Este documento analisa a refutação kantiana do idealismo de Descartes e Berkeley. Kant argumenta que a consciência da própria existência requer algo permanente fora do sujeito para determinar o tempo, refutando assim a tese cartesiana de que só é possível ter certeza da existência do eu. O documento revisa as posições idealistas de Descartes e Berkeley e explica os argumentos de Kant para provar a experiência imediata de objetos externos.
Este documento analisa a refutação kantiana do idealismo de Descartes e Berkeley. Kant argumenta que a consciência da própria existência requer algo permanente fora do sujeito para determinar o tempo, refutando assim a tese cartesiana de que só é possível ter certeza da existência do eu. O documento revisa as posições idealistas de Descartes e Berkeley e explica os argumentos de Kant para provar a experiência imediata de objetos externos.
Este documento analisa a refutação kantiana do idealismo de Descartes e Berkeley. Kant argumenta que a consciência da própria existência requer algo permanente fora do sujeito para determinar o tempo, refutando assim a tese cartesiana de que só é possível ter certeza da existência do eu. O documento revisa as posições idealistas de Descartes e Berkeley e explica os argumentos de Kant para provar a experiência imediata de objetos externos.
Este documento analisa a refutação kantiana do idealismo de Descartes e Berkeley. Kant argumenta que a consciência da própria existência requer algo permanente fora do sujeito para determinar o tempo, refutando assim a tese cartesiana de que só é possível ter certeza da existência do eu. O documento revisa as posições idealistas de Descartes e Berkeley e explica os argumentos de Kant para provar a experiência imediata de objetos externos.
Trata-se de uma análise da Refutação do Idealismo presente na segunda
edição da Crítica da Razão Pura de Immanuel Kant. No texto em questão Kant pretende refutar as teorias idealistas de René Descartes e George Berkeley quanto à existência da realidade exterior. Aqui serão analisados os argumentos idealistas para duvidar (Descartes) ou negar (Berkeley) das coisas exteriores e os que Kant apresenta para refutá-los.
Introdução
O objetivo deste trabalho consiste em analisar a Refutação kantiana do
Idealismo, bem como verificar o desdobramento do problema da realidade exterior na filosofia moderna; isso, de modo a avaliar o alcance da crítica kantiana ao idealismo de Descartes e Berkeley. Tal problema soa absurdo para a maioria das pessoas. Até mesmo os filósofos antigos e medievais não duvidam de que há uma realidade exterior. Ora, é somente com os filósofos modernos que a existência da realidade exterior é posta em questão, tornando-se um dos principais problemas da filosofia. Dentre os filósofos que discutiram essa questão, destacam-se Descartes, Berkeley e Kant. René Descartes (1596-1650) demonstra que se pode por em dúvida todas as coisas externas ao pensamento, uma vez que delas só se têm idéias. Já a existência do eu é indubitável, garantida pelo ato de pensar: “Mas eu me convenci de que nada existia no mundo, que não havia céu algum, terra alguma, espíritos alguns, nem corpos alguns; logo, não me convenci também de que eu não existia? Com certeza, não; sem dúvida eu existia, se é que me convenci ou só pensei alguma coisa.” (Meditações, II, § 4). George Berkeley (1685-1753) concebe que a existência de objetos fora das idéias é impossível. Existir consiste em ser percebido. Logo tudo que existe são as idéias e o espírito que as percebe: “Entre os homens prevalece a opinião singular de que as casas, montanhas, rios, todos os objetos sensíveis têm uma existência natural ou real, distinta da sua perceptibilidade pelo espírito. [...] Pois que são os objetos mencionados senão coisas percebidas pelos sentidos? E que percebemos nós além das nossas próprias idéias ou sensações?” (Princípios, § 4).
Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão
26 a 30 de outubro de 2009 Immanuel Kant (1724-1804) é quem elabora a crítica às teorias idealistas acima citadas. Segundo Kant, “temos também experiência e não apenas imaginação das coisas exteriores” (KrV, B 275).
Materiais e Métodos
O trabalho desenvolveu-se na forma de pesquisa bibliográfica com
referência principalmente à segunda edição da Crítica da Razão Pura de Kant. A análise da refutação kantiana exigiu o estudo prévio do objeto da refutação. Neste caso, as concepções de Descartes e Berkeley. Foram utilizadas basicamente as Meditações Metafísicas de Descartes e o Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano de Berkeley.
Resultados e Discussão
Kant especifica o objeto de sua refutação como idealismo material. O termo
grifado gera uma ambigüidade. O idealismo em questão afirma ou nega a matéria? Neste caso, idealismo material é a teoria que considera a matéria como simples idéia – o que é material como idealidade. Ou como Kant mesmo define, é “a teoria que considera a existência dos objetos fora de nós, no espaço, ou simplesmente duvidosa e indemonstrável, ou falsa e impossível; o primeiro é o idealismo problemático de Descartes [...], o segundo é o idealismo dogmático de Berkeley” (KrV, B 274). Talvez o emprego do termo empírico ao invés de material eliminaria a ambiguidade. O Idealismo empírico restringe a experiência ao plano das idéias, neste sentido, matéria, ou tudo que é material, é, em primeira instância, idealidade. Embora mencione Berkeley, Kant esquiva-se de discutir o ponto de vista do mesmo, limitando-se a dizer que o fundamento do idealismo de Berkeley já foi afastado na Estética transcendental. Kant justifica-se pelo fato de sua filosofia partir de um conceito de espaço diferente do de Berkeley. Para este, o espaço é uma idéia abstraída das qualidades de um determinado objeto, é somente uma idéia e por isso só existe no espírito que a percebe: “a extensão existente fora do espírito não é grande nem pequena, o movimento nem rápido nem lento, isto é, não são nada” (Princípios, § 11). Todo ser é compreendido no quadros da realidade interior ao sujeito. Não há sentido externo, apenas sentido interno. O que é justamente contrário à noção kantiana de espaço como sentido externo, condição de representação de todos os fenômenos. Assim torna-se inviável Kant refutar o ponto de vista de Berkeley, já que este nega o próprio espaço. O ponto de partida do idealismo cartesiano é a dúvida metódica, consiste em considerar como falso tudo que é incerto, o que é justamente o caso da existência dos objetos no espaço fora do Eu penso; contudo, mesmo que este considere que não há mundo algum e nada corpóreo, não pode duvidar de sua própria existência – pois, ao duvidar, é necessário que o Eu penso seja alguma coisa (Meditações, I, §§3-12). Assim, o enunciado “eu penso,
Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão
26 a 30 de outubro de 2009 logo sou” (ego cogito, ergo sum) aparece como prova da própria existência do Eu penso e definição da substância do mesmo como coisa pensante (res cogitans); pois, toda vez que o Eu pensa, ele tem consciência da sua existência, e, se o ato do pensamento é a única condição para a existência, então ele é a substância deste ser que pensa. Todos os pensamentos envolvem idéias, que são manifestações, atos do pensamento e representações de objetos externos; tais representações pressupõem a existência dos objetos externos, mas não provam por si só a necessidade da existência desses objetos fora do pensamento, pois as causas das representações podem ser outras representações ou o próprio sujeito. Logo, a existência das coisas externas é duvidosa e indemonstrável ao nível das representações, ao passo que a existência do eu é indubitável e demonstrada pelo cogito (Med., II, §§7-9). Para refutar essa teoria é necessário provar indiscutivelmente a existência real e objetiva (a realidade atual para usar um temo cartesiano) das coisas externas. Este será o intento de Kant: demonstrar que “temos também experiência e não apenas imaginação das coisas exteriores”, com a tese que “a nossa experiência interna, indubitável para Descartes, só é possível mediante o pressuposto da experiência externa” (KrV, B 275). Segundo o teorema kantiano: “A simples consciência, mas empiricamente determinada, da minha própria existência prova a existência dos objetos no espaço fora de mim.” (KrV, B 275). A prova oferecida por Kant é que a consciência da própria existência temporal requer algo de permanente na percepção, que deve ser necessariamente um objeto externo. Quer dizer, o sujeito é consciente de que existe no tempo. Percebe suas representações como sucessivas mudanças de estados da sua consciência. Logo as representações são mutáveis e temporais. Mas somente é possível determinar o que é temporal com referência a algo que permanece durante a mudança: “só podemos perceber toda a determinação de tempo pela mudança nas relações externas com referência ao que é permanente no espaço” (KrV, B 277). No caso da determinação da própria existência do eu no tempo, deve ter como referência um permanente necessariamente externo: “a determinação de minha existência no tempo só é possível pela existência de coisas reais que percebo fora de mim”, então “a consciência de minha própria existência é simultaneamente uma consciência imediata da existência de outras coisas fora de mim.” (KrV, B 276). Kant ataca justamente o argumento que é o ponto central da filosofia de Descartes – o cogito cartesiano. Segundo Kant, a representação eu sou não é anterior, mas acompanha toda e qualquer representação. Ser consciente de si é ao mesmo tempo ser consciente de outra coisa. Pois toda idéia é idéia de algo, nela estão contidos o sujeito que pensa e o objeto que é pensado. Por isso não é possível duvidar dos objetos externos e ao mesmo tempo afirmar a própria existência, já que a consciência de si é mediante a consciência de objetos externos.
Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão
26 a 30 de outubro de 2009 Conclusões
Com a análise da Refutação kantiana do Idealismo verificou-se o
desdobramento do problema da realidade exterior em Descartes e Kant, e que perpassa toda a filosofia moderna. Kant considera que “a consciência imediata da existência das coisas externas não é pressuposta, mas provada no presente teorema”. Ora, o idealismo cartesiano considera que somente a consciência de si é pura e imediata, enquanto que a consciência de objetos externos é mediante idéias. Significa que a realidade exterior conhecida é representada. Não nega que existam causas externas, mas alega que as representações não requerem objetos realmente existentes fora do pensamento, por isso tal existência é duvidosa. Kant prova a consciência imediata de objetos externos, não a existência destes fora da consciência. Tal consciência, para Descartes, é apenas realidade objetiva: “Pois, como sabemos, por exemplo, que o céu existe? É porque nós o vemos? Mas esta visão não afeta de modo algum o espírito, a não ser na medida em que é uma idéia.” (Meditações, Exposição Geométrica, Axioma 5). A sensibilidade de objetos externos é sempre contemplação das próprias idéias do sujeito. A consciência da sua própria existência pode ser determinada em relação a objetos que percebidos fora de si, mas estes objetos não saem do nível das representações. A crítica kantiana oferece importantes objeções ao idealismo cartesiano, mas não o refuta. Não elimina a possibilidade da dúvida, uma vez que não se duvida da consciência de objetos externos, mas da sua existência exterior, esta não é provada por Kant, mas continua apenas pressuposta.
Agradecimentos
Agradeço ao Programa de Iniciação Científica pela oportunidade concedida.
Ao professor Manuel Moreira da Silva pela orientação prestada. E ao leitor, por ter dedicado um pouco de seu tempo e atenção à leitura deste.
Referências
Berkeley, G. Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano. Ed.
Atlântida. Coimbra, 1973. Descartes, R. Oeuvres Philosophiques. Tome I. Garnier. Paris, 1988. ______. Oeuvres Philosophiques. Tome II. Garnier. Paris, 1992. ______. Obra Escolhida. Difusão Européia do Livro. São Paulo, 1962. Kant, I. Crítica da Razão Pura. 5. Ed. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, 2001. ______. Crítica da Razão Pura. Ed. Nova Cultural. São Paulo, 1999.
Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão