Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Instituto de Geociências Programa de Pós-Graduação em Geociências
Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Instituto de Geociências Programa de Pós-Graduação em Geociências
Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Instituto de Geociências Programa de Pós-Graduação em Geociências
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. – Felipe Caron - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Prof. Dr. – João Luiz Nicolodi - Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Prof. Dr. – Norberto Olmiro Horn Filho - Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC).
********
Tentar estabilizar uma linha de costa é o mesmo que tentar estabilizar as suas emoções
Você observa cuidadosamente todos os detalhes para tentar entender a instabilidade
E então, você percebe que há necessidade de profundidade neste estudo
E quão mais profundo você vai
Mais você observa o quão instável é e mais e mais variáveis aparecem.
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
Figura 1. Canal principal da desembocadura (A - B) e seus deltas associados. Fonte: Baitelli,
2011 (modificado de Davis Jr. e Fitzgerald, 2004).. ............................................................. 18
Figura 2. Localização da área de estudo destacada em amarelo. ....................................... 24
CAPÍTULO 2
Figura 1. Área de estudo. A) Localização das desembocaduras litorâneas no estado do Rio
Grande do Sul; B) Delimitação da embocadura da Lagoa de Tramandaí, situada entre os
municípios de Imbé ao norte e Tramandaí ao sul; C) Canal lagunar em destaque, onde o
alinhamento ao longo da margem esquerda corresponde ao guia-corrente.................... ..... 33
Figura 2. Perfil da seção transversal mínima do canal lagunar. ........................................... 37
Figura 3. Linhas representativas da posição do canal da embocadura em 1940 e 2012...... 39
Figura 4. Coleção de fotografias aéreas do canal e embocadura lagunar entre 1940 e 1967,
ilustrando a mobilidade desta feição. A) Início do processo de urbanização na década de 40;
E) Instalação do guia-corrente no início dos anos 60. .......................................................... 40
Figura 5. Fotografias aéreas e imagens entre 1970 e 2012, onde se observa o acelerado
processo de urbanização. A) Aterramento do canal abandonado; D) Reduzida mobilidade do
pontal arenoso na extremidade norte da praia de Tramandaí. ............................................. 41
CAPÍTULO 3
Figura 1. Localização dos municípios de Imbé e Tramandaí, separados pelo canal lagunar da
Lagoa de Tramandaí e a delimitação das áreas 1 a 4.......................................................... 54
Figura 2. Imagem ilustrando elevação do nível do mar em 2,07 m. As cores representam o
nível de inundação (m) nos pontos (método GNSS) e manchas (buffer) (método LIDAR). .. 60
Figura 3. Imagem ilustrando elevação do nível do mar em 2,41 m. As cores representam o
nível de inundação (m) nos pontos (método GNSS) e manchas (buffer) (método LIDAR). .. 61
Figura 4. Imagem ilustrando elevação do nível do mar em 3,35 m. As cores representam o
nível de inundação (m) nos pontos (método GNSS) e manchas (buffer) (método LIDAR). .. 63
Figura 5. Imagem ilustrando elevação do nível do mar em 4,33 m. As cores representam o
nível de inundação (m) nos pontos (método GNSS) e manchas (buffer) (método LIDAR). .. 64
Figura 6. Box-Plot dos valores das cotas de inundação (CI) nos diferentes cenários modelados
para os municípios de Imbé (Imb.) e Tramandaí (Tra.). ....................................................... 65
CAPÍTULO 4
Figura 1. Mapa de localização da área de estudo. ............................................................... 85
Figura 2. Projeção dos molhes retos e paralelos (modelo físico reduzido E5.4) e seus efeitos
na linha de costa.................................................................................................................. 94
Figura 3. Projeção dos molhes convergente (modelo físico reduzido E5.10) e seus efeitos na
linha de costa....................................................................................................................... 95
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Valores utilizados para obtenção das cotas de inundação (* De acordo com IPCC
(2013). ** De acordo com Guimarães et al. 2015) . .............................................................. 58
Tabela 2. Diferentes tipos de molhes elaborados no modelo físico reduzido. ...................... 88
11
Sumário
RESUMO .................................................................................................................................................. 7
ABSTRACT ................................................................................................................................................ 8
LISTA DE FIGURAS.................................................................................................................................... 9
LISTA DE TABELAS.................................................................................................................................. 10
Estrutura da Tese .................................................................................................................................. 12
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 13
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 14
1.1 Estado da arte ............................................................................................................................. 16
1.1.1 Zona costeira ....................................................................................................................... 16
1.1.2 Desembocaduras ................................................................................................................. 17
1.1.3. Inundações costeiras ........................................................................................................... 19
1.1.4 Obras costeiras ..................................................................................................................... 22
1.2 Área de estudo ............................................................................................................................ 23
1.3 Premissas e hipóteses ................................................................................................................. 25
1.4 Objetivo Geral da Tese ................................................................................................................ 26
1.4.1 Objetivos Específicos ........................................................................................................... 26
CAPÍTULO 2 ........................................................................................................................................... 27
Artigo 1. Morfodinâmica da embocadura da Lagoa de Tramandaí (RS, Brasil). ................................... 27
Capítulo 3 .............................................................................................................................................. 48
Artigo 2. Inundação Costeira por Elevação do Nível do Mar em Imbé e Tramandaí - RS. .................... 48
Capítulo 4 .............................................................................................................................................. 79
Artigo 3. Estabilização do canal da embocadura da Lagoa de Tramandaí (RS, Brasil). ......................... 79
Capítulo 5 ............................................................................................................................................ 105
Considerações Finais ........................................................................................................................... 105
5.1 Síntese Integradora ................................................................................................................... 106
5.2 Recomendações para trabalhos futuros ................................................................................... 109
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................... 111
12
Estrutura da Tese
Esta tese de Doutorado está estruturada em torno dos artigos científicos escritos pela
autora, os quais foram publicados/submetidos em periódicos com corpo editorial
permanente e revisores independentes. Consequentemente, sua organização
compreende as seguintes partes principais:
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO
14
1 INTRODUÇÃO
1.1.2 Desembocaduras
Figura 1. Canal principal da desembocadura (A - B) e seus deltas associados. Fonte: Baitelli, 2011
(modificado de Davis Jr. e Fitzgerald, 2004).
O delta de maré enchente (flood tidal delta) é formado pelas correntes de maré
de enchente que transportam e depositam sedimentos do canal principal em forma de
bancos no interior da desembocadura. Sua presença ou ausência, seu tamanho e
desenvolvimento estão relacionados à variação da maré, energia de onda, suprimento
de sedimento e barreira. Os deltas de maré de enchente são vistos, principalmente,
em ambiente de meso e macro maré, onde são expostos durante a maré baixa (Davis
Jr. e Fitzgerald, 2004).
Frequentemente os lados de um canal de maré são formados por esporões
recurvados, constituídos de sedimento arenoso proveniente de transporte ao longo da
costa por refração de ondas e correntes de marés. A região mais profunda de uma
desembocadura é onde ocorre a maior aproximação entre os esporões arenosos,
onde o canal possui a menor largura e a corrente atinge sua maior velocidade (Davis
Jr. e Fitzgerald, 2004).
Os fatores que controlam o equilíbrio de uma desembocadura são a circulação
gerada pela maré, que tende a limpar o canal, e a deriva litorânea de sedimentos, que
tende a bloquear o canal pela deposição sedimentar na sua porção oceânica (Bruun
e Gerritsen, 1960). Assim, dependendo do ciclo de maré, esse sedimento é levado em
direção ao mar e/ou em direção à parte interna do canal (Fitzgerald, 2005).
Os canais irão migrar ou permanecer em uma determinada posição
dependendo das complexas interações entre o prisma de maré, energia de ondas e
disponibilidade de sedimentos (USACE/CERC, 2002), juntamente com os efeitos de
tempestades (Davis Jr. e Fitzgerald, 2004) e descarga fluvial (Siegle et al., 2004).
19
A orla costeira apresenta uma dinâmica natural complexa, que nem sempre é
compatível com os usos a que está sujeita. A sua intensa ocupação e pressão
antrópica a tornam cada vez mais vulnerável à ação de fatores naturais (tempestades,
subida do nível médio do mar) e, também, à própria ação do homem (redução de
fontes sedimentares, dragagens, destruição de sistemas dunares, introdução de
fontes de poluição). Como consequência, se observa fenômenos com graves riscos
associados, como a erosão costeira, o assoreamento de embocaduras de estuários e
de lagunas e a poluição de zonas sensíveis (Fortunato et al., 2008).
Para se redimir os efeitos de erosão costeira algumas obras são realizadas na
linha de costa. A engenharia costeira se refere a qualquer método de alteração do
sistema natural da linha de costa para estabilizá-la. Os métodos de estabilização das
linhas de costa variam desde o simples plantio de vegetação de duna até a complexa
colocação de grandes estruturas como paredões de concreto, cujos benefícios de tais
métodos geralmente são de curta duração. Localmente, a engenharia costeira pode,
na verdade, causar o recuo da linha costeira. A erosão da praia causada pelo homem
pode ser maior e mais espetacular do que a da própria natureza (Cornell et al., 2019).
As linhas costeiras são estabilizadas das mais variadas formas e o que mais se
observa são o engordamento de praia, os molhes e espigões e os paredões. Um
molhe é construído, em geral, para fixar um canal com a finalidade da navegação,
assim, as extremidades do canal ficam impedidas de migrar (Kraus, 2009).
O conhecimento de aspectos como a deriva litorânea, a quantificação do
transporte longitudinal, a energia das ondas e o prisma de maré são extremamente
importantes para realizar a gestão e o planejamento de obras na zona costeira.
Os impactos ambientais que estas obras causam na movimentação dos
sedimentos na zona litorânea necessitam ser estudados ao longo de sua projeção,
execução e após a instalação, principalmente em locais urbanizados. Por estes
motivos, muitos estudos na engenharia e nas ciências costeiras têm sido feitos sobre
as desembocaduras, relacionados à sua migração e modificações nas regiões
adjacentes, sua estabilização para navegação e sua influência quando da ocorrência
de inundações, etc.
A estabilização de canais de maré, canais de acesso e estruturas de abrigo a
portos ou terminais marítimos e a construção de espigões são obras de engenharia
que desequilibram o balanço sedimentar e podem agravar os problemas de erosão
23
grande parte do petróleo (que abastece refinarias da região) por meio de monoboias
localizadas a 6 km de distância da costa.
Esta Tese se baseia na premissa de que para que ocorra um Plano de Gestão
Costeira eficiente é necessário que se conheça o comportamento da dinâmica dos
ecossistemas presentes na zona costeira, inclusive as desembocaduras lagunares.
Ainda, tem como premissa que todas as ações que ocorrem em um destes ambientes
resultará em transformações nos locais adjacentes aos mesmos.
As seguintes hipóteses foram levantadas para o desenvolvimento desta tese:
1 A reduzida profundidade da seção mínima do canal lagunar e a exposição da
desembocadura às elevadas taxas de fluxo da energia das ondas favorecem a sua
mobilidade e sua migração lateral.
2 Os eventos astronômicos de elevações do nível do mar (oscilação mareal)
podem ser amplificados durante as tempestades (oscilação sub-mareal), e na face da
praia a adição do processo de galgamento pode induzir a uma sobre-elevação total
do nível d’água com capacidade de gerar a inundação costeira.
26
CAPÍTULO 2
Este capítulo apresenta o conteúdo do primeiro artigo que compõe esta tese e foi
publicado na Revista Pesquisas em Geociências em jan./abr.:2016.
O conteúdo apresentado a seguir segue na íntegra o publicado na revista, mudando
apenas a formatação do texto. A carta de aceite das revisões realizadas é apresentada
na próxima página.
28
29
(1) Programa de Pós-graduação em Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av.
Bento Gonçalves, 9.500, CEP 91.540-000, Porto Alegre, Brasil. E-mail: [email protected]
(2) Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Campus Agronomia, Av. Bento Gonçalves, 9.500, CEP 91.540-000, Porto Alegre, Brasil. E-mail:
[email protected]; [email protected]
construction of the jetty the minimum transversal section of the inlet has been fixed
and there is no register of accretion in the system. Based on an analysis of the physical
stability of the inlet prior to the fixation of the channel, it is concluded that the channel
showed strong instability.
Keywords. Tidal inlets, tidal prism, tidal inlets stability.
1 Introdução
Por sua beleza singular, a zona costeira serve de atrativo as pessoas que
buscam desfrutar seus momentos de descanso ou que procuram fixar residência. Com
isso, a ocupação desordenada degrada e descaracteriza esse ecossistema
avançando sobre locais como dunas, áreas alagadas pela maré, manguezais,
margens de rios, etc. Até o ano de 2011, cerca de 27% da população brasileira estava
concentrada em municípios da zona costeira (IBGE, 2011), sem contar no verão, que
em muitos locais a população quadriplica. No litoral norte do Rio Grande do Sul (RS)
a intensificação de moradores ocorreu a partir dos anos 40, iniciada pelos pescadores
que obtinham sua fonte de renda do oceano e das lagoas costeiras. Com o contínuo
desenvolvimento desta antropização, ocorreram modificações ambientais nas praias,
dunas e margens das desembocaduras, principalmente pela urbanização destes
locais e, sem o conhecimento da dinâmica local, por naquele momento não se ter
entendimento desta questão.
Desembocaduras (inlets) servem de comunicação entre os corpos de água
interiores (lagunas, estuários e baías) e o oceano. Estes canais segmentam ilhas-
barreiras, tanto transgressivas como regressivas, em duas ou mais porções (Hayes e
Fitzgerald, 2013), ao longo das zonas costeiras, sendo importantes feições na troca
de sedimentos. Também, possuem extrema importância para o meio biótico, pois
através dos canais ocorrem as trocas de nutrientes, propiciando o ciclo de vida nestas
regiões. São locais intensamente utilizados para atividades sociais e econômicas,
como o turismo, o lazer e a pesca.
As desembocaduras compreendem três regiões principais: (1) porção
oceânica, que inclui o corpo sedimentar externo (delta de maré vazante); (2) o canal
principal, correspondente à região com a mínima área de secção transversal; e, (3) a
porção interna, com seu corpo sedimentar interno (delta de maré enchente) (Bruun,
1978). Hayes (1979) classifica as desembocaduras em cinco tipos diferentes de
acordo com a amplitude da maré e a altura das ondas. Através de dados de 89
embocaduras, Carr-Betts et al. (2012) demonstraram divergências da classificação
31
proposta por Hayes (1979) afirmando que outros fatores controlam a morfologia dos
inlets.
As desembocaduras podem ser consideradas sistemas morfodinâmicos,
funcionando através da interação dos três componentes principais: dinâmica de
fluidos, transporte de sedimentos e mudanças morfológicas (Cassiano e Siegle, 2010).
A morfodinâmica das desembocaduras é controlada pelas variáveis: prisma de maré,
geometria do canal, energia das ondas e das marés, aporte sedimentar, distribuição
dos canais estuarinos ou lagunares no reverso da barreira, estratigrafia regional,
declive da antepraia e as modificações por obras de engenharia (Fitzgerald et al.,
2001). Dentre os tipos de intervenções, esses autores citam principalmente a
combinação de estruturas tais como molhes e obras de dragagem do canal.
As desembocaduras podem migrar ou permanecer em uma determinada
posição dependendo das complexas interações entre o prisma de maré, energia de
ondas e disponibilidade de sedimentos (U.S. ARMY, 2002) e a descarga fluvial (Siegle
et al., 2004). Com esta ampla variação de fatores que influenciam na morfologia, e
sendo que as desembocaduras exercem importante controle sobre o balanço
sedimentar costeiro, não é inesperado que ocorram processos erosivos praiais, os
quais podem estar associados às causas naturais ou antrópicas. Algumas
desembocaduras são fixadas por estruturas rígidas como enrocamentos, molhes e
guia corrente; outras são livres e, portanto, sujeitas a migração de acordo com a
dinâmica sedimentar local. A construção de portos e molhes ou a implantação de
plataformas de petróleo podem causar fortes impactos que devem ser previstos no
intuito de minimizar seus efeitos no transporte sedimentar (Soares, 2005). Segundo
Jain et al. (2004), o conceito de estabilidade da desembocadura depende do potencial
de equilíbrio entre a área da seção transversal da desembocadura e o volume de água
e de sedimentos transportados.
Por ser considerado o ambiente mais complexo da zona costeira (Komar,
1996), e por sua extrema importância, estudos com relação à morfologia das
desembocaduras foram desenvolvidos ao longo dos anos, principalmente sobre novas
técnicas para compreensão dos fatores controladores da estabilidade. As atividades
antrópicas nestas regiões são crescentes, principalmente associadas a questões de
ordem econômica, podendo gerar graves consequências ambientais e resultando até
mesmo em riscos à própria população. O conhecimento e a manutenção da dinâmica
natural destas regiões é um dos maiores desafios para os pesquisadores. Bruun e
32
Gerritsen (1960), observaram que a circulação pela maré tende a limpar o canal, e a
deriva litorânea de sedimentos tende a obstruir a embocadura. Sendo assim, a
morfologia na embocadura tenderá a se transformar continuamente refletindo o
resultado do balanço de sedimentos que ocorre na região.
A embocadura da Lagoa de Tramandaí, localizada entre as praias de
Tramandaí e Imbé, é uma das cinco que ocorrem no litoral do Rio Grande do Sul (RS)
e encontra-se fixada com apenas uma estrutura tipo guia-corrente ao longo da
margem esquerda (Fig. 1). Os primeiros moradores a ocuparem esta região foram os
pescadores que utilizavam o canal lagunar como acesso ao mar. Em determinados
momentos na saída para o mar, se sentiam prejudicados por não terem o pretendido
acesso, porque a embocadura estava fechada, ou seja, assoreada por sedimentos
arenosos. Sendo assim se reuniam em grupos e abriam o canal com enxadas e pás.
Com o passar do tempo, advindo às tecnologias, o Departamento Estadual de Portos,
Rios e Canais (DEPREC), hoje Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH),
construiu um guia corrente em 1960 sobre a margem esquerda, para fixação do canal,
impedindo sua migração e mantendo a profundidade (Motta, 1965).
Na mesma década o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH-UFRGS) foi
contratado para realizar estudos com o intuito de analisar as consequências de tal
regularização. Foi então desenvolvida uma pesquisa em modelo físico reduzido, o
qual mostrou como resultado que a construção de um par de molhes se estendendo
até a isóbata de 5 m, não manteria um canal de acesso com profundidade esperada
de 4 m. Além disso, a praia de Imbé ao norte da desembocadura sofreria um gradual
e significativo recuo.
A fixação da margem esquerda da desembocadura favoreceu não só os
pescadores, mas também a urbanização no município de Imbé, que se desenvolveu
de forma intensa. As embarcações da PETROBRAS, que possui um terminal de
operações marítimas dentro do canal, foram também favorecidas facilitando o acesso
ao mar sempre no mesmo local.
No presente trabalho, o objetivo é analisar a estabilidade da desembocadura
da Lagoa de Tramandaí, com base em dados hidrodinâmicos, sedimentológicos e
morfológicos integrados numa análise espaço-temporal. Mesmo com sua importância
estratégica para o desenvolvimento socioeconômico da região, a dinâmica da
embocadura é pouco conhecida. Os resultados pretendidos são relevantes para o
adequado gerenciamento costeiro e a conservação do meio ambiente lagunar.
33
Figura 1. Área de estudo. A) Localização das desembocaduras litorâneas no estado do Rio Grande do
Sul; B) Delimitação da embocadura da Lagoa de Tramandaí, situada entre os municípios de Imbé ao
norte e Tramandaí ao sul; C) Canal lagunar em destaque, onde o alinhamento ao longo da margem
esquerda corresponde ao guia-corrente.
Figure 1. Study area. A) Rio Grande do Sul inlet locations; B) Demarcation of the Tramandaí Lagoon
inlet, situated between the municipalities of Imbé to the North, and Tramandaí to the South; C) Lagoon
channel highlighted, where the line along the left margin corresponds to the jetty.
34
2.2.2 Geoprocessamento
3 Resultados e discussão
erosão encontrar uma superfície resistente, como um molhe, o canal pode aprofundar
e estreitar-se, mas mantendo a capacidade de acomodar o mesmo escoamento
hidráulico.
Figura 4. Coleção de fotografias aéreas do canal e embocadura lagunar entre 1940 e 1967, ilustrando
a mobilidade desta feição. A) Início do processo de urbanização na década de 40; E) Instalação do
guia-corrente no início dos anos 60.
Figure 4. Collection of aerial fotographies of the lagoon channel and inlet between 1940 and 1967,
ilustrating the mobility of the features. A) Beginning of urbanization in the 1940’s; E) Installation of the
jetty in the early 1960’s.
Figura 5. Fotografias aéreas e imagens entre 1970 e 2012, onde se observa o acelerado processo de
urbanização. A) Aterramento do canal abandonado; D) Reduzida mobilidade do pontal arenoso na
extremidade norte da praia de Tramandaí.
Figure 5. Aerial fotographies and images of the period between 1970 and 2012, where rapid
urbanization can be seen. A) Filling of the abandoned channel; D) Reduced mobility of the sandy spit at
the north extremity of the Tramandaí beach.
Para Kraus (2000) este valor encontrado classifica o canal como instável, com
tendência ao assoreamento e/ou migração forçada pela deriva litorânea. Isso nos
mostra que se a margem esquerda do canal em estudo não estivesse fixada, a
desembocadura continuaria naturalmente migrando; transpassaria sedimento de um
lado para outro bem como agregaria sedimento proveniente dos bancos do delta de
maré vazante. O prisma de maré ocorrendo de forma estável, sendo responsável por
uma constante remoção de sedimentos, condiciona ao não fechamento do canal,
impedindo então a obstrução causada pela deriva litorânea.
A relação entre a largura (L) e a profundidade média (Dm) da seção transversal
mínima resultou em um valor de 19 para o canal lagunar. Quando a largura do canal
aumenta devido a um evento meteorológico o valor da relação também aumenta.
Quando o valor encontrado for baixo, como neste caso, estará representando um
canal estável.
5 Conclusões
Referências bibliográficas
Andrés, M.F. 2008. Modelización del flujo em acuífero confinado sin discretización
temporal. Boletín Geológico y Minero, 119(2): 273-282.
Brown, G.C. 1982. Calc-alcaline intrusive rocks: their diversity, evolution and relation to
volcanic arcs. In: Thorpe, R.S. (Ed.). Andesites: orogenic andesites and related rocks.
London, John Wiley, p. 437-460.
46
Capítulo 3
Este capítulo apresenta o conteúdo do segundo artigo que compõe esta tese e foi
submetido para a Revista Brasileira de Cartografia em mar/2019.
A seguir o conteúdo submetido é apresentado com ajustes na formatação a fim de
melhorar a apresentação do mesmo. A carta de aceite das revisões realizadas é
apresentada na próxima página.
49
50
Ana Fatima da SILVA1, Elírio Ernestino TOLDO JR.1,2, Arnold van ROOIJEN3, Cláudia
Franca de ABREU4, Jorge Luiz RODRIGUES FILHO5, Ronaldo dos Santos da
ROCHA2, Robson dos Santos AQUINO2
[email protected]
4The University of Western Australia, School of Agriculture and Environment, WA, Australia. E-mail:
[email protected]
5Universidade do Estado de Santa Catarina. Laboratório de Ecologia. Laguna/SC, Brasil E-mail:
RESUMO
Uma das consequências da elevação do nível do mar é predispor a população e o
ecossistema à inundação costeira. A vulnerabilidade pode causar distintos impactos
dependendo da cota do terreno e da extensão da área ocupada. Imbé e Tramandaí
localizados no litoral norte do RS são dois municípios que apresentam cotas baixas e
área densamente ocupadas. Através de levantamentos topográficos do terreno foi
conduzido um modelamento digital para determinação das cotas de inundação. Foram
considerados 07 cenários de elevação do nível do mar, a partir de um conjunto de
eventos marinhos extremos registrados na área de estudo, resultantes da soma das
seguintes variáveis: oscilação mareal e sub-mareal. Também, foram somadas as
oscilações da onda por galgamento. Além das condições de mar atual foram
incorporados nesta análise as projeções futuras da variação do nível do mar de acordo
com o IPCC. A menor cota de subida do nível foi de 2,07 m e a maior de 4,33 m. Os
mapas gerados possibilitaram a descrição da vulnerabilidade à subida do nível do mar,
bem como reconhecer os locais com maior inundação. A análise dos resultados
permitiu observar que a extensão das áreas vulneráveis tende a aumentar e que os
planos de gestão costeira dos municípios devem abordar a questão de inundação para
que se possa mitigar as consequências deste processo.
ABSTRACT
One of the consequences of sea level rise is the predisposition of the population and
the ecosystem to coastal flooding. The vulnerability can cause distinct impacts
depending on the elevation of the terrain and the extent of the occupied area. Imbé
and Tramandaí located on the northern coast of RS are two municipalities that present
low elevation and densely occuppied area. A bathtub model was created from
topographic data to determine flood levels. Seven sea level rise scenarios were
considered, based on a set of extreme marine events recorded in the study area,
51
resulting from the sum of the following variables: tidal and sub-tidal oscillation, and
wave runup. In addition to the current sea conditions, future projections of sea level
variation were incorporated in this analysis according to the IPCC. The lowest level of
elevation of the level was 2.07 m and the highest of 4,33 m. The maps generated made
it possible to describe the vulnerability to sea level rise, as well as to recognize the
sites with the largest flood levels. The analysis of the results showed that the extent of
vulnerable areas will increase with time and that the coastal management plans of the
municipalities should address the issue of flooding in order to mitigate the
consequences of possible flooding.
KEYWORDS: Coastal flood. Digital elevation model. Sea level rise. Coastal
management.
Introdução
Cerca de 600 milhões de pessoas vivem na zona costeira com elevação abaixo
de 10 metros, estando vulneráveis aos efeitos da subida do nível do mar (NM) e aos
eventos de mudanças climáticas (Mcgranahan et al., 2007). Em termos de distância,
23% da população mundial reside em uma estreita faixa de 100 km do mar (Small e
Nicholls, 2003).
Assim, qualquer mudança que ocorra nos oceanos afetará de alguma forma
estes ambientes e a população residente nestas áreas. A inundação pode ser uma
das consequências desta elevação (Nicholls et al., 1999; Church et al., 2013; Cooper
et al., 2013; Anderson et al., 2018;), podendo causar imensos prejuízos, inclusive
irreversíveis, como a perda de ecossistemas, de habitats, bem como de vidas
humanas e animais e danos a infraestruturas (Gornitz, 1991; Nicholls e Cazenave,
2010).
As frequências e proporções das inundações podem ser agravadas com a
intensificação de alguns fenômenos meteorológicos como aumento nas taxas de
precipitação, ocorrência de marés meteorológicas, aumento do run-up, dentre outros
(Diez et al., 2011), sendo um grande desafio prever estes eventos, e, cujos efeitos
estão relacionados a uma dada probabilidade de ocorrência (Bonetti et al., 2013).
No Brasil 60% da população reside nas áreas costeiras (PBMC, 2016) e, ainda
assim, as pesquisas relacionadas à inundações costeiras são escassas sendo que
deveriam ter um maior incentivo. Principalmente no litoral sul do país, cujo estado do
Rio Grande do Sul (RS) é uma das áreas mais suscetíveis e vulneráveis à subida do
mar, isto por ser uma planície costeira extensa, de baixa declividade e em meio a um
sistema complexo de lagoas costeiras (Horn Filho et al., 1988; Dillenburg et al., 2016).
Os municípios costeiros Imbé e Tramandaí, apresentam 19% da população
52
que vive no litoral norte do RS (IBGE, 2018). Os danos que esta intensa urbanização
causa aos ecossistemas costeiros reduzem a capacidade de proteger a costa contra
eventos extremos.
As elevações do nível d’água consideradas neste estudo consistem na soma
das oscilações mareais e sub-mareais. As primeiras são aquelas controladas pelas
forças gravitacionais astronômicas e as segundas, também denominadas como
ressacas, são geradas por fenômenos meteorológicos. O estudo do efeito do
galgamento (run-up) é um dos importantes elementos para analisar a vulnerabilidade
à erosões e inundações na costa, sendo composto de uma superelevação do nível
médio da água causada pela quebra das ondas (setup) e de flutuações pelo
espraiamento na pós praia (swash) (Holman e Sallenger, 1985). Ou seja, estes
processos induzem uma sobre-elevação do nível da água no litoral (Battjes e Janssen,
1978).
Recentemente Vitousek et al. (2017) utilizaram modelagem numérica e
diferentes cálculos para uma análise global das inundações costeiras nas próximas
décadas devido ao aumento do NM, confirmando que um aumento de 10 a 20 cm até
2050 pode dobrar a frequência de eventos extremos, com prejuízos direto à economia
e à habitabilidade. As mudanças à níveis locais podem diferir, por uma série de
fatores, das mudanças de níveis globais, portanto para o planejamento e adaptação
as avaliações localizadas devem ser críticas (Stammer et al., 2013; Kopp et al., 2014).
Um fator agravante no processo de inundação é o aumento do NMM (nível
médio do mar). A partir de resultados de modelos climáticos globais, para 2100 se
espera, em média, um aumento do NMM mínimo de 0,45 m, utilizando para tanto os
dados do período de 1986 a 2005, com máximo em 0,82 m para o cenário mais
pessimista (IPCC, 2014).
Seja hidrodinâmico, morfológico, ou ecológico, os impactos do aumento do
NMM estão inter-relacionados e, assim, os gestores das zonas costeiras necessitam
de informações e dados sobre estes efeitos potenciais para tomada de decisões
(Passeri et al., 2015). Para Barragán (2014) duas questões principais devem ser
integradas na gestão costeira: a manutenção do bem-estar mútuo entre a sociedade
e as áreas costeiras a longo prazo e, a adoção de um modelo de governança para se
alcançar o proposto. Portanto, é momento de realizar uma gestão das zonas costeiras
em união de órgãos governamentais, universidades, setores imobiliários e
comunidade em geral.
53
Figura 1. Localização dos municípios de Imbé e Tramandaí, separados pelo canal lagunar da Lagoa
de Tramandaí e a delimitação das áreas 1 a 4.
sedimentos compreendem tamanho médio areia fina com extensa pós-praia, plana
com baixa declividade.
É possível observar a preservação das dunas frontais em Tramandaí, fato que
não ocorre em Imbé, no trecho de praia analisado neste estudo, onde sobre o sistema
de dunas se encontram estruturas antrópicas, como implantação de avenida beira-
mar e calçada.
A linha contínua branca (ver Figura 1) indica a área de estudo coletada pelo
método GNSS e, corresponde a uma área de 2,8 km 2 no município de Imbé (dividida
em área 1 e 2) e 1,05 km2 em Tramandaí (dividida em área 3 e 4). Os pontos
escolhidos (ver Figura 1) para determinação das coordenadas foram
preferencialmente os locais das ruas que continham bueiros, esquinas e outros pontos
notáveis, sendo cada um rastreado por no mínimo 2 minutos, com taxa de rastreio de
1 segundo.
Posteriormente, os dados foram transferidos dos receptores para uma estação
de trabalho e processados. Cada coordenada foi obtida utilizando o ajustamento de
observações pelo método MMQ (Método dos Mínimos Quadrados). O programa
utilizado foi o TOPCON TOOLS Versão 8.2. Todo o trabalho foi referenciado ao
Sistema Geodésico SIRGAS 2000 (Sistema de Referência Geocêntrico para as
Américas), e a projeção cartográfica utilizada foi a UTM (Universal Transversa de
Mercator), fuso 22.
Para se transformar a altitude geométrica em ortométrica foi utilizada a
Equação 1 descrita abaixo:
H=N−h (1)
CI = 𝑁𝐴 + 𝐸𝑁𝐴 + 𝐺 (2)
Tabela 1. Valores utilizados para obtenção das cotas de inundação (* De acordo com IPCC (2013). **
De acordo com Guimarães et al. 2015).
Nível Cota de
Elevação do Nível Galgamento
Condição Cenários Médio do Inundação (m)
d’Água(m) ** (m) **
Mar (m) * **
1 0 0,71 1,36 2,07
2 0 0,76 1,65 2,41
Atual 3 0 0,83 1,83 2,66
4 0 0,84 2,04 2,88
5 0 1,38 1,97 3,35
Futuro
6 0,28 1,38 1,97 3,63
otimista
Futuro
7 0,98 1,38 1,97 4,33
pessimista
Fonte: Adaptado de Guimarães et al. (2015).
3 Resultados
Figura 2. Imagem ilustrando elevação do nível do mar em 2,07 m. As cores representam o nível de
inundação (m) nos pontos (método GNSS) e manchas (buffer) (método LIDAR).
Ainda na mesma área foi possível perceber que todas as ruas, calçadas e
praticamente todos os imóveis ficaram inundados. A Área 2 (Imbé) é a que apresenta
maiores trechos com ruas, calçadas e imóveis salvos à inundação com esta cota.
Na Área 3 (Tramandaí) apenas nos arredores da Prefeitura Municipal não
ocorrerá inundação dos imóveis. Na Área 4 (Tramandaí) as ruas, calçadas e imóveis
sobre o pontal arenoso de Tramandaí (considerado aqui a partir da rua Ubatuba de
Farias para o norte) ficaram alagados, com exceção de pequenos trechos ao norte e
sul da Avenida Beira Mar, e sudoeste da área. As regiões situadas nas margens e
adjacências da lagoa, em todas as quatro áreas ficam alagadas. Todo trecho de dunas
apresenta nível topográfico superior a esta cota de elevação. Cerca de 61,63 % dos
pontos levantados com o método GNSS, em toda área de estudo, apresentaram
inundação com a cota de 2,07 m.
Figura 3. Imagem ilustrando elevação do nível do mar em 2,41 m. As cores representam o nível de
inundação (m) nos pontos (método GNSS) e manchas (buffer) (método LIDAR).
Figura 4. Imagem ilustrando elevação do nível do mar em 3,35 m. As cores representam o nível de
inundação (m) nos pontos (método GNSS) e manchas (buffer) (método LIDAR).
A partir da análise dos dados foi possível observar que a elevação do nível do
mar de ambos os cenários 6 e 7 apresentaram os mesmos resultados em termos de
extensão de inundação, ou seja, tanto a cota de 3,63 m quanto de 4,33 m deixam
todas as Áreas 1, 2 e 3 inundadas e, na Área 4 apenas o trecho da porção superior
das dunas não apresenta inundação. Cerca de 97,28 % dos pontos levantados com o
método GNSS, em toda área de estudo, apresentaram inundação com ambas as
cotas.
A Figura 5 apresenta a inundação costeira que ocorre no cenário 7 no qual
foram consideradas as condições futuras atmosféricas e oceânicas, projetadas de
acordo com o IPCC (2013), até o ano de 2100, somada às demais variáveis escolhidas
conforme a Tabela 1.
64
Figura 5. Imagem ilustrando elevação do nível do mar em 4,33 m. As cores representam o nível de
inundação (m) nos pontos (método GNSS) e manchas (buffer) (método LIDAR).
4 Discussão
(GNSS e LIDAR) e (2) comparação entre dois municípios separados por uma
desembocadura, beneficiando as observações da extensão de inundação para futuras
possíveis decisões de gestão costeira.
Figura 6. Box-Plot dos valores das cotas de inundação (CI) nos diferentes cenários modelados para
os municípios de Imbé (Imb.) e Tramandaí (Tra.).
Outra pequena diferença poderia ocorrer devido a data de coleta dos dados serem
diferentes. A topografia do LIDAR foi realizada em julho de 2010 (Vianna e Calliari,
2015) e, a do método GNSS em maio de 2016, talvez refletindo elevações do solo
mais recentes.
A aplicação das cotas de inundação, na qual utilizamos dados de galgamento
(runup) pela fórmula de Stockdon et al. (2006) (Guimarães et al., 2015) também foi
utilizada por Gallien (2016) para avaliar a vulnerabilidade à inundação costeira na
Califórnia, sendo uma das medidas centrais para os esforços de mapeamento de
inundação. Nossos resultados mostram que uma elevação de 2,07 m (cenário 1) é
suficiente para inundar grande parte das ruas, calçadas e imóveis de ambos os
municípios, além de deixar toda a infraestrutura disponível vulnerável a este processo.
Takagi et al. (2016) citam que uma área inundada a uma profundidade de 1 m ou mais
pode ser considerada perigosa, sendo esperados danos substanciais nos
assentamentos humanos e seus habitantes.
Esta cota de elevação representada no cenário 1 poderá também penetrar
através dos bueiros e sistemas de esgoto e introduzir ainda mais água salgada nas
áreas urbanas. Os maiores impactos são observados na região do pontal arenoso de
Tramandaí (Área 4), bem como nas residências das margens da lagoa e na Área 1.
Guimarães et al. (2015) demonstraram inundação nas mesmas áreas com valores de
cota de inundação menores que 2,07 m citando ainda que a Área 1 seria a mais
vulnerável a processos de overtopping visto que não apresenta região de dunas,
sendo este resultado coincidente com a presente pesquisa. Maiores inundações em
áreas de maiores perdas sedimentares também foram encontradas por Gagliardi
(2013) na desembocadura de Cananéia (SP), sendo áreas que primeiro sofreriam
inundação.
Com a diferença da cota de inundação entre o cenário 1 e 5 observamos um
aumento pronunciado em número de propriedades impactadas, o que também pode
ocasionar problemas na rede de esgoto e drenagem, além de que as estradas ao
redor do centro da cidade se tornariam intransitáveis (0,3 m de água corrente é capaz
de mover um carro médio (Wadey et al., 2015)). Toda esta região não foi privilegiada
com os processos geológicos que ocorreram em sua formação e evolução tornando-
a suscetível à inundação por ter baixa altimetria e, continuou com a falta de privilégio,
pois a população não conheceu seus processos para ocupar ficando assim expostas
à este risco.
67
Tramandaí apresentou um maior nível de inundação o que nos indica ser uma
região com relevo menor que Imbé, sendo o pontal de Tramandaí (ignorando as dunas
e as margens da lagoa) a região mais baixa de toda área da pesquisa. Isto pode ser
devido ao fato de que esta região era estuarina até a ocupação se adensar sobre este
ambiente. Já em Imbé, as áreas com menores níveis topográficos se situam na região
do Braço Morto. A ocupação que ali se estabeleceu se encontra vulnerável por estar
sobre uma região baixa, área de um antigo canal.
Com a cota de inundação do cenário 1 praticamente 57% e 70%,
respectivamente, de Imbé e Tramandaí apresentam inundações, ou seja, com a
menor cota de inundação aqui testada temos uma alta vulnerabilidade na área. Ao
analisarmos os cenários 5 a 7 percebemos que praticamente toda região de estudo
fica inundada exceto as porções superiores das dunas em Tramandaí. Em Imbé, todo
o sistema de dunas foi removido para construção da Avenida Beira Mar e calçadão na
década de 1980. Na região do pós praia neste município não encontramos presença
de dunas frontais, mas se pode encontrar acúmulos de sedimentos trazidos pelo vento
nordeste e se fixando em algum obstáculo, porém eventualmente a Prefeitura realiza
a remoção deste material. Nosso modelo não nos permite afirmar que Tramandaí
estaria mais protegido por manter seu sistema de dunas preservado, embora
mencionado por Guimarães et al. (2015). Hesp (1988) e Larson et al. (2004) citam as
dunas como função de proteção costeira, fato comprovado por Martelo e Nicolodi
(2018) na praia do Mar Grosso (RS).
A inundação que observamos nos cenários 1 a 7, além das implicações já
citadas anteriormente, pode afetar a economia de ambos os municípios, como por
exemplo, em Imbé junto a margem fixada existe um terminal marítimo da Petrobrás,
que também ficaria prejudicado, bem como ocorreriam mudanças na desembocadura
modificando as atividades dos pescadores.
A praia de Imbé, sendo oceânica urbana e fixada por muros e calçadão, além
de possuir pouco espaço para os processos morfodinâmicos acontecerem, não tem
como se ajustar por meio de retrogradação. Tramandaí por não estar fixada por
obstáculos rígidos poderá se ajustar, mesmo que por poucos metros (urbanização
ocorre atrás do sistema de dunas). Imbé fica defronte às primeiras reações do mar,
com ocorrência de galgamento sobre as estruturas construídas na orla (Guimarães et
al., 2015), fato também observado no Rio de Janeiro (Mandarino e Arueira,
68
5 Conclusões
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79
Capítulo 4
Este capítulo apresenta o conteúdo do segundo artigo que compõe esta tese e foi
submetido para a Revista de Gestão Costeira Integrada em mai./2019.
A seguir o conteúdo submetido é apresentado com ajustes na formatação a fim de
melhorar a apresentação do mesmo. A carta de aceite das revisões realizadas é
apresentada na próxima página.
81
ABSTRACT
RESUMO
1 Introdução
2. Área de estudo
apresentam vazões entre 75 e 200 m³/s e média de 130 m³/s (Motta, 1965), que
somados ao movimento do volume de água do prisma de maré impedem a obstrução
do canal pelo assoreamento sedimentar (Silva et al., 2017).
A maré astronômica na área é caracterizada como semidiurna, com amplitude
média de 0,25 m, podendo alcançar 1,20 m durante uma maré meteorológica (Almeida
et al., 1997; Andrade et al., 2018).
Sobre a costa do Rio Grande do Sul incidem ondulações geradas no oceano
Atlântico sul e vagas provenientes do quadrante nordeste (NE) geradas pelos fortes
ventos locais de verão e primavera. A agitação marítima é caracterizada por ondas de
média a elevada energia, com altura significativa de 1,5 m e período entre 7 e 9 s,
com exceção quando da ocorrência de passagem das frentes frias de sul (S) e sudeste
(SE) (Almeida et al., 1997; Sprovieri et al., 2019). Por conseguinte, a ação das ondas
domina o transporte e a deposição dos sedimentos ao longo da costa. A profundidade
de fechamento (hc) é estimada em 7,5 m (Almeida et al., 1999).
Em todo o litoral, a distribuição direcional da corrente litorânea é muito regular
tanto para o quadrante sudoeste (SW) quanto para o NE, em um padrão claramente
bidirecional. Porém, o transporte de sedimentos é mais expressivo associado com a
corrente longitudinal de SW do que com a precedente de NE devido as correntes SW
resultarem principalmente de um maior fluxo de energia das ondas associado à
passagem de frentes frias (Lima et al., 2001). As velocidades variam entre 0,10 e 0,83
m/s (Jung e Toldo Jr., 2011). Sprovieri et al. (2019) quantificaram a deriva litorânea
em 45 km de costa no litoral norte do RS e obtiveram uma taxa resultante de 1.098.945
m³/ano com sentido para norte.
Ainda não se tem estudos sobre os bancos arenosos (ebb shoals) que se
situam em frente a desembocadura, nem como ocorrem sua migração, mas é sabido
que estes fornecem areia para a deriva agindo como agentes naturais de
reabastecimento de praia (Kana et al., 1999).
3. Materiais e Métodos.
insucesso. Neste projeto os molhes eram curvos, sendo o molhe norte com maior
extensão do que o sul e projetados para SE. O resultado do ensaio do anteprojeto do
DEPREC mostrou que a construção de um par de molhes curvos e paralelos se
estendendo até a isóbata de 5 m (molhe norte) e 2 m (molhe sul), não manteria um
canal de acesso com profundidade esperada de 4 m; por ser a direção do transporte
litorâneo dominante para SE os molhes não deveriam ser apontados para esta direção
e, também, ocorreria um gradual e significativo recuo na praia de Imbé.
Durante o estudo foram efetuados ensaios de 6 tipos distintos de molhes
conforme Tabela 1.
através do uso dos dados de onda de 1965 (utilizado no modelo físico reduzido) e de
1996 (dados de um ondógrafo instalado a 2500 m da praia de Tramandaí) percebendo
a importância do uso de uma série de dados de ondas. Uma das grandes limitações
do modelo é a inabilidade de representar embocaduras, no qual a autora calibrou
então um trecho ao norte da mesma.
3.2.3. Geoprocessamento
4. Resultados e discussões
Perda de habitats.
Isso pode causar impactos severos para a fauna que vive na areia
imediatamente em frente aos molhes, além de uma possível redução na ciclagem de
nutrientes e na biodiversidade e abundância. Mohanty et al. (2015), atentam para o
fato das praias que servem para nidificação de tartarugas. Há muitos casos em que o
desenvolvimento assume uma prioridade mais alta do que a proteção ambiental
(Noshi et al., 2015).
Figura 2. Projeção dos molhes retos e paralelos (modelo físico reduzido Ensaio 5.4 (E5.4)) e seus
efeitos na linha de costa (LMG 4 = Linha calculada Modelo Gênesis, tempo de simulação: 4 anos; LMG
10 = Linha calculada Modelo Gênesis, tempo de simulação: 10 anos; LMF 10 = Linha calculada Modelo
Físico, tempo de simulação: 10 anos).
Figure 2. Projection of the straight and parallel jetties (reduced physical model E5.4) and its effects on
the coastline.
95
Na aplicação dos molhes convergentes, sendo o molhe sul com uma inclinação
de 8º e o molhe norte de 42º (no trabalho original foi denominado como Ensaio 5.10
(E5.10) em um período de quatro anos, no modelo numérico a partir do uso dos dados
de onda do modelo físico, a praia de Imbé apresentaria uma erosão de 110 m, e em
Tramandaí ocorreria uma deposição de areia com avanço da praia de 130 m. Em dez
anos o modelo físico calculou uma taxa de recuo de 100 m em Imbé e deposição de
130 m em Tramandaí.
A partir da série de dados de ondas utilizada de 1996, para um período de
quatro anos, o modelo numérico apresentou uma taxa de recuo de 200 m em Imbé e
deposição de 200 m em Tramandaí.
Figura 3. Projeção dos molhes convergente (CVG) (modelo físico reduzido Ensaio 5.10 (E5.10)) e seus
efeitos na linha de costa (LMG 4 = Linha calculada Modelo Gênesis, tempo de simulação: 4 anos; LMF
10 = Linha calculada Modelo Físico, tempo de simulação: 10 anos).
Figure 3. Projection of the convergent jetties (reduced physical model E5.10) and its effects on the
coastline.
natural” quando estruturas humanas estão no caminho. Os autores declaram que uma
gestão responsável de recursos projeta políticas e infraestruturas costeiras
sustentáveis adaptáveis às condições de mudança.
Embora, não exista um estudo específico sobre os bancos arenosos de vazante
e de enchente na área de estudo, é possível identificar estas feições nas fotografias e
imagens aéreas (Figura 2), além de ser possível visualizar em determinados
momentos, a dificuldade do ingresso ou saída das embarcações no canal. Tomazelli
e Villwock (1992) informaram a existência desta feição subaquosa nas imediações da
desembocadura.
Com a instalação dos molhes, ocorrerá mudança na estrutura e posição desses
bancos, com possibilidades de confinar a corrente de vazante ou, o desenvolvimento
de novo banco em frente a nova extremidade do canal lagunar. Se, após longos
períodos de tempestade, a corrente longitudinal transportar demasiado volume de
sedimentos para a desembocadura, poderá ocorrer a redução da seção transversal,
dificultando o desenvolvimento das correntes de marés vazantes e o transporte de
sedimentos no canal.
A profundidade de fechamento na área de estudo, conforme descrito
anteriormente é de 7,5 m (Almeida et al., 1999). A recomendação do modelo físico é
estender a estrutura dos molhes até a isóbata de 5 m, ou seja, não alcançando a h c,
permitindo assim uma superfície de fundo rasa para o trânsito de sedimentos. Caso
os molhes ultrapassassem a hc, possivelmente uma maior quantidade de sedimentos
ficaria retida no lado da deriva dominante.
E, quanto aos impactos socioambientais e econômicos deve ser considerada a
existência de um tipo de pesca - a pesca interativa com os botos, que só ocorre em
dois locais no sul do Brasil, na área de estudo e em Laguna (SC). Portanto, esta
questão muito particular da área de estudo se torna relevante quanto a extensão
destes prejuízos. Além do que, os pescadores artesanais utilizam o pontal arenoso de
Tramandaí para a pesca, o qual seria desativado com os novos molhes, pois as
estruturas duras impedem parcialmente o uso recreativo da zona costeira e podem
causar efeitos ecológicos adversos dentro da zona costeira (Cornell et al., 2019).
Uma possível erosão prevista na praia de Imbé, além de causar danos às
estruturas antrópicas tenderia a uma diminuição do turismo por modificações na
paisagem, por menor área de “praia” e mudança nas práticas esportivas (surf, stand
up, etc.).
99
Atualmente, não se observa uma gestão que implique melhoras reais das zonas
costeira e marítima brasileira, no tocante à conservação dos sistemas ambientais, dos
seus serviços ecossistêmicos e do bem-estar humano (Scherer e Asmus, 2016). Para
abordar soluções à esta zona é imprescindível uma adequada compreensão dos
problemas costeiros e marinhos, que se constrói com sua observação, entendimento
das causas que os provocam e conhecimento de suas origens (Barrágan, 2006).
Assim, integrar os estudos levantados no presente trabalho, juntamente com
educação à comunidade e aplicação de modelos físicos e numéricos se faz necessário
a uma gestão costeira com vista real à melhorar o ambiente como um todo e não
apenas com interesses políticos e econômicos.
5. Conclusões
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105
Capítulo 5
Considerações Finais
106
Com uma obra costeira a navegação pode ser favorecida, também a areia de
dragagens para manter a profundidade do canal pode ser utilizada em engordamento
de praias. Em contrapartida, após a instalação desta mesma obra pode ocorrer
variação na linha de costa, perda sedimentar ocasionada pelas dragagens. Ou seja,
a modificação de um ambiente natural vai de alguma forma apresentar impactos
positivos e negativos, dependendo do foco do olhar e da intenção da obra costeira.
A partir do estudo de caso do local e com o intuito de se observar como
ocorriam o comportamento das adjacências da embocadura após a colocação dos
molhes e das possíveis mudanças que essa estrutura pode causar, foram obtidos
dados de modelagens física e numérica realizadas e analisadas em um Sistema de
Informações Geográficas (SIG). Neste mesmo estudo de caso foram feitas
associações com os prós e contras da instalação dos molhes, além de estabelecer
uma relação com os artigos anteriores.
A desembocadura da Lagoa de Tramandaí já se encontra fixada pelo guia-
corrente. A construção de molhes nesse local, além dos elevados gastos públicos,
pode modificar toda estrutura e disposição dos bancos arenosos adjacentes a região,
além da possibilidade de alteração em todo transporte sedimentar, causando
deposição no lado barlamar e erosão no lado sotamar, bem como dependendo do
comprimento do molhes esses fenômenos podem ser mais intensos do que as
previsões. Além dos impactos ecológicos possíveis, como o caso de modificação na
pesca interativa com o boto.
Assim, partindo do início, “a base” (Artigo 1), aonde se observou o
comportamento e atuação da desembocadura, passando pelo “coração da Tese”, o
centro (Artigo 2), no qual se conheceu um pouco mais as adjacências da embocadura
e, chegando na “espiral da Tese” (Artigo 3), incluindo a influência antrópica, um pouco
mais atuante, com a instalação de uma estrutura de proteção costeira foi possível
entender como era o comportamento natural desse sistema, como é atualmente e
como ele pode se tornar a partir de maiores mudanças antrópicas. Confirmando o
quão necessária é a integração de estudos que abordam distintas variáveis e
ferramentas para o conhecimento de um ambiente com foco em sua preservação e
gestão costeira eficiente.
Em face desses estudos se percebeu o quão escasso ainda estão os dados
oceanográficos, meteorológicos, topográficos disponíveis para pesquisas detalhadas
e também, a falta geral de conscientização dos usuários da zona costeira, e que
ambos assuntos prejudicam a gestão costeira. De certa forma, fica evidente a
109
importância de pesquisas a longo prazo de coletas destes dados, também uma maior
participação dos públicos universitário e comunidades locais nas discussões deste
espaço costeiro, tentando transformar o fato de que as pessoas geralmente resistem
em fazer mudanças comportamentais desconfortáveis para melhorar os espaços em
que se encontram.
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