Andressa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

ANDRESSA PADOVANI GIL

ALTERAÇÕES NO CORREDOR FLUVIAL DO BAIXO CURSO


DO RIO DOCE EM 1987 E 2011 - LINHARES, ES

VITÓRIA

2017
ANDRESSA PADOVANI GIL

ALTERAÇÕES NO CORREDOR FLUVIAL DO BAIXO CURSO


DO RIO DOCE EM 1987 E 2011 - LINHARES, ES

Monografia apresentada ao Departamento de


Geografia do Centro de Ciências Humanas e
Naturais da Universidade Federal do Espírito
Santo, como requisito parcial para obtenção de
grau de bacharel em Geografia.
Orientador: Prof. Dr. André Luiz Nascentes
Coelho

VITÓRIA

2017

ANDRESSA PADOVANI GIL


ALTERAÇÕES NO CORREDOR FLUVIAL DO BAIXO CURSO
DO RIO DOCE EM 1987 E 2011 - LINHARES, ES

Monografia apresentada ao Departamento de Geografia do Centro de Ciências


Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito para
obtenção do grau de Bacharelado em Geografia.

COMISSÃO EXAMINADORA

__________________________________________
Prof. Dr. André Luiz Nascentes Coelho
Universidade Federal do Espírito Santo
Orientador

__________________________________________
Profª. Drª. Ana Christina Wigneron Gimenes
Universidade Federal do Espírito Santo

__________________________________________
Prof. Msc. André Luis Demuner Ramos
Doutorando / PPGG - UFES
Examinador externo
Ao vô Padovani, com muitas saudades. Por
todo o, aqui, indizível.
AGRADECIMENTOS

São muitos...

A primeira pessoa pela qual sinto gratidão neste momento é meu orientador,
professor André Coelho. André, muito obrigada, mais uma vez, por todos os
ensinamentos, pelo incentivo, apoio, paciência, a disponibilidade de sempre e a
confiança desde a etapa da iniciação científica. Por acreditar na minha capacidade e
me ajudar a acreditar também. Pelo bom exemplo de ética e por incentivar que nós,
alunos, caminhemos com nossas próprias pernas. Obrigada!

Um agradecimento imensurável a toda a família Mousinho, por fazerem de sua casa,


a minha também. Em especial à “tia” Eliana, por absolutamente tudo, pelo
acolhimento cheio de amor e preocupação típico de uma mãe.

Ao Cainã... e as várias madrugadas lutando pra ficar acordado só pra estar ao meu
lado e me ajudar nessa luta também. Por me ouvir falar de coisas que você não
entendia. Pela paciência nos momentos de estresse e por estar sempre presente.
Enfim... por embarcar nessa junto comigo. Por tudo. Sua companhia me fez mais
forte.

Aos meus Professores, com P maiúsculo. Todos eles, desde o ensino fundamental à
graduação, das atividades extras, dos esportes praticados. Pois infelizmente, aqui
no Brasil, vocês não têm o seu valor merecido. E eu agradeço imensamente por
ainda assim persistirem.

Ao Adolpho, por ser um excelente líder. Pelo apoio e compreensão de sempre.

Aos meus amigos, por dividirem os melhores e piores momentos e fazerem tudo
valer a pena. Em especial, Pedro, Thaliá, Nati...

Ao meu tio Carlinho, pelo incentivo desde o começo da graduação e pela ajuda
absolutamente desmedida sempre que precisei.

Meu pai, meu irmão. Imensas saudades.

A minha mãe, minha maior fã, por aguentar todas as barras imagináveis pra fazer
tudo dar certo. E deu. Desculpe vir parar tão longe de você. Te amo sem limites.
RESUMO

Historicamente, as áreas planas e mais próximas aos rios foram as primeiras


ocupadas, dada sua facilidade de construção e acesso, bem como os diversos usos
hídricos que dispõem à sociedade. Nas áreas urbanizadas, a dinâmica das águas
superficiais é profundamente alterada, a partir da modificação dos ambientes e da
inserção de novos elementos, além das intervenções realizadas diretamente nos
cursos d’água. Neste sentido, os acontecimentos ocorridos dentro de uma bacia
hidrográfica repercutem direta ou indiretamente em seus cursos d’água, e os tipos
de uso da terra podem intensificar os processos erosivos e agravar o assoreamento
dos rios. Esta é a realidade da bacia do rio Doce, localizada nos estados de Minas
Gerais e Espírito Santo, com uma área de drenagem de aproximadamente 83 mil
km², cujo processo de ocupação causou um expressivo desmatamento da
vegetação nativa. Partindo da hipótese de que o assoreamento do leito do rio Doce
tem se intensificado nas últimas décadas, em especial no seu baixo curso, esta
pesquisa teve como objetivo principal analisar as transformações ocorridas no
corredor fluvial do rio Doce, no município de Linhares/ES, onde o rio deságua no
oceano, através da delimitação e análise de suas margens e das feições
deposicionais presentes em seu leito em 1987 e 2011. As análises foram feitas com
o auxílio de imagens do satélite Landsat 5 em ambiente SIG, a partir das quais se
realizou a classificação supervisionada Máxima Verossimilhança para diferenciar e
posteriormente quantificar os dois tipos de feições deposicionais identificadas no
leito: ilhas vegetadas e bancos arenosos. Os resultados da pesquisa confirmaram a
hipótese inicial, demonstrando que houve redução expressiva na área do corredor
fluvial deste trecho do rio Doce: a área do leito do rio reduziu de 96,15km² em 1987
para 93,75km² em 2011; enquanto a área das feições deposicionais do tipo “ilhas
vegetadas” aumentou de 13,814km² em 1987 para 21,61km² em 2011. A
metodologia utilizada, combinando técnicas de sensoriamento remoto em ambiente
SIG mostrou-se satisfatória para atingir os objetivos propostos, possibilitando uma
visão ampla do trecho fluvial analisado.

Palavras-chave: Bacia hidrográfica rio Doce, assoreamento, feições deposicionais,


sensoriamento remoto.
ABSTRACT

Historically, the flat areas and closest to the rivers were the first occupied, given their
ease of construction and access, as well as the various water uses available to
society. In urban areas, the dynamics of surface water are profoundly altered, due to
the modification of the environments and the insertion of new elements, as well as
the interventions carried out directly in the water courses. So, events occurring within
a river basin cause a direct or indirect impact on its watercourses, and types of land
use can intensify erosion processes and aggravate river siltation. This is the reality of
the Doce river basin, located in the states of Minas Gerais and Espírito Santo, with a
drainage area of approximately 83,000 km², whose occupation process caused a
significant deforestation of the native vegetation. Based on the hypothesis that the
sedimentation of the Doce river bed has intensified in the last decades, especially in
its low course, this research had as main objective to analyze the transformations
occurred in the fluvial corridor of the river Doce, in Linhares / ES, where the river
flows into the ocean, through the delimitation and analysis of its banks and the
depositional features present in its bed in 1987 and 2011. The analyzes were done
with the aid of Landsat 5 satellite images in GIS environment, from which the
supervised classification Maximum Likelihood was carried out to differentiate and
later quantify the two types of depositional features identified in the bed: vegetated
islands and sandy banks. The results of the research confirmed the initial
hypothesis, demonstrating that there was an expressive reduction in the fluvial
corridor area of this section of the Doce river: the river bed area decreased from
96.15km² in 1987 to 93.75km² in 2011; while the area of depositional features of the
"vegetated islands" type increased from 13.814km² in 1987 to 21.61km² in 2011. The
methodology used, combining remote sensing techniques in a GIS environment, was
satisfactory to reach the proposed objectives, allowing a broad view of the fluvial
section analyzed.

Key words: Doce river basin, sedimentation, depositional features, remote sensing.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ciclo hidrológico.........................................................................................15

Figura 2 - Perfis transversal e longitudinal de rio.......................................................18

Figura 3 - Tipos de leitos fluviais................................................................................20

Figura 4 - Tipo de canal meandrante.........................................................................26

Figura 5 - Tipo de canal anastomosado.....................................................................27

Figura 6 - Localização das estações fluviométrica e pluviométrica em Colatina, na


bacia do rio Doce........................................................................................................33

Figura 7 - Catálogo de imagens temporais do satélite Landsat 5..............................34

Figura 8 - Comparação entre as bandas 2, 3 e 4 em imagem do satélite Landsat 5,


destacando as feições deposicionais no leito do rio Doce,
Linhares.....................................................................................................................39

Figura 9 - Polígonos criados na classificação das feições deposicionais no leito do


baixo curso do rio Doce e delimitação de suas margens em 2011............................40

Figura 10 - Segmentos de análise no baixo curso do rio Doce no município de


Linhares, ES...............................................................................................................42

Figura 11 - Localização da área de estudo: baixo curso do rio Doce no município de


Linhares, ES...............................................................................................................43

Figura 12 - Morfoesculturas da bacia do rio Doce......................................................46

Figura 13 - Unidades geomorfológicas do baixo curso do rio Doce no município de


Linhares, ES...............................................................................................................47

Figura 14 - Mapa hipsométrico da bacia do rio Doce.................................................48

Figura 15 - Perfil longitudinal no canal do rio Doce....................................................49

Figura 16 - Mapa de suscetibilidade à erosão da bacia do rio Doce.........................53

Figura 17 - Segmento 1: Delimitação da área do leito do rio Doce, Linhares, para


1987 (em azul) e 2011 (em vermelho).......................................................................57

Figura 18 - Segmento 1: Alterações observadas nas feições deposicionais no leito


do rio Doce, Linhares.................................................................................................58

Figura 19 - Ilha vegetada apontada no Segmento 1 crescendo em direção à margem


esquerda do rio Doce.................................................................................................59
Figura 20 - Segmento 2: Delimitação do leito do rio Doce, Linhares, para 1987 (em
azul) e 2011 (em vermelho)........................................................................................61

Figura 21 - Foto aérea do enrocamento na margem côncava do rio Doce, Linhares,


no segmento 2............................................................................................................62

Figura 22 - Vista da estrada do enrocamento na margem côncava do rio Doce,


Linhares, no segmento 2............................................................................................62

Figura 23 - Segmento 3: Delimitação das margens do rio Doce, Linhares, para 1987
(em azul) e 2011 (em vermelho)................................................................................64

Figura 24 - Foto aérea de antes e depois da implantação do enrocamento na


margem do rio Doce, Linhares, no segmento 3.........................................................65

Figura 25 - Segmento 3: Alterações observadas nas feições deposicionais no leito


do rio Doce, Linhares.................................................................................................66

Figura 26 - Segmento 4: Delimitação do leito do rio Doce, Linhares, para 1987 (em
azul) e 2011 (em vermelho)........................................................................................68

Figura 27 - Foto aérea de antes e depois da implantação do enrocamento na


margem do rio Doce, Linhares, no segmento 4.........................................................69

Figura 28 - Esquematização da dinâmica sedimentar na foz do rio Doce.................71

Figura 29 - Áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade na bacia.........80


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Data de passagem das imagens com baixa cobertura de nuvens do


satélite Landsat 5 e sua respectiva vazão registrada no dia......................................35

Tabela 2 - Principais características e aplicações das bandas dos satélites Landsat 5


e 7...............................................................................................................................38

Tabela 3 - Taxonomia do relevo da bacia do rio Doce...............................................45

Tabela 4 - Declividades encontradas na bacia do rio Doce.......................................49

Tabela 5 - Classes de suscetibilidade à erosão na bacia do rio Doce.......................52

Tabela 6 - Uso e ocupação da terra na bacia do rio Doce em 2006..........................54

Tabela 7 - Alterações observadas no corredor fluvial do rio Doce em 1987 e


2011............................................................................................................................72

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Média vazão anual histórica do rio Doce, na estação de Colatina, de 1983
a 2013.........................................................................................................................73

Gráfico 2 - Comparação entre média vazão anual e precipitação anual acumulada na


estação de Colatina, de 1983 a 2013.........................................................................74

Gráfico 3 - Mínima vazão anual histórica do rio Doce, na estação de Colatina, de


1983 a 2013................................................................................................................75

Gráfico 4 - Máxima vazão anual histórica do rio Doce, na estação de Colatina, de


1983 a 2013................................................................................................................75
LISTA DE SIGLAS

ANA - Agência Nacional das Águas

APPs - Áreas de Preservação Permanente

CBH - Comitê de Bacia Hidrográfica

CCHN - Centro de Ciências Humanas e Naturais

CPRM - Serviço Geológico do Brasil

EFVM - Estrada de Ferro Vitória-Minas

EMT - Enhanced Thematic Mapper

EPE - Empresa de Pesquisa Energética

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

LANDSAT - Land Remote Sensing Satellite

LCGGEO - Laboratório de Cartografia Geográfica e Geotecnologias

PCTs - Pontos de Controle Terrestres

PIRH - Plano Integrado de Recursos Hídricos

REBIO - Reserva Biológica

SANEAR - Serviço Colatinense de Meio Ambiente e Saneamento Ambiental

SIG - Sistemas de Informações Geográficas

SIRGAS - Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas

TM - Thematic Mapper

UCs - Unidades de Conservação

UFES - Universidade Federal do Espírito Santo

UHEs - Usinas Hidrelétricas

UTM - Universal Transversa de Mercator


SUMÁRIO

Introdução.................................................................................................................13

1 Fundamentação teórica e conceitual..................................................................15

1.1 Ciclo hidrológico e ação das águas.................................................................15

1.2 Fisiografia e processo fluvial ...........................................................................17

1.2.1 Tipos de leitos e corredor fluvial...............................................................19

1.2.2 Tipos de fluxos..........................................................................................20

1.2.3 O trabalho dos rios: erosão, transporte e deposição................................21

1.2.4 Tipos de canais fluviais.............................................................................24

1.3 Bacias hidrográficas.........................................................................................28

1.3.1 Intervenção nos cursos d’água.....................................................................30

2 Materiais e métodos..............................................................................................32

2.1 Aquisição e leitura de bibliografia sobre a temática.........................................32

2.2 Aquisição de dados da área de estudo............................................................32

2.3 Tratamento dos dados.....................................................................................36

2.3.1 Dados hidrológicos...................................................................................36

2.3.2 Dados vetoriais e matriciais......................................................................37

2.4 Análise, interpretação dos dados e produção do texto....................................41

3 Localização e caracterização da área de estudo................................................42

3.1 Aspectos hidrológicos......................................................................................43

3.2 Aspectos geológicos e geomorfológicos..........................................................44

3.3 Aspectos climáticos..........................................................................................49

3.4 Aspectos pedológicos e suscetibilidade à erosão............................................50


3.5 Uso e cobertura da terra na bacia ...................................................................52

4 Resultados e discussões......................................................................................55

4.1 Segmento 1.....................................................................................................57

4.2 Segmento 2.....................................................................................................61

4.3 Segmento 3.....................................................................................................64

4.4 Segmento 4.....................................................................................................68

Considerações finais...............................................................................................82

Referências...............................................................................................................84

Anexos.......................................................................................................................87

Anexo A......................................................................................................................87

Anexo B......................................................................................................................88

Anexo C......................................................................................................................89

Anexo D......................................................................................................................90
INTRODUÇÃO

Historicamente, as áreas planas e mais próximas aos rios são as primeiras a serem
ocupadas, devido a sua facilidade de construção e acesso, bem como os diversos
tipos de usos que lhe dispõem, tais como o preparo de alimentos, higiene,
navegação, irrigação, entre outros (JORGE, 2011). Botelho (2011) também
evidencia que as intervenções antrópicas nos recursos hídricos ocorrem desde o
surgimento das primeiras comunidades humanas, contudo, as maiores intervenções
têm sido registradas em tempos historicamente mais recentes, notadamente nas
margens dos rios e em linha de costa.

Christofoletti (1980) afirma que todos os acontecimentos ocorridos na bacia de


drenagem repercutem, direta ou indiretamente, nos rios. Portanto, as mudanças
ocorridas nos tipos de uso e ocupação da terra da bacia e os processos erosivos
podem alterar drasticamente a dinâmica fluvial, em suas formas e processos.
Destacam-se em especial as bacias hidrográficas urbanas, nas quais os caminhos
percorridos pela água e os processos do ciclo hidrológico são profundamente
alterados, a partir da modificação dos ambientes e da inserção de novos elementos
adicionados pelo homem como edificações, pavimentação, canalização e retificação
de rios, entre outros (BOTELHO, 2011).

Essa realidade atinge grande parte das bacias hidrográficas brasileiras, do mesmo
modo que ocorre com a bacia do rio Doce, que possui uma área expressiva, de
83.465 km², localizada nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. O processo de
ocupação da bacia levou a um intenso desmatamento das florestas nativas, por
meio da urbanização e das diversas atividades econômicas, repercutindo direta ou
indiretamente no leito do rio Doce.

Os eventos recentes de severa estiagem pela qual a região sudeste do país vem
enfrentando, incluindo o Espírito Santo, denunciaram a fragilidade hídrica e a falta
de sustentabilidade na qual muitas bacias hidrográficas brasileiras enfrentam. Além
disso, o episódio do rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana

13
(MG) que atingiu diretamente o rio Doce, é apenas um dos exemplos de negligência
e despreparo com o qual a sociedade tem tratado as bacias e seus cursos d’água.

Neste sentido, o presente estudo procurou analisar as transformações ocorridas no


baixo curso do rio Doce baseado na percepção de uma necessidade de evidenciar a
extrema importância deste rio e a negligência com o qual ele tem sido tratado.
Assim, a pesquisa partiu da hipótese de que o assoreamento no leito do rio Doce
tem se intensificado nas últimas décadas, e teve como objetivo principal: analisar as
transformações ocorridas no corredor fluvial do baixo curso do rio Doce, no
município de Linhares, em 1987 e 2011. Para isto, foram utilizadas imagens de
satélite temporais, cujas datas de passagem registraram baixas vazões do rio
(período de vazante), com valores aproximados. Como objetivos específicos:

Mapear, quantificar e analisar as feições deposicionais presentes no leito do


rio Doce em ambos os períodos, dividindo-as em duas classes: de bancos
arenosos e ilhas vegetadas;

Analisar as alterações no leito do rio Doce a partir da delimitação de suas


margens para ambos os períodos;

Analisar os dados históricos de precipitação e vazão do rio Doce de 1983 a


2013, a fim de identificar o comportamento hidrológico no período e sua
relação com as alterações ocorridas no corredor fluvial;

Relacionar os condicionantes socioambientais da bacia às alterações


ocorridas no corredor fluvial.

Espera-se, com esta pesquisa, evidenciar os problemas presentes na bacia do rio


Doce e a necessidade da tomada de ações e de gestão mais eficazes a fim de
minimizar os impactos ambientais, em especial, o problema de assoreamento do rio.

14
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONCEITUAL

1.1 Ciclo hidrológico e ação das águas

A água constitui um dos elementos físicos mais importantes na composição e


transformação da paisagem terrestre, pois interliga fenômenos da atmosfera interior
e da litosfera, interferindo direta ou indiretamente na vida vegetal-animal e humana,
a partir da interação com os demais elementos do seu ambiente de drenagem.
Dentre suas múltiplas e importantes funções, destaca-se em especial seu papel
como agente modelador do relevo da superfície terrestre (NETTO, 2001).

O ciclo hidrológico, enquanto fenômeno de circulação da água entre a atmosfera e a


superfície terrestre, é considerado um sistema fechado, a nível global (não há
entrada nem saída de água do planeta), e aberto, a nível local, pois o volume
precipitado em determinada região pode ter origem de outras áreas. O ciclo
hidrológico apresenta os seguintes componentes, que podem ser observados na
Figura 1: evaporação/evapotranspiração, precipitação, interceptação, infiltração,
percolação e escoamento superficial (ou drenagem de superfície) (BOTELHO;
SILVA, 2007; TUNDISI; TUNDISI, 2011).

Figura 1 - Ciclo hidrológico.


Fonte: Adaptado de Tundisi; Tundisi (2011).

15
O ciclo hidrológico não é igual em todo o planeta, e a disponibilidade de água doce
varia de acordo com sua localização geográfica (dependendo de sua latitude e
altitude), o clima e o tipo de ambiente em que se encontra, que afetará diretamente
os processos que o compõem.

O ciclo hidrológico é o ponto de partida do processo erosivo (GUERRA, 2001). A


precipitação, por sua vez, é um importante fator-controle do ciclo hidrológico. As
quantidades relativas de precipitação, seus regimes sazonais ou diários e as
intensidades de alguns eventos individuais são algumas das características que
afetam a natureza e a magnitude do trabalho geomorfológico em bacias de
drenagem (NETTO, 2001).

Botelho (2011) explica que a entrada da água nos sistemas terrestres, na forma de
precipitação, desencadeia uma série de processos e possíveis trajetos que
dependem das características da própria precipitação e também, sobretudo, dos
atributos e condições das diferentes esferas por onde irá circular. Parte da água é
interceptada pela vegetação: seja por gramíneas ou pela copa das árvores, sendo
que uma parcela dessa água volta à atmosfera por evaporação, e outra parte chega
ao solo, por gotejamento das folhas ou escoando pelo tronco. A ação direta das
gotas de chuva causa a erosão por salpicamento (ou splash) (GUERRA, 2001).

Outra parcela de água precipitada pode, ainda, atingir diretamente os cursos d’água,
se convertendo diretamente em vazão (POLETO, 2014), ou atingir superfícies
impermeabilizadas pelo homem.

A parcela de água que chega ao solo pode ser armazenada em pequenas


depressões ou se infiltrar, aumentando a umidade do solo e abastecendo o lençol
freático. A taxa de infiltração é o índice que mede a velocidade com que a água da
chuva se infiltra no solo (Morgan, 1986, apud Guerra, 2001), e ela pode variar de
acordo com a intensidade do evento chuvoso e com as características dos solos.
Quando o solo atinge sua capacidade máxima de absorção e se satura, o excesso
de água começa a se mover em superfície ou subsuperfície, podendo provocar a
erosão através do escoamento das águas (GUERRA, op. cit.).

16
Nesse sentido, fica evidente o papel da água como agente modelador da superfície
terrestre. A água erode, transporta e deposita a carga detrítica de acordo com as
características ambientais de cada local. A seguir, serão discutidos alguns
processos e características que ocorrem nos sistemas fluviais e o importante
trabalho que os rios executam.

1.2 Fisiografia e processo fluvial

Christofoletti (1981) aponta que a dinâmica e as formas topográficas resultantes da


ação fluvial sempre chamaram a atenção dos pesquisadores, desde os primórdios
da história das geociências, visto que os rios possuem um importante papel na
modelagem do relevo terrestre.

Segundo Christofoletti (1980), os rios funcionam como canais de escoamento de


água. Quanto ao conceito de “rio”, o autor destaca que, nos dicionários, um rio é
considerado uma corrente contínua de água, mais ou menos caudalosa, que
deságua em outra, no mar ou em lago. Assim como Suguio (2003, apud GUERRA E
MARÇAL, 2012), ele aponta que, em termos geológicos e geomorfológicos, “rio”
aplica-se exclusivamente para fluxos canalizados e confinados, que dependendo do
suprimento de água podem ser: efêmeros, para os canais que ficam secos a maior
parte do ano e comportam o fluxo de água apenas durante e imediatamente após a
precipitação; intermitentes, quando ficam secos em determinada parte do ano; e
perenes, quando drenam água em todo o período do ano. Cunha (2003) define os
rios como um amplo corpo de água em movimento, confinado em um canal, cujo
termo é usado geralmente para indicar o principal tronco do sistema de drenagem.

O volume de água escoado em determinado canal varia ao longo do tempo por


conta de uma série de fatores, como o regime de precipitação, condições de
infiltração e drenagem subterrânea. Essa variação do nível das águas fluviais
corresponde ao regime fluvial, e o volume de água escoada, medido por metros
cúbicos por segundo, corresponde à sua vazão (CHRISTOFOLETTI, 1980). Por sua
vez, mudanças que ocorrem na vazão do rio implicam em alterações e ajustamentos
em diversas variáveis do canal fluvial, como sua largura e profundidade, velocidade

17
média das águas, rugosidade do leito, concentração de sedimentos, entre outros
(CUNHA, 2001), interferindo diretamente na configuração do corredor fluvial dos
rios.

O perfil transversal (Figura 2) representa a seção transversal (ou forma) do canal,


que varia com o maior ou menor volume de água, resultando do produto da
profundidade média pela largura total (CUNHA, 2001.). Christofoletti (1981) destaca
que os processos de entalhamento e deposição resultam em ajustamentos do canal
diante das diversas variáveis que sobre ele atuam, modificando sua forma.

Figura 2 - Perfis transversal e longitudinal de rio.


Fonte: Adaptado de Projeto Prof2000.

Além da seção transversal, o perfil longitudinal de um curso d’água é a


representação visual da relação entre a altimetria e o comprimento de um rio,
mostrando sua declividade (ou gradiente), cujo formato reflete o ajuste do rio aos
diferentes fatores que atuam sobre ele: volume e carga da corrente, tamanho e peso
dos sedimentos transportados, declividade, geologia da calha e regime de chuvas
(CUNHA, 2001).

Cunha (2001) ainda destaca que um perfil típico em equilíbrio possui formato
côncavo, com as maiores declividades nas nascentes, assumido quando há uma
relação de igualdade entre a atuação da erosão, do transporte e da deposição.
Neste sentido, a forma do perfil longitudinal do rio procura atingir o estado de
18
equilíbrio, que ocorre quando existe um balanço entre a descarga líquida, o
transporte de sedimentos, a erosão e a deposição, de tal modo que o rio mantenha
uma proporcionalidade do tamanho de sua calha, da nascente até a foz.

Segundo Christofoletti (1980), a ideia de um perfil de equilíbrio fluvial foi inicialmente


proposta no século XVII. Desde então, diversos autores propuseram ideias sobre o
assunto, sendo que a partir de 1950, passou-se a empregar o conceito de
estabilidade em sistemas abertos no estudo da dinâmica fluvial. Nessa perspectiva,
o estado de estabilidade se atinge quando ocorre um equacionamento entre a
importação e exportação de energia e matéria no sistema fluvial, que se exprime
pelo ajuste das formas do próprio sistema, sendo ele autorregulador diante de
qualquer alteração que seja submetido.

1.2.1 Tipos de leitos e corredor fluvial

O leito fluvial (Figura 3) corresponde ao espaço ocupado pelo escoamento das


águas, cuja configuração se dá por conta da frequência das descargas e a
topografia do canal, sendo eles (CHRISTOFOLETTI, 1980; TRICART, 1966 apud
CUNHA, 2001):

Leito de vazante: está inserido no leito menor, constantemente serpenteando


entre suas margens e acompanhando o talvegue, que é a linha de maior
profundidade do leito;
Leito menor: corresponde à parte do canal ocupada pelas águas cuja
frequência de escoamento impede o crescimento de vegetação, normalmente
entre margens bem definidas.
Leito maior periódico ou sazonal: corresponde à parte que é ocupada
regularmente pelas cheias, pelo menos uma vez por ano;
Leito maior excepcional: por onde correm as cheias mais elevadas, no
decorrer de enchentes, cuja frequência obedece a intervalos irregulares,
podendo se estender a dezenas de anos.

19
Figura 3 - Tipos de leitos fluviais.
Fonte: Adaptado de Christofoletti (1980).

Já o conceito de corredor fluvial, segundo Cunha (2012), corresponde ao espaço


ocupado pelo canal e seu entorno, como as margens e a planície de inundação.

1.2.2 Tipos de fluxos

Christofoletti (1981) destaca que duas forças externas principais atuam sobre a água
que flui em canais abertos: a gravidade e a fricção. A força da gravidade possibilita o
escoamento das águas das partes mais altas para as mais baixas, de acordo com as
declividades ao longo do perfil longitudinal dos rios. Por outro lado, ao escoar, o
contato da água com a superfície delimitante do canal (leito e margens) sofre a ação
da fricção, promovendo uma ação de retardamento, cuja direção é contrária à do
fluxo. A fricção tende a separar as partículas de água, e, portanto, recebe o nome de
força de cisalhamento. Nesse sentido, em canais abertos, ocorrem diversos tipos de
fluxos de escoamento de água, cujos principais são do tipo laminar ou turbulento.

Segundo o autor, o fluxo laminar ocorre quando a água escoa por um canal reto,
suave, a baixas velocidades, fluindo em camadas paralelas acomodadas umas
sobre as outras, não havendo difusão nem mistura entre elas.

Quando a velocidade das águas excede determinado valor crítico, o fluxo torna-se
turbulento, caracterizado por uma variedade de movimentos caóticos, heterogêneos,
com diversas correntes secundárias que são contrárias ao fluxo principal que segue
a jusante. Neste tipo de fluxo, as velocidades das camadas são mutáveis ao longo
do tempo nos perfis transversal e longitudinal, flutuando de maneira aleatória e
20
causando uma mistura constante entre si, com partículas de menor velocidade
penetrando nas camadas mais rápidas, e vice-versa. Os fatores que afetam a
velocidade crítica, permitindo que o fluxo se torne turbulento, são a viscosidade e a
densidade do fluido, a profundidade da água e a rugosidade da superfície do canal.
Quanto maior for a viscosidade do fluido, maior será a velocidade necessária para
tornar o fluxo turbulento.

Cunha (2001, p. 227) destaca que a velocidade das águas, por sua vez, depende de
fatores como a declividade do perfil longitudinal, o volume das águas, a forma do
perfil transversal, o coeficiente de rugosidade do leito e a viscosidade da água. Além
disso, a velocidade das águas se distribui de um lugar para o outro, no sentido
vertical, transversal e longitudinal, e de modo geral, ela diminui da superfície para o
fundo e do centro para as margens (CHRISTOFOLETTI, 1981). Estas noções são
importantes, pois a velocidade e a turbulência das águas estão intimamente
relacionadas com o trabalho que o rio executa, como será abordado a seguir.

1.2.3 O trabalho dos rios: erosão, transporte e deposição

Os rios são considerados importantes agentes geomorfológicos por sua capacidade


de erosão, transporte e deposição de sedimentos. Segundo Cunha (2001), esses
processos fluviais alternam-se ao longo do tempo e são definidos, espacialmente,
pela distribuição da velocidade e da turbulência do fluxo dentro do canal, que varia
ao longo de seu perfil. São interdependentes e influenciam diretamente um ao outro
em uma relação complexa, resultando não apenas nas mudanças de fluxo, mas
também da carga em transporte.

Todo o material erodido e transportado pelo rio compõem a sua carga detrítica.
Christofoletti (1981) destaca que uma parcela da carga detrítica dos cursos d’água é
obtida pela ação erosiva das águas sobre as margens e o fundo do leito, entretanto,
a maior parte é fornecida pela remoção detrítica das vertentes.

A erosão no leito fluvial pode ocorrer através de três processos diferentes: corrosão,
corrasão (ou abrasão) e cavitação. A corrosão engloba todo processo químico que

21
se realiza a partir da reação do contato entre a água e as superfícies do canal fluvial.
A corrasão, por sua vez, é o desgaste que ocorre pelo atrito mecânico da água
sobre o canal, através do impacto das partículas carregadas pela água, tendendo a
reduzir a rugosidade do leito. Já a cavitação ocorre apenas sob condições de
velocidades elevadas do fluxo de água, quando as variações de pressão sobre as
paredes do canal facilitam o intemperismo. Sendo assim, a capacidade de erosão
das águas no leito depende da velocidade e turbulência, do volume e das partículas
(CHRISTOFOLETTI, 1980; CUNHA, 2001; NOVO, 2008).

Independente da origem das partículas, elas possuem tamanho e formas variadas,


cuja composição depende de vários fatores ambientais, como o clima, o regime
hidrológico, estrutura geológica, condições topográficas e cobertura vegetal da
bacia. Estes elementos governam também a capacidade de transporte dos
sedimentos, que varia de acordo com a densidade da água, a declividade do canal
(ação gravitacional), rugosidade do leito, velocidade e turbulência das águas, a
granulometria das partículas, entre outros. A capacidade de um rio refere-se a
quantidade máxima de material que ele consegue transportar em seu leito
(CHRISTOFOLETTI, 1981).

Novo (2008) destaca que, dependendo de sua composição e granulometria, as


partículas são transportadas por solução, suspensão ou pelo leito do rio. A carga
dissolvida é formada pelos íons e moléculas derivados do intemperismo químico,
cuja composição depende dos fatores ambientais em que a bacia se encontra. Ela é
transportada na mesma velocidade da água e carregada até onde a água caminhar.

A carga em suspensão é constituída de partículas sólidas, orgânicas ou inorgânicas,


normalmente de granulometria reduzida (argila e silte), cuja dimensão e o peso
permitem que sejam mantidos suspensos pelo fluxo turbulento. Também é
transportada na mesma velocidade que a água, até onde a turbulência for suficiente
para mantê-la: ao atingir esse limite crítico, as partículas se precipitam e se
depositam no fundo do rio, normalmente em trechos de águas mais calmas ou em
lagos. Segundo Christofoletti (1981), nos rios brasileiros, a carga em suspensão é
bem maior que a carga dissolvida. Ainda assim, os valores médios da carga em

22
suspensão são relativamente pequenos, sendo que as bacias Platina e do rio Doce
são as de valores mais elevados (CHRISTOFOLETTI, 1981).
Já a carga do leito do rio é composta por partículas de maior granulometria, como
areia e cascalhos. São transportadas por saltação, deslizamento ou rolamento no
fundo, em uma velocidade menor que a do fluxo, devido a seu volume e densidade
maiores, sendo deslocados de modo intermitente (CHRISTOFOLETTI, 1981).

Além da noção de capacidade, Novo (2008) destaca que a competência de um rio


diz respeito à dimensão da maior fração de partícula que ele pode transportar.
Christofoletti (1981, p. 31) observa que a granulometria dos sedimentos fluviais vai
diminuindo em direção a jusante, representando uma diminuição na competência do
rio. Inicialmente, acreditava-se que essa queda na competência era explicada por
uma suposta menor velocidade das águas neste setor. Entretanto, estudos
apontaram que, a jusante, a velocidade permanece constante ou aumenta, além de
que o aumento da profundidade torna o fluxo mais eficiente, refutando essa ideia.
Entretanto, a diminuição da declividade é mais rápida que o aumento da
profundidade, o que faz com que o rio perca competência por conta da diminuição
da força de cisalhamento.

Segundo Cunha (2001), ao longo do perfil transversal, a velocidade e a turbulência


das águas são variáveis, definindo locais preferenciais de erosão e deposição dos
sedimentos. Novo (2008) destaca que os rios podem depositar sua carga em
qualquer ponto ao longo do perfil longitudinal, entretanto, a maior parte é depositada
nas seções onde o gradiente do canal é pequeno, ou onde ocorrem mudanças
bruscas de gradiente, de profundidade ou de velocidade das águas, neste caso
havendo apenas o transporte de partículas de tamanho reduzido. Dessa forma, a
erosão e a deposição diferenciais ao longo do rio ocasionam diferentes tipos de
depósitos fluviais, que são classificados em função do local em que ocorrem: os
depósitos de canal e os depósitos de planície de inundação (CUNHA, 2001). Estes
depósitos dão origem a diferentes formas de canal, como será discutido no item a
seguir.

23
1.2.4 Tipos de canais fluviais

Ao erodir, depositar e transportar sedimentos, os rios produzem canais de diferentes


formas, que refletem seu ajustamento ao tipo, tamanho e volume da carga
sedimentar depositada (NOVO, 2008). Cunha (2001) destaca que os tipos de canal
são a geometria que o canal apresenta, que resulta do seu ajuste à seção
transversal e reflete o inter-relacionamento entre as variáveis descarga líquida,
carga sedimentar, declive, largura e profundidade do canal, velocidade do fluxo e
rugosidade do leito. Numa mesma bacia, pode haver alguns tipos de canal,
espacialmente setorizados ou em um mesmo setor, conforme a evolução do sistema
fluvial. Nesse sentido, um mesmo rio pode exibir o tipo anastomosado em períodos
de estiagem, quando há excesso de carga sedimentar no rio, e se modificar para
meandrante nos períodos de chuvas intensas, em eventos de cheia.

Segundo Christofoletti (1981), a classificação dos tipos de canais era um assunto


recente na década de 80, em que tradicionalmente, se fazia a distinção apenas entre
os canais retilíneos, anastomosados e meandrantes.

Como apontam Christofoletti (op. cit.) e Cunha (2001), vários foram os autores e as
classificações propostas para os tipos de padrões de canal ao longo da evolução
desta área de conhecimento. Eles apontam a interessante classificação proposta por
Chitale (1970, apud CHRISTOFOLETTI, 1981), que procura solucionar o problema
da divisão clássica entre os três padrões (retilíneo, anastomosado e meandrante).
Segundo este autor, as características de cada um destes tipos não são exclusivas,
e a característica que distingue um do outro trata de variáveis diferentes: enquanto
os termos retilíneo e meandrante referem-se à direção do canal, anastomosado se
refere a multiplicidade de canais. Neste sentido, Chitale (op. cit.) propõe uma
classificação em três categorias: canais únicos, canais múltiplos, e uma categoria
transicional entre as duas primeiras. Christofoletti (1981), considerando as diversas
classificações, adota a seguinte tipologia:

Canais únicos, que se subdividem em:


o Retos;

24
o Sinuosos;
o Meandrantes;
o Tortuosos (ou irregulares).

Canais múltiplos, com as subdivisões:


o Ramificado;
o Anastomosado;
o Reticulado;
o Deltaico;
o Canais labirínticos em trechos rochosos.

Canais transicionais, uma categoria que fica entre as duas primeiras, no qual
o curso d’água pode exibir uma tendência de se alterar do padrão único para
canais múltiplos.

Considerando a importância e o amplo emprego dos padrões retilíneo, meandrante e


anastomosado, serão apresentadas as características gerais de cada um. O padrão
retilíneo será apresentado brevemente por ser pouco relevante para a realidade da
área pesquisada neste estudo.

Canais retilíneos: os exemplos de canais naturais retos são pouco frequentes,


geralmente ocorrendo em trechos de canais curtos, sendo extremamente rara a
ocorrência em grandes extensões. Os exemplos mais comuns são de canais
submetidos a diversos tipos (obras) de canalização (CUNHA, 2001).

Canais meandrantes: ocorre onde os rios formam curvas sinuosas, largas,


harmoniosas e semelhantes entre si (Figura 4), por meio de um trabalho contínuo
de escavação da margem côncava (onde ocorre maior velocidade das águas) e
de deposição da margem convexa (menor velocidade). Ao erodir a margem
côncava, o fluxo depositará o material transportado na mesma margem logo
adiante, na curva convexa (CHRISTOFOLETTI, 1981). Cunha (2001) destaca,
dentre as condições essenciais para o desenvolvimento dos meandros: a
presença de camadas sedimentares de granulação móvel; gradientes

25
moderadamente baixos; fluxos contínuos regulares; cargas em suspensão e de
fundo em quantidades mais ou menos equivalentes. Dadas as condições, o
estágio inicial do meandramento ocorre pela formação da sequência de
depressões e umbrais ao longo do leito.

Figura 4 - Tipo de canal meandrante.


Fonte: Adaptado de Bigarella et. al. (1979, apud CUNHA, 2001, p. 216).

Canais anastomosados: caracterizam-se por apresentar grande volume de


carga de fundo, em que, dadas as flutuações da vazão da corrente, ocorrem
sucessivas ramificações, ou múltiplos canais que se subdividem e se
reencontram, separados por ilhas assimétricas e barras arenosas. Essas
barras são bancos de detritos móveis transportados pelo fluxo de água, e
ficam submersos durante as cheias excepcionais, enquanto que as ilhas são
mais fixas ao fundo do leito, podendo ficar parcialmente emersas no decorrer
das cheias. Em alguns casos, nos intervalos das cheias, pode ocorrer fixação
de cobertura vegetal nesses bancos ou ilhas, dificultando a erosão e
transporte dessas feições, e permitindo a deposição de sedimentos finos
(CUNHA, 2001).

Christofoletti (1981) aponta que as razões propostas para a existência de canais


anastomosados são várias (Figura 5), e alguns pesquisadores contentam-se em
afirmar que este padrão ocorre simplesmente quando há excesso no fornecimento

26
do material detrítico para além da capacidade de transporte do rio. Entretanto, ele
destaca algumas condições básicas para o estabelecimento deste padrão:
a) Disponibilidade de carga do leito, sendo o pré-requisito essencial, com
grande quantidade de carga grosseira;
b) Variabilidade do regime fluvial, que pode ser um fator atuante, em regiões
que apresentam variações acentuadas na precipitação;
c) Existência de um contraste topográfico acentuado. A junção de áreas com
topografias altas e baixas promove a deposição detrítica e a ramificação
dos canais sobre a superfície aluvial.

Figura 5 - Tipo de canal anastomosado.


Fonte: Adaptado de Bigarella et. al. (1979, apud CUNHA, 2001, p. 216).

Suguio e Bigarella (1990, p. 22) destacam a seguinte evolução para as barras


arenosas em canais anastomosados:

Uma vez formadas, estas barras arenosas podem ser estabilizadas pela
deposição de sedimentos mais finos em fase subsequente a um período de
enchente. Em etapa posterior pode-se estabelecer uma cobertura vegetal
que, além de dificultar a erosão, favorece a deposição de mais sedimentos
finos.

Leopold e Wolman (apud Christofoletti, 1981) também traçaram o processo de


desenvolvimento de um canal anastomosado, na seguinte sequência geral: inicia-se
o depósito de um banco sedimentar na parte central da calha do rio durante um
evento de cheia. Este banco central, a princípio formado por material mais grosseiro,
passa a servir de obstáculo para o transporte de sedimentos mais finos e estes
27
começam a ficar presos e se depositar no banco. Dessa forma, o banco cresce pelo
adicionamento excessivo de sedimentos, adquirindo uma forma arredondada a
montante e estirada para jusante conforme a ação de transporte do fluxo. Com o
crescimento, pode-se estabelecer vegetação, estabilizando os bancos que
inicialmente, até certo tamanho, não afetam a largura do rio. Entretanto, quando os
bancos se tornam suficientemente grandes, os canais laterais se tornam
insuficientes em largura para se manter estáveis, ocorrendo então o alargamento do
leito pelo entalhamento ou pela erosão lateral das margens, ou a anexação destes
bancos à margem do rio. Algumas dessas pontuações foram observadas nos
resultados desta monografia, que serão apresentadas no capítulo 4.

1.3 Bacias hidrográficas

O conceito de bacia hidrográfica ou bacia de drenagem pode ser compreendido


como uma área na superfície terrestre topograficamente definida por um divisor de
águas (ou interflúvio) que drena água, sedimentos e materiais dissolvidos para uma
saída comum, cujas configurações espaciais refletem a estrutura geológica e a
composição morfogenética da área da bacia. Uma determinada região pode conter
certo número de bacias drenando para uma saída comum, como o oceano ou um
lago. A bacia de drenagem pressupõe múltiplas dimensões espaciais, desde a
escala de microbacias com poucos metros quadrados a bacias de grande extensão,
como a do rio Amazonas. Nesse sentido, as bacias podem ser desmembradas em
um número qualquer de sub-bacias de drenagem, dependendo do ponto de saída ao
longo de seu coletor principal, constituindo um sistema de drenagem
hierarquicamente organizado (COELHO, 2007; CUNHA, 2001).

Cunha (op. cit.) destaca ainda a bacia, enquanto unidade hidrogeomorfológica, como
um sistema aberto, que recebe impulsos energéticos externos (das forças climáticas
atuantes sobre sua área) e perde energia por meio da água e dos sedimentos. As
relações de entrada e saída de matéria e energia são influenciadas pelas
características da bacia e drenagem (GREGORY; WALLING, 1973, apud CUNHA,
2001), de modo que alterações no suprimento destas variáveis conduzem a um

28
autoajuste das formas e processos da bacia. Neste sentido, fica evidente a
interdependência das variáveis da bacia.

Seguindo o raciocínio de bacia enquanto sistema aberto e autorregulador,


Christofoletti (1980) afirma que todos os acontecimentos ocorridos na bacia de
drenagem repercutem, direta ou indiretamente, nos rios. Portanto, as mudanças
ocorridas nos tipos de uso e ocupação da terra da bacia e os processos erosivos
podem alterar drasticamente a dinâmica fluvial, em suas formas e processos.

Cunha e Guerra (2003) apontam que:

[...] os desequilíbrios ambientais originam-se, muitas vezes, da visão


setorizada dentro de um conjunto de elementos que compõem a paisagem.
A bacia hidrográfica, como unidade integradora desses setores (naturais e
sociais) deve ser administrada com esta função, a fim de que os impactos
ambientais sejam minimizados.

Nesse cenário, fica explícita a importância de planejamentos territoriais que


considerem a bacia enquanto unidade de análise. Segundo Botelho e Silva (2007), a
bacia hidrográfica é reconhecida como unidade espacial nos estudos com foco em
geografia física desde o fim dos anos 60, entretanto, é a partir da década de 90 que
ela foi incorporada por outros profissionais da grande área de ciências ambientais.
Entendida como célula básica de análise ambiental, a bacia permite “avaliar de
forma integrada as ações humanas sobre o ambiente e seus desdobramentos sobre
o equilíbrio hidrológico, presente no sistema representado pela bacia de drenagem”.

Rocha (2011) e Coelho (2007) também apontam que, tradicionalmente, a bacia


hidrográfica é considerada como a unidade fisiográfica mais conveniente para o
planejamento de recursos hídricos e planejamentos ambientais diversos,
constituindo-se um sistema aberto de fluxo hídrico, e que possibilita uma visão
ampla e integrada do comportamento das condições naturais e das mudanças
introduzidas pelo homem no meio. Consideram as bacias excelentes unidades de
gestão ambiental, presente inclusive em legislações específicas, como a Política
Nacional de Recursos Hídricos (Lei Federal Nº 9.433 de 1997), que prevê como um
29
de seus fundamentos, em seu Art. 1, inciso V, que “a bacia hidrográfica é a unidade
territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação
do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos [...]” (BRASIL, 1997).

1.3.1 Intervenção nos cursos d’água

Ao longo da história da humanidade, as áreas planas e mais próximas aos rios são
as primeiras a serem ocupadas, devido a sua facilidade de construção e acesso,
bem como os diversos tipos de usos que lhe dispõem, tais como o preparo de
alimentos, higiene, navegação, irrigação, entre outros. Somado a isso, o processo
de urbanização brasileiro acelerado e desordenado repercute em diversas escalas
espaciais e em curtos períodos de tempo, causando desequilíbrios ambientais
(JORGE, 2011). Botelho (2011) também evidencia que as intervenções antrópicas
nos recursos hídricos ocorrem desde o surgimento das primeiras comunidades
humanas, contudo, as maiores intervenções têm sido registradas em tempos
historicamente mais recentes, notadamente nas margens dos rios e em linha de
costa.

O sistema hidrológico nas áreas urbanizadas apresenta especificidades em relação


às áreas não urbanizadas. Dentre as modificações causadas pela ocupação do
espaço urbano e que alteram o ciclo hidrológico de maneira significativa destaca-se
a supressão da vegetação natural e a impermeabilização do terreno, através das
edificações e da pavimentação das vias urbanas. Estas modificações reduzem
drasticamente a capacidade de infiltração na área da bacia e imputam maior
velocidade de escoamento às águas, fazendo com que atinjam seu exultório mais
rapidamente e de forma mais concentrada, gerando o aumento da magnitude e da
frequência dos eventos de cheias nessas áreas, causando enchentes. Além disso,
essas transformações podem aumentar a capacidade erosiva das águas,
aumentando o volume de sedimentos a serem depositados na calha fluvial e
contribuindo para o assoreamento dos rios (BOTELHO, 2011; BOTELHO; SILVA,
2007).

A isso, somam-se as intervenções diretas nos cursos d’água, como canalização,


retificação e desvio de canais, a construção de diques ou barragens para fins
30
diversos causam impactos múltiplos, que podem alterar profundamente o ciclo
hidrológico e a dinâmica das águas superficiais (BOTELHO, 2011; CARNEIRO;
MIGUEZ, 2011; BOTELHO; SILVA, 2007).

Botelho e Silva (op. cit.) destacam que não apenas a dinâmica das águas é alterada
no ciclo urbano, mas também a sua qualidade fica bastante comprometida, cujas
principais fontes de poluição são a emissão de esgoto (poluição orgânica), lixo
(poluição por resíduos sólidos) e indústrias, cujos despejos são os mais poluentes,
devido a presença de substâncias tóxicas.

É importante destacar também a multiplicidade e o excesso dos usos da água nas


atividades humanas. Estes usos incluem, em menor escala de demanda e impactos:
a utilização doméstica, recreação, turismo, usos estéticos, pesca e navegação.
Numa maior escala, destacam-se os usos industriais diversos, como a mineração, a
produção de energia elétrica (cerca de 85% da energia do Brasil provém desta fonte)
e principalmente o agronegócio em geral (tanto nas irrigações quanto na pecuária).
O crescimento populacional e o grau de urbanização dos ambientes é uma das
causas que mais causam impactos nos ecossistemas aquáticos continentais de
superfície e subterrâneos, dadas as altas demandas de água para sustentação
desses elementos (TUNDISI; TUNDISI, 2011).

31
2 MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi dividida em quatro principais etapas apresentadas a seguir.

2.1 Aquisição e leitura de bibliografia sobre a temática

A primeira etapa consistiu na aquisição e leitura bibliográfica sobre a temática


trabalhada, tais como livros clássicos, dissertações, teses, artigos científicos,
estudos e publicações diversas; a fim de nortear a pesquisa com um referencial
teórico bem definido.

2.2 Aquisição de dados da área de estudo

A segunda etapa foi de investigação e aquisição de estudos, levantamentos


realizados, dados e informações diversas sobre área estudo, a bacia do rio Doce.
São eles:

Pesquisas acadêmicas, diagnósticos, relatórios e planos de gestão da bacia;

Dados sociais de ocupação da bacia, como as principais atividades


econômicas;

Aquisição gratuita de bases cartográficas diversas para serem trabalhadas


em ambientes de Sistemas de Informações Geográficas (SIG). Foram
utilizados os seguintes Planos de Informações vetoriais, em formato
shapefile1 de polígonos, linhas e pontos: limites administrativos dos
municípios capixabas da bacia, limites administrativos de bairros do município
de Linhares, rodovias localizadas no ES junto ao Instituto Jones dos Santos
Neves (IJSN, 2016a); limite da bacia, estações fluviométricas e pluviométricas
e cursos d’água da bacia junto à Agência Nacional das Águas (ANA, 2016a);

1
O Shapefile/shape/shp é um formato popular, desenvolvido e regulamentado pela empresa americana
especializada na produção de soluções para a área de informações geográficas Esri - Environmental Systems
Research Institute contendo dados geoespaciais em forma de vetor que descrevem geometrias de pontos (ex.:
localidades), linhas (ex.: rios, estradas), e polígonos (ex.: limites territoriais) com cada shape possuindo uma
tabela de atributos / banco de dados geográfico que descrevem, por exemplo campos/características criadas
pelo usuário do SIG como: nome do município, código da estrada, a quantidade de população, etc.
32
Mapeamentos da bacia, tais como: mapeamento de uso e cobertura da terra
realizado em 2006 (EPE, 2007), mapa de suscetibilidade à erosão da bacia
(EPE, 2007), mapeamento geomorfológico do Espírito Santo realizado em
2012 junto ao junto ao Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN, 2016a e
2016b);

Aquisição gratuita de dados históricos de vazão do rio Doce da estação


fluviométrica de Colatina, código 56994500, e de precipitação da estação
Colatina - Corpo de bombeiros, código 1940006, junto à Agência Nacional
das Águas, através da plataforma Hidroweb (ANA, 2016b). As estações se
localizam no município de Colatina (Figura 6), a montante da área de estudo,
sendo as mais próximas com dados disponíveis. Optou-se por utilizar a série
histórica de 30 anos de 1983 a 2013, por abranger o período de análise da
pesquisa e ainda permitir uma visualização da linha de tendência para dois
anos após a imagem mais recente utilizada na pesquisa, que foi de 2011.

Figura 6 - Localização das estações fluviométrica e pluviométrica em Colatina, na bacia do rio


Doce, a montante do município de Linhares.

33
Imagens orbitais gratuitas junto ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE, 2016a) através da plataforma DGI - Divisão de Geração de Imagens.
Foram utilizadas imagens do satélite Landsat 5, sensor TM, de resolução
espacial de 30 metros, para os dois períodos analisados: uma imagem com data
de passagem em 28 de julho de 1987, e outra em 30 de julho de 2011, ambas no
mesmo quadrante de órbita/ponto 215/074.

A escolha do período de análise foi feita após criterioso levantamento das imagens
disponíveis de 1985 a 2013 no satélites Landsat 5, e cruzamento com os dados de
vazão registrados no dia da passagem das imagens, da estação Colatina. O primeiro
passo realizado foi verificar as imagens disponíveis com baixa cobertura de nuvens,
permitindo assim uma boa visualização dos alvos de interesse, anotando as datas
de passagem das imagens em uma tabela (Tabela 1). A Figura 7 mostra uma
captura do catálogo de imagens do satélite Landsat 5, onde se observam as várias
imagens inutilizáveis por conta da alta cobertura de nuvens.

Figura 7 - Catálogo de imagens temporais do satélite Landsat 5.


Fonte: INPE, 2016a. 34
Com a seleção das imagens passíveis de serem utilizadas, procedeu-se a
verificação dos dados de vazão registrados nas respectivas datas, para se que
identificasse as imagens registradas no período de baixa vazão do rio Doce e com
valores aproximados, a fim de evidenciar melhor as formas deposicionais em seu
leito e poder realizar uma comparação entre os dois períodos. Assim, foram
selecionadas as imagens referentes ao menor valor de vazante observado nos
dados históricos, cujas datas de passagem das imagens em cada ano é bem
próximo. A Tabela 1 exemplifica este processo.

TABELA 1 - Data de passagem das imagens com baixa cobertura de nuvens


do satélite Landsat 5 e sua respectiva vazão registrada no dia.
Vazão no dia
Ano Data imagem
(m³/s)
1985 17/4 1338
25/7 427,6
1986
23/6 474
1987 28/7 299,8
1988 28/6 387,4
1989 12/8 387,4
1990 17/5 373
1991 8/8 392,2
2005 13/7 617
11/4 858,1
2006
13/5 599,9
2007 30/4 733,7
22/8 177,0
2008
31/3 835,6
8/7 479,2
2009 22/6 464,0
19/4 1203,2
2010 - -
2011 30/7 216,7
2011 27/5 341,3
2013 30/4 481,0
Organizado pela autora. Em negrito destaca-se o período de
análise escolhido. No ano de 2010, não havia imagem com
baixa cobertura de nuvens disponível.

Optou-se por utilizar imagens anteriores ao ano de 2014, antes do rompimento da


barragem de Fundão, da mineradora Samarco no município de Mariana (MG), na
qual os dejetos de mineração alcançaram o rio Doce até a sua foz, desaguando no

35
mar, em Linhares. A escolha foi motivada para compreender a evolução dos
depósitos sedimentares em condições normais, sem influência do rompimento da
barragem.

Optou-se, também, por delimitar e quantificar apenas os depósitos que ficam


emersos no leito do rio, desconsiderando aspectos de turbidez da água e de
sedimentos em suspensão.

2.3 Tratamento dos dados

2.3.1 Dados hidrológicos

Os dados históricos de vazão e precipitação foram organizados no programa


Microsoft Excel, no qual se utilizou a ferramenta de filtro para visualizar os dados
registrados ano a ano, de 1983 a 2013.

Os dados de vazão adquiridos junto à ANA possuem o registro da vazão diária


(medidos em m³ por segundo), além de já apresentar colunas específicas com os
valores de máxima, mínima e média mensal. Com esses valores já definidos,
calculou-se a média anual a partir dos valores médios mensais (Anexo A) e
identificaram-se os valores máximos (Anexo B) e mínimos (Anexo C) anuais para
cada um dos trinta anos analisados. O cálculo das médias de valores seguiu
metodologia utilizada por Antongiovanni e Coelho (2005), em um relatório sobre o
Panorama da Desertificação do Espírito Santo, onde os autores analisaram o
comportamento da vazão de três principais rios do estado. A identificação das
vazões mínimas e máximas anuais teve por objetivo analisar o comportamento e a
tendência dos eventos extremos de cheias e de vazante do rio neste período.

Também foram calculados os totais acumulados de precipitação anual (Anexo D)


para o mesmo período de análise. A obtenção de dados históricos de precipitação
teve como objetivo primordial analisar se o comportamento das vazões médias
seguiu a mesma tendência da precipitação.

36
É importante destacar que os dados dos anos de 1983 e 1989 devem ser
considerados com cautela, pois não estão disponibilizados em sua totalidade. O ano
de 1983 possui dados de seis meses do ano, de julho a dezembro, enquanto 1989
possui apenas dois meses: março e abril. Entretanto, optou-se por deixar os dados
nas tabelas e gráficos, ainda que com essa ressalva.

2.3.2 Dados vetoriais e matriciais

Os mapeamentos e processamento de todos os dados vetoriais e matriciais foram


realizados no ambiente SIG ArcGIS 10.4 iniciando com a adição dos dados vetoriais
dos municípios, dos cursos d’água e do limite da bacia. Os dados foram ajustados,
quando necessário, no sistema de projeção Universal Transversa de Mercator
(UTM), Datum SIRGAS-2000, Zona 24 sul. A organização dos dados matriciais
iniciou-se com a criação de um projeto para cada período analisado (1987 e 2011), e
todos os procedimentos realizados a partir de então foram realizados duas vezes,
para ambos os períodos.

Adicionadas as bandas 1 a 4 de cada imagem e os Planos de Informações, o


primeiro passo foi realizar o recorte das imagens para a área de estudo: aplicou-se a
ferramenta Zoom In para deixar a visualização mais fechada possível na área de
estudo, então foi utilizada a ferramenta Export Data - na aba “Extent”, selecionada a
opção “Data frame (current)”, para exportar apenas a cena que é exibida no Data
View. Feito isso, prosseguiu-se com o georreferenciamento e retificação geométrica
das imagens recortadas com os Pontos de Controle Terrestres (PCTs), utilizando
como base os dados vetoriais já georreferenciados.

Optou-se por utilizar a banda 2 (verde) para realizar a classificação dos depósitos
sedimentares no leito do rio Doce, por apresentar grande sensibilidade à presença
de sedimentos, conforme informações contidas na Tabela 2, obtidas no Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2016b).

37
TABELA 2 - Principais características e aplicações das bandas dos satélites Landsat 5 e 7.
Intervalo Resolução Principais características e aplicações das bandas TM e
Banda
espectral espacial ETM. Satélites LANDSAT 5 e 7
Apresenta grande penetração em corpos de água, com elevada
transparência, permitindo estudos batimétricos. Sofre absorção
1 0,45 - pela clorofila e pigmentos fotossintéticos auxiliares
azul 0,52 µm (carotenóides). Apresenta sensibilidade a plumas de fumaça
oriundas de queimadas ou atividade industrial. Pode apresentar
atenuação pela atmosfera.
Apresenta grande sensibilidade à presença de sedimentos em
2 0,52 -
suspensão, possibilitando sua análise em termos de quantidade
verde 0,60 µm
e qualidade. Boa penetração em corpos de água.
A vegetação verde, densa e uniforme, apresenta grande
absorção, ficando escura, permitindo bom contraste entre as
áreas ocupadas com vegetação (ex.: solo exposto, estradas e
3 0,63 -
áreas urbanas). Apresenta bom contraste entre diferentes tipos
vermelho 0,69 µm
de cobertura vegetal. É a banda mais utilizada para delimitar a
30 m mancha urbana, incluindo identificação de novos loteamentos.
Permite a identificação de áreas agrícolas.
Os corpos de água absorvem muita energia nesta banda e
ficam escuros, permitindo o mapeamento da rede de drenagem
e delineamento de corpos de água. A vegetação verde, densa e
4
0,76 - uniforme, reflete muita energia nesta banda, aparecendo bem
infravermelho
0,90 µm clara nas imagens. Apresenta sensibilidade à rugosidade da
próximo
copa das florestas. Permite a visualização de áreas ocupadas
com macrófitas aquáticas. Permite a identificação de áreas
agrícolas.
Apresenta sensibilidade ao teor de umidade das plantas,
5 servindo para observar estresse na vegetação, causado por
1,55 -
infravermelho desequilíbrio hídrico. Esta banda sofre perturbações em caso de
1,75 µm
médio ocorrer excesso de chuva antes da obtenção da cena pelo
satélite.
6 Apresenta sensibilidade aos fenômenos relativos aos contrastes
10,4 -
infravermelho 120 m térmicos, servindo para detectar propriedades termais de
12,5 µm
termal rochas, solos, vegetação e água.
Apresenta sensibilidade à morfologia do terreno, permitindo
7 obter informações sobre Geomorfologia, Solos e Geologia. Esta
2,08 -
infravermelho 30 m banda serve para identificar minerais com íons hidroxilas.
2,35 µm
médio Potencialmente favorável à discriminação de produtos de
alteração hidrotermal.
Fonte: Adaptado de INPE (2016b).

Embora a banda 4 seja a mais indicada para delimitação de corpos d’água, ela é
insatisfatória para a análise dos tipos de depósitos de sedimentos no leito do rio,
pois não distingue a diferença entre eles (bancos arenosos e ilhas com vegetação
fixada): ainda que a rugosidade apresentada nos depósitos com vegetação seja bem
característica, a tonalidade de todas as feições depositadas fica a mesma, variando
entre cinzas claros, como pode ser observado na Figura 8.

38
A banda 3, embora também possibilite a visualização e distinção entre os tipos de
depósitos no leito do rio, apresenta resposta também da turbidez da água, dos
sedimentos que estão em suspensão no leito, submersos sobre a lâmina d’água, e
portanto inviabiliza a análise desejada. Sendo assim, a banda 2 foi a que apresentou
melhor resposta para diferenciá-los, onde os depósitos com vegetação
apresentaram tons escuros e os depósitos sedimentares tonalidades bem claras,
próximas ao branco. Além da banda 2, foi utilizado como auxílio uma imagem
composta pelas bandas 1, 2 e 3 na cor natural, composição R(3) G(2) B(1), por
possibilitar uma boa visão dos diferentes alvos na imagem, como pode se observar
na Figura 9.

Boa distinção entre os bancos


arenosos (brancas) e as ilhas com
vegetação fixada (cor escura).

Apresenta muitos sedimentos em Todos os depósitos do leito


suspensão na água, dificultando a ficam da mesma cor,
delimitação dos depósitos emersos. impossibilitando sua distinção.

Figura 8 - Comparação entre as bandas 2, 3 e 4 em imagem do satélite Landsat 5, destacando as


feições deposicionais no leito do rio Doce, Linhares.

Definida a banda a ser utilizada, o próximo passo foi a classificação supervisionada


Máxima Verossimilhança (MAXVER), através da função Image Classification -
Maximum Likelihood Classification. Esta é uma classificação do tipo pixel a pixel,
utilizando a informação espectral de cada pixel isolado em busca de regiões
homogêneas (FREITAS; PANCHER, s/d). Foram realizadas as etapas de
treinamento e classificação. No treinamento, foram selecionadas as amostras para

39
cada classe, sendo criadas três classes: uma para as ilhas, vegetadas, uma para os
bancos arenosos e uma para a água.

O arquivo matricial gerado pela classificação foi convertido para polígono, através da
ferramenta Conversion Tools - From Raster - Raster to Polygon, e posteriormente
exportado para o formato vetorial. Com o Plano de Informação de classificação dos
depósitos, foi realizada a correção manual dos polígonos através da ferramenta
“Editor”, e excluída a classe da “água”, visto que os alvos importantes eram os
depósitos sedimentares. Os polígonos das classes “bancos arenosos” e “ilhas
vegetadas” podem ser observados na Figura 9.

Figura 9 - Polígonos criados na classificação das feições deposicionais no leito do baixo curso do rio
Doce e delimitação de suas margens em 2011.

Para quantificar a área (em km²) dos depósitos sedimentares nos dois períodos
analisados, realizou-se o agrupamento de todos os polígonos de cada classe
através da ferramenta Dissolve, na aba Geoprocessing. Após isso, no banco de

40
dados do Plano de Informação foi criada uma coluna e calculada a área total dos
depósitos, em quilômetros quadrados, através da ferramenta Calculate Geometry.

Além disso, foi criado um Plano de Informação no formato de polígono para cada
período e vetorizado manualmente o leito do rio Doce, através da delimitação de
suas margens, desde o limite do município de Linhares até o seu deságue no
oceano e posterior cálculo de sua área em quilômetros quadrados. Este processo foi
feito com a imagem composta na cor natural e o auxílio da banda 4 por distinguir
melhor o corpo d’água das áreas continentais. A delimitação das margens do rio
Doce pode ser observada na Figura 9.

2.4. Análise, interpretação dos dados e produção do texto

Após o tratamento dos dados coletados, procedeu-se com a análise e interpretação


dos mesmos. Para entender melhor as alterações ocorridas no corredor fluvial do
baixo curso do rio Doce, foram delimitados quatro segmentos ao longo deste trecho
do canal que foram analisados em maior escala, de 1:40.000. A Figura 10 apresenta
os segmentos em análise, com a imagem do ano de 2011, e o setor analisado
corresponde a um trecho do rio de aproximadamente 79,7 km. Para identificar as
alterações no corredor fluvial, em cada segmento foram analisadas as alterações
ocorridas na área do leito do rio, bem como as alterações nas feições deposicionais
presentes no leito, seguindo metodologia utilizada por Coelho (2007), comparando
os polígonos gerados para cada período (1987 e 2011).

Nesta etapa de análise, recorreu-se também as imagens históricas do Google Earth,


percorrendo todo o trecho analisado na pesquisa a fim de identificar, numa melhor
qualidade de imagem, as transformações ocorridas. Além disso, com imagens mais
atuais, pôde-se observar e traçar uma possível evolução de algumas das feições
identificadas. Por fim, passou-se à redação do texto da monografia.

41
Figura 10 - Segmentos 1 a 4 no trecho analisado no baixo curso do rio Doce, no município de Linhares, ES.
42
3 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A bacia do rio Doce encontra-se inserida na Região Hidrográfica do Atlântico


Sudeste, nos paralelos 17º45’ e 21º15’ de latitude sul e meridianos 39º55’e 43º45’ de
longitude oeste, totalizando uma área de drenagem de 83.465 km² com 86,1%
pertencente ao estado de Minas Gerais e 13,9% pertencente ao Espírito Santo
(Figura 11). O rio Doce possui suas nascentes na Serra da Mantiqueira, em Minas
Gerais, a 1.200 metros de altitude acima do nível do mar, e percorre 853 km até sua
foz na localidade de Regência, município de Linhares, Espírito Santo, onde atinge o
oceano Atlântico. Faz parte de uma das doze unidades hidrogeográficas do estado
do Espírito Santo, sendo a maior em volume de vazão e área de drenagem
(COELHO, 2007).

Figura 11 - Localização da área de estudo: baixo curso do rio Doce no município de Linhares, ES.

O recorte analisado neste estudo localiza-se no setor do baixo rio Doce, no


município de Linhares (Figura 11), Espírito Santo, até sua foz no oceano,
percorrendo aproximadamente 79,7 km. Para compreender o estado de determinado

43
trecho de um rio em um determinado momento, como parte de um sistema aberto e
dinâmico, que é o sistema fluvial, é preciso considerar a bacia hidrográfica em sua
totalidade, identificando os diversos elementos e agentes que a compõem e a
modificam ao longo do tempo, em seus aspectos socioambientais. Sendo assim,
este capítulo abordará aspectos da caracterização da bacia do rio Doce, na maioria
dos casos, identificando os diferentes aspectos dos setores alto, médio e baixo da
bacia, por conta de sua extensa dimensão.

3.1 Aspectos hidrológicos

O rio Doce se forma a partir do encontro dos rios Piranga e do Carmo, entre os
municípios mineiros de Ponte Nova, Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado. O rio
Piranga possui suas nascentes nas serras da Mantiqueira e do Espinhaço, no
extremo sudoeste da bacia, e o rio do Carmo nasce no município de Ouro Preto,
extremo oeste da bacia. O canal do rio Doce possui padrões geomorfológicos
diferenciados, com segmentos de meandros, retilíneos e anastomosados e ainda
presença de ilhas, principalmente no médio curso (ANA, 2015).

Coelho (2007) realizou o mapeamento da hierarquia fluvial da bacia segundo


proposta de Strahler, classificando os canais até a 10ª ordem. Todos os canais de 9ª
ordem estão localizados no estado de Minas Gerais, sendo que a maior é formada a
partir da confluência do rio Piracicaba com o Doce, na região do Vale do Aço. Já no
estado do Espírito Santo, a maior hierarquia identificada foi de 7ª ordem, com os rios
São José, Pancas e Guandu, fato este que remete ao formato da bacia, cujas
ordens dos canais vão diminuindo em direção ao oceano. A partir da classificação
hierárquica dos canais fluviais, o autor mapeou as sub-bacias mais representativas,
totalizando 24, das quais se destacam as maiores no estado de Minas Gerais e suas
respectivas áreas aproximadas: sub-bacia do rio Saçuí, com 12.674 km²; Santo
Antônio, com 10.486 km² e Manhuaçu, com 8.826 km². Já no estado do Espírito
Santo, a maior sub-bacia é do rio São José, com uma área de aprox. 2.379km².

Strauch (1955) observa que, apesar de se encontrar em uma região brasileira que
caracteriza os rios das encostas do planalto atlântico, e embora conte com inúmeras
corredeiras e pequenas quedas, o curso do rio Doce é geralmente lento, com
44
margens baixas e alagadiças. Ele destaca, entretanto, que o mesmo não ocorre em
seus maiores afluentes, como o Piracicaba, Manhuaçu, Santo Antônio, Saçuí
Grande, principalmente em seus altos cursos, que se apresentam geralmente
encaixados, com cachoeiras sucessivas. Estas características refletem o nível de
base superior desses afluentes em relação ao rio principal, o Doce.

3.2 Aspectos geológicos e geomorfológicos

A classificação do relevo da bacia utilizada aqui foi baseada na Classificação


Taxonômica de Ross, segundo organização de Coelho (2007), que buscou
representá-la em seus aspectos físicos, estabelecendo uma ordem cronológica de
tempo geológico, partindo das formações mais antigas (unidades morfoestruturais)
para as mais recentes (unidades morfológicas), como apresentado na Tabela 3.

TABELA 3 -Taxonomia do relevo da bacia do rio Doce


I Morfoestrutura (1º II Morfo escultura (2°
III Unidades Morfológicas (3° taxon)
taxon) taxon)
III. 1 - Serra do Espinhaço
III. 2 - Vertentes do Quadrilátero Ferrífero
II. 1 - Serras limites da
III.3 - Vertentes do Espinhaço
bacia do Rio Doce
III. 4 - Vertentes do Caparaó
III. 5 - Vertentes Bloco de Mantena

III. 6 - Planalto deprimido São Pedro do Saçuí

II. 2 - Planaltos III. 7 - Planalto dissecado rios Piracicaba e S.


Alto Rio Doce Antônio
I. 1 - Cinturão III. 8 - Planalto Xopotó
Orogênico Atlântico
Leste-Sudeste III. 9 - Planalto deprimido Rio Piranga
III. 10 - Serras Zona da Mata
III. 11 - Maciços do Caparaó
II. 3 - Serra e Maciços
Médio Rio Doce III. 12 - Pontões margem esquerda do médio
Doce
III. 13 - Patamares escalonados
III. 14 - Depressão interplanáltica alto-médio Rio
II. 4 - Depressões Vale Doce
do Rio Doce
III. 15 - Depressão periférica médio Rio Doce

I. 2 - Bacia II. 5 - Planícies e III.16 - Tabuleiros Costeiros


Sedimentar (costeira) Tabuleiros Costeiros III. 17 - Planície Flúvio-Lacustre
do Espírito Santo Baixo Rio Doce III. 18 - Planície Costeira
Fonte: Adaptado de Coelho (2007).Grifo nosso para destacar o relevo da área de estudo da pesquisa.

45
O setor do alto rio Doce, caracterizado pelas morfoesculturas 1 - serras limites da
bacia do rio Doce e 2 - planaltos alto rio Doce (Figura 12), é marcado por serras e
cristas em complexo Gnáissico-Magmático ocorrendo falhamentos nas direções NO-
SE e NE-SO. A porção a montante do rio Piracicaba, um dos principais da bacia, é
marcada por um conjunto de relevos acidentados, com colinas alongadas conferindo
ao modelado um aspecto de “mares de morros”, destacando a Serra do Caraça, com
2.064m.

Figura 12 - Morfoesculturas da bacia do rio Doce. Em vermelho, destacando o município de Linhares.


Fonte: Coelho (2007).

O setor médio rio Doce, caracterizado pelas morfoesculturas 3 - serras e maciços do


médio Doce e 4 - depressões do vale do rio Doce, limita-se a jusante de Governador
Valadares (MG) e a montante de Colatina (ES), possuindo elevações predominantes
entre 200 a 500m. Situadas sobre o domínio do complexo Gnáissico-Magmático-
Metamórfico, com o predomínio de biotita-gnaisse, estão dispostas na direção
preferencial NE-SO, caracterizadas por pontões graníticos e colinas com topos
nivelados.

46
Já o setor baixo rio Doce, caracterizado pela morfoescultura 5 - planícies e
tabuleiros costeiros do baixo rio Doce, sendo a menor da bacia, encontra-se
totalmente inserida no estado do Espírito Santo, marcada por uma morfologia que
varia de oeste para leste de colinas, tabuleiros e planície litorânea. Destaca-se em
vermelho na Figura 12 o município de Linhares, cujas unidades geomorfológicas
podem ser observadas em maior escala na Figura 13. São elas:

Figura 13- Unidades geomorfológicas do baixo curso do rio Doce no município de Linhares, ES.
Fonte: Coelho (2007).

Tabuleiros costeiros: unidade marcada por um relevo baixo de encostas


fracamente inclinadas com altitudes em torno de 50 a 60 metros, com topos
extensos e planos, se comparados às unidades a montante, e presença de
vales originados na dissecação do tabuleiro, com depósitos de areias e
argilas da Formação Barreiras. Existem, ainda, lagoas alongadas cuja origem
se deu pelo barramento dos cursos fluviais por depósitos quaternários, em
função das oscilações do nível do mar.

47
Planície fluvio-lacustre, que pode ser compreendida como um prolongamento
da planície costeira, formada, porém, a partir do processo de elaboração
predominante do rio, pela sedimentação fluvial.

Planície costeira, é a menor unidade geomorfológica da bacia do rio Doce,


caracterizada pelas altitudes inferiores a 22 metros, correspondendo às terras
baixas do litoral. Difere-se da unidade anterior por ter sua formação a partir da
ação marítima.

Coelho (2007) identificou também a altimetria da bacia, cujas altitudes variam de 0 a


2.600 metros elevando-se de leste para oeste, com predomínio entre 100 a 200
metros e 600 a 800 metros, como pode ser observado na Figura 14. As maiores
cotas apresentam-se na porção oeste da bacia, nas regiões das nascentes, além da
serra do Caparaó localizada na porção centro-sul. Na área de estudo, destacada em
vermelho na Figura 14, as cotas variam de 0 a 200 metros.

Figura 14 - Mapa hipsométrico da bacia do rio Doce. Em vermelho destacando o município de


Linhares, ES.
Fonte: Coelho (2007).

48
A Figura15 apresenta o perfil longitudinal do canal principal do rio Doce, indicando a
cota altimétrica para alguns municípios, destacando Linhares com a seta vermelha.

Figura 15 - Perfil longitudinal no canal do rio Doce, destacando em vermelho o recorte da área
de estudo, no município de Linhares, ES.
Fonte: Coelho (2007).

Quanto as declividades encontradas nos relevos da bacia (Tabela 4), o autor


verificou que mais de 86% dos terrenos da bacia são classificados entre ondulado (8
a 19,9% de declividade) e forte ondulado (20 a 44,9% de declividade), com apenas
3,3% plano, que encontra-se principalmente na foz, que é a área de estudo desta
pesquisa, e em diversos setores do canal principal. Assim, o baixo curso do rio Doce
apresenta-se como uma região de baixas altitudes e terreno aplainado, conforme
destacado em vermelho na Figura 14.

TABELA 4 - Declividades encontradas na bacia do rio Doce


Classes de relevo Percentual da área
0 a 2,9% - Plano 3,3%
3 a 7,9% - Suave ondulado 6,1%
8 a 19,9% - Ondulado 42,7%
20 a 44,9% - Forte ondulado 44,0%
45 a 74,9% - Montanhoso 3,6%
> que 75% - Escarpado 0,3%
Total 100%
Fonte: Embrapa (1999 apud Coelho, 2007).

49
3.3 Aspectos climáticos

A bacia do rio Doce possui uma diversidade climática considerável por conta de um
conjunto de fatores, dada a sua expressiva dimensão, sua posição geográfica, suas
características de relevo e da atuação das massas de ar em seu interior. É possível
diferenciar os aspectos climáticos para cada um dos setores da bacia: alto, médio e
baixo rio Doce, conforme estudo realizado pela Empresa de Pesquisa Energética
(EPE, 2007).

O alto rio Doce se enquadra no tipo climático Cwb segundo classificação de Köppen:
clima subtropical de altitude, com inverno seco e verão ameno e chuvas de verão.
Este setor é marcado pela topografia acidentada e de elevadas altitudes,
favorecendo a ocorrência de chuvas orográficas e a formação de eventos chuvosos
intensos. A precipitação se distribui em períodos bem definidos durante o ano: mais
de 80% da precipitação ocorre entre os meses de outubro a março, em que os
índices pluviométricos variam entre 1.200mm a 1.500mm por ano, podendo
apresentar valores maiores que isso. A temperatura apresenta variações
significativas, aumentando no sentido de sudoeste para nordeste, sendo as máximas
em torno dos 36ºC e as mínimas 1,2ºC. A umidade fica em torno de 75%, com
valores extremos entre 65 a 80%.

O médio rio Doce enquadra-se nos tipos climáticos Cwa (subtropical de inverno seco
e verão quente, com chuvas de verão) e Aw (clima tropical com verão quente
chuvoso e inverno seco) da classificação de Köppen. A amplitude térmica desta
unidade é pequena, em que as temperaturas médias ficam em torno de 33ºC nos
meses mais quentes e 25ºC nos meses mais frios. A umidade relativa fica em torno
de 70 a 81% e a precipitação pode ser superior a 1.200 mm/ano na maior parte
deste setor, exceto pela faixa leste, na região próxima a Aimorés (MG), onde a
precipitação pode atingir valores de aproximadamente 870 mm/ano (COELHO,
2007). O período de seca é bem definido, de abril a setembro.

O baixo rio Doce também se enquadra nos tipos climáticos Cwa e Aw, segundo
Köppen. Entretanto, este setor sofre uma forte influência marítima, pela proximidade

50
da costa. A variação de temperatura é pequena, no sentido norte-sul, normalmente
em torno de 2ºC (22ºC a 24ºC), sendo janeiro o mês mais quente e as mínimas
variando entre 16ºC a 18ºC na região litorânea. A precipitação chega até 1.220
mm/ano (COELHO, 2007), ficando abaixo de 1.500 mm/ano por conta de sua
posição geográfica, localizada em uma região que recebe correntes com menos
frequência.

O regime hidrológico do rio Doce é perene e bem definido, acompanhando, de modo


geral, a pluviosidade da bacia. Marcado pelos períodos de cheia, os níveis máximos
ocorrem em dezembro, janeiro e março cujas médias mensais são superiores a
1.600 m³/s; e de vazante, a partir de abril, cujas mínimas extremas ocorrem nos
meses de agosto a setembro, com valor médio mensal inferior a 370 m³/s (COELHO,
2007).

3.4 Aspectos pedológicos e suscetibilidade à erosão

Coelho (2007) destaca que predominam duas classes de solos na bacia: os


Latossolos Vermelho-Amarelos, que ocorrem principalmente nos planaltos
dissecados desde os relevos planos e suave-ondulados; e os Argissolos Vermelho-
Amarelos, ocorrendo desde o relevo plano, suave ondulado e até forte ondulado a
montanhoso. Em menor extensão, ocorrem os Latossolos Ácricos, os Cambissolos,
os Neossolos Litólicos e os Neossolos Rigolíticos.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) realizou, entre 2006 a 2007, um vasto


estudo intitulado “Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos
da Bacia do Rio Doce” (EPE, 2007). Um de seus capítulos discorre sobre o alto
potencial erosivo da bacia, dadas suas características ambientais e de ocupação.

Os resultados da pesquisa apontam os percentuais de suscetibilidade à erosão na


Tabela 5, onde se observa a predominância da classe moderada/forte, com 48% da
área da bacia:

51
TABELA 5 - Classes de suscetibilidade à erosão na bacia do rio Doce.
Suscetibilidade à erosão Percentual da área
Muito forte 10,18
Forte/muito forte 13,11
Forte 15,35
Moderada/Forte 48,23
Moderada 9,45
Ligeira/moderada 0,57
Ligeira 0,33
Nula/ligeira 0,88
Nula 1,48
Água 0,42
Total 100,00
Fonte: Adaptado de EPE, 2007.

As áreas de maior suscetibilidade a erosão localizam-se no extremo oeste da bacia


(Figura 16), nas cabeceiras dos rios, por conta de uma série de fatores combinados:
relevo acentuado, pouca densidade da vegetação por conta da intensa ação
antrópica na área e acumulados expressivos de precipitação.

O médio rio Doce também apresenta condições de alta potencialidade erosiva,


classificados como forte a muito forte. O estudo aponta que, nas porções onde
ocorrem os Argissolos Vermelho Amarelo, há fortes tendências ao desenvolvimento
de processos erosivos generalizados de natureza laminar, em sulcos e voçorocas,
como já é observado na região (EPE, 2007).

No setor do baixo rio Doce a potencialidade erosiva é bastante heterogênea,


ocorrendo uma grande área de moderada susceptibilidade à erosão, com alguns
pequenos trechos de forte susceptibilidade, e conforme o avanço do rio à jusante,
próximo a foz, a diminuição da susceptibilidade, com uma grande área considerada
nula.

52
Figura 16 - Mapa de suscetibilidade à erosão da bacia do rio Doce. . Em vermelho destacando o
município de Linhares, ES.
Fonte: Adaptado de EPE (2007).

3.5 Uso e cobertura da terra na bacia

Os primeiros levantamentos das transformações sociais da bacia do rio Doce foram


realizados por Strauch (1955), que revela, inicialmente, dois processos de ocupação
que se deram em orientações diversas, em épocas distintas: uma do planalto em
direção ao litoral, embora sem atingi-lo, que corresponde à antiga corrente
povoadora, consequência do ciclo minerador; e outra do litoral ao planalto,
historicamente mais recente.

Sintetizando a obra de Strauch (op. cit.), Coelho (2007) destaca que a ocupação e a
transformação da paisagem no entorno do canal principal do rio Doce ocorreu de
forma definitiva apenas no ano de 1901, a partir da construção da Estrada de Ferro
Vitória-Minas (EFVM). Até então, a bacia possuía apenas 26 municípios, sendo 22
em Minas Gerais e 4 no Espírito Santo.

53
À época, a paisagem da bacia era coberta por mata nativa, com o predomínio da
mata atlântica e extensa cobertura de mata ciliar. Os autores destacam que o
processo de extinção da mata ocorreu de modo mais intenso no baixo rio Doce, a
partir da derrubada de árvores com as atividades do ciclo madeireiro, cujo período
marcante foi de 1910 a 1960, com a instalação de inúmeras serrarias e indústrias
madeireiras de grande porte. Assim, em menos de quatro décadas, grande parte das
matas nativas do rio Doce foram dando lugar a uma paisagem de café a pastagem,
impulsionada, inclusive, pela chegada da ferrovia como importante via de
escoamento da madeira.

Além do ciclo madeireiro e das atividades agropastoris, o processo de


industrialização na bacia foi se consolidando a partir da década de 1930, com a
siderurgia e a indústria de celulose, ocasionando o avanço da supressão da mata
nativa e, consequentemente, diversos impactos ambientais (COELHO, 2007).

Nota-se que a ocupação da bacia do rio Doce resultou no expressivo desmatamento


de sua vegetação original. No estudo realizado pela Empresa de Pesquisa
Energética (EPE, 2007), detectou-se que 69,6% da área da bacia são ocupadas por
usos antrópicos e apenas 28,4% de cobertura vegetal, como pode ser observado na
Tabela 6:

TABELA 6 - Uso e ocupação da terra na bacia do rio Doce em 2006.


Unidade de medida
Tipo de uso
Hectares Percentual
Agricultura 29.733,41 0,36%
Pastagem 5.399.972,93 64,71%
Silvicultura 365.181,18 4,38%
Área urbana 32.856,33 0,39%
Mineração 2.810,46 0,03%
Afloramento de rocha 143.037,45 1,71%
Cobertura vegetal 2.371.667,95 28,42%
Total 8.345.259,71 100,00%
Fonte: Adaptado de EPE, 2007.

Atualmente, a bacia possui 226 municípios, sendo 197 em Minas Gerais e 29 no


Espírito Santo, com uma população total superior a 3 milhões de habitantes
(COELHO, 2007, apud IBGE, 2000). Quanto à economia, predomina a atividade
54
agrícola e o comércio, com ênfase na cultura do café, silvicultura, comércio e
serviços em seus principais centros regionais. Próximo ao litoral, em Linhares, a
economia se diversifica com a fruticultura, destacando-se o mamão, maracujá,
abacaxi, coco, cacau e cana-de-açúcar, além da pastagem e de atividades
petrolíferas (COELHO, op. cit.).

Além disso, a bacia possui relevância na geração de energia hidrelétrica, onde


atualmente encontram-se em operação dez usinas hidrelétricas (UHEs), sendo
quatro delas localizadas no rio Doce, com três no estado mineiro, a UHE Risoleta
Neves, UHE Baguari e UHE Aimorés, e uma no estado capixaba, UHE
Mascarenhas; e mais seis em seus afluentes. Há ainda vinte e nove pequenas
centrais hidrelétricas (PCHs) em operação e outros cento e quarenta e oito outros
aproveitamentos hidrelétricos na bacia, em funcionamento ou em outras fases de
implantação, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANA, 2015).

55
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

As análises realizadas evidenciaram alterações significativas no trecho analisado. A


seguir serão apresentadas as transformações ocorridas em cada um dos quatro
segmentos, e posterior quantificação da área de leito e das feições deposicionais
para ambos os períodos.

4.1. Segmento 1

O Segmento 1 tem início no limite oeste do município de Linhares, abrangendo um


trecho de aproximadamente 16,7 km do rio, onde ele corre na direção nordeste a
baixas declividades.

Neste primeiro segmento houve alterações no leito do rio de 1987 para 2011, com
estreitamento do perfil transversal a partir de alguns pontos de agradação tanto na
margem esquerda quanto na direita, como pode ser observado na Figura 17. O Perfil
transversal 1 (P1) que em 1987 media 1,12km de largura passou para 0,94 km em
2011; assim como o Perfil transversal 2 (P2) que passou de 1,68 km em 1987 para
1,47 km em 2011.

Quanto às feições deposicionais, observaram-se alguns tipos de alterações de 1987


para 2011. As alterações mais expressivas são o aumento da área de ambos os
tipos de feições deposicionais, principalmente para as ilhas vegetadas. Conforme
discutido no Capítulo 1, os bancos arenosos sem vegetação (sejam eles próximos
às margens ou em ilhas no meio do canal) são feições mais instáveis e passíveis de
ser transportadas e realocadas, o que pôde ser observado neste segmento (Figura
18).

Observou-se também a ampliação de uma ilha vegetada cujo crescimento ocorreu


em direção à margem esquerda, no ponto 3 da Figura 17. Nota-se que a tendência,
daqui a alguns anos com o sucessivo crescimento da ilha, é que esta se incorpore
ao continente e diminua a largura do perfil transversal neste setor, configurando uma
nova margem para o rio, como ocorrido no Segmento 3, que será abordado adiante.

56
Figura 17 - Segmento 1: Delimitação da área do leito do rio Doce, Linhares, para 1987 (em azul) e 2011 (em vermelho). 57
Figura 18 - Segmento 1: Alterações observadas nas feições deposicionais no rio Doce, Linhares.

58
Imagens do Google Earth (GOOGLE, 2016) registradas em agosto de 2016
demonstram que a ilha vegetada do Segmento 1 apresentada no ponto 3 da Figura
18 se encontra ainda mais próxima da margem esquerda do rio, separada do
continente apenas por um filete de água (Figura 19), o que reforça a tendência de
anexação ao continente.

Imagem de 08/2016

Figura 19 - Ilha vegetada apontada no segmento 1 crescendo em direção à margem esquerda do rio
Doce.
Fonte: GOOGLE, 2016.

Quanto a sua geometria, as feições deposicionais apresentam formas estiradas


seguindo a direção do fluxo, geralmente com a base de montante mais arredondada,
com um alargamento no meio pelo acréscimo de depósitos nas laterais, alongando-
se para jusante em formas pontiagudas, conforme apontado na literatura por
Leopold e Wolman (apud Christofoletti, 1981).

59
4.2. Segmento 2

O Segmento 2 abrange um trecho de aproximadamente 18,3 km do rio, alcançando


parte da sede municipal de Linhares, localizada na margem esquerda, continuando
seu caminho em direção nordeste. Neste, além da ocorrência de uma redução
pontual na largura do perfil transversal, ocorreram também alguns pontos de
aumento da largura, comportamento que já é esperado para canais anastomosados.

No Perfil transversal 1 (P1) da Figura 20, destacado em amarelo, observou-se uma


ação erosiva expressiva na margem esquerda do rio, na curva côncava, onde o perfil
transversal aumentou de 1,60 km de largura em 1987 para 1,71 km em 2011.
Imagens históricas registradas pelo Google Earth (GOOGLE, 2016) em 2011 e 2012
mostram a implantação de enrocamentos nas margens deste ponto, comumente
utilizados para deter a ação erosiva, neste setor em que a rodovia ES-248 passa
bem próximo ao curso d’água. Nas Figuras 21 e 22 observa-se essa situação, com a
indicação dos enrocamentos com as setas.

Quanto as feições deposicionais, observaram-se transformações semelhantes as do


Segmento 1, com destaque para a ampliação de ilhas vegetadas a partir da conexão
entre ilhas separadas; a ampliação de bancos arenosos próximos resultando no
posterior surgimento de vegetação em cima dos mesmos e ainda a ampliação de
duas grandes ilhas vegetadas em direção uma da outra, o que indica a possibilidade
de junção entre elas nos próximos anos.

60
Implantação de
enrocamento

Figura 20 - Segmento2: Delimitação da área do leito do rio Doce, Linhares, para 1987 (em azul) e 2011 (em vermelho). 61
Imagem de 07/2011

Figura 21 - Foto aérea do enrocamento na margem côncava do rio Doce, Linhares, no segmento 2.
Setas indicam os locais da estrutura construída.
Fonte: GOOGLE, 2016.

Imagem de 03/2012

Figura 22 - Vista da estrada do enrocamento na margem côncava do rio Doce, Linhares, no


segmento 2. Seta indica o local da estrutura construída.
Fonte: GOOGLE, 2016.

62
4.3. Segmento 3

O Segmento 3 abrange um trecho de aproximadamente 21,7 km de rio. Ele tem


início em parte da sede do município de Linhares (que fica na margem esquerda),
setor onde o rio muda sua direção que vinha de nordeste, iniciando com um trecho
voltado para leste, posteriormente fazendo uma curva acentuada em direção a sul,
prosseguindo no sentido sudeste.

De todos os segmentos analisados, este foi o que mais apresentou mudanças no


leito, ocorrendo principalmente o estreitamento da largura em diversos pontos
através da agradação das margens, como se observa nos Perfis transversais 1, 2 e
3 da Figura 23.

No Perfil transversal 1 (P1), a diferença foi um estreitamento de 100 metros na


largura, enquanto no P2 o estreitamento foi de 410 metros e no P3 de 200 metros.
Ainda assim, houve ocorrências pontuais de alargamento do perfil transversal,
embora não muito significativas quando comparadas com as de estreitamento.
Entretanto, em um destes pontos de alargamento, destacado com a seta branca na
Figura 23, ocorreu o mesmo que no Segmento 2: a implantação de enrocamento em
um setor de curvatura côncava do rio, onde a rodovia se encontra bem próxima às
suas margens, como se observa a comparação de imagens de 2009 a 2012 na
Figura 24.

63
implantação de
enrocamento

Figura 23 - Segmento 3: Delimitação da área do leito do rio Doce, Linhares, para 1987 (em azul) e 2011 (em vermelho).
64
Imagem de 09/2009

Imagem de 04/2012

Figura 24 - Foto aérea de antes e depois da implantação do enrocamento na margem do rio Doce,
Linhares, no segmento 3. Setas indicam o local da estrutura construída.
Fonte: GOOGLE, 2016.

O expressivo estreitamento da largura do Perfil transversal 2 (P2) ocorreu por conta


da ampliação de um banco arenoso localizado próximo à margem direita do rio, no
ponto 4 da Figura 25. Nas imagens, é possível observar que já em 1987 a feição
Imagem de 2012
possuía vegetação crescendo em alguns pontos. Em 2011, observa-se a evolução
desta feição, com o desenvolvimento de vegetação e sua efetiva anexação ao
continente, ocorrendo agradação da margem direita do rio.

Mais uma vez, as alterações observadas nas feições deposicionais do leito do rio
foram semelhantes às dos segmentos anteriores, com o aumento das feições de
ilhas vegetadas a partir da conexão com bancos arenosos, aumento de bancos
arenosos a partir da conexão com outros bancos e surgimento de novos bancos
arenosos. Estas alterações podem ser observadas na Figura 25.

65
Figura 25 - Segmento 3: Alterações observadas nas feições deposicionais no leito do rio Doce,
Linhares.

66
4.4. Segmento 4

O segmento 4, maior trecho analisado, abrange aproximadamente 22,6 km de rio,


acompanhando a foz do rio Doce no oceano, na região de Regência. Este segmento
se inicia na direção sudeste, com forte inclinação a sul, realiza uma suave curva
num sentido mais voltado para leste e depois retoma uma suave curvatura sentido
sul, desaguando no oceano.

Neste segmento, as maiores alterações no leito e na largura do perfil transversal


ocorreram bem à jusante, na foz, no setor destacado em amarelo na Figura 26 (A).

Observou-se um estreitamento significativo na largura do perfil transversal,


associada com a variação da linha de costa na praia de Povoação, que de 1987
para 2011 sofreu deslocamento para oeste, como se observa na comparação entre
ambos os períodos nas Figura 26 (B) e 26 (C). No Perfil transversal 2 (P2), a largura
diminuiu cerca de 400 metros, de 1,7 km em 1987 para 1,3 km em 2011, e no P3,
diminuiu cerca de 200 metros, de 1,2 km em 1987 para 1 km em 2011.

No ponto indicado com a seta branca na Figura 26 (A), não se observou um


alargamento do perfil transversal de 1987 para 2011. Entretanto, ainda assim, neste
local foi instalado enrocamento na margem esquerda do rio, onde a rodovia ES-248
passa bem próximo ao curso d’água, como se observa na Figura 27.

As modificações nos depósitos do leito do rio Doce, neste Segmento 4, seguiram o


mesmo padrão que as observadas nos demais segmentos.

67
26 (B)
26 (A)

Implantação de
enrocamento

26 (C)

Praia de
Povoação

Praia de Regência

Figura 26 - Segmento 4: Delimitação da área do leito do rio Doce, Linhares, para 1987 (em azul) e 2011 (em vermelho). Em amarelo,
Fdestaca-se trecho com alterações mais expressivas. 68
Imagem de 09/2009

Imagem de 04/2012

Figura 27 - Foto aérea de antes e depois da implantação do enrocamento na margem do rio Doce,
Linhares, no segmento 4. Setas indicam o local da estrutura construída.
Fonte: GOOGLE, 2016.

Sobre as alterações causadas no leito do rio Doce associadas às transformações na


linha de costa na praia de Povoação, é importante destacar ao menos algumas
características da complexa evolução deste ambiente, sem, contudo, entrar nos
detalhes de sua sequência evolutiva.

Suguio et. al. (1982) destacam que as variações eustáticas desempenharam papel
fundamental na construção da planície costeira do rio Doce. Através de cartografia
detalhada e datações de rabiocarbono, os estudos realizados nesta área
evidenciaram a existência de dois grupos de terraços arenosos de idades diferentes,
cuja construção de cada um se associa aos dois últimos episódios transgressivos
que ultrapassavam o nível atual do mar (120.000 e 5.000 anos antes do presente).
Os terraços se separavam por uma antiga zona lagunar, que provavelmente ficou
isolada do oceano pela formação de ilhas-barreira, onde o rio Doce construiu um
delta típico, caracterizado pela presença de inúmeros distributários.

69
É importante destacar que, durante toda a fase lagunar antes do rebaixamento do
nível do mar cerca de 5.000 anos antes do presente, os sedimentos carreados pelo
rio Doce, por estarem presos na laguna, não contribuíram com a construção dos
cordões litorâneos que foram acrescidos, posteriormente, às ilhas barreiras. Para os
autores, embora hoje o rio Doce transporte sedimentos para o mar, o volume do
material transportado é insuficiente para explicar as dimensões da zona progradante
holocênica, portanto, ficando claro o papel das transgressões e regressões marinhas
na construção da planície quaternária do rio Doce.

Apesar deste importante papel marinho na construção da planície, para Albino


(1999), ainda assim, o maior desenvolvimento da planície está associado ao
suprimento fluvial. A autora destaca que desembocaduras fluviais podem
representar um obstáculo aos sedimentos carreados pela corrente de deriva
marinha, funcionando como molhes artificiais, podendo bloquear os sedimentos a
barlamar e causar déficits a sotamar. Assim, para ela, as alterações sazonais no
rumo das correntes marinhas, com predomínio no sentido norte-sul, são os principais
responsáveis pelo maior desenvolvimento da planície ao norte da desembocadura
do rio Doce. A autora destaca que, sob a influência dos ventos alísios, a corrente
longitudinal atuando de norte para sul e consigo transportando sedimentos pode
resultar na erosão à barlamar, o que poderia explicar a alteração observada neste
trabalho, com a erosão da linha de costa na praia de Povoação, de 1987 para 2011.

Ainda considerando seu processo de evolução até o estágio dos níveis de hoje,
Muehe (2001 e 2002) classifica o paleodelta do rio Doce como destrutivo, sugerindo
que ao longo do período Terciário e no início do Quaternário o delta passou por um
processo de construção por conta de seu grande aporte sedimentar, e que
atualmente, possui características de um estuário com uma foz única, onde o papel
da vazão e sedimentação fluvial não se sobrepõe ao trabalho das ondas e correntes
costeiras. Nesse sentido, Coelho (2007) destaca que pesquisas recentes registram a
ocorrência de relativa progradação da linha de costa na porção sul à
desembocadura, ainda que de forma menos expressiva que no passado; enquanto
na porção norte observa-se processos de erosão costeira, sugerindo o final do

70
processo de transição de construtivo para destrutivo, que mais uma vez reforçaria a
erosão observada no período aqui analisado.

Aprile et. al. (2004) realizaram monitoramento dos sedimentos na foz do rio Doce
entre 1993 e 1998 e posterior análise química e granulométrica a fim de avaliar a
influência da dinâmica costeira e dos processos erosivos na geomorfologia da foz do
rio. Os resultados mostraram um acelerado processo de erosão das margens do rio
em sua foz, com grande capacidade de transporte de material dissolvido e em
suspensão, principalmente durante as chuvas. Os autores compararam o diâmetro
das partículas depositadas com a velocidade da corrente fluvial na foz, onde
observaram que ocorreu uma deposição praticamente imediata do material em
suspensão, formando uma barra com extremidade voltada para o sul (Figura 28),
forçando o rio a deslocar sua foz nesta direção.

Figura 28 - Esquematização da dinâmica sedimentar na foz do rio Doce.


Fonte: Aprile et. al. (2004).

Eles destacam, ainda, que a partir daí se iniciou a ação do mar, que removeu o
material mais fino e depositou o material grosseiro ao longo da costa, formando os
cordões litorâneos na planície. Sendo assim, eles sugerem que o sedimento
presente na calha principal do rio Doce seja proveniente de duas fontes distintas: as
frações de maior diâmetro seriam de origem marinha, e as de menor diâmetro

71
provenientes dos processos erosivos na bacia de drenagem e nas próprias margens
do rio.

Retomando a análise das alterações observadas no corredor fluvial, a classificação,


mapeamento e quantificação dos depósitos sedimentares do trecho analisado
mostrou um aumento expressivo na área total (soma) das feições presentes no leito
do rio Doce. A Tabela 7 apresenta a área total dos bancos arenosos, das ilhas
vegetadas e do leito do rio para ambos os períodos analisados e a diferença
observada de 1987 para 2011.

TABELA 7 - Alterações observadas no corredor fluvial do rio Doce em 1987 e 2011.


Local 1987 2011 Diferença
Leito do rio 96,15 km² 93,75 km² - 2,4 km²
Bancos arenosos 7,98 km² 6,54 km² - 1,44 km²
Ilhas vegetadas 13,81 km² 21,61 km² + 7,8 km²
Organização e dados da autora.

Com os dados organizados na Tabela 7, observa-se que a área do leito do rio sofreu
uma redução de 2,4 km² de 1987 para 2011. Além deste valor, a área de depósitos
de ilhas vegetadas presentes no leito de 1987 para 2011 cresceu de 13,81 km² para
21,61 km², uma diferença de 7,8 km².

A área de bancos arenosos apresentou uma diminuição de 1,44 km². Entretanto,


esse valor por si só não é muito significativo, visto que este tipo de depósito, como já
citado anteriormente, possui alta mobilidade e pode variar a cada evento chuvoso.
São os depósitos recobertos com vegetação (considerados aqui como as ilhas
vegetadas) que causam maior preocupação quanto à área do corredor fluvial. De
qualquer forma, mesmo que tenha se registrado uma diminuição na área total dos
depósitos de bancos arenosos presentes no leito do rio, essa diferença foi pequena,
e observa-se que em ambos os períodos registrou-se um quantitativo significativo
destas feições, que ocupam o leito do rio Doce ininterruptamente.

Desta maneira, os resultados da pesquisa demonstraram que de 1987 para 2011


ocorreram transformações significativas no corredor fluvial do baixo curso do rio
Doce, agravando o assoreamento de seu leito diminuindo consideravelmente a sua
72
área. As principais alterações observadas foram o aumento expressivo das feições
deposicionais cobertas por vegetação (chamadas, aqui, de ilhas vegetadas) no leito
do rio, que ocorreram em todos os quatro segmentos analisados. Além destas,
ocorreu, mais de uma vez, a anexação de ilhas vegetadas ao continente, resultando
na agradação das margens do rio e consequente diminuição de seu perfil
transversal.

Por outro lado, também se observaram pontos de erosão marginal do rio, onde
houve aumento da largura do perfil transversal; bem como a instalação pontual de
enrocamentos nos segmentos 2, 3 e 4, a maioria na margem côncava do rio, a fim
de conter a erosão em trechos em que foram construídas rodovias a uma curta
distância do leito do rio.

A análise dos dados hidrológicos apontou uma queda na vazão média anual do rio
Doce de 1983 a 2013, como se observa no Gráfico 1, com a tendência linear.

Gráfico 1 - Média vazão anual histórica do rio Doce, na estação de Colatina, de 1983 a 2013.
Fonte: ANA (2016b), elaborado pela autora.

Os dados de precipitação anual acumulada para este mesmo período, entretanto,


não seguiram a mesma tendência de queda que ocorreu com as vazões médias,

73
como se observa no Gráfico 2. Estes dados demonstram que queda na vazão média
registrada neste período não pode ser atribuída diretamente ao regime de
precipitação local, visto que esta se manteve linear.

Gráfico 2 - Comparação entre média vazão anual do rio Doce e precipitação anual acumulada na
estação de Colatina, de 1983 a 2013.
Fonte: ANA (2016b), elaborado pela autora.

Além disso, uma análise dos valores mínimos anuais para este mesmo período
também apresentou uma tendência de queda de 1983 para 2013, conforme se
observa no Gráfico 3. Isso indica que os valores mínimos de vazão do rio Doce têm
atingido, cada vez mais, menores valores.

Por outro lado, as vazões máximas anuais apresentaram uma tendência de aumento
de 1983 para 2013, como se observa no Gráfico 4, indicando que os valores
máximos de vazão tem atingido valores maiores.

74
Gráfico 3 - Mínima vazão anual histórica do rio Doce, na estação de Colatina, de 1983 a 2013.
Fonte: ANA (2016b), elaborado pela autora.

Gráfico 4 - Máxima vazão anual histórica do rio Doce, na estação de Colatina, de 1983 a 2013.
Fonte: ANA (2016b), elaborado pela autora.

75
Os Gráficos 3 e 4 indicam que o rio Doce, nesse setor, vem apresentando um
regime de vazão bem instável, com valores de máximas e mínimas cada vez mais
intensificados, refletindo as condições geomorfológicas do canal.

As pesquisas de Coelho (2007) identificaram uma redução gradual dos valores de


vazão média do rio Doce registrados na estação Colatina, associados à implantação
da usina hidrelétrica de Mascarenhas. O autor destaca que antes da operação da
usina, em 1974, o regime de vazões do rio demonstrava equilíbrio entre as variáveis
de descarga líquida, erosão, transporte e deposição de sedimentos. Entretanto, após
um conjunto de processos ocorridos na bacia, com a intensa ocupação de sua área,
o rio passou a uma condição de desequilíbrio.

Outros autores também evidenciaram as alterações da bacia, tais como Salim


(2011), que fala sobre o processo de ocupação da bacia, ressaltando os conflitos
sociais e a degradação ambiental; Hora et. al. (2012), que problematizaram a
exploração econômica da bacia em detrimento de seus recursos naturais; Espindula
et. al. (2011), que falam sobre a devastação da floresta tropical em Minas Gerais no
século XX; entre outros.

Além destes, documentos de órgãos oficiais como levantamentos de diagnósticos da


bacia (MARANHÃO, 2005), a Avaliação Ambiental Integrada dos aproveitamentos
hidrelétricos da bacia (EPE, 2007), o Plano Integrado de Recursos Hídricos (PIRH)
da bacia (ANA, 2013) e um encarte especial sobre a bacia do rio Doce (ANA, 2015)
também destacam os principais problemas da bacia, podendo citar dois:
Os diversos impactos causados pela intensa supressão da vegetação natural
pela ocupação e urbanização da bacia, com locais de solos altamente
degradados, aumentando a erosão e o carreamento de sedimentos para os
cursos d’água e consequente intensificação do processo de assoreamento;
Má qualidade da água causada pelo lançamento de efluentes domésticos “in
natura” de esgotos não tratados, bem como efluentes industriais e a
disposição de resíduos sólidos nas proximidades ou no próprio leito do rio.

76
A leitura dos estudos já realizados na bacia do rio Doce evidencia que o baixo curso
é o trecho mais impactado pelo assoreamento. Estes impactos são preocupantes,
visto que a região possui grande importância socioambiental. Do ponto de vista
ambiental, destaca-se, primeiramente, o grande valor hídrico da região, em virtude
do rio Doce e do grande complexo lacustre na região, além da importante função
ecológica destes ambientes (ZANCOPÉ, 2012).

Ainda, a região conta com uma unidade de conservação (UC), a Reserva Biológica
(REBIO) de Comboios, a sul da desembocadura do rio Doce, bem como a presença
do Projeto Tamar, onde ocorre desova de tartarugas marinhas. Um estudo realizado
por Moreira e Mendes (2010) sobre a diversidade de mamíferos em ecossistemas
costeiros do estado do Espírito Santo indicou que o litoral norte do estado abriga o
maior número de espécies registrado, com destaque para a região próxima à
Linhares, com a praia de Povoação, a norte da desembocadura do rio, registrando
20 espécies, e a de Regência, a sul da desembocadura, com 12 espécies. Trata-se,
portanto, de uma região de altíssima riqueza, complexidade e importância ambiental.

É importante citar também a presença das comunidades de Regência e de


Povoação, pequenas vilas históricas na região da foz do rio Doce cuja principal
atividade de subsistência é a pesca artesanal, além da relação de identidade que as
comunidades estabelecem com seu espaço, o rio e as praias adjacentes. As
características da praia de Regência colocam-na como um dos principais pontos de
surf do estado do Espírito Santo, o que imputa também grande importância aos
corpos hídricos da região.

Uma matéria recente publicada agosto de 2016 no jornal local G1 Espírito Santo
(G1, 2016), afirma que o rio Doce atingiu a cota de 3 cm no município de Colatina
(segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Águas). Segundo a matéria, o
Serviço Colatinense de Meio Ambiente e Saneamento Ambiental (Sanear), órgão
responsável pelo abastecimento de água no município, afirma que a dificuldade em
captar a água do rio se dá por conta dos bancos de areia em sua calha, que dificulta
o acesso à água. Por isso, o órgão realizou obras de abrimento de valas ao longo do
rio para conseguir realizar a captação. Isso denuncia que o problema de

77
assoreamento do rio já tem comprometido o abastecimento dos municípios pelos
quais o rio percorre.

Como apresentado na Tabela 6, o mapeamento de uso e ocupação do solo


realizado pela EPE (2007) acusou que, em 2006, 64,71% da área da bacia era
ocupada por pastagem, o que pode ser bastante preocupante dependendo das
condições destas pastagens.

Abdon (2004) estudou os impactos ambientais na bacia do rio Taquari, MS, em


decorrência da pecuária, focando nos processos de erosão e assoreamento, cuja
avaliação foi realizada considerando as etapas de implantação e operação das
pastagens, assim como os processos naturais ocorrentes na bacia que foram
intensificados por esta prática. Entre os impactos ambientais observados, a autora
alerta para o desmatamento sem a imediata preparação adequada do solo, que
pode acarretar em danos irreversíveis ao meio físico e comprometer até mesmo a
própria atividade pecuária, conferindo maior suscetibilidade à erosão do solo.

Na pesquisa de Abdon (op. cit.) também são levantados os tipos de solos da bacia e
suas potencialidades e fragilidades ambientais, indicando as pastagens plantadas
em áreas inadequadas, segundo as condições de aptidão dos solos e as condições
topográficas, e acusando as áreas de maior erodibilidade, os principais tipos de
erosão e perdas de solo. Estas são sugestões de medidas válidas que poderiam
contribuir para a melhor compreensão dos processos erosivos da bacia do rio Doce
e, assim, traçar estratégias para minimizá-los.

No relatório executivo do PIRH da bacia do rio Doce (ANA, 2013), são listadas as
metas e objetivos principais traçados para o plano, cujas temáticas se dividem
basicamente em:

1. Qualidade da água;
2. Disponibilidade de água;
3. Suscetibilidade a enchentes;
4. Universalização do Saneamento;

78
5. Incremento de Áreas Legalmente Protegidas.

Analisando as metas previstas para cada um destes temas, se identifica na temática


1, de qualidade da água, o “mapeamento e monitoramento das áreas produtoras de
sedimento da bacia” como de relevância e de urgência medianas. Ainda que sejam
ações importantes, entretanto, o plano não prevê medidas ou ações práticas para
minimizar a produção de sedimentos, mas apenas o seu monitoramento.

A temática 5, de incremento de áreas legalmente protegias, prevê a proposição de


novas unidades de conservação, bem como estudo de viabilidade para recuperação
de áreas de preservação permanente (APPs) e formação de corredores ecológicos.
Esta medida pode contribuir positivamente com a redução de produção de
sedimentos na bacia, principalmente com a recuperação das matas ciliares,
entretanto, no Plano, não se prevê ações específicas de enfrentamento ao problema
de assoreamento do rio Doce.

O relatório ainda apresenta que, atualmente, a bacia possui disponibilidade hídrica


satisfatória em quase todas suas sub-bacias. Entretanto, em seu prognóstico,
indicou-se um cenário de tendência para 2030 que acusa uma situação crítica de
demanda pela água no baixo curso da bacia, onde a demanda superaria a
disponibilidade de água. Além disso, no mapeamento de áreas prioritárias para a
conservação da biodiversidade na bacia, o baixo curso foi considerado como de
Extrema importância em toda sua planície costeira, conforme destacado no mapa na
Figura 29.

79
Figura 29 - Áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade na bacia do rio Doce, destacando
em vermelho o recorte de estudo, na planície costeira do rio Doce, Linhares.
Fonte: ANA (2013).

80
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia utilizada nesta pesquisa, com a utilização das imagens orbitais


temporais e técnicas de sensoriamento remoto, se mostrou satisfatória para os
objetivos propostos. A principal dificuldade encontrada foi a seleção das imagens de
satélite com baixa cobertura de nuvens cujas datas de passagem fossem referentes
ao período de vazante, com valores de vazão similares um do outro.

Os resultados obtidos tornam clara a relação entre os tipos de usos e cobertura da


terra na bacia do rio Doce e as intervenções no próprio leito do rio com a redução da
área do corredor fluvial e as alterações em seu regime de descarga, com a queda de
valores médios de vazão e intensificação de eventos extremos. O levantamento
prévio das condições socioambientais da bacia permitiu compreender, de modo
geral, o problema ao qual se pretendeu analisar, e evidenciou a importância das
análises integradas de bacias hidrográficas.

Conforme destacado no relatório de Acompanhamento da estiagem na região


Sudeste do Brasil (CPRM, 2016), em períodos de estiagem pronunciada, é de
extrema importância que a sociedade e as autoridades possuam instrumentos para
gerenciar possíveis situações de escassez de água, sendo que um destes
instrumentos é o conhecimento efetivo da quantidade disponível de água e a
possibilidade de fazer prognósticos da situação futura. Nesse sentido, reforça-se a
necessidade de geração de dados e estudos mais detalhados das condições
socioambientais da bacia do rio Doce. Para além da realização de estudos e
diagnósticos, é preciso, finalmente, agir. Uma gestão de bacia eficiente deve contar
planos de ações voltadas para a minimização de seus problemas e impactos
socioambientais, bem como o constante acompanhamento e aprimoramento destas
ações.

Sabe-se que a gestão de bacias de grande porte é de um desafio considerável, que


envolve diversas variáveis, agentes e condicionantes, e exige uma visão abrangente
capaz de intercalar as escalas micro e macro da bacia, considerando desde suas
características locais a fatores mais amplos. Neste sentido, a ciência Geográfica tem

81
muito a contribuir com o planejamento de bacias, por possibilitar análises que
integram os diversos elementos da bacia e compreenda a relação entre eles. Ainda
que o planejamento integrado de bacias esteja previsto na Política Nacional de
Recursos Hídricos, sabe-se que, na prática, o planejamento das cidades raramente
considera a escala de bacias, e o desafio é ainda maior quando se trata de uma
bacia interestadual, com a do rio Doce.

O rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana (MG), demonstra a


fragilidade hídrica e ambiental que o Brasil enfrenta, a negligência e o despreparo da
sociedade face à eventos extremos como este. É provável que após esse ocorrido, o
assoreamento do leito do rio Doce, que já demonstrou uma piora de 1987 a 2011,
tenha se agravado ainda mais para os dias de hoje, em 2016, após a descarga da
lama e dejetos de minério no rio.

Embora tenham ocorrido avanços consideráveis na gestão ambiental do país desde


1980, momento em que teve início uma preocupação maior com a degradação
ambiental, ainda há muito que aprender e evoluir, no Brasil, para uma gestão
adequada e sustentável não apenas de bacias hidrográficas, mas do meio ambiente
de modo geral.

82
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86
ANEXO A - Média vazão mensal (m³/s) - Rio Doce - Estação Colatina - código 56994500
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ MÉDIA ANUAL
1983 745,3 645,8 676,0 1193,9 1371,4 2740,5 1228,8
1984 1189,7 829,9 848,9 907,6 611,5 498,1 466,1 480,5 588,9 577,0 812,4 2470,5 856,8
1985 3430,0 2207,0 2172,7 1363,5 1054,5 870,9 773,4 714,8 646,6 748,9 986,2 1446,3 1367,9
1986 2424,1 1129,8 718,5 590,7 546,2 490,1 443,0 490,3 388,6 340,6 482,5 851,7 741,3
1987 977,8 556,1 947,3 736,0 464,9 402,7 321,7 293,4 316,6 315,5 599,9 1750,0 640,2
1988 1605,3 1205,1 868,5 640,4 503,9 426,9 319,1 319,8 286,8 373,4 578,8 648,0
1989 775,6 403,1 589,3
1990 748,5 535,5 442,1 388,1 364,2 279,1 305,7 264,8 326,9 313,2 462,5 496,7 410,6
1991 1547,8 1503,3 1600,5 970,2 647,9 490,6 410,7 384,7 323,2 468,1 982,1 891,5 851,7
1992 2505,0 2880,8 1138,6 798,5 727,2 558,4 514,5 462,6 485,5 752,7 1912,2 2037,4 1231,1
1993 1804,0 1002,0 696,6 741,6 580,9 572,1 584,8 538,9 484,1 563,8 560,9 1147,6 773,1
1994 2355,1 837,1 1603,6 1159,4 769,3 622,3 514,4 428,6 360,8 328,5 675,9 1298,7 912,8
1995 208,6 300,8 252,6 274,3 334,9 489,5 780,2 559,0 447,8 739,4 610,5 1855,4 571,1
1996 368,1 311,2 306,6 415,8 349,1 399,8 531,5 628,5 710,5 1672,4 1645,5 1916,7 771,3
1997 3538,9 2103,6 1974,8 540,0 1058,1 1063,5 743,0 495,5 647,6 391,1 517,6 401,9 1123,0
1998 1226,7 1355,9 1211,7 1080,1 835,7 621,3 528,9 560,0 437,0 395,7 430,7 316,3 750,0
1999 1647,9 1251,3 1057,4 1158,0 529,3 534,1 292,3 376,7 294,2 285,4 254,1 236,7 659,8
2000 1651,5 1607,1 1376,3 878,7 1184,4 794,2 405,3 494,5 386,6 358,0 273,3 313,2 810,3
2001 1207,1 998,2 1118,7 452,5 478,3 329,7 303,7 275,3 274,8 229,2 215,1 201,3 507,0
2002 2453,2 2172,6 1393,2 1116,8 872,1 427,9 366,9 644,7 520,5 458,5 386,1 315,7 927,4
2003 3438,1 814,9 1215,4 819,5 661,1 447,5 326,9 487,6 405,8 319,8 348,5 323,4 800,7
2004 2244,9 1728,9 1686,6 1625,7 1763,6 913,4 696,9 638,2 453,3 536,3 367,2 363,3 1084,9
2005 1812,0 2045,6 2808,6 1137,4 928,1 789,8 613,3 549,1 539,0 462,1 1262,9 2063,6 1251,0
2006 844,0 575,1 1215,6 852,4 537,1 394,9 357,2 395,0 374,4 617,6 1151,9 2849,3 847,1
2007 2495,3 2612,9 976,1 704,1 572,5 464,9 394,0 344,1 384,9 344,4 325,2 638,9 854,8
2008 495,8 1100,1 794,1 710,4 386,3 256,5 229,8 182,8 182,5 212,3 737,9 1898,6 598,9
2009 3058,1 1389,2 905,8 1390,4 577,9 484,7 413,4 317,7 686,3 1042,0 1314,4 1052,7
2010 962,2 338,0 692,3 576,9 408,7 304,9 244,7 164,5 110,4 200,1 892,2 1372,1 522,2
2011 1875,6 398,3 1513,1 797,8 399,6 309,7 245,6 183,0 128,7 294,4 852,1 2490,9 790,7
2012 2946,5 1041,6 755,3 690,0 681,0 553,4 469,3 411,9 358,3 334,8 935,3 775,9 829,4
2013 805,7 961,1 672,6 794,8 457,8 476,4 343,7 282,3 247,2 368,0 398,9 3012,9 735,1
MÉDIA 1788,54 1234,23 1124,66 823,83 665,03 526,46 456,17 433,82 415,79 489,48 735,73 1303,14 830,3
MÍNIMA 208,64 300,79 252,62 274,3 334,9 256,5 229,8 164,5 110,4 200,1 215,1 201,26 410,6
MÁXIMA 3538,9 2880,8 2808,6 1626,0 1764,0 1064,0 780,2 714,8 710,5 1672,0 1912,0 3012,9 1367,9
Fonte: ANA (2016b), organizado pela autora.
87
ANEXO B - Máxima vazão mensal (m³/s) - Rio Doce - Estação Colatina - código 56994500
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ MÁXIMA ANUAL
1983 809,2 732 973,2 2160 2040 4754,5 4754,5
1984 1644 1240 1184 1446 676,2 564,4 510,6 682,4 732 751,2 2260 3761 3761,0
1985 4837 3187,5 3353 1725 1184 937,2 835,6 770,4 751,2 1096 1960 2946 4837,0
1986 4363 1716 835,6 719,6 670 542,4 553 809,2 587,2 392,2 862 1788 4363,0
1987 1617 987,6 2060 1788 575,8 500 387,4 349 489,6 448 1500 3084 3084,0
1988 3130 2444 1689 802,6 598,6 531,8 412,3 340 331 521,2 902,8 3130,0
1989 1374 510,6 1374,0
1990 1320 862 694,8 510,6 500 322 349 308,5 402,1 622 896 688,6 1320,0
1991 3245 2454,5 4498 1960 1056,6 526,5 453,2 437,8 882,4 564,4 2010 1347 4498,0
1992 4673,5 5341 1725 1002 868,8 628 564,4 500 598,6 1080 4125 3647,5 5341,0
1993 3341 1329 868,8 868,8 628 610 689,5 631 568 802 810 2137 3341,0
1994 3732 1474 3238 1645 914 727 624 487,2 450 450 1510 2549 3732,0
1995 234,7 458,4 299,8 295,6 402,1 966 1536 1064,4 646 1072,2 848,8 5282 5282,0
1996 505,8 335,7 325,2 638 418,5 481 787 787 842 5012 3008 4291 5012,0
1997 8687 3966 3862 1852 1402 1384 1096 874 727 610 575 462,4 8687,0
1998 2972 2159 1812 1384 1186 772 757 682 596 533 474,8 381,3 2972,0
1999 3420 2819 2258 1802 727 631 540 487,2 375,6 352,8 320,4 282 3420,0
2000 2786 2632 2522 2137 2016 1002 652 603 456,2 418,5 405,9 369,9 2786,0
2001 3368 2830 2610 1060 624 450 364,2 358,5 341,4 320,4 291,6 244,4 3368,0
2002 4698 3472 2960 1852 1402 978 898 882 667 568 462,4 381,3 4698,0
2003 6992 2137 1932 1744 787 742 631 554 474,8 387 375,6 352,8 6992,0
2004 5312 3862 2996 2948 2500 1339 866 818 779,5 617 462,4 450 5312,0
2005 3140 2852 6692 1636 1204 1186 727 624 1037 994 3420 4538 6692,0
2006 1422,6 911,4 2082,0 1186,2 712,4 482,2 482,2 422,6 482,2 1351,0 1922,0 4782,0 4782,0
2007 3719 4166 1598,2 820,8 733,7 557,5 506,8 399,5 393,8 446,1 519,3 1220,2 4166,0
2008 1198,9 2401,0 1359,8 1156,7 554,2 296,7 284,0 216,7 271,5 304,4 1782,0 5004,5 5004,5
2009 6489,5 2164,5 1912,0 2996,0 740,8 603,2 551,0 365,8 3296,5 2830,0 3238,0 6489,5
2010 2588,0 446,1 1486,4 1306,9 510,0 402,4 289,0 209,9 162,4 330,6 1867,0 5492,0 5492,0
2011 6377,0 586,7 3478,5 1468,1 538,3 365,8 309,6 266,5 156,3 640,0 3979,0 4656,0 6377,0
2012 6459,4 1655,6 1012,4 869,0 1128,2 650,9 517,8 455,2 455,2 420,0 1981,6 2032,2 6459,0
2013 2177,8 2256,3 1350,1 1357,4 616,7 622,3 440,0 357,2 293,5 533,9 806,3 9195,8 9495,8
MÉDIA 3601,7 2177,5 2135,6 1382,9 892,2 682,8 614,1 549,2 549,1 903,1 1506,9 2736,5 3601,7
MÍNIMA 234,7 335,7 299,8 295,6 402,1 296,7 284 209,88 156,3 304,37 291,6 244,4 402,1
MÁXIMA 8687 5341 6692 2996 2500 1384 1536 1064,4 1037 5012 4125 9195,8 9195,8
Fonte: ANA (2016b), organizado pela autora.
88
ANEXO C - Mínima vazão mensal (m³/s) - Rio Doce - Estação Colatina - código 56994500
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ MÍNIMA ANUAL
1983 713,4 616 553 719,6 987,6 1256 553,0
1984 802,6 664 587,2 664 537,1 453,2 417,4 407,2 526,5 505,3 442,9 1329 407,2
1985 2000 1437 1617 1128 909,6 822,4 732 670 587,2 564,4 592,9 868,8 564,4
1986 1104 796 616 537,1 500 448 417,4 349 326,5 299,8 295,6 387,4 295,6
1987 510,6 412,3 402,1 468,8 392,2 317,5 262 262 242,5 242,5 295,6 526,5 242,5
1988 738,4 587,2 526,5 448 407,2 353,8 287,2 287,2 258,1 266,2 373 258,1
1989 382,6 353,8 353,8
1990 468,8 363,4 344,5 331 287,2 250,3 258,1 226,9 242,5 238,6 262 353,8 226,9
1991 453,2 829 757,6 634 510,6 437,8 392,2 317,5 278,8 335,5 335,5 652 278,8
1992 751,2 1312 796 682,4 598,6 500 448 432,7 422,5 610 994,8 994,8 422,5
1993 1009,8 796 553 570,1 500 484,4 481 493,4 437,4 405,9 381,3 499,6 381,3
1994 1528 568 596 890 682 568 424,8 375,6 282 235 291,6 712 235,0
1995 190,6 201,4 219,4 258,1 287,2 317,5 344,5 353,8 387,4 448 468,8 640 190,6
1996 286,8 286,8 291,6 315,6 315,6 358,5 375,6 499,6 582 596 749,5 794,5 286,8
1997 1222 1051 1026 352,8 794,5 858 652 315,6 596 330 474,8 358,5 315,6
1998 589 749,5 802 468,6 674,5 519 443,7 493,4 282 358,5 393,3 282 282,0
1999 930 645 282 603 424,8 462,4 195 272,6 219 227 203 203 195,0
2000 946 906 757 199 582 589 263,2 387 320,4 320,4 195 253,8 195,0
2001 272,6 424,8 603 263,2 282 227 227 195 223 179 171 171 171,0
2002 1123 1204 393,3 802 310,8 282 249,1 462,4 431,1 399,6 352,8 277,3 249,1
2003 1636 352,8 866 589 519 301,2 253,8 418,5 358,5 291,6 315,6 291,6 253,8
2004 962 667 1141 834 1141 749,5 596 554 347,1 456,2 291,6 301,2 291,6
2005 930 1474 1537 850 794,5 682 540 474,8 464 282 456,2 874 282,0
2006 434,3 399,5 482,2 563,9 322,6 286,5 296,7 325,4 275,0 275,0 354,9 1177,8 275,0
2007 1402 1398 616,5 494,5 470,0 354,9 338,6 276,4 252,2 263,6 251,9 333,3 251,9
2008 261,6 455,0 541,5 440,2 276,4 225,9 200,9 154,3 130,7 154,3 181,3 425,5 130,7
2009 1337,7 858,1 590,0 629,9 488,3 408,1 299,2 274,0 274,0 434,3 449,1 274,0
2010 476,1 261,6 365,8 341,3 327,9 240,0 205,4 130,7 72,2 103,4 256,8 464,0 72,2
2011 570,4 237,6 452,0 506,8 307,0 249,5 189,9 136,5 103,4 106,9 254,3 1280,6 103,4
2012 1205,4 727,2 572,0 583,1 539,3 481,0 371,4 343,2 306,8 289,1 289,1 400,3 289,0
2013 315,8 420,0 430,0 465,5 361,9 366,6 293,5 214,2 210,2 242,4 238,3 533,9 210,2
MÉDIA 843,4 706,4 638,2 542,3 501,5 434,3 372,3 357,3 335,1 334,0 386,2 589,4 334,0
MÍNIMA 190,6 201,4 219,4 199 276,4 225,9 189,9 130,7 72,22 103,4 171 171 72,2
MÁXIMA 2000 1474 1617 1128 1141 858 732 670 596 719,6 994,8 1329 596,0
Fonte: ANA (2016b), organizado pela autora.
89
ANEXO D - Precipitação acumulada (mm) - Estação Colatina - Corpo de Bombeiros - código 1940006
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL ANUAL
1983 341,2 161,8 103,5 30,4 31 3,9 23,9 0,6 123,2 98,2 231 357,5 1506,2
1984 74,5 33,4 127,8 29,2 0,7 10,5 4,8 83,6 79,7 113,1 159,4 304 1020,7
1985 396,1 42,7 69 55,4 30,4 6,7 17,1 21 72,3 121,9 164,2 121,9 1118,7
1986 131,7 26,4 27,2 51,3 5,8 48,6 5,7 99,6 10,3 7,6 40 146 600,2
1987 136,6 42,5 171,5 38,7 0,8 22,3 3,8 9,2 29,1 18 192,6 255,2 920,3
1988 239,3 45,6 111,1 17,3 36 18,2 20,1 3,7 33,7 73,8 145,9 176,2 920,9
1989 92,9 61,6 99,6 55,2 69 69,4 12,4 47,2 10,9 43 288,3 199,7 1049,2
1990 3,3 97,8 12,1 46,1 47 13,9 10,6 53 34,3 110,1 236,6 224,8 889,6
1991 216,2 63,2 336,6 11,3 29,4 22,5 55,2 55,6 48,9 60,9 163 93,7 1156,5
1992 276,7 145,8 106,9 37,1 3,1 51,5 55,9 22,8 110,3 284,2 178,1 218,4 1490,8
1993 62,7 80,8 19,1 81,3 83,5 5,9 2,6 19,8 36 46,3 87,8 276,9 802,7
1994 185,7 70,4 260,1 77 38,2 15,9 37,8 3,1 3 28,3 136,9 73,2 929,6
1995 26,1 75,2 77,1 93,5 64,4 0,4 78,5 41,1 16,4 113,3 188 368,1 1142,1
1996 37,8 7,8 89,2 66,4 43 19,3 19 9 73,7 109,8 345,1 134,4 954,5
1997 214,7 241,7 370,2 47,4 8,7 0,7 2,8 16,2 17,7 101,6 162,4 191,2 1375,3
1998 135,2 36 73,5 20,7 3,4 6,8 1,6 2,2 2,5 157,4 59 120,6 618,9
1999 73,1 36,7 197,9 56,9 15,8 25,1 6,4 7,8 4,4 71,6 187,6 144,5 827,8
2000 167,3 65,1 91,8 27,6 69,4 22,5 8,2 11,5 59,6 10,9 181 331,1 1046,0
2001 107,4 60,4 57,5 14,3 73,7 19,1 17,5 35 69,8 154,3 336,2 326,8 1272,0
2002 162,3 110,9 43,8 48,8 171,1 11,8 20 65,5 141,5 45 164,8 187,1 1172,6
2003 166,5 11,5 33,3 52,3 10,3 0,7 17 12,8 10,6 72,6 38,5 318,2 744,3
2004 206,5 145,4 135,3 65,8 9,2 71 18,6 8,6 12,7 102,2 95,3 163,9 1034,5
2005 189,1 219,4 82,4 56,5 229,5 149,5 38,8 24 32,7 41,9 215,1 170,9 1449,8
2006 28,6 43,6 304,2 38,8 0 30,3 8,1 6,5 59,5 102,5 289,2 322,7 1234,0
2007 116,6 101 36,7 48,1 0 24 0 24,8 52,7 3,3 89,2 115,5 611,9
2008 173,9 186,6 70,8 70,7 0 6 37,6 0 10 43,6 247,8 241,9 1088,9
2009 207,6 20,1 123,6 84,7 6,7 36,5 20,1 35,4 7,7 310,9 35,8 107,4 996,5
2010 42,1 52,6 59,2 97 68,1 0 58,9 1,4 3,3 28,7 277,8 225,9 915,0
2011 134 41,4 248,2 139,2 2,5 16 8,2 4,2 17,8 170 237,2 222,5 1241,2
2012 180,5 68,5 23,6 46,7 35,2 20,1 8,4 145,6 19,3 22,1 229,4 17,7 817,1
2013 107,2 66 157 74,3 16,6 52,9 3,1 12,9 20,9 131,1 108,5 507,4 1257,9
MÉDIA 149,5 79,4 120,0 54,2 38,8 25,9 20,1 28,5 39,5 90,3 177,8 215,0 1038,9
MÍNIMA 3,3 7,8 12,1 11,3 0 0 0 0 2,5 3,3 35,8 17,7 600,2
MÁXIMA 396,1 241,7 370,2 139,2 229,5 149,5 78,5 145,6 141,5 310,9 345,1 507,4 1506,2
Fonte: ANA (2016b), organizado pela autora.
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