.
Que interesse era esse do Lorenzo com o Yamato?
— Eu não sei de nada, o meu pai me deixava bem longe quando ia
tratar de negócios — disse. — Mas qual o interesse nele?
— No momento nada, mas acho que ele sabe de algo que se refere a
mim, mas eu não encontro o maldito em canto nenhum.
— Quer que eu pergunte a alguém da minha família? O marido da
minha tia e o meu primo o conheciam, eu posso perguntar — falei.
— Claro que não, você não ficará perto deles.
— Lorenzo, você e a sua família estarão comigo, não me importo de
ajudar. Você me ajuda tanto, por que eu não posso ajudar você? — indaguei.
— Eu não quero que fique em perigo — falou.
— Mas você estará perto, então não ficarei. Se eu tiver oportunidade
amanhã, eu perguntarei.
Lorenzo não gostou muito, mas não havia problema para mim de
perguntar. Eu estava com medo, não nego, até porque eles devem me culpar
pelo meu marido ter matado o meu pai e o tio Marco, mas o Lorenzo já faz
tanto por mim, que eu não me importo de ajudá-lo.
— Vamos jantar! — Chamou Lucca.
— Alessandra ainda não chegou — disse Lucy. — Apesar de não ir
muito com a cara dela, não podemos jantar se está faltando algum membro.
— Que saco! — disse Lucca olhando a mesa emburrado.
— Quer um pedaço de bolo? — Indagou Enzo a ele que assentiu
rapidamente.
— Eu também quero — disse Enrico se sentando ao lado do primo.
Os bebês Ferraro.
Eles eram mais mimados que as próprias crianças.
— Não precisam mais me esperar, eu cheguei! — disse Alessandra
aparecendo lindamente.
Sempre querendo fazer uma entrada triunfal.
— Se quer ser o centro das atenções, pinta a bunda de amarelo e
finge que é o sol — disse Enrico.
— Não vou nem lhe responder, seu cretino! — Falou.
Paz familiar no Natal é tudo.
— Vamos comer! — disse Enzo. — Quem é esse?
— Esse idiota... — hesitou. — Esse é o Levy — disse Alessandra
bastante descontente com a presença do companheiro.
Ele não fez nem questão de sorrir ou falar alguma coisa.
— Seja pelo menos educado na casa dos outros — disse Leonel que
havia permanecido calado o tempo inteiro.
— Não vim por vocês, vim por ela — respondeu.
Isso não vai prestar.
— Ele pelo menos sabe em que casa ele está? — perguntou Pietro a
Alessandra.
— Sei sim! — Falou, interrompendo a Alessandra na hora que ela ia
falar.
De duas, uma, ou ele brigaria com os Ferraro ou com a Alessandra.
Só pelo jeito que ela olhou para ele, eu já vi que ela não gostou de
ser interrompida.
Sorte a dele brigar com os rapazes, porque se fosse com a loira, ele
não sairia vivo.
— Então tenha respeito, seu arrombado do caralho! — disse Enrico
elevando o tom de voz.
— Vamos jantar! — disse Lucy quebrando o clima pesado.
— Agora que ficou bom, vou nem fodendo! — disse Mark.
— Concordo com o esse maldito. — Declarou Enrico.
Sabia que agora era de mal a pior.
— Cara, eu... — disse Levy sendo interrompido pelo Lorenzo.
— Olhe, é o primeiro natal da minha esposa com a minha família.
Se estragar isso, aproveitarei que estamos do lado do rifugio e te levo para
lá, seu puto — falou, encarando-o. — Algum problema com isso? Podemos
resolver essa porra agora.
— Acha que pode me intimidar? — indagou Levy.
Esse Levy só pode ser louco!
Lorenzo soltou uma risada, balançando a cabeça negativamente de
um lado para o outro, passando a mão na barba, o olhando cinicamente.
— Não sei, ainda não comecei — disse Lorenzo se aproximando um
pouco dele. — Você ainda não me viu intimidando alguém, seu figlio di
puttana!
— Bem, vamos jantar! — disse quebrando o silêncio que ficou.
Nunca pensei que queria que uma noite acabasse logo.
Briga hoje, briga amanhã.
Gente, pelo amor de Deus, eu cresci em um lar instável, eu tenho
um surto de pânico só em ouvir a palavra briga.
Sinto que esta noite vai demorar para acabar.
O clima pesado do jantar ficava ainda pior. Esse tal de Levy era
muito imbecil, parece o Lorenzo na época em que eu o conheci, só que na
versão mais idiota.
Ele não tem respeito por autoridade, se sente superior, não tem um
pingo de educação e ainda quer arranjar confusão. Parece a mistura de cada
um dos rapazes presente esta noite. Pelo menos os meninos tinham a hora
de parar de ser um idiota, ele não, continua falando sem parar.
Onde a Alessandra arranjou esse cretino?
— Nada como uma discussão para começar a festejar o Natal —
disse Alessandra vindo até mim.
— Como se conheceram?
— Pelos bares da vida — respondeu sem ânimo. — Ele não é nada
demais, é só um ficante enxerido. Ele não quis ficar sem companhia no
Natal, eu o avisei que viria para cá e ele se ofereceu para vir. Já estou me
enchendo dele, muito ciumento, sem paciência para homem no meu pé 24
horas por dia.
— Acho que ele não é o tipo de cara que você pode dar um pé na
bunda facilmente — disse.
Ele tinha um olhar como a grande maioria dos homens daqui tinham
sobre suas mulheres.
— Ele que vá para o inferno! — declarou. — Já passei a minha vida
inteira sendo moldada pelas regras do meu pai, ele que vá se ferrar se acha
que pode me controlar.
— Isso será difícil — disse.
Mark me encarava e eu sabia que era para falar dele para a
Alessandra.
Quando eu virei cúpido?
— Tem um idiota... — hesitei. — Não, tem um amigo meu, que
agora é amigo dos rapazes, que... — Droga, eu estava me embaralhando
toda. — Como se faz isso?
Esse trabalho não serve para mim.
— O que foi, Kim Possible? — perguntou.
— Raposinha! — disse Mark cansado de esperar e veio até mim.
Droga!
Olhei o Lorenzo que parecia se divertir com os irmãos. O tal do
Levy estava bem ocupado na mesa de bebidas. Red por outro lado não saía
da cola dele e eu tinha a certeza de que ele o odiou.
— Quem é? — perguntou Alessandra no meu ouvido.
— Bem, esse é o Mark, estudávamos na aula da máfia juntos —
falei para Alessandra. Logo olhei para o Mark e a apresentei devidamente.
— Mark, essa é a Alessandra, aquela amiga que eu não lembro de ter dito
que eu te apresentaria, mas que mesmo assim você me infernizou para
conhecê-la.
— Infernizar não é bem a palavra certa — falou, logo segurando a
mão da Alessandra e dando um beijo na mesma. — É um prazer conhecer
uma moça tão atraente e bela em uma noite como esta!
— Deve dizer isso para todas — respondeu Alessandra indiferente.
Sério que eu vou ficar olhando eles flertarem?
— Não, só para você, a mais bela que eu já conheci — disse Mark
com o seu jeito galanteador.
Cristo, que vergonha!
Eu ia sair, a Alessandra segurou na minha mão me impedindo.
Alguém me tira daqui!
— Se quer flertar comigo, vai ter que fazer melhor que isso — disse
Alessandra se aproximando do ouvido dele. — Se eu atirar para cima, acho
vários iguais a você.
Alessandra se afastou, se afastando de nós, quando o Mark segurou
no seu braço.
— Você nunca achou alguém como eu — falou.
Alessandra deu uma piscadela, caminhando para longe.
— Acho que eu estou apaixonado — disse Mark enquanto olhava a
Alessandra se afastando. — É diferente o jeito que ela pisa no meu coração.
— É melhor tentar outro dia para ganhar o coração dela, Romeu. O
imbecil ali não parece ser o mais paciente — disse apontando para o Levy.
— Nunca fujo de uma luta, raposinha, deveria saber disso — falou.
Brigão do jeito que é, não duvido.
— Vou para perto do meu marido, só por via das dúvidas — disse
reconhecendo aquele olhar do Mark.
Me afastei dele, caminhando até o Lorenzo.
— O que foi, já assustada? — perguntou Lorenzo zombando de
mim.
— Isso não vai prestar, Lorenzo — falei. — Não sei de onde esse
homem saiu, mas eu quero ele longe daqui. Tem crianças e a minha família
está toda aqui.
Eu e a minha família crescemos em meio de brigas, não da forma
que eles discutiam entre si, mas quando havia outras pessoas, eu conseguia
sentir ainda a mesma sensação de quando eu morava com o meu pai. Eu sei
que a minha família vai sentir a mesma coisa.
— Eu faço tudo por você, ruiva, só para te ver sorrir — disse
Lorenzo de um jeito que eu desconfiei dessa sua boa ação. — Ele irá
embora imediatamente.
Conheço o meu marido, sei que ele só está a fim de brigar.
— Kitty, vá com as crianças lá para o jardim, lá tem umas flores
lindas que a Dona Telma e a Lucy plantaram — falei.
— Eu as acompanho — disse Lisa e a minha mãe.
Elas já estavam cientes do que estava acontecendo.
Éramos rápidas em fugir, sempre sobrava para nós.
— Vou com vocês — disse minha sogra.
Ruth foi também.
— Vai com elas, Hope. — Pediu Lorenzo.
— Não, sei que você geralmente para porque eu estou aqui. Por
favor, tente não ter brigas no Natal. — implorei.
— Tudo bem, eu não vou começar uma briga aqui — falou. —
Mark, pode pedir para o nosso convidado se retirar?
— Claro, meu amor, eu estou aqui apenas para seguir suas ordens —
disse Mark virando o resto da bebida na boca, tomando em um gole.
— Lorenzo...
— Eu disse que eu não iria começar nada, não prometi nada pelo
Mark. Não seria uma festa sem uma boa briga — falou. — Eu te amo,
ruiva, mas isso que acontecerá será bem interessante.
— Não tente me comprar com um eu te amo — falei. — Vou ver
com a Alessandra para ver se ela não fica ofendida.
Dei um beijo no Lorenzo e fui para perto da Alessandra.
— Ei, bem, não sei como te dizer isso... — Ela me interrompeu.
— Eu sei que está incomodada com o Levy, já mandei o cretino ir
embora, mas ele disse que não ia — falou.
— Desculpa, não queria estragar o seu Natal — disse.
— Não estragou, ele que estragou — falou. — Acha mesmo que eu
queria aquele cretino perto de mim? Ele pediu para vir hoje, sendo que eu
disse que não queria. Estou interessada em outro rapaz muito bonito que
está aqui.
— Olhe, o Mark é um narcisista e se acha demais, mas tem um bom
coração. Se não quer nada com ele e apenas ficar, o avise. Ele tem a
tendência de sofrer depois, principalmente agora que ele está longe das leis
sinistra da máfia dele. — Expliquei.
— Relaxa, Hope, eu já entendi que com ele é só provocação.
Conheço esse tipo de homem — disse Alessandra.
— Ei, amigão! — Escutei Mark dizer. — Acho que está na hora de
você seguir rumo para a casa do caralho.
— A festa não parece que acabou — disse Levy. — Então por que
eu iria embora?
— Rapaz, aqui está apenas a família e queríamos continuar assim —
disse Enzo. — Tem a boate, hoje está tendo uma festa lá, se quiser eu posso
arranjar entradas para você.
Enzo como sempre calmo e sensato.
— Vamos, Alessandra! — disse Levy a arrastando.
— Eu? Está louco? Eu vou ficar aqui, se quiser, pode ir —
respondeu se soltando dele.
— Então está resolvido, você vai e ela fica — disse Enrico.
— Fica na sua, só vou se ela for, idiota — disse Levy ao Enrico.
Já vi que os rapazes não gostaram muito da forma que ele falou com
o Enrico.
— Ei, seu porra, está louco de falar com o meu filho desse jeito? —
disse o Sr. Diego o empurrando. — Posso estar velho, mais eu lhe quebro
na porrada, seu arrombado!
Qual é o problema desse Levy?
— Não tem nada para você aqui, seu merdinha — disse Leonel. —
Vá, enquanto ainda pode ir andando.
— Na verdade, tem sim — respondeu Levy. — Eu não vim pela
Alessandra, eu vim por ele. — Apontou para o Pietro.
Que bagunça isso virou?
— Esse você pode ficar, o meu é o Capo e o do puto aqui é o
gostoso ali — disse Mark apontando para o Enrico e para o Enzo.
— Quê? — disse Levy não entendendo o caso que o Mark tem com
o meu marido e o Enrico com o Enzo. — Eu vim para resolver algo do
passado.
— Eu nem lembro de você — disse Pietro. — Amanhã eu estou
livre... Não, espera, eu tenho um funeral para ir amanhã que não é o seu. O
seu será o próximo, mas podemos resolver na sexta? Sexta está ótimo para
mim.
Pietro debochava do Levy e ele parece que não gostou nenhum
pouco.
— Vai rindo, seu... — disse Levy sendo interrompido pelo Lorenzo.
— Se eu fosse você controlava a maldita língua, temos uma criança
na sala — falou apontando para a minha barriga.
Lorenzo estava apenas zombando da cara dele, deixando o rapaz
mais bravo.
— Lorenzo, chame os seguranças, não precisa resolver nada — falei
temendo que alguém acabe se machucando.
— Está tudo bem, nada vai acontecer — falou.
— Não acredito que o Capo só faz algo se a esposa permitir — disse
Levy rindo. — Trouxa!
— Fica na sua cara! — disse Enzo.
— Não, continua, ele ama quem fala mal da ruivinha — disse Lucca
botando lenha na fogueira.
— Repete o que disse — falou Lorenzo se aproximando do rapaz.
— Vamos, diga do que me chamou.
Olhei para as meninas que ficaram perto dos seus maridos.
Santo Cristo!
Levy ficou em silêncio enquanto o Lorenzo se aproximava dele
lentamente.
— Eu te ajudo com os adjetivos se quiser — disse Enrico ao Levy
querendo que retrucasse o irmão.
— Ele te chamou de puto, Lorenzo, eu acabei de escutar — disse
Lucca mentindo para arrumar confusão. — Quebra ele agora!
Quando o Levy ia abrir a boca para falar algo, o Lorenzo o agarrou
pelo pescoço.
— A oportunidade de falar já passou, moleque — disse Lorenzo o
erguendo no ar com tanta facilidade que eu sempre me surpreendia com a
sua força.
— Bora, Lorenzo, um soco, um tiro, uma facada, eu estou perto de
uma faca, você quer? — Indagou Mark.
O Lucca se aproximou de mim, me virando de costas.
— É a Hope, ele não vai fazer nada na frente dela — disse Lucca.
— Ela nem está olhando mais, Lorenzo.
Só escutei um estralo no chão.
Quando eu ia me virar para ver, o Lucca me impediu.
— Eu te dou uma casa se não disser nada. Deixa o Lorenzo começar
uma confusão, eu quero enterrar alguém hoje, por favor. — Implorou quase
se ajoelhando.
— Lorenzo, usa a faca. — Escutei o Enrico dizer. — Enfia nessa
região, dói mais.
— Cristo! — disse.
— Espera, Lorenzo, depois você quebra ele, quero saber o que você
quer comigo? — perguntou Pietro.
— Porra, Pietro, negócio de explicações, é só matar, caralho —
disse Lucca saindo de perto de mim.
Foi quando eu me virei, notando que a mesinha de centro estava em
milhares de pedaços no chão.
— Deveria pelo menos lembrar de quem você destruiu a vida —
disse Levy cuspindo sangue.
— Só eu que estou achando que ele está fazendo muito drama? —
perguntou Enrico.
— Se queria resolver, deveria ter marcado outro dia cara — falou
Enzo. — É o primeiro natal da ruiva conosco, queríamos causar uma boa
recepção.
— Ela está tendo, está, não é, Hope? — disse Enrico sorrindo para
mim para que eu confirmasse e continuasse com o jogo deles.
— Sim, mas... — disse sendo interrompida pelo Lucca.
— Isso! Escutou, Lorenzo? — falou.
— Você teve um caso com a minha noiva há 8 anos, ela era minha
noiva e vocês dois me envergonharam na frente de todos — disse Levy.
Corno!
Queria falar com ele que estávamos todos no mesmo barco, no caso,
eu estava.
— Se acostuma, comigo foi do mesmo jeito, quando vi estava
casando com ele e grávida — disse Giulia.
— Você não tem que ficar calada não!? — disse Levy.
— Ei, seu arrombado! — disse Pietro indo com tudo para cima dele.
— Eu não perguntava estado civil, tipo sanguíneo ou qualquer merda que
fosse. Pode ter certeza de que eu nunca fui atrás de uma mulher para ter na
minha cama, só a minha esposa. Se eu dormi com a sua noiva, ela que veio
atrás, ela que te traiu, eu estou pouco me fodendo se guarda ressentimento
com isso. Supera e viva, mas se falar com a minha esposa daquele jeito, eu
juro que mato você!
— Certo! — disse Mark. — Acho que o drama acabou, sem briga
ou desavenças, mas para alegrias de uns e tristeza da Hope, amanhã teremos
um funeral para ir, talvez pudéssemos continuar hoje de onde paramos lá e
só meter o soco em todo mundo. Só uma ideia para vocês.
— Eu estou dentro! — disse Enrico.
Pietro soltou o Levy e voltou para perto da esposa.
Tadinho, ele gostava da moça e teve o coração partido.
— O que me faz ter raiva não é por gostar dela, porque eu nem
gostava da vadia, mas ter me traído, isso me deixa puto! — Falou.
Não esquece, ele é um idiota mesmo.
— Puto não, irmão, corno. A galhada está impedindo de eu ver o
outro lado da sala, tem como se abaixar aí? — Zombou Enrico.
— Enrico, não precisa ser tão maldoso — disse Alessandra rindo. —
Você me usou para chegar nele? Você é estúpido, teria ido na boate ou em
algum lugar que ele andava. Esperou 8 anos para fazer isso? Chega a ser
idiotice.
— Venha aqui, minha donzela — disse Mark colocando o braço ao
redor da cintura da Alessandra. — Esse idiota ofendeu você? Então ele me
ofendeu também. Vamos sair na porrada!
Mark ia partir para cima dele, quando o Enzo o segurou.
— Desabafou? Bacana, mas para quê mesmo? Ainda estou tentando
racionar o maldito motivo de você ter vindo aqui só fazer barulho. De
qualquer forma, eu estou com pena de você, sente-se e beba conosco —
disse Lorenzo a ele.
— Não preciso da sua pena, idiota! — rebateu.
— Viu, Hope, eu tentei fazer do seu jeito e não deu certo — disse
Lorenzo olhando para mim. — Esse cuzão...
— Eu sou o único cuzão da sua vida — disse Mark o
interrompendo.
— Desculpa, baby, não quis dizer isso — disse Lorenzo ao Mark.
Lorenzo realmente gostou do Mark.
— Tudo bem, eu não consigo ficar bravo com você — disse Mark
ao Lorenzo.
— Reformulando, como eu dizia, esse figlio di puttana está me
fazendo perder a paciência, mas eu prometi que não brigaria hoje, não
prometi? — indagou a mim.
— Prometeu! — Confirmei.
— Red, trate o nosso convidado da melhor forma que achar — disse
Lorenzo.
— Claro, chefe, estava só esperando o seu sinal — disse Red se
aproximando do Levy, o arrastando para fora.
— Ah, não! Vocês são muito estraga prazeres, puta merda! — disse
Mark fazendo birra.
— Viu, cretino, o que eu passo — falou Enrico cruzando os braços.
Eles dois se odeiam, mas se combinam tanto.
— Não ia conversar com a Alessandra!? Aproveite — disse Enzo ao
Mark, que imediatamente parou a birra que estava fazendo.
— Eu vou lá ajudar o Red — disse Lucca correndo atrás do Red.
— Lucca, vamos servir o jantar — disse Leonel.
— Vou ficar, esquece, o Red nem precisa de ajuda mesmo, já viu o
tamanho daqueles braços!? — respondeu voltando para perto da mesa.
— Finalmente, vamos comer! — disse Sr. Diego indo para a sala de
jantar, logo todos os acompanharam.
Eles esquecem as coisas rápido demais.
— Viu, sem brigas, como você queria — disse Lorenzo. — Está tão
linda, que eu não consegui nem xingar o cara, só pensando e deslumbrado a
sua beleza.
— Gosto quando me elogia, mas está fazendo isso na frente das
outras pessoas. Não que eu esteja achando ruim, não é isso, mas por quê?
Ele sempre me elogiava, mas como tinha isso do seu cargo e das
pessoas sempre olhando, ele vestia um personagem quando estava na frente
dos outros.
Lorenzo começou a tossir do nada, mostrando que estava um pouco
tímido para falar.
— Enzo disse que era bom elogiar você sempre. — Lorenzo parecia
um adolescente. — Não sei bem como faz isso, então pedi ajuda ao Enzo.
Quis ri do seu nervosismo, mas achei fofo.
— Eu te amo tanto! — disse, o beijando.
— Não faz isso comigo, ruiva — disse Lorenzo. — Você me deixa
ainda mais louco por você a cada segundo. Como você faz isso?
— Vamos, eu estou com fome e a Lucy não quer servir o jantar sem
vocês na mesa — gritou Enrico estragando o clima.
Lorenzo beijou a minha testa, nos aproximando dos outros em
seguida.
— Tem que chamar o Red — disse Lorenzo.
— Red pode participar? — perguntei empolgada.
— Ele sempre participa junto com o Thony — respondeu. — Lucca,
vai chamá-lo.
— Vou nem fodendo! Tenho medo dele, já viu como ele me olha?
Vai que ele aproveita e me mata lá fora. Vou nada! — disse Lucca.
Então o Lucca tinha medo do Red.
— Eu vou, eu quero comer! — disse Enrico correndo para a porta.
Para o primeiro natal com eles, até que foi calmo.
Nos sentamos e não demorou para o Red aparecer.
O Thony foi ficar com a família, então não estava aqui hoje.
Todos riam e conversavam, realmente como uma família.
Fiquei feliz pela minha mãe e as minhas irmãs estarem se sentindo
tão bem com eles e se divertindo tanto.
— Ei, ruiva menor... — disse Lucca olhando para a Kitty sendo
interrompido pela Giulia.
— Se fazer a menina chorar, você vai ficar com ela até parar —
falou.
— É mais fácil ser ele — disse Lisa ao Lucca.
— Kitty é do nível dela — disse Lorenzo ao Lucca que sorriu
olhando para a Kitty.
Dela? Dela quem?
— O Nicolas e o Matteo retrucam e depois choram. A Sara chora e
não entende as minhas brincadeiras, o Nandinho me ignora, parece o Enzo,
ele nem se importa. Antonella era a única que aguentava e retrucava —
comentou Lucca um pouco nostálgico. — Kitty, me passa o molho.
Kitty nem prestava atenção na conversa, até escutar o seu nome.
— Como é que diz? — indagou ao Lucca sem se importar por não
conhecê-lo.
— Se não me der, eu te tranco no banheiro — falou, a ameaçando.
— Eu saio pela janela e como molho todo — respondeu Kitty e o
Lucca riu gostando da resposta.
— Coma, depois ficará com a barriga doendo e eu vou ficar rindo de
você. — Retrucou igual uma criança.
— Pelo menos eu terei comido e você não — respondeu.
Os rapazes olhavam tão nostálgico para a Kitty, que os seus olhos
brilhavam.
— Por favor! — disse Lucca e ela deu.
— Use as palavras mágicas — disse Kitty o repreendendo.
— Sim, senhora! — disse Lucca agora olhando para o Lorenzo. —
Ela passou no teste.
— Ela é do caralho! — disse Enrico.
— Achei que palavrões fossem proibidos perto das crianças? —
comentei com o a Giulia que estava do meu lado.
— A regra era do Lorenzo com a Nella, os rapazes até tentaram com
os sobrinhos, mas não conseguiram com o restante. Talvez a falta de
convivência impediu essa adaptação. As vezes eles lembram, mas as vezes
não — respondeu.
Ficava feliz em ver eles se divertindo.
Nem tudo era um mar de rosas, amanhã não parecia que seria tão
calmo e sem brigas como hoje.
Lorenzo e os rapazes pareciam estar decididos por uma bela
confusão amanhã.
Sei que eles amam uma boa briga, mas estavam empolgados demais
para amanhã.
Será que tem alguma coisa a ver com o tio Marco ou alguma coisa
que ele disse?
— O que tanto pensa? — perguntou Lorenzo. — Está preocupada
com algo?
— Com amanhã, mas está tudo bem — disse.
— Não se preocupe tanto, nada vai acontecer — falou. — Mas acho
melhor não levar a Kitty ou os seus sobrinhos.
— Sei, “nada vai acontecer” — falei. — Tenho medo de que se
machuquem.
— Você se preocupa tanto, ruiva — disse Lorenzo segurando a
minha mão. — Vou fazer eles pagarem por toda humilhação que fez a você
e a sua família, então não vou prometer me comportar ou ficar calado para
que não se assuste. Se eu ver que eu irei perder o controle, você sairá e me
deixará lá com eles.
— Lorenzo...
— Não, você é boa demais, por isso se importa, mas eu não sou e eu
vou pouco me foder se é uma velha rabugenta ou um tio figlio di puttana.
Se me tirarem do sério e sei que farão, eu os mato! — falou.
É parece que amanhã será imperdível!
Assim que chegamos da festa, Hope foi para o banheiro e eu
permaneci na varanda para tentar entrar em contato com o Enzo.
Depois de várias ligações, ele atendeu.
— Por que caralhos você não atendeu esse telefone antes? Enrico já
estava me enlouquecendo com o seu sumiço, seu puto! — disse.
— Desculpa, irmão, assim que eu cheguei fui dormir — explicou.
— Quando acordei foi que eu vi as ligações no meu celular. Eu estou cheio
de mensagens do Enrico, nem a minha esposa me liga tanto assim.
— Você já foi lá? — perguntei.
— Irei amanhã pela manhã, agora a noite está cheio de pessoas, é
melhor sermos discretos, já que não sabemos quem está nos observando.
— Mas não suma, achei que algo tivesse acontecido, seu arrombado
— reclamei.
— Está tudo bem, seu puto — falou. — Caso tenha esquecido, na
segunda-feira o líder russo mandará o filho para nos ajudar com alguns
problemas.
Porra, tinha esquecido disso!
Com uma forma de mostrar que confiamos nessa aliança, o russo
maldito mandou o filho para que trabalhasse conosco.
— Certo, espero que esse puto não nos cause problemas. Vou
desligar, amanhã eu tenho que aturar novamente a minha família — disse,
já desligando a ligação.
Quando retornei para o quarto, a Hope já dormia.
Para ela não tinha dia ruim para cochilar.
Caminhei para o banheiro, tomando um banho, logo retornando para
o quarto, me deitando ao seu lado.

Hoje era o maldito casamento.


Já estava comemorando antecipadamente que estava mais perto de
eu ir embora para casa.
Estávamos na igreja, esperando a boa vontade da Safira aparecer.
Não acredito que até nisso eles testarão a minha paciência.
Muitas pessoas aqui estão em processo de aliança conosco, um
deslize nosso e perdemos a maior parte dos negócios e patrocínios por
comportamento inapropriado.
Meu pai, temendo que isso acontecesse, saiu acompanhado do
Enrico querendo trazer logo a noiva.
Não demorou muito para eles a trazerem e o maldito casamento
começar.
Antes mesmo da cerimônia terminar, recebi uma mensagem do
Enzo.
— Vou resolver umas coisas com os meus irmãos — disse no
ouvido da Hope. — Fique sempre perto do meu pai e do Leonel, entendido?
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou desconfiando da minha
preocupação.
— Nada que eu não possa resolver — disse, já sinalizando para os
rapazes.
Dei um beijo na sua testa e saí.
— O que foi? — perguntou Pietro assim que estávamos fora da
igreja.
— Enzo mandou uma mensagem — contei. — Vou ligar para ele
agora.
Assim que o Enzo atendeu, coloquei no alto-falante para que os
meus irmãos escutassem.
— O que descobriu? — perguntei.
— Irmão, que porra está acontecendo aqui? — falou parecendo
confuso.
— É um problema muito grande? — indagou Enrico.
— Dante estava investigando algo como uma casa de recuperação.
Não sei que porra ele queria, mas está com uma lista grande de lares no
Japão.
— Ele não era aliado dos japoneses? — perguntou Pietro.
— Sim, mas deveria estar interessado em algo grande. Se envolve o
Lorenzo, talvez ele investigasse para que ganhasse um cargo mais
importante depois que descobrisse e contasse ao Lorenzo o que descobriu,
mas o que merda ele está atrás aqui? — disse Enzo. — Deve ser algo
muito grande, uma possível guerra entre nós. Estão planejando há tempos,
podem ter uma arma secreta, devemos nos preparar. Não entendo ainda o
que está acontecendo, mas coisa boa não deve ser vindo deles.
— Não sei o que pensar, mas se envolve os japoneses, saia daí
imediatamente — disse.
— Cuidado, meu amor, me liga se acontecer qualquer coisa — disse
Enrico.
— Certo, vou terminar de arrumar as minhas coisas e saio em
breve — falou já desligando a chamada.
— O que eu não entendo, é o que os japoneses têm a ver com isso
do Dante? — indagou Pietro.
— Tem muitas possibilidades, uma delas poderia ser uma trama
contra a máfia japonesa ou contra nós. Se ele descobrisse algo da máfia
rival, poderia nos informar para que usássemos contra eles e assim ganharia
o que tanto queria aqui — disse Lucca. — Os japoneses deve ter um ponto
fraco e o Dante deveria querer saber qual era para usar, então criou uma
falsa aliança com eles para descobrir.
— Não sei, mas não estou gostando do rumo que essa história está
tendo — disse.
Quando voltamos, a cerimônia já havia terminado.
Já na festa, não conseguia não demonstrar a minha preocupação com
tudo que estava acontecendo.
Não entendo de onde Dante começou a desconfiar de algo e
começou uma investigação, sem nenhuma probabilidade de dar certo.
Sei que boatos se espalham bem rápido, estando no Japão ele
deveria saber quais boatos estavam acontecendo lá e investigava a
veracidade de cada um.
Pensava em milhares de possibilidades. Minhas cargas roubadas que
nunca foram encontradas que poderia estar escondida lá.
Algo grande que eles possam estar armando para nós usando a essa
casa como esconderijos.
Eles que mataram a minha filha.
Tem tantas possibilidades, que em todas elas eu me fodo.
— Resolveu alguma coisa? — perguntou meu pai.
— Ainda não, parece que cada vez isso fica sem nenhuma
explicação — disse desapontado.
— Se envolve os japoneses, tem que ter cuidado — disse Leonel. —
Sabe como eles são traiçoeiros.
— Mande o Enzo voltar, é perigoso para ele — disse meu pai. —
Quer que eu vá buscá-lo?
— Não, o Enzo já está voltando para casa. — Avisei. — Voltará
amanhã pela manhã.
— Vou falar com o Nicolai Petrov, o líder russo tem olhos e ouvidos
em todos os lugares — disse Leonel.
— Não quero envolver mais ninguém nessa história, Leonel —
disse.
— Não é questão de querer, é questão de formar aliados — disse o
meu pai.
— Meu irmão está certo, Lorenzo. Quem odeia mais os japoneses
do que a gente? — perguntou Leonel sem esperar eu responder. — Os
russos. Depois daquela invasão que os japoneses fizeram há mais de 25
anos na máfia russa e mataram a esposa do líder russo, a raiva deles
aumentaram a cada dia. Tudo que for preciso para destruí-los, eles nos
ajudarão.
— Uma guerra pode estar por vir — disse meu pai. — É melhor
estarmos preparados para retaliar.
Que porra!
Estava exausto de tanto problema que aparecia.
— Raposinha, é você? — disse um rapaz falando com a maior
intimidade com a minha esposa. — Sim, só por esse olhar sei que é você,
Hope.
E parece que mais um problema surgiu.
Olhava o arrombado que sorria para a minha mulher.
— Oi, Mark! — disse Hope ficando em pé. — Há quanto tempo!
Ele estendeu a mão para cumprimentar a Hope, mas eu fui mais
rápido e segurei sua não, fazendo questão de apertar.
— Prazer, Lorenzo Ferraro, marido da Hope — enfatizei.
— Mark Petrov — respondeu, soltando a sua mão da minha. — Mas
creio que já conheça o meu nome, já que fui informado que trabalharia com
o senhor a partir da próxima semana.
Está me zoando que esse cuzão trabalharia comigo?
— Sim, o representante do líder russo — disse. Se estiver vivo para
trabalhar comigo, era outra história. — Mas de onde conhece a minha
esposa? Não lembro de muitos russos no meu território.
Estava pouco me fodendo de ter um russo na minha área antes.
Queria mesmo saber onde ele conhecia a Hope.
Uma pintada de ciúmes estava começando a me incomodar.
— Ei, Lorenzo... — Escutei o Enrico dizer, mas não o escutei
concluir.
Já que eu não tirava o olhar do russo maldito, era bem capaz de
alguém ter silenciado o Enrico e o Lucca, eles estavam muito quietos.
Certamente ele ia fazer algum comentário junto do Lucca.
— Éramos grandes amigos na escola, não é, Hope? — Respondeu
Mark. Hope logo assentiu, ficando em silêncio novamente. — Acho que
não ouviu falar de mim antes, porque não era Capo ainda.
— Hum... — disse.
Vou matar esse figlio di puttana!
— É melhor nos sentarmos de novo — disse Pietro.
— Nos vemos por aí, raposinha — disse Mark saindo.
Raposinha???
Quem esse arrombado pensa que é!?
Vou matar esse desgraçado se continuar a colocar apelido na minha
esposa.
Nos sentamos novamente e eu não conseguia não sentir ciúmes da
ruiva.
Que sentimento novo era esse?
Eu só queria matar esse tal de Mark.
— Amigo? — disse no ouvido da Hope. Até tentei me controlar,
mas eu estava curioso para saber mais sobre esse puto. — Não sabia que
você tinha amigos homens na escola, Hope.
Aquilo me incomodou muito.
Bem mais do que eu acharia que um dia sentiria por uma mulher.
— Sim, tive alguns, mas creio que o que aconteceu antes de nos
casarmos não é para ser mencionado, não é?
Tenho que lembrar de fazer o Federico anular esse termo.
— É, é, é, estou sabendo! — disse, me virando.
A ruiva era malvada, nem para dizer nada.
— Não acredito que você está chateado por não falar sobre o Mark
— falou.
Só pelo jeito que ela apertava o maxilar e as bochechas começaram
a ficar em um tom rosado, sabia que ela estava se segurando para não rir.
— Acha que eu estou com ciúmes? — indaguei dando uma
gargalhada. Não estava apenas com ciúmes, estava possesso de ódio. — Eu
só não quero conversar, Hope. Se quiser falar com alguém, vai falar com
esse tal de Mark, parece que são bem próximos.
— Eu posso ir então? — perguntou.
Essa ruiva quer me matar, não tem outra explicação.
— Está brincando comigo?
— Não, você disse que eu podia ir falar com ele. — Declarou. — Só
estou com medo da sua família se aproximar de mim se eu me afastar de
você.
— Vá e tire a prova que eu não estou com ciúmes — disse sorrindo
cinicamente. — Vou ficar aqui te olhando.
— Tudo bem!
E saiu.
Ela realmente foi.
Ela não notou o sarcasmo da minha voz?
— Para o seu azar, a ruivinha é bem corajosa, seu arrombado —
disse Enrico zombando de mim.
— Vai se fuder! — disse, me ajeitando na cadeira. — Preste atenção
na conversa deles.
— Por que você mesmo não olha? — perguntou Pietro.
— Porque ela vai saber que eu estou com ciúmes, satisfeito, seu
putos? — disse e eles riram de mim novamente.
— Parece que o jogo virou — disse Enrico. — Do que você
chamava eu e o Pietro por amar as nossas esposas? Hum, deixa eu ver... Ah,
bundão! Isso, Lorenzo agora é um bundão apaixonado.
— Vou nem discutir com você, se não é capaz de eu te dar um tiro
— disse. — Pietro olha o que está acontecendo.
— Eu não!
— Não é querendo passar na sua cara, mas já passando, lembra do
problema que você me deu quando se casou? Lembra que eu tive que fingir
não receber a documentação da sentença da sua esposa quando a liderança
quis colocar ela em julgamento? Então, é hora de pagar os favores que eu
faço a vocês.
— Se fudeu, Pietro! — disse Enrico.
— Você também não está de fora, não se esqueça das confusões que
colocou eu e o Pietro na época da escola — disse. — Fora que você e o
Lucca é o que mais me dão trabalho.
— Assumiram as minhas confusões porque queriam — retrucou
Enrico.
— Me tira dessa conversa — disse Lucca.
Logo eles começaram a prestar atenção na ruiva.
— Ela parece ter uma certa liberdade com ele — disse Pietro.
Realmente, ela sorria e conversava com tanta facilidade, sem aquela
timidez ou opressão que sofria quando conversava com outras pessoas.
Então ela deveria ser bem próxima dele.
— Vira, vira, vira! — disse Enrico rapidamente. — Ele está olhando
para gente, seu arrombado, sabe nem disfarçar — reclamou com o Pietro.
— Vocês estão parecendo três adolescentes — disse Lucca
zombando de nós.
— Vai se fuder! — disse.
— Ela está vindo, vou aproveitar e dizer o que estavam conversando
— disse Lucca.
— Leonel, tem como você enforcar o Lucca já que está mais perto
dele? — pedi.
— Não, não... — disse Lucca sendo interrompido pelo pai. Leonel
tampou a boca dele, sabendo que o filho falaria algo.
Assim que a ruiva chegou, achei melhor ficar em silêncio. Eu estava
com muito ciúmes, mas acabaria estragando a nossa relação como está
agora por conta disso.
Arrombado, figlio di puttana, sorrindo para a minha mulher.
Vou rasgar a garganta desse puto.
Não demoramos para ir embora desse inferno. Red informou que o
jatinho já nos esperava, pelo menos uma coisa boa dessa dia de merda.
Não disse nada para a Hope o caminho todo. Ela não disfarçava
nenhum pouco o quanto estava rindo de mim internamente.
Mark?
Porra de filho da puta, estragou o meu dia.
Raposinha?
Quem esse arrombado acha que é para apelidar os outros.
Aquele cuzão do caralho.
Já estávamos no jatinho e a viagem parecia bem turbulenta.
Me deitei ao lado da Hope que ainda estava dormindo, mas
conhecendo ela, logo acordaria assustada.
Não demorou muito para ela começar a se remexer ao meu lado.
— Fique tranquila! — disse, já notando ela começar a tremer de
medo. — Daqui a pouco pousaremos.
Parece que piorou, ela apertou bem os olhos a cada rebuliço que o
avião dava.
— Fique calma, vai acabar tendo o bebê aqui — falei.
— Não me manda ficar calma, que eu fico mais nervosa. —
Choramingou. — Não é mais seguro nós irmos para as poltronas?
— É perigoso se sairmos daqui com essa turbulência que está tendo.
— Respondi.
Eu estava acostumado com viagens assim, que hoje em dia não me
afeta mais.
— Se eu morrer aqui, eu juro que eu volto para puxar o seu pé a
noite por me obrigar a vim para esse casamento. — Me ameaçou.
— Só puxar o meu pé? Que fantasma sem graça você vai ser —
disse, a provocando.
Se fosse eu, eu faria coisas bem melhores.
— Vou nem discutir com você agora, porque eu não sei nem o que
pensar primeiro — falou já com a voz trêmula.
As luzes se apagaram e a Hope deu logo um grito.
— É só uma turbulência, Hope. A tempestade já vai acabar e a
turbulência também — disse calmamente, já me preocupando com esses
sustos dela.
Ela me abraçou enquanto estávamos deitado e eu me aproveitei para
irritá-la um pouco mais.
— Que esposa medrosa eu arrumei — disse. — Achei que eu não
fosse importante depois do seu recontro com o seu amigo. Acho que eu vou
voltar para a poltrona e você fica aqui sozinha.
— Lorenzo, não ouse em sair de perto de mim — falou, me olhando
com um ódio no olhar, que eu até reavaliei a minha chantagem.
— Me olhando assim toda delicada quem resiste? — Zombei.
A Hope ficou em silêncio, se aconchegando mais em mim.
Ela estava super brava e eu calmo, como nós dois trocamos de
papéis tão facilmente?

Já estávamos em casa para a felicidade da Hope.


— Lucy, achei que eu fosse morrer hoje — disse Hope
choramingando.
— Tão exagerada e dramática — disse, a provocando.
— Deixe ela, está mais sensível por conta da gravidez, não é, meu
bem? — disse Lucy.
— Você continua a mimando, por isso que ela está tão manhosa —
disse, logo recebendo um olhar mortal da ruiva.
Adorava atiçar a sua raiva, mesmo sendo um pouquinho.
— Escutou o que ele disse? Por isso que eu estava morrendo de
medo no jatinho.
— Na próxima vez que quiser um abraço, vai procurar o tal do Mark
— falei.
Porra, esse Mark é um puto, desgraçado, que me faz enlouquecer de
ciúmes da ruiva.
— Quem é Mark? — perguntou Lucy.
— Um idiota do caralho que coloca apelido na mulher dos outros.
— Respondi, querendo acabar com aquele assunto. — Vou subir, alguém
vai querer mais alguma coisa de mim?
— Não, estamos bem! — disse Lucy.
— Figlio di puttana, exibido do caralho. Vou meter um tiro nele
amanhã, nem que seja no saco.
Entrei no quarto e fui logo para o banheiro.
Comecei a tomar banho, só pensando no ódio que eu estava toda vez
que eu lembrava da Hope sorrindo para esse tal de Mark.
— Quero que ele se foda! — murmurava. — “Raposinha”...
Raposinha? — Forcei uma risada. — Um tiro, um tiro e ele teria sumido.
Queria ver ele falar depois de morto. Arrombado!
— Lorenzo, me ajude a tirar o vestido — disse Hope entrando no
banheiro, se virando de costas para que eu ajudasse com o zíper.
Desliguei o chuveiro me aproximando dela.
Meu ego estava ferido.
— Lembrou que tem marido? — indaguei.
— Você é tão dramático. — Zombou de mim.
— Sou mesmo!
Desci o zíper e a ruiva começou a se afastar de mim.
Ela vai para onde?
— Vou esperar você tomar banho já que está chateado comigo —
disse Hope se afastando do box lentamente.
— Ei, volta aqui! — disse e ela parou, voltando a me olhar.
— Achei que não queria ficar perto de mim — falou cinicamente.
— Vem logo! — disse, a puxando pela mão achando que ela
realmente sairia do banheiro.
Ela tirou a calcinha e o sutiã e entrou no box.
— Está jogando comigo? — perguntei, sacando aquele seu olhar.
Coloquei as mãos na sua cintura, trazendo-a para mais perto de
mim.
— Provavelmente — falou indiferente.
— Ruiva...
— Está mal-humorado ainda? — indagou dando um selinho em
meus lábios.
Ela sempre foi muito boa em me acalmar e negociar comigo.
— Sim! — Respondi e ela deu outro beijo. — Um pouco menos do
que antes. — Deu um beijo mais demorado. — Meio mal-humorado ainda.
— Hope colocou as mãos no meu peito, me beijando mais intensamente.
— E agora? — perguntou.
— Estou melhor! — falei, colocando a mão na sua nuca. — Vamos
voltar a nos beijar só para se caso eu fique com mau-humor de novo.
A beijei novamente, passeando a minha língua na sua boca.
Eu nunca pensei que viveria isso.
Sinceramente, parecia algo impossível para mim.
Nunca me permiti sentir algo por ninguém a não ser prazer.
Com a Hope tudo que eu nunca pensei em fazer, eu estava fazendo.
O que para ela era novo, para mim também era.
Sentir afeto, demonstrações de carinho, sorrir, tudo parecia algo
distante da rotina louca que eu tinha na máfia.
Não demoramos muito no beijo, já que eu tinha que tomar banho e
ir atrás do puto do Enzo.
Tomamos banho, enquanto a ruiva ainda mantinha o mesmo olhar
debochado de mais cedo sobre o meu ciúmes.
Assim que eu terminei, recebi a ligação do Enzo.
Fui para a varanda, logo atendendo.
— Aconteceu algo? — perguntei assim que atendi.
— Não, só estou avisando que só irei depois de amanhã.
— Por quê?
— Quero investigar mais umas coisas, mas não irei muito afundo.
Isso está me deixando louco.
— Nada isso, volte imediatamente! — Ordenei. — Depois acontece
algo, vou me culpar por ter colocado você em perigo. Fora que terei que
escutar a sua esposa e o Enrico putos da vida comigo, que também me
infernizarão por isso.
— Não vou fazer nada demais. Se eu ver que é algo perigoso, eu
embora na mesma hora. Partirei para casa depois de amanhã pela manhã
bem cedo.
— Avise se algo acontecer — disse. — Amanhã tenho uma reunião
com o Mark.
— Quem é Mark?
— O puto que é amigo da minha esposa — disse bravo. — E
também é o representante do russo maldito.
— Lorenzo, não vai matar ninguém por ciúmes. Foi difícil nos
tornarmos aliados dos russos. Não estrague isso.
— Eu sei, eu sei! — disse.
Saber, eu sabia, agora me controlar que era difícil.
Amanhã o dia será longo.
Terminei a minha ligação e me deitei ao lado da ruiva.
Deveria era sair e caçar o arrombado do Mark.
Pela manhã, assim que acordei, a ruiva ainda dormia calmamente.
Tratei logo de me arrumar, para encontrar o desgraçado do Mark.
— Estão todos aqui? — perguntei assim que entrei na sala de
reunião no quartel.
— Sim! — respondeu Leonel.
Na sala estavam os meus irmãos, o Lucca, o meu pai, o Leonel e o
Mark.
— Já explicamos algumas coisas para o Mark — disse meu pai.
— Então vamos começar! — disse.
A reunião era algo relacionado a nossa máfia, a transportação de
alguns armamentos e alguns problemas que estavam acontecendo com a
junção da máfia italiana com a máfia russa.
— Mandarei as alterações para o meu pai — disse Mark.
Até que calado ele era legal.
Acho que eu deveria deixar ele assim definitivamente, só que dentro
de um caixão seria bem melhor.
— Liguei para o Enzo agora há pouco, mas disse que não voltaria
hoje, só amanhã — disse Enrico. — Acho perigoso ele estar lá.
— Ele ainda estar lá? — perguntou Lucca. — Esse arrombado não
sabe que ele tem que estar vivo para nos livrar dos problemas? Eu vou lá
agora...
— Deixa de inventar histórias só para ter que sair e arrumar
confusão por lá, só para matar alguém — disse Leonel conhecendo o filho
— Ele quer investigar algo, mas disse que voltaria amanhã de
manhã — disse.
— Quero aproveitar que o russo está aqui, para ver se poderia
acontecer de termos mais uma aliança hoje — disse Leonel.
— Do que se trata? — perguntou Mark.
— Acho melhor sabermos o que é, antes de sair falando — disse.
— Qual é? Não acredito que não confia em mim? — disse Mark. —
Isso é por causa da raposinha?
— É melhor parar com os apelidos — disse tentando segurar a
minha raiva.
— Ele não confia em ninguém, não é nada pessoal — disse meu pai.
— Mesmo não gostando, acho que devemos contar, talvez ele nos
ajude — disse Pietro.
Logo Leonel explicou o que estava acontecendo e o Mark parecia
estar surpreso com o que escutava.
— Acho que posso ajudar — disse Mark.
— Como? — perguntei.
— Não é o único que tem uma carta na manga — falou. — Tenho
alguns informantes na máfia japonesa, perguntarei algo sobre isso e informo
vocês.
— Até que o puto sabe ajudar — disse Enrico.
— É, devemos nos beijar e selar nossa amizade? — perguntou Mark
a mim.
Esse cara é idiota!
— Sai fora! — Respondi.
— Cara atirado — reclamou Enrico.
— Parece você — disse meu pai a ele.
— Nem fodendo eu pareço com ele — respondeu.
— Sei, cada o Enzo? — perguntou o meu pai ao Enrico.
— Não sei, vou ligar para o meu amor agora — respondeu Enrico.
— Ainda diz que não se parecem — disse Leonel.
— Vou saindo, qualquer coisa eu entro em contato com vocês —
falou Mark saindo da sala.
— As coisas darão certo a partir de agora — disse Pietro tentando
ser positivo.
— Se esse cuzão nos ajudar mesmo, eu faço tudo o que ele quiser,
só quero me livrar desses problemas — disse, me ajeitando na cadeira.
— Eu escutei essa — disse Mark aparecendo na porta. — Vou pedir
um beijo, vai ser mágico.
— Você não tinha ido embora? — perguntou Lucca.
— Tinha, mas senti que deveria voltar. Estamos ligados pelo amor,
Capo — falou sorrindo para mim.
Eu tenho que lidar com uma outra versão do Enrico agora.
— Ele realmente parece o Enrico — disse meu pai. — Só que na
versão pior e sem limites.
Mark agora já havia ido de vez, esse maldito sabia me tirar do sério.
Eu nem me importava mais, se ele me ajudar nisso, eu seria
eternamente grato.
Eu só quero entender essa confusão.
Assim que eu cheguei em casa, a ruiva avisou que amanhã teria uma
consulta.
Estou surtando com esse negócio do sexo do bebê.
Eu particularmente já sou curioso e não saber ainda qual era, me
deixava louco, principalmente com o meu jeito controlador de querer
controlar tudo e todos.
Finalmente saberíamos qual era amanhã.
— Hope, qual é o seu nível de amizade com o Mark cuzão?
— Por quê?
— Caso se hipoteticamente eu matar ele, você ficaria brava igual
quando foi com o seu pai? — perguntei.
Vamos trabalhar um pouco essa hipótese, vai que ela não sente
nenhum laço afetivo com o filho da puta e eu posso matar ele ser lidar com
a raiva dela depois.
— Nada de matar ninguém, pelo amor de Deus... — A interrompi.
— Eu não ia matá-lo, foi só uma curiosidade. — Menti.
— Ele é legal, Lorenzo, dê uma chance a ele — disse Hope.
— Eu poderia ser amigo do Mark metendo um tiro na cara dele. —
Sussurrei.
— Eu escutei isso, por favor, não faça nada.
— Eu não vou fazer — disse a tranquilizando. — Mas ele vai ter
que parar com aquele apelido. Juro que arranco a língua dele na próxima
vez.
— É só um apelido, nada demais — disse Hope. — Seus irmãos as
vezes me chamam de ruivinha, é a mesma coisa.
— Não é não, é ele que está falando e não os meus irmãos. —
Retruquei.
— Tudo bem, Lorenzo! — disse Hope.
— Você vai falar com o cuzão? — perguntei.
— Não! — disse Hope. — Não tenho nada para falar com ele.
— Ele virá aqui amanhã — falei. — Tenho que mostrar umas coisas
para ele no rifugio.
— Você não vai...
— Não vou machucar ninguém, é negócio do trabalho — disse.
Não prometo nada, um disparo sem querer, tudo pode acontecer.
O meu desprazer é saber que ela realmente se importa com ele.
Devo planejar uma missão e matá-lo lá?
É uma boa ideia.
Pela manhã, havia dado algumas ligações para o Enzo e ele ainda
não havia me retornado.
Não estou gostando nada disso.
Ontem à noite liguei para a doutora Olivia e pedi que ela colocasse a
Hope no primeiro horário, não dormi direito só pensando nisso, imagina
esperar ainda mais.
— Acorda! — disse dando batidinhas no seu quadril. Ela não
acordava nem com uma reza braba. — Vamos, se não nos atrasaremos.
— Lorenzo, ainda são 06:30 da manhã, minha consulta só é às 10:00
horas.
— Por isso sairemos em 1 hora, acelere!
Eu estava ansioso para saber mais sobre o nosso filho.
Esperei a Hope se arrumar e fui para o lado de fora da casa, quando
o meu celular tocou, percebi que era Enrico.
— O que foi? — perguntei.
— Enzo não atende as minhas ligações — falou. — Fui verificar
com a segurança da casa dele se ele já havia retornado, mas não chegou
ainda.
— Que porra! Será que ele está ignorando as nossas ligações? Não,
acho que ele não faria isso sabendo da gravidade das coisas — disse. —
Faça o seguinte, leve com você, o Pietro, o Lucca e o Mark cuzão. Vocês
vão na frente, estou em uma consulta com a Hope, assim que chegarem lá
me avise. Quando terminar aqui, eu vou correndo para aí.
— Certo, vou avisá-los agora! — Falou desligando a ligação.
Peguei o meu celular e liguei novamente para o Enzo. A ligação
sempre dava como se estivesse sem área ou desligado.
Onde você está, irmão?
Liguei para o Josh, porque sei que o Enzo nunca rejeitaria uma
ligação dele. Não ia poder ligar para Lisa, senão, ela surtaria.
— Enzo entrou em contato com você? — perguntei assim que ele
atendeu.
— Não, senhor!
— Joshua, você costuma encobrir as minhas coisas quando eu peço,
se souber algo do Enzo, por favor...
— Não estou escondendo, não guardaria segredos de você — falou.
— Posso tentar rastrear o celular e saber onde ele está.
— Eu sei onde ele está, só não entendo porque não atende o
telefone.
— O sinal é péssimo, pode acontecer.
— Vou encontrá-lo de qualquer forma — disse. — Está precisando
de algo?
— Não, senhor!
— Tem certeza?
— Sim!
— Não durma até tarde, se alimente e nada de álcool.
— Já sou maior de idade agora.
— Cuidado ao sair, me preocupo. Qualquer coisa me ligue...
— “Ou ligue para alguém da família. Peça socorro e fuja se der,
sempre vou te encontrar”. Eu sei, estou bem! Até mais.
Não demorou para a Hope aparecer e saímos rapidamente para o
consultório.
Pedi que o Thony acelerasse, já que eu tinha várias coisas para
resolver hoje, então não demoramos para chegar no quartel.
Avisei a ruiva que viajaria e como ela percebeu a minha
preocupação, logo perguntou o que estava acontecendo.
Expliquei para ela algumas coisas, já ciente que ela não me deixaria
ir sem saber o que estava realmente acontecendo.
Tentei tranquilizá-la, mas nem eu estava conseguindo ficar calmo
com isso, quem dirá a Hope.
Porra, pedi para o Enzo voltar ontem, se algo acontecer com ele...
Que INFERNO!
— Por que você está me contando? — perguntou Hope depois de eu
ter contado o que ia fazer.
— Porque você acha que eu não confio em você, então eu estou
mostrando que o que eu sinto por você é bem mais do que apenas confiança
— disse.
Esses últimos meses ao lado da ruiva foi uma montanha russa.
Tivemos nossos altos e baixos, brigas desnecessárias, uma traição da
minha parte, mas sabia que eu não conseguiria tentar me enganar ainda
mais em relação a isso.
Ela já havia se apossado do meu coração de uma forma, que ele só
pertencia a ela.
Aonde quer que ela fosse, eu iria. O que ela pedir, eu faria. Mesmo
que tenha que dar a minha vida a ela, eu a daria, para que ela fosse tão feliz,
o quanto me faz feliz.
— O que você está tentando dizer? — perguntou.
— Eu... — Fui interrompido pela recepcionista.
— A doutora está aguardando vocês no consultório.
— Estamos indo! — disse.
Talvez eu tenha outra oportunidade de falar com a ruiva o que está
acontecendo comigo.
Caminhamos para a sala da doutora. Hope estava bastante nervosa
em relação se fosse uma menina. Sabia que a liderança me encheria o saco
por isso, já que tive duas meninas logo em seguida, mas nem que eu tenha
que derrubar toda a Bancada da liderança, ninguém tocaria na minha filha.
Logo entramos na sala da médica. Ela fez o exames que sempre faz
e pediu que a Hope se sentasse na maca.
Meu coração estava acelerado, estava tão nervoso, que minhas mãos
transpiravam.
— Está normal o coração? Não está acelerado de mais? — perguntei
assim que ouvimos o coração do bebê.
Isso não parecia normal para mim.
— Está normal, não tem com que se preocupar — Dra. Olivia
tentou me tranquilizar. — Ora, ora, já dá para ver, querem saber?
— Sim! — Respondemos juntos.
— Algumas coisas que eu e minha esposa temos em comum, é não
gostar de enrolação. Pode mandar ver! — disse.
— Já que insistem — falou um pouco desapontada. — Parabéns,
vocês terão um belo e forte menino.
Hope não tinha problema em demonstrar os seus sentimentos, assim
que escutou começou a chorar. Eu por outro lado, estava me segurando para
não cair no choro.
Um menino.
Quando jovem, achei que a felicidade poderia ser conquistada com
coisas materiais, mas depois que temos um filho, vi que é bem além disso.
Será que eu merecia essa felicidade?
Nos últimos 4 anos eu havia decidido que não teria outro filho, por
puro egoísmo da minha parte em não querer sofrer pela perda mais uma
vez.
Agora viver esses momentos, me fazem lembrar de como a minha
vida era antes de tudo ter acontecido.
— Nosso menino! — disse, beijando a testa da Hope. Logo sabendo
que eu não aguentaria mais segurar o choro. — Te espero lá fora.
Saí da sala, caminhando rapidamente para o banheiro.
Me sentia uma criança escondida dos pais para que não o vissem
chorando.
Eu seria um bom pai?
Eu fui um péssimo pai, por isso perdi a minha filha.
Se eu for assim também com essa criança e ele pagar pelos meus
pecados terrenos, não sei se aguentaria.
Aos poucos a ficha ia caindo e os meus medos vinham à tona.
Escutei a ruiva me chamar do lado de fora. Respirei fundo e saí do
banheiro.
— Está bem? — perguntou assim que me viu.
— Sim, só estava apertado para usar o banheiro. — Menti.
— Sabe que comigo não precisa ser forte sempre, não é? — Falou,
me abraçando. — Agora é só esperar o nosso filho nascer.
A ruiva sabia me acalmar, isso era algo admirável nela.
— Será... — Hesitei. — Será que eu vou saber ser um bom pai? Se
acontecer algo por minha causa de novo, eu não sei se aguento, Hope.
— Você não será apenas bom, será o melhor! — Falou. — Você não
precisa se preocupar com isso, Lorenzo. Nosso filho vai nascer bem e
seguro.
Assim eu espero!
— Obrigado por dizer isso! — disse a beijando em seguida.
— É melhor irmos, você tem que trazer o Enzo de volta — falou.
Deixei a Hope logo na casa da irmã e fui encontrar os meus irmãos.
Nenhum deles estavam atendendo o maldito celular.
Assim que eu cheguei no hotel onde o Enzo estava, não havia sinal
deles lá.
Que porra!
— Ei, Lorenzo! — Escutei alguém me chamar.
Me virei e vi que era o Mark cuzão.
Puta merda!
— Por que caralhos vocês não atendem a minha ligação? —
perguntei me aproximando dele.
— Onde fica essa casa de prostituição o sinal é uma merda. —
Explicou. — O seu amigo está bem, o seu irmão por outro lado deu um
sermão nele, quase achei que se beijariam em seguida.
— O que faz aqui? — perguntei. — Por que não está com eles?
— Pediram para ver se você havia chegado. Vem, levo você até eles
— falou e eu o segui.
Dentro do carro, observava o cretino, ele não parecia muito
diferente de mim e dos meus irmãos.
— Se continuar a me olhar assim, vou achar que está apaixonado —
falou rindo. — Devo parar no acostamento para a gente se pegar?
Esse cara é idiota!
— Por que o Enzo não nos avisou nada?
— Ele disse que ficou tão entretido que perdeu a noção do tempo.
— Explicou. — Quero aproveitar esse tempo a sós...
— Se disser que vai me beijar, eu vou te dar um tiro — disse, o
interrompendo.
— Não ia dizer isso, não agora. — Alegou. — Uso isso para
descontrair, sabe, sei que está louco para me matar.
— Que bom que você sabe! — disse observando a rua lá fora.
— Não tenho nada com a sua esposa, pode ficar ciente disso. Hope é
apenas uma amiga — falou. — Sei que ficará puto por isso, mas nós já
ficamos quando éramos mais jovens.
O quê???
— Para a porra desse carro! — Ordenei e ele não obedeceu. — Para
agora, caralho!
Apontei a arma na cabeça dele e ele freou rapidamente.
— Se quer me matar, me mate lá fora. Esse carro é o meu bem mais
precioso, eu te mato se arranhar ele com isso. — Apontou para a minha
arma.
Ele parecia despreocupado com o fato de ter uma arma na sua
cabeça.
— Se tentar algo com a minha esposa... — Me interrompeu.
— Não quero nada com a Hope — falou. — Meu lance era outra
garota, sempre fui homem de uma mulher só, mas a outra não pensou nisso,
já que queria outros. A Hope foi uma grande amiga, na verdade, a melhor.
Nós ficamos, mas não passou disso, era só curiosidade de ambos, mas sério,
se for atirar, use isso lá fora.
— Vamos, eles devem estar nos esperando — disse, guardando a
arma.
Sentia verdade nas suas palavras, mas não mudava o fato de eu
querer matá-lo.
Não podia deixar isso interferir na minha vida com a Hope, ela
gostava dele de certa forma, não poderia ser tão duro assim.
— Devemos nos beijar? — perguntou o maldito rindo. Não
consegui não rir com a cara de pau dele. — Relaxa, estou interessado em
outra mulher, não a sua.
— Quem?
— Você é bem curioso, está com ciúmes de mim? — Indagou.
— Vai se fuder! — disse.
Cara louco!
— Não diga isso, se não eu me apaixono.
Até que esse cuzão sabia ser engraçado.
Meu celular tocou, logo vi que era o Lucca.
— Conseguiu encontrar o Mark? — perguntou.
— Estou com o Mark cuzão aqui — disse. — Já estamos chegando!
Desliguei o celular e o Mark me encarava.
— O que foi? — perguntei.
— Você me chama de Mark cuzão? — perguntou. — Esse é o
apelido carinhoso que me deu? Fico lisonjeado!
— Você não cala a boca não? — perguntei. — Pare de chamar a
minha esposa de raposinha.
— Passamos dessa fase já. Ela é minha amiga e você fica me
chamando de cuzão, acho que não tem problema nisso.
— Só cala a boca! — disse.
— Vem calar com um beijo — falou com um sorriso malicioso.
— Eu estou armado, vou te dar um tiro — disse, o ameaçando.
— Eu sei que você está armado — falou maliciosamente descendo o
olhar lentamente para o meio das minhas pernas.
— Seu arrombado! — disse, já sacando a arma de novo.
— Acho que vale a pena. Vai me dar um beijo antes do tiro ou do
depois? — Indagou Mark estacionando o carro, logo me encarando fazendo
um bico com os lábios.
— Sai fora! — disse saindo do carro.
Escutava o maldito rindo.
— Quer aproveitar que estamos aqui, eu e você... — dizia com um
sorriso malicioso.
— Cara tu é chato! — disse.
Segui o caminho para dentro da casa de prostituição, indo atrás do
quarto que o Dante alugava.
— Pesquisei sobre vocês da liderança — dizia Mark enquanto
andávamos. — Você e o Enzo são bem próximos, será que ele sente ciúmes
da nossa relação? Vocês dois também tem a mesma idade. — Ele não cala a
boca? — Eu também tenho 33...
— Décadas?
— Hilário! — debochou. — Eu te amo por isso.
— Idiota!
— Sabe que me xingar não faz diferença, não é?
— Estou percebendo.
— Finalmente! — disse Enrico assim que entramos no quarto. —
Por que demoraram tanto?
— Paramos para nos pegar — respondeu Mark limpando o canto da
boca.
Os rapazes não deram importância, já que o Enrico fazia a mesma
coisa 24 horas por dia.
— Como ousa nos deixar preocupado, seu figlio di puttana! — disse
assim que vi o Enzo.
— Foi mal, irmão! — falou. — Eu estava procurando nessas casas
de recuperação algo de estranho, mas ainda faltam 63 casas para serem
vistas.
— A rede aqui e horrível, mas o Mark conseguiu umas papeladas de
documentos arquivados de todas as casas de recuperação que havia no
Japão — disse Pietro.
— Quer agradecer como? Um beijo, um tiro ou um abraço? —
perguntou Mark a mim.
— Obrigado! — disse e ele deu uma piscadela.
Havia várias caixas espalhadas para todos os lados.
— Como conseguiu trazer isso? — perguntei ao Mark.
— Já estavam dentro do meu carro. Quando o Enrico me ligou,
aproveitei para trazê-los. — Explicou.
Aproveitamos que estávamos afastado de todos, para ler aqueles
documentos.
Parecia que não teria fim, nada daquilo tinha sentido algum.
— Ainda falta 16 documentos para ler — disse Lucca.
— Vou entregar o que já lemos e os outros eu levo para casa para ler
— disse Mark.
— É muita coisa pra você ler sozinho — disse Enzo.
— É mais seguro comigo, já que eu moro sozinho e não terá
ninguém que desconfie de mim. Vocês tem suas esposas, outras pessoas que
andem na casa de vocês, terão que dá atenção para os filhos. Eu não tenho
nada para fazer mesmo, não me importo de olhar.
— Se quer tanto, pode ficar — disse Enrico.
— Estou tentando melhorar a minha relação com o gostoso aí —
disse Mark apontando para mim. — Devo ganhar uns pontos agora?
— Cara, você não cansa disso não? — perguntei.
— Nunca — falou. — É melhor irmos, já está tarde.
Percebi que já era mais de 22:00 horas.
Caralho!
Colocamos os documentos no carro do Mark, logo fazendo uma
varredura no quarto que o Dante tinha aqui, levando tudo.
— Quero passar no hotel primeiro e pegar as minhas coisas — disse
Enzo.
— Eu esqueci de dizer, o meu filho é um menino — disse.
— E é assim que você nos diz, seu arrombado? — Indagou Enrico
vindo me abraçar.
— Não sei dar notícias, já deveriam saber — disse.
— Mais um para ter o atributos de um Ferraro — disse Lucca.
— Ei, qual é!? Eu também tenho — disse o Enzo a ele.
— Você é um Ferraro também, só que sem o sobrenome — disse
Pietro a ele.
— Eu conheci os atributos de vocês, estão de parabéns! — disse
Mark.
— Fica longe dos meus — falei.
No carro que eu vim, foram comigo o Enzo, o Enrico e o Lucca.
Pietro foi com o Mark no carro dele já que certamente com o Lucca ou com
o Enrico eles saíram na briga.
Assim que estacionamos em frente ao hotel, o silêncio da noite me
incomodava.
Apesar de já ser 23:00 horas, estava tudo muito tranquilo, tranquilo
até demais.
— Eu sou o único que está estranhando essa tranquilidade? — disse
Enrico.
— Não deve ser nada, nós estamos tão acostumado a sair com
seguranças que achamos estranho quando não tem — disse Lucca, mas até
ele parecia incomodado.
Pedi que ninguém levasse seus seguranças, até porque o que
estamos fazendo aqui pode cair nos ouvidos de outras máfias, logo
desconfiariam e terão interesse de saber o que fazemos aqui.
— Vamos logo pegar as minhas coisas, quero ir para casa — disse
Enzo.
Descemos do carro e eu não parava de achar aquilo calmo demais.
Olhava ao redor, estranhando tudo.
Uma van preta surgiu no meio do nada, logo a porta da van foi
aberta e um rapaz com uma metralhadora apontada para mim, logo a
disparando.
— SE ABAIXEM! — Gritei para os rapazes que logo se jogaram no
chão.
No mesmo instante, o Mark pulou em cima de mim, me tirando da
mira da metralhadora que começou a ser disparada em todo o lugar.
Pietro começou a tirar no carro, mas não importou para o rapaz que
atirava, já que ainda atirava na minha direção.
O vidro do carro em que eu estava com o Mark, começou a cair
sobre o meu corpo, logo deixando cortes superficiais.
Peguei a minha arma, logo tentando acertar o motorista da van, para
que não saísse mais dali.
— ACERTEI! — Gritei.
— BORA METER BALA! — gritou Lucca.
E foi assim que fizemos.
— MARK... — gritou Enrico. — ACHO QUE ALGUÉM ATIROU
NO SEU CARRO.
— O QUÊ? — Gritou em pé sem se importar com a troca de tiros.
— JUDITH, NÃO!
— Colocou um nome no seu carro? — perguntou Enzo rindo
enquanto atirávamos na van.
— Eu pago o concerto dele — disse, o puxando para o chão.
— Estamos no meio de um tiroteio, vamos prestar mais atenção
nisso — disse Pietro.
Logo a metralhadora cessou.
Caminhamos para mais perto da van cuidadosamente, olhando para
todos os lados ainda mirando a arma neles.
Havia três caras, um motorista, o que estava com a metralhadora e o
outro não entedia o que fazia ali. Me aproximei dele, já que os outros dois
estavam mortos, ele estava encolhido no canto, se tremendo de medo.
— Ei, coloca as mãos na cabeça! — Ordenei.
— Eu não tenho nada a ver com isso — falou.
— BORA, PORRA, SAIA DAÍ! — gritou Enrico.
O rapaz saiu, parecia ser usuário de drogas. Suas roupas estavam
acabadas, tremendo muito, achava que era medo, mas vejo que era
abstinência.
— Coloque-o no porta-malas, levaremos ele para o rifugio — disse.
— Vamos sair daqui antes que a polícia ou algum curioso apareça.
— Não, não! — Implorou o rapaz e o Pietro deu uma coronhada na
sua nuca e ele apagou.
— Ele pareceu apavorado — disse Enzo.
— Quero saber o que faz aqui — disse. — Que dia de merda!
Enzo pegou as suas coisas e apesar do carro do Mark ter sido
atingido, não foi nada mais que uma janela quebrada.
— Eu quero matar ele! — disse Mark. — Vou cuidar dele, deixe ele
comigo.
— É só um carro... — Lucca nem terminou de dizer e o Mark o
olhou puto da vida.
— É o meu carro, minha Judith — falou, abraçando o carro. — Não
escute ele, meu bem, ele não sabe o que diz.
— Esse cara é louco! — disse Enrico.
— Tudo bem, você cuida do rapaz — disse. — Vá para a minha
casa, descanse e pela manhã trate logo de interrogá-lo.
— Você vai deixar ele dormir lá? — perguntou Enzo surpreso.
— Salvou a minha vida e está nos ajudando, acho que devo a ele um
voto de confiança — disse.
— O que fez com o meu irmão? — perguntou Pietro a mim.
— Ele está apaixonado por mim, só não quer dizer, não é, meu bem?
— disse Mark.
— Eu esqueço o que fez e te dou um tiro — disse.
— Certo! Vamos para casa, eu estou cansado — disse Enrico.
Assim que chegamos em casa, havia ligado antes para o Red para
trazer a Hope de volta.
— Red, leve ele para o rifugio — disse assim que o vi na entrada,
mandando ele tirar o nosso convidado do porta-malas. — Esse é o Mark, ele
irá interrogá-lo.
— Opa, irmão, prazer! — disse Mark.
— Certo, senhor! — disse Red. — Prazer!
— Ele tem uma cara fechada, dá um pouco de medo. Vai me
proteger dele não vai? — perguntou Mark a mim, me abraçando.
— Eu vou é atirar em você, se não me largar — disse.
— Me apaixono mais quando me esnoba — disse Mark.
Assim que eu entrei em casa, a surpresa da Hope em ver o Mark
comigo foi grande.
— Mark? — Estranhou Hope
— Oi, raposinha — falou.
— Já conversamos sobre isso — disse, o encarando.
— É estou sabendo — disse Mark indiferente com as minhas
últimas ameaças. — Ele sempre é ciumento assim?
— Sim! — disse Hope vindo até a mim. — Está tudo bem?
— Sim, não se preocupe. — Respondi. — Está tudo bem, foi só uns
estilhaços de vidro, nada demais.
— Eu salvei o seu marido — disse Mark. — Devemos nos beijar e
selar nossa amizade, Lorenzo?
— Vai se fuder! — disse. — Ele parece o Enrico.
— Disse que se dariam bem — disse Hope estranhando essa nossa
boa convivência.
— Ele vai dormir aqui, podia dar uma cela do rifugio, mas vou
deixar dormir na minha casa — disse e o arrombado sorriu malicioso para
mim.
— Essa eu passo — disse Mark. — Soube que é um menino, meus
parabéns, raposinha!
— Figlo di puttana! — disse puto com esse apelido.
— Você me chama de Mark cuzão, então acho que eu posso chamar
ela de raposinha — respondeu Mark.
— Vou subir, o seu quarto é o terceiro a esquerda. — Avisei. — A
cozinha é ali, se quiser comer algo, coma e volte para o seu quarto. Odeio
pessoas perambulando pela minha casa à noite.
— Certo, chefia! — disse Mark fazendo continência.
— Continua com as suas brincadeiras que um tiro se tornará uma
opção para mim — disse. — Andiamo, ruiva!
— Cadê o meu beijo de boa noite, amorzinho? — disse Mark.
— Sério? Nem um tiro? — Indago a ruiva já tirando a arma da
minha cintura. — É rápido, ele não vai nem sentir.
— Não, Lorenzo, guarda a arma — disse Hope.
— Porra!
— Mark te salvou como? — perguntou assim que entramos no
quarto.
— Sabe que eu confio em você, mas explicar isso terei que
esclarecer mais outras coisas que no momento ainda eu estou tentando
entender — disse. — Na hora certa eu falarei.
— Tudo bem, não precisa se preocupar — disse Hope. — Agora vai
tomar um banho e descansar, está fedendo a whisky.
— Certo, senhora Ferraro! — Respondi.
— Talvez amanhã a gente possa conversar um pouco — disse Hope.
— Sobre? — perguntei, já tirando a minha roupa.
— Amanhã a gente conversa melhor — disse Hope me dando um
selinho. — É melhor dormir, você está muito cansando.
O dia foi longo, eu apenas queria tomar um bom banho e dormir ao
lado da ruiva.
Mereço um descanso!
Já havia passado dois dias desde que voltamos.
O rapaz que pegamos, logo dedurou tudo ao Mark. Hoje os meus
irmãos viriam aqui, junto do meu pai, do Leonel e o Lucca para que o Mark
contasse o que descobriu.
Avisei a ruiva que irá para o rifugio e saí de do quarto.
— Sim, vamos começar! — disse assim que eu entrei no escritório
do rifugio.
— O cara não era de nada, apenas um peixe pequeno. — Explicou
Mark. — Apesar de ter destruído o meu carro, tive que matá-lo. Mesmo
sem ter feito nada, ele já saiu falando tudo, imagina se ele diz a alguém o
que estamos fazendo. Enfim, o cara disse que estava recebendo droga de
um outro homem, apenas para observar o Dante. Na minha opinião, acho
que os japoneses deveriam estar desconfiados do Dante.
— Mas quem o mandou? — perguntou Pietro.
— O Yamato — respondeu.
— Que merda está acontecendo? — perguntei. — O que uma casa
de recuperação tem a ver comigo?
— Isso fica mais confuso cada vez que investigamos — disse o meu
pai.
— Estava lendo alguns dos documentos, apesar de ainda faltar 8
para terminar, mas não vi nada suspeito — disse Mark.
— Eu não entendo, isso está me deixando louco! — disse.
— Vai dar tudo certo, irmão! — disse Enzo.
— Vamos continuar a investigar o que Dante fazia — disse. — Vou
ligar para um dos meus informantes para investigar esse Yamato que teve
contato com o Dante.
— Era isso que eu queria falar com vocês. O estrategista da máfia
japonesa, o famoso Yamato, o meu pai está com ele na Rússia — disse
Mark.
— O quê? Por que não disse isso antes? — perguntei.
— Não sabia que ele tinha algo a ver com vocês, até ontem à noite.
Ele foi pego dentro de um dos nossos galpões roubando. Meu pai já estava
na intenção de matá-lo, mas adiarei isso agora. — Mark pegou o celular e
ligou para o seu pai.
— Será que ele também não sabe algo sobre aquele Hiroki? —
perguntou Lucca.
— O que era bom em transferir as prostitutas sem ser pego? Ele
trabalha em casas de prostituição? — perguntou Leonel.
— Sim, mas sempre sai de uma para outra, para não ser pego pela
polícia. — Expliquei.
Logo o Mark voltou.
— Pronto, o meu pai interrogará ele agora mesmo, já que ele parece
que não vai durar muito tempo — disse Mark.
— Você também conhece algum Hiroki? — perguntou Pietro.
— Não, mas do jeito que o meu pai é fixado nos japoneses, deve
conhecer. Perguntarei a ele e direi o paradeiro dele a vocês.
— Dante também se encontrava com ele, pergunte o seu pai —
disse.
Mark entrou na hora certa. Ele estava ajudando muito, até me
arrependi de querer matá-lo.
Depois de um longo tempo, o pai do Mark ligou.
— Sim! — Mark respondia ao pai. — E essa data? Não, vou
perguntar a eles.
— O que foi? — perguntei.
— Dia 17 de agosto de 2016 — disse Mark a mim.
Apenas fiquei parado, sem saber o que dizer.
— Não é a data de morte da minha neta? — perguntou o meu pai.
Não sabia se ficava surpreso por ele saber ou porque caralhos a
máfia japonesa tinha a ver com isso.
— Pai, investiga para mim um tal de Hiroki, fico devendo uma —
disse Mark desligando a ligação. — Foi a única coisa que o Yamato disse
antes de morrer, essa data e com um belo sorriso de vitória.
— Eles que mataram a minha filha? — indaguei, sentindo o meu
sangue ferver.
— Vamos ver novamente as gravações daquele dia, podemos ter
deixado algo passar — disse Enzo.
Eu já havia visto aquilo várias vezes, tantas vezes que eu sabia o
tempo certo de tudo acontecer, mas mesmo assim, ficamos ali observando a
imagem da Antonella caminhando pelo jardim.
— Não há nada aí — disse Mark.
— Estamos olhando de um ângulo ruim, por isso não dá para saber
— disse Enrico.
— Estou me sentindo sufocado aqui — disse.
Estava exausto e acabado psicologicamente. Quando eu acho que eu
vou superar a morte da minha filha, isso acontece.
Com o tempo, todos já estavam cansados de olhar aquele vídeo
repetidas vezes.
— Eu não sou de grande ajuda nisso, sou péssimo em observar as
coisas — disse Lucca.
— Isso! Como eu não pensei nisso antes? — disse. Tem uma certa
ruiva que tem o dom de observar as coisas. — Vou trazer a Hope, já volto!
— Quê? O que a ruivinha tem a ver com isso? — perguntou Pietro.
— Ela estava na nossa cara e não a usamos — disse Enzo
entendendo o que eu queria dizer. — Hope tem uma certa aptidão em
observar. Vocês vão notar isso assim que ela chegar aqui.
Não esperei e corri para fora do rifugio.
Assim que eu cheguei em casa, já gritei por ela.
Ela estranhou o meu surto repentino, a coloquei nos braços e saí
para fora de casa, seguindo para o rifugio.
Ela estava sem entender nada, mas explicaria tudo outra hora.
Assim que chegamos, Red deu o seu paletó a ela, logo vi que a
trouxe de camisola.
Quando entramos na sala, Hope parecia surpresa por ver ela cheia.
Pedi que ela olhasse as gravações daquele dia e ela logo observava
tudo calmamente.
— Aqui! — Apontou para a marca de sombra do canto da tela. —
Não dá para ter uma melhor visão, mas isso é estranho.
Não havia notado aquilo antes.
Eu tentava sempre procurar nos lugares impossíveis, que o óbvio eu
não consegui enxergar.
O fato de eu estar cegado pelo luto também ajudou nisso.
— É só uma sombra, pode ser de qualquer coisa, uma árvore, um
pássaro pousando por cima de um galho... — disse Leonel e a Hope o
interrompeu.
— Não estava antes. Mesmo se fosse uma árvore, a sombra
permaneceria ali toda a filmagem. O sol não estava se pondo para a sombra
desaparecer do nada depois que a Antonella passou e sumiu de frente das
câmeras. — Explicou.
— Pelo porte deve ser um homem, não tem outra explicação —
disse Pietro.
— É um homem, isso parece ser um ombro muito largo e encurvado
para ser uma mulher — disse Mark.
— E não é que a ruiva tem talento — disse Lucca abraçando a Hope
e eu o puxei, empurrando sua cadeira para longe.
Hope era muito além de uma esposa de um Capo, ela tinha um dom
incrível, era super talentosa, só não podia ser reconhecida por ser apenas
uma mulher aos olhos da liderança. Se não tivesse medo de perdê-la,
deixaria que ajudasse aqui na máfia, mas já basta os inimigos que eu tenho,
não suportaria saber que ela teria iguais aos meus.
Começamos a investigar os convidados que tinham aquele porte.
Depois de tanto olhar, o padrão não batia com ninguém.
— Ninguém bate nesse padrão! — disse irado. — INFERNO!
— Talvez não fosse alguém dos convidados e sim algum funcionário
do evento — disse a ruiva no canto da sala.
— Nunca estive tão feliz por ter me casado com você, como estou
agora — disse assim que me aproximei dela, depositando um beijo em sua
testa. — Procurem nos funcionários.
Hope foi para casa novamente, enquanto nós observávamos cada
funcionário daquele dia.
— Esse homem aqui — disse Leonel. — Ele está na lista, mas a foto
não bate com o nome.
— Me dê a foto dele. — Pedi.
Me afastei de todos e liguei para o Josh.
— Tenho um serviço para você, olhe a foto que acabei de lhe enviar.
Quero que saiba tudo desse homem, sem poupar detalhes e descubra onde
este maldito está.
— Sim, senhor!
— Me ligue assim que tiver informações, é sobre a morte da minha
filha — disse e ele logo entendeu. — Está precisando de algo?
— Não, senhor!
— Tem certeza?
— Sim!
Desliguei a ligação e retornei para perto dos rapazes.
— Pronto, logo saberemos mais sobre ele. Agora, vamos tentar
manter tudo isso no sigilo — disse.
— Vou ligar para o meu pai mais tarde e perguntarei o que ele
descobriu sobre o Hiroki — disse Mark.
Todos haviam ido embora, menos o Mark, ele ainda ficou, já que
esperava a ligação do pai e queria logo me informar do que estava
acontecendo nas buscas e no interrogatório.
O levei para a minha casa, logo encontrando a ruiva na cozinha.
— Não se preocupe, sempre estarei aqui apenas por você — disse
Mark se escorando no balcão, ficando ao lado da minha esposa.
— Precisa estar vivo para estar aqui na próxima vez — disse.
— Ele é tão ciumento, eu gosto disso, me deixa mais atraído por ele
— disse Mark dando uma piscadela para mim.
— Vai se fuder! — disse. — Esqueço que está me ajudando e te
mato por ter ficado com a minha mulher.
— Não foi nada demais, você apontou uma arma para mim e olha
que não foi nada além de um beijo, não é, raposinha? — Indagou Mark a
Hope.
— É, não foi nada. — Sussurrou.
— Relaxa que eu estou apenas esperando a Hope me apresentar a
amiga dela — disse Mark apoiando a cabeça no meu peito.
Esse cara não desiste.
— Que amiga, Mark? — perguntou Hope e eu me interessei na
conversa.
— A sua, a que você falou no casamento.
— Alessandra? — Indagou rindo.
— Ela é a minha ex-esposa — disse. — Não que eu me importe,
mas ela acabaria com você.
Deixa-o se foder achando que a Alessandra é igual as mulheres que
ele já conheceu na vida.
— Gosto de uma surtada! — disse Mark passando a mão no meu
rosto. — Bom que fica tudo em família, eu peguei a sua esposa, a ex e você.
O empurrei, indo para perto da Hope.
— Vai se fuder, seu cuzão! — disse.
— Agora eu tenho que ir, antes que o Capo me mate — disse Mark.
— Tchau, raposinha!
Mark foi embora e eu olhava a Hope que parecia curiosa.
— Lorenzo, desde quando você sabe que eu e o Mark ficamos? —
perguntou.
— No dia que pegamos o Enzo. — Respondi, comendo um bolo que
estava em cima do balcão. — O que foi? Achou que eu surtaria? Não tenho
que te cobrar nada, não fui um santo no começo do nosso casamento e o
que você fez, não me interessa, pois era a sua vida. Casar com você de certa
forma abriu os meus olhos em muitos aspectos, ruiva.
— Só fiquei um pouco preocupada sobre como você lidaria. Ainda
bem que entende — disse Hope. — Lorenzo, eu queria falar com você.
— Você voltou! — disse Lucy.
— Cheguei agora há pouco — respondi. — Andiamo, ruiva, eu
quero terminar essa conversa lá em cima. Sei que quer conversar comigo
tem uns dias.
Fui para o quarto com ela, me sentei na cama esperando-a me contar
o que estava acontecendo.
Ela estava bem nervosa, não nego que fiquei preocupado.
— Eu não quero falar em detalhes e muito menos enrolar muito,
mas seja paciente e escute. — Explicou.
— Minha paciência é toda sua, não dou ela a ninguém, sinta-se
lisonjeada — disse, tentando deixá-la mais confortável em conversar.
— É sobre o tio Marco.
Travei quando ela disse isso. Não acredito que ela estava disposta a
me contar o que aconteceu aquele dia.
— Você quer me dizer ou está se sentindo pressionada por que eu
estava perguntando? — disse.
— Eu quero dizer, porque eu confio em você — respondeu.
— Quando se sentir à vontade pode começar — disse. — Não quer
se sentar?
— Não, quero ficar em pé mesmo — disse Hope. — Bem, tudo o
que você sabe é verdade e aconteceu. A Lisa foi a que mais sofreu nas mãos
dele, já que foi a primeira.
Sua respiração começou a ficar agitada.
Era notório o quanto ela estava surtando só por tocar no assunto.
— Está tudo bem, amor! — disse assim que percebi que ela havia
permanecido calada.
Não era de demonstrar afeto com ela. Nunca havia feito isso, mas
queria que ela soubesse que não era apenas uma mulher em minha cama,
era muito além disso agora.
Hope começou a contar tudo o que ela e a irmã passou nas mãos do
Marco.
Devo dizer que eu nunca me segurei tanto para não sair dali e
explodir a casa daquele arrombado.
Eu era um monstro, eu sabia disso e não escondia de ninguém.
Matei mais gente do que eu possa me lembrar, mas fazer esse tipo de coisa,
era doentio, até para mim.
Como esse puto ainda estava impune por isso?
Minha raiva agora não era só por ele ter quebrado regras ou por ter
maltratado a minha esposa, mas sim por fazer isso com crianças.
Que tipo de homem era ele?
A Hope falava e eu me sentia mal por cada palavra que saía de sua
boca.
Uma sensação de nojo, com raiva, era uma mistura de sentimentos
quando ela falava o que ele fazia.
Quando ela terminou de contar, eu não consegui dizer nada.
Eu estava digerindo aquilo tudo.
Eu sabia o que ele havia feito, mas com esses detalhes me causava
espanto por saber que pessoas como a Hope e a Lisa passaram por algo
assim.
— Você pode dizer alguma coisa, está me deixando preocupada —
disse Hope, já que eu havia permanecido calado.
— Eu te prometi que te protegeria até o fim da minha vida e eu farei
isso. Me desculpe por não ter te conhecido antes e não ter te livrado daquele
escroto — disse, a abraçando forte, passando a mão entre os seus cabelos.
— Farei ele pagar, da pior forma que eu encontrar. Não importa o que vai
acontecer, eu o farei implorar pela vida.
— Obrigada por acreditar em mim!
— Tudo vai ficar bem agora, meu amor — disse, gostando de como
essa palavra descrevia bem o que eu sentia pela ruiva. — Se quiser chorar,
pode, não sairei daqui até que você se sinta melhor.
E a ruiva se derramou em lágrimas.
Sua dor era notoriamente vista pelo seu choro.
O quanto aquilo doía e maltratava ela durante anos.
Acredito que tudo teve um propósito.
Eu a conheci e em anos eu comecei a superar o luto.
Com ela, finalmente seria liberta de traumas e opressão que tanto
sofria da família.
Como eu queria pegar aquele cretino.
O dano que ele causou a minha esposa, imagina com a irmã.
Isso será pago com o seu sofrimento quando eu pegá-lo.
Assim que a Hope parou de chorar, pedi que ela tomasse um banho
para tentar descansar um pouco.
Aproveitei e liguei para os rapazes em uma só ligação.
— Estão todos aí? — perguntei. Havia ligado para o Pietro, o
Enrico, o Enzo, o Mark e o Lucca. — Lucca Depois avise o seu pai o que
eu direi aqui. Enrico você estará encarregado de dizer ao nosso pai.
— O que está acontecendo? — perguntou Enzo.
— Vamos caçar o Marco! — disse.
— Marco? — perguntou Mark.
— O tio da minha esposa e da Hope — disse Enzo. — Ela contou?
— Sim, trarei ele ao rifugio — disse.
— O que ele fez? — perguntou Pietro.
— Saberão na hora certa — disse.
— Eu quero matá-lo! Não quero que seja rápido, quero que ele
sofra muito e que implore pela vida. Quero esfolá-lo vivo, olhando o seu
desespero enquanto sua pele é arrancada do seu corpo — disse Enzo.
Hope nem me contou as coisas detalhadamente e eu já fiquei assim.
Conhecendo a esposa dele, deve ter contato tudo, por isso Enzo deve estar
tão puto.
— Até eu estou com medo do Enzo agora — disse Lucca. — Me
pergunto o que ele causou a esposa de vocês.
— Venham me encontrar aqui — disse por fim, desligando a
chamada.
Assim que a Hope saiu do banheiro, já avisei o que aconteceria.
— Ficará na sua irmã até a véspera do Natal. Sua mãe ficará com
vocês, já que o Enzo ficará comigo uns dias — disse.
Queria ficar um tempo com ele, para que sofresse o tanto que ele as
fez sofrer.
— Mas é só próxima semana, vou ficar tanto tempo longe?
— Hope, eu tratei o seu tio hoje para o rifugio, não quero você aqui,
quando ele está no prédio ao lado. Eu vou fazê-lo pagar, eu te prometo isso.
Eu mesmo estou indo buscá-lo, e você ficará na sua mãe com as suas irmãs.
— A Lucy e o Red também irão? — perguntou.
— Lucy está ocupada com as coisas do Natal e o Red disse que
tinha um acerto de contas com o seu tio, então ficará comigo. — Expliquei.
Red já havia me deixado ciente da raiva que sentia do Marco. Ele está tendo
uma ligação muito forte com a Hope e eu sei que vai querer participar
disso. — Não se preocupe, a casa terá seguranças e te ligarei todos os dias.
Só quero me dedicar cem porcento a estadia do seu tio aqui.
— Certo! — Respondeu.
— Fique bem e me ligue se precisar de algo — disse por fim, já
caminhando para a porta.
Hope tomou conta de tudo que há em mim. Seu jeito, sua fala, suas
expressões, tudo nela me fazia ficar mais encantado por ela.
Ela era boa demais pra mim, sabia disso. Tinha medo de perdê-la.
Esse meu jeito estragava tudo, sei que era bruto com ela, as vezes
insensível que a machucava com falas que eu não conseguia filtrar antes de
falar, mas eu não queria mais guardar o que estava acontecendo comigo, da
mudança que eu estava tendo.
Não pensei muito e a chamei.
— Hope! — A chamei.
Ela se virou, me olhando sem entender.
Eu tentava criar coragem para dizer algo que estava me
incomodando há semanas.
— Por muito tempo eu quis te odiar e te tornar minha, não do jeito
certo. Sei que fui um péssimo marido e que não te dei o real valor, eu não
fui fiel e te machuquei tanto verbalmente, quanto fisicamente. Não há um
dia em que eu não me arrependa do que eu te causei, até cair na real do que
estava acontecendo comigo. Eu espero que me perdoe por ter sido tão ruim
com você. Eu estou tentando dizer é que você quebrou todas as barreiras
que tinha para conseguir entrar no meu coração e conseguiu. Hope, eu estou
perdidamente, loucamente e insanamente apaixonado por você — disse.
Fugi que nem um covarde, por medo de ela dizer que não sentia o
mesmo por mim.
Um peso saiu de mim, já estava cansado de fingir que não sentia
nada por ela, mas eu sei que as minhas ações já entregavam isso.
— Lorenzo, espera! — Escutei ela me chamar assim que eu cheguei
na sala. Ela veio apressadamente até mim, parando na minha frente. Seu
olhar calmo, me trazia uma tranquilidade imensa. — Como ousa dizer
aquilo e sair sem esperar eu falar algo ou te dar alguma resposta.
— Não sou tão corajoso quanto pensa Hope — disse.
Eu não era tudo isso que ela achava que eu era.
— Se tivesse esperado, você teria escutado isso lá em cima — disse
Hope olhando no fundo dos meus olhos. — Eu tentei não gostar de você.
Não que fosse fácil, mas você me fazia feliz do seu jeito. Os últimos meses
estão me fazendo enxergar mais o grande homem que você está se
tornando. O que eu quero dizer é que eu te amo também, Lorenzo.
Beijei, sem esperar ela falar algo a mais.
— Eu mudei, Hope, eu mudei por amar você. Você foi a causa da
minha redenzione — disse, passando a mão no seu rosto, memorizando a
perfeição que ela era. — Eu sei que eu nunca serei um homem bom e eu
realmente não pretendo ser, mas com você eu quero ser. Não quero que eu
seja só o seu marido ou o pai do seu filho, eu quero ser a sua base, eu quero
que você caminhe do meu lado, eu quero que juntos conquistamos tudo o
que almejamos.
Beijava o seu rosto, sentindo o seu cheiro e a macieis da sua pele.
— Eu só quero você comigo. Pode partir o meu coração quantas
vezes você quiser. Pode pisar nele. Pode quebrá-lo em milhares de pedaços.
Eu junto tudo e colo de novo para você fazer isso repetidas vezes se quiser,
eu só quero você perto de mim. — Sussurrei, beijando o seu pescoço.
Eu precisava dela comigo.
Eu a queria comigo.
Mesmo se um dia eu perder tudo, eu a queria, eu a quero do meu
lado.
Não importa se eu estarei bem ou não, eu só a queria comigo.
— Eu nunca faria isso, Lorenzo — disse Hope com a mão na lateral
do meu rosto. Seu toque suave me deixava ainda mais apaixonado por ela.
— Por te amar, eu cuidaria do seu coração, não o machucaria. Eu juntaria os
cacos quebrados e te ajudaria a colar, mas eu não seria o motivo deles
estarem quebrados. Eu vou cuidar de você.
Ela sempre foi assim.
Mesmo quando eu achava que não importava se eu estava bem ou
não, se ela estivesse comigo eu ficaria melhor.
Ela sempre me fazia enxergar que mesmo com as situações ruins, eu
tinha que cuidar de mim primeiro e que agora eu teria ajuda nisso.
Não esperei mais e a beijei.
Eu estava tão feliz por escutar isso dela, que não conseguia não
sorrir com as suas palavras.
Ela me amava, mesmo com todos os meus defeitos, ela me amou.
Seu amor me mudou, me fez querer mudar para ser tão bom, quanto
ela, mas fomos interrompidos pelos gritos lá fora.
— BORA, LORENZO! — Escutei Enrico gritar. — AQUELE
DESGRAÇADO NÃO VAI MORRER SOZINHO!
— Antes que pergunte, eu não contei nada para os meus irmãos, só
pedi que estivessem comigo para não me deixar matá-lo rápido. Não
consigo me controlar e matar ele logo não está nos meus planos. —
Expliquei.
Não sabia se ela não queria que ninguém soubesse. Ela logo disse
que não se importava, o que achei ótimo, já que não precisaria mentir para
os meus irmãos.
— Agora vá, antes que seus irmãos invadam a casa — falou
depositando outro beijo em meus lábios.
— Tchau, amor! — disse. — Ti amo ragazza!
— Também te amo! — Respondeu.
— Vou gostar muito disso — falei sorrindo para ela.
Saí de casa, entrando no carro em seguida. Vi Red e o informei do
que aconteceria, ele logo abriu um sorriso e sabia que gostaria do que
aconteceria.
Red foi para dentro do rifugio esperar o nosso convidado, separando
a melhor cela para ele.
— Você não estava com raiva? — perguntou Lucca assim que eu
entrei no carro.
— Estou! — disse.
— Não parece — disse Pietro. — Você está parecendo eu quando
me declarei para a Giulia... — hesitou. — Se declarou para a Hope, não foi?
— Não acredito, caralho! — disse Enzo freando o carro. — Isso
aconteceu?
— Esse carro não está cheio não? — perguntei.
— Encontraremos o Mark na casa do tal do Marco e eu volto com
ele. Meu pai e o Diego estão vindo para o rifugio, nos esperando. —
Explicou Lucca. — Agora explica isso aí!
— Não, vão se fuder! — Falei.
— Ele depois fala, é sempre assim — disse Enrico.
Não vou dizer não!
Seguimos para casa do Marco, estava louco para pegá-lo.
Os carros atrás me acompanhavam, acelerando para pegar esse
desgraçado o mais rápido possível.
— Todo apaixonado o Capo — disse Enrico já começando.
— Eu vou te enforcar com o cinto de segurança — disse.
— Vai contar agora? — indagou Lucca.
— Não tenho nada para dizer — falei.
— Vamos passar a noite toda... — Interrompi o Enrico.
— Foi, caralho, eu me declarei, satisfeitos? — indaguei. — Agora
dirige essa porra.
— Como foi? — disse Enzo.
— Puta que pariu! — Declarei já ciente que encheriam o meu saco
com isso. — Não vou dizer mais nada.
Estávamos chegando na casa do Dante.
Sabia que ele estava na casa do irmão, quando ficou para ele e a
esposa por dividir a casa, já que as filhas não queriam.
As péssimas lembranças morando nesse lugar deve ser dolorosas
demais.
— Chegamos! — disse Enzo.
Mark já estava estacionado em frente da casa.
— Só quero pedir algo a vocês — disse. — Se verem que eu vou
perder o controle, me segurem, não quero matá-lo agora.
Saímos do carro caminhando até a entrada da casa.
— Devemos apertar a campainha? — perguntou o Lucca animado.
— NÃO! — Respondeu Enrico entusiasmado levantando as mãos.
E com um chute eles derrubaram a porta.
— Lembra de quando éramos mais jovens e invadimos as casas
daqueles moleques que se metiam com o Enrico? — perguntou Pietro
nostálgico a mim.
— Sim, ótimas lembranças! — disse.
Entrámos na casa, deparando com o Marco e a sua esposa na sala.
Seus olhos pareciam surpreso ao me ver.
— Surpresa! — falo abrindo os braços. — Demorou para te pegar,
mas finalmente chegou o grande dia — disse, passando pela porta, o
encarando. — Preparado para uma semana incrível ao meu lado?
O cretino assim que me viu, correu para os fundo, sendo derrubado
pelo Mark.
— Sabia que você tentaria fugir — disse Mark.
— O que está acontecendo? — perguntou a mulher.
— Nada, se não quer que sobre para você, é melhor ficar calada e
não dizer a ninguém o que está acontecendo aqui — disse Lucca.
— Não é que o puto aprende rápido — disse orgulhoso do Lucca.
— Deveria te matar agora, mas você sofrerá assim como fez com a
minha esposa e com a Hope — disse Enzo segurando no pescoço do Marco.
— Ele não fez nada... — A esposa dele tentou reverter aquilo, mas
não mudaria em nada.
— Temos provas que isso aconteceu — disse. Já que não poderia
usar isso na liderança, resolvi me precaver. — Se contar que ele fez isso
com a suas sobrinhas a alguém, te levo para o rifugio e farei com você o
que farei com ele.
— Não vou contar, só poupe a minha vida. — Implorou. Acho que o
seu amor pelo Marco acabou.
— Pegue o primeiro avião para longe daqui e suma — disse Pietro.
Ela logo saiu às pressas dali, olhei para o Enzo que já entendeu que
tinha que mandar alguém de olho.
— Sim, vamos levar ele ou não para o rifugio? — perguntou Mark
impaciente.
— Coloquem o cretino no porta-malas — disse.
Ele tentou escapar, mas o seu destino estava selado.
Com muita dificuldade, colocamos ele no carro.
— Ele é bastante resistente — reclamou Lucca
— Porque sabe que sofrerá assim que entrar na minha propriedade
— disse.
Assim que chegamos em casa, o meu pai e o Leonel já nos
aguardavam ansiosos no lado de fora.
— Red! — disse assim que o vi. — Leve-o para dentro, quero
conversar com a minha família sobre o Marco.
Red já sabia o que aconteceu, então não precisava explicar nada a
ele.
— Me mate logo! — disse Marco assim que o Red o tirou do carro.
— Não teria graça — disse. — Pensei em algo divertido para gente
brincar enquanto está aqui.
— O quê? Conta! — disse Enrico como sempre animado.
— Ele ficará aqui até a véspera de Natal — disse. — Já que não
saberá os dias, porque ficará preso lá embaixo, pensei em ser bonzinho para
que saiba o dia que vai morrer. Para cada dia que passar, cortaremos um
dedo seu e então saberá que no último dedo, é o seu último dia.
— Mas são só sete dias até a véspera — disse Mark.
— Melhor cortamos três agora, não acham? — disse. — Sei que
gosta de cortar as pessoas como fetiche, vamos ver o que acha quando a
pessoa agora é você.
— NÃO, NÃO, NÃO! — gritou.
— Red, faça as honras assim que ele entrar. — Ordenei. — Depois
se divirta com ele, só não o mate, teremos a semana inteira para fazer isso.
Red o arrastava para dentro e os seus gritos eram escutados por
todos.
Me pergunto onde está a coragem dele agora?
— O que aconteceu? — perguntou meu pai.
Expliquei tudo o que a Hope havia me dito, disse que estava
investigando ele há algum tempo e tudo que eu sabia sobre o caso.
— Que porra! — disse Enrico.
— Ele machucou também a outra pequena? — perguntou Lucca se
referindo a Kitty.
— Não! — Respondeu Enzo.
— Isso aconteceu debaixo dos nossos narizes e não sabíamos disso?
— Leonel parecia estar com ódio.
— Até eu quero matar esse arrombado agora — disse Pietro.
— Por isso a raposinha tinha medo de quebrar regras, o medo de ir
para casa do tio era grande — disse Mark. — Agora eu estou arrependido
por sempre pedir que ela fugisse das aulas comigo. Ela sempre negava com
tanto medo.
— Já passou! — disse a ele. — Agora ele é todo nosso. Vamos fazer
ele pagar o que fez a Lisa e a Hope.
— E o que dirá para a liderança? Sabe que elas serão castigadas por
não ter relatado isso antes — disse meu pai.
— Ainda não sei. — Respondi.
— Podemos mentir — disse Leonel. — Dizemos que ele nos
ofendeu e que pagou com a vida. A liderança nem investigaria, já que o
Dante era conhecido pela sua arrogância com a liderança, acharão que o
irmão faz o mesmo.
— Posso cuidar disso, para que elas não tenham problemas — disse
o meu pai.
Ficava mais tranquilo em saber que a minha família estava comigo.
Apesar do Enzo não ser do meu sangue e o Mark ter entrado agora, eles já
se tornaram membros da minha família e cuidamos dos nossos.
— Obrigado, pai! — disse e ele se mostrou surpreso pelo meu
agradecimento.
— Só cuide desse figlio di puttana que eu cuido do resto — disse
meu pai.
— Vamos entrar, não quero perder nenhum segundo — disse Enzo.
Uma semana depois
Cada dia foi alguém que aproveitou o Marco.
Red ficou com ele no primeiro dia.
Enrico ficou com ele no segundo dia.
Pietro ficou com ele no terceiro dia.
Lucca ficou com ele no quarto dia.
Mark ficou com ele no quinto dia.
Enzo ficou com ele no sexto dia.
E eu fiquei no sétimo e último dia.
Ele estava acabado, dava nem para conseguir ver o seu rosto.
Como sou devoto, sigo lhe dando agora o sétimo dia de descanso, só
que agora eternamente.
Eu passei a semana toda olhando todos o machucarem e finalmente
era a minha vez.
Queria o melhor para o final.
— Vejo que se divertiu bastante — disse, tentando mantê-lo
acordado. Estavam todos aqui, todos os dias, mesmo não sendo o dia de
cada um. — Viu que aqui separemos os dia para brincar com você?
— Vai se fuder! — Falou em um suspiro.
— Que boca suja! — disse. — Não sei se percebeu, já que não
consegue enxergar direito, mas está no seu último dia. Então deixe que eu
faça as honras tirando o último que restou. — Peguei um machado que
tinha no canto, o único que não havia sido usado até agora. — Não tem
problema de sem querer eu errar seu dedo e cortar sua mão, não é?
— Vai... — Não deixei que ele concluísse, já cortando o último dedo
que faltava.
Seu grito assim que sentiu o osso sendo divido ao meio, foi como
música para os meus ouvidos.
O som ecoava pela sala fechada.
O cheiro forte do seu sangue, a sua respiração pesada, tudo era
apreciado por mim naquele momento.
— Nunca pensei que estaria tão feliz em matar alguém como eu
estou com você — disse. — Sei que gostava muito das suas mãos, já que
fazia coisas com elas nas suas próprias sobrinhas.
— Se eu fosse você, eu arrancava o braço dele — disse Lucca.
— Certo, vamos escutar a plateia — disse. — E como podemos
arrancar? — perguntei. — Você não se incomoda, não é? Ele ainda está
aprendendo, então estamos ensinando aos poucos.
— Podemos usar uma cerra, talvez? — Respondeu Lucca entrando
na brincadeira.
Ele já sabia de muita coisa, ele, o Enrico e o Enzo deveriam saber
bem mais do que todos nessa sala, mas não acabaríamos com a brincadeira
agora.
— Se eu responder primeiro, professor, eu não quero ganhar uma
estrelinha na testa e sim um beijo — disse Mark levantando a mão.
— O que quiser, meu bem! — disse.
— Podemos usar a cerra elétrica — falou Mark. — Lucca só
respondeu cerra, estava meio que certo.
— Ele pegou a minha resposta — reclamou Lucca.
Eles realmente pareciam umas crianças.
— Quero usar isso também. Enzo participa para que eu ganhe um
beijo — falou Enrico.
— Você não precisa participar, eu lhe dou quando você quiser —
respondeu Enzo.
— Por que você não tem essa iniciativa? — Reclamou Mark a mim.
— Que tal voltarmos ao cretino aí, ele parece que vai morrer a
qualquer momento — disse Pietro.
— Não pode morrer agora, não sofreu o bastante — disse ao Marco.
Trouxe uma faca em mãos, me sentando na cadeira a sua frente.
— Sou péssimo em anatomia. Enrico, onde fica o fígado? —
indaguei e ele logo apontou. — Muito bem, vamos ver até onde a faca
penetra em você.
Quando ele ia falar algo, eu enfiei a faca na sua pele, sentindo o
sangue respingar na minha mão.
Ele cuspiu sangue, vomitando em cima das próprias pernas.
— Não se canse tanto, vou fazer com você o que fazia com a suas
sobrinhas, a diferença é que não vai ser corte superficial — falei próximo
do seu rosto.
Segurei na faca que estava lisa na minha mão, devido ao sangue que
escorreu da ponta da faca.
Cravei ela em sua coxa, ele gemeu de dor, segurei com as duas
mãos, a arrastando até o final o joelho, o cortando em todo o percurso.
— Não parece ser tão prazeroso quando é com você, não é, seu
arrombado? — disse, notando que ele desmaiava e voltava.
Segurei na faca novamente, apontando-a para o seu olho.
— Fica acordado, porra! — Declarei, rasgando a sua bochecha até o
canto da sua boca com a faca.
O seu sangue jorrava e os gemidos que agora eram fracos, me dava
ainda mais vontade de continuar.
Ele suava e estremecia com a perda de tanto sangue.
Olhava no fundo dos seus olhos, mas não via um pingo de
arrependimento.
— Ele vai morrer, Lorenzo — disse Pietro se aproximando de mim.
— Você decide, vai deixar ele morrer agora ou vai matá-lo?
— Me deem epinefrina — pedi.
Logo Enrico me deu, injetei sem muito cuidado em seu coração,
fazendo o mesmo arregalar os olhos tão rapidamente, ficando com a
respiração ofegante em seguida.
— Red corta membros como ninguém — disse ficando em pé. —
Vamos continuar até ver onde ele aguenta.
Red se aproximou pegando a cerra elétrica.
Me afastei para que o sangue não escorresse na minha camisa.
— Senhor, acho que ele vai apagar assim que eu cortar o seu braço
— disse Red.
Observei mais o estado dele e vi que o maldito realmente não
aguentaria.
— Alguém quer dizer alguma coisa antes que ele apague de vez? —
perguntei.
Logo eles vieram para mais perto.
— Saiba que toda a dor que está sentindo, ainda não chegará um
terço do que as ruivinhas sofreram — disse Enrico. — Elas eram crianças,
seu doente!
— Deveríamos arrancar o pau dele — disse Lucca.
— Isso já é demais, eu que não vou encostar nisso aí, vai que minha
mão caia com a radiação — disse.
— Enfim, também não tenho coragem — disse Lucca. — Queria
que você fosse imortal, para que todos os dias eu viesse aqui e te
machucasse sem me preocupar se morreria ou não.
Deveria embalsamar, mas ele não estaria vivo para sentir dores.
— É uma pena que eu não tenha conhecido nenhuma delas antes,
para que as livrasse de você antes que as machucassem — falou Pietro.
Marco ficava calado, não sei se ele apagava e voltava, mas sei que
escutava tudo o que diziam.
— Esse último ano foi um ano bom para mim — disse Red. —
Hope entrou na minha vida, como uma irmã que eu nunca tive. Quando eu a
acompanhei a sua casa, antes de se casar, lembro do medo que ela tinha nos
olhos quando ficou sozinha com você e me olhou como se eu tivesse a
salvado, apenas porque eu cheguei na hora certa. Aquele dia eu sabia que
um dia eu pegaria você. Você acabou com elas, pena que não sofrerá ainda
mais, por ser um merda e não aguentar os machucados. Sente essa dor, você
fazia o mesmo com elas, agora onde está o prazer nisso?
— Vem, Red! — disse.
Sabia que Red não se seguraria.
Quando eu vi que o Marco ia desmaiar, peguei os cabos que já
estavam conectados na bateria, cravando dois ferros na sua coxas, fazendo-
o jogar a cabeça para trás com dor que sentiu.
Prendi os cabos nos ferro, logo ligando a bateria, o eletrocutando.
Era só para deixá-lo acordado por um tempo.
Quero que ele escute tudo o que temos a dizer.
Desliguei a bateria, logo notando que ele já chorava sangue.
— Continuem — disse.
— Conheci a raposinha e não sabia o que ela tinha passado. Dói
saber que eu a conheci na mesma época que ela sofria nas suas mãos. Eu
poderia ter ajudado? Sim, mas vejo que tudo teve o seu tempo, você está
sofrendo nas nossas mãos agora. Se fosse naquele tempo, não teria sofrido
tanto como sofreu durante essa semana.
— Onde está a sua coragem para retrucar? — perguntou Enzo se
aproximando dele. — Você destruiu a minha esposa. Todas as vezes que ela
gritava a noite depois de um pesadelo, sem eu saber o que havia acontecido
com ela, eu conseguia sentir a sua dor e o seu medo. As crises de pânico
toda vez que ela te via, me fizeram perceber que você tinha um dedo nessa
história. Nunca quis obrigar ela a falar comigo, mas uma hora ou outra eu
pegaria você, e isso finalmente aconteceu. Você acha que o que fez é a coisa
mais normal do mundo, porque é tão doente que não sabe como destruiu a
vida delas. Eu farei questão de eu mesmo te matar...
— Você... é... um... frouxo! — Falou Marco rindo embaralhando as
palavras enquanto falava, o interrompendo. — Odeio gente frouxa que acha
que tem coragem.
Enrico segurou o Enzo antes que ele fosse para cima do Marco.
Eu estava perto de onde o machado estava, logo o colocando em
mãos, aproveitando para usá-lo.
— Vejo que é a minha vez de falar — falei, me aproximando dele
novamente. — Segura isso para mim, por favor! — Segurei firmemente no
machado, acertando a sua coxa esquerda, deixando o mesmo preso no seu
osso. Ele gritou de dor em seguida, logo desmaiou. Enrico o eletrocutou
novamente e ele acordou desorientado. — Ah droga, coloquei frouxo
demais o machado. Você não gosta de nada frouxo, então eu vou lhe
agradar.
Peguei o machado arrancando de onde estava preso e voltando ao
mesmo lugar novamente, agora fixando ele naquele lugar.
Ele gritou novamente, totalmente desesperado e desorientado devido
a perda de sangue.
— Achei por um período de tempo que a Hope nunca confiaria em
mim para contar o que aconteceu, então finalmente ela se abriu comigo. Sua
dor, o jeito que ela temia lembrar daquilo, me fazia ter mais vontade de te
matar. Não imagino o que Lisa sofreu na sua mão na primeira vez, sozinha
com um psicopata como você. Como eu disse antes, demorou, mas
finalmente chegou. Você pagará por tudo com essa sua vida de merda, ainda
ficará devendo pois nem isso que tem é de valor. Me pergunto, se está
arrependido pelo que fez?
Ele não respondeu, tentava falar, mas o seu sangue o sufocava
saindo do seu nariz e da sua boca.
— Eu gostava quando elas gemia... Elas gemem com vocês? —
perguntou pausadamente rindo, logo vomitando sangue.
Fui para cima dele, o derrubando da cadeira, o socando repetidas
vezes.
Escutava o Enzo gritar e o Enrico e o Lucca segurá-lo.
Pietro e o Mark tentavam me tirar de cima dele, enquanto Red o
tirava de perto de mim.
— SEU ARROMBADO! — Gritava.
Nunca pensei que sentiria tanta raiva de alguém.
— Me dá a cerra! — Pediu Enzo. — Ele vai ser enterrado por
partes.
— Gosta de se divertir, então nos divertiremos até onde você
aguentar — falei pegando o machado que estava na sua perna.
Não demorou para sua perna esquerda não fizesse mais parte do seu
corpo.
Ele havia desmaiado com a dor novamente.
— Pega uma toalha e faça pressão na perna dele, ele não vai morrer
agora — disse. — Peça a equipe médica para vir aqui e cuidar, ele vai sofrer
ainda mais.
Logo vieram, mas não tinha muito o que fazer.
Eu só queria que ele durasse mais algumas horas.
Com o tempo ele acordou desnorteado, mas ainda respirando.
— Disse que sofreria até o último minuto — falei. — Vamos sortear
um membro seu para o Enzo cortar.
Os rapazes votaram no braço direito. Então o Enzo pegou a cerra e
cortou o braço a fora.
— O osso impede, coloca mais força nessa cerra — disse Red.
Ele gritava e desmaiava.
— Será que morreu? — perguntou Pietro.
— Acho que não! — disse Lucca.
— Vamos acabar com isso! — disse. — Corte a cabeça dele fora,
Enzo.
Enzo não esperou mais e fez.
Sangue estava em todos os lugares daquela minúscula sala.

Nunca pensei que eu teria tanta felicidade com aquilo. Eu era


realmente um monstro e não me importava de fazer isso mais uma vez.
Fui criado para ser assim e serei, principalmente se mexerem com a
minha família.
E finalmente ele estava morto.
Sua cabeça foi parar no canto da sala, enquanto os rapazes
continuavam esquartejando o corpo.
— A semana foi longa, merecemos um descanso — disse Enrico
assim que terminou.
— Vamos para casa! — disse. — Red, peça para alguém limpar essa
bagunça e levar o corpo desse nojento para a liderança. Meu pai e o Leonel
já deve ter cuidado de tudo. Depois descanse, peço para o Tony pegar a
Hope sozinho.
— Não, eu quero ir pegá-la — respondeu. — Vou com ele e depois
eu descanso.
— Se é o que quer, então por mim tudo bem — disse.
Todos foram para as suas casas, aproveitei e fui tomar um banho
demorado. Havia tanto sangue pelo meu corpo que seria difícil de limpar.
Sentia que um peso saiu dos meus ombros.
Agora a minha esposa poderia dormir aliviada, a sua família poderia
andar na rua, elas poderiam viver novamente.

Hope já havia chegado e aproveitei o dia para descansar ao seu lado.


A ruiva me trazia um felicidade sem fim.
Via o quanto ela estava mais tranquila e menos preocupada.
Infelizmente isso não duraria muito tempo, já que havia um velório para a
gente ir amanhã.
Sei que ela teme a família, os traumas que já passou, mas eu faria
questão de que esse velório fosse a condenação de todos os membros
daquela família.
Passei o dia todo ao lado da minha esposa, aproveitando cada
segundo da sua existência ao meu lado.
Aproveitando o que a vida me deu de melhor depois de tanto tempo
sem me sentir vivo.
A noite, enquanto a Hope aguardava os convidados, recebi uma
ligação do Josh, finalmente.
O pai do Mark estava ainda investigando mais sobre Hiroki.
O maldito realmente era bom em Hiroki
— Descobriu algo sobre o garçom? — disse saindo de casa e indo
para o rifugio.
— Sim, senhor! Esse homem é conhecido como Pierre, seus pais
eram membros da famiglia, mas o senhor Diego os exilou há alguns anos
por conduta inapropriada. Depois disso, os pais dele não conseguiram ter
estabilidade, já que as outras máfias não o queriam, já que foram
desonrados. Pierre sumiu do mapa durante 2014 a 2016, até que trabalhou
em uma boate da máfia japonesa. No ano de 2014, os seus pais morreram
carbonizados. Moravam em uma kitnet de péssimo estado e um dano na
corrente elétrica causou a morte de ambos. Então Pierre se mudou para a
Osaka, no Japão e só voltou a aparecer em 2016. Voltou para a Itália em
julho do mesmo ano e depois sumiu do mapa novamente.
— Onde ele está? — perguntei.
— Ainda está na Itália desde então, morando em Florença. Parece
que está fugindo de algo, já que não voltou a aparecer desde então no
Japão e sua entrada lá foi proibida, mas ele tem uma vida boa aqui, várias
festas e esbanjando dinheiro, usando nome falso e tudo o que tem direito.
— Pode até está se escondendo de alguém, mais a vontade de
mostrar poder o domina, o que faz com que perca a inteligência e saia por aí
como se não tivesse feito nada — disse. — Obrigado pelos seus serviços.
Mande a localização dele ainda hoje, por favor!
— Já enviei — respondeu.
— Está precisando de algo?
— Não, senhor!
— Tem certeza? — perguntei.
— Sim!
— Vai passar o Natal sozinho? — indaguei. — Venha para cá, só
tem a minha família.
— Não, eu estou indo para a casa dos meus pais — falou.
— Certo, amanhã você investiga melhor, descanse — falei. —
Cuidado, ultimamente sinto uma sensação ruim.
Não costumo errar, por isso me assusta, porque sempre é quando
algo pior acontece em seguida.
— Eu sempre tomo — falou.
— Se cuide, garoto.
— Gostava de quando me chamava de seu garoto. Cresci demais?
— Ainda é o meu garoto. Tome cuidado, Joshua.
Desliguei o celular, voltando para minha casa.
Se os japoneses o pagarão para matar a minha filha e hoje ele tem
essa vida boa achando que eu nunca desconfiaria dele, ele só pode estar
enganado. Não duvido que a sua entrada proibida no Japão não fosse para
levantar suspeitas dos japoneses se eu chegasse a descobrir.
Assim que esse velório acabar, eu irei atrás dele.
Já na festa, o Mark veio implorar para que eu o levasse para o
velório de amanhã, já que a Hope disse que não o convidaria, então eu o
convidei.
Me aproximei dela, notando que parecia preocupada.
— O que foi, bela ruiva? — perguntei, abraçando-a.
— Estou preocupada com amanhã.
— Não precisa, tudo vai ficar bem! — disse. Me pergunto se Hope
conhecia o Yamato, talvez o pai o encontrasse com ele na sua casa. —
Hope, você conhece um rapaz chamado Yamato? Não me lembro dele no
velório do seu pai.
— Conheço, era um amigo do meu pai. Ele não era muito acessível,
mas o meu pai não era muito próximo dele, só se tiver ficado agora depois
que eu saí de casa.
— O que você sabe sobre ele? — perguntei.
Ela logo respondeu que não sabia muita coisa, até porque Dante não
era muito de falar de trabalho com as filhas.
O que Dante tem a ver com a morte da Antonella ou ele também
estava investigando?
Que porra!
— Quer que eu pergunte a alguém da minha família? O marido da
minha tia e o meu primo o conheciam, eu posso perguntar — disse Hope.
— Claro que não, você não ficará perto deles — disse de imediato.
Queria saber? Sim, mas não a colocaria em risco.
A ruiva era teimosa, mesmo assim iria falar com os seus familiares.
Estávamos apenas esperando a Alessandra chegar e que não
demorou muito, ainda veio acompanhada.
O rapaz ao seu lado não cumprimentou ninguém, o que não passou
despercebido pelo Leonel que ficou puto com isso.
Vi que a confusão tomaria outras proporções e intervir.
— Olhe, é o primeiro natal da minha esposa com a minha família.
Se estragar isso, aproveitarei que estamos do lado do rifugio e te levo para
lá, seu puto. Algum problema com isso? Podemos resolver essa porra agora
— disse, o encarando.
— Acha que pode me intimidar? — Respondeu o Levy.
Esse puto quer morrer.
— Não sei, ainda não comecei. Você ainda não me viu intimidando
alguém, seu figlio di puttana!
— Bem, vamos jantar! — disse a Hope tentando quebrar o clima
pesado que ficou.
O jantar seria longo e esse arrombado viesse com esse negócio de
querer ser o bichão, morreria antes.
Todos mostravam estão descontentes com o convidado que
Alessandra trouxe.
O maldito era bem atrevido e se mostrava não ter respeito pela
liderança. Todos conversavam, ainda assim prestando atenção no convidado
indesejado. Red não tirava o olho dele, com certeza não gostou nada da sua
arrogância.
Logo a bela ruiva veio até mim, com os olhos amedrontados.
— O que foi, já assustada? — perguntei.
— Isso não vai prestar, Lorenzo — falou. — Não sei de onde esse
homem saiu, mas eu quero ele longe daqui. Tem crianças e a minha família
está toda aqui.
— Eu faço tudo por você? Ele irá embora imediatamente — disse.
Na verdade, queria era uma boa briga, isso está no meu sangue.
Esse lance de resolver na conversa, deixo para a ruiva, ela que tem
paciência para isso. Enquanto eu puder, resolvo tudo no soco.
As crianças foram para o jardim acompanhado da minha sogra e
cunhada. Minha mãe, a Lucy e a até Ruth foram com elas.
— Tudo bem, eu não vou começar uma briga aqui — disse,
acalmando a minha esposa. — Mark, pode pedir para o nosso convidado se
retirar?
— Claro, meu amor, eu estou aqui apenas para seguir suas ordens —
disse Mark virando o resto da bebida na boca, tomando em um gole.
— Lorenzo...
— Eu disse que eu não iria começar nada, não prometi nada pelo
Mark. Não seria uma festa sem uma boa briga — disse. — Eu te amo, ruiva,
mas isso que acontecerá será bem interessante.
— Não tente me comprar com um eu te amo — disse Hope. — Vou
ver com a Alessandra para ver se ela não fica ofendida.
Ela saiu e o Mark só esperava o meu sinal.
— Ironia, não acha? — disse Mark e eu não entendi. — A mulher
que eu estou interessado é a sua ex-esposa, que aparentemente é a amante
da sua atual esposa, que no caso em questão eu já fiquei, agora eu estou me
envolvendo com o marido dela, que no caso eu virei o amante. Vamos fazer
um trisal, por favor?
— Trisal? Por que só três se somos quatro? — indaguei sem
entender, logo entendendo a lógica do Mark. — Ah, já sei, a Hope não
participaria disso nem fodendo.
— Espera, você cogitou? — disse Mark se aproximando de mim
maliciosamente.
— Vai se fuder!
— Vai ser você metendo em mim? — perguntou e eu não segurei o
riso.
Ele conseguia deixar tudo mais leve com esse jeito dele.
Eu o conheço não tem semanas e já está assim, como se nós nos
conhecêssemos há muitos anos.
Mandamos o Levy ir embora, mas ele insistia em ficar por algum
motivo.
— Não tem nada para você aqui, seu merdinha — disse Leonel. —
Vá, enquanto ainda pode ir andando.
— Na verdade, tem sim — respondeu Levy. — Eu não vim pela
Alessandra, eu vim por ele. — Apontou para o Pietro.
— Eu nem lembro de você — disse Pietro. — Amanhã eu estou
livre... Não, espera, eu tenho um funeral para ir amanhã que não é o seu. O
seu será o próximo, mas podemos resolver na sexta? Sexta está ótimo para
mim.
— Vai rindo, seu... — disse Levy e eu o interrompi.
— Se eu fosse você controlava a maldita língua, temos uma criança
na sala — disse apontando para a barriga da Hope, zombando do merdinha
que estava a minha frente.
— Lorenzo, chame os seguranças, não precisa resolver nada —
disse Hope já começando a ficar nervosa novamente.
— Está tudo bem, nada vai acontecer — disse a ela.
— Não acredito que o Capo só faz algo se a esposa permitir — disse
Levy rindo de mim. — Trouxa!
— Fica na sua cara! — disse Enzo.
— Não, continua, ele ama quem fala mal da ruivinha — disse
Lucca.
— Repete o que disse — falei me aproximando do rapaz. — Vamos,
diga do que me chamou.
— Eu te ajudo com os adjetivos se quiser — disse Enrico.
— Ele te chamou de puto, Lorenzo, eu acabei de escutar — disse
Lucca mentindo para mim. — Quebra ele agora!
Tinha que lidar com duas crianças e agora com o Mark, puta merda!
— A oportunidade de falar já passou, moleque — disse o erguendo
no ar, apertando o seu pescoço.
— Bora, Lorenzo, um soco, um tiro, uma facada, eu estou perto de
uma faca, você quer? — Indagou Mark.
— É a Hope, ele não vai fazer nada na frente dela — disse Lucca.
— Ela nem está olhando mais, Lorenzo.

Vi que o Lucca a virou de costa, não ia perder a oportunidade.


Segurei firmemente no seu pescoço, o jogando em cima da mesinha
que havia no centro da sala.
O barulho dela se quebrando me fez olhar para a ruiva para ver se
ela havia se assustado, mas o Enrico ficou na frente para que eu não vesse e
continuasse o que eu estava fazendo, sorrindo para mim.
— Lorenzo, usa a faca — disse Enrico apontando para as costelas.
— Enfia nessa região, dói mais.
— Espera, Lorenzo, depois você quebra ele, quero saber o que você
quer comigo? — perguntou Pietro.
— Porra, Pietro, negócio de explicações, é só matar, caralho —
disse Lucca.
— Deveria pelo menos lembrar de quem você destruiu a vida —
disse Levy cuspindo sangue.
— Só eu que estou achando que ele está fazendo muito drama? —
perguntou Enrico.
— Se queria resolver, deveria ter marcado outro dia cara — falou
Enzo. — É o primeiro natal da ruiva conosco, queríamos causar uma boa
recepção.
— Ela está tendo, está, não é, Hope? — disse Enrico.
— Sim, mas... — disse Hope sendo interrompida pelo Lucca.
— Isso! Escutou, Lorenzo? — Indagou a mim.
— Você teve um caso com a minha noiva há 8 anos, ela era minha
noiva e vocês dois me envergonharam na frente de todos — disse Levy.
— Se acostuma, comigo foi do mesmo jeito, quando vi estava
casando com ele e grávida — disse Giulia.
— Você não tem que ficar calada não!? — disse Levy.
— Ei, seu arrombado! — disse Pietro indo com tudo para cima dele.
— Eu não perguntava estado civil, tipo sanguíneo ou qualquer merda que
fosse. Pode ter certeza de que eu nunca fui atrás de uma mulher para ter na
minha cama, só a minha esposa. Se eu dormi com a sua noiva, ela que veio
atrás, ela que te traiu, eu estou pouco me fodendo se guarda ressentimento
com isso. Supera e viva, mas se falar com a minha esposa daquele jeito, eu
juro que mato você!
Pietro o soltou, indo para perto da Giulia.
— O que me faz ter raiva não é por gostar dela, porque eu nem
gostava da vadia, mas ter me traído, isso me deixa puto! — Falou.
— Desabafou? Bacana, mas para quê mesmo? Ainda estou tentando
racionar o maldito motivo de você ter vindo aqui só fazer barulho. De
qualquer forma, eu estou com pena de você, sente-se e beba conosco —
disse a ele.
— Não preciso da sua pena, idiota! — Falou.
— Viu, Hope, eu tentei fazer do seu jeito e não deu certo — disse.
— Esse cuzão...
— Eu sou o único cuzão da sua vida — disse Mark me
interrompendo.
— Desculpa, baby, não quis dizer isso — disse ao Mark.
Essas brincadeiras dele, estava tão impregnadas em mim com essa
semana que ficamos juntos, que eu falava sem nem eu perceber.
— Tudo bem, eu não consigo ficar bravo com você — disse Mark a
mim.
— Reformulando, como eu dizia, esse figlio di puttana está me
fazendo perder a paciência, mas eu prometi que não brigaria hoje, não
prometi? — perguntei a ruiva.
— Prometeu! — Confirmou.
— Red, trate o nosso convidado da melhor forma que achar —
disse.
— Claro, chefe, estava só esperando o seu sinal — disse Red se
aproximando do Levy, o arrastando para fora.
Logo todos começaram a ir para sala de jantar.
— Viu, sem brigas, como você queria — disse. — Está tão linda,
que eu não consegui nem xingar o cara, só pensando e deslumbrado a sua
beleza.
— Gosto quando me elogia, mas está fazendo isso na frente das
outras pessoas. Não que eu esteja achando ruim, não é isso, mas por quê?
— Enzo disse que era bom elogiar você sempre — respondi
timidamente, era novo isso de amor. — Não sei bem como faz isso, então
pedi ajuda ao Enzo.
— Eu te amo tanto! — disse Hope me beijando.
— Não faz isso comigo, ruiva — disse, beijando sua testa. — Você
me deixa ainda mais louco por você a cada segundo. Como você faz isso?
— Vamos, eu estou com fome e a Lucy não quer servir o jantar sem
vocês na mesa — gritou Enrico estragando o clima.
Red retornou e logo nos sentamos para o jantar.
A conversa fluía na mesa, sentia falta disso.
De todos juntos, mesmo com os problemas, estávamos aqui
reunidos.
— Ei, ruiva menor... — disse Lucca olhando para a Kitty sendo
interrompido pela Giulia.
— Se fazer a menina chorar, você vai ficar com ela até parar —
disse Giulia, já que a Sara sempre chora com as brincadeiras dele.
— É mais fácil ser ele — disse Lisa ao Lucca.
— Kitty é do nível dela — disse ao Lucca que sorriu olhando para a
Kitty.
Se puxar o jeito da Hope e da Lisa, ela realmente seria esplêndida
para retrucar o Lucca.
— O Nicolas e o Matteo retrucam e depois choram. A Sara chora e
não entende as minhas brincadeiras, o Nandinho me ignora, parece o Enzo,
ele nem se importa. Antonella era a única que aguentava e retrucava. —
Comentou Lucca. Antonella sempre aguentou as brincadeiras,
principalmente as do Lucca. Creio que por ter crescido com a minha família
sendo a única criança, a gente se adaptou a ela ao invés dela ter se adaptado
a nós. — Kitty, me passa o molho.
— Como é que diz? — indagou ao Lucca.
— Se não me der, eu te tranco no banheiro — falou, a ameaçando.
— Eu saio pela janela e como molho todo — respondeu Kitty e o
Lucca parece que gostou da resposta.
— Coma, depois ficará com a barriga doendo e eu vou ficar rindo de
você. — Retrucou Lucca.
— Pelo menos eu terei comido e você não — respondeu Lucca
Ela lembrava um pouco a Antonella nessas ações.
Ela sempre foi muito forte, determinada, sabia bem controlar os
homens dessa família.
— Por favor! — disse Lucca e ela deu.
— Use as palavras mágicas — disse Kitty, o repreendendo.
— Sim, senhora! — disse Lucca a mim. — Ela passou no teste.
Hope ficou em silêncio, enquanto eu tentava disfarçar um pouco da
tristeza que era passar mais um Natal sem a minha filha.
— O que tanto pensa? — perguntei. — Está preocupada com algo?
— Com amanhã, mas está tudo bem — disse Hope.
— Não se preocupe tanto, nada vai acontecer — disse. — Mas acho
melhor não levar a Kitty ou os seus sobrinhos.
— Sei, “nada vai acontecer” — Falou. — Tenho medo de que se
machuquem.
— Se preocupa tanto, ruiva — disse segurando a sua mão. — Vou
fazer eles pagarem por toda humilhação que fez a você e a sua família,
então não vou prometer me comportar ou ficar calado para que não se
assuste. Se eu ver que eu irei perder o controle, você sairá e me deixará lá
com eles.
— Lorenzo...
— Não, você é boa demais, por isso se importa, mas eu não sou e eu
vou pouco me foder se é uma velha rabugenta ou um tio figlio di puttana.
Se me tirarem do sério e sei que farão, eu os mato! — disse.
Apesar de resolver tudo em briga, sempre tem o tempo certo de
começar, continuar e evitar uma.
Enrico, Lucca e o Mark combinavam nisso, não existia esse meio
tempo para eles.
O jantar prosseguiu na santa paz!
Era muito bom ver a minha família bem e todos tão felizes.
Gostava da casa cheia assim, apesar de sempre evitar muitas pessoas
aqui dentro.

Agora o que me preocupava era amanhã.


O velório do Marco poderia acontecer de tudo, temia pelo estado da
minha esposa, já que certamente seria apedrejada pelos familiares por conta
que eu o matei.
Por hoje, só quero passar essa noite tranquilamente.
Todos já haviam ido embora, já que o enterro do tio Marco seria às
13:30h.
Estava exausta, mas não conseguia dormir. Já se passavam das duas
da manhã, mas não consegui cochilar.
Lorenzo havia saído junto dos irmãos para o rifugio.
Estava um pouco enjoada, acho que não foi certo ser misturado
aquele horror de doces com o suco.
Até que um chute bem leve me chamou atenção para a minha
barriga.
Me sentei na cama, esperando não ser coisa da minha cabeça.
Tudo com o meu filho foi mais tardio, ver seu sexo, sentir ele mexer,
estava tudo sendo bem mais demorado.
— Você mexeu? Mexeu ou não mexeu? — perguntei, olhando para
a minha barriga. — Vamos, a mamãe está achando que está louca.
Peguei o meu celular para ligar para o Lorenzo, ele certamente
queria estar aqui com o primeiro chute do bebê.
— Lorenzo... — disse assim que ele atendeu, logo sentindo outro
chute.
Deixei o celular no canto, me concentrando só no bebê que estava
querendo aparecer.
Escutei o toque da ligação no celular, mas não quis me mover, com
o medo dele parar de chutar.
Estava fascinada, era ótima essa sensação.
— Vamos, qual é, a mamãe esperou por isso por meses — disse,
implorando para ele se mexer de novo.
— HOPE! — disse Lorenzo entrando no quarto quase derrubando a
porta. Ele olhava para os lados desesperado. — Você está bem?
A surpresa dele de ver que não era nada demais, o tranquilizou.
— Estou! — Respondi.
— Quer me matar do coração? Se for isso, atira logo em mim.
Caralho, achei que tinha alguém aqui. Por que não atendeu o seu telefone?
Porra...
— O bebê mexeu — disse, o interrompendo. — Mexer não é bem o
que ele fez, na verdade chutou, um belo de um chute.
— O quê? Agora? — Indagou Lorenzo sentando na cama. — Ele
ainda está chutando?
— Na verdade ele parou — respondi. — A médica disse que o
chocolate estimulava o bebê a se mexer e hoje eu realmente comi muito...
Lorenzo saiu correndo para fora do quarto, sem deixar eu terminar.
Não demorou muito para ele voltar com uma caixa de chocolates
que havia sobrado da festa.
— Não queira me deixar de fora dessa. — Alegou olhando para a
minha barriga. — Só um simples chute e eu deixo você descansar, tudo
bem?
— Parece um bom negócio — disse para ele.
Comi uns dois doces, já que havia comido bastante hoje.
— E aí? — perguntou. — Tome, coma mais.
— Espera, Lorenzo, não posso também me entupir de doce. Ele
daqui a pouco mexe... — disse sentido outro chute. — Aqui!
Peguei a mão do Lorenzo e coloquei aonde estava sentindo o bebê
chutar.
— Não estou sentindo nada — reclamou. — Você tem algum
problema com o seu pai? Se tiver, é bom a gente tratar de resolver isso
agora, pois não é por nada não, tive muito trabalho para fazer você — falou
me olhando com um sorriso malicioso. — Tive que me dedicar totalmente
para que você estivesse aí agora.
— Ele deve estar cansado, deixe o bebê dormir — disse sabendo
que o Lorenzo não descansaria até sentir o bebê chutar também.
— Isso é muito, mais muito baixo, até para você, Hope — falou.
Começou o drama do Lorenzo. — Você sentiu primeiro, só porque o bebê
está aí dentro e esfrega na minha cara que o nosso filho prefere você, já que
ele não quer responder a mim.
— Deixa de drama, eu espero ele mexer de novo — disse.
Logo Lorenzo abriu um sorriso.
O marido birrento esse que eu arranjei.
Ficamos uns minutos parado, apenas esperando.
Lorenzo colocou as mãos na minha barriga, logo colocando o seu
ouvido para escutar o que estava acontecendo aqui dentro.
— O que está fazendo? — perguntei.
— Não quero perder nenhum movimento dele — falou. — Ele está
jogando comigo, eu sinto isso. Se ele mexer no lado esquerdo, a minha mão
vai sentir, se ele mexer no lado direito, a minha outra mão sente, se mexer
no meio, o meu ouvido vai escutar. Isso é uma prova de resistência que ele
está arrumando para mim. Eu não vou desistir.
— Não acha que está indo longe demais? — perguntei querendo rir
do seu plano.
— Sim! — respondeu. — Porém, passaremos a noite em claro se ele
não mexer.
Santo Cristo, o Lorenzo é louco!
Os minutos se passavam e nenhum movimento se quer do bebê.
Lorenzo não parecia que desistiria, então a noite seria longa.
Até que o bebê mexeu.
— Sentiu? — perguntei.
Lorenzo me olhou com uns olhinhos brilhantes e tão apaixonado
que queria ver ele mais assim.
— Acho que eu fiquei surdo. — Zombou. — O chute foi bem do
lado do meu ouvido. Ele sabe chutar muito bem! Vai chutar a cara de muito
marmanjo que for dar em cima da mãe dele quando eu não estiver presente.
Então ele chutou de novo.
— Parece que ele se animou — disse.
— Como um bom Ferraro, não pode ouvir falar de briga que já se
anima. Está no nosso sangue — disse Lorenzo orgulhoso. — Obrigado por
me fazer sentir a felicidade de novo! — Falou depositando um beijo na
minha barriga.
— Ui! — disse depois de um chute forte. — Acho que ele gosta da
sua voz.
— Gosta? — Lorenzo pareceu encantado ao escutar isso. — Então
vamos conversar!
Me encostei na cabeceira da cama, já notando que o Lorenzo não
parecia que calaria a boca tão cedo.
— Quer ouvir as minhas histórias? — perguntou e o bebê chutou. —
Ele entende? Que caralho... Nada de palavrão, foi força do hábito.
Ele tinha regras para palavrões agora? Acho que já deve ter sido
desde quando teve a primeira filha.
— Bem, por onde eu começo? — Indagou Lorenzo pensando em
algo. — Tenho uma muito boa. Certa vez estava eu, com os meus irmãos e
o Enzo. Antes na minha juventude achava do caralh... — hesitou. — Irado,
achava irado sair com eles. Hoje em dia tem uns dois metidos, você vai
conhecê-los. Lucca é um bundão e tem o Mark, ele é atirado, então cuidado
com ele. Enfim, saímos para uma boate... — Lorenzo imediatamente parou
de falar pensando na história. — Acho que essa história é para maiores de
dezoito. Deixa eu ver, vou pensar em outra.

Lorenzo não parecia o mesmo homem que eu conheci. Ver ele se


esforçando para ter uma conversa com o bebê, mesmo não tendo resposta,
era maravilhoso demais.
Queria permanecer acordada para aproveitar aquele tempo com eles,
mas o cansaço me consumiu.

Acordei com o barulho do despertador. Era 08:00 horas, o dia seria


longo.
— Também teve o dia que eu conheci a sua mãe. Ela estava linda
com um vestido branco rendado... — dizia Lorenzo, mas logo percebeu que
eu acordei e se calou.
— Você passou a noite toda conversando? — perguntei.
— Os rapazes saíram agora — falou.
— Como assim os rapazes? — perguntei.
— Perguntaram o motivo por eu estar demorando e eu disse que o
bebê chutou. Eles quiseram vir e eu deixei. Algum problema? — explicou.
— Eu estava dormindo.
— Você estava linda! — respondeu. — Eles conversaram um pouco
e eu fiz uma descoberta.
— O quê?
— O nosso filho só faz o que a gente pede para ele não fazer —
falou. — Mark e o Lucca estavam aqui também, falei para o bebê não se
misturar com eles, você a acredita que toda vez que os putos... — sussurrou
o palavrão. —... Falavam, ele chutava.
— Quem estava aqui?
— Os meus irmãos, o Enzo, o meu pai, o Mark e o Lucca. Red
também veio, a gente colocou um som alto, mas você não acordou. Chamei
também umas pessoas de fora para vir... — disse Lorenzo zombando do
meu sono pesado.
— Lorenzo!
— Estou brincando! — falou, rindo. — Mas os rapazes realmente
vieram.
O meu sogro esteve aqui.
Santo Cristo!

— Vamos cuidar, hoje o dia será ótimo! Pode dormir bebê, a noite
foi longa.
Lorenzo saiu animado do quarto e eu só pensava no que tanto eles
conversaram.

Por sorte, Lorenzo disse que eu não precisava ir de preto, já que o


tio Marco ofendeu a nossa família.
Imagina, ter que usar e fingir que eu estava de luto por ele.

— Cheguei! — disse Mark entrando no quarto.


— Está com uma certa liberdade, não acha? — disse.
— Está com ciúmes que o seu marido me prefere agora — disse
Mark. — É de se esperar, um homem como eu, portador dessa beleza dos
céus. Virou amante de um Capo, que sorte a minha.
— Deixa de importunar a minha esposa — disse Lorenzo entrando
no quarto. Lorenzo veio até mim e me beijou. — Está linda!
— E o meu? — perguntou Mark.
Lorenzo caminhou até ele e o puxou pela cintura.
— Vai ser maravilhoso! — disse Mark que já fechava os olhos
fazendo um bico.
— O que você não pede que eu não faça — disse Lorenzo. —
Agora, andiamo!
— Os seus irmãos também vão conosco? — perguntei, já que o
Mark estava aqui.
— Não!
— Raposinha, só estou aqui porque o meu carro está no conserto e
eu dormi aqui noite passada.
— A Judith? — perguntei. Lembrando que o Mark sempre colocava
o nome dos seus carros com esse nome.
— Sim, sofreu um atentado. Quase que não se recupera.
— Deixe de drama, foi só um vidro quebrado — disse Lorenzo o
interrompendo.
— Não fale da minha Judith, se soubesse o espaço que ela tem lá
atrás — falava com um sorriso malicioso. — Vou te levar para conhecer um
dia.
— Céus! — disse.
Lorenzo me guiou até o nosso carro, eu já sentia minhas mãos
suarem.
Um nervosismo de ver os meus parentes novamente era torturante.
Para o meu azar, rapidamente chegamos no quartel.
Na entrada já vi os rapazes, o meu sogro e o Leonel, mas sem suas
esposas. Minha mãe já estava com a Lisa e o Enzo, junto deles.
— Oi, minha filha! — disse minha mãe me cumprimentando. —
Como estão?
— O bebê mexeu de madrugada — disse sorridente.
— Que lindo! — falou encantada. — Ah, eu espero que ele também
mexa quando estiver perto.
— Como vai acontecer hoje? — perguntei.
— Primeiro será a reunião da família para esperar o corpo, depois o
enterro e novamente ficamos junto deles para a despedida — respondeu
Lisa.
— Hoje o dia será longo! — disse.
— Vamos entrar! — disse o meu sogro.
Assim que entramos, muitos dos meus parentes já estavam na sala
disponibilizada pela funerária.
— Opa, infelizmente estamos aqui olhando para vocês novamente
— disse Lucca assim que adentrou no local.
— Não querem me matar também? — disse minha avó. — Estão
tirando tudo de mim.
— Não dê ideias para mim — respondeu Lorenzo.
— Você acho que é só em fevereiro — disse Enrico. — Todo mês
está sendo alguém, não duvido que a gente se encontre de novo no próximo
mês.
— Estão caçando a minha família sem motivo algum — disse minha
avó.
— Um dos nossos sumiram desde o último enterro — falou um dos
meus tios.
Olhei para eles, tentando ver quem faltava.
Realmente, não vi o Fuyuki.
Os rapazes pareciam saber qual foi o destino dele.
— As pessoas somem de repente — disse Enrico. — Devemos fazer
buscas atrás dele?
— Não! — respondeu Lucca.
— Os meus irmãos eram pessoas boas, parem de brincar com o
sentimento da família... — disse minha tia sendo interrompida pelo Leonel.
— Mas nem nessa vida e nem na próxima — falou.
— Sentem-se! — disse o rapaz que estava cuidando da cerimônia.
Ele parecia nervoso, talvez o medo do que acontecesse com todos
juntos o consumia também.
Fizemos isso, sentamos um pertinho do outro.
— Está bem? — perguntou Lorenzo.
— Um pouco nervosa.
— A casa do Dante passará para o seu nome, já que foi esposa dele
— disse minha avó a minha mãe.
— Não quero — respondeu minha mãe de imediato.
— Está corajosa, nunca nem abriu a boca quando falávamos com ela
— meu tio zombou da minha mãe.
Minha mãe tinha medo do meu pai, então sempre permanecia
calada.
— Quer levar um tiro? — perguntou Lorenzo. — Aproveite, tenho
sete balas e contando aqui, são sete tios, um para cada pessoa.
Vi o meu tio engolindo seco, ajeitando-se na cadeira.
— Não tenho mais motivo para me calar — respondeu minha mãe.
— Ora, que... — minha avó ia falar, mas eu a interrompi.
— Acho melhor ficar calada — disse, encarando-a. — Esqueço de
pedir para o meu marido não matar você e quero ver você ousar em tentar
humilhar a minha mãe novamente.
Lorenzo abriu um sorriso orgulhoso.
— Minha garota!
— V-vamos começar! — disse o rapaz da funerária.
— Em saber que eu ajudei o maldito estar ali, chega me dá uma
felicidade — disse Pietro.
— Ah, não, vocês nem saíram no soco ainda. Vai tomar no cu!
Vocês são muito estraga prazeres — reclamava Mark, sendo puxado pelo
Enzo.
— Temos ainda o dia pela frente, se acalme rapaz — disse meu
sogro.
Caminhamos para o lado de fora, logo me lembrando de perguntar
sobre o tal do Yamato para os meus parentes.
— Onde vai? — perguntou Lorenzo segurando o meu braço, quando
percebeu que eu me distanciava dele.
— Vou perguntar sobre o Yamato.
— Não precisa, ele já está morto — falou.
— O quê? Mas você não queria saber da ligação dele com a minha
família?
— Já tenho alguns palpites, não precisa chegar perto desses vermes
— disse Lorenzo.
Lorenzo segurou a minha mão e me guiou novamente para onde
estavam todos.
— Ei, posso ajudar a jogar terra? — perguntou Lucca ao Lorenzo.
— É com os trabalhadores, não é comigo — respondeu.
— Minha esposa que gostaria de plantar aqui, mas infelizmente o
solo apodrecerá em breve com o esse puto aí embaixo — disse meu sogro.
— Tem como terem respeito a nossa dor? — disse minha tia.
— Mas nem fodendo! — respondeu Enrico. — Tiveram respeito
pelas ruivas que sofreram tanto na mão do Dante ou do Marco? Não, então,
vão se foder!
— Era só não ter convidado a gente... Opa, a gente veio porque quis
— disse Mark. — Agradeçam a minha presença aqui, nunca encontrarão
homem tão bonito quanto eu. Tive que parar meus planos de conquistar
uma certa mulher para estar aqui hoje.
— Ninguém pediu que viesse, moleque — disse minha avó.
— Olha o jeito que ela falou comigo — disse Mark se aproximando
do Lorenzo, o abraçando.
— Está louca, sua porra? Fale assim dele novamente e eu te quebro
— disse Lorenzo.
— Pessoas só sofrem o que merecem — disse Victor, o idiota do
meu primo.
Não demorou muito para o Enzo meter um soco nele.
Ele realmente mereceu.
— Briga generalizada, VAMOS! — gritou Mark pulando em cima
do meu tio.
E foi quando a bagunça começou. Só senti o Leonel me puxar para
trás, notando o Lucca e o Pietro tirando a Lisa e a minha mãe daquela
bagunça.
— Está bem? — perguntou Lorenzo a mim e eu assenti.
Logo ele foi para cima de outro tio.
Os seguranças do local foram apartar a briga, já que estavam saindo
do controle.
— PARE, VAI MATAR ELE! — gritou minha avó olhando o Enzo
surrar o Victor.
Quando estavam cada um separado do outro, o estrago na minha
família foi grande.
— Que dia lindo! — disse Enrico.
Lorenzo se aproximou de mim, com os punhos machucados.
— Vocês estão acabando com o último descanso do meu filho —
declarou minha avó em prantos.
— Esse verme não merece nem um segundo de paz — respondeu
Lorenzo.
— VOCÊS QUE SÃO UNS MONSTROS, NÃO ELE! — gritava
ainda mais minha vó.
— Pode até ser, mas não escondemos de ninguém isso — respondeu
Lucca.
— Seus... Seus... — disse minha tia tentando criar coragem para
enfrentar eles.
— Diga, vamos! — disse Sr. Diego.
— Que droga está acontecendo aqui? — perguntou Alessandra
chegando no local.
O quê?
— O que faz aqui? — perguntou Lorenzo.
— Mark disse que hoje aconteceria algo importante para a Ariel,
então vim ver o que era — respondeu.
Mais um apelido, Santo Deus!
— Minha estrela, você veio! — disse Mark se aproximando dela.
— Vocês estão acabados! — falou Alessandra olhando a minha
família.
— Não cansa de trazer convidados indesejados, Hope? — perguntou
minha tia.
— Olha, quem só pode tratar ela assim friamente era eu — disse
Alessandra se aproximando da minha tia. — Bem, agora somos amigas, se
falar assim com ela, sua vadia, eu te mostro porque eu tenho unhas.
— Ela é minha alma gêmea! — disse Mark encantado.
— Por favor, eu só quero começar logo — pediu o rapaz da
funerária.
— Vá, meu filho, comece! — disse Leonel.
— Vão querer abrir o caixão...? — perguntou o rapaz sendo
interrompido pelo Lucca.
— Você não vai querer ver como ele está aí dentro — falou.
— Então, acho melhor continuarmos com o planejamento
Cada vez que o caixão descia, eu me sentia mais livre.
Olhava para a Lisa, que não conseguia parar de chorar.
— Vou na Lisa — avisei ao Lorenzo.
Aproximei-me dela, abraçando-a junto da minha mãe e do Enzo.
— Está tudo bem agora! — disse.
— Minha garota forte! — disse minha mãe em lágrimas. — Vocês
são o meu orgulho!
— Não finja que está triste! — disse minha avó, achando que as
lágrimas da Lisa era por tristeza.
— Triste? — disse Pietro rindo olhando para Lisa. — Só não solta
fogos de artifício, por que não trouxe, não é, menina?
— Porra, eu sabia que estava esquecendo de algo — falou Enrico.
— Eu posso ir comprar, Lorenzo?
— Não dá mais tempo, o corpo já chegou no chão — disse Lorenzo.
— No próximo familiar, você lembra de trazer, meu filho — disse o
Sr. Diego tentando animar o Enrico.
— Está bem! — respondeu cabisbaixo.
Assim que o caixão estava todo coberto pela terra, um peso saiu das
minhas costas.
— Daremos um tempo aqui e depois iremos para o refeitório para
que a família fique bem enquanto se despedem — disse o rapaz.
— Está bem, eu espero que você se foda muito no inferno — falei
fechando os olhos como um pedido.
— Não esse tipo de despedida, senhor — falou o rapaz.
— A gente não pode pular essa parte do tempo para família e já
partir para a refeição? — perguntou Lucca.
— Claro, pode sim!
— Adeus! — disse Lucca saindo.
Logo todos nós fomos para a sala novamente, apenas a minha
família ficando ali, no enterro.
— Deveríamos ter ficado lá! — disse Mark.
— Eu viria para cá, você não me acompanharia, então? —
perguntou Alessandra a ele.
— Aonde for, meu amor, eu irei — disse Mark.
— Desistiu de mim facilmente — disse Lorenzo a ele.
— Meu amor é só seu, mas ela parece ser ciumenta, então vamos
deixar ela acreditar que no meu coração só existe ela — Mark sussurrou
para o Lorenzo.
— Como está? — perguntou Lorenzo a mim de novo.
— Sabe que já é a quarta vez que pergunta em menos de 30 minutos
— falei. — Eu estou bem!
O celular do Lorenzo tocou, logo ele foi para o canto atender a
ligação.
— Oi, Red! — disse Lorenzo se afastando.
— Quero ir para casa! — disse Lisa se aproximando de mim.
— Duas! — falou minha mãe.
— Eu também quero, não tem mais o que fazer aqui.
— Eu tenho que voltar para casa — disse Lorenzo se aproximando
de mim um pouco preocupado.
— Está acontecendo alguma coisa? — perguntou Enzo.
— No rifugio, a gente conversa — respondeu.
Sabia que deveria ser algo sério, mas para o Lorenzo ir às pressas
assim... ele não sabia de tudo o que estava acontecendo.
— Se importa de irmos agora? — perguntou a mim.
— Claro que não!
Enzo deixou a Lisa ir com a minha mãe, enquanto o resto foi
conosco para a minha casa.
— O que está acontecendo? — perguntei.
Lorenzo estava nervoso, podia vê-lo se tremendo.
— Vou descobrir algo que aconteceu há muitos anos — falou.

Pela velocidade que o Lorenzo pediu para o Thony chegar em casa,


chegamos rapidamente.
— Entre, depois eu volto!
Entrei em casa e a Lucy estava na cozinha.
— Já chegaram? — Estranhou.
— Lorenzo ia resolver algumas coisas — disse.
Meu celular tocou, vi que era a minha sogra.
— Oi, meu bem, como estão as coisas? — perguntou. — Meu
marido está ainda aí? Queria pedir que ele viesse aqui na floricultura
comigo, mas não atende o telefone.

Senhor Diego fala dos filhos, mas tinha muita cara de que fazia o
que a Dona Telma queria.
— Estou bem! Ele saiu agora com o Lorenzo, mas pode deixar que
eu vou avisá-lo.
Conversamos um pouco enquanto eu caminhava até o rifugio.
Avisaria ao Red e sei que ele daria o recado.
Assim que aproximei do rifugio, vi-os parado ali na frente junto do
Red e um rapaz jovem.
Não sei bem o que estava acontecendo pela distância, mas cada vez
que eu me aproximava, um aperto dava no meu peito. Quando me
aproximei mais, já dava para ver como cada um estava.
Pietro abraçava o Enrico que chorava muito. O Sr. Diego e o Leonel
conversavam bem assustados com esse tal rapaz, enquanto o Mark, o Lucca
e o Enzo conversavam algo com o Lorenzo que estava sentado no chão,
passando a mão no cabelo várias vezes, totalmente confuso.
— Como isso é possível? — perguntou Enzo ao rapaz.
— Então foi isso que aconteceu? — perguntou Enrico que chorava
que soluçava.
Assim que aproximava mais, via o Mark limpando o rosto do
Lorenzo.
Ele estava chorando?
Para o Lorenzo está chorando na frente dos outros e principalmente
do pai, isso me deixou bem preocupada.
— Lorenzo? — disse e ele logo me olhou.
O seu rosto estava molhado pelas lágrimas. Ele estava com um
semblante triste e o seu olhar era vago e totalmente desesperador.
Não parecia o Lorenzo, ele estava tão assustado que isso me doeu no
peito.
— Hope... — foi a única coisa que ele disse, até cair em lágrimas
novamente.
O seu choro alto dava para escutar por toda a propriedade.
O que estava acontecendo?!
Lorenzo permanecia ali, sentado no chão chorando. Eu não entendia
o que estava acontecendo. Meu corpo estava parado, sem conseguir chegar
até ele.
A sua tristeza estava me afetando e eu não sabia como tirar aquilo
dele. Tentei chegar até ele, mas um rapaz me parou.
— Está tudo bem, Hope! — Ele me conhece? — Sou o Josh, um
amigo do seu marido.
Josh? Nunca ouvi o Lorenzo falar dele.
— O que está acontecendo? — perguntei.
— Um milagre — disse Leonel.
— Ou uma guerra — completou Sr. Diego.
Ajoelhei-me, ficando lado a lado do Lorenzo.
Só em tocar no seu braço, sentia o seu corpo todo se tremendo. Era
absurdamente estranho ver aquele enorme homem daquele jeito, nem no dia
que eu estava no hospital ele ficou assim.
Lorenzo parecia aéreo, o seu corpo alertava o quanto ele estava
assustado. Ele olhava para os lados como se estivesse tentando buscar
algum sentido para tirar algo que o incomodava aquele momento.
Sua respiração que estava ofegante, acusava que ele estava em uma
crise de pânico.
— Minha... Minha... — Lorenzo não conseguia terminar as palavras
pelas lágrimas e os soluços que estavam aumentando cada vez mais.
— Estou preocupada com você, amor — disse. — O que está
acontecendo?
Ele só me olhava confuso, passava as mãos no cabelo, enquanto
tentava buscar algum rumo para os seus pensamentos que o enlouquecia.
— Que porra! — disse Pietro andando de um lado para o outro. —
Se a gente tivesse investigado mais, isso não teria acontecido.
— Fica calmo! — disse Lucca a ele se mostrando mais nervoso do
que o Pietro estava. — Isso não vai mudar em nada.
Lorenzo segurou a minha mão, enquanto eu o esperava criar
coragem para me dizer.
— Minha filha está viva! — falou.

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