Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Instituto de Biociências Departamento de Ecologia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA

Carolina Batista Nunes

CONHECIMENTO DE PESCADORES SOBRE MUDANÇAS AMBIENTAIS NA


ÁGUA E NO PULSO DE INUNDAÇÃO DOS RIOS TAPAJÓS E TOCANTINS,
AMAZÔNIA BRASILEIRA

Porto Alegre
2022
Carolina Batista Nunes

CONHECIMENTO DE PESCADORES SOBRE MUDANÇAS AMBIENTAIS NA


ÁGUA E NO PULSO DE INUNDAÇÃO DOS RIOS TAPAJÓS E TOCANTINS,
AMAZÔNIA BRASILEIRA

Trabalho de Conclusão do Curso de


Licenciatura em Ciências Biológicas, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como requisito parcial para a obtenção do
Título de Licenciado(a) em Ciências
Biológicas.

Orientador(a): Prof. Renato Azevedo Matias


Silvano
Coorientador(a): Dra. Paula Evelyn Rubira
Pereyra

Porto Alegre
2022
Dedico não apenas este trabalho, mas toda esta jornada,
ao Inácio, minha querida e amada criança, que
ao nascer mudou o mundo. O meu mundo.
AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente à UFRGS por ter sido minha segunda casa durante todos esses
anos e aos professores e professoras que tanto me ensinaram. Agradeço especialmente ao meu
orientador, professor Renato Silvano, por todo o suporte e incentivo que me deu desde meu
início no Laboratório de ECologia HUmana e de PEixes, já há alguns anos. Agradeço, ainda,
ao professor Luís Henrique Sacchi dos Santos por mudar profundamente meu olhar em relação
à docência e aos estudos em Educação. Suas palavras redefiniram muitos passos da minha
caminhada.
Não posso deixar de agradecer à primeira bióloga que conheci na vida, minha querida
professora Letícia Beras, cujo olhar carinhoso e encorajador plantou tão fortemente em mim a
curiosidade sobre a vida, que não tive escolha a não ser me tornar bióloga também. Te
agradeço, com todo meu coração, por ter me enxergado para além das adversidades.
Agradeço à Márcia Caroline e Paula Pereyra, colegas de laboratório que se tornaram
grandes amigas. Obrigada por todas as tardes de desabafos regadas a café – e, não raro, a
lágrimas – e as noites de risadas regadas a cerveja. Agradeço especialmente à Paula, a mãe das
IC’s, que me abrigou com tanto amor debaixo das suas asas gigantes, quase tão grandes quanto
o seu coração. Tua orientação repleta de paciência e cuidado e, acima de tudo, tua amizade,
foram fundamentais para a escrita deste trabalho. Obrigada por todas as palavras
tranquilizadoras e todos os ensinamentos. Se hoje estou finalizando essa etapa, é porque tu me
estendeu a mão durante todo o caminho.
Agradeço ao Artur, com quem tive a sorte de esbarrar lá em 2017, no início da
graduação, pela presença constante. Poder compartilhar contigo tantos momentos (entre eles
as aulas na FACED às 8h da manhã em inúmeras segundas-feiras chuvosas) foi fundamental
para que essa jornada tão difícil fosse marcada, principalmente, por muitos sorrisos. Obrigada
pela tua amizade, com ela sou mais feliz.
Ao Lucas, meu anjo da guarda, agradeço pelo acolhimento incondicional e pela
compreensão. Que alegria é poder fazer parte do teu mundo, que é um lugar tão bonito.
Obrigada por ser a voz sensata e amorosa que tantas vezes eu preciso ouvir.
Ao Rafael, agradeço imensamente pela luz que tu irradias e que toca todos ao teu redor.
Sorte a minha estar por perto para ser tocada e para te ver brilhar.
Agradeço ao Gabriel, que chegou feito um meteoro rasgando o céu com sua luz e
iluminando lugares que há tanto tempo só viam sombra. Obrigada por me trazer esperança,
matéria tão escassa nos dias de hoje.
Para agradecer ao Juliano, pego emprestadas as palavras de Guimarães Rosa, que
expressam a sua importância na minha caminhada melhor do que eu jamais poderia: “Os outros
eu conheci por ocioso acaso. A ti vim encontrar porque era preciso.” Obrigada por ter
transformado muito da minha vida, de dentro pra fora.
Agradeço imensamente aos meus irmãos Vanessa e Rogério, com quem sei que posso
contar para tudo, para sempre. Aos meus pais, Vilma e Romeu, agradeço por todo o apoio que
possibilitou que eu fosse a primeira pessoa da família a entrar no ensino superior. Se hoje me
formo Bióloga em uma das melhores universidades do país, é por conta dos seus esforços
incessantes.
Ao Inácio, minha pessoa preferida no mundo, agradeço pelo privilégio de ser sua mãe.
Obrigada por ter me ensinado tudo que sei de mais importante e por ser uma fonte inesgotável
de amor na minha vida. Viver ao teu lado é meu maior bem e sempre vai ser.
Agradeço aos professores Gustavo Hallwass e Luciane Crossetti por aceitarem compor
a banca examinadora deste trabalho e por último, mas de forma alguma menos importante,
agradeço aos pescadores que, ao partilharem seus conhecimentos, tornaram possível a
realização desta pesquisa.
Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos
a humanidade. Enquanto isso – enquanto seu lobo não vem – fomos
nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e
passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a
Humanidade. Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja
natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo que eu
consigo pensar é natureza.

Ailton Krenak
Ideias para adiar o fim do mundo
RESUMO

Dada a alta dependência dos pescadores ribeirinhos em relação ao meio ambiente e seus
recursos, estes pescadores detêm extenso conhecimento ecológico local (CEL) sobre os
ecossistemas aquáticos e sua biodiversidade. Este conhecimento pode auxiliar no melhor
entendimento sobre as mudanças ambientais em curso nos rios amazônicos. O principal
objetivo deste trabalho é verificar e comparar, através do CEL de pescadores, mudanças na
qualidade da água, no pulso de inundação e, além disso, os possíveis efeitos dos eventos de
secas e cheias nos peixes, nos rios Tapajós e Tocantins, na Amazônia brasileira. Foram
entrevistados 67 pescadores em nove comunidades no rio Tapajós e 33 pescadores em quatro
comunidades no rio Tocantins. Em ambos os rios, os pescadores relatam que a água está mais
suja e barrenta. No rio Tocantins, essas alterações são atribuídas à presença de barragens e no
rio Tapajós, à presença do garimpo. Em relação ao pulso de inundação, no rio Tocantins, os
dados apontam para um ambiente mais seco, visto que um maior número de entrevistados relata
que o rio está enchendo menos durante as cheias e secando mais durante as secas. Já no rio
Tapajós as entrevistas apontam para períodos de secas e cheias mais variáveis. Acerca dos
impactos das secas nos peixes, em ambos os rios os pescadores relatam que durante esse
período há menor abundância de peixes, porém, sua captura é mais fácil, enquanto que durante
a cheia há maior abundância, contudo, a captura é mais difícil. As mudanças ambientais de
origem antrópica que estão em curso na região amazônica são percebidas pelos pescadores e
impactam diretamente a biodiversidade dos rios, sendo uma grande ameaça à manutenção do
modo de vida dos povos ribeirinhos.

Palavras-chave: Conhecimento ecológico local; etnoecologia; impactos ambientais; pesca


artesanal; mudanças climáticas
ABSTRACT

Due to the high dependence of riverine fishers on the environment and its resources, these
fishers hold extensive local ecological knowledge (LEK) about aquatic ecosystems and
biodiversity. This knowledge can help in a better understanding of the ongoing environmental
changes in the Amazonian rivers. The main objective of this work is to verify and compare,
through the fisher's LEK, changes in water quality, flood pulse and the possible effects of
drought and flood events on fish in the Tapajós and Tocantins rivers, in the Brazilian Amazon.
We interviewed 67 fishers in nine communities on the Tapajós River and 33 fishers in four
communities on the Tocantins River. In both rivers, the fishers report that the water is dirty and
muddy. In the Tocantins River, these alterations are attributed to the presence of dams, and in
the Tapajós River, to the presence of mining. In relation to the flood pulse, on the Tocantins
River, the data point to a drier environment, since a greater number of interviewees report that
the river is flooding less during floods and drying more during droughts. On the Tapajós River,
on the other hand, the interviews point to more variable periods of droughts and floods.
Regarding the impacts of droughts on fish, in both rivers, the fishers reported that during this
period there is less abundance of fish, but catching them is easier, while during floods there is
more abundance, but catching them is more difficult. The environmental changes of anthropic
origin that are underway in the Amazon region are perceived by fishers and directly impact the
biodiversity of the rivers, being a threat to the maintenance of the riverine way of life.

Keywords: Local ecological knowledge; ethnoecology; environmental impacts; artisanal


fisheries; climate change
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………....9

2. OBJETIVOS……………………………………………………………………………...11

2.1 Objetivos gerais…………………………………………………………………..11

2.2 Objetivos específicos……………………………………………………………..11

3. MATERIAIS E MÉTODOS……………………………………………………………..12

3.1 Área de estudo……………………………………………………………………12

3.2 Comunidades ribeirinhas…………………………………………………………16

3.3 Entrevistas………………………………………………………………………..16

4. RESULTADOS…………………………………………………………………………...17

4.1 Perfil dos entrevistados…………………………………………………………..17

4.2 Mudanças na qualidade da água………………………………………………….17

4.3 Mudanças não pulso de inundação...……………………………………………..19

4.4 Secas e cheias afetam os peixes?...................................................................…….20

5. DISCUSSÃO……………………………………………………………………………...22

5.1 Diminuição na qualidade da água: impactos passados, presentes e futuros……...22

5.2 “Ninguém entende mais”: mudanças nos períodos de secas e cheias……………25

5.2.1 Efeitos das secas nos peixes……………………………………………26

5.2.2 Efeitos das cheias nos peixes…………………………………………..27

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………………28

7. REFERÊNCIAS………………………………………………………………………….29

8. APÊNDICE……………………………………………………………………………….40
9
1. INTRODUÇÃO

A bacia Amazônica é considerada a maior bacia hidrográfica do mundo,


correspondendo a uma área de cerca de 6 milhões de km² (Goulding et al., 2003) e contendo a
maior biodiversidade de peixes de água doce do planeta (Tedesco et al., 2017). Atualmente, a
porção brasileira do bioma Amazônico abriga uma população de mais de 29 milhões de pessoas
(IBGE, 2021). Historicamente, o debate acerca das questões ambientais na Amazônia tem
destacado principalmente aspectos relacionados à floresta e sua biodiversidade associada, em
detrimento dos importantes ecossistemas aquáticos que compõem a região (Castello, 2013;
Abell et al., 2008; Saunders et al., 2002). Ainda que a cobertura florestal seja fundamental para
a manutenção dos sistemas hidrológicos (Trancoso et al., 2009), a falta de áreas de proteção
projetadas especificamente para os ambientes aquáticos reforça o papel secundário que os
corpos d’água ocupam nas políticas de conservação (Dagosta et al., 2020; Saunders et al.,
2002).
A população humana que vive na Amazônia depende dos seus recursos naturais para a
subsistência. O consumo de pescado na região é o maior do mundo, chegando a 60 kg por
pessoa ao ano (Isaac & Almeida, 2011), fazendo com que os ecossistemas aquáticos sejam
fundamentais para a garantia da segurança alimentar de milhares de famílias (Isaac et al., 2015;
Begossi et al., 2019). Além da pesca de subsistência, a atividade pesqueira também representa
uma importante fonte de renda para as populações ribeirinhas (Bayley & Petrere, 1989; Batista
et al., 1998; Isaac & Almeida, 2011).
As ações antrópicas, além de trazerem novos problemas à bacia Amazônica, também
têm o potencial de transformar os eventos naturais que ocorrem na bacia, como é o caso das
flutuações fluviométricas derivadas da variação sazonal do ciclo de chuvas na região, que
ocasionam os períodos anuais de secas e cheias (Marengo & Espinoza, 2016). Nas últimas
décadas, devido à implementação de usinas hidrelétricas, ao desmatamento de grandes áreas de
floresta e às mudanças climáticas, eventos extremos de secas e cheias estão ocorrendo com
maior frequência, colocando em risco os ecossistemas aquáticos, terrestres e as populações
ribeirinhas residentes na região (Aragão et al., 2008; Castello et al., 2015; Marengo et al., 2016;
Souza et al., 2019; Gatti et al., 2021).
10
A bacia hidrográfica do rio Tocantins é considerada uma das mais degradadas e
modificadas do país (Pelicice et al., 2021; Swanson et al., 2021). Cerca de 19,1% da área de
vegetação nativa dessa bacia passou pelo processo de desmatamento nos últimos anos,
causando o aumento anual de 24% na descarga de água e a antecipação de um mês dos picos
sazonais, devido à redução da evapotranspiração durante a temporada de chuvas (Costa et al.,
2003; Trancoso et al., 2009). Além disso, existem sete usinas hidrelétricas ao longo do curso
do rio Tocantins que geram, além de alterações no ciclo hidrológico do rio, outros impactos
ambientais como a modificação no transporte de sedimentos e redução de nutrientes disponíveis
na água (Zahar et al., 2008; Timpe & Kaplan, 2017; Pelicice et al., 2021). O barramento dos
rios para a implementação de usinas hidrelétricas pode causar, ainda, alterações na qualidade
da água (Agostinho et al., 2008) e fragmentação do habitat, o que impacta diretamente o ciclo
de vida das espécies de peixes que possuem hábitos migratórios, uma vez que suas rotas de
deslocamento são interrompidas (Nunes et al., 2019; Winemiller et al., 2016; Hallwass et al.,
2013). Atualmente, existem dois projetos para a implementação de megaempreendimentos na
região do médio rio Tocantins: a usina hidrelétrica de Marabá e a hidrovia Araguaia-Tocantins,
que acarretará na implosão da área de corredeiras desse trecho do rio (Akama, 2017). Além dos
impactos esperados na pesca, esses empreendimentos ameaçam espécies como o tracajá
Podocnemis unifilis e a tartaruga-da-Amazônia Podocnemis expansa, que utilizam essas áreas
para desova, além da espécie endêmica do boto do Araguaia Inia araguaiensis (Hrbek et al.,
2014).
No rio Tapajós, ainda que não existam hidrelétricas instaladas no curso principal do rio,
existem projetos para construção de mais de 90 usinas no seu curso d’água e em seus afluentes,
tornando-o um dos rios mais ameaçados da bacia Amazônica (WWF, 2021; Latrubesse et al.,
2017; Fearnside, 2015a, 2015b). Além dos impactos ambientais já mencionados, a construção
destes empreendimentos nessa região poderá causar a inundação de áreas de conservação e
terras indígenas (Fearnside, 2015a). Uma das grandes problemáticas enfrentadas no rio Tapajós
é a constante presença do garimpo de ouro (Bidone et al., 1997; Lino et al., 2019). Na década
de 1980 a extração de ouro se intensificou nos países que compõem a América Latina, sendo o
Brasil um dos maiores produtores desse minério. Cerca de 90% de todo o ouro extraído no país
é proveniente dos garimpos, onde a extração ocorre de forma artesanal (Malm, 1998; Nevado
11
et. al., 2010). Entre os principais impactos ambientais acarretados pelo garimpo, estão a
degradação da vegetação devido à abertura de estradas para o transporte dos minérios,
assoreamento das águas, proveniente da descarga de sedimento das margens dos rios e a
contaminação por mercúrio utilizado no processo de amalgamação para separação do ouro
(Sousa & Veiga, 2009; Tudesque et al., 2012; Fernandes et al., 2014; Lobo et al., 2015). Quando
despejado nos cursos d’água, o mercúrio pode ser metilado por bactérias sulfato-redutoras, que
o transformam em metilmercúrio, a forma mais tóxica do elemento, capaz de penetrar em
membranas biológicas e de bioacumular com facilidade, podendo contaminar cadeias tróficas
inteiras (Ullrich et. al., 2001; Nevado et. al., 2010).
Dada à alta dependência dos pescadores em relação ao meio ambiente e seus recursos,
os pescadores detêm vasto Conhecimento Ecológico Local (CEL), o conhecimento que grupos
específicos, como os povos tradicionais, acumulam ao longo do tempo a respeito do ambiente
em que vivem (Berkes, 2021). Gerado a partir de crenças e interações entre os membros destes
grupos e o ecossistema, esse conhecimento é passado culturalmente através das gerações
(Berkes, 1999; Berkes & Folk, 2000; Olson & Folk, 2001). As pesquisas realizadas através da
perspectiva do CEL têm contribuído na compreensão da ecologia dos peixes e fornecido
informações importantes a respeito da migração, hábitos alimentares, reprodutivos e utilização
dos recursos pesqueiros (Silvano & Begossi, 2010; Herbst & Hanazaki, 2014; Nunes et al.,
2019; Fogliarini et al., 2021; Pereyra et al., 2021). Além disso, o CEL pode auxiliar na avaliação
de impactos ambientais ocasionados por ações antrópicas, como a construção de hidrelétricas
(Hallwass et al., 2013; Runde et al., 2020; Santos et al., 2020) e mudanças no pulso de
inundação dos rios (Guerreiro et al., 2016; Langill & Abizaid, 2020).
Neste contexto, esse trabalho visa analisar o CEL dos pescadores em relação às
mudanças ambientais que estão acontecendo na Amazônia. Os resultados obtidos através do
CEL são de extrema relevância, dada a necessidade de estudos na região e a urgência da
proteção das Bacias do Tocantins-Araguaia e do rio Tapajós, visando a conservação da
biodiversidade existente e a manutenção do modo de vida dos povos ribeirinhos (Dagosta et al.,
2020; Runde et al., 2020).
12
2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Este trabalho tem como objetivo analisar o CEL de pescadores ribeirinhos a respeito de
mudanças ao longo do tempo na qualidade da água e no pulso de inundação nos rios Tapajós e
Tocantins e, além disso, a possível influência do pulso nos peixes em ambos os rios.

2.2 Objetivos específicos

 Investigar os fatores que tem desencadeado mudanças ambientais nos rios, de acordo
com o CEL dos pescadores;
 Comparar os resultados acerca das mudanças ambientais sob a perspectiva do CEL entre
os dois rios.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Área de estudo

O estudo foi realizado nas porções médias dos rios Tapajós (Figura 1) e Tocantins
(Figura 2), ambos pertencentes à bacia Amazônica. Os dois rios possuem águas claras, segundo
classificação proposta por Sioli (1950), devido à baixa concentração de nutrientes e baixo nível
de sedimentos presentes na água.
O rio Tapajós é formado pela confluência dos rios Teles Pires e Juruena, possuindo 851
km de extensão (Goulding et al., 2003) e área de drenagem de 764,183 km², banhando os
estados do Mato Grosso, Amazonas, Pará e Rondônia (ICMBIO, 2011). Sua nascente está
localizada no Mato Grosso, em uma área de transição entre o Cerrado e a floresta Amazônica,
enquanto sua foz está localizada no rio Amazonas, no estado do Pará (Goulding et al., 2003).
13
No rio Tapajós, o período de cheia compreende os meses de janeiro a junho e o período de seca
ocorre nos meses de julho a dezembro. Neste rio, foram visitadas nove comunidades, sendo
elas: Cupari, Cauaçuepá, Brasília Legal, Barreiras, Pedra Branca, Miritituba, Canaã, São Luís
do Tapajós e Pimental.
14

Mapa: Kaluan Calini


Figura 1: Mapa destacando as nove comunidades estudadas no médio rio Tapajós, Amazônia Brasileira.
15

O rio Tocantins é o segundo maior curso d’água totalmente brasileiro, chegando a mais
de 2.400 km de extensão (Goulding, 2003). Sua área de drenagem, em conjunto com a área do
rio Araguaia, forma a Bacia Hidrográfica Tocantins-Araguaia, que possui mais de 967 km² e
corresponde a 10% do território brasileiro (ANA, 2022). Banhando os estados de Goiás, Mato
Grosso, Tocantins, Maranhão, Distrito Federal e Pará, sua nascente está localizada entre os
municípios de Ouro Verde de Goiás e Petrolina de Goiás e sua foz deságua no Oceano
Atlântico, próximo a Belém do Pará. A área da bacia é recoberta por vegetação característica
dos biomas Cerrado e floresta Amazônica (Ribeiro, Petrere & Juras, 1995).
Neste rio, o período de cheia ocorre nos meses de outubro a abril e o período de seca
ocorre de maio a setembro. Neste rio foram visitadas quatro comunidades, sendo elas: Vila
Tauri, Espírito Santo, Apinajés e Santa Cruz (essa comunidade situada no Rio Araguaia). Na
comunidade de Palestina, que também está representada no mapa, não foram realizadas
entrevistas.
16

Mapa: Kaluan Calini.


Figura 2: Mapa destacando as quatro comunidades estudadas no médio rio Tocantins e Araguaia, Amazônia Brasileira.
17

3.2 Comunidades ribeirinhas

Os povos ribeirinhos são aqueles que vivem às margens dos rios e estabelecem
profundas relações com os corpos d’água e sua biodiversidade (MMA, 2016; McGrath et al.,
2008), encontrando nos ecossistemas aquáticos sua principal fonte de subsistência. Essas
populações utilizam a água dos rios para uso doméstico, para navegação e, também, para
obtenção de grande parte da proteína consumida por essas populações, que é proveniente da
pesca (Isaac & Almeida 2011; Begossi et al., 2019).
O modo de vida ribeirinho está intrinsecamente ligado ao ciclo hidrológico dos rios
que, sazonalmente, transformam a paisagem e influenciam importantes aspectos da vida
cotidiana, como a pesca (Almeida, 2013). Os períodos de secas e cheias ocorrem de forma
natural e são importantes para a manutenção dos ecossistemas amazônicos, de forma que a
fauna, a flora e as populações humanas que vivem às margens dos rios estão bem adaptadas às
variações no ciclo hidrológico (Junk et al., 1989; Junk & Piedade, 1993; Gram et al., 2001;
Nagl et al., 2021).

3.3 Entrevistas

Os dados analisados neste trabalho foram obtidos através de entrevistas com base em
um questionário do tipo semiestruturado (Apêndice 1), contendo questões sobre a percepção
dos pescadores a respeito de possíveis mudanças observadas na qualidade da água e no regime
hidrológico dos rios (secas e cheias) desde o início de sua atividade pesqueira na região. Os
dados analisados neste estudo integram entrevistas mais detalhadas de outras pesquisas (Runde
et al. 2020; Silvano & Hallwass, 2020). Foram realizadas entrevistas no período de setembro a
novembro de 2018 com 33 pescadores em quatro comunidades no rio Tocantins e 67
pescadores em nove comunidades no rio Tapajós.
Primeiramente, os líderes comunitários de cada comunidade foram abordados para que
fosse explicada a motivação do trabalho a ser realizado e para pedir autorização para a
realização das entrevistas nas comunidades. Em um segundo momento, os líderes apontaram
os pescadores mais experientes da região para que pudessem ser entrevistados. Os membros
das comunidades geralmente associam a experiência do pescador à sua eficiência (quantidade
de pescado capturado) e à frequência com que pesca (Nunes, Hallwass & Silvano, 2019). Após
entrevistar os pescadores indicados pelos líderes, estes, por sua vez, indicaram outros
pescadores experientes para participarem do estudo, seguindo, assim, o método “bola de neve”
18

(snowball sampling), que consiste em gerar redes de referência a fim de acessar os membros
de um grupo específico que atendam aos critérios pré-estabelecidos (Berg, 2006). Essa
abordagem foi utilizada em estudos anteriores de etnoecologia com pescadores (Silvano et al.,
2006; Hallwass et al., 2013; Runde et al., 2020).
O estudo foi aprovado pelo comitê de ética com pessoas da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (CONEP/CAAE: 82355618.0.0000.5347).

4 RESULTADOS

4.1 Perfil dos entrevistados

No rio Tapajós, dos 67 entrevistados, 63 pertencem ao gênero masculino e 4 ao gênero


feminino. A idade dos entrevistados variou de 25 a 78 anos, com idade média de 47,3 anos (±
11,84) e média de tempo de pesca na região de 25,5 anos (± 11,94). No rio Tocantins, dos 33
entrevistados, 28 pertencem ao gênero masculino e 5 ao gênero feminino. A idade dos
entrevistados variou de 26 a 82 anos, com idade média de 56,4 anos (± 14,02) e média de tempo
de pesca de 34,8 anos (± 17,64).

4.2 Mudanças na qualidade da água

Dos 67 entrevistados no rio Tapajós, 91% afirmam perceber mudanças na qualidade da


água desde que começaram a realizar a atividade pesqueira (Tabela 1). No rio Tocantins, dos
33 entrevistados, 70% relataram perceber mudanças em relação à qualidade da água (Tabela
1).

Tabela 1: Respostas dos pescadores acerca da percepção sobre mudanças na qualidade da


água e no regime de secas e cheias nos rios Tapajós e Tocantins, Amazônia Brasileira:
Tapajós (n=67) Tocantins (n=33)
Não Não
Mudanças: Sim Não respondeu Sim Não respondeu
Qualidade da água 91% 6% 3% 70% 24% 6%
Regime de secas e cheias 84% 9% 7% 100%
19

Quando perguntados a respeito de quais mudanças são percebidas, no rio Tapajós, 77%
dos entrevistados relatam que a água está mais suja e que a água está barrenta (7%). No rio
Tocantins, 33% dos entrevistados afirmam que a água está mais suja (33%) e que a água está
barrenta (18%) (Figura 3).

Figura 3: Principais mudanças percebidas pelos pescadores na qualidade da água nos rios Tapajós e
Tocantins. Os pescadores entrevistados podiam citar mais de uma mudança.

No rio Tapajós, os principais motivos citados como causadores dessas mudanças foram
o garimpo (64%) e a presença de barragens (6%) (Figura 4). Já no rio Tocantins, as mudanças
na qualidade da água foram atribuídas, principalmente, à poluição (18%), às barragens (12%),
às cheias (12%) e ao desmatamento (9%) (Figura 4).
20

Figura 4: Principais causadores das mudanças na qualidade da água, segundo os pescadores nos rios
Tapajós e Tocantins. Os pescadores entrevistados podiam citar mais de um fator.

4.3 Mudanças no pulso de inundação

No rio Tapajós, 84% dos entrevistados relataram perceber mudanças no pulso de


inundação na região, enquanto no rio Tocantins, todos os pescadores entrevistados perceberam
mudanças (Tabela 1).
Quando foram perguntados a respeito de quais mudanças são percebidas em relação ao
regime das águas, no rio Tapajós, os entrevistados mencionam que o rio está enchendo menos
(28%), secando menos (28%) e que cheias e secas estão variando (25%) (Figura 3). No rio
Tocantins, os entrevistados afirmam que o rio está enchendo menos (33%), tem secado mais
(22%) e que cheias e secas estão variando (15%) (Figura 5).
21

Figura 5: Percepção dos pescadores sobre mudanças nos regimes de secas e cheias nos rios Tapajós e
Tocantins. Os pescadores entrevistados podiam citar mais de uma mudança.

4.4 Secas e cheias afetam os peixes?

Quando questionados se os períodos de seca influenciam os peixes de alguma forma,


no rio Tapajós, 96% dos entrevistados afirmam que sim, enquanto no rio Tocantins 73% dos
pescadores fizeram a mesma afirmação (Tabela 2).

Tabela 2: Respostas dos pescadores sobre os efeitos das secas e cheias nos peixes nos rios
Tapajós e Tocantins, Amazônia Brasileira:
Tapajós (n=67) Tocantins (n=33)
Não Não
Sim Não respondeu Sim Não respondeu
As secas afetam os peixes? 96% 1% 3% 73% 21% 6%
As cheias afetam os peixes? 94% 4% 2% 94% 6%

No rio Tapajós, os principais efeitos das secas nos peixes, citados pelos pescadores,
foram a maior facilidade na captura (41%), que os peixes morrem em lagos que secam (40%)
e que a água esquenta (18%) (Figura 6). No rio Tocantins, os efeitos citados foram a diminuição
22

do número de peixes (30%), a falta de alimento para os peixes (12%) e a morte dos peixes em
lagos que secam (9%) (Figura 6).

Figura 6: Principais efeitos dos períodos de seca nos peixes, segundo os pescadores entrevistados nos

rios Tapajós e Tocantins. Os pescadores entrevistados podiam citar mais de um efeito.

Quando perguntados se os períodos de cheias influenciam os peixes, 94% dos


entrevistados afirmaram que sim em ambos os rios (Tabela 2). Sobre os efeitos dos períodos
de cheias nos peixes, no rio Tapajós, os entrevistados afirmam que os peixes passam a utilizar
o igapó (43%), se alimentam de frutos que caem na água (21%), que o número de peixes
aumenta (19%) e que a captura é mais difícil (19%) (Figura 7). No rio Tocantins, os
entrevistados relatam que o número de peixes aumenta (24%), que a desova é afetada (24%),
que os peixes passam a utilizar o igapó (21%) e que a captura é dificultada (18%) (Figura 7).
23

Figura 7: Principais efeitos dos períodos de cheia nos peixes, segundo os pescadores entrevistados nos
rios Tapajós e Tocantins. Os pescadores entrevistados podiam citar mais de um efeito.

5. DISCUSSÃO

5.1 Diminuição na qualidade da água: impactos passados, presentes e futuros

As ações antrópicas em curso na Amazônia podem ser diretamente ligadas à diminuição


na qualidade da água observada pelos pescadores entrevistados. No rio Tocantins, um maior
número de ações antrópicas foram citadas como causadoras dessa diminuição, o que pode ser
explicado devido à alta degradação dessa bacia hidrográfica (Pelicice et al., 2021), As
barragens foram citadas como causadoras de mudanças na água por 12% e 6% dos
entrevistados nos rios Tocantins e Tapajós, respectivamente. No rio Tocantins, atualmente,
existem sete usinas hidrelétricas em funcionamento, entre elas a segunda maior em produção
de energia totalmente brasileira: Usina Hidrelétrica de Tucuruí, inaugurada em 1984 (Almeida
et al., 2019; Castilho, 2019). Com relação a qualidade da água, o barramento dos rios é marcado
pela retenção de sedimentos nos reservatórios, que possuem águas com densidade e
temperatura estratificadas e pouco oxigênio em suas camadas mais profundas (Winemiller et
al., 2016; Winton et. al., 2019). O aprisionamento de sedimentos e nutrientes nos reservatórios
24

pode, em partes, explicar as alterações na coloração da água que foram mencionadas pelos
pescadores no rio Tocantins. A retenção de sedimentos torna a porção a jusante das barragens
menos produtiva e mais suscetível à erosão do solo, alterando as propriedades físico-químicas
da água e, além disso, aumentando sua temperatura devido a liberação da água dos
reservatórios (Manyari & Carvalho, 2007; Timpe & Kaplan, 2017; Winton et. al., 2019). As
barragens, podem afetar o pulso de inundação dos rios, interferindo na sua sazonalidade e
trazendo períodos de secas e cheias fora da época esperada, bem como alterando a duração e
intensidade desses eventos (Manyari & Carvalho, 2007; Timpe & Kaplan, 2017). As mudanças
no pulso dos rios, combinada com a diminuição da carga de sedimentos, pode atuar na
diminuição da disponibilidade de nutrientes na água e, consequentemente, gerar mudanças
ambientais (Timpe & Kaplan, 2017; Winton et. al., 2019), como apontado por uma parcela dos
entrevistados nos rios Tapajós e Tocantins, que atribuem às cheias as mudanças observadas na
qualidade da água.
No rio Tapajós, atualmente, não existem barragens instaladas, porém, uma parcela dos
pescadores entrevistados atribuem ao barramento do rio a diminuição na qualidade da água.
No rio Teles Pires, afluente do rio Tapajós, foi inaugurada em 2015 a Usina Hidrelétrica de
Teles Pires que possui capacidade instalada de 1.820 MW. Devido à conectividade hidrológica,
os ecossistemas de água doce ficam suscetíveis à ampla gama de ações antrópicas que ocorrem
a curtas e longas distâncias (Winemiller et al., 2016). Esse fenômeno pode estar contribuindo
para o declínio na qualidade da água observada no rio Tapajós, como apontado pelo CEL dos
pescadores. Os projetos existentes para o barramento deste rio representam uma grande ameaça
a esse ecossistema e sua biodiversidade podendo, junto ao garimpo que é bastante presente na
região, atuar na diminuição da qualidade da água do rio (Latrubesse et al., 2017).
No rio Tapajós está situado um dos maiores garimpos do Brasil, que conta com mais
de 300 minas de extração em pequena escala, onde atuam mais de 50.000 garimpeiros fazendo
a retirada do minério diariamente (Lobo et. al., 2017). Ainda que seja uma atividade
economicamente importante na região, o garimpo é um grande causador de degradação
ambiental, desde os estágios iniciais da implementação de um novo sítio para garimpagem. O
material orgânico oriundo da remoção da cobertura vegetal, realizada para abertura das estradas
que transportarão os minérios, frequentemente é despejado nos rios, causando aumento de
material orgânico suspenso e alterações na cor, na turbidez e na acidez da água (Rodrigues et.
al., 1994; Lobo et. al., 2016). Além disso, a utilização de mercúrio para a amalgamação do ouro
é amplamente difundida em garimpos artesanais e é acompanhada por uma série de graves
impactos ambientais, devido à alta toxicidade deste elemento. Esse conjunto de fatores atua
25

diretamente na diminuição da qualidade da água do rio Tapajós, como apontado por 64% dos
entrevistados.
O desmatamento da floresta Amazônica, que na última década vinha apresentando
reduções significativas, voltou a crescer nos últimos anos. Atualmente, estima-se que o bioma
tenha perdido cerca de 20% de sua cobertura florestal original (Souza et. al., 2020). Dados do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que, no ano de 2021, a Amazônia
Legal perdeu mais de 12.000 km² de sua vegetação. O desmatamento foi citado como um dos
causadores da diminuição da qualidade da água no rio Tocantins, que possui apenas 13.2% da
área total de sua bacia composta por áreas protegidas (em comparação, a bacia do rio Tapajós,
que possui 37%) e apresenta 19.1% de sua área total modificada pelo desmatamento, o que a
torna uma das únicas bacias hidrográficas da Amazônia a apresentar um percentual de áreas
desmatadas superior ao de áreas protegidas (Trancoso et al., 2009). A extensa perda da
vegetação nativa atua causando modificações no pulso de inundação dos rios (Melack & Coe,
2021) e diminuindo a qualidade da água através da redução da oxigenação, do aumento da
temperatura dos rios e da erosão do solo, que leva à maior descarga de sedimentos nos corpos
d’água, colaborando para o aumento da sua turbidez (Neill et al., 2001; Restrepo et al., 2015;
Ríos-Villamizar et al., 2017). Além disso, o desmatamento também está relacionado à poluição
dos rios (citada por 18% dos entrevistados no rio Tocantins como uma das causas da
diminuição da qualidade da água), uma vez que, tipicamente, o processo de desmatamento
envolve a indução de incêndios que, além de emitirem gases e aerossóis poluentes, geram
resíduos que podem ser descarregados nas águas (Oliveira et al., 2020; Ellwanger et al., 2020).
A poluição advém, também, de outras atividades antrópicas. A exploração do solo para
agricultura e a extensa utilização de agrotóxicos nas plantações (citada pelos entrevistados no
rio Tocantins) são extremamente prejudiciais aos ecossistemas aquáticos, devido ao
escoamento de resíduos agrícolas ricos em nitrogênio, fósforo e outros produtos químicos que,
ao entrarem em contato com os rios, podem gerar eutrofização do ambiente, diminuição da
oxigenação e, ainda, contaminar cadeias alimentares inteiras devido à bioacumulação (Neill et
al., 2001; Castello et al., 2013). A poluição está relacionada, ainda, à crescente urbanização
observada na Amazônia nas últimas décadas que, desacompanhada de infraestrutura adequada,
causa eutrofização da água, turbidez e aumento de material em suspensão (Ríos-Villamizar et.
al., 2017; Ferreira et. al., 2021).

5.2 “Ninguém entende mais”: mudanças nos períodos de secas e cheias


26

As secas e cheias, ninguém entende mais. (60 anos, Comunidade de Barreiras - Rio
Tapajós, setembro de 2018).

Em ambos os rios, os pescadores entrevistados relataram perceber mudanças nas secas


e cheias nos últimos anos. Nas comunidades do rio Tocantins, os dados apontam para um
ambiente mais seco, visto que um maior número de entrevistados relata que o rio está enchendo
menos durante as cheias e secando mais durante as secas. No rio Tocantins, essas mudanças no
pulso de inundação podem estar atreladas às barragens existentes no curso deste rio. Na região
a jusante, as barragens tendem a diminuir a variabilidade do pulso, através da redução da
extensão de área inundável e do volume de água liberado (Nilsson & Berggren, 2000; Poff &
Hart, 2002), enquanto que na região a montante, existem maiores chances de ocorrência de
inundações inesperadas (Prado et al., 2016). Já no rio Tapajós, parece não haver um consenso,
uma vez que a porcentagem de citações é distribuída de forma mais homogênea entre aqueles
que percebem o rio enchendo mais ou menos durante as cheias e secando mais ou menos
durante as secas.
Historicamente, períodos de secas e cheias na Amazônia relacionam-se com eventos de
El Niño e La Niña, respectivamente, e com o aumento da Temperatura Superficial do Mar
(TSM) que, em conjunto, regulam parte da variabilidade climática da América do Sul
(Marengo, 2008). Registros fluviais sugerem que, em média, a bacia Amazônica passa por um
evento climático extremo – de seca ou cheia – por década (Marengo et al., 2011), no entanto,
nos últimos anos, estes eventos intensos têm sido registrados com maior frequência. Em um
período de dez anos, a bacia foi afetada por quatro eventos extremos de cheias (nos anos de
2009, 2012, 2014 e 2015) e por dois eventos de seca considerados como os mais drásticos do
século, nos anos de 2005 e 2010, que causaram diversos impactos socioambientais (Marengo
& Espinoza, 2015).
A maior intensidade e frequência desses eventos observada nos últimos anos pode ser
relacionada às mudanças climáticas derivadas de ações antrópicas (IPCC, 2007; Cox et al.,
2008). As mudanças climáticas devem mudar os regimes de precipitação com predominância
de secas mais longas e severas na porção oriental e aumento da precipitação na parte ocidental
da Amazônia (Sorribas et al., 2016), bem como o aumento médio da temperatura dos rios
(Castello et al., 2013). O aumento da temperatura dos oceanos, intensificado por ações
antropogênicas, atua diretamente na intensificação do período de chuvas na região amazônica
e, consequentemente, na ocorrência de eventos de cheia mais drásticos e prolongados (Marengo
& Espinoza, 2015; Barichivich et al., 2018), como aqueles observados na última década. Já a
27

intensificação dos períodos de seca possui relação, também, com o aumento do desmatamento
na Amazônia, visto que a evapotranspiração realizada pela vegetação e a precipitação resultante
desse processo é fundamental para mitigar os efeitos da estação seca (Staal et al., 2018; Bagley
et al., 2014). Há, ainda, uma relação de retroalimentação entre o desmatamento e a prevalência
da estação seca, como apontado por Zemp et al., (2017), uma vez que elevadas taxas de
desmatamento tendem a intensificar períodos de seca que, por sua vez, reduzem as áreas de
vegetação através da maior ocorrência de incêndios florestais.
A intensificação e prolongação dos períodos de secas e cheias afeta diretamente a
ictiofauna presente nos rios Amazônicos, através de interferências na abundância, na biomassa
e nos processos reprodutivos dos peixes (Bodmer et al., 2018; Correia et al., 2008). Dessa
forma, a pesca na região também é impactada, podendo colocar em risco a população ribeirinha
que depende dos recursos pesqueiros para subsistência (Röpke et al. 2022).

5.2.1 Efeitos das secas nos peixes

Nos rios Tapajós e Tocantins, os entrevistados relataram que os períodos de seca tem
impactos negativos nos peixes. A redução no nível dos rios tende a fragmentar e restringir o
habitat disponível para as espécies aquáticas (Matthews et. al., 2003; Pouilly et. al., 2004; Hurd
et. al., 2016). Essa fragmentação e restrição do espaço disponível é um dos fatores responsáveis
pelo aumento da mortalidade de peixes característica dos períodos de seca (Fabré et. al., 2017;
Bodmer et. al., 2018). Isso se deve ao fato de que a interrupção da conectividade hidrológica
entre os lagos e os canais que os conectam aos rios tende a isolar as populações de peixes em
lagos e diminuir a oferta de alimento e oxigênio disponível na água (Fernandes et. al., 2009;
Hurd et. al., 2016). A interrupção da conectividade afeta, especialmente, espécies que possuem
hábitos migratórios, visto que seu deslocamento é dificultado e isso acaba afetando seu ciclo
de vida e impedindo sua reprodução (Freitas et. al., 2012; Röpke et. al., 2015).
A combinação de todos esses fatores atua diretamente na diminuição da abundância e
biomassa de peixes nos rios (Halls & Welcomme, 2004; Bodmer et al., 2018), como foi relatado
pelos entrevistados nesse estudo. Essa diminuição também pode estar relacionada à sobrepesca,
visto que nos períodos de secas há maior concentração de peixes em uma área menor,
facilitando a captura para os pescadores (Freitas et al., 2012; Endoa et al., 2016), assim como
também foi mencionado pelos entrevistados.

5.2.2 Efeitos das cheias nos peixes


28

Em ambos os rios os pescadores afirmaram que os períodos de cheia causam impactos


positivos nos peixes. As áreas de floresta inundadas pelas cheias – os igapós – representam um
habitat abundante em recursos alimentares variados para os peixes, como folhas, frutos e
pequenos invertebrados, além de fornecerem, também, abrigo contra predadores através de
raízes submersas (Goulding, 1980; Correia et. al., 2008; Hurd et. al., 2016). A conectividade
hidrológica intensificada pelo aumento do nível das águas favorece o deslocamento e a
migração das espécies, o que atua como gatilho para sua reprodução e desova (Castello, 2008;
Freitas et. al., 2012; Hurd et. al., 2016). Além disso, as áreas alagadas servem como berçários
para os peixes em seus primeiros estágios de desenvolvimento (Sanchéz-Botero & Araújo-
Lima, 2001; Lima & Araújo-Lima, 2004). Durante períodos prolongados de cheia, os peixes
permanecem por mais tempo nesse ambiente rico em nutrientes, estendendo seu período de
reprodução, o que resulta em estoques mais abundantes (Goulding et. al., 2003; Bodmer et. al.,
2018), como mencionado pelos pescadores.
O aumento na abundância de peixes nos rios não representa, necessariamente, maior
sucesso na pesca durante a época de cheia, visto que, neste período, os peixes se dispersam no
maior volume de água existente (Saint-Paul et. al., 2000; Pinho et. al., 2015), o que dificulta a
captura, como mencionado pelos pescadores nos rios Tapajós e Tocantins. Um estudo
conduzido por Tregidgo et. al. (2020) no rio Purus, no estado do Amazonas, indica que, durante
os períodos de cheia, grande parte das famílias ribeirinhas precisam substituir o peixe por outras
fontes de proteína ao menos uma vez por mês, devido à dificuldade de realizar a captura dos
peixes nesse período. Além disso, a criação de animais e de pequenas plantações para o
consumo próprio das famílias também pode ser prejudicada devido ao aumento no nível dos
rios e possíveis alagamentos (Coomes et. al., 2010; Tregidgo et. al., 2020). Tais questões
evidenciam que eventos extremos de cheias impactam diretamente a segurança alimentar e
econômica das populações ribeirinhas.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados demonstram que a diminuição na qualidade da água é percebida em


ambos os rios, visto que os pescadores relatam que a água está mais suja e barrenta. A presença
29

de barragens e do garimpo nos rios Tocantins e Tapajós, respectivamente, foram citadas como
as principais causadoras do declínio observado na qualidade da água. Em relação às alterações
no pulso de inundação dos rios, os pescadores relatam períodos mais secos no rio Tocantins,
enquanto que no rio Tapajós as entrevistas apontam para períodos de secas e cheias mais
variáveis. De acordo com os ribeirinhos, durante a seca ocorre uma diminuição significativa na
abundância de peixes nos rios devido à sua maior mortalidade e, também, à maior pressão
pesqueira que ocorre nestes períodos. Já as cheias, segundo os entrevistados, são propícias para
o aumento dos estoques pesqueiros e para a diminuição do sucesso da pesca, devido à maior
dificuldade de realizar a captura dos peixes neste período.
As entrevistas revelaram que os pescadores detêm conhecimentos valiosos acerca do
funcionamento dos ecossistemas aquáticos, devido ao seu modo de vida que exige constante
contato com este ambiente. As mudanças ambientais na qualidade da água e no regime de secas
e cheias por eles observadas, além de impactarem diretamente a biodiversidade dos rios,
representam uma grande ameaça à pesca artesanal praticada na região, o que coloca o modo de
vida dessas populações em risco, visto que a pesca ocupa um lugar de extrema importância na
segurança financeira e alimentar dos ribeirinhos.

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41

APÊNDICE 1:

Roteiro do questionário semiestruturado aplicado nas entrevistas sobre mudanças no ciclo


hidrológico dos rios e na qualidade da água ressaltando as perguntas analisadas neste estudo:

Nome: Idade: Comunidade: Data:__/__/__


Sexo: ( ) M ( ) F Tempo de pesca: Quanto tempo mora na região?

1) Notou alguma mudança nas secas/cheias desde que começou a pescar


profissionalmente/para se sustentar? Quais? Por quê?
2) As secas afetam os peixes? Como?
3) As cheias afetam os peixes? Como?
4) Notou alguma mudança na qualidade da água desde que começou a pescar
profissionalmente/para se sustentar? Quais? Por quê?

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