A Esposa Roubada - (Casamentos (Im) Perfeitos) - Maeve Saha

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Copyright © 2023 Maeve Sahad

A ESPOSA ROUBADA – Casamentos (Im)perfeitos 1


1° Edição

CAPA: Joy Design


REVISÃO: Larissa Oliveira
LEITURA CRÍTICA E BETAGEM: Tatiana Bezerra, Thaina Arcuri, Aline M.
DIAGRAMAÇÃO: Tatiane Nunes
ILUSTRAÇÃO: Viki @viki.landia e Giulia @giulia_fw.arts

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa


obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.

Sumário
NOTA DA AUTORA
GATILHOS
PLAYLIST
ILUSTRAÇÃO
SINOPSE
PRÓLOGO
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
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15
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35
EPÍLOGO
BÔNUS
A série Casamentos (Im)perfeitos surgiu principalmente a partir de alguns
personagens que ganharam vida na minha cabeça. A princípio, tinha tudo
para ser algo leve, quente e romântico, mas como o esperado, algumas vozes
na minha cabeça sempre falam mais alto que outras e no fim, se tornou algo
maior.
Não falaremos apenas sobre amor. Nesta série, também descobriremos um
pouco mais sobre lealdade, amizade, recomeços e diversos outros
sentimentos que acabaremos descobrindo junto deles: Anthony Cahill, Zade
King e Dallas Montgomery III.
O livro 1, nos introduz um pouco ao mistério que rege em torno de um
trio de amigos leais e dispostos a tudo um pelo outro. Espero que,
assim como eu, se apaixonem por eles.

Observações: FALLS PRINCE é uma cidade fictícia criada por mim. Ao cria-
la, busquei combinar elementos familiares com toques específicos para que
ficasse marcado na memória. Veremos e descobriremos muito mais sobre ela
ao longo da série.
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Caro leitor,
Antes de mergulhar nas páginas deste livro, gostaria de
compartilhar um aviso importante. A ESPOSA ROUBADA - possuí
conteúdo que pode ser sensível para algumas pessoas. Se cenas
que retratam relacionamento abusivo, abuso físico e psicológico,
violência física, mental e sexual te incomodam essa leitura talvez
não seja para você.
Minha intenção ao incluir esses temas não é causar
desconforto, mas sim abordar questões relevantes ao
desenvolvimento da jornada de cada personagem dentro da história.
Peço, por favor, que se esse tipo de conteúdo te causa algum
incomodo, não continue a partir daqui.
Também vale lembrar que além do conteúdo citado acima,
essa é uma história recomendada para maiores de 18 anos, por
conter cenas de sexo explícito –, violência e palavras de baixo
calão.
Com carinho,
Maeve.
DEDICATÓRIA

Para aqueles que não desistem depois de uma queda, o seu


paraíso pode estar no fim da estrada. Siga em frente!
Assim como o girassol algumas pessoas
se curvam diante da escuridão, mas
basta uma pequena fresta de luz para
que voltem a se levantar e florescer.
1. Fake ID — Big and Rich
2. Awake My Soul — Mumford & Sons
3. A Thousend Years — Christina Perri
4. Behind Blue Eyes — Limp Bizkit
5. One Number Away — Luke Combs

Para ouvir a playlist de A ESPOSA ROUBADA no Spotify, abra o app


no seu celular, selecione “buscar”, clique na câmera e posicione sobre o code
abaixo:

Ou, então, clique aqui.


PRIMEIRO AMOR
FOUND FAMILY
SLOW BURN
SEGUNDA CHANCE

Ele é o melhor advogado de Nova York.


Ela é a esposa troféu de um influente político.
Ele foi seu primeiro amor.
Ela é a mulher que ele não consegue esquecer.
Ele comanda seu mundo com mãos de ferro.
Ela só quer sua liberdade.
Anthony Cahill tem 31 anos e o mundo aos seus pés. É
poderoso, influente e focado em seus objetivos. Muito bem pago
para resolver qualquer problema, se tornou uma lenda em sua
profissão. Para ele, nada estava fora de seu alcance, exceto: ela. A
única mulher que faz seu coração bater.
Angelina Voight é uma dona de casa de 27 anos que colocou
toda sua vida em risco para fugir de sua prisão, mas o monstro que
puxava suas cordas decidiu que estava na hora de uma lição.
Segredos do passado moldaram o rumo de suas vidas, até
que um reencontro inesperado, dá a eles o que mais desejam: uma
segunda chance.
Ele vai arriscar sua carreira, sua vida e seu coração para
salvá-la.
Ela trocará o pesadelo por uma fantasia, mas logo descobrirá
que seu castelo de cartas pode desabar a qualquer momento…
Angelina
Presente EM ALGUM LUGAR...
“A escuridão”

Dizem que antes de você morrer, sua vida passa diante dos
seus olhos como uma espécie de montagem com todos os grandes
momentos que viveu, sejam eles bons ou ruins, os motivos de seus
risos ou a causa de suas lágrimas. Imaginamos encontrar um tipo
de compilado, marcando toda a nossa trajetória e evidenciando o
que ficará para trás.
Foi o que eu esperei que acontecesse quando senti o baque.
Um barulho ensurdecedor vibrou em meus tímpanos e o
mundo começou a girar ao meu redor de repente.
Eu não sabia mais onde estava, não sabia por que meu
coração batia tão forte e apavorado ou por que estava com tanta
pressa. Naquele milissegundo em que tudo ao meu redor colidiu,
minha mente virou uma completa confusão.
Ao invés das lembranças, tudo que recebi foi a escuridão.
No lugar das imagens da minha vida, um vazio sombrio em
conjunto com uma redoma de gelo me envolveu, abraçando-me
numa prisão da qual eu não tinha como sair.
Se esse era o caminho da morte, alguma coisa parecia
terrivelmente errada.
Um murmúrio bagunçado de vozes ao longe zumbia em minha
cabeça, mas as palavras se perdiam cada vez que eu tentava
compreendê-las, girando dentro de mim como uma violenta
tempestade, torcendo-me para dentro e para fora da consciência.
É estranho ouvir sussurros quando o caos persiste na
atmosfera.
Uma pitada de desespero pairava no ar, engrossando o medo
em meu coração. Luzes piscaram do outro lado das minhas
pálpebras e eu sabia que precisava pedir socorro. Implorar por
alguém. Eu não queria morrer sozinha.
Esforcei-me para me lembrar de um nome, lutei para construir
uma palavra que fosse em minha boca, mas nada veio à tona. Por
quem eu deveria chamar? Quem poderia estar comigo neste
momento?
A sensação de perda e vazio tomou conta de mim ainda mais
como se as memórias da minha vida estivessem escorrendo por
entre meus dedos.
Mais vozes me sacudiram do outro lado, todas elas
incompreensíveis, exceto uma, que badalou em meu cérebro como
uma sinfonia.
— Qual o nome dela?
Qual.. é... o... meu... nome?
Fiz uma busca frenética, confusa e desesperada e tudo
permaneceu em branco.
Eu não sabia de nada.
Um silêncio apavorante enchia meus ouvidos. Tudo ao meu
redor, era frio, escuro e tão solitário que me sufocava.
Se este era o fim ou começo, eu não sabia dizer.
A única coisa que tomava conta de mim no momento era o
desejo de sair deste lugar.
Fiz uma tentativa de abrir meus olhos, mas as batidas
repetidas em minha têmpora aumentavam cada vez que meus cílios
tremulavam. A pouca força que eu tinha se desvaneceu. A exaustão
me consumia, assim como o ar abafado que impregnava minha
pele.
Por muito tempo, me encontrei naquele limbo entre a
escuridão e a luz, lutando para encontrar uma saída, uma resposta
para o que estava acontecendo.
Minha mente era um turbilhão de perguntas sem respostas, de
sensações confusas que eu não conseguia compreender.
— Acorde. Por favor, acorde. — Uma voz rouca e enfeitada
por um barítono profundo me chamava parecendo tão desesperada
e triste.
Eu a ouvi mais de uma vez e desejei despertar para encontrar
seu dono em todas elas.
Com dor extrema e um esforço que me fez suar frio, consegui
abrir os olhos e vislumbrar um teto branco acima de mim. Sons
estridentes perfuraram meus ouvidos e agravaram ainda mais a dor
que instantaneamente latejou em minha cabeça.
Um bip bip irritante martelava e martelava me arrancando
daquele abismo escuro para uma realidade tão desconfortável
quanto.
Meu corpo doía; eu me sentia grogue, sem foco, e sabia que
mesmo longe da escuridão, minha realidade ainda não era boa. O
medo restringiu meus movimentos como se fosse um maremoto
ameaçando me afogar, mas eu tinha que emergir.
Lutando para engolir o nó que se formou em minha garganta e
sentindo a secura em minha boca, virei meu pescoço para ver os
aparelhos e fios ligados a mim, todos funcionando.
O que aconteceu comigo? Busquei em minha memória,
recebendo apenas cenas desconexas. Nada fazia sentido.
Puxei algumas respirações, quando comecei a sentir as
batidas em meu peito aumentando de pressa.
Lentamente, meus olhos se moveram para observar ao meu
redor, e pude perceber que o quarto em que me encontrava era
asséptico e impessoal, típico de um ambiente hospitalar. O ar
gelado contribuía para a sensação de estranheza mesmo que meu
corpo se sentisse quente e cansado. Os fios dos equipamentos
médicos se entrelaçam ao redor da cama, conectando-se a mim
como se fossem laços que me mantinham ligada àquele mundo
desconhecido.
Foi só então que notei a figura do homem misterioso que se
encontrava ao meu lado. Seus cabelos negros e selvagens caíam
desalinhados sobre sua testa, destacando ainda mais seu olhar
penetrante que parecia esconder segredos profundos. Sua postura
era imponente, como se emanasse uma aura de mistério e força. Os
braços fortes contrastavam com a camisa branca que ele usava,
dobrada até os cotovelos, o tecido enrugado como se ele não
tivesse saído daqui por um bom tempo.
Meu coração acelerou, e a apreensão tomou conta de mim ao
encará-lo. Minha mente estava repleta de perguntas, mas a
exaustão e a fragilidade física me impediam de articular as palavras
com clareza.
A única coisa que consegui, foi questionar com uma voz
vacilante e fraca: — Q-quem é você?
O homem curvou os lábios em um sorriso.
— Seu marido.
Angelina
Antes WASHINGTON D.C
“Fim do caminho, é hora de pular.”

Você já teve a sensação, em algum momento da sua vida, de


que suas escolhas te levaram direto para a beira do precipício?
Como se lá no fundo, o fim da estrada - justamente aquela que você
acreditava ter o pote de ouro no final do arco-íris - na verdade, fosse
a margem do abismo?
Uma imensidão de nada. O exato fim do caminho.
Se sua resposta é não, fico feliz em dizer, você é uma pessoa
de sorte.
— Droga... — bato as mãos sobre o volante puxando uma
respiração forte, numa vã tentativa de me acalmar.
Ainda não acabou, Angel. Você ainda tem uma chance.
Uma pequena parte escondida na minha cabeça repete de
forma feroz, interrompendo o nervosismo e a melancolia. A
esperança impregnada em algum mísero pedaço de mim parece tão
forte e vívida, que quase posso ouvir as palavras.
Lágrimas de medo acumuladas em meus olhos ameaçam cair,
como se os sintomas do desespero e cansaço tentassem me
dominar. Balançando a cabeça, expulso essa onda nebulosa para
me apegar apenas ao que verdadeiramente importa.
Afundando o pé no acelerador, ouço os pneus do carro velho
que aluguei ao lado de um hotel na beira da estrada que passei a
noite, chiando no asfalto, e esse som segura um pouco mais as
cordas que mantém a minha mente sã e alerta. Cada número
rodado no ponteiro do painel me colocava um pouco mais longe
dele.
Nervosa, olho pela milionésima vez pelo retrovisor, para ter
certeza de que não estou sendo seguida e mantenho minha atenção
dividida entre minhas costas e a estrada. Mesmo depois de fugir
daquela casa, não me sinto segura. Na verdade, acho que
segurança é um sentimento que nunca mais existirá em minha vida.
Ainda que eu saiba que não havia outra escolha, que esta foi a
única brecha que tive para me livrar do meu monstro pessoal, todo
meu plano tem falhas. E é isso que mais me apavora.
Ameaçar um homem poderoso como Dawson Voight, colocar
sua carreira e seu império em risco, fugir dele.... Tudo que fiz, me
deixa vulnerável de uma maneira que nunca estive antes. Se
alguma coisa der errado, e ele colocar as mãos em mim de novo,
está acabado.
Eu estou literalmente, a um passo em falso do meu fim ou a
um pulo do meu paraíso. Tudo ou nada.
Não há outro caminho.
Olho para a placa no acostamento e meu coração vibra.
Menos de cinquenta milhas para sair da cidade.
O poder de Dawson não está limitado a um único lugar, mas
quanto mais longe estiver, mais fácil será. Essa é minha única
esperança.
Minha liberdade em troca de sua sujeira.
Assim que chegasse a Baltimore, as coisas seriam mais
fáceis. Eu poderia parar e pensar, criar um plano decente.
Abrigada pelo silêncio e assombrada por minhas divagações,
dirigi por mais meia hora até que uma sirene surgiu atrás de mim.
Minhas mãos começaram a suar imediatamente. Meus olhos
procuraram por uma saída, um pequeno desvio que me tirasse
desse inferno, mas não havia nada.
Diminui a velocidade, parei no acostamento e abaixei o vidro
quando o policial veio para o meu lado.
— Documento, por favor — disse em uma voz fria, fazendo
meus ossos tremerem. Peguei a minha licença de motorista do porta
luvas e o entreguei.
— Algum problema, senhor?
— Angelina Voight — o homem uniformizado murmurou,
olhando para o cartão em suas mãos e então, levantou a cabeça
para encontrar meus olhos. — Pode descer do carro, senhora?
— Por quê? Existe algum problema? — repeti, tentando me
manter calma.
Não entre em pânico. Não demonstre fraqueza. Não tenha
medo. Repeti o mesmo mantra que tenho usado como remédio nos
últimos anos.
Com a expressão em branco, os olhos frios do homem da lei
apenas me fitaram emitindo uma ordem silenciosa que eu entendi
perfeitamente.
Fim do caminho Angelina, é hora de pular.
Fui conduzida para a viatura, sem uma palavra ou explicação,
e colocada no banco de trás.
Meu corpo ficou em órbita durante todos os minutos que
seguiram. Esperei, totalmente intoxicada pelo vazio até um carro
luxuoso parar atrás do meu e o homem loiro, engravatado, com uma
expressão que eu conhecia muito bem aparecer.
Dawson abriu a porta ao meu lado e me encarou com um
sorriso triunfante.
— Vai a algum lugar sem mim, querida esposa?
Angelina
Passado - Oito anos antes...
FALLS PRINCE – POPULAÇÃO 2956
“Promessa inesquecível”

Quando entro no enorme pátio aos fundos do Loney’s no cair


da noite, tudo que existe em meu peito é uma mistura de frustração
e raiva.
Sinto uma onda de calor percorrer meu corpo ao atravessar a
porta de madeira do antigo bar. Uma mistura refrescante de
determinação e rebeldia me envolve quando a sola das minhas
botas toca o chão de terra batida, vibrando em sintonia com a
música ao redor.
Hoje é o dia do meu aniversário de dezenove anos. Um dia
que tinha tudo para ser especial, mas lentamente foi se
transformando em um completo pesadelo.
Eu havia sonhado com a chegada desta data por um ano
inteiro, planejado e criado mil cenários diferentes na minha cabeça
desde o ano passado, quando recebi o melhor presente da minha
vida e uma promessa que guardei fundo no meu coração. Estava
confiante que tudo daria certo até as fantasias idiotas em minha
cabeça irem por água abaixo.
— Idiota, idiota, idiota! Um milhão de vezes idiota, Angelina —
discuto comigo mesma, ainda pensando se sair de casa foi uma boa
ideia quando a melhor opção era me enterrar debaixo das minhas
cobertas e ignorar a existência do mundo por uns cinco dias.
Pela última vez, antes de dar mais um passo a frente, pego
meu celular e olho para a tela em branco.
Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação.
Balançando a cabeça, guardo-o novamente, solto um suspiro
e continuo. Passo pelo pequeno caminho decorado com girassóis
no canto esquerdo do pátio, aquele que nos conduz para a beira do
Lago Caddo onde está o balanço de madeira velha em que tudo
aconteceu.
Tento impedir as lembranças que me atacam sem permissão, mas a
força delas é incomparável. Num piscar de olhos, sou inundada
pelas imagens de Anthony sentado no balanço, nossos corpos
colados um ao outro, seu olhar faminto...
Argh! Esqueça isso, Angel. Ele está na faculdade a dois mil
quilômetros de distância. Esqueça.
Volto minha atenção à festa percorrendo os olhos pelo campo
aberto iluminado por inúmeras lâmpadas pequenas que foram
penduradas por cordas no alto em zig e zag, e noto que
provavelmente todos os habitantes de Falls Prince estão aqui.
A típica noite da fogueira que Big Loney, o dono do principal
bar de nossa pequena cidade promove ao fim de cada primavera,
quando os girassóis dos nossos famosos campos entram em sua
fase mais bonita, é uma das mais aguardadas por todos.
Ainda que uma grande tragédia a alguns anos atrás, um
gigantesco incêndio na fazenda King - responsável pelo cultivo das
flores, quase tivesse acabado com tudo, era gratificante saber que
de alguma forma mesmo com a tristeza que a catástrofe trazia aos
nossos corações cada vez que era lembrada, ainda fossemos
capazes de nos divertir.
Já havia se tornado um hábito para a maioria dos moradores
esperar por esse dia, como se precisássemos de algum tipo de
renovação a cada ano.
O aroma de churrasco e torta de maçã paira no ar, misturando-
se com o cheiro de couro e feno. Mesmo de longe, posso ver as
chamas da fogueira crepitando e sentir a alegria contagiante dos
moradores.
Me apego a um pouco disso, como se a emoção que vibra
através de todos pudesse me contagiar de alguma forma.
— Feliz aniversário! — um grito me pega de surpresa de
repente.
Sinto meu corpo quase ser levado abaixo quando braços finos
me agarraram pelo pescoço em um abraço animado e uma bagunça
de cabelos escuros me puxou com força, quase cortando a
respiração da minha garganta.
Maddison, ou melhor, Maddie, minha melhor amiga louca pula
na minha frente e joga seu corpo de um metro e meio em cima do
meu, me obrigando a lutar para nos equilibrar.
— Obrigada — a abraço de volta tirando seus pés no chão e
agradeço, fingindo que ela não me parabenizou outras seis vezes só
hoje — Obrigada! Obrigada!
— Eu te amo, você sabe disso, certo?
— Claro que você me ama, eu sou a única capaz de te aturar
— zombo, revirando os olhos.
Ela bufa. — Falando desse jeito você até parece o idiota do
meu irmão.
Meu coração engasga no mesmo instante com a menção dele
e meu semblante fica sombrio. Os olhos âmbar de Maddison me
avaliam com pesar e ela deixa escapar um suspiro.
— Desculpe, não vamos pensar naquele idiota hoje, ok? Esta
é a sua noite.
Dou um aceno fraco, incapaz de dizer qualquer coisa, e
Maddie agarra minha mão, puxando-me pelo pátio sem dizer uma
palavra. As botas de couro que mamãe me deu de presente pela
manhã arrastam-se pelo chão, e a música ao nosso redor fica cada
vez mais alta à medida que adentramos a multidão.
As batidas de "Fake ID" de Big and Rich começam a tocar
quando finalmente conseguimos chegar ao centro, próximo ao palco
de madeira improvisado, e os gritos aumentam. Essa música é um
clássico nas festas de Falls Prince, e a única coisa que não se pode
fazer é ficar parado.
— Vem, vamos dançar lá na frente! — Maddie sugere
contagiada por sua animação habitual, ainda segurando minha mão,
e eu olho na direção das pessoas se agrupando para dançar juntas.
— Eu vou buscar uma bebida e te encontro lá, tudo bem?
Antes que ela possa protestar, um grupo de meninas da nossa
antiga escola passa por nós e a carrega para frente onde a maioria
já está batendo os pés ao som da melodia. O barulho das botas
chocando-se contra o chão elevam as batidas em meu coração.
Quando me viro e olho para um dos cantos do bar, encontro
Zade King e Dallas Montgomery III, os melhores amigos de Anthony,
observando a mim e a Maddie de longe, como dois cachorros
mandados.
Zade, em toda sua glória de músculos e cara fechada, levanta
suavemente o chapéu de cowboy que está usando em um aceno
silencioso, sem um mínimo tremor diante do meu olhar mortal e
Dallas emite seu típico sorriso de bom moço, com um leve encolher
de ombros quase envergonhado.
Conheço Maddison desde que me entendo por gente.
Praticamente crescemos juntas e somos cúmplices uma da outra
para qualquer coisa.
O mesmo caso acontece com o trio inseparável. Anthony,
Zade e Dallas funcionam como uma unidade inseparável desde que
nasceram e vê-los aqui hoje só aumenta ainda mais a minha raiva.
Anthony não podia estar aqui, mas garantiu que seus
seguranças viessem para me vigiar?
Ótimo. Simplesmente maravilhoso.
Batendo os pés com força no chão, cruzo uma linha reta na direção
oposta de onde eles estão e assim que chego ao balcão peço uma
dose de tequila. Legalmente, ainda não tenho idade para ingerir
bebidas alcoólicas, mas a nota de cinco dólares que deslizo nas
mãos do jovem garçom ajuda a receber o que preciso.
O álcool queima em minha garganta de uma única vez e fecho os
olhos por alguns segundos, tentando me esquecer de tudo. Fico
alguns instantes ali sozinha, ignorando o mundo ao redor até sentir
uma presença ao meu lado.
Mantenho meus olhos fechados, com medo de abrir e me deparar
com aqueles olhos escuros que desejei encontrar o dia inteiro, até
que uma voz, que definitivamente não pertencia a aquele que eu
gostaria, me importunar.
— Ei loirinha, sozinha por aqui?! — ainda que relutante, sou
obrigada a abrir os olhos. Despreocupado, o garoto de cabelos
loiros que caíam sobre seus olhos, se acomoda ao meu lado e
quase invade meu espaço pessoal colocando seu rosto muito perto
do meu.
— O que você quer, Jake? — pergunto, me afastando um
pouco para colocar alguma distância entre nós.
O canto de sua boca arqueia no que me parece mais uma
expressão de deboche do que um sorriso e tenho que engolir
algumas vezes, evitando pensar em nosso tempo de escola, quando
o maior prazer de Jackson Moore era me perturbar.
O olhar, até então fixo nos meus desliza para baixo, caindo
sobre meu decote e a sensação que tenho é pura repugnância.
— Irmão, pode mandar mais uma dose! — grita, empurrando
algumas notas para o garçom que rapidamente, coloca mais um
copo de tequila na minha frente — Por minha conta, loirinha — se
inclina, dizendo as palavras bem perto do meu ouvido, o que me faz
dar mais um passo para trás.
— Não quero sua bebida, Jake. Muito obrigada. —
Empurrando o copo para longe, olho sobre sua cabeça procurando
em meio à multidão o ponto onde me separei de Maddie.
Encontrando a direção, me afasto para sair e sou interrompida.
— Tem alguma coisa contra se divertir, Angel?
Meus olhos estreitam encarando fixamente o aperto de sua
mão segurando um dos meus braços.
— Me divertir? — Repito, levantando meu olhar para encontrar
seu rosto — Não. Só tenho algo contra babacas inconvenientes
como você.
Exibindo os dentes em um sorriso frio sua expressão
escurece.
Puxo meu braço, junto de um grunhido: — Me solte.
— E se eu não fizer?
— Vou chutar as suas bolas com tanta força que te farei chorar
como um porco por um mês.
Jake gargalha, jogando sua cabeça para trás.
— Aí está, essa é a caipira selvagem que eu adorava brincar
de esconde-esconde na escola. Que tal repetirmos a dose? Você
foge, e eu te caço.
— Sinceramente, Jake? Não estou afim das suas idiotices
hoje, me solte antes que arrume um problema.
Seus dedos apertaram um pouco mais, ao invés de me deixar
ir e seu corpo se inclina em direção ao meu.
Minha paciência hoje estava literalmente por um fio, a última
coisa que eu queria era me irritar com este idiota que nem merecia,
mas sem pensar duas vezes, minha mão se fecha em punho e o
acerto direto no queixo.
— Eu disse para me soltar!
Seus olhos arregalam com choque ao mesmo tempo em que
seu corpo dá um passo trôpego para trás com a força do meu golpe.
As aulas de autodefesa que Anthony, Zade e Dallas nos
obrigaram a fazer logo que eu e Maddie entramos no ensino médio
serviram de alguma coisa. Maddie se tornou craque em chutes nas
bolas, eu era excelente em ganchos de direita.
Enquanto massageava o lado do rosto em que o acertei a
raiva inundava seu semblante. Sua pele clara ficando lentamente
vermelha, os olhos vidrados em minha direção.
Jake era um dos quarterbacks da nossa turma, tinha ombros
largos e era alto como um poste, nem mesmo meu apelido de vara
pau por ser uma das garotas mais altas da turma seria páreo para
brigar com um cara como aquele, ainda assim permaneci firme.
Como diria Maddie, dê um boi para não entrar numa briga, e
uma boiada para não sair dela.
— Sua filha da p...
Fechei minhas mãos, pronta para brigar, até uma sombra
passar na minha frente como um raio empurrando o corpo de Jake
contra o bar, segurando-o pelo pescoço como uma galinha.
— Toque a mão nela e eu juro que você nunca mais será
capaz de usar o seu braço porque o arrancarei fora de seu corpo e o
farei engolir, Jackson.
Pisquei para o som daquela voz, e senti as palavras sumirem
da ponta da minha língua.
Os ombros largos e o desenho de suas costas foram as
primeiras coisas que meus olhos conseguiram ver. Vestindo uma
camisa jeans dobrada até os cotovelos que se ajustava aos
músculos em seus braços e exibiam as veias saltadas evidenciando
sua raiva, ele empurrou o corpo de Jake com mais força para trás,
como se ele não pesasse mais que uma pena, e sussurrou algo
baixo em seu ouvido, que não fui capaz de entender devido a
música alta.
Com a barba por fazer, mandíbula afiada e os olhos tão
escuros quanto a noite completamente enfurecidos eu quase perdi o
fôlego diante daquela visão.
Minha respiração escapou devagar, minhas pernas tremeram
e o frio de nervosismo que senti em minha espinha quase me levou
abaixo ao vê-lo aqui.
Ele realmente veio.
— Anthony.
Anthony
“Eu soube desde o dia em que a beijei
pela primeira vez que aquele seria
o maior erro da minha vida.”

— Estou me sentindo bem, de verdade — assegurei tentando


dissipar a preocupação que estampava seu rosto.
— Não deveria ter se metido nisso — disse ela, com a voz
levemente carregada.
Notando o tremor de nervosismo em suas mãos, segurei um
de seus pulsos suavemente e trouxe sua mão para os lábios,
depositando um beijo suave contra sua palma.
Um leve arrepio percorreu seu corpo com meu gesto, os olhos
azuis brilharam através da escuridão e eu senti cada mísera
coisinha, direto... no meu pau.
Porra.
Mesmo com os cachos loiros levemente bagunçados e
selvagens, um rastro de lágrimas escorrendo por sua bochecha
junto de sua maquiagem, os olhos oceânicos vidrados e a ponta de
seu nariz arrebitado levemente vermelha, Angelina ainda era a visão
mais bonita do mundo para mim.
— Estou bem — falei novamente, sabendo que ela precisava
escutar mais algumas vezes, só para ter certeza.
— Você poderia ter se machucado feio.
Ela pressionou o pedaço de tecido que havia rasgado da barra
de seu vestido no meio da confusão contra o ferimento em minha
têmpora e deixou escapar o ar preso em sua garganta por entre os
lábios rosados.
Jake, aquele filho da puta, achou uma ótima ideia jogar uma
garrafa de vidro em minha cabeça, quando percebeu que não tinha
chance. Se as pessoas ao redor não tivessem entrado no meio para
nos separar, eu o teria mandado para casa com mais do que um
olho roxo e nariz quebrado.
Não era assim que esta noite deveria acontecer, eu tinha tudo
planejado.
Passo número um: surpreendê-la.
Passo número dois: tentar não ser morto por fingir que não
viria no seu aniversário.
Passo número três: dizer tudo que estava guardando desde
aquela noite no ano passado.
Nossos olhos se encontraram por alguns segundos, mil
perguntas rondando entre nós com apenas o silêncio respondendo a
todas elas. Seu olhar desviou do meu como se não pudesse segurá-
lo e o aperto de sua mão sobre minha pele aumentou um pouco
mais me fazendo estremecer.
— Preferia que eu deixasse aquele babaca ir para cima de
você? — Replico, franzindo o cenho.
Ela deu de ombros.
— Eu daria um jeito nele — resmunga com sua voz irritada
contrastando com o belo biquinho em sua boca.
Seu jeitinho fofo me faz rir.
Medo era uma coisa que essa garota definitivamente não
sentia. Ela e Maddison – minha irmã mais nova, conseguiam se
meter em trezentas confusões, se quisessem, em questão de
minutos e não fugiam quando a merda estourava. Isso me deixava
louco quando elas eram mais novas.
Agora, que estou vivendo a mais de dois mil quilômetros de
distância em Nova Iorque, é ainda pior. A qualquer momento, era
perigoso que uma de suas aventuras me causasse um ataque
cardíaco.
— Claro que sim, briguenta.
Seus olhos reviraram com ironia.
— Você não tem moral nenhuma para falar sobre isso, ok? —
Retrucou, com um sorriso no rosto.
Era verdade. Sempre fui conhecido por ser alguém de
temperamento explosivo. Paciência nunca foi o meu forte. Pensar
antes de agir? Menos ainda.
Sou explosivo por natureza. No ensino médio, meus amigos
me chamavam de galo de briga e não era atoa, se uma confusão
aparecesse em meu caminho, dificilmente recuava.
No entanto, hoje não foi apenas a minha impulsividade que me
fez agir como um touro furioso diante daquele babaca. Ver Angel
sendo alvo da raiva de alguém me deixou completamente cego.
Inferno. Tudo se incendiou no momento em que meus olhos
encontraram Jackson com as mãos sobre ela.
Ainda era louco demais para mim pensar no quanto as coisas
mudaram de repente.
Eu nem me lembro bem quando aconteceu.
Em um dia, Angelina era a pirralha chata, melhor amiga da
minha irmãzinha, no outro havia uma mulher crescida e sensual
bem diante dos meus olhos.
Uma tentação do caralho que eu tentei, muito, resistir. Mas
desde o dia em que decidi me render a aquele pecado, não havia
mais o que se pudesse fazer.
Eu soube desde o dia em que a beijei pela primeira vez, que
aquele seria o maior erro da minha vida. Ainda assim, estava
disposto a suportar qualquer uma das consequências.
Relutei por muito tempo até aceitar, mas desde o minuto em
que fiz, a ideia nunca mais mudou em minha cabeça.
Aquela garota era meu maldito sol. Seu senso de humor, a
beleza natural, o olhar profundo cheio de paixão. Certamente
alguém diria que éramos muito novos para nos apaixonar dessa
maneira, afinal, ela acaba de fazer dezenove e eu tenho apenas
vinte e três, porém se aquela história de que existe um amor para
nós durante a vida for verdade, não tenho dúvidas de que o meu é
ela e vice e versa.
Aquele olhar deslumbrante procura meu rosto através das
sombras da noite. Estávamos parados contra o capo da minha
caminhonete, no estacionamento traseiro do bar que ainda estava
lotado. Do lado de fora, podíamos escutar os gritos alegres e o som
alto tocando country raiz.
— Você realmente veio por mim?
— Eu te fiz uma promessa, raio de sol. Prometi que faria seu
aniversário sempre uma data especial. Estou aqui por você.
Um rubor aparece em suas bochechas, revelando a onda de
pensamentos safados em sua cabeça, e tenho que morder o lado
interno da minha boca para me impedir de gemer.
Muitos beijos aconteceram depois do primeiro, outras
brincadeiras também, porém, nada além disso. A distância nos
separou por algum tempo depois daquela noite. Os milhões de
motivos que existiam para que não estivéssemos juntos também,
mas nada poderia impedir o que cresceu entre nós.
Cada feriado que tive, nas férias ou segundo de tempo livre,
eu quis estar com ela e ficaria satisfeito com o que ela quisesse me
dar, mesmo que levássemos mais tempo para avançar as coisas,
ainda mais sabendo que Angel ainda era virgem.
No entanto, a pirralha sabia como provocar um homem e
obrigá-lo a dirigir por dois dias seguidos.
Ela me pediu algo especial de aniversário, e como o idiota
apaixonado que sou, é obvio que eu iria dar.
— E o que você tem em mente para hoje?
Reprimi um sorriso apenas olhando para seu rosto bonito e
travesso. Com a ponta dos dedos, dedilhei as sardinhas que
pintavam sua bochecha, satisfeito quando ela fechou os olhos e se
inclinou um pouco mais contra meu toque.
— Você confia em mim?
— Hmm… sim?
— Sim, ou “hm”? — arqueei a sobrancelha, afastando seu
aperto do meu ferimento que finalmente parou de sangrar.
— Sim! — respondeu novamente, agora com mais firmeza.
Satisfeito, a puxo para perto e tomo sua boca em um contato
trêmulo e ansioso. Nosso toque floresce em uma corrente
eletrizante de calor através do meu corpo. Há uma fome nela que
combina com a minha, uma urgência expectante que colapsa o ar
entre nós.
Meu beijo é feroz e doloroso, a pressão do meu corpo a
encurralando contra o metal frio carro não tem piedade. Suas unhas
se arrastam pelo meu abdômen, infestadas de urgência e meus
dentes arranham a pele sensível de seu pescoço.
— Vamos sair daqui — ela fala, ofegante, quando coloco
minha testa contra a sua, buscando por ar.
— Com certeza vamos.
Antes que eu me esqueça de tudo e a foda ali mesmo, a vista
de todos.

O céu noturno iluminado pelas estrelas eram as únicas luzes


em nosso caminho. Pegando a estrada que cortava o meio da
cidade e levava ao sul do Texas em direção a Oklahoma, dirigi pelo
asfalto cruzando o trajeto que até então apenas eu, Zade e Dallas
conhecíamos para chegar ao campo de girassóis da fazenda King.
Quando localizei a entrada que levava a uma rota de terra, já
conseguia enxergar a sombra das flores no pico da colina enquanto
subíamos em direção a cabana.
Zade construiu a pequena casa de madeira quando éramos
adolescentes. Se tratava de um cômodo único, rústico por dentro,
decorado com móveis velhos e brutos que combinavam com o
senso de decoração de três jovens xucros. Se tornou uma espécie
de refúgio para nós, muito melhor que a casa da árvore que
desejávamos quando crianças.
O incêndio que aconteceu na fazenda alguns anos atrás,
quase conseguiu destruir a construção.
Uma noite que se eu pudesse, apagaria da minha mente por
completo.
Para falar a verdade, é realmente o que vou fazer, fingir que
nada daquilo existiu. A cabana ainda estava lá e meus pensamentos
estão focados em apenas uma coisa: Angelina.
— Onde estamos indo? — Angel pergunta, com os olhos
brilhando cheios de curiosidade.
Desviando a atenção do caminho, olho para seu rosto
procurando algum vestígio de tensão, no entanto, só havia uma
vibrante expectativa.
— Você vai ver.
Segui por mais alguns minutos enquanto no som do carro
escutávamos “Awake my soul” dos Mumford & Sons. Passando o
portão de madeira, percorri o caminho de cascalho e estacionei em
frente a cabana.
— Que lugar é este? — curiosa, ela desceu do carro e
caminhou até a parte da frente, onde uma única lâmpada iluminava
acima da porta.
Em silêncio, peguei a chave em meu bolso, destranquei e abri.
— Oh meu Deus... Meu Deus! — com os olhos arregalados,
ela viu o ambiente aconchegante do lado de dentro, limpo e
decorado.
No canto ao lado da janela, estava uma mesa redonda com
duas cadeiras, um vaso de flores com girassóis amarelos, como ela
gostava e um candelabro que eu acenderia em breve. Mais para
dentro, um sofá encostado contra parede e uma cama de madeira
com cabeceira alta.
Junto dela, explorei o lugar, satisfeito por saber que meu
esforço valeu a pena diante da felicidade em sua expressão.
Caminhando até a cama, forrada com lençóis claros, ela se
sentou e pegou a pequena caixinha que deixei sobre o colchão
quando saí.
— Anthony, você pensou em tudo.
Fingindo estar ofendido, cruzei os braços sobre o peito.
— Esperava menos de mim, Angelina?
Sua risada tranquila atravessou o lugar e os olhos, que eu
tanto amava, voltaram-se para a caixa em suas mãos.
— Posso abrir? — perguntou.
— Deve.
Angel abre a embalagem e se depara com o pingente
prateado em formato de sol. Pegando entre seus dedos, ela
encontra a fenda que existia no meio da jóia e permitia que se
abrisse para revelar um girassol escondido.
— É tão lindo.
— Assim como você, raio de sol — digo calmamente, me
aproximando dela em passos lentos. Chegando por trás, envolvo
meus braços em torno de sua cintura e inalo o cheiro delicioso de
seus cabelos. É doce, assim como ela. — Eu te amo.
Sinto seu corpo ficar tenso e por alguns segundos, o silêncio
me assombra. Muito apressado em dizer a verdade? Inferno.
Virando-se para ficarmos frente a frente, vejo a surpresa
misturada a emoção em seu olhar.
— V-ocê... isso é... Anthony...
— A verdade, Angel. Muito antes daquele beijo no balanço,
minha cabeça já não conseguia parar de pensar em você. Eu te
amo, raio de sol.
— Eu te amo — ela responde, sua voz embargada. Com a
mão firme em sua nuca, me aproximo e devoro sua boca mais uma
vez.
Nosso beijo é longo e profundo. Expressando tudo que acabei
de dizer.
Pelo menos de início.
De repente, sua língua busca pela minha em uma carícia
sensual, e sinto suas mãos deslizando por meu pescoço,
emaranhado meu cabelo e puxando-o para demonstrar a
necessidade que desperta meu pau e o deixa gritando por atenção.
É um esforço do caralho que tenho que fazer para me lembrar
de não ir com tanta sede ao pote como uma besta faminta.
Quando nos afastamos, ofegantes, eu busco em meu cérebro
alguma desculpa que faça sentido para omitir o meu desespero.
— Deixei alguma coisa na geladeira para comermos. Podemos
assistir um filme ou… — assistir filme onde, gênio? Penso, me
lembrando que o máximo de tecnologia que temos aqui é a
eletricidade, nada mais.
— Esqueça a maldita comida, Anthony — puxando o tecido da
minha camisa, ela me ataca transformando minha mente em
gelatina.
Minha sanidade completamente pisoteada.
— Caralho. Senti tanto a sua falta — a admissão escapou de
mim estrangulada, como se fosse arrancada do meu peito sem que
eu pudesse mantê-la por um segundo a mais.
— Eu senti mais.
— É mesmo? — Provoco, traçando um caminho de beijos em
seu pescoço que descem para o colo.
O gosto dela é magnífico.
Minha garota pura e selvagem como a terra ao nosso redor.
Meu pau lateja, lutando contra meu jeans, mas mantenho
minha atenção nela. Os dedos trabalhando ao longo da bainha de
seu vestido até puxar o tecido sobre sua cabeça.
No momento em que ela fica de calcinha e sutiã na minha
frente, quase sinto minhas pernas falharem.
— Porra, você é tão gostosa.
Angel se move para a fivela do meu cinto, destravando-o com
um movimento do dedo antes de puxar meu zíper para baixo.
Ofego com uma respiração falha no momento em que suas
mãos acariciam minha ereção sobre o tecido da cueca. Suas
palmas e movimentos são suaves, diferente de seus olhos que
pegam fogo.
Segurando seus pulsos, a puxo contra mim e a pego no colo,
levando-a para a cama.
Antes de continuar, seguro seu rosto entre minhas mãos, e
beijo sua boca. Essa noite é sobre ela. Seu presente.
— Tem certeza? Não quero que faça nada que não queira, se
achar que não...
— Sempre foi você. Eu quero seja o primeiro. — Responde
com uma certeza que me desconcerta.
Porra. Se dependesse de mim, eu seria o primeiro e o último
porque nunca mais a deixaria escapar.
Deito seu corpo para trás e dedilho lentamente meus dedos
contra sua pele exposta conforme vou me abaixando entre suas
pernas.
A visão dos seus seios no sutiã branco rendado, o florescer
bonito aquecendo sua pele, o subir e descer do seu peito enquanto
ela me observa — tudo isso me desfaz. Expulsa meu raciocínio e
tudo o mais se torna um borrão insignificante no pano de fundo da
sua beleza.
Tudo o que importa é tocá-la, beijá-la e tirar qualquer
obstáculo de renda do seu corpo.
Primeiro, engancho a lateral delicada de sua calcinha e vou
puxando para baixo. Seus olhos se atentam a cada movimento meu,
com expectativa. Fazendo o caminho de volta, passo a língua sobre
o triângulo agora exposto e subo para seu quadril, com beijos cheios
de promessas.
Minhas mãos alcançam o sutiã e abro o fecho em suas costas.
Seus seios preenchem minha visão, redondos e rosados. Tão
estonteante que preciso me lembrar de respirar. Ela geme enquanto
acaricio seus mamilos, derrete-se enquanto deslizo os dedos ao
longo do seu abdômen, e suspira quando abro suas pernas e me
ajoelho entre elas.
— Anthony… — seu corpo se contorce e estremece sob meu
toque.
— Shh… primeiro vou provar você, raio de sol.
Minha boca saliva com a visão. Sua boceta exposta e já
molhada bem diante dos meus olhos.
Sem mais um segundo a perder, me abaixo e abocanho o
monte explorando-a lentamente com a minha língua. Acaricio um
lábio, depois o outro antes de brincar com o ponto principal, fazendo
círculos lentos para deixá-la ainda mais desesperada e molhada.
Quero beber cada gota de seu desejo.
Seus dedos afundam entre os fios do meu cabelo com o
movimento que faço entre suas pernas, arqueando o pescoço para
trás seu quadril se eleva para tentar empurrar mais profundamente e
meu peito incha com satisfação a cada barulho de aprovação que
ouço dela.
Com uma mão firme em sua coxa, enterro-me naquele
paraíso, sugando a carne já inchada de seu clítoris e seus gritos
ficam mais altos.
— Oh, meu deus. Isso é tão bom.
Sorrindo contra sua pele, me afasto e uso os dedos para fazê-
la gozar.
— Você ainda não viu nada, linda.
Abrindo-a com uma das mãos, estico o máximo que posso sua
pele sensível e uso a ponta do indicador para estimular o ponto.
Seus gemidos atingem um pico febril, então ela joga a cabeça
para trás e empurra sua boceta doce em minhas mãos enquanto
goza.
Eu não ia parar até que ela fosse minha de todas as formas
imagináveis, até que nós dois estivéssemos tão satisfeitos, que não
poderíamos mais pensar claramente.
Angelina
“Nada pode nos atrapalhar.”

Meu corpo fica completamente mole depois do orgasmo.


Deixo meus braços caírem para o lado acompanhando as batidas
do meu coração disparado e tenho a sensação de que minha alma
saiu e voltou do corpo naquele instante.
Porém, mal tenho tempo de pensar, pois logo sinto o calor de
seus musculoso me envolver deixando claro que estamos apenas
começando.
Reunindo minhas forças, trabalho nos botões de sua camisa
ansiosa para vê-lo, bebendo da visão de seu peito nu quando ele
puxa o tecido por seus braços e joga no chão.
Lambendo meus lábios, admiro a trilha de pelos escuros que
leva direto aos seis gomos de seu abdômen.
— Vou considerar esse olhar como um elogio. — Murmura,
movendo as mãos para suas calças já abertas e desliza o jeans fora
de suas pernas longas junto de sua cueca boxer.
Tenho que segurar minha respiração para não gritar quando o
vejo por completo.
Sempre amei o fato de Anthony ser um garoto grande.
Desde a adolescência, quando minhas fantasias proibidas
com o irmão mais velho da minha melhor amiga começaram, eu
amava pensar que mesmo sendo uma garota alta, perto dele, eu
ainda me parecia pequena.
Agora, definitivamente sei que sua altura não é a única coisa
grande que ele possui.
Jesus, Maria, José e todos os santos das virgens que me
protejam!
Com seus quase um metro e noventa de altura, Anthony se
aproxima de mim na cama de joelhos, fazendo meu pulso voltar a
disparar. Curiosa, deixo meus dedos caírem sobre seu estômago, e
fico intrigada quando vejo um número tatuado em sua pélvis, bem
do lado direito, quase sob a linha da cueca.
Era um desenho discreto, apenas os números com traços
finos sobre os músculos marcados.
— Vinte e seis… — arrulho, dedilhando o desenho com a
ponta dos dedos — vai me contar o que significa?
Com um sorriso de canto safado e travesso que desperta uma
sensação incandescente em mim, seus braços fortes me puxam de
uma única vez.
No meio de nós, uma de suas mãos agarra a ereção dura e
longa entre suas pernas e usando seu corpo para abrir minhas
coxas, esfrega a glande contra minha boceta.
— Vou fazer melhor do que te contar, raio de sol — sussurra,
depositando um beijo contra minha garganta — Te farei sentir.
Num movimento rápido, se inclina para capturar a camisinha
no bolso de sua calça e rapidamente coloca em seu comprimento.
Eu olho aquela cena, em uma mistura de tesão e apreensão.
— Nervosa? — pergunta, lendo a minha expressão.
Eu suspiro, sentindo-o mover o corpo lentamente para se
encaixar em minha entrada.
— Ansiosa.
Antes de me penetrar, seus dedos empurraram os fios dos
meus cabelos, afastando-os do meu rosto e sua mão segura minha
mandíbula, um toque simples, porém repleto de possessividade.
— Me beije.
Eu tremo com a maneira como sua voz sai feito um rosnado,
tão gostoso que sinto a umidade nas minhas partes aumentar no
mesmo instante.
Pressiono meus lábios sobre o dele, obedecendo e calculo
quando seu pau se encaixa em minha entrada. Sua língua
empurrando profundamente em minha boca, enquanto seu membro
me invade com tamanha paciência.
A ardência que sinto com a invasão, entra em parafuso com o
prazer que todo meu corpo está experimentando. Por alguns
segundos, fico tensa, esperando a dor que tanto ouvi falar, mas ele
parece saber o que fazer e não se move, como se esperasse que
meu corpo pudesse se acostumar.
Não é uma tarefa fácil devido ao seu tamanho e grossura,
ainda assim, o misto de sensações faz meu mundo girar de
qualquer maneira.
— Assim, assim, mesmo. — Começo a gemer, quando o calor
vai subindo de novo, rebolando meus quadris com necessidade de
mais dele.
Nós dois ofegamos por ar, arranhando um ao outro no
momento em que ele entra um pouco mais em mim, ainda não
profundamente. Minha boceta pulsa ao seu redor, e o ritmo de vai e
vem me acende. Com a mão entre nós, ele se move para dentro e
para fora por um tempo, depois tira completamente, fazendo
movimentos provocativos sobre meu clitóris o estimulando com a
cabecinha até a borda.
Meus dedos percorrem suas costas, afundando as unhas em
sua carne e ele grunhi e mete dentro de mim de novo.
— Paraíso. Você é a porra do paraíso, Angel.
— Eu te amo! — é a única coisa que consigo dizer antes de
explodirmos juntos pela primeira vez.

No dia seguinte, acordo nos braços do homem que quero


passar o resto da minha vida. O calor de seu corpo colado ao meu,
as pernas entrelaçadas com as minhas, o cheiro masculino
enchendo meu olfato me fazendo lembrar de cada toque da noite
passada.
Dedilhando os dedos sobre a pele de seu braço, envolto em
minha cintura, fecho os olhos implorando para que não fosse tudo
parte de um sonho, e se fosse, que eu nunca acordasse, pois de
longe esse seria um daqueles dias que eu gostaria de poder guardar
em uma caixinha de memórias como um tesouro.
Segurando o lençol contra meu peito, a única barreira que
tampava meu corpo nu, me desvencilhei de Anthony devagar e me
levantei na ponta dos pés para ir até a janela.
Se eu estivesse presa em uma das minhas realidades no
mundo dos sonhos, veria unicórnios voadores e dragões com duas
cabeças cuspindo fogo do lado de fora. Para meu alívio, o que
encontrei, foi muito diferente.
O sol já havia nascido há um bom tempo, indicando que nos
cansamos o suficiente na noite passada. Do topo da pequena colina
onde a cabana estava, era possível ver a imensidão das flores no
campo.
No vasto território do Texas, entre as planícies ondulantes e
extensas, estava a bela paisagem pintada com um mar de girassóis
dourados. A plantação da Fazenda King compunha uma visão
deslumbrante que se estendia por quilômetros, enchendo o ar com
uma aura de calor e energia vibrante.
Era um dos meus lugares favoritos do mundo.
Desde pequena, corri por estes campos como se fosse a
minha casa e de certa forma, era. Nascer e crescer em Falls Prince
te dava o direito de acreditar que um pedacinho deste lugar, mínimo
que fosse, te pertencia.
Eu sei que a maioria dos jovens da minha idade faz planos de
sair daqui e se mudar para a cidade grande.
Nunca fui como eles.
Nunca me imaginei longe desse paraíso que chamo de casa,
afastada do aroma das flores e da terra, sem poder estar perto de
animais e da natureza. Eu queria que meus filhos tivessem uma
infância como a minha. Que pudessem mergulhar no lago quando
chegasse o ápice do verão, que aprendessem a montar num cavalo,
que fizessem fogueira no pátio do Loney´s com seus amigos e que
apreciasse a cidade em que nasceram tanto quanto eu.
Mesmo que no fundo eu saiba que se quiser conquistar meus
sonhos, terei que abrir mão de casa por um tempo, desejo que isso
possa se realizar.
Depois da noite com Anthony, tudo que ele preparou junto de
suas palavras, a felicidade tomou conta do meu coração de tal
forma que não fui capaz de pensar nas dificuldades de um
relacionamento a distância. Quando nos beijamos pela primeira vez
no ano passado, tudo ficou estranho até lentamente se resolver.
Nosso começo não foi mágico como na noite de ontem. Muito
pelo contrário. Ficamos meses afastados até tomar coragem de falar
sobre aquele beijo.
Ele estava relutante, eu estava com medo, até que no feriado
de Ação de Graças em sua volta para casa, nos rendemos ao
desejo de novo.
As chamadas longas durante a madrugada, conversas de
vídeo pelo skype, e suas visitas rápidas sempre que tinha uma
folga, ajudavam, ainda assim, eu sabia da importância de seus
estudos e não queria me tornar um peso.
Se eu falasse para ele sobre todos os meus medos, com
certeza, Anthony diria para não me preocupar, pois daríamos um
jeito. Otimista como sempre.
Porém, eu sabia que tinha escolhas importantes a tomar. A
bolsa de estudos que me inscrevi para a faculdade na universidade
de NY é a primeira delas.
Ainda não contei para ele e espero poder fazer uma surpresa
quando chegar a hora.
Hipnotizada pela paisagem e imersa em reflexões e planos,
mal noto quando Anthony acorda. Apenas sinto suas mãos me
abraçando por trás.
— Quem te mandou sair da cama? — com a voz rouca e
preguiçosa, ele questiona beijando meu pescoço.
Fecho os olhos, deixando minha cabeça cair para trás e sorrio
sentindo uma felicidade genuína.
— O galo cantando. Já esqueceu como funciona a vida no
interior, garoto da cidade grande?
— Engraçadinha.
Me viro e deposito um beijo contra seu peito nu e envolvo os
braços em sua cintura.
— No que estava pensando?
Eu demoro para responder imaginando se devo interromper
toda nossa alegria com minhas inseguranças sobre o futuro.
— Quer mesmo saber? — levanto o rosto para encontrar seus
olhos.
— Sempre, linda.
— Estava pensando no que seus amigos diriam se soubessem
que você tem a porra do tamanho do seu pau tatuado em seu corpo!
O riso borbulha por sua garganta e retumba em seu peito.
Espero qualquer vestígio de vergonha em seu rosto, afinal...
era algo completamente constrangedor e ridículo. No entanto, uma
expressão cheia de petulância toma sua face.
— Quem você acha que teve a ideia?
— Não, — arregalo os olhos totalmente assombrada. — Zade
e Dallas? Não me diga que eles também...
Ele concorda com a cabeça.
— Yeah, baby. Dallas Montgomery III e suas ideias geniais
quando está bêbado. Todos nós fizemos.
Nessa hora, eu começo a gargalhar, alto e
descontroladamente.
— Vocês são ridículos.
— Não era isso que estava me dizendo ontem quando eu
estava te fodendo.
Minha expressão ficou séria e me separei de seus braços,
tomando distância.
— Mulheres fingem, você sabe, certo? — tentei manter a
minha voz firme para não rir, mas quando seus olhos escureceram
ainda mais eu quase me perdi.
— Fingem? — Perguntou indignado — Cretina! Eu vou te
mostrar como aqueles gritos não foram fingimento.
Eu corro pela cabana, fugindo dele e uma perseguição sem
sentido começa. Nós rimos feito dois idiotas enquanto eu fujo e ele
tenta me pegar.
Tanta alegria em meu peito e uma única esperança: de que
nada pudesse nos atrapalhar.
Anthony
“Tudo desaba.”

Estou completamente suado quando consigo capturar


Angelina e a jogo sobre a cama. Como um jogo infantil pode deixar
o meu pau duro, eu não faço ideia, mas era esta minha situação
quando a beijei, esperando que pudéssemos aproveitar cada
segundo do dia.
Tomo sua boca, buscando por sua língua, explorando o corpo
delicioso com as mãos. Ela geme contra mim, tão necessitada
quanto eu e esfrega seus quadris em minha ereção já evidente.
— Como você está? Dolorida depois de ontem? — a puxo
suavemente pelo cabelo, olhando em seu rosto.
— Um pouco — me responde com sinceridade, os lábios
rosados pela força do meu beijo — mas é uma dor gostosa...
Mais um gemino escapa e eu a viro, ficando sobre ela.
— Acho que posso te ajudar a superar isso... quem sabe uma
massagem? — arqueio a sobrancelha e então sorrio — Com a
minha língua...
Vou deslizando para baixo, passando as mãos por suas coxas,
até que para minha própria desgraça, somos interrompidos pelo
toque do meu celular.
Na primeira ligação, não ouso me levantar para atender,
porém conforme o aparelho toca e toca sem parar, sou obrigado.
— Eu deveria ter desligado essa porra.
Localizando o celular no meio das minhas roupas espalhadas
pelo chão, vejo inúmeras chamadas perdidas e notificações de
mensagens. Alarmado, ligo para o último número e espero até
atender.
Leva menos que alguns segundos.
— Zade?
— Precisamos conversar. — Sem saudações ou qualquer
esclarecimento, ele fala simplesmente.
— O que aconteceu?
— Não posso falar por telefone, me encontre na fazenda.
Agora!
— Preciso de um banho e vou deixar Angel em casa. Depois
te encontro lá, tudo bem?
— Ok. Seja rápido.
Intrigado, encerro a ligação e encontro os olhos de Angelina
que me encaram com preocupação.
— Aconteceu alguma coisa?
A puxo para perto, depositando um beijo em sua cabeça.
— Não, linda. Nada demais. Tenho que ir falar com Zade. Vou
te deixar em casa no caminho, antes que sua mãe comece a nos
caçar. Tudo bem?
— Tudo bem.
Do um beijo suave na ponta de seu nariz e começamos a
arrumar as coisas espalhadas para sair.
Deixo Angel em casa e dou uma passada rápida para ver a
minha irmã e minha mãe antes de ir até Zade. Desde a morte do
meu pai, quando eu tinha dezessete anos, tratei de fazer o possível
para que elas não se sentissem sozinhas.
Minha mãe viveu muito tempo como uma daquelas mulheres
que não sabia respirar longe do marido e mesmo que meu pai fosse
um homem complicado, ela não desejava se libertar. Era como se
sua vida tivesse estacionado desde a sua morte, na espera do dia
que eu pudesse cumprir o seu legado e tomar conta de tudo.
Papai foi um grande advogado, muito bem-sucedido e tudo
que minha mãe esperava é que eu seguisse cada um de seus
passos.
Uma discussão que rendia boas brigas sempre que era citada.
Por isso, para não render assunto, fiz uma visita rápida e logo
saí de casa.
Minha irmã deu um breve aceno quando me viu e mamãe
começou a gritar questionando por que eu estava aqui ao invés de
na faculdade.
Pulando na minha caminhonete, dirigi em direção à rua
principal de Falls Prince onde o mercado, restaurante e poucas lojas
que existiam na cidade funcionavam. As fachadas de madeira e
letreiros coloridos davam a impressão de que tínhamos parado no
tempo, na década de oitenta.
A vida em Nova Iorq era muito diferente daqui. Mais
barulhenta e agitada, um vislumbre aos olhos da maioria dos
garotos da minha idade.
Para mim, estava longe de ser um sonho.
Sempre que pensei sobre o futuro, me imaginei aqui. Pelo
menos, antes da morte do meu pai. Agora, a realidade é que eu
estava funcionando no automático, fazendo o que era preciso e
nada mais.
Leva cerca de cinco minutos até chegar à casa de Zade. A
sede da fazenda King é um casarão de quatorze cômodos que fica
do lado mais distante e isolado de Falls Prince. De longe, algo muito
parecido com um lugar mal-assombrado, totalmente o oposto dos
hectares da família onde os girassóis eram cultivados.
Os King, Montgomery e Cahill desenvolveram grande parte do
território da cidade, portanto, há várias propriedades espalhadas
pela região. Meu pai, investiu grande parte de sua fortuna por aqui,
mas nunca teve o empenho com as terras quanto os outros.
Nenhuma de nossas famílias cresceu com qualquer
dificuldade financeira, para falar a verdade e a amizade entre
nossos pais proporcionou que vivêssemos nossa infância
praticamente juntos. Zade e Dallas eram como meus irmãos.
— Sempre atrasado, não é mesmo, idiota? — Zade resmunga,
encarando-me com seus olhos tão escuros quanto os meus assim
que saio do carro e os encontro na porta.
Dallas, com seus cabelos loiros bagunçados e óculos escuros,
parece que acabou de acordar depois de uma semana inteira de
farra enquanto Zade continua o mesmo. Jeans, camisa xadrez e um
boné do The Houston Rockets enfiado na cabeça.
Se eu não o conhecesse desde que saímos das fraldas, diria
que sua última implantação no exército o fez bem.
Com os músculos tão grandes quanto de um modelo
bodybuilder, e tatuagens que preenchiam grande parte da sua pele
bronzeada, ele parecia perigoso e centrado.
Mas só quem sabia os demônios que ele escondia podia ver a
pontada sombria no olhar do herdeiro da família King. Ele estava
estranho desde sua última temporada no Afeganistão. Vivíamos
ouvindo dizer o quanto servir ao país deixava marcas. Às vezes, eu
tinha pesadelos pensando que em uma de suas idas, ele poderia
não voltar para casa.
E a ideia de perder qualquer um deles era completamente
assustadora. Seria o mesmo se algo acontecesse com minha irmã,
minha mãe ou Angel…
— O que você queria falar? — Sem mais delongas, pergunto
investigando o rosto dos dois.
Dallas levanta os óculos escuros, só então, mostrando um
gigantesco hematoma em seu olho direito.
— Que porra aconteceu?
— Recebemos um recado ontem à noite.
Eu espero alguma piada, alguma sugestão de que ele apenas
se meteu em uma briga, mas a seriedade na voz dele levanta um
sinal de alerta que gela a minha espinha. Dallas nunca foi tão sério.
Ele era sempre o mais descontraído e positivo de nós, a ponto de
ser irritante.
— O que aconteceu? — Repito, ficando cada vez mais
apreensivo.
Ele pega algo em seu bolso, troca um olhar confidente com
Zade e me entrega um envelope vermelho.
— Leia.
Eu abro no mesmo segundo e leio a nota em um silêncio
mortal: “Vocês me fizeram queimar. Irei destruir tudo o que amam.”
— Gabriel Castiello escapou da prisão alguns dias atrás. A
polícia está procurando, mas até agora, não foi localizado. Ontem à
noite, Dallas foi encurralado em um beco depois da noite da
fogueira. Um homem estranho deixou essa bela marca no rosto dele
e fugiu. O envelope estava sobre o vidro de seu carro.
Zade continua falando, mas minha cabeça está
completamente apagada para o mundo.
É assim que o que tenho planejado junto de cada gota de
felicidade que estava sentindo me escapa.
Tudo desaba.
Angelina
NOVA YORK
“Surpresa!”

No lugar dos pastos verdes, terra vermelha e céu azul infinito,


um mar de pessoas e prédios imensos confronta minha visão nesta
manhã, despertando a sensação de que o calor da vida foi abafado
por uma multidão vivendo os instantes na velocidade da luz.
O nervosismo é meu companheiro fiel assim que piso os pés
no asfalto. Conferindo o endereço mais de mil vezes, olho para o
edifício gigante à minha frente e solto um suspiro apreensivo.
O ritmo frenético da cidade grande é totalmente diferente do
que eu estava acostumada. Vindo de um lugar tão pequeno como
Falls Prince, essa imensidão de pessoas e arranha-céus me deixa
um tanto atordoada, mas nesse momento, nada disso importa.
Essa é apenas uma pequena batalha a enfrentar comparada
ao que me espera.
Vamos lá Angelina, você é uma mulher ou um pedaço de
bosta?
Pedaço de bosta. Meu inconsciente responde, só para me
provocar e eu ignoro, por pura teimosia.
Nunca fui um pedaço de merda covarde e não vou começar
agora.
Colocando as mãos suadas dentro dos bolsos laterais do meu
casaco, empurro a porta de vidro e adentro a recepção chique do
prédio, repetindo todos os pensamentos positivos que guardei ao
longo da minha vida.
Meses se passaram desde o meu aniversário. Por algumas
semanas, tudo permaneceu daquela maneira, absolutamente
perfeito. Anthony estava próximo, fizemos planos e promessas um
ao outro, até que lentamente as coisas começaram a esfriar.
Eu dei muitas desculpas para justificar o que estava
acontecendo, inventei milhões de razões em minha cabeça, mesmo
sabendo que todas elas eram fracas. O medo era tudo que existia
no meu peito nos últimos dias, medo de perdê-lo, medo de ter me
doado por uma fantasia fadada ao fracasso.
Por semanas a fio, medo era a única coisa que eu sentia até
que eu não podia mais suportar. Precisava de uma certeza e seria
hoje.
Fui aceita na universidade NYU, e a primeira pessoa que
quero que saiba é ele.
Anthony havia se mudado dos dormitórios da faculdade de
direito para um apartamento em um prédio ostensivo algumas
semanas atrás, desde que começou o estágio em um escritório de
advocacia.
Fiquei sabendo da notícia através de Maddie. E mesmo
chateada por ele não ter me contado em nossas ligações assim que
aconteceu, meu coração bobo ainda ficou feliz por ele.
Sua vida estava acontecendo como ele queria e por mais
assustador que fosse pensar que com toda essa agitação, talvez
não existisse mais um espaço para mim, ainda o amava o suficiente
para ficar feliz por suas conquistas.
Ele te ama. Me lembrei.
Será mesmo? Outra parte da minha cabeça perguntou.
Eu queria ser recebida com aquele sorriso sacana em seus
lábios. Queria sentir o mesmo fogo em seus olhos. A mesma paixão
em seu toque. No entanto, tinha pavor de enfrentar a realidade caso
sua reação fosse diferente.
Parei diante do porteiro, forneci o meu nome e esperei,
tentando controlar a ansiedade. Para minha surpresa, ele disse que
não precisava ser anunciada e que poderia subir. Depois de me
explicar como chegar, segui suas instruções e em poucos minutos
me vi parada diante da porta de um apartamento.
Tudo ou nada.
Fechei as mãos em punho, na intenção de bater, porém, uma
vozinha diabólica soou em minha cabeça dizendo para entrar sem
aviso. Assim o fiz, girando a maçaneta notei que a porta estava
aberta, portanto, entrei.
No interior, a mobília masculina contrastava com a decoração
moderna e clássica. Não pareciam combinar com ele, ainda assim,
era bonito. Tão elegante, e… frio.
Meu corpo tremia de nervosismo, meu coração badalava de
agonia.
Não desmaie. Não desmaie.
Caminhando pelo lugar enorme, fui entrando lentamente, sem
dizer nada. Passando por uma sala vazia, localizei um corredor que
imaginei levar em direção aos quartos e continuei.
Isso é música? Inclinei minha cabeça, movendo-me através de
uma névoa de energia nervosa em direção ao som. No meio do
corredor, a melodia ficou mais alta, vindo de trás de uma porta.
Meu andar acelera, meu pulso bate mais forte, mais intenso,
selvagem e inconstante. Estou correndo no momento em que chego
à porta dele, minha mão úmida e atrapalhada com a maçaneta.
Eu giro, abro a porta e congelo.
Ele não está sozinho.
Não está sozinho em sua cama. Não está sozinho.
Com os dedos acariciando a pele nua de uma mulher, Anthony
mal nota a minha presença. Ele segura aqueles cabelos longos,
ruivos como fogo, beija o corpo exuberante coberto por uma lingerie
vermelha feito sangue, e me mata, bem ali.
O chão parece sumir sob meus pés enquanto a cena se
desenrola à minha frente. Meu coração parece ter sido partido em
mil pedaços, e a dor dilacera minha alma.
Fico parada por alguns segundos, sem conseguir reagir até
que desvio meu olhar, sem ser capaz de encarar uma realidade tão
feia.
Paralisia agarra meus membros. O ar escapa dos meus
pulmões e uma rigidez cadavérica me atinge.
Se a morte existisse em uma forma, eu a possuiria agora.
Tudo o que construímos parece desmoronar. As promessas de
amor, a confiança que depositava nele, tudo parece ter sido jogado
ao vento. Como pude me deixar enganar?
Desesperada para ir embora, giro em direção a porta e
esbarro na caixa de som em cima de uma mesa perto dela. O
barulho ecoa pelo cômodo, assustando-os e a música para,
preenchendo o nosso redor por um silêncio enfeitado da bagunça de
uma caça às roupas jogadas pelo quarto.
— Angel?
O sangue ruge em meus ouvidos, pulsa no meu pescoço e
lateja dolorosamente no meu abdômen quando olho para ele.
— Por quê? — minha voz sai estrangulada — Por que você
não acabou tudo? Por que me manteve esse tempo todo para
acabar assim?
— Me desculpe, eu estive muito ocupado. Com o novo
trabalho, quero dizer e… — esse não é o homem que conheço.
Não pode ser. Nem mesmo seus olhos parecem iguais. É
como se uma outra pessoa completamente desconhecida estivesse
diante de mim.
— Essa será a sua desculpa? — minha risada fria corta pelo
ar — O trabalho? Falta de tempo?
— Tudo está diferente, raio…
— Angelina — corrijo, antes que ele possa terminar — Meu
nome é Angelina.
Músculos contraem ao longo de sua mandíbula tensa, e seus
olhos pretos como a noite me fixam com um silêncio gelado.
— Nunca iria funcionar, Angelina.
A ligação entre nós desaba, deixando um vazio tão profundo,
vasto e escuro quanto um oceano.
Eu me sinto caindo por dentro. Quebrando sob os cacos
pesados e irregulares. Engolindo o ar no fundo do esquecimento.
Ele fica imóvel, lábios pressionados, olhos duros. E é nesse
instante que percebo que não há mais nada a fazer.
Virando-me em direção do mesmo caminho que me trouxe a
este pesadelo, eu saio.
A cada passo em direção à porta da frente, a barragem dentro
de mim se curva e estilhaça sob o gemido gutural da pressão de
perdê-lo.
De cabeça abaixada, braços presos em torno de mim mesma,
eu ando mais rápido, mais forte, controlando tudo isso.
Não vou quebrar. Não posso quebrar.
Não aqui.
Quando cruzo o corredor, chamo o elevador e entro na caixa
metálica e solitária.
Minhas pernas falham e me seguro para não cair, alcançando
o celular dentro da minha bolsa.
Minha vista está turva enquanto faço uma busca nos contatos
e clico para uma ligação.
Leva uma eternidade.
Sinto todo meu corpo tremer. Tudo ao meu redor girar.
— Angel? Angel? O que aconteceu? Onde você está?
— M-maddie, pode vir me buscar?
Angelina

Dois anos depois EM ALGUM LUGAR...


“Minha única salvação.”

Minha mente tem sido uma complexa confusão de ilusões e


dúvidas.
Na maioria dos dias, eu invento razões criativas e
compreensíveis para explicar o motivo pelo qual minha vida tomou
esse rumo, tentando encontrar o ponto onde descubro a razão para
que tudo de bom que possuo escapar por entre meus dedos com
tanta facilidade.
Como é possível que um dia eu tenha acordado ao lado do
homem que amo, repleta de sonhos e planos e de repente, não
havia mais nada?
Depois do fatídico dia em que peguei Anthony com outra,
mesmo que eu quisesse ficar em minha cama chorando para
sempre, me levantei e segui em frente. No começo, continuei em
Falls Prince, trabalhando e planejando o início do próximo ano
quando começaria a faculdade na NYU. O sonho de me tornar uma
veterinária sendo a única coisa que me mantinha em pé.
Porém, tão rapidamente quanto escalei para fora daquele
buraco que fui jogada caí novamente quando minha mãe descobriu
que estava doente.
Câncer.
O sonho escapou por entre meus dedos mais uma vez e um
novo pesadelo começou.
Minha mãe, a senhora Linda Harrys, sempre foi uma mulher
orgulhosa. Desde o meu nascimento, quando fomos abandonadas
pelo meu genitor, mamãe me ensinou que pedir ajuda era uma
espécie de pecado. Então, quando ela ficou doente e percebemos
que morar em Falls Prince seria difícil para seu tratamento nos
mudamos para Oklahoma.
A mudança mais seu tratamento levou todo o dinheiro que
havíamos guardado para meus estudos embora. Cada centavo que
tínhamos foi usado para cuidar de sua saúde até que chegou ao
ponto em que eu estava sozinha, assustada e desesperada para
descobrir como faríamos para sobreviver o próximo dia.
Maddie continuava me ligando, querendo saber da minha vida,
mas naquele momento, eu não queria estar perto de nada que me
lembrasse do passado. Foi a única forma que encontrei para
sobreviver.
As coisas foram ficando cada vez mais e mais difíceis até
Dawson aparecer em meu caminho como uma aparição mágica do
destino.
Ele era cliente em um dos bares que eu trabalhava como
garçonete, um bom ouvinte e homem gentil.
Um dia, quando sai para jogar o lixo no fim de um turno
exaustivo, quebrei, chorando desesperadamente todo meu pavor na
sarjeta. Dawson me encontrou naquela situação e quando
perguntou qual era o problema, sem poder guardar mais meus
próprios segredos revelei tudo.
Para minha surpresa, depois disso, ficamos amigos. Ele
aparecia todos os dias, tomava sua xicara de café, perguntava
sobre minha mãe e ia embora.
Era um dos únicos bons momentos que eu tinha durante o dia,
aqueles minutos em que conversávamos.
Meses se passaram dessa forma, até que a saúde da minha mãe
ficou ainda mais debilitada e os custos de seu tratamento maior, foi
então que a proposta foi feita.
Dawson disse que todo o tratamento da minha mãe seria
pago, eu poderia estudar, teria uma casa e tudo mais que quisesse
e em troca, seria sua esposa. Um casamento de conveniência.
Ele precisava de uma vida instável para manter maculada sua
carreira política e eu precisava de dinheiro desesperadamente.
Ambos sairíamos ganhando, segundo suas próprias palavras.
No primeiro momento, minha resposta foi óbvia e clara: não.
Afinal, aquilo era loucura. Dias depois, mais contas surgiram, o
estado de saúde da minha mãe piorou e a ideia foi ficando cada vez
mais tentadora.
Tudo aconteceu tão rápido, que a sensação é como se eu
tivesse piscado e acordado aqui, vestida de noiva, pronta para me
casar com um homem que não amo, mas que será a minha
salvação.
— Você está linda, minha filha. Isso só pode ser um sonho —
o deslumbre na voz da minha mãe e a felicidade estampada em seu
rosto era tudo que estava ausente em mim.
O sorriso que mantenho impregnado em minha face é tão falso
quanto este casamento.
— Obrigada mamãe. — Eu me abaixo onde ela está sentada e
a abraço com força, precisando de sua presença para me impedir
de fugir — Tudo vai ficar bem agora, ok?
Alguém bate à porta, e vejo o assessor de Dawson colocar a
cabeça porta adentro.
— Podemos conversar senhorita?
— Sim — me levanto e engulo em seco antes de olhar em
direção a minha mãe que sai do seu lugar com um sorriso educado.
— Vou avisar a cerimonialista que a noiva está pronta.
— Obrigada, mamãe.
Espero até vê-la sair. Feliz por esse ser um de seus dias bons.
O lenço florido que ela escolheu para colocar em sua cabeça,
combina com os tons claros de seu vestido longo. Ela está elegante
e tão vibrante com toda essa alegria que aquece meu coração.
Exalando um suspiro, olho para o homem engravatado à
minha frente e ele coloca uma pilha de documentos sobre o
aparador ao lado da porta.
— Trouxe os papéis que você precisa assinar — sua voz é fria
e impessoal.
Ele tira uma caneta do bolso de seu terno e me entrega.
— Preciso assinar agora?
Com um aceno, concorda: — Agora.
Sem escolha, abro a pasta, leio rapidamente e assino na linha
pontilhada.
— Pronto. Qual o próximo passo?
— Se casar.
Anthony
“ Preciso de álcool.
O máximo que conseguir.
Eu preciso beber.”

Eu não deveria estar aqui.


Na verdade, nem deveria ter saído de Nova York, para
começar.
Eu não deveria ter abandonado meu trabalho poucos dias
antes de um julgamento importante, dirigido tantas horas seguidas
sem me importar com as consequências e muito menos deveria
estar parado em frente a esta igreja como estou agora. Escondido
dentro do meu carro, observando os convidados chegarem um a
um.
Quem seriam essas pessoas? Por que nenhum dos nossos
amigos de infância está aqui? E por que ela decidiu fugir para tão
longe?
As perguntas eram infinitas disparando através do meu
cérebro exausto. Eu queria pará-las apenas por um segundo. Queria
de volta o silêncio e equilíbrio que trabalhei duro para conquistar
durante os últimos dois anos, mas, quando se tratava dela, tudo
virava uma bagunça.
E no final, o resultado ainda era o mesmo.
A resposta para cada pergunta estava lá, eu goste ou não.
Explicar as escolhas de Angelina era muito fácil. Ela está
fazendo isso para esquecer. Esquecer seu passado, e de mim.
Principalmente de mim.
— Idiota Anthony, você é um idiota, porra! — esbravejei para
mim mesmo, fechando os punhos com força ao redor do volante.
Meu peito queimava, como se meu coração estivesse sendo
mergulhado em uma cuba de ácido. Meus batimentos estavam
frenéticos, minhas mãos suavam, e eu sentia como se a qualquer
minuto, a tempestade em que me enfiei fosse capaz de me engolir e
nunca mais cuspir de volta.
Tantos sentimentos ferviam através do meu sangue, ainda
assim, desde ontem, quando aquela maldita matéria de jornal
apareceu na minha frente, apenas um, me governava.
Raiva.
Uma quantidade tão doentia e desesperadora, que eu mal
podia respirar. Mas de que isso me adiantava quando não havia
nada que eu pudesse fazer?
Se ao menos raiva servisse para alguma coisa, a dor no pulso
que estou sentindo por arrebentar metade do meu apartamento na
noite passada teria me transformado no próximo Buda.
O toque do meu telefone ecoou dentro do carro, me
arrancando dos meus pensamentos e sem prestar atenção no nome
da tela, aperto o botão e coloco o aparelho contra o ouvido, me
arrependendo um segundo depois.
— Onde você está? — o grito de Maddie do outro lado da linha
me fez encolher os ombros em agonia.
Porra, ela era a última pessoa que eu gostaria de enfrentar
agora.
Minha irmã pode parecer um doce por fora, mas Deus é quem
sabe o quão louca ela se torna quando está chateada.
Respiro fundo, reunindo forças e coloco o meu cérebro para
funcionar, por mais difícil que fosse no momento.
— O que você quer? A mamãe está bem? — foi a única coisa
que consegui pensar para dizer, ao invés de contar onde estou no
momento.
— A mamãe está bem? — ela repete, incrédula — Sério que é
isso que vai me perguntar? Qual é o seu problema?
Bufei — A lista é gigantesca, irmãzinha. Posso te mandar por
e-mail se quiser.
— Eu sempre soube que você é um babaca, Anthony, mas
nunca imaginei que além de babaca também é um belo pau no c....
— Olha a boca, porra!
— Foda-se! — cuspiu, do mesmo modo que fazia desde que
eu tinha quinze e ela era apenas uma pirralha boca suja de onze
anos — Apenas, foda-se.
— O que você quer, Maddison? — repeti, com uma pontada
de irritação.
Um minuto de silêncio seguiu do outro lado da linha. Tirei o
telefone do ouvido, para ver se a ligação ainda estava rodando até
finalmente o soluço do outro lado quebrar de vez o meu coração.
Droga.
— Ela é minha melhor amiga e você é meu irmão mais velho.
Eu amo vocês e estou vendo ambos, tomando decisões idiotas. Por
favor, Thony… — meus músculos se apertaram ante a tristeza que
identifiquei em sua voz — Mesmo que ela não fale comigo, nem
responda mais as minhas ligações a meses. Eu estou
preocupada...você precisa fazer alguma coisa!
— Ela o escolheu Maddie.
— Você a traiu! Fodeu outra garota na frente dela! Não tem o
direito de julgar qualquer escolha que Angelina tomou, mas pode ser
homem uma vez na vida e lutar pelo que quer. Dizer que se
arrepende, implorar por perdão de joelhos. Lutar por ela! Aquela
garota ama você feito louca. Se falar com ela, talvez...talvez, ela
desista. Ainda há chance, irmãozinho. Por favor.
Ela desistiria. Aí é que está o problema. Angelina desistiria de
qualquer coisa por mim, se soubesse toda a verdade.
Assim como eu, desistiria de qualquer coisa por ela.
Foi o que fiz naquela manhã em Nova York, desisti dela e dei
um jeito para mantê-la longe. Meus problemas não podiam chegar
até ela.
Ela não merece pagar por nenhum dos meus pecados e as
consequências do estrago que Gabriel Castiello desejava fazer em
minha vida e na dos caras podia ser irreparável.
— É tarde demais — respondi, sem mais a dizer sobre o
assunto.
Outro tempo de silêncio nos fez companhia, até minha irmã
finalmente desistir.
— Quer saber? Você tem razão, é tarde demais — um suspiro
frustrado escapou do outro lado da linha. — A vida em Nova York
deve ser muito mais interessante, não é mesmo? Por que ainda
tentei? Já faz um tempo que mal te reconheço. Espero que não se
arrependa de se tornar tão.. tão…
Babaca? Escroto? Filho da puta do caralho?
— Maddie…
— Tchau, Anthony. Tchau.
Abaixando o telefone, desvio os olhos em direção a porta da
igreja. Tudo dentro de mim, implorava para que eu me levantasse, e
fizesse exatamente o que Maddie desejava, mas, a racionalidade
era uma cadela e no momento, ela estava com uma corda ao redor
do meu pescoço, me sufocando sem piedade.
Fiquei mais alguns minutos ali parado, implorando por um
milagre até finalmente a porta se abrir, e Angelina aparecer, vestida
de noiva, tão linda quanto um anjo ao lado do seu marido.
Uma pequena multidão se aglomerou para aplaudi-los, havia
alguns fotógrafos e até mesmo repórteres ao redor, prontos para
registrar a felicidade do mais novo casal e para meu pavor, era
exatamente assim que ela se parecia. Feliz.
O reconhecimento, dilacerou a parte de mim que ainda
sonhava em tê-la, e aliviou a outra, que sabia que não havia outro
caminho.
Ela está feliz e segura, isso é tudo que importa. Mesmo que
doa.
Minha cabeça ficou pesada com a derrota.
Eu estava quebrado, de mil maneiras diferentes, mas agora
tinha certeza de que ela estava muito melhor sem mim.
Ligando o carro, pisei o pé no acelerador e dirigi. Por horas e
horas, sem destino, até finalmente acabar com os litros de
combustível que me restavam.
Parado na beira da estrada, peguei o telefone, e liguei para os
únicos que eu sabia que me salvariam a qualquer hora e em
qualquer lugar.
Zade atendeu no segundo toque, e eu dei graças a Deus por
sua última implantação ter acabado algumas semanas atrás.
— Falou com ela?
— Não.
— Ela se casou?
— Sim.
— Onde você está?
— Estou te enviando a localização.
— Dallas e eu estamos a caminho.
— Preciso de álcool. O máximo que conseguir. Eu preciso
beber.
Angelina

Presente - Seis anos depois...


EM ALGUM LUGAR
“Não desista, raio de sol.”

Meus olhos se abriram junto do impacto de algo forte batendo


contra meu rosto. A confusão instantânea apoderou-se dos meus
sentidos me preenchendo com memórias desconexas.
Dawson aparecendo para me buscar, seus gritos dentro do
carro, sua raiva, a dor absurda em minha cabeça quando uma mão
agarrou meus cabelos e bateu meu crânio contra o vidro do carro e
então... nada.
Virei-me em uma inútil tentativa de me mover, mas todo meu
corpo estava rígido. Uma dor descomunal em meus ossos me
paralisava dos pés à cabeça e eu não sabia dizer ao certo o motivo.
Uma rajada de frio bateu em minhas costas e só então meus
pensamentos começaram a clarear. A sala fria em que fui colocada,
só tinha um significado para mim, fosse onde fosse, era território
dele. Combinava com ele.
Gelo era tudo que Dawson conhecia, como ele gostava das
coisas. Desde o clima até o que existia dentro de si.
— Eu sei que está acordada, vagabunda! — Um pé empurrou
minha coxa e mordi meus lábios com força para ignorá-lo. Eu não
queria abrir os olhos. Não queria me encontrar com a realidade, pois
sabia quão feia ela era.
Dedos fortes envolveram meu couro cabeludo e fui puxada
para cima com tanta força que minha vontade de lutar contra ele
desapareceu no mesmo instante.
Em choque e imóvel, meu corpo demorou a reagir.
— Não estou no humor para brincadeiras Angelina, você já
testou a minha paciência o suficiente.
Sem escolha, me ajoelhei para que o aperto se afrouxasse e
olhei para frente, bem no fundo dos olhos do meu marido.
Dawson Voight, aquele que ajudava os pobres e prometia o
paraíso a seus eleitores, ou melhor, aquele que os iludia, deixando
que acreditassem em sua bondade me encarava com um ódio
vivido.
— Seis anos de casamento, e tudo que exigi foi obediência.
Algo tão simples, que até mesmo uma caipira burra como você seria
capaz de fazer. E então, como sou retribuído? — sua voz soava
branda como sempre, mas o fogo que via em seus olhos era claro o
suficiente.
Eu fui longe demais e pagaria o preço.
Deixando sua raiva exalar pelo ar, ele me soltou e começou a
caminhar em círculos.
Fui jogada em um quarto vazio. Sem móveis, cortinas e nem
mesmo uma janela. Todos os luxos que ele me deu
desenfreadamente em todos os anos de casamento foram
abdicados por meu comportamento, uma ameaça que ele fazia o
tempo todo, acreditando que era realmente o que me importava.
Por seis anos, vivi ao lado dele e segui suas ordens, afinal, era
isso que ele esperava e desejava de mim. Nossa vida parecia
perfeita do lado de fora - a casa imponente, os eventos sociais
brilhantes e a atenção da mídia sempre ao nosso redor. Porém, por
trás dessa fachada glamurosa, existiam segredos e verdades
dolorosas a enfrentar.
Dawson me desprezava.
Fui tratada como um ser invisível dentro das paredes de sua
mansão. A caipira desesperada que ele tirou da sarjeta.
Em seis anos de casamento, mal fui considerada um ser
humano quando não estávamos na presença de alguém ou em
algum lugar público.
Nosso casamento não era nada além de um acordo muito bem
detalhado que trancafiava minha vida ao seu lado.
Mas eu estava cansada demais para aguentar mais um
segundo disso.
Mais um segundo dele.
As pessoas achavam que apenas a violência podia matar
alguém de forma lenta, eu sou a prova de que as palavras
machucam tanto quanto. As cicatrizes que seus punhos fizeram em
mim, desapareceram, já as feridas de suas humilhações constantes,
continuam sangrando. Estou sufocando diante desse homem e me
tornando algo sem vida só para seu prazer.
— Me deixe ir embora, Dawson. Me deixe ir embora — repito
desesperada. — Este casamento não pode continuar. Não quero
mais ser sua esposa...
Ele paralisa onde está, a alguns passos de distância e inclina
seu pescoço para me avaliar.
— Você ainda não entende, não é mesmo, Angel? — me fita
com um sorriso distorcido — Você não é minha esposa. É minha
propriedade! Portanto, quem decide a hora que isso acaba, sou eu.
Eu estremeço diante dele, não pelo frio e sim, pelo olhar
impregnado de perversidade. Enfiando a mão em um dos bolsos de
seu terno, ele retira um envelope que reconheço de imediato.
Amassando-o bem na minha frente, ele joga o papel na minha
cara.
— E quanto a isso, querida, nós vamos conversar. Se você
acha que vai conseguir alguma coisa me ameaçando, vou te
mostrar o quanto está errada.
O bilhete que escrevi antes de deixá-lo fica caído no chão
como se fosse nada. O desequilíbrio em seu temperamento é o
único indício de que consegui irritá-lo.
Por meses, me aproveitei da invisibilidade com que ele me
tratava para reunir provas do verdadeiro monstro que Dawson
Voight é. E consegui material suficiente para destruir sua carreira.
Na minha inocência, achei que tudo que reuni, seria a brecha
para minha liberdade, mas aparentemente, o monstro que me
possui é capaz de ir muito longe para manter seu império intacto.
O vejo circular pelo cômodo mais alguns minutos até
finalmente parar e me encarar, cruzando os braços em seu peito. A
calma perigosa que eu conhecia voltando aos seus sentidos.
— Vou perguntar apenas uma vez, Angelina, onde está o pen
drive?
— Eu já disse, vou te entregar quando assinar os papéis do
divórcio.
Deixando escapar um suspiro, ele caminha na minha direção
como uma víbora e se abaixa para deixar nossos rostos próximos
um do outro.
— Eu esperava que você fosse um pouco mais inteligente,
sabia? Acha mesmo que lutar contra mim é uma boa ideia, tem
certeza? — pergunta, me analisando.
Eu não respondo. Ele não merece nem mesmo isso de mim.
Dawson fecha sua mão em punho e a levanta, fazendo meu
corpo encolher à espera de um golpe. Seus lábios se curvam
quando presencia o medo que deixo escapar e sorri abertamente,
batendo três vezes contra parede sob minha cabeça.
Depois de alguns segundos, dois homens entram no quarto e
me agarram um de cada lado, obrigando-me a ficar de pé a frente
dele.
— Você não vai gostar do que tenho preparado para você,
querida. Não vai gostar nenhum pouco.
Sem piedade, ele acerta um tapa em meu rosto, me fazendo
ver estrelas enquanto mantém aquela expressão de satisfação, em
seguida me bate novamente, por puro prazer e puxa meu cabelo,
curvando meu pescoço para trás.
Palavras correm por meus pensamentos como contas em fios:
por favor, pare, por favor, me deixe em paz. Me deixe ser livre.
Eu estou a ponto de implorar, bem perto de quebrar, até
encontrar a realidade em seus olhos.
— Está pronta para brincar comigo, minha adorável esposa?
Estava estampado em sua cara, tão claro que qualquer um
poderia reconhecer. Ele iria me fazer sofrer cada minuto do dia, até
descobrir onde estavam as informações que consegui.
— Eu vou te destruir — ameaço, sentindo uma faísca de
coragem crescer em meu peito junto de uma partícula de raiva.
— Você pode tentar. Duvido muito que irá conseguir. —
Murmura em uma contemplação sarcástica — Uma última chance
Angelina, estou te dando a porra de uma última chance. Me diga
onde está e acabamos com essa merda. Eu realmente não quero te
machucar, mas vou, se preciso.
Com o mesmo olhar que ele usa para falar com seus eleitores,
ele tenta me manipular, achando mesmo que vou cair nessa. O
idiota nem sonha que estou vacinada contra isso há anos.
O sangue borbulhou em minha boca.
— Vai. Se. Foder.
Seus punhos se fecham ao lado do corpo, a raiva o tentando
mais uma vez. Com um movimento, ele declara minha sentença.
— Tirem essa vagabunda da minha frente. Vou conversar com
ela mais tarde.
Uma promessa em seus olhos gela a minha espinha e uma
onda de solidão me domina quando todos os anos que vivi neste
pesadelo passam em minha cabeça.
Não havia mais nada que eu pudesse fazer.
Meus olhos se fecham e minha mente divaga, flutuando em
direção a memórias muito mais felizes.
O cheiro do campo de girassóis que eu tanto amava passa
pelo ar, os sorrisos, os beijos... o amor, tudo me abraça, como se
mesmo sabendo que nada nem ninguém viria para me salvar, eles
ainda estivessem lá.
“Não desista, raio de sol...”
Angelina
“Não haverá volta para casa.”

Quando me deparei com o meu reflexo através do espelho, a


sensação, era como se todo o ar restante em meus pulmões tivesse
sido arrancado de uma única vez. Uma mistura de medo, cansaço e
confusão transbordavam o olhar da mulher à minha frente, as orbes
azuis estavam vazias e distantes, como as de uma presa encurralada
e completamente sem saída.
Uma figura feminina deslumbrante estava ali, me encarando com
aquele olhar que me causava arrepios, parecendo completamente
perfeita por fora como era de se esperar, mas no fundo, eu sabia que
ela se sentia suja e perdida.
Meus cachos loiros caíam graciosamente sobre os ombros, uma
maquiagem sutil e discreta pintava minha pele, o colar de diamantes
ostensivo adornava meu pescoço e minha coluna estava rígida,
incapacitada de qualquer erro. O vestido justo agarrado ao meu corpo
e com mangas compridas, era tão apertado que me sufocava e os
saltos de dez centímetros, no mínimo um número menor que o meu,
esmagavam meus pés com o mesmo ódio que Dawson gostaria de
fazer com a minha garganta.
Nada disso era perceptível na imagem que eu encarava e vê-la,
me causava completa repulsa. Eu não era nada além de Angelina
Voight, a esposa dele e este, era o pior fim que eu poderia ter.
Depois que os hematomas foram camuflados por riqueza e
maquiagem, isto era a única coisa que restava. A mulher desprezível
que se tornou presa de um monstro.
Se minha mãe pudesse me ver agora, ela choraria por mim. E
saber que ela não está mais aqui para presenciar o declínio da minha
vida, me conforta. Essa foi a única coisa boa que esses seis anos
puderam me dar.
Pelos cinco anos que minha mãe viveu, sua vida foi feliz
acreditando na mentira.
Um leve toque na porta interrompe meus pensamentos por um
momento. Aliso minhas mãos suadas pelo tecido do vestido,
ignorando a rigidez dos meus ossos e consigo dizer com a voz
trêmula: — Entre.
Marta, a funcionária silenciosa vestida em seu habitual uniforme
azul marinho aparece para informar que Dawson já estava pronto e
me esperando no andar debaixo. Agradeci brevemente com um
sorriso educado e ela emite um olhar enigmático em minha direção,
antes de caminhar até mim com cautela.
Apreensiva, fixei meus olhos na porta, com medo de que alguém
pudesse entrar e nos ver, lutando para não entrar em pânico.
— Está feito — sua voz era um sussurro tão baixo que quase
não consegui entender. — Enviei o pacote para o endereço que pediu.
E-eu espero que isso possa te ajudar.
Sentindo um pico de nervosismo abalar todo meu sistema,
seguro suas mãos nas minhas.
— Muito obrigada, muito obrigada. Eu nunca vou ser capaz de te
pagar por...
— Não — ela balança a cabeça e então abaixa os olhos para
nossas mãos unidas, seus dedos pequenos se soltam dos meus e
envolvem ao redor dos meus pulsos. O tecido do vestido, que se
estende por todo meu braço, quase consegue esconder as marcas
arroxeadas ao redor da minha pele.
Imagens de como aquelas marcas vieram parar ali invadem
minhas lembranças.
Meus pulsos amarrados, as mãos dele tocando meu corpo, suas
ameaças sussurradas, promessas de tomar aquilo que ele nunca teve
o desejo de possuir, até então. A dor e o terror. Meus gritos
desesperados. O medo pungente que me dominava.
Fecho os meus olhos, prometendo a mim mesma que aquela foi
a primeira e a última vez. Nunca mais deixarei este homem me tocar.
— Não preciso de pagamento algum, senhora. Só espero que se
livre dele.
Logo que me encontrou na beira da estrada algumas semanas
atrás, Dawson fez o possível para transformar o inferno que eu já vivia
em algo ainda pior. Estava mais do que certa quando pensei que meu
desafio teria consequências. Foram dias sombrios que eu não gostava
nem mesmo de pensar, meu corpo e minha mente eram a únicas
testemunhas do que aconteceu dentro das paredes de sua cobertura
em Nova York, para onde ele me trouxe.
Desde aquele fato, estou aprisionada neste apartamento sem
ver ninguém além dele e alguns poucos funcionários permitidos.
Felizmente, Marta é uma das pessoas de confiança que ele mantém
por perto, a mulher silenciosa presenciou por anos o terror que vivi e
estava disposta a arriscar a sua vida para me ajudar.
— Obrigada, Marta. Nunca serei capaz de agradecer, por tudo
que fez — engulo em seco, pensando que o último passo foi tomado.
Agora que as sujeiras dele estão nas mãos certas, vou
conquistar a minha liberdade, não importa o custo.
Mantendo meu pescoço firme, saio do quarto e desço as
escadas, pela primeira vez em muito tempo, me sentindo vitoriosa.
Meu coração martela com força em minha caixa torácica e tento não
vacilar sob o olhar frio que me acompanha.
Ao alcançar o último degrau, vejo-o caminhar em minha direção.
Seus cabelos loiros escuros penteados para trás com todos os fios
alinhados e seus olhos azuis emitindo um brilho intenso.
Dawson é um homem alto e bonito, com um corpo atlético magro
escondido por trás de seus ternos caros e uma maldade camuflada
por seu semblante simpático e sorriso de tirar o fôlego.
Foi isso que me enganou quando nos conhecemos. Anos se
passaram, e continuo no mesmo lugar, enroscada em sua armadilha,
me afundando cada vez mais.
Segurando em minhas mãos, ele me posiciona um pouco mais à
frente das escadas, para poder me rondar como um animal avaliando
sua presa. Minha atenção se fixa em cada mínima reação dele. Eu
não vacilo. Eu não desvio o olhar. E não perco o menor movimento de
um músculo ou mudança em sua linguagem corporal.
— Você está linda, querida — suas palavras doces não
combinam com as mãos ruidosas que puxam meu corpo contra o dele
— tão elegante e bonita.
Acomodando-se em minhas costas, onde não posso prever o
que ele irá fazer, sinto-o enfiar o rosto em meu pescoço enquanto
inala profundamente o aroma da minha pele. Tenho que lutar para não
me afastar de seu toque com nojo, pois isso só me colocaria em mais
problemas.
— Vê-la assim, me deixa ainda mais ansioso para prová-la mais
tarde... — murmura, me empurrando para frente — Finalmente vou
descobrir se a vagabunda caipira que tirei da sarjeta tem uma boceta
gostosa.
Ondas de dor e humilhação repulsiva enchem minha língua
coberta de verdades viscosas e venenosas que engulo como se
fossem pedras rasgando minha garganta.
Naquele momento, desejo mais que tudo poder cuspir em sua
cara e dizer o quão nojento ele verdadeiramente é, e que apenas a
ideia dele me tocar, me faz desejar a morte. No entanto, nenhuma
palavra sai da minha boca.
Conhecendo o peso de seus golpes, silêncio se tornou uma das
minhas maiores armas.
— Preciso dizer que terei homens de olho em você durante toda
a noite e qualquer gracinha, qualquer deslize, se arrependerá?
— Não — minha voz é apenas um sussurro fraco em resposta.
— Bom, então vamos anjo. — Suas mãos se fecham em minha
nuca, seu hálito quente atinge o lóbulo da minha orelha assim como
suas palavras — Antes o dever, depois a diversão. Quando voltarmos
para casa, recomeçamos. Nossa brincadeira está ficando divertida, já
que você escolheu o caminho do silêncio e quer manter o seu
segredo... nada melhor do que aproveitar, não é mesmo?
Ele parece confiante, sorrindo para mim com uma arrogância
que me enoja. Acho que ele nunca imaginou que eu aguentaria suas
torturas por tanto tempo.
Posso ver a paciência se esgotando no fundo de seus olhos e os
planos diabólicos fervendo em seu cérebro.
Quando voltarmos para casa, o pesadelo irá recomeçar.
Portanto, estou determinada.
Não haverá volta para casa.
Anthony
“Vazio e raivoso.”

Suor escorre pelo meu corpo enquanto sinto a adrenalina agitar


minhas veias, trazendo a sensação familiar e necessária em uma
escala lenta. Saltando um pé atrás do outro, ensaio os golpes no ar
antes de acertar o saco de pancadas com uma raiva que ninguém
poderia entender.
Minhas mãos envoltas com várias camadas de gaze começam a
formigar e a pele abaixo delas protesta conforme os socos ficam mais
pesados e rápidos. Ainda assim, não é suficiente. Nunca vai ser.
No dia a dia, as pessoas me chamam de equilibrado.
Sou muito bem pago para pensar com frieza e resolver
problemas. Minha conta bancária não está milionária atoa. Quando
indivíduos importantes e cheios de dinheiro procuram por um
advogado capaz de tirá-los da lama a qualquer custo, eu sou o melhor
que podem encontrar.
Minha impassibilidade, competência e profissionalismo já
salvaram o pescoço de muitos nomes. Minha lista de clientes cresce a
cada dia e, a cada segundo, minha fortuna aumenta, mas... nem todos
são capazes de enxergar o que escondo dentro de mim.
A raiva tem me governado há tanto tempo que às vezes sinto
como se fosse difícil respirar. Seis anos atrás, uma tempestade se
alastrou em meu interior. Com o tempo, acreditei que seria capaz de
controlá-la, porém a cada dia que passa, a sensação é que basta um
pequeno impacto para que tudo exploda.
Sentindo meu peito queimar, afasto-me do saco com rapidez,
batendo as costas contra as bordas do ringue em que estou treinando.
Controlando meu estômago revolto para impedir de vomitar em meus
próprios pés, permaneço abaixado até enxergar, pela minha visão
periférica, uma mão amiga me estendendo uma garrafa de água.
— Beba antes que desmaie — a voz de Eros Novak, um dos
poucos amigos que tenho, soa ao meu lado em um tom irritado —
Você nunca sabe a hora de parar, não é mesmo, imbecil?
Saber, eu até sei, só não me importo.
A contragosto, engulo alguns goles e espero até minha
respiração se controlar e a queimação em meu peito desaparecer.
Eros pula dentro do cage e estaciona seu corpo ao meu lado.
Desde que se mudou oficialmente para sua mansão em Los Angeles,
pouco nos vimos. A vida era mais agitada e divertida para nós quando
ele era solteiro.
— Então mesmo que eu tenha viajado até Nova York só para te
entregar a porra do convite, ainda assim, você realmente não vai ao
meu casamento? — o simples som da palavra casamento me causava
arrepios.
— Ao terceiro? — bufei — Não, muito obrigado. Ainda mais que
todos eles foram com a mesma mulher.
— Ei, é o que um homem faz quando ama a sua esposa! —
exclamou, como se fosse óbvio — Além disso, o primeiro não valeu de
nada, você sabe, com toda a palhaçada de casamento por contrato e
o segundo foi na Grécia, para os meus pais, agora...
— Agora? — questiono arqueando a sobrancelha, tentando
encontrar alguma explicação plausível para tal absurdo.
Eros se casou no ano passado com a herdeira Eliza Baumann.
Foi um momento um tanto quanto conturbado para todos já que o
casamento deles não começou do modo mais convencional e sim,
como um acordo bilionário e contrato de negócio.
Para ser sincero nunca imaginei que aquilo podia dar certo.
Desde o primeiro dia quando ele me contou sobre o tal pedido que o
homem que ele considerava como pai fizera em seu leito de morte, o
condenando ao compromisso com uma mulher, até então,
desconhecida, nunca passou pela minha cabeça que o meu amigo
que odiava a palavra “casamento” tanto quanto eu, acabaria se
apaixonando.
Hoje, Eros Novak, o antigo bilionário do coração de gelo, é um
pai de família perdidamente apaixonado por sua esposa.
— Agora ela acabou de dar à luz a minha filha em um parto de
vinte e duas horas e merece. Foda-se! — justificou.
Olho para seu rosto controlando a minha vontade de gargalhar e
seus olhos azuis atingem um tom mais frio.
— Eliza conseguiu mesmo te domesticar, não é? — dou um
soco em seu braço — Vou sentir falta das nossas noitadas meu
amigo.
Ele acerta o soco de volta ao invés de responder, e eu agarro
seu pescoço em uma chave de braço nos levando a uma verdadeira
luta.
Éramos jovens, raivosos e famintos por poder quando nos
conhecemos. Eros foi um dos primeiros clientes que recebi na firma
que trabalhei como associado. Tanto ele, quanto eu, estávamos
nadando em meio a um tanque de tubarões buscando por um espaço
nessa selva de pedra cheia de abutres naquela época e juntos
fizemos muitos imbecis que se achavam donos do mundo tremer.
Rapidamente, o bilionário se tornou um homem de confiança em
minha vida tanto quanto Zade e Dallas eram, e isso não é pouco coisa
considerando o fato de que eu não confio em muitas pessoas.
— O dia que uma mulher capturar o seu coração e fazê-lo
perceber como a vida de casado é boa, nós conversamos novamente.
Eu ri. Alto.
— Isso nunca vai acontecer.
— Como tem tanta certeza? — com suor escorrendo por seu
rosto e os cabelos loiros bagunçados, questionou, arqueando a
sobrancelha enquanto circulávamos em torno do cage.
Porque a única capaz disso já carrega o sobrenome e aliança de
outro homem, pensei, perdendo meu foco por um momento que ele
usou para me derrubar no chão com uma rasteira.
Bufando, saltei para meus pés e sequei o rosto com uma toalha,
pendurando à minha nuca em seguida.
— Apenas tenho.
Com um olhar que me dizia não acreditar em minhas palavras,
perguntou: — Quais planos para esta noite? A companheira de cama
escolhida já está te esperando?
— É muito cedo para isso — murmurei em análise, olhando para
o relógio em meu pulso que contava os batimentos cardíacos — Mal
chegamos ao meio da tarde. Além do mais, tenho um compromisso de
trabalho hoje, um evento importante que um dos meus clientes estará
presente.
— E desde quando você vai nessas coisas?
— Desde quando colocam milhões em minha conta para isso.
Eros deixa escapar uma risada, fala mais algumas coisas sobre
sua magnifica vida de casado para meu completo horror e de lá,
saímos para um breve café antes que eu volte para o escritório.
À noite, naquele mesmo dia, trabalhei até tarde nos casos que
precisavam da minha atenção. Afogado em uma pilha de papéis, as
horas passaram voando conforme os flocos de neve caiam fortes do
lado de fora mostrando a rotineira face fria e implacável do inverno de
Nova Iorque.
Se anos atrás, alguém tivesse me parado e dito que esta seria
minha vida hoje, eu teria rido, pois nunca me imaginei ou sonhei com
esse mundo. Até hoje, não sei ao certo quando as coisas tomaram o
rumo que tomaram, se, na fatídica noite do incêndio onde tudo mudou
para mim e meus amigos e começamos a carregar aquele maldito
segredo, ou quando meu pai morreu deixando nos ombros de um
garoto de dezessete anos a responsabilidade de cuidar de uma casa.
No fundo, a realidade triste é que não importa. O passado não
tem conserto. Não há um botão capaz de nos levar de volta no tempo
para fazer tudo diferente. O que está feito, está feito e a vida
simplesmente continua.
Este lugar agitado e ao mesmo tempo solitário se tornou a minha
única casa, não mais o cheiro de flores e terra. Troquei o jeans e as
botas por um terno Armani e as costas de um cavalo pelo banco de
couro do meu Porsche.
Está é a minha vida, vivendo em um mundo onde tenho tudo e
ainda assim, me sinto vazio e raivoso.
Com os pensamentos a mil, meus olhos se desviam em direção
a fotografia sobre a minha mesa - nela, estávamos eu e Angel sobre
um cavalo em frente a cabana no campo de girassóis. A nossa
cabana. Seus cabelos loiros longos meramente escondidos pelo
chapéu que usava, a sombra do pôr do sol camuflando o mar azul que
ela carregava naqueles olhos.
A força do hábito já criara raízes em minha existência. Não
importa o quanto eu tentasse não pensar nela, todos os dias, se me
sobrasse tempo, entre as milhões de coisas que eu fazia para ocupar
a minha cabeça, o destino era certo, sempre seria ela.
Embora nosso fim tenha acontecido meses depois, a verdade, é
que a deixei naquela cabana. Quebrei seu coração e esmaguei
qualquer esperança para nós depois daquele dia. E eu não podia nem
mesmo justificar o que tive de fazer com o segredo que carregava. O
arrependimento de não ter lutado por ela mesmo quando o problema
com Gabriel Castiello se “resolveu”, será um peso que vou carregar
por toda vida.
Assisti seu casamento escondido, vi o momento em que ela se
casou com outro homem e continuei consumindo os poucos pedaços
de sua vida a distância por um tempo, como se aquilo fosse capaz de
apagar a dor de perdê-la.
Ela parecia feliz com seu marido e sua família. Viajou o mundo
com sua mãe, ficou ainda mais bonita e estava vivendo. Aquilo, me
assustou. Eu ainda era muito jovem na época, e muito egoísta
acreditando que ela não poderia ser feliz com ninguém mais além de
mim.
Em segredo, desejei que seu casamento fracasse, quando o
único fracassado em toda essa história era eu.
Após muitas e muitas noites bêbado comigo mesmo, entendi
que o melhor que eu podia fazer era manter as coisas como estavam.
Se seu casamento estava durando, tinha um motivo; aquele homem a
merecia.
Depois desta decisão, nunca mais procurei saber sobre sua vida
ou paradeiro.
Embora a dor em meu coração tivesse diminuído com o passar
do tempo, me permitindo respirar, às vezes ainda podia aumentar para
uma dor insuportável.
Ela era a peça que faltava. Eu sempre soube.
A única coisa que me faltava e, a única que eu nunca poderia
ter.
Com uma batida na porta, meus pensamentos se afastam do
passado e vejo minha assistente entrar.
— Aqui está, Sr. Cahill — mais uma pilha de papeis é deixada
sobre a mesa e resmungo algo ininteligível para mim mesmo.
— Obrigado — agradeço, apertando os dedos contra meus
olhos.
— Já está tarde — Jennifer reflete, ainda parada no mesmo
lugar diante da minha mesa — Se for ficar por mais tempo, posso
providenciar um café ou uma bebida para tomarmos juntos. E te ajudo
no que precisar...
Desviando os olhos de um dos documentos que peguei para ler,
foco a minha atenção na morena.
Jennifer trabalha para mim há muito tempo. Não sou fã de
misturar minhas relações com trabalho, mas vez ou outra, quando o
tesão fala mais alto que meu cérebro acaba acontecendo.
Ela sabe muito bem disso, já havíamos experimentado boas
noites de diversão nesta mesma sala, com ela nua sobre minha mesa
e o meu pau metendo fundo em sua boceta quente.
Esta noite, no entanto, eu não estava a fim de nenhuma
brincadeira.
— Não será necessário, tenho um compromisso em algumas
horas. Você está dispensada.
— Tudo bem, Sr. Cahill. Tenha uma boa noite.
Pouca conversa, descomplicada e fácil de dispensar, este era o
único tipo feminino que eu permitia em minha vida. Aquelas que
aqueciam a minha cama, mas nunca ousavam chegar perto do meu
coração, porque esse, sempre teria dona.
Cego pelos flashes das câmeras, observando o mar de
repórteres, assisto de longe enquanto Henry Johnson – meu cliente,
dá sua declaração. As mentiras escapando de sua boca com uma
naturalidade surpreendente.
Cada palavra exatamente como havíamos ensaiado.
Sua empresa do ramo de exportações recentemente se
envolveu em escândalo, o que estavam especulando era uma
possível aliança com alguns membros do governo que colaboravam
com o contrabando no continente americano.
Era um caso complicado considerando que Henry era um
bilionário sujo e atolado em merda até o pescoço. Eu lidava com
muitos filhos da puta no dia a dia, o suficiente para reconhecer um
mentiroso a quilômetros de distância, por isso, quando ele tentou me
contratar, alegando sua inocência, minha primeira resposta foi não.
Não precisava de seu dinheiro e muito menos queria a dor de
cabeça que ele havia se metido enfiada em minha bunda, no entanto,
acabei dando o braço a torcer por seu filho, Mark, que era um antigo
conhecido.
Espero não me arrepender disso.
As perguntas duram mais alguns minutos e felizmente, Henry se
esquiva de todas com maestria.
— E então, como fui? — o homem de cabelos grisalhos se
aproxima de mim depois de conseguir escapar da multidão e pergunta
com a voz baixa, para que apenas eu possa ouvir.
— Excelente. Isso irá manter a imprensa longe por tempo
suficiente para que possamos resolver o resto de forma legal. Desde
que encontremos as provas necessárias, tudo ficará sob controle.
Ele concorda silenciosamente, com um olhar vago e agradece
por eu ter livrado seu pescoço, pelo menos por agora.
— Só tente não fazer nenhuma besteira, Sr. Jonhson. Ou, como
falei antes, estarei fora disso e você, ficará sozinho para resolver toda
a merda.
— Meu filho me alertou que você era um homem direto, meu
jovem, só não pensei que fosse tanto.
Eu sorrio, dando alguns tapinhas em suas costas.
— Mark é um homem inteligente.
Nós trocamos mais algumas palavras até Henry ser chamado
para uma conversa que prefiro ficar de fora. Minha tolerância e
paciência para babacas esta noite está um pouco limitada.
Pego uma taça de champanhe depois que fico sozinho e dou
uma volta no ambiente. Por hoje, meu trabalho está cumprido.
Não pretendia gastar a minha noite de sexta aqui e foi ainda
mais rápido do que imaginei. Uma visita em uma das boates que
frequento talvez leve embora a chuva de pensamentos que me
atormentaram o dia inteiro.
De longe, vejo Henry em uma roda conversando com alguns
homens. A maioria, empresários como ele, ou políticos. Eu reconheço
de longe alguns rostos.
Um deles, um homem loiro e alto vestindo um terno escuro
chama minha atenção. O rosto dele era familiar, mas o nome não
vinha a minha mente.
O que era estranho, porque eu sempre guardava nomes com
facilidade.
Uma sensação incomoda se aloja em meu peito, como se
aquele rosto me trouxesse memórias desconfortáveis.
Decido me aproximar, para fazer a pontada de curiosidade
esquisita ir embora, mas não preciso nem mesmo de três passos em
direção ao grupo para me lembrar.
Como pude esquecer?
Aquele é Dawson Voigth. O marido de Angelina.
Meus batimentos cardíacos aceleram, minha pele fica fria e os
pensamentos correm de maneira frenética.
Se ele está aqui, isso significa que…
— Porra.
Angelina
“Bonito. Intrigante. Perigoso.”

— Bem-vindos Sr. e Sra. Voight. Que bom que vieram.


— Obrigado — com um sorriso caloroso, Dawson responde por
nós dois a um homem de meia idade que vem nos cumprimentar
assim que chegamos.
Sua mão segura a minha com tanta força que posso sentir meus
ossos rangendo. Um de seus assessores, que está ao seu lado,
murmura algo baixinho, apontando para um dos pontos do outro lado
da festa, e só então ele me deixa livre. A sensação, quando seu toque
se afasta do meu, é como se eu pudesse finalmente respirar.
Não perca o controle Angelina, não perca o controle.
Procuro me acalmar debatendo comigo mesma. Por todo o
caminho desde o apartamento até nosso destino, o nervosismo e
ansiedade dormentes dentro de mim começaram a surgir de forma
violenta.
Preciso urgente encontrar algum equilíbrio antes que estrague
tudo.
Esta noite é sobre foco e paciência.
Meus olhos observam o ambiente. Mesmo sem qualquer
esclarecimento sobre qual tipo de celebração estamos, suponho que
seja mais um evento político dos milhares que já frequentamos nos
últimos anos.
O salão está lotado, a atmosfera elegante do amplo espaço com
teto alto que acentua ainda mais a sensação de grandeza. As paredes
são decoradas com belos painéis de espelho que refletem sob o brilho
da lua e criam um efeito luminoso combinando com as janelas do chão
ao teto que oferecem uma vista deslumbrante da cidade de Nova
Iorque.
Inúmeros rostos conhecidos passam por mim.
Cumprindo meu papel, sorrio para uma ou duas pessoas que se
aproximam, troco meia dúzia de palavras com alguns jornalistas que
depois de conversarem com Dawson, querem uma declaração de sua
esposa. As respostas saindo da minha boca no automático, como se
já estivessem em meu sistema operacional armazenadas.
Meus pés estão me matando, o nervosismo vibrando através da
minha pele. Eu corro minha atenção, focada em encontrar alguma
brecha que me permita escapar e meus batimentos aceleram ainda
mais percebendo que minhas opções são quase inexistentes. Seus
homens estão espalhados por toda parte.
Não faço ideia de quando ou se estarei fora das paredes daquele
apartamento novamente e assim que a bomba explodir, preciso estar
bem longe.
Enquanto uma onda de tontura se apodera de mim, dou um
passo vacilante ao ser conduzida em outra direção por ele, sem
qualquer aviso. Para não tropeçar e causar uma cena, seguro
firmemente em seu braço, mas estremeço ao sentir seu olhar gelado
me fuzilando de canto.
— Preste atenção! — sua voz murmura irritada em um tom
baixo, fazendo-me soltar seu braço no mesmo instante.
— Desculpe — respondo apressadamente.
Dawson me encara, notando alguma coisa que me deixa
desconfortável, então desvio os olhos, evitando seu olhar penetrante.
Subitamente, ele engancha um dedo embaixo do meu queixo e
levanta meu olhar para o dele, enquanto seu polegar escova ao longo
da minha mandíbula.
— Você parece nervosa, querida... — seus olhos me prendem de
tal forma que sinto o mundo ao nosso redor paralisar — Espero que
nenhuma ideia estúpida esteja passando por sua cabecinha.
Agitando minha cabeça nervosamente, me apresso em
responder: — Não, não é nada disso.
Estreitando os olhos, ele continua me avaliando como se não
acreditasse em minha palavra.
— Só fiquei um pouco tonta — justifico, buscando uma desculpa
para o meu comportamento — Posso ir ao banheiro?
Ele parece ponderar por um momento antes de finalmente
assentir, permitindo que eu me afaste dele. Com passos trêmulos,
caminho para longe, tentando ao máximo não demonstrar a confusão
e o turbilhão de emoções que se agitam dentro de mim.
No espaço elegante do banheiro feminino, lavo o rosto com água
fria e uso os poucos minutos que tenho para reformular tudo.
Marta me garantiu que o pen drive com as provas incriminatórias
contra Dawson foi entregue a polícia. Com tudo que juntei, espero que
sua queda acontecesse de forma rápida, mas, não posso esperar até
que esse momento chegue.
Preciso fugir.
Termino de me secar e saio com a mente fervendo. Um dos
seguranças de Dawson assim como imaginei, me esperava na porta.
Fazendo o caminho de volta, paro alguns metros de distância para
observar meu marido. A empolgação em seu rosto enquanto conversa
despreocupadamente em uma roda de homens embrulha meu
estômago novamente.
Olhando por cima do ombro, percebo que o homem dele
continua me seguindo e decidindo despistá-lo, escolho um caminho na
direção oposta, passando entre rodas lotadas de pessoas, pedindo
desculpas enquanto esquivo delas.
Ando sem rumo, apenas para irritá-lo e distraí-lo até que, para
minha sorte, em meu zig-zag pelo salão, o segurança esbarra em uma
mulher e derruba uma taça de bebida sobre seu vestido, causando
uma cena que toma alguns segundos de sua atenção.
Aproveitando essa oportunidade, consigo escapar para o lado de
fora. No pátio arborizado que remete a um jardim inglês, tomo um
fôlego, precisando daquele momento para reunir forças. O ar fresco e
o ambiente tranquilo ajudam a acalmar a meus pensamentos.
Meus braços se encolhem, alisando os ombros para aplacar o
frio e o desespero, então olho para cima, contemplando o céu escuro,
a lua cheia no alto da minha cabeça, enquanto imploro por um milagre.
— Por favor... — sussurro baixinho, buscando alguma resposta.
De repente, um calafrio que nada tinha a ver com o ar gélido da
noite percorre minha espinha e sinto uma forte presença às minhas
costas.
— Raio de sol — Aquela voz. Aquela maldita voz.
Meus batimentos disparam. A pele fica fria, e minhas pernas
quase perdem a força.
Não pode ser.
Um magnetismo familiar me tenta a virar em sua direção, mas o
medo de que minha mente estivesse finalmente se perdendo em
alucinações me mantém paralisada, sem coragem de encarar quem
quer que esteja ali.
Fecho os olhos, dizendo a mim mesma que é uma completa
loucura da minha cabeça ele estar aqui, porém quando sinto um toque
em meu ombro e um cheiro familiar entra no meu sistema, tudo
desaba.
Anthony.
O nome surge em minha mente cansada, evocando memórias
das nossas risadas, as noites no bar do Loney, de nossos corpos
unidos na cabana, dos sonhos que desenhamos juntos. No entanto,
rapidamente, essas lembranças murcham e se tornam negras, como
se alguém tivesse queimado minhas asas.
Eu me lembro porque proibi minha própria mente de pensar nele;
porque ainda dói.
Oito anos se passaram desde o dia em que ele olhou no fundo
dos meus olhos e destruiu meu coração. E, mesmo que eu não me
permitisse lembrar sobre aquela manhã, vivo os vestígios a cada
segundo.
Como se o caos que ele me deixou, nunca tivesse cessado.
Virando-me lentamente, encontro aqueles olhos escuros e sou
assaltada pela sensação quente que não sinto há anos. Como se meu
coração incendiasse lentamente. Seus ombros fortes parecem ainda
mais largos do que me lembro. Um terno caro, perfeitamente cortado,
preenchendo toda a extensão de seu 1,90m. A barba mais espessa do
que quando ele era jovem, desenhada sobre o rosto marcado de um
homem imponente.
Bonito. Intrigante. Perigoso.
Tudo o que mais me apavora.
— Fique longe de mim.
Anthony
“Besta irracional.”

Oito anos se passaram. Oito malditos, dolorosos e sufocantes


anos desde o dia em que estive perto dela pela última vez. E a
sensação ainda é a mesma, muito parecida com o princípio de um
ataque cardíaco que eu sentia cada vez que ela chegava. Peito
dolorido, suor frio, tontura e o sentimento de que minha vida está por
um fio, e só ela tem a porra da cura.
Eu nunca me esqueceria daqueles olhos, azul oceano, como as
águas do Caribe refletindo um céu cristalino. Fantasiei encontrá-los
novamente durante tanto tempo. Bêbado ao lado de uma garrafa vazia
de Jack Daniels, sóbrio olhando para as fotos do nosso passado, no
mundo dos sonhos. Ansiei por esse dia de inúmeras formas e ainda
assim, a emoção não chegava nem mesmo perto da realidade.
Meu coração parecia um barco em alto mar, balançando entre
lembranças intensas e saudades avassaladoras. Todos os beijos que
dei para preencher aquele vazio, todas as bocas ou corpos que usei
para tentar suportar a falta dela, se desintegraram em minha cabeça.
No meu mundo, naquele instante, só existia ela.
— Angelina... — eu falo hipnotizado, fazendo seu nome sair
quase como um lamento.
Eu estou tão desesperado, tão tentado a me aproximar que mal
noto quando meu corpo se aproxima. É como se meus neurônios
tivessem desligado no momento em que a vi.
— Fique longe de mim! — Repete, dando um passo para trás
como se a ideia de estar em minha presença a enojasse.
Naquele segundo, a realidade da minha estupidez elucida em
meus sentidos.
Meu corpo paralisa, meus ossos rangem.
A impaciência sempre foi minha maior inimiga.
Que ideia idiota. Que ideia idiota, porra!
Eu deveria ter virado as costas e ido embora no minuto em que
vi seu marido. Seu. Marido!
Minha garganta fica seca quando me preparo para me desculpar,
virar as costas e sair, rezando para que ela esqueça que nos
encontramos. Mas quando ela levanta suas mãos e passa sobre seu
rosto, em uma atitude cansada, meus olhos atentos se prendem a
marcas estampadas em sua pele.
Leva alguns segundos para que a informação seja processada
pelo meu sistema, como se o choque me fizesse travar.
As mangas longas de seu vestido quase conseguem esconder,
mas não o suficiente.
Alguém a machucou? Ela está em perigo?
Uma besta irracional surge dentro de mim, totalmente capturada
por essas perguntas, necessitando de respostas desesperadamente.
— O que aconteceu? Quem fez isso com você? — sem me
importar mais com a porra das desculpas ou com a mágoa dela, chego
perto e seguro seus pulsos entre minhas mãos, abaixando-os para ver
a pele marcada com mais clareza.
Ela luta contra mim, puxando com força suficiente para se livrar
do meu toque.
— O que pensa que está fazendo? — quase grita, com um olhar
enfurecido — Não me toque! Eu quero você longe de mim.
Segurando-a pelos ombros, trago seu corpo contra o meu e a
seguro, impedindo-a de escapar.
Não antes de me responder!
Nossos olhos se chocam e o que encontro no fundo daquele mar
oceânico pelo qual sonhei ser capaz de me afogar revira meu
estômago.
A sensação é como se alguém tivesse me agarrado pelo saco e
puxado minhas bolas.
Tanta dor.
Tanta solidão e medo…
O brilho alegre que minha Angel sempre teve, a luz de
determinação que eu conhecia estava apagada, completamente
apagada.
Como se sua alma estivesse trancafiada e gritando por socorro.
— Quem te machucou?
Uma risada amarga expande seu peito e ela me fuzila com um
olhar mortal.
— Por que você se importa?
Enquanto seus olhos se fixam aos meus, percebo o rancor e o
cansaço escondidos lá também. Uma mistura de sentimentos amargos
e sombrios.
— Eu me importo, Angelina. Mesmo que você não acredite, eu
me importo. A pessoa que eu fui no passado pode ser apenas o filho
da puta que quebrou seu coração, mas este filho da puta aqui, não
pode ignorar o fato de que um dia você foi alguém especial para mim.
E ver você machucada me machuca também. Me deixe consertar...
As palavras saem carregadas de sinceridade, e uma parte dela
parece amolecer diante do que ouve. Ainda assim, a resistência
persiste, e ela tenta se libertar do meu toque novamente,
interrompendo-me.
— Não preciso de você parar consertar nada. Vá embora,
Anthony!
— Não me peça isso... — imploro. Meus dedos deslizam por
seus ombros, descendo até alcançar a suavidade de seus pulsos,
acariciando-a — Não posso sobreviver com o pensamento de que algo
aconteceu com você, só me diga quem te machucou, eu cuidarei do
resto.
Ela sorri, com desgosto.
— Você continua um excelente mentiroso. Eu poderia muito bem
acreditar em suas palavras. Se parece muito com aquelas besteiras
que você dizia… que me amava, que faria tudo por mim e então, fodeu
outra na minha frente.
Jesus Cristo.
Meus olhos se fecham com o pesar que suas palavras me
causam.
Se ela ao menos fizesse ideia.
Se ela ao menos soubesse que nunca desejei estar com
ninguém além dela.
A encaro novamente, com a sensação de que meu coração está
sendo esmagado.
— Angel, eu posso te explicar. Há muitas coisas que você não
sabe sobre aquela época. Me deixe…
— Não! — protesta, inflexiva — Eu não quero ouvir nada de
você. Isso acabou. Eu sou uma mulher casada agora. Me deixe em
paz.
Suas palavras me cortam como uma faca afiada. Eu abro a boca
para responder, mas somos interrompidos.
— Quem diabos é você? — uma voz fria grunhi a distância —
Tire as mãos da minha esposa.
Dawson emerge das sombras, com o olhar fixo em minhas mãos
sobre ela e uma expressão mortal em seu rosto.
Cerro meus dentes observando o filho da puta se aproximar e
num único olhar, já sei que o odeio. Seu nariz empinado e ar superior
me permitem ler sua personalidade com uma facilidade incrível.
Lido com imbecis como esse o tempo todo, aqueles que
acreditam que dinheiro e poder podem controlar tudo e todos ao seu
redor.
— Solte-me. — ela pede mais uma vez, elevando o queixo para
esconder o medo no fundo de seus olhos.
Meus dedos lutam para obedecer, mesmo com a voz gritando
em minha mente para não o fazer. Eu pondero as minhas opções,
tentando ao máximo ser racional e quando vejo mais homens
cruzando as portas que levam ao jardim, provavelmente os
seguranças dele, sei que não tenho outra escolha.
Fazer um escândalo em um lugar como esse, seria uma dor na
bunda e com pessoas como Dawson Voight, não é assim que devo
lidar.
— Venha, Angelina. Nós estamos de saída.
Ela se move mais uma vez, com algo diferente em sua
expressão, uma súplica silenciosa quase como um pedido de socorro,
que faz meus dedos afrouxarem. Sinto o momento em que perco a
proximidade de sua pele, e meu coração sangra.
Eu encaro os olhos do homem atrás dela, que sorri quando
Angel segura sua mão e quase perco minha cabeça.
Seus dentes brancos refletem na penumbra da noite, com pura
satisfação. Como se dissesse: ela é minha.
Coloco as mãos no bolso, observando-os sair, para me impedir
de realinhar sua estrutura óssea facial ali mesmo.
Esse babaca não sabe de nada.
Vou descobrir que porra está acontecendo e juro por Deus que
se esse desgraçado a tocou, irei destruí-lo com minhas próprias mãos.
Com a mente fervendo e um milhão de pensamentos passando
por meu cérebro a cada segundo, pego o celular em meu bolso e faço
uma ligação.
Do outro lado, leva três toques até a voz de Zade surgir.
— E aí cara?
— Ei, preciso de um favor.
Alguns anos atrás, após uma última implantação ruim, Zade e
seu amigo do exército, Hunter, criaram a KingCross - uma empresa de
segurança privada. De fora, eles se concentravam em fornecer
segurança pessoal, resgates e outras missões menores em território
americano. No entanto, por dentro, devido às suas conexões com
órgãos do governo, também se envolviam em atividades um pouco
mais obscuras.
Se alguém podia descobrir qualquer sujeira sobre Dawson, esse
alguém, só podia ser Zade.
— Claro, o que aconteceu? Você parece agitado — Zade
responde do outro lado da linha. Sua voz branda e contida, como
sempre, atento a cada maldito detalhe.
Respiro fundo, tentando acalmar a tempestade de emoções
dentro de mim antes de falar.
— Preciso que faça uma busca. Irei te mandar um nome.

Vou para casa sentindo como se meu peito tivesse sido


esmagado por uma marreta.
Quando Angelina partiu com seu marido, logo que voltei para o
espaço onde a festa acontecia, não havia mais sinal dela, e uma
sensação estranha dominou meu interior.
Algum instinto dentro de mim, gritando que eu não deveria ter a
deixado sozinha.
Tudo aconteceu tão depressa que mal consegui pensar.
O reencontro. O modo como ela parecia tão frágil e machucada,
muito diferente da garota que eu conhecia, aquela que nunca tinha
medo de nada e ao mesmo tempo, revê-la como se nada tivesse
mudado e minha Angel ainda estivesse lá, mesmo que adormecida.
Chegando a minha cobertura no Uper East Side, eu parecia mais
como um animal enjaulado, precisando com urgência de libertação do
que qualquer outra coisa.
Não conseguia parar de pensar naquele olhar que vi em seus
olhos. Não conseguia parar de lembrar das marcas roxas em seus
pulsos. Não conseguia tirar meus pensamentos dela.
Andei de um lado para o outro por horas, perdido em meus
próprios pensamentos até receber a ligação de Zade.
— O que você encontrou?
Um extenso tempo de silêncio preencheu meus ouvidos, apenas
o leve som de sua respiração abafada do outro lado fazendo um nó se
formar em meu estômago.
— O que você encontrou, porra? — repeti com a voz elevada —
Diga alguma coisa!
— Não é bom cara, não é nem um pouco bom...
Angelina
“Salto na escuridão.”

— Quem era aquele homem? O que você disse a ele? —


pergunta Dawson, com uma mistura de raiva e desconfiança em sua
voz.
Encurralada em um canto escondido, com seus seguranças a
nossa volta para camuflar a discussão, o olhar furioso nos olhos do
meu marido quase me fazem chorar.
Eu puxo algumas respirações, ainda tentando assimilar o que
acabou de acontecer. As palavras de Dawson reverberam em minha
mente, e eu sei que não posso contar a verdade sobre o encontro
com Anthony.
Não existe a menor possibilidade.
Meu primeiro amor. O homem que quebrou meu coração.
Dilacerou a minha alma a ponto de que nunca mais existisse volta,
mas faz parte do passado que não desejo apagar.
O único resquício de casa e família que me restou, mesmo que
eu saiba que jamais poderei voltar.
Dawson nunca fez questão de saber nada sobre meu passado e
eu preferia que continuasse assim. Que essa parte feliz da minha vida
continuasse guardada como uma espécie de tesouro valioso.
O único homem que amei. O único lugar em que fui feliz.
— O que disse a ele? — ele aperta a carne do meu braço,
empurrando-me contra a parede com um ódio estampado em sua
face, muito pior do que qualquer expressão que já presenciei antes.
— N-nada... eu não disse nada. Só esbarrei com ele. Não sei
quem aquele homem é, eu juro! — minha voz sai trêmula, enquanto
busco desesperadamente alguma justificativa que acalme sua fúria.
Aquela foi a primeira desculpa que veio à minha cabeça.
Ouvindo a minha própria voz, eu podia notar a mentira nela, e odiava
Anthony por me colocar nesta situação. Por que ele tinha que
aparecer aqui justo hoje? Justo agora?!
Dawson me olha desconfiado por alguns segundos, como se
estivesse avaliando a veracidade das minhas palavras.
Cada batida do meu coração parece ecoar no silêncio tenso ao
nosso redor. Ele solta meu braço, mas sua expressão continua
sombria.
— Espero que esteja falando a verdade, Angelina — ameaça. —
Nós vamos falar sobre isso mais tarde — ele estala a ponta de sua
língua e torce o pescoço para um de seus seguranças que abre o
caminho para passarmos.
Eu assinto rapidamente, sentindo um nó no estômago. Meu
coração acelera, e eu sei que preciso ser cuidadosa com o que digo e
faço a partir de agora.
Com um aperto de morte em minha nuca, me empurra para
frente e tropeço em meus próprios pés, quase caindo de cara no
chão. Ele me segura firme antes que eu tropece novamente, e gira
em direção a saída.
O mundo despedaçado que Anthony deixou em meu coração
fica em segundo plano quando noto que algo está errado.
A atmosfera potente de raiva que Dawson exalava ao meu lado,
nada tinha a ver com o sentimento de posse, ciúmes ou algo tipo...
— P-para onde estamos indo? — gaguejo, apreensiva.
Enroscando seus dedos na parte de trás da minha cabeça, suas
unhas cravam em meu cabelo com firmeza suficiente para me fazer
estremecer.
— Cale a boca — rosna como um animal enfurecido. — Cale a
porra da boca e coloque a merda de um sorriso no rosto. Estamos
saindo daqui.
Minha espinha fica tensa com suas palavras. Fazia pouco mais
de uma hora que chegamos, já iriamos sair?
Não. Não. Não.
Eu preciso de tempo. Preciso de tempo!
Fecho os olhos, temendo a derrota. Odiando-me por ter deixado
que as coisas tomassem esse caminho. Eu não posso voltar para
casa. Não posso voltar para casa com ele!
— V-vamos voltar? Já? — tentando não demonstrar o
nervosismo em minha voz, questiono rapidamente, concentrada em
acompanhar seus passos.
Minha pergunta é ignorada.
Dawson continua a me arrastar pelo corredor, sem dar qualquer
explicação sobre nossos próximos passos. Seu aperto em meu
cabelo permanece firme, deixando claro que qualquer resistência
minha será punida.
Eu tento falar novamente, procurando ganhar tempo, mas estou
aflita demais para que minhas perguntas soem com alguma
coerência.
Nada.
Um pico de pânico agita meu sangue quando vejo a porta, e
meu corpo fica mole no segundo em que a ultrapassamos.
Do lado de fora, dois carros já nos aguardavam na saída. Antes
de entrarmos, vejo quando um dos seguranças entrega uma arma em
suas mãos.
Um formigamento sobe minha espinha. Uma pontada de
desespero acende dentro de mim, e eu resisto ao impulso de começar
a correr, acreditando que uma bala acertaria minha cabeça no
segundo passo.
— Vou seguir na frente. Você vá atrás e ligue para o aeroporto.
Preciso de um jato particular, mas não em Nova York, vamos
embarcar na menor cidade mais próxima daqui. Preciso estar fora de
vista o mais rápido possível antes que tudo exploda.
Ele fala rapidamente, latindo ordens para Andrew - seu
assessor, as palavras baixas, mas inflexíveis. Meus pensamentos
voam neste momento, tentando entender o que estava acontecendo.
E cada justificativa parecia pior que a outra.
Ainda com a mão em meu pescoço, ele me vira para a porta de
sua limusine e empurra meu corpo para dentro.
Meu coração está acelerado, a respiração é entrecortada. Eu
sinto um misto de medo e confusão. O que está acontecendo?
Para meu horror, leva apenas dois segundos para entender
tudo. Sentada contra o couro frio, meus olhos caem para o chão no
meio do carro e lá estava um corpo estendido no tapete.
O corpo de Marta.
Olhos vidrados. Um buraco de bala em sua testa.
Morta.
Com meus batimentos disparados, engulo o grito que se aloja
em minha garganta e volto para olhar para ele.
Meu monstro. Meu maior pesadelo.
E quando faço, sou atingida por seu punho fechado contra meu
rosto num soco tão forte que meu corpo tomba para trás
escorregando até o chão, bem ao lado dela.
— Sua vadia filha da puta, você me entregou a polícia?!
— Eles virão atrás de você.
Tremendo com absoluto pavor, este foi o único pensamento em
minha cabeça que fui capaz de dizer em voz alta. O carro entrou em
movimento e minha última gota de esperança murchou.
Do lado de fora, eu podia ver a ponte de Manhattan passando
ao nosso redor como um borrão e minhas chances de escapar
desaparecendo.
Perdida.
Completamente perdida.
Um riso de insanidade borbulha pelo ar, e Dawson joga a
cabeça para trás, rindo como um maldito vilão cinematográfico.
— Você se acha tão esperta, não é mesmo, Angelina? — ele me
agarra pelo cabelo e puxa de volta para que eu sente no banco. —
Sinto te informar, querida, mas quando isto acontecer, já estaremos
bem longe daqui.
Seu sorriso cruel só aumenta meu medo. Sinto o coração
apertado no peito, as mãos suadas, e uma sensação de impotência
toma conta de mim. Suas palavras deixam meus músculos flácidos. O
brilho de sua loucura dilatando as pupilas só comprovam que este é o
meu fim.
Ele pega a arma que estava pousada ao lado de sua coxa,
segura um punhado do meu cabelo e me puxa para ficar ao seu lado.
Um grito escapa da minha garganta quando o pânico que contamina
meu sangue chega ao ápice.
Seus dedos deslizam sobre a coronha de borracha, o indicador
sobre o gatilho de metal frio, antes de levá-la até o meu rosto. A borda
resvalando sobre minha bochecha.
— Se você acha que conheceu o verdadeiro inferno, querida,
vou te provar que está errada. Seu inferno começa agora.
— D-dawson… por favor… — minhas palavras se perdem
quando o cano da pistola entra em minha boca.
Meu coração dispara, e o desespero se intensifica. Estou
encurralada, sem saída. Cada pulsar do meu coração ressoa nos
meus ouvidos, como um lembrete constante da iminência da morte.
Dawson aperta a arma entre seus dedos com uma expressão
sádica, como se estivesse se deleitando com o poder que tem sobre
mim.
Seus olhos brilham com uma crueldade fria.
Minhas lágrimas silenciosas se transformam em um choro
desesperado.
Eu rezo baixinho por um milagre. Implorando para que minha
vida não se extingue assim, de forma tão brutal, porém, descubro que
seus planos vão muito além de simplesmente me matar.
— Sabe o que vai acontecer agora? — sussurra forçando a
ponta da pistola entre meus lábios sem delicadeza, batendo o metal
frio contra meus dentes — Primeiro, iremos fugir dessa bagunça. Vou
te levar para um lugar tão distante, que ninguém nunca mais irá te
encontrar. E lá meu doce e puro anjo, vou fazer com que se
arrependa do que fez pelo resto de sua vida miserável.
Sua mão livre solta meu cabelo e agarra meu pescoço, me
sufocando contra o banco do carro, cortando todo ar dos meus
pulmões.
— Você vai me implorar para morrer todos os dias. Vai ansiar
por uma bala na cabeça todas as vezes que abrir esses malditos
olhos e ainda assim, te deixarei viva — luto contra ele, necessitando
de ar para respirar, minhas unhas arranhando e puxando a pele de
seu pulso fechado contra meu pescoço como fios de aço. — Não
precisarei mais de nenhuma puta para satisfazer as minhas
necessidades, porque, a esposa troféu que eu mantive por todo esse
tempo intacta, enfim, terá alguma utilidade.
Por favor Deus, me ajude.
Por favor.
Minha visão vai ficando turva, o mundo começa a girar e vendo
seus olhos vermelhos me fitando com tanta maldade, reconheço e
sinto a verdade de cada uma de suas palavras.
Eu estou morta. Ao lado desse homem, meu único destino será
a morte lenta e dolorosa que ele pintou em sua cabeça.
Quando ele me solta, meu corpo se enrola em uma bola ao lado
do banco, tossindo e chorando. Seu joelho acerta minha lateral, me
chutando para longe até parar contra a porta.
Fico assim por um longo tempo, esquecida naquele canto, com
lágrimas silenciosas escorrendo por minhas bochechas
copiosamente.
Perdida em um pesadelo de olhos abertos.
As palavras dele ecoam em minha mente, martelando como um
tambor incessante. Ele quer me destruir, quer me ver sofrer, e a
terrível realidade é que ele é totalmente capaz disso.
Com este pensamento doentio, uma urgência me puxa para um
caminho sombrio.
Me levantando lentamente, para não chamar tanto sua atenção,
volto a me sentar e olho para a janela. A esta altura, já estávamos
longe da cidade, numa estrada vazia e escura feito breu.
Nos segundos seguintes, eu não penso.
Apenas reajo.
Puxando a trava, faço tudo em questão de segundos. Giro a
maçaneta, abro a porta e pulo do abismo.
Se a morte era meu destino certo, que não fosse pelas mãos
dele e sim, das minhas.
Um impacto forte foi a única coisa que senti, além do mundo
girando ao meu redor antes de tudo ficar escuro.
Anthony
“Medo.”

Filho da puta. Filho da puta. Filho da puta. Filho da p...


Com raiva fervendo em meu sangue, meus dedos se fecharam
em torno de uma escultura de vidro que estava sobre a mesa no meio
da sala do meu apartamento, os nós em minhas mãos ficando
brancos pela força que eu exercia, e emitindo um rugido de pura fúria,
ergui o objeto e o lancei com força contra a parede, fazendo-o se
partir em mil pedaços pelo chão.
O som do vidro se quebrando ecoou pelo cômodo, e eu me senti
momentaneamente aliviado, mas não durou mais que um milésimo de
segundo.
Maldito filho da puta!
— Você precisa se acalmar, cara... — os olhos escuros de Zade
encontraram os meus, seus músculos tensos como se a qualquer
momento precisasse me conter.
A calma irritante revestida pela camada de obscuridade que o
tornava um maldito homem assustador era uma das coisas que nos
fazia muito diferentes.
Enquanto eu sou como um galão de pólvora prestes a explodir,
Zade consegue manter a serenidade sob qualquer circunstância, por
mais complicada que seja.
Sua habilidade de permanecer calmo é algo que sempre
conseguiu me estressar, hoje em especial.
— Não me peça para ter calma, droga. Não me peça para ter
calma... você está aqui, me dizendo que Angelina está casada com
um louco do caralho e espera que eu tenha calma.
— Eu disse que encontrei evidências, não provas. Precisamos
agir de forma racional. Tenho meus homens procurando por algo
concreto.
— Evidências de seu envolvimento em crimes financeiros,
tráfico de drogas e um esquema de tráfico sexual, porra, para mim, é
concreto o suficiente. Ela pode estar em perigo!
— Acho que encontrei algo... — a voz de Hunter surge da tela
do notebook, colocado sobre a mesa.
Zade estava terminando um trabalho na cidade, mas assim que
liguei e ele usou suas conexões para descobrir a sujeira de Dawson,
tratou de me encontrar.
O dia estava quase amanhecendo do lado de fora, e ainda me
sentia da mesma maneira desde o minuto em que a vi partir.
Minhas emoções eram como um turbilhão de ansiedade e raiva.
Me sentei no sofá, encarando o rosto jovem de Hunter na
chamada de vídeo.
— O que você encontrou?
— Um de nossos meninos conseguiu acessar o banco de dados
do FBI, aparentemente uma investigação foi aberta contra Dawson,
dois outros senadores e cinco empresários na noite passada. A uma
série de arquivos incriminatórios, com transações financeiras,
conversas, doações políticas enviadas a instituições inexistentes e até
mesmo algo sobre queima de arquivo. O cara está enfiado na sujeira
até o rabo. Uma equipe de busca e apreensão foi enviada para sua
mansão em Washington D.C e outra para uma cobertura localizada
em Nova York. Dawson ainda não foi encontrado. O que meu instinto
diz é que ele tinha algum informante infiltrado que enviou um aviso
para que tivesse tempo de fugir.
— Porra — Zade cai no sofá ao meu lado como um olhar
distante.
— Preciso encontrar Angel.

Levou quase dois dias inteiros até que finalmente


encontrássemos uma pista sobre Angelina, e durante esse tempo,
morri de mil maneiras diferentes a cada minuto.
Utilizei todos os recursos que possuía, todas as conexões e
pessoas em quem confiava, disposto a gastar todo o dinheiro
necessário para encontrá-la sem a menor negligência.
Porém, mesmo com todos os esforços, Dawson Voight ainda
estava desaparecido, e eu me recusava a acreditar ou sequer
imaginar que o desgraçado pudesse ter conseguido fugir levando
Angel com ele.
A angústia e a determinação se misturavam dentro de mim
enquanto no fundo do meu coração mantinha acesa a chama da
esperança de que ela havia escapado de suas mãos e estava a salvo
em algum lugar.
O escândalo envolvendo figuras do governo e outros nomes
importantes do país dominava as manchetes da mídia, mas nada
disso importava. O único foco era encontrar Angel, garantir sua
segurança e trazê-la de volta.
Foi somente quando minhas esperanças estavam quase esgotando
que Zade apareceu com a notícia de que um corpo, com as
características dela foi encontrado nas margens de uma rodovia fora
da cidade.
Um corpo.
Nós corremos para o pequeno hospital no mesmo minuto que a
informação chegou e o pânico que vivi durante o caminho, será algo
que eu nunca me esquecerei.
O medo de perdê-la, antes mesmo de ser capaz de curar suas
feridas, de dizer que a amo e que ela sempre foi a única em meu
coração.
O medo de nunca mais poder olhar naqueles olhos, para revelar
que tudo que eu sempre quis foi protegê-la.
O medo de ter falhado na única coisa que eu não poderia.
Eram tantas as divagações, que me levavam a uma realidade
sombria que quando entrei no hospital, meu coração já estava em seu
limite.
Tudo que eu precisava era vê-la.
Invadi o corredor como um louco, ignorando as vozes que me
diziam que eu não podia estar ali.
— Solte-me — grunhi quando alguém tentou me parar — Onde
ela está?! Onde ela está?!
— Senhor, este é um ambiente hospitalar, não pode entrar aqui
dessa maneira.
— Eu quero vê-la, droga! Onde ela está?!
A mulher vestida com roupas estéreis estreitou os olhos em
minha direção, claramente desaprovando minha atitude, mas eu não
me importava.
— Por quem o senhor está procurando?
— Uma mulher. Loira, vinte e poucos anos, olhos azuis, por
volta de um e setenta de altura. Ela foi encontrada gravemente ferida
a alguns quilômetros daqui e trazida para este hospital — respondeu
Zade, contendo sua voz grossa.
A enfermeira me fitou dos pés à cabeça, com uma expressão de
poucos amigos.
— E o que você é dela? Não posso deixar que veja qualquer
paciente se não tiver um grau de parentesco e...
— Marido — respondi apressadamente, ignorando o olhar
estranho que recebi de Zade — Ela é minha esposa!
Angelina
DIAS DEPOIS...
“Seu marido”

— Seu marido.
Ouço o homem de olhos escuros dizer, assim que abro olhos e
a expressão em seu rosto me fez começar a tremer.
A escuridão de repente se tornando um abrigo ao invés do
lugar assustador que me lembrava.
Eu não sabia o que estava acontecendo. Sai da escuridão
para encontrar os olhos dele ao lado da minha cama.
Inúmeros aparelhos ao meu redor.
Tentei buscar em minha memória, para descobrir como acabei
neste lugar, mas não havia nada.
Como é o meu nome? Por que estou aqui?
— N-não... eu não o conheço — eu quase não conseguia falar.
Minha voz era rouca e entrecortada como se quilos e quilos de
areia seca se acumulassem lá.
— Você sofreu um acidente, Angelina — ele esclarece, como
se aquilo fizesse algum sentido — Suas memórias estão
bagunçadas. Os médicos estão fazendo testes há dias enquanto
você entra e sai da inconsciência.
O quê? Eu tento me lembrar. Tento encontrar em minha
cabeça algum indício de que o que ele está falando é real, porém,
não há nada.
— Não — repito, sentindo meus músculos começarem a
tremer. — Você está mentindo.
Meu cérebro se sente esmagado dentro de um crânio cheio de
cimento e nevoeiro, minha boca ressecada como um deserto e meu
coração bate pesado e quebrado.
Não pode ser real.
Eu quero dormir novamente. Fugir desse mundo confuso e
assustador, Os olhos daquele homem continuam me encarando,
com uma máscara de preocupação camuflando sua verdadeira face
enquanto ele cospe suas mentiras.
— Angel... — ele se levanta de onde está, chegando perto de
mim e minha primeira reação é automática.
Fuja.
Grito quando ele tenta me tocar. O medo me sufocando a
ponto de faltar o ar em meus pulmões.
Marido. Marido. Marido.
— E-eu não te conheço, não sei quem você é...
Eu não conseguia respirar. Não posso respirar!
Não é possível. Como ele poderia ser meu marido se eu não
me lembrava sequer de seu rosto?
Não.
Preciso sair daqui. Preciso ir para longe dele.
Começo a puxar os fios que me ligavam as máquinas.
—Saia. Saia. Saia! — Eu dou um salto ficando sentada sobre
a cama de hospital e logo em seguida caio de volta para baixo.
Minhas costelas rangendo como se dezenas de facas me
perfurassem de uma única vez.
— Tome cuidado. Você está machucada. — Ele pousa suas
mãos pesadas sobre meus ombros e tenta me impedir de escapar.
Mesmo com a dor, mesmo com o desespero alojado em meu
sangue, continuo lutando.
Não posso desistir.
Por alguma razão, a palavra “marido” me causa uma espécie
de pânico incontrolável.
—Merda, Angel. Acalme-se. — Um olhar torturado passa por
seus olhos e eu me encolho novamente.
Uma pontada de familiaridade com alguma parte do meu
cérebro quebrado que rapidamente desaparece.
— Não. Não. Saia daqui! — continuo gritando, agitando os
braços de forma frenética, na esperança de conseguir escapar.
— Enfermeira! Médico! Alguém porra — ele grita enquanto
tenta me conter. Amaldiçoando uma centena de palavrões por
segundo.
Me içando em uma posição sentada, com os braços fortes e
impassíveis, o homem me segura, até que outras pessoas começam
a aparecer.
— N-não me machuque... — imploro, quando vejo uma mulher
uniformizada administrar algum remédio em uma seringa.
— Faça isso parar. Ajude-a! — com a respiração
descompassada, ele grunhi em meus ouvidos.
— O senhor precisa segurá-la. — A enfermeira ordena
chegando perto da minha cama — Nós vamos a sedar novamente.
O homem me agarra com mais força. Seus braços como fios de aço
ao meu redor.
Ele nunca me deixaria ir.
— Vai ficar tudo bem, raio de sol. Eu juro que vai ficar tudo
bem.
Eu não acredito nele. As coisas não podem ficar bem.
Nada vai ficar bem.
— V-você está mentindo...
— Sinto muito.
Sinto uma picada em minha lateral, meus músculos ainda
lutando, sem poder desistir, mas é mais forte que eu. Olhando para
aqueles olhos, ouvindo aquela voz sussurrando mentiras e mais
mentiras em meu ouvido, apago.
Angelina
“Minha coisa favorita.”

Desperto lentamente, e tudo ao meu redor parece distorcido.


Um aperto no peito me domina junto de uma sensação de
desorientação e temor, como se estivesse flutuando em um limbo
desconhecido.
Procuro em minha mente, na tentativa de me situar, mas é
como se ela fosse um vácuo.
Completamente vazia.
Gradualmente, os contornos começam a se definir, e percebo
que estou no mesmo quarto de hospital.
Minha cabeça dói, como se alguém tivesse me acertado com
uma marreta, e meu corpo está pegajoso pelo suor em minhas
costas fazendo parecer que acabei de despertar em meio a um
pesadelo febril.
As lembranças ainda estão turvas, porém algumas aparecem
e com urgência, me esforço para conectar os pontos soltos em meu
cérebro.
Um leve zumbido ressoa nos meus ouvidos, como se
estivesse debaixo d'água, o que só aumenta a dor pulsante em
minhas têmporas.
Olho ao redor, tentando encontrar algum indício que me ajude
a reconstruir os eventos passados, mas tudo parece muito
desconexo.
Lembranças vão surgindo de forma lenta.
São apenas alguns flashes, da mesma cena acontecendo. O
esforço que tenho que fazer para entender o mundo ao meu redor,
parece mais difícil do que correr uma maratona.
Sofri um acidente. Fiquei em coma por mais de uma semana e
tenho ido e voltado da inconsciência desde então, devido aos
remédios para controlar o inchaço em meu cérebro que me
derrubam como um mata leão.
Meu nome? Angelina.
Minhas memorias além disso? Estão completamente em
branco.
Tenho lutado contra minha própria cabeça, na esperança de
trazer alguma coisa de volta, no entanto, a cada vez que tento,
apenas imagens desconexas aparecem.
Memórias da minha infância surgiram. O abraço caloroso da
minha mãe – que descobri que faleceu devido ao câncer no ano
passado -, imagens de mim, um pouco mais jovem correndo por
entre um belo campo de girassóis e... mais nada.
Isso era tudo que eu tinha. Imagens perdidas como um disco
rígido danificado.
Tudo está apagado e a única coisa que existe sobre minha
vida de forma palpável é ele; o meu marido.
Anthony Cahill.
O homem que não saiu do meu lado nem por um minuto.
Com aqueles olhos escuros intensos que parecem atravessar
minha alma. Sua voz grossa e ao mesmo tempo suave e
reconfortante, como música para meus ouvidos. E uma emoção
arrebatadora em cada gesto que me desconcerta.
— Oh, você está acordada — uma enfermeira simpática entra
pela porta, trazendo consigo uma nova bolsa de soro, seus cabelos
ruivos presos em um rabo de cavalo no alto de sua cabeça.
No momento em que tento falar, uma crise de tosse me pega,
arranhando minha garganta que está seca como deserto.
— Aqui, tome um pouco de água — pacientemente, a mulher
me ajuda a beber, colocando um copo com um canudo contra minha
boca e o líquido cai como um balsamo — Como está se sentindo?
— Com um pouco de dor de cabeça, mas melhor que dá
última vez que acordei — respondo com a voz rouca.
A lembrança de ter despertado a primeira vez sem ideia do
que estava acontecendo me deixa um pouco ansiosa.
Eu me desesperei e gritei a ponto de precisarem me sedar
novamente.
A mão forte de Anthony segurando a minha, dizendo que tudo
ficaria bem foi a última coisa que senti antes de cair de volta na
completa escuridão. Fazia quase dez dias que isso aconteceu e
desde então, cada vez que despertei, ele estava lá para me
tranquilizar.
Minhas costelas que estavam trincadas devido ao acidente,
estavam começando a melhorar, já não doía tanto respirar. Os
hematomas por meu corpo se transformando lentamente de roxos
para verde e azuis.
Pedi um espelho para uma enfermeira ontem, queria olhar
completamente o estrago e ver o rosto dessa mulher sem memórias.
Anthony chegou quando eu encarava os olhos azuis através do
reflexo, um hematoma roxo quase desaparecendo de um lado,
inúmeros arranhões, um corte profundo em minha testa que eles
tinham costurado, meu cabelo loiro desbotado e frouxo caindo sobre
os ombros.
Eu parecia horrível.
Ainda assim, quando me viu, abriu um enorme sorriso,
daqueles que podem fazer o coração disparar e disse: “Não se
preocupe raio de sol, até mesmo do avesso, você continuaria
bonita.”
Meus olhos se voltam para a poltrona ao lado da cama, agora
vazia.
— O sr. Cahill teve que sair algumas horas atrás — vendo a
pergunta não dita em meu rosto a ruiva observa com um sorriso de
canto — Ele disse que voltaria o quanto antes.
— Certo.
— O doutor virá mais tarde para conversar com vocês, está
bem?
Assinto, enquanto vejo-a trocar a bolsa de soro e poucos
minutos depois ela sai, me deixando sozinha.
Meus pensamentos flutuam e não leva muito tempo até que os
medos voltem como um furacão para me assombrar.
E se ele nunca mais voltar? E se eu ficar aqui, sozinha, com a
mente em frangalhos? O que vou fazer?
Minha respiração acelera de repente. Meus batimentos
escalam e antes que possa perceber, estou buscando por ar,
desesperada.
Segurando minha garganta, me embolo na cama, sem forças
até mesmo para pedir ajuda.
O que vou fazer? O que devo fazer?
— Angel? — Anthony entra no quarto e nota no mesmo
segundo minha situação deplorável — O que aconteceu?
— Eu não me lembro... eu não... — segurando a lateral da
minha cabeça, repito sem parar — não consigo me lembrar. Eu não
sei…
Palavras sem sentido escapam por minha boca e me debato,
presa em uma realidade completamente assustadora.
— Ei, ei, fique calma. Calma. Respire fundo, está bem? —
suas mãos se fecham sobre as minhas, segurando-me de uma
maneira que nossos olhos ficam frente a frente — Concentre-se em
mim, Angel, não entre em pânico. Um, dois, três... — imitando um
exercício de respiração, Anthony busca me acalmar.
E funciona.
Lentamente, minha respiração vai voltando ao normal, os
batimentos diminuem e ele sobe ao meu lado na cama de hospital,
passando os braços a minha volta.
— Eu só queria me lembrar...
Uma respiração pesada corta em seu peito e me afundo nele
um pouco mais, pela primeira vez desde que acordei, buscando
conforto na única pessoa que tenho.
— Eu prometo, raio de sol, prometo a você que tudo ficará
bem.

— Você pode começar a se lembrar de tudo de uma vez, ou


elas podem voltar em pequenos fragmentos, como peças aleatórias
de um quebra-cabeça.
— Quando? Quando, Dr. Scott?
O homem de cabelos grisalhos deixa os prontuários de lado,
elevando seus olhos cinzentos para me encarar.
— Isso é algo complicado de definir, quase impossível, na
verdade. Pode ser daqui uma semana, ou daqui alguns meses. Não
tem como saber.
— E se... e se elas nãos voltarem? — pergunto com horror.
Anthony, que está de pé ao meu lado da cama, emite um olhar
sombrio e meu corpo estremece.
— Traumas cerebrais são uma incógnita, Angelina. Até mesmo
para a medicina avançada que temos hoje em dia. Não posso dizer
quando, mas garanto que seu corpo irá trabalhar para que tudo
aconteça de forma gradativa. Seu caso, é um caso comum de
amnésia retrógada intensa, onde pedaços de sua vida antes do
acidente ficam escondidos em algum lugar dentro da sua cabeça —
sua voz é tão tranquila explicando tudo que tenho vontade de gritar
— O que recomendo é que assim que tiver alta, volte para casa.
Quando estiver em um ambiente tranquilo e familiar o resto, irá
acontecer.
Um suspiro de frustação para pôr entre meus lábios e torço
meus dedos um no outro, com nervosismo.
Casa.
Ambiente familiar.
Nada disso faz sentido em minha mente. Um futuro tão incerto.
Uma mão forte agarra a minha, me impedindo de torcer meus
ossos até quebrar.
Levantando os olhos, encontro o olhar confiante de Anthony.
— Elas irão voltar. Você vai se lembrar de tudo, Angel.
Existia uma garantia segura em sua voz, uma confiança tão
inabalável que apesar do medo que sentia, tornava o fardo um
pouco mais fácil.
— Escute seu marido, querida — Dr. Scott sorri abertamente
— Calma, amor e paciência. Esse é o melhor remédio.
Depois de dizer que eu precisava ser monitorada de perto por
mais alguns dias até que o inchaço em meu cérebro fosse testado e
observado o doutor finalmente vai embora.
Anthony disse que eu não precisava me cansar pensando no
depois, mas, à medida que o tempo passa dentro deste quarto, o
fato de que todas as minhas memórias desapareceram torna-se
ainda mais desesperador.
Pluft.
Como num passe de mágica, tudo ficou em branco.
— Ei.
Ele chama, me tirando do lugar sombrio onde estou junto dos
meus pensamentos.
Sua voz age como uma luz no fim do túnel, uma âncora que
me puxa de volta à realidade, mesmo que por um breve momento.
Uma onda de medo cresce e morre em meu peito, a
apreensão em sua presença finalmente acalmando. Conforme os
dias foram passando, depois do susto de acordar sem me lembrar
de nada e com um homem que dizia ser meu marido ao meu lado
da minha cama, estou começando a me acostumar com ele.
Mais do que isso… sua presença tem despertado emoções em
mim que ainda não sei explicar, mas gosto de sentir.
— Não está com fome?
— Da comida de hospital? — faço uma careta — Com certeza
não.
— É tão ruim assim? — pergunta com uma expressão curiosa.
Pego o prato que a enfermeira tinha colocado no apoio ao lado
da cama antes do médico chegar, encho a colher com uma boa
quantidade da sopa com gosto de água suja e levo em sua direção.
— Aqui, — espero por alguns segundos, até que ele se
aproxime abrindo a boca — experimente e me diga.
O observo engolir, notando o desenho de sua garganta, a
barba delineada, os traços masculinos e bonitos que esculpem seu
rosto, e tenho que me lembrar de manter meus pensamentos na
linha. Ele é um homem tão interessante, com aquele ar perigoso
que intriga e atrai que fico tentada a tentar montar o quebra cabeça
de como acabamos casados.
Anthony me contou que nos conhecemos desde a infância.
Um amor adolescente que perdurava até hoje. Uma história de amor
bonita demais para parecer real.
No começo, a primeira coisa que ele conseguiu despertar em
mim foi medo, eu não conseguia acreditar nem encaixar os fatos em
minha cabeça para entender como poderíamos estar realmente
juntos e apaixonados, mas a cada dia, cada segundo que passava,
o entendimento caia sobre mim como uma manta de conforto e
curiosidade.
Havia amor em seus olhos, cuidado, preocupação e uma
chama tão forte que conversava com algo dentro de mim em
silêncio. Alimentando uma sensação e um desejo que eu já não
estava conseguindo controlar, nem muito menos esquecer.
Estou atraída pelo meu marido. Que surpresa!
Parece uma piada, não é mesmo?
— Então?
— Não é tão ruim.
Estreito os olhos, estudando seu rosto.
— Mentiroso!
Deixando escapar uma risada, ele se senta na beirada da
cama.
— Vou contrabandear algo bom para você. Não se preocupe.
— Você gosta de me mimar, não é? — elevo a sobrancelha,
provocando.
Ele sorri.
— Exatamente. E você acaba de descobrir a minha coisa
favorita no mundo. Mimar minha esposa.
Anthony
“Estou condenado.”

Dizem, que uma mentira quando contada repetidamente, pode


se tornar verdade. Não sei dizer se esta metáfora já foi comprovada,
porém, na situação em que me encontro, posso garantir que estou
rezando para que ela seja verdadeira.
— Tem certeza de que quer continuar com isso?
Eu encaro os olhos de Zade, depois desvio para olhar a
paisagem do lado de fora. Os galhos das árvores agitando pelo
vento como se uma tempestade estivesse a caminho.
Não tenho certeza de porra nenhuma.
Minha mente está uma completa confusão, meu corpo está
cansado por não ter tido uma noite de sono decente há quase um
mês e, em meu interior, estou completamente apavorado pensando
na bagunça em que me meti.
Angel ficou desacordada por oito dias, em coma. Seu corpo
havia sofrido diversas lacerações como se ela tivesse sido arrastada
pelo asfalto, alguns ossos trincados, um hematoma feio no rosto
como se alguém a tivesse batido.
Seu estado de saúde era tão crítico quando foi resgatada que
tudo que os médicos disseram é que o máximo que poderia ser feito
por ela seria rezar. Rezar para que ela sobrevivesse por mais um
minuto.
Eu vivi o inferno por todo esse tempo, implorando para que ela
não fosse levada de mim tão cedo, de forma tão cruel.
Minha intenção, era dizer a verdade no segundo em que ela
acordasse, mas, as coisas viraram uma completa loucura. A busca
por seu marido, as descobertas cada vez mais sombrias sobre com o
que e quem ele estava envolvido, as marcas no corpo dela que
quase me fizeram vomitar com o pensamento do terror que ela tinha
passado.
A culpa vinha me consumindo lentamente, desde o momento
em que a vi. E quando ela abriu os olhos e me encarou com aquele
olhar perdido e apavorado, a última coisa que queria era assustá-la.
Não queria ser mais um nesse mundo a machucá-la. De novo.
Mas se eu quisesse mantê-la em segurança, não tinha outra
escolha.
Uma lembrança de quando ela estava naquela cama de
hospital, lutando por sua vida vem a minha mente: Mesmo com
medo de feri-la, seguro sua mão com delicadeza e deslizo a ponta
do meu polegar contra sua pele. Meus olhos queimam ao vê-la tão
machucada, a garganta está fechada e a cada vez que tento falar,
sinto como se uma lâmina afiada estivesse me rasgando por dentro.
Ainda assim, me esforço para garanti-la: — Vou encontrar o
desgraçado que fez isso, Angel. E vou fazer com que ele se
arrependa de ter colocado suas mãos sujas em você.
Meus olhos se fecham, recordando aquela promessa.
Uma promessa que fiz ao lado de sua cama.
Uma promessa que eu não vou quebrar. Sou um maldito
homem de palavra.
Preciso continuar com esta mentira, até ter certeza de que
aquele pau no cu fodido nunca mais poderá tocá-la.
— Enquanto Dawson Voight não for encontrado e preso, quero
Angelina bem longe de qualquer holofote. Depois de saber que as
provas foram entregues para a polícia por ela, não é seguro. Sinto
que esse homem deseja vingança e não vou correr nenhum risco.
Mesmo que para isso tenha que mentir.
— Como exatamente você pretende fazer isso em Nova York?
— questiona Zade, com uma pergunta completamente pertinente —
Demos sorte dela ser encontrada nesta cidade minúscula e dos
machucados mudarem um pouco seu rosto. A qualquer momento ela
pode ser reconhecida. Quando souberem que você simplesmente
roubou a esposa de um procurado do FBI...
Ela não vai ser reconhecida, porque cuidei disso, porra. Uma
grande quantia de dinheiro e uma longa conversa com o responsável
pelo hospital, garantindo que nenhum de seus funcionários iria abrir
a boca sobre aquela paciente.
Ainda assim, esse não é o ponto.
Meus punhos se fecham, a raiva borbulha dentro de mim.
— Não roubei porra nenhuma! Aquele filho da puta não merece
ser chamado de marido. Ela... ela… — Ela é minha! Eu queria rugir.
Gritar para o mundo inteiro ouvir, mas me controlei — Eu a amo,
Zade, não posso simplesmente deixá-la em seu estado, com aquele
monstro a solta. Não importa as circunstâncias ou as ameaças que
possamos enfrentar. Acreditando que sou seu marido, ela confia em
mim. E farei o que for necessário para mantê-la segura, mesmo que
isso signifique enfrentar o próprio diabo.
— Não estou tentando te condenar. Só precisamos cobrir
nossos rastros, cara. Se vai continuar com isso, cada passo conta —
ele deixa escapar um suspiro — Por exemplo, para onde pretende
levá-la depois daqui? Trancar Angel na sua cobertura me parece
uma opção horrível.
— Não estou voltando para meu apartamento.
— E para onde você vai, então? — questiona, arqueando a
sobrancelha.
— Vou levá-la para casa.
Falls Prince.
A cidade da qual nunca deveríamos ter saído.
Os olhos inexpressivos do meu amigo me encaram em um
silêncio que diz tudo: você é um idiota.
Porém o que ele diz, ao invés, é: — O que vai ser quando ela
descobrir?
Esfrego minhas mãos sobre o rosto, esgotado pra caralho.
— Acha mesmo que não pensei nisso? — bato meu punho
fechado contra o painel do carro — Acha mesmo que não me mata
ter que mentir para ela de novo? Caramba, sim, porra! Me mata! Mas
ela estava tão desesperada, tão perdida, tão assustada que...
— Você achou que se seguisse com a mentira, podia consertar
o passado.
Sim.
— Não — minto. — Eu só não quero que ela pense que está
sozinha. Vou ajudá-la a ficar bem primeiro e então, ela irá se
reconstruir e livrar-se de todos os idiotas em sua vida.
E isso também é uma verdade.
— Tudo bem. Se você diz, aqui está. Certidão de casamento,
identidades, tudo que você precisa. Além disso, assim que descobrir
quando será a sua alta, me avise. Irei providenciar um jato particular
que os tire daqui. Não é seguro passar pelo aeroporto. Dawson tem
conexão com algumas pessoas fodidas, se está monitorando
Angelina, com certeza terá algum infiltrado de olho em qualquer
movimentação. E meu palpite, é que está. Voltei ao lugar onde ela foi
encontrada na estrada e tudo indica que alguém voltou lá. Como se
quisesse ter certeza de que a garota está morta, ou... não sei ainda,
é apenas meu instinto falando. Vou ficar de olho nisso.
Ele me entrega o envelope e engulo o nó em minha garganta.
Eu fiquei tão desesperado quando tudo aconteceu, que nem pensei
nas consequências de envolver meus amigos nisso.
— Escute...
Zade me encara de seu canto, com sua expressão cismada e
dá um aceno rápido de desprezo quando tento falar.
— Se vai abrir a boca para dizer alguma besteira como
“obrigado” ou “sinto muito por envolvê-lo nisso” eu dispenso.
— Não quero te meter em nenhum problema.
Exibindo os dentes para mim, quase como um rosnado, ele
resmunga: — Pare de falar merda. A falta de sono está prejudicando
seu juízo — ficando sério novamente, avisa — Se precisar de
alguma coisa, basta chamar.
E sem mais conversas, ele me leva de volta ao hospital e parte,
como se nada tivesse acontecido.

Quando volto para o hospital, o Dr. Scott me chama para sua


sala.
— Algo de errado? — pergunto, com uma expressão alarmada.
— Não, não — ele garante, ao perceber minha preocupação —
apenas algumas formalidades que preciso que assine. Depois disso,
você está liberado para levar sua esposa para casa.
Meu coração palpita com a notícia, um misto de felicidade e
apreensão toma conta de mim.
— Não é muito cedo para isso? — questiono — Ela ainda está
fazendo as sessões de fisioterapia e sentindo algumas dores de
cabeça. Faz apenas doze dias que ela saiu do coma.
O médico estala a língua em um gesto apaziguador.
— Eu sei que está com medo, mas Angelina é uma mulher
forte. Vai ficar tudo bem, rapaz.
Deixo escapar um suspiro, tentando confiar nas palavras do
médico.
— Se você diz, doutor... Apenas quero o melhor para ela.
— Só tente controlar as grandes emoções ok? Ela precisa de
um período de descanso, sem muitas surpresas.
Sem muitas surpresas? Ok.
— Certo.
Eu assino os papeis de sua alta e escuto atentamente cada
uma de suas recomendações.
— Cuide da sua garota. É um maldito homem de sorte.
Ficamos muito perto de perdê-la, e nem todo mundo tem uma
segunda chance como essa — o doutor aconselha, terminando de
reunir os papéis.
Engolindo em seco, fecho os olhos por alguns segundos,
tentando conter a enxurrada de emoções que se agitam dentro de
mim. Então os abro novamente para encarar o homem mais velho,
cujo semblante transmite sabedoria em cada uma de suas palavras.
Vivi horas de puro terror em minha busca por Angelina. Tudo
ficou ainda pior quando acreditei que ela poderia morrer. O medo de
perdê-la para sempre me sufocou, e a sensação de alívio ao saber
que ela ainda está aqui é quase avassaladora.
Ele está absolutamente certo, sou um filho da puta sortudo. Só
não sei ainda por quanto tempo.
— Sim, — respondo sobriamente. — Eu tenho sorte. E irei
cuidar dela com a minha vida. Farei tudo o que estiver ao meu
alcance para protegê-la e fazer com que se sinta amada e segura.
Depois de ser dispensado, volto para o corredor e passo na
lanchonete antes de seguir para o quarto de Angel. Pego uma salada
de frutas, já que era a única opção minimamente decente, e sigo o
caminho.
Quando estou quase na porta, animado para dizer a ela que
podemos ir embora, escuto um estrondo e um grito agudo que me
faz correr. Meu coração dispara, o medo toma conta de mim
novamente, e eu temo pelo que posso encontrar.
Na cama, vejo Angel com os olhos fechados, o suor
escorrendo por sua testa, as mãos agarradas ao pescoço, agitando
todo seu corpo como se estivesse tentando escapar de alguém.
— Por favor… não me mate… ele vai me matar… deixe-me ir
— seus choramingos atingem um ponto profundo em meu coração.
Desesperado, corro para o lado dela e tento segurar suas
mãos, impedindo que ela se machuque.
Ela se debate freneticamente lutando contra mim. Lágrimas
começam a escorrer por suas bochechas, e não há nada que
pudesse tirá-la daquele pesadelo.
Sangue esguicha para fora quando um de seus movimentos
consegue arrancar o acesso de sua veia, me fazendo saltar sobre a
cama para segurá-la com força.
— Ei, linda, acorde. Angel, acorde! Você está segura, ninguém
vai te machucar…
— Não deixe ele me encontrar, por favor, não deixe ele me
encontrar.
Meu coração se parte ao sentir sua aflição, e eu faço o possível
para acalmá-la.
As palavras que saem de seus lábios me alertam, dizendo que
mesmo que sua mente não se lembre de nada do passado, seu
monstro ainda vive lá, junto com ela. Dentro de sua cabeça.
Com todo o cuidado que posso reunir, abraço-a com ternura,
tentando transmitir segurança e conforto. Sussurro palavras suaves
em seu ouvido, repetindo que ela está segura, que ninguém pode
machucá-la.
Sinto a pulsação acelerada diminuir aos poucos, e sua
respiração se torna mais calma. Aos poucos, os tremores em seu
corpo cedem, e vejo seus olhos se abrirem lentamente.
— Estou aqui, Angel. Nada vai te machucar. Eu não vou deixar
que nada de ruim aconteça com você — digo, com voz firme.
Embalando seu corpo contra o meu, continuo falando com ela,
tentando manter a calma mesmo que nossos batimentos pareçam
combinar em uma sintonia frenética e agitada.
— Eu tive um pesadelo — ela fala baixinho com a respiração
descompassada — Alguém queria me matar. Parecia tão real...
— Está segura Angel, eu juro que está segura.
Ela continua em silêncio, processando tudo que aconteceu, os
olhos observadores fazendo uma rápida leitura ao seu redor.
A calma demora a chegar, mas finalmente vem e eu saboreio o
contato voluntário.
Não há luta. Nem tremor.
Quando nossos olhares se encontram brevemente, Angel não
me enxerga com aquele ódio, ou a lembrança do dia que parti seu
coração e a joguei do precipício.
O abismo de tristeza e medo que aquele desgraçado causou
também está desaparecido.
Encontro naquele olhar apenas um temor singelo do futuro e a
inocência daquela garota destemida que roubou meu coração.
Seu corpo se aloja em meus braços, como se pertencesse a
aquele lugar. O rosto choroso se enterra em meu peito, usando-o
como bálsamo para suas feridas e neste momento, não há mais
nada que se possa fazer.
Estou condenado.
Eu farei tudo que puder para fazê-la feliz.
— Posso te pedir uma coisa? — ela sussurra com a voz
minúscula.
— Claro. Qualquer coisa, raio de sol.
— Me leve para casa. Não quero mais ficar neste hospital.
— Eu vou — prometo — Nós vamos para casa.
Angelina
“O que eu quiser?”

Tudo era frio e escuro naquele lugar como uma atmosfera


abafada que se enlaçava em torno de mim feito correntes invisíveis.
O medo se infiltrava como um veneno paralisante, me impedindo de
fugir, de falar e até mesmo de piscar.
— Se você acha que conheceu o verdadeiro inferno, querida,
vou te provar que está errada. Seu inferno começa agora.
A voz gelada e carregada de ameaça ecoava em meus
ouvidos como uma sentença inevitável. Seus olhos azuis gelados
me fuzilavam com um ódio mortal enquanto as mãos se agarravam
em torno da minha garganta, roubando o ar dos meus pulmões.
— D-deixe me ir... — implorei, minha voz trêmula pelo esforço
de lutar contra ele.
— Você nunca vai se livrar de mim, Angelina. Nunca.
Suas palavras cortantes e soturnas me atingiam como
punhais, trazendo a cruel certeza de que aquele seria meu fim: ele
iria me matar.
E não havia nada nem ninguém que pudesse me salvar.

Um toque quente e reconfortante contra meu ombro fez com


que eu saltasse para fora daquele pesadelo num estalo. A voz
grossa e conhecida bradou ao meu lado, acalmando a onda de
tremor que percorria meu corpo, e meus olhos se abriram, sendo
incomodados pelos raios solares que invadiam a janela.
— Chegamos, linda.
Levantei-me do vazio profundo do sono, ainda com o corpo
pesado e cansado. Passei a mão no rosto enquanto tentava me
acostumar com a claridade, e com uma voz interior sussurrei para
mim mesma: "Você está segura. É só um pesadelo. Só um
pesadelo."
O avião parou e o zumbido dos jatos cessou, trazendo-me de
volta à realidade. Ao meu lado, Anthony acariciava gentilmente seus
dedos em minha bochecha, demonstrando preocupação.
— Tudo bem? — perguntou ele.
— Sim — garanti, não querendo revelar que a cada vez que
fechava os olhos, os pesadelos voltavam para me assombrar.
Era tudo uma armadilha do meu inconsciente, só podia ser, e
eu estava cansada de deixá-lo vencer. Preciso tomar as rédeas da
minha vida de volta, antes que seja tarde demais.
Olho pela janela do avião e vejo o cenário à nossa volta, por
um segundo, fico observando as montanhas do deserto que se
misturam com o céu azul.
Em minhas memórias, tudo permanecia em silêncio, sem um
único vestígio de familiaridade, porém, algo dentro de mim, amou o
conforto da natureza. Como se independente de reconhecer ou não,
aquele fosse mesmo o caminho certo para casa.
Enquanto desembarcávamos, meus sentidos se aguçaram,
absorvendo cada detalhe com uma fome de conhecimento. Anthony
me deu um sorriso tranquilizador, como se soubesse exatamente o
que se passava em minha mente. Seu apoio servindo quase como
minha rocha.
— Ansiosa? — indagou.
— Uma pilha de nervos.
Caminhamos pela área de pouso em direção a um carro preto
elegante que nos esperava. Um motorista abriu a porta para
entramos no banco do passageiro e outro funcionário pegou nossas
malas para guardar no fundo do carro.
Nova descoberta sobre minha vida: meu marido é um
homem rico.
Não sei ainda o quanto, apenas percebi que é rico o suficiente
para conseguir qualquer coisa que quiser com uma ligação.
Roupas. Carros. Aviões. Comida…
— Estamos a cerca de 40 minutos de casa — Anthony
informa, assim que saímos do aeroporto.
— Tudo bem.
Do lado de dentro do carro, ele aconchega seu corpo ao meu
lado, com o cuidado de manter alguma distância.
Era perceptível o que ele estava fazendo, tentando dar tempo
para me acostumar com sua presença. Notei que ele era um homem
chegado ao toque físico, mas nunca passava de um carinho suave e
casto, mais de amigo do que amante.
Apesar de apreciar sua paciência eu estava mais do que
determinada a trazer minha vida de volta a sua normalidade e isso
inclua a relação com meu marido.
Criando coragem, coloquei minha mão acima da sua, que
descansava sobre a coxa musculosa e entrelacei nossos dedos
juntos.
Levantando minha cabeça para encontrar seus olhos, um brilho de
surpresa preenchia sua face. Aquele gesto simples e a intensidade
que eu reconhecia nele foi o suficiente para que eu quisesse
desnudar minha alma.
— Eu... — senti minha garganta quase fechar e as palavras se
alojarem em minha traqueia — Tenho sorte de ter você. Mesmo que
não me lembre, sei que tenho sorte.
Meus sentimentos eram tão intensos que eu não podia mais
esconder.
Anthony se inclina contra mim e passa o polegar em meus
lábios antes de segurar minha bochecha.
— Oh, não... de jeito nenhum — ele exala, sua voz profunda.
— Eu te garanto que o único sortudo sou eu.
Minha respiração fica mais acelerada diante de sua
proximidade, e meu coração parece querer saltar do peito. A tensão
entre nós era palpável, preenchendo o ar ao nosso redor.
— Você vai me beijar? — sussurro, fitando sua boca perto da
minha. Minha língua se move, passando sobre meus lábios, e seu
olhar fica levemente quente.
— Você quer que eu te beije, Angel? — pergunta em um tom
carregado de desejo.
Anthony olha diretamente em meus olhos, parecendo avaliar
minhas ações. O silêncio que se seguiu só aumentava a expectativa.
Minha mente lutava para formular uma resposta coerente, mas
minhas emoções falavam mais alto. O anseio que sentia por ele era
perceptível.
Sem dizer uma palavra, apenas assenti, permitindo que meus
olhos transmitissem a resposta que eu não conseguia verbalizar.
O brilho em seu olhar escuro se intensificou, e sem mais
hesitação, ele se aproximou. Os lábios tocaram minha boca com um
roçar leve, cheio de ternura, como se pedissem permissão.
Meus dedos se enrolaram no tecido de sua camisa, puxando-o
para chegar mais perto e sua boca consumiu a minha, com fome.
Seu gosto mentolado e fresco, o beijo feroz e quase desesperado.
Eu não me lembro como era a sensação de beijá-lo antes,
mas, se todos os beijos eram assim, tudo fazia sentido. Era como
estar em casa.
Mesmo antes de chegar a nosso destino, ao lado dele,
beijando-o tão apaixonadamente, eu senti como se tivesse chegado
ao exato lugar em que pertencia.

Eu não estava preparada para a visão magnífica que encontrei


quando chegamos ao nosso lugar. À medida que o carro subia uma
estrada de terra que levava ao topo de uma colina, meus olhos
ficaram cativos pela imensidão do campo de girassóis amarelos que
se erguiam diante do sol.
Mesmo no inverno, o clima da cidade de Falls Prince era
quente, com raios de sol fortes cortando por entre as nuvens e eu
me senti da mesma maneira, pela primeira vez desde o dia em que
acordei naquele hospital, me senti aquecida e... feliz.
— Meu Deus... isso é... lindo.
— Concordo. — Anthony murmura ao meu lado e quando olho
em sua direção noto sua atenção voltada para mim.
Os olhos presos ao meu rosto deslumbrado, como se
estivesse diante da coisa mais bonita do mundo.
Sinto meu coração disparar por um momento, a intensidade
dele parecia nos preencher até transbordar, cruzando um limite que
estávamos apenas começando a explorar.
Sentindo minhas bochechas quentes, volto meu olhar para
contemplar a beleza estonteante dos girassóis. O carro subiu até o
final da estrada, passou por um pequeno portão de madeira e parou
em frente a uma cabana rústica.
De repente, um flash de memória apareceu em minha cabeça
como se uma tela de cinema se projetasse à minha frente. Nós dois,
neste mesmo lugar, em uma cabana à luz de velas, nossos corpos
unidos...
— Nós já viemos até aqui, não é?
— Você se lembra? — indaga, seus olhos fixos em mim com
expectativa.
— O lugar parece um pouco diferente, porém sim, me lembrei
de nós dois aqui... — respondo, explicando as imagens que surgiam
na minha cabeça.
— Está certa. Queria que estivéssemos em um lugar com boas
memórias — diz com uma voz rouca — E nós fizemos ótimas
memórias aqui... antes do que aconteceu, estávamos em Nova York,
mas quando Dr. Scott disse que você precisava de um ambiente
familiar e tranquilo para se recuperar, pensei neste.
— É lindo Anthony, obrigada.
Chegando perto, ele me envolve e beija o topo da minha
cabeça.
— Não me agradeça por nada. Só quero que esteja
confortável.
Com um sorriso tímido no rosto, a lembrança inundando minha
mente se desdobra e desaparece. Eu forço um pouco mais, tentando
fazer o meu cérebro trabalhar, mas aparentemente isso é tudo que
tenho.
Anthony me ajuda a descer do carro e termina de tirar as
malas para levar para dentro, com a ajuda do motorista. Eu fico do
lado de fora, atenta a cada detalhe.
A cabana parece pequena, com suas paredes de madeira
escura e janelas de vidro no alto, onde há uma pequena varanda. Na
área de descanso em frente, duas poltronas de palha convidam para
momentos de tranquilidade, e uma porta de vidro larga permite uma
visão deslumbrante do ambiente ao redor.
Do lado de dentro, um ambiente aconchegante me acolhe.
Móveis de madeira rústica, uma sala de estar com TV e outros
aparelhos eletrônicos, uma cozinha pequena do lado esquerdo e no
fundo do cômodo uma escada que deve dar acesso ao andar de
cima.
Uma decoração simples, porém, charmosa e moderna. A luz
do sol filtrava-se pelas janelas, iluminando suavemente o ambiente,
e o som suave dos pássaros lá fora adicionava um toque sereno ao
local. O suficiente para que eu quisesse ficar aqui para sempre.
Anthony voltou no meio da minha avaliação, agradeceu o
motorista e o dispensou.
— O que acha? Podemos ficar aqui alguns dias? — pergunta,
investigando meu rosto — Tenho uma casa na cidade também. Não
é uma localização movimentada contando que a cidade é minúscula,
mas o lugar é mais espaçoso se te deixar mais confortável.
— Quero ficar aqui — falo rapidamente, cortando a ideia. — Eu
amei este lugar. É muito aconchegante.
Meu olhar desvia em direção a janela, onde uma imagem de
nós dois abraçados aparece em minha cabeça.
Felicidade. Amor. Segurança.
É o que sinto quando me lembro daquele momento. É como
me sinto com ele.
Não sei como ele faz isso, mas é como se pudesse ler a minha
mente e sem que eu diga nada, dá alguns passos para diminuir
nossa distância e me abraça por trás, exatamente como imaginei.
— Ficaremos aqui então. Faremos o que você quiser, raio de
sol.
O que eu quiser?
Hmmm.
Anthony
“Eu não tenho um minuto de paz nesse caralho!”

Ao ver meu telefone tocar pela milionésima vez o agarro com


um suspiro pesado e saio da sala. Será que as pessoas não
entendem que quando alguém rejeita sua ligação por mais de dez
vezes é porque ela não quer ser incomodada?
— Oi? — respondo em voz baixa, caminhando para a cozinha.
Lá fora, a noite já estava plena e a luz da lua brilhava alta
sobre nossas cabeças. Angel estava no chuveiro, tomando um
banho relaxante. Após os dias exaustivos que tivemos, é o que mais
merecemos.
Paz e sossego.
Zade está ciente de que deve me manter informado sobre
qualquer notícia de Dawson. Porém, como ele mesmo disse,
enquanto as coisas estão calmas, devo aproveitar a tranquilidade.
Chegamos à cabana algumas horas atrás, e a felicidade
estampada no rosto de Angelina fez com que toda a jornada difícil
valesse a pena.
Anos atrás, acabei comprando a pequena casa nos limiares da
fazenda King. O campo de girassóis continuava sendo cultivado,
mas agora outros agricultores assumiram a tarefa.
Desde que o pai de Zade faleceu, logo que ele voltou do
exército de forma definitiva, meu amigo decidiu que não tinha
interesse em manter esse tipo de negócio, já que estava focado em
sua própria empresa. Foi uma burocracia chata, mas eu não podia
desistir deste lugar, então consegui garantir que a cabana se
tornasse minha.
Quando visitava minha mãe e irmã em Falls Prince, preferia
ficar aqui, em vez da casa da minha família. Este lugar sempre me
aproximava de Angel, era o nosso refúgio. Sempre seria.
Reformei o espaço, tornando um lugar bonito e aconchegante
e sonhei durante anos com o dia em que poderia trazê-la de volta
aqui sem nunca imaginar que isso aconteceria nessas
circunstâncias.
E ela ficou tão feliz ao chegar, tão encantada, que eu não
queria que nada atrapalhasse este momento.
— Porra, finalmente. — Dallas resmunga em meu ouvido —
Estou te ligando o dia todo!
— O que foi?
— Primeiro, tente não surtar. Segundo se prepare para o
furacão Madisson Cahill, que está apontando em sua direção e pode
chegar a qualquer momento.
Meu primeiro pensamento: Eu não tenho um minuto de paz
nesse caralho!
O segundo: Que porra?!
— Não me diga que ela sabe sobre... — começo a dizer, e logo
interrompo — Espere, você sabe?
Eu não tinha contato muitos detalhes do que estava
acontecendo a ninguém além de Zade. Pelo obvio fato de que as
coisas já eram complicadas o suficiente. Quanto menos pessoas
envolvidas, melhor.
— É claro sei. Eu sempre sei — responde, como se eu fosse
um idiota por perguntar. — E sim, sua irmãzinha também descobriu.
Não me pergunte como. Eu só sei que ela apareceu aqui, com um
interrogatório e você sabe como aquela garota é, ninguém consegue
vencer uma batalha contra ela.
— Caralho! Ela vai enlouquecer e estragar tudo. Eu vou te
esganar, juro por Deus.
Dallas emite um suspiro.
— Se acalme. Eu expliquei tudo a ela, Maddie não vai contar
nada. Depois de saber toda a situação de merda com o filho da puta
do marido, ela sabe que Angel vai precisar de tempo. Ela entendeu.
Entendeu? Claro. Conta outra.
Nesse momento, provavelmente, Madisson já está
providenciando a minha morte. Ela sempre foi protetora e deste que
ela e Angel se afastaram, lamentava a perda da amiga e me culpava
por isso sempre que possível.
Saber o que aconteceu com ela, provavelmente a deixou louca
e por mais que eu soubesse que estava fazendo tudo para protegê-
la, Maddie não concordaria com a minha mentira.
Encostei-me contra o balcão, sentindo-me tenso.
— Não quero minha irmã vindo até aqui assim do nada. Diga
para ela ficar longe, eu irei até lá assim que possível e vou explicar
tudo.
— Pensei nisso. Mas acho que Maddie não vai esperar muito
tempo. Que tal marcarmos um jantar dentro de alguns dias? Vai
fazer bem para Angel estar perto de uma amiga. Se sentir acolhida.
Por todos nós.
Apertando os dedos sobre meus olhos, exalei uma respiração
frustrado.
Ele tinha razão. Jesus, eu não podia mantê-la presa aqui
comigo para sempre. Era muito egoísta da minha parte e muito
injusto com os outros. Eu não era o único que a amava.
Maddie, Zade, Dallas também perderam Angel assim como eu
– não tão dolorosamente, é obvio, mas todos sentiam falta dela.
E eu estava tentado a agir como uma criança birrenta que
esconde seu brinquedo favorito. Com a diferença de que o que estou
escondendo é a mulher que manda na porra do meu coração. Com
muito medo de que ela os veja e todo o resto venha à tona.
Por quê? Porque sou um idiota.
— Tudo bem cara, vou pensar no assunto. Eu te ligo amanhã
para falarmos sobre isso. Estou morto e precisando de uma boa
noite de sono.
— Certo — concorda. — Fora isso. Tudo bem, por aí... entre
vocês, quero dizer. A vida de marido é boa?
Meus dentes rangem em irritação.
— Você sabe que as coisas não são assim. Ela irá se
recuperar logo, descobrir tudo, então...
Dallas ri do outro lado da linha me arrancando um rosnado
irritado.
— Então o que? Vai deixá-la ir embora? O que você é agora,
um monge celibatário? — emite em um tom sarcástico. — Não se
faça de bom moço para mim. Nós dois sabemos que a última vez
que a deixou escapar, foi na porta daquela igreja. Agora que a tem
de volta, eu duvido muito que esteja disposto a deixar Angelina
partir.
Foda-se.
Dallas sempre consegue ser um babaca quando quer, com sua
carinha de santo e jeitinho divertido, o filho da puta é capaz de partir
uma pessoa ao meio apenas com suas palavras.
Pior de tudo? Ele está definitivamente certo.
— Vou desligar.
Encerro a ligação, coloco o telefone no silencioso e jogo no
balcão. Dou dois passos, penso melhor, volto e desligo de vez
aquela merda.
Não quero ser incomodado mais por hoje. Minha paciência e
disposição foram para o caralho.
Subo as escadas, para pegar uma roupa limpa e confortável,
então derrapo logo na entrada do quarto quando vejo Angel envolta
apenas por uma toalha, analisando sua mala que está aberta em
cima da cama.
Ai, caralho.
Merda. Merda. Merda.
— Desculpe, pensei que ainda estava no banho. — Digo, com
uma voz um pouco trêmula.
Seu rosto se levanta para encontrar o meu, os cabelos
molhados caindo levemente à frente de seus olhos. A pele clara,
perolada, umedecida e salpicada pelas gotas da água do chuveiro.
Partes dela que eu tanto sinto saudade, escondidas pelo tecido
felpudo que a envolve, deixando apenas as pernas longas e
torneadas à mostra.
Mesmo com os hematomas do acidente, ainda marcando-a em
alguns pontos, ela consegue ser a mulher mais deliciosa que já vi.
Porra!
— Volto depois. — Com passos para trás, vou me afastando,
sentindo que a qualquer minuto posso explodir.
A batalha que travo entre meu corpo, coração e razão é
intensa e perturbadora. Já faz tanto tempo desde a última vez que a
toquei desta maneira, que minha cabeça entra em parafuso com a
ideia de estar junto dela.
De poder beijá-la quando, como e onde quiser. Poder sentir
seu gosto.
É uma tarefa que parece levar uma eternidade apagar as
imagens que se formaram em minha mente.
Aos poucos, sinto uma gama de alívio me encontrar, mas é tão
medíocre que desisto.
Faço meu caminho de volta até o quarto, onde encontro Angel
sentada na cama, com uma expressão indecifrável em seu rosto,
agora vestida em um conjunto de pijama com calça e blusa de
mangas compridas.
— Ei... — eu falo tentando ao máximo esconder o turbilhão em
minha cabeça.
Seus olhos se levantam e um brilho passa por eles ao
encontrar os meus.
— Pensei que não voltaria mais — ela comenta.
— Estava esperando por mim?
Deixando escapar um suspiro, assente. — Sim, — então
franze o cenho — Você não vai se deitar?
Meus olhos desviam para a cama espaçosa e intacta, e noto o
modo como suas mãos apertam uma à outra, torcendo os dedos
com nervosismo.
Droga.
— Eu… daqui a pouco, vou deitar daqui a pouco, linda. Pode
ficar confortável. Você precisa descansar. — Eu tento parecer
tranquilo, mas a ansiedade me corrói por dentro.
Ela franze a testa, se levanta e vem em minha direção, os
olhos cristalinos cheios de determinação.
— Você também precisa. Passou dias dormindo naquela
poltrona horrível no hospital. Vamos dormir.
Jesus Cristo. Se ela soubesse o que está me pedindo.
Parece uma tarefa tão simples. Dormir ao lado dela. E ao
mesmo tempo, é tão complicado.
— Tem certeza? — pergunto, olhando em seu rosto — Posso
ficar no sofá.
— Por quê?
— Eu só não quero deixá-la desconfortável, raio de sol. Sei
que você não se lembra…
Para minha surpresa, ela se aproxima um pouco mais, fica na
ponta dos pés e escova os lábios macios contra os meus.
Não é bem um beijo. Apenas um gesto. Um selinho carinhoso
que vibra o sangue bombeando em minhas veias.
— Você é meu marido. E eu não quero deixar o medo me
vencer. O doutor disse que devo viver a vida normalmente, certo?
Então vamos vivê-la.
Vamos vivê-la.
Fecho os olhos, ponderando as minhas opções ante a seu
pedido tão tentador.
É muito fácil me render a esse paraíso.
Mas a tempestade que esse caminho pode me trazer depois, é
o grande problema.
Ainda assim…
— Tudo bem.
Porque meu peito se enche de felicidade com seu sorriso
tímido, não é nenhuma surpresa.
Por que meu pau está em festa? Isso sim é preocupante.
Controle-se, porra.
Vou até o banheiro, troco de roupa e volto para o quarto.
Sem camisa, apenas de cueca e calça de moletom, me deito
debaixo das cobertas e quase gemo quando seu corpo quente
relaxa contra o meu.
— Boa noite. — Ela sussurra, enquanto desligo as luzes e
deixo apenas um abajur aceso, preenchendo o quarto com uma
meia luz amarelada.
— Boa noite, raio de sol. — Respondo, tentando esconder as
emoções em minha voz.
Ela se aninha nos lençóis, aconchegando seu corpo entre
meus braços e minha mão a envolve pela cintura, por trás.
Seu cabelo que cheira a baunilha acaricia meu rosto, a mão
delicada cobrindo a minha, como se tivesse medo de que eu fugisse
a qualquer momento.
Jesus.
Seria uma longa. Longa. Longa e perfeita noite de sono.
Angelina
“Éramos felizes?”

Desperto abruptamente, sentando-me na cama com o coração


acelerado e descompassado. Suor pegajoso se agarra ao meu corpo,
a seda leve do pijama colada às minhas costas me sufocando tanto
quanto o monstro escondido em meus pesadelos.
Mais uma manhã que começava da mesma forma.
As gotículas em minha testa sendo testemunhas do quão real e
intenso esse medo estava se tornando. Fico ali alguns segundos,
expulsando as imagens da minha cabeça e digo a mim mesma que
nada, nem ninguém, pode me machucar.
O delicioso cheiro de café da manhã aguça meu olfato e
desperta-me a realidade. Um sorriso cruza o canto da minha boca
quando escuto o som dos pássaros cantando do lado de fora e vejo
os raios solares invadindo o quarto pelas frestas da varanda. Porém,
não demora até que a tranquilidade conquistada se encolha em meu
peito.
Uma onda de melancolia me domina quando me movo nos
lençóis e me deparo com a cama ao meu lado vazia. E fica ainda pior
quando me lembro que isso se repetiu todos os dias desde que
chegamos.
Anthony se deitava ao meu lado à noite, me abraçava até eu
pegar no sono e, quase como num ritual, desaparecia antes do dia
amanhecer, sumindo por uma parte da manhã. E por mais que eu
tentasse compreender o que estava acontecendo, algo permanecia
obscuro. Como um tormento silencioso dentro deste casamento que
eu não conseguia desvendar.
As perguntas e dúvidas me assombravam. Seria algo em mim
que o afastava? Ou existia outra coisa? Algo que eu não sabia?
Cada questionamento enchia minha mente, mas as respostas
pareciam distantes e incertas. O futuro que nos aguardava era
nebuloso e havia muitos desafios a enfrentar. Por algum motivo cruel,
imaginei que superaríamos tudo de forma simples, mas isso não se
mostrou verdadeiro.
Com os pés descalços, desço as escadas, sentindo o calor do
piso amadeirado contra minhas solas. Paro na cozinha, sirvo uma
xícara e caminho até a janela. Vislumbro o campo de girassóis
brilhando como um mar dourado hipnotizante. A paisagem é
deslumbrante, mas meus olhos se desviam dela e fixam em algo
ainda mais bonito.
De longe, cruzando a colina que trazia até a cabana, eu podia
ver Anthony em seu treino matinal.
Os raios solares refletiam em seu peito nu, que brilhava com o
suor aderido ao corpo. Seus ombros largos e a pele bronzeada
realçavam sua forma atlética e bem definida. Um short de ginástica
pendia levemente em sua cintura, revelando a linha dos gomos
trincados de seu abdômen. Seus cabelos escuros, molhados,
grudavam em sua testa enquanto ele se movia em perfeita harmonia
com a natureza ao redor, como se fizesse parte da própria paisagem.
Sem me conter, abro a porta e paro na cobertura da varanda,
com a xícara de café fumegante em minhas mãos, observando-o.
Assistindo a forma que seus músculos se levantavam e
inchavam com profundas respirações ante aos movimentos ferozes e
dolorosos que ele fazia. Uma troca entre abdominais, agachamentos
e saltos no gramado.
Quando pareceu finalmente exausto, praticamente esgotado,
ele terminou sua corrida até chegar em casa e o brilho em seus olhos
foi a minha ruína quando me encontrou.
Na primeira noite, encarei-me no espelho após muito tempo,
descobrindo o corpo não me lembrava. Havia marcas e cicatrizes
sobre a minha pele que eu não fazia ideia de como vieram parar lá.
Como se de alguma forma, a história por trás daquelas feridas
relatassem fatos muito mais sombrios do que os que eu conhecia.
Me perguntei se era isso que poderia fazer Anthony fugir de
mim, como o diabo foge da cruz, já que reconheço, tivemos dias
muito turbulentos.
No entanto, essa dúvida se tornava pequena a cada vez que
ele me olhava. Eu podia ver a chama de desejo em seus olhos, a
paixão, o anseio para ir além. Via tudo, então ainda não conseguia
encontrar um sentido.
Por que ele temia me tocar?
Anthony para por um longo momento a alguns passos de
distância, como se estivesse pensando no que fazer e me esforço
para permanecer paralisada, observando as gotículas de suor
escorrendo por sua pele. O peito subindo e descendo, as respirações
descompassadas...
Minhas mãos formigam para ir até ele e tocá-lo. Minhas pernas
tremem com a necessidade de pular em seu colo, me agarrando à
sua cintura.
Jesus, Angelina. Se controle.
Como se lesse meus pensamentos, ele sai de seu estupor e
vem até mim com passos rápidos, como de um leão feroz, domado
pela adrenalina. Os punhos fechados ao lado de seu corpo, os olhos
famintos e uma expressão perigosamente sedutora.
Chegando bem perto do meu rosto, sua boca pousa sobre a
minha - o gosto do café em minha língua misturando-se entre nós
com a forma possessiva com que ele me beija, sem que nenhuma
parte de seu corpo, além dos lábios, me toque.
Seus dentes mordiscam meu lábio inferior, seu cheiro
masculino me preenche e uma névoa tóxica de prazer me domina.
— Bom dia — a voz rouca e carregada vibra pelo ar me
atingindo internamente quando ele se afasta, minhas pálpebras, até
então fechadas, se abrindo para encontrá-lo com um sorriso sacana
no canto dos lábios — Dormiu bem?
Engolindo a fome que sentia, a fome dele... tenho forças
apenas para balançar a cabeça em concordância.
— Vou tomar uma ducha rápida, depois disso, tem um lugar
que quero te levar. Termine seu café e se arrume, ok?
— Que lugar? — franzo o cenho quando ele vai entrando em
casa sem mais explicações.
— Você vai ver.

Quando Anthony estaciona seu carro esportivo em um rancho a


apenas alguns minutos de casa, contemplo a vista magnífica e uma
sensação profunda de tranquilidade me invade por completo.
Cada vez que acho que ele já me apresentou aos lugares mais
bonitos, sou surpreendida com algo ainda melhor.
À minha frente, a paisagem se estende majestosamente. Os
prados verdejantes se desdobram até onde a vista pode alcançar,
criando um tapete de cores vivas que se mesclam harmoniosamente.
O sol dourado resplandece no céu, abraçando-nos com seu calor
reconfortante.
Uma brisa suave envolve nossos corpos, brincando com meus
cabelos soltos quando descemos do carro. Anthony segura minha
mão com gentileza, conduzindo-me em direção a um galpão onde
podemos ver algumas pessoas trabalhando.
Conforme nos aproximamos, um senhor de cabelos grisalhos,
com um sorriso acolhedor, vem ao nosso encontro, trazendo consigo
um magnífico cavalo de pelos marrons e o focinho rajado com traços
brancos.
O animal relincha como se nos cumprimentasse e Anthony se
inclina para alisá-lo.
— Como está esse garoto, Sr. Arthur?
O homem sorri, acariciando a crina do cavalo.
— Forte e briguento, como sempre. Exatamente como seu
dono.
Eu olho para o animal completamente admirada e dou um
passo tímido e apreensivo perto dele.
— Como ele se chama? — pergunto em direção a Arthur, que
segura as rédeas tranquilamente.
— Tempestade — ele responde com um brilho de orgulho nos
olhos. — Pode fazer carinho, se quiser. Ele gosta.
Aproximando minha mão com cuidado, sinto a maciez de seus
pelos sob meus dedos. Tempestade parece apreciar o carinho e
inclina levemente a cabeça, como se estivesse aprovando minha
presença.
— Ele é lindo. Eu amo cavalos. — O pensamento passa pela
minha cabeça como se fosse conhecido e me assusto, arregalando
os olhos.
Anthony sorri para mim, como se aquela não fosse uma
informação nova.
— Por isso estamos aqui — cruzando os braços em seu peito,
ele admira minha interação com o animal como se já soubesse que
aquilo iria me animar. — Quando adolescente, você adorava ficar por
aqui, brincando com os animais. Dizia que seria uma veterinária um
dia e cuidaria do máximo de bichos que pudesse. Mas seu amor
maior sempre foram eles.
— Eu não estudei veterinária... — comento, me lembrando
sobre termos falado sobre os anos que estive fora do país,
estudando outros idiomas.
— Não. Mas se ainda for um sonho, pode acontecer. Nunca é
tarde, não é mesmo?
Meus olhos brilham com a esperança que ele impõe em sua
voz, como se nada no mundo estivesse longe do meu alcance.
Tempestade oferece um pequeno e suave relincho quando
chego perto de seu focinho e no automático, como se ação fosse
completamente familiar beijo e esfrego seu nariz, amando aquele
contato.
Há tanto sobre minha vida que ainda devo aprender. O que
seria de mim se eu não o tivesse? Se Anthony não estivesse
comigo?
Com um suspiro pesado, aliso a lateral do cavalo, decidindo
não pensar em coisas complicadas agora.
— Vamos montar nele?
— Como estão seus machucados? — pergunta, se certificando
— Não há nada incomodando?
Balanço a cabeça em uma negativa ansiosa.
— Estou bem.
— Certo, então tudo bem, mas você virá comigo primeiro —
voltando para Sr. Arthur, ele pede — Pode prepará-lo para nós?
Com um aceno, o homem sai, puxando o cavalo e volta
minutos depois com Tempestade já selado.
Anthony me ajuda a subir, com um aperto firme e seguro em
minha cintura e monta em seguida. Prostrado atrás de mim, ele puxa
minha bunda contra sua virilha e desliza os braços à minha volta para
segurar as rédeas.
Sentindo o calor de suas costas me preencher e a força de
seus braços ao meu redor me dando segurança, fecho os olhos e
descanso minha cabeça em seu ombro.
— Pronta?
Seu hálito quente acaricia minha orelha, sua voz - aquele
profundo e rico tom de barítono - causando arrepios em minha pele.
— Sim.
Sinto seu corpo se retesar quando movo meus quadris, me
esfregando contra ele e um suave grunhido enfeitar meus ouvidos.
Com um chute leve contra as laterais do cavalo, ele move as
rédeas e começamos a trotar. O vento fresco do campo batendo
contra meu rosto, uma sensação tão viva que me aquece de fora
para dentro.
Anthony bate as cordas e late um comando para Tempestade.
O cavalo se agita, fazendo uma curva no caminho do gramado que
cavalgamos e acelera seu trote.
A sensação de liberdade é avassaladora, e eu me entrego
completamente à adrenalina daquele momento. Os galopes eram
poderosos e graciosos, e eu me sentia conectada de tal maneira
como se desejasse e precisasse daquilo, mesmo antes de perder a
minha memória.
O sorriso em meu rosto se torna mais amplo quando o
horizonte se estende à nossa frente. As paisagens passando
rapidamente ao nosso redor em um borrão de cores e formas em
meio à velocidade que alcançamos.
Anthony para sobre um monte alto, que nos permite enxergar
toda a cidade e naquele momento, não sei mais dizer o que estou
sentindo.
Ele desce primeiro, e me ajuda em seguida, então amarra a
sela de Tempestade ao tronco de uma árvore.
Cavalgar é algo magnífico, mas não se compara a incrível sensação
de senti-lo. Seus braços me envolvem por trás. Ele beija meu
pescoço e neste momento é como se não existisse nenhum outro
problema no mundo para nos preocupar.
O nó se forma em minha garganta, trazendo as dúvidas guardadas
de volta.
— Nós éramos felizes? — pergunto, não conseguindo conter o
turbilhão em minha cabeça. — Antes de tudo, quero dizer. Antes do
acidente. Éramos felizes, Anthony?
— Angel... — com a voz grossa, sinto seus braços ficarem
tensos.
— Aqui, é como se tudo fosse perfeito. Como se nós fôssemos
perfeitos. Mas...
Me segurando com mais força como se tivesse medo de me perder
ele me vira em seus braços.
— Eu te amei desde o dia em que a beijei pela primeira vez,
Angelina. Desde a primeira vez — sua voz é feroz e potente, o olhar
intenso segurando meu rosto entre suas mãos — Eu não posso dizer
a você que tudo foi perfeito. Nos desencontramos, e prolongamos um
pouco o momento até tudo se ajeitar. Sei que não se lembra e em
algum momento, poderá até duvidar das minhas palavras. Mas nunca
duvide do quanto sou louco por você, está bem?
— Eu não...
— Prometa-me que nunca vai esquecer disso — ele me aperta, como
se tivesse uma urgência em suas palavras — Prometa-me que nunca
vai esquecer que nunca quis te magoar ou te ferir. Mesmo quando
não valer a pena acreditar em qualquer outra coisa que já te disse,
prometa que nunca vai esquecer o quanto amo você, por favor.
Seus olhos estão abarrotados por um pavor que não consigo
entender. Ele me tem. Por que eu iria me esquecer disso?
Por que não iria acreditar nele?
Não encontro sentido, mas reconheço a necessidade para ele,
então, apenas concordo.
— Eu prometo.
Anthony
“E, principalmente, minha”

Após muita insistência, minha irmã conseguiu me convencer a levar


Angel ao maldito jantar. Que a ideia não me agradava não era uma
novidade, mas diante de uma lista de argumentos concisos – e até
mesmo algumas ameaças – vindas de Madisson Cahill, acabei cedendo.
Dizer que os últimos dias não foram quase perfeitos seria uma
mentira.
Por oito anos, sonhei com o tempo em que acordaria com o calor
de Angelina em meus braços, ansiei por ser o motivo de seus sorrisos,
desejei feito um maluco um único toque e agora, que tenho tudo isso,
sinto como se minha cabeça tivesse a ponto de explodir.
No começo, a melhor e única ideia possível era manter distância.
Desde que ela estivesse bem e segura, eu estaria satisfeito com míseros
beijos e alguns toques, no entanto, as coisas estão mudando. O cansaço
mental que o último mês consumiu da minha mente foi tão exaustivo, que
precisei de tempo para processar.
Agora, que estamos em nosso lugar, passando dias juntos e
recriando momentos – novas memórias, tudo que mantive adormecido
está despertando e Deus me ajude quando essa porra acordar de vez.
Cada olhar de desejo, cada beijo roubado, cada gemido fraco que
ela deixa escapar estão me conduzindo a um caminho perigoso.
Cada segundo ao lado dela é vivido e apreciado como se fosse
meu último de vida. Suas memórias estão voltando. Todos os dias ela é
presenteada com algo novo e eu, me fecho nesse mundo nebuloso que
grita para que eu a pegue antes que me escape.
Um tic-tac infernal está guardado em meu cérebro, como um cronometro
imaginário, me avisando que o paraíso que estou vivendo vai acabar a
qualquer momento.
Minha resistência está em seu limite, muito perto de quebrar, e minha
única certeza é que no minuto em que essa barreira romper, Angelina
nunca mais se livrará de mim.
Com mentira ou não, ela goste ou não. Com marido louco psicopata atrás
dela ou não, a seguirei para o resto da vida.
Nunca outro homem poderá chamá-la de sua, porque essa posse
será apenas minha. Nunca haverá outro que ela vai chamar de marido,
porque eu passarei o resto da minha vida fodida atrás dela, até o dia em
que ela aceitar se casar comigo.
Esse casamento de mentira se tornará real, de uma maneira ou de
outra, porque eu, não a deixarei partir.
E é tudo isso que estou tentando controlar. É tudo isso que quero
manter escondido, bem longe dela, pois sei que Angel não precisa de
mais problemas.
Inclino a garrafa cerveja que encontrei na geladeira contra meus
lábios e bebo um gole longo – agradecendo mentalmente aos aplicativos
de entrega que nos permitem ter álcool a fácil alcance. Meus pés
batendo no piso de madeira ritmicamente em sintonia com meus
pensamentos frenéticos.
Ouço seus passos no andar de cima, depois o barulho de saltos
clicando na escada e viro meu pescoço para apreciar a visão, sem ter
ideia de que meu coração não está preparado para aquilo.
Administro uma respiração, observando-a descer os degraus com
seu corpo enfiado em um vestido preto justo e curto que se agarra suas
coxas e delineia suas curvas. Por alguns segundos, meu cérebro e corpo
se esquecem como é o simples ato de respirar, os olhos presos a aquela
imagem como se fosse a porra de uma aparição divina. Seu rosto com
uma maquiagem sutil, apenas para cobrir os hematomas já quase
desaparecidos, os lábios rosados e perfeitos para serem beijados.
Ela está tentando me matar, não há outra explicação.
Lutando contra o desejo de deitá-la no chão, abrir suas pernas e
lembrá-la de como fomos felizes, largo a garrafa de cerveja no apoio do
sofá e me levanto.
Seus cabelos loiros sedosos presos em um rabo de cavalo no alto
de sua cabeça tem o cumprimento perfeito para se enrolar em torno do
meu punho e as imagens que essa constatação cria em minha cabeça
me levariam direito para o inferno.
Deliciosa pra caralho.
— Estou pronta — com um sorriso inocente, Angel se aproxima de
mim, sem ter ideia do que está passando em minha mente.
Se ela soubesse, fugiria ao invés de se aproximar.
Encostado contra as costas do sofá, de pé e frente a frente com
ela, coloco as mãos nos bolsos e deixo meus olhos admirarem cada
centímetro de seu corpo, dos pés à cabeça.
Confusa e preocupada, um vinco se forma em sua testa e reprimo
minha vontade de sorrir.
— O que foi? Algo está errado? — ela olha para baixo em seu
próprio corpo, alisando as mãos sobre o vestido — Você não disse se
precisava usar algo formal ou…
Eu não a deixo terminar.
Cortando a distância entre nós, agarro a sua cintura e tomo sua
boca num beijo caloroso.
Ela pode ter esquecido de como é a sensação.
Pode ter se esquecido de quem sou, ou de como nos
apaixonamos. Como nossos corpos se conectam.
Meu pau, no entanto, não esqueceu. E o filho da puta quer
relembrá-la a qualquer custo.
Eu a beijo com fome, querendo, precisando, desejando-a. É um
gesto de necessidade e desespero. A sensação de seus lábios passa por
mim como uma flecha ardente e eu estou imediatamente duro como o
pecado, minha ereção pressionando contra seus quadris. Nossas línguas
se encontram, o calor de sua respiração me hipnotizando.
Minhas mãos se movem e agarram sua bunda, um gemido de
prazer irrompe pelo ar e não sei mais dizer se vem dela, ou de mim. Puxo
suas pernas para cima, pouco me fodendo que ela acabou de se arrumar
e vai ficar toda bagunçada e a faço envolver minha cintura, apoiando-a
contra as costas do sofá.
— A-anthony… — ela gagueja, quando libero seus lábios e
mordisco seu pescoço.
— Você é minha, Angel. Minha! — rosno contra seu ouvido,
precisando reforçar as palavras. Mais para mim mesmo do que para ela.
Seus dedos delicados entrelaçam meu cabelo, minha língua lambe
e chupa seu pescoço querendo deixar marcas na sua pele.
E eu me perco.
É nesse momento que percebo que foi um milagre de Deus ser
capaz de respirar uma única vez nos oito anos que vivi sem ela.
Então decido que aqueles dias terminaram.
Não vou deixá-la partir.
Não vou ter medo de que ela se lembre, porque quando acontecer,
vou me certificar de garantir que ela saiba como é ser amada.
E desejada.
E consumida.
E, principalmente, minha.
A tensão sexual entre nós era avassaladora, preenchendo e
transbordando pelas brechas das janelas fechadas do carro.
Os nós das minhas mãos estavam tão tensos que ficaram brancos
devido à força que eu colocava no aperto do volante, enquanto dirigia
pelas ruas de Falls Prince em direção à casa da família Montgomery.
Como consegui interromper aquele beijo, ainda é um mistério para
mim.
Se tivesse levado mais um segundo, eu teria a jogado sobre o
tapete da sala e metido meu pau fundo em sua boceta com gosto.
Fazendo seus gritos assombrarem os pássaros e animais noturnos que
nos cercavam com louvor, mas a última coisa que queria era fazer desse
momento algo apressado e confuso.
Preciso de tempo.
Horas e horas a fio para que possa beijar cada centímetro de sua
pele.
Provar de seu prazer.
Preenchê-la por inteiro enquanto seus gemidos desesperados
enchem os meus ouvidos.
Então, o melhor que posso fazer agora é ter calma e paciência;
para mais tarde.
Angel não parecia feliz com isso.
Na verdade, havia um beicinho fofo em seus lábios que me
lembrava muito os velhos tempos.
Ela manteve os braços cruzados, e uma expressão distante durante
todo o caminho, como se não pudesse acreditar que não fomos até o fim.
Eu queria enfiar meus dedos por suas dobras, só para comprovar a
umidade que deixei entre suas pernas com um único beijo, no entanto,
me segurei.
Não tenho forças suficientes para ser capaz de me controlar uma
segunda vez.
— Nossa senhora! — exclamou, com um misto de espanto e pânico
em seu rosto, assim que cruzei os portões de ferro — De quem é essa
casa?
Sorri ao notar a reação impressionada de Angel encarando o
caminho de cascalho que nos levava à entrada da mansão.
De longe, era possível enxergar a monstruosidade branca com
torres altas e majestosas. Sua arquitetura impressionante que refletia a
magnitude da fortuna que o nome Montgomery carregava.
— Dallas — esclareci, enquanto passávamos por entre centenas de
árvores que cercavam a propriedade.
Quando falei para Angel sobre o jantar, fiz uma breve introdução de
nossos amigos. Dallas e Zade praticamente cresceram junto de nós,
então, eles viam Angel e Maddie como parte de sua família, assim como
eu os via como parte da minha.
Ela ficou tensa ao pensar em encontrar pessoas que se
preocupavam com ela cujo ela não se lembrava. Ainda assim, curiosa e
ansiosa.
Eu tinha certeza de que assim que ela os visse, algum flash de
memória viria e ela entenderia que não estava sozinha nesse mundo.
Independente da minha presença ao seu lado, existiam pessoas que a
amavam e a protegeriam.
Foi por isso que aceitei estar aqui. Por ela.
— Então, ele também é rico?
Soltei uma risada fraca.
— Nós somos ricos, linda. Ele é bilionário.
A família Montgomery era como a realeza do Texas. Zade e eu
crescemos em uma família rica, mas Dallas... ele era uma outra história.
A riqueza de sua família era algo inimaginável. Depois da morte de seu
irmão mais velho a alguns anos atrás em um trágico acidente, ele se
tornou o único herdeiro do vasto império.
Por fora, era muito fácil acreditar no riso fácil e ar descontraído que
Dallas passava, mas por dentro, a verdade é que todos nós carregamos
segredos e os dele, se escondiam dentro das paredes da mansão em
que morava.
Eu estaciono o carro em frente à entrada, onde alguns seguranças
fazem a guarda, e ajudo Angel a sair. Com nossas mãos entrelaçadas,
subimos as escadas que levam à porta, onde o mordomo da família nos
recebe.
— Olá, Sr. Cahill. Bem-vindo de volta. Já faz muito tempo — ele faz
uma reverência, como se estivesse cumprimentando um rei, e volta-se
para Angel com um sorriso — Oh, como sua esposa é deslumbrante.
Bom saber que meu amigo tratou de incluir mais gente na mentira.
Maravilhoso.
— Obrigado, Loyd. Você pode me chamar de Anthony, eu já disse.
Ele acena com a cabeça, concordando, embora eu saiba que ele
não vai.
— Por favor, me acompanhem. Sr. Montgomery está esperando por
vocês.
Ele nos guia por dezenas de corredores até um cômodo e abre a
porta para entrarmos. Quando entro, encontro os olhos claros de Dallas.
Mãos nos bolsos, postura relaxada e descontraída. Ao seu lado, está
minha irmã, com seus cabelos pretos compridos soltos em cachos que
caem por suas costas, os olhos castanhos brilhando de nervosismo.
Angel para no meio do caminho, seus olhos se fixando
alternadamente em mim e em sua irmã. Eu mantenho a atenção em sua
reação, sentindo a tensão no ar. O suspense parece durar uma
eternidade, até que finalmente vejo algo em sua expressão que indica o
encaixe das peças.
Seu cérebro trabalhando, se esforçando para lembrar de alguma
coisa, mínima que seja. Ela ficaria feliz com qualquer coisa.
— Maddison... — sua voz é quase um sussurro, como se estivesse
testemunhando um milagre.
Libero suavemente a mão dela, permitindo que ela avance. Angel
começa a caminhar devagar em direção a amiga com passos carregados
de significado. Maddison também se aproxima, suas pernas parecendo
um pouco trêmulas. As se encontram no meio do caminho.
— Angel, você está realmente aqui. Você está viva — lágrimas
começam a transbordar pelo rosto de Maddie, e em um piscar de olhos,
elas se abraçam, seus corpos tremendo enquanto o choro copioso se
mistura em um abraço repleto de saudade e alívio.
Minha garganta se aperta com a cena. Dallas permanece à
distância, encostado contra o mármore da lareira elegante na sala de
estar com um olhar que diz: eu sabia que elas precisavam disso.
E mais uma vez, ele está definitivamente certo.
Anthony
“Família”

É incrível como as coisas ficam mais fáceis ao lado de


pessoas em quem confiamos. Eu estava apavorado a ideia do
reencontro de Angelina com seu passado, por razões obvias, mas,
tinha me esquecido como momentos como esse, quando nos
reuníamos quando jovens me fizeram falta também.
Depois do encontro choroso com Maddie, ela se aproximou de
Dallas com uma expressão chateada, como se pedisse desculpas
por não se lembrar dele, coisa que rapidamente ficou esquecida
quando eles se abraçaram e ele garantiu que estava tudo bem.
— Estão com fome? — Maddie pergunta, e eu não posso
deixar de rir. Limpando a maquiagem borrada por suas lágrimas,
minha irmã me lança um olhar feio.
— O que foi?
— Os anos passam, as estações mudam. E você continua
achando que qualquer problema se resolve com comida.
— E não é verdade? Existe alguma tristeza que uma comida
bem-feita não possa resolver? — ela eleva a sobrancelha — Além
do mais, nunca te vi rejeitar uma boa refeição quente.
— Eu não sou idiota — respondo, encolhendo os ombros.
Ela me mostra a língua em uma atitude infantil e deixo
escapar um bufo. Em sua cabeça, a justificativa faz todo sentido.
Não é à toa que ela estudou para se tornar uma chef de cozinha e
hoje possui o restaurante mais bem frequentado da cidade. As
pessoas vêm de fora e formam filas na porta para conhecer sua
culinária.
Loyd aparece dizendo que o jantar será servido em breve e
Angel se aproxima de mim novamente, envolvendo os braços ao
redor da minha cintura.
Me inclino e beijo seu pescoço.
— Você está bem?
Ela se curva para encontrar meu rosto.
— Sim — um olhar cheio de amor que lota meu coração passa
por sua face — Sinto como se tivesse uma família. Quando acordei
e descobri que minha mãe se foi e nunca conheci meu pai, me senti
tão sozinha. Faltava alguma coisa, e como sempre, você sabia o
que era.
Eu sorrio e a beijo novamente, sentindo meu peito expandir só
com a informação de que ela está feliz.
— Se depender de mim, raio de sol. Nunca faltará nada. Tudo
que te fizer feliz, vou te dar.
— Oh merda, parece que voltamos no tempo. Eles nunca mais
vão se desgrudar, não é? — Maddie geme e cutuca Dallas ao seu
lado, que resmunga algo inteligível — Rápido! Em que ano
estamos?
Antes que alguém consiga responder sua piadinha idiota,
Zade entra na sala. Uma camisa branca agarrada aos músculos,
cabelos desgrenhados como se tivesse acabado de sair do banho,
os braços tatuados a mostra e um jeans desbotado.
— Estou atrasado?
Balanço a cabeça em negativa e ele caminha até nós, seus
olhos focados em Angel que exala uma respiração forte vendo o
homem grande se aproximar.
— Zade?
— Então você se lembra de mim? — pergunta em um ar
divertido.
— Agora, eu estou ofendido — Dallas comenta, cruzando os
braços. Por ser o único que Angel de fato não se lembrou.
— Desculpe — encolhendo os ombros Angel troca um olhar
aflito com Maddie, como se rapidamente a conexão que elas
sempre tiveram tivesse reacendido — Só vi uma imagem na minha
cabeça. Você estava me ensinou a dar um soco de direita.
Ela imita o movimento, fechando a mão em punho e meu
amigo sorri e acena com a cabeça com uma expressão tranquila.
— Ah sim, garota. Eu ensinei e você foi uma ótima aluna.
Eu a deixo livre para decidir e ela voluntariamente se separa
de mim para abraçá-lo. Ele abre seus braços enormes e a recebe
prontamente. No mesmo segundo noto que ela se sente confortável
e protegida perto dele.
A mágica de Zade acontecendo, como sempre.
Ele é um cara grande, corpulento, com cara de poucos amigos
que assusta fácil. Perto de mulheres, no entanto, Zade sempre tenta
parecer um pouco amigável.
Desde quando éramos mais novos ele sempre era aquele que
tanto Angel, quanto Maddie recorriam quando estavam com
problemas. Meu jeito explosivo nunca ajudou a ser o primeiro a ser
chamado quando a merda acontecia.
Dallas era o cara que procuravam quando queriam diversão.
E eu era aquele que repreendia, surtava, mas nunca deixava
de ajudar de qualquer maneira.
Com uma mão em seu ombro, ele a conduz para o meio da
sala, perto de onde Maddie e Dallas estão, rindo de alguma coisa.
Uma conversa fácil flui entre eles, e naquele momento, o milagre
que pedi a Deus por todos esses anos acontece diante dos meus
olhos.
Minha família está reunida de novo.
E eu não sei o que vou fazer quando o castelo de cartas que
construí sobre esse paraíso desabar.

Depois do jantar e de muitas histórias constrangedoras do


passado que resolvemos recordar, algumas taças de vinho foram
suficientes para deixar uma Angel ligeiramente bêbada encostada
contra mim.
A tensão adormecida de quando chegamos começa a acordar
de forma lenta, primeiro, quando sua mão descansa sobre minha
coxa escondida debaixo da mesa onde todos os nossos amigos
ainda estão sentados.
Apertando meus músculos com a ponta dos dedos, ela cruza
a linha da minha sanidade e lentamente vai subindo seu contato
quase até alcançar a virilha. Meu corpo se retesa, minhas mãos
formigam para agarrar seu pulso, e subir um pouco mais, mas aqui
não é o lugar.
Não é o lugar.
Coisa que ela parece não se importar.
Eu tomo sua taça de vinho, antes que ela dê mais um gole.
— Ei! — seu rosto se fecha em uma carranca. E o corpo se
move, tentando pegar o copo de volta, mas coloco longe o suficiente
para que ela não alcance.
Preciso dela sóbria para mais tarde. Absolutamente sóbria.
Chegando mais perto, me abaixo em seu pescoço enquanto
um riso irrompe na conversa ao nosso redor. Nossos amigos
aparentemente alheios ao que está acontecendo.
— Você está brincando com fogo, raio de sol. Pare com isso
— minha voz é um grunhido ferino que fica ainda mais baixo
conforme seus dedos se movem, alisando-me como a porra de uma
caricia tão sensual, que meu cérebro frita.
— Estou? — sussurra em resposta, virando-se para beijar o
canto da minha boca.
Graciosamente, ela afasta sua cadeira e se levanta.
— Com licença, eu vou ao banheiro.
— Loyd vai te mostrar o caminho — Dallas informa, apontando
em direção a porta que leva aos corredores da mansão.
— Não precisa, eu mostro. — Me levanto apressado e com as
mãos em suas costas a conduzo para fora.
A distância, consigo escutar: — Oh merda, eles vão foder
pelos cantos da minha casa, não vão? Pelo menos escolham um
quarto! — grita para ter certeza de que posso ouvir.
Maddie faz um som de engasgo.
— Você pode, por favor, me poupar dessa sua imaginação
horrível antes que eu tenha pesadelos?
Foda-se.
Não estou preocupado em esconder os meus planos no
momento.
No corredor, agarro seu braço e entro na primeira porta que
encontro. Acaba sendo um armário escuro ao invés de um quarto,
mas vai servir.
— Você está tentando mesmo me enlouquecer, não é?
Um grito abafado escapa de sua boca quando agarro sua
cintura e pouso sua bunda sobre uma prateleira. Mal posso
enxergar, pois acender a luz não é uma das minhas prioridades no
momento, então, só posso contar com os meus sentidos.
— A-anthony... espere...
— Não. Eu tinha planejado começar isso quando voltássemos
para casa, mas já que parece tão ansiosa, linda, aguente.
Ficando de joelhos, tateio suas coxas e abro suas pernas,
puxando o vestido para cima. O tecido justo se reúne contra a pele
quente e minhas mãos buscam na escuridão por sua calcinha.
— Ah porra, Angel. Não me diga que você esteve a noite
inteira nesse vestido minúsculo sem a merda de uma calcinha por
baixo?
— Eu tentei... — ela ofega quando sente minha língua contra
a parte interna de sua coxa direita — a calcinha ficou marcando
então, tive que tirar.
— Jesus — exalo uma respiração contra sua boceta exposta,
meu hálito tão quente quanto seu corpo.
Meus dedos se fecham atrás de seus joelhos e enterro meu
rosto naquele paraíso. Provando de seu gosto com avidez. Um
baque surdo soa em algum lugar quando Angel se assusta e bate as
costas contra a parede do armário e minha língua explora a região,
deslizando por aqueles lábios inchados, sugando os sucos
deliciosos de seu prazer.
Suas mãos procuram por meu cabelo na escuridão e se
fecham ao redor dos fios, as pernas tremendo e me prendendo
entre as coxas, com um desespero visceral.
— Não pare, por favor, não pare...
Com um rugido, meu aperto fica mais intenso e empurro seu
corpo para trás, enfiando sua bunda ainda mais contra a madeira
que a segurava. Subo minha mão, levantado uma de suas pernas
para ficar sobre meu ombro e aprofundo-me em minhas chupadas,
enterrando minha língua naquela profundeza deliciosa, estimulando
seu clitóris até que ela se contorce, geme e treme em meu poder.
Um grito de prazer começa a escapar de seus lábios e com
minha mão livre em um rápido movimento tapo sua boca, me
afastando do meio de suas pernas apenas o suficiente para
resmungar com um rosnado.
— Shhhi! Não queremos que Loyd abra a porta e nos encontre
aqui assim, não é mesmo?
Um som abafado tenta passar por entre meu aperto, mas
minha mão continua firme, abafando seus murmúrios.
Voltando para minha tarefa me empenho em terminar, pois de
maneira nenhuma vou fodê-la dentro da merda de um armário.
Leva apenas alguns segundos, entre sucções rítmicas e
lambidas certeiras para que todo seu corpo se desespere e ela goze
em minha boca.
Seu corpo pendendo levemente amolecido assim que
acontece.
Me levanto, ainda entorpecido pela luxuria, agarro sua nuca
enfiando minhas unhas em seu pescoço e a puxo para um beijo no
escuro.
Seu gosto delicioso evidente na ponta da minha língua. Meu
corpo duro e tenso pressionando cada uma de suas curvas suaves.
Ela é meu maldito paraíso.

— Obrigado pelo jantar, cara — bato nas costas de Dallas


quando paramos do lado de fora.
— Fico feliz que tenham aproveitado.
Um tom rosa atinge as bochechas de Angel e eu continuo com
cara de paisagem, como se nada tivesse acontecido.
O herdeiro Montgomery se aproxima da minha mulher. Seus
cabelos loiros curtos brilhando com um tom dourado profundo sob
as luzes acessas no limiar da porta.
Segurando seu queixo entre os dedos, Dallas fala: — Pode
não ter se lembrado de mim, mas saiba que a qualquer hora, se
esse babaca ou qualquer outro te machucar e precisar de um
abrigo, você tem um lugar para ir, entendeu? Nunca se sinta
sozinha.
Com uma emoção genuína em seus olhos Angel o abraça.
— Obrigada.
Ele pousa um beijo terno em sua cabeça.
Zade e Maddie também se despedem, com avisos que
reforçam o mesmo que já foi dito.
Eles querem que ela se sinta acolhida, que saiba que ela tem
um lugar para onde correr quando se machucar.
Porque sabem que mais cedo ou mais tarde, irá acontecer.
Angelina

“Acho que é hora de


levá-la para cama”

Queimando.
Eu estava queimando por ele no instante em que saímos
daquele armário escuro. Ainda podia sentir os vestígios do meu prazer
pegajoso, misturando-se a uma nova onda de umidade entre minhas
pernas, enquanto nos dirigíamos para fora da mansão e entrávamos
no carro.
Chegamos em casa sob um silêncio sepulcral. Nenhum de nós
tinha coragem de dizer alguma coisa, pois sabíamos que no minuto
que nos tocássemos, tudo estaria perdido.
Um golpe de insegurança cresce e morre em meu peito quando
nossos olhares se encontram. A um misto de posse e pavor em seu
rosto que desencadeia um pequeno flash em minha mente que logo
desaparece.
Essa noite foi intensa de lembranças, como se meu cérebro estivesse
muito perto de terminar o quebra cabeça que estava montando, mas
tudo fica nublado diante da névoa espessa de desejo que sinto por
ele.
Dentro da cabana, sob a tênue e fraca luz da lâmpada da sala,
ele começa a se despir. Observo, com uma mistura de admiração e
ansiedade, os cumes esculpidos de seu abdômen revelarem-se à
medida que os dedos habilmente desfazem os botões de sua camisa.
Cada movimento revela um músculo vigoroso de seus
antebraços e bíceps fortes. Sua camisa desliza de seu corpo,
revelando a larga extensão de seu peito e uma respiração se aloja em
minha garganta.
Eu me vejo parada aqui, totalmente hipnotizada por sua
presença, incapaz de fazer qualquer movimento. Enquanto ele
habilmente se livra de suas calças, ficando apenas em sua cueca
boxer no meio da sala.
Sinto meu coração disparar e minhas mãos ficarem trêmulas. É
como se o tempo estivesse suspenso, e só existíssemos nós dois
neste momento.
— Aproveitando o show? — Ele me pergunta com a voz
brincalhona.
— Definitivamente, — eu consigo dizer. As palavras mal saem
da minha garganta, e minha respiração engata quando ele caminha
em minha direção. — Eu poderia assistir pela vida toda.
Inclinando-se apenas o suficiente para pegar a bainha do meu
vestido, seus dedos começam a puxá-lo para fora do meu corpo. Com
sua boca tão perto da minha, envolvo minhas mãos em seu cabelo e
paraliso a sua ação com um beijo. O calor de sua língua se
misturando a minha.
Quando nos separamos, ele passa o polegar pelo meu lábio
inchado pelo atrito contra seus dentes afiados e sorri.
— Minha garota ansiosa. Gosto tanto desse olhar safado na sua
cara, implorando para ser fodida.
Ele tem toda razão, estou quase implorando.
Sem resposta, levanto meus braços para que ele continue o que
estava fazendo e só depois me lembro que não precisei usar sutiã
também. Meus seios saltam livres com o movimento brusco de suas
mãos e com o tecido enrolado no meu rosto, obscurecendo minha
visão, me sinto mais exposta do que nunca.
Vagabunda caipira.
Uma voz estrondosa, quase fantasmagórica vibra em meu
interior, levando embora um pouco da quentura e do desejo para
trazer uma sensação esquisita e incomoda. Eu pisco confusa,
completamente perdida com essa aparição estranha, mas balanço a
cabeça na tentativa de expulsá-la.
Um dedo quente se aloja sob meu queixo e levanta minha
cabeça quando o tecido que tapava minha face sai e cai no chão.
O rosto ligeiramente preocupado de Anthony aparece em minha
visão.
— Está tudo bem?
Engulo o amargor que a aparição repentina me trouxe e movo
meu pescoço concordando, não permitindo que nada nos atrapalhe.
O amor e a preocupação em seus olhos é a única segurança
que preciso para me entregar a este momento.
— Está.
Meus dedos se movem para arranhar seu peito e o calor volta
como o contato de pólvora e faísca.
Eu olho através dos fios do meu cabelo bagunçado, o rabo de
cavalo já completamente desfeito e vejo como ele cobre meus seios e
abaixa a cabeça para passar os lábios sobre meus bicos inchados.
— Porra, você tem os peitos mais lindos que já vi. O corpo mais
delicioso. Eu não vou me cansar nunca de olhar — ele murmura
explorando-me com sua boca.
Em um instante ardente, ele toma um dos meus seios entre os
dentes mordisca de forma prolongada e intensa. Eu quase vejo
estrelas. A sensação é avassaladora como se eu estivesse sendo
desmantelada como um carretel de linha, entregue completamente ao
prazer que ele me proporciona.
Enquanto seus lábios e língua exploram meu mamilo, suas
mãos percorrem meus lados nus, deixando um rastro de calor por
onde passam.
O toque não é sutil e muito menos delicado. A crueza de suas
palmas ásperas puxando e apertando minha pele emanam a
necessidade desesperada que ele tem por mim e com isso, minhas
unhas enterram em sua carne, arranhando suas costas
correspondendo ao sentimento.
Com um passo para trás e seu olhar fixo no meu, ele engancha
os dedos na lateral de sua cueca e a empurra para baixo. Sua ereção
pulsante salta para fora e o membro aparece majestosamente entre
nós.
Não há como explicar aquilo.
A coisa é perigosamente grande, com veias pulsantes e uma
cabeça rosada na borda que me faz salivar e me desespera ao
mesmo tempo.
Santo Deus.
Eu devo ter o olhar mais faminto em meus olhos porque ele me
dá um sorriso arrogante, o tipo que diz que ele sabe o que ele tem e
sabe que eu quero. Então, quando aquele sorriso se transforma em
algo sério e aquecido, ele termina as avalições e parte para ação.
Com um punhado do meu cabelo enrolado em suas mãos, me
beija forte até que eu estou sem fôlego, puxando minha cabeça para
trás para expor minha garganta, lambe meu pescoço e envia uma
onda de arrepios por minha espinha.
Sua outra mão entre as minhas coxas, a ponta de seu indicador
deslizando e estimulando o meu clitóris, que já está completamente
sensível.
— Quer gozar de novo, linda? Quer gozar na minha mão? — Ele
pergunta rudemente, mordendo meu pescoço e sugando a pele
sensível debaixo da minha orelha.
— Sim — respondo desesperada quando o toque de um dedo
se transforma em dois, depois em três. Minhas coxas tensionam e
apertam sua mão, precisando que ele termine o que começou.
— Porra, — ele rosna, me encurralando com passos para trás
até deixar a minha bunda nua contra as costas do sofá. — Abre para
mim, amor. Abre as pernas e me deixa meter nessa boceta gostosa.
Seus dedos ganham mais velocidade quando espalho minhas
coxas, sua mão me fodendo com um vai e vem frenético até me fazer
explodir.
O orgasmo vem rápido, com um pico de trinta mil pés e me
derruba contra ele. Minha testa suada pousando em seu peito nu.
— Acho que é hora de levá-la para cama.

Movendo-se suavemente sobre mim, seus lábios roçam minha


mandíbula, seguindo um caminho lento ao longo do lado do meu
pescoço e, em seguida, retornando aos meus seios mais uma vez.
Acho que ele está meio que viciado neles.
Seu corpo forte cobre o meu, os braços musculosos ao lado da
minha cabeça com os cotovelos enfiados no colchão, me prendendo
no lugar, como se eu fosse louca de querer sair.
— Você é um maldito sonho, sabia disso? — com a língua
criando uma trilha molhada que me faz esfregar as pernas juntas,
Anthony explora minha pele como se a possuísse. Como se
conhecesse cada maldito ponto de prazer.
— Acho que é a hora de você parar de falar e começar a me
foder.
Ele ri brevemente, os músculos do estômago flexionando sob as
minhas mãos presas por seu peso em cima de mim. Eu vibro com a
necessidade, meu coração dispara de emoção pelo seu toque.
Seu peito roça meus mamilos, fazendo-me ofegar, então abaixa
a cabeça para o meu pescoço, roçando sua boca sobre minha pele.
— Então é assim que você quer que seja? — Pergunta em voz
baixa e sensual, arrastando os dentes até a pele macia debaixo da
minha orelha. — Quer que eu te foda, raio de sol? Quer que eu te
preencha com meu pau e meta fundo na sua boceta até te encher
com a minha porra?
— Ah, senhor — solto uma respiração exasperada. — Sim. Por
favor.
Afastando-se, Anthony fica de joelhos e me presenteia com a
visão de seu corpo nu, a ereção dura e poderosa em suas mãos
quando ele a segura com força. Sem mais tempo a perder, espalho
minhas pernas.
Com um olhar cheio de calor, ele se inclina e esfrega a ponta
grossa ao longo dos meus sucos, os sons enchendo o quarto.
É tão explícito, tão delicioso.
Eu me pergunto se vai doer, se vai se encaixar, se... Deus, são
tantos os pensamentos que não posso controlar minha própria
ansiedade.
A verdade é que já sinto que fomos feitos um para o outro.
Nem preciso me lembrar de como era antes para saber disso.
Cada beijo dele conversa com meu subconsciente, cada toque
desperta sensações que me conduzem a uma certeira de
familiaridade.
Me sinto em casa. Desejada. Amada.
Os pensamentos são removidos do meu cérebro assim como o
ar dos meus pulmões quando Anthony me puxa para cima de uma
única vez e com joelhos dobrados sentado na cama, me espalha para
que eu fique de frente a ele com as pernas envoltas em sua cintura.
Com um grunhido, ele encaixa seu pau na minha entrada e vai
guiando para dentro.
É indescritível.
Eu solto um suspiro, meus dedos pressionando suavemente a
pele das suas costas, enquanto tento lidar com a sensação de estar à
beira de ser partida em duas.
—Apenas respire, — diz ele através de um gemido grosso. —
Eu vou devagar. Por enquanto.
Minhas paredes se abrem para recebê-lo. Cada musculo do
meu corpo tenso, sentindo cada milímetro conforme ele vai entrando
com paciência.
Sinto-me completamente preenchida, uma sensação
avassaladora à medida que o recebo. Enquanto ele desliza
lentamente para fora de mim e depois retorna, alcançando
profundamente, tudo que domina meus pensamentos é o anseio por
isso, tão vital quanto o próprio oxigênio.
É como se meu corpo tivesse sido moldado para o seu, uma
conexão que vai além de meramente acomodá-lo, mas sim uma
sincronia perfeita entre nós dois.
— Meu Deus, é tão bom.
Ele rosna sem resposta, como se as palavras não
conseguissem se formar em sua boca. Os músculos inchados me
segurando, uma mão entre nós guiando seu comprimento para dentro
e para fora.
— Você continua tão apertadinha, tão deliciosa. Meu pau nunca
vai estar em outro lugar além desse, porra.
Nos empurrando um pouco mais para frente, segurando toda a
força de nossos corpos, minhas costas batem na cabeceira alta de
madeira da cama e ele entra de uma vez. Um grito desesperado
escapa pela minha garganta e eu me sinto momentaneamente
hipnotizada, com os olhos fixos em seu rosto assistindo a pequena
gota de suor que está se formando em sua testa.
O jeito que o cabelo dele está ficando úmido, o olhar
insanamente luxurioso em seus olhos enquanto ele mantém o contato
fixo ao meu como se não pudesse desfazer essa conexão.
Encaixando-se dentro de mim, finalmente percebendo que meu
corpo o recebeu bem, ele deixa a suavidade de lado e começa a me
foder para valer.
Uma de suas mãos agarra a parte de trás da minha coxa,
espalhando-me um pouco mais e seus movimentos se tornam
frenéticos.
Ele estica o outro braço e agarra a madeira sobre minha cabeça.
A mandíbula afiada rangendo como se ele estivesse a ponto de
explodir, minhas mãos agarradas a sua pele, acompanhando o
movimento de sua cintura que mete em mim sem pudor.
Nesse momento, minha única necessidade é que ele continue.
Que seus quadris continuem batendo nos meus, que seu pau me foda
tão fundo até que eu não tenho certeza se posso respirar.
Anthony me possui com a determinação de uma máquina, com
a ferocidade de uma um animal faminto, como um homem
impulsionado por uma única missão: satisfazer essa urgência de nos
fundirmos até o ápice.
A cama está em movimento, um ritmo constante de batidas -
bum, bum, bum – contra parede.
— Caralho, Angel. Eu vou... vou...
— Quero que goze dentro de mim — suplico, apertando minhas
unhas a ponto de fazê-lo gemer — Quero sentir você.
— Estou quase lá, raio de sol.
Gotas de suor brotam em minhas têmporas, testemunhas do
nosso desespero um pelo outro.
Meu coração bate como um tambor, uma trilha sonora acelerada
para o que estamos vivendo.
Ele continua, seu pau indo e vindo profundamente em um vai e
vem frenético, as paredes de minha boceta o apertando e
tensionando, uma fricção irracional e intensa de sua pélvis batendo
entre minhas pernas que se torna suficiente. É o suficiente.
Um grito vem do fundo da minha garganta e ele geme,
apertando os dentes e inclinando levemente o pescoço. Gozamos
juntos.
Nossas respirações se misturando. Os rostos colados um ao
outro.
Seu cheiro. Meu cheiro.
Seus gemidos. Meus gemidos.
Tudo é tão perfeito.
Nós explodimos em pura sintonia, saciados demais para fazer
qualquer outra coisa.
Com um esforço gritante, ele se move e me puxa para seu peito,
caindo na cama em exaustão.
Com minha cabeça em contato com a sua pele posso sentir as
batidas de seu coração pulsando contra minha orelha e me assusto
com o ritmo frenético.
— Seu coração está batendo… muito forte.
— Eu sei — ele murmura, uma voz baixa e fraca.
— Por quê? — Questiono preocupada — Está tudo bem?
— É porque você está aqui, raio de sol. É por causa de você.
Anthony

“O pesadelo nunca acaba.”

Eu corro até sentir meus músculos rangerem. O desespero


sendo a única motivação para me manter de pé.
Ele a levou. A levou de mim, preciso salvá-la. Preciso dela.
Não posso perdê-la novamente.
Meus pés derrapam no caminho, pedregulhos se enfiando em
minhas solas descalças e meu coração se parte quando a vejo.
O corpo estendido, vermelho brilhante banhando a pele alva e
meu único pensamento é: cheguei tarde, ela está morta.
Fúria e terror me estrangulam quando caio de joelhos na poça
ao seu redor.
— Angel? — Chamo com a voz embargada, enquanto a puxo
para meus braços, trazendo seu corpo frio para meu peito, sem me
importar com as manchas que nos cobrem.
— Acorde, por favor acorde! — rosno, esperando que minha
voz possa forçar aqueles olhos azuis a se abrirem.
Sacudo-a pelos braços. Choro, deitado contra os fios de seu
cabelo.
Grito, pedindo a Deus que não a leve.
Mas é tarde demais.
Ela está morta.

Acordo tremendo, mas não é um tremor leve, como se eu


tivesse levado um susto.
Definitivamente não.
Meus músculos tremem intensamente, como se uma corrente
elétrica de 220 watts percorresse todo o meu corpo.
Jogo as pernas para o lado da cama, segurando a cabeça
entre as mãos, tentando me conectar com a realidade.
Respiro fundo, na esperança de acalmar os nervos.
Lá fora, a noite está alta no céu, as corujas grunhem à
distância enquanto estou preso nesse maldito limbo.
É como se estivesse flutuando em desespero, incapaz de
encontrar uma conexão sólida com o mundo real.
Olho para o lado, vendo a sombra do corpo nu de Angelina
dormindo ao meu lado e isso ajuda a me acalmar.
Ela está aqui.
Ela está viva.
E isso não me serve de nada. Tê-la em meus braços não é
uma garantia.
Sentir novamente o toque dela, dormir e acordar com o seu
calor. A sensação de poder explorar cada centímetro de seu corpo,
beijar sua pele macia, provar seu gosto. É tudo maravilhoso.
A porra do meu paraíso.
Mas, de que isso me serve se a culpa e o medo ainda têm o
poder de me derrubar com um único soco no estômago em questão
de segundos?
Eu me sinto como o pior filho da puta do mundo por mentir
para ela.
E ao mesmo tempo, me apavoro com a possibilidade de seu
fodido – e verdadeiro – marido, encontrá-la.
Fico parado ao seu lado, olhando-a por um longo minuto.
Sentindo algo estranho, como se alguém tivesse me atingido na
cabeça.
Seu rosto bonito e sereno está em repouso, alheio aos perigos
que a cercam. As marcas do nosso sexo a enfeitando como uma
maldita deusa.
Tenho a fodido todos os dias e todos os minutos que posso
desde a noite do jantar. E meu corpo não pretende parar.
Eu sou um filho da puta!
Minha respiração pesada preenche o ar ao meu redor e me
levanto, não podendo ficar ali por mais um minuto.
Com as pernas trêmulas, alcanço a chave do carro na
cabeceira da cama, procuro pelas minhas roupas espalhadas pelo
quarto. Antes de sair, beijo o topo de sua cabeça e vou para um
lugar onde eu possa pensar.
No quarto copo de cerveja, Big Loney me olha com um olhar
repreensivo por trás de sua longa barba branca.
De aparência, ele lembra muito o papai Noel.
De humor, o Grinch.
Eu dou de ombros, nenhum pouco preocupado com seus
olhares feios e humor de merda. Desde que ele continue me
servindo álcool, pode resmungar o quanto quiser. Já que possui o
único bar disponível na cidade que está aberto a essa hora, vai ter
que me aturar.
Continuo focado na espuma do meu copo que está lentamente
diminuindo. Cabeça baixa. Ombros caídos.
Uma situação lamentável.
— Da última vez que recordo, você costumava chamar alguns
amigos para fazerem companhia durante suas noites de bebedeira.
Dallas ocupa o assento ao meu lado no balcão, e
involuntariamente deixo escapar um grunhido em direção a Big
Loney, meus olhos transmitindo um olhar mortal.
— Você me entregou, seu velho? — solto um bufo,
observando os pelos brancos de sua barba se agitarem. — Traidor.
— Não quero ninguém caindo de bêbado sobre o meu balcão.
Já tenho o suficiente com aqueles idiotas — aponta com o dedo na
direção de dois homens mais velhos, sentados no extremo oposto
do bar. — Tirem-no daqui.
Quando ele fala, viro o olhar por cima do meu ombro e avisto
Zade parado atrás de mim, com os braços cruzados e sua típica
expressão controlada.
Ótimo. Apenas o que faltava.
— Ninguém precisa me levar, droga. — Rosno quando Dallas
coloca a mão em meu ombro — Não estou bêbado.
— Ainda — Zade interrompe, aproximando-se também.
Sim, ainda.
Em silêncio, desvio meu olhar, ignorando-os, e continuo a
beber minha bebida.
A pergunta paira no ar entre nós, aguardando para ser feita.
— O que aconteceu? Pensei que estava tudo bem entre
vocês. Na noite do jantar, pareciam um casal apaixonados. — Dallas
comenta.
É claro que não preciso explicar por que estou aqui. Eles
sabem. Sempre souberam que o limbo que vivo só pode ter a ver
com ela.
— Esse é exatamente o problema — confesso com uma voz
cansada. — Tudo está perfeito. Mas até quando?
Dallas tinha sido sempre aquele que nos segurava. Mantinha
nossa sanidade no lugar intacto. Era o tipo de cara que iria correr
sobre brasas por um amigo. Que se jogaria em frente a uma bala
por um de nós sem hesitar.
Portanto, o olhar angustiado que reconheço em seu rosto, é
absolutamente genuíno.
— Ela é como uma ferida que não fecha. — Com os olhos
fixos ao copo a minha frente, sem poder encarar a nenhum deles,
confesso. — Dói olhar, dói pensar no que ela passou porque a
deixei ir. Dói quando penso como será quando ela descobrir.
— Então resolva isso, mano. Corrija as coisas. Você sempre
encontra uma solução para tudo.
— E se ela não me perdoar? — lamento, afundando minha
cabeça nas mãos — E se ela nunca me perdoar?
— Então, assegure-se de que ela possa te amar hoje. Deixe
os erros do passado no passado, onde pertencem — levanto a
cabeça, para encontrar o rosto de Zade com um olhar penetrante,
como se soubesse exatamente do que estava falando. — Já
tivemos essa conversa antes. Você a perdeu porque não podia
contar a verdade, agora tem essa escolha...
— Eu sei — exalo com uma respiração pesada. — Mas antes
de tudo, preciso encontrar aquele desgraçado. Não posso arriscar
que ela queira se afastar de mim. Temos que encontrar o filho da
puta. Para que ela esteja segura. Depois disso, vou contar tudo.
— Estou fazendo o possível. Já rastreei todos os cantos,
parece que o maldito desapareceu da face da Terra — Zade parece
tão perturbado quanto eu.
— Há um sujeito... — Dallas começa a dizer.
— Que sujeito? — Arqueio a sobrancelha, intrigado.
Seus olhos claros percorrem o bar, avaliando quem está ao
nosso redor, como se um assunto proibido estivesse prestes a
emergir. E de fato, é o que acontece.
— Quando precisamos lidar com aquela situação... e
encontrar o Gabriel, pedi a ajuda dele.
— Foi assim que o localizou? — bato minha mão sobre o
balcão, fazendo o copo de cerveja se agitar — Em que porra você
se meteu?
— Não fiz nada de estupido. Apenas usei meus recursos.
Você estava fodido depois de perder Angel para esse lunático e Z
estava na porra do Afeganistão chutando a bunda dos Talibãs. O
que queria? — ele bate a mão sobre a madeira do balcão,
mostrando que até mesmo sua paciência tem limite — Que ele nos
perseguisse para sempre? Pelo menos, com o fodido de volta a
cadeia, não precisamos olhar sobre nossos ombros a cada vez que
saímos de casa. Ele já tinha tirado o suficiente de nós, eu não iria
permitir que continuasse.
Um olhar perturbado passa por seu rosto e passo a mão sobre
meus cabelos furiosamente.
— Os problemas parecem que nunca vão acabar.
Um silêncio se instaura ao nosso redor e não preciso ser
capaz de ler suas mentes para saber o que estão pensando.
Nós tínhamos passado pelo inferno juntos, literalmente. Cada
um de nós era tão diferente, às vezes eu me perguntava se
seríamos amigos até hoje se não tivesse acontecido aquele
incêndio.
— Enfim... — Dallas continua, com uma expressão séria —
Posso contactar este meu... conhecido, e ver o que ele pode
encontrar. Sei que os meninos da KingCross são bons, mas esse
homem é fodido. Não a nada, nem ninguém, que ele não possa
encontrar.
Pondero as minhas opções, percebendo que não tenho mais
nada a perder. Então suspiro, com uma decisão.
— Tudo bem. Fale com ele.
Vejo o olhar distante de Zade ao nosso lado, seu indicador
coçando uma das tatuagens em seu antebraço.
— Se eu não tivesse... se não tivesse os chamado naquela
noite — sua voz grossa traz um frio para minha espinha — Nada
disso estaria acontecendo. Você nunca teria perdido Angel, nunca
teríamos...
Eu me viro para ele, segurando-o por sua nuca para que
nossos olhos fiquem frente a frente.
— Pare com essa porra. O que está feito está feito. Não me
arrependo de nada, entendeu? Nós nos salvamos. Fizemos o que
era preciso.
— Oh, uau. Parece que você tem visitas... — cortando o
assunto sinto o cutucão de Dallas em minha lateral e olho para
cima, em direção a porta do bar.
Zade se afasta e endireita os ombros, recuperando sua
postura.
E nós três observamos Angel e Maddie se aproximarem.
— Que porra é essa? — pergunto para minha irmã assim que
elas chegam. — Vocês saíram sozinhas a essa hora?
Maddie ergue o dedo indicador, apontando sua unha pintada
de vermelho sangue na minha direção, e proclama com uma voz
firme: — Regra número um, no livro do casamento, irmãozinho. Não
deixarás sua mulher dormindo enquanto vais para o bar encher a
cara. Ou sua irmã esperta vai aparecer para salvar a noite.
Por Deus, essa garota é uma dor na minha bunda.
Reviro os olhos para seu show e puxo Angel para perto,
fazendo com que ela se sente em meu colo.
Beijo seu pescoço, inalando o aroma doce de baunilha.
Ela ri, fazendo a sua bunda pousada em minhas pernas criar
um atrito doloroso entre meu jeans e meu pau carente dela. Em
qualquer hora e qualquer lugar.
— É uma boa regra — murmura, falando sobre a idiotice de
Maddie.
— Coloque no livro então, linda. — Sussurro em seu ouvido —
Vou seguir qualquer maldita regra que quiser desde que me deixe
foder sua boceta.
— Vou pensar sobre isso.
Ela se contorce no meu colo, procurando por meu rosto.
— Não gostei de acordar sozinha. Quando liguei para Maddie,
ela disse que sabia onde você estava e foi me buscar.
Eu teria uma conversa com Maddison depois. Não ligo a
mínima sobre elas virem, mas não é seguro saírem sozinhas no
meio da noite.
— Desculpe. Estava com a cabeça cheia, mas não vai
acontecer de novo, tudo bem?
Beijo sua testa, e ela concorda suavemente, se encaixando
em meus braços.
— Eu te amo, raio de sol. — Falo baixinho, para que só ela
possa ouvir e sinto seu corpo ficar tenso.
Tenho repetido essas palavras sempre que posso,
alimentando minha própria necessidade de relembrá-la
constantemente.
Ela não me disse de volta ainda, mas não me importo.
Desde que ela saiba, já é mais que o suficiente.
Angelina

“Corra.”

Maddison me guia através do ambiente aconchegante de seu


restaurante. O cheiro de ervas frescas e frutos do mar envolve o ar,
fazendo meu estômago emitir um ronco involuntário mesmo que
esteja abarrotado com a porção de Fish & Chips que acabamos de
comer.
Sua comida é simplesmente orgástica.
O ambiente de seu restaurante é como um convite à
indulgência gastronômica, onde o aroma dos pratos se mistura à
uma atmosfera acolhedora. Fazendo totalmente compreensível a fila
de clientes aguardando para entrar do lado de fora.
— Todo dia é assim?
— Principalmente quando coloco algo novo no cardápio.
Eu aceno com uma admiração gritante no meu peito.
Genuinamente feliz por ela.
— É tudo perfeito. Posso não me lembrar, mas fico feliz por
você.
Ela me abraça de lado, com as mãos suaves em minhas
costas.
Maddie havia me contado que sonhava com isso desde que
era jovem. Eu gostaria de poder recordar dos pequenos detalhes
sobre a vida dos meus amigos. A gente só sente falta de algo que
parecia ser tão simples quando perdemos.
— Não importa se lembra ou não. Já estou feliz por você estar
aqui, Angel.
Eu sorrio. Porém, mal alcança meus olhos.
Ultimamente tenho ficado melancólica a cada vez que penso
que minha vida está estacionada, a espera do meu cérebro arrumar
a bagunça que o acidente causou.
— Ei, não fique assim — ela fala, notando meu desanimo
repentino. — As coisas vão se resolver. Se desejar fazer algo novo,
faça algo novo. Se precisar recomeçar, recomece. Meu irmão
buscaria a maldita lua se você pedisse, mas sei o quanto fazer as
coisas por nós mesmas é importante.
Só lembrar dele faz meu coração vibrar.
As borboletas no estômago voarem livremente.
Só que Maddie tem razão. A vida dele, o trabalho, tudo está
parado para viver a minha disposição. Um casamento não pode
funcionar desta maneira.
Falei muito com ela sobre isso no dia de hoje. Meus medos e
inseguranças. O temor que eu tinha cada vez que pensava no
futuro.
Preciso pensar no que fazer, mesmo sem as lembranças do
passado. Talvez esse recomeço fosse minha chance para estudar
algo que gosto, descobrir uma nova profissão afinal nunca é tarde
para recomeçar.
Um aperto de repente se alastra por meu peito quando um
incomodo lembrete me encolhe.
— Eu não consigo dizer, Maddie — confesso, fazendo a voltar
seus olhos castanhos para mim, confusa. — Não consigo dizer que
o amo. Ele sempre fala. Todos os dias. E eu vejo, eu sinto bem aqui,
mas as palavras não saem. — Aponto o dedo para meu próprio
peito, apertando com força.
A quantidade idêntica ao tamanho da minha frustração.
Um olhar terno passa pelos olhos dela.
— Não se pressione. Quando tiver de acontecer, vai
acontecer. O sentimento está aí, isso é o mais importante e ele não
se importa com isso. Eu tenho certeza.
— Mas não é justo... — continuo, porém nossa conversa é
interrompida quando um de seus funcionários se aproxima da mesa
onde estamos sentadas.
— Ei, Maddie. A encomenda de lagosta chegou. Você pode
receber?
— Claro — ela se levanta — Volto logo, está bem?
— Ok.
Eu fico sozinha sentada na mesa do lado de fora do
restaurante, as pessoas passando pela calçada alegremente.
O clima de Falls Prince é algo que não consigo descrever. Me
sinto tão acolhida neste lugar que mesmo se nenhuma lembrança
voltasse, eu ainda saberia que essa cidade faz parte da minha
história.
Desde a natureza deslumbrante que compõe os arredores, até
a arquitetura antiga como se tivéssemos parado no tempo. Tudo é
absolutamente perfeito e encantador. Anthony disse que chegamos
a morar em Nova York, um lugar gigantesco em comparação onde
não consigo me imaginar feliz.
Alguns olhares questionadores como se dissessem “essa
mulher não me é estranha” são lançados a mim. É claro, aqui
certamente as pessoas são mais curiosas e atentas, o que acredito
que seja algo comum para uma cidade tão pequena, porém, não é
algo que me incomoda. Algumas pessoas de fato, devem até me
conhecer.
O vento suave acaricia meu rosto, brincando com os fios
soltos do meu cabelo e fazendo o tecido do vestido florido de alças
ondular ao meu redor. Uma brisa fresca traz consigo o aroma das
flores próximas, uma mistura de doçura e natureza que preenche
meus sentidos. Enquanto me envolvo na sensação de liberdade que
o vento proporciona, um homem do outro lado da rua na calçada
chama minha atenção.
De terno e gravata, cabelos penteados para trás, óculos
escuros.
Prendo minha respiração, fitando-o, no entanto, em um piscar
de olhos, uma dor aguda irrompe em minha cabeça, como se um
milhão de punhais perfurassem minha têmpora.
Fecho os olhos involuntariamente, buscando alívio contra a
pulsação dolorosa. Quando finalmente abro os olhos novamente, o
homem já não está lá. Nem sequer consigo reter sua fisionomia em
minha mente, o acontecimento foi rápido demais para que meu
cérebro processasse.
Porém o medo que se aloja em minha espinha é muito
verdadeiro.
Corra. Corra. Corra. Corra.
Uma voz desesperada grita dentro de mim enquanto meus
batimentos aceleram.
Eu me levanto da mesa, sem pensar direito no que estou
fazendo e faço exatamente isso. Começo a correr.
Cada passo ecoava meu coração acelerado, a ansiedade
aumentando enquanto eu me afastava, impulsionada pela sensação
de urgência.
Como se minha vida dependesse disso.
Anthony

“Eu não mereço essa mulher.”

— Temos uma pista — a voz de Dallas do outro lado da linha


agita a adrenalina com a informação que é muito bem-vinda.
Tenho esperado por isso por muito tempo.
— O que você conseguiu?
— Dawson está em território americano, tentando criar
alianças com alguns nomes interessantes do submundo. Ele está
sozinho e a deriva, precisando de pessoas poderosas para se
apoiar.
— Precisamos encontrá-lo e derrubá-lo antes que isso
aconteça. Não podemos correr o risco de deixá-lo se aliar a alguém
e conseguir qualquer poder de novo.
— Meu pensamento também. O homem que contratei está em
busca de uma localização. Deve acontecer em breve.
— Obrigado cara. Obrigado. Nem sei como te agradecer.
— Nós cuidamos um do outro, certo? — sua voz me
tranquiliza, relembrando — Não precisa me agradecer por isso.
Concordo silenciosamente e encerro a ligação.
Meus batimentos correndo. Meu sangue fervendo.
Estou perto de encontrar Dawson Voight.
Finalmente.

Depois da noite de bebedeira no bar, meus pensamentos


estão mais calmos. Os pesadelos, vendo Angel machucada e morta
em meus braços pararam de acontecer e com a esperança de
encontrar o desgraçado que a feriu tão próxima, parece que um
pouco do peso no meu peito diminui.
Conversar com alguém sempre ajuda, quando essas pessoas
são seus verdadeiros amigos e te escutam sem julgamento, ainda
mais. Para alguém como eu que não é do tipo falador, isso é uma
espécie de remédio.
Decido passar o dia no escritório improvisado que precisei
montar na cabana antes de nos mudar. Um cômodo adjacente que
supre minhas necessidades.
As "férias" que eu merecia, mas não tinha planejado,
resultaram em uma pilha de processos que eu não poderia
simplesmente repassar a outros. Além disso, alguns clientes seletos
preferiam lidar somente comigo.
Maddie ficou responsável por levar Angel para um passeio na
cidade, então, tive um período sozinho para resolver tudo.
Fiquei o dia entre ligações em chamadas de vídeo lidando
com a burocracia acumulada até que minha cabeça estava prestes
a explodir.
Jennifer, minha assistente, alguns estagiários e os advogados
associados ao meu escritório estão segurando as pontas e tudo vai
permanecer dessa maneira até que as coisas se ajeitem.
Trabalho é minha última prioridade no momento.
No meio da tarde, também recebo uma ligação da minha mãe
para dizer que está viva. Curtindo um cruzeiro no Caribe. Nenhuma
surpresa.
Quando a noite está começando a desabrochar no céu, o
telefone toca novamente, o nome da minha irmã piscando na tela.
Provavelmente para dizer que está trazendo Angel para casa.

Quando atendo, no entanto, e a voz trêmula de Maddie


aparece do outro lado e todo meu corpo fica tenso.
— Thony... — ela soluça, criando um enorme sinal de alerta
em minha cabeça — Angel desapareceu.
Meu coração começa a bater desesperadamente no peito.
— O que quer dizer com “desapareceu”? Ela não estava com
você? Eu tinha homens em torno do restaurante de olho em vocês.
Como ela pode ter desaparecido?
— E-eu não sei. Não sei — minha irmã soluça, aos prantos. —
Estávamos sentadas na calçada, conversando em uma das mesas
do restaurante. Saí por cinco minutos para receber um fornecedor, e
quando voltei, ela tinha sumido. Simplesmente sumiu!
As palavras dela ecoam em meus ouvidos como um alarme
ensurdecedor, a notícia atingindo-me como um soco no estômago.
Uma sensação de pânico se espalha rapidamente pelo meu peito,
como se alguém apertasse meu coração com as próprias mãos.
Enquanto minha irmã continua a falar, cada palavra parece
carregar um peso insuportável, uma angústia que se infiltra como
um veneno mortal.
O pavor é tão intenso, como se no fundo, eu já soubesse que
a perdi.
Não fui capaz de protegê-la. Meu corpo paralisa por um
instante, completamente perdido até meu cérebro enviar uma carga
de adrenalina certeira que me põe de pé. Eu reajo porque não vou
desistir. É Angel. Não posso aceitar a derrota antes de lutar.
Correndo freneticamente, busco por minhas chaves e saio
correndo.
— Fique onde está. Estou indo.
Quando alcanço a porta de entrada e meus pés batem no
gramado em frente a varanda, meu coração está perto de sair pela
boca. Minha visão já embaçada pelo nervosismo, mas ainda capaz
de enxergar uma viatura policial subindo a colina em direção a
minha casa.
Não. Isso não pode ser uma boa notícia.
Quando o carro para ao lado do meu, vejo Angelina sair do
banco passageiro e meus joelhos quase dobram de alívio.
— Angel... — corro até ela, seguro seu rosto entre minhas
mãos para me certificar de que ela está bem, sã e salva, bem aqui a
minha frente e uma linha fina se forma em minha boca ao notar seu
rosto choroso, o semblante assustado. — O que aconteceu? Você
está ferida? Alguém te machucou?
O policial desce do carro e me olha com uma expressão em
branco.
— Eu a encontrei perdida próximo a rodovia. Ela estava
assustada, chorando e pediu que eu a trouxesse até você. Não
disse muito, perguntei se queria ir à polícia ela disse que não.
— Angel...Se alguém te feriu, você precisa dizer.
— N-não aconteceu nada — ela gagueja, apertando o tecido
da minha camisa com força — Eu só me assustei.
— Tem certeza? — seguro seu rosto, para me certificar e ela
assente implorando com os olhos para não ser pressionada.
Deixando escapar um suspiro e sentindo meu coração saltar
no peito, seguro-a em meus braços. Com força.
— Tudo bem. — volto minha atenção ao policial — Obrigado
por trazê-la em segurança.
— Por nada, senhor. Tenha uma boa noite. — Ele inclina seu
rosto em direção a Angel — Se cuide, senhora.
— Obrigada.

— Estou enlouquecendo, não é? — pergunta, numa súplica.


— Estou enlouquecendo. Vi uma sombra, no meio da rua e sai
correndo. Que tipo de pessoa faz isso? Uma pessoa normal não age
dessa maneira, Anthony. Estou perdendo de vez a minha cabeça.
— Não, linda. Não pense assim. Você se assustou, só isso.
Entrou em pânico e tentou se proteger. E fez certo, entendeu? —
falo numa voz tranquila, afim de acalmá-la.
Ainda posso sentir o tremor de seus músculos. E reconhecer o
terror no fundo de seus olhos.
— Não posso viver a vida com medo de tudo. Além da minha
cabeça fodida, ainda mais essa?
— Se acalme. Está tudo bem agora. Estamos aqui.
— Deus... — ela se aconchega em meus braços, esfregando o
rosto contra minha camisa — Gostaria de ficar assim para sempre.
Pelo menos aqui, com você, sei que nada pode me machucar.
Santo Deus.
Eu não mereço essa mulher.
— Faremos isso hoje. Vamos ficar assim para sempre, raio de
sol.
— Tenho uma ideia melhor ainda.
Ela levanta o rosto, seus olhos azuis brilhando. Sua boca roça
a minha suavemente, os dentes mordiscando meus lábios, a pele
delicada se esfregando contra minha barba.
— Me leve para o quarto.
Que homem em sã consciência negaria um pedido desse?
Me levanto do sofá onde estamos deitados, a pego no colo e
subo as escadas.
Depois de sua chegada confusa, ela tomou um banho,
colocou uma camisola e se aninhou em meus braços contando tudo
que tinha acontecido e como acabou encontrando a viatura policial,
perdida e assustada.
Seu pânico era mais que pertinente, só não queria que ela
soubesse.
Mandei uma mensagem a Zade, pedindo que ele colocasse
alguns de seus homens em volta da minha propriedade e perto do
restaurante de Maddison, apenas no caso.
Espero encontrar esse homem rápido o suficiente para que
Angelina nunca mais precise sentir medo.
Mas esses são planos para o futuro, agora só quero que ela
se sinta bem.
No quarto, minha primeira tarefa é nos livrar de todos os
empecilhos entre nós. Levo cerca de quinze segundos para puxar
minhas roupas fora e arrancar a camisola de seu corpo.
— Deite-se e coloque essa linda bunda para cima, Angel.
Ela hesita apenas por um microssegundo. Um olhar silencioso
que faz meu pau inchar ainda mais e deixa minha garganta seca.
Sobe de joelhos na nossa cama, empinando aquele rabo
gostoso e se deita, exatamente como pedi.
Boa garota.
Me apoio sobre ela, meus joelhos entre os seus, minha mão
livre pressionando a parte baixa de suas costas. Inclino e beijo sua
espinha, até a nuca fazendo-a estremecer sob meu toque.
— Vou fazer com que se sinta bem, linda. — Digo, movendo a
mão para baixo sobre a curva perfeita de sua bunda e entre as
pernas.
Suas costas arqueiam como cordas de piano e quando minha
mão escorrega para o meio de suas coxas e meus dedos investigam
suas dobras, a encontro molhada como uma cachoeira.
Esfrego a carne quente e molhada de sua boceta, seu clitóris.
Meu maldito paraíso.
Ela ofega suavemente nos travesseiros. Ainda a esfregando,
coloco a outra mão na nuca dela e envolvo seu cabelo, torcendo as
mechas loiras nas costas da minha mão.
Ela responde ofegando de novo e levantando os quadris da
cama, abrindo mais as pernas para me dar mais acesso.
Tão aberta, tão pronta.
Nunca iria querer outra mulher além dela.
Mantendo minha mão em seu cabelo, esfrego sua boceta uma
última vez, em seguida, movo meus dedos lisos de volta para sua
bunda. Ela respira com dificuldade nos travesseiros e seu corpo fica
tenso, mas depois ela se pressiona contra mim, explorando,
gostando. Circulo meus dedos, deixando-a sentir, fazendo a
sensação fluir.
— Nós faremos isso, linda — Digo, estimulando a entrada com
promessas — Não hoje, no entanto.
— Oh, Deus, Anthony... — Ela diz suavemente.
Enfiando uma mão em sua barriga, impulsiono para que ela
suba na cama e sua bunda perfeita fique para cima. Sem poder me
conter, me abaixo e enfio os dentes em sua pele, deixando uma
marca arredondada na região carnuda.
Então, posiciono meus quadris e lentamente vou entrando
nela por trás. Sua boceta exposta e no ângulo perfeito para me
receber. O brilho de sua excitação me fazendo babar e desejar
lambê-la mais tarde.
Um gemido gostoso passa por seus lábios quando meu pau a
preenche, empurrando até o fim. Suas paredes escorregadias me
recebendo como se fossem feitas para mim.
Meu exato tamanho. Minha exata forma.
Minha mulher.
Sendo fodida lenta e doce, por meu pau.
Minha mão se firma em sua nuca, minha mandíbula range na
tentativa de aplacar a necessidade de tornar isso frenético.
Ela precisa de suavidade hoje. Precisa ser lembrada que
estou aqui, ao seu lado, e posso protegê-la.
Suas costas se contorcem, os quadris se movem e rosno
desesperadamente, cobrindo suas costas com meus músculos.
Serpenteando meu braço para frente, encontro o bico de seu
mamilo e o aperto em torno dos meus dedos, o polegar e o
indicador girando o biquinho delicioso. Minha boca procura por seu
pescoço, enterrando o rosto nos fios soltos de seu cabelo, meu pau
a preenchendo, seus gemidos me excitando.
Perdi as contas de quantas vezes a fodi nos últimos dias e,
Jesus, nunca parecia suficiente.
Com movimentos enlouquecidos, uma de suas mãos se
moveu para o meio de suas pernas e eu a cobri com a minha,
liberando seu mamilo.
Ela começou a estimular o clitóris e eu a ajudei, sem deixar de
me mover dentro dela.
— Isso, linda — pedi, sentindo minha respiração começar a
falhar — Toca essa bocetinha e goza em cima do meu pau. Quero
sentir seu gozo escorrendo em cima dele.
Assim como pedi, ela continuou estimulando a zona erógena,
meus dedos a ajudando, meus quadris se movendo até que
aconteceu exatamente como falei.
E Angel se contorceu, gozando sobre mim.
Deliciosa.
Tão malditamente perfeita!
Dawson Voight
Observo as fotos espalhadas sobre a mesa, e o ódio queimando
em minhas veias como um fogo incontrolável. Elas parecem zombar de
mim, uma cruel provocação visual, como se cada imagem dissesse:
bem-feito filho da puta! Olhe só como essa vadia está bem sem você.
Irritado, agarro um monte delas, rasgando-as com fúria.
Como pude ser tão idiota? Como pude confiar nesta caipira
desgraçada?
Eu dei tudo a ela! Absolutamente tudo! Estudo, um nome, uma
casa, joias, roupas decentes, educação. Coloquei um teto sobre sua
cabeça quando ela não tinha nada.
Tirei essa filha da puta da sarjeta e cuidei de sua mãe moribunda
por anos. Anos! Para ela me retribuir dessa maneira?
Quem ela pensa que é?
Seu sorriso me causa repulsa. A felicidade estampada em seu
rosto, amando estar nos braços de outro homem, como se não tivesse
acontecido as minhas custas.
São fotos de seu passado, esparramadas na minha frente com o
lembrete de que eu deveria ter investigado melhor. Eu não acreditei,
não acreditei que ela podia ir tão longe.
Quando a merda explodiu e ela se jogou da porra do meu carro
preferindo a morte do que estar do meu lado, achei que a desgraçada
tinha morrido. Desejei que ela estivesse morta, debaixo da terra
servindo de comida para os bichos.
Eu não tinha tempo, muito menos paciência para me importar,
deveria conseguir fugir naquela noite, se tivesse feito a essa altura
estaria bem longe, mas já era tarde demais. A polícia havia emitido um
aviso a minha procura muito antes do que fui avisado, por causa dessa
vadia, tive que me esconder feito um rato e quando coloquei alguém
para se certificar de que ela estava morta e se livrar de seu corpo, para
que eu não tivesse mais problemas, descobri que foi resgatada com
vida.
Comecei a investigar e descobri tudo. Ela e esse homem que a
levou tem um relacionamento de muito tempo, provavelmente
planejaram tudo isso para me foder e agora ela deve estar lá, curtindo
sua vida enquanto eu estou aqui nesse buraco.
Perdi tudo que eu tinha, todo o império que construí e o país que
governava por causa dela.
Ela acredita mesmo que pode me destruir e seguir em frente
como se nada tivesse acontecido?
Pois vou provar o quanto ela está enganada.
Agarro a primeira coisa que encontro na minha frente, que acaba
sendo uma garrafa de vodka vazia e jogo na parede.
Minha raiva borbulhando.
Mas também, o que eu esperava? Ela é uma mulher. Uma
vagabunda interesseira como todas as outras. Achou uma
oportunidade melhor e quase acabou com minha vida.
Um plano começa a se formar em minha mente, um plano que
vai levá-la ao fundo do abismo de onde ela não poderá escapar.
Angelina será a minha arma. Finalmente, depois de seis anos
aturando sua presença inútil, minha adorável esposa terá alguma
utilidade.
Caminho pelo piso empoeirado do escritório, odiando a forma
como a madeira range sob meus sapatos caros. A casa que estamos
usando de esconderijo é algo decadente. Pobre, velha e fétida.
— Os homens estão preparados? — pergunto a Andrew, meu
assessor pessoal assim que ele entra na sala. Ele é um homem fiel,
que tem me acompanhado há muitos e muitos anos. Eu gosto de sua
eficiência. Assim como gosto de seu rabo apertado que é ótimo para
foder.
— Sim senhor.
— Então dê o sinal. Diga para eles irem atrás dela e trazerem
para mim. Viva. Não me importo como. Se precisar matar, mate.
Apenas garanta que Angelina esteja viva para chegar aqui.
— Há muita segurança em torno dela senhor, acha mesmo essa
uma ideia prudente?
— Andrew, Andrew… você pensa que sou estupido? — de pé,
caminhando pelo escritório da casa em que estou usando de
esconderijo, eu chego perto dele e puxo seu cabelo, agarrando por trás
os fios curtos de sua nuca, sua estrutura pequena se rendendo ao meu
toque. — Eu sei o que estou fazendo. Tudo bem? Agora faça o que
estou mandando!
Seus olhos cor de mel brilham de medo e tenho que lutar para
que meu pau não fique duro.
— S-sim, senhor — ele gagueja, sua vulnerabilidade me atrai.
Sem mais palavras, Andrew deixa a sala, e fico sozinho,
satisfeito com o controle que exerço sobre ele. No entanto, meu foco
muda para o que está por vir.
Meu trabalho me tornou um homem rico, uma pessoa que
conquistou seu espaço e não permitirá que nada o impeça. As pessoas
têm memórias curtas. Esquecerão.
— Você a ama, não é mesmo, Sr. Cahill? — sussurro, pegando
um pedaço das fotos destruídas. — Vamos transformar isso em algo
útil.
Angelina

“Mentiras e mais mentiras.”

Anthony tinha saído para resolver algo importante sobre o


trabalho e fiquei sozinha na cabana. Apenas os seguranças que ele
deixou de prontidão cuidando da casa do lado de fora.
Depois do episódio que sai correndo de um desconhecido no
meio da cidade como louca, ele achou melhor garantir.
Eu achava absurdo, afinal, era tudo coisa da minha cabeça,
mesmo assim, deixei que fosse feito do seu jeito. Ele ficaria menos
preocupado.
E não tinha que ficar comigo vinte e quatro horas por dia nesse
caso.
Algo me dizia que nosso período de férias estava acabando.
Dinheiro não era um problema para nós, percebi isso muito fácil,
mas não era um segredo que eu não conseguia esconder nem mesmo
meus incômodos desse homem.
Depois de notar minha chateação por ficar aqui sem nada para
fazer, sugeriu que procurasse algo que gosto para me entreter. Ele me
levou mais algumas vezes para passearmos a cavalo, eu montei
Tempestade sozinha algumas vezes e foi a coisa mais incrível do
mundo.
Então estava ponderando minhas opções. Estudar veterinária
provavelmente seria a melhor delas.
Ser apenas “sua esposa” não era uma coisa que me agradava.
Claro, nosso relacionamento estava indo tão bem que eu não
podia dizer o quando me sentia feliz ao lado dele. Como se não
existisse nenhum outro lugar para estar além do seu lado, mas, eu
ainda me sentia pequena e insignificante em alguns momentos.
Como se uma voz em meu interior vivesse dizendo que não era
suficiente.
Que eu precisava ser mais.
Mas preciso ter paciência. Lentamente, as coisas estavam
voltando e eu iria encontrar um caminho. Talvez, até usasse tudo que
aconteceu ao meu favor para ir atrás do que eu realmente desejava.
No meio da tarde, quando o sol começava a cair no horizonte me
deitei no sofá enquanto o esperava voltar, meus olhos cansados
piscando sob a penumbra da luz fraca. Eu estava me sentindo tão
cansada ultimamente, que estava com medo de acabar doente.
Meus olhos se fecharam, na esperança de apenas descansar por
alguns segundos, mas acabei pegando no sono.
Uma porta e um corredor.
Esse é o pesadelo em que estou presa no momento.
Não havia monstros tentando me matar, vozes para me
assombrar.
Pelo contrário, ao invés da escuridão, uma claridade que me
cega e um chamado a seguir em frente.
Uma porta brilhante no final do caminho me tenta a querer
descobrir o que está por detrás dela. Uma voz interna que sussurra
dizendo que devo me dirigir até lá, embora meus passos se tornem
uma luta a cada avanço. Como se eu soubesse, de alguma maneira,
que o que me aguarda além daquela porta pode me causar dor.
Uma angústia intensa se apodera de mim, transformando meus
passos em um esforço penoso, e meu corpo se encharca de suor de
repente. Escorrendo por minha testa. Encharcando minhas costas.
Quando a alcanço, meus dedos se enrolam na maçaneta, e eu a
giro lentamente, abrindo com os batimentos acelerados no peito. O que
se revela do outro lado faz minhas pernas fraquejarem.
Imagens que estavam guardadas em algum recanto obscuro de
minha mente surgem de uma só vez, atacando-me como um assalto.
Sou aprisionada por um pesadelo insuportável, uma realidade que eu
não queria enxergar.
Anthony.
Meu marido.
O homem em quem confio.
Aquele que eu acreditava ser incapaz de dilacerar meu coração.
Com outra mulher.
Suas mãos percorrendo seu corpo, tocando-a da mesma forma
que costuma tocar a mim, despedaçando-me em incontáveis
fragmentos.
Eu fico ali parada sem saber como reagir, vendo aquela cena e
implorando para despertar.
Não pode ser real. Não pode ser.
— Não!
Desperto num salto frenético, a respiração ofegante ecoando no
silêncio da casa. Minhas mãos tremem enquanto abro os olhos,
encontrando o ambiente mergulhado na escuridão e na solidão.
Sento-me no sofá, a textura do tecido sob meus dedos é quase
reconfortante, mas minha mente está tomada por uma agitação que
parece indomável.
A escuridão começa a se fechar ao meu redor, uma presença
opressiva que ecoa a tormenta interna que sinto.
Tento controlar meu próprio desespero, segurando firme as
laterais da minha cabeça como se pudesse apagar o que acabei de
ver. Algo me atingindo na região das têmporas como se um milhão de
punhais as perfurasse.
As imagens em meu sonho persistem, repetindo-se sem piedade,
como um filme cruel em um loop implacável.
— Não — sussurro para mim mesma. Embora as palavras sejam
abafadas pela ansiedade que inunda minha mente. — Não pode ser
real — repito, quase como um mantra.
Imploro silenciosamente, meu íntimo clamando para que tudo
seja apenas uma criação perturbadora da minha própria mente, um
delírio momentâneo que vai se dissipar assim que a luz do dia retornar.
Ou quando ele aparecer e negar tudo.
Me abraçar dizendo que tudo vai ficar bem, mas... algo bem no
fundo diz que não estou imaginando coisas.
Isso não faz parte de uma alucinação que meu subconsciente
criou para me assombrar.
É real.
Eu sinto que é real.
Tropeçando fora do sofá, me levanto e busco pelos meus
sapatos.
Não posso ficar aqui.
Não posso.
Preciso entender o que está acontecendo.
Preciso descobrir se isso é verdade.
E nessa situação, Anthony não é mais uma pessoa confiável.
Coloco um casaco por cima da camisola fina que estou usando,
calço um par de tênis nos pés e saio para a noite fria.
Observo um segurança de sentinela a alguns passos de distância
da varanda, sua postura firme e vigilante. — Ei, você — chamo, minha
voz firme e decidida, o que faz o homem se voltar na minha direção
com uma expressão confusa. — Preciso que me leve a um lugar.
Ele hesita momentaneamente, como se estivesse avaliando a
situação, e então começa a falar: — O Sr. Cahill deu ordens para...
Não permito que ele complete a frase, interrompendo-o com
resolução. — Não me importo com as ordens que meu marido deu.
Preciso ir a um lugar, e vou com ou sem você. Ou me leva até lá, ou
pegarei um carro e irei sozinha.
A determinação em minha voz não oferece margem para
negociação, nem para dúvidas. Ele olha para mim por um momento,
como se estivesse avaliando minha determinação, antes de finalmente
assentir em relutância.
Digo ao homem para onde ele deve me conduzir, e cerca de
quinze minutos depois, paramos em frente a uma casa grande, envolta
em escuridão. A porta de madeira maciça parece me chamando a
distância novamente.
Com respostas que talvez eu nem esteja pronta para encontrar.
O coração bate com intensidade, quase como se estivesse
tentando romper a barreira do meu peito.
Mas não posso parar. Não posso temer, então saio do carro, toco
a campainha e espero.
— Angelina? — a voz grossa e tranquila pergunta, seus olhos
escuros brilhando na noite plácida assim que me encontra.
Fico paralisada na soleira, incerta de como agir diante da figura
de Zade parado na minha frente, com o peito nu exibindo suas
inúmeras tatuagens, os cabelos bagunçados como se tivesse saído da
cama às pressas.
Minhas mãos apertavam uma à outra com puro nervosismo.
— O que aconteceu? — com o semblante preocupado, me
coloca um passo para dentro e move seu pescoço para o lado de fora
fazendo uma leitura rápida de território com seus olhos treinados —
Por que está aqui sozinha? Anthony está bem?
— Ele não sabe que vim. Quando saí ele ainda não tinha voltado.
Franzindo o cenho, ele pisca para minha informação sem
entender nada e nesse segundo sinto como se uma barreira se
rompesse dentro de mim.
Eu começo a chorar. Descontroladamente. Com soluços feios e
dolorosos que não parecem nem mesmo perto de parar.
Sem que eu pedisse ou falasse qualquer coisa, a muralha de
músculos me envolve em um abraço terno.
Eu não entendo por que as pessoas costumam ter medo dele.
Ele era carrancudo sim e silencioso perto daqueles que não conhecia.
Eu me lembrei disso de forma lenta, mas havia ternura em seu olhar.
Uma hombridade enraizada que me transmitia segurança.
Como a de um irmão mais velho protetor.
— Shhhii, querida. Por favor, não chore — ele murmura, a voz
um sussurro gentil. — Se algo está errado, basta dizer. Nós vamos
resolver.
Eu me enfio mais em seu abraço apreciando o conforto, mesmo
sabendo que nada do que ele diga pode acalmar o meu tormento.
Eu só preciso saber a verdade.
Fungando, me desvencilho e procuro seu rosto. Precisando
encontrar minhas respostas.
— Zade, se eu te pedir, você pode ser sincero comigo?
Seus olhos ficam nublados de repente, como se soubesse de
alguma coisa e engulo em seco, fechando os olhos.
— Anthony já me traiu?

Meia hora depois, me encontro empoleirada no sofá de Zade, um


cobertor em minhas costas, uma xicara de chá fumegante sobre o
móvel de madeira ao lado. Minha cabeça fervendo.
Nenhuma palavra foi necessária para transmitir a resposta à
pergunta que eu tinha feito a ele. O conhecimento passou rapidamente
através de seus olhos, como uma sombra momentânea de
compreensão e pesar.
Chorei ainda mais.
Solucei e lamentei por meu próprio coração e de repente, sem
esforço, como se não bastasse, as cenas começam a vir a minha
cabeça uma atrás da outra.
Eu parecia mais nova, estava nervosa, queria surpreender a
Anthony. Era para ser um dia especial. Eu tinha ganhado uma bolsa de
estudos na faculdade. Iria ficar perto dele.
Tinha planos em minha cabeça, de nós dois juntos naquela
cidade.
E tudo terminou desfeito e estraçalhado quando o encontrei com
outra.
“Nunca daria certo” foi o que ele disse. Com um olhar tão frio que
eu não conseguia entender como tudo acabou como está agora.
Foi por isso que desisti do meu sonho? Por causa dele?
Nosso casamento era uma mentira?
Eu havia o perdoado? Como? Se a dor parecia me rasgar de fora
para dentro.
Um nó se formou em meu estômago, uma sensação de
queimação brotando em meu peito. Era como se a dor emocional se
tornasse física, uma prova tangível da agonia que eu sentia e eu fecho
os olhos, quase sem suportar.
Tudo estava tão confuso, tão bagunçado e de repente a
sensação era como se eu não entendesse mais nada.
Voltei no tempo para o dia que acordei naquela cama de hospital,
desorientada, assustada e sem memórias.
Um barulho rompe o silêncio, e meus olhos se abrem para ver
Anthony entrando na sala, sua expressão uma mistura de preocupação
e pavor.
— Angel? O que aconteceu? Por que você está aqui? — Sua voz
ecoa com um tom inquieto. — Zade me ligou e disse que você não
queria voltar para casa...
— Também disse, expressamente, que ela não queria te ver. —
Zade completa, cruzando os braços — Inclusive, estou bem perto de te
chutar para fora da minha casa.
Anthony olha seu amigo como se dissesse: você pode muito bem
tentar e se ajoelha a minha frente.
Minha boca parece repentinamente seca, minha garganta se
fecha, como se um nó de nervosismo estivesse bloqueando o caminho
do ar, me sufocando.
Encaro um ponto cego sobre sua cabeça, incapaz de encarar o
rosto dele. Evitar aqueles olhos nos quais eu acreditava encontrar
segurança.
Uma profunda e tumultuosa tempestade de emoções me assola,
enquanto eu luto para encontrar as palavras adequadas para explicar o
inexplicável. — Eu fui te visitar uma vez em Nova York... — começo a
dizer, minha voz saindo como um fio tênue de som.
Um silêncio profundo se instaura, espalhando-se como uma
névoa densa e dolorosa.
— Angel... — sua voz irrompe, carregada de apreensão e quase
trêmula de desespero.
Eu permito que meus olhos busquem pelo seu, na esperança de
encontrar qualquer sinal de desconhecimento, uma confusão que
possa me dizer que ele não faz ideia do que estou falando. Mas o que
encontro é uma devassidão assombrosa.
— Não... — um gemido escapa de meus lábios, minha mão
instintivamente cobrindo meu estômago, dobrando-me ligeiramente
para frente como se eu pudesse aliviar a dor.
Ele levanta sua mão e tenta tocar meu rosto, mas fujo de seu
toque, não podendo suportar isso.
— Como você pode me esconder isso? Como pode me fazer
acreditar em um casamento feliz... — minha voz se eleva, repleta de
uma mistura tumultuada de emoções. Lágrimas pesadas começam a
cair, traçando um rastro pelas minhas bochechas. — Você aproveitou o
meu acidente. Aproveitou o fato de que eu tinha esquecido tudo para
esconder sua traição.
As palavras saem carregadas com angústia.
— Angel, não… eu posso explicar — Anthony tenta me tocar de
novo, uma expressão aflita em seu rosto, mas eu não me importo.
Me afasto e levanto do sofá, fugindo da proximidade.
Não posso estar perto dele agora.
Como pude acreditar em qualquer coisa? Como pude não
desconfiar de que algo estava errado?
Jesus, que bagunça.
— Linda, por favor, me deixa te explicar. As coisas são mais
complicadas do que você pensa. — Ele continua, mas meus ouvidos
estão bloqueados para suas palavras.
— Não quero nenhuma explicação. Não preciso de explicação.
— Não faça isso.
Eu olho para Zade, implorando por ajuda e Anthony rosna como
um animal quando o amigo tenta puxá-lo.
— Vocês podem conversar depois, cara. Esse não é o momento.
— Não se meta nisso! — grunhi raivosamente — Nós vamos
conversar hoje.
Com determinação, ele caminha em minha direção e tento dar
alguns passos para trás, sem sucesso, pois não consigo ir muito longe.
Suas mãos me seguram com força, obrigando-me a manter meus
olhos fixos aos seus, sem escapatória.
— Eu vou te contar tudo, Angel. Absolutamente tudo. Eu juro,
juro pela minha vida. Só não me peça para fazer isso aqui. Venha
comigo para casa e me deixe explicar, por favor...
— Não posso. Não posso, Anthony. Não posso. — continuo
repetindo, me negando a acreditar em qualquer coisa que saia da sua
boca.
Ele cola sua testa contra a minha, fazendo nossas respirações se
misturarem. Seus olhos marejados, como se estivesse compartilhando
da mesma dor que eu.
— Por favor, estou te implorando. Não vou te tocar, não vou nem
estar perto de você se não quiser depois de tudo, só preciso por favor
que me escute.
Eu fecho os olhos, sem conseguir olhá-lo por mais um segundo,
com força suficiente apenas para concordar com a cabeça.
Só porque preciso saber de tudo. Absolutamente tudo, mesmo
que doa.
Anthony
“Estou tão perto.”

Eu não queria que fosse dessa maneira. Não deveria ser dessa
maneira.
Eu tinha ensaiado esse momento, orquestrando o discurso
meticulosamente em minha mente durante dias. Sabia o que dizer e
como dizer. Planejava confessar tudo a ela, desde aquela fatídica noite
do incêndio até hoje.
O risco de perdê-la era enorme, batendo na minha porta com
ameaças tangíveis o suficiente para me fazer estremecer, mas não podia
continuar dessa maneira.
Ela precisava saber de toda a verdade.
Iria contar das ameaças de Gabriel. Do perigo que ela corria ao
ficar comigo no passado.
Da sua visita a Nova York e do flagra que armei para que ela me
visse com outra e mantivesse distância.
A mulher com quem Angel me pegou na cama era uma prostituta.
Nada mais que isso. Paguei 300 dólares para ela tirar suas roupas e me
deixar tocá-la por cinco minutos, depois a mandei embora e sofri feito um
filho da puta pelo que tinha feito.
Foi um plano idiota. Precipitado.
Mas as ameaças de Gabriel estavam cada vez mais perigosas. Na
verdade, quando as ameaças começaram a se tornais reais, fiquei
apavorado e agi sem pensar. Assim que descobri que ela estava vindo
me visitar, armei aquela babaquice e estou sofrendo a porra das
consequências até hoje.
Animais mortos apareciam na casa da minha família. O carro da
minha irmã teve os freios cortados uma vez. Uma das irmãs de Zade foi
encurralada em um beco e espancada sem motivo algum.
O irmão de Dallas sofreu um “acidente” que ninguém conseguia
explicar ou entender e acabou perdendo sua vida. Tudo isso enquanto o
filho da puta Gabriel Castiello estava à solta.
Ele achava que Zade, Dallas e eu éramos responsáveis por toda
desgraça em sua vida e estava disposto a ir até as últimas
consequências para nos fazer pagar.
O desgraçado merecia apodrecer na cadeia pelo terror que nos fez
passar por quase três anos.
E eu estava pronto para dizer cada palavra dessa história a
Angelina.
Depois que Dawson estivesse nas mãos da polícia, não agora.
E eu estou tão perto!
Passei o dia com Dallas, em uma conversa intensa com seu
“conhecido”. Estudamos todas as propriedades onde Dawson poderia se
esconder e assim que descobríssemos qual delas, iria caçá-lo.
Faltava muito pouco para garantir sua segurança, muito pouco.
Eu só precisava de mais alguns dias para poder me livrar desse
peso, mas ao invés disso, suas memórias do pior dia de nossas vidas
haviam voltado e antecipado os planos, me provando mais uma vez, que
não tenho controle de nada.
Suspiro pesado, exalando a respiração através do silêncio do carro.
Ela não disse nada, eu não disse nada e provavelmente seria todo
o caminho assim. Até chegarmos em casa.
Queria tanto poder segurá-la e tirar aquela expressão de angústia
de seu rosto, porém, quando eu era o único responsável por sua dor, só
podia dar a distância que ela desejava.
Não sei como ela vai receber o que tenho para dizer. Não sei como
vai aguentar a verdade sobre sua vida, a única coisa que tenho certeza é
que vou mantê-la segura, não importa o que tenho de fazer.
Cada quilômetro percorrido parecia um peso em meus ombros.
Angel estava ao meu lado, encolhida e frágil. E eu temia que
quando seu mundo se quebrasse, mais uma vez, ela não me deixasse
ajudar.
Ela poderia me odiar.
A estrada sinuosa seguiu paralela a rodovia, e a escuridão era
profunda como a própria noite.
Minha velocidade diminuiu quando me deparei com um carro
parado na interseção à frente. Os faróis de um veículo surgiram do outro
lado de repente, iluminando nossa proximidade e uma enxurrada de
palavrões escapou de meus lábios enquanto eu reduzia a velocidade
novamente para não bater. Mas o outro motorista parecia estar vindo
diretamente em nossa direção, sem sinal de diminuir.
Agarrei o volante com força e pisei nos freios, meu coração
disparando enquanto tentava evitar a colisão com o SUV. No entanto, o
impacto foi inevitável. Nossos veículos colidiram, o choque fazendo o
mundo ao meu redor girar em um borrão. Senti o impacto no lado do
motorista, e meu corpo foi empurrado pelo choque, conduzindo nosso
carro para fora da estrada em direção ao acostamento.
A dor explodiu em minha cabeça, uma avalanche de sensações
avassaladoras. Um gosto metálico invadiu minha boca, e percebi
vagamente o cheiro de sangue no ar. Tentei manter meus olhos abertos,
lutando contra a escuridão que ameaçava me envolver. Angel estava ao
meu lado, e eu queria ter certeza de que ela estava bem.
No entanto, antes que eu pudesse reunir qualquer pensamento
coeso, tudo se tornou negro, e minha consciência se dissipou como
fumaça.
Meus olhos se ajustaram rapidamente à claridade. Um homem
uniformizado enfiava uma luz diretamente no meu rosto. Levantei minha
mão instintivamente para proteger meus olhos do brilho, e ele a abaixou.
— Senhor? Consegue me ouvir?
— Angel... — As palavras escaparam da minha boca em um
sussurro rouco. Minha primeira reação foi procurar por ela, porém eu não
conseguia me mover.
Minha mente se focou no impacto avassalador do acidente, as
imagens voltando como fragmentos de um pesadelo. Rapidamente,
abaixei-me para liberar o cinto de segurança, assobiando com a dor que
irradiou em minhas costelas.
— Senhor, se acalme! Você precisa esperar pela ambulância. Não
tente se mexer. Não sabemos se você tem algum ferimento interno. — O
paramédico começou a lutar, tentando me manter quieto, mas eu tinha
outras prioridades no momento.
— Onde está minha esposa?
A testa do homem enrugou, olhos claros se estreitando em
confusão.
Como se eu estivesse alucinando.
— Havia mais alguém no carro?
— Minha esposa! — quase gritei. — Minha esposa estava no banco
do passageiro.
— Não encontramos mais ninguém. O lado do passageiro estava
vazio. Apenas um vestígio de sangue. Vou pedir a equipe de bombeiros
para que iniciem uma busca.
A realidade se abateu sobre mim com a força de um tsunami. Eu
desviei meus olhos em direção ao banco onde Angel estava. Lembrei do
carro nos atingindo propositalmente e empurrando-nos para fora da
estrada.
Meu coração acelerou à medida que minha visão captou a
ausência sinistra dela. A porta estava aberta, vidro espalhado pelo lado
de dentro como se alguém tivesse quebrado a janela, mas seu assento
estava perturbadoramente vazio.
Não foi um acidente.
Alguém a levou.
Forças que eu nem sabia que possuía me sustentaram para que eu
conseguisse soltar o cinto de vez e empurrar o homem fora do meu
caminho, pressionando meu corpo através da lateral amassada para ficar
de pé do lado de fora.
— Me arrume um celular — lati, com urgência — Preciso fazer uma
ligação.

— Estou perdendo a porra da minha cabeça! — falei, andando de


um lado para o outro.
Uma dor pungente em minha nuca estava me matando, minhas
costelas gritavam como filhas da puta e todo meu corpo parecia ter
levado uma surra, mesmo assim, minha adrenalina corria por minhas
veias de forma livre.
Os olhos de Zade se estreitaram. Não havia mais nenhuma gota de
paciência restante nele. Muito menos um olhar amigável.
Ele estava entupido por uma fúria impotente e revoltada tanto
quanto eu. Em seu total modo soldado.
— Encontre a porra de um caminho, Hoss. — Bradou uma ordem
— Não temos mais tempo. Quero uma localização e vou te dar cinco
minutos.
— Sim senhor, — o menino, que parecia muito jovem e muito
magro para fazer parte de uma equipe integrada cem por cento de ex-
militares concordou e continuou digitando freneticamente em seu
computador.
Depois de ligar para Zade e informar sobre o acidente, o homem
tinha explodido em atividade. Sua casa agora estava abarrotada de
pessoas, todos parte da sua empresa, até mesmo seu sócio Hunter
Cross estava aqui.
Dallas havia chegado a pouco tempo, trazendo a localização de
cada propriedade que seu contato havia encontrado para tentarmos
localizar Dawson, o que era exatamente que o gênio da computação de
Zade estava tentando afunilar. Alguma pista que nos enviasse a direção
certa.
Eu precisava encontrar Angel e tinha que ser rápido.
O zumbido de um telefone tocou em algum lugar e meus olhos
procuraram loucamente para ver de onde estava vindo.
Minha atenção pousou sobre o meu próprio aparelho, que por um
milagre, conseguiu sobreviver ao acidente. Meu coração badalando como
um sino em meu peito quando me aproximei para atender.
Uma solicitação de chamada de vídeo vinda de um número
desconhecido na tela.
— É ele.
Zade latiu uma ordem para que Hoss começasse a rastrear, assim
como havíamos previsto para o caso de algum contato ser feito e o
garoto fez um sinal positivo, me indicando a atender.
Todo o ar em meus pulmões desapareceu quando a imagem de
Angelina apareceu na tela.
Com os pulsos amarrados para trás, sentada em uma cadeira. Um
hematoma em sua testa, nariz sangrando e os olhos vidrados de medo.
Levou todo o autocontrole existente em meu sangue para que não
começasse a gritar. Meus músculos irradiando a raiva através da tensão,
tão duros que provavelmente se pareceriam com pedra.
— Oh, Sr. Cahill, finalmente.
O olhar gelado de Dawson parado atrás dela, segurando seu cabelo em
uma de suas mãos seria uma imagem que eu jamais me esqueceria.
A imagem de um homem morto.
— O que você quer? — perguntei sem rodeios, não querendo perder
tempo.
Um sorriso frio cruzou o canto de seus lábios.
— Quem disse que quero alguma coisa? Talvez tenha ligado
apenas para te fazer assistir enquanto corto a garganta dessa
vagabunda, afinal, é o mínimo depois dos problemas que ela me causou
não acha?
— Eu vou te matar seu filho da puta! — gritei, olhando para tela. O
celular sendo pressionado com tanta força entre meus dedos que tinha
medo de que pudesse se partir.
— Ei, ei... se controle. Raiva não faz bem a ninguém. Além do
mais, o único que deveria estar com raiva aqui sou eu. Você tomou para
si algo que me pertencia, Anthony.
Ele aperta mais os seus cabelos, curvando o pescoço dela para
trás e dá um pequeno tapa em seu rosto.
— Não é mesmo querida? — pergunta, olhando para baixo em
seus olhos — Fiz o favor de esclarecer todas as mentiras. Agora ela sabe
que o único marido dela, sou eu.
— O que você quer? — grito novamente, não podendo assistir
aquilo por mais tempo.
O pequeno gemido de dor de Angel reverberando pelos
autofalantes quebrando ainda mais meu coração.
Eu vou matar esse homem. Fazer com que ele se arrependa
amargamente de ter tocado suas mãos nela.
Um rato quando encurralado toma as piores atitudes possíveis e eu
iria mostrá-lo. Iria arrancar a porra do seu coração com meus próprios
dentes e assistir sua vida esvair diante dos meus olhos quando o
pegasse.
Zade fez um sinal positivo do outro lado da sala, como se tivesse
captado alguma coisa e meu coração disparou ainda mais.
Ansioso. Com uma necessidade de violência que eu nunca havia
sentido.
— Diga o que você quer, Dawson. Diga a merda que você quer
para não a machucar e vou providenciar.
— Tudo bem, tudo bem, Sr. Cahill. Você não gosta de brincadeiras,
entendi. Então vamos direto ao ponto. Preste bastante atenção.
Meus dentes rangeram, minhas mãos fecharam em punho.
Eu escutei.
Angelina
“Não venha.”

Acordo notando de imediato que algo não parece certo. Uma


sensação de inquietude que ainda não consigo identificar.
Tento mover meus braços, mas encontro resistência, algo áspero
roçando contra a pele dos meus pulsos, quase chegando a arranhá-la.
Cordas.
O reconhecimento súbito preenche minha mente, fazendo-me
buscar o que aconteceu com um clamor baixo para que as memórias
venham.
Um acidente.
A lembrança do trajeto com Anthony retorna de forma completa.
Nosso encontro na casa de Zade, a descoberta sobre sua traição, a
dor que senti. Tudo vem à tona, porém deixo em segundo plano, já que
sinto que há problemas maiores para me preocupar no momento.
O impacto violento, o carro sendo arrastado pelo asfalto. Uma
sombra rompendo o vidro do meu lado, o pânico agarrando-me enquanto
era arrancada à força do veículo.
A dor aguda de um golpe na cabeça antes de me jogarem dentro
de um porta-malas.
Me lembro de tudo.
Sons sutis de passos reverberam no ambiente, ecoando como um
presságio sinistro. Um aroma familiar se insinua, e involuntariamente
meu corpo se encolhe em resposta, reagindo a essa presença com
repulsa.
Não tenha medo Angel, não tenha medo.
Repito a mim mesma, para me acalmar. Porém, a voz dos meus
pesadelos aparece, impedindo as batidas do meu coração de
encontrarem um ritmo normal e por um breve momento, questiono se não
morri naquele acidente e fui enviada ao inferno.
— Olá querida — o som trava meus ossos e gela minha espinha.
Levando-me a pensar que estou presa na escuridão, no limbo do
esquecimento novamente. Essa é a única explicação.
Com coragem, me forço a abrir meus olhos de forma lenta,
desejando que o reconhecimento do ambiente leve embora essa
sensação.
E quando o faço, percebo que estou enganada. Dessa vez, ele não
era apenas uma aparição.
Era um monstro real, de carne e osso, bem à minha frente.
— Ouvi dizer que não se lembra de mim — o loiro de olhos gelados
contempla. Sua postura tranquila e imponente, como se nada pudesse
perturbá-lo. — Como pode esquecer de seu próprio marido, Angelina?
Espremo meus olhos quando a dor em minha cabeça começa a
aumentar. O som daquela voz despertando um rangido repentino que
consigo sentir pulsando dentro do meu cérebro.
Imagens daquele pesadelo que eu revivia quase todas as noites,
com aquela criatura sombria que perturbava meu sono se tornando se
desintegrando em meus pensamentos e trazendo de volta lembranças
que eu não sabia onde estavam escondidas.
Não.
Não é real. Ninguém pode me machucar. Ninguém pod…
— Ninguém pode me machucar — começo a sussurrar.
Um tapa muito verdadeiro atinge minha face, fazendo minha
bochecha arder e meus olhos lacrimejarem. Puxo as cordas que se
agarram aos meus pulsos, desejando ficar bem longe deste homem, mas
não tenho escolha. Não estou indo a lugar algum.
A informação reverbera em meu cérebro junto de outras e mais
outras que me fazem piscar, me perfurando como punhais afiados.
— Como pode esquecer o homem que a salvou da miséria? Que
impediu sua mãe moribunda de ter uma morte lenta e dolorosa? Como
pode esquecer tudo que fiz por você?
Oh Deus.
Eu começo a hiperventilar. As imagens vindo uma trás da outra.
Uma náusea me domina e, sem que possa me impedir, inclino para o
lado e vomito a bile em meu estômago.
Dawson.
Dawson Voight está na minha frente.
Meu verdadeiro e único marido.

Quando desperto novamente, sem nem saber como acabei


desmaiada, todo meu corpo está doendo. Com um balde de água gelada
em minha cara e o peso familiar de seu punho, eu já sei de tudo.
Tudo, cada mínimo detalhe, havia voltado para meu cérebro como
se nunca tivessem desaparecido.
Os anos perdidos que o acidente me tomou. Minha história com
Anthony. O modo como tudo acabou e porque acabei casada com esse
homem vil.
Minha mãe.
Senhor.
Meu coração dói, lágrimas surgem involuntariamente e tenho que
puxar respirações, uma atrás da outra para me impedir de surtar.
O que descobri sobre ele.
Minha forma de chantageá-lo para conseguir minha liberdade.
Minha tentativa de fuga, suas promessas de tornar a minha vida ainda
mais miserável depois que o entreguei, o corpo de Marta morto aos meus
pés e minha desistência.
Uma verdade tão feia.
Eu preferia morrer a ter que ficar mais um único segundo em sua
presença. E o sentimento prevaleceu. Mesmo depois de me jogar de um
carro em movimento e quase morrer, continuo desejando qualquer coisa
a estar ao lado deste homem.
Dúvidas começaram a me perseguir. Como Anthony me encontrou?
Por que ele disse que era meu marido?
Tudo se misturando aos dias do perfeito paraíso que vivi até meu
pesadelo voltar.
Acho que era um sinal da vida, me dizendo que eu não tinha direito
à felicidade.
— Vamos ligar para seu amante? — ele pergunta empolgado, com
um celular em sua mão.
Meu corpo começa a tremer.
Os anos que vivi ao lado dele e a certeza de que ele é capaz de
qualquer coisa. Absolutamente qualquer coisa despertando o verdadeiro
medo adormecido em meu subconsciente.
— O-o que você quer com ele?
Não posso impedir de perguntar.
Suas mãos param o que estão fazendo quando ele solta uma
risada e, em seguida dá um passo à frente. Puxa meu cabelo.
— Você ainda tem coragem de se preocupar com esse merda, bem
na minha cara? — ele rosna, golpeando meu rosto com força, fazendo-
me sentir o gosto de sangue. — Se quer mesmo saber, esse
advogadozinho vai me ajudar a fugir do país. Isso mesmo, nós vamos
fugir, querida. Você não vai escapar de mim.
— Por que simplesmente não me deixa em paz?
Soltando-me, ele volta a ficar de pé na minha frente e me olha,
como se eu fosse apenas um pedaço de lixo.
— Nunca tive intenção de ter uma esposa. Você, para mim, não
passava de algo que eu possuía. Nos primeiros anos de casamento,
sentia-me satisfeito por poder te afastar, te enviando para estudar fora do
país, assim não precisava nem olhar para a sua cara. Mas, creio que
logo após a morte da sua mãe, aquele desejo que você tinha de ser
independente começou a verdadeiramente me irritar. — Seus olhos
adquirem um tom ainda mais gélido — Eu te comprei para fazer
exatamente o que eu ordenasse. Deveria estar grata, droga! Grata!
O brilho de insanidade contido em seu olhar era tão intenso que eu
quase vomitei de novo.
Ele se abaixo em um arco, ficando com o rosto bem na minha
frente.
— Mas o que eu esperava, não é mesmo? Quando pulou daquele
carro, nem fiz questão de te procurar, se estivesse morta, seria ótimo,
mas quando descobri que não estava, eu sabia que a faria pagar. É isso
que você merece, Angelina. Pagar por me destruir.
Eu fecho os olhos diante da crueldade de suas palavras, que não
expressam nada além do que eu já sabia. O desprezo dele por mim era
algo que eu nunca conseguiria entender, mas acredito que algumas
pessoas têm isso enraizado dentro de si. Dawson era simplesmente um
narcisista desequilibrado que não tolerava ser desafiado ou contrariado.
— Você é completamente louco.
— Ainda não viu nada, querida — ele sorri, mexendo no telefone
celular e o entrega a um homem que está parado do outro lado do
cômodo em que estou.
É um lugar escuro, empoeirado, sujo.
A sensação de impotência era avassaladora.
Dawson mantinha a expressão cruel que me lembrava, talvez, até
mesmo pior, torcendo cada fio da minha existência para seu prazer
sádico.
O pânico me atravessa, mas me obrigo a manter a calma. É a única
maneira de me manter viva.
Anthony atende do outro lado da linha e fecho os olhos,
desesperada em como tudo isso pode acabar. Ele surta ante as
provocações de Dawson.
Eu vejo, do outro lado da tela, seu rosto vermelho, me encarando
com um desespero tão grande que meu peito se aperta.
— Estamos entendidos, Sr. Cahill?
Os olhos escuros dele brilham mesmo tão distante e pequeno
através do celular. A mandíbula tensa, os lábios cerrados em uma linha
fina.
— Sim.
— Você tem quatro horas para preparar tudo.
Sem esperar uma resposta, Dawson encerra a ligação e me olha
com um sorriso.
É quando começo a rezar para que Anthony não venha.
Eu conheço o olhar no rosto de Dawson. Ele está blefando.
Ele não vai deixá-lo sair daqui com vida. Muito menos a mim.
Ele não pode vir.
Por favor Deus, por favor.
Eu imploro baixinho por todo tempo que fico sozinha.
Não venha.
Anthony
“Acabou.”

Duas horas mais tarde estávamos alojados no meio de uma floresta


a poucos metros de distância de uma casa abandonada. De fato, fazia
parte da lista de endereços que o contato de Dallas tinha encontrado.
O mais perturbador disso tudo? É que o maldito tinha se escondido
bem debaixo de nossos narizes.
A pouco mais de uma hora de distância de Falls Prince.
— Ou você relaxa, ou farei um dos meus homens sentar em cima
de você para que possamos entrar no local sem riscos de alguma
idiotice.
Sorrio friamente para Zade, já que não há um pingo de humor em
meu sangue.
— Você vai precisar de mais de um homem se quiser realmente me
impedir.
E era uma absoluta verdade. Eu estava fervendo tanto em uma
raiva cega e intensa que mal conseguia parar em meus próprios pés.
— Por que estamos demorando tanto? — grunhi, pela terceira vez
em questão de minutos.
— Porque estamos tentando salvar sua mulher, não nos matar. —
Hunter, o sócio silencioso de Zade respondeu, o homem mal falava,
ainda assim, quando falava, se fazia ser notado.
Ele pega uma arma, armando-a com uma destreza familiar e a
acomoda no coldre em suas costas.
— Estamos prontos — outro homem da equipe, com a pele negra,
cabeça careca e olhos de quem conhece cinquenta e nove jeitos de
matar alguém sem uso de uma arma, fala.
Zade concorda silenciosamente e olha para mim, seus olhos
escuros me investigando.
— Seu eu te pedir para...
— Nem tente. Vou com vocês.
Meu amigo exala um suspiro.
— Você acabou de sair de um acidente de carro algumas horas
atrás, provavelmente fraturou uma costela. O que está tentando fazer?
Morrer?
Eu ignoro seu questionamento. Foda-se.
— Ele pediu por mim. Então eu sou o único que vai entrar lá e
arriscar a vida por ela.
O rosto de Zade se transforma.
— Você não vai.
— Vou.
— No segundo em que você entrar, ele vai atirar.
— Eu sei. Vocês precisam do elemento surpresa, certo? Eu sou o
elemento surpresa.
Zade ficava muito diferente quando estava em combate ou quando
ficava realmente com raiva.
Realmente. Com. Raiva.
Ficando mais vermelho a cada minuto. Parecia que estava prestes
a explodir.
Eu não me importava.
Dawson exigiu que eu usasse minhas conexões para tirá-lo do
país, o combinado, era que nos encontrássemos dentro de duas horas
em uma cidade próxima. O jato partiria em meu nome, com ele.
O filho da puta realmente pensava que eu iria ajudá-lo a fugir? Era
obvio que mesmo com seus recursos e conexões, o homem estava
desesperado.
Ele estava usando Angelina como seu último recurso.
Mas eu não confiava em uma grama de sua palavra. Ele queria
machucá-la, e iria fazer isso na minha frente. Ou provavelmente me
matar na frente dela, qualquer coisa que aumentasse o sofrimento. O
homem parecia se alimentar disso.
— Vou entrar e distraí-lo até vocês chegarem, apenas isso. Entrar
em modo de ataque, com Angel lá dentro está fora de cogitação.
Protegeremos a ela primeiro, depois, podem explodir esse lugar com
todos dentro, eu não me importo.
Cruzei os braços, inflexível e Zade suspirou.
— Alguém já disse que você é teimoso como uma mula?
Uma centena de vezes, metade delas, ele mesmo.
— É a minha mulher lá. Você é o cara treinado e toda essa merda,
mas nada vai me impedir de entrar. Nada — dou ênfase a palavra.
— Hunter — ele grunhi o nome entre dentes — Coloque a porra de
um colete à prova de balas nesse imbecil. Antes que ele consiga se
matar.
Sorrio com arrogância, recebendo um rosnado baixo que vem
direto de sua garganta como resposta.

— Você — Z me agarra pela nuca, obrigando-me a olhar em seus


olhos, sua expressão carrancuda — faça tudo exatamente como
combinamos, ou juro por Deus que se você se ferir ou cometer a besteira
de morrer, vou te buscar no inferno.
— Entendido.
Ele faz alguns gestos sinalizando com as mãos para sua equipe
seguir em frente, algo que é atendido de prontidão.
— Vamos entrar.
Os homens começam a se mover, empunhando suas armas.
Metade para os fundos da casa, outra pela frente.
Dois membros restantes da equipe da KingCross entram ao meu
lado, assumindo o papel de isca. Estrategicamente, eles removem alguns
obstáculos à medida que avançamos, abrindo caminho até o aposento
onde Dawson mantém Angel, como vimos na vigilância. Conforme nos
aproximamos do final do corredor, quase alcançando nosso destino, os
seguranças de Dawson se agrupam ao nosso redor como formigas,
determinados a nos bloquear.
Mesmo permitindo-me ser agarrado, não consigo conter minha
raiva e desfiro alguns socos impulsivos.
Prometi a Z que não causaria raiva em ninguém para não acabar
morto, mas... É mais forte do que eu.
Sinto aflição enquanto os homens me arrastam para dentro da sala,
um espaço amplo e empoeirado. No centro do ambiente, avisto uma
cadeira de madeira frágil na qual Angel está amarrada. Sinto uma
urgência irresistível para correr até ela, meu olhar refletindo o mesmo
desespero que reconheço nos seus.
No entanto, ela balança a cabeça em negação, como se estivesse
me transmitindo que eu não deveria ter vindo. Pedindo-me para fugir com
seus olhos azuis vítreos e assustados.
Essa mulher louca pensa mesmo que vou a algum lugar sem ela?
Ela não compreende a força do que sinto por ela, o fogo ardente
que me impulsiona a enfrentar qualquer obstáculo. Por ela, só por ela.
Não posso mudar seu passado, muito menos consertar erros já
cometidos, mas posso - e vou - mudar o futuro.
Eu luto contra o aperto de um dos homens, desejando ir até ela,
mas toda a atmosfera de luta ao redor de todos os homens nos
encurralando, muda em questão de segundos.
Minhas mãos se fecham em punho.
Eu tento engolir, mas não consigo pego em uma fúria impotente
quando passos diferentes entram no cômodo e o homem surge.
Seus cabelos loiros bem penteados, terno caro, olhar gelado.
O filho da puta.
O ódio agudo e ácido me atinge com força em muitos lugares.
— Sr. Cahill, eu esperava que você não fosse burro de tentar uma
besteira como essa.
— Está me chamando de burro? Você que mal teve a capacidade
de fugir por conta própria. — Provoco, não contendo o sorriso sarcástico
— Eu vou te matar, Dawson. E será hoje.
Ele estala os dedos e recebe uma arma em suas mãos. Apontando-
a em minha direção.
— Você é muito arrogante para alguém que está encurralado. Eu
sou o único com uma arma em sua mira.
Ai que ele está engando.
— Atire, eu quero ver se você tem coragem — exibo meus dentes,
dando um passo a frente.
— Não! Anthony não, por favor, não faça isso! — Angel se debate
na cadeira, puxando as cordas, desesperada.
Não olho em sua direção. Estou focado apenas em distraí-lo.
— Ah, você realmente gosta dele, não é mesmo, Angel? — o
homem analisa friamente, desviando seu olhar para encontra-la, o que
me arranca um rosnado — Então não tenho outra escolha, já que não me
serve de nada e que esse idiota não seguiu os planos...
Ele levanta a arma, apontando-a em direção ao meu peito e atira.
Eu sinto o impacto, caindo para trás, minha respiração sendo
tomada de uma única vez.
— NÃO! NÃO! NÃO! O QUE VOCÊ FEZ? — escuto os gritos de
Angel de longe, e logo depois um estrondo.
Os homens de Zade começam a entrar encurralando a todos e meu
coração respira de alívio quando vejo Zade se mover para chegar perto
dela.
— Me solte, me solte, por favor! Precisamos salvá-lo, por favor,
você precisa salvá-lo.
Angel está histérica em algum lugar, gritando para que todos
possam ouvir.
Porra, essa coisa de levar um tiro dói, mesmo sobre o colete.
Eu me movo, obrigando meu corpo a funcionar e me sento,
gemendo. Pela minha visão periférica consigo ver Dawson tentando fugir.
Aproveitando a cacofonia no lugar para se esgueirar sem que
ninguém note.
Ah não. De jeito nenhum.
Tenho apenas uma fração de segundo para reagir, então a uso.
Pulando do chão onde ele achou que tinha me derrubado, salto para o
lado, me levanto e dou lhe um soco no rosto. Derrubando-o no chão feito
bosta.
Meu peito está doendo, queimando pra caralho, mas tenho forças.
Força o suficiente para cair em cima dele feito um animal.
Minhas mãos fechadas e os punhos o golpeando sem dó.
Ele geme, com sangue banhando sua cara e isso só me motiva
mais. Enquanto o caos se instaura ao meu redor e os homens de Zade
mobilizam todos os ratos, eu o sinto a necessidade de matá-lo.
Seu nariz já sangrando, os braços estendidos.
Olhos vítreos e amedrontados.
Eu disse que acabaria com esse filho da puta. E não estava
brincando.
Sou um homem de palavra.
— Isso é por ela! — acerto mais um soco, fazendo-o cuspir sangue.
No entanto, antes que possa continuar, um braço forte me puxa
longe daquele corpo.
— O que eu disse? — enfiando o rosto a uma curta distância do
meu, Zade se eleva sobre mim como um touro. — Sei que está com
raiva, mas desse jeito vai acabar na cadeia. Eu vou lidar com esse lixo.
Meu peito se expande, subindo e descendo com respirações
pesadas.
— Ele merece morrer. — Falo simplesmente, me sentindo perto da
insanidade.
— Não se preocupe com isso agora — ele aponta para o outro lado
do cômodo — Ela precisa de você.
Desvio meu olhar naquela direção e vejo Angel sentada no chão,
esfregando seus pulsos, um olhar perdido e só então, tudo dentro de mim
se acalma.
A raiva é arrancada de uma única vez, para dar lugar a algo muito
mais poderoso.
Vou caminhando em sua direção, chateado com cada hematoma
que se forma em seu corpo. A camisola fina cobrindo seu corpo frágil.
Me ajoelho na sua frente, com um dedo sob seu queixo, faço seus
olhos encontrarem os meus.
Seus ossos estão rígidos, as lágrimas ainda escorrendo por
aqueles lindos olhos.
— Eu... eu achei que você... tivesse morrido...
Vejo a forma como seu corpo começa a tremer, como ela parece
assombrada e a envolvo, felizmente não recebendo nenhum protesto.
No instante em que a seguro, ela relaxa.
— Eu estou aqui, raio de sol. Estou bem.
Sua visão nublada pelas lágrimas dispara para encontrar meus
olhos.
— Você... ele atirou, atirou em você. Eu vi.
— Shii — a acalmo, passando as mãos por suas costas — Eu sei,
mas estou bem. Juro que estou.
— Oh graças a Deus, graças a Deus. Eu fiquei com tanto medo.
Tanto medo de que ele te machucasse.
Beijo sua testa com carinho, a segurando enquanto a equipe da
KingCross trabalha. Um tempo depois, finalmente, Zade aparece para
dizer que podemos ir embora.
Ele pergunta se quero ajuda quando nota que Angel adormeceu em
meus braços, exausta, porém, sacudo a cabeça com uma negativa.
Eu não deixaria que ninguém a levasse, mesmo que me matasse.
Me levanto, a pego no colo e carrego para fora desse pesadelo.
Sentindo como se todo meu mundo estivesse novamente em meus
braços.
Angelina
“Me faça esquecer tudo.”

Quando chegamos em casa, Anthony me leva direto para o


chuveiro.
Precisamos ir ao hospital para tratar alguns ferimentos, dele
principalmente. Felizmente, suas costelas não haviam quebrado, nem
trincado, estavam apenas levemente doloridas, segundo suas palavras e
a avaliação médica.
Ele exibia sinais de exaustão, com olhos afundados e músculos
fatigados, porém ainda estava relutante quanto à ideia de me permitir
andar por conta própria.
Não questionei, em parte porque também sentia uma necessidade
latente daquilo: do contato físico, de estar envolvida em seus braços.
Agora, tudo o que eu mais desejava era um banho quente, a
oportunidade de me deitar e esquecer tudo o que havia ocorrido.
No hospital, onde Maddison nos encontrou com um olhar de
assustado, ela perguntou se eu gostaria de ir para sua casa. Meus olhos
encontraram os de Anthony, que mesmo com seu olhar perdido e
melancólico, não se opôs.
No entanto, por hoje. Por agora. Eu não queria ninguém mais além
dele. Anthony não parecia disposto a me soltar. Me tirou das mãos de
Dawson em seu colo, e fez o mesmo quando parou o carro em frente a
cabana.
Me pegou no colo e levou até o andar de cima onde entramos
juntos no chuveiro.
Com meticulosidade, ele despiu cada peça de minha roupa suja,
manchada com vestígios da sujeira e do meu próprio sangue, como se
estivesse determinado a eliminar qualquer sinal dessa noite.
Cuidadosamente, os pedaços de tecido foram jogados no lixo, como se
ele quisesse se livrar de todas as memórias o mais depressa possível.
Eu não podia concordar mais.
Enquanto a água se derrama sobre nós e a sujeira escorre pelo
ralo, Anthony me segura. Suas mãos repetidamente traçam e lavam
cada centímetro do meu corpo, mas não há nada sexual em suas
atitudes.
Ele está lutando, tentando assimilar para ter certeza que estou
bem e se uma ducha tranquila, é o que ele precisa, darei a ele.
Quando finalmente estou limpa, ele baixa a testa na minha e
respira: — Jesus, Angel.
— Eu me lembro. — Fechando os olhos, não preciso mais forçar
minha mente para trabalhar. Porque tudo está lá. Cada mínimo detalhe.
— Me lembro de tudo.
Com a água ainda nos encharcando, Anthony dá um aceno leve.
— Eu sei — então fecha os olhos e beija minha testa — Só me
deixe te segurar mais um pouco. Só mais um minuto.
Com a voz embargada, eu tento dizer.
— Anthony…
Mas ele me interrompe, enrolando a mão em volta da minha nuca
nivela seu olhar no meu.
— Você quer que eu diga que me arrependo, raio de sol? Pois se
sim, sinto decepcioná-la. Me xingue, grite comigo, até me odeie se
quiser. Se rouba-la daquele desgraçado foi o meu maior pecado, se
mentir e tentar fazê-la feliz foi a pior coisa que fiz a você, eu aceito de
bom grado. Não mudaria nada.
— Você quase morreu… ele atirou em você! Se não tivesse de
colete talvez… talvez estivesse morto!
— Valeria a pena — seus ombros encolhem — Eu entraria na
frente de qualquer bala pôr você Angelina. Sei que você não acredita em
mim e pensa que a traí. Há muito que você não sabe sobre o passado. E
por mais que eu tente, não posso apagar o que está nele. Realmente
não posso. Mas vou consertar seu futuro se me deixar, juro, que se me
der a chance de fazê-la feliz, vou viver a vida para que nunca mais
derrame uma lágrima de tristeza se quer.
— Eu estou com medo.
Era uma verdade. A única verdade que eu conhecia neste
momento.
Estava morrendo de medo.
Lembrar de tudo trouxe a dor do passado, sua traição, tudo de
volta, ainda assim, toda essa dor se misturou a uma nova, e outra e
mais outra até que eu não entendia mais qual era minha verdadeira dor.
— Eu também, querida! — ele me aperta com força — Eu
também, estou apavorado.
Ele pega minha mão e a coloca sobre seu coração, seus
batimentos martelando contra minha palma.
Minha respiração estremece.
— Sente isso? — pergunta.
Emito um aceno contido.
— É por você. Só por você! Eu estou morrendo de medo. Mas
nosso amor é real, meu amor por você é real e posso enfrentar tudo
para que esses últimos dias que vivemos, essa felicidade que
construímos nunca se acabe.
Oh Deus.
Não consigo pensar.
Não consigo pensar em mais nada.
É tão tentador... tão...
Eu coloco meus braços cansados em seu pescoço e ele se inclina
para chegar mais perto, nossos narizes roçando um ao outro.
— Posso te pedir uma coisa?
— O que você quiser, linda.
— Me leve para cama.
E me faça esquecer tudo.

Estávamos deitados em nossa cama. Suas mãos acariciando


minhas costas nuas. Apenas o último resquício do sol entrando no
quarto através da porta da varanda.
Escutei tudo que ele tinha para me dizer. Tudo sobre o passado.
Tudo sobre nosso reencontro. Tudo que ele fez para me proteger.
Dizer que isso resolveu o caos na minha cabeça e que com
certeza ficaríamos bem seria uma mentira.
Não sei o que o futuro nos reserva, muito menos tenho ideia se as
coisas entre nós podem de fato se ajustar. É tudo muito incerto.
Muitos segredos revelados de uma única vez e muita dor em
nosso passado. Mas isso é o suficiente para mim. Confio nele no
momento.
Vejo a verdade em seus olhos e não posso apagar tudo que me
lembro do garoto pelo qual me apaixonei. Ele não me enganaria depois
de tudo, não teria enfrentado o mundo, pausado sua vida e quase
morrido por mim se realmente não me amasse.
Sei que ainda temos muito a enfrentar, mas, faremos isso juntos.
Mesmo com dúvidas e incertezas em nosso caminho.
— Porque esse homem… Gabriel Castiello tem tanta raiva de
vocês?
Anthony solta um suspiro audível.
— Você se lembra do incêndio que aconteceu na fazenda quando
éramos adolescentes?
Claro, foi uma tragédia que assombrou a cidade inteira, por anos.
— Sim.
— Você se lembra das vítimas?
Busco em minha memória, fazendo as lembranças voltarem.
— Sim. Dois adolescentes. Um pouco mais velhos que eu, idade
próxima a sua… eu não os conhecia muito bem. A garota era nova na
escola, veio de outra cidade e o menino… Dante? Era esse o nome
dele?
— Sim. Dante. Ele era irmão de Gabriel.
Oh senhor. Por que acho que isso não é bom?
— E isso significa que...
— Ele acredita que nós o matamos. Acredita que matamos Gabriel
e encobertamos a sua morte naquele incêndio.
— O que? Como… por que… como isso é possível? — levanto o
rosto para apoiar meu queixo em seu peito, olhando em seus olhos,
minha voz completamente confusa.
— Zade, Dallas e eu, estávamos na fazenda na noite do incêndio.
— Seu olhar fica distante, como se houvesse mais por traz da
informação, que ele não revela — Nós fugimos antes da polícia e dos
bombeiros chegarem. Mas não vimos nenhum dos dois naquela noite,
Angel. Eu juro. Teríamos ajudado se pudéssemos. Gabriel não acredita
nisso.
— Jesus, Anthony, isso é loucura.
— Sim.
— Onde esse homem está agora?
— Na cadeia. E espero que nunca mais saia de lá.
Fico em silêncio, sem saber o que dizer diante da raiva em sua
voz. Sinto que essa história é muito mais complicada do que ele está me
dizendo, mas não comento, pois, não envolve apenas ele.
A amizade de Anthony com Dallas e Zade sempre foi algo além.
Não era algo comum, de amigos que cresceram juntos, havia uma
lealdade potente em torno deles que os tornava forte juntos.
E mesmo hoje, depois de tanto tempo, permanecia da mesma
maneira.
— Sinto muito por perturbá-la com tudo isso. Você precisava
saber.
— Eu sei.
Seus olhos me encaram, com intensidade e me inclino, inalando
seu cheiro e tocando seus lábios.
— Eu te amo, raio de sol. — Murmura, sua voz rouca.
O nó, que estava alojado em minha garganta a cada vez que
tentava dizer as palavras pareceu diminuir um pouco, então sorrio e
respondo: — Eu te amo, Anthony. Com todo meu coração.
Anthony
Um mês depois...
“Você aceita?”

— Tem certeza de que está tudo certo? — questiono, me


assegurando.
— Se você perguntar de novo, vou chutar suas bolas — Minha
irmã bate o pé, perdendo a paciência. — Eu já falei um milhão de vezes,
está tudo certo. A cesta de piquenique recheada com todas as
guloseimas que sua adorável amada gosta. O lugar lindo. Basta ficar
parado aí e esperar.
Esperar. Ela fala como se fosse a coisa mais fácil do mundo!
— Por que estão demorando tanto? — resmungo, andando de um
lado para o outro.
— Porque você pediu para a última pessoa que deveria distrai-la.
Provavelmente, Dallas já a inundou com um monte de besteiras sobre
sua vida amorosa desastrosa. Angel vai chegar aqui com os ouvidos
sangrando, coitadinha.
A vida amorosa de Dallas estava longe de ser um desastre, mas
decidi não comentar nada sobre isso. Minha irmã era uma fofoqueira
incorrigível, sempre em busca de novidades sobre a vida amorosa dos
outros, e ela não perderia a chance de explorar isso.
Ainda assim, Dallas certamente poderia fazer os ouvidos da minha
mulher sangrar com outros assuntos idiotas. Então, comecei a me
preocupar.
Eu queria que tudo fosse perfeito. Exatamente como ela merecia.
Afinal, este já é o momento mais perfeito da minha vida inteira. O
dia em que finalmente vou pedir a mulher que amo para passar o resto
de seus dias comigo. Espero que ela compartilhe dessa sensação
comigo.
Engolindo o nó na garganta, afrouxei um pouco a gravata. Sim, eu
estou usando terno hoje. Não era um dia qualquer afinal de contas. Usei
terno por anos da minha vida, no trabalho, mas hoje, estava usando
porque ela gostava.
Estou me adaptando a uma nova rotina de trabalho para conseguir
manter tudo de forma remota. Não sei ainda como serão as coisas,
como será a nossa vida. Gosto do meu trabalho, mas posso ser
advogado em qualquer lugar do mundo, enquanto Angel, só será feliz
aqui.
Eu olho a minha volta, para o campo de girassóis, seu lugar
favorito e admiro o trabalho que Maddie desempenhou tão bem.
Há um bangalô com um tecido branco fluido caindo pela estrutura
de madeira, uma toalha colorida no chão, a cesta de piquenique e a
beleza da natureza ao nosso redor.
Por que tudo isso? Eu não faço ideia, meu plano inicial era apenas
trazer Angel até aqui, me ajoelhar e fazer a pergunta. O que minha irmã
achou que seria uma ofensa então, decidiu me ajudar e cuidar de tudo.
Eu vejo o carro esportivo de Dallas passando a entrada e minha
irmã saltita animada ao meu lado.
— Ela chegou — Maddie estala um beijo em minha bochecha —
Boa sorte. — deseja e vai embora.
Angel desce do carro, um vestido solto caindo por seu corpo,
botas e os cabelos soltos chicoteando através do vento. Assim, o visual
ao meu redor se dissipa como névoa em um dia quente e ensolarado.
Ela é a coisa mais linda que já vi.
Meu coração deu um salto em resposta enquanto a assisto
caminhar até mim, os olhos surpresos, cheios de expectativa com tudo
ao nosso redor.
Ela parece alegre e tranquila e isso me dá certa paz também,
como se até nosso humor fluísse em sintonia.
Meu pau acordou para vida pronto para ser usado. Uma reação
automática.
Mais tarde amigo, tenha calma.
— O que é tudo isso?
— Nada — respondo com o olhar divertido, segurando sua mão e
envolvendo sua cintura.
— Nada? — ela me olha com a sobrancelha arqueada, mas sorri
mesmo assim — Um nada muito bonito.
Chego mais perto, beijando seus lábios que tem gosto de morango
e dou um passo para trás, para ficar de joelhos.
Quando me abaixo, Angel perde o folego, seus olhos arregalados.
— O que você está fazendo?
— Eu estaria mentindo se dissesse que a espera por esse dia não
foi dolorosa, raio de sol. Planejo esse momento desde os vinte e três.
Hoje tenho trinta e um e sinto que estou atrasado, gostaria de ter
chegado antes. Gostaria que nunca tivéssemos nos separado, mas a
vida não é escrita da maneira que desejamos.
Tomo uma respiração, alcançando o anel em meu bolso, já vendo
os seus olhos azuis oceano marejados. Meu coração parece martelar
contra minhas costelas.
— Não quero perder mais um segundo. Já temos anos em nossa
história que nos manteve separados. De agora, até o fim da minha vida,
quero que você ao meu lado, como minha esposa. Você aceita se casar
comigo?

Angelina
Aos prantos diante de suas palavras, só tenho forças para acenar.
As palavras engolidas por minhas lágrimas momentaneamente.
— S-sim — sussurro, vendo o anel deslizar no meu dedo.
Meu coração da um pulo louco no meu peito com aquela cena,
Anthony ajoelhado na minha frente. Uma felicidade tão genuína em seu
olhar que eu nunca poderia duvidar de seu sentimento por mim. Nunca.
Escolhemos viver um dia de cada vez depois daquela noite, e
todos os dias desde então, ele me fez feliz. Não tenho dúvidas de sua
promessa de me fazer assim até nossa última respiração.
De pé, o vi lamber os lábios e se inclinar para me beijar. O domínio
áspero de seus dedos me segurando e a urgência de seus lábios
enviando-me em espiral direta para a necessidade por ele.
— Estamos ao ar livre, você sabe disso, certo? — murmuro,
quando suas mãos se agarram a minha bunda.
— Você acaba de dizer sim para se tornar minha esposa. Não
estou nem aí para quem vai nos assistir.
Riu baixinho, não levando a sério o que ele diz, porém, quando
noto o fogo presente em seu olhar sério, meu corpo entra em
combustão.
Já se tornou automático. Um toque dele e meus neurônios se
desintegram. Não é atoa que acabamos nessa situação.
Hoje à tarde, fui ao médico e minha suspeita está certa. Estou
grávida.
Algo que ainda preciso contar a ele. Talvez mais tarde.
— É um problema para você, raio de sol? — Sua cabeça
mergulhou, a boca encontrando a curva da minha orelha para roer a
carne, e oh Deus, isso era bom. — Expulsei todos os funcionários do
campo. Esse lugar inteiro é só nosso hoje.
— Anthony…
— Você quer ser fodida bem aqui?
Um segundo passado gotejou e depois outro. Engolindo em seco,
meu peito arfava com coragem.
Com a boca raspando contra a minha pele ele fez o movimento
para se ajoelhar novamente e eu o parei.
Sem pensar, apenas com o calor de seu olhar abarrotado de
desejo me guiando, ajoelhei-me a sua frente e abri suas calças.
— Linda, você não…
— Shii, eu quero provar você. Quero saber quão duro você está
por mim agora, futuro esposo.
Uma risada estrangulada passou por entre seus lábios, logo em
seguida, um rosnado animalesco quando abaixei ligeiramente a cueca
para encontrar a ereção.
Seus olhos selvagens, observando meus movimentos.
A tatuagem, com o número vinte e seis, discreta - marcada na
linha de sua pélvis.
Era tão quente. Eu a circulei com a ponta dos dedos, sorrindo.
Depois me inclinei e lambi o desenho, escorregando para baixo até
alcançar a extensão de seu pau enorme.
Jesus, eu amava a forma como ele se fechava entre meus dedos,
tão poderoso.
Acariciando suas bolas com uma mão e segurando firme sua base
com outra, lambi a cabecinha, experimentando as gotas de pré sêmen
que se acumulavam lá.
— Angel… — ele gemeu, afundando as mãos grandes em meus
cabelos.
Elevei meu olhar, colocando a ponta de seu pau em minha boca,
chupando com clamor.
Minha língua circulou em volta de sua glande, sua cabeça caiu
para trás e um gemido gostoso escapou novamente quando fiz
movimentos de vai e vem.
Com uma mão firme em minha nuca, ele me ajudou, movendo sua
cintura, minha língua trabalhando para trazê-lo ao prazer, coisa que
levou apenas alguns segundos.
— Droga, raio de sol. Sua boca é tão mágica quanto sua boceta.
Eu vou gozar em cinco segundos se continuar assim.
Essa era justamente a minha intenção. Eu amava o barulho que
ele fazia quando gozava. Um homem daquele tamanho, tão vulnerável e
sensual.
Meu futuro marido. Pai do meu filho.
Continuei chupando, mantendo o contato visual até que senti seus
músculos ficarem tensos, as veias inchadas em torno da minha boca
como se todo o sangue de seu corpo corresse naquela região.
— Estou perto, linda. Vou gozar.
E assim ele o fez, me separei, quando ele se segurou e bombeou
até explodir em minha boca. Seu gosto me enchendo e deixando-me
ainda mais molhada.
Com gotículas de suor acumuladas em sua testa, ele gesticulou e
me puxou para baixo.
— Minha vez.

— Porra, como isso pode ficar melhor a cada dia? — fodendo-me


por trás, nossos corpos colados um ao outro ao livre, sob a tenda
construída no meio do campo de girassóis ele me fodia.
Uma de suas mãos segurava minha coxa, apoiando-a sobre seu
joelho. A outra, me abraçava pelas costas acariciando e apertando a
ponta de um dos meus seios, seu pau enterrado fundo em minha
boceta.
Deitado de lado, com o rosto colado ao meu, ele se movia dentro
de mim em um ritmo lento, como se desejasse prolongar esse momento
ao máximo.
— Eu te amo — sussurrei, sentindo-me completamente cheia.
Preenchida por completo — Mas por favor, você vai me matar se
continuar nesse ritmo.
— Oh, qual é o problema, linda?
— Quero gozar — implorei, desesperada. Seus movimentos lentos
me enlouquecendo.
— Temos a vida toda, por que a pressa?
Seus olhos escuros brilhavam com prazer. Meus dentes rangeram,
soltando um rosnado.
— Anthony.
Com uma risada rouca, beija meus lábios e volta a se mover, em
um ritmo normal, finalmente. Suas estocadas batendo contra minha
bunda. Se pau pulsando, as paredes de minha boceta tensas a sua
volta.
Seu impulso que até dois segundos atrás era lento, aumenta a
ponto de roubar o ar dos meus pulmões. Meu coração começa a tremer,
o calor escalar dos meus pés em direção a cabeça, o sangue borbulha.
Sua mão desliza da minha coxa e encontra nossa união entre
minhas pernas, os dedos me provocando, tentando, sua boca mordendo
meus lábios, meu pescoço.
Uma combinação que me leva a completa loucura e me faz gritar.
Alto.
Tão satisfeita, que caio contra seu peito, sentindo a adrenalina fluir
por meus músculos com espasmos.
Fico assim por dois minutos, aninhada contra ele, minha
respiração voltando aos poucos e então, a melancolia me mate.
Eu estou grávida.
Vou ser mãe.
Uma mãe!
Eu me afasto, sento e começo a procurar minhas roupas.
Lágrimas caindo por meu rosto.
São os hormônios? Só podem ser. Espero que seja.
— Angelina? O que está errado?
Com um dedo firme em meu queixo, ele me obriga a encará-lo.
Meus olhos nublados. A sensação de que vou estragar tudo.
Absolutamente tudo.
— Amor, fale comigo. Você está me assustando. O que
aconteceu?
— E-eu... — começo a dizer, já gaguejando — Estou grávida.
— O quê? — sua voz fica fria e eu desvio meus olhos, não
podendo e nem querendo saber a sua reação.
E se ele não ficasse feliz? E se essa não fosse a hora certa?
— Linda, olhe para mim.
Eu não queria. Por um momento, tudo que eu desejava era poder
ser infantil. Como uma adolescente fazendo birra.
Mas quando os dedos dele acariciaram minha bochecha com tanta
suavidade e paciência, eu não consegui me impedir de virar em sua
direção de novo.
— O que foi? Você não está feliz? — mesmo com preocupação,
eu podia notar como sua voz parecia apreensiva.
— Estou com medo, Anthony. Tanto medo.
— Você é a mulher mais incrível - inferno, o ser humano mais
incrível que eu já conheci. Por que está com medo? — questiona. —
Nós vamos nos casar. Você será minha esposa e caramba, o que mais
sonho na vida é ter uma família com você. O que te assusta?
Como eu poderia explicar? Como poderia dizer que morria de
medo de falhar?
Eu dei a ele o mais ínfimo dos ombros.
— O mundo é tão perigoso, Anthony — confesso, ligeiramente
angustiada. — Tão assustador para criar uma criança. E se não
conseguirmos? E seu eu não…
A terapeuta que comecei a frequentar depois do sequestro e a
volta dos meus seis anos de casamento as minhas memórias disse que
as humilhações que Dawson adorava fazer sempre me diminuindo
deixaram inseguranças enraizadas em meu subconsciente.
Onde, sempre, havia uma voz que dizia que eu não seria capaz.
Ela estava absolutamente certa.
Eu escutava isso o tempo todo.
Me apavorava acreditando que a qualquer instante tudo poderia se
perder e que a culpa seria minha. Que essa felicidade que estou
sentindo não é merecida.
Mas eu estou me tratando e irei melhorar. Irei confiar em mim
mesma e me lembrar que ninguém pode me diminuir.
Anthony secou minhas lágrimas com a ponta dos dedos, olhando
no fundo dos meus olhos.
— Desde que estejamos juntos, podemos enfrentar qualquer
coisa, raio de sol. Qualquer coisa, entendeu? — uma de suas mãos
desceu, para tocar minha barriga. — Inclusive criar, amar e proteger
esse bebê. Faremos isso, linda. Eu prometo.
— Eu te amo tanto, sabia? — respondi, sentindo alívio com suas
palavras. Nesse momento, enquanto ainda não encontrei a minha
própria força, preciso delas. Preciso que ele me lembre que podemos
fazer qualquer coisa.
— Eu te amo mais.
Angelina
Quatro anos depois “Felicidade”

Entro em nosso quarto, sentindo meu coração ligeiramente


descompassado. Anthony deve chegar a qualquer minuto e não
quero que ele me pegue.
Eu sou péssima em fazer surpresas, não aceitei nenhuma, até
hoje. Ele é o único que consegue planejar as coisas e me
surpreender, enquanto eu, deixo pistar sem nem saber e acabo
estragando tudo.
Não que seja um grande problema.
Sou ótima em um milhão de outras coisas em compensação.
Descobri isso com paciência. Redescobri minha própria
personalidade e minha própria força ao longo dos anos, depois de
muitas feridas na alma e com um passado conturbado.
As vezes eu me esquecia daquele tempo sombrio, onde não
havia nada de felicidade ou esperança.
Quando eu não tinha um filho fofo e amoroso como Blake, ou
um marido dedicado e protetor como Anthony.
Outros dias, no entanto, eram um pouco mais nublados. O
arco íris no fim do horizonte desaparecia e nuvens negras me
dominavam. Às vezes, eu acordava suando e gritando em meio a
um pesadelo, mas havia seus braços para me segurar, seu calor
para me confortar e nossa família.
E no dia seguinte, tudo ficava bem. Isso era o mais
importante. Saber que mesmo com os dias nublados, a felicidade
sempre se sobrepunha.
O passado não pode ser apagado, nunca poderá. Mas o
futuro, será algo lindo. Agora ainda mais que nossa família está
crescendo.
Blake entra no quarto no segundo em que o resultado aparece
no teste em minhas mãos. Seus cabelos loiros como o meu e os
olhos escuros como o de seu pai. Os pezinhos gordos descalços
mal fazendo barulho sobre o carpete.
Agora moramos em uma casa maior, no coração de Falls
Prince. A cabana ainda é nossa e vez ou outra, quando meu marido
tem tempo, vamos visitar.
Ele tem trabalhado muito nos últimos tempos, mas faz isso
daqui, de nossa casa. Ele precisou mudar um pouco seu estilo de
trabalho, mas parecia feliz e realizado da mesma forma.
Eu estou terminando o curso de veterinária e irei abrir um
centro para reabilitação de animais silvestres resgatados. Um
grande sonho que idealizei nos últimos anos e se tornaria real.
Ou seja, a vida não poderia ser melhor.
Com o exame de gravidez em minha mão, meu filho me pega
chorando, de pura alegria e sem uma palavra, com o semblante
sério, chega perto de mim. Suas mãos pequenas secam minhas
lágrimas, exatamente como seu pai faz quando estou triste.
Às vezes eu achava que ele não possuía nem mesmo uma
grama do meu DNA em seu sangue.
Ele era uma cópia fiel de Anthony. Hiperativo, impulsivo,
protetor…
— Não chore, mamãe — ele pede, sua vozinha suave e doce.
A mesma voz que ele usa quando quer carinho.
Eu sorrio, transmitindo tranquilidade a ele.
— São lágrimas de alegria, meu amor.
— Você recebeu uma notícia boa? — ele pergunta, curioso.
— Uma notícia incrível!

FIM.
GABRIEL

As chamas enfurecidas lambendo minha pele, o calor abrasador


penetrando meus poros, a fumaça densa e asfixiante, enrolando-se em torno
de mim como uma mortalha opressiva, travando uma batalha angustiante
contra os meus pulmões.
Não importava se meus olhos estavam abertos ou fechados; de dia, na
plena luz da consciência, ou durante as noites nos cantos mais escuros dos
meus pesadelos, era como se eu ainda estivesse lá, preso naquele galpão
infernal, onde eles me deixaram para arder, onde a agonia do fogo me
consumiu.
Me lembro de ter lutado para escapar. De ter gritado e implorado para
que me ajudasse.
Eu vi o que eles fizeram. Eu era o único que conhecia seus segredos.
Foi por isso que eles me deixaram lá para queimar.
Porque eu era o único que conhecia o verdadeiro monstro dentro deles.
O fogo nunca se apagou, continuava ardendo. Anos haviam passado,
mas o fogo interior persistia, queimando-me de dentro para fora, devorando
cada fragmento da minha existência. Não era o fogo físico que havia derretido
minha pele, me deixando uma massa de carne exposta, mas sim a chama da
raiva que me consumia como um incêndio incontrolável.
Naquela fatídica noite, minha alma parecia ter virado cinzas. Minha vida
miserável se resumia a uma coisa agora: vingança.
Meu irmão – o pobre Dante, lutou para fazer justiça. Tentou fazer com
que eles pagassem, mas seus esforços foram em vão.
Eles mal sabiam quem eu era, mas não hesitaram em me deixar para
morrer. Cada detalhe daquela noite estava gravado em minha mente, e a
vontade de fazê-los sofrer me consumia como uma sede insaciável.
Anthony Cahill, Zade King e Dallas Montgomery queimariam, assim
como eu.
Pelo resto de suas vidas.
Eu estou olhando para eles agora.
Nas sombras. Me consumindo da felicidade transparecendo naqueles
rostos que me viram queimar.
Eu vou acabar com tudo para eles.
Em breve.

AGUARDE...
AGRADECIMENTOS
Caro leitor, se você chegou até aqui e sentiu o coração
aquecer em algum momento, ou surtou e se emocionou junto com
os personagens, não deixe de avaliar o livro na Amazon. Sua
opinião é muito importante.
Dito isso, quero deixar o meu agradecimento a todas as
leitoras que sempre me acompanham, tornando minha vida nesse
mundo literário mais especial e valiosa a cada dia. A minha família,
minha assessora Ariel pela paciência de milhões, ao grupo de
parceiras maravilhosas que fizeram esse livro acontecer e minhas
betas incríveis (Tati, Thai e Aline).
Aos novos leitores que chegaram até aqui e estão me
acompanhando pela primeira vez, obrigada pelo carinho e espero
encontrá-los novamente.

Beijos, Maeve.
LEIA TAMBÉM!

DIABLO (DARK ROMANCE)

Diablo Ward foi criado em um mundo onde não havia espaço para dor
ou medo.
Capturado, ainda na infância, por um homem impiedoso foi subjugado, atirado
em meio ao caos e violência sendo treinado para ser um assassino cruel e
obscuro.
Toda sua vida foi destruída por eles, mas seu juramento nunca seria
esquecido. (...)

Vingança.

Moldado como a criação do mal, até que um belo presente é entregue em


suas mãos com um único intuito. Ele foi escolhido para fazê-la sofrer.
A menina doce e inocente lhe mostrará o caminho que tem esperado por
tantos anos.
Ela é a chave de tudo; ele jamais a deixará ir embora.
Peças de um jogo perigoso, Diablo e Olívia – seu belo passarinho, vão lutar
juntos, para ganhar essa guerra.
Pessoas que nunca conheceram o amor... sem valores, sem remorso, sem
nada, ainda assim, lutando para sobreviver.
Entre dor, maldade e sacrifícios, reivindicarão da própria sanidade para,
enfim, encontrarem paz.
CLIQUE AQUI!
DIABLO & OLÍVIA: Além do Epílogo

No submundo onde fui criado aprendi que ter uma esposa e filho com os
quais você verdadeiramente se importa é para os fracos.

Vivendo em meio ao caos e violência, nunca imaginei que existiria um dia em


que esse ensinamento não faria mais tanto sentido.

Eles me treinaram para ser invencível.

Me tornei melhor do que muitos acreditavam que eu poderia ser.

Conquistei minha vingança e derrotei meu maior inimigo, mas… foi só depois
que Olívia entrou em minha vida, que pude entender…

Minha devoção por ela e nosso filho não me fez fraco. Muito pelo contrário, o
homem que posso me transformar para proteger a minha família, é letal.

E na guerra que estamos lutando, não vou poupar nenhuma alma que cruzar
o meu caminho.
(...)
“Quando você se apaixona pelo diabo, só há uma certeza: mais cedo ou
mais tarde, você será corrompida.”
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ABUSO DE PODER (DARK ROMANCE)

Ethan Reese conquistou seu império fazendo aquilo que foi ensinado
durante toda sua vida; jogando sujo. Analítico. Dominante. Intimidador. Ele
tem tudo aquilo que deseja. Regras não se aplicam a ele. Aos 34 anos, como
um dos maiores e mais bem sucedidos empresários de Nova Iorque sua vida
corre como planejado, até que ele a vê pela primeira vez e seus traços de
pureza e inocência despertam a parte dele que esta dormente há muito
tempo.
Isabella Ramirez é uma mulher comum e perdida, aos 26 anos com a
vida completamente do avesso ela está mais do que desesperada para
encontrar algum propósito. Depois de um trauma que deixou seu mundo
despedaçado, o emprego em uma das maiores empresas da cidade é quase
uma espécie de presente divino. Tudo parecia – finalmente - no caminho
certo, até que o destino a coloca frente a frente com um homem que irá mudar
todos os seus planos.
“Meu desejo por ela era a definição perfeita do pecado e
sinceramente, eu estava pronto para usá-la como caminho direto para o
inferno”.

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DESEJO HEDIONDO (BDSM)

Para Alex Lancaster, ela foi uma aparição. Depois de um período difícil e
estressante em sua vida, ele está fazendo o possível para manter distância de
tudo e de todos, até que uma jogada do destino o coloca frente a frente com a
misteriosa mulher de cabelos castanhos e olhar penetrante. Ele não podia se
aproximar, mesmo que a visão dela despertasse todos os seus instintos, ele
sabia que ela não era para ele. Dentro do seu mundo, quando se brinca com
fogo é inevitável acabar em chamas. E Gabrielle não parecia esse tipo de
mulher.
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Para Gabrielle Dixon, esse é mais um recomeço. Sua vida não tem sido fácil
por um longo tempo e, pela primeira vez, ela acredita que pode conseguir se
livrar dos demônios que a atormentam por anos. Entretanto, tudo parece se
perder quando ela conhece seu novo cliente. O homem parece enxergar
através de sua pele, e tudo que ela deseja é poder correr e se esconder. E é
exatamente o que ela faz... Até que uma noite de descontrole a coloca frente
a frente com Alex novamente, em um mundo onde ela nunca imaginou
encontrá-lo.

Uma atração inexplicável, segredos, traumas e muitos obstáculos ficarão em


seu caminho. Ele provou que nem mesmo seu passado conturbado poderia
afastá-los, mas será que Alex e Gabrielle estão mesmo prontos para enfrentar
tudo para ficarem juntos?
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